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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM GEOGRAFIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO
A QUALIDADE AMBIENTAL URBANA NO BAIRRO ALFREDO-
FREIRE – UBERABA MG:
O Desafio da Análise e Representação.
ARISTÓTELES TEOBALDO NETO
UBERLÂNDIA-MG
2008
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ARISTÓTELES TEOBALDO NETO
A QUALIDADE AMBIENTAL URBANA NO BAIRRO ALFREDO-
FREIRE – UBERABA/MG:
O Desafio da Análise e Representação.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal
de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do
título de mestre em Geografia.
Área de Concentração: Geografia e Gestão do Território.
Orientador: Prof. Dr. Jorge Luis Silva Brito.
Uberlândia / MG
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
2008
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
T314q Teobaldo Neto, Aristóteles, 1981-
A qualidade ambiental urbana no bairro Alfredo Freire –
Uberaba / MG : o desafio da análise e representação / Aristóteles
Teobaldo Neto. - 2008
163 f . : il.
Orientador : Jorge Luis Silva Brito.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia,
Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Inclui bibliografia.
1.Uberaba (MG) - Geografia - Aspectos ambientais - Teses.
2. Qualidade de vida – Uberaba (MG) – Teses. I. Brito, Jorge
Luis Silva. II. Universidade Federal de Uberlândia. Programa
de Pós-Graduação em Geografia. III. Título.
CDU: 918.151
Elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classificação
mg- 05/08
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Área de Concentração em Geografia e Gestão do Terririo
ARISTÓTELES TEOBALDO NETO
A QUALIDADE AMBIENTAL URBANA NO BAIRRO ALFREDO-FREIRE – UBERABA/MG:
O Desafio da Análise e Representação.
Dr. Jorge Luís Silva Brito (Oritentador) – Universidade Federal de Uberlândia/MG
Prof. Dr. Douglas Gomes dos Santos – Universidade Federal de Uberlândia/MG
Prof. Dr. João Luiz Lani – Universidade Federal de Viçosa/MG.
A todos que tornam a vida menos árdua
contribuindo com o que podem, mesmo que
seja apenas com um simples sorriso.
Aos meus próximos que nunca faltaram:
Minha mãe, porto seguro sempre presente,
exemplo de amor, referência de Mãe.
Meu pai, pelo exemplo de vida,
Meus irmãos Ana e Ari, por entenderem
quando acabo fazendo o chato papel de irmão
mais velho.
Minha sobrinha catatauzinha, Duda, e por
extensão aos meus alunos, principalmente às
crianças, por me ensinar a todo momento que o
melhor da vida é...
brincar.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq e CAPES, pelo apoio financeiro. À Universidade Federal de Uberlândia e ao
Instituto de Geografia.
Ao professor Jorge Luis Silva Brito, pelas orientações, oportunidade e confiança.
Ao professor Douglas Gomes Santos pelo profissionalismo, apoio e orientações
incondicionais.
Aos professores do Instituto de Geografia que contribuíram de alguma forma para minha
evolução humana e profissional. À professora Marlene Colesanti, pela acolhida na iniciação
científica, pesquisando Educação Ambiental. À professora Suely Del Grossi e ao professor
Roberto Rosa pelas importantes orientações no desenvolvimento deste trabalho.
Às funcionárias do Instituto de Geografia, Dilza, Cynara, Janete e Lúcia, pela presteza.
Aos colegas do laboratório de Cartografia: Wellington, Tatiane, Djane e Marcus Vinícius,
pelo convívio, pela paciência e pelas dicas e orientações que tornaram possível passar pelas
barreiras quase intransponíveis aos iniciantes no aprendizado dos softwares de
geoprocessamento.
Às novas amizades que se iniciaram nesta trajetória: Carla e Cristiane, pela troca de
conhecimentos e pela divisão de problemas e aflições nos trabalhos acadêmicos.
À Márcia Saturnino Santos, pela torcida, pela valorização, pelo companheirismo, pelo perdão,
pelo exemplo e pela amizade.
Às minhas maninhas Thaís e Gleice, parceiras nesta trajetória de obstáculos. À Neuza
(Neuzita), pelo apoio constante e pelas palavras de esperança e fé.
Aos manos, Marcelão e Valtair pela amizade e companheirismo que se iniciaram ainda na
graduação e permaneceram fortes, apesar do tempo.
À Sarah, pelo companheirismo e bons momentos que se cristalizaram na memória.
Ao grande companheiro Valter Machado da Fonseca, pela amizade, pelo apoio e pelas ricas
discussões acerca do complexo mundo moderno. À sua companheira Carmem, pela simpatia.
À professora Edna Chimango, que pesquisou a mesma área de estudo, porém com um
enfoque histórico. Por sua contribuição ao confiar os materiais bibliográficos importantes ao
desenvolvimento desta pesquisa.
Aos amigos “guerreiros” da Associação dos Geógrafos Brasileiros – seção Uberaba/MG, pela
torcida.
Enfim, a todos os amigos e professores, inclusive aqueles que não lembrei de citar, àqueles de
graduação da antiga FEU/Uberaba-MG e outros que nesta trajetória estiveram distantes, mas
nunca esquecidos, pela oportunidade de crescimento e experiência ao longo dos anos de
formação profissional.
À minha Mãe Maria Aparecida, pelo amor incondicional, pela referência de ser humano, por
jamais titubear nem medir esforços em sua dedicação diária à formação humana de seus
filhos, sem esperar nada em troca, além das atitudes humanas, éticas e morais que ofereceu
como exemplo. Assim como meu Pai, José Eurípedes, que sempre preocupou em oferecer
como maior lição de vida a honestidade e o caráter. Aos meus irmãos Ari e Ana Márcia.
E um agradecimento especial Àquele que colocou em meu caminho os obstáculos, necessários
ao meu crescimento humano e espiritual, e os anjos, necessários nos momentos de fraqueza e
dificuldade. À Deus, que sempre se fez presente.
“Bem aventurados os que têm fome e
sede de justiça, pois eles serão fartos”.
Mateus 5:6
Resumo
O crescimento urbano, na maioria das vezes, não é acompanhado de uma adequada infra-
estrutura que garanta um ambiente saudável e uma qualidade de vida adequada. O crescente
processo de urbanização e industrialização tem provocado alterações significativas no meio
ambiente, alterando a qualidade de alguns suprimentos vitais ao homem tais como: ar puro e
fresco, água potável, alimento, espaços de lazer, dentre outros. Um bairro em Uberaba MG,
simboliza este processo: o Alfredo Freire. Está localizado ao lado de um Distrito Industrial e
tem a qualidade ambiental afetada pelos resíduos gerados nas atividades industriais vizinhas.
Levantou-se como problemáticas orientadoras desta pesquisa: Por que construir um bairro
segregado espacialmente da cidade (à época) e ao lado de um Distrito Industrial? Qual a
percepção dos moradores em relação qualidade ambiental do bairro? A partir disso foi
delineado como objetivo geral: elaborar e analisar o mapa da percepção da qualidade
ambiental urbana do bairro Alfredo Freire e, como objetivos específicos: compreender os
processos de produção e reprodução da cidade; traçar algumas características gerais do perfil
sócio-econômico dos moradores do bairro; identificar e espacializar a percepção ambiental
dos moradores em relação a alguns indicadores da qualidade ambiental; elaborar os mapas de
cada indicador; interpolar os mapas, elaborar e analisar o mapa final da Qualidade Ambiental
Urbana (QAU). No capítulo 1 é feita uma incursão histórica na problemática tratada nesta
pesquisa, buscando traçar as causas e entender os processos que engendraram todo o quadro
sócio-ambiental degradante. É introduzida a discussão acerca dos conceitos e métodos de
avaliação da QAU e qualidade de vida. No capítulo 2 é apresentada a metodologia, os
procedimentos operacionais e os materiais utilizados na pesquisa. O capítulo 3 apresenta a
história do bairro e o perfil do morador. Inicialmente é feita uma caracterização histórico-
geográfica da área de estudo, neste contexto ficará claro como a questão da problemática
ambiental está na gênese do bairro. No capítulo 4 são apresentados os resultados diretamente
relacionados aos quatro indicadores da qualidade ambiental definidos nos objetivos
específicos. Tais resultados estão apresentados na forma de mapas, gráficos e tabelas. É
demonstrado como foi elaborado o mapa síntese da QAU, pelo critério da média simples. São
feitas algumas considerações da limitação deste método e, é apresentada uma segunda
alternativa: o método de interpolação, visto que este é o que mais se aproxima da realidade.
Discute-se, também, como as tecnologias relacionadas ao geoprocessamento podem ser úteis
e eficientes na análise do fenômeno estudado e na representação da QAU. Por fim, são
propostas algumas medidas urgentes com o objetivo de minimizar os impactos ambientais e
melhorar a qualidade ambiental e de vida dos moradores do bairro Alfredo Freire / Uberaba
MG.
Palavras chave:
Qualidade Ambiental Urbana – Percepção Ambiental – Cartografia Ambiental –
Geoprocessamento – Uberaba MG.
Abstract
The urban growth, most of the time, is not followed by an adjusted infrastructure that
guarantees a healthful environment and a proper life quality. The urbanization and
industrialization increasing process has provoked significant alterations in the environment. It
has been modifying some vital supplements’ quality , such as: pure and cool air, drinking
water, food, leisure spaces, amongst others. A quarter in Uberaba MG, symbolizes this
process: Alfredo Freire. It is located next to an Industrial District and has the environmental
quality affected by the residues generated in the neighboring industrial activities. It was arisen
as problematic issues which guides this research: Why to construct a quarter segregated from
the city (at that time) and next to an Industrial District? Which is its inhabitants perception in
relation to the quarter environmental quality? From this, it was defined as general objective:
to elaborate and analyze the urban perception map of Alfredo Freire quarter environmental
quality and as specific objective: to understand the city production and reproduction
processes; to outline some general characteristics of the quarter inhabitants’ social-economic
profile; to identify and to establish the ambient perception of the inhabitants in relation to
some ambient quality pointers; elaborate the maps of each pointer; interpolate the maps,
elaborate and analyze the final map of Urban Environmental Quality (QAU). In chapter 1 a
historical incursion in the issue studied in this research is developed, searching to determine
the causes and understand the processes that mix the miserable social-ambient situation. It is
introduced the discussion concerning QAU evaluation concepts and methods and life quality.
In chapter 2 the methodology, the operational procedures and the materials used in the
research are presented. Chapter 3 presents the history of the quarter and the inhabitant profile.
Initially, it is done a geographic-historical characterization of the study area. In this context it
will be clear how the problematic environmental issue is in the quarter genesis. In chapter 4,
are presented the results directly related to the four defined pointers of the environmental
quality in the specific objectives. Such results are presented in the form of maps, graphs and
tables. It is demonstrated how QAU’s synthesis map was elaborated, by the criterion of the
simple average. Some consideration about this method limitation are explained and one
second alternative is presented: the interpolation method. So that, this is the closest to the
reality. It is argued, also, how the technologies related to the geo-processing can be useful and
efficient in the studied phenomenon analysis and QAU representation. Finally, some
proposals are presented as urgent measures with the objective to minimize the environment
impacts and improve the life and ambient quality of Alfredo Freire quarter inhabitants in
Uberaba-MG.
Words key:
Urban Environmental Quality - Environment Perception - Ambient Cartography – Geo-
processing – Uberaba-MG.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fotos
Foto 1 – Antiga Ágora em Tessalônica, Grécia. 21
Foto 2 – Rua situada em encosta com declividade superior a 15%, apresentando o
processo erosivo nas vias sem pavimentação. 77
Foto 3 – Rua em encosta com declividade superior a 15%, ângulo oposto à foto 2 77
Foto 4 - Vista aérea do bairro Alfredo Freire – 1981 80
Foto 5 – Quadra K15: Vegetação alterada de Cerrado. 103
Foto 6 – Quadra K15–Depósito irregular de entulhos no trevo de entrada do bairro AF. 103
Foto 7 - Quadra L10 – Área destinada a depósito de entulhos com presença de lixo
doméstico. 104
Foto 8 – Praça ‘P4’ – Praça Principal. 105
Foto 9 – Praça ‘P4’ – Praça Principal: Igreja Católica. 105
Foto 10 – Praça ‘H10’ – Primeiro plano: área gramada. 106
Foto 11 – Praça ‘H10’: Precários equipamentos de diversão e bancos danificados. 106
Foto 12 - Praça P7. 107
Foto 13 – Praça A14: Predomínio de palmeiras 107
Foto 14 – Quadra D2: Morador depositando lixo em área-projeto de praça. 108
Foto 15 – Quadra K11: Depósito irregular de lixo doméstico e entulhos. 108
Foto 16 – Rua da quadra D2 bem arborizada. 109
Foto 17 Quadra A7: Terreno livre. 109
Foto 18 – Lateral arborizada / Montículos de depósito de lixo. 110
Foto 19 – Quadra M6 (Alfredo Freire 3): Depósito de lixo associado a acúmulo de água.110
Foto 20 - Terreno abandonado no AF3 124
Foto 21 - Ocupação rarefeita: Terrenos abandonados no AF3 124
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadros
Quadro 1 – Modelo de Desenvolvimento Econômico (MDE) vigente. 23
Quadro 2 Geoprocessamento 49
Quadro 3 - Banco de dados QAU / Projeto DI-Alfredo. 57
Quadro 4 - Banco de dados QAU, projeto Município. 58
Quadro 5 - Representação das diferentes categorias de espaços livres. 100
Quadro 6 - Classificação dos espaços livres públicos. 101
Quadro 7 - Atribuição de pesos: espaços livres públicos. 111
Quadro 8 - Atribuição de pesos: casos de dengue no ano de 2006. 117
Quadro 9 - Atribuição de pesos: incidência de pragas urbanas. 121
Quadro 10 - Atribuição de pesos: poluição atmosférica 128
Figuras
Figura 1: Esquema de construção de um Banco de Dados em um SIG. 56
Figura 2: Banco de dados para geração dos mapas no software SPRING. 56
Figura 3 - Visualização do banco de dados QAU no software SPRING. 57
Figura 4 – Diagramação final do mapa no software SCARTA(SPRING). 59
Figura 5 – Localização da área de estudo: Bairro Alfredo Freire
no município de Uberaba – MG, Brasil. 68
Figura 6 - Evolução da mancha urbana da cidade de Uberaba MG – 1930 a 1980. 71
Figura 7 – Foto aérea mostrando a densidade populacional variada e
os focos de poluição: Lagoa de decantação e DI-1. 83
Figura 8: Direção dos ventos que intensificam a poluição do ar no Alfredo Freire. 127
Figura 9: Qualidade Ambiental Urbana: Método da Interpolação
(formato coleção de mapas) 138
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráficos
Gráfico 1 – Expectativa de crescimento da População Mundial – 1950 – 2050 34
Gráfico 2 – Tendência Demográfica do Brasil / 1940 – 2000. 35
Gráfico 3 – Crescimento da População de Uberaba a partir de 1940. 69
Gráfico 4 – Percepção quanto ao preconceito - valores em % 85
Gráfico 5 – Residências em que pelo menos um membro trabalha no DI1 (%). 86
Gráfico 6 - Renda Média Mensal Familiar - bairro AF. 87
Gráfico 7 - Renda Média Familiar Mensal Comparada - Bairro AF. 88
Gráfico 8 – Escolaridade no bairro Alfredo Freire 88
Gráfico 9 - Satisfação com os espaços livres públicos 113
Gráfico 10 – Aproveitamento das horas vagas – AF. 114
Gráfico 11 – Aproveitamento das horas vagas – AF1 2 e 3. 115
Gráfico 12 - Avaliação dos moradores em relação aos espaços livres públicos. 115
Gráfico 13 – Casos de dengue no Alfredo Freire – comparado. 119
Gráfico 14 – Casos de dengue no AF – geral. 120
Gráfico 15 – Incidência pragas urbanas – comparada. 123
Gráfico 16 – Incincia de pragas urbanas – geral. 123
Gráfico 17 – Velocidade e freqüência dos ventos em Uberaba MG. 126
Gráfico 18 -Poluição Atmosférica por unidade da paisagem. 129
Gráfico 19 - Poluição atmosférica geral. 129
Gráfico 20 – Qualidade Ambiental Urbana: média simples por unidade da paisagem. 132
Gráfico 21 - Qualidade Ambiental Urbana: média simples – geral. 134
Gráfico 22 - Intensidades da QAU por unidade da paisagem no bairro AF. 139
Gráfico 23 - Peso geral da QAU 140
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
LISTA DE TABELAS
Tabela - Aspectos Demográficos da População de Uberaba 70
Tabela - Percepção quanto ao preconceito – valores absolutos 85
Tabela - Alguém na família trabalha no DI1? 86
Tabela - Os maiores problemas por setores do bairro. 91
Tabela – Os maiores problemas do bairro – média geral 92
Tabela - Satisfação com os espaços livres públicos. 113
Tabela - Casos de dengue ordenado por unidade da paisagem. 117
Tabela - Casos de dengue em números absolutos e percentuais 119
Tabela - Incidência de Pragas Urbanas 123
Tabela – Direção predominante dos ventos em Uberaba MG. 126
Tabela - Ação dos ventos que intensificam a poluição atmosférica no AF. 128
Tabela - Poluição Atmosférica 128
Tabela - Atribuição de pesos: Qualidade Ambiental Urbana. 132
Tabela - Avaliação da QAU por unidade da paisagem. (%) 132
Tabela - Valores absolutos e percentuais da avaliação geral da QAU. 134
Tabela - Critério de classificação para análise da QAU 135
Tabela - Distribuição das quadras conforme o peso da QAU. 136
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 – Principais fontes de poluição no bairro Alfredo Freire. 61
Mapa 2 – Codificação e quantidade de questionários por quadra 64
Mapa 3 – Setores de análise da Qualidade Ambiental Urbana 66
Mapa 4 – Evolução da mancha urbana da cidade de Uberaba MG – 1930 a 2000. 72
Mapa 5 – Declividade do relevo no bairro AF e Distrito Industrial I. 76
Mapa 6 – Evolução do Uso e Ocupação bairro AF. 79
Mapa 7 – Uso e Ocupação do Solo – Alfredo Freire. 90
Mapa 8 – A imagem do bairro Alfredo Freire. 96
Mapa 9 - Espaços livres públicos e fontes de poluição. 102
Mapa 10 – Percepção dos Moradores quanto aos espaços livres (praças) 112
Mapa 11 – Casos de dengue - 2006. 118
Mapa 12 – Incidência de pragas urbanas. 122
Mapa 13 – Percepção da Poluição atmosférica. 130
Mapa 14 – Qualidade Ambiental Urbana: Média simples dos Indicadores. 133
Mapa 15 – Qualidade Ambiental Urbana: Interpolação dos indicadores. 137
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AACAF – Associação Amigos do Conjunto Alfredo Freire.
AF – Alfredo Freire.
AF1 – Alfredo Freire 1
AF1N – Alfredo Freire 1 – Norte
AF1S – Alfredo Freire 1 - Sul
AF2 – Alfredo Freire 2
AF3 – Alfredo Freire 3
APP – Áreas de Proteção Permanente.
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente.
DI – Distrito Industrial
DI 1 – Distrito Industrial 1.
Dig.: Digitalização / Org.: Organização
EIA/RIMA – Estudo de Impacto Ambiental / Relatório de Impacto Ambiental.
EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
ETE – Estação de Tratamento de Esgoto
FJP / BH – Fundação João Pinheiro / Belo Horizonte
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
MDE – Modelo de Desenvolvimento Econômico.
ONU – Organização das Nações Unidas.
PI – Plano de Informação.
PMU – Prefeitura Municipal de Uberaba
PSF – Posto de Saúde Familiar
QAU – Qualidade Ambiental Urbana.
QV – Qualidade de Vida.
SIG – Sistemas de Informações Geográficas.
SPRING – Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 17
CAPÍTULO 1 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20
1.1 - Uma introdução às causas dos problemas ambientais urbanos. 20
1.2 - O grito dos ambientalistas. 26
1.3 - A lógica do crescimento urbano e a segregação social refletida no espaço
geográfico. 30
1.4 - A natureza na/da cidade. 33
1.5 - Qualidade de Vida (QV) e Qualidade Ambiental Urbana (QAU). 39
1.5.1 - A Qualidade de Vida nas cidades. 39
1.5.2 - Uma reflexão em torno da Qualidade Ambiental Urbana. 41
1.6 - Alguns Indicadores da Qualidade Ambiental Urbana 44
1.7 - O geoprocessamento na análise da QAU. 47
1.7.1 - O Geoprocessamento aplicado ao estudo da percepção ambiental urbana. 48
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA, MATERIAIS E PROCEDIMENTOS
TÉCNICOS. 51
2.1 Fundamentação teórico-metodológica. 51
2.2 Materiais 54
2.3 - Procedimentos técnico-operacionais 58
2.3.1 - Critérios para definição dos indicadores da Qualidade Ambiental Urbana 58
2.3.2 - Método de aplicação do questionário: amostragem. 60
2.3.3 Preenchimento do questionário 62
2.3.4 – Critérios cartográficos para espacialização dos indicadores da QAU. 62
2.3.5 - O mapa da Qualidade Ambiental Urbana final. 65
2.4 - Proposta de análise por unidades da paisagem. 66
CAPÍTULO 3 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 67
3.1 - Uberaba: Algumas considerações histórico-geográficas. 67
3.1.1 - O sítio urbano de Uberaba 73
3.2 - O bairro como unidade de análise da paisagem. 77
3.3 - O bairro Alfredo Freire: Algumas considerações histórico-geográficas. 80
3.4 - O morador pesquisado do AF: Algumas características sócio-econômicas. 86
3.5 - O Alfredo Freire hoje: Como está organizado seu espaço geográfico. 89
3.6 - A imagem do Alfredo Freire – uma questão de percepção. 93
CAPÍTULO 4 – OS INDICADORES E A PERCEPÇÃO DA
QUALIDADE AMBIENTAL URBANA. 97
4.1 - A perceão da qualidade ambiental urbana 97
4.2 - Os Espaços Livres 98
4.2.1 - Algumas categorias de espaços livres. 99
4.2.2 - Classificação e qualificação dos espaços livres do bairro AF. 101
4.2.3 - A avaliação dos espaços livres públicos pela população. 111
4.3 - Os Casos de Dengue 116
4.4 - Incidência de Pragas Urbanas 121
4.5 - Poluição Atmosférica 125
4.6 – Mapa da Qualidade Ambiental Urbana – Bairro Alfredo Freire 131
4.6.1 - O mapa da QAU: critério da média simples. 131
4.6.2 - Uma outra maneira de interpretar a QAU: critério da interpolação. 136
CONSIDERAÇÕES FINAIS 142
REFERÊNCIAS 149
ANEXOS 155
17
INTRODUÇÃO
O crescimento urbano, na maioria das vezes, não é acompanhado de uma adequada
infra-estrutura que garanta um ambiente saudável e uma qualidade de vida adequada. O
crescente processo de urbanização tem provocado alterações significativas no meio ambiente,
alterando a qualidade de alguns suprimentos vitais oferecidos ao homem tais como: ar puro e
fresco, água potável, alimento, espaços de lazer, dentre outros.
Outro fator importante a destacar é que a deterioração do ambiente não é homogênea,
é comum verificar um grande contraste na paisagem urbana com áreas insalubres e precárias
ao lado de condomínios fechados com toda infra-estrutura e abundância do verde.
Em Uberaba, MG, existe uma situação que fundamenta tal afirmação: um bairro
distante da zona central, construído ao lado de um Distrito Industrial. Trata-se do bairro
Alfredo Freire. Neste local existe um histórico de reclamações por parte de seus moradores
quanto à poluição ambiental representada pelos resíduos produzidos pelas atividades
industriais.
Diante disso, levantam-se os seguintes questionamentos como problemática que
orientou a presente pesquisa:
Quais motivos levaram ao loteamento do bairro Alfredo-Freire ao lado de um Distrito
Industrial?
Como está e como os moradores percebem a qualidade ambiental do bairro Alfredo-
Freire?
Qual a percepção dos moradores em relação aos indicadores da qualidade ambiental:
espaços livres públicos, incidência de dengue, incidência de pragas urbanas e poluição do ar.
A partir destas indagações foram delineados os objetivos da pesquisa:
Objetivo Geral
Elaborar e analisar o mapa da percepção da qualidade ambiental urbana do bairro Alfredo
Freire.
Objetivos Específicos
- Compreender os processos de produção e reprodução da cidade.
18
- Traçar algumas características gerais do perfil sócio-econômico dos moradores do bairro
AF.
- Identificar e espacializar a percepção ambiental dos moradores em relação aos indicadores
da qualidade ambiental: incidência de dengue, incidência de pragas urbanas, satisfação com
os espaços livres públicos e poluição do ar.
- Elaborar os mapas de cada indicador.
- Interpolar os mapas, elaborar e analisar o mapa final da Qualidade Ambiental Urbana
(QAU).
Apresentação dos capítulos
No capítulo 1 é feita uma incursão histórica na problemática tratada nesta pesquisa,
buscando traçar as causas e entender os processos que engendraram todo o quadro sócio-
ambiental degradante. As cidades são analisadas no contexto da lógica do sistema que
comanda sua forma de produção e reprodução – o capitalismo. As crises e problemas
ambientais são entendidas, antes de qualquer coisa, como uma crise da civilização, de valores
e princípios humanos. Assim, entende-se o ambiente como um reflexo deste processo, ou seja,
o local onde é projetada a essência dos avanços e evolução do homem. É introduzida a
discussão acerca dos conceitos e métodos de avaliação da Qualidade Ambiental Urbana
(QAU) e Qualidade de Vida (QV).
No capítulo 2 é apresentada a metodologia, os procedimentos metodológicos e os
materiais utilizados na pesquisa. Cita-se alguns autores que deram importantes contribuições
quanto à discussão do método de se estudar a percepção e a qualidade ambiental. Apresenta-
se, os procedimentos técnico-operacionais e os materiais utilizados para a elaboração dos
mapas. Está demonstrado como as ferramentas ligadas às geotecnologias podem favorecer a
elaboração, manipulação e atualização de mapas de forma ágil, prática e dinâmica, com uma
qualidade impecável. Além disso, descreve-se como foi elaborado o banco de dados,
necessário à elaboração dos mapas. Os meios e critérios para escolha dos indicadores,
levantamento das informações, além dos critérios cartográficos para classificação dos níveis
de QAU para cada indicador e para o mapa síntese, também são discutidos neste capítulo.
O capítulo 3 apresenta a história do bairro e o perfil do morador. Inicialmente é feita
uma caracterização histórico-geográfica da área de estudo, inserindo-a no desenvolvimento da
cidade de Uberaba/MG. Neste contexto ficará claro como a questão da problemática
ambiental está na gênese do bairro. As condições degradantes precedem a origem do bairro.
19
São discutidos os principais problemas ambientais apontados pelos moradores em fontes
secundárias (jornais e relatórios de pesquisas realizados no bairro) e fonte primária (relatos
orais e os registrados em questionário nas pesquisas de campo). Ainda neste capítulo, são
apresentados alguns resultados da pesquisa realizada que identifica o perfil sócio-econômico
dos moradores do bairro.
Enfim, no capítulo 4 são apresentados os resultados diretamente relacionados aos
quatro indicadores da qualidade ambiental definidos nos objetivos específicos. Tais resultados
estão apresentados na forma de mapas, gráficos e tabelas. Além disso, está demonstrado
também como os quatro mapas foram interpolados, formando um mapa síntese da QAU do
bairro. Após estes procedimentos, são feitas algumas considerações acerca da importância da
proposta de métodos de análise da QAU em grande escala, principalmente no campo da
percepção, dada a alta carga de subjetividade que, se não tomados os devidos cuidados,
poderá maquiar os resultados, distanciando-os da realidade.
Nas considerações finais são retomados os principais aspectos da pesquisa,
principalmente quanto aos resultados obtidos. São feitas algumas sugestões e recomendações
para mitigar os problemas ambientais e melhorar a QAU do bairro. São ressaltadas as
limitações metodológicas inerentes à percepção e qualidade ambiental. Discute-se, também,
como as tecnologias relacionadas ao geoprocessamento podem ser úteis e eficientes na análise
do fenômeno estudado e na representação da qualidade ambiental urbana.
20
CAPÍTULO 1 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo faremos uma incursão histórica na problemática tratada nesta pesquisa,
buscando traçar as causas e entender os processos que engendraram todo o quadro sócio-
ambiental degradante.
Por ser a expressão máxima do poder de transformação do homem sobre a natureza e
por se tratar do objeto de estudo deste trabalho, as cidades são analisadas e inseridas no
sistema que comanda sua forma de produção e reprodução – o capitalismo. Em decorrência
disso, os traços da contradição e desigualdade deste sistema estarão expressos na paisagem e
isto também será discutido no presente capítulo.
As crises e problemas ambientais são entendidas, antes de qualquer coisa, por uma
crise da civilização, de valores e princípios humanos. Assim, entende-se o ambiente como um
reflexo deste processo, ou seja, o local onde é projetada a essência dos avanços e evolução do
homem. Diante disso, questiona-se: que humanidade estamos formando? Que mundo
queremos?
O fato é que as condições ambientais são degradantes à grande maioria da população e
afeta de forma mais agressiva às camadas menos privilegiadas dentro do sistema de sociedade
de classes. O capítulo é concluído com a discussão de conceitos e métodos de avaliação da
Qualidade Ambiental Urbana (QAU) e Qualidade de Vida (QV).
1.1 - Uma introdução às causas dos problemas ambientais urbanos.
A origem das cidades remonta à antiguidade e, conforme Sposito, (2005), está mais
ligada ao aspecto político e social que de produção. A partir do momento em que a mulher
passa a desempenhar a tarefa dos serviços domésticos e dedicar-se à agricultura, ou seja, usar
a terra como provedora de alimentos, o homem deixa sua vida nômade, uma vez que os
serviços de caça para a alimentação se tornam secundários. Isso marca um dos primeiros
vínculos do homem com a terra de forma permanente, sendo um dos primeiros passos para a
constituição da cidade.
Ainda na antiguidade, quando as aglomerações formaram vilas e aldeias, havia
estabelecido nas cidades uma relação de exploração onde figuravam de um lado os aldeões,
encarregados das tarifações e oferendas, de outro os reis ou caçador-chefe dotado de poder.
Percebe-se a configuração de uma sociedade de classes, com papéis estabelecidos e
determinados na produção da cidade.
21
A Europa possuía grandes centros urbanos, com destaque para o Império Romano que
abrangia uma grande região de domínio cujas cidades estavam vinculadas ao poder central.
“Roma atingiu mais ou menos dois mil hectares, abrigando até o século III d.C. de setecentos
mil a um milhão de habitantes.” (SPOSITO, 2005, p. 23)
A Grécia apresentava o modelo de cidade democrática. As características da
organização espacial daquela sociedade definiam um modo de vida urbano de características
semelhantes às formas das cidades atuais. Este espaço de vivência da sociedade grega era
denominado pólis,
correspondente à cidade.
Na constituição da pólis, a ágora era fundamental, tratava-se da praça principal, ou
seja, um espaço livre de edificações caracterizada pela presença de feiras e mercados em seus
limites, além dos edifícios públicos. Ela manifestava a expressão máxima da esfera pública no
plano urbano grego. Ali os cidadãos encontravam-se e discutiam variados assuntos.
Aconteciam também os tribunais populares, era o espaço da cidadania. Por oferecer este
espaço para o encontro, o diálogo e as discussões políticas a ágora conferia à pólis grega o
símbolo de cidade democrática.
O desenvolvimento da pólis foi favorecido pelo contexto histórico da época, sua
organização sócio-espacial era um convite à participação cidadã, daí a máxima do filósofo
Aristóteles afirmando que o homem é um animalpolitico’
1
e que somente na pólis ele
poderia realizar plenamente suas potencialidades.
Foto 1 – Antiga Ágora em Tessalônica, Grécia.
Fonte: Wikipédia, 2007.
1
ARISTÓTELES. Política. Trad. Torrieri Guimarães.Coleção a obra-prima de cada autor. Ed. Martin Claret.
o Paulo – SP 2005.
22
O auge do desenvolvimento das cidades na Antiguidade é marcado pelo intenso
comércio e uma forte interdependência entre elas. Entretanto, com a queda do Império
Romano, este processo de desenvolvimento entra em crise. No mundo ocidental a cidade
perde sua importância e sua função, uma vez que inicia um novo modelo de produção,
baseado na subsistência – o feudalismo. As antigas cidades agora transformam-se em feudos
isolados e auto-suficientes.
Durante toda a Idade Média, não se pode falar em cidades à moda antiga. Elas só
começam a ser reconstruídas a partir do fim da Idade Média, quando o comércio nos burgos
se intensifica e lança as primeiras sementes do novo modo de produção – o capitalismo.
A atividade comercial nos burgos dá-se por meio das trocas que intensificam o
intercâmbio entre os burgos, aumentam a aglomeração populacional, onde vão ser
reconstruídas as cidades, agora sob a lógica do modelo de produção capitalista.
2
Didaticamente este modelo de produção é dividido em 3 fases: o capitalismo
comercial, baseado na doutrina econômica do mercantilismo, o capitalismo industrial, onde a
sociedade é dividida entre os detentores dos meio de produção e os detentores da força de
trabalho e o capitalismo financeiro, onde dominam as corporações financeiras
A fase industrial representa um marco nas discussões ambientais, foi um dos grandes
símbolos do capitalismo e marca o ressurgimento das cidades, agora sob a forma do modelo
de produção vigente e todas as contradições e desigualdades inerentes ao sistema. Tais
contradições e desigualdades estarão impressas no espaço geográfico das cidades.
Até, 1850, nenhum país poderia ser considerado como uma sociedade
predominantemente urbana e, até 1900, apenas a Grã-Bretanha atingia essa
posição. Neste final de século, todos os países mais industrializados e
desenvolvidos são plenamente urbanos e, mesmo os países menos
desenvolvidos, caminham em passo acelerado nesse rumo. (DAVIS, 1977
apud MAZETTO, 2000, p.25)
Com o objetivo de acumular capital e gerar lucro, este modelo mostrou-se predatório à
natureza e ao ambiente. Toda a dimensão ecológica e cultural da natureza ficou reduzida a
uma questão material, ou seja, a natureza transformou-se numa mera fonte de recursos e
matéria-prima.
