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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
PROGRAMA DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO
JÉSSICA BRIHY
A “AEMIZAÇÃO” DAS FM´S E A ERA DIGITAL
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Comunicação da
Universidade Paulista, para obtenção do
título de Mestre, sob a orientação do
Prof. Dr. Antônio Adami.
São Paulo
2008
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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
PROGRAMA DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO
JÉSSICA BRIHY
A “AEMIZAÇÃO” DAS FM´S E A ERA DIGITAL
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Comunicação da
Universidade Paulista, para obtenção do
título de Mestre, sob a orientação do
Prof. Dr. Antônio Adami.
São Paulo
2008
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FICHA CATALOGRÁFICA
Brihy, Jéssica
A “amização” das FM’s e a era digital / Jéssica Brihy – São Paulo,
2008.
81 f.:il.,. Color.
Dissertação (mestrado) – Apresentada ao Instituto de Ciências
Sociais
e Comunicação d
a Universidade Paulista, São Paulo, 2008.
Área de Concentração: Comunicação e cultura midiática
“Orientação: Profº Antonio Adami”
1. Rádio. 2. Digitalização. 3. Linguagem. 4. Diacronia. 5. Tecnologia. I.
Título.
Agradecimentos
Agradeço ao universo pela força e pela oportunidade de conhecer a
capacidade humana do saber como também às pessoas envolvidas com as
emissoras de rádio, empresas e instituições que contribuíram para a realização
deste trabalho.
Agradeço a meu orientador, Prof. Dr. Antonio Adami, por iluminar o
desenvolvimento desse trabalho, com paciência e dedicação, acreditando sempre na
importância da cultura.
Agradeço ao Sr. José Augusto Nasr, Diretor do Grupo Objetivo/UNIP, pela
colaboração fundamental para a realização desta pesquisa.
Meus agradecimentos especiais à Jaqueline Blasek, assistente de diretoria da
Rádio MIX, pela incansável disposição e informações valiosas ao longo deste
estudo; à Ana Paula Pires Maria, pela inestimável colaboração na pesquisa histórica,
na organização das informações, pelo constante estímulo e, principalmente, pela
amizade; À Profa. Dra. Marilene Garcia, pesquisadora na área de tecnologias da
comunicação, por suas considerações esclarecedoras, que muito contribuíram para
a finalização da dissertação; aos entrevistados: Acácio Costa, Edson Gardin e
Marcelo Braga, pela disposição em responder ao questionário de pesquisa.
Especiais agradecimentos ao Magnífico Reitor da Universidade Paulista, Sr.
Dr. João Carlos Di Genio pelo grande apoio.
Agradeço, de coração, a meu pai, por acreditar cada dia mais na importância
do estudo e me fortalecer perante esse universo, minha mãe e a toda minha família,
aos amigos e companheiros da minha vida.
“Milhares de pessoas cultivam a música; poucas, porém, têm a revelação dessa grande
arte.”
Ludwig Von Beethoven
Dedico este estudo aos meus pais, Jorge e Corea,
aos meus irmãos, Joyce, Jorge Jr, Jasmine, Jaqueline, Rafael, João e Jamile,
e a todos meus amigos que me deram força e acreditaram.
Obrigada pelo apoio!
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................................1
CAPÍTULO 1 ..................................................................................................................4
1. Diacronia da evolução e do signo sonoro ...................................................................4
1.1 Considerações gerais sobre o rádio..........................................................................5
1.2 O signo sonoro........................................................................................................10
1.3 Emissoras e transmissão em AM e FM...................................................................16
CAPÍTULO 2 ................................................................................................................19
2. “Aemização”..............................................................................................................20
2.1 O processo de “aemização” ....................................................................................20
2.2 AM e FM na Era digital: transmissão e sistema ......................................................22
CAPÍTULO 3 ................................................................................................................29
3. Convergência midiática e cultura ..............................................................................30
3.1 Processo de transmissão em evolução na sociedade.............................................30
3.2 Convergência de mídias..........................................................................................32
3.3 Função política do meio rádio: impactos culturais...................................................37
CAPÍTULO 4 ................................................................................................................41
4. Cenários abertos.......................................................................................................42
4.1 Entremeios..............................................................................................................42
4.2 Cenário atual: em busca de um modelo..................................................................44
CAPÍTULO 5 ................................................................................................................46
5. Tecnologia radiofônica e “aemização” na experiência profissional ..........................47
5.1 Entrevista de Acácio Costa .....................................................................................48
5.2 Entrevista de Marcelo Braga...................................................................................52
5.3 Entrevista de Edson Gardin.....................................................................................58
6. Considerações finais.................................................................................................62
7. Referências bibliográficas .........................................................................................66
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Ilustração diacrônica dos instrumentos..........................................................6
Figura 2 - Alexander Graham Bell..................................................................................8
Figura 3 - Guglielmo Marconi .........................................................................................8
Figura 4 - Francisco de Paula Rodrigues Alves............................................................10
Figura 5 - Tim Berners-Lee...........................................................................................35
Figura 6 - NeXTcube na CERN....................................................................................36
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Tipos de ondas radiofônicas......................................................................17
Quadro 2 – Panorama das emissoras radiofônicas do Brasil.......................................18
ANEXOS
Anexo A - Áudio do Seminário de Rádio Digital na Câmara dos Deputados ...............70
Anexo B – Questionário da Entrevista..........................................................................71
Resumo
As atuais possibilidades de produção radiofônica, em virtude da tecnologia
digital, geram novos formatos e constroem, conseqüentemente, novas perspectivas
de pesquisa para o campo dos signos e das imagens sonoras. Nesse sentido, a
presente pesquisa visa contribuir para a evolução do entendimento do meio rádio e
de suas novas tecnologias, reconstruindo e discutindo o processo de “Aemização”,
entendendo-o de forma comparativa aos processos atuais.
Este estudo se justifica pela carência de publicações teóricas sobre o tema e
pela urgência da construção de reflexões acadêmicas sobre o meio rádio na era
digital. A metodologia de trabalho aplicada a este estudo enfatizou, primeiramente, a
pesquisa exploratória de publicações de áreas afins como também ligadas ao
assunto rádio, em que foram analisadas teses e dissertações acadêmicas, livros e
artigos científicos, bem como periódicos que destacavam, principalmente, o seu
impacto na área da comunicação digital.
Além do Seminário Rádio Digital realizado na Câmara do Deputado, dados
concretos da realidade foram tratados neste estudo, a partir de entrevistas
concedidas por formadores de opinião no meio rádio. Este fato conduziu à
apreciação de uma nova perspectiva nas constatações finais e enriqueceu os
processos de reflexão sob o estado a arte da rádio digital bem como sobre os
resultados da “Aemização” das FMs no país.
Palavras – Chave: 1. Rádio; 2.Digitalização; 3. Linguagem; 4. Diacronia; 5.
Tecnologia
Abstract
The current possibilities of radio production with use of digital technology
generate new formats and construct, consequently, new perspectives of research for
the field of the signs and the sonorous images.
In this direction, the present research aims to contribute for the evolution of the
research about the radio and its new technologies on the focus of the process of
“Aemização”.
This study justifies because there is the lack of academic publication about
this subject as well there is a urgency of the construction of academic reflections
about digital radio in Brazil.
The methodology emphasized the research of academic and scientific books
and articles as well as periodic of this area of the digital communication and radio.
Data of the reality had been treated in this study, from interviews with experts in
radio. This fact goes to the appreciation of a new perspective in the conclusion and
enriched the processes and reflection about the state the art of the digital radio as
well as on the results of the “Aemização” of the FMs in Brazil.
Key-words: Digital Radio; communication; digital technology
“Assim como o coração produz o primeiro
ritmo de vida, a música nos devolve o
pulsar da vida.”
Yehudi Menuhin
Introdução
O rádio é uma mídia de massa que esteve sempre presente nos lares do
Brasil, desde o seu surgimento ocorreram grandes mudanças graças às evoluções
tecnológicas, tanto no seu formato como na portabilidade quanto ao seu alcance e
expansão da qualidade sonora. Torna-se, então, importante descrever o momento
atual de uma mídia puramente sonora, e apontar para o fenômeno da “aemização”
das rádios FM´s. Toma-se como base a história deste signo sonoro no Brasil,
analisando a presente cultura digital, com advento da internet e o surgimento de
diferentes meios de comunicação.
Vale deixar claro que a palavra “aemização” refere-se ao termo utilizado por
Adami (2008) para descrever o processo que a emissora FM está passando ao
utilizar o formato de programação de rádio AM
1
.
Sua relevância é dada por ser um processo visto, sob o ponto de vista
histórico, como um conseqüente avanço tecnológico do rádio, que fez com que as
emissoras de FM se destacassem perante os ouvintes em função do aumento da
qualidade sonora, promovendo novos formatos de programação.
Conseqüentemente, as programações das emissoras AM´s de caráter informativo
tiveram seu espaço diminuído tanto no que se refere ao aspecto tecnológico como
mercadológico no mundo midiático radiofônico.
O novo comportamento emergiu em função do avanço tecnológico, que
possibilitou ao aparelho de rádio, em inúmeros formatos, a convergência de
diferentes mídias, como a inclusão do mp3 com a FM em celulares, bem como a
possibilidade de fazer reprodução e gravação, entre outros aspectos. A própria
internet permitiu a construção de rádios personificadas, chamadas jukebox.
Deve-se destacar, neste trajeto de evolução, que o rádio será o último veículo
a entrar na era digital no Brasil. Isso irá representar não apenas o alcance de uma
nova condição frente a outras mídias, como também será essencial para a
democratização da informação principalmente devido às suas características
próprias de um veiculo de comunicação de massa.
1
O termo “aemização” será retomado com mais profundidade no capítulo 1.
Diferente do processo de “aemização”, o futuro do rádio na era digital
não estará pautado apenas na melhoria da qualidade do som, como
também poderá modificar esta mídia puramente sonora, podendo
transformá-la em mais uma mídia audiovisual, enquadrando-se no aspecto
sócio-cultural atualmente supervalorizado no universo midiático: a imagem.
Sobre esta supervalorização, Santaella (2005) escreve que é notável o
acentuado crescimento de complexidade do campo comunicacional dos
anos 1980 para cá:
“Para fazer frente a essa complexidade, tenho utilizado
como categorias analíticas a configuração das culturas
humanas em seis grandes eras civilizatórias: a era da
comunicação oral, a da comunicação escrita, a da
comunicação impressa, a era da comunicação
propiciada pelos meios de comunicação em massa, a
era da comunicação midiática e, por fim, a era da
comunicação digital.”
(Santaella, 2005:09).
No rádio, assim como nos outros meios, deveram ser ampliadas as
possibilidades de difusão de informação, em conseqüência da convergência de
mídias no universo do sistema digital. O rádio da “Era cibernética” tende a se tornar,
por exemplo, um gênero do radiojornalismo, traduzindo-se em peça fundamental de
variadas possibilidades de informação. Sendo mais barata a sua produção,
comparada a outros meios, incorpora com mais facilidade produções independentes
e livres das mais variadas partes do mundo.
As tecnologias de comunicação, a cada dia, vêm evoluindo de forma
sincronizada em quase todos os países, portanto, o rádio também se insere no
mecanismo da globalização, sendo ao mesmo tempo regional e local, tornando-se,
por sua vez, também global.
O Brasil, com sua realidade econômica, social, política e tecnológica
específicas, portanto, deverá definir suas necessidades em relação às suas políticas
de comunicação, mas não se abstendo da importância do rádio como instrumento de
disseminação de informação e seu papel social ao longo da história.
Assim, cabe a opinião de Marcondes Filho (1996):
“O novo papel do homem na sociedade permeada por objetos
técnicos mais concretos e indeterminados em suas funções
seria então o de organizador, nem submisso às determinações
das maquinas, em com poderes totais sobre suas definições e
articulações.”
(Marcondes Filho, 1996: 38)
1. Diacronia da evolução e o signo sonoro
1.1. Considerações gerais sobre o rádio
Para entender a importância do rádio e seu papel na vida em sociedade, é
fundamental observar a sua evolução sonora, pois o rádio foi e é, até hoje, a mais
importante mídia de massa totalmente sonora, apresentando características
excepcionais e particulares.
“A voz é mais do que palavras que são pronunciadas,
mais do que a qualidade do som que sai da boca. É o
corpo inteiro emanando energia. A voz humana é o
único instrumento que se caracteriza num mesmo corpo
executante e meio de execução. A voz cantada
ultrapassa a comunicação lingüística. A voz é a mais
imediata e sensível dentre todas as fontes sonoras e a
mais rica emoção e de calor humano. Com ela, nasceu
a música”
(Miranda e Justos, 2004:142).
No livro Formação de Platéia em Música, as autoras Liana Justus e Clarice
Miranda (2004), fazem referência aos textos do Maestro Osvaldo Colarusso, nascido
em 1958 na cidade de São Paulo, apresentador dos programas de rádio educativa,
“Os grandes ciclos da história da música” e “Falando de música”, afirmando que o
som deve ser visto como uma arte repleta de referências e informações. As
referências e informações são próprias de antecedentes construtivos e dos
conseqüentes históricos e são essas informações que transformam a obra sonora
em um diamante, na mais ampla compreensão global.
No figura 1, abaixo, pode-se acompanhar o caminho da evolução histórica do
som e de seus instrumentos, desde a antiguidade até os dias de hoje, buscando
contribuir, deste modo, com as matrizes metodológicas de análise do meio rádio
atual.
Considera-se que esta descrição histórica de maneira figurativa deve servir
para suscitar reflexões sobre o rádio antes do seu surgimento, observando-se o
som, tanto em formato da expressão das palavras e da música como também como
fonte de informação e expressão em diferentes fases culturais.
Diacronia da evolução dos instrumentos musicais
Figura 1: Ilustração diacrônica dos instrumentos musicais
O meio rádio tem um relacionamento com a história da humanidade,
produzindo paixão pelo universo da poética sonora e, graças às descobertas
cientificas, essa mídia sonora surgiu com novos componentes característicos.
Neste aspecto, são descritos enfoques diacrônicos a respeito dessas
descobertas primordiais:
O eletromagnetismo foi a descoberta inicial para o surgimento da
Radiocomunicação, assim, em 1820, o físico Hans Christian Oersted (1777 – 1851),
4000 a.C a 500 d.C
Antiguidade
Primórdios
2 milhões e 4000 a.C
Idade Média
500 a 1450
1450 a 1600
Renascença
Barroco
1600 a 1750
1750 a 1810
Classicismo
Romantismo
1810 a 1910
Século XX
com uma agulha de bússola, percebeu que a mesma era refletida quando uma
corrente elétrica atravessava um fio colocado em suas proximidades, deduzindo que
o fio tinha um campo eletromagnético, que surgia do fluxo elétrico
2
.
No mesmo ano, o químico e físico Michael Faraday (1791 – 1867) aplicou a
descoberta em geradores e motores elétricos, alguns anos depois William Sturgeon
(1783 – 1850) criou um poderoso eletromagneto e ainda desenvolveu um
instrumento de detecção e medição de correntes elétricas, o galvanômetro
3
.
Em 1831, Faraday descobriu o principio da indução, que consistia na produção
de uma diferença de potencial elétrico ou voltagem através de um condutor colocado
em campo magnético variável. Esse acontecimento deu início ao uso industrial de
energia elétrica e da eletricidade, fazendo nascer o processo de transmissão de
sinais sem o intermédio de fios.
Em 1844, Samuel F. B. Morse (1791 – 1872) desenvolveu e instalou a primeira
linha operacional de telégrafo nos EUA, ligando as cidades de Washington e
Baltimore, sendo peça-chave nas estratégias e táticas de combate na Guerra de
Secessão americana (1861 a 1865).
