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do século XIX na Europa e nos Estados Unidos. As investigações, os
filosofemas, os argumentos, as teorias, as fundamentações e as formulações
que tem como objetivo produzir conhecimento em comunicação têm só
algumas décadas de existência no Brasil e menos de 50 anos na América
Latina. Essa realidade explica limitações próprias de uma trajetória curta, de
processos em formação, da necessidade de contar com um tempo de vida
cultural que permita amadurecimentos, mas, ao mesmo tempo, permite
pensar na pertinência de situar o campo da comunicação, na sua
configuração científica, em uma etapa de crise epistemológica (não de poder
prático) do modelo positivista. Nosso campo vai configurando-se nessa
contradição e diversidade, por uma parte busca estabelecer delimitações
necessárias, por outra precisa dar conta dos desafios problematizados pelas
epistemologias dialéticas, hermenêuticas/críticas/culturais e
históricas/críticas.
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Em relação ao campo, Maldonado também pondera: o campo midiático
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e a
midiatização apesar de condicionados e hegemonizados por poucas empresas e famílias, não
estão reduzidos a essas realidades. A cultura produzida por essas mídias tem múltiplas
utilizações e resistências. Ao mesmo tempo, a contradição fundamental que obriga o
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MALDONADO, Alberto Efendy et alli. Metodologias de Pesquisa em Comunicação: Olhares, trilhas e
processos. Porto Alegre: Sulina, 2006. p. 10.
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Todo campo conforma-se “a partir da existência de um capital e se organiza na medida em que seus
componentes têm um interesse irredutível e lutam por ele”. BERGER, 1998, p. 21. Entre os campos, podem
ser citados: o campo político, o campo jurídico, o campo econômico, o campo religioso, o campo midiático e
o campo social. Com esses dois últimos, pela sua aparente independência, nos ocuparemos mais adiante.
Pierre Bourdieu coloca que, “com a noção de campo, obtêm-se o meio de apreender a particularidade na
generalidade, a generalidade na particularidade. Pode-se exigir da monografia mais ideográfica proposições
gerais sobre o funcionamento dos campos e pode-se levantar, a partir de uma teoria geral do funcionamento
dos campos, hipóteses muito poderosas sobre o funcionamento de um estágio particular de um campo
particular”. BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. São Paulo: Difel, 1990. p. 171. Bourdieu define o
campo social como um espaço — microcosmo — detentor de relativa autonomia, dotado de leis sociais
próprias que diferem das do macrocosmo, e do qual fazem parte agentes e instituições que aparecem
ocupando uma posição dentro de determinada estrutura. Essa posição estará sempre orientando o agir desses
agentes, daí que Bourdieu enfatiza a necessidade de saber desde que lugar o agente está falando para assim
compreender sua tomada de posição. O conceito de campo social permite definir fronteiras. E estas fronteiras
são necessárias para poder encontrar diferenças e semelhanças, confluências e conflitos entre partes, mas,
principalmente, poder dizer quais são essas partes e o porquê de sua diferenciação. Cf. BOURDIEU, Pierre.
Os usos sociais da ciência: Por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: UNESP, 2004. O
campo midiático possui uma certa autonomia com relação aos outros campos. Essa autonomia vem do fato de
ter “uma ordem axiológica própria”, a ordem dos valores de mediação entre as restantes instituições; função
que, por sua vez, é legitimada pelos outros campos ou instituições. A função de mediação feita pelo campo
midiático entre os diferentes campos é de natureza tensional, isso vai legitimar mais ainda a autonomia da
mídia enquanto campo. Os demais campos sociais precisam do midiático para levar adiante suas estratégias
mobilizadoras, porque é nesse espaço que contam com os mecanismos retóricos — discursivos —
necessários. Cf. RODRIGUES, Adriano D. A gênese do campo dos media. In: _____. et alli. Reflexões sobre
o mundo contemporâneo. João Pessoa: Universidade Federal do Piauí / Revan, 2000. p. 31s. Mesmo assim,
seria importante salientar que muitas das funções de mediação são asseguradas por outros dispositivos que
estão fora dos meios de comunicação social, por isso, não se pode falar de uma total autonomia deste campo.
Cf. RODRIGUES, Adriano D. Estratégias da Comunicação. Lisboa: Presença, 1997, p. 152.