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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEIVIS VÂNIO LOPES
A ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA DA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM
CANOAS/RS
Porto Alegre
2008
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2
DEIVIS VÂNIO LOPES
A ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA DA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM
CANOAS/RS
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Ciências Sociais
da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas, da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial à obtenção do grau
de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Mariano
Porto Alegre
2008
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DEIVIS VÂNIO LOPES
A ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA DA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM
CANOAS/RS
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Ciências Sociais
da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas, da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial à obtenção do grau
de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Mariano
Aprovada em _____ de __________ de _____
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Bernardo Lewgoy
_____________________________________________
Prof. Dr. Aírton Luiz Jungblut
4
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
L864o Lopes, Deivis Vânio
A Organização eclesiástica da Assembléia de Deus
em Canoas/RS. / Deivis Vânio Lopes. Porto Alegre,
2008.
153 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, PUCRS.
Orientação: Prof. Dr. Ricardo Mariano.
1. Religião – Rio Grande do Sul. 2. Igreja Evangélica -
Assembléia de Deus. 3. Governo Eclesiástico. 4.
Pentecostalismo.
5. Autocracia. I. Mariano, Ricardo. II. Título.
CDD 289.9
Ficha elaborada pela bibliotecária Cíntia Borges Greff CRB 10/1437
5
AGRADECIMENTOS
À Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que financiou o
desenvolvimento deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Ricardo Mariano, pela orientação paciente e os sábios conselhos,
sem os quais jamais teria conseguido concluir este trabalho.
Aos estimados professores que participaram de minha banca, Dr. Bernardo
Lewgoy e Dr. Aírton Luiz Jungblut.
À Profª. Dra. Célia Caregnato, com quem tive o primeiro contato com as
Ciências Sociais, durante a graduação. Suas aulas contribuíram imensamente
para decidir-me a dirigir meus estudos nesta área do conhecimento.
Ao Prof. Dr. Ari Pedro Oro, pela troca de informações e pelos materiais
bibliográficos que me indicou.
A todos os colegas de mestrado, pela interação e convívio ao longo do curso.
Agradeço especialmente ao colega Márcio Hoff, por compartilhar
informações, idéias e também momentos de angústia e apreensão, agora
finalmente terminados.
No meio evangélico, agradeço aos membros e pastores da Igreja Evangélica
Assembléia de Deus no município de Canoas/RS que tive a oportunidade de
entrevistar.
À Wolny Fragoso Lopes, meu pai e principal informante. Sem a sua
contribuição e incentivo, este trabalho não teria sido realizado.
Aos meus irmãos, Deise Lopes e Uilian Lopes, pela colaboração no processo
de finalização deste trabalho.
6
Aos amigos Elisana Viana, Eunice Alves, Marcelo Viana, Rogério Alves e
Samuel Alves, pelo apoio e companheirismo.
Dedico este trabalho aos meus pais, Wolny Fragoso Lopes e Eunice Machado
Lopes e aos meus avós (
in memorian
), Esmeraldo Beretta Lopes e Aura
Fragoso Lopes.
7
RESUMO
A presente pesquisa constitui um estudo de caso cujo objetivo
principal consiste em analisar a estrutura organizacional da Igreja Evangélica
Assembléia de Deus no município de Canoas/RS. Para tanto, aborda a
história desta organização religiosa, no Brasil, no Rio Grande do Sul e em
Canoas; seu crescimento na década de 1990, sua estrutura administrativa,
organizada em convenções, campos, distritos, congregações, centros
evangelísticos e departamentos; sua forma de governo eclesiástico, em
análise comparativa com o governo eclesiástico das Assembléias de Deus na
região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro/RJ; os locais de culto, suas
relações de poder, as práticas e estratégias de seus dirigentes.
Palavras-chave: Assembléia de Deus, Organização eclesiástica,
Pentecostalismo, Canoas, Autocracia.
8
ABSTRACT
This research consists of a case study, which aims to analyze the
organizational structure of the Assembly of God church from the city of
Canoas,RS. Thus, this paper discusses the history of this religious
organization, in Brazil, in Rio Grande do Sul and in Canoas; it’s growth in the
1990’s, it’s administrative structure based on conventions, fields, districts,
congregations, evangelistic centers and departments; it’s form of
ecclesiastical government, in comparative analysis with the ecclesiastical
government of the Assemblies of God of the Metropolitan Region of the city
of Rio de Janeiro, RJ; the places of worship, the relations of power, the
practices and strategies of it’s leaders.
Keywords: Assembly of God, Ecclesiastic Organization, Pentecostalism,
Canoas, Autocracy.
9
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................................. 11
1. História da Assembléia de Deus no Brasil, no Rio Grande do Sul e em
Canoas........................................................................................................17
1.1 Uma perspectiva histórica sobre a origem do pentecostalismo.......... 17
1.2 A fundação da Assembléia de Deus no Brasil..................................... 21
1.3 A implantação da Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul e em
Canoas.................................................................................................... 25
2. A expansão da Assembléia de Deus na década de 1990.......................... 34
2.1 Os números da expansão.................................................................. 34
3. A organização eclesiástica da Assembléia de Deus em Canoas................ 62
3.1 A organização administrativa.............................................................62
3.1.1 As Convenções........................................................................... 62
3.1.1.1 CGADB................................................................................. 62
3.1.1.1.1 CPAD............................................................................ 68
3.1.1.2 CIEPADERGS......................................................................... 73
3.1.2 Os campos................................................................................. 77
3.1.3 A divisão administrativa no campo de Canoas.............................78
3.1.3.1 Distritos...............................................................................78
3.1.3.2 Congregações e centros evangelísticos................................ 83
3.1.3.3 Departamentos.................................................................... 87
3.2 A carreira sacerdotal..........................................................................89
3.3 A forma de governo eclesiástico...................................................... 103
3.3.1 Representativo centralizado (R)............................................. 105
3.3.2 Carismático com autonomia local (c)..................................... 112
3.3.3 Tradicional (T).......................................................................117
3.4 Os locais de culto............................................................................ 122
3.5 As missões ..................................................................................... 130
Conclusão................................................................................................. 134
Referências bibliográficas..........................................................................137
ANEXO I - Vista interna do templo-sede da Assembléia de Deus em Canoas
................................................................................................................. 149
ANEXO II - Templo assembleiano localizado na periferia de Canoas.......... 150
ANEXO III - Declaração, assinada pelo fiel antes de ser admitido em um cargo
10
na organização......................................................................................... 151
ANEXO IV - Termo de compromisso.......................................................... 152
ANEXO V - Relação de documentos para consagração de obreiros.............153
11
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa constitui um estudo de caso cujo objetivo
principal consiste em analisar a estrutura organizacional da Igreja Evangélica
Assembléia de Deus no município de Canoas/RS, ligada à Convenção Geral
das Assembléias de Deus no Brasil - CGADB. Para tanto, aborda a história
desta organização religiosa, sua estrutura administrativa, seu governo
eclesiástico, suas relações de poder, as práticas e estratégias de seus
dirigentes.
A Assembléia de Deus, fundada no Brasil em 1911 pelos missionários
suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, compõe, Juntamente com a
Congregação Cristã no Brasil, fundada em 1910 na cidade de São Paulo, a
primeira vertente do pentecostalismo neste país: o pentecostalismo clássico.
“(...) a partir da designação clássico podemos inferir, embora
não necessariamente, além do pioneirismo, a transformação da
comunidade sectária numa instituição que ao longo do tempo
ascendeu social e economicamente e, em busca de
respeitabilidade confessional, estimulou a formação teológica
de seu clero (que antes se baseava na inspiração do Espírito e
recusava terminantemente o ensino teológico formal),
distanciando o púlpito dos leigos; instituindo novas exigências
além da posse de carisma para o exercício do pastorado;
criando um corpo burocrático para administrar a igreja a fim de
preservá-la para além da vida de seus fundadores; dificultando
a ascensão à hierarquia eclesiástica; limitando e disciplinando
as manifestações carismáticas em seu interior e diminuindo a
rejeição ao mundo exterior, promovendo (não sem retrocessos,
lutas internas e cismas) sucessivas acomodações à sociedade
inclusiva” (Mariano: 1999, p. 24).
12
A mensagem dos pioneiros assembleianos, cujo ponto de partida é
Belém do Pará, rapidamente difundiu-se por todo o território nacional. O
formato simples do evangelho pregado, o acolhimento comunitário, a
liberdade de pregar concedida aos leigos, independentemente da posição
social ou do grau de instrução do fiel, a possibilidade de poder usufruir de
bênçãos divinas e de reconhecer-se como instrumento da ação divina,
podendo retransmitir livremente a outrem aquilo que crê ser a ação divina
em sua vida; as manifestações extracotidianas de glossolalia, profecias e
cura divina; a inserção do novo converso em uma comunidade fraternal de
“irmãos” organizada à parte da estrutura social vigente e o regramento da
vida com base em preceitos ascéticos, são características marcantes do
pentecostalismo assembleiano, cuja expansão ocorreu aceleradamente ao
longo de sua história
1
.
Após quase um século de franca expansão no Brasil, a Assembléia de
Deus é a maior igreja evangélica do país, superando por larga margem as
demais denominações pentecostais e as protestantes históricas. Apenas a
multissecular Igreja Católica Apostólica Romana, implantada pela colonização
portuguesa, supera o número de adeptos da Assembléia.
Entretanto, não obstante seu tamanho e sua visibilidade, menos
pesquisas sobre a denominação do que acerca das igrejas neopentecostais,
1
“A AD, que se inicia em 1911 com 20 membros, tem, segundo a estimativa de Read
(1976:122), em 1930, 14.000 membros, e, em 1950, 120.000 membros (...)” (Alencar:
2000, p. 42). Na atualidade esta cifra ultrapassa os 8 milhões de fiéis, segundo o Censo
Demográfico de 2000.
13
em especial a Igreja Universal. O número de pesquisas sobre as religiões
pentecostais, realizadas nas áreas das Ciências Sociais, História, Ciências da
Religião, Teologia, Psicologia, etc., cresceu significativamente a partir da
década de 1990, mas a opção pelo estudo da vertente neopentecostal foi
majoritária. Como pondera Guimarães (2004: p. 10), é provável que a opção
predominante pela pesquisa da Igreja Universal esteja relacionada
principalmente aos seguintes fatores:
“primeiro, sua trajetória de crescimento no número de
participantes ter sido espantosamente rápida e vertiginosa, em
comparação com outros grupos religiosos; segundo, seus ritos
e práticas serem midiáticos; terceiro, sua atitude beligerante
contra o catolicismo e os cultos afro-brasileiros; quarto, sua
indisposição e luta contra as Organizações Globo, o que levou
a um intenso trabalho jornalístico dos profissionais deste
conglomerado tornando público muitas mazelas das lideranças
da IURD”.
O fato é que não muitos trabalhos acadêmicos sobre a Assembléia
de Deus no país. De todo modo, diversos autores pesquisaram a Assembléia
de Deus, mas com recortes e abordagens bastante específicos. Para a
elaboração deste trabalho, destaco a importância das obras de Souza,
pioneira no estudo da Assembléia de Deus em
A Experiência da Salvação:
pentecostais em São Paulo
, de 1969; Brandão (1986), Fernandes (1994),
Freston (1994), as teses de Mariano (2001) e Baptista (2007) e as
dissertações de Oliveira (2000), Silva (2003), Guimarães (2004) e Correia
(2006).
Além do propósito de efetuar um trabalho estritamente acadêmico
14
sobre a Assembléia de Deus em Canoas, visando compreender e analisar sua
organização eclesiástica, uma das razões de meu interesse de realizar esta
investigação é de cunho pessoal. Por mais de vinte anos, desde meu
nascimento, freqüentei os cultos da Assembléia de Deus. Com seis anos de
idade passei a atuar como músico da igreja na cidade de Canoas. Aos 12
anos, fui batizado e, a partir de então, passei a atuar com afinco em
trabalhos de evangelização, através da música e pregação, em templos e
locais públicos do município de Canoas, o que logo culminou com minha
nomeação para a liderança dos departamentos de jovens e de músicos de
uma congregação assembleiana. De modo que a maior parte das pessoas
que conheço são assembleianas, minha família, quase na totalidade, também
é. Se na atualidade já não sou mais ligado à qualquer atividade realizada pela
igreja, estou consciente de que o que sou hoje está intimamente relacionado
a toda experiência de vida pregressa como assembleiano. Neste sentido, o
estabelecimento de um distanciamento crítico de meu objeto de estudo foi
um dos grandes desafios enfrentados durante a pesquisa.
Minha experiência religiosa trouxe, igualmente, algumas vantagens
em relação à obtenção de dados e ingresso no campo de pesquisa, que
foram de grande utilidade. O fato de ser filho de pastor, da mesma forma,
facilitou o acesso a fontes e informações que seriam (caso fossem)
expostas a um desconhecido após muita relutância. Contudo, pela mesma
razão enfrentei dificuldades que um pesquisador não nativo provavelmente
não enfrentaria. A principal delas foi durante o contato com alguns obreiros.
15
Em determinados assuntos, percebia-se claramente o desconforto deles
quanto a expor opiniões sobre determinados temas, justamente por meu
parentesco com um de seus pares. Como existem muitas divergências entre
os obreiros - principalmente em relação à interferência na atividade pastoral,
nos usos e costumes e em questões de cunho teológico -, é compreensível o
receio de expor-se francamente a alguém tão próximo de um pastor, cujos
interesses, práticas e posição na organização possam ser conflitantes com os
dos entrevistados.
A pesquisa de campo baseou-se na realização de entrevistas
semidirigidas gravadas e em observação participante. As entrevistas foram
efetuadas com nove pastores, seis evangelistas e 20 fiéis, complementadas
por inúmeras conversas informais, contatos telefônicos e troca de e-mails.
A observação foi efetuada em 27 templos da Assembléia de Deus no
município de Canoas. Durante a pesquisa, assisti a variados tipos de cultos,
congressos, vigílias, escolas bíblicas, reuniões de senhoras, jantares para
casais, batismos, festividades em homenagem a pastores, cerimônias de
casamento, cerimônias fúnebres, reuniões de obreiros, retiros espirituais e
cerimônias de batismo nas águas. Presenciei manifestações religiosas
diversas, como batismos no Espírito Santo, profecias e rituais de cura e
exorcismo.
Por conta de meu afastamento da denominação, fui por diversas
vezes alvo de proselitismo. Dado o fato de ser músico, fui assediado em
várias congregações para tocar em grupos musicais. Em um culto de jovens,
16
recebi o convite para pregar. Todos os convites foram rejeitados, uma vez
que o objetivo de minha ida aos templos assembleianos era unicamente
científico. Procurei também conhecer outras igrejas, tendo observado,
durante a pesquisa, cultos nas neopentecostais Encontros de Fé, Bola de
Neve, Evangelho Ágape, Internacional da Graça de Deus e Universal do Reino
de Deus, e também na Deus é Amor e Evangelho Quadrangular. Nestas
últimas denominações, o assédio proselitista revelou-se ainda mais
acentuado.
A dissertação está subdividida em três capítulos. O primeiro consiste
num breve o histórico da Assembléia de Deus no Brasil, no Rio Grande do Sul
e no município de Canoas.
No segundo capítulo, abordo o crescimento da Assembléia de Deus na
década de 1990, tomando por base os dados do Censo Demográfico de 2000
do IBGE.
No terceiro capítulo, descrevo e analiso a organização eclesiástica
assembleiana e suas principais características, isto é, a organização
administrativa, que trata das Convenções, campos, distritos, congregações,
centros evangelísticos, departamentos e secretarias; a carreira pastoral, os
locais de culto, a forma de governo eclesiástico, e, por fim, o trabalho
missionário desenvolvido pela Assembléia canoense.
17
CAPÍTULO I
1. HISTÓRIA DA ASSEMBLÉIA DE DEUS NO BRASIL, NO RIO GRANDE DO SUL E
EM CANOAS
1.1 Uma perspectiva histórica sobre a origem do pentecostalismo
O pentecostalismo é um movimento religioso que eclodiu nos Estados
Unidos da América, em meados do século XX. Seu nome é tomado do
incidente que es na origem da Igreja cristã, a descida do Espírito Santo no
dia de Pentecostes, registrado no capítulo 2 do livro de Atos dos Apóstolos
2
:
“1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos
no mesmo lugar.
2 De repente veio do céu um ruído, como que de um vento
impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados.
3 E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se
distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma.
4 E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar
noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que
falassem.
5 Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de
todas as nações que há debaixo do céu.
6 Ouvindo-se, pois, aquele ruído, ajuntou-se a multidão; e
estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria
língua.
7 E todos pasmavam e se admiravam, dizendo uns aos outros:
Pois quê! não são galileus todos esses que estão falando?
8 Como é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria
língua em que nascemos?
9 Nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos a
Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia,
2
Texto extraído da versão Revista e Corrigida da Bíblia.
18
10 a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a
Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos,
11 cretenses e árabes - ouvímo-los em nossas línguas, falar
das grandezas de Deus.
12 E todos pasmavam e estavam perplexos, dizendo uns aos
outros: Que quer dizer isto?
13 E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.
A genealogia do pentecostalismo, “remonta ao avivamento metodista
do século XVIII (...)”, na Inglaterra, “(...) que introduziu o conceito de uma
segunda obra da graça, distinta da salvação(...)” a qual seu líder, John Wesley,
“(...) chamava de perfeição cristã” (Freston: 1994, p. 73). Com base nas
doutrinas ensinadas por Wesley, surgiu na segunda metade do século XIX,
nos Estados Unidos da América, o movimento de santificação (
holiness
), que
“democratizou o conceito wesleyano: em lugar da busca demorada, a
experiência rápida e disponível a todos chamada 'batismo no Espírito Santo'
(ibid.).
Em um destes grupos de
holiness
, foi alcançada a “síntese doutrinária
que permitiu o surgimento do pentecostalismo como movimento distinto”
(ibid., p. 74): Charles Parham, fundador do Lar de Curas Betel (1898) e do
Colégio Bíblico Betel (1900), na cidade de Topeka, Kansas, ensinava que as
línguas estranhas eram a evidência do batismo com o Espírito Santo. De
acordo com Campos (1995, p. 22), Parham propôs aos seus alunos a
seguinte questão:
“Existiria uma evidência bíblica para o batismo do Espírito
Santo? Após um tempo de pesquisa na Bíblia, os estudantes
chegaram à conclusão de que a glossolalia era o sinal que
19
procuravam. Se havia tal evidência na Bíblia, faltava uma
experiência em que alguém falasse as novas línguas. Esse fato
ocorreu na passagem de ano de 1901. Durante uma vigília
Agnez Ozman (uma das alunas de Parham) sentiu a
necessidade de receber preces com a imposição de mãos. Com
a oração, Ozman falou em outras línguas: era o começo do
pentecostalismo nos EUA”.
Em referência a Charles Parham, Freston (1994, p. 74) assevera que,
entretanto,
“o estopim do movimento pentecostal o foi esse admirador
do Ku-Klux-Klan que permitia que negros ouvissem suas aulas
somente do lado de fora da porta (Hollenweger 1986), e sim
um aluno negro chamado W. J. Seymour, um batista nascido
como escravo, que era cego de um olho e trabalhava como
garçom”.
O movimento liderado por Parham foi “relativamente pequeno e
localizado” (Anderson: 1979 apud. Freston: 1994, p. 74). A proporção
internacional assumida pelo pentecostalismo ocorreu através do ministério
de William Seymour, em Los Angeles.
Em 1906, Seymour foi convidado a pregar em Los Angeles, em uma
congregação
holiness
. Lá, ele passou a divulgar o “batismo com Espírito
Santo”, motivo pelo qual a pastora Neely Terry o expulsou da igreja. Seymour
alugou então um velho armazém, localizado na Azuza Street, 312, e fundou
a Missão da Apostólica, que rapidamente alcançou notoriedade nos
Estados Unidos da América, tornando-se o centro irradiador do
pentecostalismo para o mundo.
20
Freston (1994, p. 75) afirma que “a elaboração doutrinária que (...)”
dava ao fenômeno da glossolalia “uma centralidade teológica e litúrgica (...)”,
foi o distintivo que fez o pentecostalismo se espalhar “rapidamente pela
grande rede organizada do movimento
holiness
”, e destaca, como fatores
que ajudaram na rápida expansão mundial do pentecostalismo:
“os muitos missionários americanos no exterior que
mantinham contato com os acontecimentos na pátria, e os
muitos imigrantes nos Estados Unidos em contato com seus
países de origem e com patrícios emigrados para outros
lugares” (1994, p. 75).
O pentecostalismo espalhou-se pelos Estados Unidos da América,
chegando a Chicago, cidade em que ele mais cresceu em seus primeiros anos
(Anderson, 1979 apud. Freston, 1994: p. 76):
“Era a segunda cidade do país, com condições graves de
exploração industrial, e marcada pela violência quotidiana e
pelo forte movimento operário. A modernidade dos arranha-
céus de armação de aço convivia com condições sanitárias
horrendas. Lá pululavam missões pentecostais das mais
diversas etnias, inclusive entre os escandinavos” (ibid.).
Nesta cidade ocorreu o primeiro encontro entre os fundadores da
Assembléia de Deus no Brasil, dois imigrantes suecos afetados pela “febre
das Américas” (Vingren, 1973), em que milhares de europeus foram à
América em busca de riqueza e melhores condições de vida.
21
1.2 A fundação da Assembléia de Deus no Brasil
A Assembléia de Deus faz parte da primeira onda
3
do
pentecostalismo no Brasil, que caracteriza-se pela forte oposição e crítica ao
catolicismo, pela ênfase no batismo no Espírito Santo e no dom de falar em
línguas estranhas, pelo sectarismo e pela conduta ascética.
Seus fundadores são dois missionários de origem humilde, nascidos
na Suécia: Daniel Berg nasceu em 19 de abril de 1884 na cidade de Vargön.
Oriundo de uma família de batistas, pobres, Berg viajou aos 18 anos de idade
para o estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, onde trabalhou
como operário; Gunnar Vingren nasceu em Ostra Husby, em 8 de agosto de
1879. Assim como Berg, veio de uma família pobre, de crentes da Igreja
Batista. Em 1903, aos 24 anos de idade, viajou para os Estados Unidos da
América, para estudar no Seminário Teológico Batista. Após formado,
Vingren passou a pastorear igrejas batistas e, após tornar-se pentecostal, a
pentecostalizar a igreja que pastoreava.
Os caminhos destes suecos cruzaram-se em uma convenção batista,
realizada em novembro de 1909, em Chicago. Em comum, além da infância
batista e pobre na Suécia, eles tinham a crença nas manifestações do Espírito
3
Freston (1993, p. 66) fraciona em três ondas o movimento pentecostal. A primeira é da
década de 1910, com a implantação da Congregação Cristã no Brasil (1910) e da
Assembléia de Deus (1911). A segunda onda é dos anos 50 e 60, “na qual o campo
pentecostal se fragmenta, a relação com a sociedade se dinamiza e três grandes grupos
surgem: a Quadrangular (1951), Brasil Para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962). O
Contexto dessa pulverização é paulista. A terceira onda começa no final dos anos 70 e
ganha força nos anos 80. Suas principais representantes são a Igreja Universal do Reino
de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980) (...) o contexto é
fundamentalmente carioca”.
22
Santo e o sentimento de que deveriam pregar o Evangelho em terras
distantes (Berg, 1982; Vingren, 1973). Em torno deste objetivo os dois
passaram a orar juntos, até que em uma destas reuniões de oração, um
profeta pentecostal lhes disse que deveriam ir a um lugar chamado Pará,
testificar de Jesus para um povo “de um nível social muito simples” (Vingren,
1973: p. 25). Como nenhum dos presentes naquela reunião conhecia o Pará,
os dois missionários foram a uma biblioteca para descobrir a localização do
lugar para onde deveriam viajar.
