Na retórica clássica, o estilo referia-se à Elocução, a lexis dos gregos. A
oratória, segundo Reboul (2000, p. 61-66), devia seguir determinadas regras
relacionadas à escolha das palavras e à construção das frases, tendo em vista um
discurso correto e bonito; seria uma estética funcional, pois a sua finalidade foi
persuadir, excluindo-se, portanto, todo artifício gratuito; isto correspondia aos três
aspectos do discurso, que foram: o assunto, o auditório e o orador. A clareza foi
outra regra, corresponderia à adequação do estilo ao auditório; são citadas as
palavras de Quintiliano, nas quais ele declara que a primeira qualidade da fala é a
clareza, acrescentando que quando menos talento se tem, maior o esforço para
guindar-se; compara essa atitude com os nanicos que se põem sobre as pontas dos
pés para ficarem mais altos. A última regra que o autor menciona está relacionada
ao orador, que no seu discurso, deve mostrar-se colorido, aberto, dinâmico,
imprevisto, engraçado ou caloroso, isto é, vivaz; a vivacidade é fator fundamental
para o ethos, tornando o discurso marcante, agradável, cativante e autêntico. Após
citar Cambell, pastor do século XVIII, que fazia depender a vivacidade de figuras,
Reboul, afirma: “Durante muito tempo os antigos trataram as figuras como meios de
exprimir-se de modo marcante, com encanto e emoção”. Reboul passa a rebater a
idéia de que a figura seja um desvio, conforme muitos estudiosos sustentam; ele
chega à conclusão de que a noção de desvio é relativa, pois depende do tipo de
discurso, dos seus objetivos, do auditório, e finalizando, ele conclui:
A figura eficaz pode ser definida como algo que se desvia da expressão
banal, mas precisamente por ser mais rica, mais expressiva, mais
eloqüente, mais adaptada, numa palavra mais justa do que tudo que se
poderia sustituir. E, se fizermos questão de falar em desvio, é a figura bem-
sucedida, que constitui a norma. (p.66).
Ao analisar uma das “circunstâncias”, Vieira mostra os aspectos que
considerava relevante no estilo; ao criticar os pregadores cultistas, ele propõe como
deve ser o estilo do pregador. Assim, o padre jesuíta condena esse estilo,
qualificando-o de empeçado, dificultoso, afetado, violento, tirânico, desventurado,
escuro, negro, boçal, incompreensível; é o estilo que abusa das antíteses e
antonomásias. O ideal proposto é um estilo muito fácil e muito natural; é um estilo
com queda para as coisas, com cadência para as palavras, com caso para a
disposição; sendo um estilo que tem ordem e harmonia, ele faz influência; é distinto,