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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Deborah Gomes de Paula
Estratégias sócio-interacionais na construção da notícia jornalística
MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Deborah Gomes de Paula
Estratégias sócio-interacionais na construção da notícia jornalística
MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora como
exigência parcial para obtenção do título de MESTRE
em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, sob orientação da Profa. Dra.
Regina Célia Pagliuchi da Silveira
SÃO PAULO
2008
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Banca Examinadora
.....................................................................................................
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.....................................................................................................
À Profª. Drª. Regina Célia Pagliuchi da Silveira pelos
momentos tão importantes, com palavras sempre
sinceras, por toda fé, amor, entusiasmo e alegria pela
dedicação e cumplicidade e principalmente, por
acreditar em mais um projeto de ser humano.
Meus agradecimentos a Deus, que generosamente me deu de presente minha família, e
à vida, que permitiu que ficássemos sempre juntos, aprendendo a resiliência;
Aos meus irmãos que mesmo sem entenderem minhas escolhas, acreditaram nos meus
sonhos;
O conhecimento pode ser transformador, por isso agradeço a todos os meus
professores e mestres, por me guiarem na realização de um sonho, me proporcionando
um caminho pela ética;
À Profª. Drª. Doroti Maroldi Guimarães que propiciou meu resgate à vida acadêmica;
À Profª. Drª. Aparecida Regina Borges Sellan por se fazer sempre presente, inclusive
nos momentos felizes;
À Profª. Marisa Santanna Penna, que ao me enxergar, me fez ver o mundo;
À todas as pessoas, com quem tive o prazer de conviver e que inspiraram profunda
amizade como Anna Dantas, Dulce Alencar e especialmente Maria José Nélo, parceira
nos caminhos que ninguém caminha;
À Maria de Lourdes Scaglione pela paciência e carinho;
À Banca Examinadora pelas contribuições úteis e necessárias;
Aos colegas da Escola Estadual Guerra Junqueiro pelo apoio aos meus afastamentos;
À Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro;
Enfim, a todos, que deixaram marcas neste trabalho: a vocês minha profunda gratidão.
Estratégias sócio-interacionais na construção da notícia jornalística
Deborah Gomes de Paula
Esta Dissertação esta situada na área da Análise Crítica do Discurso, com vertente
sócio-cognitiva, e tem por objetivo geral contribuir com estudos críticos do discurso
jornalístico brasileiro. São objetivos específicos: 1. tratar da construção estratégica de
manchetes que encabeçam notícias jornalísticas; 2. analisar a construção da notícia a
partir dos textos-reduzidos: manchete, linha-fina e lead; 3. verificar como um
acontecimento noticioso pode ser transformado em escândalo; 4. apresentar uma
perspectiva para uma leitura de textos jornalísticos multimodais. A pesquisa realizada
esta delimitada aos textos-reduzidos da notícia, a saber: manchete, linha-fina e lead.
Entende-se que há uma inter-relação entre as categorias analíticas Sociedade,
Cognição e Discurso, pois cada uma se define pela outra. Tem-se por hipótese que há
estratégias sócio-interacionais que garantem a interação discursiva entre o jornal e seus
leitores. O material de análise foi coletado nos jornais paulistanos O Estado de S. Paulo,
Folha de S.Paulo, Jornal da Tarde, Diário de S.Paulo, Agora São Paulo, de forma a
selecionar os textos-reduzidos, tanto na Primeira Página quanto em diferentes cadernos.
O método de análise foi teórico-analítico para tratar dos segmentos selecionados e inter-
relacionados. Os resultados obtidos indicam que: 1) as estratégias apresentam uma
variável social, relativas às cognições sociais e as estratégias interacionais para a
construção da manchete foram de construção da manchete de informação, opinião e
sedução; 2) as diferentes construções da notícia foram analisadas pela coesão
seqüencial dos textos-reduzidos que propicia a progressão da notícia de forma a
construir o acontecimento jornalístico, conforme a ideologia do jornal; 3) o
acontecimento noticioso torna-se escândalo quando o que é privado na vida do
personagem do eixo narrativo torna-se público, por revelação; 4) a perspectiva para
tratar de textos jornalísticos multimodais apresenta uma inter-relação entre a seleção
dos componentes textuais multimodais e a cultura dos grupos sociais de leitores.
Conclui-se que as estratégias sócio-interacionais variam de acordo com o marco da
cognições do grupo de leitores construída no e pelo Discurso.
Palavras-chaves: discurso jornalístico; textos-reduzidos; estratégias sócio-interacionais.
Strategies social-interactions in the construction of journalistics news
Deborah Gomes de Paula
This Dissertation is situated on the Critical Analysis of the Discourse with a social-
cognitive shed. It has as a general objective to contribute for the criticals studies of
brazilian journalistic discourse. It has as specifics objectives: 1. to examine the
construction of headlines; 2. to analyse the construction of news on reduced-texts
(headlines, thin-lines and leads); 3. to verify how an news can be modify an scandal; 4.
to present an perspective for a reading of journalistics texts multimodals. The main goal
of research to examine reduced-texts (headlines, thin-lines and leads). It has an inter-
relation between analytics categories Society, Cognition and Discourse because each
one is defined by other. Has by hypothesis that the strategies of social-interactions
guarantee the discourse interaction between the newspaper and his readers. The
material of analysis was chosen from paulistanos journals O Estado de S. Paulo, Folha
de S.Paulo, Jornal da Tarde, Diário de S.Paulo e Agora São Paulo to select the reduced-
texts on “First Page” and on differents news items. The analysis procedure was theorical-
analytic, to the parts selected and inter-related. The obtained results indicate that:: 1) the
strategies presents a social variable in relation the socials cognitions by the interactions
strategies for construction of headlines: by information, opinion and seduction; 2) the
differents constructions of news analysed by sequencial cohesion of reduced-texts that
permits the progression of news to built the journalistics happened by ideology of
newspaper; 3) the news modified on a scandal when the private on character´s life in the
narrative way became public, by revelation; 4) the perspective by journalistics texts
multimodals presents a inter-relation between the selection of texts elements
multimodals and the cultural from social groups of readers. In conclusion, the strategies
social-interactions change by cognitions mark of readers group constructed on and by
Discourse.
Key-words: journalistics discourse; reduced-texts; strategies social-interactions.
Sumário
INTRODUÇÃO .......................................................................................................
CAPÍTULO 1 - O TEXTO JORNALÍSTICO E A LINGÜÍSTICA TEXTUAL ...........
1.1 a lingüística textual ............................................................................................
1.2 o texto-processo e as memórias .......................................................................
1.3 os esquemas mentais conceituais ....................................................................
1.4 o esquema textual da notícia ............................................................................
1.5 a variação lingüística e a enunciação ...............................................................
CAPÍTULO 2 - O TEXTO JORNALÍSTICO E A ANÁLISE DO DISCURSO ..........
2.1 a Análise do Discurso de linha francesa (AD) ..................................................
2.2 a Análise Crítica do Discurso (ACD) ................................................................
2.3 o discurso jornalístico .......................................................................................
CAPÍTULO 3 - RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÕES ................................
3.1 estratégias interacionais de construção da manchete ......................................
3.1.1 OESP - grupo social de conhecimentos mais específicos ......................
3.1.1.1 estratégia interacional para a construção da manchete informativa ...........
3.1.1.2 estratégia interacional para a construção da manchete opinativa ..............
3.1.1.3 estratégia interacional para a construção da manchete por sedução ........
3.1.1.4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da manchete .
3.1.2 FSP - grupo social de conhecimentos mais genéricos ............................
3.1.2.1 estratégia interacional para a construção da manchete informativa ...........
3.1.2.2 estratégia interacional para a construção da manchete opinativa ..............
3.1.2.3 estratégia interacional para a construção da manchete por sedução ........
3.1.2.4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da manchete .
3.1.3 JT - grupo social de conhecimentos enciclopédicos ...............................
3.1.3.1 estratégia interacional para a construção da manchete informativa ...........
3.1.3.2 estratégia interacional para a construção da manchete opinativa ..............
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3.1.3.3 estratégia interacional para a construção da manchete por sedução ........
3.1.3.4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da manchete..
3.1.4 DSP e AGSP - grupo social popular ...........................................................
3.1.4.1 estratégia interacional para construção da manchete informativa ..............
3.1.4.2 estratégia interacional para a construção da manchete opinativa ..............
3.1.4.3 estratégia interacional para a construção da manchete por sedução ........
3.1.4.4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da manchete .
3.2 estratégias de construção da notícia por textos-reduzidos ...............................
3.2.1 a construção da notícia no OESP .................................................................
3.2.2 a construção da notícia no FSP .................................................................
3.2.3 a construção da notícia no JT ........................................................................
3.2.4 a construção da notícia no DSP e AGSP ......................................................
3.3 a construção da notícia como escândalo ..........................................................
3.4 Perspectiva para a leitura de textos jornalísticos multimodais .................
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................
ANEXOS .................................................................................................................
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Introdução
Esta Dissertação está vinculada à linha de pesquisa Texto e discurso nas
modalidades oral e escrita do Programa de Estudos Pós Graduados em Língua
Portuguesa, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP.
Tem-se por tema as estratégias de construção das manchetes, linhas-finas e
leads de diferentes jornais paulistanos, para situar as formas de sedução que o discurso
jornalístico usa ao atrair seus leitores para a compra do jornal e à leitura de suas
notícias, a fim de que aceitem a opinião jornalística contida na notícia, construída para
eles.
Tem-se por objetivo geral contribuir com estudos críticos do discurso jornalístico
brasileiro.
Os objetivos específicos são:
1. tratar da construção estratégica de manchetes que encabeçam noticias
jornalísticas;
2. analisar a construção da noticia a partir dos textos-reduzidos: manchete, linha-
fina e lead;
3. verificar como um acontecimento noticioso pode ser transformado em
escândalo;
4. apresentar uma perspectiva para uma leitura de textos jornalísticos
multimodais.
2
Esta Dissertação se justifica, pois considera o discurso jornalístico além de sua
dimensão informativa, opinativo e subjetivo que, para obter sucesso em suas interações
comunicativas com seus leitores utiliza diferentes estratégias para transformar um fato
em acontecimento jornalístico. Assim, esta Dissertação busca identificar e descrever as
estratégias utilizadas pelo jornal-empresa na construção da opinião para o leitor.
Parte-se do pressuposto de que os discursos públicos, entre eles o jornalístico,
são institucionalizados. Todo contexto discursivo institucionalizado é definido por seus
participantes, funções e ações que são agrupados pelas categorias Poder, Controle e
Acesso (cf. van Dijk, 1997).
O discurso jornalístico é uma prática sócio-interacional responsável pela
construção das notícias e, para tanto, utiliza um conjunto de estratégias na construção
textual que, segundo o esquema textual proposto por van Dijk (1990), é definido pela
hierarquização de duas categorias textuais: Resumo e Relato, apresentadas como
textos-reduzidos (manchete, linha-fina e lead) e texto-expandido. Segundo o autor
(1997), como todo discurso institucionalizado, o discurso jornalístico de notícia define-se
por um contexto global, apresentado com as seguintes categorias discursivas: Poder,
Controle e Acesso.
Os participantes da categoria Poder são os donos do jornal-empresa que têm por
função tomar decisões, de forma a impor a sua ideologia empresarial. A categoria
Controle tem por participantes (repórteres, pauteiro, redatores e redator-chefe); a função
dos repórteres é atender às solicitações do pauteiro e suas ações objetivam encontrar e
trazer fatos, selecionados de modo a atender às categorias semânticas da notícia -
“Atualidade” e “Inusitado”. As redações das notícias são revisadas pelo redator-chefe, a
fim de garantir que a Ideologia do Poder do jornal-empresa esteja representada na
notícia redigida.
A categoria Acesso agrupa como participantes o diagramador, o paginador, o
revisor final, entre outros, que têm por função distribuir as notícias representadas em
língua no veículo jornal para que elas tenham Acesso ao público-leitor.
3
Logo, nenhuma notícia tem Acesso ao público, sem passar pelo Controle que
atende os objetivos, propósitos e interesses do Poder do jornal-empresa. Nesse sentido,
as formas de representar em língua, no texto-produto noticioso, são controladas pelo
Poder, embora, de acordo com as orientações do Manual de Redação da Folha de
S.Paulo (2006:88), a notícia é tratada como “puro registro dos fatos, sem opinião”. A
exatidão é elemento-chave da notícia, mas vários fatos descritos com exatidão podem
ser justapostos de maneira tendenciosa. Suprimir ou inserir uma informação no texto
pode alterar o significado avaliativo da notícia.
Segundo esse Manual de Redação (idem: 45),
“O público-leitor é quem sustenta, em última análise, o jornal. Faz parte da filosofia
editorial da Folha de S.Paulo poupar trabalho a seu leitor. Quanto mais trabalho tiver o
jornalista para elaborar as reportagens, menos trabalho terá o leitor para entender o que o
jornalista pretende comunicar”.
Nesse sentido, considera-se que a pratica social do discurso jornalístico objetiva
a construção da opinião pública. Logo, pressupõe-se que um mesmo fato noticioso é
construído por formas de representação diferentes que conflituam de jornal para jornal.
Assim, tem-se por hipótese que há estratégias sócio-interacionais que garantem
a interação discursiva entre o jornal e seus leitores. Essas são aplicadas na construção
enunciativa da manchete, linha-fina e lead, agrupados na categoria textual da notícia:
Resumo.
A pesquisa realizada está fundamentada na Análise Crítica do Discurso (ACD),
com vertente sócio-cognitiva. Embora haja diferentes vertentes, conforme Fairclough e
Wodak (1997), a ACD está vinculada à Escola de Frankfurt que tem, por tradição, a
palavra crítica adjetivando suas análises. Dessa forma, a ACD objetiva denunciar, com
suas análises críticas do discurso, o domínio da mente das pessoas, pelos discursos
institucionalizados. O pressuposto básico que orienta as análises é uma inter-relação
entre o individual e o social. O social guia o individual, mas este, progressivamente,
muda o social, de forma dialética.
4
A vertente sócio-cognitiva da ACD tem como seu maior representante van Dijk
que, em 1997, postula a existência de três categorias analíticas para a ACD. Estas
mantém entre si, uma inter-relação, na medida em que uma se define pela outra; a
saber: Sociedade, Cognição e Discurso.
A categoria Sociedade compreende um conjunto de grupos sociais que agrupam
pessoas em cada grupo, a partir de suas cognições sociais. Cada grupo social tem o
mesmo marco de cognições sociais, e é construído pela projeção de um ponto de vista
coletivo no que ocorre, realmente, no mundo. Cada ponto de vista decorre dos objetivos,
interesses e propósitos compartilhados entre os membros do grupo.
A categoria Cognição abarca o conjunto de formas de conhecimentos sociais,
sendo esses conhecimentos avaliativos, os quais compõem o marco das cognições de
cada grupo social. As formas de conhecimento são representações mentais do vivido e
do experienciado pelo grupo. As Cognições sociais são dispostas em diferentes
sistemas, entre eles, os conhecimentos de língua, os conhecimentos de mundo e os
conhecimentos interacionais. Como cada grupo social tem seu próprio marco de
cognições sociais, os grupos estão em constante conflitos entre si. Todavia, os
conhecimentos institucionalizados por discursos públicos são extra-grupais, na medida
em que são impostos a um grande número de grupos, através de diferentes instituições
sociais.
A categoria Discurso agrupa, segundo a interação social comunicativa, as
práticas discursivas. Devido à inter-relação entre as categorias Sociedade, Cognição e
Discurso, entende-se que as formas sociais de conhecimento são construídas no e pelo
discurso, por meio da formulação de seus textos.
O procedimento metodológico aplicado a esta Dissertação é teórico-analítico,
orientado pela inter-relação das categorias analíticas Sociedade, Cognição e Discurso.
O material coletado foi selecionado em Primeiras Páginas de diferentes cadernos de
jornais paulistanos e está delimitado a textos-reduzidos. Dessa forma, tem-se por critério
de seleção a diagramação das notícias nas páginas de cada jornal. Desse modo:
5
1. os textos-reduzidos selecionados são relativos à construção de acontecimentos
jornalísticos, tematizados por: o referendo de armas de fogo, o escândalo do
mensalão, o 3º ataque do PCC, a visita do Papa ao Brasil, a absolvição de Renan
Calheiros pelo Senado, entre outros acontecimentos jornalísticos que se fizeram
necessários para a confirmação dos resultados obtidos;
2. a coleta do material teve por critério os textos-reduzidos das noticias, publicadas
no período de 2005 a 2007, nos seguintes jornais paulistanos: Folha de S. Paulo
(FSP), Jornal da Tarde (JT), O Estado de S. Paulo (OESP), Agora São Paulo
(AGSP), Diário de S. Paulo (DSP). Dos 220 exemplares jornalísticos foi retirado
um conjunto de setenta e uma manchetes, linhas-finas e leads, com seus
respectivos textos de notícias. O critério de seleção foi a construção enunciativa
do texto-reduzido e do texto-expandido de cada notícia, na medida em que os
enunciados foram selecionados de acordo com os marcos das cognições sociais
dos grupos de leitores de cada jornal ;
3. as análises seguiram a linearidade das expressões lingüísticas, tendo por critério
a expansão semântica que ocorre da manchete à linha-fina e lead da notícia;
4. a identificação das estratégias utilizadas serviram para verificar a construção do
acontecimento jornalístico e a interação sócio-cognitiva com o leitor.
Em síntese, a investigação realizada busca responder: quais estratégias
jornalísticas são utilizadas para obter a interação comunicativa com o público-leitor?
Esta Dissertação está organizada em três capítulos, a saber:
Capítulo IO texto jornalístico e a Linguística Textual. Este capítulo
apresenta os pressupostos teóricos que orientaram as análises e que são relativos à
Lingüística de Texto.
Capítulo II – O texto jornalístico e a Análise do Discurso. Este capítulo
apresenta um conjunto de resultados a respeito do discurso jornalístico pela Análise
Crítica do Discurso.
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Capítulo IIIResultados Obtidos e Discussões. Este capítulo apresenta a
classificação dos resultados obtidos e suas discussões.
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Capítulo 1
O texto jornalístico e a Lingüística Textual
Este capítulo apresenta uma revisão de fundamentos da Lingüística Textual
focalizando estudos relativos ao texto-processo e as memórias, os esquemas mentais
conceituais e o esquema textual da notícia. Apresenta também estudos relativos à
variação lingüística e a enunciação devido à construção enunciativa da notícia.
A Lingüística Textual instaura-se na década de 70 do século XX e tem por
objetivo tratar da boa formação de um texto. Os estudos realizados propiciaram
diferenciar texto-produto de texto-processo.
O texto-produto tem natureza lingüística e é resultado da enunciação, de modo a
representar em língua os conteúdos da interação comunicativa. O texto-processo tem
natureza cognitiva e é construído na Memória de Trabalho, e recorre à Memória de
Curto Prazo e à Memória de Longo Prazo, recursivamente.
Van Dijk (1978) e Van Dijk e Kintsch (1975, 1983) buscam verificar como ocorre a
formação de um texto. Os resultados obtidos de sua investigação possibilitaram
diferenciar: micro, macro e superestrutura.
Em uma visão mais ampla, os estudos textuais estão voltados ao processamento
cognitivo do texto, em termos de: produção e compreensão; representação do
conhecimento na memória; sistemas de conhecimento postos em ação, por ocasião do
processamento; estratégias sócio-cognitivas e interacionais nele envolvidas.
Esses estudos, juntamente com outros voltados para a enunciação do texto-
produto, vêm ocupando o centro dos interesses de diversos estudiosos, como
8
Beaugrande e Dressler (1973), Kintsch (1975, 1983) e van Dijk (1978,1983,1997), entre
outros, contribuindo com os estudos da Lingüística Textual e abrindo novos caminhos
para a análise do discurso.
Segundo as tendências atuais, na Lingüística Textual, o texto é um evento
comunicativo para o qual convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais e não
apenas seqüências de palavras faladas ou escritas. Assim, a construção do texto, se dá
por meio de um sistema de conexões entre vários elementos: sons, palavras,
significados, participantes, ações etc. É um multissistema cujas unidades são
multifuncionais, pois, uma palavra, uma seqüência de sons/letras, pedaço de frase são
instruções para se construir sentidos.
Sendo assim, o texto-produto é resultado de escolhas reais de um sujeito, inter-
conectadas entre si de forma e representar em língua o texto-processo, relativo à
construção dos sentidos.
1.1 a lingüística textual
A Lingüística Textual tem suas origens nas gramáticas de texto que foram
construídas na década de 60, do século XX. Segundo os gramáticos de texto, há uma
competência textual que é definida por uma gramática, construída por regras que dão
conta de: 1. a noção de completude de um texto, ou seja, porque o interlocutor sabe
reconhecer se um texto está completo ou interrompido; 2. como as palavras e frases de
um texto mantém relações correferênciais e relacionais entre si, de forma coesiva; 3.
como um leitor é capaz de ler um texto, resumi-lo, dar para ele um título, ou, ainda, a
partir de um título, o locutor produzir um texto; 4. dar conta de diferenciar tipos de textos,
por regras esquemáticas.
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A noção de competência textual é construída por um conjunto de conhecimentos
armazenados na memória de um produtor textual, seja ele, redator ou leitor.
Em geral, os gramáticos de texto tiveram formação gerativista e, por essa razão
mantiveram a Teoria dos Componentes (da base, transformacional e de
superficialização), embora tenham saído do limite da frase para a dimensão do texto. Os
estudos realizados pelos gramáticos de texto seguiram duas direções: do texto
enunciado para o texto processado ou do texto processado para o texto enunciado.
A interdisciplinaridade com as Ciências da Cognição, principalmente com a
Psicologia da Memória, propiciaram o desenvolvimento dos estudos dos gramáticos de
texto. Eles verificaram que não há regras ordenadas de uma competência textual para a
construção dos sentidos, pois nenhum texto tem os mesmos sentidos em leituras
diferentes produzidas, seja pelo mesmo leitor seja por leitores diferentes.
Nesse momento, nasce a Lingüística Textual que postula a boa formação de um
texto por estratégias cognitivas e retóricas de produção e não por regras ordenadas. As
estratégias, para os estudiosos da Lingüística textual, são aprendidas e delas resulta o
sucesso da interação comunicativa.
Segundo Kintsch e van Dijk (1983), o termo estratégia tem uma zona de
similitude com o emprego da designação lexical “estratégia” nas atividades militares,
nelas, a estratégia compreende uma ação que objetiva o sucesso de quem planeja um
enfrentamento militar. Dessa forma, a estratégia pode ser planejada antes do
enfrentamento ou construída durante o enfrentamento, a fim de resolver um problema
novo.
Ao analisar o percurso do indivíduo em sociedade, os gramáticos de texto, que já
haviam seguido as orientações do texto-produto para o texto-processo ou do texto-
processo para o texto-produto verificaram a pluralidade dos discursos sociais, o que
exigiu a seleção de um modelo que abrangesse as memórias humanas.
10
Assim, os lingüistas de texto selecionaram o modelo de memória por armazéns
(cf. Atkhinson, 1975) e a Teoria dos Esquemas (Bartlet, 1932) que trata do texto-produto
situado na fala e mantêm relações diretas em seus estudos com a Teoria da
Enunciação, ao considerar sujeito, subjetividade e intenções.
