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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Escola de Engenharia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao
Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
Rosilena Martins Peres
Porto Alegre
2008
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ROSILENA MARTINS PERES
LEGADO DA TECNOLOGIA CONSTRUTIVA DE
IMIGRANTES ITALIANOS AO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO DE PELOTAS
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como parte
dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Engenharia
Porto Alegre
2008
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ROSILENA MARTINS PERES
LEGADO DA TECNOLOGIA CONSTRUTIVA DE
IMIGRANTES ITALIANOS AO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO DE PELOTAS
Esta tese de doutorado julgada adequada para a obtenção do título de DOUTOR EM
ENGENHARIA, e aprovada em sua forma final pelo professor orientador e pelo Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, 13 de junho de 2008
Prof. Francisco de Paula Simões Lopes Gastal Prof. Hélio Adão Greven
Eng. Civil PhD North Carolina State University Arq. Dr. Ing. Universität Hannover
orientador co-orientador
Prof. Fernando Schnaid
Coordenador do PPGEC/UFRGS
BANCA EXAMINADORA
Prof. Luiz Carlos Pinto da Silva Filho (UFRGS)
Eng. Civil Dr. pela Leeds University, Inglaterra
Prof. Nelson Pôrto Ribeiro (UFES)
Arq. Dr. pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Profa. Margarete Regina Freitas Gonçalves (UFPel)
Eng. Civil Dr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Dedico este trabalho a Wolmer, Otávio e Bruno pela
compreensão e apoio durante o período de seu
desenvolvimento.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à direção geral e demais diretores do ensino técnico e tecnológico do CEFET –
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas-RS, aos coordenadores e colegas do
curso de Edificações, do curso de Saneamento Ambiental e do Núcleo de Conservação e
Restauro, em especial à professora Gisela Amaral Barbosa, pelo apoio e incentivo para a
realização deste doutoramento.
Agradeço ao Arq. Dr. Ing. Hélio Adão Greven, co-orientador deste trabalho pelo constante
incentivo e conhecimento, sempre disponível com orientações práticas e precisas. Agradeço
ao Eng. Civil PhD. Francisco de Paula Simões Lopes Gastal pela confiança depositada nos
meus estudos e pela dedicação na qualificação deste trabalho.
Agradeço ao Eng. Civil Luiz Carlos Bonin, professor do NORIE/PPGEC/RS – Núcleo
Orientado para Inovação das Edificações/Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da
UFRGS, cujas orientações e incentivo serviram de motivação para a realização dos estudos de
doutorado. Agradeço também às funcionárias da Secretaria do PPGEC, especialmente à
Liliani Gaeversen, pela eficiência, presteza e carinho sempre demonstrados no período de
permanência como aluna da UFRGS.
Agradeço ao Eng. Fernando Degani Zauk, responsável pelo setor de obras da Santa Casa de
Misericórdia de Pelotas, aos colegas da Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas, ao Sr.
Osvaldo Bastos e Sr. Lauro Prates Filho, respectivamente, diretor e funcionário no período da
pesquisa, do Clube Caixeiral de Pelotas, bem como aos proprietários dos demais imóveis, pela
permissão às investigações, sem as quais não seria possível a realização deste trabalho.
Agradeço ao Sr. Carlos Henrique Domingues Teixeira, responsável pelo setor de Arquivo da
SEURB – Secretaria Municipal de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Pelotas, cuja
disponibilidade nas buscas e investigações muito contribuiu para a veracidade das
informações adquiridas.
Agradeço aos colegas Paula Irigon, Nereu Pedro Pitol e Sandra Finardi pela valiosa
colaboração nas verificações das técnicas construtivas que fazem parte da pesquisa.
Agradeço aos familiares e amigos que acompanharam o desenvolvimento deste trabalho, em
especial àqueles que me ajudaram a acreditar que seria possível a sua realização.
A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo.
Merleau-Ponty
RESUMO
PERES, R.M. Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio
Arquitetônico de Pelotas. 2008. Tese (Doutorado em Engenharia) – Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre.
Este trabalho apresenta a investigação das técnicas construtivas empregadas nas obras de
construtores italianos ou seus descendentes no final do século XIX e início do século XX em
Pelotas – cidade da zona sul do Brasil. O crescimento da economia industrial propiciado pela
produção do charque e o conseqüente desenvolvimento urbano do município neste período da
sua história impulsionaram o movimento migratório de profissionais europeus tanto da área
técnica como artística. Entre muitos imigrantes, trabalharam arquitetos, escultores,
construtores e artífices provenientes da Itália na construção dos principais prédios da cidade,
fossem eles públicos ou privados, cujos procedimentos construtivos não se encontram em
documentos ou registros bibliográficos. Sabendo-se que o desenvolvimento econômico e
social de uma comunidade não dispensa a valorização de sua história, cujo patrimônio
arquitetônico se inclui, e depois de transcorrido mais de um século do início da execução
destas obras, é inegável a necessidade de conservação, manutenção ou restauração destas
construções. Os resultados da investigação, bem como as descrições e comparações com a
tecnologia construtiva difundida neste período no país origem dos profissionais, permitiram
concluir que os construtores italianos aplicaram as técnicas construtivas comumente utilizadas
na Itália, bem como materiais importados ou encontrados na região. Este trabalho possibilitou
uma ampla caracterização da tecnologia construtiva utilizada e a documentação dos dados
obtidos passa a ser referência para as futuras intervenções e pesquisas sobre o tema.
Palavras Chave: tecnologia construtiva, conservação, patrimônio arquitetônico
ABSTRACT
PERES, R.M. Legacy of Building Technology’ Italians Immigrants to Pelotas’ Architectural
Patrimony. 2008. Tese (Doctor in Engineering) – Program of Pós-Graduation in Civil
Engineering, UFRGS, Porto Alegre.
This work consists of a survey of the building technology used by Italian builders and their
descendants at the end of the 19
th
and beginning of the 20
th
century in Pelotas, a town in
southern Brazil. The economic growth which resulted from jerked meat production and the
ensuing urban development of the town in this historical period encouraged the migration of
European professionals, both in technical and artistic areas. Among the immigrants were
Italian architects, sculptors, builders and craftsmen who contributed to erect some of the most
significant buildings in town, both public and private. Unfortunately the building procedures
used by these professionals were not documented, nor do they have any bibliographical
references. The undeniable need of conservation, maintenance or restoration of these
buildings after over a century has elapsed since they were constructed is a fact inasmuch as
the economic and social development of a community cannot exclude its historical
appreciation. This research enabled the identification of building procedures and imported or
regional materials which were used by these builders on the remaining construction of the
period. The survey’ results, besides the connection to the technique and materials used in their
country of origin at the time, enabled an extensive characterization of building technology
applied and can be reference database to future intervention or research about this subject.
Keywords: architectural heritage, building technology, conservation
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................
23
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..............................................................
23
1.2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................
25
1.3 PREMISSAS E HIPÓTESES DE PESQUISA ......................................
26
1.4 OBJETIVOS ...........................................................................................
27
2 O “SABER TÉCNICO” DE IMIGRANTES ITALIANOS NO
PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO PELOTENSE ..........................
29
2.1 PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO .................
29
2.2 A INFLUÊNCIA DA ECONOMIA DO CHARQUE NO
PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE PELOTAS ..............................
34
2.3 O “SABER TÉCNICO” E A INTERVENÇÃO .....................................
35
3 ESTRATÉGIA DE PESQUISA .............................................................
38
3.1 PESQUISA INICIAL .............................................................................
38
3.1.1 Dados históricos sobre os construtores ...............................................
39
3.1.2 Inventário das obras dos construtores .................................................
39
3.1.3 Investigação da bibliografia sobre a tecnologia construtiva
empregada na Itália no séc. XIX .........................................................
39
3.1.4 Levantamento das técnicas construtivas e materiais utilizados nas
obras previamente selecionadas ..........................................................
40
3.1.5 Revisão bibliográfica sobre a tecnologia construtiva ..........................
41
3.2 AVALIAÇÃO DA TECNOLOGIA CONSTRUTIVA VERIFICADA
NOS IMÓVEIS EXISTENTES .............................................................
42
3.3 TECNOLOGIA CONSTRUTIVA ITALIANA NO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO DE PELOTAS versus TECNOLOGIA
CONSTRUTIVA DIFUNDIDA NA ITÁLIA NO SÉCULO XIX ........
44
4 DADOS INICIAIS ...................................................................................
45
4.1 DADOS HISTÓRICOS SOBRE OS CONSTRUTORES......................
45
4.2 INVENTÁRIO DAS OBRAS DOS CONSTRUTORES .......................
49
4.3 BIBLIOGRAFIA SOBRE TECNOLOGIA CONSTRUTIVA
EMPREGADA NA ITÁLIA NO SÉC. XIX ..........................................
51
4.4 TÉCNICAS CONSTRUTIVAS E MATERIAIS DAS OBRAS PRÉ-
SELECIONADAS ..................................................................................
52
4.4.1 Capela e provedoria da Rua Gen. Neto da Santa Casa de
Misericórdia de Pelotas .......................................................................
52
4.4.2 Casa Eliseu Antunes Maciel ................................................................
62
4.4.3 Prefeitura Municipal de Pelotas ..........................................................
72
4.4.4 Clube Caixeiral ....................................................................................
80
4.4.5 Resumo das técnicas construtivas e materiais das obras pré-
selecionadas ........................................................................................
89
4.5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...............................................................
92
4.5.1 Fundações ............................................................................................
92
4.5.2 Elementos Verticais .............................................................................
96
4.5.2.1 Paredes ................................................................................................................. 96
4.5.2.2 Revestimentos ...................................................................................................... 101
4.5.2.3 Adornos ................................................................................................................ 120
4.5.2.4 Vãos ...................................................................................................................... 128
4.5.2.5 Esquadrias ............................................................................................................ 135
4.5.3 Elementos Horizontais ........................................................................
137
4.5.3.1 Estruturas .............................................................................................................. 137
4.5.3.2 Revestimentos ...................................................................................................... 146
4.5.4 Arcos e abóbadas .................................................................................
154
4.5.5 Coberturas ...........................................................................................
170
4.5.5.1 Estruturas .............................................................................................................. 172
4.5.5.2 Telhados ............................................................................................................... 179
4.5.5.3 Revestimentos ...................................................................................................... 185
4.5.6 Escadas ................................................................................................
187
4.5.6.1 Estruturas .............................................................................................................. 190
4.5.6.2 Revestimentos ...................................................................................................... 197
4.5.6.3 Proteção ................................................................................................................ 198
4.5.7 Sacadas ou balcões ..............................................................................
203
4.5.7.1 Pisos e soleiras ..................................................................................................... 203
4.5.7.2 Guarda-corpos ...................................................................................................... 204
5 TECNOLOGIA CONSTRUTIVA DOS IMÓVEIS EXISTENTES ...
206
5.1 FUNDAÇÕES DIRETAS ......................................................................
208
5.2 PAREDES ..............................................................................................
209
5.3 REVESTIMENTOS DE ELEMENTO VERTICAL .............................
210
5.4 ADORNOS DE ELEMENTO VERTICAL ...........................................
212
5.5 VÃOS DE ELEMENTO VERTICAL ...................................................
213
5.6 ESQUADRIAS DE ELEMENTO VERTICAL .....................................
214
5.7 ESTRUTURAS DE ELEMENTO HORIZONTAL ...............................
215
5.8 REVESTIMENTOS DE PISO ...............................................................
216
5.9 REVESTIMENTOS DE TETO ..............................................................
217
5.10 ARCOS .................................................................................................
219
5.11 ABÓBADAS DE ESTUQUE ..............................................................
219
5.12 ABÓBADAS DE TIJOLOS .................................................................
220
5.13 ESTRUTURAS DE COBERTURA .....................................................
220
5.14 TELHADOS .........................................................................................
221
5.15 REVESTIMENTOS DE COBERTURA ..............................................
222
5.16 ESTRUTURAS DE ESCADA .............................................................
223
5.17 REVESTIMENTOS DE ESCADA ......................................................
223
5.18 PROTEÇÕES DE ESCADA ................................................................
224
5.19 PISOS E SOLEIRAS DE SACADA OU BALCÃO ............................
225
5.20 GUARDA-CORPOS DE SACADA OU BALCÃO ............................
225
6 TECNOLOGIA CONSTRUTIVA DE IMIGRANTES ITALIANOS
NO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE PELOTAS versus
TECNOLOGIA CONSTRUTIVA DIFUNDIDA NA ITÁLIA NO
SÉCULO XIX .........................................................................................
227
6.1 FUNDAÇÕES DIRETAS ......................................................................
227
6.2 PAREDES ..............................................................................................
228
6.3 REVESTIMENTOS DE ELEMENTO VERTICAL .............................
230
6.4 ADORNOS DE ELEMENTO VERTICAL ...........................................
234
6.5 VÃOS DE ELEMENTO VERTICAL ...................................................
236
6.6 ESQUADRIAS DE ELEMENTO VERTICAL .....................................
238
6.7 ESTRUTURAS DE ELEMENTO HORIZONTAL ...............................
239
6.8 REVESTIMENTOS DE PISO ...............................................................
244
6.9 REVESTIMENTOS DE TETO ..............................................................
245
6.10 ARCOS .................................................................................................
247
6.11 ABÓBADAS DE ESTUQUE ..............................................................
248
6.12 ABÓBADAS DE TIJOLOS .................................................................
250
6.13 ESTRUTURAS DE COBERTURA .....................................................
251
6.14 TELHADOS .........................................................................................
252
6.15 REVESTIMENTOS DE COBERTURA ..............................................
253
6.16 ESTRUTURAS DE ESCADA .............................................................
253
6.17 REVESTIMENTOS DE ESCADA ......................................................
256
6.18 PROTEÇÕES DE ESCADA ................................................................
256
6.19 PISOS E SOLEIRAS DE SACADA OU BALCÃO ............................
256
6.20 GUARDA-CORPOS DE SACADA OU BALCÃO ............................
257
7 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................
259
8 CONCLUSÕES .......................................................................................
265
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 267
ANEXO A - INVENTÁRIO DOS IMÓVEIS (Julho a Outubro de 2005) ...................... 273
A 1 Imóveis de autoria de projeto ou execução dos construtores, proprietário, ano do
projeto ou execução e comprovação da sua existência em 2005 ..............................
274
A 2 Imóveis existentes em 2007 de autoria de projeto ou execução pelos construtores
pesquisados ................................................................................................................
279
A 3 Imagens e plantas de imóveis existentes – exemplar de Guglielmo Marcucci ......... 285
A 4 Imagens e plantas de imóveis existentes – exemplar de Giuseppe Isella .................. 286
A 5 Imagens e plantas de imóveis existentes – exemplar de Luiggi Zanotta ................... 287
A 5 Imagens e plantas de imóveis existentes – exemplar de Luiggi Zanotta ................... 287
A 6 Imagens e plantas de imóveis existentes – exemplar de Carlos Casaretto Scotto ..... 288
ANEXO B - FONTES LITERÁRIAS HISTÓRICAS CITADAS PELAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................
289
ANEXO C – MODELO DE PLANILHA PARA INVESTIGAÇÃO DAS TÉCNICAS
CONSTRUTIVAS NOS IMÓVEIS EXISTENTES .................................................
295
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Desenho de Giuseppe Isella para a capela da Santa Casa de Misericórdia de
Pelotas ........................................................................................................................
55
Figura 2: Desenho de Giuseppe Isella para o interior da capela da Santa Casa de
Misericórdia de Pelotas ..............................................................................................
56
Figura 3: Santa Casa de Misericórdia de Pelotas em 1998 ............................................. 56
Figura 4: Santa Casa de Misericórdia de Pelotas em 2006 ............................................. 56
Figura 5: Planta de situação / localização / cobertura ..................................................... 57
Figura 6: Planta baixa 1º pav. .......................................................................................... 57
Figura 7: Planta baixa 2º pav. .......................................................................................... 57
Figura 8: Planta baixa pav. intermediário entre 1º e 2º pav . .......................................... 58
Figura 9: Planta baixa 3º pav. .......................................................................................... 58
Figura 10: Casa Eliseu Antunes Maciel no conjunto arquitetônico em 1904 ................. 64
Figura 11: Casa Eliseu Antunes Maciel vista da Praça Cor. Pedro Osório ..................... 64
Figura 12: Casa Eliseu Antunes Maciel vista da Rua Barão de Butuí ............................ 65
Figura 13: Planta de situação .......................................................................................... 65
Figura 14: Planta de localização e cobertura ................................................................... 65
Figura 15: Planta baixa 1º pav. ........................................................................................ 66
Figura 16: Planta baixa 2º pav. ........................................................................................ 66
Figura 17: Planta baixa pav. térreo ................................................................................. 66
Figura 18: Planta de forros .............................................................................................. 67
Figura 19: Planta de pisos ............................................................................................... 67
Figura 20: Corte longitudinal .......................................................................................... 67
Figura 21: Fachada oeste ................................................................................................. 68
Figura 22: Fachada norte ................................................................................................. 68
Figura 23: Fachada leste .................................................................................................. 68
Figura 24: Aquarela de Dominique Pineau do paço municipal e biblioteca pública em
1883 ............................................................................................................................
74
Figura 25: Paço municipal – foto de Henrique M. Patacão ............................................ 74
Figura 26: Paço Municipal e Bibliotheca Pública Pelotense .......................................... 74
Figura 27: Situação / localização .................................................................................... 75
Figura 28: Localização / cobertura .................................................................................. 75
Figura 29: Planta baixa 1º pav. ........................................................................................ 75
Figura 30: Planta baixa mezanino ................................................................................... 76
Figura 31: Planta baixa 2º pav. ........................................................................................ 76
Figura 32: Planta de estrutura do telhado ........................................................................ 76
Figura 33: Planta de forros do 2º pav. ............................................................................. 77
Figura 34: Fachada leste ou principal ............................................................................. 77
Figura 35: Fachada sul ou lateral .................................................................................... 77
Figura 36: Clichê publicado no Relatório da Gestão social de 1904 e no jornal “A
Opinião Pública” de 03 de abril de 1904 (desenho atribuído a C. Casaretto) ............
82
Figura 37: Clube Caixeiral visto pela praça .................................................................... 83
Figura 38: Clube Caixeiral visto pela Rua Anchieta ....................................................... 83
Figura 39: Situação ......................................................................................................... 83
Figura 40: Planta de cobertura ........................................................................................ 84
Figura 41: Planta baixa 1º pav. ........................................................................................ 84
Figura 42: Planta baixa 2º pav. ........................................................................................ 84
Figura 43: Planta baixa pav. intermediário entre 1º e 2º pav. ......................................... 85
Figura 44: Fachada principal ........................................................................................... 85
Figura 45: Fachada lateral ............................................................................................... 85
Figura 46: Parede divisória de estuque ........................................................................... 100
Figura 47: Preparação da cal ........................................................................................... 102
Figura 48: Sete camadas no reboco ................................................................................. 108
Figura 49: Reboco com acabamento imitando mármore em Veneza ............................. 111
Figura 50: Execução das cornijas .................................................................................... 123
Figura 51: Cornijas de socos ........................................................................................... 126
Figura 52: Cornijas de faixa ............................................................................................ 126
Figura 53: Cornijas e cornijões ....................................................................................... 127
Figura 54: Cornijas de tijolos .......................................................................................... 127
Figura 55: Arquitraves de pedra ...................................................................................... 129
Figura 56: Arquitraves de tijolos ..................................................................................... 129
Figura 57: Cerâmicas furadas e vigas metálicas ............................................................. 131
Figura 58: Vigas e preenchimentos resistentes ao fogo .................................................. 132
Figura 59: Vigas de madeira, ferro e mistas ................................................................... 132
Figura 60: Cúpula em ferro do mercado de grãos em Paris ............................................ 133
Figura 61: Armadura do pórtico da igreja de Santa Genoveva ....................................... 134
Figura 62: Cornijas em portas ......................................................................................... 135
Figura 63: Gotejador de portas e janelas ......................................................................... 136
Figura 64: Ferragens de portas e janelas ......................................................................... 137
Figura 65: Soalho em madeira ........................................................................................ 139
Figura 66: Soalho com travessas curtas ......................................................................... 140
Figura 67: Soalhos ......................................................................................................... 140
Figura 68: Soalho poligonal ........................................................................................... 141
Figura 69: Estrutura de madeira para soalhos ................................................................ 141
Figura 70: Soalho em madeira e colocação de piso ....................................................... 142
Figura 71: Vigas de ferro e preenchimento com madeira .............................................. 142
Figura 72: Revestimento argamassado sobre tramado de madeira ................................ 143
Figura 73: Abobadilhas com elementos cerâmicos especiais e ferros duplo “T” .......... 144
Figura 74: Abóbadas sobre vigas de ferro ...................................................................... 145
Figura 75: Vigas de ferro e preenchimento com abobadilhas ........................................ 145
Figura 76: Preparação das bases de um pavimento térreo e ferramentas do canteiro ... 146
Figura 77: Terraço .......................................................................................................... 147
Figura 78: Ladrilhos de cimento prensado ..................................................................... 147
Figura 79: Ladrilhos de cimento prensado coloridos ..................................................... 148
Figura 80: Ladrilhos cerâmicos ...................................................................................... 149
Figura 81: Tábuas alternativamente sobrepostas ............................................................ 150
Figura 82: Soalho sarrafeado ......................................................................................... 151
Figura 83: Soalho de caixões ......................................................................................... 151
Figura 84: Soalho de caixões mais elaborado ................................................................ 152
Figura 85: Forro de estuque sobre armadura metálica ................................................... 153
Figura 86: Forro de estuque sobre armadura de canas ................................................... 154
Figura 87: Estrutura em arco de pedra dos “pelasgi” .................................................... 155
Figura 88: Arcos em pedra ............................................................................................. 155
Figura 89: Arcos antigos e modernos ............................................................................. 156
Figura 90: Arco – tipologia ............................................................................................
156
Figura 91: Arco – estrutura e nomenclatura ................................................................... 157
Figura 92: Arco – assentamento das pedras aparelhadas nos arcos ............................... 157
Figura 93: Arcos antigos e estruturas provisórias .......................................................... 158
Figura 94: Arcos, chaves e estruturas provisórias .......................................................... 158
Figura 95: Partes de uma abóbada de tonel ................................................................... 161
Figura 96: Abóbada de tonel .......................................................................................... 162
Figura 97: Alguns tipos de abóbadas ............................................................................. 162
Figura 98: Abóbadas de quatro garras e de quatro mantos ............................................ 163
Figura 99: Abóbada de barco ......................................................................................... 163
Figura 100: Estruturas provisórias de madeira para confecção de abóbadas .................. 164
Figura 101: Estruturas provisórias de madeira para abóbadas ........................................ 164
Figura 102: Traçados de várias abóbadas ....................................................................... 165
Figura 103: Estruturas provisórias para abóbadas .......................................................... 166
Figura 104: Tramado de canas na estrutura provisória de uma abóbada ........................ 167
Figura 105: Teto de estrutura de madeira com acabamento em abóbada ....................... 168
Figura 106: Várias disposições de tijolos nas abóbadas ................................................. 169
Figura 107: Cúpulas em tijolos ....................................................................................... 170
Figura 108: Abóbada de oito garras ................................................................................ 170
Figura 109: Cobertura de abas ........................................................................................ 171
Figura 110: Coberturas .................................................................................................... 172
Figura 111: Estrutura triangular de cobertura ................................................................. 173
Figura 112: Estruturas triangulares de cobertura ............................................................ 173
Figura 113: Madeirames dos pés das tesouras ................................................................ 174
Figura 114: Distância e secção dos madeirames nas coberturas à italiana ..................... 174
Figura 115: Tesoura de seta e à Paládio .......................................................................... 175
Figura 116: Vigas de madeira compostas ....................................................................... 175
Figura 117: Esquema gráfico para obter a inclinação das abas ...................................... 176
Figura 118: Estruturas de cobertura ................................................................................ 176
Figura 119: Uniões e juntas dos madeirames .................................................................. 177
Figura 120: Coberturas e seus telhados ........................................................................... 178
Figura 121: Estrutura de cobertura da catedral de Chiavari ............................................ 178
Figura 122: Telhas ........................................................................................................... 180
Figura 123: Telhas curvas, planas e de encaixe .............................................................. 181
Figura 124: Telhas de ventilação .................................................................................... 181
Figura 125: Formas e dimensões das telhas, cumeeiras e ventilações ............................ 181
Figura 126: Telhados das coberturas ............................................................................... 182
Figura 127: Telhado à italiana ......................................................................................... 183
Figura 128: Telhas curvas ............................................................................................... 183
Figura 129: Telhas capa e canal ...................................................................................... 183
Figura 130: Muretas em formato de guias e pinhas ........................................................ 185
Figura 131: Tesoura simples ........................................................................................... 186
Figura 132: Estrutura de forro em madeira ..................................................................... 186
Figura 133: Escada sobre arcos e com lance em balanço ............................................... 188
Figura 134: Escadas ........................................................................................................ 189
Figura 135: Escadas ........................................................................................................ 190
Figura 136: Escada externa sobre alvenaria e escada de pedra sobre alvenaria ............. 190
Figura 137: Escadas interiores com primeiro lance sobre alvenaria................................ 191
Figura 138: Escada de caracol em pedra ......................................................................... 191
Figura 139: Escada com degraus de prismas triangulares .............................................. 192
Figura 140: Escadas com degraus de madeira maciça .................................................... 193
Figura 141: Escada à “cappuccina” .................................................................................. 193
Figura 142: Escadas comuns de madeira ........................................................................ 193
Figura 143: Escadas com degraus sobrepostos às laterais .............................................. 194
Figura 144: Estrutura de mármore e ferro para escada ................................................... 194
Figura 145: Escada de metal e mármore ......................................................................... 195
Figura 146: Escadas interiores com primeiro lance sobre alvenaria ............................... 195
Figura 147: Escadas de ferro e degraus de mármore e escadas de caracol metálicas ..... 196
Figura 148: Escada de caracol da Mole Antonelliana ..................................................... 197
Figura 149: Degraus em ferro-gusa, rampa sobre vigas de ferro e em madeira e ferro .. 197
Figura 150: Guarda-corpos e corrimão de madeira ......................................................... 199
Figura 151: Guarda-corpos metálicos ............................................................................. 199
Figura 152: Detalhes do guarda-corpo da escada na Mole Antonelliana ........................ 200
Figura 153: Escadas com estrutura de metal e mármore ................................................. 200
Figura 154: Escada e guarda-corpo em ferro-gusa ......................................................... 201
Figura 155: Algumas secções de corrimão ..................................................................... 202
Figura 156: Juntas de pedra em guarda-corpos ............................................................... 202
Figura 157: Balcões de dupla ordem ............................................................................... 203
Figura 158: Guarda-corpo em pedra ............................................................................... 204
Figura 159: Percentual de imóveis com os tipos de fundação direta .............................. 209
Figura 160: Percentual de imóveis com os tipos de parede ............................................ 210
Figura 161: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de elemento vertical . 211
Figura 162: Percentual de imóveis com rebocos de acabamento marmóreo conforme o
padrão da construção ..................................................................................................
211
Figura 163: Percentual de imóveis com rebocos de acabamento marmóreo conforme o
período da construção .................................................................................................
212
Figura 164: Percentual de imóveis com os tipos de adorno em elemento vertical ......... 212
Figura 165: Percentual de imóveis com ornatos de argamassa no interior conforme o
padrão da construção ..................................................................................................
213
Figura 166: Percentual de imóveis com ornatos de argamassa no interior conforme o
período da construção .................................................................................................
213
Figura 167: Percentual de imóveis com os tipos de vão em elemento vertical ............... 214
Figura 168: Percentual de imóveis com os tipos de esquadria em elemento vertical ..... 215
Figura 169: Percentual de imóveis com os tipos de estrutura de elemento horizontal ... 216
Figura 170: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de piso ...................... 217
Figura 171: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de teto ...................... 217
Figura 172: Percentual de imóveis com forro de madeira “saia e camisa” conforme o
padrão da construção ..................................................................................................
218
Figura 173: Percentual de imóveis com forro de madeira “saia e camisa” conforme o
período da construção .................................................................................................
218
Figura 174: Percentual de imóveis com forro de madeira “macho e fêmea” conforme
o período da construção ..............................................................................................
219
Figura 175: Percentual de imóveis com os tipos de arco ................................................ 219
Figura 176: Percentual de imóveis com os tipos de abóbada de estuque ........................ 220
Figura 177: Percentual de imóveis com os tipos de abóbada de tijolos .......................... 220
Figura 178: Percentual de imóveis com os tipos de estrutura de cobertura .................... 221
Figura 179: Percentual de imóveis com estrutura metálica em clarabóia conforme o
padrão da construção ..................................................................................................
221
Figura 180: Percentual de imóveis com os tipos de telhado ........................................... 222
Figura 181: Percentual de imóveis com telhas francesas conforme o período da
construção ...................................................................................................................
222
Figura 182: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de cobertura ............. 223
Figura 183: Percentual de imóveis com os tipos de estrutura de escada ........................ 223
Figura 184: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de escada .................. 224
Figura 185: Percentual de imóveis com revestimento pétreo nas escadas conforme o
padrão da construção ..................................................................................................
224
Figura 186: Percentual de imóveis com os tipos de proteção de escada ......................... 225
Figura 187: Percentual de imóveis com os tipos de piso e soleira de sacada ou balcão . 225
Figura 188: Percentual de imóveis com os tipos de guarda-corpo de sacada ou balcão . 226
Figura 189: Alvenaria de tijolos maciços com arcos e pilares ........................................ 228
Figura 190: Alvenaria de tijolos maciços no porão do Clube Caixeiral ......................... 228
Figura 191: Parede divisória de estuque com juntas verticais ........................................ 229
Figura 192: Parede divisória de estuque com juntas inclinadas ...................................... 229
Figura 193: Tábuas da parede de estuque sobressaindo do forro .................................... 230
Figura 194: Rusticação em fachada ................................................................................ 231
Figura 195: Reboco imitando alvenaria de pedras com juntas rebaixadas ..................... 231
Figura 196: Reboco imitando alvenaria de pedras com face rugosa e juntas rebaixadas 232
Figura 197: Revestimento de cantaria na base da construção ......................................... 232
Figura 198: Revestimento de mármore em paredes ........................................................ 233
Figura 199: Reboco de acabamento marmóreo em escada ............................................. 234
Figura 200: Reboco de acabamento marmóreo em circulação ....................................... 234
Figura 201: Frisos, frontão, capitéis e diversas cornijas ................................................. 235
Figura 202: Frisos, frontão, molduras, festões, capitéis e cornija superior ..................... 235
Figura 203: Frisos, frontão, molduras, festões, capitéis e cornija superior ..................... 235
Figura 204: Frisos, molduras, flores, e cornija no interior do paço municipal ............... 236
Figura 205: Arquitrave de tijolos maciços ...................................................................... 236
Figura 206: Marcos e soleiras de cantaria ....................................................................... 237
Figura 207: Fixação dos marcos em cantaria .................................................................. 237
Figura 208: Lambrequim na Casa Eliseu Antunes Maciel .............................................. 238
Figura 209: Esquadria de madeira com bandeira trabalhada .......................................... 238
Figura 210: Esquadrias de madeira com bandeiras trabalhadas ...................................... 238
Figura 211: Esquadrias de madeira com bandeiras em leque e óculos ........................... 239
Figura 212: Tramado de vigas de madeira para fixação do soalho e suporte do forro
abaixo .........................................................................................................................
239
Figura 213: Entrepiso para revestimento impermeável .................................................. 240
Figura 214: Madeiramento para forro “saia e camisa” ................................................... 240
Figura 215: Madeiramento para forro de estuque na Casa Eliseu Antunes Maciel ........ 241
Figura 216: Estrutura metálica com perfil “I” e vigas de madeira em entrepiso ............ 241
Figura 217: Estrutura de madeira para forro de estuque ................................................. 242
Figura 218: Estrutura de madeira para forro de estuque ................................................. 242
Figura 219: Estrutura metálica para abobadilhas em porão ............................................ 243
Figura 220: Estrutura metálica para abobadilhas em indústria ....................................... 243
Figura 221: Abobadilhas sob terraço .............................................................................. 243
Figura 222: Ladrilho hidráulico com a marca do fabricante ........................................... 244
Figura 223: Ladrilho hidráulico em piso de avarandado ................................................ 244
Figura 224: Soalho no Clube Caixeiral ........................................................................... 245
Figura 225: Forro de madeira tipo “saia e camisa” ......................................................... 246
Figura 226: Forro de madeira tipo “macho e fêmea” ...................................................... 246
Figura 227: Forro de estuque com ornatos em relevo ..................................................... 247
Figura 228: Arco de tijolos maciços ............................................................................... 247
Figura 229: Arco pleno de tijolos maciços no pavimento térreo da construção ............. 248
Figura 230: Arco pleno de pedra granítica ...................................................................... 248
Figura 231: Meia cúpula de estuque com ornatos em relevo .......................................... 249
Figura 232: Abóbadas cruciformes de estuque com arcos policêntricos ........................ 249
Figura 233: Meia-cúpula de estuque com pintura decorativa ......................................... 250
Figura 234: Abóbada de oito garras de tijolos maciços .................................................. 250
Figura 235: Tesouras de madeira falquejada .................................................................. 251
Figura 236: Estrutura metálica para clarabóia ................................................................ 251
Figura 237: Estrutura metálica para clarabóia no paço municipal .................................. 252
Figura 238: Telhas “capa e canal” no paço municipal .................................................... 252
Figura 239: Telhas “capa e canal” e “francesa” .............................................................. 253
Figura 240: Escada com base de alvenaria de tijolos ...................................................... 254
Figura 241: Escada de madeira aplainada ....................................................................... 254
Figura 242: Escada de ferro fundido ............................................................................... 255
Figura 243: Escada sobre abóbada de tijolos maciços .................................................... 255
Figura 244: Guarda-corpo de ferro forjado e fundido e passamão de madeira ............... 256
Figura 245: Canal na pedra na soleira de cantaria do balcão .......................................... 257
Figura 246: Guarda-corpo de ferro forjado e fundido e passamão de madeira ............... 258
Figura 247: Guarda-corpo com balaustres de porcelana e passamão de mármore ......... 258
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resumo dos dados históricos sobre os construtores ....................................... 45
Tabela 2: Imóveis existentes ........................................................................................... 50
Tabela 3: Cidades e instituições pesquisadas na Itália .................................................... 51
Tabela 4: Técnicas construtivas e materiais identificados na capela e provedoria da
Santa Casa de Misericórdia de Pelotas .......................................................................
59
Tabela 5: Técnicas construtivas e materiais identificados na Casa Eliseu Antunes
Maciel .........................................................................................................................
69
Tabela 6: Técnicas construtivas e materiais identificados na Prefeitura Municipal de
Pelotas ........................................................................................................................
78
Tabela 7: Técnicas construtivas e materiais identificados no Clube Caixeiral ............... 86
Tabela 8: Resumo das técnicas construtivas e materiais identificados nas obras pré-
selecionadas ................................................................................................................
89
Tabela 9: Quantitativos das técnicas construtivas de cada elemento construtivo nas
obras existentes ..........................................................................................................
206
LISTA DE ABREVIATURAS
APERGS - Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul ....................................... 48
BID – Banco Interamericano do Desenvolvimento ........................................................ 73
BPP – Bibliotheca Pública Pelotense .............................................................................. 49
CEFET/RS – Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas/Rio Grande do Sul 42
ICCROM – International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of
Cultural Property – Centro Internacional para o Estudo da Preservação e
Restauração de Bens Culturais ...................................................................................
51
ICOMOS – International Council on Monuments and Sites – Conselho Internacional
sobre Monumentos e Sítios ........................................................................................
29
IGDA – Instituto Geográfico Di Agostini ....................................................................... 112
IILA - Istituto Italo-Latino Americano – Instituto Ítalo-Latino Americano ................... 42
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional .................................. 29
IUAV - Istituto Universitario di Architettura di Venezia – Instituto Universitário de
Arquitetura de Veneza ................................................................................................
51
LIRBA – Laboratorio d’indagini e restauro dei beni architettonico “Salvatore
Boscarino” – Laboratório de investigações e restauro dos bens arquitetônicos
“Salvatore Boscarino” ................................................................................................
29
PMP – Prefeitura Municipal de Pelotas .......................................................................... 45
PPGEC/UFRGS – Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil/Universidade
Federal do Rio Grande do Sul ....................................................................................
24
SCMP – Santa Casa de Misericórdia de Pelotas ............................................................. 52
SECULT – Secretaria Municipal de Cultura .................................................................. 64
SUPSI – Scuola Universitária Professionale della Svizzera Italiana – Escola
Universitária Profissional da Suiça Italiana ...............................................................
51
Tav. – Tavola – Tábua (tradução literal) – Prancha ........................................................ 36
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23
1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo apresenta-se o tema da pesquisa, sendo discutidas as razões que motivaram a
escolha do assunto e justifica-se sua importância como contribuição no conhecimento nas
áreas de conservação do patrimônio histórico e suas tecnologias construtivas. Ainda, são
descritos os objetivos, as hipóteses e as limitações do estudo, bem como explicitada a
estrutura da tese.
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No início do século XIX, a atividade de produção de charque no Rio Grande do Sul atingiu
seu ponto áureo nas margens do canal São Gonçalo e do arroio Pelotas, dando origem ao
município de Pelotas, que se desenvolveu graças ao capital oriundo desta atividade.
Ao compararmos o quadro evolutivo da arquitetura pelotense de Moura et alii (1998, p.17),
com a evolução econômico-cultural de Magalhães (1993, p.53), na segunda metade do século
XIX, pode-se perceber um apogeu material e cultural que favoreceu a retomada do
crescimento urbano com o surgimento de importantes monumentos da arquitetura do Primeiro
Período Eclético (1850-1900) da cidade. O grande contingente de prédios deste período
testemunha a diversidade de influências na produção arquitetônica, quer seja, portuguesa,
italiana, alemã, francesa e outras (PERES, 2005b, p.664).
Segundo Soares (2001, p.8), os próprios comerciantes e industriais imigrantes atraíram outros
técnicos estrangeiros (engenheiros, arquitetos, tipógrafos, químicos, agrônomos) de
nacionalidade alemã, francesa ou italiana para trabalhar na cidade. Os construtores, que
podiam ser arquitetos, engenheiros ou mestres no ofício, sendo oriundos de diferentes países
europeus, aplicavam as técnicas trazidas ou herdadas de seus antepassados, interferindo de
diferentes formas nas práticas construtivas dos operários destas edificações.
Segundo dados de hospitalizações e falecimentos obtidos em Gutierrez (2004, p.520), é
possível perceber a grande freqüência de europeus nas construções da década de 70 do século
XIX, sendo que os portugueses preferiram ser carpinteiros; os alemães e franceses eram
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24
ferreiros; os italianos dividiram-se entre pintores e pedreiros. Havia uma divisão étnico-social
nos canteiros de obras, sendo destinadas aos escravos, africanos e negros as ocupações mais
desqualificadas e pesadas – de oleiros e pedreiros. Portanto, eram aplicados diversos
conhecimentos, não só do ecletismo arquitetônico da época, mas também do “ecletismo das
técnicas” apreendidas.
Os prédios de interesse histórico fazem parte dos bens materiais que compõem o patrimônio
ambiental urbano. Tem sido crescente o esforço de pesquisadores em torno das questões de
durabilidade e reparo ou restauração de edificações, com proposições de novos materiais para
substituição das partes deterioradas. Porém, as edificações antigas impõem restrições ao uso
de materiais, técnicas e detalhes pela incompatibilidade com os materiais e técnicas antigas.
Entretanto, as edificações que atravessam os séculos testemunhando bom gosto e técnica de
bem construir chocam pela forma com que se degradam em curto espaço de tempo. O
controle de qualidade nas várias etapas do processo construtivo, como planejamento, projeto,
seleção de materiais, execução da obra e uso da mesma são requisitos essenciais para a
durabilidade de uma edificação. Impedir a destruição destas edificações não basta como forma
de preservar o patrimônio cultural de uma sociedade, é necessário torná-las integradas à
economia da região. (PERES, 2005a, vol. II, cap.V, p.26)
Ainda são recentes as pesquisas sobre os efeitos econômicos na conservação e reabilitação da
herança cultural construída, mas é crescente a consciência de que estes bens são, não somente
recursos econômicos importantes, mas também agentes de dinamismo intelectual e equilíbrio
coletivo através da descoberta de sua identidade. (OST et alii, 2004, p.7)
Na situação econômica em que se encontram os países latino-americanos, a preservação da
herança cultural construída pode ser uma forma de amenizar as numerosas necessidades
sociais, mas, principalmente, integrando-se à economia urbana, com atividades produtivas de
incremento de valor ao patrimônio. A “segregação” dos bens culturais só ocorre quando não
existe uma adequada integração funcional e econômica.
A edificação antiga, como qualquer edificação, deve ter a capacidade de atualização do seu
desempenho. Problemas relativos à manutenção e conservação destas edificações,
constantemente negligenciados ou ignorados, têm contribuído para o aumento considerável de
manifestações patológicas, ocasionando muitas vezes não somente degradações de suas
partes, como chegando à destruição total do bem.
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25
Segundo Bondioni e Petracco (2001, p.25), a degradação dos materiais possui, quase sempre,
ligação com as características dos mesmos (sendo útil conhecer sua proveniência), com seu
modo de aplicação (geralmente ligado ao saber cultural do mestre da obra) e com fatores
ambientais. Além disso, Lersch (2003, p.150) evidencia que a ação do homem é geradora de
grande parte dos danos pela falta de conservação preventiva ou por intervenções indevidas nas
edificações do patrimônio cultural.
Pesquisas internacionais no campo do restauro têm fornecido subsídios metodológicos para as
investigações quanto à natureza dos materiais originais constituintes e quanto às técnicas
construtivas de sua aplicação. A atividade diária dos laboratórios científicos procura recuperar
um “saber fazer” esquecido, que provavelmente continham os segredos do ciclo total de
preparação dos compostos e dos materiais de base. As pesquisas sobre técnicas construtivas e
materiais originais utilizados em obras de interesse histórico ainda são poucas e com escassas
publicações, o que restringe a qualidade das intervenções nesta área. A presente pesquisa tem
o objetivo de colaborar neste sentido, como justificado a seguir.
1.2 JUSTIFICATIVA
Nos estudos sobre a evolução da arquitetura pelotense no final do século XIX e início do
século XX, encontram-se numerosas obras projetadas ou executadas por construtores e
descendentes de italianos. Os que mais se destacaram foram: Giuseppe Isella, Guglielmo
Marcucci, os irmãos Luiggi e Carlo Zanotta, Caetano Casaretto e seu sobrinho Carlos
Casaretto Scotto.
No período do desenvolvimento econômico de Pelotas devido à produção do charque, ou seja,
da metade do século XIX até as primeiras décadas do século XX, percebe-se um elevado
número de construções projetadas ou executadas por estes profissionais, sem qualquer registro
bibliográfico das técnicas e materiais utilizados, bem como a identificação de suas
participações nestas obras. Por estas razões, considera-se de fundamental importância o
reconhecimento das obras edificadas por estes construtores e o levantamento das que
permanecem no espaço urbano de Pelotas.
Segundo Bondioni e Petracco (2001, p.25), a recuperação dos conhecimentos técnicos, dos
quais foram perdidas as memórias, mas que por séculos têm se constituído em “segredos da
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26
arte” das corporações dos operários ou “muratori”, aperfeiçoados e modificados com o passar
do tempo podem contribuir hoje para sua conservação, valorizando as construções, não
somente pela junção de espaços ou como reflexo de uma cultura que se exprime através de
formas e tipologias, mas como produto de um “saber fazer” de consistência material, que deve
ser respeitado em toda sua particularidade.
Na quase totalidade das fontes bibliográficas do século XIX são frequentemente citados
outros tratadistas e manualistas consagrados não somente na Itália, mas também na França e
Alemanha e que os antecederam desde o séc. I a.C e I d.C., como Vitruvio e Plinio
respectivamente, ou nos séculos XVI, XVII e XVIII, como Giocondo, Cesariano, Bárbaro,
Rusconi, Amati, Cennini, Alberti, Cataneo, Palladio, Serlio, Scamozzi, Milizia, Rondelet e
Quatremère de Quincy, entre outros. Por serem fontes de referência obrigatória nos tratados
italianos do século XIX, considera-se fundamental o conhecimento destas fontes, inclusive em
ordem cronológica, como estão relacionadas no anexo C deste trabalho.
O resgate do legado da tecnologia construtiva de imigrantes italianos às obras existentes em
Pelotas ampliará as perspectivas de êxito das futuras intervenções de conservação,
manutenção e restauração destas obras.
Os tópicos apresentados anteriormente estabeleceram os objetivos para o presente trabalho,
descritos no item 1.4.
1.3 PREMISSAS E HIPÓTESES DE PESQUISA
Qualquer intervenção em prédios históricos, qual seja de conservação, manutenção ou
restauração, requer uma pesquisa baseada nas técnicas construtivas e nos materiais utilizados.
Este trabalho investiga a tecnologia construtiva e materiais utilizados por construtores ou
descendentes de italianos, responsáveis pela maior parte dos prédios públicos e privados da
segunda metade do século XIX e início do século XX em Pelotas. Baseando-se nas
comparações com as práticas construtivas difundidas nos manuais e tratados da época na
Itália, busca-se estabelecer uma adequada base documental para ser aplicada em futuras
intervenções nestes prédios.
As premissas que sustentam a pesquisa são as seguintes:
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27
a) é elevado o número de obras realizadas por construtores italianos em Pelotas,
que necessitam de constante conservação e manutenção e restauração;
b) existe uma similaridade entre as técnicas construtivas e materiais utilizados nas
obras dos construtores em questão, devido à mesma origem do conhecimento
ou devido às suas relações de parentesco e/ou trabalho;
c) não existe documentação das técnicas construtivas e materiais utilizados nestas
obras.
Dadas as premissas acima, estabeleceram-se as seguintes hipóteses de pesquisa:
d) é provável que os construtores pesquisados tenham se utilizado de
conhecimentos das práticas construtivas utilizadas na Itália no século XIX;
e) as relações familiares e de trabalho entre estes construtores ocasionaram uma
similaridade dos procedimentos construtivos e materiais utilizados nas suas
obras;
f) é possível documentar a tecnologia construtiva dos profissionais em questão
através da investigação das técnicas construtivas e materiais utilizados nas suas
obras e da comparação entre os dados obtidos e os encontrados nos manuais e
tratados da época pesquisada.
1.4 OBJETIVOS
Tendo por base o exposto nos itens anteriores, este trabalho tem como objetivo geral,
documentar o legado ao patrimônio arquitetônico de Pelotas, da tecnologia construtiva
utilizada no final do século XIX e início do século XX, por construtores italianos,
contribuindo para os trabalhos de conservação ou restauração destes imóveis.
O presente trabalho tem como objetivos específicos:
a) identificar as técnicas construtivas e materiais utilizados nos imóveis projetados
ou executados por construtores de origem italiana com atuação no final do
século XIX e início do século XX em Pelotas, para servir como dados básicos
de referência destes prédios;
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b) verificar a tecnologia construtiva difundida neste período no país de origem
destes construtores;
c) comparar a tecnologia construtiva empregada pelos construtores pesquisados
com a encontrada nos manuais e tratados italianos.
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2 O “SABER TÉCNICO” DE IMIGRANTES ITALIANOS NO
PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO PELOTENSE
Qualquer intervenção cujo objetivo é o de preservar as edificações produzidas por imigrantes
italianos no patrimônio arquitetônico de Pelotas necessita embasar-se não somente nos
fundamentos da preservação e do restauro, mas também no conhecimento técnico e prático
dos seus construtores, sem qualquer registro bibliográfico.
2.1 PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO
A necessidade de preservação do patrimônio ambiental urbano tem sido defendida em várias
esferas de abrangência. Movimentos preservacionistas de sociedades cívicas têm publicado
manifestos ou cartas desde 1882 no Decreto do Ministerio della Pubblica Istruzione de Roma
(LIRBA, 2007e); em 1883 no III Congresso degli ingegneri e architetti italiani - II Carta
(LIRBA, 2007f); em 1931 na Carta di Atene (LIRBA, 2007c) e na Carta del restauro italiana
(LIRBA, 2007b); em 1964 na Carta di Venezia (LIRBA, 2007d); em 1967 nas Normas de
Quito (ICOMOS, 2007b); em 1970 no Compromisso de Brasília (COSTA, 2007); em 1972 na
Carta del restauro (LIRBA, 2007a); em 1978 na Carta de Pelotas (UNIVERSIDADE DO
VALE DO RIO DOS SINOS, 1978); em 1987 na Carta de Washington (ICOMOS, 2007c) e
na Carta de Petrópolis (MINISTÉRIO DA CULTURA. IPHAN, 1995); em 1999 na Carta de
Burra (ICOMOS, 2007a) em 2000 na Carta de Cracóvia (KADLUCZKA et alii, 2007), entre
outros. Em todas estas manifestações, como a de um trecho da Carta de Pelotas, citado a
seguir, pode-se comprovar a inegável e imperiosa necessidade de proteger os nossos bens:
Só se preserva o que se ama, só se ama o que se conhece [...] possibilitar-se-á às
gerações futuras a subsistência dos elos que estabelecem a continuidade da corrente
civilizadora e que dão ao homem, diante das mudanças bruscas da sociedade, a
sensação de segurança necessária a seu contínuo evoluir.
Os prédios históricos, de inegável valor cultural, sendo parte dos bens materiais que compõem
o patrimônio ambiental urbano e apresentando manifestações patológicas, necessitam ser
restaurados, uma vez que o desenvolvimento econômico e social de uma comunidade não
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30
dispensa a valorização de sua história. Na área de conservação de bens culturais o problema é
mais preocupante, pois foi sempre liderado por intelectuais imunes às coisas da ciência e à
inovação. Nem de longe procuraram motivar-se na história da própria cultura da
conservação/restauração.
Os romanos, por exemplo, na ocupação de suas províncias adotaram o critério de conservar
aqueles edifícios que podiam desempenhar uma função útil. No entanto, aqueles que
consideravam inúteis, ainda que possuíssem categorias artísticas, foram destruídos. A partir
de então se desenvolveu uma série de atividades e tentativas de conservação dos rastros do
passado. Deve-se salientar que as primeiras iniciativas de conservação foram principalmente
de restos arquitetônicos. Durante o século XIX, podemos mencionar três teorias referentes ao
tratamento dos edifícios históricos, as mesmas que surgiram na França, Inglaterra e Suécia.
Na França, o governo tomou interesse pelos sítios históricos desde 1830, quando o Rei Luis
Felipe nomeou pela primeira vez um inspetor de monumentos históricos, e uma comissão
organizada em função desse cargo preparou um inventário de todos os edifícios antigos. Além
disso, se contrataram arquitetos para supervisionar a restauração das estruturas mais
importantes. Todo este trabalho se converteu posteriormente na base de um sistema de
proteção de monumentos históricos públicos. O governo se reservou o direito de evitar
alterações nos edifícios particulares considerados de valor histórico. (FIORELLA, 2000, p. 2)
Essa preocupação alcança uma notável importância no século XIX, sobretudo com Viollet-
Le-Duc (1814-1879), o principal teórico da arquitetura francesa situado entre o estilo
neoclássico e o ecletismo. Nomeado arquiteto do Serviço de Salvação e Restauração de
prédios antigos, preocupava-se e impregnava-se a tal ponto dos monumentos que estudava,
querendo torná-los atuais, corrigindo às vezes o que achava imperfeito e dando continuidade
às obras inacabadas, numa atitude de vanguarda, que acabaram por considerá-lo um
falsificador da história. Aliás, o tema durabilidade que deveria ser buscado com todo o afinco
nos nossos tempos e com muito maior razão, em vista do desenvolvimento científico e
tecnológico, desde muito preocupa os estudiosos na área. Na Inglaterra, o movimento
preservacionista não se desenvolveu como um apêndice do aparato governamental, como no
caso da França, senão através de organizações privadas que ensaiaram métodos de
preservação mais do que restauração. John Ruskin e William Morris são os preservacionistas
mais importantes deste período; ambos consideravam que a adequada restauração de uma
estrutura antiga é impossível. Ruskin (1819-1900) publicou, em 1849, “As sete luzes da
Arquitetura”, e em 1851, “As pedras de Veneza”. As idéias de Ruskin parecem ser a semente
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do Movimento Preservacionista, que se fundou em 1877 sob a direção de William Morris,
com o nome de “Sociedade para a Proteção dos Edifícios Antigos”. Dita instituição tratou de
influenciar no processo de proteção, mas não no de restauração da arquitetura antiga na Grã-
Bretanha. Seus postulados se baseiam no seguinte critério, a única ação legítima que não
altera a concepção original e o espírito da estrutura é simplesmente o que trata de impedir a
deterioração “resultante da idade e uso do edifício”. Além das tentativas iniciais de
preservação, realizadas de acordo com as idéias de Ruskin e Morris, se encontra uma grande
quantidade de sociedades cívicas e movimentos de preservação de caráter local, interessados
no problema, cujo trabalho alcançou diversos graus de satisfação e êxito. (FIORELLA, 2000,
p. 2)
Entre as publicações que tratam da preocupação com a preservação do patrimônio cultural, a
Carta de Veneza, em seu artigo 2º diz que a conservação e a restauração dos monumentos
constituem uma disciplina que reclama a colaboração de todas as ciências e técnicas que
possam contribuir para o estudo e a salvaguarda do patrimônio monumental. O mesmo
documento manifesta que a restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem
por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-
se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. E acrescenta que quando as
técnicas tradicionais se revelarem inadequadas, a consolidação do monumento pode ser
assegurada com o emprego de todas as técnicas modernas de conservação e construção cuja
eficácia tenha sido demonstrada por dados científicos e comprovada pela experiência. Ou
seja, é concedida e incentivada toda a oportunidade para o desenvolvimento de estudos e
pesquisas que venham a contribuir para o tema.
Além disso, o artigo 4º da Carta de Veneza refere-se à importância da manutenção do acervo
cultural: “A conservação dos monumentos exige, em primeiro lugar, sua permanente
manutenção”. No entanto, as práticas de conservação preventiva e de manutenção do bem não
fazem parte da tradição brasileira, que apenas recorre à restauração depois que o bem chega a
um nível avançado de degradação. É, portanto, de importância fundamental, conhecer muito
para intervir pouco e prevenir para não intervir.
Em 1883, o III Congresso dos engenheiros e arquitetos italianos, em sua Segunda Carta,
(LIRBA, 2007, p.1) recomenda os seguintes princípios:
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a) quando é inegável a necessidade de manuseio nos monumentos arquitetônicos,
é preferível consolidá-los a repará-los, repará-los a restaurá-los, evitando
adições e renovações;
b) no caso das adições ou renovações serem absolutamente indispensáveis, por
solidez ou outras causas, e de não existirem mais as partes faltantes ou o
conhecimento seguro das formas primitivas, estas devem ser completadas com
caráter diverso da do monumento, evidenciando a diferença dos aspectos
artísticos;
c) incisão do feito de atuação ou de um sinal convencional na parte nova;
d) as obras indispensáveis de consolidamento dos monumentos com rara beleza e
singularidade não devem diminuir o atrativo aspecto artístico dos mármores,
mosaicos, pinturas e cores envelhecidas ou das circunstâncias pitorescas ou
rústicas em que se encontram;
e) exposição das partes materiais que tenham sido eliminadas no lugar contíguo
ao monumento restaurado;
f) descrição e imagens das diversas fases dos trabalhos depositados no próprio
monumento ou em lugar público próximo, ou publicação de todos os trabalhos
com a notoriedade visual das ações realizadas;
g) epígrafe descritiva da atuação com data fixada ao monumento.
Estes normas foram imediatamente adotadas pelo Ministério Público de Instrução da Itália e
posteriormente toda a Europa os aceitou. Falando sobre Arquitetura, John Ruskin dizia que:
“como nenhum poeta pode completar um verso incompleto da Eneida, nenhum pintor poderá
pintar um quadro de Rafael, nem um escultor poderá terminar uma escultura de Michelangelo,
nenhum arquiteto deverá terminar uma catedral”. Todo acréscimo tem uma justificativa
histórica e um valor documental, que deve ser considerado antes da sua retirada. De acordo
com Ribeiro (2004, p.43), Ruskin não poderia chefiar uma corrente de restauração porque era
contra toda e qualquer iniciativa de restauração, que, segundo acreditava, altera a
historicidade do documento.
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Camilo Boito, o pai do restauro científico no século XIX, procurou combinar duas vertentes
totalmente incompatíveis entre si: o respeito integral ao documento histórico a que se refere
Ruskin, com a possibilidade de restaurar de Viollet-le-Duc. (RIBEIRO, 2004, p. 43)
De acordo com Ribeiro (2004, p.46), outro teórico da Restauração, muito influente nas
últimas décadas - Cesare Brandi (1906-1988), procura realçar a transitoriedade, parcialidade e
relatividade das intervenções no monumento histórico marcado pelo clima cultural no qual foi
realizado e cujos traços da passagem do tempo e das ações humanas não podem ser
destruídos. Mesmo assim não consegue fugir do paradoxo de que, defendendo princípios
estéticos, é preciso remover as intervenções erradas e inapropriadas. A herança cultural
construída possui diferentes significados conforme as culturas e tradições de uma
comunidade. Desta forma, torna-se muito difícil o estabelecimento de valores para estes bens,
cujos graus de respeito e interesse diferem conforme a comunidade em que se inserem.
Arcolao (1998, p.XIII) estabelece algumas considerações sobre tradição e história, relevantes
na valorização do patrimônio cultural de uma sociedade. É preciso compreender que tradição
implica em transferência, ensino, transmissão, com a passagem direta de quem precede a
quem segue uma idéia ou experiência.
Para que haja história, são necessários documentos e monumentos. A cultura herdada da
escritura se alcança com a mediação das palavras escritas ou das imagens, apenas com o
poder narrativo. Diferente, mas com o mesmo poder de comunicação é a existência
reconhecida, silenciosa e atingível pela forma e pela matéria, seja da igreja, palácio,
monumento, cidade ou mesmo de um utensílio. Os objetos continuam a existir, como
testemunhos de uma vivência – mesmo perdendo a sua função original prática, adquirem o
valor histórico que transcende ao valor de utilidade. Este valor histórico – patrimônio da
memória constitui-se em verdadeiro documento.
Um aspecto específico da tradição reside na figura do construtor – artífice do canteiro de
obras. Ele é um artesão acostumado a trabalhar usando as mãos e manuseando utensílios, mas
a sua arte não se restringe somente a manufatura: o artesão guia seus próprios gestos com uma
bagagem de conhecimento teórico e com um especial talento que é um misto de capacidade
criativa e de segredos dos seus mestres. Além disso, todo produto artesanal pressupõe a
repetitividade das fases executivas, incluindo as matérias primas e o seu tratamento, mas
resulta numa obra única e irrepetível.
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De acordo com Feiffer (2000, p.9), qualquer intervenção que busque a efetiva conservação ou
restauração só será de qualidade quando for fundamentada em dois princípios elementares:
domínio da cultura e da história do restauro; e, método projetual baseado em conhecimentos
prévios para a proposição de soluções de alto e rigoroso nível científico. A consciência de que
a intervenção técnica enfrenta problemas de caráter físico, químico ou biológico, e das
conseqüências na aplicação de novos materiais conjuntamente com materiais tradicionais,
bem como da profunda relação projeto-canteiro são fatores que interferem direta e
particularmente nas questões da qualidade do restauro arquitetônico. No interesse típico do
nosso tempo, de produzir o “saber pelo saber”, as práticas empíricas, a ciência e a história
perdem a sua original finalidade para comportar decisões e atos técnicos, ainda mais se
tratando de conservação de bens históricos – impondo uma reavaliação das decisões e abrindo
novas perspectivas de pesquisa.