Essa vio é fortemente influenciada pelo método cartesiano
3
responsável pelo
distanciamento e desvinculação do Homem em relação à Natureza e sua conseqüente negação
2
Admite-se que em outros modelos de produção, como o socialista, a relação sociedade-natureza também
representou impactos significativos no equilíbrio natural, entretanto, nessa pesquisa limitaremos a análise dessa
relação sob o modelo de produção capitalista, já que é o predominante mundialmente.
23
de condição natural. Ai está a gênese de toda a crise ambiental da atualidade que, antes de
tudo é uma crise de valores da civilização, dominada pela visão imediatista, materialista,
utilitarista e egoísta, que explicam o culto ao consumismo exacerbado, marca principal do
Modelo de Desenvolvimento Econômico (MDE) vigente.
No esquema representado no quadro 1, Genebaldo Dias, (2001) sintetiza a cadeia
produtiva do atual sistema de produção, que tem por finalidade a acumulação do capital e do
lucro que, diga-se de passagem, serão concentrados nas mãos de poucos e se explicam pela
alta taxa de concentrão de renda e pela desigualdade social.
MDE
> Lucro
> Produção
> Pressão sobre os Recursos Naturais
> Produtos Mídia
> Consumismo
> Descarte
> Impactos Ambientais
< Qualidade de Vida
> Empréstimos ao Sistema Financeiro Internacional (países
pobres)
Quadro 1 – Modelo de Desenvolvimento Econômico (MDE) vigente.
Fonte: Genebaldo Dias 2001
Adaptação: Aristóteles T. Neto 2007
A produção, necessária para atenter aos objetivos citados, será responsável por uma
forte pressão sobre os recursos naturais, matéria-prima a ser trasnformada em mercadoria.
Para ter um fluxo contínuo, as mercadorias devem ser expostas como necessidades de
primeira ordem. A mídia com seu poder persuasivo contribui expondo um modelo, um padrão
a seguir, provocando e estimulando um consumismo exacerbado e desenfreado, inculcando na
sociedade de forma geral, um padrão de vida muitas vezes inviável à maioria da população e
insustentável ao planeta. Vítima desse jogo, a sociedade figura como uma peça desse grande
‘quebra-cabeça’.
Os impactos no ambiente dão-se em todas as fases desse processo: na aquisição da
matéria prima, onde as alterações provocam desequilíbrios e impactos em cadeia. Em todas as
fases da produção são gerados resíduos, assim como na etapa final, a do consumo, onde as
embalagens viram resíduos que muitas vezes são descartados de forma inadequada,
impactando o ambiente.
A lúcida geógrafa Arlete Moysés Rodrigues, (1998) adjetiva este MDE como de
produção/destrutiva, responsável pela formação de uma sociedade do descartável,
dispensando maiores explicações após analisar o quadro 1 e a citação a seguir.
3
Criado pelo filósofo René Descartes, consiste no ceticismo metodológico. Tem por principais características a
verificação de evidências reais e indubitáveis do fenômeno, a análise compartimentada e fragmentada do objeto
de estudo, a síntese e a enumeração dos princípios e conclusões. A crítica ao seu método se dá na falta de uma
visão integradora e holística do fenômeno estudado.
24
o bem estar social é idealizado pelo incentivo ao consumo, o que quer dizer
produção de mais e mais mercadorias para aumentar o consumo. A idéia do
Bem-Estar está assim umbilicalmente ligada à de mercadorias que
constroem a sociedade do descartável (RODRIGUES, 1998, P.51)
A formação desse ideário popular é um processo de retroalimentação que justifica a
manutenção do sistema produtivo atual. Tal modelo é defendido principalmente por aqueles
que se beneficiam diretamente deste processo, a exemplo dos países ricos, como os Estados
Unidos da América com o seu amercian way of life
4
.
Segundo essa lógica, os valores humanos, a solidariedade, o respeito, o altruísmo, ou
seja, o desenvolvimento humano, a capacidade de pensar e refletir, que deveriam orientar os
rumos da sociedade, são temas secundários diante da necessidade do desenvolvimento
econômico, do progresso e do materialismo.
Essa inversão de valores tem formado uma sociedade doente, perdida na ganância de
um modelo de desenvolvimento pautado por princípios individualistas, materialistas e
excludentes. A conseqüência natural é, de um lado, a concentração da renda, a formação de
uma elite que ostenta poder, luxúria, consumismo e desperdício e, por outro lado, uma grande
massa de miseráveis, vivendo sob condições sub-humanas, excluídos de muitos direitos
humanos e também dos ‘benefícios’
5
de tal MDE.
A ausência do Estado na garantia dos direitos de saúde, educação, emprego, habitação,
dentre outros, vai potencializar uma série de desgraças sócio-ambientais bem evidentes nas
cidades.
Dentre tantas, a violência figura como um dos graves problemas na cidade moderna.
Tal problema se alastrou como um câncer e faz parte do dia-a-dia nas cidades, principalmente
as grandes e médias.
Em decorrência de um crime bárbaro ocorrido no Brasil em fevereiro/2007, em que
uma criança de 6 anos foi arrastada por sete quilômetros, presa pelo cinto de segurança de um
carro roubado em um assalto, um noticiário levantou um debate a respeito da violência nas
cidades. Destaca-se a afirmação da filósofa a seguir
Essa exclusão das elites em relação à população gerou outro tipo de
indiferença: como a população excluída não tem o benefício da cidade, ela
4
Designação e divulgação do modo de vida norte americano como ideal. Tem por principais características o
machismo, uso intensivo dos meios de comunicação, cultura de massa, desrespeito às diferenças e estímulo ao
consumismo.
5
Entenda-se benefícios como ostentação, luxúria, riqueza material, alvo daqueles que detêm o poder e
comandam o MDE, responsável pela crise da sustentabilidade humana na Terra.
25
também não precisa seguir as regras. Ela cria suas regras próprias. Quando
esses valores perdem a razão de ser, volta o quê? A liberdade dos meus
instintos. Então, nós estamos voltando a um estado humano de animalidade
(...) Se não recuperarmos o valor da vida, nós vamos perder completamente
o rumo da civilização. Porque a cidade nasceu pra proteger a vida, e a vida
se perdeu. E a cidade protege o que hoje? (MOSÉ, 2004)
Este estado de barbárie ilustra a crise de valores da humanidade.
Nesta linha de pensamento, pode-se explicar a agressividade das ‘tribos urbanas’ como
uma resposta ao meio hostil e impessoal representado pelas grandes cidades.
A cidade é o reflexo do desenvolvimento. Os métodos e objetivos do desenvolvimento
explicam a crise sócio-ambiental que se coloca como o maior desafio à humanidade para o
presente século.
Se por um lado o avanço científico e tecnológico permitiu a uma determinada parcela
da população condições de luxúria e riqueza, por outro exclui a grande maioria desses
benefícios.
Afirma Ladrière que a ciência é animada por uma lógica interna que a leva a
querer sempre saber mais, não importando os limites e as conseqüências
desse conhecimento. Em lugar de a ciência ser um instrumento humano em
sua lida diária, é o humano que passa a ser um instrumento da ciência, para
que ela evolua sempre mais, para que o conhecimento seja cada vez mais
aprofundado e abrangente. (GALLO, 2001, p. 16)
O que se constata, principalmente a partir do século XX, é que boa parte do
desenvolvimento científico e tecnológico está inserido nas regras do mercado, na lógica
desenvolvimentista, pouco preocupado com os aspectos finalistas da vida humana.
Basta observar que a evolução científica e tecnológica não foi capaz de resolver o
problema da miséria e pobreza mundial, não acabou com a fome, não resolveu os conflitos
étnico-raciais, as guerras, a AIDS que assola mundo todo, em especial os países pobres, como
aqueles da África. Pelo contrário, contribuiu para a acumulação do capital e da sua
concentração, aumentando o fosso da desigualdade entre as classes.
A ciência moderna, até onde sabemos, é o projeto mais bem-sucedido da
história da humanidade. Mas de longe o mais catastrófico também. Sucesso
e catástrofe não se excluem necessariamente, muito pelo contrário: o maior
dos sucessos pode encerrar o maior potencial de catástrofe. Ora, a partir do
século 17, foi acumulado mais conhecimento sobre a natureza do que em
todos os séculos anteriores, mas à esmagadora maioria das pessoas tal
conhecimento se mostrou até hoje, em termos gerais, apenas de forma
negativa. Com o auxílio da ciência aplicada à tecnologia, o mundo não se
tornou mais belo, e sim mais feio. E a ameaça da natureza que pesava sobre
as pessoas não diminuiu na natureza tecnologicamente remodelada pelas
próprias pessoas, e sim aumentou. (KURZ, 2001)
26
Tal fato nos convida no mínimo a uma reflexão e questionamento a respeito dos
paradigmas que orientaram o desenvolvimento da ciência e do mundo.
1.2 - O grito dos ambientalistas
As duas revoluções industriais significaram o maior poder de transformação da
Natureza pelo Homem. Elas marcam a constituição de um dos maiores símbolos da ação
antrópica no meio – as cidades.
Urbanização e industrialização no capitalismo estão intrinsecamente ligadas. Como já
foi dito, com as primeiras indústrias as cidades pós-feudalismo começam a tomar corpo na
Europa.
Não obstante, o binômio indústria-cidade sempre foi incompatível com qualidade de
vida, principalmente no século XIX e início do século XX, na Europa, quando não existia
uma preocupação com o planejamento urbano que se deu em decorrência de uma necessidade
de mão de obra pelas indústrias.
Os rumos que o desenvolvimento industrial tomara, representava uma afronta à
sobrevivência nas cidades. Não havia o menor controle ambiental visando a garantir um
ambiente urbano saudável.
O ar tornara-se insuportável de respirar, os rios tornaram-se verdadeiros esgotos a céu
aberto, a poluição sonora era freqüente. A produção industrial representava uma grande
pressão no ambiente, não só na aquisição da matéria prima, mas também durante e depois da
sua produção. Os resíduos industriais eram e ainda são, principalmente em países pobres
dotados de alguma capacidade industrial, os grandes vilões da qualidade de vida nas cidades.
Dada a situação insuportável nas cidades européias no auge da industrialização, os
ambientalistas começam a se movimentar. Um dos primeiros alertas foi dado em 1962 com a
publicação do livro de Rachel Carson – “Primavera Silenciosa”:
...reunia uma série de narrativas sobre as desgras ambientais que estavam
ocorrendo em várias partes do mundo, promovidas pelo modelo de
“desenvolvimento” econômico então adotado, e alertava a comunidade
internacional para o problema (DIAS, 1999, p. 13).
27
A partir de então, a temática ambiental entra em foco e assume lugar de destaque nas
discussões políticas em nível internacional. Em Estocolmo, Suécia, no ano de 1972 a
Conferência sobre o Ambiente Humano, realizada pela Organização das Nações Unidas -
ONU atraiu delegações de 113 países em torno da discussão sobre meio ambiente. Foi um
marco histórico político que deu início a uma série de encontros internacionais, em torno de
um objetivo comum – achar uma solução para a crise ambiental.
Nesse encontro, chegou-se à conclusão que somente uma mudança radical no sistema
de desenvolvimento, na mudança de hábitos e comportamentos individuais, seriam capazes de
restaurar o equilíbrio ambiental. Isso implica uma mudança do paradigma de
desenvolvimento, que sempre teve por prioridade o desenvolvimento econômico.
O aprofundamento dos debates em torno destas questões vai criar grupos de discussões
que tratam de conceitos como Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.
Conforme aponta Rodrigues, (1998), quando se trata da sustentabilidade, tenta-se
inserir na problemática ambiental as variáveis econômicas, sociais, políticas, territorial e
espacial. Entretanto, tais conceitos são carregados de contradições e incertezas, daí a
necessidade de um aprofundamento no debate em torno desta polêmica questão.
O termo desenvolvimento sustentável é introduzido na pauta da discussão ambiental
internacional a partir de 1987, quando foi divulgado o relatório da Comissão Brundtland
6
, que
apresentava propostas e diretrizes gerais para o chamado desenvolvimento sustentável.
Em tese ele deve combinar Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimento Social.
Entretanto, o que se constata é uma grande retórica a respeito do desenvolvimento social que
não se traduz em ações que demonstrem e legitimam tal discurso, já que o Desenvolvimento
Econômico sempre teve prioridade dentro do modelo de produção vigente.
Segundo pesquisadores e pensadores da atualidade, a lógica capitalista na
qual se insere o conceito de desenvolvimento sustentável é justamente a
responsável pelo uso predatório dos recursos naturais, pela exploração e
exclusão social e pela submissão da maior parcela da população aos
interesses de parcelas menores grupos sociais, nações ricas e militarmente
poderosas.(FIGUEIREDO, 2001, p. 27)
Para sustentar a citação acima, basta refletir um pouco sobre o processo de espoliações
e apropriações que levaram ao enriquecimento dos países mais ricos do mundo, ditos
desenvolvidos.
6
Também denominada Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela Organização
das Nações Unidas, liderada pela ministra norueguesa Gro Halem Brundltand. Neste relatório foi cunhado pela
primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável: ‘aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades’. Fonte: ONU-Brasil. 2007.
28
Ribeiro, (2003, p.330), admite o desenvolvimento sustentável como uma forma
alternativa para manter a acumulação capitalista, objetivo final deste modelo de
desenvolvimento. Fala do ecocapitalismo, corrente que defende o capitalismo doce, que usaria
tecnologias que não agridem o ambiente, que trataria de arrumar o que o próprio capitalismo
engendrou. Cita outros autores que pensam o desenvolvimento sustentável enquanto
mecanismo de defesa da base natural necessária para a reprodução das condições de
existência de apenas 1/3 da população de todo o planeta. Entende que o alerta que o conceito
levanta é o devir da vida humana na Terra, levando a uma reflexão sobre a ética
contemporânea com vistas a possibilitar a reprodução da vida no futuro.
No atual momento histórico em que a crise ambiental põe em destaque
contradições da produção social do espaço, em que o ideário do
desenvolvimento é predominante, o conceito de desenvolvimento
sustentável parece jogar uma cortina de fumaça sobre estas contradições,
pois não propõe alterações nos modos de produzir e de pensar do modelo
dominante. (RODRIGUES, 1998, p.57)
Entre os autores dessa corrente temos a contribuição do geógrafo Carlos Walter Porto-
Gonçalves que nos diz:
Nos anos 1980, caminhamos para a idéia de ‘desenvolvimento sustentável’
e, na década de 1990, para a ISO 14000, ‘selo verde’, projetos de coleta
seletiva de lixo ou de ecoturismo. Entretanto, esse é um projeto de
globalização que vem sendo construído por cima, pelos de cima, para os de
‘cima’... (GONÇALVES, 2004, p.19)
Aqui cabe um parêntesis para um diálogo com o autor. Sua posição em relação ao
desenvolvimento sustentável é bem evidente e clara. Os ‘de cima’ formam um pequeno grupo
no mundo todo localizados, não necessariamente, mas principalmente nos países ricos. O
debate que o autor levanta é o questionamento a respeito de um outro projeto de globalização,
o da grande massa que habita a Terra e não tem vez no poder neste sistema. Dentre tantos
podemos citar os sem terra, os desempregados, os indígenas e os favelados.
São estes que lutam a cada dia e necessitam da mudança para garantir sua
sobrevivência. Eles representam um outro projeto de globalização, ao qual Milton Santos
(2004) sugere já no título Por uma outra globalização e afirma:
Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de
um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os países
subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os
opulentos e outras classes obesas; o indivíduo liberado partícipe das novas
massas e não o homem acorrentado; o pensamento livre e não o discurso
único. (SANTOS, 2004, p. 14)
29
A sustentabilidade que deve ser garantida é desses povos espoliados na atual fase capitalista da
globalização neoliberal.
...o conceito original de sustentabilidade ambiental está intimamente ligado
aos sistemas de produção em pequena escala, às atividades agrícolas com
possibilidades de “perenização” (centradas na não-utilização de fertilizantes
químicos e agrotóxicos), à adoção de estilos de vida e de produção de baixa
intensidade energética e à utilização de recursos renováveis.
(FIGUEIREDO, 2001, p.32)
Após uma reflexão em torno destes autores, podemos concluir que existe um
movimento dirigido pelos detentores do poder que se beneficiam do sistema atual, com o
objetivo de fazer pequenos reparos e ajustes de forma a garantir a permanência do status
quo.
A proposta do relatório Brundtland vem de encontro com estes objetivos. Trata-se
de métodos paliativos, que conferem um aspecto mais humano ao modo de produção
vigente. A idéia apregoada de “bem comum” oculta as contradições e as diferenças de
classes sociais existentes. Entende-se, desta maneira, que a prioridade é buscar alternativas
para continuar com o modelo genuinamente predatório de produção capitalista e não de
superar a crise civilizatória em que o mundo se encontra.
O desafio ambiental continua a nos convidar à busca de alternativas ao e
não de desenvolvimento. A experiência do desenvolvimento dos últimos
30/40 anos nos obriga a isso, e as lutas sociais que se travam desde os anos
1960, contra as quais se bate a globalização neoliberal, nos oferece
caminhos. (GONÇALVES, 2004, p.27)
É notável que a superação da problemática ambiental que se coloca não poderá ser
feita por outro caminho, senão o da mudança de paradigmas que foi responsável pelo atual
quadro de desgraças ambientais
7
.
A pergunta que deve sempre nortear as discussões a respeito deste assunto é,
desenvolvimento sustentável para quem? Sustentabilidade do quê?
Em um mundo onde a tendência é cada vez mais a concentração da população no meio
urbanizado, as questões e desafios da cidade requerem uma análise mais abrangente, sob o
entendimento do ambiente urbano como um todo, principalmente sua faceta ecológica, tão
urgente.
7
Entenda-se ‘ambientais’ como o conjunto dos fatores: ecológicos, políticos, culturais, econômicos e sociais,
como um todo. (Dias, 2001)
30
1.3 - A lógica do crescimento urbano e a segregação social refletida no espaço geográfico.
O planejamento urbano no Brasil, segundo Villaça (1999) possui três fases. O período
entre 1875 e 1930 marca a primeira fase do planejamento baseado na cultura renascentista, os
planos possuem um caráter de embelezamento e melhoramento. Entretanto, em meados desta
primeira fase, há uma necessidade de uma cidade funcional. Desta forma, a prioridade gira em
torno das obras de infra-estrutura, favoráveis à ampliação e reprodução do capital, em
detrimento das obras de embelezamento, bem como as de habitação.
Já a partir da década de 1930, os interesses da grande massa se fazem mais evidentes
em confronto com os da classe dominante. A saída então foi tornar o planejamento mais
tecnocrático, como forma de legitimar as ações no urbano por meio da racionalidade e da
técnica. A conseqüência é a importação de planejamentos estrangeiros, alienados da realidade
local e de difícil aplicação prática.
A terceira fase, conforme Villaça, (1999) vai de 1940 a 1990. É caracterizada pelo
grande distanciamento entre o discurso e planos da classe dominante e a realidade das massas
populares. Foi pautado pela construção de planos diretores que não atingiram aos objetivos
que se propôs, transformando-se em meras obras de referências. O planejamento é mais um
discurso ideológico que aplicação prática.
No final da década de 1980 toma força o Movimento Nacional pela Reforma
Urbana
8
que coloca em pauta a questão fundiária. Os ideais desse movimento foram
combatidos de forma reacionária, por meio da retomada dos planos diretores, que na visão de
Martinelli, (2004) foi um recurso ideológico para reverter um movimento social de mudança
do paradigma de crescimento das cidades, ofuscando a questão fundiária da Reforma Urbana.
Na prática, o que se observa é que a cidade obedece a uma lógica de desenvolvimento
regulada pelo mercado imobiliário especulativo do capital, apesar dos instrumentos formais
reguladores como o Estatuto da Cidade
9
e demais legislações específicas.
8
Segundo Maricato, (1997) apud BASSUL, (2002), foi um movimento que surgiu "de iniciativas de setores da
igreja católica, como a CPT - Comissão Pastoral da Terra", que se dedicava à assessoria da luta dos
trabalhadores no campo e passou, a partir de uma primeira reunião realizada no Rio de Janeiro, no final dos anos
1970, a promover encontros destinados a "auxiliar a construção de uma entidade que assessorasse os
movimentos urbanos". As entidades e associações que se articularam desde então obtiveram, em meados de
2001, a aprovação de uma lei federal, o Estatuto da Cidade, capaz de municiar a reforma urbana em muitos de
seus propósitos.
9
Lei 10.257, de julho de 2001, regulamenta os artigos 182 e 183 da constituição federal de 1988. Tais artigos
tratam especificamente da política urbana.
31
A cidade é a expressão mais evidente do poder transformador do Homem sobre a
Natureza e projeta as desigualdades sociais no espaço, transformado em mercadoria e dotado
de valor monerio que vai determinar o lugar de cada classe na cidade capitalista.
Dentro desta lógica, o que se presencia na paisagem urbana é uma ocupação
populacional de áreas insalubres, impróprias à habitação, como Áreas de Proteção
Permanente (APP)
10
e/ou distantes do centro, sem equipamentos urbanos mínimos para
garantir a cidadania e qualidade de vida, portanto, acessível economicamente a essas pessoas
que vão constituir verdadeiros ‘poleiros de gente’, denominadas também como favelas e
adjacentes.
Chega a ser patético ver a vida rolando pelas encostas desmatadas das áreas
de risco. São vertentes que foram virando lugar de gente mas sem o serem.
E é tanto mais patético porque são tidos por culpados das inúmeras
tragédias aqueles que nelas habitam. (SEABRA, 2003, p. 310)
Ao mesmo tempo, dentro de um mesmo perímetro urbano, esses locais impróprios à
habitação vão coexistir ao lado de áreas bem dotadas de infra-estrutura em pontos estratégicos
e, até mesmo, ao lado de condomínios fechados, de luxo e requinte, destinados às classes mais
abastadas. Nestes espaços o ‘verde’ é a maior estratégia de marketing da publicidade, além da
segurança e conforto. Nos cadernos imobiliários que exaltam essas qualidades características
de seus empreendimentos, dão a entender que tais características são específicas destes locais
e, portanto, não fazem parte da cidade como um todo. Mas, tais elementos não são direitos
garantidos pela legislação urbana a todos os moradores da cidade? Como se percebe, há uma
distância abissal entre teoria e realidade.
Isto permite admitir a existência da cidade legal e da cidade ilegal. Aquela é dotada,
antes de qualquer coisa, de um plano urbanístico que garanta uma estrutura urbana básica,
necessária a uma boa qualidade de vida, tais como saneamento básico, postos de saúde,
escolas, pontos de serviços, áreas verdes e de lazer. Já a cidade ilegal, nasce e se desenvolve a
partir de uma necessidade de sobrevivência e são constituídas à revelia do Poder Público e,
10
Conforme artigo 2º. do Código Florestal (Lei nº 4.771/65), são consideradas de Preservação Permanente, áreas
cobertas ou não por vegetação nativa, localizadas nas áreas rurais e urbanas: a) ao longo de cada lado dos rios ou
de outro qualquer curso de água, em faixa marginal, cuja largura mínima deverá ser de acordo com a largura do
curso d´água; b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, num
raio mínimo de 50 metros de largura; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou parte
destas com declividade superior a 4, equivalente a 100% na linha de maior declive; f) nas restingas, como
fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de
ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 metros em projeções horizontais; h) em altitudes superiores a
1.800 metros, qualquer que seja a vegetação.
32
portanto, de qualquer planejamento formal, constituindo-se verdadeiros bolsões de miséria e
pobreza, sem qualquer condição mínima que garanta a seus moradores o direito à cidade, ou
seja, o direito de ser cidao.
É comum também nas cidades a existência de grandes áreas vazias em seu interior,
separando centro e periferia. São os chamados vazios urbanos, também denominados por
alguns autores de ‘terras de engorda’. Essas áreas atendem a uma função estritamente
especulativa.
Os governos estaduais e municipais, capturados por esses agentes (mercado
fundiário/imobiliário), orientam a dinâmica urbana por meio de obras que
não obedecem a nenhum plano explícito. Essa é a marca de um
‘desenvolvimento’ urbano dominado pelos interesses privados rentistas e
lucrativos, de um lado, e pela ignorância em relação ao assentamento da
maior parte da população, de outro. (MARICATO, 2001, p. 134).
Outra regra comum neste desenvolvimento nefasto das cidades, é o fato de a
população das áreas ilegais e irregulares arcarem com suas necessidades básicas, isso se
reflete nas ligações de energia clandestinas, nos mutirões da chamada ‘auto-construção’
11
,
assim como nas lutas constantes de reivindicações de serviços de saúde e educação. Uma vez
atendidas as exigências básicas, muitos moradores, incapazes de arcarem com as tarifas e
impostos da urbanização, devido à sua falta de condições sócio-econômicas, mudam-se para
outros locais desvalorizados, recomeçando um novo processo de crescimento da cidade ilegal.
A existência da cidade ilegal (...) é resultado, de um lado, de um processo
de urbanização/industrialização baseado em baixos salários e, de outro, de
uma tradição de especulação fundiária alimentada por investimentos
públicos regressivos e concentrados, além de uma legislação, cuja forma de
aplicação exclui e segrega. (MARICATO, 2001, p. 155)
Dividindo o mesmo ponto de vista, Santos, (2002, p.47) afirma: A questão da moradia
para as classes populares e a associação entre o Estado e os interesses imobiliários fizeram
com que a periferia ilegal se transformasse num investimento para os ricos e a solução final
para a moradia dos pobres.
11
Termo utilizado para designar a construção de casas pelos próprios moradores, sem critério algum, nem apoio
técnico do estado. As famílias são obrigadas a reduzir seu nível de consumo. Vendem os móveis para construir
uma parede, tiram os filhos da escola, mudam os hábitos alimentares. A construção representa uma verdadeira
proeza, enquanto o produto final não é dos melhores... Geralmente as relações comerciais necessárias para esse
tipo de construção se dão no âmbito do mercado informal. Constitui a forma dominante de produção de
habitações populares nos loteamentos periféricos. No caso de São Paulo, o leque das estimativas da importância
da autoconstrução periférica vai de 25% a 80% da totalidade das habitações existentes. (Sachs,1999)
33
Falar em qualidade de vida ou qualidade ambiental urbana na periferia seria um artigo
de luxo, uma vez que a primeira necessidade da população que vive nessas áreas são as
condições básicas de sobrevivência, que lhes faltam.
As intervenções em conta-gotas no habitat das periferias urbanas dão-se em
nome da necessidade ou da redução dos riscos e muito pouco em nome do
incremento da qualidade. Há, conquanto durar essa postura do urbanismo,
um contexto que se mantém favorável a uma cidadania limitada e apartada
(a cidade formal, onde se discute a qualidade, e a cidade informal, reduzida
às urgências quando qualquer coisa serve e que se dispensa o controle),
investida por práticas clientelistas na alocação de recursos. (BITOUN,
2003, p. 303)
Essas desigualdades estão representadas no espaço urbano, segregado por classes,
assim como nos problemas ambientais que, via de regra, afetam com mais intensidade a
população pobre.
1.4 - A natureza na/da cidade
As ações do Homem sempre provocaram desequilíbrios na Natureza, na maior parte
das vezes, tais desequilíbrios voltam como conseqüência para o próprio homem. A cidade é
um caso emblemático desta teoria. Podemos observar exemplos desde a Antiguidade aos dias
atuais.
Em geral, as ruas medievais eram apertadas, tortuosas e fétidas. A confusão
e a sujeira nas ruas eram agravadas por porcos e galinhas, que podiam andar
soltos e se alimentar do lixo. Da Londres do início do século XIX, a
principal característica apontada era o fedor, depois o lixo, a miséria e as
habitações miseráveis. (MACHADO, 1995, p.6)
A rede de esgotos começou a ser implementada no século IV a.C. mas só
recolhia as descargas dos edifícios públicos e das de alguns domus; o
restante dos refugos era descarregado em poços negros, ou diretamente das
janelas dos andares superiores dos insulae. (SPOSITO, 2005, p. 23)
As cidades, sob influência do modelo de produção vigente, representam um impacto
ainda maior no ambiente por uma conjuntura de fatores.
O liberalismo, como referencial ideológico, a livre concorrência e a
iniciativa privada sem intervenção do poder público, como princípios de
conduta, e a busca de reprodução do capital a todo custo, transformaram,
especialmente as cidades inglesas do século XIX, em espaços caóticos. (...)
monumentos históricos, casas, oficinas e indústrias misturavam-se. Estes
problemas não eram, portanto, da cidade, eram do próprio modo de
produção e se manifestavam na cidade. (SPOSITO, 2005, p. 59)
34
No século XIX, em decorrência das condições ambientais degradantes, provocadas
pelas indústrias, houve um grande surto de cólera, na Europa. As condições se agravavam e
refletiam na população que representava a mão de obra das indústrias. Por conseguinte, o
ciclo produtivo também sofria essas conseqüências. Diante disso, na segunda metade do
século XIX, como necessidade de garantir a produção, são aprovadas leis sanitárias,
implantadas redes de água e esgoto e realizadas diversas melhorias nas vias.
Com o decorrer do tempo as cidades avolumaram-se cada vez mais e as condições de
suporte do sistema urbano iam ficando cada vez mais incompatíveis com a população que
para lá se deslocavam. Se considerarmos a origem do homem primitivo, decorreram milhares
de anos para que a população atingisse a marca de 1 bilhão de habitantes
Ao observar o gráfico 1 é possível analisar o vertiginoso crescimento da sociedade
global nos últimos tempos. Em toda a história da humanidade o período compreendido entre
1960 a 2000 é o mais vertiginoso, quando a população dobra, chegando no limiar de mais de
6 bilhões no presente. Apesar de a taxa de incremento anual apresentar uma tendência de
redução, a ONU – Organização das Nações Unidas, projeta para 2050 uma configuração de
no mínimo 7,3 bilhões, podendo variar até o máximo de 10,7 bilhões, conforme aponta o
gráfico 1.
Gráfico 1 – Expectativa de crescimento da População Mundial – 1950 - 2050
Fonte: UNFPA (1998)
Dentre as causas deste crescimento pode-se citar o avanço da medicina que provocou
uma melhoria na saúde pública e por conseqüência uma queda nas taxas de mortalidade de
forma geral. Além disso, a alta taxa de natalidade, principalmente nos países pobres, na
década de 1960, também foi importante neste crescimento da população mundial. Apesar
35
disso, o crescimento vegetativo global vem caindo, resguardadas as diferenças regionais. Os
países pobres apresentam as mais altas taxas.
It estimates that the world’s population could reach 7 billion in 2012 and
could stabilize at 9 billion in 2050. The rate of growth has fallen, however,
to 1.2 per cent now from 2 per cent in the late 1960s (United Nations, 2005)
Ainda segundo a ONU, dos atuais 6,5 bilhões de habitantes metade vive nas
aglomerações urbanas.
O Brasil conta com aproximadamente 182 milhões de habitantes. Conforme IBGE,
2000, vivem no campo aproximadamente 20% da população mundial. O gráfico 2 demonstra
a tendência do crescimento demográfico brasileiro.
Gráfico 2 – Tendência Demográfica do Brasil / 1940 – 2000.
Fonte: IBGE/2007. Características da População / 2001
Essa população sofrerá todos os impactos ambientais gerados na cidade, que irá
comprometer a qualidade ambiental e a qualidade de vida urbana.
Segundo Guidugli, (1995, p. 7) apud Mazetto, (2000, p. 25), a população mundial
poderá dobrar no século XXI, e 90% desse aumento, ocorrerá nas cidades, principalmente dos
países pobres, já assoladas pela miséria e pobreza. Diante disso, coloca-se o desafio: Como
manter ou alcançar a qualidade de vida e ambiental em espaços urbanizados caóticos com
enormes carências e desigualdades?
36
As pesquisas que visam a identificar, analisar e qualificar o ambiente urbano poderão
indicar os caminhos.
A aglomeração populacional associada ao processo de industrialização irá exercer uma
forte pressão no meio natural, representado sob a forma de diversos impactos ambientais
12
.
Essa aglomeração se dará sob a forma das cidades, expressão máxima da capacidade
do homem de transformar. As cidades alteram o equilíbrio natural pré-existente e estabelece
uma outra dinâmica, a do sistema urbano. Essa interferência, na grande parte das vezes se dá
de forma desarmônica, indiferente à dinâmica natural.
Na sociedade ocidental estabeleceu-se uma relação de domínio do Homem em relação
à Natureza. A partir dessa visão, as cidades foram construídas alterando toda a paisagem
original. As mudanças se desenvolvem em cadeia: a vegetação é suprimida, o solo
impermeabilizado e os rios canalizados. As conseqüências são inevitáveis, sem ter por onde
escoar, as águas pluviais que antes infiltravam solo abaixo para alimentar os lençóis freáticos
agora correm superficialmente pelo solo impermeabilizado e vão formar as problemáticas
enchentes. Os recursos hídricos têm sua qualidade alterada em virtude do despejo de resíduos
domiciliares e industriais, aleatoriamente. A qualidade do ar é comprometida pelos resíduos
gasosos industriais e do trânsito. A temperatura geralmente é maior, constituindo um micro-
clima urbano devido à supressão da vegetação em substituição ao concreto. Os ruídos da
produção da cidade constituem uma outra fonte de poluição e alteração do ambiente que antes
era tomado pela melodia natural da fauna local.
Viver na cidade, massacrados por barulho, trânsito, conflitos e exigências,
nos torna ‘irritados e impulsivos’... O contato com a natureza nos permite
relaxar, dar um descanso à atenção volunria e nos entregar à atenção
involuntária, reparando sem esforço e em geral com prazer nos estímulos
sensitivos do nosso meio. (ACKERMAN, 2006, p. 93)
Este é o estereótipo das cidades que viraram sinônimos de poluição e, portanto, de
aversão a uma vida pacata, tranqüila e com maior qualidade de vida. Adjetivos como stress,
correria, pressão e trabalho são associados à cidade.
