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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg
Guerra à peste branca
Clemente Ferreira e a “Liga Paulista contra a Tuberculose”
1899 -1947
MESTRADO EM HISTÓRIA SOCIAL
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg
Guerra à peste branca
Clemente Ferreira e a “Liga Paulista contra a Tuberculose”
1899 -1947
MESTRADO EM HISTÓRIA SOCIAL
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora como exigência parcial
para a obtenção do título de MESTRE
em História Social, pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, sob
a orientação da Profa. Dra. Denise
Bernuzzi de Sant’Anna.
SÃO PAULO
2008
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Banca Examinadora
__________________________________
__________________________________
__________________________________
Ao meu querido Rose
In memoriam
AGRADECIMENTOS
« L’art est long, la vie brève, l’occasion fugitive,
l’expérience trompeuse, le jugement difficile ».
Hipócrates
1
Em um determinado momento de minha trajetória de vida, aceitando desafios,
mergulhei nesta pesquisa de mestrado em História Social. Para realizá-la enfrentei
vários percalços que sem o apoio de amigos teria sido impossível vencê-los. Muitas
e variadas formas de ajuda foram necessárias e bem-vindas. Do meu marido, José
Rosemberg, recebi todas elas. Em alguns momentos, no início da caminhada, foi
dele o dedo amigo me apontando o rumo certo. Em outros, foi sua mão generosa
que me segurou quando cansada precisava deste apoio para não tropeçar.
Atravessando trilhas pedregosas foi ele quem me carregou nos braços para eu não
machucar meus pés e dele, ainda, foi o ombro quente e macio onde eu retemperei
as forças para enfrentar a estafante jornada. Sem ele não teria sido possível esta
vitória e, por isso, sou-lhe profundamente grata.
Ainda na graduação do Curso de História contei com o estímulo e o apoio da
Professora Mariza Romero que me mostrou ser possível caminhar em busca deste
sonho. Obrigada, mestra!
A pesquisa é individual, porém meus colegas de mestrado fizeram com que
ela não fosse solitária. A vocês Ticiana, Idalina, Karine, Selminha, Nataniél, Silvana,
Silvane, Luiz Vidigal, Any, Priscila, Patrícia, Lindomar, Rodrigo, Paulo César,
Fernando, Zuleika, Alexandre, Tadeu, Thiago, Alex, Isabel, Valdir, Andrezza,
Leandro, Adriano, Lenita e Paulo a minha gratidão pelo companheirismo nesta
jornada.
Durante a caminhada os professores foram faróis sinalizando as curvas, os
abismos, os aclives e os declives. Denise Sant’Anna, Yvone Dias Avelino, Márcia
D’Alessio, Maria Izilda Matos, Maria Antonieta Antonaci, Maria do Rosário Peixoto e
Maurício Broinizi, mestres queridos, a minha mais profunda gratidão e
reconhecimento por terem pontilhado o caminho.
Para me embrenhar em atalhos nesta caminhada tive que roubar horas
preciosas do convívio com os entes queridos que me são mais caros. Janinha, Dani,
1 “A arte é longa, a vida é breve, a ocasião fugidia, a experiência enganosa, o julgamento difícil”.
HIPÓCRATES apud CASTIGLIONI, A. Histoire de la Médecine. Paris, Payot, 1931, p. 146.
Bolotinha e Pepê, meus filhos e neto, por compreenderem minha ausência, nos
momentos em que estava completamente absorvida em meus estudos, minha
gratidão profunda e meu amor incondicional e eterno.
Àqueles que me deram a vida, que me geraram, que me possibilitaram ser o
que sou e que me fazem, ainda hoje, retornar à infância em uma saudade doce e
serena, meus pais, Edgy e Adelina, meu amor e gratidão. A paixão pela História,
desde a minha mais tenra idade, é legado de meu pai, o historiador Capitão Miguel
Edgy Távora Arruda. A você um agradecimento especial.
Aos meus irmãos e irmãs, cunhados e cunhadas, tios e tias, primos e primas,
especialmente a Níobe e o Barbosa, meu genro e inúmeros amigos que atenuaram a
dor da saudade e da solidão, com a partida do Rose, e, assim, tornaram possível o
meu caminhar até o final, agradeço de coração.
Meus queridos amigos Dirce, Sergio, Ivan e Maria Cecília, legados valiosos
que o Rose me deixou, sem o apoio de vocês, durante o período mais crítico de
minha caminhada, eu teria sucumbido. Sou-lhes grata.
Às minhas amigas Águines, Ângela Vasconcelos, Cidinha, Cristina, Edna
Sobreira, Fátima Assunção, Liliane, Lucimar, Margarida Melo, Silvia Helena, Valmisa
e Zizi os meus agradecimentos. Graças à amizade sincera de vocês enfrentei a dor.
As minhas diletas amigas médicas tisiólogas Ana Maria, Beth, Luiza, Nadja,
Tânia, Tereza e Valéria, durante minha caminhada, inúmeras vezes, me fizeram
retornar ao passado e reviver o tempo da luta contra a peste branca no Sanatório de
Maracanaú. Elas sempre estiveram comigo. Sou-lhes imensamente grata.
Ao meu amigo Dr. Marco Antonio de Moraes e à Doutora Mirtes de Moraes
por terem, em determinado momento, sinalizado o meu caminho, minha gratidão.
Nesta trajetória uma mão amiga abriu a porta de um santuário onde pude
encontrar todos os preciosos documentos históricos legados por Clemente Ferreira.
Dra. Maria Tereza Ortega, por ter-me possibilitado adentrar a biblioteca do Instituto
Clemente Ferreira, muito obrigada!
Ao meu amigo e tisiólogo, Dr. Fernando Fiúza, pelo empréstimo de valiosas
obras históricas, além da cumplicidade na paixão pela tuberculose e pelo Instituto
Clemente Ferreira, minha amizade e gratidão.
Aos meus amigos tisiólogos, Affonso Berardinelli Tarantino, Gilmário Mourão
Teixeira, Ivo Camargo, Amauri Brasil, Miguel Hijjar e Antonio Ruffino pelo apoio e
amizade, muito obrigada!
Sou grata, ainda, à doutora Margareth Dalcolmo pelas palavras de incentivo e
a disponibilidade de me ajudar durante a caminhada.
Quando a dor da perda marejou meus olhos e embotou meu cérebro uma
mão amiga preencheu meu formulário de matrícula do 2º semestre do mestrado. A
você, Betinha, o meu agradecimento pela atenção e carinho neste momento, e em
todos os outros, em que precisei de sua ajuda.
Ao Dr. Milton de Souza Meirelles Filho, bisneto de Clemente Ferreira, por ter-
me proporcionado a emoção de conhecê-lo e fornecido fotos e documentos
históricos, guardados com muito carinho, como jóias preciosas, a minha gratidão.
À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por ter-me fornecido uma
bolsa de estudos, e às instituições de saúde, ou não, que me abriram as portas para
a realização da pesquisa, muito obrigada!
À Professora Dra. Yvone Avelino e ao Professor Dr. Luis Ferla, por terem-me
concedido a honra de tê-los integrantes da minha Banca de Qualificação e pelas
valiosas orientações e pertinentes sugestões, clareando a minha pesquisa no
momento final e decisivo, a minha gratidão perene.
Neste caminhar tive o privilégio de ser orientada por uma historiadora que,
gigante em sua simplicidade, fez-me sonhar em seguir seus passos para não apenas
caminhar, mas alçar vôos cruzando os horizontes da História. A você, Denise
Bernuzzi de Sant’Anna, a minha profunda admiração e sincera gratidão.
Ao chegar ao fim, olho para trás, vejo o longo caminho percorrido, respiro
fundo e renovo as forças para vôos mais audazes.
RESUMO
Esta pesquisa se propõe a mostrar a guerra travada contra a tísica, na capital
paulista, de 1899 a 1947; a vida e a obra de Clemente Ferreira, pioneiro da luta
contra a tuberculose no Brasil e as representações da tuberculose nas linguagens
sociais e no imaginário dos tisiólogos, no mesmo período.
Descreve a criação e a atuação da Liga Paulista contra a Tuberculose, uma
sociedade beneficente fundada, em 1899, por Clemente Ferreira e colaboradores,
destacando os seus armamentos: dispensário, preventório, sanatório e hospital.
Evidencia a ação do Dispensário-Modêlo “Clemente Ferreira”, baluarte da luta contra
a tuberculose na capital de São Paulo, nos primeiros 30 anos do século XX. Mostra,
ainda, a importância da revista “Defesa Contra a Tísica”, órgão oficial da Liga
Paulista, na conscientização da população e dos governantes em relação à
gravidade da tuberculose e a necessidade do governo assumir e apoiar a luta.
Este trabalho, também, analisa as representações da tuberculose nas
linguagens sociais e no imaginário dos tisiólogos. Evidencia, enfim, a importância
das associações filantrópicas no começo do século XX, para tornar o controle da
tuberculose, no Brasil e, em particular, em São Paulo, uma questão de interesse e
responsabilidade do Estado.
PALAVRAS-CHAVE: tuberculose, peste branca, sanatório, Clemente Ferreira e Liga
Paulista.
ABSTRACT
The objective of this research is to show the war against Tuberculosis in São
Paulo city from 1899 to 1947; the life and work of Clemente Ferreira, pioneer in the
fight against Tuberculosis in Brazil, and, also the importance of this disease in
popular language and in the minds of those working in this field at this time.
Its describes the setting up and work of the Liga Paulista against Tuberculosis,
a charitable organization founded in 1899 by Clemente Ferreira and collaborators,
pointing out its main weapons: dispensary, prevention institution, sanatorium and
hospital. Also included is the functioning of the model Clemente Ferreira Dispensary,
the first of its kind in the struggle against Tuberculosis in São Paulo city in the first 30
years of the 20
th
century. Furthermore the role of the journal “Defesa contra a Tísica”
the official organ of Liga Paulista in making the population and law makers aware of
the importance of relating the seriousness of Tuberculosis and the necessity of the
government to take responsibility and support the fight.
This work also analyzes those involved in this area in popular language and in
what they thought. It shows the importance of charitable associations at the beginning
of the 20
th
century to make the control of Tuberculosis in Brazil and, specifically, in
São Paulo city, a matter of interest and responsibility of the state.
KEYWORDS: tuberculosis, white plague, sanatórium, Clemente Ferreira, Liga
Paulista.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................17
I. A LUTA CONTRA A PESTE BRANCA............................................................21
1. OS PRIMÓRDIOS DA LUTA CONTRA A TUBERCULOSE NO BRASIL...............22
1.1. A tuberculose chega ao Brasil com as missões........................................22
1.2. Vozes contra a tísica no Brasil Imperial....................................................24
1.3. As doenças pestilenciais roubam a cena..................................................32
1.4. Na capital do café surge um movimento contra a tísica............................34
1.5. Nascem as Ligas com Clemente Ferreira.................................................39
1.6. Filantropia x Caridade...............................................................................43
1.7. O plano de Oswaldo Cruz que não vingou................................................44
2. A LIGA PAULISTA CONTRA A TUBERCULOSE..................................................47
2.1. Uma sessão histórica................................................................................47
2.2. A campanha profilática entra em cena......................................................49
2.3. À cata de verbas.......................................................................................51
2.4. Uma revista na trincheira de luta...............................................................52
2.5. Na busca de um sanatório surge o dispensário........................................53
2.6. As damas paulistas abraçam a causa.......................................................56
2.7. Um sanatório no caminho da Liga.............................................................56
2.8. A Liga perde o seu maior armamento, mas não desiste..............,............57
2.9. Selos pró-tuberculosos pobres - uma pequena grande idéia!..................58
2.10. Os relatórios da Liga...............................................................................61
3. OS ARMAMENTOS DA LIGA PAULISTA..............................................................63
3.1. O Dispensário “Clemente Ferreira”...........................................................63
3.2. O Preventório “Imaculada Conceição” de Bragança Paulista...................71
3.3. O Sanatório “São Luis de Gonzaga”.........................................................75
3.4. O Dispensário Infantil, o Ambulatório e o Pavilhão “Arlindo de Assis”......76
3.5. O Abrigo-Hospital “Clemente Ferreira” .....................................................77
II. CLEMENTE FERREIRA – CIDADÃO, MÉDICO E FILANTROPO.................79
1. ASPECTOS RELEVANTES DE SUA VIDA SOCIAL..............................................81
1.1. De Resende ao Rio de Janeiro passando por Bananal............................81
1.2. No Rio de Janeiro nasce um médico-poeta..............................................82
1.3. Em Resende, Anália e Célia.....................................................................84
1.4. De volta ao Rio de Janeiro........................................................................85
1.5. A luta contra a febre amarela em Campinas.............................................86
1.6. Em São Paulo, um Inspetor Sanitário.......................................................88
1.7. Adeus ao Nhôzinho...................................................................................90
1.8. A paixão por uma causa............................................................................91
1.9. Adeus ao Alcyr..........................................................................................94
1.10. Adeus à Anália........................................................................................95
1.11. Adeus à Nenê..........................................................................................96
1.12. O último consolo......................................................................................97
2. A ESTAFANTE TRAJETÓRIA PROFISSIONAL.......................,,,,,,,,.....................99
2.1. Clemente Ferreira funcionário do Governo Estadual de São Paulo.........99
2.2. Clemente Ferreira à frente da Liga Paulista contra a Tuberculose.........105
2.3. Os tortuosos itinerários dos sanatórios.........................,,,,,,,,,,,...............111
3. O DESMONTE DA QUERELA ENTRE CLEMENTE FERREIRA E EMÍLIO
RIBAS.............................................................................................................125
III. A TUBERCULOSE E SUAS REPRESENTAÇÕES......................................138
1. A TÍSICA NAS LINGUAGENS SOCIAIS..............................................................141
2. A TÍSICA NOS DISCURSOS DOS TISIÓLOGOS................................................153
2.1. É proibido escarrar fora das escarradeiras!............................................154
2.2. A guerra ao escarro chega à São Paulo.................................................155
2.3. As escarradeiras higiênicas entram na moda.........................................157
2.4. O poder invisível das gotículas...............................................................158
3. IMAGENS EM MOVIMENTO................................................................................160
3.1. Os cartazes na trincheira de luta contra a tuberculose...........................160
3.2. A cruz de Lorena.....................................................................................173
3.3. O selo antituberculose ..........................................................................175
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................187
FONTES...................................................................................................................192
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................214
ANEXOS...................................................................................................................223
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Dez causas principais de mortes de escravos na Santa Casa de
Misericórdia do Rio de Janeiro (1833-1849)....................................................26
TABELA 2 – Demonstração dos donativos recebidos pela Liga Paulista contra a
Tuberculose – 1917..........................................................................................61
TABELA 3 – Demonstração das subvenções recebidas pela Liga Paulista contra a
Tuberculose – 1917..........................................................................................62
TABELA 4 – Coeficientes anuais de mortalidade por tuberculose – São Paulo (1899-
1924)..............................................................................................................224
TABELA 5 – População do município da capital de São Paulo (1899-1924)...........225
TABELA 6 – Movimento do Dispensário Modêlo “Clemente Ferreira” – saídas e
falecimentos dos doentes – 1917...................................................................226
TABELA 7 – Movimento do Preventório de Bragança – entradas e saídas de crianças
1941............................................................................................................227
TABELA 8 – Movimento mensal do Abrigo-Hospital “Clemente Ferreira” – São Paulo
1941...............................................................................................................227
TABELA 9 – Total de doentes hospitalizados por idade e sexo Abrigo-Hospital
“Clemente Ferreira” – 1941............................................................................228
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Mortalidade por tuberculose no Rio de Janeiro (1855 a1858)............27
GRÁFICO 2 – Mortalidade por doenças transmissíveis na capital de São Paulo –
1897.................................................................................................................35
GRÁFICO 3 – Mortalidade por tuberculose e febre amarela na capital federal (1859 a
1898)................................................................................................................39
GRÁFICO 4 – Número de crianças preservadas no Preventório de Bragança - São
Paulo (1913 a1928)........................................................................................228
GRÁFICO 5 – Número de doentes atendidos no Dispensário “Clemente Ferreira” em
São Paulo (1904 a 1917)...............................................................................229
GRÁFICO 6 – Número de consultas realizadas no Dispensário “Clemente Ferreira”
em São Paulo (1904 a 1917).........................................................................229
GRÁFICO 7 – Número de baciloscopias realizadas no Dispensário “Clemente
Ferreira” em São Paulo (1904 a 1917)...........................................................230
GRÁFICO 8 – Número de visitas domiciliares realizadas por inspetores do
Dispensário “Clemente Ferreira” em São Paulo (1904 a 1917).....................230
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Mercado da Rua do Valongo - Jean Baptiste Debret.............................25
FIGURA 2 – Folha de Rosto - Revista “Defesa contra a Tísica”. Anno I, Nº 2...........52
FIGURA 3 – Selos das Campanhas Pró-tuberculosos pobres (1927-1941)..............59
FIGURA 4 – Selos das Campanhas Pró-tuberculosos pobres (1943-1949)..............60
FIGURA 5 – Fachada do Dispensário “Clemente Ferreira”........................................65
FIGURA 6 – Fachada do Dispensário-Modêlo “Clemente Ferreira” ..........................68
FIGURA 7 – Vista Interna do Dispensário-Modêlo “Clemente Ferreira”.....................68
FIGURA 8 – Foto de Clemente Ferreira s/d...............................................................80
FIGURA 9 – Diploma do Livro do Mérito de Clemente Ferreira.................................98
FIGURA 10 – Carta Anônima dirigida ao Dr. Clemente Ferreira..............................141
FIGURA 11 – Cartaz da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose (DNSP) -1920.....161
FIGURA 12 - Cartaz da Liga Bahiana Contra a Tuberculose -1923.........................162
FIGURA 13 - Cartaz da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose (DNSP)................163
FIGURA 14 - Cartaz da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose - 1922..................165
FIGURA 15 - Cartaz da Comissão contra a Tuberculose na França........................166
FIGURA 16 - Cartaz da Liga Paulista contra a Tuberculose -1927..........................167
FIGURA 17 – Cartaz da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose........................... 169
FIGURA 18 - Cartaz da Comissão contra a Tuberculose na França........................171
FIGURA 19 - Cartaz da Comissão contra a Tuberculose na França........................172
FIGURA 20 – Cruz Vermelha de Braço Duplo – Cruz de Lorena.............................173
FIGURA 21 - Selos antituberculose mais antigos do mundo....................................175
FIGURA 22 - Primeiros selos antituberculose editados no mundo...........................176
FIGURA 23 - Selos antituberculose editados no Brasil............................................178
FIGURA 24 - Selos antituberculose editados em vários países do mundo..............180
FIGURA 25 - Selos antituberculose editados em vários países do mundo..............181
FIGURA 26 - Selos antituberculose editados em vários países do mundo..............182
FIGURA 27 - Selos antituberculose editados em vários países do mundo..............183
FIGURA 28 - Selos antituberculose com representações da Cruz de Lorena.........185
FIGURA 29 - Folha de rosto da tese de doutoramento de Clemente Ferreira.........231
FIGURA 30 - Foto de Clemente Ferreira década de 1870.......................................232
FIGURA 31 - Foto de Clemente Ferreira década de 1880.......................................232
FIGURA 32 - Foto de Clemente Ferreira colação de grau em Medicina -1880........232
FIGURA 33 - Foto de Clemente Ferreira, Anália e Áulio..........................................232
FIGURA 34 - Foto de Célia e Aurélio .......................................................................233
FIGURA 35 - Foto de Célia e Aurélio...................................................................... .233
FIGURA 36 - Foto de Clemente Ferreira s/d............................................................233
FIGURA 37 - Foto de Clemente Ferreira s/d............................................................233
FIGURA 38 - Foto de Clemente Ferreira s/d............................................................234
FIGURA 39 - Foto de Anália Ferreira s/d.................................................................234
FIGURA 40 - Foto de Clemente Ferreira e Anália s/d..............................................234
FIGURA 41 - Foto de Clemente Ferreira - Congresso de Tuberculose - Roma.......235
FIGURA 42 - Foto de Clemente Ferreira, Célia, Áulio e Esther...............................235
FIGURA 43 - Foto de Clemente Ferreira e as damas paulistas...............................236
FIGURA 44 - Foto de Clemente Ferreira II C. B. de Tuberculose - SP....................236
FIGURA 45 - Foto de Clemente Ferreira, Ademar de Barros e outros.....................237
FIGURA 46 - Foto de Clemente Ferreira, Célia e Joaquim Mário............................237
FIGURA 47 - Foto de Clemente Ferreira – Prof. “Honoris Causa”...........................238
FIGURA 48 - Foto do Preventório de Bragança Paulista.........................................239
FIGURA 49 - Foto do Dispensário-Modêlo Clemente Ferreira.................................239
FIGURA 50 - Foto do Dispensário Infantil da Rua Cesário Mota.............................239
FIGURA 51 - Foto do Dispensário Infantil da Rua Rego Freitas..............................239
FIGURA 52 - Foto do Hospital Clemente Ferreira - Jabaquara................................239
FIGURA 53 - Foto do Pavilhão Arlindo de Assis Rua T. Bayma..............................237
.
LISTA DE SIGLAS
Academia Nacional de Medicina.............................................................................ANM
Associação Paulista de Sanatórios Populares......................................................APSP
Comissão Contra a Tuberculose na França..........................................................CCTF
Departamento Nacional de Saúde Pública...........................................................DNSP
Directly Observed Treatment Short Course.........................................................DOTS
Dispensário-Modêlo “Clemente Ferreira”.............................................................DMCF
Divisão de Tuberculose do Estado de São Paulo...............................................DTESP
Federação Brasileira das Sociedades de Tuberculose.........................................FBST
Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose....................................................................IPT
Liga Bahiana contra a Tuberculose......................................................................LBCT
Liga Brasileira contra a Tuberculose....................................................................LBCT
Liga Paulista contra a Tuberculose.......................................................................LPCT
Liga Pernambucana contra a Tuberculose...........................................................LPCT
Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres................................OPFTP
Organização Mundial de Saúde ............................................................................OMS
Serviço Sanitário do Estado de São Paulo.........................................................SSESP
Secção de Profilaxia da Tuberculose.......................................................................SFT
Secção de Proteção à Primeira Infância................................................................SPPI
Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida.............................................................SIDA
Sistema Único de Saúde.........................................................................................SUS
Sociedade Brasileira de Tuberculose......................................................................SBT
União Internacional contra a Tuberculose..............................................................UICT
“Jehovah te ferirá de tísica e de febre, e de
inflammação e de calor ardente”.
Deuteronômio
Cap. 28, Vers. 22
17
INTRODUÇÃO
No curso de milhares de anos a tuberculose encerrou
mensagem ainda não totalmente decifrada. Pela sua influência
cultural, seus efeitos sobre a obra humana, suas implicações
históricas, sociais, econômicas e políticas, constitui modelo
cientifico peculiar. Modernamente continua causando as
maiores devastações. Seu valor epistemológico é imenso.
Misteriosa e ameaçadora permanece o paradigma dos temores
das paixões e do conhecimento humano.
Jacques Chretien
1
Após o período de euforia, quando os cientistas alardearam aos quatro ventos
que a tuberculose seria banida da face da terra, com o uso dos modernos
quimioterápicos, ela está de volta. Segundo Tarantino, é a velha senhora que, agora,
vem bem montada envergando armadura impenetrável, a resistência bacilar, e como
se isso não bastasse, traz na garupa a SIDA.
2
Há 30 anos, os Estados Unidos proclamaram que a incidência da tuberculose
aproximava-se de zero. Em 1953, quase 90 mil americanos contraíram a doença e
20 mil morreram e, em 1985, o número de infectados caiu para 20 mil. A partir daí, o
número de doentes não parou de subir. Em outubro de 1990, o New York Post
publicou em sua primeira página que a tuberculose estava próxima de atingir níveis
de uma epidemia.
3
Em 1993, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a tuberculose em
estado de emergência no mundo, sendo a maior causa de mortes por doenças
infecciosas, em adultos. Segundo seus dados, 2 bilhões de indivíduos, 1/3 da
humanidade, estão infectados pelo Mycobacterium tuberculosis, 8 milhões
desenvolvem a doença e 2 milhões morrem, a cada ano, no mundo. O Brasil ocupa o
15º lugar, entre os 22 países responsáveis por 80% da tuberculose no mundo, com
50 milhões de infectados, 111 mil casos novos e 6 mil óbitos anuais.
4
Os armamentos usados para combater a peste branca na primeira metade do
século XX, sanatórios, preventórios, dispensários e hospitais-abrigo, foram
desativados à medida que a introdução do moderno tratamento quimioterápico, no
final da década de 1940, levou a impressão de que a luta estava ganha. A causa
1 CHRETIEN, Jacques apud ROSEMBERG, José e TARANTINO, Affonso Berardinelli. “Tuberculose”. In: TARANTINO,
Affonso Berardinelli. Doenças Pulmonares. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Koogan S.A., 2002, p.
294.
2
TARANTINO, A. Berardinelli. “A volta da Velha Senhora”. In: TARANTINO, A. Berardinelli. Leveloqüencia. s/e, s/d, p. 31.
3
Ibidem.
4
Fonfe: http://www.opas.org.br/prevencao/site/UploadArq/ProgramaTB.pdf
Acesso
em:
3 de março
de
2007.
18
desta ilusão foi o grande impacto na epidemia da tuberculose pela rápida
negativação do escarro dos pacientes, cortando o elo de contágio, e pelo alto índice
de cura, diminuindo dramaticamente sua letalidade, sem queda significante de sua
morbidade. O tratamento prescindiu das hospitalizações, sendo os internamentos
reservados, apenas, aos casos de alta gravidade clinica e, ou, precária condição
social.
A atuação dos programas de saúde transformou-se completamente. Os
dispensários e hospitais perderam seus “status” e o controle da tuberculose foi
integrado no Sistema Único de Saúde (SUS). Desapareceu, portanto, a Divisão de
Tuberculose do Estado de São Paulo (DTESP) e em outros Estados deu-se o
mesmo. Ocorreu um prejuízo pelo abrandamento dos programas de controle da
tuberculose e pelo desmonte da estrutura fundamental para o enfrentamento da
doença.
Apesar de esse fenômeno ter sido mundial a maioria dos países ricos chegou
ao limiar de sua eliminação. Porém, nos países em desenvolvimento, a tuberculose,
embora com sua força diminuída, nunca deixou de ser sério problema de saúde
pública. Nas duas últimas décadas a peste branca recuperou parte de sua ação
deletéria devido não só ao arrefecimento da luta, a falta de recursos humanos
técnicos pela quase abolição do ensino da tuberculose nas escolas de ciências da
saúde, como também pelo crescimento da miséria e a entrada em cena da epidemia
HIV/AIDS, cujo vírus destrói a imunidade celular da tuberculose, constituindo um dos
maiores agravantes que se tem noticia em toda sua história.
A luta contra a peste branca, na primeira metade do século XX, em São
Paulo, é o tema de minha pesquisa. Entendê-la possibilitará retomá-la, de maneira
mais eficaz, neste momento em que a preocupação com a volta da tuberculose exige
o seu controle. Hoje, o principal armamento para combatê-la é o Directly Observed
Treatmen Short Course (DOTS), ou seja, o tratamento diretamente supervisionado,
já que a tomada irregular dos medicamentos pelos pacientes causou o
desenvolvimento da resistência bacilar, principal óbice, ao lado da SIDA, para o
controle da tísica.
As fontes pesquisadas neste trabalho foram as mais diversas. Constam,
principalmente, de periódicos como: Defesa Contra a Tísica, Revista Paulista de
Tisiologia, São Paulo Médico, Revista Médica de São Paulo, Revista da Associação
Paulista de Medicina, Boletin de la Union Internacional contra la Tuberculose,
19
Revista Brasileira de Tuberculose e outras; dos artigos de inúmeros jornais; dos
livros sobre tuberculose; dos relatórios anuais da Liga Paulista; etc. De Clemente
Ferreira, quarenta e três discursos e conferências, enfeixados em um livro, serviram
de fontes valiosas, além de sua tese de doutorado, “Phthisica pulmonar”, escrita em
1880, suas memórias, seus livros e suas publicações em diversas revistas e jornais.
Sobre Clemente Ferreira, a biografia escrita por Romero Silveira; dez discursos e
conferências, proferidos por diversos tisiólogos; artigos de revistas médicas e jornais
da época contribuíram para enriquecer o trabalho.
Não posso deixar de frisar as principais teses e dissertações sobre o tema,
que clarearam minha pesquisa, como a de Cláudio Bertolli Filho, A História Social da
Tuberculose e do Tuberculoso: 1900-1950; a de Marta de Almeida, República dos
Invisíveis: Emílio Ribas, microbiologia e Saúde Pública em São Paulo (1898-1917); a
de Mirtes Moraes, Imagens e Ações – Representações e Práticas Médicas na Luta
Contra a Tuberculose em São Paulo – 1899-1930 e a de Dilene Nascimento,
Tuberculose: de questão pública a questão de Estado. A Liga Brasileira Contra a
Tuberculose.
Este trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro, denominado “A luta
contra a peste branca”, descreve os primórdios da mesma no Brasil; a criação da
“Liga Paulista contra a Tuberculose” e sua atuação junto à população, na formação
de uma consciência sanitária, visando à prevenção e o tratamento da doença, sua
atuação junto aos governantes para a liberação de verbas com a finalidade de
instalação dos armamentos de combate à peste branca. Finalmente, descreve a
atuação desses armamentos criados pela Liga como: sanatório, dispensário,
preventório e hospital. Evidencia, também, a influência, aqui no Brasil, dos
movimentos filantrópicos que atuaram na Europa e Estados Unidos na guerra à
peste branca.
O segundo capitulo, denominado “Clemente Ferreira - cidadão, médico e
filantropo”, trás sua biografia enfocando alguns aspectos de sua vida social e sua
atuação profissional, principalmente na luta travada contra peste branca. Mostra o
que o ser humano é capaz quando busca um ideal, movido pela paixão. Enfoca seu
pioneirismo em uma época em que os governantes nada faziam para combater a
tuberculose, que matava mais que todas as doenças pestilenciais reunidas como: a
febre amarela, a febre tifóide, a peste do oriente, a malária, a cólera e a varíola.
Descreve a busca obstinada de Clemente Ferreira para a edificação dos sanatórios,
20
locais adequados para tratar os tuberculosos pelo conhecido “regime higieno-
dietético”, ou seja, através do repouso e da boa alimentação. Mostra como eles
brotaram no Estado de São Paulo, por influência direta desta luta. Finalizando, o
capitulo desmonta a suposta querela entre Emílio Ribas e Clemente Ferreira.
O terceiro capitulo “A tuberculose e suas representações” discute como a
doença, que foi integrada ao romantismo no século XIX, passou a ser vista como
doença social, perdendo sua auréola romântica para confinar-se nos cortiços e
bairros proletários. Analisa o preconceito, no imaginário social, que passou a ser
diferente e mais forte com a descoberta da transmissibilidade da tísica. Mostra como
a tuberculose foi fonte de inspiração para poetas, artistas e literatos, evidenciando,
assim, a convivência das duas fases, romântica e social, já na primeira metade do
século XX. Por outro lado, o capitulo analisa as representações da tuberculose no
discurso médico. Vista, pelos tisiólogos, como um monstro ceifador de vidas,
precisava ser combatida com armamentos poderosos e prevenida através de
cartazes com imagens amedrontadoras, para incutir, no imaginário social, o medo do
contágio. Finalizando, analisa as imagens utilizadas, em selos e cartazes, na luta
contra a peste branca.
Esta pesquisa se propõe, simplesmente, a mostrar o inicio da luta contra a
peste branca, em São Paulo; a mostrar a atuação de Clemente Ferreira nesta luta e
a desvendar a tísica nas linguagens sociais e no imaginário dos tisiólogos para ter-se
a percepção da importância do grande impacto que a mesma causou na sociedade,
em uma época em que a doença era vista como uma sentença de morte.
21
CAPÍTULO I
A LUTA CONTRA A PESTE BRANCA
« Mieux vaut se trouver en face d’un ennemi qui se presente
visière levée que de poursuivre des fantômes dans le
ténebres ».
Antoine Villemin
5
5 “Mais vale achar-se em frente de um inimigo que se apresenta de viseira erguida do que perseguir fantasmas nas trevas ».
VILLEMIN, Antoine apud GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Tuberculose. Serviço Sanitário de São Paulo. São Paulo,
Escola Typographia Salesiana, 1899, p. 7.
VILLEMIN se referia à descoberta do bacilo da tuberculose por Robert Koch, em 24 de março de 1882.
22
1. OS PRIMÓRDIOS DA LUTA CONTRA A TUBERCULOSE NO BRASIL
Datas. Mas o que são datas? Datas são pontos de icebergs. O
navegador que singra a imensidão do mar bendiz a presença
dessas pontas emersas, sólidos geométricos, cubos e cilindros
de gelo visíveis a olho nu e a grandes distâncias. Sem essas
balizas naturais que cintilam até sob a luz noturna das estrelas,
como evitar que nau se espedace de encontro às massas
submersas que não se vêem?
Alfredo Bosi
6
1.1. A tuberculose chega ao Brasil com as missões
A existência, ou não, da tuberculose
7
na América pré–colombiana foi durante
muitos anos um tema controverso. Em 1971, o mistério começou a ser desvendado
com a descoberta, na Província de Nazca, da múmia de uma criança Inca do sexo
masculino que, pela datação com o carbono-14, era do ano 700 d.C. Na referida
múmia foram encontradas evidencias do Mal de Pott (tuberculose da coluna
vertebral), tuberculose pulmonar, pleural, hepática e do rim direito, com visualização
de bacilos álcool-ácido resistentes.
8
6
BOSI, Alfredo. “O tempo dos tempos”. In: Tempo e História. São Paulo, Companhia das Letras, 1996, p. 19.
7 A Tuberculose é doença infecto-contagiosa, milenar, causada por um bacilo. Os gregos a descreveram como supuração
pulmonar, Hipócrates classificou seus sintomas. Esqueletos com lesões ósseas compatíveis com a tuberculose têm sido
encontrados em várias regiões do mundo, datando o mais antigo de cerca de 5.000 anos a.C. (datação com o carbono 14). A
transmissibilidade da tuberculose foi controvérsia secular, pois a doutrina hipocrática da hereditariedade chegou a constituir
dogma. Somente em 1865, Villemin provou sua transmissibilidade inoculando material de animais tuberculosos em outros
sadios, tuberculisando-os. Em 1882, Robert Koch identificou seu agente causal, o Mycobacterium tuberculosis, conhecido como
bacilo de Koch. A tuberculose se propagou no mundo pelo contágio inter-humano. Seu caráter epidêmico é de evoluir em ciclos
lentos, com sua maior incidência nas aglomerações humanas. Do continente europeu propagou-se às demais regiões da terra.
Sua transmissão se dá através da tosse, canto, fala, espirro do tuberculoso que expele gotículas microscópicas carregadas de
bacilos que após ressecadas são inaladas, sendo a via respiratória a porta de entrada mais freqüente. Entretanto, outras vias
são possíveis como: digestiva, cutânea, ocular, genital, amigdaliana, auditiva, todas, enfim, que possam ter contato direto com
o bacilo. Os sintomas mais comuns da tuberculose são: tosse, expectoração, dores torácicas, escarros sanguíneos, febre,
astenia e emagrecimento. Nas formas iniciais, a doença é quase sempre assintomática.
ROSEMBERG, José e TARANTINO, Affonso Berardinelli. “Tuberculose”. Op. cit., pp. 294-380.
Sobre este assunto ver também: MELO, Fernando Augusto Fiúza de. “Tuberculose” In: VERONESI, Ricardo e FOCACCIA,
Roberto. Tratado de Infectologia. São Paulo, Atheneu, 1996, pp. 914-924; ROSEMBERG, José. Tuberculose. Panorama Global.
Óbices para o seu Controle. Fortaleza, Ed. Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, 1999; BETHLEM, Newton. “Tuberculose”.
In: BETHLEM, Newton. Pneumologia. Rio de Janeiro, Atheneu, 1973, pp. 185-226; PAULA, Aloysio de. “Tuberculose
Pulmonar”. In: PAULA, Aloysio de. Pneumologia. São Paulo, Sarvier, 1984, pp. 236-245 e FRAGA, Clementino. Tuberculose
Pulmonar – Etiopathogenia, Estudo Clinico, Therapeutica e Prophylaxia. Rio de Janeiro, Calvino Filho Editor, 1931.
8 ALLISON, M.J., MENDOZA, D., PEZZIA, A. “Documentation of a case of tuberculosis in Pré-Columbian América” In: Amer.
Rev. Resp. Dis. 107:985-991, 1973; HIJJAR, Miguel Aiub. Aspectos do Controle da Tuberculose numa população favelada –
Favela do Escondidinho-Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado, UFRJ-RJ, 1985, p. 10 e NOGUEIRA, Péricles Alves.
23
Entretanto, foi dado um diagnóstico de probabilidade, pois os bacilos, mesmo
sendo álcool ácido resistentes, poderiam não ser do Complexo Mycobacterium
tuberculosis. A versão da não existência da tuberculose na América pré-colombiana
só caiu por terra com a descoberta no Peru, há pouco mais de 10 anos, da múmia de
uma mulher Inca que viveu a cerca de 1.100 anos. Através da biologia molecular foi
identificada, no DNA do bacilo encontrado em um nódulo pulmonar desta múmia, a
inserção seqüencial IS-6110, específica do Complexo Mycobacterium tuberculosis.
Este é o primeiro diagnóstico bacteriológico, de certeza, de doente que viveu há mais
de 10 séculos, provando, irrefutavelmente, a existência da tuberculose na América
antes da chegada de Colombo.
9
Isto não significa que os indígenas brasileiros conhecessem a tísica, já que
era raro o contato entre as diversas populações habitantes do continente americano.
Ao Brasil, a tuberculose chegou trazida pelos europeus no século XVI. Relatos dos
primeiros visitantes da colônia mostram que os agrupamentos indígenas gozavam de
perfeita saúde e que, após contato com os colonizadores, passaram a desenvolver e
a morrer de uma grave doença pulmonar acompanhada de hemoptises.
Segundo Lourival Ribeiro, um dos primeiros tuberculosos vindos para o Brasil
foi o jesuíta Padre Manoel da Nóbrega que, ao realizar sua missão evangelizadora,
disseminou o bacilo de Koch entre as populações indígenas.
O Padre José de
Anchieta também foi tuberculoso embora a documentação existente sobre sua
moléstia não seja tão exuberante quanto a de Nóbrega.
10
Muitos europeus tísicos, inclusive outros jesuítas, para cá vieram em busca do
tratamento climático e, com isso, disseminaram a peste branca. Avalia-se a
tremenda tragédia que a tuberculose promoveu entre os índios analérgicos, aqui no
Brasil, comparando com o que ocorreu em outras regiões do planeta, com outros
povos virgens do bacilo de Koch. Na Terra do Fogo, após contato com um
missionário tuberculoso, quase todos os habitantes foram dizimados. Na primeira
guerra mundial (1914-1918) tropas de soldados negros, vindas do Senegal para lutar
Internações por Tuberculose no Estado de São Paulo - 1984-1997.
Tese de Livre Docência, Faculdade de Higiene e Saúde
Pública, USP-SP, 1999, p. 3.
9 SALO, W. L., AUFDERHEÍDE, A. C., BUIKSTRA, J. et al. “Identification of Mycobacterium tuberculosis DNA infecção pré-
Columbian Peruvian mummy”. In: Proc Natl Acad Sci, USA; 91:2091, 1994; ROSEMBERG, José. Tuberculose... Op. cit., p. 13 e
DALCOLMO, Margareth Maria Pretti. Regime de Curta Duração, Intermitente e Parcialmente Supervisionado. Como Estratégia
de Redução do Abandono no Tratamento da Tuberculose no Brasil. Tese de Doutorado, Escola Paulista de Medicina,
UNIFESP, 2000, p. 16.
10 RIBEIRO, Lourival. A Luta Contra a Tuberculose no Brasil. Rio de Janeiro, Editorial Sul Americana, 1956, pp. 17-18.
24
ao lado dos franceses, foram infectadas nas trincheiras e dizimadas em massa,
vitimas de tuberculose grave, como nos mostra o clássico trabalho do tisiólogo
francês Borrel.
11
1.2. Vozes contra a tísica no Brasil Imperial
No Brasil colônia nada houve para impedir a disseminação da tísica que
permaneceu endêmica seguindo seu curso implacável. A doença só chamou a
atenção das autoridades públicas com a chegada da família real portuguesa, em
1808, mas nenhuma ação concreta por parte do Governo Imperial foi tomada.
Entretanto, sua gravidade foi denunciada por vários esculápios na Academia de
Medicina, nos congressos, na imprensa e nas teses de doutoramento. Um dos
primeiros médicos que estudou a peste branca, no contexto nacional, mostrando o
número de vidas ceifadas foi o Dr. Francisco de Mello Franco.
12
O Professor José Maria Bontempo salientou, em seu livro “Memória sobre
algumas enfermidades do Rio de Janeiro”, escrito em 1814, a intensa difusão da
peste branca na cidade, assinalando que eram raros os cadáveres autopsiados que
não tinham estragos nos pulmões. Em 1835, o Dr. José Martins da Cruz Jobim, em
discurso profético na Academia Imperial de Medicina, calculou que a quinta parte dos
doentes hospitalizados na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro sofriam de
tuberculose.
13
As Santas Casas foram os únicos refúgios que os tuberculosos pobres tiveram
para hospitalização até o final século XIX. Entretanto, da época de suas fundações,
no século XVI, até o ano de 1839 os tísicos ficavam em enfermarias com doentes
das mais diversas enfermidades. Por não conhecerem a etiologia infecciosa da
tuberculose, isto era aceitável pelos dirigentes desses hospitais. O provedor da
Santa Casa do Rio de Janeiro, José Clemente Pereira, em janeiro de 1839,
impressionado com a promiscuidade dos tísicos em estado de caquexia, solicitou à
Mesa Diretora a compra de uma casa para isolá-los. Sua proposta foi aceita e em
11
BORREL A. “Pneumonie et tuberculose chez les troupes noire”. In: Annals del Institut Pasteur. 34:105-15, 1920 e
ROSEMBERG, José. “Tuberculose - Aspectos Históricos, Realidades, seu Romantismo e Transculturação”. In: Boletim de
Pneumologia Sanitária. 7(2):7, jul/dez de 1999, p. 7.
12
BERTOLLI, Filho. História Social da Tuberculose e do Tuberculoso:1900-1950. Tese de Doutorado, FFLLCH-USP, 1993, p.
133.
13 RIBEIRO, Lourival. A Luta ... Op. cit., p. 37.
25
pouco tempo começou a funcionar o primeiro hospital do Brasil de isolamento para
tuberculosos sob a direção do Dr. Cruz Jobim.
14
Na Bahia, duas teses de doutoramento com o tema da tuberculose ficaram
clássicas. A de Francisco Sabino de Oliveira, defendida em 1837, e a de Januário
Manuel da Silva, defendida em 1839. Muitas outras se seguiram, mas nenhuma
apresentava o propósito da criação de uma instituição para lutar contra a peste
branca. Coube a João Gustavo dos Santos a idéia de criar um serviço especifico
para o tratamento dos tuberculosos no hospital Santa Izabel, porém, por indiferença
da Santa Casa de Misericórdia, esta tentativa foi fracassada.
15
FIGURA 1
MERCADO DA RUA DO VALONGO - Jean Baptiste Debret
Fonte:
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/imagens/pranchas_de_debret/tomo_segundo/merca
do_da_rua_do_valongo. Acesso em: 19 de setembro de 2006.
Vários médicos e políticos do Rio de Janeiro, durante a Regência e os
primeiros anos do reinado do Imperador D. Pedro II, denunciaram o problema da
disseminação da tuberculose entre as classes desvalidas, principalmente a dos
14 Ibidem, pp. 49-50.
15 SILVEIRA, José. Uma Doença Esquecida – A História da Tuberculose na Bahia. Salvador, U. F. da Bahia, 1994, p. 37.
26
escravos. Lourival Ribeiro viu no quadro de Debret
16
“Mercado da Rua do Valongo”
negros que parecem caquéticos tísicos terminais.
TABELA 1
DEZ CAUSAS PRINCIPAIS DE MORTE DE ESCRAVOS NA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO
RIO DE JANEIRO (1833 - 1849)
Causas Homem % Mulher % Soma % do Total
Tuberculose 181 22,9 131 36,8 312 27,2
Disenteria 81 10,3 34 9,6 115 10,0
Diarréia 98 12,4 17 4,8 115 10,0
Gastroenterite 70 8,9 44 12,4 114 10,0
Pneumonia 77 9,8 25 7,0 103 9,0
Varíola 67 8,5 24 6,7 91 7,9
Hidropsia 60 7,6 20 5,6 80 7,0
Hepatite 59 7,5 19 5,3 78 6,8
Malária 43 5,5 28 7,9 71 6,2
Apoplexia 53 6,7 14 3,9 67 5,9
Total 789 100,0 356 100,0 1146 100,0
Fonte: KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro 1808-1850. São Paulo, Companhia
das Letras, 2000, p. 210.
Mary C. Karasch, em sua tese de doutorado “A vida dos escravos no Rio de
Janeiro: 1808-1850”, concluiu que a tuberculose era endêmica na cidade e que
segundo uma tese médica, de 1853, a peste branca era a principal causa de morte
entre os escravos sepultados pela Santa Casa de Misericórdia do Rio.
A tabela 1, apresentada em sua tese, expõe as 10 primeiras causas de morte
entre os negros. Pode-se observar que a tuberculose era responsável por 27,2% da
mortalidade. É interessante notar que a febre amarela não aparece nesta estatística,
confirmando a resistência que os negros tinham a esta enfermidade por ser
16
Jean-Baptiste Debret nasceu em 1768, em Paris, França. Recebeu influência artística de seu primo Jacques-Louis David.
Sua formação cultural desenvolveu-se em meio a conturbados momentos políticos da França Revolucionária. Produziu muitas
litografias valiosas que descrevem os povos do Brasil, tendo a maioria delas sido reunidas em sua obra, finalizada apenas
quando Debret voltou à França, e intitulada Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
Por
meio
desta
obra
Debret
procurou
mostrar,
com
detalhes,
a
formação
do
Brasil
no
sentido
cultural
do
povo
e
da
nação.
Os
três
volumes
de
sua
obra
foram
publicados
em
1834,
1835
e
1839.
Debret
faleceu em 1848.
Fonte: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=688
Acesso em: 2 novembro
de 2006.
27
endêmica em seus países de origem. Pode-se concluir que muitos casos tidos como
”pneumonias” deviam ser de tuberculose, aumentando, mais ainda, a prevalência
desta doença entre eles.
Os escravos trazidos da África, em péssimas condições nos navios, já
chegavam debilitados ao Brasil e, depois, ao enfrentarem baixos padrões sócio-
econômicos (alimentação deficiente e trabalho excessivo) tornavam-se presas fáceis
de diversas doenças infecciosas, sendo a tuberculose a mais prevalente. Como a
peste branca não era doença endêmica em seus países de origem, os negros
africanos não tinham resistência contra o bacilo e, assim, caiam vítimas da “velha
doença” dos centros industriais europeus.
Em 1856, Pâmphilo Manuel Freire de Carvalho, em sua tese para obter o grau
de doutor em medicina, denunciou o tráfico de escravos como agravante para a
disseminação da peste branca no país.
17
Valiosa contribuição ao estudo da
epidemiologia da tuberculose foi dada pelo Dr. Carlos Luiz de Saules quando fez um
balanço de sua mortalidade durante quatro anos (1855 a 1858), no Rio de Janeiro,
concluindo que a mortalidade geral foi de 37.728 e a da tísica de 5.344, ou seja,
14,4% do total. No gráfico 1, pode-se observar a distribuição dos óbitos por
tuberculose nos anos: 1855 - 1.369; 1856 – 1.277; 1857 – 1.280; 1858 – 1.418.
GRÁFICO 1
MORTALIDADE POR TUBERCULOSE NO RIO DE JANEIRO (1855-1858)
1.200
1.250
1.300
1.350
1.400
1.450
1855 1856 1857 1858
Total de Óbitos por
Tuberculose 5.344
Fonte: RIBEIRO, Lourival. A luta contra a tuberculose no Brasil. Rio de Janeiro, Editorial Sul
Americana, 1956, p. 41.
Somente em 1859, a tuberculose passou a ser apresentada na estatística
mortuária iniciando, então, a menção da mesma nos trabalhos bioestatísticos do
17 RIBEIRO, Lourival. A Luta...
Op. cit., p. 40.
28
país. Este fato fez com que o Dr. Paula Candido, Presidente da Junta Central de
Higiene, solicitasse um hospital destinado ao tratamento dos tuberculosos.
Infelizmente, sua solicitação não obteve êxito.
O Dr. José Pereira Rego, conhecido como o Barão do Lavradio, apreciando as
doenças que mais atacavam os habitantes do Rio de Janeiro, de 1830 a 1870,
concluiu que a tísica era uma das moléstias mais predominantes em todas as
classes sociais.
18
Gilberto Freire, em seu livro Casa-Grande&Senzala, comentando sobre as
doenças que mais atingiam as crianças nos seis ou sete primeiros meses de vida, no
século XIX, cita uma série de artigos publicados no jornal da Imperial Academia de
Medicina, pelo Barão do Lavradio, em 1847. Sua conclusão é pela predominância,
no Rio de Janeiro, das seguintes enfermidades: gastroenterite, hepatite e
tuberculose mesentérica.
19
Em 1876, através do decreto nº. 6.387 de 15 de novembro, os serviços
sanitários em diversas cidades do império foram reorganizados. Nas paróquias do
Rio de Janeiro passaram a funcionar comissões sanitárias exercendo a polícia de
higiene domiciliar. A partir daí foram decretadas uma série de leis sobre o serviço de
higiene e saúde pública, mas todas relacionadas com as condições de habitação. De
1876 a 1886 entraram em vigor: cinco decretos, um aviso ministerial e várias
instruções.
20
As grandes preocupações dos higienistas eram as epidemias de febre
amarela, varíola e febre tifóide, que, de quando em quando, visitavam a capital do
império. Estas doenças impressionavam pelo quadro agudo e pela rapidez com que
atacavam a maioria da população abatendo e matando suas vitimas. Já a
tuberculose, lenta, polimorfa e insidiosa não alarmava, porém matava diariamente
em percentuais mais elevados do que todas as outras reunidas. Entretanto, a peste
branca insinuava-se vagarosamente, traiçoeiramente, de variadas formas, ora como
bronquite, ora como resfriado, ora como anemia aniquilando completamente as
forças dos tísicos, levando-os ao túmulo.
Enquanto a peste branca seguia seu ritmo implacável as denúncias
avolumavam-se contribuindo para a conscientização da necessidade de uma luta
18 Ibidem, p. 39.
19 FREYRE, Gilberto. Casa-Grande&Senzala. 2ª. Edição, Rio de Janeiro, Schimidt Editor, 1936, p. 274.
20 RIBEIRO, Lourival. A Luta...Op. cit.,
pp. 44-45.
29
organizada. Grande influencia teve para o inicio da mesma os artigos do Dr. Joaquim
dos Remédios Monteiro, “Delenda a Tísica”, publicados na revista “Progresso
Médico” (1876-1878), nos quais ele insistiu, ardentemente, sobre a gravidade da
doença. Outra grande contribuição foi dada pelo do Dr. Elói de Andrade em seu
valioso livro sobre a tísica.
21
Um dos professores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro o Dr. João
Vicente Torres Homem fez, em suas preleções, várias análises dos danos causados
pela tuberculose. Ao iniciar uma de suas magníficas conferências frisou:
Encetamos hoje uma série de conferências sobre uma moléstia extremamente comum no Rio
de Janeiro; que figura sempre em primeiro lugar nas estatísticas mortuárias; que leva
anualmente à sepultura duas mil e tantas vítimas; que compete sempre com vantagem com
qualquer das epidemias que às vezes nos visitam; que não respeita condição alguma social;
que lança o luto, o pranto e a desolação tanto nas famílias abastardas como nas proletárias;
tanto entre os nobres como entre os plebeus; que constitui uma verdadeira endemia contra a
qual tereis de empregar os vossos esforços e a vossa aptidão profissional; quero falar da
tísica pulmonar.