Torna-se então realidade a comunicação a distância, como fruto da evolução
tecnológica. Cabos submarinos atravessam o Atlântico, possibilitando a
comunicação entre Estados Unidos e Europa, surgindo uma comunicação rápida e
eficiente.
Esses acontecimentos marcantes na diacronia das tecnologias até o
surgimento do rádio foram acompanhados pelas empresas jornalísticas e agências
de notícias, que deram início à estruturação do meio, tendo como iniciadoras a
Associated Press (EUA) e a Reuters (Inglaterra).
Antes de ser considerada uma mídia interativa com inúmeros signos e
possuidora de umas das principais vantagens do mundo pós-moderno, a
portabilidade, o telefone, em 1876, é patenteado por Alexander Graham Bell (1847 –
1922). Aparelho que, na época, tinha a função de transformar a voz humana em um
fluxo de elétrons e recompô-la na seqüência, na forma de som.
2
In Delta Larousse, Vol. IX, 1968, p. 6, 122.
3
In Nova Enciclopédia Ilustrada. Folha de São Paulo, v. I, 1996, p. 291.
Figura 2 - Alexander Graham Bell
Em 27 de julho de 1896, Guglielmo Marconi (1874 – 1937) patenteou sua
invenção do telégrafo sem fio na Inglaterra, que transmitia e captava sinais em até
100 metros, sendo considerado o primeiro rádio do mundo.
Figura 3 - Guglielmo Marconi
Em 1898, Marconi transmitiu sinais de telegrafia sem fio em código Morse,
entre distâncias de 23 quilômetros e logo no ano seguinte abriu sua própria
empresa, a British Marconi, que produzia sistemas de rádio e telegrafia.
Logo após dois anos, Marconi realizou a primeira transmissão transatlântica, na
qual enviou, através do Atlântico, três sinais de telégrafo (SOS), por uma distância
de 140 km e fundou a American Marconi, assim, equipou com aparelhos de rádio e
telegrafia quase todos os navios da marinha mercante e de guerra e implantou
sistemas de sinalização na costa americana, mostrando aí o primeiro papel do rádio
na sociedade.
O pesquisador canadense Reginald Aubrey Fessenden (1866 – 1932) se
especializou na transmissão da voz humana e criou a National Eletric Signalun
Company, nomeando esse sistema de telefone sem fio, radiotelefone e, por último,
de rádio.
Então, o rádio, ao ser utilizado pelo transporte naval com a função de manter
contato com a parte terrestre, foi descoberto pelo jornalismo, com a finalidade de
transmitir e receber informações de grandes distâncias em tempo real.
Como exemplo do primeiro papel informacional do rádio aliado a possibilidades
da nova tecnologia, em 1901 Marconi transmitiu uma regata realizada no canal da
Mancha onde, durante a competição, as notícias eram redigidas em código Morse e
captadas pela estação receptora em Kingston, que as transmitia via telefone para o
jornal Daily Express.
No Brasil, três anos antes das experiências de radiofusão de Marconi, em
1892, em Campinas, interior de São Paulo, o Padre Roberto Landell de Moura (1861
– 1928), utilizando uma válvula amplificadora de sua invenção e fabricada com três
eletrodos, transmitiu e recebeu a palavra humana através do espaço.
Dois anos depois, Landell de Moura transmitiu sons do alto da Avenida Paulista
para o alto de Santana, São Paulo, a uma distância de 8 km, mas por motivo de
opinião pública, mesmo tendo patenteado seu invento em 1900, não foi aceito no
Brasil, tendo problemas com o clero. Logo em 1902, fez o mesmo experimento em
Mogi das Cruzes, São Paulo. Porém, foi expulso da região e se transferiu para Nova
York, onde permaneceu por três anos e registrou as patentes para o transmissor de
ondas, telefone sem fio e telégrafo sem fio.
Dentre todos esses acontecimentos de novas descobertas tecnológicas, em
1905, Landell solicita ao Presidente da República, Dr. Francisco de Paula Rodrigues
Alves (1848 – 1919), a colocação de dois navios para demonstrar suas invenções,
mas seu pedido não foi aceito após um assessor conversar com o presidente e
enfatizar que o padre era maluco e impostor a afirmar que dentro de alguns anos o
homem estaria se comunicando com outros planetas e até mesmo com outros
universos.
Figura 4 - Francisco de Paula Rodrigues Alves
Os acontecimentos ora descritos, tanto no âmbito da evolução da tecnologia
quanto da evolução sonora e instrumental, construíram um caminho inexorável a
favor da comunicação a longa distância, do papel da transmissão de informações,
da disseminação de cultura e novos hábitos sociais, envolvendo o rádio como peça
fundamental.
1.2. O signo sonoro
O rádio é uma ferramenta que estimula e emite som e, devido à sua natureza,
atinge seus ouvintes, no exercício de sua imaginação e de sua sensibilidade, que se
deixam emocionar com uma música, história ou notícia que escutam, possibilitando
a criação e o desenvolvimento do imaginário, com figuras únicas e particulares.
Uma das fontes estimuladoras da imaginação é a própria maneira pela qual o
locutor interpreta um texto e os efeitos sonoros da sonoplastia, com música e ruídos
caracterizando personagens, desenhando lugares e criando ambientes imaginários;
A associação do som com a fala propicia sensação no público de ver o que está
sendo transmitido, formando em cada ser a imagem que quiser. Segundo César
(2005), a imaginação é a grande riqueza do rádio.
Agrega-se a estas observações o conceito de experiência, que segundo Pierre
Lévy (1993), não haveria diferenças entre percepção ou memorização, mas somente
uma função psíquica que o autor denomina experiência e da mesma forma, a
imaginação, seria uma forma de simulação dos modelos mentais, e uma ativação de
uma pseudopercepção a partir de estímulos.
Quanto ao estudo de recepção e retenção de mensagem, Gil (1987), em seu
livro Introducción y práctica de la radio, demonstra, com uso de métodos científicos,
que a comunicação informacional transmitida via rádio, partindo de uma fonte verbal,
tem 60% do conteúdo das mensagens retido até três horas após sua emissão. Três
dias depois, restarão 10% de tudo que foi dito. Quando a fonte é apenas visual, os
índices sobem para 72% e 20% respectivamente. Mas se a fonte for audiovisual,
com olhos e ouvidos atuando em conjunto na recepção, retém-se 85% do conteúdo
mensagem até três horas após a emissão e, três dias depois, chega-se à retenção
de 65%.
O estudo de Gil (1987) afirma que a mensagem tem de ser clara e precisa, no
veículo em questão. A mensagem radiofônica não dispõe de elementos no processo
de comunicação, tido como mais propensos à retenção, como ocorre no meio
televisivo, que “seduz” seu público pela quantidade de informação e a combinação
das mídias audiovisuais. Já a internet traz a magia da interatividade e o jornal
permite a releitura das informações.
“Para aproximar emissor e receptor, com o rádio como
meio de transmissão, é fundamental trabalhar para que
todos os elementos do processo de comunicação tendam
para um ponto em comum tornando a informação mais
convincente, mesmo que o ouvinte não tenha memória de
elefante.” Milton Jung no seu livro “jornalismo de radio”
Vale ressaltar que o ouvinte não busca na mídia só a possibilidade de
memorizar as informações ali recebidas, que seguramente passam pelos filtros da
atenção, do interesse, do tempo disponível para ouvir as mensagens, aspectos
afetivos e outros que se agregam à competência da memória e da retenção.
As características funcionais do rádio vão muito além, quando criam sensação
de companhia, proporcionando relaxamento e lazer.
Uma vez recebida a informação, o ouvinte aumenta sua experiência pessoal e
é estimulado por assuntos muitas vezes desconhecidos, que carregam em si as
necessidades de uma educação formal ou informal, orientando no comportamento
social e contribuindo para o auto-conhecimento e capacitação do cidadão em
exercitar seu ato de escolha.
“O rádio envolve o ouvinte, fazendo-o participar por meio da criação de
um “dialogo mental” com o emissor. Ao mesmo tempo, desperta a
imaginação através da emocionalidade das palavras e dos recursos de
sonoplastia, permitindo que as mensagens tenham nuances
individuais, de acordo com as expectativas de cada um.
(Ortriwano,
1985).
A particularidade do rádio em difundir notícias e informações desprovidas de
imagem, estimula significativamente o imaginário humano, deixando-o livre para
fazer suas constatações e conclusões, de acordo com a cultura do indivíduo e seu
sentimento particular pela notícia e pela música.
Armand Balsebre
4
, na apresentação do livro A dimensão sonora da linguagem
audiovisual de Ángel Rodriguez, dimensiona o som quando diz que este é um
“fenômeno físico, uma vibração no ar”. Trata-se de um signo que fornece informação
ao ouvinte, influencia seu sistema nervoso e cria uma emoção. O som é mais que
uma voz encadeando signos lingüísticos, o som pode chegar a estimular nosso
sistema perceptivo e sensorial com a mesma força e presença da imagem. O
referido autor enfatiza em sua análise o aspecto da valorização da imagem, quando
frisa:
O som é ainda um manancial inesgotável de significados... embora
muitas vezes os criadores da comunicação audiovisual atribuam ao
sonoro uma importância relativa
(Barselbre, 2006: 10, apud
Rodriguez, 2006).
4
Armand Balsebre é catedrático de Comunicação audiovisual da Universidade Autônoma de Barcelona.
César (2005), em seu livro Rádio a mídia da emoção, define o rádio como
mídia de massa da seguinte forma:
“(...) é um veículo de comunicação de massa que por meio de
ondas eletromagnéticas atinge um público numeroso, anônimo e
heterogêneo.”. (2005: 163).
Possuindo características de transmissão capaz de atingir uma extensa área
de cobertura, o rádio torna-se uma mídia com grande número de ouvintes, todavia,
só não é capaz de aumentar sua audiência por dois principais motivos, a potência
dos transmissores e a legislação.
No Brasil, ouviu-se dizer sobre o rádio desde em Janeiro de 1922, no Rio de
Janeiro. O assunto era a chagada de um veículo de comunicação que estava
transformando os Estados Unidos e Europa, que muitos profissionais da imprensa
não confiaram, pois acreditavam ser um veículo imediatista e vulgar, pela falta da
palavra impressa.
O rádio foi o primeiro veículo a conquistar a “massa” do Brasil e hoje, para
muitos, é o mais importante, sendo um instrumento de integração cultural. Adquiriu
características próprias em um país com diversas classes socioeconômicas e grande
extensão geográfica, assim seu público é heterogêneo, e sua audiência anônima,
sendo o rádio o emissor da linguagem oral e o ouvinte receptor da linguagem
sonora, observando segundo Cyro César (2005, p.163) que “O ouvinte não precisa
ser alfabetizado.”.
Inocêncio Oliveira
5
trata a evolução do rádio como forma de inclusão e
melhoria na vida do cidadão. Quantifica, com dados informados em 2007, o espaço
ocupado pelas rádios em 5.000 emissoras, entre elas, comerciais, educativas e
comunitárias, tendo 180 milhões de habitantes/ouvintes de rádio e ainda 200
milhões de receptores em funcionamento em todo o país.
André Barbosa Filho
6
considera o rádio o veículo mais expressivo em
comunicação em massa, mesmo perdendo, nos últimos três anos, a sua hegemonia,
como líder frente ao público em geral, ultrapassado pela televisão pela primeira vez
no ano de 2005, segundo dados do IBGE.
5
Inocêncio Oliveira fez seu pronunciamento em 2007, na qualidade de Presidente do Conselho de Altos Estudos
da Câmara dos Deputados, órgão responsável pelos estudos de temas de relevância para o nosso país,
6
André Barbosa Filho fez seu pronunciamento em 2007, na qualidade de Assessor da Casa Civil da Presidência
da República.
Hoje há menos aparelhos de rádio do que de televisão nas residências
brasileiras, o que significa que essa reação de hegemonia, tão esperada, mesmo
depois do advento da FM, ainda esteja por acontecer. Talvez o grande evento, em
termos de inovação tecnológica, que vai ajudar o rádio, seja a digitalização.
Na discussão sobre a tecnologia do computador e internet, em Retina
projection, tactile fields and other toys, Broadcasting, (1991), é apresentado que “A
mídia de massa do rádio será uma beneficiária básica dessa mudança, já que as
redes de comunicações se expandem para fortalecer serviços eletrônicos aos lares
e a outros locais de consumo.”.
Desta forma, não importa a quantificação de diferentes de aparelhos
adquiridos e presentes em uma residência, mas sim o que está sendo efetivamente
utilizado.
Quando o rádio surgiu no Brasil, havia setores que não acreditavam nesse
meio de comunicação e, conseqüentemente, eram feitas afirmações como: “as
palavras que eram ditas no ar eram levadas pelo vento, não tinham efeito e não
havia consistência do texto escrito, confirmando a necessidade humana de ver para
crer”. Neste tipo afirmação não havia, no entanto, preocupação com a veracidade da
imagem, desvalorizando seu poder consciente, como veio a ocorrer em outros meios
audiovisuais.
O que era visto como grande defeito tornou-se, ao contrário, a grande
qualidade do meio rádio, principalmente em função de sua instantaneidade, sua
facilidade em operar e transmitir a informação atual, bem como a possibilidade de
informar simultaneamente diferentes tipos acontecimento, sem necessariamente ter
de “gerar” imagens, mas sim os fatos. A rapidez da informação e a liberdade de
pensar conquistam o ouvinte. A emissão e a recepção acontecem simultaneamente.
Para se repetir a audição da mensagem, pode-se utilizar a gravação.
Ortriwano (1985) faz uma interessante comparação entre rádio e a televisão:
“O rádio envolve o ouvinte, fazendo-o participar por meio da criação de
um “dialogo mental” com o emissor. Ao mesmo tempo, desperta a
imaginação através da emocionalidade das palavras e dos recursos de
sonoplastia, permitindo que as mensagens tenham nuances
individuais, de acordo com as expectativas de cada um. No caso da
televisão, a decodificação das mensagens também se dá ao nível
sensorial, só que a imaginação é limitada pela presença da imagem.”
(Ortriwano, 1985: 80).
Com o rádio portátil, o ouvinte pode sintonizá-lo em qualquer lugar, podendo
trabalhar, dirigir, deslocar-se, tomar banho
7
, descansar e até dormir. Essas
qualidades, já confirmadas pela pesquisa de 2004, realizada pelo Instituto Marplan,
colaboraram para que o rádio seja mais utilizado do que a televisão. A referida
pesquisa de 2004 atesta que 90% da população brasileira, entre homens e mulheres
das diversas faixas-etárias, ouvem rádio cerca de três horas por dia.
Embora o número de aparelhos presentes nos lares possa ter diminuído, o
rádio ainda é o veículo mais presente no cotidiano do cidadão brasileiro.
O Deputado Rômulo Gouveia
8
, delegado da Câmara dos Deputados, afirma
que o rádio é um “veículo que atinge a todos”.
Outra pesquisa realizada em 2004 menciona que mesmo as famílias de baixa
renda, em todas as regiões do Brasil, possuem pelo menos um aparelho de rádio em
casa. Trata-se de um fato importante, que demonstra que o rádio está ainda
fortemente presente no dia-a-dia da maioria das pessoas e pode ser utilizado para
colaborar na divulgação de programas e políticas de inclusão social, a fim de
solucionar problemas como os altos índices de analfabetismo, pobreza e a falta de
informação.
Daniel Pimentel
9
(2007), Presidente da Associação Brasileira de Rádio e
Televisão (ABERT), define o papel do rádio no país como:
Primeiro grande veículo de comunicação de massa desse
país, ele veio após os jornais, mas o rádio que foi conquistou o
Brasil inteiro, com as transmissões de uma programação que
leva informação, entretenimento, cultura de maneira livre, aberta
e gratuita
” (Pimentel, 2007).