A teoria da restauração contemporânea continua mantendo, em pleno século XXI, a utopia de
conciliar Ruskin com Viollet-le-Duc. Uma das formas desta tentativa é a experiência atual
baseada em dois princípios de operacionalidade e respeito ao documento histórico: o princípio
da mínima intervenção e o princípio da compatibilidade – que procura comportamentos
físicos, químicos e mecânicos de materiais atuais compatíveis com os antigos. Para tal, a
experiência da restauração necessita do conhecimento interdisciplinar não somente de
arquitetos, mas também de engenheiros, historiadores, arqueólogos e outros pesquisadores.
2.2 A INFLUÊNCIA DA ECONOMIA DO CHARQUE NO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO DE PELOTAS
Os movimentos migratórios europeus do final do século XIX e início do século XX para a
região sul do Brasil, foram fatores importantes no seu desenvolvimento econômico e urbano.
Segundo Soares (2001, p.5), na segunda metade do século XIX, a província do Rio Grande do
Sul estava dividida em duas economias regionais distintas e não complementares: a economia
campesina denominada “colonial”, baseada nas áreas de colonização alemã e italiana no norte
do território, desenvolvendo-se a pequena propriedade agrícola, centralizada em Porto Alegre;
e a economia do charque, na campanha gaúcha, cujos núcleos centrais eram Pelotas (centro
produtor e comercial) e Rio Grande (porto de exportação).
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De acordo com Magalhães (1993, p.33), Pelotas foi praticamente o único lugar do Brasil onde
se desenvolveu a indústria saladeril – salga para conservação da carne. Suas instalações eram
denominadas “charqueadas” e contavam com mão de obra escrava. Houve um período em que
existiram simultaneamente 38 charqueadas, cuja riqueza projetou a cidade como a primeira
capital econômica do Rio Grande do Sul.
Nos primeiros trinta anos do século XIX, o charque representava o maior produto de
exportação da província do Rio Grande do Sul. Com o surgimento da economia capitalista e
industrial no núcleo de Pelotas e o conseqüente desenvolvimento urbano é que esta cidade se
converteu em um pólo atrativo para as migrações internas e internacionais na segunda metade
do século XIX.
Soares (2001, p.8) considera que a inserção destes profissionais foi facilitada por não
existirem praticamente universidades no Brasil. Além disso, também chegaram outros
imigrantes mais relacionados com a elite e seus desejos de luxo e opulência, como
professores, artistas, pintores, músicos. Os construtores Isella e Zanotta (italianos) e Casaretto
(filho de italiano) foram os responsáveis pelos palacetes de algumas famílias mais importantes
da cidade, bem como importantes edifícios públicos.
Segundo Chevallier (2002, p.293), em algumas obras, trabalharam em conjunto, como é o
caso da capela da Sociedade Portuguesa de Beneficência onde Isella a projetou e Casaretto &
Irmão, empresa de Caetano Casaretto a executou. Em outras obras atuaram como mestre e
aprendiz, como as idealizadas e executadas por Isella e Casaretto atuando como seu aprendiz.
2.3 O “SABER TÉCNICO” E A INTERVENÇÃO
Investigações sobre a tecnologia construtiva e os materiais utilizados por construtores de
outras épocas, com a diversidade que é possível encontrar, conduz a uma reflexão de que uma
simples receita escrita pode ser, antes de tudo, provocação e fonte de um empenho
especulativo, por exemplo, sobre um fragmento de reboco, que é a presença material da
receita.
O conhecimento ligado à tecnologia construtiva é, por longa tradição, uma bagagem
indispensável ao restaurador, em virtude da conotação projetual que caracteriza o trabalho de
quem se ocupa com a conservação dos artefatos históricos. Não somente o conhecimento dos
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materiais utilizados e suas fontes de extração, mas também o estudo de organização do
canteiro histórico e dos operários envolvidos são seguramente fatores determinantes para uma
eficiente conservação atenta à riqueza e complexidade dos detalhes existentes. Entretanto,
recuperar e renovar o “saber técnico” abandonado nas últimas décadas é tarefa difícil,
necessita uma interdisciplinaridade de coligação entre as informações das fontes escritas, os
detalhes formais e materiais resultantes do diagnóstico físico-químico-mineralógico e
mecânico que caracterizam o artefato.
Barrera et alii (1993, p.68) considera que após a Revolução Industrial, começa um novo
conceito de cultura popular européia que apontava, sobretudo, para as informações técnicas da
Arquitetura, assinalando a passagem do “ambiente natural” para o “ambiente técnico”. Era a
idade das escolas “serale”, que eram escolas profissionalizantes noturnas que faziam parte das
Academias de Belas Artes e eram voltadas aos aprendizes e artesãos. Proliferavam os
compêndios e tratados com “tavole” - tábuas (tradução literal) ou pranchetas. Estas pranchetas
apresentavam desenhos em formato amplo de papel, geralmente anexados aos livros para
ilustrar o conteúdo escrito, com as devidas discussões dos problemas técnicos e de tudo o que
interessava aos mestres, ao trabalho, aos artefatos e suas relações com o fato artístico, além
dos estilos, a tradição e as novas formas do desenho industrial. Estes manuais eram dedicados
à Arquitetura e também às artes consideradas “menores” (utilitárias ou decorativas). Por
alcançarem ampla difusão, definiam-se como “populares”.
Guenzi (1993, p.9) defende a importância didática operativa e científica dos manuais de
Arquitetura, divergindo dos tratados com finalidade apenas teórica, para a redescoberta da
arte de edificar. Considera que a utilidade da manualística se comprova na vasta produção
edilícia conotada de indiscutível qualidade desde o século XIV e por vários séculos
sucessivos.
As introduções destes manuais descrevem a quem eram dirigidos: engenheiros, arquitetos,
usuários da geometria, mestres de obra, empreendedores, mão de obra das edificações e seus
apreciadores. Além disso, a clareza e a sistematização das representações gráficas do próprio
autor bem como desenhos de fontes precedentes nos manuais publicados na Itália demonstram
quanta importância era dada a estes desenhos ou planos, que, inclusive, apresentavam os
mecanismos das construções dirigidos aos operários dos canteiros de obra.
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A pesquisa em manuais e tratados que contemplam a tecnologia construtiva tradicional ou
histórica na origem da formação dos construtores procura alcançar a complexidade do
conhecimento, de indiscutível necessidade para a conservação do patrimônio construído, que
não pode ser eficazmente afrontado apenas sob um ponto de vista, mas sim deva se valer de
todas as fontes disponíveis, de modo a fazer interagir, confrontar e completar os resultados
obtidos.
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3 ESTRATÉGIA DE PESQUISA
Os procedimentos de pesquisa, adotados para a documentação da tecnologia construtiva
utilizada no final do séc. XIX e início do séc. XX por imigrantes italianos no patrimônio
arquitetônico de Pelotas no sentido de contribuir para os trabalhos de conservação e
restauração destes imóveis, incluíram as seguintes fases:
a) pesquisa inicial;
b) avaliação da tecnologia construtiva verificada nos imóveis existentes;
c) comparação da tecnologia construtiva dos imóveis pesquisados com a da
revisão bibliográfica.
A seguir se descreve com maior detalhe cada fase.
3.1 PESQUISA INICIAL
A fase inicial da pesquisa consta da identificação da tecnologia construtiva empregada nas
principais obras com a autoria de projetos ou execução, por construtores italianos ou
descendentes de italianos, no final do séc. XIX e início do séc. XX em Pelotas. Eram eles:
Guglielmo Marcucci, Giuseppe Isella, os irmãos Carlo e Luiggi Zanotta, Caetano Casaretto,
alguns irmãos na firma Casaretto & Irmãos (estes irmãos não foram identificados) e seu
sobrinho Carlos Casaretto Scotto.
Nesta fase foram desenvolvidas as seguintes etapas:
a) levantamento de dados históricos sobre os construtores;
b) levantamento do inventário das obras dos construtores;
c) bibliografia sobre a tecnologia construtiva empregada na Itália no séc. XIX;
d) levantamento das técnicas construtivas e materiais utilizados nas obras
previamente selecionadas;
e) revisão bibliográfica sobre a tecnologia construtiva.
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3.1.1 Dados históricos sobre os construtores
Na primeira etapa foi realizada a busca dos dados genealógicos dos construtores, incluindo as
principais datas relevantes à pesquisa, tais como data de nascimento, data de chegada ao
Brasil, período de atuação profissional em Pelotas, data de morte. Na busca de dados sobre as
suas origens, foram pesquisados os locais de nascimento e os locais de suas formações
técnicas, possibilitando uma escolha mais fundamentada das instituições a serem visitadas
(escolas de artífices, bibliotecas, universidades). Alguns destes dados foram confirmados nos
inventários encontrados nos arquivos públicos.
3.1.2 Inventário das obras dos construtores
Para elaboração do inventário das obras dos construtores, foi feito o levantamento de todos os
projetos existentes em arquivo de órgão público municipal, o qual permitiu a verificação da
autoria do projeto ou execução das obras, registros dos nomes dos proprietários, datas e
números das plantas; verificação nos endereços obtidos da existência ou não das obras destes
construtores; e, a seleção de um exemplar projetado ou construído por cada uma das famílias
dos construtores italianos para aplicação do levantamento inicial das técnicas construtivas
empregadas nestes imóveis.
3.1.3 Investigação da bibliografia sobre a tecnologia construtiva empregada na
Itália no séc. XIX
Também na fase inicial da pesquisa foram obtidas, no país de origem destes construtores, em
editores locais ou em bibliotecas públicas e privadas, as fontes bibliográficas sobre a
tecnologia construtiva e materiais utilizados no século XIX – época de seus aprendizados.
A busca ocorreu tanto em escolas de ensino regular como escolas de mestres artífices do
ofício de muratore - pedreiros ou construtores. Esta bibliografia incluiu os livros editados
desde a segunda metade do século XIX, denominado pelos italianos de “Ottocento”, até os
livros de edição mais atualizada, que fazem referência às técnicas construtivas empregadas
neste período na Itália ou na época de atuação destes construtores em Pelotas.
Muitos autores deste período faziam referência a outros autores reconhecidos desde a
Antiguidade. Foi organizada, em ordem cronológica, uma lista destas fontes literárias
históricas citadas com o objetivo de auxiliar as pesquisas em traduções e edições críticas de
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Vitruvio, tratados autônomos, manuais de arquitetura e engenharia, e, em dicionários de
arquitetura em períodos anteriores ao século XIX. Esta lista se encontra nos anexos desta tese.
3.1.4 Levantamento das técnicas construtivas e materiais utilizados nas obras
previamente selecionadas
Para a identificação prévia das técnicas construtivas e materiais utilizados nas obras dos
construtores italianos, foram pré-selecionadas quatro obras, uma para cada construtor em
questão.
Primeiramente, os imóveis foram escolhidos pela reconhecida autoria ou responsabilidade na
sua execução. Estes também foram escolhidos pela variedade nos seus usos – institucionais,
residenciais, e comerciais; pelo porte da construção e por possuírem maior variedade nos
elementos construtivos, propiciando assim maior quantidade de informações.
Os imóveis previamente selecionados são:
a) capela, provedoria e ala da rua Gen. Neto da Santa Casa de Misericórdia de
Pelotas – projetadas por Giuseppe Isella e executadas por Guglielmo Marcucci
(1884 a 1900);
b) Casa Eliseu Antunes Maciel (Praça Cor. Pedro Osório, n
o
8) - projetada e
executada por Giuseppe Isella (1878);
c) Prefeitura Municipal de Pelotas - executada por Carlo Zanotta (1908);
d) Clube Caixeiral – projetado e executado por Caetano Casaretto (1902).
Para este levantamento prévio nas quatro obras citadas, foi necessário adotar uma
classificação para os elementos construtivos. Esta classificação foi elaborada baseada nas
subdivisões encontradas nos principais manuais e tratados europeus sobre o modo de construir
e consta da descrição em itens ou etapas da construção, denominados elementos construtivos
e seus tipos.
A classificação adaptada de Rohrich (1999) divide os elementos construtivos em sete grupos:
a) fundações;
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b) elementos verticais;
c) elementos horizontais;
d) arcos e abóbadas;
e) cobertura;
f) escadas;
g) sacadas ou balcões.
Entre as construções pesquisadas, o único tipo de fundação empregado e verificado é o tipo
fundação direta. Os elementos verticais foram verificados quanto às paredes, revestimentos,
adornos, vãos e esquadrias. Os elementos horizontais foram verificados quanto ao tipo de
estrutura e quanto ao tipo de revestimento. Somente foram encontrados arcos de tijolos e dois
tipos de abóbadas: de estuque e de tijolos. O elemento cobertura foi verificado quanto à
estrutura, tipo de telha ou outro tipo de revestimento. A estrutura, o tipo de revestimento e a
proteção foram os itens encontrados nas escadas. Os pisos e soleiras e os guarda-corpos das
sacadas ou balcões também foram verificados nas obras pesquisadas.
Foram preenchidas tabelas para a descrição das técnicas construtivas e materiais dos imóveis
selecionados.
3.1.5 Revisão bibliográfica sobre a tecnologia construtiva
Nesta etapa inicial da pesquisa também foi realizada a leitura na bibliografia difundida no país
de origem dos construtores, da tecnologia construtiva utilizada pelos construtores italianos na
época de seus aprendizados ou no período de suas atuações em Pelotas – final do séc. XIX e
início do séc. XX, para a produção de uma revisão bibliográfica contemplando as técnicas
construtivas empregadas pelos construtores nos imóveis selecionados para o levantamento
inicial. Também foi adotada para esta etapa a classificação adaptada de Rohrich (1999), com a
divisão dos elementos construtivos em sete grupos.
3.2 AVALIAÇÃO DA TECNOLOGIA CONSTRUTIVA VERIFICADA NOS
IMÓVEIS EXISTENTES
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Após a realização do levantamento inicial das técnicas construtivas e materiais nos quatro
imóveis pré-selecionados, houve a necessidade de verificação nos outros imóveis existentes
destes construtores. Foram identificados mais trinta e três, totalizando trinta e sete imóveis
ainda existentes em 2007, como sendo: cinco de Guglielmo Marcucci; sete de Giuseppe
Isella; cinco dos irmãos Carlo e Luiggi Zanotta; e, vinte de Caetano Casaretto, C. Casaretto &
Irmão e seu sobrinho Carlos Casaretto Scotto.
Para esta verificação foi elaborada uma ferramenta em forma de planilha, utilizando-se os
mesmos elementos construtivos anteriormente utilizados nos quatro imóveis pré-selecionados,
e que permitisse a quantificação das técnicas construtivas utilizadas.
Para o preenchimento destas planilhas, foram preparadas equipes de trabalho para as
investigações nas obras existentes. Houve o treinamento e a supervisão, pela autora desta tese,
de três profissionais ligados à área da preservação e restauro em patrimônio histórico - alunos
do curso de restauro promovido através de convênio entre o CEFET/RS (Centro Federal de
Educação Tecnológica de Pelotas) e o IILA (Istituto Italo-Latino Americano). Durante a
aplicação das investigações promoveram-se reuniões semanais para orientação, elucidação
das dúvidas e resolução das dificuldades encontradas na aplicação desta ferramenta de
pesquisa, com retro alimentação e ajustes nos itens inicialmente propostos.
Primeiramente a planilha foi preenchida com os dados dos quatro imóveis selecionados,
servindo como um teste da sua qualidade. Alguns dados necessitaram pequenas correções
resultando na forma final a ser aplicada. A referida ferramenta encontra-se no Anexo D, ao
final deste trabalho.
A aplicação das investigações através das planilhas permitiu o retorno de informações que,
em constante avaliação ocasionaram correções e atualizações da relação das obras existentes.
Exemplo desta realimentação de dados foi a inclusão de imóveis que não haviam sido
previamente identificados como de autoria dos construtores pesquisados.
Outro exemplo da realimentação dos dados foi a exclusão da atual sede do Centro Português
1º de Dezembro da lista dos imóveis projetados ou executados por Caetano Casaretto. A
planta encontrada nos arquivos municipais com autoria de Casaretto, não foi a executada no
endereço atual da sede social do clube, cujos esclarecimentos encontram-se na secção 4.1 –
Inventário das obras dos construtores.
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Após todas as planilhas serem preenchidas, realizou-se a quantificação e manipulação dos
dados em forma de tabelas e gráficos, que permitiram a elaboração das discussões e
conclusões deste trabalho. A tabela 9 apresenta os quantitativos das técnicas construtivas de
cada elemento construtivo nas obras existentes.
Para algumas técnicas construtivas, cujos percentuais encontrados não apresentaram
evidências da sua difusão, houve a necessidade de investigá-las em relação ao padrão ou em
relação ao período da construção. Desta forma, foi possível analisar se os percentuais de uma
determinada técnica variavam conforme o padrão do imóvel ou conforme a data de sua
construção. Para este cruzamento de dados, os imóveis foram classificados em três padrões:
A, B e C. Os critérios foram elaborados pela autora desta tese e basearam-se em variáveis que
expressam padrões de valorização imobiliária ou padrões de valorização das construções mais
ricas para a época, como sendo:
a) posição do lote (de esquina ou de meio de quadra);
b) localização do imóvel em relação ao zoneamento urbano da época de sua
construção;
c) número de pavimentos;
d) ornamentação com frontão na platibanda;
e) existência de porão.
Para cada variável foi atribuída uma valorização entre 1 e 0, cuja média permitiu avaliar os
imóveis em padrões A (valores de 1 a 0,8), B (valores de 0,6 a 0,4) e C (valores de 0,2 a 0). A
classificação dos imóveis conforme o padrão encontra-se na tabela 2 da secção 4.2 -
Inventário das obras dos construtores.
As construções pesquisadas foram executadas durante um intervalo de tempo de 59 anos, ou
seja, de 1871 a 1930. E, para melhor comparar a evolução na utilização de determinada
técnica, dividiu-se este intervalo de tempo em três períodos aproximadamente iguais,
conforme o que segue:
a) de 1871 a 1890 (1º período) – 19 anos;
b) de 1891 a 1910 (2º período) – 20 anos;
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c) de 1911 a 1930 (3º período) – 20 anos.
A classificação dos imóveis conforme o período da construção encontra-se na tabela 2 -
Inventário das obras dos construtores. O cruzamento dos dados percentuais das técnicas
construtivas em relação ao período da construção permitiu verificar se houve variação do
emprego de determinada técnica ao longo dos três períodos. Os gráficos com os cruzamentos
destas informações encontram-se nos resultados da secção 4.2.
3.3 TECNOLOGIA CONSTRUTIVA ITALIANA NO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO DE PELOTAS versus TECNOLOGIA CONSTRUTIVA
DIFUNDIDA NA ITÁLIA NO SÉCULO XIX
Nesta etapa da pesquisa, estabeleceram-se as comparações entre a tecnologia construtiva
empregada em Pelotas no final do século XIX e início do século XX, nas obras dos
construtores italianos, com as encontradas na revisão bibliográfica. Após a identificação das
técnicas construtivas utilizadas nos imóveis pesquisados, foi possível a comparação dos dados
com a tecnologia construtiva difundida na Itália anteriormente a imigração destes
profissionais. Através das verificações e comparações com a descrição obtida na revisão
bibliográfica dos manuais e tratados, pretende-se a qualificação dos futuros trabalhos de
conservação, manutenção e restauração nos imóveis executados por estes construtores.
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4 DADOS INICIAIS
A pesquisa inicial permitiu recolher os dados históricos sobre os construtores, o inventário de
suas obras e as cidades e instituições que tivessem alguma relação com a origem dos mesmos.
4.1 DADOS HISTÓRICOS SOBRE OS CONSTRUTORES
Os dados obtidos no levantamento histórico sobre os construtores estão descritos na tabela 1,
a seguir.
Tabela 1: resumo dos dados históricos sobre os construtores
CONSTRUTO
R
DATA DE
NASCIMENT
O
CIDADE DE
NASCIMENT
O
ÉPOCA DE
ATUAÇÃO EM
PELOTAS
CIDADE E DATA
DE SUA MORTE
Guglielmo
Marcucci
27/11/1838 Lucca – Itália
1879 (participação em
licitação para
construção da PMP)
Pelotas- 03/05/1901
(63 anos)
Giuseppe
Isella
06/03/1843 Trieste – Itália
1864 a 1888 (de 1878
a 1884 esteve na Itália)
Morcote – Itália
18/07/1931 (88
anos)
Carlo Zanotta 11/03/1845
Casasco
d’Intelvi –
Itália
1870 a 1882
São Paulo – 1931
(86 anos)
Luiggi Zanotta
- irmão de
Carlo Zanotta)
Não
identificada
Provavelment
e em Casasco
d’Intelvi –
pós 1871 a maio/1912
(último projeto
aprovado na PMP)
Pelotas – pós 1912
Caetano
Casaretto
07/08/1862 Pelotas
1877 a 1936 (último
projeto aprovado na
PMP)
Pelotas –
14/06/1942 (80
anos)
Carlos
Casaretto
Scotto
Não
identificada
Provavelment
e em Pelotas
1920 a 1929 (1º e
último projeto
encontrado na PMP)
Não identificada
Segundo Chevallier (2002, p.68), Guglielmo Marcucci nasceu em 27/11/1838 em San
Gemignano, Departamento de Lucca, na região de Toscana, Itália. Era filho de Geminiano
Marcucci e Jacinta, Casou-se com Benedette Teresa, nascida em 17/11/1837, e tiveram um
filho – Dionisio Marcucci, nascido em 11/11/1860. Provavelmente vieram para o Brasil após
o nascimento do filho. Somente em 1897, Marcucci encontra-se cadastrado como empreiteiro
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tendo seu escritório na rua Marechal Deodoro n
o
231 e caracterizando o início de sua
atividade em Pelotas. Colaborou em diversas obras públicas, reformas e acréscimos, como a
ala da Gen. Neto da Santa Casa (1887-1900) e Beneficência Portuguesa. Colaborou com Isella
na construção da capela da Santa Casa. Alguns destes dados foram confirmados no seu
inventário, existente nos arquivos do APERGS – Arquivo Público do Estado do Rio Grande
do Sul, sob n
o
1437, M78, E26, Ano de 1901, p.3. Carlo Zanotta foi o testamenteiro de
Guglielmo Marcucci.
Ainda segundo Chevallier (2002, p.56-58), Giuseppe Isella estudou na escola primária de
Trieste e acompanhou seus parentes na restauração dos palácios em Trieste. Completou seu
aprendizado em Turim, no atelier do escultor Pietro Isella (escola-laboratório). Na mesma
época freqüentou os cursos da Academia de Belas Artes Albertina de Turim. Os ticinesi (de
Cantone Ticino) eram numerosos em Turim e em Milão. Os aprendizes, que acompanhavam
seus professores, freqüentavam as scuole serali de suas academias de Belas Artes. As scuole
serale constituíam cursos técnicos noturnos, ministrados junto às Academias de Belas Artes.
Segundo Chevallier (2002, p.56), os jovens de Morcote convergiam para a Academia
Albertina, de Turim, e, para a Academia de Brera, em Milão. Segundo consulta realizada em
23 de maio de 2005, no site da Academia de Brera, os documentos da scuola di Archittetura
foram passados para o Politécnico de Milão, em 1931.De acordo com Fiori apud Chevallier
(2005, p.56), Isella deve ter freqüentado a scuola serale de arquitetura. Artistas ticinesi
fundaram outras corporações próprias, nas diferentes cidades pertencentes a uma determinada
região do Cantão Ticino (Cantone Ticino).
Em pesquisa local efetuada pela autora desta tese, na Academia Albertina de Turim,
verificou-se que não consta registro da passagem de Giuseppe Isella por esta academia. Desta
época, somente existem registros dos mestres. Em Morcote, existiu a Scuola dei Comacini
Morcotesi, à qual Isella não pertenceu, mas à quem seguiu a tradição de ensino. Estas escolas
preparavam artesãos para emigração e futuros e longos anos de estágio itinerante. A formação
durava três anos e Pietro Isella foi um de seus professores. A origem da palavra comacini,
pode ser atribuída à cidade de Como, na margem do lago Maggiore. (CHEVALLIER, 2002,
p.54)
Esta informação se confirma em Nicola (2006), que descreve Como - cidade do norte da
Itália, como a cidade dos “maestri comacini” - assim eram chamadas as grandes escolas de
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arquitetos famosos em toda Europa por suas obras esplêndidas. De antigas tradições, a cidade
de Como é muito desenvolvida do ponto de vista industrial, e em particular, é considerada um
dos mais importantes centros mundiais para a elaboração e transformação da seda.
Em pesquisa por escolas profissionalizantes na região de Morcote, foi encontrada uma
instituição na região de Lugano, no sul da Suíça - também chamada Suíça Italiana, na cidade
de Cannobio, às margens do lago Lugano, bem próxima de Morcote, cidade de origem de
Giuseppe Isella, que se chama “Scuola universitaria professionale della Svizzera italiana”.
Segundo informações obtidas em 25 de abril de 2005 na biblioteca desta instituição, através
do bibliotecário Francesco Marvin, esta escola recebeu toda a bibliografia da antiga escola de
maestri muratori - artesãos de obras.
Segundo Bassani et alii (2007, p.65-66), os filhos de Giovanne Batista Zanotta, Davide,
Luiggi, Carlo e Angelo e o primo Batista Zanotta aprenderam seus ofícios em Casasco
d’Intelvi e emigraram. Enquanto em outras regiões italianas, quase sempre a emigração partia
de um momento específico, por um tempo mais ou menos determinado e disposto a fazer
qualquer tipo de trabalho sem uma qualificação profissional, os intelvenses emigravam por
que nasciam emigrantes, ou seja, por falta de obras não podiam exercer sua profissão de
maestro da muro” (mestre de obras) em Casasco. No breve histórico de Carlo Zanotta,
escrito por Bassani et alii (2007, p.71-73), encontra-se o que segue:
Carlo Zanotta construiu a Casa da Câmara, atual Prefeitura Municipal, e participou
da construção da Biblioteca Pública. Entre outras obras de sua autoria destacam-se
ainda a Banca do Peixe, a reforma do Hotel Aliança, o antigo Clube Comercial, e o
Palacete do Barão de Arroio Grande. Foi responsável também pela colocação do
gradil da atual Praça Coronel Pedro Osório, bem como da implantação de trilhos de
bonde com tração animal e da dragagem de estradas. Na condição de membro da
Sociedade Italiana, participou da escolha dos bustos que decorariam a fachada da
Biblioteca Pública de Pelotas. Ainda em Pelotas casou-se com Maria Luiza Scotto,
com quem teve onze filhos. [...] Em 1885, retorna a Pelotas e em 1886, muda-se para
Piracicaba- SP, deixando a Companhia Hidráulica sob responsabilidade de seu
irmão, Angelo. Além das atividades como construtor, foi fundador da Cia. Lacta e
de uma fábrica de Guaraná ‘Espumante’, depois que se mudou de Piracicaba, após
1907. Faleceu em São Paulo-SP em 1931, aos 86 anos.
Sobre Luiggi Zanotta, em Bassani et alii (2007, p.69-70), encontra-se o seguinte relato:
Além de Davide e Carlo, seus irmãos Luiggi - filho de Carolina Castelli e Angelo -
filho de Anastácia Ferradini, também vieram trabalhar no ramo das construções em
Pelotas. Sobre Luiggi, não há registro da data de sua chegada, sabe-se apenas que
participou da instalação dos chafarizes e da construção do palacete da Baronesa do
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Arroio Grande. Durante esta obra, caiu de um andaime e faleceu. O palacete,
localizado nas atuais ruas D. Pedro II esquina Andrade Neves, foi destruído e hoje
dá lugar a um edifício.
Segundo Leite et alii (2007, p.135), Caetano Casaretto foi um dos seis filhos de Jerônimo
Casaretto (1814-1885), nascido em Zovagi ou (Zaogli), localidade da região da Ligúria,
província de Gênova. Do casamento com Clarabela Valle, Jerônimo teve seis filhos: Aurélia
(1855), Jeronimo (1856), João (1858), José (1950), Isabel (1861) e Caetano (1862). Do
casamento com a cunhada Benedita, nasceram Carlos (1864) e Paulino (1867). Caetano
Casaretto foi arquiteto autodidata, reconhecido construtor-arquiteto do Clube Caixeiral
(1902), segundo pavimento da Bibliotheca Pública (1914), a escola de Artes e Ofícios (1924),
a reforma do Asilo de Mendigos (1928) e a ala esquerda da Santa Casa de Misericórdia de
Pelotas (1930-1932).
Alguns autores e familiares de Caetano Casaretto atribuíam também à este construtor a autoria
do projeto e execução do clube Centro Português. Após pesquisa nas atas deste clube,
identificou-se que a atual sede situa-se em terreno “fronteiro” à primeira sede do Congresso
Português 1º de Dezembro (nome anterior à fusão deste com o Grêmio Português). Apenas a
planta do Congresso Português 1º de Dezembro foi encontrada nos arquivos municipais, com
assinatura de Caetano Casaretto e datada de 1895, mas o imóvel não foi encontrado. Através
da “Ata n
o
4 – Sessão de directoria realizada a 24 de maio de 1927” foi possível identificar o
oferecimento gratuito dos colaboradores Srs. Paulo Gertum, Silvio Barbedo e Carlos
Casaretto Scotto para confecção das plantas do novo prédio na Rua Andrade Neves n
o
756
(atual n
o
2042), mas somente Paulo Gertum assina a planta da instalação de águas e esgotos
como construtor. A data de sua aprovação é 15 de agosto de 1927.
De acordo com Chevallier (2002, p. 106), possuía com os irmãos Jerônimo e Paulino a firma
Casaretto & Irmãos. Construíram a capela da Sociedade Portuguesa Beneficiente. Cadastrada
na Estatística do Município de Pelotas, do ano de 1897, localizada na Gonçalves Chaves, 220.
Alguns dados, como os nomes dos pais e irmãos de Caetano Casaretto, foram confirmados no
inventário de Jeronimo Casaretto e Beneditta Valle Casaretto, nos arquivos do APERGS –
Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, sob n
o
167, M9, E28, ano 1886, sendo o
inventariante um de seus filhos - Jeronimo Casaretto.
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Também deste inventário foi retirada a informação de que Isabel, irmã de Caetano Casaretto
foi casada com Carlos Scoto, permitindo pressupor que Carlos Casaretto Scotto, construtor de
muitas obras a partir de 1920 em Pelotas era sobrinho de Caetano Casaretto. Casou-se em
1935 com Emíla Natusch (com 73 anos) e não tiveram filhos.
Em Leite et alii (2007, p. 136), encontra-se a seguinte descrição:
[...] Caetano não teve nenhum tipo de formação acadêmica, aprendeu o ofício com o
pai e foi um dos aprendizes de Giuseppe Isella, participando quando menino da
construção do palacete de Felisberto Braga, obra do arquiteto. Apesar da falta de
formação, ele sempre se manteve informado através de livros de arquitetura e
escultura que importava da Europa, principalmente da Itália e da França. [...] aos
quinze anos já edificava por conta própria, fazendo suas primeiras construções.
Conforme BPP. Morais (1964) apud Chevallier (2002, p.124), um dos fatos interessantes a
registrar nas construções magníficas de Giuseppe Isella, é a ação de um valoroso menino
pelotense - Caetano Casaretto.
4.2 INVENTÁRIO DAS OBRAS DOS CONSTRUTORES
No levantamento em arquivo municipal de plantas, foi possível a identificação da autoria do
projeto ou execução das obras dos construtores italianos ou descendentes, no período de 1897
a 1936, os nomes dos proprietários, datas e números das plantas, imagens digitais destas
plantas e endereços para verificação da existência ou não destas obras; possibilitando a
seleção prévia de quatro imóveis para o levantamento inicial das técnicas construtivas e
materiais empregadas.
No levantamento foi possível verificar que, de todos os imóveis identificados e que totalizam
140, 11 são de Guglielmo Marcucci, 19 de Giuseppe Isella, 14 de Luiggi Zanotta e 96 de
Caetano Casaretto/Carlos Casaretto Scotto. Esta divisão não é totalmente rígida, porque,
conforme é possível verificar no levantamento das plantas ou histórico de suas obras, em
algumas houve a participação de dois ou até três destes profissionais. Apenas trinta e sete
imóveis do inventário realizado foram localizados como existentes, tendo sido preservado o
imóvel original ou sofrido alguma reforma. Destes, quatro foram pré-selecionados para o
levantamento inicial da tecnologia construtiva utilizada. Todos os imóveis encontram-se
relacionados na tabela 2 a seguir, com o endereço atualizado, nome do proprietário original,
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50
padrão, período da construção e data inicial ou final de sua construção. Os imóveis em
destaque e com números romanos são os pré-selecionados para o levantamento inicial. As
imagens dos trinta e sete imóveis encontram-se no Anexo A2, no final deste trabalho.
Tabela 2: imóveis existentes
GUGLIELMO MARCUCCI
Imóvel
E
ndereço Proprietário Padrão Período Ano
I
P
ça. Piratinino de Almeida, 53 Capela e provedoria da Santa
Casa de Misericórdia de Pelotas
A 1º per. 1884 a
1900
1
R
ua Santos Dumont, 308 e 310 Francisco Auguet C 2º per. 1895
2
R
ua XV de Novembro, 213 Antônio da Costa Leite A 2º per. 1895
3
ua XV de Novembro, 356 a 360 Francisco Alcina e Josepha
Alcina Estadela
C 2º per. 1899
4
R
ua Félix da Cunha, 859 Benjamim Leitão B 2º per. 1900
GIUSEPPE ISELLA
Imóvel Endereço Proprietário Padrão Período Ano
5 Rua Félix da Cunha, 663 Felisberto Braga A 1º per. 1871
6 Pça. Cor. P. Osório, 104 Pinto da Rocha B 1º per. s/data
7 Rua Andrade Neves, 1921 Cândida Dias B 1º per. 1875
8 Rua XV de Novembro, 471 Ernestina de Assumpção –
Baronesa do Jarau
A 1º per. 1876
9 Pça. Cor. P. Osório, 103-1ºpav. Biblioteca Pública Pelotense A 1º per. 1878
II Pça. Cor. P. Osório, 8 Francisco Antunes Maciel –
Barão de Cacequi
A 1º per. 1878
10 Pça. Cor. P. Osório, 6 Leopoldo A. Maciel – Barão de
São Luis
A 1º per. 1878
CARLO e LUIGGI ZANOTTA
Imóvel Endereço Proprietário Padrão Período Ano
III Pça. Cor. P. Osório, 101 Prefeitura Municipal de Pelotas A 1º per. 1908
11 Rua Anchieta, 955 e 961 Joaquim Marques Pires C 2º per. 1908
12 Rua Mar. Deodoro, 1099 Antonio Alves dos Reis C 2º per. 1909
13 Rua Três de Maio, 1005 Pedro Rodrigues B 3º per. 1912
14 Rua Andrade Neves, 1039 Pedro Rodrigues C 3º per. 1912
CAETANO CASARETTO, C. CASARETTO & IRMÃO e CARLOS CASARETTO SCOTTO
Imóvel Endereço Proprietário Padrão Período Ano
15 Rua Andrade Neves, 915 Sociedade Portuguesa
Beneficente
B 2º per. 1892
16 Rua Sete de Setembro, 305 Antônio Rego Magalhães B 2º per. 1897
17 Rua Andrade Neves, 1029 Luiggi Zanotta C 2º per. 1900
18 Rua V. da Pátria, 1558 Francisco Nunes de Bastos C 2º per. 1901
19 Rua XV de Novembro, 505 Ismael da S. Maia B 2º per. 1902
IV Pça. Cor. P. Osório, 106 Clube Caixeiral A 2º per. 1902
20 Rua Mar. Floriano, 8 e 10 Antonio A. Assumpção A 2º per. 1908
21 Pça. Cor. P. Osório, 103-2ºpav. Biblioteca Pública Pelotense A 3º per. 1912
22 Rua XV de Novembro, 220 Martin Bidart B 3º per. 1915
23 Rua Félix da Cunha, 724 Bruno Chaves B 3º per. 1916
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Imóvel Endereço Proprietário Padrão Período Ano
24 Rua Félix da Cunha, 560 Maria Luiza Martins Soares C 3º per. 1916
25 Rua B. Sta. Tecla, 461 Antonio Martins Gomes B 3º per. 1917
26 Rua José do Patrocínio, s/n
o
Leopoldo Haertel C 3º per. 1917
27 Rua Gen. Osório, 620-garagem Marina Eston de Eston C 3º per. 1919
28 Rua Gonçalves Chaves, 911 Hermann Bojunga B 3º per. 1920
29 Rua Gonçalves Chaves, 930 Luis da S. Mascarenhas B 3º per. 1921
30 Rua Félix da Cunha, 216 Fherbio Vieira da Silva C 3º per. 1927
31 Parque D. A. Zattera, 383 Asilo de Mendigos A 3º per. 1928
32 Rua Sete de Setembro, 307 Mário Magalhães B 3º per. 1928
33 Pça. Cor. P. Osório, 57 e 59 Olympio dos Santos Farias B 3º per. 1929
4.3 BIBLIOGRAFIA SOBRE TECNOLOGIA CONSTRUTIVA
EMPREGADA NA ITÁLIA NO SÉC. XIX
A partir dos dados históricos sobre os construtores, foi possível selecionar as instituições
públicas ou privadas para a pesquisa na Itália, com significância, quer seja pela região de
origem ou local de formação. As bibliotecas ou instituições encontram-se na tabela 3, a
seguir:
Tabela 3: cidades e instituições pesquisadas na Itália
Cidade Endereço
Roma
ICCROM Library, Via San Michele 13, Rome RM, http://library.iccrom.org
Ministeri per I beni e le attività culturali – Biblioteche Publiche Statali, Via San
Michele 18 - Rome
Biblioteca nazionale centrale di Roma, viale Castro Pretorio, 105 - Roma,
http://www.bncrm.library.beniculturali.it
Florença
Università di Firenze. Biblioteca di scienze tecnologiche. Architettura, via Píer
Antonio Micheli, 2 - Firenze,
Veneza
Università IUAV di Venezia, Santa Croce, 191,Tolentini - Venezia,
http://opac.iuav.it/sbda/
Turim
Academia Albertina, via Academia Albertina, 6 - Torino,
http://www.accademialbertina.torino.it
Politecnico di Torino, Viale Mattioli, 39 - Torino,
http://wwwbiblio.polito.it/it/biblioteche/bca.html
Milão
Politecnico di Milano – Biblioteca Centrale di Architettura, via E. Bonardi, 3 –
Milano, http://isis.biblio.polimi.it/
Politecnico di Milano – Biblioteca Centrale di Ingegneria, piazza Leonardo da
Vinci, 32 – Milano, http://isis.biblio.polimi.it/
Cannobio
SUPSI – Scuola Universitária Professionale della Svizzera Italiana, via Trevano,
6952 – Cannobio, http://dacd.supsi.ch/A/A_06_biblioteca.html
Como
Politécnico di Milano – Biblioteca del Polo Regionale di Como, via Valleggio, 11
– Como, http://isis.biblio.polimi.it/biblioteche
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52
Nas referências bibliográficas obtidas no país de origem destes construtores se incluem não
somente produções italianas do século XIX, mas edições de outros países ou edições da
atualidade, por apresentarem informações relativas à tecnologia construtiva difundidas na
Itália, neste período. No Anexo C, no final deste trabalho, são relacionadas as fontes literárias
históricas, como as traduções e edições críticas de Vitruvio, tratados autônomos, manuais de
Arquitetura e Engenharia e dicionários de Arquitetura. Estes clássicos são de significativa
importância, não somente pelo que representaram na época, no campo das construções, mas
também pelos conhecimentos na arte de edificar, que serviram de modelo a várias gerações e
que podem ser consultados até a atualidade.
4.4 TÉCNICAS CONSTRUTIVAS E MATERIAIS DAS OBRAS PRÉ-
SELECIONADAS
Para identificação das técnicas construtivas e materiais utilizados nas obras, pré-selecionadas,
primeiramente foi realizado o levantamento preliminar completo dos imóveis, com a pesquisa
bibliográfica ou em arquivos históricos da sua descrição, de alguns dados cronológicos desde
sua criação até a atualidade, de imagens antigas e atuais, plantas e desenhos existentes e, de
desenhos confeccionados para este trabalho.
As imagens da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas foram obtidas em 2006. As da Casa
Eliseu Antunes Maciel foram obtidas de 1999 a 2001, sendo apenas algumas obtidas em 2006.
As imagens da Prefeitura Municipal de Pelotas e do Clube Caixeiral foram obtidas em 2006.
4.4.1 Capela e provedoria da Rua General Neto da Santa Casa de Misericórdia
de Pelotas
Este capítulo apresenta uma breve descrição da capela e provedoria da SCMP – Santa Casa de
Misericórdia de Pelotas, seus dados cronológicos, as imagens obtidas na bibliografia, no local
ou em desenhos arquitetônicos, além de uma planilha descritiva das técnicas construtivas e
materiais utilizados na época da execução dos prédios. A capela e provedoria da Santa Casa
de Misericórdia de Pelotas situam-se na Praça Piratinino de Almeida, 53. O proprietário na
época da construção e atual é a própria Santa Casa de Misericórdia de Pelotas. O período de
inspeções foi de 28 de junho a 24 de novembro de 2006. As pessoas informantes foram: Arq.
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53
Carmem Lúcia Damé Wrege, Eng. Fernando Degani Zauk, funcionários Alvanir de J. Sias
Pinheiro e Paulo César S. e Silva.A idéia de construção do hospital tivera origem quando na
Revolução Farroupilha houve a necessidade de tratar os feridos e atender as moléstias e a
desnutrição conseqüentes dos anos de luta. A necessidade de um ambiente adequado e
aparelhado para atendimentos clínicos e cirúrgicos era tanto para a população de Pelotas
quanto para moradores das cidades vizinhas.
Segundo Nascimento (1975, p.17), através da ata n
o
143 – Livro de Termos da Santa Casa
1863-1875, é possível verificar o emprego de materiais importados, tendo chegado de navios
e conduzidos por iate gratuitamente do Rio Grande para Pelotas, 700 ladrilhos de mármore,
12 barricas de cimento romano, 10 tábuas de canela de peroba. Nascimento (1975, p.16)
também descreve que a mão de obra eram operários livres, sentenciados, quando dispensados
dos serviços da cadeia e escravos cedidos pelos charqueadores nos períodos de entre safra da
produção do charque.
A descrição de Moura & Schlee (1998, p.66) para a Santa Casa é a seguinte:
O bloco mais antigo, atribuído a José Vieira Pimenta (1861), apresenta grande
regularidade e simplicidade em seus dois pisos, marcados pela repetição das
aberturas padronizadas e pelo ritmo das pilastras coríntias de ordem colossal.
Internamente, foi estruturado através de um longo corredor que se abre para os
pátios internos de um lado e para as enfermarias de outro. Entre 1887 e 1900, este
bloco foi ampliado, segundo projeto de Guglielmo Marcucci, através da construção
da parte denominada de ala da rua Gen. Neto. Contrastando com a simplicidade do
corpo do hospital, a capela de São João Batista, finalizada por Giuseppe Isella em
1884, é o bloco mais significativo e de maior beleza plástica. Toda a fachada foi
valorizada através da aplicação de elementos ornamentais relacionados com a
tradição clássica e com a fé cristã. Sob a platibanda, há um grande frontão curvo
contendo, no centro, o emblema do Brasil - império; e duas estátuas de louça,
símbolos da fé e da caridade. [...] O bloco, concluído em 1932, projeto de Caetano
Casaretto executado por Dias, Requião & Cia. [...] e, segundo vontade do arquiteto,
pretendia integrar todas as edificações, estabelecendo uma relação de simetria.
Constantemente em obras, a Santa Casa tem sobrevivido historicamente através de doações,
tanto da população, quanto das autoridades quando em visita ao local. Hoje, a Santa Casa
conta com os recursos financeiros oriundos das concessões de espaços às empresas
prestadoras de serviços na área da saúde. Estes recursos têm possibilitado diversas obras de
conservação, reformas e ampliações.
Os dados cronológicos a seguir foram elaborados pela autora deste trabalho com base na
publicação de Nascimento (1975) e de Moura & Schlee (1975, p.66):
1846 - 1ª. reunião da sociedade fundadora da Santa Casa de Misericórdia.
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54
1848 - Instalação em uma sede provisória a dois quarteirões da área de implantação.
1861 - Início das construções do primeiro bloco do hospital (lançam pedra
fundamental). Segundo Nascimento (1975, p.16) foram utilizadas nos alicerces
16 carretas de pedra de cantaria, +400 depositadas no local e outras tantas a
espera no porto.
1864 - O alemão Augusto Landgraf é gratificado por passar a limpo os planos da obra
do hospital das três frentes ou fachadas, da planta térrea e do sobrado, com o
objetivo de que o Irmão Provedor, Barão de Piratini, levasse ao Rio de Janeiro
para merecer aprovação e elogio dos Imperadores e também para conseguir
loterias em benefício das obras.
1866 - Conclusão da primeira etapa das obras, primeiro bloco do hospital.
1872 - Inaugurada a parte baixa do hospital (proj. de Vieira Pimenta) com a bênção da
capela e enfermarias, prosseguindo as obras paulatinamente.
1874 - Tratou-se de levantar as paredes do 2º piso e cobrir cozinha, contratando Isella &
Cia. para a construção de mais dois compartimentos e aumentando em mais seis
portas a frente norte do edifício, ainda a divisão dos quartos dos alienados, tudo
de acordo com a planta existente.
1876 - Higino Correa Durão, da Companhia Hidráulica Pelotense fez gratuitamente o
encanamento das águas.
1877 - As enfermarias puderam ser mudadas para o andar superior (provavelmente para
os dois compartimentos descritos em 1874).
1878 - Capela já coberta.
1881 - Cuidavam-se de concluir a capela internamente e continuar as instalações
hospitalares.
1882 - Isella contratado para terminar a capela. Altar-mor construído em Porto
Ceresio, cidade de Como, na Itália, pelo escultor Giovanni Andreoletti,
provavelmente por influência de Giuseppe Isella, que era desta região.
1884 - Inauguração da capela, com o interior sendo doado pela Princesa Isabel, após
sua visita ao hospital.
1887 - Planejada a obra que completava a fachada da Rua Gen. Neto. Guglielmo
Marcucci venceu a concorrência para sua execução.
Finalização da capela, quartos de alienados e cozinha.
1914-1915 - Construção do segundo anexo do hospital, ala pela Rua Manduca Rodrigues,
fronteira ao necrotério, (hoje Rua Prof. Araújo). Segundo Moura e Schlee (1998,
p.66), foi projetada pelo arq. César Campos Monteiro, da firma uruguaia Perez,
Monteiro & Cia. Segundo Nascimento (1975, p.13), foi projetada provavelmente
pela Oficina Castilhos, de Montevidéu; ampliação da fachada norte.
1920 - Baronesa do arroio Grande custeou elementos decorativos para a capela.
O altar-mor foi reformado pelo escultor Angelo Giusti.
1921-1922 - Erguida a parte da Rua Sete de Setembro, proj. e execução do eng. Paulo Gertum
(gratuitamente), destinada ao pavilhão dos tuberculosos.
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55
1932 - Inauguração de um corpo principal para o hospital, entrada principal voltada
para a praça.
1940 - Construção de mais um bloco para o hospital, fechando então o quarteirão a
partir das quatro esquinas.
2001 - Início da construção de mais um anexo para o hospital, destinado ao tratamento
do câncer, que teve os recursos cancelados antes da sua conclusão. Hoje vem
sendo ocupado, por concessão de espaços, com serviços terceirizados, como o
Centro de Diagnóstico por Imagem e o Atendimento Buco-Maxilo-Facial.
A seguir nas figuras 1 a 9, incluem-se as imagens obtidas na revisão bibliográfica sobre o
imóvel ou obtidas pela autora deste trabalho, as plantas arquitetônicas cedidas pelo
Departamento de Projetos da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas. Estas plantas encontram-
se sem escala e a parte grifada refere-se às áreas atualmente preservadas, ou seja, Capela e
Provedoria.
Figura 1: Desenho de Giuseppe Isella para a capela da Santa Casa de
Misericórdia de Pelotas (fonte: Chevalier, 2002, p.180)
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Figura 2: Desenho de Giuseppe Isella para o interior da capela da
Santa Casa de Misericórdia de Pelotas (fonte: Chevalier, 2002, p.184)
Figura 3: Santa Casa de Misericórdia de Pelotas em 1998 (fonte:
Chevalier, 2002, p.43)
Figura 4: Santa Casa de Misericórdia de Pelotas em 2006 (fonte:
autora)
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Rua General Neto
Rua Sete de Setembro
Rua Professor Araújo
Praça Piratinino de Almeida
n
o
r
t
e
Rua Santos Dumont
Rua Santos Dumont
Figura 5: Panta de situação / localização / cobertura (fonte:
Departamento de Projetos da SCMP, 2006)
Figura 6: Planta baixa 1º pav. (fonte: Departamento de Projetos da
SCMP, 2006)
Figura 7: Planta baixa 2º pav. (fonte: Departamento de Projetos da
SCMP, 2006)
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Figura 8: Planta baixa pavimento intermediário entre 1º e 2º pav.
(fonte: Departamento de Projetos da SCMP, 2006)
A=23.31 m²
13
14
16
15
17
0.70X2.10
1,15
2.00X2.10
1.30X2.10/1.00
0.70X2.10
ÁREA
LAJE
127
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13 15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
14
1
8
7
6
5
4
3
2
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
2.20X1.70/1.10
01 02 03 040506070809101112
18
30 29
28 27 26
25 24 23 22 21 19
1.50X2.10/1.00
0.75X2.10
0.75X2.10
Figura 9: Planta baixa 3º pav. (fonte: Departamento de Projetos da
SCMP, 2006)
Para a descrição das técnicas construtivas e materiais utilizados encontrados, foi adotada a
classificação adaptada de Rohrich (1999, p.15) para a divisão dos elementos construtivos,
constituída de sete grupos: fundações, elementos verticais, elementos horizontais, arcos e
abóbadas, cobertura, escadas e sacadas.
Na tabela 4 a seguir, são apresentadas as técnicas construtivas e materiais identificados na
capela e provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas.
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Tabela 4: Técnicas construtivas e materiais identificados na capela e
provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas
ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
FUNDAÇÕES Direta Alvenaria de pedra granítica
Pedra granítica rosa com
dimensões aproximadas de 50 x 50
x 50 cm rejuntadas com argamassa
Paredes
Paredes portantes
- paredes externas no térreo, com
65 cm e 72 cm de espessura
- paredes internas no térreo, com
55 cm de espessura
- paredes externas no 2º pav.,
com 50 cm de espessura
- paredes internas no 2º pav.,
com 35 cm de espessura
Paredes não portantes
- paredes divisórias de estuque
com 15 cm de espessura
- platibandas de alvenaria de
tijolos e balaustres de argamassa
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm ou 22 x 15 x 7 cm
Argamassa de cal e areia
Ripas de canas no estuque com
secções aproximadas de 3 x 2 cm
Balaustres de argamassa
Revestimentos
Rebocos de argamassa no
exterior e interior
Revestimento com argamassa
tipo “rusticação”
Rebocos de acabamento
marmóreo
Escaiola nos altares laterais
Revestimento de paredes da
capela com mármore rosado
Argamassa de cal nos rebocos
internos e externos
Argamassa de gesso com adição de
pó de mármore nas escaiolas
Adornos
Ornatos de argamassa em relevo
no exterior e interior do prédio
Cornijas de base, de faixas ou
frisos, de janelas e portas
Cornijas de tijolos cerâmicos
revestidas com argamassa
Argamassa de cal nos ornatos
externos
Argamassa de gesso nos ornatos
internos
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm
ELEMENTOS
VERTICAIS
Vãos
Arquitraves de tijolos maciços
Arquitraves, umbrais, soleiras e
peitoris em cantaria
Vãos das gateiras com
fechamento metálico
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm ou 22 x 15 x 7 cm
Marcos de cantaria com seções
aproximadas de 20 x 20 cm
(laterais) e 20 x 30 cm (peitoris e
soleiras)
Peitoris internos de madeira com
espessura de 30 mm ou mármore
branco
Peitoris externamente em granito
apicoado de altura variável
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
ELEMENTOS
VERTICAIS
Esquadrias
Esquadrias de madeira com
bandeiras retangulares
Bandeiras em leque sob arco
pleno
Revestimento de madeira nos
aventais dos peitoris das janelas
da provedoria
Marcos de madeira aparafusados
em cilindros de chumbo
previamente derretido em furos
nos marcos de cantaria
Esquadrias de madeira com
caixilhos para vidro e escuros ou
postigos almofadados
Bandeiras em arco ou retangulares,
fixas ou basculantes com vidro e
divisões curvas em madeira
Revestimento almofadado de
madeira de lei em aventais de
janelas
Estruturas
Piso térreo e entrepiso de
madeira de lei
- barroteamento para soalho
- barroteamento e soalho para
assentamento de piso
impermeável
Forros de madeira
- barroteamento para forro de
madeira plano, “saia e camisa” e
“macho e fêmea”
- barroteamento e ripamento para
forro de estuque nas abóbadas
(capela)
Terraços
- o terraço existente situa-se na
parte nova (1932), cuja
execução não é de G. Marcucci
Vigas e barrotes de apoio de
soalho com aproximadamente 25 x
25 cm, 10 x 20 cm ou 10 x 16 cm
no entrepiso da provedoria,
corredores e enfermarias
Vigas de madeira de lei com
dimensões aproximadas de 10 x 20
cm no entrepiso das torres da
capela
Barrotes de apoio de tijolos
cerâmicos no entrepiso das torres
da capela com dimensões
aproximadas de 2,5 x 7 cm
Barrotes para forros de madeira e
estuque com dimensões
aproximadas de 2,5 x 7 cm
Ripas do forro de estuque com
sarrafos de dimensões
aproximadas de 2,5 x 2,5 cm e
com canas de 3 x 2 cm
ELEMENTOS
HORIZONTAIS
Revestimentos
Ladrilho hidráulico sobre
barroteamento e soalho de
madeira
Soalho de madeira
Forro de madeira plano, “saia e
camisa” e “macho e fêmea”
Aplicações de frisos de madeira
sobre o forro
Ladrilho hidráulico fabricado em
Pelotas por “Alfino & Irmão”
Soalho de pinho de Riga
Tábuas, tabeiras e cimalhas dos
forros “saia e camisa” e planos
com largura aproximada de 25 cm
Lambris para forro “macho e
fêmea” com largura aproximada
de 10 cm
ARCOS E
ABÓBADAS
Arcos
Arcos de pedra aparelhada
Pedras graníticas em formato de
cunha fazendo parte dos marcos de
cantaria nas portas principais de
acesso com secção aproximada de
20 x 20 cm
Argamassa de cal
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
Arcos
Arcos de tijolos maciços
Tijolos cerâmicos de 22 x 15 x 7
cm
Argamassa de cal
ARCOS E
ABÓBADAS
Abóbadas de
estuque
Arcos de madeira (cúpula da
capela)
Abóbadas cruciformes separadas
por arcos rebaixados
policêntricos na nave central
(20,25 x 23,00 m).
Meia-cúpula de arco rebaixado
policêntrico no altar da capela
Aplicações de ornatos em relevo
sobre argamassa do estuque
Barrotes, longarinas e sarrafos de
madeira de secções variadas nos
arcos das abóbadas
Argamassa de cal no revestimento
estucado das abóbadas
Argamassa de cal nos ornatos em
relevo
Ripas de dimensões aproximadas
de 2,5 x 2,5 cm e canas de 3 x 2
cm
ARCOS E
ABÓBADAS
Abóbadas de
tijolos
Abóbada de oito garras com
arcos policêntricos realçados
executadas com tijolos maciços
aparentes internamente
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm
Argamassa de assentamento de cal
Estrutura
Tesouras de madeira falquejada
e serrada
Madeiramento pinho de Riga com
frechais, linhas e pernas, com
seções variadas de 9,5 x 23,5 cm,
9 x 14 cm, 11 x 20 cm e 8 x 16 cm
Telhado
Telhas cerâmicas curvas do tipo
capa e canal com fileira de
canais sobrepostas de 4,00 em
4,00 m
Telhas cerâmicas de encaixe do
tipo francesas sobre alas laterais
da capela
Forro de madeira sob as telhas
Telhas “capa e canal” com
dimensões aproximadas de 26 x 55
cm
Telhas “francesas” com dimensões
aproximadas de 28 x 42 cm
Tábuas do forro sob as telhas com
secções aproximadas de 22 x 2,5
cm
COBERTURA
Revestimentos
Reboco com argamassa sobre as
abóbadas de tijolos nas torres da
capela
Argamassa de cal e areia
Estrutura
Base de alvenaria nas escadas
externas de acesso ao prédio
Estrutura de madeira aplainada e
torneada com degraus de
madeira nas escadas internas
Pisos e espelhos em monobloco
de cantaria
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm ou 22 x 15 x 7 cm
Vigas de madeira na sustentação
dos degraus e apoio dos balaustres
dos guarda-corpos com dimensões
aproximadas de 7 x 30 cm
Degraus de madeira maciça
Cantaria dos degraus de acesso à
capela e provedoria em granito
apicoado e arestas arredondadas,
com espessura aproximada de 17
cm
ESCADAS
Revestimentos
Forro de madeira sob os três
lances da escada de madeira da
provedoria
Forro de madeira “saia e camisa”
com tábuas de 30 cm
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
ESCADAS Proteção
Guarda-corpo de madeira
Passamão de madeira
Montantes torneados e com seções
variadas em torno de 4,5 cm
(escada provedoria)
Passamão de madeira de lei
torneada e seção de 7,5 x 6 cm
(escada provedoria)
Pisos e
soleiras
Pedra granítica cinza
Pedra granítica com espessuras
aproximadas de 15 cm e canais
para escoamento das águas
pluviais
SACADAS OU
BALCÕES
Guarda-corpos
Gradis metálicos
Passamão de madeira
Gradis de ferro forjado e fundido
Passamão de madeira com
dimensões aproximadas de 7 x 4
cm
4.4.2 Casa Eliseu Antunes Maciel
Este capítulo apresenta uma breve descrição da Casa Eliseu Antunes Maciel, seus dados
cronológicos, as imagens obtidas na bibliografia, no local ou em desenhos arquitetônicos,
além de uma planilha descritiva das técnicas construtivas e materiais identificados como
sendo da época da execução do prédio.
A Casa Eliseu Antunes Maciel situa-se na Praça Coronel Pedro Osório, 8. O proprietário na
época da construção era Eliseu Antunes Maciel e o proprietário atual é a Universidade Federal
de Pelotas. O período de inspeções foi de Novembro de 1999 (dissertação de Mestrado de
Peres (2001)) e Novembro de 2006. As pessoas informantes foram: funcionários da Secretaria
Municipal de Cultura; Sra. Maria da Glória Maciel Müsnich (neta do Conselheiro Francisco
Antunes Maciel).
Trata-se de um exemplar significativo da fase de desenvolvimento econômico da cidade na
segunda metade do século XIX, originada pela atividade de produção do charque. Nesta
época, construtores italianos consolidaram o estilo neo-renascentista das construções mais
ricas deste período.