1.2 o texto-processo e as memórias
O texto-processo tem natureza cognitiva e é construído na Memória de Trabalho,
de forma a recorrer à Memória de Curto Prazo e à Memória de Longo Prazo,
recursivamente. O texto-processo está situado na inter-relação das diferentes memórias
humanas.
De forma geral, os estudos textuais voltados ao processamento cognitivo do
texto, mostram que entender a formação das memórias significa entender a própria
identidade, ou seja, somos resultado daquilo que aprendemos e lembramos.
Assim, o texto-produto é resultado de um processo de escolhas reais motivadas
por preferências e valores em resposta a perguntas que o mundo faz ou com base nas
possibilidades que ele apresenta. As opções oferecidas influenciam não apenas o
resultado das escolhas, mas também a forma como ocorre a avaliação.
A noção de competência textual é construída como um conjunto de
conhecimentos armazenados na memória de um produtor textual, seja ele redator ou
leitor.
11
Segundo a Teoria da Memória por armazéns, é necessário distinguir: memória
sensorial, memória de curto prazo, memória de trabalho, memória de médio prazo e
memória de longo prazo.
A Memória Sensorial dá entrada à informação levando-a para a Memória de
Trabalho.
Por se tratar de uma Memória Sensorial, a entrada é realizada com a informação
estruturada em algum código semiótico que é captado por um dos sentidos humanos.
No caso da informação lingüística os sentidos captadores são a audição e a visão, para
uma interação comunicativa normal.
A Memória Sensorial é quantitativa para dar entrada às seqüências de palavras e
frases de um texto-produto, a fim de possibilitar a produção de sentidos por um
interlocutor. A quantidade de informação que a Memória Sensorial retém é medida por
um chunk. Quando o chunk está lotado, a informação que vinha entrando fica perdida.
Para tanto, é necessário que o chunk seja esvaziado para que não haja perda de novas
entradas. Dessa forma, a Memória de Trabalho processa a informação contida no
chunk, esvaziando-o de forma recursiva.
Nesse sentido, a capacidade de armazenagem das informações é limitada pois
se identifica com a Memória de Curto Prazo, também chamada de Memória de
Trabalho.
O processamento é realizado, a partir de inferências e explicitações de implícitos,
de forma a transformar as palavras e frases, construídas em língua, em unidade de
sentidos, designadas proposições.
Os sentidos menores, microproposições, são produzidos pelo leitor e
compreendem um n-túplos de proposições, pois dependem das estratégias conhecidas
e usadas pelo leitor. Um leitor imaturo, produz um número muito baixo de
microproposições, ao passo que um leitor maduro, produz um número muito alto delas.
12
As microproposições são produzidas seguindo a orientação do que está representado
em língua, no texto-produto.
A Memória de Trabalho, para produzir as proposições, estrategicamente recorre à
Memória de Longo Prazo que mantém as formas de conhecimento armazenadas em
dois grandes armazéns: 1) social, também chamado de memória semântica, e 2)
individual, também chamado de memória episódica.
O armazém social guarda as formas de conhecimento construídas no e pelo
discurso em sociedade, principalmente os discursos institucionalizados. O armazém
individual guarda as formas de conhecimento construídas a partir de experiências
pessoais com o mundo.
Tanto o armazém social quanto o individual da Memória de Longo Prazo são
construídos organizadamente por sistemas de conhecimentos. De modo geral, os
sistemas mais tratados são o de língua, o de conhecimentos de mundo, sendo, o
enciclopédico e os interacionais.
Na Memória de Trabalho, cada palavra, seqüência de palavras, frases e
seqüências de frases são transformadas em proposições de forma expansiva. A
Memória de Médio Prazo vai armazenando a expansão das proposições para que a
Memória de Trabalho, recursivamente expanda os sentidos secundários e reduza em
sentidos mais globais, constituindo as macroproposições.
Dessa forma, o texto-processo segundo Kintsch e van Dijk (1983), é definido por:
base de texto, microestrutura, macroestrutura e superestrutura.
A base de texto é semântica e compreende um n-túplos de proposições que
estão armazenadas na Memória de Médio Prazo e produzidas na Memória de Trabalho.
A microestrutura é construída pela ordenação expansiva das microproposições, a partir
das seqüências de palavras e frases do texto-produto, de forma a construir a coesão do
texto. A macroestrutura compreende um conjunto das macroproposições, ou seja, os
sentidos mais globais do texto, construídos pela transformação redutora de várias
13
microproposições em uma macroproposição. O conjunto das macroproposições constrói
o sentido mais global de um texto em sua completude, de forma a produzir a coerência
do texto, pelo princípio da interpretabilidade (cf.Koch e Travaglia, 1989).
As notícias jornalísticas nos revelam o cotidiano e a noção de territorialidade, pois
elas definem o espaço urbano e cultural. As representações desses espaços são
sistemas de normas, de regras, que buscam não só explicar a realidade, bem como,
regular o comportamento dos indivíduos. Esses sistemas são sociais, já que articulados
por classes sociais reúnem valores que constroem o mundo, ao categorizá-lo.
Esses sistemas sociais são formados por grupamentos de imagens verbais e
não-verbais, das coisas e dos indivíduos e criados por uma ideologia dominante,
sustentam-se graças às instituições - como escola, família, religião - e aos meios de
comunicação de massa.
Esses sistemas, internalizados como verdades universais e não como crenças
criadas pelo indivíduo, representam interesses políticos e econômicos dominantes em
uma época em sua contemporaneidade.
Assim, as formações ideológicas guiam o comportamento em sociedade, ao ditar
o que pensar, o que sentir, o que fazer, governam os discursos, onde se materializam
por meio dos textos-produto (natureza verbal) e também dos textos-processo (natureza
mental), não apenas do recorte temático e figurativo do mundo, mas também pelo modo
de usar temas e figuras. O individual influencia o social e é guiado por ele a partir de
eventos discursivos particulares.
O indivíduo em sociedade constrói seu conhecimento humano de natureza
memorial a partir do que é vivenciado no mundo, definindo representações-mentais-tipo.
Os estudos sobre a memória tiveram maior destaque a partir das descobertas
tecnológicas na área da informação e da inteligência artificial, na medida em que
estabelece relação de analogia entre o cérebro humano e o computador.
14
De acordo com Kintsch e van Dijk (1975), estudiosos da memória humana por
armazéns, existem diferentes memórias que atuam na construção da representação
mental.
São elas: a Memória de Longo Prazo, que armazena conhecimentos sociais e
individuais, já adquiridos, em memória social e memória individual.
A memória social se constitui pelos conhecimentos adquiridos pela interação
entre o individual e a sociedade. Essa interação ocorre a partir de um ponto de vista,
pois cada indivíduo observa o mundo por meio dos conhecimentos adquiridos na
interação social.
Os conhecimentos sociais são constituídos por três sistemas: o lingüístico
(conhecimento da língua e de seus usos); o enciclopédico (conhecimento de mundo,
saber prévio) e o interacional (atos de linguagem e normas de interação comunicativa).
Assim, a esse conjunto de conhecimentos adquiridos na interação chamamos de
Marco de Cognições Sociais, na medida em que cada indivíduo conhece vários marcos
de cognições sociais na interação com outros grupos.
O indivíduo pertence a um grupo social específico, apesar de ter vários marcos
de cognições sociais, pois a participação em um grupo social se dá por meio de um
processo histórico e simbólico.
A Memória de Curto Prazo é sensorial, de natureza quantitativa e controlada por
uma unidade de memorização, chunk. Esse termo se refere a um processo de saturação
da memória, considerando que, se a unidade memorial ficar lotada de informações,
algumas dessas informações serão canceladas.
Assim, na Memória de Curto Prazo, é necessário um processamento recursivo da
informação até que seja possível processá-la na Memória de Trabalho, para, a partir daí,
serem construídas as representações mentais-ocorrentes; isto é, interacionar
conhecimentos novos com os conhecimentos já armazenados na Memória de Longo
Prazo, produzindo novas significações à informação processada.
15
No processamento da informação nova, os conhecimentos já sedimentados são
ativados como Marco das Cognições Sociais, para se prestar à construção de novos
conhecimentos, por meio de contextos cognitivos que podem ser mudados dependendo
de momentos históricos diferentes.
Os conhecimentos individuais fazem parte da Memória de Longo Prazo, onde as
experiências pessoais com o mundo estão armazenadas em um outro armazém, que
também se estrutura em três sistemas: o lingüístico, conhecimentos de mundo e o
interacional.
1.3 os esquemas mentais conceituais
Segundo Bartlet (1932), as formas de conhecimento humanas não são aleatórias,
mas construídas por esquemas mentais organizados. Os esquemas mentais são
relativos a conhecimentos declarativos, a planos, a estratégias, a acontecimentos, a
ações etc.
Um esquema mental pode ser exemplificado por um conhecimento declarativo,
ou seja, por uma seqüência de ações explicitadas de forma ordenada no tempo: um
script. Logo, um script é definido como uma seqüência de ações situadas em uma
relação de tempo anterior e tempo posterior. Estas ações são expressas por sentidos
secundários. O sentido mais global de um script é designado frame.
No processamento da informação, os conhecimentos são construídos de forma
organizada, ou seja, existe uma construção hierárquica dos sentidos formalizados a
partir de um frame.
Segundo Van Dijk (1992), frame é um esquema mental que contém o sentido
mais global, atribuído a alguém ou alguma coisa.
16
A partir do sentido mais global, se organizam os sentidos secundários
construídos a partir da sequenciação dos participantes e suas ações, cronologicamente.
Assim, script, para o autor, são seqüências de ações a partir de um modelo contextual
que pode ser verbais ou não-verbais, que tem relação com o ponto de vista, ou seja, é
de natureza avaliativa.
De acordo com a visão sócio-cognitiva, Van Dijk (1997b) os conhecimentos
avaliativos são opiniões e quando são públicos constituem a doxa (opinião pública). O
conhecimento avaliativo decorre de crenças e valores.
A opinião é construída a partir do marco de cognições sociais porque resulta do
ponto de vista do qual se focaliza o mundo.
No processo de avaliação de alguém ou alguma coisa, o ponto de partida é o
conhecimento prévio do objeto/referente que se quer avaliar, ou seja, avalia-se por meio
de inferências determinadas pelo ponto de vista.
O conhecimento prévio é referente a experiências pessoais, e também sociais, do
marco de cognições sociais do grupo a que se pertence; assim, envolve crenças e
valores partilhados pelo grupo social onde se fixou o marco de cognições sociais.
As pessoas que pertencem ao mesmo grupo social têm o mesmo ponto de vista,
objetivos, propósitos e intenções. O ponto de vista varia de acordo com esses mesmos
objetivos, propósitos e intenções. Nesse sentido, os grupos sociais estão em
permanente conflito intra e extra-grupo, em razão dos marcos de cognições diferentes
entre si e entre os grupos.
De acordo com os pressupostos cognitivos postulados por Van Dijk (2004:14), as
pessoas que têm compreensão de acontecimentos reais ou eventos discursivos são
capazes de construir uma representação mental, principalmente uma representação
mental significativa, somente se tiverem um conhecimento mais geral a respeito de tais
acontecimentos.
17
Para tanto, elas devem dispor de conhecimentos adquiridos por meio de
experiências prévias.
Dessa forma, compreender envolve o processamento e a interpretação de
informações exteriores e também a ativação e uso de informações internas, cognitivas.
Segundo Silveira (2000), Marco de Cognição Social é um conjunto de
conhecimentos que estabelecem parâmetros avaliativos para os seres e suas ações no
mundo, de forma a guiar desejos e decisões dos membros de cada grupo social. Tal
marco é constituído em razão da interação no grupo social, determina os papéis a
serem representados no grupo, sendo esses reconhecidos no grupo e pelo grupo.
A construção do marco das cognições sociais ocorre a partir do que é
contemporaneamente vivenciado, modificando a experiência do já vivido anteriormente.
Dessa forma, o papel social é determinado pelo marco de cognição social dos grupos,
como unidade, como guia social, estabelecendo um sentido de permanência que se
transforma pelo marco de cognição social modificado. Essa modificação do marco de
cognição social está relacionada a raízes históricas sendo assim, provérbios, máximas e
aforismos são utilizados, nesta Dissertação, para delimitar o contexto dos enunciados
nos textos selecionados, atualizados por meio de novas seleções lexicais.
Para tanto, alguns textos selecionados têm características comuns aos
provérbios, máximas e aforismos, pois, geralmente, são textos curtos, diretos, que
indicam o sentido de maneira breve e incisiva, mais especialmente, as máximas se
referem a valor social, ou seja, a opinião social. Já o aforismo são opiniões pessoais que
podem ser contestadas; representam o indivíduo refletindo e interferindo no social e o
social interferindo no individual.
Dessa forma, os lingüistas de texto tratam dos esquemas mentais categorizados
em três sistemas de conhecimentos: de língua, de mundo e de interação sócio-
comunicativa. O sistema de conhecimentos de língua compreende o uso de formas
lingüísticas lexicais e gramaticais e que são relativas aos diferentes grupos sociais. Tais
usos são designados, pela sócio-lingüística, variedades lingüísticas. Cada variedade é
18
definida por um conjunto de suas variações de uso. Dessa forma, é possível que o
interlocutor seja capaz de ativar seus conhecimentos de língua da Memória de Longo
Prazo, de reconhecer se o locutor é de um grupo de baixo nível de escolaridade, devido
ao uso da variedade nativa, ou de alto nível de escolaridade, pelo uso da variedade
padrão normativa.
Os conhecimentos de mundo são também chamados conhecimentos
enciclopédicos e são construídos pelo guia cultural e ideológico dos grupos sociais. Os
conhecimentos enciclopédicos são definidos como conhecimentos de mundo
construídos por pontos de vista diferentes sendo que, cada ponto de vista é guiado por
objetivos, interesses e propósitos específicos de uma reunião de pessoas que
constroem um determinado contexto sócio-cognitivo.
Os conhecimentos interacionais compreendem esquemas mentais que abarcam
as relações sócio-discursivas entre os interlocutores. Tais esquemas são relativos a
macro atos de fala que se definem respectivamente por seus micro atos de fala, de
forma a possibilitar que o interlocutor reconheça se o locutor quer ameaçá-lo, seduzi-lo,
ou dominá-lo. Além dos macro atos de fala, os esquemas interacionais são organizados
por máximas conversacionais, contextos globais e locais discursivos, superestruturas
textuais etc.
1.4 o esquema textual da notícia
Van Dijk (1990) trata da compreensão, estrutura e produção da informação na
organização textual da notícia como tipo de texto característico do discurso jornalístico.
O esquema textual da notícia é tratado pelo autor como uma superestrutura que está
armazenada no sistema de esquemas interacionais da memória social como um
discurso publico institucionalizado.
19
Uma superestrutura é definida por van Dijk como um esquema vazio de
informação formado por categorias e regras de ordenação. Cada categoria é um
princípio de classificação para agrupar a produção de sentidos secundários e globais
construídos pela Memória de Trabalho, de forma a facilitar, para aqueles que têm
conhecimento de tal estrutura a compreensão discursiva.
A noção de superestrutura de van Dijk é hierárquica, ou seja, há categorias mais
altas que agrupam categorias intermediárias sendo que cada uma delas agrupa outras
categorias até chegar às inferiores que são mais baixas. A seguir apresenta-se a
superestrutura da notícia proposta por van Dijk (1990:86):
Notícia
Resumo Relato
Manchete Lead Situação Comentários
Episódio Antecedente Reações Verbais Conclusões
Acontecimentos Conseqüências
Principais
Contexto Historia
Circunstâncias Acontecimentos Prévios Expectativas Avaliações
20
Como se pode verificar pelo esquema textual da notícia formulado por Van Dijk
(1990:86), há uma hierarquia para se visualizar as categorias do esquema textual da
notícia. Na leitura do esquema visualizado, as categorias mais altas são Resumo e
Relato Noticioso, ordenadas nessa seqüência.
A categoria Resumo agrupa a manchete e o lead, no modelo de van Dijk, no
Brasil também compreende a linha-fina. A categoria Resumo agrupa palavras e frases
no texto-produto que expressam os sentidos mais globais que a empresa jornal quer
que o leitor construa para si. Dessa forma, a categoria Resumo é estratégica para a
construção da opinião pública. A categoria Manchete busca uma interação sócio-
comunicativa com o auditório de leitores de um jornal. Trata-se de uma estratégia
retórica que busca chamar a atenção do leitor para querer ler a noticia.
A linha-fina dos jornais brasileiros situa a notícia enquanto fato noticioso e o lead
constrói, para o leitor, o resumo do texto expandido da notícia em um primeiro
parágrafo, contendo tanto o fato noticioso quanto o comentário que é a opinião
jornalística que esta sendo construída para o leitor.
A categoria Relato está ordenada com a categoria Resumo e trata do texto
expandido da notícia. Esta categoria agrupa outras duas categorias, a saber: a
Situação, ou seja, o Fato Noticioso, e os Comentários, ou seja, a construção textual da
opinião jornalística para o público leitor.
A Situação, ou Fato Noticioso é organizada na linha do tempo, na medida em
que, a publicação do jornal é diária; desse modo, a categoria Fato Noticioso agrupa o
Episódio que é relativo ao acontecimento que se torna notícia e que está ordenado com
os Antecedentes que agrupam o que já foi veiculado no jornal anteriormente,
construindo, uma progressão narrativa do acontecimento, fabricado como notícia.
Os Comentários são construídos com a categoria Reações verbais que
estabelecem inter-textos e inter discursos, tanto para o tempo atual da notícia veiculada
21
quanto para o tempo anterior. As Reações Verbais constroem um polifonia no texto
expandido que é monofonizada pelas conclusões de forma a construir a opinião
jornalística por um conjunto de avaliações negativas/positivas para o fato atual e para as
perspectivas ou expectativas do que ocorrerá no amanhã como progressão narrativa do
acontecimento construído enquanto notícia.
Segundo van Dijk (1990), o jornalista seleciona entre os acontecimentos que
ocorrem no mundo, aos quais ele tem acesso, apenas alguns para construir as notícias.
Para essa seleção, intervém múltiplos critérios, cuja importância varia segundo as
circunstâncias do dia-a-dia. Mas, de qualquer maneira, o jornalista deve se perguntar se
um acontecimento no mundo é suscetível de se tornar noticia. Para tanto, o jornalista
deve colocar quais elementos do acontecimento pode se converter em noticia. Ele
levará em conta, basicamente, o que tem interesse para os leitores, desde que tenha
interesse para a empresa jornal. É a satisfação desses interesses que transforma
fragmentos do acontecimento em notícia, formalizando-a pelo esquema visualizado.
Van Dijk (1978:160) constrói diferentes superestruturas textuais, entre elas está a
da argumentação.
Segundo o autor, todos os textos são argumentativos, por essa razão, ainda de
forma provisória, apresenta uma estrutura argumentativa que organizaria qualquer tipo
de texto, a saber:
22
ARGUMENTAÇÃO
JUSTIFICATIVA CONCLUSÃO
MARCO CIRCUNSTANCIA
PONTOS DE PARTIDA FATOS
LEGITIMIDADE REFORÇO
As denominações das diferentes categorias hierárquicas são provisórias e
poderão ser substituídas por outras, dependendo do tipo de argumentação. O tipo de
argumentação depende do contexto institucional em que os argumentos são
instaurados.
A categoria Conclusão agrupa a opinião construída no texto que, para ser
argumentada, precisa de uma justificação. Esta agrupa a categoria Marco das
Cognições Sociais e as Circunstâncias.
A categoria Marco das Cognições Sociais compreende um conjunto de
conhecimentos instaurados como ponto de partida das interações sócio-comunicativa de
um grupo social. Ninguém argumenta a respeito dos conhecimentos sociais pois, eles
são dados como “verdades” possíveis/prováveis para o grupo social que o conhece.
Para haver argumentação, é necessário construir uma circunstância em relação aos
conhecimentos sociais, pois a circunstância é nova e não é do conhecimento social do
grupo. Para tanto, a argumentação é realizada a partir de provas, que são os fatos
apresentados e estes, são construídos por ponto de partida pelos argumentos de
legitimidade e de reforço.
23
Os argumentos de legitimidade são selecionados no marco das cognições sociais
e os de reforço compreendem repetições, paráfrases ou retomadas que possam
argumentar a respeito da circunstância criada em relação ao marco de cognição social.
Nem todo os elementos argumentativos precisam estar explícitos no texto. Muitos
podem manter-se implícitos, pois são formas culturais de conhecimento.
1.5 a variação lingüística e a enunciação
Na interação entre a empresa-jornal e o leitor, devido à diversidade das
manifestações culturais, ocorre um movimento de mobilização e desmobilização de
conhecimentos sociais. A norma subjetiva da língua em uso sofre influências sociais,
políticas, culturais e históricas. Dessa forma, situações de comunicação adequadas às
condições dos participantes e o contexto progridem dentro da expectativa da linguagem
e também da postura adotada entre eles.
Assim, constata-se que o permitido em relação ao uso da língua, as atitudes
lingüísticas, variam e a linguagem utilizada comunica dentro da expectativa dos
participantes tornando a comunicação eficaz.
O texto jornalístico caracteriza-se pelo emprego de uma linguagem que busca dar
acesso ao seu conteúdo jornalístico, a um maior número de leitores considerando o
perfil do público-leitor de cada empresa-jornal.
A linguagem mais liberal adotada no discurso jornalístico visa à mudança da
atitude lingüística do próprio leitor diante das outras mudanças sociais, numa dinâmica
interacional, num continuum lingüístico entre o oral e a escrita.
Os diferentes usos da língua pelo homem, em diferentes épocas, ocorrem a partir
de normas implícitas, informais que são escolhas baseadas no sistema, ou seja, um
24
conjunto de número finito de elementos e regras que permitem a tais elementos
relacionarem-se entre si. O sistema compreende as invariantes lingüísticas.
A enunciação é vista como a colocação em funcionamento da língua por um ato
individual. Trata-se de uma atividade exercida por aquele que fala num dado momento e
de um determinado lugar e, também, por aquele que escuta naquele momento e de um
determinado lugar.
Nesse sentido, os sujeitos envolvidos no processo da enunciação estão imersos
em um contexto situacional que é histórico e extrapolam o universo lingüístico, já que
estão referenciados numa prática que transcende os aspectos puramente lingüísticos
ainda que marcados no enunciado.
Para Kerbrat-Orecchioni (1997), a enunciação é, em princípio, o conjunto dos
fenômenos observáveis que dá impulso para um ato de comunicação. Em outras
palavras, não se podendo estudar diretamente o ato de produção, deve-se identificar e
descrever os traços do ato, no produto, ou seja, os lugares onde se inscrevem os
diferentes constituintes do quadro enunciativo, na trama enunciativa.
Os modalizadores traduzem uma apreciação subjetiva por parte do enunciador,
exprimindo sua atitude em relação ao enunciado que produz. A autora destaca a
ambigüidade inerente à subjetividade, na medida em que, não dizer uma coisa não
significa ocultá-la, relacionando-se a um sistema, pautado por implícitos e explícitos.
Assim, um texto enunciado contém tanto a informação quanto o silêncio, da mesma
forma que ambos podem estar maximizados ou minimizados.
O texto-produto, ao ser enunciado, adquire uma forma de representação em
língua, esta é construída pelas intenções, objetivos e propósitos do enunciador. Dessa
forma, ele seleciona as unidades lexicais e as regras gramaticais para o que quer
enunciar de forma explícita. Portanto, há uma subjetividade em qualquer texto
enunciado.