Viver na cidade, é conviver com o barulho e ruídos, com os buracos nas ruas, com o
lixo em terrenos baldios e espalhados pelas ruas, com a poluição visual, com a alteração da
12
Segundo Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) N. 1 de 23/01/1986 em seu art. 1
o
.,
considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia das atividades humanas que, direta ou indiretamente
afetam: I – a saúde, a segurança e o bem estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais.
37
paisagem em nome da demanda de mercado (demolições de patrimônios culturais), que
muitas vezes matam a memória daqueles do lugar.
Essa conotação negativa da cidade chega a um ponto de ignorar a natureza ‘da’ e ‘na’
cidade.
Estamos submetidos a uma representação social de cidade como diferente
de natureza, em um período da História em que os nexos entre a cidade e o
urbano são profundamente indissociáveis, visto que a produção de
aglomerações urbanas, cada vez maiores e mais extensas, resulta em
alterações mais profundas nas dinâmicas e processos naturais, o que
provoca conseqüências muitas vezes catastróficas, nesse contexto urbano
que é natural, ainda que não seja visto assim. (SPOSITO, 2003, p. 362)
Enquanto for negada a condição natural das cidades, em nome de uma lógica nefasta
de desenvolvimento urbano, a sociedade estará sempre às voltas com as problemáticas
catástrofes urbanas que tanto assolam seus moradores, principalmente os residentes nas áreas
impróprias à habitação. As tragédias urbanas, como desmoronamentos, enchentes e ilhas de
calor, são respostas naturais ao desequilíbrio causado pela forma maquiavélica de produção
das cidades.
Neste processo os pobres e favelados, ou seja, moradores da cidade ilegal serão os
mais prejudicados. Os autores que engendraram tal processo atribuem à natureza e ao acaso as
causas destas tragédias, tentando jogar uma cortina de fumaça sobre as raízes que explicam o
processo de constituição das cidades.
A complexidade dos problemas urbanos exige o resgate da dimensão ecológica
visando superar a visão parcial e equivocada de natureza.
As cidades deixaram, há muito, de assegurar aquilo a que se propunham
como construção humana: o desenvolvimento do homem e uma harmoniosa
qualidade de vida através de um relacionamento positivo da sociedade com
a Natureza. (MACHADO, 1995, p. 7)
A percepção de meio ambiente e natureza relacionada a aspectos da primeira
natureza
13
, aquela que dá sentido ao que Diegues (1995) chama de Mito Moderno da
Natureza Intocada, simbolizada pelo ideal dos santuários ecológicos, é uma visão romântica
que veda os olhos à condição natural da cidade.
Diversas pesquisas têm demonstrado este fenômeno. Em um trabalho de iniciação
13
Conceito idealizado por teóricos da corrente marxista relacionando o termo ‘primeira natureza’ à natureza pura
intocada e ‘segunda natureza’ à natureza transformada, como por exemplo, as cidades.
38
científica
14
realizado com alunos na faixa etária de 12 anos de idade objetivou-se identificar o
que eles entendiam por meio ambiente. Do total de alunos interrogados 62% associaram o
conceito ao de natureza intocada; 21% apresentaram conceitos confusos e incompletos e/ou
não sabem; e apenas 17% construíram um conceito com uma visão mais abrangente,
incluindo o homem.
Na pesquisa de Crespo (1998) apud Martinelli (2004, p.9) a respeito de meio
ambiente, desenvolvimento e sustentabilidade (na perspectiva do pensamento da população
brasileira), confirma que há um número significativo de pessoas que não incluem as cidades e
os homens no conceito de meio ambiente (cerca de 38% do universo da pesquisa).
A visão da cidade anti-natural, será prejudicial aos citadinos como um todo, uma vez
que estão cada vez mais escassos espaços que permitam um contado com a natureza dentro
das cidades.
É importante para a QAU – Qualidade Ambiental Urbana quebrar a monotonia do
“cinza” nas cidades. As áreas verdes e outras categorias de espaços destinados ao lazer e ao
ócio, uma necessidade biológica, não tem sido valorizados no espaço geográfico da cidade
capitalista. A vegetação e o relevo são suprimidos e transformados. Os rios e córregos são
embutidos em tubulações ou drenados e extintos. Os níveis favoráveis de oxigênio no ar à boa
saúde humana estão abaixo do normal, ao passo que aumentam os gases poluidores como
derivados de carbono e particulados diversos. A temperatura se eleva devido às alterações
como a supressão vegetativa, a pavimentação excessiva e a produção intensa das atividades
industriais e da cidade como um todo.
Ao analisar os dados abaixo, é possível constatar o quanto é importante preservar o
verde no meio urbano.
As folhas das árvores bloqueiam a luz solar, refrigerando as ‘ilhas’ de calor
geradas pelas duras superfícies urbanas. A temperatura no asfalto ou no
concreto à sombra de uma árvore pode estar a 20 graus menor do que a
encontrada na calçada a céu aberto sob o sol de verão, e o ar embaixo da
rica ramada das árvores maduras pode ser de 3 a 4 graus mais fresco.
(ACKERMAN, 2006, p. 92)
O contato com a natureza é fundamental ao bem estar social e psicológico das pessoas.
O respeito à natureza da cidade é fundamental para se garantir uma qualidade ambiental
14
TEOBALDO NETO, Aristóteles. Colessanti, M.T.M. (orient.). MEIO AMBIENTE E RESÍDUOS SÓLIDOS
NA ESCOLA: uma proposta metodológica para a educação cidadã e ambiental. In Rev. Horizonte Científico.
N. 05. Vol. 02. 2005. Disponível on line em <http://www.propp.ufu.br/revistaeletronica/index.html> acesso em
13/07/2007.
39
urbana favorável à vida.
Pensar um novo modo de viver que inclua a qualidade de vida com sentido
amplo, ou seja, com perspectiva ecológica, de justiça e bem estar social
contrapondo-se ao nosso modo de vida que tudo desrespeita, que a todos
desrespeita, que desrespeita uns em relação aos outros e, entre esses outros,
a nossa própria natureza é, ainda hoje, algo revolucionário.
(SUERTEGARAY, 2003, p.356)
1.5 - Qualidade de Vida e Qualidade Ambiental Urbana
Discutir tais assuntos é uma tarefa desafiadora e complexa, uma vez que o conceito de
‘qualidade’ é carregado de subjetividade.
Uma definição conceitual da qualidade que irá caracterizar um ambiente e a vida varia
conforme as posições ideológicas, filosóficas e políticas assumidas por determinada sociedade
e/ou grupo.
1.5.1 - A Qualidade de Vida nas cidades
O conceito de qualidade de vida é usado pelas diversas áreas do conhecimento, que
estudam problemas econômicos, sociais, físicos e ambientais. Entretanto, não há uma
definição universal. O tema é complexo e está em constante formação e reformulação.
Alguns índices e indicadores são utilizados para sua definição, dentre eles: PIB
(Produto Interno Bruto), IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), IDHm (IDH Municipal),
IQM (Índice de Qualidade dos Municípios) e IPRS (Índice Paulista de Responsabilidade
Social). Entretanto são limitados, muitas vezes reduzindo a qualidade de vida apenas ao
aspecto econômico.
Más allá de las diferencias en cuanto al concepto de calidad de vida, se está
de acuerdo en que éste se desarrolla como respuesta a la concepción
economicista del proceso de crecimiento económico en equivalencia al
progreso social. El concepto de calidad de vida comienza a difundirse como
alternativa a la "sociedad de abundancia" y se convierte en objetivo
importante de carácter multidimensional en las políticas sociales, haciendo
referencia no solamente al bienestar individual material o inmaterial sino
además, a aquellos valores colectivos de la libertad, la justicia y la equidad,
etc. (FERNÁNDES E RAMOS, 2000)
40
A qualidade de vida está ligada principalmente aos aspectos culturais, definido de
acordo com as convenções de uma dada sociedade, o que desautoriza o uso de um padrão
metodológico de análise e mensuração, para fins de comparação.
É importante destacar que os parâmetros para estabelecer a qualidade de
vida se são melhores ou piores, não só estão dados pelas condições
objetivas definidas através das necessidades básicas, como também e, talvez
essencialmente, pela percepção que a comunidade tem do que é bom para
ela mesma. Este aspecto está relacionado à cultura e ao nível de
conhecimento. (VERONA, 2003)
Os impactos ambientais causados pelas atividades industriais, segundo um modelo de
produção predatório mostravam nas cidades sua face mais perversa, ao comprometer os bens
mais vitais ao ser humano, como o ar, a água e o solo. Isto refletia, por conseguinte,
diretamente na qualidade de vida humana.
Sem dúvida esse foi um momento oportuno para uma maior reflexão e discussão sobre
o conceito de qualidade de vida, que tem evoluído ao longo do tempo e de acordo com as
áreas de estudo.
A área da saúde, onde existem calorosas discussões a respeito do tema, tem dado
importantes contribuições, apesar de haver, em muitos casos, um estreitamento do conceito à
questão biomédica, vinculando-o à avaliação econômica, conforme aponta Minayo, et all
(2000).
Para alguns, a qualidade de vida seria a somatória de fatores decorrentes da
interação entre sociedade e ambiente, atingindo a vida no que concerne às
suas necessidades biológicas e psíquicas. Genericamente, reconhecem-se
dois tipos de necessidades específicas, as concretas e as abstratas. Aquelas
são de caráter geral, como alimentação e a moradia. As abstratas revestem-
se de aspecto mais particular, como a auto-estima. Seja como for, há de se
dizer que a conceituação da qualidade de vida ainda não logrou aceitação
universal. (FORATTINI, 1991)
Ao estudar métodos de análise e mensuração, Minayo, et all (2000) nota que a
qualidade de vida é uma representação social, criada a partir de parâmetros objetivos e
subjetivos, cujas referências são a satisfação das necessidades básicas e das criadas pelo grau
de desenvolvimento econômico e social de uma determinada sociedade.
Os considerados objetivos referem-se sempre a situações como renda,
emprego/desemprego, população abaixo da linha da pobreza, consumo
alimentar, domicílios com disponibilidade de água limpa, tratamento
41
adequado de esgoto e lixo e disponibilidade de energia elétrica, propriedade
da terra e de domilios, acesso a transporte, qualidade do ar, concentrão
de moradores por domicílio e outras. Os de natureza subjetiva respondem a
como as pessoas sentem ou o que pensam das suas vidas, ou como
percebem o valor dos componentes materiais reconhecidos como base
social da qualidade de vida. (MINAYO, et. all. 2000)
Percebe-se o quanto é abrangente e interdisciplinar o conceito de qualidade de vida,
envolvendo aspectos que vão muito além do caráter biomédico, só sendo possível entender
por meio da análise das relações estabelecidas entre o homem e o meio ambiente.
O estudo do ambiente pode fornecer informações importantes, complementares ou até
mesmo definitivas da qualidade de vida de determinado lugar. O recorte da presente pesquisa
serão os aspectos ambientais que podem dar indícios da qualidade de vida.
1.5.2 - Uma reflexão em torno da Qualidade Ambiental Urbana – (QAU)
O crescimento das cidades segundo a lógica da especulação imobiliária e sem um
plano de sustentabilidade, afetou negativamente muitos indicadores
15
relacionados às
condições ambientais.
O êxodo rural no Brasil, intensificado a partir da segunda metade do século XX,
provocou um ‘inchamento’ urbano dada a incapacidade de a cidade oferecer segurança,
abrigo, proteção e pleno desenvolvimento do homem. As conseqüências deste processo estão
a cada dia mais evidentes e alarmantes: desemprego e sub-emprego, insegurança e violência,
formação de bolsões de pobreza, sendo as favelas o exemplo mais emblemático.
A falta de infra-estrutura nas cidades para atender à demanda por serviços básicos
como saneamento, habitação, lazer, educação, saúde e emprego, explica a deterioração
ambiental que tornou as cidades um ambiente insalubre à grande parte da população.
É importante ressaltar que tal carência não é espacialmente homogênea, segrega
espaços saudáveis e bem equipados, confortáveis à vivência, entretanto, estão reservados
àqueles que possuem poder aquisitivo para usufruir da qualidade ambiental diferenciada, ou
seja, na cidade capitalista o espaço possui valor comercial, portanto, o ambiente vira
mercadoria, aquelas áreas insalubres, portanto de menor ou sem qualquer valor, sobram para
aqueles (maioria) que estão excluídos do bolo do desenvolvimento econômico.
15
Nuvens de fumaça; poluentes no ar e na água; lixo; ruas barulhentas; engarrafamento; desaparecimento de
paisagens rurais. (Sewell, 1978)
42
A gravidade da situação coloca, antes da discussão da qualidade de vida, a discussão
da sobrevivência, uma vez que nos bolsões de pobreza parece utopia falar em qualidade de
vida, dada a precariedade de condições de sobrevivência a que estão sujeita a população que
habita nestas condições.
De qualquer forma o tema é urgente e deve ser debatido segundo uma visão holística
onde os problemas sociais são partes integrantes e não devem ser analisados isoladamente da
questão ambiental. A precarização das condições ambientais urbanas configura uma baixa
qualidade ambiental urbana (QAU), que por sua vez, contribui para a deterioração da
qualidade de vida.
São conceitos intimamente relacionados
A (...) qualidade de vida, como conceito mais amplo, possui como parte
integrante de seu arcabouço de análise a variável ambiental, para indicar a
qualidade do ambiente humano. (MARTINELLI, 2004, p.25)
Estudos a respeito da temática têm se avolumado como uma demanda para explicar os
impactos ambientais urbanos e fornecer instrumentos e métodos capazes de mitigá-los e
oferecer um ambiente mais confortável à vida na cidade.
Semelhante à qualidade de vida, o conceito de qualidade ambiental urbana está em
constante evolução e é bastante abrangente e complexo.
Grosso modo, pode-se dizer que os estudos em qualidade de vida estão intimamente
ligados aos aspectos perceptivo-subjetivos, enquanto aqueles de qualidade ambiental urbana
estão mais relacionados aos aspectos objetivos, mais palpáveis e quantificáveis. Isso não quer
dizer que o caráter objetivo/subjetivo seja exclusivo numa ou noutra análise. Eles estão
presentes nos estudos que envolvem ambas temáticas, uma vez que uma está diretamente
relacionada à outra.
Oliveira, (2002), por exemplo, ressalta a complexidade do tema e os diversos e
questionáveis métodos de quantificação da qualidade ambiental, dada a forte carga de
subjetividade inerente ao tema. Afirma que a definição de qualidade ambiental está
impregnada de todas as controvérsias inerentes à qualidade.
Em comparação aos estudos de qualidade de vida, Luengo, (1998), destaca a forte
conotação espacial dos estudos em qualidade ambiental urbana.
A diferencia de este, va orientado al conocimiento y análisis de aquellos
aspectos que conforman el hábitat físico donde el hombre desarrolla sus
actividades básicas de vivir, trabajar, alimentarse, descansar, desplazarse y
disfrutar. Se trata de determinar cuales son los diferentes aspectos y
condiciones que propician o entorpecen estas actividades y la determinación
43
de sus variables e indicadores. Como se ve, es un concepto más
particularizado con una evidente connotación espacial. (LUENGO, 1998)
A análise da QAU requer a espacialização dos fenômenos para sua melhor
compreensão. Daí seu caráter quantitativo, o que não elimina os aspectos qualitativos,
também inerentes aos estudos em QAU.
en términos generales, puede decirse que la investigación de apoyo a la
medición de la calidad ambiental urbana es cualitativo-
cuantitativa.(LUENGO, 1998)
Em termos de escala, o mesmo autor, tomando por base o caso da Venezuela, propõe 4
categorias espaciais para análise da QAU:
- o primeiro se refere ao nível domiciliar, de vizinhança onde se produzem os maiores
níveis de interação;
- o segundo, de maior complexidade, se refere ao nível que ele chama de ‘parroquial’,
ou seja, do bairro;
- o terceiro nível, corresponde ao âmbito do município, onde estão organizados um
conjunto de bairros;
- o quarto nível corresponde ao âmbito metropolitano de maior complexidade.
No quarto nível, pode ser enquadrado o trabalho de Martinelli, (2004), que estudou a
QAU no estado de São Paulo. No terceiro nível, destaca-se o trabalho de Verona (2003), que
estudou o município de Várzea Paulista. No primeiro nível enquadra-se o trabalho de Santos,
(2002) que estudou áreas periféricas de ocupação irregular e Jacobi, (2006), que levantou os
problemas ambientais e de qualidade de vida na cidade de São Paulo, ambos no nível
domiciliar, a partir da percepção dos moradores.
O método a ser utilizado em determinada pesquisa, irá depender da relevância e da
capacidade de respostas de um ou outro método, ou mesmo de ambos. E quem irá decidir será
o pesquisador ou a equipe envolvida em tais estudos. Percebe-se que não existe receita pronta
e que os métodos e objetivos serão desenvolvidos a partir da percepção do pesquisador acerca
das necessidades de cada espaço em particular.
as variáveis utilizadas para se definir o padrão de qualidade ambiental de
um determinado espaço geográfico são muito discutidas, pois o que é
valorizado ou desvalorizado no meio ambiente para determinar a sua
qualidade depende da concepção de cada cidadão, inclusive do pesquisador
e do planejador. Dessa forma, acredita-se que não há consenso quanto à
44
utilização de variáveis que definem a qualidade ambiental urbana, ficando o
pesquisador apto a definir os atributos (ou variáveis) que permitam melhor
realizar a análise do espaço geográfico em estudo (CAMARGO E
AMORIM, 2005)
Como se percebe, a qualidade ambiental e de vida está relacionada a uma imensidão
de fatores. Existem diversos critérios e métodos para sua análise. Não obstante, existe uma
demanda por estudos que buscam investigar e contribuir com o arcabouço de pesquisas a
respeito da QAU nos dias atuais dada a gravidade das ações impensadas ou interessadas do
homem no ambiente, provocando conseqüências danosas à sobrevivência, à qualidade
ambiental e de vida.
1.6 - Alguns Indicadores da QAU
Conforme foi observado, os trabalhos em QAU podem ter um caráter ora
quantitativos, ora qualitativos, dependendo da capacidade do método em dar respostas à
problemática elaborada pelo pesquisador.
Nucci, (2001), em sua tese de doutorado, desenvolveu um trabalho de cunho mais
quantitativo, trabalhando com inferências baseadas nos diferentes trabalhos consultados,
evitando discussões sobre aspectos subjetivos, embora não há como negar a carga de
subjetividade do pesquisador no elenco de parâmetros e indicadores a ser estudado.
Para estudar a QAU no distrito de Santa Cecília (Município de São Paulo), o autor
demonstrou os resultados de suas pesquisas a respeito dos principais indicadores da qualidade
ambiental:
1 – Clima e poluição atmosférica (fala sobre os efeitos da urbanização no clima, as
ilhas de calor, algumas fontes de poluição como automóveis e indústrias, a falta do verde,
concentração populacional e temperatura, dentre outros);
2 – Água (problema das enchentes e o abastecimento);
3 – Resíduos Líquidos (problema dos esgotos e a poluição dos rios);
4 – Resíduos Sólidos (são destacados os problemas decorrentes da má disposição do
lixo na cidade: aspecto estético, odores, proliferação de vetores transmissores de doenças,
impactos ecológicos, além da inexistência de um sistema de coleta seletiva);
5 – Poluição Sonora e Visual (são apresentadas as principais fontes de ruído no meio
urbano: meios de transportes terrestres, aeroportos, obras de construção civil, atividades
industriais, aparelhos eletrodomésticos e o comportamento humano);
45
6 – Cobertura Vegetal (Ressaltou os benefícios da vegetação, sua importância física,
além da satisfação psicológica e cultural e apresentou dados que simulam uma quantidade
ideal);
7 – Áreas Verdes e espaços livres (apresenta alguns dados sobre o número de áreas
verdes em no município de São Paulo e espaços livres, além de discutir tais conceitos); 8 –
Espaços livres e recreação (realiza considerações acerca da funcionalidade dos espaços livres
para o lazer público em todas as faixas etárias. Demonstra alguns números propostos como
ideais)
8 – Verticalização (é relatado o problema da falta de espaço causada pela
verticalização e a carência de espaços livres próximos, principalmente nas áreas mais pobres.
Lembra o problema da interferência na insolação e a criação de ambientes insalubres)
9 – Densidade Populacional (é uma das conseqüências da verticalização. O autor
ressalta a complexidade para se chegar a um número adequado para o crescimento
populacional nas cidades)
Utilizando-se do método do planejamento da paisagem
16
, o autor realizou o
mapeamento de 7 (sete) atributos negativos, inicialmente de forma individualizada, em
seguida fazendo interpolações 1 a 1, 2 a 1, 3 a 1, e assim sucessivamente até chegar ao mapa
final da QAU. Os atributos foram escolhidos de acordo com sua área de pesquisa: 1- uso do
solo, 2 – poluição, 3 - espaços livres, 4 - verticalidade das edificações, 5 – enchente, 6 –
densidade populacional e 7 - cobertura vegetal.
Sewell, (1978), também apresenta uma importante contribuição para estudos de
qualidade ambiental. Ele enumera alguns problemas ambientais importantes: nuvens de
fumaça; poluentes no ar e água e sua influência na saúde; lixo; ruas barulhentas;
engarrafamento; desaparecimento de paisagens rurais. Seu trabalho é dirigido aos problemas
que afetam o meio urbano, espaço de vivência do homem.
Aponta como causa destes problemas urbanos a expansão suburbana desenfreada; a
industrialização e a falta das instituições sociais, leis e órgãos disciplinadores (eficientes).
Sugere cuidado com alguns aspectos que podem influenciar a qualidade ambiental
urbana, dedicando alguns capítulos a estes, vale destacar:
16
Relacionado com o planejamento do espaço em diferentes escalas, sempre levando-se em consideração a
proteção da natureza e o manejo da paisagem, trazendo para o planejamento uma forte orientação ecológica e
visão interdisciplinar... (NUCCI, 1998, p.212)
46
- Planejamento do Uso do Solo (ressalta a importância do uso adequado dos recursos
disponíveis espacialmente, a necessidade dos estudos físicos e sócio-econômico no
planejamento);
- Importância da Qualidade da Água (critica o mal uso, tanto na captação como na
destinação final);
- Poluição Térmica (impactos na temperatura e na água)
- Poluição do Ar (faz importantes considerações a respeito deste tipo de poluição nas
cidades)
A poluição do ar hoje em dia é universal e relativamente despercebida. (...)
A maioria dos gases produzidos pela tecnologia moderna são incolores e
relativamente inodoros (...) os maiores problemas de saúde causados pela
poluição do ar não se acham associados com episódios identificáveis, mas
com a erosão gradativa da saúde, por exposições freqüentes e de longo
prazo. (SEWELL, 1978, p.165)
O autor dedica um capítulo especial colocando sugestões de como melhorar a
qualidade do ar, dada a gravidade e importância do problema no meio urbano, principalmente
após a revolução industrial.
- Ruído (comenta sobre os efeitos fisiológicos dos diferentes tipos de ruído)
estudos demonstram que os habitantes ruraism audição mais apurada em
todas as freqüências do que os habitantes urbanos; este fato sugere que o
ruído urbano excessivo prejudica mesmo a audição... (SEWELL, 1978, p.
207)
- Resíduos Sólidos (questões estéticas, ecológicas e ambientais)
SANTOS, (2002), em sua tese de doutorado, também trabalhou com QAU, porém,
utilizando métodos de percepção ambiental, portanto, desenvolveu um trabalho de cunho
qualitativo. Ao estudar áreas de ocupação periférica irregular, na Zona Sul de São Paulo,
optou por cartografar e analisar 5 (cinco) atributos que poderiam fornecer informações
relevantes a respeito da qualidade ambiental e de vida da comunidade:
- uso da terra
- ruas com e sem pavimentação
- freqüência de pernilongos
- freqüência de ratos, baratas e escorpiões
- áreas mais violentas
O autor justifica a escolha destes indicadores por que a ocupação das áreas de
mananciais, os desmatamentos para a posse do terreno, a impermeabilização para
47
pavimentação e a ausência de áreas verdes e espaços livres, já indicam a qualidade de vida do
‘favelado’, por isso optou-se por outros indicadores para compor o mapa da Qualidade
Ambiental.
Além dessas contribuições, destaca-se também a contribuição de Edna Maria
Chimango dos Santos que desenvolveu em sua pesquisa de mestrado um trabalho que reflete a
história dos moradores do Alfredo Freire, por meio de relatos orais. A autora traçou as
expectativas, tensões, realizações, ou seja, toda a luta em busca da cidadania. Analisou as
dimensões do viver, abordando o lazer, o trabalho, os vínculos estabelecidos, os sonhos e as
expectativas daqueles moradores em relação ao bairro e à cidade de Uberaba-MG.
Sua pesquisa seguiu uma linha crítica, dando voz aos moradores do bairro, ressaltando
suas privações e realizações em termos de infra-estrutura urbana, cobrindo as lacunas
deixadas pelo governo. Em sua dissertação ficam evidentes que as reclamações em relação à
poluição ambiental gerada pelo DI-1 fazem parte da gênese do bairro.
Diante da diversidade de métodos e critérios, nesta pesquisa, optou-se por analisar a
QAU no nível domiciliar, a partir da percepção do morador. Dentre os autores que se
dedicaram ao estudo desta temática, cita-se Lynch, (1997), que analisou a qualidade visual de
cidades norte-americana por meio do estudo da imagem mental que dela fazem seus
habitantes. É importante lembrar também dos brasileiros como, Oliveira, (2002) que afirma
que a percepção é um importante indicador da QAU. Além de Jacobi, (2006), Amorim Filho,
(2007), que serão analisados nos próximos capítulos.
1.7 - O geoprocessamento na análise da QAU.
O uso das técnicas computacionais no estudo do espaço geográfico foi bastante
intensificado a partir de meados do século XIX. Foi bastante explorada pela escola
pragmática, também denominada teorético-quantitativa.
Tal escola figurava entre aquelas que criticavam e questionavam o método positivista
da geografia tradicional. Entretanto, sua crítica não aprofundava nos fundamentos e nos
compromissos sociais da escola tradicional, por isso foi conhecida também como neo-
positivista.
A grande diferença foi o apelo pela matemática, estatística, além do uso da teoria de
sistemas e dos modelos. Foi bastante criticada pelas outras escolas do movimento de
renovação da ciência geográfica, por fazer uma crítica superficial à geografia tradicional e por
48
seus métodos matemático-quantitativo contribuir para finalidades político-militar de expansão
e dominação, a serviço da burguesia.
Suas propostas visam apenas uma redefinição das formas de veicular os
interesses do capital, daí sua crítica superficial à Geografia Tradicional.
Uma mudança de forma, sem alteração do conteúdo social. Uma atualização
técnica e lingüística. (MORAES, 2007, p.110)
Vale ressaltar que o desenvolvimento desta escola dentro da Geografia foi uma
demanda do período militar pós 2ª. Guerra Mundial, onde os Estados Unidos da América
figuraram como maior potência hegemônica mundial. O avanço das técnicas informacionais e
geo-espaciais foram uma ferramenta crucial para a expansão, controle e domínio.
Apesar das críticas e de seu forte caráter utilitarista burguês a Geografia Pragmática
deixou sua contribuição para a evolução da ciência geográfica. Nesta pesquisa ficará evidente
como os produtos resultantes do densenvolvimento da geografia pragmática dentro da
geografia pode ser utilizado para questionar os padrões da sociedade capitalista consumista e
predatória.
Com a escola quantitativa, o computador passa a ser uma ferramenta indispensável nos
estudos geográficos. O aparecimento em meados da década de 1970 dos primeiros Sistemas
de Informações Geográficas (SIG) deu bastante impulso a esta escola.
Assim, pode-se admitir que o geoprocessamento foi uma das maiores heranças deixada
pela Geografia Quantitativa.
1.7.1 - O Geoprocessamento aplicado ao estudo da percepção ambiental urbana.
A associação das ciências matemáticas e computacionais na geografia permitiu o
desenvolvimento do geoprocessamento. Ele permite a coleta de dados, edição de mapas
complexos, o cruzamento, a manipulação e atualização das informações. Estes procedimentos,
antes trabalhosos e demorados, com o desenvolvimento do geoprocessamento tornaram-se
tarefas fáceis e rápidas de ser feitas.
O termo possui um conceito bastante abrangente. Rosa e Brito (1996, p.7) apresentam
o seguinte conceito:
O conjunto de tecnologias destinada a coleta e tratamento de informações
espaciais, assim como desenvolvimento de novos sistemas e aplicações,
com diferentes níveis de sofisticação. Em linhas gerais o termo
49
geoprocessamento pode ser aplicado a profissionais que trabalham com
processamento digital de imagens, cartografia digital e sistemas de
informação geográfica. Embora estas atividades sejam diferentes estão
intimamente interrelacionadas, usando na maioria das vezes as mesmas
características de hardware, porém softwares diferentes.
Este conceito abrange todas as tecnologias relacionadas ao tratamento espacial da
informação, conforme ilustrado no quadro a seguir:
Quadro 2 - Geoprocessamento
Fonte: ROSA, 1996. Adaptado por Teobaldo Neto. 2007.
O trabalho de processamento digital de imagens corresponde ao trabalho de aquisição,
correção ou georreferenciamento, realce, classificação e transformação da imagem. Trata-se
do trabalho de correção e preparação da imagem para que sejam realizadas as mais diferentes
análises.
O banco de dados corresponde a todas as informações necessárias às análises e
interpretações, são os dados referentes ao levantamento topográfico, as fotos aéreas, imagens
de satélites, e outros dados referentes aos documentos cartográficos existentes.
A cartografia digital refere-se à tecnologia destinada à captação, organização e
apresentação de mapas. Transmite a idéia de automação (informatização) de projetos,
enquanto os Sistemas de Informações Geográficas – SIG têm por principal característica a
análise, modelagem e simulação destes projetos automatizados.
Dentre a variedade de conceitos relacionados a SIG, Rosa e Brito, (2006, p.219),
apresentam a idéia básica de que
Consiste na aquisição, armazenamento, gerenciamento, alise e exibição
de dados espaciais. Esta tecnologia torna possível a automatização de
tarefas realizadas manualmente e facilita a realização de análises
complexas, através da possibilidade de integração de dados obtidos por
diversas fontes.
Existe uma sub-exploração do geoprocessamento no planejamento urbano-ambiental.
Muito trabalho poderia ser poupado, além da maior facilidade em superar os obstáculos e da
maior confiabilidade que o geoprocessamento oferece.
50
Destacam-se abaixo alguns SIG utilizados na presente pesquisa:
Idrisi:
Empresa: Graduete School of Geography at Clark University, Massashussets.
Características Principais: Baseado no formato raster de representação dos dados, foi
desenvolvido para microcomputadores compatíveis com a linha IBM PC – AT e PS2. Permite
a migração de dados para o ERDAS e ARC-INFO. Tem praticamente todas as funções que
são normalmente encontradas em um SIG de maior porte, com um custo relativamente baixo.
Spring - Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas:
Empresa: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE / Brasil.
Características Principais: Compatível com grande parte dos micro-computadores existentes
no país.Combina uma interface com o usuário altamente interativa, interface de banco de
dados que modela a metodologia de trabalho em estudos ambientais e manipulação unificada
de dados espaciais, o que elimina o dilema raster-vector. Integra processamento de imagens,
análise espacial e modelagem digital do terreno além de interface com os bancos de dados
Postgres e Ingres. E por se tratar de uma tecnologia nacional, torna mais fácil a compreensão
dos tutoriais e ajudas, além da disposição gratuita on-line; suporte eficiente para resolução de
problemas e questionamentos via e-mail.
Arc View
Empresa: ESRI(Redlands, EUA)
Características Principais: Trata-se de um dos SIG´s mais populares do mundo. Torna fácil o
acesse do registro de base de dados, bem como sua visualização. É possível criar mapas de
excelente qualidade ligando informações de gráficos, tabelas, desenhos e fotografias.
Utilizando o Avenue, a linguagem de programação orientada a objetos incluída no ArcView,
pode-se desenvolver novas ferramentas, interfaces e aplicações. Todas as atividades no
âmbito do ArcView estão organizadas sob um Project , o qual pode estar constituído por uma
série de Views, Tables, Charts, Layouts , e Scripts
Serão avaliadas as potencialidades que as geotecnologias oferecerem no estudo da
Qualidade Ambiental Urbana a partir da percepção do morador.
51
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA, MATERIAIS E PROCEDIMENTOS TÉCNICOS.
A pesquisa estruturou-se basicamente em quatro eixos principais de trabalho que
ocorreram, ora individual, ora simultaneamente entre si, conforme a necessidade.
O primeiro está relacionado à estruturação teórica que corresponde às disciplinas
cursadas no programa de pós-graduação do Instituto de Geografia e ao levantamento teórico-
metodológico da temática qualidade ambiental urbana, qualidade de vida, geossistema,
planejamento e percepção ambiental e Sistemas de Informação Geográfica.
O segundo eixo corresponde à qualificação e aprendizado dos softwares de
geoprocessamento necessários ao desenvolvimento da pesquisa. O SPRING foi o mais
utilizado, além dos demais que serviram como suporte como AutoCad, IDRISI, ArcView e
CartaLinx.
O terceiro eixo está relacionado ao trabalho empírico, onde foram realizadas
atividades de análise e observação da paisagem, bem como levantados dados e informações,
por meio de um questionário, com o objetivo de compreender a percepção dos moradores em
relação aos problemas ambientais do bairro. O questionário foi a principal fonte de leitura da
paisagem e fundamental para o trabalho de elaboração do mapa da QAU.
Enfim o quarto eixo corresponde ao trabalho de correlação, comparação, cruzamento
das informações e seleção de dados para a elaboração dos gráficos, tabelas, e mapas temáticos
para análise da Qualidade Ambiental Urbana.
2.1 – Fundamentação teórico-metodológica.
Nesta pesquisa, optou-se por estudar a QAU a partir da percepção do morador. A base
teórica-metodológica que orientou os procedimentos adotados foi a teoria dos geossistemas,
fundamentada na Teoria Geral dos Sistemas, que conforme Monteiro, (2001, p.11) é antes de
tudo “uma concepção teórica de efetiva integração nas diferentes esferas que compõem o
escopo do geográfico, em suma, um novo paradigma...”
