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“educação” podem, eventualmente, denotar. Neste sentido, Hyppolite observa duas
tarefas que estão presentes na Fenomenologia: “por um lado, a passagem da consciência
empírica à ciência; por outro lado, a elevação do indivíduo singular à consciência do
espírito de seu tempo, da humanidade nele presente”.
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Se nos reportarmos ao primeiro
prefácio da Ciência da lógica, poderemos atribuir uma outra característica à
Fenomenologia: sua dimensão catártica.
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A elevação da consciência à ciência
desenrola-se como um despojar-se de todas as suas “concreções sensíveis”
55
(sinnlichen
Konkretion), ou melhor, de sua falsa concreção, e de seu caráter de exterioridade, até
que ela se afigure como puro pensamento.
A consciência, enquanto ela é o espírito se manifestando, que em seu
caminho se libera de sua imediatidade e de sua concretude, atinge o
nível do puro saber que tem por objeto essas puras essencialidades
mesmas, tais como são em e para si.
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A consciência é o ser do espírito desperto na forma do ser-para-si, portanto, é
imediatamente saber. A apresentação do percurso fenomenológico equivale,
conseqüentemente, à formação da consciência para a universalidade do saber, formação
esta que tem no saber limitado da consciência imediatamente manifesta seu ponto de
partida, e se orienta ao saber automediado do espírito absoluto.
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Id, ib, p. 59. O teor pedagógico da obra de Hegel, segundo Hyppolite, aproxima esta última de
obras como Emílio de Rousseau, e Os Aprendizados de Wilhelm Meister de Goethe, as quais, certamente,
exerceram determinada influência sobre a formação do pensamento hegeliano. Segundo a leitura de
Bourgeois, que vai criticamente de encontro a esta dimensão pedagógica, a Fenomenologia tem como
ponto de partida uma consciência já cultivada e não faz mais que apresentar, através de um procedimento
anamnético, os momentos integrantes e constituintes da consciência filosófica. Diz Bourgeois: “De fato, a
consciência à qual Hegel se endereça é a consciência cultivada que, em realidade, tem tão pouco de se
elevar, a partir da certeza sensível às figuras mais concretas e mais verdadeiras do espírito, que ela já
chegou, em seu ser mesmo, ao termo do processo fenomenológico” (Cf. BOURGEOIS, Bérnard. Sens et
intention de la Phénoménologie de l’esprit. Paris: Librarie Philosophique, 1997. p. 18).
54
É o que pensa também Philonenko: “a experiência completa de si é uma purificação, uma
‘cartarsis’ total da alma, somente a qual a autoriza a penetrar o Logos em sua interioridade”. Cf.:
PHILONENKO, Alexis. Lecture de la Phénomenologie de Hegel – préface et introduction. Paris:
Librairie Philosophique, 1993. pp. 134-135.
55
WL I, Einleitung, S. 55; SL, p. 32; CL, p. 76.
56
WL I, Vorrede-1812, S. 17; SL, p. 7; CL, p. 39.