22
Em 1882, Torres Homem publicou a síntese dos cursos que administrou em
20 anos. Neste trabalho enfatizou que nunca a tuberculose havia feito tamanho
número de vítimas no Brasil, que o mal afetava todas as famílias da capital do
império com um, ou mais, de seus membros doentes e declarou que a doença se
transformara no principal flagelo sanitário da cidade.
Em 1880, Clemente Ferreira, que foi aluno de Torres Homem, escreveu sua
tese para colar grau em medicina, pela Faculdade do Rio de Janeiro, com o título:
“Phthisica Pulmonar”. Chamando atenção para o sério problema da doença no
Brasil, principalmente no Rio de Janeiro e na Bahia, ele comentou:
Em nosso paiz, sobretudo, assombra o progresso espantoso com que se tem avantajado em
seu desenvolvimento a phthisica pulmonar, essa tremenda rival da febre amarella e das
pyrexias perniciosas, que as acompanha em sua missão de miséria e de luto, para depois
solitária fatal persistir ainda no diabólico officio da carnificina e de horror; com effeito a
proporção de decessos por phthisica no Rio de Janeiro é mais elevada do que na maior parte
das capitaes da América e da Europa, sendo sómente Vienna a que lhe leva a palma nessa
triste celebridade. E não é só na capital do Império que se notam essas devastações
tumulentas semeadas pela phthisica pulmonar; também na Bahia já Otto Wucherer deu o grito
de alarma contra a caprichosa altivez, com que nessa cidade alça o collo a mortífera
enfermidade.
23
21
Ibidem, p. 61.
22 HOMEM, Torres apud RIBEIRO, Lourival. “Clemente Ferreira Pioneiro da Luta Contra a tuberculose no Brasil”. In: Liga
Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor Clemente Ferreira
1857- 195. São Paulo, 1957, pp. 97-98.
23 FERREIRA, Clemente Miguel da Cunha. Phthisica Pulmonar. These Apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro no dia 30 de setembro de 1880. Rio de Janeiro, Typ. Central de Evaristo Rodrigues da Costa, 1880, p. 10.
30
Em 1883, o provedor da Santa Casa do Rio de Janeiro, Barão de Cotegipe,
retomando a iniciativa do primeiro provedor que se interessou pela tísica, José
Clemente Pereira, cogitou, junto à Mesa Diretora, sobre a necessidade de um
hospital para os tísicos. A Mesa, acatando suas ponderações, fez com que a Santa
Casa comprasse a Chácara do Ferraz, em Cascadura. Assim, no dia 8 de dezembro
de 1884, inaugurou-se o Hospital “Nossa Senhora das Dores” sob a direção do Dr.
Francisco José Xavier. O hospital funcionou até 31 de agosto de 1896 acolhendo,
neste período, 2.098 pacientes dos quais faleceram 772.
24
Com o fechamento do
mesmo, os tísicos voltaram a tradicional promiscuidade das enfermarias da Santa
Casa e somente no final dos oitocentos e começo dos novecentos passaram a ter
enfermarias próprias nas Santas Casas, em hospitais especializados e em
sanatórios, como veremos em outro capítulo.
A tuberculose foi bastante denunciada em congressos médicos durante o
século XIX. No II Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, em 1889, o Dr. Júlio
de Moura mostrou a magnitude da mesma e o descaso dos poderes públicos para
combatê-la. Os trabalhos estatísticos do Dr. Aureliano Portugal e do Conselheiro Dr.
Nuno de Andrade
25
realçaram sua grandeza. Pelos estudos de Nuno de Andrade, de
1859 a 1898 morreram, na capital federal, 79.083 tuberculosos enquanto a febre
amarela matou, de 1850 a 1898, 53.515 pessoas. Essas advertências foram
divulgadas intensamente no meio médico. Emílio Ribas, quando dirigiu o Serviço
Sanitário de São Paulo, em seu relatório ao Dr. José Pereira de Queiroz, Secretário
do Interior, de 29 de março de 1899, citou o trabalho de Nuno de Andrade.
26
24
RIBEIRO, Lourival. A Luta...
Op. cit., p. 51 e http://openlink.br.net/santacasa/dores.htm
Acesso em: 7 de maio de 2007.
25
Nuno Ferreira de Andrade nasceu em 27 de julho de 1851, na cidade do Rio de Janeiro. Era filho de Camillo Ferreira de
Andrade. Foi conselheiro do Imperador Pedro II (1886) e recebeu o título de Comendador da Ordem de Cristo (1886). Faleceu
na cidade do Rio de Janeiro em 17 de dezembro de 1922. Nuno de Andrade, aos 17 anos de idade, venceu um concurso para
professor de filosofia, o que lhe possibilitou lecionar em colégios de nível secundário, na cidade do Rio de Janeiro, chegando a
substituir o teólogo frei Saturnino de Santa Cruz Abreu. Doutorou-se em medicina, em 1875, na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro, com a tese intitulada “Do diagnostico e tratamento das nevroses em geral; Chloral; Polypos naso-pharingeanos;
Ataxia muscular progressiva”. Nesta instituição foi substituto de ciências médicas (1877), lente de higiene (1884-1888), e lente
da 1ª cadeira de clínica médica (1888), jubilando-se em 1908. No concurso para a cátedra de clínica médica, em 1877, no qual
obteve o primeiro lugar com a tese “Physiologia dos epithelios”, concorreu com Júlio Rodrigues de Moura, Candido Barata
Ribeiro, José Benício de Abreu.
Fonte: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/P/verbetes/andnunfer.htm#dadospessoais
Acesso em: 14 setembro
de
2007.
26
GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Tuberculose. Serviço Sanitário de São Paulo. São Paulo, Escola Typographia
Salesiana, 1899, p.
3.
31
Apesar das denúncias a peste branca seguiu seu curso inexorável sem
nenhuma ação efetiva por parte do Governo para barrá-la. Entretanto, é justo
assinalar que algumas medidas, mesmo pálidas, foram tomadas pelo Ministro da
Guerra, no final do século XIX. O referido ministro solicitou ao médico Ismael da
Rocha que estudasse o uso terapêutico da tuberculina que Koch, em 1890, havia
anunciado como um medicamento para curar a tuberculose.
27
Tal estudo não
evidenciou nenhum efeito curativo, mas seu valor diagnóstico na espécie bovina foi
constatado e sugerido o seu emprego na polícia sanitária dos estábulos.
Em 1895, a Academia Nacional de Medicina (ANM)
28
, presidida pelo Dr.
Souza Lima, elaborou um relatório detalhando as necessárias medidas profiláticas
para impedir a propagação da tísica, apesar de reconhecer a inexistência de um
tratamento curativo. Aprovado por unanimidade, o relatório ficou arquivado até 1898,
quando o tisiólogo francês Grancher, ao ler suas medidas profiláticas no congresso
em Paris, causou entusiasmo em todo o mundo, inclusive no Brasil.
29
Os Drs. Souza Lima, Teófilo Torres e Públio de Melo impressionados com os
dados de mortalidade da tuberculose e estimulados com as medidas profiláticas de
Grancher escreveram um trabalho, em 1898, que foi levado para discussão na
Academia Nacional de Medicina.
27 “Em 1890, pressionado pelo governo alemão, Koch fez cair uma bomba no X Congresso Médico Internacional, em Berlim,
ao anunciar a descoberta de uma substancia que curava a tuberculose. Era a tuberculina, um filtrado de um cultivo de bacilo
tuberculoso em caldo glicerinado de carne à 5%. Logo foi verificado o engano e Koch foi criticado, mas a tuberculina teve outro
papel na luta contra a tuberculose”.
ROSEMBERG, Ana Margarida Furtado Arruda. “Momentos Luminosos da História da Tuberculose”. In: Arquivos Fundação José
Silveira. Edição Aniversário IBIT, 1997, p. 66.
28
A Academia Nacional de Medicina foi fundada sob o reinado do imperador D. Pedro I, em 30 de junho de 1829, com
o nome de Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 8 de maio de 1835 recebeu, por decreto da Regência Imperial, o
nome de Academia Imperial de Medicina. E finalmente, em 21 de novembro de 1889, o decreto n° 9 do Governo Provisório
comunica a mudança de seu título para Academia Nacional de Medicina, conforme mantém-se até hoje. Seu objetivo,
entretanto, mantém-se inalterado desde a data de sua fundação: o de contribuir para o estudo, a discussão e o
desenvolvimento sobre a prática da medicina, cirurgia, saúde pública e ciências afins, além de servir como órgão de consulta
do Governo brasileiro sobre questões de saúde e de educação médica, realizando periodicamente reuniões para a discussão
de temas médicos e de interesse nacional. Desde 1889 conferiu o título de Presidente Honorário a vários presidentes da
República, e o título de Vice-presidente Honorário a ministros da Saúde e da Educação. Atualmente, a ANM compõem-se de
100 Membros Titulares - somente brasileiros - nas seções de Medicina (40 membros), Cirurgia (40 membros) e Ciências
Aplicadas à Medicina (20 membros) - e um número variável de Membros Eméritos (Membros Titulares que optam à categoria
de Eméritos após 25 anos vinculados à Academia). Comporta ainda as categorias de Honorários e Correspondentes, para as
quais também são admitidos estrangeiros, após passarem pela aprovação da Seção a que pertencem, homologação pela
Diretoria e eleição, em Plenário, pela maioria dos Acadêmicos.
Fonte: http://www.anm.org.br/
Acesso em: 14 maio
de 2007.
29 NASCIMENTO, Dilene Raimundo – Tuberculose: de questão pública a questão de Estado. A Liga Brasileira Contra a
Tuberculose. Dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva, URJ, 1991, p.
40.
32
Em 1899, o Dr. Azevedo Lima apresentou ao Conselho Municipal do Rio de
Janeiro decretos e projetos de lei com a finalidade de proteger a saúde da população
contra a tuberculose. Um decreto, que passou a vigorar a partir de 11 de maio de
1899, mandava fiscalizar os gêneros de confeitarias, botequins e padarias. Dois
projetos de lei foram aprovados: um obrigando a desinfecção dos domicílios quando,
aí, se verificasse óbito por tuberculose e o outro mandando examinar o leite e as
vacas leiteiras, além de regulamentar a construção e localização dos estábulos.
30
1.3. As doenças pestilenciais roubam a cena
O advento do regime republicano incentivou debates com a finalidade de
elaborar projetos modernos para o Brasil. A saúde pública foi contemplada para as
intervenções da administração governamental, já que o padrão sanitário da época
imperial era lamentável e depunha contra a qualidade da “raça” do povo brasileiro.
No entanto, essa intervenção só ocorreu nas principais cidades como: Rio, São
Paulo, Salvador, Recife e Porto Alegre e em relação às doenças que eram mal vistas
pelos imigrantes e comerciantes estrangeiros. O governo federal, com apoio das
autoridades estaduais, conseguiu conter o avanço das epidemias como: febre
amarela, varíola, febre tifóide, peste do oriente e outras. A tuberculose, apesar de ser
reconhecida como uma das doenças de maior mortalidade, não foi contemplada.
31
Sidney Chalhoub em seu livro “Cidade Febril – Cortiços e Epidemias na Corte
Imperial” levanta esta questão:
É claro, por exemplo, que havia motivos, digamos, nada óbvios ou “neutros”, na opção em
priorizar o combate à febre amarela em detrimento da tuberculose – uma doença que, como
já foi mencionado, os próprios médicos associavam à nutrição e às condições de trabalho e
de vida em geral da população. Durante todos esses anos de crise aguda da saúde pública
na cidade do Rio (entre aproximadamente 1850 e 1920), a tuberculose matou muito mais do
que quaisquer das outras doenças epidêmicas. A tuberculose, porém, parecia atacar
indiferentemente brancos e negros, nacionais e estrangeiros e, desculpa suprema, era
doença extremamente grave até mesmo em Paris, o que nos eximia de qualquer culpa por
abrigar a peste. A febre amarela significava basicamente o oposto: além de não acometer
Paris e deflagrar o Rio anualmente, era um verdadeiro flagelo principalmente para os
imigrantes.
32
Certamente a visão de que a tísica era doença da civilização enquanto a febre
amarela, a varíola e a peste expressavam atraso nacional foi fundamental para a
indiferença governamental de enfrentá-la, mas temos que levar em conta, também,
30
RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., pp.
74-75.
31
BERTOLLI FILHO, Cláudio.
Op. cit., p. 140.
32
CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril - Cortiços e Epidemias na Corte Imperial. SP, Companhia das Letras, 1996, pp. 56-57.
33
que a tuberculose por ser uma doença insidiosa não chamava tanto atenção dos
higienistas e da própria população, como as doenças agudas. Ela ceifava muito mais
vidas do que as outras reunidas, porém continuamente e silenciosamente sem fazer
alardes. Outro fator importante a ser considerado é que durante quase todo o século
XIX os cientistas, apesar de não conhecerem a etiologia da tuberculose, acreditavam
ser a mesma hereditária e, portanto, nada poderia ser feito para evitar sua
propagação. Torres Homem em seu livro “Lições de Clínica Médica”, assim,
escreveu:
Uma das causas freqüentes da tísica pulmonar, entre nós, como em qualquer outra parte do
mundo, é a influencia hereditária: o individuo muitas vezes herda de seus progenitores,
principalmente da mãe, o gérmen tuberculoso que, conservando-se incubado durante longos
anos, em época mais ou menos remota, desenvolve-se e manifesta-se com atividade. De
boubáticos procedem muitas vezes filhos tísicos. Entre nós muitos indivíduos morrem
tuberculosos por terem sido amamentados por amas boubáticas, sifilíticas, escrofulosas,
dartrosas ou reumáticas.
33
O agente etiológico da tuberculose só foi descoberto pelo alemão Robert
Koch, em 1882 e, mesmo assim, demorou muito tempo para que o conceito da
hereditariedade caísse por terra. A vacina BCG surgiu em 1921 e os primeiros
quimioterápicos só surgiram em meados do século XX. A tuberculose ainda hoje
continua sendo um sério problema de saúde pública no mundo pobre e em
desenvolvimento, inclusive no Brasil.
No século XIX não se conhecia, também, a etiologia da febre amarela e das
doenças pestilenciais em geral, mas acreditava-se serem causadas por miasmas
(vapores, eflúvios, venenos) que se desprendiam dos solos, pântanos, esgotos, lixos
e originavam-se de matéria orgânica em decomposição ou dos dejetos de pessoas
doentes. Esta teoria para explicar a origem das doenças estava tão profundamente
arraigada no pensamento médico e popular que não sucumbiu, imediatamente, a
teoria microbiana. Combatendo-se esses lugares pantanosos, pensava-se ser a
maneira de combater as doenças. A teoria dos miasmas era conhecida como da
“infecção”, mas havia também a teoria do “contágio” em que as doenças se
propagavam pelo contato direto, ou através de fômites, do doente para as pessoas
sadias. Por esses motivos era bem mais fácil combater a febre amarela e, além
disso, havia fortes interesses econômicos e políticos, pois a cada epidemia os
imigrantes europeus caiam vitimados enquanto os negros resistiam bem à doença. O
33
HOMEM, Torres apud RIBEIRO, Lourival. A Luta.... Op. cit., pp. 42-43.
34
flagelo tornava-se, então, um dos principais óbices à realização do projeto que vinha
se instituindo no Brasil.
Com a emancipação dos escravos surgiu a idéia de trazer imigrantes
europeus para ocuparem o mercado de trabalho que se abria. A febre amarela, por
atingir com maior força os imigrantes, era vista como uma barreira às pretensões dos
cafeicultores.
Como os higienistas acreditavam que a febre amarela se propagava
por contágio, ou infecção, um combate efetivo foi iniciado obtendo-se êxito, no inicio
do século XX, com Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro e Emílio Ribas, entre outros, em
São Paulo. Porém, a febre amarela só foi vencida com relativa rapidez por ser
transmitida por um mosquito, como ficou provado pelas experiências de Emílio
Ribas, em São Paulo. O combate ao mosquito, realizado com eficácia, erradicou a
doença, nas grandes cidades, na primeira década do século XX.
Em 1882, com a descoberta do bacilo da tuberculose, ficou muito claro que a
peste branca era contagiosa e, portanto, havia meios de evitá-la. No Brasil, os
higienistas passaram a compreender porque a tuberculose estava tão associada às
condições de miséria em que viviam as populações. Os cortiços com seus quartos
pequenos, infectos, escuros, sem ventilação e com muitas pessoas aglomeradas,
favoreciam a propagação do bacilo. O escarro passou a ser visto como o veículo
dessa propagação e os cortiços como os locais ideais à transmissão da doença.
Duas coisas tinham que ser combatidas: o escarro e os cortiços. Finalmente, a luta
contra o flagelo tinha uma meta de combate. Tratar o doente era, também, uma
maneira de evitar a propagação da tuberculose porque quebrava o elo de
transmissão. O tratamento através dos ares da montanha, da alimentação e do
repouso, chamado de higieno-dietético, estava sendo divulgado em outros países
sendo necessário construir sanatórios, principalmente na serra da Mantiqueira, para
implantá-lo entre nós.
1.4. Na capital do café surge um movimento contra a tísica
Em São Paulo, na última década do século XIX, esboçou-se um movimento
contra a tísica no âmbito governamental. Dando seus primeiros passos na década
anterior, o referido movimento esbarrou-se, em 1899, em dificuldades econômicas. O
mesmo teve inicio em 1883 com o decreto estadual nº. 219, de 30 de novembro, que
tornava facultativa as manifestações da tuberculose.
34
Cinco anos depois, em 1887,
34
NOGUEIRA, Péricles Alves. Op. cit., p. 8.
35
o Inspetor Geral da Higiene da Província, em seu relatório, chamou a atenção para o
grande número de tuberculosos que existiam no Estado. Somente na segunda
metade da década de 1890, o movimento tomou forma com o decreto estadual de nº.
397, de 07 de outubro de 1896, que instituía o Código Sanitário do Estado, tornando
obrigatória a notificação dos casos de tuberculose.
35
Em 1897, a mortalidade geral na capital de São Paulo foi de 5.719 óbitos.
Dentre estes, 716 óbitos foram causados por doenças transmissíveis. No gráfico 2
temos a mesma detalhada: tuberculose - 406; febre tifóide - 223; difteria - 33; febre
amarela - 28; varíola – 26.
Pode-se concluir que a tuberculose matou sozinha 406 pessoas e as outras
doenças reunidas mataram 310. Estes dados evidenciam a magnitude da mesma no
final do século XIX, na capital, apesar do leve decréscimo que houve de 1896 para
1897. Em 1896, a tuberculose matou 534 pessoas.
GRÁFICO 2
MORTALIDADE POR DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS NA CAPITAL DE SÃO PAULO-1897
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
1897
TB- 406
F. Tifóide-223
Difteria-33
F. Amarela-28
Variola-26
Total-716
Fonte: MOTA, André. Tropeços da Medicina Bandeirante. Medicina Paulista entre 1892-1920. SP,
Edusp, 2005, p.87.
O Dr. J. J. da Silva Pinto,
Diretor do Serviço Sanitário, em seu relatório de 5 de
Janeiro de 1897, encaminhado ao Dr. Dino Bueno,
36
Secretário do Interior, chamou
35
Ibidem, p. 8.
36
“Antônio Dino da Costa Bueno nasceu em 1854, em Pindamonhangaba. Graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito
do largo de São Francisco, da qual se tornou catedrático de Direito Civil em 1890 e diretor de 1908 a 1912. Foi deputado
federal em 1894 e 1900. De maio de 1896 a dezembro de 1897 assumiu a Secretaria do Interior. Em 1904 entrou para o
Senado estadual, aí permanecendo até a sua morte em 1930 e ocupando sua presidência. Político republicano, jurista e
professor, Dino Bueno deu prosseguimento ao plano de duplicação das linhas da Estrada de Ferro Sorocabana, quando
assumiu o governo de São Paulo, de 23 de abril a 14 de julho de 1927, em virtude do falecimento do presidente Carlos Campos
Como a ferrovia registrava um grande déficit em conseqüência dos vultosos investimentos que se processavam, Dino Bueno
36
atenção do Governo para o problema da tuberculose. Sugeriu providencias a fim de
evitar sua disseminação, através da criação de sanatórios ou hospitais para que os
pectários fossem tratados isoladamente e não em hospitais comuns, como ocorria
até então. Abaixo, um trecho do seu relatório:
Falleceram (em 1896) por tuberculose, 534 pessoas (refere-se á capital do Estado), o que
representa 7% da mortalidade geral. Diante dos estragos que costuma esta affecção causar
nas grandes cidades, em algumas das quaes ela concorre com 25% para a mortalidade geral,
bem insignificante é aquella cifra; entretanto, urge que o Governo providencie para que não
tome ella maior incremento. Para isso julgo indispensável a creação, na capital, ou melhor,
em ponto de clima mais conveniente aos enfermos, de sanatórios ou hospitais onde possam
ser os tuberculosos isolados e receber devido tratamento. Contagiosa, facilmente
transmissível, a tuberculose não póde continuar a ser, como até aqui, tratada nos hospitaes
de moléstias communs.
37
Dino Bueno, por sua fez, no relatório dirigido ao Presidente do Estado
comentou que não se dava a devida importância à tuberculose, uma doença
transmissível e responsável por pouco menos da metade dos óbitos causados por
todas as moléstias transmissíveis. Sugeriu o isolamento dos doentes em sanatórios
ou hospitais em regiões de clima adequado como nos campos da Serra da
Mantiqueira.
38
O Dr. João Batista de Mello Peixoto, sucessor de Dino Bueno no
cargo de Secretário do Interior, em seu relatório de 31 de março de 1899, mostrou-se
com as mesmas apreensões de seu antecessor e escreveu:
Continua muito elevado o coefficiente com que a tuberculose se apresenta no obituário geral
da capital, e não seria inútil, ainda uma vez, repetir a influencia desastrosa que na saúde da
população determina o habito de não serem isolados os doentes desta moléstia, reconhecida
como está hoje a sua transmissibilidade, fácil por contagio. O isolamento dos doentes dessa
moléstia é uma medida que se impõe, a fim de impedir, que o seu desenvolvimento attinga o
grau a que se elevou nas principaes capitaes europeas, em algumas das quaes representa 50
por cento da mortalidade geral. O tratamento da tuberculose não pode continuar a ser feito
nos hospitaes communs, pela dupla inconveniência geralmente reconhecida; perigo de
contagio para os doentes de outras enfermidades e falta de condições elementares para o
tratamento dos mesmos tuberculosos, para os quaes se deveriam destinar sanatórios fora e
distantes da cidade e em condições climatericas convenientes. Alem do isolamento dos
tuberculosos, preciso é organizar-se um serviço regular de fiscalização rigorosa das leiterias e
dos matadouros, por veterinários competentes.
39
destinou-lhe , através do decreto nº. 4235, de 23 de maio de 1927, um crédito de 20 mil contos, o que permitiu que a Estrada
de Ferro Sorocabana pudesse prosseguir seu plano de remodelação”.
ALMEIDA, Marta de. República dos Invisíveis: Emilio Ribas, microbiologia e Saúde Pública em São Paulo (1898-1917).
Bragança Paulista, EDUSF, 2003, pp. 15-16.
37
SILVA Pinto apud GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Op. cit., p. 8. e RIBEIRO, Lourival. “Clemente Ferreira,
pioneiro da Luta
contra a Tuberculose no Brasil”. In: Liga Paulista contra a Tuberculose. comemorações em são Paulo do 1º
Centenário de Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857-1957. São Paulo, 1957, p. 102.
38
GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Op. cit., pp.
8-9
39 PEIXOTO, Dr. João Batista de Mello apud GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Op. cit., p. 9. e SOUZA, Raphael de
Paula.
”O trabalho de Clemente Ferreira pela formação de uma consciência Sanitária em Face do problema da Tuberculose no
37
Victor Godinho,
40
em seu livro intitulado “Sanatórios e Tuberculose”, escrito
em 1902, comentou este primeiro movimento do Serviço Sanitário de São Paulo para
implantação de um programa de combate a tuberculose, dizendo:
Desde 1897, data em que os Drs. Dino Bueno e Silva Pinto, exerciam respectivamente os
logares de Secretario do Interior e Diretor do Serviço Sanitário, a tuberculose tem
preoccupado os poderes públicos. Depois dessa epocha os Drs. Mello Peixoto e José Pereira
de Queiroz, Secretários do Interior e o Dr. Emilio Marcondes Riba, Diretor do Serviço
Sanitário, têm continuado a mostrar o mesmo zelo, senão maior, em procurar meios de
combater a terrível moléstia, que ceifando uma vida humana de 7 em 7 segundos, rouba no
mundo 4.500.000 habitantes anualmente.
41
Apenas no final da década de 1890, foram criadas enfermarias isoladas para
os tísicos da capital de São Paulo. Fruto de um acordo feito entre os médicos da
Santa Casa de Misericórdia e o diretor clinico, Dr. Arnaldo de Carvalho, os
tuberculosos passaram a ter enfermarias especiais no referido nosocômio, porém as
tísicas mulheres, por serem em número bem mais reduzido, continuaram nas
mesmas enfermarias, ditas promiscuas.
42
Emílio Ribas assumiu a direção do Serviço Sanitário, no lugar de Silva Pinto,
em 1898. Sensível ao incremento da peste branca determinou que os Drs. Victor
Godinho e Guilherme Álvaro elaborassem um opúsculo para mostrar que a
tuberculose era uma doença evitável e curável.
43
Os dois esculápios, após estudo
minucioso, escreveram um relatório de 100 páginas com o nome de: “Tuberculose –
Contágio, Curabilidade, Tratamento Higiênico e Profilaxia”. O mesmo foi
apresentado, por Emílio Ribas, ao Secretário do Interior, José Pereira de Queiroz,
que, por sua vez, o encaminhou ao Presidente do Estado. Na introdução do trabalho,
Brasil”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor
Clemente Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, pp. 52-55.
40
“Victor Pereira Godinho nasceu em 1862 no Rio de Janeiro. Formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em
1887, portanto, colega de turma de Emílio Ribas. Foi Inspetor Sanitário, chefe da comissão sanitária enviada para o Maranhão
em 1904, diretor da Revista médica de São Paulo desde sua fundação em 1898 até seu último ano de publicação em 1914,
diretor do Hospital de Isolamento de Santos e de São Paulo de 1915 a 1919, quando aposentou-se do Serviço Sanitário. Foi
professor da Escola de Farmácia de São Paulo, onde lecionou até o seu falecimento ocorrido em 1922 no Rio de Janeiro.
Escreveu vários artigos e livros médicos, principalmente sobre Bacteriologia e Tuberculose, além de romances”.
ALMEIDA, Marta de. República... Op. cit., pp. 253-254.
41
GODINHO, Victor. Sanatórios e Tuberculose. São Paulo, Typografia do Diário Oficial, 1902, p. 53.
42 GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Op. cit., p. 10.
43
“Pertence ao Dr. Emilio Ribas a iniciativa de um trabalho de propaganda que o Dr. Guilherme Alvaro e eu escrevemos e do
qual o governo mandou tirar 10.000 exemplares. Estes foram remettidos ás Câmaras Municipais para distribuição gratuita
assim como outra edição de 120.000 exemplares das conclusões, que tiveram idêntica circulação”.
GODINHO, Victor. Sanatórios e Tuberculose. Op. cit., p. 53.
38
homenageando os antecessores de Emílio Ribas, os dois autores transcreveram
partes dos relatórios por eles elaborados e encaminhados, na época, aos poderes
superiores do Estado. Falaram da magnitude da doença mostrando que sua
mortalidade anual, no mundo, excedia a quatro e meio milhões de pessoas e que a
mesma roubava uma vida de sete em sete segundos. Só na França matava 160.000
pessoas por ano. O estudo foi dividido em duas partes e será objeto de discussão
em outro capitulo. No relatório que fez encaminhando o trabalho de Godinho e
Álvaro, Emílio Ribas
44
comentou:
Apesar de ser ainda de 7,57% o coeficiente da mortalidade da tuberculose nesta Capital, o
Governo deve cuidar no assumpto, com a brevidade possível, para que possa dar um golpe
certeiro – evitando dest’arte o seguro augmento deste algarismo, em ausência de
providencias, como já se evidencia da differença para mais, que, se nota do anno de 1897 á
1898. (...) No tocante ao tratamento, o ideal é o hygienico – a cura ao ar livre, obtida nos
sanatórios convenientemente situados e dirigidos. (...) No nosso Estado existem pontos que
realizam as condições de instalação de sanatorios. Oxalá que o Governo ou uma empresa
particular efetuassem.
45
No mesmo relatório, Emílio Ribas mostrou a pesquisa do Dr. Nuno de
Andrade evidenciando a mortalidade por tuberculose na Capital Federal, entre os
anos de 1850 e 1898, que foi de 79.083 pessoas, comparando-a com a da febre
amarela, de 1850 a 1898, que foi de 53.515 pessoas como mostra o gráfico 3.
44
“Emílio Marcondes Ribas (1862-1925). Nascido no interior de São Paulo, na cidade de Pindamonhangaba, formou-se pela
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1887, defendendo a tese Morte aparente dos Recém-nascidos em fevereiro de
1888. Foi fundador do Clube Republicano em sua cidade natal, junto a amigos e correligionários, atuando como propagandista.
Em 1895, Emílio Ribas foi nomeado inspetor sanitário em comissão e no ano de 1896, foi enviado pelo dr. Antonio Bueno
Secretário do Interior, a assumir funções de inspetor sanitário efetivo do Estado no interior, atuando em Rio Claro, Araraquara,
Pirassununga, São Caetano, Jaú e Campinas. Atuou como médico clinico e casou-se com Maria Carolina Bulcão, filha de
tradicional família paulista, com quem teve cinco filhos. (...) Em 1898 foi nomeado diretor do Serviço Sanitário pelo presidente
do Estado, Peixoto Gomide, cargo ocupado até 1917. Em sua administração, destacam-se: reorganização do Hospital de
Isolamento e das diversas seções do Serviço Sanitário tais como o Desinfectório Central, o Laboratório Farmacêutico e a Seção
de Engenharia Sanitária, além da criação do Instituto Butantan, da seção de Proteção à Primeira Infância, da Inspetoria
Sanitária Escolar e do Serviço de Profilaxia e Tratamento do Tracoma. Em 1908, foi designado pelo governo paulista para ir
aos Estados Unidos e Europa em comissão cientifica oficial, a fim de estudar a profilaxia da tuberculose, participar de
Congressos e visitar organizações sanitárias, (...) voltando para São Paulo idealizou a construção de um sanatório para
tuberculosos nas montanhas de Campos do Jordão. (...) Diante das dificuldades de comunicação planejou, juntamente com o
médico Vitor Godinho, a construção de uma estrada de ferro ligando Pindamonhangaba à Serra da Mantiqueira”.
ALMEIDA, Marta de. República... Op. cit., pp. 15-17.
45 GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Op. cit., pp.
3-4.
39
GRÁFICO 3
MORTALIDADE POR TUBERCULOSE E FEBRE AMARELA NA
CAPITAL FEDERAL – 1859-1898
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
1859-
1898
Tuberculose
79.083
Febre Amarela
53.515
Fonte: GODINHO Victor e ALVARO, Guilherme. Tuberculose. Serviço Sanitário de São Paulo, Escola
Typographia Salesiana, 1899, pp. 3-4.
Finalizando o relatório, Emílio Ribas falou da importância e utilidade dos
sanatórios para tratar os pectários e controlar a propagação da peste branca.
Assinalou que em São Paulo existiam locais apropriados para suas edificações.
Note-se que todos os relatórios que tratavam do problema da tuberculose sugeriam o
isolamento dos tísicos em sanatórios para tratamento especializado e, para isso,
solicitavam a construção dos mesmos, de preferência na serra da Mantiqueira. O
tratamento, chamado de higieno-dietético, consistia em repouso, dieta e clima das
montanhas. Amplamente divulgado, respaldado nos avanços científicos ocorridos no
último quartel do século XIX, parecia ser muito conveniente, já que, além de isolar os
tísicos da sociedade, cortava o elo de contágio. Entretanto, demandando vultosas
verbas, enfrentou vários óbices para ser implantado como discutiremos no segundo
capítulo.
1.5. Nascem as Ligas com Clemente Ferreira
A idéia de se começar uma luta contra a peste branca já estava amadurecida
entre os higienistas de São Paulo no final do século XIX. Porém, todas as medidas
propostas para efetivação da mesma eram calcadas no binômio “sanatório e
contágio”, de difícil execução e, por isso, foram proteladas pelos poderes públicos. O
assunto da tuberculose terminou tocando a sensibilidade de Clemente Ferreira. Ele
que havia deixado de lado a tisiologia para dedicar-se a pediatria sentiu-se
40
novamente atraído por ela, agora com mais experiência e conhecimentos
embasados nos trabalhos de Villemin, Charcot, Koch, Thaon, Martin, Grancher,
Roentgen, Nocard, Philips, Virchow e Tapeiner, tisiólogos europeus e norte-
americanos. Depois, ele estava vivenciando a ebulição do problema no Rio de
Janeiro que teve nas seguintes palavras de Júlio de Moura, pronunciadas no II
Congresso Médico Brasileiro em 1889, muita lenha para a fogueira.
Tratando-se de uma enfermidade que nos assola com a teimosia inexorável de uma endemia
que não tem paradeiro, nós nos achamos na mesma lamentável contingência dos nossos
antepassados, lutando tanto ou mais do que eles, por um lado com a indiferença do povo e
dos poderes públicos, por outro, com a ineficácia ou mesmo ausência dos meios
aconselháveis para preveni-la ou debelá-la.
46
Além de Clemente Ferreira, muitos médicos estavam empenhados em iniciar
a luta, principalmente, após o Congresso de Berlim realizado em 1899, quando o
assunto foi exaustivamente discutido. As teses e os relatórios defendidos no referido
congresso foram publicados na revista “Brasil Médico” e tiveram grande penetração
entre os esculápios brasileiros.
47
Vários acontecimentos científicos contribuíram, também, para que uma
campanha de tal cunho fosse cogitada: Os resultados satisfatórios obtidos pelos
cientistas europeus e americanos com o tratamento sanatorial, fundamental para a
cura dos tísicos; os novos conhecimentos sobre a etiologia da doença decorrentes
das experiências de Villemin e Koch; a descoberta dos raios X pelo professor
Roentgen e a criação do dispensário em Edimburgo, por Sir. Robert Philip,
possibilitando a prevenção da doença e seu tratamento em regime ambulatorial.
Esses progressos transbordaram do meio médico para as classes mais cultas
européias estimulando a criação de inúmeras sociedades beneficentes com a
finalidade de combater a tuberculose. Irrompeu, assim, por toda Europa uma
extraordinária cruzada sanitária contra a peste branca.
Clemente Ferreira, então Inspetor Sanitário do Estado de São Paulo,
defrontou-se com seus colegas higienistas vivamente preocupados com o problema
da tuberculose, mas de braços atados. Concatenado com a cruzada que tomava
corpo na Europa, resolveu enfrentar a tuberculose em São Paulo nos mesmos
moldes em que, lá, os higienistas estavam-na enfrentando. Assim, com um grupo de
médicos, no âmbito privado, iniciou um movimento para a criação de uma
46
RIBEIRO, Lourival. “Clemente Ferreira, pioneiro...” Op. cit., p. 105.
47
NASCIMENTO, Dilene Raimundo. Op. cit., pp. 5 e 25.
41
associação beneficente de combate à tísica. A gravidade da doença encontrava,
finalmente, respaldo nos movimentos filantrópicos. Aproveitando o momento propício
ele iniciou a luta, com seus pares, mobilizando a população, achando que só
contando com o apoio da coletividade poderia vencer a peste branca. Raphael de
Paula Souza, em discurso sobre o trabalho de Clemente Ferreira para formar na
coletividade uma consciência sanitária, comentou:
Estavam às altas autoridades do Estado, portanto, sendo orientadas e pressionadas por esse
valioso corpo médico responsável pelo nosso serviço de saúde. O mesmo não se pode dizer
da população em geral que, ignorando inteiramente o assunto, não percebia a parte de ação
que lhe poderia tocar. É nesse instante que surge em nosso meio o espírito dinâmico e
empreendedor de Clemente Ferreira, no afã de mobilizar por todas as formas, a seu alcance,
essa imensa força em potencial representada pela coletividade paulista.
48
A idéia de criar a “Associação Paulista de Sanatórios Populares para
Tuberculosos”, nos moldes da “Verein fuer Volkkeilstatten de Munich”, foi divulgada
no meio médico, por Clemente Ferreira, um ano antes de sua instalação a 17 de
julho de 1899.
49
Os objetivos da sociedade da Alemanha, eram: a educação sanitária
da população, a propaganda e realização das principais medidas profiláticas contra a
moléstia e a instalação de sanatórios cientificamente aparelhados para o tratamento
racional dos tuberculosos desvalidos.
50
Clemente Ferreira uniu-se a Emílio Ribas, Victor Godinho, Guilherme Álvaro,
Saturnino Veiga, João Pedro da Veiga, Américo Brasiliense e outros companheiros,
conseguindo o interesse da Sociedade de Medicina e Cirurgia,
atual Academia
Paulista de Medicina. Em julho de 1899, na sessão da referida sociedade, sua
proposta foi aceita. Essa associação, que depois foi chamada de “Liga Paulista
contra a Tuberculose”, baluarte da luta contra a tuberculose no país, tinha
praticamente os mesmos objetivos da “Verein fuer Volkkeilstatten de Munich”
descritos acima.
Segundo Lourival Ribeiro, a iniciativa de Clemente Ferreira animou outros
estudiosos da tuberculose a fazerem o mesmo em seus estados. Na Capital da
República vultos expressivos do meio médico reuniram-se na Academia Nacional de
Medicina e na Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro para debater o
assunto e preparar terreno a fim de organizar a luta.
Em 1900, Cypriano de Freitas,
48
SOUZA, Raphael de Paula. “O trabalho de Clemente Ferreira...” Op. cit., p.
56.
49
GODINHO, Victor. Sanatórios e Tuberculose. Op. cit., p. 4.
50
FERREIRA, Clemente. Posse de Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. Rio de Janeiro, J. R. de Oliveira
& CIA , 1938, p.
7.
42
Hilário de Gouveia, Azevedo Lima, Carlos Seidl e o Visconde de Itabuna criaram no
Rio de Janeiro a “Liga Brasileira contra a Tuberculose”.
51
Médicos de vários estados do Brasil criaram ligas de combate à tuberculose.
Assim, Octávio de Freitas, Eduardo de Menezes, Ramiro de Azevedo, Manoel
Rodrigues Peixoto, criaram, respectivamente, as Ligas: Pernambucana, Mineira,
Baiana e Campista. Porém, cabe a Clemente Ferreira a invejável posição de pioneiro
da luta organizada contra a tuberculose no Brasil.
52
A Liga Pernambucana foi
fundada a 19 de julho de 1900, pelo Dr. Octávio de Freitas.
53
A Liga Baiana foi
instalada no dia 22 de julho de 1900, no salão da Faculdade de Medicina, pelo Dr.
Ramiro de Azevedo.
54
A Liga Mineira foi fundada a 4 de setembro de 1900, pelo Dr.
Eduardo de Menezes.
55
51
Sobre a Liga Brasileira ver: NASCIMENTO, Dilene Raimundo. Tuberculose: de questão pública a questão de Estado. A Liga
Brasileira Contra a Tuberculose. Dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva, URJ, 1991.
A solenidade de instalação da “Liga Brasileira contra a tuberculose” foi no dia 4 de agosto de 1900 na sessão da Academia
Nacional de Medicina. Estiveram presentes, além do Arcebispo que presidiu a sessão, o Presidente da República Campos
Salles, alguns ministros de Estado, o Diretor Geral da Saúde Pública, Nuno de Andrade, e várias figuras de prestigio da área
política, social e artística. Sua diretoria ficou assim constituída: Presidentes Honorários - Presidente da República, Dr. Manoel
Ferraz de Campos Salles e Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Joaquim Arcoverde; Secretário Perpétuo - Dr. Hilário Soares de
Gouveia; Presidente da Diretoria – Dr. Visconde de Ibituruna; Vice-Presidente – Barão de Itacurussá, Visconde de Avellar,
Senador Quintino Bocayuva e Dr. Manoel Rodrigues Peixoto; Secretário Geral – Dr. Cipriano de Freitas; Secretários - Alcindo
Guanabara e Coronal Ernesto Senna; Procurador - Dr. Francisco Batista Pinheiro; Tesoureiro – Manoel Antonio da Costa
Pereira.
RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., pp. 73-74 e NASCIMENTO, Dilene Raimundo. Op. cit., p.
42.
52
RIBEIRO, Lourival. “Clemente Ferreira, pioneiro...” Op. cit., p. 105.
53
Colaboradores que fundaram com Octávio de Freitas a Liga Pernambucana: Arnóbio Marques, João Marques, Lopes
Pessoa, Frederico Curio, Tomaz de Carvalho, Bernardino Maia, Alfredo Costa, Simões Barbosa, Costa Ribeiro Martins
sobrinho, Ascanio Peixoto. Sua diretoria foi assim composta: Presidente – Octávio de Freitas; Vice-Presidente – Antonio Castro;
1º. Secretário – Costa Ribeiro; 2º. Secretário – Martins Sobrinho; Tesoureiro – Bernardino Maia. Ao final de um ano foi
constituída uma comissão executiva composta por profissionais das mais diversas áreas: Presidente – Octávio de Freitas
(médico); 1º. Vice-Presidente – Lino Braga (negociante); 2º. Vice-Presidente – Alberto Fernandes (comerciante); 1º. Secretário
– Costa Ribeiro (médico); 2º. Secretário – Oswaldo Machado (advogado e jornalista); Orador – Martins Sobrinho (médico);
Tesoureiro – Manoel Madeiros (banqueiro).
RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., pp. 79-81.
54
Colaboradores que fundaram com Ramiro de Azevedo a Liga Bahiana: Alfredo Brito, Aurélio Viana, Joaquim Mateus dos
Santos, Gonçalo Muniz, Alfredo Magalhães, Adeodato de Souza e Pedro Celestino. Na primeira sessão foi eleito o Conselho
executivo ficando assim constituído: Presidente – Dr. Joaquim Matheus dos Santos; Vice-Presidente – Dr. Alfredo Brito; 1º
Secretário – Dr. Ramiro de Azevedo; 2º Secretário – Gonçalo Moniz; Tesoureiro – Dr. Aurélio Vianna.
SILVEIRA, José. Op. cit. p. 38.
55 A primeira diretoria da Liga Mineira foi assim constituída: Presidente – Eduardo de Menezes (médico); Secretário – Dr.
Antonio Carlos Ribeiro de Andrade (advogado); Tesoureiro – João A. Massena (farmacêutico) e outros componentes - Dr.
Candido Teixeira (advogado e fazendeiro), C. H. Hoff., (industrial), Antonio Penido (engenheiro civil), Dr. Belizário Pena
(médico), Pinheiro Machado (negociante).
RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., p. 76.
43
As Ligas, aqui no Brasil, movidas pelos mesmos sentimentos humanitários e
patrióticos e respaldadas pela ciência, nasceram praticamente juntas. Foram
lideradas por médicos, mas contaram com a participação de diferentes profissionais
e isto foi fundamental para o êxito das mesmas em uma luta que demandava o
esforço de toda a sociedade. Além disso, tinham os seguintes objetivos e
preocupações: educação sanitária da população; moradia salubre; alimentação
suficiente; condições dignas de trabalho para o operariado; criação de sanatórios,
preventórios e dispensários para a prevenção e tratamento dos tuberculosos pobres
e seus filhos.
Posteriormente, essas Ligas se difundiram por muitos municípios formando,
em todo o Brasil, uma rede de luta contra a tuberculose. Essas instituições se
enquadravam no campo da filantropia, cabendo aqui uma distinção entre as práticas
filantrópicas e caritativas.
1.6. Filantropia x Caridade
Até o final do século XVIII, a Igreja manteve o domínio da prática caritativa
que tinha por função aliviar a dor do semelhante desvalido a fim de receber, como
recompensa, a vida eterna. A Igreja pregava a tutela dos ricos sobre os pobres com
a recompensa de garantir-lhes a salvação da alma.
56
Com o avanço da revolução industrial e do desenvolvimento econômico no
sistema capitalista, o trabalho passa a ser visto como fonte de riqueza e, assim, a
prática caritativa dos ricos sobre os pobres foi perdendo adeptos, pois o pobre podia
vender sua força de trabalho e, assim, conseguir sua subsistência. Em meados do
século XIX, iniciou-se o combate à idéia de que o pobre tinha o direito de ser
socorrido pelo rico. Em conseqüência, houve a superação da assistência
indiscriminada, surgindo a necessidade de distinguir o pobre inválido daquele que
podia trabalhar.
57
O pauperismo passou a ser objeto de estudo de diversas ciências, entre elas
a medicina, fornecendo, desta maneira, as elites sociais e políticas instrumentos para
a classificação das populações. A elites passaram a atuar controlando a situação, a
56
BALEN, Age Deodorus Josefan. Disciplina e Controle da Sociedade – Análise do Discurso e de Práticas Cotidianas. São
Paulo, Cortez, 1983, p. 41.
57
NASCIMENTO, Dilene Raimundo. Op.
cit., p.
36.
44
fim de adequar a vida urbana às novas condições econômicas da sociedade
capitalista.
58
Surge, neste cenário, a filantropia como modelo ideal para substituir a prática
caritativa. Respaldada pela ciência, a filantropia servia à classe dominante na sua
função de intervenção na sociedade. O discurso da prática filantrópica não era mais
para atingir o reino do céu, mas de reconhecimento ao direito social. Surgiu o debate
sobre a responsabilidade do Estado na assistência aos necessitados. Este debate
levou a discussão da assistência pública e privada como práticas complementares
para a resolução das questões sociais.
Neste contexto, no Brasil, surgem as Ligas filantrópicas de enfrentamento da
tuberculose. Copiadas daquelas européias, principalmente da Alemanha, as Ligas
brasileiras enfrentaram múltiplas dificuldades o que não ocorreu na Europa, onde a
industrialização já estava bastante adiantada e o dinheiro da previdência dos
trabalhadores financiou a construção de sanatórios e dispensários para o tratamento
dos tuberculosos.
1.7. O plano de Oswaldo Cruz que não vingou
É justo que se mostre as tentativas frustradas de implantação da luta contra a
tuberculose, na primeira década do século XX, partindo do Estado. Isto se deu
quando as Ligas já estavam implantadas e atuando em várias cidades do Brasil. O
inicio desta tentativa ocorreu em 1902 quando a Diretoria Geral de Saúde Pública
incluiu a “tuberculose aberta”
59
como uma doença de notificação compulsória, ao
lado das outras doenças transmissíveis. Em 1904, no Regulamento Sanitário, esta
medida foi mantida e surgiram outras como: proibição dos tuberculosos residirem em
habitações coletivas e trabalharem em casas comerciais; obrigatoriedade do uso de
escarradeiras em lugares públicos; aplicação do teste tuberculínico nos animais
estabulados; isolamento dos tuberculosos em enfermarias próprias nos hospitais.
Houve, também, uma tentativa de educação sanitária através da imprensa e da
distribuição de folhetos.
60
Evidentemente estas medidas foram inócuas, devido a
58
Sobre a utilização da Medicina Social pelas elites ver: MACHADO, Roberto. Danação da Norma e FREIRE Jurandir. Ordem
médica e norma familiar.
59
Este termo foi criado por Grancher, na França, para distinguir a tuberculose com expectoração nula (tuberculose fechada)
da tuberculose com expectoração abundante (tuberculose aberta)
GODINHO, Victor e ÁLVARO, Guilherme. Op. cit., p.
10.
60
NASCIMENTO, Dilene Raimundo. Op.cit., p.
19.
45
situação sócio-econômica dos tuberculosos. Além disso, não havia uma decisão
política do governo de atuar nesta luta.
Oswaldo Cruz,
61
quando Diretor Geral da Saúde Pública, tentou iniciar um
programa para combater a tuberculose. Em 1907, ele havia debelado a febre
amarela no Rio de Janeiro e achava que era hora de enfrentar a tuberculose.
Escreveu o artigo “Prophylaxia da tuberculose” que foi publicado na revista da Liga
Paulista contra a tuberculose, Defesa contra a Tísica, explicitando seu plano de
ação. Abaixo, suas palavras introdutórias:
Finda hoje o prazo dentro do qual a Directoria Geral da Saúde Pública se comprometteu,
perante o Governo, a extinguir no Rio de Janeiro a febre amarella sob a fórma epidemica
desde que lhe fossem concedidos os elementos que julgava indispensaveis. O governo do
exmo. sr. dr. Rodrigues Alves forneceu, depois de ter solicitado e obtido do Congresso, todos
os elementos pedidos pela Diretoria de Saúde, e, hoje, folgo em levar ao conhecimento de v.
exc. que, graças á vontade e firmeza do Governo, a febre amarella já não mais devasta sob a
fórma epidêmica a Capital da Republica. Alenta-nos, alêm disso, a esperança de que num
futuro mui próximo possamos riscar por completo da nossa estatística nosologica a moléstia
que durante tantos annos constituiu o maior óbice ao nosso progresso. (...) Se examinarmos
detalhadamente os factores constitutivos da curva das chamadas moléstias evitáveis,
veremos que quase todas soffreram uma sensível diminuição; uma, porêm, permanece
inalterada, por assim dizer, continuando a ceifar vidas na maior pujança de sua atividade
produtiva: a tuberculose quase não foi influenciada pelas medidas sanitárias postas em
pratica. E não o foi, porque não foi feita sua prophylaxia especifica. (...) De todas as molestias
evitaveis, a de prophylaxia mais difficil é, indubitavelmente, a tuberculose.
62
Oswaldo Cruz arquitetou um plano baseado nas causas da doença que
chamou de: determinante e predisponentes. O bacilo era a causa determinante e as
61
Oswaldo Cruz nasceu em São Luís do Paraitinga a 5 de agosto de 1872 e faleceu em Petrópolis a 11 de fevereiro de 1917.
Era o mais velho do casal Amália Taborda Bulhões Cruz e Bento Gonçalves Cruz que tiveram também cinco meninas: Eugenia
Amália Alice, Noemi e Hortência.
Médico sanitarista, Oswaldo Cruz ficou famoso por ter vencido a febre amarela que no final
do século XIX transformou o Rio de Janeiro em um porto maldito. Combateu também a varíola e a peste bubônica. Foi o
fundador do Instituto Oswaldo Cruz. Foi o pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da medicina experimental no Brasil.
Fundou em 1900, o Instituto Soroterápico Nacional no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, transformado em Instituto
Oswaldo Cruz e, hoje, instituição respeitada internacionalmente. Paulista, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro em 1887. Em 1896, estagiou no Instituto Pasteur, em Paris, onde foi discípulo de Émile Roux, seu diretor à época.
Voltou ao Brasil em 1899 e organizou o combate ao surto de peste bubônica registrado em Santos (SP) e em outras cidades
portuárias brasileiras. Demonstrou que a epidemia era incontrolável sem o emprego do soro adequado. Como a importação era
demorada à época, propôs ao governo a instalação de um instituto para fabricá-lo. Foi então criado o Instituto Soroterápico
Nacional. Diretor Geral da Saúde Pública (1903), coordenou as campanhas de erradicação da febre amarela e da varíola, no
Rio de Janeiro. Organizou os batalhões de “mata-mosquitos”, encarregados de eliminar os focos dos insetos transmissores. A
medida provocou a rebelião da Escola Militar e de populares contra o que consideram uma invasão de suas casas e uma
vacinação forçada o que ficou conhecido como Revolta da Vacina. Foi ferozmente atacado
por causa
de suas campanhas
sanitárias tendo que enfrentar a incompreensão de seus contemporâneos. Dirigiu a campanha de erradicação da febre amarela
em Belém (PA) e estudou as condições sanitárias do vale do Rio Amazonas e da região onde seria construída a Estrada de
Ferro Madeira-Mamoré. Em 1916, ajudou a fundar a Academia Brasileira de Ciências e, no mesmo ano, assumiu a prefeitura de
Petrópolis (RJ). Doente, faleceu um ano depois, exercendo pouca parte do mandato.