25
Nos textos jornalísticos, no exercício diário, na busca de uma linguagem mais
atual e para estabelecer proximidade com o leitor, ocorre uma liberdade lingüística que
estabelece parâmetros para um uso e não outro.
A linguagem humana se caracteriza pela dinamicidade e não pela estaticidade.
Nesse sentido, o léxico de uma língua possui caráter dinâmico e se amplia para
acompanhar a evolução da sociedade.
O Manual da Redação da Folha de S.Paulo (2006:15), em seu projeto editorial,
atesta que:
“a transição de um texto estritamente informativo, tolhido por normas pouco
flexíveis, para um outro padrão textual que admita um componente de análise e certa
liberdade estilística é conseqüência da evolução”.
No discurso jornalístico cotidiano ocorre a incorporação dos usos que se remetem
às variações lingüísticas utilizadas pelos grupos e, em especial, o público de leitores de
cada jornal.
Em síntese, esta Dissertação está fundamentada em princípios da Lingüística
Textual que buscam dar conta da boa formação tanto do texto-processo quanto do
texto-produto. Os lingüistas textuais preocuparam-se com o texto-processo, embora
tenham sempre por ponto de partida o texto-produto.
A Lingüística Textual ao priorizar a boa formação do texto deu maior atenção ao
leitor do que ao escritor. Como a Teoria da Enunciação busca examinar o ato
enunciativo e a sua dimensão nas formas que o texto-produto traz representado em
língua, ela traz contribuições para os estudos da construção do texto-produto que, no
caso desta Dissertação, estão delimitados ao emprego de estratégias para a construção
do texto-produto, agrupados pela categoria textual da notícia, o Resumo.
26
Capítulo 2
O texto jornalístico e a Análise do Discurso
Este capítulo trata de bases teóricas e metodológicas para a análise do discurso
jornalístico por meio da análise do discurso de linha francesa, análise crítica do discurso.
O discurso enquanto prática discursiva trabalha para que o efeito de sentido
discursivamente construído produza a ilusão de sentido único; assim, a análise do
discurso trabalha sobre a materialidade do discurso, procurando desconstruí-la para
determinar os funcionamentos discursivos que promovem a instauração dessa ilusão, da
mesma forma que procura analisar os processos de significação dos quais participa o
efeito de sentido construído pelo discurso, com sentido único (cf. Queiroz, 2006).
Segundo Queiroz, ao proceder à análise do discurso telejornalístico, parte-se da
compreensão de que este não transmite a informação bruta, mas, sim, a construção de
um fato que de certa forma, reforça sentidos de evidência, representando-se,
discursivamente, como opinião publica, pelos mitos da informatividade, objetividade e
imparcialidade, tão privilegiados pela própria mídia.
Dessa forma, na mídia jornalística tem-se diferentes versões de um mesmo fato,
o que permite pensar a textualização da noticia enquanto espaço de (re) atualização em
que o texto final é uma unidade aparente no espaço simbólico, que é retórico. Em outros
termos, a mídia trabalha visando produzir uma sociedade de consumo do seu produto
notícia e, para tanto, impõe-se sobre outras discursividades, a fim de construir a opinião
para o publico leitor.
Sendo assim, o produto notícia se constrói, significa-se diferentemente de um
jornal para outro, em função da determinação ideológica, da posição de onde é
27
veiculado e das diferentes interpretações possíveis para um mesmo fato, o que produz
sentidos outros.
Há diferentes análises do discurso. As revisões apresentadas neste capítulo
estão delimitadas a questões relativas da Análise do Discurso de linha francesa (AD) e a
Análise Crítica do Discurso (ACD).
2.1 a Análise do Discurso de linha francesa (AD)
Neste item apresenta-se uma breve revisão de duas noções utilizadas nas
análises: intertextualidade interdiscursividade.
Segundo Maingueneau (1987:14), a formação discursiva é “um conjunto de
regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram
em uma época dada, para uma área social, econômica, geográfica ou lingüística dada,
as condições de exercício da função enunciativa”. Cada formação discursiva mantém
em si uma interdiscursividade, pois os enunciados permitidos são retirados de outras
formações discursivas, dependendo de suas formações ideológicas.
Assim sendo, Maingueneau propõe que analisar o discurso implica uma busca do
seu universo discursivo. Como este é muito amplo para ser dimensionado, o autor
propõe que a interdiscursividade que é expressa por uma heterogeneidade polifônica
deva ser analisada a partir de campos discursivos. Cada campo discursivo se remete a
um gênero discursivo; dentro de cada campo estão os diferentes espaços enunciativos.
A intertextualidade no processo comunicativo é fundamental para o entendimento
do texto e seu processo argumentativo, pois a língua pode ser entendida como uma
forma de ação sobre o outro. Para Kristeva (2003) um texto é resposta para um outro
texto e pode ser tratado a partir do texto produto. Dessa forma, a palavra é considerada
texto base para a inserção de um outro texto, como uma progressão do texto-base.
28
Assim, o enunciador não é ideal e abstrato, nem é representante de uma
comunidade homogênea, ele é constituído por uma heterogeneidade. Segundo Kristeva,
essa heterogeneidade resulta no recurso argumentativo, em que o sujeito não é, ele se
faz e se desfaz na complexidade em que se incluem o outro e seu discurso. Um texto
resulta sempre do entrecruzamento de outros textos e de outros autores, outros
indivíduos, diferentes grupos ideológicos, diferentes discursos.
Segundo Silveira (2000), a manifestação da representação em língua ocorre na
inter-relação entre o texto processo e o texto produto, sendo o processo de natureza
mental e o produto, a materialidade lingüística dessas formas de conhecimento.
A intertextualidade supõe a presença de um texto em um outro texto produzido
anteriormente, o chamado intertexto.
O diálogo entre os intertextos e as diversas ações sociais pressupõe múltiplas
realidades. O sujeito que “fala” atua sob orientação da prática social em que está
inserido; dessa forma, para Maingueneau (2002), os textos são elaborados dentro da
interdiscursividade, ou seja, no processo discursivo entre práticas sociais diversas, com
participantes diversos e com intenções diversas.
Os intertextos, para o autor estão presentes na formação ideológica, a partir da
alteridade, sendo assim, ele repete o que a classe dominante impõe (ele tem ideologia),
por meio do discurso citado, pois, todo discurso citado é usado como argumento de
autoridade e do discurso indireto que ao relatar o que se entende prevê, manipulação de
informações.
Charaudeau (2004:286), ao tratar da distinção entre intertexto de interdiscurso,
destaca que intertexto “seria um jogo de retomadas de textos configurados e
ligeiramente transformados, como na paródia” e, no interdiscurso, um processo de
“reenvios entre discursos que tiveram um suporte textual, mas cuja configuração não se
tem memória, por exemplo, no slogan ‘Danoninho vale por um bifinho’, é o interdiscurso
que permite as inferências do tipo ‘os bifes de carne têm um alto valor protéico, portanto,
devem ser consumidos’”.
29
Assim, o discurso como prática social tem, no processo da interdiscursividade
relação com a origem do discurso, que nunca é híbrido, pois a cada enunciação prevê
mudanças sobre o que já foi dito.
A noção de intertextualidade permite uma leitura na linearidade do texto-produto.
Assim, cada referência pode, na intertextualidade, dar lugar a outro sentido, ou
fragmento de outro texto.
O processo de textualização se dá na relação entre o texto-processo e o texto–
produto, de forma a considerar as condições de produção do texto e seu contexto
discursivo.
Na visão pragmática, o texto como manifestação lingüística pressupõe uma
linguagem capaz de produzir uma ação sobre o outro. Para tanto, o sujeito intencional
mobiliza vozes, pontos de vista, para agir sobre seu interlocutor.
Essa “ação” sobre o outro representa diferentes níveis do processo discursivo.
Dentro da visão da enunciação, incorporam-se diversas perspectivas, pontos de vista,
na constituição do enunciado. Dessa forma, para Koch (1991), o sentido do enunciado é
formalizado a partir da representação da enunciação.
A evidência da ação lingüística constituída por meio de um texto explica a eficácia
da ação sócio-cognitiva-discursiva realizada, de maneira coordenada, para atingir um
certo objetivo que ocorre por meio da estratégia de discurso que, de acordo com
Charaudeau (2004:218), é um termo que vem da arte de conduzir as operações de um
exército sobre um campo de ação e, por isso, passou a designar uma parte da ciência
militar. Em análise do discurso, segundo Bonnafous e Tournier (1995:75) “a estratégia
faz parte das ‘condições de produção’ de um discurso”.
A intertextualidade fica caracterizada como um novo modo de leitura que faz
encadeamentos na linearidade do texto. Em qualquer texto, o discurso da
intertextualidade incorpora elementos lexicais abrangentes, pois os elementos
estruturais deste discurso já não são somente palavras, mas coisas ditas organizadas,
30
como fragmentos textuais. A intertextualidade fala uma língua cujo vocabulário é a soma
dos textos existentes.
De acordo com Bakthin (2000) os discursos em circulação são eminentemente
dialógicos e polifônicos e estão em permanente diálogo com outros discursos. Assim,
cada enunciado toma de outros enunciados suas formas e significações e dirige-se a
outros (possíveis) enunciados, dentro de situações sociais de enunciação.
Para Van Dijk (1997), as variadas práticas sociais incorporam grupos sociais que
se agrupam pelo mesmo ponto de vista, estabelecendo marcos de cognições sociais, de
acordo com os valores adotados pelos participantes.
Dessa forma, as formações discursivas estão em contínuo movimento de
aproximações e afastamentos. Assim, o texto como manifestação em língua de um
processo enunciativo, não pode ter somente um foco de análise, pois a construção de
significação se estabelece por meio das relações de sentidos e estas não se delimitam a
uma perspectiva teórica, mas se marcam pela pluridisciplinaridade. Sendo assim, o texto
na sua constituição é permeado pela Lingüística de Texto, lingüística do Discurso e
lingüística da Enunciação.
Desse modo, a língua não pode ser estudada por ela mesma, sem considerar o
extralingüístico. Não se pode analisar a instância lingüística sem a instância ideológica
sobre a qual ela se articula e nem deixar de considerar o contexto no qual está inscrita.
Na constituição dos modelos de produção e interpretação, além da instância lingüística,
consideram-se os componentes ideológicos e culturais, dados situacionais etc.
Assim, a AD contribui para mostrar como se estrutura discursivamente o social e
como o discurso é, ao mesmo tempo, portador de normas que sobre determinam o
indivíduo vivendo em coletividade e as possíveis estratégias que lhe permitem tornar-se
singular.
31
Dessa forma, a Análise do Discurso (AD) se encontra uma encruzilhada entre as
ciências humanas e sociais, de forma a se construir em torno de uma problemática
comum: o discurso e a sua influencia social.
2.2 a Análise Crítica do Discurso (ACD)
Na década de 60, um grupo de pesquisadores vinculados à Escola de Frankfurt
desenvolveu uma abordagem de estudo da linguagem em ação, conhecida como
lingüística critica.
Na década de 80, outros estudiosos se dedicaram ao desenvolvimento dessa
abordagem, porém foi Fairclough o primeiro a usar a expressão “Análise critica do
Discurso”. A Análise Critica do Discurso (ACD) pode ser considerada uma continuação
da Lingüística Critica.
O termo ACD vem sendo usado, mais especificamente, para referir-se à
abordagem lingüística critica adotada por pesquisadores que consideram a unidade
mais ampla do texto como uma unidade comunicativa básica. O termo “crítico” tem suas
origens na Lingüística Sistêmica da Escola de Frankfurt que, também, tem por ponto de
partida as idéias marxistas para ideologia. Os analistas do discurso, com visão crítica,
voltam-se com especificidade para os discursos institucionais, de gênero social tais
como, o discurso político, o da mídia, o religioso etc. Esses discursos materializam,
lingüisticamente, relações mais ou menos explicitas de luta e conflito sociais.
Em outras palavras, a ACD realiza as suas abordagens discursivas com visão
crítica para examinar os textos e eventos construídos por diferentes práticas discursivas
sociais, propondo uma teoria e um método para descrever, interpretar e explicar o uso
da linguagem no contexto sócio-histórico, de forma a oferecer grande contribuição para
32
o debate de questões sociais ligadas ao racismo, a discriminação baseada no sexo, ao
controle e à manipulação institucional, à violência, à identidade nacional, à auto-
identidade e à identidade de gênero, além da exclusão social.
A ACD tem por objetivo principal denunciar o domínio das mentes das pessoas, a
partir dos discursos públicos e institucionais ainda que pressuponha a existência de uma
dialética entre o social e o individual: o social guia o individual e este modifica o social.
Trata-se, portanto, de entender esta dialética a partir da Teoria da Ação, segundo
a qual toda a forma de comunicação estabelece-se por uma interação entre os
participantes discursivos.
A ACD vem sendo realizada por diferentes vertentes, sendo que uma delas é a
vertente sócio-cognitiva, da qual van Dijk é seu maior expoente.
Van Dijk (1997) propõe a Análise Critica do Discurso, a partir de três categorias
analíticas, a saber: Sociedade, Cognição e Discurso. Segundo o autor, há uma inter-
relação entre essas três categorias, na medida em que uma se define pela outra.
A Sociedade é vista como um conjunto de grupos sociais. Cada grupo social é
visto como uma reunião de pessoas que têm em comum os mesmo objetivos, interesses
e propósitos.
A Cognição é compreendida como um conjunto de representações mentais, que
são formas de conhecimento. Cada representação mental é construída devido à
projeção de um ponto de vista para se observar o que acontece no mundo. O ponto de
vista é guiado, socialmente, pelos objetivos, interesses e propósitos comuns a um
grupo. Como estes diferem de grupo social para grupo social, as formas de
conhecimento do que acontece no mundo são diferentes, pois os pontos de vista são
diversificadas.
Essa diferença constrói um constante conflito inter-grupal, devido às suas
próprias cognições sociais. O conjunto de conhecimentos construídos por um grupo
33
social forma o Marco das Cognições Sociais deste grupo. O conflito inter-grupal decorre
de oposições entre os Marcos de Cognição Social de grupos diferentes.
Para Van Dijk (2003), o conhecimento envolve dimensões cognitivas, sociais e
discursivas. Na dimensão cognitiva, o conhecimento é visto como uma espécie de
crença, pois, para o autor todas as formas de conhecimento não são epistemicas e, sim,
avaliativas. Dessa forma, a epistemologia diferencia episteme de opinião. Os
conhecimentos epistemicos são conferíveis nas coisas que ocorrem no mundo; dessa
forma, decorrem de ações, pessoas e objetos observáveis e que produzem uma forma
de conhecimento. Por exemplo: “Está chovendo” quando alguém diz isso a pessoa que
ouve pode ir verificar se realmente está caindo a chuva e atribuir ao dito valor de
verdade ou falsidade. A opinião é uma forma de avaliar o que ocorre no mundo real e,
por essa razão, não é observável nem comprovável. Uma opinião pode ser aceita ou
rejeitada, por exemplo: “Maria não é boa amiga” esse dito não é verificável no mundo.
Com a Teoria das Representações, as noções de episteme e opinião passam a
ser revistas.
Van Dijk (1997) discute essa diferença e conclui que todas as formas de
conhecimento, por serem representações do real, são opinativas, portanto, avaliativas.
Essas formas de conhecimento são construídas no e pelo Discurso.
Logo, todas as formas de conhecimento sociais são crenças e não episteme.
Por se tratar de crenças, na dimensão social da interação comunicativa nos
discursos que não são autoritários, é necessário que se faça uma justificativa e esta
implica a condição de que o conhecimento só vale quando é justificado, ou seja, para
excluir especulações que não sejam verificáveis e culturalmente aceitos. Nesse sentido,
as noções de verdade e real são definidas de modo social, principalmente em termos de
concordância, compartilhamento ou critérios sociais.
Na dimensão discursiva, no discurso cotidiano, as crenças são descritas como
conhecimentos de fatos quando há concordância entre aquele que fala e aquele que
34
sabe. O Discurso é entendido como uma prática social definida por um esquema mental
que compreende: os participantes, suas funções e suas ações. Esses participantes são
tanto de discursos públicos institucionalizados quanto de eventos discursivos
particulares.
Como todas as formas de conhecimento são construídas no e pelo Discurso,
embora haja conflitos inter-grupais, os discursos públicos institucionalizados constroem
uma unidade imaginária com campos de similitude para os diferentes Marcos de
Cognição Social, designada conhecimentos extra-grupais, que abarcam tanto os
culturais quanto os ideológicos.
Para Eagleton (1997), a ideologia é difundida como uma “falsa consciência” na
vida social, em que, segundo ele, a raça humana acredita se encontrar em tal confusão
que só pode se organizar por algum sentido transcendental, sintetizados de modo
ilusório.
Apesar dessa aparente confusão, pode-se afirmar que a maior parte do que as
pessoas dizem sobre o mundo deve ser, na maioria das vezes, de fato verdadeiro, pois
os indivíduos são capazes de traduzir as linguagens de outras culturas, identificando
uma unidade na diversidade.
Os Marcos de Cognições Sociais são construídos por um conjunto de
representações sócio-cognitivas, moldadas pela ideologia do grupo de Poder do referido
Marco de Cognição Social. Nesse sentido, as ideologias são plurais, para van Dijk
(2000), e elas compreendem formas de avaliação para o que está representado como
forma de conhecimento no mundo. Dessa forma, entre a designação e o designado, há
uma avaliação ideológica imposta pelo grupo de Poder, que reside na memória social
dos grupos sociais, de forma a propiciar a discriminação de grupos sociais menos
favorecidos, dependendo dos interesses dos participantes do Poder.
A ideologia, segundo Van Dijk (1992), desempenha um papel central na
(re)produção dos processos de persuasão. Consiste em um marco sócio-cognitivo que,
de forma inconsciente para os grupos minoritários, assegura a realização dos interesses
35
e objetivos do grupo dominante: a solidariedade entre os membros do grupo de Poder
prevalece sobre as divisões de classe com as quais joga intertextualmente, mas
hierarquiza sua ideologia ao formular e produzir marcos para a sociedade, ou seja,
transforma fatores sociais que são combinados com dimensões culturais da ideologia
dominante. Assim, as ideologias devem incorporar conhecimentos e crenças sociais.
A dimensão social tem duas orientações principais: 1) as cognições devem
pertencer a problemas sociais (fatos que afetam os grupos, em geral, e o grupo
dominante, em particular); 2) as cognições devem ser, pelo menos em parte,
compartilhadas por outros membros do grupo e, conseqüentemente, expressas por meio
de várias formas de processamento de informação social. Essas cognições não só têm
um caráter de crença, mas, também, incluem avaliações que se baseiam em normas,
valores e objetivos socialmente partilhados.
Silveira (2000) diferencia cultura de ideologia. Ambas são crenças, pois se
definem como formas de opinião social. A Cultura é transmitida de geração para
geração e esses valores guiam o comportamento das pessoas ao experienciar e
vivenciar o que ocorre no mundo. A Ideologia também compreende valores transmitidos
socialmente, pelos discursos institucionalizados, públicos. Todavia, esses valores são
transmitidos com o objetivo de discriminar pessoas e grupos sociais, o que não
acontece com os conhecimentos culturais.
Os conhecimentos culturais, segundo Silveira (1998), decorrem de formas de
representação do que foi vivido e experienciado socialmente num determinado momento
histórico. Pelo fato de a cultura ser transmitida de geração para geração, suas formas de
representação enquanto crenças têm raízes históricas, mas são dinâmicas, pois, a cada
contemporaneidade, cada geração precisa resolver problemas novos. O velho resolve o
novo, construindo e reconstruindo um trajeto cultura na sociedade.
Como cada grupo tem um Marco de Cognição Social, para a autora, as culturas
são plurais, embora haja uma unidade imaginaria nacional, extra-grupal. As culturas
oferecem formas de conhecimentos para a construção das ideologias pelas classes de
Poder. A dinâmica ideológica decorre da mudança de interesses das classes de Poder.
36
Em síntese, para a ACD o discurso é uma pratica sócio interacional sendo que a
interação é entendida nas relações interpessoais, intersociais inter-institucionais, na
medida em que definir interação implica a dinâmica de formas de conhecimento que
constroem o novo interacionado com o velho e projeta, pelo imaginário, as imagens do
futuro.
O discurso como prática social, tomando por base a teoria do Interacionismo
Simbólico, propicia que Van Dijk (1997) apresente a noção de contexto discursivo,
definida por um esquema mental, constituído por participantes, suas funções e suas
ações. Esse esquema mental implica entender que a estrutura social é construída por
um contínuo de papéis sociais, em cada Marco de Cognição Social. Cada prática
discursiva seleciona, na estrutura social conhecida pelo grupo social o qual compõe o
marco de suas cognições sociais, papeis sociais para caracterizar os seus participantes
e estes já estão inter-relacionados, cada qual na própria estrutura da sociedade, como,
por exemplo, médico/paciente, professor/aluno, patrão/empregado. Nesse sentido, a
interação simbólica entre os papéis sociais define as funções discursivas dos
participantes e quais ações eles podem praticar numa determinada condição de
produção discursiva.
2.3 O discurso jornalístico
O discurso jornalístico é uma máquina de informar. Quem diz máquina diz
conjunto de engrenagens e de atores fazendo-as funcionar, cada um em seu setor,
sendo cada um submetido às restrições e a regras que fazem com que o resultado do
produto final ultrapasse a intenção particular de cada um.
O jornalista, que está na origem da informação é ele próprio, ultrapassado por
todo processo que se desenrola entre o momento em que transmite uma noticia e o
momento em que o interlocutor a recebe.
37
Aquele que transmite a informação é o apresentador e não o redator, e a sua
explicação tem por objetivo produzir um efeito emocional. Nesse sentido, esse efeito é
construído pelo conjunto da máquina, com suas condições de realização e seus
procedimentos de encenação da informação.
Logo, o fato que ocorre no mundo sofre uma série de transformações desde o
seu surgimento de forma a tornar a noticia o objeto de uma interpretação.
Dessa forma, compreender envolve o processamento e interpretação de
informações exteriores e também a ativação e uso de informações internalizadas,
representações cognitivas.
O discurso jornalístico é uma prática sócio-interacional de processar a informação
que é complexa sob vários aspectos. É uma pratica social que transforma um fato
ocorrido em acontecimento jornalístico, como se fosse uma máquina humana, porque as
instâncias de produção e de recepção que a constituem são instâncias humanas
portadoras de intencionalidade e construtoras de sentido. Estas instâncias têm um
caráter complexo. Por um lado, a noticia é fabricada por múltiplos atores; por outro, o
que não permite distinguir o responsável pelo ato de informação.
Guimarães (1999) trata da prática sócio-discursiva interacional do discurso
jornalístico. A autora tem por ponto de partida a noção de contexto global e contexto
local, discursivos, proposta por van Dijk (1997).
A construção do texto-produto da notícia, publicado no jornal, em que as
representações semânticas se projetam sobre o léxico e as estruturas sintáticas das
orações, constrói um sentido global. Este sentido está formado por uma série de
categorias hierarquicamente ordenadas que podem ser específicas para diferentes tipos
de discurso, e convencionadas em conseqüência de diferentes sociedades e/ou culturas
distintas.