A Casa Eliseu Antunes Maciel localiza-se em um prédio de esquina, medindo 21,84 m pelo
menor alinhamento, em frente à Praça, e 48,55 m pelo maior, à Rua Barão de Butuí. Perfaz
1.141,61 m
2
de terreno e 807,72 m2 de área construída. Quando analisada em relação ao
entorno, percebe-se um conjunto com as residências de n
os
. 6 e 2. É uma casa de porão alto,
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cujo revestimento de argamassa do tipo “rusticação”, possui marcação em “pedra de
cantaria”, com juntas desencontradas e em baixo relevo.
A fachada do pavimento nobre apresenta marcações verticais em pilastras semi-embutidas da
ordem compósita. Sobre estas colunas, se apóia a marcação horizontal encornijada da cimalha
que sustenta rica platibanda, com frontões decorados, estatuetas e jarros. Seu interior era
ricamente decorado com pinturas sobre rebocos, do tipo “finto marmo”, ou seja, imitando
mármore em diversas tonalidades e forros em estuque com ornatos em relevo nos mais
variados desenhos. Na distribuição central do corpo principal da residência destaca-se uma
lanterna de formato tronco-cônico, em estrutura metálica e vidros coloridos.
Na época dos levantamentos de Peres (2001, p.119), a edificação com mais de um século de
idade apresentava uma série de manifestações patológicas de umidade, tanto no exterior como
no interior, em geral originadas por falta de manutenção.
Os dados cronológicos a seguir foram elaborados pela autora deste trabalho com base em
Peres (2001, p.15-18).
1878 Data registrada nos ornatos da fachada como da conclusão da sua construção.
Mandada construir por Eliseu Antunes Maciel para seu filho Conselheiro
Francisco Antunes Maciel. Projeto atribuído por Chevallier (2002, p.234) a
Giuseppe Isella. O Conselheiro faleceu em 13 de agosto de 1917.
1931 Foi morada também da família de seu filho Francisco Antunes Maciel Jr., cuja
vida política no Partido Liberal o fez acompanhar Getúlio Vargas, na época da
revolução de 1930. Foi Ministro da Justiça até 1934. Durante sua permanência
no Rio de Janeiro, a casa permaneceu fechada e mobiliada, servindo de morada
apenas quando seus familiares visitavam Pelotas.
1955 Foi alugada para ser sede do Quartel General do 8º Batalhão de Infantaria até
final de 1973. Durante os 18 anos desta ocupação o prédio recebeu várias obras
de manutenção, entre elas a substituição das telhas, calhas e rufos.
1975 Foi ocupado pela Sudesul – Superintendência do Desenvolvimento da Região
Sul
1978 Foi desocupado para ser alugado sob regime de comodato para a Prefeitura
Municipal de Pelotas.
1983 Em reforma para manutenção do prédio, foi decidido que os frontões do 2º pav.
deveriam voltar a forma original, ou seja, em duas águas, sem os beirais e com
platibandas.
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2000 Em meados deste ano, a justiça desocupa-o em processo judicial executado pela
família, alegando falta de condições de segurança.
2005 Devido a uma ação do Ministério Público, o município ficou intimado a executar
uma obra emergencial, que contou com recursos do IPHAN – Instituto Nacional
do Patrimônio Histórico e fiscalização da Secretaria Municipal de Cultura, tendo
sido executado sub-telhado metálico, prospecções arqueológicas, valas de
esgotamento das águas pluviais nos compartimentos do porão, consolidação de
diversos forros de estuque e a recuperação de revestimentos de argamassa da
fachada.
2007 A casa encontra-se cercada com tapume, foi adquirida pela Universidade Federal
de Pelotas e aguarda aprovação do projeto de restauração pelo Instituto Nacional
do Patrimônio Histórico para o reinício das obras.
A seguir nas figuras 10 a 23, incluem-se as imagens obtidas na revisão bibliográfica sobre o
imóvel ou obtidas pela autora deste trabalho, as plantas arquitetônicas elaboradas pela autora
deste trabalho ou cedidas pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura Municipal de
Pelotas (SECULT/PMP). As plantas encontram-se sem escala.
Figura 10: Casa Eliseu Antunes Maciel no conjunto arquitetônico em
1904 (fonte: autoria desconhecida)
Figura 11: Casa Eliseu Antunes Maciel vista da Praça Cor. Pedro
Osório (fonte: autora, 2000)
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Figura 12: Casa Eliseu Antunes Maciel vista da Rua Barão de Butuí
(fonte: autora, 2000)
No. 8
N
O
R
T
E
PRAÇA CORONEL PEDRO OSÓRIO
RUA BARÃO DE BUTUÍ
RUA GONÇALVES CHAVES
RUA LOBO DA COSTA
Figura 13: Planta de situação (fonte: autora, 2000)
Figura 14: Planta de localização e cobertura (fonte: autora, 2000)
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Figura 15: Planta baixa 1º pav. (fonte: autora, 2000)
Figura 16: Planta baixa 2º pav. (fonte: autora, 2000)
Figura 17: Planta baixa pav. térreo (fonte: autora, 2000)
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Alçapão
Figura 18: Planta de forros (fonte: SECULT/PMP, 2006)
Figura 19: Planta de pisos (fonte: SECULT/PMP, 2006)
Figura 20: Corte longitudinal (fonte: autora, 2000)
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Figura 21: Fachada oeste (fonte: autora, 2000)
Figura 22: Fachada norte (fonte: autora, 2000)
Figura 23: Fachada leste (fonte: autora, 2000)
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Na tabela 5, são apresentadas as técnicas construtivas e materiais identificados na Casa Eliseu
Antunes Maciel.
Tabela 5: Técnicas construtivas e materiais identificados na Casa
Eliseu Antunes Maciel
ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
FUNDAÇÕES Direta
Alvenaria de tijolos maciços
com 70 cm, 45 cm, 35 cm e 20
cm de espessura
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm
Argamassa de cal
Paredes
Paredes portantes
- paredes do 1º pav. de tijolos
maciços com 60 cm, 35 cm, 25
cm e 18 cm de espessura
- paredes do 2º pav. de tijolos
maciços de 54 cm 39 cm de
espessura
Paredes não portantes
- paredes do 2º pav. de estuque de
17 cm e 13 cm de espessura
(internas e da fachada leste)
- platibandas de alvenaria de
tijolos e balaustres esmaltados
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm
Argamassa de cal e barro
Ripamento de canas no estuque
com secção aproximada de 3 x 2
cm
Balaustres esmaltados
Revestimentos
Revestimento com argamassa
tipo “rusticação”
Rebocos com argamassa
Rebocos de acabamento
marmóreo
Revestimento de azulejos na
cozinha
Argamassa de cal nos rebocos
externos e internos
Azulejos portugueses de
dimensões aproximadas de 15 x
15 cm
ELEMENTOS
VERTICAIS
Adornos
Ornatos de argamassa em relevo
no exterior e interior do prédio
Cornijas de base, de faixas ou
frisos, de janelas e portas e
superiores para proteção contra
chuvas
Cornijas de tijolos cerâmicos
revestidas com argamassa
Argamassa de cal nas cornijas e
ornatos externos e internos
Tijolos cerâmicos de dimensões
aproximadas de 30 x 15 x 7 cm
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70
ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
Vãos
Vão com arco policêntrico de
tijolos cerâmicos na saleta 2
Vãos com estrutura de madeira
e acabamento em lambrequim
de chapa metálica na varanda da
fachada norte
Vãos das gateiras com
fechamento metálico
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm
Pilares de madeira com
aproximado de 15 cm
Peitoris de mármore de 4 cm de
espessura
Fechamento das gateiras com ferro
forjado
ELEMENTOS
VERTICAIS
Esquadrias
Esquadrias de madeira com
bandeiras retangulares
Caixilhos de madeira para vidro e
escuros almofadados
Bandeiras retangulares
Estruturas
1º e 2º pav.
- barroteamento para soalho
madeira
- barroteamento e soalho para
assentamento de piso
impermeável
Forros
- barroteamento para forro de
madeira tipo “saia e camisa”
- barroteamento e ripamento para
forro de estuque
Vigas de apoio aos barrotes do
soalho com dimensões
aproximadas de 19 x 20 cm
Barrotes para soalho do 1º pav.
com 16 x 16 cm e distância
aproximada de 50 cm
Barrotes para soalho do 2º pav.
com 25 x 25 cm e distância
aproximada de 60 cm
Barrotes para forro de estuque
com 5 x 7 cm e ripas de canas com
dimensões de 3 x 2 cm
ELEMENTOS
HORIZONTAIS
Revestimentos
1º e 2º pav.
- soalho de madeira
- ladrilho hidráulico sobre
barroteamento e soalho de
madeira
Forros
- de madeira “saia e camisa”com
tabeiras e cimalhas
- de estuque com ornatos de
argamassa em relevo
Soalho de madeira de lei com
larguras aproximadas de 13, 18 e
20 cm
Ladrilho hidráulico 20 x 20 cm
Tábuas, tabeiras e cimalhas dos
forros “saia e camisa” com largura
aproximada de 25 cm
Ornatos em relevo de argamassa
de cal e gesso
ARCOS E
ABÓBADAS
Arcos de
tijolos
Arcos de tijolos maciços
Tijolos cerâmicos de dimensões
aproximadas de 30 x 15 x 7 cm
Argamassa de cal
COBERTURA Estrutura
Tesouras de madeira falquejada
e serrada
Ripamento de canas
Estrutura metálica para
clarabóia
Madeiramento de lei com pernas,
terças e linhas com seções
variadas, predominando 16 x 16
cm
Ripas de canas com secção
irregular
Perfis de aço e vidros coloridos
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
COBERTURA Telhado
Telhas cerâmicas curvas do tipo
capa e canal
Telhas “capa e canal” com
dimensões aproximadas de 57 x
28 cm
Estrutura
Base de alvenaria nas escadas
de acesso ao hall e acesso ao
escritório do conselheiro e na
escada do pátio de fundos
Estrutura de madeira aplainada
e torneada com degraus de
madeira na escada de acesso ao
2º pav.
Pisos e espelhos de madeira na
escada de acesso ao 2º pav.
Tijolos cerâmicos de dimensões
aproximadas de 30 x 15 x 7 cm
Colunas de madeira torneadas e
vigas com dimensões aproximadas
de 4 cm e 5 x 18 cm
Pisos de madeira maciça na escada
em leque com dimensões médias
aproximadas de 27 x 3 cm
Revestimento
Pisos, espelhos e patamar em
mármore na escada de acesso ao
hall e acesso ao escritório do
conselheiro
Revestimento inferior da escada
de acesso ao 2º pav. com forro
de lambris de madeira “macho e
fêmea”
Pisos de grês na escada do pátio
de fundos
Pisos, espelhos e patamar em
mármore com espessuras de 3,5
cm
Lambris “macho e fêmea” com
larguras aproximadas de 10 cm
Pisos de grês com espessura
aproximada de 3,5 cm
ESCADAS
Proteção
Guarda-corpo de ferro fundido e
passamão de mármore nas
escadas de acesso principal e de
acesso ao escritório do
conselheiro
Guarda-corpo de madeira e
passamão de madeira na escada
em leque de acesso ao 2º pav.
Montantes de ferro fundido, com
aproximado de 6 cm
Passamão em mármore com
dimensões aproximadas de 8 cm x
4 cm
Passamão e montantes de madeira
torneada c/ dimensões
aproximadas de 7 x 5 cm e 4
cm
Pisos e soleiras • Mármores brancos
Mármores com espessuras
aproximadas de 4 cm
SACADAS OU
BALCÕES
Guarda-corpos
Gradis metálicos
Passamão de madeira
Passamão de mármore
Gradis de ferro forjado e detalhes
de ferro fundido
Passamão de madeira com
dimensões aproximadas de 7 x 4
cm
Passamão em mármore com
dimensões aproximadas de 8 cm x
4 cm
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72
4.4.3 Prefeitura Municipal de Pelotas
Este capítulo apresenta uma breve descrição da Prefeitura Municipal de Pelotas, seus dados
cronológicos, as imagens obtidas na bibliografia, no local ou em desenhos arquitetônicos,
além de uma planilha descritiva das técnicas construtivas e materiais identificados na época
da execução do prédio.
A Prefeitura Municipal de Pelotas situa-se na Praça Coronel Pedro Osório, 101. O
proprietário na época da construção era a Câmara Municipal de Pelotas e o proprietário atual é
a própria Prefeitura Municipal de Pelotas. O período de inspeções foi de 11 de julho a 08 de
novembro de 2006. As pessoas informantes foram: Arq. Fábio Caetano da Secretaria
Municipal de Cultura, Sr. Waldir - encarregado da obra (construtora Marques Imóveis) na
restauração das fachadas e cobertura do Paço Municipal (Programa Monumenta). Iniciadas
em 1848, foram diversas as tratativas para construção do prédio para o Paço Municipal, sendo
assinado o contrato para sua construção somente em 1879, entre o então presidente Dr.
Leopoldo Antunes Maciel e o construtor Carlo Zanotta, onde assumiam o compromisso de
construir segundo a “planta” existente. Nas atas da Câmara não ficou registrado o nome do
responsável pelo projeto.
Segundo Nascimento (1989), foi Leopoldo Antunes Maciel quem encomendou o projeto do
Paço Municipal, hoje Prefeitura, ao arquiteto italiano Giuseppe Isella, que construiu também a
sua residência. Mas uma placa de mármore branco localizada sobre a porta principal registra
“EDIFICADO DURANTE A PRESIDÊNCIA DO DR. L. A. MACIEL SENDO
ENGENHEIRO R. A. E SILVA E CONSTRUCTOR C. ZANOTTA”. Esta não esclarece a
questão da autoria do projeto, devendo também ser considerada a opinião de Chevallier
(2002, p.266), que destaca a semelhança de características do prédio, como a decoração das
janelas, dos aventais, as pilastras separadas pelo entablamento intermediário, sem pilastras
colossais, a platibanda vazada, entre outros elementos decorativos utilizados por Giuseppe
Isella.
Segundo Gutierrez (2004, p.338), sua tipologia arquitetônica, de características clássicas, foi
amplamente decorada para evidenciar a riqueza que a cidade ainda detinha. A planta era
composta de um reticulado, que dividia a construção, transversalmente e longitudinalmente,
em três partes, entre o primeiro e o segundo pavimentos e as elevações. O edifício de porão
alto, mais dois pavimentos e platibanda, tinha uma escada interior monumental no módulo
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73
central, coroada por uma clarabóia de vidros coloridos, e duas escadas no exterior, que
compunham um pórtico no centro da fachada principal. No pavimento superior, a sacada
sobre o pórtico dava idéia de um palco suspenso sobre a praça, para manifestações dos
políticos.
De acordo com Moura e Schlee (1998, p.82), o prédio recupera a tradicional tipologia dos
prédios de “câmara e cadeia”, ou seja, sobrado de volume retangular caracterizado pelo
pórtico, que protege a pequena escada e sustenta a grande sacada. Embora bastante
descaracterizado, o seu interior ainda mantém alguns detalhes que exemplificam a qualidade
de sua arquitetura (o salão nobre, a escada, os tetos de gesso, a clarabóia, entre outros).
Os dados cronológicos a seguir foram elaborados pela autora deste trabalho com base em
Gutierrez (2004, p.335) e em Moura e Schlee (1998, p.82):
1879 Apresentadas propostas para construção do prédio. A escolhida foi a de Carlo
Zanotta, no valor de 68.000.000 (sessenta e oito contos de réis) por ter oferecido:
vigamento todo de riga; peitoris de mármore, com duas polegadas de grossura, e
rebaixados em todas as janelas; ferragens à vontade da Câmara, quer fossem
fabricadas aqui, quer no estrangeiro, e esquadrias e encanamentos para água em todo
o edifício, conforme amostra apresentada. O prédio contaria com balaustres de barro
vidrado, cimalhas e ornamentos de frente (GUTIERREZ, 2004, p.335).
1880 Segundo Gutierrez (2004, p.335), o relatório, de minuciosa inspeção do senhor
Lopo Netto, informava que a construção estava perfeitamente sólida e preenchia
as condições estabelecidas pelo contrato com o respectivo empreiteiro, senhor
Carlo Zanotta.
____ Diversos intendentes e prefeitos deixaram suas marcas no prédio da Câmara
Municipal, da Intendência ou da Prefeitura, todas sem grandes mudanças nas
características arquitetônicas, principalmente no que se refere à volumetria
original.
1976 O imóvel sofreu sua maior descaracterização, com a edificação em anexo da
garagem e do elevador.
2006 Restauração das fachadas e cobertura através do Programa Monumenta, que
conta com recursos do BID – Banco Interamericano do Desenvolvimento, em
convênio com o Ministério da Cultura.
A seguir nas figuras 24 a 35, incluem-se as imagens obtidas na revisão bibliográfica ou pela
autora deste trabalho, as plantas arquitetônicas elaboradas pela autora deste trabalho ou
cedidas pela Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura Municipal de Pelotas
(SECULT/PMP). As plantas encontram-se sem escala.
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Figura 24: Aquarela de Dominique Pineau do paço municipal e
biblioteca pública em 1883 (fonte: Gutierrez, 2004, p.333)
Figura 25: Paço municipal – foto de Henrique M. Patacão (fonte:
Gutierrez, 2004, p.341)
Figura 26: Paço municipal e Bibliotheca Pública Pelotense (fonte:
Moura e Schlee, 1998, p.83)
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75
N
RUA MARECHAL FLORIANO
RUA QUINZE DE NOVEMBRO
PRAÇA
CORONEL
PEDRO
OSÓRIO
PASSEIO ISMAEL SOARES
PASSEIO CONDE DE PIRATINI
CALÇADAO ANDRADE NEVES
RUA LOBO DA COSTA
BIBLIOTHECA
PÚBLICA PELOTENSE
PAÇO MUNICIPAL
LICEU ELISEU
MACIEL
MERCADO PÚBLICO
SECRETARIA
MUNICIPAL
DE
FINANÇAS
101
43.00
22.10
Figura 27: Situação / localização (fonte: SECULT/PMP, 2006)
N
Figura 28: Localização / cobertura (fonte: SECULT/PMP, 2006)
Figura 29: Planta baixa 1º pav. (fonte: SECULT/PMP, 2006)
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76
Figura 30: Planta baixa mezanino (fonte: SECULT/PMP, 2006)
Figura 31: Planta baixa 2º pav. (fonte: SECULT/PMP, 2006)
Figura 32: Planta de estrutura do telhado (fonte: SECULT/PMP, 2006)
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77
Figura 33: Planta de forros do 2º pav. (fonte: SECULT/PMP, 2006)
Figura 34: Fachada leste ou principal (fonte: SECULT/PMP, 2006)
Figura 35: Fachada sul ou lateral (fonte: SECULT/PMP, 2006)
Na tabela 6, são apresentadas as técnicas construtivas e materiais identificados na Prefeitura
Municipal de Pelotas.
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Tabela 6: Técnicas construtivas e materiais identificados na Prefeitura
Municipal de Pelotas
ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
FUNDAÇÕES Diretas
Alvenaria de tijolos maciços
com 70 e 50 cm de espessura
Pilaretes de apoio dos barrotes
com 50 x 50 cm
Tijolos cerâmicos de 35 x 18 x 7
cm
Argamassa de cal e areia
Paredes
Paredes portantes
- paredes externas e internas de
tijolos, espessuras: 50 cm, 35
cm e 25 cm
Paredes não portantes
- platibandas de alvenaria de
tijolos e balaustres esmaltados
Tijolos cerâmicos de 35 x 18x 7
cm
Balaustres de cerâmica esmaltada
Revestimentos
Rebocos com argamassa
Rebocos de acabamento
marmóreo
Argamassa de cal nos rebocos
internos e externos
Adornos
Ornatos de argamassa em relevo
no exterior e interior do prédio
Cornijas de base, de faixas ou
frisos, de janelas e portas e
superiores para proteção contra
chuvas
Cornijas de tijolos cerâmicos
revestidas com argamassa
Argamassa de cal nas cornijas e
ornatos das fachadas
Argamassa de gesso nos ornatos
internos
Tijolos cerâmicos de 35 x 18 x 7
cm
Vãos
Vãos retos no alpendre de
entrada com viga metálica para
sustentação da sacada
Arcos plenos de tijolos
cerâmicos no 1º pav.
Vãos das gateiras com
fechamento metálico
Tijolos cerâmicos de 35 x 18 x 7
cm
Peitoris em mármore branco com
espessura de 3,0 cm
Fechamento dos vãos das gateiras
com ferro forjado
ELEMENTOS
VERTICAIS
Esquadrias
Esquadrias de madeira com
bandeiras retangulares
Caixilhos de madeira para vidros e
escuros almofadados
Bandeiras de caixilhos de madeira
para vidros
ELEMENTOS
HORIZONTAIS
Estruturas
Piso térreo e entrepiso
- barroteamento para soalho
- barroteamento e soalho para
assentamento de piso
impermeável
Forros
- barroteamento para forro de
madeira “saia e camisa”
- barroteamento e ripamento para
forro de estuque
- barroteamento para forro de
madeira “macho e fêmea”
Vigas de madeira de lei com seção
aproximada de 8 x 16 cm
Barrotes para forro “saia e camisa”
com dimensões de 3 x 7 cm e 4,5
x 10 cm
Barrotes para forro de estuque
com dimensões de 8 x 8 cm; 8 x
10 cm e 8 x 12 cm e ripas de cana
com dimensões aproximadas de 3
x 2 cm
Barrotes para forro “macho e
fêmea” com dimensões de 2,5 x
10 cm e 2,5 x 16 cm
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
ELEMENTOS
HORIZONTAIS
Revestimentos
Piso térreo – soalho de madeira
Entrepiso
- soalho de madeira
- ladrilho hidráulico sobre
barroteamento e soalho de
madeira
Forro de madeira “saia e
camisa”
Forro de madeira “macho e
fêmea”
Forro de estuque com ornatos
de argamassa em relevo
Soalho de madeira de lei
Tábuas do forro “saia e camisa”
com largura aproximada de 28 cm
Tabeiras e cimalhas dos forros
“saia e camisa” com largura
aproximada de 28 cm
Lambris “macho e fêmea” com
largura aproximada de 10 cm
Ladrilho hidráulico 20 x 20 cm
Argamassas de gesso nos forros de
estuque
Cimalhas de madeira alturas
variadas
Molduras e cornijas de argamassa
de gesso
ARCOS E
ABÓBADAS
Arcos de tijolo
s
Arcos de tijolos maciços
Tijolos cerâmicos de 35 x 18 x 7
cm
Argamassa de cal
Estrutura
Tesouras de madeira de lei
serrada
Estrutura metálica para
clarabóia
Pernas, cumeeiras, frechais e
linhas em madeira de lei com
seções aproximadas de 8 x 16 cm
Caibros e terças em madeira de lei
com seção aproximada de 8 x 8
cm
Ripas de madeira serrada com
secção aproximada de 2,5 x 2,5
cm
Perfis de aço e vidros coloridos
COBERTURA
Telhado
Telhas cerâmicas curvas do tipo
capa e canal
Telhas “capa e canal” com
dimensões aproximadas de 50 x
18 cm
Estrutura
Base de alvenaria na escada de
acesso ao prédio
Pisos de mármore e granito na
escada de acesso ao prédio
Estrutura metálica e
barroteamento de madeira para
revestimento de mármore
Tijolos cerâmicos de 35 x 18 x 7
cm
Argamassa de cal
Degraus e patamares de mármore
e granito com espessuras variáveis
de 2 a 3 cm
Perfil de aço tipo “I” com secções
aproximadas de 30 x 11 cm
Revestimento
Pisos e espelhos de mármore na
escada de acesso ao 2º pav.
Placas de mármore com
espessuras variáveis de 2 a 3 cm
ESCADAS
Proteção
Guarda-corpo com balaustres de
argamassa e passamão de
mármore na escada externa
Guarda-corpo metálico e
passamão de madeira na escada
de acesso ao 2º pav.
Montantes de ferro fundido com
alguns detalhes em ferro forjado
Passamão de madeira torneada e
seção de 7,5 x 5 cm
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
Pisos e soleiras
Revestimento com mármore no
balcão do alpendre de entrada
Revestimento da sacada sobre o
alpendre alterado nas diversas
intervenções anteriores
Placas de mármore com
dimensões aproximadas de 40 x
40 cm
SACADAS OU
BALCÕES
Guarda-corpos
Guarda-corpo vazado com
balaustres de argamassa e
passamão de mármore
Guarda-corpo com balaustres de
cerâmica esmaltada engastados
em alvenaria de tijolos
cerâmicos e passamão de
mármore
Balaustres de argamassa
(provavelmente de cal e areia) no
balcão do alpendre de entrada do
prédio
Balaustres de cerâmica esmaltada
nos balcões do 2º pav.
Mármores dos passamãos com
dimensões aproximadas de 18 x 3
cm
4.4.4 Clube Caixeiral
Este capítulo apresenta uma breve descrição do Clube Caixeiral de Pelotas, seus dados
cronológicos, as imagens obtidas na bibliografia, no local ou em desenhos arquitetônicos,
além de uma planilha descritiva das técnicas construtivas e materiais identificados na época
da execução dos prédios.
O Clube Caixeiral de Pelotas situa-se na Praça Coronel Pedro Osório, 106. O proprietário na
época da construção e atual é o próprio clube. O período de inspeções foi de 11 de julho a 31
de agosto de 2006. As pessoas informantes foram: o presidente do clube, Sr. Bastos, a
secretária Angélica e funcionários Lauro e William.
Segundo Moura e Schlee (1998, p.98), o Clube Caixeiral (União e Progresso) foi criado em
1879. Nasceu da luta comum de alguns comerciários pelotenses que conquistaram o direito de
descansar, “a partir das quinze horas”, aos domingos e feriados. Depois de ter peregrinado por
inúmeros imóveis alugados, o Caixeiral acabou construindo sua sede social no mesmo local
onde havia funcionado o Clube Comercial.
Um dos departamentos importantes que o clube possuía era a biblioteca, que chegou a contar
com 5.160 volumes no ano do cinqüentenário de sua fundação. Também foi sede em suas
dependências do Cinema Caixeiral e de uma escola de datilografia. O projeto foi elaborado
pelo arquiteto Caetano Casaretto, em 1902 e representa um marco da arquitetura eclética
pelotense.
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Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
81
De aspecto único, volumetria prismática e recortada, apresenta uma série de elementos
decorativos externos que lhe garantem um caráter excepcional – o que era reforçado pelas
duas pequenas torres que encimavam a construção (demolidas). Internamente, se percebe uma
hierarquização dos compartimentos em: pequenos, médios e de grande porte, bem como a
existência de um eixo de simetria e as escadas são valorizados como elementos plásticos e
funcionais. (MOURA e SCHLEE, 1998, p.98)
Os dados cronológicos a seguir foram elaborados pela autora deste trabalho com base em
Duarte (1929), CLUBE CAIXEIRAL (1902), CLUBE CAIXEIRAL (1903) e CLUBE
CAIXEIRAL (1904):
1896 O clube adquire, por 60 contos de réis, o prédio à Praça da República n
o
104, na
esquina da rua General Vitorino, denominadas atualmente Praça Coronel Pedro
Osório, na esquina da rua Anchieta, para sua sede própria.
1897 Instalação provisória do clube em edifício antigo, local da futura sede, em
janeiro.
1902 Conforme descrição do RELATORIO DA GESTÃO SOCIAL (1902, p.48),
entre os donativos feitos pelos consócios, encontra-se:
1 wagon com cal especial [...] 10 barricas de cimento [ ] 6 linhas de angico, sendo 2
com 40 palmos e 4 com 25 cada uma [ ] 5 mil tijolos [ ] 50 carradas de areia [...]1
wagon de cal
1903 Em 28 de janeiro tiveram começo as obras com muitos donativos e parte do
material tendo sido importado pelo intermédio de Farias, Schreiber & C., Pedro
Osório & C. e Diophanes Lemos. Consta do RELATORIO (1903, p.39):
8 vigas de aço e os forros dous salões em placas de aço estampado de fabricação
americana e comprado diretamente da fábrica na Philadélfia.
Em 03 de abril houve a festa da colocação da cumeeira e de lançamento da pedra
fundamental, pois conforme descrito no CLUBE CAIXEIRAL (1904, p.106):
Nosso novo prédio veio assentar nos alicerces do antigo, que não foram demolidos,
podendo-se, pois mui propriamente dizer que já existiam os fundamentos do novo
edifício que em parte é uma reconstrucção [...] no início das obras occupavamos a
parte do antigo prédio, em que devera ser assentada a pedra fundamental e, quando
foi desoccupado esse local, já existia do novo edifício uma grande extensão [...]
Na caixa metálica foi depositado um exemplar do jornal “A opinião pública”,
que nesta data estampara o clichê da planta. A figura 36 com os desenhos que
expressam as fachadas sul e oeste é apresentada a seguir.
Firmaram as autoridades, os consócios, as pessoas gradas presentes, a ata
encerrada no cofre depositado sob a soleira da porta principal, pelo lado da Praça
da República, atual Praça Coronel Pedro Osório.
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
82
Do CLUBE CAIXEIRAL (1904, p.122) consta a doação de todas as chapas de
latão que guarnecem os degraus da escada interna do prédio. Consta também:
a encommenda da escada principal e dos lustres foi confiada á conceituada casa dos
Sr.
s
Farias, Schreiber & C.
a
; a dos espelhos á dos Sr.
s
Scholberg & Joucla e a das
estátuas externas e internas á do Sr. Diophanes Lemos [...]
Em 11 de dezembro é transferida a sede do clube para o prédio em construção,
visto as acanhadas dimensões da sede provisória.
1911 Com solenidade de abertura pela Banda Musical do Clube Caixeiral (existente
desde 07 de fevereiro de 1892), foi inaugurado o Cinema Caixeiral, instalado no
palco do salão do clube, constando do programa sete fitas escolhidas.
1924 Em Assembléia Geral de 07 de março, a diretoria é autorizada a comprar os
prédios situados na Praça da República n
o
102, atual Praça Coronel Pedro Osório
n
o
102 e na Rua Félix da Cunha n
os
. 601 a 613.
A seguir nas figuras 36 a 45, incluem-se as imagens obtidas na revisão bibliográfica sobre o
imóvel ou obtidas pela autora deste trabalho, as plantas arquitetônicas cedidas por Campos
(2007) encontram-se sem escala.
Figura 36: Fachada oeste e sul em clichê (fonte: CLUBE
CAIXEIRAL, 1904 e jornal “A Opinião Pública” de 03 de abril de
1904 - desenho atribuído a C. Casaretto)
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Figura 37: Clube Caixeiral visto pela praça (fonte: autora, 2005)
Figura 38: Clube Caixeiral visto pela Rua Anchieta (fonte: autora,
2005)
PRAÇA CORONEL
PEDRO OSÓRIO
RUA BARAO DE BUTUÍ
R
U
A
L
O
B
O
D
A
C
O
S
T
A
R
U
A
M
A
R
.
F
L
O
R
I
A
N
O
R
U
A
L
O
B
O
D
A
C
O
S
T
A
R
U
A
P
R
I
N
C
E
S
A
I
S
A
B
E
L
RUA ANCHIETA
RUA ANCHIETA
RUA FÉLIX DA CUNHA
RUA FÉLIX DA CUNHA
RUA QUINZE DE NOVEMBRO
RUA QUINZE DE NOVEMBRO
N
Figura 39: Situação (fonte: autora, 2006)
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84
TERRAÇO
TERRAÇO
I=60%
I=60%
I=35%
I=60%
I=60%
I=35%
I=20%
TERRAÇO
Figura 40: Planta de cobertura (fonte: CAMPOS, 2007)
1
2
3
4
5
6
7
1
23
45
6
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
Figura 41: Planta baixa 1º pav. (fonte: CAMPOS, 2007)
Figura 42: Planta baixa 2º pav. (fonte: CAMPOS, 2007)
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Figura 43: Planta baixa pav. intermediário entre 1º e 2º pav. (fonte:
CAMPOS, 2007)
Figura 44: Fachada principal (fonte: autora, 2007)
1904
Figura 45: Fachada lateral (fonte: CAMPOS, 2007)
__________________________________________________________________________________________
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Na tabela 7, são apresentadas as técnicas construtivas e materiais identificados no Clube
Caixeiral.
Tabela 7: Técnicas construtivas e materiais identificados no Clube
Caixeiral
ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
FUNDAÇÕES Diretas
Alvenaria de tijolos maciços
com 90 e 65 cm de espessura
Pilaretes para apoio dos barrotes
com 50 x 50 cm
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm
Argamassa de cal
Paredes
Paredes portantes
- paredes externas e internas do 1º
pav. de tijolos maciços com 55
cm e 45 cm de espessura
- paredes externas e internas do 2º
pav. de tijolos maciços com 55
e 38 cm de espessura
Paredes não portantes
- paredes divisórias no 3º pav. de
estuque com 13 cm de
espessura
- platibandas de alvenaria de
tijolos e balaustres de
argamassa
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm
Ripas de canas do estuque com
secções aproximadas de 3 x 2 cm
Balaustres de argamassa
Revestimentos
Revestimento de socos externos
com cantaria sobre alvenaria de
tijolos
Rebocos lisos com argamassa
de cal
Reboco de juntas imitando
pilastras de pedra
Rebocos de acabamento
marmóreo
Placas de cantaria em pedra
granítica com espessura de 20 cm
Argamassa de cal nos rebocos
lisos e de juntas
ELEMENTOS
VERTICAIS
Adornos
Ornatos de argamassa em relevo
no exterior do prédio
Ornatos de argamassa em relevo
aplicados nas colunas e paredes
internas do salão principal - 1º
pav.
Cornijas de base, de faixas ou
frisos, de janelas e portas e
superiores para proteção contra
chuvas
Cornijas de tijolos cerâmicos
revestidas com argamassa
Argamassa de gesso nos ornatos
internos
Argamassa de cal nas cornijas e
ornatos externos
Tijolos cerâmicos de 30 x 15 x 7
cm
__________________________________________________________________________________________
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87
ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
Vãos
Arcos de tijolos maciços em
vãos no 1º pav.
Vãos ou aberturas nas
alvenarias com verga de perfil
“I” duplos e placas metálicas
apoiadas sobre as abas dos
perfis comportando-se como
vergas para apoio da alvenaria
de tijolos cerâmicos sobre as
mesmas
Vãos das gateiras com
fechamento metálico
Peitoris de mármore de 3 cm de
espessura
ELEMENTOS
VERTICAIS
Esquadrias
Esquadrias de madeira com
postigos ou escuros
almofadados
Bandeiras em leque sob arco
pleno nas esquadrias da fachada
Bandeiras trabalhadas sob arcos
abatidos em algumas esquadrias
internas do 1º pav.
Bandeiras retangulares
Caixilhos de madeira para vidros e
postigos ou escuros almofadados
Bandeiras de caixilhos de madeira
para vidros
Óculos com vidros coloridos
ELEMENTOS
HORIZONTAIS
Estruturas
Piso térreo e entrepiso
- barroteamento para soalho
- barroteamento e soalho para
assentamento de piso
impermeável
- estrutura metálica para apoio de
soalho de madeira
- estrutura de madeira com vigas
de pinho de Riga
Forros
- barroteamento para forro de
madeira tipo “saia e camisa”
- barroteamento para forro
metálico
- barroteamento e ripamento para
forro de estuque
Terraços
- estrutura metálica e tijolos
cerâmicos dispostos em
abobadilhas
Vigas apoiadas nos pilaretes e
servindo de apoio aos barrotes do
soalho de madeira de lei com
dimensões aproximadas de 19 x
20 cm
Barrotes para soalho do 1º pav.
com seções de 8 x 16 cm
Vigas de pinho de Riga
Perfis metálicos tipo “I” com 40
cm de altura
Perfis metálicos tipo “I” com
aproximadamente 17 x 50 cm no
entrepiso afastados de 3,50 m e
apoio para vigas de pinho de Riga
com seção de 7 x 22 cm afastadas
57 cm entre si
Longarinas e barrotes para forro
metálico com dimensões
aproximadas de 2,5 x 15 cm, 5 x 7
cm, 3 x 7 cm e 3 x 3 cm
Barrotes para forro de estuque com
dimensões aproximadas de 5 x 7
cm, 2,5 x 5 cm e ripas de cana
com secções aproximadas de 3 x 2
cm
Perfis metálicos tipo “I” distantes
aproximadamente 60 cm e tijolos
dispostos em abobadilhas
__________________________________________________________________________________________
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
ELEMENTOS
HORIZONTAIS
Revestimentos
Piso térreo e entrepiso
- soalho de madeira de lei sobre
barroteamento
- ladrilho hidráulico sobre
barroteamento e soalho de
madeira
- ladrilho hidráulico e cerâmico
sobre estrutura metálica em
abobadilhas
Forros
- de madeira tipo “saia e camisa”
- madeira com tabeira, cimalhas e
vãos internos do tipo “macho e
fêmea”
- chapa metálica estampada
fixada em barrotes de madeira
- madeira com revestimento de
lona e com frisos e florões de
madeira aplicados
- de estuque sob estrutura
metálica dos terraços
Soalho de pinho de Riga com 13
cm de largura
Soalho no entrepiso do 1º para o 2º
pav. com 20 cm de largura
Ladrilho hidráulico 20 x 20 cm
Ladrilho cerâmico 20 x 20 cm
Tábuas dos forros “saia e camisa”
com largura aproximada de 25 cm
Lambris de madeira tipo “macho e
fêmea” com largura aproximada
de 15 cm, tabeiras e cimalhas com
20 cm
Chapa metálica com desenhos
estampados e de dimensões
variadas
Molduras metálicas nos forros
metálicos
Tábuas, tabeiras e cimalhas dos
forros “saia e camisa” com largura
aproximada de 25 cm
Revestimento estucado c/adornos
em relevo com argamassa de gesso
ARCOS E
ABÓBADAS
Arcos de
tijolos
Arcos de tijolos maciços
Tijolos cerâmicos de dimensões
aproximadas de 30 x 15 x 7 cm
Argamassa de cal
Estrutura
Tesouras de madeira falquejada
e serrada
Ripamento de canas
Madeiramento de lei com pernas,
frechais e linhas com seções
aproximadas de 14x18cm e
14x14cm
Ripas de cana de secção irregular
COBERTURA
Telhado
Telhas cerâmicas curvas do tipo
capa e canal
Telhas “capa e canal” com
dimensões aproximadas de 26x55c
m
ESCADAS Estrutura
Base de alvenaria nas escadas
externas de acesso ao prédio e
no primeiro lance da escada
principal no acesso principal
Estrutura metálica de ferro
fundido
Estrutura de madeira aplainada
e torneada com degraus de
madeira
Pisos e espelhos em cantaria de
granito monolítico na fachada
lateral
Pisos de mármore na escada da
entrada principal
Pisos e espelhos de madeira na
escada de acesso ao 2º e 3º pav.
Tijolos cerâmicos de dimensões
aproximadas de 30 x 15 x 7 cm
Montantes e colunas de ferro
fundido com 25 cm na base,
caneluras e pinha no topo
Colunas e vigas de madeira
torneada com dimensões
aproximadas de 5x 25cm
Degraus monolíticos em pedra
granítica apicoada e arestas
arredondadas, com 40 x 11 cm
(porta principal) e 30 x 12 cm
Pisos e espelhos em mármore no
1º lance de escada de acesso ao
clube com 31 x 3 cm e 15 x 2 cm,
respectivamente
Pisos de madeira maciça com 32 x
5cm
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICA CONSTRUTIVA MATERIAIS UTILIZADOS
Revestimentos
Revestimento inferior dos
lances da escada de entrada com
placas metálicas estampadas
Revestimento inferior dos
lances da escada de acesso ao 2º
e 3º pav. com forro de lambris
de madeira tipo “macho e
fêmea”
Espelhos de chapa metálica com
espessura de 10 mm rebitados e
com botões metálicos de 2 cm
Chapas metálicas estampadas em
latão
Lambris de madeira “macho e
fêmea” com larguras aproximadas
de 10 cm
ESCADAS
Proteção
Guarda-corpo de ferro fundido
Guarda-corpo de madeira
Passamão de madeira
Montantes de ferro fundido, com
aproximado de 5 cm
Montantes e passamão de madeira
torneada c/ dimensões
aproximadas de 7 x 5 cm e 5cm
Pisos e
soleiras
Pedra granítica cinza
Pedra granítica apicoada com
espessura aproximada de 15 cm
SACADAS OU
BALCÕES
Guarda-
corpos
Gradis metálicos
Passamão de madeira
Gradis de ferro forjado e detalhes
nas intersecções em ferro fundido
Passamão de madeira com secção
de 7 x 4 cm
4.4.5 Resumo das técnicas construtivas e materiais das obras pré-selecionadas
A partir dos levantamentos de cada prédio foi possível confeccionar uma tabela resumo
(Tabela 8) com os materiais e técnicas construtivas utilizadas nas quatro obras, identificando
através das letras iniciais M, I, Z e C, respectivamente se a técnica e o material foram
empregados pelos quatro construtores da pesquisa: Marcucci, Isella, Zanotta e Casaretto.
Tabela 8: Resumo das técnicas construtivas e materiais utilizados nas
obras pré-selecionadas
ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICAS CONSTRUTIVAS E MATERIAIS CONSTRUTOR
FUNDAÇÕES Direta
Alvenaria de pedra granítica
Alvenaria de tijolos maciços
Pilaretes para apoio dos barrotes
M
I, Z e C
Z e C
ELEMENTOS
VERTICAIS
Paredes
Paredes portantes de tijolos maciços com
espessuras variadas
Paredes não portantes de estuque com
espessuras variadas
Paredes não portantes de tijolos maciços com
espessuras variadas nas platibandas e balaustres
de argamassa ou de cerâmica esmaltada
M, I, Z e C
M, I e C
M, I, Z e C
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO • TÉCNICAS CONSTRUTIVAS E MATERIAIS CONSTRUTOR
Revestimentos
Reboco liso de argamassa de cal no exterior e
interior
Revestimento com argamassa tipo “rusticação”
e marcação imitando pedra de cantaria com
juntas desencontradas e de baixo relevo
Revestimento de socos externos com cantaria
sobre alvenaria de tijolos
Revestimento de azulejos
Rebocos de acabamento marmóreo
Escaiola
Revestimento de paredes com mármore rosa
M, I, Z e C
I, M
C
I
M, I, Z e C
M
M
Adornos
Ornatos de argamassa em relevo no exterior e
interior
Cornijas de base, de faixas ou frisos, de janelas
e portas
Cornijas de tijolos cerâmicos revestidas com
argamassa
M, Z, I e C
M, Z, I e C
M, Z, I e C
Vãos
Arquitraves, umbrais, soleiras e peitoris em
cantaria
Arquitraves em tijolos maciços
Vãos nas alvenarias com verga de perfil “I”
duplos e placas metálicas apoiadas sobre as abas
dos perfis comportando-se como vergas
Vãos retos com viga metálica
Vãos das gateiras com fechamento metálico
Vãos com estrutura de madeira e acabamento
em lambrequim de chapa metálica
M
I, Z e C
C
Z
M, I, Z e C
I
ELEMENTOS
VERTICAIS
Esquadrias
Esquadrias de madeira com bandeiras
retangulares
Revestimento de madeira nos aventais dos
peitoris das janelas
Bandeiras em leque sob arco pleno
Bandeiras trabalhadas sob arcos abatidos
Óculos com vidros coloridos
M, I e Z
M
C
C
C
ELEMENTOS
HORIZONTAIS
Estruturas
Barroteamento ou vigas para soalhos de pisos,
entrepisos e forros
Barroteamento e soalho para assentamento de
piso impermeável
Estrutura metálica com perfis tipo “I” nos
entrepisos para apoio de soalho de madeira
Barroteamento para forro de madeira tipo “saia
e camisa”
Barroteamento para forro de madeira tipo
“macho e fêmea”
Barroteamento e ripamento para forro de
estuque
Barroteamento para forro metálico
Estrutura metálica com perfis tipo “I” e
elementos cerâmicos dispostos em abobadilhas
M, I, Z e C
M, I, Z e C
C
M, I, Z e C
M, Z e C
M, I, Z e C
C
C
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO • TÉCNICAS CONSTRUTIVAS E MATERIAIS CONSTRUTOR
ELEMENTOS
HORIZONTAIS
Revestimentos
De pisos
- Ladrilho hidráulico sobre barroteamento e
soalho de madeira
- Soalho de madeira
- Ladrilho hidráulico e cerâmico sobre estrutura
metálica em abobadilhas
De tetos
- Forro de madeira tipo “macho e fêmea”
- Forro de madeira tipo “saia e camisa” com
tabeiras e cimalhas
- Aplicações de frisos de madeira sobre o forro
“saia e camisa”
- Forro de madeira com revestimento de lona e
com frisos e florões de madeira aplicados
- Forro de estuque
- Forro de chapa metálica estampada
M, I, Z e C
M, I, Z e C
C
M, I, Z e C
M
M, Z e C
C
M, I, Z
C
Arcos de pedras Arcos de pedras aparelhadas em cunha M
Arcos de tijolos Arcos de tijolos maciços M, I, Z e C
Abóbadas de
estuque
Estrutura de madeira em arcos para
conformação das abóbadas
Abóbadas cruciformes separadas por arcos
rebaixados policêntricos com estrutura de
madeira e revestimento de estuque
Meia-cúpula de arco policêntrico com estrutura
de madeira e revestimento de estuque
Aplicações de ornatos em relevo sobre a
argamassa dos estuques das abóbadas
M
M
M
M
ARCOS E
ABÓBADAS
Abóbadas de
tijolos
Abóbada de oito garras com arcos policêntricos
realçados executadas com tijolos maciços
aparentes internamente
M
Estrutura
Tesouras de madeira de lei falquejada e serrada
Ripas de cana com secção irregular
Estrutura metálica para clarabóia
M, I, Z e C
I e C
I e Z
Telhado
Telhas cerâmicas curvas do tipo capa e canal ou
de encaixe do tipo francesa
Telhas cerâmicas do tipo capa e canal com
fileira de canais
M, I, Z e C
M
COBERTURA
Revestimento
Forro de madeira sob as telhas do tipo “saia e
camisa”
Reboco com argamassa sobre as abóbadas de
tijolos
M
M
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ELEMENTO
CONSTRUTIVO
TIPO TÉCNICAS CONSTRUTIVAS E MATERIAIS CONSTRUTOR
Estrutura
Base de alvenaria
Pisos, espelhos e patamares em cantaria
Estrutura de madeira aplainada e torneada com
degraus de madeira
Estrutura metálica de ferro fundido
Estrutura metálica de aço com barroteamento de
madeira
M, I, Z e C
M, I, Z e C
M, I e C
C
Z
Revestimento
Revestimento inferior dos lances das escadas
com placas metálicas estampadas em latão
Revestimento inferior dos lances das escadas
com forro de lambris de madeira tipo “macho e
fêmea” ou “saia e camisa”
Pedras de grês
C
M, I e C
I
ESCADAS
Proteção
Guarda-corpos de madeira
Guarda-corpos de ferro forjado e fundido
Passamãos de madeira e de mármore
Guarda-corpo vazado com balaustres de
argamassa e passamão de mármore
M, I e C
I, Z e C
M, I, Z e C
Z
Pisos e soleiras Revestimento de mármores ou granitos M, I, Z e C
SACADAS OU
BALCÕES
Guarda-corpos
Gradis metálicos
Passamão de madeira
Guarda-corpo com balaustres de cerâmica
esmaltada, alvenaria de tijolos cerâmicos e
passamão de mármore
Guarda-corpo vazado com balaustres de
argamassa e passamão de mármore
M, I e C
M, I e C
Z
Z
4.5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A seguir serão descritos a tecnologia construtiva e os materiais de construção encontrados na
bibliografia difundida no país de origem dos construtores. A classificação em sete grupos para
os elementos construtivos foi adaptada da classificação de Rohrich (1999) e compreende os
seguintes elementos: fundações, elementos verticais, elementos horizontais, arcos e abóbadas,
cobertura, escada e sacadas ou balcões.
4.5.1 Fundações
A solidez e a durabilidade de um edifício não dependem da bondade dos materiais
empregados ou da sua racional posição na obra; mas, antes de tudo, da estabilidade
imutável e segura da base do próprio edifício, do elemento cuja construção se
relaciona com o terreno, isto é, as fundações. Estas devem permanecer imunes aos
movimentos gerais ou parciais em qualquer caso e por qualquer circunstância, e
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qualquer que seja a qualidade do terreno, tendo por vezes, e excepcionalmente, não
suportado e cedido, e sobre o qual se apóiam as fundações. (BREYMANN, 2003b,
p.3)
O sistema de fundações a ser adotado e o modo prático de sua atuação é um dos mais graves e
difíceis entre todos os que se apresentam nas construções, especialmente quando se atribui
notável importância ao elemento econômico e quando se pensa que após executada a estrutura
de fundação, torna-se praticamente impossível um reforço posterior. A primeira tarefa do
arquiteto encarregado da construção é o exame cuidadoso da qualidade do terreno sobre o
qual o edifício deverá surgir. A segunda será a escolha, baseada no conhecimento e nas
proporções das condições intrínsecas do edifício, do mais adequado sistema de fundações.
Breymann (2003b, p.4) estabelece uma divisão prática para os terrenos porque entende que
seria impossível uma racional e científica classificação, considerando-se as diferentes
características mineralógicas, conformações e disposição variada das camadas que os
compõem. Desta forma, apresenta uma simples divisão para os terrenos em: “bons”,
“medianos” e “ruins”, destacados entre aspas por ser uma nomenclatura do próprio do autor.
Os terrenos “bons” são aqueles sólidos e de resistência incompressível. Entre eles se
encontram: 1) todas as rochas de qualidade não facilmente alterável, dispostas em camadas ou
bancos, de espessuras não inferiores a três metros e que sob esta camada se encontrem
terrenos bastante resistentes; 2) argila seca e compacta; 3) areia e pedregulho cuja
regularidade de sedimentação e suas espessuras asseguram contra a possibilidade de
movimentações verticais e laterais. Os terrenos “medianos” não são compressíveis e
mutáveis; são os rochosos de difícil alterabilidade, como a areia e os pedregulhos não puros,
com grande quantidade de terra e que permitem o escorrimento de água através deles
tornando-se instáveis. Os terrenos “ruins” são todos aqueles leves e móveis, que se
desagregam, tendendo a movimentarem-se, como a terra argilosa, a terra vegetal, a lama etc.
Descreve também processos de exploração do subsolo, como escavações, sondagens,
cravação de estacas, escoramentos, bem como as ferramentas e equipamentos necessários à
preparação dos terrenos.
Cattaneo (1889, p.6) estabelece que um bom terreno para as fundações deva ser duro,
incompressível e homogêneo, e deve suportar cargas de 25 a 30.000 Kg/m2. As rochas, os
tufos, os terrenos pétreos e a argila pura são incompressíveis. As areias os pedregulhos, as
terras compactas, as pedras arredondadas ou seixos são compressíveis e os terrenos móveis
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são os ordinários vegetais, os lamosos e pantanosos. O meio mais seguro para conhecer a
natureza dos terrenos, embora dispendioso e dificultoso, é o de escavar poços de inspeção em
vários pontos da superfície onde se vai construir. Fundações comuns e ordinárias são as feitas
sobre terreno enxuto; hidráulicas são as feitas sobre terreno coberto ou permeável à água. As
ordinárias apresentam dois tipos: diretas, ou seja, sobre terrenos incompressíveis; “per
escavo”, aquelas escavadas em terrenos móveis.
Para executarem-se fundações diretas sobre rochas ou tufos em declive, deve-se tornar a
superfície horizontal através de escalonados horizontais; se são cavernosas, por serem
perigosas, devem ser demolidas e substituídas por elementos artificiais. Ao executarem-se as
fundações por escavação de trinchas correspondentes às alvenarias, até o terreno bom, se pode
reforçar o terreno com pedregulhos bem comprimidos. Um dos meios mais comuns de reforço
do terreno, evitando profundas escavações, consiste na penetração de estacas de madeira forte.
Usam-se estacas de 3 a 4 m de cumprimento, dependendo da qualidade do terreno e 0,25 a
0,30 m de diâmetro.
A distância entre as estacas também varia conforme a qualidade do terreno, podendo algumas
vezes quase estar em contato. Outras vezes se arma as estacas com pontas de ferro. A
cravação das estacas se faz por meio de bate-estacas ou batedores, com um corpo de madeira
armado de ferro, com peso de 50 a 250 Kg. Cravadas as estacas e niveladas as suas pontas, se
preenche os espaços entre elas com “calcestruzzo”, espécie de concreto, comprimindo-o com
batedores, o que torna muito resistente. Nas obras grandiosas, esta plataforma se estende
sobre toda a superfície. Quando o terreno bom só se encontra a notável profundidade,
escavam-se poços, entre os quais, e sobre o terreno resistente se constroem os pilares de
diâmetro igual à máxima diagonal do pilar de fora da terra, tendo o cuidado de dispor no
fundo uma camada de concreto alto, com 0,50 a 1,00 m. Após, unem-se os pilares com
robustos arcos para sustentar as alvenarias. As fundações hidráulicas não mudam das
ordinárias senão no caso de não ser possível deixar o terreno a descoberto. Se a altura da água
é considerável, se recorre às fundações construídas sobre lançamentos de grossos maciços de
pedra ou por meio de formas pneumáticas.
Polverino (1992, p.39), trata a escolha do tipo de fundação e suas diversas tipologias em
função das características do terreno. As estruturas de sustentação verticais podem ser
contínuas (alvenarias) e isoladas (pilares e colunas). Quanto às fundações diretas, chamadas
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immediate”, o mais idôneo plano de assentamento consiste em sedimentos constituídos de
rochas ou tufos de boa consistência que afloram na superfície ou em pequenas profundidades.
A alvenaria superior era simplesmente prolongada até o plano de apoio ou plano de rocha
saliente, e necessitava de uma cuidadosa preparação deste plano com um engrossamento
preventivo da camada superficial do banco pétreo e um sucessivo nivelamento do mesmo. As
alvenarias subterrâneas deveriam ser mais espessas do que aquelas em elevação, de perfil
constante ou escalonado, as chamadas “in gradoni”. As fundações de alvenaria eram muito
utilizadas em terrenos não rochosos, cujo plano de apoio encontrava-se consistente em
profundidades não superiores a 5.00 ou 6.00 m. Neste caso eram denominadas contínuas ou
in tela” (em trama).
Breymann (2003b, p.14) e Cattaneo (1889, p.7) descrevem na execução das fundações
contínuas, a abertura de trincheiras ao longo de todo o circuito previsto para as alvenarias em
elevação. Ao mesmo tempo das escavações, se executavam os escoramentos para evitar
deslizamentos na secção de trabalho.
Aplainado o plano de apoio das fundações e sem dúvida a cerca de sua consistência, era
comum proceder ao consolidamento através da percussão com estacas de madeira ou
compactação com batedores no plano de apoio. Tal operação estava concluída quando os
golpes eram rejeitados ou, mesmo sendo submetida a golpes potentes, a superfície não se
modificava. Estas valas também poderiam ser ancoradas a fim de resistir às solicitações
horizontais ou suborizontais do terreno, com uma espécie de escalonamento da sua superfície
inferior. Sucessivamente se passava à realização da fundação contínua. A execução das fiadas
era frequentemente realizada uma por vez e o início da camada sucessiva impunha a
conclusão da anterior em todo o seu perímetro, com particular cuidado à sua horizontalidade e
à aplicação da argamassa. Uma vez alcançada a superfície superior, emergente do solo, antes
de proceder à elevação da alvenaria fora da terra era comum esperar, nada menos do que,
alguns meses.
Quando o terreno era capaz de suportar fortes pressões unitárias, a solução ideal era dada
pelas fundações de pilares e arcos. Nestes casos, as cargas da supra-estrutura das fundações
eram transferidas para o plano de apoio do terreno mediante pilares de alvenaria.
4.5.2 Elementos Verticais
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Nesta secção encontram-se as descrições dos principais tratadistas quanto às paredes de pedra
ou tijolos, paredes divisórias de estuque, revestimentos.
4.5.2.1 Paredes
Nesta secção são apresentadas as descrições sobre paredes portantes de pedra ou tijolos,
paredes não portantes de estuque e paredes não portantes nas platibandas.
Breymann (2003b, p.3) atribuía às estruturas murárias, serem os testemunhos eloqüentes do
grau de cultura dos povos antigos e da história da arquitetura. As construções eram, então,
compreendidas pelos tijolos, pelas pedras naturais ou artificiais, e pelos materiais afins como
o concreto, o gesso, a argila etc., formando os materiais principais utilizados pelos “muratori
aqueles que erguiam os muros; construtores; pedreiros; “scarpellini” ou “scalpellini”, ou seja,
operários que trabalhavam cortando ou esculpindo pedras, especialmente mármores;
escultores; “stuccatori”, ou estucadores; gesseiros etc. O autor faz uma distinção entre os
termos “muri” e “pareti”, respectivamente, termos cuja tradução literal seria de muros e
paredes. Fazem parte dos muros as partes homogêneas e incombustíveis; por outro lado, uma
parede consta de materiais homogêneos, mas combustíveis (paredes de madeira ou de
vedação); ou de partes heterogêneas, algumas combustíveis e outras incombustíveis (paredes
teladas, paredes de argila e palha). Subdivide os muros em dois grandes grupos: muros de
pedra e muros de argila compactada, ditos simplesmente de terra, de concreto ou de argila
mista com palha. Os muros de pedra podem ser de pedra natural e de pedras artificiais ou
tijolos.
Na língua portuguesa, segundo o GRANDE DICIONÁRIO LAROUSSE CULTURAL DA
LÍNGUA PORTUGUESA (1999, p.691), as paredes são qualquer maciço de alvenaria que
forma as fachadas de um edifício, que separa uma peça de outra ou forma divisões internas.
Também pode ser aplicado a muros ou tabiques.
Segundo Cattaneo (1889, p.6), a alvenaria mais simples é aquela a seco, formada por pedaços
de pedra convenientemente sobrepostos. A execução da alvenaria propriamente dita se forma,
ligando entre eles, através de argamassa, pedras naturais ou artefatos. A alvenaria de pedra
natural é formada por rochas mais ou menos volumosas; se tais rochas são empregadas
grosseiras, se diz que a alvenaria é “di pietrame”, ou de pedra empilhada. Se não se corrige
suas formas irregulares e se põe em preciso contato, a alvenaria se diz “d’opera incerta”, ou
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de obra incerta; se os pedaços são cortados de forma regular, se diz que a alvenaria é
d’apparecchio” ou “in pietra concia” ou “da taglio”, ou seja aparelhada ou de pedra
elaborada ou de corte. A alvenaria aparelhada é maciça quando é feita totalmente de rochas ou
pedras regulares elaboradas. A alvenaria cimentícia ou moldada é aquela formada entre
moldes ou formas de madeira e é constituída de cacos de pedra, pedras graúdas e argamassa
de cimento, diz-se também alvenaria de “calcestruzzo” ou concreto.