Fonte: http://www.projetomemoria.art.br/OswaldoCruz/index.html
Acesso em: 4 de novembro de 2007.
62
CRUZ, Dr. Oswaldo Gonçalves. “Prophylaxia da tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica. 6 (1): 19-29, jan/ jul. de 1907.
46
condições que levavam a diminuição da resistência orgânica eram as
predisponentes. Nestas condições predisponentes estavam: habitações e locais de
trabalhos insalubres, alimentação deficiente, predisposição hereditária, alcoolismo,
esgotamento físico e moral, entre outras. A estratégia de luta de Oswaldo Cruz era:
combater o bacilo e fortalecer as defesas orgânicas. Para colocá-la em campo eram
necessários: a notificação compulsória de todos os casos de tuberculose e não só da
“tuberculose aberta” como acontecia até então; encaminhamento para os sanatórios
dos casos passíveis de tratamento; educação profilática com o afastamento dos
tuberculosos das coletividades; leis de aposentadoria temporária ou definitiva que
garantissem a subsistência do tuberculoso e de sua família; seguro obrigatório para
os operários e empregados do comércio e da indústria. Além disso, o plano
preconizava a construção de sanatórios, colônias sanitárias agrícolas, casas de
pensão e hospitais de isolamento para os doentes inválidos. Para a profilaxia direta:
fiscalização dos produtos alimentícios, normatização dos serviços de varredora a fim
de que as poeiras não carreassem os bacilos, fiscalização das lavanderias públicas,
etc.
63
O plano deveria ser de iniciativa do Estado através de um departamento
ligado à administração pública. Dependia, portanto, das várias instâncias dos
poderes executivo e legislativo que naquele momento não estavam priorizando o
controle da tuberculose. A falta de uma decisão política nesse sentido fez com que o
referido plano não fosse implantado.
64
Somente no começo do século XX a luta organizada foi efetivada por
associações filantrópicas. O Estado só a assumiu a partir da década de 1920, no
Distrito Federal, com a criação da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose e, da
década de 1930, em São Paulo, com a criação da Secção de Profilaxia da
Tuberculose. Portanto, coube às Ligas o inicio da luta contra a tuberculose no Brasil
e a Liga Paulista saiu na frente sob o comando de Clemente Ferreira como
descreveremos em seguida.
65
63
Ibidem, pp. 19-33 e NASCIMENTO, Dilene Raimundo. Op. cit., pp. 22-24.
64 NASCIMENTO, Dilene Raimundo. Op. cit., pp. 22-24.
65
Pode-se perceber muita semelhança com a luta contra o tabagismo que teve inicio no Brasil na década de 70 do século XX.
Desde o inicio do referido século havia denúncias isoladas, de médicos e outros profissionais, dos malefícios do tabaco, mas as
campanhas só foram iniciadas em meados dos anos 70, através de Ongs criadas pelas sociedades médicas, contando com a
participação de diversos profissionais e da imprensa que sempre abriu espaço para a divulgação deste sério problema de
saúde pública. Somente em meados da década de 1980 o Estado assumiu a luta, através do Ministério da Saúde.
47
2. A LIGA PAULISTA CONTRA A TUBERCULOSE
No intuito de organizar de modo efficaz a cruzada contra a tuberculose, o
Dr. CLEMENTE FEREIRA cogitou em 1898 da constituição de uma
Associação que, vasada nos moldes da VEREIN FÜR
VOLKHEILSTATTEN, de Munich, tivesse como objetivos fundamentais a
educação anti-tuberculosa da população e a propaganda e realização
consecutiva das principaes medidas prophylacticas contra a moléstia e a
installação de Sanatórios scientificamente apparelhados para o tratamento
dos tuberculosos indigentes.
66
2.1. Uma sessão histórica
O ano era de 1899. Na cidade de São Paulo, no dia 17 de julho, às
19h30minh, no salão da Rua do Comércio nº. 50, um grupo de médicos estava
reunido para mais uma sessão extraordinária da Sociedade de Medicina e Cirurgia.
Presentes naquela noite estavam os Drs.: Clemente Ferreira, Miranda Azevedo,
Victor Godinho, Guilherme Ellis, E. Xavier, A. Salles, L. Barreto, C. Rudge, Monteiro
Viana, Alves Lima, Las Casas dos Santos, Diogo de Faria, Arnaldo de Carvalho,
Tibério de Almeida, Hora de Magalhães e H. Ellis. A sessão foi aberta pelo
presidente Dr. Guilherme Ellis e secretariada pelos drs. Tibério de Almeida e
Eduardo Xavier. Depois de lida e aprovada a ata da sessão anterior e lidas e
aprovadas várias indicações, o Dr. Clemente Ferreira propôs e justificou as bases
para a fundação de uma associação de combate a tuberculose nos seguintes
termos:
Liga contra a tuberculose – Associação paulista de iniciativa para a fundação de sanatórios
populares sob o patrocínio e presidência honorária do Exmo. Sr. Presidente do Estado,
organizada pela Sociedade de Medicina e Cirurgia – Deverá ter um presidente, dois vice-
presidentes, um secretário geral e dois secretários annuaes. Para a realização dos seus
intuitos humanitários, utilizar-se-á do concurso de uma commissão de administração e de
execução. A Commissão de propaganda e acquisição de donativos encarregar-se-á do
concurso de imprensa, representado por artigos nos jornaes diários de grande circulação,
impressão e distribuição de brochuras, de circulares, etc., de modo a abalar o espírito social,
a movimentar a opinião pública e a despertar a iniciativa de todas as classes da sociedade.
De angariar a cooperação pecuniária das instituições pias, das administrações hospitalares,
dos philantropos, e capitalistas caritativos, de abrir subscripções publicas aqui e nas diversas
localidades do Estado, organizando também tômbolas, bazares de caridade, Kermesses, de
exposição de objetos de arte, etc.; de solicitar o apoio material das municipalidades, ás quaes
cabe o encargo da assistência pública, de impetrar dos poderes públicos e do corpo
legislativo, qualquer subsidio capaz de concorrer para avolumar as sommas exigidas pelo
objetivo da associação. A commissão da administração e de execução se imcubirá da
gerencia dos fundos adquiridos, da salvaguarda das sommas reunidas, bem como do estudo
dos locaes para edificação dos sanatórios e da escolha dos planos architecturaes e da
execução, cabendo-lhe depois a direcção e a administração dos estabelecimentos creados;
isto quer dizer que desta commissão deverão fazer parte engenheiros e médicos
especialistas. Seria de vantagem um appello publico dirigido immediatamente a toda a
66
EDITORIAL –“Associação Paulista dos Sanatórios Populares para Tuberculosos”. In: Defesa Contra a Tísica 1(1):3, maio
de 1902.
48
corporação Medica da capital e do interior; a sua adesão, que seria unânime, viria
promptamente prestigiar a associação, creando um sem numero de nucleos de reforço e de
ampliação. São Paulo, 14 de julho de 1899. Dr. Clemente Ferreira.
67
No dia seguinte, o jornal O Paiz noticiou:
O dr. Clemente Ferreira, distinto clinico desta capital, referindo-se hontem, na sessão de
Sociedade de Medicina, ao movimento que se opera em várias partes do mundo no intuito de
combater a tuberculose que tantas vidas victimas, propoz a criação da Liga contra a
tuberculose, associação paulista de iniciativa para sanatórios populares sob o patrocínio e
presidência honoraris do Exmo presidente do Estado, organizada pela Sociedade de Medicina
e Cirurgia. Para estudar a proposta apresentada foram commissionados os drs. Miranda
Azevedo, Victor Godinho e bem assim o seu auctor.
68
Após ter sido aprovado os lineamentos básicos para a organização da
“Associação Paulista dos Sanatórios Populares”, a mesma foi instalada. Sua diretoria
era representada por: um presidente, três vice-presidentes, um secretário geral, dois
secretários anuais, um tesoureiro e duas comissões: uma de propaganda e de
aquisição de donativos e a outra técnica e de administração. Instituída e legalizada a
referida associação, que depois passou a ser chamada de “Liga Paulista contra a
Tuberculose”, tratou de organizar subcomissões nos diversos municípios de Estado,
mas o apelo feito ao corpo clínico dos mesmos não teve a resposta desejada.
69
A falta de uma conscientização e sensibilização dos médicos clínicos do
interior do Estado, com relação ao problema da tuberculose, fez com que os mesmos
não se interessassem em formar as solicitadas subcomissões. Diante disto, a
atuação da Liga ficou limitada a capital de São Paulo com o seguinte programa a ser
executado:
1º Estudar a prophylaxia da tuberculose, salientando os factores mais efficazes de defesa e
as armas mais accessíveis – melhoramento dos meios de vida, o domiciliamento hygienico
das classes proletarias e a regulamentação hygienica do trabalho dos operários, combatendo
o alcoolismo e a insalubridade das habitações, o superpovoamento dos domicílios – auxiliares
poderosos da disseminação do mal.
2º Vulgarizar no meio social por meio de conferencias populares, brochuras, folhas volantes,
artigos na imprensa diária e quaesquer outras vias as noções prophylacticas e instrucções
preventivas que deverão ser por todos observadas em benefício próprio, da família e da
sociedade.
3º Solicitar dos poderes municipaes, estadoaes e federaes a execução de medidas geraes, de
providencias administrativas tendentes a reprimir a expansão e os progressos da
enfermidade.
4º Promover quanto antes a instalação de um ou mais sanatórios de preferência nas
proximidades da capital e das cidades mais populosas do Estado, solicitando para esse fim
67
BOLETIM DA SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DE S. PAULO. “Acta da Sessão extraordinária a 17 de Julho de
1899”. In: Revista Médica de S. Paulo. 2(9): 274-275, 15 de setembro de 1899.
68 Jornal O Paiz, 18 de julho de 1899.
69
FERREIRA, Dr. Clemente. Posse...
Op. cit., p. 7 e EDITORIAL “Associação Paulista...
Op. cit., pp. 4-5.
49
dos poderes públicos e dos governos municipaes recursos pecuniarios para a sua fundação e
custeio.
5º Promover subscripções publicas aqui e em todo Estado, organizar kermesses, espetáculos
diversos e diversões de qualquer gênero, adquirir propriedades a titulo gracioso ou oneroso.
6º Conceder recompensas aos autores de aparelhos e instrumentos de aplicação à
propyilaxia e tratamento da tuberculose de accordo com a sentença de um jury que será eleito
para esse fim.
70
2.2. A campanha profilática entra em cena
A instalação de sanatórios foi vista como a melhor maneira de lutar contra a
doença, pois, além de isolar os tuberculosos contagiosos, propiciava tratamento
adequado aos mesmos. A meta de construí-los era, portanto, a principal prioridade
da Liga, mas logo seus membros perceberam que os custos vultosos para
construção e manutenção dessas instituições hospitalares constituíam-se em óbices
intransponíveis. Diante desta impossibilidade, a Liga iniciou um movimento de
profilaxia, pondo em campo a propaganda das noções de higiene, através de
cartazes afixados em locais de maior freqüência popular como: cafés, restaurantes,
tramways, farmácias e igrejas; distribuiu folhas volantes contendo instruções sobre a
tuberculose e dando conselhos profiláticos, em diversas casas de comércio como:
papelarias, drogarias, lojas.
71
Para disseminar os preceitos de higiene, a Liga foi
buscar apoio nos poderes públicos. Visando uma maior divulgação da profilaxia,
endereçou ofícios aos Secretários do Governo Estadual, à Diretoria Geral dos
Correios, às Administrações das Estradas de Ferro Federais e Estaduais, à
Prefeitura e aos Conselhos Municipais, solicitando a execução das seguintes
medidas profiláticas: proibição de escarrar no chão e no soalho; instalação, nos
diversos locais e estabelecimentos públicos, de escarradeiras higiênicas coletivas
contendo líquidos anti-sépticos; proibição de varredura a seco sendo substituída pela
passagem de panos úmidos; preparo de wagons ao transporte de tuberculosos;
exames dos operários das fábricas e oficinas e afastamento daqueles portadores de
tuberculose aberta.
72
70
RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., pp. 63-65.
71
FERREIRA, Dr.Clemente. Posse... Op. cit., p. 9 e EDITORIAL “Associação Paulista...” Op. cit., pp. 4-5.
É interessante observar que o inicio da campanha contra o tabagismo aqui no Brasil ocorreu, também, através da utilização de
cartazes, folders, livretos que tinham a finalidade de conscientizar a população dos malefícios do tabaco. Os meios de
comunicação tiveram papel fundamental nessa luta que, felizmente, caminha a passos largos para a vitória final. Outra meta da
Liga foi o binômio “Educação e Legislação”, já que a educação sem o apoio de uma legislação especifica seria pouco eficaz na
guerra contra a peste branca. Este mesmo binômio foi perseguido pelas campanhas contra o tabaco.
72
EDITORIAL “Associação Paulista...” Op. cit., p. 5.
50
Os apelos feitos foram respondidos positivamente pelos Secretários do
Estado, Administrações dos Correios, Ferrovias Federais e Estaduais e Prefeitura
Municipal e, dentro de poucos meses, a cidade apresentava cartazes proibindo
escarrar no piso e varrer a seco nas: escolas, repartições públicas estaduais e
municipais, mercados, estações e vagões de estrada de ferro, etc.
A Liga reclamou, ao Conselho Municipal, a votação de leis protetoras do
comércio de gêneros alimentícios dispondo sobre a regulamentação higiênica das
confeitarias, cafés, restaurantes, etc. Fez com que as administrações dos hospitais
vissem as vantagens sanitárias da adoção de escarradeiras de bolso para os
tuberculosos hospitalizados, com a finalidade de não infectarem com suas
expectorações os jardins e pátios desses estabelecimentos. Mostrou às referidas
administrações a conveniência de enviarem, periodicamente, à Repartição Sanitária
a relação das residências dos tuberculosos falecidos ou saídos do hospital e
daqueles que iam às consultas externas para que se pudesse exercer a necessária
vigilância sanitária e o policiamento higiênico dos domicílios ocupados por eles.
73
Em busca de outras difusões das principais “máximas” da profilaxia
antituberculose, a Liga solicitou ao Secretário do Interior e ao Diretor Geral dos
Correios a impressão, no dorso dos envelopes oficiais da referida secretaria e nos
cartões e envelopes postais dos Correios, de frases curtas e expressivas referentes
à prevenção da doença. Fez com que as editoras de livros e cadernos escolares e os
diversos editores de almanaques e calendários vissem a vantagem de inserir noções
básicas sobre a prevenção da tuberculose no verso ou em um cantinho de suas
publicações. Ao proprietário da única fábrica de caixas de fósforos existente na
capital de São Paulo, solicitou a propaganda dos preceitos de profilaxia contra a
tuberculose nas caixinhas que tinham ampla circulação entre as diversas classes
sociais. Dando seqüência a obra de profilaxia, distribuiu 6.195 publicações diversas e
fez palestras nas escolas e fábricas para divulgar os preceitos de higiene.
74
73
FERREIRA, Dr.
Clemente. Posse... Op. cit., p. 10.
74
EDITORIAL. “Associação Paulista...” Op. cit., pp. 6-7.
51
2.3. À cata de verbas
Perseguindo a meta da construção de sanatórios populares, a Liga saiu em
campo para a obtenção de recursos materiais. Para a construção do primeiro
sanatório apelou para os poderes públicos municipais e para as administrações das
Santas Casas. Alguns municípios responderam positivamente aos apelos, mas ao
cabo de poucos anos as contribuições foram cessadas. Durante dois anos
consecutivos, seus dirigentes bateram à porta do Congresso do Estado,
insistentemente, solicitando a votação de subvenções. Também não cessaram de
apelar à generosidade de particulares para a benemérita campanha da saúde
pública.
75
A Liga, por ser uma associação filantrópica, não estava vinculada a
administração pública e, por isso, necessitava de subvenções governamentais para
atuar na luta contra a peste branca. Graças ao prestigio de seu presidente junto aos
deputados ligados a área de saúde, como Abreu Sodré, a Liga conseguiu
importantes verbas para realizar seus objetivos.
75
FERREIRA, Dr.Clemente. Posse... Op. cit., pp. 11-12.
52
2.4. Uma revista na trincheira de luta
FIGURA 2
FOLHA DE ROSTO DA REVISTA DEFESA CONTRA A TÍSICA ANNO I. Nº. 2
.
Fonte: Biblioteca do Museu Emílio Ribas
Os dirigentes da Liga tinham consciência de que somente a educação
sanitária da população sem a melhoria das condições de vida dos trabalhadores
(alimentação, moradia e condições de trabalho adequados) e sem o isolamento e
tratamento dos tuberculosos em sanatórios, não teriam o impacto desejado na
redução da tuberculose. A peste branca já era vista como uma doença social, pois se
confinava nos cortiços e nos bairros operários. Por isso, uma de suas bandeiras de
luta foi solicitar aos poderes públicos o melhoramento das condições de vida das
classes operárias e a instalação de sanatórios populares. A criação de uma revista
seria uma arma eficaz para ser utilizada na conscientização do problema junto aos
poderes públicos e a população. Em 1901, foi anunciada a chegada da revista
Defesa contra a Tísica” e, a partir de maio de 1902, surgiu seu primeiro número sob
53
a direção de Clemente Ferreira e Victor Godinho. Como lema de luta, no frontispício
de todos os números, a frase com que Knopf encerrara seu livro:
Para combater com eficácia a tísica como moléstia do povo, faz-se mister a ação combinada
de um governo sábio, de médicos bem orientados e de um povo inteligente.
76
A partir do segundo número foi acrescentado, em seu frontispício, os
alarmantes dados de mortalidade causados pela tísica, em São Paulo, como pode-se
ler abaixo:
A tísica mata annualmente no Estado de S. Paulo mais de 2000 pessoas, fazendo
desapparecer um município equivalente ao de Itararé, Ribeirão Branco ou Ataçariguama.
Sendo a tuberculose uma moléstia evitável e curável
, cumpre dar-lhe combate sem tréguas
pela hygiene preventiva e o tratamento dos doentes em dispensários e sanatórios.
77
Segundo Raphael de Paula Souza, a capacidade de Clemente Ferreira
manter viva a campanha, através das páginas da revista Defesa contra a Tísica, era
espantosa. Ao lado de artigos de alto valor científico ele informava o que se fazia em
todo o mundo para melhorar a luta, divulgava conhecimentos e conselhos de saúde,
prestava contas das atividades da Liga, cobrava dos governantes ações eficazes de
combate e fazia propaganda popular, em um polimorfismo de ação, demonstrando
que na cruzada contra a tuberculose sabia ser general ou soldado. A revista
semestral, órgão oficial da Liga, teve grande divulgação, não só no país como no
estrangeiro, com cerca de 2.000 a 2.5000 exemplares de cada vez.
78
A partir de 1906, graças ao Secretário do Interior Dr. Cardoso de Almeida, a
revista, que circulou até 1914, passou a ser publicada gratuitamente pelo Diário
Oficial do Estado. Através da mesma foi solicitado ao Secretário do Interior à
introdução do ensino “antituberculoso” e “antialcoólico” nas escolas.
2.5. Na busca de um sanatório surge o dispensário
No começo do século XX, o sanatório ocupava lugar de destaque na luta
contra a tuberculose, por ser o melhor meio de brecar a disseminação da tísica e de
tratar os doentes, como dito antes. Por esta razão, a Liga foi chamada,
76 Capa da Revista
- Defesa Contra a Tísica. Anno 1, Nº1, maio de 1902.
77 Capa da Revista
- Defesa Contra a Tísica. Anno 1, Nº2, novembro de 1902.
Nas campanhas contra o tabagismo aqui no Brasil, os dados anuais de mortalidade em nosso país, causada pelo tabaco, eram
sempre relatados comparando-os a um estádio de futebol com 120 mil pessoas. É interessante observar o mesmo artifício
sendo usado, para dar impacto junto à população, ao mostrar os números da mortalidade causada pela tuberculose no inicio do
século, em São Paulo.
78 SOUZA, Raphael de Paula. O trabalho... Op. cit., p. 59.
54
originalmente, de “Associação Paulista de Sanatórios Populares para Tuberculosos.”
Sua principal meta era a construção de sanatórios para os tuberculosos pobres, mas
os recursos exigidos para edificação e manutenção desses estabelecimentos eram
de tal monta que a Liga, sem meios financeiros, passou a ter como alvo a criação de
dispensários.
79
Em 1903, a Liga tratou de angariar verbas com a finalidade de abrir seu
primeiro dispensário. Justificando a importância de sua criação escreveu Clemente
Ferreira:
A assistência à família dos tuberculosos hospitalizados, durante a estadia desses em
sanatórios, é considerada como parte integrante da assistência aos tuberculosos, pois só
assegurando os meios de subsistência e o conforto essencial às famílias desses enfermos
recolhidos ao sanatório, poder-se-á conseguir que estes se tratem (...) Esta função de
pesquisar doentes para os sanatórios, de surpreendê-los na fase pouco adiantada da
moléstia, cabe principalmente aos “dispensários antituberculosos”, que se multiplicam
rapidamente em França, na Bélgica, na Rússia, em Portugal.
80
Em maio do mesmo ano, a Liga fez grande apelo à população paulistana, em
favor dos dispensários, subscrito por toda sua diretoria: Sérgio Meira, Pereira
Barreto, Delphino Cintra, João Pedro da Veiga, João Alfredo Varella, Victor Godinho,
Clemente Ferreira, A. de Campos Salles, Rodolpho Miranda e Cortines Laxes. O
apelo mostrava o valor do sanatório como o mais eficaz instrumento de cura, mas
dizia ser inexeqüível sua construção, sem a colaboração dos poderes públicos, pelos
avantajados recursos necessários e, ao mesmo tempo, falava do dispensário como
uma arma antituberculose modesta, porém de alto valor sanitário. Enfatizava o valor
dos dispensários de profilaxia existentes em diversos países europeus que
prestavam assistência aos tuberculosos pobres, aos operários e proletários tísicos
fornecendo-lhes auxílio de alimentação, assistência médica e instrução higiênica.
Estava, assim, aberta a campanha para a criação do primeiro dispensário da capital
de São Paulo. Em dezembro do mesmo ano, a Liga enviou memorial ao Conselho
79
O dispensário foi criado em Edimburgo, em 1887, pelo Dr. Robert Philip, médico do “Hospital Vitória” para tuberculosos.
Tinha como funções: atrair e selecionar os doentes para serem tratados em sanatórios, colônias sanitárias ou hospitais;
acompanhar os pacientes egressos dos sanatórios; atender a família dos tuberculosos pobres para atenuar a miséria; dar
educação sanitária à população, aos doentes e seus familiares; colocar os tuberculosos pobres em contato com instituições
beneficentes e caritativas; ser uma escola de higiene e inspeção sanitária; colaborar na profilaxia, na desinfecção das
habitações dos pacientes, na distribuição de escarradeiras, leitos, alimentos, etc.; fazer a busca ativa e proporcionar o
diagnóstico precoce da tuberculose através de exames de escarros; fazer visitas domiciliares através dos visitadores sanitários;
dar apoio moral aos doentes e aos seus familiares; tratar aqueles pacientes que não necessitavam de hospitalização.
80
FERREIRA, Clemente. Apud SOUZA, Raphael de Paula. O trabalho... Op. cit., p. 60.
55
Municipal e conseguiu uma subvenção de cinco contos de réis que logo foi
duplicada, por interferência do Prefeito Antonio Prado.
81
No dia 10 de Julho de 1904, a Liga inaugurou, à Rua Libero Badaró, o
primeiro dispensário para tuberculosos do Estado de São Paulo.
82
A medida que o
movimento de pectários em busca do dispensário foi-se avolumando, suas
instalações modestas tornaram-se pequenas. Surgiu, então, a necessidade de um
prédio próprio com amplas instalações levando a Liga a envidar esforços no sentido
de obter dos poderes públicos e da generosidade privada verbas suficientes para a
sua concretização. Após grande luta para obtenção dessas verbas, foi lançada, em
1908, a pedra fundamental para a construção do novo prédio na Rua da Consolação.
Trabalhando, incansavelmente, na captação de mais verbas, a Liga foi buscar
recursos no Parlamento Federal e, graças à intervenção do deputado fluminense
Oliveira Figueiredo, do senador paulista Dr. Alfredo Ellis e do deputado mineiro Dr.
Francisco Veiga, grande amigo do presidente da República Afonso Penna, foi votada
a subvenção de 24 contos para reforçar os recursos necessários ao inicio das
obras.
83
Infelizmente, a referida subvenção de 24 contos não foi paga e a Liga,
através de seu 3º vice-presidente, o deputado estadual Dr. Francisco Sodré, foi
buscar apoio no Congresso Legislativo do Estado de São Paulo, conseguindo uma
verba de 40 contos. Em 1910, para a conclusão do prédio, a Liga Paulista contou
com uma verba de 12 contos da Comissão de Finanças da Câmara Estadual.
84
Depois de uma luta ferrenha para conseguir essas verbas e aplacar os ânimos dos
moradores do Bairro da Consolação, que viam na construção de um dispensário em
suas cercanias uma ameaça à saúde, a Liga conseguiu inaugurar, a 10 de Julho de
1913, o prédio sito à Rua da Consolação nº. 117, com o nome de Dispensário-
Modêlo “Clemente Ferreira”.
81 SILVEIRA, Homero. Uma vida inteira em luta contra a tuberculose. S P, Indústria Gráfica Siqueira S/A, 1949, p. 8.
82 O primeiro dispensário antituberculose do Brasil foi inaugurado, pela Liga Brasileira contra a Tuberculose, no dia 26 de
Janeiro de 1902 à Rua Gonçalves Ledo nº. 37, no Rio de Janeiro. Sua atuação era identificar casos de tuberculose, atraí-los e
retê-los; distribuir aos doentes pobres, medicamentos, roupas, anti-sépticos, alimentos, escarradeiras de bolso; realizar exames
laboratoriais.
RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., p. 83.
83
FERREIRA Clemente. Posse... Op.cit., p. 16.
84
Ibidem, pp. 20 e 21.
56
2.6. As damas paulistas abraçam a causa
Em 1907, a Liga cogitou de uma associação de senhoras da alta sociedade
paulistana para criar a “Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres”
(OPFTP) nos moldes da obra criada, na França, por Grancher.
85
A finalidade desta
obra era amparar, proteger e preservar do contágio familiar, da contaminação
doméstica, as crianças das famílias dos pectários freqüentadores do dispensário da
Liga. Obra necessária para ser um anexo essencial ao dispensário a fim de integrar
o objetivo profilático de preservação social e defesa coletiva, foi tenaz e
perseverantemente perseguida por seu idealizador Clemente Ferreira que conseguiu
realizá-la através dos esforços dedicados de uma plêiade de senhoras das mais
importantes famílias de São Paulo.
Para conseguir tão grande desiderato, inicialmente, a diretoria da Liga em
uma de suas sessões deliberou enviar às referidas senhoras uma brochura contendo
os delineamentos e objetivos dessa obra. Utilizando a revista Defesa contra a Tísica,
e através da imprensa diária, a Liga iniciou uma campanha para levar a idéia
adiante. Finalmente, no dia 3 de abril de 1908, a “OPFTP” começou a funcionar sob
a direção da Viscondessa da Cunha Bueno.
86
2.7. Um sanatório no caminho da Liga
Em 1915, a diretoria da “Associação Sanatório São Luis em Piracicaba”
transferiu à Liga Paulista o edifício do seu sanatório. A causa dessa transferência foi
a carência de recursos para fazê-lo funcionar, após quatro anos de sua inauguração.
Somente em 1925, graças a vultosa doação de Rs. 389:980&000 do Senhor João
Batista Ribeiro, da cidade de Santos, foi possível iniciar as obras e retoques
indispensáveis à abertura do “Sanatório Popular São Luis”. Finalmente, a 31 de
outubro de 1926, ele foi aberto à população. A diretoria da Liga resolveu
homenagear o generoso filantropo batizando uma das salas do seu Dispensário com
seu nome e colocando em uma das paredes uma placa de mármore com os dizeres:
85
“Grancher, eminente professor e generoso filantropo francês, fundou em 1903, a “Obra de Preservação da Infância contra a
tuberculose” a qual presidiu a idéia do Pasteur, que “para salvar uma raça ameaçada por uma moléstia contagiosa o melhor é
preservar o grão, a semente”.
FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferencias 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, p. 98.
86
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias – Minha Vida Social e Científica – Minha Carreira Profissional (1881-1944). São
Paulo, mimeo, s/d, p.
12.
57
“Sala João Batista Ribeiro”.
87
Sua foto passou a constar da galeria dos beneméritos
da Instituição.
88
O sanatório foi fechado, em 1931, por falta de verbas.
2.8. A Liga perde o seu maior armamento, mas não desiste
Em 1934, a Liga doou ao Governo do Estado seu Dispensário-Modêlo devido
a uma crise financeira causada pela construção e funcionamento de uma ala
cirúrgica, anexa ao mesmo. Com o inicio das cirurgias torácicas houve desequilíbrio
das finanças da Liga que se viu obrigada a doar o seu mais importante armamento
de luta contra a tuberculose. Assim, a Dispensário-Modêlo foi doado com todo seu
aparelhamento, por uma escritura pública passada, a 12 de outubro do referido ano,
à Fazenda do Estado, com o fim expresso de continuar com a profilaxia e tratamento
dos tuberculosos indigentes.
89
O próprio Clemente Ferreira, no discurso feito por
ocasião de sua posse como Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina,
assim falou:
Meus senhores, historiando a vida da Liga Paulista contra a Tuberculose e sua atuação,
cumpre-nos assinalar que, em 1934, em virtude do incremento dos encargos financeiros
creados, sobretudo, pelo desequilíbrio que acarretavam os dispêndios vultosos com a
fundação e utensiliamento do pavilhão da cirurgia torácica, fomos forçados a doar ao Governo
de São Paulo o Dispensário “Clemente Ferreira” (...) assim oficializado, continúa a prestar
serviços e assistência aos pectários proletários e à profilaxia antituberculosa.
90
Entretanto, a Liga não cessou suas atividades e contando com um modesto
patrimônio pecuniário e indiscutível prestígio perante a população de São Paulo
resolveu continuar seu combate. Para isso adaptou em outra sede modesta, em
prédio alugado à Rua Cezario Motta nº. 15, um pequeno dispensário destinado ao
tratamento de crianças tuberculosas pobres.
91
Para completar a ação da Liga Paulista, seus membros cogitaram de construir
um modesto hospital de 60 leitos com a finalidade de acolher tísicos indigentes em
fase adiantada da moléstia. Além do aspecto humanitário, havia outro que era o de
barrar a disseminação da doença. Graças à colaboração financeira do Diretor do
Departamento de Assistência Hospitalar, Dr. Luiz Puech, e a coadjuvação do
87
Esta placa ainda encontra-se no mesmo local no atual Instituto Clemente Ferreira.
88 FERREIRA, Clemente. Posse... Op. cit., p.
29.
89
Jornal Diário de São Paulo, 4 de julho de 1953.
90
FERREIRA, Clemente. Posse... Op. cit., p. 38.
91
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias...Op. cit., p.
26.
58
Governo do Estado, que cedeu à Liga uma área de terreno na Avenida Jabaquara,
foi possível construir e aparelhar o pequeno abrigo-hospital.
92
2.9. Selos pró-tuberculosos pobres – Uma pequena grande idéia!
Em 1927, a Liga Paulista iniciou a primeira das 14 campanhas “Pró-Selos da
Tuberculose”, que levou avante até o ano de 1949. A cruzada pró-selos, que teve
sua origem na Dinamarca em 1904, atingiu vários países por ter tido uma ampla
aceitação. Dentre estes países estavam a Dinamarca, os Estados Unidos, a
Holanda, o Canadá, a Itália e a França. Em todos eles, inclusive no Brasil, a escola
foi a grande difusora através de seus alunos e professores. Estas campanhas
aconteciam todos os anos no natal.
93
Em 1937, por ocasião da 7ª Campanha do Selo, Clemente Ferreira proferiu
discurso no Instituto de Educação enfatizando o concurso dos professores e alunos,
desde a primeira campanha realizada pela Liga, dizendo:
A Liga Paulista contra a Tuberculose, que desde 1927, vem esforçando-se por popularizar
esse grande elemento de coadjuvação financeira e de educação sanitária, iniciou essa nobre
cruzada, emitindo o sêlo antituberculoso. E desde essa primeira emissão quis fazer participar
no movimento benemerente as aglomerações escolares, as autoridades do ensino,
encontrando calorosa acolhida e carinhoso apoio, tanto que na 3ª. campanha de 1929/1930,
as escolas aqui e no interior colocaram e difundiram cerca de 300.000 sêlos, produzindo a
soma aproximada de 34 contos. (...) a Liga Paulista contra a Tuberculose, iniciando a atual
cruzada pró sêlo, solicitou ainda, e fa-lo-á sempre, a coadjuvação indispensável do meio
escolar e encontrou franca acolhida e comunicativo entusiasmo junto á Exma. Sra. D. Noemy
Silveira e uma plêiade esforçada de professoras e professores.
94
No final da década de 1930, os selos vendidos no Brasil, pela quantia de 200
réis, cada, produziram verbas significativas que foram utilizadas na assistência aos
tuberculosos indigentes. Nos Estados Unidos, as vendas dos mesmos produziram
cinco a seis milhões de dólares, na Itália quinze milhões de lira, na França e em
outros países da Europa somas vultosas. Dispensários, preventórios e sanatórios
populares foram erigidos e aparelhados, na Europa e Estados Unidos, com os
recursos financeiros vindos das vendas dos selos.
95
92
Ibidem, p. 27.
93
FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferencias... Op. cit., p, 311.
94
Ibidem, pp. 311-312.
95
Ibidem, pp. 312-313.
59
FIGURA 3
SELOS DAS CAMPANHAS PRÓ-TUBERCULOSOS POBRES
LIGA PAULISTA (1927-1941)
1927 – 1928 1928 – 1929 1929 - 1930
1930 – 1931 1933 – 1934 1935 - 1936
1937- 1938 1939 – 1940 1941 – 1942
Fonte: Coleção Particular de Selos do Professor Dr. José Rosemberg
60
FIGURA 4
SELOS DAS CAMPANHAS PRÓ-TUBERCULOSOS POBRES
LIGA PAULISTA (1943-1949)
1943 – 1944 1945 – 1946
1947 – 1948 1948 – 1949 1949
Fonte: Coleção Particular de Selos do Professor Dr. José Rosemberg
96
96
José Rosemberg, filho de pai austríaco,
Emanuel Rosemberg, e mãe polonesa, Eugenia Rosemberg, nasceu em Londres
no dia 19 de setembro de 1909 e veio para São Paulo, em 1915. Seu pai participou da Revolução Russa de 1905, onde foi
preso e anistiado, partindo para a Inglaterra e, de lá, para o Brasil
em busca de clima ameno para curar uma tuberculose
contraída nas prisões russas. Rosemberg graduou-se em Farmácia, em 1927, e em Medicina, em 1934, no Rio de Janeiro.
Durante o curso médico engajou-se na juventude comunista e, posteriormente, em São José dos Campos, na Aliança Nacional
Libertadora. Iniciou sua vida profissional em São José dos Campos atuando como médico do Sanatório Vicentina Aranha e,
posteriormente, diretor clinico dos Sanatórios Vila Samaritana e Ezra. Participou da criação da Liga de Assistência Social e
Combate à Tuberculose tornando-se, depois, presidente da mesma. De 1940 a 1942 atuou como diretor clínico do Sanatório
Ebenezer, em Campos do Jordão. Em 1942, iniciou em São Paulo sua trajetória como tisiólogo do Governo do Estado. Foi
nomeado, em 1946, chefe do Dispensário Modelo da Rua da Consolação. De 1948 a 1966 dirigiu o Instituto Clemente Ferreira
e de 1955 a 1963 esteve à frente da Divisão de Tuberculose do Governo do Estado de São Paulo. De 1951 a 1976 assumiu a
função de perito da Organização Mundial de Saúde. Em 1955 foi nomeado professor fundador da Faculdade de Medicina da
PUC-SP, permanecendo neste cargo como professor titular até seu falecimento em 24 de novembro de 2005. Em sua trajetória
61
Os selos das três primeiras campanhas da LPCT traziam as efígies de
Azevedo Lima, Hilário de Gouveia e Cypriano de Freitas. Quase todos os selos
editados pela Liga traziam a frase: “Pró-Tuberculosos Pobres”. Os selos das três
últimas campanhas, editados após a morte de Clemente Ferreira, traziam sua efígie.
2.10. Os relatórios da Liga
TABELA 2
DEMONSTRAÇÃO DOS DONATIVOS RECEBIDOS PELA LIGA PAULISTA – 1917
Coronel Bento José de Carvalho
1:200$000
Antonio Rodrigues de Araújo Costa
600$000
Alice de Figueiredo
500$000
Legado de Rita Maria Faria
369$500
Comendador José Coelho da Rocha
300$000
Zoraide Dias da Costa
250$000
Fortunata de Castro Thiolier
200$000
Zeferino de Freitas Guimarães
100$000
Josephina Aranha
50$000
Diversos
74$000
São Paulo, 31 de Dezembro de 1917
A. Furtado- Guarda-Livros J. A. L. Pereira Coutinho-Thesoureiro
Fonte: FERREIRA, Clemente. Relatório de Exercício de 1917 apresentado à Assembléia Geral na
Sessão ordinária de 7 de maio de 1918 – Liga Paulista contra a Tuberculose. São Paulo, Casa
Graphica Typographia e Papelaria José Bráulio &C., 1918, p. 96.
na PUC participou da criação da disciplina de tisiologia e pneumologia, foi diretor da Faculdade
de
Medicina de 1967 a 1972.
Em 1975, iniciou a campanha contra o tabaco no Brasil ao lado de Mario Rigatto e outros colegas. Adquiriu renome não só no
Brasil como em outros países. Foi laureado, pelo governo francês, com a Palma Acadêmica
no
grau
de
Comendador, por
seus estudos e pesquisas com a vacina BCG, estando citado na Enciclopédia Francesa
Larousse Cultural. Foi agraciado pela
Organização Mundial de Saúde com a medalha de ouro,
Tabaco ou Saúde”, em 1991.
Escreveu duas dezenas de livros e mais de 200 artigos que foram publicados em revistas nacionais e estrangeiras. O Brasil lhe
deve o pioneirismo na luta contra o tabagismo.
Fonte: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Memória da Tuberculose - Acervo de depoimentos orais. Rio de Janeiro, Casa Oswaldo
Cruz, 1993, pp. 55-57 e Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1995. Nova Cultura Ltda,
1998,
p. 5136.
62
TABELA 3
DEMONSTRAÇÃO DAS SUBVENÇÕES RECEBIDAS PELA LIGA PAULISTA CONTRA A
TUBERCULOSE – 1917
Da Câmara Municipal 11:000$000
Do Thesouro do Estado Liga 6:000$000
Dispensário 6:000$000
Sanatório S. Luis 5:000$000
17:000$000
Total 28:000$000
São Paulo, 31 de Dezembro de 1917
A. Furtado - Guarda-Livros J. A. L. Pereira Coutinho-Thesoureiro
Fonte: FERREIRA, Clemente. Relatório de Exercício de 1917 apresentado à Assembléia Geral na
Sessão ordinária de 7 de maio de 1918 – Liga Paulista contra a Tuberculose. São Paulo, Casa
Graphica Typographia e Papelaria José Bráulio &C., 1918, p. 97.
A Liga elaborava, anualmente, um relatório para ser apresentado à
Assembléia Geral, constando de todas as atividades desenvolvidas e fazendo uma
prestação de contas das verbas arrecadadas. Acima, o demonstrativo das verbas
recebidas no ano de 1917. Pode-se observar que as subvenções dos Governos,
tanto Municipal como Estadual, tinham o maior peso nas arrecadações da Liga em
relação aos donativos recebidos da população, tabelas 2 e 3. Mesmo assim, foram
insuficientes. A subvenção da Câmara Municipal era enviada para a Liga que a
distribuía como melhor lhe aprouvesse. A subvenção do Tesouro do Estado, bem
maior, era distribuída entre a Liga, o Dispensário e o Sanatório São Luis.
63
3. OS ARMAMENTOS DA LIGA PAULISTA
O sanatório representa um dos mais valiosos instrumentos de
combate, e articulado com o dispensário, com o preventorio e o
hospital especial de tuberculosos adiantados e incuráveis, - elo
essencial da cadêa, - presta os mais assignalados serviços á
causa dos tuberculosos e ao bem estar social.
Clemente Ferreira
97
3.1. O Dispensário “Clemente Ferreira”
A despeito de minhas incessantes e insistentes prédicas nada
de apreciável conseguira eu, pois até 1918 a assistência e a
profilaxia dos tuberculosos necessitados dispunham apenas de
um dispensário, isto para uma população de 500.000
habitantes na capital e de 4 milhões de habitantes no Estado,
que perdia anualmente então cerca de 2700 vidas por
tuberculose.
Clemente Ferreira
98
O primeiro dispensário para tuberculosos da capital de São Paulo foi
inaugurado com a presença do Presidente do Estado, Dr. Jorge Tibiriçá. A
participação de Clemente Ferreira para esse desiderato foi de tal monta, que seus
companheiros de campanha, em um justo reconhecimento, deram-lhe o nome de
Dispensário “Clemente Ferreira”.
99
Em seu discurso de posse na Academia Nacional de Medicina (ANM), em
setembro de 1936, Clemente Ferreira se referiu à inauguração do dispensário
dizendo:
A 10 de Julho de 1904, coube a Liga Paulista contra a Tuberculose a viva satisfação de
inaugurar, com a máxima solenidade, o profícuo instrumento de consultas e profilaxia, de
assistência e educação antituberculosa, cuja necessidade era por demais palpável em nosso
meio. O Dispensário, a que a generosidade e amabilidade dos colegas e companheiros da
campanha quizeram ligar o nome do presidente, entrou imediatamnte em ação, funcionando
desde o inicio como dispensário de assistência e profilaxia com serviço social, tratando e
prevenindo, auxiliando e educando, amparando o tuberculoso e tornando-o inofensivo para
sua cercania.
100
As instalações do Dispensário “Clemente Ferreira”, situado à Rua Libero
Badaró, nº. 20, eram constituídas por: sala de espera, sala de consultas, gabinete do
diretor, gabinete de laringologia, gabinete de bacteriologia, secretaria e almoxarifado.
97
FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferências... Op. cit., p. 184.
98
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 13.
99
LIGA PAULISTA CONTRA A TUBERCULOSE. Comemorações em São Paulo do 1° Centenário de Nascimento do
Professor Clemente Ferreira 1857-1957. São Paulo, Tipografia Edanne S. A., s/d, p. 63.
100
FERREIRA Dr. Clemente. Posse... Op. cit., p.
13.
64
Logo após sua inauguração foi nomeado um inspetor visitador e uma visitadora para
visitas aos domicílios dos enfermos inscritos e assistidos e, também, para realizar
inquéritos, distribuir auxílios e outras modalidades de assistência aos tuberculosos.
Os visitadores sanitários ficaram incumbidos de fazer com que as regras
profiláticas e os preceitos higiênicos, prescritos pelos médicos, fossem observados
pelos pacientes e seus familiares. O papel desses visitadores foi de grande
importância para a descoberta de focos de disseminação da tuberculose facilitando,
assim, a intervenção das autoridades sanitárias nos domicílios contaminados pelo
bacilo de Koch. Além da assistência médica e medicamentosa o dispensário fornecia
alimentação aos pacientes mais carentes como: pão, leite, carne e ovos.
101
Paulatinamente, a procura ao dispensário pelos pectários foi crescendo. No
mesmo ano de sua inauguração, 1904, foram atendidos 125 pacientes sendo 68 do
sexo masculino e 57 do sexo feminino. O número de consultas foi de 1.194 e o de
visitas domiciliares de 254. Em 1905, foram atendidos 586 pacientes, sendo 222
tuberculosos. Destes, 109 eram homens e 113 mulheres. Do total de tuberculosos,
35 tinham menos de 20 anos, 184 de 20 a 50 anos e 3 acima de 50; 114 desses
pacientes habitavam cortiços ou casas de cômodos. Distribuíram-se, nesse ano,
alimentos e subsídios de aluguel no valor de Rs. 170$000; 43 escarradeiras de bolso
e de aposentos. O número de visitas domiciliares foi de 706.
Diante do movimento que se operava no dispensário, o Governo Estadual
proclamou os serviços lá realizados de grande valia para a população e passou, pela
primeira vez, a auxiliá-lo através do Tesouro do Estado, com um auxilio de Rs.
5:000$000 elevados, em 1906, a 8 contos.
102
101
O primeiro dispensário antituberculose da França foi implantado em Lille, em 1901, pelo Dr. Albert Calmette. A cidade
contava com 220.000 habitantes e a tuberculose era responsável por 25% dos óbitos. Calmette compreendeu que era
necessário ir ao domicilio do tuberculoso não como os arrogantes inquiridores administrativos que viam, nos infelizes, suspeitos
de tísicos. Compreendeu que o inquiridor do dispensário devia ser um homem do povo, inteligente e dedicado, capaz de assistir
aos tuberculosos. Em Paris, em 1903, Léonie Chaptal, bisneta do sábio químico, ministro de Napoleão I decidiu consagrar a
sua vida às famílias operárias de um bairro de Paris. Fundou um dispensário e preparou visitadoras sanitárias para dar
assistências aos tuberculosos pobres, em seus domicílios. Léonie definiu o papel moral, cientifico e social das mulheres na luta
antituberculose. Em 1914, foi criada a “Associação das enfermeiras Visitantes da França” que tinha como objetivo lutar contra a
tuberculose no próprio domicilio, seguindo o método de Calmette. Em seguida, foram organizados no Hospital Laënnec cursos
especializados para formação de visitadoras sanitárias.
GUERRAND, Roger-Henri. “Guerra à tuberculose!”. In: LE GOFF, Jacques. (org). As Doenças Têm História. Tradução
Laurinda Bom. Lisboa, Terramar, 1985, pp. 193-194.
102
FERREIRA Dr. Clemente. Posse... Op.cit., p.
13.
65
De 2 a 7 de outubro de 1905, em Paris, no Congresso Internacional de
Tuberculose, o Dispensário figurou com diversas publicações, fotografias, cartazes,
gráficos etc. O mesmo foi, também, representado na Exposição de Higiene, anexa
ao Congresso Médico Latino-Americano, realizado em Montevidéu, em 1906, quando
foi premiado com medalha de ouro e diploma. O Dispensário, ainda, figurou no
Congresso Antituberculose, no Porto, e no 6º. Congresso de Medicina e Cirurgia, em
São Paulo.
FIGURA 5
FACHADA DO DISPENSÁRIO “CLEMENTE FERREIRA”
RUA LÍBERO BADARÓ, Nº. 20.
Fonte: Liga Paulista contra a Tuberculose – Comemorações em São Paulo do 1º. Centenário de
Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857-1957, São Paulo, s/d, p. 25.
66
O movimento do Dispensário foi crescendo dia a dia. Em 1906, 774 pacientes
foram atendidos e iniciou-se a distribuição de leitos e roupas de cama. Em 1908, o
número de tuberculosos assistidos superou muito ao de 1907.
103
A partir de 1911, o
Dispensário conseguiu ampliar a distribuição de alimentos e de escarradeiras de
bolsos e de aposentos, entre seus tuberculosos. Os exames de esputo tiveram
significativo aumento, elevando o diagnóstico precoce da doença. Também houve
aumento no número de visitas aos domicílios pelos médicos e visitadores sanitários,
aumentando a vigilância sanitária das habitações inadequadas e chamando a
atenção do Serviço Sanitário para as medidas cabíveis. De 1904 a 1913, o
Dispensário atendeu cerca de quatro mil pessoas.
104
Em 1913, foi inaugurada à Rua da Consolação sua nova sede e o mesmo
passou a ser chamado de Dispensário-Modêlo “Clemente Ferreira”. Compareceram
à cerimônia solene o Dr. Altino Arantes, Secretário do Interior; o Dr. Emílio Ribas,
Diretor do Serviço Sanitário; o Deputado Washington Luis; representantes do
Presidente do Estado, do Prefeito Municipal, do Secretário da Justiça, do Arcebispo
e do Conselho Municipal e grande número de médicos e populares. O Presidente da
Liga e do Dispensário, Clemente Ferreira, proferiu discurso agradecendo, em nome
da Liga, aos representantes do Estado pela presença e pelo apoio material dado
para a construção do mesmo, mas deixou claro que ainda estavam no prefácio de
uma luta que necessitava de novos armamentos e da coadjuvação do Estado.
105
A imprensa deu grande cobertura ao acontecimento divulgando a solenidade
de inauguração e falando do prédio que colocava São Paulo no mesmo patamar dos
países europeus e norte-americanos. O jornal Correio Paulistano, assim, noticiou:
Dez de julho de 1913 veio assinalar mais uma brilhante vitória para o glorioso apostolado do
ilustre clinico Sr. Dr. Clemente Ferreira, que há anos tem movido um combate sem tréguas a
uma das mais terríveis moléstias que flagelam a humanidade. (...) Ontem efetuou-se a
inauguração oficial do novo prédio do Dispensário, situado na Rua da Consolação, nº. 117.
106
O novo dispensário foi batizado com o nome de Dispensário-Modêlo, por
possuir a concepção de espaço do pensamento científico higienista e por sua
ousada arquitetura nada ficar a dever a dos dispensários europeus. O prédio,
circulado por um amplo espaço ajardinado, possuía dois pavimentos. Suas
103
Ibidem, p. 14.
104
SILVEIRA, Romero. Op. cit., p. 8.
105
FEREIRA, Clemente. Discursos e Conferências... Op. cit., pp. 102-103.
106
Jornal Correio Paulistano, 11 de julho de 1913.
67
instalações eram assim constituídas: No segundo andar encontravam-se: sala de
conferências, sala das damas paulistas da “Obra de Preservação dos Filhos de
Tuberculosos Pobres”, sala do diretor, biblioteca, arquivo e secretaria. O primeiro
andar, bem mais amplo, possuía: duas salas de espera para os doentes
tuberculosos (uma aberta e a outra fechada), gabinete de hematologia e de análises
clinicas, gabinete de bacterioscopia clinica, salas de consultas abertas e fechadas,
gabinete de otorrinolaringologia, sala de aeroterapia e ginástica pulmonar, gabinete
de radiologia, gabinete para pequenas operações, toilletes, gabinete de inscrição dos
doentes, sala de entrega de alimentos, farmácia e laboratório farmacêutico. No térreo
encontravam-se: caldeiras para desinfecção diária das escarradeiras, museu, sala de
fotografia, sala de esterilização de leite, almoxarifado, rouparia e quatro
compartimentos para instalações hidroterápicas. No centro havia um pátio com um
solarium para tratamento dos tuberculosos e, nas paredes da entrada de todos os
compartimentos, cartazes ensinando medidas higiênicas para prevenir a doença.
107
No hall da entrada principal foi colocada uma placa de mármore com os seguintes
dizeres.
Dispensário-Modêlo Clemente Ferreira
Este Estabelecimento, destinado à assistência Hygienica e ao tratamento dos tuberculosos
pobres, foi iniciado e concluído durante o mandato administrativo da seguinte diretoria:
Presidente – Dr. Clemente da Cunha Ferreira; 1º. Vice-Presidente – Dr. Victor Godinho; 2º.
Vice- Presidente – Dr. Saturnino Simplicio de Salles Veiga; 3º. Vice- Presidente – Dr.
Francisco de Paula de Abreu Sodré; Secretário Geral – Dr. Henrique Coelho; 1º. Secretário
– Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello; 2º. Secretário – Dr. Remízio Gomes
Guimarães; Thesoureiro – Comendador Joaquim d´Abreu de Lima Pereira Coutinho;
Procurador – Tenente Coronel José de Amorim Lima.
