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A sobrevivência do ME estava altamente comprometida, pois, dessa forma,
ocorriam apenas atos isolados. Em 1969, foram realizados protestos de repúdio
à presença de Nelson Rockefeller
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no Brasil; em 1970, atos públicos ocorreram
devido ao segundo aniversário de morte de Edson Luís; em 1972, diretórios e
centros acadêmicos de São Paulo e do Rio de Janeiro realizaram uma série de
denúncias a respeito de prisões de estudantes; em 1973, o cardeal Paulo
Evaristo Arns celebrou uma missa, que reuniu aproximadamente 4 mil pessoas,
pela morte do estudante Alexandre Vannucchi Leme, o que desfechou um
elenco de manifestações de oposição à prisão, tortura e assassinato do
estudante pela Operação Bandeirantes (OBAN
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) de São Paulo.
Esse posicionamento contrário ao governo ditatorial por parte da Igreja
Católica, representada pela Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB),
foi gradativamente reforçado no decorrer da década de 70, quando a Igreja
investe na atuação pela defesa dos direitos humanos. Era possível identificar
setores progressistas, que tiveram como alguns de seus grandes atores dom
Helder Câmara e dom Paulo Evaristo Arns, e outros envolvidos com uma
postura socializante, sob o direcionamento da Teologia da Libertação. No
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De acordo com Gerard Colby e Charlotte Dennett, autores do livro “Seja feita a vossa
vontade”, obra que resgata a trajetória de Nelson Rockefeller, este teria estabelecido relações
com governos ditatoriais no Brasil com o intuito de se apossar da Amazônia, fonte de recursos
minerais e petróleo, além de ter apoiado outras ditaduras na América Latina. Eles afirmam
ainda que entre 1964 e 1969, os assessores de Rockefeller teriam ligação estreita com o SNI
(a esse respeito ver em http://www.terra.com.br/istoe/1626/1626vermelhas.htm).
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Com o objetivo de conter diretamente os suspeitos e ativistas de grupos armados e
clandestinos, foi estruturada, no estado de São Paulo em 1969, junto ao II Exército, a OBAN,
um órgão de caráter extralegal. As verbas que viabilizavam suas ações eram obtidas junto às
multinacionais, dentre estas o Grupo Ultra, Ford, General Motors. Mais tarde, a OBAN atuou
em diversos estados. O Decreto nº 667, de 1969, instituiu a dependência das polícias militares
em relação ao Exército, no âmbito estadual, e direcionou-as à “segurança interna”. A OBAN “foi
composta com efetivos do Exército, Marinha, Aeronáutica, DOPS (polícia política estadual),
polícias federal, civil e militar; ou seja, todos os tipos de organismos de segurança e
policiamento, chegando a contar com os oficiais do Corpo de Bombeiros” (Coimbra, 2002:33).
Em setembro de 1970, o general Médici, que tomara o poder em 30 de outubro de 1969,
divulgou o decreto que integrava a Oban ao organograma legal com a nomeação de DOI/CODI
II (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna do II
Exército). O órgão era orientado por práticas que violavam a integridade física e psicológica
dos indivíduos com o intuito de obter informações funcionais ao regime.
Além de São Paulo, os DOI/CODI se implantaram como instituições oficiais no Rio,
Recife, Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza e Belém. Em todas estas
capitais, os DEOPS se converteram em apêndices dos DOI/CODI. Exceção apenas do DEOPS
de São Paulo, que continuou ativo como órgão autônomo de investigação, captura e
interrogatório.