A contribuição dada por Guimarães (1999) é relativa às categorias semânticas
que orientam a seleção de fatos para serem transformados em acontecimentos
38
jornalísticos. Segundo a autora as categorias semânticas são Atualidade e Inusitado. Os
acontecimentos jornalísticos são construídos pela seleção de fatos que estão
acontecendo na Atualidade da publicação do jornal e que é de interesse do público para
saber como o eixo narrativo esta sendo desenvolvido. A categoria Inusitado orienta na
construção do acontecimento jornalístico, pois, só se publica o que não é usual,
cotidiano para as cognições sociais.
Uma das estratégias utilizadas pelo discurso jornalístico, segundo Van Dijk
(1980), decorre da estrutura narrativa da notícia, ou seja, a cada dia o leitor vai ler o
jornal para saber o que aconteceu no tempo posterior, em uma progressão semântica.
Como a cada dia o discurso da notícia constrói a opinião de seu público, nos dias
conseqüentes, os leitores já conhecem os antecedentes e já deram adesão a eles; logo,
permitem que suas mentes sejam dominadas.
O exame da interação comunicativa requer, também, um tratamento dado a como
a notícia tem Acesso ao público-leitor, ou seja, o que ocorre na dimensão enunciativa e
na diagramação das páginas do jornal.
Assim, Bourdier (2005) destaca a produção de bens simbólicos, especialmente
na área do jornalismo, que estabelece um processo de diferenciação que busca a
diversidade dos públicos, destinando seus produtos às categorias de produção, criando
condições de convivência entre mercadorias e significações, em que o valor cultural e o
valor mercantil subsistem, e algumas vezes, por meio do poder econômico, reafirmam-
se como cultural.
Para Bourdieu (2002), os valores culturais e mercantis são mediados pelo senso
comum, que é substituído por princípios práticos do juízo cotidiano por critérios
controlados e fundados pela ciência. Dessa forma, as classificações práticas estão
sempre subordinadas a funções práticas e orientadas para a produção de efeitos
sociais, ou seja, a realidade objetiva.
Em síntese, este capítulo objetiva apresentar os fundamentos teóricos que
orientaram o procedimento teórico-analítico desta Dissertação.
39
Capítulo 3
Resultados Obtidos e suas Discussões
Este capítulo apresenta os resultados obtidos das análises dos textos-reduzidos,
selecionados nos jornais paulistanos. Foram coletados um total de 220 casos que
compreendem os seguintes textos-reduzidos: manchete, linha-fina e lead.
As análises realizadas seguiram a linearidade do texto-produto e, embora
ultrapassassem os objetivos desta Dissertação, foi necessário percorrer, também, a
linearidade do texto-expandido da notícia, para melhor identificar as estratégias de
construção dos textos reduzidos.
Os resultados aqui apresentados estão organizados pelos itens: estratégias para
a construção da manchete, estratégias para a construção da notícia e estratégias para a
construção multimodal da “Primeira Página” e sua progressão em páginas de cadernos
do jornal.
Justificam-se esses itens, pois, embora eles não sigam a seqüência de
relacionamento leitor-jornal, eles foram mais adequados para a apresentação dos
resultados obtidos. De fato, no que se refere ao relacionamento leitor-jornal, num
primeiro momento, o jornal-produto está exposto a seu público-leitor pelas manchetes, a
multimodalidade da “Primeira Página” e a coesão entre os textos reduzidos. Todavia,
após as análises realizadas, entendeu-se que apresentar as estratégias de construção
do texto multimodal, no último item, seria melhor para a compreendê-las.
No item estratégias de construção da manchete, são apresentadas as estratégias
interacionais que buscam atrair de formas diferentes o público-leitor, pois este é
diferente de jornal para jornal.
40
No item estratégias de construção da notícia, são apresentadas as estratégias
relativas à construção em língua do acontecimento noticioso e envolvem tanto o eixo
narrativo do fato quanto o eixo avaliativo da opinião do jornal.
No item estratégias de construção do texto multimodal, são apresentadas
estratégias relativas a cores, a fotografias e ao tamanho das letras e sua disposição,
para realces gráficos. Por vezes, na própria “página de rosto”, ocorre a construção do
texto multimodal, com textos-reduzidos; por vezes, é necessário buscar nos cadernos do
jornal-produto a progressão dessa construção multimodal.
Foram consideradas estratégias interacionais as que estabelecem relações entre
o jornal e seu público-leitor. Foram consideradas estratégias cognitivas e informativas as
que constroem para o público-leitor o acontecimento jornalístico.
O termo “acontecimento”, progressivamente, no pós-estruturalismo, adquiriu
complexidade, devido à inter, multi e transdisciplinaridade, exigidas para a análise
textual e do discurso.
Durante a Semântica Estruturalista, para a classificação dos verbos, há uma
diferença entre ação e acontecimento. A ação é praticada por um sujeito agente
deliberador, guiado pelas suas próprias intenções, por exemplo: “Maria escreveu a
carta”. O acontecimento é realizado por um sujeito não-deliberador e, nesse sentido,
implica <<aquilo que acontece independente de intenções>>, por exemplo: “Hoje chove
muito”.
Durante as construções das gramáticas de texto, no período intermediário entre
os estudos da frase e do texto/discurso, Van Dijk (1973) mantém a diferença já proposta
entre ação e acontecimento. Para o autor, uma narrativa se define por uma seqüência
de acontecimentos, na medida em que os personagens não são sujeitos de <<querer>>
ao realizarem, cronologicamente, <<fazeres-transformadores>> que compõem cada
episódio narrativo. O sujeito das decisões é o autor que conta a história. Dessa forma,
uma narrativa é definida por uma seqüência de acontecimentos, controlada por regras
gramaticais narrativas.
41
Como se pode verificar, o termo “acontecimento” já adquire complexidade, pois
designa ações que os personagens realizam no desenrolar do enredo narrativo, sendo
que o autor é o sujeito da ação narrativa. Logo, é a ação do autor que tenciona a
interacionar com seu leitor.
Desde que a Teoria das Representações Mentais passou a contribuir,
interdisciplinarmente, com vertente sócio-cognitiva da Análise Crítica do Discurso,
entendeu-se que todas as formas de conhecimento são representações mentais de
ocorrências no mundo. Por essa razão, o termo “real” é evitado. Entendeu-se, também,
que uma seqüência narrativa é construída por relações de causa-efeito no tempo que
minimizam a noção de sujeito deliberador de suas ações. Assim, passou-se a entender
que o que ocorre no mundo é um fato e o que o define é um tema que mantém uma
relação semântica entre todo percurso narrativo.
Na década de 80 do século passado, Van Dijk desenvolveu estudos sobre a
notícia jornalística. Nessa ocasião, o autor preferiu os termos “fato jornalístico” e “evento
jornalístico” com os quais designa a categoria textual que agrupa as proposições
relativas ao que está sendo focalizado como o que ocorre no mundo. O termo “fato” é
predicado como o que é feito pelo jornal para ser notícia. O termo “evento” é predicado
pois, o que é feito pelo jornal, em um determinado dia, decorre da ideologia do jornal-
empresa e pode ser modificado em outro dia pelo próprio jornal; além, de ser modificado
por outros jornais do mesmo dia. O termo “evento”, também, é utilizado, por Van Dijk
para indicar que a cada dia há uma progressão na narrativa que modifica a situação
final do dia anterior.
Van Dijk (1990), ao reunir seus estudos sobre a notícia como discurso, preferiu
utilizar os termos “acontecimento no mundo ou fato” e “acontecimento jornalístico” para
diferenciar a narrativa do mundo em relação ao relato modificado pelo jornalista, pois
este último, ao representar o acontecimento, é guiado pela ideologia do Poder da
empresa-jornal.
Nesta Dissertação, utilizaremos os termos “fato” e “acontecimento jornalístico”,
pois se tem por pressuposto que todas as formas de conhecimento são construídas no e
42
pelo discurso. Todavia, há uma diferença para o uso desses termos: o “fato” é um
acontecimento de que decorrem efeitos de representação sócio-cognitiva e
“acontecimento jornalístico” é o que aparece no mundo após a representação
ideológica, em língua, construída pelo jornalista. Nesse sentido, entende-se que a
notícia jornalística é construída a partir de outros discursos aos quais o público-leitor
pode estar exposto.
Os resultados obtidos das análises indicam que há estratégias de construção dos
textos reduzidos da notícia e de recursos multimodais.
3.1 estratégias interacionais de construção da manchete
A construção da manchete é realizada por estratégias interacionais que objetivam, de
modo geral, atrair o público-leitor para comprar e ler o jornal. Assim, pode-se dizer,
também, que todas as manchetes dos jornais analisados são construídas
estrategicamente pelo uso de letras em caixa alta, de cor mais escura, a fim de,
construir para elas uma saliência de leitura.
Como já foi indicado, há uma inter-relação entre as categorias analíticas Sociedade,
Cognição e Discurso, propostas por Van Dijk (1997), pois cada uma delas se define pela
outra; porém, optou-se por apresentar as estratégias interacionais iniciando com a
categoria Sociedade, na medida em que elas estão intertextualizadas com as cognições
sociais do grupo dos leitores.
Os resultados obtidos das análises indicam que as manchetes são construídas por
intertextualização com os conhecimentos sociais de diferentes grupos. A partir dos
conhecimentos intertextualizados, foi possível, de forma genérica ainda que provisória,
identificar quatro grupos sociais: 1) grupo social de conhecimentos mais específicos: são
pessoas que lêem o jornal em busca de informações minuciosas, relativas ao âmbito
43
nacional e internacional; 2) grupo social de conhecimentos sociais mais genéricos:
pessoas que lêem o jornal em busca de informações mais genéricas, sem minúcias,
relativas ao âmbito nacional e internacional; 3) grupo social de conhecimentos
enciclopédicos: são pessoas que lêem o jornal em busca de informações atuais mais
sintéticas, relativas ao âmbito nacional e internacional; 4) grupo social popular: pessoas
que lêem o jornal em busca de informações relativas a seu domínio de vida.
3.1.1 OESP - grupo social de conhecimentos mais específicos
O grupo social de leitores do OESP é formado por pessoas que têm
conhecimentos especializados e que compram o jornal em busca de informações a
respeito de fatos da atualidade.
O OESP constrói seus textos-reduzidos de forma diferente dos demais jornais
analisados, pois privilegia o sentido mais global da notícia, a fim de construir a opinião
jornalística para seus leitores.
Foram encontradas três estratégias interacionais para a construção de
manchetes, no OESP,a saber: a informativa, opinativa e de sedução.
3.1.1.1 estratégia interacional para a construção da manchete
informativa
A manchete informativa é construída com o sentido mais global que o OESP
tenciona que seus leitores construam. Trata-se de uma estratégia de orientação da
44
leitura dos outros textos-reduzidos e do texto-expandido. A título de exemplificação, são
apresentadas as seguintes manchetes:
“IBOPE: NÃO À PROIBIÇÃO DE ARMAS TÊM 51% E SIM, 41%” – OESP, 21/10/05
“MAIORIA DOS BRASILEIROS DIZ ‘NÃO’ À PROIBIÇÃO DAS ARMAS” – OESP,
24/10/05
“PCC FAZ 3º ONDA DE ATAQUES E SECRETÁRIO PEDE EXÉRCITO” – OESP,
08/08/06
Como se pode verificar, nas manchetes exemplificadas, o sentido mais global do
acontecimento jornalístico é construído para o público-leitor. Como o OESP tem uma
representação do perfil de seu leitor, para atendê-lo, já na manchete, apresenta as
minúcias informativas exigidas pelos leitores, a fim de atraí-los para ler a notícia.
3.1.1.2 estratégia interacional para a construção da manchete
opinativa
A manchete opinativa é construída com o sentido mais global do valor atribuído,
como opinião jornalística, ao que está sendo noticiado.
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
“PT EXPULSA DELÚBIO SOARES” – OESP, 23/10/05
“EM SÃO PAULO, FUNK É NOITE DE LUXO” – OESP, 09/10/05 – Metrópole C
“DESARMAMENTO NÃO É MÁGICA” – OESP, 16/10/05
45
Como se pode verificar, a construção da manchete opinativa resulta da seleção
lexical. Trata-se de selecionar a palavra conhecida pelos leitores que já contém entre
seus semas um valor positivo ou negativo:
Valor negativo, por exemplo:
- “PT expulsa
Delúbio Soares”
O verbo “expulsar” tem em seu conteúdo semântico um valor negativo:
<<expulsar alguém por ser indesejável ou por ter cometido grave erro>>;
- (...) “funk é noite de luxo
”.
Na cultura brasileira paulistana de grupos sociais elitistas, a designação “noite“
contém valor positivo: <<entretenimento lúdico, sofisticado>>; a seleção lexical “noite de
luxo” é utilizada para ressemantizar “funk” com valor positivo. Em outros termos, nos
conhecimentos sociais de grupos de alto poder aquisitivo, “funk” recebe avaliação
negativa por ser típico da diversão de pessoas de baixo poder aquisitivo. A construção
“funk é noite de luxo” contém uma transgressão dos valores sócio-cognitivos elitistas de
forma a construir o sentido mais global da opinião do jornal, para seus leitores.
- “Desarmamento não é mágica
”.
Ocorre a seleção da palavra “mágica” que contém valor positivo para as crenças
sociais, pois é <<mudança instantânea de um estado para outro pelo poder do
mágico>>. O jornal opina que o fato do governo querer desarmar a população de um
momento para o outro, não é fácil e, para tanto, requer um outro conjunto de ações.
Nesse sentido, ocorre a avaliação negativa do jornal.
Como se pode verificar, as manchetes de construção opinativas estabelecem um
acordo, pela intertextualização, com as cognições sociais do seu grupo de leitores. O
jornal-empresa traz as informações construindo o acontecimento jornalístico a partir de
uma transgressão dos valores sócio-cognitivos elitistas de forma a construir o sentido
mais global da opinião do jornal, para seus leitores.
46
3.1.1.3 estratégia interacional para a construção da manchete por
sedução
Seduzir um público-leitor de conhecimentos especializados que exige informações
minuciosas requer uma estratégia de retomada de suas cognições sociais, seguida de
uma estratégia de transgressão.
A transgressão de conhecimentos sociais é um procedimento cultural do brasileiro,
em seu cotidiano de vida. Segundo Silveira (1998, 2000), essa transgressão caracteriza
culturalmente o brasileiro pela irreverência que provoca o riso e não a agressão, pois um
outro traço cultural dele é a cortesia.
Esta estratégia obtém sucesso na interação com o público-leitor do OESP. Em
outros termos, os resultados obtidos indicam que tal público-leitor, no seu cotidiano,
vive, continuamente momentos de tensão estressante. Nesse sentido, o jornal atrai o
seu leitor, seduzindo-o para viver um momento lúdico, descontraído, sem perder de vista
a notícia.
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
“CABRA FASHION” – OESP, 23/10/05
“DE GENI PARA TIETA” – OESP, 09/10/05
“E VEJO FLORES EM VOCÊ” – OESP, 05/11/06
- “Cabra fashion”
No caso de “Cabra fashion”, a palavra “cabra” designa, no falar de nordestinos,
um homem. A palavra “fashion” pertence ao mundo da moda que é de interesse dos
47
grupos sociais de alto poder aquisitivo. A seqüência “Cabra + fashion” constrói uma
transgressão com as cognições sociais dos leitores, de forma a produzir o risível.
- “De Geni para Tieta”
“Geni” é uma personagem do texto musical de Chico Buarque de Holanda e este
autor é apreciado por classes sociais de alto nível de escolaridade. “Tieta” é uma
personagem de um romance de Jorge Amado que, também, é apreciado por grupos
sociais de alto nível de escolaridade. Ambas as personagens são “prostitutas”. Ao se
selecionar e sequenciar “De Geni para Tieta”, constrói-se uma transgressão, pois se
seqüencia autor de texto musical com autor de texto literário, de forma a produzir o riso,
devido aos valores contidos no nome dessas personagens.
- “E vejo flores em você”
“E vejo flores em você” é um trecho da música Flores, do grupo de rock Titãs, que
é apreciado por grupos elitistas, em São Paulo. A manchete é construída pela
intertextualização com o texto musical do qual se seleciona uma frase do refrão para a
construção da manchete.
Como se pode verificar, a construção das manchetes por sedução estabelecem
um acordo, pela intertextualização, com as cognições sociais do seu grupo de leitores.
O jornal-empresa traz as informações construindo o acontecimento jornalístico, a partir
da transgressão de conhecimentos sociais do grupo de leitores pela irreverência.
3.1.1.4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da
manchete
A intersecção é o uso concomitante de estratégias, de forma recursiva, pois, ao
mesmo tempo que transmite informação, transmite opinião e seduz. Os resultado
48
obtidos indicam que há três estratégias interacionais de intersecção para a construção
da manchete: informação + sedução; opinião + sedução e informação + opinião +
sedução.
estratégia interacional para a construção da manchete informativa e
de sedução
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
“PÁSSARO? AVIÃO? NÃO: É O SUPERÁRABE – OESP, 16/10/05
“TRESOITÃO, O FAVORITO DO CRIME EM SP” – OESP, 09/10/05
Estas duas manchetes são construídas pela intertextualização com as cognições
sociais do público-leitor de OESP, juntamente com informação.
-“Pássaro? Avião? Não: é o Superárabe”
A estratégia de construção da informação é recorrer por intertextualização com as
cognições sociais dos leitores que conhecem o super-homem por filmes e desenhos
norte-americanos. É um homem que voa e protege do mal a população e a ele é
atribuído valor positivo. Ainda, segundo as cognições sociais dos leitores, “árabe”
recebe valor negativo, pois é representado como fanático que não aceita relações
internacionais nem nacionais fora do islamismo.
A estratégia de sedução é construída com a criatividade lexical, “superárabe” que
transgride os conhecimentos sociais, de forma a produzir o riso, construindo dessa
forma, uma palavra nova.
- “Tresoitão, o favorito do crime em SP
49
A estratégia de sedução é construída pela seleção lexical da palavra de uso
popular “tresoitão” para se referir a revólver calibre 38, que transgride com os
conhecimentos sociais do público-leitor do OESP, pois se trata de uma designação
associada à criminalidade em São Paulo.
Pela estratégia de construção da informação pela sedução, foi recontextualizada
a designação “tresoitão”, para atrair o público-leitor.
estratégia interacional para a construção da manchete opinativa e
de sedução
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
“DOLEIRO CITA ‘QUINZENÃO’ PARA CÚPULA DO BANESTADO” – OESP, 19/10/05
“’DAVI’ CHÁVEZ FUSTIGA ‘GOLIAS’ BUSH – OESP, 16/10/05
“POLÍCIA MATA O LADRÃO NÚMERO 1 DO RIO” – OESP, 16/09/05
Estas três manchetes são construídas pela intertextualização com as cognições
sociais do público-leitor, transgredindo-as para expressar a opinião do jornal OESP.
- “Doleiro cita ‘quinzenão’ para cúpula do Banestado”
A estratégia opinativa é relativa à opinião jornalística que constrói a partir da
palavra “quinzenão” o mesmo processo de pagamento de uma quantia, antes mensal,
agora quinzenal, mas que, de acordo com o processo recursivo utilizado pelo jornalista-
enunciador, tem a mesma importância e gravidade do “mensalão”, portanto com valor
negativo. Dessa forma, o jornalista constrói um argumento de legitimidade para justificar
a opinião jornalística.
50
A estratégia de sedução é construída com a criatividade lexical por derivação,
“quinzenão”, que transgride com os conhecimentos sociais, de forma a produzir o riso,
construindo, desse modo, uma palavra nova.
- “’Davi’ Chávez fustiga ‘Golias’ Bush”
A estratégia opinativa é relativa à opinião jornalística que constrói, a partir da
intertextualização, com o discurso bíblico, a relação de poder econômico atribuída à
relação entre os presidentes Chávez e Bush. Dessa forma, Chávez é representado
como Davi e Bush como Golias.
A estratégia de sedução é construída pela transgressão dos conhecimentos
sociais, de forma a produzir o riso, construindo uma interdiscursividade entre o discurso
político e o discurso religioso bíblico.
- “Polícia mata ladrão número 1 do Rio”
A estratégia opinativa é relativa à opinião jornalística em relação à representação
do ladrão como “número 1”, estabelecendo uma avaliação do ladrão que foi morto pela
polícia. Dessa forma, o jornalista constrói um argumento de legitimidade para justificar a
sua opinião que avalia o bandido como o maior bandido do Rio de Janeiro.
A estratégia de sedução constrói uma transgressão com os conhecimentos
sociais na medida em que o ladrão é representado como “número 1” que se refere ao
grau ótimo, causando estranhamento ao leitor do OESP.
estratégias interacionais para a construção da manchete
informativa, opinativa e de sedução
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
51
“ARMA NÃO ASSUSTA. PALAVRA DE BANDIDO” – OESP, 16/10/05
“PATRICINHAS SE DISFARÇAM EM BANDIDAS” - OESP, 09/10/05
As manchetes apresentadas, a título de exemplificação, são construídas de forma
recursiva com opinião, informação e sedução.
- “Arma não assusta. Palavra de Bandido”.
A estratégia de construção da informação é relativa a citar o que o bandido disse:
“Arma não assusta”.
A estratégia opinativa é relativa à opinião jornalística em relação ao dito do
bandido, pois se a arma não assusta não há por que manter a arma visando a
segurança do cidadão. Dessa forma, o jornalista constrói um argumento de legitimidade
por meio da citação da fala do bandido, para justificar a opinião do jornal, favorável ao
desarmamento.
A estratégia de sedução constrói uma transgressão com os conhecimentos
sociais, na medida em que para eles o bandido ameaça a vítima com o revólver,
assustando-a.
- “Patricinhas se disfarçam de bandidas”.
A estratégia de construção da informação é relativa à apresentar uma mudança
de atitude: Patricinhas > bandidas.
A estratégia opinativa é relativa à opinião jornalística pela seleção da palavra
“disfarçar” atribuindo um valor negativo à atitude de jovens filhas de grupos elitistas que
querem parecer sem ser.
A estratégia de sedução constrói uma transgressão com os conhecimentos
sociais, pois a designação “patricinhas” contém valor positivo atribuído ao
comportamento de jovens de grupos elitistas, dependentes financeiramente de seus
52
pais; “bandidas” contém valor negativo atribuído ao comportamento de mulheres
marginais, no mundo da criminalidade.
Em síntese, o OESP constrói suas manchetes com diferentes estratégias
interacionais de forma a expressar informação e opinião, além de, pela sedução, buscar
atrair seus leitores, produzindo, neles, o riso.
As estratégias de construção da informação recorrem à seleção lexical de
palavras mais hipônimas que hiperônimas, de forma a construir o acontecimento
jornalístico para o leitor.
As estratégias de construção da opinião recorrem à recontextualização e
ressemantização de palavras conhecidas e usadas pelos leitores.
As estratégias de sedução pela transgressão de conhecimentos, recorre à
criatividade lexical, a segmentos de músicas e a nomes próprios de personagens
musicais, literário, de desenhos animados infantis e a palavras de uso regional
nordestino, representativas da classe operária em São Paulo.
3.1.2 FSP - grupo social de conhecimentos mais genéricos
O grupo social de leitores do FSP é formado por pessoas que têm conhecimentos
mais genéricos, embora sejam de nível universitário e que compram o jornal em busca
de informações a respeito de fatos da atualidade.
A FSP constrói seus textos-reduzidos de maneira diferente dos demais jornais
analisados, pois privilegia o sentido mais global da notícia, a fim de orientar os seus
leitores na leitura do texto-expandido.
53
Os resultados obtidos indicam, também as mesmas, três estratégias interacionais
para a construção de manchetes, pela FSP, a saber:a informativa, opinativa e de
sedução.