108
107
Jornal Correio Brasiliense, 11 de julho de 1913.
108
Esta placa ainda continua na mesma localização. Ela não tem data, mas é da época da inauguração do prédio - 10 de
julho de 1913.
68
FIGURA 6
FACHADA DO DISPENSÁRIO-MODÊLO “CLEMENTE FERREIRA”
FIGURA 7
VISTA INTERNA DO DISPENSÁRIO-MODÊLO “CLEMENTE FERREIRA”
Fonte figuras 6 e 7: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
69
Quatro bustos de bronze,
109
além de uma placa com o nome da Liga,
ornamentavam sua fachada. Sobre esses bustos, Clemente Ferreira, assim, se
referiu no discurso que fez na inauguração do Dispensário:
Os bustos de bronze simbolizam quatro fases memoráveis na história da tuberculose, na
evolução dos conhecimentos, no desdobrar dos estudos e investigações sobre a patologia, a
profilaxia e a terapêutica da moléstia. Um representa o genial Laennec, o venerando
descobridor da escuta mediata, a quem visceralmente se prende o inicio do progresso, do
aperfeiçoamento da técnica da diagnose física do mal (...); o outro busto personifica o sábio
Villemin, o eminente investigador e proficiente demonstrador da contagiosidade do terrível
morbo que, desde os seus incomparáveis estudos e pesquizas, ficou conhecido em seu
caráter de transmissibilidade, assentando-se assim as fundações de uma higiene profilática.
O terceiro busto perpetua a figura do insigne Koch, o emérito descobridor do bacilo – o motor
patogênico da moléstia, o qual isolado e cultivado desde esta data – 1882-, desvendou todos
os mistérios da etiologia do mal (...). Finalmente, ao quarto busto do único sobrevivente – o sr.
dr. Philip – de Edimburgo, - cabem a imperecível gloria e o irredutível mérito da fundação dos
dispensários antituberculosos, que marca a fase pratica do combate ao flagelo popular, a era
eficiente do movimento educativo da opinião publica, do ensino preventivo e da assistência
higiênica dos tuberculosos necessitados e suas famílias. A colocação de taes bustos
representa, portanto, a consagração, a comemoração dos méritos e dos serviços dos insignes
cientistas à medicina e à sociedade, e constitue um gesto expressivo de justiça histórica.
110
A partir de sua inauguração, Clemente Ferreira tratou de dotá-lo dos mais
modernos recursos terapêuticos da época para o tratamento da peste branca. Assim,
em 1913, foi introduzido o uso do pneumotórax;
111
em 1915, os “sais de ouro”; em
1918, a “helioterapia”; em 1919, os “óleos de chaulmoogra”; em 1920, os métodos
para o diagnóstico precoce; em 1923, os tratamentos pelo morruato sódico (método
de Rogers-Muir), morruato cúprico (método de Seabra); antígeno metílico (método
de Bouquet e Nègre) aurotiosulfato de sódio (método de Mollgaard); a biocolina
(método de Jacques e Loret); em 1923, a actinoterapia; em 1930, a frenicectomia e
outros.
112
Note-se que todos esses tratamentos não tinham nenhum valor
terapêutico, com exceção do pneumotórax que foi o tratamento heróico até a
descoberta dos modernos quimioterápicos na década de 40 do século XX.
109 Os quatros bustos ainda hoje estão lá, mas no pátio interno onde funcionava um solarium para o tratamento dos
tuberculosos, pela helioterapia.
110 FERREIRA, Clemente. Discurso pronunciado por ocasião do ato da inauguração do dispensario-modêlo “Clemente
Ferreira”, da Liga Paulista contra a Tuberculose, à Rua da Consolação, a 10 de julho de 1913. In: FERREIRA, Clemente.
Discursos e Conferencias... Op. cit., pp. 106-107.
111
Carlo Forlanini (1847-1918) professor de clinica médica da universidade de Pádua, em 1882, concebeu e demonstrou que
as lesões pulmonares da tuberculose podiam cicatrizar mediante a imobilização do pulmão através da introdução de ar entre
as duas pleuras. Tal procedimento ficou conhecido como pneumotórax artificial.
CASTIGLIONI, A. Op. cit., p. 665.
112
Ata da reunião solene da Diretoria da Liga Paulista contra a Tuberculose, realizada no dia 17 de julho de 1999, data da
comemoração dos 100 anos de existência da Instituição e jornal Diário de São Paulo 14 de setembro de 1957.
70
Em 1926, a vacina BCG passou a ser aplicada no DMCF. A partir daí, o
serviço tomou grande impulso tornando-se autônomo quando foi criado o pavilhão
Arlindo de Assis, na Rua Theodoro Bayma. Até a década de 40 já haviam sido
vacinadas cerca de 200.000 pessoas.
113
Em 1932, iniciou-se a construção do
pavilhão cirúrgico, anexo ao dispensário, e mais tarde foram realizadas as mais
diversas modalidades de cirurgias torácicas, como as toracoplastias.
O DMCF, durante 30 anos, prestou seus melhores serviços à comunidade
paulistana enfrentando muitas dificuldades financeiras. Durante longos anos foi a
única instituição especializada para atender aos tuberculosos. A Liga Paulista para
mantê-lo em funcionamento precisava não só de subvenções do Governo, mas da
ajuda financeira da comunidade paulistana que, diga-se por questão de justiça,
quase sempre esteve pronta para doações.
Nos países europeus e nos Estados Unidos a luta contra a tuberculose, já na
primeira década do século XX, contava com um invejável armamento composto de
numerosos dispensários, sanatórios, preventórios e hospitais. Armamentos, estes,
indispensáveis ao combate da peste branca e que foram construídos e mantidos não
só pelas associações filantrópicas, mas, principalmente, pelo governo e previdência
desses países.
Em São Paulo, um único dispensário era insignificante para lutar contra a
peste branca e este problema Clemente Ferreira sempre denunciou na imprensa, em
seus discursos e relatórios anuais da Liga. No relatório do ano de 1917, feito para
prestar contas das atividades do dispensário aos membros da Liga, ele, assim,
escreveu:
Para se medir a extensão do perigo tuberculoso e aferir da exigüidade dos recursos, da
escassez dos meios de acção de que dispomos para combater o temeroso flagello, bastará
dizer que 2.700 vidas devora annualmente a peste branca em nosso Estado, o que quer dizer
que pelo menos 12.500 enfermos de tuberculose contamos annualmente no território paulista.
Pois bem, para assistir, para agasalhar embora sem conforto, sem cuidados scientificos
indispensáveis, para subtrahir essa massa de parias ao ambiente que elles contaminam, o
que possuímos nessa capital e no Estado? É pungente confessal-o, dispomos do ridículo
numero de 179 leitos e de um único dispensário, que a Liga Paulista contra a Tuberculose
mantém.
114
Para ter-se uma idéia clara do que representava o armamento antituberculose
em São Paulo, no ano de 1918, vamos compará-lo com o de dois países: Uruguai e
113 SILVEIRA, Romero. Uma vida Inteira... Op.cit., p.
9.
114 FERREIRA, Clemente. Liga Paulista contra a Tuberculose, Exercício de 1917, Relatório apresentado à Assembléia Geral
na Sessão ordinária de 7 de maio de 1918. São Paulo, Casa Graphica Typographia e Papelaria José Bráulio & C., 1918, p. 10.
71
Alemanha. A “Liga Uruguaia contra a Tuberculose” contava, em 1917, com 21
dispensários na capital e no interior e três sanatórios. A capital Montevidéu tinha
315.000 habitantes e todo o Uruguai 1.500.000 e a capital de São Paulo tinha
500.000 e todo o Estado mais de 4.000.000 habitantes. Na Alemanha, em 1911, o
armamento contra a tuberculose era composto de: 720 dispensários, 138 sanatórios
populares para adultos e 22 para crianças, 98 sanatórios diurnos e 100
estabelecimentos para crianças pré-tuberculosas. A França, Inglaterra, Espanha,
Portugal, Dinamarca, Estados Unidos, Argentina, etc., apresentavam armamentos
semelhantes.
115
Estes dados evidenciam o quanto estava defasado o armamento
antituberculose em São Paulo. Na Capital da República e nos outros Estados do
Brasil a situação não divergia. Clemente Ferreira, no relatório de 1917, disse:
Nós aqui, e porque não dizermos, em todo o Brasil, que perde no mínimo cada anno 35 a
40.000 vidas sacrificadas a voraz endemia, encontramo-nos até hoje no prefácio da
campanha, sendo mesmo ridículo o nosso armamento antituberculoso quando cotejado com a
pujança do terrível adversário. Ainda em 1917 esta Capital perdeu só por tuberculose 585
existencias, ao passo que foram em números de 342 os óbitos devido as demais moléstias
infecciosas chronicas e agudas.
116
O DMCF foi a grande obra da LPCT e baluarte da luta, em São Paulo. A
profecia feita por Emílio Ribas, no dia de sua inauguração, que lá seria um dos
alicerces sobre o qual deveria surgir, no futuro, a organização oficial da luta
antituberculose de São Paulo concretizou-se.
117
3.2. O Preventório “Imaculada Conceição” de Bragança Paulista
Grande articulador de forças, notável aglutinador de valores humanos não
poderia, Clemente Ferreira, deixar de contar com o apoio generoso da
mulher paulista, sempre pronta aos sacrifícios e ao trabalho pelas nobres
causas.
Manoel Caetano da Rocha Passos Filho
118
115
FERREIRA, Clemente. Discurso pronunciado por ocasião do ato da inauguração do dispensario-modêlo “Clemente
Ferreira”, da Liga Paulista contra a Tuberculose, à Rua da Consolação, a 10 de julho de 1913. In: FERREIRA, Clemente.
Discursos e Conferencias. Op. cit., p. 115.
116
FERREIRA, Clemente. Liga Paulista contra a Tuberculose, Exercício de 1917... Op. cit., p. 12.
117
ROSEMBERG, José. “Aspectos atuais da luta contra a Tuberculose e Clemente Ferreira como pioneiro”. In: Liga Paulista
Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857-
1957. São Paulo, 1957, pp. 78-96. Conferência pronunciada no auditório do Instituto de Pesquisa “Clemente Ferreira”, no dia
28 de setembro de 1957.
118
PASSOS FILHO, Manoel Caetano da Rocha. “Clemente Ferreira: o médico e o cidadão. Aspectos de sua atuação à frente
do Dispensário Modelo”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de
Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857- 1957, São Paulo, 1957, p. 43.
72
As damas paulistas acolheram a solicitação da Liga e criaram uma instituição
para preservar os filhos dos tuberculosos que freqüentavam o dispensário. No dia 3
de abril de 1908, a “Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres” foi
inaugurada começando a funcionar sob a direção da Viscondessa da Cunha
Bueno
119
e contando com a ajuda das senhoras: Ana de Moraes Burchard, Elisa
Cavalcante, Camila Paturau de Oliveira e Francisca Villalva. Recebeu em seu
primeiro ano de funcionamento cinco crianças.
120
Em 1909, dando prosseguimento as ações da grande obra, as damas
paulistas forneceram 515 peças de roupas que foram distribuídas com 108 crianças.
Contando, principalmente, com o esforço de sua presidente, a Obra de Preservação
conseguiu, em 1910, albergar um grande número de crianças ameaçadas de contrair
a tuberculose, no Colégio de Nossa Senhora do Rosário, em São Paulo, e no
Colégio de São José, em Santos.
121
Ao findar o ano de 1911, a “Obra de Preservação” adquiriu, na cidade de
Bragança Paulista, uma grande propriedade com ampla casa para ser um sanatório
de preservação infantil e, assim, poder receber as crianças que se encontravam nos
Colégios: Nossa Senhora do Rosário e São José. Depois das adaptações feitas na
referida propriedade, a “Obra de Preservação” inaugurou, em janeiro de 1913, o seu
primeiro preventório infantil, batizando-o de “Sanatório-Preventório Imaculada
Conceição”.
122
O jornal O Estado de São Paulo, assim, o descreveu:
No lugar em que existia a Fazenda dos Toledos, em Bragança, surgiu uma cidade em
miniatura – a Chácara do Sanatório – 8 alqueires de terra cultivados, grandes dormitórios
para 120 meninas e outros para 60 meninos, instalações para creches, refeitórios, cozinha,
quatro salas de aula e de costuras, capela, clausura para as irmãs administradoras, casas
para médico e administração, estábulos, aviários, apiários, pocilga, coelheiras, casas para
empregados, etc.
123
Clemente Ferreira, em seu discurso na inauguração do Sanatório de
Bragança, assim, falou:
119 Tereza Cristina Aguirre de Campos, Viscondessa da Cunha Bueno, nasceu em Piracicaba no dia 28 de outubro de 1866.
Filha de João Batista de Campos Pinto e de Rosa Amélia de Aguirre tornou-se Viscondessa, recebendo o título do Imperador D.
Pedro II, ao casar-se com o Visconde da Cunha Bueno. Faleceu no dia 20 de maio de 1944 e, assim, desapareceu a última
Viscondessa do Império do Brasil.
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo, 28 de outubro de 1966.
120
FERREIRA, Clemente. Posse... Op. cit., p. 17.
121
Ibidem p.
22.
122 A Liga Brasileira contra a Tuberculose inaugurou, em 1927, o Preventório Infantil “Rainha Dona Amélia”, na Ilha de
Paquetá, graças ao projeto de Alcindo Guanabara que, em 1905, propôs a criação de uma colônia de férias infantil.
NASCIMENTO, Dilene Raimundo. Op. cit., pp.
57-58.
123 O Jornal O Estado de São Paulo, 28 de outubro de 1966.
73
A preservação em torno do berço é a vida fecunda, a estrada larga de uma eficiente profilaxia
coletiva. O contágio no lar é de fato o mais eficiente fator da tuberculose na infância e isto se
explica facilmente: subtraindo-se o infante, nascido são, desde logo, ao contacto dos
genitores infecciosos, afastando-se do domicilio poluído, em cuja atmosfera ele se envenena
desde o nascer, há todas as probabilidades de se pouparem muitas vitimas, de se
arrebatarem muitas presas ao devorador Minotauro, de se salvarem úteis vidas, que serão
mais tarde valiosas unidades sociais e outro tanto combustível roubado ao incêndio
tuberculoso.
124
Por ocasião da inauguração do Preventório de Bragança, foram internadas 32
crianças, aumentando no decorrer do ano para 57, sendo 31 meninas e 16 meninos;
em 1915, 46 crianças, sendo: 34 meninas e 12 meninos; em 1918, 30 crianças,
sendo: 18 meninas e 12 meninos; em 1919, 27 crianças; em 1921, 106 crianças,
sendo: 69 meninas e 37 meninos; em 1924, 141 crianças; em 1925, 177 crianças,
sendo: 111 meninas e 66 meninos; em 1927, 90 crianças sendo: 58 meninas e 32
meninos; em 1928, 155 crianças.
Com a inauguração do Dispensário-Modêlo, a Liga colocou, no frontispício de
uma das alas do prédio, uma placa em relevo com o dístico “Obra de Preservação”,
reservou uma de suas salas para as reuniões das benemerentes senhoras e outra
para instalação de uma oficina de trabalhos. Lá, eram preparados os agasalhos e as
vestimentas das crianças do Preventório de Bragança Paulista. Em 1913, ano de
sua inauguração, a Obra de Preservação contava com recursos modestos e uma
pequena subvenção dos poderes públicos estaduais.
125
Esta Instituição lutou sempre com parcos recursos para manter o Preventório
de Bragança, pois, além da pequena subvenção do Estado, recebia magras doações
da comunidade paulistana. Em 1923, a Obra realizou uma campanha, para arrecadar
fundos, distribuindo folhetos que estimulavam a inscrição de sócios contribuintes,
com texto escrito por Clemente Ferreira. Enaltecendo sua atuação e lamentando as
escassas contribuições da sociedade paulistana, Clemente Ferreira escreveu:
Esta excellente obra, tão escassamente auxiliada pelos poderes públicos, tão parcamente
coadjuvada pelos abastados que nem procuram mesmo conhecer lhe o benemerente esforço
e as generosas e profícuas funcções de efficiente defesa social, tem conseguido no decurso
de 15 anos preservar do flagello tuberculoso uma vultosa proporção de meninos e meninas,
aguerindo-se e robustecendo-os em um meio salubre e sob acção de modificadores
hygienicos poderosos – a vida ao ar livre os trabalhos e exercícios agrícolas, bôa alimentação
e regime endurecedor
.
126
124
PASSOS FILHO, Manoel Caetano da Rocha. “Clemente Ferreira...” Op.cit., p. 43.
125
FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferencias... Op. cit., p. 108.
126
FERREIRA, Clemente. Folheto distribuído pela Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres. São Paulo, 19
de novembro de 1923. Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira.
74
A atuação da Obra de Preservação, apesar de valiosa, foi insuficiente diante
do número de crianças que precisavam ser preservadas. Somente no ano de 1922, o
dispensário da Liga contava com 586 crianças filhos de tuberculosos matriculados e
assistidos. Possuindo terreno no litoral, em Santos, e na região serrana de Campos
do Jordão, a direção da Instituição planejava construir dois preventórios, se contasse
com subvenções do Governo e com a coadjuvação de bafejados pela fortuna.
Infelizmente, este sonho não se concretizou. No relatório da Liga, do exercício de
1941, apresentado à Assembléia Geral Anual, Clemente Ferreira enalteceu a
atuação da Obra de Preservação e lamentou que em todo Estado de São Paulo só
existissem dois preventórios: o de Bragança e o de Santa Clara, em Campos do
Jordão. O último, disse ele, serve mais ao Rio, pois a maior parte da população
infantil a ser preservada vem de lá. Mais uma vez ele apelou aos poderes públicos e
à ação privada para coadjuvarem a meritória obra e prestou contas do movimento do
Preventório.
127
Após o falecimento da Viscondessa da Cunha Bueno, em 20 de maio de
1944, assumiu a presidência da Obra de Preservação e do Preventório de Bragança
a Professora Carolina Ribeiro, ex-secretária de Educação do Estado de São Paulo,
que até o ano de 1966 respondeu pela instituição. Até 28 de outubro de 1966, o
Preventório de Bragança havia beneficiado 2.500 crianças e naquele momento,
centenário de nascimento da Viscondessa, a casa albergava 160 delas, retiradas
das favelas da capital de São Paulo.
128
O Preventório de Bragança Paulista, o primeiro criado no Brasil, foi
inaugurado em 1913. O Preventório da Ilha de Paquetá, da Liga Brasileira, foi
inaugurado em 1927, e o de Campos do Jordão, na década de 1930. Na década de
1940 foram construídos preventórios infantis em Natal, João Pessoa e Vitória. Em
Recife funcionou um preventório marítimo. O Governo Federal pretendia instalar
mais onze preventórios em várias cidades do Brasil.
129
O plano não foi adiante por
causa do advento da quimioterapia no final da década de 1940. As novas drogas
para o tratamento da peste branca criaram a ilusão de que a tuberculose seria
vencida...
127
FERREIRA, Clemente. Relatório do Exercício de 1941 apresentado à Assembléia Geral Anual da Liga Paulista contra a
Tuberculose. São Paulo, Editora Limitada, 1942, pp. 19-20.
128
Jornal O Estado de São Paulo, 28 de outubro de 1966.
129
FERREIRA, Clemente. “Profilaxia da tuberculose – Post-assistência e readaptação profissional”. In: FERREIRA, Dr.
Clemente. Estudos e Conferencias... Op. cit., pp. 39 40.
75
3.3. O Sanatório “São Luis de Gonzaga”
A abertura do Sanatorio “São Luis”, destinado a doentes indigentes e aos
dotados de modestos recursos, constitue felizmente mais um aparelho em
função para a nossa cruzada sanitária, e por isso não póde deixar de ser de
alegria e de efusivo contentamento este ato pelo qual franqueamos ao
publico um local de cura com os atributos higiênicos indispensáveis,
embora sem luxo, que seria descabido em estabelecimentos deste gênero.
Clemente Ferreira
130
Em 1915, por iniciativa da Senhora Lydia Resende, a diretoria da “Associação
Sanatório São Luis em Piracicaba”, transferiu à Liga Paulista todos os seus haveres:
edifício do sanatório, móveis, terrenos, dinheiro, tudo estimado em 226 contos de
réis. A causa dessa transferência foi a carência de recursos para fazê-lo funcionar
após quatro anos de sua inauguração. Somente em 1925, graças a vultosa doação
de Rs. 389:980&000 do Senhor João Batista Ribeiro, da cidade de Santos, foi
possível iniciar as obras e retoques indispensáveis à abertura do “Sanatório Popular
São Luis”, que se encontrava fechado desde 1915. Finalmente, a 31 de outubro de
1926, ele foi aberto à população. Para que os tuberculosos pobres tivessem
tratamento gratuito no sanatório, foi fundamental a ajuda dada pelo Dr. Carlos de
Campos, Presidente do Estado, através da liberação de uma quota de Rs.
30:000$000 e promovesse a inclusão de igual quantia na lei orçamentária do mesmo
ano, para a manutenção do mesmo.
131
Segundo Clemente Ferreira, com a inauguração do Sanatório São Luis a Liga
ficou com seus armamentos alicerçados na tripeça - dispensário, sanatório e
preservatório. Faltava somente o hospital para os internamentos dos doentes
portadores de tuberculose em fases adiantadas, mas o mesmo estava a caminho.
Infelizmente, o sanatório teve vida curta por falta de verbas e foi fechado em
1931. Isso mostra que por mais esforços que a Liga despendesse, sem ajuda efetiva
do Estado, era impossível manter uma instituição desse porte que demandava
elevados custos para a manutenção de seus armamentos, principalmente,
hospitalares.
Segundo Homero Silveira, este fato serviu de incentivo para que cinco anos
depois, a Liga inaugurasse o Abrigo-Hospital do Jabaquara, com capacidade para 60
leitos. Assim, a Liga durante sua existência inaugurou e lutou com todos os
130
FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferências.... Op. cit., p. 184.
131
Ibidem.
76
armamentos para vencer a tuberculose: dispensário, preventório, sanatório e
hospital.
3.4. O Dispensário Infantil, o Ambulatório e o Pavilhão “Arlindo de Assis”
Considerado o primeiro desse gênero no Brasil, foi inaugurado, em 12 de
maio de 1935, o Ambulatório de Assistência e Profilaxia Infantis. Em suas memórias,
Clemente Ferreira descreveu, assim, sua inauguração:
A 12 de maio de 1935 coube-nos o vivo prazer de inaugurar o modesto ambulatório de
assistência e profilaxia infantis para crianças pobres, suspeitas ou já tuberculosas, até 15
anos de idade. A brilhante assistência, que nos honrou nesse ato, de que faziam parte
numerosas senhoras da alta sociedade paulista, o Diretor do Serviço Sanitário Dr. Borges
Vieira e o Secretário da Educação e Saúde Publica Dr. Cantidio de Moura Campos, e bem
assim as felicitações que nos foram dirigidas por tisiatras e sanitaristas mesmo de pontos
remotos, vieram demonstrar que o “dispensarinho” correspondia a uma necessidade e vinha
prestar serviço relevante à infância.
132
Esse ambulatório inaugurou, a 30 de outubro do mesmo ano, a Secção
Calmette para o preparo, aplicação e distribuição da vacina BCG, continuando,
assim, o trabalho iniciado no Dispensário-Modêlo “Clemente Ferreira”. Durante anos
a Liga Paulista foi o esteio da vacina BCG em São Paulo. José Rosemberg, em seu
discurso pela passagem do centenário de nascimento de Clemente Ferreira, falou
que Clemente Ferreira, de 1926 até o fim de sua vida, empenhou todos os seus
esforços para o mais amplo emprego da vacina.
Em 1937, a Liga adquiriu um amplo imóvel sito à Rua Rêgo Freitas nº. 527, na
capital de São Paulo, com ingresso, também, pela Rua Theodoro Bayma, nº. 68.
Para lá foi transferido o Ambulatório Infantil que, até então, funcionava na Rua
Cezario Mota. Aproveitando o terreno que ficava na parte posterior do Dispensário, a
Liga construiu um amplo pavilhão destinado aos serviços da vacinação pela BCG,
graças a substancial cooperação do Rotary Club de São Paulo. O Pavilhão, batizado
com o nome de “Arlindo de Assis”, foi solenemente inaugurado, em 31 de janeiro de
1939, e entrou em funcionamento com pessoal especializado, laboratório, biotério,
etc.
133
O prédio da Rua Rêgo Freitas foi demolido após o falecimento de Clemente
Ferreira e, em seu lugar, construído um edifício que levou o nome do novo
presidente da Liga, Dr. Nogueira Martins. A renda do edifício foi destinada, durante
muitos anos, para a manutenção do Hospital “Clemente Ferreira”.
132
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 26.
133
Ibidem, p. 27.
77
3.5. O Abrigo-Hospital “Clemente Ferreira”
Este estabelecimento, inaugurado no dia 30 de dezembro de 1937, custou
300 contos, dos quais 220 foram doados pelo Diretor da Assistência Hospitalar e
fornecidos pela prefeitura de São Paulo.
134
No relatório da Liga
135
do exercício de 1941, Clemente Ferreira prestou contas
do movimento do Abrigo-Hospital com os seguintes dados: Foram internados durante
o ano, 110 doentes sendo: 72 homens e 38 mulheres. Passaram do ano de 1940
para 1941, 53 pacientes. Total 163 doentes. Dos 110 internados, faleceram 74 e
receberam alta, 33. Isto mostra a alta mortalidade da tuberculose neste período
chegando a 45,4%, mesmo levando-se em consideração que os doentes drenados
para este hospital eram graves (tabela 8).
Concluindo, até o final do século XIX, o esforço de coibir a disseminação da
peste branca existiu, somente, nas ardentes orações dos acadêmicos e professores,
nas revistas médicas, no noticiário da imprensa leiga, nos relatórios dos inspetores
sanitários e nas teses acadêmicas. Sem dúvida, estes fatos foram decisivos para
que medidas fossem tomadas diante da propagação assustadora da peste branca,
porém os governantes não tomaram estas medidas, mas as elites médicas, sim,
influenciadas pela luta que se travava na Europa e nos Estados Unidos. O Estado,
em relação à luta contra a tuberculose, acomodou-se a decretar leis sanitárias e a
liberar subvenções às Ligas filantrópicas, nas duas primeiras décadas do século XX.
Foi através dos movimentos filantrópicos encabeçados por médicos em São
Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte e outras
cidades, que teve inicio a luta contra a tuberculose no Brasil. A finalidade era brecar
o contágio, pela educação sanitária, e assistir aos tuberculosos pobres.
A luta dos membros da LPCT para conseguir verbas e para fazer com que o
governo assumisse o papel que lhe cabia no controle da peste branca foi hercúlea.
As subvenções liberadas pelo governo paulistano foram insuficientes para uma luta
que demandava vultosas verbas. Diante deste óbice a Liga não pôde realizar um dos
seus principais objetivos: a criação de sanatórios populares. Entretanto, conseguiu,
na primeira fase da luta, iniciar e levar adiante uma ampla campanha de profilaxia
134
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., pp. 27-28.
135
A
Lei Orgânica da Liga Paulista contra a Tuberculose mandava que seu presidente, anualmente, apresentasse um
relatório minucioso dos fatos ocorridos no ano findo e prestasse contas do orçamento da Liga. Clemente Ferreira, presidente
perpétuo, o fez desde a criação da Liga até a sua morte, em 1947.
78
contra a tuberculose criando uma conscientização na população paulistana deste
grave problema de saúde pública; criar a revista Defesa Contra a Tísica; inaugurar,
em São Paulo, o Dispensário “Clemente Ferreira”, seu primeiro dispensário para o
tratamento de tuberculosos pobres; sensibilizar um grupo de damas da sociedade,
tendo à frente a Viscondessa da Cunha Bueno, para a criação da “OPFTB” que, por
sua vez, criou o Preventório de Bragança Paulista; construir e inaugurar o prédio do
Dispensário-Modêlo “Clemente Ferreira”; iniciar e levar adiante 14 campanhas de
selos “Pró-Tuberculosos Pobres” e inaugurar o “Sanatório São Luis” de Piracicaba.
Na segunda fase, a Liga inaugurou o Dispensário e Ambulatório Infantis, o Pavilhão
“Arlindo de Assis” e o Abrigo-Hospital “Clemente Ferreira”.
A LPCT, pioneira da luta, lutou sempre com escassas verbas liberadas pelo
Governo e doadas pelo povo paulistano. Mesmo assim, conseguiu criar armamentos
importantes que, apesar de insuficientes diante da magnitude da tuberculose, foram
fundamentais para assistir aos tuberculosos desvalidos. Seu mérito foi: a educação
sanitária da população e a conscientização dos governantes que, a partir da década
de 1930, assumiram a luta no Estado de São Paulo.
79
CAPÍTULO II
CLEMENTE FERREIRA – CIDADÃO, MÉDICO E FILANTROPO
Que força estranha, que vontade férrea, o impeliu e fez com
que se entregasse de corpo e alma ao serviço dessa causa
humanitária, no combate a um flagelo que, a despeito de todos
os progressos de nossos métodos profiláticos e terapêuticos,
ainda continua em nosso meio a ceifar ou inutilizar grande
número de vidas, nas quadras em que o homem mais útil é a
humanidade?
José Rosemberg
136
136
ROSEMBERG, José. “Aspectos atuais da luta...” Op. cit., p. 80. Conferência pronunciada no auditório do Instituto de
Pesquisa “Clemente Ferreira”, no dia 28 de setembro de 1957.
80
FIGURA 8
CLEMENTE FERREIRA S/D
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
81
1. ASPECTOS RELEVANTES DE SUA VIDA SOCIAL
Neste infortúnio irredutível, que me avassalou, sinto apenas
borrifar-me a psique melancólica e o espírito exausto o orvalho
balsâmico emanante dos filhos e do neto, e assim espero a
hora de minha retirada definitiva do cenário terrestre.
Clemente Ferreira
137
1.1. De Resende ao Rio de Janeiro passando por Bananal
O ano era de 1857. No Brasil, o Marquês de Olinda governava na corte; a Lei
“Eusébio de Queiróz”, que acabava com o tráfico negreiro, vigorava há sete anos; a
primeira grande epidemia de febre amarela eclodira no Rio de Janeiro, atingindo
mais de 90 mil pessoas e ceifando a vida de mais de quatro mil de uma população
de 166 mil habitantes, há sete anos; a Junta Central de Higiene, órgão do Governo
Imperial, criada há sete anos para cuidar da saúde pública, estava às voltas com as
epidemias de febre amarela e cólera que, a cada ano, eclodiam. Resende, província
do Rio de Janeiro, deixara de ser uma simples vila e fora elevada à categoria de
cidade, graças ao plantio de café que passou a ser sua grande riqueza, há quase 7
anos.
Na fazenda “Barra do Ribeirão do Rio”, de seu avô materno o Capitão José
Rodrigues Neves, situada no município de Resende, às margens do Rio Sesmaria,
nasceu a 29 de setembro, Clemente Ferreira. Seu pai, o português José da Cunha
Ferreira, foi presenteado por sua mulher dona Maria Neves da Cunha Ferreira com o
quarto filho varão e, na pia batismal, deram-lhe o nome de “Clemente”. Clemente
Miguel da Cunha Ferreira.
138
Da fazenda de seu avô, onde seu pai trabalhava como professor de primeiras
letras, a família foi morar em Bananal, município paulista. Lá, seu pai exerceu a
profissão de guarda-livros do Sr. Damião Rabello de Araújo que, também, era
português. Juntando algumas economias, José da Cunha Ferreira adquiriu o sitio
“Boa Esperança”, no município de Resende, mudando-se para lá com a mulher e os
filhos. Muito cedo o garoto Clemente aprendeu com o pai as primeiras letras. Ele
mesmo nos conta, em suas memórias, como foi sua infância.
137
Com esta frase Clemente Ferreira encerra suas memórias escritas em 1944. Ele ainda viveu até 1947, quando faleceu a 6
de agosto, aos 90 anos de idade. O infortúnio a que se refere é a perda de sua esposa Anália, que foi sua companheira durante
56 anos.
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias...Op. cit., p. 29.
138
SILVEIRA, Romero. Uma Vida...Op. cit., p. 3.
82
A minha infância foi um pouco tormentosa, tendo adoecido gravemente e ficado em perigo de
morte. Fui sempre auxiliar de meu pai em trabalhos de carpintaria ou serviços agrícolas, etc.,
e eu mesmo me dediquei a cultivar a terra, plantando cana, abóbora, etc. Aprendi com meu
pai não só as primeiras letras como também francês, inglês, aritmética e um pouco de
latim.
139
Em 1870, com apenas 13 anos, Clemente foi para o Rio de Janeiro em
companhia de seu irmão mais velho, José da Cunha Ferreira Junior, estudante do
primeiro ano da Faculdade de Medicina da Capital do Império. Queria tornar-se
médico, como ele, e foi fazer os estudos preparatórios no Colégio Episcopal São
Pedro de Alcântara, sito no Bairro do Rio Comprido.
1.2. No Rio de Janeiro nasce um médico-poeta
Ao final de quatro anos de estudos preparatórios, puxados e proveitosos,
merecendo distinção por sua dedicação, matriculou-se, em 1875, na Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. Residiu, durante todo curso médico, em cômodo
especial concedido pelo gerente do Colégio São Pedro de Alcântara, então, na praia
do Botafogo no antigo palacete de Barão de S. Clemente.
140
Clemente Ferreira acompanhou de perto as mais marcantes mudanças
políticas, sociais e econômicas das últimas décadas do século XIX. O fim da Guerra
do Paraguai, em 1870; a aprovação da Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro
1871; a Lei dos Sexagenários, que garantia liberdade aos escravos com mais de 60
anos de idade, em 1885; os estertores da escravidão, que foi abolida em 1888, e o
nascimento da República, em 1889. De 1875 a 1880, dedicou-se aos estudos do
curso de medicina e nos dois últimos anos mereceu distinção, por unanimidade de
votos, de seus professores, como consta na sua biografia escrita por Silveira
Romero
.
141
Sua veia poética, que depois o levou a escrever poesias dedicadas aos que
lhe foram mais caros, já se manifestava no acadêmico de medicina quando escreveu
um livro de poemas. Abaixo, alguns versos deste precioso livro manuscrito. Sobre
139
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 1.
140
Ibidem,
p. 2.
141
O curso médico não foi uma diversão para o moço da Resende. Ele o levou a sério como a tudo o que fazia. Durante 4
anos foi sempre promovido com nota plena. Até que nos dois derradeiros anos do curso alcançou distinção e o respeito e a
amizade de mestres e condiscípulos (...) Foi assim que em 1880 colou gráu e assombrou ao próprio Torres Homem dissertando
sobre Tísica pulmonar.
SILVEIRA, Romero. Uma Vida... Op.
cit., p. 4
83
Resende, impressionado com a natureza exuberante e a tranqüilidade de sua terra
natal, escreveu:
Numa bella collina debruçada
Dorme a linda cidade de Resende
E banha suas plantas caudal Rio
Que em ruidosas cascatas se desprende”
“Ahi se passa a vida tão serena,
Despida dessas pompas e vaidade
E se vive constante e socegado
Sem o luxo ruinoso das cidades”.
Nesses versos dedicados a sua mãe, denota o mais puro amor filial.
“Que almeja ardente te cobrir de flôres,
Cingir-te a fronte de brilhante luz,
Que só deseja que tua vida passe
Tranqüila, pura, como os céus azuis”.
No poema “O Médico”, dedicado ao irmão Dr. José da Cunha Ferreira Junior, datado
de 5 de junho de 1876, demonstra sólida consciência da profissão que iria abraçar.
“Apostolo da caridade,
Das penas batalhador,
Elle leva a toda a parte
O doce alivio da dor;
Sana o cruel sofrimento,
Dá consôlo força e alento
Ao que esmorece infeliz.
Aos doentes dá um thesouro,
Que não compram mares d´ouro
- Dá saúde a flor feliz”.
142
Em 28 de dezembro de 1880, ao receber o grau de doutor em medicina, com
23 anos, teve a honra de ser o orador da turma e de ser ouvido pelo Imperador D.
Pedro II que assistiu a solenidade de colação. Sua Tese “Phthisica Pulmonar”,
escrita dois anos antes da descoberta do bacilo da tuberculose pelo cientista alemão
Robert Koch,
143
já evidenciava a paixão pela luta que abraçaria até o último de seus
dias.
142
PASSOS FILHO, Manoel Caetano da Rocha. “Clemente Ferreira: o médico e o cidadão. Aspectos de sua atuação à frente
do Dispensário Modelo”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de
Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, pp. 36-37. Conferência pronunciada no auditório do
Instituto de Pesquisa “Clemente Ferreira”, no dia 21 de setembro de 1957.
143
Robert Koch começou, secretamente, suas pesquisas que levaram a descoberta do bacilo da tuberculose, em agosto de
1881, no Instituto Imperial de Saúde de Berlim. Ele tingiu uma secção de tubérculos com azul de metileno encontrando um
minúsculo bacilo em forma de bastão. Compreendendo que era apenas o primeiro passo conseguiu isolá-lo e desenvolvê-lo em
culturas puras. Depois, injetou uma
das culturas em animais reproduzindo a tuberculose. Fechou o ciclo provando,
irrefutavelmente, que a tuberculose era causada por um bacilo que ele batizou como bacilo tubérculo. Revelou sua descoberta
84
Phthisica pulmonar, tal é o tema que escolhemos para objecto de nossa dissertação
inaugural, encarando-o sob o ponto de vista da pathologia médica. Basta ennuncial-o para
deprehender-se immediatamente a sua extensão infinita, a sua importância capital e as
difficuldades extremas que o cercam. Porque então nos abalançamos a tratar de um
assumpto tão espinhoso? (...) Ao transpormos pela primeira vez os gloriosos umbraes da
Faculdade de Medicina, desabrochou em nosso espirito a perfumosa idéa de trabalharmos na
estreita órbita de nossos acanhados esforços pelo progresso intellectual do nosso paiz, de
pormos em contribuição os nossos minguados cabedaes, logo que nos fosse possível, a fim
de concorrer para o engrandecimento da sciencia brazileira.
144
A tuberculose era, e ainda é, uma doença social de variadas facetas e de
difícil controle. Causada por um bacilo que convive há milênios com a espécie
humana, atinge diversos sistemas da nossa economia de diferentes maneiras. Além
disso, por ser doença social, depende em grande parte para o seu controle das
condições de vida da população, isto é: de alimentação e moradia adequadas. Não
era e, ainda, não é fácil de ser controlada e muito menos erradicada como outras
doenças infecciosas que grassavam no final dos oitocentos. Para o jovem médico,
sem dúvida, foi um desafio.
1.3. Em Resende, Anália e Célia
Em Resende, Clemente Ferreira iniciou sua carreira profissional aconselhado
por seu irmão, Dr. José da Cunha Ferreira Junior, que lá trabalhava como clinico.
Logo no primeiro ano de seu exercício profissional, 1881, prestou serviço como
diretor clinico da Santa Casa de Misericórdia, sem remuneração, e neste cargo
permaneceu até 1886. Para prover a própria subsistência atirou-se a fatigante vida
de clinico da roça, durante cinco anos, andando léguas a cavalo, a dez mil réis a
légua e quatro mil réis por consulta. Dedicou-se, assim, com energia a este árduo
trabalho, sempre estudando e colaborando em diversas revistas médicas
européias.
145
Adoeceu gravemente em razão desses penosos encargos e trabalhos
de clinico rural sendo obrigado a deixar de clinicar por alguns meses.
146
Em 17 de janeiro de 1883, casou-se com a senhorita Anália Pinheiro da Silva,
cunhada de seu irmão médico. Anália lhe deu uma filha e dois filhos e foi sua
no dia 24 de março de 1882, em uma reunião da Sociedade de Fisiologia de Berlim. Sua descoberta foi publicada menos de três
semanas depois tornando-o um dos mais respeitáveis cientistas, maior até do que seu rival Pasteur.
FRIEDMAN, Meyer e FRIEDLAND, Gerald W. As dez maiores descobertas da medicina. Tradução José Rubens Siqueira. São
Paulo, Editora Schwarcz Ltda, 2006, pp. 79-81.
144
FERREIRA, Clemente. Phthisica Pulmonar. These apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro,1880, p. 9.
145
HOLANDA, Sergio Buarque de.
Sobre um novo Formalismo
. Folha da Manhã, 22 de agosto de 1950.
146 FERREIRA, Clemente da Cunha. Minhas Memórias... Op. cit., p. 2 e PASSOS FILHO, Manoel Caetano da Rocha.
Clemente Ferreira... Op. cit., p. 38.
85
companheira durante 56 anos. Nasceu Célia, a primogênita, no dia 30 de setembro
de 1883, no mesmo ano em que o casal contraiu núpcias.
1.4. De volta ao Rio de Janeiro
Clemente Ferreira foi surpreendido em 1886, aos 29 anos de idade, quando
tornou-se membro correspondente da Societé Therapeutique de Paris. Era, apenas,
o primeiro titulo da série enorme que colecionou durante sua longa vida. Neste
mesmo ano, sentiu-se estimulado a deixar Resende vendo que outros horizontes lhe
abriam promissores. A reorganização da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro
criando várias cadeiras, entre elas a de adjunto de clinica de crianças - médica e
cirúrgica – cujo catedrático era o Dr. Barata Ribeiro, parecia ser uma oportunidade
para Clemente Ferreira realizar o sonho de ir trabalhar em um centro mais adiantado.
A pediatria, como a tisiologia, o atraia.
Não logrou êxito no concurso prestado para a referida cadeira, pois não sabia
que eram insondáveis os mistérios nos bastidores da Faculdade de Medicina e que,
sem um bom pistolão, não teria sucesso no concurso que pleiteava. Em suas
memórias ele fala deste primeiro grande golpe que sofreu.
Afastado por completo das praxes e dos mistérios dos bastidores no tocante à vida docente
da Faculdade de medicina não tratei de cortejar os lentes, que deviam tomar parte no
concurso para adjunto à cadeira de clinica infantil, não me ocupei de visitá-los e em solicitar
as suas bôas graças e apenas fui apresentar-me ao lente catedrático, dr. Barata Ribeiro, que
me recebeu muito friamente. A despeito das provas por mim exibidas e que foram boas,
menos a prova cirúrgica que versou sobre uma operação de adulto, não logrei ser
classificado. Foi o desmoronamento dos meus sonhos, o desabar das minhas aspirações; o
primeiro grande abalo que sofri e que perturbou em extremo a minha carreira profissional.
147
Sucumbido sob o peso da decepção de não ter logrado classificação no
concurso, passou vários dias em uma atmosfera de incertezas não sabendo que
destino tomar, se voltar para Resende ou tentar a vida no Rio. Finalmente, depois de
muita reflexão e seguindo conselhos de amigos, resolveu ficar. Em seguida,
liquidando seus negócios em Resende, fez vir sua família e se instalaram à Praça
Tiradentes nº. 44.
Em 1886, o Rio de Janeiro, como centro político do país, concentrava a vida
político-partidária do império e, principalmente, os movimentos abolicionista e
republicano. Com a abolição da escravatura e a proclamação da república a cidade
enfrentou graves problemas sociais, pois grandes contingentes de imigrantes
147
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 3.
86
europeus e de ex-escravos foram atraídos pelas oportunidades de trabalho que ali
se abriam. Entre 1872 e 1890, sua população passou de 274 mil para 522 mil
habitantes. Sem saneamento adequado, tornou-se um lugar propício para as
epidemias de cólera, febre amarela, varíola e tuberculose.
Lutando com mil dificuldades para manter sua família no Rio de Janeiro,
Clemente Ferreira foi obrigado a vender alguns títulos e ações de empresas que
adquirira com dinheiro ganho em Resende. Finalmente, em 1887, ele entrou para o
serviço de pediatria do Dr. Moncorvo, na Policlínica do Rio, trabalhando com a maior
dedicação. Neste mesmo ano, teve três grandes alegrias: a primeira ao ser
presenteado por sua mulher, no dia 13 de setembro, com um filho varão, a quem
deram o nome de Aurélio, as outras duas ao tornar-se membro correspondente da
Société de Médicine de Paris e da Academia de Medicina do Rio de Janeiro. No ano
seguinte, mais um título lhe alegraria, o de membro corresponde da Société de
Médecine e Chirurgie de Bordeaux.
Mesmo trabalhando como pediatra, o salário não era suficiente para manter a
família que crescera com a chegada do filho Aurélio. Depois de algum tempo de
dificuldade financeira, seu cunhado, Frederico Pinheiro da Silva, e outros parentes
arranjaram-lhe um emprego de médico em uma fábrica de rendas e de tecidos, com
parcos vencimentos, mas que o ajudaram a atravessar aquele período difícil.
Também, ao cabo de dois anos conseguiu uma clientela regular, porém muito
disseminada na cidade e, por isso, tinha que ver pacientes em pontos antagônicos
do Rio e arredores. A fábrica, onde trabalhava como médico, fechou as portas,
depois de algum tempo, e ele viu-se, novamente, em dificuldades financeiras. As
tentativas que fez para obter colocação oficial, ainda na vigência da monarquia, em
1887,1888 e parte de 1889, foram inúteis.
148
1.5. A luta contra a febre amarela em Campinas
O aumento da pobreza agravou o quadro habitacional do Rio de Janeiro e no
centro multiplicavam-se os cortiços e eclodiam as violentas epidemias de febre
amarela, varíola e cólera, dando à cidade a fama internacional de porto sujo. Estas
epidemias atingiam, também, cidades de outros estados e, em 1889, uma pavorosa
epidemia de febre amarela aportou em Campinas. Como não possuía cargo oficial
148
Ibidem, p. 4.
87
de médico higienista, Clemente Ferreira nunca participou das decisões e ações do
Governo Imperial em relação à saúde pública. Querendo prestar cooperação na
epidemia de febre amarela que devastava Campinas, ofereceu seus serviços
gratuitos ao Governo Imperial que, através do Ministro Dr. Ferreira Vianna,
agradeceu sem aceitar. Logo em seguida, a Grande Comissão da Imprensa
Fluminense, formada para socorrer Campinas, aceitou a colaboração de Clemente
Ferreira e de seu colega o Dr. João de Azevedo Correia. Em abril de 1889, como
chefes dessa comissão e contando com ajuda de farmacêuticos e enfermeiros,
partiram com plenos poderes para prestar serviços médicos e farmacêuticos,
distribuir roupas, alimentos e dinheiro para as viúvas e órfãos da cidade.
149
Os primeiros casos do flagelo em Campinas ocorreram em fevereiro de 1889.
No final de junho, quando a epidemia cessou, o número de habitantes tinha caído
para 3.500 pessoas, 10% do seu total, devido aos óbitos e a evasão da população.
Esta epidemia marcou tão profundamente a cidade que, hoje, nomes de praças, ruas
e avenidas homenageiam àqueles que atuaram para minorar o sofrimento dos
campineiros.
150
Clemente Ferreira nos conta, em suas memórias, que quando a Comissão da
Imprensa Fluminense chegou à Campinas, em abril de 1889, a mesma só tinha duas
casas de comércio em funcionamento e toda a população de recursos havia
abandonado suas residências.
151
A tarefa foi árdua e, ao se encerrar a campanha, o
povo campineiro, através da Câmara de Vereadores, mandou cunhar uma medalha
de ouro para o Dr. Clemente. No Rio, o Imperador D. Pedro II galardoou-o com a
comenda de “Oficial da Ordem da Rosa” ao lado do Dr. José de Azevedo.
152
O Dr. Manuel Caetano da Rocha Passos Filho discursando, por ocasião das
comemorações do centenário de nascimento de Clemente Ferreira, contou que a
medalha de ouro, gratidão dos campineiros, ele guardou por quase 50 anos até que
um belo dia dela se desfez. Foi em 1932, quando São Paulo, unido, levantou-se
contra a ditadura num esforço hercúleo pela conquista da Constituição, que
Clemente Ferreira incorporou um bem que era seu para o bem comum de seu povo,
149
Ibidem, p.4.
150
BERTUCCI-MARTINS, L. M. Memória que educa. Epidemias do final do século XIX e inicio do XX. Curitiba, Editora
UFPR,
2005.
151
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit.,
p. 5.
152
SILVEIRA, Homero. Uma vida... Op. cit., p. 6 e FERREIRA, Dr. Clemente. Labôr Científico – Funções, títulos, comissões,
recompensas, trabalhos científicos, etc. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, p. 5.
88
doando a medalha de Campinas à campanha de ouro para o bem estar de São
Paulo.
153
Depois de Campinas, Clemente Ferreira voltou ao Rio e, em 1890, tornou-se
membro titular da Academia Nacional de Medicina. Dois anos depois, na sessão
magna de aniversário da referida academia, como orador oficial, pronunciou um
discurso desnudando outra faceta de sua personalidade, ao mostrar a independência
de suas atitudes perante homens de governo e a defesa do progresso da ciência e
da valorização da medicina. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, este discurso foi
um verdadeiro libelo contra os erros dos governantes na sua indiferença, quase que
absoluta, aos problemas da medicina.
154
No final do discurso, disse Clemente
Ferreira:
Um silencio tumular fez-se quasi que de súbito no anfiteatro da medicina brasileira. Não
repercutem estridentes os brados de trabalho dos operários valentes, devassando os
mistérios da vida normal ou patológica, não ecoam os cânticos festivos da falange aguerrida a
surpreender os segredos da arte de curar. Uma atmosfera de desanimo, uma nuvem
impenetrável de desesperança envolveu-nos inopinadamente, matando-nos o estimulo e
entorpecendo-nos as aspirações. O tufão desolador de mercantilismo sem nome, o pampeiro
crestador de um metalismo rijo e sáfaro açoutou de modo desapiedado os vergeis antes
florescentes das ciências e das letras, e uma debandada se fez, enorme, terrivel, medonha,
deixando desertas mudas, silenciosas as oficinas de trabalho, os laboratórios de estudos, os
institutos sacrosantos da medicina. (...) Senhores, quando o alvião de 15 de novembro de
1889, derruindo a bastilha da monarquia rasgou horizontes novos para a sociedade brasileira,
acreditou-se que a aurora desse dia derramaria o orvalho vivificador do progresso por sobre
os fanados vergeis do nosso mundo cientifico, e que a emancipação social traria, como
corolário natural a emancipação intelectual, pela democratização do ensino e pela valorização
do trabalho cerebral. (...) De fato, senhores tem sido sempre a norma dos governantes neste
país, empoleirar nas posições de graves responsabilidades as nulidades douradas. (...)
Senhores, eu confio que agora, que dirige os destinos da nação um governo sério, honesto e
moralizador, ele deixará a senda até aqui trilhada pelos seus predecessores, para enveredar
pela estrada larga da justiça ao verdadeiro mérito, onde quer que a modéstia o isole, do
auxilio indispensável, da animação fecundadora ao trabalhador desinteressado e
consciencioso.
155
1.6. Em São Paulo, um Inspetor Sanitário
Clemente Ferreira não conseguiu no Rio uma colocação que lhe garantisse a
subsistência, apesar de todos os esforços despendidos por amigos e políticos. Este
fato e um sonho que já acalentava há tempos foram motivos para que ele aceitasse
o convite de trabalhar em outro estado.
Em São Paulo, com a reorganização do Serviço Sanitário, estavam sendo
criadas diversas vagas para o cargo de Inspetor Sanitário. O Deputado Federal,
153
PASSOS FILHO, Manoel Caetano da Rocha.”Clemente Ferreira... Op.
cit., p. 38 e FERREIRA, Dr. Clemente. Labôr
Científico...Op.cit., p. 5.
154
HOLANDA, Sergio Buarque de.
Op.cit.
155
FERREIRA,
Dr. Clemente. Discursos e Coferencias... Op. cit., pp. 9-11.
89
Rodolfo Miranda, amigo e conterrâneo de Clemente Ferreira, solicitou e obteve de
Campos Salles,
156
então Presidente do Estado, sua nomeação para uma das vagas.
Finalmente, em outubro de 1896, Clemente Ferreira viajou para São Paulo a fim de
assumir o tão cobiçado cargo.