Com o auxílio da Igreja Batista de Chicago, que lhes doou o dinheiro
para a viagem até Nova Iorque, e de um amigo de Gunnar Vingren, que doou
o dinheiro necessário para adquirir as passagens até o Pará, os dois
missionários viajaram ao Brasil, sem apoio denominacional e sem garantia de
sustento (Conde: 2006, p. 25).
Gunnar Vingren e Daniel Berg chegaram ao Brasil em 19 de novembro
de 1910. Em sua chegada, ambos passaram por inúmeras intempéries,
muitas delas decorrentes da falta de planejamento para aquela viagem. A
Igreja Batista de Belém os acolheu em um primeiro momento, dando-lhes
inclusive hospedagem e oportunidade para pregar. Para o sustento de ambos
e para pagar o curso de português de Vingren, os dois missionários vendiam
bíblias, e Daniel Berg trabalhava ainda em uma fundição (ibid.: p. 30).
Em junho de 1911, após sete meses congregando com os batistas, os
dois missionários suecos foram expulsos da igreja, juntamente com outras
dezessete pessoas. O motivo foi a pregação do batismo no Espírito Santo,
23
não aceita pelas lideranças batistas e cujos frutos colocaram em polvorosa os
membros daquela igreja, dividindo-os.
O grupo de fiéis que foram desligados da Igreja Batista, criou, sob a
liderança de Gunnar Vingren, a
Missão da Apostólica, mesmo nome da
igreja pentecostal fundada por W. J. Seymour. Este movimento cresceu
significativamente, não apenas em Belém do Pará, mas também em outras
regiões do Brasil. Após sete anos de intenso crescimento, foi oficializado em
1918 o nome Assembléia de Deus:
“O ano de 1918 foi de suma importância para a continuação do
movimento pentecostal no grande país. O trabalho contava
com alguns anos. Agora chegou o tempo de registrar a igreja
oficialmente, para que fosse pessoa jurídica. Isto aconteceu no
dia 11 de janeiro de 1918, quando a igreja foi registrada
oficialmente com o nome de “Assembléia de Deus”. (Vingren,
1973: p. 91)
Em seus primeiros anos, a expansão da Assembléia de Deus no Brasil
ocorreu não apenas por uma ação planejada de suas lideranças, mas muito
pela ação dos leigos. Berg evangelizava ao longo da Estrada de Ferro Belém-
Bragança e na Ilha de Marajó (Berg, 1982) e Vingren pastoreava a igreja em
Belém (Vingren, 1973). Nas demais localidades, a mensagem assembleiana
era difundida por novos convertidos.
Um dos fatores que impulsionou o crescimento inicial da Assembléia
foi o declínio do ciclo da borracha na região da amazônia brasileira. Segundo
o historiador Bóris Fausto (2002, p. 164-165)
“O
boom
da borracha foi responsável por uma significativa
migração para a Amazônia. Calcula-se que entre 1890 e 1900
24
a migração líquida para a região foi de cerca de 110 mil
pessoas. Elas provieram sobretudo do Ceará, um Estado
periodicamente batido pela seca.
(...) Entre 1890 e 1900, a população de Belém quase dobrou,
passando de 50 mil a 96 mil pessoas. As duas maiores cidades
da Amazônia (Belém e Manaus) contaram com linhas elétricas
de bonde, serviços de telefone, água encanada, iluminação
elétrica nas ruas, quando tudo isso, em muitas cidades, era
ainda um luxo. Entretanto, essas mudanças não conduziram à
modificação das miseráveis condições de vida dos seringueiros
que extraíam borracha no interior. Não levaram também a uma
diversificação das atividades econômicas, capaz de sustentar o
crescimento em uma situação de crise.
A crise veio, avassaladora, a partir de 1910, tendo como
sintoma a forte queda de preços. Sua razão básica era a
concorrência internacional. A borracha nativa do Brasil sempre
sofrera a concorrência da exportada pela América Central e a
África, que era porém de qualidade inferior. As plantações
realizadas principalmente por ingleses e holandeses em suas
colônias da Ásia mudaram esse quadro. A borracha era de boa
qualidade, de baixo custo e seu cultivo podia estender-se por
uma grande área. Enquanto isso, tornava-se cada vez mais
dispendioso extrair borracha nativa nas regiões distantes da
Amazônia”.
A crise da borracha fez com que os migrantes retornassem aos seus
estados de origem. A Assembléia de Deus acompanhou esse fluxo
migratório. Desta forma, “seguindo os fluxos da população trabalhadora nas
diferentes frentes de trabalho, que, em poucos anos, a 'Igreja do Espírito
Santo' se afirmou como a maior igreja pentecostal em território nacional”
(Mafra: 2001, p. 12-15).
25
1.3 A implantação da Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul e em Canoas
Existem lacunas históricas a respeito do trabalho dos primeiros
missionários suecos no Rio Grande do Sul, que a escassez de fontes
primárias não permite que sejam preenchidas. As fontes encontradas são as
histórias oficiais da Assembléia de Deus, escritas por Almeida (1982), Conde
(2006) e Oliveira (1997), que, além de dedicar poucas páginas a este estado,
adotam um padrão de abordagem dentro da perspectiva de uma história
tradicional, da “narrativa dos acontecimentos políticos e militares,
apresentada como a história dos grandes feitos de grandes homens chefes
militares e reis” (Burke: 1997, p. 17). Os primeiros missionários são tratados
como verdadeiros heróis desbravadores e, aos primeiros fiéis, somente é
feita menção quando na ocorrência de um fato atribuído à ação divina que
venha a exaltar o trabalho dos pioneiros assembleianos. Nos trabalhos de
Almeida, Conde e Oliveira, a narrativa da implantação do pentecostalismo
segue um mesmo padrão: “uma ação divina impele um determinado
missionário para a fundação do trabalho pentecostal (...)”, o missionário
atravessa inúmeras intempéries até chegar ao seu destino final, “(...)
acontecem as primeiras conversões e o batismo com o Espírito Santo; dá-se
a construção do primeiro templo; os crentes são perseguidos; a igreja cresce
e fortalece-se” (Guimarães: 2004, p. 19).
As atividades da Assembléia de Deus no estado do Rio Grande do Sul
se iniciaram através do casal de missionários suecos Gustavo Nordlund e
Herwig Elisabeth Nordlund. Enviados pela igreja pentecostal da cidade de
26
Lidkoping, este casal partiu da Suécia no ano de 1922 com destino ao Rio
Grande do Sul, tendo antes aportado nos Estados Unidos da América e,
posteriormente, em Belém do Pará, onde passaram oito meses trabalhando
na Assembléia de Deus em companhia de Gunnar Vingren e Daniel Berg
(Conde: 2006, p.: 285-287).
A chegada ao Rio Grande do Sul ocorreu em 2 de fevereiro de 1924.
Dois meses depois, em 15 de abril, a família Nordlund realizou o primeiro
culto da Assembléia de Deus em território gaúcho, em uma casa alugada,
localizada na Rua Mariland, em Porto Alegre. Além da família sueca, o único
assistente foi João Correia da Rosa, um senhor de 70 anos de idade, que
tornou-se o primeiro fiel assembleiano neste estado (ibid.: p. 287).
A fundação oficial da Assembléia de Deus aconteceu em 19 de
outubro de 1924, data que marcou o batismo de 10 fiéis, no estuário do Rio
Guaíba. Em 1926, a sede da Assembléia deixou de ser a casa alugada na Rua
Mariland e passou a ser um templo com capacidade para aproximadamente
200 pessoas, construído em um terreno na Travessa Azevedo, 30. A
aquisição deste terreno e a construção do templo ocorreram graças à
doações de dois amigos do casal Nordlund, residentes nos Estados Unidos da
América e na Suécia, respectivamente (ibid.).
15 anos após a sua fundação em Porto Alegre, foi erguida uma
construção que até os dias de hoje é a sede da Assembléia de Deus no
município, e centro político da denominação no estado. Um luxuoso templo
com capacidade para 3 mil espectadores, localizado na Rua General Neto,
27
384 (Conde: 2006, p. 288).
Diferentemente do que ocorreu no Norte e Nordeste do Brasil, a
expansão do trabalho missionário no Rio Grande do Sul foi, na grande
maioria dos casos, fruto de ações evangelísticas coordenadas pelas
lideranças suecas. Além do casal de fundadores da Assembléia no estado,
chegaram ao Rio Grande do Sul, entre as décadas de 1920 e 1940, os
missionários Nels Nelson (1927), que por duas ocasiões substituiu o
missionário Gustavo Nordlund no comando da Assembléia de Deus em Porto
Alegre, quando este estava em viagem à Suécia; Leonard Pettersen (1936),
Lorentz Thorkildsen (1937) e Nils Taranger (1946), que atuaram na
evangelização em cidades do interior gaúcho.
Nils Taranger, que se tornou o principal líder da Assembléia no
estado com a saída de Gustavo Nordlund, nasceu no dia 17 de abril de 1916,
na cidade de Drammen, na Noruega. Quatro meses após seu nascimento, a
família de Nils, de origem humilde, adepta do pentecostalismo, imigrou para
Orebro, na Suécia, onde fundou a primeira igreja pentecostal da cidade
(Stein:2002, p. 13-14).
Aos 15 anos de idade, Nils Taranger mudou-se para Londres, a fim de
estudar no Instituto Bíblico daquela metrópole. Sua carreira como obreiro foi
precoce: aos 18 anos de idade foi consagrado evangelista, aos 20, assumiu a
vice-presidência de uma igreja pentecostal em Broaryd, Suécia. Em 1937,
com 21 anos de idade, foi transferido para a cidade de Lidkoping, onde
também foi vice-presidente da igreja local e teve contato com Gustavo
28
Nordlund, que o convidou para auxiliá-lo no Rio Grande do Sul (Stein: 2002,
p. 19-21). No ano de 1942, Nils assumiu o pastorado nesta cidade (ibid.: p.
31).
No ano de 1946, Nils Taranger e sua esposa, Mary Taranger, viajaram
com destino ao Rio Grande do Sul, financiados pela igreja em Lidkoping. Nos
dois primeiros anos de estada no Brasil, os missionários fixaram residência
em Porto Alegre, atuando na evangelização nesta cidade e fazendo viagens
com fins proselitistas pelo interior do estado. Em uma destas viagens, no ano
de 1948, Nils decidiu não mais voltar à Porto Alegre, e fundar a Assembléia
de Deus na cidade de Bagé. permaneceu até o ano de 1955, quando foi
designado por uma junta de pastores gaúchos para substituir Gustavo
Nordlund em Porto Alegre (ibid.: p. 32-41; 44-46; 77-83) .
Os motivos da saída de Nordlund foram políticos. Havia um
movimento dissidente na Assembléia de Deus gaúcha que intentava assumir
o comando da denominação. Os nomes destes dissidentes e suas
justificativas para promover a cisânea na igreja são omitidos das histórias
oficiais. O Estopim da crise foi um culto em comemoração aos 30 anos da
Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul, realizado em um templo na cidade
de Canoas, em 1954, em que Gustavo Nordlund estava presente. Durante
esta reunião, “a igreja foi invadida por um grupo de pessoas que, aos gritos,
tentava subir ao púlpito para tirar de os pastores” (ibid.: p. 78). O que
ocorreu à seguir foi uma briga generalizada, só encerrada com a presença da
polícia. Após esta ocorrência, outros templos foram invadidos, além de terem
29
sido feitas difamações públicas, através de programas de rádio e pichações
nos muros da cidade com palavras de ordem contra o missionário sueco.
Esta crise ocasionou o pedido de renúncia de Gustavo Nordlund, que
abdicou de todas as atividades exercidas na Assembléia de Deus. Três
pastores brasileiros próximos a ele, Jesuíno de Lima, Manoel Dorneles e
Orvalino Lemos, ficaram com a responsabilidade de escolher o novo líder da
denominação. O nome indicado foi o de Nils Taranger.
Nils pacificou a Assembléia de Deus gaúcha e implementou o modelo
de administração eclesiástica presente até os dias de hoje. Sua gestão foi
marcada pela criação da Convenção Estadual - CIEPADERGS, em 1956, que o
tornou pastor presidente de todas as igrejas Assembléia de Deus no Rio
Grande do Sul. Na ocasião, foram criados quinze campos autônomos (Tabela
1), que até então estavam subordinados à sede em Porto Alegre.
Tabela 1. Campos autônomos da Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul,
em 1956.
Campo
Alegrete
Cachoeira do Sul
Caxias do Sul
Cruz Alta
Itacurubi
Palmeira das Missões
Passo Fundo
Porto Alegre
Rio Grande
30
Campo
Saltinho
Santa Maria
Santa Rosa
Santo Ângelo
São Luís Gonzaga
Três Passos
Uruguaiana
A Assembléia de Deus, sob a tutela de Nils Taranger, passou também
a investir em recursos midiáticos, iniciando em janeiro de 1956 o programa
Boas Novas
, pela Rádio Farroupilha AM. Foi criado no mesmo ano, a revista
Boas Novas
, de conteúdo semelhante ao do jornal
Mensageiro da Paz
,
pertencente à Convenção Nacional. No campo social, foram criados o asilo
Gustavo Nordlund
e a clínica e abrigo
Lar Esperança
, fundados na década de
1960. O investimento em educação teológica se deu com a fundação do
Instituto Bíblico Esperança IBE, também na década de 1960 (Stein: 2002, p.
89-96; 111-119).
Durante a sua administração junto à CIEPADERGS, que transcorreu por
42 anos, entre 1956 e 1998, Nils Taranger autorizou a criação de muitos
campos autônomos, culminando, ao final de seu mandato, com a quase
totalidade dos 161 campos existentes atualmente.
Em 1979, a Assembléia em Canoas, que desde a realização do
primeiro culto, no ano de 1937, era subordinada à igreja de Porto Alegre, foi
emancipada. A ligação com Porto Alegre, que durou mais de 40 anos, devia-
31
se ao fato de os assembleianos porto-alegrenses terem evangelizado no
município. A primeira reunião, realizada embaixo de uma figueira, em um
terreno localizado na Rua Dr. Barcelos, no Centro da cidade, foi promovida
pelo missionário Gustavo Nordlund. Desde então, a condução de ações
evangelísticas em Canoas era dirigida por obreiros de Porto Alegre. Não
como precisar o número de fiéis assembleianos na cidade décadas atrás,
tampouco é possível traçar um comparativo de crescimento ao longo de sua
história. Entretanto, foi possível aferir que até 1979 havia apenas 21
presbíteros e 16 templos no município, 7,29% e 28,57%, respectivamente, do
correspondente à atualidade. Quanto ao perfil dos primeiros conversos,
segundo informações obtidas em entrevistas, quase a totalidade dos mesmos
pertenciam às camadas mais pobres da população. Muitos eram migrantes,
oriundos do interior gaúcho. ainda vários casos de delinqüentes que
tornaram-se crentes nos primórdios da Assembléia de Deus. Não encontrei
nenhum registro de conversão de uma pessoa detentora de poder
econômico.
O primeiro pastor do campo de Canoas, Edegar de Souza Machado,
está no poder até a atualidade. Nascido no dia 8 de fevereiro de 1933, na
cidade de São Luiz de Quitunde, em Alagoas, estabeleceu-se no Rio Grande
do Sul em 1939, quando sua família, convertida ao pentecostalismo, migrou
para Porto Alegre, em busca de melhores condições de vida.
A trajetória do pastor Edegar dentro da denominação iniciou-se ainda
na infância, em 1942, quando começou sua atividade como músico da igreja,
32
tocando cavaquinho, violão e violino. Em 1954, foi nomeado líder do
departamento de jovens na Assembléia de Porto Alegre, permanecendo no
cargo até 1961, quando foi designado para pastorear a igreja no município
de Capão da Canoa. Durante mais de duas décadas foi apresentador do
programa radiofônico Boas Novas, desde sua primeira edição. Em 1968
assumiu a função de jornalista responsável da revista
Boas Novas
,
permanecendo até 2001, ocasião em que saiu de circulação. Foi ainda
secretário do
Lar Esperança
, em duas oportunidades foi o vice-presidente da
igreja em Porto Alegre e, na década de 1970, antes de assumir o pastorado
em Canoas, foi responsável pela Assembléia de Deus em Viamão.
Seu governo na Assembléia de Deus em Canoas é autocrático,
caracterizado por uma hierarquia vertical em que o poder é exercido com
mãos de ferro pelo pastor. Os canais de participação, tanto para os fiéis
quanto para os obreiros, são praticamente nulos. As decisões são
centralizadas na figura do pastor presidente que, via de regra, não toma
conselho com seus comandados.
Desde sua emancipação, a Assembléia de Deus no município passou a
viver um período de expansão e reconhecimento pela comunidade canoense,
sendo inclusive representada por um fiel na vice-prefeitura da cidade. Na
atualidade, possui 56 templos e 6 centros evangelísticos no município, além
de ser proprietária de 30 templos em território uruguaio e ser responsável
por trabalhos missionários no Senegal, no Paraguai e no Ceará.
De acordo com o que pude aferir empiricamente e através de
33
entrevistas com as lideranças da denominação em Canoas, o esforço atual da
Assembléia de Deus nesta cidade é o de manter seus fiéis e consolidar-se
como organização. Para tanto, a Assembléia investe no conforto de seus
templos, expande sua missão no Uruguai e fomenta a formação em suas
congregações de verdadeiras confrarias de irmãos, divididos conforme o
departamento em que participam, reunindo-se, fora do horário de culto, a
fim de orar, ensaiar cantos, coreografias, peças teatrais ou jograis a serem
apresentados nos cultos, discutir a instituição, programar jantares, retiros e
vigílias.
34
CAPÍTULO II
2. A EXPANSÃO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS NO BRASIL NA DÉCADA DE 1990
2.1 Os números da expansão
A década de 1990, denominada no meio assembleiano “A Década da
Colheita
4
”, foi marcada por uma extensa expansão da Assembléia de Deus no
Brasil. É bem verdade que o real crescimento desta denominação muito
provavelmente não foi tão grande quanto parece e que os números tenham
sido mascarados em decorrência de problemas apresentados no Censo
Demográfico de 1991:
“Cumpre observar que o Censo de 1991 não obteve êxito na
identificação da denominação de considerável parcela dos
evangélicos (...). Quer dizer, o IBGE não identificou a igreja de
8,5% dos evangélicos tradicionais, colocando-os na categoria
classificatória 'evangélica tradicional não determinada'. Essa
cifra mais que triplicou para o caso pentecostal. Nada menos
que 31,9% deles (2.609.526 fiéis), quase um terço, não tiveram
4
“A Década da Colheita” foi um projeto de evangelização criado pela CGADB, cujo objetivo
era que suas igrejas filiadas encerrassem a década de 1990 com 50 milhões de fiéis
batizados. “(...) o pastor Waldir Bícego, relator da Década da Colheita (...) partia da
estimativa, consensual entre a liderança da denominação, de que havia 10 milhões de
assembleianos no país em 1990. A partir disso, a igreja precisaria crescer 17,5%
anualmente, o que, segundo seus cálculos, significava que cada grupo de seis crentes
deveria conquistar um novo adepto por ano, a fim de atingir 50 milhões em 2000”
(Mariano, 2000: p. 255). No ano de 1995, a Assembléia de Deus em Canoas, que havia
aderido a este projeto, deu-lhe nova roupagem, traçando um objetivo ainda mais
pretensioso: adotando o slogan “cada um ganha um”, o objetivo era de a cada ano
multiplicar por dois o número de membros, somando 3.200% de crescimento até 2000.
Segundo estimativas da época, em 1995 a Assembléia de Canoas contava com
aproximadamente 6.000 membros batizados. A meta era chegar em 2000 com 192.000
membros.
35
a denominação identificada, sendo arrolados na categoria
'evangélica pentecostal não determinada' (Mariano, 2001: p.
48).
“No Pará, onde foi fundada, a Assembléia aparece com meros
10,2% dos crentes do estado, taxa bem abaixo de sua
performance geral na região Norte. Este dado, por certo, se
explica pelo fato de o IBGE não ter identificado a denominação
de 77,6% dos pentecostais do Pará” (ibid.: p. 42).
De qualquer forma, a Assembléia de Deus marcou de forma indelével
o cenário religioso brasileiro no século XX e segue pujante nos primeiros
anos deste século como a maior dentre as denominações evangélicas do
Brasil.
Embora o trabalho desenvolvido pelo IBGE no Censo Demográfico de
1991 possa conter incorreções, o comparativo de seu resultado com o do
Censo Demográfico seguinte, realizado em 2000, atende a um dos
propósitos desta pesquisa que é, de posse dos dados oficiais do país,
discorrer sobre o crescimento da Assembléia de Deus no Brasil durante a
década de 1990.
É importante fazer a ressalva que os números do Censo Demográfico
de 2000 não separam a Assembléia de Deus ligada à CGADB (Assembléia de
Deus da Missão) da Assembléia de Deus ligada à CONAMAD (Assembléia de
Deus Ministério Madureira), o que prejudica a análise da dimensão da
organização religiosa aqui estudada. De todo modo, especificamente no
município de Canoas, onde encontra-se o objeto deste estudo, o prejuízo em
termos de cálculo é mínimo, uma vez que a Assembléia de Deus Ministério
36
Madureira faz-se presente com apenas um templo, congregando não mais
que 50 fiéis.
Segundo o Censo Demográfico de 2000, quase um terço do total dos
evangélicos (Tabela 1) pertenciam à Assembléia de Deus. De 1991 a 2000, o
número de fiéis da Assembléia cresceu 245,04%, enquanto a população
brasileira cresceu pouco mais de 15%. Apenas a Igreja Universal do Reino de
Deus, com índice de crescimento de 681,5%, a Igreja Pentecostal Deus é
Amor, com 357,56%, e a Igreja do Evangelho Quadrangular, com 334,87%,
superaram a Assembléia (Tabela 2). Apesar disso, a diferença numérica é tão
grande que a soma do número de fiéis destas três denominações não chega
à metade do total de assembleianos.
Comparando o percentual de assembleianos sobre o total dos
evangélicos, a Assembléia de Deus saltou de 18,5% dos fiéis em 1991 para
32,15% na década seguinte (Tabela 3), o que corresponde a uma expansão
de quase 75% em representatividade. Se considerarmos apenas os
pentecostais no Brasil, os números percentuais da Assembléia de Deus são
ainda mais expressivos: quase metade (47,78%) do total de pentecostais
(Tabela 4) no Brasil são da Assembléia de Deus. Em 1991, eram 29,83%. E se
em percentuais as cifras são bastante consideráveis, em números
absolutos a Assembléia de Deus foi imbatível, agregando 5.978.377 de
novos fiéis em apenas uma década, cerca de um quarto do total do
crescimento populacional no país. Nenhuma denominação evangélica nem
qualquer outra religião cresceu mais em números absolutos.
37
Tabela 1. Brasil. Distribuição dos evangélicos por denominação e sobre total
da população.
Denominação Número de
fiéis
%
denominação
sobre total
dos
evangélicos
%
denominação
sobre total da
população
Assembléia de Deus 8.418.140 32,15 4,96
Batista 3.162.691 12,08 1,86
Congregação Cristã no Brasil 2.489.113 9,50 1,47
Igreja Universal do Reino de
Deus
2.101.887 8,03 1,24
Evangelho Quadrangular 1.318.805 5,04 0,78
Adventista 1.209.842 4,62 0,71
Luterana 1.062.145 4,05 0,63
Presbiteriana 981.064 3,75 0,58
Deus é Amor 774.830 2,96 0,46
Metodista 340.963 1,30 0,20
Maranata 277.342 1,06 0,16
Brasil para Cristo 175.618 0,67 0,10
Congregacional 148.836 0,57 0,09
Casa da Bênção 128.676 0,49 0,08
Nova Vida 92.315 0,35 0,05
Outras igrejas de origem
pentecostal
1.840.581 7,03 1,08
Outras igrejas evangélicas de
missão
34.224 0,13 0,02
Sem vínculo institucional 1.046.487 4,00 0,62
Outras religiões evangélicas 581.383 2,22 0,34
Total 26.184.941 100,00 15,41
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
38
Tabela 2. Brasil. Crescimento evangélico por denominação entre 1991 e
2000
5
.