A alvenaria cerâmica é formada por pequenos pedaços de terra cozida, ditos tijolos. Leve,
resistente às intempéries, apta a fazer boa pega com argamassas, econômica, de fácil
execução, a alvenaria cerâmica teve sempre grande prestígio nos tempos antigos e também no
presente; é preferida, em muitos casos, à alvenaria aparelhada. Geralmente o tijolo é disposto
em linha com a face mais larga na horizontal, e procurando-se utilizá-lo inteiro. As faixas de
argamassa devem ser produzidas sem se encontrarem nas juntas, ou seja, alternadas. Se a
alvenaria apresenta externamente os tijolos à vista, diz-se “a cortina”, “a paramento” ou “a
pietrame”. Adotando-se tijolos especiais, mais regulares e mais resistentes, chama-se
alvenaria de paramento. Os tijolos utilizados devem ser limpos e lavados; sobre a fiada de
tijolos se dispõe uma camada de argamassa, depois se coloca a segunda fiada, batendo com o
cabo da colher ou do martelo os tijolos de modo que a argamassa faça aderência, reduzindo
tal camada à espessura entre 5 e 10 milímetros.
Breymann (2003c, p.5) descreve uma nomenclatura para os tijolos nos seus diferentes
tamanhos, que podem ser obtidos cortando-os manualmente ou fabricados desta forma:
mattonetto” ou tijolinho, peça de igual comprimento e metade da largura; “trequarti” ou
três-quartos, peça de mesma largura e três-quartos do comprimento; “mezzo mattone” ou
due-quarti”, meio tijolo ou dois-quartos, com a mesma largura e metade do comprimento.
Algum outro menos dos citados, chama-se “quarto”, ou seja, quarto. Estabelece algumas
regras para a disposição dos tijolos e descreve as mais importantes detalhadamente e com
desenhos: em bloco, em cruz, gótica ou polaca, holandesa, com camadas diagonais alternadas,
com ângulo agudo ou obtuso, em pilares isolados, em muros com vazios no seu interior, em
muros perfurados, em chaminés, em paredes teladas.
As primeiras alvenarias feitas com artefatos cerâmicos utilizavam tijolos crus, como
recomendava Vitruvio nos tratados de seu tempo. Eram chamados “lateres”, enquanto que os
cozidos eram chamados “testa”, sendo que estes eram recomendados apenas como telhas ou
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para proteger contra as intempéries as partes feitas com os tijolos crus. Esta técnica – de
origem grega – se manteve até o fim do império de Augusto, em Roma, quando começou a
verdadeira “obra em cerâmica” (ou structura testacea), com tijolos cozidos ou queimados. A
utilização dos tijolos queimados nas construções é muito antiga. Vitruvio documenta tal uso já
nos muros das cidades dos babilônios. Sua aplicação nos tempos de Vitruvio (falecido em 25
d.C) é de tímida aplicação. O tratadista latino descreve um tipo de alvenaria “a sacco” (ou
opus testaceum), de prática não muito consolidada, cujas técnicas de elaboração e queima dos
tijolos necessitavam mais testes, que não permitiram a sua utilização com segurança.
Andrea Palladio (1570) apud Rohrich (1999, p.99), também cita este método como é
encontrado “nas muralhas das cidades ou em outros grandes edifícios”, e é constituído de uma
dupla cortina de ladrilhos preenchida no meio com cimentos e “copo pesto”, que pode ser
uma massa de telha moída. É mais comum encontrarmos o termo “coccio pesto”, que era uma
massa de argilas queimadas ou cerâmicas moídas, mas como “coppo” em italiano é um tipo
de telha cerâmica, deduz-se que o os materiais eram semelhantes. A cada três camadas a
alvenaria era ligada por um ladrilho maior que atingia toda a espessura da parede. As fiadas
deveriam ser como nervos que tenham ligações entre as partes para evitar qualquer ruína. Esta
técnica também foi tratada por outros escritores como Daniele Bárbaro (1556), Galasso
Alghisi e Vincenzo Scamozzi (1615) apud Rohrich (1999), nos anos “quatroccento”,
cinquecento” e “seicento”, ou seja, nos séculos XV, XVI e XVII. Scamozzi (1615) apud
Rohrich (1999, p.115) comenta que, em Veneza, as alvenarias eram de uma pedra e meia nos
edifícios privados, duas ou três pedras nos públicos, sendo as ligações ao longo das paredes e
em chave feitas com argamassa de cal e lascas de pedras padovanas (de Padova). O uso de
alvenarias com tijolos cerâmicos serviriam para diminuir as espessuras das paredes de pedra,
facilitariam sua execução e as ligações entre as peças, devido às suas faces esquadrejadas
permitiam planos de assentamentos regulares. Por outro lado, a porosidade dos tijolos
cerâmicos permitia perfeita coesão com a argamassa, adesão do reboco e uma ótima
visibilidade dos ambientes. Scamozzi (1615) apud Rohrich (1999, p.116) recomendava que,
para realizar uma estrutura muraria de obra de arte seria necessário banhar os tijolos antes de
utilizá-los, pondo estes em leite de argamassa líquida, gorda e bem retrátil, de modo a
envolver toda a pedra. Todos concordavam que os tijolos deveriam ser colocados com as
juntas verticais de uma fila viessem a cair no meio do comprimento dos tijolos da fila
adjacente.
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Era comum encontrarem-se os cantos das paredes adjacentes elevadas com pedras
aparelhadas, com o objetivo de aumentar a resistência das construções. Estas seriam unidas
com o restante da alvenaria, que poderia ser de tijolos, através de elementos metálicos e
argamassas. Porém, em muitas construções o revestimento em argamassa procurava imitar
esta técnica construtiva, tanto nos cantos como no plano total das paredes, deixando-se uma
marcação que lembrava as juntas das pedras, inclusive com arestas inclinadas como se fossem
pedras trabalhadas desta forma. Esta técnica era, muitas vezes, utilizada na falta de pedras na
região ou por motivos de economia de materiais, sem perder a robustez que era desejada para
estas construções. Esta técnica será descrita a seguir em parágrafo específico sobre este
revestimento argamassado.
Os sistemas de ligações e conexões nas alvenarias eram tratados com muita importância pela
resistência que conferiam às estruturas verticais. No caso das alvenarias “a sacco”, descritas
anteriormente, Leon Battista Alberti apud Rohrich (1999, p.108), recomendava que a
distância entre as duas cortinas de tijolos não fosse muito grande para garantir a sua ligação e
para evitar que o material lançado no seu interior não exercesse pressão sobre os invólucros.
Também estas deveriam ser unidas a cada cinco camadas. Outros tipos de ligações, como
inserir nos pontos mais delicados, pedras naturais, sendo estas bem ligadas aos tijolos, de
preferência com grampos e cavilhas em bronze, evitando-se os de ferro porque corrói pedras
como o mármore. Nas construções mais antigas, estas ligações eram feitas de madeira ou
metal, protegendo-as da umidade das chuvas, mas podendo defendê-las untando as ligações
de madeira com betume, cera ou óleo; as de metal poderiam ser protegidas com carbonato de
gesso e piche líquido.
Com relação às paredes não portantes divisórias de estuque, é necessário primeiramente
esclarecer o termo estuque. O termo da língua italiana conhecido como “stucco”, cujo plural
é “stucchi” foi empregado até o séc. XVI para rebocos a base de cal aérea e pó de mármore
utilizados no preenchimento de vazios ou fendas de uma superfície, na criação de ornatos em
relevo, ou simplesmente para dar acabamento em uma parede plana. A partir daí, o termo foi
empregado indiferentemente às argamassas à base de cal e às argamassas a base de gesso para
fazer ornatos, cornijas, pilastras, mísulas, capitéis e “cassetoni per soffitti” (quadros
decorativos nos tetos).
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No Brasil, o termo também é empregado para a técnica de execução de paredes divisórias
internas cuja estrutura é composta de um tramado de madeira ou canas e o preenchimento é
feito com argamassas, podendo receber também telas para evitar fissuras. Esta técnica era
empregada na Itália desde os tempos de Vitruvio e em outros paises europeus, como
Alemanha, Polônia, Suíça, mas não recebia esta denominação.
Este tipo de estrutura vertical foi frequentemente tratada nos manuais italianos desde a
Antiguidade, mas quase sempre pelo termo “pareti intelaiate”, ou paredes teladas, por tratar-
se de um tipo de parede composta de vários materiais, entre os quais a madeira como suporte,
podendo ser preenchida com tijolos, terra argilosa batida ou argamassa de cal. Alguns
tratadistas consideravam a técnica como estrangeira.
Rusconi (1590) apud Rohrich (1999, p.119) considera similar ao “fachwerk”, refinada tela de
madeira preenchida com lama ou tijolo cru, ou ao “blockbau”, utilizado especialmente na
Polônia, Alemanha e Suíça, com revestimento de pequenas peças de pinho. Trata
especialmente da técnica encontrada em Roma e Paris, cujo suporte de madeira era
preenchido de argamassa de cal, revestido de canas dispostas horizontalmente.
A imagem da figura 46 a seguir, ilustra a técnica das paredes divisórias de estuque, como as
recomendava Rusconi (1590).
Figura 46: Parede divisória de estuque (fonte: Rusconi (1590) apud
Rohrich, 1999, p.121)
Os tramados leves, conforme descrevia Leon Battista Alberti (1485) apud Rohrich (1999,
p.122), se construíam com gradis e esteiras de canas não frescas preenchidos com lama
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revolvida por três dias com palha e revestidos com argamassa de cal ou gesso e por fim
adornados com pintura ou relevo. O autor descreve outro sistema econômico de construir uma
parede somente com material de preenchimento, encontrado em vários edifícios da
Antiguidade. O procedimento é sempre aquele que dispõe duas bordas de madeira ou gradis,
com a função de invólucros para que o material de preenchimento seja represado, podendo ser
uma mistura cimentícia quase líquida consolidada por pedras poligonais de 3 pés de
dimensão, ou uma mistura de lama e fibras, como é encontrada na Espanha.
Breymann (2003c, p.52) se refere às paredes teladas ou tabiques como as mais finas das
paredes de madeira. Estas se formam com uma dupla ordem de tábuas. Nos tabiques, as duas
ordens de tábuas se colocam uma contra a outra, de modo que numa as juntas são verticais e
na outra se elevam obliquamente, todas unidas com número suficiente de pregos rebatidos.
Frequentemente as tábuas são rústicas e recebem canas sobre elas para então serem rebocadas
nas duas faces da parede.
4.5.2.2 Revestimentos
No livro “Le ricette del restauro”, de Carla Arcolao (1998, p.4-13) que trata das argamassas,
rebocos e estuques empregados na Itália desde o século XV ao XIX, levando em consideração
edições críticas sobre os ensinamentos de Vitruvio, tratadistas autônomos e outros manuais de
arquitetura, as argamassas são descritas conforme o uso e materiais empregados e, entre
outras, as argamassas para rebocos são analisadas em relação aos ingredientes, às misturas e
ao modo de elaboração, bem como às técnicas de aplicação e acabamento. A seguir,
apresenta-se uma transcrição livre e resumida do tema:
Andrea Palladio (1570) apud Arcolao (1998, p.4) afirma que as pedras para fazer a cal “o si
cavano dai monti o si pigliano dai fiumi”, ou se cavam dos montes ou se apanham dos rios, e
confirma as indicações de Vitruvio (1486) apud Arcolao (1998, p.4), aconselhando a cal feita
com pedras duríssimas e sodas que, uma vez queimadas, tornam-se um terço mais leves do
que as pedras originárias. No “Settecento”, como se denomina o século XVIII, Francesco
Milizia (1847) apud Arcolao (1998, p.5) se detêm de modo atento no modo de cozimento ou
queima. Ele declara a importância principal na obtenção da cal, que é primeiramente saber
escolher a pedra e depois saber queimá-la. A sua primeira advertência é na disposição correta
das pedras dentro dos fornos, atentando em utilizar somente pedras de mesma espécie, que
resultam em cales de mesma força de coesão. A qualidade da cal se evidencia na fase de
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extinção. Se durante esta fase a cal crepita, produz uma fumaça densa e abundante, necessita
de muita água e, enfim, uma vez extinta, se adere às paredes do recipiente onde é feita a
calcinação, significa que é de ótima qualidade.
Os testes da primeira metade do “Ottocento” - séc. XIX dedicam às descrições das diferenças
entre os vários métodos de extinção da cal, considerados muito importantes em relação à
utilização da argamassa e à qualidade de cal utilizada, que pode ser gorda, magra ou
hidráulica.
Entre os primeiros a tratar desta distinção, Nicola Cavalieri San Bertolo, em seu livro
Istituizioni di architettura, idraulica e statica (1845) baseado na experiência de L. J. Vicat,
escritor de Recherches expérimentales sur le chaux de construction (1818) apud Arcolao
(1998, p.7), introduz os parâmetros científicos (sempre válidos) para subdividir as cales em
relação às suas composições químicas (presença de impurezas argilosas) e estabelecer-lhes a
maior ou menor hidraulicidade. A figura 47 ilustra a preparação da cal.
Figura 47: Preparação da cal (fonte: Rusconi em Arcolao, 1998, p.37)
Os métodos de extinção da cal descritos nas fontes são substancialmente quatro:
a) extinção com o método ordinário – preparada em duas vasilhas, uma mais alta
que a outra. A pedra calcinada era posta na mais alta e era extinta derramando-
lhe pouco a pouco a quantidade necessária de água e mexendo com uma
enxada de cabo longo até tornar-se uma pasta. Quando esta alcançasse o grau
de consistência e viscosidade considerado ótimo pelo operador, se fazia correr
para o recipiente mais baixo por um canal, que possuía uma grelha, com a
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função de filtro bloqueando os corpos estranhos e fragmentos de pedra calcária
não completamente calcinadas. O recipiente mais baixo também servia de
reservatório da pasta de cal, apenas ligeiramente endurecida. Era recoberta com
uma camada de areia e utilizada conforme a necessidade.
b) extinção por aspersão – se diferenciava do método anterior porque se eliminava
o contato com o ar. A pedra era posta no recipiente e recoberta com cerca de 60
cm de areia e borrifada com uma quantidade de água suficiente a extingui-la.
Para se impedir a exalação dos vapores que se desprendessem, deveriam ser
fechadas perfeitamente as fendas que se abrissem na areia, favorecendo assim o
sucesso da sua extinção.
c) extinção por imersão – As pedras deveriam ser reduzidas a pedaços do tamanho
de uma noz, colocadas num cesto que deveria ser imerso em água por alguns
minutos. Após este tempo, o cesto era retirado da água e se despejavam as
pedras num recipiente adequado para que o hidróxido de cálcio se
transformasse em pó para ser utilizado.
d) extinção por extinção espontânea – através do contato da mesma com a
umidade presente no ar.
Quanto à água, as fontes tratam muito mais de quantidade do que de qualidade. Alguns
autores consideravam que água demais poderia diminuir a força da argamassa. Ludovico
Bolognini (1778) apud Arcolao (1998, p.8) afirma que as águas cruas e adstringentes não
deveriam ser adotadas e que melhores eram as águas de rio. Também era desaconselhado o
uso de água quente, porque tornariam soltos os sais da cal e impedindo qualquer força
cimentícia. Cesare Cesariano (1521) apud Arcolao (1998, p.8), ao invés, recomenda como
adequado o uso de água quente para a extinção da cal. Não é vetado, ao invés, o uso de água
de mar, sobretudo se utilizada para extinção de cales gordas e fortes.
Os inertes ou cargas são materiais de diferentes consistências que, mesclados com o ligante,
dotam a argamassa de um verdadeiro e próprio esqueleto, a fim de compensar a o seu
destacamento na fase de liga. A segunda característica da carga na mistura tem função
exclusivamente passiva (cargas inorgânicas simples) ou reagir quimicamente com o ligante
(cargas inorgânicas hidráulicas) dotando a argamassa de características hidráulicas. As cargas
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inorgânicas simples são geralmente extraídas de depósitos naturais (areia) ou obtidas de
materiais lapidados por trabalho mecânico (por exemplo, pó de mármore).
Em relação às areias, Vitruvio (1990) apud Arcolao (1998, p.9) recomendava que estas
fossem retiradas de minas e que podiam ser negras, brancas, vermelhas ou vermelhas escuras.
Entre estas, era considerava ótima aquela que esfregada entre os dedos, produzisse um ligeiro
estalo. Ou, que posta em peneira branca e depois agitada ou batida, não lascasse nem deixasse
resíduo terroso. Ao invés de minas, a areia podia ser pega de rios, obtida peneirando os
pedregulhos ou das praias nas margens dos mares. Mas a argamassa realizada com a areia
marinha, segundo os autores, fazia pega lentamente, não retinha a carga, e tendia a desagregar
as misturas soltando salinidade, e deveria ser evitada nas misturas. As areias de minas, ao
invés, faziam pega mais rapidamente nas paredes e sustentavam o peso do entorno se tivessem
sido retiradas das minas há pouco tempo. Se estivessem expostas por longo tempo aos agentes
atmosféricos, desagregavam-se e tornavam-se terrosas. Estas areias não eram adotadas nas
misturas porque ao secar, rachavam as argamassas por sua excessiva rigidez. Resultava,
então, que a areia de rio - mais fina e “magra” – era mais útil às necessidades.
Também neste caso, as fontes sucessivas não apontavam variações significativas às
indicações vitruvianas sobre qualidade dos inertes. A única novidade é representada pela não
exclusão das areias de mar, por alguns autores como Scamozzi (1615) apud Arcolao (1998,
p.9), que aconselha a sua utilização depois de uma lavagem prévia em água doce, ou como
Milizia (1781) apud Arcolao (1998, p.9), que sugere sua utilização sem alguma lavagem
quando misturada com cal forte e gorda. Com o século XIX, ao invés, prevalecerá uma atitude
mais crítica nos confrontos das prescrições vitruvianas sobre os inertes. Alguns manuais
italianos, de fato, mostram uma maior propensão pelas areias fluviais, como confirmado nas
palavras de Curioni (1864) apud Arcolao (1998, p.10), que ditava a preferência dos
“modernos construtores” pelas areias de rio do que as fósseis, por serem mais puras.
Entre os autores franceses, ao invés, Rondelet (1817) apud Arcolao (1998, p.10) confiando-se
às provas experimentais, afirma que não são os lugares de onde provêm as areias que provam
a sua qualidade, mas as matérias que a compõem para a escolha do inerte, demonstrando que
a areia de mina dava uma argamassa melhor do que aquela feita com areia de rio. Sobre esta
atitude, muitos autores italianos da segunda metade do século XIX repetiram a mesma
prescrição, pondo ênfase mais sobre o lugar de proveniência das areias do que sobre sua
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natureza silícea ou quartzosa e, em geral, sobre a sua granulometria, preferindo aquelas de
grãos angulosos.
A receita vitruviana da argamassa comum de cal e areia, relatada substancialmente imutada
por Plínio e de todos os tratados renascentistas até Palladio, prescrevia uma relação entre
inerte e ligante de um para três, se a areia fosse de mina, e de um para dois, se a areia fosse de
rio ou de mar. No final do séc. XVI, De l’Orme (1567) apud Arcolao (1998, p.10) foi o
primeiro a prescrever proporções diferentes daquela proposta de Vitruvio, e não expressa em
relação ao lugar de proveniência da areia, mas em relação à sua qualidade. Propõe, de fato,
um composto formado por cinco ou mesmo sete partes de uma não melhor especificada areia
grossa para unir com uma parte de cal. Ainda no séc. XVII, Scamozzi (1615) apud Arcolao
(1998, p.10), por admitir que as proporções entre inertes são importantes na sua ligação e
dependem da “bondade” dos ingredientes, repropõe como única prescrição aquela extraída do
tratado de Vitruvio. Os testes do séc. XVIII assumem, ao invés, uma posição intermediária,
não abandonam as prescrições clássicas, reportando ainda a receita vitruviana, mas
reconhecem a dificuldade a encontrar uma cal tão boa para permitir uma relação entre areia e
cal de um para três, e propõem para as argamassas comuns proporções diferentes. Exemplo
significativo são as receitas de Francesco Griselini (1775) e de Francesco Milizia (1781) apud
Arcolao (1998, p.10), que reportam as palavras de Vitruvio junto a indicações baseadas não
na qualidade da areia, mas na da cal. Milizia, em particular, chega a afirmar que não é
possível atestar uma relação constante da areia com a cal, mas que, em geral, isto depende da
qualidade da cal, porque quanto melhor a cal, melhor deve ser a qualidade da areia a se
misturar. Também Jean Rondelet (1817) apud Arcolao (1998, p.10) afirma não poder fazer
alguma prescrição relativa às melhores proporções entre inerte e ligante, conseguir uma boa
argamassa depende, segundo suas observações, tanto da manipulação quando da qualidade
dos ingredientes. Eles continuaram a seguir as indicações vitruvianas por não haver a
disposição uma boa cal que permitisse uma relação inerte/ligante de dois para um. Os testes
italianos do séc. XIX não relatam mais indicações absolutas relativas às proporções dos
ingredientes, mas só de dosagens referentes à qualidade específica de cal e de área, e
geralmente materiais e manufaturas presentes nas regiões de proveniência dos autores.
As prescrições para argamassas de cal e areia a serem utilizadas como rebocos são
substancialmente idênticas às de alvenarias e vêm geralmente tratadas das fontes junto a estas
últimas, com breve referência às melhores qualidades de cal a serem utilizadas e às
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granulometrias dos inertes. A areia torna-se um elemento fundamental para criar
revestimentos “limpos” e sem rugosidade, devido à excessiva retirada do ligante. Em geral, se
aconselha areia muito fina e peneirada a qual proporções e granulometria variam nas
sucessões de camadas; mais ásperas para as primeiras, muito finas com a consistência quase
de um pó para as últimas.
Rondelet (1817) apud Arcolao (1998, p.11), em particular, aconselha para a primeira camada
uma argamassa gorda, isto é, uma argamassa contendo mais cal que areia, enquanto para a
segunda camada prevê uma aplicação de uma argamassa magra obtida adicionando certa
quantidade de areia ao primeiro reboco; para a terceira camada, enfim, prescreve a aplicação
de somente leite de cal muito diluída sem adição de inerte.
As fontes examinadas insistem na escolha dos materiais e sobre a longa mistura dos
componentes, para obter uma perfeita homogeneidade da massa, favorecendo o contato dos
grãos do agregado com o ligante e por isso uma ligação mais íntima do reboco. Quanto a isto,
muitos autores, referem-se provavelmente a Vitruvio (1486) apud Arcolao (1998, p.11),
aconselhando a batida das argamassas com bastões de madeira. Para a realização das
argamassas de reboco, as fontes recomendam a utilização dos melhores materiais: a cal, em
particular, devia ser colocada para macerar por muito tempo antes do seu emprego. Rondelet
(1817) apud Arcolao (1998, p.11), por exemplo, indica dez ou doze meses de intervalo de
tempo mínimo que devia transcorrer antes do seu emprego, de modo que, se ficasse qualquer
nódulo pouco cozido nos fornos, seria, de qualquer modo, extinto através da longa maceração.
Na preparação das argamassas, assumiam outra grande importância, a qualidade e a
quantidade de água destinada às argamassas. A água mais indicada era aquela límpida, pura e
doce. Com relação à quantidade aconselhada, existe uma notável diferença entre as receitas
antigas (Vitruvio e Plínio), que não atribuíam uma importância determinante, e aquelas
sucessivas, que chegavam a identificar na longa manipulação e na reduzida quantidade de
água da massa, o segredo das argamassas e dos rebocos antigos.
Em geral os processos de manipulação das argamassas, descritos nas fontes, são três:
a) ordinário – consistia em dispor o inerte em forma de bacia e no centro era posta
a pasta de cal (extinta) misturada à areia e à água com pás ou enxadas de cal;
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b) com utilização da cal viva – se fazia com a areia uma auréola circular e se
dispunha a cal viva no seu interior, e sobre esta, pouco a pouco se despejava
água necessária à sua extinção, e no final essa vinha misturada com a areia e
com eventuais outros ingredientes dispostos nas margens do círculo. A massa,
em ambos os casos, era considerada pronta, quando, conforme afirmado por
Vitruvio e confirmado por todas as fontes sucessivas, “aderido como cola” à
colher de pedreiro ou à enxada de ferro;
c) por meios mecânicos – constando dos manuais da segunda metade do séc. XIX,
previa o emprego de meios mecânicos, entre os quais moinhos de roda e
cilindros de escorregamento, acionadas manualmente ou com força animal.
Vitruvio descreve a execução do revestimento composto de uma primeira camada de reboco
muito áspero dito “sgrossatura”, o qual se sobrepunha seis camadas de argamassa (três de
argamassa de cal e areia e três de argamassa com pó de mármore). As fontes sucessivas
recomendavam, ao menos, três camadas de reboco, sendo que as únicas diferenças eram as
terminologias das várias camadas e os ingredientes da camada mais externa do revestimento
de paredes. Alberti (1485) apud Arcolao (1998, p.12) aconselhava o uso de pó de mármore ou
de uma pedra branca como inerte e para a última camada, as fontes do séc. XVIII e XIX
indicavam como último revestimento, o embranquecimento ou “scialbatura” com cal muito
diluída (leite de cal ou água de cal). Além disso, Quatremère de Quincy (1832) apud Arcolao
(1998, p.13), aconselha sobrepor uma quarta camada, dita de reforço ou “raffozzonatura”,
composto de cola animal diluída, com objetivo provavelmente de aumentar a resistência
mecânica da camada superficial.
A aplicação das camadas internas (as mais grosseiras) acontece geralmente com a colher de
pedreiro para obter uma superfície áspera de suporte às camadas sucessivas, que vinham
aplicadas primeiramente com a colher de pedreiro e sucessivamente emparelhadas com a
sparviere” ou “nettatoio” (espécie de desempenadeira, um instrumento composto de uma
plataforma de madeira muito lisa munida de uma impunhadura) com a qual se passava e
repassava o reboco mantido úmido com um pincel cheio de água. Breymann (2003) apud
Arcolao (1998, p.13), em particular, aconselha de repassar a terceira e última camada de
reboco com uma desempenadeira de “carpino” (pinho), uma madeira muito dura e lisa,
recoberta com um pedaço de feltro branco.
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Curioni (1864) e sucessivamente Lenti (1877-1881) apud Arcolao (1998, p.13), sugeriam, ao
invés de utilizar, para o alisamento do reboco, em substituição das mais tradicionais
desempenadeiras de madeira, um fratacho de metal ou pedra muito lisa.
Nos textos de caráter manualístico da metade do século XIX se dedica muito espaço às
técnicas de aplicação da primeira camada de reboco, dito “rinzaffo” (chapisco), e aos truques
necessários à realização das superfícies de alvenarias e ângulos perfeitamente “a piombo” (a
prumo) e de espessura uniforme. Sobre isto, muitos autores, entre eles, San Bertolo (1832) e
Lenti (1870-1877) apud Arcolao (1998, p.13) recomendam criar listas verticais de argamassa
de espessura de alguns milímetros, dispostas numa distância constante uma da outra, sobre as
quais se faz deslizar a régua de madeira para tornar uniforme a espessura da parede e resultar
limpa a “tela” da superfície. Na prática construtiva atual, estas listas verticais são
denominadas de “mestras”. Rusconi (1590) apud Arcolao (1998, p.50) apresenta a imagem da
figura 48 a seguir, com as sete camadas de argamassa que ele recomendava para os rebocos de
parede.
Figura 48: Sete camadas no reboco (fonte: Rusconi em Arcolao, 1998,
p.53)
Arcolao (1998, p.13) descreve a técnica dos rebocos sobre madeira como um particular
tratamento reservado às paredes parcial ou inteiramente construídas em madeira e sugeria dois
sistemas. O primeiro, adotado, sobretudo para paredes mistas em madeira e alvenaria,
consistia simplesmente em incidir o martelo de pedreiro na parede de modo a torná-la rude e
permitir uma melhor adesão da argamassa de cal e areia. O segundo previa a realização de um
reboco de “cannucce” (canas ou bambus), isto é, a aplicação de esteiras de “cannucce
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(canas) ligadas entre si com tela escaldadas e presas à superfície de madeira, que vinha
sucessivamente recoberta com um reboco muito líquido. Este sistema era considerado
particularmente adaptado para o interior, inclusive para os “soffitti” ou forros, enquanto para o
exterior. Um sistema muito original foi adotado nas províncias prussianas, que previa a
aplicação sobre toda a parede de pequenos “cavacos” de madeira de cerca de um centímetro
de espessura, sobre a qual se aplicava o reboco com uma espessura tal de modo a cobri-los.
Na reedição de 2003 do Trattato di costruzioni civili de Breymann (2003d, p.19-20), no
volume dedicado a “Pavimenti – Intonaci – Pareti – Impalcature – Tavolati”, é possível
encontrar uma descrição detalhada sobre rebocos em geral. Entende por rebocos qualquer
espalhamento de argamassa que se aplica nas superfícies dos muros e das paredes, dos tetos
ou das pavimentações etc. Esta tem a função de proteger a superfície rebocada das
intempéries, fogo etc.; ou a finalidade de ornamentação ou ainda ambas as funções juntas. A
finalidade dos rebocos define a escolha dos materiais e o modo de execução. Como
preservativos contra as intempéries ainda podem ser externos e internos. Para os rebocos
externos se adotam as argamassas calcárias e as cimentícias; para os internos especialmente as
argamassas de gesso e para preservar do fogo as argamassas de argila.
Quanto ao modo de aplicação do reboco, é necessário distinguir entre a aplicação sobre uma
superfície de tijolos ou pedras naturais da aplicação sobre madeira ou ainda se a superfície for
composta de ambos os materiais. As maiores diferenças estão somente quando a superfície for
de madeira, nos outros casos o trabalho de preparação e a manipulação dos rebocos são
sempre iguais em todos os casos. O autor também adverte quanto aos cuidados especiais que
se devem tomar ao rebocar externamente, nos frontões e torres, e também nos socos das
obras, por estarem mais expostos à umidade do solo e sujeitos a qualquer batida ou colisão
por quem passa ao lado das edificações. As grandes diferenças de temperatura dos rebocos
das chaminés também exigem maior cuidado na sua execução. Sua execução deve levar em
conta também as estações do ano. Se executado no início da primavera, a umidade que ainda
resta do inverno pode causar problemas ou também, se executado no início do inverno, pode
haver congelamento da água da mistura impedindo sua perfeita secagem. O verão seria a
estação mais adequada para se executarem os rebocos nas obras. A espessura do reboco é
outro fato a ser cuidadosamente executado para evitar o seu destacamento, recomendando no
máximo 2 a 2,5 cm. Antes da aplicação dos rebocos, os muros devem ser cuidadosamente
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limpos com “scopa o spazzola”, vassoura ou escovão e depois banhá-los com um “pennello”,
espécie de pincel largo ou trincha.
Entre os rebocos descritos por Breymann (2003d, p.20-21), se distinguem o “stuccatura delle
commessure” - estuque das juntas, o “rinzaffo” - chapisco, o “arricciatura” - crespo, e o “a
superficie picchiettata” - de superfície batida ou percutida. Nos estuques das juntas, aplicam-
se frequentemente cores similares as das pedras, para dar uniformidade aos muros. Estas
juntas podem resultar côncavas ou reentrantes, dependendo da ferramenta que se utiliza para
obter o aspecto desejado. O chapisco consiste em espalhar uma só camada de argamassa com
a colher de pedreiro, deixando-o áspero. Para dar um aspecto uniforme pode-se borrifar a
argamassa muito líquida do reboco com uma “scopa” ou “penello”, ou seja, uma vassoura ou
trincha aparada antes que se faça a pega, resultando assim no denominado “picchiettato” –
percutido ou batido. Também se pode bater a trincha contra uma madeira, que se pega com a
mão esquerda para que respingue uniformemente na superfície. Nos locais subterrâneos, para
seu clareamento, depois de seco o primeiro chapisco por 4 a 5 dias, se usa aplicar-lhe um
segundo, que se esfrega a colher de pedreiro e se branqueia mais tarde (com um tipo de
pintura com “leite de cal”). Os rebocos internos devem ser executados antes dos externos,
começando-se pelos tetos.
Tratando-se de revestimentos de socos com cantaria ou com placas de mármore, Alberti
(1485) apud Rohrich (1999, p.108) recomenda revestir os socos das construções com pedra,
visto que esta parte – base de paredes e colunas - requer uma particular resistência. Devem-se
escolher peças de dimensões tão grandes quanto possível porque conferem maior unidade ao
conjunto. O motivo de tanta cautela sobre o soco é devido à maior solicitação a qual é sujeita
esta parte da construção, à umidade do solo e à água das chuvas que, escorrendo dos telhados,
corrói, sobretudo a parte baixa da construção.
Marina Fumo (1992, p.136) comenta que o uso dos lastros lapídeos como revestimento de
paredes remonta da antiguidade, e tem a função de mascarar as estruturas com um material
mais apreciado e principalmente mais decorativo. Desde a idade “augusta” se podia cortar o
mármore em lastros finos, até mesmo inferiores ao centímetro. Diferenciava-se o mármore de
outras pedras pela peculiaridade de poder ser polido e, portanto, de preço superior.
Na Idade Média, ao invés, os materiais lapídeos eram classificados segundo as possibilidades
de corte e de delinear perfis, distinguindo-se as pedras nodosas ou cheias de nós daquelas
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untuosas, impedidas de polimento, desfiando-se ou fissurando-se, e resultando inutilizáveis.
As pedras de revestimento, serradas em lastros, vinham com uma tecnologia quase que
imutada, fixadas ao paramento murário ou qualquer superfície lateral dos muros, através de
“garras” ou ganchos metálicos, mas também com argamassas limitando-se a pequenas
espessuras e pesos reduzidos. No caso de elementos pétreos com maior peso, se deixavam
durante a construção das alvenarias portantes, as pedras salientes para suportar as cargas do
revestimento.
O revestimento com argamassa tipo “rusticação” e marcação imitava pedra de cantaria com
juntas desencontradas e de baixo relevo. O termo “rusticação” é um tipo de decoração plástica
em relevo que tentava imitar a textura de uma pedra, mais ou menos rugosa, cuja técnica
variava em função da profundidade destas saliências e reentrâncias. Um dos tipos é o da
figura 49 a seguir.
Figura 49: Reboco com acabamento imitando mármore em Veneza
(fonte: Feiffer, 2000, p.183)
Um exemplo cuja rugosidade não era muito saliente era obtido apenas fazendo perfurações
com o martelo. Outra possibilidade de obtenção destas texturas era com a utilização de
moldes de madeira com incrustações de pedra ou mesmo de madeira, que eram preenchidos
de argamassa e posteriormente colados na parede. Da mesma forma, estas superfícies que
imitassem a rugosidade de uma pedra poderiam ser obtidas com a técnica já citada por
Breymann (2003d, p.20) e descrita por “superficie picchiettata”.
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Este termo “rusticação” da língua portuguesa não foi encontrado na bibliografia consultada. O
tipo de acabamento corresponde ao que foi empregado na Itália durante o “Settecento” ou
século XVIII, que era o de textura imitando pedra, com juntas desencontradas como uma
alvenaria de cantaria aparelhada, e que era chamado de “bugnato in intonaco”, ou reboco de
alvenaria. Este era formado de “bugne” (pedras esboçadas salientes em um muro), conforme
se pode verificar em algumas imagens a seguir. Esta técnica foi muito empregada nos
embasamentos das construções ou socos, bem como no pavimento térreo, para dar a sensação
de uma base forte, como nas antigas construções que utilizavam alvenaria de pedras aparentes
próximas ao solo.
Com relação aos revestimentos de escaiola, Arcolao (1998, p.47-59), no capítulo dedicado às
argamassas de gesso e/ou cal e pó de mármore, trata dos acabamentos marmóreos e dos
polidos. As pinturas sobre rebocos, com acabamento que imitam os veios e o aspecto brilhoso
dos mármores, ou seja, “finto marmo”, são também denominadas, principalmente no sul do
Brasil, de “escaiola”.
Escaiola, segundo IGDA (2007) é a “técnica de estuque muito difundida na região da Emilia,
na Itália, nos séculos XVI a XVIII que misturava o gesso a corantes tentando imitar o brilho
de mármores ou outras pedras duras”.
Primeiramente Arcolao (1998, p. 47) destaca a necessidade de observar que o gesso dos quais
falam as fontes, mesmo se não especificado, é da forma hemidratada (CaSO
4
.1/2H
2
0 - gesso
queimado ou gesso para modeladores, também denominado “gesso de Paris”), obtida do
cozimento a cerca de 128º do sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO
4
.2H
2
0 - gesso cru ou
gipsita). Da queima da gipsita dependem as características da mistura, e esta fase, mesmo para
muitos autores entre os quais p.ex. Rondelet (1817) deveria ser para pesquisarem-se os
possíveis segredos dos estucadores mais hábeis. De fato, variando oportunamente a
temperatura e a duração do cozimento, se podia obter a eliminação total ou parcial da água de
cristalização contida no mineral, criando gessos que reabsorviam quantidades diferentes na
fase de elaboração, e assim compostos com uma pega mais lenta ou mais rápida, e com uma
resistência mecânica diferente. Para a realização dos trabalhos particularmente refinados se
escolhiam as pedras melhores e mais brancas.
Segundo Rondelet (1817) apud Arcolao (1998, p.47), era necessário que o mesmo estucador
fizesse queimar os pedaços de gesso juntos no canteiro da mina, para controlar
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constantemente o grau de cozimento. Para a dosagem dos ingredientes, sobretudo para a
mistura com água, geralmente as fontes recomendam confiar-se na experiência dos
estucadores, sobretudo dos aprendizes que no canteiro possuíam a tarefa de preparar as
misturas, e tinham então o objetivo de reconhecer o justo grau de fluidez do estuque. No caso
de misturas a base somente de gesso geralmente se aconselhava uma proporção em volume de
1:1. No caso, ao invés, de misturas contendo ligantes diversos, a proporção dos ingredientes
variava segundo a sucessão das camadas. Para as camadas de preparação, era maior a
quantidade de gesso em relação à da cal e da areia, enquanto que, para as camadas de
acabamento, de maior espessura, se excluíam o uso do gesso, aconselhando-se misturas de cal
e pó de mármore em proporções iguais.
a) rebocos de acabamento marmóreo - A coloração do estuque mediante
pigmentos constitui-se o elemento característico da técnica dos revestimentos
de imitação do mármore. A coloração podia vir na mistura ou com a aplicação
das cores sobre a superfície já realizada. As fontes examinadas dedicam grande
espaço, sobretudo na descrição dos estuques coloridos na fase de mistura. A
mistura para tal tipo de estuque era formada de escaiola (chamada de mescla),
ou seja, uma mistura de gesso cozido com uma solução de cola animal,
misturado a pigmentos e a eventuais aditivos. As colas aconselhadas pelas
fontes são geralmente duas: a cola de Fiandra (cola forte obtida pela fervura na
água de retalhos de peles, ossos e cartilagens bovinas) e a cola de peixe.
(Fiandra era o nome de uma antiga província francesa, de onde se atribui a
proveniência desta cola.) Para ambas, se recomenda não usá-las muito fracas,
porque no primeiro caso haveria muito afastamento das partículas de gesso
impedindo a formação de um corpo compacto, e no segundo não haveria
ligação suficiente. Em cada caso é sempre a experiência ou, como afirma
Rondelet (1817) apud Arcolao (1998, p.51), “o uso faz conhecer as condições
que convém a cada espécie de gesso”; e em que consistiria, segundo o autor, o
provável segredo de cada estucador.
b) rebocos de estuque brilhoso – As misturas para os rebocos de estuque brilhoso
são as mesmas do estuque que imita o mármore e do “marmorino”, mudando
somente a metodologia executiva e alguns acabamentos superficiais até tornar
o brilho do mármore ou imitar seus veios.
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Na preparação das argamassas, depois da fase de cozimento, aquela considerada mais
importante era a fase de maceração do gesso, operada dom instrumentos diversos segundo a
granulometria desejada.
Geralmente se aconselhava a utilização de um lastro de mármore ou de um pilão de metal
para a maceração e de uma peneira de seda para obter, como afirma Scamozzi (1615) apud
Arcolao (1998, p.52), um pó de consistência semelhante a da farinha. E elaboração das
argamassas a base de gesso devia ser breve e muito rápida, porque uma vez endurecida
tornavam-se inutilizáveis. As indicações mais detalhadas, a este propósito, são fornecidas por
Rondelet (1817) apud Arcolao (1998, p.52), o qual aconselha continuar a mistura da
argamassa de cal e areia fina com a água sobre uma “tavoletta” (tabuleta), uma espécie de
bandeja que o estucador devia ter em mãos. Sobre esta tabuleta, o operador devia dispor a
argamassa como uma espécie de “bacino” (bacia) no qual distribuía o gesso, em quantidade
tal para absorver toda a água excedente obtendo uma pasta uniforme imediatamente utilizável.
As outras indicações prescrevem o uso de bacias ou “mastelli” (masseiras ou misturadores)
próximas aos operadores, para adicionar à argamassa já preparada o gesso necessário, ou
contendo a água para distribuí-la aos poucos. A massa devia ser misturada até quando, presa
na colher de pedreiro, permanecesse ligada por uma camada, como afirma Antonio Cantalupi,
de ao menos 2 mm.
As indicações para elaboração das argamassas de imitação do mármore coloridas em pasta são
substancialmente de dois tipos:
a) a primeira, descrita entre outros, por Griselini (1768-1775) apud Arcolao (1998,
p.52), consistia em diluir as cores (sob forma de pigmentos minerais) do
mármore que se desejava imitar em alguns vasos de vidro, contendo uma
solução de água e cola quente, na qual se adicionava uma quantidade de gesso
suficiente a formar uma mistura consistente. Com esta mistura se realizavam as
focacce” (bolos ou plastas) ou “pallottole schiacciate” (bolotas amassadas)
que eram dispostas uma sobre a outra, colocando-lhe uma quantidade maior
daquelas de cor dominante no mármore.
b) o segundo procedimento é descrito por Rondelet (1817) apud Arcolao (1998,
p.52), que descreve as mesmas indicações de Breymann (2003). Tais
procedimentos previam a formação de pequenas misturas com pó de gesso
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finamente amassado e peneirado, e cola de Fiandra diluída, na qual se
adicionavam pigmentos para “affresco” (afresco - método de pintura mural que
consiste em aplicar cores diluídas em água sobre um revestimento de
argamassa ainda fresco, de modo a facilitar o embebimento da tinta) da cor do
mármore a imitar. Com esta pasta colorida se formavam as “bolotas”, mais
grossas do que as cores de fundo e menores que as outras, que se ordenavam
por tonalidade de cores. Algumas destas bolotas eram amassadas com uma
salsa” (molho), uma mistura formada ainda por gesso e água de cola, que
servia para obter as “striature” (estrias), mais claras ou mais escuras,
semelhantes aos veios do mármore.
Rebocos de acabamento marmóreo coloridos em pasta – A aplicação do estuque de
acabamento marmóreo colorido em pasta podia ser de dois modos. Segundo as indicações de
Rondelet (1817) apud Arcolao (1998, p.57), se apanhava um pouco de qualquer cor
preparada, se dissolvia em água e com esta se misturava o gesso fresco, então se aplicava o
todo sobre a superfície a rebocar com acabamento marmóreo. Para Breymann (2003) apud
Arcolao (1998, p.57), ao invés, se devia aplicar primeiro uma camada de argamassa mais
grosseira, obtida misturando gesso, areia fina e água de cola. A este fundo, depois de
completamente seco, uniam-se as bolas coloridas e veiadas. Desta mistura colorida eram
cortados pedaços que, imersos rapidamente na água, eram aplicados esfregando com a colher
de pedreiro úmida sobre a camada de fundo. Depois de aplicadas as misturas coloridas com
espátula e colher de pedreiro, passava-se ao acabamento a seco. Esse era similar àquele
descrito para as decorações plásticas, isto é através do esfregamento com pedras e pós de
consistência diversa. Diferente desta, porém, etapa de limpeza e polimento do acabamento
marmóreo previa um número maior de operações, que podemos sinteticamente subdividir em
quatro fases:
a) uma primeira fase de alisamento com “pialletti” e “appianatoi” (plainas e
aplainadores) para eliminar as maiores desigualdades;
b) uma segunda fase de alisamento grosseiro com pedras ligeiramente abrasivas,
como a pedra pomes ou a pedra arenítica;
c) uma terceira fase de alisamento com pó muito fino, geralmente com pó de
trípoli (segundo Houaiss (2008), trípoli é o nome de rocha sedimentar, silicosa
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e friável, que fornece um pó empregado na limpeza e polimento de metais,
mármores, vidros, gema etc.), a qual se podia aplicar nos pontos mais difíceis
como cornijas, nichos etc., uma “raspella” (pequena escova), para umedecer
antes do uso;
d) e enfim, uma quarta fase, ainda de polimento, que podia ser realizada de dois
modos. O primeiro consistia na aplicação a peneira de uma camada de água e
sabão seguida por outra de óleo de linho, aplicado muito rapidamente com um
pedaço de feltro. O segundo, ao invés, previa uma primeira aplicação de óleo
de linho e uma sucessiva de um composto de cera e óleo de terebintina (resina
fluida que se extrai de várias coníferas e após a destilação, se extraiam
produtos usados na medicina e nas de seda.
A fase na qual se encontram algumas diferenças é aquela relativa à limpeza e polimento com
as várias pedras, sobretudo em relação ao tipo de pedra a utilizar. Parece particularmente
interessante confrontar as pedras (quase completamente diferentes) aconselhadas por De
Cesare (1855), com as indicadas por Breymann (2003) apud Arcolao (1998, p.58). Descrevem
um esquema com a sucessão das pedras aconselhadas pelos dois autores:
FRANCESCO DE CESARE BREYMANN
1) Pedra arenítica ou pedra feita de 1) Pedra arenítica
escaiola e areia
2) Pedra pomes 2) Pedra cote” (pedra calcária
(utilizada para afiar ferros de corte) dura)
3) Ardósia 3) Pedra cote” mais fina
4) Pedra argilosa 4) Pedra hematita
5) Pedra de “paragone” (espécie de jaspe negro)
6) Jaspe (variedade de calcedônia, geralmente verde)
Como se pode notar, as pedras aconselhadas eram progressivamente mais duras, se passava de
pedras constituídas por elementos arenosos, então mais abrasivos, a pedras mais compactas de
natureza silícia. Breymann (2003) apud Arcolao (1998, p.58), em particular, aconselha
estabelecer a sucessão testando arranhar as pedras entre elas, e utilizar por último aquela que
não fosse arranhada pela outra.
O estuque de acabamento marmóreo podia, como já dito, ser colorido também em superfície
com pigmentos de afresco dissolvidos na água de cal, ou com cores a óleo. A primeira
indicação encontrada para tal coloração é descrita em um manuscrito anônimo do século XVI
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que previa a coloração do estuque, realizado com cal e pó de mármore ou de travertino, com
cores a óleo aplicadas sobre um ensopado de “biacca” (carbonato de chumbo, de cor branca,
usado pelos pintores, dos envernizadores) dissolvida em água de cal.
A superfície do estuque desengrossada e alisada por meio das técnicas supra descritas, podia
enfim ser lustrada, não só com pedra e óleo para acabamento marmóreo, mas também a
quente ou a frio, com soluções saponáceas e cera obtendo o assim chamado “estuque
brilhoso”. Já Alberti (1485) apud Arcolao (1998, p.59) fala de um reboco que possuía “lustro
como espelho” se, uma vez seco, era recoberto com um composto de cera, mastique (uma
resina vegetal) e óleo, e que uma vez untado deste modo era aquecido com brasas, para
facilitar a absorção, e enfim polido.
Em geral as outras fontes descrevem duas diferentes soluções saponáceas, suscetíveis de
polimento, seja a quente ou a frio. A primeira, descrita por De Cesare (1855) apud Arcolao
(1998, p.58), era composta só de água e sabão de Genova, para aplicar sobre “estuque
simples” (de gesso para o interior e de pó de pedra branca para o exterior) não ainda
completamente enxuto, e para comprimir mediante ferros quentes. A segunda, descrita por
Breymann (2003) apud Arcolao (1998, p.58), se compunha de cera amarela (ou branca para
trabalhos brancos), sabão e “cremor di tártaro” (tártaro de vinho - sal ácido de potássio que se
forma no interior das garrafas), utilizado provavelmente para facilitar o espalhamento da cera.
O polimento, neste segundo caso, acontecia a frio, antes com uma pele fina branca e
sucessivamente com a parte plana da colher de pedreiro.
Ainda em relação ao acabamento marmóreo, encontram-se outros autores que o denominam
marmorino”, considerado o estuque clássico de revestimento. Feiffer (2000, p.185)
considera como “marmorino” a mistura de cal extinta aérea com pó de mármore aplicada
sobre um reboco a base de “cocciopesto”, ou mistura de cerâmica moída, de elevada
porosidade. Foi muito difundido em todo o Vêneto (região nordeste da Itália, cuja capital é
Veneza). Esta denominação se origina da palavra em latim “marmoratum” ou “opus
marmoratum”, que significa um reboco de estuque realizado com pó de mármore. “Marmore
poliatur” é a expressão designada para aquelas superfícies que receberam polimento, que
brilham e apresentam textura similar ao mármore. O “stucco veneziano” combinava a base do
marmorino” com elementos em relevo. No entanto se denominava “marmorino decorati” ou
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scagliola” (escaiola), quando se aplicavam sobre esta superfície lisa, veios imitando
mármores diversos.
O termo “scagliola” era empregado por Cantalupi (1862) apud Breymann (2003d, p.28) para
o gesso de Bolonha, o qual recomendava seu uso no lugar do estuque, para as cornijas e
trabalhos internos. Considerava este gesso como especial, pois era cozido de modo especial,
para depois ser moído e pulverizado. Era dissolvido na água e com cola de Fiandra era
empregado diretamente na superfície ou fundido em fôrma para então ser utilizado em
decorações diversas.
Em alguns casos pode-se encontrar estêncil aplicado sobre o reboco. Esta técnica era obtida
com desenhos vazados em papel parafinado que servia de molde para outras reproduções.
Os pigmentos usados para realizar esta policromia eram naturais provenientes de terras e
óxidos. Segundo Breymann (2003d, p.30), os corantes utilizados para o reboco de imitação ao
mármore são:
a) preto: preto de Francoforte ou da Alemanha. Desejando-se uma tinta muito
intensa se adiciona um pouco de anil;
b) vermelho: laca de Viena, vermelho da Inglaterra, ocra queimada (ocra é um
tipo de terra fina que contém argila e óxido de ferro hidratado e que apresenta
várias tonalidades pardacentas tirantes a amarelo ou a vermelho), “cinabro
(mineral de massas granulares de cor vermelho vivo, de origem hidrotermal,
constituído de sulfeto de mercúrio; é o mineral mais importante do mercúrio;
na Itália se encontra sobre o monte Amiata) e vermelho do cobre;
c) amarelo: ocra amarela, amarelo de cromo (claro e escuro), amarelo mineral;
d) azul: anil, azul da Prússia, azul mineral do mar;
e) bruno: terra de Cassel, terra d’ombra (pigmento conhecido no fim da pré-
história em toda área mediterrânea, facilmente encontrado in natura, obtido
pela simples maceração e lavagem da matéria prima, se trata de uma
composição de óxido silicato de ferro e óxido de manganês. Tem um ótimo
poder de cobertura e pode-se utilizar com qualquer técnica como afresco,
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têmpera, “encausto” e a óleo, também conhecido por terra fina da Turquia e
por sombra da Itália); “encausto” é uma técnica de pintura utilizada na
antiguidade clássica, que consiste em manipular as cores com cera fundida e
em aplicá-la depois a quente, sobre a superfície a pintar; utilizada para polir
madeira;
f) verde escuro: é composto de terra verde, de ocra amarela, de anil e de preto
vegetal.
Segundo o mesmo autor, as composições das principais qualidades de estuque marmóreo são
as seguintes:
a) mármore verde claro: a cor de fundo é composta de azul da Prússia e de
amarelo de cromo; os veios se fazem com amarelo de cromo e com laca de
Viena;
b) mármore verde escuro: a cor de fundo se obtém com ocra amarela, anil e preto
da Alemanha; os veios se formam com preto da Alemanha e com um pouco de
anil, as manchas brancas com pedacinhos de alabastro;
c) pórfido verde: a cor de fundo é verde e consiste de terra verde, de um pouco de
anil, de um pouco de preto da Alemanha e de um pouco de ocra amarela;
também se espalha um pouquinho de gesso acinzentado e pedacinhos de
alabastro;
d) mármore acinzentado: é composto de preto da Alemanha;
e) granito acinzentado: preto da Alemanha com um pouco de cobre e pedacinhos
de alabastro;
f) mármore preto: preto da Alemanha com um pouco de anil; os veios se fazem
com ocra amarela e com um pouco de amarelo de cromo e os veios brancos
com gesso;
g) mármore azul (“lapislazzuli”): azul da Prússia com um pouco de anil; os veios
dourados com limas de latão, que não deveriam absolutamente conter
partículas de ferro;
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h) mármore vermelho: laca de Viena e vermelho da Inglaterra;
i) pórfido bruno: a cor de fundo se obtém com vermelho de cobre misturado com
um pouco de anil e misturados com pedacinhos de alabastro;
j) granito bruno: a cor de fundo é composta de metade de vermelho de cobre e
metade de vermelho da Inglaterra, adicionando-se pedacinhos de gesso
acinzentado e de mica;
k) mármore amarelo claro: a cor de fundo se obtém com ocra amarela e os veios
se fazem com vermelho da Inglaterra e com verde escuro
l) mármore amarelo escuro: a cor de fundo com ocra amarela e os veios com
vermelho de cobre;
m) granito amarelo: a cor de fundo com ocra amarela contendo pedacinhos de
mica e de alabastro; os veios com mesma cor um pouco mais intensa.
4.5.2.3 Adornos
Nesta secção são apresentadas as descrições relativas aos ornatos de argamassa em relevo no
exterior e interior; cornijas de base, de faixas ou frisos, de janelas e portas; e, cornijas de
tijolos cerâmicos revestidas com argamassa.
Os ornatos de argamassa em relevo eram chamados por Arcolao (1998, p.52-56) de
decorações plásticas. A seguir, é apresentada uma transcrição livre e resumida do tema:
As decorações plásticas em estuque podiam ser executadas na obra ou fora da obra, ou
valendo-se de ambas as técnicas ao mesmo tempo. O estuque realizado em obra era o
resultado das operações da massa fresca executadas diretamente sobre o manufaturado. O
estuque realizado fora da obra podia ser obtido de dois modos diferentes. O primeiro previa a
realização das partes individualmente, e não direto sobre o suporte de alvenaria, mas sobre
bancada no canteiro. Enquanto o segundo se valia das estampas que permitiam a realização
das partes de uma decoração mesmo fora do canteiro, transmite a colagem do estuque em
formas apropriadas. A diferença dos dois métodos denunciados pelas fontes está na rapidez e
a economia das decorações produzidas com o segundo sistema e na habilidade requerida, ao
invés, daqueles realizados pelo primeiro método.
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As armaduras dos adornos eram executadas com muito cuidado dada a particular consistência
das misturas para estas decorações. Sendo plásticas - dúcteis, mas de pega não instantânea,
durante a sua aplicação podia acontecer que se deformassem ou aderissem imperfeitamente ao
suporte sobre o qual deviam ser aplicada, evidência tanto mais provável quanto maior fosse à
espessura de argamassa utilizada. Para espessuras reduzidas era suficiente a simples adição de
cargas orgânicas constituídas de fibras vegetais (geralmente palha triturada) ou animais (pêlos
ou crinas), ou ligantes protéicos como as colas de peixe ou de retalhos de pele. As fibras
vegetais, em particular, além de fornecer um esqueleto de suporte, retardavam o
endurecimento porque, absorvendo água na fase de mistura, mantinham o composto por mais
tempo úmido. Esta observação é confirmada por uma indicação descrita por Alberti (1485)
apud Arcolao (1998, p.53), que previa a adição de minúsculos pedaços de cordas velhas para
obter um reboco de secagem muito lenta.
Para relevos muito salientes como capitéis, festões (decoração de flores, frutas, folhas e
similares, em forma di cadeia, que sustentadas por dois cabos, se suspendem em janelas,
balcões e tetos) e modenaturas, tornava-se necessária a colocação na obra de verdadeiras e
próprias armaduras de sustentação. Necessitava predispor sobre o substrato de alvenaria as
estruturas salientes, realizadas com tijolos moídos ou com outros materiais, que seguissem o
andamento do relevo permitindo diminuir a argamassa necessária e então a espessura do
estuque. Para a realização de cornijas e modenaturas, ao redor, às vezes, de portas e janelas, as
fontes descrevem duas técnicas de realização das armaduras de suporte:
a) no primeiro caso a estrutura de apoio era realizada modelando diretamente a
superfície da alvenaria, se esta era constituída de pedras doces (tufo ou tijolos),
como indicado por Vasari (1550) apud Arcolao (1998, p.53);
b) no segundo caso, ao invés, se recorria à construção de um esqueleto de tijolos
ou de tufo, ou de outra pedra facilmente trabalhável, que vinha modelada e
construída durante a realização do suporte construído, como descrito por
Cataneo (1567) e por De Cesare (1855) apud Arcolao (1998, p.53). Este
último, em particular, afirma que para as “grandes saliências” se utilizavam
longos prismas que os pedreiros chamavam “spaccatoni” ou mesmo pedaços
de “lastrico”, isto é, pedaços de pisos cortados e inseridos na alvenaria; esta
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variante não se equipara em outros textos e serve para conservar uma técnica
característica da área napolitana, a qual o texto provém.
As armaduras para decorações mais complexas, como no caso de capitéis, troféus ou figuras
modeladas em alto relevo, se fixavam na parede pregos e grampos metálicos relativamente
grandes em proporções conforme as decorações deviam se afastar do suporte de alvenaria, e
entre estes se colocavam os pequenos pedaços de tijolos ou tufo, como indicam Vasari (1550)
e Cataneo (1567), e como descreve, entre os autores, no séc. XIX, Curioni (1864) apud
Arcolao (1998, p.54), em testemunho de uma técnica remanescente por muitos séculos
substancialmente imutada.
Para as modelações das cornijas sobre suporte adequadamente preparado, a mistura vinha
aplicada em várias camadas, como descrito por Ligorio (metade do séc. XIX) apud Forcellino
(1991, p.41), de que na metade do século XVI, a primeira deveria ser rugosa e granulosa,
sobre a qual vinha a segunda camada mais fina e maleável, cuja forma era esboçada com
espátula de várias medidas. Esta modelação era feita quando a mistura estava ainda fresca,
com o emprego de moldes que reproduziam a cornija em negativo.
Em particular, segundo Rondelet (1817) apud Arcolao (1998, p.54), de moldes ou calibres
ocorriam duas: um menor para o esboço, e um de dimensões reais para decoração final. Nas
fontes do séc. XIX, os “modani” (molde em tamanho natural de uma cornija ou de uma
membrana arquitetônica, usada para construção de elementos ornamentais) em madeira
vinham descritos e representados munidos de um sutil lastro de ferro talhado a seguir as
curvas da modenatura, para obter as superfícies mais precisas.
Sugeriam, além disso, conforme as imagens da figura 50, utilizar estes moldes com o suporte
de uma pequena estrutura composta de um “carrinho”, geralmente em madeira, que
funcionava para sustentação para a lâmina e de guia para o operador.
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Figura 50: Execução das cornijas (fonte: Donghi apud Arcolao, 1998)
Para evitar qualquer mínima oscilação e manter a forma perpendicular à superfície, este
carrinho era colocado em posição na guia de madeira ou réguas (“staggie”) fixadas à parede.
Nos casos nos quais não se podiam usar os moldes no modo descrito anteriormente,
Breymann (2003) apud Arcolao (1998, p.54) aconselha recorrer à realização das cornijas fora
do local de aplicação, modelando-as em longos pedaços contínuos sobre bancada e aplicando-
as na parede com uma argamassa igual àquela das quais eram compostas.