No final do século XIX, várias epidemias assolavam São Paulo como: a febre
amarela, a varíola, a cólera e a febre tifóide. O Serviço Sanitário do Estado,
157
criado,
em 1891, para substituir a Inspetoria de Higiene da Província, estava sendo
reformulado para combater estas epidemias. Com o Instituto Bacteriológico, que já
atuava desde 1892, e os novos inspetores sanitários, São Paulo estava preparado
para combater e vencer as epidemias pestilenciais. Essas reformas foram
comandadas pelo Dr. Silva Pinto, Diretor do Serviço Sanitário, que contava com total
respaldo do, então, Presidente do Estado, Campos Salles.
Deixando a família no Rio, onde haviam residido durante quase 10 anos,
Clemente Ferreira foi desempenhar diversas comissões, no interior de São Paulo,
para combater as epidemias de febre amarela. Em agosto de 1897, trouxe sua
família e foram residir em uma pensão na Rua Ipiranga, nº. 34. Ao cabo de alguns
meses transferiu sua residência para a Rua Visconde do Rio Branco, nº. 28, centro
da cidade. Posteriormente, residiu na Rua General Jardim, lá morou em dois
endereços, permanecendo até sua morte, em 1947.
São Paulo, no final do século XIX, estava em pleno desenvolvimento graças à
expansão da lavoura cafeeira e da construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí
(1867). Para se ter uma idéia do vertiginoso crescimento é só observar que sua
população, de 130 mil habitantes em 1895, pulou para 240 mil, em 1900. As ruas
iluminadas a gás e com os calçamentos de paralelepípedo de granito exibiam as
primeiras linhas de bondes. Um parque industrial esboçava-se e o Brás e a Lapa
transformavam-se em bairros operários. A região do Bairro do Bexiga estava sendo
156
Manuel Ferraz de Campos Salles nasceu em Campinas em 15 de fevereiro de 1841 e faleceu em Santos em 28 de junho
de 1913. Bacharel em Direito, elegeu-se senador em 1890, mas renunciou o cargo 4 anos depois para tornar-se governador do
Estado de São Paulo, cargo que exerceu até 1898 quando foi eleito Presidente da República substituindo Prudente de Morais.
Foi o quarto presidente do Brasil (1898 a1902) quando foi sucedido por Rodrigues Alves.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Campos_Sales
Acesso
em:
7
de
julho
de
2007.
157
O Serviço Sanitário do Estado foi o órgão do governo responsável pela saúde pública durante 47 anos. No final do século
XIX era subordinado a Secretaria do Interior e responsável pela orientação do governo nos assuntos de higiene e salubridade
publica, pela aplicação dos planos e execução do regulamento sanitário. Era formado pelos: Instituto Bacteriológico, Instituto
Vacinogenico, Hospital de Isolamento, Laboratório de Análises Químicas, Desinfectório Geral e Instituto Butantã.
ALMEIDA, Marta de. República dos Invisíveis... Op.
cit.,
p. 59.
90
ocupada por imigrantes italianos e a Avenida Paulista pelos palacetes dos grandes
cafeicultores. Do ponto de vista político-administrativo, São Paulo teve grande
avanço com a criação de cargo de prefeito municipal, em 1898, sendo o primeiro
titular o Conselheiro Antonio da Silva Prado.
158
No período colonial a cidade era
governada pela Câmara Municipal que exercia as funções executiva, legislativa e
judiciária.
No final dos oitocentos e inicio dos novecentos, São Paulo apresentava
contrastes gritantes. Enquanto se multiplicavam os palacetes na Avenida Paulista, os
cortiços e as vilas para moradia dos operários dedicados ao comércio, ao serviço e a
indústria quadruplicavam. Os tipos mais comuns surgiram, em 1870, nos bairros
centrais da elite paulistana como a Sé, Santa Efigênia, Bela Vista e nos bairros
operários do Brás e Mooca. As epidemias explodiam na capital e em diversos
municípios e para combatê-las a ação dos inspetores sanitários foi fundamental. Aos
poucos as epidemias pestilenciais foram vencidas e Clemente Ferreira passou a
enfrentar outra epidemia, a peste branca, através da Liga Paulista contra a
Tuberculose.
1.7. Adeus ao Nhôzinho
Em setembro de 1899, o destino lhe desferiu o segundo golpe. Ele mesmo
relata, em suas memórias, a tragédia que viveu ao lado de sua esposa Anália.
Um golpe impiedoso, que me amargurou profundamente a existência e me amargurará até o
ultimo momento da vida, foi o que sofremos em Setembro desse ano -1899 - com a
enfermidade gravíssima e o falecimento consecutivo do então meu único filho varão o amigo
Aurélio da Silva Ferreira, então de idade de 12 anos, pois tinha vindo do Rio contando 10
anos quase. Foi uma fase dolorosa da nossa existência, vindo adoecer gravemente os 2
unicos filhos – a minha filha Célia e o dileto filho Aurélio, dotado de uma meiga alma, de um
caráter afetuosissimo e zeloso cumpridor de seus deveres. A terrivel febre tifóide, a grande
endemia de S. Paulo, que desde os primeiros momentos da minha vida nesta cidade me
preocupava e constituía objeto de meus estudos e pesquizas, foi a causadora do nosso
infortúnio, acometendo nossos 2 filhos, pondo em grave perigo a vida da minha cara filha
Célia e ocasionando o desaparecimento cruel do dileto e saudoso filho. A mágua profunda,
determinada pelo irreparável desastre, não se apagará, não se atenuará mesmo, mas não
havia remédio senão continuar nas lides insanas de uma vida de lutas e sacrifícios.
159
158
Antonio da Silva Prado (São Paulo-1940 – Rio de Janeiro-1929). Foi um político brasileiro, tomou posse como intendente
de cidade de São Paulo em 1899 e permaneceu 12 anos no cargo, o que o torna o prefeito que mais tempo ficou no cargo.
Filho de Martinho da Silva Prado e de Veridiana Valéria da Silva Prado, membros da aristocracia cafeeira paulista. Foi
responsável em seu mandato pela implantação da energia elétrica, em 1900. Foi também em sua gestão que ocorreu a
inauguração do Theatro Municipal, da Pinacoteca do Estado e da Estação da Luz.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_da_Silva_Prado
Acesso
em:
8
de
julho de
2007.
159
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias. Op. cit., pp. 6-7.
91
Acabrunhado de dor, andou com a família em peregrinação, por várias
localidades dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, só retornando ao lar, depois
de três meses, para retomar suas atividades profissionais. De setembro de 1899 a
janeiro de 1902, fez 52 poemas dedicados ao amado filho, a quem chamava de
Nhôzinho, retratando a dor da perda e a saudade que restara. Transcrevo, abaixo, o
primeiro desta série, um soneto.
A NHÔZINHO
Quis a sorte feroz que te apartasses
De junto de teus pais que te adoravam,
Dos óculos de amôr, que te fartavam
A sina permitiu que te privasses
Dos companheiros que te idolatravam
Dos amigos a quem tanto querias
Daqueles por quem sempre estremecias
E que em ti sua vida concentravam,
Separou-te sem dó cruel destino
Atufando em saudades doloridas
O peito triste, opresso, em desatino,
Mas as almas aflitas, lacrimosas,
De todos que 12 anos cativaste
Por ti palpitarão sempre amorosas.
São Paulo, 26 de Setembro de 1899.
160
No ano de 1899, tornou-se membro correspondente da Société de Pediâtrie
de Paris e, em 1901, membro correspondente do Circulo Médico Argentino.
161
1.8. A paixão por uma causa
O século XX trouxe para Clemente Ferreira e Anália o filho Áulio, que veio
alegrar o lar a 13 de setembro de 1900 e, assim, preencher o vazio deixado pela
morte do filho Aurélio. O século XX trouxe para os paulistanos, não só a energia
elétrica, mas, também, o inicio efetivo da luta contra a tuberculose comandada por
Clemente Ferreira, que durante 47 anos, não deu trégua à inimiga. Ele tinha
consciência de que a tuberculose era uma doença social, de alta mortalidade, que
consumia as energias vivas da nação, pois atingia as faixas etárias mais jovens da
sociedade. Sentia ter o dever de combatê-la e, assim, servir a pátria.
São Paulo, com a construção da Estação da Luz e o inicio da iluminação
elétrica pela companhia Light and Power, transformou-se em um verdadeiro canteiro
de obras. Ruas, casas e largos do período colonial foram demolidos e o processo de
industrialização foi impulsionado. Em 1911, a cidade ganhou seu Teatro Municipal,
160
FERREIRA,
Clemente. Poesias. São Paulo, Instituto D. Ana Rosa, 1946, p. 3.
161
FERREIRA, Dr. Clemente. Labor Científico...Op.
cit., p. 4.
92
sede de espetáculos e local de entretenimento da elite paulistana. Com seus trens,
bondes, eletricidade, telefones, automóveis e modernas construções a cidade mudou
de roupagem e a aparência colonial desapareceu, definitivamente. Entretanto, a
tuberculose encontrou neste novo cenário o ambiente propício para se alastrar, pois
graças ao aumento da mobilização de operários, imigrantes estrangeiros europeus,
deu-se à explosão demográfica e São Paulo passou de 26.040 habitantes em 1872,
para 580.000 em 1920. Com este vertiginoso crescimento populacional houve a
concentração de operários nos cortiços e a explosão da tuberculose.
Fato interessante é que 100 anos antes, o mesmo se deu na Inglaterra, com a
Revolução Industrial, causando o que foi considerada a primeira grande epidemia da
peste branca. Principalmente em Londres, mas, também, nas outras capitais da
Europa, no final do século XVIII e inicio do século XIX, com a rápida industrialização,
enormes contingentes de trabalhadores passaram a viver aglomerados, nas piores
condições de higiene e alimentação, o que favoreceu o contágio da tuberculose
elevando, extraordinariamente, sua mortalidade que chegou até a 1000 por 100.000
habitantes em algumas cidades.
Como demonstrou Rosemberg, no município de São Paulo ocorreu fato
semelhante. As pessoas que vinham do interior, sem imunidade contra a
tuberculose, contraíam formas graves da doença que era difundida devido às
precárias condições econômicas e de habitação, geralmente, em cortiços.
Em 1902, Clemente Ferreira tornou-se membro correspondente da Société de
Pediâtrie de Moscow (Rússia); em 1903, membro titular da Société de Médecine
Publique et de Génie Sanitaire de Paris e Membro Vogal da Comissão permanente
da Profilaxia contra a Tuberculose na América Latina; em 1905, membro titular da
Associação Internacional contra a Tuberculose de Berlim; em 1906, Membro
Honorário da Liga Uruguaia contra a Tuberculose.
Em 17 de janeiro de 1904, no Salão do Clube Piracicabano, proferiu um
discurso tendo como tema: “Tuberculose e armamento antituberculoso”.
162
Falando
da mortalidade causada pela tuberculose e da importância dos sanatórios para o
tratamento dos tuberculosos, sensibilizou a Senhora Lydia de Resende que, anos
depois, inaugurou um sanatório para tuberculosos pobres e, ao cabo de alguns anos,
o doou à Liga Paulista, por falta de meios para mantê-lo em funcionamento.
162
FERREIRA, Clemente. Conferencia realizada no salão do Clube Piracicabano no dia 17 de Janeiro de 1904, tendo por
têma: “Tuberculose e armamento antituberculoso”. In: FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferencias... Op. cit., pp. 13-33.
93
Em outubro de 1905, Clemente Ferreira viajou para Europa com Adolpho Lutz
a fim de participar, em Paris, do Congresso Internacional de Tuberculose. Após o
encerramento do referido congresso, permaneceu cinco meses em viagem de
estudos visitando e apreciando a organização das diversas instituições e obras
antituberculose, na França, na Bélgica, na Alemanha e em Portugal. Retornando ao
Brasil, em março de 1906, sentiu-se estimulado a implantar, em São Paulo,
instituições semelhantes as da Europa. Esta viagem de Clemente Ferreira à Paris foi
favorecida por Emílio Ribas, junto ao Governo do Estado, que o nomeou
representante de São Paulo fazendo parte da comissão estadual para estudar a
profilaxia da tuberculose na Europa.
163
Em 1908, depois de ser lançada a pedra fundamental para a construção do
Dispensário-Modêlo, no bairro da Consolação, recebeu carta anônima ameaçando-o
de morte, caso insistisse na inauguração do dispensário. Não se amedrontou e
persistiu com a obra, contando com o apoio das sociedades médicas do Rio de
Janeiro e São Paulo.
Em 1909, viajou com o Dr. Francisco Sodré para as capitais platinas, Buenos
Aires e Montevidéu, e lá ficou durante 30 dias estudando as organizações higiênicas
e sanitárias desses países. Visitou as instituições que davam assistência às
crianças, aos psicopatas e aos tuberculosos. Admirou-se com o Hospital-Sanatório
“Tornu”, em Buenos Aires, destinado a assistência aos tuberculosos pobres, com sua
maternidade, anexa, para gestantes tuberculosas. Apreciou os dispensários de
Buenos Aires, o Dispensário-Modêlo de Montevidéu, os excelentes hospitais infantis
de Buenos Aires e Montevidéu e a luxuosa colônia de alienados de Lujan.
164
Essas viagens estimulavam a criação de instituições semelhantes em São
Paulo. Nos anos de 1910 e 1911, esforçou-se, sem repouso, para tornar o
Dispensário “Clemente Ferreira” conhecido fora do Brasil.
Em 1909, tornou-se Membro Correspondente da Associação Médica
Argentina; em 1912, Sócio Honorário da Sociedade Argentina de Pediatria e da Liga
Brasileira contra a Tuberculose; em 1913, Membro Correspondente da Sociedade
Internacional para a Proteção da Primeira Infância.
163 FERREIRA, Clemente. Notas Necrológicas e Elogio Histórico de Destacadas Personalidades Médicas. São Paulo,
Typographia Rossolillo, s/d, p.19.
164
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 11.
94
Em abril de 1912, viajou, novamente, para Europa a fim de participar, em
Roma, do Congresso Internacional de Tuberculose, representando a Liga Paulista.
Participou da exposição de higiene, anexa ao Congresso, contribuindo com vários
trabalhos científicos e fez com que o Dispensário “Clemente Ferreira” fosse exposto,
em local saliente, no Castelo Santo Ângelo. Receberam, ele e o Dispensário,
prêmios e recompensas.
O ano era de 1936. No Rio de Janeiro, na noite do dia 3 de setembro, a
Academia Nacional de Medicina franqueava suas portas ao Dr. Clemente Ferreira,
para a entrada em seus quadros como membro honorário. O Prof. Mac Dowell, ao
proferir sua oração, assim, falou:
Quando lembramos o momento atual da humanidade com os ininterruptos sucessos que
enchem de ruído e de catástrofe, de ruínas e de horror quase a primeira metade deste século,
chegamos a duvidar da realidade; tudo nos parece sonho, delírio e angustiosas
alucinações!!... (...) Em meio aos relâmpagos e aos raios dessa tremenda tempestade
emergem, graças a Deus, figuras de varões insignes que salvam e guardam as tradições
augustas, apontando o monte sereno da esperança e da redenção.
165
Ao discursar durante a solenidade de posse, Clemente Ferreira fez um
balanço histórico da Liga Paulista, dizendo ao finalizar:
Como parte final desta narração da vida e fatos médicos e sociais da Liga Paulista Contra a
Tuberculose, não nos é lícito deixar de lado a obra benemérita de agrupamentos valentes de
damas e de cavalheiros operosos e dedicados, que de certos anos a esta parte vêm
colaborando no programa de nossa Associação e ampliando em escala apreciável o nosso
arsenal antituberculoso, e bem assim o que recentemente tem feito a Santa Casa de
Misericórdia da Capital e o Governo do Estado de S. Paulo.
166
No ano de 1934, Clemente Ferreira tornou-se Membro Honorário da
Sociedade de Tisiologia do Uruguai; em 1936, da Academia Nacional de Medicina e,
em 1937, Membro Correspondente da Societé des Médecins de Sanatoriums et de
Dispensaires de Paris.
1.9. Adeus ao Alcyr
Em 10 de fevereiro de 1923, escreveu uma poesia ao neto Alcyr, falecido
naquele dia, filho de Célia sua filha primogênita. De fevereiro a abril do mesmo ano,
escreveu 10 poesias ao netinho. Transcrevo abaixo a primeira.
ALCYR – NO TÚMULO
Sonho de amôr, de afétos e carinhos
Alcyr adorado ao mundo vieste,
165
DOWELL, A. Mac.
Oração do Professor A. Mac Dowell
. In: FERREIRA Clemente. Posse...Op.cit., pp. 3-4.
166
FERREIRA, Dr. Clemente. Posse... Op. cit., p. 39.
95
Enchendo o lar do hálito celeste
Que irradiava de todo o teu corpinho,
Os teus gestos, gracinhas e falares,
A todos docemente embeveciam,
E n’alma dos avós e pais vertiam
De alegria e prazer túmidos mares
Mas o tufão, ó lindo passarinho,
N’um oceano de magua e dissabores
Arrebatou-te do formoso ninho.
E trêda noite de tristeza e dores
Obumbra desde então o lar paterno,
Tornando a vida trama de amargores.
S. Paulo. 10 de Fevereiro de 1923.
167
1.10. Adeus à Anália
No dia 2 de março de 1939, faleceu sua esposa Anália deixando-o desolado.
Clemente Ferreira assim nos descreveu, em suas memórias, a dor da perda:
Infortunadamente, em Março de 1939 - no dia 2 - o destino cruel me desfechou dolorosissimo
golpe com o passamento, após longa e martirizante moléstia, da minha idolatrada
companheira, amantíssima esposa, que durante o longo período de 56 anos me seguiu e
ajudou nos tempos bons e máus, assídua e desveladamente me acompanhando desde o
inicio da minha vida pratica de clinico, sofrendo dificuldades e provações nas fases
acidentadas e periduos árduos da nossa existência, que exigiram sucessivamente 2
mudanças de nossos modestos lares – de Resende para o Rio de Janeiro e do Rio para S.
Paulo. Paciente e resignada tolerou sem uma queixa os obstáculos, embaraços, lutas e
embates que nos assediaram varias vezes, sempre animada e me animando e estimulando.
Fiquei sucumbido e atordoado perante esse desastre irreparável, sentido-me esmorecido,
abatido física e moralmente, e desde então só encontro alivio aos meus sofrimentos e ao
estado deprimido do meu espírito com a leitura constante e a direção assídua das atividades
e trabalhos da Liga Paulista contra a Tuberculose, a que me consagro sem tréguas e sem
desfalecimentos.
168
Mesmo sentindo-se abalado com tão grande golpe ele não renunciou as
preocupações intelectuais e aos estudos no setor das ciências médicas,
consagrando seu tempo à luta contra a tuberculose. Ainda participou de dois
Congressos Nacionais de Tuberculose, em 1939 e 1941, com trabalhos científicos.
Sua voz foi ouvida e seus ensinamentos acatados. Aceitou, em 1942, a investidura
no honroso posto de Professor “Honoris Causa” da Escola Paulista de Medicina.
Para a esposa Anália, escreveu 28 poemas, entre 2 de março de 1939 e
2 de
março de 1943. Transcrevo, abaixo, um deles.
O LAR DESERTO
Sente também, parece, a tua ausencia
A nossa habitação, o nosso lar,
Domina nele um ambiente de tristeza
Nele reina um silencio tumular.
Repito mentalmente tuas frases
Tuas palavras ouço a cada instante,
167
FERREIRA,
Clemente. Poesias. Op. cit., p. 64.
168
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 26.
96
Se me afigura ainda teu convívio,
Tua visão empolga-me constante.
Me acompanhaste assídua tanto tempo
Que imenso vácuo sinto sem cessar,
Simbiosou-se tanto a nossa vida,
Só de ti ocupa o meu pensar.
Não se desfaz assim longo passado
Não se interrompe, não, tão facilmente
Uma existência de amizade firme
Uma união tecida estreitamente
S. Paulo, 4 de Março de 1939.
169
Em suas memórias, ao descrever suas atividades profissionais, concluiu:
Tal tem sido a minha atividade como médico, como higienista, como filantropo e como homem
social. Penso haver bem desempenhado o meu papel no cenário terreno, e acredito que
minha vida tem sido bem preenchida, tendo eu adquirido, pois, títulos e um pouco de
consideração publica e feito jús a aplausos e gratidão dos necessitados, aos quais nunca
regateei meus esforços, aos quais jamais recusei meu concurso e dedicação. O êxito material
não tem, é certo, acompanhado paralelamente os meus esforços, meus trabalhos incessantes
não têm por sua vez recebido a recompensa merecida, e ao cabo de largos anos de
existência pratica e militante vejo-me forçado a trabalhar ainda, a desenvolver insistente
atividade a fim de manter com decência e, aliás, modesta vida de família que tenho levado
sem os confortos do luxo e as regalias da abastança. Tem-me cabido a oportunidade de
assistir a carreira rapidamente próspera de inúmeros colegas, que aqui iniciaram sua vida
clinica muitos anos após a minha estréa nesta cidade, e hei visto a aquisição célere da
fortuna por diversos deles, que ao cabo de 5, 6 e 7 anos têm conseguido acumular opulentos
recursos, que lhe permitem repousar das árduas lides, das extenuantes labutas, ao mesmo
tempo que desfrutam todas as comodidades e confortantes condições que uma sólida
posição econômica proporciona. Médico de pobres como tenho sido desde o inicio da minha
vida profissional hei vivido em obscura mediania, em ambiente social modesto, sem lograr
acumular riquezas.
170
1.11. Adeus à Nenê
Com quase 90 anos, Clemente Ferreira sofreu mais um golpe rude quando,
no dia 07 de outubro de 1944, perdeu, repentinamente, sua filha Célia, a quem
chamava de Nenê. Para ela, fez 13 poesias, entre 7 de outubro de 1944 e 7 de
outubro de 1945. A poesia transcrita, abaixo, foi feita na data de um ano de seu
falecimento.
A NENÊ
UM ANO
Faz um ano completo que este mundo
Maléfico e perverso tu deixaste,
E por força de negra e cruel sorte
Dos entes caros teus te separaste.
Roubou-te ímpio destino duramente
De teu pai a estimada companhia,
Quando ele já bem velho, fraco e doente
Precisava de ter-te como guia.
Da tua ausencia o sofrimento vivo
Me segue em toda a parte, em cada instante,
Choro sem cessar, pois relembrando
169
FERREIRA,
Clemente. Poesias.
Op.
cit., p. 78.
170
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias.... Op. cit., p. 15.
97
Vou teu convívio, animador, constante.
S. Paulo, 07 de Outubro de 1945.
171
1.12. O último consolo
Em fevereiro de 1945, Clemente Ferreira escreveu o primeiro adendo às suas
memórias, salientando sua participação ativa nos 1º e 2º congressos nacionais de
tuberculose, frisando a homenagem que recebeu da comissão organizadora do 2º
congresso, em 1941. Concluiu o adendo reportando-se a uma longa, pertinaz e
aflitiva enfermidade que teve inicio, em 1944, com uma cirurgia de catarata. Esta
doença o forçou a renunciar, definitivamente, aos encargos de Presidente da Liga
Paulista contra a Tuberculose. Termina o adendo descrevendo o último golpe que
sofreu, quando perdeu sua filha Célia de um ataque cardíaco. São estas suas
palavras:
O fecho subitâneo de sua existência na idade apenas de 61 anos e em plena atividade
acarretará com certeza dentro em pouco o fim desta longa e acidentada peregrinação terrena.
São Paulo, fevereiro de 1945.
172
Clemente Ferreira, ainda, escreveu outro adendo, o último, às suas memórias,
em dezembro de 1945, referindo-se ao consolo de ver a expansão da luta contra a
tuberculose, finalizando-o assim:
P.S. – Nos 12 ultimos anos de minha dilatada excursão por este mundo coube-me o consolo
de vêr expandir-se o espírito de altruísmo e de solidariedade social em favor das vítimas da
peste branca, em pról de desenvolvimento dos esforços das diversas classes sociais e da
parte dos governos contra o maior flagelo das massas, cabendo à iniciativa privada eficiente
papel nessa obra benemérita, traduzindo-se por instalações e aparelhamento de vários
sanatórios e hospitaes para tuberculosos necessitados e pela aquisição e realização de novos
métodos de tratamento, principalmente no setor da cirurgia toraco-pulmonar. Assim não foi
perdida em solo estéril a semente que implantei. Custou muito a medrar – dezenas de anos-,
foi lento o seu crescimento, porém por fim floriu e frutificou para o bem e alivio do proletariado
doente, do operariado e dos necessitados empolgados pelo grande mal, abrindo-se a
perspectiva auspiciosa de dias mais promissores e de futuros triunfos sobre a maior doença,
sobre a maior calamidade medico-social. Ainda bem!
São Paulo, dezembro de 1945. Clemente Ferreira.
173
Nas vésperas de sua morte enviou ao jornal O Estado de São Paulo o artigo,
que foi publicado no dia de seu sepultamento, “A Diazona e a Estreptomicina”
174
Clemente Ferreira estava atualizado com os progressos da Medicina, pois a
estreptomicina foi o primeiro medicamento efetivo para a cura da tuberculose. Às
171
FERREIRA,
Clemente. Poesias. Op. cit., p. 120.
172
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias. Op. cit., p. 29.
173
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias. Op. cit., p.
30.
174
Jornal O Estado de São Paulo, 7 de Agosto de 1947.
98
17h do dia de seu falecimento, 6 de agosto de 1947, telefonou para a Liga Paulista
e, às 19h, morreu, deixando uma legião enorme de beneficiados, uma escola de
tisiólogos e o profundo reconhecimento dos brasileiros por sua grandiosa obra. O
Governo do Estado de São Paulo fez questão de custear suas exéquias e todos os
jornais do Estado noticiaram o passamento daquele que foi considerado o “Patriarca
da Tisiologia Brasileira”. Seus restos mortais encontram-se no Cemitério da
Consolação, em jazigo da família, no município de São Paulo.
Em 5 de Abril de 1949, no Rio de Janeiro, Clemente Ferreira (in memoriam) foi
inscrito no Livro do Mérito. Seu filho Áulio recebeu o seguinte diploma:
FIGURA 9
DIPLOMA DO LIVRO DO MÉRITO DE CLEMENTE FEREIRA
175
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
175
Presidente da República, tendo em alto apreço os merecimentos do Sr. Doutor Clemente da Cunha Ferreira e em
testemunho publico do reconhecimento nacional pela prestação de serviços relevantes para o enriquecimento do patrimônio
material e espiritual do Brasil, mandou fosse feita a inscrição do seu nome no Livro do Mérito, instituído pelo Decreto de Lei nº.
1706 de 27 de Outubro de 1930 e para constar foi passado o seguinte Diploma.
Dado no Palácio da Presidência da República no Rio de Janeiro em 5 de Abril de 1949.
Ataupho de Paiva
Eurico Gaspar Dutra
Presidente da Comissão
Presidente da República
99
2. A ESTAFANTE TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Vamos nos fazer armar cavalleiro para o mais santo dos
torneios, vamos em breve receber a investidura do divino
sacerdócio de medicina, essa missão celeste de caridade e de
amor, que tantas lagrimas enxuga, que tantas dores allivia, que
dissipa tão fundos sofrimentos (...) Aqui ouviremos o soluçar
dorido de uma esposa que nos implora um pouco de vida para
seu companheiro dilecto, para seu consocio nos prazeres e na
alegria; alli assistiremos ao soturno e travoso pranto do filho
extremoso que nos supplica a saúde para aquella que lhe deu
na flor do leite o néctar perfumoso da existência; acolá veremos
os aljôfares sentidos de pungentes lagrimas rorejando pelas
faces magoadas e empallecidas de uma noiva, que anceia
junto áquelle a quem votou as premicias de um amor ardente,
os affectos castos de um coração de virgem, e que jaz agora
no leito de morte (...) Pois bem, saibamos cumprir com rectidão
os nossos espinhosos deveres, preenchamos com rigor e
severidade as obrigações que se prendem á nossa divina
missão, desempenhemo-nos com honra e probidade da árdua
tarefa que nos vamos impor.
Clemente Ferreira
176
Clemente Ferreira iniciou sua vida profissional em Resende, seu torrão natal,
como diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia, em 1881. Foi para o Rio de
Janeiro, em 1886, e lá trabalhou como chefe da clinica de crianças, no serviço do Dr.
Moncorvo, na Policlínica Geral, até 1896, quando foi ser inspetor sanitário, em São
Paulo, como já dito. Labutou profissionalmente, no Estado de São Paulo, em duas
frentes. Em uma delas, como inspetor sanitário, pediatra e tisiólogo, de 1896, quando
foi contratado para o cargo de inspetor, até 1932 quando foi aposentado após 36
anos de serviços prestados ao Estado. Na outra frente, como tisiólogo e filantropo,
foi diretor do Dispensário-Modêlo (1904 a 1934) e Presidente Perpétuo da Liga
Paulista contra a Tuberculose (1899 a 1947), uma associação filantrópica. Por uma
questão didática descreverei, separadamente, as duas atuações.
2.1. Clemente Ferreira funcionário do Governo Estadual de São Paulo
Em outubro de 1896, Clemente Ferreira assumiu o cargo de Inspetor Sanitário
do Estado de São Paulo e foi, em comissão, combater a febre amarela que assolava
diversos municípios. No inicio de 1898, ele e o Dr. Vieira de Melo foram nomeados,
pelo Dr. Silva Pinto, Diretor do Serviço Sanitário, para acompanhar na cidade de São
Carlos, onde grassava a febre amarela, os experimentos e emprego do soro
176
FERREIRA, Dr.Clemente. Phthisica Pulmonar... Op. cit., pp.
4-5.
100
descoberto pelo professor Giuseppe Sanarelli.
177
Clemente Ferreira sempre
apresentava relatórios detalhados das comissões que desempenhava no interior do
Estado. Estes relatórios chamaram a atenção do Dr. Dino Bueno, Secretário do
Interior, por serem minuciosos e consistentes e mereceram referencias honrosas do
referido secretário. Aliás, Clemente Ferreira manejava muito bem a pena e nos legou
uma documentação preciosa de todas as suas atividades.
No final de 1898, o Dr. Silva Pinto deixou o cargo de Diretor do Serviço
Sanitário, para ocupar uma cadeira no senado estadual, sendo nomeado para o seu
lugar o Dr. Emílio Ribas
que permaneceu neste cargo até 1917. Durante os longos
anos que dirigiu o Serviço Sanitário, Emílio Ribas contou com uma equipe de peso
para auxiliá-lo. Adolpho Lutz
na direção do Instituto Bacteriógico, Arnaldo Vieira de
Carvalho na direção do Instituto Vacinogênico, Vital Brasil
na direção do Instituto
Butantã, Victor Godinho
na direção da Revista Médica de São Paulo e Clemente
Ferreira na direção da Secção de Proteção à Primeira Infância.
Depois que Emílio Ribas
assumiu o cargo de Diretor Sanitário, Clemente
Ferreira exerceu suas últimas comissões, em Itaicy e Capivary, passando a atuar na
capital. A partir de então, começou a divulgar no meio médico a idéia da criação da
“Associação Paulista de Sanatórios Populares”, para lutar contra a peste branca, nos
moldes da “Verein fuer Volkkeilstatten de Munich”. Sua atuação à frente dessa
instituição será discutida mais adiante.
Em dezembro de 1899, a Peste do Oriente,
178
que havia entrado no Rio de
Janeiro e em Santos, chegou a São Paulo. Emílio Ribas organizou o combate,
através da desinfecção nas estações das ferrovias. Clemente Ferreira, como inspetor
177
Giuseppe Sanarelli (San Savino-1864 – Roma 1940) Bacteriologista italiano fundou e dirigiu o Instituto de Hygiene
Experimental da Universidade de Montevidéo.
Fonte: http://it.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Sanarelli
Acesso
em:
3
de
abril
de
2007.
Clemente Ferreira escreveu sobre Sanarelli em: Notas Necrológicas e Elogio Histórico de destacadas personalidades médicas
“A sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo tomou a iniciativa de convidar o eminente cientista Giuseppe Sanarelli para
vir a São Paulo iniciar as aplicações terapêuticas do soro antiamarílico, que fora por ele preparado no Rio de Janeiro. (...) Em
dezembro de 1897 por determinação do Dr. Silva Pinto foi designada a cidade de São Carlos para as primeiras aplicações do
soro curativo e preventivo.
178
A peste do oriente foi o nome dado a terceira epidemia da peste bubônica ou peste negra que atacou a Europa no século
XIV dizimando cerca de 25 milhões de pessoas ou um terço de sua população. A peste do oriente ocorreu no século XIX.
Iniciou-se na Manchúria. A partir de 1855 espalhou-se por toda a China e foi disseminada através dos navios em todo o mundo,
incluindo Europa e Califórnia. Chegou ao Brasil no final do século XIX. Esta pandemia matou 12 milhões de pessoas na China e
Índia.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Peste_negra
Acesso
em:
15
de
maio
de
2007.
101
sanitário, tomou parte desse trabalho e, depois, ficou incumbido do policiamento
sanitário no distrito da Bela Vista.
Em 1902, a convite de Emílio Ribas, elaborou o trabalho intitulado
“Alimentação da Infância”. Entre as conclusões desse trabalho ele mencionou a
necessidade de estábulos higiênicos, de vacarias sanitárias e do transporte higiênico
do leite em wagons frigoríficos. Além destas conclusões, frisou a necessidade
inadiável de um serviço de inspeção de amas de leite e da urgência da promulgação
de uma lei protetora da infância, como a Lei Roussel, na França. Assinalou, ainda, a
necessidade da instalação de creches e de instituições semelhantes as “Gotas de
Leite” que se multiplicavam na França, Bélgica e Itália. Aconselhou o Governo a
tentar esta obra entre nós e indicou a Santa Casa e a Policlínica para iniciar este
Serviço.
179
Emílio Ribas, entendendo estar diante do profissional certo para iniciar um
Serviço que protegesse a criança, não teve dúvidas em convocá-lo para a
empreitada. Em 1905, solicitou sua colaboração para a criação da Secção de
Proteção à Primeira Infância (SPPI) e convidou-o para dirigi-la. A mesma era
composta pelo Serviço de Inspeção de Nutrizes e Consultório de Lactentes Filhos de
Indigentes. À frente desse Serviço, Clemente Ferreira completou-o com a instalação
de um lactário e de um laboratório de pesquisas clinicas. Com a Reforma Sanitária
de 1911, a SPPI ficou definidamente constituída e passou a funcionar com um
diretor, dois assistentes, duas enfermeiras (sendo uma visitadora), um escriturário e
dois serventes. Foi o primeiro organismo de proteção oficial à primeira infância criado
na América do Sul, pois, somente em 1908, a Assistência Pública e Administração
Sanitária de Buenos Aires e Montevidéu iniciaram serviços semelhantes, moldados
no de São Paulo.
180
Em outubro de 1905, representando o Estado de São Paulo e o Serviço
Sanitário, Clemente Ferreira viajou em companhia do Dr. Adolpho Lutz para
participar, em Paris, do Congresso Internacional de Tuberculose, como já descrito.
Esta viagem rendeu um relatório minucioso que mereceu calorosos elogios da
imprensa e do mundo médico nacional e estrangeiro. Grande parte do relatório é
ocupada pela descrição, nos diferentes países, dos consultórios de lactentes e Gotas
179
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias. Op. cit., p. 15.
180 Ibidem, p. 10 e FERREIRA, Clemente Notas Necrológicas e Elogio Histórico de Destacadas Personalidades Médicas. São
Paulo, Typographia Rossolillo, 1944, p. 18.
102
de Leite; dos parques escolares; dos jardins da infância. Há, também, no referido
relatório, conselhos para a adoção dos mesmos em São Paulo.
181
Essas organizações eram vistas como instrumentos de preservação
antituberculose e como obra de profilaxia de outras doenças da infância. Ainda neste
relatório, Clemente Ferreira recomendou a criação de cantinas escolares, de
inspeção médico-sanitária das escolas, de criação de escolas ao ar livre, de
sanatórios marítimos, de sanatórios de altitude e de sanatórios de campos para
crianças.
Ao regressar da Europa, em março de 1906, Clemente Ferreira foi convocado
pelo Dr. Emílio Ribas para fazer parte da comissão de Inspetores Sanitários
encarregados de remodelar e modernizar o Código Sanitário do Estado de São
Paulo. Nos anos de 1906 e 1907, nessa comissão, juntamente com um engenheiro
sanitário e o diretor de obras da prefeitura, atuou nesse trabalho.
182
Em 1909, viajou, mais uma vez, representando o Estado de São Paulo, em
companhia do Dr. Francisco Sodré, para conhecer a organização higiênica e
sanitária da Argentina e do Uruguai. Lá estudou, minuciosamente, os detalhes do
serviço das Ligas antituberculose e do aparelhamento das obras de assistência à
Infância. Recebido, festivamente, em Buenos Aires e Montevidéu demorou-se
durante 30 dias nessa viagem e ficou impressionado com todas as instalações
hospitalares visitadas e assombrado com o adiantamento e a superioridade desses
países visitados, em relação ao Brasil, na luta contra a tuberculose.
Em 1912, o Governo de São Paulo considerou Clemente Ferreira em
comissão para o mesmo poder participar do Congresso Internacional de
Tuberculose, que aconteceu em Roma, no mês de abril.
Como diretor da SPPI pertencente Serviço Sanitário do Estado de São Paulo,
Clemente Ferreira elaborou inúmeros relatórios insistindo: sobre a necessidade de
uma lei para proteger a primeira idade; sobre as vantagens da criação dos refeitórios
ou restaurantes maternais para mães nutrizes pobres e gestantes proletárias; sobre
a criação de consultórios de lactantes, de obras e aparelhos de puericultura e de
assistência materna e infantil. Os esforços de Clemente Ferreira para se intensificar
e ampliar a cruzada pró-infância e se alargar o SPPI foram reconhecidos pelo Dr.
181
FERREIRA, Dr. Clemente. Congresso Internacional da Tuberculose (Paris – Outubro de 1905). São Paulo, Typografia do
Diário Oficial, 1906, p. 97.
182
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 9.
103
Arruda, Diretor do Serviço Sanitário, em 1921 e 1922, que, por sua vez, conseguiu
sensibilizar o Congresso Legislativo do Estado. O Senador Rodolfo Miranda, em
1922, reproduzindo o discurso de Clemente Ferreira, proferido no ato da distribuição
dos prêmios de robustez,
183
sensibilizou o senado a acatar o apelo de votar uma lei
reorganizando e ampliando o SPPI. Após vários debates foi nomeada uma comissão
constituída pelos senadores Dr. Carlos Botelho, Pádua Salles, Oscar Rodrigues
Alves, Rodolfo Miranda e Valois de Castro, que elaboraram um relatório assentando
um plano de reorganização do referido Serviço, dando-lhe autonomia completa.
Infelizmente, este projeto de lei foi enviado à Câmara dos Deputados do Estado e lá
ficou no seio das Comissões de Higiene e Finanças sem ser convertido em lei.
184
Em 1925, tendo sido reorganizado o Serviço Sanitário do Estado, pelo decreto
nº. 3876, de 11 de julho, de acordo com as idéias do Diretor Sanitário, Dr. Geraldo
de Paula Sousa, foi extinta a SPPI. Clemente Ferreira, em suas memórias, lamenta
tal fato desta maneira:
E assim se premiaram os esforços, a atividade, a solicitude e a dedicação de longos anos, as
iniciativas oportunas e profícuas de seu diretor. Mais uma vez ficou em relevo que nada
valeram exação, devotamento e zelo pelo comprimento de deveres, amor e dedicação as
especialidades cultivadas e alicerçadas durante largo prazo em estudos e demonstrações
práticas. Os serviços de largo período de esforço, energia e competência são atirados à
margem, desprezados com a máxima indiferença em beneficio de arrivistas, de especialistas
improvisados e dos que cultúam a religião da amizade e da lisonja pessoaes.
185
Na seqüência, Clemente Ferreira foi designado pelo Dr. Valdomiro de Oliveira,
Diretor do Serviço Sanitário em sucessão ao Dr. Geraldo de Paula Souza, para o
cargo de Diretor da Secção de Profilaxia da Tuberculose (SPT), criada na ocasião.
Esse foi o primeiro organismo oficial do Governo de São Paulo para cuidar da
tuberculose. Sem verba própria, a referida Secção foi instalada, por concessão da
diretoria da Liga Paulista, no edifício do Dispensário-Modêlo à Rua da Consolação.
Clemente Ferreira, neste novo cargo, iniciou o serviço de regularização da vacina
BCG que se desenvolveu lutando contra a escassez de recursos. Foi instituída a
vacinação por via parenteral ficando a via oral para os recém-nascidos.
De 1926 a 1932, Clemente Ferreira atuou como Diretor da SPT. A mesma só
foi oficializada em 13 de fevereiro de 1931, pelo decreto 4.891 do Governo do
183
De 1915 até 1924, Clemente Ferreira, como chefe da Secção de Proteção à Primeira Infância, realizou 9 eventos para
distribuição de prêmios de robustez às crianças, no primeiro ano de vida.
FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferências... Op. cit., pp. 34-92.
184 FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 21.
185 Ibidem, p. 22.
104
Estado. Em 1932, o decreto 5.365, de 30 de Janeiro, fixou a despesa do Estado,
para o exercício de 1932, em apenas 236:500$000. A nova SPT substituía a antiga
SPPI.
186
No mesmo ano de 1932, com a idade avançada de 75 anos, sendo 36 deles
dedicados ao serviço público do Estado de São Paulo, sentindo-se cansado,
Clemente Ferreira resolveu solicitar sua aposentadoria. O Governo de São Paulo,
através do Interventor Federal, Dr. Pedro de Toledo, e seu Secretário da Educação e
Saúde Pública, Dr. José Rodrigues Alves Sobrinho, acatou sua solicitação enviando
um oficio reconhecendo o valor de seus serviços públicos prestados com tanta
dedicação e por tão longo período. Descrevo, abaixo, na íntegra, o Decreto
Governamental, de 23 de junho de 1932, concedendo aposentadoria ao Dr.
Clemente Ferreira.
O Dr. Pedro de Toledo, Interventor Federal no Estado de São Paulo, usando das atribuições
que lhe confere o Decreto Federal nº. 19328 de 11 de Novembro de 1930, artº.11, § 1º e
considerando que o Dr. Clemente da Cunha Ferreira, Diretor da Secção de Profilaxia da
Tuberculose, conta quase 36 anos de serviço publico efetivo; considerando que, durante esse
tempo, tem revelado o maior desvelo e abnegação em bem da coletividade; considerando que
tem prestado ao Estado serviços notáveis, representando-o condignamente dentro e fóra do
país, perante congressos científicos; considerando ser justo o reconhecimento pelo Estado de
sua dedicação excepcional; Resolve aposentar com os vencimentos integrais do cargo, nos
termos do artº.4º do Decreto nº.4966 de 13 de Abril de 1936, combinado com o Decreto
nº.5149 de 3 de Agosto do mesmo ano, o Dr. Clemente da Cunha Ferreira, Diretor da Secção
de Profilaxia da Tuberculose.
Palácio do Governo do Estado de S.Paulo, aos 23 de Junho de 1932.
Dr.Pedro de Toledo
Dr. José Rodrigues Aves Sobrinho.
187
Teve grande repercussão o ato governamental que concedeu a aposentadoria
ao Clemente Ferreira e vários jornais deram nota a respeito do assunto
demonstrando o apreço, o reconhecimento e a consideração que o povo de São
Paulo nutria pelo lidador da luta contra a tuberculose. O jornal O Estado de São
Paulo, assim, noticiou:
Não queremos deixar sem registro especial nem o aplauso que merece o ato do Governo de
Estado que premiou com a mais bem merecida aposentadoria o Sr. Dr. Clemente Ferreira,
Diretor da Secção de Profilaxia da Tuberculose do Serviço Sanitário. Como frisou muito bem
o Sr. Dr. Pedro de Toledo nos considerandos de que precedeu o Decreto de ante-hontem, os
serviços prestados pelo ilustre tisiólogo patrício não só a S. Paulo, mas a todo o país,
representa uma carreira de mais de sete lustros inteiramente devotada ao bem da
coletividade e à ciência. Pelo seu esforço aquele serviço atingiu entre nós uma eficiência e
um desenvolvimento que o poriam no mesmo nível das mais adiantadas organizações
186 RODRIGUES, Antonio Carlos da Gama.
Atuação do Governo do Estado na organização da Luta contra a Tuberculose no
Estado de São Paulo
. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento
do Professor Clemente Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, p.
19.
187
Fonte: Ofício enviado ao Dr. Clemente Ferreira pelo Governo do Estado de SP –
Biblioteca do Instituto Clemente Ferreira.
105
extrangeiras, se não o entravasse a escassez dos recursos com que sempre teve de lutar na
sua infatigável campanha. Pelo seu mérito cientifico a cultura brasileira teve em vários
congressos de tuberculose a mais destacada e honrosa representação. Ninguém, por certo,
em nossa terra, negará aplausos a esse ato da Interventoria Federal, pois ninguém
desconhece os esforços nem a inexcedível dedicação com que o Dr. Clemente Ferreira tem
exercido esse seu verdadeiro apostolado, desde que fundou há muitos anos o Dispensário
que hoje tem o seu nome, até o presente, em que pacientemente desenvolvida sob seu
constante e carinhoso cuidado essa Instituição faz parte do aparelhamento sanitário do
Estado.
188
Com esta aposentadoria, cessou sua atuação de funcionário público, mas
Clemente Ferreira continuou na luta à frente da LPCT e do Dispensário, além da
atuação como médico especialista, na clinica privada.
2.2. Clemente Ferreira à frente da Liga Paulista contra a Tuberculose
Após a criação da Liga Paulista, Clemente Ferreira iniciou, com a participação
de colaboradores, uma campanha de conscientização da população em relação à
profilaxia da tuberculose, através de cartazes, folhetos, livretos, palestras, etc., como
já comentado.
Em 1902, com ajuda de Victor Godinho e Saturnino da Veiga, fundou a revista
da Liga Paulista e a denominou de Defesa contra a Tísica. Fez dela uma trincheira
na luta contra a peste branca, pois através de artigos científicos e populares,
transcrição de ofícios e trechos dos relatórios das atividades realizadas pela Liga,
conscientizou a população e as autoridades sanitárias sobre a magnitude da
tuberculose e a necessidade imperiosa de combatê-la.
Abriu, com um grupo de colaboradores e com ajuda de uma subvenção
municipal, à Rua Libero Badaró, o primeiro dispensário de São Paulo que foi
festivamente inaugurado a 10 de julho de 1904, com a presença do presidente do
Estado Dr. Jorge Tibiriçá. O Dispensário chamado “Clemente Ferreira”, por sugestão
dos colegas da Liga que quiseram homenageá-lo, foi inaugurado somente três anos
depois da inauguração, em Lille, do primeiro dispensário da França, organizado por
Calmette, e chamado de “Roux”.
Em 1908, Clemente Ferreira conseguiu um expressivo auxílio financeiro do
Congresso Legislativo do Estado, através do concurso de Dr. Francisco Sodré, para
a construção de um prédio apropriado, na Rua da Consolação, a fim de instalar o
dispensário da Libero Badaró. Também, depois de longa luta e de esforços de
188
Jornal O Estado de São Paulo, 25 de junho de 1932.
106
propaganda contínuos conseguiu sensibilizar um grupo de damas paulistas para
criarem a “Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres”. Esta
Instituição, ligada ao dispensário, recebeu orientação e apoio de Clemente Ferreira
durante sua existência.
Como Presidente da LPCT e como Diretor do Dispensário, Clemente Ferreira
elaborava relatórios das atividades desenvolvidas por estas instituições. Esses
relatórios eram publicados, anualmente, em forma de livro e apresentados à
Assembléia Geral Anual. Na revista semestral, Defesa contra a Tísica, Clemente
Ferreira publicou artigos diversos com a finalidade de conscientizar os poderes
públicos e a população em geral sobre o grave problema de saúde pública que era a
tuberculose. O resumo de alguns artigos, ofícios e relatórios nos mostram a luta
travada, por ele, para a conscientização da população e dos governantes sobre a
necessidade de se criar uma consciência sanitária e de se edificar sanatórios a fim
de tratar os tuberculosos desvalidos.
No relatório da Liga de 1906, ele solicitou o isolamento dos tuberculosos nos
hospitais das Santas Casas de Misericórdia, em enfermarias apropriadas, e tratou da
indicação feita à Prefeitura Municipal sobre a urgência de se instalarem “banhos-
duxas” populares e lavanderias, anexas, como as que funcionavam na Argentina há
muitos anos. O Prefeito Antonio Prado procurou dar andamento a essas
solicitações.
Na revista Defesa contra a Tísica, de agosto a dezembro de 1906, apontou a
necessidade da educação antituberculose no meio escolar. Transcreveu o oficio que
elaborou ao Dr. Gustavo de Godoy, Secretário do Interior, solicitando que fosse
incluído esse ensino nos programas dos estabelecimentos oficiais de ensino público.
Na revista Defesa contra a Tísica, de janeiro a junho de 1907, vem transcrito o
oficio que a Liga Paulista dirigiu ao Dr. Emílio Ribas, Diretor do Serviço Sanitário, e
ao Provedor da Santa Casa de Misericórdia, da Capital, solicitando um
estabelecimento adequado para o isolamento dos tuberculosos contagiantes, em
estado adiantado da doença. Vem, também, transcrito o ofício dirigido à “Associação
Feminina de Puericultura” solicitando que a mesma se esforçasse para a instalação
de creches e salas de aleitamento destinadas à população feminina das fábricas,
para a fundação de colônias de férias em campos e no litoral paulistano e, ainda, um
107
ou mais sanatórios marítimos para meninos e meninas portadores de tuberculose
ganglionar.
189
Na revista Defesa contra a Tísica, de agosto a dezembro de 1907, vem
transcrito um oficio dirigido, por Clemente Ferreira, ao Secretário do Interior e ao
Inspetor Geral de Ensino solicitando a inclusão, nos programas das Escolas
Normais, do ensino prático da puericultura e da higiene infantil. Além desse oficio,
está publicado um artigo assinado por Clemente Ferreira recomendando a criação de
cantinas escolares para os alunos pobres e mal alimentados.
No relatório do dispensário, de 1908, Clemente Ferreira insistiu no isolamento
dos tuberculosos em estado avançado e comunicou que o dispensário iniciou,
através de seus agentes, o isolamento domiciliar desses doentes.
Na revista Defesa contra a Tísica, de janeiro a julho de 1908, Clemente
Ferreira mostrou a necessidade da higienização do leite exposto ao consumo
público, descrevendo o que se fazia em Buenos Aires. Mostrou, também, a
necessidade de se criar uma obra semelhante à “Obra Grancher”, na França, que
tinha como finalidade a preservação dos filhos de tuberculosos pobres. Essa
bandeira de luta foi vitoriosa, pois as damas paulistas, lideradas pela Viscondessa da
Cunha Bueno, levaram adiante essa idéia.
Na revista Defesa contra a Tísica, de agosto a dezembro de 1908, ele insistiu
na necessidade do ensino antituberculose nas escolas públicas e solicitou ao Dr.
Gustavo de Godoy, Secretário do Interior, a distribuição pelos grupos escolares da
Capital do Estado, do catecismo antituberculose por ele preparado e publicado.
No relatório de 1909, sobre o funcionamento do dispensário, insistiu sobre o
isolamento dos tuberculosos infecciosos e citou o exemplo da Santa Casa de
Misericórdia de Santos, que instalou um pavilhão para tratar esses doentes.
Na revista Defesa contra a Tísica, de janeiro a julho de 1909, acentuou a
necessidade de colônias escolares e na Defesa contra a Tísica, de agosto a
dezembro do mesmo ano, frisou a importância e a necessidade de escolas ao ar
livre.
No relatório de 1910, dos trabalhos do Dispensário, insistiu, novamente, sobre
a necessidade de isolar os tuberculosos pobres, pondo em relevo a grande lacuna
que existia entre o arsenal profilático e o de assistência.