3.1.2.1 estratégia interacional para a construção da manchete
informativa
A estratégia da construção da manchete informativa expressa o sentido mais global
que a FSP tenciona que seus leitores construam para a notícia publicada. Com essa
estratégia orienta-se a leitura dos outros textos-reduzidos e do texto-expandido da
notícia.
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
“PAPA APÓIA EXCOMUNHÃO DOS POLÍTICOS PRÓ-ABORTO” – FSP, 10/05/07
“PCC FAZ 100 ATAQUES EM 18 CIDADES” – FSP, 08/08/06
“PT DAVA MESADA DE R$ 30 MIL A PARLAMENTARES, DIZ JEFFERSON” – FSP,
08/08/06
“DATAFOLHA APONTA VITÓRIA DO ‘NÃO’” – FSP, 22/10/05
“122 MILHÕES DEVEM VOTAR EM REFERENDO SOBRE ARMAS DE FOGO” – FSP,
23/10/05
“BRASIL NÃO PROÍBE VENDA DE ARMA” – FSP, 24/10/05
Como se pode verificar, nas manchetes exemplificadas, o sentido mais global do
acontecimento jornalístico é construído para o público-leitor. A FSP, por meio do perfil
54
de seu leitor, para atendê-lo, apresenta a informação de forma genérica; as minúcias,
quando ocorrem, são necessárias para a compreensão da notícia na atualidade.
3.1.2.2 estratégia interacional para a construção da manchete
opinativa
A manchete opinativa é construída com o sentido mais global do valor atribuído,
como opinião jornalística, ao que está sendo noticiado.
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
“SENADORES ABSOLVEM RENAN” – FSP, 13/09/07
“SP VIVE ‘GUERRA DE CANUDOS’, DIZ LEMBO” – FSP, 16/07/06
“BANCOS DESDENHAM MICROCRÉDITO – FSP, 26/03/05
“CÂMARA DÁ MAIS PRAZO A ACUSADOS DO “MENSALÃO” – FSP, 16/09/05
Como se pode verificar, a construção da manchete opinativa resulta da seleção
lexical. Trata-se de selecionar a palavra que já contém, entre seus semas, um valor
positivo ou negativo:
Valor negativo, por exemplo:
- “Senadores absolvem
Renan”
O verbo “absolver” tem em seu conteúdo semântico o ato de <<perdoar, eximir a
culpa>>.
55
Nesse sentido, a palavra absolver expressa um valor negativo atribuído ao voto
dos senadores que eximiram a culpa de Renan Calheiros.
- “SP vive ‘Guerra de Canudos’
, diz Lembo”
A construção opinativa decorre da seleção de “Guerra de Canudos”, que faz parte
das cognições sociais dos leitores, seja através de filmes, de disciplina escolar, de
romances e de revistas.
Na história brasileira, a “Guerra de Canudos“ ocorreu entre 1896 e 1897 na
Bahia, e envolveu seguidores de Antônio Conselheiro e o Exército, sendo que este
realizou a maior matança de crianças, mulheres, homens e velhos por ordem do poder
político vigente. Dessa forma, a seleção de “Guerra de Canudos” para a construção da
manchete, citando-a como fala de Lembo, expressa a opinião negativa das agressões e
mortes produzidas na atualidade da publicação da notícia. A representação construída
como manchete pelo jornal-enunciador se refere aos atos de violência em SP.
Nesse sentido, estrategicamente, a FSP dá adesão por citação à opinião de
Lembo para emitir a sua própria opinião.
- “Bancos desdenham
microcrédito”.
A seleção do verbo “desdenhar” retoma, por intertextualização, o provérbio “quem
desdenha quer comprar” que contém valor negativo para as crenças sociais, pois o
provérbio expressa em língua um comportamento de disfarce. O jornal opina que o fato
dos bancos desdenharem o microcrédito na atualidade da notícia não implica que eles
não deixarão de fazê-lo num futuro próximo.
- “Câmara dá mais prazo a acusados
do “mensalão””
A seleção da palavra “mensalão”, que já foi usada anteriormente com valor
negativo, expressa uma opinião negativa ao fato de o PT “comprar votos na Câmara”. A
seleção da palavra acusado que também contem valor negativo, pois <<quem é
acusado provavelmente tem culpa>>. Essa duas seleções com valor negativo
56
manifestam a opinião negativa do jornal por estar em seqüências a expressões “mais
prazo” de forma a atribuir valor negativo a uma atitude de indecisão dos membros da
Câmara, prorrogando o julgamento.
3.1.2.3 estratégia interacional para a construção da manchete por
sedução
Seduzir um público-leitor de conhecimentos genéricos que exige informações
atualizadas requer uma estratégia de retomada das cognições sociais, seguida de uma
estratégia de transgressão.
Essa estratégia obtém sucesso na interação com o público-leitor da FSP. Os
resultados obtidos indicam que tal público-leitor, no seu cotidiano, está exposto a um
conjunto de enunciados clichês populares e também a informações sobre fatos da
atualidade. Nesse sentido, o jornal atrai o seu leitor, seduzindo-o com informações
atualizadas por meio da transgressão dos seus conhecimentos sociais.
Como esta estratégia, geralmente, é muito usada pela FSP, a título de
exemplificação é apresentado um número maior de manchetes, pois estas são muito
representativas para a estratégia de sedução:
“MORAR CONFORME A MÚSICA” – FSP, 13/05/07
“ENTRE O CÉU E A TERRA” – FSP, 29/03/05
“OU VAI... OU RACHA“ – FSP, 01/07/06
“AGORA OU NUNCA” – FSP 01/07/06
“OS ALQUIMISTAS ESTÃO CHEGANDO” – FSP, 22/11/06 – ILUSTRADA
57
“ERA UMA VEZ” – FSP, 20/10/06
Como se pode verificar, a construção de manchetes por sedução resulta da
seleção de designações conhecidas, seleção e transgressão de expressões clichês, e
da criatividade lexical com a transgressão de expressões já conhecidas.
- “Morar conforme a música”
A construção da manchete está intertextualizada com a expressão clichê “dançar
conforme a música” que contém <<adaptar-se quando não se pode modificar a
situação>>. O clichê foi transgredido, estrategicamente, pela substituição de “dançar”
por “morar”.
- “Entre o céu e a terra”
A estratégia é aplicada na seleção de um fragmento de texto de uma obra literária
de Shakespeare, que é atribuída como parte das cognições sociais dos leitores da FSP,
com formação acadêmica universitária.
- “Ou vai... ou racha“
- “Agora ou nunca”
A construção das manchetes está em progressão no mesmo caderno do jornal e
apresentam, estrategicamente, a repetição na forma e no sentido. Uma retoma a outra,
parafraseando, a primeira, pela inserção semântica do tempo. Por meio da estratégia de
sedução, o jornalista seleciona clichês populares de uso cotidiano em diferentes grupos
sociais brasileiros.
- “Os alquimistas estão chegando”
Estrategicamente seleciona um verso do refrão de uma música de Jorge Benjor.
A transgressão consiste na inserção desta manchete para encabeçar uma notícia.
- “Era uma vez”
58
Ocorre a seleção de um segmento textual, “Era uma vez”, introdutório de histórias
infantis. A transgressão consiste em que o leitor não é criança e não lê o jornal para
querer ler uma história infantil.
3.1.2.4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da
manchete
A intersecção é o uso concomitante de estratégias, de forma recursiva, pois, ao
mesmo tempo que transmite informação, transmite opinião e seduz. Os resultados
obtidos indicam que há três estratégias interacionais de intersecção para a construção
da manchete: informação + sedução; opinião + sedução; informação + opinião +
sedução.
estratégia interacional para a construção da manchete informativa e
de sedução
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
“PÉ NO JACA” – FSP, 19/11/06 – ILUSTRADA
“LAUDO REFORÇA EXISTÊNCIA DE ‘BURACO-NEGRO’” – FSP, 17/11/06
“’GORDÍSSIMA’, CAPITAL DA BAHIA AGRADA A ‘CRÂNIO E PRAIANOS’” - FSP,
23/11/06
Estas três manchetes são construídas pela intertextualização com as cognições
sociais do público-leitor da FSP.
59
- “Pé no Jaca”
O enunciado clichê pé na jaca”, faz referência àquelas pessoas que andam olhando
para o alto e, sem perceber, pisam na fruta, trazendo grande desconforto e
demonstrando grande falta de atenção, pois a fruta, por ser grande e ficar no chão, é
difícil de passar desapercebida. A construção da manchete transgride os conhecimentos
sociais do público-leitor, pois modifica o uso do artigo, transformando um nome feminino
conhecido em nome masculino.
- “Laudo reforça existência de ‘buraco-negro’”
Estrategicamente é selecionada a palavra “buraco-negro”, que designa um
fenômeno astronômico de pouco conhecimento para os que não são especialistas,
porém, uma designação bastante conhecida. A transgressão consiste em sequenciar
“Laudo” e “buraco-negro”, pois laudo é uma designação jurídica e médica, ao passo que
“buraco-negro” é astronômica. Dessa forma, produz-se o risível que seduz o auditório
para a leitura da notícia.
- “ ’Gordíssima’, capital da Bahia agrada a ‘crânio e praianos’ ”
Para atrair o leitor, estrategicamente, constrói-se a manchete com a seleção de
uma expressão clichê utilizada em grupos sociais com bom nível de escolaridade:
“gregos e troianos”, relativa a um capítulo da História da Grécia. Progressivamente as
expressões “agradar gregos e troianos”, com o conteúdo de <<agradar a todos>> passa
a ser usada em grupos sociais com boa escolaridade no Brasil, transformando-se em
um clichê.
O jornalista seleciona o clichê e transgride-o pela substituição das palavras:
“agradar a crânio e praianos”, com esta troca de palavras ocorre uma transgressão. A
manchete informa que a capital da Bahia é designada “Gordíssima” e que ela agrada
tanto uma pessoa erudita quanto pessoas que buscam o diletantismo.
60
estratégia interacional para a construção da manchete opinativa e
de sedução
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
“SEVERINO ATRIBUI SUA QUEDA À ‘ELITEZINHA’ E DIZ QUE VOLTARÁ” – FSP,
22/12/05
“’MENSALINHO’ DERRUBA ‘REI DO BAIXO CLERO’ APÓS 7 MESES” – FSP,
22/09/05
“PAÍS ANDARÁ ‘COM AS PRÓPRIAS PERNAS’, DIZ LULA” – FSP, 29/03/05
“A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA” – FSP, 26/10/06
“FORRADA COM PEDRAS DE BRILHANTE NA RUA DA SONEGAÇÃO” – FSP,
03/04/05
“ALMOÇO EM BRASÍLIA REÚNE MENSALEIROS DO PT” – FSP, 07/04/06
“’JOÃO NEGRO’ CUMPRE PENA DE ‘JOÃO BRANCO’” – FSP, 25/08/05
“OS SEM-TELA” – FSP, 31/10/06 – ILUSTRADA
Esta estratégia de construção de manchetes é freqüente na FSP. As manchetes
são construídas pela intertextualização com as cognições sociais do público-leitor, a fim
de poder transmitir a opinião do jornal FSP.
- “Severino atribui sua queda à ‘elitezinha’ e diz que voltará. ”
A estratégia de sedução ocorre pela retomada da fala de Severino que é
expressa com a seleção lexical da palavra “elitezinha”, de forma a atribuir valor negativo
à “elite”, pelo diminutivo. Assim, estabelece-se uma similitude entre “oposição” e
“elitezinha”. A afirmação de Severino , relativa a seu retorno para o Senado, transgride a
61
decisão da conclusão final de que “ele era culpado”, para provocar o riso e, ao mesmo
tempo, expressar a opinião da FSP que atribui valor negativo à afirmação de Severino.
- “Mensalinho derruba ‘rei do baixo clero’ após 7 meses”
A estratégia opinativa é relativa à opinião jornalística que é construída pela
seqüência de “mensalinho” e “baixo clero”. A palavra “mensalinho” é criada com valor
negativo e atribuída ao recebimento de um pagamento de quantia menor em relação ao
“mensalão”. Dessa forma, a manchete construída atribui tanto valor negativo ao
“mensalinho” quanto ao “mensalão” que não está explicitado; da mesma forma, atribui
tanto valor negativo ao “baixo” quanto ao “alto clero”: palavras empregadas para
designar os membros do Poder pela hierarquização de autoridade atribuída.
A estratégia de sedução é construída com a criatividade lexical por composição
“rei do baixo clero” que transgride com os conhecimentos sociais, de forma a produzir o
riso, construindo desse modo, por meio da intertextualização, uma ruptura com o
participante do poder religioso: prior passa a rei.
- “País andará ‘com as próprias pernas’, diz Lula”
A estratégia opinativa é relativa à opinião jornalística que constrói, a partir da
expressão clichê “andar com as próprias pernas”, valor positivo atribuído, uma vez que
indica liberdade e independência, estabelecendo intertexto com os conhecimentos
sociais e o discurso político. Todavia, a transgressão ocorre, pois, esse clichê não é
adequado a um discurso presidencial que exige um padrão gramatical normativo.
Associar o uso popular de língua ao Presidente da República atribui a ele um valor
negativo, pois o seu uso lingüístico é caracterizado pelo uso de metáforas populares,
que são freqüentes na fala de pessoas de baixo nível de escolaridade. Dessa forma, o
clichê transgride com os conhecimentos sociais dos leitores ao representar o “chefe de
uma nação” por um uso informal de língua.
- “A gente não quer só comida”
62
Com essa estratégia a transgressão é construída com um fragmento da música
Comida do grupo musical Titãs: a gente não quer só comida. A estratégia consiste na
retomada de um fragmento letra da musica comida do grupo musical que já contém
valor negativo para a exclusividade da comida como benefício para uma boa vida do ser
humano.
- “Forrada com pedras de brilhante a rua da sonegação”
Na construção da manchete, ocorre uma transgressão de um trecho do texto
musical Se essa rua fosse minha, canção popular modificada pelo jornalista, pois insere
a realidade da sonegação que rompe com o contexto lúdico da canção popular. Com a
transgressão, constrói-se valor negativo para a sonegação que só traz privilégios de
riqueza aos sonegadores.
-“Almoço em Brasília reúne mensaleiros do PT”
Como “mensalão”, nas cognições sociais, tem avaliação negativa, este mesmo
valor é transmitido na criação da palavra nova: o sufixo –eiro = “profissão” é acrescido
para construir <<aqueles que fazem o pagamento mensal de um suborno>>.
- “’João Negro’ cumpre pena de ‘João Branco’” – FSP, 25/08/05
A construção dessa manchete atribui valor negativo ao racismo. Essa atribuição
de valor ocorre com a explicitação de “negro pagar a pena de branco”.
- “Os sem-tela”
A transgressão transmite um valor negativo na medida que alguém injustamente está
privado daquilo que lhe é de direito. A transgressão decorre de uma criatividade lexical
por composição: sem-terra, sem-tela.
63
estratégia interacional para a construção da manchete informativa,
opinativa e de sedução
As manchetes apresentadas a título de exemplificação são construídas de forma
recursiva com opinião, informação e sedução.
“CPI DIVULGA RELATÓRIO E DIZ TER PROVADO O “MENSALÃO”” – FSP, 22/12/05”
“’LADRÃO FASHION’ MORRE EM FUGA ESPETACULAR” – FSP, 16/09/05
“UNIÃO TRAZ MAIS FORÇA AOS PEQUENOS” – FSP, 30/03/05
“SELEÇÃO ARRISCA, MAS RONALDO NÃO PETISCA” – FSP, 31/03/05
- “CPI divulga
relatório e diz ter provado o “mensalão”””
A estratégia de construção da informação é relativa à escolha lexical dos verbos
“divulga” e “diz ter provado” como ações efetuadas pela CPI em relação ao “mensalão”,
atribuindo uma avaliação negativa.
A aprovação de algo e o fato de ter designado esse algo como “mensalão” e
ainda ter para as cognições sociais valor negativo, atribui, também, valor negativo à
aprovação feita pelos representantes do povo. A transgressão consiste em apresentar
uma manchete que contraria as cognições sociais, no que se refere às ações previstas
para os representantes do povo eleito.
- “’Ladrão fashion’ morre em fuga espetacular”
A informação veiculada na manchete é “ladrão morre enquanto fugia” e os
valores positivos atribuídos estão contidos em “fashion” e “espetacular”. Porém, a
manchete transgride na sua enunciação, esses valores pela seqüênciação de “ladrão
fashion”, “fuga espetacular”, “morrer”. A transgressão com os conhecimentos sociais,
64
consiste em ladrão que não é fashion e nem que a fuga seja espetacular. Morreu em
fuga é a informação. O valor positivo mais geral é atribuído a Polícia (que abrange todos
os elementos).
- “União traz mais força aos pequenos”
A manchete é construída pela intertextualização com o provérbio “a união faz a
força”. Este é modificado por transgressão pela inserção de “traz mais força aos
pequenos”, de forma a atribuir valor negativo para “união”. A restrição da união como
força.
- “Seleção arrisca, mas Ronaldo não petisca
A informação é a tentativa de a seleção ganhar, empreendida pelos jogadores,
sendo que o mais cotado deles não lutou. A transgressão consiste no valor negativo
atribuído a Ronaldo que, nas cognições sociais na atualidade da notícia, era
considerado “ o fenômeno”.
Em síntese, a FSP constrói suas manchetes com diferentes estratégias
interacionais de forma a expressar informação e opinião, por meio das cognições sociais
dos leitores que têm acesso a conhecimentos em sociedade. Dessa forma, a empresa-
jornal se utiliza de estratégia de sedução para atrair seus leitores.
3.1.3 JT - grupo social de conhecimentos enciclopédicos
O grupo social de leitores do JT é formado por pessoas que têm conhecimentos
sociais enciclopédicos, ou seja, pela divulgação de conhecimentos específicos, relativos
ao âmbito nacional e internacional e que compram o jornal em busca de informações a
respeito de acontecimentos da atualidade.
65
O JT constrói seus textos-reduzidos de forma diferente do OESP e da FSP, pois,
na construção das manchetes, privilegia o sentido mais global da notícia, com a
expressão opinativa para seus leitores. Dessa forma, já constrói na manchete a opinião
do jornal para os leitores.
Foram encontradas, mais freqüentemente duas estratégias interacionais para a
construção das manchetes do JT, a saber: opinativa e de sedução.
3.1.3.1 estratégia interacional para a construção da manchete
informativa
De forma geral, no material selecionado, não houve ocorrência de manchetes
exclusivamente informativas.
3.1.3.2 estratégia interacional para a construção da manchete
opinativa
A manchete opinativa é construída com o sentido mais global do valor atribuído,
como opinião jornalística, ao que está sendo noticiado.
Para evitar redundância, a título de exemplificação, apresenta-se a seguinte
manchete:
“A INSEGURANÇA É PÚBLICA” – JT, 08/07/06
Como se pode verificar, a construção da manchete opinativa resulta da seleção
lexical. Trata-se de selecionar a palavra “insegurança” que já contém, em seus semas,
valor negativo, nas cognições sociais do grupo de leitores.
66
Ao se sequenciar “a insegurança é pública”, e predicado por uma estrutura verbal
predicativa nominal, o verbo ser contém “sema permanssivo” e expressa valor negativo
ao fato noticiado que é de responsabilidade do Estado, isto é, o governo responsável
pela segurança pública, ou ainda, um órgão do governo Secretaria de Segurança
Pública.
3.1.3.3 estratégia interacional para a construção da manchete por
sedução
Seduzir um público-leitor de conhecimentos enciclopédicos requer uma estratégia
de retomada das cognições sociais, seguida de uma estratégia de transgressão.
Para evitar redundância, a título de exemplificação são apresentadas as seguintes
manchetes:
“NA CARA DA POLÍCIA” – JT, 08/08/06
“ELE ESTÁ DESCONTROLADO” – JT, 01/04/05
- “Na cara da polícia”
A construção da manchete decorre de uma estratégia de seleção da palavra
“cara” que é de uso popular para designar <<o que ocorre na frente de alguém que
observa>> . A transgressão decorre de “na cara da polícia”, pois nas cognições sociais
deste grupo de leitores, a polícia não tem cara, rosto “nem está parada sem ação para
observar o que acontece”. Dessa forma, pela transgressão, tem-se a construção da
manchete.
- “Ele está descontrolado”
67
A construção da manchete por sedução ocorre por meio da seleção lexical de um
trecho de um texto musical de baile funk, resgatando conhecimentos sociais dos
leitores. Como se pode verificar, a manchete é construída com um acordo, pela
intertextualização com as cognições sociais do grupo de leitores.
A transgressão decorre de um fragmento de música funk encabeçar uma notícia,
produzindo o riso.
3.1.3.4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da
manchete
A intersecção é o uso concomitante de estratégias, de forma recursiva, pois, ao
mesmo tempo que transmite informação, transmite opinião e seduz. Os resultado
obtidos indicam que há três estratégias interacionais de intersecção para a construção
da manchete: informação + sedução; opinião + sedução; informação + opinião +
sedução.
A título de exemplificação, são apresentadas as seguintes manchetes:
estratégia interacional para a construção da manchete informativa e
de sedução
O resultado obtido indica que o público-leitor lê as notícias do jornal para saber o
que ocorre na atualidade e já tem o hábito de aceitar a opinião do jornal, que, talvez,
não seja consciente para ele.
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estratégia interacional para a construção da manchete opinativa pela
sedução a respeito da informação
A título de exemplificação, apresentam-se:
“PF: PEGAMOS O ‘BINGÃO DA JUSTIÇA’ – JT, 21/04/07
“PEDÁGIOS NA FERNÃO E NA RÉGIS. ERA SÓ O QUE FALTAVA” – JT, 10/10/07
“RENAN SALVO POR 40 AMIGOS SECRETOS – JT, 13/09/07
“IBIRAPUERA TEM DIA DE CÃO, CHEIO DE FESTA” – JT, 03/04/05
- PF: pegamos o ’bingão da Justiça’
Esta manchete informa sobre uma campanha de sucesso realizada pela Polícia
Federal. A transgressão por sedução decorre da criatividade lexical “ bingão da Justiça”.
Trata-se de uma intertextualização com a palavra “mensalão”, já conhecida pelos
leitores. A criatividade lexical por derivação constrói, com o mesmo valor negativo
contido em “mensalão”, “bingão. A transgressão consiste na seqüência “bingão da
Justiça” que constrói uma ruptura com os conhecimentos sociais, de forma a atribuir
valor negativo <<à corrupção da Justiça>>. Essa transgressão produz o riso.
- “Pedágios na Fernão e na Régis. Era só o que faltava”
Esta manchete é construída pela informação: haverá pedágios nas rodovias
Régis Bittencourt e Fernão Dias. A seleção das palavras para designar as rodovias
“Fernão” e “Régis” é de uso popular.
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A opinião do jornal está explícita na manchete “Era só o que faltava”. Essa
opinião é construída por um acordo com as cognições sociais, relativas à cobrança
excessiva de taxas para o brasileiro.
A transgressão consiste na construção da manchete em que a opinião é expressa
por um clichê popular.
- “Renan salvo por 40 amigos secretos”
A estratégia de construção da informação é relativa a apresentar o resultado de
uma votação ocorrida na Câmara referente a um processo contra Renan.
