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2 GALVANO DELLA VOLPE E O MARXISMO
É possível fixarmos dois períodos em Galvano Della Volpe: uma juventude
historicista e neo-hegeliana, portanto, não-marxista, contraposta a uma maturidade
marxista
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.
Num primeiro momento, nos idos da década de 1920, Galvano Della Volpe fora
um historiador da filosofia. Seus estudos versaram sobre filologia, história das idéias,
oferecendo explicação de textos filosóficos e comparação entre sistemas filosóficos.
Também se voltou à análise de filósofos positivistas e empiristas, tais quais: Auguste
Comte e Émile Durkheim, na qual faz uma reavaliação dos fundamentos do
conhecimento experimental
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. Por fim, debruçou-se, de 1930 a 1943, sobre questões de
lógica e estética. Nesta etapa, faz uma “recusa sistemática tanto em arte, quanto nos
procedimentos científicos de qualquer tipo de apriorismo ou de valorização unilateral da
fantasia, em detrimento da instância racional”.
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Assim, empreende estudos de Nietzche,
Heidegger, Kant, Hegel, Schiller e Croce. São suas obras dessa fase “Fundamentos de
uma filosofia da expressão”; “Crise crítica da estética romântica” e “Crítica dos
princípios lógicos”.
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Há quem diga - notadamente Perry Anderson (em Considerações sobre o marxismo ocidental. 1.ed.
São Paulo: Brasiliense, 1989), que Galvano Della Volpe, assim como todo um grupo de outros filósofos,
compõe o denominado “marxismo ocidental”, com a justificativa de que teria havido, a partir do fim da
Segunda Guerra Mundial e o advento da Guerra Fria, com cisão bipolariaza da Europa, um suposto
sucesso do modelo capitalista e o fracasso da expansão do projeto revolucionário russo para além das
fronteiras, ocasionando uma revisão da abordagem do marxismo e “o
abandono progressivo de
estruturas econômicas ou políticas como objetos centrais da teoria, foi acompanhado por um
deslocamento básico de todo o eixo gravitacional do marxismo europeu no sentido da filosofia”
(ANDERSON, op. cit. p.75). Apesar da respeitabilidade de Perry Anderson, preferimos nos aproximar
de Gisela da Conceição, para quem “o conceito de marxismo ocidental é teoricamente inconsistente (...)
Os critérios habitualmente invocados na defesa da sua constituição, valência e vigência carecem do
limiar mínimo de rigor, susceptível de garantir contornos de um território do pensamento autônomo.
Trata-se de uma ficção, cuja existência se prolonga alimentada pelo artifício de um processo cumulativo
de conteúdo que mais não é sinal manifesto de uma irreparável ausência. (...) Há leituras,
interpretações, desenvolvimentos criativos do marxismo a leste e a oeste. Em termos hermenêuticos, a
questão central é a da averiguação da sua co-possibilidade com o aparelho categorial nuclear que,
explicitamente, designam como seu referente. Esta perspectiva não dá, assim, acolhimento à
concepção vulgarizada da existência de marxismos ou de um neomarxismo integrador de correntes
plurais” (CONCEIÇÃO, Gisela da. Ler Althusser, leitor de Marx. Lisboa: Editorial Caminho, 1989, p.48).
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PEREIRA, Wilcon Jóia. In: FERNANDES, Florestan. Galvano Della Volpe. PEREIRA, Wilcon Jóia.
(Coord.). São Paulo: Ática, 1979, p.11.
4
Ibid., p.11.