Denominação % de crescimento
Assembléia de Deus 245,04
Batista 106,35
Congregação Cristã no Brasil 52,15
Igreja Universal do Reino de Deus 681,50
Evangelho Quadrangular 334,87
Adventista 71,27
Luterana 3,15
Presbiteriana 96,92
Deus é Amor 357,56
Metodista 145,49
Fonte: Censos Demográficos de 1991 e 2000.
Tabela 3. Brasil. Percentual de evangélicos por denominação em 1991 e
2000
6
.
Denominação % sobre total de
evangélicos em
1991
% sobre total de
evangélicos em
2000
Assembléia de Deus 18,50 32,15
Batista 11,62 12,08
Congregação Cristã no Brasil 12,40 9,51
Igreja Universal do Reino de Deus 2,04 8,03
Evangelho Quadrangular 2,30 5,04
Adventista 5,36 4,62
Luterana 7,81 4,06
Presbiteriana 3,78 3,75
5
Nesta tabela foram consideradas apenas as igrejas evangélicas cujas informações
constaram nos Censos de 1991 e 2000.
6
Nesta tabela foram consideradas apenas as igrejas evangélicas cujas informações
constaram nos Censos de 1991 e 2000.
39
Denominação % sobre total de
evangélicos em
1991
% sobre total de
evangélicos em
2000
Deus é Amor 1,28 2,96
Metodista 1,05 2,59
Fonte: Censos Demográficos de 1991 e 2000.
Tabela 4. Brasil. Distribuição dos evangélicos de origem pentecostal por
denominação.
Denominação % denominação
sobre total dos
evangélicos de
origem
pentecostal
Assembléia de Deus 47,78
Congregação Cristã no Brasil 14,13
Igreja Universal do Reino de Deus 11,93
Evangelho Quadrangular 7,49
Deus é Amor 4,40
Maranata 1,57
Brasil para Cristo 1,00
Casa da Bênção 0,73
Nova Vida 0,52
Outras igrejas de origem pentecostal 10,45
Total 100,00
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
Os dados por região do Censo de 2000 registram um predomínio da
Assembléia de Deus em relação às demais igrejas evangélicas nas cinco
regiões do Brasil. No Norte, 50,54% do total de evangélicos são
40
assembleianos e no Nordeste, 45,32%. Nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e
Sul os números são um pouco menores: 35,96%, 25,33% e 23,46%,
respectivamente (Tabela 5), mas são suficientes para garantir a liderança
assembleiana.
Ao comparar estes dados com o resultado do Censo Demográfico de
1991, é possível verificar um avanço da Assembléia em todas as regiões,
com especial destaque para o Norte e o Nordeste. Em 1991 a Assembléia de
Deus correspondia a 17,2% dos evangélicos da região Norte e 24,9% dos
evangélicos da região Nordeste. Agora este percentual é praticamente o
triplo no Norte e o dobro no Nordeste. Nas demais regiões, o crescimento
em relação ao grupo de evangélicos não é tão vultuoso, mas não deixa de ser
significativo: em 2000 a Assembléia havia crescido em representatividade no
meio evangélico 74,56% no Centro-Oeste, 48,13% no Sudeste e 45,71% no
Sul (Gráfico 1).
41
Tabela 5. Brasil. % da Assembléia de Deus no total evangélico por estados e
regiões.
Norte 50,54 Nordeste 45,32
Acre 41,72 Alagoas 55,03
Amazonas 41,81 Bahia 28,79
Amapá 68,78 Ceará 50,60
Pará 57,43 Maranhão 61,54
Rondônia 38,64 Paraíba 39,09
Roraima 51,01 Pernambuco 53,42
Tocantins 55,76 Piauí 48,33
Sudeste 25,33 Rio Grande do Norte 54,69
Espírito Santo 26,64 Sergipe 32,35
Minas Gerais 21,61 Centro-Oeste 35,96
Rio de Janeiro 32,02 Distrito Federal 31,17
São Paulo 23,26 Goiás 43,16
Sul 23,46 Mato Grosso 35,69
Paraná 21,32 Mato Grosso do Sul 22,36
Rio Grande do Sul 22,69
Santa Catarina 29,08
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
42
Gráfico 1. Brasil. % da Assembléia de Deus no total evangélico por regiões em
1991 e 2000.
Fonte: Censos Demográficos de 1991 e de 2000.
Isolando o número de pentecostais, podemos acompanhar o forte
desempenho da Assembléia de Deus em todas as regiões, destacando
novamente o Norte e o Nordeste, onde quase 70% dos pentecostais são
assembleianos (Tabela 6). No Centro-Oeste metade dos pentecostais são da
Assembléia de Deus. Nas regiões Sudeste e Sul os percentuais são menores:
36,84% e 40,19%, respectivamente; mas também garantem a liderança
folgada da Assembléia no ranking do pentecostalismo.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
17,20%
24,90%
20,60%
17,10%
16,10%
50,54%
45,32%
35,96%
25,33%
23,46%
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
Censo 1991 Censo 2000
43
Tabela 6. Brasil. % da Assembléia de Deus no total evangélico de origem
pentecostal por estados e regiões.
Norte 69,55 Nordeste 67,56
Acre 62,98 Alagoas 69,77
Amazonas 67,77 Bahia 48,81
Amapá 81,38 Ceará 66,84
Pará 72,03 Maranhão 85,94
Rondônia 59,22 Paraíba 63,22
Roraima 73,10 Pernambuco 79,61
Tocantins 72,58 Piauí 65,34
Sudeste 36,84 Rio Grande do Norte 72,59
Espírito Santo 47,86 Sergipe 54,59
Minas Gerais 32,62 Centro-Oeste 50,70
Rio de Janeiro 52,58 Distrito Federal 49,54
São Paulo 30,89 Goiás 56,76
Sul 41,19 Mato Grosso 51,69
Paraná 31,10 Mato Grosso do Sul 32,85
Rio Grande do Sul 49,46
Santa Catarina 53,84
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
Mais da metade dos evangélicos dos estados de Alagoas, Amapá,
Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Roraima e
Tocantins são fiéis da Assembléia de Deus. Dentre os pentecostais, no
Amapá, no Maranhão e em Pernambuco ela detém aproximadamente quatro
em cada cinco fiéis. Em 19 estados e no Distrito Federal, os fiéis da
Assembléia de Deus superam 30% do total de evangélicos. Esta cifra diminui
apenas nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso
do Sul e nos três estados da região Sul. Na contagem dos evangélicos,
44
apenas no Rio Grande do Sul a Assembléia de Deus não é a maior igreja,
sendo superada pelas igrejas luteranas
7
, em razão do grande número de
descendentes de alemães no estado
8
, bem acima da média do Brasil.
As Tabelas 7, 8, 9 e 10 apresentam dados que permitem relacionar a
expansão da Assembléia de Deus com o crescimento populacional registrado
nos dois últimos Censos Demográficos. A população brasileira cresceu
15,70% na última década, sendo 28,76% no Norte, 12,45% no Nordeste,
23,49% no Centro-Oeste, 15,44% no Sudeste e 13,47% no Sul. a
Assembléia registra, na média nacional, um crescimento de 245,04%. O
maior índice é na região Norte, com 551,06%.
Em números absolutos, na região Norte havia 197.986 assembleianos
em 1991 e, em 2000, 1.289.002, um acréscimo de 1.091.016 fiéis, mais de
um terço dos 2.883.801 habitantes que a região ganhou em uma década. Os
dois estados com maior índice percentual de crescimento da Assembléia de
Deus no Brasil ficam no Norte: Amapá com 2.608,58% e Pará com 1.070,22%.
No Norte encontram-se também os quatro estados brasileiros em que o
número de assembleianos é superior a 10% da população: os campeões de
crescimento Amapá e Pará, que registram respectivamente 12,77% e 10,38%
7
Segundo Mariano (2001), o luteranismo é uma religião étnica que tornou-se para grande
parte dos descendentes de alemães no Brasil uma religião de tradição, tal qual o
catolicismo.
8
A vinda de imigrantes alemães para o Brasil teve início em 1824, fruto de um projeto
arquitetado por D. João VI e seguido por D. Pedro I, cujo objetivo era colonizar, povoar e
defender determinadas áreas do território brasileiro até então exploradas apenas por
indígenas. O Rio Grande do Sul, especialmente na região do vale do Rio dos Sinos, era
uma destas áreas. Estima-se que, nos primeiros 50 anos de imigração, chegaram ao
Brasil aproximadamente de 40.000 alemães, dos quais cerca de 70% passaram a viver em
território Sul-Riograndense.
45
de fiéis da Assembléia em relação à população residente; e os estados de
Roraima com 11,47% e Rondônia com 10,51%. Destes, Rondônia é também
um destaque negativo, pois surpreendentemente foge à regra da região
registrando dentre todos os estados do Norte e do Brasil o menor índice de
crescimento assembleiano: 70,27%, inferior inclusive aos 77,5% que havia
atingido entre 1980 e 1991
9
. Segundo o Censo Demográfico de 1991,
Rondônia era o estado nortista em que havia o maior contingente de
assembleianos, com 85.215 fiéis. Na seqüência encontravam-se o Pará com
54.959 fiéis e o Amazonas com 30.251 fiéis. Dez anos mais tarde, Rondônia
está na terceira posição, contando com 145.096 fiéis da Assembléia,
enquanto no Pará são mais de 600 mil e no Amazonas cerca de 250 mil fiéis.
A região Nordeste, que concentra a maior proporção de católicos no
país, registra o segundo maior índice de crescimento da Assembléia de Deus:
309,73%. Este crescimento, entretanto, não foi suficiente para ao menos
igualar à média nacional o percentual de assembleianos em relação à
população residente. Pernambuco, apesar de registrar uma baixa taxa de
crescimento se comparado com outros estados nordestinos, tem o maior
índice de assembleianos na região em relação ao total da população
residente: 7,23%. Sergipe e Piauí são os dois estados com os menores
índices do país: em Sergipe 2,35% da população total pertence a Assembléia
de Deus e no Piauí são 2,91%. A média nordestina foi de 4,65%. Lideram o
9
Mariano (2001) em sua tese organizou extenso levantamento sobre o crescimento
pentecostal no Brasil no último século. O dado supracitado, bem como muitos outros
relacionados neste capítulo são creditados ao trabalho elaborado por este autor.
46
ranking de crescimento os estados do Maranhão com 972,20% e do Ceará
com 563,01%. Os menores índices ficam com a Bahia (187,78%), Pernambuco
(207,06%), Piauí (207,78%) e Sergipe (213,18%), mas são suficientes para
ultrapassar com larga margem o crescimento populacional registrado nestes
estados
10
. Em Sergipe o crescimento assembleiano foi de apenas 9,76% do
acréscimo populacional que o estado obteve em uma década, a menor média
do Brasil. Em números absolutos, o Nordeste teve um acréscimo de
5.288.402 habitantes do Censo Demográfico de 1991 para o Censo
Demográfico de 2000, sendo que 1.680.285, quase um terço do total, foi o
número de pessoas que agregaram-se à Assembléia de Deus nesta região.
No Centro-Oeste, o estado em que a Assembléia mais cresceu foi
Goiás: 453,30%, média díspar dos demais estados e do Distrito Federal. Não
fosse por Goiás, a média de crescimento assembleiano da região estaria em
um patamar bem abaixo da nacional. O estado que registrou o menor índice
de expansão da Assembléia na região e um dos menores do Brasil foi o Mato
Grosso: 123%. O Mato Grosso do Sul registrou crescimento de 159,47% e o
Distrito Federal 218,14%, ambas as cifras inferiores à média nacional. O
estado de Goiás possui um dos maiores índices no Brasil de assembleianos
em relação à população total: 8,61%. Neste aspecto, o Mato Grosso do Sul
apresenta os menores números: 4,07%, abaixo da média brasileira. O
Centro-Oeste aumentou em 2.213.605 a quantidade de habitantes em uma
década, sendo que destes, 572.976, cerca de um quarto do total, tornaram-
10
Segundo o Censo Demográfico de 2000, em uma década a população da Bahia cresceu
10,27%, a de Pernambuco 11,24%, a do Piauí 10,12% e a de Sergipe 19,63%.
47
se assembleianos.
A região Sudeste, a mais populosa do país, teve em seu menor estado
o maior crescimento da Assembléia de Deus. No Espírito Santo o salto da
Assembléia foi de 365,18%. Na seqüência, o Rio de Janeiro registrou
243,88%, São Paulo 185,40% e, por último, Minas Gerais, 145,66%. Minas fica
também em último lugar na proporção de fiéis em relação à população
residente: são 2,94% de assembleianos no estado. A média da região, que
também é menor que a média nacional, é de 4,44%. O Rio de Janeiro, onde
7,04% da população é assembleiana, é o estado que apresenta a maior
proporção. O Sudeste teve um acréscimo de 9.690.026 habitantes em uma
década, dos quais 2.146.129, pouco menos de um quarto, somaram-se à
Assembléia de Deus.
O Sul, região que havia sido destaque negativo do crescimento
evangélico no século XX
11
, manteve a escrita tanto no que se refere aos
evangélicos em geral quanto especificamente à Assembléia de Deus. Se
considerarmos todo o contingente evangélico, o acréscimo na quantidade de
fiéis entre 1991 e 2000 foi de 35,47%. Na Assembléia o índice ficou em
117,59%, quase nove vezes maior do que o aumento populacional na região
no período, mas baixo comparado ao restante do Brasil. O Para foi o
estado do Sul em que a Assembléia apresentou seu pior desempenho:
101,66%, e Santa Catarina, o melhor: 140,41%.
11
Mariano (2001) destacou o baixo índice de crescimento dos evangélicos na Região Sul no
século XX, apontando como um dos motivos para este fato a penetração tardia dos
pentecostais nesta região, uma vez que a Assembléia de Deus, por exemplo, avançou
para o Sul apenas na década de 1940.
48
Tabela 7. Brasil. Crescimento populacional e da Assembléia de Deus em %
por estados e regiões.
Brasil, Região e Unidade da
Federação
% de crescimento da
população
% de crescimento da
Assembléia de Deus
Brasil 15,70 245,04
Norte 28,76 551,06
Acre 33,75 493,20
Amapá 65,04 2.608,58
Amazonas 33,98 720,39
Pará 25,19 1.070,22
Rondônia 21,86 70,27
Roraima 49,09 824,50
Tocantins 26,06 714,64
Nordeste 12,45 309,73
Alagoas 12,54 492,86
Bahia 10,27 187,78
Ceará 16,74 563,01
Maranhão 14,77 972,20
Paraíba 7,61 306,11
Pernambuco 11,24 207,06
Piauí 10,12 207,78
Rio Grande do Norte 15,01 317,29
Sergipe 19,64 213,18
Centro-Oeste 23,49 264,48
Distrito Federal 28,11 218,14
Goiás 24,56 453,30
Mato Grosso 23,65 123,00
Mato Grosso do Sul 16,72 159,47
Sudeste 15,44 201,01
Espírito Santo 19,11 365,18
Minas Gerais 13,73 145,66
49
Brasil, Região e Unidade da
Federação
% de crescimento da
população
% de crescimento da
Assembléia de Deus
Rio de Janeiro 12,38 243,88
São Paulo 17,27 185,40
Sul 13,47 117,59
Paraná 13,21 101,66
Santa Catarina 17,96 140,42
Rio Grande do Sul 11,48 120,69
Fonte: Censos Demográficos de 1991 e de 2000.
Tabela 8. Brasil. Crescimento populacional e da Assembléia de Deus em
números absolutos por estados e regiões.
Brasil, Região e Unidade da
Federação
Crescimento da
população
Crescimento do
número de fiéis
da Assembléia
de Deus
Brasil 23.057.066 5.978.377
Norte 2.883.801 1.091.016
Acre 140.782 42.208
Amapá 187.991 58.667
Amazonas 714.480 217.925
Pará 1.246.758 588.182
Rondônia 247.690 59.881
Roraima 106.808 33.186
Tocantins 239.292 90.967
Nordeste 5.288.402 1.680.285
Alagoas 315.192 116.472
Bahia 1.218.440 274.739
Ceará 1.065.487 263.332
Maranhão 727.872 362.709
Paraíba 243.464 89.331
Pernambuco 801.211 386.324
50
Brasil, Região e Unidade da
Federação
Crescimento da
população
Crescimento do
número de fiéis
da Assembléia
de Deus
Piauí 261.355 55.766
Rio Grande do Norte 362.433 103.029
Sergipe 292.948 28.583
Centro-Oeste 2.213.605 572.976
Distrito Federal 450.051 85.493
Goiás 986.686 353.142
Mato Grosso 479.168 82.297
Mato Grosso do Sul 297.700 52.044
Sudeste 9.690.026 2.146.129
Espírito Santo 496.876 161.674
Minas Gerais 2.161.596 312.325
Rio de Janeiro 1.584.915 718.408
São Paulo 5.446.639 953.722
Sul 2.981.232 487.971
Paraná 1.116.016 170.980
Santa Catarina 815.840 136.259
Rio Grande do Sul 1.049.376 180.732
Fonte: Censos Demográficos de 1991 e de 2000.
51
Tabela 9. Brasil. % de fiéis da Assembléia de Deus em relação ao crescimento
populacional por estados e regiões.
Brasil, Região e Unidade da
Federação
% de fiéis da
Assembléia de Deus
em relação ao
crescimento
populacional
Brasil 24,18
Norte 37,83
Acre 29,98
Amapá 31,20
Amazonas 30,50
Pará 47,18
Rondônia 24,18
Roraima 31,07
Tocantins 38,02
Nordeste 31,77
Alagoas 36,95
Bahia 22,55
Ceará 24,71
Maranhão 49,83
Paraíba 36,69
Pernambuco 48,21
Piauí 21,34
Rio Grande do Norte 28,43
Sergipe 9,76
Centro-Oeste 25,88
Distrito Federal 19,00
Goiás 35,79
Mato Grosso 17,17
Mato Grosso do Sul 17,48
Sudeste 22,15
Espírito Santo 32,54
52
Brasil, Região e Unidade da
Federação
% de fiéis da
Assembléia de Deus
em relação ao
crescimento
populacional
Minas Gerais 14,45
Rio de Janeiro 45,33
São Paulo 17,51
Sul 16,37
Paraná 15,32
Santa Catarina 16,70
Rio Grande do Sul 17,22
Fonte: Censos Demográficos de 1991 e de 2000.
Tabela 10. Brasil. % de fiéis da Assembléia de Deus em relação a população
residente por estados e regiões.
Brasil, Região e Unidade da
Federação
% de fiéis da
Assembléia de Deus
em relação a
população residente
Brasil 4,96
Norte 9,98
Acre 9,10
Amapá 12,77
Amazonas 8,81
Pará 10,38
Rondônia 10,51
Roraima 11,47
Tocantins 8,96
Nordeste 4,65
Alagoas 4,95
Bahia 3,22
53
Brasil, Região e Unidade da
Federação
% de fiéis da
Assembléia de Deus
em relação a
população residente
Ceará 4,17
Maranhão 7,07
Paraíba 3,44
Pernambuco 7,23
Piauí 2,91
Rio Grande do Norte 4,88
Sergipe 2,35
Centro-Oeste 6,78
Distrito Federal 6,08
Goiás 8,61
Mato Grosso 5,96
Mato Grosso do Sul 4,07
Sudeste 4,44
Espírito Santo 6,65
Minas Gerais 2,94
Rio de Janeiro 7,04
São Paulo 3,96
Sul 3,60
Paraná 3,55
Santa Catarina 4,35
Rio Grande do Sul 3,24
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
O fraco desempenho na região Sul e seu elevado crescimento no
Norte influíram na distribuição desproporcional de membros da Assembléia
de Deus nas cinco regiões do Brasil (Tabela 11). De acordo com o Censo
Demográfico de 2000, 42,64% da população residente no Brasil concentra-se
54
no Sudeste, 28,13% no Nordeste, 14,78% no Sul, 7,60% no Norte e 6,85% no
Centro-Oeste. a população de assembleianos está assim distribuída:
38,18% no Sudeste, 26,40% no Nordeste, 15,31% no Norte, 10,73% no Sul e
9,38% no Centro-Oeste. Note-se que uma inversão de posições entre
Norte e Sul. O Norte, região em que a Assembléia de Deus foi fundada, tem
um número de membros da Assembléia de Deus 42,76% maior.
Tabela 11. Brasil. Distribuição da população residente e dos fiéis da
Assembléia de Deus por estados e regiões.
Região População
residente
% da
população
residente
total no
Brasil
Fiéis da
Assembléia
de Deus
% do total de
fiéis da
Assembléia
de Deus no
Brasil
Norte 12.911.170 7,60 1.289.002 15,31
Acre 557.882 0,33 50.766 0,60
Amapá 477.032 0,28 60.916 0,72
Amazonas 2.817.252 1,66 248.160 2,95
Pará 6.195.965 3,65 643.141 7,64
Rondônia 1.380.952 0,81 145.096 1,72
Roraima 324.397 0,19 37.211 0,44
Tocantins 1.157.690 0,68 103.696 1,23
Nordeste 47.782.487 28,13 2.222.783 26,40
Alagoas 2.827.856 1,66 140.104 1,66
Bahia 13.085.769 7,70 421.049 5,00
Ceará 7.431.597 4,37 310.104 3,68
Maranhão 5.657.552 3,33 400.017 4.75
Paraíba 3.444.794 2,03 118.514 1,41
Pernambuco 7.929.154 4,67 572.897 6,81
Piauí 2.843.428 1,67 82.605 0,98
55
Região População
residente
% da
população
residente
total no
Brasil
Fiéis da
Assembléia
de Deus
% do total de
fiéis da
Assembléia
de Deus no
Brasil
Rio Grande do
Norte
2.777.509 1,64 135.501 1,61
Sergipe 1.784.829 1,05 41.911 0,50
Centro-Oeste 11.638.658 6,85 789.618 9,38
Distrito Federal 2.051.146 1,21 124.685 1,48
Goiás 5.004.197 2,95 431.047 5,12
Mato Grosso 2.505.245 1,47 149.207 1,77
Mato Grosso do
Sul
2.078.070 1,22 84.680 1,01
Sudeste 72.430.193 42,64 3.213.805 38,18
Espírito Santo 3.097.498 1,82 205.946 2,45
Minas Gerais 17.905.134 10,54 526.742 6,26
Rio de Janeiro 14.392.106 8,47 1.012.988 12,03
São Paulo 37.035.456 21,80 1.468.128 17,44
Sul 25.110.348 14,78 902.933 10,73
Paraná 9.564.643 5,63 339.160 4,03
Santa Catarina 5.357.864 3,15 233.297 2,77
Rio Grande do Sul 10.187.842 6,00 330.476 3,93
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
Os números do Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul não são tão
alvissareiros como, por exemplo, nas regiões Norte e Nordeste. Porém, esta é
uma tendência que atinge a maioria das igrejas evangélicas no estado. Se
compararmos com os dados do Brasil, a Assembléia de Deus gaúcha possui
índices menores de fiéis em relação à população (Tabela 12): 3,24%,
enquanto no Brasil este índice é de 4,96%; e menores índices também em
56
relação ao total de evangélicos: são 22,69% de assembleianos neste estado,
enquanto no Brasil são 32,15%. Apenas na comparação com as igrejas
pentecostais, a Assembléia apresenta números positivos em relação ao
restante do país: 49,96% dos pentecostais gaúchos são da Assembléia de
Deus (Tabela 13), cifra superior aos 47,78% registrados no Brasil.
No tocante ao crescimento, a Assembléia no Rio Grande do Sul
alcançou na década de 1990 uma média um pouco acima do registrado na
região Sul: 120,69%; mas este número não chega a ser metade da média
registrada no Brasil. Em números absolutos, em território gaúcho haviam
149.744 assembleianos em 1991 e, em 2000, 330.476, um acréscimo de
180.732 fiéis, pouco menos de um quinto dos 1.049.376 habitantes que o
estado ganhou em uma década.
Tabela 12. Rio Grande do Sul. Distribuição dos evangélicos por denominação
e sobre total da população.