A estratégia opinativa é relativa ao valor negativo atribuído pelo jornal ao fato de
Renan Calheiros ter sido absolvido no Senado. A opinião é construída pela escolha
lexical do verbo “salvar” e pela escolha e modificação criativa de “40 amigos secretos”,
que se intertextualiza com as cognições sociais “Ali Babá e seus 40 ladrões”.
O jornal informa que todos os 40 senadores aprovaram a absolvição de Renan ,
seja por abstenção ou por voto expresso por “amigos secretos”, embora não explicite se
por voto ou abstenção.
- “Ibirapuera tem dia de cão, cheio de festa”
Esta manchete é construída pela intertextualização com as cognições sociais do
público-leitor, considerando a opinião do jornal JT, de onde é retirado “dia de cão”. A
opinião é construída, a partir da seleção lexical realizada, de forma a atribuir valor
negativo a um fato acontecido no Ibirapuera. A transgressão consiste em se atribuir ao
fato acontecido, como predicação, “dia de cão”, em sequenciação, “cheio de festa”.
Em síntese, o JT constrói suas manchetes com diferentes estratégias
interacionais de forma a expressar, principalmente, a opinião, para além da sedução,
buscar atrair seus leitores pela opinião jornalística.
70
3.1.4 DSP e AGSP - grupo social popular
O grupo social de leitores do DSP e AGSP é formado por pessoas que têm uma
dimensão menor de conhecimentos sociais de âmbito nacionais e internacionais e cujo
interesse é a respeito de informações relativas a seu domínio de vida.
O DSP e AGSP constróem seus textos-reduzidos de forma diferente dos demais
jornais analisados, pois privilegia o sentido mais global da notícia a fim de construir a
opinião jornalística para seus leitores.
Foram encontradas três estratégias interacionais para a construção de manchetes,
no DSP e AGSP,a saber: informativa, opinativa e de sedução.
3.1.4.1 estratégia interacional para construção da manchete
informativa
A manchete informativa é construída com o sentido mais global que o DSP e AGSP
tencionam que seus leitores construam. Trata-se de uma estratégia de orientação da
leitura dos outros textos-reduzidos e do texto-expandido.
A título de exemplificação, apresentam-se as seguintes manchetes:
“DATAFOLHA APONTA QUE A VENDA DE ARMAS NO BRASIL NÃO SERÁ
PROIBIDA NÃO 57% SIM 43%” – AGSP, 22/10/05
“VENDA DE MATERIAS DE CONSTRUÇÃO CRESCE COM O EFEITO “PUXADINHO””
– DSP, 26/08/06
71
- “Datafolha aponta que a venda de armas no Brasil não será proibida não 57% sim
43%” – AGSP, 22/10/05
A construção da informação explicita o “Datafolha” que resulta de uma pesquisa
de opinião pública e que faz parte do domínio de vida dos leitores. Informa-se que, por
uma pequena porcentagem, “a venda de armas mão será proibida no Brasil” .
- “Venda de materiais de construção cresce com o efeito “puxadinho””
A construção da informação na manchete é relativa ao domínio de vida do leitor,
pois o “puxadinho” é a palavra de uso popular para designar a ampliação de cômodos
de uma residência. A manchete informa que o “efeito puxadinho” = ampliação de
residência popular, ocasionou o aumento da venda de materiais de construção.
3.1.4.2 estratégia interacional para a construção da manchete
opinativa
A manchete opinativa é construída com o sentido mais global do valor atribuído,
como opinião jornalística, ao que está sendo noticiado.
A título de exemplificação, apresentam-se as seguintes manchetes:
“RENAN É ABSOLVIDO POR 40 SENADORES E ESCAPA DE CASSAÇÃO” – AGSP,
13/09/07
“JUÍZES RECEBIAM MENSALINHO PARA LIBERAR OS BINGOS” – DSP, 21/04/07
-“Renan é absolvido por 40 senadores e escapa de cassação”
O sentido mais global da notícia é “Renan é absolvido por 40 senadores”. A
construção opinativa resulta da seleção lexical do verbo “absolver” pois implica que
72
Renan tem culpa. A construção opinativa progride com a seleção lexical “escapa da
cassação” a seleção do verbo “escapar” é relativa <<àquele que foge ao ser perseguido
e se salva>>. Dessa forma, a AGSP atribui valor negativo ao resultado da votação
secreta dos senadores a respeito do crime cometido por Renan.
-“Juízes recebiam mensalinho para liberar os bingos”
A informação de que juízes recebiam uma quantia em dinheiro, para liberar os
bingos que estavam proibidos, recebe valor negativo do DSP, tanto no que se refere a
“mensalinho” quanto a “juízes liberar os bingos” que estavam proibidos, desrespeitando
uma ação jurídica.
Conforme as cognições sociais extra-grupais, na atualidade divulgada pelas
mídias, os bingos foram proibidos pela Justiça. Nas cognições sociais, também, extra-
grupais, “juízes” são <<pessoas que executam conforme decisões da Justiça>>.
Logo, a construção da manchete pela seleção lexical expressa um valor negativo
ao sentido mais global da notícia.
3.1.4.3 estratégia interacional para a construção da manchete por
sedução
Seduzir um público-leitor de conhecimentos que têm uma dimensão menor de
conhecimentos sociais exige uma estratégia de retomada de suas cognições sociais,
seguida de uma estratégia de transgressão.
A título de exemplificação, apresentam-se as seguintes manchetes do DSP e
AGSP:
“VEJA TIRA-TEIMA ENTRE SIM E O NÃO” – AGSP, 23/10/05
73
“SEM PAPAS NA LÍNGUA” – DSP, 10/05/07
“PARA VER O CHICO PASSAR” – DSP, 26/07/06
“FILHO DE PEIXE PEIXINHO É?” – DSP, 10/08/06
“DE BRUXA A FADA MÁ” – DSP, 16/08/06
Como se pode verificar, a manchete é construída com um acordo, pela
intertextualização, com as cognições sociais do grupo de leitores, seguido de uma
transgressão.
-“Veja tira-teima entre sim e o não”
A sedução é construída pela seleção lexical “tira-teima” que faz parte do domínio
de vida dos leitores em relação ao futebol. A transgressão decorre da intersecção do
futebol com a política, de forma a atrair os leitores para ler o resultado final da apuração
do referendo sobre as armas de fogo.
- “Sem papas na língua”
A sedução decorre da seleção de um clichê popular “Sem papas na língua” para
encabeçar um notícia, como manchete, por meio da transgressão. Esse clichê faz parte
das cognições sociais extra-grupais, no Brasil.
- “Para ver o Chico passar”
A construção da manchete pela intertextualização com a música A Banda, de
Chico Buarque, que é de domínio popular no Brasil. A estratégia é selecionar um verso
da música “para ver a banda passar”. A transgressão consiste na substituição da
palavra “banda” por “Chico” designação própria do autor da música. Tal transgressão
produz o riso.
74
- “Filho de peixe peixinho é?”
A manchete é construída com a seleção de um provérbio “filho de peixe, peixinho
é“. A transgressão consiste na inserção de uma interrogação que coloca em dúvida uma
cognição social, de forma a seduzir pela curiosidade.
- “De bruxa a fada má”
A manchete é construída pela seleção das palavras “bruxa” e “fada má”, para
estabelecer uma intertextualização com os contos de fadas infantis. A transgressão
consiste numa ressemantização, pois a “bruxa” é <<uma mulher feia e má>> e “fada
má” é << aquela que predestina a vida das pessoas com maldade>>.
Pela transgressão, estabelece-se uma progressão pois, de “bruxa” que não tem a
capacidade de escrever o destino da pessoa, alguém se tornou “fada má”.
3.1.4.4 intersecção de estratégias interacionais para a construção da
manchete
A intersecção é o uso concomitante de estratégias, de forma recursiva, pois ao
mesmo tempo, que transmite informação, transmite opinião e seduz. Os resultado
obtidos indicam que há três estratégias interacionais de intersecção para a construção
da manchete: informação + sedução; opinião + sedução; informação + opinião +
sedução.
75
Para evitar redundâncias, embora a intersecção de estratégias por este grupo de
leitores, são apresentadas manchetes exemplificadas em cada item.
estratégia interacional para a construção da manchete informativa e
de sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a manchete:
“LADRÃO ENVIA ‘HOMEM-ROJÃO AO DEIC’“ – DSP, 15/08/06
- “Ladrão envia ‘homem-rojão ao Deic’”
Esta manchete é construída pela intertextualização com as cognições sociais do
público-leitor do DSP, que conhece, pelas dias, o “homem-bomba”. A construção da
informação é feita por uma transgressão com a cognição social do leitor, de forma a
construir criativamente a palavra “homem-rojão”. A manchete informa que o ladrão
enviou alguém ao Deic, informação esta construída com estratégia de sedução, pois o
alguém enviado é designado “homem-rojão”, de forma a produzir o riso.
A estratégia de sedução é construída com a criatividade lexical por composição
“homem-rojão”.
estratégia interacional para a construção da manchete opinativa e
de sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a manchete:
“NÃO É MOLE, NÃO, CHEGOU A HORA DE GRITAR É CAMPEÃO” – AGSP, 03/04/05
76
-“Não é mole, não, chegou a hora de gritar é campeão”
Esta manchete é construída por meio da intertextualização com um provérbio
“rapadura é doce, mas não é mole, não”. A manchete, reduzida em “não é mole não”
constrói a opinião para o leitor uma avaliação negativa, pois, se refere a idéia de que
todas as coisas boas têm um lado ruim. Na progressão da manchete em “chegou a hora
de gritar é campeão” a avaliação é positiva, pois, transgride com os conhecimentos
sociais.
Assim, a manchete é construída por meio da sedução, privilegiando, inicialmente,
uma avaliação negativa e, por meio da construção da opinião, ocorre a inversão de
valores com a avaliação positiva.
estratégia interacional para a construção da manchete informativa,
opinativa e de sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a manchete:
“SANDRA BULLOCK VIRA UMA PERIGOSA PERUA” – DSP, 01/04/05
- “Sandra Bullock vira uma perigosa perua”
A manchete é construída com a informação de uma mudança para as atitudes de
Sandra Bullock. A opinião jornalística consiste em atribuir valor negativo a essa
mudança: “perigosa perua”. A transgressão para seduzir o leitor é transformar Sandra
Bullock em uma perigosa perua, pois nas cognições sociais do grupo de leitores é uma
77
atriz norte-americana e “perua” é a designação brasileira para atitudes femininas
exageradas.
Van Dijk (1990) apresenta seus resultados obtidos da análise de manchetes de
jornais europeus. Segundo o autor, as manchetes seguidas de outros textos-reduzidos
constroem o acontecimento noticioso e sua função estrutural é bem clara: juntos, os
textos-reduzidos expressam os principais temas do fato, isto é, funcionam como um
resumo inicial.
No que se refere ao eixo semântico, os textos-reduzidos resumem o texto-
expandido e expressam o sentido mais global da notícia, ou seja, a sua macro estrutura
semântica.
A manchete é construída com o sentido global do tema e sua expressão, em forma
geral, tem os verbos no tempo presente do indicativo. Os resultados obtidos e
apresentados neste item, em parte, conferem com os resultados apresentados por Van
Dijk e, em parte, complementa-os. Os resultados que conferem são relativos à
construção da manchete pela informação e pela opinião. Os resultados que
complementam são relativos à construção da manchete pela sedução.
Tais manchetes são muito freqüentes em todos os jornais paulistanos pesquisados
e, por essa razão, a manchete não expressa o sentido mais global da noticia. Acredita-
se que a causa é relativa ao traço cultural do brasileiro que guia suas ações no seu
cotidiano: a irreverência que provoca o riso (cf. Silveira, 2000).
Como se pode verificar, as estratégias interacionais construídas pela sedução do
leitor são as mais tipificadas e ocorrem tanto para construção da informação, quanto
para a construção da opinião. Além disso, ocorrem todas elas concomitantes com as
estratégias de sedução.
A ocorrência de manchetes construídas sem informação e sem opinião, com o
recurso de criatividade lexical e o recurso de seleção de fragmentos de outros textos
78
também é muito freqüente, por exemplo: “De Geni para Tieta”, “De bruxa a fada má”,
“Cabra fashion”, “Pé no Jaca”, “Era uma vez”.
3.2 estratégias de construção da notícia por textos-reduzidos
Os resultados apresentados, neste item, são relativos à construção da notícia e
foram obtidos a partir da progressão semântica da notícia.
3.2.1 a construção da notícia no OESP
A notícia é construída com o sentido mais global que o OESP tenciona que seus
leitores construam. Trata-se de uma estratégia de orientação da leitura a partir dos
textos-reduzidos (manchete, linha-fina e lead) para o texto-expandido. O jornal OESP
constrói suas notícias, com avaliação:
- pela seqüência de: manchete, linha-fina e lead.
- pela seqüência de: manchete e linha-fina.
- pela seqüência de: manchete e lead.
Com a estratégia de recorrer aos três textos-reduzidos, o jornal OESP progride a
notícia com a inserção de dados minuciosos, a fim de satisfazer os seus leitores. Dessa
forma, a construção do acontecimento jornalístico como notícia compreende tanto a
narrativa do fato quanto a opinião jornalística. A título de exemplificação, apresentam-se
duas seqüências de textos-reduzidos: a primeira é relativa à construção da informação e
79
a segunda, à progressão semântica de uma manchete construída estrategicamente pela
sedução.
a construção da noticia pela informação
A título de exemplificação, apresenta-se a notícia:
“PCC FAZ 3º ONDA DE ATAQUES E SECRETÁRIO PEDE EXÉRCITO – OESP,
08/08/06
Linha-fina: Foram 78 atentados ontem; ministro da Justiça oferece 10 mil homens.
Lead: O Primeiro Comando da Capital (PCC) fez sua terceira onda de atentados em São Paulo. Foram
atacados ônibus, bancos, supermercados, lojas de automóveis, bases da Guarda Civil Metropolitana e
três alvos em especial: as sedes do Ministério Público Estadual e da Secretaria da Fazenda e um
estacionamento do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado, onde cinco veículos da
polícia foram queimados. Ao todo, foram 78 atentados contra 93 alvos. Dois supostos marginais foram
mortos e 12, presos. O governador Cláudio Lembo voltou a dizer que o Estado não precisa de ajuda do
Exército, mas depois o secretário da Segurança, Saulo Abreu, pediu publicamente 4,5 mil soldados da
infantaria para ocupação de áreas dominadas pelo tráfico de drogas e para guarda de presídios.”
A manchete explicita o fato, por uma relação de causa e conseqüência:
- causa: PCC faz terceira onda de ataques
- conseqüência: secretário pede exército
A linha-fina constrói o acontecimento noticioso com dados minuciosos:
“3º onda de ataques” progride semanticamente na linha-fina em “foram 78
atentados ontem”
80
A progressão da notícia na linha-fina também é construída por uma informação que
é conseqüência de uma causa apresentada na manchete:
- causa: secretário pede exército
- conseqüência: ministro da Justiça oferece 10 mil homens.
O lead progride semanticamente a linha-fina e a manchete:
Na manchete consta “PCC” que é expandido no lead como “Primeiro Comando da
Capital (PCC)” e na manchete: “3º onda de ataques” que progride para a linha-fina
como: “foram 78 atentados ontem” e para o lead que expande os atentados como:
“Foram atacados ônibus, bancos, supermercados, lojas de automóveis, bases da
Guarda Civil Metropolitana e três alvos em especial: as sedes do Ministério Público
Estadual e da Secretaria da Fazenda e um estacionamento do Departamento de
Investigações sobre o Crime Organizado, onde cinco veículos da polícia foram
queimados. Ao todo, foram 78 atentados contra 93
alvos”.
Na manchete informa que: “secretário pede Exército” em expansão na linha-fina:
“ministro da Justiça oferece 10 mil homens” e no lead na progressão da notícia: “O
governador Cláudio Lembo voltou a dizer que o Estado não precisa de ajuda do
Exército, mas depois o secretário da Segurança, Saulo Abreu, pediu publicamente 4,5
mil soldados da infantaria para ocupação de áreas dominadas pelo tráfico de drogas e
para guarda de presídios”.
Em síntese, a notícia é construída estrategicamente pela progressão semântica de
texto-reduzido para texto-reduzido. A coesão textual para a progressão semântica é
recursiva e não ordenada, de modo a explicitar tanto a narrativa quanto a opinião do
jornal que, no texto analisado acima, é negativa em relação à atitude de Lembo e
positiva em relação à atitude do secretário de segurança.
Por uma estratégia de hierarquização, a manchete explicita intencionalmente as
informações mais hierárquicas; as demais, expandidas, vão sendo inseridas até que o
lead apresente todas as inserções.
81
a construção da noticia por sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a notícia:
‘DAVI’ CHÁVEZ FUSTIGA ‘GOLIAS’ BUSH – OESP, 16/10/05
Linha-fina: Líder venezuelano não perde oportunidade de espezinhar o presidente americano, a quem
acusa de planejar seu assassinato.
Lead: A Casa Branca pode até estar ocupada com o Iraque e as conseqüências do furacão Katrina, mas
na Venezuela a principal preocupação do presidente Hugo Chávez parece ser o governo Bush. Ou, como
ele diz freqüentemente, os grandes planos de Bush para matá-lo e invadir este rico país em petróleo. As
ameaças são tão grandes, disse Chávez, que ele foi obrigado a cancelar várias aparições públicas e criar
uma milícia civil que vai fazer as hordas ianques “comerem poeira”. E avisa os americanos que, se forem
tão idiotas a ponto de invadir o país, “podem esquecer o petróleo venezuelano”.(...) Wayne Smith, ex-
diplomata americano em Cuba, disse que viu um paralelo com a relação antagonista que dez presidentes
americanos tiveram com Fidel Castro, que sobreviveu a invasão da Baía dos Porcos, e, segundo El
Comandante, escapou de várias tentativas de assassinato. “Ele brinca de Davi com nosso Golias de uma
forma que reverbera esplendidamente na América Latina”, disse Smith. “Agora Chávez está fazendo o
mesmo”.
A progressão semântica na construção da noticia é estabelecida por:
‘DAVI’ CHÁVEZ na manchete progride na linha-fina para: “Líder venezuelano” e no
lead: “na Venezuela”, “presidente Hugo Chávez”.
A primeira relação interdiscursiva entre o discurso bíblico e político foi expressa
pelo ex-diplomata norte-americano Smith ao comparar Fidel Castro com Davi e o
presidente norte-americano com Golias. O lead informa também que o fato de Chávez
se opor ao governo de Bush pode ser parafraseado com a comparação estabelecida
com o Smith em outra atualidade.
A manchete traz o verbo “fustiga” que coesivamente é retomado na linha-fina por
“espezinhar” e no lead pela explicitação da denúncia feita por Chávez contra o governo
norte-americano que planeja o seu assassinato.
82
Por meio da seleção lexical dos verbos utilizados na expansão entre a linha-fina e
o lead, temos fustigar, como “bater com alguma coisa flexível; ferir com palavras sem
réplica” e espezinhar como “tratar com desprezo, humilhar”.
Em síntese, pela coesão seqüencial dos três textos reduzidos estrategicamente,
a notícia construída por retomadas não ordenadas, mas recursivas tanto para a
construção da narrativa do fato quanto para a construção opinativa, que no caso
analisado acima atribui valor negativo a Bush e valor positivo a Chávez.
Por uma estratégia de hierarquização a manchete explicita intencionalmente as
informações mais hierárquicas; as demais, vão sendo inserida por expansão até que o
lead apresente todas as inserções.
3.2.2 a construção da notícia no FSP
A notícia é construída com o sentido mais global que o FSP tenciona que seus
leitores construam. Trata-se de uma estratégia de orientação da leitura a partir dos
textos-reduzidos (manchete, linha-fina e lead) para o texto-expandido. O jornal FSP
constrói suas notícias, com avaliação:
- pela seqüência de: manchete, linha-fina e lead.
- pela seqüência de: manchete e linha-fina.
- pela seqüência de: manchete e lead.
Com a estratégia de recorrer aos três textos-reduzidos, o jornal FSP progride a
notícia com a inserção de dados menos minuciosos, a fim de satisfazer os seus leitores.
Dessa forma, a construção do acontecimento jornalístico como notícia compreende
83
tanto a narrativa do fato quanto a opinião jornalística. A título de exemplificação,
apresentam-se duas seqüências de textos-reduzidos: a primeira é relativa à construção
da informação e, a segunda, à progressão semântica de uma manchete construída
estrategicamente pela sedução.
a construção da notícia pela informação
A título de exemplificação, apresenta-se a notícia:
PCC FAZ 100 ATAQUES EM 18 CIDADES – FSP, 08/08/06
Linha-fina – Nova onda de atentados atinge, pela primeira vez, Ministério Público; dois suspeitos morrem.
Governador diz que foi surpreendido, recusa o Exército e bate boca com o ministro da Justiça.
Lead: A terceira onda de atentados atribuídos à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital)
neste ano atingiu cem alvos em 18 cidades de SP. Os criminosos usaram bombas, conquetéis molotov e
armas de fogo. Dois suspeitos morreram e outros 12 foram detidos. Pela primeira vez, os criminosos
atacaram a sede do Ministério Público Estadual em São Paulo. Uma bomba caseira quebrou vidro à prova
de balas, destruiu detector de metais e aparelhos.
Como se pode verificar, pelo confronto dessa notícia com a notícia publicada por
OESP, as informações explicitadas são menos minuciosas. A progressão semântica
para a construção da notícia pode ser apresentada por:
Na manchete: “100 ataques em 18 cidades” progride na linha-fina, expandindo
apenas a palavra “ataque” por “Nova onda de atentados atinge, pela primeira vez,
Ministério Público, dois suspeitos morrem”. No lead, ocorre a retomada de “PCC” na
manchete para “facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital)”.
84
Nesta notícia, a discussão entre Lembo e o secretário não apresenta progressão
semântica e esta explicitada apenas na linha-fina pela palavra bate boca. Os ataques do
PCC estão hierarquizados em relação às demais informações. A informação a respeito
dos ataques do PCC está hierarquiza em relação às demais no eixo narrativo do fato
para a construção do acontecimento jornalístico.
A avaliação negativa é atribuída aos ataques e, de forma genérica, a bate boca.
Por vezes, a linha-fina traz uma informação que não é retomada no lead, pois esta não
está hierarquizada na construção.
a construção da notícia por sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a notícia:
‘LADRÃO FASHION’ MORRE EM FUGA ESPETACULAR – FSP, 16/09/05
Linha-fina: Bombas e gravatas – Assaltante de imóveis da classe média alta do Rio joga granada para
furar bloqueio e invade prédio e invade prédio até ser baleado.
Lead: O ladrão mais procurado do Rio de Janeiro – loiro, de olhos verdes e nascido em família de classe
média – foi morto ontem de madrugada, após perseguição policial da qual tentou escapar detonando até
uma granada. Batizado como “ladrão fashion”, Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, 23, filho de ex-
policial civil, foi morto com um tiro de fuzil no peito no corredor de um prédio na Lagoa, bairro nobre da
zona sul. Eram 4h e ele havia acabado de furar – com o uso de uma granada – um cerco policial montado
para prendê-lo na saída do túnel Rebouças (ligação entre as zonas norte e sul)
.
A progressão semântica na construção da notícia é estabelecida por:
‘Ladrão fashion’ na manchete progride na linha-fina para: “Assaltante de imóveis da
classe média alta do Rio” e no lead: “O ladrão mais procurado do Rio de Janeiro – loiro,
de olhos verdes e nascido em família de classe média”.
