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condição necessária inclusive para que soubessem que estava se revelando
41
.
Trata-se de uma comunicação corporal, histórica, mediatizada
42
.
Para Israel, a história é um processo que Iahweh dirige para um término que
prefixou
43
. O campo privilegiado de ação da palavra
44
profética é a história. Por
meio dela, Deus se manifesta e revela os seus desígnios de Salvação: retira o povo
da escravidão do Egito, leva-os até a terra prometida, chama-os à conversão por
meio dos profetas, socorre-os no exílio... Para Israel as promessas de Deus se
cumprem no concreto de suas vidas
45
.
Neste contexto, um elemento que ganha considerável relevância é a Tora, a
qual constitui o Sinal mais concreto e realizador da dispensação dos benefícios de
Deus para com o seu povo. Nela está contida a eleição do povo de Israel, com ela
Deus possibilita vida bem sucedida para o seu povo na terra prometida e através
dela o povo pode louvar a Deus no culto.
Toda a história de Israel tem caráter simbólico, desde os seus processos
políticos, em que Deus intervém e dirige o seu povo através de reis e homens
escolhidos, até as grandes epifanias e outras intervenções extraordinárias, tais
como a sarça ardente e as pragas do Egito
46
, através das quais o povo eleito
também percebe a presença do Deus libertador.
No Novo Testamento Deus se comunica com a humanidade mediante o seu
Filho, que se insere na história e nas leis próprias da natureza humana para nos dar
a sua salvação
47
. Novamente a historicidade torna-se a palavra chave e o critério
para a compreensão da revelação neotestamentária. Historicidade que exprime
muito mais que mera conexão de fatos e eventos, mas que indica a consciência
41
“O homem é um ser sacramental; no nível religioso, exprime suas relações com Deus num
conjunto de sinais e símbolos; Deus, igualmente, os utiliza quando se comunica com os homens.
Toda a criação é, de certa forma, sacramento de Deus, porque no-lo revela”. Cf. DOCUMENTO
DE PUEBLA 920 em DOCUMENTOS DO CELAM. São Paulo: Paulus, 2004, p. 506.
42
Cf. FERNÁNDEZ, C., op. cit., p. 89.
43
Cf. LATOURELLE, R. Teologia da Revelação. 4ª ed. São Paulo: Paulinas, 1985 p. 33.
44
“A religião veterotestamentária é a religião da “palavra”, mas, como no caso de qualquer
linguagem, a primeira reação ao “dizer” não é outro dizer, mas o silêncio e a escuta”.
FISICHELLA, R. Introdução à teologia fundamental. São Paulo: Loyola, 2000, p. 71.
45
Cf. SCHNEIDER, T., op. cit., p. 174.
46
Cf. Ibid., p. 175.
47
“O Novo Testamento dirá que em Cristo “a graça de Deus se manifestou para a salvação de
todos os homens” (Tt 2,11) e que nele “se manifestaram a bondade e o amor de Deus, nosso
salvador” (Tt 3,4; 2Tm 1,10). “Cristo é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15) a irrupção da
divindade na carne visível (Cl 2,9). Os Padres, como Agostinho, reconhecerão que “não há outro
sacramento de Deus senão Cristo”. E outros admirarão a união sem confusão das duas naturezas
que visa um divino intercâmbio”. Cf. BOROBIO, D. (org.). A celebração da Igreja: liturgia e
sacramentologia fundamental. Vol.1. São Paulo: Loyola, 2002, p. 298.