Denominação Número de
fiéis
%
denominação
sobre total
dos
evangélicos
%
denominação
sobre total da
população
Assembléia de Deus 330.476 22,69 3,24
Batista 59.027 4,05 0,58
Congregação Cristã no Brasil 16.890 1,16 0,17
Igreja Universal do Reino de
Deus
103.322 7,09 1,01
Evangelho Quadrangular 108.748 7,46 1,07
Adventista 59.443 4,08 0,58
57
Denominação Número de
fiéis
%
denominação
sobre total
dos
evangélicos
%
denominação
sobre total da
população
Luterana 528.924 36,31 5,19
Presbiteriana 1.899 0,13 0,02
Deus é Amor 33.011 2,27 0,32
Metodista 14.374 0,99 0,14
Maranata 1.335 0,09 0,01
Brasil para Cristo 9.558 0,66 0,09
Congregacional 21.677 1,49 0,21
Casa da Bênção 961 0,07 0,01
Nova Vida 340 0,02 0,00
Outras igrejas de origem
pentecostal
63.460 4,36 0,62
Outras igrejas evangélicas de
missão
7.824 0,54 0,08
Sem vínculo institucional 66.419 4,56 0,65
Outras religiões evangélicas 29.101 2,00 0,29
Total 1.456.791 100,00 14,30
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
Tabela 13. Rio Grande do Sul. Distribuição dos evangélicos de origem
pentecostal por denominação.
Denominação % denominação sobre
total dos evangélicos
de origem pentecostal
Assembléia de Deus 49,46
Congregação Cristã no Brasil 2,53
Igreja Universal do Reino de Deus 15,47
Evangelho Quadrangular 16,28
Deus é Amor 4,94
58
Denominação % denominação sobre
total dos evangélicos
de origem pentecostal
Maranata 0,20
Brasil para Cristo 1,43
Casa da Bênção 0,14
Nova Vida 0,05
Outras igrejas de origem pentecostal 9,50
Total 100,00
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
Considerando os números do Censo Demográfico de 2000 sobre a
Assembléia de Deus em Canoas, percebe-se que eles se aproximam dos
índices nacionais, superando o desempenho do Rio Grande do Sul. Uma das
causas deve-se ao fato de que o luteranismo e a imigração alemã não são
tão presentes em Canoas como na média do estado. São 12.798 fiéis
assembleianos no município, 4,18% do total da população e 33,03% do total
dos evangélicos canoenses (Tabela 14). No tocante ao comparativo com os
pentecostais, a Assembléia de Deus em Canoas corresponde a mais da
metade destes na cidade (Tabela 15).
59
Tabela 14. Canoas. Distribuição dos evangélicos por denominação e sobre
total da população.
Denominação Número de
fiéis
%
denominação
sobre total
dos
evangélicos
%
denominação
sobre total da
população
Assembléia de Deus 12.798 33,03 4,18
Batista 1.144 2,95 0,37
Congregação Cristã no Brasil 316 0,82 0,10
Igreja Universal do Reino de
Deus
7.059 18,22 2,31
Evangelho Quadrangular 1.930 4,98 0,63
Adventista 2.531 6,53 0,83
Luterana 6.233 16,09 2,04
Presbiteriana 61 0,16 0,02
Deus é Amor 1.387 3,58 0,45
Metodista 255 0,66 0,08
Maranata 30 0,07 0,01
Brasil para Cristo 240 0,62 0,08
Congregacional 22 0,06 0,01
Casa da Bênção 102 0,26 0,03
Nova Vida - - -
Outras igrejas de origem
pentecostal
1.431 3,69 0,47
Outras igrejas evangélicas de
missão
176 0,45 0,06
Sem vínculo institucional 1.781 4,60 0,58
Outras religiões evangélicas 1.252 3,23 0,41
Total 38.746 100,00 12,66
Fonte: Censo Demográfico de 2000.
60
Tabela 15. Canoas. Distribuição dos evangélicos de origem pentecostal por
denominação.
Denominação % denominação
sobre total dos
evangélicos de
origem pentecostal
Assembléia de Deus 50,60
Congregação Cristã no Brasil 1,25
Igreja Universal do Reino de
Deus
27,91
Evangelho Quadrangular 7,63
Deus é Amor 5,48
Maranata 0,12
Brasil para Cristo 0,95
Casa da Bênção 0,40
Nova Vida -
Outras igrejas de origem
pentecostal
5,65
Total 100,00
Não existem dados anteriores para se fazer um comparativo de
crescimento. Quanto aos dados oficiais da Assembléia de Deus de Canoas, a
primeira contagem de membros ocorreu no período 2006/2007, podendo-se
apenas fazer uma análise comparativa em um período de 2 anos. Segundo
dados da secretaria da igreja, em 30 de janeiro de 2007 havia 8.533
membros ativos e, ao final de janeiro de 2008, 9.011 (Tabela 16), 5,60% a
mais.
Se tomarmos por base a estimativa apresentada por Mariano (2001)
de que entre 30 e 35% do total de fiéis da Assembléia de Deus são
61
congregados
12 13
, o número total de assembleianos em Canoas no início de
2008 é de aproximadamente 13.800. Considerando que no Censo de 2000
havia 12.798 assembleianos no município de Canoas, o acréscimo do
número de fiéis em oito anos foi de 7,83%.
Tabela 16. Assembléia de Deus de Canoas. Movimentação de membros entre
30/01/2007 e 30/01/2008 .
Número de membros em 30/01/2007 8.533
Membros batizados em 2007 345
Membros recebidos por transferência de Assembléias
de Deus de outros municípios ou de outras igrejas
pentecostais em 2007
320
Membros reconciliados em 2007
14
230
Membros transferidos para Assembléias de Deus de
outros municípios ou outras igrejas pentecostais em
2007
285
Desligados do rol de membros em 2007 117
Membros que faleceram em 2007 15
Total de membros em 31/01/2008 9.011
12
“Segundo o pastor Waldir Bícego, relator da Década da Colheita, projeto de evangelização
da Assembléia de Deus (filiada à Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil)
cujo objetivo, irrealista, era atingir a cifra de 50 milhões de adeptos no Brasil até o final
da década de 90, a proporção de congregados varia entre 30% e 35% dos fiéis”. (ibid.).
13
“Os congregados constituem os freqüentadores não batizados, entre os quais se incluem
as crianças abaixo de 12 anos, idade a partir da qual se costuma permitir o batismo por
imersão nas águas, ritual que possibilita ao fiel tomar parte na Santa Ceia, isto é, beber o
vinho e comer o pão ritualmente consagrados, símbolos do corpo e do sangue de Cristo”
(Mariano, 2001: p. 255). Outro grande grupo de pessoas que compõe os congregados diz
respeito aos fiéis, batizados em momento anterior a esta situação ou não, que vivem em
concubinato, prática proibida pela igreja e que impossibilita o fiel de batizar-se e de
participar da Santa Ceia.
14
Reincorporados ao rol de membros.
62
CAPÍTULO III
3. A ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA DA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM CANOAS/RS
Neste capítulo pretendo analisar a estrutura organizacional da
Assembléia de Deus no município de Canoas. Para tanto, divido minha
abordagem em seis tópicos: a organização administrativa, a carreira
sacerdotal, a forma de governo eclesiástico, os locais de culto e as missões.
3.1 A Organização Administrativa
3.1.1 As Convenções
A Assembléia de Deus de Canoas es submetida a duas convenções:
CIEPADERGS (Convenção das Igrejas Evangélicas e Pastores da Assembléia de
Deus do Rio Grande do Sul) e CGADB (Convenção Geral das Assembléias de
Deus no Brasil).
3.1.1.1 CGADB
A Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil (CGADB) é o
órgão máximo da Assembléia de Deus, embora sem poder deliberativo sobre
suas filiadas. Um “centro fraco”, como escreveu Freston (1994: p. 87), que
“não tem poderes para demitir ou nomear pastores, nem qualquer poder
legal sobre as convenções estaduais” (ibid.). Sua diretoria é eleita a cada dois
63
anos, através de voto direto dos pastores a ela filiados. O atual presidente da
Convenção Geral, José Wellington Bezerra da Silva, perpetua-se no poder
desde 1988, tendo sido eleito pela última vez em abril de 2007 para o biênio
2007-2009.
De direito, segundo seu estatuto
15
, a CGADB é instituída com as
seguintes prerrogativas: manter e zelar pelo seu patrimônio; promover a
união e o intercâmbio entre as Assembléias de Deus; atuar no sentido da
manutenção dos princípios morais e espirituais das Assembléias de Deus no
Brasil; zelar pela observância da doutrina bíblica, incrementando estudos
bíblicos e outros eventos; manter o controle de seus órgãos, da Casa
Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD) e das demais pessoas jurídicas
existentes ou que venham a existir, quando necessário, propugnando pelo
desenvolvimento dos mesmos; promover e incentivar a proclamação do
evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, através da obra missionária;
promover o desenvolvimento espiritual e cultural das Assembléias de Deus,
mantendo a unidade doutrinária; promover a educação em todos os seus
níveis e a assistência filantrópica; inscrever e credenciar como membros, os
ministros das Assembléias de Deus no Brasil, exercendo ação disciplinar
sobre os mesmos, conforme normas estabelecidas neste Estatuto e
Regimento Interno; orientar a prática da cidadania dos seus membros; e
reconhecer e inscrever as Convenções Estaduais ou Regionais da mesma e
ordem.
De fato, a Convenção Geral inscreve e credencia os ministros da
15
Fonte: http://www.cgadb.com.br
64
Assembléia de Deus no Brasil como seus membros e atua na administração
da CPAD, órgão de imprensa e editora oficial da denominação.
Atualmente 47 convenções estão ligadas à CGADB (Tabela 1). O
estado de São Paulo é sede de quatro delas. No Distrito Federal e nos estados
do Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro existem três
convenções, no Maranhão, Pará, Paraíba e Pernambuco, duas, e em cada um
dos demais estados da Federação e nos Estados Unidos da América, Japão e
Portugal há uma convenção filiada à CGADB.
Tabela 1. Convenções locais filiadas à Convenção Geral das Assembléias de
Deus no Brasil.
Convenção Sigla Sede
Convenção Estadual de Igrejas e
Ministros das Assembléias de Deus
no Acre
CEIMADAC Acre
Convenção das Assembléias de Deus
no Estado de Alagoas
COMADAL Alagoas
Convenção Estadual dos Ministros
das Igrejas Evangélicas Assembléias
de Deus no Estado do Amapá
CEMEADAP Amapá
Convenção Estadual da Assembléia
de Deus no Amazonas
CEADAM Amazonas
Convenção Estadual das Assembléias
de Deus na Bahia
CEADEB Bahia
Convenção de Igrejas e Ministros das
Assembléias de Deus Ministério no
Estado do Ceará
CIMADEC-CE Ceará
65
Convenção Sigla Sede
Convenção Estadual dos Ministros
das Igrejas Evangélicas Assembléias
de Deus no Ceará
COMEADEC Ceará
Convenção Fraternal de Ministros das
Assembléias de Deus do Estado do
Ceará
CONFRADECE Ceará
Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus de Brasília e
Goiás
COMADEBG Distrito Federal
Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus do Planalto
Central
COMADEPLAN Distrito Federal
Convenção Evangélica das
Assembléias de Deus no Distrito
Federal
CEADDIF Distrito Federal
Convenção das Assembléias de Deus
no Estado do Espírito Santo e Outros
CADEESO Espírito Santo
Convenção Evangélica dos Ministros
das Assembléias de Deus no Estado
do Espírito Santo
CEMADES Espírito Santo
Convenção Fraternal dos Ministros
das Assembléias de Deus no Estado
do Espírito Santo
CONFRATERES Espírito Santo
Convenção das Assembléias de Deus
no Estado de Goiás
CADESGO Goiás
Convenção dos Ministros das Igrejas
Evangélicas Assembléias de Deus do
SETA no Sul do Maranhão
COMADESMA Maranhão
Convenção Estadual da Igreja
Evangélica Assembléia de Deus no
Maranhão
CEADEMA Maranhão
66
Convenção Sigla Sede
Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus no Estado do
Mato Grosso
COMADEMAT Mato Grosso
Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus no Estado do
Mato Grosso do Sul
COMADEMS Mato Grosso do Sul
Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus do Vale do Rio
Doce
COMADVARDO
Minas Gerais
Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus no Triângulo
Mineiro
COMADETRIM Minas Gerais
Convenção Estadual dos Ministros
das Igrejas Evangélicas Assembléias
de Deus no Brasil
COMADEMG Minas Gerais
Convenção Estadual das Igrejas
Evangélicas Assembléias de Deus no
Estado do Pará
COMIEADEPA Pará
Convenção Interestadual dos
Ministros das Igrejas Assembléias de
Deus do SETA nos Estados do Pará e
Mato Grosso
CIADSETA-
PA/MT
Pará
Convenção de Ministros da Igreja
Evangélica Assembléia de Deus em
Campina Grande e no Estado da
Paraíba
COMEAD-CGPB Paraíba
Convenção de Ministros das
Assembléias de Deus no Estado da
Paraíba
COMADEP Paraíba
67
Convenção Sigla Sede
Convenção das Igrejas Evangélicas
Assembléias de Deus no Estado do
Paraná
CIEADEP Paraná
Convenção Estadual de Ministros da
Assembléia de Deus com Sede em
Abreu e Lima
COMADALPE Pernambuco
Convenção da Assembléia de Deus de
Pernambuco
CONADEP Pernambuco
Convenção das Igrejas Evangélicas
Assembléias de Deus no Piauí
CIEADEP Piauí
Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus do Estado do
Rio de Janeiro
COMADERJ Rio de Janeiro
Convenção Evangélica das
Assembléias de Deus no Estado do
Rio de Janeiro
CEADER Rio de Janeiro
Convenção Fraternal das Assembléias
de Deus no Estado do Rio de Janeiro
CONFRADERJ Rio de Janeiro
Convenção das Assembléias de Deus
do Rio Grande do Norte
CEMADERN Rio Grande do Norte
Convenção das Igrejas Evangélicas e
Pastores da Assembléia de Deus do
Rio Grande do Sul
CIEPADERGS Rio Grande do Sul
Convenção Estadual das Assembléias
de Deus no Estado de Rondônia
COMADERON Rondônia
Convenção Estadual das Assembléias
de Deus no Estado de Roraima
CEDADER Roraima
Convenção da Igreja Evangélica
Assembléia de Deus de Santa
Catarina e Sudoeste do Paraná
CIADESCP Santa Catarina
68
Convenção Sigla Sede
Convenção das Igrejas Evangélicas
Assembléias de Deus no Estado de
São Paulo e Estados Limítrofes
CIEADESPEL São Paulo
Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus no Estado de
São Paulo
COMADESPE São Paulo
Convenção dos Ministros Ortodoxos
das Assembléias de Deus do Estado
de São Paulo
COMOESPO São Paulo
Convenção Fraternal e Interestadual
das Assembléias de Deus no
Ministério do Belém-SP
CONFRADESP São Paulo
Convenção Estadual das Assembléias
de Deus no Estado de Sergipe
CONEADESE Sergipe
Convenção Interestadual das
Assembléias de Deus do SETA no
Estado do Tocantins e Igrejas Filiadas
CIADSETA-TO Tocantins
Convenção Fraternal dos Ministros
das Assembléias de Deus Brasileiras
nos E.U.A.
CONFRADEB Estados Unidos da
América
Convenção de Ministros de Língua
Portuguesa no Japão
COMADEJA Japão
Convenção Européia dos Ministros
Evangélicos de Língua Portuguesa
CEMELP Portugal
3.1.1.1.1 CPAD
A Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD) é presidida pelo
mandatário maior da CGADB, o que abre a possibilidade de esta ser utilizada
como elemento de barganha política e nepotismo na distribuição de cargos
remunerados. Exemplo disto é o Conselho Administrativo da CPAD, cuja
69
presidência, segundo maior posto na hierarquia da instituição, é ocupada por
José Wellington Costa Júnior, filho do pastor José Wellington Bezerra da
Costa, líder da CGADB.
Dentre as produções da CPAD, merecem destaque o jornal
Mensageiro da Paz
, a revista
Lições Bíblicas
e a
Harpa Cristã
.
O
Mensageiro da Paz
, no passado, constituía um meio de
evangelização e também fonte de renda de obreiros e missionários, como
revela a historiografia oficial da igreja (Berg, 1982; Stein, 2002). Na
atualidade, o material divulgado pelo jornal atinge um público converso,
os próprios membros da Assembléia de Deus. Sua venda é, no município de
Canoas, obrigatória. A Assembléia de Deus canoense possui uma cota de
350 exemplares mensais que devem ser vendidos.
A revista
Lições Bíblicas
é o material didático utilizado na Escola
Bíblica Dominical, realizada aos domingos em todas as Assembléias de Deus
no Brasil. Trata de assuntos doutrinários universais no pentecostalismo. A
revista é de publicação trimestral, sendo cada número escrito por um autor,
ou “comentarista” diferente, como é referido na mesma, tratando de uma
temática específica, conforme o exemplo:
70
Tabela 2. Revista
Lições Bíblicas
– 1º trimestre de 2008.
Tema: Jesus Cristo: verdadeiro homem, verdadeiro
Deus
Comentarista: Esequias Soares
Lição Título
1 Jesus, o verbo de Deus
2 Jesus, o filho de Deus
3 Jesus, verdadeiro homem, verdadeiro
Deus
4 A infância de Jesus
5 O batismo de Jesus
6 Jesus, o profeta das nações
7 O sacerdócio eterno de Cristo
8 Jesus, filho de Davi
9 O ministério de ensino de Jesus
10 Os milagres de Jesus
11 A morte vicária de Jesus
12 A ressureição de Jesus
13 Jesus, o Rei dos reis e Senhor dos
senhores
Em Canoas são vendidos trimestralmente cerca de 1.000 exemplares
da revista
Lições
Bíblicas
, que é de uso obrigatório para os frequentadores da
Escola Bíblica Dominical. Na congregação Niterói, da Assembléia de Deus de
Canoas, foi adotada em 2007 a revista
Lições da Bíblia
, produzida pela
Editora Central Gospel, de propriedade do ministério Silas Malafaia, filiado à
CGADB e sediado na Assembléia de Deus da Penha, município do Rio de
Janeiro/RJ. Entretanto, com a mudança de comando nesta congregação em
2008, a revista produzida pela CPAD foi novamente adotada.
A
Harpa Cristã
é o hinário oficial das Assembléias de Deus. Contém
71
quatro hinos cívicos brasileiros (Hino à Bandeira Nacional, Hino Nacional
Brasileiro, Hino da Independência e Hino da Proclamação da República do
Brasil) e 636 músicas sacras, que versam sobre inúmeros assuntos (Tabela
3), cantadas nos templos assembleianos do Brasil. Seu formato mais usual é
o de um pequeno livro de bolso. Para um freqüentador dos cultos da
Assembléia, é indispensável carregar uma consigo, assim como o é estar de
posse de uma Bíblia, uma vez que os momentos de leitura de textos bíblicos
e de entoação coletiva de cantos da
Harpa Cristã
são uma tradição da
denominação.
Dentre os autores dos hinos, constam Gunnar Vingren, Frida Vingren,
Otto Nelson e Samuel Nyström
16
, pioneiros da Assembléia de Deus no Brasil;
Herwig Elisabeth Nordlund
17
, que juntamente com seu marido, Gustavo
Nordlund, fundou a Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul; Emílio
Conde
18
, autor de
História das Assembléias de Deus no Brasil
, de 1960,
primeiro livro que trata da história da igreja; e Paulo Leivas Macalão
19
,
primeiro brasileiro a assumir a presidência da Convenção Nacional das
Assembléias de Deus, em 1937, e presidente nacional do Ministério de
Madureira de 1958 até a sua morte, em 1982.
Nos hinos, perpassam às letras temas próprios da mensagem
16
Gunnar Vingren é autor de 1 hino da
Harpa Cristã
; Frida Vingren, de 23 hinos; Otto
Nelson, de 6 hinos; e Samuel Nyström de 17 hinos.
17
H. E. Nordlund é autora de 4 hinos da
Harpa Cristã
.
18
Emílio Conde escreveu ao todo 24 hinos da
Harpa Cristã
, sendo que destes, 2 foram em
co-autoria com Nils Kastberg e 5 com Eufrosine Kastberg, missionários da Assembléia de
Deus em Minas Gerais na década de 1930.
19
Paulo Leivas Macalão é o compositor que possui o maior número de hinos presentes na
Harpa Cristã
: ao todo são 247.
72
pentecostal da primeira metade do século XX: os dons do Espírito Santo, o
poder de Deus, o sofrimento do crente na terra, sua missão de evangelizar, o
caráter de peregrino do fiel pentecostal e sua aspiração de uma vida feliz em
um lar celestial.
Tabela 3.
Harpa Cristã
– índice dos assuntos.
Assunto
Louvores ao Deus Trino
Deus, o Pai
Deus, o Filho (louvores, seu nascimento, sua graça,
vida e amor; seus nomes e títulos, Jesus como
amigo, seus sofrimentos, sua morte, seu sangue,
sua ressurreição, sua segunda vinda)
Deus, o Espírito Santo
Culto (abertura, a mensagem do Evangelho, a
Bíblia, testemunhos, apelo, decisão, encerramento)
A Igreja e suas reuniões (sua existência, batismo
nas águas, Santa Ceia, cura divina, matrimônio,
despedida, passagem do ano)
Vida cristã (oração, aspiração, consagração,
comunhão, guia, satisfação, paz e descanso,
gratidão, admoestação, trabalho, missões, luta e
vitória, viagem para o Céu)
Vida futura
Na atualidade, embora ainda bastante utilizada, a Harpa Cristão está
sendo substituída gradativamente nas maiores congregações da Assembléia
de Deus de Canoas por músicas de composição mais recente, cantadas por
toda a congregação sob o comando de um fiel denominado “ministro de
73
louvor”, uma espécie de animador de palco, que instiga a platéia a
acompanhá-lo com palmas, coreografias e brados. Conforme pude aferir, o
único artista assembleiano que tem suas músicas cantadas nos cultos da
Assembléia de Canoas é o carioca Nani Azevedo, da Assembléia de Deus da
Penha - ministério Silas Malafaia. No mais, são cantores e bandas de igrejas
neopentecostais, como os ministérios “Trazendo a Arca”, “Apascentar”,
“Filhos do Homem” e “Diante do Trono”. As letras seguem uma tendência de
mensagem neopentecostal, discorrendo sobre prosperidade e tomar posse
das bêncãos divinas.
3.1.1.2 A CIEPADERGS
A Convenção das Igrejas Evangélicas e Pastores da Assembléia de
Deus do Rio Grande do Sul (CIEPADERGS) é o centro político da Assembléia
de Deus no Rio Grande do Sul. Uma de suas características principais, que a
distingue inclusive de outras Convenções presentes no território brasileiro, é
a de não compactuar com a criação de ministérios. Para ilustrar esta
afirmativa, lanço mão de um exemplo dado por Rubem César Fernandes
(1994: p. 197-198) a respeito de uma situação que ocorre na cidade do Rio
de Janeiro:
“(...) numa mesma vizinhança do bairro da Cidade de Deus no
município do Rio de Janeiro encontramos três igrejas da
Assembléia de Deus: uma era filiada ao ministério do Leblon,
outra ao Ministério da Tijuca, e a terceira ao Ministério de
Araruama. Achavam-se ali vizinhas devido à coincidência dos
movimentos dos evangelistas daquelas três igrejas mães. O
fato de serem vizinhas não implicava uma necessidade de se
74
articularem regularmente. As atividades e as relações de poder
interdenominacionais destas comunidades da Cidade de Deus
levavam cada uma a um 'campo' diverso, centrado
respectivamente no Leblon, na Tijuca e em Araruama”.