Embora o rádio seja uma mídia caracteristicamente popular e de
entretenimento, pode também semear a cultura, saúde e educação no Brasil. Uma
população bem informada atinge, seguramente, melhor qualidade de vida. Assim, a
7
Vale mencionar o advento dos aparelhos de rádio que podem ser utilizados no chuveiro.
8
Trata-se de parte do pronunciamento feito pelo deputado Rômulo Gouveia, no Seminário sobre Rádio Digital,
realizado na Câmara dos Deputados, em maio de 2007, em Brasília.
9
Trecho do pronunciamento de Pimentel, no Seminário Rádio Digital – uma revolução na radiodifusão
brasileira, realizado em maio de 2007, na Câmara dos Deputados, Brasília.
agilidade deste meio ao atingir seu público é um dos principais fatores que
colaboram para essa função social do espectro.
As características do rádio adquirem um caráter funcional quando podem
acelerar o processo de informar à sociedade sobre a recolocação profissionais, com
oferta de serviços de empregos, como também agindo como mediador entre a
divulgação das desigualdades pelos que têm poder contra os que não têm,
propiciando o contato com o público, da forma a colaborar com o desenvolvimento
de objetivos comuns e opções políticas, oferecendo espaço para o debate social.
Por fim, vale ressaltar que o espaço oferecido pelo rádio para a sociedade
cumprir seu papel fiscalizador, propiciando debates sociais, mostra a prática da
interatividade do ouvinte, atualmente comentada e super valorizada pelas mídias
digitais, porém já praticada, ao longo da própria história do rádio.
1.3. Emissoras e transmissão em AM e FM
Muito além de ser simplesmente uma “caixinha”, o aparelho de rádio é um meio
de comunicação que transmite informações sonoras, por meio de ondas
eletromagnéticas ou hertzianas (oscilações periódicas que transmitem sons e
imagens), em diversas freqüências, recebidas simultaneamente por uma audiência
em determinada área geográfica, sob forma de programas recreativos, noticiosos,
educativos, culturais, de mensagens políticas ou oficiais. Podendo ser considerado
como “um meio essencialmente auditivo”, formado da junção da voz do locutor e
música.
A tecnologia do rádio é idêntica à da radiotelefonia, que é a transmissão de voz
sem fio. Importante mencionar também que se pode chamar de rádio o aparelho que
capta as ondas irradiadas, selecionando o sinal desejado entre vários sinais
enviados pelas antenas transmissoras.
A localização, potência e freqüência de transmissão e da direção de sua
antena são fatores interligados que fazem com que as emissoras tenham um
alcance local, estadual, regional ou internacional, obedecendo aos regulamentos da
União Internacional de Telecomunicações (ONU).
O sistema de transmissão analógica adotado no Brasil nas emissoras são as
de Freqüência Modulada (FM) e Amplitude Modulada (AM), que funcionam em
Ondas Médias (OM), Ondas Curtas (OC) e Ondas Tropicais, descritas no quadro a
seguir:
Tipos de ondas radiofônicas
Tipo de onda Descrição
Ondas curtas
Normalmente é utilizada em transmissões a longa distância em
emissoras internacionais na qual a freqüência de onda é entre 5.950
kHz e 26.100 Khz. As emissoras da Radiobrás (Empresa Brasileira de
Comunicação) e Rádio Nacional (pertencente ao sistema Radiobrás)
utilizam bastante este tipo de onda para a região da Amazônia.Constitui-
se em um meio de comunicação muito importante, pois durante o dia e
a noite é necessário mudar de freqüências, isso porque a propagação
se altera, de manhã com uma freqüência e de noite com outra.
Ondas médias
Modulação em amplitude, na qual a onda está na freqüência de 535 kHz
e 1650 Khz. É a faixa mais utilizada no mundo por emissoras locais e
regionais para transmissões de média distância na radiodifusão
comercial, tem um papel muito importante no contexto da radiodifusão.
O aumento das cidades e as mudanças topográficas, principalmente,
devido à construção de prédios, fizeram com que as OM ficassem
prejudicadas partindo-se para as emissoras FM.
Ondas Tropicais
É uma modulação em amplitude modulada com freqüência que abrange
3.200 kHz a 5.000 kHz. Na onda Tropical, há poucas estações de uso.
Quadro 1 – Tipos de onda radiofônicas
No caso das transmissões em AM, a diferença crucial é a qualidade de som
que é inferior às das emissões em FM, pelo fato do receptor AM sofrer interferências
de fenômenos naturais, como raios, ou artificiais, que são interferências provocadas.
A maioria das transmissões das emissoras AM é realizada em som
monofônico, sendo por meio de um canal apenas. Já as emissoras FM, que operam
na faixa de freqüência de 87,4 MHz a 108 MHz, além de possibilitar a emissão e
recepção de som em qualidade superior às emissoras AM, por não sofrer
interferências, transmitem em som estereofônico, produzindo um efeito de relevo
acústico, similar à realidade. Este efeito ocorre pelo fato de o som ser gravado em
diversos canais, nos quais cada um deles capta sons de fontes diferentes,
simulando a distribuição espacial.
Há também as rádios comunitárias que estão instaladas no canal 200 e, mais
recentemente, foi aprovado o uso dos canais 198 e 199 estendidos para as rádios
comunitárias. Há também os canais de 201 a 300, nos quais o dial começa desde o
88 e vai até o 108, para as rádios comerciais educativas.
Ara Apkar Minasian, Superintendente do Serviço de Comunicação de Massa
da Anatel, mostra como estimulo às rádios comunitárias, que a TV digital funcionará
em UHF e o canal 200. Todo o território brasileiro poderá acessar as rádios
comunitárias.
O Seminário de Radio Digital de 29 de maio de 2007 traçou um panorama
sobre as emissoras no Brasil, conforme mostra o quadro 2 a seguir:
Panorama atual das emissoras radiofônicas no Brasil
Tipo de transmissão Descrição
FM
2607 – estações com outorga
1451 – funcionando
1156 – aguardando licenciamento
4371 – canais vagos no plano
Ondas médias
1714 - funcionando
144 - aguardando licenciamento
449 - aguardando inicio de procedimento de outorga
Ondas curtas
66 - funcionando
5 - canais vagos no plano
Ondas tropicais
75 - funcionando
547 - canais vagos no plano
Rádios Comunitárias
Estão presentes em todos os estados e em 5564
municípios 2809 - rádios comunitárias instaladas
(mais que rádios comerciais e educativas juntas)
2400 – licenciadas
395 - em fase de instalação
Quadro 2 – Panorama das emissoras radiofônicas no Brasil – dado colhido no Seminário sobre
Rádio Digital, realizado na Câmara dos Deputados, em maio de 2007, em Brasília.
2. “Aemização”
2.1. O processo de “aemização”
A transmissão em amplitude modulada nasceu do processo de inserção de
informação na onda hertziana, a modulação. Os primeiros modelos de radiodifusão
sonora faziam a amplitude (intensidade) da onda hertziana variar de acordo com a
informação a ser transmitida, daí o nome, modulação de amplitude (AM).
As rádios AM que utilizavam a onda hertziana como informação são
conhecidas como “portadoras”, termo utilizado para definir uma rádio pela freqüência
da portadora.
Mesmo com o enorme sucesso, os receptores eram volumosos e pesados,
funcionava a válvula e necessitavam ser ligados à rede elétrica. O rádio, mesmo
conseguindo vencer enormes distâncias, estava limitado a lugares fechados e
totalmente vinculado a rede elétrica.
Nos anos 70, o rádio sentiu necessidade de atualizar e oferecer ao ouvinte um
produto tecnicamente mais robusto. A evolução tecnológica permitiu vislumbrar os
serviços de radiodifusão imune às interferências atmosféricas e com capacidade de
transmitir sinais de áudio com qualidade muito superior.
Esse sistema é baseado em um antigo conceito, modulação por freqüência,
proposto por Edwin Armstrong em 1933.
A modulação por freqüência ou, simplesmente, FM, consiste em variar a
freqüência da onda portadora de acordo com a informação a ser transmitida. As
rádios FM têm como características o alcance limitado das transmissões, aliada a
uma pequena área de cobertura, o fez com que das rádios FM se tornassem as
líderes de audiência nos centros urbanos mais desenvolvidos, empurrando as rádios
AM para segmentos da população mais carentes e para a zona rural.
Embora, quando confrontadas, seja notória a qualidade infinitamente superior
das transmissões FM, as rádios AM ainda continuam com a vantagem de ser
alcance local, nacional e internacional.
A FM, num primeiro instante, encantou seus ouvintes pela qualidade sonora,
sem ruídos, estereofonia e com uma programação selecionada. A AM se
reposicionou, criando uma linguagem própria, com uma programação dirigida a um
público-alvo bem identificado. Parecia que a radiodifusão tinha encontrado uma
harmonia, em que as tecnologias se faziam complementares.
Com o passar do tempo, a simples reprodução musical já não mais cativava os
ouvintes, obrigando a FM a popularizar-se a ponto de não mais se distinguir, pela
programação, de uma rádio AM. Desta forma, as rádios AM, por não terem uma
qualidade à altura, começam a perder mercado. Outros meios de comunicação
surgem, consumindo mais uma boa parte desta audiência radiofônica. É preciso
criar uma nova rádio que seja suficientemente impactante para fidelizar os atuais
ouvintes e absorver novos nichos de mercado. Obrigatoriamente, passa-se a
assumir a idéia de qualidade e convergência de serviços via radiodifusão.
Assim, o termo “aemização” é um neologismo que serve para identificar as
transformações da AM e FM e as novas características que adquiriram ao longo do
tempo com o surgimento de novas tecnologias descritas no capítulo I.
Essa transformação ocorreu com o mínimo impacto no cotidiano do indivíduo
no sentido de um progresso ou ”retrocesso” tecnológico. Naquele momento houve
melhora na qualidade do som, ainda pouco perceptível, não necessitando a troca de
aparelho, e as características das rádios AM passaram para FM, causando inúmeras
mudanças nas emissoras de rádio.
Tal fato histórico leva a acreditar que se trata de uma fase de intersecção que
parte do processo de “aemização” chegando à digitalização, que poderá causar um
impacto no cotidiano dos ouvintes. Em conseqüência deste processo, podem surgir
novos departamentos nas emissoras, como, por exemplo, um departamento
responsável pela gestão da rádio na internet, demandando domínio das novas
tecnologias e profissionais qualificados.
Ara Apkar Minasian
1011
, superintendente do serviço de comunicação e massa
da Anatel, frisa que a AM tem um papel muito importante no contexto da
radiodifusão, só que devido ao aumento das cidades, construções de prédios e com
a mudança topográfica as OM ficaram prejudicadas e a sociedade partiu para a FM.
Com a introdução do rádio digital, a rádio AM começará a se revitalizar, com o
som de qualidade semelhante à rádio FM, podendo ter condições de competir com
10
Termo utilizado pelo Professor Doutor Antônio Adami para descrever o processo que a emissora FM esta
passando ao utilizar o formato de programação de rádio AM.
11
Trecho do pronunciamento de Ara Apkar Minasian, no Seminário Rádio Digital – uma revolução na
radiodifusão brasileira, realizado em maio de 2007, na Câmara dos Deputados, Brasília.
outras emissoras e o cidadão terá alternativa de escolher qual a programação que
melhor lhe atende.
Ronald Barbosa, engenheiro e mestre em ciência pelo Instituto Militar de
Engenharia do Rio de Janeiro, membro do grupo da Associação Brasileira de Rádio
e Televisão, enfatiza que a AM tem que ser priorizada e melhorar, pois até hoje a
AM não foi “arrumada”, e que somente a AM tem duas formas de propagação: a
primeira por onda de superfície e a segunda noturna por onda endosférica.
A transição cultural do uso da AM para o FM é um tipo de evolução que não é
in Band, é aberta uma nova faixa de freqüência, que permite que com uma nova
tecnologia consiga oferecer um serviço de muita melhor qualidade. É um típico caso
de evolução fora da faixa original.
2.2. AM e FM na Era digital: transmissão e sistemas
Orlando Guilhon, Presidente da Associação das Rádios Públicas do Brasil,
Diretor Geral do MEC, Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e
membro do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, representante
no Conselho de Comunicação Social, diz sobre a atual necessidade de atualização
quando afirma, no Seminário de Rádio Digital: “Não sou um técnico especialista,
mas, por ossos do ofício, por ser o presidente da Associação das Rádios Públicas
do Brasil, acabei tendo que me debruçar sobre o tema, até porque a rádio digital
está batendo à porta, estaremos certamente dentro de algumas semanas
participando do Conselho Construtivo da Rádio Digital que está para ser implantado
pelo Ministério das Comunicações.”
Desta maneira, é pertinente definir o processo de digitalização no rádio: os
sons são variações de pressão, conseqüentemente propagam-se no ar. Quando
essas variações de pressão são captadas por um microfone e amplificadas por um
dispositivo eletrônico, elas se transformam em variação de tensão. A tensão é
mostrada em um certo número de vezes por segundo pelo quantificador,
digitalizando o sinal.
A possibilidade de utilização conjunta de duas tecnologias a MPEG (Moving
Picture Experts Group) e a COFDM (Coded Orthogonal Frequency Division
Multiplex) permite que a rádio digital ofereça programas de áudio com excelente
qualidade sonora, ou seja, livre das chamadas interferências, e, ao mesmo tempo,
agregando valor pela sua grande capacidade de transmissão de dados.
A tecnologia MPEG possibilita a compressão de dados de áudio por um fator
de áudio sete vezes à capacidade de transmissão utilizada por um CD, isso
possibilitará a eliminação de fontes de ruído e freqüência não audíveis.
Por outro lado, a codificação COFDM é responsável pela transmissão de
grande quantidade de dados. Ela é utilizada com as mesmas características
múltiplo-portadoras: em cada uma dessas sub-portadoras há uma taxa de
transmissão tão baixa correspondentemente a quanto maior for o número essas sub-
portadoras empregadas, eliminando, o que normalmente se denomina “efeitos de
múltiplo-percurso”.
O desenvolvimento e emprego da tecnologia de digitalização do rádio tiveram
seu início na Alemanha. Um dos principais motivos que pode ser destacado está no
fato de que lá houve uma revolução no processo de transição do sistema público
para o sistema privado, o que é exatamente o contrário do processo ocorrido no
Brasil. Os dez primeiros anos do rádio, entendidos como a fase amadorística, deram
lugar à posterior estruturação profissional do rádio, ocorrida no governo do
Presidente Getúlio Vargas (1883 – 1954), quando passa a permitir a publicidade no
rádio, regulamentada em 1932.
A rádio digital já está implantada em 35 países, o que representa 284 milhões
de pessoas tendo acesso a tal sistema. Existe no mundo todo mais de 400
emissoras que estão digitalizadas, não só na produção, mas também na
transmissão, utilizando um dos vários sistemas de Rádio Digital: DAB (Digital Audio
Broadcasting) – Eureka 147, DSM (Digital Spectrum Modulation), DSR (Digital
Satellite Radio), IBOC (In Band, On Channel), ISDB, (Integrated Services Digital
Broadcasting Terrestrial) DRM (Digital Radio Mondiale).
Os receptores são fabricados por cerca de vinte e duas empresas, com suas
marcas diversificadas
12
. Na Europa os preços dos receptores digitais variam
conforme o modelo, a faixa de operação e a tecnologia oferecida. Existem desde
receptores portáteis, portanto, mais simples, a partir de 50 euros, até mais
sofisticados chegando a 700 euros. Há também veículos desde 100 até 1500 euros.