Essa proposta reforça o caráter da análise holística e integrada em detrimento da
especificação e fragmentação que descaracteriza qualquer trabalho de cunho geográfico.
Nesta conceituação mais atual, o destaque são os elementos humanos incluídos no
funcionamento do sistema. Nas formulações pioneiras do conceito de geossistema com
Bertrand (1972) e Sotchava (1977) apud Nucci (2001) p. 26, os elementos sócio-econômicos
52
eram negligenciados. Numa visão naturalista os fatores humanos eram colocados em oposição
à natureza.
O conceito de geossistema evoluiu a partir das pesquisas em Ecologia da Paisagem, no
início do séc. XX, que em última análise tem por principal preocupação a espacialização das
questões ecológicas. Esta evolução deu-se a partir da deficiência que as pesquisas nesta área
apresentavam por estar estritamente ligada à biologia e não conseguir explicar a
complexidade e a espacialidade da paisagem.
Monteiro, (2001), estudando geossistemas, sugere o termo ‘unidades de paisagem’
para a classificação da paisagem, dispensando termos como geótopo, geofácies, dentre outros,
de complicado entendimento. Segundo o autor esta é uma forma mais simplificada e de
acordo com a realidade brasileira.
Sente-se a falta de estudos de Ecologia da Paisagem urbana em escalas
maiores, e o que se encontra atualmente mais próximo da nossa
preocupação referente ao(s) estudos urbanos são os trabalhos realizados na
Alemanha sobre Planejamento a Paisagem. (NUCCI, 2001, p. 30)
Na Alemanha existem esforços para a identificação de unidades de paisagem urbanas
que são batizadas de biótopos urbanos e trabalhadas em escalas grandes: 1:5000, 1:10000 até
o máximo de 1:50000. Nesta pesquisa, trabalhou-se com uma escala máxima de 1:7.000.
Dado o objetivo de se entender os problemas ambientais, a partir da percepção do
morador, foi necessário realizar uma revisão bibliográfica a respeito deste tema.
A percepção é o conhecimento que adquirimos através do contato atual,
direto e indireto com os objetos e com seus movimentos no campo
sensorial. (...) A percepção do meio ambiente se preocupa com os processos
pelos quais as pessoas atribuem significados a seu meio ambiente
(OLIVEIRA, 2002, p. 42)
Assim, o caráter qualitativo está relacionado à grande carga de subjetividade ligada a
métodos de observação e análise, ao contrário da classificação, hierarquização e descrição,
característicos da metodologia positivista.
Na pesquisa em percepção ambiental informacional não cabe falar em
método, mas em estratégia metodológica que se submete à necessidade de
cada experiência em desenvolvimento. Oferece-se, como baliza, uma só
constante, não propriamente metodológica, mas operacional: a leitura.
(FERRARA, 1999, p. 67)
53
Busca-se avançar no entendimento da relação estabelecida entre o homem e seu meio.
Diversas áreas do conhecimento têm dado sua contribuição nestes estudos como a Psicologia,
Sociologia, Antropologia, Arquitetura, Urbanismo, Geografia, entre outras. Entretanto, será
por meio da interdisciplinaridade que o entendimento da relação homem-meio conseguirá
vencer as fronteiras impostas pela fragmentação das ciências.
Com o objetivo de não se prender a uma visão específica de determinada área do
conhecimento, buscou-se fontes diversas de conceitos, experiências e métodos de trabalho.
A arquiteta e psicóloga Elali, (1997), discorrendo sobre a importância da percepção
para a qualidade de vida, afirma que embora o confronto entre pareceres técnicos e opiniões
leigas possa parecer difícil, estes podem complementar-se eficazmente. O que a autora propõe
é idealizado pela academia e consta como diretrizes nos planos e projetos urbanos, onde a
participação popular nas decisões governamentais é condition sine qua non para um governo
democrático. É lamentável o fato de que a prática anda distante da teoria.
Os estudos geográficos voltados para a percepção do homem diante de sua realidade
têm ganhado importante valorização e significação nos últimos tempos.
As pesquisas em percepção ambiental viriam consolidar-se efetivamente
como uma das linhas mestras dos estudos do ambiente humano a partir do
momento em que, durante a década de setenta, a União Geográfica
Internacional criou o “Grupo de Trabalho sobre a Percepção Ambiental”, e
a UNESCO inclui em seu “Programa Homem e Biosfera”, o Projeto 13:
“Percepção de Qualidade Ambiental”. Enquanto o primeiro, da UGI previa
a realização de uma série de estudos internacionais comparativos sobre os
“riscos do ambiente” e os lugares paisagens valorizados”, o segundo - da
UNESCO - preconiza o estudo da percepção ambiental como uma
contribuição fundamental para uma gestão mais harmoniosa dos recursos
naturais. (AMORIM FILHO, 2007)
O planejamento da paisagem e/ou do espaço será relevante quanto maior o
entendimento da percepção do morador, de como ele vê e entende seu ambiente, do qual faz
parte. A análise da paisagem também será mais rica, caso sejam ouvidas as principais
reivindicações dos personagens que dão conteúdo e dinamismo ao lugar.
Nos trabalhos de avaliação do ambiente edificado os principais métodos
atualmente utilizados para a coleta de informações são observações,
entrevistas, questionários e medições (levantamentos físicos), os dois
primeiros associando-se especialmente a aspectos qualitativos, enquanto os
segundos mais relacionados a definições quantitativas (ELALI, 1997).
Sabe-se que assim como a visão disciplinar, o uso de apenas um método de pesquisa,
limita bastante a análise da pesquisa, além de se tornar facilmente atacado e questionável seus
54
resultados, portanto, quanto mais variados forem os métodos utilizados mais próxima da
realidade.
Entre os principais teóricos que trabalham nesta linha de pesquisa, e que basearam o
presente trabalho, destaca-se: Kevin Lynch, Yi-Fu-Tuan, Lucrecia Ferrara, Pedro Jacobi,
Douglas Gomes Santos, Lívia de Oliveira e Vicente Del Rio, Oswaldo Bueno Amorim Filho,
dentre outros.
O tema em pauta é bastante abrangente, complexo e multidisciplinar, pode ser
realizado sob diversos métodos, quantitativos e/ou qualitativos. São diversos os indicadores
da QAU que podem ser analisados e não existem receitas ou critérios universais, amplamente
aceitos. O recorte e a escala de trabalho também variam e devem estar em conformidade com
os objetivos da pesquisa, caso contrário os resultados da pesquisa podem ser facilmente
questionados. As escolhas dão-se de acordo com o que é mais valorizado conforme o local da
pesquisa e é dotado de uma carga de subjetividade, especialmente a do pesquisador que
definirá os caminhos a percorrer na análise da QAU.
Não obstante,
É sempre necessário acreditar que nossos resultados são antes de tudo,
aproximações do real, sobretudo tratando-se de sistema tão dinâmico e em
permanente mutação, como os espaços geográficos. (MONTEIRO, 2001,
p.109)
2.2 – Materiais
Equipamentos
Micro-computador Pentium 20GB, 1 GB memória ram, monitor 15 polegadas
Máquina fotográfica digital Cânon Power Shot A400 de 3,2 Mega Pixels
Impressora hp deskjet 3520
Folhas A4
Motocicleta CG 125 Titan, azul, ano 1999, modelo 2000.
Documentos Cartográficos
Fornecidos pela Prefeitura Municipal de Uberaba:
- Mapa base no formato dwg
- Aerofoto MAPLAN 1985 – CEMIG 1975
- Foto aérea (ângulo reto) FX5611/2004
Fornecido pela Fundação João Pinheiro – BH: - Foto aérea (ângulo obliquo) 1980
55
Softwares
Arc View
O software Arc View foi utilizado para a elaboração do mapa de localização da área de
estudo.
Autocad Map 2000.
Este software foi desenvolvido pela empresa Autodesk, é específico para a construção
de projetos e mapas, por isso não possui a função de análise de dados. Apesar disso,
possibilita um alto nível de detalhamento de mapas, de acordo com critérios especificados
pelas técnicas cartográficas. É possível inscrever as coordenadas geográficas, escala e outras
informações como nomes de ruas, cotas e medidas de áreas.
Ele torna possível a importação e exportação de arquivos que podem estar no formato
vetorial (em linha) ou em raster (imagens).
No Autocad Map 2000 o mapa é dividido em camadas denominadas ‘layers’, cada
uma representando um atributo do mapa: hidrografia, rodovia, quadras, etc., que podem ser
construídos na forma de linhas, pontos e polígonos. Após construídos, cada layer vira um
arquivo que pode ser exportado para qualquer SIG. A diferença é que somente o SIG é capaz
de associar para cada polígono uma tabela, o que permite a criação de um banco de dados
referentes a cada polígono.
Nesta pesquisa, a base digital original estava no formato dwg, portanto, foi obtida a
partir do Autocad Map 2000. Os layers foram exportados no formato dxf para o software
SPRING, onde foram elaborados todos os mapas restantes.
Spring
Foi desenvolvido pelo INPE - Instituto Nacional de Pesquisa Espacial. Trata-se de um
software livre de domínio público, ou seja, pode ser adquirido gratuitamente pelo portal do
INPE na internet.
É um banco de dados geográficos para ambientes Unix e Windows. Suporta uma
grande quantidade de dados, sem limitações de escala, projeção e fuso. Administra tanto
dados vetoriais como amtriciais e realiza a integração de dados de Sensoriamento Remoto
num SIG.
56
Os principais documentos cartográficos elaborados nesta pesquisa, como os mapas
temáticos, foram feitos no software SPRING. Em todo SIG deve ser criado um banco de
dados com projetos e planos de informações associados, conforme esquematizado na figura 1:
Figura 1: Esquema de construção de um Banco de Dados em um SIG.
Fonte: FREITAS E COSTA, 2005.
Foi criado o banco de dados ‘QAU’ com dois projetos associados: Município e DI-
Alfredo. No projeto Município consta arquivos referentes à área urbana da cidade de Uberaba.
Já no projeto DI-Alfredo, constam arquivos referentes apenas à área do bairro Alfredo Freire,
portanto, de escala maior. As Categorias e Planos de Informação estão descritas no quadro 3,
esquematizadas de forma global na figura 2. Na figura 3 é apresentada a tela do software
SPRING que mostra o Banco de Dados QAU, projeto DI-Alfredo e as categorias associadas.
Figura 2: Banco de dados para geração dos mapas no software SPRING.
57
Categorias Plano de Informação
Vias - principais
- secundárias
Quadras - quadras
Foto - composição ‘red’
- composição ‘green’
- composição ‘blue’
Drenagem - principais
- secundárias
Uso e ocupação - arborização
- campo
- escola
- praças
- áreas depósito de lixo
- unidade básica de saúde
- lagoa de efluentes líquidos
industriais
Percepção1 – Casos de dengue - dengue
Percepção 2 - Incidência de vetores transmissores de
doenças
- vetores transmissores de doenças
Percepção 3 - Poluição Atmosférica - poluição atmosférica
Percepção 4 - Satisfação com espaços livres públicos - praças
QAU (mapa final da Qualidade Ambiental Urbana) - qau
Limites - limite bairro
Quadro 3 - Banco de dados QAU / Projeto DI-Alfredo.
Figura 3 - Visualização do banco de dados QAU no software SPRING.
58
Categorias Plano de Informação
Drenagem - rios
- córregos
Evolução urbana - década de 1930,
- década de 1940,
- década de 1950,
- década de 1960,
- década de 1970,
- década de 1980,
- década de 1990 e
- década de 2000.
Quadras - quadra
Vias - Principais
- Secundárias
Quadro 4 - Banco de dados QAU, projeto Município.
Para fins de configuração, foi utilizado o Scarta, anexo ao Spring. O caminho para
abrir o banco de dados e o projeto é o mesmo adotado no Spring: Arquivo – Banco de dados –
Ativar QAU – Arquivo – Carregar Projeto – Ativar DI_Alfredo – Criar Carta – exibir Painel
de Controle e acionar as categorias e plano de informação desejáveis ao mapa que se desejava
elaborar.
Após configurar as cartas em tamanho, coordenadas, escalas e legenda, os arquivos
são transferidos para o IPLOT, outro programa anexo ao SPRING, através do comando
Arquivo – Gerar arquivo iplot. Dada a escala de trabalho, foi suficiente gerar a grande maioria
dos mapas no formato A4.
Em seguida, os arquivos (mapas), foram abertos dentro do programa IPLOT e
exportados no formato bmp para ser abertos em programas editores de texto, prontos para
serem impressos. (figura 4)
2.3 - Procedimentos técnico-operacionais
2.3.1 - Critérios para definição dos indicadores da QAU
O bairro Alfredo Freire reúne uma diversidade de fatores que o difere dos demais
bairros da cidade de Uberaba. Tais fatores favorecem uma importante discussão a respeito da
qualidade do ambiente urbano. Dentre eles, cita-se a seguir os principais:
- Espacialmente segregado da cidade;
- Construído a poucos metros de um Distrito Industrial (DI);
- Separado fisicamente do DI e da cidade pela rodovia BR 050.
59
Figura 4 – Diagramação final do mapa no software SCARTA(SPRING).
O primeiro fator de interferência na qualidade de vida dos moradores deste bairro é a
distância em relação ao centro da cidade. Os aproximadamente oito quilômetros que o separa
do centro, representa uma dificuldade a ser vencida mediante um meio de transporte obsoleto
que implicará em grande dispêndio de tempo e dinheiro, além do desconforto e insegurança
no trânsito.
Os resíduos industriais do Distrito Industrial – 1, em sua forma sólida, líquida e
principalmente gasosa, afeta direta e/ou indiretamente a qualidade do ambiente no bairro. Os
resíduos gasosos, na forma de particulados ou odor, são mais intensamente percebidos no
nível domiciliar.
Os particulados são emitidos, principalmente pela empresa de celulose SATIPEL, e
outras em menor intensidade. É importante considerar também a contribuição dos veículos
pesados que circulam pela BR 050, que separa o bairro da ‘cidade’. Já o tido
1
é gerado por
diversas empresas do DI-1, com destaque para a Usina de Triagem dos Resíduos Sólidos, os
1
Que fede, exala mau cheiro. Pútrido.
60
resíduos da empresa SATIPEL e a lagoa de decantação do frigorífico Da Granja. Os ventos
contribuem jogando para o bairro os resíduos gasosos.
Além disso, existem alguns fatores internos que interferem na qualidade ambiental e
que, via de regra, faz parte da paisagem urbana, são os terrenos baldios, geralmente
associados ao acúmulo irregular de resíduos domésticos e de entulhos. Tais locais funcionam
como abrigo de vetores transmissores de doenças. As condições de poluição ambiental podem
ser melhor visualizadas no mapa 1 - ‘Principais fontes de poluição’
Sem a pretensão de esgotar o assunto e admitindo a possibilidade de se trabalhar com
uma infinidade de indicadores da qualidade ambiental do bairro Alfredo Freire, foi
selecionado quatro. A escolha foi baseada em trabalhos de campo, análise do uso e ocupação
do solo e no mapa 1 – principais fontes de poluição. Desta forma, chegou-se aos quatro
indicadores listados a seguir:
1 – satisfação com os espaços livres públicos;
2 – casos de dengue no ano de 2006;
3 – poluição atmosférica;
4 – incidência de pragas urbanas.
2.3.2 - Método de aplicação do questionário: amostragem.
O público alvo da pesquisa foram as donas de casa, ou, na sua ausência, pessoas
residentes no lote que passam a maior parte do tempo em casa, durante a semana ou nos finais
de semana, com faixa etária mínima de 16 anos. A justificativa é que aquela pessoa que passa
a maior parte do tempo em casa vivencia o ambiente de forma mais intensa e, portanto, pode
fornecer melhores informações sócio-ambientais e dos problemas ambientais vividos no nível
domiciliar, conforme o foco da presente pesquisa.
Jacobi, (2006, p.26) entende que as donas de casa são uma das melhores fontes, por ter
“um contato mais intenso com o cotidiano domiciliar e, portanto, com os problemas
ambientais”.
61
Mapa 1 – Principais fontes de poluição no bairro Alfredo Freire.
62
Foram aplicados 308 (trezentos e oito) questionários, correspondente a 21% do
universo de donas de casa (ou lotes). Chegou-se a esse número baseado na tabela presente em
Krejci e Morgan (1970) e na densidade de lotes ocupados no bairro. São 1452 lotes
ocupados
2
, entretanto, não estão distribuídos uniformemente, desta forma, considerou-se as
quadras como sub-unidades de amostragem. Os 308 questionários foram distribuídos
conforme a densidade de lotes ocupados por quadra, naquelas que mais densas foram
aplicados até 6 questionários, nas menos densas chegou-se a aplicar 1 questionário, conforme
pode ser visualizado no mapa 2.
Os pontos de coleta foram definidos pelo pesquisador buscando uma abrangência
eqüitativa por toda a quadra e de uma em relação à outra.
2.3.3 – Preenchimento do questionário.
Adaptando o modelo contido em Soares et. al. (2006), para o preenchimento e
interpretação mais eficiente dos questionários de forma que permitisse a espacialização dos
resultados a posteriori, foi elaborada uma codificação para representar cada lote visitado
composta por:
- uma letra representando o setor ao qual a quadra se refere (A a N)
- número da quadra (1 a 12)
- uma letra indicando a face da quadra, referente aos pontos cardeais (exceção feita às
quadras H2, H3, H4 e M5 que terá a face identificada pela abreviatura do nome da rua, além
das quadras N1 a N8, que terá as codificações N-S / NE-SO)
- indicação do número da residência.
A configuração final está representada no mapa 2. Os números correspondem à
quantidade de questionários aplicados por quadra e a combinação de código e número (A14),
corresponde ao código da quadra.
2.3.4 – Critérios cartogficos para espacialização dos indicadores da QAU.
O questionário foi formulado de forma a permitir a espacialização do grau de
avaliação do morador em relação a cada indicador. Desta forma, cada indicador foi avaliado
pelo morador em graus de intensidade variando de 0 a 3, sendo que quanto mais próximo de
2
Estimado para 2006, pelo pesquisador, a partir de análise da foto aérea 2004.
63
0, melhor a qualidade ambiental e vice-versa, conforme pode ser observado no ANEXO I –
questionário, item 6.
A tabulação foi feita por quadra. Para cada uma das 83 quadras foi atribuído o peso
avaliado pelo morador. Nas quadras em que foram aplicados mais de um questionário foi feita
uma média simples para se chegar aos pesos de 0 a 3.
Foi gerada uma tabela para cada um dos quatro indicadores selecionados nesta
pesquisa, constando informações de: quantidade de questionários aplicados, média da
avaliação do morador e o peso atribuído entre 0 e 3 para cada quadra. As tabelas podem ser
conferidas no anexo II – praças, anexo III – dengue, anexo IV – poluição do ar e anexo V –
pragas urbanas.
Os critérios de representação da qualidade ambiental foram baseados nos fundamentos
da cartografia temática, tendo por referências principias Duarte (2002) e Marttinelli (1998,
2005).
A progressão e especialização da cartografia científica durante os séculos XVII, XVIII
e XIX, culminaram com a definição de dois ramos: a cartografia temática e a topográfica.
A cartografia topográfica está diretamente relacionada ao relevo. Tem nas curvas de
nível seu símbolo mais importante, são essas linhas que dão a marca característica das cartas
topográficas, mostrando precisamente a topografia (altitude e relevo).
Já a cartografia temática preocupa-se com a representação dos fenômenos naturais
(dentre eles aqueles ligados ao relevo) e sociais, por meio das representações cartográficas,
utilizando-se dos recursos da linguagem gráfica.
Para representar qualquer tema, é necessário recorrer a uma variação visual que poderá
ter um aspecto quantitativo, qualitativo ou ordenado. Trata-se dos níveis de informação,
segundo metodologia de Marttinelli (2005).
No nível qualitativo não há intenção do autor do mapa em transmitir valores ou
quantidades, apenas propriedades e atributos de determinado fenômeno ou mesmo sua
organização espacial. Já no nível quantitativo, há uma ênfase na demonstração de grandezas e
valores dos elementos representados. No nível ordenado, a ênfase é na demonstração de uma
hierarquia, ou seja, uma ordem dos elementos. As categorias são deduzidas de interpretações
quantitativas ou de datações.
As representações da QAU enquadram-se no nível ordenado, já que se objetiva
representar a QAU diferenciando-a em níveis ordenados, variando em intensidade do “bom”
ao “péssimo.
64
Mapa 2 – Codificação e quantidade de questionários por quadra
65
Além do caráter ordenado, será necessário optar por uma variável visual que expresse
o tema adequadamente. Marttinelli (2005), propõe seis variáveis: tamanho, valor, granulação,
orientação, cor e forma.
A variável ideal para representar a QAU é a “valor”, já que ela expressa intensidades.
Pode ocorrer com diversificação da tonalidade de uma cor, numa escala que vai de tons mais
claros aos mais escuros, demonstrando intensidades. Essa escala pode se dar dentro de uma
mesma cor, ou com cores diversas, porém sempre respeitando a escala de tons claros a
escuros. No caso de uma cor apenas, a técnica do dégradé é que demonstrará a intensidade do
fenômeno.
2.3.5 - O mapa da Qualidade Ambiental Urbana final.
Diante da alta complexidade e subjetividade envolvida em pesquisas relacionadas ao
conceito de qualidade, vislumbrou-se dois métodos diferentes para compor um mapa síntese
que representaria a qualidade ambiental urbana no bairro Alfredo Freire. Os caminhos
metodológicos de ambos métodos estão apresentados nas duas opções a seguir:
Opção 1
Para gerar o mapa final da QAU, partiu-se de uma planilha com a codificação da
média de cada um dos quatro indicadores. Somou-se as médias parciais por quadra e gerou-se
uma média final para todos os indicadores por quadra. Em seguida os valores foram
classificados em cinco classes divididas entre os pesos de 0 a 3.
Opção 2
Para a classificação final da QAU, foi feita uma adaptação da metodologia de
interpolação de mapas proposta por Nucci, 2001.
Assim, foi elaborada uma tabela que congregava todos os indicadores e seus pesos
associados. Somou-se os pesos referentes a cada quadra para chegarmos num valor de
qualidade ambiental cumulativo, para cada quadra.
Quanto maior o valor do peso, pior a qualidade ambiental daquela quadra. O mapa
final deve ser interpretado de forma que aquela quadra que apresenta mais atributos negativos
possui uma qualidade ambiental pior do que aquela que apresenta menos. Os resultados estão
detalhados no capítulo 4.
66
2.4 - Proposta de análise por unidades da paisagem.
Para tornar prática a análise, o bairro foi dividido em 4 unidades: AF1N (Alfredo
Freire 1 – Norte), AF1S (Alfredo Freire 1 – Sul), AF2 (Alfredo Freire 2) e AF3 (Alfredo
Freire 3), conforme mapa 3.
Mapa 3 – Setores de análise da Qualidade Ambiental Urbana.
67
3 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A área recorte para o estudo da QAU, corresponde ao bairro Alfredo Freire, localizado
na cidade de Uberaba, conforme pode ser observado no mapa 4 - Localização. Para entender
melhor o processo de construção do bairro, será feita uma análise contextualizada a respeito
da história do município, o qual o bairro AF faz parte.
3.1 - Uberaba: Algumas considerações histórico-geográficas.
Os registros do início da ocupação pelos homens brancos
1
da região de Uberaba, se
confunde com a ocupação do Triângulo Mineiro, cuja área à época era denominada ‘Sertão da
Farinha Podre’. A região foi alvo das metas administrativas da Coroa Portuguesa. O
governador da Capitania de São Paulo e Minas Gerais articulou a abertura de uma estrada.
Organizou-se uma expedição composta por 152 homens, entre os quais 20 índios
carregadores, 3 religiosos e 39 cavalos.
Esta missão ficou a cargo de Bartolomeu Bueno da Silva Filho (filho de
Anhanguera). Ela partiu de São Paulo pelos rios Atibaia, Camanducaia,
Moji-Guaçu, Rio Grande, Rio das Velhas e penetrando em Goiás pelo
Corumbá. Segundo alguns relatos da época, a expedição passou por terras
de Uberaba. Esta rota ficou conhecida como Estrada Real ou Anhanguera
que consistia em um importante caminho para que as autoridades
portuguesas implementassem a colonização, a produção e escoamento dos
minerais preciosos. Na verdade, a maioria das riquezas minerais do Brasil
foram levadas para Portugal e utilizadas para o pagamento de suas dívidas
em relação à Inglaterra. (CASANOVA, 2007)
É importante salientar que a ocupação do Triângulo Mineiro, assim como de todo o
interior do Brasil, deu-se a partir da colonização e extermínio da população local, grande parte
formada pelas mais variadas tribos indígenas.
Em 1766 foi criado o Julgado de Nossa Senhora do Desterro do Desemboque - o mais
importante núcleo populacional da região, rico em minas auríferas. A exploração foi intensa
até o fim do século XVIII, quando a fonte se exauriu.
1
Lembrando-se que existe um histórico de ocupação indígena da região antes do domínio estrangeiro, apesar de
o foco histórico se dar a partir da produção do espaço sob os moldes do modelo civilizatório ocidental-
capitalista.
68
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Org. e Dig. Aristeles Teobaldo Neto
Fonte: Prefeitura Municipal de Uberaba
Geominas - www.geominas.mg.gov.b
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Minas Gerais
Município de
Uberaba
<-- Vessimo / BR 262
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Alfredo Freire
Cidade de Uberaba
Legenda
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7
Figura 5 – Localização da área de estudo: Bairro Alfredo Freire no município de
Uberaba – MG, Brasil.
69
O marco do desenvolvimento da cidade de Uberaba começa com a entrada dos garimpeiros
emigrados do Arraial do Desemboque no início do séc. XIX (1811). O núcleo populacional
cresceu, passando por várias fases destacando-se Uberaba, ao limiar do século XX como
importante centro regional.
A extinção de minério no Desemboque provocou o retorno de algumas pessoas ao
seu lugar de origem e levaram outras a se aventurarem pelo sertão, como foi o caso do
Sargento Mor Manuel José da Silva e Oliveira e seu irmão Antônio Eustáquio.
O Sargento Mor Antônio Eustáquio avançou a oeste do Desemboque procurando
uma região onde havia elementos favoráveis que garantissem conforto como água e terras
férteis. Edificou uma residência em 1819, onde hoje opera a empresa EPAMIG – Empresa de
Pesquisas Agropecuária de Minas Gerais, na cidade de Uberaba MG.
Dada a segurança e forte influência que o sargento oferecia, várias pessoas ficaram
estimuladas a transferirem-se para as imediações.
A povoação logo assumiu grandes proporções, em 20/03/1820 a região foi elevada à
condição de freguesia; em 06/02/1836 assumiu a condição de vila e no dia 02/05/1856 chega à
condição de cidade.
Segundo IBGE, 2001, a população para o ano de 2006 estava estimada em 285.094
habitantes. Assim como no nível nacional, a população de Uberaba toma grandes proporções a
partir da segunda metade do século XX. De 1940 a 1960 a população se mantém até os 100
mil habitantes. Num intervalo de apenas duas décadas (1960 a 1980) ela dobra. Quase três
décadas depois chega ao limiar dos 300 mil. Tais números podem ser visualisados no gráfico
3 e tabela 1:
Município de Uberaba
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
1
9
4
0
1
9
5
0
1
9
6
0
1
9
7
0
1
9
8
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1
9
9
1
1
9
9
6
2
0
0
0
2
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0
1
2
0
0
2
2
0
0
3
2
0
0
4
2
0
0
6
Ano
População
Gráfico 3 – Crescimento da População de Uberaba a partir de 1940.
Fonte: IBGE, 2001. Adaptado por Teobaldo Neto, 2007.
70
Tabela 1 - Aspectos Demográficos da População de Uberaba
DADOS ANO URBANO RURAL TOTAL
Censo 1940 31.259 28.725 59.984
Censo 1950 42.725 26.954 69.679
Censo 1960 72.053 (*)15.780 87.833
Censo 1970 108.259 16.231 124.490
Censo 1980 182.519 16.684 199.203
Censo 1991 200.705 11.119 211.824
Estimativa 1996 229.031 8.402 237.433
Censo 2000 243.406 7.753 251.159
Estimativa 2001 - - 256.539
Estimativa 2002 - - 261.457
Estimativa 2003 - - 265.823
Estimativa 2004 _ _ 274.988
------------- ------ - - -
Estimativa 2006 - - 285.094
(*) O Distrito de Água Comprida foi emancipado.
Fonte: IBGE, 2001 – Uberaba MG
Tal crescimento populacional provocou uma expansão espacial que só pode ser
compreendida dentro da lógica especulativa de crescimento das cidades, caracterizada por
imensos vazios urbanos e áreas de ocupação periférica destinadas à população de baixa renda.
Na figura 5 é possível constatar como o bairro AF se situava fora do perímetro urbano
na década de 1980, sendo uma das poucas áreas habitadas além dos limites da rodovia que
contornava a mancha urbana. Na década de 2000, o contexto da evolução urbana da cidade
como um todo “inclui” o bairro na mancha urbana. No mapa 4 é possível observar a evolução
entre as décadas de 1930 a 2000 com mais detalhes.
O crescimento espaço-temporal da área urbana de Uberaba reflete uma realidade da
maioria das cidades brasileiras que crescem aleatoriamente e desprovidas de um planejamento
que lhes garantam uma adequada qualidade ambiental urbana. Esse crescimento desenfreado
interfere no equilíbrio natural e desencadeia uma série de conseqüências no ambiente que irá
afetar diretamente a qualidade de vida nos centros urbanos.
Nos ecossistemas urbanos, esse dilema tem uma das suas representações na
seguinte situação: mais pessoas, mais urbanização; mais pessoas, mais
necessidade de empregos; para gerar emprego, mais empresas; logo, mais
demanda sobre os recursos naturais (significa mais consumo de energia
elétrica, combustível, água, alimentos, matéria-prima e mais alterações de
uso do solo, desflorestamentos, gases-estufa, esgotos, resíduos sólidos, calor
e vários tipos de poluição). Assim, fecha-se o ciclo da insustentabilidade.
No modelo atual, não se vislumbram saídas para esse dilema: para resolver
um problema, cria-se outro ainda mais grave. (DIAS, 2002, p.194)
71
Figura 6 - Evolução da mancha urbana da cidade de Uberaba MG – 1930 a 1980.
1930 1940 1950 1960
1970 1980 1990 2000
72
Mapa 4 – Evolução da mancha urbana da cidade de Uberaba MG 1930 a 2000.
Alfredo
Freire
73
Sabe-se que o aumento populacional é um dentre tantos outros fatores geradores de
impactos ambientais, entretanto, ele é significativo nas alterações ambientais urbanas.
3.1.1 - O sítio urbano de Uberaba
O município, pertencente ao estado de Minas Gerais, possui registradas as seguintes
coordenadas geográficas: latitude sul 19º 45’27” e longitude oeste a 47º 55’36”. A
temperatura média anual é de 23,0 ºC, o clima é do tipo tropical quente e úmido com inverno
frio e seco. Situa-se a 764 metros de altitude, sendo 40% do seu relevo plano e 60%,
ondulado. (Prefeitura Municipal de Uberaba, 2007).
Segundo EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas, (___) apud
Prefeitura Municipal de Uberaba / RIMA ETE (2006), ocorre na região o predomínio do clima
tropical considerado chuvoso, de natureza continental, apresentando duas fases
preponderantes, a estação seca nos meses de junho a agosto e a estação úmida, de novembro a
março. Os meses de abril, maio, setembro e outubro podem ser classificados como de
transição entre as duas estações. De acordo com a classificação universal de Köeppen, esse
clima é do tipo Aw.
Os fenômenos meteorológicos que afetam a bacia são as frentes frias que avançam do
sul, empurradas por anticiclones migratórios polares, as linhas de instabilidade que ocorrem
durante as épocas chuvosas, movendo-se do quadrante norte e penetrando na direção sul, e as
trovoadas locais que ocorrem na época mais quente do ano.
Segundo PMU/RIMA ETE (2006), a geomorfologia é marcada pela incidência de
áreas caracterizadas por elevada declividade. Grandes desníveis locais potencializam a ação
do escoamento superficial gerado a partir das intensas precipitações ocorrentes, favorecendo a
formação de voçorocas em alguns pontos da cidade. O relevo varia de plano ligeiramente
ondulado na maioria absoluta da área do município até fortemente ondulado em pequenas
manchas de solos podzólicos.
A altitude máxima chega a 1.031 metros na faixa do membro serra de Ponte Alta e
mínima a 522 metros na divisa com o estado de São Paulo. A média da sede do município gira
em torno de 764 metros. (PMU / RIMA – ETE, 2006)
Ainda segundo este relatório, as erosões mais frequentes são do tipo laminar e de
sulcos, além das voçorocas e escorregamentos em bordas de canais, com significativas perdas
74
de solo. Os processos erosivos, de forma geral, estão associados aos novos parcelamentos
urbanos.
Geologicamente, a região está situada na borda oriental da Bacia do Paraná.
É constituída por derrames basálticos da borda nordeste da Bacia do Paraná,
depositados sobre rochas de idade pré-cambriana e recobertos por
sedimentos terciários e quaternários. A maior parte dos sedimentos é de
origem continental, sendo pequena parte de origem marinha. Aí ocorrem os
derrames de basalto do trape do Paraná, pertencentes ao Grupo São Bento,
de idade cretácea, aliados às intercalações de arenito da Formação Botucatu.