No Rio Grande do Sul este tipo de situação não ocorre. A CIEPADERGS
reconhece apenas os campos por ela instituídos e proíbe peremptoriamente
a formação de ministérios. Existem ministérios da Assembléia de Deus no
estado que formaram-se à partir de cisões, tais como a “União das
Assembléias de Deus”, o “Concílio das Assembléias de Deus” e a “Assembléia
de Deus Ministério da Restauração”, para citar os maiores. Porém, a
CIEPADERGS não os reconhece e emprega sua influência política para garantir
que a CGADB, da mesma forma, não os aceite como filiados, apesar de
estatutariamente não haver nada que os proíba de filiar-se à Convenção
Geral.
O presidente da CIEPADERGS é eleito para mandato de 3 anos, sem
limite de reeleição. O atual, pastor Ubiratan Batista Job, advindo do campo de
Sapiranga, situado na região metropolitana de Porto Alegre, está em seu
segundo mandato.
O pastor Ubiratan é reconhecido pelos seus pares por pacificar a
Convenção Estadual, envolvida num conflito deflagrado em 1998. Neste ano,
o pastor norueguês Nils Taranger, fundador da CIEPADERGS em 1956 e seu
presidente desde então, sofreu uma isquemia cerebral e, por orientação
médica, afastou-se temporariamente de suas funções de presidente da
Convenção e pastor presidente do campo de Porto Alegre. Enquanto se
75
recuperava, ele escreveu uma carta informando que retornaria à presidência,
mas caso sua saúde o impossibilitasse de fazê-lo ou durante a continuidade
de seu mandato tivesse que novamente afastar-se, o pastor Edegar de Souza
Machado, do campo de Canoas, seria o próximo presidente da Convenção. O
documento chegou ao conhecimento da cúpula da CIEPADERGS e parte dela,
liderada pelo pastor Humberto Schmidt, então pastor auxiliar no campo de
Porto Alegre, inconformou-se com seu conteúdo, pois, como ficou evidente
a posteriori
, desejava para si o poder da Convenção.
Diante da iminente crise, foi feito um acordo para conciliar os
interesses divergentes dos caciques da igreja no estado: o pastor Nils
Taranger foi deposto de todos os seus cargos na Assembléia de Deus, sob a
alegação de não estar em condições de continuar a exercê-los; sua última
ordem escrita foi negada, assim como a existência do documento; e o pastor
João Ferreira, então presidente interino, auto-proclamou-se presidente da
CIEPADERGS e do campo de Porto Alegre. O pastor norueguês sequer fora
comunicado, tomando conhecimento do ocorrido dias após João Ferreira
Filho ser empossado nos cargos que lhe pertenciam.
Em 2004, o pastor João Ferreira, acometido de um câncer, afastou-se
da presidência da CIEPADERGS, assumida interinamente pelo pastor Ubiratan
Batista Job. A doença acabou levando o pastor João à morte no mesmo ano.
Com isso, eleições foram convocadas para preencher o posto que ficara
vago. Duas chapas participaram do pleito: a de situação, liderada pelo pastor
Ubiratan, e a de oposição, encabeçada pelo pastor Humberto Schmidt e
76
composta majoritariamente pelo grupo de pastores que engendrou a
destituição do pastor Nils Taranger em 1998. A situação venceu as eleições e
o grupo derrotado promoveu nova cisânea, colocando como condição para
não separar-se da Assembléia de Deus, a obtenção de cargos diretivos na
Convenção, a criação de um campo independente na zona oeste de Porto
Alegre, em inédito precedente de organização de dois campos em uma
mesma cidade, e a designação do pastor Humberto Schmidt para a
presidência do mesmo. Todos os pedidos foram rechaçados. Com isso, parte
dos líderes oposicionistas cumpriram com sua ameaça, desfiliando-se da
CIEPADERGS e criando uma nova igreja: a Igreja Pentecostal Assembléia de
Deus Ministério da Restauração.
Nas eleições de 2007, com a chapa de oposição do pleito passado
desfalcada da grande maioria de seus líderes, o candidato único foi o Pastor
Ubiratan, eleito por aclamação por mais três anos.
Formam a diretoria da CIEPADERGS os seguintes cargos, cujos
mandatários são nomeados pelo seu presidente: primeira e segunda vice-
presidência; secretaria, composta por dois secretários; tesouraria, composta
por dois tesoureiros; conselho de ética e disciplina, com quatro membros
vitalícios e sem número pré-definido de membros nomeados; e, sem número
pré-definido de membros nomeados, secretaria adjunta, assessoria jurídica,
conselho fiscal, conselho consultivo, conselho de educação religiosa e
conselho de ação social.
77
3.1.2 Os campos
O campo, na Assembléia de Deus do Rio Grande do Sul, é a unidade
administrativa que delimita a abrangência do poder de uma rede de
congregações dirigidas por um pastor presidente. Equivale aos ministérios
existentes, por exemplo, nas Assembléias de Deus do estado do Rio de
Janeiro (Fernandes, 1994).
Ao todo, existem no Rio Grande do Sul 161 campos ligados à
CIEPADERGS, presentes em todos os 496 municípios do estado. As
intervenções feitas pela Convenção nos campos dizem respeito à arbitragem
de eventuais conflitos entre campos e às nomeações dos pastores
presidentes, nomeações estas que não ocorrem em períodos pré-
determinados, mas apenas quando da necessidade de substituição, fruto de
administração, transferência, desfiliação, jubilamento, doença ou morte
do antigo pastor.
Não uma conexão territorial lógica na organização de um campo.
O campo de Canoas foi até 3 anos atrás responsável também pela
Assembléia de Deus no município de Horizontina/RS, distante mais de
500Km. Em 2005 a CIEPADERGS tornou Horizontina um campo autônomo,
embora tenha nomeado presidente deste novo campo um pastor
apadrinhado pelo mandatário canoense.
A forma original com que um campo é constituído, dentro do Rio
Grande do Sul, vale-se, via de regra, da política da Convenção Estadual.
Quando em estado falimentar, um campo pode ser absorvido por outro,
78
desde que haja a aprovação da CIEPADERGS. Pode também, ao contrário, um
campo ser dividido, favorecendo a ascensão de um pastor. Existem ainda
casos de campos que são responsáveis pelo trabalho em municípios menores
e os trocam entre si, por razões diversas. A única regra negativa desta forma
de organização diz respeito à presença de mais de um campo em um mesmo
município, que é terminantemente proibida.
3.1.3 A divisão administrativa no campo de Canoas
O campo de Canoas está dividido administrativamente em distritos,
congregações, centros evangelísticos, departamentos e secretarias.
3.1.3.1 Distritos
Os distritos delimitam um conjunto de congregações existentes em
um determinado bairro, ou em bairros próximos. A sede distrital é o maior
templo da região. A Assembléia de Deus de Canoas está dividida em 16
distritos, que abrigam as 56 congregações e 6 centros evangelísticos
existentes na cidade, menos de 4 templos por distrito na média (Tabela 4).
79
Tabela 4. Distritos, congregações e centros evangelísticos na Assembléia de
Deus em Canoas.
Distrito Congregação Bairro
01 - Niterói Niterói Niterói
Atenas Niterói
Barreto
N. Sra. das
Graças
02 - Estância Velha Estância Velha Estância Velha
Sete de Outubro Estância Velha
Vila Ideal (centro evangelístico) Estância Velha
São Nicolau (centro
evangelístico)
Estância Velha
Fernando Pessoa (centro
evangelístico)
Estância Velha
03 - Hildo
Meneghetti
Hildo Meneghetti Guajuviras
Meu Rincão Guajuviras
Contel Guajuviras
04 - Mathias Velho Mathias Velho (templo-sede) Mathias Velho
Passo Fundo Mathias Velho
80
Distrito Congregação Bairro
04 - Mathias Velho São Luiz São Luiz
05 - Antena Antena Mathias Velho
Santo Ângelo Mathias Velho
São Gabriel Mathias Velho
06 - São Sepé São Sepé Mathias Velho
Erechim Mathias Velho
Natal Mathias Velho
Getúlio Vargas Mathias Velho
07 - Maria Isabel Maria Isabel Mathias Velho
Libertação Mathias Velho
Indio Sepé Mathias Velho
08 - Harmonia Harmonia Harmonia
Santo Operário Mathias Velho
São Pedro Mathias Velho
09 - Fátima Fátima Fátima
Bartolomeu de Gusmão Fátima
Prata Fátima
81
Distrito Congregação Bairro
09 - Fátima Mato Grande Mato Grande
Araçá Mato Grande
10 - Primavera Primavera Rio Branco
Primavera II Rio Branco
Parque Bandeirante Rio Branco
12 - Piauí Piauí Niterói
Fernando Ferrari (centro
evangelístico)
Niterói
Industrial Niterói
João de Barro Niterói
14 - Guajuviras Guajuviras Guajuviras
CAIC Guajuviras
Nazário Guajuviras
Igara Igara
A. J. Renner (centro
evangelístico)
Estância Velha
15 - Boa Saúde Boa Saúde Rio Branco
Boa Saúde II Rio Branco
82
Distrito Congregação Bairro
15 - Boa Saúde Dique Rio Branco
Ana Maria Fátima
Ana Maria II Fátima
16 - Vila Cerne Vila Cerne Mathias Velho
Santos Dias Mathias Velho
Rondinha Mathias Velho
Paquetá Mathias Velho
17 - Olaria Olaria Estância Velha
São Vicente Estância Velha
Rincão Gaúcho Estância Velha
São João Estância Velha
Vila União (centro
evangelístico)
Estância Velha
18 - Parque São
José II
Parque São José II Guajuviras
Monte Sinai Guajuviras
Acadepol Guajuviras
Pôr do Sol Guajuviras
83
A responsabilidade pela administração de um distrito é outorgada
pelo pastor presidente da igreja a pastores e/ou evangelistas. Os mandatos
não são remunerados e duram um ano, podendo anualmente ser
prorrogados, sem limite. O encarregado distrital tem por tarefas principais
nomear e, em seguida, supervisionar, os encarregados de cada congregação
e centros evangelísticos; criar ou extinguir departamentos e corais distritais,
bem como nomear líderes para os mesmos; indicar a consagração de novos
presbíteros e evangelistas, abrir novos centros evangelísticos, organizar
eventos evangelísticos de âmbito distrital, investir em bens móveis. Pode
também abrir novas congregações, investir na compra de terrenos e
construção ou reforma de templos, mas, para tanto, precisa obter o aval do
pastor presidente. Além de cumprir as funções inerentes a seu posto, alguns
encarregados de distrito optam por acumular a função de encarregado da
congregação-sede do distrito.
3.1.3.2 Congregações e centros evangelísticos
A congregação é o local onde a comunidade assembleiana se reúne.
Sua administração é exercida por um presbítero, nomeado pelo encarregado
distrital. Assim como no caso do administrador do distrito, os mandatos não
são remunerados e duram um ano, podendo anualmente ser prorrogados,
sem limite. Em linhas gerais, o encarregado da congregação tem autonomia
para criar ou extinguir departamentos e corais, além de nomear líderes para
os mesmos; indicar fiéis para os cargos de auxiliar, diaconisa, diácono e
84
presbítero; regulamentar a liturgia, horários e dias de cultos; instituir ou
suprimir usos e costumes; desligar
20
ou disciplinar
21
membros que estejam
cometendo pecados que, na sua ótica, sejam dignos de punição; organizar
eventos evangelísticos; investir em mídia, instrumentos musicais,
equipamentos de som, etc.
Ao encarregado da congregação cabe também a prerrogativa de criar
centros evangelísticos, que são pontos de pregação, em geral criados na casa
de algum fiel ou em pequenos imóveis locados pela igreja, em localidades
onde não haja um templo assembleiano nas proximidades. O centro
evangelístico difere-se da congregação por não contar com uma estrutura
administrativa e nem mesmo um encarregado. Quando consegue
arregimentar uma clientela fixa de fiéis que lhe garanta a independência
financeira da congregação que o criou, o centro evangelístico passa a
adquirir o
status
de congregação.
Apesar da submissão, em primeira instância, ao encarregado do
distrito, a administração de uma congregação é, via de regra, uma
reprodução da forma autocrática utilizada pelo pastor presidente para
exercer seu poder no campo de Canoas. Daí a formação de um
ethos
20
O fiel batizado que comete um pecado considerado grave é “desligado” do rol de
membros da Assembléia de Deus. Esta pena é imposta de acordo com a interpretação que
o dirigente de congregação ao ato cometido. O fiel desligado pode continuar
freqüentando os cultos, mas perde por tempo indeterminado o direito de tomar parte em
qualquer atividade ou ritual destinado aos membros da igreja.
21
Assim como no desligamento, o fiel que é “disciplinado” perde também o direito de tomar
parte em atividades e rituais destinados aos fiéis da Assembléia de Deus. A diferença é
que a medida disciplinar é uma suspensão por tempo determinado (geralmente três
meses). A decisão sobre a aplicação desta punição é, da mesma forma, tomada pelo
dirigente de congregação.
85
congregacional. Embora não seja a causa única e, em determinados casos,
não seja também a causa principal, o modo como é exercida a autoridade do
presbítero (ou ainda do evangelista ou pastor distrital, caso opte por, além
de administrar o distrito, administrar também a igreja-sede) em sua
congregação pode gerar a adoção de determinadas formas de
comportamento e meios de relação com o sagrado, completamente distintos
do que é praticado em outros templos assembleianos.
Não obstante a grande maioria dos templos da Assembléia de Deus
em que se lança mão de objetos mágicos e práticas ritualísticas para
obtenção de bênçãos divinas estarem localizados na periferia de Canoas, em
determinadas congregações assembleianas que abrigam estratos mais
privilegiados, ou ao menos não tão pobres, da sociedade canoense, estas
formas de se buscar um favor divino também são adotadas, tendo sido
implementadas pelo encarregado da igreja.
O templo de Niterói é um claro exemplo onde uma mudança no
comando da congregação alterou completamente a rotina dos fiéis e a forma
de relação dos mesmos com o sagrado. Ocorrida em fevereiro de 2008, em
menos de um mês se faz evidente nos cultos e no comportamento dos
fiéis: com o antigo encarregado, que esteve por dois anos à frente do
trabalho, os horários de culto eram pontuais, tanto na abertura como no
encerramento, havia praticamente sido abolida da liturgia a execução dos
hinos da
Harpa Cristã
,
os temas abordados nas mensagens eram, em sua
maioria, de cunho motivacional e intercaladas pelas palmas da platéia ao
86
final de cada frase de efeito; além do que nas muitas vezes em que estive
observando os cultos nesta congregação, em nenhuma delas houve uma
manifestação explícita de glossolalia ou de outro dom espiritual. Quanto aos
usos e costumes, podia ser visto no templo de Niterói algo raro na
Assembléia de Deus de Canoas: o uso de brincos, calças compridas e cabelos
curtos por parte das fiéis, inclusive diaconisas, coristas e esposas de
obreiros. Após a troca do obreiro encarregado, em dois cultos que tive a
oportunidade de acompanhar a mudança foi notória: os cultos tiveram seu
encerramento cerca de uma hora após o previsto, sendo que em um destes o
encarregado da congregação justificou o atraso afirmando que o culto
somente terminaria quando o “Espírito Santo dissesse amém”; a liturgia
convencional da Assembléia foi adotada, reincorporando inclusive a
tradicional execução de dois
Hinos da Harpa
na abertura de cada culto; as
mensagens trazidas pelo novo obreiro enfatizam a necessidade de buscar do
Espírito Santo, gerando um burburinho em meio aos fiéis que correspondiam
à fala do pregador não mais com palmas, mas com “glórias”, “aleluias” e
línguas estranhas. Quanto ao uso de calças compridas e brincos pelas
mulheres, não havia sido totalmente abolido, mas as fiéis foram
admoestadas em público a vestirem-se e portarem-se de acordo com os
costumes da Assembléia de Deus.
87
3.1.3.3 Departamentos
Os 16 departamentos listados na Tabela 5 são submetidos
diretamente ao pastor presidente do campo de Canoas, e seus titulares são
nomeados por ele, que oficializa sua decisão na Assembléia Geral Anual. A
duração do mandato de cada um de seus membros é de um ano, prorrogável
por igual período, ilimitadamente.
Tabela 5. Relação de departamentos da Assembléia de Deus de Canoas e
titulação de seus responsáveis.
Departamento Cargo ocupado na Assembléia de
Deus por seu titular
Círculo de Oração Diaconisa
Conselho fiscal 2 evangelistas, 1 presbítero, 1
diácono e 1 fiel sem cargo na
organização
Discipulado Pastor
Escola Bíblica Dominical Diaconisa
Evangelismo Pastor
Evangelismo intensivo
22
Evangelista
GAADC – Grupo de adolescentes da
Assembléia de Deus de Canoas
Presbítero
Grupo de apoio aos casais Pastor
Missões Pastor
Música Presbítero
Obras e construções Pastor
22
A diferença entre o departamento de Evangelismo e o de Evangelismo intensivo é que o
primeiro é responsável pelas ações institucionais de proselitismo no campo de Canoas,
com exceção dos cultos realizados em locais públicos, que estão a cargo do Evangelismo
intensivo.
88
Departamento Cargo ocupado na Assembléia de
Deus por seu titular
Patrimônio Pastor
Porteiros e diaconisas Auxiliar
Secretaria Pastor
Tesouraria 1º tesoureiro: Presbítero
2º tesoureiro: Pastor
UMADC – União da mocidade da
Assembléia de Deus de Canoas
Presbítero
Apenas os ocupantes da tesouraria e da secretaria da igreja são
remunerados, contratados pela Assembléia de Deus em regime de CLT, com
salário mensal de aproximadamente R$ 1.500,00
23
. Os demais trabalham de
forma voluntária.
A relação entre os responsáveis pelos departamentos e seu pastor
presidente é de submissão. A autonomia para deliberar sobre assuntos de
sua alçada é praticamente nula, uma vez que qualquer atitude tomada em
nome do departamento deve passar pela aprovação do pastor do campo de
Canoas. Não uma verba previamente fixada para cada órgão da igreja, o
que se torna outro fator limitador da atuação de seus mandatários.
Com exceção da tesouraria, da secretaria e do departamento de
patrimônio, cuja abrangência e responsabilidade dizem respeito mais a
aspectos internos do que ao contato direto com os fiéis, a atuação dos
demais é bastante pontual, limitando-se praticamente à organização e
23
Valor informado e confirmado de forma extra-oficial por membros do corpo diretivo da
igreja.
89
realização de congressos, encontros, retiros e festividades.
3.2 A carreira sacerdotal
A Assembléia de Deus de Canoas possui aproximadamente 1.400
obreiros e obreiras, mais de 10% do total de fiéis apontados pelo Censo
Demográfico de 2000. Os cargos existentes na Assembléia de Deus são, para
os homens, do menor para o maior: auxiliar, diácono, presbítero, evangelista
e pastor
24
. A mulher pode ocupar apenas o cargo de diaconisa, com
status
equivalente ao do auxiliar. Conforme registros da secretaria da igreja em
Canoas, ao final de 2007 havia 294 diáconos, 288 presbíteros, 51
evangelistas e 12 pastores. O número de diaconisas é de aproximadamente
250
25
. O número de auxiliares em Canoas é desconhecido até mesmo pela
secretaria da igreja, pois as nomeações são feitas em âmbito congregacional,
sem a necessidade de contar com o aval do corpo diretivo da denominação,
ou de comunicá-lo sobre este ato. Estima-se que na atualidade a Assembléia
de Deus canoense tenha cerca de 500 auxiliares.
Em suma, apesar de não se ter um número exato de obreiros, sabe-se
que uma significativa parcela de fiéis da Assembléia de Deus em Canoas
24
Corten (1996: p. 47) menciona que, em “seitas importantes e de antiga implantação”, os
diferentes graus hierárquicos são “auxiliar, diácono, vigário e pastor, às quais vêm juntar-
se a função, paralela, de evangélico”. Mesmo que a referência não se dirija diretamente à
Assembléia de Deus, o erro está posto uma vez que “vigário” é uma das categorias
hierárquicas do clero católico; e “evangélico” é um termo utilizado para definir o fiel
protestante, não uma função ou grau hierárquico.
25
A igreja não possui um controle ou registro que confirme o número exato de mulheres
obreiras. O número apresentado é uma estimativa feita pelo departamento do Círculo de
Oração.
90
ocupa algum cargo. Esta parcela torna-se ainda maior se considerarmos os
fiéis atuantes, que, apesar de não serem reconhecidos como obreiros,
executam atividades de importância para a organização.
Todos os cargos na Assembléia de Deus apresentam atribuições
gerais e são razoavelmente regrados, embora de maneira informal. Não é
possível queimar etapas na carreira de obreiro assembleiano, embora alguns
fiéis, por parentesco ou afinidade com algum mandatário da Assembléia,
passe do menor ao maior posto na organização em um espaço de tempo
mais curto que o normal. Caso um obreiro de outra igreja evangélica
transfira-se para a Assembléia de Deus de Canoas, o cargo que ele possuía
não é reconhecido, independentemente de qual seja. Ele pode tornar-se
novamente obreiro, desde que seja indicado para tal e, mesmo assim, deverá
iniciar pela base da pirâmide hierárquica da Assembléia de Deus.
O primeiro estágio na carreira eclesiástica de um fiel assembleiano do
sexo masculino é o de auxiliar. O responsável pela congregação tem a
liberdade de arregimentá-lo a qualquer tempo, destacando-o a partir de
então para funções menos expressivas na igreja, como, por exemplo,
distribuição de folhetos com mensagens bíblicas, de porteiro, recepcionista,
coletor de ofertas, dirigente de um departamento da igreja. A qualidade que
distingue o auxiliar dos demais fiéis é a de saber pregar na igreja, muito
embora seja raro um auxiliar receber com freqüência a incumbência de ser o
preletor do culto. A habilidade em manejar a “palavra de Deus” é vista pelos
demais obreiros e fiéis como vocação, uma marca que diferencia o aspirante
91
a auxiliar dos demais membros da igreja, uma vez que são muitos os fiéis
atuantes que também executam tarefas pertinentes aos auxiliares, mas não
receberam este cargo por não se destacarem como pregadores.
A oficialização é realizada em cerimônia de consagração, com
duração de não mais de dez minutos, realizada durante um culto
administrativo. O ato consiste no seguinte: o encarregado da congregação
comunica o nome do fiel que será consagrado um auxiliar e solicita à platéia
que a mesma diga “amém” se concorda com o ato; é pedido para que o novo
obreiro dirija-se até o altar e ali ajoelhe-se, de costas para a igreja e de
frente para os demais obreiros; é feita uma oração juntamente com a
congregação, enquanto o obreiro mais graduado coloca no polegar de sua
mão direita uma gota de óleo perfumado ou azeite e em seguida toca a testa
do fiel que está sendo consagrado, sacramentando assim o ato.
Diaconisa é o primeiro e único cargo possível para uma mulher na
Assembléia de Deus. Em geral, são esposas de obreiros, mas existem casos
de diaconisas solteiras ou que são casadas com fiéis que não ocupam cargos
na igreja e até mesmo com homens que não professam a evangélica. As
principais funções exercidas pela diaconisa são as de limpar e adornar o
templo, dar assistência espiritual e material aos membros mais necessitados
da congregação, como, por exemplo, servir a Santa Ceia na casa de quem
está adoentado, visitar os membros que estão hospitalizados ou levar
alimentos arrecadados entre os crentes até um fiel que esteja passando por
dificuldades financeiras; cuidar das crianças mais inquietas que tumultuam
92
os cultos, reger um coral, e, a principal delas, que é destinada a poucas:
comandar o Círculo de Oração. A indicação das novas diaconisas é feita pelo
encarregado da congregação, e a oficialização ocorre através de uma
cerimônia de consagração, de formato semelhante à dos novos auxiliares,
realizada em culto denominado “Assembléia Geral Anual”, que ocorre uma
vez ao ano, no mês de janeiro, no templo-sede da Assembléia de Deus
canoense.