12
Dados colhidos no final de 2006.
No Brasil, ainda não foi escolhido um padrão da rádio digital. Essa será a
grande discussão do âmbito do rádio para os próximos anos. Adiciona-se a essa
pertinente discussão a questão da regulamentação: uma hierarquia a ser
estabelecida, pois antes de se enquadrar ou padronizar o sistema correto na
situação brasileira, deve, primeiramente, a União Internacional de Telecomunicações
fornece as regras gerais, e, posteriormente, a CITEL (Comissão Interamericana de
Telecomunicações), representante das Américas, define os outros processos
necessários.
Para poder decifrar como ficarão as transmissões em AM e FM no rádio
digital, é necessário conhecer os diferentes modelos de sistemas-padrão oferecidos
no mundo:
O modelo DAB
o Foi o primeiro padrão a surgir em 1980, a partir do projeto Eureka
147. A Rádio BBC de Londres foi a primeira a adotá-lo em rede
nacional a partir de 1995. É utilizado fundamentalmente na banda
FM, é essencialmente um sistema terrestre de transmissão, oferece
multi-serviços de transmissão de dados veiculados através de um
display de cristal líquido no receptor de rádio. Assim, o ouve-se a
música e, ao mesmo tempo, pode-se ver as informações no display
sobre o cantor, sobre compositor, sobre o estilo musical, etc.
o O DAB hoje é usado, principalmente, na Grã-Bretanha, Canadá,
Austrália e na Índia, não tendo necessariamente a mesma
freqüência.
o Seu modelo original é considerado pelos especialistas como pouco
flexível. Na Coréia há uma tentativa de desenvolver um novo
modelo, que é uma corruptela do DAB e uma decorrência do estudo
original do DAB. Trata-se do DMB, o objetivo é superar a pouca
flexibilidade do sistema original.
o O modelo de negócio do DAB é baseado na figura do operador de
rede.
O modelo DSR
o Trata-se de uma vertente do satélite do DAB, que é terrestre e
opera em freqüências autorizadas pela World Administrative Radio
Conference, na Europa. Há apenas duas empresas que estão
operando pelo DSR: a Global Radio e a Alcatel, WorldSpace. A
Global Radio utiliza três satélites de órbita inclinada com
capacidade de transmissão de 2.1 megabytes, permitindo 60 e 70
canais, que transmitem atualmente música, notícias, entrevistas e
esportes, portanto, uma diversidade de programação oferecida ao
assinante.
O modelo ISDB
o Provavelmente seja o modelo mais conhecido. Foi adotado pela TV
Digital no Brasil. É utilizado pelo Japão, é mais flexível do que os
anteriores e permite uma recepção móvel boa para áudio e dados.
Considerado o sistema mais robusto, entretanto, destina-se à
transmissão terrestre de TV Digital. É um sistema muito mais
abrangente, pois suporta além das necessidades do rádio,
permitindo também transmissão de imagem
O modelo IBOC
o É o sistema mais comentado atualmente, atende de 12 a 20 rádios,
e já vem sendo testado desde o meio do ano de 2006. Foi liberado
pelo Ministério da Comunicação e desenvolvido pelo consórcio
norte-americano, Ibiquity, tendo sua implantação desde 2006.
o Das quase 14 mil emissoras norte-americanas, apenas 300 estão
digitalizadas. Há um acordo recente da Ibiquity para tentar
digitalizar mais 2000, de forma que vale observar que o país mais
avançado em ciência e tecnologia, no caso os EUA, ainda está
nesse estágio de digitalização.
o Deve-se ainda mencionar que o IBOC é o sistema mais pesquisado
e com chances de ser implantado no Brasil. Tem a vantagem de ser
um sistema híbrido, pois permite, ao mesmo tempo, o uso do
padrão analógico, in band, porque acontece na mesma faixa. Isso
significa que a transição do analógico para o digital é menos
traumática, podendo durar mais tempo. Em contrapartida, a
conversão para o sistema digital IBOC custa em torno de 30 mil
dólares para cada emissora.
o Pode-se utilizar o canal adjacente de FM e AM, entretanto o IBOC
vem apresentando em todas as experiências, particularmente nos
EUA, sérios problemas de recepção do sinal de AM. Estuda-se
como superar tal deficiência. Se, por um lado, a qualidade da FM é
muito boa, de forma que qualidade do som passa a ser como um
Compact Disc, por outro lado, na AM, a expectativa da chegada da
Rádio Digital no padrão IBOC não vem acontecendo, pois ela
apresenta ainda menor alcance do que o desejado.
o É um sistema “proprietário”, ao contrário dos anteriores, ele
pertence a Ibiquity, norte-americana, a compra e a licença de cada
um desses IBOC custam cerca de 5 mil dólares, tem uma vantagem
no padrão do Brasil de políticas de concessões, pois não necessita
de uma nova concessão, basicamente não há alteração nas
freqüência e chamadas de emissões de rádio.
o Esse padrão norte-americano já recebeu críticas da maior rede
pública de rádio norte-americana, como também da Consumer
Electronic Manifesting Association e da Benton Foundation. A crítica
principal é sobre a forma de ocupação dos canais adjacentes, pois
se efetivamente a banda da largura do canal for aumentada, este
será ocupado por uma única estação, necessitando de poucos
“atores” sociais que poderão utilizar o rádio, ou seja, vão sobrar
menos pessoas nos canais, ao invés da grande possibilidade de
democratizar o acesso a comunicação. Possivelmente, se for
adotado esse padrão para o Brasil, a disponibilidade do espectro
para eventuais novos “atores” será reduzida.
O modelo DRM
o Sistema Europeu, mais recente, surgiu em 1996, opera
fundamentalmente em AM, ondas curtas e ondas tropicais. Ainda
não possui um teste aprovado na área de FM, pois ainda estão
sendo feitas pesquisas, pelos Italianos, franceses e os britânicos.
o Tem a vantagem de não ser um sistema proprietário, é um
consórcio formado por rádios públicas européias, entre elas a
Doutvelle, Radio Fans, BBC (Radio British Broadcasting
Corporation). Dois países já o adotaram: China e o Equador.
O Ministro Hélio Costa das Telecomunicações do Governo Lula informou que será
testando no Brasil para fazer o teste de AM e ondas curtas.
Na Europa serão conduzidos mais testes com a FM no sistema DRM, em
meados de 2009, pois como exemplo de preocupação e união entre cultura e
tecnologia, interesse no fortalecimento das OM e OC, principalmente pela BBC é o
foco.
Todas essas tecnologias foram desenvolvidas a partir das necessidades de
cada país, assim devem ser analisadas as tecnologias viáveis para o Brasil.
Para discutir os impactos esperados, pode-se mencionar a fala do Senhor Ara
Apkar Minasian (2007), que enfoca as ondas médias: uma emissora se instala no
canal 1600, automaticamente dois canais acima e abaixo são inviabilizados. Então,
toda vez que for colocada uma estação no ar, serão afetados cinco canais e, se
forem ondas médias, será atingido um sexto canal.
Nesses casos, em grandes centros, como São Paulo, algumas estações
poderão ter que ser desligadas ou mudar para outro canal, para não prejudicar a
transmissão, devido ao grande número de emissoras.
No sistema IBOC, o sinal analógico deverá permanecer, para que o ouvinte
receba esse sinal e emitir um “pedacinho” do sinal digital. Cabe lembrar que a
recepção digital seja feita corretamente, é necessário possibilitar o uso de todos os
canais adjacentes para se colocar outras informações digitais, tanto no superior
como no inferior. No sistema DRM, coloca-se todo o canal digital, no canal
adjacente, não se usa os dois lados, ou se usa o superior ou o inferior.
A presente análise é pertinente para que se possa discutir a entrada do rádio
digital no Brasil. Por fim, ressalta-se que de início, vale estudar o sistema in band no
qual se pode utilizar o analógico e o digital juntos. Há três alternativas de sistemas: a
primeira acontece de uma forma simples, sem nenhuma relação com a freqüência
original. No caso da TV digital, uma emissora passa o digital em outro canal longe,
no UHF. Segunda alternativa: aplicar a tecnologia in band no canal adjacente, DRM.
Terceira alternativa: utilizar o IBOC em que o sinal digital fica exatamente onde o
analógico está, junto com o digital. Outro bom exemplo é o DRM 2.0 que está
chegando ao mercado e espera-se que dê certo, pois todo o canal digital está dentro
do canal analógico,
3. Convergência midiática e cultura
3.1. Processos de transmissão em evolução na sociedade
No livro, A Nova Mídia - A comunicação de massa na Era da Informação, do
escritor Wilson Dizard Jr., pode-se se encontrar uma interessante descrição sobre o
atual momento de mudança:
“As atuais mudanças são a terceira grande transformação nas
tecnologias da mídia de massa nos tempos modernos. A
primeira aconteceu no século XIX, com a introdução das
impressoras a vapor e do papel de jornal barato. O resultado foi
a primeira mídia de massa verdadeira – os jornais “baratos” e
as editoras de livros e revistas em grande escala. A segunda
transformação ocorreu com a introdução da transmissão por
ondas eletromagnéticas na mídia de massa – que estamos
presenciando agora – envolve uma transição para a produção,
armazenagem e distribuição de informação e entretenimento
estruturadas em computadores
.” (Dizard, 2000:53)
Para ele, o surgimento do rádio, está à mercê do surgimento de novas
tecnologias, como ondas eletromagnéticas, o que tem ocorrido em um curto espaço
de tempo no mundo atual, como os computadores multimídia, compact disc, bancos
de dados, portáteis, redes nacionais de fibras óticas, mensagens enviadas por fax
de última geração, páginas de Web e outros serviços que há 20 anos simplesmente
não existiam.
Vale lembrar, que o fruto dessas mudanças independe do signo, sonoro ou
visual, pois as possibilidades tecnológicas que existem atualmente a favor da
humanidade são inúmeras, entre as quais, vale mencionar, o advento da gravação,
Pode-se imaginar um mundo sem a gravação? Antes dela, o som e a imagem se
perdiam, enquanto registro sonoro, no momento em que acabava de ser executado
ou emitido. Hoje, em função da gravação e de sua reprodução, pode-se, colocando
de forma genérica, escutar em um dia 1000 anos de música, caminhar ao longo da
história e levar consigo a cultura particular de cada época e região.
A existência de um meio entre a magia do som e o prazer de ouvi-lo é algo
que deveria ser valorizado e que não deveria ser perder no universo das
convergências de imagens e sons. Cada mídia deve conservar suas
particularidades, seu valor, como também profissionais capacitados e especializados
para desenvolvê-las, mesmo que seja para o aspecto da convergência.
A convergência das mídias, entre tantas possibilidades, poderá promover uma
alteração na função do rádio cujo resultado pode estar ainda “escondido” no meio de
inúmeras novidades. A combinação de textos, sons e imagens no espectro terá
como umas das conseqüências o surgimento de novos e diversificados formatos e
gêneros de produção.
Inocêncio Oliveira
13
, na ocasião, Presidente do Conselho dos altos estudos da
Câmara dos Deputados, afirma: “velho parceiro” é o rádio e que novos padrões
tecnológicos irão surgir, novos serviços serão agregados, novo modelo de negócios
será agregado e, ainda, a previsão de especialista é de que “chamaremos de rádio
apenas por força do hábito”.
Unindo todas essas informações, como será o ouvinte? Ainda um ouvinte, ou
um telespectador? O rádio continuará a ser rádio? O rádio na era digital continuará a
ser uma mídia de pouco investimento, ou será convertido em outra mídia?
Ao mesmo tempo, ao lado de uma melhor qualidade de som, o rádio digital
pode também permitir uma grande diversificação de novos serviços no mundo das
rádios, com o recebimento de dados e informações e até mesmo de imagens.
Interessante reforçar o aspecto da mudança de hábitos do ouvinte, que está
acostumado a ouvir certa emissora, e com o rádio digital, poderá subir para a faixa
superior ou usar a mesma portadora, isso é se continuar sintonizando na mesma
freqüência. Essa é decisão que a sociedade deverá tomar: ou se parte para uma
solução diferente ou se permite que o ouvinte receba o sinal analógico ou digital na
mesma freqüência.
A tecnologia digital, ao substituir a analógica, permitirá inovações nas rádios,
fazendo com que o áudio da AM fique com qualidade de uma rádio FM e o áudio de
uma rádio FM fique com a qualidade de som de um CD. Por conseqüência disso,
poderá levar a um sucesso ainda maior do que a FM conquistou na história do rádio
13
Fala proferida no Seminário Rádio Digital – uma revolução na radiodifusão brasileira, realizado em maio de
2007, na Câmara dos Deputados, Brasília
e dar espaço às AM’s, porém, em contrapartida, podendo fazer sucumbir a única
mídia puramente sonora.
3.2. Convergência de mídias
O rádio, junto a outras mídias, atinge também seus ouvintes. Em outras
palavras, simultaneamente ao ouvir rádio, pode-se também ler jornal, revista, ou um
livro, ou navegar pela internet. Trata-se de uma sobreposição de mídias e uso de
diferentes posturas de escuta e atenção. Estar sintonizado a uma estação
radiofônica, ouvindo música ou algum tipo de informação, não tira do individuo a
capacidade de estar fazendo coisas diferentes ao mesmo tempo.
Sua mobilidade traz consigo o imediatismo dos veículos de comunicação de
massa. O rádio é o pioneiro ao passar a informação do fato no local do
acontecimento, além de ser menos complexo na parte tecnológica, comparado a
outras mídias, e com o surgimento do transistor, a mobilidade do rádio deixou de ser
uma simples característica e tornando-se seu diferencial.
O tamanho do aparelho de rádio diminuiu, ultrapassando as facilidades de
portabilidade e alcançando o prazer ter por perto um veículo rico em informações e
formas de entretenimento, de fácil transporte, tendo sido inserido, mais
recentemente, nos aparelhos celulares, discman, utensílios domésticos, canetas,
MP3, internet e outros.
A simplicidade do rádio facilita a dinâmica da programação, pois é,
relativamente, simples substituir uma matéria ou acrescentar algo novo durante uma
emissão, ou seja, trabalhar de forma mais improvisada ou inserir algo momentâneo.
Mas uma pergunta é ainda pertinente: O rádio e a televisão digitais poderão
ser baseados em MPEG, o que irá diferenciar um do outro? Onde termina um e
começa o outro? Para podemos responder a essa pergunta, temos de refletir sobre
as atuais e futuras tecnologias presentes tanto no rádio quanto na televisão digitais.
Torna-se claro nesta forma de reflexão, que o rádio digital não será mais o
que é hoje, ou seja, um aparelho de transmissão apenas utilizado para se ouvir. Ele
poderá ter um pequeno display, no qual poderão ser vistos o nome e intérprete da
música, auxiliando de sobremaneira o ouvinte e poderão ser vistos a capa do CD, a
foto dos artistas como também poderão ser acessadas notícias, no formato de um
jornal. Com esta tecnologia, poderão também ser assistidos pequenos segmentos
de vídeo, em baixa resolução, como, por exemplo, o gol do seu time de futebol.
Sobre a imagem inserida no display do rádio e conseqüentemente na
emissora de rádio na internet, Ciro Marcondes Filho diz:
“As imagens ganham dimensão; só através de sua velocidade de
propagação e referencialização forja-se a sensação de movimento, de
presença – telepresença – e, mais ainda, a ilusão de que, nestes
veículos estáticos, nos quais estamos fisicamente paralisados,
estamos realmente interagindo. A interação, através da virtualidade,
define um pólo de inércia, o paradoxo da movimentação para não sair
do lugar, para chegar não mais a um espaço real, mas À cintilação das
imagens do espaço, com sua força de atração e compactação dos
lugares vividos.”
