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UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP
O MERCHANDISING DA MODA NA TELENOVELA:
O espetáculo como publicidade em “Belíssima
KARINA DAIDONE GENNARI PIMENTEL
SÃO PAULO
2008
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1
KARINA DAIDONE GENNARI PIMENTEL
O MERCHANDISING DA MODA NA TELENOVELA:
O espetáculo como publicidade em “Belíssima
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Comunicação da
Universidade Paulista - UNIP para a
obtenção do título de mestre em
Comunicação.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Adami.
São Paulo
2008
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2
Pimentel, Karina Daidone Gennari
O Merchandising da moda na telenovela: o espetáculo
como publicidade em “Belíssima” / Karina Daidone Gennari
Pimentel. – São Paulo, 2008.
197 f.:il., color.
Dissertação (mestrado) Apresentada ao Instituto de
Ciências Sociais e Comunicação da Universidade Paulista, São
Paulo, 2008.
Área de Concentração: Comunicação e cultura midiática
“Orientação: Antonio Adami”
1. Moda na telenovela. 2. Merchandising. 3. Publicidade. 4.
Advertainement. I. Título.
3
KARINA DAIDONE GENNARI PIMENTEL
O MERCHANDISING DA MODA NA TELENOVELA:
O espetáculo como publicidade em “Belíssima
Trabalho de Conclusão de curso para
obtenção do título de Mestre em
Comunicação Social, apresentado à
Universidade Paulista – UNIP
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________/_____/_____
Prof. Dr. Antonio Adami
Universidade Paulista – UNIP
_____________________________________________/_____/_____
Profa. Dra. Solange Wajnman
Universidade Paulista – UNIP
______________________________________________/_____/_____
Prof. Dr. José Salvador Faro
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Universidade Metodista de São Paulo
4
Dedico este trabalho:
À Deus, sempre.
Aos meus maravilhosos pais, Lurdes e
Walter e família;
Aos meus sogros Cristina e Jayme, minha
segunda querida família e, em especial,
Ao meu amado esposo Lúcio, eterno
companheiro.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, sempre, por todas as coisas boas que ele proporciona na minha
vida, todos os dias.
Agradeço aos meus professores do Mestrado, em especial Eduardo Peñuela Canizal
e Malena Segura Contrera, que me fizeram, definitivamente, enxergar a
comunicação como arte complexa e infinita de possibilidades admiráveis de
entendimentos e estudos.
Agradeço também ao meu Orientador, Prof. Dr. Antonio Adami, pelo acolhimento,
força, vibração e imensurável colaboração junto a esse trabalho, que me fez tê-lo
aqui, pronto!
Não posso deixar de agradecer a imensa colaboração da rcia Ladeira, diretora de
merchandising da Rede Globo, que me deu uma contribuição riquíssima para este
estudo e ao Daniel Ladeira, colega de Mestrado, que abriu os caminhos para este
contato.
Agradeço a todos que, de certa forma, criticaram construtiva ou destrutivamente: de
alguma forma isso me deu forças para seguir em frente!
Agradeço aos meus familiares e amigos, que compreenderam a ausência
temporária, mas válida, para dedicação a este trabalho.
E, por fim, a todas as pessoas que direta ou indiretamente fizeram parte do início da
minha jornada na vida acadêmica.
Agradeço, enfim, ao Universo, que sempre conspira a meu favor.
6
Eu, Etiqueta
“Em minha calça está grudado um nome que não é meu
de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na
boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo,
até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não
provada por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e
cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha
toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens,
letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso,
reincidência, costume, hábito, premência,
indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio
itinerante, escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar
minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas
as marcas registradas, todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e
me sabia tão diverso de outros, tão mim-mesmo, ser
pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos
e conscientes de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua
nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista
exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser
veste e sandália de uma essência tão viva,
independente, que moda ou suborno algum a
compromete.
Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de
escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão
minhas que no rosto se espelhavam, e cada gesto, cada
olhar, cada vinco da roupa resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma
universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrina me
tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se
oferece como signo de outros objetos estáticos,
tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu,
mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente”.
(Carlos Drummond de Andrade)
7
RESUMO
Neste trabalho estudamos a telenovela como exercício de espaço simbólico para a
criação de imagens e simulacros popularizados pelos mass media, promovendo uma
ampliação de influências na sociedade moderna, proveniente da indústria cultural,
tendo como foco principal a análise do consumo da indústria da moda, por
intermédio do merchandising. O estudo trata ainda do panorama geral das tipologias
de merchandising, cuja ferramenta foi estudada e analisada, como a intermediária
da publicidade em produtos de entretenimento, no caso a telenovela. Tratamos,
ainda, do cenário da TV e da telenovela no Brasil, bem como o encadeamento da
publicidade utilizada nesse produto cultural. Ao longo do trabalho, torna-se evidente
a influência do merchandising para o consumo da moda. Foi mostrada a forma com
que as indústrias envolvidas no processo (cultural e comercial) e a sociedade, esta
representada pelos telespectadores, se movimentam de forma aglutinada para um
mesmo ponto central, baseado, especificamente, na construção de imagens a serem
consumidas e copiadas, corroborando para a constituição de um consumo baseado
no narcisismo onírico. O discurso utilizado no merchandising tem algumas faces que
foram analisadas neste estudo. Por um lado, o discurso invasivo e extramente
comercial distancia o consumidor do seu universo co-relacional com a ficção, mas,
ainda assim, os anunciantes o praticam e a produtora da novela assim o permite.
Em ações de merchandising comparativas na trama Belíssima’, pudemos avaliar
algumas formas de discursos diferenciados que ficam acortinados por traz da
diegese tratada na trama, que, em sua linguagem e composição visual, são mais
harmônicos. É pregado que o merchandising em sua essência deve ser sutil e
totalmente inserido na trama, mas, nem sempre acontece dessa forma, como pode-
se observar no decorrer da pesquisa. Não serão tratados nesta pesquisa, estudos
de publicidade e merchandising do ponto de vista do receptor; não é o nosso foco
entender como o receptor percebe as mensagens do merchandising, mas sim, de
que forma a indústria (anunciante) utiliza essa ferramenta de comunicação. Além
disso, temos o objetivo de pesquisar sobre os resultados gerados e a relação de
produção que a emissora Rede Globo tem com os anunciantes, bem como mostrar o
processo de negociação e de produção das ações de merchandising dos
anunciantes Valisére e Lycra, presentes na telenovela Belíssima’. Podemos concluir
que não apenas o Merchandising editorial (dito o comercial, pago pelo anunciante)
movimenta o mercado de consumo. Consideramos, nesta pesquisa, a possibilidade
da denominação de uma nova tipologia de merchandising o Merchandising de
oportunidade –, que, supostamente, nesse ensaio primário de sua significação, se
baseia em uma proposta de uso da ferramenta de merchandising sem a associação
presente e obrigatória de uma marca patrocinadora, considerando como foco o
envolvimento de estimulação de comportamentos, de construção de imagens e com
a promoção do entretenimento, fato muito presente na novela Belíssima’, corpus de
estudo desse projeto.
Palavras-chave: moda na telenovela, merchandising, publicidade, advertainement.
8
ABSTRACT
This present work we study the ”soap opera” as an exercise of symbolic space in
order to create images and simulacrum popularized by mass media promoting an
expansion of influences in modern society, proceeding from the cultural industry
having as the main focus the analysis of consumption of the fashion industry, through
merchandising. The study also addresses the general overview of types of
merchandising, whose tool has been studied and tested as an agent of advertising in
entertainment products, such as the soap opera. We also treat the scenario of TV
and the soap opera in Brazil, as well as the chaining of advertising used in this
cultural product. Throughout the present work becomes evident the influence of the
merchandising for the consumption of fashion, showing how the industries involved in
the process (cultural and commercial) and the society, represented by the viewers,
move up united to a single central point, based specifically on the construction of
images to be consumed and copied, corroborating for the consumption based on the
oneiric narcissism. The speech used in merchandising has some faces that were
analyzed in this study. On the one hand the invasive speech and also extremely
commercial diverts consumers from their universe co- relational with the fiction, but
even so the advertisers have this practice and the soap opera´s producer allows it.
In the actions of merchandising confronted in the plot Belíssimawe could evaluate
some sort of different speeches hidden behind the diegesis mentioned in the plot that
in its visual composition and in its language are more harmonious. It is said that the
merchandising in its essence should be subtle and fully inserted in the plot, but not
always happens that way, as you can see during the search. Studies of advertising
and merchandising from the viewpoint of the receiver will not be treated in this
search; the focus is not to understand how the receiver discerns the messages of
merchandising, but how the industry (advertiser) uses this tool of communication,
which are the results generated and what is the relation of production that Rede
Globo keeps with the advertisers, as well as to show the process of negotiation of
merchandising actions that belongs to the advertisers Valisére and Lycra. We can
conclude that not only the merchandising editorial (advertising paid by the
announcer) moves the consumer market. We have traced a new proposal for a new
sort of merchandising the merchandising of opportunity- which is based on a
suggestion to use the tool of merchandising without the present and mandatory
association of a brand, only with the involvement of stimulation of behaviors,
construction of images and with the promotion of entertainment, fact very present in
the soap opera “Belíssima”, corpus of study of this project.
Key-words: fashion in the soap opera, merchandising, advertising, advertainement
9
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1 Logotipo da extinta TV Tupi 16
Fig. 2 Display Especial da Elma Chips para a sua marca de salgadinho Ruffles,
disposto em grandes redes de supermercados, como Carrefour e Extra, de SP.
48
Fig. 3 Loja da M&M´s nos Estados Unidos. 49
Fig. 4 Cena de Dancin´days. 77
Fig. 5 Cena da telenovela Dancin´ days exibindo as sandálias com meias de lurex. 78
Fig. 6 Ilustração da maquilagem utilizada pela personagem Jade, em ‘O Clone’. 81
Fig. 7 Figurino de Claudia Abreu em ‘Celebridades’. 84
Fig. 8 Júlia Assumpção (Glória Pires) 99
Fig. 9 Vitória Rocha (Cláudia Abreu) 100
Fig. 10 Safira (Cláudia Raia) 101
Fig. 11 Bia Falcão (Fernanda Montenegro) 102
Fig. 12 BIP Rede Globo da NovelaBelíssima’, nov/2005 111
Fig. 13 Cena do primeiro capítulo de ‘Belíssima. Modelos lutando boxe em ringue
instalado no meio da rua.
117
Fig. 14 Cena do primeiro capítulo de ‘Belíssima. Modelo desfilando em cima do MASP. 117
Fig. 15 Cena do primeiro capítulo de ‘Belíssima. Modelo no meio de uma construção. 117
Fig. 16 Cena do primeiro capítulo de ‘Belíssima. Modelo embaixo do MASP lavando
uma Kombi amarela
117
Fig. 17 Merchandising da Lycra 118
Fig. 18 Merchandising da Lycra 118
Fig. 19 Merchandising da Lycra. Júlia enfatizando com Alberto que os produtos não
podem deixar de ter a etiqueta da Lycra e, neste momento, ela segura a
etiqueta e mostra a marca
119
Fig. 20 Merchandising da Lycra. Lingeries espalhadas na cama de Safira explicitando a
marca. A câmera foca essa imagem depois amplia o zoom descortinando o
cenário do quarto a meia luz.
120
Fig. 21 Merchandising da Lycra. Safira experimentando os lingeries com a etiqueta da
Lycra.
120
Fig. 22 Merchandising da Lycra. Safira experimentando os lingeries com a etiqueta da
Lycra
120
Fig. 23 Merchandising da Lycra. Câmera com zoom fechado na etiqueta da Lycra, no
momento em que Safira retira a etiqueta do lingerie novo.
120
Fig. 24 Merchandising da Lycra. Safira entrando no seu quarto a espera de Pascoal. A
marca da Lycra não aparece em evidência.
121
Fig. 25 Merchandising da Lycra. Pascoal entra no quarto de Safira. 121
Fig. 26 Merchandising da Lycra. Safira joga Pascoal na cama e o seduz com seu
lingerie sensual.
121
Fig. 27 Merchandising da Lycra. Safira recebe a notícia de que seu filho está passando
mal e manda Pascoal embora, que sai pela janela.
121
Fig. 28 Merchandising da Lycra. Safira entra em seu quarto, determinada a não abrir a
janela para Pascoal. Renda do situa à mostra faz parte do figurino de Safira.
122
Fig. 29 Merchandising da Lycra. Safira fecha a cortina e não abre a janela para
Pascoal. Renda do sutiã nas costas também á mostra.
122
Fig. 30 Merchandising da Lycra. Safira faz strip-tease e deixa Pascoal batendo na
janela.
122
Fig. 31 Merchandising da Lycra. Safira troca de roupa, e uma camisola de renda
preta, super sensual, se insinua para Pascoal, mas deita para dormir.
122
Fig. 32 Merchandising da Lycra. Giovana abre a sacola e mostra as peças de lingerie
que comprou.
123
Fig. 33 Merchandising da Lycra. Suzi admirando a peça. 123
Fig. 34 Merchandising da Lycra. Maria João admirando a peça e querendo ter uma
igual.
124
Fig. 35 Merchandising da Lycra. Maria João relatando o pensamento da mãe sobre a
beleza feminina
124
Fig. 36 Merchandising da Lycra. Giovana cheirando o sutiã. 125
10
Fig. 37 Merchandising da Lycra. Maria João reforçando a ação, sentindo o aroma do
sutiã.
125
Fig. 38 Merchandising da Lycra. Fladson escolhendo o presente da namorada. 126
Fig. 39 Merchandising da Lycra. Fladson questionando a vendedora se o lingerie que
ele tinha escolhido era Lycra.
126
Fig. 40 Merchandising da Lycra e Valisére. Maria João em estilo mulher feminina 126
Fig. 41 Merchandising da Lycra e Valisére. Maria João experimentando peças
diferentes para escolher qual usar.
126
Fig. 42 Merchandising da Lycra e Valisére. Zoom da câmera nas marcas. 127
Fig. 43 Merchandising da Lycra e Valisére. Safira admirando sua filha vestindo um
sensual conjunto de lingerie.
127
Fig. 44 Merchandising da Valisére. Câmera em cena mais aberta com a marca exposta
ao centro. Início da reunião
.
128
Fig. 45 Merchandising da Valisére. Câmera começa a fechar ângulo na marca e nos
produtos com cores vibrantes e destacadas. Bia irritada falando da qualidade
dos produtos do concorrente
128
Fig. 46 Merchandising da Valisére. Alberto avaliando o produto. 128
Fig. 47 Merchandising da Valisére. Bia irritada falando dos diferenciais do produto da
concorrente: alça de strass
128
Fig. 48 Merchandising da Valisére. Zoom da câmera nas modelos posando para o
catálogo da Valisére, com rápida aparição da marca no painel ao fundo.
130
Fig. 49 Merchandising da Valisére. Equipe da agência acompanhando o ensaio
fotográfico. Cena que dá sentimento de ficção ‘real’.
130
Fig. 50
Merchandising da Valisére. Zoom da câmera na equipe de Produção da agência de
modelos escolhendo os conjuntos de lingerie a serem fotografados.
130
Fig. 51 Merchandising da Valisére. Equipe de modelos fotografando para o catálogo do
cliente da Razzle Dazzle, a Valisére.
130
Fig. 52 Merchandising da Valisére. Zoom da câmera em Giovana, garota propaganda
do catálogo da Valisére que a Razzle Dazzle está produzindo.
131
Fig. 53 Merchandising da Valisére. Imagem superior com ângulo mais aberto mostrando
o fotógrafo trabalhando e fotografando as modelos para produzir a campanha.
131
Fig. 54 Merchandising da Valisére. Abertura da cena do merchandising com zoom nos
lábios de uma das modelos.
132
Fig. 55 Merchandising da Valisére. Continuidade da cena com zoom da câmera nos
olhos da mesma modelo.
132
Fig. 56 Merchandising da Valisére. Câmera com imagem aberta, tomada por toda a tela
do televisor, mostrando o painel com a exibição da logomarca da Valisére.
132
Fig. 57 Merchandising da Valisére. Continuidade da cena com zoom da câmera em
duas modelos ao centro. Ao fundo aparece a marca Valisére, de forma subjetiva
e com seu logotipo recortado, mas que simboliza sua marca, já apresenta
anteriormente.
132
Fig. 58 Merchandising da Valisére. Zoom da câmera mostrando as modelos sendo
produzidas para a sessão fotográfica.
133
Fig. 59 Merchandising da Valisére. Zoom da câmera mostrando as modelos sendo
produzidas para a sessão fotográfica.
133
Fig. 60 Merchandising da Valisére. Interrupção da ação para Narciso comentar sobre a
sensualidade de uma mulher vestida em um lingerie.
134
Fig. 61 Merchandising da Valisére. Interrupção da ação para Narciso atender ao
telefonema de sua namorada.
134
Fig. 62 Merchandising Renner. Safira e sua filha Giovana dentro de uma loja da Renner
comprando lingerie.
138
Fig. 63 Merchandising Renner. Safira e sua filha Giovana dentro de uma loja da Renner
comprando lingerie.
138
Fig. 64 Lançamento da marca Lindona em jogo de futebol. 140
Fig. 65 Lançamento da marca Lindona em jogo de futebol. 140
Fig. 66 Volta olímpica das jogadoras após empate do jogo 140
Fig. 67 Volta olímpica das jogadoras após empate do jogo. 140
Fig. 68 Foto dos dois times femininos de futebol que realizaram o lançamento da marca
Lindona.
141
11
Fig. 69 Figurino de Bia Falcão e Júlia Assumpção. 146
Fig. 70 Figurino de Safira. Alça e parte do sutiã à mostra. 147
Fig. 71 Figurino de Vitória 148
Fig. 72 Figurino de Rebeca 149
Fig. 73 Anúncio de Clínica de Estética Belíssima em Porto Alegre, RS. 156
Fig. 74 Anúncio de Clínica de Estética Belíssima em São Bernardo do Campo, SP. 156
Fig. 75 Notícia de inauguração de estética Belíssima em Paranavaí, PR. 157
Fig. 76 Anúncio de Clínica de Estética Belíssima em Sorocaba, SP. 157
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Ações de merchandising da marca Lycra exibidas na novela ‘Belíssima 112
Tabela 2 Ações de merchandising da marca Valisére exibidas na novela ‘Belíssima 113
Tabela 3 Ações de merchandising das Lojas Renner exibidas na novela ‘Belíssima 113
.
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................14
2 A FANTÁSTICA FÁBRICA DE SONHOS .............................................................16
2.1 A
INDÚSTRIA DA TELEVISÃO: A TELENOVELA...............................................16
2.1.1 A disseminação da TV no Brasil.......................................................................16
2.1.2 O Início da Publicidade Na TV .........................................................................20
2.1.3 Telenovela: produto popular.............................................................................24
2.2
A INDÚSTRIA CULTURAL E A CULTURA DAS MASSAS...................................27
2.3
TELENOVELA: FICÇÃO, ESPETACULARIZAÇÃO, IMAGINÁRIO. ....................32
2.3.1 Um passo anterior à telenovela: entendendo a TV como mídia.......................33
2.3.2 Agora vamos à Telenovela, a fantástica fábrica de sonhos .............................40
3 FÁBRICA: O MERCHANDISING COMO FERRAMENTA DE PUBLICIDADE.....44
3.1
O QUE É ENTÃO O MERCHANDISING? CONCEITOS E TIPOS. ......................44
3.1.1 Merchandising no Ponto-de-Venda..................................................................45
3.1.2 Placement: Merchandising Editorial ou Tie-In ..................................................50
3.1.3 Merchandising Social .......................................................................................64
3.1.4 Branded Content e Advertainment ...................................................................67
3.2 A
TELENOVELA PRODUZINDO CONSUMO E ORIENTAÇÃO SOCIAL
ATRAVÉS DO MERCHANDISING ............................................................................72
3.2.1 Ações de Merchandising Editorial nas telenovelas da Rede Globo .................72
3.2.2 Ações de Merchandising Social nas telenovelas da Rede Globo.....................89
4 FANTÁSTICA: A NOVELA ‘BELÍSSIMA .............................................................97
4.1
O CORPUS DE ESTUDO NOVELA BELÍSSIMA’.............................................97
4.2 DECUPAGEM
DAS AÇÕES DE MERCHANDISING DE BELÍSSIMA’..............109
4.3 O
CONSUMO DA MODA EM BELÍSSIMA INFLUENCIADO PELO
MERCHANDISING..................................................................................................142
5 PROPOSTA PARA UMA NOVA TIPOLOGIA DE MERCHANDISING: O
MERCHANDISING DE OPORTUNIDADE..............................................................153
6 CONSIDERÕES FINAIS.................................................................................162
REFERÊNCIAS.......................................................................................................167
ANEXOS.................................................................................................................173
14
1 INTRODUÇÃO
A telenovela é o produto cultural mais consumido pela população brasileira, e
também se tornou produto de exportação do nosso país, desde 1973 com a novela
‘Bem-Amado’, cujos direitos de exibição foram vendidos ao Uruguai (SILVA, 2004).
Atualmente, a rede Globo exporta o seu conteúdo de teledramaturgia para mais de
130 países, inclusive Cuba
1
. As nossas telenovelas são vendidas como um produto
de altíssima qualidade de produção; qualidade
2
esta criada pela Rede Globo de
Televisão, que sempre teve seus maiores investimentos voltados ao produto do
portfólio da emissora. Mas a telenovela tem seus segredos para ter esse sucesso.
O segredo da telenovela consiste na combinação de dois ingredientes: a
ficção sem fantasia e uma moral doméstica. Sincronizando e
homogeinizado o real e o imaginário, a telenovela faz da ficção um espelho
do real e incorpora ao enredo fatos correntes e situações contemporâneas.
Essa apropriação do real se faz a partir de parâmetros morais da instituição
familiar, ajustando seus conteúdos ideológicos a determinados sentimentos,
costumes, tendências existentes socialmente. A telenovela brasileira com
seu inegável apuro técnico é um exemplo desse drama de moral doméstica,
jornalisticamente atento a fatos reais...A realidade que a telenovela restitui a
seu público é a realidade sonhada da moral caseira, convenientemente
administrada pelo "médium" (BRANDÃO, 2004 apud SODRÉ, 2004, p. 1).
3
Essa apropriação do real se faz a partir de parâmetros morais da instituição
familiar, ajustando seus conteúdos ideológicos a determinados sentimentos,
costumes e tendências existentes socialmente. A telenovela fala a linguagem da
transparência para o telespectador fazer parte da trama, do conteúdo, como
integrante ativo.
Por outro lado, não podemos esquecer que a telenovela não alcançaria o
estágio em que se apresenta hoje se não houvesse o aparato comercial. O interesse
econômico não se esconde ao usar a telenovela, utilizado para projetar as grifes e
produtos, ou seja, fazer uso dessa potência na capacidade de se comunicar com o
1
JIMENEZ, K. O Brasil que o mundo conhece pela TV. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 25 mai.
2003. Caderno TV&Lazer, p. 26.
2
Muito pertinente citar que a Rede Globo se utiliza do termo Padrão de Qualidade Globo’, que
atualmente, tem anúncios institucionais sendo veiculados pela própria emissora com depoimento de
atriz, atores e telespectador sobre este tema.
3
Cristina Brandão é professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de
Fora, autora de diversos artigos sobre teledramaturgia e tem uma coluna exclusiva sobre Televisão
e Cultura no site www.oclick.com.br.
15
telespectador, para influenciá-lo em seu consumo, fazendo uso da publicidade,
inserida dentro da história, o que caracteriza o merchandising.
O fascínio que a TV e as telenovelas exercem sobre seus telespectadores
está à beira de uma manipulação irreversível, voltada, também, para o consumo,
além do entretenimento. Se a telenovela está para o consumo, as indústrias estão
para a telenovela e o telespectador está entorpecido por esta mídia.
O que vamos tratar nesta dissertação é de que forma o ‘produto telenovela’
permite a inserção de ações publicitárias e tratar de uma nova proposta de tipologia
de merchandising, o Merchandising de oportunidadeque tem como principal foco o
aproveitamento gratuito das indústrias pelo poder de formar opinião e ditar moda das
telenovelas. O discurso do merchandising de oportunidade é embutido e ao mesmo
tempo nascente do contexto da trama, porém não controlado pelas emissoras, mas
aproveitado por indústrias e comércios que não investem nessa ferramenta de
publicidade. Além disso, trataremos também das ões do merchandising de moda
em uma telenovela e o que representa este momento da publicidade na ação das
personagens, ou seja, um estudo de caso da novela Belíssima’, da Rede Globo de
Televisão.
16
Fig.
1
Logotipo da extinta
TV Tupi
Fonte: Divulgação/TV Globo
2 A FANTÁSTICA FÁBRICA DE SONHOS
2.1 A INDÚSTRIA DA TELEVISÃO: A TELENOVELA.
A idéia de trabalhar com imagens está ligada à história da civilização.
nos tempos primitivos o homem deixava suas impressões em forma de
desenhos para que as gerações posteriores pudessem aprender ou
reverenciar. (VALIM, 1998, p. 1)
4
.
2.1.1 A disseminação da TV no Brasil
A TV chega oficialmente ao Brasil em 18 de setembro de 1950, quando Chatô
realiza seu grande sonho, o de inaugurar a PRF-3 TV TUPI de o Paulo, primeira
emissora de televisão do Brasil e de toda a América Latina, com um espetáculo
dirigido por Cassiano Gabus Mendes (SILVA, 2004).
Enquanto a TV engatinha, o rádio reina absoluto nos lares brasileiros.
Novelas e programas de auditório cativam milhões de ouvintes. Depois de poucos
meses de treinamento, alguns radialistas escolhidos por Chatô lançam-se à aventura
de fazer TV. Os estúdios são pequenos, o equipamento
é precário. Faltam condições, mas sobra dedicação,
espírito de equipe e capacidade de improvisação (SILVA,
2004).
Chateaubriand passou por uma experiência de
transmissão de TV antes do lançamento oficial no Brasil,
como se fosse uma pré-estréia: o primeiro teste
aconteceu em cinco de julho de 1950, na transmissão da
apresentação do Frei cantor José Mojica, que havia sido
convidado para a cerimônia de inauguração do Museu
de Arte de São Paulo e do Edifício Guilhermina Guinle. A
transmissão aconteceu precisamente às 17 horas
4
Radialista, professor universitário, criador e mantenedor do site www.tudosobretv.com.br.
17
daquele dia. Naquele momento a TV brasileira estava no ar pela primeira vez
(SILVA, 2004).
A grande novidade do início da década de 50 era a televisão, que contava
com as primeiras equipes de diretores e atores egressos do rádio. Com uma
programação quase totalmente ao vivo, composta de telejornais, teleteatros,
programas musicais, de variedades e esportivos, a televisão passaria a ingressar
nos lares brasileiros, ainda de forma bastante restrita pelo alto custo dos aparelhos.
As câmaras utilizadas nos estúdios também eram bastante pesadas, os recursos
técnicos eram precários e o improviso marcou a programação televisiva nos seus
primeiros tempos (ADAMI, 2003a).
O primeiro programa transmitido foi a “TV na Taba”, precisamente às 17
horas. Homero Silva convida Lolita Rodrigues a cantar o “Hino da TV” composto
especialmente por Marcelo Tupinambá, com letra de Guilherme de Almeida. Este
programa teve a participação de Fig.s que até hoje estão na TV brasileira, como
Hebe Camargo e Lima Duarte (ORTIZ; RAMOS; BORELLI, 1989).
O primeiro telejornal foi ao ar no dia 19 de setembro, “Imagens do Dia”,
apresentado pelo radialista Ribeiro Filho, com texto e reportagem de Rui Rezende,
sem horário certo para sua transmissão, contando com a sorte de não haver
problemas na operação. Em Novembro, estreou o teleteatro “A Vida por um Fio”,
adaptação do drama policial americano Sorry, wrong Number”, que podemos
considerar um dos primeiros ensaios para se construir uma telenovela (SILVA,
2004).
Em 1951, os primeiros receptores de televisão começam a ser fabricados no
Brasil, que, apesar de tornarem-se mais acessíveis, ainda era um produto caro, e
possuir um televisor passou a ser significado de statusna sociedade dos anos 50.
Em 1954, o Brasil registrava 34 mil televisores espalhados nos lares, contra mais de
50 milhões que possuímos, atualmente
5
.
Em vinte e sete de setembro de 1953 foi inaugurada a TV Record, em o
Paulo. Em quinze de julho de 1955 é inaugurada a TV Rio, o canal 13 do Rio de
Janeiro. Em oito de setembro do mesmo ano é inaugurada a TV Itacolomi, de Belo
Horizonte (SILVA, 2004).
5
Números de referência do Anuário de Mídia, Mídia Dados, Grupo de Mídia: 2007.
18
Em 1956, Chateaubriand inaugura mais nove estações em outros estados,
como Belém, Goiânia, Salvador, Recife, entre outras. Neste ano, o Brasil registra
141 mil aparelhos de televisão espalhados, e dois anos depois, esse número seria
mais que duplicado
6
. Em 1957, dez emissoras de televisão estão em operação no
País, levando conteúdos diferenciados a uma considerável parte do território
brasileiro (SILVA, 2004).
Mesmo com esse crescimento acirrado da concorrência, a TV Tupi se
mantinha com o conteúdo de maior qualidade, com o melhor elenco, os melhores
diretores e as melhores produções de adaptação do teatro com o programa TV de
Vanguarda.
Ponto alto na história da teve brasileira foi o surgimento do TV de
Vanguarda, em São Paulo. Esse teleteatro permaneceu no ar durante
quinze anos. Encenou peças estrangeiras e nacionais, clássicas e
contemporâneas. Baseava-se nos recursos do rádio e, em termos visuais,
utilizava o observado no cinema. Com essas experiências, tateando,
errando e suando, dominou as técnicas e descobriu o que a televisão
poderia ser. Nesse período, de 1952 a 1967, o TV de Vanguarda levou ao
ar perto de quatrocentos espetáculos. O programa era quinzenal. O TV de
Vanguarda é obra fundamental na formação da teledramaturgia brasileira.
(TÁVOLA, 1996, p. 63-64).
A quantidade de novas emissoras continuava a crescer. Em 1959, foi
inaugurada a TV Excelsior, pertencente à família Simonsen, proprietária das
empresas Panair do Brasil, que era antiga anunciante e patrocinadora da TV Tupi.
No início da década de 60, existiam em São Paulo a TV Record, a TV Tupi e a TV
Paulista e surgiu, posteriormente, a Excelsior, a Bandeirantes, a Gazeta, a Cultura e
a Globo, que substituiu a TV Paulista. No Rio havia a TV Tupi, a TV Rio e a TV
Continental, e, posteriormente, em 1963, entraram mais uma no mercado para
esquentar a concorrência, a TV Excelsior.
A TV Rio conseguiu sobrepujar a TV Tupi na preferência dos cariocas. Em
São Paulo, somente em 1961 a TV Record superaria a Tupi. Esses anos
caracterizaram o Rio de Janeiro como exportador de artistas e programação
para São Paulo. A TV Rio montara sua programação vitoriosa sobre um
tripé constituído de programas humorísticos, telejornalismo e séries
filmadas. São Paulo passou a fazer o mesmo. (TÁVOLA, 1996, p. 81).
Além disso, o mercado começava a ser explorado pelas indústrias e pelo
varejo, para o consumo de televisores. Esse novo mercado crescia, proporcionando
6
Em 1958 já se registrava 344 mil televisores.
19
maior popularidade aos produtos da TV, e, em contrapartida, o telespectador
também começava a exigir mais das programações, do conteúdo, da produção e da
técnica.
Os anos 60 foram um marco para a consagração da TV, após 10 anos de
existência, com maior consciência profissional, com mais conhecimento do público
telespectador, de mais desenvolvimento da publicidade e mais capacidade de
produzir uma programação qualificada e manipular os equipamentos técnicos.
Essa década forneceu tudo isso a teve, sobretudo porque encontrou um
sistema que já possuía 10 anos de existência, crescendo junto a uma
população que comprava televisores suficientes para garantir um mercado
interno a seus produtos. (TÁVOLA, 1996, p. 80).
De 1951 a 1985 o IBOPE
7
tinha como metodologia de medição de audiência
domiciliar, o ‘método flagrante’, que era o registro do que o telespectador estava
assistindo na hora. E se fazia necessário uma nova metodologia de medição, visto
que a audiência era uma moeda de troca das emissoras com o crescente número de
anunciantes.
Somente em 1988 o IBOPE finaliza o desenvolvimento dos aparelhos
Peoplemeters, que permitiria a coleta, processamento e disponibilização dos dados
de audiência em tempo real, contando, inicialmente, com uma amostra de 251
domicílios na grande São Paulo e somente no ano de 1991, essa metodologia foi
estendida ao Rio de Janeiro. De 1992 em diante, após a metodologia estar validada,
espalha-se por outras regiões do País como Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba.
Enfim, Assis Chateaubriand perdeu a última batalha de sua vida para Roberto
Marinho, o dono da Rede Globo de Televisão. A TV Globo foi ao ar pela primeira vez
em abril de 1965. Em dezenove de fevereiro de 1972, mais um novo marco para a
história da TV, ocorre a primeira transmissão em cores no Brasil, em caráter
experimental, transmitindo a Festa da Uva, no Rio Grande do Sul (SILVA, 2004).
Enfim, a TV começa a chegar a outros Estados, novas emissoras se
proliferam pelo país e o crescimento parece massa com fermento. Desde então, se
registra grande desenvolvimento, com novos modelos de programação e descoberta
de grandes nomes da teledramaturgia e do telejornal; diversifica-se a programação
7
INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA. Histórico de Audiência de TV,
2004. Disponível em: <//www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=6&proj
=PortalIBOPE&pub=T&nome=pesquisa_leitura&db=caldb&docid=5D904805FF8259FF83256EE40
04952B0>. Acesso em: 09 Jul. 2007.
20
com conteúdo infanto-juvenil, com programas de auditório mais interativo, como
reality shows, que conta com a participação do público para tomar decisões a
respeito do final das histórias e tramas narradas; o videoteipe
8
, que permite ter
outras programações variadas, não necessitando produzir tudo ao vivo, com mais
qualidade e possibilidade de produção.
Essas mudanças proporcionam, e, ao mesmo tempo, exigem uma forma de
‘pensar a TV’, como um produto, uma forma de profissionalizar o comércio e
extrapolar as condições de poder dessa mídia.
2.1.2 O Início da Publicidade Na TV
No início da TV, havia como cenário um mercado ainda pouco difundido, onde
os aparelhos de TV espalhados pelo País não era grande, e, com isso, havia pouca
penetração de audiência e um mercado publicitário ainda muito jovem no Brasil.
Ainda assim, o visionário e empreendedor Chateaubriand vendeu espaço publicitário
na TV Tupi, por um ano, para grandes empresas da época, como Sul América
Seguros, Antarctica, entre outras.
Em 1951, duas grandes agências de publicidade McCann Erikson e
J.W.Thompson se instalaram no Brasil, trazendo o conhecimento americano e
começam a utilizar a TV como espaço publicitário para veiculação de seus produtos,
incentivando o consumo.
Devido à falta de profissionais experientes e qualificados, as agências
começam a produzir o conteúdo, criando, redigindo e adaptando ao mercado
brasileiro. Nos primeiros anos, os patrocinadores determinavam os programas que
deveriam ser produzidos e veiculados e, muitas vezes, contratavam, diretamente, os
artistas e produtores. Nesta época, existiam, aproximadamente, sete mil
aparelhos de TV espalhados por São Paulo e Rio de Janeiro.
Necessitava-se, neste momento, o desenvolvimento e entendimento para o
uso da linguagem deste novo veículo de comunicação; as atrações não poderiam
8
O aparecimento do videoteipe, que revoluciona o fazer televisivo e introduz certo grau de
organização, planejamento, "antecipação", além da possibilidade de repetir, corrigir, restaurar e,
mais do que isto, guardar, arquivar, compor um acervo, uma história, uma memória.
21
mais ser feitas como no rádio, existia a imagem, a expressão, a pessoalidade, a
telepresença.
As primeiras garotas-propagandas começam a aparecer junto com a
programação de TV, em 1951, com o programa/telenovela “Sua vida me pertence”,
que tem o patrocínio da Coty
9
e é produzida pela agência de propaganda norte-
americana J. W.Thompson. Elas surgem da necessidade de apresentar os produtos
dos patrocinadores e, assim, surgem também os comerciais feitos ao vivo.
Não podemos também deixar de considerar em nossa análise que o início
10
da TV foi constituído da parceria entre emissoras e anunciantes. Os anunciantes
tinham forte poder de influência na programação dos meios, não somente pela
questão de serem os patrocinadores e divulgarem suas marcas, mas determinavam,
também, a grade de programação, o elenco, produção etc.
Após 1952, por vários anos, os telejornais e alguns outros programas levam o
nome do patrocinador como o famosíssimo programa de notícias “Repórter Esso”,
que repete o seu sucesso do rádio na televisão com grandes índices de audiências,
permanecendo no ar por 17 anos consecutivos, patrocinado pela empresa Esso
Brasileira de Negócio.
Em meados de 1970, os anunciantes passam a comprar espaços publicitários
pré-determinados nos intervalos comerciais. Dessa forma, as emissoras vão, cada
vez mais, modificando a forma de administrar seu conteúdo, os anunciantes, a sua
forma de investir as verbas publicitárias, diminuindo o investimento em patrocínios e
conteúdo dos programas e investindo nos intervalos comerciais, estabelecendo
fortemente o modelo de “conteúdo sustentado por publicidade”. Outro movimento
que fortalece essa mudança é a regulamentação do Ministério das Comunicações,
em 1971, que determina a exibição de comerciais de 3 minutos para cada 15 de
programação.
Percebemos hoje, na verdade, que a partir dos anos 90 houve um retorno
sutil aos modelos comerciais no início da telenovela no Brasil, ou seja, novamente
as agências controlando e ditando as regras de produção da televisão. A percepção
se quando vivenciamos, por exemplo, a vulgaridade com que são tratados
determinados temas importantes do ponto de vista moral, intelectual, cultural, social,
9
Marca de cosméticos.
10
Considerando a década de 50 e inicio da década de 60, quando surge a Rede Globo e as
mudanças no mercado tornam-se mais evidentes.
22
etc., como pura banalidade, para que se sobressaia este ou aquele produto. É, sem
dúvida, a desmistificação do meio televisão e a dependência absoluta da
publicidade.
Com o passar do tempo muitas mudanças ocorreram nessa relação, entre
ambas as partes, por motivos de necessidades dos anunciantes ou das emissoras,
mas, sempre motivados pelas movimentações tecnológicas, sociais e econômicas
que ocorriam na Indústria Cultural. Os principais anunciantes da época do início da
TV eram da indústria de higiene e beleza, e, posteriormente, surgiram outros de
diversos segmentos como bebidas, moda, veículos automotivos, medicamentos etc.
A relação comercial, já aprovada em outros países, aqui se repetia: a
radionovela era um veículo tão bom para a divulgação dos produtos de
higiene e beleza que compensava investir em sua produção. A Colgate
Palmolive concentrou sua iniciativa na tradução e adaptação de relatos
cubanos e mexicanos. A principal concorrente a Gessy Lever investiu
também em textos de autores nacionais, fiéis à matriz melodramática.
(BORELLI; MIRA, 1996, p. 35).
Essa indústria, assim como muitas outras, em função do desenvolvimento
tecnológico, passa por inúmeras transformações, desde o seu modo de sustentação
até seus formatos de produção. Muitos acontecimentos mudaram a rotina da
produção na televisão, como afirma Ortiz, Borelli e Ramos:
No campo da tecnologia as inovações foram muitas e continuam se
processando. Em 1976, Adílson Pontes Malta, diretor geral da Central
Globo de Engenharia, apontava as mudanças que considerada
“revolucionárias” na televisão. Primeiro, obviamente, vem a introdução do
videoteipe, permitindo a correção dos erros; chegam em seguida outras
invenções e aprimoramentos: o aparecimento dos componentes em estado
sólido... melhorando o sinal de vídeo; ... os editores e programadores para
emendas eletrônicas de VT, agilizando os cortes e superando o artesanato
das emendas mecânicas; ... os equipamentos para transmissão em cores;
os gravadores-reprodutores profissionais de videocassete, permitindo a
reprodução de comerciais nos intervalos por um processo automatizado,
uniformizando os sinais de áudio e de vídeo; as câmaras e gravadores de
videoteipe com dimensões reduzidas, facilitando as gravações externas.
Enfim, todo um know-how vai sendo absorvido na feitura da telenovela nos
anos 70, e um novo padrão tecnológico vai se cristalizando (ORTIZ;
BORELLI; RAMOS, 1989, p. 122-123).
Só que essas mudanças tecnológicas, apesar de ocorridas com furor na
década de 80, não interferem apenas no processo de produção das telenovelas ou
qualquer outro produto cultural, e interferem, também, no modo como a sociedade
se relaciona com esses produtos para o seu lazer e entretenimento. Essas
23
mudanças fizeram com que a indústria da publicidade, em qualquer mídia,
procurasse, cada vez mais, formas alternativas de conquistar a atenção do seu
público-alvo consumidor. E, essas mudanças não pararam, a tecnologia proporciona
cada vez mais avanços, e os consumidores estão se tornando ‘seres’ diferentes para
o consumo dessas tecnologias.
O crescente número de emissoras e a expansão das grades de programação,
com números cada vez mais volumosos e o advento do controle remoto e da
televisão paga, acarretaram cada vez mais zapping
11
pelos telespectadores, que,
desta forma, pulverizam as audiências, que é a principal moeda de troca das
emissoras com os anunciantes. Isso se cada vez mais, de forma acentuada, com
o advento da Internet, da TV por assinatura, da TV Digital e diversos outros meios,
que permitem, cada vez mais, que o consumidor-telespectador escolha e determine
aquilo que quer ver, ouvir e vivenciar.
Como diz Almeida, em sua obra Telenovela, consumo e gênero:
São os anúncios que mantêm os meios de comunicação estes vendem o
espaço de mídia de acordo com o público que conseguem atingir e,
portanto, buscam a maior audiência possível e sua manutenção ao longo do
tempo. Dá-se, conseqüentemente, um sistema de dependência mútua: a
publicidade sustenta os custos de produção e distribuição da mídia, e a
mídia oferece uma audiência pronta para os anúncios. (ALMEIDA, 2003, p.
148).
E o consumidor sustenta o processo inicial desse ciclo, que é consumir esses
produtos culturais midiáticos, para que esses sejam passíveis de venda para os
anunciantes; consumir além da programação a publicidade, consumir o consumo
proposto.
A escolha desse segmento de mercado passa também pelo processo
estratégico de identificar o tipo de público mais adequado para consumir seus
produtos e serviços. Define, também, quais dias são mais apropriadas para se
realizar publicidade para que a comunicação juntamente com a oferta chegue até o
consumidor, influenciando-o e levando a escolher determinada marca para um tipo
de produto ou serviço.
Nesse sentido, a televisão tem um poder absoluto de conseguir chegar às
grandes massas, e isso se reflete no poder da telenovela, não apenas da
11
Ato de mudar de canais televisivos, pelo telespctador, em busca de diversidade de programação ou
até mesmo a fuga dos intervalos comerciais.
24
publicidade convencional no break, mas, também, de influenciar a sociedade para
orientá-la ao consumo.
Para termos uma idéia da proporção do investimento publicitário, em 1980 a
verba publicitária para a TV já representava 51,8% dos investimentos de dia dos
anunciantes
12
. A Revista tinha o percentual de 18,5%, o Jornal 14,2% e o Rádio
12%. Hoje, no fechamento de 2007 do Mídia Dados
13
, aponta-se que a divisão da
verba publicitária dos anunciantes não é muito diferente, mesmo quase 30 anos
depois.
Do total de investimento publicitário em 2007, 58% foi destinado à publicidade
em TV, 8% em Rádio, 15% em Revista, 10% em Jornal e o restante em outras
mídias, com volume cada vez mais presente para novos tipos de mídias,
principalmente na Internet. Vale ressaltar que nestes números não estão
contemplados qualquer outro tipo de investimentos como, por exemplo, patrocínio de
eventos e merchandising.
2.1.3 Telenovela: produto popular
A telenovela é fruto da radionovela
14
e foi criada como produto de
entretenimento para a sociedade (ADAMI, 2003a). A matriz das séries televisivas é o
folhetim, literatura originária da França, tendo como objetivo o entretenimento e que,
a princípio, era impresso no rodapé do jornal. Nesse espaço, eram divulgadas
receitas de beleza, cozinha, piadas e até crimes, sendo já, nesta época,
apresentado em frações, ou seja, o leitor deveria comprar o jornal todos os dias para
acompanhar determinada história.
A radionovela originária do folhetim teve grande sucesso no Brasil e, com
isso, foi transportado do dio, o só a técnica, mas, também, muitos autores,
diretores, atores e patrocinadores. Na época das radionovelas (soap operas), havia
12
Em 1970 o investimento em TV era de 39,6%, em Rádio 14% e em Jornal 16,2%. Fonte: IBOPE.
13
Anuário de mídia publicado anualmente pelo Grupo de dia que se utiliza de fontes do IBGE,
Instituto Ipsos e outros.
14
Para se aprofundar no tema Rádio ler ADAMI, Antonio. Radioconto, Radioromance, Radiopoesia: o
Rádio Educativo. Revista da USP, Universidade de São Paulo -ECA, v. 1, p. 86-91, 2003 e outras
obras de Antonio Adami pesquisador e profundo conhecedor do rádio.
25
algo muito interessante que vale a pena ser ressaltado: o ouvinte deveria construir
as imagens da narração da trama da forma que lhe conviesse; este determinava
como seria a fisionomia da mocinha, do bandido, do amante apaixonado. Utilizava
aguçadamente o seu pensamento imaginário, que é composto por seu repertório e
alfabetismo cultural (ADAMI, 2003b).
Como já foi mencionado, a telenovela migrou do rádio para a TV. Renato Ortiz
reforça o depoimento desses profissionais em relação ao contraste entre o teleteatro
e a telenovela:
Quando passou a ser exibida diariamente, em horário nobre, a novela,
produto industrial por excelência, teria provocado a decadência do
teleteatro, simbolizando o domínio da lógica industrial sobre a produção
televisiva (HAMBURGUER, 2005 apud ORTIZ, 1989, p. 157).
A tradição do folhetim francês é gerador do discurso das primeiras telenovelas
brasileiras. O romance rocambolesco chegou à TV ainda nas imagens preta e
branca – e, talvez, tenha permanecido até hoje, como admite a historiadora do
folhetim, Marlyse Meyer (1996, p. 386): “pela mediação da radionovela, o folhetim é
fundamento da telenovela, essa grande criação narrativa da América Latina”.
Meyer tem uma definição interessante e simples sobre a transição dos
folhetins
15
para as telenovelas: “o sonho de Paris, substituído pelos sonhos da Zona
Sul do Rio de Janeiro ou dos Jardins de São Paulo” (MEYER, 1996, p. 386).
No ano da inauguração da televisão Tupi de São Paulo deu-se o primeiro
‘transplante’ do êxito radiofônico para a tevê, a novela Sua Vida Me
Pertence”, escrita e dirigida pelo radioator, depois teleator, Walter Foster,
ocasião em que se deu o primeiro beijo ao vivo na televisão no Brasil
(TÁVOLA, 1996, p. 62).
Como a televisão era um fato inovador na indústria de entretenimento, as
primeiras novelas ainda carregavam a influência das radionovelas, onde um
narrador ligava os capítulos e informava aos telespectadores um resumo da história
já veiculada anteriormente, exatamente como se fazia no rádio.
A primeira novela diária foi introduzida pela TV Excelsior em 1963, por Edson
Leite, com o tema “2-5499 Ocupado” que, em uma viagem à Argentina, viu novelas
transmitidas diariamente, sempre no mesmo horário. Ao regressar, comprou os
15
Para se aprofundar mais na história dos folhetins, ler: MEYER, Marlise. Folhetim. São Paulo: Cia.
Das Letras.
26
direitos da novela, contratou equipe e, entusiasmado com o sucesso da
programação, comprou direito de exibição de várias outras novelas como “O Direito
de Nascer”. Esse formato de novela diária, transmitida em horário nobre, revelou-se
eficiente para atrair audiências (HAMBURGER, 2005, p. 29).
Apesar das tentativas de seriados, com duas edições semanais, da
adaptação de romances e peças famosas, e com a redução dos temas de filmes de
êxito ajustados à TV, o meio ainda não era capaz de gerar seu próprio produto
específico. Ele apareceria em 1963 com a telenovela diária e se tornaria popular em
1965 com “O Direito de Nascer”, um marco na evolução do gênero, sobretudo, por
haver criado um mercado telespectador, de início, no Rio e em São Paulo, e, dez
anos depois, em quase todo o País (TÁVOLA, 1996, p. 63).