O estuque fora do local podia ser realizado também com estampas que reproduziam a
decoração em negativo. Estas estampas podiam ser em gesso ou em madeira e mais raramente
em terra queimada.
Somente Cennini (1993) apud Arcolao (1998, p.54) fala de uma estampa muito particular,
realizada com um lastro de estanho preparado com um martelo de salso, sobre um modelo em
pedra recoberto com “lardo” e “sugna” (toucinho ou gordura de porco) e sucessivamente
preenchido com uma mistura de gesso e cola.
No meio entre a realização em obra e fora da obra se coloca a técnica descrita por Cataneo
(1567), Vasari (1550) e Cantalupi (1862) apud Arcolao (1998, p.54). As receitas descritas por
Cataneo (1567) e alguns séculos depois por Cantalupi (1862) se referem a uma modelação do
estuque realizada via fôrmas obtidas por substâncias particularmente duras (pereira, macieira
ou “bosso”), entalhadas em negativo, polvilhada com pó de mármore e aplicadas sobre
estuque ainda plástico. Batendo com um martelo, estas matrizes davam à mistura a forma
desejada.
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Para o acabamento superficial, coloração ou douramento os adornos, uma vez secos, eram
acabados a seco mediante o uso de “raschiatoi” (alisadores), pedaços de linho e pedra pomes.
Muito interessantes são a este propósito, as indicações descritas por Griselini (1768-1775)
apud Arcolao (1998, p.56) para dar acabamento em decorações realizadas com uma mistura
de gesso e cola, transcorre um longo processo de limpeza com pedras de consistência
diferentes. A primeira limpeza era com pedra de grão mais fino do que granito e, em
substituição a esta, com pedra pomes. Terminada esta primeira fase, se prosseguia o
acabamento com pedaços de linho embebido, sobre o qual se aplicava como abrasivo argila
ou pó de uma pedra branca de origem calcárea, chamada “Tripoli”, ou um pó de madeira de
salso carbonizado. Enfim, para polir a obra finalizada, sugeria esfregá-la com um pedaço de
cabelo, presumivelmente feltro, embebido de óleo, em particular, óleo de oliva; esta indicação
pareceria estranha, enquanto que o óleo de oliva não é secativo e, portanto não seca jamais,
mas não se pode excluir que fosse aconselhado pelo efeito lubrificado e brilhoso que conferia
aos artefatos. Muito espesso, além do simples acabamento liso e muito uniforme conferido ao
estuque, se aconselhava fazer o acabamento nas decorações, quando eram quase
completamente secas, alisando algumas partes mais que em outras para criar zonas com
diferentes capacidades de reflexão da luz e, assim, uma aparente diversidade de tonalidades de
branco.
Ainda com relação às decorações em relevo, encontram-se outros autores que as denominam
de “stucco forte” ou “stucco duro”, que significa, segundo Fogliata (2004, p.210), mistura de
cal extinta e pó de mármore, de granulometria muito fina, usado na modelação
particularmente do “stiacciato”, ou baixo relevo. Esta técnica foi amplamente empregada na
realização de estatuária e de elementos de grande volume arquitetônico, principalmente no
período do Barroco, quando as figuras se tornaram cada vez mais tridimensionais e os
volumes se sobressaem muito das paredes.
Também o “stucco in rilieve”(estuque em relevo), tanto médio como alto, descrito por
Fogliata (2004, p.193), artístico ou ornamental, foi amplamente difundido desde antes da
Antiguidade clássica. O processo se resume na modelação de ornatos executados diretamente
no local, utilizando uma massa que apresenta plasticidade suficiente, em determinado tempo,
para que o estucador pudesse realizar seu trabalho e que, depois de seco e endurecido,
adquirisse solidez comparável à de uma rocha.
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O motivo da ornamentação podia ser criação espontânea do artista ou devia seguir desenhos
de projetos, ou serem inspirados em tratados arquitetônicos. Era de suma importância para o
estucador ter noções de conhecimentos gerais sobre arquitetura, especificamente sobre as
ordens arquitetônicas clássicas, sobre as proporções dos elementos como, molduras, frisos,
colunas, dentículos, óvulos, folhagens, cornijas, capitéis entre outros.
Os elementos inspirados no reino vegetal e animal serviram sempre de modelo aos variados
estilos. No entanto, apesar da riqueza infinita das formas vegetais, poucas plantas, flores,
ramos e folhagens vão ser difundidos na ornamentação destas construções. Entre os exemplos
comumente empregados estão a folha de acanto, a videira e as heras. O material para se
executar esta técnica tinha, como principal condição, ser modelável, e que depois criasse uma
rigidez. No entanto, o uso reduzido de gesso, em algumas ocasiões, tinha a função de acelerar
o endurecimento e criar pega nestas argamassas.
Segundo IGDA (2007), cornija significa: “a parte mais alta que faz parte do complexo
arquitrave e frisos ou saliência sutil para gotejamento das águas da chuva na parte superior de
um prédio”. O termo também se aplica ao coroamento da parte superior de um móvel com
formato alongado vertical. Segundo Zingarelli (2001, p.283), cornija é: “armação de madeira
ou outro material, geralmente saliente e decorado, onde se apóiam quadros, espelhos e
similares” ou “parte mais alta da estrutura arquitetônica horizontal das ordens clássicas”.
Segundo IGDA (2007), cimalha ou “cimasa” é o coroamento superior dos edifícios que serve
de ornamento arquitetônico; uma análoga estrutura pode encontrar-se também em móveis,
balaustres e similares. Zingarelli (2001, p.234) define cimalha como: “complexo de molduras
que servem para coroar um elemento arquitetônico; cornija de um móvel”.
Cornijas, segundo Breymann (2003e, p.3), são as partes construtivas que formam a base dos
muros mestres de um edifício, que o interrompem e o repartem, e enfim, que o protegem, o
cobrem e o coroam. Fazem parte delas: as faixas ou frisos, as cornijas de friso, os umbrais e as
arquitraves ou as cornijas de janela ou de porta, além das “cornicioni” ou cornijões “cornici di
gronda”, que seriam as cornijas superiores cuja saliência destina-se a escorrer e gotejar as
águas da chuva.
Também são tratadas com o termo cornijas as decorações internas em gesso, em estuque etc.
Por cornijas, se entende as combinações das molduras, que se pressupõem percebidas,
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colocadas de modo a tornar cada vez mais possível clara e característica a expressão da sua
finalidade, isto é, a separação, a delimitação ou o coroamento das diversas partes do edifício.
A ação que se espera das cornijas, depende sobretudo da união das molduras, que se sucedem
em planos ou curvas para fora ou para dentro, como também das proporções destas molduras
entre si e com o conjunto arquitetônico do qual fazem parte, e conforme a que se destinam, a
dividir, a delimitar ou a coroar.
Das cornijas nasce a eficácia, na divisão que nosso senso artístico requer, de todas as partes
que sustentam um edifício como os muros, os pilares, as colunas, os basamentos etc. (ver
figuras 51, 52 e 53)
Figura 51: Cornijas de socos (fonte: Breymann, 2003e, p.8)
Figura 52: Cornijas de faixa (fonte: Breymann, 2003e, p.15)
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Figura 53: Cornijas e cornijões (fonte: Musso e Copperi (1885) apud
Barrera et alii, 1993, p.101)
Como já descrito, um dos materiais empregados na estruturação das cornijas é o tijolo
cerâmico, tanto nas saliências que serviam como separação entre ordens arquitetônicas, como
nos cornijões ou “cornicioni” ou “cornici di gronda”, que eram as cornijas superiores cuja
saliência era destinada a escorrer e gotejar as águas da chuva. No caso das cornijas de tijolos,
como as da figura 54 a seguir, esta saliência não poderia ser muito grande, dependia do
tamanho do tijolo, sendo necessário um grande cuidado na sua execução era que o centro de
gravidade do tijolo deveria ter apoio na fiada anterior, ou seja, as fiadas eram colocadas de
modo a formar a saliência. Se a cornija fosse muito saliente, tornava-se inevitável o emprego
de barras de ferro, muitas vezes fixadas no madeiramento do telhado.
Figura 54: Cornijas de tijolos (fonte: Breymann, 2003e, p.49-50)
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4.5.2.4 Vãos
Nesta secção serão tratados os itens: arquitraves, umbrais, peitoris e soleiras em cantaria e em
tijolos, vãos retos com viga metálica e vãos com estrutura de madeira e acabamento em
lambrequim de chapa metálica.
As arquitraves, umbrais, peitoris e soleiras são peças construtivas que se inserem, dentro dos
tratados arquitetônicos, no tema “cornici” ou cornijas. As arquitraves são peças horizontais
colocadas nos vãos que se apóiam sobre as ombreiras ou umbrais. Também conhecidas por
piattabanda”, são as traves horizontais que se apóiam em duas ou mais colunas, cuja origem
remonta à arquitetura clássica, mas que continuou presente em quase todos os estilos dela
derivados.
A “piattabanda”, segundo Zingarelli (2001, p.782), seria a peça de tijolos ou pedra sobre vãos
pequenos de portas e janelas, com intradorso de pequena arqueadura. Polverino (1996, p.57)
estabelece a diferença entre arquitrave e “piattabanda”, sob o ponto de vista estático, porque a
arquitrave transmite carga somente na vertical sobre os umbrais ou sobre a alvenaria e, a
piattabanda” exerce forças inclinadas nos seus apoios. A pequena arqueadura definida por
Zingarelli (2001, p.782) ou o formato da peça com extremidades inclinadas é que faz com que
estas cargas sejam inclinadas.
O termo “piattabanda”, cuja tradução literal seria faixa plana, ou platibanda como era
conhecido nos manuais técnicos brasileiros possuía o mesmo significado. Na definição de
Azevedo & Marques (1897, p.41), comprova-se: “espécie de abobada horizontal ou de flecha
quase insensível que substitui a verga, e fecha o vão da janela ou porta”.
O termo platibanda, atualmente, na língua portuguesa, é conhecido conforme a descrição do
Dicionário de Arquitetura Brasileira, de Corona & Lemos (1989, p.378), e se refere à moldura
que contorna uma construção acima dos frechais protegendo ou camuflando os telhados e
contornando as calhas. Esta introdução se destina a elucidar o comportamento das vergas para
que se possa compreender o formato das peças de pedra utilizadas nestes elementos da
construção. Muitas vezes, por não possuir peças monolíticas, se utilizavam pedras aparelhadas
com formatos em cunha para que suportassem as cargas da alvenaria superior, descarregando
inclinadamente as cargas nas laterais dos vãos.
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As vergas ou arquitraves como as das figuras 55 e 56 a seguir, poderiam ser, então de:
monolíticas de pedra natural, “conci di pietra da taglio” ou pedras aparelhadas como cunhas,
de pedras artificiais, como tijolos ou blocos prefabricados e “piattabanda” em aço e alvenaria.
Figura 55: Arquitraves de pedra (fonte: Testi, 1891, tav.XII)
Figura 56: Arquitraves de tijolos (fonte: Testi, 1891, tav.XIV)
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No caso de arquitraves com pedras aparelhadas, a argamassa servia unicamente para assegurar
a uniformidade na transmissão das cargas e nas de tijolos, além desta transmissão das cargas,
a argamassa devia impedir o deslizamento dos tijolos. No caso da existência dos “archi di
scarico” ou arcos de descarga em tijolos, estes tinham a função estrutural de descarregar as
cargas, da alvenaria acima da janela, nas laterais, diminuindo a incidência de cargas na
própria janela, mas poderia ser preenchido o vão entre este arco e a janela com alvenaria de
tijolos, como é comum encontrarmos com freqüência quando se retira o reboco de paredes em
edificações com paredes muito espessas.
Breymann (2003e, p.17) considerava o peitoril ou “davanzale” como a parte mais importante
no quadro de uma janela. É o limite da sua parte inferior e serve de base ao quadro. A água da
chuva que pinga na janela, sobe pelo peitoril e deve ser afastada de modo que as paredes
sofram o menos possível. Por isso é necessário que o peitoril seja mais largo do que a largura
da janela e que o mesmo tenha a face superior inclinada e com a frente saliente da parede.
Deve haver na sua parte inferior uma forma para que a água não escorra por esta parte
chegando à junta com a parede e causando problemas de umidade, por isso ela deve ser em
aclive ou se horizontal, seja munida de um gotejador ou friso que impeça a sua trajetória em
direção à parede. O autor aconselha a conexão dos umbrais com o peitoril, através de
pequenos pinos que ficam cravados metade no peitoril e metade em cada peça de umbral. Os
umbrais seriam as peças verticais, que eram geralmente de pedra de cantaria, mas também
poderiam ser de madeira ou argamassa, fazendo todo o invólucro de arremate da janela com a
parede. Cantalupi (1862) apud Breymann (2003e, p.38) descreve que na maior parte da Itália,
encontram-se soleiras de pedra de resistência elevada, indicando sua preferência pelo granito,
como aquela que apresenta máxima resistência e durabilidade.
Para Breymann (2003e, p.38), a soleira de passagens internas se faz, como os peitoris, com
uma peça única, com a largura igual à dos umbrais e com espessura de 12 cm, se essa não
serve como degrau. O plano da soleira deve ser contínuo ao dos pavimentos. Pode-se também
fazer um pequeno degrau com largura de 3 a 5 cm e altura de 2 cm. Se a porta é externa, p.
ex., um portão, além do pequeno degrau, é bom fazer um pequeno declive para o exterior,
para deixar fluir a água das chuvas. Se o pequeno degrau serve de batida à porta, este pode ser
de madeira dura ou de ferro. A utilização de peças metálicas surgiu no final do século XVIII,
por ocasião da Primeira Revolução Industrial. A princípio timidamente e posteriormente com
mais intensidade, este material de construção permitiu até que se falasse em arquitetura do
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ferro. De uso considerável, principalmente nos países europeus que se desenvolveram com a
Revolução Industrial e nos Estados Unidos da América, se manifestou praticamente em todo o
mundo durante o século XIX. Com o aparecimento das ferrovias surgiu a necessidade de se
construírem numerosas pontes e estações ferroviárias, tendo sido estas as duas primeiras
grandes aplicações do ferro nas construções. As pontes metálicas eram feitas inicialmente
com ferro fundido, depois com ferro forjado e posteriormente passaram a ser construídas com
aço laminado.
Segundo Silva (1986, p.21), no Brasil, a utilização de produtos de ferro e aço se limitava, na
primeira metade do século XIX, a ferramentas de cultivo da terra e posteriormente, à
instalação de engenhos centrais de açúcar. Esta uma inovação trazida pelos europeus para
agilizar uma produção que ainda justificava investimentos, em função dos preços
compensadores no mercado internacional e até mesmo para baixar o custo de produção, pela
sua racionalização. Assim, os ingleses tentaram inclusive instalar no Brasil indústrias de ferro,
experiências frustradas também em função da concorrência com produtos similares
importados da Inglaterra e da França. Dentre elas, se destaca a Fundição d'Aurora, a 'Aurora
Foundry' ou 'Starr & Cia.', fundada em 1829 pelo inglês Christopher Starr, e que funcionou no
Recife até 1873.
Entre os principais tratados e manuais sobre técnicas construtivas o primeiro registro de
aplicação de peças metálicos foi apresentado por Barrera et alii (1993, p.21) com data de
1777-1779 e é de uma ponte de ferro, em Coalbrookdale, Inglaterra. Também apresenta o uso
do ferro por M. Ango/Saint-Fart e N. Goulet, em 1785 e 1789 respectivamente, com vigas de
ferro (ver figura 57) em substituição às de madeira para terraços com o objetivo de tornar
estas partes das construções resistentes ao fogo.
Figura 57: Cerâmicas furadas e vigas metálicas (fonte: Barrera et alii,
1993, p.23)
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As vigas da figura 58 eram de fabricação inglesa - Milford, Salford e Leeds, e destinavam-se
a receber pequenos arcos de peças cerâmicas. (1792 a 1804)
Figura 58: Vigas e preenchimentos resistentes ao fogo (fonte: Barrera
et alii, 1993)
Cattaneo (1889, tav.5) apresenta desenhos de vigas metálicas e tesouras metálicas, conforme
figura 59, sendo estas indicadas para substituir as tesouras de madeira quando os vãos eram
maiores que doze metros.
Figura 59: Vigas de madeira, ferro e mistas (fonte: Cattaneo, 1889,
tav.5)
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No tratado de Giovanni Rondelet, “Tratatto teorico e pratico dell’arte di edificare”, de 1834
são apresentados vários desenhos de estruturas metálicas para abóbadas e armaduras de
pórticos.
Na figura 60, se observa o projeto proposto para a reconstrução da abóbada do mercado de
grãos em Paris, que havia incendiado e que não foi adotado, tendo apenas fiscalizado a
execução de outro projeto, o de J.- F. Bèlanger.
Figura 60: Cúpula em ferro do mercado de grãos em Paris (fonte:
Rondelet, 1834 apud Barrera et alii, 1993, p.41)
Outro desenho apresentado por Rondelet (1834) apud Barrera et alii (1993, p.46) é o da igreja
de Santa Genoveva, conforme imagem da figura 61.
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Figura 61: Armadura do pórtico da igreja de Santa Genoveva (fonte:
Rondelet, 1834 apud Barrera et alii, 1993, p.46)
As estruturas de madeira, amplamente empregadas na Itália e descritas com detalhes por todos
os tratadistas italianos, poderiam ser utilizadas em avarandados abertos, servindo como
estrutura de cobertura e como elementos decorativos de arremate dos vãos para posterior
aplicação de lambrequins, que também poderiam ser de madeira, tecido ou chapa metálica
recortadas.
Os lambrequins têm origem na antiguidade e eram os ornatos dos elmos e escudos, passando a
designar os enfeites recortados de pano, metal ou madeira, colocados nas beiradas de
pavilhões, dosséis e telhados.
Segundo Corona e Lemos (1989, p.294), os lambrequins chegaram a ser importados e
vendidos a metro. A madeira recortada não se limitava aos beirais, podendo preencher vãos e
intercolúnios de alpendres, transformando os frontispícios em verdadeiras rendas.
Nos tratados pesquisados não foram encontradas descrições deste tipo de ornato, talvez
porque sua origem é atribuída aos franceses ou suíços que o utilizavam em chalés de madeira
na região dos Alpes.
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4.5.2.5 Esquadrias
Segundo Breymann (2003e, p.72), as esquadrias de madeira são compostas de cornijas, ou
seja, aqueles elementos de arremate que fazem molduras, contornos, divisões ou coroamentos.
No caso delas serem de madeira, tem características peculiares de acordo com a propriedade
da madeira, diferentemente das de pedra ou tijolos revestidos. No aspecto construtivo, as
cornijas tem finalidade de defender as paredes e de afastar as águas pluviais descarregando-as
diretamente ou através de canal apropriado. Esta finalidade é tão melhor atendida quanto
maior for sua saliência, e neste caso as cornijas de madeira respondem melhor do que as de
pedra, principalmente por sua maior resistência à flexão. As folhas das portas servem para
fechar o vão e sua solidez é condicionada ao grau de segurança que a porta deve apresentar.
Quanto mais sólida, maior espessura e mais pesada, dificultando a sua movimentação. Os
maiores requisitos de uma porta são: a facilidade de movimentação e sua solidez. O mesmo
autor ainda recomenda várias dimensões de portas conforme o uso, levando em conta sua
relação entre larguras e alturas. Apresenta diversos tipos de uniões entre quadros, molduras e
alme” ou “specchiature rialzate” (na tradução literal seriam as “almas” ou “espelhos
realçados”), que são as chamadas “almofadas” de portas, com modos diferentes de encaixes,
modelos diferentes de cornijas, sempre levando em conta que os encaixes não possibilitem a
entrada de águas de chuva. (ver figura 62)
Figura 62: Cornijas em portas (fonte: Breymann, 2003e, p.72)
Os “vetrate”, ou envidraçados das janelas devem fornecer ar e luz aos locais; dever ser
impermeáveis ao vento e à chuva, devem possibilitar seu fechamento com segurança e sua
abertura com facilidade. A grande disparidade que existe entre estes requisitos explica porque
a confecção de um envidraçado apresenta tanta dificuldade, ou seja, os envidraçados devem
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fornecer a maior luminosidade possível, sendo mínimas as partes não transparentes, que são
os quadros ou caixilhos, contrariando a sua solidez.
Assim, para o fechamento seguro e hermético, segundo Breymann (2003e, p.86-87), se
necessitam “battenti o sportelli”, ou sejam, batentes ou caixilhos complicados, difíceis e
lentos para abrir. Os envidraçados apresentam uma grande diversidade de forma e estrutura,
de acordo com a finalidade a que servem. Entre tantos tipos de madeira, o importante a
observar é que para confecção dos caixilhos de janelas se adotem madeiras bem secas, e
devem receber três demãos de verniz a óleo para melhor aspecto e maior durabilidade.
Conforme o modo de abrir, os tipos de janelas envidraçadas podem ser: de batentes, giratórias
e de correr. As mais utilizadas e mais difíceis de confeccionar são as de batentes. Os escuros
são caixilhos apropriados para impedir a entrada de luz, bem como as persianas. A confecção
dos escuros não requer maiores observações, porque é idêntica a das portas ou janelas. Podem
ser aplicados tanto no exterior como no interior das construções. São fixados ao caixilho
principal através de dobradiças e desejando-se mais segurança, pode ser colocada uma tranca
de ferro na diagonal da esquadria. Se o escuro for colocado internamente, os vidros ficarão
expostos. No que se refere à segurança, os escuros não são inferiores às persianas,
principalmente quando trata-se de construções isoladas. Para impedir que as águas de chuva
penetrassem no interior das construções, seja nas portas ou janelas, os caixilhos ou batentes
deveriam ser providos de uma oportuna travessa de madeira com um gotejador, que fazia com
que a água pingasse na soleira ou na pingadeira, conforme fosse uma porta ou janela,
respectivamente. Tanto as soleiras como as pingadeiras deveriam ter a sua superfície superior
com inclinação ou pequeno rebaixo de modo a conduzir as águas, que pingassem dos
gotejadores sobre elas, para o exterior, conforme figura 63 a seguir.
Figura 63: Gotejador de portas e janelas (fonte: Breymann, 2003e,
p.80)
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Quanto às ferragens das esquadrias, os manuais eram muito claros quanto aos seus modelos,
conforme se tratassem de “serrami” - fechaduras, trancas, “saliscendi” - ou tranquetas,
paletti” - ferrolhos, “spagnolette” - fechaduras de janela constituída de fina haste e maçaneta.
Alguns modelos podem ser visualizados na figura 64 a seguir.
Figura 64: Ferragens de portas e janelas (fonte: Breymann, 2003e,
p.85)
4.5.3 Elementos Horizontais
Nesta secção encontram-se as descrições dos principais tratadistas quanto às estruturas, e
revestimentos dos elementos horizontais.
4.5.3.1 Estruturas
Cattaneo (1889, p.10) entende que os diversos planos de um edifício são separados com
pareti” ou paredes horizontais que são abóbadas ou soalhos completados com forro e com
pavimento. O soalho pode ser de madeira, de madeira e ferro, de ferro e cerâmicas ou todo de
ferro. Este sustenta o pavimento superior e o forro abaixo deste. Normalmente se compõe de
um “impalcatura”, ou seja, o conjunto de elementos destinados a formar o palco de qualquer
compartimento com vigotas e tábuas. A superfície a cobrir vem oportunamente dividida com
vigas maiores para possibilitar o apoio de vigotas ou barrotes que alcançam o comprimento de
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3,00 a 3,50 m e são dispostas com cerca de 0,50 a 0,60 m entre si. Sobre estas vigotas, que
denominamos barroteamento, são pregadas as tábuas que sustentam o pavimento. As vigas
mestras, de altura igual a 1/18 do seu comprimento, engastam-se nas paredes apoiando-se
sobre pedaços de pedra para distribuir a pressão e deixa-se um espaço livre ao redor da ponta
da viga para que o ar circule na madeira. Estas vigas mestras também podem ser de ferro de
duplo “T” para sustentar as tábuas.
Estes barroteamentos são tratados por Breymann (2003d, p.11) pelo termo “travi”, que
também pode ser traduzido por vigas, porque são as peças de madeira dispostas
horizontalmente e apoiadas nas suas extremidades e algumas vezes também em pontos
intermediários, as quais são submetidas à ação do peso próprio, à outras sobrecargas e que
devem resistir também à flexão.
Várias vigas dispostas num mesmo plano formam uma “impalcatura”. Nas edificações
distinguem-se as “impalcature di solaio”, as quais servem para cobrir um plano e para formar
o pavimento do plano superior, podendo ser tratadas por madeiramentos de soalho, ou melhor,
de entrepiso por estarem entre dois pavimentos; as “impalcature sotto tetto”, que servem para
cobrir o plano superior e servem para a aplicação do tramado do teto; e as “impalcature da
soffitta”, as quais fazem parte essencial do tramado do teto, chamadas de madeiramento para
forro.
O autor ainda faz diversas considerações sobre o modo de colocação destas vigas se em
alvenarias ou em paredes de tramados de madeira, tomando cuidado na fixação para maior
estabilidade da obra, inclusive com lastro de tijolos ou pedra como apoio e levando em conta
a preservação das pontas destas vigas para que não sofram deteriorações, embebendo-as com
resina betuminosa negra e fervente.
Rohrich (1999, p.137) descreve as estruturas horizontais relembrando Vitruvio (I séc.a.C.)que
explica as partes que compõem o soalho de madeira sobre as “travi”, ou vigas apoiadas nos
palcos e sobre “i tasselli e le assi”, ou seja, as buchas e tábuas, tipologia construtiva que se vê
claramente nas ilustrações dos livros de seu comentarista Fra Giocondo (1511 e 1513) e
Rusconi (1590). O autor também descreve as travessas, que são as peças que fazem junção
entre as vigas sendo postas perpendicularmente a estas. (ver figura 65)
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Figura 65: Soalho em madeira (fonte: Fra Giocondo, 1511 apud
Rohrich, 1999, p.138)
As prescrições de Fra Giocondo (1511) apud Rohrich (1999, p.138), não se limitam a definir
as partes que compõem um soalho de madeira, mas explica tecnicamente como estas se unem.
Escreve que para sustentar o soalho são necessárias vigas que vão de parede a parede e que se
devem considerar o modo de colocação das colunas postas transversalmente, constituindo
também a ossatura do edifício. Para uma maior compactação da estrutura, se os recursos
permitirem, aconselha interligar as alvenarias ao vigamento com grampos e ganchos salientes
das mísulas que apóiam as vigas.Se esta estrutura com vigas de madeira estiver posicionada
num entrepiso, serve de suporte tanto para revestimento do teto do pavimento inferior, como
revestimento de piso do pavimento superior. O forro do pavimento inferior poderá ser de
madeira, com chapas metálicas, de estuque ou simplesmente aparente, quando poderá receber
um tratamento com frisos de madeira decorativos ou trabalhados nos intervalos entre vigas.
Palladio(1570) apud Rohrich (1999, p.139) recomenda uma regra prática para dimensionar as
estruturas de madeira para soalhos, estabelece que as vigas sejam postas a uma distância entre
si de uma largura e meia da própria viga, alertando que se a distância for maior do que esta
não terá um bom aspecto e se for menor será quase que um divisor da alvenaria que fica
abaixo da que fica acima deste vigamento. No caso de incêndio, a alvenaria superior seria
forçada a ruir.
Scamozzi (1615) apud Rohrich (1999, p.140) fornece regras completas a respeito do
dimensionamento das estruturas: “a largura das vigas-mestre deverá ser aproximadamente
vinte e quatro avos ou trinta avos do comprimento, a espessura deverá ser no mínimo um
terço ou um quarto da largura e a distância entre as vigas será equivalente a sua altura”. Sendo
assim, estas deverão ser postas em menores intervalos do que aqueles recomendados por
Palladio (1570). Conforme estas relações, Scamozzi (1615) deve entender como largura e
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espessura das peças como sendo as dimensões da altura e largura das vigas, respectivamente,
como normalmente são posicionadas.
Rohrich (1999, p.140) considera que, entre as soluções técnicas na construção da estrutura
para soalhos em madeira propostas, a única interessante e inovativa é a de Sebastiano Serlio
(1584) arquiteto e tratadista italiano de Bolonha do início do século XVI, que ensina um
sistema alternativo que usa travessas mais curtas do que o vão a cobrir. As vigas serão
engastadas nas paredes uma sim e uma não, conforme pode ser visualizado na figura 66,
sendo que a que for engastada numa parede ficará suspensa perpendicularmente a outra
travessa no lado oposto e esta será engastada na parede perpendicular.
Figura 66: Soalho com travessas curtas (fonte: Serlio, 1584 apud
Rohrich, 1999, p.141)
Outras formas de soalho de Serlio podem ser vistas nas imagens da figura 67, a seguir:
Figura 67: Soalhos (fonte: Serlio,1584 apud Montagni, 1993, p.148)
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Rondelet (1834) apud Montagni (1993, p.148) em seu Trattato teorico-pratico dell’arte di
edificare, de 1834 também apresenta uma estrutura para soalho em que as vigas possuem
dimensão menor do que o comprimento do vão a cobrir, utilizando um recurso para alcançá-
lo. (ver figura 68)
Figura 68: Soalho poligonal (fonte: Montagni, 1993, p.148)
A estrutura para receber soalhos de madeira pode receber também ladrilhos ou revestimentos
impermeáveis, como se pode ver em diversos desenhos dos tratadistas, entre eles os das
figuras 69 e 70 e é descrita no elemento horizontal “Revestimentos”.
Figura 69: Estrutura de madeira para soalhos (fonte: Cattaneo, 1889,
tav.12)
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Figura 70: Soalho em madeira e colocação de piso (fonte: Rusconi ,
1590 apud Rohrich, 1999, p.149)
Nas estruturas metálicas de entrepisos as vigas mestras são metálicas, geralmente de perfil
tipo “I” ou duplo “T”, para posterior revestimento de soalho de madeira. Esta técnica possui
notável simplicidade e rapidez, conforme Cattaneo (1891, p.6) apresentando uma diminuição
das cargas e atingindo maiores vãos. Este tipo de vigamento também era utilizado para
execução das abobadilhas ou “voltine”, como as da figura 71 e serão descritas posteriormente.
Figura 71: Vigas de ferro e preenchimento com madeira (fonte:
Albertini et alii, 1910 apud Barrera et alii, 1993, p.169)
Com relação à estrutura para forro de estuques, o barroteamento era constituído com as
mesmas vigas para os soalhos e forros de madeira. A particularidade deste tipo de estrutura é
o ripamento que serve de sustentação para o revestimento de argamassa. O tramado que
suportava o revestimento argamassado como o da figura 72 era, geralmente, executado com
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143
parte dos caules cilíndricos, delgados, geralmente ocos de juncos ou bambus ou ainda do
pedúnculo das folhas das palmeiras. Conhecidas por “canne palustre ou paludosi”, ou seja,
canas de terrenos pantanosos ou alagadiços eram preferidas ao invés das madeiras lenhosas
pela leveza e pela baixa capacidade de deformação em presença de umidade.
Figura 72: Revestimento argamassado sobre trama de madeira (fonte:
Rusconi, 1590 apud Rohrich, 1999, p. 187)
De acordo com Montagni (1993, p.114), o tramado de canas era fixado no madeiramento
através de pregos com cerca de 4 cm de comprimento, com a cabeça muito larga e dispostos
nas juntas das canas, pegando duas adjacentes e nunca no centro da cana para evitar rompê-la
e enfraquecer toda a abóbada. Logo a seguir era executada a aplicação da argamassa de cal
com colher de pedreiro empurrando-a para que ficasse bem ancorada às canas chegando a
passar para o seu interior. O resultado era um reboco “armado”, de notável resistência, cujas
espessuras variavam de 4 a 8 cm, e que, obviamente, era terminado com a aplicação do reboco
final.
Cornaro (1965) apud Rohrich (1999, p.188) apresenta algumas vantagens para o uso das canas
nas estruturas de forros argamassados, como a econômica, além de não serem atacadas por
carunchos e não sobrecarregarem as construções, por serem muito leves. Outros tratadistas
defendiam também seu uso uma vez que as abóbadas de estuque com argamassa de gesso
resistiam ao fogo e eram muito duráveis.
Giuffredi et alii (1991, p.113) apresentam uma variação desta técnica e a denominam por
tavolette intonacate”, que pode ser traduzido como madeirames rebocados. Semelhante ao
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incannucciato intonacato”, ou seja, tramado de canas rebocado, foi muito difundida no
século XVIII e empregada até o início do século XX. Esta semelhança se deve pelo fato de
que as canas ou bambus do tramado que recebiam o reboco foram substituídas por gradis de
ripas de madeira fixados ao madeiramento de suporte ou “centine”. As chamadas abobadilhas
necessitavam uma armadura com perfis, geralmente tipo “I” ou duplo “T”, onde os elementos
cerâmicos eram dispostos em pequenas abóbadas apoiando-se nos perfis metálicos. Estes
elementos cerâmicos possuíam formas diversas, desde tijolos maciços até cerâmicas vazadas
com variados formatos. Eram também conhecidas por “voltine”. Podiam receber revestimento
de ladrilhos cerâmicos ou hidráulicos ou somente soalho de madeira. Se revestidas com
material impermeável eram frequentemente empregadas em terraços.
As abobadilhas, segundo Cattaneo (1889, p.11), podiam ser construídas com tijolos maciços
ou furados e eram sustentados por ferros de formato duplo “T”. Seguindo a ordem correta de
colocação, é possível construir a abobadilha sem “centinatura” ou estrutura provisória, mas
deve-se usar argamassa de pega rápida. Com elementos cerâmicos vazados especiais,
chamados “volterrane”, se formavam abobadilhas de “piattabanda”, como as das figuras 73 e
74, ou seja, com a superfície interna plana. Geralmente eram em número de três e apoiados
nas vigotas de ferro distantes certa de 0,75 m.
Figura 73: Abobadilhas com elementos cerâmicos especiais e ferros
duplo “T” (fonte: Testi, 1891, tav.XIX)
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Figura 74: Abóbadas sobre vigas de ferro (fonte: Testi, 1891, tav.XIX)
Albertini et alii (1910) apud Barrera et alii (1993, p.169) descreve a execução de abobadilhas
com estrutura metálica, conforme a figura 75, podendo ser utilizados tijolos cerâmicos
maciços colocados longitudinalmente com juntas desencontradas, colocados como cunhas,
sendo conformada sua curvatura com estrutura provisória ou “centinatura”, com plaquetas
cerâmicas apoiadas em vigotas “T” e ainda por preenchimento com “calcestruzzo” ou
argamassa de cimento e areia sobre lâminas metálicas onduladas ou curvas.
Figura 75: Vigas de ferro e preenchimento com abobadilhas (fonte:
Albertini et alii, 1910 apud Barrera et alii, 1993, p.169)
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4.5.3.2 Revestimentos
Tratando-se de revestimento de pisos térreos, os autores demonstram muita preocupação com
a preparação da base dos destes pisos, como se pode observar nos desenhos de Rusconi
(1590) apud Rohrich (1999, p.163), com várias camadas de diferentes granulometrias e bem
compactados. Também apresenta os desenhos, como os da figura 76, das diversas ferramentas
utilizadas nos canteiros de obras, inclusive os batedores ou socadores das camadas de
compactação dos pisos.
Figura 76: Preparação das bases de um pavimento térreo e ferramentas
do canteiro (fonte: Rusconi, 1590 apud Rohrich, 1999, p.163)
O revestimento de ladrilhos hidráulicos poderia ser estruturado com madeira, madeira e ferro,
ferro e cerâmica ou todo de ferro.
O revestimento de pisos com ladrilhos hidráulicos foi chamado por Albertini (1910) apud
Barrera et alii (1993, p.169), de “pietrini di cemento compresso”, ou seja, pequenas pedras
prensadas feitas de cimento. Não são pedras naturais e sim, fabricadas artificialmente com
formas e dimensões que podem ser quadradas de 0,20 m de lado ou retangulares com o lado
maior de 0,25 m, dessa forma podem ser dispostas em espinha de peixe. A vantagem da
rapidez de endurecimento na utilização do cimento portland na confecção de pisos não se
restringe apenas aos pavimentos argamassados e compactados, mas na fabricação dos
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ladrilhos de cimento prensados, que ainda podem receber variadas cores, bordas e serem
colocados como verdadeiros mosaicos. Além disso, o autor também considera que os
ladrilhos hidráulicos apresentam maior solidez e elegância do que os ladrilhos cerâmicos. (ver
figura 77, 78 e 79)
Figura 77: Terraço (fonte: Rusconi,1590 apud Arcolao, 1998, p.41)
Figura 78: Ladrilhos de cimento prensado (fonte: Albertini et alii,
1910 apud Barrera et alii, 1993, p.169)
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Figura 79: Ladrilhos de cimento prensado coloridos (fonte: Albertini
et alii, 1919 apud Barrera et alii, 1993, p.169)
Este tipo de revestimento também podia ser aplicado sobre estrutura metálica com
abobadilhas conforme descrição anterior.Em geral os compartimentos internos das
construções que não necessitassem ser impermeáveis eram revestidos de soalhos de madeira,
constituídos de tábuas de dimensões variadas. Este tipo de revestimento é frequentemente
encontrado nos diversos tratados de construções, pela facilidade de execução bem como pela
facilidade de obtenção das tábuas.
As tábuas de revestimento se apóiam nos barroteamentos e vigas, e podem servir de forros ou
fechamentos dos telhados, bem como revestimento de pisos. Leon Batista Alberti (1485) apud
Rohrich (1999, p.137) recomenda que as tábuas devam ser retiradas de uma madeira não
muito compacta para quando começarem a se deformar, não arranquem os pregos.
Cattaneo (1889, p.12) comenta o aumento na utilização dos pisos de madeira ou tabuados pela
sua boa qualidade, entre as quais a agradável temperatura que mantêm, o pouco pó que
produzem, a limpeza, e desejando-se, a elegância; com a elaboração mecânica deste material,
o custo é reduzido. Os pisos podem ser maciços ou laminados; os primeiros são compostos de
simples pedaços de tábuas, os outros de tabuletas de madeira macia cobertas com lâminas de
madeira finas e resistentes. O mais simples assoalho de madeira é formado com tábuas de 25 a
35 mm de espessura e cerca de 40 cm de largura encaixadas de modo que a saliência de uma
se insira na reentrância de outra (macho e fêmea) e pregadas sobre réguas de 0,07 x 0,10 m
formando a sustentação. Outros pisos de madeira maciça são os ditos americanos, feitos com
pequenas tábuas de 0,08 m de largura dispostas em espinha de peixe. O autor considera o
assoalho de tábuas de 40 cm de largura como mais econômico, mas menos sólido e menos
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belo do que outros. Os pisos de madeira laminados são feitos com tabuletas quadradas de
cerca de 0,30 m de lado, espessura de 0,03 m, pregadas de modo que a cabeça do prego
ficasse escondida num canal com metade da espessura, que serve também de encaixe às
pequenas ripas de ligação entre dois canais contínuos. As tabuletas são laminadas com finas
camadas de madeira resistente e polidas com cera.
A estrutura metálica em abobadilhas poderia receber revestimentos variados, conforme já
descrito, entre eles ladrilhos hidráulicos, cerâmicos ou somente soalho de madeira.
Geralmente os terraços, cozinhas e compartimentos de banho recebiam revestimento
impermeável, que poderiam ser com ladrilhos hidráulicos ou cerâmicos.
Cattaneo (1889, p.12) recomenda que sobre o soalho de madeira seja distendida uma camada
de 0,03 a 0,05 m de argamassa magra denominada “caldana”. Sobre esta são cimentadas
pedras artificiais queimadas e em retângulos com argamassa gorda de cal e muito líquida.
Os ladrilhos cerâmicos, segundo Albertini et alii (1910) apud Barrera et alii (1993, p.169),
eram confeccionados com terra fina especial ferruginosa isenta de matérias calcárias. São
também prensados e geralmente coloridos, com tinta vermelha, amarela, preta ou outras
variações conforme desenhos especiais. Eram geralmente hexagonais regulares com 0,10 a
0,22 m de lado e com espessuras de 0,01 a 0,027 m. Podiam ser também quadrados ou
octogonais com dimensões variadas. Colocados lado a lado com uma, duas ou três cores
podiam reproduzir desenhos variadíssimos. Pode-se observar na figura 80 a seguir os
fabricados pela renomada “Società Ceramica Ferrari di Cremona”.
Figura 80: Ladrilhos cerâmicos (fonte: Albertini et alii, 1919 apud
Barrera et alii, 1993, p.169)
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Para revestimento de tetos com forros de madeira tipo “saia e camisa”, foram encontradas
descrições em Breymann (2003d, p.67), para colocação das tábuas justapostas uma sobre a
outra e lado a lado, embora sem esta denominação e sim como “tavole alternativamente
ridossate”, ou seja, tábuas alternativamente umas por cima das outras. O autor ainda descreve
a posição destas tábuas, que é por de baixo do madeiramento mestre, escondendo-o.
Estas eram encaixadas em caneluras deixadas nas vigas, conforme figura 81 e eram colocadas
nos vãos das vigas.
Figura 81: Tábuas alternativamente sobrepostas (fonte: Breymann,
2003d, p.68)
Os forros de madeira podem ainda receber um contorno no mesmo plano do forro,
denominado no Brasil de tabeira. De arremate no encontro com as paredes, eram colocadas
outras tábuas com frisos e perfil trabalhado formando verdadeiras cimalhas em todo o
perímetro do ambiente.
Breymann (2003d, p.64) denomina os forros de madeira como sendo a finalização ou
conclusão dos soalhos de entrepiso ou de cobertura. Em todos os tipos apresentados, após a
ossatura de sustentação dos soalhos, os vãos entre as vigas do soalho eram preenchidos,
deixando aparentes as vigas mestras. As soluções apresentadas pelo autor procuravam atender
os requisitos que um soalho deve satisfazer como segurança contra incêndio, leveza, pouca
condutividade do calor, do som etc.
Breymann (2003d, p.64) descreve diversos forros originários da Alemanha, entre eles os ditos
solai a correntini” da figura 82 a seguir, como sendo aqueles cujos vãos entre as vigas são
preenchidos com estacas roliças ou tábuas justapostas transversalmente em relação às estas
vigas. Recebiam preenchimento das juntas com argila e fragmentos de cerâmica em palha,
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sendo depois substituídas por telas e argamassas de gesso. As arestas das vigas aparentes
poderiam ser trabalhadas ou as juntas entre as madeiras recebiam frisos também de madeira,
para melhorar o aspecto estético do forro. Estes forros apresentavam bom isolamento térmico,
mas consumiam muita madeira.
Figura 82: Soalho sarrafeado (fonte: Breymann, 2003d, p.64)
Outro tipo originário da Alemanha e introduzido na Itália no século XIII foi o de caixões,
denominado “intelature alla tedesca”, repetindo o princípio das antigas abóbadas em pedra e
tijolos chamadas de caixões ou lacunares, que eram formadas por reentrâncias em formato de
caixotes. A forma mais simples do soalho de caixões é aquela que se obtém dispondo uma
membrana ou um quadriculado de vigas e sobre este se dispõe as tábuas lado a lado, como as
da figura 83 a seguir, resultando num forro mais leve do que os recheados ou sobrecarregados
solai a correntini” da figura 82 apresentado anteriormente.
Figura 83: Soalho de caixões (fonte: Breymann, 2003d, p.71)
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O tamanho dos caixões e a sua profundidade dependiam do vão a cobrir. Na figura 84 a seguir
é representado um forro mais elaborado e com roda forro trabalhado como cornija colocada
no contorno do cômodo servindo de arremate entre o forro e as paredes.
Figura 84: Soalho de caixões mais elaborado (fonte: Breymann,
2003d, p.79)
As aplicações de frisos de madeira sobre o forro “saia e camisa” possuíam apenas a função
decorativa deste tipo de forro, formando desenhos. Este tipo de forro não foi encontrado nos
manuais e tratados italianos.
O forro de madeira tipo “macho e fêmea” não foi encontrado nos manuais e tratados italianos
do período pesquisado. Atribui-se que o maquinário utilizado para confecção deste tipo de
encaixe ainda não existisse. Por esse motivo, não era empregado correntemente nos forros de
madeira do período pesquisado. Apenas o termo “immaschiato” foi encontrado e se refere ao
encaixe “macho e fêmea”, que era obtido de forma manual e artesanal, sendo utilizado
eventualmente em algum encaixe de peças de madeira.
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Outra variação dos forros de madeira encontrada é a que apresenta tábuas colocadas lado a
lado, sendo aplicada uma lâmina de couro e sobre esta frisos e florões de madeira, formando
desenhos decorativos. Este tipo de forro não foi encontrado nos manuais e tratados italianos.
Quanto ao forro de estuque ou “intonacatura su telaio di legno”, é preciso primeiramente
diferenciar “soffitto” de “controsoffitto”. O termo em italiano utilizado para definir forro é
soffitto”, que segundo IGDA (2007), é definido como: “superfície interna da parede de
cobertura de um ambiente, de um vão” e “controsoffitto” como: “forro falso colocado para
esconder vigas e implantar redes de serviço ou simplesmente para melhorar a acústica e o
isolamento térmico de um local”. Antigamente era executado com uma “incannucciatura” ou
trama de canas suspensa nas vigas e rebocada.
O reboco sobre tela metálica ou tramado de madeira, como os das figuras 85 e 86 de Pepe
(1989, p.F1) a seguir, constituído de sarrafos regulares ou canas ou bambus já se encontra
descrito nos rebocos sobre madeira com argamassas de cal e areia utilizados em elementos
verticais.
Figura 85: Forro de estuque sobre armadura metálica (fonte: Pepe,
1989, p.F1)
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Figura 86: Forro de estuque sobre armadura de canas (fonte: Pepe,
1989, p.F1)
Nos principais tratados de técnicas construtivas italianas não foram detectados os modos de
emprego de chapas metálicas estampadas, atribuindo-se suas técnicas de aplicação às
recomendadas pelos fabricantes de onde eram importadas estas peças.
4.5.4 Arcos e abóbadas
Nesta secção encontram-se as descrições dos principais tratadistas quanto aos arcos de pedra,
arcos de tijolos maciços, abóbadas de estuque e de tijolos maciços.
Conforme já citado anteriormente, os arcos são partes geradoras e integrantes das abóbadas e,
segundo Breymann (2003a, p.24), também possuem a função de cobrir as aberturas nas
paredes suportando as cargas da parte superior. Podem ser construídos com pedras irregulares,
pedras aparelhadas, alvenaria mista, ou de tijolos cerâmicos simplesmente.
Na figura 87 a seguir pode-se observar um arco de pedras numa estrutura primitiva feita pelos
mais antigos habitantes gregos, os “pelasgi”. Os arcos da figura 88 são com pedras
aparelhadas.
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Figura 87: Estrutura em arco de pedra dos “pelasgi” (fonte:
Breymann, 2003a, p.24)
Figura 88: Arcos em pedra (fonte: Breymann, 2003a, p.24)
As partes principais dos arcos definidas por Cattaneo (1889, p.8) são: “sesto” ou curvatura;
imbotte” ou “intradosso” ou intradorso é a superfície côncava de baixo; “estradosso” ou
extradorso é a superfície convexa de cima; “imposte” ou “piedi” são os pontos extremos da
curva; “piedritti” são as retas verticais de onde parte o arco; “corda”, “portata” ou “luce” é a
distância entre os pés da curva ou “imposte” que é a corda, portada ou luz; “saetta” ou
freccia” – seta ou flecha é a perpendicular à corda do seu ponto médio até a parte inferior da
superfície curva. Estas partes podem ser visualizadas nas figuras 89, 90 e 91 a seguir.
Arco de curvatura plena ou semicircular é aquele que tem a flecha igual à semi-corda; arco
elevado é aquele cuja flecha é maior do que a semi-corda; arco de curvatura reduzida,
abaulado ou rebaixado é aquele cuja flecha é menor do que a semi-corda; o arco agudo é
aquele composto de dois arcos que se interseccionam; fecho ou chave é o ponto mais alto da
curva e materialmente é uma cunha que serve para fechar o arco.
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Figura 89: Arcos antigos e modernos (fonte: Testi, 1891, tav.XIII)
Figura 90: Arco – tipologia (fonte: IGDA - Istituto Geografico Di
Agostini, 2007)
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Figura 91: Arco – estrutura e nomenclatura (fonte: IGDA - Istituto
Geografico Di Agostini, 2007)
Dispondo os tijolos em um arco segundo os raios, as juntas dos tijolos na superfície de
extradorso ficarão muito grandes, devendo receber lascas de pedra. As cunhas dos arcos
devem ser dispostas de modo que as juntas sejam normais à curva de intradorso, sendo
concorrentes no centro da curva. Nos arcos planos ou platibandas, aqueles que têm a linha de
intradorso reta, ou quase reta, as juntas concorrem a um ponto no eixo, quase sempre distante
do intradorso ou da corda; na platibanda dita francesa, os tijolos se dispõem paralelos
respectivamente a duas direções opostas e igualmente inclinadas em relação à horizontal,
sendo de mais fácil execução e se adota somente para arcos de pequenas cordas. (ver figuras
92 e 93 a seguir)
Figura 92: Arco – assentamento das pedras aparelhadas nos arcos
(fonte: Cattaneo, 1889, tav.9)
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Figura 93: Arcos antigos e estruturas provisórias (fonte: Testi, 1891,
tav.XV)
Também para a execução dos arcos, como para as abóbadas, é necessária uma estrutura
provisória como a da figura 94, geralmente de madeira, para conformar o arco e auxiliar na
colocação das peças segundo o desenho perfeito da curvatura desejada, chamada pelos
italianos de “centinatura” ou “centine”.
Figura 94: Arcos, chaves e estruturas provisórias (fonte: Testi, 1891,
tav.XVI)
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159
Com relação às descrições para abóbadas de estuque, inicialmente são necessárias algumas
considerações sobre o emprego de abóbadas nas construções. É importante que se faça a
distinção entre duas categorias de abóbadas no que se referem à sua função estrutural: as de
característica apenas de forro para tetos e as autoportantes, sendo estas últimas amplamente
descritas nos tratados da época romana.
De acordo com Breymann (2003a, p.3), a estrutura de cobertura com abóbadas autoportantes
remonta da Antiguidade onde a solução mais simples, natural e incontestável era aquela
obtida com a colocação de uma única pedra sobre os muros que envolviam o ambiente a
cobrir. Quando o vão era muito grande, a partir das paredes se elevavam fileiras horizontais
de pedras menores que iam diminuindo gradativamente o vão, terminando com uma única
pedra ou lasca, ficando assim conformada a abóbada, de formato côncavo no seu interior. Os
romanos foram os primeiros a ampliar o uso das abóbadas, as quais já eram executadas pelos
etruscos como coberturas semicirculares feitas com pequenas cunhas de pedras. O uso das
abóbadas inicia uma nova época na história da arquitetura, sendo este elemento construtivo
causador de uma enérgica reforma nas proporções arquitetônicas. Este tipo de superfície
côncava quando utilizado em paredes ou muros, destinados a vencer o vão das passagens e
suportar as cargas que se apoiavam sobre elas também eram chamadas de “volte” ou
abóbadas. Somente a diferença é que o comprimento da abóbada era a espessura da parede.
As abóbadas com função de revestimento de tetos foram primeiramente descritas por Vitruvio
por volta do ano 40 a.C. no 7º livro, cap. III, em seu manual de 10 volumes –
“Dell’Architectura” cuja reprodução encontra-se na versão de Carlo Amati (1829-1830,
p.201) , como:
Se dispongano de’travicelli fra loro paralelli e non più distanti di due
piedi. I migliori sono quelli di cipresso [ ] vi si attaccheranno, a
seconda della forma che richiede la centina, le stuoje di canne-
grecche...al di sopra della vôlta, di quando in quando si stenda um
suolo di calcina mescolata com arena, affinchè se da’palchi o da’tetti,
cadessero gocce d’acqua, ivi rimangano. Disposte cosi le vôlte ed
intessute, si rinzaffi il loro cielo dalla parte di sotto, dappoi si arricci
com calcina mescolata com arena, e per ultimo s’intonachi com creta,
o com marmo. [ ] sotto la loro importa si faranno poscia le cornici:
le quali, secondo mi sembra, debbono farsi assai piccole, e, per
quanto si può, dilicate.
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ou seja, se dispunham as vigotas paralelas entre si e não mais distantes de dois pés. As
melhores são as de cipreste,... se uniam, de acordo com a forma que requeria a “centina” ou
madeiramento de suporte, os tramados de canas gregas... por cima da abóbada, de quando em
quando se estendia uma camada de cal extinta misturada com areia, para formar o palco ou
teto, fazendo cair sobre esta camada gotas de água que deveriam ali permanecer. Dispostas
assim as abóbadas enteladas, se chapiscava o céu da parte inferior, depois se cobria com cal
misturada com areia e por último se rebocava com argila ou com mármore... sobre este se
colocavam as cornijas: as quais, segundo me parece, deveriam ser pequenas e delicadas...
Centina” era a estrutura provisória geralmente de madeira, mas também de ferro utilizada
para sustentar um arco, uma abóbada ou cúpula durante sua construção.
Segundo Testi (1891, p.30), as abóbadas podiam ser feitas “di getto, di laterizii, di pietra o
pietrame”, ou seja, por lançamento, de peças cerâmicas, de pedras justapostas. As “di getto
ou de lançamento recebem revestimento de argamassa, que pode ser uma espécie de concreto
feito de pedras porosas, vulcânicas para serem leves, sobre uma armadura.
As abóbadas de “laterizii” são formadas com cerâmicas de qualquer dimensão e são as mais
comuns. Necessitam uma armadura com perfis, geralmente tipo “I”, onde as peças cerâmicas
dispostas em pequenas abóbadas que se apoiavam no perfil metálico. Eram também
conhecidas por “voltine” ou abobadilhas e serão tratadas com mais detalhes no próximo item.
As abóbadas “di pietra o pietrame” eram utilizadas nos subterrâneos com pedras escolhidas,
regulares, bem cortadas e dispostas na armadura com material cimentício. Não foram jamais
empregadas acima do solo por exercerem muito peso contra os muros dos ambientes, por isso
sendo utilizadas em pontes, galerias e viadutos. Visavam solidez e durabilidade sendo
utilizadas pedras cuidadosamente elaboradas, sendo dispensado o uso da cal.
Breymann (2003a, p.6) apresenta uma classificação das abóbadas conforme as diversas
formas, sendo a principal chamada de “volta a botte”, ou abóbada de barrica ou tonel. Se o
arco gerador da abóbada for pleno é chamada semicircular; se ela for gerada por um arco
composto ou policêntrico, pode ser rebaixada ou elevada, dependendo se a flecha for maior ou
menor que a semicorda.
A seguir são apresentadas as definições de Breymann (2003a, p.5) para as partes principais da
abóbada: “piedritti” - elementos verticais com a função portante e que delimitam o espaço
coberto pela abóbada (A); “muri di testa” - paredes verticais que não são as de apoio dos
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arcos da abóbada (B); “fronte” ou “testa” - secção de testa ou fronte do arco que aparece ao
observador (C); “intradosso” ou “imbotte” - superfície interna da abóbada (D); “estradosso
ou “sopraimbotte” - é a superfície externa (E); “asse della volta” – eixo da abóbada, que é a
reta formada pelo ponto central do arco nas suas diversas posições; “curva d’intradosso” –
cada posição do arco gerador da superfície interna da abóbada; “vertice” ou “punto di chiave
– é o ponto alto do arco e a linha por ele descrita nas diversas posições do arco é chamada de
linea di chiave”, ou seja, linha de chave da abóbada; “piede o peduccio” – pé ou última pedra
da abóbada que se apóia no muro portante; plano de “imposta” – superfície plana de apoio da
abóbada (abcd); “corda” – a maior distância entre os pés de apoio do arco; “saetta” – seta ou
flecha, que é a altura do arco ou a perpendicular entre a corda e o ponto chave; “giunti” –
juntas que aparecem visíveis na testa da abóbada, cujos prolongamentos concorrem ao centro
do arco (ef e gh); “spessore della volta” – a espessura da abóbada é determinada levando em
conta o comprimento das juntas. Os elementos apresentados por Breymann (2003a, p.5)
podem ser visualizados na figura 95 a seguir:
Figura 95: Partes de uma abóbada de tonel (fonte: Breymann, 2003a,
p.5)
Conforme pode ser observado na figura 96, se a abóbada “a botte” ou de tonel for cortada por
dois planos diagonais e verticais, serão obtidas quatro partes AA’ e BB’. A e A’ assim como
B e B’ são opostas e iguais, sendo que A é diferente de B, que é diferente de A’ e diferente de
B’. As partes A e A’ são chamadas de capas ou mantos e as partes B e B’ são chamadas de
unhas, garras ou fusos. As garras têm por apoio uma reta horizontal, a superfície interna um
triângulo com uma reta e duas curvas que se encontram num ponto que é a chave. Os mantos
têm por apoio apenas dois pontos (a e a’), a superfície interna tem a forma de um triângulo de
três curvas e a chave é uma reta.
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Figura 96: Abóbada de tonel (fonte: Breymann, 2003a, p.7)
Com estes mantos e garras se podem construir diversas formas de abóbadas. Por exemplo,
uma abóbada composta de garras, tem por chave um único ponto e tantas retas de apoio
quantos forem os lados do ambiente a cobrir. Por outro lado, uma abóbada de mantos tem por
apoios tantos pontos quantos forem os ângulos do perímetro do espaço a cobrir e tantas linhas
de chave quantos forem os mantos e os lados da base do ambiente a cobrir.
Entre as abóbadas de garras, as mais utilizadas são as “a padiglione e a conca” ou de pavilhão
e de bacia. O número de lados da figura que forma a planta da abóbada de pavilhão é
ilimitado, podendo ser uma circunferência. Neste caso a abóbada de pavilhão é chamada de
cúpula. Se os arcos geradores da cúpula forem semicirculares, diz-se que a abóbada é
esférica. Se a cúpula for cortada lateralmente pelas paredes, é chamada de “volta a vela” ou
abóbada de vela, pela semelhança com a vela de um barco. Se a abóbada for gerada pela
intersecção de duas abóbadas de manto perpendiculares chama-se de “volta a crociera” ou
abóbada de cruz. Alguns destes exemplos podem ser vistos na figura 97 a seguir.
Figura 97: Alguns tipos de abóbadas (fonte: IGDA - Istituto
Geográfico Di Agostini)
A figura 98 a seguir representa duas abóbadas: de pavilhão composta de quatro garras e
cruciforme composta por quatro mantos.
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Figura 98: Abóbadas de quatro garras e de quatro mantos (fonte:
Breymann, 2003a, p.8)
Se uma abóbada de quatro garras for cortada por um plano horizontal, será formando um
plano central com o mesmo formato do perímetro do espaço a cobrir, chamada “volta a
schifo” ou abóbada de barco, ilustrada na figura 99 a seguir.
Figura 99: Abóbada de barco (fonte: Breymann, 2003a, p.11)
Podem surgir aberturas na cúpula para o exterior através de paredes verticais ou inclinadas
que são chamadas lanternas.
Para a execução de qualquer arco ou abóbada, é necessária uma armação especial chamada
pelos tratadistas italianos de “centinatura”, como as das figuras 100 e 101, geralmente feitas
de madeira, mas também pode ser de ferro tendo a função de estruturar provisoriamente a
abóbada durante sua confecção, até que os materiais estejam perfeitamente acomodados e de
dar a forma exata na superfície interna da abóbada.