189
Revista Defesa contra a Tísica - janeiro-junho de 1907.
108
Na revista Defesa contra a Tísica, de janeiro a julho de 1910, solicitou, da
Diretoria da “Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres” (OPFTP), o
gesto de fundar colônias para albergar os filhos de tuberculosos pobres e mostrou o
modo fácil de obtenção de recursos e dos locais necessários para a instalação
desses aparelhos de prevenção.
Em 1913, a OPFTP inaugurou, em Bragança Paulista, o primeiro Preventório
para albergar essas crianças.
No relatório de 1911, dos trabalhos do dispensário, insistiu sobre a urgência
da criação de hospitais especializados e de asilos para tuberculosos adiantados e
para os inválidos, e, também, falou da necessidade da notificação compulsória da
tuberculose aberta.
Nas revistas, Defesa contra a Tísica, de janeiro a julho e de agosto a
dezembro de 1912, Clemente Ferreira bateu na mesma tecla, ou seja, falou da
urgência da construção de asilos e hospitais especiais para tuberculosos
contagiantes.
No relatório de 1912, dos trabalhos do dispensário, lembrou as vantagens da
organização de um museu antituberculose, no edifício do dispensário. Neste sentido,
Clemente Ferreira solicitou aos diversos institutos de bacteriologia, de anatomia
patológica e de soroterapia a remessa de peças anatômicas, culturas, etc. Somente
o Dr. Vital Brasil, Diretor do Instituto Butantã, enviou culturas do bacilo de Koch.
Na revista Defesa contra a Tísica, de janeiro a julho de 1913, insistiu sobre as
vantagens das cantinas populares e dos refeitórios ou restaurantes para as mães
nutrizes, como havia na Europa. Falou da profilaxia antituberculose nas prisões e
descreveu o projeto de um estabelecimento de prisão-sanatório,
190
organizado pelo
sanitarista engenheiro Dr. Mauro Álvaro por incumbência dos Drs. Altino Arantes e
Sampaio Vidal, respectivamente, secretários do Interior e da Justiça. Ainda neste
número vem transcrito um oficio dirigido, por Clemente Ferreira, ao Dr. Guilherme
Álvaro, Diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, sobre um modo prático
de desinfecção dos cortiços e casas-casernas, suprimindo o aparato do expurgo
oficial, como era habitual e, assim, tornando simples e aceitável esta medida
profilática nos casos de óbito ou mudança de tuberculosos contagiantes.
190
A prisão-sanatório era um local onde os prisioneiros tuberculosos recebiam o tratamento higieno-dietético, dispensados
nos sanatórios aos tisicos. Em outros países existiram, mas no Brasil ficou apenas no projeto.
109
Na revista Defesa contra a Tísica, de janeiro a julho de 1914, Clemente
Ferreira tratou da profilaxia da tuberculose no meio operário e da luta contra a peste
branca por meio do combate ao alcoolismo e a habitação malsã. Solicitou das
autoridades municipais a instalação de lavanderias públicas para a lavagem e
desinfecção das roupas dos pectários, a fim de evitar a propagação do bacilo.
Desde 1906, e durante muitos anos, Clemente Ferreira solicitou diversas
vezes ao Conselho Municipal de São Paulo, a votação de lei referente à proibição de
escarrar no chão, no piso dos carros e locais cobertos, de freqüência popular.
Finalmente, conseguiu, graças à intervenção de um dos mais ativos conselheiros
municipais, o Dr. Marrey Junior, a aprovação de uma lei estabelecendo medidas
coercitivas do hábito de cuspir e escarrar no chão ou nos pisos dos tramways e
carros. Esta lei impunha uma multa de 10$000. Na primeira reincidência, de 50$000
e, na segunda reincidência, a prisão por 3 a 8 dias.
191
A atuação de Clemente Ferreira à frente da Liga teve grande êxito na
formação de uma consciência sobre a magnitude da tuberculose como um sério
problema de saúde pública. Além da revista e dos relatórios usados para essa
conscientização Clemente Ferreira escreveu inúmeros artigos em jornais abordando
os mesmos problemas, proferiu conferências nas mais diversas ocasiões e
diferentes lugares, publicou inúmeros artigos em revistas médicas e escreveu vários
livros. Batendo sempre na mesma tecla, conseguiu que a tuberculose fosse vista,
pelos governantes, como prioritária. Com relação aos armamentos utilizados pela
Liga, já foram objetos de estudo em capítulo anterior.
Em 1934, Clemente Ferreira, já com a idade de 77 anos, adoeceu e foi para
Santos, afastando-se da presidência da Liga durante 6 meses. Com a construção da
ala cirúrgica, anexo do dispensário, as finanças da Liga desequilibraram-se
obrigando sua diretoria transferir o dispensário, com todo o seu mobiliário, ao
Governo do Estado de São Paulo. O decreto nº. 6.715, de 29 de setembro de 1934,
autorizou o Governo a aceitar a referida doação. A mesma foi efetivada em 12 de
outubro de 1934.
192
191
Com relação a luta contra o tabaco, já no final do século XX, também, após várias solicitações dos militantes, diversas
leis, tanto na esfera municipal, na estadual e na federal, foram sancionadas proibindo o uso de cigarros em lugares públicos
como: restaurantes, escolas, hospitais, cinemas, transportes coletivos, etc.
192
RODRIGUES, Antonio Carlos da Gama.
Atuação do Governo do Estado na organização da Luta contra a Tuberculose no
Estado de São Paulo
. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento
do Professor Clemente Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, p. 23.
110
A construção e a aparelhagem do pavilhão cirúrgico, em 1933, foi uma obra
necessária para as intervenções sobre o tórax, como as frenicectomias, as
toracoplastias e outros processos cirúrgicos torácicos. Os custos desses processos
montaram a 80 contos e era preciso que a coadjuvação oficial proporcionasse mais
recursos, principalmente, levando-se em consideração que, desde 1929, a SPT
ocupava várias salas do dispensário sem nenhuma retribuição por parte do Governo.
Clemente Ferreira, em suas memórias, assim descreveu o grande abalo que sofreu
quando foi consumado o ato de transferência do Dispensário Modêlo.
Achando-me pela moléstia impossibilitado de agir, meus companheiros de administração
esmoreceram na defesa dos interesses da nossa profícua e benemérita Instituição. Bastaria
que nos fossem concedidos pelo Governo mais 3 a 4 contos por mês e cessariam nossas
dificuldades, continuando em pleno funcionamento o Dispensário com os diversos e novos
serviços. Em vês disso deliberou-se doar ao governo o nosso Instituto modelo – o Dispensário
“Clemente Ferreira” - com todas as suas instalações e aparelhamento, isto no valor mínimo
de 1200 contos, isto com a única condição de manter o Departamento Sanitário o
funcionamento do Dispensário: Foi tudo feito a minha revelia, pois achando-me
convalescente, em Santos, nem siquer fui ouvido uma só vês durante as confabulações e
conferencias entretidas por um dos vice-presidentes da Liga Paulista contra a Tuberculose
com o Diretor do Serviço Sanitário e Secretário do Interior. Consumou-se assim a enorme
lesão para a nossa Instituição, que viu-se repentinamente privada de seus meios de ação, do
seu armamento antituberculoso manejado e desenvolvido no decurso de 30 anos - 1904 a
1934. Nem siquer resalvou-se a continuação das atividades da Liga Paulista contra a
Tuberculose em dependências do Dispensário, conforme fora combinado e, em Setembro do
referido ano era o Dispensário absorvido pelo Governo do Estado, a despeito da minha
oposição, dos protestos que formulei em cartas dirigidas ao vice-presidente da Liga Paulista
contra a Tuberculose que negociara a cessão do nosso Estabelecimento. Foi para mim um
dos mais pungentes desgostos de minha existência, um dos mais violentos choques e abalos
morais sofridos.
193
Em 1934, a diretoria da Liga Paulista era constituída por: Presidente - Dr.
Clemente Ferreira; 1
o
. Vice-Presidente - Dr. Américo Brasiliense; 2
º.
Vice-Presidente -
Dr. Francisco Morato; 3
o
. Vice-Presidente - Dr. Esidio da Gama e Silva; Secretário
Geral - Dr. Marcionillo Dario Trigo; 1
o
. Secretário - Joaquim da Silva Marques; 2
o
.
Secretário - Antonio Carlos Canto Barros, Tesoureiro - Dr. Manoel Moreira de Araripe
Sucupira; Procurador Geral - Cel. José de Amorim Lima. Não ficou claro qual dos
três vice-presidentes tomou a decisão da transferência do Dispensário e por que seu
diretor não foi ouvido.
Passado o abalo, Clemente Ferreira não desanimou e a Liga abriu, em 12 de
maio de 1935, o Dispensário Infantil, na Rua Cesário Mota, nº. 15. As felicitações
recebidas por ele, vindas de tisiatras e sanitaristas de pontos remotos, por ocasião
da inauguração deste dispensário, renovaram seu ânimo e ele passou a acreditar na
193
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias. Op. cit., p. 26.
111
importância e necessidade desta instituição, como prestadora de relevantes serviços
à infância pobre e desamparada.
O Dispensário Infantil foi transferido para a Rua Rêgo Freitas, em 1937. Como
havia uma entrada pela Rua Theodoro Bayma, foi construído um Pavilhão destinado
à vacinação BCG, com acesso pela referida rua.
Em 1936, a Liga construiu um modesto Abrigo-Hospital, com 60 leitos, na
Avenida Jabaquara. Para Clemente Ferreira foi o coroamento de suas realizações.
2.3. Os tortuosos itinerários dos sanatórios
É simples o traçado itinerário. O ginete a vapor vos conduzirá
até Pindamonhangaba. Lá dous caminhos actualmente se vos
offerecem: ou seguireis a estrada de S. Antonio do Pinhal,
percorrendo assim sete e meia legoas, ou tomareis o caminho
da Serra Negra, que vos levará aos Campos, após o trajecto de
6 legoas, quando muito. O trajecto até a base da cordilheira
poderá ser feito a cavallo ou de trolly com certa facilidade. A
estrada, porém, que do sopé da serrania se estende aos
Campos, só podereis percorrer a cavallo, emquanto os
melhoramentos já iniciados não a tiverem modificado
radicalmente, tornando-a por demais commoda e amena.
Clemente Ferreira
194
Do dia 17 de julho de 1899, quando a Liga foi criada oficialmente, até a
década de 1930, quando os sanatórios começaram a brotar, vigorosos, no Estado de
São Paulo, o caminho foi longo e tortuoso. As agruras desse percurso começaram a
ser suavizadas, em abril de 1924, com a inauguração, em São José dos Campos, do
primeiro sanatório para tuberculosos pobres do Estado de São Paulo, pertencente à
Santa Casa de Misericórdia. Na seqüencia, foi inagurado pela Liga Paulista, no dia
31 de outubro de 1926, o “Sanatório São Luis”, em Piracicaba.
Sanatórios para tratar tuberculosos pobres! Este foi o sonho almejado por
Clemente Ferreira durante os longos anos em que esteve à frente da LPCT. Ele
perseguiu esta idéia, obstinadamente, enfrentando um longo e acidentado caminho.
Iniciou este trajeto, de fato, ao escrever um artigo que foi publicado no jornal O Paiz,
no dia 26 de junho de 1899, com o titulo: “OS SANATORIOS POPULARES – PARA
O ISOLAMENTO PROFICUO E O TRATAMENTO EFFICAZ DOS TUBERCULOSOS
POBRES”. Neste artigo, ao longo de uma página de jornal, mostrou o que os países
194
FERREIRA, Clemente. Campos do Jordão – Breves apontamentos sobre climatologia brazileira. Extrahído da “Revista
Médica de São Paulo”, n° 16 -31 de agosto de 1909. São Paulo, Tvp. Brazil de Rothschild &Cia., 1909.
Para escrever sobre o Clima de Campos do Jordão
Clemente Ferreira
esteve lá, durante 20
dias em 1882, e fez um dos
difíceis trajetos, acima, descritos.
112
estrangeiros estavam fazendo e o que poderia ser feito no Brasil para edificação
desses nosocômios.
195
Lutando pela ajuda dos poderes públicos e da população para construir
sanatórios, publicou, em 1900, o livro “Tuberculose e Sanatórios”.
196
Ao longo de
mais de 100 páginas, Clemente Ferreira mostrou a necessidade imperiosa de tratar
os tísicos em sanatórios, pois nos hospitais comuns, além dos tuberculosos
transmitirem o bacilo para doentes de outras patologias, não eram beneficiados com
o tratamento higieno-dietético existente nos sanatórios. Apelando para a filantropia e
a caridade escreveu:
A assistência aos tuberculosos, antes de ser uma obra scientifica e hygienica, representa um
dever de caridade, um esforço de humanidade, de piedade e commiseração por tantos
infelizes. (...). Não há coração que não vibre intensamente perante a dolorosa sorte dos
milhares de inditosos, que, á mingua de recursos, succumbem lentamente nos triclinios dos
hospitaes ou nos lôbregos recessos de seus miseráveis domicílios, reinfectando-se em larga
escala e contaminando a esposa e os filhos, já depauperados pela penúria de alimentação e
pela insufficiencia de espaço cúbico, onde se accumulam nocivamente.
197
Em seguida, comentou que a administração pública, por si só, não podia arcar
com os encargos vultosos das edificações desses sanatórios; que a iniciativa privada
devia despertar vigorosa e fecunda para contribuir e que os corações generosos
precisavam cooperar com os homens da ciência de boa vontade. Apelando para a
sensibilidade e bondade feminina, mais adiante, escreveu:
E neste particular cabe de direito ás senhoras preponderante papel, pois em tudo que se filia
a objectivos de altruísmo e de abnegação, a escopos de philanthrophia e devotamento
humanitário, o espírito feminino opera milagres pela aptidão maravilhosa a pôr em jogo os
estímulos generosos da grande massa popular e pela faculdade communicativa e
sensibilizadora, que é o apanágio da alma vibrátil e delicada do sexo frágil. Em Portugal, sob
a direcção da rainha, as damas da alta sociedade portugueza celebram reuniões, organizam
programmas e delineam planos, abrindo um caminho propicio para o êxito da campanha
antituberculosa.
198
Na Europa, os sanatórios multiplicavam-se rapidamente, principalmente na
Alemanha, desde que em meados do século XIX, Brehmer
199
iniciara o tratamento
195 O PAIZ – segunda-feira, 26 de junho de 1899.
196
FERREIRA, Clemente. Tuberculose e Sanatórios. São Paulo, Typographia Brasil, 1900.
197
Ibidem, pp. 64-65.
198
Ibidem, p. 67.
199
Brehmer, médico alemão, que sofria de tuberculose defendeu, em 1856, uma tese em que sustentava a cura da
tuberculose pelo mesmo tratamento higiênico a que se submetera. Três anos depois fundou o Sanatório de Görbersdorff, o
primeiro do mundo.
GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Tuberculose. Serviço Sanitário de São Paulo. São Paulo, Escola Typographia
Salesiana, 1899, p. 58.
113
higiênico da tuberculose que foi, posteriormente, completado por Dettweiller.
200
Outro
divulgador do tratamento higiênico foi Daremberg, médico francês, que, em 1878,
depois de passar alguns meses confinado em Paris, tratando sua tuberculose, foi
para a costa francesa do mediterrâneo e lá se curou às custas de boa alimentação,
banhos de sol e óleo de fígado de bacalhau.
O regime higieno-dietético
201
passou a ser o único tratamento empregado nos
sanatórios da Europa e dos Estados Unidos depois dos auspiciosos resultados
colhidos nos luxuosos estabelecimentos de Davos e Falkenstein, onde Brehmer e
Dettweiler inauguraram o rigoroso tratamento para doentes ricos. Victor Godinho e
Guilherme Álvaro no livro intitulado “Tuberculose” falam dos sanatórios, assim:
Os estabelecimentos destinados ao tratamento hygienico da phtisica pulmonar são chamados
Sanatórios ou Curhauss, conforme são fechados ou abertos, isto é, o doente é ou não é livre
de praticar minuciosamente o tratamento. A disciplina existente nos Sanatórios, em que ao
lado della cuidados paternaes cercam o doente, faz com que elles sejam preferidos ás
Curhauss, onde o doente passa apenas parte do dia sob a vigilância do medico. E a
disciplina, a obediência passiva ao medico, constituem as bases do tratamento hygienico da
bacillose pulmonar. (...) Para felicidade, porém, do phtisico, para allivio e garantia da
sociedade, o tratamento da moléstia, esboçado há dous mil annos por Hypocrates e
completado e praticado de 1859 para cá por Brehmer, Dethweiller, Daremberg, e tantos
outros paladinos da cruzada humanitaria, está hoje consagrado pela experiência salutar de
tantos annos de sucesso.
202
Entretanto, quem primeiro preconizou o tratamento higieno-dietético foi a
enfermeira inglesa Florence Nightingale.
203
Cansada dos medicamentos receitados
pelos médicos para a sua tuberculose ela foi viver ao ar livre, alimentando-se bem e,
com isso, curou-se. O Dr. Bennet, também tuberculoso, seguiu seu exemplo e curou-
se. Ele publicou a observação de Florence e a sua própria cura, encontrando
ardentes partidários.
204
200
“As primeiras sugestões sobre o sanatório foram de Brehmer, mas as bases cientificas foram propagadas por Dettweiller,
que lutou durante 20 anos para impor suas concepções”.
ROSEMBERG, Jose. “Tuberculose...” Op. cit., p.18 .
201
O regime higieno-dietético consistia em repouso, alimentação e clima.
202 GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Tuberculose. Serviço Sanitário de São Paulo. São Paulo, Escola Typographia
Salesiana, 1899, p. 57.
203 Florence Nightingale (12 de Maio 1820, Florença - 13 de Agosto 1910, Londres) foi uma enfermeira britânica que ficou
famosa por ser pioneira no tratamento a feridos de guerra, durante a Guerra da Criméia. Também contribuiu no campo da
Estatística, nomeadamente na criação de sistemas de representação gráfica como o gráfico setorial (comumente conhecido
como gráfico do tipo "pizza").
Sua família, rica e bem-relacionada, vivia em Florença, na Itália. Por isso, Florence recebeu o
nome em inglês da cidade em que nasceu. Moça brilhante e impetuosa, rebelou-se contra o papel convencional para as
mulheres de seu status, que seria tornar-se esposa submissa, e decidiu dedicar-se à enfermagem.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Florence_Nightingale
Acesso
em:
11
de
maio
de
2007.
204
GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Tuberculose. Op. cit., p. 58.
114
O tratamento higieno-dietético à base de repouso, alimentação e clima não
era novidade no século XIX. As referências sobre o tratamento da tísica durante as
civilizações hindu e persa e, depois, com Hipócrates e Galeno passando pelas
escolas de Cós e Cnide, na Grécia, e as escolas de Salermo, em Roma, e
Montpelier, na França, mostram que o clima, o repouso e a alimentação sempre
foram preconizados.
205
Até meados do século XIX, os climas das regiões praianas e
dos campos foram os mais indicados. A partir de então, o clima frio das montanhas
passou a ser visto como o mais apropriado para a cura dos tuberculosos. Criou-se a
mística das montanhas, iniciando-se a fase sanatorial de isolamento dos pectários.
206
Clemente Ferreira, no capítulo de seu livro, “Tuberculose e Sanatórios”,
intitulado “Instalação de sanatórios suburbanos para o tratamento de tuberculosos
indigentes”, disse que a cura dos tuberculosos pobres, em domicílio, na capital de
São Paulo, era absolutamente impraticável e que somente em hospitais
especializados o tratamento higieno-dietético poderia ser posto em prática. Mostrou
que a eficácia destes estabelecimentos foi demonstrada pelos resultados colhidos
nos sanatórios para os ricos e que, por isto, as associações beneficentes, as
corporações médicas, as comissões filantrópicas da Alemanha, Dinamarca, Áustria e
França movimentaram a opinião pública em favor da criação de sanatórios para
tuberculosos pobres. Assim, auxílios foram angariados de particulares e dos poderes
públicos e construídos sanatórios em Grabowsée, perto de Berlim; em Ruppertshein,
junto a Frankfort; em Alland perto de Viena; em Hauteville, perto de Lion; em
Angicourt, nos subúrbios de Paris e em outras localidades. Lamentando a situação
do Brasil, assim, se expressou:
Entre nós, peza-me dizel-o, tudo está por fazer, e neste particular a philantropia e os
sentimentos altruístas assistem inertes e indifferentes ao abandono cruel dos phthisicos nos
hospitaes geraes, em cujas enfermarias, deitados junctos aos leitos dos enfermos de outras
affecções, elles arrastam ás vezes o prolongado curso da sua terrível moléstia. (...) Nem
pavilhões especiaes, nem isolamento methodico: a maior parte succumbe mesmo em seus
domicílios á mingua de recursos therapeuticos, baldos de um tractamento hygienico efficaz e
com plena liberdade de infeccionar todos os que com elles cohabitam.
207
Para dar relevo a magnitude da tuberculose, mostrou que só o Estado de São
Paulo pagava um tributo anual de 1.500 a 2.000 vidas e que a capital sofria um
desfalque de 400 a 500 pessoas, por ano. Lamentou a falta de sanatórios no Estado
205
ROSEMBERG, José. ”Tuberculose....” Op. cit. pp. 14-15.
206
BERTOLLI FILHO, Cláudio. Op. cit., p. 89.
207
FERREIRA, Clemente. Tuberculose e Sanatórios. Op. cit., p. 11.
115
e disse existir apenas o de Campos do Jordão que, mesmo sem os atributos
essenciais dessas instituições, só podia ser usado pelos tísicos abastados.
208
Campos do Jordão, situado na serra da Mantiqueira a 1.628 metros acima do
nível do mar, tinha fama de curar a tuberculose por seu clima que nada ficava a
dever ao dos Alpes Suíços Europeu. Em 1880, para escrever sua tese “Phthisica
pulmonar”, Clemente Ferreira lá esteve, pela primeira vez, estudando seu clima e
constatando seus efeitos benéficos no tratamento da tísica.
O clima para ser ideal, dizia Fonssagrives, precisava ter certas características
como: temperatura moderada, ausência de oscilações bruscas, diferenças térmicas
pequenas e graduais entre as estações, fraco grau higrométrico, poucas
tempestades, pouco vento, ausência de tufões, um solo seco, não retendo umidade,
um céu sereno e um local pitoresco.
209
Tudo isto podia ser encontrado em Campos
do Jordão e, além disso, Clemente Ferreira constatou que lá existiam habitações em
grande número podendo acomodar muitos doentes. Verificou que o benemérito Sr.
Matheus da Costa Pinto, importante fazendeiro da região, era o responsável pelos
melhoramentos e progressos da localidade. Além das casas, por ele construídas,
constatou que existiam dois hotéis e uma casa de saúde.
Deve-se ter em mente que, em 1880, não se conhecia a etiologia da
tuberculose e achava-se que só o clima, acompanhado de uma boa alimentação e
do repouso, curava a tísica. Além disso, não havia sido desenvolvido o tratamento
higieno-dietético por completo o que aconteceu após a descoberta do bacilo, em
março de 1882.
Neste mesmo ano de 1882, Clemente Ferreira esteve pela segunda vez em
Campos do Jordão, durante 20 dias, de 26 de janeiro até 15 de fevereiro, estudando,
novamente, o afamado clima e comparando-o com o seu primeiro estudo. Nesta
ocasião escreveu “Breves apontamentos sobre a climatologia brazileira –
Contribuição para o valor profilático e curativo do clima dos Campos do Jordão.”
210
Em Campos encontrou 30 doentes e constatou que todos estavam se beneficiando
do clima. Concluiu suas observações mostrando que não era apenas pela altitude
que o clima agia na tuberculose, mas por um conjunto de fatores. Assim escreveu:
Porém, essa acção prophylactica e therapeutica dos climas das montanhas existe sempre e é
devida única e exclusivamente ao elemento altitude em si? A observação clinica responde
208 Ibidem, p. 12.
209
FERREIRA, Dr.Clemente. Phthisica Pulmonar. Op. cit., pp. 377-378.
210
FERREIRA, Clemente. Campos do Jordão... Op. cit., 1909.
116
negativamente. É necessário que, com a altitude, marche de par um certo grupo de condições
climatericas, o que nem sempre succede. (...) Á altitude devem-se pois associar certas
condições thermicas, como – differenças pouco sensiveis entre a temperaura mínima e
máxima do anno e dos mezes, entre as temperaturas extremas dos dias e entre as
temperaturas medias do dia e da noite (...) alem disso devemos exigir um gráo hygrometrico
pouco elevado e ausência de oscillações hygromericas súbitas e consideráveis, pureza
perfeita da atmosphera, poucos ventos, grande numero de dias sem chuva, ausência de
florestas densas nas circumvisinhanças, etc.
211
Neste segundo estudo, Clemente Ferreira observou que o clima de Campos
do Jordão era excelente, mas para que a incipiente estação sanitária fosse perfeita
precisava possuir predicados higiênicos e terapêuticos. As instalações eram
precárias e as casas lá existentes, destinadas a receber os doentes, violavam os
preceitos da higiene. Assim descreveu as habitações:
Com effeito, habitações acanhadas e divididas em compartimentos pequenos e exíguos, sem
a cubagem necessária, mal ventiladas, onde o ar penetra em columnas, expondo os doentes
a resfriamentos sucessivos; cozinhas sem chaminés, de sorte que os gazes provenientes da
combustão de lenha se espalham pelos aposentos e pelas salas, impurificando a atmosphera
e entravando a regularidade das funcções hematosicas; sem um local para o despejo do lixo
e das matérias fecaes; sem escoamento para as águas servidas.
212
Com a descoberta do bacilo, os estudos sobre o tratamento da tuberculose
tomaram novo rumo, priorizando-se a higiene, a alimentação e o repouso em
Sanatórios ditos fechados, em detrimento do clima. No final dos oitocentos, os
estudos na Europa evidenciaram que a importância do clima era relativa e que o
mesmo funcionava, apenas, como um adjuvante no tratamento da tísica. A partir de
então, os tisiólogos europeus passaram a construir sanatórios, nos arredores das
grandes cidades, para os tuberculosos indigentes, pois facilitaria o deslocamento dos
mesmos. Por isso, a Liga Paulista tinha como objetivo construir, pelo menos, um
sanatório nos arredores da capital de São Paulo.
No Brasil, existiam, no final do século XIX, muitas casas de saúde com o
nome de “sanatórios”, principalmente, no Estado de Minas Gerais. Em Barbacena
tinha uma que foi inaugurada por volta de 1880 e dirigida pelos Drs. Gonçalves
Ramos e Rodrigues Caldas. Essa casa de saúde foi considerada, por Victor
Godinho, o primeiro sanatório do Brasil, apesar de não ter sido um verdadeiro
sanatório na acepção da palavra. Outro “sanatório”, fundado em 1890 pelo Dr.
Olegário Ribeiro de Castro, ficava há 500 metros da cidade de Oliveira.
213
211
Ibidem, pp. 12-13.
212
Ibidem, pp. 27-28.
213
GODINHO, Victor. “A luta anti-tuberculosa no Brasil”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):67-78, Nov. de 1902, pp. 74-76.
117
Todos esses “Sanatórios” eram destinados aos doentes abastados enquanto
os pobres só dispunham de insuficientes enfermarias nas Santas Casas de
Misericórdia e muitas não eram especificas só para os tísicos. A Liga Paulista, que
tinha como principal objetivo construir sanatórios populares, não esmoreceu e, em 31
de agosto de 1901, Clemente Ferreira enviou, em nome da mesma, às
Municipalidades e às Santas Casas das diversas localidades do interior do Estado,
uma circular solicitando verbas para a concretização do tão almejado sanatório.
Abaixo um trecho desta circular:
O sanatório é a solução única e indispensável do problema premente da cura da tuberculose,
o mais terrível flagello da humanidade, o mais activo factor do despovoamento das nações.
(...) Sanatório installado fora das agglomerações urbanas, mas nas proximidades dellas, de
maneira a se gozar de um ar expurgado das impurezas da atmosphera urbana, e dotado de
todas as condições que os mestres da phthisiologia e da phthisiotherapia tem estatuído como
attributos essenciaes a estabelecimento dessa ordem.
214
Evocando ser a fundação de um sanatório para os tuberculosos pobres, obra
benemerente e filantrópica, disse, na circular, ser um dever social e altamente
patriótico, mas por exigir somas avultadas era indispensável o concurso da iniciativa
privada e dos poderes públicos. Solicitou auxilio material para que a Liga dotasse o
Estado de São Paulo de um sanatório perfeitamente aparelhado para o tratamento
dos tísicos pobres de todos os municípios. Finalizando a circular, acrescentou:
As municipalidades e as administrações das santas casas, que concorrerem com uma quota
annual qualquer para tão philanthropico e hygienico objetivo, terão direito a um ou mais leitos
no Sanatório, os quaes se distinguirão pela denominação das diversas localidades, que
tiverem collaborado para a grandiosa obra humanitária.
215
Inicialmente, algumas municipalidades e mesas administrativas das Santas
Casas corresponderam, positivamente, a referida solicitação, como as de: São José
dos Campos, Socorro, Espírito Santo do Pinhal, Botucatu e Araras. Posteriormente,
outros municípios responderam, afirmativamente, mas essas verbas foram
insuficientes para o desiderato.
No começo do século XX, a tuberculose era considerada um flagelo mundial,
pois causava devastações em todos os países. Só a Europa e a América viam
desaparecer, anualmente, dois milhões, trezentos e quatorze mil e cento e oitenta e
oito indivíduos consumidos pelo bacilo de koch. A mortalidade em todo o globo era
de 6.824.801 pessoas. Portanto, a cada dia sucumbiam 18.698, a cada hora 779 e a
214
CIRCULAR: “Appello ás Municipalidades... Op. cit., pp.
33-34.
215
Ibidem.
118
cada minuto 42 pessoas. A imensa hecatombe causada pela tuberculose fazia com
que, anualmente, a Alemanha pagasse um tributo de 90.000 vidas, a França de
150.000, a Áustria-Hungria de 140.000, a Rússia de 250.000, a Inglaterra de 80.000,
a Itália de 40.000, a Bélgica de 15.000, o Uruguai de 1.305, a Argentina de 8.000 e o
Brasil de 59.000.
216
Em Piracicaba, desde 1902, um grande movimento ocorria para a construção
de um sanatório. Este movimento foi encabeçado por médicos, farmacêuticos e
filantropos. Sua idéia pertencia ao Dr. Joviniano Reginaldo Alvim, auxiliado pela
família do Barão de Resende, especialmente por sua filha Lydia de Souza
Resende.
217
Em 17 de janeiro de 1904, Clemente Ferreira proferiu uma conferência
na referida cidade com o titulo de: “Tuberculose e armamento antituberculoso”.
Enalteceu a dona Lydia Resende pelo pioneirismo da cruzada humanitária que a
mesma levava com a finalidade de construir o Sanatório “São Luis” e fez alusão a
força das mulheres nas cruzadas humanitárias dizendo:
A vossa intervenção benéfica há de constituir lição eloqüente e sugestiva que, estou certo,
arrastará no movimento evangelizador uma plêiade augusta de gentis representantes do
vosso sexo, e ninguém desconhece a influencia onipotente e preponderante da interferência
feminina nas grandes causas sociaes, nas magnas epopéas humanitárias e civilisadoras.
218
Falando sobre os atributos dos sanatórios, no tratamento dos tuberculosos,
frisou que o clima já era considerado elemento de segunda ordem, pois os
resultados terapêuticos eram iguais nos sanatórios das montanhas e das planícies,
nos climas mais úmidos ou secos, em qualquer latitude e em zonas temperadas ou
frias. Mostrou os seguintes resultados de um estudo feito em Berlim com 6 mil
doentes tratados em sanatórios: De cada 100 doentes havia no final do tratamento:
67,3% completamente capazes de reassumir suas atividades profissionais; 17,1%
capazes de assumir outras profissões; 14,6% parcialmente capacitados para o
trabalho; 11,0% incapazes de trabalhar. Com relação à cura da tuberculose: 87,7%
tiveram alta, curados ou melhorados; 8,8% não melhoraram; 3,1% pioraram; 0,5%
morreram.
219
216
FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias... Op. cit., pp. 14 e 15.
217
NOTICIAS – “Sanatório São Luiz, em Piracicaba”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):42-49, Nov. de 1902, pp. 86-89.
218
FERREIRA, Clemente. Conferencia realizada no salão do Clube Piracicabano no dia 17 de Janeiro de 1904, tendo por
têma: “Tuberculose e armamento antituberculoso”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias... Op. cit., p. 31.
219
Ibidem, pp. 29-30.
119
Deve-se levar em conta que esses resultados foram obtidos em sanatórios
altamente preparados para o tratamento dos tuberculosos, com todo o rigor do
tratamento higieno-dietético.
Na Inglaterra, por volta de 1904, efervescia um movimento em favor dos
sanatórios e vários deles estavam funcionando, ou em construção, nas seguintes
localidades: Dundaee, Nottingham, Derbyshire, Yorkshire, Perth, Glascow,
Edimburgo, Worcestershire, Cheshire, Clifton, Lancashire, North Devon, Londres (o
grande sanatório do Rei Eduardo), Dublin, Westmorland. Na França, além dos de
Hauteville, Angicourt e Bligny para os tuberculosos necessitados, outros sanatórios
estavam em via de construção. No Canadá e nos Estados Unidos 38 sanatórios
estavam franqueados aos tuberculosos. Na América do Sul, as Ligas lutavam para a
edificação dos mesmos.
220
Os sanatórios eram construídos seguindo três sistemas diferentes: o de
Brehmer-Dettweiler - um só edifício de grandes proporções, o de Trudeau –
pequenos pavilhões separados e o de Knopf – grandes pavilhões reunidos por meio
de galerias envidraçadas. Cada um deles trazia vantagens e desvantagens, mas o
de Knopf era o preferido, pois não apresentava a desvantagem daquele de um
edifício único, ou seja: o acúmulo de doentes e nem a da difícil vigilância médica
sobre os doentes, naqueles sanatórios de pequenos pavilhões separados como o
Adirondack Cottage Sanatorium, nos Estados Unidos.
221
A peça mais importante do sanatório era a galeria de cura, uma varanda
disposta de uma maneira que permitisse a cura de ar e de repouso. A galeria devia
ter, pelo menos, quatro metros de largura, a fim de poder comportar a instalação de
cadeiras de repouso e uma pequena mesa para cada doente. O comprimento
variava com o número de doentes de cada pavilhão. Geralmente a galeria era
protegida por um teto de telhas ou vidros e fechada, lateralmente, por divisões de
madeira ou vidros e cortinas para abrigar o tuberculoso do sol ou vento. A parede
anterior era sempre de vidro formado de peças que podiam ser abertas ou fechadas
em caso de chuvas. Nos sanatórios luxuosos, como o de Beelitz, as cadeiras,
também chamadas de chaises-longues, eram separadas por meio de um anteparo
móvel de tela impermeável, para proteger os doentes contra as gotículas
procedentes da tosse do vizinho.
220
FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias... Op. cit., p. 21.
221
Ibidem. p. 27.
120
A alimentação era considerada um fator essencial do regime dos sanatórios.
Sempre variada e abundante, pois, segundo Dettweiler, a cozinha era a farmácia do
sanatório. Um tuberculoso que se alimentava bem era um doente de
restabelecimento seguro. A disciplina e a direção médica competente eram
perseguidas nos sanatórios, pois o mesmo tinha que ser um estabelecimento
asséptico, fechado e disciplinado.
O regime nestes sanatórios era rigoroso e tudo era voltado para o êxito do
tratamento higieno-dietético. Victor Godinho e Guilherme Álvaro, descreveram como
era o referido tratamento no Sanatório de Falkenstein, na Alemanha:
No dia da chegada vae logo o doente visitar o medico Director. No dia seguinte um conselho
medico, composto do medico e dous assistentes, visita o doente, ausculta-o. examina-o
detalhadamente.
(...) As analyses dos escarros e da urina completam o exame clinico.
Em geral, no primeiro mez, o doente recebe, ainda deitado, ás 7 horas da manhã, uma fricção
secca feita com panno áspero. No mez seguinte a fricção é feita com álcool fino, depois com
álcool e água e por fim no 4º mez com água fria, applicada com luva de crina. As effusões
frias, emfim, conduzem á hydrotherapia. Ás 8 horas da manhã o doente levanta-se e vae ao
refeitorio tomar em commum o primeiro almoço, indo em seguida passeiar à floresta ou
estender-se na sua cadeira de repouso (chaise longue). Entre o segundo almoço (10horas) e
o jantar (1hora), sessão de cura ao r livre. Das 2 horas ás 7 ½
da tarde, o doente não
abandona a cadeira de repouso, tomando nas galerias a refeição das 4 horas. Após a ceia o
doente faz nova sesta nas galerias, sesta que finda ás 10 horas da noite, quando todos se
recolhem. Os doentes encontrados fora dos aposentos depois de 10 horas soffrem multa.
Todos os mezes o enfermo é pezado, seus escarros analysados, e si há necessidade
também a urina. As visitas médicas são feitas aos doentes diariamente. (...) Como
medicamentos são usados os antithermicos, para os febricitantes; os revulsivos, para as
crises agudas da moléstia. (...) Ao apparecer o inverno alguns doentes usam inhalações de
menthol, que se desprende de tecido poroso collocado no interior de um tubo metallico curvo,
cujas extremidades são introduzidas nas narinas. Junte-se a isso a recommendação de não
escarrar no chão, em parte alguma, medida que desobedecida leva a exclusão do
estabelecimento; o uso de escarradeiras de bolsos, a disciplina da tosse, a alimentação
methodica, etc., e teremos resultado o regimen geral dos sanatórios para phtisicos.
222
Sabe-se que a tuberculose não é uma doença letal em 100% dos casos. Na
sua história natural, 50% dos tuberculosos vão à óbito, 25% curam expontaneamente
e 25% cronificam. Ela pode ser curada em qualquer fase, desde que o organismo
esteja com seu sistema imunológico atuante. Nos sanatórios o repouso e a dieta
favoreciam a cura por ativarem o sistema imunológico do doente. Sem dúvida, o
tratamento praticado nesses nosocômios aumentava o percentual de curas, porém
era um tratamento prolongado e rigoroso. Além disso, os sanatórios tinham um
importante papel no controle da transmissão da tuberculose por isolar os bacilíferos
e, com isso, quebrar o elo de transmissão. Era, então, o meio mais eficaz de curar e
controlar a tuberculose.
222
GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Tuberculose. Op. cit., pp. 60-62.
121
Clemente Ferreira redigiu centenas de oficios aos seus superiores solicitando
a construção de um sanatório para tuberculosos indigentes. Escreveu dezenas de
artigos em jornais e em revistas médicas falando da importância e da necessidade
do mesmo. O caminho percorrido pela Liga, para este desiderato, foi, realmente,
tortuoso e, somente graças a dona Lydia Resende, de Piracicaba, a Liga pôde
inaugurar, em 1926, o Sanatório São Luis. Porém, ele teve vida curta, fechando
suas portas, em 1931, por falta de verbas, como já comentado. A luta de Clemente
Ferreira em busca de sanatórios não foi em vão, pois eles, a partir de então,
começaram a brotar em todo o Estado.
O primeiro sanatório para tuberculosos pobres de São Paulo foi o “Vicentina
Aranha” pertencente à Santa Casa de Misericórdia e inaugurado, em abril de 1924,
em São José dos Campos. Com o correr dos anos esta cidade concentrou
sanatórios, pensões e repúblicas para tuberculosos. Em 1930, São José dos
Campos tinha 8 mil habitantes e albergava cerca de 2 mil tuberculosos. Possuia
quatro sanatórios sendo três beneficentes e um particular.
223
Entre eles, o Sanatório
Ezra, da Associação Israelita com cerca de 50 leitos gratuitos e o Sanatório das
Pequenas Missionárias de Maria Imaculada.
Campos do Jordão foi outra cidade que tornou-se uma verdadeira tisiópolis.
Em 1929, foi inaugurado o Sanatório São Paulo e o Sanatório Divina Providencia;
em 1931, foi inaugurado o primeiro Sanatorinho (sanatório popular) e, em 1933, o
segundo; em 1932, o Sanatório Maria Imaculada começou a funcionar; em 1933,
foram inaugurados o Sanatório Santa Cruz e o Abrigo S. Vicente de Paula e, em
1934, o Sanatório da Sociedade dos Chauffeurs de São Paulo. Outros foram
inaugurados como: Sanatório da Santa Casa de Misericórdia e Sanatório Ebenezer
do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro. Inúmeras pensões para tuberculosos
brotaram em Campos do Jordão.
224
Entre 1938 e 1941, periodo em que Adhemar de Barros foi nomeado, pelo
presidente Getúlio Vargas, interventor federal no Estado de São Paulo a tuberculose
recebeu, por parte do Governo, atenção especial. Desenvolveu-se um ardoroso
movimento na assistencia hospitalar ao tuberculoso indigente. Na capital de São
Paulo foi inaugurado o Sanatório Infantil “Dona Leonor de Barros”, com 250 leitos
para crianças tuberculosas, e o Hospital Sanatório “Dr. Adhemar de Barros”, com
223
ROSEMBERG, José. ”Tuberculose...” Op. cit., p. 20.
224 FERREIRA, Clemente. Posse... Op. cit., pp. 39-41.
122
142 leitos, no bairro do Mandaqui. Além desses sanatórios, a capital contava, neste
periodo, com o pequeno Abrigo-Hospital “Clemente Ferreira”, de 60 leitos,
inaugurado e mantido pela Liga Paulista desde 1937; com o Hospital Sanatório “São
Luiz de Gonzaga”, em Jaçanã, com 104 leitos, da Santa Casa de Misericórdia de
São Paulo, pioneira esforçada e campeã operosa, nas palavras de Clemente
Ferreira; com o hospital da Assistencia Vicentina, com 54 leitos.
225
No inicio da década de 1940, o Estado de São Paulo dispunha para
hospitalização dos tuberculosos pobres de: 610 leitos na capital e de 770 leitos no
interior do Estado, havendo na capital um déficit de 1.390 leitos e no interior de 3.230
leitos. Quando entrassem em funcionamento os leitos que estavam sendo
preparados,
226
a capital passaria a ter 1.410 leitos e o interior 2.150 leitos. Portanto,
o déficit seria de 590 leitos na capital e de 1.850 leitos no interior.
O número de leitos ideal para tuberculosos, em uma determinada região, era
calculado baseado nos óbitos causados pela doença na mesma região. Um leito
para cada óbito era o padrão utilizado na Europa e Estados Unidos. Aqui no Brasil, o
mesmo padrão foi perseguido e, apesar de toda a luta para construção de
sanatórios, sempre houve grande deficiência de leitos.
Os sanatórios brotaram em todo o país a partir da década de 1930. O Distrito
Federal, que já contava com pavilhões para tuberculosos pobres no Hospital São
Sebastião, construiu, por iniciativa do Dr. Ary Miranda, cinco hospitais-abrigo em:
Amorim, Bangú, Jacarepaguá e Retiro Saudoso. Três deles foram transformados nos
hospitais “Torres Homem”, “Miguel Pereira” e “Pedro de Almeida Magalhães”. Na
década de 1940, foi construido, pela União, o Sanatório de Jacarepaguá. Nas
décadas de 1930 e 1940, foram construidos e inaugurados, também pela União, os
sanatórios de: Niterói, Vitória, Recife, Maracanaú (Ceará), Belém, Natal, Maceió,
225
FERREIRA, Clemente. “Profilaxia da tuberculose – Post- assistência e readaptação profissional”. In: FERREIRA, Dr.
Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, p. 40.
226
“O Governo do Estado, em conjugação de esforços e colaboração financeira das Prefeituras das diversas zonas, está
construindo e vai construir 3 grandes hospitais-sanatórios regionais, um em Sapecado para 300 leitos, um em Rubião Junior
para 400 leitos, e o 3º em S. Roque para 300 leitos, e em S. José dos Campos está em via de edificação adiantada um Abrigo-
Hospital, para 120 leitos, denominado “Abrigo Adhemar de Barros” por esforço de uma Associação não oficial, subvencionada
com 100 contos. Em Ribeirão Preto, prepara-se o Abrigo “Anna Diederichsen”. A Santa Casa de Misericórdia desta capital, tem
há mais de um ano, prontos para receber fimáticos pobres 200 leitos em magníficas enfermarias dispostas em um novo pavilhão
do Hospital S. Luiz de Gonzaga, e 100 no Sanatório “Vicentina Aranha”, em São José dos Campos”.
FERREIRA, Clemente. “Profilaxia da tuberculose – Post- assistência e readaptação profissional”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Estudos e Conferencias... Op. cit., p.
41.
123
Porto Alegre, Bahia, Aracajú, São Paulo, Belo Horizonte e Manaus, totalizando 3.298
leitos.
227
Participando das comemorações do centenário de nascimento de Clemente
Ferreira, em setembro de 1957, o Secretário de Saúde Pública e Assistência Social
do Estado de São Paulo, Prof. Dr. Antonio Carlos da Gama Rodrigues, proferiu uma
conferência intitulada: “Atuação do Governo do Estado na Organização da Luta
contra a Tuberculose no Estado de São Paulo”.
228
Nesta conferência ele fez um
balaço dos armamentos que o Governo contava para combater a tuberculose
naquele momento e como eles foram criados desde que o Governo, em 1931, criara
oficialmente a “Secção de Profilaxia da Tuberculose do Serviço Sanitário”.
229
O primeiro Sanatório criado pelo Governo do Estado, através do decreto de
nº. 9.566, de 27 de setembro de 1938, foi o Hospital Sanatório do Mandaqui, com 86
leitos, que ao longo dos anos foi-se ampliando para, em 1954, 364 leitos. Em 14 de
agosto de 1945, foi inaugurado o hospital da Divinolândia, com 300 leitos. Em 1946,
a Divisão de Tuberculose por entendimento com a Santa Casa de Santos instalou o
hospital “Soter de Araújo”, com 200 leitos e que ruiu no desabamento de “Monte
Serrat”, em 1947, e o Hospital Guilherme Álvaro com 150 leitos também em Santos.
Em 22 de maio de 1950, foram inaugurados 200 leitos no Sanatório-Colônia Santa
Rita do Passo Quatro e, em 1952, mais 232 leitos, em Bauru, com convenio com a
Campanha Nacional Contra a Tuberculose. Em 1953, mais 50 leitos, em Sorocaba.
227
Ibidem, p.
39.
228
A Liga Paulista contra a Tuberculose contando com o patrocínio do Governo do Estado e o apoio da Academia de
Medicina de São Paulo, da Federação de Entidades de Luta Antituberculose de São Paulo, da Associação Paulista de
Moléstias Pulmonares, do Departamento de Tisiologia e Moléstias Pulmonares da Associação Paulista de Medicina, do Centro
de Estudos dos Médicos da Divisão do Serviço de Tuberculose de Estado de São Paulo e do Centro de Estudos da Cátedra de
Tisiologia da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo realizou uma série de conferências sobre
Clemente Ferreira, como parte das comemorações do seu centenário de nascimento,
em
29
de setembro de 1957.
LIGA PAULISTA CONTRA A TUBERCULOSE. Comemorações em São Paulo do 1° Centenário de Nascimento do Professor
Clemente Ferreira 1857-1957. São Paulo, Tipografia Edanne S. A., 1957, p.
19.
229
Em 27 de Setembro de 1938, o novo decreto governamental de nº. 9.568 organizou a Secção de Tuberculose que passou
a ser da Divisão Técnica do Departamento de Saúde do Estado. Nesta ocasião a capital de São Paulo contava apenas com dois
dispensários para tuberculosos: o do Instituto Clemente Ferreira e o da Moóca.
Com a criação da Divisão do Serviço de Tuberculose, pelo decreto de nº. 14.223 de 11 de outubro de 1944, foi ampliada a
Secção de Tuberculose que a partir de então passou a ser composta por: Instituto de Pesquisas “Clemente Ferreira”, Serviço de
Dispensário e Ambulatórios, Serviços de Hospitais, Secção de Administração. Por este novo decreto todos os hospitais de
tuberculose passaram a ser subordinados a Divisão do Serviço de Tuberculose. Pelo regulamento da Divisão, de 1950, existia
na capital de São Paulo 5 dispensários e 20 no interior, além do Dispensário-Modêlo e do Instituto Clemente Ferreira. Em 1957,
já eram 12 dispensários na capital, dos quais dois de entidades particulares, e 29 no interior.
124
Estavam em construção, em 1957, 4 imensos hospitais: Lins, Araraquara, Rubião
Junior e Catanduva. Cada um planejado para 600 leitos.
230
Apesar da construção desses sanatórios ter causado polêmica no meio
médico, pelos custos vultosos que acarretavam, os sanatórios foram de grande
utilidade para o controle da tuberculose em uma fase que não havia tratamento
eficiente para combatê-la. O isolamento de pectários, nesses nosocômios, foi
fundamental para que a doença não se propagasse livremente, além de ser a única
maneira de curar os inditosos tísicos. A mortalidade teve queda importante na
Europa e nos Estados Unidos graças a enorme rede de sanatórios existentes nessas
regiões. A Inglaterra viu o número de vitimas reduzir-se de 180 por 100.000 a 130
por 100.000, no período decorrente de 1886 a 1897, e a Alemanha, de 310 por
100.000 a 216 por 100.000, no mesmo período.
231
Sem dúvida a melhoria das
condições de vida dessas populações teve papel importante na queda da
mortalidade, como também a educação sanitária das mesmas, mas o peso maior foi
dado pelo isolamento dos doentes bacilíferos nos sanatórios, pois quebrava o elo de
transmissão da doença.
No Brasil, infelizmente, os sanatórios só foram erigidos 40 anos depois da
Europa e Estados Unidos causando pouco impacto na redução da mortalidade já
que, no final dos anos 40 e inicio dos 50 do século XX, entraram em cena as
poderosas drogas quimioterápicas: Isoniazida, streptomicina e o ácido-
paraminosalicílico. A referida trinca causou queda brusca da mortalidade por
tuberculose, mas os sanatórios tiveram papel relevante no tratamento de doentes
carentes, em nosso país.
Finalmente, a luta contra a tuberculose tornou-se vitoriosa, porém a doença
recrudesceu e ainda persiste como sério problema de saúde pública em nosso meio.
Os sanatórios perderam suas funções e muitos foram transformados em hospitais
gerais, pois o tratamento da tuberculose passou a ser feito em domicílio e a ter curta
duração.
230
Ibidem, pp. 23-24.
231
FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias... Op. cit., p. 15.
125
3. O DESMONTE DA QUERELA ENTRE CLEMENTE FERREIRA E EMÍLIO RIBAS
Pesquisadores do Instituto Pasteur, em Paris, dizem ter achado evidências
de que a tuberculose afetaria os seres humanos e seus ancestrais há
milhões de anos. Veronique Vincent e seus colegas chegaram à hipótese
investigando bactérias próximas das que normalmente causam a doença
na África Ocidental. Depois de comparar esses micróbios com o causador
usual da tuberculose, eles concluíram que ambos descendem de um
ancestral comum, que teria existido há 3 milhões de anos naquela mesma
região africana, antes, acreditava-se que a tuberculose tivesse surgido há
apenas 35 mil anos.
232
Clemente Ferreira, seis anos e meio mais velho do que Emílio Ribas,
233
manteve com este relacionamento profissional e de amizade. Ambos foram
contratados como inspetores sanitários do Estado de São Paulo, por ocasião da
reorganização do Serviço Sanitário. Clemente Ferreira foi nomeado, no ano de 1896,
a convite de seu amigo e conterrâneo Rodolfo Miranda, deputado federal, que
solicitou sua nomeação a Campos Salles, então Presidente do Estado de São Paulo,
como já comentado. Emílio Ribas foi nomeado, em 11 de setembro de 1895, pelo Dr.
Silva Pinto, então Diretor do Serviço Sanitário.
234
Ambos, no inicio de suas atividades como inspetores sanitários, foram
comissionados para atuar no interior de São Paulo no combate à febre amarela.