Mas no final da década de 1960, a telenovela tornava-se popular, em função,
também, do crescimento de televisores nos lares brasileiros, e a TV Tupi lança a
telenovela que seria um fato marcante para a produção televisiva nacional na
teledramaturgia brasileira: Beto Rockefeller, de Bráulio Pedroso.
A telenovela continha os ingredientes da ficção que mais se aproximavam
da realidade brasileira e perduram até os dias de hoje. Entre suas
características, apontadas pelos estudiosos da televisão brasileira, para sua
chegada triunfal na modernização temática estão: 1) o rompimento com os
diálogos formais, propondo uma linguagem coloquial repleta de gírias e
expressões populares; 2) reprodução de fatos e fofocas retiradas de
notícias de revistas e jornais da época; 3)um autor preocupado em levar o
cotidiano vivido para o vídeo; 4) preocupação de apresentar uma proposta
realista; 5) atores trabalhados para uma interpretação mais próxima
possível da realidade retirando entonações quase teatrais; 6) o personagem
Beto Rockefeller se distancia também do melodrama, na medida em que o
ator principal (Luís Gustavo) é um anti-herói, um pobretão que queria subir
na vida sem muito esforço, não possui dinheiro mas tem talento de enganar
as pessoas e pela primeira vez aparece na TV um herói que não era
impoluto, corajoso, maravilhoso. Ao contrário, Beto era mentiroso, arrivista e
carreirista. Um anti-herói que seria reproduzido, ou melhor, imitado nas
telenovelas subseqüentes [...] A partir daí, a TV Globo surge como uma
emissora que vai apostar na proposta de Beto Rockefeller, afirmando sua
posição no espaço da TV brasileira (BRANDÃO, 2007, p. 166).
Somente a partir dos anos 70 é que se acentua a evolução das produções da
televisão, muito em função das novas tecnologias para a sofisticação do processo
produtivo. O aparecimento do videoteipe, melhores qualificações dos profissionais,
câmeras mais leves que permitiam maior movimento nas criações mudança de
cenários para o ambiente “natural”, como cenas externas e, também, a transmissão
27
a cores, mudou drasticamente o processo de criação e produção com os cenários,
figurinos e iluminação (BORELLI, 2001).
Em meio a todo esse processo de transformação, crescimento e consolidação
de um novo veículo de comunicação para a sociedade, pode-se afirmar que a
“televisão é, possivelmente, o meio que melhor exemplifica o surgimento de uma
indústria cultural no Brasil(HAMBURGUER, 2005, p. 31), criando uma massa, que,
a cada instante, é ávida por algo diferente, inovador, que conecta as pessoas, a
ponto de estabelecer vínculos com suas necessidades e desejos.
2.2 A INDÚSTRIA CULTURAL E A CULTURA DAS MASSAS.
“A cultura de massa é, portanto, o produto de uma dialética produção-
consumo, no centro de uma dialética global que é a da sociedade em sua
totalidade” (MORIN, 1997, p. 47).
Em meados dos anos 40, precisamente, em 1947, quando Adorno e
Horkheimer publicaram a obra Dialética do Esclarecimento, escreveram um capítulo
dedicado ao tema da Indústria Cultural, focando suas análises no rádio e no cinema.
Naquela época, Adorno (1993, p. 178) considerava o cinema como “o médium
drástico da indústria cultural”. Posteriormente, reconhece a televisão como um
importante produto cultural, em função do seu espaço ocupado no sistema de dia
e pela proximidade que opera entre telespectador e veículo: “a falta de distância,
esta paródia à fraternidade e solidariedade, seguramente ajudou o novo meio de
comunicação a alcançar uma popularidade indescritível” (ADORNO apud COHN,
1987, p. 349).
Os teóricos projetaram-se como um dos críticos mais ácidos dos modernos
meios de comunicação de massa. Acreditava-se que a mídia não se voltava apenas
para suprir as horas de lazer ou dar informações aos seus ouvintes ou
espectadores, mas, fazia parte do que ele chamou de indústria cultural. Um imenso
maquinismo composto por milhares de aparelhos de transmissão e difusão, que
28
visava produzir e reproduzir um clima conformista e dócil na multidão passiva, uma
forma de manipulação.
Considerando as críticas de Adorno (1997, p. 87), este acredita que na
indústria cultural tudo gira e se move em torno de geração de negócios. “Enquanto
negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada
exploração de bens considerados culturais”. Um exemplo disso é o cinema: o que
antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio
eficaz de manipulação e de exploração comercial, de autopromoção. Portanto,
podemos dizer que a indústria cultural traz consigo todos os elementos
característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, qual
seja, o de portador da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.
Para Horkheimer e Adorno (1997), o homem oriundo dessa indústria cultural
não passa de mero instrumento de trabalho (derivado de grandes movimentos
industriais ocorridos nos Séculos XIX e XX) e de consumo, ou seja, objeto. Ele sai
do papel de sujeito para o papel de objeto. O homem é tão bem manipulado e
ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho; tudo o
que ele fizer será em prol dessa ideologia dominante.
A visão marxista classificou a cultura como uma indústria no sentido de
estar relacionada com uma padronização do comportamento e do consumo (da linha
de montagem à loja). A indústria cultural tornou-se uma fábrica de entretenimentos
como um alívio para o dia-a-dia apressado e estressante da nova sociedade”,
promovendo a distração necessária para a volta ao trabalho, sempre focada na
produção de mercadorias.
Essa indústria cultural é entendida como uma rede de cadeias produtivas, na
qual a padronização e a produção em série, são utilizadas para controlar o indivíduo;
para os frankifurtianos, a indústria cultural não abre espaço para o novo, trata-se
sempre do velho em uma nova roupagem. Na verdade, reproduz todo o sistema
economicamente produtivo, necessário ao sustento do capitalismo. É, portanto, um
cimento social para a ordem existente, onde toda a indústria do lazer é manipulada e
controlada.
Cultura de massa, isto é, produzida segundo as normas maciças da
fabricação industrial; propaganda pelas cnicas de difusão maciça (que um
estranho neologismo anglo-latino chama de mass media); destinando-se a
uma massa social, isto é, um aglomerado gigantesco de indivíduos
29
compreendidos aquém e além das estruturas internas da sociedade
(classes, família, etc.) (MORIN, 1997, p. 14).
Morin (1997) enfatiza e analisa as conseqüências sociais da introdução dos
símbolos produzidos pela indústria cultural na atual sociedade de massa,
consumidora de bens que, supostamente, trarão a felicidade ou sua identidade.
Nessa teoria, constata-se a questão da sociedade contemporânea, que se encontra
com sua identidade em estado de redescobrimento.
Para realizar esse descobrimento, faz uso da indústria cultural, via cultura de
massa, para adquirir os símbolos que vão legitimar sua atual identidade heterogênea
e fragmentada, própria de uma ideologia dominante. Essa fragmentação está,
também, atrelada aos públicos que são abordados com os mass media, como define
Morin:
[...] pode-se constatar que o setor mais dinâmico, mais concentrado da
indústria cultural é ao mesmo tempo aquele que efetivamente criou e
ganhou o “grande público”, a “massa”, isto é, as camadas sociais, as idades
e os sexos diferentes. (MORIN, 1997, p. 38).
É óbvia a relação da telenovela com a Indústria Cultural, e Adorno,
veementemente, afirma que essa indústria “impede a formação de indivíduos
autônomos, independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente” (MORIN,
1997, p. 295). Ao analisar a relação da televisão com a Indústria Cultural, o autor
acrescenta que esse veículo “leva adiante a tendência daquela, no sentido de cercar
e capturar a consciência do público por todos os lados” (MORIN, 1997, p. 246).
Mesmo com a visão crítica de Adorno relacionada à cultura, não podemos
desconsiderar o apelo comercial e financeiro que uma telenovela tem para esse
mercado e, também, para a vida econômica do Brasil. São muitas as formas de
angariar recursos financeiros deste produto simbólico, vendendo os espaços
publicitários do break
16
comercial, vendendo produtos provenientes de uma
determinada novela por exemplo, CD com trilha sonora –, merchandising, licença
para uso da marca, etc.
16
Aqui, e no decorrer deste trabalho, denominarei Break como o intervalo comercial, estabelecido por
Lei para cada uma hora de programação, intervalo de 15 minutos. Esses espaços são vendidos pelas
empresas de televisão a anunciantes interessados em atingir o público-alvo para consumo de seus
produtos, neste caso, os telespectadores, que formam a audiência.
30
Acrescentamos, ainda, a este conceito, na metáfora da cultura em relação à
vida, a visão de Morin:
Uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e
imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os
instintos, orientam as emoções. Esta penetração se efetua segundo trocas
mentais de projeção e de identificação polarizadas nos símbolos, mitos e
imagens da cultura como nas personalidades ticas ou reais que
encarnam os valores (os ancestrais, os heróis, os deuses). Uma cultura
fornece pontos de apoio imaginários à vida prática, pontos de apoio práticos
à vida imaginária; ela alimenta o ser semi-real, semi-imaginário, que cada
um secreta no interior de si (sua alma), o ser semi-real, semi-imaginário que
cada um secreta no exterior de si e no qual se envolve (sua personalidade)
(MORIN, 1997, p. 15).
Analisando a metáfora, traçamos um paralelo e podemos entender que todos
os sentidos da vida estão imbuídos do desenvolvimento da cultura, dentro de uma
sociedade, acerca de como o ser humano se comporta e desenvolve essa cultura,
de acordo com os símbolos, mitos e imagens que rodeiam o indivíduo. Morin (1997)
acredita que, quanto mais complexa a sociedade se torna, essa rede hipercomplexa,
mais ela se adequa aos espaços que essa mesma sociedade ocupa e vice-versa.
Essa ocupação se dá nos termos do indivíduo dentro da cultura em que ele
vive e na forma como o indivíduo colabora com a criação e desenvolvimento dessa
cultura, afinal de contas, ele é parte ativa dentro dessa rede.A cultura é a parte do
ambiente que é feita pelo homem. Implícito nisto está o reconhecimento de que a
vida humana é vivida num contexto duplo, o habitar natural e seu ambiente social”
(SANTAELLA, 1996, p. 31).
Atualmente, a cultura é vista de uma perspectiva dinâmica, com alto grau de
complexidade, pois envolvem as mais diferentes produções humanas em interações
aceleradas, um agregado de formas, gêneros distintos, linguagens diferentes,
comportamentos múltiplos e gostos alternados, que constroem uma herança errática
e cumulativa.
Mesmo considerando essas misturas possíveis de cultura, é fato que as
culturas, erudita e popular, sofreram uma fragmentação ou, ainda, perderam uma
grande parte de sua representatividade, em detrimento das tecnologias de
comunicação surgidas no século XX e das circunstâncias geopolíticas, conFig.das
na mesma época.
31
A cultura de massa desenvolveu-se a ponto de ofuscar os outros tipos de
cultura anteriores e alternativos a ela, porém, isso não desabona as culturas
anteriores, nem mesmo pelas rupturas que surgiram com a sociedade pós-moderna.
Antes de haver cinema, rádio e TV, falava-se em cultura popular, em oposição à
cultura erudita das classes aristocráticas. Na verdade, analisando profundamente,
surgiram diversas eras de culturas que, juntas e interagindo, formavam identidades
diferenciadas das populações.
Morin (1997, p. 16) classifica ainda como “Terceira Cultura”, que apresenta os
problemas da noosfera, emergidos em meados do século XX, caracterizando como
uma cultura oriunda da imprensa, do cinema, do rádio, da televisão, que surge,
desenvolve-se e projeta-se ao lado das culturas clássicas – religiosas ou humanistas
– e nacionais e a denomina como: mass culture.
A chegada da cultura de massa, com o advento da Revolução Eletrônica,
porém, acaba submetendo as demais “culturas” a um projeto comum e homogêneo
ou, pelo menos, pretende essa submissão. E com a citação de Morin
acrescentamos:
A homogeneização visa a tornar euforicamente assimiláveis a um homem
médio ideal os mais diferentes conteúdos. Sincretismo é a palavra mais
apta para traduzir a tendência a homogeneizar sob um denominador comum
a diversidade de conteúdos (MORIN, 1997, p.36).
A cultura de massa elaborada pelas várias mídias que surgiam, esteve
sempre ligada, intrinsecamente, ao poder econômico do capital industrial e
financeiro. A massificação cultural, para melhor servir esse capital, requereu a
repressão às demais formas de cultura — de forma que os valores apreciados
passassem a ser, apenas, os compartilhados pela massa. No contexto da indústria
cultural, sem dúvida, as mídias de massa, como rádio e, posteriormente, a televisão,
são o seu maior porta-voz.
É importante frisar que a grande força da indústria cultural se verifica em
proporcionar ao homem, necessidades, o as necessidades sicas para se viver
dignamente (casa, comida, lazer, educação, e assim por diante) e, sim, as
necessidades do sistema vigente (consumir incessantemente), reforçando a idéia de
transformar o homem em um objeto.
32
Com isso, o consumidor viverá sempre insatisfeito, querendo,
constantemente, consumir, tornando o campo de consumo cada vez maior. Tal
dominação tem como o seu motor de alimentação, as constantes aquisições
renovadas pelo avanço técnico, sagazmente controlado pela indústria cultural.
A cultura de massa e os mass media estarão presentes por longa data, cada
vez mais sendo misturados, modificados, evoluídos e transmutados, para que os
interesses políticos, econômicos e sociais sejam arraigados e apoiados naquilo que
permite o acesso a maior parte das pessoas, mesmo que, de forma individualizada
e, com certeza, em qualquer um dos formatos ou com qualquer nome que se
apresente a cultura de massa, ela:
[...] constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida
prática e à vida imaginária, um sistema de projeções e de identificações
específicas. Ela se acrescenta à cultura nacional, à cultura humanista, à
cultura religiosa, e entra em concorrência com estas culturas. (MORIN,
1997, p. 15-16).
Para finalizar, o fato maior é que a humanidade está se modificando, por
diversos adventos que giram ao redor do mundo, desde a área da medicina até a
área de comunicação, chegando aos adventos do pós-humano, da realidade virtual.
E isso faz parte da formação de novas culturas, ou, talvez, de novas indústrias. E
essa formação de novas culturas, com novas tecnologias (talvez o velho com
roupagem nova), implica, diretamente, sob o novo cenário que está se formando
para o produto midiático telenovela, e para o meio televisão.
2.3 TELENOVELA: FICÇÃO, ESPETACULARIZAÇÃO, IMAGINÁRIO.
“A televisão, enfim, espetaculariza todos os acontecimentos; esse é seu
modo de transmitir o mundo para o mundo” (MARCONDES FILHO, 1988,
p. 41).
33
2.3.1 Um passo anterior à telenovela: entendendo a TV como mídia
Segundo o dicionário Aurélio (1986, p. 774), a palavra ficção pode ser definida
como o “ato ou efeito de fingir; simulação, fingimento. Coisa imaginária; fantasia,
criação”. Entendemos, dessa maneira, que a ficção, o universo ficcional da TV, cria
um espaço de simulação de realidade, realizando os desejos mais inconscientes do
homem e moldando sua vivência aos aspectos oníricos do sonho e da imaginação.
É muito comum sempre perguntarmos, em conversas entre amigos, à beira
de uma mesa: como é que as pessoas conseguiam viver sem carro, telefone, rádio,
cinema, televisão, celular, computador, Internet. Será que, de fato, essas coisas
fazem da vida do ser humano algo melhor?
Impossível responder de forma afirmativa ou negativa. Cada um, sob o seu
ponto de vista, acredita naquilo que é bom para si e que está diretamente ligado à
sua forma de vida e de se relacionar com o universo, com a sociedade, com as
pessoas. Mas, não necessariamente, aquilo que se acredita ser bom para si, é algo
que você próprio deseja ou estipula, mas, muitas vezes (infinitas vezes), esse algo é
imposto pela cultura das massas e pelos meios de comunicação de massa. E como
a televisão se enquadra nesse processo?
A TV pode substituir, ilusoriamente, uma pessoa (quem já não deixou o
aparelho ligado só para escutar vozes e sentir que não se está sozinho (a), que atire
a primeira pedra); ela tem a capacidade de projetar um sentimento de permanência
constante com alguém. Quando o jornalista encerra sua sessão para iniciar a novela
das oito e diz “Boa noite e até amanhã”, você, de fato, tem vontade de responder,
não tem? Aliás, deve, muitas vezes, responder. Muitas pessoas fazem isso, porque
acreditam que é sua companhia que está lhe dando boa noite.
É como se a TV conduzisse o telespectador ao mesmo ato cometido por
Ulisses, descrito por Adorno, em Sereias da Epopéia Homérica
17
, cujo comandante
Ulisses ordena que o amarrem no mastro para que, mesmo ouvindo o cântico
sedutor, possa enfrentá-lo sem sucumbir à tentação das sereias. A TV parece que
17
Mais detalhes sobre essa literatura ver: HORKHEIMER, M., e ADORNO, T. W., Dialética do
Esclarecimento: Fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1997.
34
amarra o telespectador, se faz ouvir, mesmo que ele tenha que ser o próprio
encarregado de não consumir ou de não aderir a tudo que nela se exibe.
O elemento vivo das pessoas, seu “motor”, aquilo que as faz ter vontade de
viver, não está no real, no cotidiano nem no mundo do trabalho e sim no
imaginário. E a televisão é a forma eletrônica mais desenvolvida de
dinamizar esse imaginário. Ela é também a maior produtora de imagens
(MARCONDES FILHO, 1988, p. 11).
Além disso, a televisão tem uma forte relação como técnica condutora de
eletricidade; ela é a própria condutora de energia. A luz, a energia da luz, tem
grande importância, desde a mais primitiva experiência do ser humano com a
eletricidade, que são os trovões. Na mitologia, Zeus é o deus dos céus, o senhor dos
raios e trovões. Quando o u estava claro, ensolarado ou estrelado, dizia-se que
Zeus estava satisfeito com os homens, mas, quando armava uma grande
tempestade, carregada de raios e trovões, entendiam que Zeus estava insatisfeito
com os feitos humanos. Nesse contexto, a condução de eletricidade é sagrada, é
divina, é de Deus. A magnética da energia da TV existe, não se pode negar, ela é
física e, a relação com a divindade, com a submissão, é mitológica.
A humanidade e a sociedade capitalista moderna parecem viver em um
momento de esvaziamento das experiências, ou seja, as pessoas não vivem as
emoções, as frustrações, as alegrias, os entusiasmos, em sua própria vida ou em
sua pele. Ao contrário, promovem-se experiências mentais, imaginárias, abstratas.
Em vez de sentir amor, assiste-se ao amor vendo um filme, lendo um livro, ouvindo a
radionovela. “Essas são as experiências indiretas: vive-se a emoção dos outros”
(MARCONDES FILHO, 1988, p. 42).
Podemos afirmar que as comunicações de massa, cuja TV está inserida,
atende às necessidades psíquicas do telespectador, constroem-se imagens, os
espelhos, os simulacros, os duplos. Essas imagens são as pontes de ligação entre o
imaginário e o real, representam seus desejos mais profundos, espelhados no outro.
É óbvio que o aparelho de televisão não é, por si só, fascinante: “Fascinante é o
mundo do lado de que ele nos permite ver, o canal (no sentido técnico o “túnel”)
que dá passagem a outro lugar, ao mundo, aos sonhos, às nossas fantasias
(MARCONDES FILHO, 1988, p. 37).
A televisão cria modelos exemplares de beleza, de saúde, de forma de vida:
alguém viu mocinho feio e vilão sem inteligência, bens e poderes, em telenovela?
35
Esses modelos exemplares são explorados no inconsciente das pessoas, que, de
certa forma, precisam se espelhar e desejar ser ou ter como outro que está do lado
de lá da telinha.
Os modelos são padrões de beleza e de prazer, “não existem na realidade,
são construções abstratas, mentais, preenchem o imaginário social e são
continuamente realimentados” (MARCONDES FILHO, 1988, p. 98). São apenas
imagens, que o telespectador faz questão de copiar, para se sentir bem consigo
mesmo e ser aceito na sociedade em que vive. E a TV é, de fato, uma grande
colaboradora para isso, seja na publicidade, na telenovela, nos programas de
auditório, etc.
Estamos vivendo em uma era em que quase tudo se torna espetáculo.
Vivemos numa sociedade midiatizada onde todo e quaisquer acontecimentos se
tornam atrativos para o exibicionismo televisivo, onde quase todos os
acontecimentos da vida cotidiana poderão transformar-se em espetáculos
midiáticos, desde um acidente trágico mesmo que envolva pessoas anônimas
das quais vai depender a sua proporcionalidade a um casamento, ou funeral de
celebridades.
Guy Debord (1997), ao conceituar um sentido particular à noção de
“espetáculo”, fenômeno analisado por ele no final da década de 60, explicita uma
crítica à alienação crescente dos indivíduos nas sociedades pós-modernas. Sua
obra “A sociedade do espetáculo”, estabelece uma correspondência entre o modo
de produção capitalista em sua etapa avançada e uma sociabilidade marcada pela
estetização, em que imagens são interpostas entre os indivíduos e os objetos.
De acordo com o autor, o espetáculo seria criado a partir das relações sociais
estabelecidas entre os indivíduos, mediadas pelas imagens, pelos duplos, pelos
simulacros. Elas validariam a superioridade da aparência (ficcional) em detrimento
da realidade. Segundo Debord (1997), a nossa sociedade é, predominantemente,
espetacular, em que o "parecer" é mais importante do que o ser; o espetáculo
consiste na multiplicação de imagens pelos meios de comunicação de massa, pelos
rituais religiosos, e de tudo aquilo que está em escassez à vida real do homem.
O espetáculo não se refere ao acontecimento real e sim à encenação do
mesmo, a criação de imagens à semelhança do real, seu simulacro. O
espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como a própria sociedade, como
uma parte da sociedade e como instrumento de unificação. Como parte da
sociedade, ele é expressamente o setor que concentra todo olhar e toda
36
consciência. Pelo fato desse setor estar separado, ele é o lugar do olhar
iludido e da falsa consciência; a unificação que realiza é tão-somente a
linguagem oficial da separação generalizada (DEBORD, 1997, p. 14).
A simulação parte, do princípio de equivalência, parte da negação radical do
signo como valor, parte do signo como reversão e aniquilamento de toda a
referência. Enquanto que a representação tenta absorver a simulação
interpretando-a como falsa representação, a simulação envolve todo o
próprio edifício da representação como simulacro (BAUDRILLARD, 1991,
p.13).
A imagem doutrina é o simulacro mais verdadeiro que o próprio elemento, que
a própria representação do real, como uma realidade virtual, onírica, mais real que a
própria realidade. A sociedade do espetáculo criou a necessidade de simulacros
constantes, talvez esse universo seja o seu universo real, mesmo que imaginário
dentro do contexto ficcional. “Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir
ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo a uma
ausência” (BAUDRILLARD, 1991, p. 11).
A TV é uma colonizadora do imaginário da sociedade. O conteúdo da TV é
colonizador, pois tende a carregar as massas para um lugar comum, aglutinar as
pessoas com comportamentos, idéias, valores, conhecimento e forma de vida,
iguais.
Hoje, sem conseguir gerar por si própria, valores de legitimação, a estrutura
da economia capitalista volta-se para a esfera da cultura como um meio de
fornecer aos diversos grupos sociais modelos universais de comportamento,
como um meio de organizar as massas (SODRÉ, 1984, p. 27)
A idéia de colonização do imaginário, proposta por Serge Gruzinski (2006),
pode ser descrita como a imposição da cultura colonizadora sobre a colonizada, o
que possibilita uma reflexão acerca da relação que se estabelece entre telenovela e
teleconsumidor. Para Gruzinski (2006), essa colonização nunca ocorre
unilateralmente. O que acontece é uma troca cultural, onde o colonizador tenta
impor o seu modo de ver o mundo e o colonizado, fascinado com as novidades, e
tenta adaptá-las ao seu modo de vida. Nesse contexto, o colonizador, no anseio de
impor seus costumes, analisa o colonizado, o que faz com que um assimile a cultura
do outro.
Da mesma forma, a televisão (e seu produto, a telenovela), enquanto
colonizadora do imaginário do telespectador, acaba, também, sendo colonizada por
esse, no momento em que busca subsídios na vida cotidiana dos seus fiéis
37
telespectadores para, por meio da narrativa fictícia, oferecer-lhes os produtos que
anuncia.
Essa colonização acontece porque existe no telespectador o “querer se ver na
TV”, o que fortalece a relação dos personagens da telenovela com seus
telespectadores. Como explica Bourdieu (1997, p. 17), “a tela de televisão se tornou
hoje uma espécie de espelho de Narciso”, onde as pessoas idolatram as imagens
dos personagens ficcionais como se fossem seus simulacros, e, literalmente, criam à
sua imagem a semelhança do outro, como a moda, os trejeitos, costumes, gírias,
comportamentos, etc., e se apaixonam por essa imagem.
Telecolonizados, os teleconsumidores tendem a adotar os modismos que
surgem a cada nova trama e que se proliferam em atos de consumo generalizado,
caracterizando, até mesmo, a falta de bom senso, principalmente quando um
determinado produto “não lhe cai bem”, mas “todo mundo usa”.
Neste processo, os anunciantes utilizam a técnica do merchandising para
aproveitar a disposição do vínculo do sujeito (telespectador), para transportá-lo ao
desejo de querer ter os produtos que aparecerem na TV, para se sentirem na moda.
Isso é o processo de representação valendo mais do que o representado.
Como os preceitos capitalistas básicos, onde o valor de troca de um objeto
vale muito mais do que o sei valor de uso, ou seja, o TER é absoluto sobre
o SER; a Era da Imagem é absoluta em vender a aparência como essência
(RITTES, 2001, p. 14).
Não podemos nos esquecer que a televisão é um suporte técnico e que ela
não cria vínculos, apenas conecta; quem cria vínculos o as pessoas, os
telespectadores, em função de suas necessidades, desejos, anseios, sendo sua
forma de exercitar a projeção-identificação, para se sentirem partes fracionadas
desse mundo ficcional, como se fosse o real. A TV pode ser considerada como uma
janela através da qual o telespectador vê a si próprio e a realidade que o cerca.
Além disso, o espelho que as próprias pessoas criam, de suas celebridades e
ídolos, como um narcisismo exacerbado, coloca-os em um pedestal, como
Olimpianos.
No encontro do ímpeto do imaginário para o real e do real para o imaginário,
situam-se as vedetes da grande imprensa, os olimpianos modernos. [...] A
informação transforma esses olimpianos em vedetes da atualidade. [...] Os
novos olimpianos são, simultaneamente, magnetizados no imaginário e no
38
real, simultaneamente ideais inimitáveis e modelos imitáveis; sua dupla
natureza é análoga à dupla natureza teológica de herói-deus da religião
cristã [...]. A imprensa de massa, ao mesmo tempo em que investe os
olimpianos de um papel mitológico (de deuses, grifo meu), mergulha em
suas vidas privadas a fim de extrair delas a substância que permite a
identificação (MORIN, 1997, p.105-107).
Morin (1997) acrescenta ainda que os olimpianos, por intermédio dessa dupla
natureza, divina e humana, têm livre acesso ao mundo da projeção e o mundo da
identificação. Essa projeção-identificação é o que os telespectadores buscam nesse
mundo imaginário onde os olimpianos tornam-se exemplos e modelos a serem
seguidos (denominados por Morin (1997, p. 107) de “modelos de cultura”); são
heróis modelo.
Conseguem tudo, fazem tudo perfeito, estão em evidência, são famosos, são
queridos, são ricos, são idolatrados pelos telespectadores. As vedetes do mundo
olimpiano (MORIN, 1997) são ultrapassadas do ambiente teleficcional, os
telespectadores querem saber de suas vidas particulares, como se relacionam,
como vivem, qual seu estilo de vida, ou seja, de sua vida particular, que fica exposta
em detrimento do espetáculo. “De fato, os olimpianos, e, sobretudo as estrelas, que
se beneficiam da eficácia do espetáculo cinematográfico, isto é, do realismo
identificador nos múltiplos gestos e atitudes da vida filmada” (MORIN, 1997, p. 07).
O telespectador espera, ansiosamente, para ver seu ídolo, sua imagem e
semelhança. Essa necessidade de saber algo mais além da ficção, a respeito da
vida dos atores, movimenta inúmeros títulos de revistas
18
e muitas colunas de
jornais especializados em tratar da vida particular dos atores, levando ao
telespectador a sensação de que ele sabe algo mais, que é íntimo, próximo.
Além disso, o telespectador se envolve com as emoções apresentadas na TV;
esse veículo tem a capacidade de comover as pessoas, pois choramos, rimos,
amamos e odiamos com as cenas e os personagens expostos diante da ficção, mas,
muitas vezes, na vida cotidiana e real, nos deparamos com as mesmas situações e
não nos envolvemos emocionalmente com os fatos.
18
Alguns títulos de revistas sobre ‘fofocas’ e telenovelas: Minha Novela, Ti Ti Ti, Contigo, Quem,
entre outros.
39
Na realidade REAL, uma criança abandonada não consegue nos comover,
mas a mesma cena de novela das oito leva milhares de nós às lágrimas. O
vazio deixado pela ausência de experiências emocionais reais substituída
por aquilo que acontece dentro dos meios de comunicação de massa,
especificamente a televisão é um dos grandes culpados por esse mundo
compulsivo da imagem (RITTES, 2001, p. 22-23).
O que seria, então, da TV sem o espetáculo, sem os modismos, sem a
colonização do imaginário das pessoas para promover o consumo? Segundo Rittes
(2001), não seria. Espetacularizar as coisas é a especialidade da televisão. “Sem
isso, não tevê, não interesse do público e, conseqüentemente, não a tão
propalada audiência” (RITTES, 2001, p. 21).
Interessante, dentro desses conceitos de imagem, telecolonização e projeção-
identificação, pensar no atual slogan utilizado pela Rede Globo
19
: “a gente se vê por
aqui”. Essa análise é própria de um outro estudo aprofundado, pois a própria Rede
Globo constrói a sua marca com a idéia de que os telespectadores, em qualquer de
seus programas, se encontrarão projetados na ficção, representados pela sua vida
real, e que, de alguma forma, irão se encontrar nessa realidade imagética,
construída por esse imenso mundo de espelhos que é a TV.
As produções da televisão e suas composições de cenas estabelecem uma
“forma” peculiar, que, pelo mecanismo de projeção-identificação, resulta numa
relação estética e ativa a percepção. De acordo com Morin (1997, p. 77) “é através
dos espetáculos que seus conteúdos imaginários se manifestam. Em outras
palavras, é por meio do estético que se estabelece a relação de consumo
imaginário”.
Poderíamos dissertar páginas a fio sobre a televisão e suas influências,
particularidades sociais e ideológicas; tema muito propício para uma pesquisa
exclusiva. Mas, como este não é o foco central dessa dissertação, finalizamos com
uma frase que representa a essência:meios de comunicação, como a televisão,
trabalham e buscam, cada vez mais, a captação do imaginário como espaço de
exploração comercial e ideológica” (MARCONDES FILHO,1988, p. 29).
19
Outros slogans utilizados pela emissora, para vender sua imagem institucional, sempre carregam
uma relação da projeção-identificação com o telespectador. Slogans: O que é bom está na Globo
(anos 1970); O que pinta de novo, pinta na tela da Globo (1985); A Globo 90 é nota 100 (1990);
Globo e você: tudo a ver (anos 1990); Quem tem Globo, tem tudo (1997); Globo: a gente se por
aqui (desde 2000). Fonte: http://www.telehistoria.com.br/canais/emissoras/globo/globo.htm, acessado
em 19 de dezembro de 2007.
40
2.3.2 Agora vamos à Telenovela, a fantástica fábrica de sonhos
A narrativa de maior sucesso da programação televisiva atual é, sem a menor
sombra de dúvida, a telenovela, como também acontecia nos tempos áureos do
rádio (ADAMI, 2003a). Independente dos seus vários gêneros (os tradicionais
instrumentos para modular o inconsciente), a narrativa da telenovela, seja na forma
de documento, seja de ficção, data de tempos longínquos.
Primeiro, na sua forma oral, seguida pela escrita e, hoje, radiofônica,
cinematográfica e, sobretudo, televisiva sem que uma elimine a outra; a narrativa
sempre constituiu o instrumento mais popular para transmitir fatos e acontecimentos.
Permite, através da identificação com os heróis, canalizar o desejo, aquilo que não
existe, mas seria bom que existisse.
Nesta perspectiva, a telenovela desempenha uma função social. Ao se
organizar, mediante representações simbólicas e a partir de dados provenientes do
real, a novela constrói um mundo do seu próprio jeito, sui generis. Este mundo está
regido por leis, como toda a vida do homem, e se organiza em base de regras e
normas. O trabalho está regulamentado; o jogo, a vida social e, assim também, o
campo simbólico.
Uma das regras, talvez a mais marcante, é que a narrativa transmite,
concomitantemente, o real e a ficção, o acontecimento e a imaginação, o fato e o
desejo sem, entretanto, permitir qualificar de mentiroso aquele que a apresenta. E a
sua norma mais exigente é fazer com que o herói sobreviva, independentemente
das suas qualidades morais. Foi assim que Sinhozinho Malta levou a viúva Porcina,
na novela Roque Santeiro, para serem felizes para sempre, atendendo às normas
do melodrama popular e desagradando as interpretações mais ideológicas.
Os territórios de ficcionalidade ou os gêneros ficcionais
20
são fundamentais
no processo de produção e formatação de padrões nas variadas indústrias
culturais. Melodramas, tramas policiais, aventuras, comédias, suspenses e
enigmas compõem a narrativa de telenovelas, filmes, minisséries,
teletemas, telejornais, programas de auditório, músicas, radionovelas,
fotonovelas, livros, revistas e, também, campanhas publicitárias e de
20
Para o conceito de território de ficcionalidade ver: Ítalo Calvino, La machine littérature, Paris, Seuil,
1993. Para a reflexão sobre neros ficcionais ver: Jane Feuer, “Genre study and television” In:
Channels of discourse, Robert Allen (org), EUA, University of North Caroline Press, 1987 e Silvia
Helena Simões Borelli, Ação, suspense, emoção: literatura e cultura de massa no Brasil, São Paulo,
Educ/Estação Liberdade/Fapesp, 1996.
41
utilidade pública; são veiculados pela televisão, cinema, rádio, imprensa,
outdoors, editoras, produtoras fonográficas; circulam por um vasto mercado
de bens simbólicos que tem sido regularmente nomeado internacionalizado,
mundializado, globalizado, planetarizado; e fazem parte do cotidiano dos
receptores em todo o mundo (BORELLI, 2001, p.31).
A telenovela trata da cultura acerca de uma sociedade em constante
transformação; ela representa uma série de hierarquias sociais, ali representadas,
pela posse de bens de consumo e bens simbólicos dos personagens nas formas de
hierarquias sociais de classe, potencial de consumo, gênero, raça, geração.
A telenovela é um modelo, um exemplo, uma séria de metáforas de alguns
aspectos da vida cotidiana e o merchandising se apropria disso para tratar as
marcas de anunciantes dentro desse contexto histórico e cultural, que envolve
mudanças de hábitos e atitudes e, claramente, o consumo de produtos.
Não se pode discutir o poder de abrangência e de capacidade de manipular e
formar opiniões que a televisão possui. Este meio de comunicação faz com que os
telespectadores estabeleçam um nculo tão grande com sua ficção, que as
informações transmitidas são rapidamente absorvidas, e possuem grande poder de
influência sobre o modo de pensar e agir das pessoas.
A vulnerabilidade das pessoas ante a TV contribui para que seja mais fácil
ludibriar uma nação por um discurso previamente elaborado, a telecolonização,
como acontece com as ações de merchandising, pois são, antecipadamente,
estudados pelos autores de cada trama, para analisar se interesse em produzi-lo
ou não.
As lentes transformam as coisas em mais belas e a TV possui todos os
recursos para atingir a opinião pública em grande escala. É desta forma que as
telenovelas se utilizam, cada vez mais, de temas presentes na vida cotidiana da
sociedade brasileira, enquadrados em suas programações. Outro aspecto
importante é a característica da televisão em “lançar” mitos e modas, sendo grande
fornecedora de estilos, trejeitos, roupas, acessórios, gírias etc.
A novela tem muito mais tempo de exposição do que os anúncios, apesar de
ser, também, propaganda ideológica. uma atenção mais garantida dos
espectadores, podendo, assim, explorar os diversos estilos, que mostram, muitas
vezes, como os personagens inseridos na ficção se vestem, se portam, o que
consomem em suas casas em termos de bens duráveis, e a que tipo de serviços
recorrem (bancos, médicos, psicólogos). Os mesmos estilos podem, depois, ser
42
usados nos anúncios de modo bem curto e rápido, sem muita explicação, pois o
espectador já se familiarizou com eles durante a novela.
Acreditamos, ainda, que não basta uma novela ser “boa” para garantir uma
audiência que justifique o investimento médio de aproximadamente dois milhões de
dólares. Ortiz, Borelli e Ramos, no livro “Telenovela - história e produção”, esboçam
os critérios que definem a qualidade de uma novela como ‘boa’:
É preciso prestar atenção nos seguintes itens: o enredo tem que ser
realista, plausível de acontecer com cada um dos espectadores, para que
melhor se identifiquem com os personagens; não se deve apresentar
problemas muito distantes, complicados ou insolúveis (ORTIZ; BORELLI;
RAMOS, 1989, p. 74).
A telenovela necessita ter um caráter verossímil, de parecer ser real, mas não
ser, uma representação da ficção, assim como a publicidade. Ela necessita ser
endossada por outros meios de comunicação, haja vista a quantidade estrondosa de
jornais e revistas que se dedicam, exclusivamente, a reforçar o que será
apresentado nos próximos capítulos de uma dramaturgia e os novos lançamentos’.
Isso é uma forma de fomentar o consumo da telenovela. Os telespectadores-
consumidores esperam, ansiosamente, para ver as ‘cenas dos próximos capítulos’.
Essa febre incessante de falar dos próximos capítulos e de buscar
informações da vida real dos personagens ali representados na trama, é uma forma
de prender o telespectador, fazendo com que ele se sinta mais próximo, como se
fosse parte integrante e importante da estória. Dar a oportunidade ao telespectador
para expressar sua opinião a respeito do andamento da trama, proporciona a
sensação de fazer parte, de ser parte, de construir a história de vida real do
telespectador em uma ficção. Sabemos que um dos recursos comerciais da
telenovela é a satisfação do público e audiência.
O telespectador precisa se sentir parte do todo, todo este representado por
uma telenovela de, em média, duzentos capítulos (praticamente oito meses no ar),
constituída de alguma estória que envolve os telespectadores em simulacros
constantes e ininterruptos, quase oníricos, de almejar uma forma de vida diferente
da sua realidade REAL, para uma realidade ficcional construída.
Pelo processo de repetição e telecolonização, as indústrias se aproveitam
deste produto cultural para abrir oportunidades de mercados, venderem suas
marcas, produtos e serviços, pois, afinal de contas, se é necessário que a ficção que
43
se pareça tão real, as projeções feitas para a vida ficcional deve ser semelhante à
real e, neste caso, porque não inserir a marca do banco, do creme, do shampoo, na
ficção, se na vida real as pessoas vêem e convivem com essa marca? E na
telenovela, esta marca tem uma vantagem, de ser utilizada por alguém, cujo
telespectador, se projeta, se identifica, se duplica, com maior tempo de exposição e
com mais ênfase ao uso “real” do produto ou serviço.
O imaginário popular faz da telenovela um produto imagético da colonização
da cultura do espectador ou seria a telenovela, dentro do seu contexto simbólico-
cultural, que faz a colonização a cerca do telespectador? Acreditamos que ambas as
coisas acontecem. A dependência desses dois elementos – novela e telespectador
é cíclica, um não existe sem o outro. A coexistência desses elementos é parte
fundamental no processo de colonização do imaginário de um produto simbólico-
cultural, como a telenovela.
Como explica Morin (1997, p. 71), e resume exatamente o que representa o
telespectador diante da televisão: “o espetáculo moderno é ao mesmo tempo a
maior presença e a maior ausência”.
44
3 FÁBRICA: O MERCHANDISING COMO FERRAMENTA DE PUBLICIDADE
3.1 O QUE É ENTÃO O MERCHANDISING? CONCEITOS E TIPOS.
A palavra merchandising é de origem inglesa, compondo a significação entre
a palavra MERCHANDISE (mercadoria) e MERCHASNDISER (negociante).
Analogicamente, merchandising, em uma junção poética, pode ter o significado de
“negociante de mercadoria”. A verdade é que pouco importa, para o estudo em
questão, o significado intrínseco da palavra merchandising ou, até mesmo, sua
origem, pois, independente disso, o mercado brasileiro adotou um novo
significado e entende e aplica essa ferramenta de publicidade de forma diferenciada,
combinada com outras tipologias das ferramentas do denominado mix de
comunicação
21
.
Os profissionais da área de marketing e comunicação têm se referido muito
sobre a questão de proporcionar às marcas (empresas anunciantes) um cenário de
mídias alternativas e diferenciadas e de interação com o consumidor. Gerar um ciclo
de interações seja off-line ou on-line
22
, para que o consumidor, neste mundo
acirrado de ltiplas mensagens e uma vasta possibilidade de escolha de marcas e
produtos, possa se identificar com uma marca e se manter fiel a ela, em todas as
suas escolhas no momento de uma determinada compra.
As denominações e conceitos de merchandising o diversificados.
Reuniremos aqui os conceitos aplicados pelo universo acadêmico, considerando
algumas contribuições de profissionais da área que, no âmago dessa variedade
infinita de possibilidades e de definições, o que importa para eles é a forma de
execução, o investimento realizado e o retorno alcançado, e não a nomenclatura e
tipologia desta ferramenta de comunicação.
21
Para aprofundar o estudo sobre o Mix de Comunicação sugiro o livro de Marcélia Lupetti, Gestão
Estratégica da Comunicação Mercadológica. Outros autores que abordam os temas Mix de Marketing
(Philip Kolter), Propaganda (Armando Sant´Anna), Gestão de Marcas e Brand Equity (David A. Aker)
também apresentam conceitos e aplicações sobre o mix de comunicação.
22
Caracterizo para este estudo off-line como sendo o universo de relações que os telespectadores
têm sem interatividade participativa com xo media, como por exemplo, jornal, revista, rádio e on-line
para o os media que tem interação direta, como a internet e celular.
45
Após análises sobre o tema merchandising, utilizaremos, nesse estudo,
quatro tipologias de cnicas de merchandising que são utilizadas para, de alguma
forma, promover as marcas de produtos e serviços, de maneira diferenciada do que
a publicidade convencional no break comercial. Os tipos são: Merchandising no
Ponto-de-Venda (denominado também como PDV
23
); Placement ou Tie-In (também
chamado de Merchandising televisivo ou Merchandising editorial, que pode se
derivar em merchandising de custeio de produção); Merchandising Social; e Branded
Content (que deriva em Advertainment e Advergames), sendo este último de
conceito mais amplo em função da sua capacidade de derivação de produção de
conteúdos.
3.1.1 Merchandising no Ponto-de-Venda
“Tudo que não é bem exposto, não é bem visto. Se não é bem visto, não é
comprado” (BLESSA, 2006, p. 15).
Esse é o tipo de merchandising, propriamente dito, que tem como sua
principal função a exibitécnica, ou seja, ões de marketing e comunicação que
melhoram a exibição e comercialização de produtos no PDV (ponto de venda).
Para a Associação Americana de Marketing (2008, p. 1):
Merchandising é a operação de planejamento necessária para se por no
mercado o produto (ou serviço) certo, no lugar certo, no tempo certo, e em
quantidades certas e a preço certo. (Glossário da AMA American
Marketing Association).
Para Regina Blessa (2006, p. 21), autora do livro Merchandising no Ponto-de-
Vendas:
O merchandising é qualquer técnica, ação ou material promocional usado
no ponto-de-venda, que proporcione informação e melhor visibilidade a
produtos ou serviços, com o propósito de motivar e influenciar as decisões
23
PDV representa as siglas da abreviação de Ponto-de-Venda, termo muito utilizado pos profissionais
da área. Então, nesta pesquisa, a qualquer momento que utilizarmos a silga PDV pode-se considerar
o termo Ponto-de-Venda.
46
de compra dos consumidores. O Merchandising é o conjunto de atividades
de marketing e comunicação destinadas a identificar, controlar, ambientar e
promover marcas, produtos ou serviços nos pontos-de-venda. É
responsável pela apresentação destacada dos produtos na loja, criando
espaço e visibilidade de maneira tal que acelere sua rotatividade.
Em sua obra, Blessa (2006) faz uma retórica do comércio na Idade Média,
onde caracteriza que o merchandising, no ponto-de-venda, é muito antigo e já existia
desde aquela época, quando os comerciantes escolhiam as principais ruas para
expor seus produtos e ficavam gritando e concorrendo com os outros comerciantes
a atenção do comprador à sua banca de mercadorias. De certa forma, dentro do
conceito de exibitécnica, podemos considerar que, mesmo inconsciente e sem
técnica de marketing, o merchandising era realizado.
Com o passar do tempo e o aperfeiçoamento do uso da técnica por
profissionais do mercado brasileiro, outras instituições que dirigem o segmento de
comunicação e marketing também criaram suas conceituações, numa tentativa de
unificar a denominação das ferramentas de marketing e comunicação.
Nesse sentido, o Comitê de Promoção & Trade-Marketing da Associação
Brasileira de Anunciantes (ABA) e o Point of Purchase Advertising International
(Popai-Brasil)
24
, em seu glossário, atualizado em 2002, reafirmam a linha de
Merchandising no PDV conceituando o merchandising como “o conjunto de
atividades desenvolvidas em um canal de vendas visando chamar a atenção do
consumidor para um determinado produto e impulsioná-lo à compra”
25
.
Englobado nas ações de merchandising, pode-se ter outras ações de
comunicação com o uso de ferramentas variadas, que propiciem a amplificação e a
potencialização da técnica de merchandising para o PDV como, por exemplo,
promoção de vendas, materiais promocionais, vitrinismo, faixas, displays,
embalagens, etc., que, neste momento, o interferem e o agregam valor
adicional ao estudo em questão.
24
O POPAI Brasil é uma associação sem fins lucrativos, dedicada ao desenvolvimento da atividade
de Merchandising, foi formalizado em Agosto de 1998 no Brasil, está filiado ao POPAI - The Global
Association For Marketing At Retail, principal entidade do setor em todo o mundo que, com mais de
60 anos de existência, está presente em 27 países: Australia, Nova Zelândia, Japão, India, Oriente
Médio, Rússia, Túrquia, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, República Techa, Eslováquia, França,
Alemanha, Áustria, Suíça, Hungria, Itália, Espanha, Reino Unido, Irlanda, Canadá, América Central,
México, USA, Argentina, e Brasil.
25
POPAI; ABA. Glossário: 2002. Disponível em: <http://www.popaibrasil.com.br/biblioteca/arquivos/
glossario.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2008.
47
O Merchandising no PDV tem uma importância fundamental para empresas e
segmentos industriais que precisam do varejo (hipermercados, supermercados,
shopping, drogarias, lojas de conveniência, lojas de departamentos, lojas de
eletrodomésticos e eletroeletrônicos, bancas de jornal etc.), pois esses fabricantes
dependem, exclusivamente, desses pontos-de-venda para levar seus produtos até
os consumidores, girar seu estoque e gerar lucro para a empresa. Isso significa que
o varejo ou o que é chamado de Trade-Marketing, realiza as vendas dos produtos
fabricados por essas indústrias.
vários exemplos simples que poderíamos citar para ilustrar. Utilizaremos
aqui o exemplo da maior rede varejista e maior anunciante do País, as Casas
Bahia
26
. Perguntamos: o que seria da Brastemp
27
se não houvesse as Casas Bahia
como uma grande rede varejista para expor, divulgar e vender seus produtos? Difícil
de avaliar, mas, o fato é que hoje essa grande rede varejista representa mais de
45% das vendas dos produtos da Brastemp
28
. É um processo de troca, o ponto-de-
venda das Casas Bahia (no caso suas lojas), oferece o espaço para venda dos
produtos, em troca a Brastemp deve, de alguma forma, estimular a melhor
exposição do produto, com boas condições comerciais negociadas para a revenda
das mercadorias e com investimento em merchandising.
