SANTA ROSA, Cláudia Sueli R. – Fazer a Ponte para a Escola de Todos (as). 293
espaços. [...] eu vejo-o como alguém que vai ajudar e quando eu não concordo, eu digo-lhe.
Ele também não é uma pessoa fácil, não é. [...] ele é uma pessoa exigente e exige que as
pessoas fundamentem as coisas, porque ele também não é uma pessoa fácil. Agora ele tem
um certo carisma junto aos miúdos, que eu não consigo ter, pronto. Agora o que eu sinto é
que para a maioria das pessoas, neste momento, ele incomoda. (OE9)
As pessoas estavam muito a espera, que vindo muitas pessoas novas, e muitas pessoas
boas, com bons currículos, iam mudar essa coisa toda, iam trazer todas as respostas. Claro
que não foi nada disso. São pessoas muito boas, muito motivadas, mas completamente
desorientadas, porque não tinham a quem recorrer, por quê? Porque a equipa que estava cá
desde o ano passado também continua desorientada, né? Ninguém sabe muito bem, que não
há uma liderança forte, depois tem a ver com isso, porque dar-se o nome de liderança, porque
aqui também precisa de lideranças, como em outros sítios. Temos o professor Zé Pacheco
que está fora, mas que está dentro, que não está cá, mas de repente chega e muda tudo o
que acha que deve mudar [...]. Depois temos uma coordenação muito jovem, que tá a
aprender, percebes? E que tá a aprender muito bem, na minha opinião, mas está a aprender
como é que coordena uma equipa que nunca teve, que nunca teve, que só teve um
coordenador com aquele carisma. O grande problema da Escola da Ponte é ser uma
organização que depende do carisma de uma pessoa. (OE10)
Não há uma definição clara de papéis, não há e então acho que, é por um lado há um
caminhar para a autonomia, porque a escola tem que caminhar na autonomia e acho que a
maior autonomia que a escola tem que caminhar, é a autonomia do Zé Pacheco, porque
assim, o Zé Pacheco vai cada vez mais desaparecer e se a escola não se autonomizar já, na
presença dele, com a ajuda dele, ela vai morrer, no fim, como o Zé Pacheco morre. Morre o
Zé Pacheco e morre a escola também, porque eu acho que a escola tem que se preparar
nessa autonomia, tem que recorrer a ele como um recurso esporádico, mas tem que encontrar
as suas próprias respostas. Agora, o que acontece é que há uma definição muito pouco clara
disto, isto é, até porque eu não sei ainda o que o Zé Pacheco é aqui. Por um lado,
abertamente, não é, porque não está mais aqui e diz vocês têm que decidir sobre o vosso
caminho, mas por outro lado volta e é capaz de em pouco tempo dizer um montão de coisas,
de definir regras e fazer propostas, como alguém que está na equipa. [...] o Zé Pacheco diz
uma coisa diferente e toda gente vota nessa coisa diferente. Há um seguidismo muito grande.
Agora acho que há menos, porque as pessoas, aos pouquinhos, com o afastamento dele, as
pessoas passaram a tentar as suas próprias, já são capazes de ter uma posição contrária a
dele. No passado era muito difícil ter uma posição contrária à dele, toda gente o seguia,
porque ele é muito bom falador, muito bom comunicador, ele é um homem, pronto, é
fantástico. Em termos pedagógicos é uma pessoa de referência e, portanto, é muito fácil ele
apresentar uma proposta viável, uma proposta que se encaixa bem em sua cabeça, mas pra
nós temos que demorar, se calhar ir pra casa pensar, elaborar, estudar. (OE10)
A própria coordenação não consegue assumir, com a liderança necessária, as decisões. Há
sempre uma ponta de responsabilização, há sempre um medo do que as pessoas pensam, o
que o Zé Pacheco pensa, o que acha. Há um medo muito grande e eu acho que tira a
autenticidade, tira a espontaneidade das pessoas. Portanto, eu acho que é mal haver essa
indefinição, que não está completamente fora e nem completamente dentro, mas seria
importante se soubéssemos até onde ele está disposto a entrar, porque às vezes em decisões
importantes ele não está e achamos que ele deveria está e em decisões menos importantes
ele está. Há muita inconsistência e eu acho que é mal. Tira muito a liberdade. A coordenação
é muito nova, precisa muito de apoio, precisa muito da equipa também, e acho que às vezes
toma decisões que depois são completamente contestadas pelo Zé Pacheco e as pessoas
ficam inseguras, não é? (OE10)
Ele [Pacheco] criou isto, ele vive disto, sonha isto, continua a sonhar isto, de ter aqui um pré-
escolar, portanto é um homem de posições muito fortes e com uma fé, uma determinação
muito grande, um ousado e um louco, porque tem que ser um louco pra conseguir levar isto
adiante. E depois, há também por parte dos pais, também, um grande seguidismo. Às vezes é
um profeta pra os pais. (OE10)
Eu acho que não é consciente, mas há um desejo fortíssimo do Zé Pacheco de voltar ao
passado. (OE10)
O Zé é o pai de tudo, porque tudo começou com ele, não é? o projeto. É ele quem tem
sustentado o projeto, é quem lhe tem orientado, é ele quem tem, ao fim ao cabo, orientado a
nós, é o Pacheco. Eu acho que ele tem uma força incrível, uma vontade incrível, quando ele