(1996:170).
Assim, desde o momento em que se mencionou sobre assistir a vídeos
conclui-se haver aí uma intersecção entre os signos dos dois meios de
comunicação, e acabamos nos perguntando, “Mas eu não estava falando sobre
rádio digital?”.
Contudo, a TV digital vai continuar sendo TV, com som e imagem, porém,
com funções interativas, como ocorre na Internet. A imagem será em alta definição e
som envolvente com surround. A imagem mais normal poderá parecer como em um
livro, com alta mobilidade e acesso em todos os lugares para os quais o usuário se
deslocar. Haverá receptores ainda menores, portáteis e em tamanhos muito
pequenos, seja para assistir a programas numa pequena tela que não chega a dez
centímetros de tamanho, seja apenas para ouvir o som. Pode-se dizer que se trata
de uma TV sem imagem, apenas com som.
A DAB da Alemanha desenvolveu um projeto de um rádio digital (ou seja,
basicamente áudio), mas agora está também começando a transmitir jornais para
serem lidos no receptor. Proposta parecida ao do DMB, da Coréia: em vez de áudio,
o que se transmite são programas multimídia, de vídeo-clips a joguinhos eletrônicos.
Já o DVB-H (Digital Video Broadcasting for Handheld) tem o receptor que é mais
parecido com um pequeno computador de mão, ou com os tais terminais de
telefonia celular 3G. Com cada particularidade destas novas tecnologias não se
sabe ao certo se trata de rádio ou de televisão digital.
Pode-se dizer que, em um futuro próximo, o mundo dos signos midiáticos se
tornará cada vez mais complexo.
Em uma comparação diacrônica das mudanças tecnológicas, Wilson Dizard
Jr. Afirma:
Sob vários aspectos, esse novo padrão de mídia é
qualitativamente diferentes dos anteriores. Uma tecnologia – a
computadorização – agora é módulo para todas as formas de
produção de informação: som, vídeo e impressos. Como
resultado, os computadores estão obrigando a uma
reestruturação maciça dos serviços de mídia antigos, criando,
ao mesmo tempo, um novo grupo de serviços concorrentes
.”
(Dizard, 2000: 54).
O PC, “computador pessoal” com a internet são a grande diferença nos
tempos pós-modernos, fizeram com que os estudos no campo da Comunicação
renovassem.
A internet como meio de comunicação tornou-se conhecida nos Estados
Unidos, a partir de 1969, tratava-se de um sistema de intercomunicação de
laboratório de pesquisas denominado ARPAnet, (Advanced Research Projects
Agency), era operada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que servia
a interesse da estratégia militar. Com a guerra fria, foi necessário por em
funcionamento uma rede de comunicação que sobrevivesse a um ataque nuclear,
assim tal finalidade descreve bem a conquista tecnológica que se havia obtido: uma
rede em que todos os “nós” são equivalentes, sem que se possa detectar um
comando central.
Em 1979, alguns estudantes da Duke University at Durham, no estado
americano da Carolina do Norte, colocaram em conexão seus computadores, com a
finalidade de intercambiar informações. Assim, cerca de vinte anos a internet ficou
restrita, e em 1987 seu uso comercial foi liberado, chegando na rede do mundo em
1992, nascendo a interatividade.
A internet chegou ao Brasil em 1988, com o apoio da Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e fluminense, com colaboração
fundamental da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do LNCC (Laboratório
Nacional de Computação Cientifica). Começou a ser explorada comercialmente em
1994.
Já Lunefeld (1998:37) descreve da seguinte forma os acontecimentos da
Internet: “Uma máquina que estava destinada a mastigar números começou a
mastigar tudo: da linguagem imprensa à música, da fotografia ao cinema.”
A WWW, World Wide Web (“rede em escala planetária”) é uma das formas de
acesso a informação, seu criador, Tim Berners-Lee (1955), que fazia parte do centro
de pesquisas científicas (CERN), na Suíça, definiu como uma linguagem com o
objetivo de permitir a interligação de computadores, localizados em laboratórios e
em instituições de pesquisa, para pronta exibição e consulta de documentos
científicos.
Figura 6: Tim Berners-Lee
A Web é uma “interface gráfica” (Programa que faculta o uso do computador
com uso do mouse) e hipertextual (Processo que permite a consulta a um
“documento” de maneira não-linear mediante imagens ou palavras-chave), formada
por milhares de “lugares”, chamados de sites. Quando acessamos um site, estamos
chegando a ele por meio de uma “página de abertura”, ou homepage.
O grande sucesso social e tecnológico da Web está na concepção de suas
páginas, o código informativo HTML (Hypertext Markup Language), responsável pela
codificação
Figura 7: Berners-Lee usou este NeXTcube na CERN
para criar o primeiro servidor web do mundo.
Assim, torna-se ponto chave a ferramenta Multimídia para uma verdadeira
convergência de mídia, como menciona Ilana Polistchuk e Aluizio Ramos trinta:
“... é uma forma procedente e oportuna de se designar
a convergência tecnológica que capacita a rápido
acesso a qualquer tipo de informação (escrita, sonora,
visual), a qualquer momento que se deseje e recorrendo
a qualquer suporte de que se disponha (televisor,
microcomputador, dispositivos de “banda larga” e outros
mais).”. (
Polistschuk & Ramos Trinta, 2003: 159).
Assim, pode-se dizer que as características próprias de cada veículo (“um”)
de comunicação poderão se perder, quando compartilhados de um mesmo módulo,
no caso, o computador, a internet (“Tudo”): “um” estará dentro de “tudo”, e se “um”
estiver dentro, logo será o “tudo” e não o que era antes.
3.3. Função política do meio rádio: impactos culturais
Cultura e comunicação são inseparáveis, posto principalmente que a cultura
pode-se construir a partir das comunicações repetidas. Como, quando, de onde e o
que comunicamos é o que nos converte em sujeitos culturais (Pross, apud Serrano,
1996:10).
O aceleramento da produção tecnológica e a multiplicação de produtos de alta
tecnologia constroem uma ação simultânea e cooperada da informação, como
acesso a dados armazenados e da comunicação, como trocas discursivas,
expandindo mercados, estendendo o consumo de bens e reforçando a concentração
de capital em enormes conglomerados, como corporações que têm como objetivo a
difusão coletiva.
Pode-se constatar que os meios de comunicação vêm competindo com
empresas tradicionais, como o domínio hegemônico da construção de sentidos
socialmente valorizados. Essa construção é implantada por toda a parte,
derramando informações em estado bruto, esmigalhadas, em que imagens
assustam quem as vê, e nenhum conhecimento que se distribui se aprofunda.
Polistchuk & Ramos Trinta (2003) Ramos, no livro, Teorias da comunicação O
pensamento e a prática da Comunicação Social, apontam para esse tema:
“... a televisão (uma vez mais, a principal acusada) inibe o
exercício de crítica. A “explosão midial”, colossal ruído da
Comunicação, confunde e desnorteia o homem
contemporâneo, a toda hora e de imediato confrontando com
os dramas e tumultos de um mundo que a “magia eletrônica”
reduziu a uma “aldeia global
(Polistschuk & Ramos Trinta,
2003: 167).
Quanto ao rádio, protagonista do signo sonoro, pode estar perto de sofrer
grandes mudanças e afetar a cultura social, pois além de ser flexível, visto que pode
estar ao longo do dia passando informações e também liberar, através do som, o
imaginário humano e maximizar o conhecimento cultural. Terá, por meio da evolução
tecnológica, com foco das emissoras, de transportar o conteúdo principal para a
Internet, que servirá como mídia, visando ao aumento do número de ouvintes e
estendendo sua programação, abrindo para o “ouvinte-internauta” a possibilidade de
criar sua própria emissora de rede, podendo ouvir somente o estilo musical que lhe
mais agrada.
A relação construída entre o rádio e o ouvinte é interligada pela proximidade
permanente do meio ao cotidiano. Sua proximidade faz com que as mensagens
comerciais influenciem o ouvinte em momentos de decisão, resultado do fato das
pessoas passarem mais tempo com o rádio do que com qualquer outra mídia. Além
do que, sabe-se que a absorção de palavras que ouvimos é muito maior do que
imagens que vemos, principalmente em formatos de jingle
14
, um slogan memorável,
feito com uma melodia cativante.
O rádio é mais ouvido justamente no horário comercial, tornando-o uma mídia
inserida no cotidiano, alcançando o triplo de audiência da televisão durante a manhã
e mais do dobro durante à tarde. Pesquisas têm comprovado que o rádio atinge
quase a totalidade dos consumidores dos principais ramos de atividade em quinze
dias.
Além de alcançar o consumidor em qualquer lugar, desde o rádio-relógio, rádio
do carro, rádio no restaurante e lojas, incluindo a sessão da ginástica com uso de
MP3 ou walkman, o rádio está em 98% das casas e em 83% dos carros. O rádio não
tem fronteiras, podendo estar presente em uma pequena cidade do interior, ou em
pontos remotos de alcance nacional ou internacional, atravessando oceanos com
suas ondas médias, curtas, tropicais, AM, FM e em rede, fazendo-nos lembrar que a
Internet como mass media (meio de difusão coletiva), ainda não está ao alcance de
todos e onde todos como o rádio está.
É importante lembrar que as novas tecnologias da informação serviram
principalmente as necessidades das grandes empresas e de países com economia
expressiva, como os Estados Unidos, incluindo-se também as instituições que
podiam arcar com a expansão da estrutura eletrônica de informação.
Eduardo Castro, jornalista, assessor especial do rádio do Ministério da
Comunicação Social, informou que, com o processo de digitalização do rádio, o
governo brasileiro já está se preparando para elevar o conteúdo da rádio pública a
um novo patamar, o sistema público de rádio, com conteúdo de qualidade, gratuito,
14
O primeiro jingle foi produzido em 1926, nos Estados Unidos para um cereal matinal chamado Wheaties, cujo
slogan principal é "Para um café da manhã de campeões".
voltado para o cidadão de forma muito particular e regional com conteúdo particular
de cada região do país oferecendo “novo cardápio de programações”.
A Radiobrás e a ACERP (Associação de Comunicação Educativa Roquette
Pinto) junto com as demais rádios unidas a elas irão formar a base do campo
público.
O núcleo de emissoras terá como marcas importantes a Rádio Nacional, do
Rio de Janeiro, e a Rádio Mec, fundada por Roquette Pinto, que terá a formação de
uma verdadeira rede pública, sistema público, com a função de levar para todo o
país esse novo mundo que vai surgir no rádio digital, incorporando todas as
vertentes, as rádios universitárias, educativas, culturais, legislativas além das do
respectivo núcleo.
No momento atual de mudanças tecnológicas e convergências de mídias, o
rádio permanece no meio de tantos acontecimentos e deve ser objeto particular de
interesse público, como Marvin (2000:55): “Na verdade, a maioria esmagadora das
decisões críticas para a adoção de qualquer tecnologia é tomada por motivos
políticos e econômicos.”
Inocêncio Oliveira, preocupado com a inclusão social, formula a pergunta que
se tem de responder para utilizarmos o sistema de rádio digital: “como devemos
utilizar o rádio para democratizar a informação e promover a inclusão social?”.
Antes de pensar no papel de democratização do meio, Pierre Lévy faz
observar que o comportamento político social, deve, anteriormente, ser objeto de
questão do governo quando menciona: “Entretanto, apesar de vivermos em um
regime democrático, os processos sociotécnicos raramente são objetos de
deliberações coletivas explícitas, e menos ainda de decisões tomadas pelo conjunto
dos cidadãos.” (1993: 8).
Ronald Barbosa, integrante do grupo ABERT, é categórico ao falar sobre o
processo de digitalização: “Digitalizar é controlar a propagação”. No entanto, vê-se
que se trata do inverso o que será o processo de digitalização das mídias, quando
se confunde com a globalização, levando e distribuindo informação a todos: pobre,
rico, brasileiro ou oriental, sem os intermédios de grandes empresas, e sim por meio
de blog, fotoblog, chat, jukebox, e etc.
A manutenção das rádios existentes, como forma de democratização do meio,
não dependerá apenas do acúmulo de canais somente por causa possibilidade de
multicasting, e sim em função do incentivo e apoio do governo, que pode atuar de
forma mais eficaz do que fez no processo de implantação da TV Digital, ocasião em
que ofereceu a isenção de tributos para a importação de equipamentos, sem
similares nacionais.
No caso das emissoras de rádios, é necessário lembrar que existem as
educativas, comunitárias, as quais são mantidas por recursos municipais, e que
dificilmente poderão investir entre 60 mil dólares a 200 mil dólares
15
,
Pode-se inferir que antes de digitalizar o rádio seria justo o igualar a televisão,
visto que com a inclusão de imagem no visor e incluindo-o na web, poderá alcançar
a mesma propagação comercial que a própria televisão
Marcelo Braga, Diretor Nacional da Rádio Mix FM
16
, enfatiza o fato que o
governo brasileiro não proporciona a mesma atenção à implantação do rádio digital
como foi para a TV Digital, por questões econômicas. A TV no Brasil consome algo
perto de 60% dos recursos publicitários e o rádio cerca de 6%.
Para Jesus Martín-Barbero, a televisão é objeto de massificação da cultura e
informação, neste mundo globalizado, e descreve esse comportamento como:
“... tendência a construir-se num discurso que, para falar ao
máximo de pessoas, deve reduzir as diferenças ao mínimo,
exigindo o mínimo de esforço de decodificação e chocando
minimamente os preconceitos sócio-culturais das maiorias
.”
(Barbero, 1997, p. 350).
Somando-se as tecnologias da televisão e do computador na era digital,
pode-se constatar que a televisão poderá ser foco central nos avanços tecnológicos
no Brasil. O rádio, por sua vez, poderá ser tratado com um acessório e não como
objeto essencial, pois ao se perder entre o signo audiovisual, perderia sua qualidade
essencial, como também sua capacidade de expansão como mídia de massa.
15
Valores mencionados pelo Sr. Acácio Costa, Diretor Geral do Grupo Massa, responsável pela coordenação da
implantação da Rádio Digital no Brasil.
16
Emissora de rádio com sede em São Paulo com 17 afiliadas no Brasil
4.Cenários Abertos
4.1. Entremeios
Os meios de comunicação são definidos pelos signos que utilizam som e
imagens e que podem “falar” entre eles. No processo de digitalização desses meios,
os signos poderão perder esse papel de definição, pois digitalizar é possibilitar a
junção de todo o conteúdo dos meios pré-existentes que se concretizaram ao longo
da história e jogar em entremeios, como a internet e o celular, que são, na verdade,
filhos da “incomunicação”.
Sobre o termo “incomunicação”, cabe mencionar a fala de Luiz Carlos Assis
Iasbeck, Pesquisador Associado Adjunto da FAC/UnB, como:
“... é um outro nome para as rupturas que azedam as relações
e inviabilizam a interatividade humana. É um fenômeno ligado,
certamente, à exaustão, ao stress, à alteridade e à
impossibilidade de todas as espécies que ameaçam a
compreensão e o entendimento
.” (Iasbeck, 2005:35).
Podemos dizer que o rádio poderá se tornar, com as possibilidades do sistema
digital, um meio de “incomunicação”, pois irá inverter seu papel, confundir suas
características e alterar seu valor, tudo isso para enquadrar-se na falsa comunicação
pós-moderna.
Pensando de maneira defensiva, a inclusão da imagem no meio rádio não é
apenas o possível fim da única mídia puramente sonora, mas sim o fim do silêncio
em todas as mídias.