É por isso que o profissional de Trade Marketing é tão valorizado em
indústrias de bens de consumo, pois, é de sua responsabilidade toda a estratégia de
colocação do produto no ponto-de-venda, se preocupando desde sua exposição
visual, como embalagem, até materiais promocionais. Entre as atribuições deste
profissional, estão a estratégia de conquista, fidelização e o aumento na eficiência
dos canais de vendas. Afinal de contas, são inúmeras marcas que competem entre
si em uma mesma gôndola, prateleira, corredor de shopping ou, até mesmo, na rua,
nas famosas barracas de camelô.
A importância da atividade do Trade Marketing e do Merchandising no PDV se
consagra quando os números do setor de consumo são avaliados. Segundo o índice
apontado pela Pesquisa de Comportamento de Compra do Consumidor no Ponto-
de-Venda para os Canais de Hipermercados e Supermercados, realizada pelo
POPAI Brasil, em 2004, 81% das decisões de consumo de um determinado produto
26
Rede de Varejo multimarcas de produtos eletrodomésticos, eletroeletrônicos,
27
Marca fabricante de eletrodomésticos.
28
Informação obtida no período em que a autora do artigo trabalhava nas Casas Bahia.
48
e a escolha por uma marca acontecem no PDV, ou seja, no ato da compra, por
impulso.
Este resultado nos faz refletir sobre a importância da comunicação dirigida no
PDV e dos investimentos publicitários que vem ocorrendo neste segmento.
Esse índice demonstra o poder de influência e a importância da comunicação
no ponto-de-venda, tendo, como principal função, agir no fator decisivo para
consumo de produtos e marcas pelos consumidores. A preocupação das indústrias
em aperfeiçoar e diferenciar as técnicas de merchandising utilizadas em seus
pontos-de-venda, são cada vez maiores, pois se trata de um novo cenário, no qual
os produtos e marcas necessitam estar em evidência para o consumidor no
momento da compra.
Além da concorrência acirrada no ponto-de-venda, tem outro fator que deve
ser considerado, os consumidores estão cada vez mais informados, exigentes e
ponderados em relão ao tempo que dispõem para efetuar uma compra e ao que
vão comprar, pensando, ainda, na possibilidade
da facilidade de consumo por outros canais,
como por exemplo, a Internet.
Desta forma, as indústrias e o varejo
precisam se focar em oferecer, cada vez mais,
propostas sedutoras a ponto de capturar e
estimular o consumidor de forma instantânea,
realizando a conversão da venda.
As técnicas de merchandising no ponto-
de-venda estão cada vez mais ousadas. O
processo de exibição do produto não é mais
estático, é como se os produtos caminhassem
em direção aos olhos e às mãos do
consumidor. O processo estratégico da
exibitécnica ocorre na fachada da loja ou na sua vitrine, que tem o papel de
estimular o consumidor a entrar e a descobrir as inúmeras opções ali oferecidas.
A ambientação do ponto-de-venda ganha, desta forma, uma nova dimensão,
pois, através desta ferramenta, as lojas se transformam em destinos para compras e
para vivências, experiências, que aflorem os cinco sentidos do ser humano: a visão,
Fig. 2
Display Especial da Elma Chips
para a sua marca de salgadinho Ruffles,
disposto em grandes redes de
supermercados, como Carrefour e Extra,
de SP.
Fonte: elaborado pelo autor
49
o tato, o olfato, a audição e o paladar. De alguma forma, as marcas precisam buscar
essa interação com o consumidor, para que capture a sua atenção, estimulando a
experimentação e concretizando a venda, se sentindo, de alguma forma,
emocionalmente envolvido com a marca.
O ponto-de-venda se transforma em espaço cenográfico e de entretenimento,
atraindo o consumidor através dos estímulos sensoriais, retendo sua atenção e
dirigindo os seus olhos através das áreas, dos displays, das exposições de produtos
e marcas. Assim, a comunicação no ponto-de-venda hoje, realiza-se através dos
sentidos humanos, das percepções e experiências que o consumidor pode
experimentar. Em função das mudanças do comportamento de compra dos
consumidores
29
, as ferramentas de comunicação no ponto-de-venda podem ser
consideradas como multidisciplinares, ou seja, utilizam cores, design de
equipamentos, comunicação visual, iluminação, som, aromas e texturas, unindo-se a
arquitetura.
Os cenários das lojas, cada
vez mais, precisam encantar os
clientes, convencê-los a entrar, a
olhar, a se identificar com o
ambiente e a consumir. Não basta
ter apenas um adesivo ou faixa
dizendo “50% OFF”.
Integrar e gerar a
participação do consumidor, em
última análise, é a principal
abordagem do merchandising no
momento atual, e tem por objetivo
vender e, também, romper com a
crescente imunidade aos apelos da
comunicação de massa que o consumidor veio adquirindo nos últimos anos.
A Comunicação no PDV, através de uma forte presença, constante e
estimuladora, é hoje um processo irreversível. Estimular o consumidor a
29
Este tema não será tratado nesta pesquisa, para se aprofundar neste assunto sugiro duas obras de
Paco Underhill, especialista em estudar o comportamento do consumidor, são elas: Vamos às
Compras: a Ciência do Consumo e A Magia dos Shoppings (ambos ed. Campus/Elsevier).
Fig. 3
Loja da M&M´s nos Estados Unidos.
Fonte: Site Ad&Age.com
50
experimentar e criar relações duradouras pode significar a permanência das
propostas de produtos e marcas em um mercado cada vez mais competitivo.
Resumindo, o Merchandising no ponto-de-venda tem como pilares: a
exposição do produto certo, na hora certa, pelo preço certo, na quantidade
adequada, no lugar certo, com a exposição certa, promovendo corretamente a
marca, para o público certo adquiri-lo. Essa técnica tem como principal função,
apresentar o produto de forma destacada nas lojas e comércios (os pontos-de-
venda), criando visibilidade para que sejam consumidos com maior rotatividade.
Finalizamos, então, com a determinação que consideraremos o
Merchandising, propriamente dito, como uma técnica promocional de vendas que
envolve a exposição de marcas de produtos e serviços no ponto-de-venda de forma
a diferenciar, incentivar e estimular a compra por impulso, proporcionando maior
agilidade no fluxo de vendas da mercadoria exposta, em relação à concorrência, ou
seja, está diretamente ligado ao acompanhamento comercial do produto.
3.1.2 Placement: Merchandising Editorial ou Tie-In
30
A estratégia de merchandising em mídias de entretenimento não é um
conceito novo, se pensarmos no modelo publicitário do rádio e do início da televisão,
com os programas patrocinados. Historicamente, sabemos que as indústrias de
sabão patrocinavam os programas – e daí o termo soap-operas, bem como o
Repórter Esso, da Rede Globo, conforme já estudado no primeiro capítulo deste
trabalho. O rádio passou, também, por este mesmo cenário com a empresa Procter&
Gamble.
Fica claro, neste modelo, que a televisão foi constituída com caráter
comercial, até mesmo pelo seu modelo de sustentação que teve, e ainda tem, como
pilar da publicidade, seja no formato dos intervalos comerciais como do
30
Neste trabalho, a qualquer tempo que se utilizem os termos Placement, Merchandising Editorial ou
Ti-En, entende-se pela técnica de merchandising que não está ligada ao ponto de venda sico e sim,
a utilização desta técnica como publicidade inserida em conteúdos editoriais, sejam telenovelas,
filmes, programas de auditório, reality shows, etc.
51
merchandising. Dentro desses modelos comerciais, publicidade e o merchandising,
o primeiro deles tem um limite entre o entretenimento e o discurso promocional, o
segundo, parece inexistir essa limitação, tendo o espaço publicitário incorporado à
programação de um jeito glamouroso e promocional para expor marcas e produtos.
O Placement ou Tie-In ou Merchandising Editorial, deixa de ser uma ação
como nos estabelecimentos comerciais convencionais os pontos de venda como
hipermercados, drogarias e padarias –, para se tornar uma ação publicitária com
estratégia mais ampla, e não apenas com foco na exposição de uma marca;
promove, também, a amplitude da visão da utilização do produto e a associação do
produto com personagens ficcionais, que agregam mais valor e credibilidade às
marcas e produtos exibidos.
O merchandising é um formato do subgênero promocional, que tem como
característica principal a sobreposição dentro de um outro formato: a telenovela, os
programas de auditório, os reality shows, filmes etc.
Cobra (1990 apud SILVA, 2003) define o conceito de merchandising,
considerando o hibridismo entre a exposição de produtos no ponto de venda e em
outros meios como televisão, rádio e revista, ou seja, considera o merchandising
como qualquer uma dessas técnicas aplicadas, generalizando a aplicação da
técnica, seja no ponto de venda ou em outro meio.
[...] Compreende um conjunto de operações ticas efetuadas, no ponto de
venda, para se colocar no mercado o produto ou serviço certo, na
quantidade certa, no preço certo, com o impacto visual adequado e na
exposição correta. Envolvem a embalagem, displays, técnicas de preços e
ofertas especiais. Pode ser executada sem o auxílio do vendedor, por
promotores ou demonstradores ou por uma ação conjunta desses no ponto
de venda, ou através de televisão, cinema, revista etc. É basicamente o
cenário do produto no ponto de venda (SILVA, 2003, p. 44).
Para este estudo em questão, utilizaremos os conceitos de merchandising de
forma objetiva, segregando cada uma das tipologias e suas principais
características, concordando com Tahara, quando este estabelece o Placement
como “aparição dos produtos no vídeo, no áudio ou nos artigos impressos, em sua
situação normal de consumo, sem declaração ostensiva da marca. Portanto a
comunicação é subliminar” (TAHARA, 2004, p. 43).
52
Segundo Ladeira (2008), a Rede Globo de Televisão, historicamente
31
, a
precursora do movimento de Merchandising Editorial na televisão brasileira e co-
responsável pela utilização do termo merchandising no mercado ao invés de
Placement (informação verbal)
32
, estabelece, claramente, em seu Manual de
Formatos Comerciais (2005, p. 36-37), o termo merchandising como
33
:
Inserção de produtos, marcas, promoções, serviços ou conceitos, da forma
mais natural possível, dentro dos Programas da Rede Globo, aproveitando
a empatia entre personagens/apresentadores e o telespectador. Quanto
mais a ação de merchandising se adequar à trama e aos personagens,
maior será sua eficácia. Por essas características, o merchandising confere
autenticidade às cenas, o que possibilita mudanças no comportamento do
público/consumidor, por meio de reversão de atitudes e hábitos de
consumo.
As ações de merchandising farão parte de um projeto formatado a partir de
briefing detalhado elaborado pelo cliente/agência. Poderão conter estímulos
visuais e textuais, ões conceituais, de compra e de uso/consumo ou
eventos especiais.
No Dicionário de Mídia da Rede Globo (2006, p. 1), o merchandising está
caracterizado como:
Atividade de marketing, incluindo venda e promoção, destinada a fazer com
que o produto esteja disponível, de forma atraente e destacada, no ponto de
venda. Diferencia-se de propaganda, cuja função principal é a comunicação
persuasiva, levar o público ao produto. 2. Numa agência de propaganda, as
funções que o são especificamente de propaganda. 3. A promoção da
propaganda de uma empresa para seus canais de distribuição. 4. Em mídia,
merchandising designa a comercialização de menções e aparições de
produtos, em TV, cinema, rádio etc., segundo critérios editoriais de
"naturalidade", "contexto" etc. Nos Estados Unidos, as ações de
merchandisingo conhecidas como "in script advertising".
De uma forma simples de entendimento, o Placement (ou Merchandising
Editorial), é a explicitação de uma marca (produto ou serviço), seja por uma
referência explícita ou apenas fazendo parte do cenário tendo o produto em uma
posição estratégica ou fazendo menções do nome da marca pelo
31
Foi em 1980 que a Rede Globo se estruturou com sua área de merchandising, por intermédio de
uma empresa do grupo, a Apoio de Comunicação, tendo como sócios Roberto Marinho e Jorge Adib,
que acompanhava tempos o que o mercado americano pratica de merchandising no cinema e
em outros conteúdos televisivos de entretenimento.
32
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
33
A Rede Globo possui um departamento específico de Merchandising para tratar dessas interações
comerciais entre o núcleo de produção de teledramaturgia com o mercado publicitário e seus
anunciantes.
53
ator/atriz/apresentador. “Esse tipo de me mecanismo baseia-se na técnica de inserir
anúncios no espaço não publicitário de uma programação, no contexto de uma
encenação... sem perder a devida naturalidade” (LOIS, 1994, p.111).
O foco principal desta técnica de Merchandising Editorial é a captação do
telespectador em seu momento de lazer, descontração, descanso e desatenção, e
por conseqüência, mais receptivo a uma publicidade que não tem o processo de
interrupção como os convencionais comerciais de 30 segundos no break-comercial.
Sabemos que o produto telenovela tem grande potencial para a publicidade
conFig.do á medida que:
[...] com enorme rapidez, a ficção invade as conversas do cotidiano e
personagens ficcionais são tratados pelo nome, como se fizessem parte do
dia-a-dia da família.
[...] O espectador é bombardeado pela publicidade, durante os intervalos
para os comerciais, e pelo merchandising, no interior dos programas.
[...] A novela, por sua enorme extensão, por sua cotidianidade em termos de
freqüência e por sua porosidade em termos de estrutura, constitui o formato
ideal para todo esse tipo de inserções. E, é claro, nelas o real e o ficcional
estão se confundindo sempre. Comportamentos de consumo e cidadania
estão sendo ditados no interior do universo ficcional por diferentes tipos de
merchandising (BALOGH, 2002, p. 38).
Esta inserção comercial foca a marca ou o produto de maneira integrada com
o cenário do programa, telenovela ou filme, proporcionando ao telespectador a
possibilidade de ver uma situação de consumo de forma didática. Esta é uma
estratégia que vem crescendo de forma veloz, nos últimos anos, e tornando-se,
também, conhecida e reconhecida pelo telespectador.
Sampaio (1999) amplia a definição de Merchandising Editorial quando
acrescenta aos mais diversos tipos de conteúdo editorial como jornal, revista, livros,
cinema, entre outros, a possibilidade de inserir produtos ou marcas, de forma
integrada a este conteúdo. O autor, também, destaca que a presença de marcas,
slogans, símbolos, publicidade, material promocional, roupas, entre outros, em
eventos esportivos, artísticos, músicas ou comunitários, também podem ser
considerados uma forma de Merchandising Editorial.
Ladeira (2008) enfatiza que o merchandising em telenovela é muito diferente
do realizado em obras fílmicas de cinema, inclusive o seu processo de produção e a
forma como são pensados e elaborados. A telenovela é uma obra aberta, o autor
escreve o seu conteúdo no decorrer dos capítulos, de acordo com a opinião pública,
54
audiência, destaque de um personagem que não está na trama principal e assim por
diante. Já o cinema é uma obra fechada, o roteiro está pronto, tem-se uma história
com começo, meio e fim bem determinados (informação verbal)
34
. Sem dúvida,
dentro deste conceito, a utilização do merchandising expande as possibilidades de
negociações entre anunciantes e mídia na telenovela.
O Placement pretende que o produto anunciado seja colocado de forma tão
subjetiva – como se estivesse no cotidiano do personagem, que possibilita ao
telespectador a sensação de realidade”. Caso haja admiração ou identificação com
o “protagonista da ação”, há uma forte crença na situação ali criada, estimulando o
desejo de telespectador em ser ou fazer o que seu “ídolo” faz. Quando bem feito e
criativo, o merchandising envolve o telespectador com sutileza e agrega valor à
marca que está anunciando.
Para que o merchandising seja eficiente e não invasivo, ele deve ser discreto
e sutil e se integrar perfeitamente ao editorial e a situação a que está inserido, seja
um filme, uma novela, um programa de auditório, jornal ou rádio. Não pode ser
agressivo, tão pouco descolado do ambiente natural do contexto da programação.
Criar situações falsas e forçadas, exclusivamente para inserir um produto ou
marca no conteúdo, tendem a criar uma imagem negativa para o consumidor e tirar
a credibilidade da ação, tanto para o anunciante quanto para o programa. De forma
alguma o merchandising deve soar como publicidade; se isto acontecer, além de
não ser uma ação bem feita, com a característica intrínseca do merchandising, ela
ocasionará o mesmo comportamento do break-comercial, o zapping. É necessária a
dosagem adequada do merchandising e uma produção de qualidade, sempre
seguindo no eixo principal, que é aliar o conteúdo à exposição de marcas e produtos
(PINHO, 2001).
O envolvimento do personagem ficcional com o produto anunciado é
fundamental para transferir credibilidade e criar identificação com a ação proposta.
Do contrário, quando mal feito ou demasiadamente exagerado, o consumidor rejeita
e sente-se desrespeitado pela “invasão” na programação eleita e no enredo de sua
história ficcional, cuja está envolvido.
34
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
55
Em relação a esta conjugação do produto ao editorial, Perez e Bairon (2002,
p. 45) faz uma consideração a respeito da mecânica do Merchandising Editorial em
meios audiovisuais:
O merchandising nos meios audiovisuais, particularmente a televisão e o
cinema, considera o ambiente da cena para a construção de sua exposição.
O ponto central é capturar o telespectador no momento de sua maior
atenção, ou seja, no meio de uma trama de novela, por exemplo. Além de
contar com a total atenção do telespectador, o merchandising é fortalecido
pela presença do autor. A identificação com os atores que realizam o
merchandising pode levar para o cotidiano do uso do produto. O grau de
afetividade do público com o ator e evidentemente com o personagem que
ele incorpora na trama é determinante da eficácia do merchandising.
Desta forma, em termos de discurso, o Merchandising Editorial explicita a
necessidade de sobrepor o discurso da promoção ao de entretenimento, que,
dependendo da forma como é articulado, essa sobreposição gera um sentido
diferente, causando um viés interpretativo por parte do receptor da mensagem.
Em função disso, o Merchandising Editorial deve ser bem produzido, sutil,
para que o teleconsumidor
35
o tenha o mesmo sentimento e atitude do processo
de interrupção, que é ocasionado pelas publicidades convencionais. Mas essa
sutileza do merchandising pode ser colocada em xeque, quando um produto ou
serviço é mostrado de forma ostensiva: “Percebe-se que certa rejeição por parte
do público que, considera esta técnica abusiva” (GOMES, 1991, p. 5, Opinião).
Balgoh (2002) reforça a idéia de que a televisão trata de temas de forma
fragmentada e acelerada para acompanhar a temporalidade das situações:
A TV assume, pois, de forma bem mais contundente que o cinema essa
“estética de repetição” determinante de um discurso descontínuo, de uma
fragmentação do sentido em blocos.
[...] a TV em sua trajetória antropofágica, absorverá formas de narrar que
vêm de épocas remotas e as reciclará dentro dessa nova estética de
interrupção e do fragmento do ponto de vista temporal e dentro da estética
da repetição do ponto de vista discursivo (BALOGH, 2002, p. 27-28).
Vale ressaltar que, apesar da eficiência do merchandising em passar algumas
vezes despercebido pelo telespectador, quando bem feito e executado de acordo
35
O termo teleconsumidor ou telespectador-consumidor foi adotado para unificar a relação de ser um
telespectador que se transforma em consumidor, ou que é tratado como tal, diante das oportunidades
de consumo que lhe são propostas pela televisão, seja por intermédio da publicidade convencional ou
do Merchandising Editorial.
56
com a premissa principal de estar totalmente enquadrado dentro da trama –, este
não se sustenta sozinho. Isso significa que esta técnica deve fazer parte de um
processo estratégico de comunicação integrada, que utilize as diversas ferramentas
da comunicação para criar o conceito de uma marca/produto na mente do
consumidor (PEREZ; BAIRON, 2002).
Márcia Ladeira (2008) afirma esse conceito quando diz que “não adianta
colocar uma marca desconhecida e que não está disponível para consumo, pois o
telespectador não a reconhecerá, não dará credibilidade ao produto e não
despertará o interesse de comprá-lo”
36
.
Executar o processo do Merchandising Editorial como determina a ‘regra’ (de
adequar o produto ao conteúdo), não é tão simples como parece. Não basta,
simplesmente, uma empresa querer inserir sua marca e/o produto a qualquer custo
no meio do editorial; há avaliações e procedimentos a serem realizados.
Apesar de ser um processo de interesse de todas as partes (agências,
anunciantes, emissora, autores, diretores e atores/atrizes), que lucram com a ação,
Márcia Ladeira afirma que o projeto é firmado com o consentimento do autor,
diretor e do artista que executará a ação. A determinação de produtos adequados à
trama, para realização de merchandising, pode ser resultado de dois processos
(informação verbal)
37
:
a) A Rede Globo busca empresas para realizar parcerias de apoio à
produção, que é o chamado merchandising de custeio de produção, que
explicaremos mais adiante, em troca de algumas aparições mais simples e
sem destaque intenso no meio da trama, talvez esses sejam as ações
mais bem realizadas por serem imperceptíveis, na maioria das vezes,
pelo telespectador (grifo nosso);
b) Ou ainda, o processo convencional, que é a utilização de marcas que se
enquadram dentro do contexto da trama, sendo que esse processo pode
ser resultado de consultas realizadas pelos anunciantes diretamente às
emissoras seja por intermédio de suas agências de publicidade ou não.
Ou o levantamento de oportunidades (LEVOP) que a própria emissora
realiza e faz uma proposta para anunciantes que se enquadram no perfil.
36
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
37
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
57
Este último se dá por intermédio da análise da sinopse da novela feita pelo
Departamento de Merchandising ou Comercial da emissora.
Segundo Ladeira (2008), há mais de vinte anos a Rede Globo tem seu
Departamento de Merchandising estruturado e a forma de prospecção de
anunciantes é bem estruturada: (1) a emissora faz publicidade de seu novo produto
para o lançamento da nova trama, que aparecem constantemente nos intervalos
comerciais de sua própria programação com intensidade
38
, (2) a mídia impressa que
também se encarrega de informar (e vender) o novo lançamento da emissora e (3) o
Departamento Comercial produz dois materiais que auxiliam no processo de venda
da nova novela para os anunciantes e suas respectivas agências de publicidade,
são eles (informação verbal)
39
:
a) O Boletim Informativo Publicitário (BIP), em formato de revista, colorido,
tamanho A4, que tem informações sobre audiência, perfil de público (sexo,
idade, renda, consumo), novos lançamentos de produtos da emissora,
entrevista com os autores ou diretores da trama etc.;
b) O prospecto da telenovela, focado, exclusivamente, em mostrar os
núcleos que terão na trama, sinopse, papel de cada um dos famosos que
farão parte do elenco. Além disso, de forma destacada em um encarte
especial, aparecem as oportunidades de merchandising e de
licenciamento de marcas, que podem se enquadrar no tema de cada um
dos núcleos da trama.
Ambos os materiais são distribuídos no mercado, para agências de
publicidade e departamento de marketing ou comunicação dos anunciantes, para
informá-los sobre os novos lançamentos e avaliarem se têm interesse em realizar
alguma ação comercial com a telenovela. Em algumas situações, a prospecção é
feita diretamente ao segmento de empresas que se enquadram dentro do perfil da
trama.
Balogh (2002) trata desse assunto, com a idéia central de que os programas
necessitam realizar esse tipo de parasserialidade para a publicidade como uma
38
Quanto mais próximo do inicio da nova novela, mais intensos ficam os comerciais da nova trama. A
chamada é famosa e conhecida de muitos “A nova novela das oito”. E nestes comerciais, mostram
uma fração da história que será levada ao público bem como a apresentação dos personagens
principais e as tramas. Obviamente isto é uma forma de vender seu produto e chamar a audiência
dos telespectadores.
39
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
58
forma de se auto-promover, para que a emissora anuncie o seu próprio e principal
produto, com a finalidade de um programa lançar o outro.
Cada série lançada, além das chamadas e artigos de imprensa de praxe,
vem acompanhada de uma série de procedimentos típicos, tais como
entrevistas, apresentação do elenco, flashes de cenas da série etc., no
âmbito dos “programas-contêiner”, como o Domingão do Faustão, o
Fantástico ou o talk shows diversos, entre outros. Programas de bastidores,
do tipo Video Show, trazem rodas as formas de curiosidades sobre o
elenco,aspectos de filmagem, recursos de computação, falhas técnicas etc.,
numa espécie de making of levado ao paroxismo numa referencialidade
constante à programação da emissora.
A imprensa também desempenha uma função relevante nesse sentido.
Como a televisão no Brasil tem um papel muito mais importante do que em
outros países, esse fenômeno da parasserialidade é muito mais acentuado
aqui e verificável pela multiplicação crescente de suplementos de jornais
dedicados ao tema, bem como sessões de periódicos na mesma linha (...)
(BALOGH, 2002, p. 44-45).
Além dessa parasserialidade, como foi visto anteriormente, a estrutura
comercial da Rede Globo se encarrega de produzir folhetos para comercializar o seu
produto a anunciantes e agências de publicidade. O ciclo de completa desta forma: o
público está sendo incentivado a consumir o produto (telenovela), que o fortalece
como potencial para realizar anúncios publicitários e os anunciantes estão sendo
convencidos de que o produto (telenovela) é bom e tem público desejado para que
se estimule o consumo de determinadas marcas.
Segundo Almeida (2003, p. 151):
O folheto de O Rei do Gado
40
, afirma que a televisao é excelente meio para
anunciar produtos agrícolas, com pesquisa feita entre “fazendeiros” [...]. O
folheto indica a possibilidade de usar duas marcas, a primeira é a própria
marca da novela, O Rei do Gado, e uma outra, Bravo, uma logomarca com
apelo rural, que seria lançada em cado de interesse pelos anunciantes (o
que não se efetivou ao longo da novela).
No setor intitulado Merchandising em O Rei do Gado”, o folheto aponta
para a possibilidade de ações de merchandising com “produtos que fazem
parte do dia-a-dia do homem do campo como: medicamentos de uso
veterinário, máquinas agrícolas, fertilizante, arame, veículos, posto de
combustível, alimentos à base de carne, empresa de ônibus e eventos
rurais”. O folheto segue explicando em que contextos e relativos a quais
personagens os produtos podem ser inseridos na narrativa.
40
Novela exibida pela Rede Globo, de 17 de junho de 1996 a 15 de fevereiro de 1997.
59
Atualmente, esse material é produzido para todas as novelas da Rede Globo.
No caso da novela Belíssima (2005-06)
41
, objeto de estudo desta pesquisa, este
material traz informações de possibilidades de merchandising em seis núcleos da
novela, focando a idéia de que “São Paulo é o principal cenário de Belíssima’ e,
como grande metrópole, a cidade abriga pessoas de diversas etnias, faixas etárias e
classes sociais. A história de Silvio de Abreu reproduz essa característica, o que
abre incontáveis possibilidades para ações de merchandising”.
42
Os seis núcleos propícios para oportunidades de merchandising consistem no
núcleo da novela das classes mais abastadas, que assim como na vida real, esses
personagens são consumidores dos produtos e serviços mais sofisticados que a
cidade tem a oferecer; o chamado núcleo de Campos Elíseos, composto por
personagens de classe média e de várias etnias, como a maioria da população;
esses personagens podem não ser ricos, mas são os maiores consumidores do
país.
Outro núcleo caracterizado é dos jovens. A trama está repleta de
adolescentes e jovens ligados nas últimas novidades e tendências, com hábitos
culturais diferentes, como praticar teatro de rua, gostam de tatuagens e piercing.
Conjugado a esse núcleo jovem, tem o mundo da agência de modelos Razzle
Dazzle, que, rotineiramente, dentro da novela, apresentam produtos diversos
relacionados à moda.
também um núcleo esportivo, a Academia Physical, que é uma das
empresas apresentadas na trama, onde vários personagens de Belíssimacirculam
com roupas e calçados esportivos, consumido isotônicos e bebidas light. E, por
último, o universo automobilístico, a borracharia de Pascoal (Reynaldo Gianecchini),
que é freqüentada por donos de carros e motos de toda a cidade, em função da
qualidade e idoneidade do seu trabalho, uma forma de demonstrar também que
dentro desta categoria existem pessoas honestas.
Podemos entender que, diferente da novela Rei do Gado, que em suas
possibilidades comerciais apresenta segmentos mais específicos de atuação dos
anunciantes, a novela Belíssima, além de passar em um cenário totalmente voltado
41
Para evitar repetições exageradas da data de exibição da novela, fica estabelecido que a exibição
de Belíssima ocorreu de 07 de novembro de 2005 a 08 de julho de 2006.
42
Folheto promocional (prospecto) de Belíssima’, produzido pela Superintendência Comercial da
Rede Globo, [2005?], sem números de página, cedido por Márcia Ladeira.
60
à moda, pois sua história e trama central giram em torno disso, há uma infinidade de
possibilidades dos anunciantes inserirem seus produtos no contexto da trama, de
acordo com os estilos de vida construídos para cada personagem, como parte
integrante desses núcleos.
De acordo com Márcia Ladeira (2008), a própria Rede Globo foi buscar uma
empresa de lingerie que quisesse colaborar com a produção da novela, no
empréstimo de uma fábrica para as gravações das cenas que deveriam se passar
na fábrica. Essa busca se deu pela impossibilidade de se criar no PROJAC
43
uma
fábrica que possibilitasse a verossimilhança do universo ficcional com o real.
Ocuparia muito espaço e necessitaria de uma verba muito alta e, praticamente,
inviabilizaria a produção da novela. o nessas condições, a exemplo da fábrica da
novela ‘Belíssima’, que a Rede Globo procura parcerias com empresas para o
Merchandising de custeio de produção
44
.
Márcia Ladeira ainda explica, em sua entrevista, as possibilidades de ações
de merchandising em uma trama. O discurso do Merchandising Editorial pode ser
construído com estímulos visuais e textuais – conjugados ou não, e fazer o destaque
da marca, mostrando o ato da compra e de uso/consumo, sem intervenção direta na
fala do ator ou eventos especiais, que podem ser elaborados de acordo com cada
projeto.
O produto pode, apenas, fazer parte do cenário, expondo a marca. Um
exemplo é quando um ator entra em um banco, e aparece o logotipo na fachada
(apesar de algumas vezes a exposição da marca ficar sem sentido, quando a
câmera fecha o zoom no logo do Itaú e some a conexão com a trama), sem
verbalizar o nome da marca. Ou, ainda, pode-se explicitar mais, quando um
personagem faz uso do produto e ainda cita a marca, demonstrando as formas de
utilização e explora as qualidades do mesmo.
Ortiz et al. (1989 apud ALMEIDA, 2003, p. 131) acrescenta:
O merchandising pode ser feito sob duas formas: ações e sinais. A forma de
“ações” é aquela considerada mais cara, ou seja, um anúncio evidente do
produto, como por exemplo, o personagem que entra numa agência do
Banco Itaú, usa seus produtos e faz elogios ao banco. O sinal seria apenas
a presença do produto em cena, como uma cerveja que os personagens
43
Projeto Jacarepaguá, núcleo de produção da Rede Globo no Rio de Janeiro.
44
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
61
bebem no bar, sem grande destaque, mas garantindo a visibilidade da
marca (e que confunde a percepção de Teresa quanto a se tratar ou não de
algo proposital).
Dessa maneira, quando um determinado personagem consome um
refrigerante, ele repete a mesma situação que vivemos no cotidiano; se todo o uso
de objetos e produtos cenográficos fosse com marcas e rótulos fictícios, certamente
causariam estranheza no espectador, desconectando os programas de nossa
realidade. Parece óbvio não ser possível destacar todos os produtos que estão
presentes no cenário, com estímulos textuais de menção no texto do personagem, e,
tampouco, destacar todas as marcas. Até porque muitos dos produtos utilizados em
cenografia são tratados em acordos comerciais de projetos de merchandising de
custeio de produção e, muitas vezes, sua forma de exposição é diferenciada das
negociações tradicionais dos projetos de Merchandising Editorial.
Seria no mínimo estranho se essa avalanche de produtos de cenografia
fossem todos exibidos com destaque, até porque a trama não gira em torno da
história de uma geladeira, ou de uma máquina de lavar. O Merchandising de custeio
de produção precisa ser tão bem feito quanto uma ação de Merchandising Editorial,
para não soar falso e exagerado, mas “se fossemos destacar em primeiro plano tudo
o que faz parte do cenário, ficaria inviável, teríamos apenas ões de
merchandising
45
.
É impraticável destacar todas as marcas, por isso, por exemplo, a geladeira
da Brastemp que está no cenário, é mostrada no momento em que o ator pega uma
água dentro da geladeira, mas ele não cita o nome da marca, a câmera não fecha o
zoom no produto nem na marca; ela apenas está ali, fazendo parte do cenário, como
em um momento rotineiro da vida real do telespectador.
Porém, de alguma forma, a marca e o produto foram expostos, de forma
natural, imperceptível. E o consumidor, quando vai ao ponto de venda, percebe que
a geladeira que está lá exposta é a mesma geladeira vista na novela. Esse é um dos
grandes benefícios do merchandising, o produto não está à venda pela televisão
(ainda não), mas o consumidor o identifica quando vai a uma loja.
Além de todas as variáveis apresentadas até o momento, o merchandising
tem a capacidade de se desdobrar em outras possibilidades comerciais, como por
45
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
62
exemplo, a criação de CD´s com as músicas presentes na trama ou, ainda,
lançamento de novos artistas.
Almeida (2003) exemplifica o poder da musicalidade inserida na telenovela e
o potencial de merchandising que ela carrega consigo:
A música que atraiu Laura explicita uma característica do produto cultural
telenovela e o uso que faz da música em sua narrativa: a música introduz e
participa da construção dos personagens e das cenas, usada como auxiliar
na própria narrativa. Além disso, faz parte de uma interação com a indústria
fonográfica novelas lançam trilhas sonoras, que por sua vez promovem a
novela. Foi tocar a canção para que Laura se interessasse em olhar o
que acontecia na tela da TV. Durante a narrativa, as canções auxiliam no
entendimento e acompanhamento da trama, e chamam a atenção dos
espectadores para determinados personagens e situações típicas (de amor,
conflito ou suspense) (ALMEIDA, 2003, p. 150).
Fica evidente que o merchandising é utilizado para fortalecer as marcas
próprias, criadas pela Rede Globo, que as comercializa como uma categoria
comercial denominada “licenciamento de marca” e, de alguma forma, acaba sendo
fortalecida na própria novela.
Podemos exemplificar outra ão de licenciamento de marca com a novela
Belíssima’. A marca Belíssimafoi uma marca que a Rede Globo criou para vender
como licença de marca, mas, ao mesmo tempo, era no nome da novela, era o nome
da fábrica onde ocorria a trama do núcleo principal da novela e, era a marca de
lingerie que a fábrica produzia. Ou seja: a estratégia de utilizar o mesmo nome para
todas essas condições, é uma forma de convergir um discurso de múltiplas vozes,
auto-referenciando e retro alimentando o próprio produto, o tempo todo, com o tema
da novela, nome da fábrica e nome da marca ficcional de lingerie.
Além disso, outros desdobramentos que aconteceram em Belíssima’,
muito propícios para o envolvimento com a moda da telenovela, mas, é como se
fosse um merchandising dentro de outro merchandising. A trama criou espaço
dentro do São Paulo Fashion Week
46
, para mostrar o desfile de tops que,
ficcionalmente, seriam da agência de modelos Razzle Dazzle. Houve, também, a
ilustre visita do estilista (como na vida real), de Alexandre Herchcovitch, na agência
de modelos da trama (Razzle Dazzle).
46
Maior evento de moda da América Latina, realizado em São Paulo, que ocorreu no mesmo período
da exibição da novela Belíssima, de 12 a 18 de julho de 2006, apresentando a coleção Verão 2007.
63
É uma forma de embaralhar a realidade com a fantasia, provocar mais
impacto, verossimilhança e interatividade com o telespectador. Apesar de ser
benéfico para o autor ter essas ões “de coisas reais” dentro da sua novela, não
deixa de ser uma forma de merchandising. Está, ali, sendo promovido um evento da
vida real, no caso o São Paulo Fashion Week; está se promovendo um estilista da
vida real, que assume o mesmo papel na vida ficcional, o Herchcovitch.
Apesar de ser uma ação de merchandising, é como se passasse, de forma
despercebida pelo telespectador, neste caso, a proposta da ação estava totalmente
encadeada com o discurso organizador da narrativa, interferindo na forma de contar
a história e alinhar os fatos ocorridos na trama, naquele momento.
Por mais consenso que se tenha para praticar o merchandising, é preciso que
a ão não ultrapasse os limites do bom senso e não se subestime a inteligência e
perspicácia do telespectador, sob a condição de transformar a telenovela em uma
sucessão de comerciais enlatados. Ladeira (2008) explica que, muitas vezes,
‘erraram a mão’ em realizar ações de merchandising, mas, a estrutura que eles têm
hoje, é reflexo da necessidade de aperfeiçoar a técnica e o ofender e denegrir a
imagem que a Rede Globo construiu das telenovelas, ao longo desses 50 anos
47
.
A Rede Globo realiza, constantemente, pesquisas sobre recall de
merchandising com os telespectadores. Ladeira (2008) afirma que o público
percebe, identifica, aceita, acha importante que tenha a ação, mas ele o quer e
também não gosta, do merchandising mal feito, mas aceita, plenamente, o
merchandising
48
.
As ações de merchandising não acontecem por acaso e nem
deliberadamente nas telenovelas. A presença de marcas, produtos e serviços
verídicos dão autenticidade à ambientação dos programas. É difícil imaginar, por
exemplo, cenas passadas em lares de classe média sem a presença de
eletrodomésticos, alimentos, produtos de higiene e beleza, com suas embalagens e
marcas verdadeiras.
Basta olharmos à nossa volta, para percebemos que estamos cercados de
marcas e logotipos e, na telenovela, que busca transpor o ficcional para o real, não é
47
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
48
Cf. Idem.
64
diferente. Se isso é bom ou não, seja no âmbito social, cultural, mercadológico, é
outra questão, que cabe ser avaliada e estudada em trabalho específico.
3.1.3 Merchandising Social
Caracteriza-se Merchandising Social a inserção de temas sociais e
educacionais nas tramas e enredos dos produtos editoriais, e, geralmente,
telenovelas e/ou minisséries. Essas inserções são intencionais e com propósitos
educativos bem definidos. O processo não se difere muito do estabelecido para o
Merchandising Editorial, é necessário que o tema esteja enquadrado na trama, ou
ainda, que o autor da novela – por desejo próprio, queira tratar de um assunto social
e, desenvolva sua trama baseada no tema em questão.
Schiavo (2002, p.1) estabelece o Merchandising Social como:
A inserção sistematizada e com fins educativos de questões sociais nas
telenovelas e minisséries. Com ele, pode-se interagir com essas produções
e seus personagens, que passam a atuar como formadores de opinião e
agentes de disseminação das inovações sociais, promovendo informações
úteis e práticas a milhões de pessoas simultaneamente de maneira clara,
problematizadora e lúdica.
As questões sociais abordadas mostram os telespectadores como parte
integrante do enredo e os personagens se tornam porta-vozes das atitudes,
conceitos e comportamentos que, por seu intermédio, são promovidos. Para isso, é
necessário que o personagem, e, também, a imagem dos atores que os
representam, desperte empatia no público telespectador. Isso porque essa imagem
associa-se ao carisma e credibilidade que o público tem com os atores que foram
escolhidos para tratar do tema no mundo ficcional, mas, que é um problema que a
sociedade real vive.
Do mesmo modo que o Merchandising Editorial (com interesse comercial) é
importante para a contemporaneidade das histórias e precisa ser retratado de
acordo com a situação atual que os telespectadores vivem, também se aplica à
65
abordagem sócio-educativa do Merchandising Social. É preciso estar em sintonia
com o dia-a-dia do telespectador, tratar de temas atuais, que façam parte dos
problemas da sociedade moderna.
Sendo a telenovela um produto de edutainment dirigido a grandes
audiências, as expectativas do público telespectador também devem ser
levadas em consideração. Isso implica elaborar cenas e/ou situações
socioeducativas mais próximas ao cotidiano dos telespectadores, fundadas
nas questões sociais que mais o preocupam, no momento (SCHIAVO,
2002, p. 3).
O Merchandising Social exerce o papel de inserir realidade à fantasia,
impregnando a obra ficcional com as questões concretas com que o público se
depara e vive no cotidiano. Não é possível tratar de questões sociais em todas as
obras ficcionais de teledramaturgia, mas, a televisão, por ser uma formadora de
opiniões e conceitos, e abranger uma grande parte da população de forma massiva,
tem grande eficiência em proliferar uma ação social.
O processo de produção de uma ação de Merchandising Social também
pouco se difere do processo da ação de um merchandising comercial – a menos que
o autor da novela ou a emissora tenham, por princípio, tratar deste tema.
Primeiramente, se faz análise da sinopse, para identificar a história principal, as
tramas paralelas e os conflitos, bem como o perfil dos personagens e o papel que
cada um desempenhará na trama.
A variedade e natureza das questões abordadas constituem outro indicador
importante. Desde o início, a prioridade recaiu sobre temas de sexualidade,
saúde sexual e reprodutiva (SSR), relações de gênero, paternidade e
maternidade responsáveis. Nos anos recentes, contudo, procura-se abordar
também questões em relação às quais a sociedade brasileira mostra-se
cada vez mais sensível e atuante. tais como os direitos da mulher e da
criança, abuso e exploração sexual infantil, violência doméstica e direitos
dos idosos, entre outras. Essa evolução temática se justifica por dois
motivos principais: 1) ela responde a uma característica intrínseca ao
merchandising social: a contemporaneidade. Para ser efetivo em seu
propósito de ensejar e sustentar mudanças atitudinais, comportamentais e
de práticas cotidianas, o merchandising social deve estar em conexão direta
com as expectativas atuais dos telespectadores; 2) sua efetividade também
depende do grau de aceitação da telenovela, na medida em que as
expectativas do blico venham a ser atendidas. Isso implica elaborar
cenas e/ou situações mais próximas ao cotidiano dos telespectadores,
fundamentadas nas questões que mais os preocupam. Procura-se, deste
modo, garantir maior verossimilhança às situações abordadas e, também,
maior aceitação das novas atitudes e comportamentos disseminados
(SCHIAVO, 2007, p. 4).
66
Os autores e diretores são os que mais influenciam a condução da trama,
sendo, por muitas vezes, os promotores das mensagens sócio-educativas em suas
produções. Após entender a trama, o elenco e o enredo, precisa-se realizar o
levantamento de oportunidades sócio-educativas (LEVOPSE)
49
que aquele produto
editorial proporciona, ou seja, identificar as principais temáticas sociais passíveis de
abordagem na trama, levando-se em conta o público-alvo da novela e o que se
pretende atingir.
Quando as oportunidades são definidas, realiza-se o briefing, documento
formal que define, detalhadamente, as propostas do tema, as cenas, diálogos e
situações em que as ações de Merchandising Social deverão ocorrer. Após este
processo, o autor apresenta as propostas de ações e, após a verificação do
conteúdo e da informação a ser transmitida, estando tudo correto, libera-se o projeto
para gravação.
As ações de Merchandising Social podem ser expostas de formas variadas,
apenas de forma verbal, visual ou, ainda, na combinação das duas ou, dependendo
da questão, pode-se demonstrar o uso de algo ou a realização de alguma atitude
que aborde o tema.
Para exemplificar, podemos ter a situação de um personagem ao entrar no
seu carro, colocar o cinto de segurança e a câmera foca a ação com ênfase,
podendo, ainda, acrescentar a isso uma fala sobre o conceito e a importância de se
utilizar o cinto de segurança. Podemos, ainda, ter uma ão apenas de estímulo
visual, por exemplo, uma adolescente, que tem um namorado, tomando uma pílula
anticoncepcional.
Muito semelhante aos formatos praticados no Merchandising Editorial
apesar de não ter o vínculo comercial – a forma de expor a comunicação no
Merchandising Social deve ser tão persuasiva, convencedora e eficiente quanto uma
ação comercial. É necessário vender uma idéia, um conceito, uma atitude; a
conjugação do tema social com a trama precisa ser real, verdadeira, que tenha a
relação da verossimilhança do ficcional com o real.
49
A Rede Globo tem parceria com a Comunicarte, uma empresa voltada a desenvolvimento de
projetos de responsabilidade social. A empresa acompanha as Sinopses das novelas e, quando
identifica alguma oportunidade de tratar de um tema social, eles fazem a proposta para a Emissora.
67
Enfim, são inúmeras oportunidades para se tratar de temas sociais. O mais
importante é ver que os autores, diretores de ficção televisa e as emissoras, estão
se conscientizando do seu papel social, dada a inegável importância das telenovelas
no cenário cultural brasileiro, como uma formadora de opinião e disseminadora de
temas sociais ao grande público.
A Rede Globo entende seu papel e se estruturou para o merchandising
social: esse processo teve seu ponto culminante em meados de 1999, com
a explícita assunção do merchandising social pela alta direção da Rede
Globo, que reconheceu como uma das mais bem-sucedidas alternativas
para a concretização de sua função social. É importante ressaltar que a
ação educativa é, hoje, parte da própria filosofia de produção da Rede
Globo. Ou seja: desenvolveu-se, na Emissora, uma verdadeira cultura de
abordagem das questões sociais em todos os níveis de sua programação
diária, sempre com uma clara intencionalidade socioeducativa (SCHIAVO,
2002, p. 4).
Não estamos, aqui, defendendo ou avaliando o papel da TV na formação e
crescimento cultural da sociedade, entretanto, não discutiremos o tema neste
trabalho. A este estudo, cabe avaliar e identificar a execução e os benefícios das
ações de Merchandising Social.
3.1.4 Branded Content e Advertainment
Estamos em um momento crucial no mercado publicitário, à beira de mais
uma importante modificação no panorama da comunicação de marketing; que será
tão relevante como foram o surgimento do rádio, da televisão ou da Internet (que
ainda estamos em processo de desenvolvimento dessa ferramenta enquanto media,
haja vista o lançamento do formato Web 2.0, com foco de colaboratividade e
participação do internauta). É o advento da TV Digital e de outras tecnologias que
oferecem ao consumidor a possibilidade de controlar seu conteúdo, formatar sua
programação, determinar seu horário, etc.
O desafio é (e será, por muito tempo) o de transformar as mensagens
publicitárias de um foco de discurso intrusivo e vendedor para uma experiência
68
informativa e de entretenimento. Em outras palavras, é preciso sair da estratégia de
push (empurrar a comunicação para o consumidor) para adotar a de pull (gerar a
demanda da comunicação pelo target). Um dos grandes pilares do Branded Content
é a participação ativa do consumidor na interação com a publicidade; é a atração
ocupando lugar da interrupção.
Os termos Branded Content ou Advertainment ainda são conceitos pouco
disseminados no mercado brasileiro, tanto para agências de publicidade, quanto
para anunciantes e produtores de conteúdo editorial. Seu uso ainda é restrito a
anunciantes que estão dispostos a apostar em uma técnica; é muito utilizada nos
Estados Unidos, por grandes anunciantes como Coca-Cola e a marca de carros
BMW.
Segundo a Branded Content Marketing Association (BCMA), Advertainment
são:
idéias que trazem valores de entretenimento para as marcas e que integram
marcas no entretenimento. São particularidades de cada marca na forma de
programas televisivos, eventos sociais, filmes, jogos on-line entre outros
ligando importantes paixões a importantes marcas tendo por trás uma razão
estratégica (BCMA, 2006, p. 1).
Feldmann (2005 apud KALIL, 2007) conceitua o Branded Content como a
produção profissional de conteúdo de mídia pelo anunciante. Nesta categoria, que é
considerado um tipo de merchandising, os anunciantes e as agências de publicidade
são produtoras dos programas, tendo total controle sobre o nível de conexão com o
enredo que as marcas terão.
A tipologia Advertainment é a associação das palavras Advertising, ou seja,
publicidade, com Entertainment, o mesmo que entretenimento. É a hibridização do
entretenimento a um método de fazer publicidade. O grande papel do Advertainment
é gerar a interatividade do consumidor com o conteúdo, envolvendo-o com a marca
de forma diferenciada.
São conteúdos produzidos exclusivamente para o anunciante; ele é quem
produz (ou uma agência ou produtora contratada) o nome do programa que leva a
sua marca; a temática do filme gira em torno do produto que quer promover; a
história contada estabelece experiências dos consumidores com o produto ou
serviço, tudo isso envolto no entretenimento, como se fosse uma programação
tradicional na TV ou, ainda mesmo, na Internet, em que o consumidor, pró-
69
ativamente. escolhe se relacionar com esse tipo de publicidade, porque acha o
conteúdo divertido, interessante e prazeroso.
Advertainment é definido como um conteúdo de entretenimento que imita
formas de mídia tradicional, mas é criado somente como um veículo para
promover anunciantes específicos. O advertainment exige que o
consumidor busque ativamente se expor a mensagem (KRETCHMER,
2004, p. 39).