O segundo nível na hierarquia da Assembléia de Deus é o de diácono,
cujas atribuições gerais são uma soma das funções de um auxiliar e de uma
diaconisa (com exceção da participação no Círculo de Oração e da limpeza e
adorno do templo). Ao diácono também é oportunizado participar da escala
de obreiros, formulada semanalmente pela secretaria da igreja, em que os
diáconos, presbíteros e evangelistas que se dispuserem a participar da
mesma são escalados de forma aleatória para pregar no culto de domingo à
noite, nas congregações do distrito a que pertencem. O indicado ao
diaconato deve possuir o dom da glossolalia. Deve também preencher um
termo de compromisso, no qual são solicitados alguns dados pessoais, além
de resposta às seguintes questões: “É batizado no Espírito Santo? quanto
tempo? Trabalha? É dizimista? Vai continuar sendo? quanto tempo é
crente? quanto tempo vem cooperando na Obra da Deus? Alguma vez
sofreu disciplina? Por quanto tempo? Pertenceu a outra denominação? Qual?”.
Ainda neste documento, o fiel deve dizer “sim” ou “não” ante a
seguinte pergunta: “Promete diante de Deus: Cumprir com suas obrigações
93
ministeriais; Obedecer as orientações do Ministério da Igreja; Estar presente
no culto dos obreiros todas as terças-feiras, inclusive na Santa Ceia Central
(1ª Terça-feira do mês)
26
; Nunca causar tropeços, nem embaraços ou
impedimento na Obra do Senhor; Não se envolver em questões
administrativas
27
e exercer o cargo fielmente, segundo a orientação
pastoral?”.
Após preenchê-lo e assiná-lo, o indicado ao diaconato deve entregar
o termo de compromisso à secretaria da igreja, juntamente com a seguinte
documentação: Certidão Negativa do Sistema de Proteção ao Crédito;
Certidão Negativa do Tabelionato de Protesto de Títulos; Certidão Negativa
do Cartório Civil e Criminal; comprovante de pagamento do dízimo dos
últimos doze meses.
Estes documentos são, então, repassados ao conselho distrital da
igreja, que em reunião extraordinária, realizada tradicionalmente no mês de
dezembro, analisa e discute as indicações para consagração de novos
obreiros, aprovando-as os não. Este dado difere do apontado por Rolim
(1985: p. 49), que afirma que os diáconos e presbíteros são nomeados pela
Convenção. Segundo informação obtida junto à CIEPADERGS, em todo o
estado do Rio Grande do Sul, com exceção feita aos pastores, a escolha dos
obreiros é realizada no âmbito do próprio campo, não tendo a Convenção
26
O “Termo de Compromisso” a que tive acesso, ao final do ano de 2007, ainda não havia
sido atualizado quanto ao dia da semana em que é realizado o culto dos obreiros. Desde
o final de 2006 o culto passou a ser realizado nas quartas-feiras e não mais nas terças,
como informa o documento.
27
Grifos meus.
94
parte nisto e nem mesmo ciência dos critérios que cada campo utiliza para
escolhê-los ou da quantidade de obreiros no estado do Rio Grande do Sul.
Durante a pesquisa, não encontrei registro ou informação de que em décadas
atrás este procedimento fosse diferente.
O presbítero, cargo imediatamente superior ao do diácono, tem como
principais funções a administração de uma congregação ou centro
evangelístico, a participação no ministério da igreja e a visitação aos
enfermos. Em relação a esta última tarefa, o que o difere do diácono é que
quem alcança o presbitério recebe a autoridade eclesiástica de ungir os
doentes. Este ato ritual consiste em colocar uma gota de azeite ou óleo
perfumado sobre o dedo polegar da mão direita e em seguida tocar a testa
do doente, repreendendo o mal “em nome de Jesus”. Segundo a tradição
assembleiana, este ritual pode produzir efeito curativo desde que o
executante seja, ao menos, presbítero da igreja.
No caso de ser nomeado responsável por uma determinada
comunidade de fiéis, lhe é outorgado o total comando administrativo sobre a
mesma. Para assumir este cargo (e os próximos cargos possíveis hierarquia
da Assembléia de Deus), o fiel deve, de acordo com a tradição, ser casado
com uma mulher assembleiana.
A indicação do diácono ao presbitério é feita pelo encarregado da
congregação ao encarregado distrital. Se concordar com a indicação, o
encarregado distrital encaminha o processo à secretaria da igreja, ocorrendo
praticamente o mesmo procedimento realizado com os novos diáconos:
95
preenchimento do termo de compromisso, juntada de documentação,
submissão à aprovação do conselho distrital e, em caso de aprovação,
cerimônia de consagração. A única diferença é o acréscimo da assinatura de
uma declaração-modelo, criada pela secretaria da igreja, na qual o obreiro
assume que será “o único responsável por qualquer falha que ocorrer no
cumprimento do (...) dever, confiado (
a ele
) pelo ministério da Primeira Igreja
Evangélica Assembléia de Deus de Canoas/RS”; promete “atender os
compromissos assumidos a partir (
da
) data da (...) consagração, para com
Deus, a família e a igreja, procurando viver dentro da Ética Cristã (...); e
concorda que, caso ausente-se das “reuniões de ministério, ou convocações
do pastor presidente, por três meses consecutiva (
sic
), sem justa causa, ou
justificativa (...), (
estará sujeito à
) advertência, e em persistindo a falta (...)
(será suspenso) do cargo (...)”.
O evangelista, na maioria dos casos, exerce uma atividade idêntica à
do presbítero. A exceção é feita a alguns poucos, prováveis futuros indicados
ao pastorado, que recebem a incumbência de administrar um distrito. A
indicação do evangelista deve ser efetuada pelo encarregado distrital e o
procedimento de aprovação e consagração é o mesmo do presbítero.
Após cinco anos como evangelista, o fiel pode ser indicado ao
pastorado, indicação que somente pode ser feita pelo pastor presidente do
município e deve passar pela aprovação da mesa diretora da Convenção
Estadual (CIEPADERGS). Ao ser indicado, o futuro pastor necessita apresentar
à Convenção a seguinte documentação: Certidão Negativa do Sistema de
96
Proteção ao Crédito; Certidão Negativa do Tabelionato de Protesto de Títulos;
Certidão Negativa do Cartório Civil e Criminal; comprovante de pagamento
do dízimo dos últimos doze meses; Certificado de conclusão do Ensino
Médio; Certificado de conclusão ou comprovante de matrícula em curso de
Teologia ou curso equivalente devidamente reconhecido pela igreja
28
.
Chegando ao pastorado, o fiel alcança o topo na hierarquia
eclesiástica assembleiana. Entretanto, os mecanismos de manutenção de
poder na Assembléia de Deus afastam os pastores recém-consagrados das
esferas decisórias da instituição. Um pastor pode, por exemplo, receber este
título e, até o final de sua carreira, trabalhar administrando distritos, função
esta que efetuava na posição de evangelista. Pode também, com o passar
do tempo, simplesmente ser destituído de suas funções, caindo no
ostracismo. evangelistas que foram consagrados pastores como uma
forma de homenagem pelos serviços prestados à igreja, sem com isso
exercerem qualquer função inerente ao cargo. Porém, os casos de obreiros
que foram agraciados com o pastorado e passaram a compor a elite diretiva
da Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul, são raros. A possibilidade
desta ocorrência se torna mais evidente pela via do nepotismo, embora
sejam esporádicos os casos de filhos dos grandes caciques assembleianos
seguirem a carreira de seus progenitores.
Existem discrepâncias evidentes entre a forma de ascensão de alguns
28
Os cursos teológicos reconhecidos pela Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul são,
além dos cursos universitários autorizados pelo MEC, a EETAD (Escola de Educação
Teológica das Assembléias de Deus) e o IBE (Instituto Bíblico Esperança).
97
dos filhos de pastores dentro da organização e as regras existentes para tal.
Embora poucos, existem casos de pastores e evangelistas consagrados com
não mais de 30 anos. Exemplos disso são o pastor Luciano Stein, filho do
pastor presidente do campo de Esteio, que desde muito jovem transita nas
mais altas esferas da cúpula da CIEPADERGS e da CGADB e, na atualidade, é
membro do conselho doutrinário da Assembléia de Deus no Rio Grande do
Sul e do conselho político das Assembléias de Deus no Brasil; Paulo Terra
Júnior, filho de Paulo Terra, pastor presidente do campo de Barra do Ribeiro,
que, aos 20 anos de idade e ainda solteiro, havia sido consagrado
evangelista; e o pastor Mauro Rosa, vice-presidente do campo de
Cachoeirinha, presidido pelo pastor Jerônimo dos Santos, seu pai. Porém,
estes são casos pontuais, que excluem a Assembléia de Deus gaúcha da
generalização feita por Jean-Pierre Bastian (1994, p. 126) de que “a maior
parte das igrejas pentecostais tem dirigentes que são chefes, proprietários,
caciques e caudilhos de um movimento religioso criado por eles mesmos e
transmitido de pai para filho de acordo com o modelo patrimonial e/ou por
nepotismo de reprodução”. No campo de Canoas, nos mais de 70 anos de
presença da Assembléia de Deus não existem casos de nepotismo na
passagem de cargos diretivos relevantes. Na atualidade, não sequer um
filho de pastor da Assembléia de Canoas que seja obreiro.
uma evidente divisão hierárquica entre os pastores da Assembléia
de Deus do Rio Grande do Sul, que os separa em três escalões, sendo a
barganha política nas eleições para a Convenção Estadual a forma mais
98
rápida de ascensão de um nível para outro, uma vez que o voto de todos os
pastores possui o mesmo peso, abrindo a possibilidade de se obter a
promessa de função remunerada em troca de engajamento na campanha. Em
linhas gerais, estas categorias hierárquicas podem ser assim definidas:
O primeiro escalão é composto pelos grandes caciques da Assembléia
de Deus no estado, que são os pastores dos maiores campos e os
componentes da mesa diretora da Convenção Estadual. Alguns, além de
exercer o pastorado, dedicam-se à vida política, à carreira de escritor de
livros evangélicos e/ou de pregador profissional (atualmente o termo da
moda na Assembléia de Deus é “conferencista”), dentre outros tantos
trabalhos. São todos assalariados. O valor da remuneração de um pastor
deste escalão é fixo e definido por ele próprio, que deve apenas ter o
cuidado de não extrapolar a receita líquida de seu campo. A origem do poder
da grande maioria deles remonta aos primórdios da igreja no Rio Grande do
Sul. Muitos são os primeiros obreiros nomeados pelos missionários
fundadores da Assembléia de Deus no estado, ou então filhos destes
pioneiros.
No segundo escalão estão os pastores presidentes de campos
pequenos. Da mesma forma que os primeiros, são assalariados e possuem o
poder de fixar o valor de sua remuneração, mas por trabalharem em locais
onde baixa arrecadação de dízimos e ofertas, seus salários acabam por
ser baixos se comparados com os da elite pastoral. A ascensão ao primeiro
escalão é pouco provável, pois seus pares mais influentes se revezam na
99
administração dos grandes centros do estado. Entretanto, a morte ou
aposentadoria de algum pastor importante do estado abre a possibilidade
de, através de algum tipo de negociação, um pastor do segundo escalão
ascender ao primeiro. Mas o mais freqüente é manter-se até o final da vida
com o mesmo
status
ou declinar para o nível abaixo, que pode ocorrer por
falta de afinidade política com quem está no poder da CIEPADERGS ou por
falência financeira de seu campo. Neste último caso, a Convenção Estadual
intervém, destituindo o pastor presidente e incorporando o campo a outro
maior - não necessariamente da mesma região geográfica - que demonstre
interesse em espraiar seus domínios.
No terceiro escalão encontram-se aproximadamente 80% dos
pastores filiados à CIEPADERGS. Este grupo é formado pelos novos pastores
que não estão devidamente apadrinhados para alçar vôo dentro da estrutura
administrativa da igreja e os mais antigos que não foram enviados para
pastorear um campo. Via de regra, estes obreiros exercem a mesma função
dos evangelistas ou então a de pastor vice-presidente, figura decorativa
sem função específica. Nenhum deles é remunerado pelo exercício de
função pastoral. Em Canoas, os pastores que exercem a função de
encarregados distritais recebem R$ 300,00 mensais, como ajuda de custo
para combustível e manutenção do automóvel. Porém, esta é uma questão
de economia interna de cada campo, que é autônomo para deliberar sobre
esta questão.
O final da carreira de um pastor, independentemente da sua
100
importância na hierarquia da igreja, é o jubilamento
29
. A responsabilidade
de pagar o pastor jubilado é do último campo onde este trabalhou, e o
salário será o mesmo que ele recebia quando em atividade. Nos casos em
que o pastor jubilado não era remunerado, ele passa a receber um salário
mínimo mensal. O pagamento de salário aos pastores inativos não chega a
ser um peso para a igreja, pois geralmente eles abandonam (quando
abandonam) seus postos de trabalho bem idosos, normalmente quando a
doença ou a falta de lucidez os impede de prosseguir.
No município de Canoas, o tempo médio levado por seus 12
pastores entre a designação para auxiliar e para o pastorado, foi de
aproximadamente 16 anos. Um período consideravelmente longo, em
patamares semelhantes aos das igrejas protestantes históricas, embora as
exigências assembleianas não sejam as mesmas:
“[Na Igreja Congregacional] O aluno pode fazer o curso de
educação teológica (de nível técnico) ou de bacharelado, para o
qual é obrigatório o segundo grau. ‘Após quatro anos de
estudo, ainda o estágio de um ano, monitorado por uma
comissão. A ordenação ocorre depois desse período, e
ainda depende de aprovação em prova escrita e numa
argüição’, esclarece [Paulo Leite da costa, presidente da União
das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil]. (...) [A
Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, IECLB]
ordena ao ministério o candidato que tem curso de
bacharelado em teologia. Além disso, também exige um
período prático de habilitação de um ano. Mais disseminada no
sul do país, a IECLB possui um seminário de formação pastoral
em São Leopoldo (RS), por onde se graduam de 20 a 30
29
Termo utilizado para caracterizar a aposentadoria do pastor.
101
bacharéis por ano. (...) a trajetória de um candidato a sacerdote
luterano é longa e difícil, podendo chegar a mais de cinco anos
(...). [Na Igreja Presbiteriana do Brasil] ‘Quem se sente
vocacionado para o ministério deve ser examinado
primeiramente pelo conselho da igreja local’, explica o
reverendo Guilhermino Cunha, presidente do Supremo Concílio
da Igreja Presbiteriana do Brasil. ‘O aspirante é enviado ao
Presbitério, e, se aprovado, pode fazer o vestibular para o
seminário.’ O curso superior de teologia, ministrado em um
dos seis institutos da denominação espalhados pelo Brasil, tem
duração de cinco anos, mas entra quem tem segundo grau
completo e é aprovado no exame vestibular específico. Depois
de formado, o candidato é novamente examinado pelo
Presbitério e, sendo aprovado, inicia um período de
licenciatura de um a três anos, durante o qual pode pregar o
Evangelho, mas tutorado por um pastor. (...) [Na Igreja
Metodista do Brasil] a formação de um pastor metodista tem
duas fases: um curso básico, de dois anos, e o de teologia, que
dura mais três. Após formado, o teólogo passa por um período
de acompanhamento que dura quatro anos, quando é
observado por uma comissão ministerial. Somente depois de
satisfeitas todas estas etapas que podem durar até dez anos
é que o candidato é ordenado pastor. (...) [Com mais de mil
alunos, o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
vinculado à Convenção Batista Brasileira, oferece cursos] em
três níveis: bacharelado, com duração de quatro anos;
mestrado, por um período de três anos; e doutorado, de
quatro anos” (
Vinde
, n. 10, ago./1996, apud. Mariano, 2001: p.
336- 337).
Enquanto nos exemplos mencionados acima, as barreiras para
alcançar o pastorado são a formação teológica, estágios probatórios,
provas, exames e argüições, na Assembléia de Deus canoense as barreiras
para tornar-se pastor são de cunho sobrenatural, uma vez que é a
“revelação divina” dada ao pastor presidente da igreja, crê-se, que deve
102
determinar a posição de cada fiel na hierarquia assembleiana. Quanto ao
aprendizado do obreiro, diferentemente do protestantismo histórico, o que
o determina durante a longa trajetória entre o menor e o maior cargo na
Assembléia de Deus é a prática. Tanto que somente dois pastores
assembleianos de Canoas possuem formação superior em teologia. Os
demais apenas concluíram o ensino médio, sendo que alguns, consagrados
em períodos anteriores à formalização pela CIEPADERGS da exigência de
formação teológica de nível superior ou em curso livre, nem sequer
freqüentaram alguma aula de teologia.
Entretanto, não obstante a pequena taxa de pastores em relação ao
total da membresia local (12 para um universo de mais de 9.000 membros)
e o longo tempo de espera para alcançar o topo da pirâmide hierárquica da
organização, estes não são fatores impeditivos ou que causem prejuízo para
o crescimento da igreja. Embora a assertiva de Mariano (2001, p. 338), que
quanto menor for o número de novos pastores em especial nas igrejas
que não incentivam os leigos a criar grupos de oração e núcleos de
evangelização, que funcionam como embriões de futuras congregações –,
tanto menor será a expansão denominacional”, haja vista o papel
fundamental desempenhado pelos pastores “no crescimento de qualquer
igreja, como, por exemplo, abrir congregações e recrutar adeptos”, este
papel pode ser cumprido, na Assembléia de Deus, no caso da abertura de
congregações, também por presbíteros e evangelistas e, em relação ao
recrutamento de adeptos, até mesmo por neófitos na fé.
103
3.3 A forma de governo eclesiástico
Rubem César Fernandes (1994), em análise sobre as denominações
evangélicas na região do Grande Rio, subdivide em três categorias as formas
de governo eclesiástico no protestantismo: “Representativo”, “Tradicional” e
“Carismático” (p. 194).
Ao modelo representativo correspondem as seguintes características:
“A nível local (
realiza-se a)
eleição dos oficiais dirigentes da
comunidade, para mandatos renováveis, em assembléias
compostas pelos membros da comunidade. Mecanismos
formais de controle, como atas, prestação de contas, conselhos
deliberativos etc. são comuns.
A nível da denominação como um todo, elege-se
periodicamente órgãos dirigentes regionais e nacionais através
de colégios eleitorais representativos das comunidades locais”.
(ibid.)
O modelo tradicional é oriundo de “formas de governo eclesial que
foram problematizadas pela Reforma Protestante e que no entanto
sobreviveram à tormenta, impondo-se como alternativas vivas no contexto
evangélico contemporâneo” (ibid.). Estas formas são três, caracterizadas
pela: adoção de uma “ênfase sacramental”, em que a prática litúrgica
assemelha-se à do catolicismo; generalização de padrões retirados da esfera
do parentesco, que podem ser manifestos no plano local em um domínio
familiar na estruturação hierárquica da comunidade e, a um nível mais
amplo, no domínio de uma determinada igreja sobre suas filiais; distinção
104
étnica ou nacional na formação da comunidade.
Por fim, o modelo carismático, é assim descrito por Fernandes:
(...) “não igreja sem 'o poder do Espírito'. Sua fundação,
segundo o relato bíblico, ocorreu justamente com o
Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os
apóstolos reunidos. O carisma de uma pregação, de um hino,
de uma oração é elemento constituinte do ato. Os evangélicos
oram antes de comer ou de votar. No entanto, a polaridade
tipicamente protestante entre “rotina e carisma” lugar a
formas de governo que ampliam o campo de expressão do
Espírito que se movimenta com liberdade por entre as regras
formais. Mas aqui também variações. O poder carismático
pode enfatizar a autonomia local, ou, ao contrário, a
centralidade da denominação. Pode valorizar a pessoa do líder,
veículo privilegiado da Revelação, ou, ao contrário, coibir
personalismos, distribuindo-se de maneira imprevista pelos
membros da comunidade (...)” (ibid.: p. 145).
A fórmula “T/t (R + c)”, adotada por Fernandes (1994: p. 197), que
significa a predominância de um subtipo do modelo tradicional, o tradicional
intermediário (nem centralizado nem com autonomia local), combinado com
as formas representativa e carismática com autonomia local (subtipo do
modelo carismático), exprime a visão do autor sobre a forma como é
administrada a Assembléia de Deus na Região Metropolitana da capital
fluminense. Na Assembléia de Deus de Canoas, encontram-se características
inerentes a dois destes modelos de governo eclesiástico: representativo
centralizado e carismático com autonomia local. A diferença está na
categoria “Tradicional”, que no Grande Rio é caracterizado pelo subtipo
“intermediário”, enquanto em Canoas é o “centralizado”, formato que
105
predomina e evidencia características ímpares na estrutura administrativa na
Assembléia deste município.
3.3.1 Representativo centralizado (R): Na Assembléia de Deus de
Canoas uma certa parcela de representatividade no âmbito
denominacional, que diz respeito à participação dos pastores canoenses nas
eleições das Convenções Estadual e Nacional. Entretanto, não
correspondência com este modelo a nível local.
O que se aproxima deste modelo é a “Assembléia Geral Anual”,
realizada na Assembléia de Canoas tradicionalmente ao final do primeiro
mês de cada ano, para a qual os membros da igreja no município são
convocados. Nesta reunião são determinadas aos fiéis as diretrizes para o
corrente ano. É também realizada uma cerimônia de consagração de obreiros
e obreiras e efetuada a leitura do relatório administrativo, em que constam
dados sobre o ano anterior, relativos à quantidade de pessoas aceitas por
transferência de outras denominações evangélicas ou da Assembléia de Deus
de outro município, de pessoas reconciliadas (readmitidas), de batizados, de
pessoas excluídas do rol de membros, etc.; do relatório financeiro de cada
departamento da igreja; e do relatório financeiro geral. Por fim, é divulgada a
nominata dos encarregados de cada distrito, momento mais esperado pelos
fiéis que assistem à reunião. Entretanto, em meio a isto tudo, aos fiéis cabe
tão-somente o papel de assistir e, ao final de cada leitura ou ato, concordar.
A solicitação do pastor presidente para que a platéia, caso aprove o
106
que foi dito, diga “amém” em alto e bom som, pode indicar um nível razoável
de participação dos fiéis nas decisões tomadas por seu dirigente. Entretanto,
não ocorre desta forma. Segundo alguns informantes, dentre eles alguns
obreiros que ocupam cargos de prestígio na instituição, nunca um membro
ousou contestar publicamente o pastor presidente. E mesmo que haja uma
voz discordante, será apenas um “amém” a menos, que passa despercebido
em meio a um ruidoso “amém” coletivo, proferido por cerca de mil pessoas
que lotam o templo nesta reunião. Este número de fiéis, aliás, indica falta de
participação dos assembleianos, haja vista que, em 2000, o Censo
Demográfico do IBGE registrara mais de doze mil fiéis da Assembléia de
Deus na cidade de Canoas. O clima de mistério e especulação ronda os dias
que antecedem a Assembléia. Os próprios membros do corpo diretivo da
igreja, dentre os quais serão escolhidos os mandatários de cada distrito,
limitam-se a especular as possíveis ou prováveis mudanças anuais, pois o
pastor presidente não antecipa a eles a decisão sobre seus destinos. As
decisões tomadas pelo chefe maior da denominação em Canoas são
irrevogáveis. E mais, as decisões são tomadas exclusivamente por ele, sem
consulta prévia a fiéis, obreiros ou a alguma outra instância administrativa. O
único consultado, segundo palavras do próprio pastor, “é Deus”, que,
segundo a tradição assembleiana, fala diretamente com o pastor,
inspirando-o, orientando-o sobre o que deve ser mudado e o que deve
permanecer como está. Sobre isto, aliás, cabe destacar uma interessante
dicotomia: faz parte do credo da Assembléia de Deus que as decisões
107
tomadas por seus dirigentes são provenientes da vontade do próprio Deus,
vontade que é perfeita, imutável e incontestável; ao mesmo tempo, muitos
fiéis não poupam críticas às referidas decisões, negando, mesmo que não de
forma direta, seu caráter divino.