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Figura 100: Estruturas provisórias de madeira para confecção de
abóbadas (fonte: Testi, 1891, tav.XXI)
Figura 101: Estruturas provisórias de madeira para abóbadas (fonte:
Testi, 1891, p.32)
Curioni (1864) apud Barrera et alii (1993, p.84) demonstra através das imagens das figuras
102 e 103, grande preocupação nas estruturas provisórias de madeira para execução das
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abóbadas, com relação à resistência, modo de encaixes, formas precisas e também no que se
refere ao modo mais facilitado de sua desmontagem.
Figura 102: Traçados de várias abóbadas (fonte: Curioni, 1864 apud
Barrera et alii, 1993, p.84)
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Figura 103: Estruturas provisórias para abóbadas (fonte: Curioni, 1864
apud Barrera et alii, 1993, p.85)
Scamozzi (1615) apud Rohrich (1999, p.202), em sua publicação “L’idea dell’architettura
universale divisa in dieci libri”, recomenda que as armaduras provisórias deviam ser
perfeitamente conformadas ao tipo de abóbada que se pretende construir; estas se fariam com
tábuas resistentes e de grandes dimensões – chamadas em Veneza “ponti” – provavelmente de
abeto ou “larice” (outra espécie de conífera de madeira resistente) com 12 pés (4,28 m) de
comprimento, largura de 8 a 18 onças (23,12 a 52,01 cm) e espessura de 1,5 onças (4,33 cm).
Estas pontes se dispunham duplicadas e unidas para resistir ao peso dos materiais. A distância
entre cada arco de madeira da estrutura provisória deveria ser de 1,5 a 2 pés e se cobriam com
tábuas, não muito largas, porque formariam um plano contínuo de apoio da abóbada. Na falta
destas se poderiam usar tramados de canas gregas, como se fazia na Antiguidade. Em geral,
como aconselhavam também outros autores, uma vez completadas as estruturas será
necessário relaxá-las um pouco, mas não totalmente até que a argamassa tenha feito pega, o
que não acontecerá totalmente antes de três meses se o ligante for pozolânico ou seis meses se
for utilizada “calcina padovana” ou argamassa com cal de Pádova.
Segundo Montagni (1993, p.114), para a conformação das abóbadas estucadas, ou seja, de
estrutura de canas revestidas com argamassa, o operador preparava fora do local
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primeiramente as madeiras em arco que serviam de diagonais das garras ou mantos, conforme
se a abóbada fosse de pavilhão ou em cruzeta. Estas eram sempre de espessura dupla, e as
tábuas eram de abeto, pinho, raramente castanha, “larice” e cipreste nos exemplos mais
antigos, e tinham uma espessura oscilante entre 3 e 6 cm que somadas podiam alcançar 12
cm. A sua colocação na obra era favorecida pela estrutura provisória ou “centinatura” já
comentada anteriormente, que deveria ser desmanchada antes da fixação da armação de canas
ou bambus. (ver figura 104)
Figura 104: Tramado de canas na estrutura provisória de uma abóbada
(fonte: Montagni, 1993, p.114)
Frequentemente toda armação era ancorada, mediante pequenas tábuas à estrutura principal
do teto. Perpendicularmente aos quatro lados do local a cobrir eram colocadas as madeiras
secundárias distantes entre si no máximo 35 a 40 cm e se fixavam nas duas nervaturas
diagonais através de pregos. Estas últimas poderiam ser de espessura simples, e somente eram
duplicadas, se houvesse necessidade de emendá-las, no caso de grandes vãos. Retirados os
pontaletes e a estrutura provisória ou “centine”, a abóbada já estava totalmente autoportante,
graças ao trabalho cuidadoso do operário na confecção da superfície curva interna da
abóbada, que não podia apresentar algum defeito de curvatura. Após a fase de estruturação, o
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tramado de canas era fixado no madeiramento e logo a seguir era executada a aplicação da
argamassa de cal para depois, então, ser aplicado o reboco final.
Como já descrito anteriormente nas estruturas de madeira em arcos para conformação das
abóbadas, o número de lados da figura que forma a planta da abóbada de pavilhão é ilimitado,
podendo ser uma circunferência. Neste caso a abóbada de pavilhão é chamada de cúpula. Se
os arcos geradores da cúpula forem semicirculares, diz-se que a abóbada é esférica. Se os
arcos geradores da cúpula forem abaulados temos uma cúpula abaulada. As abóbadas podem
ser executadas com pedras, tijolos cerâmicos, argamassa aplicada sobre tramado de madeira,
canas ou telas metálicas fixadas no madeiramento. Além disso, podem receber decorações em
relevo, como cornijas, florões, frisos, molduras. As decorações em relevo encontram-se
descritas nos ornatos de argamassa em relevo dos elementos verticais.
As abóbadas de estuque, como a da figura 105 não possuem função estrutural, apenas são
decorativas, encontram-se descritas nas estruturas de madeira em arcos para conformação das
abóbadas, e recebem revestimento de estuque no seu intradorso, ou seja, na superfície interna.
Este reboco era aplicado sobre tramado de sarrafos regulares ou canas ou bambus que
possuíam a forma de abóbada, com ou sem tela metálica e se encontra descrito nos rebocos
sobre madeira dos elementos verticais. Geralmente a estrutura de cobertura estava sobre elas,
mas sem cargas apoiadas, uma vez que não possuíam resistência para tal.
Figura 105: Teto de estrutura de madeira com acabamento em
abóbada (fonte: Cattaneo, 1889, tav.13)
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Diferentemente das abóbadas de estuque, as abóbadas de tijolos, como as de pedra, eram
autoportantes, podendo receber ou não, algum revestimento sobre elas, geralmente reboco e,
encontram-se descritas nas estruturas de madeira em arcos para conformação das abóbadas, e
podem ser executadas com tijolos maciços tendo variadas formas.
A superfície interna ou de intradorso pode ser revestida ou não. No caso das não revestidas, é
possível verificar o modo como as fiadas vão se fechando uma sobre as outras. Breymann
(2003a, p.94) recomenda cuidado na sua execução.
Depois de confeccionada a estrutura provisória de madeiramento ou “centine”, deve-se elevar
as fiadas de tijolos lentamente para permitir uma acomodação a qualquer movimentação não
uniforme da abóbada. (ver figuras 106 e 107)
Figura 106: Várias disposições de tijolos nas abóbadas (fonte: Testi,
1891, tav.XXII)
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Figura 107: Cúpulas em tijolos (fonte: Zorgno, 1998, p.49 e 51)
Na figura 108, a seguir, pode-se observar uma abóbada de oito garras confeccionada de tijolos
maciços com o modo de colocação dos tijolos, inclusive de seus trespasses nas arestas que
dividem as garras.
Figura 108: Abóbada de oito garras (fonte: Breymann, 2003a, p.94)
4.5.5 Coberturas
A cobertura tem a finalidade de proteger a construção das intempéries. Para tal deve ser
construída com superfícies inclinadas, as quais são impermeáveis não somente à chuva e à
neve, mas também deve proteger do calor e do frio.
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A escolha dos materiais também deve satisfazer estes requisitos, resistindo também às
influências atmosféricas e aos perigos de incêndio. As coberturas podem ser formadas de
superfícies planas ou curvas.
A forma mais freqüente é a de duas superfícies planas inclinadas, interseccionando-se numa
linha reta chamada “linea di colmo” ou linha de cume. A linha de cume é conhecida na língua
portuguesa como cumeeira.
A cobertura de duas superfícies inclinadas chama-se “a sella” – de sela ou “a due pioventi”
de duas águas (da língua portuguesa, porque “piovere” significa chover) ou também “a
frontispizii” – de frontispícios porque os lados são fechados. As superfícies inclinadas
chamam-se “falde” ou abas. Rohrich (1999, p.138) apresenta uma cobertura de abas como a
da figura 109 a seguir, encontrada nos livros de Fra Giocondo (1511 e 1513), comentarista
sobre Vitruvio.
Figura 109: Cobertura de abas (fonte: Fra Giocondo, 1511 apud
Rohrich, 1999, p.138)
Segundo Breymann (2003g, p.62), quando os frontispícios são substituídos por abas laterais
que se encontram com as abas longitudinais, temos a cobertura de quatro águas. Quando os
dois vértices de uma cobertura de quatro abas coincidem num ponto, ela torna-se uma
pirâmide de três, quatro ou mais faixas e se chama de pavilhão.
Quando o número de lados aumenta até tornar-se circular, diz-se que a cobertura é cônica.
Mansarda - originária do nome do arquiteto francês – Mansard (1625-1708), seu inventor, é a
denominação que recebe a cobertura de duas, quatro águas ou de pavilhão quando as abas são
interrompidas mudando bruscamente de direção em relação às superiores. Quando uma
cobertura tem as abas totalmente curvas, diz-se “centinato” pela semelhança com as estruturas
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provisórias para construção das abóbadas e se o número de lados é elevado chegando quase á
circunferência, têm-se as coberturas de cúpula. Estes tipos podem ser visualizados na figura
110 a seguir.
Em relação às suas angulações, as coberturas ainda podem ser denominadas baixas, altas, de
cume elevado, planas ou de terraço. Outras denominações, embora consideradas fora de uso
por Breymann (2003g, p.63) já no século XIX, são frequentemente encontradas nos manuais
italianos e identificam a relação entre a sua altura e a sua largura, como por exemplo,
cobertura de um terço, de um quarto etc.
Figura 110: Coberturas (fonte: Breymann, 2003g, p.63)
4.5.5.1 Estrutura
A estrutura ou “armatura del tetto” constitui-se na verdadeira ossatura da cobertura e serve de
apoio ao material de cobertura. A estrutura é regulada pelo material que a cobre, não só no
que se refere à inclinação, mas também quanto à resistência do madeiramento a este material.
A forma mais simples da estrutura de sustentação das abas ou superfícies de escorrimento das
águas das chuvas ou da neve é a triangular, denominada pelos italianos de “capriata”.
Rohrich (1999, p.138) apresenta a tesoura de abas de Fra Giocondo (1511 e 1513) na imagem
da figura 111.
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Figura 111: Estrutura triangular de cobertura (fonte: Fra Giocondo
apud Rohrich, 1999, p.138)
A imagem da figura 112 a seguir apresenta as ilustrações da obra de Serlio (1619) apud
Rohrich (1999, p.156-157) com as tesouras para cobertura de abas, emendas e reforços em
madeira ou cintas metálicas.
Figura 112: Estruturas triangulares de cobertura (fonte: Serlio, 1619
apud Rohrich, 1999, p.156-157)
São diversas as formas de montagem da estrutura de madeiramento das coberturas, como:
vigas inclinadas inseridas e apoiadas nas “catene” ou tirantes horizontais; abas com mudança
de direção para conformar as cornijas de gotejamento das águas da chuva ou “gioccolatoio”;
abas com as vigas inclinadas se projetando para fora das paredes sendo as próprias cornijas;
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ligações na linha de cume ou cumeeira da estrutura; modo de colocação das terças. (ver figura
113)
Todos os cálculos e estratégias de montagem desta estrutura com a colocação de tirantes,
pontaletes e outras peças tem o objetivo de impedir a flexão das abas devido ao peso do
material de revestimento, que podem ser telhas, pedras, chapas etc.
Figura 113: Madeirames dos pés das tesouras (fonte: Breymann,
2003g, p.67 e 73)
O engenheiro L. Mazzocchi no seu Trattato sulle Costruzioni in legno citado por Breymann –
(2003g, p.73) apresenta uma tabela com as distâncias e dimensões das secções das madeiras
utilizadas como “terzere, correnti e listelli”, ou seja, terças, caibros e ripas das estruturas de
madeira de cobertura “all’ italiana” – ao modo italiano. Esta tabela pode ser visualizada na
figura 114 a seguir.
Figura 114: Distância e secção dos madeirames nas coberturas à
italiana (fonte: Breymann, 2003g, p.73)
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O mesmo engenheiro considera que os tipos mais comuns de cavaletes usados na Itália eram:
a “capriate a saette” ou tesouras de seta, que servem para vãos com extensão de 12 metros e
as “capriate alla Palladio” ou tesouras de Paládio, para vãos de 20 metros ou mais. (ver
figura 115)
Figura 115: Tesoura de seta e à Paládio (fonte: Breymann, 2003g,
p.111)
Rohrich (1999, p.152) apresenta alguns desenhos do manual de Leon Batista Alberti - De re
aedificatoria traduzido por C. Bartoli, em Veneza, em 1565 (original de 1485) e entre eles
estão algumas vigas de madeira unidas com emendas especiais e cintas metálicas, conforme
as da figura 116.
Figura 116: Vigas de madeira compostas (fonte: Alberti, 1485 apud
Rohrich, 1999, p.152)
Montagni (1993, p.133) apresenta um esquema gráfico (figura 117) para obter as inclinações
das abas da cobertura de pavilhão com a declividade de 1/3, típicas das construções da
Ligúria, cuja publicação se refere.
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Figura 117: Esquema gráfico para obter a inclinação das abas (fonte:
Montagni, 1993, p.133)
Curioni (1864) apud Barrera et alii (1993, p.87)apresenta as “incavallature” ou “capriata
como sendo a estrutura de madeiramento através de tesouras ou cavaletes triangulares
indicada para coberturas. As denominadas tesouras são, em geral, triangulares e possuem um
tirante ou linha horizontal que une as duas vigas inclinadas, chamada de “catena”. Estas são
mais indicadas segundo o autor para vãos de médio porte, entre 7 e 16 metros, como as três
primeiras representadas na figura abaixo. As estruturas consideradas de grande porte
necessitam dividir a coluna central em duas distribuídas no tirante horizontal e necessitam
emendas. Algumas estruturas dispensam a linha horizontal quando os apoios não são muito
resistentes às pressões que tendem a abrir o vão, neste caso o madeiramento fica sem esta
linha e necessitam artifícios para reduzir estas forças, como as quatro últimas da figura 118 a
seguir.
Figura 118: Estruturas de cobertura (fonte: Curioni, 1864 em Barrera
et alii, 1993, p.86)
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Testi (1891, tav.XVII) também apresenta na figura 119, numa planilha de desenhos, os tipos
de união e juntas de madeiras, conhecida na língua portuguesa como ensambladuras, que é a
forma de junção de uma ou mais peças através de encaixes, de modo a evitar movimentações.
Figura 119: Uniões e juntas dos madeirames (fonte: Testi, 1891,
tav.XVII)
Cattaneo (1889, p.15) descreve as estruturas de madeira para cobertura na Ligúria, com vigas
(chamadas atualmente de terças) apoiadas nas tesouras ou nas alvenarias com dimensões entre
12 x 15 e 22 x 28 cm, dispostas com distâncias entre si de 1,50 a 3,00 m e paralelas às linhas
de escorrimento das águas pluviais. Sobre estas são pregadas as vigotas inclinadas (caibros)
com secções entre 6 x 10 a 10 x 12 cm e distantes entre si de 0,40 a 0,60 m. Sobre estes
caibros se fixam, paralelos às calhas, os “correntini” ou “listelli”, que seriam as ripas para
apoio das telhas, com dimensões de cerca de 3 x 5 cm e distantes de 0,15 a 0,20 m.(ver figura
120)
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Figura 120: Coberturas e seus telhados (fonte: Cattaneo, 1889, tav.19)
Não são encontradas nos manuais de técnicas construtivas italianas descrições sobre o método
de corte que produzia as madeiras falquejadas, ou seja, cortadas manualmente com machados.
Apenas algumas ilustrações da figura 121, de Montagni (1993, p.136) demonstram que os
madeiramentos de telhado eram confeccionados com madeira de corte irregular, uma vez que
estes ficavam totalmente escondidos nas coberturas, não necessitando acabamento regular,
com madeira serrada ou aplainada. Além disso, para os cortes havia necessidade de
maquinário específica, muitas vezes não disponível. Os caibros eram geralmente de madeira
serrada com secção regular e as ripas poderiam ser de madeira serrada ou canas de secção
irregular, as mesmas utilizadas nos tramados de madeira para paredes leves de estuque ou em
forros de estuque.
Figura 121: Estrutura de cobertura da catedral de Chiavari (fonte:
Montagni, 1993, p.136)
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Não são encontradas nos manuais e tratados italianos do período pesquisado as técnicas
empregadas na construção das clarabóias para vidros nas coberturas das construções. Apenas
alguns autores comentam sua utilização como solução para melhorar a iluminação nas caixas
de escadas. Estas se encontram nas imagens das descrições das escadas.
4.5.5.2 Telhados
Alberti (1485) apud Rohrich (1999, p.155) afirma em seu tratado que os principais tipos de
materiais que se podem utilizar para o revestimento das coberturas, além dos tradicionais de
terracotta” ou cerâmica; de pedra em lascas, como a pedra branca utilizada na Bélgica ou os
lastros em lascas de ardósia dos tetos toscanos e ligúrios; de lâminas de chumbo ou de cobre e
os rebocados.
Scamozzi (1615) apud Rohrich (1999, p.160) descreve a utilização dos lastros de chumbo nos
importantes palácios não só da Itália, mas também da Alemanha, França e Espanha. Também
faz referência às coberturas com placas quadradas de madeira na Alemanha, dispostas como
espinha de peixe e ancoradas ao teto através de ganchos ou “botões”. Estas são
particularmente úteis nos países de clima frio porque a neve não danifica este tipo de
cobertura.
Entre os vários tipos de materiais que Alberti (1485) apud Rohrich (1999, p.158) descreve, ele
mesmo prefere os de telhas cerâmicas porque se revelam os mais convenientes e duráveis; de
fato, as coberturas rebocadas se enrugam e se pulverizam, devido ao congelamento; o chumbo
se derrete pelo calor solar; os lastros de cobre são pesados e custosos; os de chapas finas são
danificados pelo vento e desgastados pela ferrugem. As “tegole” ou telhas podem ser de duas
formas: a telha curva e a telha plana de umcubito” de comprimento (“cubito” é uma antiga
unidade de medida baseada no comprimento entre o cotovelo e a ponta do dedo médio), largura de um pé e com
as margens realçadas medindo um nono da sua largura. Esta forma era considerada muito conveniente porque
permitia que as telhas fossem colocadas lado a lado e perfeitamente na horizontal.
Interessante e inusitada é a receita de Leonardo da Vinci (1894-1904) que recomenda a
realização de um estuque adaptado ou um manto de cobertura em tijolos com características
isolantes e impermeáveis sobre o assoalho de madeira.
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Breymann (2003g, p.3) descreve detalhadamente os diversos tipos de revestimento para
coberturas: cobertura com telhas planas, cobertura com telhas de encaixe, cobertura com
telhas curvas, cobertura com telhas flamengas, cobertura italiana, cobertura com lastros de
pedra, cobertura com ardósias denominada alemã, cobertura com ardósias denominada
francesa, cobertura com ardósias denominada inglesa, cobertura “Dorn” (nome do seu
inventor), cobertura de asfalto, cobertura com papelão inter-tramado, cobertura vegetal sobre
tramado de vime e tabuado de madeira e cobertura com mastique betuminoso.
Na figura 122 a seguir podem-se observar três tipos de combinação de telhas: a cobertura do
tipo “romana” com as telhas planas e capas com formato que lembra as telhas cerâmicas
utilizadas atualmente e chamadas de romanas, com a capa e canal interligados e constituindo
uma única peça; a combinação de capa e canal curvos; e telhas planas cobertas com capas
também planas. Na última imagem se observam telhas planas cobertas com folhas de bronze,
cujas juntas entre duas folhas possui uma forma de modo a impedir infiltrações de águas das
chuvas.
Figura 122: Telhas (fonte: Giuliani, 2002, p.62)
Nas figuras 123 e 124 a seguir, estão desenhados diversos tipos de telhas que Testi (1891,
tav.B e D) descreve, como telhas planas, romanas, de encaixe, francesas e algumas peças
especiais para ventilação. Denomina telha comum a telha curva utilizada como canal e capa.
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Figura 123: Telhas curvas, planas e de encaixe (fonte: Testi, 1891,
tav.B e D)
Figura 124: Telhas de ventilação (fonte: Testi, 1891, tav.D)
Cattaneo (1889, tav.18) também apresenta desenhos (figuras 125 e 126) das coberturas com
telhas curvas e planas.
Figura 125: Formas e dimensões das telhas, cumeeiras e ventilações
(fonte: Cattaneo, 1889, tav.2)
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Figura 126: Telhados das coberturas (fonte: Cattaneo, 1889, tav.18)
A cobertura italiana, denominada de romana por Giuliani (2002, p. 62), encontra-se descrita
por Breymann (2003g, p.23) e consta de duas camadas de peças cerâmicas independentes uma
da outra. A camada inferior é constituída de peças planas ou tavelas (aa) de comprimento de
31 cm, largura de 15,7 cm e espessura de 2,9 cm. Estas se apóiam diretamente sobre vigotas
distantes 36 cm entre eixos e são ligadas com argamassa, formando uma espécie de superfície
plana e lisa com estas tavelas. Sobre estas se sobrepõe uma camada de telhas planas (bb),
chamadas “canais” e munidas de bordas curvas, dispostas com seu comprimento
paralelamente às vigotas ou caibros. Estas peças possuem os lados longitudinais não paralelos
com 42,5 cm de comprimento, largura de 33,2 cm de largura que vai se reduzindo até 24,9
cm, espessura de 2,2 cm e altura das bordas com 2,4 cm. São dispostas com a maior largura
na parte mais alta e distantes entre si 3 cm uma da outra. A sobreposição de uma fileira sobre
a outra é de 9 cm. As bordas destas telhas planas são cobertas com as telhas curvas (cc) que
também possuem 42,9 cm de comprimento e por serem a metade de um cone, possuem o
diâmetro maior com 24 cm e o menor com 17,5 cm, e espessura de 3,3 cm. São denominadas
“capas” por serem dispostas com a convexidade para cima. A cobertura romana pode ser
visualizada na figura 127 a seguir.
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Figura 127: Telhado à italiana (fonte: Breymann, 2003g, tav.89)
Segundo Breymann (2003g, p.21), as telhas curvas poderiam ser utilizadas em fileiras de
canais trespassadas de 9 a 12 cm, com as juntas entre fileiras preenchidas com argamassa,
cuja aplicação tornou-se rara pelos diversos problemas de rachaduras e destacamentos desta
argamassa. (figura 128)
Figura 128: Telhas curvas (fonte: Breymann, 2003g, tav.89)
Para resolver estes problemas, foi colocada, sobre duas telhas côncavas adjacentes, uma telha
curva com a face convexa para cima, como na figura 129 a seguir.
Figura 129: Telhas capa e canal (fonte: Breymann, 2003g, tav.89)
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Cantalupi (1862) apud Breymann (2003g, p.21) descreve as telhas curvas como troncos de
canais, com comprimento aproximado de 45 cm, largura média de 15 cm, secção hiperbólica,
de modo que a secção mais estreita seja contida pela mais larga. Chama de fundo ou canais
aquelas telhas que são colocadas com a concavidade para cima, formando uma fileira com
uma apoiada sobre a outra. Chamam-se cobertos ou capas, aquelas telhas que se colocam em
posição inversa aos canais, isto é com a concavidade para baixo de modo a cobrir os espaços
intermediários entre as fileiras de canais. Não se faz uso de argamassa porque as telhas são
trespassadas de 11 a 14 cm, garantindo que as águas pluviais sejam recolhidas pelos canais
descendo até a primeira camada de telhas - as gotejadoras, no solo ou nas calhas. Este método
comumente usado na Alta Itália consiste em colocar sobre os muros de apoio as vigas
horizontais que se chamam “radici” ou raízes e paralelamente a esta, outras vigas, também
horizontais, a uma distância de cerca de 2,70 m, que se chamam “arcarecci”, ou “terzere” -
termo comum na Lombardia e que significa terças. Sobre estas se dispõem as vigotas situadas
na direção da pendência da cobertura e distantes entre si, de centro a centro, 0,50 m
(denominadas no Brasil, de caibros). E por cima destas vigotas, paralelamente às gotejadoras,
se colocam os “panconcelli” ou “listelli”, ou faixas, distantes 10 cm uma da outra e
conhecidas no Brasil como ripas. Sobre esta ordem de madeirames se dispõem as telhas. No
madeiramento com o sistema “alla piemontese”, utilizado na região do Piemonte, as terças
são dispostas distantes 1,30 m de centro a centro. Os caibros são suprimidos e as réguas ou
ripas são colocadas diretamente sobre as terças na direção da pendência da cobertura. Estas
devem ser de “larice” (madeira forte de espécie de conífera) ou outra madeira forte, com 7 x 5
cm, distantes entre si, com freqüência, menos de 20 cm de centro a centro e fixadas nas terças
por meio de pregos. Os canais eram dispostos entre uma e outra régua ou ripa, a fim de
garantir que não houvesse qualquer deslizamento.
A cobertura plana, seja com lastros de pedra ou metálicas, mostrava-se muitas vezes
ineficiente no que se refere ao excesso de peso ou na capacidade de impedir a entrada da neve
ou da chuva, potencializada pela ação do vento. Para solucionar estes problemas, surgiram as
telhas de encaixe, que receberam este nome pelos ressaltos simples ou duplos nas suas bordas
permitindo o encaixe de uma na outra. A maior uniformidade da superfície e a precisão dos
encaixes são as condições para uma cobertura impermeável, inclusive na atualidade. Também
eram tomados cuidados quanto ao tamanho e o peso destas telhas, que não podia ser
excessivamente grandes ou leves para evitar o empenamento durante a queima da cerâmica.
Entre as telhas planas mais utilizadas, encontram-se as quadradas, dispostas na diagonal, com
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lado de cerca de 21 cm e espessura de 2,5 cm, munidas de dois ressaltos na face superior e
outros dois na face inferior. A esmaltação de cores variadas permitia uma composição do tipo
mosaico no plano do telhado. Embora algumas vantagens, estas não mostravam muita
eficiência no impedimento de infiltrações. Foram, então, empregadas em larga escala as telhas
planas de encaixe e com ranhuras como canais, conhecida por francesa e empregada até a
atualidade. Também era conhecida por telha marselhesa, por sua ampla fabricação na cidade
de Marselha.
A colocação das telhas capa e canal com uma fileira de canais por cima do plano do telhado
não foi encontrada nos manuais e tratados italianos.
Montagni (1993, p.142) descreve um elemento pouco comum nos telhados descritos pelos
outros tratadistas, que é uma pequena mureta contínua de tijoletas, denominada “ghiane” ou
giane”, postas em fileira com formato curvilíneo em “U”, as quais constituíam verdadeiras
briglie” ou guias, sobre o telhado. Essas, bem unidas e de acabamento argamassado,
terminavam nas “pigne” ou pinhas, ou seja, aberturas em alvenaria, possuindo os tubos ou
canalizações cerâmicas que conduziam as águas pluviais para cisternas. (ver figura 130)
Figura 130: Muretas em formato de guias e pinhas (fonte: Montagni,
1993, p.144)
4.5.5.3 Revestimentos
O revestimento com tábuas de madeira sob as telhas é encontrado em algumas publicações
como a de Giuliani (2002, p.62) onde as tábuas são colocadas nas abas do telhado paralelas à
linha de cumeeira, sem descrição da sua finalidade, apenas constando das imagens das
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estruturas de madeiramento com tesouras mais simples, para pequenos vãos, composta de
puntone, catena, corrente e arcarecci”, ou seja, pernas, linha, terças e caibros. O tabuado
vinha sobre os caibros e as telhas sobre estas tábuas. (ver figura 131)
Figura 131: Tesoura simples (fonte: Giuliani, 2002, p.62)
Montagni (1993, p.118) também apresenta uma imagem (figura 132) de madeiramento de
cobertura em habitação privada da Ligúria, com este revestimento de tábuas sob as telhas.
Nesta imagem pode-se observar outro reticulado de sarrafos suspensos na estrutura principal
do telhado para suspender o forro.
Figura 132: Estrutura de forro em madeira (fonte: Montagni, 1993,
p.118)
As abóbadas com função estrutural, conformadas com tijolos ou pedras podem ficar aparentes
ou receber algum revestimento. Geralmente a superfície externa ou extradorso recebia uma
camada de reboco executado com argamassa de cal e areia.
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4.5.6 Escadas
Segundo Cattaneo (1889, p.12), as escadas são obras de arte que põem em comunicação
planos de diferentes níveis. Destacam-se os degraus ou “scalini” ou “gradini” e os patamares
ou “pianerottoli” ou “ripiani”; o conjunto de degraus compreendidos entre dois patamares
diz-se lance ou “branca” ou “rampa”.
O local que contêm a escada chama-se caixa ou “gabbia”; poço é o vão central entre as
rampas, quando dispostas na periferia da caixa. O comprimento livre do degrau constitui-se a
largura da escada; a altura entre um degrau e outro se chama elevação e a largura livre do
degrau, pisada ou pegada. Se as laterais da rampa ou lance não são apoiadas em paredes, e
sim apenas na parte inferior, diz-se “a volo” ou de vôo. Rampas com as extremidades das
laterais apoiadas em paredes são chamadas “a collo”. Se os degraus são engastados em uma
parede ou viga lateral, isto é, se os degraus ficam em balanço, com uma extremidade
engastada e a outra livre são denominados “a sbalzo”.
Cattaneo (1889, p.12) recomenda que, mesmo nas escadas com degraus em balanço, a
primeira rampa não deve permanecer livre, deve ser fechada na parte inferior com um
tabuado, principalmente se, como é freqüente, a escada for até o subsolo. O autor também faz
referência prioritariamente às escadas em pedra, mas também cita escadas em ferro, madeira,
nos seus mais variados formatos, inclusive curvos. Descreve as suas partes, as dimensões
usuais e diversos elementos decorativos que podem ser utilizados. Demonstra grande
preocupação com a solidez, modo de engaste nas paredes, apoio sobre abóbadas, na busca da
rigidez estrutural da caixa da escada. Também se preocupa com a forma de iluminar o
compartimento das escadas, seja com janelas laterais ou no caso de impossibilidade, apresenta
a forma de iluminação zenital através de clarabóias de vidro.
Segundo o mesmo autor, a escada deve ser cômoda, sólida e, possivelmente, bela. A
comodidade depende da fabricação, da iluminação da caixa, das dimensões das partes; a
solidez depende da qualidade dos materiais e da boa construção; a beleza depende da forma
da caixa, da distribuição dos acessos aos apartamentos, e enfim da decoração. (figura 133)
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Figura 133: Escada sobre arcos e com lance em balanço (fonte:
Cattaneo, 1889, tav.15)
A forma mais conveniente da caixa é a retangular ou quadrada. A largura dos lances varia de
1,00 a 1,80 m para habitações comuns; de 3,00 a 4,00 m para edifícios públicos, de grande
fluxo de pessoas ou para escadas de luxo; larguras menores até 0,70 m para escadas de
serviço. O número de degraus em um lance se limitará, se possível, entre 12 e 20. Os
patamares são postos nos retornos dos lances ou para dar acesso aos apartamentos. As
dimensões dos degraus devem ser em relação ao passo normal das pessoas sobre um plano
horizontal e se avalia em cerca de 0,64 m enquanto que, se os planos forem inclinados, esta
passo vai diminuindo até reduzir-se a metade se for na vertical. Assim a relação entre a
elevação (a) e a pisada (b) deve ser: 2a + b = 0,64. A altura não deve ultrapassar 0,20 m nem
ser menor do que 0,12 m; sendo conveniente a medida de 0,15 m. Os degraus podem ser de
pedra com a soleira e o espelho em um único bloco. Na Lombardia usa-se o granito; na
Toscana, a pedra serena (rocha sedimentar arenosa de grão médio ou fino, calcária ou calcária
argilosa, de cor cinzenta e difusa nos Alpes); em Roma, o mármore travertino etc.
Breymann (2003f) dedica um volume ao tema “Scale in legno, pietra e laterizi”, ou seja,
“Escadas em madeira, pedra e cerâmicas”. Na primeira parte, o autor descreve as escadas em
pedra e cerâmicas, apresentando a nomenclatura completa das escadas, relação entre pisada e
elevação, algumas formas mais utilizadas, e classifica-as em: escadas maciças em pedra de
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corte; escadas externas; escadas apoiadas em paredes ou “a collo”; escadas “a volo” ou de
vôo; escadas de caracol e escadas sustentadas por abóbadas.
Formenti (1893) apud Barrera et alii (1993, p.144) em seu tratado La pratica del fabbricare,
de 1893, comenta que os desenhos destinados ao traçado de uma escada de qualquer
importância para uma obra de diversos planos, para que sejam completamente definidos,
devem ser constituídos de plantas que dão, para cada plano, a distribuição dos lances, dos
degraus e dos patamares, com suas larguras e comprimentos. A estas plantas devem-se
adicionar o perfil de toda a escada em elevação, a altura dos planos de pavimento a
pavimento, o número e a altura dos espelhos, a altura parcial dos patamares em relação aos
pavimentos. Também Testi (1891, tav.XXX) descreve as escadas como meios de
comunicação entre diversos planos ou locais de diferentes níveis, nas quais a comodidade é a
principal qualidade a ser buscada. As planilhas podem ser visualizadas nas figuras 134 e 135 a
seguir.
Figura 134: Escadas (fonte: Testi, 1891, tav.XXX)
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Figura 135: Escadas (fonte: Testi, 1891, tav.XXVIII)
4.5.6.1 Estruturas
Não são encontradas muitas descrições para execução de escadas com a base de alvenaria de
tijolos. Através dos desenhos apresentados nos tratados e manuais, o que se vê para
construção de escadas é que elas eram construídas, geralmente no interior de um
compartimento, denominado caixa da escada, esta sim executada em alvenaria com os
degraus engastados nela. Apenas Breymann (2003f, p.11) apresenta este tipo de estrutura em
pedra para escadas externas, como a da figura 137. Nos desenhos de Testi (1891,
tav.XXVIII), na figura 136, encontra-se o primeiro lance de uma escada interna com a base de
alvenaria de tijolos que se estende até o subsolo.
Figura 136: Escada externa sobre alvenaria e escada de pedra sobre
alvenaria (fonte: Testi, 1891, p.11)
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Figura 137: Escadas interiores com primeiro lance sobre alvenaria
(fonte: Testi, 1891, tav.XXVIII)
Exemplo menos freqüente e provavelmente de difícil execução era a escada de caracol ou “a
chiocciola”, com a alma e as paredes ao seu redor em pedra e os degraus eram apoiados sobre
abóbadas. (ver figura 138)
Figura 138: Escada de caracol em pedra (fonte: Breymann, 2003f,
p.22)
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Outro tipo de escada interessante e construída em blocos de pedra é a apresentada por
Breymann (2003f, p.12) (figura 139), cujos degraus possuem o espelho em diagonal e são
indicadas para pequenos espaços.
Figura 139: Escada com degraus de prismas triangulares (fonte:
Breymann, 2003f, p.12)
Descrições detalhadas são encontradas para as estruturas de madeira aplainada e torneada com
degraus de madeira no tratado de Breymann (2003f, p.31). A primeira observação é que nas
escadas de madeira podem ser utilizadas tanto madeiras doces como madeiras fortes, ou
ambas. As madeiras fortes devem ser aplicadas nas partes que sofrem maior desgaste, como
as pisadas e as madeiras doces nas “alzate” ou “frontalini”, que são as elevações ou espelhos
dos degraus e nas laterais da escada, como forma de economia, uma vez que as madeiras
doces apresentam menor custo.
O autor recomenda a utilização de madeira bem seca para evitar contorções e retrações, ter
sido retirada do cerne e não do alburno e com menos nós possíveis. Além disso, o trabalho nas
madeiras de escada deve ser exato e cuidadoso, sendo considerado um dos mais difíceis
trabalhos de carpintaria. A posição, a forma e a grandeza de uma escada influenciam no
projeto de distribuição de toda a construção e quando bem solucionada, em geral, todo o
restante da edificação fica bem resolvido. Classifica as escadas de madeira em: de degraus
maciços; de degraus constituídos somente de uma prancha engastada nas laterais; de degraus
comuns constituídos de pisada e elevação encaixados entre si e engastados nas laterais; com
degraus sobrepostos nas laterais. A escada de degraus maciços é o tipo mais antigo e imita
aquelas de pedra porque tem o degrau todo maciço, isto é pisada e espelho num único bloco.
Estes são sustentados por laterais em forma de vigas. A parte superior do degrau pode ser
visível ou ser coberta com uma tábua que forma uma espécie de borda. È somente utilizada
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em lances retilíneos. Possui alto custo e os pedaços de madeira grossa se fissuram facilmente
não apresentando bom efeito. (figura 140)
Figura 140: Escadas com degraus de madeira maciça (fonte:
Breymann, 2003f, p.32)
O segundo tipo, denominado em alguns países de “scale alla cappuccina”, utiliza madeiras
doces e constitui-se no tipo mais simples das escadas retilíneas, encontradas geralmente no
acesso aos “soffitti” ou sótãos. (figura 141)
Figura 141: Escada à “cappuccina” (fonte: Breymann, 2003f, p.32)
O terceiro tipo é a escada de madeira comum (figura 142), constituída de pisada, espelhos e
laterais. As pisadas possuem espessura de 4 a 5 cm, salientes dos espelhos 4 a 6 cm e com
perfil curvilíneo. Os espelhos possuem espessuras de 6 a 9 cm e se engastam, como as
pisadas, nas laterais. São fixados nas pisadas com encaixes, tanto na parte inferior como na
superior.
Figura 142: Escadas comuns de madeira (fonte: Breymann, 2003f,
p.33)
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O quarto e último tipo é a escada com degraus sobrepostos nas laterais. Distinguem-se dos
tipos anteriores pela forma das laterais e pelo modo com o qual são fixados os degraus e o
parapeito. As pisadas são fixadas por meio de pregos ou parafusos nas laterais. As laterais
possuem a forma escalonada na parte superior para receber as pisadas formando ângulo reto
com os espelhos, como pode ser visualizado na figura 143 a seguir. Os guarda-corpos podem
ser fixados na face externa das laterais, resultando maior espaço útil.
Figura 143: Escadas com degraus sobrepostos às laterais (fonte:
Breymann, 2003f, p.35)
Formenti (1893) apud Barrera et alii (1993, p.144-145) em seu tratado La pratica del
fabbricare, de 1893, apresenta vários desenhos para as estruturas metálicas com ferro fundido
para escadas, como os das figuras 144 e 145 para a execução de uma escada metálica e
mármore, entre os quais uma vista superior, uma seção vertical, o detalhamento das treliças de
ferro, peças de fixação, colunas e ornatos trabalhados.
Figura 144: Estrutura de mármore e ferro para escada (fonte: Formenti
apud Barrera et alii, 1993, p.145)
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Figura 145: Escada de metal e mármore (fonte: Formenti, 1893 apud
Barrera et alii, 1993, p.144)
Formenti (1893) apud Barrera et alii (1993, p.144) também apresenta desenhos de escada com
estrutura em abóbadas apoiadas em estrutura metálica e revestimento de pedra. Neste caso, a
armadura do lance da escada é formada por um ferro duplo “T” inclinado e apoiado no poço
da escada para receber um dos apoios da abóbada. As abóbadas são feitas com tijolos de
dimensões pequenas, conforme podem ser visualizadas na figura 146 a seguir. Outros autores
descrevem este tipo de estrutura de abóbada de tijolos para sustentar uma rampa de escada
como Breymann (2003f, p.24-27) e Cattaneo (1889, p.13), que denomina estas escadas de
scale su archi”, ou seja, escadas sobre arcos.
Figura 146: Escadas interiores com primeiro lance sobre alvenaria
(fonte: Formenti, 1893 apud Barrera et alii, 1993, p.144)
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Em outros desenhos de Formenti (1893) apud Barrera et alii (1993, p.145), podem ser
observados os diversos detalhes dos perfis metálicos utilizados para fixação das vigas
inclinadas dos lances das escadas metálicas, junções com os patamares, fixação dos montantes
verticais de parapeitos nas pisadas, alma das escadas de caracol na base, bem como os degraus
deste tipo de escada. Além disso, apresenta também, os desenhos em secção horizontal e
vertical da escada de caracol metálica. (figura 147)
Figura 147: Escadas de ferro e degraus de mármore e escadas de
caracol metálicas (fonte: Formenti apud Barrera et alii, 1993, p.145)
Donghi (1906) apud Barrera et alii (1993) em seu Manuale dell’architetto descreve e
apresenta os desenhos da escada metálica de caracol encontrada na Mole Antonelliana, em
Turim. Esta escada parte do piso das galerias até os arcos parabólicos onde se apóia a grande
cúpola. (ver figura 148)
Segundo Cattaneo (1889, p.13), se a pedra não é suficientemente resistente para poder
construir a escada em balanço, esta é sustentada por abóbadas em rampa ou com estrutura de
ferro. As escadas também podem ser de ferro e madeira ou inteiramente de madeira. Também
são feitas escadas totalmente em aço. Seus desenhos apresentam alguns degraus totalmente
em ferro-gusa, rampas com vigas metálicas e outras rampas com vigas de madeira e ferro.
(ver figura 149)
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Figura 148: Escada de caracol da Mole Antonelliana (fonte: Donghi
apud Barrera et alii, 1993, p.163)
Figura 149: Degraus em ferro-gusa, rampa sobre vigas de ferro e em
madeira e ferro (fonte: Cattaneo, 1889, tav.15)
A técnica de barroteamento fixado em vigas metálicas não foi encontrada nos manuais e
tratados italianos do período pesquisado. Este tipo de madeiramento completava a estrutura e
os pisos de mármore eram apenas empregados como revestimento, justificando-se as
pequenas espessuras, diferentes dos degraus de pedra monolíticos ou de maiores espessuras.
4.5.6.2 Revestimentos
Revestimento inferior dos lances das escadas com placas metálicas estampadas em latão
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Conforme já descrito nos forros de chapa metálica estampada dos elementos horizontais, o
revestimento inferior de escadas com placas metálicas estampadas em latão não foi
encontrado nos manuais e tratados italianos do período pesquisado, atribuindo-se suas
técnicas de aplicação às recomendadas pelos fabricantes de onde eram importadas estas peças.
Os revestimentos inferiores dos lances das escadas com forro de lambris de madeira tipo
“macho e fêmea” não foram encontrados nos manuais e tratados italianos do período
pesquisado. Apenas foram descritos os forros de madeira tipo “macho e fêmea” ou
immaschiato” e encontram-se nos revestimentos dos elementos horizontais.
4.5.6.3 Proteção
Os elementos de proteção de escadas são chamados pelos tratadistas italianos de “parapetti
ou para-peitos e são constituídos de corrimão e montantes verticais. Podem ser feitos de
madeira, de ferro ou de latão, e algumas vezes, mas raramente, de vidro. É a parte principal da
decoração das escadas.
As recomendações para execução dos guarda-corpos em madeira são encontradas em
Breymann (2003f, p.38) que os denomina de “parapetti” ou para-peitos. Os montantes ou
barras verticais são chamados de “bastoncini” e os passamãos, de “corrimano”. Os montantes,
em geral, são feitos retos e com secção retangular, sendo adotadas para este fim, as madeiras
coníferas, porque estas possuem um crescimento retilíneo. Desta forma podem ser obtidos,
sem muitas perdas, montantes delicados e resistentes. Quando se fabricam montantes
redondos ou retorcidos, devem ser utilizadas madeiras fortes e de preferência madeiras
escuras e trabalhadas com a “sega” ou serra. Se o guarda-corpo é formado com tábuas
entalhadas, então estas se fixam na face superior das laterais da escada e na face inferior do
corrimão, em cavidades de 2 a 3 cm de profundidade. Se o guarda-corpo é formado por
montantes ou bastonetes verticais, estes devem ser encaixados em furos de 2 a 3 cm de
profundidade no corrimão e nas laterais da escada. Se os degraus são sobrepostos às laterais,
os montantes se engastam nos degraus ou na parte externa das laterais da escada. No começo
e no fim da escada, e nos ângulos de mudança de plano, os parapeitos se reforçam
frequentemente com colunetas, que servem muitas vezes de apoio às lanternas. Nos extremos
das escadas estas colunetas não atrapalham, mas em outros pontos tornam-se incômodas,
porque interrompem o corrimão, principalmente quando se percorre a escada no escuro.
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199
A altura do guarda-corpo, medida verticalmente do degrau à face superior do corrimão
frequentemente é de 80 a 90 cm; devendo se conservar ao longo de toda a escada, mesmo
onde o guarda-corpo gira horizontalmente em torno do vão da escada. (ver figura 150)
Figura 150: Guarda-corpos e corrimão de madeira (fonte: Breymann,
2003f, p.34)
Cattaneo (1889, tav.15), nos desenhos da figura 151, apresenta modelos de guarda-corpos de
ferro fundido e forjado fixados diretamente nos degraus, sobre guia de ferro em rampa sobre
os degraus e nas laterais da escada.
Figura 151: Guarda-corpos metálicos (fonte: Cattaneo, 1889, tav.15)
Na figura 152 a seguir, pode ser visualizado o guarda-corpo da escada da Mole Antonelliana
com detalhes. Donghi (1905) apud Barrera et alii (1993, p.163) apresenta com detalhes o
guarda-corpo da escada, inclusive o modo de fixação dos montantes verticais nos degraus e
dos montantes no corrimão. Este guarda-corpo apresenta também a função de interligar as
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200
extremidades livres dos degraus desta escada de caracol, contribuindo na resistência da sua
estrutura.
Figura 152: Detalhes do guarda-corpo da escada na Mole Antonelliana
(fonte: Donghi, 1905 apud Barrera et alii, 1993, p.163)
Formenti (1893) apud Barrera et alii (1993, p.144) também faz referência à guarda-corpos
metálicos nos diversos desenhos de escadas metálicas no seu manual La pratica del
fabbricare. (figura 153 e 154)
Figura 153: Escadas com estrutura de metal e mármore (fonte:
Formenti, 1893 apud Barrera et alii, 1993, p.144)
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Figura 154: Escada e guarda-corpo em ferro-gusa (fonte: Formenti,
1893 apud Barrera et alii, 1993, p.144)
Testi (1891, p.49) descreve que as escadas em mármore recebem guarda-corpos em ferro
fundido ou forjado, ou de bronze de acordo com a riqueza da casa. Recomenda que as escadas
devam ficar cobertas até a completa execução da obra e licenciamento da obra para evitar
riscos ou manchas.
Os corrimãos, também denominados de passamãos, possuem em geral secção redonda, com
pequenas variações, mas deve haver sempre uma forma tal que possa apoiar a mão. Os
corrimãos devem ser lisos, de madeira forte e compacta; frequentemente, nas melhores
escadas são executados com “ciliegio”, “susino” ou “acajoù”, ou seja, cerejeira, ameixeira ou
mogno, porque facilitam sua execução, além disso, requerem menor quantidade de madeira e
a qualidade destas não influencia sua elaboração. É melhor que seja de madeira forte e
aplainada.
Nas escadas de giro muito acentuado, onde a execução do corrimão requer cortes na madeira,
ocasionando perda de resistência, pode-se reforçá-lo com pequenas guias de ferro, e assim
recuperar a resistência perdida. Este método também é adotado quando se deseja que o
guarda-corpo seja parte portante da escada, servindo de reforço às laterais. Neste caso, ao
menos alguns montantes devem ser de ferro e estes devem ser unidos à guia de ferro. A parte
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202
inferior destes montantes deve ser fixada com parafusos às laterais e aos degraus e assim, com
o corrimão, vem formar um guarda-corpo rígido, que ajuda a reforçar as laterais.
Não foram encontradas descrições de passamãos em mármore nos manuais e tratados italianos
do período pesquisado. Apenas Testi (1891, p.49) comenta ao descrever as escadas em pedra,
que não se pode falar em mármore sem falar das juntas das pedras, bem como o modo de
colocá-las nas grandes obras e o modo de preparar as alvenarias que vão receber pedras
decorativas. Na cobertura dos guarda-corpos das pontes, balaustradas etc., não podem ser
aplicados pedaços muito longos pelo seu alto custo e pela sua fragilidade ao serem
transportados. Devem ser utilizados pedaços moderadamente longos que requerem juntas,
tomando-se o devido cuidado para não penetrar água nestas emendas, com a utilização de
peças de arremate. Estas emendas devem possuir recortes para que o encaixe fique perfeito
impedindo movimentações. (figura 155 e 156)
Figura 155: Algumas secções de corrimão (fonte: Breymann, 2003,
p.38)
Figura 156: Juntas de pedra em guarda-corpos (fonte: Testi, 1891,
p.49)
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203
4.5.7 Sacadas ou balcões
Segundo Houaiss (2008), balcão é a plataforma saliente da fachada de casa ou edifício,
geralmente em balanço ou sustentada por colunas, consolos etc. e guarnecida de um parapeito,
à qual se tem acesso do interior, por uma porta; sacada.
Na figura 157 podem ser visualizados os balcões amplamente utilizados na região toscana da
Itália, executados com vigas de madeira para sustentá-los e os parapeitos também eram todos
de madeira. Outro elemento descrito por Montagni (1993, p.119), são os balcões em balanço e
que tem se perpetuado no tempo, como parte típica de habitações - o “gianchii” ou balcões
externos aos edifícios em estrutura mista de pedra e madeira. Foi difundido na área alpina
norte ocidental da Ligúria e encontra sua máxima concentração nos centros de Realdo e
Verdeggia, na província de Imperia.
Figura 157: Balcões de dupla ordem (fonte: Montagni, 1993, p.120)
4.5.7.1 Pisos e Soleiras
Os revestimentos de mármores ou granitos encontram-se descritos nas escadas, por
assemelhar-se com as pisadas de uma escada. Apenas diferindo-se quando empregados em
sacadas, cujos vãos em balanços são maiores e a espessura destas pedras devem ser maiores
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204
também. Além da espessura maior, eram empregadas cornijas em formato de mísulas para que
a pedra ficasse bem apoiada e segura.
4.5.7.2 Guarda-corpos
Não foram encontradas descrições específicas para gradis metálicos de guarda-corpos de
balcões. Apenas as descrições são encontradas nos guarda-corpos de escadas
O manual de Breymann (2003f, p.38) faz alguma referência para os passamãos em madeira
nos guarda-corpos das escadas, já descritos anteriormente.
Os guarda-corpos com balaustres de cerâmica esmaltada encontrados em diversas obras da
segunda metade do século XIX lembram os originários da Itália confeccionados em pedra.
Este tipo de guarda-corpo é encontrado no manual de Luiggi Cattaneo (1889, tav.23) – L’arte
muratoria, e pode ser visualizado na figura 158, com cortes horizontais, vistas laterais,
detalhes de fixação dos balaustres e peças metálicas de junção entre elementos.
Somente o fechamento em alvenaria de tijolos não foi encontrado nos manuais e tratados
italianos do período pesquisado. O passamão ou corrimão em mármore era freqüente nos
guarda-corpos dos construtores italianos pela abundância deste tipo de pedra na Itália e
encontram-se descritos nos passamãos de madeira e mármore das escadas.
Figura 158: Guarda-corpo em pedra (fonte: Cattaneo, 1889, tav.23)
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205
Os guarda-corpos com balaustres de argamassa encontrados em diversas obras da segunda
metade do século XIX lembram os originários da Itália confeccionados em pedra. Da mesma
forma citada nos guarda-corpos com balaustres esmaltados das escadas, este tipo de guarda-
corpo é encontrado em Cattaneo (1889, tav.23) da figura 158.
Em relação aos passamãos de mármore, estes se encontram nos passamãos de madeira e
mármore das escadas.
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206
5 TECNOLOGIA CONSTRUTIVA DOS IMÓVEIS EXISTENTES
Para a verificação das técnicas construtivas e materiais utilizados em todas as obras
existentes, incluindo as selecionadas para o levantamento inicial, foi necessário inspecioná-las
através de uma planilha de coleta de informações, cujo modelo encontra-se no Anexo D ao
final deste trabalho. Tendo sido preenchida para todos os 37 imóveis existentes, foi possível
quantificar os dados para a confecção de tabelas e gráficos dos resultados. O somatório destes
resultados encontra-se na tabela 9 a seguir:
Tabela 9: Quantitativos das técnicas construtivas de cada elemento
construtivo nas obras existentes
FUNDA
Ç
ÕES
01. Direta
Alvenaria de pedra
granítica
Alvenaria de tijolos maciços
Pilaretes apoio
estrutura de madeira
Outro, especificar:
1 32 9 0
ELEMENTOS VERTICAIS
02. Paredes
Portantes de tijolos
maciços
Não portantes de tijolos maciços
nas platibandas
Não portantes de
estuque
Outro, especificar:
37 37 6 0
03. Revestimentos
Reboco
liso
Reboco tipo
“rusticação”
Cantaria
granítica
nos socos
externos
Azulejos Rebocos de
acabamento
marmóreo
Mármore
no interior
Reboco c/
juntas em
pilastras
Reboco c/
caneluras
em
pilastras
Outro,
especificar:
37 18 1 6 25 2 4 1 0
04. Adornos
Ornatos de argamassa
em relevo no exterior
Ornatos de
argamassa em
relevo no interior
Cornijas de base, de
faixas ou frisos, de
janelas e portas
Cornijas de
tijolos revestidas
com argamassa
Outro, especificar:
37 11 37 37 0
05. Vãos
Arquitraves
de tijolos
maciços
Arquitraves, umbrais,
soleiras e peitoris de
cantaria
Fechamento
metálico em
gateiras
Vergas de perfil
metálico
Madeira e
lambrequim
metálico
Outro, especificar:
37 32 26 2 2 0
06. Esquadrias
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207
De madeira
com
bandeiras
retangulares
Revestimento
de madeira
nos aventais
dos peitoris
Bandeiras
em leque
sob arco
pleno
Bandeiras
trabalhadas
sob arcos
abatidos
Óculos c/
vidros
coloridos
Bandeiras
trabalhadas
em arco
pleno
De
madeira,
sem
bandeira
Outra:
metálica
com arco
abatido
32 2 10 4 3 2 27 1
ELEMENTOS HORIZONTAIS
07. Estruturas
Madeira p/
soalhos de
madeira ou
tijolos
Madeira p/
piso
impermeável
Metálica
nos
entrepisos
de madeira
Madeira p/
forro “saia
e camisa”
Madeira p/
forro
“macho e
fêmea”
Madeira p/
estuque
Madeira
p/ forro
metálico
Metálica
p/ aboba-
dilhas
Outra,
especificar:
35 31 3 23 16 8 1 6 0
08. Revestimentos de pisos
Ladrilho hidráulico Soalho de madeira Ladrilho cerâmico Outro: mosaico veneziano
33 33 2 1
09. Revestimentos de tetos
“Saia e camisa”
de madeira
“Macho e fêmea”
de madeira
Tábuas com
aplicação de lona
Estuque Chapa metálica Outro,
especificar:
23 15 1 7 1
ARCOS E ABÓBADAS
10. Arcos
De tijolos maciços De pedras Outro, especificar:
27 5 0
11. Abóbadas de estuque
Cruciforme com estrutura de madeira
em arcos rebaixados policêntricos
Meia cúpula com estrutura de madeira
em arco policêntrico
Outra: de tonel com
clarabóia em plano
horizontal
1 2 2
12. Abóbadas de tijolos
De oito garras com arcos policêntricos
realçados
De tonel na base das escadas Outra: de tonel sob
avarandado
1 5 1
COBERTURA
13. Estrutura
Tesouras de madeira de lei
falquejada ou serrada
Ripamento de
madeira serrada
Ripamento de
canas
Estrutura metálica p/
clarabóia
Outra, especificar:
33 14 2 5 0
14. Telhado
Telha cerâmica curva
tipo “capa e canal
Telha cerâmica de
encaixe tipo “francesa”
Fileira de canais sobrepostos sobre
telhas curvas
Outra, especificar:
27 4 1 0
15. Revestimento
Reboco sobre abóbadas de tijolos Forro de madeira sob as telhas cerâmicas Outra, especificar:
1 1 0
ESCADAS
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16. Estrutura
Base de
alvenaria
Pisos, espelhos
e patamares em
cantaria
Estrutura e
degraus de
madeira aplainad
a
Metálica
totalmente de
ferro fundido
Metálica de aço
com barrotes de
madeira
Abóbada de
tijolos
Outra: vigas
de madeira e
abóbada de
tijolos
22 9 9 2 3 4 1
17. Revestimento
Placas metálicas
estampadas de latão
sob os degraus
Lambris de madeira “macho e
fêmea” e “saia e camisa” sob os
degraus
Degraus de placas de
mármore, granito ou
grês
Outro: patamares de
ladrilho hidráulico
1 6 22 1
18. Proteção
Guarda-corpos
de madeira
Guarda-corpos
de ferro forjado
e fundido
Passamãos de
madeira e de
mármore
Guarda-corpo vazado com
balaustres de argamassa e
passamão de mármore
Outro: corrimão de
latão
8 10 14 2 1
SACADAS OU BALCÕES
19. Pisos e soleiras
Placa de mármore
branco
Pedra apicoada granítica
cinza
Ladrilho hidráulico Outro: soalho de
madeira
11 4 3 1
20. Guarda-corpos
Gradis
metálicos e
passamão de
madeira
Gradis
metálicos e
passamão de
mármore
Vazado com
balaustres de
argamassa e
passamão de
mármore
Balaustres de cerâmica
esmaltada engastados
em alvenaria e
passamão de mármore
Vazado com
balaustre e
passamão em
argamassa
Outro: balaustres de
cerâmica esmaltada e
passamão de madeira
10 7 3 1 2 2
A partir dos dados obtidos nas obras existentes quanto às técnicas construtivas empregadas,
foi possível a elaboração de tabelas através do programa Microsoft Office Excel 2003, que
permitiram a confecção de gráficos representativos dos percentuais de cada tipo de técnica
encontrada nos 20 elementos construtivos das 37 obras existentes - projetadas ou executadas
pelos construtores pesquisados.
5.1 FUNDAÇÕES DIRETAS
Conforme é possível verificar na figura 159 a seguir, as fundações com alvenaria de tijolos
maciços estão presentes na quase totalidade dos imóveis existentes do patrimônio
arquitetônico de Pelotas executado pelos construtores italianos pesquisados. Apenas um
imóvel – provedoria e ala da Rua General Neto da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas -
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209
apresenta alvenaria de pedras graníticas nas suas fundações. Estas pedras, segundo
Nascimento (1975, p.16), foram recebidas em doação, bem como diversos materiais
empregados nesta obra, porque vinham como lastro dos navios que retornavam vazios após
levarem o charque para outros países. Este fato nos permite afirmar que fundações executadas
com pedras graníticas era uma técnica construtiva pouco empregada pelos construtores
pesquisados. Também os pilaretes de alvenaria, que serviam de apoio para as estruturas de
madeira do primeiro piso das construções, foram usados com razoável freqüência, uma vez
que são encontrados em 24 % dos imóveis pesquisados, com secção quadrada de dimensões
que variam de 32 a 50 cm de lado.
Os tijolos cerâmicos eram de grandes dimensões, se comparados aos produzidos atualmente.
Nos imóveis onde foi possível observar, foram encontrados comprimentos de 28 a 35 cm;
larguras de 14 a 18 e alturas de 6 a 7 cm. Quanto às espessuras das paredes encontradas, estas
variam de 70 a 38 cm e quase sempre eram maiores do que as das paredes que se elevam
acima destas. Quando o imóvel possuía porão visitável, geralmente os vãos nas paredes eram
com arcos de tijolos cerâmicos.