85
Na manchete ocorre uma interdiscusividade entre o mundo da moda e mundo da
criminalidade expressa pelo uso da palavra “fashion” que progride na linha fina “Bombas
e Gravatas” e expande no lead em “fuga espetacular” que progride para linha-fina:
“Assaltante de imóveis da classe média alta do Rio joga granada para furar bloqueio e
invade prédio e invade prédio até ser baleado”.
O lead informa, também, a progressão da manchete:
“fashion” como: “O ladrão mais procurado do Rio de Janeiro – loiro, de olhos verdes e
nascido em família de classe média” e “Batizado como “ladrão fashion”, Pedro Machado
Lomba Neto, o Pedro Dom, 23, filho de ex-policial civil”.
“morre” como: “foi morto ontem de madrugada, após perseguição policial da qual tentou
escapar detonando até uma granada” e “foi morto com um tiro de fuzil no peito no
corredor de um prédio na Lagoa, bairro nobre da zona sul”
“fuga espetacular” em: “Eram 4h e ele havia acabado de furar – com o uso de uma
granada – um cerco policial montado para prendê-lo na saída do túnel Rebouças
(ligação entre as zonas norte e sul)”.
Na expansão da notícia, a linha-fina e lead progridem por meio de retomadas de
acordo com o sentido mais global da manchete.
Em síntese, pela coesão seqüencial dos três textos reduzidos, estrategicamente,
a notícia construída por retomadas não ordenadas, mas recursivas tanto para a
construção da narrativa do fato quanto para a construção opinativa que, no caso
analisado acima, atribui ao “ladrão fashion” e à sua morte espetacular o inusitado. O
valor positivo é atribuído à atitude da polícia.
Por uma estratégia de hierarquização, a manchete explicita intencionalmente as
informações mais hierárquicas; as demais, vão sendo inseridas até que o lead
apresente todas as inserções.
86
3.2.3 a construção da notícia no JT
A notícia é construída com o sentido mais global que o JT tenciona que seus
leitores construam. Trata-se de uma estratégia de orientação da leitura a partir dos
textos-reduzidos (manchete, linha-fina e lead) para o texto-expandido. O jornal JT
constrói suas notícias, com avaliação:
- pela seqüência de: manchete, linha-fina e lead.
- pela seqüência de: manchete e linha-fina.
- pela seqüência de: manchete e lead.
Com a estratégia de recorrer aos três textos-reduzidos, o jornal JT progride a
notícia com a inserção de argumentos relativos à justificativa da opinião que esta
expressa na manchete, de forma a agradar seus leitores. Dessa forma, a opinião
jornalística está hierarquizada em relação a narrativa do fato do acontecimento
jornalístico. A título de exemplificação, apresentam-se duas seqüências de textos-
reduzidos.
a construção da notícia pela informação
A título de exemplificação, apresenta-se a notícia:
A INSEGURANÇA É PÚBLICA – JT, 08/07/06
Linha-fina: Bomba e 11 feridos no trem da CPTM
87
Lead: Eram 10h45 quando a composição parou na Estação Brás. Assim que as portas se abriram, o
artefato de fabricação caseira, deixado sob o banco, explodiu. “Se tivesse sentado ali, morreria”, disse um
passageiro.
A manchete explicita a opinião de forma mais hierarquizada, pois focaliza a
insegurança com valor negativo para o que vem acontecendo na cidade de são Paulo: o
povo constantemente ameaçado e exposto ao perigo.
A linha-fina e o lead progridem semanticamente a opinião, apresentando
argumentos de legitimidade e de reforço. Argumento de legitimidade com a narrativa do
acontecimento jornalístico:
Linha-fina: “Bomba e 11 feridos no trem da CPTM”
“Bomba e 11 feridos” expandem a insegurança e “trem da CPTM” expande pública
como argumento de legitimidade.
O lead explicita na sequenciação de informações novos argumentos relativos a:
“trem da CPTM” coesivamente é expandido por “a composição parou na Estação do
Brás”, “Bomba” é expandido por “eram 10h45, assim que as portas se abriram, o
artefato de fabricação caseira, deixado sob o banco, explodiu”.
Essa expansão da narrativa reforça o argumento de legitimidade pela opinião
pela linha-fina: “se tivesse sentado ali, disse um passageiro”.
A fala do passageiro legitima como argumento a opinião jornalística “a
insegurança é pública”.
Os argumentos apresentados são de probabilidade, pois apresentam provas para
legitimar a opinião do jornal. Todavia, as provas apresentadas não são suficientes para
generalização da opinião expressa.
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Em síntese, a noticia é construída estrategicamente pela progressão semântica de
texto-reduzido para texto-reduzido. A progressão semântica é recursiva e não ordenada
de forma a explicitar tanto a narrativa quanto a opinião do jornal.
Por uma estratégia de hierarquização a manchete explicita intencionalmente as
informações mais hierárquicas; as demais, vão sendo inseridas até que o lead
apresente todas as inserções.
a construção da notícia pela sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a notícia:
QUARTA-FEIRA DE SANQUE – JT, 28/06/07
Linha-fina: Objetivo da operação de combate ao tráfico no Rio era uma casa na Favela da Grota onde
havia armas e drogas. Após 7 horas de intenso tiroteio, foram apreendidos 40 kg de cocaína, 115 de
maconha, 50 explosivos, 5 fuzis, 5 pistolas, 2 metralhadoras antiaéreas e munição.
Lead: 19 mortos e o feridos por balas na grande ação contra traficantes. Segundo o governo, todos os
mortos eram bandidos; 1200 policiais e 150 agentes da Força Nacional de Segurança ocuparam o
complexo de favelas do alemão na zona norte do Rio. “O remédio é amargo. Os resultados podem
chocar, mas a situação é muito ruim” José Mariano Beltrame, Secretário de Segurança do Rio.
A manchete “Quarta-feira de sangue”, por meio da sedução, explicita a opinião
jornalística do jornal a respeito da ação da polícia no combate ao tráfico no Rio. Como já
foi indicado no item da construção das manchetes, a opinião é manifestada por uma
transgressão que objetiva seduzir o leitor para comprar e ler a notícia no jornal.
89
Assim, a linha-fina progride semanticamente a opinião jornalística ao relacionar a
quantidade de drogas apreendidas na operação policial. Em contrapartida, no lead tem-
se progressão da opinião jornalística com avaliação negativa, pois privilegia a
quantidade de mortos e feridos na ação contra os traficantes e apresenta como
argumento de reforço a fala do Secretário de Segurança do Rio.
A estratégia de hierarquizar a opinião em relação à narrativa visa atender o
interesse do seu público-leitor, uma vez que “Quarta-feira de sangue” ressemantiza as
ações ocorridas na favela.
3.2.4 a construção da notícia no DSP e AGSP
A notícia é construída com o sentido mais global que o DSP e AGSP tencionam
que seus leitores construam. Trata-se de uma estratégia de orientação da leitura a partir
dos textos-reduzidos (manchete, linha-fina e lead) para o texto-expandido. O jornal DSP
e AGSP constróem suas notícias, com avaliação:
- pela seqüência de: manchete, linha-fina e lead.
- pela seqüência de: manchete e linha-fina.
- pela seqüência de: manchete e lead.
Com a estratégia de recorrer aos três textos-reduzidos, os jornais DSP e AGSP
progridem a notícia com a inserção de informações relativas ao domínio de vida de seus
leitores.
90
a construção da noticia pela informação
A título de exemplificação, apresenta-se a notícia:
“SEM PAPAS NA LÍNGUA” – DSP, 10/05/07
Linha-fina: Bento XVI condena aborto logo em sua chegada a São Paulo e ministro da Saúde reage:
‘Deveríamos ouvir as mulheres’.
Lead: Em seu primeiro discurso no Brasil, logo após desembarcar em Cumbica ontem à tarde, o papa
Bento XVI reforçou a posição da Igreja Católica em questões polêmicas como o aborto, a eutanásia e o
uso de embriões humanos para pesquisa. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, criticou a
interferência da Igreja nas discussões sobre a legalização do aborto. “É descabido querer prescrever
dogmas de uma determinada religião para o conjunto da sociedade. Devíamos ouvir as mulheres sobre o
assunto”. Um dia antes, o secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, já havia provocado
polêmica ao comparar com prostitutas as adolescentes que costumam “ficar.
Nesta seqüência de textos-reduzidos, há uma progressão semântica de um tema
de interesse nacional: o aborto. A manchete é construída com um clichê popular que
expressa um valor negativo: <<pessoa que fala sem nada que a contenha>>. Esse tipo
de pessoa é considerado culturalmente inconveniente no Brasil e, portanto, com valor
negativo, pois o valor positivo é atribuído à cortesia que requer a “contenção das
palavras para não criar conflito com o outro”.
A palavra “papas” é ressemantizada na linha-fina por “Bento 16” que cria uma
transgressão com as cognições sociais e o clichê “sem papas na língua” é
ressemantizado por uma progressão semântica da narrativa, na linha-fina:
Bento XVI
condena aborto logo em sua chegada a São Paulo”.
A avaliação negativa atribuída à condenação do aborto é justificada por um
argumento de legitimidade: “ministro da Saúde reage: ‘Deveríamos ouvir as mulheres’”
Com esse argumento de legitimidade para a opinião expressa na manchete, o
redator da notícia exime o jornal-empresa de expor a sua opinião publicamente. Num
91
país tradicionalmente Católico, como o Brasil, avaliar negativamente o chefe maior da
Igreja não é adequado.
Segundo a opinião jornalística implícita na linha-fina, “a proibição do aborto/a sua
liberação é uma questão que deve ser tratada pelas mulheres, pois compete a elas
querer ou não ter filhos”. Essa questão, portanto, não pode ser decidida autoritariamente
pelo Papa, sob forma de condenação.
O lead progride o eixo narrativo do desembarque do Papa em Cumbica e o seu
primeiro discurso: “Em seu primeiro discurso no Brasil, logo após desembarcar em
Cumbica ontem à tarde, o papa Bento XVI reforçou a posição da Igreja Católica em
questões polêmicas como o aborto, a eutanásia e o uso de embriões humanos para
pesquisa”. O lead acresce elementos condenados pela Igreja: a eutanásia e o uso de
embriões humanos para pesquisa.
O lead, também, progride semanticamente a crítica feita pelo Ministro da Saúde,
José Gomes Temporão que retoma coesivamente “Ministro da Saúde” da linha-fina.
“José Gomes Temporão criticou a interferência da Igreja”, progride
semanticamente “Ministro da Saúde reage” expresso na linha-fina. Com a expansão
semântica da crítica do Ministro da Saúde, constrói-se um argumento de reforço para o
argumento de legitimidade explicitado na linha-fina: “É descabido querer prescrever
dogmas de uma determinada religião para o conjunto da sociedade. Devíamos ouvir as
mulheres sobre o assunto”.
O lead apresenta, ainda, um outro argumento de reforço para avaliar as
condenações da Igreja: “Um dia antes, o secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara
Barbosa, já havia provocado polêmica ao comparar com prostitutas as adolescentes que
costumam “ficar”.
A notícia relativa às proibições da Igreja (Papa e Secretário Geral da CNBB no
Brasil) interessam aos leitores do grupo social que constituem um auditório dos jornais
92
DSP e AGSP. As suas cognições sociais são compostas com as crenças do Catolicismo
que entram em conflito com o que é vivido e experienciado pelas mulheres desse grupo.
A estratégia de hierarquizar a opinião em relação à narrativa visa atender o
interesse do seu público-leitor.
Os resultados das análises apresentados neste item podem também ocorrer na
análise da seguinte notícia, relativa ao domínio de vida dos leitores. Para evitar
redundância, apresenta-se apenas o texto:
PARA VER O CHICO PASSAR – DSP, 26/07/06
Linha-fina: Cantor deve estender temporada paulistana devido à grande procura por ingressos. Na
segunda, oito mil foram vendidos.
Lead: “Aqui ta fazendo um calor/ Deu pane no ventilador”: Já o “japonês” aguardando na fila do orelhão,
citado em “Bye Bye Brasil”, da qual fazem parte os versos acima, até poderia ser encontrado ontem,
quando fãs de Chico Buarque, enfrentaram, por uma hora em média, sol e temperatura de 30º em busca
de ingressos para as apresentações que ele fará, de agosto a setembro, no Tom Brasil. Como ocorreu na
segunda-feira, quando oito mil foram vendidos, o segundo dia foi de muita espera. Não havia tumultos,
como para o show do U2, mas a ansiedade dos fãs é considerável. Chico é o primeiro brasileiro a
promover uma folia dessas e deverá estender a temporada paulistana. Ainda há ingressos, mas a casa de
shows já tem reservado mais um final de semana. Há até agentes de turismo comprando entradas para
excursões vindas de outras cidades.
a construção da notícia pela sedução
A título de exemplificação, apresenta-se a notícia:
93
“CARTÃO DEDO-DURO SERÁ INSTALADO NOS CARROS EM 2008” – AGSP,
03/10/07
Linha-fina: O chip será obrigatório e vai apontar além de infrações no trânsito, se o dono do veículo deve
multa ou ipva. Instalação, gratuita, começa em maio.
Lead: A Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado assinaram ontem convênio para a instalação de
chips, a partir de maio de 2008, em todos os carros, caminhões e motos que circulam na capital. O uso do
chip será obrigatório, mas a prefeitura diz que não haverá custos para os donos dos veículos. Ele será
instalado no pára-brisa do carro na data de licenciamento e vai conter dados como nome do proprietário,
placa do veículo e números do chassi e do Renavam. Com isso, será possível saber se há débito de
multas e de IPVA. Além disso, veículos com chip serão flagrados passando sinal vermelho ou
desrespeitando o rodízio. Os que forem furtados ou roubados poderão ser identificados. O chip permite
pesquisar origem e destino.
A manchete explicita a opinião jornalística do jornal a respeito do cartão com chip
que será instalado em 2008. Como já foi indicado no item da construção das manchetes,
a opinião é manifestada por uma transgressão que objetiva a sedução do leitor para
comprar e ler a notícia no jornal. Nesse sentido: “cartão dedo-duro” contém avaliação
negativa, pois se refere à <<denúncia do que está oculto>> e ocorre por meio da
sedução para atrair o leitor para ao texto da notícia.
A linha-fina progride semanticamente a opinião jornalística por: “O chip será
obrigatório e vai apontar além de infrações no trânsito, se o dono do veículo deve multa
ou ipva”. O “cartão dedo-duro” é retomado na linha-fina por “chip” e a projeção de ação
futura “será instalado nos carros em 2008” é retomado na linha-fina por: “Instalação,
gratuita, começa em maio”
.
Da linha-fina para o lead, as palavras “instalação” e “gratuita” progridem como: “A
Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado assinaram ontem convênio para a
instalação de chips, a partir de maio de 2008, em todos os carros, caminhões e motos
que circulam na capital. O uso do chip será obrigatório, mas a prefeitura diz que não
haverá custos para os donos dos veículos. Ele será instalado no pára-brisa do carro na
94
data de licenciamento e vai conter dados como nome do proprietário, placa do veículo e
números do chassi e do Renavam”.
A opinião: “cartão dedo-duro”, na manchete, com valor negativo para o chip a ser
instalado é justificada no lead por: “Com isso, será possível saber se há débito de
multas e de IPVA. Além disso, veículos com chip serão flagrados passando sinal
vermelho ou desrespeitando o rodízio. Os que forem furtados ou roubados poderão ser
identificados. Esses argumentos expandem “cartão dedo-duro” que progride na linha-
fina por “chip obrigatório” e no lead por “O chip permite pesquisar origem e destino”.
De modo geral, os estudiosos da notícia tratam a sua construção pelo eixo
narrativo e pelo eixo opinativo.
Van Dijk (1990) apresenta o eixo narrativo pelos acontecimentos principais no
contexto da atualidade e seus antecedentes. Os resultados obtidos das análises em
parte, conferem com van Djik e, em parte, não. Aqueles que conferem são relativos à
apresentar o eixo narrativo com os principais acontecimentos do contexto da atualidade
da notícia, juntamente com os acontecimento principais que antecederam o contexto da
atualidade da notícia. Os jornais paulistanos analisados são diários e essa periodicidade
é uma estratégia para manter o leitor interessado em ler, a cada dia, o desenrolar do
eixo narrativo. Os antecedentes são retomados para facilitar a construção do eixo
narrativo para o leitor que pode ter se esquecido dos acontecimentos principais já lidos
anteriormente. Uma outra possibilidade decorre do fato de muito leitores não lerem o
jornal diariamente e recuperar para eles os acontecimentos principais antecedentes é
uma forma de facilitar a sua leitura no eixo narrativo.
Os resultados obtidos que não conferem com van Djik são relativos à diferença
apresentada para a interação de cada jornal com seu publico leitor. Na Europa,
principalmente pesquisados por van Dijk, os leitores têm alto nível de escolaridade e
estão mais próximos do grupo de leitores do OESP. No Brasil, onde a escolaridade é
problemática devido às políticas educacionais, há uma variação social que propiciou a
apresentação de quatro grupos de leitores. Cada um deles busca na leitura do jornal um
tipo de notícia diferente. Os leitores e as notícias dos jornais JT, DSP e AGSP não foram
95
tratados por Van Dijk. Esses leitores buscam informações diversificadas, dependendo
de suas cognições sociais de forma a variar da notícia informativa construída com
opinião até noticias relativas ao seu domínio de vida, a respeito do que é vivido e
experienciado por eles.
A estratégia de construção diária da opinião jornalística constrói o domínio das
mentes dos leitores, na medida em que o jornal constrói como deles a sua própria
opinião. E esta denuncia que objetiva a Análise Crítica do Discurso.
3.3 a construção da notícia como escândalo
Construir a notícia como escândalo é freqüente nos jornais pesquisados,
principalmente as noticias relativas ao domínio político e futebolístico. Neste item, são
apresentados acontecimentos jornalísticos do domínio político. O escândalo é
construído com estratégias diferentes:
- estratégia de transformar o privado em público;
- estratégia de transgredir ou contradizer valores, normas ou códigos morais;
Ambas as estratégias são utilizadas na construção do escândalo, de forma
recursiva e não ordenada.
A titulo de exemplificação, serão apresentados dois escândalos, a saber:
1. O escândalo da absolvição de Renan Calheiros pela votação secreta dos
parlamentares. O escândalo foi construído, pois o que era secreto e privado foi noticiado
pelos jornais paulistanos, pois os 40 senadores votaram objetivando a absolvição de
quebra de decoro parlamentar de Renan Calheiros.
96
O escândalo da absolvição é relativo à vida privada de Renan Calheiros que teve
uma filha com a jornalista Mônica Veloso, fora do casamento, nascida em agosto de
2004. Essa filha recebia pensão paga por lobista da construtora Mendes Junior, sr.
Cláudio Gontijo.
A construção do escândalo consiste em transformar o privado em público e os
jornais paulistanos analisados publicam notícias a respeito da relação amorosa e a filha
resultante dela:
- a existência de uma filha fruto de relação amorosa fora do casamento;
- o pagamento da pensão da filha de Renan feita por lobista.
Esses fatos privados transformam-se em acontecimento jornalístico público. A
construção do acontecimento jornalístico é feita com a transgressão dos valores
cristãos, relativos à família, e dos valores jurídicos relativos à pagamento de pensão a
filhos por pais separados.
Nas cognições sociais dos leitores, a família brasileira é representada por
fidelidade, amor e união pelo casamento. A vida privada de Renan Calheiros é
transformada em pública e leva à transgressão da representação cristã de família, pela
traição e infidelidade e a presença de uma filha bastarda.
Nesse sentido, há transgressão com as cognições sociais dos leitores, pois
houve ruptura com os valores contidos nelas.
O erário público é representado pela quantia de dinheiro a ser gasta em benefício
do povo. A vida privada de Renan Calheiros é transformada em pública e leva à
transgressão da representação política de erário público, pela corrupção e gastos
pessoais pagos por lobista. O pagamento da pensão da filha feito pelo lobista transgride
a responsabilidade jurídica e moral em manter financeiramente a filha. Transgride nas
cognições sociais dos leitores a responsabilidade jurídica do pai manter financeiramente
o filho, quando separado dele.
97
VOTAÇÃO PRA BOI DORMIR – DSP, 13/09/07
Linha-fina: Sessão secreta do Senado teve até socos e pontapés
Lead: Um acordo com apoio do Governo garantiu a absolvição do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), após quatro meses de crise. Ele era acusado de ter contas pessoais pagas por
lobista. A votação ontem apontou 40 a 35 contra a cassação. Houve seis abstenções. Na porta do
Senado, seguranças brigaram com deputados que ganharam na Justiça o direito de ver a sessão secreta.
Renan, porém, deve se licenciar do cargo.
RENAN ESCAPA DA CASSAÇÃO COM AMEAÇAS E A AJUDA DO PLANALTO –
OESP, 13/09/08
Linha-fina: Mesmo em sessão secreta, 6 senadores preferiram a abstenção. Renan insinuou que tinha
denúncias contra seus adversários. Mercadante se absteve e, em nome do governo, trabalhou pela
absolvição.
Lead: A abstenção de seis senadores e o trabalho explícito das lideranças governistas levram ontem, o
Senado a absolver o presidente da Casa, Renan Calherios (PMDB-AL) da acusação de quebra de decoro.
Em sessão secreta 40 senadores votaram pela absolvição e 35 pela cassação livrando Renan de perder o
mandato. Ele se valeu também de ameaças ao insinuar em seu discurso que poderia tornar público fatos
sobre alguns políticos – foram ataques diretos a ex-senadora Heloísa Helena, presidente do PSOL e aos
senadores Jefferson Peres (PDT-AM) e Pedro Simon (PMDB-RS). Heloísa bateu boca com ele; Peres e
Simon não reagiram. A primeira parte da sessão foi desfavorável a Renan. Na segunda, o corpo-a-corpo
dos petistas Ideli Salvatti (SC) e Aloizio Mercadante (SP) ajudou a convencer colegas de partido a se
abster – o próprio Mercadante se absteve apesar do resultado da votação Renan continua alvo de outros
dois processos.
RENAN É ABSOLVIDO POR 40 SENADORES E ESCAPA DE CASSAÇÃO – AGSP,
13/09/07
98
Lead: O plenário do Senado rejeitou o pedido de cassação do mandato do presidente da Casa, Renan
Calheiros (PMDB-AL). Ele foi absolvido por 40 votos contra 35. Renan enfrenta agora mais três processos
por quebra de decoro no Conselho de Ética. Deputados federais trocaram socos com seguranças antes
do início da sessão de cassação ao tentarem entrar no plenário do Senado.
1
SENADORES ABSOLVEM RENAN – FSP, 13/09/07
Linha-fina: Em sessão secreta, presidente do Senado escapa da cassação por 40 votos a 35, com 6
abstenções Ação de Planalto e PT foi decisiva para resultado; em nota, senador aponta ‘vitória da
democracia’.
Lead: Em sessão secreta no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi absolvido
do primeiro processo de cassação por quebra de decoro parlamentar a que foi submetido. Foram 40 votos
favoráveis a Renan, 35 contra e 6 abstenções; eram necessários 41 votos para cassar o senador. A ação
do Planalto e do PT, por meio do ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) e da líder
petista no Senado, Ideli Salvatti (SC), foi decisiva para a absolvição. O senador Aloizio Mercadante (PT-
SP) disse que se absteve. Governo e aliados de Renan avaliam agora a repercussão do resultado para
insistir na hipótese de licença da presidência do Senado. Renan, acusado de ter a pensão de uma filha
paga por lobista de empreiteira, disse em nota que não guarda “mágoas” e que o resultado foi uma “vitória
da democracia”. Á noite ele foi para a casa da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA).