O embasamento das rochas basálticas é constituído por xistos e quartzitos
do grupo Araxá (Pré-Cambriano Inferior - 800 m.a.). O topo destas rochas
metamórficas foi duramente arrasado e aplainado por um longo período
erosivo e, durante o chamado Deserto Botucatu, no Cretáceo, sua superfície
foi coberta pelos derrames basálticos. Os xistos Araxá ocorrem na borda
oriental da Bacia, expostos pelo trabalho erosivo das águas nos leitos
profundos dos rios. Recobrindo os basaltos encontram-se sedimentos
inconsolidados (cascalheiras) e coberturas detríticas arenosas de idade
terciária/quaternária. Na região, a geologia é dominada pelos basaltos
extrusivos da formação Serra Geral (Cretáceo inferior - 135 m.a) que
ocupam, neste trecho, todo o vale do Rio Grande e seus afluentes. Os
basaltos foram dispostos em sucessivos derrames horizontais com
espessuras que variam de 15 até 70 metros. Apresentam tonalidade variável,
do cinza chumbo ao preto, granulação fina a média e estrutura maciça ou
amigdaloidal. Entre os derrames de basalto, por vezes ocorrem arenitos de
origem eólica da formação Botucatu com espessuras de poucos metros
(máximo 20 m). As principais reservas minerais do município são
constituídas por jazidas de águas minerais, argila, calcário, basalto e pedras
ornamentais. (PMU / ETE 2006)
Em torno de 80 milhões de anos atrás, a região de Uberaba fazia parte de uma grande
bacia que recebia sedimentos clásticos e químicos do entorno. Deu-se o nome de formação
Uberaba a esta camada de sedimentos que formava uma grande bacia que abrangia a região
de Uberaba, Frutal, Uberlândia, Prata, Campina Verde e Patrocínio. Ela situa-se sobre uma
camada rígida de constituição basáltica. Deu-se o nome formação Serra Geral a esta camada
geológica de basalto.
O sítio urbano de Uberaba, dentre todas as cidades que compõem esta bacia de
sedimentos, apresenta de forma mais nítida a formação Uberaba. Esta formação é constituída
de rochas epiclásticas e vulcanoclásticas, com detritos oriundos da erosão de rochas
vulcâncias misturadas com fragmentos de rochas não vulcânica.
Em alguns momentos, principalmente na proximidade dos córregos, chega a aflorar a
camada basáltica. No mapa de declividade (mapa 5) é possível constatar que a maior parte do
75
bairro AF encontra-se em terreno plano. A área correspondente ao DI1, também é privilegiada
pela baixa declividade.
Na direção sul do bairro a área é bastante acidentada e de alta declividade, pois está
bem próxima ao córrego Juca. Neste local é possível observar afloração basáltica. A forte
declividade associada ao terreno de solo exposto e sem pavimentação, favorece a erosão,
agravada no período de precipitação, inviabilizando o uso das vias pela população residente
local.
Este loteamento desrespeita alguns limites estabelecidos no Plano Diretor Municipal,
lei complementar 375/2007, artigo 5º. que veda o parcelamento do solo urbano
2
em terrenos
IV - sujeitos a deslizamentos de terra ou erosão, antes de tomadas as
providências necessárias para garantir a estabilidade geológica e
geotécnicas;
V - onde a poluição ambiental comprovadamente impeça condições
sanitárias adequadas, sem que sejam previamente saneados;
IX - possuam declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento).
(Prefeitura Municipal de Uberaba / 2007)
As fotos 2 e 3 denunciam a infração ao inciso IV desta lei, onde podem ser
observados os sulcos erosivos. Quanto ao inciso V, o bairro Alfredo Freire como um todo é
uma afronta a este item, uma vez que a poluição ambiental ainda representa um desafio à
qualidade ambiental urbana e qualidade de vida no local. Como aponta o mapa 5, a
declividade na porção sul chega ao limite de 30% em alguns locais.
2
Segundo a Lei Complementar 375/2007 do município de Uberaba, o parcelamento do solo urbano corresponde
às edificações para fins de moradia que podem ser feitas sob a forma de loteamentos diversos.
76
Mapa 5 – Declividade do relevo no bairro AF e Distrito Industrial I.
77
Foto 2 – Rua situada em encosta com
Declividade superior a 15%,
apresentando o processo erosivo
nas vias sem pavimentação.
Fonte: Teobaldo Neto – 28/05/2006
Foto 3 – Rua em encosta com declividade superior a 15%,
ângulo oposto à foto 2. (
Fonte: Teobaldo Neto – 28/05/2006)
3.2 - O bairro como unidade de análise da paisagem.
Segundo a Lei Complementar ao Plano Diretor 357/2007 (Uberaba, MG), loteamento
é a subdivisão de uma área em lotes destinados à edificação, com abertura de novas vias de
circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias
78
existentes. Popularmente todo loteamento é conhecido pela denominação ‘bairro’ e é batizado
com um nome qualquer.
Apesar de as condições para a edificação de qualquer loteamento estar prevista em leis
específicas, como o plano diretor, na prática verifica-se que tais instrumentos de regulação de
ocupação do solo urbano são muitas vezes ignorados, por diversos motivos já discutidos em
capítulo anterior.
A divisão da cidade em bairros então serviria para o planejamento do desenvolvimento
urbano, entretanto, verifica-se uma multiplicação de bairros pela atribuição de um nome
diferente a cada novo loteamento, sem critérios de condições urbanas-estruturais, área mínima
e etc.
Desta forma, o que existe de oficial é a divisão do município em macrozonas urbanas,
envolvendo diversos bairros, com a finalidade de orientar o ordenamento do solo urbano e
estabelecer as bases para aplicação dos instrumentos da política urbana previstas no Estatuto
da Cidade. (Prefeitura Municipal de Uberaba. Plano Diretor. Lei 359/ 2007)
O Alfredo Freire constitui-se de três loteamentos edificados e ocupados em épocas
diferentes. A primeira tratou-se de um projeto de conjunto habitacional denominado Alfredo
Freire, financiado pelo BNH, no qual as residências foram entregues no ano de 1980.
Na década de 1990 foi edificado outro loteamento, anexo ao conjunto inicial,
denominado Alfredo Freire II.
A terceira fase de ocupação corresponde a um loteamento concluído no ano 2000.
Dadas as péssimas condições e precariedade de equipamentos urbanos com que este
loteamento foi entregue, ele possui uma ocupação bastante rarefeira. O mapa 6 demonstra as
fases de ocupação.
Nesta pesquisa será tratado com a denominação ‘bairro’ quando referir-se aos três
loteamentos. Quando for falado de um loteamento específico, será tratado por Alfredo Freire
1 (AF1), Alfredo Freire 2 (AF2) ou Alfredo Freire 3 (AF3).
79
Mapa 6 – Evolução do Uso e Ocupação bairro AF.
80
3.3 - O bairro Alfredo Freire: Algumas considerações histórico-geográficas.
Conforme aponta Santos, (2006, p. 17), a maioria dos primeiros moradores do bairro
AF vinha do campo: nas entrevistas percebi a complexidade que era viver na cidade, para o
morador que vinha do campo foi um choque: na cidade o dinheiro é quem decide o que se
come, onde se mora e como se vive. Quando se instalaram no conjunto, na década de 1980,
procuravam na cidade as oportunidades restritas no campo. Entretanto, se depararam com
dificuldades diferentes, mas não menos graves que as do campo.
Em pesquisa de campo, a partir de relatos orais, foi possível constatar que a população
do AF 2 é composta por antigos moradores do AF 1. Geralmente são filhos que se casaram e
devido aos fortes laços com o lugar optaram por residir no bairro. O AF 3, à semelhança do
AF 2, é composto por antigos moradores do AF 1, a diferença é que possui uma ocupação
bastante rarefeita, devido à falta de infra-estrutura básica, como pavimentação, agravada pelas
condições de relevo íngreme (mapa 5 - Declividade no bairro AF e DI-1).
Quando o bairro AF foi construído, já existia em plena atividade o DI-1 (mapa 6 e foto
4). Tal fato é no mínimo curioso instigando a seguinte interrogação: Por que construir um
bairro segregado espacialmente da área urbana, ao lado de um Distrito Industrial?
Foto 4 - Vista aérea do bairro Alfredo Freire – 1981
Fonte: Fundação João Pinheiro - BH. Plano de Desenvolvimento Urbano de Uberaba. 1981.
Adaptação: Teobaldo Neto. 2007.
DI 1 (1970)
AF 1 (1980)
81
A primeira resposta está ligada ao modelo de produção da cidade capitalista, em que as
cidades crescem pelas periferias, formando vazios em seu interior. Ao dotar de infra-estrutura
urbana estes bairros, toda área entre os bairros periféricos e o centro serão valorizadas pela
especulação imobiliária, constituindo as chamadasterras de engorda”.
A área desapropriada para a construção do bairro correspondia a uma chácara de
propriedade do membro de uma família tradicional elitista e com forte representatividade
política na cidade. Os interesses escusos tinham prioridade, frente aos coletivos, ou seja,
apesar de previsíveis os danos à qualidade ambiental urbana e à qualidade de vida, pela
localização ao lado do DI-1, o conjunto foi aprovado mediante pressão da elite dominante.
Foram ignorados os alertas de especialistas das mais diversas áreas, contrários à
construção de um bairro naquele local. Por meio do projeto de lei 016/79, foi aprovado o
loteamento do conjunto habitacional Alfredo Freire pelo legislativo. De forma a mitigar sua
responsabilidade foram exaradas algumas ressalvas alertando para os impactos ambientais.
Segundo estudos técnicos da FJP, 1981, p. 49, o DI-1 permite espaços para indústrias
cujo processo produtivo é incompatível com as outras atividades urbanas, pelos incômodos
que provocam. Dentre os incômodos, os mais citados na pesquisa de Santos, 2006, eram
relacionados aos ruídos excessivos e emanação de poeiras e gases fétidos.
...muitas foram as reclamações e manifestações que se fizeram necessárias,
por parte dos moradores, uma vez que o Conjunto havia sido construído em
frente ao DI1, e a população sofria com ruídos, poeira e, principalmente,
com o mau cheiro oriundo de algumas indústrias, como a Usina de Lixo –
que liberava a céu aberto aquele caldo obtido pela pressão do lixo -, o
Pod´Boi – que lavava e curtia o couro, tendo a água suja despejada no solo,
correndo a céu aberto -, o Ibirapuera – que abatia frangos, queimava penas
para fazer ração e, também, a céu aberto, deixava escorrer toda a sujeira
pelos campos próximos às casas. SANTOS. 2006 p. 91
O AF é um caso emblemático da segregação na produção do espaço urbano, que
confere a cada classe sua área, conforme seu poder aquisitivo.
...o prefeito Silvério Cartafina Filho, utilizando-se do slogan ‘A Meta é
Construir’, declara à população que serão construídas em Uberaba cerca de
dez mil moradias às pessoas de baixa renda, localizadas em pontos
periféricos da cidade. Com esse pronunciamento, diversos segmentos da
sociedade são acalmados e o prefeito, aclamado pela iniciativa. SANTOS,
2006. p. 36
a preocupação do prefeito não foi com o viver dos moradores, mas com o
afastamento deles do centro da cidade (...) ele não se refere às privações e
dificuldades que os moradores teriam que enfrentar, quanto à disncia das
moradias que estavam sendo construídas. SANTOS, 2006. p. 40
82
Esta fala traz à tona os interesses e motivações ocultas das classes dominantes a favor
da ‘ordem’ e do ‘controle social’. Sua pressão e representatividade nos poderes político e
econômico explicam a organização sócio-espacial da cidade.
Na foto 4 (1981) ficam evidentes as condições de isolamento da cidade e de
proximidade do DI-1. O bairro é cercado por pastagens e separado pela rodovia BR-050 do
DI-1.
Pela foto aérea de 2004 (figura 7) é possível constatar que o AF1 é o mais denso, dada
sua época de ocupação mais antiga, seguido de uma ocupação menos densa no AF2 e uma
grande rarefação demográfica no AF3. Além disso, este setor do bairro sofre também com a
precariedade de serviços básicos como, por exemplo, a falta de pavimentação, que representa
um grande problema aos moradores pelos problemas de erosão já citados, além dos terrenos
baldios, atrativos de pragas urbanas. Outro fator ambiental agravante é a maior proximidade
da lagoa de decantação de efluentes líquidos da empresa Da Granja, sendo o primeiro a ser
afetado pelos fétido emitido pela lagoa.
O período de construção dessas casas era marcado por um intenso êxodo rural. A
formação de uma extensa periferia, destinada aos pobres, atendia precariamente à demanda
por habitação da população migrante do campo e, ao mesmo tempo, aos interesses
segregacionistas da elite dominante.
E aí viemos fazer a visita aqui, quando chegamos aqui não tinha água
ligada... não tinha um monte de coisa... era tudo de terra...(Sr. Timóteo de
Souza, 60 anos apud SANTOS, 2006. p. 54)
Para muitas famílias, nem a localização do próprio Conjunto era certa, uma
vez que não constavam – no mapa da cidade – residências nas proximidades
do mesmo. Sabiam que ‘ficava pro lado de Uberlândia, do outro lado da
rodovia’ (Dalmy Gontijo, 55 anos apud SANTOS, 2006. p. 57)
aí a gente veio pra cá morá num cômodo, aberto, sem muro... que era um
embrião, era de piso grosso, um cômodo só. Meus trem ficava todo fora e
foi acabano. Vivia numa pobreza... sem fala que nóis ficava amuntuado,
dormino nóis tudo num quartim só... nós mudamo pra cá porque eu tinha
vontade de te a minha casa própria, mais num foi fácil, num foi!(Odesia A
R Nunes, 56 a apud. SANTOS, 2006. p. 47)
Nos depoimentos acima fica expresso o sofrimento pelo qual passaram os primeiros
moradores, que para garantirem sua casa própria, precisaram se submeter a um ambiente
insalubre, de condições adversas a uma saudável qualidade de vida.
As melhorias se faziam aos poucos, sob a forma de mutirões nos finais de semana,
onde os laços da comunidade se estreitavam a partir da necessidade da união para cobrir a
83
omissão do poder público no atendimento às necessidades estruturais básicas. Assim, o bairro
foi melhorando aos poucos e até mesmo o lazer era improvisado.
Montando o time e treinando crianças, jovens e adultos nos fins de tarde e
semana, seu Cocada foi contribuindo para que as pessoas se encontrassem,
se divertissem, se sentissem unidas e envolvidas (SANTOS. 2006 p. 83)
Figura 7 – Foto aérea mostrando a densidade populacional variada e os focos de
poluição: Lagoa de decantação e DI-1.
AF1
AF2
AF3
Lagoa
DI-1
84
O histórico do AF não se trata de um caso particular, é reflexo da lógica da produção
das cidades capitalistas, com periferias precárias em que, antes de se discutir qualidade
ambiental ou qualidade de vida, é necessário ressaltar a carência das necessidades básicas de
sobrevivência que ali faltavam, apesar de se tratar de um empreendimento oficialmente
aprovado por autoridades “competentes”.
Como se não bastasse as condições precárias que o conjunto ofereceria, o processo de
inscrição e seleção não foi democrático pois excluía os ‘mais’ pobres, uma vez que era
necessário comprovação de renda e uma taxa de inscrição no valor à época de Cr$ 100,00
(cem cruzeiros). Tal critério excluía as famílias mais necessitadas. Além disso, ficaram
constatados indícios de fraudes, conforme observa-se na transcrição do depoimento de uma
moradora na dissertação de Santos, 2006. p. 49:
Eu fui até o José Osório, aí ele falo que num tinha mais, mais ia vê com um
amigo dele, que era o Edgar Leite, que na época era vereador também.
Então foi quando ele me procurô no hospital pra dize que tinha um predinho
(...) essas inscrições não valeram, pois pegou a casa quem não tinha feito
inscrição, pegou quem tinha um vereador naquela época... (Depoimento de
D. Maria H. Chimango, 54 anos)
As dificuldades de garantir o direito à cidade e à cidadania estão na gênese de toda a
lógica de construção do bairro.
É importante ressaltar que o mito da casa própria, a priori, fazia com que os
moradores, ignorassem as condições ambientais: Pra mim tava bão demais, so em pensa que
ia pagá uma coisa que é minha né... não ia precisá ta mudano... pra mim foi bao demais.
(Depoimento de Judite Alves dos Santos, 62 anos, apud Santos, 2006)
Além de todos os problemas enfrentados por essa comunidade, ela sofreria ainda com
o preconceito e a discriminação.
‘sempre sofri com as piadas e exclusões dos moradores da cidade nos
chamando de ‘casca fora’ de ‘pescoço de frango’...(João G Ripposati, 43 a.)
Essas piadinhas sempre foram inconvenientes e humilhantes para quem
vive no Alfredo Freire. Refletem o olhar preconceituoso e discriminador de
alguns grupos da cidade.” SANTOS. 2006 p. 88
Essa é a primeira entrevista que eu to teno agora, sobre a minha vida, sobre
a vida do Conjunto, das pessoa. Mais nunca tive não, nunca tive mesmo.
Por quê? Porque o pessoal num enxerga, num olha pra nóis não, e quando
enxerga, faiz que num enxerga, ocê ta entendendo? É isso que acontece.
Isso é uma realidade. É uma realidade da vida. (Sr. José Nogueira, Cocada,
66 a. apud SANTOS, 2006, p. 119)
85
Essa marca da exclusão do bairro é tão forte que ainda hoje são evidentes os ‘ransos’
do preconceito, conforme pode ser verificado no diálogo abaixo entre o pesquisador e
algumas crianças de uma residência:
3
- P = Vocês moram aqui?
- C = Não, a gente mora em Uberaba.
- P = Ué!? E aqui é o quê?
- C = Aqui é o Alfredo Freire.
Isso é confirmado na pesquisa realizada em campo com as 308 amostras. Os
moradores foram interrogados se sentiam preconceito de moradores de outros bairros da
cidade, os resultados foram os seguintes:
Tabela 2 - Percepção quanto ao preconceito – valores absolutos
SIM NÃO NÃO SEI
104 190 14
33,77
61,69
4,55
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
sim não não sei
Gráfico 4 - Percepção quanto ao preconceito
Valores em %
Apesar de a segregação sócio-espacial refletir e consolidar atitudes discriminatórias,
mesmo que inconscientes, ficou demonstrado que a maior parte da população interrogada, ou
seja, em torno de 62% não se sentem discriminadas ou tratadas de forma preconceituosa na
cidade. Pode-se entender que a evolução da mancha urbana desde a década de 1980 e as
melhorias urbanas ‘incluiu’ o bairro na cidade e amenizou o preconceito e a discriminação.
3
P = Pesquisador / C = Criança. (Diálogo ocorrido em virtude da pesquisa de campo com questionários
realizada em fevereiro/2007.)
86
Dentre as parcas justificativas que buscavam camuflar os reais interesses envolvidos
na construção do loteamento na década de 1980 destaca-se o discurso do prefeito que vincula
a geração de emprego pelas indústrias do DI-1 à população do bairro:
nossos operários estariam próximos ao local de trabalho, sem precisar arcar
com o ônus da condução, que hoje é cobrada a alto preço. (Jornal da Manhã,
1979, p.1 apud SANTOS, 2006. p. 45)
Tal discurso encontra-se impregnado de contradição uma vez que não se sustenta em
qualquer fundamento legal que garantisse um emprego a cada morador do AF.
No questionário, das 308 (trezentas e oito) residências pesquisadas, em apenas 46
delas, ou seja, 15 % havia pelo menos uma pessoa que trabalhava no DI1, como pode ser
observado no gráfico e tabela a seguir.
Tabela 3 - Alguém na família trabalha no DI1?
SIM NÃO
46 262
15,21
84,79
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
sim não
Gráfico 5: Residências em que pelo menos um membro trabalha no DI1
Valores em %
3.4 - O morador pesquisado do AF: Algumas características sócio-econômicas.
O bairro Alfredo Freire conta com um total de aproximadamente 6.000 habitantes. Em
torno de 61% da população vieram da zona rural ou de outro bairro da cidade e 39,29% de
87
outra cidade. Em torno de 80% possuem casa própria. O meio de transporte mais utilizado é o
ônibus coletivo (81,36%), seguido do carro (15,23%)
4
.
Apesar de o alvo da pesquisa ter sido as donas de casa, na ausência desta, moradores
que exercem outras funções foram interrogados. Além disso, algumas perguntas não se
referiam diretamente ao interrogado, mas à família como um todo, como exemplo da renda
familiar. O principal objetivo foi de traçar um perfil do morador pesquisado.
Conforme dados do questionário, aproximadamente metade das famílias residentes no
bairro percebem até 2 (dois) salários mínimos mensais. Em torno de 25% ganham de 2 a 3
salários. A percentagem de famílias que ganham acima de 2 salários decresce
significativamente, chegando a aproximadamente 1,5 % de famílias que recebem entre 8 a 10
salários e acima disso, respectivamente.
-
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
<1 SM 1 a 2
SM
2 a 3
SM
3 a 4
SM
4 a 6
SM
6 a 8
SM
8 a 10
SM
> de
10 SM
Renda Média Alfredo Freire
Gráfico 6 - Renda Média Mensal Familiar - bairro AF
A característica de pouca renda é semelhante entre as três unidades em que o AF é
dividido. O comportamento do gráfico também é semelhante, há um decréscimo do percentual
de famílias que ganham acima de 2 salários mínimos (gráfico 7):
4
Universidade de Uberaba. Área Estratégica da Saúde. Bairro Alfredo Freire: a unidade básica de saúde e o
meio ambiente. Dalmo de Souza Amorim, Fernanda Frange Soares (coord.) 2004.
88
0
5
10
15
20
<1 SM 1 a 2
SM
2 a 3
SM
3 a 4
SM
4 a 6
SM
6 a 8
SM
8 a 10
SM
> de
10 SM
Renda média comparada AF
AF1
AF2
AF3
Gráfico 7 - Renda Média Familiar Mensal Comparada - Bairro AF
Em relação à escolaridade é possível constatar que a maioria esmagadora dos
entrevistados (95%) possui até o ensino médio. Apenas 5% restantes estão cursando, ou
concluíram o ensino superior.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
%
1
Escolaridade AF
Fund Inc
Fund Com
Méd Inc
Méd Comp
Sup Inc
Sup Comp
Gráfico 8 – Escolaridade no bairro Alfredo Freire
Pode-se associar a baixa renda do bairro AF ao nível de escolaridade, uma vez que
quanto maior for o grau de instrução e formação de uma pessoa, maiores as probabilidades de
inserção no mercado de trabalho e, consequentemente, maiores as chances de aumentar a
renda.
Neste caso, não é conveniente uma análise vinculando a renda à escolaridade, uma vez
que optou-se por analisar a percepção ambiental das donas de casa. Estas, em sua maioria,
dedicam-se exclusivamente às atividades do lar, já os demais membros da família possuem
mais tempo livre que pode ser dedicado aos estudos.
89
3.5 - O Alfredo Freire hoje – Como está organizado seu espaço geográfico.
O bairro Alfredo Freire, apesar da distância do centro de Uberaba, é bastante
diversificado quanto aos serviços prestados à comunidade. Conta com serviços de saúde,
representado pela sede da UBS – Unidade Básica de Saúde e do PSF – Posto de Saúde
Familiar. Possui duas escolas particulares de ensino infantil, uma escola pública municipal de
ensino fundamental e uma estadual de ensino fundamental e médio. Existem centros
religiosos de diversas denominações, destacando-se a igreja católica localizada espacialmente
na posição central.
Existem algumas áreas de lazer representadas pelas praças e pelo campo de futebol,
anexo à sede da AACAF – Associação Amigos do Conjunto Alfredo Freire.
O comércio é bastante variado, dividindo-se entre aqueles de mercadorias e produtos
(bares, mercearias, varejão, lanches, sorveteria, casa de carnes, supermercados, armarinhos,
papelaria e materiais de construção) e aqueles de serviços (oficinas, moto-taxi, pet shop,
cabeleireiro, manicure, oficina de roupas, lan house, estética, tapeçaria, artesanato, aluguel de
vestido de noiva, vídeo locadora, chaveiro e dentista).
O bairro também é servido por serviços de esgoto e água tratada. No mapa 7 - Uso e
ocupação da terra é possível constatar que a maioria esmagadora dos serviços e
equipamentos está concentrada na região centro-norte, correspondente ao AF1. Decrescem
significativamente do AF1, para o AF 2 e AF 3 respectivamente.
Em pesquisa de campo, foi constatada uma grande reclamação em relação à falta de
serviços bancários. Sem opção de pontos para pagamentos corriqueiros de contas, assim como
para movimentações bancárias, o morador do bairro, que já possui uma baixa renda, é
obrigado a deslocar-se para as regiões centrais, tendo que vencer suas dificuldades financeiras
e a distância.
Apesar disso, conforme dados do questionário, foram constatados os seguintes
resultados: No AF 1 e AF2 existe uma grande reclamação quanto à falta de segurança e
existência de drogas. Já o AF 3, em torno de 45% das reclamações estão relacionadas à falta
de asfalto, um problema de primeira necessidade, seguido de segurança, com 10,94% das
reclamações e de lixo com 9,38%, conforme tabela 4.
90
Mapa 7 – Uso e Ocupação do Solo – Alfredo Freire.
91
Tabela 4 - Os maiores problemas por setores do bairro.
Problemas AF1 % Problemas AF2 % Problemas AF3 %
1 segurança
18,24 1 drogas
20,92 1 asfalto
45,31
2 drogas
17,62 2 segurança
14,38 2 segurança
10,94
3 saúde 7,79 3 pontos pagto 9,15 3 lixo 9,38
4
outros
7,17 4 distância 7,19 4 drogas 7,81
5 desemprego 6,35 5 asfalto 5,88 5 transporte 6,25
6 distância 6,15 6 desemprego 5,88 6 violência 4,69
7 pontos pagto 6,15 7
outros
5,88 7 pontos pagto 3,13
8 lixo 4,92 8 violência 5,23 8 desemprego 3,13
9 transporte 4,71 9 saúde 4,58 9 saúde 3,13
10 violência 4,51 10 lazer 3,92 10
alcoolismo
1,56
11
alcoolismo
3,07 11 lixo 3,92 11 educação 1,56
12 lazer 3,07 12 arborização 2,61 12 lazer 1,56
13 asfalto 2,66 13 transporte 2,61 13 praças 1,56
14 praças 2,46 14
alcoolismo
1,96 14 arborização -
15 educação 1,43 15 prostituição 1,96 15 distância -
16 pobreza 1,23 16 pobreza 1,31 16 habitação -
17 habitação 0,61 17 praças 1,31 17 iluminação -
18 prostituição 0,61 18 educação 0,65 18 pobreza -
19 saneamento básico 0,61 19 saneamento básico 0,65 19 prostituição -
20 arborização 0,41 20 habitação - 20 saneamento básico -
21 iluminação 0,20 21 iluminação - 21 telefone -
22 telefone - 22 telefone - 22
outros
-
Outro dado curioso constatado na pesquisa é o fato de os moradores identificarem
como problemas graves a segurança, drogas e saúde deficitária, porém não conseguirem fazer
associação de tais problemas com a educação. Tais problemas são conseqüências da falta de
uma política educacional de qualidade que consiga formar o cidadão, apesar disso, na média
geral da pesquisa no bairro, a educação é apontada como problema por apenas 1,28% dos
moradores entrevistados (tabela 5).
O asfalto aparece em 3º lugar nos índices de reclamação, devido ao grande peso das
entrevistas do AF3, onde aproximadamente metade dos entrevistados apontou tal problema.
Outro destaque importante é o problema do lixo que figura em 3º lugar entre os maiores
incômodos no bairro AF 3, enquanto no AF 1 e AF 2 figura em 8º. e 11º. lugar,
respectivamente. Esse alto índice de reclamação em relação ao lixo no AF 3, está associado à
grande quantidade de terrenos baldios e à cultura de se destinar os resíduos domiciliares
nestes locais. Para agravar a situação, não circula no bairro o caminhão de coleta de lixo. Caso
92
o morador desejar, deverá fazer uma longa caminhada até chegar ao AF1 ou AF2 para
destinar seus resíduos.
Destaca-se nesta lista seis indicadores da qualidade ambiental, ordenados da seguinte
forma: 3 – asfalto, 9 – lixo, 12 – lazer, 14 praças, 17 – arborização e 19 – saneamento básico.
A falta do asfalto favorece a formação de processos erosivos, tais como sulcos nas vias,
dificultando e até mesmo impossibilitando o tráfego, além de carrear sedimentos para áreas
mais baixas do bairro e contribuir para a poluição do ar em períodos secos e de atuação dos
ventos. Este problema é particular do bairro AF 3.
Conforme ficou demonstrado no mapa 5 - Declividade do bairro AF (página 76), o
AF3 apresenta os maiores índices de declividade com áreas de até 30%, isso potencializa a
gravidade da falta de asfalto e os problemas ambientais derivados, consequentemente interfere
de forma negativa na QAU.
Tabela 5 – Os maiores problemas do bairro AF – média geral
Maiores Problemas do
bairro Alfredo Freire
%
1 Drogas 17,45
2 Segurança 16,74
3 Asfalto 7,23
4 Saúde 6,67
5 Pontos Pagamento 6,52
6
Outros
6,24
7 Desemprego 5,96
8 Distância 5,82
9 Lixo 5,11
10 Violência 4,68
11 Transporte 4,40
12 Lazer 3,12
13
Alcoolismo
2,70
14 Praças 2,13
15 Educação 1,28
16 Pobreza 1,13
17 Arborização 0,85
18 Prostituição 0,85
19 Saneamento Básico 0,57
20 Habitação 0,43
21 Iluminação 0,14
22 Telefone -
93
O problema do lixo permeia as discussões de todos os indicadores da QAU elencados
nesta pesquisa. Com relação aos espaços livres públicos, como será analisado no capítulo 4, o
lixo ocupa alguns terrenos tidos oficialmente como praças. Os casos de dengue, via de regra,
estão associados também a lixões em áreas urbanas, já que estes locais favorecem o acúmulo
de água parada, foco de reprodução do mosquito transmissor do vírus.
No bairro AF, a maioria dos depósitos irregulares são lixo do tipo domiciliar,
apresentam em sua composição material orgânico, alimento para vetores transmissores de
doenças, tais como ratos, baratas, escorpiões, serpentes, dentre outros, analisados nesta
pesquisa como pragas urbanas. A composição orgânica será responsável pela formação do
líquido chorume, que irá contaminar o solo e possivelmente o lençol freático, além da
formação de gases, como o metano, contribuindo para a poluição do ar.
É evidente a dimensão do problema do lixo urbano, ele interfere negativamente em
todos os indicadores estudados nesta pesquisa. Urge rever os padrões de gerenciamento, assim
como a cultura de deposita-los em terrenos baldios.
Ao avaliar a percepção dos espaços livres públicos, no capítulo 4, preocupou-se em
considerar aspectos de acessibilidade, qualidade e arborização, sendo assim, contemplou-se
também os problemas diagnosticados na pesquisa de maiores problemas do bairro, como:
praças, lazer e arborização. Não obstante, a análise do aspecto arborização limitou-se à
presença deste atributo ambiental nas praças e não ao bairro como um todo.
Já o saneamento básico é um dos últimos itens destacados como problema no bairro.
Atribui-se a baixa incidência de reclamação ao fato de “99,64% dos domicílios possuírem
sistema de abastecimento de água e de esgoto, além de 99,28% destinar seu lixo para o
sistema público de coleta” (AMORIM & SOARES, 2004)
3.6 - A imagem do AF – uma questão de percepção.
Para explicar a dinâmica espacial do bairro, recorreu-se a Lynch, (1997, p.51), que a
partir de 5 elementos (vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos) classifica a imagem da
cidade.
É possível classificar o bairro AF utilizando-se de 3 elementos: os limites, as vias e os
pontos nodais, conforme demonstrado no mapa 9 – A imagem do bairro AF.
Os limites são elementos lineares não usados ou entendidos como vias pelo
observador, elas quebram uma continuidade. No Alfredo Freire os limites estão definidos pela
94
linha imaginária, no sentido norte-sul, que margeia a rodovia BR 050, ela quebra a
continuidade de uma zona urbana para uma industrial.
Outra linha imaginária, sentido leste-oeste ao norte, separa a zona urbana da rural,
assim como a linha a oeste, sentido norte-sul.
Completando os limites, a rua no sentido oeste-leste, que separa o AF3 do AF1 e AF2,
marca uma substancial diferença de paisagem. No AF 3 as ruas não estão pavimentadas e as
características do relevo são bem diferentes do AF1 e AF2, por exemplo, a intensa
declividade.
Enfim, existe um outro limite linear que separa o AF3 de uma área vazia de
propriedade da empresa SATIPEL.
Tais limites marcam uma diferenciação na paisagem considerável, destaca-se o
contorno do bairro AF1 e AF2 que limita o bairro do lado leste com o DI1, e do lado norte e
oeste com as áreas de pastagem. Já ao sul, uma linha que tem o contorno à semelhança de um
triângulo, divide o AF3 a oeste de uma área vazia a leste.
As vias são os canais de circulação ao longo dos quais o observador locomove-se de
modo habitual, ocasional ou potencial (ruas, alamedas, linhas de trânsito...) Para muitas
pessoas são estes os elementos predominantes em sua imagem. O bairro AF1 apresenta uma
confusão nas vias de seu interior, prejudicando a formação de sua imagem. As ruas se
assemelham a labirintos: estreitas e de diferentes tamanhos. Algumas são tão pequenas
(sentido comprimento) que explicam o depoimento de um morador: “isso aqui nem pode ser
considerado rua, é tão pequena e nem placa tem”. No mapa 9 – ‘A imagem do bairro AF’
estão demonstrados dois trajetos possíveis da periferia do AF1 sentido à rotatória que permite
o acesso a outras áreas da cidade. O formato labirinto se deve ao fato de uma certa
homogeneidade no desenho do bairro, isso proporciona uma imagem negativa, no mínimo
uma estranheza e insegurança, principalmente para os visitantes do bairro.
Já os pontos nodais são
lugares estratégicos de uma cidade através dos quais o observador pode
entrar, são os focos intensivos para os quais ou a partir dos quais ele se
locomove. Podem ser basicamente junções, locais de interrupção do
transporte, um cruzamento ou uma convergência de vias, momentos de
passagem de uma estrutura a outra. Ou podem ser meras concentrações que
adquirem importância por serem a condensação de algum uso ou de alguma
característica física (...) Alguns desses pontos nodais de concentração são o
foco e a síntese de um bairro, sobre o qual sua influência se irradia e do qual
são um símbolo. Podem ser chamados de núcleos. O conceito de ponto
nodal está ligado ao de via, uma vez que as conexões são, tipicamente,
convergências de caminhos, fatos ao longo de um trajeto. (Lynch, 1997, P.