3%
24%
86%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Alvenaria de pedra granítica Alvenaria de tijolos maciços Pilaretes apoio estrutura de
madeira
Figura 159: Percentual de imóveis com os tipos de fundação direta
5.2 PAREDES
A totalidade dos imóveis pesquisados apresenta paredes portantes e não portantes de tijolos
maciços. As paredes não portantes encontradas são somente as das platibandas, presentes em
todas as obras existentes projetadas ou executadas pelos construtores italianos pesquisados
(figura 160). Os tijolos cerâmicos encontrados possuem as mesmas dimensões citadas para os
das fundações. As espessuras das paredes são escalonadas, diminuindo a cada pavimento que
se eleva. São encontradas paredes externas com até 90 cm de espessura.
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210
As paredes internas também apresentam espessuras variadas, mas 20 cm é a espessura de
parede interna mais encontrada, com exceção das paredes de estuque, que apresentam em
geral 15 cm de espessura. As argamassas de assentamento eram, em geral, compostas de cal e
areia, sendo encontrados alguns imóveis com argamassa de barro. Neste item – paredes -
também foi observada a presença de balaustres ou outro tipo de elemento vazado nas
platibandas do imóvel, cuja maior incidência é de balaustres ou elementos vazados de
argamassa nesta parte das construções.
100% 100%
16%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Portantes de tijolos maciços Não portantes de tijolos
maciços nas platibandas
Não portantes de estuque
Figura 160: Percentual de imóveis com os tipos de parede
5.3 REVESTIMENTOS DE ELEMENTO VERTICAL
O reboco liso foi o revestimento de paredes mais utilizado pelos construtores pesquisados e
está presente em 100% de suas obras. Outro tipo de revestimento – “rusticação” também foi
amplamente utilizado (49%), ou seja, praticamente a metade dos imóveis existentes apresenta
este tipo de revestimento, que procura imitar uma alvenaria de pedras. (figura 161) A
intenção do construtor de uma obra com a conotação de solidez é facilmente perceptível
nestas construções. Não foi analisada a composição destas argamassas. Apenas por
observação visual, supõe-se que sejam compostas de cal e areia.
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211
100%
49%
3%
68%
11%
3%
5%
16%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Reboco liso Reboco tipo
“rusticação
Cantaria
granítica nos
socos
externos
Azulejos Reboco de
acabamento
marmóreo
Mármore no
interior
Reboco c/
caneluras em
pilastras
Outro: listras
horizontais
Figura 161: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de
elemento vertical
Outro tipo de revestimento – acabamento marmóreo – verificado em 68% dos imóveis, ao ser
analisado conjuntamente com o padrão da construção (gráfico da figura 162), pode-se
verificar sua presença em 92% das obras de padrão “A”. E, em apenas 45% das obras de
padrão “C” este revestimento se verifica, tratando-se, portanto, de um revestimento nobre, não
somente pelos materiais empregados, mas também pelos cuidados que são necessários à sua
execução, principalmente nos desenhos imitando veios de pedras.
Este tipo de revestimento se apresenta com acabamento brilhoso imitando mármores. Não foi
analisada a composição deste tipo de revestimento, mas de acordo com a revisão
bibliográfica, freqüentemente era adicionado pó de mármore nas misturas das últimas
camadas do reboco com acabamento marmóreo.
92%
64%
45%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Padrão A Padrão B Padrão C
Figura 162: Percentual de imóveis com rebocos de acabamento
marmóreo conforme o padrão da construção
Quando examinado em relação ao período de sua construção (gráfico da figura 163) também
se pode concluir que a utilização deste tipo de revestimento não diminuiu com o passar dos
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212
anos, passando de 78% das obras do primeiro período (de 1871 a 1890) para 67% das obras
executadas no terceiro período (1911 a 1930) – já no século XX.
78%
62%
67%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1o. Período (1871 a 1890) 2o. Período (1891 a 1910) 3o. Período (1911 a 1930)
Figura 163: Percentual de imóveis com rebocos de acabamento
marmóreo conforme o período da construção
5.4 ADORNOS DE ELEMENTO VERTICAL
Todos os imóveis remanescentes do patrimônio arquitetônico construído pelos construtores
pesquisados apresentam algum tipo de ornato de argamassa em relevo nas suas fachadas,
incluindo-se cornijas de base, de faixas ou frisos, de portas e janelas e as cornijas superiores
para gotejamento de águas das chuvas. (ver figura 164)
100%
30%
100% 100%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Ornatos de argamassa
em relevo no exterior
Ornatos de argamassa
em relevo no interior
Cornijas de base, de
faixas ou frisos, de
janelas e portas
Cornijas de tijolos
revestidas com
argamassa
Figura 164: Percentual de imóveis com os tipos de adorno em
elemento vertical
Os materiais componentes das argamassas deste tipo de adorno não foram analisados, apenas
a revisão bibliográfica nos leva a supor que as misturas contenham alguma adição,
possivelmente pó de mármore, para aumentar a resistência, uma vez que estas cornijas
encontram-se, geralmente, íntegras e resistentes. Os ornatos de argamassa em relevo estão
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213
presentes em 30% dos imóveis pesquisados e examinando-os em relação ao padrão das
construções (gráfico da figura 165), pode-se perceber que este tipo de revestimento é
encontrado em 67% dos imóveis de padrão “A”, em 21% dos imóveis de padrão “B” e em
nenhum dos imóveis de padrão “C”.
21%
0%
67%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Padrão A Padrão B Padrão C
Figura 165: Percentual de imóveis com ornatos de argamassa no
interior conforme o padrão da construção
Com relação ao período de construção, a utilização dos ornatos de argamassa em relevo no
interior dos imóveis foi diminuindo com o passar dos anos, demonstrando uma tendência de
redução das ornamentações, conforme se pode observar no gráfico da figura 166 a seguir.
15%
67%
20%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1o. Período (1871 a 1890) 2o. Período (1891 a 1910) 3o. Período (1911 a 1930)
Figura 166: Percentual de imóveis com ornatos de argamassa no
interior conforme o período da construção
5.5 VÃOS DE ELEMENTO VERTICAL
Os vãos identificados nos elementos verticais dos imóveis pesquisados destacam-se pela
totalidade dos imóveis que apresentam arquitraves de tijolos maciços. Além disso, é alto o
percentual dos imóveis que possuem alguma particularidade em cantaria, quer sejam
arquitraves, umbrais, soleiras e/ou peitoris (86%). Os marcos de cantaria apresentam
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Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
214
dimensões em torno de 20 x 20 cm ou 20 x 30 cm. As soleiras de granito apicoado possuem
dimensões aproximadas de 17 cm de altura x 32 cm de largura. Os peitoris de mármore
possuem espessura que variam de 3 a 5 cm e largura que variam em torno de 32 cm. Com
relação ao fechamento metálico das gateiras, o percentual de 70% dos imóveis corresponde à
totalidade dos imóveis que possuem algum tipo de porão, quer seja visitável ou somente de
ventilação. (ver figura 167)
100%
70%
5%5%
86%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Arquitraves de
tijolos maciços
Arquitraves,
umbrais, soleiras e
peitoris de
cantaria
Fechamento
metálico em
gateiras
Vergas de perfil
metálico
Madeira e
lambrequim
metálico
Figura 167: Percentual de imóveis com os tipos de vão em elemento
vertical
Não foi possível obter uma conclusão a respeito da relação entre a utilização de porões nos
imóveis pesquisados com o padrão ou o período da construção. O que foi possível perceber é
que em alguns imóveis os vãos denominados “gateiras” foram fechados, mas pelo desnível do
primeiro pavimento em relação ao nível das calçadas, como também pela alteração no reboco
das bases das paredes externas, pode-se supor que o porão existia originalmente nestes
imóveis, o que aumentaria o percentual de imóveis com este tipo de vão nas paredes.
5.6 ESQUADRIAS DE ELEMENTO VERTICAL
As esquadrias de madeira com bandeiras estão presentes na quase totalidade dos imóveis
pesquisados. Como não foi possível observar o interior de alguns imóveis pela
impossibilidade de acesso ou por reformas ocorridas, o percentual das esquadrias de madeira
sem bandeira aparentemente não corresponde ao real utilizado pelos construtores em questão.
Também são observados na figura 168, percentuais menores de imóveis que possuem
esquadrias de madeira com bandeiras sob arcos plenos ou abatidos.
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215
Outro elemento de esquadria freqüentemente encontrado são os postigos ou escuros na parte
interna da esquadria. Supõe-se que no período das construções pesquisadas, não eram
utilizados outros tipos de fechamento de luminosidade em esquadrias, como venezianas ou
persianas. As venezianas encontradas em alguns imóveis não são da época original de sua
construção.
27%
11%
8%
3%
73%
86%
5%
5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
De madeira
com bandeiras
retangulares
Revestimento
de madeira nos
aventais dos
peitoris
Bandeiras em
leque sob arco
pleno
Bandeiras
trabalhadas sob
arcos abatidos
Óculos c/
vidros
coloridos
Bandeiras
trabalhadas em
arco pleno
De madeira,
sem bandeira
Outra: metálica
com arco
abatido
Figura 168: Percentual de imóveis com os tipos de esquadria em
elemento vertical
5.7 ESTRUTURAS DE ELEMENTO HORIZONTAL
A técnica construtiva com estruturas de madeira para os elementos horizontais foi encontrada
com grande freqüência nos imóveis pesquisados, tanto para pisos ou para tetos, como é
possível observar na figura 169 a seguir.
As dimensões das vigas ou barrotes para soalhos apresentam-se muito variadas,
predominando as de 8 x 16 cm. Também são encontradas diversas peças com secção quadrada
(16 x 16 cm, 20 x 20 cm e 23 x 23 cm), cujos cortes foram feitos com machado, o que nos
leva a crer tratar-se de maior aproveitamento para os troncos das árvores, e sempre com
distâncias pequenas, em torno de 60 cm, considerando-se que serviam de apoio apenas para os
soalhos.
As estruturas para revestimento de tetos são constituídas geralmente de sarrafos cujas medidas
mais encontradas são as de 2,5 x 7 cm e 5 x 7 cm. Sem uma análise mais aprofundada, apenas
com as informações dos usuários, pode-se supor que a madeira empregada nas estruturas de
piso e teto era o pinho.
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216
As estruturas metálicas nos entrepisos de madeira são encontradas no 1º e 2º pavimentos da
Bibliotheca Pública Pelotense e também no Clube Caixeiral, ambas construídas por Caetano
Casaretto (responsável pela ampliação da biblioteca e projetista e construtor do Clube
Caixeiral).
As estruturas metálicas para abobadilhas são encontradas em um número menor de imóveis
(16% dos imóveis). Os perfis do tipo “I” desta técnica construtiva encontram-se, geralmente
afastados em torno de 50 cm, havendo um imóvel cuja distância entre os perfis é de 1,00 m.
Ao tentar estabelecer relação da utilização deste tipo de estrutura com o padrão ou período da
construção, não foram encontradas evidências para concluir sobre as influências destas
variáveis nos percentuais observados.
100%
84%
8%
62%
43%
22%
3%
16%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Madeira para
soalhos de
madeira ou
tijolos
Madeira para
piso
impermeável
Metálica nos
entrepisos de
madeira
Madeira para
forro “saia e
camisa
Madeira para
forro “macho e
fêmea”
Madeira para
estuque
Madeira para
forro metálico
Metálica para
abobadilhas
Figura 169: Percentual de imóveis com os tipos de estrutura de
elemento horizontal
5.8 REVESTIMENTOS DE PISO
Os revestimentos de ladrilhos hidráulicos e soalhos de madeira dos elementos horizontais
estão presentes em 89% dos imóveis pesquisados. Apenas não foi possível afirmar que se
encontram em 100% dos imóveis, pela impossibilidade de acesso ou pelas reformas ocorridas.
Os ladrilhos hidráulicos possuem 20 x 20 cm e as tábuas de soalho variam de 11 a 20 cm de
largura e espessura de 3 cm.
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217
89% 89%
3%
5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Ladrilho hidráulico Soalho de madeira Ladrilho cerâmico Outro: mosaico
veneziano
Figura 170: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de
piso
5.9 REVESTIMENTOS DE TETO
Os revestimentos de teto mais observados nos imóveis pesquisados são: os forros de madeira
tipo “saia e camisa”, “macho e fêmea” e de estuque, sendo que a grande maioria (62%) dos
imóveis apresenta o tipo “saia e camisa”. (ver figura 171) Geralmente a largura das tábuas,
tabeiras e cimalhas nos forros “saia e camisa” situa-se entre 25 e 28 cm; a largura das tábuas
nos forros “macho e fêmea” situa-se entre 10 e 15 cm, e as tabeiras e cimalhas com 20 cm de
largura.
41%
19%
62%
3%
0%
3%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
“Saia e
camisa” de
madeira
“Macho e
fêmea” de
madeira
Tábuas com
aplicação de
lona
Estuque Chapa metálica Outro: abóbada
de tonel em
madeira
Figura 171: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de
teto
Ao observarmos a utilização do forro “saia e camisa” em relação ao padrão das construções
(figura 172) e ao período da sua construção (figura 173), verifica-se que este foi mais
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218
utilizado nos imóveis de padrão “A” e, com o passar dos anos, aumentou a utilização do forro
“macho e fêmea”.
92%
43%
55%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Padrão A Padrão B Padrão C
Figura 172: Percentual de imóveis com forro de madeira “saia e
camisa” conforme o padrão da construção
Foi possível observar através da figura 173 que houve uma diminuição na utilização do forro
de madeira “saia e camisa”, passando de 89% dos imóveis no 1º período para 33% no 3º
período. Embora havendo esta redução na sua utilização, os arremates e cimalhas
detalhadamente preparados permanecem nos forros de madeira “macho e fêmea”, cuja
utilização aumentou com o passar do tempo (ver figura 174). O que se supõe que deva ter
ocorrido foi a adoção de máquinas adequadas para a produção das tábuas - mais leves -
facilitando sua execução.
89%
77%
33%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1o. Período (1871 a 1890) 2o. Período (1891 a 1910) 3o. Período (1911 a 1930)
Figura 173: Percentual de imóveis com forro de madeira “saia e
camisa” conforme o período da construção
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219
53%
31%
33%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1o. Período (1871 a 1890) 2o. Período (1891 a 1910) 3o. Período (1911 a 1930)
Figura 174: Percentual de imóveis com forro de madeira “macho e
fêmea” conforme o período da construção
5.10 ARCOS
Conforme se observa na figura 175, os arcos de tijolos maciços estavam presentes na grande
maioria (73%) dos imóveis observados.
Apenas 14% se utilizaram de arcos de pedras, principalmente nos marcos de cantaria nas
fachadas destas construções.
14%
73%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
De tijolos maciços De pedras
Figura 175: Percentual de imóveis com os tipos de arco
5.11 ABÓBADAS DE ESTUQUE
Apenas foram identificadas abóbadas de estuque em duas capelas, cujos percentuais podem
ser visualizados no gráfico da figura 176 a seguir.
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3%
5%
5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Cruciforme com estrutura de
madeira em arcos rebaixados
policêntricos
Meia cúpula com estrutura de
madeira em arco policêntrico
Outra: de tonel com clarabóia
em plano horizontal
Figura 176: Percentual de imóveis com os tipos de abóbada de estuque
5.12 ABÓBADAS DE TIJOLOS
As abóbadas de tijolos foram mais observadas nas bases das escadas (14%), sendo que,
apenas um imóvel possui uma abóbada de oito garras nas cúpulas das torres da capela da
Santa Casa. (ver figura 177)
3% 3%
14%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
De oito garras com arcos
policêntricos realçados
De tonel na base das escadas Outra: de tonel sob avarandado
Figura 177: Percentual de imóveis com os tipos de abóbada de tijolos
5.13 ESTRUTURAS DE COBERTURA
A grande maioria dos imóveis - 89% - apresenta estrutura de madeira de lei falquejada ou
serrada para apoio do telhado nas coberturas (ver figura 178). Este índice pode ser de 100%,
uma vez que em 11% dos imóveis não foi possível acessar esta parte da construção ou já
ocorreram reformas. As secções das madeiras empregadas nas tesouras possuem dimensões
que variam de 8 x 16 cm, 9 x 14 cm, 14 x 14 cm e 16 x 16 cm. Geralmente as madeiras
falquejadas a machado possuíam secção quadrada e as madeiras serradas, secção retangular.
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89%
38%
14%
5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Tesouras de madeira de
lei falquejada ou
serrada
Ripamento de madeira
serrada
Ripamento de taquaras Estrutura metálica em
clarabóia
Figura 178: Percentual de imóveis com os tipos de estrutura de
cobertura
Ao observarmos que 14% dos imóveis possuem clarabóias metálicas, houve a necessidade de
comparar esta ocorrência com o padrão das construções. Na figura 179, fica evidente que este
tipo de solução para iluminação do ambiente através da cobertura era mais utilizado em
construções de melhor padrão.
0%
14%
25%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Padrão A Padrão B Padrão C
Figura 179: Percentual de imóveis com estrutura metálica em
clarabóia conforme o padrão da construção
5.14 TELHADOS
Conforme se verifica no gráfico da figura 180, as telhas tipo “capa e canal” estão presentes
em 73% dos telhados dos imóveis. Este percentual não é maior devido à impossibilidade de
acesso ou por reformas ocorridas nas coberturas. As telhas tipo “capa e canal” são
encontradas com dimensões de 18 x 50 cm, 24 x 53 cm e 26 x 55 cm. As telhas “francesas”
encontradas possuem dimensões de 28 x 42 cm.
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222
73%
11%
3%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Telha cerâmica curva tipo
“capa e canal”
Telha cerâmica de encaixe tipo
“francesa”
Fileira de canais sobrepostos
sobre telhas curvas
Figura 180: Percentual de imóveis com os tipos de telhado
Quando examinado o gráfico (ver figura 181) que apresenta os percentuais de imóveis com
telha “francesa” em relação ao período da construção, pode-se concluir que este tipo de telha
passou a ser usado com mais freqüência ao longo dos anos. Atribui-se este aumento ao
processo de fabricação das telhas, que deva ter se modernizado com o passar do tempo,
adotando maquinário de prensagem específico para este tipo de telha.
0%
11%
20%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1o. Período (1871 a 1890) 2o. Período (1891 a 1910) 3o. Período (1911 a 1930)
Figura 181: Percentual de imóveis com telhas francesas conforme o
período da construção
5.15 REVESTIMENTOS DE COBERTURA
Apenas um dos imóveis pesquisados possui dois tipos de revestimento de cobertura, conforme
se pode observar na figura 182 abaixo, ficando evidente não ser uma prática construtiva
utilizada pelos construtores pesquisados.
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3% 3%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Reboco sobre abóbadas de tijolos Forro de madeira sob as telhas cerâmicas
Figura 182: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de
cobertura
5.16 ESTRUTURAS DE ESCADA
Ao observarmos o gráfico da figura 183, pode-se verificar que as bases de escada com
alvenaria ou abóbadas de tijolos são a totalidade dos imóveis que foram possíveis de acessar
ou ainda, que não ocorreram reformas ou que não possuem escadas.
59%
11%
3%
24%24%
8%
5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Base de
alvenaria
Pisos,
espelhos e
patamares
em cantaria
Estrutura e
degraus de
madeira
aplainada
Metálica
totalmente
de ferro
fundido
Metálica de
aço com
barrotes de
madeira
Abóbada de
tijolos
Outro: vigas
de madeira e
abóbada de
tijolos
Figura 183: Percentual de imóveis com os tipos de estrutura de escada
5.17 REVESTIMENTOS DE ESCADA
Conforme se pode visualizar no gráfico da figura 184, os degraus de mármore, granito ou grês
estão presentes em 59% dos imóveis verificados.
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3% 3%
59%
16%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Placas metálicas
estampadas de latão
sob os degraus
Lambris “macho e
fêmea” e “saia e
camisa” sob os degraus
Degraus de placas de
mármore, granito ou
grês
Outro: patamares de
ladrilho hidráulico
Figura 184: Percentual de imóveis com os tipos de revestimento de
escada
Analisando o gráfico da figura 185 com os percentuais de revestimento pétreo das escadas em
relação ao padrão das construções, pode-se verificar que 67% dos imóveis de padrão “A” e
64% dos imóveis de padrão “B” apresentam escadas revestidas com mármore, granito ou grês,
enquanto que apenas 45% dos imóveis de padrão “C” possuem revestimentos pétreos.
64%
45%
67%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Padrão A Padrão B Padrão C
Figura 185: Percentual de imóveis com revestimento pétreo nas
escadas conforme o padrão da construção
5.18 PROTEÇÕES DE ESCADA
As proteções de escada são executadas, em geral, com guarda-corpos de madeira (em 22%
dos imóveis) ou metálicos (em 27% dos imóveis) e os passamãos são de madeira ou mármore
(em 38% dos imóveis), conforme se pode verificar no gráfico da figura 186.
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22%
27%
3%
38%
5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Guarda-corpos de
madeira
Guarda-corpos de
ferro forjado e
fundido
Passamãos de
madeira e de
mármore
Balaustres de
argamassa ou
mármore e
passamão de
mármore
Outra: corrimão
de latão
Figura 186: Percentual de imóveis com os tipos de proteção de escada
5.19 PISOS E SOLEIRAS DE SACADA OU BALCÃO
Conforme pode ser verificado no gráfico da figura 187, os pisos e soleiras de mármore branco
nas sacadas ou balcões são encontrados em 30% dos imóveis pesquisados.
30%
11%
3%
8%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Placa de mármore
branco
Pedra apicoada
granítica cinza
Ladrilho hidráulico Outro: madeira 20 cm
(balcão interno)
Figura 187: Percentual de imóveis com os tipos de piso e soleira de
sacada ou balcão
5.20 GUARDA-CORPOS DE SACADA OU BALCÃO
No gráfico da figura 188 a seguir, é possível verificar que as proteções de sacada ou balcão
são compostas de gradil metálico (presentes em 27% dos imóveis) e passamão de madeira,
mármore ou argamassa (presentes em 19% dos imóveis).
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226
27%
19%
8%
3%
5%
5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Gradil
metálico e
passamão de
madeira
Gradil
metálico e
passamão de
mármore ou
argamassa
Balaustres de
argamassa e
passamão de
mármore
Balaustres de
porcelana em
alvenaria e
passamão de
mármore
Balaustres e
passamão em
argamassa
Outro:
balaustre
porcelana e
passamãode
mármore
Figura 188: Percentual de imóveis com os tipos de guarda-corpo de
sacada ou balcão
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227
6 TECNOLOGIA CONSTRUTIVA DOS IMIGRANTES ITALIANOS NO
PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE PELOTAS versus TECNOLOGIA
CONSTRUTIVA DIFUNDIDA NA ITÁLIA NO SÉC. XIX
Após a identificação das técnicas construtivas utilizadas nos imóveis executados pelos
construtores italianos, foi possível a comparação dos dados obtidos e descritos no capítulo 5
com a tecnologia construtiva difundida na Itália anteriormente à imigração destes
profissionais, através da descrição obtida na revisão bibliográfica descrita na secção 4.5.
6.1 FUNDAÇÕES DIRETAS
As fundações diretas, executadas nos imóveis pesquisados, assemelham-se às descritas por
Polverino (1992, p.32) no que se referem ao escalonamento das espessuras das alvenarias
submersas em relação às de elevação do restante da construção, denominadas “in gradoni”,
utilizadas em terrenos não rochosos.
Quanto ao modo de execução e cuidados para evitar deslizamento das trincheiras abertas para
as alvenarias, não se pode afirmar que tenham sido feitas conforme Polverino (1992, p.32).
Outro comentário deste autor é quanto aos terrenos que podem receber fortes pressões
unitárias, cuja solução era dada pelas fundações de pilares e arcos.
Quanto aos pilares, encontrados em 24% dos imóveis pesquisados, não foi possível afirmar o
percentual de imóveis com arcos de tijolos somente nas fundações, pois os arcos de tijolos
foram quantificados conjuntamente com os arcos do restante dos imóveis.
Na figura 189 a seguir podem-se observar as alvenarias do porão na Bibliotheca Pública
Pelotense - 1878, com aberturas em arco e pilares para apoio do barroteamento do assoalho no
pavimento acima.
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228
Figura 189: Alvenaria de tijolos maciços com arcos e pilares (fonte:
autora, 2006)
6.2 PAREDES
As alvenarias de tijolos maciços, encontradas em 100% das paredes portantes e não portantes
nas platibandas dos imóveis pesquisados assemelha-se às citadas por diversos tratadistas
italianos. Destacam-se o modo de execução com juntas desencontradas e a recomendação de
Scamozzi (1615) apud Rohrich (1999, p.116) de banhar os tijolos em leite de argamassa
líquida, gorda e bem retrátil. Em diversos imóveis foram encontradas alvenarias de tijolos sem
reboco nos porões, com a face esbranquiçada, confirmando esta prática que, embora o autor
não a justifique, deveria ser para sua proteção. A seguir na figura 190, pode-se observar um
exemplar de alvenaria de tijolos maciços com juntas desencontradas e faces esbranquiçadas
no Clube Caixeiral - 1902.
Figura 190: Alvenaria de tijolos maciços no porão do Clube Caixeiral
(fonte: autora, 2006)
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229
Quanto à técnica de execução de paredes de estuque, encontradas em 16% dos imóveis
pesquisados, denominada de “pareti intelaiate”, corresponde à técnica citada por Rusconi
(1590) apud Rohrich (1999, p.119), Alberti (1485) apud Rohrich (1999, p.122) e Breymann
(2003c, p.52). Este último tratadista descreve inclusive o mesmo modo encontrado em alguns
dos imóveis pesquisados como o da dupla ordem de tábuas, onde numa as juntas são verticais
e na outra se elevam obliquamente, recebendo canas sobre elas para, então serem rebocadas
nas duas faces.
Nas figuras 191 e 192, é possível visualizar esta técnica na Casa Eliseu Maciel - 1878.
Também na figura 193, observam-se as tábuas da parede ao elevarem-se sobre o forro e
aparecendo no espaço da estrutura de cobertura do Clube Caixeiral – 1902.
Figura 191: Parede divisória de estuque com juntas verticais (fonte:
autora, 2006)
Figura 192: Parede divisória de estuque com juntas inclinadas (fonte:
autora, 2006)
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230
Figura 193: Tábuas da parede de estuque sobressaindo do forro (fonte:
autora, 2006)
6.3 REVESTIMENTOS DE ELEMENTO VERTICAL
Os revestimentos mais encontrados nos imóveis pesquisados – reboco liso, reboco tipo
“rusticação” e reboco de acabamento marmóreo, respectivamente em 100%, 49% e 68% dos
imóveis, são descritos em diversos manuais e tratados europeus, como Alberti (1485),
Rusconi (1590), L’Orme (1567), Rondelet (1802) e Breymann (2003d) apud Arcolao (1998,
p.4-13), entre outros.
Não foi possível verificar se o modo se aplicação das argamassas de reboco corresponde ao
descrito pelos autores consultados, bem como determinar os seus materiais componentes.
Somente por observação visual, foi possível fazer algumas suposições, como a de que a
grande maioria das misturas para os rebocos era composta de cal e areia.
Na busca de registros que comprovassem a origem dos materiais de construção utilizados
pelos construtores pesquisados, em inventário de Guglielmo Marcucci, verificou-se que este
devia compras feitas na firma “João Pinheiro & Cia.”, como cal de caiar, cimento em barricas
e cal das Torrinhas. Torrinhas é uma região próxima a Pedro Osório e Arroio Grande. Além
disso, em consulta ao jornal “A Opinião Pública” de 03/04/1904, encontra-se o anúncio de
Duarte, Leite e C., que comercializava cal para reboco e caiar. Neste mesmo jornal, em outro
anúncio pode-se comprovar que o cimento portland era importado pela firma “Sem Rival”.
No manuscrito de Cunha (1911, s.p.), encontra-se a descrição da “Caleira Carpena”, ou seja,
uma fábrica, fundada em 1856 e que produzia cal com pedras calcárias provenientes de
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Arroio Grande e de Bagé. Por todos estes registros, pode-se supor que a cal utilizada nas
construções fosse adquirida em Pelotas, seja de caleira local ou da região das Torrinhas; já o
cimento portland era adquirido, provavelmente de importadores locais.
Os rebocos que imitam pedras com juntas rebaixadas e desencontradas chamados
“rusticação”, e correspondem aos rebocos de alvenaria denominados “bugnato in intonaco”,
sendo encontrados em 49% dos imóveis pesquisados. Alguns autores, como Breymann
(2003d, p.20-21), ainda descrevem a superfície que poderia ser mais ou menos rugosa ou com
veios como as pedras (“superficie picchiettata” ou “bugne”). Foram encontrados exemplos
com a superfície rugosa na fachada do Clube Comercial – 1871 (figura 194), na Casa Eliseu
Antunes Maciel – 1878 (figura 195) – exemplares de Giuseppe Isella, e na residência de
Antonio A. Assumpção – 1908 (figura 196) – exemplar de C. Casaretto Scotto.
Figura 194: Rusticação em fachada (fonte: autora, 2006)
Figura 195: Reboco imitando alvenaria de pedras com juntas
rebaixadas (fonte: autora, 2006)
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Figura 196: Reboco imitando alvenaria de pedras com face rugosa e
juntas rebaixadas (fonte: autora, 2007)
A única recomendação encontrada para o revestimento com cantaria nos socos nas paredes foi
a de Alberti (1485) apud Rohrich (1999, p.108), o qual recomenda este tipo de revestimento
em bases de paredes e colunas porque estas partes requerem particulares resistências à
umidade do solo e à água das chuvas que, ao escorrer dos telhados, podem corroer a parte
baixa da construção. Também comenta que as pedras devem ser tão grandes quanto possível
para conferir maior unidade ao conjunto. Este tipo de revestimento somente foi encontrado no
Clube Caixeiral – 1902 - figura 197 exemplar de Caetano Casaretto.
Figura 197: Revestimento de cantaria na base da construção (fonte:
autora, 2007)
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Marina Fumo (1992, p.136) comenta sobre a função decorativa dos revestimentos de mármore
e pela peculiaridade de poder ser polido. Estas deveriam ser fixadas às paredes com ganchos
metálicos, mas também com argamassa limitando-se a pequenas espessuras e pesos reduzidos.
Entre os imóveis pesquisados, este tipo de revestimento somente foi encontrado na capela da
Santa Casa – 1884 a 1900, conforme pode ser observado na figura 198 a seguir.
Figura 198: Revestimento de mármore em paredes (fonte: autora,
2006)
Na busca de registros de firmas que beneficiassem mármore em Pelotas e que pudesse ter sido
utilizado nos imóveis pesquisados, identificaram-se através do manuscrito de Cunha (1911,
s.p.), duas marmorarias: “Atelier de mármores”, de Alfredo Barsanti, fundada em 1901, e
“Marmoraria Giusti”, fundada em 1906. Na descrição da primeira consta: [...] Trabalha com
mármores italianos das pedreiras de Carrara. Na descrição da segunda consta: [...] Recebe
mármores italianos para os trabalhos que executa.
Os revestimentos de estuque brilhoso com acabamento marmóreo, equivocadamente
denominados no sul do Brasil de “escaiola” foram encontrados em 68% dos imóveis
pesquisados, e possuem características de acabamento como as encontradas em Alberti
(1485), Scamozzi (1615), De Cesare (1885) e Breymann (2003d) apud Arcolao (1998, p.57).
Feiffer (2000, p.185) também descreve o revestimento imitando mármore brilhoso semelhante
ao revestimento encontrado em 25 imóveis entre os 37 existentes desta pesquisa. Nas figuras
199 e 200 podem-se observar algumas imagens deste revestimento, em exemplares
respectivamente Prefeitura Municipal de Pelotas - 1908 e no asilo de Mendigos de Pelotas –
1928.
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Figura 199: Reboco de acabamento marmóreo em escada (fonte:
autora, 2006)
Figura 200: Reboco de acabamento marmóreo em circulação (fonte:
autora, 2007)
6.4 ADORNOS DE ELEMENTO VERTICAL
Os adornos dos elementos verticais encontrados na totalidade dos imóveis pesquisados, quer
sejam ornatos de argamassa em relevo no exterior (100%) e no interior (30%), cornijas de
base, faixas frisos, de janelas e portas (100%), bem como as grandes cornijas de tijolos
revestidas com argamassa (100%) são citadas por diversos tratadistas e autores europeus e,
principalmente italianos, como Alberti (1485) apud Rohrich (1999, p.53), que recomenda a
adição de armadura para peças mais salientes como, capitéis, festões, modenaturas. Vasari
(1550), Cataneo (1567), e De Cesare (1855) apud Arcolao (1998, p.53) faziam
recomendações para as cornijas de portas e janelas. A modelação das cornijas, frisos ou faixas
foram descritas por Forcellino (1991, s.p.), por Breymann (2003e, p.15) e por Donghi (1906)
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apud Arcolao (1998, p.55). Nas figuras 201, 202, 203 e 204, podem ser observados estes tipos
de adorno no exterior e no interior dos imóveis, respectivamente no Clube Caixeiral – 1902,
capela da Sociedade Portuguesa Beneficente – 1892 e Prefeitura Municipal de Pelotas - 1908.
Figura 201: Frisos, frontão, capitéis e diversas cornijas (fonte: autora,
2006)
Figura 202: Frisos, frontão, molduras, festões, capitéis e cornija
superior (fonte: autora, 2007)
Figura 203: Frisos, frontão, molduras, festões, capitéis e cornija
superior (fonte: autora, 2007)
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Figura 204: Frisos, molduras, flores, e cornija no interior do paço
municipal (fonte: autora, 2007)
6.5 VÃOS DE ELEMENTO VERTICAL
As arquitraves de tijolos maciços, encontradas em 100% dos imóveis pesquisados estão
descritas em Testi (1891, tav.XIV). As arquitraves, umbrais, soleiras e peitoris de cantaria,
encontradas em 86% dos imóveis pesquisados estão são descritas em Cantalupi (1862) apud
Breymann (2003e, p.38) e em Testi (1891, tav.XII). Na figura 205 a seguir pode-se visualizar
uma arquitrave plana de tijolos maciços no 2º pavimento do Clube Caixeiral - 1902.
Figura 205: Arquitrave de tijolos maciços (fonte: autora, 2006)
Breymann (2003e, p.38) recomenda a utilização do granito para estas peças pela resistência e
durabilidade elevadas. Na figura 206 a seguir podem-se visualizar os marcos e soleiras em
cantaria na Santa Casa.
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Figura 206: Marcos e soleiras de cantaria (fonte: autora 2006)
Para a fixação dos marcos de cantaria nos umbrais dos vãos, foram utilizados pinos de
chumbo derretido em furos feitos nos umbrais de pedra das portas da Santa Casa de
Misericórdia de Pelotas – 1884 a 1900. Os pinos de chumbo permitiam o aparafusamento dos
marcos de madeira nos umbrais de pedra, conforme pode ser visto na figura 207. Este modo
de fixação não foi encontrado nos manuais e tratados pesquisados.
Figuras 207: Fixação dos marcos em cantaria (fonte: autora, 2006)
Os vãos com estrutura de madeira e acabamento de lambrequim metálico, encontrados em
dois imóveis entre os pesquisados, não foram descritos nos manuais e tratados pesquisados,
talvez porque sua origem é atribuída aos franceses ou suíços que o utilizavam em chalés de
madeira na região dos Alpes. Na figura 208, pode-se observar um exemplar da técnica
utilizada por Giuseppe Isella na Casa Eliseu Antunes Maciel.
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Figura 208: Lambrequim na Casa Eliseu Antunes Maciel (fonte:
autora, 2001)
6.6 ESQUADRIAS DE ELEMENTO VERTICAL
As esquadrias de madeira com ou sem bandeira, frequentemente encontradas nos imóveis
pesquisados são descritas por Breymann (2003e, p.72). Bandeiras trabalhadas em madeira
podem ser encontradas em diversos imóveis como as das figuras 209 e 210, respectivamente
na Santa Casa – 1884 a 1900, e na residência da Baronesa do Jarau - 1876.
Figura 209: Esquadria de madeira com bandeira trabalhada (fonte:
autora, 2006)
Figura 210: Esquadrias de madeira com bandeiras trabalhadas (fonte:
autora, 2006)
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Os óculos com vidros coloridos não são descritos nos manuais e tratados pesquisados. No
caso específico do Clube Caixeiral – 1902, na figura 211, supõe-se que tenham sido
importados como outros diversos materiais metálicos desta obra (escadas, estruturas metálicas
para entrepisos, forros e abobadilhas dos terraços).
Figura 211: Esquadrias de madeira com bandeiras em leque e óculos
(fonte: autora, 2006)
6.7 ESTRUTURAS DE ELEMENTO HORIZONTAL
A quase totalidade dos imóveis que apresentam estruturas de madeira nas divisões horizontais
entre os diversos planos de uma edificação conferem com as descrições de Alberti (1485), Fra
Giocondo (1511 e 1513), Rusconi (1590) e Scamozzi (1615) apud Rohrich (1999, p.137), ou
de Cattaneo (1889, p.10) e Breymann (2003d, p.11). Na figura 212, podem-se observar as
grandes dimensões das vigas empregadas nos entrepisos da Santa Casa de Pelotas – 1884 a
1900, bem como a pequena distância entre elas.
Figura 212: Tramado de vigas de madeira para fixação do soalho e
suporte do forro abaixo (fonte: autora, 2006)
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Nos entrepisos para revestimento com ladrilhos hidráulicos, foram encontrados diversos
imóveis com a solução da figura 213, ou seja, sobre as vigas de madeira, eram dispostos
sarrafos que serviam de apoio para um lastro de tijolos maciços, para então, ser colocado o
revestimento impermeável.
Breymann (2003d, p.11) faz algumas prescrições sobre a estabilidade neste tipo de estrutura e
sobre os cuidados para a preservação das pontas das vigas contra deteriorações. A residência
da figura 213 foi projetada por Luiz Zanotta – 1912.
Figura 213: Entrepiso para revestimento impermeável (fonte: autora,
2006)
Outra estrutura de elemento horizontal nos imóveis pesquisados é a de madeira para forros
“saia e camisa” e “macho e fêmea”, respectivamente encontrada em 62% e 43% dos imóveis
pesquisados e comentada por Breymann (2003d, p.11) como as “impalcature da soffitta”, ou
seja madeiramentos para forros. A residência da figura 214 era de propriedade da Baronesa do
Jarau – 1876.
Figura 214: Madeiramento para forro “saia e camisa” (fonte: autora,
2006)
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A estrutura de madeira para forro de estuque foi encontrada na Casa Eliseu Antunes Maciel,
conforme figura 215 a seguir.
Figura 215: Madeiramento para forro de estuque na Casa Eliseu
Antunes Maciel (fonte: autora, 2006)
A estrutura metálica para entrepiso de grandes compartimentos foi encontrada no Clube
Caixeiral - 1902, cujos perfis “I” de elevadas dimensões foram importados da Filadélfia, e
pode ser verificada na figura 216.
Figura 216: Estrutura metálica com perfil “I” e vigas de madeira em
entrepiso (fonte: autora, 2006)
As estruturas de madeira para forro de estuque são descritas por Pepe (1989, F1), Giuffredi et
alii (1991, p.113), e Cornaro (1965) apud Rohrich (1999, p.188). Alguns exemplares desta
técnica, encontrada em 22% dos imóveis, podem ser visualizados nas figuras 217, 218,
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respectivamente na residência de Leopoldo Antunes Maciel – 1878 e na cúpula do altar da
Santa Casa – 1884 a 1900. A foto 217 foi obtida visualizando de baixo para cima.
Figura 217: Estrutura de madeira para forro de estuque (fonte: autora,
2007)
Figura 218: Estrutura de madeira para forro de estuque (fonte: autora,
2007)
As estruturas metálicas para receber abobadilhas de tijolos, que foram encontradas em 16%
dos imóveis pesquisados, encontram-se descritas por Cattaneo (1889, p.11), Testi (1891,
tav.XIX) e Albertini et alii (1910) apud Barrera et alii (1993, p.169), e podem ser
visualizadas nas figuras 219 e 220 a seguir.
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A figura 219 apresenta um compartimento na residência de Pedro Rodrigues – 1912. A figura
220 apresenta um entrepiso na indústria de Leopoldo Haertel – 1917. A abobadilha sob
terraço da figura 221 é do Clube Caixeiral – 1902.
Figura 219: Estrutura metálica para abobadilhas em porão (fonte:
autora, 2007)
Figura 220: Estrutura metálica para abobadilhas em indústria (fonte:
Salaberry, 2003)
Figura 221: Abobadilhas sob terraço (fonte: autora, 2006)
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6.8 REVESTIMENTOS DE PISO
Os ladrilhos hidráulicos, encontrados em 89% dos imóveis pesquisados, são descritos por
Albertini et alii (1910) apud Barrera et alii (1993, p.169) e denominados de “pietrini di
cemento compresso”, ou seja, pequenas pedras prensadas feitas de cimento.
Conforme descrição de Cunha (1911, s.p.), havia em Pelotas duas fábricas de ladrilho –
Fábrica de mosaicos Alfino (fundada em 1894) e Fábrica de mosaicos Stanisci (fundada em
1891), provavelmente fornecedoras dos ladrilhos utilizados nos imóveis pesquisados. Na
descrição da primeira consta: “[...] trabalhar em tijolletas confeccionadas com cimentos
hidráulicos e commum, arêas finas e lavadas para a fabricação dos mosaicos”. Através da
figura 222, pode-se comprovar a utilização de ladrilhos hidráulicos fabricados em Pelotas, no
prédio da Santa Casa 1884 a 1900. Na figura 223, observam-se outros revestimentos de piso
com mosaicos na residência de Leopoldo Antunes Maciel – Barão de São Luis 1878.
Figura 222: Ladrilho hidráulico com a marca do fabricante (fonte:
autora, 2006)
Figura 223: Ladrilho hidráulico em piso de avarandado (fonte: autora,
2006)
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Os soalhos de madeira encontrados em 89% dos imóveis pesquisados são citados por Alberti
apud Rohrich (1999, p.137) e Cattaneo (1889, p.12). As larguras das tábuas de soalho
encontradas nos imóveis pesquisados variaram de 8 a 20 cm. Na figura 224, podem-se
observar tábuas de soalho de pinho de Riga, com uma das secções mais observadas, ou seja,
13 x 3 cm.
Figura 224: Soalho no Clube Caixeiral (fonte: autora, 2006)
6.9 REVESTIMENTOS DE TETO
Um dos revestimentos de tetos mais identificados foi o de madeira tipo “saia e camisa”, ou
seja, em 62% dos imóveis pesquisados. Este tipo de forro de madeira possui esta
denominação no Brasil não tendo sido encontrado nos tratados italianos.
Apenas um revestimento de teto semelhante foi descrito por Breymann (2003d, p.67), que
eram tábuas colocadas alternativamente umas sobre as outras. Também de arremate no
encontro com as paredes, eram colocadas outras tábuas com frisos e perfil trabalhado
formando verdadeiras cimalhas em todo o perímetro do ambiente.
Com estes mesmos arremates, tabeiras e cimalhas, foram encontrados os forros de madeira
tipo “macho e fêmea”, em 41% dos imóveis observados. Na figura 225, visualiza-se um
exemplar de forro de madeira “saia e camisa” na Prefeitura Municipal de Pelotas - 1908.
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Figura 225: Forro de madeira tipo “saia e camisa” (fonte: autora,
2006)
Na figura 226, visualiza-se um exemplar de forro de madeira “macho e fêmea” na residência
de Luiz Zanotta - 1900.
Figura 226: Forro de madeira tipo “macho e fêmea” (fonte: autora,
2006)
Os forros de estuque, em geral com ornatos em relevo, e verificados em 19% dos imóveis
possuíam os desenhos mais variados, sendo que o imóvel encontrado com maior número de
compartimentos com este tipo de revestimento foi a Casa Eliseu Antunes Maciel - 1878.
(figura 227)
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Figura 227: Forro de estuque com ornatos em relevo (fonte: autora,
2006)
6.10 ARCOS
A grande maioria dos imóveis (73%) possui arcos de tijolos maciços. Estes se encontram nas
alvenarias dos porões, nas arquitraves sobre as esquadrias em arco ou em vãos abertos nas
paredes divisórias de compartimentos internos. Os arcos encontrados nos imóveis pesquisados
são na sua grande maioria de tijolos maciços (73%), podendo ser encontrados também arcos
de pedra granítica ou mármore em marcos de portas e janelas (14%). Este tipo de técnica
construtiva confere com as descrições de Breymann (2003a, p.24), Cattaneo (1889, p.8) e
Testi (1891, tav.XIII e XV).
Na figura 228 a seguir, observa-se um arco de tijolos em parede de 63 cm de espessura no
porão da Bibliotheca Pública Pelotense - 1878.
Figura 228: Arco de tijolos maciços (fonte: autora, 2006)
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Na figura 229 a seguir, observa-se um arco de tijolos em parede de 38 cm de espessura no
pavimento térreo da residência de Antonio Rego Magalhães - 1897.
Figura 229: Arco pleno de tijolos maciços no pavimento térreo da
construção (fonte: autora, 2006)
Na figura 230 a seguir, observa-se um arco pleno de pedra granítica na porta de entrada pela
ala da Rua Gen. Neto da Santa Casa – 1884 a 1900, executado por Guglielmo Marcucci.
Figura 230: Arco pleno de pedra granítica (fonte: autora, 2006)
6.11 ABÓBADAS DE ESTUQUE
A técnica utilizada para execução das abóbadas de estuque, localizadas em apenas 3 imóveis
entre o total dos pesquisados, encontra-se descrita por Cattaneo (1889, tav.13), Testi (1891,
p.30), Pepe (1989, F1), Giuffredi et alii (1991, p.113), Montagni (1993, p.114) e Rusconi
(1590) apud Rohrich (1999, p.187) e Cornaro (1965) apud Rohrich (1999, p.188). Nas
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imagens 231 e 232 a seguir, pode-se visualizar a meia-cúpula e as abóbadas cruciformes de
estuque com ornatos em relevo da capela da Santa Casa – 1884 a 1900; na figura 233, a meia-
cúpula da capela da Sociedade Portuguesa Beneficente – 1892.
Figura 231: Meia cúpula de estuque com ornatos em relevo (fonte:
autora, 2006)
Figura 232: Abóbadas cruciformes de estuque com arcos policêntricos
(fonte: autora, 2006)
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Figura 233: Meia-cúpula de estuque com pintura decorativa (fonte:
autora, 2006)
6.12 ABÓBADAS DE TIJOLOS
As abóbadas de tijolos maciços mais encontradas foram as de tonel nas bases das escadas
(14% dos imóveis) e serão comentadas na secção 5.8.16 sobre as estruturas de escada.
As abóbadas de tijolos de oito garras, como uma cúpula são descritas por Breymann (2003a,
p.94), Testi (1891, tav.XXII) e Zorgno (1998, p.49 e 51). Na imagem 234 a seguir, observa-se
uma cúpula de tijolos na torre da capela da Santa Casa – 1884 a 1900.
Figura 234: Abóbada de oito garras de tijolos maciços (fonte: autora,
2006)
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6.13 ESTRUTURAS DE COBERTURA
Tesouras de madeira de lei falquejada ou serrada são as estruturas de cobertura encontradas
em 89% dos imóveis e são descritas por diversos tratadistas e autores italianos, como: Alberti
(1485) apud Rohrich (1999, p.152), Fra Giocondo (1511 e 1513) apud Rohrich (1999, p.138),
Serlio (1619) apud Rohrich (1999, p.156-157), Breymann (2003g, p.62), Cattaneo (1889,
p.15), Testi (1891, tav.XVII), Curioni (1864) apud Barrera et alii (1993, p.87), Montagni
(1993, p.133 e 136).
Na figura 235 a seguir, pode-se observar a estrutura de madeira falquejada da cobertura do
Clube Caixeiral – 1902.
Figura 235: Tesouras de madeira falquejada (fonte: autora, 2006)
As estruturas metálicas para clarabóias foram encontradas em 14% dos imóveis pesquisados e
dois exemplares podem ser visualizados nas figuras 236, 237, respectivamente na Casa Eliseu
Maciel – 1878 e na Prefeitura Municipal de Pelotas - 1908.
Figura 236: Estrutura metálica para clarabóia (fonte: autora, 2000)
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Figura 237: Estrutura metálica para clarabóia no paço municipal
(fonte: autora, 2006)
6.14 TELHADOS
As telhas cerâmicas “capa e canal” são encontradas em 70% dos imóveis pesquisados e
descritas por Alberti (1485) apud Rohrich (1999, p.158), Cantalupi (1862) apud Breymann
(2003g, p.21), Breymann (2003g, p.3), Cattaneo (1889, tav.2 e 18), Testi (1891, tav.B e D).
Exemplos destas podem ser visualizados nas figuras 238 e 239, respectivamente na Prefeitura
Municipal – 1908 e na Santa Casa – 1884 a1900.
Figura 238: Telhas “capa e canal” no paço municipal (fonte: autora,
2006)
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Figura 239: Telhas “capa e canal” e “francesa” (fonte: autora, 2006)
Conforme pode ser observado, no telhado da Santa Casa foi encontrado um modo de
colocação de fileira de canais sobre o telhado com distâncias aproximadamente iguais, mas os
manuais e tratados pesquisados não apresentaram qualquer descrição para este tipo de
colocação. Apenas Montagni (1993, p.142) descreve um tipo de mureta de tijoletas colocadas
sobre telhado com a função de guiar o trajeto das águas pluviais para canalizações que
conduzem às cisternas. O sistema utilizado no imóvel pesquisado não aparenta ter o mesmo
objetivo.
6.15 REVESTIMENTOS DE COBERTURA
Não foram encontradas descrições para revestimentos de cobertura, como os encontrados nos
imóveis pesquisados.
6.16 ESTRUTURAS DE ESCADA
As escadas de 59% dos imóveis pesquisados possuem base de alvenaria como descrevem
Breymann (2003f, p.11) e Testi (1891, tav.XXVIII). Na figura 240, pode ser visualizado um
tipo de escada na Casa Eliseu Maciel – 1878, com estrutura de alvenaria.
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Figura 240: Escada com base de alvenaria de tijolos (fonte: autora,
2006)
As escadas com estrutura de madeira aplainada estão presentes em 24% dos imóveis
pesquisados e são descritas por Breymann (2003f, p.31). Um exemplar deste tipo de escada
pode ser visto na figura 241, na Santa Casa – 1884 a 1900.
Figura 241: Escada de madeira aplainada (fonte: autora, 2006)
As escadas com estrutura totalmente de ferro fundido, presentes em apenas 5% dos imóveis
pesquisados são descritas por Formenti (1893) apud Barrera et alii (1993, p.144-145). Um
exemplo deste tipo de estrutura metálica pode ser visualizado na figura 242 e encontra-se no
Clube Caixeiral – 1902.
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Figura 242: Escada de ferro fundido (fonte: autora, 2006)
As escadas estruturadas sobre abóbadas de tijolos e que são encontradas em 11% dos imóveis
pesquisados são descritas por: Cattaneo (1889, p.13), Breymann (2003f, p.24-27) e Formenti
(1893) apud Barrera et alii (1993, p.145). Cattaneo as denomina “scale su archi”, ou seja,
escadas sobre arcos.
Exemplo deste tipo de escada estruturada sobre abóbada de tijolos maciços, em residência de
Luiz Zanotta – 1900 pode ser visualizado na figura 243 a seguir.
Figura 243: Escada sobre abóbada de tijolos maciços (fonte: autora,
2007)
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6.17 REVESTIMENTOS DE ESCADA
O revestimento de escada predominante nos imóveis pesquisados é o de degraus de placas de
mármore, granito ou grês. Foi utilizado pelos construtores pesquisados em 59% dos imóveis e
não são descritos separadamente da estrutura.
6.18 PROTEÇÕES DE ESCADA
Entre os imóveis que possuem escada, a proteção mais utilizada é a de guarda-corpos de ferro
forjado e fundido com passamãos de madeira ou mármore. Cattaneo (1889, tav.15),
Breymann (2003f, p.38), Testi (1891, p.49), Donghi (1905) apud Barrera et alii (1993, p.163)
e Formenti (1893) apud Barrera et alii (1993, p.144) descrevem este tipo de proteção para
escada. Na figura 244 pode ser visualizado um exemplo deste tipo de proteção na Prefeitura
Municipal – 1908.
Figura 244: Guarda-corpo de ferro forjado e fundido e passamão de
madeira (fonte: autora, 2006)
6.19 PISOS E SOLEIRAS DE SACADA OU BALCÃO
As placas de mármore branco estão presentes em 30% dos imóveis pesquisados. Se
observarmos somente os imóveis que possuem sacadas ou balcões, este percentual passa a ser
de 65%.
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Não foram encontradas descrições específicas, nos manuais e tratados pesquisados, sobre os
pisos e soleiras de sacada ou balcão. Supõe-se terem sido tratados como revestimentos de
piso.
Outro tipo de soleira de sacada ou balcão encontrado na Santa Casa – 1908 foi o de pedra
granítica de 15 cm de espessura, sendo interessante observar o canal de escorrimento das
águas pluviais nela escavado. (ver figura 245)
Figura 245: Canal na soleira de cantaria do balcão (fonte: autora,
2006)
6.20 GUARDA-CORPOS DE SACADA OU BALCÃO
Os maiores percentuais de guarda-corpos de sacada ou balcão encontrados nos imóveis
pesquisados foram, respectivamente, de 27% e 19% para gradil metálico e passamão de
madeira e gradil metálico e passamão de mármore ou argamassa.
Os balaustres de argamassa ou porcelana também aparecem neste tipo de elemento
construtivo, somente com percentuais menores. Somente Testi (1891, p.49) descreve os
passamãos de madeira e de mármore, mas sem distinção entre os de escadas e os de sacadas
ou balcões.
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Exemplos destes guarda-corpos, encontrados no Clube Caixeiral – 1902 e na Prefeitura
Municipal – 1908 e, podem ser visualizados nas figuras 246 e 247 a seguir.
Figura 246: Guarda-corpo de ferro forjado e fundido e passamão de
madeira (fonte: autora, 2006)
Figura 247: Guarda-corpo com balaustres de porcelana e passamão de
mármore (fonte: autora, 2006)
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7 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
As técnicas construtivas utilizadas pelos construtores italianos no final do século XIX e início
do século XX, em Pelotas possuem muita similaridade entre os imóveis pesquisados, tanto no
que se refere aos materiais como às técnicas construtivas. Estas semelhanças se justificam por
existirem relações de trabalho ou de parentesco entre alguns deles. Nos registros encontrados,
Isella e Marcucci participaram na construção da ala da Rua General Neto e da capela na Santa
Casa de Misericórdia. Outro exemplo desta semelhança, na tipologia arquitetônica e nas
técnicas construtivas, é o prédio da Bibliotheca Pública Pelotense, onde Isella projetou e
executou o primeiro pavimento, e o segundo pavimento foi idealizado e executado por
Casaretto, de características peculiares, mas de perfeita consonância com a obra inicial.
Também existem registros das atuações de Isella na direção da obra (1871), Casaretto aos
doze anos na caiação e pintura (1874) e Marcucci na caiação, pintura e composturas (1898) e
na residência de Felisberto Braga – atual Clube Comercial.
Além disso, outra justificativa para a similaridade entre a tecnologia construtiva utilizada é
que as regiões de origem ou de seus antepassados também são as mesmas ou próximas,
denotando que suas formações técnicas ou proveniência foram as mesmas. A transmissão
deste conhecimento também pode ter sido transmitida de pai para filho, como se pode
observar com Caetano Casaretto – filho do construtor Jerônimo Casaretto; ou irmão para
irmão, no caso de Carlos Zanotta para Luis Zanotta. Outra relação de parentesco entre os
construtores italianos, é que Carlos Zanotta era casado com Maria Luiza Scotto (filha de
Antônio Scotto) e Caetano Casaretto era tio de Carlos Casaretto Scotto (filho de Carlos Scoto
e Isabel Casaretto Scoto), demonstrando assim a relação entre as famílias Zanota-Casaretto-
Scotto.
Por não terem sido localizados os registros dos construtores no seu país de origem, em escolas
de formação técnica, pois a grande maioria não existe mais, foi necessário pesquisar nas
instituições com bibliotecas mais completas nas proximidades das suas regiões de origem ou,
ainda, em bibliotecas que receberam o acervo destas academias ou escolas mais antigas.
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Os levantamentos no arquivo municipal permitiram perceber um significativo número de
construções de autoria ou execução dos construtores em análise - aproximadamente 140 obras
no período de 1871 a 1930. Isto expressa uma elevada produção com utilização de técnicas
construtivas não documentadas.
Os construtores italianos e seus descendentes se utilizavam de formas, estilos, detalhes
construtivos e ornamentações que eram amplamente empregadas naquela época na Itália
retratando o poder econômico e a aristocracia dos grandes proprietários que os contratavam.
Utilizavam-se da tradição construtiva européia com técnicas construtivas e materiais nobres
de reconhecida qualidade no comércio da região ou importados do continente europeu e dos
Estados Unidos da América. É o caso das arquitraves, umbrais, soleiras, peitoris e degraus em
granito monolítico, que possivelmente tenham sido importados por não existirem jazidas que
explorassem esta pedra na região e naquela época. Também os mármores polidos,
amplamente utilizados nas escadas e em revestimentos decorativos foram trazidos,
provavelmente da região de Carrara, na Itália. Esta suposição foi possível através de registros
em manuscritos do início do século XX que descrevia a proveniência destes mármores para
serem utilizados nas marmorarias existentes na cidade.
Algumas técnicas aplicadas pelos construtores pesquisados necessitaram algumas adaptações,
principalmente quanto aos materiais utilizados. Exemplo disto são as alvenarias, cujo material
freqüentemente empregado na Itália desde a Antiguidade, eram os blocos de pedra, pela sua
abundância naquela região, o que não se verificava no final do século XIX e início do século
XX em Pelotas. Os tijolos cerâmicos produzidos na região com abundância foram adaptados
nas construções de todos os tipos de paredes, mantendo as espessuras normalmente adotadas,
inclusive com as reduções destas espessuras à medida que o prédio se elevasse com outros
pavimentos sobre as fundações. No único exemplar com paredes de pedras nas fundações,
segundo registros bibliográficos, estas foram trazidas como lastros em navios (não descrita a
sua proveniência).
As estruturas de abóbadas foram encontradas em algumas obras nos forros e nas bases de
escadas. A técnica construtiva utilizada nas abóbadas de forro foram as de estuques aplicados
em tramados de madeira ou de tijolos cerâmicos no formato de oito garras. Também para as
bases das escadas o material utilizado foi o tijolo cerâmico. Não foram encontradas abóbadas
com pedras, como as amplamente descritas nos manuais e tratados, possivelmente pela
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dificuldade de obtenção das pedras na região e pela falta de mão de obra especializada na
elaboração de pedras para abóbadas.
Analisando-se os gráficos dos percentuais de técnicas construtivas utilizadas nos imóveis
existentes, pode-se observar a ampla difusão daquelas verificadas na totalidade dos imóveis e
considerar como exceções aquelas que praticamente não são verificadas, com percentuais
muito próximos de 0%. Em algumas obras não foi possível verificar todas as técnicas
construtivas originalmente empregadas, quer pelas reformas ocorridas e/ou pela
impossibilidade de acesso, ocasionando percentuais próximos de 100%, permitindo supor que
a totalidade dos imóveis apresentava esta técnica na época de sua construção.