O silêncio antes de qualquer coisa, não é a não emissão do som, mas sim uma
pausa da qual se torna linguagem. No livro Os meios da Incomunicação, Eduardo
Peñuela Cañizal define o silêncio com base na teoria de Hjelmslev como:
“... é um quase nada que tem a extraordinária função de estar
na raiz da constituição das formas significantes, das unidades
expressivas em que a fala humana se harmoniza com os
limitados alcances da respiração e, consequentemente, com a
precária escala das gradações tensivas da voz, motivos, que
inevitavelmente recaem sobre as formas do conteúdo e
produzem relativizações semânticas extremamente sutis.
O filósofo Wittgenstein (1889 – 1951) defende a idéia de que sem silêncio não
há sentido. Orlandi defende o principio de que o “silêncio é fundante, o que quer
dizer que o silêncio, além de ser matéria significante por excelência, é um continuum
em que se engendra o real da significação”. (1997:31).
Pode-se concluir, a partir destas afirmações, que o silêncio para o rádio é a sua
possível salvação para voltar ser a dia de massa de maior presença nas
residências brasileiras.
Não deixando o rádio como mídia puramente sonora, misturando-se, como no
caso do sistema digital, com todos os veículos que utilizam imagem, é se diferenciar
perante o todo, que nada mais é que um recipiente transparente no qual o mundo
pode ver, olhar e ser visto (internet)
Menezes (2005), no livro Os meios da Incomunicação, Paul Virilio (1932), que
define o comportamento pós-moderno sobre o signo visual, assim: “... diante do
aumento da velocidade de transmissão de imagens, deixamos de observar o mundo
e nos contentamos apenas as imagens.” (Menezes, 2005:25).
Contrera (2005) afirma que a imagem imobiliza e seda:
“Por isso a ênfase absoluta que nossa sociedade
dá à comunicação visual é uma das mais amplas formas
de incomunicação, já que a visão não é
preferencialmente um sentido que se abre à formação
de vínculos comunicativos, mas sim um sentido de
defesa, utilizado para manter o controle sobre os
movimentos dos outros a uma distância segura.”
(Contrera, 2005: 56).
Constata-se, neste sentido, que com a morte da capacidade interativa pode-se
levar o indivíduo ao enclausuramento, a um deslocamento de estímulos do mundo,
de tal forma que o outro venha a desaparecer, dando lugar a um espelho que reflete
e retrata a imagem que nele se projeta, longe da realidade, como aponta Luiz Carlos
A. Iasbeck.
4.2. Cenários Atuais: em busca de um modelo
O seminário de rádio digital realizado em 29 de maio de 2007 teve como
objetivos a discussão sobre assuntos como a transmissão por meio de ondas curtas,
tropicais, médias, FM, AM e comunitárias e também sobre a política de concessão
do governo, monopólio de comunicação, abrangendo o plano básico de rádio
difusão, canais disponíveis e como o rádio digital pode ampliar e reorganizar o uso
do espectro de freqüência entre outros, distribuídos em 5 painéis, sendo estes:
1. O uso do espectro nos serviços de radiodifusão sonora;
2. Padrões digitais e tecnologias associadas;
3. Cenário atual do rádio digital no mundo: vantagens e desvantagens;
4. Aspectos para implantação da rádio digital no Brasil;
5. Impacto nas rádios comerciais públicas e comunitárias; fontes de
financiamentos.
Participaram do encontro Wilian França, Daniel Pimentel Slavieiro, Inocêncio
Oliveira, Rômulo Golveia, Orlando Guilhon, Ara Apkar Minasian, Takashi Tome,
Lucio Martins, Ronald Barbosa, Juliano Maurício, Paulo Bornhausen, Nélia Del
Bianco. Roberto Pinto, Fernando Ferreira, André Barbosa, Murilo Cezar ramos,
Marcos Manhães, Ediberto de Paula Ribeiro, Jonas Valente, Maria do Carmo Lara,
Emanuel Carneiro, Jonicael Cedraz de Oliveira.
Uma reflexão sobre este importante evento e seus desdobramentos tornou-se
necessário:
Sendo fundamental para a opinião pública, passar algumas informações
mencionadas referente ao papel governamental e sua posição atual perante esse
novo comportamento.
Wiliam França, Secretário de Comunicação Social da Câmara dos Deputados,
afirmou que a idéia de discutir o assunto do rádio digital surgiu de certa “ciumeira” da
TV Câmara, pois a TV Digital estava sendo muito discutida sobre a sua
programação e tecnologia e mencionou que “Mais uma vez o rádio foi esquecido”.
Ora podemos supor então que é apenas “ciumeira” o advento da Era digital no rádio
no Brasil?
No seminário o sistema digital, IBOC, foi demonstrado, autorizado pela
ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), a transmissão de rádio AM com
qualidade de CD e uma demonstração prática de uma transmissão digital
experimental da Rádio Câmara, que deixou clara a melhor qualidade do som.
Percebemos que tal evento conseguiu mobilizar diferentes segmentos como a
ABERT, ANATEL, Conselho de Altos Estudos e a Comissão de Ciência e Tecnologia,
para discutir sobre o Rádio Digital, pois é da Câmara dos Deputados que sairá às
leis, e o marco regulatório da radiodifusão no Brasil.
O Deputado Inocêncio Oliveira afirmou que; debate sobre o rádio está sendo
conduzido no mais “profundo silêncio”; os governantes têm, de modo geral, muitas
dúvidas sobre o rádio digital; ainda, pouco se fala sobre rádio digital e que os
resultados desse seminário serão divulgados pelo conselho de autos estudos da
câmara dos deputados.
Com a edição em 2004 do decreto 5220, até então a agência, quando
analisava seus projetos, em consideração o local da instalação da estação, porém
com a edição desse decreto, essa atribuição ao passo seguinte à aprovação desses
locais ficou a cargo do ministério das comunicações.
Sobre a ANATEL, Ara Apkar Minasian, superintendente do serviço de
comunicação e massa da Anatel, frisou que cabe à agência a questão do espectro,
ou seja, manutenção, elaboração dos planos básicos e fiscalização das estações. E
para isso é claro, nos tempos que acompanhar toda a evolução tecnológica, os
impactos técnicos que todas as tecnologias têm sobre o espectro.
Frisamos ainda que a licença de instalação das emissoras está a cargo do
Ministério das Comunicações, que no momento da instalação deve observar o
projeto original, senão podem surgir as interferências e dificuldades para o
andamento deste processo. Esse aspecto, em função da introdução do rádio digital,
começa a se tornar mais crucial, a exemplo agora do que estava sendo feito com a
TV digital.
5. Tecnologia radiofônica e “aemização” na experiência profissional
Este capítulo apresenta, na íntegra, entrevistas realizadas com os três
profissionais no âmbito brasileiro do rádio, a título de registro fundamental na área,
com atributo de relevância cientifica. Este conteúdo, em função da exclusividade e
declarações, atesta que muito há ainda o que avançar no trajeto das pesquisas
sobre o rádio, as mídias sonoras e as tecnologias digitais. Colocamos as entrevistas
como capítulo, no corpo da dissertação e não nos anexos, em virtude, portanto, de
sua característica fundamental para este trabalho.
O questionário, desenvolvido para dar suporte à entrevista para coleta de
dados de análise qualitativa, baseou-se nos seguintes aspectos sobre a digitalização
das rádios no Brasil: econômicos, políticos, tecnológicos e culturais; o processo de
“aemização” como comparação no enfoque da evolução tecnológica e as novas
possibilidades com a nova qualidade do som na AM,;as convergências de mídia e a
inclusão de imagem nos aparelhos radiofônicos. O mesmo questionário foi aplicado
nas entrevistas dirigidas a cada um profissional, sendo que algumas não foram
respondidas sem motivo apresentado.
Os entrevistados foram escolhidos ao longo do presente estudo e se tornando
essenciais, dada à carência de estudos científicos relacionados ao tema. Tornou-se
então necessário buscar enfoque de profissionais do rádio, responsáveis pela
introdução do rádio digital no Brasil e especialistas em tecnologia.
Os entrevistados foram:
Acácio Costa: ex-Diretor Superintendente da Rede Mix, membro do
Grupo UNIP/Objetivo, atual Diretor Geral do Grupo Massa,
responsável pela coordenação da implantação da Rádio Digital no
Brasil.
Marcelo Braga: Atual Diretor da Rádio Mix.
Edson Gardin: Sócio-proprietário da Máster-Imagem digital,
Coordenador da Central de Produção e Multimeios da FAAP e Mestre
em Tecnologia Educacional.
5.1 Entrevista de Acácio Costa
1. Qual sua opinião sobre o rádio digital?
É muito importante dizer que o que estamos discutindo não é somente o
emprego de uma tecnologia. Estamos discutindo a perenidade de um meio de
comunicação. Com a convergência, originária do desenvolvimento de tecnologias,
demandas por uma mudança de comportamento “das audiências”- cada vez mais
seletivas exigentes e móveis. Faz-se necessário que a mídia eletrônica mais antiga
possa também freqüentar os ambientes digitais e tecnológicos.
Nossa determinação está no fato de que a radiodifusão investirá em um
sistema que permita às suas emissoras AM e FM migrem, num mesmo padrão, para
transmissões digitais na mesma faixa e nos mesmos canais atuais, sem qualquer
solução de continuidade, oferecendo melhor qualidade de áudio ao seu público.
O Rádio desde 1922 – nunca incorporou uma evolução tecnológica, talvez por
omissão ou pelo fato de ser desnecessário. Agora, não.
2. Há problemas nos sistemas apresentados para o mercado
brasileiro?Quais?
Os maiores problemas são os culturais e comerciais. Pois, estamos discutindo
uma revolução tecnológica que gerará impacto na vida de milhões de pessoas... . E
ainda, que tem impactos institucionais e regulatórios.
3. Qual o sistema mais adequado para a rádio digital no Brasil?
Seguramente o sistema HD – o IBOC, Americano - pelas suas características
que atendem às necessidades da radiodifusão brasileira, bem como o fato de que o
modelo técnico-operacional da radiodifusão brasileira tem como matriz genética o
modelo de Radiodifusão Norte-Americano.
4. Há possibilidade de o Brasil produzir seu próprio sistema, suprindo suas
necessidades e se ajustando aos avanços tecnológicos mundiais?
Acho absolutamente desnecessário. O sistema disponível atende as
necessidades dos players envolvidos - satisfatoriamente. E ainda penso,
sinceramente, que nosso país precisou realizar investimentos na infra-estrutura para
toda a população como saúde, educação, segurança pública, etc.
5. Há possibilidade de as emissoras AM´s voltarem a competir com as
FM´s? Por quê?
Será possível. Estas emissoras ganharão competitividade tecnológica
pertinente para isso. Caberá aos seus realizadores, o desenvolvimento de
programações atraentes e atrativas suficientemente para conquistar a audiência e
patrocinadores.
6. O rádio, hoje desvalorizado no mundo midiático, poderá voltar a ser a
mídia de maior interesse social? E a internet, poderá favorecê-lo?
Penso que precisamos avaliar esta desvalorização midiática. Existe um cem
número de variáveis e distorções nesta interpretação.
Não há duvida que com os features apresentados e sua potencialidade, que
permitirão ao Rádio oferecer novos e diferenciados serviços sejam para os
anunciantes, seja para os ouvintes.
7. A programação será igual na AM e FM? Qual poderá ser a diferença?
Não acho que cada uma delas tem o seu DNA. Cada um destes meios – tem
as suas características e vocações, e disso não podemos fugir.
A meu ver, o AM perdeu espaço devido as suas limitações tecnológicas, mas
também e principalmente, por que resolver “correr atrás” do FM abanando as suas
características, traindo as expectativas da audiência e seus “core values”.
8. Quais mudanças estão ocorrendo e irão ocorrer no aspecto tecnológico
e comercial dentro da emissora que se adequar ao sistema digital?
Diversas. Destaco a possibilidade da multigeração. A robustez do sistema. A
qualidade do Áudio e as possibilidades dos serviços agregados.
9. Podemos dizer que há algo em comum, no campo dos avanços
tecnológicos, no processo de “aemização”¹ nas emissoras FM´s e o
processo de digitalização do rádio?
O processo da “aemização” se deu pelo simples fato de que as emissoras
devem buscar e adequar suas programações e linguagem ao universo da audiência.
Isso é fato. Já o processo de implantação do Rádio Digital no Brasil, se deve ao fato
de que o rádio precisa ser digitalizado para freqüentar o “mundo digital’ e a
Convergência das Mídias. Isso será decisivo para a sua perenidade.
10. Poderá haver algum tipo de vantagem as emissoras de rádio, que forem
vinculadas a uma emissora de televisão?
Não acredito nisso. A experiência demonstra e os exemplos são inúmeros.
Nada supera um produto adequado, focado que sensibilize e mobilize a audiência. O
ouvinte tem uma grande identidade com a emissora de Rádio da sua predileção –
ele se refere a emissora como a Minha Rádio. E a trata assim.
11. Além da melhoria na qualidade do som, quais as novas possibilidades,
como a interatividade o rádio digital poderá oferecer?
- Custo baixo para implementação para os radiodifusores;
- Tecnologia disponível;
- Atende as novas necessidades do mercado;
- Não é preciso novas freqüências;
- Compatível com receptores existentes (AM & FM);
- Melhoramento de qualidade do áudio AM/FM;
- Variedade e quantidade de receptores disponíveis e diminuindo seu custo;
- Multiprogramas (Multicasting);
- Serviço de dados;
- Guia eletrônico de programas;
- Armazena e repete o programa (Store and Replay);
- Sistema de informações de navegação veicular;
- Surround Sound 5.1;
- Acesso condicional ;
- Buy button (botão de compra)
12. O que o processo de “aemização” do rádio tem em comum com o
processo de digitalização do rádio?
Não acredito que uma coisa esteja relacionada a outra, exclusiva ou
propositadamente.
Não podemos nos esquecer que a “vítima da vez” do desenvolvimento
tecnológico é a audiência do FM, com o surgimento de dispositivos portáteis os
tocadores de MP3, que estão canibalizando as novas gerações entrantes no Rádio
FM.
13. Pode-se acreditar que o som propicia prazer e possibilita maior
dimensão ao imaginário humano?
Tenho certeza disso. O som aproxima as pessoas, é a mais rápida e direta
forma de comunicação interpessoal de penetração no cérebro humano.
14. O rádio, única mídia puramente sonora, poderá se tornar uma mídia
audiovisual?
Penso que não. O Rádio tem seus valores e potencialidades – que devem,
devem, devem e devem ser cada vez mais explorados. Alguns recursos visuais
podem ser adicionados e potencializarão a sua interatividade operacional.
15. Há alguma atenção, no campo da comunicação, em implantar visor
de imagem no Rádio Digital?
Existem alguns estudos e possibilidades, de se acrescentar imagens aos
painéis dos receptores. Não podemos nos esquecer por característica, que o Rádio
é a única mídia, que para ser consumida não precisa de dedicação integral para tal.
16. O “receptor” do rádio continuará a ser “ouvinte” ou será um
“telespectador”?
Ouvinte. A migração é o abandono a uma característica, com isso o fim de
uma atividade.
17. O governo brasileiro proporciona à mesma atenção a implantação do
rádio digital como foi para a TV Digital?
Não. As demandas e expectativas ao redor da TV Digital eram bem mais
agudas. As diferenças de interesses das áreas da Radiodifusão e Telecomunicações
estavam explicitadas. Com isso, houve mobilização bilateral e o governo teve de se
posicionar melhor.
18. Qual o custo para uma emissora implantar o sistema digital?
Depende muito das características de cada emissora, suas configurações e
modelo adotado de operação. Mas, pragmaticamente, algo entre 60 e 200 mil
dólares.