Os tipos de ações de advertainment que causaram mais impacto, até o
momento, foram os filmes curta metragem produzidos com o intuito de promover
marcas e entreter a audiência. A BMW, a pioneira no gênero, lançou em 2001 uma
série de filmes curta metragem (webisodes
50
), com menos de dez minutos, que
podem ser assistidos na Internet. Os filmes foram dirigidos por consagrados
diretores, como John Frankenheimer e John Woo, e estrelados por atores como
Gary Oldman e Madonna.
O resultado foi além das expectativas quanto ao número de expectadores e
críticos de cinema (em junho de 2003, os filmes foram introduzidos na coleção
permanente do Museum of Modern Art), sendo assistido por cerca de nove milhões
de pessoas nos primeiros três meses após o lançamento (DONATON, 2004 apud
KALIL, 2007).
Os resultados mercadológicos também foram expressivos. Pesquisas
mostraram que a imagem da BMW foi fortalecida, especialmente entre compradores
jovens; as visitas às concessionárias decolaram e a BMW bateu o recorde de
vendas nos Estados Unidos, com 213.127 unidades vendidas em 2001 (12,5% a
mais do que no ano anterior), batendo seu próprio recorde de vendas em 2002 e
2003.
É interessante notar a mudança no destino do investimento do anunciante,
neste tipo de ação. Na publicidade tradicional de TV, o anunciante gasta alguns
milhares de dólares para produzir a comunicação e alguns milhões para veiculá-la,
enquanto que, em ações de advertainment como a da BMW, o anunciante faz o
grande investimento, em alguns casos milhões, na produção, e investe muito pouco
na veiculação. O sucesso da ação da BMW fez com que várias outras empresas,
50
Webisodes são filmes (curta-metragem) de conteúdo exclusivo encomendado exclusivamente por
uma determinada marca, exibido exclusivamente na internet. Neste formato o consumidor tem que se
disponibilizar a interagir com o conteúdo, pois deve pró-ativamente acessar o site e assisti-lo ou fazer
download.
70
como a Volvo, Nissan e Mazda, seguissem o mesmo caminho na produção de filmes
curta metragem.
Mesmo sendo um conteúdo controlado pelo próprio anunciante, deve-se
tomar cuidado para o Branded Content não se tornar uma publicidade grosseira.
Esse formato, inevitavelmente, é rejeitado pelo consumidor. “Esquecer que o
consumidor vem em primeiro lugar é a receita infalível para o desastre”.
Além do formato de curta-metragem para a Internet, outras formas de se
fazer Advertainment, como os mega-eventos tematizados pelas próprias marcas,
com a intenção de gerar novas experiências e interações com estas. Como exemplo
existe o Coca-Cola Vibezone, com duração de dois dias, que teve muitas atrações
de entretenimento, mas, também, muita Coca-Cola. Neste evento, o consumidor é
‘convidado’ a interagir com a marca, utilizando seus sentidos para vivenciar o
ambiente emocional dos produtos.
Formatos semelhantes aconteceram com outras marcas como a Nokia, que
produziu em 2004 o mega-evento Sonar Nokia Trends e a grande festa Skol Beats,
cujo principal objetivo é gerar a relação de entretenimento e lazer, associado à
marca.
A diferença do Advertainment com o Placement é que as empresas que
investem em Advertainment estão produzindo um conteúdo próprio, novo e
relacionado com a marca. Provavelmente, aquele conteúdo não existiria se
determinada marca não o produzisse; é exclusivo, customizado e o
espectador/consumidor é que vai atrás do conteúdo.
o Placement, como vimos anteriormente, é a inserção de um produto,
serviço ou marca dentro de um conteúdo produzido por terceiros, sem o controle de
sua produção, e o espectador recebe a comunicação de forma passiva.
O Advergames é uma outra forma de se realizar o Branded Content. o
jogos virtuais (para Internet ou celular), desenvolvidos somente com o objetivo de
promover marcas (KRETCHMER, 2004). Empresas como Pepsi, IBM, Ford e
Siemens desenvolveram Advergames. É uma forma lúdica e divertida de
promover uma marca, proporcionando entretenimento e lazer ao público. Marcas
que tem envolvimento com os blicos adolescente e jovem, têm trabalhado com
freqüência em games interativos.
71
Alguns tipos de games são multiplicados na Internet pelos próprios
internautas. Os ‘internectadores’
51
replicam pró-ativamente o conteúdo, porque
acham interessante, se identificam, acham engraçado e dico, ou, ainda, propiciam
experiências de interatividade com o produto, que vai muito além do consumo.
Empresas de atuação nacional também realizam ações de Advertainment
como, por exemplo, a Avon Brasil, Natura e Perdigão. A marca de cosméticos Avon,
de fevereiro a novembro de 2003, exibiu um programa próprio, o Tudo Avon. O
projeto foi desenvolvido pela Synapsys
52
e possuía o formato de um programa de
entrevistas, tendo como objetivo atingir revendedoras e funcionários de todo o país,
para disseminar os conceitos de beleza e estética, bem como dicas de uso dos
produtos da Avon, etc. Acabou por aumentar a audiência normal da Rede TV,
naquele horário (sábado, das 14h15 às 15h15). “A atração contou com parceiros
comerciais como Cônsul, Shopping Mais e Procter&Gamble, o que fez com que os
custos para a Avon chegassem a zero após dez meses de veiculação” (VEGSO,
CHAROUX e TRAJANO, 2004, p. 53).
A Perdigão, por sua vez, lançou em abril de 2004 o Receitas da Vida, também
transmitido aos sábados pela Rede TV. Ele apresenta uma mistura de programa de
culinária com entrevistas, sempre em tom emocional, onde os célebres convidados
dão as suas receitas de vida” (VEGSO, CHAROUX e TRAJANO, 2004, p. 53).
Outra empresa de cosméticos, a Natura, também está investindo em uma
atração própria. O programa, denominado Rede Natura, é assinado pela Pátria
Publicidade e veiculado pela Band, desde novembro de 2003 (às 12h de domingo
com reprise às 8h de terça-feira). Segundo a Natura, o seu foco é “atingir as
revendedoras do país, o que fica claro nos quadros do programa, todos com
assuntos direcionados a este público” (PEREIRA, 2004, p. 52).
É certo que esta revolução transformadora é ainda muito recente (ou voltando
aos modelos do início da TV, com os programas patrocinados, só que mais bem
elaborados). Entretanto, irá alterar, de modo essencial, a forma e conteúdo da oferta
de mídia em todas as plataformas da tecnologia, o sistema de acesso a elas pelos
consumidores, os mecanismos de sustentação econômica dessa atividade e a
relação dos anunciantes com os veículos de mídia.
51
Termo considerado pela autora como o hibridismo de internauta (pessoa que navega na internet)
com consumidores.
52
Primeira agência de Advertainment do Brasil, tendo como diretor o consagrado Walter Longo,
conhecedor sobre o tema.
72
Hoje, o problema maior está no fato de que anunciantes e agências tendem a,
simplesmente, “disfarçar o conteúdodas mesmas velhas mensagens publicitárias,
com características de um monólogo vendedor. Não podemos encarar o Branded
Content ou Advertainment como uma publicidade descarada, que leva consigo uma
parcela de conteúdo e interatividade. O processo é, ao contrário, com conteúdo feito,
exclusivamente, para aquela marca, mas, a soberania é do conteúdo e da
experiência que este é capaz de gerar e estabelecer com o seu consumidor.
3.2 A TELENOVELA PRODUZINDO CONSUMO E ORIENTAÇÃO SOCIAL
ATRAVÉS DO MERCHANDISING
3.2.1 Ações de Merchandising Editorial nas telenovelas da Rede Globo
Nos últimos anos, o merchandising nas telenovelas ganhou espaço,
trabalhando com premissas de crenças e valores morais e sociais, utilizando ícones
personificados em personagens, criando uma identidade ao seu papel no mundo da
ficção, que lhe dá certos adjetivos como: moderno, bonito, saudável, humildade,
dócil, inteligente, refletindo aquilo que o telespectador – futuros consumidores -
almeja para si próprio, representando a reconstrução do lúdico ao real.
A roupa que a atriz ou ator utiliza, torna-se moda e conceito de elegância e
sofisticação; a bebida que degusta é classificada a melhor ou, ainda, o carro que o
conduz e suas compras no Shopping projetam o telespectador ao desejo contínuo
de transformar o Fig.tivo em sico, ou, ainda, o discurso ficcional onírico em real
vivência.
Apesar da soberania das telenovelas, o merchandising tem um grande
desafio em relação ao telespectador: fazer com que ele não perceba a comunicação
como publicidade, nem saia da sala ou troque de canal, como habitua fazer em
intervalos comerciais. As telenovelas se conFig.ram dentro da vida cotidiana do
telespectador, está dentro de seus lares e faz parte da estória de cada um, além de
possuir grande influência na sociedade brasileira, afinal de contas “no cotidiano as
73
pessoas conversam sobre produtos, fazem compras, vão a bancos (...)” (AVANCINI,
1981, p.5).
Desta forma, pode-se concordar com Tahara, que considera “o
merchandising, em princípio, como uma técnica quase subliminar
53
, uma vez que os
produtos, serviços e idéias são difundidos através de cenas que estimulam situações
normais do cotidiano” (TAHARA, 2004, p.55). Esta ligação entre ficção e realidade
faz parte do processo de verossimilhança, tornando-se um elemento forte para a
análise das interações entre ficção e realidade
54
, facilmente incorporados pelo
telespectador (MOTTER, 2003).
É um processo natural a quantidade de informação continuar crescendo
diariamente, mas, também, sabemos que a capacidade humana é limitada para o
registro de informações, e que ninguém pode absorver tudo o que o cerca, assim
como todos os impactos; talvez uma pequena parcela de tudo isso. É por isso que
as telenovelas, em seu alto poder de persuasão, trabalham com o inconsciente, com
o desejo, com o aspiracional e lúdico, diretamente atrelado ao cotidiano do
telespectador.
Não pretendemos aqui criar uma linha do tempo para todas as ações de
merchandising
55
realizadas nas novelas da Rede Globo, tampouco, mesmo que
citadas, teremos condições de recapitular os detalhes dos acontecimentos das
cenas. Abordaremos de forma ampla as ações de merchandising ocorridas nas
telenovelas, a fim de ilustrar algumas ações que ocorreram. Essas ações podem ser
datadas de décadas passadas e procuraremos nos ater em analisar e desenvolver
com mais profundidade as últimas telenovelas exibidas no horário das 20 horas
(novela III), antecedentes ou não da exibição de ‘Belíssima’
56
.
53
Subliminar no sentido de ser sutil e passar como algo natural, mas não subliminar no sentido
behaviorista da percepção e condicionamento através de estímulos subliminares que no Brasil não é
uma prática legal.
54
Motter discute as inter-relações ficção e realidade, destacando o papel do merchandising como
proporcionador da verossimilhança da ficção com a realidade, a partir do momento em que a ficção
se aproxima da realidade, através de produtos/serviços e questões sociais existentes no cotidiano
real.
55
Fica estabelecido para fins de facilitar a leitura do trabalho que quando citamos a palavra
merchandising de forma isolada para ações inseridas em telenovelas, tratamos do merchandising
editorial ou placement conforme determinado nas tipologias do merchandising anteriormente.
56
Relação de novelas das oito desde 2003, em ordem cronológica decrescente: Duas Caras
01/10/2007 a 31/05/2008, Autoria: Aguinaldo Silva; Paraíso Tropical – 05/03/2007 a 28/09/2007,
Autoria: Gilberto Braga e Ricardo Linhares; Páginas da Vida 10/07/2006 a 02/03/2007, Autoria:
Manoel Carlos; Belíssima 07/11/2005 a 08/07/2005, Autoria: Silvio de Abreu; América 14/03/2005
05/11/2005, Autoria: Glória Perez; Senhora do Destino 28/06/2004 a 12/03/2005, Autoria:
74
Segundo Ladeira, há histórias em que ações de merchandising aconteciam de
forma desestruturada e sem aparato das produções, como vemos hoje. Ladeira
argumenta sobre um fato interessante que ocorreu dos primórdios do
merchandising: “toda vez que tinha gravação no Rio, ainda no Jardim Botânico,
sempre havia um caminhão da Antarctica na porta dos estúdios carregando e
descarregando engradados de cerveja da marca, sempre muito bem posicionado
(informação verbal)
57
.
Passou-se a observar que, em todas as gravações, o caminhão estava lá, e
sua imagem era captada pelas câmeras da televisão através das janelas do estúdio
de gravação. Investigando o fato, foi descoberto que existia um acerto informal e
direto com o cameraman para ‘vazar’ a imagem da marca. Ladeira enfatiza:
“percebemos que se aquilo era feito por debaixo dos panos, aquilo tinha um valor. E
a partir daí começamos a estruturar para fazer isso de uma forma profissional
(informação verbal)
58
.
É datada de novembro de 1968 a telenovela ‘Beto Rockfeller’, da extinta TV
TUPI, que registrou umas das senão a primeira – ações de Merchandising editorial
em telenovela brasileira. O personagem de Luiz Gustavo Sánchez (como o próprio
Rockfeller) era um boêmio, que vivia na noite, e, no dia seguinte, tinha que estar
disposto para trabalhar. A cada crise hepática, resultado das suas ressacas, o
personagem engolia, consumia, exibia e citava
59
a marca do produto Engov.
Ladeira
60
acrescenta sua visão sobre a ação, concordando que o conceito do
produto Engov é, justamente, o bem-estar após uma “bebedeira”. O personagem
tinha o perfil boêmio, era um homem pobre, que trabalhava e que tinha um sonho de
ser um playboy. O personagem era muito bem assimilado, se fosse um vilão,
certamente, não teria essa mesma receptividade, comenta. De fato, não podemos
desconsiderar que naquela Fig. simbólica e ficcional estava representado o público-
alvo do produto.
Aguinaldo Silva; Celebridade 13/10/2003 a 26/06/2004, Autoria: Gilberto Braga; Mulheres
Apaixonadas – 17/02/2003 a 11/10/2003, Autoria: Manoel Carlos. Fonte: site da TV Globo.
57
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
58
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista
59
Em alguns artigos buscados na internet, o ator revela que chegou a citar 33 vezes, em um mesmo
capítulo a marca Engov. Informação de fonte não oficial, inserida a título de curiosidade.
60
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
75
Na época do ‘Beto Rockfeller’ ainda foi uma ação acidental, com essa
característica da negociação direta com o ator. Ladeira
61
declara que o ator Luiz
Gustavo parecia ter um relacionamento com o laboratório que estava lançando o
Engov, ou, ainda, o laboratório tinha um acordo informal com os cameraman.
Mas, não podemos desconsiderar que a adequação do produto com o
personagem era realmente muito forte e, por isso, deu resultado. “Então eu acho
que essa é a primeira lição do merchandising: a questão da adequação”
62
.
Walter Negrão emplacou o merchandising em mais duas novelas de sua
autoria: ‘O Primeiro Amor’ (1972) e, ainda, em ‘Cavalo de Aço’ (1973). Na primeira,
muito pertinente à trama, os personagens Shazan e Xerife eram fascinados por
bicicleta e tinham o sonho de montar uma bicicleta voadora. A indústria de bicicletas
Caloi participou desse processo com a Rede Globo
63
para recriar o hábito de se
andar de bicicleta.
Não podemos deixar de considerar, também, que os figurinos e as cenas de
comédia de Shazan e Xerife fizeram tanto sucesso que, posteriormente, em 1972,
ganharam um seriado exclusivo, intitulado de Shazan, Xerife e Cia., fortalecendo,
também, a moda de se utilizar macacões como traje. Posteriormente, em ‘Sem
lenço, Sem documento’ (1977-78), a Caloi lançaria um modelo de bicicleta
exclusivamente feminino, a Caloi Ceci, sucesso de vendas para o público feminino
(MEMÓRIA GLOBO, 2008), e apareceria em mais outras duas novelas, após o
lançamento do produto, dando continuidade ao merchandising em ‘Água Viva’
(1980) e ‘Vereda Tropical (RAMOS, 1991, p. 92).
Em ‘Cavalo de Aço’ houve uma ação informal de merchandising:
Na telenovela Cavalo de Aço (1973), uma garrafa de conhaque Dreher foi
casualmente posta num cenário por um regra-três. Funcionou como
propaganda poderosa do produto: a situação dramática ficou em segundo
plano na memória do telespectador, destacando-se a marca do conhaque.
Ninguém na tevê sabia que estava fazendo propaganda (na época a Rede
Globo ainda não faturava esse tipo de anúncio, o que é comum agora), mas
isto funcionou com toda força (SODRÉ, 1984, p. 73).
61
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
62
Cf. Idem.
63
Mais informações em MERCADO GLOBAL (Ano 2, número 15 e 16, julho e agosto de 1975), na
reportagem Merchandising em TV: um novo produto está no ar, Octávio Olive, na época diretor do
Departamento de Merchandising da Rede Globo cita além desta, outras ações de merchandising.
76
Como relatado no livro de Roberto Ramos (1991), Grã-finos na Globo,
especialmente no capítulo quatro da obra, muitas ações de merchandising foram
realizadas pela televisão brasileira, mesmo quando não se tinha uma qualidade de
produção. Obviamente, a telenovela tem cunho comercial e sabemos que todo o seu
custo de produção é pago com a renda que a emissora é capaz de gerar com os
seus produtos, no caso, a telenovela, seja através do espaço publicitário
convencional, que é comercializado ou através do merchandising.
Para incrementar e valorar este estudo, acrescentaremos aqui algumas
frações do livro de Ramos (1991, p. 81-121) para ilustrar as ações de merchandising
registradas por ele, desde a década de 70, auge do desenvolvimento da televisão
brasileira:
No Bar do Nacib, em Gabriela, original de Jorge Amado, 1975, às dez, só se
bebia Antarctica. Em Samantha de Dias Gomes, 1976, no mesmo horário,
havia uma farmácia para anunciar um analgésico. Estúpido Cupido, de
Mario Prata, 1976-77, às sete, exibia cosméticos. Foi aberto um salão de
beleza para comercializá-los em Loco Motivas, de Cassiano Gabus Mendes,
1977, também às sete.
No biênio 1975-76, Pecado Capital, de Janete Clair, às oito, O Grito, de
Jorge Andrade, às dez. Anjo Mau, de Gabus, às sete, foram fartas neste
sentido. Tentaram vender calças Lewi´s, Leite Paulista, Banorte,
Bamerindus, Aplud, Vasp, Volkswagen, General Motors etc. Ainda em
Pecado Capital teve o lançamento de um batom da Max Factor com o seu
nome.
[...] Nem sempre o produto se contenta com um papel de Fig.nte. A
multinacional Coca-Cola comprova esse fato. Dino César, Mário Gomes,
não parava de bebê-la em Duas Vidas, de Janete Clair, 1976-77, às oito, eu
faturou 92% de ibope. O hábito foi repetido em Marina, de Wilson Aguiar
Filho, 1980, às seis.
64
[...] A cachaça foi o brinde de Champagne, de Cassiano Gabus Mendes,
1983-84, às oito. O personagem Antônio, Antônio Fagundes, saboreava a
Velho Barreiro, com estilo. Vários personagens em Corpo a Corpo, de
Gilberto Braga, 1984-85, às oito, tragavam o cigarro Salem. A emissora,
posteriormente, resolve o problema, dedicando reportagens fantásticas
sobre as conseqüências do alcoolismo e do fumo.
65
[...] As mulheres de Louco de Amor, de Gilberto Braga, 1983, às oito
aprenderam a congelar alimentos. Adid admite que houve excessos: “Foi
um erro nosso, porque a marca da Prosdócimo apareceu demais. Foi um
abuso, uma infelicidade sob o ponto de vista estético. Mas o cliente está,
imensamente, feliz”.
64
Como comentado no item anterior, no tema Branded Content, o autor Donaton (Scott Donaton
vide bibliografia), conta fatos sobre a anunciante Coca-Cola e a sua visão do investimento publicitário
realizado na indústria do entretenimento. O autor revela que a Coca-Cola acredita que esse é o futuro
da sustentação publicitária da empresa. Parece que esse é um pensamento muito anterior ao livro
que Donaton escreveu, em 2001, com versão traduzida para o português em 2004.
65
Atualmente as indústrias de cigarro estão legalmente proibidas de realizar qualquer tipo de
publicidade massiva. Minha percepção, e apenas percepção, é de que as telenovelas da cada de
60 a 80 utilizavam muito mais o cigarro e a bebida como um aliado da construção da estética dos
personagens do que as atuais.
77
[...] Assim, percebemos que a necessidade cênica foi apropriada pelo
capitalismo, submetendo-se às leis de oferta e procura. Ao ver novela, o
telespectador recebe condicionamentos inconscientes, que o empurram
para o consumo irracional.
Entre as ações citadas acima, muitas outras no livro de Ramos que vale a
pena os leitores que se interessarem buscarem a informação diretamente na fonte,
pela impossibilidade de carregar aqui todo o seu conteúdo. Mas, citaremos uma
ação de órgãos públicos para demonstrar a capacidade de utilização do
merchandising por anunciantes dos segmentos de atuação de mercado mais
variados.
Os órgãos públicos já descobriram o poder do merchandising. A Caixa
Econômica Federal, Cobal e BNH largaram suas mensagens nos folhetins
eletrônicos. Um busofisticado era o palco de Marrom Glacê, de Cassiano
Gabus Mendes, 1979-80, às sete. O garçom Oscar, Lima Duarte, comprava
bilhetes da Loteria Federal desde o primeiro capítulo, com normalidade.
[...] O garçom tinha um dever específico. Precisava fazer a cabeça das
pessoas com a Loteria Federal, ultimamente em estado de decadência,
subjugada pela Esportiva e Loto. O enredo e o personagem estavam a
serviço da Caixa, claro. Compra bilhete. Espera o resultado. Confere o
número, nada. (RAMOS, 1991, p. 119).
A história de ‘Dancin’days’ (1978),
mobilizou milhares de telespectadores em todo o
Brasil, pelo fato da trama tratar de uma ex-
presidiária, com grande apelo a querer
reconstruir sua vida, após muitos anos de prisão
cumprindo sua pena. A novela, além de lançar
modismos, acabou por promover alguns produtos
como a sandália de plástico da Grendene, a
Melissa, de salto fino; a marca de jeans Staroup
e a boneca Pepa, companheira da personagem
Carminha (Pepita Rodrigues). Segundo o site de Memórias da Rede Globo (2008), a
fábrica da boneca chegou a vender 400 mil unidades do brinquedo.
A marca Caloi, mais uma vez, foi marca presente na trama, aparecendo em
destaque no luminoso da pista de dança, ilustrando uma das cenas mais famosas da
novela, com a personagem Júlia Matos (Sonia Braga) firmando a reviravolta da sua
personagem, quando ocorre a inauguração da discoteca Frenetic Dancin´Days.
Fig. 4
Cena de Dancin´days.
Fonte: Divulgação/TV Globo
78
A discoteca também foi cenário para promover o lançamento das sandálias de
plástico, Melissa. Segundo Ladeira, a Melissa, naquele período, estava lançando o
produto. Então, todo o lançamento da Grendene para a Melissa foi feito pelo
merchandising. Na época, havia três novelas atuais, que eram relacionadas à
modernidade e as três realizaram merchandising do produto.
que a questão não era, apenas, realizar as ões de merchandising. Era
necessário vender um novo conceito e estilo de moda e a personagem, Julia Matos,
ocupou o papel de inserir esse traje na novela por intermédio do seu figurino, que foi
readequado para adaptar-se ao lançamento do produto. Para completar o figurino,
foram adicionadas meias de lurex, que também viraram moda e que fizeram parte de
um processo de merchandising. Toda roupagem e o figurino
fazia parte da criação de um novo comportamento de moda
em um ambiente de diversão e entretenimento da ficção, a
discoteca.
Além dessa nova moda inserida, a novela de Gilberto
Braga, em pauta, teve outra marca muito presente, a
Staroup, produtora de jeans, que teve um salto em suas
vendas com as inserções de merchandising. As calças jeans
eram, também, exibidas no figurino dos personagens.
‘Plumas e Paetês’ (1980-81), produzida e exibida pela
Rede Globo no horário das dezenove horas, escrita por
Cassiano Gabus Mendes e dirigida por Jardel Mello e Mário Márcio Bandarra,
também causou uma percepção diferenciada da estética corporal e da beleza. As
atrizes Maria Cláudia, Sura Berditchevsky, Sílvia Salgado, Angelina Muniz, Mila
Moreira, Lúcia Alves e Elisângela, conquistaram o público masculino pela beleza e
plástica e o público feminino pelas roupas sofisticadas e elegantes que desfilavam
na novela (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Um outro marco na moda, representado pela telenovela, foi a obra de Dias
Gomes e Aguinaldo Silva, ‘Roque Santeiro’ (1985-86). A personagem principal, a
viúva Porcina, representada por Regina Duarte, remodelou a forma das mulheres da
época se trajarem. Seu famoso turbante de cores berrantes, os brincos grandes e a
maquilagem carregada fizeram história. Além disso, fazia parte do seu figurino as
blusas com ‘manda-morcego’, que foi uma grande moda nesse período da década
de 80.
Fig. 5
Cena da
telenovela Dancin´ days
exibindo as sandálias
com meias de lurex.
Fonte: Divulgação/TV
Globo
79
Marcia Ladeira tem uma opinão a respeito da novela em questão: “a viúva
Porcina usava turbante, que era uma coisa absolutamente brega, cafona, horrível, e
aquilo virou moda. Uma coisa absolutamente impossível de se imaginar”
66
. Isso
retrata que, muitas vezes, a trama em si se torna um ciclo de merchandising, de virar
moda, de se estabelecer padrões de consumo e de estilo de vida através da
influência que o produto telenovela é capaz de gerar no telespectador, mas, o é
utilizado com parâmetros comerciais pela emissora.
Neste caso, conforme relatado por Ladeira, a Rede Globo não pensava em
construir alguma relação comercial em cima da personagem e de seu figurino.
Talvez, se tivessem pensado na possibilidade de que isso viraria moda, poderiam ter
se aproveitado da situação para realizar acordos comerciais com alguma marca
fabricante de turbante ou qualquer outra empresa de produção de moda e roupas.
Mas isso não ocorreu por ser um fato imprevisível, mas, talvez possa ser explorado
de alguma forma, veremos isso no terceiro capítulo.
Outro caso é o do folhetim Água Viva (1981-82), segundo Ramos (1987, p.
106-107), na história, escrita por Gilberto Braga, a personagem gia, interpretada
pela atriz Betty Faria, era uma elegante burguesa, dona de uma boutique. Em uma
de suas falas, Lígia repudiou vestidos roxos, o que fez com que as peças dessa cor
“mofassem” nas prateleiras da cidade do Rio de Janeiro. Alguns capítulos depois, o
autor escreveu que o roxo era a cor da moda, fato que levou as pessoas a
procurarem a tonalidade novamente. Na coleção de inverno de 2008, a cor roxa
retoma seu auge na indústria da moda, como podemos observar em todas as
vitrines de São Paulo.
Ramos (1986) ironiza a estética da beleza com as gengivas exibidas pelas
personagens interpretadas por Beth Goulart e Glória Pires, na novela ‘Louco amor
(1983), cujas atrizes foram escolhidas por terem um sorriso gengival.
A ironia serve para ilustrar o esforço global para provocar novos modismos.
Nisso, transparecem iniciativas grotescas. Manipula características físicas,
colocando e retirando-as da vitrine. Hoje, a pessoa é moda; amanhã, passa
a ser careta. Tudo dentro de esquemas mercadológicos, que jogam e
descartam visuais, sem respeito à psicologia humana e suas implicações
(RAMOS, 1986, p. 109).
A mesma situação ocorreu no tempo em que foi veiculada ‘Explode Coração’
(1995-96), toda ambientada na cultura do povo cigano. A protagonista Dara,
66
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
80
interpretada pela atriz Tereza Seiblitz, trouxe à tona o encantamento que reveste a
milenar cultura cigana o que, imediatamente, “caiu no gosto” do teleconsumidor e
movimentou o mercado de modismos. Nesse período, é claro, também houve uma
“febre” cigana voltada ao consumo de artesanato, música, dança, religião, roupas
com longas saias e lenços e os demais adereços que caracterizam o povo cigano,
como bijuterias.
Como já dito no primeiro capítulo, reforçamos aqui a questão de que os
teleconsumidores o telecolonizados e tendem a adotar modismos que surgem a
cada nova trama e que se proliferam em atos de consumo generalizado,
caracterizando, até mesmo, falta de bom senso, principalmente quando um
determinado produto “não lhe cai bem”, mas “todo mundo usa”.
Não podemos deixar de considerar que a telenovela tem um processo
repetitivo de produção, contam basicamente histórias semelhantes de forma
diferente, com maior adesão aos gêneros consagrados e tramas que estabelecem o
reconhecimento do telespectador, em função do seu repertório alfabetizado pelo
processo da cultura de massa.
Queremos dizer que as tramas se baseiam em histórias do bem e do mal, do
amor incondicional, da traição, seja amorosa ou financeira, da sexualidade, de
drogas, de pobres e ricos, de mulheres independentes, de relações de preconceito,
das relações de poder, das batalhas familiares etc., possibilitando, desta forma,
reconstruir o cenário do ficcional com as situações vividas, rotineiramente, pelos
telespectadores.
Mesmo que não sejam impossibilitados, financeiramente, de consumir todos
os produtos apresentados nas telenovelas, ao menos, têm acesso à amplitude de
cultura, moda, costumes e estilo de vida, de um universo muito maior do que o que
vive. As pessoas podem conhecer outros lugares pela TV. Podem viajar pelo Brasil e
pelo mundo afora, como uma forma de ampliar o seu repertório de conhecimento,
mesmo que não seja por uma experiência própria e de forma fragmentada, contada
pela tela da TV. Não precisam ser, necessariamente, reflexo real e concreto da
realidade, mas, sim, como uma parcela de semelhança, como um recorte fracionado
da realidade, produzido para aquela trama específica.
Um outro exemplo marcante do que queremos explicar, ocorreu quando a
Rede Globo veiculava a telenovela ‘O Clone’ (2001-02), a qual tentava representar
costumes da cultura islâmica. Nesse período, o anel de Jade (personagem
81
interpretada por Giovana Antonelli), que era atado a uma pulseira, virou mania,
principalmente entre as adolescentes, apesar do desconforto e incômodo para se
adotar como acessório de uso diário.
Jade, como a maioria das protagonistas das tramas fictícias “globais”, acabou
por se tornar um “pseudo-ícone” da cultura islâmica, produzindo no telespectador o
desejo de imitá-la. A maquilagem utilizada pela personagem, na segunda fase da
trama, também foi um traço marcante de disseminação de moda desta personagem,
bem como os muitos adereços de colares e anéis extravagantes e dourados.
Além disso, enquanto a telenovela esteve no ar, ouviu-se e dançou-se muita
música árabe, roupas de odalisca decoravam as vitrinas das lojas, colonizando o
imaginário popular. Outro modismo que se proliferou, nesta mesma época, foi o uso
de lenços, os quais, na cultura islâmica, têm
um significado de cunho religioso e social,
ligado às transformações femininas e ao
casamento, muito diferente do conceito que
foi adotado aqui no Brasil, após virar moda.
Todas essas mercadorias foram
rapidamente popularizadas nas vitrines da
Rua 25 de Março, centro comercial popular
de São Paulo.
Dentre as novelas citadas, muitas
outras, neste intervalo de tempo, realizaram diversas ões de merchandising, que
não conseguimos relatar com todos os detalhes, tampouco, listá-los em função de
carência de material áudio-visual e de informação por parte da emissora e dos
anunciantes das ações realizadas.
Aproximando-se no tempo das obras realizadas às vinte horas, exceto a
Belíssima’, cujo detalhamento de ações será discutido no terceiro capítulo, temos,
posteriormente: Duas Caras (2007-08), Paraíso Tropical (2007), Páginas da Vida
(2006-07); e, anteriormente: América (2005), Senhora do Destino (2004-05),
Celebridade (2003-04) e Mulheres Apaixonadas (2003).
Descreveremos algumas ações que ocorreram nessas novelas, citando
alguns anunciantes e, em alguns momentos, circunstâncias que as ações
ocorreram, mas, não detalharemos todas as condições das cenas, tampouco
Fig. 6
Ilustração da maquilagem utilizada
pela personagem Jade, em ‘O Clone’.
Fonte: Divulgação/TV Globo
82
faremos avaliação profunda sobre a construção do discurso das ações e avaliação
da qualidade de sua execução, baseado no entrelace da trama (informação verbal)
67
. A função desta atividade é apenas ampliar o conhecimento do universo do
merchandising inserido nas telenovelas, para dar uma noção e amplitude
quantitativa do potencial desta ferramenta de publicidade, bem como o panorama
dos tipos de anunciantes que utilizam essa ferramenta em suas estratégias de
comunicação com o consumidor.
Em ‘Mulheres Apaixonadas’ (2003), Ladeira explica que possuíam,
aproximadamente, onze contratos de merchandising comercial com empresas de
diversos segmentos e produtos como exemplo: sabão em Omo e Banco Itaú.
Ambas as cenas foram realizadas para adequação do produto à trama, quando a
personagem Helena (Christiane Torloni) reclama que seu filho Lucas (Victor Curgula)
sujou sua blusa e a empregada intervém, dizendo que basta colocar na máquina
com sabão em pó, e, neste momento, mostra a embalagem do Omo na lavanderia.
Algumas outras vezes, essas cenas da lavanderia se repetiram. Além disso, a
Luciana (Camila Pitanga) para no banco (Itaú) para fazer um depósito. A marca
Natura também foi exposta na trama.
A novela ‘Celebridade’ (2003-04) bateu o recorde de ões de merchandising
das novelas antecessoras, registrado pela Rede Globo. Entre as marcas que
firmaram parceria para serem mostradas na mão e na boca das celebridades estão:
Itaú, Samsung, Wella, Natura e Intelig.
Não queremos tirar o foco do tema merchandising, mas um fato nos causou
certa estranheza pesquisando o enredo da trama no site de Memórias da Globo,
lançado em 2008. algum tempo, a Rede Globo vêm inserindo em suas
telenovelas pessoas “normais” para aparecem na trama.
Em ‘Celebridades’ (2003-04) tiveram participação especial, mas não em papel
de personagem ficcional e sim, como representação do que são na vida real: o
escritor João Ubaldo Ribeiro, os cantores Marina Lima, Rita Lee, Erasmo Carlos,
67
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista. A
maior parte das ações de merchandising descritas foram relatas em entrevista pessoal com Márcia
Ladeira, Diretora de Merchandising da Rede Globo e, para evitar excesso de referências
consideraremos apenas esta. Em função disso, também não temos detalhes de todas as ações
tampouco como cada uma ocorreu, pois não foi apresentado material audiovisual, apenas entrevista
pessoal.
83
Jorge Aragão, Emilio Santiago, Fernanda Abreu, Fréjat, Lenine, Marcos Valle,
Gabriel O Pensador, Ed Motta, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Mart´Nália, Neguinho
da Beija-Flor e Beth Carvalho, o dançarino Carlinhos de Jesus, o músico Wagner
Tiso, os ex-jogadores de futebol Zico e Pelé, o cirurgião Ivo Pitanguy, Susana
Werner, entre outros artistas e esportistas; além de três participantes da quarta
edição do Big Brother Brasil’: Solange, Thiago e a ganhadora Cida, transformados
em celebridades instantâneas por conta do programa (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Uma verdadeira avalanche de celebridades ‘reais’ no universo ficcional e simbólico.
Essas eram figuras que estavam presentes nos eventos organizados pela
empresa da trama central da novela, a produtora Mello Diniz do Grupo Vasconcellos,
cuja personagem principal Maria Clara Diniz (Malu Mader) presidia. Até o Roberto
Carlos e cantores internacionais, que tinham suas músicas como trilhas sonoras da
trama, participaram de ações, digamos de merchandising, para promover as
canções do disco, como se estivessem fazendo um espetáculo na vida real, para os
personagens da vida ficcional.
Em ‘América’ (2005), alguns cantores com Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e
Martinho da Vila, apareceram na trama com sua identidade real, ou seja,
representando eles mesmos. Foram exibidos no núcleo da novela dos personagens
de Vila Isabel, Zona Norte do Rio, que representava o subúrbio da trama. O ponto de
encontro dos cantores era a mercearia do Seu Gomes (Walter Breda), que se tornou
ponto de encontro musical do bairro.
Em Belíssima(2005-06), o autor Silvio de Abreu faz uma homenagem ao
teatro de revista dos anos 50, com a exibição de um espetáculo, no último capítulo
da novela, comandado por personagens da época como Virgínia Lane, Dorinha
Duval etc., e direção de Carlos Mango, que fez participação especial,
desempenhando o papel dele mesmo. A mesma situação da não representatividade
ficcional que vimos nos exemplos anteriores. Além do exemplo que foi citado
anteriormente, com a aparição no desfile de moda São Paulo Fashion Week.
Retomando o tema merchandising, em ‘Celebridades’ (2003-04), por se tratar
de uma trama totalmente voltada ao mundo do glamour e do espetáculo, o figurino
de Malu Mader (atriz principal em ‘Celebridades’), era de roupas sofisticadas, e foi
um dos itens que mais geraram curiosidade do público, segundo a Central de
Atendimento ao Telespectador registrou na época (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
84
O lencinho no pescoço e as sandálias de cordas altas e salto anabela usados
por Laura (Cláudia Abreu) a vilã da trama, assim como a coleira de ouro que a
personagem passou a ostentar após ficar rica, também
chamaram a atenção. Mas o que acabou ganhando mesmo as
vitrines e bancas de camelôs foram as saias curtas de
preguinhas, as meias coloridas e as sandálias de Darlene.
Arriscamos dizer que parecia um remake de ‘Dancin´days’,
nos embalos de sábado à noite, sem o brilho do lurex.
Uma novela mais recente que rendeu bons contratos
de merchandising e, com certeza, rentabilidade à Rede Globo,
em função da quantidade de aparições que se possibilitou
para duas marcas (Lukscolor e Deca), que rodeavam,
também, a trama central da novela ‘Senhora do Destino’
(2004-05). A principal trama da novela estava totalmente
ligada a estas duas marcas.
A trama de ‘Senhora do Destino’ (2004-05) gira em torno de uma mulher
nordestina sozinha, Maria do Carmo Ferreira Silva (na primeira fase interpretada por
Carolina Dieckmann e, depois, por Suzana Vieira), abandonada pelo marido e diante
da dificuldade de criar os filhos, lança-se em uma aventura na cidade grande. Uma
de suas filhas é seqüestrada, e passa por longos anos em busca dela, mas nem isso
a abate. Ela constrói um patrimônio em Vila São Miguel, na baixada Fluminense do
Rio, que retrata, também, o desenvolvimento do subúrbio do Rio de Janeiro.
Basicamente, o merchandising mais explorado nessa trama é em torno da
personagem de Maria do Carmo e de seu empreendimento, uma loja de materiais de
construção. Os anunciantes full-time da loja eram as marcas Lukscolor, Votorantim
Cimentos e a Deca
68
, entre outras marcas do setor como Tigre e Portobello. A loja
de Maria do Carmo era ambientada e montada exatamente da mesma forma que
vemos a exposição dos produtos em lojas físicas e reais.
Algumas vezes, os personagens aplicavam a técnica de merchandising de
menção ao texto, fazendo referência ao produto e suas qualidades, forma de
utilização e a garantia que dão do produto. A Natura e o Itaú também foram marcas
exibidas na trama, que parecem estar sempre presentes na novela das oito. E,
68
A Deca não realizava anúncios televisivos há mais de 10 anos.
Fig. 7
Figurino de
Claudia Abreu em
‘Celebridades’.
Fonte: Divulgação/
TV Globo
85
algumas vezes, ocorreram ações de merchandising apenas com estímulo visual,
como aconteceu com os Postos Alê, também inserido no núcleo da Vila São Miguel.
As ações de merchandising pagaram metade dos 50 milhões de reais de custo da
novela Senhora do Destino (VALLADARES, 2005).
Outro produto lançado na trama, por intermédio do merchandising, foi o livro
de receitas de Dona Clementina, personagem da trama ‘Senhora do Destino’, que foi
licenciado pela Globo Marcas em parceria com a Maggi. No site da Globo Marcas,
podemos observar um texto que demonstra, exatamente, a exploração da ficção
para venda do produto dentro e fora da telinha.
A cozinha de D. Clementina é uma homenagem à boa alimentação, pois
refeições saudáveis e nutritivas são fundamentais para o bem-estar e o
equilíbrio de toda a família.
Os pratos elaborados por D. Clementina com os produtos MAGGI revelam
uma mistura muito saborosa de carinho, atenção e sabedoria – gestos
demonstrados em cada receita, em cada ingrediente e nas dicas
apresentadas -, porque MAGGI e D. Clementina sabem que os pratos o
muito mais que uma simples refeição, são momentos de prazer para
compartilhar com as pessoas.
Na verdade, esta fictícia personagem da novela Senhora do Destino
representa milhares de brasileiras que, como ela, preparam desde as
refeições simples até os quitutes sofisticados para os dias de festa, fazendo
a comida que alimenta a vida.
A cozinha de D. Clementina reúne deliciosas receitas de salgados e doces
da nossa culinária algumas exibidas ao longo da novela -, para que você
também passe de ficção à realidade e possa saboreá-las. E o mais
importante: todas as receitas foram elaboradas com produtos MAGGI e
Nestlé, testadas e aprovadas pela Cozinha do Serviço Nestlé ao
Consumidor. Bom apetite! (GLOBO MARCAS, 2005, p. 1)
Fica evidente que o merchandising inserido nessa telenovela tem um ciclo de
maior interesse para e emissora e para o anunciante. Eles fazem o licenciamento da
marca e, ao mesmo tempo, o merchandising dentro da trama, para comercializar o
produto que foi criado. É um duplo comércio que favorece em todos os aspectos os
produtos da Rede Globo e, em segunda instância, os do anunciante.
A novela ‘América’ (2005), tinha como enfoque principal mostrar a vida no
campo, de forma mais contemporânea. Era uma trama rodeada de peões de
boiadeiro que realizavam montarias em Rodeios do país inteiro. Uma das ações com
maior força, até em função dos trajes e da moda country lançada na novela, teve
ligação com licenciamento de marca e merchandising.
86
A Calçados Azaléia desenvolveu um modelo exclusivo de bota estilo country,
denominada América, tendo o licenciamento da marca para lançar o modelo.
Posteriormente, foram realizadas ações de merchandising do produto, inseridas no
folhetim, onde as cowgirls utilizavam a bota que estava à venda nas lojas do país
inteiro. Então, o consumidor via o produto da ficção nas vitrines da sua vida real.
Exatamente o mesmo produto, proporcionando a sensação de ‘eu tenho a mesma
bota que a atriz tem’. Além das botas, os modelos de calças jeans justas, as
camisas xadrez e os cintos com fivelas exageradas também fizeram moda nas
vitrines de lojas do país inteiro.
Outros modismos e forma de comércio foram desenvolvidos, como a dança,
músicas country e sertaneja, bem como bares e restaurantes tematizados com o
ambiente western. Até o parque de diversões Hopi-Hari, instalado em Vinhedo no
interior de o Paulo, ganhou um espaço chamado de ‘Vila América’, que sofreu
algumas readequações para se tornar um ambiente temático, que fez parte de
algumas cenas da novela, ficando montado durante o período de exibição da trama.
Cotas de patrocínio foram comercializadas para este ambiente ‘real’ do tema tratado
na novela. Isso é o que podemos, propriamente, chamar de Tie-In, a ampliação do
uso da marca com derivação em outros produtos, como CD de trilhas sonoras, por
exemplo.
Em ‘Páginas da Vida’ (2006-07), a rede de loja de departamentos Renner
realiza novamente ações de merchandising na trama global das oito. No folhetim
antecessor de Páginas da Vida’, a Belíssima’, que veremos, detalhadamente, no
próximo capítulo, também contou com a participação da marca Renner, sendo
vendedora exclusiva da marca de lingerie lançada na trama.
Em ‘Páginas da Vida (2006-07) não foi diferente a atuação da marca. A
Renner foi cenário das compras de Natal realizada por três personagens, com o
objetivo de destacar a diversidade de estilos e itens disponíveis na loja. As
personagens vão à loja e constatam que podem comprar os presentes de Natal para
toda a família.
Na cena, Marina (Marjorie Estiano), Camila (Luciele di Camargo) e Nina
(Manoela do Monte) vão à unidade da Renner no Barrashopping. Animadas, as
garotas decidem antecipar as compras de Natal. A loja se apresenta decorada com
motivos natalinos e os materiais de PDV fazem referência à promoção "Natal
87
Inesquecível", que sorteará 60 carros e concederá prazo especial de 60 dias para o
primeiro pagamento para os clientes do Cartão Renner.
Além de promover a marca e os produtos, a loja aparece ambientada no
mundo ficcional, exatamente como o consumidor a encontra na vida real. E,
também, realizam a publicidade (através do merchandising) de uma promoção que
está ocorrendo na loja, com o objetivo de chamar os consumidores a ir comprar lá.
Neste caso, acontece, literalmente, uma publicidade puramente comercial. Trata-se
de oferecer, de forma descarada, ao consumidor uma oferta de varejo e incentivá-lo
à compra, parecendo mais uma propaganda convencional do break- comercial.
Em ‘Páginas da Vida’ (2006-07) ainda teve a presença da anunciante Natura,
que, além de exibir seus produtos no formato de merchandising convencional (as
atrizes aplicando o produto etc.), contou com uma ação especial de um projeto que
foi lançado na novela, e que fazia parte da trama de uma fotógrafa, denominado de
‘Mulher Bonita de Verdade’. Aparecem várias cenas que a fotógrafa está
selecionando materiais ou os apresentando e cita o nome da Natura, falando das
qualidades dos produtos que a empresa fabrica etc.
A fotógrafa Isabel (representada por Viviane Pasmanter), foi contratada pela
Natura para conduzir um projeto e ir à busca de mulheres em paz consigo mesmas,
que contribuíssem para melhorar a vida das pessoas à sua volta, que
transformassem a comunidade onde vivem e têm experiências de quem ajuda a
construir um mundo melhor. Enfim, mulheres que fazem a diferença. Esse é um
projeto que a Natura sustenta entre suas estratégias de marketing atuais e foi
lançado na novela, por intermédio de um personagem.
Esse é um processo interessante para o consumidor. Imaginemos a situação
de que as pessoas vêem na telenovela um projeto sendo desenvolvido e executado,
dentro de um universo ficcional e, de repente, a situação ocorre na vida real das
pessoas. Quando vão consumir um produto da Natura, as revendedoras apresentam
os projetos e as mesmas peças publicitárias que, supostamente, foram
desenvolvidas na trama. O processo é desenvolvido na trama, mas faz parte da vida
real do consumidor.
Em ‘Paraíso Tropical’ (2007), uma das ações de merchandising mais
comentadas foi o pré-lançamento da Citroën, do seu carro C4 Pallas, que,
posteriormente, teve como protagonista do filme publicitário, veiculado nos breaks-
88
comerciais o ator Kiefer Sutherland, o Jack Bauer do seriado 24 Horas, exibido com
grande sucesso no Brasil.
E, a outra foi da empresa Garnier Nutrisse, para tintas de cabelo, que contou
com a participação especial da cantora Ivete Sangalo, simulando sua participação
da novela como se estivesse fazendo uma coletiva de imprensa, antes de um show
e, no decorrer da história, comenta que retocou a cor de seus cabelos. Além de
proporcionar um caráter real por não ser considerada uma personagem ficcional,
Ivete Sangalo foi representando ela mesma. Como analisado anteriormente, isso
endossa a credibilidade da ação, do produto telenovela e aumenta a audiência pela
popularidade da cantora em questão.
As Lojas Renner marcaram presença, pela terceira vez consecutiva na novela
das oito, repetindo a estratégia feita nas antecessoras Belíssima (2005-06) e
‘Páginas da Vida’ (2006-07), estando presente novamente em ‘Paraíso Tropical’
(2007).
Há, também, que se salientar, que as ações de merchandising têm um
potencial ampliado em relação ao que vemos na tela da TV. As telenovelas são
exportadas, vendidas a custos altos para o mundo inteiro e, obviamente, a Rede
Globo exporta o merchandising para empresas que tem interesse em mercados
internacionais, como, por exemplo, Natura, Avon e Nestlé, que são marcas
presentes em outros países. No momento em que a trama vai ao ar, essas marcas
concordaram, comercialmente, em serem expostas.