Algumas técnicas não foram encontradas nos manuais e tratados pesquisados, necessitando
ampliar a pesquisa da sua origem ou razões da sua aplicação. Exemplos destas situações são
os forros de madeira com encaixes do tipo “macho e fêmea”, a fileira de telhas canal
sobrepostas ao telhado e o forro de madeira revestido com couro e aplicação de frisos.
Outros limites se estabeleceram ao longo desta pesquisa. O fato das identificações terem sido
feitas apenas por observação visual e de não ter havido prospecções sistemáticas para análise
dos materiais utilizados pelos construtores impediram a obtenção de conclusões mais
fundamentadas para estas questões. Com relação a estes materiais, foram obtidas diversas
informações na pesquisa e ao longo das verificações nos imóveis e que podem servir como
ponto de partida para futuras investigações, tais como:
a) a cal era um material de construção amplamente utilizado nos estuques, ornatos
ou revestimentos de paredes. Provavelmente os construtores utilizavam cales
da Caleira Carpena, fundada em 1856, segundo Cunha (1911, s.p.), e em
atividade em 1911, ou das jazidas de calcário da região de Torrinhas, próximo
ao município de Pedro Osório, comprovadamente visualizada propaganda do
revendedor “Duarte, Leite & C.” no jornal “A Opinião Pública”, de 03 de abril
de 1904;
b) os ladrilhos hidráulicos, amplamente utilizados nas construções pesquisadas
provavelmente eram de fabricação local, uma vez que, no mínimo, duas
fábricas de mosaicos existiram em Pelotas. Segundo Cunha (1911, s.p.), em
1911, existiam em Pelotas, madeireiras, serralheiros e outras fábricas como,
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por exemplo, a “Fábrica de Mosaicos Stanisci”, fundada em 1891 e o “Atelier
de Mosaicos Alfino” de Alfino & Irmão, fundado em 1894, que forneceu
ladrilhos para a Santa Casa de Misericórdia de Pelotas (exemplar com a marca
do fabricante ainda existente em posto médico deste hospital) e, segundo o
mesmo autor, utilizava cimento hidráulico e comum para sua fabricação;
c) de acordo com propagandas do jornal “A Opinião Pública”, de 03 de abril de
1904, “diversas marcas de cimento portland” eram importadas por “Gottwald
& Comp.”, e provavelmente eram utilizadas nas construções de 1904 na
cidade;
d) os mármores utilizados nas construções do início do século eram importados e
trabalhados por empresas de Pelotas. Segundo Cunha (1911, s.p.) haviam duas
marmorarias em 1911 atuando em Pelotas e utilizando “mármores italianos das
pedreiras de Carrara” para seus trabalhos;
e) das quatro obras inicialmente pesquisadas, as mais recentes, ou seja, Prefeitura
Municipal de Pelotas e Clube Caixeiral empregaram vigas de aço, perfil “I” ou
duplo “T” com o objetivo de vencer maiores vãos ou nas estruturas de escadas,
o que denota a iniciativa dos construtores italianos ou descendentes em utilizar
materiais inovadores para a época, sendo que, além das vigas, outros materiais
como placas de aço estampado para forro e escadas completas de ferro fundido
foram importados da Filadélfia. Também madeiras nobres foram
provavelmente importadas, como as do madeiramento original do telhado da
ala da rua Gen. Neto da Santa Casa de Misericórdia e da Prefeitura Municipal
de Pelotas, em pinho de Riga (provavelmente proveniente da região de Riga, na
Letônia);
f) pedras nobres como mármores italianos também são encontradas em muitas
obras dos construtores pesquisados demonstrando que a riqueza econômica de
seus proprietários permitia a reprodução em Pelotas da cultura européia,
considerada de valor inigualável pela aristocracia da cidade na época;
g) diferentemente das características das construções de influência italiana na
região da serra gaúcha e arredores, cujas edificações eram executadas por
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trabalhadores rurais que se utilizavam muitas vezes de materiais do próprio
local, como as pedras e madeiras sem muitas ornamentações, o legado da
tecnologia construtiva de imigrantes italianos em Pelotas é resultante das
iniciativas de grandes empreendedores, políticos ou aristocratas, promotores do
desenvolvimento econômico e urbano da cidade no final do século XIX e início
do século XX;
h) o revestimento de argamassa sobre as abóbadas de tijolos das torres da capela
da Santa Casa revela-se como um acabamento de baixo custo, se comparado
aos revestimentos metálicos encontrados em outras capelas ou prédios da
cidade. O revestimento de madeira sob as telhas da capela, não encontrado nos
manuais e tratados italianos, se apresenta aparentemente como solução
encontrada para a proteção das abóbadas de estuque sob a cobertura, sem
registro da data de execução, que pode ter sido posterior à data da construção
original, ou seja, até mesmo em manutenções ao longo da vida do imóvel;
i) provavelmente, a utilização de esquadrias do tipo óculos com vidros coloridos
não era uma prática comum entre os construtores pesquisados. Dos três
imóveis que apresentam este tipo de esquadria, apenas nos desenhos originais
do Clube Caixeiral, estes óculos já eram previstos. Não foi possível determinar
que o da capela da Sociedade Portuguesa de Beneficência e do imóvel sito à
Praça Cor. Pedro Osório - atual no. 61 - sejam originais, pois não foram
encontrados os desenhos de fachadas destes imóveis;
j) os arcos de tijolos maciços, encontrados na grande maioria dos imóveis
pesquisados permitiram supor que os de pedra (utilizados em marcos de
cantaria) vinham de fora da cidade. Além disso, não foram encontrados
registros da existência de exploração de jazidas de granito no período
pesquisado destas construções em Pelotas;
k) devido à limitada produção de perfis de aço no Brasil no século XIX e início
do século XX, supõe-se que a utilização de óculos e vitrais seja de fora da
cidade ou de reformas posteriores à época original da construção. Os
cruzamentos de dados desta técnica com o padrão ou período da construção
não revelam influência destas variáveis na sua utilização;
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l) as vigas de aço empregadas como arquitraves de apoio das cargas das
alvenarias sobre elas, utilizadas no Clube Caixeiral, foram trazidas da
Filadélfia, nos Estados Unidos. Sobre dois perfis foram apoiados tijolos
cerâmicos maciços, iniciando a alvenaria que se apóia nestes perfis. Esta
conformação de viga composta de perfil metálico e tijolos cerâmicos não foi
encontrada nos manuais e tratados italianos daquele período;
m) as chapas estampadas para forro utilizadas em Pelotas no final do século XIX e
início do século XX, como as do Clube Caixeiral, foram importadas da
Filadélfia, nos Estados Unidos. O mesmo tipo de chapa estampada foi utilizado
no Clube Comercial, construído em 1871 por um dos arquitetos pesquisados -
Giuseppe Isella e reformado após incêndio em 1914 e que, segundo registros
do clube, estas teriam sido importadas de Nova Iorque sem data registrada;
n) nas duas obras anteriores, as chapas estampadas estão simplesmente pregadas
em barroteamento de madeira que se sustenta nas vigas mestras do soalho de
entrepiso ou de cobertura, conforme é possível verificar na descrição do Clube
Caixeiral.
Embora algumas técnicas e materiais não tenham sido localizados na bibliografia consultada,
pode-se considerar que os construtores pesquisados utilizaram-se de técnicas amplamente
divulgadas na Itália e em outros países europeus. Além dos autores italianos, encontram-se
manuais e tratados editados na França ou traduzidos de livros editados na Alemanha.
Por não existirem documentos ou fontes bibliográficas locais, que identifiquem as técnicas
construtivas empregadas nas obras dos construtores em análise, e para que se conheça o
“saber como” das práticas construtivas de origem italiana na cidade de Pelotas, esta pesquisa
se justifica e fundamenta culturalmente os trabalhos de conservação e restauração desta parte
do patrimônio arquitetônico da cidade.
O método de identificação das técnicas construtivas empregadas nos exemplares mais
significativos das construções realizadas por construtores italianos ou descendentes no final
do século XIX e início do século XX em Pelotas, possibilita que outros trabalhos na área da
conservação, manutenção e restauração de edificações históricas, utilizem estes
procedimentos para pesquisa das técnicas construtivas.
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8 CONCLUSÕES
As conclusões obtidas no presente trabalho são:
a) de uma forma geral, os construtores pesquisados aplicaram as técnicas
construtivas comumente utilizadas na Itália, conforme foi possível verificar
através das comparações com as técnicas difundidas nos manuais e tratados da
época. Em alguns casos, foram necessárias algumas adaptações no uso de
materiais por não serem obtidos com facilidade na região. Em outros casos, os
materiais foram importados para que se reproduzisse fielmente a técnica,
conforme era utilizada no país de origem dos construtores;
b) os construtores italianos não somente projetavam e dirigiam suas obras, mas
também as executavam, principalmente nas tarefas de estuques, caiação e
pintura, como foi possível observar nos registros de historiadores que
denominavam Giuseppe Isella de arquiteto escultor ou pelas mortes de
Bartolomeo Isella (irmão de Giuseppe Isella) e Luiggi Zanotta. Estas
ocorreram por queda de andaimes em obras de Giuseppe Isella e do próprio
Luiggi Zanotta;
c) a revisão bibliográfica do material obtido no país de origem dos construtores
pesquisados possibilitou a compreensão das técnicas construtivas por eles
utilizadas. Além disso, permitiu o conhecimento da origem destas técnicas e
das fontes bibliográficas históricas que serviram de referência a elas, desde a
antiguidade até as suas publicações;
d) a comparação das técnicas construtivas encontradas no patrimônio
arquitetônico de Pelotas com as difundidas no país de origem dos construtores
possibilitou a verificação das que foram aplicadas nos imóveis pesquisados e
suas descrições podem ser aproveitadas como registros do modo de execução e
de alguns materiais utilizados nos futuros trabalhos de conservação e
restauração destes imóveis;
e) existem materiais que não foram comprovadamente identificados, necessitando
uma análise mais aprofundada para sua caracterização. Este conhecimento
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favorecerá as adequadas especificações de materiais para as obras de
conservação, manutenção e restauração dos imóveis projetados ou executados
pelos construtores pesquisados;
f) técnicas construtivas empregadas nas obras, cujos manuais e tratados
pesquisados não a descrevem, geraram dúvidas quanto à origem ou influência
do conhecimento destas técnicas. Uma suposição é de que tenham sido
executadas em intervenções posteriores à construção original, cujos registros
destas reformas não foram encontrados;
g) foram identificadas as técnicas construtivas e os materiais utilizados nos
imóveis projetados ou executados por construtores de origem italiana com
atuação no final do século XIX e início do século XX em Pelotas;
h) a coligação de informações das fontes escritas, dos detalhes formais e materiais
resultantes das identificações e dos relatos obtidos nas investigações das obras
existentes, possibilitaram uma ampla caracterização da tecnologia construtiva
utilizada. Estes dados documentados passam a ser referências para futuras
intervenções e pesquisas sobre o tema.
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__________________________________________________________________________________________
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273
ANEXO A - INVENTÁRIO DOS IMÓVEIS (Julho a Outubro de 2005)
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A 1 - Imóveis de autoria de projeto ou execução dos construtores, proprietário, ano do projeto
ou execução e comprovação da sua existência em 2005
GUGLIELMO MARCUCCI
DESCRIÇÃO OU ENDEREÇO PROPRIETÁRIO
DATA
PROJ. OU
EXEC.
EXISTE
?
Capela e ala da Rua Gen. Neto Santa Casa de
Misericórdia de Pelotas
1884 e
1887
Sim
Rua XV de Novembro, 213 Antônio da Costa Leite 1898 Sim
Casa de moradia inteira com comércio anexo – Rua
Marquês de Caxias (atual Rua Santos Dumont) –
Francisco Auguet 1895 Sim
(parte)
Casa de meia-morada e morada inteira – Rua
Tiradentes –
Emílio Laquitini 1895 Não
localizada
Muro com portão – Rua Sto. Antônio,59 (atual Rua
Senador Mendonça) –
Marcellino Fernandes da
Silva
1895 Não
Quatro casas em fita – Rua Paysandú (Rua Barão de
Sta. Tecla), entre Rua Santo Antônio (Rua Senador
Mendonça) e Rua Três de Fevereiro (Rua Major
Cícero)
Francisco Alsina 1896 Não
Casa ??? – 30/03/1897 Felippe Zurilla 1897 Não
localizada
Casa de moradia inteira – Rua XV de Novembro esq.
Rua Moreira César (atual Rua Tamandaré) –
Antônio da Costa Leite 1898 Sim
Casa de moradia inteira – Rua Mar. Deodoro –
16/03/1898
Filippe Zurilla 1898 Não
localizada
3 Casas geminadas – Rua XV de Novembro – Francisco Alcina e
Josepha Alcina Estadella
1899 Sim
Casa de meia-morada e morada inteira – Rua Félix da
Cunha até Rua Gen. Vitorino (atual Rua Padre
Anchieta)
Benjamin Leitão 1900 Sim (só
Félix da
Cunha)
?? (36,30 x 20,40 m) esq. Félix da Cunha, posição
leste (2 pl. baixas) -
Leopoldo Haertel ?? Não
localizada
GIUSEPPE ISELLA
Residência (atual Clube Comercial) sito a rua Félix da
Cunha, 663
Felisberto Braga 1871 Sim
Proj. n
o
. 1 - Fachada e planta baixa de uma casa de
porão alto Pça. da Constituição (Pça Cor. P. Osório,
104) (CHEVALLIER, 2002)
Pinto da Rocha s/data Sim
Proj. n
o
. 2 - Fachada e planta baixa de uma casa de
porão alto ??? (CHEVALLIER, 2002)
??? ??? ???
Proj. n
o
.3 - Fachada e planta baixa de construção
térrea de uso misto sito à rua S. Jerônimo, ?? (Mar.
Floriano) (CHEVALLIER, 2002)
Bartolomeo Bonora ??? ???
Proj. n
o
.4 - Fachada de uma casa de porão alto ???
(CHEVALLIER, 2002)
??? ??? ???
Proj. n
o
. 5 - Fachada de um sobrado residencial de
porão alto ?? (CHEVALLIER, 2002)
??? ??? ???
Proj. n
o
. 6 – Fachada de um sobrado de uso misto ??? 1874 ???
Residência sito a rua Andrade Neves, 1921 (atual
“Casa Amarela”)
Cândida Dias 1875 Sim
Proj. n
o
. 7 - Fachada de um sobrado de uso misto Francisco Alsina 06/06/1875 ???
Proj. n
o
. 8 - Fachada de um sobrado de uso misto 25/03/1875 ???
Proj. n
o
. 9 – Fachada remodelada do “casarão 2”
Ângelo Gonçalves
Moreira
16/04/187? Sim
Residência da Baronesa do Jarau sito a XV de
Novembro esq. Gen. Teles
Ernestina de Assumpção 1876 Sim
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275
Empreiteiro em algumas obras
Santa Casa de
Misericórdia
1876 Sim
Contratação dos alicerces e paredes da capela da SCM
Santa Casa de
Misericórdia
1877 Sim
Projeto para obras da BPP (1º. pavim.)
Bibliotheca Pública
Pelotense
1878 Sim
Projeto da casa n
o
. 8 da Pça. Cor. Pedro Osório -
“Casa Eliseu Antunes Maciel”
Francisco.Antunes
Maciel
(Barão de Cacequi)
1878 Sim
Projeto da casa n
o
. 6 da Pça. Cor. Pedro Osório
Leopoldo Antunes
Maciel (Barão de São
Luis)
1879 Sim
Proj. n
o
. 11 - Capela da SCM
Santa Casa de
Misericórdia
1883 ? a
1884
Sim
Residência e uso comercial “Torre Eiffel” na Rua
Mar. Floriano esq. XV de Novembro (do avô de
Heloísa Assumpção Nascimento)
Antônio Raimundo
Assumpção
1885 a
1888 ?
Não
CARLO ZANOTTA E LUIGGI ZANOTTA
Praça Cor. Pedro Osório, 101
Prefeitura Municipal de
Pelotas
1879 Sim
Praça Henrique D’ Ávila (?) José Luiz Antunes 1905
Não
localizada
Mar. Floriano, 7 H. José de Souza 1906 Não
Sete de Abril (atual Dom Pedro II) esq. Andrade
Neves
Antonio Tonca Duarte 1907 Não
Gen. Osório, 160 ou 100(?)
José Rodrigues Sant’
Anna
1907 Não
Sete de Abril (atual Dom Pedro II) Antonio Mattos da Cruz 1908
Não
localizada
Gen. Vitorino (atual Rua Anchieta) esq.
Independência (atual Rua Uruguai)
Joaquim Marques Pires 1908 Sim
Andrade Neves, 18 Manoel Pinto da Cunha 1909
Não
localizada
Mar. Deodoro esq. 24 de Fevereiro (atual Dr.
Amarante)
Antonio Alves dos Reis 1909 Sim
Gonçalves Chaves esq. 16 de Julho (atual Rua
Cassiano)
Luiz ....... Barros L........ 1910 Não
Gen. Teles, 551 Barão do Arroio Grande 1911 Não
Sete de Abril (atual Rua D. Pedro II), 535 Barão do Arroio Grande 1911 Não
Andrade Neves esq. 3 de Maio (frente leste e norte)
atual 3 de Maio, 1005
Pedro Rodrigues 1912 Sim
Andrade Neves, 1039 entre 3 de Maio e Gomes
Carneiro, frente leste
Pedro Rodrigues 1912 Sim
CAETANO CASARETTO, C. CASARETTO & IRMÃO e CARLOS CASARETTO SCOTTO
Andrade Neves, 915
Sociedade Portuguesa
Beneficente
1892 Sim
Mar. Deodoro Agustinho B. Nobre 1894
Não
localizada
Gonçalves Chaves, 222 e 224 Casaretto & Irmãos 1895 Não
S. Domingos (atual Rua Benjamin Constant) RU (4,90
x 15,00m) 73,15 m2
Antônio R. de
Assumpção
1896
Não
localizada
Andrade Neves, 76 Julio J....(?) 1896 Não
Andrade Neves
Francisco de Brito
Gouvêa
1896
Não
localizada
Sete de Setembro não consta 1896
Não
localizada
__________________________________________________________________________________________
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276
XV de Novembro, lado oeste
Eduardo da Silva
Carvalho
1896
Não
localizada
Voluntários, 17 esq. Marquês de Caxias (atual Rua
Santos Dumont)
Theodosio F. da Rocha 1896 Não
Sete de Setembro, 305 Antônio Rego Magalhães 1897 Sim
XV de Novembro, 87
Joaquim Moreira dos
Santos
1897 Não
XV de Novembro Bernardina Pinto 1897 Não
XV de Novembro Eduardo Gastal 1897
Não
localizada
XV de Novembro, (2 pav.) 936 m2 Levy & Irmãos 1897
Não
localizada
Tiradentes próx. Barroso (8,70 x 18,00m) 92,20 m2 Luiz Schröder 1898 Não
Sete de Abril (atual Rua Dom Pedro II), Gen. Telles
próx. estr. ferro
Theodosio F. da Rocha 1898 Não
XV de Novembro, 151 ou 153 Luiza Bidan 1898 Não
Andrade Neves entre 3 de Maio e Gen.Telles, Gomes
Carneiro
Ângelo Zanotta 1899/7 Não
XV de Novembro esq. Voluntários José Vieira de Souza 1899 Não
Voluntários, 7 e 9 esq. Gen. Vitorino
Hyppolito Gonçalves
Detroit
1899 Não
Pça. Da Matriz (?) Ataliba Borges (?) 1899
Não
localizada
Tiradentes Theodosio F. da Rocha 1899 Não
Andrade Neves, 1029 Luiz Zanotta 1900 Sim
Marcílio Dias esq. Riachuelo (atual Rua Lobo da
Costa)
Barão de Aredes Coelho 1900 Não
XV de Novembro Baptista Lullier F
o
. 1900
Não
localizada
Tiradentes entre M. Rodrigues (atual Rua P. Araújo) e
Marcílio Dias (10,20 x 19,98m)
Theodosio F. da Rocha 1900 Não
Gen. Osório entre 3 de Maio e Gen. Gomes Carneiro
(2 peq. casas)
Sociedade Port. de
Beneficência
(Ant.P.Rego Magalhães –
presid.)
1901 Não
Voluntários entre M. Rodrigues (atual Rua P. Araújo)
e Marquês de Caxias (atual Rua Santos Dumont) (4,30
x 41,30 m)
Francisco Nunes de
Bastos
1901 Sim
16 de Julho José Inácio do Amaral 1901 Não
Gonçalves Chaves, 213 José Delfino da Costa 1901 Não
Gonçalves Chaves esq. 16 de Julho (atual Rua
Cassiano)
José Delfino da Costa
1900 ou
1901
Não
Benjamim Constant entre Aquidaban (atual Rua
Alberto Rosa) e Constituição (atual Rua Álvaro
Chaves)
Dr. Antônio Augusto
Assumpção
1902 Não
Félix da Cunha, 120 Ramão Trápaga 1902 Não
Voluntários, 19 e 21
Carlota Behrensdorf
(herd.F.Behren..)
1902 Não
Mar. Deodoro, 233
Frederico Guilherme
Marcucci
1902 Não
Gen. Teles esq. Gen. Vitorino (atual Rua Anchieta)
Construtora C. Casaretto
(oficina)
1902 Não
XV de Novembro, 505 (9,40m de testada) Ismael da S. Maia 1902 Sim
Pça. Cor. Pedro Osório Clube Caixeiral 1902 Sim
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277
XV de Novembro, 107 Maria da Glória Pojo 1903 Não
Félix da Cunha, 156 Eduardo Enedino Gomes 1903 Não
Manduca Rodrigues (atual Rua Prof. Araújo) , 54 José Casaretto 1903
Não
localizada
Marquês de Caxias (atual Rua Santos Dumont ?),
Villa da Graça
Adeodato Rossi 1904
Não
localizada
Gen. Vitorino (atual Rua Anchieta) esq.
Independência (atual Rua Uruguai)
Estephania Rodrigues 1904 Não
Tiradentes entre M. Rodrigues (atual Rua Prof.
Araújo) e Vieira Pimenta (atual Rua Saldanha
Marinho ou Marcílio Dias ?)
Antônio P. Rego
Magalhães
1904 Não
Sete de Setembro Edmundo Gastal 1904
Não
localizada
Conde de Porto Alegre, 1
Joanna Carolina da
Rocha
1906 Não
Félix da Cunha, 165 Luzia Marino Mariano 1907 Não
Félix da Cunha, 15 - fundos (telheiro faceando a Gen.
Vitorino (atual Rua Anchieta))
Caetano Casaretto 1908 Não
Praça XV Novembro junto Matriz (frente Oeste)
Irmandade S. F
co
. de
Paula
1908
Não
localizada
Mar. Floriano, 8 e 10 Antonio A. Assumpção 1908 Sim
XV de Novembro, 162 Baptista Lullier Fo. 1909 Não
Regeneração (atual Rua Barão de Butuí)
Dr. Antônio A.
Assumpção
1911
Não
localizada
XV de Novembro, 220 Martin Bidart 1915 Sim
XV de Novembro, 568, 570, 572 Paulina A. de Faria Rosa 1916 Não
Félix da Cunha, 124 e 126 Bruno Chaves 1916 Não
Félix da Cunha, 724 (8,00 x 41,70 m) Bruno Chaves 1916 Sim
Andrade Neves, 516 entre Teles e 7 de Julho (Largo
Tiradentes – Mercado)
Celso Eston 1916 Não
Félix da Cunha, 560
Maria Luiza Martins
Soares
1916 Sim
XV de Novembro, 651, 653 e 655 e Gen. Neto, 302
(só plantas baixas)
Deolinda Aguiar Leite 1916 Não
Andrade Neves, 622 Heráclito Magalhães Dias 1916 Não
Gonçalves Chaves, 710 (fachada e garagem) e 712
Dr. Antonio Augusto
Assumpção
1917
Não (só
712)
Paysandu (STA TECLA), 461 Antonio Martins Gomes 1917 Sim
José do Patrocínio, no. (acréscimo fábrica) Leopoldo Haertel 1917 Sim
Santa Cruz, 811 (galpão fundos do prédio) C. Ritter 1917 Não
Santa Cruz esq. 13 (3 ?) de Maio (2 plantas)
Luiz Augusto de
Assumpção
1917 Não
Mar. Deodoro, 806 (519,62 m2) Carlota Behrensdorf 1917 Sim
Pça. XX de Setembro, Escola de Artes e Ofícios 1917 Não
Pça da Constituição, no. (galpão de madeira cob. c/
telha francesa)
Fábrica de Chapéus
Pelotense
1918
Não
localizada
Santa Cruz, 811 (galpão de fundos da fábrica de
fumos Ritter&Conceição)
F. Ritter 1918 Não
Pça. da República, 61 Olympio Farias 1918 Não
XV de Novembro, 381 (abert. De 1 área) e anexação
dos prédios da 3 de Maio, 501 e 501 A
Demétrio Jorge 1919 Sim
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
278
Gonçalves Chaves, 552
Maria Mendonça de
Assumpção
1919 Não
Gen. Osório, 620 (garage) Marina Eston de Eston 1919 Sim
Félix da Cunha, 476 (aberturas no portão) Urbano Garcia 1919 Não
XV de Novembro, 216 e 218
Dna. Manoela Galibern
Bidart
1919
Sim (só
218)
Gonçalves Chaves, 762 Dr. Edmundo Berchon 1919 Não
Benjamin Constant, 204 (cocheira)
Dr. Antonio Augusto de
Assumpção
1919
Não
localizada
Riachuelo (LOBO DA COSTA), no.
Francisco Nunes de
Souza
1920 Não
São Paulo (LOBO DA COSTA) esq. Sta. Cruz
Maria F. Mendonça de
Assumpção
1920 Não
Félix da Cunha, 518 João Mendonça Moreira 1920 Não
Gonçalves Chaves, 911 Hermann Bojunga 1920 Sim
Andrade Neves, 657 (acrésc. fundos) Emílio Leão 1920 Não
Pça. Mar. Floriano, 66 João Jorge Hosni 1920 Não
Sete de Setembro, 451 (área nos fundos das garagens)
Antônio H. Nogueira
Sobrinho
1921 Não
Gonçalves Chaves, 930 esq. Miguel Barcelos (planta
31/25-SEURB)
Luis da ....Mascaranhas 1921 Sim
Andrade Neves, 520/522 D. Maria de Faria Eston 1923 Não
Gen. Telles entre Saldanha Marinho e arroio Sta.
Bárbara
Antonio Jorge 1923 Não
Benjamin Constant, 415 Jorge Marques Coelho 1924 Não
Pça. da República, 61 Olympio Farias 1926 Não
Andrade Neves, 521 Paulo Guilayn 1927 Não
Félix da Cunha, 216 RU (8,50 x 15,90m) 135,15 m2 Fherbio Vieira da Silva 1927 Sim
Dr. Amarante (reforma do Asilo de Mendigos) Asilo de Mendigos Sim
Sete de Setembro, 307 (6,80 x 21,50m) 146,20 m2 Mário Magalhães 1928 Sim
Pça. da República, 57 e 59 (constr. de 2 sobrados)
Olympio dos Santos
Farias
1929 Sim
Gen. Neto, (ala da SCM)
Santa Casa de
Misericórdia
Sim
Riachuelo (atual Rua Lobo da Costa), 10 Alfredo Leite Nunez 1931
Não
localizada
Constituição (atual Rua Álv. Chaves) 11,89 m2
(acrésc.jardim inv. prédio D.Pedro II)
Ramon Badia 1936
Não
localizada
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
279
A 2 – Imóveis existentes em 2007 de autoria de projeto ou execução pelos construtores
pesquisados
GUGLIELMO MARCUCCI
DESCRIÇÃO OU ENDEREÇO No. PROPRIETÁRIO
DATA PROJ.
OU EXEC.
Capela e ala da Rua Gen.
Neto
I Santa Casa de
Misericórdia de
Pelotas
1884 e 1887
Casa de moradia inteira com
comércio anexo – Rua
Marquês de Caxias (atual
Rua Santos Dumont)
1 Francisco Auguet 1895
Casa de moradia inteira com
porão alto e recuo lateral –
Rua XV de Novembro
2 Antônio da Costa
Leite
1898
3 Casas geminadas – Rua
XV de Novembro
3 Francisco Alcina e
Josepha Alcina
Estadella
1899
Casa de morada inteira na
Rua Félix da Cunha
4 Benjamin Leitão 1900
GIUSEPPE ISELLA
Residência (atual Clube
Comercial) sito a rua Félix
da Cunha, 663
5 Felisberto Braga 1871
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
280
Proj. n
o
. 1 - Fachada e
planta baixa de uma casa de
porão alto Pça. da
Constituição (Pça Cor. P.
Osório, 104)
(CHEVALLIER, 2002)
6 Pinto da Rocha s/data
Residência sito a rua
Andrade Neves, 1921 (atual
“Casa Amarela”)
7 Cândida Dias 1875
Residência da Baronesa do
Jarau sito a XV de
Novembro esq. Gen. Teles
8 Ernestina de
Assumpção
1876
Projeto para obras da BPP 9 Bibliotheca Pública
Pelotense
1878
Projeto da casa n
o
. 8 da Pça.
Cor. Pedro Osório - “Casa
Eliseu Antunes Maciel”
II Francisco Antunes
Maciel
(Barão de Cacequi)
1878
Projeto da casa n
o
. 6 da Pça.
Cor. Pedro Osório
10 Leopoldo Antunes
Maciel (Barão de
São Luis)
1879
CARLO ZANOTTA E LUIGGI ZANOTTA
Praça Cor. Pedro Osório,
101
III Prefeitura
Municipal de
Pelotas
1879
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
281
Gen. Vitorino (atual Rua
Anchieta) esq.
Independência (atual Rua
Uruguai)
11 Joaquim Marques
Pires
1908
Mar. Deodoro esq. 24 de
Fevereiro
12 Antonio Alves dos
Reis
1909
Andrade Neves esq. 3 de
Maio (frente leste e norte),
atual 3 de Maio, 1005
13 Pedro Rodrigues 1912
Andrade Neves, 1029/1039
entre 3 de Maio e Gomes
Carneiro, frente leste
14 Pedro Rodrigues 1912
CAETANO CASARETTO ou CARLOS CASARETTO SCOTTO
Capela da Sociedade
Portuguesa de Beneficência
sito à rua Andrade Neves,
915
15 Sociedade
Portuguesa de
Beneficência
1892
Sete de Setembro, 305
16 Antônio Rego
Magalhães
1897
Andrade Neves, 1029 17 Luiz Zanotta
Caetano Casaretto
(desenho)
Paulino Rodrigues
(construtor)
1900
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
282
Voluntários entre M.
Rodrigues (atual Rua P.
Araújo) e Marquês de
Caxias (atual Rua Santos
Dumont) (4,30 x 41,30 m)
18 Francisco Nunes de
Bastos
1901
XV de Novembro, (9,40m
de testada)
19 Ismael da S. Maia 1902
Pça. Cor. Pedro Osório IV Clube Caixeiral 1902
Mar. Floriano, 8 e 10 20 Antonio A.
Assumpção
1908
Pça. da República, 103 21 Bibliotheca Pública
Pelotense
1912
XV de Novembro, 220 22 Martin Bidart 1915
Félix da Cunha, 724 (8,00 x
41,70 m)
23 Bruno Chaves 1916
__________________________________________________________________________________________
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283
Félix da Cunha, 560
24 Maria Luiza
Martins Soares
1916
Paysandu (STA TECLA),
461
25 Antonio Martins
Gomes
1917
José do Patrocínio, no.
(acréscimo fábrica)
26 Leopoldo Haertel 1917
Gen. Osório, 620 (garage) 27 Marina Eston de
Eston
1919
Gonçalves Chaves, 911 28 Hermann Bojunga 1920
Gonçalves Chaves, 930 esq.
Miguel Barcelos (planta
31/25-SEURB)
29 Luis da ?
Mascaranhas
1921
Félix da Cunha, 216 (8,50 x
15,90m) 135,15 m2
30 Fherbio Vieira da
Silva
1927
__________________________________________________________________________________________
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284
Dr. Amarante (reforma do
Asilo de Mendigos)
31 Asilo de Mendigos 1928
Sete de Setembro, 307 (6,80
x 21,50m) 146,20 m2
32 Mário Magalhães 1928
Pça. da República, 57 e 59
(constr. de 2 sobrados)
33 Olympio dos
Santos Farias
1929
__________________________________________________________________________________________
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285
A 3 – Imagens e plantas de imóveis existentes - exemplar de Guglielmo Marcucci
Imagens de 2005 da obra de Guilherme Marcucci, datada de 1899, e plantas correspondentes
do arquivo municipal.
__________________________________________________________________________________________
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286
A 4 – Imagens e plantas de imóveis existentes - exemplar de Giuseppe Isella
Imagens da obra de José Isella, datada de 1871e plantas correspondentes de autoria de
Chevalier (2002).
__________________________________________________________________________________________
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287
A 5 – Imagens e plantas de imóveis existentes - exemplar de Luiggi Zanotta
Exemplar de Luiggi Zanotta (irmão de Carlo Zanotta), de 1912 e plantas do arquivo municipal.
__________________________________________________________________________________________
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288
A 6 – Imagens e plantas de imóveis existentes - exemplar de Carlos Casaretto Scotto
Imagens de 2005 da obra de Carlos Casaretto Scotto, de 1929, e planta do arquivo municipal.
__________________________________________________________________________________________
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289
ANEXO B - FONTES LITERÁRIAS HISTÓRICAS CITADAS PELAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
__________________________________________________________________________________________
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290
Muitos autores da bibliografia obtida no país de origem dos construtores fazem referência a
outros autores históricos, com traduções, críticas, tratados autônomos, manuais de engenharia
e arquitetura e dicionários de arquitetura são clássicos de significativa importância, não
somente pelo que representaram na época, no campo das construções, mas também pelos
conhecimentos na arte de edificar, que serviram de modelo a várias gerações e que podem ser
consultados até a atualidade. Devido à importância destas fontes e com o objetivo de auxiliar
nas pesquisas históricas relacionadas à arquitetura e engenharia, principalmente situando-as
no tempo, é que a seguir, estão descritas estas fontes históricas citadas pelas referências
bibliográficas utilizadas, em ordem cronológica.
Traduções e edições críticas de Vitrúvio
I século a.C.
Marco Vitruvio Pollioni. De Architectura libri X. Roma, 1486.
1478-1518
Leonardo da Vinci. Codice Atlantico. 1286 fogli e frammenti com disegni e annotazioni.
1478-1518.
______. Codice Atlantico a cura dell’Accademia dei Lincei. Milano: Ulrico Hoepli, 1894-
1904.
1511-1513
Fra Giocondo. M. Vitruvius per locundum solito castigator Factus cum figuri et tabulae
ut iam legi et intellegi possit. Venezia: 1511.
______. Vitruvius iterum et Frontinus A’ locundo Revisi Repurgatioque quantum ex
collatione licuit. Venezia: 1513.
1521
Cesare Cesariano. De Architectura, traslato e commentato da Cesare Cesariano. Como:
Gotardo da Ponte, 1521.
1556
Daniele Bárbaro. I dieci libri dell’architettura di M. Vitruvio tradutti e commentati da
Monsignor Bárbaro, eletto patriarca di Acquileggia. Venezia: Francesco Marcolini, 1556.
1590
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
291
Giovanantonio Rusconi. Dell’architettura di Gio. Antonio Rusconi, com centosessanta
figure disegnate dal medesimo, secondo i precetti di Vitruvio, e com chiarezza e brevitá
dichiarate, Libri X. Venezia: Gioliti, 1590.
1829
Carlo Amati. Dell’architettura di Marco Vitruvio Pollione libri dieci pubblicati da Carlo
Amati. Milano: Giacomo Pirolla, 1829.
Gabriele Morolli. L’architettura di Vitruvio nella versione di Carlo Amati (1829-1830). 2.
ed. Firenze: Alinea Editrice, 2004. 389 p.
Tratados autônomos
I século d.C
Plinius C. Secundus. Naturalis Historia. Venezia: Johannes Spirensis, 1469.
Gaio Plinio Secondo. Storia naturale, a cura di A. Corso, R. Mugellesi e G. Rosati. Torino:
Einaudi,1982-1988.
1437
Cennino Cennini. Il libro dell’arte, a cura di F. Brunello. Vicenza: Néri Pozza, 1993.
1485
Leon Battista Alberti. De re aedificatoria. Firenze: Nicolò di Lorenzo Alemanno, 1485.
______. L’architettura, a cura di G. Orlandi e P. Portoghesi, Milano: il Polifilo, 1966.
1550
Giorgio Vasari. Le vite de’più eccellenti architetti, pittori et scultori italiani, da Cimabue
insino a’tempi nostri, Firenze: Lorenzo Torrentino, 1550.
1567
Philibert de l’Orme. Le premier tome de l’architecture. Paris: Federic Morrel, 1567.
______. L’oeuvre de Philibert De lOrme. Paris: Librairies imprimeries reunies, 1894.
1567
Pietro Cataneo. L’architettura. Venezia: Manuzio, 1567.
______. L’architettura, in Pietro Cataneo, Giacomo Barozzi da Bignola. Trattati com
l’aggiunta degli scritti di architettura di Alvise Cornaro, Frencesco Giorgi, Cláudio Tolomei,
Giangiorgio Trissino, Giorgio Vasari, a cura di E. Bassi et alii, Milano: il Polifilo, 1985.
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
292
1570
Andrea Palladio. I quattro libri dell’architettura. Venezia: Domenico de’Franceschi, 1570.
______. I quatro libri dell’architettura. Pordenone: Studio Tesi, 1992.
1570
Galasso Alghisi. Delle fortificazione libri ter. Venezia: Graciozo Percacino, 1570.
1584
Sebastiano Serlio. I sette libri dell’architettura. Venezia: Domenico de’Franceschi, 1584.
______. I sette libri dell’architettura. Bologna: Forni, 1987.
1599
Francesco De Marchi. Dell’architettura militare. Firenze, 1599.
1615
Vincenzo Scamozzi. L’idea dell’architettura universale di Vincenzo Scamozzi architetto
veneto. Venezia: Presso l’Autore, 1615.
______. L’idea dell’architettura universale di Vincenzo Scamozzi architetto veneto.
Farnborough: Gregg, 1964.
1619
Sebastiano Serlio. Tutte le opere d’architettura, et prospettiva di Sebastiano Serlio
raccolte da Gio.Domenico Scamozzi. Venezia: Gregg, 1964.
1965
Alvise Cornaro. Trattati di architettura. In G. Fiocco, Alvise Cornaro: il suo tempo e le
sue opere. Vicenza: Neri Pozza, 1965
Manuais de Arquitetura e Engenharia
1778
Ludovico Bolognini. Il muratore reggiano. Reggio Emilia: Davolio, 1778.
1781
Francesco Milizia. Principj di architettura civile. Finale Ligure: Stamperia Jacopo de Rossi,
1781.
__________________________________________________________________________________________
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293
______. Principj di architettura civile, Opera illustrata dal professore architetto
Giovanni Antolini, seconda edizione milanese miglorata per cura del Dottor L. Masieri.
Milano: Serafino Majocchi, 1847.
1802-1817
Jean Rondelet. Traité théorique et pratique de l’art de bâtir. Paris: Chez l’Auteur, 1802-
1817.
Giovanni Rondelet. Trattato teorico pratico dell’arte di edificare. A cura di L. Caramenti,
Mantova: Fratelli Negretti, 1834.
______. . Trattato teorico pratico dell’arte di edificare. Prima traduzione italiana sulla VI
francese, voll. 7, a cura di L. Carament. Napoli: Tipografia del Gallo, 1839.
1832
Nicola Cavalieri San Bertolo. Istituizioni di architettura statica e idraulica. Firenze: V.
Batelli e figli, 1832.
______. Istituizioni di architettura statica e idraulica. Mantova: Fratelli Negretti, 1836
1853
Gustav Adolf Breymann. Trattato generale di costruzioni civili. Traduzione italiana
dell’Ing. Carlo Valentini, com note di A. Cantalupi, L. Mazzocchi, P. Boubée, R. Ferrini.
Milano: Vallardi, 1885.
1855
Francesco De Cesare. La scienza dell’architettura. Napoli: Giovanni Pellizone, 1855.
1862
Antonio Cantalupi. Istituzioni pratiche elementari sull’arte di costruire le fabbriche civili.
Milano: Domenico Salvi & C., 1862.
______. Istituzioni pratiche elementari sull’arte di costruire le fabbriche civili. Milano:
Galli e Omodei, 1874.
1864
Giovanni Curioni. L’arte di fabbricare ossia corso completo di istituzioni teorico-
pratiche. Torino: Negro, 1864.
1877-1881
__________________________________________________________________________________________
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294
Achille Lenti. Corso pratico di costruzioni o guida per eseguire, redigere, sorvegliare e
valutare i lavori di architettura civile, rurale, stradale, idraulica. Alessandria: S. Rossi,
1877-1881.
1870-1887
Giuseppe Musso; Giuseppe Copperi. Particolari di costruzioni murali. Torino: Paravia,
1870-1887.
1893
Carlo Formenti. La pratica del fabbricare. Milano: Ulrico Hoepli, 1893.
1906
Daniele Donghi. Manuale dell’architetto. Torino: Unione Tipográfica, 1906.
1910
C. Albertini, M. A. Boldi, G. Giovannoni, F. Galassi, G. Misuraca, U. Vanghetti. L’arte
moderna del fabbricare. Milano: Dottor Francesco Vallardi, 1910. 1768-1775
Francesco Griselini. Dizionario delle arti e de’mestiere compilato da Francesco Griselini e
continuato dall’abate Marco Fassadoni. Venezia: M. Fenzo, 1775.
Dicionários de arquitetura
1788-1832
Antoine Chrysostome Quatremère de Quincy. Dictionnaire historique d’architecture. Paris:
Anchien Le Clerc, 1832.
______.Dizionario storico di architettura. Mantova: F.lli Negretti, 1842.
1878-1898
ENCICLOPÉDIA DELLE ARTI E INDUSTRIE a cura di Raffaele Pareto. Torino: Unione
Tipografica, 1879-1898.
__________________________________________________________________________________________
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295
ANEXO C – MODELO DE PLANILHA PARA INVESTIGAÇÃO DAS TÉCNICAS
CONSTRUTIVAS NOS IMÓVEIS EXISTENTES
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296
TÉCNICAS CONSTRUTIVAS E MATERIAIS
arquivo: Planilha investigação de técnicas construtivas.doc
DADOS GERAIS
Nome do aplicador: ........................................................ Data: ........................ Nº. do imóvel:
............
Autor ou construtor: Proprietário primitivo: Proprietário atual:
Descrição e/ou endereço: Data de projeto ou execução:
Preencher somente as áreas não-sombreadas da tabela.
ELEMENTO CONSTRUTIVO: FUNDAÇÕES
Direta
01. Marcar com um “X” o tipo de fundação direta:
Alvenaria de pedra
granítica
Alvenaria de tijolos
maciços
Pilaretes apoio estrutura de
madeira
Outro, especificar:
01 a. Dimensões das pedras:.......x.........x........cm ( )outras, especificar:
01 b. Dimensões dos tijolos maciços: .......x.........x........cm
01 c. Tipo de argamassa: ( )aglomerante e areia ( )barro ( )outra, especificar:
01 d. Espessuras das paredes de tijolos: ( )90 cm ( )70 cm ( )50 cm ( )45 cm ( )35 cm
( )20 cm ( )outras, especificar:
01 e. Dimensões dos pilaretes: ( )50 x 50 cm ( )outras, especificar:
ELEMENTO CONSTRUTIVO: ELEMENTOS VERTICAIS
Paredes
02. Marcar com um “X” o tipo de parede:
Portantes de tijolos
maciços
Não portantes de tijolos
maciços nas platibandas
Não portantes de estuque Outro, especificar:
02 a. Dimensões dos tijolos maciços: .......x.........x........cm ( )outras, especificar:
02 b. Tipo de argamassa: ( )aglomerante e areia ( )barro ( )outra, especificar:
02 c. Espessuras das paredes externas: ( )72 cm ( )65 cm ( )60 cm ( )55 cm ( )50 cm ( )45
cm ( )39 cm ( )35 cm ( )outras, especificar:
02 d. Espessuras das paredes internas: ( )55 cm ( )45 cm ( X )39 cm ( )35 cm ( )25 cm (
)18 cm ( )outras, especificar:
02 e. Estrutura da parede de estuque: ( )tábuas ( )ripas ( )taquaras ( )outra, especificar:
02 f. Possui balaustres nas platibandas? ( )sim ( )não
02 g. Tipo de balaustre: ( )de argamassa ( )de cerâmica esmaltada ( )outro, especificar:
Revestimentos
03. Marcar com um “X” o tipo de revestimento dos elementos verticais:
Reboco
liso
Reboco tipo
“rusticação”
Cantaria
nos socos
externos
Azulejos Reboco
acabam
marmóreo
Mármore
no interior
Reboco
c/juntas
em
pilastras
Reboco c/
caneluras
em
pilastras
Outro,
especificar:
03 a. Argamassa de reboco: ( )cal e areia ( )gesso ( )outra, especificar:
03 b. Dimensões dos azulejos: ....... x ...... cm
03 c. Espessura das placas de cantaria: ( )20 cm ( )outra, especificar:
03 d. Escaiola: ( )imitação mármore ( )lisa ( )outra, especificar:
03 e. Argamassa da escaiola: ( )cal e/ou gesso c/adição de pó de mármore ( )outra, especificar:
03 f. Placas de mármore: ( )rosa ( )branco ( )outro, especificar:
Adornos
__________________________________________________________________________________________
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297
04. Marcar com um “X” o tipo de adorno dos elementos verticais:
Ornatos de
argamassa em
relevo no exterior
Ornatos de
argamassa em
relevo no
interior
Cornijas de base,
de faixas ou
frisos, de janelas e
portas
Cornijas de tijolos
revestidas com
argamassa
Outro, especificar:
04 a. Argamassa dos ornatos externos: ( )cal e areia ( )gesso ( )outra, especificar:
04 b. Argamassa dos ornatos internos: ( )cal e areia ( )gesso ( ) outra, especificar:
04 c. Argamassa das cornijas: ( )cal e areia ( )gesso ( )outra, especificar:
04 d. Dimensões dos tijolos maciços nas cornijas: .......x.........x........cm ( )outra, especificar:
Vãos
05. Marcar com um “X” o tipo de vão:
Arquitraves
de tijolos
maciços
Arquitraves,
umbrais, soleiras e
peitoris de cantaria
Fechamento
metálico em
gateiras
Vergas de perfil
metálico
Madeira e
lambrequim
metálico
Outro, especificar:
05 a. Dimensões dos tijolos maciços: .......x.........x........cm ( )outras, especificar:
05 b. Marcos de cantaria: ( )20 x 20 cm laterais ( )20 x 30 cm peitoris/soleiras ( )outra,
especificar:
05 c. Outros peitoris: ( )madeira interior esp. 30 mm ( )mármore branco ( )outro, especificar:
05 d. Dimensões do perfil metálico usado como verga: ( )10 x 30 cm ( )outras, especificar:
Esquadrias
06. Marcar com um “X” o tipo de esquadria:
D
e madeira c/
bandeiras
retangulares
R
evestimento
de madeira no
s
aventais dos
peitoris
Bandeiras
em leque
sob arco
pleno
Bandeiras
trabalhadas
sob arcos
abatidos
Óculos c/
vidros
coloridos
Bandeiras
trabalhadas
em arco
pleno
De
madeira,
sem
bandeira
Outra: metálica
com arco abatido
06 a. Postigos ou escuros almofadados? ( )sim ( )não
06 b. Dimensões dos marcos de madeira: ( )19 x 14 cm ( )outras, especificar:
06 c. Marcos de madeira aparafusados em cilindros de chumbo na cantaria: ( )sim ( )não
ELEMENTO CONSTRUTIVO: ELEMENTOS HORIZONTAIS
Estruturas
07. Marcar com um “X” o tipo de estrutura dos elementos horizontais:
Madeira
para
soalhos de
madeira ou
tijolos
Madeira p/
piso
impermeáv
el
Metálica
nos
entrepisos
de
madeira
Madeira
p/ forro
“saia e
camisa”
Madeira
p/ forro
“macho e
fêmea”
Madeira
para
estuque
Madeira
p/forro
metálico
Metálica
p/abobadilha
s
Outra, especificar:
07 a. Dimensões aproximadas das vigas em soalho de madeira: ( )8 x 16 cm ( )10 x 20 cm ( )19 x
20 cm ( )7 x 22 cm ( )outras, especificar:
07 b. Dimensões aproximadas dos barrotes para soalho: ( )16 x 16 cm ( )25 x 25 cm ( )10 x 20 cm
( )10 x 16 cm ( )outras, especificar:
07 c. Distância aproximada entre barrotes para soalho: ( )50 cm ( )60 cm ( )outra, especificar:
07 d. Altura dos perfis metálicos tipo “I” nos entrepisos: ( )40 cm ( )50 cm ( )outra, especificar:
07 e. Distância aproximada dos perfis metálicos tipo “I” nos entrepisos: ( )3,50 m ( )outra,
especificar:
07 f. Dimensões dos barrotes para forro de madeira, de estuque e entrepiso de tijolos: ( )5 x 7 cm
( )2,5 x 5 cm ( )2,5 x 7 cm ( )2,5 x 10 cm ( )2,5 x 16 cm ( )8 x 8 cm ( )8 x 10 cm ( )8 x 12
cm ( )3 x 7 cm ( )4,5 x 10 cm ( )outras, especificar:
07 g. Dimensões aproximadas das ripas e taquaras dos forros de estuque: ( )taquaras de 3 x 2 cm
( )ripas de 2,5 x 2,5 cm ( )outras, especificar:
__________________________________________________________________________________________
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298
07 h. Dimensões aproximadas das longarinas e barrotes para forros metálicos: ( )2,5 x 15 cm e 5 x 7 cm
( )outras, especificar:
07 i. Distância aproximada dos perfis metálicos para abobadilhas: ( )60 cm ( )outra, especificar:
Revestimentos de pisos
08. Marcar com um “X” o tipo de revestimento de piso:
Ladrilho hidráulico Soalho de madeira Ladrilho cerâmico Outro, mosaico veneziano:
08 a. Dimensões dos ladrilhos hidráulicos: ( )20 x 20 cm ( )outras, especificar:
08 b. Dimensões aproximadas das tábuas de soalho: ( )18 x 3 cm ( )13 x 3 cm ( )20 cm x 3 cm
( )outras, especificar:
08 c. Dimensões dos ladrilhos cerâmicos: ( )20 x 20 cm ( )outras, especificar:
Revestimentos de tetos
09. Marcar com um “X” o tipo de revestimento de teto:
“Saia e camisa”
de madeira
“Macho e fêmea”
de madeira
Tábuas com
aplicação de lona
Estuque Chapa metálica Outro, especificar:
09 a. Largura aproximada das tábuas, tabeiras e cimalhas nos forros de madeira tipo “saia e camisa”:
( )25 cm ( )28 cm ( )outra, especificar:
09 b. Largura aproximada das tábuas nos forros de madeira tipo “macho e fêmea”: ( )10 cm ( )15 cm
( )outra, especificar:
09 c. Largura das tabeiras e cimalhas nos forros de madeira tipo “macho e fêmea”: ( )20 cm ( )25 cm
( )outra, especificar:
09 d. Argamassa dos estuques: ( )cal e areia ( )gesso ( )outra, especificar:
ELEMENTO CONSTRUTIVO: ARCOS E ABÓBADAS
Arcos
10. Marcar com um “X” o tipo de arco:
De tijolos maciços De pedras Outro, especificar:
10 a. Dimensões aproximadas dos tijolos cerâmicos: ( )30 x 15 x 7 cm ( )22 x 15 x 7 cm ( )outra,
especificar:
10 b. Dimensões aproximadas das secções das pedras: ......x.......cm.
10 c. Tipo de argamassa: ( )cal e areia ( )outra, especificar:
Abóbadas de estuque
11. Marcar com um “X” o tipo de abóbada de estuque:
Cruciforme com estrutura de madeira
em arcos rebaixados policêntricos
Meia cúpula com estrutura de
madeira em arco policêntrico
Outra: de tonel com clarabóia em
plano horizontal
11 a. Tipo de argamassa: ( )cal e areia ( )gesso ( )outra, especificar:
11 b. Dimensões aproximadas das ripas e taquaras: ( )taquaras de 3 x 2 cm ( )ripas de 2,5 x 2,5 cm
( )outras, especificar:
Abóbadas de tijolos
12. Marcar com um “X” o tipo de abóbada:
De oito garras com arcos policêntricos
realçados
De tonel na base das escadas Outra: de tonel sob
avarandado
12 a. Dimensões aproximadas dos tijolos cerâmicos: ( )30 x 15 x 7 cm ( )22 x 15 x 7 cm ( )outra,
especificar:
ELEMENTO CONSTRUTIVO: COBERTURA
Estrutura
13. Marcar com um “X” o tipo de estrutura de cobertura:
Tesouras de madeira de
lei falquejada ou serrada
Ripamento de
madeira serrada
Ripamento
de canas
Estrutura metálica para
clarabóia
Outra, especificar:
__________________________________________________________________________________________
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299
13 a. Dimensões aproximadas das pernas, linhas, frechais e terças: ( )8 x 8 cm ( )8 x 16 cm ( )9 x
14 cm ( )9,5 x 23,5 cm ( )11 x 20 cm ( )14 x 14 cm ( )14 x 18 cm ( )16 x 16 cm ( )outras,
especificar:
13 b. Dimensões aproximadas das ripas de madeira serrada: ( )2,5 x 2,5 cm ( )outras, especificar:
13 c. Dimensões aproximadas das taquaras: ( )3 x 2 cm ( )outras, especificar:
13 d. Estrutura metálica e vidros coloridos nas clarabóias: ( )sim ( )não ( )outra, especificar:
Telhado
14. Marcar com um “X” o tipo de telhado:
Telha cerâmica
curva tipo “capa e
canal”
Telha cerâmica de
encaixe tipo
“francesa”
Fileira de canais sobrepostos sobre
telhas curvas
Outra, especificar:
14 a. Dimensões aproximadas das telhas “capa e canal”: ( )18 x 50 cm ( )26 x 55 cm ( )28 x 57 cm
( )outras, especificar:
14 b. Dimensões aproximadas das telhas “francesas”: ( )28 x 42 cm ( )outras, especificar:
Revestimento
15. Marcar com um “X” o tipo de revestimento em cobertura:
Reboco sobre abóbadas de tijolos Forro de madeira sob as telhas cerâmicas Outra, especificar:
15 a. Tipo de argamassa: ( )cal e areia ( )outra, especificar:
15 b. Dimensões aproximadas das tábuas de forro sob o telhado: ( )22 x 5 cm ( )outras, especificar:
ELEMENTO CONSTRUTIVO: ESCADAS
Estrutura
16. Marcar com um “X” o tipo de estrutura de escadas:
Base de
alvenaria
Pisos, espelhos
e patamares em
cantaria
Estrutura e
degraus de
madeira aplainada
Metálica
totalmente d
e
ferro fundido
Metálica de
aço com
barrotes de
madeira
Abóbada
de tijolos
Outra, especificar:
16 a. Dimensões aproximadas dos tijolos cerâmicos: ( )35 x 18 x 7 cm ( )30 x 15 x 7 cm ( )22 x 15
x 7 cm ( )outra, especificar:
16 b. Tipo de argamassa: ( )cal e areia ( )outra, especificar:
16 c. Espessura aproximada dos degraus de cantaria: ( )2 cm ( )3 cm ( )11 cm ( )12 cm ( )17
cm ( )outra, especificar:
16 d. Dimensões aproximadas de vigas de sustentação dos degraus nas escadas de madeira: ( )5 x 18
cm ( )5 x 25 cm ( )7 x 30 cm ( )outras, especificar:
16 e. Dimensões aproximadas de degraus nas escadas de madeira: ( )27 x 3 cm ( )32 x 5 cm
( )outras, especificar:
16 f. Diâmetro aproximado de colunas de madeira: ( )4 cm ( )outro, especificar:
16 g. Diâmetro aproximado das colunas de ferro fundido: ( )25 cm ( )outro, especificar:
16 h. Dimensões aproximadas do perfil de aço tipo “I”: ( )11 x 30 cm ( )outro, especificar:
Revestimento
17. Marcar com um “X” o tipo de revestimento das escadas:
Placas metálicas
estampadas de latão
sob os degraus
Lambris de madeira
“macho e fêmea” e “saia e
camisa” sob os degraus
Degraus de placas de
mármore, granito ou grês
Outro: patamares de
ladrilho hidráulico
17 a. Espessura dos espelhos metálicos rebitados: ( )10 mm ( )outra, especificar:
17 b. Largura aproximada dos lambris “macho e fêmea”: ( )10 cm ( )outra, especificar:
__________________________________________________________________________________________
Legado da Tecnologia Construtiva de Imigrantes Italianos ao Patrimônio Arquitetônico de Pelotas
300
17 c. Largura aproximada das tábuas “saia e camisa”: ( )30 cm ( )outra, especificar:
17 d. Espessura dos degraus de mármore, granito ou grês: ( )2 cm ( )3 cm ( )outra, especificar:
Proteção
18. Marcar com um “X” o tipo de proteção das escadas:
Guarda-
corpos de
madeira
Guarda-corpos
de ferro forjado
e fundido
Passamãos
de madeira
e de
mármore
Guarda-corpo vazado
com balaustres de
argamassa e passamão
de mármore
Outro: corrimão de latão
18 a. Dimensões aproximadas dos passamãos de madeira: ( )7 x 5 cm ( )7,5 x 5 cm ( )7,5 x 6 cm
( )outras, especificar:
18 b. Diâmetro aproximado dos montantes em madeira: ( )4 cm ( )4,5 cm ( )5 cm ( )outro,
especificar:
18 c. Diâmetro a
p
roximado dos montantes de ferro fundido:
(
)
5 cm
(
)
6 cm
(
)
outro, es
p
ecificar:
18 d. Dimensões aproximadas do passamão em mármore: ( )8 x 4 cm ( )outras, especificar:
ELEMENTO CONSTRUTIVO: SACADAS OU BALCÕES
Pisos e soleiras
19. Marcar com um “X” o tipo de piso e soleira das sacadas ou balcões:
Placa de mármore
branco
Pedra apicoada granítica cinza Ladrilho hidráulico Outro: soalho de
madeira
19 a. Espessura aproximada das placas de mármore: ( )4 cm ( )outra, especificar:
19 b. Dimensões aproximadas das placas de mármore: ( )40 x 40 cm ( )outras, especificar:
19 c. Espessura aproximada das pedras apicoadas graníticas cinza: ( )15 cm ( )outras, especificar:
Guarda-corpos
20. Marcar com um “X” o tipo de guarda-corpo das sacadas ou balcões:
Gradis
metálicos e
passamão de
madeira
Gradis
metálicos e
passamão de
mármore
Vazado com
balaustres de
argamassa e
passamão de
mármore
Balaustres de cerâmica
esmaltada engastados
em alvenaria e
passamão de mármore
Vazado com
balaustre e
passamão em
argamassa
Outro: balaustres de
cerâmica esmaltada e
passamão de madeira
20 a. Dimensões aproximadas dos passamãos de madeira: ( )7 x 4 cm ( )outras, especificar:
20 b. Dimensões aproximadas dos passamãos de mármore: ( )8 x 4 cm ( )18 x 3 cm ( )outras,
especificar:
IMAGEM DIGITALIZADA DAS PLANTAS DO
ARQUIVO MUNICIPAL:
IMAGEM DA FACHADA EXISTENTE:
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