53)
95
Pode-se destacar como pontos nodais no bairro Alfredo Freire, em ordem de
intensidade de atração de uso, o ponto 1, correspondente à rotatória, trata-se de uma passagem
obrigatória entre o bairro e qualquer outro lugar da cidade. O ponto 2 tem como principais
fontes atrativas o comércio, a igreja católica, a unidade básica de saúde, o posto de saúde
familiar e a AACAF que estão localizados por toda a área representada. Nesta área está
concentrada a maior parte dos serviços oferecidos ao bairro, segundo a definição de Lynch
(1997, p.53), essa área pode ser considerada o núcleo do bairro. Enfim, os pontos 3 são
representados por praças secundárias e escolas, que exercem uma influencia atrativa
importante, porém menor que o ponto 1 e 2.
Após analisar algumas características que explicam a organização sócio-espacial do
bairro AF e, também, diz um pouco sobre a qualidade de vida dos moradores, no próximo
capítulo far-se-á uma análise da QAU a partir da percepção do morador, ou seja, na escala do
nível domiciliar.
96
Mapa 08 – A imagem do bairro Alfredo Freire.
97
CAPÍTULO 4
OS INDICADORES E A PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA.
4.1 - A percepção da qualidade ambiental urbana
Considera-se importante o avanço nos estudos que visam a entender a relação do
homem com o meio. Os estudos relativos à percepção ambiental têm evoluído
significativamente nos últimos tempos, representando uma importante contribuição no
entendimento das causas e conseqüências dos problemas originados da relação do homem
com o meio ambiente.
Amorim Filho, (2007), coloca estes estudos como a última fronteira no processo de
uma gestão mais eficiente e harmoniosa do meio ambiente.
Neste estudo priorizou-se a análise da qualidade ambiental no bairro a partir da visão
do morador, situando-se no primeiro nível, conforme a metodologia de Luengo (2007) e à
semelhança da pesquisa desenvolvida por Jacobi (2006) e Santos (2002).
É importante ressaltar a carga inevitável de subjetividade inerente aos estudos de
QAU, fato que representou um desafio, uma vez que foi necessário um ensaio quantitativo
1
para a espacialização e representação cartográfica.
Dentre os diversos fatores inerentes à subjetividade na percepção ambiental destaca-se
o tempo de moradia. É determinante na opinião a respeito de algum tipo de poluição:
Para aqueles que viveram muitos anos em um lugar, a familiaridade
engendra aceitação e até afeição. Os recém-chegados estão mais inclinados
a manifestar descontentamento; as pessoas de alta renda comumente
expressam satisfação, o que não é de surpreender, pois estão onde estão por
sua própria escolha e dispõem de meios para melhorar a qualidade do seu
bairro; as pessoas de menor renda são menos entusiastas: as razões dadas
porque gostam de sua área tendem a ser mais gerais e abstratas, ao passo
que as razões dadas por não gostarem são mais específicas e concretas.
(MACHADO, 1995, p. 9)
No caso estudado foi comum o depoimento de moradores afirmando que familiares
que os visitam ocasionalmente reclamam do mau cheiro. No passado os incomodavam
também, mas atualmente passa despercebido. Tal fato merece um destaque especial já que é
uma constante em pesquisas de percepção ambiental. É importante considerar-se que os
resultados poderão estar próximos ou não da realidade. Isto dependerá de uma gama de
1
Já descrito nesta dissertação em ‘procedimentos metodológicos’.
98
variáveis, dentre elas: o método, as técnicas de levantamento de informações e a mesmo a
subjetividade do pesquisador exercerá algum grau de influência.
Os resultados da pesquisa tratarão de efeitos imediatos da poluição detectados pela
percepção direta, ou seja, aquilo que o morador consegue perceber e sentir empiricamente.
Aqui não se consideram os efeitos cumulativos que não apresentam sintomas imediatos, como
por exemplo, a poluição do ar.
Os maiores problemas de saúde causados pela poluição do ar não se acham
associados com episódios identificáveis, mas com a erosão gradativa da
saúde, por exposições freqüentes e de longo prazo. (SEWELL, 1978, p.165)
Neste capítulo são apresentados os resultados referentes aos quatro indicadores
selecionados para estudo da QAU no bairro AF:
1 – satisfação com os espaços livres públicos;
2 – casos de dengue;
3 – poluição atmosférica;
4 – incidência de pragas urbanas.
4.2 - Os Espaços Livres
A cidade é composta por sistemas de espaços construídos, sistemas de integração
viária e espaços livres. Tais espaços devem estar distribuídos eqüitativamente de forma a
garantir um mínimo padrão de qualidade de vida.
Na Alemanha,
embora não existam leis, nem normas que obriguem que se siga uma certa
proporcionalidade, observa-se que os espaços de integração viária
constituem 10-20% do território urbano, os construídos de 40-50% e os
livres de construção 40-50%. Ficando assim destinados aos espaços livre de
construção, quase sempre, um mínimo de 40% e, depois de designados no
zoneamento urbano, não são mais permitidos usos que venham
impermeabilizar esses espaços. (CAVALHEIRO & DEL PICCHIA, 1992,
p. 30)
Entende-se por espaços construídos as habitações, indústrias, comércio, hospitais,
escolas, dentre outros. Os sistemas de integração viária são constituídos pela rede rodo-
ferroviária. Já os espaços livres podem incluir: espaços livres de construção, áreas verdes,
áreas de cobertura vegetal, praças, parques urbanos, dentre outros semelhantes.
99
Nesta pesquisa utiliza-se, preferencialmente, os modelos conceituais propostos por
Cavalheiro & Del Picchia, (1992) e Nucci, (2001). É importante enfatizar que tais conceitos
são aplicados e entendidos apenas no espaço urbano.
Os espaços livres desempenham, basicamente, papel ecológico, no amplo
sentido de integrador de espaços diferentes, baseando-se tanto em enfoque
estético, como ecológico e de oferta de áreas para o desempenho de lazer ao
ar livre. (CAVALHEIRO & DEL PICCHIA, 1992, p.32)
Podem ser considerados também como:
conjunto de espaços urbanos ao ar livre destinados a todo tipo de utilização
relacionada a pedestres (em oposição ao uso motorizado), descanso,
passeio, prática de esporte em geral, recreio e entretenimento em horas de
ócio (Llardent, 1982 apud NUCCI, 2001, p. 175).
O espaço deve ser agradável e sua estética possibilitar a recreação ativa e passiva ao ar
livre para todas as idades e classes sociais.
Para as crianças é fundamental que o espaço livre forneça a possibilidade de
experienciar [sic] sons, odor, texturas, paladar da natureza; andar descalço
pela areia, gramado; ter contato com animais como pássaros, pequenos
mamíferos, insetos, etc. (NUCCI, 2001, p. 180).
Percebe-se o quanto é abrangente o termo espaço livre, porém, é importante ressaltar
que a condição para que o local seja denominado espaço livre, é que ele desempenhe ao
menos uma das três funções básicas: ecológica e/ou social e/ou de lazer.
4.2.1 - Algumas categorias de espaços livres.
Tratando especificamente dos espaços livres de construção, Cavalheiro, et. all., 2002
afirmam
Não se deve confundir, neste ponto, construção com edificação, pois o que
sugere o termo, é que não haja construções, nem acima, nem abaixo do solo,
sendo, portanto, livres de infra-estruturas como esgotos e outras
canalizações. Áreas verdes, contudo, podem ser denominadas como espaços
livres de edificações, podendo conter algumas infra-estruturas, limitando-se,
nesses casos, suas funções ambientais.
Fica evidente, a partir dessa conceituação, a importância dessas áreas, além da função
de lazer e conforto térmico (quando vegetadas), são importantes como reguladoras do
processo de drenagem das águas pluviais, dada sua permeabilidade. Isto evitaria os problemas
corriqueiros de enchentes nas aglomerações urbanas.
100
Deve ser ressaltado que áreas insalubres, com depósitos de resíduos de qualquer
natureza, ou abandonadas representando alguma forma de poluição, não devem ser
enquadradas nesta categoria.
Se no espaço livre houver o predomínio de áreas plantadas de vegetação, com
condições para uso do lazer, ela deve ser considerada uma área verde.
A cobertura vegetal, conforme Nucci, (2001, p. 171), “são as ‘manchas de vegetação’
visualizadas a olho nu em foto aérea na escala 1:10.000.” Elas cumprem uma função estética e
ecológica, mas não de lazer, por isso não se enquadram na categoria de áreas verdes.
Praças são espaços livres de edificações que propiciem a convivência e/ou recreação a
seus usuários. É considerada pelo Código Civil Brasileiro, art. 99 (2002) como um bem
público.
Os parques urbanos possuem ao mesmo tempo as funções ecológica, estética, social e
de lazer. Geralmente são caracterizados pela densa vegetação que contrasta com a paisagem
artificial da cidade. A natureza presente permite um importante equilíbrio propiciando um
ambiente mais saudável com um micro-clima de temperatura agradável aos seres vivos em
geral. Ademais, ele se apresenta como uma oportunidade de interação social e de lazer aos
moradores da cidade.
Em síntese, os espaços livres podem ser representados no esquema seguinte:
Quadro 5 - Representação das diferentes categorias de espaços livres.
Neste capítulo apresenta-se uma análise das condições de uso destes espaços no bairro
AF, feita pelo pesquisador, por meio de trabalhos de campo e registros fotográficos, além de
uma análise qualitativa da percepção do morador residente no bairro, diagnosticada por meio
de questionários e trabalhos de campo. Acredita-se que o estudo dessa percepção é um
importante meio de se avaliar a QAU e um importante instrumento de planejamento da
paisagem.
101
4.2.2 - Classificão e qualificação dos espaços livres do bairro AF.
A distância e difícil acesso ao lazer na cidade e a aparente precariedade e carência de
espaços livres públicos existentes no Alfredo Freire foram os principais motivos que levou à
análise deste indicador da QAU do bairro.
Baseado na metodologia de Cavalheiro e Del Picchia, 1992, Nucci, 2001 e nos
trabalhos de campo, foram identificadas três categorias de espaços livres: praças, áreas de
cobertura vegetal e espaço de lazer. Tais espaços foram classificados conforme quadro 6 e
mapa 09:
Quadro 6 - Classificação dos espaços livres públicos.
a) Espaço de Lazer
A área de lazer corresponde à quadra H8, nela existe um campo de futebol e um
ginásio aberto à comunidade. A organização de eventos e o acesso a este espaço ficam por
conta da AACAF – Associação dos Amigos do Conjunto Alfredo Freire. Nesta mesma quadra
consta a sede da AACAF e do PSF – Posto de Saúde Familiar.
b) Áreas de Cobertura Vegetal
No bairro existem três áreas isoladas de cobertura vegetal, uma corresponde à quadra
K15, outra às quadras L6, L9 e L10 e a terceira corresponde à quadra ao sul N9, conforme
demonstrado no mapa 09.
A quadra K15, na entrada do bairro, tem predominância do verde, possui uma
vegetação alterada de cerrado, além de um córrego. Sua parte sul é utilizada como depósito
irregular de lixo de diversos tipos, inclusive entulhos. (fotos 05 e 06)
102
Mapa 9 - Espaços livres públicos e fontes de poluição.
103
Foto 5– Quadra K15: Vegetação alterada
de Cerrado.
Autor: Teobaldo Neto - 16/12//2006
Foto 6 – Quadra K15 – Depósito irregular de
entulhos no trevo de entrada do bairro AF.
Autor: Teobaldo Neto - 16/12/2006
A segunda é uma área de densa formação vegetal, denominada cerradão. Este tipo de
formação ocorre nos vales de córregos e rios. É a área mais próxima ao córrego Juca. Uma
parte da quadra L10 foi destinada oficialmente pela Prefeitura Municipal de Uberaba como
área de depósito de entulhos. Na prática não se passa de um ‘lixão’, uma vez que não é tratada
com nenhuma medida de mitigação do impacto ambiental causado por esta forma de
disposição de resíduos. Além disso, percebe-se o depósito não só de entulhos, considerados
inertes, como também de resíduos domésticos. (foto 7)
104
Foto 7 - Quadra L10: Área destinada a
Depósito de entulhos com presença
de lixo doméstico
Autor: Teobaldo Neto 16/12/2006
Estas áreas têm sua função mascarada por sua localização dentro do bairro e pela
condição de o mesmo estar cercado por áreas de pastagens. Como as poucas áreas de
cobertura vegetal no bairro localizam-se nas suas extremidades, naturalmente elas se
misturam a todo o entorno de pastagem e do ‘verde’.
c) Praças
Ao total existem dezesseis praças no bairro, porém, apenas cinco delas (P2, P4, P7,
H10 e A14) possuem uma estrutura mínima que permite considerá-las praças. Onze estão
apenas previstas em projetos e na prática correspondem a terrenos abertos ao ar livre, muitos
destes utilizados como depósitos de entulhos pelos próprios moradores (mapa 09). Ainda
assim receberão nesta pesquisa o status de ‘praça’ para fins de classificação como espaços
livres. Para diferenciá-las foi acrescentado o adjetivo ‘equipadas’ para aquelas que ofereçam a
105
mínima condição de uso e ‘não equipadas’ para aquelas que não ofereçam nenhuma condição
de ser considerada ‘praça.
Para descobrir o quanto representa as cinco praças em termos quantitativos, foi
utilizado o recurso FerramentasOperações Métricas, do software SPRING, versão 4.1.1.
Foi calculada a relação existente entre a área das praças e a área do bairro. O bairro tem
aproximadamente 976.335,00 m
2
. As 5 praças somaram 19.768 m
2
, correspondente a apenas
2% do total da área do bairro.
Existem duas praças de proporções maiores e com maior diversidade em relação a
equipamentos e o verde, a P4 e H10. A praça P2 e P7, menores e mais limitadas quanto aos
equipamentos, e uma pequena praça A14.
A praça P4 está localizada numa posição espacial centralizada, de fronte à Igreja
Católica, conta com três equipamentos de diversão infantil, lixeiras e bancos bem
conservados, dois carrinhos de lanche, cinco palmeiras, porém nenhuma árvore. Dada essa
diversidade de opções e sua localização, seu uso é bastante freqüente. (fotos 8 e 9)
Foto 8: Praça ‘P4’ - Igreja Católica (central).
Foto 9 – Praça ‘P4’ – outro ângulo. Autor: Teobaldo Neto 29/09/2006
106
A praça H10 (foto 10 e 11), apesar de proporção considerável, comparada à P4, possui
poucos e precários equipamentos de diversão e lixeiras depredadas. Metade da área é gramada
e sem utilização. A arborização é precária com uma pequena concentração nas bordas norte,
leste e sul. Contém uma quadra onde crianças e adolescentes utilizam para praticar diferentes
esportes, porém com todos os equipamentos danificados.
Foto 10 – Praça ‘H10’ – Primeiro plano:
área gramada.
Autor: Teobaldo Neto28/09/2006
Foto 11 – Praça ‘H10’: Precários equipamentos
de diversão e bancos danificados.
Autor: Teobaldo Neto 28/09/2006
A praça P2 apresenta bancos razoavelmente conservados, é bem arborizada, porém
não possui equipamentos de diversão infantil. A boa arborização, apesar da falta de
equipamentos infantis, favorece bastante seu uso.
107
Já a praça P7(foto 12), tem seu uso favorecido principalmente pela localização
estratégica, ao lado de um centro comercial e de fronte à Unidade Básica de Saúde. É bem
arborizada, apresenta bancos bem conservados e até lixeira de coleta seletiva, apesar de
inutilizada.
Foto 12 - Praça P7.
Autor: Teobaldo Neto26/09/2006
Foto 13 – Praça A14: Predomínio de palmeiras
Autor: Teobaldo Neto 16/12/2006
Quanto à praça A14 (foto 13), é diferenciada das demais, principalmente pelo seu
tamanho pequeno. Contém algumas palmeiras e alguns equipamentos de diversão infantil.
Seu conforto térmico é prejudicado pela falta de árvores, apesar do predomínio das palmeiras.
Vale notar que as palmeiras ocupam uma posição privilegiada nas praças pela sua
função estética, entretanto, no planejamento deve-se priorizar também a função ecológica das
praças que pode ser proporcionada pela biodiversidade que proporcionariam, dentre outras
coisas, um melhor conforto térmico.
108
As quadras H1, D2, K11, A7, I3, K5, M6 e M8 apresentam características
semelhantes, são reconhecidas oficialmente como praças, mas se mostram totalmente
impróprias ao uso com o terreno desnudo da vegetação, algumas tomadas pelo mato, mais
denso em épocas de chuvas. Pelo descuido e abandono, são pontos atrativos de depósitos
aleatórios de lixo, que os próprios moradores depositam, conforme pode ser verificado nas
fotos 14 e 15.
Foto 14 – Quadra D2: Morador depositando lixo
em área-projeto de praça.
Autor: Teobaldo Neto - 28/05/2006
Foto 15 – Quadra K11: Depósito irregular de lixo
doméstico e entulhos.
Autor: Teobaldo Neto – 29/09/2006
A quadra A7 é uma área livre de construção com solo exposto, porém sem acúmulo de
lixo. Em 2006, foi enquadrada nas áreas destinadas à implantação de mini-distritos
industriais que...
...tem por finalidade gerar a instalação de novas micro e pequenas empresas
locais, bem como setorizar aquelas má localizadas e aumentar o emprego e
renda. (...) Onze unidades industriais investirão juntas, R$ 10 milhões 37
109
mil, abrindo 874 empregos diretos e mais de 966 indiretos. (PMU-Porta
Voz, 2006, p. 02)
Vale destacar que se trata de um projeto desenvolvido pelas Secretarias de
Desenvolvimento Econômico e Turismo e de Infra-Estrutura que dividirão tais recursos entre
os três mini-distritos projetados, sendo um deles no bairro Alfredo Freire, correspondendo à
área da quadra A7 (foto 17).
Foto 16 – Rua da quadra D2 bem arborizada.
Autor: Teobaldo Neto – 29/09/2006
Foto 17 – Quadra A7: Terreno livre.
Autor: Teobaldo Neto – 29/09/2006
As quadras H1 e D2 (foto 16 e 18), apesar do problema que representam são bem
arborizadas nas bordas, diferente da quadra K11 (foto 15) sem qualquer espécie arbórea.
110
Foto 18 Quadra D2 – Lateral arborizada /
Montículos de depósito de lixo.
Autor: Teobaldo Neto – 29/09/2006
Foto 19 – Quadra M6 (Alfredo Freire 3):
Depósito de lixo associado a
acúmulo de água.
Autor: Teobaldo Neto – 05/10/2006
A porção norte da quadra K5 e a porção sul da quadra K4 estão ocupadas com cultura
de hortifruti.
A quadra M6 (foto 19), além de estar abandonada, serve como depósito de resíduos
irregulares em sua parte sudoeste, em épocas de chuva é propícia à proliferação de vetores
transmissores de doença, como por exemplo o mosquito transmissor da dengue.
O que deveria representar um espaço que favorecesse a qualidade de ambiental urbana,
como uma opção para o lazer, o convívio e a interação social, o contato com a natureza, além
da função estética e ecológica, transformou-se num indicador negativo, conforme pôde ser
constatado a partir das fotos expondo as condições da maioria das praças do bairro.
111
4.2.3 - A avaliação dos espaços livres públicos pela população.
Após analisada e comentada a situação dos espaços livres públicos pelo pesquisador,
apresenta-se neste sub-capítulo como o morador do bairro avalia as condições destes locais
(mapa 10).
Conforme procedimentos metodológicos foram aplicados de 1 a 6 questionários por
quadra, de acordo com sua densidade demográfica. Em seguida foi atribuído um índice
comum para cada quadra, obtido pela média simples dos valores.
Os resultados foram tabulados e atribuídos pesos à avaliação do morador
1
, conforme
demonstrado no quadro 7:
Quadro 7 - Atribuição de pesos: espaços livres públicos.
Numa primeira análise geral, constata-se que o AF1S e o AF2 apresentam os melhores
índices de satisfação. A maior parte das quadras avalia os espaços livres públicos como ‘bom
e ‘regular’. Já o AF 1N apresenta um maior índice de insatisfação, com a metade das quadras
avaliando os espaços livres como ‘ruins’ e a outra metade, avaliando como ‘regular’. Já o AF3
corresponde às pessoas mais insatisfeitas, metade avaliou como péssimas as condições das
praças em seu bairro. Na prática não existem praças, considera-se que a opção ‘péssima’
representa um protesto contra a falta de praças e à dificuldade do acesso, pela distância, uma
vez que precisam deslocar-se ate o AF1. Isto é um fator desmotivador do uso das praças.
1
A tabela detalhada com os índices e pesos atribuídos por quadra encontram-se no anexo 2.
Média Peso Cor Qualidade
Ambiental
Até 0,50 0 Azul claro Bom
De 0,51 a 1,50 1 Azul escuro Regular
De 1,51 a 2,50 2 Magenta Ruim
Acima de 2,50 3 Vinho Péssimo
112
Mapa 10 – Percepção dos Moradores quanto aos espaços livres (praças)
113
Tabela 6 - Satisfação com os espaços livres públicos
Quadras
ocupadas
Bom Regular Ruim Péssimo
AF1N
23 0 11 12 0
AF1S
25 4 16 5 0
AF2
18 1 13 3 1
AF3
17 1 1 5 10
Total
83 6 41 25 11
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
%
Bom Regular Ruim Péssimo
AF1N
AF1S
AF2
AF3
Gráfico 9 - Satisfão com os espos livres públicos
Após análise do gráfico 9 é possível constatar que na unidade da paisagem
correspondente ao AF1N em torno de 50% das quadras avaliam como ‘regular’ e 50% como
‘ruim’ a qualidade das praças.
Já no AF1S, 60% das quadras avaliam como ‘regular’ e 20% como ‘ruim’, somando
quase 80%. Apenas 12% avaliam a qualidade como boa e nenhuma incidência de ‘péssimo’.
No AF2, os índices de ‘regular’ chegam ao ápice, atingindo quase 80% das quadras,
seguido de um índice de quase 20% de ‘ruim’ e 5% de ‘péssimo’ e menos de 5% com
incidência de ‘bom’.
O nível de satisfação no AF3 em relação à qualidade das praças registra altos índices
negativos. Aproximadamente 60% das quadras avaliam como ‘péssima’, seguido de quase
30% de avaliação ‘ruim’, somando-se um total de quase 90% de avaliação negativa. Sobra
uma soma de quase 20% entre ‘bom’ e ‘regular’. Infere-se que tal fato é devido
principalmente à falta de praças nesta unidade da paisagem, já que caso desejem usar as
praças existentes no bairro, devem deslocar-se a uma distância tal que inviabiliza o uso.
Além disso, esta avaliação torna-se deficitária, uma vez que não se constata o hábito
dos moradores de freqüentar as praças.
114
assiste tv
vai às praças
leitura
fica em casa
ócio
esporte
visita a amigos
outros
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
%
Gráfico 10 – Aproveitamento das horas vagas – AF.
Quase metade dos entrevistados apontou a opção ‘ficar em casa’ no seu tempo livre,
sem nenhuma atividade específica. Aproximadamente 20% indicaram outras atividades tais
como pescar, namorar, e até mesmo freqüência a cultos religiosos. Pouco mais de 10%
afirmaram aproveitar o tempo livre assistindo TV. Somente em torno de 5% afirmou
freqüentar praças e espaços livres de lazer, o mesmo índice foi registrado para atividades de
leitura e visita a amigos. Por fim, em torno de 4% afirmou praticar esporte e pouco mais de
1% aproveita o ócio (gráfico 10).
Quando comparamos a freqüência às praças entre as três partes do bairro, constatamos
que o comportamento do gráfico não varia muito. Há que se destacar que no AF 3 não foram
registradas nenhuma freqüência à praça. Isto se justifica pela ausência destas.
Outro fator que merece destaque é o alto índice de registros no AF3 na opção ‘ficar em
casa’, atribui-se a esse alto índice e à péssima avaliação dos espaços livres, a falta destes
espaços de lazer próximo às residências dos moradores. (gráfico 11)
As precárias condições das praças constatadas em campo pelo pesquisador foram
reforçadas pelos números que refletem a insatisfação da população em relação a estes
espaços.
115
assiste tv
vai às praças
leitura
fica em casa
ócio
esporte
visita a amigos
outros
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
AF1
AF2
AF3
Gráfico 11 – Aproveitamento das horas vagas – AF1 2 e 3.
Ao comparar o mapa 10 – Percepção dos moradores quanto aos espaços livres e o
mapa 1 – Principais fontes de poluição, constata-se que as quadras do bairro que pior
avaliaram os espaços públicos são aquelas mais próximas às quadras tidas oficialmente como
praças, mas que na prática são terrenos baldios com depósitos irregulares de lixo (quadras
K11, H1, D2, M6 e L10).
No geral, a maior parte do bairro está insatisfeita, conforme aponta o gráfico 12:
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
%
bom regular ruim péssimo
Gráfico 12 - Avaliação dos moradores em relação aos espaços livres públicos
Considerando o bairro como um todo, a avaliação positiva não atinge nem 10%. Em
quase 50% das quadras os moradores consideram regular a qualidade das praças. A
insatisfação decresce a partir daí para um total de 30% que considera ruim e 10%, péssima. A
116
avaliação negativa é significativa, perfazendo um total de 40% do total das quadras, fato que
tem grande peso na QAU do bairro e consequentemente na qualidade de vida do morador.
Apesar destes resultados sempre é importante lembrar que a percepção é uma
aproximação e uma forma de se representar uma realidade, nem sempre correspondendo à
mesma. Neste caso, a avaliação positiva pode ter sido supervalorizada pelo fato de no
momento da enquete o morador ter associado os ‘espaços livres públicos’ apenas às praças
equipadas, desconsiderando um terreno baldio próximo à sua residência reconhecido
oficialmente como praça. De outra forma a avaliação deveria ser a pior, uma vez que o terreno
baldio não possui nenhum equipamento de uma praça.
4.3 - Os Casos de Dengue
O mosquito transmissor da doença da dengue é o Aedes aegypti. O clima tropical
favorece a proliferação do mosquito que pode ser potencializada conforme os hábitos urbanos.
Áreas não higienizadas, terrenos baldios com acúmulo de lixo e depósito de água parada são
fontes potenciais para sua reprodução e proliferação.
Assim, o número de casos de dengue poderá nos dizer muito a respeito da QAU
daquele local.
O vírus é transmitido por meio da picada da fêmea contaminada, uma vez que o macho
se alimenta apenas de seiva de plantas.
O poder de contaminação é alto, um mosquito, durante sua vida média de 400 dias,
pode contaminar até 300 pessoas.
A dengue é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100 milhões
de pessoas se infectem anualmente, em mais de 100 países, de todos os
continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de
hospitalização e 20 mil morrem em conseqüência da dengue. (Ministério da
Saúde. 2008)
O principal controle da doença se dá pelo combate ao mosquito vetor. O mosquito
coloca seus ovos em locais com água parada, geralmente limpa, aguardando a subida do nível
para que ocorra a eclosão das larvas. Os períodos de maior ocorrência são as épocas de
chuvas. Via de regra, os focos nas áreas urbanas são os terrenos baldios com depósitos de
entulhos e lixo.
117
Nesta pesquisa, trabalhou-se com ocorrência de casos de dengue, por residência, no
ano de 2006. Neste caso, a abrangência da pesquisa foi além da dona de casa, uma vez que
foram levantados os casos de dengue na família.
No bairro AF aqueles terrenos baldios associados a depósitos de entulhos são locais
privilegiados para os vetores transmissores da dengue. Além de ser um indicador negativo da
QAU pelo impacto visual, representa também um risco à saúde pública, e, portanto, à QAU e
à QV. Apesar disso, verificou-se, a partir do mapeamento (mapa 11) dos casos de
dengue/2006, que as quadras com maior incidência não guarda uma relação direta com
terrenos baldios e pontos de depósitos de lixo.
Seguiu-se o seguinte critério para mapeamento, conforme quadro 8. Já a tabela
detalhada encontra-se no anexo III.
Quadro 8 - Atribuição de pesos: casos de dengue no ano de 2006.
Tabela 7 - Casos de dengue ordenado por unidade da paisagem.
Quadras
ocupadas
Nenhum
caso
1 caso 2 a 3 casos Acima de 3
casos
AF1N
23 4 6 8 5
AF1S
25 7 8 5 5
AF2
18 8 6 4 0
AF3
17 11 4 1 1
Total
83 30 24 18 11
Número de casos Peso Cor
Qualidade
Ambiental
Nenhum 0 Verde claro Bom
1 caso 1 Verde escuro Regular
2 a 3 casos 2 Magenta Ruim
Acima de 3 casos 3 Vermelho Péssimo
118
Mapa 11 – Casos de dengue/2006.
119
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
%
Nenhum
caso
1 caso 2 a 3 casos Acima de 3
casos
AF1N
AF1S
AF2
AF3
Gráfico 13 – Casos de dengue no Alfredo Freire - comparado
A partir do mapa 11, tabela 7 e gráfico 13, é possível perceber que, em todas as
situações, a maior incidência de casos de dengue ocorreu no AF1 (Norte e Sul).
Tabela 8 - Casos de dengue em números absolutos e percentuais
Pesquisados Casos %
AF1
209 96 45.93
AF2
62 16 25.80
AF3
37 10 27.02
TOTAL 308 122 39.61
Considerando-se que a população do AF não passa de 6000 habitantes
2
, o total de
pessoas infectadas com o vírus da dengue corresponde a 2,03%. Em relação à amostragem,
esse valor sobe para 39,61%, ou seja, quase metade do universo pesquisado. (tabela 8)
Em Uberaba foram registrados, de janeiro a março de 2006, cerca de 2.902 casos.
Apesar disso, o diretor de comunicação da Prefeitura Municipal de Uberaba, afirma que esses
números podem estar aquém da realidade, uma vez que nem os todos suspeitos de
contaminação pelo vírus, procuraram atendimento. Diante desses altos índices de infecção a
doença ficou caracterizada como epidemia
3
.
2
Dados estimados pelo pesquisador para o ano de 2007, a partir da análise de lotes ocupados e de dados do
Inquérito UNIUBE/2004.
3
OLIVEIRA, Eduardo. Em meio a epidemia, prefeito de Uberaba pega dengue. Agência Folha. Abril/2006.
Disponível on line em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u120144.shtml> acesso em
09/11/2007
120
Baseado nesses números, considerando-se a estimativa IBGE da população de
Uberaba em 2006, conforme tabela 1, capítulo 3, esses números correspondem a 1,01% em
média de infecção da população do município de Uberaba. Constata-se que o índice de 2,03%
do bairro AF está mais que o dobro da média geral da cidade, configurando como um
indicador negativo da QAU.
Além da situação regional de epidemia de dengue registrada no ano de 2006, deve ser
ressaltado que as condições urbanas que degradam a QAU presentes no bairro, como terrenos
baldios com acúmulo de lixo, e terrenos abandonados descuidados contribuem para agravar o
problema da epidemia.
Os altos índices de incidência de dengue no bairro, superando de longe a média
municipal, indicam uma QAU deficitária que configura, por conseqüência, um risco à saúde
pública. No gráfico 14 é possível vislumbrar o grau de incidência de dengue no bairro em
geral:
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
%
Nenhum
caso
1 caso 2 a 3
casos
Acima de
3 casos
Gráfico 14 – Casos de dengue no Alfredo Freire – geral.
Considerando o bairro como um todo, em quase 30% das quadras houve incidência de
um caso de dengue. Já as quadras em que houveram de dois a três casos, perfazem um total de
22%. Este percentual cai para pouco mais de 10%, nas quadras em que houve mais de três
casos de dengue.
Diante disso é possível constatar que em apenas pouco mais de 30% das quadras não
foram registrados nenhum caso de dengue. E em 64% das quadras foram registrados um ou
mais casos de dengue, ou seja, em mais da metade do bairro. Os casos de dengue
representados no gráfico indicam a gravidade das condições ambientais do bairro, alertando
para a necessidade de garantir as condições sanitárias de higiene básica para um ambiente
saudável e de boa qualidade ambiental.
121
4.3 - Incidência de Pragas Urbanas
A incidência de pragas urbanas é outro indicativo importante da QAU. Nesta pesquisa
foi registrada a incidência de pragas do tipo: lesmas, ratos, baratas, escorpiões, e com menos
freqüência: serpentes, caramujos e aranhas.
A presença, reprodução e proliferação das pragas estão condicionadas ao abrigo e
alimento, fornecidos pelos locais de depósitos de resíduos de toda qualidade, inclusive o lixo
orgânico – fonte de alimento. Segundo os moradores a incidência é maior no verão, quando o
clima é mais quente e ocorrem as chuvas, provocando incômodo e a dispersão dos insetos que
invadem as residências.
A atribuição de pesos e cores para representação estão demonstrados no quadro 9.
Quadro 9 - Atribuição de pesos: incidência de pragas urbanas.
Conforme aponta o mapa 12, a tabela 9 e o gráfico 15, segundo a opinião coletada nos
questionários, não existem incidência de pragas urbanas em apenas menos de 5% das quadras.
A maioria é pertencente ao AF1.
Já a incidência de 1 tipo de praga urbana aparece em 35,37% das quadras, sendo que a
maior parte também encontra-se no AF1.
A incidência de 2 tipos de pragas também é significativa, com 39,02% das quadras,
sendo bastante concentrada no AF 2.
A terceira classe, que apresenta a incidência de 3 ou mais tipos de incidência de pragas
corresponde a 20,73% do total. É importante destacar que no bairro AF3 essa incidência é
mais concentrada e ele responde por 12,20% das reclamações desta categoria no total do
2bairro, conforme pode ser constatado no gráfico 15.
Incidência de Pragas
Urbanas
Peso Cor Qualidade
Ambiental
Nenhuma 0 Verde claro Bom
Uma 1 Verde médio Regular
Duas 2 Magenta Ruim
Três 3 Vermelho Péssimo
122
Mapa 12 Incidência de pragas urbanas.
123
Tabela 9 - Incidência de Pragas Urbanas.