Analisando o estudo realizado sobre ações de merchandising de diversas
épocas, podemos identificar a prevalência das indústrias de bens de consumo,
bancos, automobilístico, higiene e beleza, como os setores do mercado mais
presentes em ações de merchandising. Talvez seja pela proximidade com as
necessidades e razões vividas no cotidiano do telespectador. Apesar de algumas
ações de merchandising ser construídas de formas exageradas, a prevalência é de
uma comunicação oposta, despercebida, híbrida e onírica ao discurso exacerbado
do consumo: compre agora, é só hoje!, dos breaks-comerciais.
89
3.2.2 Ações de Merchandising Social nas telenovelas da Rede Globo
Segundo Ladeira (2008), os autores Manoel Carlos e Glória Perez são
absolutos em tratar de temas sociais em suas tramas, principalmente as que se
passam no horário nobre, novela das oito
69
. Mas, não necessariamente, as tramas
que apresentaremos aqui serão exclusivamente desses autores, podendo abranger
outras obras da emissora. Não iremos, também aqui, detalhar as ações ocorridas em
ordem cronológica, tampouco temos condições de apresentar de forma detalhada.
Reunimos alguns dados oferecidos em entrevista pessoal com Márcia Ladeira
e, também, estudos realizados por outros estudiosos a respeito do tema, como
Marcio Schiavo, Maria Immacolata Vassallo de Lopes da ECA-USP, bem como o
próprio site de Memórias da Rede Globo.
Muitos diferentes temas sociais foram abordados em ações de
merchandising social nas telenovelas: relações inter-raciais, AIDS, transplante de
órgãos, gravidez na adolescência, respeito ao idoso, crianças desaparecidas,
exploração do trabalho infantil, reforma agrária, câncer, vícios de drogas e bebidas
etc. Todos os temas tratados fazem parte da vida cotidiana de milhões de brasileiros
e, são apresentados, às vezes, com muita crítica negativa nas tramas da Rede
Globo, às vezes, pela forma como é exposto ou pelo discurso construído envolto ao
tema.
Com freqüência, as telenovelas são criticadas por abusar do erotismo e
estimular a violência, como mau exemplo para jovens, adolescentes e crianças. Na
contramão desse discurso sedutor, não podemos deixar de considerar o apelo e a
inclusão nas tramas de mensagens que estimulam a sociedade a se posicionar de
forma diferente frente a problemas sociais e culturais que vivemos na vida pós-
moderna e dentro do cotidiano de cada um. Na telenovela, o espectador assiste à
vida privada dos outros, inclusive, distantes, de outras classes sociais, de outras
cidades, de outro tempo, tendo acesso a algumas informações e situações que não
lhe seriam possível sem a informação passada pelo folhetim.
69
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
90
A Rede Globo conta com o apoio da empresa de marketing social de Márcio
Schiavo, a Comunicarte, que presta consultoria à emissora com o intuito de
promover cada vez mais os temas sociais inseridos nas tramas. Em entrevista ao
Jornal ‘O Estado de S. Paulo’, em 06 de Abril de 2006, Schiavo diz que o
merchandising social começou no México, anos atrás, mas o Brasil é um dos poucos
países que usa suas telenovelas também como instrumento educador e com
sucesso”. Desde 1984, ele se especializa nesse serviço, mas declara que, em 1988,
foram eles que deram os responsáveis por realizar os primeiros projetos.
Schiavo ressalta e identifica como uma das primeiras ações de merchandising
social de destaque na TV, o tema da dependência de álcool, retratado na Fig. de
Renata Sorrah, representando a famosa personagem Heleninha Roitman, em Vale
Tudo, exibida em 1988 até 1989. No final da trama, ela integra-se aos Alcoólicos
Anônimos, em cena esclarecedora sobre o processo de recuperação dos
dependentes e de suas dificuldades (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Schiavo, em seu artigo Merchandising Social: As Telenovelas e a Construção
da Cidadania’, traz um panorama de ações de merchandising social que foram
clássicas e marcas na história da telenovela brasileira, seja em função da
repercussão que ocasionou com os críticos ou pelo resultado apresentado em
função da movimentação que a sociedade fez. Apresentaremos abaixo as ações
descritas por Schiavo, ocorridas em algumas tramas de 1995 e 2000:
A prevenção dos cânceres de mama e ginecológico Por intermédio da
personagem Martha (História de Amor, de Manoel Carlos, 1995), foi
abordado o drama vivido por mulheres que sofrem de câncer de mama: a
descoberta de um caroço no seio; o diagnóstico positivo; o tratamento
inicial; a cirurgia para a retirada do tumor; o processo de recuperação sica
e psicológica; a necessidade de apoio da família e dos amigos. O autor deu
ênfase à importância do auto-exame das mamas e da freqüência regular ao
médico, como medidas preventivas.
Os direitos das pessoas com necessidades especiais Essa questão foi
protagonizada pelo personagem Assunção (História de Amor, de Manoel
Carlos, 1995), tendo discutido diversos problemas vivenciados no dia-a-dia
pelas pessoas com deficiência física: obstáculos arquitetônicos e urbanos;
atendimento à saúde deficiente; os preconceitos de que são vítimas; as
dificuldades para estudar, profissionalizar-se e trabalhar. Assunção, que
comandava um programa de esportes na televisão, conseguiu entrevistar
até o então Ministro Extraordinário dos Desportos, Edson Arantes do
Nascimento (o nosso mundialmente conhecido Pelé), que falou sobre esses
problemas e suas possíveis soluções, ressaltando a necessidade dos
poderes constituídos adotarem medidas que propiciem às pessoas com
deficiência o exercício pleno de seus direitos fundamentais.
O problema das crianças desaparecidas Essa grave questão social foi
magistralmente abordada em Explode Coração, de Glória Perez (1996),
91
tendo-se transformado numa grande campanha nacional pelo reencontro
dessas crianças com suas famílias. A abordagem foi tão bem conduzida
que mereceu uma ampla reportagem de capa na revista TIME (02/06/97),
que destacou: ao fim da novela, mais de 75 crianças haviam retornado ao
convívio de seus pais, como resultado da campanha”.
Exploração do trabalho infantil Com foco nos personagens Bisteca e Tico,
Meu Bem Querer (de Ricardo Linhares, 1998) denunciou o problema do
trabalho infantil no Brasil, por vezes, exercido em condições degradantes. O
autor apontou soluções simples e viáveis para o problema (como um
programa semelhante ao Bolsa-Escola, pelo qual as famílias recebiam uma
cesta básica mensalmente, para manter os filhos na escola estratégia
empregada, com êxito, por diversos municípios brasileiros). Nessas cenas
e/ou diálogos, o autor também transmitiu a importante mensagem de que,
por meio da educação, as crianças e adolescentes podem se
instrumentalizar melhor para a vida adulta, usufruindo de mais e melhores
oportunidades de profissionalização e trabalho, o que deverá criar as
condições para que possam superar o círculo vicioso da pobreza.
Em Pecado Capital, o romance entre Vitória e seu médico (Percival), que
era negro, criou várias oportunidades para que se tratasse a questão do
preconceito racial. Na trama, o casal teve de enfrentar o preconceito dos
familiares dela, que não queriam admitir de modo algum que Vitória se
relacionasse afetivamente com um negro. Por intermédio das muitas e
esclarecedoras conversas, ela conseguiu vencer as resistências de seus
familiares que, enfim, acabaram aceitando Percival.
Em Meu Bem Querer, abordou-se a iniciação sexual da mulher, tendo
como foco o namoro entre Lara e Patrício. Apesar da insistência dele, Lara
não se sentia pronta para iniciar a vida sexual, o que acabou provocando a
separação do casal. Lara reflete sobre o assunto e procura Ava, com quem
se aconselha a respeito da primeira relação sexual. Obtendo as
informações que desejava, ela tomou a decisão de procurar Patrício,
disposta a fazer sexo com ele. Consciente e precavido, ele usou camisinha
e preveniu a ocorrência de uma possível gravidez não-desejada.
Em Suave Veneno, tendo como foco a personagem Carlota, abordou-se a
responsabilidade social dos empresários nacionais. Convidada a trabalhar
na empresa Marmoreal, ela começou a gerenciar os projetos sociais e
filantrópicos da empresa. A sua idéia de ajudar um orfanato agradou a
todos, contribuiu para melhorar a imagem da Marmoreal junto à imprensa e
serviu como exemplo para outras empresas (SCHIAVO, 2002, p. 4-6).
A Rede Globo e os autores se orgulham por realizar ações de merchandising,
que repercutem na vida real dos telespectadores. E, a cada nova trama escrita, ela
coleciona mais ações para o seu imenso portfólio. Para as novelas mais recentes,
como as apresentadas nos exemplos de ações comerciais, relataremos as ações
sociais inseridas na trama.
‘Laços de Família’ (2000-01), apresentou um fato marcante na história da
teledramaturgia brasileira. A cena e declaração de uma doença temida e omitida
pelas pessoas por vergonha, por precariedade do sistema público e pela
necessidade de apoio psicológico que um paciente de leucemia precisa ter de sua
família e amigos. A cena foi chocante e marcante, comentada em muitos jornais e
92
revistas do país e aguardada por milhões de brasileiros, que foram levados à
comoção e a resultados positivos da ação.
Devido à novela Laços de família, a Rede Globo ganhou o mais importante
prêmio de responsabilidade social do mundo: o BitC Awards for Excellence
2001, na categoria Global Leadership Award. A emissora concorreu com
inserções das campanhas sociais que realizou durante a programação do
ano 2000. O destaque era o chamado “Efeito Camila” o aumento
significativo no número de doadores de sangue, órgãos e, sobretudo, de
medula óssea, movidos pelo drama da personagem de Carolina Dieckmann.
As imagens de Camila tendo os cabelos tosados como conseqüência do
tratamento da leucemia foram usadas mais tarde em uma campanha da
Rede Globo pela doação de medula. Nas semanas que se seguiram ao
capítulo final de Laços de família, o Instituto Nacional do Câncer registrou
149 novos cadastramentos. Antes, o índice era de dez por mês (MEMÓRIA
GLOBO, 2008).
Em ‘Mulheres Apaixonadas’ (2003) trata de temas com preconceito social e
virgindade, focada na adolescente prestes a ter sua primeira relação sexual. Teve,
também, grande polêmica em uma das tramas da novela, o maltrato aos idosos e a
violência feminina, bem como a homossexualidade com o lesbianismo de suas
personagens adolescentes. Segundo o site Memórias da Globo, eles apontam o
merchandising social em ‘Mulheres Apaixonadas da seguinte forma:
O merchandising social esteve presente na novela através de diferentes
temas. Um dos destaques foi a abordagem do tratamento dado às pessoas
da terceira idade, através dos personagens Flora e Leopoldo, vítimas das
hostilidades da neta Dóris. A ação social favoreceu a aprovação do Estatuto
do Idoso no Senado Federal, que reconheceu a importância da TV Globo no
debate.
Outro tema relevante foi a campanha pelo desarmamento desencadeada
na trama pela morte de Fernanda, vítima de bala perdida. Com o apoio da
TV Globo e do autor Manoel Carlos, o movimento Viva Rio conseguiu reunir
cerca de 40 mil pessoas na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, na
manifestação Brasil sem Armas”, para pressionar a aprovação do Estatuto
do Desarmamento no Congresso Nacional. As cenas da manifestação, da
qual participaram autoridades federais e estaduais, vítimas da violência,
anônimos e os atores de Mulheres apaixonadas, foram exibidas na novela
ao som do Hino Nacional. Tony Ramos encabeçou a passeata em uma
cadeira de rodas, que seu personagem, Téo, estava em fase de
recuperação do tiro que levou no mesmo episódio que matou Fernanda. A
morte da personagem suscitou, ainda, a discussão sobre doação de órgãos,
quando Salete pede à avó para autorizar a doação dos órgãos da mãe.
[...] A violência contra a mulher enfocada através da personagem Raquel,
freqüentemente espancada pelo marido Marcos, foi apontada como o tema
mais educativo abordado pela novela, em uma enquete realizada pelo
Instituto Qualibest. Com a denúncia feita pela personagem à Delegacia
Especial de Atendimento à Mulher (Deam), a delegacia do centro do Rio de
93
Janeiro registrou um aumento de mais de 40% nos registros de casos de
violência doméstica sofrido por mulheres.
[...] O lesbianismo ganhou uma abordagem delicada através da relação
entre as adolescentes Clara e Rafaela, que enfrentaram a resistência dos
pais e assumiram seu amor. Pesquisas feitas à época apontaram que o
público não era contrário à relação homossexual das duas meninas, porém
não aceitaria uma cena de beijo. O autor Manoel Carlos encontrou uma
solução criativa ao mostrar, no último capítulo, as personagens trocando um
leve beijo na montagem do clássico Romeu e Julieta, encenada na escola,
em que as duas faziam os papéis principais. A abordagem didática do tema
foi considerada um avanço. Em várias cenas, as personagens apareciam
discutindo o homossexualismo feminino e o preconceito de que eram
vítimas.
A dependência afetiva exagerada das mulheres em relação a seus
companheiros também teve grande repercussão. Na história, Heloísa passa
a freqüentar as reuniões do grupo de apoio MADA (Mulheres que Amam
Demais Anônimas), divulgando o trabalho da associação, especializada em
tratar desses casos (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Em ‘Celebridades’ (2003-04), o principal tema abordado como merchandising
social, foi o alcoolismo, que promoveu o grupo de Alcoólicos Anônimos de forma
positiva, mostrando o trabalho realizado na instituição e de que forma as pessoas
podem buscar assistência.
O alcoolismo do personagem Cristiano Reis (Alexandre Borges) foi o tema
escolhido pelo autor para a realização do merchandising social na novela.
Cristiano (Alexandre Borges) é um jornalista de grande sucesso, versado
em cultura brasileira e MPB, viúvo, que sua carreira ir por água abaixo
após se entregar à bebida por não suportar a morte da mulher. Ele
consegue se reerguer com a comovente ajuda do filho Zeca (Brunno
Abrahão) e o amor discreto de sua vizinha Noêmia (Julia Lemmertz), passa
a freqüentar um grupo de alcoólatras anônimos e acaba virando diretor da
revista Contemporânea, outra publicação do grupo Vasconcelos (MEMÓRIA
GLOBO, 2008).
Em ‘Senhora do Destino’ (2004-05), de Aguinaldo Silva, trata acerca de
muitos problemas vividos nas camadas mais necessitadas da sociedade, como por
exemplo, a desinformação e falta de instrução para prevenir gravidez na
adolescência, e traz à ficção a alusão de um fato ocorrido na vida real, o “caso
Pedrinho”, que foi seqüestrado recém-nascido e a família sofreu o drama por mais
de 15 anos em busca do menino, além de trazer, novamente, à tona o tema de
violência feminina e o sofrimento dos idosos com o sistema público do INSS.
A trama principal da novela remeteu o público ao “caso Pedrinho”, como
ficou conhecido o caso de Pedro Rosalino Braule Pinto, que foi seqüestrado
94
em 1986 pela empresária Vilma Martins Costa. O caso mexeu com a
opinião pública, e a novela reavivou o fato.
[...] A comunidade de Pedra Lascada, localizada em Vila São Miguel, é
cenário para a história de Rita de Cássia (Adriana Lessa). Mãe de Lady
Daiane (Jéssica Sodré) e Maikel Jeckson (Agles Stibe), Rita é vítima de
violência doméstica e dependência química. Ela apanha do marido, o
marginal e mau-caráter Cigano que está preso no início da trama –, e
trava uma luta contra as drogas. Sua vida fica ainda mais tumultuada
quando a filha, de apenas 15 anos, engravida de Shao Lin (Leonardo
Miggiorin).
[...] Daiane, com o filho nos braços, engravida novamente, desta vez de
Bruno, o filho de Reginaldo, mas perde o bebê. [...] Daiane, por sua vez,
começa a trabalhar na educação de jovens meninas, prevenindo-as das
dificuldades de uma gravidez precoce.
Um outro tema que causou repercussão foi o drama vivido por Seu Jacques
(Flávio Migliaccio). Ele se transformou em uma espécie de representante
dos aposentados que sofrem com os atrasos do INSS. Indignado, vive
repetindo sua história por onde passa: ex-vendedor, teve a aposentadoria
calculada de forma errada e seu pedido de revisão tramita oito anos
(MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Apesar de ‘Belíssima’ (2005-06) ter como cenário principal o glamour da
moda, do luxo e da ostentação da beleza, o autor Silvio de Abreu arranjou espaço
para tratar de temas sociais. Schiavo constrói um panorama das ações que foram
realizadas na telenovela e os números são relativamente altos. A trama:
(...) apresentou um total de 181 cenas socieducativas, sendo a maioria
delas relacionadas a temas de sexualidade (67 ações) e as questões
sociais diversas, que teve 54 ões. O grupo temático Saúde Sexual e
Reprodutiva também foi, relativamente, bem veiculado, tendo-se computado
48 ações durante o período de exibição da novela. Ao contrário, o Abuso de
Drogas e Questões Sociais tiveram uma veiculação bastante baixa. No
primeiro caso foram 06 cenas todas abordando o consumo excessivo e
descontrolado ao álcool e suas conseqüências, levando uma personagem a
perder o bebê que esperava em função do vício. [...] Quanto às questões de
gênero, também se computaram 06 ações socieducativas, que abordaram a
discriminação de mulheres no ambiente de trabalho, tanto no que diz
respeito à remuneração quanto às possibilidades de carreira (SCHIAVO,
2007, p. 11).
Além disso, o autor abordou temas inovadores e diferenciados ao tratar do
tema do tráfico de mulheres brancas para o exterior, com o objetivo de abuso sexual
e a prostituição masculina. A personagem Taís (Maria Flor), aceita a oferta para
trabalhar como bailarina na Grécia e acaba vítima de um grupo de traficantes de
mulheres. Depois que chega à Grécia, os agenciadores confiscam o passaporte da
jovem e a transformam em escrava e prisioneira no país, mas consegue se livrar da
emboscada com a ajuda de Nikos (Tony Ramos).
95
‘Páginas da Vida’ (2006-07), por si só, já é uma trama contada com um
melodrama mais voltado a sofrimentos, a declaração de histórias reais de vida, a
problemáticas de relacionamentos, mas, um dos temais sociais mais abordados na
trama, com grande repercussão, foi a questão do tabu e mito da doença síndrome
de down.
Em nossa percepção, a exploração do tema foi feita de forma excepcional,
pois não foi uma ão isolada ou com um período pré-determinado para acontecer,
foi um tema tratado em um dos núcleos da novela e mostrou, desde o preconceito
da gestação de uma criança com ndrome de down, sua rejeição pela família,
estranheza e piedade de forma errônea pela sociedade e a capacidade de
desenvolvimento que eles têm indo ao limite de sua capacidade de amar, de se
relacionar com as pessoas, de aprender e de viver em sociedade de forma natural.
Paralela a esta trama, o autor aborda o tema da adoção de crianças. Helena
(Regina Duarte), após perder sua filha Clara de meningite e quase perder o gosto
pela vida, ela decide adotar uma criança e adota o Salvador (Jorge de Sá), um
menino negro. Após o caso de rejeição pela avó, da criança recém-nascida com
síndrome de down, que foi parida pela própria Helena, ela resolve adotar a menina e
coloca o nome de Clara, a pedido da mãe, que morre no parto após sofrer um
acidente, e, coincidentemente, é o nome de sua filha falecida.
Enfim, uma trama cheia de histórias de vida. Um dos diferenciais desta trama
é que o autor abre espaço para declarações de pessoas ‘reais’ de suas histórias de
vida ao término da cada capítulo. São histórias de luta, comoventes, de amor
incondicional, de felicidade, enfim, são histórias reais que abordam os temas da
ficção contados por pessoas que vivem ‘as mesmas histórias’ contadas na novela.
Sabemos que a novela busca a maior aproximação possível com o real, o
proibido, o “nunca dito”, o impronunciável, os fatos da vida, os medos e sentimentos
mais profundos dos telespectadores, como forma de identificação e projeção, como
forma de se aproximar e trazer à tona temas sociais ou produtos comerciais dos
mais variados tipos. E, quanto às imagens, ousa exibindo os acontecimentos dos
fatos ficcionais – transformados em reais –, muitas vezes, desconhecidos para
muitos, fazendo os telespectadores se esquecerem de que a telenovela é uma
criação de fantasia ficcional. Tudo isso está, também, intimamente ligado ao poder
96
da personificação do personagem, da empatia, e o poder de relação dele com o
telespectador.
Como afirma Morin:
Os olimpianos, por meio de sua dupla natureza, divina e humana, efetuam a
circulação permanente entre o mundo da projeção e o mundo da
identificação. Concentram nessa dupla natureza um complexo virulento de
projeção-identificação. Eles realizam os fantasmas que os mortais não
podem realizar, mas chamam os mortais para realizar o imaginário. A esse
título os olimpianos são os condensadores energéticos da cultura de massa.
[...] Encarnam os mitos de auto-realização da vida privada. De fato, os
olimpianos, e sobretudo as estrelas, que se beneficiam da eficácia do
espetáculo cinematográfico, isto é, do realismo identificador nos múltiplos
gestos e atitudes da vida filmada, são os grandes modelos que trazem a
cultura de massa e, sem dúvida, tendem a destronar os antigos modelos
(pais, educadores, heróis nacionais). (MORIN, 1997, p. 107).
Alguns modismos perseguidos nas telenovelas são bastante insistentes.
Passam de uma para outra. Não entendemos que a opinião pública seja passiva e
receptora, facilmente, de qualquer moda. No entanto, fechar os olhos para a
influência dos folhetins eletrônicos representa omissão ou cumplicidade (RAMOS,
1987, p. 107).
Desta maneira, não podemos afirmar que tudo é construído na TV é negativo.
Poderia, sim, ser utilizada sempre, sem exceção, com o aspecto social ideológico
para realizar movimentos positivos em prol, efetivamente, do crescimento da
humanidade. Mas estamos há tempos na era do capitalismo. Como as avós
diziam: ‘amor não paga as contas’ e, no fundo, a relação comercial da TV é
exatamente esta, o centro do capitalismo, mas, ainda, com alguma coisa de útil para
a sociedade.
E, após as análises que realizamos, fica simples afirmar que o telespectador
não está ali, diante da TV, sem entender o seu processo de co-participação na
trama. Mesmo que, de forma inconsciente e anestésica, ele sabe que participa do
processo de construção do ficcional, afinal de contas, ele mesmo faz parte disso.
97
4 FANTÁSTICA: A NOVELA ‘BELÍSSIMA
4.1 O CORPUS DE ESTUDO – NOVELA ‘BELÍSSIMA
70
.
De autoria de Silvio de Abreu, Belíssima’, exibida de 07 de novembro de
2005 a 08 de julho de 2006, no horário das 20 horas, teve 209 capítulos contando a
trama dos herdeiros da maior fábrica de lingeries da América Latina – a ‘Belíssima’.
A novela tem como cenário principal a cidade de São Paulo e retrata, no
âmbito ficcional, a vida de uma grande metrópole. Pessoas se movimentando o
tempo todo, etnias, credos e classes sociais diferentes. Dessa forma, a novela,
diante de todo o seu contexto, aborda o costume de diversos povos que encontram
na capital paulistana o lugar ideal para viver; o mundo da moda, que imprime
glamour às grandes cidades.
Outra empresa inserida na história é a agência de modelos Razzle-Dazzle,
cuja proprietária é a Rebeca (Carolina Ferraz), uma personagem linda, bem-
sucedida e muito ativa. Em sua agência, as modelos circulam atrás de novas
campanhas e Rebeca não pára, em busca de novos clientes.
Nesse contexto de envolvimento com moda, beleza e poder, Belíssima’ trata
da importância da imagem na sociedade atual regida pelas aparências e mostram
valores como a beleza e o sucesso.
Para facilitar a análise, dividimos a novela, basicamente, em três núcleos que
se interligam ao longo da trama: 1) no núcleo dos ricos e poderosos está a
protagonista Júlia Assumpção (Glória Pires) e sua avó Bia Falcão (Fernanda
Montenegro), o diretor da Belíssima Alberto (Alexandre Borges), e sua irmã mais
velha, Ornela (Vera Holtz); 2) no núcleo cômico e menos abastado, composto por
personagens de classe média e de várias etnias, são moradores de uma vila em
Campos Elísios, um bairro mais afastado do centro de São Paulo. A grega Katina
(Irene Ravache), dona-de-casa, mora com seus três filhos e netos; a sua casa vive
70
Este capítulo foi escrito baseado em capítulos assistidos e em materiais da Rede Globo como o
prospecto da novela, o Boletim de Informação para Publicitários (BIP) e o conteúdo do site oficial da
Rede Globo, http://belissima.globo.com/Novela/Belissima/0,,4988,00.html
98
lotada, sua dedicação sempre foi cuidar da família, é casada com o turco Murat
(Lima Duarte). Participa, ainda, desse núcleo, a espanhola Tosca (Jussara Freire), a
fofoqueira do bairro, dona de um açougue. Tem um filho adulto com problema de
gagueira e o protege do mundo, como se as coisas mais terríveis pudessem
acontecer com ele; e o borracheiro Pascoal (Reynaldo Gianecchini), no papel de um
galã rude e ‘xucro’ no núcleo da moda, é composto, basicamente, pela personagem
Rebeca Cavalcanti (Carolina Ferraz), dona da agência de modelos Razzle-Dazzle; já
foi uma top model internacional de muito sucesso e os seus fiéis escudeiros
Lourenço (Lui Mendes) e Vlad (Maurício Moraes), os bookers da agência, não
cansam de procurar novas modelos para fotografar.
A fábrica de lingeries Belíssima foi deixada de herança para a família
Assumpção. A história tem início quando Bia Falcão, avó dos herdeiros da fábrica,
Júlia e Pedro Assumpção (Henri Castelli), começa a manipular pessoas para tirar
dos dois a herança deixada pela mãe.
A manipulação se inicia com o casamento indesejado de Pedro, neto da
poderosa Bia Falcão, e Vitória (Cláudia Abreu), na Grécia. Bia Falcão, contra o
casamento de seu neto com Vitória, uma ex-menina de rua, tenta separá-los a
qualquer custo; audaciosa e amarga com a vida, ela é capaz de tudo para alcançar
os seus objetivos. Talvez, até mesmo, de assassinar o próprio neto.
Na Grécia, Pedro e Vitória moram com a filha Sabina (Marina Ruy Barbosa) e
o irmão de Vitória, Tadeu (Thiago Martins). Vive com eles um importante
personagem da trama, Nikos Petrarkis (Tony Ramos), padrinho de Sabina, que se
apaixona por Júlia, ao conhecê-la no dia do casamento dos patrões e compadres.
Os dois se divertem juntos, mas Júlia tem dificuldades de se entregar à
relacionamentos, em função da avó sempre julgar e interferir neles. Após a festança,
acabam passando a noite juntos, mas, no dia seguinte, Júlia se arrepende e cada
um segue seu caminho.
Júlia Assumpção, irmã mais velha de Pedro e neta de Bia, também sofre com
as maldades da avó. Júlia é proprietária e administradora da Belíssima’,
reconhecida e luxuosa fábrica paulista de roupas íntimas que fora de sua mãe, Stella
Assunção, uma mulher linda e talentosa, que morreu precocemente em um acidente
de avião. Stella deixou uma carreira promissora pela frente e dois filhos pequenos,
Júlia e Pedro, foram criados pela avó materna. Além de herdeira, Júlia administra as
99
Fig.
8
lia Assumpção (Glória Pires)
Fonte: Divulgação/TV Globo
empresas do Grupo Assunção, que, além da Belíssima’, inclui a moderna academia
de ginástica Physical. Muito discreta e
reservada, é muito cobrada pela avó, por não
ser tão bonita, enérgica e eficiente como sua
mãe. Júlia, protagonista da trama, sempre
soube que sua avó rejeitava e criticava a ela
e ao irmão, mas sua índole benevolente,
serena e paciente, sempre procurou entender
o jeito rude da avó como uma defesa ao
sofrimento de ter perdido a filha tão cedo,
mesmo a avó a culpando e julgando pela morte dos pais. Oprimida pela avó, Júlia
conta com a amizade de seu tio Gigi (Pedro Paulo Rangel), que sempre está a seu
lado contra as maldades de Bia. Júlia era a construção da imagem de uma mulher
bem sucedida, bonita, trabalhadora e honesta.
A modificação e reviravolta na trama acontecem com mais uma tragédia.
Pedro é misteriosamente assassinado na Grécia. Vitória e a família, sem alternativa
para se sustentarem, voltam para o Brasil. Vitória e Júlia sempre foram amigas,
muito ao contrário do sentimento que a avó Bia Falcão sustenta por Vitória, o rancor
e preconceito o tão exacerbados, que Bia a incrimina como autora do assassinato
do neto.
Muitas histórias de amor giram em torno da trama. Cemil (Leopoldo Pacheco),
filho de Katina (Irene Ravache) e Nikos (Tony Ramos). Este último trabalha na
fábrica Belíssima e esconde um amor platônico por Júlia (Glória Pires). Apesar de
Katina (Irene Ravache) ser casada com Murat (Lima Duarte), seu filho Cemil
(Leopoldo Pacheco) é filho dela com Nikos. Esse é um dos segredos velados da
história.
Outra história de amor tratada na trama é, inacreditavelmente, de Júlia,
quando conhece André (Marcello Antony), por quem se apaixona cegamente. Bonito
e muito sedutor, André consegue um emprego na Belíssimaatravés de Cemil e se
aproxima de Júlia, deixando-a inteiramente encantada.
Apaixonada, Júlia sente-se forte e segura e, pela primeira vez, enfrenta sua
avó, que tenta atrapalhar a felicidade da neta mais uma vez. Júlia e André se casam,
e ela se torna uma nova mulher: mais bonita, mais segura e mais feliz. O que ela
100
não podia imaginar é que esse homem tão maravilhoso seria capaz de lhe trazer
tanta decepção, manipulado ao acaso do poder, do dinheiro e da ganância.
(MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Enquanto isso, de volta ao Brasil, Vitória enfrenta as perseguições de Bia
Falcão, a quem tem ódio e horror. A avó quer tomar a guarda da bisneta Sabina
(Marina Barbosa), para impedir que Vitória receba parte da herança que era de
Pedro, seu neto. Coração de pedra, Bia sustenta uma única paixão na vida, sua
bisneta, que tenta o tempo separá-la da mãe com intrigas emocionais.
Inescrupulosa e mau caráter, Bia Falcão conta com o auxílio do trabalho sujo
do advogado Medeiros (Ítalo Rossi), com quem faz tramóias ao longo da novela,
contra as pessoas que julga atrapalharem seu caminho, como a própria neta Júlia e
Vitória. Com a interferência de Bia e do
advogado Medeiros, Vitória é presa, por
pouco tempo, e acusada de matar o
próprio marido.
Vitória é uma mulher alegre, bonita
e batalhadora. Apesar de ter perdido seu
grande amor, luta para levar uma vida
digna ao lado da filha e do irmão no Brasil
(MEMÓRIA GLOBO, 2008). Depois de
trabalhar na lanchonete da Physical,
empresa do Grupo Assumpção, emprego conseguido por sua amiga e cunhada
Júlia, ela decide investir e abre um restaurante grego em parceria com Nikos.
Bia Falcão morre em um acidente de carro, presenciado por Júlia, fazendo-a
relembrar do acidente dos pais, resgatando na memória de que ela não foi culpada
pelo acidente, acusação sempre feita por sua avó e um peso carregado em sua
consciência durante toda a vida. Fica-se a suspeita de Bia Falcão ter sido
assassinada e começa uma busca pelo criminoso.
Enquanto isso, André um golpe em Júlia e rouba toda sua fortuna,
assumindo a direção da Belíssimae da Physical e tornando-se o único proprietário
da bela e sofisticada casa onde ela morou durante anos. Para conseguir tal façanha,
ele mantém Júlia dopada e, por um período, internada em uma clínica de repouso,
em acordo com um médico amigo da família, alegando doenças psicológicas. Após
Fig.
9
Vitória Rocha (Cláudia Abreu)
Fonte: Divulgação/TV Globo
101
Júlia se recuperar da falsa e suposta crise psicológica, é tarde demais, é
arrebatada por uma dupla traição, amorosa e profissional.
Para aumentar ainda mais sua desilusão e sofrimento, Júlia descobre o
envolvimento de André com sua filha, Érica. Ela flagra os dois em sua própria cama
e, indignada, os expulsa do quarto, em uma das cenas marcantes da história.
Sozinha, traída, decepcionada e sem seu patrimônio, Júlia tem que encontrar forças
para recomeçar. Ela se muda para um flat com o tio, Gigi, e inicia um plano para
recuperar seus bens. Para isso, conta com a ajuda de Vitória, de Nikos, de Gigi e do
advogado, DeJúlian (Giácomo Pinotti), um profissional honesto a quem Bia não
consegue comprar (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Outro núcleo da novela onde acontecem fatos
imperdíveis e cômicos é o dos menos abastados, basicamente,
composto pela família do turco Murat (Lima Duarte), que vive
numa vila no bairro de Campos Elíseos. Casado com a grega
Katina (Irene Ravache), os dois o pais de Cemil, Safira
(Cláudia Raia) e Narciso (Vladimir Brichta). Na realidade, Cemil
é filho de Nikos, segredo que Katina esconde muitos anos.
Ela não tem coragem de revelar a verdade, temendo destruir a
harmonia de sua família. A única pessoa que sabe sobre a
paternidade de Cemil é a fofoqueira Tosca (Jussara Freire),
amiga de Katina, dona do açougue próximo à sua casa
(MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Em contrapartida, Murat também esconde um segredo. Algo misterioso sobre
Bia Falcão, com quem também teve um romance na juventude. No desenrolar da
trama, Nikos começa a trabalhar na fábrica da Belíssima para se aproximar de
Cemil e os dois passam a ser grandes amigos. Katina passa muitos momentos de
aflição e desespero por saber da proximidade dos dois e tenta evitar ao máximo
comentar o assunto. Apenas nos capítulos finais é que o segredo da paternidade de
Cemil é desvendado, juntamente com o segredo que Murat guarda de Bia Falcão.
Safira (Cláudia Raia), filha de Murat e Katina, tem uma rota engraçadíssima
na trama e faz bem o tipo de mulher popular da periferia, mas que quer ser grã-fina.
Casada cinco vezes primeiro com um italiano, depois com um português, mais
tarde com um judeu, logo após com o mesmo italiano, e, em seguida, com um
Fig.
10
Safira
(Cláudia Raia)
Fonte: Divulgação/
TV Globo
102
japonês –, têm três filhos pelos quais é apaixonada e extremamente dedicada. Cada
um dos seus três filhos, Giovana (Paola de Oliveira), Maria João (Bianca Comparato)
e Isaac (Vitor Morosini), é de um pai diferente.
Casada ainda com Takae (Carlos Takeshi), dono de um restaurante na vila,
se apaixona pelo borracheiro galã, o Pascoal (Reynaldo Gianecchini), mecânico da
oficina vizinha à sua casa, com quem tem cenas cômicas. Mas, como quer posar de
‘fina’, Safira tem vergonha de assumir o amor pelo mecânico, e os dois passam a se
encontrar sempre às escondidas.
Mas, galã que é, Pascoal tem outros casos na novela. Primeiro, um affair com
sua ex-namorada da adolescência, Vitória e, depois, com Rebeca (Carolina Ferraz),
quando ele vai fazer um trabalho de modelo na agência Razzle Dazzle. Mas, ainda
assim, não consegue se livrar do encanto e da paixão por Dona Safira, como o
próprio a trata. O casal conquistou a simpatia do público e foi responsável por
momentos hilários da história. Protagonistas de cenas sensuais e divertidas, Safira e
Pascoal foram um dos destaques da trama (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Fruto do casamento de Safira e Alberto, Giovanna (Paola Oliveira), filha mais
velha de Safira, como toda adolescente, sonha
em ser modelo. Pelo fato de seu pai trabalhar no
meio da indústria da moda, Giovanna pede
auxílio para que ele a ajude a encontrar um
emprego de modelo. Fingindo-se de sonso,
Alberto, machista nato, não aceita que a filha
tenha tal profissão. Mas determinada, Giovanna
corre atrás dos seus objetivos e é descoberta
pelo fotógrafo Lourenço (Lui Mendes), da
agência Rezzel Dazzel e, a partir daí, sua
profissão entra em ascensão.
Ela e seu primo Mateus (Cauã Reymond), filho de Cemil com uma mulher que
os abandonou, mantém uma paio platônica; chegam a se envolver, mas não
suportam a idéia de terem que enfrentar a família. O autor trata na história de
Mateus, o tema da prostituição masculina. O rapaz, que engana o pai e os avós,
finge ser estudioso, mas trabalha como garoto de programa. Uma de suas fiéis
Fig. 11
Bia Falcão (Fernanda
Montenegro)
Fonte: Divulgação/TV Globo
103
clientes é Ornela (Vera Holtz), uma mulher madura e experiente que acaba se
apaixonando pelo rapaz.
A trama tem outra reviravolta com o retorno da vilã irônica Bia Falcão. Depois
de um tempo, ela retorna para sua residência, ainda sob o comando do golpista
André, como se nada tivesse acontecido, afirmando que passara uma temporada de
férias. Todos e, principalmente, Júlia, ficam incrédulos com o retorno de Bia.
As investigações sobre os crimes e os mistérios ganham um reforço com a
chegada do delegado Gilberto (Marcos Palmeira), um profissional incorruptível que
se esforça para colocar Bia Falcão atrás das grades. Gilberto e Vitória se apaixonam
e iniciam um relacionamento, o que faz com que ele tenha, ainda, mais motivos para
proteger sua amada da perigosa Bia Falcão (MEMÓRIA GLOBO).
Alberto, mulherengo de primeira linha, tem enroscos amorosos durante toda a
trama. Apaixona-se por Mônica (Camila Pitanga), mulher que cuida do seu filho, de
uma gravidez com a empregada, após a sua morte. Como se não bastasse, para
Cemil ver sua paixão, Júlia, nos braços do seu ex-amigo André, Cemil enfrenta os
galanteios e o golpe preparado por Alberto para separar ele de Mônica. Para piorar a
situação, Alberto é o chefe de Cemil na fábrica Belíssima’, e Alberto, faz abuso de
poder e ameaça mandá-lo embora caso não se afaste de Mônica.
Incrédulo com a situação de que Mônica não acredita na sua fidelidade, Cemil
passa por longo período em sofrimento e em busca da comprovação de que tudo foi
armação de Alberto para separá-los. Nos capítulos finais da novela, a verdade é
revelada; Mônica se separa de Alberto e, finalmente, cai nos braços de Cemil, seu
grande amor (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
O autor trata, ainda, da homossexualidade na trama. Alberto, por sua fama
consagrada de mulherengo, se envolve com a Rebeca, dona da Razzle Dazzle.
Algumas vezes, quando fora acompanhar sua filha Giovanna em trabalhos
fotográficos, conheceu Rebeca e tiveram um caso, mas, o galã só a procurava
quando outras mulheres o dispensavam. Cansada de ser usada como objeto por
Alberto e dos fracassos de seus relacionamentos amorosos, Rebeca assume sua
homossexualidade e decide ficar com Karen (Mônica Torres), sua sócia na agência.
Outro tema social tratado pelo autor foi o preconceito racial. Tosca, a
fofoqueira da vila, não admite o namoro do seu filho Fladson (Marcelo Médici) com
Dagmar (Sheron Menezes), uma negra, de vida e família simples. Por um tempo,
104
Dagmar suporta as ofensas para não criar conflito com a sogra e o namorado. Mas,
em determinado momento, a situação fica insuportável para Dagmar e, a gota
d´água, foi quando Tosca insultou a Dagmar e seu pai. Dagmar chamou a polícia e a
acusou de preconceito e a megera foi presa, para a alegria de muitos que não
suportavam assistir a situação exagerada e os desaforos tolerados por Dagmar.
Entrelaçando as tramas, observamos que Cemil tem relação com o universo
grego, sendo filho de Nikos. Bia Falcão é desmascarada e revela-se que era ela que
estava no comando de tudo o que o André fez com Júlia. O segredo de Murat e Bia
Falcão é que Vitória é filha dos dois, e, mesmo assim, a megera renegou-a por mais
uma vez, como se não bastasse o abandono na infância. No final da novela, apesar
da trama ser resolvida, Bia Falcão vendo que os seus planos não estavam saindo
como combinado, ela decide fugir do Brasil. Para a sua fuga, ela seqüestra sua
bisneta, para desespero de Vitória.
Na fuga, André ajuda Vitória a ir atrás de Bia. Mais uma vez fracassada, Bia
no ato do desespero, com a neta como refém, atira contra Vitória. André, para provar
seu arrependimento para Júlia, coloca-se à frente de Vitória e leva o tiro, disparado
por Bia, por ela. Neste momento Sabina consegue fugir dos braços da bisavó e
correr em direção a mãe. André morre no hospital, mas, não antes de pedir perdão á
Júlia e declarar o seu amor.
Mesmo sem a bisneta, Bia não desiste de seu plano de fuga. Mata friamente
os seus cúmplices de armações, Medeiros e Yvete (Angelita Feijó). Em seguida, vai
para a sua casa em Campos do Jordão para se preparar para a fuga, mas, Gilberto
e uma grande equipe de policiais, conseguem chegar a tempo de encontrá-la e o
permitir a fuga. O segredo de que Vitória é sua filha é desvelado pela própria, mas, a
megera, sem nenhum sinal de emoção, despreza o fato. Ainda assim, Bia não se dá
por vencida. Em um golpe triunfal, alega estar passando mal, vai até o banheiro e
foge em seu jato particular com a maior naturalidade, praticamente acenando um
‘adeus’ aos policiais. Termina em Paris ao lado de Mateus, ex-gigolô de Ornela.
O desfecho da trama é um happy end, até mesmo para a vilã. Os fatos e
casos são solucionados. Vitória, apesar de ser renegada pela mãe Bia, é aceita com
grande alegria na casa de Murat, por ele e por toda a sua família. Cemil descobre a
verdadeira identidade de seu pai e, após ser promovido por Júlia Falcão a diretor de
105
Belíssima’, faz uma visita para Nikos na Grécia, e o chama de pai em uma cena
emocionante.
Vitória, depois de tanto sofrer, recupera o seu patrimônio, herança deixada
pelo seu falecido marido e reconstrói sua vida no Brasil ao lado de sua filha Sabina,
seu irmão Tadeu e Gilberto.
Júlia recupera todo o seu patrimônio e decide ficar com Nikos. Tenta alcançá-
lo no Aeroporto, quando Nikos está voltando à Grécia, mas não consegue. Então,
ela vai à busca do seu grande amor, se encontram na Grécia e casam em uma linda
cerimônia.
As tramas novelísticas apreciadas no horário das vinte horas são, geralmente,
dosadas de uma diversidade de temas e núcleos que englobam o amor, o prazer, a
traição, o bem e o mal, o mocinho e o bandido, a vilã e a donzela. Obviamente, não
podemos considerar exclusividade desse tipo de discurso ficcional a este horário
nobre, mas, os telespectadores esperam ver esses tipos de narrativas construídas
nas telenovelas, para que seu sistema de projeção e identificação com os valores e
culturas da sociedade contemporânea seja retratado de alguma forma.
Cada narrativa nos mostra um microuniverso de valores que em geral
refletem os valores da própria cultura em que ela se insere. Os personagens
desejam aquilo que é socialmente valorizado (amor, dinheiro, fama, poder
etc.). Desse modo, os objetos de desejo são, em geral, cobiçados,
almejados, por mais de um personagem. Um dos exemplos mais banais é o
do rapaz que está apaixonado por uma moça e tem um rival. Temos aí o tão
decantado e tão reiterado triângulo amoroso, a base de incontáveis histórias
(BALOGH, 2002, p. 61).
Dentro da trama de Belíssima’¸ podemos observar dois triângulos amorosos
que proporcionam ao telespectador uma expectativa de happy end a cada
desenrolar da trama. Na trama central da protagonista Júlia Assumpção, o triângulo
amoroso é evidente e permeia por todo o tempo. Antes de se envolver com André,
Júlia tem um caso com Nikos. A distância e o destino os separam. Posteriormente,
André, o manipulado e destruidor vilão, par perfeito da vilã Bia Falcão, se envolve
com Júlia, em nome do poder, da riqueza e da ostentação.
Nesse meio tempo, Nikos regressa ao Brasil e passa a sofrer com o amor
desprezado de Júlia, que, a esta altura da trama, está envolvida com André, mas
não percebe suas trapaças. Esse decantado e reiterado triângulo amoroso traz ao
106
público a ansiedade de assistir ao melhor desfecho. Se o telespectador pudesse
escolher com quem a mocinha ficaria, escolheriam aquele que lhe tem amor sincero,
no caso o Nikos.
Na verdade, podemos considerar como um quarteto amoroso, pois Cemil
também guarda secretamente uma paixão por Júlia, sua chefe na fábrica, mas sofre
em silêncio, por entender que uma mulher como ela nunca se interessaria por ele,
num ato de autonegação de seus valores masculinos. Mas Cemil acaba por fazer
parte de outro triângulo amoroso, que relataremos adiante, compondo o segundo da
trama.
O telespectador adentra essa ficção com o intuito de interferir de alguma
forma na escolha do amor ficcional; torcem pelo happy end e sempre aguardam as
‘cenas dos próximos capítulos’. Essa é, também, uma forma de construir a narrativa
serializada, obtendo a atenção do público e, conseqüentemente, os índices de
audiência de forma quase linear.
Uma revolução no reino do imaginário se com a irrupção em massa do
happy end. A idéia de felicidade [...] se torna o núcleo afetivo do novo
imaginário. Correlativamente o happy end implica um apego intensificado de
identificação com o herói. [...] O elo sentimental e pessoal que se
estabelece entre espectador e herói é tal, no novo clima de simpatia, de
realismo e de psicologismo, que o espectador não suporta mais que seu
alter ego seja imolado. Pelo contrário, ele espera o sucesso, o êxito, a prova
de que a felicidade é possível [...] a satisfação dos desejos, a felicidade
eternizada. (MORIN, 1997, p. 93-94).
O outro triângulo amoroso de Belíssima é um pouco mais cômico. Trata-se
de um galanteador, o Alberto, que tem verdadeira paixão por mulheres. Está sempre
em busca de alguma delas. O triângulo é composto por Alberto, Mônica e Cemil.
Mônica e Cemil mantêm um relacionamento estável e seguro, até o momento em
que Alberto conhece Mônica e se apaixona por ela. Alberto, também chefe de Cemil
por ser um dos diretores da fábrica Belíssima’, faz de tudo para separar o dois e
abusa do seu poder ameaçando Cemil de desligá-lo da fábrica.
Cemil não se intimida e luta até o fim pelo amor de Mônica, que aceita viver,
por um tempo, como mulher de Alberto, saindo de sua vida simples e humilde, para
esbanjar riquezas e bens. Exatamente como reflexo de uma ‘Cinderela’ encantada,
107
mas que se deixa levar pelos sonhos de uma vida melhor, de um amor sincero, o
qual tenta nutrir por Alberto, mas não é capaz de amá-lo como a Cemil.
No decorrer da trama, Alberto mostra sua verdadeira identidade e trai Mônica
com Rebeca. Mônica percebe, neste momento, que o seu verdadeiro amor é Cemil e
os dois terminam juntos, novamente em um happy end e Alberto termina sozinho;
condição digna de um homem que não valor às mulheres. E, podemos concluir,
os telespectadores esperavam isso. De certa forma, é uma maneira de ‘punir o
mulherengo’, quase como em um processo de satisfação real substituída pela
ficcional.
Quando o ibope
71
é alto, uma tendência a respeitar as exigências ou
supostas tendências do público, que se torna, assim, um vasto co-autor da
novela. Odete Roitman morre a pedido do publico em Vale Tudo. Porcina
não fica com Roque Santeiro (a aventura), mas, sim, com Sinhozinho Malta
(o status quo), em Roque Santeiro. (BALOGH, 2002, p. 163).
Além dos triângulos amorosos, as telenovelas tratam diferentes classes
sociais com poderes aquisitivos e identificações que diferem o rico do pobre. Em
Belíssima’, assim como em tantas outras, esse processo não é diferente. O núcleo
menos endinheirado da novela, porém, não deixa, ainda, de passar pelo processo
de criar projeções diferentes para raças, credos e condições de vida, também
diferenciadas.
Geralmente, o pobre é honesto e trabalhador, como o borracheiro Pascoal ou,
ainda, consegue ter sorte na vida, como Safira, que casou com maridos ricos e que
sempre lhe deram condições boas de vida. Mesmo estando na mesma condição de
Pascoal, Safira o rejeita pela sua simplicidade, tem vergonha de apresentá-lo à
sociedade, mas, no final, se entrega a ele.