19. Qual é sua opinião sobre o impacto da Era Digital do rádio na
sociedade e no mercado?
Positivo. Deverá gerar expectativas e atenção ao redor do Meio – fato inédito
até hoje. Ainda, gerará empregos com a produção de milhões de receptores,
impostos advindos desta comercialização, maior interatividade com a ampliação da
segmentação e adequação publicitária e etc.
20. E as rádios comunitárias, educacionais entre outras, qual será seu
futuro na Era digital?
As emissoras legalmente instaladas independentemente da sua condição
operacional serão contempladas pelo sistema. Já as ilegais serão alijadas do
processo pela sua própria condição irregular e invasiva.
22. O governo irá oferecer alguma forma de incentivo financeiro para a
implantação e inclusão do novo sistema de rádio digital no Brasil?
Como na implantação da TV Digital, o Governo deverá oferecer a isenção de
tributos para a importação de equipamentos – sem similares nacionais.
23. Poderá surgir um novo meio ou um entremeio de comunicação de
massa?
Acho que não. Estamos tratando de apenas uma evolução tecnológica de um
meio que busca a sua perenidade.
5.2 Entrevista de Marcelo Braga
1. Qual sua opinião sobre o rádio digital?
Tecnicamente ruim e comercialmente inviável, por enquanto.
2. Há problemas nos sistemas apresentados para o mercado
brasileiro?Quais?
O sistema proposto, chamado IBOC (in band on channel), apresenta alcance
menor que o sistema analógico. Em decorrência disso, existe um atraso na
alternância dos sinais pelos receptores, cerca de 8 segundos (!). Além disso, os
bons receptores são muito caros (cerca de 300 reais nos EUA) e as baterias duram
pouco, entre duas horas e meia a três horas.
3. Qual o sistema mais adequado para o Rádio Digital no Brasil?
O ideal seria um sistema como o próprio IBOC, que permite a compatibilidade
entre o sistema digital e analógico, desde que funcionando bem e a um custo mais
acessível. Não creio que isso se materialize aqui, uma vez que nos EUA, 6 anos
depois da digitalização do rádio, apenas 10% das 15 mil emissoras de rádio
adotaram a transmissão digital, e pouco mais de 2% dos ouvintes compraram
receptores digitais. E estamos falando do maior mercado do mundo, com um poder
aquisitivo per capita muito maior e muito mais maduro. Podemos dizer que não
vingou.
4. Há possibilidade de o Brasil produzir seu próprio sistema, suprindo
suas necessidades e se ajustando aos avanços tecnológicos
mundiais?
Só se o governo subsidiasse fortemente alguma, ou algumas, empresa (s).
Mas isso iria na contramão dos caminhos que o país vem trilhando na economia
com a desestatização. Experiências anteriores não apontam em boa direção, como
a reserva de mercado e os subsídios para a informática, até o hibrido de sistema de
TV adotado no pais, o PAL-M.
5. Há possibilidade de as emissoras AM´s voltarem a competir com as
FM´s? Por quê?
Dificilmente. Hoje o AM é basicamente ouvido pelas camadas de muito menor
poder aquisitivo, e com um parque de receptores cada vez menor. Justamente
aquela parcela da população que teria maior dificuldade em adquirir um receptor
digital. Restaria a opção de mirar o público de maior poder econômico, alegando um
ganho de qualidade para ficar igual ao FM! Qual a vantagem em se trocar um
receptor para ficar igual ao que já se tem? Sem falarmos nas novas tecnologias,
como a internet, e mesmo o rádio via satélite, que nos EUA já é uma opção
concreta. Logo, penso que as AMs perderam sua vez. É como as transmissões via
ondas curtas ou médias a tendência é acabar.
6. O rádio, hoje desvalorizado no mundo midiático, poderá voltar a ser a
mídia de maior interesse social? E a internet poderá favorecê-lo?
O Rádio tem seu poder sub-dimensionado, comparado a sua enorme
penetração, portabilidade, facilidade de consumo e agilidade de produção. E este
não é um fenômeno localizado. Assim é no mundo todo. Logo, podemos concluir
que o rádio tem o tamanho comercial que o mercado atribuiu a ele. Pode-se
melhorar, sim, concentrando seu potencial e incrementando o nível de produção,
estimulando, por exemplo, o crescimento das redes via satélite, mas mesmo esse
processo vem sendo conduzido no país com pouco profissionalismo, salvo raras
exceções. A internet pode representar um golpe para o rádio e todas as demais
mídias de massa, como as que conhecemos hoje, e, com certeza, vai alterar o modo
de fazê-las, consumi-las e conseqüentemente, vendê-las. Hoje, ainda é possível tirar
proveito do incomparável poder de propagação da rádio, desde que os
radiodifusores concentrem seus esforços na produção de conteúdos exclusivos e
conseqüente valorização das marcas, que fatalmente deverão chegar à internet.
7. A programação será igual na AM e FM? Qual poderá ser a diferença?
Isso depende fundamentalmente da qualidade do áudio, via internet ou via
transmissão convencional (analógica ou digital). Quanto maior a qualidade, mais
possibilidade de qualificar-se a programação. Qualidade ruim equivale à
programação de características mais populares (dado seu baixo nível de exigência),
algo que poderá acontecer também com as emissoras de FM, mesmo com toda sua
qualidade de áudio e sinal, no caso de necessidade de sobrevivência (ante a
migração do público qualificado para outras mídias, por exemplo).
8. Quais mudanças estão ocorrendo e irão ocorrer no aspecto
tecnológico e comercial dentro da emissora que se adequar ao
sistema digital?
Nenhuma, enquanto o consumidor (ouvinte) não aderir ao novo sistema. É ele
(consumidor) quem determinará a velocidade e o alcance das mudanças.
9. Podemos dizer que há algo em comum, no campo dos avanços
tecnológicos, no processo de “aemização”¹ nas emissoras FM´s e o
processo de digitalização do rádio?
Na verdade, o que ocorre é sempre a procura por um sinal com maior
qualidade. Com o aumento do poder aquisitivo no Brasil, aumenta o grau de
exigência do público ouvinte. O público migrou para o FM em busca de um áudio
com maior qualidade (exemplos: as emissoras jornalísticas, como CBN, que
passaram a operar em FM nos maiores mercados). O objetivo da digitalização seria
a universalização dessa qualidade. Mas, como já vimos, esse processo é mais
complexo do que se pensou.
10. Poderá haver algum tipo de vantagem as emissoras de rádio, que
forem vinculadas a uma emissora de televisão?
Sem dúvida. Essa ligação potencializa justamente o que deverá ser cada vez
mais decisivo daqui para frente: a marca! O consumidor tem acesso cada vez mais
diversificado aos diferentes veículos (internet, i-pod, rádio via satélite) onde busca o
conteúdo que lhe interessa (música, notícia, entretenimento). Logo, o determinante
será o conteúdo e a força da marca. Nesse sentido, os projetos associados de TVs e
rádios tendem a ser complementares.
11. Além da melhoria na qualidade do som, quais as novas possibilidades,
como a interatividade, que o rádio digital poderá oferecer?
O processo ainda é muito incipiente e os horizontes ainda não estão claros.
Mas a interatividade é mesmo o melhor ganho com o rádio digital (se ele prosperar),
embora não tenha chegado a este ponto nem mesmo nos mercados maduros, como
nos EUA, por exemplo. Na verdade, ao que parece, a tecnologia do rádio digital foi
atropelada por outra tecnologia muito mais veloz, a internet!
12. Pode-se acreditar que o som propicia prazer e possibilita maior
dimensão ao imaginário humano?
É uma questão acadêmica sobre a qual não pensei com a devida
profundidade para responder. Adianto que o imaginário humano anda preferindo
ver!! O impacto visual é definitivo. Mesmo sendo de rádio, esta me parece mais uma
justificativa ultrapassada para as deficiências de um veículo que foi suplantado por
algo de mais impacto, a TV. Ler um livro ou ir ao cinema e ver a mesma história,
com igual profundidade?
13. O rádio, única mídia puramente sonora, poderá se tornar uma mídia
audiovisual?
A internet permite sonhar com esses avanços. Se a velocidade de
transmissão dos dados continuar crescendo como ultimamente se vê, breve
poderemos ter sim emissoras de rádio que tenham transmissão on-line com
qualidade, para que se acompanhe ao vivo o que é feito nos estúdios. Mas é preciso
estudar até que ponto é interessante para o rádio competir, sem igualdade de
recursos e vocação, com os canais de TV.
14. Há alguma atenção, no campo da comunicação, em implantar visor de
imagem no Rádio Digital?
Não. Nem mesmo a transmissão do áudio está tecnicamente resolvida ainda.
15. O “receptor” do rádio continuará a ser “ouvinte” ou será um
“telespectador”?
Como disse na questão anterior, ainda há muito a percorrer nessa direção.
16. Como está o Rádio Digital no mundo?
Devagar, muito devagar. Repetindo a informação sobre o maior mercado, os
EUA: lá apenas 10% das 15 mil emissoras aderiram ao padrão digital, e cerca de 2%
dos ouvintes compraram receptores. Os resultados são semelhantes na Europa.
Vale aqui um registro curioso: a Finlândia é o primeiro País no mundo a ter 100% de
sua TV no modo digital. Mas isso não ocorreu com o rádio de lá, por todas as
características já mencionadas. Isso me parece ilustrativo das dificuldades que o
sistema enfrenta. E nem estamos falando ainda da concorrência com a internet. O
rádio via banda larga telefônica e internet deverá ultrapassar a digitalização, em
velocidade, qualidade e interesse de consumo.
17. O governo brasileiro proporciona à mesma atenção a implantação do
rádio digital como foi para a TV Digital?
Nem de longe. Por razões óbvias: a TV no Brasil consome algo perto de 60%
dos recursos publicitários (o rádio mal chega a 6%) e sua influência cultural é muito
maior.
18. Qual o custo para uma emissora implantar o sistema digital?
Isso varia muito em função da classe da emissora, que define sua potência e
seu alcance. Basicamente, é preciso trocar ou adaptar todo o sistema irradiante
(antenas, transmissores) e os equipamentos de produção. O que representa um
custo simplesmente proibitivo para a imensa maioria das cerca de 6 mil rádios legais
do Brasil.
19. Qual sobre sua opinião sobre o impacto da Era Digital do rádio na
sociedade e no mercado?
Como já disse, não aposto nesse sistema. Acredito mais na internet e na
maior capacidade de transmissão de dados via telefonia. Isso é que determinará as
novas feições do rádio no futuro.
20. E as rádios comunitárias, educacionais entre outras, quais serão seu
futuro na Era digital?
Dificilmente elas terão recursos para entrar nessa era.
21. O governo irá oferecer alguma forma de incentivo financeiro para a
implantação e inclusão do novo sistema de rádio digital no Brasil?
Pensou-se nisso algum tempo atrás, uma espécie de subsídio para que a
empresa americana Ibiquity (dona do sistema IBOC) produzisse equipamentos mais
acessíveis ao bolso dos brasileiros. A idéia não prosperou. Felizmente, a meu ver.
Não teria cabimento investir dinheiro público numa empresa privada. É o consumidor
quem precisa definir o que quer, e a partir de sua escolha, os veículos (a iniciativa
privada) tratarão de encontrar um modo viável de atendê-lo.
22. Poderá surgir um novo meio ou um entremeio de comunicação de
massa?
Surgirá, com certeza. O rádio e a TV, como conhecemos hoje, vão mudar
substancialmente nos próximos anos, em função da maior portabilidade dos
aparelhos de celular e dos computadores, e do acesso mais fácil à internet e à
telefonia. Teremos de aprender a conviver com um meio que seja muito mais virtual.
É mais ou menos o mesmo que ocorreu com a música. Ela continua existindo, mas
os meios para acessá-la deixaram de ser físicos (discos, CDs). Hoje são i-pods,
arquivo baixado via internet, ou músicas ouvidas pelo celular. As emissoras atuais
de rádio e TV vão enfrentar a concorrência de milhares de produções que serão
oferecidas na rede mundial, muitas vezes de forma gratuita. Seus parques de
transmissão se tornarão obsoletos. Será preciso entender que o novo meio, na
verdade, será a soma de milhares de mídias. E não vai demorar tanto quanto se
pensa.
5.3 Entrevista de Edson Gardin
1. Qual sua opinião sobre o rádio digital?
O rádio digital está acompanhando as novas tecnologias de todos os meios
de comunicação, caso contrário será um rádio dos moldes antigos, que ainda existe
em grande parte do país. As rádios maiores, como Jovem Pan – AM/FM é a
emissora que mais vem se modernizando nesse sentido. Tanto que a emissora
lançou um slogan “Jovem Pan – Rádio com Imagem“ – isso é a convergência das
mídias, a junção de tecnologias a favor do público em geral.
As novas propostas das emissoras de rádio e a criação de uma interatividade
cada vez maior são necessárias, pois a mídia rádio ou o meio rádio está muito
presente na vida dos brasileiros, ajudando e entretendo de todas as maneiras. A
CBN no futebol criou um “chat” e durante as transmissões dos jogos de futebol, a
interatividade entre emissor e receptor, onde o rádio é o “meio” se torna cada vez
maior, pois o locutor/narrador do jogo em questão anuncia sempre o que está
acontecendo no “chat”, ao mesmo tempo em que transmite a partida.
2. Há problemas nos sistemas apresentados para o mercado brasileiro?
Quais?
O rádio tem uma tecnologia menos complicada que a televisão, apesar de
utópico, no rádio não há a preocupação com imagem, isto é, teoricamente não teria,
mas conforme citei na pergunta anterior, os novos tempos, somado a convergência
das mídias, isso está mudando o público, a forma e a maneira de “ouvir/assistir rádio
no Brasil”.
Os sistemas apresentados para o Rádio Digital
3. Qual o sistema mais adequado para o Rádio Digital no Brasil?
O Ministro das Comunicações, no último dia 03 de agosto de 2008, informou
que vai esperar o resultado dos testes In Band On Chanel, sistema Americano
(IBOC), portanto acho melhor esperar para saber qual o sistema será implantado.
4. Há possibilidade de o Brasil produzir seu próprio sistema, suprindo suas
necessidades e se ajustando aos avanços tecnológicos mundiais?
Da mesma maneira que o Sistema Digital de TV quase foi produzido aqui no
Brasil, a tecnologia para o rádio também seria possível. Aqui envolve além de a
tecnologia importar também mão de obra especializada.
5. Há possibilidade das emissoras AM´s voltarem a competir com as FM´s?
Por quê?
São públicos diferentes, a rádio AM é uma companheira da dona de casa, da
emprega doméstica, o motorista de táxi, entre outros. A Rádio FM está voltada para
um público mais jovem, mais selecionado, portanto todo mundo tem seus espaço, o
que não falta é gente para ouvir.
6. O rádio, hoje desvalorizado no mundo midiático, poderá voltar a ser a
mídia de maior interesse social? E a internet, poderá favorecê-lo?
O rádio, na minha opinião, nunca se desvalorizou na mídia, o que existe, são
meios diferentes para produtos específicos. Hoje, o rádio na internet ganha imagem,
vide emissora AM Jovem Pan, que está trabalhando forte para isso. Na minha
opinião, o rádio nunca perdeu o interesse social.
7. A programação será igual na AM e FM? Qual poderá ser a diferença?
A programação de uma emissora de rádio depende de seu público alvo. A
união de uma programação para AM ou FM poderá ser igual em alguns momentos e
em determinadas emissoras, mas cada segmento tem suas características próprias.
8. Pode-se acreditar que o som propicia prazer e possibilita maior
dimensão ao imaginário humano?