Uma possível representatividade dos fiéis também pode ser vista no
“Culto Administrativo”
30
,que é realizado em todos os templos da Assembléia
de Deus em Canoas na primeira quinta-feira de cada mês. Este culto, como o
próprio nome diz, embora seja aberto à comunidade é quase que
exclusivamente dedicado à exposição de assuntos que dizem respeito à
organização administrativa da igreja, referentes ao mês anterior, tais como a
leitura da relação de dizimistas e o respectivo valor do dízimo, o montante
arrecadado com ofertas, as despesas, o nome de fiéis que receberam
sanções disciplinares por cometerem algum pecado considerado grave (em
algumas congregações divulga-se inclusive o tipo de pecado cometido), os
fiéis reintegrados à comunidade, etc. Após cada leitura, os fiéis são
questionados pelo encarregado da congregação se aprovam ou desaprovam
o ato ou relatório lido e, nos mesmos moldes do “amém coletivo” da
Assembléia Geral Anual, eles emitem sua opinião. Porém, nos cultos
administrativos em que estive presente, sempre que foi solicitada a
manifestação da congregação sobre algum ato ou decisão a ser tomado, a
aprovação foi ampla e irrestrita, mesmo em casos mais delicados, como os
30
Fernandes (1994: p. 200) faz menção à realização de “assembléias dos membros da igreja
local”, realizadas semanalmente no Rio de Janeiro, às terças-feiras. De acordo com
informações que obtive através de pastores da Assembléia de Deus canoense, estas
“assembléias” são equivalentes ao “Culto Administrativo” aqui descrito.
108
de desligamento ou disciplina de membros. Não obtive informação de ter
ocorrido algum caso de contestação por parte de fiéis, mas, de acordo com
todos os obreiros entrevistados, em caso de contestação a decisão final fica
a cargo do dirigente da congregação. Ele pode, se quiser, reunir-se com os
demais obreiros e tomar conselho com os mesmos, mas a decisão é única e
exclusivamente sua.
No decorrer desta pesquisa, lendo algumas atas antigas encontrei um
fato bastante interessante que diz respeito à participação dos fiéis
assembleianos em Canoas: no ano de 1989, na congregação Mato Grande,
foi realizado um abaixo-assinado para que o encarregado distrital da época
nomeasse encarregado daquela congregação um determinado presbítero,
hoje pastor presidente da Assembléia de Deus do município de Coronel
Bicaco/RS. Consultei alguns informantes, a maioria deles obreiros, que
confirmaram não ser raro a organização de abaixo-assinados solicitando a
nomeação de um determinado obreiro como encarregado de congregação ou
encarregado distrital. O contrário também ocorreu: abaixo-assinados
pedindo a destituição do obreiro responsável pela congregação ou pelo
distrito. Entretanto, este caso é
sui generis
, quiçá surreal, uma vez que o
número de membros que assinaram este abaixo-assinado era maior que o
dobro do total de membros que a congregação possuía na época: eram 36
membros registrados, enquanto 76 membros assinaram. Acrescente-se a
isso um registro em ata, mencionando que houve, posteriormente à
realização do abaixo-assinado e aceite do mesmo, uma reunião com os
109
obreiros da congregação, na qual alguns mostraram-se contrários ao que foi
deliberado, indicando que não assinaram este documento.
O abaixo-assinado em questão foi extraviado e a maioria das pessoas
que vivenciaram este acontecimento preferiram não comentá-lo, sendo que
algumas foram inclusive hostis quando mencionei o assunto. Em princípio,
apenas sete pessoas dispuseram-se a falar, das quais seis disseram não ter
assinado. A única pessoa que participou do abaixo-assinado e aceitou falar
sobre o assunto disse que à época tinha 16 anos, era membro da Assembléia
de Deus e, atendendo a um pedido do presbítero que fora beneficiado com o
ocorrido, assinou, em uma lista pré-elaborada pelo mesmo, o próprio nome
e o nome de algumas pessoas que haviam sido membros daquela
congregação, mas que haviam mudado para outras localidades e até mesmo
falecido. Ele ainda indicou-me outros dois antigos membros da igreja que
fizeram o mesmo. Destes, o primeiro procurado, que não é mais membro da
Assembléia de Deus nem freqüenta outra igreja evangélica ou outra religião,
confirmou a história, mas não quis comentar sua participação no ato; a outra
pessoa, que era adolescente de 13 anos na época e hoje é obreiro da
Assembléia de Deus, encerrou a conversa quando o questionei sobre o
assunto. Busquei a palavra do presbítero e do evangelista envolvidos
diretamente no assunto na época, mas foi-me negado qualquer tipo de
esclarecimento. Optei por não pesquisar mais sobre este acontecimento, pois
seus pormenores não dizem respeito a este trabalho. De todo modo, pela
forma como ocorreu, este fato indica claramente a nulidade da participação
110
dos fiéis assembleianos nas decisões tomadas pela sua diretoria, uma vez
que no único fato em que encontrei fiéis que supostamente se mobilizaram
em torno de uma reivindicação e foram atendidos, os reais motivos da
articulação do movimento e do aceite do mesmo devem ser colocados sob
suspeição.
A falta de participação na Assembléia de Deus de Canoas não fica
apenas no âmbito dos fiéis, mas estende-se também aos obreiros, em
especial aos auxiliares, diáconos e presbíteros, que ficam alheios às
ocorrências administrativas. Os presbíteros que recebem a função de
encarregado de congregação exercem seu poder sobre a mesma, mas não
possuem poder algum em relação ao campo como um todo. Os membros do
ministério da igreja, embora participem de reuniões periódicas com o pastor
presidente, apenas tomam conhecimento de parte das medidas e resoluções
do pastor presidente, mas não detém poder de veto ou de proposição.
O único órgão realmente efetivo na administração da igreja, embora
parcialmente, é o conselho distrital. Conforme mencionado anteriormente,
seus membros são responsáveis pela aprovação dos nomes dos indicados a
diáconos, presbíteros e evangelistas. Participam também, em caráter
consultivo, de decisões que implicam em um comprometimento financeiro da
instituição, como na aquisição de terrenos, construção de templos, reformas,
contratação de funcionários, ou nos investimentos que são feitos para
sustentar e ampliar o trabalho missionário mantido pela Assembléia de Deus
canoense. Nestes casos, após solicitação feita pelo obreiro interessado
111
(encarregado de distrito ou líder de departamento), o assunto é discutido
entre os membros do conselho e o pastor presidente, sendo este último
quem de fato decide.
Em nível denominacional uma certa conexão com o modelo
“Representativo centralizado”, uma vez que os órgãos dirigentes estadual
(CIEPADERGS) e nacional (CGADB) realizam eleições periódicas, sendo os
pastores partícipes do escrutínio. Cabe frisar, entretanto, que embora os
pastores canoenses representem a sua respectiva igreja, os fiéis comuns
ficam à margem das questões políticas.
As últimas eleições para a diretoria da CGADB foram realizadas em
abril de 2007. Da Assembléia de Deus de Canoas dois pastores viajaram até
São Paulo para votar. O voto destes pastores foi divulgado em uma reunião
do ministério anterior à viagem. A opção de ambos pelo candidato de
oposição ao grupo que está no poder cerca de três décadas foi justificada
pela necessidade de apoiar a candidatura, pela chapa de oposição, do
presidente da CIEPADERGS ao cargo de vice-presidente da Convenção
Nacional. Além disso, fatores regionais foram evocados. Foram preconizadas
as possíveis vantagens que seriam obtidas no caso de eleger um candidato
em cuja chapa se fazia presente um representante gaúcho. Entretanto, o
assunto foi debatido apenas em âmbito diretivo, sem que os fiéis estivessem
cientes do assunto.
Em nenhum dos cerca de 50 cultos que observei durante esta
pesquisa de campo foi sequer feita menção à realização das eleições para a
112
CGADB e nem mesmo foi divulgada aos fiéis a nominata dos eleitos pós-
apuração do resultado. As únicas questões políticas abordadas que pude
constatar não dizem respeito à política institucional da denominação, mas à
política partidária: em alguns cultos, especialmente mas não apenas os
que antecederam as eleições nacionais e estaduais no ano de 2006, muitos
obreiros fizeram uso do púlpito para aconselhar os fiéis a orar antes de votar
para não fazer uma opção errada, enquanto outros, indo além, expuseram
com muita clareza sua oposição ao voto no Partido dos Trabalhadores. As
acusações, proferidas por vários obreiros, pairaram principalmente sobre
fatos subjetivos: uma possível aversão dos petistas às igrejas evangélicas e
seu desejo incontido de fechar os templos; uma provável ligação da diretoria
do PT com a feitiçaria; e a suposta criação de uma Lei que obrigaria os
evangélicos a aceitar homossexuais em seu rol de membros. Em um culto, os
fiéis, não nominalmente, foram advertidos a não “andarem por com
bandeiras e adesivos do PT”, por este partido ser “contra a palavra de Deus”.
Mesmo após as eleições a política brasileira foi tema de algumas mensagens
de obreiros. a participação ou simplesmente a ciência dos fiéis sobre os
assuntos administrativos, como o exemplificado é, na prática, inexistente.
3.3.2 Carismático com autonomia local (c):
“(...) a qualidade carismática das lideranças nas igrejas locais é
uma marca distintiva para a Assembléia. Com efeito, na
carreira eclesial que vai de auxiliar de trabalho a diácono,
presbítero, evangelista, pastor, pastor presidente, a pessoa não
tem chance de passar do primeiro nível (auxiliar de trabalho) se
113
não for dotado do dom espiritual da glossolalia, a língua
estranha e sagrada despertada no fiel pela presença do Espírito
Santo” (Fernandes, 1994: p. 200).
Na Assembléia de Deus de Canoas, o dom espiritual da glossolalia é,
além de pré-requisito para que o fiel ultrapasse o primeiro nível hierárquico
da organização, um sinal distintivo entre os fiéis, um “selo divino” na vida da
pessoa, como dizem os assembleianos. Quando o fiel obtém este dom
considera-se que ele foi batizado pelo Espírito Santo. Um ambiente propício
a este acontecimento é preparado em campanhas de oração e cultos
específicos, em que as músicas cantadas, a pregação e as orações são
direcionadas à busca desta manifestação divina.
Em todos os cultos destinados a este fim que tive a oportunidade de
acompanhar, percebi características comuns: o tom de voz do pregador era
bastante alto, fugindo da normalidade; as músicas cantadas enfatizavam a
presença da Espírito Santo em meio à congregação e eram intercaladas por
longos momentos de solos instrumentais, em que os cantores utilizavam
expedientes como falar em línguas estranhas, saltar, levantar as mãos aos
céus, além de dirigir-se à congregação com citações bíblicas e palavras de
incentivo à busca da presença de Deus naquele ambiente, solicitando que os
fiéis dessem as mãos ou se abraçassem ou ainda cantassem uma música
espontânea de louvação a Deus; e a oração feita tradicionalmente ao final da
pregação, em que os fiéis são convidados a dirigir-se até o altar, tornava-se
um momento de completo frenesi: conclamados pelo pregador a abraçar o
“irmão” ao lado, colocar a mão no coração, soltar o corpo e a mente para
114
receber o Espírito de Deus, parte dos fiéis entravam em transe, irrompendo
em glórias a Deus, dançando, gritando, caindo no chão, batendo palmas,
saltando e, principalmente, falando em línguas estranhas. Alguns fiéis, ainda,
impõem suas mãos sobre outros, acentuando mais este processo. Após
encerrado este período de manifestação, via de regra o obreiro passa a
perguntar quem falou em línguas pela primeira vez, apresentando em
seguida o recém batizado com Espírito Santo para a congregação.
Em 1993, após muitas orações e participação em cultos de busca do
Espírito Santo, vivi uma experiência semelhante a esta, embora não tenha
alcançado a finalidade que almejava. No momento final de uma reunião,
quando ainda muitos crentes estavam vivendo momentos de transe como os
acima narrados, um presbítero colocou as mãos sobre a minha cabeça,
apertou-a com bastante força por um longo tempo e, em seguida, falou-me
ao ouvido palavras que eu deveria repetir para receber o Espírito Santo. Eram
palavras totalmente estranhas às que, aos 13 anos de idade, eu ouvira.
Para minha surpresa, após obedecer ao pedido deste obreiro, repetindo pela
primeira vez o que me foi solicitado, um de meus braços foi erguido pelo
mesmo, que, fazendo uso do microfone e, apontando para mim, disse à
congregação que Deus havia me batizado com o Espírito Santo. Embora
nunca tenha crido na ocorrência desta manifestação em minha vida, daquele
momento em diante passei a ter outro
status
dentro deste grupo religioso,
sendo incentivado pelos demais fiéis a buscar outros dons e solicitado a orar
em favor dos adolescentes que ainda não haviam sido “selados” por Deus,
115
para que vivenciassem esta experiência.
Outra importante forma de manifestação do caráter carismático diz
respeito à submissão dos fiéis às autoridades eclesiásticas. O carisma do
pastor presidente da Assembléia de Deus em Canoas é reconhecido por suas
qualidades de orador. Os títulos escolares, estadas em outras regiões do
Brasil e no exterior, passagens por cargos na CIEPADERGS, larga experiência
administrativa e habilidade de comunicação formam um capital cultural de
autoridade pastoral. Os outros pastores e obreiros do município não
equiparam-se a seu presidente em nenhum dos itens que compõem este
capital. Ademais, pelo fato de nos 28 anos de pastorado do pastor Edegar, a
igreja ter crescido enormemente em patrimônio e se tornado superavitária,
passando inclusive a investir na aquisição de terrenos e templos, bem como
no envio e sustento de missionários, no Senegal, no Paraguai, no Uruguai e
no Ceará, estes feitos são propagandeados, procurando justificar o caráter
divino da administração atual.
A transparência, no tocante às finanças da denominação, é
freqüentemente mencionada aos fiéis, visando também justificar a eficiência
da administração do pastor Edegar, além de ser usada como meio de
propaganda contra o avanço da Igreja Universal do Reino de Deus, acusada
pela cúpula assembleiana no município de explorar financeiramente sua
clientela. A leitura do relatório financeiro referente ao exercício anterior,
realizada a cada Assembléia Geral Anual, é aberta a todos que assistirem esta
reunião. Apesar de muitos itens serem nominados de forma genérica, o fiel
116
pode ter uma noção da saúde financeira da denominação e do destino de
seus dízimos e ofertas. A Tabela 6 contém os dados financeiros da
Assembléia de Deus em Canoas no exercício do ano de 2007:
Tabela 6. Assembléia de Deus de Canoas. Relatório financeiro exercício
2007.
Item Discriminação Valor
1 Total de receitas R$ 2.452.646,18
1.1 Ofertas R$ 143.219,73
1.2 Ofertas para missões R$ 176.982,17
1.3 Dízimos de fiéis R$ 1.418.330,80
1.4 Dízimos de obreiros R$ 699.466,65
1.5 Saldo do exercício anterior R$ 14.646,83
2 Total de despesas R$ 2.427.129,21
2.1 Água, luz e telefone R$ 143.136,41
2.2 Salários R$ 55.317,00
2.3 Renda eclesiástica R$ 253.503,00
2.4 Prestação de serviços R$ 318.810,91
2.5 Ajuda de custo R$ 336.733,13
2.6 Combustível e conservação de veículos R$ 34.200,78
2.7 Material de limpeza R$ 33.236,87
2.8 Despesas diversas R$ 46.065,45
2.9 Despesas com contador R$ 14.479,45
2.10 INSS R$ 33.514,17
2.11 FGTS R$ 5.423,50
2.12 Equipamentos de som R$ 13.543,59
2.13 Material de expediente R$ 9.334,38
2.14 Cestas básicas R$ 12.374,54
2.15 Obras e conservações R$ 400.865,03
2.16 Rádio e televisão R$ 38.403,00
2.17 Missões R$ 213.969,51
117
Item Discriminação Valor
2.17.1 Uruguai R$ 151.575,77
2.17.2 Paraguai R$ 53.893,74
2.17.3 Senegal R$ 4.900,00
2.17.4 Ceará R$ 3.600,00
2.18 CIEPADERGS R$ 22.406,00
2.19 Despesas bancárias R$ 8.949,96
2.20 IPTU R$ 12.563,29
2.21 Planos de saúde R$ 85.399,04
2.22 Processos judiciais R$ 11.593,70
2.23 Doações R$ 10.621,70
2.24 Aluguéis R$ 81.588,94
2.25 Despesas administrativas R$ 216.739,86
2.26 Auxílios representações R$ 14.356,00
3. Saldo R$ 25.516,97
3.3.3 Tradicional (T):
O modelo de governo eclesiástico tradicional centralizado (T) é o que
predomina sobre os demais na Assembléia de Canoas. Ele se caracteriza pelo
exercício do poder autocrático, centralizado no pastor presidente.
O pastor Edegar de Souza Machado, responsável pelo campo de
Canoas, nascido em 1933 no estado de Alagoas, está no poder da
Assembléia de Deus no município desde maio de 1979. Homem erudito,
graduado em Teoria Musical, Jornalismo e Teologia, doutor em Divindade
pela Faculdade de Teologia da Filadélfia (USA), Comendador da Ordem
Internacional dos Jornalistas, e escritor de literatura evangélica, goza de
profundo respeito na comunidade canoense, tendo recebido em 2007 o título
honorífico de “Cidadão de Canoas”. É um dos grandes caciques da
118
Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul. Foi por duas vezes presidente da
CIEPADERGS e pertence ao grupo que atualmente está no poder na
Convenção. Na Assembléia de Deus de Canoas é, segundo a maioria dos
entrevistados e informantes, uma figura moderada, porém conhecida pela
rudez com que trata os fiéis quando contrariado ou desafiado. A relação dos
fiéis com o pastor é de respeito e ao mesmo tempo temor. Não poucas
pessoas utilizaram a expressão “anjo da igreja” ao se referirem a ele,
mencionando que suas decisões não devem ser questionadas, uma vez que
ele é o representante escolhido por Deus e, por esta condição, deve ser
obedecido. alguns membros e obreiros da igreja que se posicionam
contra as atitudes de cunho administrativo tomadas por ele, mas reconhecem
que nada podem fazer a não ser “orar”, uma vez que suas decisões são
incontestes.
Diferentemente do estereótipo atribuído aos preletores pentecostais,
a forma com que o pastor presidente da Assembléia de Deus canoense
aborda a sua mensagem assemelha-se ao de um professor. Sua fala é serena
e os textos bíblicos e explanação dos mesmos são intercalados por
momentos de irreverência e chistes. Em nenhum momento presenciei o
pastor da Assembléia de Canoas mencionar algo que se assemelhe à fala dos
pregadores da teologia da prosperidade, tampouco fez promessas ou
orações para cura e batismo no Espírito Santo. O silêncio e atenção com que
os fiéis o ouvem é incomum para uma igreja pentecostal.
Ao atribuir à Assembléia de Deus no Grande Rio a predominância da
119
tipologia “Tradicional intermediário”, Rubem César Fernandes assim a
descreve:
“Organiza-se por 'ministérios' numa forma que lembra as
linhagens dos parentescos tradicionais. Uma igreja bem
constituída forma um 'ministério' composto pelo conjunto de
oficiais da igreja. Intensamente proselitista, envia em várias
direções evangelistas e missionários para criarem novas
congregações. Estas 'filiais' ficam vinculadas ao Ministério da
igreja 'Mãe', numa relação que combina apoio num sentido
com dependência no outro. Uma filial que evolua e se estruture
como igreja forma o seu próprio ministério, por sua vez,
passando a criar novas filiais. Esta terceira geração tem um
vínculo mais forte com a igreja que lhe deu origem, mas
continua pertencendo ao primeiro Ministério (...).
A relação entre cada Ministério e seu 'campo' (filiais, filiais de
filiais, etc.) não tem uma relação lógica com o território (...).
Os diversos Ministérios cruzam-se pelos espaços da cidade,
gerando uma complexa rede de segmentações. Vez por outra,
em função de conflitos de variada motivação, um ponto da
rede se rompe, dando início a um novo Ministério
independente, ou mesmo a uma nova denominação (...)” (ibid.:
p. 197-198).
No Estado do Rio Grande do Sul e, por conseguinte, em Canoas, a
estrutura organizacional é, neste sentido, bastante distinta do exemplo do
Grande Rio, organizando-se por “campos”
31
.
De semelhante, apenas a
constituição de um “ministério composto pelo conjunto de oficiais da igreja”,
mas o significado de ministério é diferente do abordado por Fernandes.
“Ministério” possui, na Assembléia de Deus gaúcha, dois significados:
O primeiro significado para ministério refere-se à estrutura
31
Ver o tópico “Campos”, neste capítulo.
120
administrativa da Assembléia de Deus. Ministério é o nome dado para o
conjunto dos presbíteros, evangelistas e pastores do campo. Utilizando o
exemplo de Canoas, os 288 presbíteros, 51 evangelistas e 12 pastores
lotados nesta cidade compõem o ministério da Assembléia de Deus, que
nada mais é que a cúpula dos obreiros da igreja;
O segundo significado, que diz mais respeito ao “chamado”, que, crê-
se, alguns fiéis tenham recebido do próprio Deus para efetuar alguma
atividade em prol de seus desígnios. O fiel que prega, canta em um coral,
banda ou executa solos musicais; que é instrumentista, que profetiza, que
atua com eficiência em um departamento da igreja, para citar alguns
exemplos, o faz porque Deus o “chamou” para este trabalho, porque Deus
lhe deu aquele ministério.
Não há, no Rio Grande do Sul, caso de ministério estruturado na
forma como o é na região do Grande Rio. Ao contrário, a CIEPADERGS não
reconhece uma Assembléia de Deus que porventura venha a ser organizada
nesses moldes. O único modelo aceito é o de campos, submissos ao poder
da Convenção Estadual.
O caso mais célebre em território gaúcho, de um ministério criado à
revelia da Convenção, é o da Igreja Pentecostal Assembléia de Deus
Ministério da Restauração, mencionado no tópico “CIEPADERGS”. Segundo a
versão do pastor Humberto Schmidt, líder do movimento dissidente, no ano
de 2003, através de profecias, visões e sonhos, ele fora avisado que,
através da sua pessoa, “Deus teria uma grande obra para realizar”, “que um
121
novo ministério iria se erguer”, “que (ele) seria pastor de pastores”, “que
deveria iniciar uma nova obra no Brasil”. No site oficial do Ministério da
Restauração
32
consta a história de que certa feita, passeando juntamente com
sua esposa e um casal de amigos estadunidenses pelo centro de Porto
Alegre, o referido pastor fora abordado por um ancião que, “em plena
calçada, começa a profetizar, que nos próximos dias Deus estaria levantando
um ministério de doutrina em Porto Alegre, e que o escolhido para liderar
esse movimento (...)” seria ele. Embasado nestas mensagens em face dos
“desmandos (e) desvios doutrinários, inaceitáveis perante os princípios
bíblicos sempre esposados pelas Assembléias de Deus”, o pastor dissidente,
que afirma ter sido fervoroso defensor da unidade da Assembléia de Deus a
que pertencia, desfilia-se desta igreja e funda seu próprio ministério. Em 14
de abril de 2004, data cabalística que marcava os 98 anos do início do
movimento pentecostal da Azusa Street, foi realizado o primeiro culto do
Ministério da Restauração, em Porto Alegre.
Atualmente esta denominação possui 280 congregações: 259 no Rio
Grande do Sul, 14 em Santa Catarina, 6 no Espírito Santo e 1 no Paraná,
sendo, em sua maioria, como se pode verificar nas fotos expostas no site
oficial da igreja, de construção simples, muitas instaladas em casas de
madeira pequenas, ou antigos prédios comerciais. Em Canoas existem 16
templos, 14 dos quais localizados em meio ou próximos a paupérrimas
regiões do município, assim distribuídas por bairro: Estância Velha,
Harmonia, Mato Grande e Rio Branco: 1 templo; Guajuviras e Niterói: 3
32
Fonte: http://www.adrestauracao.com
122
templos; e no bairro Mathias Velho: 6 templos. A congregação do Mato
Grande é protagonista de uma situação curiosa: está instalada em uma velha
casa de madeira, alugada, de aproximadamente 30m², que abriga cerca de
20 fiéis. À sua esquerda existem outras duas casas, de igual construção,
sendo que a sua vizinha imediata abriga atualmente uma loja de roupas
usadas e a casa seguinte uma congregação da Igreja Pentecostal Deus é
Amor. Verifiquei que as duas igrejas realizam seus cultos em dias e horários
coincidentes, e o barulho feito por ambas é digno de registro. Segundo
alguns vizinhos, os últimos inquilinos desta casa cercada por igrejas ficaram
em média por dois ou três meses e mudaram-se, alegando não mais
agüentar o elevado nível de ruído emitido pelos crentes. A solução
encontrada pelo proprietário foi transformá-la em um comércio.