Por mais que as condições sejam diferenciadas, a relação de projeção-
identificação também existe com o telespectador, mesmo “entre esses homens de
classes sociais, de condições, de raças e épocas diferentes, um campo comum
imaginário é possível, e, de faro, campos imaginários comuns” (MORIN, 1997, p.
84).
71
Seu Ibope foi semelhante ao de América, com 48,8 pontos e pico de 69. No início registrava 47, no
final chegou a bater 65. O último capítulo atingiu 65,1 pontos no Ibope com picos de 69, quando as
tramas foram desvendadas e o público esperava para ver o final dos acontecimentos, como encaixe
do quebra-cabeças estabelecido durante a trama. (IBOPE, 2006)
108
Para finalizarmos a história da novela, destacaremos algumas curiosidades
de fatos que ocorreram no decorrer da trama, declaradas pelo autor, diretor, atores e
atrizes, que ilustram a repercussão da novela.
- Grande sucesso de público, crítica e audiência, Belíssima manteve o
suspense até o capítulo final da história. Para despistar a imprensa, Silvio
de Abreu chegou a divulgar o último capítulo com desfechos alterados para
confundir os mais curiosos.
- A personagem Bia Falcão, apesar de ser uma ardilosa vilã, era adorada
pelos telespectadores. O mau-caráter Alberto Sabatini também era querido
pelo público. Quando o público tomou conhecimento de que Bia Falcão
morreria por volta do capítulo 70, houve inúmeras manifestações para que o
autor não tirasse a personagem da história. Depois, quando a vilã volta à
cena, a expectativa também foi enorme, e os telespectadores ficaram
satisfeitos por poderem acompanhar a trama de Bia Falcão até o último
capítulo da novela.
- A atriz Glória Pires conta que para manter o suspense sobre o desfecho
da trama, ela e Tony Ramos receberam o texto do último capítulo da
novela dentro do avião, quando embarcaram para gravar as cenas finais na
Grécia. Segundo a atriz, ela teve acesso às cenas em que sua
personagem Júlia participava, assim como Tony Ramos e todo o elenco.
- Cláudia Abreu conta que veio a saber que sua personagem era a filha
de Bia Falcão na última semana da novela, tudo para tentar manter o clima
de suspense e mistério até o último capítulo. A atriz diz ter ficado feliz em
ser a misteriosa filha de Bia, uma das peças chaves do quebra-cabeça de
Belíssima.
- Em 2005, Fernanda Montenegro foi premiada pela Associação Paulista de
Críticos de Arte, como Melhor Atriz na categoria Televisão, por seu
desempenho como a vilã Bia Falcão. Na oitava edição do Prêmio Contigo,
em 2005, a novela venceu cinco das 14 categorias do prêmio. Belíssima foi
vencedora nas categorias de Melhor Novela; Melhor Figurino, para Gogóia
Sampaio e Ro Gonçalves; Melhor Atriz Coadjuvante, para Cláudia Raia;
Melhor Atriz, para Fernanda Montenegro e Melhor Ator, para Tony Ramos.
- Em julho de 2006, Belíssima estreou no Alpha-Channel da Grécia, cenário
onde parte da ão se desenvolve. Em agosto de 2007, estreou na Costa
Rica, exibida pelo canal Teletica, substituindo outra produção da TV Globo,
a novela América, que obteve altos índices de audiência no país. Belíssima,
por sua vez, já foi vendida para 22 países, entre eles Portugal, Chile,
Venezuela, Argentina, Equador e Uruguai. (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Um outro universo retratado em Belíssima é o feminino. A trama central gira
em torno de uma fábrica de lingeries, principal empresa da novela. Ligado a isso,
o universo onírico do mundo glamouroso da moda, dos modelos estéticos, retratado
na agência de modelos Razzle Dazzle. Temos a personagem Safira, mulher bonita e
sensual, casada por seis vezes, em busca da sua real felicidade.
De certa forma, esse retrato do universo feminino cria valores estéticos,
morais, religiosos e amorosos acerca da figura da mulher, em torno de um mundo
109
imaginário de figurações que projetam na telespectadora o sentimento do amor, do
desejo, da felicidade, do bem-estar, do ‘ser desejada’, propiciando ambiente fértil
para ações de merchandising e publicidade, como veremos a seguir. “A publicidade
propõe os produtos que asseguram bem-estar, conforto, libertação pessoal,
standing, prestígio e também sedução” (MORIN, 1997, p. 104).
4.2 DECUPAGEM DAS AÇÕES DE MERCHANDISING DE ‘BELÍSSIMA.
Nesta parte do terceiro capítulo, trataremos acerca das ações de
merchandising que aconteceram em Belíssima no decorrer da trama, focadas,
principalmente, em produtos de moda, representados pelas marcas Valisére, Lojas
Renner e Lycra. Para realizar a decupagem, trataremos, diretamente, das ações de
merchandising da marca Valisére, principal interesse de estudo desta pesquisa.
Analisando o cenário geral de merchandising de Belíssima’, podemos
constatar que do total de 209 capítulos, exibidos entre 07 de novembro de 2005 e 07
de julho de 2006
72
. Noventa e oito capítulos tiveram alguma ação de merchandising
(47% dos capítulos exibidos) em alguns capítulos chegaram a acontecer mais de
duas ões de merchandising de marcas diferentes ou, ainda, ações de
merchandising social, juntamente com ações comerciais – e 111 capítulos não
tiveram nenhuma ação, que representa 53% do total da trama.
Desta forma, podemos observar que quase metade da novela Belíssimafoi
composta por alguma ação de merchandising de anunciantes, dos mais variados
segmentos de mercado, como tintura para cabelo (Maxton/Natucor, cosméticos
(Embelleze e Natura), do ramo hoteleiro (Hotel Sonata), Companhia Aérea (TAM),
Banco (Itaú), Produtos de Limpeza (Linha Veja), Cartão de Crédito (Master Card
Maestro), Telefonia móvel (Claro), Alimentos para animais (Ração Whiskas),
Associações (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos - ANIP), construção
(Lukscolor) e indústrias relacionadas ao setor da moda (Lojas Renner, Valisére e
Lycra).
72
No dia 08 de julho de 2006, sábado, o último capítulo da novela ‘Belíssimafoi reexibido.
110
Essa miscelânea de anunciantes não assusta a produção da Rede Globo.
Márcia Ladeira afirma que o perfil da novela Belíssimapermite uma composição
variada de ações de merchandising em função de a trama ser realizada em uma
grande metrópole, como São Paulo, que compõe um cenário de população e
consumo tão diversificado quanto aos núcleos apresentados na trama, desde uma
fábrica de lingerie até uma borracharia
73
.
O BIP
74
de Belíssima e o prospecto da novela refletem essa informação.
Ambos trazem dados de audiência do horário da novela III, perfil de consumo dos
telespectadores, classe social, renda, etc. Além dessas informações, apresentam,
também, as possibilidades potenciais de combinação de produtos que a novela
proporciona. Esse material é produzido na fase de lançamento da novela, momento
em que o departamento comercial da Rede Globo e o departamento de
merchandising estão em busca de parcerias comerciais e anunciantes.
Belíssima apresenta inúmeras oportunidades para ações de merchandising
com produtos de vários setores, em seus núcleos de personagens ricos, de
classe média, adolescentes, jovens etc. Dada a temática da novela, estão
disponíveis oportunidades especiais ligadas à moda, calçados, acessórios e
produtos de beleza. Elementos da trama podem ser transferidos para o
licenciamento de linhas de produtos ou ações promocionais, com aplicações
da logomarca, elementos gráficos da abertura e referências de conteúdo,
inclusive o próprio título da novela, expressão de uma empresa de finas e
elegantes lingeries, aludindo à perfeição, sofisticação e beleza. (BIP, nº 518,
novembro/2005, p. 2-4).
73
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
74
Boletim Informativo Publicitário, material produzido pela Direção Geral de Comercialização da Rede
Globo.
111
Considerando este cenário, explica-se a variedade de ações comerciais que a
Rede Globo foi capaz de gerar com as negociações de contratos de merchandising,
com anunciantes de diversos segmentos, para o lançamento da novela Belíssima’ e
também no decorrer da trama. Quanto mais o público teleconsumidor ‘aceita’ a
novela, gerando altos índices de audiência, mais o produto (novela) tem poder de
negociação, que o fortalece enquanto potencial para anunciantes novos, ou, ainda,
os mesmos anunciantes dispensarem mais verbas para investimento.
Alguns produtos apareceram de forma muito inusitadas, a exemplo a Ração
Whiskas. O turco Murat tinha um gato de estimação, o Mustafá. As cenas em que o
produto é inserido é o momento em que Murat está colocando comida para o gato,
em um ato de muito amor e cuidado com o seu bichinho de estimação.
Fig.
12
BIP Rede Globo da Novela Belíssima,
nov/2005
Fonte: Site Rede Globo
112
A marca Lukscolor repete ações de merchandising em Belíssima tendo
realizado, também, grandes ações, como foco principal, em sua antecessora
Senhora do Destino’, cuja trama teve grandes oportunidades de aparição, pois o
tema central tratava da história vivida por uma mulher proprietária de uma casa de
construção, como pudemos observar no segundo capítulo dessa pesquisa.
Em Belíssima não temos relato de todas as ações da Lukscolor, mas,
podemos afirmar, em capítulos assistidos, que a marca aparece na trama em um
determinado momento, na reforma que Takae realiza em sua quitanda para
transformá-la em um sushi-bar, tendo a reforma coordenada por Safira, sua ex-
mulher. As aparições ocorreram em outros momentos, mas, não conseguimos
explorar com detalhes as ações. O fato é que a marca está cada vez mais presente
em ações desse tipo, o que demonstra aumento do investimento das empresas em
merchandising, nos levando a considerar que, apesar do investimento, traz
resultados positivos para o anunciante.
A parceria entre Valisére e Rede Globo para a novela Belíssima’, se iniciou
no processo de busca, pela Rede Globo, de uma fábrica de lingerie para gravação
das cenas da novela, como um custeio da produção e, o resultado final, foi um
trabalho de Merchandising Editorial com Licenciamento de Marca. O projeto foi
extenso, planejado com antecedência e alinhado com as expectativas de se mostrar
o ciclo todo. A parceria com as Lojas Renner surgiu depois, pois perceberam que
existia a necessidade de fechar o ciclo entre fornecedor de matéria-prima (Lycra),
produtor (Valisére-Belíssima) e comércio (Lojas Renner).
O processo se iniciou pró-ativamente com a Rede Globo, em busca de uma
parceria com um pool de empresas do setor industrial de lingeries para montar o
cenário da novela onde tudo aconteceria, a fábrica ‘Belíssima’.
Partiu da gente. Quando começou a se falar de lingerie nós pensamos,
puxa, esse mercado de lingerie ficou super pulverizado porque começou a
surgirem várias pequenas fábricas, então a gente começou a ficar
preocupado. A novela por outro lado precisava de uma fábrica para gravar.
A gente não tinha condição de montar uma fábrica no Projac e precisava da
fábrica para ambientar e mostrar onde é que tudo acontecia. Neste
momento nem procuramos a Valisére, fizemos uma primeira reunião com a
ABIT, que a idéia nossa era reunir vários fabricantes e fazer isso através da
Associação. Mas aí a Associação é sempre uma coisa muito difícil, cada um
tem seus interesses pessoais e, nessa reunião, tinha um diretor da Valisére
que se interessou muito, pessoalmente, pelo projeto. nós começamos a
conversar, pois a Valisére demonstrou-se interessada desde o primeiro
momento. A conversa foi evoluindo. Até que a gente transformou isso em
113
um projeto de merchandising com parte da cadeia envolvida nesse
processo. Então a gente fechou dentro desse projeto de lingerie, fechamos
uma ponta com a Valisére, que representava a confecção, fechamos uma
outra com a indústria de fios, que foi a Lycra e fechamos com a Renner que
vendia o produto. Então, fechamos um ciclo completo de colocação de um
produto no mercado. esse projeto que começou com uma necessidade
de produção que a gente tinha, de ter a fábrica para gravação, acabou
virando um projeto de merchandising com licenciamento de marca e um
projeto de facilidade de produção porque a Valisére cedeu a fábrica para
gravarmos. (informação verbal)
75
. (LADEIRA, 2008).
Após fechado os acordos comerciais, iniciaram o processo padrão de
execução de merchandising com as reuniões de briefing, para se definir os formatos
de aparições e uma adaptação da trama e dos personagens ao projeto. Não
bastava apenas ter esse ciclo das três empresas envolvidas, era necessário
construir um enredo que contasse a histórias dessas três empresas e a dinâmica de
funcionamento delas no mercado ‘real’.
Então, a Lycra teve grande envolvimento na trama, pois ela era a indústria
responsável por fornecer matéria prima para a empresa Belíssima produzir seus
produtos. A marca Lycra esteve presente em 11 ações de merchandising durante a
novela, conforme tabela abaixo.
Tabela 1 Ações de merchandising da marca Lycra exibidas na
novela ‘Belíssima
CAPÍTULO
DATA ANUNCIANTE/PRODUTO
CAP. 31 12-dez-05 Lycra e Merchandising Social
CAP. 60 14-jan-06 Lycra
CAP. 84 11-fev-06 Lycra
CAP. 86 14-fev-06 Lycra
CAP. 111 15-mar-06 Lycra
CAP. 112 16-mar-06 Lycra
CAP. 113 17-mar-06 Lycra e Telefonia Móvel Claro
CAP. 148 27-abr-06 Lycra
CAP. 159 10-mai-06 Lycra
CAP. 180 3-jun-06 Lycra
CAP. 194 20-jun-06 Lycra, Valisére e Tinhas Lukscolor
Fonte: Rede Globo, Departamento de Merchandising, 2008.
Muitas das ações realizadas tinham o envolvimento dos mesmos
personagens, a Safira, que tinha lingeries sensuais como composição do seu
figurino; a agência de modelos Razzle Dazzle, que tinha como seu cliente a Valisére
e a ‘Belíssima, produzindo catálogos, lançamentos de produtos e desfiles com suas
75
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
114
modelos; e a Lycra, como empresa de matéria-prima da fábrica ‘Belíssima’. Além
disso, no meio da trama, a fábrica Belíssimalançou mais uma marca, que eles
consideravam mais popular, a Lindona.
A marca Valisére realizou sete ações de merchandising exibindo sua marca e
seus produtos. Os produtos exibidos eram os que estavam à venda, exclusivamente
nas Lojas Renner, que foram produzidos com o licenciamento da marca ‘Belíssima’.
Tabela 2 Ações de merchandising da marca Valisére exibidas na
novela ‘Belíssima’
CAPÍTULO DATA ANUNCIANTE/PRODUTO
CAP. 28 8-dez-05 Valisére
CAP. 94 23-fev-06 Ração Whiskas e Valisére
CAP. 95 24-fev-06 Ração Whiskas e Valisére
CAP. 146 25-abr-06 Valisére
CAP. 181 5-jun-06 Valisére
CAP. 182 6-jun-06 Valisére e Tintas Lukscolor
CAP. 194 20-jun-06 Lycra, Valisére e Tinhas Lukscolor
Fonte: Rede Globo, Departamento de Merchandising, 2008.
É curioso percebermos que, apesar de a marca Valisére aparecer
explicitamente em sete capítulos, de forma subjetiva, o seu produto (lingerie) foi
promovido diversas vezes, criando um conceito de consumo relacionado a uma
determinada mercadoria, através do figurino, dos desfiles promovidos e das ações
que estavam inseridas na trama em torno desse tema, mas, sem explicitar a marca.
E, todas as vezes que aparecia a marca de lingerie ‘Belíssima’, na verdade,
estava-se exibindo a mercadoria da Valisére, à venda nas Lojas Renner, com a
marca licenciada de ‘Belíssima, ou seja, a promoção do produto aconteceu em um
volume muito superior às sete aparições explícitas da marca Valisére.
Tabela 3 Ações de merchandising das Lojas Renner exibidas na novela ‘Belíssima’.
CAPÍTULO DATA ANUNCIANTE/PRODUTO
CAP. 29 9-dez-05 Lojas Renner
CAP. 30 10-dez-05 Lojas Renner, Mastercard Maestro e Merchandising Social
CAP. 70 26-jan-06 Lojas Renner e Hotel Sonesta
CAP. 71 27-jan-06 Lojas Renner
CAP. 104 7-mar-06 Lojas Renner
CAP. 136 13-abr-06 Lojas Renner
CAP. 155 5-mai-06 Lojas Renner e Natura
Fonte: Rede Globo, Departamento de Merchandising, 2008.
115
Não foi a primeira novela da Rede Globo que conseguiu unir um projeto de
merchandising editorial, com licenciamento de marca e merchandising de custeio de
produção. Mas, Ladeira (2008) considera como um dos projetos mais bem
executados pelo planejamento, considerando um casamento perfeito entre o ciclo de
produção (Lycra), fabricação (Valisére) e comercialização (Renner).
Nos últimos tempos foi o projeto que melhor foi construído, exatamente
porque a gente teve muito tempo para planejar. Nós conseguimos entrar
também no figurino. A Claudia Raia na época os decotes dela ‘baixaram’
que era uma forma de a gente mostrar o produto (informação verbal)
76
.
(LADEIRA, 2008).
O figurino da personagem de Cláudia Raia, a Safira, foi um dos maiores
responsáveis por promover o uso de lingeries no decorrer da trama, como veremos
adiante na decupagem das ações de merchandising. Além disso, sua personagem
tinha um perfil de ‘mulherão’. Era bonitona, mandona e engraçada. Tinha passos
pequenos (parecia que andava dando pequenos pulos), sempre com saia justíssima
e tamancos de salto alto e grosso, preocupada em seduzir Pascoal, o borracheiro,
que a tirava do controle. Estava sempre arrumada, maquilada e com postura de
sedutora, e, apesar disso tudo, era uma ‘mãezona’.
Quando fechamos o projeto, acertamos com a figurinista da novela, ela
desceu os decotes da Claudia Raia, mostrava sempre a renda do sutiã, isso
virou moda. As mulheres passaram a não ter vergonha de mostrar a alça do
sutiã. A Valisére lançou um produto com alça substituível. Eles lançaram
alça de strass, de renda, coloridas e ahoje eles mantém esse produto no
mercado (informação verbal)
77
. (LADEIRA, 2008).
Além disso, esse projeto foi de encontro à uma necessidade comercial da
Valisére, que, além de promover a marca, promoveu, também, uma categoria de
produtos da empresa que estava em queda. E, muito tempo, a Valisére não se
apresentava na mídia televisiva expondo seus produtos. Com a oferta de adequação
do figurino e as possibilidades de exibição do produto, a Valisére apostou no
merchandising.
76
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
77
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
116
A Valisére tinha um problema, a lingerie de renda estava em franca
decadência, as mulheres mais jovens estavam usando outro tipo de lingerie
(sem costura, sem renda, corte a laser, lisas). E, para a Valisére, o carro
chefe são as lingeries mais sofisticadas. Com esse projeto nós
conseguimos explorar isso, e eles (Valisére) tiveram uma visão muito boa,
foram extremamente inteligentes e perceberam que apesar da Claudia Raia
ser aquela mulher espalhafatosa, eles entenderam que era ali tinha uma
grande oportunidade de inserção de adequação. s que propusemos as
ações com esse foco, mas os clientes nos padrões normais, como a gente
conhece, em geral tem uma cabeça muito conservadora, do tipo: ‘Ah, eu
não quero a Claudia Raia, porque ela não é classe A, não é aquela mulher
mais reservada que todo mundo gostaria de ter como modelo’. Não, ela era
o oposto: era noiva de um, separou do outro, era namoradeira. Mas eles
entenderam que era por ali o caminho e aceitaram a proposta. E o projeto
foi um sucesso por isso. Quando fechamos o projeto, acertamos com a
figurinista da novela, ela desceu os decotes da Claudia Raia, mostrava
sempre a renda do sutiã, isso virou moda. As mulheres passaram a não ter
vergonha de mostrar a alça do sutiã. A Valisére lançou um produto com alça
substituível. Eles lançaram alça de strass, de renda, coloridas e até hoje
eles mantém esse produto no mercado. Foi realmente um projeto super
vitorioso (informação verbal)
78
. (LADEIRA, 2008).
no primeiro capítulo da novela, exibido em 07 de novembro de 2005,
podemos perceber o exibicionismo do lingerie na trama. Modelos desfilaram por
diversos pontos de São Paulo, apenas de lingerie, representando um evento
comemorativo do jubileu de ‘Belíssima’
79
. Percebemos, também, a mistura da ficção
com o real. A comemoração era representação da ficção, mas, a produção do desfile
foi realizada no universo real, nas ruas de São Paulo.
Dentro da trama, o desfile causou grande repercussão, a imprensa faz a
cobertura do evento com críticas a respeito do congestionamento, confusão e frisson
causado na cidade de São Paulo. As modelos foram exibidas sob os edifícios altos e
espelhados da metrópole. Foi montado um ringue de luta no meio da Avenida
Paulista e os curiosos ficaram ao redor, observando.
O jornalista que mostra o evento diz: ‘a cidade virou mesmo um pandemônio,
trânsito parado, marginais congestionadas uma confusão dos diabos. Esse pessoal
aí da marca ‘Belíssima exagerou’
80
. Junto a isso, aparece a imagem de uma modelo
no alto de um edifício, e de modelos ao lado da estação de metrô Trianon-Masp,
embaixo do MASP lavando carro, no meio de uma construção, em cima de um
outdoor na Marginal. Enfim, a primeira parte do capítulo de ‘Belíssima’ iniciou em
78
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
79
Vídeo na íntegra disponível no link:
http://br.youtube.com/watch?v=10ymMams1CA&feature=related
80
Rede Globo, capítulo da novela, material cedido pelo depto. de merchandising da Rede Globo.
117
torno desse evento, que causou grande confusão na cidade de São Paulo,
envolvendo outros núcleos da trama.
Muitos capítulos de Belíssimaforam marcados por cenas, exuberantemente,
bem produzidas no âmbito da moda e com muito glamour. Boa parte delas tinha um
longo tempo de exposição, beneficiando a exploração das marcas Lycra e Valisére,
bem como a promoção de lingeries em geral.
No capítulo de 12 de dezembro, a primeira ação de merchandising da
Lycra. O contexto é que a ‘Belíssima’ está lançando a coleção para o Reveillon, com
cores que representam os desejos: amarelo para dinheiro, vermelho para paixão e
Fig. 13
– Cena do primeiro capítulo de
Belíssima. Modelos lutando boxe em
ringue instalado no meio da rua.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 14
Cena do primeiro capítulo de
Belíssima. Modelo desfilando em cima do
MASP.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 15
Cena do primeiro capítulo de
Belíssima. Modelo no meio de uma
construção.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 16
Cena do primeiro capítulo de
Belíssima. Modelo embaixo do MASP
lavando uma Kombi amarela.
Fonte: Divulgação/TV Globo
118
branco para a paz, mostrando a beleza da renda e do modelo sobreposto como
tendência de moda para 2006. A Lycra aparece inserida na trama de uma forma
muito sutil, imperceptível, visto que o tema trata-se de um produto que está inserido
na ficção, a coleção de lingeries ‘Belíssima. A cena acontece em uma reunião de
negócios, com os acionistas da empresa, para que seja apresentada a eles a nova
coleção e as metas de vendas.
Não podemos deixar de considerar que esta ação de merchandising foi muito
bem desenvolvida e elaborada, totalmente em sintonia com o contexto da trama. É
quase que imperceptível ao telespectador que se trata de uma ação publicitária. Não
movimentos grotescos com o produto, tampouco citação da marca. Há apenas a
exploração de um tema tratado dentro do contexto da trama, no caso o lançamento
de um novo produto da empresa central da novela, a fábrica de lingeries ‘Belíssima.
Em uma outra ação da Lycra, ambientada em uma cena muito parecida com a
anterior em uma reunião de negócios e lançamento de uma nova linha de
‘Belíssima’ Júlia Assumpção, presidente da fábrica ‘Belíssima’, enfatiza para
Alberto, diretor da fábrica, que todas as peças da nova coleção devem ter a etiqueta
da Lycra. Outras ações de merchandising da Lycra são realizadas neste mesmo
contexto do mundo dos negócios, inseridas no núcleo da fábrica ‘Belíssima’.
Diálogo entre Júlia e Alberto na ação de merchandising da Lycra.
Alberto: Bom, como você pode ver Julia, a modelagem é perfeita e as
peças são bem sensuais e românticas.
Júlia: É! Agora é essencial Aberto, que as peças saiam da brica com a
etiqueta Lycra.
Fig. 17
Merchandising da Lycra.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 18
Merchandising da Lycra.
Fonte: Divulgação/TV Globo
119
Alberto: Ah, providenciamos isso, pode deixar. É uma garantia para a
consumidora. Nós não vamos ter pedidos devolvidos por falta da etiqueta.
A Lycra aproveitou a personagem de Safira para promover sua marca, assim
como a Valisére. Em uma outra ão, diferente das duas anteriores, que tratava
acerca de negócios, traz à tona a sensualidade do lingerie, do corpo feminino, da
sedução através da personagem. Esta cena dura mais de seis minutos, com
exibição de detalhes de lingeries de renda e mostrando o caso de Safira com
Pascoal, que pula a janela do quarto para se encontrarem escondidos da vizinhança
e da família.
Safira está em seu quarto, com uma porção de lingeries espalhadas pela
cama, escolhendo a que utilizará para Pascoal. Essa porção de lingeries tem a
etiqueta da Lycra. De certa forma, apesar do merchandising ser da Lycra, o produto
e o estereótipo de lingerie sensual, e promovem, paralelamente, o consumo dessa
mercadoria de outras marcas, inclusive da Valisére.
Fig. 19
Merchandising da Lycra. Júlia
enfatizando com Alberto que os produtos
não podem deixar de ter a etiqueta da Lycra
e, neste momento, ela segura a etiqueta e
mostra a marca.
Fonte: Divulgação/TV Globo
120
Essa é uma das ações de merchandising em ‘Belíssima’ que a Lycra mais
explora a aparição da marca, com um zoom de câmera bem evidente, explicitando a
publicidade. Quebra a ação, interrompe o fluxo da trama para demonstrar o ato. Não
fosse pelo zoom da tela, a ação seria menos perceptível e brusca, mas, ainda assim,
o envolvimento e a sensualidade da cena são preservados.
A Lycra realiza mais duas ações que envolvem a personagem Safira, sempre
no mesmo cenário em que ela se encontra com Pascoal às escondidas em seu
quarto. Ambas as ações de merchandising não explicitam a marca, apenas mostram
Fig. 20
Merchandising da Lycra.
Lingeries espalhadas na cama de Safira
explicitando a marca. A câmera foca essa
imagem depois amplia o zoom
descortinando o cenário do quarto a meia
luz.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 21
Merchandising da Lycra. Safira
experimentando os lingeries com a
etiqueta da Lycra.
Fonte
: Divulgação/TV Globo
Fig. 22
Merchandising da Lycra. Safira
experimentando os lingeries com a
etiqueta da Lycra.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 23
Merchandising da Lycra. Câmera
com zoom fechado na etiqueta da Lycra,
no momento em que Safira retira a
etiqueta do lingerie novo.
Fonte
: Divulgação/TV Globo
121
a lingerie vestida no corpo da personagem, uma camisola muito sensual, produzida
com material da Lycra.
Em uma das ações, a cena tem um pouco de humor e comicidade envolvidos.
Como a casa de Murat e Katina, pais de Safira, vive cheia de gente e o ‘entra-e-sai’
é comum e freqüente, Safira não consegue ficar com Pascoal. Cada hora uma
interrupção e ele tem que ir embora pela janela.
Na outra ação, a comicidade entra em ação quando Safira, determinada em
deixar o Pascoal para fora da janela, fica provocando ele, em um strip-tease muito
sensual. Nessa cena, podemos observar bem o figurino de Safira, que aparece com
Fig. 25
Merchandising da Lycra. Pascoal
entra no quarto de Safira.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 24
Merchandising da Lycra. Safira
entrando no seu quarto a espera de
Pascoal. A marca da Lycra não aparece
em evidência.
Fonte
: Divulgação/TV Globo
Fig. 27
Merchandising da Lycra. Safira
recebe a notícia de que seu filho está
passando mal e manda Pascoal embora,
que sai pela janela.
Fonte
: Divulgação/TV Globo
Fig. 26
Merchandising da Lycra. Safira
joga Pascoal na cama e o seduz com
seu lingerie sensual.
Fonte: Divulgação/TV Globo
122
um vestido muito justo e brilhante, mostrando o sutiã no decote do colo do peito e
nas costas, deixando à mostra o trabalho de renda que tem a lingerie que está
vestindo.
No núcleo jovem da novela, a Lycra também está presente. Giovana, filha de
Alberto e modelo da agência Razzle Dazzle, chega em casa com uma sacola, entra
em seu quarto e se depara com sua irmã mais nova, Maria João, e a amiga Suzi,
filha de Takae, ex-marido de Safira e mãe de Giovana e Maria João. As meninas
logo querem ver o que tem dentro da sacola. Giovana abre e mostra os novos
lingeries que comprou.
Fig. 29
Merchandising da Lycra. Safira
fecha a cortina e o abre a janela para
Pascoal. Renda do sut nas costas
também á mostra.
Fonte
: Divulgação/TV Globo
Fig. 28
Merchandising da Lycra. Safira
entra em seu quarto, determinada a não
abrir a janela para Pascoal. Renda do
situa à mostra faz parte do figurino de
Safira.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 31
Merchandising da Lycra. Safira
troca de roupa, põe uma camisola de
renda preta, super sensual, se insinua
para Pascoal, mas deita para dormir.
Fonte
: Divulgação/
TV Globo
Fig. 30
Merchandising da Lycra. Safira
faz strip-tease e deixa Pascoal batendo
na janela.
Fonte: Divulgação/TV Globo
123
Apresentam o produto de forma um pouco mais escandalosa, e, por ser um
grupo de jovens, essa cena parece natural. Abrem a sacola e começam a espalhar
as peças por cima da cama, colocando-as diante do corpo num gesto de admiração.
A etiqueta da Lycra fica em evidência; não citam o nome da marca, mas remetem
em suas falas a beleza e o conforto das peças.
Maria João, por ser uma menina mais moleca, com um estilo não o
feminino, que será aflorado, posteriormente, na trama, quando iniciar seu namoro
com Tadeu, admira as peças e, ainda, enfatiza o que sua mãe diz a respeito da
beleza interior feminina, que a mulher tem que se sentir bela, sensual e se vestir
bem, até nas pelas íntimas.
Diálogo de Maria João com as irs e a amiga na ação de merchandising
da Lycra.
Maria: Nossa, queria tanto usar uma dessa! Parece que não esgarça né?
Suzi: É claro que não! São lindas Giovana.
Giovana: E você,até que tinha que usar uma dessas Maria João. Você ia se
sentir mais feminina, mais sensual. Ia se sentir até mais bonita.
Maria: Gente, que renda aqui olha! Bem que a mamãe diz que essa é
verdadeira beleza interior que os homens vêem nas mulheres.
Fig. 33
Merchandising da Lycra. Suzi
admirando a peça.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 32
Merchandising da Lycra. Giovana
abre a sacola e mostra as peças de
lingerie que comprou.
Fonte
: Divulgação/TV Glob
o
124
Outra ação da Lycra que acontece no núcleo jovem da novela está ligada,
também, ao mundo dos negócios. Giovana está em seu quarto experimentando um
conjunto de lingeries quando entra sua irmã Maria João e a amiga Suzi. Suzi
questiona se Giovana comprou, novamente, mais lingeries e ela diz que não, que
essas são os novos lançamentos da empresa do pai (a fábrica ‘Belíssima’) que ele
mandou para que ela experimentasse.
As meninas, mais uma vez, destacam as qualidades do produto e apresentam
um diferencial, o conjunto de lingerie tem hidratante e é perfumado. Características
que a Lycra é capaz de acrescentar ao produto em função de sua tecnologia de
produção têxtil. A marca é bem explorada, apesar de ficar mais exposta do que as
outras vezes, mas fica nítido na cena, que não há uma exploração excessiva e,
algumas vezes, a etiqueta da marca fica virada, apenas representando a forma
geométrica de triângulo irregular e a cor pink, que representa a etiqueta.
Esse produto é um dos comercializados pela Valisére no licenciamento da
marca ‘Belíssima’ que adquiriram para produzir uma linha exclusiva. Essa
intertextualidade entre a publicidade, a ficção e o comércio no universo real, é como
se fosse um merchandising inserido dentro de outro, uma retro alimentação da
tecnologia da Lycra com um produto que a telespectadora pode encontrar à venda
nas Lojas Renner, com exclusividade da marca ‘Belíssima’, produzida pela Valisére.
Essa ação de merchandising explora, também, o belo, o sensual, o corpo da mulher,
apesar de estar inserido no núcleo jovem da novela.
Fig. 35
Merchandising da Lycra. Maria
João relatando o pensamento da mãe
sobre a beleza feminina.
Fonte
: Divulgação/TV Globo
Fig. 34
Merchandising da Lycra. Maria
João admirando a peça e querendo ter
uma igual.
Fonte: Divulgação/TV Globo
125
Percebemos que em grande parte das cenas há a preocupação em mostrar a
etiqueta do produto, mas, não é um acontecimento forçado, não natural, exibicionista
ao extremo. Em alguns momentos, podemos observar o zoom da câmera mais
focado na etiqueta da marca, como o exemplo que vimos, anteriormente, da
personagem Safira arrancando a etiqueta e, na cena demonstrada acima, em que
Giovana está cheirando o produto, caracterizando o aroma perfumado do lingerie.
Em outra ação da Lycra, o personagem Fladson, vai até uma loja e decide
comprar um lingerie para sua namorada. Durante a escolha, ele afirma que sua
namorada só gosta de produtos da marca Lycra e, leva a mercadoria após a
vendedora afirmar que é Lycra e, neste momento, acontece a exibição da etiqueta
da marca.
Nessa loja também se exibia displays com as mercadorias da marca
‘Belíssima’. A sensação que temos ao ver esta cena é que a ação acontecia dentro
das Lojas Renner e que o personagem estava adquirindo uma peça da marca
‘Belíssima’ para presentear sua namorada. Mais uma vez, podemos perceber a
junção da execução da ação envolvendo a marca Lycra, juntamente com a Valisére
e as Lojas Renner, de forma subjetiva, visto que as duas últimas marcas citadas não
estavam presentes de forma explícita na cena da trama.
Fig. 37
Merchandising da Lycra. Maria
João reforçando a ação, sentindo o aroma
do sutiã.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 36
Merchandising da Lycra. Giovana
cheirando o sutiã.
Fonte: Divulgação/TV Globo
126
Definitivamente, a Valisére e a Lycra se juntaram em uma ação de
merchandising e escolheram uma personagem, que, até o momento, não tinha se
revelado como extremamente feminina, a Maria João. Há alguns capítulos anteriores
Maria João havia declarado que gostaria muito de utilizar um lingerie como o que a
irmã usava. Podemos observar, então, nesta ação de merchandising, que o seu
‘desejo’ está sendo realizado.
No exemplo anterior, quando Maria João experimentava uma lingerie, sua
mãe entra no quarto e, ela toda envergonhada, tenta se esconder, mas Safira
reforça para sua filha que esta está linda e recorda do que sempre disse que a
verdadeira beleza interior de uma mulher está em um belo lingerie, fazendo Maria
João sorrir perder a vergonha.
Fig. 39
Merchandising da Lycra.
Fladson questionando a vendedora se o
lingerie que ele tinha escolhido era
Lycra.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 38
Merchandising da Lycra.
Fladson escolhendo o presente da
namorada.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 41
Merchandising da Lycra e Valisére.
Maria João experimentando peças diferentes
para escolher qual usar.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 40
Merchandising da Lycra e Valisére.
Maria João em estilo mulher feminina.
Fonte: Divulgação/TV Globo
127
A Valisére fez ações de merchandising representativas inseridas na trama.
Em uma delas, é tratada como um concorrente forte da ‘Belíssima’, para irritação de
Bia Falcão, uma das proprietárias da fábrica, que insulta seus diretores por o
pensarem em idéias tão inovadoras e originais para as linhas de Belíssima’,
permitindo que seu principal concorrente, no caso a Valisére, tenha produtos
melhores e diferenciados.
Desta forma, em uma ação de ‘repugnância’ da marca como concorrente, os
produtos da Valisére são apresentados como superiores e todos os seus
diferenciais, como modelos produzidos com fios de ouro e prata e alças de strass.
Nesta parte do capítulo, o foco principal é a exibição da Valisére, que mais uma vez
se de forma sutil e de forma diferenciada das outras ações, em função de ser
tratada como uma ameaça para a ‘Belíssima’.
No início, a marca aparece de forma simples, estampada em uma caixa no
meio da mesa e entre os produtos que estão sendo exibidos e avaliados pelos
diretores. Posteriormente, o merchandising se torna mais evidente, no momento em
que Alberto e Bia Falcão pegam a lingerie da Valisére e avaliam a qualidade da
mercadoria da concorrência como sendo superior a da ‘Belíssima’. No total, a ação
durou mais de cinco minutos.
Diálogo de Bia Falcão com os diretores da Belíssima.
Bia (furiosa): Vocês viram? Viram o porquê da minha irritação?
Diretor A: Sim Bia, eu entendo, mas você tem que concordar que a nossa
coleção também é muito bonita.
Fig. 4
3
Merchandising da Lycra e Valisére.
Safira admirando sua filha vestindo um
sensual conjunto de lingerie.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 42
Merchandising da Lycra e Valisére.
Zoom da câmera nas marcas.
Fonte: Divulgação/TV Globo
128
Diretor B: E de excelente qualidade também.
Bia (ainda irritada): Eu sei, quem aprovou fui eu! Mas é inferior! É inferior!
(gritando). Mais uma vez nossa concorrência nos passou pra trás.
Diretor C: Não Bia, não é verdade.
Diretor B: Nisso estamos no mesmo nível.
Bia: Nunca! Mas nunca!
Alberto chega atrasado na reunião e Bia começa a jogar as peças na mesa
para que ele olhe.
Bia: Alberto veja isto aqui. Veja isto aqui! Dê uma olhada nisto aqui.
Alberto: Eu vi Bia! Eu sei por que vo está irritada, mas a gente o
poderia imaginar que a Valisére...
Bia o interrompe mais irritada ainda.
Bia: Nossa principal concorrente pensa adiante! Pensa pra frente! Eu estou
cansada. Estou cansada, meu Deus, de dizer isso à vocês: temos que ter
idéias novas. Essas peças revolucionárias (referindo-se às peças da
Valisére), olha aqui, veja bem isto aqui, peças com fios de ouro, com fios de
prata... este sutiã com alças de pedra de cristal, o melhor cristal deste País.
Quando? Quando nós vamos ter idéias como esta? Quando? (Irritadíssima)
Quando? Quando? Quando? Me digam quando?!
Fig. 4
4
Merchandising da Valisére.
Câmera em cena mais aberta com a marca
exposta ao centro. Início da reunião.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 4
5
Merchandising da Valisére.
Câmera começa a fechar ângulo na marca
e nos produtos com cores vibrantes e
destacadas. Bia irritada falando da
qualidade dos produtos do concorrente.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 46
Merchandising da Valisére.
Alberto avaliando o produto.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig. 47
Merchandising da Valisére.
Bia irritada falando dos diferenciais do
produto da concorrente: alça de strass.
Fonte: Divulgação/TV Globo
129
As outras três ações de merchandising da Valisére aconteceram em grande
estilo. Foi aproveitado o núcleo da novela que envolve o universo da moda, do
glamour e da beleza: a agência de modelos Razzle Dazzle. As ações foram
elaboradas em cima de uma história na qual a Valisére, como cliente da agência,
havia solicitado um trabalho de produção do seu catálogo.
Então, as modelos foram exibidas com os produtos da marca, sendo
fotografadas como se estivessem trabalhando. As ações tiveram duração de mais de
quatro minutos, compondo todo o envolvimento da história com a ação de
merchandising. Em nossa avaliação, essas ões foram extremamente bem
executadas, pois, estavam, em sua totalidade, enquadradas na trama, e a marca
aparecia de forma sutil, sem exibicionismos exagerados, fazendo parte do cenário.
Para o telespectador, era um processo natural a marca estar ali presente,
afinal de contas, toda a ambientação desde as modelos trajadas de lingerie e
produzidas com outros adornos para compor o figurino fazia parte do contexto da
história. Todos sabem que em agências de modelos modelos, fotógrafos,
produções, gravação de vídeos, clientes, anunciantes, etc. E, pelo fato de ser
mostrado no mundo ficcional uma atividade que acontece no mundo real, de forma
tão verossímil, não parece falso, forçado, não se torna incômodo.
As ações da Valisére foram, exuberantemente, bem realizadas, tanto em
termos de produção, quanto em termos de estratégia mercadológica. O uso das
ações de merchandising em um cenário neutro, como a agência de modelos, é,
também, um cenário tão positivo quanto a Safira fazer algumas das ações de
merchandising da Lycra. Pensando logicamente, não seria mais perfeito que Safira
fizesse todas as ações de merchandising da Valisére?
Talvez a resposta fosse sim. Mas, seria algo muito óbvio, muito simples,
dentro do formato convencional, que se realizem diversas outras ações de
merchandising inseridas em conteúdos editoriais, principalmente em telenovelas.
Por isso, consideramos o projeto de merchandising da Valisére tão positivo da forma
como foi realizado, muito naturalmente.
As três ações acontecem com o mesmo cenário, dentro de um mesmo pano
de fundo, focado no mesmo tema de fotografias para o catálogo da empresa, no
ambiente da agência de modelos, com uma linearidade que não interrompe o fluxo
temporal da trama, tampouco, o decorrer da história. Além do mais, as cenas
envolvem intensamente o corpo feminino em detalhes, a beleza e o sensualismo.
130
A injeção de erotismo na representação de uma mercadoria não erótica (as
publicidades que juntam uma atraente imagem feminina a uma geladeira,
uma máquina de lavar ou uma soda) tem por função não apenas (ou tanto)
provocar diretamente o consumo masculino, mas de estetizar, aos olhos
das mulheres, a mercadoria de que elas se apropriarão; ela põe em jogo
junto ao eventual cliente a magia da identificação sedutora; a mercadoria
faz o papel de mulheres, apelando para seu desejo de serem desejadas
pelos homens. (MORIN, 1997, p. 121)
É essa estetização acaba provocando o benefício do merchandising envolvido
de forma simples, mas, ao mesmo tempo, o enfática no tema da idolatria do corpo
feminino em sua perfeição.
Fig. 48
Merchandising da Valisére.
Zoom da câmera nas modelos posando para
o catálogo da Valisére, com rápida aparição
da marca no painel ao fundo.
Font
e
: Divulgação/TV Globo
Fig. 49
Merchandising da Valisére.
Equipe da agência acompanhando o ensaio
fotográfico. Cena que dá sentimento de ficção
‘real’.
Fonte
: Divulgação/TV Globo
Fig.
50
Merchandising da Valisére.
Zoom da câmera na equipe de Produção da
agência de modelos escolhendo os
conjuntos de lingerie a serem fotografados.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig.
51
Merchandising da Valisére.
Equipe de modelos fotografando para o
catálogo do cliente da Razzle Dazzle, a
Valisére.
Fonte: Divulgação/TV Globo
131
Essa seqüência de fotogramas apresentados acima, é referente à primeira
das três ações de merchandising da Valisére, que tem como tema principal a
agência de modelos Razzle Dazzle, tendo o mesmo escopo de produção, como
poderemos observar nas fotos a seguir, das ações subseqüentes.
As cenas dessas ações de merchandising são sempre orientadas a acontecer
no ambiente da agência de modelos Razzle Dazzle. Acontecem em longo período
de duração, geralmente, com mais de quatro minutos, envolvidos, naturalmente, em
histórias que fazem parte deste núcleo da novela.
Não interrompem o fluxo da trama, as ações se encaixam no contexto por
serem necessárias, ali, para contextualizar, de forma mais real possível, como as
coisas acontecem em uma agência de modelos e, aproveitam a oportunidade para
inserir uma marca, mas, convenhamos, as ações de merchandising da Valisére
foram extremamente bem executadas, sem atrapalhar o andamento da história,
cheia de beleza, sensualidade, jogo de cores e imagens.
A terceira ação de merchandising da Valisére acontece nos mesmos moldes
das anteriores, se dá em torno da agência de modelos Razzle-Dazzle, em um
momento onde realiza o trabalho de produção comercial para o lançamento de uma
nova coleção da Valisére.
Fig.
52
Merchandising da Valisére.
Zoom da câmera em Giovana, garota
propaganda do catálogo da Valisére que a
Razzle Dazzle está produzindo.
Fonte: Divulgação/TV Globo
Fig.
53
Merchandising da Valisére.
Imagem superior com ângulo mais aberto
mostrando o fotógrafo trabalhando e
fotografando as modelos para produzir a
campanha.
Fonte: Divulgação/TV Globo
132
No ato de realizar esta seleção de modelos, a cena que aparece são, muitas
delas, desfilando e sendo fotografadas com lingeries de vários modelos, de sensuais
a casuais, um cenário e produção totalmente inseridos na ficção, levando em
consideração que estavam praticando uma atividade que é, normalmente, realizada
por agências de modelos. Desta forma, não ‘incomoda’ o telespectador, pois, todo o
cenário e a ação comercial do merchandising estão totalmente inseridos no roteiro e
contexto da história naquele momento.
Fig. 54
Merchandising da Valisére.
Abertura da cena do merchandising com
zoom nos lábios de uma das modelos.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 55
Merchandising da Valisére.
Continuidade da cena com zoom da câmera
nos olhos da mesma modelo.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 56
Merchandising da Valisére.
Câmera com imagem aberta, tomada por
toda a tela do televisor, mostrando o painel
com a exibição da logomarca da Valisére.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 57
Merchandising da Valisére.
Continuidade da cena com zoom da câmera
em duas modelos ao centro. Ao fundo
aparece a marca Valisére, de forma subjetiva
e com seu logotipo recortado, mas que
simboliza sua marca, apresenta
anteriormente.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
133
Ao fundo do cenário com meia luz, música em ritmo acelerado que lidera a
cena com foco na sonoplastia, um painel expõe a marca Valisére, em segundo
plano, com uma grande imagem de fundo, que apenas está ali para dar cor à
imagem. As cenas, também, são compostas para demonstrar de que forma
acontecem os bastidores do trabalho de produção de uma agência, com a
preparação das modelos sendo maquiladas e produzidas para as fotos.
O relato dessas imagens, que interpelam as cenas de aparição da marca
Valisére exposta no cenário, proporcionam certo ‘desligamento’ da publicidade
propriamente dita. É uma forma de tornar a imagem e a ação comercial híbrida com
a história contada na trama.
Para amenizar
81
a ação de merchandising, a cena é interrompida, por duas
vezes, com a pausa da música. Uma delas é interrompida por dois personagens da
novela, para uma fala que trata da beleza da mulher, da paixão, da admiração pelo
belo. A outra interrupção é com o toque do celular de um dos atores, e, na linha,
está sua namorada. No momento em que ele percebe sua voz, ele desmente que
está em um desfile de lingerie, mesmo que este seja o seu trabalho, pois é um
funcionário da agência de modelos.
Essas interrupções deixam o merchandising menos agressivo para a
recepção da mensagem pelo telespectador, pois, a presença de personagens que
81
Amenizar no sentido de deixá-la mais natural, leve e humanizada diante do contexto da
teledramaturgia.
Fig. 58
Merchandising da Valisére.
Zoom da câmera mostrando as modelos
sendo produzidas para a sessão fotográfica.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 59
Merchandising da Valisére.
Zoom da câmera mostrando as modelos
sendo produzidas para a sessão fotográfica.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
134
estão no dia-a-dia, presente na história, humaniza a ação comercial, mas, ainda
assim, a marca fica presente em segundo plano na cena.
Por intermédio da análise pré-iconográfica (PANOFSKI, 1991), no âmbito
primário ou natural, podemos identificar nestes fotogramas apresentados que as
formas puras e cores, concebidas nesta ação, em sua maioria são formas
irregulares, verticais e extensas (todas as modelos são altas), algumas figuras
aparecem ao centro da tela e todo o cenário apresenta cores quentes e muito
preponderantes de tom amarelo/laranja (característica de um ambiente de meia-luz,
como se fosse luz de velas) e rosa (que é o fundo da tela, onde aparece a marca).