RENAN SALVO POR 40 AMIGOS SECRETOS – JT, 13/09/07
Linha-fina: em sessão secreta, senado absolve presidente da casa da acusação de quebra de decoro
‘Sobrevivi. Vou para a igreja rezar’ Renan Calheiros ao deixar o Senado. Ele foi direto para casa.
Houve o acréscimo de uma nova transgressão que atribui a Renan Calheiros a
caracterização de “mentiroso” por meio da declaração atribuída a ele: “’Sobrevivi. Vou
para a igreja rezar’ Renan Calheiros ao deixar o Senado” e em sequenciação “Ele foi
direto para casa”.
99
2. Na vida privada, os parlamentares, eleitos pelo povo para representá-lo, têm seus
votos comprados por representantes do PT, com pagamento mensal, feito pelo
empresário Valério que, com isso, obtinha benefícios ilegais do PT. Tal pagamento era
relativo à compra de votos do parlamentares para a aprovação dos projetos do governo.
O fato acontecido na vida privada dos senadores e dos membros do PT torna-se
público, pela divulgação da notícia jornalística.
A construção do acontecimento jornalístico é feita com a transgressão dos
valores morais e políticos contidos nas cognições sociais dos leitores, pois são relativos
à atuação dos parlamentares para defender o interesse do povo.
A construção do acontecimento jornalístico propiciou a seguinte representação: O
Escândalo do Mensalão ou “esquema de compra de votos de parlamentares” é o nome
dado à maior crise política sofrida pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) em 2005/2006. A expressão “mensalão”, popularizada pelo então deputado federal
Roberto Jefferson em entrevista à Folha de S.Paulo com repercussão nacional, é uma
variante da palavra “mensalidade” usada para se referir à “mesada” paga a deputados
para votarem a favor de projetos de interesse do Poder Executivo.
O pagamento do “mensalão” aos parlamentares transgride as cognições sociais dos
leitores e seus valores morais que devem guiar as atitudes e ações políticas. Transgride,
também, os valores com os quais o PT se representou publicamente, de forma a
construir um perfil de honestidade e seriedade, durante muitos anos, antes de vencer a
eleição presidencial.
A título de exemplificação, são apresentadas notícias do jornal FSP publicadas
em dias diferentes:
CÂMARA DÁ MAIS PRAZO A ACUSADOS DO “MENSALÃO” – FSP, 16/09/05
Linha-fina: Eles terão sessões para se defender ou para renunciar e manter os direitos políticos.
100
Lead: A Mesa Diretora da Câmara adiou a abertura de processo de cassação contra deputados acusados
de envolvimento no caso do “mensalão”. A decisão prevê a abertura de cinco sessões no plenário, o que
equivale a pelo menos dez dias, para os 16 acusados se defenderem (...).
CPI DIVULGA RELATÓRIO E DIZ TER PROVADO O “MENSALÃO” - FSP, 22/12/05
Linha-fina: Relator afirma que dinheiro público e privado foi repassado a Valério, que operou caixa 2 do
PT.
Lead: Seis meses após o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) ter dito que o PT pagava “mensalão” a
parlamentares em troca de apoio no Congresso, a CPI dos Correios divulgou um relatório de 411 páginas
no qual afirma que “o sistema de corrupção” está comprovado.
‘VALÉRIODUTO’ SE DIVIDIU EM SEIS FASES, DIZ CPI – FSP, 31/03/06
Linha-fina: Relatório mostra como empresas abasteceram esquema com serviços que não foram
executados e empréstimos que não foram pagos
Lead: O relatório final da CPI dos Correios, apresentado anteontem pelo redator Osmar Serraglio (PMDB-
PR), identificou seis fases distintas de financiamento do “valerioduto”, uma das quais bancada por cerca
de R$ 2,3 milhões transferidos das siderúrgicas Usiminas e Cosipa por supostos serviços de publicidade.
Os resultados obtidos conferem com o que Thompson (2002) postulou para a
construção do escândalo. Segundo o autor, o escândalo implica ações ou
acontecimentos que transgridem ou contradizem valores, normas ou códigos morais.
Para o autor, os valores ou normas são determinados pelo grau de moral e este
se situa na relação entre o individual e o social, no interstício entre o cultural e o
ideológico das cognições sociais.
Ao tornar público o que é privado, o escândalo se refere a ações ou
acontecimentos que, ao se tornarem conhecidos dos outros, transgridem valores,
101
normas ou códigos morais. Tal transgressão é suficientemente séria para provocar uma
resposta pública.
Nesse sentido, os resultados obtidos indicam que construir o acontecimento
jornalístico com escândalo, estrategicamente, busca-se na interação com o público-leitor
que ele reaja publicamente.
3.4 Perspectiva para a leitura de textos jornalísticos multimodais
A Análise Crítica do Discurso tem desenvolvido uma vertente semiótica social. Esta
vertente se ocupa do caráter multissemiótico da maior parte dos textos na sociedade
contemporânea e explora métodos de análises aplicáveis à imagens visuais (desde as
fotografias de impressa e imagens de televisão até a arte renascentista) assim como a
relação existente entre linguagem e as imagens.
Kress e van Leeuwen (1990) investigam as categorias analíticas da Lingüística
Sistêmica, de forma a aplicá-las na análise das imagens visuais e tratam de determinar
o modo pelo qual essas categorias se realizam materialmente nas figuras.
Nesse sentido, selecionaram da Lingüística Sistêmica as categorias textuais “dado”
X “novo” que se realizam na estrutura composicional das figuras. Segundo os autores, o
“dado” aparece à esquerda da figura e, o novo, à direita. Com isso os autores sugerem
que os resultados das análises das imagens visuais podem levar-nos a repensar as
teorias da linguagem.
A vertente da semiótica social inclui a leitura de textos multimodais de forma a
constituir uma ponte entre os estudos lingüísticos e os estudos culturais.
A partir das categorias “dado” e “novo”, buscou-se uma perspectiva de leitura dos
textos multimodais das notícias jornalísticas. Os resultados obtidos indicam que o “dado”
102
é relativo às cognições sociais dos leitores que são compostas, também, por
representações culturais. O “novo” é estrategicamente construído pelo jornal, a fim de
produzir uma relevância no contexto cognitivo do leitor, ao processar a informação
recebida que associa imagens e cores à expressões lingüísticas.
A título de exemplificação para a perspectiva de uma leitura de textos jornalísticos
multimodais, foi selecionado o acontecimento jornalístico tematizado pela campanha do
referendo sobre as armas de fogo. Os textos apresentados seguem a cronologia de dois
dias seqüenciados e a complementação com outro jornal: AGSP e OESP 23/10/2005 e
FSP e OESP 24/10/2005.
Com o objetivo de situar o fato acontecido, são retomadas as seguintes
informações, veiculadas na época.
O vocábulo “referendo” contém a predicação <<procedimento que permite aos
cidadãos manifestarem-se, através do voto, sobre questões de interesse nacional>>. Na
atualidade da publicação dessas notícias selecionadas, os cidadãos brasileiros foram
convocados a votar “sim” ou “não” sobre o comércio de armas de fogo e munições, no
território brasileiro.
Devido o crescimento da violência no território nacional, desde 2003, o artigo 35 do
Estatuto do Desarmamento proibia o comércio de armas no território brasileiro. Todavia,
para essa lei entrar em vigor, precisava ser aprovada em votação popular e, para tanto,
foi marcado o dia 23/10/05.
Na luta para conquistar o voto da população, estavam duas Frentes Parlamentares:
Frente Parlamentar do Brasil sem Armas, defendendo o voto “sim” comandada pelo
Presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), e a Frente Parlamentar pelo Direito
da Legítima Defesa, defendendo o voto “não”, comandada pelo deputado Alberto Fraga
(PFL-DF).
Porém, é necessário, ainda, lembrar que, para o fato acontecido “o referendo sobre
as armas de fogo”, ambas as opções de escolha para a votação -“sim” e -“não”
103
continham valor de restrição, uma vez que, com a prevalência do “não”, seria permitida
a compra de armas por pessoa física, mas com registro obrigatório na Polícia Federal;
no caso de “sim”, seria proibida a compra por pessoa física permitido somente os
registros das armas já existentes na Polícia Federal.
A seguir são apresentadas três páginas multimodais do jornal AGSP, no dia
23/10/2005:
Figura 01.
A figura 1 está na “página de rosto” do jornal AGSP de 23/10/05, tendo em sua
parte superior a manchete Veja o tira-teima final entre o sim e o não. No mesmo
jornal, ocorrem as figuras 2 e 3 em um encarte tematizado pelo “Referendo”, de forma a
104
progredir semanticamente a notícia da figura 1. Esta é construída com o mundo do
“futebol”, de forma a seduzir os leitores do jornal para comprarem e lerem a notícia, pois
seleciona a fotografia de um jogador, Carlos Tevez, do Corinthians, time da paixão
popular. Esse jogador, na época, fazia sucesso, por jogar muito bem, mas apresentava
um comportamento problemático, em relação às normas do clube e, por essa razão,
estava em maior evidência na mídia. Dessa forma, o jornalista constrói um acordo com
seus leitores, recorrendo ao marco de suas cognições sociais. Para este grupo social, a
expressão “tira-teima” é utilizada nos programas futebolísticos de TV que usam esse
recurso tecnológico para a comprovação de jogadas realizadas durante o jogo, de forma
a repeti-las em câmera lenta. Com essa zona de interseccção, situa-se a notícia relativa
ao Referendo sobre as armas de fogo, de forma a estabelecer uma comparação entre o
futebol e a votação do povo.
A página está construída, na parte superior, com expressões lingüísticas da
manchete: “Veja o tira-teima final entre o sim e o não”, sendo que “sim” e “não” estão
grafados com tinta branca sobre um fundo vermelho, o que produz um realce de leitura.
Na fotografia, o jogador está com uma metade do corpo dentro e a outra, fora do gol,
com a bola em movimento, do lado direito. A figura 1, da metade para baixo tem o fundo
em cor amarela, sobre o qual estão as letras avermelhadas SK que sugerem ao leitor a
palavra “Skol”. A fotografia do jogador está situada à esquerda, ultrapassando metade
da página; do lado direito estão, escritas as seguintes informações que projetam para o
leitor a intersecção intencional de dois acontecimentos jornalísticos em construção: a
problemática do jogador Carlos Tevez e a problemática da votação do referendo. Do
lado direito está escrito:
- confira os votos e as idéias de 48 personalidades;
- os argumentos e respostas das duas campanhas.
- saiba como fica a situação das armas de fogo depois do referendo.
Dessa forma, tanto o lado direito quanto o esquerdo apresentam informações
novas.
105
As cores de fundo das palavras orientam o percurso de leitura do leitor:
- “sim” “não” “argumentos e respostas das duas campanhas”
Trata-se, portanto, de uma estratégia multimodal de sedução, que guia o leitor a ler
a notícia do referendo, pensando ler a notícia sobre o jogador Carlos Tevez.
Fig. 02
A figura 2. publicada no mesmo dia no jornal AGSP traz um encarte para tratar
com mais especificidade do campanha da votação do Referendo. A página é construída
106
com um texto multimodal que retoma a manchete “tira-teima final” da figura 1. Na
manchete “Duelo final” da figura 2., no centro da página, está a mão de uma pessoa
segurando uma arma apontada para o leitor; do lado direito “sim” e, do lado esquerdo,
“não”, escrito em negrito sobre uma figura estrelada de várias pontas em cor branca.
Ambas as figuras estão projetadas num fundo vermelho escuro. A figura é construída
por Arte Pop ou Pop arte (arte popular) que não se refere à arte feita pelo povo, mas
àquela produzida para o consumo de massa.
Do lado direito, da metade para baixo, encontra-se escrito, em letras brancas, no
fundo vermelho: “Veja qual será o voto de 48 famosos no referendo”, “Os argumentos e
as respostas de cada um dos lados” e “ Saiba como fazer na hora de votar na urna
eletrônica”. Nesse sentido, as expressões lingüísticas orientam o leitor a se interessar
pela próxima notícia: votos de famosos, de forma a seduzi-los estrategicamente, pois os
leitores de AGSP têm interesse em saber notícias a respeito de celebridades que fazem
parte de seu domínio de vida.
O “dado” para as cognições sociais é que a campanha do referendo sobre as
armas de fogo estava no seu final. O jornal, ao publicar este texto multimodal, opina
contra o desarmamento, pois o “novo” está na figura da arma apontada ameaçando o
leitor de morte, de forma a induzir o leitor a votar pelo desarmamento da população e
assim, deixar de ser ameaçado.
É interessante observar que, culturalmente, a expressão “à direita” recebe valor
positivo (por exemplo as expressões “à direta do Deus Pai”, “ele é um homem direito”,
“ele é da direita”); a expressão esquerda recebe, culturalmente, valor negativo para o
brasileiro (por exemplo: “ele é de esquerda”, “os esquerdistas se opuseram”).
O jornal usa como recurso à direita e à esquerda da arma apontada de forma
ameaçadora para o leitor. Assim, estrategicamente, o jornal constrói a sua opinião para
o leitor, induzindo-o a votar “sim”.
A cor das letras, em negrito, constrói uma saliência de leitura: “Duelo Final” “sim”
“não”.
107
Figura 3.
108
A figura 3. está situada em uma página dupla central do encarte “Duelo Final”.
A manchete desta figura “O duelo das celebridades” já havia sido apresentada na
figura 1. com “Os argumentos e repostas das duas campanhas” e na figura 2. “Veja qual
será a resposta de 48 famosos no referendo”.
A página multimodal é construída por uma seqüência de pares de celebridades
onde o sim e o não mantêm o mesmo critério da figura 2, do lado direito sim e do lado
esquerdo não. Para orientar o leitor na parte superior, em tamanho maior, está o par
construído com a fotografia de Hebe Camargo, do lado esquerdo, e, do lado direito, a
fotografia do Ratinho com a palavra sim. Essa orientação de leitura é uma estratégia
para criar um acordo com os leitores do AGSP que dão preferência ao programa do
Ratinho em relação ao programa de Hebe Camargo que, na atualidade da notícia, em
2005, ambos estavam presentes na televisão brasileira.
Uma análise do confronto dessas duas celebridades propicia dizer que:
- a Hebe Camargo é uma apresentadora do SBT que sempre está trajada com a última
moda e coberta com jóias.
- O Ratinho é apresentador da Record e, embora seja dotado de grandes posses
financeiras, sempre se apresenta, publicamente, vestido como uma pessoa de classe
média que evita exibicionismo.
Com a estratégia de sedução, as figuras do par situadas à direita correspondem a
celebridades à quais os leitores atribuem valor mais positivo. Dessa forma, há uma
insistência que constrói a opinião do jornal para o leitor, de forma a automatizar o valor
positivo para o sim.
O duelo das celebridades explicita a posição ideológica do jornal empresa, na
medida em que: 1. a escolha das celebridades participantes recai sobre as mais
conhecidas do público-leitor e que exercem diferentes atividades sociais, tais como
artistas, apresentadores de programa, políticos, jogadores de futebol; 2. destaque das
109
respostas dos votos sim em vermelho e dos votos o em azul; e 3. as respostas com
primeiro plano em azul ou vermelho.
A palavra “não” está projetada sobre diferentes matizes da cor azul e a palavra
“sim” sobre diferentes matizes da cor vermelha que é mais destacada que o azul para se
intersecionar com a palavra Duelo.
Como se pode verificar, na figura 3. não ocorre o “novo” do lado direito e o “dado”
do lado esquerdo como postula Kress e Van Leeuwen. A construção estratégica dos
textos multimodais é guiada pela sedução e recorre a um acordo com a s cognições
sociais do seu grupo de leitores, que já foi apresentado anteriormente.
Os resultados obtidos dessa perspectiva de leitura de textos multimodais
conferem, em parte, com os resultados de Kress e Van Leeuwen (1990), pois a
visualização de figuras, fotografias e cores relacionam-se com o lingüístico a partir da
cultura. Todavia, diferem, pois os textos multimodais analisados, além dos
exemplificados neste item, não apresentam o “novo” do lado direito e o “dado” no lado
esquerdo.
Ao encerrar este capítulo, apresentamos as seguintes considerações:
Os resultados obtidos indicam que as estratégias de construção das manchetes
são as mesmas para os jornais pesquisados, com exceção do JT em que não ocorre a
estratégia de construção da manchete informativa.
As estratégias de construção das noticias pela coesão seqüencial dos textos
reduzidos também são repetidas nos diferentes jornais pesquisados, de forma a
progredir semanticamente ora a informação, ora a opinião ou, ainda, com a progressão
semântica, ressemantizar manchetes construídas por sedução que não contêm
informação.
110
As estratégias de construção da manchete são sempre interacionais e modificam-
se dependendo das cognições sociais do público-leitor.
As notícias são construídas tanto pelo eixo narrativo quanto pelo eixo avaliativo, a
partir da hierarquia de uma ancoragem temática. A construção da notícia como
escândalo é mais freqüente no domínio da política. As categorias semânticas que
orientam a seleção das notícias, Atualidade e Inusitado, guiam o que tem acesso ao
público-leitor e o escândalo torna o usual em inusitado no domínio da política, pois a
representação de cada cargo político já é construída com avaliações ideológicas e
culturais nas cognições sociais. Dessa forma, as notícias relativas a políticos são
construídas como escândalo, na medida em que o privado da vida do cidadão se torna
público ultrapassando o cargo político ocupado, com a transgressão dos valores sociais
conhecidos.
Os textos jornalísticos multimodais são construídos com uma estratégia
interacional de forma a construir acordo com as cognições sociais (o dado), a partir do
qual são trazidas as informações e as avaliações do jornal (o novo).
111
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir esta Dissertação, retomam-se os objetivos que nortearam a pesquisa
realizada:
- no que se refere ao objetivo geral: contribuir com estudos críticos do discurso
jornalístico brasileiro.
Verifica-se que este objetivo foi atingido, pois os resultados obtidos das
estratégias de construção da manchete, da notícia por textos-reduzidos, do escândalo e
de textos multimodais, poderão contribuir com pesquisas futuras sobre textos
jornalísticos paulistanos.
- no que se refere aos objetivos específicos:
1. tratar da construção estratégica de manchetes que encabeçam notícias jornalísticas
Verifica-se que este objetivo também foi cumprido, pois foram tratadas diferentes
estratégias interacionais para a construção das manchetes. As estratégias apresentam
uma variável social, relativas às cognições sociais, de forma a propiciar que se
identificassem os diferentes grupos sociais de leitores de cada jornal. Assim, os
objetivos obtidos estão na inter-relação das categorias analíticas Sociedade, Cognição
Social.
Foram tratadas as seguintes estratégias interacionais para a construção da
manchete: de construção da manchete de informação, opinião e sedução.
As mais freqüentes, nos diferentes jornais paulistanos analisados, são as
estratégias interacionais de sedução e que são aplicadas para a construção da
112
informação e da notícia, além de haver uma inter-relação dessas estratégias, de forma
concomitante, para criar a sedução para o público-leitor.
2. analisar a construção da notícia a partir dos textos-reduzidos: manchete, linha-fina e
lead
Verifica-se que este objetivo foi cumprido, também, pois foram analisadas as
diferentes construções da notícia pela coesão seqüencial dos textos-reduzidos:
manchete, linha-fina e lead.
Os resultados obtidos indicam que a estratégia de coesão seqüencial de textos-
reduzidos propicia a progressão da notícia de modo a construir o acontecimento
jornalístico, conforme a ideologia do jornal.
A progressão da notícia segue tanto o eixo narrativo do acontecimento quanto o
eixo avaliativo da opinião do jornal. A estratégia de coesão seqüencial constrói a
progressão semântica que, por vezes, é recursiva e não ordenada, pois explicita tanto o
eixo narrativo quanto o eixo opinativo. A construção da noticia também é realizada por
uma estratégia de hierarquização, seja de um episódio narrativo, seja de uma opinião.
3. verificar em que medida um fato noticioso pode ser transformado em escândalo
Verifica-se, também, que este objetivo foi cumprido, na medida em que um
acontecimento noticioso torna-se escândalo quando o que é privado na vida do
personagem do eixo narrativo torna-se público, por revelação. O escândalo implica que
as ações ou acontecimentos privados, ao se tornarem públicos, transgridem ou
contradizem valores, normas ou códigos morais, conhecidos pelos leitores.
O objetivo da construção do escândalo é buscar, na interação com o público-
leitor, que ele reaja publicamente.
113
Assim, a construção do acontecimento jornalístico pelo escândalo ocorre, mais
freqüentemente, em noticias do domínio da política e do futebol.
4. apresentar uma perspectiva para uma leitura de textos jornalísticos multimodais.
Entende-se que a leitura realizada apresenta uma perspectiva para tratar de
textos jornalísticos multimodais. Verificou-se que a construção do texto multimodal é
orientada pelas cognições sociais do público-leitor. A fim de se estabelecer uma
interação comunicativa, o redator seleciona o que é de interesse do público-leitor que
orienta a seleção das fotografias, das cores e das inter-relações entre o lingüístico e as
imagens.
Os resultados obtidos indicam que há uma inter-relação entre a seleção dos
componentes textuais multimodais e a cultura dos grupos sociais de leitores
- no que se refere à hipótese: há estratégias sócio-interacionais que garantem a
interação discursiva entre o jornal e seus leitores. Essas são aplicadas na construção
enunciativa da manchete, linha-fina e lead, agrupados na categoria textual da notícia:
Resumo.
A hipótese foi confirmada e comprovada pelos resultados obtidos. Há diferentes
estratégias sócio-interacionais, que já foram apresentadas e discutidas anteriormente,
aplicadas para a construção dos textos-reduzidos jornalísticos e que propiciam a
interação sócio-cognitiva com o auditório de leitores, pela enunciação construída no e
pelo Discurso.
Dessa forma, pode-se dizer que todas as formas de conhecimento construídas
pelo jornalista para seu público-leitor estão na inter-relação das categorias Sociedade,
Cognição e Discurso.
114
Esta Dissertação não se quer conclusiva e os resultados apresentados merecem
ser revistos e complementados por outras pesquisas, no que se refere às relações dos
textos-reduzidos com textos-expandidos das noticias e com a progressão da construção
da opinião jornalística para o seu leitor, no confronto cronológico do dia-a-dia; da
construção do acontecimento jornalístico para o seu público-leitor, a fim de se examinar
quais estratégias são aplicadas para justificar a mudança de ideologia dos participantes
do Poder do jornal-empresa; e da construção do escândalo, na notícia.
É necessário, também, dar continuidade à perspectiva de leitura apresentada de
textos jornalísticos multimodais. Na atualidade, a intersecção do jogo de imagens com o
lingüístico está presente em todo eixo comunicativo, o que propicia supor que esse jogo
de imagens, cores e diagramação, em relação ao lingüístico, impulsiona o imaginário
humano a compreender fatos e a construir mundos possíveis.
115
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121
ANEXOS
1
/ANEXOS
2
Lista das Manchetes dos jornais
As manchetes apresentadas são as mais representativas dos jornais O Estado de
S.Paulo (OESP), Folha de S.Paulo (FSP), Jornal da Tarde (JT), e Diário de S.Paulo
(DSP).
3
4
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6
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