Quadras
ocupadas
Nenhuma Uma Duas > de duas
AF1N
23 1 11 8 3
AF1S
25 3 12 7 3
AF2
17 0 4 12 2
AF3
17 0 2 5 10
Total
83 4 29 32 18
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
%
nenhuma uma duas acima de
duas
AF1N
AF1S
AF2
AF3
Gráfico 15 – Incidência pragas urbanas – comparada.
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
%
Nenhum tipo 1 tipo 2 tipos Acima de 3
tipos
Gráfico 16 – Incidência de pragas urbanas – geral.
No AF1, as pragas mais lembradas foram ratos e baratas. Sua presença é associada ao
período do verão e à falta de manutenção dos esgotos. Não foi registrada nenhuma incidência
de escorpes.
Já no AF 2, o destaque é para os caramujos, associados ao verão chuvoso, além dos
ratos e baratas.
124
No AF 3 a quantidade é maior e a qualidade de pragas é mais diversa. Além de ratos e
baratas apareceram frequentemente nos questionários o registro de serpentes, aranhas e
escorpiões. A quantidade de terrenos baldios tomados pelo mato representa um espaço
privilegiado para a proliferação destas pragas (fotos 20 e 21).
Foto 20 - Terreno abandonado no AF3
Autor: Teobaldo Neto – 29/09/2006
Foto 21 - Ocupação rarefeita:
Terrenos abandonados no AF3
Autor: Teobaldo Neto – 29/09/2006
125
4.5 Poluição Atmosférica
O meio ambiente urbanizado e industrializado é sinônimo de poluição do ar. As
indústrias e o trânsito são os principais “vilões” adicionando à atmosfera, componentes
nocivos à qualidade do ar, alterando o estado natural da atmosfera.
Tudo que pode ser vaporizado ou transformado em pequenas partículas, de
modo que possa flutuar no ar, deve ser classificado como poluente
potencial. Considera-se o ar como normal quando mais de 99,99% do
volume de ar se compõem de apenas quatro moléculas gasosas, nitrogênio
(78,09%), oxigênio (20,94%), argônio (0,95%) e CO2(0,03%)... Mas o ar
urbano típico contém alguns desses traços, incluindo-se o monóxido de
carbono, dióxido de enxofre e metano, em quantidades excessivas.
(SEWELL, 1978, p. 161)
Os impactos destes poluentes na saúde humana muitas vezes não possuem um efeito
imediato, podem desencadear doenças cujos efeitos foram cumulativos no tempo e não há
como associar a um determinado evento.
Portanto um determinado elemento na atmosfera poderá não causar incômodo algum,
porém seus reflexos serão agravados com o tempo ou mesmo com a associação de outro
elemento qualquer estranho na atmosfera.
Na área de análise desta pesquisa, caso existam estes elementos, não serão
identificados, uma vez que foram visados os incômodos percebidos no nível domiciliar.
O bairro AF sofre com a poluição industrial e com a do trânsito. A poluição atmosférica que
afeta o AF1 e AF2 é atribuída pelos moradores ora ao pó da empresa SATIPEL, atuante no
DI1, ora ao odor emitido pelo tratamento dos resíduos líquidos da empresa granjeira ‘Da
granja’, em sua lagoa de decantação. Já no AF3 percebe-se que os incômodos são mais
evidentes, uma vez que além dos dois tipos já citados, reclamam do forte odor dos
particulados.
O comportamento natural da dinâmica dos ventos permite uma análise mais real a
respeito dos efeitos da poluição do ar no bairro. O gráfico 17, a tabela 10 e a figura 8
apresentam a dinâmica dos ventos e seus efeitos sobre o bairro.
126
N
S
E
W
NW
NE
SE
SW
1
2
3
4
56
Legenda:
Intensidade
Fre q ü ê n c i a
Es c a la :
1cm: 1m/seg
1cm: 3%
VENTOS
Gráfico 17 – Velocidade e freqüência dos ventos em Uberaba MG.
Fonte: PMU – RIMA/ETE 2006
Tabela 10 – Direção dos ventos no bairro Alfredo Freire – Uberaba.
4
Fonte: PMU – RIMA/ETE 2006
Ao observar o gráfico 17, o primeiro dado direto a observar é a combinação de maior
intensidade e freqüência dos ventos nas direções NE (3,7 m/s e 47 dias/ano) e na direção W
(3,72 m/s e 53 dias/ano).
Durante praticamente metade do ano o ar fica estacionário, é o período de calmaria.
Neste caso, a poluição no bairro é menos intensa.
4
N – Norte / S – Sul / E - Leste / W - Oeste
N NE E SE S SW W NW Somatório Calmaria
Dias/Ano
16,00 47,00 7,00 13,00 6,00 17,00 53,00 14,00 173,00 192,00
F (%)
4,38 12,88 1,92 3,56 1,64 4,66 14,52 3,84 47,40 52,60
V (m/s)
3,60 3,70 5,20 3,70 3,71 4,77 3,72 2,70 - -
127
Já no outro período a situação se inverte e os ventos começam a soprar em várias
direções. Os ventos que levam os resíduos atmosféricos mais perceptíveis são aqueles que
sopram nas direções: norte, noroeste, oeste e sudoeste (figura 8). Os ventos que sopram para o
norte levam o odor da lagoa de decantação da empresa Dagranja. Os que se direcionam para
noroeste, levam resíduos particulados de outras empresas do Distrito, além do odor. Aqueles
que sopram na direção oeste, levam os particulados e odores emitidos pela empresa
SATIPEL. E os que vão para sudoeste levam os resíduos e particulados das empresas para o
bairro todo. As setas de direção dos ventos estão indicadas na figura 8.
Figura 8: Direção predominante dos ventos que intensificam a poluição do ar no Bairro
Alfredo Freire.
.N.
.NO.
.O.
.SO.
.SATIPEL.
LAGOA DE
DECANTA
Ç
ÃO
128
A velocidade e a freqüência/ano dos ventos que afetam o bairro podem estão
sintetizadas na tabela 11.
Tabela 11 - Ação dos ventos que intensificam a poluição atmosférica no AF.
Direção para onde
sopram os ventos
Velocidade(m/s) Freqüência
(dias/ano)
Freqüência (%)
N 3,60 16 4,38
SW 4,77 17 4,66
W 3,72 53 14,52
NW 2,70 14 3,84
TOTAL
--- 100 27,4
Fonte: PMU – RIMA/ETE 2006
A partir disso, conclui-se que durante um período de cem dias no ano a poluição é
intensificada pela ação dos ventos. Os ventos que carregam mais poluição são os que sopram
para oeste (cinqüenta e três dias no ano), por carregar os resíduos da empresa SATIPEL e os
que sopram para o norte (dezesseis dias no ano), por carregar o odor da lagoa de decantação
da empresa Dagranja.
Este fenômeno natural diz muito a respeito da QAU no bairro e complementa o estudo
da percepção ambiental em relação à poluição do ar. A atribuição de pesos da QAU no bairro
foi organizada conforme apresentado no quadro 10.
Quadro 10 - Atribuição de pesos: Poluição atmosférica
Tabela 12 - Poluição Atmosférica
Quadras
ocupadas
Nenhum
tipo
1 tipo 2 tipos Acima de 3
tipos
AF1N
23 4 17 2 0
AF1S
25 3 18 4 0
AF2
18 2 13 3 0
AF3
17 1 8 5 3
Total
83 29 24 19 11
Média Poluição Atmosférica Peso Cor
Qualidade
Ambiental
até 0.49
Nenhum tipo 0 Verde claro Bom
de 0.50 a 1.49
1 tipo 1 Verde médio Regular
de 1.50 a 2.49
Até 2 tipos 2 Magenta Ruim
acima de 2.49
Acima de 3 tipos 3 Vermelho Péssimo
129
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
%
Nenhum
tipo
1 tipo 2 tipos Acima de
3 tipos
AF1N
AF1S
AF2
AF3
Gráfico 18 -Poluição Atmosférica por unidade da paisagem.
Na tabela 12 e gráfico 18 é possível constatar que a inexistência de poluição
atmosférica por unidade da paisagem, decresce do AF1N com 4,88% até o AF3 com 1,22%
das quadras. Já a presença de pelo menos um tipo de poluição está na maior parte das quadras,
abrangendo a maior parte do AF1N e AF1S, com 20,73 e 21,95% do total de quadras,
respectivamente. O AF3 é a parte onde ocorrem menos registro de apenas 1 tipo de poluição.
No AF3 ocorrem os maiores registros de dois tipos e acima de três tipos de poluição. Vale
ressaltar que a incidência de três ou mais tipos de poluição refere-se apenas ao AF3. (mapa
13)
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
%
Nenhum tipo 1 tipo 2 tipos Acima de 3
tipos
Gráfico 19 - Poluição atmosférica – geral.
Conforme aponta o gráfico 19 e o mapa 13, de forma geral, a maioria das quadras, ou
seja, 68,29% apresentam um tipo de poluição atmosférica. Em seguida, 15,85% das quadras
reclamam de incômodo com 2 tipos de poluição atmosférica. Apenas 3,66% das quadras
reclamam de mais de 3 tipos de poluição atmosférica, entretanto, todas as quadras inseridas
nesta categoria correspondem ao AF3. Enfim, apenas 12% das quadras não reclamam de
nenhum tipo de poluição.
130
Mapa 13 – Percepção da Poluição atmosférica.
dirão dos ventos que afetam o AF
131
4.6 – Mapa da Qualidade Ambiental Urbana – Bairro Alfredo Freire
Discutir qualidade ambiental urbana é enveredar-se num terreno de múltiplos
caminhos sem roteiro programado nem chegada definida. A complexidade inerente ao tema
sugere múltiplas possibilidades e métodos de análise.
Como foi avaliado, o maior desafio daqueles que pesquisam nesta área é encontrar um
método que seja capaz de aferir com um certo grau de confiabilidade a qualidade. Para tanto é
necessário entender que, antes de mais nada, ‘qualidade’ é um critério de valor que pode
variar nas mais diferentes escalas: entre culturas, entre distintas comunidades, entre tribos,
classes, gêneros e até mesmo entre indivíduos dentro de uma mesma sociedade. Isso por que
envolve gostos, preferências, percepções, valores.
Como se pode verificar a partir da argumentação acima, a qualidade do
meio ambiente é, em parte, objeto da percepção humana, portanto subjetiva,
pois a organização dos elementos naturais e artificiais possibilita, através do
arranjo de diferentes composições paisagísticas, o gosto ou o repúdio ao
ambiente. É uma questão de gosto, é uma questão de estética, porém mais
do que isso é uma questão de funcionalidade que passa necessariamente
pela organicidade do espaço urbano. (GOMES, 2004)
Essa alta carga de subjetividade inerente à qualidade explica a falta de consenso
quanto à utilização de variáveis que definem a QAU. Isso confere uma certa liberdade ao
pesquisador de definição de variáveis conforme sua escala de análise e seus objetivos.
Ao decidir analisar a qualidade ambiental pela percepção do morador, optou-se pelo
caminho do mais alto grau de subjetividade, já que a análise se deu exclusivamente no âmbito
das preferências no nível individual com todas as suas contradições inerentes. Com isso,
esperava-se que não seria uma tarefa fácil analisar e quiçá, medir a QAU.
Foram então mapeados e analisados os quatro indicadores selecionados. Nesta etapa
final, para cumprir com o objetivo geral proposto inicialmente, será demonstrada a QAU por
meio de um mapa síntese.
4.6.1 - O mapa da QAU: critério da média simples.
Para elaborar o mapa síntese da QAU, somou-se a média simples de cada indicador
analisado (anexo VI) e classificou-se esses valores em 5 níveis, demonstrado na tabela 13.
132
Tabela 13 - Atribuição de pesos: Qualidade Ambiental Urbana.
Classe Média simples
dos indicadores
Qualidade
Ambiental
Quantidade de
quadras
1 0 a 0,4 Bom 2
2 0,5 a 0,9 Regular Positivo 32
3 1,0 a 1,4 Regular Negativo 35
4 1,5 a 2,4 Ruim 13
5 > 2,4 Péssimo 1
Na tabela 14 é apresentada a qualidade ambiental de cada unidade da paisagem do
bairro, conforme a divisão metodológica do bairro em quatro partes. Tais dados encontram-se
espacializados no mapa 14 – QAU: média simples dos indicadores:
Tabela 14 - Avaliação da QAU por unidade da paisagem. (%)
Quadras
ocupadas
Bom Regular
positivo
Regular
negativo
Ruim Péssimo
AF1N 23 0 6 15 2 0
AF1S 25 2 14 9 0 0
AF2 18 0 11 7 0 0
AF3 17 0 1 4 11 1
Total 83 2 32 35 13 1
Em todo o bairro, no nível de avaliação ‘bom’ destaca-se apenas no AF1S, sendo
apontado por duas quadras. Quanto ao ‘regular positivo’, foi apontado por seis quadras no
AF1N, quatorze quadras no AF1S, onze quadras no AF2 e apenas uma quadra no AF3. O
nível ‘regular negativo’ é apontado por quinze quadras no AF1N, nove no AF1S, sete no AF2
e apenas quatro no AF3. (tabela 11). No gráfico 20 esses dados podem ser melhor observados.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Bom Regular
positivo
Regular
negativo
Ruim ssimo
AF1N
AF1S
AF2
AF3
Gráfico 20 – Qualidade Ambiental Urbana:
média simples por unidade da paisagem.
133
Mapa 14 – Qualidade Ambiental Urbana: Média simples dos Indicadores.
134
Em relação às quadras que avaliaram a QAU como ‘ruim’, duas estão no AF1N e onze
no AF3 e nenhuma no AF1S e AF2.
A partir desses resultados, pode-se considerar que o AF1S possui uma tendência de
avaliação da QAU melhor, em relação aos demais por apresentar entre ‘bom’ e ‘regular
positivo’ dezesseis quadras, decrescendo o número de quadras com os níveis de avaliação
negativa.
O AF1N possui a maior parte das quadras com avaliação regular, com uma maior
tendência para o nível ‘regular negativo’.
O AF2 possui uma avaliação regular com uma distribuição eqüitativa de quadras entre
os níveis ‘regular positivo’ e ‘regular negativo’.
O fato mais marcante no gráfico 20, sem dúvida, é o comportamento da coluna de
avaliação da QAU do AF3, que cresce proporcional aos níveis de avaliação negativa até o
nível ‘ruim’. Nenhuma quadra possui avaliação no nível ‘bom’, passando para uma, no nível
‘regular positivo’, quatro no nível ‘regular negativo’, chegando a onze no nível ‘ruim’ e
caindo para uma no nível ‘péssimo’.
Em termos percentuais gerais, a QAU pela média simples pode ser analisada a partir
do gráfico 21 e tabela 15.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
Bom Reg. positivo Reg. negativo Ruim Péssimo
Gráfico 21 - Qualidade Ambiental Urbana média simples – geral.
Tabela 15 - Valores absolutos e percentuais da avaliação geral da QAU.
Totais
%
Bom 2 2,41
Regular positivo 32 38,55
Regular negativo 35 42,17
Ruim 13 15,66
Péssimo 1 1,20
135
Estes dados demonstram que pouco mais de 40% do bairro possui uma QAU de nível
bom a regular positivo e em torno de 60% possui uma avaliação de tendência negativa,
variando do regular negativo ao péssimo.
Apesar disso, é necessário ir além desses números. Caso fosse decidido seguir a
classificação padrão adotada nesta pesquisa, de quatro classes (bom, regular, ruim e péssimo)
dividiria-se o intervalo máximo: 3 em quatro classes e chegar-se-ia ao valor de 0,75 como
intervalo entre as classes. Na tabela 16 é apresentado como ficaria estes resultados.
Tabela 16 - Critério de classificação para análise da QAU
Média Quadras %
Bom
0,00 a 0,75 16 19,27
Regular
0,75 a 1,50 57 68,67
Ruim
1,50 a 2,25 9 10,86
Péssimo
2,25 a 3,00 1 1,20
Baseado nesses dados, quase 20% do AF teria uma boa QAU e quase 70% seria
regular. Somados esses valores, quase 90% corresponderiam à avaliação com tendência
positiva de percepção da QAU no bairro, sobrando apenas em torno de 12% de avaliação
negativa.
Fica evidente o quanto a análise ficaria maquiada caso fosse usado este critério. Para
corrigir tamanha distorção é que foi modificado o intervalo entre as classes de forma a
permitir um maior contraste para uma análise mais real. Além disso, a classe ‘regular’, foi
dividida em duas.
Ainda assim, como foi constatado no gráfico 21, os resultados apresentam certo
distanciamento da realidade apresentando a avaliação positiva, da QAU, superestimada em
relação à negativa.
Mesmo considerando o fato da alta carga de subjetividade envolvida no âmbito da
percepção ambiental, é necessário que o pesquisador tente aproximar sua pesquisa ao máximo
da realidade. Com essa preocupação, buscou-se um método de análise da QAU que
contemplasse os objetivos estabelecidos de forma mais objetiva.
136
4.6.2 - Uma outra maneira de interpretar a QAU: critério da interpolação.
Nesta opção a análise pautou-se na proposta metodológica de Nucci (2001). Os quatro
mapas foram interpolados de forma que os pesos de cada indicador da QAU fossem somados
e acumulados num mapa síntese classificado em nove classes
5
.
Para cada indicador a pior avaliação possível para a QAU receberia no máximo o peso
‘3’, como são quatro indicadores que serão interpolados em apenas um mapa, cada quadra
poderá receber até no máximo o peso ‘12’ (4 x 3). Já a melhor avaliação receberia o peso
máximo ‘zero’. No mapa 15 e na figura 9 é possível conferir como ficou a espacialização da
QAU no bairro todo, porém, a visualização fica melhor quando analisada na coleção de
mapas, figura 9.
Não é possível afirmar categoricamente que uma quadra que possui maior peso da
QAU é mais prejudicial à qualidade de vida do que outra de menor peso, devido,
primeiramente ao grau de impacto do tipo de indicador negativo da QAU ao qual aqueles
pesos se referem, e, segundo, pela alta carga de subjetividade inerente a esta pesquisa, devido
à opção metodológica de trabalho no âmbito da percepção ambiental.
Não obstante, nestes parâmetros considera-se que a quadra que apresentar um índice
de QAU maior que outra, possui uma pior QAU, segundo a percepção imediata do morador.
A tabela 17 apresenta no eixo ‘x’ os pesos da QAU, que variam de 2 a 10 e no eixo ‘y’
estão as unidades da paisagem (AF1N, AF1S, AF2 e AF3).
O ponto de interseção entre os dois eixos, corresponde à quantidade de quadras que
avaliaram a QAU com o peso correspondente àquela coluna. No gráfico 22 os dados são
apresentados em termos percentuais.
Tabela 17 - Distribuição das quadras conforme o peso da QAU.
Peso: 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Unidades
AF1N 0 1 3 8 7 3 0 1 0
AF1S 1 7 5 3 5 4 0 0 0
AF2 0 2 4 6 6 0 0 0 0
AF3 0 1 0 3 2 4 4 2 1
Totais: 1 11 12 20 20 11 4 3 1
5
A tabela de demonstração detalhada dos pesos por quadra, encontra-se no Anexo VII.
137
Mapa 15 – Qualidade Ambiental Urbana: Interpolação dos indicadores.
138
139
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
9,00
10,00
%
2345678910
AF1N
AF1S
AF2
AF3
Gráfico 22 - Intensidades da QAU por unidade da paisagem no bairro AF.
Conforme pode ser observado na tabela 17, no gráfico 22, mapa 15 e figura 9,
nenhuma quadra apontou o índice ‘0’, ‘1’, ‘11’ e ‘12’.
O AF1S possui quadras com peso da QAU 2, 3, 4, 5, 6 e 7. Foi a única unidade da
paisagem que apresentou quadra com peso 2. A maior parte das quadras, nesta unidade,
apresentam um peso 3, o que corresponde a pouco mais de 8% de todas as quadras do bairro.
Quanto às quadras que registram os índices 4, 5, 6 e 7 ocorre uma pequena variação entre 4 a
6 %, tendo por referência o bairro todo. Esta unidade da paisagem se destaca entre as demais
nos pesos 2, 3, 4.
O AF1N possui quadras com peso da QAU 3, 4, 5, 6, 7 e 9. Há um comportamento
crescente da quantidade de quadras do peso 3 ao peso 5, saindo de menos de 1% até pouco
mais de 9%, respectivamente. A partir daí a quantidade decresce do peso 6 ao peso 9, não
registrando nenhuma ocorrência com peso 8. Esta unidade se destaca entre as demais nos
pesos 5 e 6.
O AF2 apresenta quadra com pesos 3, 4, 5 e 6. No gráfico é possível observar um
comportamento regular crescente da quantidade de quadras, partindo de pouco mais de 3%
com peso 3, chegando a pouco mais de 7% no peso 6. Esta unidade não se destaca em
nenhuma ocasião, fato favorecido pela menor quantidade de quadras proporcionalmente em
relação às demais unidades.
O AF3 apresenta quadra com pesos 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10. O fato peculiar neste caso é o
destaque desta unidade nos pesos 7, 8, 9 e 10, sendo estes os piores índices da QAU.
Numa escala de 0 a 12, o AF1S apresenta a maior parte das quadras com pesos de
QAU na primeira metade. O AF1N possui uma distribuição de quadras mais eqüitativa entre a
primeira e segunda metade. Já o AF3 se destaca na segunda metade, possuindo a maior parte
140
das quadras com uma avaliação da QAU mais negativa, comparado com as outras unidades do
bairro.
No gráfico 23 é apresentada a quantidade de quadras (indicadas na tabela 17) por peso
da QAU, de todo o bairro AF.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
quantidade de
quadras
123456789101112
peso
Gráfico 23 - Peso geral da QAU
Apenas uma quadra apresentou o índice 2. Doze quadras do bairro foram avaliadas
com o peso 3 e outras doze com o peso 4, correspondendo a 15% do total de quadras para
cada peso. O destaque é para as quadras que avaliaram com peso 5 e 6, perfazendo um total
de 19 e 20, o que corresponde a aproximadamente 23% para cada um dos pesos. Onze
quadras, correspondente a 13% do total, são avaliadas com peso 7. O peso 8 e 9 está presente
em aproximadamente 4% das quadras e o peso 10 em apenas uma.
O bairro AF possui a maior parte das quadras com intensidade 5 e 6, portanto,
intermediária. Em seguida aparecem os pesos 3, 4 e 7. Já os piores índices: 8, 9 e 10 aparecem
com menos de 5% do total de quadras, assim como o melhor índice: 2.
Teria uma QAU ideal, segundo essa metodologia, aquelas quadras que apresentassem
o peso ‘0’, já que desta forma não haveria nenhum tipo de incômodo e/ou desconforto
segundo a percepção dos moradores.
É importante ressaltar que ainda assim, na realidade poderia haver algum tipo de
poluição que pudesse estar ocorrendo sem que o morador percebesse e cujos efeitos pudessem
ser sentidos apenas em longo prazo ou em momentos não associados à ocasião em que tal
poluição afete diretamente os indivíduos. A poluição do ar é um exemplo clássico desta
situação, basta lembrar que é possível ser asfixiado até à morte pelo CH4, sem sentir qualquer
efeito colateral, nem mesmo de cheiro, por sua característica inodora. O fato de o morador
141
não percebe-la não quer dizer que ela não existe, ainda assim, nenhuma quadra apresentou
este índice.
A partir destas análises, conclui-se que o método de interpolação dos indicadores da
QAU mostrou-se mais adequado e mais próximo da realidade, em detrimento do método da
média simples, que mascarou uma realidade apresentando uma QAU mais positiva do que de
fato o é.
142
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O equilíbrio humano é alcançado a partir de três dimensões interrelacionadas: corpo,
mente e ambiente. Partindo dessa premissa conclui-se que a saúde biológica e mental do ser
humano depende, dentre outros fatores, do ambiente. As condições ambientais poderão ser
determinantes na qualidade de vida e até mesmo na sobrevivência do homem.
O desenvolvimento da tecnologia e a industrialização permitiram avanços
consideráveis e aumentou significativamente o poder de transformação da natureza pelo
Homem. As cidades é a maior expressão deste poder. A transformação implica em alteração
do equilíbrio natural, provocando alguns desajustes que se voltaram contra a qualidade
ambiental e de vida. Nas cidades os exemplos claros disso são as enchentes, a formação de
ilhas de calor e micro-clima, a poluição sonora na forma de ruídos, etc.
O mundo atual é essencialmente urbano, dois séculos se passaram e os problemas
apontados de forma mais contundente em 1972, na Conferência de Estocolmo, Suécia, ainda
representam um grande desafio à Humanidade. Com esta preocupação são realizadas
pesquisas que buscam dar respostas e encontrar alternativas, dentre elas destacam-se aquelas
ligadas à Qualidade Ambiental Urbana. Com o tema bastante abrangente ela é por natureza
interdisciplinar, assim como todas as temáticas ligadas ao estudo do meio ambiente.
É importante ressaltar que o tema ambiente possui múltiplas facetas, tais como a
ecológica, econômica, social e política. Não há como negligenciar o lado político-social
perverso do ambiente, representado na forma de uma sociedade de classes, onde os danos e
desequilíbrios provocados no ambiente afetarão de forma mais agressiva a classe mais
desprovida de recursos econômicos. O nível de gravidade do problema é tamanho que chega
ao ponto de para muitos, discutir qualidade de vida ou qualidade ambiental chega a ser um
artigo de luxo, uma vez que a luta da classe inferior a cada dia é pelas condições mínimas de
sobrevivência. Basta observar os noticiários jornalísticos diários que deixam isso evidente ao
anunciar os desbarrancamentos de terras e soterramento de “casas” em favelas, ou mesmo,
incêndios provocados por curto-circuito nas ligações clandestinas de rede elétrica, além das
enchentes que também proporcionam grandes prejuízos e deixam muitos desabrigados.
Ressalto que não há distinção de classes, mas que [reforço] os danos são mais agressivos às
classes desprovidas de um mínimo de recursos econômicos.
Pesquisas tentam indicar caminhos, respostas e alternativas ao quadro alarmante de
deterioração ambiente urbano. Estudam uma variedade infinita de indicadores, visando
143
oferecer instrumentos para mitigar os problemas. Clima, ar, água, resíduos (sólidos, líquidos e
gasosos), ruídos, poluição visual, cobertura vegetal, áreas verdes, espaços livres, adensamento
urbano, densidade populacional, vetores transmissores de doenças, pragas urbanas e até
mesmo a violência, dentre outros tantos, são os principais indicadores da qualidade que
constam na literatura.
A escala é um elemento fundamental. São raras as pesquisas que tratam desta temática
em grande escala. Outros fatores, não menos importantes, diz respeito ao método de análise e
aos indicadores que comporão o escopo de dados que determinará a qualidade do ambiente.
Ambos serão definidos a partir dos objetivos da pesquisa.
A cartografia mostrou-se como um elemento crucial na análise da QAU. Foi o meio de
comunicação ideal ao revelar a essência do fenômeno estudado, proporcionando o
encaminhamento crítico-reflexivo. Seu uso, combinado com o geoprocessamento permitiu a
agilidade na elaboração dos mapas. Os dados e informações constantes no banco de dados
permitiram a manipulação e atualização dos mapas com uma qualidade que facilitou o
processo de comunicação.
A associação entre as geotecnologias, a cartografia e a percepção ambiental, mostrou-
se como uma combinação possível e ideal para discutir um tema tão relevante no mundo
moderno, colocando-se como mais uma alternativa metodológica para avaliar e provocar um
planejamento que busque alcançar a qualidade ambiental urbana, e consequentemente um
padrão adequado de qualidade de vida e quiçá a almejada sustentabilidade.
Com o objetivo de caracterizar a QAU no bairro Alfredo Freire, iniciou-se pelo estudo
histórico, onde foi possível constatar que os motivos de sua construção só podem ser
entendidos dentro da lógica da especulação imobiliária que visa lotear áreas periféricas com o
objetivo de promover a valorização de terrenos desocupados entre os loteamentos distantes e
os centros urbanos.
Isto custou caro aos moradores que sem opção tiveram que dar início a uma nova vida
na precariedade urbana e na poluição de todas as formas, oriunda das atividades industriais do
DI1, localizado ao lado do bairro. Os problemas ambientais daquele local precedem a
construção do bairro que já “nasce” num ambiente insalubre. São diversos os relatos de
reclamações e reivindicações por melhorias estruturais no bairro desde sua fundação.
Estas condições conferiam uma situação diferenciada do bairro em relação à cidade:
distância do centro, segregação espacial da cidade e localizado numa zona de atividades
industriais. Tais condições motivaram atitudes discriminatórias dos moradores da cidade de
144
Uberaba, como um todo, em relação aos moradores do AF. Não obstante, atualmente, ficou
constatado na pesquisa que mais de 60% não sofrem este tipo de preconceito e discriminação.
Quanto ao perfil sócio-econômico do morador do bairro, ficou constatado que em
torno de 50% deles recebem até dois salários mínimos, decrescendo em termos percentuais, a
partir dos patamares superiores a esta faixa salarial. Além disso, ficou demonstrado que
apenas uma minoria desprezível de moradores do bairro estão empregados em alguma
indústria do DI-1. De todas as residências pesquisadas, em apenas 15% delas existia alguma
pessoa que estava empregada no DI-1. Tal fato coloca em evidência a falácia do discurso
político à época de construção do loteamento, tentando justificar sua localização como uma
vantagem ao morador que não comprometeria seu orçamento gastando com transporte para
deslocar-se para o trabalho, como se as indústrias se comprometessem a empregar a maioria
dos moradores do bairro!
Após definida a escala e objetivos da pesquisa, foi conveniente estudar a QAU a partir
da percepção do morador. A partir dela foram identificados os problemas ambientais que
provocam algum tipo de desconforto, percebidos no nível domiciliar. Foram definidos quatro
indicadores: satisfação com os espaços livres públicos; casos de dengue, poluição atmosférica
e pragas urbanas.
Quanto aos espaços livres públicos, foram identificadas três categorias:
1 – praças (equipadas e não equipadas)
2 – áreas de cobertura vegetal
3 – espaço de lazer (campo de futebol e ginásio esportivo)
Muitas áreas destes espaços correspondem na prática a terrenos baldios. Assim, o que
deveria representar um espaço que favorecesse a qualidade ambiental urbana, como uma
opção para o lazer, o convívio e a interação social, o contato com a natureza, além da função
estética e ecológica, transformou-se num indicador negativo. A avaliação negativa é
significativa, perfazendo um total de 40% do total das quadras. Tal fato ajuda a entender o
motivo pelo qual quase 50% dos moradores aproveitam suas horas vagas ficando em casa e
em torno de 5%, apenas, freqüentam as praças.
Quanto ao índice de dengue, pelo menos uma pessoa em 39,61% das residências
pesquisadas tinham sido infectada com o vírus da dengue no ano de 2006. Considerando o
bairro todo, em apenas pouco mais de 30% das quadras não foram registrados nenhum caso
de dengue. Em 64% das quadras foram registrados um ou mais casos de dengue, ou seja, em
mais da metade do bairro. Os casos de dengue indicam a gravidade das condições ambientais
do bairro.
145
A incidência de pragas urbanas em termos de qualidade e variedade cresce do AF1
para o AF2 e AF3. Neste último ocorre uma grande variedade de presença de pragas de todo o
tipo: ratos, baratas, escorpiões, aranhas e serpentes. A quantidade de terrenos baldios tomados
pelo mato representa um espaço privilegiado para a proliferação destas pragas.
Em mais de 60% das quadras do bairro, houve reclamação de apenas um tipo de
poluição do ar. Os moradores associam, ora aos particulados da indústria moveleira Satipel
S/A, ora ao odor emitido pela lagoa de decantação da indústria frigorífica Da Granja.
Aproximadamente 15% das quadras reclamam de 2 ou mais tipos de poluição atmosférica. As
fontes são as mesmas já citadas, sendo que alguns moradores reclamam também do odor dos
particulados emitidos pela empresa Satipel. Mais uma vez, a concentração espacial
qualitativamente negativa está na unidade do AF3.
Caminhar no terreno da qualidade é uma tarefa desafiadora, cuja principal
preocupação será a de evitar que a subjetividade, componente principal da ‘qualidade’,
comprometa os objetivos da pesquisa, que devem ser traçados, considerando as limitações
inerentes às pesquisas que tratam deste tema. A tarefa se torna mais ousada quando se associa
ao estudo da qualidade à percepção ambiental, que irá potencializar a carga de subjetividade
da pesquisa.
Diante deste fato, foi necessário comentar alguns resultados, alertando para esta
questão, como por exemplo, no estudo da satisfação com os espaços livres públicos, foi
ressaltado que os poucos índices de avaliação positiva e regular, podem ter sido
supervalorizados, ou seja, os espaços podem ter sido avaliados ‘positivo’ de forma
equivocada, pelo fato de no momento da enquête o morador ter associado os ‘espaços livres
públicos’ apenas às praças equipadas, desconsiderando um terreno baldio próximo à sua
residência considerado oficialmente como praça. Além disso, a percepção trata de incômodos
percebidos no nível imediato, domiciliar, portanto, uma poluição do ar poderá provocar
efeitos cumulativos na saúde do morador que só será percebido a longo prazo, não
significando uma impertinência no momento da pesquisa. Outro fator, já discutido, que
também distancia a percepção da realidade, é o fato do comodismo, adaptação e/ou costume
com uma situação insalubre que pelo tempo já não incomoda tanto, comparado com a
percepção de uma pessoa que visita o local esporadicamente. Na pesquisa isto ficou evidente,
também, no questionamento sobre a poluição do ar, onde alguns moradores reclamaram
apenas dos particulados emitidos pela empresa SATIPEL e a sujeira que dificulta o trabalho
doméstico, outros reclamavam também de seu odor característico.
146
Apesar da subjetividade o estudo da percepção ambiental forneceu dados reveladores e
que permitem orientar as tomadas de decisão visando mitigar as condições ambientais
degradantes.
Figuraram entre os dez problemas mais citados na pesquisa de campo, em ordem
crescente: drogas, segurança, asfalto, saúde, pontos de pagamento, desemprego, distância,
lixo, violência e transporte (tabela 5). Entre os problemas ligados diretamente ao ambiente
urbano, destacam-se: asfalto, lixo, lazer, praças, arborização, saneamento básico e habitação.