As linguagens cromáticas e visuais são fortemente utilizadas, para promover
o envolvimento sensual com a apresentação do produto, que são lingeries. A
câmera ‘brinca’ com um jogo de ângulos, planos e seqüências com diferentes
enquadramentos, como pode se verificar na seqüência de fotos, que proporciona, ao
telespectador, total atenção em detalhes, principalmente, no corpo das modelos, que
vestem a lingerie, objeto do merchandising.
É exatamente dessa forma, sutil e envolvente, que a telenovela Belíssima
permite ser um espaço simbólico para a publicidade, de forma que o telespectador
se encante com a ‘espetacularização’ da dramaturgia, de forma inconsciente.
As outras cores branco, preto, rosa, que são representadas, discretamente,
pelos lingeries utilizados pelas modelos, ficam sutis e quase imperceptíveis, apesar
de estarem presentes no principal ponto da ação, o produto. As formas do corpo
Fig. 6
0
Merchandising da Valisére.
Interrupção da ação para Narciso comentar
sobre a sensualidade de uma mulher vestida
em um lingerie.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 61
Merchandising da Valisére.
Interrupção da ação para Narciso atender ao
telefonema de sua namorada.
Fonte:
Divulgação/TVGlobo
135
humano feminino ficam em evidência em função dos ângulos que são filmados e
apresentados na tela.
Considerando a análise iconográfica que estuda o tema ou assunto da obra
de arte, descrevendo e classificando as imagens, realizamos a leitura no âmbito
secundário ou convencional, associando as cores e formas com o corpus em
questão.
Apesar de ser representado por formas, volumes e cores, que vão sendo
descobertos, apresentados e mostrados ao longo da cena, logo no início da
apresentação das imagens, em função da familiaridade com os objetos e fatos
apresentados, identifica-se que o objeto que se trata é o corpo feminino, por ser
conhecido e fazer parte do alfabeto visual do telespectador.
O alfabeto visual do telespectador logo capta do que se trata, entende que ali
não está apenas sendo representadas bocas, cabelos e rostos, mas, a própria
narrativa construída no decorrer dos capítulos, e isso faz com que o telespectador
associe aquela ação à uma das atividades comerciais ficcionais da trama, que é
uma cena de um desfile de moda inserido no contexto, de que na história existe uma
agência de modelos e, naquele momento parece natural o desfile, mesmo que de
lingerie e com a marca da Valisére exposta ao fundo de forma preponderante, que
permeia toda a cena (ação de merchandising), com duração de exposição superior a
cinco minutos.
A percepção aqui tratada é a relação de apresentar cores e formas do corpo
feminino com o produto, que são lingeries, peças essas utilizadas por mulheres,
para seduzirem o sexo oposto e serem consideradas atraentes.
A todo o momento a ação de merchandising associa as imagens à percepção
que ela quer causar no receptor da mensagem, no caso o telespectador. Por
exemplo: na figura 54, onde aparecem apenas os traços dos lábios de uma mulher,
poderíamos pensar em uma ação de merchandising de um batom, ou cosmético
qualquer, porém, em função da composição de toda a imagem, as cores de fundo
(que remetem luz de velas), o ângulo da modelo, e a posição dos lábios diante do
enquadramento da câmera, associam-se, diretamente, a algo sensual, que trata
acerca da beleza. Essa é uma maneira de classificar a imagem pela percepção que
ela proporciona.
Panosfky (1991, p. 54) considera que o significado intrínseco ou conteúdo é
apreendido através do reconhecimento de princípios não explícitos, que revelam a
136
maneira de ser de uma nação, um período, classe social e suas crenças, trata-se do
inconsciente coletivo, onde as pessoas estão inseridas, muitas vezes, sem mesmo
saber que fazem parte de um universo que é tratado na teledramaturgia.
Considerando, então, a análise iconológica, que interpreta os elementos
desses significados, sintetizaremos a construção do significado da mensagem
apresentada na ação de merchandising da Valisére, inserida na telenovela.
Existem muitas mensagens subjetivas, ou, ainda, não explícitas, inseridas
nesta ação, que tratam de diversas características da nossa sociedade atual: a
relação de capitalismo e poder, nosso modo de viver e se relacionar com o mundo
dos negócios, as aspirações de adolescentes quanto a profissão e carreira, a crença
de um dia conseguir chegar ao mesmo lugar e ser como todas as modelos que
estão sendo mostradas, ou ainda poderosa e linda como a dona da agência de
modelos Razzle Dazzle, a Rebeca, que tem carreira internacional.
Essa ação de merchandising e todas as outras inseridas no mesmo
contexto –, foi muito bem elaborada, pois traz em si todas as questões que uma
mulher, na sociedade s-moderna, onde o movimento pela independência e
diretos femininos, mais almejam para si, suas dúvidas, angústias, aspirações,
desejos e propósito de vida, desde a questão profissional até social e sexual.
A dona da agência é rica, poderosa e linda, as modelos são magras e
sensuais, tem um emprego satisfatório e trabalham em uma empresa reconhecida
no mercado, estão apresentados seus corpos, praticamente nus, desprovidas de
qualquer inibição.
A construção do significado dessa ação trata, de forma clara, mas não
explícita, a questão de espelhar a sociedade feminina brasileira. A teledramaturgia
se utiliza dessa façanha para entreter a telespectadora e representam a
reconstrução da realidade pela reprodução do cotidiano da sociedade em que está
inserida, não apenas realidade enquanto realizações, mas, também, e,
principalmente, os sonhos, desejos e as crenças.
Talvez a telespectadora possa não ter uma empresa tão bem sucedida como
a da Rebeca (personagem que representa a dona agência de modelos Razzle-
Dazzle); talvez ela não tenha a beleza, nem a sutileza e sensualidade das modelos,
assim como não conseguirá fazer 38 milhões
82
de pessoas pararem em frente a uma
82
Audiência (quantidade de telespectadores que estão com seus televisores ligados na programação
referenciada) medida pela empresa IBOPE para a novela da Rede Globo, a Belíssima.
137
televisão para assisti-la; mas, uma coisa ela pode ter, com muito ou nenhum
sacrifício, o mesmo lingerie, que, de um modo tão simples na sua aparição, mas tão
complexo no seu significado, retrata tudo o que a sociedade espera dela e tudo o
que ela gostaria de ser para si mesma e para a sociedade: poderosa, sensual, bela,
esbelta, magra, admirada, desejada, eficiente, reconhecida, merecedora, elogiada e
muitos outros adjetivos que poderíamos ficar aqui descrevendo.
A ação de merchandising proporciona esse processo intertextual entre a
teledramaturgia e a publicidade, combinando a elaboração e construção da
mensagem e de seu significado, de forma a construir um discurso persuasivo para o
consumo do produto apresentado, que, por sua vez, traz em si diversas questões da
vida cotidiana real para a ficção, de uma forma muito mais simples e prazerosa.
Inserido na sua estrutura discursiva está implícita a vontade de ter ou ser
algo/alguém, a partir de um bem de consumo, invertendo os valores de ser alguém
por um bem de consumo e, não pelo que significa e simboliza na sociedade e nem
pela construção do seu sentido na sociedade.
Não podemos deixar de observar que, analisando todo o contexto da cena
que traz a ação de merchandising, fica claro que a própria ão em si é muito
subjetiva, pois ela representa a reconstrução da realidade pela reprodução do
cotidiano e a publicidade não interrompe, por longo período, o fluxo narrativo da
trama – a ação de merchandising foi realizada de forma sutil e muito contextualizada
com a história da telenovela, simplesmente pelo fato de ter sido apresentada dentro
da agência de modelos, que faz parte do cenário que o telespectador aceitou e
identificou como natural, ou seja, faz parte do seu alfabeto visual quando se trata
da novela ‘Belíssima’.
Para traçarmos um paralelo, de forma comparativa, do que consideramos
uma ação de merchandising mal executada, mostraremos apenas uma a ação das
Lojas Renner ,realizada na trama, que fica completamente deslocada das outras
ações de merchandising realizadas em Belíssima’, soando como falso, exagerado e
grotesco, apesar de aparecer o produto principal, o lingerie, na cena. Observemos
os fotogramas abaixo.
138
Mãe (Safira) e filha (Giovana) caminham pela loja, de forma meio alienada,
conversando sobre os problemas de família, sobre a vida. Passam por uma porção
de lugares da loja, vão retirando tudo o que vêem pela frente nas gôndolas e
colocam diante do corpo, elogiando as peças. Honestamente, parecem duas
alucinadas em busca de alguma coisa que não sabem exatamente o que é.
A cena anterior ao merchandising é interrompida, abruptamente, para que a
imagem das duas no interior da loja seja tomada por toda a tela da televisão. Essa
interrupção da história da trama para um momento sem sentido, que não conta nada
e nem dá continuidade à história nos parece muito falsa e forçada.
Não acreditamos que essa seja a melhor forma de se executar uma ação de
merchandising, pois ela não participa da linearidade da narrativa, tampouco da
continuidade do discurso visual e verbo da cena anterior. Parece, de fato, que há um
break para um comercial.
Ação esta que consideramos muito diferentes das realizadas anteriormente,
por exemplo, em que a personagem Safira tinha um envolvimento com o produto,
pois exibia os lingeries em momentos de sedução com Pascoal. Essa narrativa fazia
parte da trama, essa cena precisava acontecer para dar continuidade a contar a
história do caso escondido dos dois.
O envolvimento do personagem ficcional com o produto anunciado é
fundamental para transferir credibilidade e criar identificação com a ação proposta. E
não, necessariamente, o envolvimento se única e exclusivamente pelo processo
do discurso verbal. E é esse, exatamente, o caso da personagem de Safira, que tem
Fig. 62
Merchandising Renner.
Safira e sua filha Giovana dentro de uma
loja da Renner comprando lingerie.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 63
Merchandising Renner.
Safira e sua filha Giovana dentro de uma
loja da Renner comprando lingerie.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
139
grande envolvimento com as aparições de lingerie na trama e, do núcleo da agência
de modelos Razzle Dazzle.
Essa co-relação existente entre o figurino da personagem e da atividade
principal de uma das empresas da trama, proporciona o envolvimento ideal com o
produto lingerie, pois, proporciona a identidade que todo anunciante busca para
seus produtos e, no caso, a Valisére e a Lycra puderam tirar grande proveito disso.
Baseado nisso, enfatizaremos a questão de o lingerie ser explorado na novela
de forma extrema, apesar de ser o tema principal, promovendo (não sabemos se de
forma inconsciente ou não) o incentivo ao consumo dessa mercadoria, mesmo fora
de ações de merchandising da Valisére e da Lycra.
Em um determinado momento da novela, a fábrica Belíssimase propõe a
lançar no mercado (ficcional) uma marca de segunda linha, mais popular, que
denominaram de Lindona’. Um grande evento foi realizado para o lançamento, uma
partida de futebol feminina onde todas as modelos, que faziam o papel de jogadoras
de futebol, estavam trajadas apenas de lingerie.
Não podemos caracterizar essa ação como um merchandising, propriamente
dito, visto que não tinha a marca de nenhum anunciante ‘real’ envolvida na ação.
Mas, como podemos negar que essa ação promoveu, indiretamente, o consumo de
lingerie e, principalmente, da marca Valisére, que havia realizado outras ações
significativas na trama? Não é possível negar.
Fica nítida a co-promoção da mercadoria e da marca, mesmo que o
proposital por qualquer uma das partes. A partida de futebol rendeu mais de dez
minutos de aparição e envolveu todos os núcleos da trama, pois como o jogo estava
sendo televisionado, todos os ‘personagens’ pararam para assistir. Parece-nos que
foi escrito quase metade de um capítulo com dedicação exclusiva è esta ação.
Esse incentivo e fomento constante do consumo de lingerie na trama, mesmo
fora das ações de merchandising, podemos caracterizar como merchandising de
oportunidade, que será proposto no próximo capítulo. Como exemplo disso,
podemos citar a personagem Safira promovendo lingeries em seus momentos de
sedução com Pascoal; a agência de modelos Razzle Dazzle, que realiza casting de
modelos para aparecerem com lingerie e, assim, se o processo de redundância
de incentivo do consumo do produto.
140
Fig. 6
4
Lançamento da marca Lindona
em jogo de futebol.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 65
Lançamento da marca Lindona
em jogo de futebol.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 66
Volta olímpica das jogadoras
após empate do jogo.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
Fig. 67
Volta olímpica das jogadoras
após empate do jogo.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
141
A construção de imagens feitas na novela, tende a propor mitos de auto-
realização, além de gerar o consumo de mercadorias do mundo real, que ficam
espalhadas em vitrines dos mais variados comércios, explorando a idéia de que se
você fizer como determinada atriz/personagem, você se sentirá como ela. O
consumo de produtos reais sobrepõe ao teleconsumidor a sua razão de coexistência
entre o ‘SER’ e o ‘TER’. Por isso, a telenovela tem o poder de fazer moda, como
veremos no item a seguir.
A falência do simbólico gera a perda dos sentidos, ocasionando o
esvaziamento da sociedade; as pessoas precisam ‘SER’ e ‘TER’ para se percebem
com o algo enquanto imagem. Essa velocidade da produção e de consumo das
imagens é ideal para o nosso mundo capitalista, já que essa falência dos sentidos
gera mais consumo, pois as pessoas precisam ‘SER’ mais belas, ‘TER’ o melhor
carro, a melhor roupa.
A nova sociedade não mais vive de pessoas, feitas de corpos e vínculos,
ela se sustenta sobre os pilares de uma infinita serial imagery’, uma
seqüência infindável de imagens, sempre idênticas. O admirável e desejável
Fig. 68
Foto dos dois times femininos de
futebol que realizaram o lançamento da marca
Lindona.
Fonte: Divulgação/TVGlobo
142
não é mais a diferença, mas a absoluta semelhança. Não mais a
capacidade criativa e adaptativa é o que se sobressai, mas sim a
necessidade de pertencimento. Ser aceito, ser adepto, ser adaptado.... Na
‘serial imagery society’ não se permite não ser uma imagem, não
espaços para as não-imagens, nem mesmo por simulação, nem mesmo nas
frações e frestas da vida-imagem”. (BAITELLO, 2005: 51)
A telenovela, se apropriando deste estado de hipnose e espetacularização do
vínculo restrito, visual e auditivo, aproveita-se para gerar lucro e rentabilizar sua
audiência, abrindo espaço para que as indústrias se aproveitem deste momento
anestésico e inerte do telespectador, para promover produtos e serviços, o chamado
merchandising.
Além do merchandising, tem-se uma outra forma de combinar a associação
de publicidade e telenovela: na telenovela explora-se o produto de forma mais
conceitual, formando opiniões, hábitos e atitudes e, no intervalo comercial, a
campanha publicitária do produto reforça sua qualidade para o consumo. A novela
conceitua, forma opiniões e a publicidade ‘chama’ o telespectador ao consumo
imediato. É nesta co-relação que o produto lingerie é explorado e permeia por toda a
trama de ‘Belíssima’, como se fosse a protagonista da história.
Esse hibridismo onírico da publicidade com a telenovela pode ser definido de
uma forma muito simples, utilizando-se das palavras de Morin: “um gigantesco
impulso do imaginário em direção ao real tende a propor mitos de auto-realização,
heróis modelos, uma ideologia e receitas práticas para a vida privada”. (MORIN,
1997, p. 90).
4.3 O CONSUMO DA MODA EM BELÍSSIMA INFLUENCIADO PELO
MERCHANDISING.
As lentes da televisão transformam as coisas mais belas, além de possuir
todos os recursos para atingir a opinião blica em grande escala. É desta forma
que as telenovelas se utilizam, cada vez mais, de temas presentes na vida cotidiana
da sociedade brasileira, enquadrados em suas programações. Outro aspecto
importante é a característica da televisão de lançar mitos e modas, sendo grandes
fornecedoras de estilos, trejeitos, roupas, acessórios, gírias etc.
143
As composições das cenas estabelecem uma forma peculiar, que, pelo
mecanismo de projeção-identificação, resulta numa relação estética e ativa a
percepção. “É através dos espetáculos que seus conteúdos imaginários se
manifestam. Em outras palavras, é por meio do estético que se estabelece a relação
de consumo imaginário” (DEBORD, 1997, p. 77).
A novela tem muito mais tempo de exposição e repetição
83
do que os
anúncios, com a atenção garantida dos espectadores para poder explorar diversos
estilos, que mostram, muitas vezes, como os personagens inseridos na ficção se
vestem, se portam, o que consomem em suas casas em termos de bens duráveis, e
a que tipo de serviços recorrem (bancos, médicos, psicólogos).
Os mesmos estilos podem, depois, ser usados nos anúncios publicitários
convencionais, de maneira curta e rápida, sem muita explicação, pois o espectador
se familiarizou com eles através da novela. O teleconsumidor já foi alfabetizado e
possui em repertório de visual, o que representa determinado produto oferecido à
ele, pois o personagem ‘x’ endossa que aquele produto é bom, pois ele também o
usa, até mesmo no âmbito da representatividade ficcional da novela.
O tema moda foi alvo de exploração em Belíssimapor sua trama principal
proporcionar a oportunidade de tratar deste tema de forma natural, aflorada,
costurando os personagens e suas simbologias e representatividades, com a beleza
feminina, a elegância e sofisticação de mulheres executivas na liderança de grandes
corporações, como a fábrica ‘Belíssima’ e a agência de modelos Razzle Dazzle, bem
como a exibição da dinâmica do mundo de plumas e paetês de modelos.
O figuro de cinco personagens femininas foram os grandes trunfos de
sucesso da figurinista Gogóia Sampaio, que construiu, cada um deles, de acordo
com a personalidade e identidade impressa para cada uma das personagens. Essa
projeção da ficção no universo real, de fazer a moda transpor a tela da TV, é
acontecimento de longa data, como pudemos observar no segundo capítulo deste
trabalho, em novelas mais antigas que já faziam moda como Dancin´days’ com as
meias de lurex, ‘Roque Santeiro’, com o laçarote na cabeça da viúva Porcina e
‘América’, com a estilização dos jovens no mundo country.
83
Sobre a estética da repetição, ver Balogh, A. O Discurso Ficcional na TV. Detalhes na referência
bibliográfica.
144
O ato de se vestir, oriundo de séculos passados, não está apenas ligado a
vestimenta de roupas compostas por tecidos tramados, coloridos e com texturas
diversas; esse ato, também, está ligado aos adornos utilizados como jóias,
maquilagem e outros adereços, como forma de espetaculizar o corpo.
O ato do vestir, pura e simplesmente, parte de uma idéia que se materializa
pelo objeto roupa e tudo aquilo que se relaciona com a atitude de se
ornamentar, de penteados a intervenções feitas diretamente sobre o próprio
corpo, constituindo um sistema de representação.
[...] O vestuário incorpora-se tal qual uma segunda pele, com a propriedade
de transmudar a Fig. original: o traje aparece, então, como peça
fundamental do jogo teatral.
O uso da roupa, através de épocas e civilizações se patenteia numa
manifestação sociocultural, símbolo distintivo, marca de determinada classe
social, casta, linhagem ou povo (LEITE; GUERRA, 2002, p. 30).
O movimento da moda tem seu foco principal nos tempos modernos. A
capacidade industrial de multiplicar em alta escala e propiciar o comércio, em muitas
partes do mundo, ao mesmo tempo de qualquer tipo de ‘moda’, nos faz acreditar
que, em dado momento, vivemos em um tempo homogeneizado, em que as
pessoas trocam a sua identidade profunda para construir uma que se assemelha a
um espelho de imagens construídas pela cultura midiática e pela espetacularização
das formas.
São muitas as formas de expandir a moda. Revistas de moda para classes
médias, programas diversos veiculados na TV, anúncios publicitários, comunidades
agrupadas por estilos e gostos semelhantes, enfim, a mídia como um todo reforça o
ciclo vicioso da construção da moda. De certa forma, o comércio, aproveitando-se
da oportunidade, caminha no mesmo sentido, de oferecer ao consumidor aquilo que
quer ser consumido; aquilo que se constrói a imagem e semelhança dos olimpianos.
A moda surge, assim, como um sistema estilístico de expressão, apropriado
e gico, refletindo o advento da mobilidade social, então, inaugurada. Sua
fluência resulta de o ser social sentir-se possibilitado e desejoso de romper
com o estabelecido, o fixo, de acordo com as modificações sentidas pela
comunidade. Simboliza transformação, mudança, progresso e movimento
através do tempo,em nuanças muitas vezes sutis e até imperceptíveis para
um observador comum. (LEITE; GUERRA, 2002, p. 38).
145
Considerando o conceito apresentado por Leite e Guerra (2002), a moda o
está presente na novela, ela é um espetáculo fechado que tem como principal
incumbência representar o real, e as vestimentas e adornos se transformam em
figurino, podendo, de alguma maneira, reproduzir as formas de moda; no espetáculo
aberto, regido pela sociedade, as pessoas se vestem em termos de tradução daquilo
que está em vigência na moda. Claro que as duas formas de espetáculos se
misturam e constituem em uma aglutinação de interferências, mas:
Moda e figurino convivem em “mundos” paralelos, e sua diferença reside no
real e na ficção. Mundos que apesar de paralelos agem e interagem, de tal
modo que muitas vezes é difícil definir os campos do real e das
“representações”. O espetáculo aberto se “abre” para o espetáculo fechado
que, por sua vez, o engloba, pois o representa. (LEITE; GUERRA, 2002, p.
44).
O figurino das telenovelas é considerado como um item extramente
importante para se construir a narrativa. Ele faz parte da identidade do personagem
e do discurso comunicacional que deve carregar consigo, e, além disso, representa
as cores e texturas extrapolados ao ambiente da cenografia. O figurino ganha vida
quanto representa o seu papel junto com a diegese do personagem.
É desta forma que acontece a incorporação do vestuário ficcional, o figurino,
em vestuário real, as vestimentas da moda. Essa apropriação dos dois mundos
paralelos, do real e ficcional, pela sociedade, é nosso conhecido tempos, quando
analisamos todos os fatos de movimentações da moda influenciados pelas
telenovelas.
Enquanto Júlia era uma mulher que só usava bege e tons básicos, Bia Falcão
era um exemplo de elegância e sofisticação. Esse figurino fazia parte da
personificação das personagens:
Bia é uma mulher que envelheceu, mas continuou moderna e chique. A
personagem de Fernanda Montenegro é segura de si e sabe exatamente o
que fica bem em seu corpo. Ela é uma referência de elegância. Julia se
preocupava com o trabalho e seu guarda-roupa era composto apenas por
conjuntinhos de saia e calça com blazer. Com a chegada do amor à sua
vida, ela se tornou mais feminina, apostando nos vestidos, sandálias de
salto alto e acessórios um pouco mais sensuais, mas sempre discretas e em
cores básicas (GOGÓIA SAMPAIO, Ana Maria, nº 485. 2006, p. 16).
146
Podemos notar o cuidado em desenvolver o figurino para cada um dos
personagens quando observamos a diferença de temperamento e personalidade de
Bia Falcão e de Júlia Assunção evidenciada pelo estilo de cada uma se vestir.
A transformação de Júlia, no decorrer da trama, também pode ser notada pelo
seu figurino. Quando ela se apaixona por André, sente-se mais segura e passa a se
vestir de forma mais ousada, mesmo sendo discreta. A personificação das
personagens de acordo com o seu estado de espírito ou papel que assumem na
trama, está diretamente ligada ao seu figurino e adornos utilizados.
Bia Falcão, a vilã, estava
sempre com roupas marcantes,
elegantíssimas, com anéis, brincos
e colares grandes e dourados ou de
pedras extravagantes, que a
auxiliavam a assumir o papel de
superioridade e predominância da
situação que sempre pretendia
imprimir em suas interações na
trama. Mesmo sendo a vi da
história, não deixou de ser copiada
pelas teleconsumidoras que
admiravam, apesar de tudo, sua elegância e sofisticação.
Reforçando esta idéia, Leite e Guerra (2002, p. 13) afirmam: “O figurino,
mesmo quando ainda incipiente, teria se presentificado desde que o homem se
admitiu como personagem: ele se ornamentava de acordo com as personificações,
caracterizações e status que pretendia assumir”.
Belíssimase passa em São Paulo, cenário de uma grande metrópole, que
abriga pessoas (personagens) de várias etnias, faixas etárias e classes sociais
diferentes. Desde o figurino da novela até a cenografia, mostram com clareza a
diversidade de acontecimentos da vida e de relacionamentos da sociedade em um
ambiente tão diversificado como São Paulo.
Por retratar um universo cheio de glamour e moda, o cenário da novela teve
muitas aparições em volta deste tema. Os figurinos de Belíssima fizeram muito
sucesso, foi uma das novelas que a Central de Atendimento Telespectador (CAT)
Fig. 69
Figurino de Bia Falcão e Júlia
Assumpção.
Fonte: Divulgação/TV Globo
147
recebeu mais ligações para saber do esmalte e tintura do cabelo da personagem de
Glória Pires (Júlia Assumpção), dos vestidos de Vitória e de Katina, do figurino
sensual e ousado de Safira e do look despojado de Rebeca
84
.
A moda da classe menos favorecida da novela também causou interesse e
frisson nos telespectadores, com o visual ousado e colorido de Safira. Safira vestia-
se sempre com roupas justas e sensuais, deixando seu lingerie à mostra, no ombro
ou nas costas.
Essa personagem foi a principal responsável pela promoção desse produto na
trama, como pudemos observar no terceiro capítulo, com a análise das ações de
merchandising realizadas pela Valisére e pela Lycra, que apostaram nessa
personagem e em suas características para personificar a sua marca.
O diretor de marketing da Valisére identificou na personagem de Cláudia
Raia, a Safira – apesar de eternizada por seu papel de Tancinha, em ‘Sassaricando’,
como uma mulher espalhafatosa, um grande potencial diante da personagem e
seu figurino, para promover os seus produtos. As roupas de Safira falavam por ela.
Ela usava e abusava dos modelos
mais sensuais e com detalhes para destacar
seu figurino, a exemplo do fotograma 41 (ao
lado), com a exibição da alça do sutiã com
detalhe de borboletas, uma parte do bojo à
mostra e coberto, delicadamente, por um
bolero de renda, deixando os ombros e o colo
mais destacados. O sutiã está em evidência
nesta cena e, por conseqüência, este sutiã
que aparece nessa imagem foi presente de
um dos seus seis maridos em uma ação de merchandising da Valisére, que ocorreu
em um capítulo anterior.
A personagem Katina, vivida pela atriz Irene Ravache, também fez sucesso
com seus vestidos estampados, transpassados e com decote em "v". Apesar de ser
uma dona de casa, Katina estava sempre elegante, cuidava de toda a família sem
perder a graça, muito alegre e extrovertida. Isso talvez explique as estampas florais
84
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
Fig. 70
Figurino de Safira. Alça e parte
do sutiã à mostra.
Fonte: Divulgação/TV Globo
148
do seu figurino. O modelo cache-cour, transpassado na cintura e com caimento em
viés ou mais reto, é simples de se produzir até em casa.
O visual de Vitória, incluindo figurino e corte de cabelo, também chamou a
atenção e conquistou as mulheres de todas as faixas etárias. A personagem vestia-
se sempre com vestidos ultra femininos, feitos de tecidos de fibras naturais com
estampas leves e apliques de bordados muito delicados. No inverno, a personagem
não abriu mão dos vestidos, que passaram a ser de tecidos mais pesados. Além
disso, a personagem usava boleros e botas de couro de cano alto para se proteger
do frio de São Paulo (MEMÓRIA GLOBO, 2008).
Quando falamos que a moda não é o figurino, podemos exemplificar com o
caso da moda da personagem Vitória. Em setembro de 2005, a revista Elle já
apresentava a nova tendência em um editorial de
moda na matéria intitulada “Vôo livre”. A abertura do
editorial era composta pelo seguinte texto: “Siga a
moda que sopra na direção da feminilidade
assumida, com vestidos meio setentinha, coloridos,
estampados e superamplos” (ELLE, setembro de
2005, p. 117).
A tendência tinha sido revelada em
eventos de moda realizados em 2005, por exemplo,
o Fashion Rio e o São Paulo Fashion Week; mas,
podemos constatar, que o esforço dos estilistas em imprimir uma tendência de moda
veio à tona quando a novela entrou no ar e utilizou desta tendência para construir o
figurino da personagem, os modelos exibidos nas passarelas tempos antes ganhou
as ruas.
Apesar disso, Gogóia Sampaio, figurinista de Belíssima’, em entrevista no
programa Marília Gabriela Entrevista, da GNT, declarou
85
:
A nossa novela agradou muito ao público da moda. Mas não é a intenção
do figurino. s fazemos personagens. Então, quando pegou a moda da
Vitória, que virou o maior sucesso, que foi pro shopping, foi um movimento
contrário. Que como eu tinha confeccionado as roupas, elas não existiam
85
Marília Gabriela Entrevista GNT - Canal Globosat (NET/ Sky#41). No ar domingo às 22hs.
Horários Alternativos: nas madrugadas de sábado para domingo às 3h30, terças às 22h30, nas
madrugadas de terça para quarta às 4h, quartas às 16hs, quintas às 10hs, sábados às 10h30 e 15h.
Entrevista realizada em 05 de jul.2006.
Fig. 71
Figurino de Vitória.
Fonte: Divulgação/TV Globo
149
nas lojas. E as lojas começaram a ficar desesperadas e começaram a fazer.
Eu comecei a entrar no shopping e ver um vestidinho que foi baseado no
que eu fiz. Eu não posso falar que foi copiado, mas foi baseado no que eu
fiz.
Outra personagem que se destacou pelo figurino e estilo despojado foi
Rebeca, interpretada pela atriz Carolina Ferraz. Dona da agência de modelos Razzle
Dazzle, grande núcleo de moda e beleza da trama, Rebeca vestia-se sempre com
peças sofisticadas e descoladas, seguindo as últimas tendências da moda. As
combinações de cores e acessórios vibrantes fizeram a cabeça das mulheres, mas,
temos que concordar, que o estilo de Rebeca não pode ser utilizado em qualquer
ocasião, tampouco por qualquer perfil de mulher. Difícil imaginar a personagem de
Safira nas roupas de Rebeca, por exemplo.
Seu traje preferido era shorts curto, com camisa, de modelos diferenciados,
acompanhada de algum lenço ou cinto largo
ornamentando a cintura e destacando as curvas
do seu corpo, visual bem estiloso, diferenciado.
Magra, alta, elegante e moderna, Rebeca tinha
todas as características de uma mulher sedutora
para o universo masculino, estereótipo típico de
ex-modelo, papel que assumiu na trama.
O estilo despojado de suas roupas não
chegou a fazer moda de guarda-roupa do dia-a-
dia, mas as festas, bares e casas noturnas, em
geral, presenciaram com grande poder a
semelhança com este figurino. Até no inverno ele
foi utilizado com meias grossas e sapato scarpin,
para completar a elegância do look.
Pudemos perceber que em Belíssima’, o
tema de moda esteve muito presente na narrativa da trama, muitas personagens
ditaram moda, cada uma por características peculiares destinadas aos seus
personagens. Vestir-se e ornamentar-se é um processo de identificação e
propriocepção do momento e estilo de vida de cada indivíduo. Obviamente, não o
todas as pessoas que se influenciam pelo processo da moda, mas, independente da
telenovela, tem essa força de movimentar estilos de vida, de comportamento, de
consumo, as pessoas ainda fazem escolhas. Mesmo que essas escolhas sejam
Fig.
72
Figurino de Rebeca.
Fonte: Divulgação/TV Globo
150
induzidas ou fomentadas por uma força externa, as pessoas fazem suas escolhas.
De qualquer forma, não podemos negar que:
Mais do que isso, esses heróis de romance ou de cinema podem vir a ser
exemplos, modelos: a identificação bovarysta suscita um desejo de imitação
que pode desembocar na vida (imitação de penteados, vestimentas,
maquilagens, mímicas, etc., dos heróis dos filmes) ou orientar condutas
essenciais, como a busca do amor e da felicidade. (MORIN, 1997, p. 83)
Além da exibição diária da novela mostrando o figurino e suas influências,
outros meios (media), como as revistas e jornais, legitimam e reforçam a telenovela,
multiplicando o seu poder de persuasão e ampliando o seu potencial de abrangência
e de captação de atenção como um processo de onipresença.
citamos a revista Manequim, que teve uma matéria de capa (com Carolina
Ferraz, intérprete da personagem Rebeca) dedicada a falar dos figurinos das
personagens da novela Belíssima’. Além disso, independente da novela, a revista
Manequim tem uma coluna dedicada aos figurinos da TV. A cada nova novela, eles
fazem matérias de dicas de produção e criação de peças, bem como publicam nome
e endereço de lojas que vendem as vestimentas e acessórios parecidos com o da
personagem das telinhas
86
.
Como reforço da legitimação da novela pela mídia impressa, a revista Ana
Maria
87
também fez uma matéria de capa (com Cláudia Abreu, intérprete da
personagem Vitória) a respeito da novela Belíssima’ A matéria traça o perfil de cada
personagem e associa às roupas que utilizam. Além disso, oferecem um teste para
as leitoras fazerem para descobrir com qual personagem sua personalidade se
assemelha, aconselhando assim a trajar determinada roupa após o resultado do
teste.
Acompanhar a moda tem um sentido de ser moderno, estar atualizado, de
caprichar e cuidar de si e de sua imagem, e por isso pouco importa que a
roupa dure pouco ela é feita para durar enquanto ainda é moda, neste
ano. Ter certas roupas “da hora” é uma maneira de sentir-se participante na
sociedade de consumo, e talvez sentir-se parte do próprio Brasil.
(ALMEIDA, 2003, p. 170)
86
Vide anexo com matéria da Revista Manequim sobre o figurino da novela ‘Belíssima’.
87
AS BELÍSSIMAS DO HORÁRIO NOBRE. Ana Maria, nº 485, 27 de Jan./2006
151
No final, as vitrines dos shoppings e até das lojas populares, como por
exemplo, o centro comercial da Rua Vinte e Cinco de Março, no centro de o
Paulo, se assemelham ao guarda-roupa das emissoras. De certa forma, “o
nivelamento das diferenças sociais faz parte da padronização dos gostos e
interesses aos quais as mass media dão uma expressão e para qual contribuem”.
(MORIN, 1997, p. 43).
Como toda cultura, a cultura de massa elabora modelos, normas; mas, para
essa cultura estruturada segundo a lei do mercado, não há prescrições
impostas, mas imagens ou palavras que fazem apelo à imitação, conselhos,
incitações publicitárias. A eficácia dos modelos propostos vem,
precisamente, do fato de eles corresponderem às aspirações e
necessidades que se desenvolvem realmente (MORIN, 1997, p.109).
O vestuário e as indumentárias da ficção, que, muitas vezes, é criado em
função das tendências de moda ou de épocas específicas, acabam sendo
incorporados pela sociedade como um movimento reflexo da projeção, no sentido de
construir imagens, que se fazem como ligações entre o imaginário e o real, e
constituem-se como um duplo, em ritmo de idolatria de narciso, espelhados no outro.
Por meio de simulacros, os meios de comunicação de massa e seus produtos, no
caso a telenovela, alienam e nivelam cultural e esteticamente a sociedade, nivelando
comportamentos e padrões de forma similar de vários segmentos sociais. “O
resultado das manipulações é a padronização da forma” (RAMOS, 1986, 47).
A moda sofre um processo de popularização que na verdade é a
contrapartida da questão da distinção discutida por Bourdieu. O que antes
era uma moda européia e de elite, populariza-se com a novela, e ao final da
narrativa é a moda que está nas lojas populares. Nas novelas, pode tratar-
se de uma moda específica, associada a um personagem ou narrativa, mas
na maior parte das vezes trata-se apenas da popularização de um estilo que
pode ter se iniciado uma estação antes, na França, por exemplo. O mesmo
tipo de roupa que havia sido moda um ano ou semestre antes nas revistas
européias mais elitizadas – como Vogue ou Elle. (ALMEIDA, 2003, p. 156)
Na sociedade contemporânea e moderna que vivemos hoje, podemos dizer
que as aparências e imagens (duplos) constituem o universo de moldes de
comportamentos oriundos das massas. Desta forma, a moda, e não de trajes e
roupas, mas de comportamento e estilo de vida, é tão essencial quanto viver e co-
participar de uma sociedade orientada à construção de imagens e simulacros. A
152
moda, embora seja uma forma de expressão de uma personalidade, também
funciona como simulacro, como uma produção de uma individualidade coletiva, cada
qual como seu guarda-roupa e como seu tamanho de manequim, mas com alguma
coisa em comum, a moda.
As potências de projeção isto é as de divertimento, de evasão, de
compensação, de expulsão, até mesmo de transferência quase sacrificial
se propagam por todos os horizontes do imaginário. [...] Divertem-se nos
universos idealizados onde tudo é mais intenso, mais forte, melhor. No meio
de todas essas projeções funciona uma certa identificação; o leitor ou
espectador, ao mesmo tempo em que libera fora dele virtualidades
psíquicas, fixando-as sobre os heróis em questão, identifica-se com
personagens que, no entanto, lhe são estranhas, e se sente vivendo
experiências que contudo não pratica. Diferentes fatores favorecem a
identificação; o ótimo da identificação se estabelece num certo equilíbrio de
realismo e de idealização; é preciso haver condições de verossimilhança e
de veracidade que assegurem a comunicação com a realidade vivida, que
as personagens participem por algum lado da humanidade quotidiana, mas
é preciso também que o imaginário se eleve alguns degraus acima da vida
quotidiana, que as personagens vivam com mais intensidade, mais amor,
mais riqueza afetiva do que o comum dos mortais. É preciso, também, que
as situações imaginárias correspondam a interesses profundos, que os
problemas tratados digam respeito intimamente a necessidades e
aspirações dos leitores ou espectadores; é preciso, enfim, que os heróis
sejam dotados de qualidades eminentemente simpáticas. (MORIN, 1997, p.
82-83)
Na sociedade contemporânea e moderna que vivemos hoje, podemos dizer
que as aparências e imagens (duplos) constituem o universo dos modelos
motivadores do consumo. O comportamento de compra do indivíduo pode estar,
diretamente, atrelado à imagem que ele constitui de si mesmo, ou que pretende
constituir como motivador do consumo de produtos que carregam em si, símbolos
capazes de expressar sua propriocepção
88
, que pode ser elaborada diante de três
diferentes paradigmas: o universo real como a pessoa se percebe; o ideal como
gostaria de ser percebida; e, o social como se apresenta o seu eu para os outros.
Os produtos de consumo são como instrumentos que ajudam a realizar o transporte
do “eu real” para o eu ideal”, trabalhando com construção de imagens, constituindo
os simulacros da sociedade moderna.
88
Percepção de si mesmo.
153
5 PROPOSTA PARA UMA NOVA TIPOLOGIA DE MERCHANDISING: o
Merchandising de Oportunidade.
No terceiro e quarto capítulos pudemos observar de que forma a telenovela
como se fosse um fio condutor, tem o poder de levar, ao mesmo tempo,
entretenimento, consumo, orientação social, formação de opinião, mudança de
hábitos e atitudes para a sociedade, movimentando uma gigantesca nação brasileira
de mais de 180 milhões de habitantes
89
.
Estabelecemos os tipos de merchandising convencional (lê-se conhecidos)
que hoje são utilizados por anunciantes dos mais diversos setores, em uma relação
de co-participação da indústria do entretenimento, no caso as emissoras de TV e
seu produto telenovela, com as empresas anunciantes e suas agências de
publicidade, que intermedeiam o processo de negociações de mídia na maioria das
vezes.
Mas, analisando os acontecimentos e fatos ocorridos em Belíssima’, bem
como em outras telenovelas estudadas nesta pesquisa, percebemos que uma
proliferação do efeito do merchandising para o mercado de consumo em geral e
para outras empresas, que replicam as mercadorias expostas na telenovela.
Os figurinos da novela podem ser constituídos com peças de roupas,
calçados ou adereços de empresas interessadas em mostrar o seu produto, mas, a
sua marca não é exibida, justamente por não contratarem a publicidade em formato
de merchandising. Neste modelo de ‘empréstimo’ de mercadorias é que vemos,
também, uma grande oportunidade para os produtos exibidos nas tramas ganharem
as ruas e cair no gosto dos teleconsumidores. Essa exibição de produtos reais que
estão nas vitrines das lojas, facilita a oportunidade de consumo pelos
teleconsumidores e, também, a replicação e cópia pelos concorrentes da empresa
que realizou o ‘empréstimo’, mas não marcou o seu mercado por não ter exibido a
marca.
As indústrias concorrentes dos anunciantes da trama (às vezes não tem
anunciantes específicos, vende-se uma idéia, um conceito, um modismo copiando o
89
Fonte: IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, disponível em <http://
www.ibge.com.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php%3Fid_noticia%3D207%26id_pagin
a%3D1+%22popula%C3%A7%C3%A3o+do+brasil%22&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br>, acessado
em 23 Mar.2008.
154
figurino, por exemplo), que não investiram nenhuma verba em merchandising, se
aproveitam da condição de proliferação da mensagem, principalmente quando se
trata do processo de expandir a moda da TV para as ruas, para produzir e vender
produtos copiados (ou, até mesmo, plagiados) se beneficiando ‘gratuitamente’ da
publicidade realizada por terceiros, ou, ainda, da construção da narrativa de uma
história que, em função da caracterização do seu personagem, influencia a moda.
Ou seja, o Merchandising de Oportunidade pode ser utilizado no mercado paralelo
(não necessariamente ilegal, como em alguns casos), sem a interferência,
autorização e participação da emissora, neste caso, a Rede Globo.
Observando esta osmose da replicação das imagens da TV para o universo
real, podemos pensar na possibilidade de termos uma nova tipologia de
merchandising, que, no momento, denominamos de Merchandising de
Oportunidade. Não está muito claro, ainda, nesta pesquisa, se faz sentido a
emissora promover e comercializar essa ‘geração espontânea’ de consumo e
comportamento, exatamente nos moldes das vendas de um merchandising
convencional.
Talvez essa nova tipologia proposta não deva ser considerada e
comercializada como uma publicidade pelas emissoras, mas, sim, ser vista como o
aproveitamento de oportunidades por parte de indústrias terceiras dos mais variados
segmentos de mercado, geradas por um grande veículo de comunicação, a TV, e
um dos seus principais produtos, a telenovela.
Esse aproveitamento de oportunidades pode se enquadrar na simples
condição de uma empresa qualquer
90
, ter a perspicácia de perceber os modismos
construídos em uma telenovela, sem estar atrelado a nenhum anunciante, e
construir um produto ou promover sua marca baseado neste modismo proliferado.
Ou, ainda, uma empresa anunciar na telenovela, construir um conceito de consumo
do seu produto, promovendo uma ação de merchandising e, outras empresas
concorrentes, sem realizar investimento publicitário, se aproveitam dessa
publicidade para vender sua marca e seus produtos. Vale ressaltar que, antes de
consumir qualquer tipo de bem associado à trama, consome-se a própria narrativa.
Entendemos que, nesta condição, a emissora, supostamente, não teria
condições de tirar proveito da situação, uma vez que as influências de
90
De qualquer porte ou segmento de mercado.
155
comportamento e moda não são controladas pela Rede Globo. Eles, simplesmente,
fazem novela e comercializam espaços publicitários (no break ou inseridos na
trama), mas o são capazes de controlar todos os efeitos e uso indevido da marca
licenciada por parte das outras empresas, ou de fiscalizar quem, no mercado, utiliza
de suas idéias e sucessos das telenovelas para comercializar seus produtos.
Como afirma Ladeira (2008):
O cinema também dita moda. Isso é uma coisa que qualquer grande meio
de comunicação ele acaba interferindo não só na moda, como hábitos,
padrões de comportamento, no modo de falar, na gíria que se impõe
naquele determinado período. s tivemos rios personagens que
criaram bordões e que virou moda e caíram na boca do povo. Então isso é
uma coisa que acontece com freqüência. Então existem coisas que vo
pode transformar em negócio, tem como montar um modelo de negócio, por
exemplo, o merchandising é uma dessas estratégias que a gente transforma
as oportunidades que os nossos produtos oferecem em oportunidades de
negócio, que tem um valor financeiro envolvido. E tem outras que é
humanamente impossível de se controlar. Quando você tem uma novela,
por exemplo, Roque Santeiro, a viúva Porcina usava turbante, que era uma
coisa absolutamente brega, cafona, horrível e aquilo virou moda. Uma coisa
absolutamente impossível de se imaginar
91
.
Como exemplo disso, podemos apontar os inúmeros salões de beleza que se
espalharam pelo País, utilizando a marca Belíssima’, apropriando-se de uma marca
registrada e licenciada pela Rede Globo, que cobra de anunciantes caso queiram
utilizar a marca para estampar os seus produtos, como foi o caso da Valisére, que
comprou a licença de uso da marca para produzir uma linha exclusiva com o nome
Belíssima’.
91
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
156
Fig. 73
Anúncio de Clínica de Estética Belíssima em Porto Alegre, RS.
Fonte: Site telelistas.net
Fig. 74
Anúncio de Clínica de Estética Belíssima em São Bernardo do Campo, SP.
Fonte: Site telelistas.net
157
Podemos, ainda, citar inúmeras oportunidades de criação e proliferação de
produtos que as telenovelas geraram nos comércios nacionais, conforme constatado
neste estudo, no quarto capítulo, a ressaltar as pulseiras da Jade (personagem da
novela ‘O Clone’), que tomaram conta dos comércios populares (até os de rua, no
caso os camelôs); o lenço de Laura (personagem da novela ‘Celebridades’); o
esmalte e a tintura de cabelo de Júlia Assumpção (personagem da novela
Belíssima’), que logo foram copiadas por outros fabricantes, além do criador
original, a Maxton; os lingeries rendados e à mostra no colo do peito de Safira
(personagem da novela Belíssima’), que também promoveu grande proliferação de
Fig. 76
Anúncio de Clínica de Estética Belíssima em Sorocaba, SP.
Fonte: Site Diário de Sorocaba
Fig. 75
Notícia de inauguração de
estética Belíssima em Paranavaí, PR.
Fonte: Site Diário do Noroeste On-
Line.
158
pequenos e médios produtores produzindo réplicas desse produto, originalmente
produzido pela fabricante Valisére.
Acrescentando e enriquecendo essa nova proposta de tipologia de
merchandising, podemos refletir sobre a sua representatividade e importância, com
a visão de Marcondes Filho, que enfatiza a respeito da publicidade:
Podemos considerar esta ferramenta como uma apropriação
mercadológica do apelo aos sentimentos, medos e emoções das pessoas
que a dramaturgia consegue fazer, instrumentalizando essas necessidades
com outros fins: a obtenção de lucro e venda de mercadorias
(MARCONDES FILHO, 1988, p. 63).
Essa replicação dos modismos gerados pelas telenovelas ou em algumas
circunstâncias por anunciantes em ações de merchandising – e disseminados ao
mercado consumidor por diversas indústrias, tem como principal beneficiado as
próprias indústrias, na maioria dos casos, que não investem nenhuma verba
publicitária em merchandising ou, ainda, em intervalos comerciais ou qualquer outro
tipo de mídia tradicional.
Estabelecemos, então, que o Merchandising de Oportunidade pode ocorrer
em duas circunstâncias: 1) aproveitamento de oportunidades em função da
perspicácia das empresas do mercado, aproveitando-se da propagação natural
inserida na telenovela e; 2) uma empresa anunciar na telenovela, construir um
conceito de consumo do seu produto através da ação de merchandising e, outras
empresas concorrentes, sem realizar investimento publicitário, se aproveitam dessa
publicidade para vender sua marca e seus produtos.
Vale ressaltar que o Merchandising de Oportunidade não ocorre inserido na
trama, ao contrário, a telenovela é uma geradora espontânea do Merchandising de
Oportunidade, que pulveriza o consumo de produtos do universo ficcional para o
real. Algumas vezes, o Merchandising de Oportunidade pode ser derivado do
Merchandising editorial, mas, são realizados por empresas distintas, geralmente
concorrentes.
Ou seja, o Merchandising de Oportunidade ocorre, então, da TV seja
através de uma telenovela ou de um merchandising editorial para o
mercado/indústria, geralmente composto por pequenos e médios empresários, que
159
não dispõe de verbas publicitárias para investimento e, como afirma Ladeira (2008),
esse processo de disseminação da moda ou de modismos comportamentais é
impossível de se controlar e de exigir das empresas que paguem pelo lucro que a
Rede Globo gerou a elas, em função do auxílio da telenovela para promover seus
produtos de forma indireta
92
(informação verbal)
93
.
Acreditamos que no Merchandising de Oportunidade, o movimento é
realizado ao contrário do Merchandising Editorial, ou seja, a indústria, ou um grupo
delas com interesse comum, podem se apoiar na influência da telenovela e
desenvolver produtos e serviços que vão de encontro com as ofertas de moda e
comportamento apresentados na trama, desde a roupa de uma atriz até movimentos
sociais.
