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esse foi responsável por uma abrupta declinação no processo de construção da
democratização, pois antes tínhamos um cenário restrito
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, mas fecundo
ideologicamente, bem diverso daquele existente durante e após o Golpe
23
.Uma
participação política juvenil que, influenciada pela conjuntura econômica e político-
ideológica do neoconservadorismo (APPLE, 2000), modifica, sem muitos
questionamentos, a reivindicação por redemocratização política para,
majoritariamente, ser influenciado pelas idéias do protagonismo via empoderamento.
A redemocratização
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no final da década de 70 e no início dos anos 80
incentiva os jovens inseridos nos movimentos civis organizados a pressionar os
governos militares por mudanças institucionais que consolidem o processo de
redemocratização do país, a exemplo do engajamento na campanha intitulada
“Diretas Já” que mobiliza a sociedade e tenta, indiretamente, influenciar os
deputados pela aprovação do Projeto de Lei sugerido pelo deputado Dante de
Oliveira, que possibilitaria a realização de eleições diretas para substituição do
último presidente da república advindo das fileiras militares, João Batista de Oliveira
Figueiredo.
O movimento não obteve êxito na sua pretensão inicial, mas, dentre outros
fatores, influencia no processo de articulação política que levou à criação do Partido
da Frente Liberal (PFL), formado por políticos dissidentes do partido do governo,
Partido Democrático Social (PDS). Estes, aliados ao Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB), partido de oposição ao regime, criam a “Nova
Republica” que elege, indiretamente, num colégio eleitoral composto por membros
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Fazendo uma análise da participação dos jovens nas décadas de 60 e 70 Corti e Souza (2004, p.
58), acrescentam uma constatação histórica relevante, segundo a qual: “Os estudos mostram que os
jovens envolvidos nos movimentos estudantis da década de 60 e 70 pertenciam, sobretudo, à classe
média e média alta, e conseguiam ingressar no ensino superior numa época em que estas
oportunidades eram extremamente raras. Tratava-se, portanto, de uma parcela minoritária dos
jovens”.
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Descrevendo os encaminhamentos assumidos pela militância política dos jovens atuantes no
movimento estudantil, nos anos antecedentes e durante a ditadura militar de 64, Sousa (1999, p. 34-
41), faz a seguinte avaliação: “A partir dos anos 50, os jovens colocaram-se definitiva e
diferenciadamente como presença social visível, muitas vezes turbulenta, além de serem usados
como símbolo ou realidade capaz de regenerar o passado, individual e coletivamente. [...] Os anos 60
foram marcados pelo debate e pelo questionamento profundo dos valores. Tanto na cultura quanto na
política, configurou-se a criação de projetos alternativos para sociedade [...]. Contrariamente, [...] O
regime militar, de 1964 a 1985, diluiu os valores e as instituições civis e democráticas, caracterizando-
se como uma experiência de medo”.
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De acordo com Peroni (2003, p. 74, grifo da autora): “Durante a década de 1980, assistimos, no
Brasil, à organização dos setores da sociedade emergentes no período de distensão, transição e
abertura democrática que culminou com a Nova República. Esta, como bem analisou Florestan
Fernandes (1986), deu-se com uma transição ‘pelo alto’, marcando a ‘continuidade que se
estabeleceu entre a ditadura e a ‘república’ que nasceu de seu ventre’, havendo assim, apenas uma
reorganização do poder, necessária para que a mesma classe continuasse dirigindo o país”.