Emílio Ribas nos municípios de Rio Claro e Jaú e depois em Araraquara e
Pirassununga
235
e Clemente Ferreira em Casa Branca, Rio Claro e depois em
Sorocaba. Ambos foram elogiados pela participação nesta árdua função. Emílio
Ribas foi louvado pelos bons serviços prestados, em oficio de abril de 1896, pelo Dr.
232
Da Associated Press - Folha de São Paulo, 20 de agosto de 2005.
233
Emílio Marcondes Ribas - (Pindamonhangaba, 11 de abril de 1862 — São Paulo, 19 de fevereiro de 1925) foi um
sanitarista brasileiro. Trabalhou no combate a epidemias e endemias, tendo criado o Instituto Butantan entre outros órgãos
públicos de saúde pública. Um dos bravos e incompreendidos sanitaristas brasileiros do fim do século 19 e início do século 20
que, juntamente com Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Vital Brasil e Carlos Chagas, lutaram para livrar a cidade e os campos da
epidemias e endemias que assolavam o país. Era formado em Medicina pela faculdade do Rio de Janeiro (1887). Guiado
apenas pela intuição, Emílio Ribas combateu a febre amarela, exterminando com êxito o mosquito transmissor da doença (hoje
conhecido por Aedes Aegyptii) nas cidades paulistas de São Caetano, Pirassununga, Pilar, Campinas e Jaú, o que lhe valeu a
nomeação, em 1898, para diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo. Sofreu forte oposição dos que acreditavam que
a doença era transmitida por contágio entre pessoas e para provar que esta tese estava errada, deixou-se picar pelo inseto
contaminado, junto com os colegas Adolfo Lutz e Oscar Moreira. Foi a partir da contaminação de Ribas que Oswaldo Cruz
empreendeu a eliminação dos focos de mosquito no Rio de Janeiro. Ribas foi fundador do Instituto Soroterápico do Butantã,
construído numa fazenda nos arredores de São Paulo, e colaborou para a fundação do Sanatório de Campos do Jordão para
tratamento da tuberculose.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlio_Ribas
Acesso
em: 19
setembro
de
2007.
234
FERREIRA, Clemente. Notas Necrológicas... Op. cit., p.
10.
235
Ibidem.
126
Silva Pinto, e Clemente Ferreira foi louvado, por seus relatórios minuciosos e
consistentes, pelo Secretário do Interior Dino Bueno.
Em 1898, Emílio Ribas foi nomeado pelo Presidente do Estado, Dr. Peixoto
Gomide, para dirigir o Serviço Sanitário. Sua escolha deu-se graças à sua
competência e ao seu desempenho na direção dos trabalhos realizados para o
saneamento de Campinas. Segundo Clemente Ferreira, estava o Presidente do
Estado contratando um homem excelentemente talhado para o preenchimento do
relevante cargo. Assim, Emílio Ribas foi nomeado em abril de 1898, tomando posse
a dois de maio do mesmo ano. Permanecendo no cargo até 1917, e debelando as
chamadas doenças pestilenciais, foi responsável direto pelo período considerado a
“Era de Ouro” do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo.
236
A tuberculose, entre as doenças que grassavam na época como: febre tifóide,
febre amarela, varíola, peste bubônica, lepra, etc., mereceu, também, as atenções
de Emílio Ribas. Assim, em 1898, ele solicitou que os Drs. Victor Godinho e
Guilherme Álvaro elaborassem um opúsculo sobre a mesma e os meios mais
eficazes de combatê-la.
237
O próprio Clemente Ferreira, no elogio que fez a Emílio
Ribas, assim se expressou:
A tuberculose, o magno e tremendo flagelo social, mereceu, desde os primórdios de sua
administração técnica, desvelados cuidados, e pouco depois de haver assumido a direção do
Serviço Sanitário confiava o Dr. Emilio Ribas aos Drs. Victor Godinho e Guilherme Álvaro a
honrosa tarefa de estudarem e proporem medidas higiênicas necessárias para a profilaxia da
tuberculose e de seu tratamento cientifico. (...) Organizou anos após com o concurso do
engenheiro salubrista Augusto Fomm tipo ideal de sanatório para tuberculosos, de teto móvel,
podendo ser inundado a vontade pelo sol, o grande esterilizador e microbicida do germe de
Koch.
238
Emílio Ribas viu em Clemente Ferreira o líder natural para levar adiante a luta
contra a tuberculose. Em 1905, o encaminhou, como representante do Governo de
São Paulo, ao Congresso Internacional de Tuberculose em Paris e, como já dito, em
1913, por ocasião da inauguração do Dispensário-Modêlo da Rua da Consolação
236
Ibidem, p. 11.
237
Pertence ao Dr. Ribas a iniciativa de um trabalho de propaganda que o Dr. Guilherme Álvaro e eu escrevemos e do qual
o governo mandou tirar 10.000 exemplares. Estes foram remettidos ás Câmaras Municipaes para distribuição gratuita, assim
como outra edição de 120.000 exemplares das conclusões, que tiveram idêntica circulação
.
GODINHO, Dr.Victor. Sanatórios e Tuberculose. Op. cit., p. 53.
238
FERREIRA, Clemente. Notas Necrológicas...Op.
cit., pp. 18-19.
127
proferiu discurso profetizando que aquele dispensário seria um dos alicerces sobre o
qual deveria surgir, no futuro, a organização da luta antituberculose.
239
Emílio Ribas viu, também, em Clemente Ferreira o profissional mais indicado
para dirigir um serviço de proteção à infância, que planejou criar no inicio de sua
gestão. Para isto, o convidou a elaborar, em 1902, um trabalho intitulado
“Alimentação da Infância”, como já comentamos. Assim, em 1905, criou e convidou
Clemente Ferreira, para dirigir à “Secção de Proteção à Primeira Infância”. Serviço
pioneiro, desse gênero, na América do Sul.
É interessante notar como nem Emílio Ribas e nem Clemente Ferreira ficaram
conhecidos por tamanha realização. Emílio Ribas passou para a história como um
dos maiores sanitaristas brasileiros por ter conseguido, entre outros feitos, mostrar o
agente transmissor da febre amarela e por ter debelado esta doença em tão pouco
tempo. Clemente Ferreira passou para a história como o Patriarca da Tisiologia
Brasileira, por ter, à frente da Liga Paulista contra a Tuberculose, encabeçado a luta
no país. Entretanto, a importância desses dois gigantes sanitaristas para a
puericultura é indiscutível. O aleitamento materno, a primeira atenção aos lactentes,
a vacinação pelo BCG nos recém-nascidos, a criação das creches, dos bancos de
leites, dos consultórios de nutrizes, etc., contribuíram de maneira espetacular para a
queda da mortalidade no primeiro ano de vida. A meu ver são ações que, apesar de
extremamente relevantes, não têm grande visibilidade por não chamarem atenção da
sociedade.
Cláudio Bertolli Filho em sua tese de doutorado intitulada “História Social da
Tuberculose e do Tuberculoso: 1900-1950” relata um entrevero que houve entre
Clemente Ferreira e Emílio Ribas por causa, entre outras, da construção do caminho
de ferro entre os municípios de Pindamonhangaba e Campos do Jordão. Tentando
compreender melhor o que realmente se passou entre eles, até porque o Bertolli
afirmou que não ficaram claros os motivos que alimentaram o referido conflito,
240
fiz
um levantamento dos fatos acontecidos.
Quando Emílio Ribas, em 1898, assumiu a diretoria do Serviço Sanitário de
São Paulo, Clemente Ferreira encontrava-se, individualmente,
sensibilizando seus
pares para a criação de uma associação beneficente de luta contra a tuberculose
239
ROSEMBERG, José. “Aspectos atuais da luta...” Op. cit., p. 84.
240
BERTOLLI FILHO, Cláudio. Op. cit., p. 145.
128
(Liga Paulista).
241
Emílio Ribas estava consciente do problema da peste branca e, no
mesmo ano, convocou Victor Godinho e Guilherme Álvaro para estudarem e
elaborarem um opúsculo sobre esta doença, como já mencionado. Aliás, a
preocupação da diretoria do Serviço Sanitário em relação à peste branca era antiga
e começou com os relatórios desta diretoria muitos anos antes.
242
A idéia de Emílio Ribas, ao solicitar dos dois inspetores sanitários a
elaboração do opúsculo, era educar a população para conhecer e combater a peste
branca (educação sanitária) e sensibilizar os poderes públicos para edificar
sanatórios. No oficio encaminhado ao Secretario do Interior, Dr. José Pereira de
Queiroz, em 29 de março de 1899, apresentando o referido opúsculo, Emílio Ribas,
assim, se expressou:
Apresento-vos o bem elaborado relatorio que os Drs. Victor Godinho e Guilherme Alvaro, de
accordo com as minhas determinações fizeram. – É um trabalho de propaganda - escripto
para o povo. É preciso que se faça uma larga publicação do mesmo, para que sejam colhidos
os effeitos humanitarios desta orientação, e estou convencido que se approvardes este meu
alvitre, tereis prestado um relevantissimo serviço á saúde publica – offerecendo ao povo a
opportunidade de saber que a tuberculose é uma moléstia faccilmente evitável e
perfeitamente curável. No tocante ao tratamento, o ideal é o hygienico – a cura ao ar livre,
obtida nos sanatórios convenientemente situados e dirigidos. A utilidade destes
estabelecimentos está hoje fóra de duvidas na Europa e Estados Unidos, pela procura dos
mesmos, apesar da obrigada e severa disciplina hygienica que nelles se nota. (...) Estou
convencido que no nosso Estado existem pontos que realizam perfeitamente as condições
climatericas exigidas para installação de sanatórios e oxalá que o Governo ou uma empresa
particular effetuasse desde logo este tentamen, para servir de escola, de núcleo á
estabelecimentos congêneres que se tivessem de edificar nas differentes zonas de S.
Paulo.
243
Os dois autores dividiram o trabalho em duas partes. Na primeira tratam da
transmissibilidade da tuberculose e na segunda de sua curabilidade. Para falar da
curabilidade eles evocaram o tratamento higieno-dietético, em voga na época, e
descreveram como ele era praticado nos sanatórios espalhados pela Europa e
Estados Unidos. Em uma das quinze conclusões finais, eles falam dos sanatórios
como locais ideais para o referido tratamento, mas que o mesmo poderia ser
realizado nas moradias dos tuberculosos desde que nelas existissem as condições
dos sanatórios.
A phtisica póde ser curada em qualquer altitude, nos climas de montanhas como a beira do
mar. Cura-se mais facilmente nos sanatorios onde o doente ouve, a cada instante, conselhos
dos médicos, conselhos que é obrigado a seguir á risca, e onde elle aprende por disciplina, ou
pela imitação dos outros doentes, a só fazer o que convem ao seu tratamento. Entretanto, o
241
GODINHO, Dr.Victor. Sanatórios e Tuberculose. Op. cit., p. 4.
242
Ibidem.
243
GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Tuberculose. Op. cit., p. 4.
129
phtisico póde curar-se em sua casa, desde que a transforme em um pequeno Sanatorio, ou
desde que faça e use nella tudo o que teria de fazer e usar no Sanatorio.
244
A meu ver não estavam os dois sanitaristas, com esta conclusão,
desestimulando a edificação de sanatórios pelos poderes públicos, mas como eles
inexistiam em São Paulo, era aconselhável que os tísicos procurassem seguir o
regime de tratamento vigente nos sanatórios, em seus domicílios. Mesmo porque as
conclusões eram conselhos dados aos tísicos e não aos poderes públicos. Ao
encaminhar o relatório aos poderes superiores é que Emílio Ribas estimula a
edificação de sanatórios.
Em 1899, no mesmo ano da publicação deste trabalho, a 17 de julho, foi
criada a “Associação Paulista de Sanatórios Populares para Tuberculosos” (Liga
Paulista), com apoio de Emílio Ribas (Vice-Presidente Honorário)
245
tendo na
presidência Clemente Ferreira e na vice–presidência Victor Godinho. Os três eram,
portanto, aliados. Aliás, Victor Godinho durante muitos anos foi vice-presidente da
Liga e, juntamente com Clemente Ferreira, fundador da Revista Defesa Contra a
Tísica (órgão oficial da Liga Paulista). Além disso, Victor Godinho fez parte, com
Clemente Ferreira e Miranda Azevedo, do grupo comissionado pela Sociedade de
Medicina e Cirurgia de São Paulo, em julho de 1899, para estudar as propostas,
apresentadas por Clemente Ferreira, da criação da Liga Paulista.
246
Vale lembrar que a Liga Paulista contra a Tuberculose não pertencia ao
Serviço Sanitário, por tratar-se de uma sociedade beneficente que fora criada sob os
auspícios da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Contava, é verdade,
com a participação de médicos, muitos deles inspetores sanitários, e de profissionais
de outras áreas da ciência, mas era uma instituição autônoma. Um dos seus
244
Ibidem, p. 85.
Em 1902 Victor Godinho já tinha mudado de idéia com relação ao tratamento higieno-dietético em domicílios. Escreveu um
artigo que foi publicado na Revista Defesa contra a Tísica em que coloca: “O Sanatorio fechado por uma disciplina rigorosa,
collocado sob a direcção e immediata vigilância de um medico ao mesmo tempo energico e insinuante, apostolo convencido da
cura hygieno-dietetica, representa hoje o único meio efficaz e certo de obter-se a cura da tuberculose. No seio da família não se
consegue a mesma disciplina, a mesma regularidade das refeições, a boa escolha das iguarias, a observância do repouso
durante o numero de horas que o tratamento exige e a mais ousada exposição à cura, quase permanente, do ar livre. A
assistência domiciliar ao tuberculoso dará, portanto, resultados inferiores aos dos Sanatorios e si, por ventura esse resultado for
muito
abaixo da expectativa geral dos doentes, pode até comprometter na opinião publica os créditos do methodo
therapeutico”.
GODINHO, Dr. Victor. “Dispensarios para tuberculosos”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(1): 9 de Maio de 1902.
245
Jornal O Paiz, São Paulo, 15 de Agosto de 1900.
246
Jornal O Paiz, São Paulo, Junho, 1899.
130
principais objetivos era a construção de pelo menos um sanatório, nas cercanias de
São Paulo, com o apoio dos poderes públicos como consta no parágrafo 4º de seus
estatutos.
4º Promover quanto antes a instalação de um ou mais sanatórios de preferência nas
proximidades da capital e das cidades mais populosas do Estado, solicitando para esse fim
dos poderes públicos e dos governos municipaes recursos pecuniarios para a sua fundação e
custeio.
247
Em 1900, Clemente Ferreira escreveu um livro intitulado “Tuberculose e
Sanatórios” em que, aparentemente rebatendo as idéias de Victor Godinho e
Guilherme Álvaro, mostra não ser viável o tratamento domiciliar dos tuberculosos.
Demonstrou que a profilaxia da peste branca, nas residências, era de difícil
execução já que sua transmissão se dava, também, pela tosse, fala e espirro do
tuberculoso e não só pelo escarro como os cientistas acreditavam até então.
248
Além
disso, nas moradias dos tuberculosos pobres, geralmente cortiços, era impossível
aplicar o tratamento higieno-dietético. Assim, ele escreveu:
De facto, a cada accesso de tosse, quando espirra, quando falla, o phymatoso envia a 10
metros de distancia, às vezes, partículas liquidas baciliferas, as quaes são em extremo
perigosas visto como transportam o gérmen (...) O tuberculoso não é unicamente perigoso
pela sua expectoração, elle o é também, e talvez mais, pella sua presença. (...) Sendo, pois, o
tuberculoso uma fonte de perigos, cumpre afastal-o, necessario se faz sequestral-o da
companhia dos indivíduos são; em uma palavra, o seu isolamento se impõe como garantia
prophylactica. O isolamento domiciliar é, porém, uma illusão, principalmente nas classes
pobres. As occasiões de contagio se reproduzem e as desinfecções esterilizadoras dos
vehiculos dos germens dos elementos de contaminação são de difficil execcução. Dahi a
necessidade da creação de hospitaes de isolamento ou de pavilhões separados nos
hospitaes communs.
249
Além destas considerações, Clemente Ferreira comentou que o tuberculoso
precisava de tratamento adequado, em sanatório, por tratar-se de um ser humano
247
RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., p.
64.
Sobre a intenção da Liga Paulista contra a Tuberculose construir pelo menos 1 sanatório popular nas cercanias de São Paulo
ver: FERREIRA, Clemente.
Minhas Memórias... Op. cit., p. 14;
ALMEIDA, Marta de. República dos Invisíveis... Op. cit., p. 262.
e FERREIRA, Clemente. Tuberculose e Sanatórios. Op. cit., p. 12.
248
Desde que os estudos e experimentos de uma pleiade de emeritos investigadores assentaram de vez o papel saliente do
contagio da tuberculose e a efficacia transmissora dos escarros baciliferos, medidas coercitivas foram propostas no sentido de
afastar ou de attenuar as ocasiões de contaminação. A guerra ao escarro tornou-se o mote obrigatório, e como o perigo
principal reside na expectoração deseccada, transformada em poeira secca bacilifera, considerou-se e recomendou-se como
precaução fundamental recolher-se o escarro em um vaso contendo liquido simples ou bactericida e ahi mantel-o encarcerado
e innocuo até a sua destruição. Porém, como muito bem disse Netter, a defesa contra o bacillo não se reduz a uma simples
questão de regulamentação de escarradeiras, por isso que se a inhalação das poeiras seccas póde ser perigosa, muito mais
nociva é, segundo as pesquizas de Flügge, a poeira liquida que o tuberculuso a cada instante projecta ao redor de si
.
FERREIRA, Dr.Clemente.Tuberculose e Sanatórios. Op. cit., p. 4.
249
Ibidem, pp. 4-5.
131
doente e não apenas de um transmissor de bacilos. Entendendo a impossibilidade
momentânea da construção deste tipo de hospital em Campos do Jordão, por falta
de uma ferrovia, ele preconizou que o mesmo fosse construído nos arredores de São
Paulo. Escreveu:
Porém o tuberculoso não é só um individuo perigoso que é preciso seqüestrar para a garantia
da collectividade; ele é também um doente que devemos tratar e curar se possível fôr. (...) Se
uma ferro-via encurtasse a distancia que nos separa de Campos do Jordão, tornando-os
assim accessiveis aos inditosos tísicos, nenhum outro local levaria vantagem a essa
verdadeira jóia climática; indiscutivelmente ahi se installaria um excellente sanatório. O seu
afastamento, porém, e a falta de transporte tolerável a enfermos da espécie de que se tracta,
não permittem que se cogite por ora disso. (...) Não é empreza em extremo árdua a
installação de um sanatório suburbano exclusivamente destinado aos tuberculosos
indigentes. Não acarreta sacrifícios de nota a creação de um estabelecimento constituído,
modesta, mas confortavelmente, á pequena distancia da capital e com facil transporte.
250
Ao que parece, Emílio Ribas levou em consideração as orientações de
Clemente Ferreira sobre a construção do sanatório nas cercanias de São Paulo,
pois, logo em seguida, em meados de 1900, enviou o Dr. Victor Godinho, inspetor
sanitário e diretor da Revista Médica de São Paulo, para Europa a fim de conhecer
as localizações e funcionamentos dos sanatórios. Victor Godinho permaneceu
durante, aproximadamente, 12 meses visitando vários sanatórios na Alemanha,
França e Suíça. Ao retornar escreveu um livro intitulado “Sanatórios e Tuberculose”
que foi publicado pelo Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, em 1902. Na
introdução, escrita em 20 de Julho de 1901, comentou:
No presente estudo, para evitar repetições inúteis, descreveremos apenas alguns dos
sanatorios que visitamos, preferindo os typos principaes: Falkenstein e Gorbio, para
tuberculosos abastardos; Hauteville e Angicourt para tuberculosos pobres; (...) estudaremos o
desenvolvimento da tuberculose em São Paulo, occupando-nos do clima do Estado, no intuito
de saber si se pode construir um Sanatório nos arredores de S. Paulo.
251
Victor Godinho constatou que as grandes cidades européias possuíam
sanatórios em suas cercanias e concluiu que São Paulo poderia construir seu
sanatório, como Clemente Ferreira preconizava. Assim escreveu:
As grandes capitaes européas construíram seus sanatórios nas zonas mais visinhas, sem
preocupação de clima. Berlim tem perto os Santorios de Grabwsee, Blankenfeedine,
Malchow; Paris o de Angicourt; Viena tem o de Alland construído com o intuito de servir de
modelo nos futuros Sanatórios austríacos; New-York os Sanatórios de Adirondak e o
Sanatório Pasteur. São Paulo precisa ter em seus arredores o Sanatório modelo para o
Estado. (...) A nossa attenção foi despertada para S. Roque, localidade perto da Capital.
252
250
FERREIRA, Dr.Clemente.Tuberculose e Sanatórios. Op. cit., pp.
6 e 12.
251
GODINHO, Dr.Victor. Sanatórios e Tuberculose. Op. cit., p. 5.
252
Ibidem, p. 71.
132
Ora, a idéia de instalar um sanatório nos arredores de São Paulo partiu de
Clemente Ferreira e estava sendo estudada pela diretoria do Serviço Sanitário. Isto
significa que se houve discordância quanto à localização do sanatório esta foi
superada após o retorno de Victor Godinho da Europa. A Liga pretendia instalar um
sanatório nas cercanias de São Paulo, para facilitar o transporte dos tuberculosos
pobres, mas precisava de subvenções do Governo. Por outro lado, Victor Godinho
achava que a iniciativa da construção do sanatório deveria partir do Governo,
provavelmente, porque contava com mais recursos para a empreitada. Assim, mais
adiante, ele escreveu:
Em São Paulo pensamos que o exemplo tem de partir do Governo. A hygiene paulista que
tem conseguido attrahir para o Estado fama e glorias, não estará completa senão depois de
erguidos, pelo menos um Sanatório modelo para tuberculosos e um leproseira.
253
Vejo aí uma discordância, pois Clemente Ferreira queria que o sanatório fosse
criado por iniciativa da Liga, mas com subvenções do Governo e Victor Godinho
achava que o sanatório deveria ser edificado e dirigido pelo Governo.
A intenção da construção do Sanatório, no inicio do século XX, não saiu do
papel,
talvez por falta de verbas, pois até na Capital da República não foi possível tal
realização. O próprio Victor Godinho no seu livro “Sanatórios e Tuberculose”
comentou que o Brasil por ser um país agrário não poderia contar com a ajuda
financeira dos trabalhadores da indústria como acontecera na Alemanha em que,
rapidamente, dezenas de Sanatórios foram construídos. Assim ele se reportou:
Allemanha pôde apresentar na Exposição Universal de Paris a lista dos seus 41 Sanatorios.
Atualmente tem 64 Sanatorios, 43 funccionando e 21 em construção. A França não tem a lei
do seguro obrigatório como a Allemanha e por isso só tem 3 Sanatorios. (Angicourt, Hauteville
e Ciaiez) Total – 280 leitos – França e 5.571 leitos – Allemanha. Na Suissa os primeiros
Sanatórios foram devidos á iniciativa particular. (...) No nosso paiz que é quase
exclusivamente agrícola seria impraticavel o systema que cobriu a Allemanha de sanatórios.
O operario da lavoura, sobretudo em S.Paulo, não tendo grande estabilidade não acceita os
ônus de um contracto de quem não conta tirar vantagens. Em nenhum outro paiz agrícola se
poderia conseguir o que obteve a Allemanha. Foi a industria, com suas agglomerações
operárias que permitiu á Allemanha resolver o problema social da tuberculose.
254
As divergências de opiniões sobre a localização do sanatório e de quem
deveria partir a iniciativa de construí-lo, não trouxe grandes conseqüências, já que
nada foi concretizado.
255
O relacionamento entre Clemente Ferreira e Emílio Ribas
253
Ibidem, p. 51.
254
Ibidem, pp. 50-51.
255
A Liga Paulista contra a Tuberculose só conseguiu inaugurar um sanatório em
31
de outubro de 1926.
Foi o Sanatório São
Luís, em Piracicaba, e
para
isso
teve que contar com
a coadjuvação do Presidente do Estado de São Paulo, Dr. Carlos de
133
continuou cordial, pois, em 1902, a convite de Ribas, Ferreira elaborou um trabalho
intitulado “Alimentação da Infância” e, em 1905, foi convidado pelo primeiro para
dirigir a “Secção de Profilaxia à Primeira Infância”. Neste mesmo ano Emílio Ribas
facilitou a viagem de Clemente Ferreira para Europa a fim de participar, como
representante do Estado, do Congresso Internacional de Tuberculose, em Paris, e
estudar os armamentos da luta contra a peste branca que lá se desenvolviam, como
já comentamos. Ao regressar da Europa, em 1906, Ferreira foi convocado por Ribas
para fazer parte da Comissão de Inspetores Sanitários encarregados de remodelar e
modernizar o Código Sanitário do Estado de São Paulo.
Em 1907, na Exposição Internacional de Higiene, realizada em Montevidéu, a
Liga Paulista participou, apresentando fotos, diagramas e quadros estatísticos, ao
lado das instituições do Serviço Sanitário de São Paulo como: o Instituto
Vacinogênico, o Instituto Soroterápico Butantã, o Desinfectório e o Hospital de
Isolamento.
256
Este fato é mais uma evidência do bom relacionamento que existia
entre Ribas e Ferreira, pois graças ao primeiro a Liga Paulista e seu presidente
participaram deste evento. Em 1909, Clemente Ferreira foi comissionado, mais uma
vez, por Emílio Ribas, para estudar as organizações higiênicas e sanitárias de
Buenos Aires e Montevidéu.
Em 1908, Emílio Ribas foi designado pelo Governo para ir aos Estados
Unidos e Europa a fim de estudar a profilaxia da tuberculose. Quando voltou teve a
idéia de estabelecer, em Campos do Jordão, sanatórios para pectários e uma vila
climatérica.
257
No ano de 1909, as discussões sobre essas edificações foram
Campos.
Este
sanatório
que havia sido construído por Dona Lídia Resende e a população de
Piracicaba estava, há anos, sem
verbas para
abrir as portas
e
foi
doado à Liga
que o inaugurou em 1926, mas fechou suas portas, 6
anos depois, por falta de
recursos.
FERREIRA, Clemente. Posse... Op. cit., pp.
28-29.
A Liga conseguiu inaugurar,
também, um Abrigo-Hospital no Jabaquara, de 60 leitos para tuberculosos
graves indigentes, no
dia 30 de Dezembro de 1937.
FERREIRA, Clemente. Minhas Memórias... Op. cit., p. 27.
O Governo do Estado inaugurou o seu primeiro Sanatório, o Hospital Sanatório do Mandaqui, com 86 leitos, através do decreto
nº. 9.566 de 27 de setembro de 1938.
LIGA PAULISTA CONTRA A TUBERCULOSE. Comemorações em São Paulo do 1° Centenário de Nascimento do Professor
Clemente Ferreira 1857-1957. São Paulo, Tipografia Edanee S. A., 1957, p.
24.
256
ALMEIDA, Marta de. “São Paulo na virada do Século XX: um laboratório de Saúde Publica para o Brasil”
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/tem/v10n19/v10n19a06.pdf
Acesso
em:
22
de
setembro
de
2007.
257
“Em 1912, decidido a algo empreender de prático e eficiente em favor da assistência aos tuberculosos, dirigia-se em
colaboração com o Dr. Victor Godinho ao Congresso Federal solicitando favores para a conveniente instalação na admirável
instancia climática dos Campos do Jordão, desde longo tempo conhecida, mas não aproveitada, de sanatórios para tuberculosos
134
calorosas. É interessante observar que a Revista Médica de São Paulo nº. 16, de 31
de Agosto de 1909, dirigida por Victor Godinho, publicou o livro escrito, em 1883, por
Clemente Ferreira, intitulado “Campos do Jordão – Breves apontamentos sobre
climatologia brazileira”. Logo na primeira página foi escrito:
Projectando-se actualmente a construção de Sanatórios para tuberculosos e uma Villa
climaterica de altitude em Campos do Jordão, pareceu-nos util reproduzir aqui o trabalho do
illustre tisiólogo Dr. Clemente Ferreira, sobre o clima daquella região. O folheto do Dr.
Clemente Ferreira foi publicado em 1883 e a sua edição está inteiramente exgotada,
desejando muitos clínicos conhecer a competente opinião do distincto profissional.
258
Emílio Ribas resolveu estabelecer, primeiro, uma estrada de ferro para facilitar
o transporte dos pacientes. Para isto, requereu e a Câmara Municipal de São Bento
de Sapucaí, comarca da qual Campos do Jordão fazia parte, concedeu-lhe o
privilégio, por 30 anos, para estabelecer a estrada.
259
A Revista Archivos de Hygiene e Saúde e Publica, publicada em 1936, em
matéria intitulada “Notas Biográficas de Emilio Ribas”, assim descreve sua batalha,
ao lado de Victor Godinho, para concretizar a estrada de ferro:
Foi esse o primeiro passo para levar avante aquella obra gigantesca. Continuou a lucta, deu o
segundo, terceiro, emfim todos os passos para pôr em execução a sua idéa. Trabalhou com
todo o esforço ao lado do dr. Victor Godinho, - outro batalhador esforçado, pertinaz, operoso e
emprehendedor e ambos tinham a certeza da victoria. De facto - tudo conseguiram: -
privilégios, capitaes, garantia de juros, e dentro de poucos mezes a locomotiva “Dr. Prudente
de Moraes”, que aqui soltou o seu primeiro apito annunciando a partida em demanda da
alterosa Mantiqueira, sulcou vertiginosa derrubando mattas, despedaçando penhascos,
abrindo emfim o caminho por onde a humanidade soffredora devia passar, em busca
daquellas deliciosas e encantadoras paragens.
260
A mesma revista traz artigo intitulado “Emilio Ribas e a Estrada de Ferro
Campos do Jordão”, assinado por Athayde Marcondes, em que ele descreve
detalhes da construção da estrada de ferro:
Graças porém aos esforços ingentes do dr. Emilio Ribas e dr. Victor Godinho temos a
satisfação de ver realizada essa aspiração que veiu poderosamente contribuir para o
progresso de Pindamonhangaba. O Congresso do Estado, attendendo ao que lhe requereram
aquelles operosos facultativos, solicitando favores para a construcção da desejada estrada,
com privilegio de 15 kilometros para cada lado do eixo da linha e garantia de juros de 5%
sobre o capital de 3 mil contos.(...) Os concessionarios organizaram a Sociedade anonyma
e de uma vila sanitária destinada aos fracos e convalescentes, juntando um memorial justificativo; São notórios os esforços que
envidou e a intensa campanha junto aos poderes públicos e aos capitalistas bem orientados e filântropos esclarecidos para dotar
aquele clima soberbo – a verdadeira Suíça brasileira – de instalações e estabelecimentos corretamente aparelhados para a cura
dos doentes dos pulmões.”
FERREIRA, Clemente. Notas Necrológicas... Op. cit., p.
19.
258
FERREIRA, Clemente. Campos do Jordão... Op. cit., p.
3.
259
“Notas Biographicas de Emilio Ribas” In: Archivos de Hygiene e Saúde Publica. Anno 1, nº. 1, Jun. de 1936, p. 41.
260
Ibidem, p. 42.
135
“Estrada de Ferro Campos do Jordão” com o capital de 2 mil contos, representando quase o
valor da concessão e convidaram o operoso e activo empreiteiro Sebastião de Oliveira
Damas.
261
No ano da construção da Estrada de Ferro, 1912, Clemente Ferreira foi
considerado, novamente, em comissão, por Emílio Ribas, para participar do
Congresso Internacional de Tuberculose, em Roma. Isto demonstra que se houve a
querela por conta da construção da estrada de ferro ela não impediu que Emílio
Ribas facilitasse a viagem de Clemente Ferreira.
Clemente Ferreira à frente da “Secção de Proteção à Primeira Infância”
manteve com Emílio Ribas, diretor do Serviço Sanitário, estreito relacionamento
profissional. Emílio Ribas não só o apoiou como o manteve neste cargo durante
todos os anos em que esteve à frente do Serviço Sanitário. Depois que Ribas se
ausentou do cargo, em 1917, Clemente Ferreira, ainda, continuou à frente da
referida Secção até que a mesma fosse extinta, em 1925, como já comentado. Três
anos após deixar a diretoria do Serviço Sanitário, Emílio Ribas foi trabalhar ao lado
de Clemente Ferreira, como vice-presidente da Liga Paulista, de 1920 a 1923,
demonstrando estreitos laços de amizade.
Emílio Ribas morreu em São Paulo no dia 19 de fevereiro de 1925, com idade
de 63 anos. Clemente Ferreira lhe escreveu dois elogios. O primeiro, em 1925,
intitulado “Emilio Ribas (1862-1925)”, e o segundo, em 1936, intitulado “O Dr. Emilio
Ribas - um benemérito servidor do Estado e bemfeitor da Humanidade”. Eis um
trecho do primeiro elogio necrológio em que Clemente Ferreira se refere à atuação
de Ribas para a construção da estrada de ferro ligando Campos do Jordão a
Pindamonhangaba.
(...) devendo-lhe São Paulo, o Rio e todo o Brasil o inestimável serviço de ter sido o
inspirador, o iniciador prático e o propulsionador da estrada de ferro depois encampada pelo
governo do Estado e que tornou acessível aquela região privilegiada aos doentes débeis,
predispostos e necessitados de repouso e de provisão de saúde.
262
No segundo elogio, escrito no dia 23 de abril de 1936, Clemente Ferreira se
refere à criação da “Secção de Higiene e Assistências Infantis”.
Assim foi que em 1905 se criou a Secção de Hygiene e Assistência infantis, antes da
organização do serviço análogo em Buenos Aires; e em 1911 foi organizada a divisão de
hygiene escolar, o que veiu imprimir ao Departamento de hygiene deste Estado uma feição
261
MARCONDES, Athayde. “Emilio Ribas e a Estrada de Ferro Campos do Jordão”. In: Archivos de Hygiene e Saúde
Publica. Anno 1, nº. 1, Junho de 1936, pp. 43-44.
262
FERREIRA, Clemente. Notas Necrológicas... Op. cit., p.
19.
136
prestigiosa de utilidade social, consoante os progressos mais recentes da apparelhagem
medico-social dos Estados Unidos, allemanha, México, Argentina, etc. (...) O emerito
profissional e competente e estudioso hygienista poude ufanar-se do muito que projectou e
que conseguiu no ponto de vista do bem estar publico, da salubridade e do progresso
sanitário do Estado de São Paulo.
263
Desde a criação da Liga, em 1899, Clemente Ferreira perseguiu,
obstinadamente, a idéia da construção de sanatórios para tuberculosos indigentes.
Para isto em nome da Liga ele elaborou mais de uma centena de ofícios e artigos
cobrando do Governo subvenções e iniciativas práticas. Apesar de tudo isso, o
Governo, até o final dos anos 20, não construiu o tão almejado sanatório. Entretanto,
em 1912, Emílio Ribas e Victor Godinho se empenharam para a construção de uma
estrada de ferro ligando Pindamonhangaba a Campos do Jordão e para a instalação
de uma estância climática para tratamento dos tuberculosos.
Este episódio, na visão de alguns historiadores, foi motivo para criar uma
querela entre Clemente Ferreira e Emílio Ribas. Por outro lado, não podemos
esquecer que Clemente Ferreira não estava interessado que a Liga edificasse
Sanatórios em Campos do Jordão, e sim nos arredores da capital. Vendo desta
maneira, Clemente Ferreira só tinha motivos para aplaudir a iniciativa dos
sanitaristas propulsores da estrada de ferro e tudo indica que, assim, ele o fez.
Marta de Almeida em seu livro “República dos Invisíveis: Emílio Ribas,
microbiologia em Saúde Pública em São Paulo (1898-1917)” ao levantar a questão
do conflito entre a Liga e o Serviço Sanitário disse:
Contudo, apesar de todos esses conflitos intermediando as relações entre a Liga e o Serviço
Sanitário, não se pode dizer que houve um total isolamento entre ambas instituições, pois
como afirmou Maria Alice Ribeiro, “os médicos alocados junto à liga e ao dispensário, eram
inspetores sanitários”. Tal circularidade de funcionários demonstra um mínimo de
entrosamento, (...) Segundo os relatórios oficiais do Serviço Sanitário, encaminhados ao
Secretário do Interior, Ribas enfatizou o papel da “Associação Paulista dos Sanatórios
Populares”, pois esta vinha comunicando à Diretoria do Serviço, a mudança de residência de
todos os tuberculosos que socorria, o que era fundamental para medidas fiscalizadoras das
desinfecções residenciais, (...) Além disso, Ribas reconhecia a urgência da construção de um
sanatório na cidade e o empenho da Liga neste projeto, afirmando ser necessário todo o
auxilio dos poderes públicos. A participação de Clemente Ferreira nos congressos
internacionais sobre tuberculose representando o Estado também pode ser considerado um
reconhecimento público de sua atuação na área. Segundo uma noticia publicada na Revista
Médica de São Paulo, Ferreira seguiu para Paris em 1905 em comissão governamental do
Estado, para participar do Congresso Internacional de Paris. Além disso, o fato de em 1912, o
nome de Emílio Ribas ter sido indicado para assumir a presidência da sub-comissão médico-
social do Congresso Internacional de Tuberculose, representando o Estado, demonstrou que
havia minimamente respeito profissional mútuo de ambas as partes. Clemente Ferreira
conseguia divulgar e valorizar seu trabalho perante a sociedade e organizações internacionais
263
FERREIRA, Clemente. “O Dr. Emilio Ribas- – Um benemérito servidor do Estado e bemfeitor da Humanidade ”.
Fonte: Archivos de Hygiene e Saúde Publica. Anno 1, nº. 1, Junho de 1936, p.
40.
137
com o respaldo do poder público. Emílio Ribas conseguia trazer um pouco de louros
conquistados na luta contra a tísica pela Liga, para o Serviço Sanitário.
264
Ribas e Ferreira mantiveram estreito e cordial relacionamento profissional
durante 19 anos. Quando Emílio Ribas deixou a diretoria do Serviço Sanitário aliou-
se a Clemente Ferreira como vice-presidente da Liga Paulista, de 1920 a 1923, como
consta no Livro de Atas, de 1920, da referida instituição.
265
Além disto, Clemente
Ferreira, em suas memórias, nada escreveu em relação à suposta querela e, no
necrológio que fez a Emílio Ribas, em 1925, disse:
(...) “peço-vos prévias excusas se me traírem as forças nesta delicada missão que a minha
modesta obscuridade absolutamente não competiria e que unicamente refiro à amizade e à
admiração, que desde a primeira hora consagrei à figura proeminente do saudoso extinto”.
266
264
ALMEIDA, Marta de.
República dos Invisíveis... Op. cit., pp. 261-262.
265
Fonte: Livro de Atas da Liga Paulista contra a Tuberculose - Diretoria de 1920 (fl. 2 do 1º. Livro de Atas)
266
FERREIRA, Clemente. Notas Necrológicas... Op. cit, p.
9.
O grifo é meu.
138
CAPÍTULO III
A TUBERCULOSE E SUAS REPRESENTAÇÕES
“As acepções correspondentes à palavra ‘representação’
atestam duas famílias de sentido aparentemente contraditórias:
por um lado, a representação faz ver uma ausência, o que
supõe uma distinção clara entre o que representa e o que é
representado; de outro, é a apresentação de uma presença, a
apresentação pública de uma coisa ou de uma pessoa”.
Roger Chatier
267
267 CHARTIER, Roger.”O mundo como representação”. In: Revista Estudos Avançados . São Paulo, janeiro/abril, 1991,
vol.
5,
nº11,
p.
9.
139
Este capítulo trata das representações da tuberculose no imaginário e nas
linguagens sociais. A palavra representar significa etimologicamente re-apresentar,
apresentar novamente, trazer para o presente o que já ocorreu. Deriva do latim re-
apresentare.
Em “O mundo como representação”
Roger Chartier nos mostra que durante
muito tempo os historiadores pensaram ser possível realizar uma História Universal,
porque não consideraram as diferentes maneiras de ver o mundo. Tomar como
totalidade uma realidade é ignorar estes diversos olhares.
Ao alvorecer da década de 1980, houve um desbloqueio da História e outras
questões foram encaixadas, surgindo, assim, a História Cultural. A referida década
foi promissora para as Ciências Sociais, pois a chamada “crise dos paradigmas”
redimensionou as metodologias e técnicas empregadas pelos cientistas sociais. A
partir daí, o historiador se abriu para novas teorias havendo uma mudança em seu
discurso. Chartier chamou de “guinada hermenêutica” a crise que abalou os sistemas
totalitários do marxismo e estruturalismo.
A História Cultural
surgiu em razão do esgotamento dos “paradigmas”, marcos
conceituais de explicação da História, que foram colocados em cheque. Os modelos
de análise utilizados não explicavam mais a complexidade instaurada no mundo, as
matrizes de explicação não eram mais satisfatórias para explicar o real, resultando
na inauguração de uma nova corrente historiográfica, que ficou conhecida como
História Cultural, ou Nova História Cultural.
268
Porém, apesar das críticas ao
marxismo e aos Annales, foi no seio dessas vertentes que surgiu essa nova corrente
de interpretação histórica.
O reconhecimento das formas de representação imagéticas promoveu o
desenvolvimento de novas bases teóricas e epistemológicas das Ciências Sociais. O
documento escrito deixou de ser a única fonte para pesquisas e novos meios foram
incorporados ao instrumental do historiador como: pinturas, ilustrações, esculturas,
fotografias, etc. As representações nas suas mais variadas formas - literárias,
iconográficas, musicais - tornou-se o principal objeto de estudo da Nova História
Cultural. A interpretação de signos visuais passou a ser uma necessidade para os
historiadores e vários métodos de análise de imagens foram desenvolvidos. A
semiótica passou a ser utilizada, pois interpreta a imagem como um ícone, isto é, um
268
Sobre este assunto ver: CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa, Difel, 1990.
140
signo que substitui a realidade. A proposta da História Cultural é decifrar a realidade
do passado por meio das suas representações.
A imagem visual e literária retratando a tísica nas diversas linguagens será
explorada neste capítulo. Em alguns cartazes estudados a tuberculose está
representada por imagens amedrontadoras. Interessante observar que a imagem da
morte, vista em uma caveira com uma foice, foi reutilizada para representar a
tuberculose.
Em termos gerais, a proposta deste capítulo é decifrar a visão da tuberculose,
por meio das suas representações, tentando resgatar quais eram as intenções das
pessoas que construíram essas significações através das quais expressavam a si
próprios e o mundo. Ler imagens sempre pressupõe partir de valores e padrões do
presente, que, muitas vezes, não existiram no tempo da produção das mesmas.
Esses fatores criam muitas possibilidades de leitura e interpretação. Dessa forma, é
preciso desenvolver uma metodologia da análise dessas imagens para não traduzir
as representações e símbolos de uma época com significados que não pertencem à
época estudada.
Deve-se ter cuidado com a interpretação das imagens, pois podem ter
significados diferentes de acordo com o tipo de olhar que é lançado sobre elas. O
historiador que utiliza imagens como fonte histórica precisa enxergar além delas, ler
suas lacunas, silêncios, decifrar seus códigos, pois elas não se esgotam em si
mesmas. A história cultural permite perfeitamente a utilização de imagens como
fontes históricas, porém para que o historiador realize este tipo de análise é
necessário que ele se apóie em alguma metodologia de trabalho. Deve-se analisar
as imagens visuais fazendo a descrição e a interpretação das mesmas. Deste modo,
as imagens falarão por si, revelando fatos que passariam despercebidos sem o olhar
atento do historiador.
141
1. A TÍSICA NAS LINGUAGENS SOCIAIS
FIGURA 10
CARTA ANÔNIMA DIRIGIDA AO DR. CLEMENTE FERREIRA
269
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
269
Dr. Clemente Ferreira.
Este aviso é de amizade.
Moradores do bairro da Consolação, já protestaram e com inteira justiça, contra a installação do Sanatório de Tuberculosos
naquelle bairro o que vem prejudicar, ou antes por em perigo a saúde e vida dos moradores de um dos melhores bairros desta
Capital, fomentando e desenvolvendo a tuberculose por meio do contagio direto que se estabelece com as pessoas que
passam maior parte do tempo nas imediações de um foco, como vae se tornar o Sanatório. Esses protestos não encontraram
apoio dos poderes que deviam impedir tão grande mal e quem não encontra justiça, faz pelas suas próprias mãos; porisso
aviso-lhe que o Sanatório não será installado e não chegará a funcionar, mesmo que para isso seja necessário lançar mãos do
incêndio e até do assassinato dos donos e fundadores do Sanatório. E esta é uma resolução firme e inabalável de uma bôa
parte da nossa população.
142
Clemente Ferreira, como presidente da Liga Paulista, havia conseguido,
depois de uma luta insana, verbas para a construção de um prédio próprio a fim de
instalar, com maior conforto, o dispensário que funcionava precariamente à Rua
Libero Badaró. Em outubro de 1908, foi lançada com grande solenidade, a pedra
fundamental do edifício da Rua da Consolação, como dito antes. Após o inicio das
obras, uma carta anônima (figura 10) foi enviada ao Dr. Clemente Ferreira. A mesma
reflete o pavor que as pessoas tinham de contrair a tuberculose no inicio do século
XX. Este medo explica-se por se tratar de uma doença contagiosa, insidiosa, mortal
na maioria dos casos, causadora de grande sofrimento físico e de preconceito.
270
Até a descoberta do bacilo, em 1882, os tisiólogos acreditavam que a doença
era hereditária existindo uma visão romântica pelo fatalismo que a mesma
acarretava. O preconceito contra os tuberculosos se manifestava de forma diversa, já
que somente as pessoas com a carga hereditária contraíam a doença. Este
preconceito se dava com relação às uniões entre pessoas que tivessem casos da
doença na família, ou que fossem portadoras da enfermidade. Com a descoberta de
sua transmissibilidade, um grande pavor começou a tomar conta das coletividades
criando uma verdadeira histeria contra o escarro, que era visto como o disseminador
do bacilo.
À medida que o conhecimento científico sobre a doença foi avançando e a
nova organização social, dada pela industrialização, se consolidando a incidência da
doença foi-se deslocando para as classes trabalhadoras tornando-se, no inicio do
século XX, uma doença social. É interessante notar que as duas visões da tísica
conviveram juntas durante algum tempo até que a visão romântica deu lugar à visão
social. O preconceito tornou-se mais forte, pois além da doença ser transmissível era
doença de operários e pessoas com péssimas condições sócio-econômicas. Enfim,
doença de pobre. Finalmente, a tísica perdeu sua auréola romântica e foi confinar-se
nos cortiços e favelas.
A construção de um dispensário em um bairro nobre da capital só poderia
causar protestos dos moradores que, mal informados, confundiram o dispensário
com um hospital para tuberculosos. Somente após vários pareceres das Sociedades
Paulista e Brasileira de Medicina dizendo que os moradores da cercania não corriam
270
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Graal, 2004, p.
87. Em “Microfísica do Poder” o autor retrata o
medo urbano e a angústia que as pessoas sentem nas cidades que estão se desenvolvendo. Medo das oficinas, fábricas, da
população numerosa, das epidemias urbanas, dos cemitérios, das doenças e da morte.
143
riscos de se infectarem é que os protestos se abrandaram e a construção pôde
prosseguir. Clemente Ferreira nos descreve esse episódio, assim:
Releva notar que, logo após o inicio da construção, começaram a surgir reclamações e
protestos de diversos moradores das circunvizinhanças, infelizmente instigados por alguns
médicos, desconhecedores do papel profilático e das funções educativas dos dispensários e
que lançaram no espírito público a confusão, fazendo crer que se projetava instalar um
hospital de tuberculosos, um nosocômio de tísicos. A grita que se levantou foi tal que ecoou
na imprensa e impressionou o próprio govêrno.
271
Segundo o Dr. Gilmário Mourão Teixeira, a tuberculose teve grande impacto
no pensamento de intelectuais, cientistas, artistas, poetas, escritores, pintores e
escultores que tiveram a desdita ou, cruel paradoxo, ventura de sofrê-la.
272
Este
impacto foi observado, também, entre os tisiólogos tuberculosos, ou não, que dela
fizeram bandeira de luta e outras pessoas que, mesmo não a tendo contraído, foram
atingidas, indiretamente, por ela.
A visão que tisiólogos e pectários tinham da doença era diferente, embora,
para ambos, vista como um mal que merecia ser combatido e aniquilado. Os
médicos a viam como um monstro ceifador de vidas e que devia ser combatido com
armas poderosas. Estavam interessados em construir corpos saudáveis e para isso
lançavam mão do poder que detinham para disciplinar, curar ou aliviar as agruras
dos tuberculosos. Os doentes, vítimas dos sofrimentos físico e mental que a
tuberculose acarretava, estavam interessados em resgatar, através da literatura e
artes plásticas, a dor, a solidão e os preconceitos que sofriam.
273
Doença conhecida por diferentes denominações como: shachefet,
274
tuberculose, tísica,
275
peste branca, dama branca, febre ética, grande flagelo,
consunção, velha senhora, fraqueza do peito, chaga nos bofes e sangue pela boca,
povoou intensamente o imaginário social. Os sintomas que ela produzia como: febre,
tosse, emagrecimento, dispnéia e hemoptise foram cantados em prosa e verso.
Talvez, por ser doença crônica, de evolução arrastada (na maioria dos casos), cheia
de riscos de episódios dramáticos de hemoptise e sombras ameaçadoras de morte,
271 FERREIRA, Clemente. Posse... Op. cit., p. 18.
272
TEIXEIRA, Gilmário Mourão. Editorial – “Tuberculose e cultura através de tempos e espaços – Homenagem ao Professor
José Rosemberg”. In: Boletim de Pneumologia Sanitária. vol. 7, nº.2 Julho/ Dezembro, 1999,
p. 3.
273
MORAES, Mirtes de. Imagens e Ações – Representações e Práticas Médicas na Luta Contra a Tuberculose em São Paulo
– 1899
-1930. Dissertação de Mestrado, PUC-SP, 2000,
p. 39.
274 O termo “tísica” deriva dos gregos, porém, muito antes, os judeus a chamavam de “shachefet”, em hebraico.
ROSEMBERG, José e TARANTINO, Affonso Berardinelli. “Tuberculose”... Op. cit., p.
294.
275
A palavra
phthisica
provém etmologicamente do grego
phthisio
que quer dizer eu definho , eu me consumo.
FERREIRA, Clemente Miguel da Cunha. Phthisica Pulmonar.
Op.
cit., p. 19.
144
tenha inspirado a criatividade humana, em tão diferentes aspectos, sendo força
criadora de obras consagradas na literatura, artes plásticas, música, teatro e
cinema.
276
Segundo Rosemberg, a tuberculose foi integrada ao romantismo por ter ferido
prostitutas, escritores, pintores, músicos, literatos e poetas das altas classes sociais.
Por isso, esteve presente em todas as formas de manifestação humana. Seu
apogeu, através dos dramas e lirismos dos tísicos célebres, ocorreu no século XIX e
primeira metade do século XX e teve Paris como palco.
Muitos poetas e escritores, como Byron, Musser, Henry Murger e Alexandre
Dumas Filho exerceram influência no romantismo francês da tuberculose,
impressionados com a doença da moda, pois uma aura lírica envolvia os tísicos.
Murger, escritor tuberculoso, apaixonou-se por Cristina Roux (Mimi), que,
também, era tuberculosa, e fez dela a personagem principal de seu livro “Cenas da
vida boêmia”. Puccine o transformou na famosa ópera “La Bohème”.
Alexandre Dumas Filho escreveu o celebérrimo livro “A dama das camélias”
277
para contar a história da prostituta Alphonsine Duplessis, que morreu tuberculosa
aos 23 anos, depois de uma meteórica carreira de prostituta célebre junto à nobreza
de Paris. No livro, Dumas Filho a transformou em Marguerite Gautier que impedida
de se regenerar no amor, devido aos preconceitos sociais, morreu tísica e
abandonada. Verdi aproveitou o tema para a famosa ópera “La traviata” que, ainda
hoje, faz sucesso no mundo inteiro. “A dama das camélias” foi retratada, também,
no cinema sendo o mais famoso deles dirigido por George Cukor com Greta Garbo
no papel principal.