Mas, nem tudo o que é lançado em telenovela dá certo, como afirma Almeida
(2003):
Na maioria dos casos a moda da telenovela está de acordo com o que está
em voga no período. [...] no entanto, nem tudo o que é lançado certo,
isso só acontece quando há a conjunção de fatores: empatia do público com
o personagem, admiração pelo ator e praticidade da peça. Mas parece que
nada disso é muito previsível. [...] é necessário que o produto tenha uma
“imagem de marca” – que frequentemente é criada pelo usuário do produto,
no caso o personagem da novela que crie simpatia no público que quer
atingir. Assim, é realmente necessário que certa faixa do público identifique-
se com o personagem para que a moda ou estilo usado por ele tenha
repercussão (ALMEIDA, 2003, p. 160).
Desta forma, podemos considerar que o Merchandising de Oportunidade
ocorre quando as empresas/indústrias do mercado percebem as tendências de
consumo e comportamento, gerados e disseminados por uma telenovela, e essas
empresas/indústrias aproveitam a oportunidade para lançar novos produtos e
serviços associados aos estereótipos, modismos, conceitos e moda, pulverizado e
capilarizado pela telenovela, ou ainda, promover os seus produtos e serviços já
existentes.
Destacamos, também, que dentro da concepção que construímos para essa
nova tipologia de merchandising, o Merchandising de Oportunidade, o beneficiado
principal são as empresas/indústrias que conseguem se aproveitar da situação para
92
Referimos à ‘forma indireta’ pois as empresas
93
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
160
gerar lucro para si. A emissora produtora do conteúdo tem pouca influência sobre
isso, tampouco controle.
Não acreditamos que isso seja de todo ruim para a emissora, apesar de
dispersarem a oportunidade de ganhar mais dinheiro com publicidade, visto que, seu
produto, a telenovela, consegue se manter com autos níveis de audiência além da
boa trama contada na ficcionalidade que desperta interesse na continuidade de
assisti-la em função da popularidade que a telenovela alcança. E, ter popularidade
significa cair no gosto da população, influenciando comportamentos.
A definição de um esquema de programação que seja capaz de atrair
bastante público é determinante para o interesse do anunciante.No entanto
não basta ter audiência. [...] Para trazer o chamado retorno do investimento,
um programa precisa ter três características: popularidade, qualificação de
audiência e prestígio. [...] Popularidade é a primeira referência de sucesso
de um meio ou programa. Isso significa atingir “todo mundo”, ou quase
todos, o maior público possível. [...] A segunda característica importante
para definir o sucesso de um programa (e de uma emissora) consiste em ter
uma audiência qualificada. É preciso ir além do número geral medido em
termo de Ibope e ter qualidade nesta audiência, ou seja, atingir também o
público de maior poder aquisitivo (medido em termos de IPC, Índice de
Potencial de Consumo). [...] A terceira característica é prestígio, pensado
dentro do âmbito TV sem tentar comparar os produtos culturais desta
indústria com o prestígio de produtos do cinema, ou da arte erudita. [...] Um
programa tem que ter certa qualidade como produto cultural. É preciso ter
prestígio par ter legitimidade como bem cultural, um produto cujos
espectadores afirmem, sem medo ou vergonha, que gostam de assistir o
que não acontece com relação à novela apresentada apenas com pessoas
de capital cultural mais elevado (ALMEIDA, 2003, p. 119-130).
Esse poder de popularidade e prestígio permite à emissora ofertar com mais
eficiência seus espaços publicitários, tendo mais anunciantes interessados em fazer
publicidade, seja no intervalo comercial ou merchandising, gerando desta forma
lucro e rentabilidade para a telenovela em questão. Então, em qualquer
circunstância, a emissora beneficia-se deste movimento de influência nos mercados,
tanto o consumidor quanto o produtor.
Podemos pensar, ainda, no formato diferenciado de publicidade, que pode vir
a ocorrer com o advento da massificação da tecnologia da TV Digital, na qual,
especula-se a oportunidade de compra imediata do telespectador pelo produto que
está sendo apresentado na trama, desde a mesa do escritório, até o esmalte da
atriz, especula-se a possibilidade de, não necessariamente, ter uma marca
envolvida, mas isso, com certeza, também pode acontecer.
161
Essa oportunidade de compra dos produtos diversos pode vir a expandir ou a
reconfigurar o que determinamos aqui para o Merchandising de Oportunidade,
ampliando as possibilidades de empresas e anunciantes associar o seu produto
(sem exibição da marca como nas ações de merchandising editorial nos moldes
como conhecemos hoje) ao consumo direto e imediato dos modismos das
telenovelas.
Não sabemos, ainda, como será configurado esse formato comercial, mas,
fica aqui a oportunidade de desenvolver-se um estudo em profundidade com foco
em analisar as possíveis tendências e impactos dessa possível nova tipologia, ou
ainda, a mudança de uma tipologia atual de merchandising, bem como a que
propusemos neste trabalho.
162
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O telespectador-consumidor (teleconsumidor) tem mudado,
consideravelmente, seus hábitos de consumo de mídia ainda que a TV seja o meio
que recebe a maior fatia dos investimentos publicitários, que ela também tem
sofrido com as mudanças comportamentais e os avanços tecnológicos ocorridos nos
últimos 10 anos. Então, é necessário, cada vez mais, reinventar a publicidade, para
que a atenção do público-alvo seja capturada onde quer que ele esteja, com a sua
atenção voltada e, principalmente, onde quer que ele esteja disposto para o
consumo. A busca incessante dos anunciantes não é apenas pela audiência, eles
precisam buscar a atenção do consumidor.
Todos esses fatores de mudança, somados às diversas pesquisas de
mercado sobre o comportamento do consumidor
94
, a atenção e interesses
dispensados à publicidade no break, fizeram os anunciantes e publicitários
repensarem a eficácia do intervalo comercial, principalmente, na ficção televisiva, um
dos principais produtos do mercado. O merchandising faz parte desse processo de
captura inusitada, como pudemos observar nas ações realizadas pela Valisére e
Lycra dentro da trama ‘Belíssima’.
O objetivo principal desta pesquisa foi identificar de que forma e em que
condições a telenovela permite inserções de merchandising em seu conteúdo, sendo
alcançado no momento em que esmiuçamos detalhadamente as ações de
merchandising ocorridas, historicamente, nas telenovelas e, principalmente, na
trama ‘Belíssima’.
Entender o poder da TV enquanto produto midiático cultural, e a telenovela
enquanto um canal e via de acesso à criação de um espaço simbólico, como uma
ferramenta velada e híbrida de estímulo ao consumo inserido no contexto da trama,
nos permitiu avaliar a importância do uso desta ferramenta estratégica de
comunicação (o merchandising), por anunciantes dos mais diversos setores de
mercado neste mass media.
94
Muitos institutos de pesquisa, especializados em estudos de mídia, de análise de audiência e de
eficácia da publicidade chegaram ao Brasil para prover informações às emissoras e anunciantes, a
exemplo o IBOPE que possui pesquisas padronizadas e personalizadas sobre mídia, opinião pública,
política, consumo, comportamento, mercado, marca, propaganda, Internet, entre outros. O Instituto de
Pesquisas DataFolha em 2004 lançou no mercado uma ferramenta de “Módulo Recall de
Merchandising”, realizando piloto com dois programas da Rede Globo, o Big Brother e a novela
Celebridades.
163
Não podemos deixar de considerar que a indústria cultural promove esse
movimento de consumo pela necessidade do ser humano em construir imagens para
ser aceito na sociedade, mesmo que, para isso, ele passe talvez de forma
inconsciente – pelo narcisismo.
Com esse estudo foi possível identificar de que forma o discurso promocional
do merchandising consegue se inserir no discurso ficcional de forma estratégica,
assumindo um papel de transformar o público telespectador, ou, ainda, um
consumidor do universo ficcional, a um consumidor do mundo real.
As pessoas precisam ‘SER’ e ‘TER’ para se percebem como algo enquanto
imagem. Essa velocidade da produção e de consumo das imagens é ideal para o
nosso mundo capitalista, que essa falência dos sentidos gera mais consumo, pois
as pessoas precisam SER mais belas, TER o melhor carro, a melhor roupa.
O discurso do merchandising instala um jogo simulacro em uma relação
interativa entre o receptor da mensagem e o emissor, a saber o anunciante. O
discurso da Valisére construído em Belíssimaestabelece uma relação de duplos de
‘ser’ a personagem sensual e desejada como a Safira, que usava lingeries
maravilhosos e sempre tinha o seu corpo e sensualidade explorada, promovendo o
consumo, associado ao elo imaginário e onírico do receptor da mensagem, para que
ele pudesse se auto-reconhecer e se identificar naquilo que é mostrado no universo
ficcional.
Identificamos que o consumo da moda em Belíssima’, promovido por ações
de merchandising e por proliferação da interferência e influência do figurino dos
personagens, foi um grande alavancador de criação de estereótipos de beleza e de
espetacularização da moda. Visto que a moda é um dos maiores símbolos de
consumo da nossa atual sociedade e as pessoas têm o poder de escolha sobre o
que vestir, calçar e se ornamentar, compreendemos de que forma a sociedade se
movimenta pelas influências dos produtos dos meios de comunicação de massa,
principalmente a telenovela.
Essa nova tipologia proposta, o Merchandising de Oportunidade,
consideramos como aquele que não é pago por nenhum anunciante ou ainda não
comercializado pela Rede Globo com nenhuma empresa no mercado. O que ocorre
é exatamente o oposto, as indústrias é que são beneficiadas com ele (entre aspas
gratuitamente), fomentando o consumo de produtos que são apresentados na trama,
que viram moda e que não possuem uma marca definida. Beneficia-se quem tiver
164
uma visão arrojada e visionária do mercado de consumo e consegue perceber,
através da telenovela e de seu sucesso, o que o telespectador-consumidor está
disposto a consumir, mas que ainda “não tem um dono”, uma marca.
Em que momento a indústria se aproveita da telenovela quando esta não
planeja a publicidade na trama? No momento em que um audacioso empresário
visionário, ou tão somente ágil para acompanhar o mercado, percebe o movimento
da moda e o desejo de consumo dos produtos ficcionais pelo consumidor do mundo
real, proveniente do que propomos aqui como Merchandising de Oportunidade, cuja
ação não gera receita direta à emissora, mas o mercado se aproveita dessa
publicidade para gerar receita apenas para si, como uma via de mão única.
Pudemos observar, também, que além das ações de merchandising inseridas
na trama, houve a possibilidade de promover, genericamente, o consumo da moda,
em função da história narrada girar em torno desse tema, que espalhou uma
imagem, associada ao cenário da trama, com tamanha velocidade que tomou as
vitrines e as ruas da cidade em uma participação generalizada e popularizada para
as massas, representada pelos figurinos das personagens.
Imaginemos a condição de que a Valisére não realizasse essas ações de
merchandising, bem como nenhum outro anunciante: a trama seria contada da
mesma forma, pois fazia parte da história narrar essa espetacularização do mundo
da moda, do glamour, da beleza e do modelo estereotipado do universo feminino.
Por isso, consideramos que as ões de merchandising inseridas em
Belíssima foram produzidas e executadas de forma adequada, para que o
consumidor não o percebesse deliberadamente como um anúncio publicitário que o
ordenasse: ‘compre agora’. Neste caso, o merchandising extrapola os limites do
anúncio publicitário para construção de formato padrão de simulacros, constituídos e
imbuídos de um discurso ficcional.
O resultado final, e que consideramos importante deste estudo, é a proposta
de uma nova tipologia de merchandising, o Merchandising de Oportunidade, que
representa, justamente, esse movimento de expandir o consumo para as massas de
forma avassaladora, tendo a indústria (a princípio não envolvida diretamente com a
novela enquanto anunciante) como a principal beneficiária desse movimento, pois se
aproveita da oportunidade de extrapolação dos modismos da telenovela para
promover seus produtos, sem vínculo com a Rede Globo como anunciante.
165
Devemos considerar que este estudo não tem comprovação exata e está
fadado a ocorrer mudanças no conceito estabelecido aqui para essa nova tipologia
de merchandising. Não fazia parte do escopo desta pesquisa constatar se de fato as
indústrias, de forma consciente e estratégica, aplicam esta técnica para promover
seus produtos e serviços, mas, fica aqui, uma oportunidade de desenvolvimento de
um novo estudo acadêmico, exclusivamente voltado a este tema. Talvez esta seja
uma grande oportunidade para a continuidade de pesquisa em minha vida
acadêmica.
Sob nossa ótica, entendemos que dois aspectos podem mudar, e muito, o
cenário da publicidade, seja no intervalo ou inserida no conteúdo da programação: a
mobilidade e a interatividade. Com a mobilidade as mídias terão outros formatos e o
mercado publicitário terá que desenvolver formas diferenciadas de produção e, com
a interatividade, fomenta-se cada vez mais o consumo instantâneo, com uma vitrine
do varejo. Compartilhando a visão que Ladeira (2008) tem a cerca da publicidade e
as mudanças nos seus formatos e tipologias:
Não dá para a TV existir sem a publicidade, não seria possível construirmos
conteúdos com a qualidade que temos hoje. É impossível fazer televisão
apenas com conteúdo, a publicidade se faz necessária. Particularmente, eu
não acredito que um dia a publicidade deixe de existir, o que eu acredito é
que a forma de se fazer publicidade, seja merchandising ou não, será muito
diferente por vários aspectos: pelas novas tecnologias, pelo processo de
renovação natural que os conteúdos de entretenimento precisam ter e,
principalmente, pelas mudanças comportamentais dos nossos futuros
consumidores assíduos de mídia, que virão como uma geração
completamente diferente em termos de receptividade de mídia. Nós
estamos estudando as possibilidades de transformação de formatos de
mídia pensando no momento em que a TV Digital e a TV a Cabo se
popularizarem, no caso da TV a Cabo, entendemos que está mais
inserida na sociedade do que a TV Digital, por razões claras, mas s
temos um produto que é fundamental para o entretenimento e lazer,
literalmente, de todos: a telenovela. Nós entendemos a complexidade do
processo de mudança de comportamento do telespectador, mas não
acreditamos que tudo vai acabar, e as nossas pesquisas também não
apontam para isso, como se nada do que foi construído de relacionamento
com o telespectador tivesse valido a pena. Se o consumidor e telespectador
caminhar para uma multiplicidade de consumo de vários formatos de mídia,
como temos hoje a internet, podemos colocar a nossa novela na internet,
por que não? Mas sem dúvida, estaremos onde o público estará,
oferecendo o conteúdo que lhes interesse e isso, de certa forma, terá um
valor comercial. Nós temos uma grande vantagem: vendemos
entretenimento e público gosta disso. Faremos, e já estamos fazendo, o que
for preciso para proporcionar benefícios a todas as partes envolvidas no
processo (informação verbal)
95
.
95
Informação verbal concedida por Márcia Ladeira, no dia 11 de janeiro de 2008 em entrevista.
166
Mesmo com todas as considerações que fizemos no decorrer do trabalho a
respeito da perda da influência do break-comercial em programações massivas,
acreditamos estarmos longe da extinção dos intervalos comerciais, mas, com
certeza, a forma de fazer publicidade está mudando, os hábitos de mídia do
teleconsumidor também, bem como a forma de investimentos dos anunciantes.
167
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173
ANEXOS
174
ANEXO I – Ficha técnica de ‘Belíssima
Uma novela de Sílvio de Abreu
Escrita por Sílvio de Abreu, Sérgio Marques, Vinícius Vianna
Pesquisa de Texto Carmem Righetto
Direção Flávia Lacerda, Gustavo Fernandez, Natália Grimberg
Direção Geral Denise Saraceni, Carlos Araújo, Luiz Henrique Rios
Direção de Núcleo Denise Saraceni
Cenografia May Cordeiro, Mauricio Rohlfs, Ana Maria Mello, Lueli Antunes
Cenógrafos Assistentes Claudia Affonso, Cleonice Megale, Cristina Crizel, Danielle
Faria, Gioconda Coelho, Jaqueline Guerra, Liana Slipoi, Márcia Bezerra
de Mello, Marcio Coelho Fontes, Marcos A. N. Sobrinho, Marvin
Franco, Mauro Vicente, Mônica Aurenção, Regina Valentino, Silvana
Machado, Vânia Bastos Britto
Figurino Geórgia Sampaio, Ro Gonçalves
Figurinistas Assistentes Alessandra Barrios, Carolina Almeida, Claudia Montenegro, Giovanni
Targa, Jeane Figueiredo, Tainah Carvalho
Equipe de Apoio ao
Figurino
Carlos Alberto da Costa, Charles Luiz, Cláudio Rosa, Cremilda
Vieira, Heloísio Carlos da Silva, José Lima Ferreira, José Maria Bauer
Pigo, Jurema Mota Coutinho, Marcelo Chagas, Marcelo Henrique Pereira
da Silva, Nilza Rodrigues Faria, Patrícia Rodrigues Faria, Rosa Correa
Rodrigues, Severina da Silva Viana
Direção de Fotografia Roberto Amadeo
Direção de Iluminação José Luiz Fernandes, Gustavo Lacerda, Leo Pinheiro
Equipe de Iluminação Davi Magalhães, Ely Lourenço de Freitas, Giovane Araujo, Humberto
Vicente Correia, Jones Tadeu, José Luiz Pereira, Paulo César dos
Santos, Roberto Pereira, Roberto Tricarico, Sinésio Gonçalves
Produção de Arte Luiz Carlos Lopes, Jussara Xavier
Produção de Arte
Assistente
Aline Esteves, Ana Clarino, Gabriela Estrela
Equipe de Apoio à Arte Agenor Malvino, Antonio Carlos Pereira da Silva, Alexandre Francisco da
Silva, Sandoval Júnior
Produção de Elenco Daniel Berlinsky
Instrutores de Dramaturgia
Yula Stenos, Dani Hu, Rossela Terranova, Rosana Garcia
Produção Musical Sérgio Saraceni
Caracterização Fernando Torquato, Carmem Bastos
Equipe de Apoio à
Caracterização
Adriana Alves, Adélia Telles, Luiz Gabriel, Rita de Cássia, Sheila
Mônica, Sonia Maria, Tânia Mendonça, Zuleica Lago, Carla de La
Longuiniere
Edição Paulo H. Farias, César Chaves, Roberto Mariano, Robson
Lima, Rosemeire Barros
Sonoplastia Kesner Puschmann, Haroldo Sá
Efeitos Visuais Toni Cid, Chico Lima, Jorge Banda
Efeitos Especiais Wilson Aquino
Direção de Imagem Luiz Alberto da Silva
175
Câmeras Paulo José Corado, Antonio Carlos S. de Azevedo, Renato
Viana, Arlindo Lins de Oliveira, Alexandre Couto, Guto Leccioli
Equipe de Apoio à
Operação de Câmera
Ataíde Jr., Epitácio Alves do Nascimento, José Alberto da Costa, José
Jorge Roberto Martins, Paulo Jefferson Leite
Equipe de Vídeo Manoel Tibúrcio de Medeiros, Gilmar Rocha Machado, Clóvis
Antonioli, André Luis Correa
Equipe de Áudio Alexandre Santos, Eneas Antonio do Nascimento, Flávio Luiz
Fernandes, Gabriel Páscoa, Jorge Marreiros, Melevel Neves da
Silva, Moisés de Oliveira, Valter de Barros
Supervisor de Estúdio / Op.
de Sistemas
André Almeida
Produção de Cenografia Leandro Leão
Equipe de Cenotécnica Aciel da Silva Campos, Adriano Oliveira Ofrede, Alexandre
Tavares, André Luiz Pires, Antonio Carlos Oliveira, Carlos Alberto da
Silva, Carlos José Ferreira, Carlos Renato Cardoso, Carlos Roberto
Souza Ferreira, Cláudio da Silva, Cláudio Luiz Querido, Cristóvão
Antonio Felix, Dario Pereira Silva, Edgil José Pinheiro, Emmanuel
Ferreira, Fabio Flaviano Menezes, Fernando Barcellos, Flavio Neves
Marques, Flavio Waynne, Francisco Canindé Azevedo, Gutemberg
Batista, Jesus da Conceição, João Evangelista Silva, Jorge Carvalho
Flor, Jorge Joel Cabral, José Alípio Neto, José Carlos de Souza, José
Carvalho de Araújo, José Cavalcante, José Maria Ribeiro, Luiz Cláudio
Perdigão, Luis Leal, Marcelo Fanzeres, Marcelo Paiva Santos, Max
Brígido da Silva, Olga Antunes Marinho, Pedro Pereira da Silva, Rodrigo
Almeida, Sebastião Silva Santos, Severino Geraldo Santanna, Silete
Franco, Valmir Santos Soares, Vanessa Cantalice, Vanessa
Salgado, Vilson Cosme Teixeira, Wagner Paulo Miranda, Wanda Maria
Guimarães
Fonoaudióloga Maria Silvia de Siqueira Campos
Continuidade Fernanda Borges, Carlos Domingos, Rita Peçanha, Helena
Duran, Giselle Lewicki, Joana Portes
Assistente de Direção Tande Bressane, André Câmara, Giovanna Machline
Produção de Engenharia Abílio Páscoa
Equipe de Produção Silvana Feu, Luciana Ferreira, Luiz Carlos Mendonça Jr, Karen
Balbi, Luiz Jovita, Bárbara Duffles, Elaine Teixeira, Marcos Pedro
Coordenação de Produção
Silvana Gabbardo, Carlos Galvani, Cláudio Dager, Letícia Torgo, Rodrigo
Ishikawa
Gerência de Produção Janice Vieira
Elenco Ada Chaseliov – Ester
Adriana Rebello – Amanda
Adriano Garib – delegado
Alby Ramos – Joventino
Alexandre Barros – (participação especial)
Alexandre Borges – Alberto Sabatini
Alexandre Schumacher – Roberto
Ana Luiza Folly – secretária da Belíssima
Ana Paula Moraes – Leninha
Andréa Cavalcanti – policial
Angelita Feijó – Ivete
Bianca Comparato – Maria João
Bruno Giordano – delegado
Bruno Perillo – Rogério
Cacá Carvalho – Jamanta
176
Camila Pitanga – Mônica
Camilo Bevilacqua – pai de Thaís
Carlos Takeshi – Takae Shigeto
Carmem Verônica – Mary Montilla
Carmen Frenzel – Zulmira
Carolina Ferraz – Rebeca Cavalcanti
Cauã Reymond – Mateus
Celso Frasteschi – juiz
Chico Expedito – Orlando (participação especial)
Cláudia Abreu – Vitória Rocha
Claudia Raia – Safira
Dani Hu
Daniel Erthal – Lucas (participação especial)
Eduardo Hashimoto – Ernesto
Eliane Costa – (participação especial)
Enrica Duncan – Soraya
Emílio Pitta – Dr. Natanael
Fernanda Montenegro – Bia Falcão
Gianfrancesco Guarnieri – Pepe
Giácomo Pinotti – DeJúlian
Giovanna Albuquerque – Carlinha
Gisele Fróes – mãe de Thaís
Glória Pires – Júlia Assumpção
Guilherme Weber – Freddy Schneider
Graziella di Laurentis – (participação especial)
Graziella Moretto – Madalena
Henri Castelli – Pedro
Hugo Resende – Claudinho (participação especial)
Irene Ravache – Katina
Íris Bruzzi – Guida Guevara
Isabela Garcia – Norma (participação especial)
Ítalo Rossi – Fernando Medeiros
Ivone Hoffmann – Matilde
Javert Monteiro – Sandoval (participação especial)
José Steimberg – Muniz
Júliana Kametani – Suzi
Júliana Martins – Kika
Jussara Freire – Tosca
Laura Cardoso – (participação especial)
Leona Cavalli – Valdete
Leonardo Carvalho – Edmilson
Leopoldo Pacheco – Cemil
Letícia Birkheuer – Érica
Lima Duarte – Murat
Lívia Falcão – Regina da Glória
Lorena da Silva – Odila
Lui Mendes – Lourenço
Lui Satrusburguer – médico (participação especial)
Luiz Nicolau – Palitinho (participação especial)
Marcela Valente – Cris
Marcello Antony – André Santana
Marcelo Escorel – delegado
Marcelo Médici – Fladson
Márcio Rosário – Paranhos
Marcos Palmeira – Gilberto Moura
Maria Flor – Thaís
Marina Ruy Barbosa – Sabina
Mauricio Moraes – Vlad
Mauro Salvatore – Marco
Mila Ribeiro – Raimunda (participação especial)
177
Mônica Torres – Karen
Monique Lafond – participação especial
Mucio Medeiros – Cabeça de Porco (participação especial)
Murilo Grossi – Lindolfo
Nelson Xavier – Bento
Nicola Siri – Cyro Laurenza
Paola Oliveira – Giovana
Paula Franco – Débora
Paulo Carvalho oficial de justiça
Paulo Giardini – investigador
Pedro Paulo Rangel – Gigi
Renata Jesion – Dalva
Reynaldo Gianecchini – Pascoal
Ricardo Pavão – Juca (participação especial)
Ricardo Kosovski – detetive
Sandro Christopher - (participação especial)
Serafim Gonzáles – Aquilino Santana, Quiqui
Sheron Menezes – Dagmar
Silvio Pozatto – designer da Belíssima
Tadeu di Pietro – advogado de acusação
Teca Pereira – Rita
Thiago Martins – Tadeu
Thomas Veloso – Toninho
Tony Corrêa – Nuno
Tony Ramos – Nikos Petrakis
Tony Tornado – Isaltino (participação especial)
Vera Holtz – Ornela
Via Negromonte – Diva
Victor di Mello – Humberto Moraes
Viétia Zangrandi – (participação especial)
Vitor Morosini – Isaac
Vladimir Brichta – Narciso
Waldir Gozzi – Tavinho
William Vita – (participação especial)
178
ANEXO II – BIP Boletim de Informações para Publicitários da novela
Belíssima
179
180
181
182
ANEXO III – Ações de merchandising por capitulo
CAPÍTULO DATA ANUNCIANTE/PRODUTO
CAP. 01 7-nov-05 Tam
CAP. 02 8-nov-05 sem merchandising
CAP. 03 9-nov-05 sem merchandising
CAP. 04 10-nov-05 sem merchandising
CAP. 05 11-nov-05 sem merchandising
CAP. 06 12-nov-05 Hotel Sonesta
CAP. 07 14-nov-05 sem merchandising
CAP. 08 15-nov-05 sem merchandising
CAP. 09 16-nov-05 sem merchandising
CAP. 10 17-nov-05 sem merchandising
CAP. 11 18-nov-05 sem merchandising
CAP. 12 19-nov-05 sem merchandising
CAP. 13 21-nov-05 sem merchandising
CAP. 14 22-nov-05 sem merchandising
CAP. 15 23-nov-05 sem merchandising
CAP. 16 24-nov-05 sem merchandising
CAP. 17 25-nov-05 sem merchandising
CAP. 18 26-nov-05 sem merchandising
CAP. 19 28-nov-05 sem merchandising
CAP. 20 29-nov-05 sem merchandising
CAP. 21 30-nov-05 sem merchandising
CAP. 22 1-dez-05 sem merchandising
CAP. 23 2-dez-05 Mastercard Maestro
CAP. 24 3-dez-05 sem merchandising
CAP. 25 5-dez-05 sem merchandising
CAP. 26 6-dez-05 sem merchandising
CAP. 27 7-dez-05 sem merchandising
CAP. 28 8-dez-05 Valisére
CAP. 29 9-dez-05 Lojas Renner
CAP. 30 10-dez-05 Lojas Renner, Mastercard Maestro e Merchandising Social
CAP. 31 12-dez-05 Lycra e Merchandising Social
CAP. 32 13-dez-05 sem merchandising
CAP. 33 14-dez-05 Mastercard Maestro
CAP. 34 15-dez-05 sem merchandising
CAP. 35 16-dez-05 Telefonia Móvel Claro
CAP. 36 17-dez-05 sem merchandising
CAP. 37 19-dez-05 sem merchandising
CAP. 38 20-dez-05 sem merchandising
CAP. 39 21-dez-05 sem merchandising
CAP. 40 22-dez-05 sem merchandising
CAP. 41 23-dez-05 Merchandising Social
CAP. 42 24-dez-05 sem merchandising
CAP. 43 26-dez-05 sem merchandising
CAP. 44 27-dez-05 Ministério da Saúde
CAP. 45 28-dez-05 sem merchandising
CAP. 46 29-dez-05 Hotel Sonesta
CAP. 47 30-dez-05 Ministério da Saúde
CAP. 48 31-dez-05 sem merchandising
183
CAP. 49 2-jan-06 sem merchandising
CAP. 50 3-jan-06 sem merchandising
CAP. 51 4-jan-06 sem merchandising
CAP. 52 5-jan-06 Globo Filmes
CAP. 53 6-jan-06 Ministério da Saúde
CAP. 54 7-jan-06 sem merchandising
CAP. 55 9-jan-06 sem merchandising
CAP. 56 10-jan-06 sem merchandising
CAP. 57 11-jan-06 Merchandising Social
CAP. 58 12-jan-06 Merchandising Social
CAP. 59 13-jan-06 Merchandising Social
CAP. 60 14-jan-06 Lycra
CAP. 61 16-jan-06 sem merchandising
CAP. 62 17-jan-06 Merchandising Social e Rastreador Jabur Sat
CAP. 63 18-jan-06 Telefonia Móvel Claro
CAP. 64 19-jan-06 sem merchandising
CAP. 65 20-jan-06 Merchandising Social
CAP. 66 21-jan-06 sem merchandising
CAP. 67 23-jan-06 sem merchandising
CAP. 68 24-jan-06 sem merchandising
CAP. 69 25-jan-06 sem merchandising
CAP. 70 26-jan-06 Lojas Renner e Hotel Sonesta
CAP. 71 27-jan-06 Lojas Renner
CAP. 72 28-jan-06 sem merchandising
CAP. 73 30-jan-06 sem merchandising
CAP. 74 31-jan-06 sem merchandising
CAP. 75 1-fev-06 sem merchandising
CAP. 76 2-fev-06 sem merchandising
CAP. 77 3-fev-06 sem merchandising
CAP. 78 4-fev-06 sem merchandising
CAP. 79 6-fev-06 sem merchandising
CAP. 80 7-fev-06 sem merchandising
CAP. 81 8-fev-06 sem merchandising
CAP. 82 9-fev-06 sem merchandising
CAP. 83 10-fev-06 sem merchandising
CAP. 84 11-fev-06 Lycra
CAP. 85 13-fev-06 Telefonia Móvel Claro
CAP. 86 14-fev-06 Lycra
CAP. 87 15-fev-06 Globo Filmes
CAP. 88 16-fev-06 sem merchandising
CAP. 89 17-fev-06 sem merchandising
CAP. 90 18-fev-06 sem merchandising
CAP. 91 20-fev-06 sem merchandising
CAP. 92 21-fev-06 sem merchandising
CAP. 93 22-fev-06 sem merchandising
CAP. 94 23-fev-06 Ração Whiskas e Valisére
CAP. 95 24-fev-06 Ração Whiskas e Valisére
CAP. 96 25-fev-06 Hotel Sonesta
CAP. 97 27-fev-06 sem merchandising
CAP. 98 28-fev-06 sem merchandising
CAP. 99 1-mar-06 sem merchandising
CAP. 100 2-mar-06 sem merchandising
184
CAP. 101 3-mar-06 sem merchandising
CAP. 102 4-mar-06 sem merchandising
CAP. 103 6-mar-06 sem merchandising
CAP. 104 7-mar-06 Lojas Renner
CAP. 105 8-mar-06 sem merchandising
CAP. 106 9-mar-06 Ração Whiskas
CAP. 107 10-mar-06 sem merchandising
CAP. 108 11-mar-06 sem merchandising
CAP. 109 13-mar-06 sem merchandising
CAP. 110 14-mar-06 sem merchandising
CAP. 111 15-mar-06 Lycra
CAP. 112 16-mar-06 Lycra
CAP. 113 17-mar-06 Lycra e Telefonia Móvel Claro
CAP. 114 18-mar-06 sem merchandising
CAP. 115 20-mar-06 sem merchandising
CAP. 116 21-mar-06 sem merchandising
CAP. 117 22-mar-06 Natura e Editora Globo
CAP. 118 23-mar-06 Tintas Lukscolor
CAP. 119 24-mar-06 Tintas Lukscolor
CAP. 120 25-mar-06 Tintas Lukscolor
CAP. 121 27-mar-06 Natura
CAP. 122 28-mar-06 sem merchandising
CAP. 123 29-mar-06 Anip
CAP. 124 30-mar-06 Anip
CAP. 125 31-mar-06 Anip
CAP. 126 1-abr-06 sem merchandising
CAP. 127 3-abr-06 Anip
CAP. 128 4-abr-06 Natura e Tintas Lukscolor
CAP. 129 5-abr-06 Tintas Lukscolor e Hotel Sonesta
CAP. 130 6-abr-06 Globo Filmes
CAP. 131 7-abr-06 sem merchandising
CAP. 132 8-abr-06 Anip e Tintas Lukscolor
CAP. 133 10-abr-06 sem merchandising
CAP. 134 11-abr-06 Tintas Lukscolor
CAP. 135 12-abr-06 sem merchandising
CAP. 136 13-abr-06 Lojas Renner
CAP. 137 14-abr-06 Natura
CAP. 138 15-abr-06 sem merchandising
CAP. 139 17-abr-06 sem merchandising
CAP. 140 18-abr-06 sem merchandising
CAP. 141 19-abr-06 sem merchandising
CAP. 142 20-abr-06 Natura, Anip e Globo Filmes
CAP. 143 21-abr-06 Globo Filmes e Tintas Lukscolor
CAP. 144 22-abr-06 sem merchandising
CAP. 145 24-abr-06 sem merchandising
CAP. 146 25-abr-06 Valisére
CAP. 147 26-abr-06 sem merchandising
CAP. 148 27-abr-06 Lycra
CAP. 149 28-abr-06 sem merchandising
CAP. 150 29-abr-06 Telefonia Móvel Claro
CAP. 151 1-mai-06 sem merchandising
CAP. 152 2-mai-06 Linha Veja de Limpeza
185
CAP. 153 3-mai-06 sem merchandising
CAP. 154 4-mai-06 Natura
CAP. 155 5-mai-06 Lojas Renner e Natura
CAP. 156 6-mai-06 Banco Itaú
CAP. 157 8-mai-06 sem merchandising
CAP. 158 9-mai-06 sem merchandising
CAP. 159 10-mai-06 Lycra
CAP. 160 11-mai-06 Natura
CAP. 161 12-mai-06 Banco Itaú
CAP. 162 13-mai-06 Banco Itaú
CAP. 163 15-mai-06 sem merchandising
CAP. 164 16-mai-06 Banco Itaú
CAP. 165 17-mai-06 sem merchandising
CAP. 166 18-mai-06 sem merchandising
CAP. 167 19-mai-06 sem merchandising
CAP. 168 20-mai-06 Natura
CAP. 169 22-mai-06 sem merchandising
CAP. 170 23-mai-06 sem merchandising
CAP. 171 24-mai-06 sem merchandising
CAP. 172 25-mai-06 sem merchandising
CAP. 173 26-mai-06 Natura
CAP. 174 27-mai-06 Linha Veja de Limpeza
CAP. 175 29-mai-06 Linha Veja de Limpeza
CAP. 176 30-mai-06 Anip e Outros
CAP. 177 31-mai-06 sem merchandising
CAP. 178 1-jun-06 sem merchandising
CAP. 179 2-jun-06 Natura
CAP. 180 3-jun-06 Lycra
CAP. 181 5-jun-06 Valisére
CAP. 182 6-jun-06 Valisére e Tintas Lukscolor
CAP. 183 7-jun-06 Tintas Lukscolor
CAP. 184 8-jun-06 Maxton, Natucor
CAP. 185 9-jun-06 Maxton, Natucor
CAP. 186 10-jun-06 sem merchandising
CAP. 187 12-jun-06 sem merchandising
CAP. 188 13-jun-06 Tintas Lukscolor e Maxton, Natucor
CAP. 189 14-jun-06 Tintas Lukscolor
CAP. 190 15-jun-06 Tintas Lukscolor
CAP. 191 16-jun-06 Tintas Lukscolor e Cosméticos Embelleze
CAP. 192 17-jun-06 Maxton, Natucor
CAP. 193 19-jun-06 Cosméticos Embelleze
CAP. 194 20-jun-06 Lycra, Valisére e Tinhas Lukscolor
CAP. 195 21-jun-06 Tinhas Lukscolor
CAP. 196 22-jun-06 Tinhas Lukscolor
CAP. 197 23-jun-06 Tam e Tintas Lukscolor
CAP. 198 24-jun-06 Tintas Lukscolor
CAP. 199 26-jun-06 Tintas Lukscolor
CAP. 200 27-jun-06 Tintas Lukscolor
CAP. 201 28-jun-06 sem merchandising
CAP. 202 29-jun-06 Tintas Lukscolor
CAP. 203 30-jun-06 Tintas Lukscolor
CAP. 204 1-jul-06 Tintas Lukscolor
186
CAP. 205 3-jul-06 Tintas Lukscolor
CAP. 206 4-jul-06 Tintas Lukscolor
CAP. 207 5-jul-06 Tintas Lukscolor
CAP. 208 6-jul-06 Tintas Lukscolor
CAP. 209 7-jul-06 sem merchandising
187
ANEXO IV – Matéria da Revista Manequim (edição nº 556) sobre a moda
inserida na novela ‘Belíssima
BELÍSSIMAS
Da sensual Safira à descolada
Rebeca, a moda da novela das 8
tem para todos os gostos, estilos
e idades. Manequim foi aos
bastidores da Globo e selecionou
as pas mais cobadas pelas
mulheres
ATENÇÃO: Os acessórios
que estão nesta reportagem
não fazem parte do figurino
da novela Belíssima
Se você assiste à Belíssima, com
certeza já se encantou por algum
modelito usado por uma das
personagens. Depois da mania dos vestidos românticos de Vitória, agora é o momento
de outras peças brilharem na telinha. Dos dez pedidos mais freqüentes na Central de
Atendimento ao Telespectador da TV Globo e na redação Manequim, todos se referem
às roupas da novela. A responsável por tanto sucesso é a figurinista Gogoia Sampaio.
Após receber a sinopse do autor Silvio de Abreu, Gogoia levou dois meses para traçar
o estilo de cada personagem: “Ela preparou lindos álbuns onde detalhavam o que
havia pensado para cada um deles”, elogia Silvio. Com o visual das estrelas aprovado,
a figurinista e sua equipe levaram mais dois meses para criar o guarda-roupa. Porém,
mesmo com tudo planejado, há imprevistos: “Até a cenografia implica na decisão da
escolha da roupa. Às vezes, a cor do sofá não combina com o tom da blusa”, explica
Gogoia. O resultado de tanto esforço e olhos atentos é o de um figurino variado e
muito desejado pelas mulheres. Nas próximas páginas, Gogoia Sampaio e Fernando
Torquatto, responsável pela maquiagem e cabelo das atrizes, revelam os segredos
destas oito belíssimas.
QUEM É QUEM NOS BASTIDORES
Gogoia Sampaio
A figurinista convidou o estilista Alexandre Herchcovitch (veja foto ao lado) para criar
os uniformes dos escritórios de Belíssima. É que a novela privilegia os estilistas do
Brasil: “Valorizamos a moda nacional. Acredito que 98% do figurino é composto de
marcas daqui”, conta Gogoia.
Fernando Torquatto
Queridinho das famosas, o caracterizador da trama inspira-se em pessoas conhecidas
na hora de criar o estilo das personagens: “O cabelo de Bia Falcão foi baseado nos fios
da consultora de moda Costanza Pascolato”, ressalta Torquatto.
Silvio de Abreu
Ao criar os papéis, o autor já imagina o vestuário: “Quando descrevo um personagem
dou dicas de figurinos. Fazemos reuniões onde adaptamos o que será melhor para a
atriz”, esclarece Silvio.
188
VAIDOSA E EXUBERANTE:
Ornella Sabatini
Ela é livre na hora de se vestir. Escolhe as roupas sem ligar para a idade ou para o
que lhe cai bem. Sua alma é jovem. Por isso, adora jeans e batas. Na hora da festa,
ela não poupa tecidos nobres e brilhos. A seda, a musselina e o crepe imperam no seu
guarda-roupa. O cabelo também é caprichado. Há três tons de luzes nas cores loiro e
mel. Para combinar com seu estilo extravagante, a maquiagem é carregada. Os olhos
são pintados com sombra dourada e delineador preto. A base é bronzeadora.
O brilho também está presente nos acessórios. SAPATOS Alouette (R$ 335)
Modelos que lembrem jóias
combinam com a personagem.
BRINCOS Gio Bernardes
(R$ 52)
Os detalhes laterais podem
aumentar as formas. Use a
189
peça com um salto alto para
alongar a silhueta. VESTIDO Madame X
Peças chamativas compõem o look de Ornella.
CARTEIRA Sandra Senamo (R$ 308)
ESTILOSA E PRÁTICA:
Rebeca Cavalcanti
O mundo da moda inspira o visual da dona da agência de modelos Razzle-Dazzle. Ela
se
veste conforme o humor que acorda. Não tem um padrão definido: “Para agradar a
Rebeca, a peça deve ter estilo”, explica Gogoia. E até uma camisa branca pode ser
estilosa para esta ex-modelo que usa as peças antes delas virarem tendência. Por ser
moderna, ela também busca o que há de mais novo nos cosméticos. Sua maquiagem
é feita com produtos cremosos nos tons de marrom e rosa.
Além da beleza, Rebeca preocupa-se com
conforto das peças e prefere as rasteirinhas.
SANDÁLIAS Banana Price (R$ 69,99)
Por ser ousada, ela usa a peça
com brilho nas produções
de dia e à noite. BOLSA Paula Parisot (R$ 598)
190
Os acessórios com design
diferenciado conquistam
a personagem. BRACELETE Acessórios Modernos (R$ 58)
O short é uma das peças fashion usadas pela atriz na novela. O short deixou de ser
uma peça para ir à praia e invadiu o ambiente de trabalhos informais e as badalações
noturnas. Para o dia, use-o com rasteirinhas.
À noite, a pedida é o salto alto.
SHORT Lenny
CHIQUE E ELEGANTE:
Bia Falcão
Bia morreu na novela, mas sua personagem deixou um legado de estilo único. Ela foi
inspirada na estilista venezuelana Carolina Herrera, que se tornou um ícone da moda
por seu bom gosto. Assim, Bia marcou a novela por sua elegância. No armário dela,
jamais entraria uma calça jeans. Bia também se preocupava com a beleza. O
cabeleireiro Eduardo Campos, criador da cor de seus cabelos, usa uma coloração
chocolate da marca Redken e as mechas de um centímetro de largura são feitas com
descolorante da L’Oréal.
Se o anel é grande, os brincos devem ser discretos para o visual não ficar carregado.
BRINCOS Francesca Romana (R$ 306)
191
Os anéis chamativos ajudam a
caracterizar a personalidade forte de Bia. ANEL Prima Donna (R$ 134)
A saia de tom escuro, sem
detalhes e com corte eva
favorece as mulheres com
quadris largos. BLUSA Dama
& Soberana, SAIA Confecção TV Globo
A carteira de malha prata completa o look refinado da personagem. CARTEIRA
Diferenza (R$ 525,80)
192
SIMPLES E ATUAL:
Érica Assumpção
A modelo sabe o que é tendência, pois vive no meio da moda. Peças simples, como
jeans e camisetas básicas, compõem o figurino de Érica. Tudo é permitido nas su
as
produções, pois seu corpo é magro e cai bem com qualquer corte e cor. No quesito
beleza, a simplicidade também predomina: “O cabelo tem um corte moderno e ela
arruma com um gloss para dar movimento. A maquiagem é delicada porque ela não
precisa de muito para ficar bonita”, explica Torquatto.
O design arrojado é uma das prioridades da personagem. ÓCULOS Prada para Dax
(R$ 1.243)
Para ela, a máxima “menos é mais” vale também para os acessórios. BOLSA Elisa
Atheniense (R$ 458)
Peças com mensagens são atuais e conquistam Érica. ANEL Francesca Romana (R$
72)
A jaqueta é moderna como o estilo de ÉricaInvista em uma jaqueta com botões
grandes e inspiração militar. A peça
é tendência para o outono.
JAQUETA Maria Garcia
193
CLÁSSICA E REFINADA:
Júlia Assumpção
No início da novela, seu figurino passava despercebido. Com o casamento, Júlia
mudou para agradar o marido. Crepe e seda são os tecidos que predominam no seu
dia-a-dia. O visual dos cabelos também foi renovado. A cabeleireira Elza Pontes,
responsável pela coloração, revela que os tons usados pela atriz são da marca
espanhola Divina. A base é em tom mogno, cor 534. Há mechas nas cores 734
(dourada) e 744 (ruivo). Outro sucesso de Júlia é a mistura dos esmaltes Caramelado
da Colorama e Malibu, da linha Xuxa.
Os acessórios dourados são
nobres e eleitos por Júlia.
COLAR pingente coração Francesca Romana (R$ 332)
Os detalhes de coração combinam com o look da personagem. BRINCOS Francesca
Romana (R$ 198)
O vestido fluido deixa
o visual arrumado.
Bom para trabalhar
194
e passear. VESTIDO Krishna
Para alongar a silhueta, os saltos altos são os mais usados pela diretora da Belíssima.
SANDÁLIAS Capodarte (R$ 229)
ROMÂNTICA E SENSUAL:
Safira Güney
Safira é uma eterna apaixonada. Casou-se cinco vezes acreditando que o
relacionamento seria para sempre. Seu visual é feminino com detalhes sensuais. Sua
personagem foi inspirada na p
ersonagem Ilya, interpretada pela atriz Melina Mercouri,
do filme Nunca aos Domingos. Além disso, seu guarda-
roupa é colorido. O cabelo tem
um ar retrô. O penteado é conquistado com escova e bobes grandes. Para finalizar,
ela aplica um spray seco. A maquiagem é em tons de rosa, bem romântica.
Acessórios vintage combinam com Safira. ÓCULOS Skylark (R$ 180)
O lacinho no calçado emonstra
o gosto feminino da ersonagem.
SANDÁLIAS Txahá (R$ 127)
195
Ela adora chamar a atenção. Uma pulseira cheia de berloques é a sua cara.
PULSEIRAS Francesca Romana (R$ 314)
A saia-lápis é a peça-chave
do seu guarda-roupa. O modelo ajustado da saia lápis é ótimo para quem deseja
salientar os quadris ou a cintura. SAIA Confecção TV Globo
FEMININA E APAIXONADA:
Katina Güney
O guarda-roupa de Katina expressa o seu momento atual. Ela é feliz com a vida que
tem. O detalhe da renda à mostra é o toque sensual desta personagem que usa as
estampas para transmitir a alegria do povo grego. Ela passa o dia em casa, mas cuida
de sua aparência. Os braços estão sempre cobertos por causa da idade. Porém, a
vaidade não é a sua prioridade. Tanto que seus cabelos misturam fios loiros com
brancos. Katina valoriza seus cachos com mousse.
Já que os vestidos são estampados, a personagem prefere os acessórios neutros.
PULSEIRA Francesca Romana (R$ 270)
196
Para Katina, os sapatos devem
ser confortáveis, mas femininos.
SANDÁLIAS Les Gazelles (R$ 177)
Se quiser ficar feminina
e parecer mais magra, aposte
no decote estilo cache-coeur.
VESTIDO Confecção TV Globo
A bolsa é tradicional, pois
cai bem com diversos looks.
BOLSA Paula Parisot (R$ 798)
DISCRETA E MODERNA:
Yvete
A secretária da presidência da fábrica Belíssima é a porta de entrada da empresa. Por
isso, sua roupa deve ser apresentável e atual. À pedido de Gogoia, o estilista
Alexandre Herchcovitch criou um uniforme especial para a Yvete. O terno tem um
design moderno que combina com o perfil da organização. Os cabelos da personagem
têm um toque ousado. As pontas são mais claras que o resto dos fios. O visual é feito
com chapinha e finalizado com spray de brilho.
197
A bolsa da secretária lembra uma pasta de executiva. BOLSA Corello (R$ 499)
O escarpim preto combina com tudo. SAPATOS Corello (R$ 139)
O anel de pedra é básico
e não interfere nas produções
discretas de Yvete. ANEL cristal
Diferenza (R$ 548)
O blazer com desenho
diferenciado é um curinga
no guarda-roupa. Pode ser usado com camisa branca para
trabalhar e com tops para
sair à noite. BLAZER Alexandre Herchcovitch
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