3.4 Os locais de culto
33
O município de Canoas é composto por quatorze bairros, listados a
seguir em ordem decrescente de valorização imobiliária, conforme
informação prestada pela Imobiliária Segura, maior empresa de corretagem
de imóveis do município: Centro, Marechal Rondon, São José, Estância Velha,
Nossa Senhora das Graças, Igara, Harmonia, Niterói, Fátima, São Luiz, Mato
Grande, Rio Branco, Guajuviras e Mathias Velho. Em onze bairros ao
33
Os dados estimativos que serão divulgados neste tópico, relativos ao número de
habitantes dos bairros de Canoas e ao número de fiéis das congregações da Assembléia
de Deus no município, referem-se ao ano de 2007 e foram obtidos junto à Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Urbano de Canoas e aos encarregados de congregações e
distritais, respectivamente.
123
menos um templo da Assembléia de Deus. As exceções são o Centro,
Marechal Rondon e São José, justamente os três bairros mais valorizados da
cidade. A diretoria da Assembléia de Deus no município justifica este dado
alegando o alto custo para adquirir ou alugar um imóvel nestes bairros.
Porém, em conversas informais com pastores e principalmente com obreiros
de menor escalão, as informações e opiniões emitidas dão conta que estes
lugares são considerados infrutíferos” para a pregação do evangelho e,
embora em momento algum admitam que o foco evangelístico da
Assembléia de Deus são as pessoas de menor poder aquisitivo, a passagem
bíblica que diz ser “mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha
do que o rico entrar no reino dos céus” foi diversas vezes mencionada.
No mais valorizado dos bairros em que um templo da Assembléia
de Deus, o Estância Velha, existem ao todo seis templos e cinco centros
evangelísticos. É preciso ressaltar, porém, que o mesmo possui duas áreas
distintas: uma área nobre, composta pelos residenciais Cidade Nova, Vila
Rosa, Alta Vista, Bela Vista, Moinhos de Vento, Hércules e Jardim Atlântico; e
uma área pouco valorizada, com altos índices de pobreza e criminalidade,
composta pela Vila São João, Vila Ideal, Vila União, e os loteamentos Olaria e
São Vicente. O maior dos templos do bairro Estância Velha está entreposto a
estas duas áreas e congrega aproximadamente 500 fiéis. Os demais templos
estão todos localizados em meio a área pobre. Ao todo, o bairro Estância
Velha possui aproximadamente 40.000 habitantes, dos quais cerca de
2.000, ou 5% do total, são fiéis da Assembléia de Deus.
124
Nos bairros Igara, Nossa Senhora das Graças e Harmonia, os
próximos na ordem de valorização, apenas um templo da Assembléia de
Deus em cada um. Visitei-os e pude constatar que nos três casos as
construções são pequenas, em concordância com o baixo número de fiéis.
Entre membros e congregados, o templo do bairro Igara possui
aproximadamente 100 fiéis; o templo do bairro Nossa Senhora das Graças,
aproximadamente 200 fiéis; e o templo do bairro Harmonia,
aproximadamente 100 fiéis. O bairro Igara possui cerca de 12.000
habitantes, o bairro Nossa Senhora das Graças cerca de 22.000 habitantes e
o bairro Harmonia cerca de 10.000 habitantes. Partindo destes números,
encontramos as minguadas médias de 0,83% de assembleianos no bairro
Igara, 0,91% no bairro Nossa Senhora das Graças e 1% no bairro Harmonia.
Comparando com o bairro Estância Velha, estes três bairros não possuem
áreas pobres.
No bairro Niterói existem cinco templos e um centro evangelístico
instalados em áreas de classe média baixa e baixa. Porém, uma exceção:
um templo, que abriga a congregação Niterói, sede da Assembléia de Deus
em Canoas até 1993, no qual a maioria dos fiéis são pessoas da classe
média e classe média alta. Médicos, engenheiros, militares, profissionais
liberais e grande número de pequenos e micro-empresários fazem parte do
rol de membros da congregação. Nem todos residem no bairro: muitos
moram em outros bairros da cidade (inclusive naqueles onde não um
templo assembleiano) e alguns até mesmo em Porto Alegre. Esta
125
congregação, se comparada com as demais congregações do município,
possui evidentes diferenças no tocante à liturgia e usos e costumes, que
mais se assemelham a outras denominações pentecostais que não a
Assembléia de Deus. Neste templo, o número de fiéis, entre membros e
congregados, é de aproximadamente 400, que, somados aos demais,
alcança cerca de 1000 fiéis, 2,5% do total de 40.000 habitantes do bairro.
Os bairros Fátima, São Luís e Mato Grande têm em comum o
pequeno número de fiéis da Assembléia de Deus. Destes três, apenas o
primeiro é uma região majoritariamente residencial. Trata-se de um bairro
dividido em duas áreas, sendo a primeira, mais antiga, bem urbanizada e
habitada por moradores de razoável poder aquisitivo, e a segunda, invadida
a partir da década de 1990, caracterizada por alto grau de pobreza. Existem
cinco templos da Assembléia neste bairro, sendo dois grandes templos
localizados na área urbanizada e três pequenas capelas na área invadida. Ao
todo, são aproximadamente 500 fiéis, 300 dos quais lotados nos dois
maiores templos, neste bairro com cerca de 30.000 moradores. Os bairros
São Luiz e Mato Grande são os dois menores de Canoas em população:
cerca de 5.000 pessoas habitam cada bairro. O primeiro destaca-se pela
grande quantidade de indústrias e o segundo, pelo grande número de
propriedades rurais. No bairro São Luiz, apenas um templo da
Assembléia de Deus freqüentado por cerca de 80 pessoas, ou 1,6% do total
de moradores. No Mato Grande existem dois templos assembleianos, um
junto a uma antiga vila residencial que deu origem ao bairro e o outro, em
126
meio a uma das mais violentas favelas de Canoas, cuja área foi invadida em
meados da década de 1980. Ao todo, cerca de 70 fiéis freqüentam estes
dois templos, 1,4% do total dos moradores do bairro, sendo
aproximadamente 50 fiéis no primeiro templo mencionado e 20 fiéis no
segundo.
Rio Branco e Guajuviras têm cerca de 30.000 e 50.000 habitantes,
respectivamente. Em comum, estes bairros apresentam grande concentração
de pobreza, além de altos índices de violência. Entretanto, o bairro Rio
Branco é, percentualmente, bem mais pródigo na arregimentação de fiéis
para a Assembléia de Deus: são aproximadamente 1.500 fiéis neste bairro.
No bairro Guajuviras é o mesmo número estimado: 1.500 fiéis. Porém, em
números percentuais, 5% dos moradores do Rio Branco freqüentam a
Assembléia de Deus, contra 3% dos moradores do Guajuviras. Há neste dado
um fator instigante: apesar do elevado grau de pobreza do bairro
Guajuviras, que pode ser apontado como uma condição favorável ao
florescimento de igrejas pentecostais, ao menos a Assembléia de Deus não
possui nesta localidade um índice de fiéis compatível com esta condição.
Atribuo este dado à formação histórica do Guajuviras, cuja criação deu-se
através de uma grande invasão popular, na metade da década de 1980, a
um gigantesco conjunto residencial que estava ainda em fase de construção,
através de recursos do extinto BNH. A invasão foi encabeçada por lideranças
municipais do Partido dos Trabalhadores, que encontraram na população
deste bairro seu principal reduto eleitoral até os dias de hoje. Além disto, o
127
Guajuviras é um bairro de notória participação política de sua população e
elevado número de movimentos sociais. Estes fatores acabam por tornar o
bairro Guajuviras um terreno desfavorável ao crescimento assembleiano,
uma vez que, embora estudos apontem para um crescimento da
participação dos evangélicos pentecostais em atividades políticas e lutas
sociais
34
, a submissão às leis
35
e conformidade com a situação vigente do
mundo são traços históricos característicos deste grupo religioso.
Mathias Velho é o maior bairro de Canoas, o mais pobre e violento, e
também o que mais concentra fiéis da Assembléia de Deus.
Aproximadamente 70.000 pessoas o habitam. O número de assembleianos
é de cerca de 7.000, ou 10% da população, praticamente o mesmo índice
alcançado pela Assembléia de Deus na região Norte do Brasil. Desde 1993,
o templo sede da Assembléia de Deus em Canoas, com capacidade para
1.000 pessoas, localiza-se no bairro, o que denota a importância dada pela
diretoria da igreja à localidade. Além do templo sede, outros dezessete
templos assembleianos estão construídos no Mathias Velho, em sua grande
maioria construções simples, com capacidade média para uma platéia de
aproximadamente 300 pessoas, localizados em meio a áreas residenciais
eminentemente pobres.
Mariano (2004) assevera que os adeptos do pentecostalismo
34
Ver Almeida (1999), Bandini (2003), Baptista (2007), Freston (1994), Mariano & Pierucci
(1992), Mariano (2005), Menezes (1995) e Oro (1997, 2001a, 2001b, 2004, 2006a,
2006b, 2006c).
35
Tomar de assalto uma propriedade alheia seria, por exemplo, uma burla ao princípio de
não tomar para si o que não é seu, ao mandamento “não roubarás”.
128
“(...) não se restringem mais somente aos estratos pobres da
população, encontrando-se também nas classes médias,
incluindo empresários, profissionais liberais, atletas e artistas.
Ao lado e por meio disso, o pentecostalismo vem
conquistando crescente visibilidade pública, legitimidade e
reconhecimento social e deitando e aprofundando raízes nos
mais diversos estratos e áreas da sociedade brasileira.” (p.1).
Porém, aponta para a ocorrência de um crescimento desigual do
pentecostalismo nas diferentes camadas sociais da população,
concentrando-se nos estratos mais pobres (Mariano, 2001).
“Com o propósito de superar precárias condições de
existência, organizar a vida, encontrar sentido, alento e
esperança de situação tão desesperadora, os estratos mais
pobres, mais sofridos, mais escuros e menos escolarizados da
população, isto é, os mais marginalizados distantes do
catolicismo oficial, alheios a sindicatos, desconfiados de
partidos e abandonados à própria sorte pelos poderes
públicos –, têm optado voluntária e preferencialmente pelas
igrejas pentecostais. Nelas, encontram receptividade, apoio
terapêutico-espiritual e, em alguns casos, solidariedade
material.
No tópico “perfil social dos crentes”, que integra sua tese, Mariano
(ibid.: p. 60) discorre sobre os resultados de pesquisas realizadas pelo ISER
e
Datafolha
, que apontam para o fato do pentecostalismo ser uma opção
predominantemente dos pobres:
“Pesquisas quantitativas realizadas por ISER e
Datafolha
confirmaram a percepção geral de que o pentecostalismo é
uma “opção dos pobres”. Mostraram que os pentecostais
concentram-se nas faixas de mais baixa renda e de menor
escolaridade e que suas igrejas proliferam nos bairros mais
129
precários, longínquos e desassistidos pelos poderes públicos
(Fernandes, 1996: 10-14; Pierucci e Prandi, 1996: 211-238).
Embora não houvesse dúvida quanto à condição social dos
crentes na literatura acadêmica, praticamente inexistiam
pesquisas quantitativas comprovando que o pentecostalismo
cresce na pobreza, expande-se nas bases da estrutura
socioeconômica, atrai preferencialmente os estratos sociais
que vivem em situação de marginalidade social. São provas
contundentes disso a baixíssima renda e escolaridade dos
crentes revelada nos
surveys
do
ISER
e
Datafolha
. A pesquisa
Novo Nascimento
, realizada pelo ISER na região metropolitana
do Rio de Janeiro em 1994, constatou que: 61% dos
pentecostais recebiam até dois salários mínimos, 29% entre
dois e cinco e apenas 10% ganhavam mais de cinco salários.
Quanto à escolaridade, 42% tinham menos de quatro anos de
estudo, 35% entre cinco e oito anos e 23% nove anos ou mais
de formação escolar (Fernandes, 1996: 10-12). Quanto mais
escolarizado o fiel, maior era a probabilidade de ele ter
nascido e crescido num lar evangélico. Isto significa que a
evangelização pentecostal revela-se mais bem-sucedida nos
segmentos menos escolarizados da população (Ibid.: 14).
Comparadas às da população, a renda e escolaridade do
conjunto dos evangélicos eram muito inferiores. Como os
pentecostais tinham renda e escolaridade mais baixas que a
média evangélica, seu contraste com a população mostrou-se
ainda mais dramático.”
No município de Canoas, são nas regiões pobres que se encontram a
maioria dos templos da Assembléia de Deus. A emergência de um estrato
de fiéis advindo de outras classes sociais também é real, embora ainda
pequena. A congregação Niterói é um exemplo de uma comunidade de fiéis
que comporta pessoas com razoável nível financeiro e de escolaridade.
Entretanto, ainda é exceção à realidade de localidades de parco
130
desenvolvimento no município, áreas onde a Assembléia de Deus mais
cresce.
3.5 As Missões
A evangelização feita pela Assembléia de Deus está na contra-mão das
igrejas neopentecostais. Quando iniciei esta pesquisa, em maio de 2006, a
Assembléia possuía um programa semanal de 30 minutos em um canal de TV
aberta e um programa de rádio, também semanal e com duração de 30
minutos, em uma rádio evangélica de amplitude modulada. A programação
era voltada aos próprios assembleianos, haja vista que a maior parte do
tempo era utilizado para tocar músicas evangélicas (muitas delas
estranhamente eram em inglês ou espanhol), divulgar a nominata dos
pregadores da semana corrente nos maiores templos da cidade e fazer
dedicatórias aos fiéis que estavam aniversariando ou comemorando algo em
especial. As próprias mensagens, em sua maioria, eram focadas para o
público convertido. Agora, chegando ao final da pesquisa, pouco mais de
um ano depois, os programas de rádio e de TV já não existem mais. Segundo
o pastor presidente da igreja, o motivo da falta de investimento na mídia é
contenção de despesas. Atualmente dois programas em uma rádio
comunitária que mal abrange a cidade de Canoas são os únicos exemplos de
utilização midiática por parte da Assembléia de Deus, e mesmo assim estes
programas são iniciativas individuais de fiéis, sem a tutela institucional. Um
programa, no ar todas as sextas-feiras das 23hs as 24hs, chamado “Mais
131
que Amigos”, procura cumprir o propósito do seu nome: é um canal para
novas amizades, com um espaço para participações ao vivo de ouvintes que
pedem músicas e mandam recados para seus amigos. Ao final, em geral a
prédica é direcionada para os jovens da igreja; O outro programa de rádio,
que vai ao ar todos os sábados também das 23hs as 24hs, chama-se
“Geração Eleita” e é organizado por um grupo de jovens de uma
congregação. No programa fala-se de futebol, são contadas piadas, é aberto
um espaço para a participação de ouvintes que falam sobre os mais variados
assuntos, sempre intercaladas com música gospel cantada em inglês. A
mensagem, via de regra, é voltada para problemas enfrentados por jovens
evangélicos.
Algumas congregações investem em panfletos, distribuídos pelos
seus fiéis. Eu mesmo recebi um, cujo título era “1000° de calor por toda
eternidade e sem nenhum copo d'água”, em uma clara alusão ao inferno.
Seguramente a maioria dos folhetos distribuídos possuem outros tipos de
finalidade que não a de assustar o “pecador” mostrando-lhe o quão terrível
será o lar daqueles que não converterem-se a Jesus, mas vale como registro.
As campanhas, que são cultos realizados nos templos por duas ou três
noites seguidas calcados na promessa de manifestações divinas, são os
principais atos evangelísticos realizados pela Assembléia, nos quais cartazes,
faixas e carros de som anunciam à comunidade que uma campanha será
realizada e milagres, prodígios e maravilhas irão acontecer. Quanto a isto,
entretanto, os pastores entrevistados foram unânimes ao dizer que a
132
realização deste tipo de evento pouca diferença faz em relação ao
crescimento da igreja, pois normalmente, segundo os pastores, os não-
crentes freqüentam os cultos apenas nos dias das campanhas e retornam
na próxima, se retornarem. De acordo com um pastor, o que se nas
campanhas é um “encontro de crentes”. Segundo ele, em geral os fiéis
convidam seus amigos de outras congregações para participar dos cultos, o
que em nada acrescenta à denominação.
O relato de um obreiro ilustra, de uma forma um pouco exagerada é
verdade, uma realidade: contou-me ele que estava pregando na sua
congregação em um sábado à noite e em meio a prédica desafiou os fiéis a
cada um trazer na noite seguinte um visitante não-crente. Segundo este
obreiro, ninguém atendeu o desafio, mas lhe chamou a atenção que um
homem que na noite de sábado havia entrado embriagado no templo
retornou na noite de domingo com um amigo, ambos em notório estado de
embriaguez. “Apenas um bêbado resolveu evangelizar no domingo”, ironiza
o obreiro. A situação chega a ser cômica, mas denota uma certa acomodação
dos assembleianos em relação as atividades proselitistas.
Em contrapartida, a Assembléia de Deus canoense tem investido uma
parte significativa de seus recursos nas missões, especialmento no Uruguai.
No Paraguai, no Senegal, e no Ceará a Assembléia investe no sustento de
missionários nativos. no Uruguai o tratamento é distinto. Cerca de um
terço da verba destinada ao trabalho missionário, que corresponde a
aproximadamente 10% da receita bruta da denominação, é investida em
133
território uruguaio. Neste país, a Assembléia canoense é responsável pela
Iglesia Evangélica Assembléia de Deus Missioneira del Uruguay. Na
atualidade, esta denominação possui 30 templos e aproximadamente 1.000
fiéis. Está sendo feito investimento em programas de rádio e televisão, além
da realização de cruzadas evangelísticas, fato cada vez mais raro em Canoas.
A administração da igreja missionária é responsabilidade do pastor Edegar
Machado, que da mesma forma como em seu município, centraliza o poder
decisório. Os obreiros nomeados para administrar estes templos no Uruguai
são, via de regra, canoenses. Eles recebem um salário mensal aproximado de
R$ 1.500,00, além de uma casa na localidade para onde forem designados.
O discurso do pastor presidente do campo de Canoas, na Assembléia
Geral Anual do ano de 2008, idéia da importância atribuída ao Uruguai,
além de explicitar o próximo objetivo da denominação: “A Igreja de Canoas
está invadindo o Uruguai com a semente do Evangelho (...) plantando no ano
de 2008 a bandeira de Cristo especificamente em Montevideo”.
Esta preferência pelas missões denota a estratégia atual da
presidência da Assembléia de Deus canoense, exposta nas entrelinhas
durante as entrevistas com membros da cúpula da denominação: sendo
praticamente impossível uma expansão do poder do campo de Canoas
dentro do estado, uma vez que todos municípios gaúchos são abrangidos
pela presença da Assembléia de Deus e grande parte dos mesmos são
campos autônomos, a instalação de congregações no Uruguai está sendo
utilizada para este propósito.
134
CONCLUSÃO
Esta dissertação analisa a estrutura organizacional da Igreja
Evangélica Assembléia de Deus no município de Canoas/RS.
Ao longo deste estudo, se pôde conhecer a constituição histórica
desta denominação, desde sua origem do movimento
holiness
nos Estados
Unidos da América, até sua implantação no Brasil, no Rio Grande do Sul e em
Canoas. O mérito deste registro, apesar de conciso, é que poderá
proporcionar aos fiéis assembleianos, e a outros estudiosos, o conhecimento
de fatos importantes na construção deste grupo social.
A história da Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul e em Canoas
foi organizada a partir de fontes oficiais da denominação, complementados
por dados sócio-antropológicos coletados através de entrevistas.
Seu crescimento ao longo da década de 1990, que a tornou a maior
das denominações protestantes do Brasil, nos uma noção clara da sua
importância no campo religioso brasileiro.
Além dos dados históricos e estatísticos, foi buscado aqui expor e
analisar características da denominação, tais como seus órgãos
administrativos, a divisão em Convenções, campos, distritos, congregações,
centros evangelísticos e departamentos; o caminho percorrido para galgar
postos na pirâmide hierárquica da Assembléia, bem como as peculiaridades
de cada um dos cargos possíveis de serem alcançados; a forma de governo
eclesiástico e as implicações da mesma nas relações de poder entre pastor
135
presidente, obreiros e fiéis; os locais de culto no município de Canoas e,
finalmente, as missões, estratégicas no projeto de expansão da Assembléia
de Deus de Canoas.
Ficaram evidentes, durante a realização deste estudo, práticas
autocráticas e características próprias dos primórdios do pentecostalismo
brasileiro, ainda entranhadas na Assembléia de Deus canoense. Evidenciou-
se também, mudanças estratégicas, que no decorrer dos anos tem mudado
esta denominação, fazendo-a trilhar seu caminho de crescimento.
Como assevera Mariano,
“(...) para compor um quadro explicativo do crescimento
pentecostal e de cada igreja em particular, cumpre dar
prioridade à investigação da oferta religiosa. Isto é, sua
estrutura organizacional (o que inclui seu tipo de governo
eclesiástico), a formação, o desempenho e a disponibilidade de
tempo do clero para o trabalho pastoral, sua mensagem
religiosa (ênfases teológicas, prestação de serviços mágicos, a
forma e os meios de sua transmissão), suas técnicas de
evangelização, suas estratégias de inserção social, sua
capacidade de arrecadação financeira (e a aplicação dos
recursos), seu posicionamento em relação ao mundo (rejeição
sectária, acomodação). Na avaliação das causas que favorecem
ou prejudicam o crescimento institucional das igrejas
pentecostais cabe investigar igualmente a existência ou não de
demandas internas tradicionalistas ou de preservação de certas
tradições (que, se forem majoritárias, podem acarretar
enrijecimentos ritual, doutrinário e comportamental
limitadores da expansão denominacional), as conseqüências da
eventual ascensão social de parte dos membros, do aumento
das exigências quanto ao grau de instrução escolar e à
formação teológica dos pastores e da resolução
denominacional de criar seminários e faculdades de teologia,
as mudanças na mensagem religiosa, na freqüência e
136
intensidade dos fenômenos extáticos e no tipo de dominação
eclesiástica (de carismática para burocrática, por exemplo)
decorrentes do inevitável processo de institucionalização, ou
rotinização do carisma (2001: p.158)
O enfoque aqui utilizado, voltado para a compreensão de sua
organização eclesiástica, nos traz à luz muitos dados relevantes para uma
compreensão estrutural desta instituição religiosa quase secular no Brasil.
Pela sua importância, cada vez mais evidente na sociedade brasileira, hoje
com representantes pentecostais em todas as suas camadas sociais, fica a
certeza muito ainda necessita ser pesquisado e escrito a respeito dos
pentecostais, e, conseqüentemente, da Assembléia de Deus.
137
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Povo, Todo Louvor a Deus: Assembléia de Deus: origem, implantação e
militância (1911-1946)
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São Bernardo do Campo:
Dissertação de mestrado
em Ciências Sociais e Religião, Universidade Metodista de São Paulo, 2000.
ALMEIDA, Abraão de (org.). História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio
de Janeiro: CPAD, 1982.
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149
ANEXO I - Vista interna do templo-sede da Assembléia de Deus em Canoas
150
ANEXO II - Templo assembleiano localizado na periferia de Canoas
151
ANEXO III - Declaração, assinada pelo fiel antes de ser admitido em um cargo
na organização
152
ANEXO IV - Termo de compromisso
153
ANEXO V - Relação de documentos para consagração de obreiros
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