O local escolhido para a construção do Alfredo Freire é impróprio à habitação com um
mínimo de qualidade ambiental e de vida. Não obstante, colocam-se algumas sugestões que
não passam de medidas paliativas, dadas as condições histórico-geográficas do bairro, mas
que são urgentes e que vão de encontro às necessidades levantadas pelos moradores que
precisam ter respeitada sua dignidade. As cancias do bairro se devem, em parte, à omissão
e/ou negligência do Poder Público. Foi visto que a decisão de autorizar o loteamento foi uma
responsabilidade do Poder Público Municipal.
Sugestões gerais para o bairro Alfredo Freire:
- Limpeza urbana dos terrenos baldios com depósitos de lixo.
- Planejamento arbóreo, levando em consideração os aspectos ecológico, estético e de
lazer. Aumentar a quantidade de árvores que formam uma “cortina” diante da rodovia BR-050
e estende-la para todo o entorno do bairro nas suas faces leste e sul, incluindo o Alfredo Freire
3, visando mitigar a poluição do ar.
- Construção de praças nos locais previstos no projeto oficial do bairro.
- Equipar, manter e conservar as praças existentes.
- Apoiar as iniciativas de plantio orgânico de hortaliças, existentes em alguns locais no
bairro, naqueles terrenos desocupados que não cumprem a função social da propriedade.
- Promover a conservação das áreas de cobertura vegetal, onde existem espécies
nativas do Cerrado.
- Elaborar e executar um programa permanente de Educação Ambiental formal e não
formal, envolvendo instituições Públicas e organizações da sociedade civil, visando
sensibilizar a comunidade para as questões ambientais de seu bairro, estimulando o senso
crítico-participativo e a formação da cidadania.
Sugestões específicas para o Alfredo Freire 1.
- Dentre as sugestões citadas para o bairro, a de maior necessidade para o AF1 é a
limpeza e conservação dos terrenos baldios e a construção de novas praças, conservação e
manutenção daquelas existentes.
147
Sugestões específicas para o Alfredo Freire 2.
- Além de todas as sugestões para o bairro, figura como uma maior necessidade para o
AF2 o plantio de árvores, já que na maior parte das ruas deste setor não existem nenhuma
espécie arbórea. É importante também a construção de um espaço maior destinado ao lazer.
Sugestões específicas para o Alfredo Freire 3.
- Esta unidade da paisagem analisada encontra-se em fase inicial, é necessária uma
urbanização completa:
. Pavimentar as vias de acesso, de forma a permitir o trânsito de pedestres e veículos
(que não trafegam em determinados locais, onde a declividade, associada aos processos
erosivos impedem);
. Promover a arborização, já que não existem quase nenhuma espécie arbórea;
. Limpeza da maior parte de terrenos tomados pelo mato e/ou pelo lixo;
. Extinção de um ponto de depósito de entulhos, criado pelo Órgão Público Municipal,
que na prática constitui-se de depósito de resíduos de todos os tipos, inclusive doméstico,
atraindo as mais diversas pragas urbanas;
. Construção de praças;
. Construção de calçadas para pedestres;
. Projeto de uma “cortina” de árvores no entorno visando mitigar a poluição do ar.
Conforme foi dito inicialmente, não passam de medidas paliativas, já toda intervenção
não dará conta de resolver um problema que fora alertado por especialistas antes da
construção do bairro naquele local. No caso do AF3 a situação se complica diante da
precariedade e condições degradantes ambientais e de proximidade com as fontes poluidoras.
Neste caso seria mais viável a remoção dos poucos moradores que residem nestas condições,
para o AF2, que é menos denso que o AF1.
Após a elaboração dos quatro mapas, foram definidos os critérios para a elaboração do
mapa síntese geral da QAU. Inicialmente foram tomados os pesos atribuídos para cada
indicador por quadra e realizada a média simples. Constatou-se que, segundo este método,
haveria uma mascaração dos resultados, com uma supervalorização da avaliação positiva.
Tentando amenizar essa situação, houve uma reclassificação, onde a classe regular, foi
dividida em regular positiva e regular negativa. Ainda assim, pela percepção empírica do
pesquisador e pela realidade revelada pelos moradores os resultados ficaram distantes da
realidade, uma vez que, segundo este método, mais de 30% das quadras apresentaram uma
avaliação regular positiva e bom.
148
Decidiu-se então partir para o método da interpolação, onde os pesos da avaliação da
QAU foram acumulados por quadra. A avaliação foi graduada de 0 a 12, onde os pesos
considerados ideais seriam aqueles com o índice ‘0’, piorando, conforme o aumento do peso,
até no máximo ‘12’. O AF1S apresentou a maior parte das quadras com pesos de QAU na
primeira metade (0 a 6). O AF1N possui uma distribuição de quadras mais eqüitativa entre a
primeira e segunda metade. Já o AF3 se destaca na segunda metade, possuindo a maior parte
das quadras com uma avaliação da QAU mais negativa. Com isso, constatou-se que o método
da interpolação é mais fiel e confiável ao representar a percepção da Qualidade Ambiental
Urbana.
149
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154
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SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
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SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e Urbanização. 15 ed. São Paulo:
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<http://www.unfpa.org/swp/1999/chapter1bchart.htm> acesso em 07/04/2008.
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<http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=13379&Cr=population&Cr1=development
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. Disponível
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ANEXOS
O morador deve morar há mais de um ano na residencia. N. COD.
1INFORMAÇ
Õ
ES GERAI
S
6
INDICADORES DA QA
U
7
INFORMAÇ
Õ
ES COMPLEMENTARE
S
1.1 Nome 6.1 Tipo de poluição atmosférica Fonte (possível) 7.1 Voce acha importante a presença de
1.2 Tipo de moradia 1.3 sexo 6.1.2 0 - nenhum áreas verdes e arvores no bairro?
1.2.1
p
p
ria 1.3.1 masc 6.1.3 1 - um 7.1.1 sim 7.1.2 não 7.1.3 indiferente
1.2.2 alugada 1.3.2 fem 6.1.4 2 - dois
1.2.3 financiada 6.1.5 3 - tres ou mais 7.2 O que você faz nas horas vagas?
1.2.4 cedida
7.2.1 assiste TV 7.2.5 ócio
1.2.5 outra 6.2 Incidência de vetores (transm. doenç
a
Fonte (possível) 7.2.2 ativ. praças 7.2.6 pratica esporte
1.4 Idade 1.5 Estado Civil: 6.2.1 0 - não há
7.2.3 leitura 7.2.7 visita amigos
1.4.1 ate 18 anos 1.5.1 solt 6.2.2 1 - raramente
7.2.4 fica em casa 7.2.8 outro_______
1.4.2 18 a 30 anos 1.5.2 cas 6.2.3 2 - frequentemente
1.4.3 30 a 45 anos 1.5.3 viuvo 6.2.4 3 - sem
p
re 7.3 Como
é
se locomover de coletivo de seu
1.4.4 45 a 60 anos 1.5.4 divorc bairro para outras áreas do município?
1.4.5 > 60 1.5.5 outro 6.3 Incid
ê
ncia de vetores (anopheles) 7.3.1 Fácil 7.3.3 Difícil
1.6 O que lhe vem à mente quando falo em AF 6.3.1 0 - não há
7.3.2 Razoável 7.3.4 não usa
6.3.2 1 - raramente
6.3.3 2 - frequentemente 7.4 Tempo gasto por dia - ida e volta
6.3.4 3 - sempre (emprego ou escola):
1.7 Cite até dois aspectos positivos no bairro:
7.4.1 até 40 min 7.4.3 1 a 2 horas
6.4 Casos de dengue na família
7.4.2 até 1 hora 7.4.4 > 2 horas
6.4.1 0 nenhum
8
OPINI
ÃO
6.4.2 1 - um caso 8.1 Quem é o responsável pelos problemas
6.4.3 2 - dois casos existentes no bairro?
2
S
Ó
CIO ECON
Ô
MICO
:
6.4.4 3 - 3 ou mais casos 8.1.1 moradores
2.1 Profissão: 2.1.1 do lar 2.1.2 outra 8.1.2 governos
2.2 Alguém na familia trabalha no DI 6.5 Como você avalia a arborização na sua rua
8.1.3 os dois
2.2.1 SIM 2.2.2 NÃO 6.5.1 0 - ótima / boa 8.2 As obras do poder público atendem às
3
RENDA FAMILIA
R
6.5.2 1 - regular necessidades da população do bairro?
3.1 Até 1 salário mínimo <350,00 6.5.3 2 - ruim 8.2.1 Plenamente
3.2 1 a 2 salários mínimos 350,00 a 700,00 6.5.4 3 - péssima
8.2.2 Parcialmente
3.3 2 a 3 salários mínimos 700,00 a 1050,00 6.6 Como você avalia os espaços públicos de lazer do bairro
8.2.3 não atendem
3.4 3 a 4 salários mínimos 1050,00 a 1400,00 considerando: acessibilidade, arborização e equipamento
s
8.3 Qual sua opinião a respeito do DI 1
3.5 4 a 6 salários mínimos 1400,00 a 2100,00 6.6.1 0 - ótimo / bom
8.3.1
p
ositiva
3.6 6 a 8 salários mínimos 2100,00 a 2800,00 6.6.2 1 - re
g
ular 8.3.2 ne
g
ativa
3.7 8 a 10 salários mínimos 2800,00 a 3500,00 6.6.3 2 - ruim
8.3.3 não sabe
3.8 acima de 10 sal
á
rios m
í
nimos >3500,00 6.6.4 3 -
ssimo 8.4
G
ostaria de se mudar do bairro
?
5 CITE ATÉ 3 PROBLEMAS GRAVES DO AF. 6.7 Como você avalia o transporte coletivo
8.4.1 sim
5.1 alcoolismo 5.12 lixo 6.7.1 0 ótimo/bom 8.4.2 não
5.2 arborização 5.13 pobreza 6.7.2 1 regular 8.4.3 não sei
5.3 asfalto 5.14
p
ra
ç
as 6.7.3 2 ruim 8.5 Sente preconceito de moradores de outros
5.4
p
ontos
p
a
g
to 5.15
p
rostitui
ç
ão 6.7.4 3
ssimo 8.5.1 sim bairros
?
5.5 Desem
p
re
g
o 5.16
S
aneamento b
á
sico
4
E
SCO
LARIDAD
E
8.5.2 não
5.6 Dro
g
as 5.17 Saúde 4.1 Fundamental incom
p
leto 8.5.3 não sei
5.7 Educa
ç
ão 5.18 Se
g
uran
ç
a 4.2 Fundamental com
p
leto 9 Que nota de 1 a 10 vc dá ao AF?
5.8 Distância 5.19 telefone 4.3 Médio incom
p
leto OBSERVAÇÕES
5.9 habitação 5.20 transporte 4.4 Médio completo
5.10 iluminação 5.21 violência 4.5 Superior incompleto
5.11 lazer 5.22 Outros______________
_
4.6 Superior completo
156
ANEXO II
Tabela detalhada do indicador – Satisfação com os espaços públicos de lazer
Ordem
Questionários
Quadra
Média
Peso atribuído
Ordem
Questionários
Quadra
Média
Peso atribuído
1.1 6 B1 2,17 2
1.2 7 B2 0,57 1 1.1 4 A1 2,00 2
1.3 5 B3 0,80 1 1.2 4 A2 0,50 0
1.4 5 B4 0,40 0 1.3 4 A3 1,00 1
1.5 4 C1 1,00 1 1.4 4 A4 0,75 1
1.6 4 C2 1,50 1 1.5 4 A5 1,25 1
1.7 6 C3 1,67 2 1.6 4 A6 0,75 1
1.8 6 C4 0,67 1 1.7 3 A8 0,67 1
1.9 6 C5 1,17 1 1.8 5 A9 0,80 1
1.10 4 D1 2,00 2 1.9 4 A10 0,75 1
1.11 4 D3 1,25 1 1.10 4 A11 0,75 1
1.12 4 D4 0,50 0 1.11 4 A12 1,00 1
1.13 3 D6 0,67 1 1.12 4 A13 1,00 1
1.14 3 E1 2,33 3 1.13 1 K4 - 0
1.15 4 E2 1,75 2 1.14 2 K6 0,50 0
1.16 5 E3 1,20 1 1.15 3 K7 1,33 1
1.17 5 E4 0,80 1 1.16 2 K8 2,00 2
1.18 4 E5 1,25 1 1.17 3 K9 2,33 3
1.19 4 F1 1,00 1
ALFREDO FREIRE II
1.18 3 K10 2,67 3
1.20 4 F3 1,25 1
62
1.21 4 F4 1,00 1
1.22 4 F5 0,50 0
1.23 5 F6 0,60 1 1.1 4 L1 2,00 2
1.24 6 G1 1,50 1 1.2 2 L2 2,50 3
1.25 5 G2 0,60 1 1.3 3 L3 0,33 0
1.26 6 G3 0,83 1 1.4 2 L4 1,50 1
1.27 4 G4 1,25 1 1.5 2 L5 3,00 3
1.28 4 G5 1,00 1 1.6 2 L7 3,00 3
1.29 6 H2 2,00 2 1.7 2 L11 1,50 2
1.30 5 H3 1,20 1 1.8 3 M1 1,33 1
1.31 4 H4 1,50 1 1.9 3 M2 3,00 3
1.32 4 H5 1,00 1 1.10 3 M3 3,00 3
1.33 4 H6 1,00 1 1.11 3 M4 2,00 2
1.34 3 H7 0,67 1 1.12 2 M5 1,50 1
1.35 4 H9 1,50 1 1.13 1 M7 3,00 3
1.36 5 H11 1,40 1 1.14 2 N2 3,00 3
1.37 5 I1 1,60 2 1.15 1 N3 3,00 3
1.38 4 I2 0,75 1 1.16 1 N4 3,00 3
1.39 2 J1 0,50 0
ALFREDO FREIRE III
1.17 1 N5 3,00 3
1.40 4 J2 1,00 1
37
1.41 3 J3 0,67 1
1.42 3 J4 1,67 2
1.43 2 K1 0,50 0
1.44 3 K2 0,33 0
1.45 4 K3 1,75 2
1.46 4 K12 1,75 2
1.47 4 K13 1,75 2
ALFREDO FREIRE I
1.48 5 K14 2,20 2
209
157
ANEXO III
Tabela detalhada do indicador – Casos de dengue
Ordem
Questionários
Quadra
Média
Peso atribuído
Ordem
Questionários
Quadra
Média
Peso atribuído
1.1 6 B1 1 1 1.1 4 A1 0 0
1.2 7 B2 6 3 1.2 4 A2 1 1
1.3 5 B3 0 0 1.3 4 A3 1 1
1.4 5 B4 1 1 1.4 4 A4 0 0
1.5 4 C1 3 2 1.5 4 A5 3 2
1.6 4 C2 3 2 1.6 4 A6 0 0
1.7 6 C3 5 3 1.7 3 A8 1 1
1.8 6 C4 5 3 1.8 5 A9 0 0
1.9 6 C5 0 0 1.9 4 A10 2 2
1.10 4 D1 1 1 1.10 4 A11 2 2
1.11 4 D3 7 3 1.11 4 A12 1 1
1.12 4 D4 2 2 1.12 4 A13 3 2
1.13 3 D6 1 1 1.13 1 K4 0 0
1.14 3 E1 1 1 1.14 2 K6 1 1
1.15 4 E2 0 0 1.15 3 K7 0 0
1.16 5 E3 0 0 1.16 2 K8 1 1
1.17 5 E4 4 3 1.17 3 K9 0 0
1.18 4 E5 3 2 1.18 3 K10 0 0
1.19 4 F1 2 2
ALFREDO FREIRE II
62
1.20 4F3 22
1.21 4 F4 0 0 1.1 4 L1 1 1
1.22 4 F5 0 0 1.2 2 L2 1 1
1.23 5 F6 2 2 1.3 3 L3 4 3
1.24 6 G1 4 3 1.4 2 L4 0 0
1.25 5 G2 2 2 1.5 2 L5 0 0
1.26 6 G3 5 3 1.6 2 L7 0 0
1.27 4 G4 5 3 1.7 2 L11 2 2
1.28 4 G5 1 1 1.8 3 M1 0 0
1.29 6 H2 1 1 1.9 3 M2 0 0
1.30 5 H3 1 1 1.10 3 M3 0 0
1.31 4 H4 2 2 1.11 3 M4 1 1
1.32 4 H5 1 1 1.12 2 M5 0 0
1.33 4 H6 3 2 1.13 1 M7 0 0
1.34 3 H7 0 0 1.14 2 N2 0 0
1.35 4 H9 4 3 1.15 1 N3 1 1
1.36 5 H11 1 1 1.16 1 N4 0 0
1.37 5 I1 1 1
ALFREDO FREIRE III
1.17 1 N5 0 0
1.38 4 I2 2 2
37
1.39 2J1 11
1.40 4J2 32
1.41 3J3 00
1.42 3 J4 0 0
1.43 2 K1 0 0
1.44 3 K2 1 1
1.45 4 K3 1 1
1.46 4 K12 0 0
1.47 4 K13 3 2
ALFREDO FREIRE I
1.48 5 K14 5 3
209
158
ANEXO IV
Tabela detalhada do indicador – Poluição atmosférica
Ordem
Questionários
Quadra
Média
Peso atribuído
Ordem
Questionários
Quadra
Média
Peso atribuído
1.1 6
B1
0,17 - 1.1 4
A1
1,50 2,00
1.2 7
B2
0,57 1,00 1.2 4
A2
0,25 -
1.3 5
B3
0,20 - 1.3 4
A3
0,75 1,00
1.4 5
B4
0,60 1,00 1.4 4
A4
0,50 1,00
1.5 4
C1
0,75 1,00 1.5 4
A5
0,75 1,00
1.6 4
C2
1,25 1,00 1.6 4
A6
0,50 1,00
1.7 6
C3
0,17 - 1.7 3
A8
1,33 1,00
1.8 6
C4
0,83 1,00 1.8 5
A9
0,80 1,00
1.9 6
C5
1,00 1,00 1.9 4
A10
0,25 -
1.10 4
D1
0,75 1,00 1.10 4
A11
0,75 1,00
1.11 4
D3
1,25 1,00 1.11 4
A12
0,75 1,00
1.12 4
D4
0,50 1,00 1.12 4
A13
1,25 1,00
1.13 3
D6
1,33 1,00 1.13 1
K4
2,00 2,00
1.14 3
E1
0,33 - 1.14 2
K6
0,50 1,00
1.15 4
E2
1,00 1,00 1.15 3
K7
0,67 1,00
1.16 5
E3
1,00 1,00 1.16 2
K8
1,50 2,00
1.17 5
E4
1,00 1,00 1.17 3
K9
0,67 1,00
1.18 4
E5
0,50 1,00 1.18 3
K10
1,00 1,00
1.19 4
F1
1,25 1,00
ALFREDO FREIRE II
62
1.20 4
F3
0,75 1,00
1.21 4
F4
0,50 1,00
1.22 4
F5
1,50 2,00
1.23 5
F6
0,40 - 1.1 4
L1
1,00 1,00
1.24 6
G1
0,67 1,00 1.2 2
L2
2,00 2,00
1.25 5
G2
0,80 1,00 1.3 3
L3
1,33 1,00
1.26 6
G3
1,00 1,00 1.4 2
L4
2,00 2,00
1.27 4
G4
0,50 1,00 1.5 2
L5
2,00 2,00
1.28 4
G5
1,50 2,00 1.6 2
L7
1,00 1,00
1.29 6
H2
1,67 2,00 1.7 2
L11
1,50 2,00
1.30 5
H3
1,60 2,00 1.8 3
M1
0,67 1,00
1.31 4
H4
1,25 1,00 1.9 3
M2
0,33 -
1.32 4
H5
0,50 1,00 1.10 3
M3
1,33 1,00
1.33 4
H6
1,25 1,00 1.11 3
M4
0,67 1,00
1.34 3
H7
1,00 1,00 1.12 2
M5
1,50 2,00
1.35 4
H9
0,75 1,00 1.13 1
M7
1,00 1,00
1.36 5
H11
1,40 1,00 1.14 2
N2
3,00 3,00
1.37 5
I1
1,60 2,00 1.15 1
N3
3,00 3,00
1.38 4
I2
1,00 1,00 1.16 1
N4
3,00 3,00
1.39 2
J1
0,50 1,00
ALFREDO FREIRE III
1.17 1
N5
2,00 2,00
1.40 4
J2
0,25 -
37
1.41 3
J3
1,33 1,00
1.42 3
J4
1,33 1,00
1.43 2
K1
0,50 1,00
1.44 3
K2
1,67 2,00
1.45 4
K3
1,00 1,00
1.46 4
K12
-
1.47 4
K13
0,50 1,00
ALFREDO FREIRE I
1.48 5
K14
0,60 1,00
209
159
ANEXO V
Tabela detalhada do indicador – Pragas Urbanas
Ordem
Questionários
Quadra
Média
Peso atribuído
Ordem
Questionários
Quadra
Média
Peso atribuído
1.1 6 B1 1,67 2 1.1 4 A1 1,50 2
1.2 7 B2 1,00 1 1.2 4 A2 1,50 2
1.3 5 B3 2,20 2 1.3 4 A3 1,50 2
1.4 5 B4 1,20 1 1.4 4 A4 1,50 2
1.5 4 C1 1,00 1 1.5 4 A5 1,50 2
1.6 4 C2 1,25 1 1.6 4 A6 2,50 3
1.7 6 C3 1,50 2 1.7 3 A8 1,33 1
1.8 6 C4 1,50 2 1.8 5 A9 2,00 2
1.9 6 C5 0,50 1 1.9 4 A10 2,00 2
1.10 4 D1 0,75 1 1.10 4 A11 1,50 2
1.11 4 D3 1,75 2 1.11 4 A12 1,75 2
1.12 4 D4 0,25 0 1.12 4 A13 2,00 2
1.13 3 D6 1,67 2 1.13 1 K4 3,00 3
1.14 3 E1 - 0 1.14 2 K6 1,00 1
1.15 4 E2 1,25 1 1.15 3 K7 1,67 2
1.16 5 E3 2,20 2 1.16 2 K8 1,00 1
1.17 5 E4 2,40 2 1.17 3 K9 1,00 1
1.18 4 E5 2,75 3 1.18 3 K10 2,00 2
1.19 4 F1 1,75 2
ALFREDO FREIRE II
62
1.20 4 F3 2,00 2
1.21 4 F4 1,50 2 1.1 4 L1 2,75 3
1.22 4 F5 1,00 1 1.2 2 L2 1,50 2
1.23 5 F6 0,80 1 1.3 3 L3 3,00 3
1.24 6 G1 1,00 1 1.4 2 L4 1,50 2
1.25 5 G2 1,00 1 1.5 2 L5 2,50 3
1.26 6 G3 0,67 1 1.6 2 L7 2,50 3
1.27 4 G4 1,25 1 1.7 2 L11 2,00 2
1.28 4 G5 0,75 1 1.8 3 M1 1,00 1
1.29 6 H2 1,17 1 1.9 3 M2 1,67 2
1.30 5 H3 1,40 1 1.10 3 M3 2,00 2
1.31 4 H4 1,75 2 1.11 3 M4 1,33 1
1.32 4 H5 2,75 3 1.12 2 M5 2,50 3
1.33 4 H6 1,00 1 1.13 1 M7 3,00 3
1.34 3 H7 1,33 1 1.14 2 N2 3,00 3
1.35 4 H9 0,50 1 1.15 1 N3 3,00 3
1.36 5 H11 0,40 0 1.16 1 N4 3,00 3
1.37 5 I1 2,00 2
ALFREDO FREIRE III
1.17 1 N5 3,00 3
1.38 4 I2 1,00 1
37
1.39 2 J1 - 0
1.40 4 J2 0,75 1
1.41 3 J3 1,33 1
1.42 3 J4 1,00 1
1.43 2 K1 2,50 3
1.44 3 K2 2,67 3
1.45 4 K3 1,50 2
1.46 4 K12 2,50 3
1.47 4 K13 2,25 2
ALFREDO FREIRE I
1.48 5 K14 2,60 3
209
160
ANEXO VI - Qualidade Ambiental Urbana – Média Simples dos Indicadores
AR VETORES DENGUE PRAÇAS TOTAL MÉDIA
1
2J1
0,50 - 0,50 0,50
1,50
0,38
2
4D4
0,50 0,25 0,50 0,50
1,75
0,44
3
5F6
0,40 0,80 0,40 0,60
2,20
0,55
4
5B4
0,60 1,20 0,20 0,40
2,40
0,60
5
4A2
0,25 1,50 0,25 0,50
2,50
0,63
6
2K6
0,50 1,00 0,50 0,50
2,50
0,63
7
6C5
1,00 0,50 - 1,17
2,67
0,67
8
4A4
0,50 1,50 - 0,75
2,75
0,69
9
4J2
0,25 0,75 0,75 1,00
2,75
0,69
10
5G2
0,80 1,00 0,40 0,60
2,80
0,70
11
3H7
1,00 1,33 - 0,67
3,00
0,75
12
7B2
0,57 1,00 0,86 0,57
3,00
0,75
13
3E1
0,33 - 0,33 2,33
3,00
0,75
14
4F4
0,50 1,50 - 1,00
3,00
0,75
15
4F5
1,50 1,00 - 0,50
3,00
0,75
16
3M1
0,67 1,00 - 1,33
3,00
0,75
17
5B3
0,20 2,20 - 0,80
3,20
0,80
18
4I2
1,00 1,00 0,50 0,75
3,25
0,81
19
3J3
1,33 1,33 - 0,67
3,33
0,83
20
6G3
1,00 0,67 0,83 0,83
3,33
0,83
21
5H11
1,40 0,40 0,20 1,40
3,40
0,85
22
4A10
0,25 2,00 0,50 0,75
3,50
0,88
23
4A11
0,75 1,50 0,50 0,75
3,50
0,88
24
4A3
0,75 1,50 0,25 1,00
3,50
0,88
25
4C1
0,75 1,00 0,75 1,00
3,50
0,88
26
4G5
1,50 0,75 0,25 1,00
3,50
0,88
27
2K1
0,50 2,50 - 0,50
3,50
0,88
28
5A9
0,80 2,00 - 0,80
3,60
0,90
29
3A8
1,33 1,33 0,33 0,67
3,67
0,92
30
3K7
0,67 1,67 - 1,33
3,67
0,92
31
4A12
0,75 1,75 0,25 1,00
3,75
0,94
32
4A6
0,50 2,50 - 0,75
3,75
0,94
33
4D1
0,75 0,75 0,25 2,00
3,75
0,94
34
4H9
0,75 0,50 1,00 1,50
3,75
0,94
35
6G1
0,67 1,00 0,67 1,50
3,83
0,96
36
6C4
0,83 1,50 0,83 0,67
3,83
0,96
37
3D6
1,33 1,67 0,33 0,67
4,00
1,00
38
4E2
1,00 1,25 - 1,75
4,00
1,00
39
4H6
1,25 1,00 0,75 1,00
4,00
1,00
40
3J4
1,33 1,00 - 1,67
4,00
1,00
41
3K9
0,67 1,00 - 2,33
4,00
1,00
42
6B1
0,17 1,67 0,17 2,17
4,17
1,04
43
6C3
0,17 1,50 0,83 1,67
4,17
1,04
44
4A5
0,75 1,50 0,75 1,25
4,25
1,06
45
4G4
0,50 1,25 1,25 1,25
4,25
1,06
46
4K12
- 2,50 - 1,75
4,25
1,06
47
3M4
0,67 1,33 0,33 2,00
4,33
1,08
48
5E3
1,00 2,20 - 1,20
4,40
1,10
49
5H3
1,60 1,40 0,20 1,20
4,40
1,10
50
4F1
1,25 1,75 0,50 1,00
4,50
1,13
51
4F3
0,75 2,00 0,50 1,25
4,50
1,13
52
4H5
0,50 2,75 0,25 1,00
4,50
1,13
53
4K3
1,00 1,50 0,25 1,75
4,50
1,13
54
4C2
1,25 1,25 0,75 1,50
4,75
1,19
161
ANEXO VI - Qualidade Ambiental Urbana – Média Simples dos Indicadores
AR VETORES DENGUE PRAÇAS TOTAL MÉDIA
55
3K2
1,67 2,67 0,33 0,33
5,00
1,25
56
4A13
1,25 2,00 0,75 1,00
5,00
1,25
57
5E4
1,00 2,40 0,80 0,80
5,00
1,25
58
6H2
1,67 1,17 0,17 2,00
5,00
1,25
59
4H4
1,25 1,75 0,50 1,50
5,00
1,25
60
1K4
2,00 3,00 - -
5,00
1,25
61
2K8
1,50 1,00 0,50 2,00
5,00
1,25
62
2l4
2,00 1,50 - 1,50
5,00
1,25
63
3M2
0,33 1,67 - 3,00
5,00
1,25
64
4A1
1,50 1,50 0,25 2,00
5,25
1,31
65
4E5
0,50 2,75 0,75 1,25
5,25
1,31
66
4K13
0,50 2,25 0,75 1,75
5,25
1,31
67
5I1
1,60 2,00 0,20 1,60
5,40
1,35
68
2M5
1,50 2,50 - 1,50
5,50
1,38
69
3K10
1,00 2,00 - 2,67
5,67
1,42
70
3L3
1,33 3,00 1,33 0,33
6,00
1,50
71
4D3
1,25 1,75 1,75 1,25
6,00
1,50
72
4L1
1,00 2,75 0,25 2,00
6,00
1,50
73
2L 11
1,50 2,00 1,00 1,50
6,00
1,50
74
3M3
1,33 2,00 - 3,00
6,33
1,58
75
5K14
0,60 2,60 1,00 2,20
6,40
1,60
76
2L2
2,00 1,50 0,50 2,50
6,50
1,63
77
2L7
1,00 2,50 - 3,00
6,50
1,63
78
1M7
1,00 3,00 - 3,00
7,00
1,75
79
2L5
2,00 2,50 - 3,00
7,50
1,88
80
1N5
2,00 3,00 - 3,00
8,00
2,00
81
2N2
3,00 3,00 - 3,00
9,00
2,25
82
1N4
3,00 3,00 - 3,00
9,00
2,25
83
1N3
3,00 3,00 1,00 3,00
10,00
2,50
162
ANEXO VII - Qualidade Ambiental Urbana – Interpolação de Pesos
Pesos atribuídos
Ordem Quest. Quadra Dengue Pragas
Poluição
do ar Praças TOTAL
1 2 J1 1 0 1 0 2
2 4 A2 1 2 0 0 3
3 5 B3 0 2 0 1 3
4 5 B4 1 1 1 0 3
5 6 C5 0 1 1 1 3
6 4 D4 2 0 1 0 3
7 4 F5 0 1 2 0 3
8 5 H11 1 0 1 1 3
9 3 H7 0 1 1 1 3
10 3 J3 0 1 1 1 3
11 2 K6 1 1 1 0 3
12 3 M1 0 1 1 1 3
13 4 A4 0 2 1 1 4
14 3 A8 1 1 1 1 4
15 5 A9 0 2 1 1 4
16 3 E1 1 0 0 3 4
17 4 E2 0 1 1 2 4
18 5 E3 0 2 1 1 4
19 4 F4 0 2 1 1 4
20 5 F6 2 1 0 1 4
21 4 J2 2 1 0 1 4
22 3 J4 0 1 1 2 4
23 2 K1 0 3 1 0 4
24 3 K7 0 2 1 1 4
25 4 A10 2 2 0 1 5
26 4 A12 1 2 1 1 5
27 4 A3 1 2 1 1 5
28 4 A6 0 3 1 1 5
29 6 B1 1 2 0 2 5
30 4 C1 2 1 1 1 5
31 4 C2 2 1 1 1 5
32 4 D1 1 1 1 2 5
33 3 D6 1 2 1 1 5
34 5 G2 2 1 1 1 5
35 4 G5 1 1 2 1 5
36 5 H3 1 1 2 1 5
37 4 H6 2 1 1 1 5
38 4 I2 2 1 1 1 5
39 4 K12 0 3 2 5
40 1 K4 0 3 2 0 5
41 3 K9 0 1 1 3 5
42 2 l4 0 2 2 1 5
43 3 M2 0 2 0 3 5
44 3 M4 1 1 1 2 5
45 4 A1 0 2 2 2 6
46 4 A11 2 2 1 1 6
47 4 A13 2 2 1 1 6
48 4 A5 2 2 1 1 6
49 7 B2 3 1 1 1 6
50 4 F1 2 2 1 1 6
51 4 F3 2 2 1 1 6
52 6 G1 3 1 1 1 6
163
Anexo VII - Qualidade Ambiental Urbana – Interpolação de Pesos
53 6 G3 3 1 1 1 6
54 4 G4 3 1 1 1 6
55 6 H2 1 1 2 2 6
56 4 H4 2 2 1 1 6
57 4 H5 1 3 1 1 6
58 4 H9 3 1 1 1 6
59 3 K10 0 2 1 3 6
60 3 K2 1 3 2 0 6
61 4 K3 1 2 1 2 6
62 2 K8 1 1 2 2 6
63 3 M3 0 2 1 3 6
64 2 M5 0 3 2 1 6
65 6 C3 3 2 0 2 7
66 6 C4 3 2 1 1 7
67 4 D3 3 2 1 1 7
68 5 E4 3 2 1 1 7
69 4 E5 2 3 1 1 7
70 5 I1 1 2 2 2 7
71 4 K13 2 2 1 2 7
72 4 L 1 1 3 1 2 7
73 3 L3 3 3 1 0 7
74 2 L7 0 3 1 3 7
75 1 M7 0 3 1 3 7
76 2 L 11 2 2 2 2 8
77 2 L 2 1 2 2 3 8
78 2 L 5 0 3 2 3 8
79 1 N5 0 3 2 3 8
80 5 K14 3 3 1 2 9
81 2 N2 0 3 3 3 9
82 1 N4 0 3 3 3 9
83 1 N3 1 3 3 3 10
Pesos atribuídos
Ordem Quest. Quadra Dengue Pragas
Poluição
do ar Praças TOTAL
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