Se olharmos o rádio na década de 40 e 50 essa resposta já é correta, e prova
que o rádio trabalha puramente o imaginário, e é um dos poucos veículos de
comunicação que proporciona ao receptor a possibilidade de obter e absorver a
informação, imaginar e fazer outra atividade ao mesmo tempo.
9. O rádio, única mídia puramente sonora, poderá se tornar uma mídia
audiovisual?
Isso já vem acontecendo, a maioria das emissoras de rádio via internet, e aqui
vale falar, que isso só é possível graças a tecnologia da internet, mas ela foi e será
sempre uma tecnologia sonora, pois estamos falando do rádio, não importa se
analógico ou digital.
10. Há alguma atenção, no campo da comunicação, em implantar visor de
imagem no Rádio Digital?
Não, acho que fica a cargo de cada emissora em alterar, criar e modificar a
forma de se ouvir rádio. A imagem do rádio já existe desde que foi inventado, é a
imaginação. Através dela foi cria a sua imagem no rádio, portanto esse meio não
precisa de imagem, mas de ouvintes imaginativos.
11. O “receptor” do rádio continuará a ser “ouvinte” ou será um
“telespectador”?
Hoje os dois. Depende de onde você estiver. No carro, será um ouvinte, na
internet, um telespectador. Essa convergência das mídias cria a convergência dos
hábitos e aos novos hábitos de acordo com as necessidades de momento.
12. O governo brasileiro proporciona à mesma atenção a implantação do
rádio digital como foi para a TV Digital?
Acho que sim, a TV digital ganhou mais mídia, porque é um meio de
comunicação atualmente de mais atenção para todos. A implantação deverá
acontecer nos mesmos moldes que aconteceu com a televisão, apenas o ‘glamour’
será diferente.
13. Qual o custo para uma emissora implantar o sistema digital?
Não sei. Não acredito que há valores fechados. Vai depender de muita coisa.
Do projeto artístico, tecnológico e administrativo. E vai depender também de quanto,
os donos desse projeto poderão investir.
14. Qual sobre sua opinião sobre o impacto da Era Digital do rádio na
sociedade e no mercado?
A sociedade aos poucos vai entendendo a transformação e se adequando a
ela, o mercado, vai estudar e explorar esse novo momento da tecnologia. Fóruns,
debates e feiras, acontecem sempre para uma nova adequação a essa nova
realidade.
15. E as rádios comunitárias, educacionais entre outras, quais serão seu
futuro na Era digital?
Terão que se adequar ao novo sistema, aos novos formatos, as novas regras
que o futuro vai determinar para a era digital. As rádios comunitárias ainda é um
sonho que o governo insiste em não realizar, pois são muitos os pedidos de
concessão para abertura de rádios comunitárias, a maioria sem sucesso.
16. Poderá surgir um novo meio ou um entremeio de comunicação de
massa?
Imprevisível responder. Poderá haver novos meios de comunicação com os
anos, talvez ainda longos anos. A tecnologia é cada vez mais dinâmica, e, por
exemplo, através da holografia poderemos ter uma nova mídia no mundo. São
apenas suposições, apenas projeções, mas que poderá um daí acontecer.
6. Considerações Finais
A pesquisa sobre a “Aemização” da FM ora realizada foi fundamental para
ampliar a consideração e os processos sobre a condição passada, atual e futura do
rádio. Assim, procurou-se construir ponderações que tanto esclarecessem aspectos
técnicos, tecnológicos e midiáticos, como também relativos ao signo sonoro e à
convergência de mídias com a emergência de novos hábitos e comportamento do
público-ouvinte.
Este estudo pretendeu abrir novas perspectivas para aprofundamentos
futuros, conduzindo pesquisas mais específicas e pertinentes à área.
O rádio digital de globalizado que sempre foi agora na Era digital atinge um
nível global jamais imaginado, quase não havendo fronteiras para sua expansão. A
concorrência será entre a emissora de rádio individual e a do bairro, ou da cidade,
ou do país, ou do continente ou do mundo, de modo que esse desenvolvimento
tecnológico substituirá a irradiação pela navegação na rede, será o “rádio sem
ondas”.
A emissora de AM digital terá qualidade de som de FM e a emissora de FM
terá qualidade de som de CD, com transmissão de dados sem fio e ainda grande
transporte de informação digital, com texto e imagem. Os consumidores terão
acesso amplo a partir de aparelhos de rádio tradicionais ou em dispositivos de
computação portáteis. Essa evolução tecnológica e cultural poderá possibilitar uma
alteração na linguagem do rádio, ou seja, novos formatos e gêneros de produção.
Esse processo de transformação da linguagem do rádio em decorrência do
surgimento da tecnologia digital necessita de um sistema que, por contingência,
deverá ser escolhido e suas possibilidades já são estudadas para o caso do Brasil
há quase uma década.
A tecnologia digital terá como umas das principais vantagens o ganho da
qualidade de som na transmissão AM com qualidade de FM. Com esse benefício,
poderá passar por uma renovação importante, podendo gerar novos investimentos
em conteúdo e diversificação no dial, entre outras mudanças. Por exemplo, as
emissoras on-line, com versões das rádios convencionais AM´s e FM´s, transmitidas
ao vivo. As rádios vão possibilitar ao internauta a escolha das músicas, ou do estilo
musical que queira ouvir no momento que for melhor, personalizando sua estação.
Esse recurso chama-se jukebox.
Essas rádios personalizadas com o recurso jukebox podem ser as futuras
concorrentes das rádios digitais, mas que terão como grande diferencial a
possibilidade de oferecer até 6 canais com estilos diferentes, apresentando músicas,
clima, trânsito, mapas, imagens e notícia em canal separado, como também
programas ao vivo gravados em diversos idiomas.
Todas essas novas tecnologias se convertem e provocam maior
interatividade, assim alguns comportamentos estão surgindo; os “ouvintes” podem
acessar os programas já apresentados, consultar arquivos, captar a versão oral,
visual e impressa do programa a qualquer momento, comunicação instantânea via
correio eletrônico e aparelho celular, entre outros. Essa mudança de comportamento
também poderá ocorrer dentro das rádios, com o surgimento e contratação de novos
profissionais, em diferentes departamentos com estas novas tecnologias.
No entanto, para usufruir desse sistema é preciso ter um aparelho habilitado
para receber os sinais digitais, diferente dos analógicos utilizados até hoje. O preço
desses novos equipamentos, atualmente, ainda é bem alto. De acordo com a
Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (AESP),
em dez anos todos os aparelhos radiofônicos serão digitais e a sociedade terá que
se adaptar.
Torna-se necessário então que haja um amplo debate, envolvendo não
apenas rádios comerciais e públicas, mas também a indústria de equipamentos, o
congresso, a sociedade civil, as rádios comunitárias e etc.
É necessário diminuir as possibilidades de cometer erros e atropelos, no
caso do rádio, pois não se pode repetir o modelo de implantação da TV Digital no
Brasil, não se pode dar total atenção somente à questão tecnológica e da
digitalização, pois seria um erro sermos “absolutamente seduzidos” por essa
possibilidade.
Constatou-se neste estudo que inúmeras e importantes questões ainda estão
em aberto, precisando de definições e ações consistentes. Entre elas, destacam-se
questões como flexibilidade, modelo de transição do sistema analógico para o
sistema digital e os custos para as emissoras, não apenas para as grandes
emissoras de rede, mas para as pequenas emissoras locais perdidas pelo interior
desse Brasil, assim como a questão da democratização do acesso à informação, ou
seja, se o modelo a ser adotado vai permitir novos canais e nova política de
concessão, ou vai manter a condição atual, a questão da diversidade e da qualidade
do conteúdo. Implica também a discussão do modelo de negócio, se é viável ou
inviável para um país e, por último, a questão do interesse público, da planta
industrial, entre outras
Isso que nós chamamos de rádio, de televisão, computador, laptop, celular,
hoje, daqui a quatro ou cinco anos, poderá ter outro nome, possivelmente as
pessoas terão mais de um aparelho, em várias dimensões em áudio, imagem, texto,
etc.
A tendência para a convergência de mídia já está colocada, porém, depende
ainda da adoção de um padrão digital no Brasil.
Por último, vale a pena salientar alguns pontos com relação à contribuição
dada a este estudo pelos entrevistados: Acácio Costa, ex-Diretor Superintendente
da Rede Mix, membro do Grupo UNIP/Objetivo, atual Diretor Geral do Grupo
Massa, responsável pela coordenação da implantação da Rádio Digital no Brasil;
Marcelo Braga: Diretor Nacional da Rádio Mix FM e Edson Gardin: Sócio-proprietário
da Máster-Imagem digital, Coordenador da Central de Produção e Multimeios da
FAAP e Mestre em Comunicação com ênfase em Tecnologia Educacional pela
Universidade Paulista - UNIP
17
. Estes profissionais são formadores de opinião e
desempenham um importante papel no esclarecimento, seja para opinião pública,
seja para o contexto acadêmico, sobre a condição atual do rádio.
Vive-se um momento de mais indefinições do que certezas. O mundo absorve
freneticamente as mudanças da tecnologia, gerando dúvidas e preocupações, mas,
esta é a natureza e a vocação dos avanços e da inovação. Não há mais como se
fugir desta vocação. Há divergências quanto a acreditar no modelo da rádio digital,
quanto ao seu modelo de socialização e inclusão social, pela natureza das formas
de acesso. Há sempre diferentes interesses em jogo, que dificultam constatações a
médio e longo prazo.
De toda forma, o processo de “aemização” configura-se como indiscutível e
incorpora uma tendência a se repetir quando novas tecnologias, em outras ocasiões,
pressionarem a inserção de outras, pela obsolescência e pela busca de mais
qualidade do som do rádio.
A despeito dos aspectos econômicos, políticos e culturais que abarcam a
discussão sobre o rádio digital no Brasil, é necessário, levando em consideração o
17
Tese defendida em 21 de setembro de 2007 com título “A produção televisiva infantil – Discovery Kids Brasil
– Programa Lazy Town.
papel relevante que este representou na história dos meios de comunicação, tendo
permanecido soberano como mídia puramente sonora e popular, discutir nos meios
acadêmicos o fato da convergência do rádio no aspecto da inserção da imagem, que
poderá provocar riscos de extinção do público-ouvinte, pelo menos, aos moldes que
se conhece hoje.
7. Referências bibliográficas
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28) MARCONDES FILHO, Ciro. Pensar – pulsar: cultura comunicacional,
tecnologias, velocidade. Coordenador geral. São Paulo: NTC, 1996.
29) MARQUES DE MELO, José, A esfinge midiática. São Paulo. Paulus, 2004.
30) MARTIN-BARBERO, Jesus, Dos meios às mediações: comunicação, cultura e
hegemonia. 2. ed. Rio de Janeiro; Editora UFRJ, 2001.
31) ________________, Jesus. América Latina e os anos recentes: o estudo da
recepção em comunicação social. In Souza, Mauro Wilton. Sujeito, o Lado
Oculto do Receptor. São Paulo: Brasileiense/ECAUSP, 1995.
32) MORAES, Denis de. (org.). Por uma outra comunicação. 3 ed. – Rio de
Janeiro: Record, 2005.
33) ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação no rádio: os grupos de poder e
determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus, 1985.
34) POLISTCHUCK, Ilana. Teorias da comunicação: o pensamento e a prática do
jornalismo / Ilana Polistchuck, Aluizio Ramos Trinta. – Rio de Janeiro:
Elsevier, 2003.
35) RODRIGUEZ, Angel. A dimensão sonora da linguagem audiovisual. São
Paulo. Ed Senac São Paulo, 2006.
36) SANTAELLA, Lucia. A cultura midiática. São Paulo; Mídia, Cultura,
Comunicação. Organizadores Anna Maria Balogh, Antonio Adami, Juan
Droguett, Haydée Dourado de Faria Cardoso. São Paulo: Arte & Ciência,
2002.
37) SANTOS, Milton. “Elogio da lentidão”, em Milton Santos. O país distorcido: o
Brasil, a globalização e a cidadania. Organização, apresentação e notas de
Wagner Costa Ribeiro. São Paulo: Publifolha, 2002, p. 162-166.
38) SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo,
ed. Paulus, 2007.
39) _____________. Por que as comunicações e as artes estão convergindo?.
São Paulo, ed. Paulus, 2005.
40) _____________. Cultura e artes do pós-humano: da cultura das mídias à
cibercultura. São Paulo, ed. Paulus, 2003.
41) SAROLDI, Luiz Carlos e Sonia Virgínia Moreira. Rádio Nacional: o Brasil em
sintonia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005.
42) SEMINÁRIO RÁDIO DIGITAL - UMA REVOLUÇÃO NA RADIODIFUSÃO
BRASILEIRA REALIZADO, 2007, Brasília.
Referências eletrônicas
1 www.uol.com.br
2 www.scielo.br
3 http://www.teleco.com.br/rdigital.asp
4 http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2002/espaco24out/vaipara.php?materia=
0varia
5 http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/29092003estatisticasecxxhtml.s
htm
6 http://www.anj.org.br/?q=node/12
7 http://www.dmm.im.ufrj.br/
ANEXO A
CD com a gravação dos debates sobre a implantação do rádio digital, na Câmara
dos Deputados Federais, em Brasília, no dia.
ANEXO B
Questionário utilizado nas entrevistas.
1. Qual sua opinião sobre o novo do Rádio Digital?
2. Há problemas nos sistemas apresentados para o mercado brasileiro?Quais?
3. Qual o sistema mais adequado para o Rádio Digital no Brasil?
4. Há possibilidade de o Brasil produzir seu próprio sistema, suprindo suas
necessidades e se ajustando aos avanços tecnológicos mundiais?
5. Há possibilidade das emissoras AM´s voltarem a competir com as FM´s? Por
quê?
6. O rádio, hoje desvalorizado no mundo midiático, poderá voltar a ser a mídia
de maior interesse social? E a internet, poderá favorecê-lo?
7. A programação será igual na AM e FM? Qual poderá ser a diferença?
8. Quais mudanças estão ocorrendo e irão ocorrer no aspecto tecnológico e
comercial, dentro da emissora que se adequar ao sistema digital?
9. Podemos dizer que há algo em comum, no campo dos avanços tecnológicos,
no processo de “aemização”¹ nas emissoras FM´s e o processo de
digitalização do rádio?
10. Poderá haver algum tipo de vantagem as emissoras de rádio, que forem
vinculadas a uma emissora de televisão?
11. Há evolução sonora ao longo da história recebeu a devida atenção como
poética sonora?
12. Além da melhoria na qualidade do som, quais as novas possibilidades, como
a interatividade, o rádio digital poderá oferecer?
13. O que o processo de “aemização” do rádio tem em comum com o processo
de digitalização do rádio?
14. Pode-se acreditar que o som propicia prazer e possibilita maior dimensão ao
imaginário humano?
15. O rádio, única mídia puramente sonora, poderá se tornar uma mídia
audiovisual?
16. Há alguma atenção, no campo da comunicação, em implantar visor de
imagem no Rádio Digital?
17. O “receptor” do rádio continuará a ser “ouvinte” ou será um “telespectador”?
18. Como está o Rádio Digital no mundo?
19. O governo brasileiro proporciona à mesma atenção a implantação do rádio
digital como foi para a TV Digital?
20. Qual o custo para uma emissora implantar o sistema digital?
21. Qual sobre sua opinião sobre o impacto da Era Digital do rádio na sociedade
e no mercado?
22. E as rádios comunitárias, educacionais entre outras, quais serão seu futuro
na Era digital?
23. O governo irá oferecer alguma forma de incentivo financeiro para a
implantação e inclusão do novo sistema de rádio digital no Brasil?
24. Poderá surgir um novo meio ou um entremeio de comunicação de massa?
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