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do século XX, notamos grandes similaridades. A mulher analisada não possuía uma
vontade própria, seus desejos deveriam ser manifestações dos desejos dos outros, ora da
sociedade, ora do marido. A função da mulher seria importante, porém não para ela
mesma, mas manifestando idéias pré-concebidas socialmente.
Daniel Roche nos lembra que na França do século XVIII, as bonecas, ou femme
poupée, constituíam uma forma de manequim, feitos de cera, madeira ou porcelana e
que tinham suas roupas mudadas a cada estação
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, e serviam de decoração e de
demonstração da moda em voga naquele momento. Este também seria um sentido
interessante às Bonecas da Moda, como mulheres que representavam nos corpos as
vestimentas da moda daquele momento, no caso no Brasil do início do século XX. De
qualquer forma, a relação entre a mulher-ornamento ainda se faria presente.
Apesar das décadas que afastam a Revista Feminina dos dias de hoje, seria
impossível a não comparação a estas épocas, devido à presença de temas em relação ao
corpo feminino ainda serem tão atuais. É fato que a história não se repete, e também não
se mantêm a mesma daqueles dias. Porém, as questões do corpo feminino, da beleza e
da moda, ainda fazem parte de uma permanência na história das mulheres.
As imagens veiculadas à mulher ainda trazem ideais de beleza e de moda, por
vezes doloridos, e até perigosos. Estrelas de cinema ainda são ícones de beleza, e as
revistas femininas ainda são as grandes responsáveis por “ensinar” e “orientar” a forma
correta da mulher cuidar de seu corpo. Porém, nos dias de hoje, estes ícones de beleza
não são os únicos, afinal, muitas são as formas de se transmitir tais ideais, devido aos
inúmeros meios de comunicação.
Naomi Wolf analisa as questões sobre a beleza feminina nos dias de hoje, e diz
que vivemos o mito da beleza. Numa época em que as mulheres conquistaram o espaço
público, a cidadania, o direito ao trabalho fora de casa e o direito ao prazer sexual, ainda
não conquistaram porém a liberdade total. Seus corpos ainda não lhes pertencem
156
. As
imagens da beleza feminina são utilizadas contra as próprias mulheres, afastando-as de
sua verdadeira essência. A incessante busca das mulheres dos dias hoje pelas formas
perfeitas, e por uma aparência exuberante são as responsáveis por distúrbios
alimentares, mortes em cirurgias plásticas, por falta de amor-próprio, e até por
sensações de impotência e fracasso em vários momentos. Wolf aborda a questão do
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Roche, Daniel, op. cit. pp. 477-478.
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Esta observação será feita também por Michelle Perrot no livro As mulheres e os silêncios da história.
SP: Edusc, 1998. pp. 447-448.