A enumeração dos intelectuais e artistas que foram consumidos pelo bacilo de
Koch encheria páginas de livros. Segundo Montenegro, a tísica reinou soberana nos
hagiológios (Santa Terezinha de Jesus, São Francisco de Assis, São Francisco de
Borja, São Luis de Gonzaga, São Leopoldo); nos palcos (Sara Bernhardt, Eleonora
Duse, Elizabeth Felix, Clementina Cazzola, Vivian Leigh); entre os músicos (Chopin,
Mozart, Pergolesi, Weber, Bellini, Rossini, Richards, Usandizaga, Paganini, Grieg,
Catalani); nos ateliês de pintura e escultura (Watteau, Rosales, Roberts, Janet,
276
TEIXEIRA, Gilmário Mourão. Editorial. “Tuberculose e cultura...” Op. cit., p.
3.
277
Ver:
DUMAS, Filho, Al. A dama das camélias. São Paulo, Brasiliense, 1965; BOUDET Micheline. La Fleur du Mal La
Véritable Histoire de la Dame aux Camélias. Paris, Albin Michel, 1993
e
ISSATEL, C. Les dames aux Camélias. De l’histoire à
la légende, Paris, Hachette, 1 v., 1981.
145
David, Rafael, Clevenger, Jacquemart, Bastien Le Page, Aubrey Beardsley, Júlio
Antonio, Drake); nos laboratórios (Laennec, Graham Bell, Bichat); nos tronos
(Tutankamon, Afonso XII, Pedro I do Brasil, Henry VII da Inglaterra, Rainha Isabel de
Portugal, primeira esposa de D. Manuel I, Carlos IX da França); entre os
reformadores religiosos (Calvino, Wesley); no meio político (Kerensky, Bolívar,
Salazar).
278
À longa lista de Montenegro, José Rosemberg
acrescentou: Nelson Mandela,
Marguerite Gautier (dama das camélias), Mimi, Madame de Pompadour, Napoleão II,
Paulina Bonaparte (irmã de Napoleão), Allan Poe, Balzac, Bellini, Bizet, Camus,
Descartes, Dostoievski, Gorki, Kant, Kafka, Leopardi, Milton, Molière, Modigliani,
Musset, Orwell, Prosper Merimée, Rossini, Rousseau, Schelley, Spinoza e Walter
Scott.
279
Acrescento, ainda, os milhares de anônimos que encheram os cortiços e
favelas dos quais não conhecemos os padecimentos, pois deles a história só
registrou números.
Entre os letrados a colheita foi farta e quase todos os poetas tísicos sofreram
as agruras das febres vespertinas, suores noturnos, consunção, hemoptises, tosse e
morte prematura. Apesar de todas as mazelas que a tísica causava, houve época em
que foi desejada por muitos, pois o romantismo do século XIX exacerbou seu
mórbido fascínio. Na poesia lírica castelhana a febre foi cantada, a tosse versejada,
a inapetência e o emagrecimento exaltados e a hemoptise poetizada.
280
Mário de
Andrade escreveu:
Entre os cacoetes históricos que organizaram o destino do homem romântico, um dos mais
curiosos foi o de morrer na mocidade. Morria-se jovem por que isso era triste e, sobretudo,
lamentável. Mais lamentável que penoso...
281
A tuberculose impregnou toda a poética no Brasil até o final da primeira
metade do século XX. Segundo Rosemberg, passa de quarenta a relação dos
poetas brasileiros que acalentaram em seus pulmões o bacilo de Koch. Noel Rosa,
que morreu tuberculoso aos 26 anos, talvez tenha sido o mais popular deles. A
grande maioria morreu entre os 21 e os 35 anos ironizando a sorte e, às vezes,
extravasando e romantizando os sentimentos.
282
278
MONTENEGRO, Tulo Hostílio. Tuberculose e Literatura (Notas de pesquisa). RJ, Casa do Livro, 1956, p. 24.
279
ROSEMBERG José. “Tuberculosos Notáveis” In: Pneumologia Paulista. São Paulo, ano 1, n° 6, 1993, p. 4.
280
MONTENEGRO, Tulo Hostílio.Tuberculose e Literatura... Op. cit., p. 25.
281
Ibidem.
282
ROSEMBERG, José. “Aspectos históricos...
Op. cit., p. 11.
146
Impregnando a vida e o imaginário destes poetas a tuberculose foi
representada em versos de diferentes formas. Para muitos, pela morte iminente, em
poesias de extremo lirismo e lamentação. Para outros, pelos sintomas que causava
(principalmente a hemoptise), em versos dramáticos.
Castro Alves,
283
poeta social, lírico e abolicionista, compôs versos falando da
morte. Lourival Ribeiro, que escreveu sobre o poeta e sua doença, concluiu que
Castro Alves temia a tísica a qual supunha um “legado ancestral indescritível”, pois
sua mãe morrera tuberculosa aos 30 anos. Em vários poemas, Ribeiro encontra
traços da doença como: “Adeus”, dedicado a Eugenia Câmara, “Os anjos da meia
noite” e “Mocidade e Morte”.
284
ADEUS
Quis te odiar, não pude. - Quis na terra
Encontrar outro amor. - Foi-me impossível.
Então bendisse a Deus que no meu peito
Pôs o germe cruel de um mal terrível.
Sinto que vou morrer! Posso, portanto,
A verdade dizer-te santa e nua:
Não quero mais teu amor! Porém minh’alma
Aqui, além, mais longe, é sempre tua.
285
No poema “Adeus”, Castro Alves vê, em sua morte iminente causada pela
tuberculose, a solução para a sua desilusão amorosa e bendiz à Deus por ter-lhe
dado o cruel germe que lhe devorava o peito. A tuberculose passa a ser desejada
por aliviar a dor do amor e por ser romântico morrer tísico.
OS ANJOS DA MEIA-NOITE
Quando a insônia, qual lívido vampiro,
Como o arcanjo da guarda do Sepulcro,
Vela à noite por nós,
E banha-se em suor o travesseiro,
E além geme nas franças do pinheiro
Da brisa a longa voz...
Quando sangrenta a luz no alampadário
Estala, cresce, expira, após ressurge,
Como uma alma a pena;
E canta nos guizos rubros da loucura
A febre – a meretriz da sepultura –
A rir e a soluçar
...
286
283
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em 14/03/1847 em Muritiba, Bahia, e faleceu em 6 de julho de 1871.
O maior poeta brasileiro, segundo Antonio Nobre, sucumbiu a tuberculose em plena juventude, aos 24 anos.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Castro_Alves
Acesso
em:
7
de
julho
de
2007.
284
RIBEIRO, Lourival. A doença de Castro Alves.
Op. cit.,
pp. 14-15.
285
CASTRO, Alves. Obra Completa.
Organização Eugenio Gomes. Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda, 1960, p. 450.
Este poema foi escrito no Rio de Janeiro, em 17 de novembro de 1869. Acima, transcritos os dois últimos versos.
286
Ibidem, p. 170.
147
Em “Os anjos da meia-noite”, Castro Alves delira em meio à febre e os suores
noturnos da tuberculose vendo desfilar as mulheres que amou.
MOCIDADE E MORTE
Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
— Árabe errante, vou dormir à tarde
A sombra fresca da palmeira erguida.
Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria. (...)
(...) E eu sei que vou morrer... Dentro em meu peito
Um mal terrível me devora a vida:
Triste Ahsaveus, que no fim da estrada,
Só tem por braços uma cruz erguida.
Sou o cipreste, qu'inda mesmo flórido,
Sombra de morte no ramal encerra!
Vivo — que vaga sobre o chão da morte,
Morto — entre os vivos a vagar na terra.
Do sepulcro escutando triste grito
Sempre, sempre bradando-me: Maldito! -
E eu morro, ó Deus! na aurora da existência,
Quando a sêde e o desejo em nós palpita...
Levei aos lábios o dourado pomo,
Mordi no fruto podre do Asfaltita.(...)
287
Em “Mocidade e Morte” Castro Alves sabe que vai morrer de uma mal que lhe
devora o peito, a tuberculose. Lamenta a morte na flor da juventude quando a vida
palpita no seio da mulher amada.
Álvares de Azevedo,
288
um dos vultos exponenciais do romantismo, produziu
uma obra poética de alto nível, deixando registrada a sua incapacidade de
adaptação ao mundo real e sua capacidade de elevar-se a outras esferas, através
do sonho e da fantasia, para, por fim, refugiar-se na morte. Em “Lembranças de
morrer” e “Se eu morresse amanhã” ele pressente o seu fim.
LEMBRANÇAS DE MORRER
Esta poesia foi escrita, em agosto de 1870, em Santa Isabel e faz parte do livro Espumas Flutuantes. Acima, transcritos os dois
primeiros versos.
287
Ibidem, pp. 88-90. Esta poesia,
escrita em 1864, faz parte do livro Espumas Flutuantes.
288
Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, SP, 12 de setembro de 1831 - Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852).
Escritor da segunda geração romântica, (contista, dramaturgo, poeta e ensaísta) brasileiro, filho de Inácio Manuel Álvares de
Azevedo e Maria Luísa Mota Azevedo. Não chegou a concluir os estudos, pois adoeceu de tuberculose pulmonar. Morreu com
21 anos incompletos.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvares_de_Azevedo
Acesso
em:
29
de
julho
de
2007.
148
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo (...)
289
Casimiro de Abreu
290
é conhecido como "o poeta da infância", pois se
desdobrava em lamentos exacerbados sobre a pureza perdida. No poema “Amor e
Medo” sintetizou a insegurança adolescente frente ao sexo, o que levou Mário de
Andrade a agrupar os poetas do período sob a denominação de “geração do Amor e
Medo”. Na poesia “No Leito” identifica-se uma alusão a tuberculose.
NO LEITO
A febre me queima a fronte
E dos túmulos a aragem
Roçou-me a pálida face;
Mas no delírio e na febre
Sempre teu rosto contemplo.
291
Augusto dos Anjos
292
faleceu tuberculoso com pouco mais de 30 anos. Apesar
da sua juventude, os padecimentos físicos gravaram em seu semblante, profundos
traços de senilidade. Publicou quase toda a sua obra poética no livro “Eu”, em 1912.
Escreveu comoventes versos sobre a tuberculose.
OS DOENTES
Da degenerescência étnica do Ária
Se escapava, entre estrépitos e estouros
Reboando pelos séculos vindouros,
O ruído de uma tosse hereditária.
289 MONTENEGRO, Tulo Hostilio. Tuberculose e Literatura... Op. cit., pp. 62-63.
290 Casimiro José Marques de Abreu (*Barra de São João, RJ, 4 de Janeiro de 1839 - †Barra de São João, 18 de Outubro de
1860), poeta brasileiro da segunda geração romântica. Tuberculoso, retirou-se para a fazenda de Indaiaçu, onde inutilmente
buscou uma recuperação do estado de saúde. Em 1859 editou as suas poesias reunidas sob o título de Primaveras. Faleceu
em 18 de Outubro de 1860 numa fazenda dos arredores de sua cidade natal, aos 20 anos.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Casimiro_de_Abreu
Acesso
em:
29
de
julho
de
2007.
291
MONTENEGRO, Tulo Hostilio. – Tuberculose e Literatura... Op. cit., p. 68.
292 Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Paraíba, 20 de abril de 1884 - Leopoldina, Minas Gerais, 12 de novembro de
1914) foi um poeta paraibano, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano, mas muitos críticos, como o poeta
Ferreira Gullar, concordam em situá-lo como pré-moderno. É conhecido como um dos poetas mais estranhos do seu tempo, e
até hoje sua obra é admirada (e detestada) tanto por leigos como por críticos literários. Embora tenha morrido de pneumonia,
tornou-se conhecida a história de que Augusto dos Anjos morreu de tuberculose, talvez porque esta doença seja bastante
mencionada em seus poemas.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos
Acesso
em:
29
de
julho
de
2007.
149
Oh! Desespero das pessoas tísicas,
Adivinhando o frio que há nas lousas,
Maior felicidade é a destas cousas
Submetidas apenas às leis físicas!
Estas, por mais que os cardos grandes rocem
Seus corpos brutos, dores não recebem;
Estas dos bacalhaus o óleo não bebem
Estas não cospem sangue, estas não tossem!
Descender dos macacos catarríneos,
Cair doente e passar a vida inteira
Com a boca junto de uma escarradeira,
Pintando o chio de coágulos sanguíneos!
Falar somente uma linguagem rouca,
Um português cansado e incompreensível,
Vomitar o pulmão na noite horrível
Em que se deita sangue pela boca!
Expulsar, aos bocados, a existência
Numa bacia autômata de barro,
Alucinado, vendo em cada escarro
O retrato da própria consciência!
Querer dizer a angústia de que é pábulo,
E com a respiração já muito fraca
Sentir como que a ponta de uma faca,
Cortando as raízes do último vocábulo!
Não haver terapêutica que arranque
Tanta opressão como se, com efeito,
Lhe houvessem sacudido sobre o peito
A máquina pneumática de Bianchi!
E o ar fugindo e a Morte a arca da tumba
A erguer, como um cronômetro gigante,
Marcando a transição emocionante
Do lar materno para a catacumba!
Mas vos não lamenteis, magras mulheres,
Nos ardores danados da febre hética,
Consagrando vossa última fonética
A uma recitação de misereres.
Antes levardes ainda uma quimera
Para a garganta omnívora das lajes
Do que morrerdes, hoje, urrando ultrajes
Contra a dissolução que vos espera!
293
Manuel Bandeira,
294
foi um caso raro de simbiose com o bacilo de Koch, pois
conviveu com a doença durante toda a vida. Escreveu várias poesias dedicadas à
293
MONTENEGRO, Tulo Hostílio. Op.cit., pp. 81-82.
294
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) foi um
poeta e escritor brasileiro. Quando jovem, abandonou os estudos que fazia para se tornar engenheiro-arquiteto na Escola
Politécnica, uma vez que, por sua saúde frágil, ele tinha tuberculose os médicos afirmavam que tinha pouco tempo de vida.
150
tísica. A mais famosa, “pneumotórax”, apesar de não retratar a morte iminente,
evidencia sua amargura por uma vida inteira que deixou de desfrutar. Para ele a
tuberculose teve muitas representações, foi fiel companheira em todos os momentos
de alegria e tristeza, mas, paradoxalmente, lhe roubava a vida.
295
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi,
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... Trinta e três... Trinta e três...
- Respire.
..................................................................................................
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo
e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
296
Na poesia intitulada “A dama branca”, Bandeira representa a tuberculose
como uma figura feminina e poligâmica que se liga a qualquer um, sem preconceitos
de sexo, raça ou cor.
297
A DAMA BRANCA.
A Dama Branca que eu encontrei,
Faz tantos anos,
Na minha vida sem lei nem rei,
Sorriu-me em todos os desenganos.
Era sorriso de compaixão?
Era sorriso de zombaria?
Não era mofa nem dó. Senão,
Só nas tristezas me sorriria.
E a Dama Branca sorriu também
A cada júbilo interior.
Sorria querendo bem.
E todavia não era amor.
Era desejo? - Credo! De tísicos?
Por histeria... Quem sabe lá?...
A Dama tinha caprichos físicos:
Era uma estranha vulgívaga.
Ela era o gênio da corrupção.
Tábua de vícios adulterinos.
Tivera amantes: uma porção.
Até mulheres. Até meninos.
Ao pobre amante que lhe queria,
Passou muitos anos de sua vida em sanatórios para tuberculosos. Faleceu em 1968 aos 80 anos. Ficou tuberculoso em 1904 e
conviveu com a doença durante 64 anos.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira
Acesso
em:
30
de
julho
de
2007.
295
MORAES, Mirtes de. Op.cit., p. 44.
296
Ibidem, p. 46.
297
Ibidem, p. 47.
151
Se lhe furtava sarcástica.
Com uns perjura, com outros fria,
Com outros má,
A Dama Branca que eu encontrei,
Há tantos anos,
Na minha vida sem lei nem rei,
Sorriu-me todos os desenganos.
Essa constância de anos a fio,
Sutil, captara-me. E imaginai!
Por uma noite de muito frio
A dama branca levou meu pai.
298
A literatura de cordel, também, enriqueceu este vasto campo de
representações da tuberculose. Entre dezenas delas citaremos, abaixo, alguns
versos populares escritos por João José da Silva.
299
O TRISTE FIM DE UMA TRAPEZISTA QUE SOFRIA DO PULMÃO
No circo o público era multidão
Nisso a linda trapezista despencou
Boca sangrando, estatelada no chão.
O médico que chamaram a examinou
“É tuberculose que feriu o pulmão”.
Fazendo nele um extenso rendado
“De cavernas, todo ornado”.
300
Na literatura de ficção, alguns romances que tratam do tema merecem análise
especial. O mais famoso deles é “A montanha mágica” de Thomas Mann,
301
ambientado no sanatório de Berghof, em Davos, na Suíça. O romance descreve a
vida dos tuberculosos acorrentados a um ritual traduzido pela obsessiva anotação da
temperatura, o rigor dos horários das seis refeições diárias e a ociosidade forçada. A
segregação sufocante da vontade dos pacientes e a uniformização ritual dos
internados era acentuada por uma hierarquia rigorosa.
302
As hospitalizações prolongadas em sanatórios, durante anos, criaram um tipo
de personalidade que Dumarest chamou de “Hominis Sanatorialis”. Este “tipo” era
fruto da angústia do paciente pela incerteza de seu futuro que podia ser a chegada
da morte ou da cura clínica, após anos e anos de internamento e isolamento. Nos
sanatórios, os doentes incorporavam a ociosidade com a longa espera da
negativação do escarro.
298
Ibidem, p. 45.
299
ROSEMBERG, José.
Tuberculose. Aspectos históricos...
Op. cit., p. 12.
300
Ibidem, p. 12.
301
MANN, Thomas. A Montanha Mágica, RJ, Nova Fronteira, 1980.
302
ROSEMBERG, José.
Tuberculose. Aspectos históricos...
Op. cit., p. 18.
152
Dinah Silveira de Queiroz, em seu romance “Floradas na Serra”,
303
nos conta
a vida dos tuberculosos em Campos do Jordão, abordando suas reações, angústias
e dramas face à doença e ao abandono dos familiares.
Nas artes plásticas temos a tela “Alegoria a Primavera”, de Botticelli,
304
e o
Grito, de Eduardo Munch.
305
Este gênio da pintura conviveu com a tuberculose
desde a infância e ficou marcado porque perdeu sua irmã, ainda menina, vitima da
tísica. O grito revela todo o sentimento de dor que a doença lhe causou.
303
QUEIROZ, Dinah. Silveira. Floradas na Serra. RJ-SP, Record, 2004.
304
“Há 520 anos Botticelli plasmou na tela a “Alegoria à Primavera”. Contemplando-a na Galleria degli Uffizi em Florença,
esquecemo-nos das mazelas da humanidade. A graça postural das imagens e a harmonia colorida das flores maravilham os
olhos e nos inundam de alegria. A personagem central mística da Primavera é uma bela jovem esguia, loura, todavia de face
pálida, olhar vago e triste. Admirando-a o “leitmotiv” tuberculose nos assalta novamente. Era a modelo preferida do artista.
Chamava-se Simoneta Vespucci; cuidava-se com os “fisici del ético”. Em plena flor de sua juventude foi consumida pelo
Mycobacterium tuberculosis. O acaso fez com que a lendária obra do gênio renascentista simbolize mensagem otimista:
Embora postergada, chegará a Primavera da erradicação da tuberculose.”
ROSEMBERG, José.Tuberculose. Panorama Global. Óbices para o seu Controle. Ed. Secretaria de Saúde do Estado do
Ceará, 1999, p.
98.
305
Edvard Munch (12 de Dezembro, 1863 - 23 de Janeiro, 1944) pintor norueguês, foi um dos precursores do expressionismo
alemão. Aos trinta anos ele pintou "O Grito", considerada sua obra máxima. O quadro retrata a angústia e o desespero.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Edvard_Munch
Acesso
em:
30
de
julho
de 2007.
153
2. A TÍSICA NOS DISCURSOS DOS TISIÓLOGOS
Conselhos Contra a Tuberculose
A tuberculose é a mais freqüente e a mais mortífera de todas
as moléstias infecciosas.
A semente, a causa da moléstia, está principalmente no
escarro do tísico, quando fica secco e se transforma em pó,
que é respirado com o ar.
Respirar a poeira é pois expôr-se a contrahir a tuberculose.
Em vez de varrer com a vassoura, é preferível passar-se no
soalho pannos molhados para não levantar poeira.
Também será conveniente não usar do espanador, preferindo-
se limpar os moveis com um panno humedecido.
Protejam os alimentos e as bebidas contra as poeiras.
Escarrem sempre em escarradeiras; os tísicos que escarram
em escarradeiras não são perigosos para os que com elles
convivem.
O excesso de bebidas, o abuso do álcool predispõe a pessoa a
sofrer do peito.
306
Os tisiólogos, até a era da moderna quimioterapia, lutaram quase de “mãos
vazias” e utilizaram diferentes representações imagéticas com a finalidade de
chamar a atenção da população para a importância da prevenção e do tratamento da
tísica. Valendo-se da iconografia eles utilizaram imagens de impacto em selos
(vendidos), folhetos (distribuídos com a população) e cartazes que eram afixados em
pontos estratégicos da cidade como: estabelecimentos comerciais e industriais,
escolas e repartições públicas.
Segundo Foucault,
a medicina, a partir do século XVIII, assumiu um lugar
cada vez mais importante nas estruturas administrativas e o médico penetrou em
diversas estâncias do poder. A partir de então, respaldados por este poder médico-
administrativo, iniciaram-se os grandes inquéritos sobre a saúde da população.
Começou-se a formar um saber sobre a sociedade com relação à saúde, doença,
condições de vida e habitação. Assim, o poder médico foi-se instalando através da
constituição de uma ascendência político-médica sobre a população em relação não
só a doença, mas as formas gerais da existência e do comportamento como:
alimentação, sexualidade, fecundidade, modos de se vestir, habitação, etc.
307
Respaldadas por este “poder médico”, as campanhas visavam controlar a
tuberculose através de normas ditadas à população. Tentando incutir na mente do
povo o medo do contágio e do risco da morte, as primeiras campanhas visavam
306
Algumas frases retiradas de um cartaz distribuído pela Liga Paulista Contra a Tuberculose, ao tempo de Clemente
Ferreira. In: RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., p. 57.
307
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Graal, 2004, p.
202.
154
combater o escarro. Inúmeros cartazes com dizeres sobre o risco de escarrar no
chão foram editados em vários países do mundo. No Brasil, as Ligas de combate a
Tuberculose e a Inspetoria de Profilaxia de Tuberculose (IPT) do Departamento
Nacional de Saúde (DNS) do Distrito Federal encamparam esta forma de luta.
Depois, surgiram outras campanhas através de cartazes que mostravam imagens
belas e amedrontadoras e, orientavam as pessoas a procurarem os dispensários
caso apresentassem qualquer sintoma da tísica ou fossem comunicantes de
pacientes tuberculosos.
2.1. É proibido escarrar fora das escarradeiras!
Com a descoberta do bacilo da tuberculose, o escarro passou a ser visto
como o seu grande veículo e devia, portanto, ser combatido.
308
Era preciso
conscientizar a população, que apresentava o “péssimo” costume de escarrar em
todos os lugares, a mudar esse hábito. O tuberculoso passou a ser visto como
disseminador da doença e leis foram criadas para combater o hábito de escarrar no
chão e nas paredes. Surgiram grandes campanhas, em diversos países do mundo,
em favor do uso das escarradeiras públicas e de bolso contendo líquidos anti-
sépticos.
309
308
Em 1880, dois anos antes da descoberta do bacilo da tuberculose por Robert Koch, Tappeiner realizou suas primeiras
experiências provando a tuberculose por inalação. Pulverizou escarros dessecados de tuberculosos em um tapete, no assoalho
de um quarto, e colocou nele doze cobaias. Depois, verificou que onze delas tornaram-se tuberculosas. Koch repetiu as
experiências de Tappeiner, fazendo animais respirarem culturas de bacilos, chegando a mesma conclusão. Cornet realizou
experiências iguais com idêntico resultado. Cadeat e Malet demonstraram que o contágio pelas poeiras, resultantes da
dessecação do catarro, é mais fácil quando a poeira é mais fina. A partir daí as experiências se multiplicaram mostrando que
havia bacilos espalhados por toda a parte.
GODINHO, Victor e ALVARO, Guilherme. Op. cit., p. 17.
309 Depois de inúmeras experiências mostrando que o escarro de um tuberculoso, dessecado, continha bacilos e que, com a
varredura, os mesmos ficavam suspensos no ar e podiam contaminar pessoas sadias pensou-se que a maneira mais prática de
prevenção da doença era aprisionar o escarro em escarradeiras com líquidos anti-sépticos e depois destruí-lo. Toda a
educação higiênica foi baseada neste modo de prevenção. Criou-se uma verdadeira guerra contra o escarro chegando-se a
uma histeria desencadeada pelas campanhas das instituições médicas. Em todos os paises viam-se cartazes afixados em
todos os locais. Folhetos foram distribuídos às populações alertando-as sobre a transmissão da tuberculose. O comércio tirou
proveito. Anunciavam-se escarradeiras próprias para hospitais, escritórios, fábricas, restaurantes, teatros, transportes coletivos,
etc. Em Paris, empresas faziam propaganda de escarradeiras de bolso e portas-lenço anti-sépticos descartáveis. Em Berlim,
inventaram um preparado aderente para colar nas solas dos sapatos que matava os bacilos. Usavam-se impermeabilizadores
de assoalhos com substancias bactericidas. Uma empresa internacional vendeu colchões e travesseiros com anti-sépticos que
matavam os bacilos. Nos Estados Unidos foi promulgada portaria proibindo escarrar nos assoalhos, plataformas das estações e
viaturas públicas. Os contraventores eram multados com 25 dólares ou 10 dias de prisão. Em Viena, a multa ia de 2 a 200
coroas com prisão de 6 horas até 20 dias. Os hotéis da Europa ofereciam apartamentos sem tapetes e sem cortinas para
proteger os hóspedes das poeiras transmissoras do bacilo. O London National and Gazette publicou artigos médicos
155
No final do século XIX e começo do XX, como a tuberculose era altamente
prevalente, as pessoas expectoravam abundantemente e seus escarros atapetavam
o solo, as paredes, os móveis e impregnavam os lenços e as roupas, espalhando o
bacilo da tuberculose em todos os lugares. A peste branca era responsável por 1/7
da mortalidade no mundo e um só tuberculoso era capaz de expelir, por dia, sete
milhões de bacilos. A dispersão aérea desses bacilos só poderia ser combatida com
a neutralização da nocividade dos escarros, isolando-os no interior de receptáculos
contendo substancia anti-séptica. Assim, surgiram na França, por volta de 1890, os
escarradores portáteis individuais e os públicos. Até então, os tísicos escarravam em
lenços, infectando os bolsos e dando abrigo aos bacilos, ou no solo. As primeiras
escarradeiras eram pesadas, de difícil manejo e com abertura de diâmetro reduzido
o que dificultava o ato de escarrar sem molhar suas bordas e sem formar
verdadeiras estalactites. Além disso, a substancia anti-séptica que elas continham,
geralmente ácido fênico, era tóxica e exalava mal-cheiro provocando náuseas e
acessos de tosse nos tísicos.
310
2.2. A guerra ao escarro chega à São Paulo
A guerra ao escarro se espalhou em vários países, inclusive no Brasil. Em 28
de setembro de 1901, a Liga Paulista dirigiu ofícios aos Secretários: do Interior e
Justiça, da Fazenda e da Agricultura do Estado de São Paulo solicitando que os
mesmos proibissem a varredura a seco nas repartições sob suas subordinações,
principalmente nas escolas e colégios. A limpeza deveria ser processada,
diariamente, através de panos úmidos, para que os bacilos da tuberculose não
entrassem em suspensão no ar e, assim, fossem inalados por pessoas sadias. O
oficio solicitava, ainda, a proibição de escarrar no soalho ou nas paredes, devendo
para isso ser instalado número suficiente de escarradeiras higiênicas do melhor
modelo, de preferência as escarradeiras coletivas de manejo simples e limpeza fácil
recomendando aos homens usar bigodes para a proteção contra as poeiras contaminadas pelos bacilos. A Secretaria de Saúde
de Paris baixou portaria proibindo e multando as mulheres que usassem saias longas, pois levantavam poeiras contendo o
bacilo da tuberculose.
ROSEMBERG, José. “Tuberculose - Aspectos Históricos, Realidades, seu Romantismo e Transculturação”. In: Boletim de
Pneumologia Sanitária. 7(2):7, jul/dez de 1999, p. 22.
310
DARMON, Pierre. “É proibido escarrar”. In : LE GOFF, Jacques. (org). As Doenças Têm História. Lisboa, Terramar, 1985,
pp.
251-252.
156
como as de: Troinot, Ribard, Knoff ou Prdohl, com líquidos anti-sépticos para impedir
a dessecação dos produtos expectorados.
311
Por sua vez, Bento Bueno, Secretário do Interior e da Justiça, endereçou
circulares aos diretores das escolas, grupos escolares e demais repartições
subordinadas à sua Secretaria, solicitando providencias para serem colocadas
escarradeiras, em número suficiente, nas diversas dependências dos edifícios, com
a orientação de serem lavadas e desinfetadas diariamente. Além disso, solicitou que
nos pontos mais visíveis fossem afixados cartazes com dizeres de: “Proibido
escarrar no soalho e nas paredes”. O Secretário da Fazenda, Dr. Francisco Malta, e
o Secretário da Agricultura, Candido Rodrigues, tomaram as mesmas medidas.
312
Prosseguindo a guerra ao escarro, a Liga Paulista endereçou, na mesma ocasião,
oficio à diretoria da Estrada de Ferro Central do Brasil nos seguintes termos.
A guerra ao escarro epitomisa a prophylaxia essencial da tuberculose como enfermidade
popular e condensa tudo o que de mais eficaz se póde fazer no sentido de restringir
promptamente as ocasiões de contaminação. Por isso a Associação Paulista dos Sanatórios
populares para tuberculosos faz um appello á administração dessa importante via-ferrea a fim
de que seja formalmente prohibido escarrar no solo das estações, das plataformas e no
soalho dos wagons, collocando-se no interior daquellas e destes cartazes visíveis em que
esta interdicção seja assignalada em grossos caracteres e em differentes línguas. Para tornar
exeqüível esta prohibição a administração installará quanto antes nas estações e nos carros,
escarradeiras hygienicas, elevadas de 1 metro sobre o solo ou suspensas ás paredes por
meio de ganchos apropriados, as quaes conterão líquidos antisepticos de modo a impedir a
deseccação do escarro, e que serão diariamente esvasiadas e fervidas em água.
313
Em 2 de outubro de 1901, a Liga endereçou aos gerentes e proprietários de
estabelecimentos industriais da capital de São Paulo, uma circular solicitando que
fossem afixados, em pontos visíveis dos estabelecimentos industriais, cartazes
vistosos e legíveis recomendando a todos os operários a não escarrarem no solo.
Alegava que a tuberculose devastava, anualmente, as classes proletárias por serem
os operários mal alimentados e viverem pessimamente alojados.
314
Além desses ofícios e circulares, a Liga Paulista mandou imprimir 2.000
cartazes contendo noções essenciais à educação higiênica contra a tuberculose e os
311
“Hygiene das escolas e das Repartições Publicas” – Oficio encaminhado em 28 de setembro de 1901 ao Exmo. Sr. Dr.
Secretário dos Negócios do Interior do Estado de São Paulo, pela Associação Paulista dos Sanatórios populares. In: Defesa
Contra a Tísica. 1(1):37, maio de 1902.
312
Ibidem, pp.
38-39.
313
“Hygiene das vias ferreas” - Oficio encaminhad0, em 28 de setembro de 1901, à Diretoria da Estrada de Ferro Central do
Brasil, pela Associação Paulista dos Sanatórios populares. In: Defesa Contra a Tísica. 1(1):40-41, maio de 1902.
314
“Hygiene das fabricas e officinas” Circular encaminhada, em 2 de outubro de 1901, aos gerentes e proprietários de
estabelecimentos industriaes da capital. In: Defesa Contra a Tísica. 1(1):43, maio de 1902.
157
distribuiu pelos cafés, confeitarias, farmácias e restaurantes. Fez, também, pequenas
etiquetas com os mesmos dizeres e as distribuiu com os droguistas, proprietários de
papelaria, negociantes de cigarros a fim de que eles distribuíssem com os seus
fregueses. Alguns desses dizeres eram referentes à guerra ao escarro, como:
A tuberculose ou tísica como a maior parte das moléstias do apparelho respiratório transmitte-
se pelos escarros deseccados e reduzidos a poeira.
Não escarreis, pois, no chão das ruas, no pavimento das habitações, das casas de negocio,
dos mercados, das igrejas, das escolas, das repartições publicas, dos bonds, das estações e
wagons das estradas de ferro: é um costume repugnante e sempre perigoso.
315
A Liga solicitou o apoio da imprensa diária e a maior parte dos jornais da
capital inseriu em suas páginas, por muito tempo, essas máximas de profilaxia contra
a tuberculose criando no espírito popular uma consciência sanitária. A Liga, também,
solicitou medidas legislativas municipais para assegurar a higiene dos
estabelecimentos públicos e dos locais de aglomerações. Assim, em 13 de outubro
de 1901, encaminhou oficio ao Conselho Municipal solicitando a votação de uma lei
que proibisse escarrar nos teatros, igrejas, hotéis, casas de pensão, circos, frontões,
prados de corridas, cafés, confeitarias, mercados, etc., sendo necessário que esses
estabelecimentos instalassem escarradeiras higiênicas coletivas, contendo liquido
anti-sépticos, elevadas de 1 metro sobre o solo ou suspensas nas paredes. Solicitou
que a prefeitura mandasse colocar nas ruas, em pontos diversos junto aos passeios,
recipientes do mesmo gênero destinados a recolher a expectoração dos transeuntes.
Não esquecendo do comércio de gêneros alimentícios, pois as poeiras contendo
bacilos facilmente contaminavam os alimentos, exigiu certas precauções para
resguardá-los.
316
2.3. As escarradeiras higiênicas entram na moda
Na guerra ao escarro foi relevante o papel que as escarradeiras
desempenharam. As antigas de madeira cheias de areia e serradura foram,
irremediavelmente, condenadas pela higiene. Aquelas de metal, vidro ou ferro
esmaltado, apesar de mais asseadas, não foram toleradas por muito tempo por
apresentarem pequeno tamanho e não permitirem a colocação de uma camada
315
“Propaganda anti-tuberculosa” In: Defesa Contra a Tísica. 1(1):45-46, maio de 1902.
316
“Solicitação de medidas legislativas municipaes tendentes a assegurar a hygiene dos estabelecimentos publicos e dos
locaes de agglomeração popular e a proteger contra as poeiras as substancias alimentares” In: Defesa Contra a Tísica. 1(1):46-
47, maio de 1902.
158
suficiente de liquido anti-séptico para impedir a dessecação dos escarros. Depois,
por serem instáveis, podiam tombar com facilidade contaminando o chão com seu
conteúdo e, por serem colocadas ao nível do solo, dificultavam a projeção dos
escarros em seus interiores, principalmente, quando suas aberturas não eram
suficientemente amplas. Outro problema era a dificuldade para limpá-las e esterilizá-
las por causa de suas reentrâncias. Todos esses inconvenientes das cuspideiras
comuns justificavam sua condenação pela ciência sanitária como uma peça anti-
higiênica para ser usada, principalmente, nos lugares públicos. As escarradeiras
fixas, de fácil limpeza e desinfecção, adaptadas às paredes e sempre a certa altura
do assoalho, eram as mais aconselhadas. Afinal, essas escarradeiras higiênicas
estavam sendo utilizadas nos países civilizados.
317
Existiam vários tipos e modelos
de escarradeiras e as mesmas tornaram-se objetos requintados que ornamentavam
as residências dos ricos. Os pobres escarravam no chão, dentro de seus dormitórios
escuros e sem ventilação, espalhando bacilos e contaminando facilmente seus
familiares.
É interessante observar que com o mesmo slogan, “É PROIBIDO”, o destino
de dois objetos, escarradeira e cinzeiro, nas lutas contra a tuberculose e contra o
tabaco, foi completamente diferente. Na primeira, as escarradeiras entraram na
moda e se disseminaram por todos os lugares. Na segunda, os cinzeiros foram,
paulatinamente, saindo de moda e desaparecendo, pouco a pouco, das residências
e demais locais públicos.
2.4. O poder invisível das gotículas
Enquanto a profilaxia da tuberculose era feita através do combate ao escarro,
Flügge mostrou, no finalzinho do século XIX, que não só a poeira seca (fruto da
dessecação do escarro) era responsável pela transmissão do bacilo, mas,
principalmente, a poeira liquida que o tuberculoso, a cada instante, projetava ao
falar, tossir, espirrar e cantar. Essas gotículas carregadas de bacilos passaram a ser
chamadas de gotículas de Flügge e tornaram-se as principais responsáveis pela
propagação da tuberculose. Porém, a idéia do perigo do escarro persistiu por muito
tempo e só, paulatinamente, deu lugar a idéia de que as gotículas de Flüggle eram
bem mais poderosas na transmissão da tísica. A partir de então, o tuberculoso
317
“As escarradeiras hygienicas” In: Defesa contra a Tísica. 1(2):34-37, novembro de 1902.
159
passou a ser visto como perigoso, não só pela sua expectoração, mas,
principalmente, por sua presença.
318
Hoje, sabe-se que a tuberculose se transmite através das gotículas de Flügge
e só, excepcionalmente, através do escarro. Na época da guerra ao escarro teria
sido mais viável uma guerra às gotículas. Porém, elas não eram visíveis como o
escarro e foi nele que Koch descobriu o bacilo.
318
FERREIRA, Clemente. Tuberculose e Sanatórios. São Paulo, Typographia Brasil, 1900, pp. 4-5.
160
3. IMAGENS EM MOVIMENTO
3.1. Os cartazes na trincheira de luta contra a tuberculose
Os cartazes foram utilizados na guerra contra a peste branca com o intuito de
promover a educação sanitária e induzir os tuberculosos a procurarem tratamento
especializado. Foram emitidos pelas ligas filantrópicas e pela IPT do DNSP.
Fazendo uma análise de suas imagens, pode-se observar as representações
da peste branca de diferentes maneiras. A imagem da mulher foi fartamente
utilizada, ora, como uma deusa da mitologia grega, ora, como a redentora, a
protetora da pátria. Os ideais da revolução francesa foram amplamente divulgados
em diversos países do mundo, inclusive no Brasil, e sua alegoria, Marianne,
319
re-
apropriada pelos higienistas da França e do Brasil para simbolizar a guerreira
condutora dos soldados na luta contra o bacilo de Koch.
A imagem da morte, representada pela caveira com a foice, foi, também, re-
apropriada para representar a tuberculose, com a finalidade de incutir a idéia de que
a tísica era uma doença mortal, ceifadora de vidas na fase em que o homem é mais
produtivo, ou seja, o adulto jovem.
319 Marianne é a figura alegórica (uma mulher) que representa a República Francesa, sendo portanto uma personificação
nacional. Sob a aparência de uma mulher usando um barrete frígio, Marianne encarna a República Francesa e representa a
permanência dos valores da república e dos cidadãos franceses: Liberté, Égalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade e
Fraternidade). Marianne é a representação simbólica da mãe pátria, simultaneamente enérgica, guerreira, pacífica e protectora
e maternal. O seu nome provém, provavelmente, da contracção de Marie e de Anne, dois nomes muito frequentes no século
XVIII entre o população feminina do Reino de França.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marianne
Acesso
em:
21
de
fevereiro
de
2008.
161
FIGURA 11
CARTAZ DA INSPETORIA DE PROFILAXIA DA TB (DNSP)-1920
Fonte: RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., p. 91.
O cartaz da figura 11, de 1920, focalizando o escarro, mostra que a
tuberculose se propaga pelo mesmo, seco, reduzido à poeira e inalado. Dita normas
para as pessoas não escarrarem no chão e sim na escarradeira, latrina, etc. Ele foi
editado pela IPT do DNSP. A referida Inspetoria foi criada por Carlos Chagas, em
1920, e dirigida durante muitos anos por Plácido. Barbosa.
320
320 RIBEIRO, Lourival. A Luta.... Op. cit., p.
91.
162
FIGURA 12
CARTAZ DA LIGA BAHIANA CONTRA A TUBERCULOSE-1923.
Fonte: RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit., p. 73.
O cartaz da figura 12, de 1923, editado pela Liga Bahiana contra a
Tuberculose (LBCT), traz a cruz de braço simples e não a de braço duplo, como
aqueles editados a partir do final dos anos 20. O cartaz chama a atenção para a
profilaxia contra a tuberculose orientando os meninos educados a nunca
disseminarem a doença. Podemos observar que não fala da doença como
causadora de morte. Orienta, apenas, quanto à profilaxia da mesma.
163
FIGURA 13
CARTAZ DA INSPETORIA DE PROFILAXIA DA TB (DNSP)
Fonte: Revista Manguinhos – História, Ciências e Saúde. v.1, nº.1,
1994.
O cartaz da figura 13, editado pela IPT, mostra a “imagem da morte”,
representada pelo esqueleto com a foice sombreando de preto o mapa do Brasil, e
outra imagem de uma mulher semi-nua, com roupas esvoaçantes como uma deusa,
limpando com um pano a sombra escura. Há uma clara alusão à escravidão do
Brasil (abolida em 1888) quando compara a tuberculose a uma mancha negra. As
mensagens escritas, educativas, estão em sua parte inferior e chamam a atenção
para a tuberculose como a mais grave das doenças, no Rio de Janeiro, que mais
164
mata, enfraquece e torna a vida insuportável. Ao mesmo tempo dá o endereço da
IPT e dos dispensários que deviam ser procurados em caso de sintomas da doença.
As mensagens escritas, mais chamativas, estão em letras garrafais, em cima
e abaixo da imagem central, convocando as pessoas a lutarem contra a tuberculose.
Todo o cartaz é cercado por várias imagens da cruz vermelha de braço duplo, ícone
da cruzada contra o flagelo no mundo inteiro. Na visão de Pedro Soares, a mulher
representa Eros, o deus grego que no panteão romano é chamado de cupido, e a
caveira Tânatos, deus da morte na mitologia grega.
321
Evocando deusas da mitologia
grega, como Perséfone
322
, a imagem da mulher foi fartamente utilizada nesses
cartazes.
Os cartazes editados a partir da década de 1930, pela IPT e pela LPCT,
apresentavam uma nova roupagem ao usarem imagens mais chamativas e não
apenas dizeres. A imagem feminina, respaldada nos princípios de Augusto Comte
que referendava a mulher como melhor representante dos sentimentos da
humanidade, estava sempre presente nos mesmos. Também vista como a guerreira
e protetora da pátria a imagem da mulher foi utilizada.
É interessante observar que no Brasil, na grande maioria dos cartazes, a
tuberculose era representada pela imagem da morte, retratada por uma caveira com
uma foice. Essa imagem foi copiada dos cartazes da Europa. A imagem da
tuberculose associada a um monstro devorador de vidas, muito presente nos
cartazes europeus, foi pouco retratada no Brasil. Clemente Ferreira, sempre, em
seus discursos falava da tuberculose como um terrível minotauro devorador de vidas,
mas este minotauro não foi retratado nos cartazes da Liga Paulista.
321
SOARES, Pedro Paulo. “A Dama Branca e suas faces: a representação iconográfica da tuberculose”, In: Revista
Manguinhos – História , Ciências e Saúde. 1994, vol. 1, pp. 127-34.
322
Perséfone ou Koré corresponde à deusa romana Proserpina ou Cora. Era filha de Zeus e de Deméter, tendo nascido
antes do casamento de seu pai com a deusa Hera.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pers%C3%A9fone
Acesso
em:
31
de
julho
de
2007.
165
FIGURA 14
CARTAZ DA INSPETORIA DE PROFILAXIA DA TB ((DNSP)-1922
Fonte: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Memória da Tuberculose –
Acervo de depoimentos orais. RJ, Casa Oswaldo Cruz, 1993, p. 5.
No cartaz da figura 14, de 1922, identifica-se, no centro, um grupo de
mulheres simbolizando a luta contra o mal. Uma imagem feminina, portando em
uma mão uma tocha de fogo e na outra uma espada, encontra-se no meio em
posição de luta contra a tuberculose, aqui representada por animais. Duas colunas
retratam quadrinhos com mensagens mostrando de um lado os aliados da
tuberculose e do outro os inimigos. A cruz vermelha está na roupa da mulher na
parte superior do cartaz. É interessante observar que a IPT já usava esta insígnia em
1928. Segundo Tulo Hostilio, este foi o mais belo cartaz editado no Brasil e integrou
o programa das festividades do centenário de sua independência.
166
FIGURA 15
CARTAZ DA COMISSÃO CONTRA A TUBERCULOSE NA FRANÇA
Fonte: CHRETIEN, Jacques. La tuberculose Parcours Imagé, Tome 2,
Regards, Paris, Hauts-de-France, 1995, p. 79.
No cartaz da figura 15, editado pela Comissão Contra a Tuberculose na
França (CCTF), observa-se uma mulher com uma criança no braço esquerdo e,
mostrando, com a mão direita, um selo com as datas 1927-1928. Embaixo, pode-se
ler: “Salvar a infância é salvar a França”. “Comprai o selo antituberculoso”. A
campanha começava em 1 de dezembro e terminava no dia 5 de fevereiro. O cartaz
traz embaixo o valor do selo (10 centavos). Aqui no Brasil, também, usava-se o
termo Selo “antituberculoso” e não “antituberculose” como seria o mais correto.
167
FIGURA 16
CARTAZ DA LIGA PAULISTA CONTRA A TUBERCULOSE–1927
Fonte: RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit, p.136.
No cartaz da figura 16, editado pela LPCT, em 1927, observa-se uma mulher
com uma criança no braço esquerdo e, mostrando, com a mão direita, um selo com a
efígie de Azevedo Lima.
323
A cruz vermelha de braço duplo está no véu que lhe
cobre a cabeça. Com este cartaz se fazia a propaganda da Liga Paulista e
convocava as pessoas a comprarem o selo “antituberculoso”. A campanha
começava em dezembro e terminava no dia 31 de janeiro. O cartaz traz, embaixo, o
323 José Jerônimo de Azevedo Lima (1850-1912) foi um dos fundadores da Liga Brasileira Contra a Tuberculose.
168
valor do selo (100 reis). Esta campanha foi a primeira, das 14, que a Liga Paulista
promoveu em São Paulo.
É interessante observar a semelhança com o cartaz editado na França, no
mesmo ano, (figura 15) evidenciando a prática dos tisiólogos brasileiros de copiarem
os cartazes das campanhas contra a tuberculose editados na Europa. Observamos
que a mulher traz a mesma criança no braço esquerdo e mostra, com o braço direito,
um selo. A diferença está no selo. Até a expressão “Selo antituberculoso” é a
mesma.
A imagem da mulher é representada, neste cartaz, não como uma guerreira,
mas como a protetora da infância ameaçada pela tuberculose.
169
FIGURA 17
CARTAZ DA INSPETORIA DE PROFILAXIA DA TUBERCULOSE
Fonte: RIBEIRO, Lourival. A Luta... Op. cit, p.152.
No cartaz da figura 17, pode-se observar, no centro, a imagem de uma mulher
com roupas esvoaçantes e trazendo sobre o ombro esquerdo um relógio marcando
duas horas. Ao lado ler-se: “Cada duas Horas ella faz uma victima”. Esta frase tem o
sentido de evidenciar que a tuberculose é a maior das doenças e a que mais mata.
Observa-se que, mesmo mostrando a tuberculose como uma doença mortal, o cartaz
traz, também, mensagens que a mesma é curável e pode ser prevenida, desde que
sejam tomados cuidados profiláticos. Nas laterais, mensagens enfatizam que a
170
tuberculose se propaga pelo escarro, pelos perdigotos, pela poeira, pelo uso de
utensílios de mesa e orienta como prevenir estes meios de contágio.
Mostra que a tuberculose tem cura, se diagnosticada e tratada no início, e
orienta sobre o charlatanismo dizendo para fugir de anúncios de remédios
prodigiosos, pois o único tratamento eficaz era o higieno-dietético.
324
Embaixo, podemos ler os famosos “10 mandamentos contra a tuberculose”,
todos relacionados à prevenção, enfocando o fortalecimento do corpo através de
uma alimentação saudável, do repouso, de exercícios e da abstenção de drogas
como o álcool e o fumo.
Abaixo, vem a mensagem que a IPT, os Dispensários e os Centros de Saúde
forneciam os esclarecimentos sobre a doença, examinavam e tratavam os
tuberculosos pobres. Neste cartaz a imagem da mulher é mostrada como uma deusa
da mitologia grega.
324
O tratamento higieno-dietético consistia no repouso, na boa alimentação e nos ares das montanhas. Foi bastante utilizado
nos sanatórios da Europa e, entre nós, nos sanatórios de Campos do Jordão, onde o tuberculoso permanecia vários anos
isolado esperando a negativação do escarro. Na realidade, a cura dava-se pelas próprias defesas orgânicas que nestas
condições especiais eram ativadas.
171
FIGURA 18
CARTAZ DA COMISSÃO CONTRA A TUBERCULOSE NA FRANÇA
Fonte: CHRETIEN, Jacques. La tuberculose Parcours Imagé, Tome 2,
Regards,Paris, Hauts-de-France, 1995, p.48.
No cartaz da figura 18, editado pela CCTF, pode-se ver a imagem de uma
caveira envolta em um manto branco com uma foice dizimando a população, como
um flagelo. Em cima, em letras garrafais “Um Grande Flagelo” e embaixo “A
Tuberculose”. As campanhas de profilaxia contra a tuberculose, aqui no Brasil,
foram influenciadas pelas da Europa, com já frisei. Pode-se observar no cartaz da
figura 13, editado pela IPT, semelhanças com este da figura 18. A imagem da
caveira com a foice foi muito utilizada nas campanhas aqui no Brasil.
172
FIGURA 19
CARTAZ DA COMISSÃO CONTRA A TUBERCULOSE NA FRANÇA
Fonte: CHRETIEN, Jacques. La tuberculose Parcours Imagé, Tome 2,
Regards,Paris, Hauts-de-France, 1995, p.53
No cartaz da figura 19, também, editado pela CCTF, observa-se a imagem de
uma mulher suspendendo uma criança com as mãos e com os pés esmagando um
animal asqueroso representando a tuberculose. A mensagem escrita manda
esmagar a tuberculose e salvar a infância. No imaginário dos tisiólogos, a
tuberculose era vista como um monstro devorador de crianças e adultos. A mulher
aparece em, praticamente, todos os cartazes como a redentora que está pronta para
proteger a população da tuberculose.
173
FIGURA 20
CRUZ VERMELHA DE BRAÇO DUPLO – CRUZ DE LORENA
Fonte: CHRETIEN, Jacques. La tuberculose Parcours Imagé, Tome 2,
Regards,Paris, Hauts-de-France, 1995, p. 3
3.2. A cruz de Lorena
A Cruz e o Selo Antituberculose erigiram-se em símbolos de
maior curso internacional de toda a história da medicina.
José Rosemberg
325
325
ROSEMBERG, José. “Tuberculose. Aspectos históricos...
Op. cit., pp. 23 e 24.
174
A cruz de braço duplo, símbolo usado nas representações imagéticas da
tuberculose, nos mais diferentes países do mundo, é originária da cruz de Lorena.
No século XX, tornou-se um ícone da luta contra a tuberculose. Em 23 outubro de
1902, o médico parisiense Gilbert Sersiron
propôs ao Bureau Internacional de
Prevenção da Tuberculose, durante a IV Conferência Internacional realizada em
Berlim, que a luta contra a tísica tivesse como símbolo mundial, a cruz vermelha de
duplo braço que, em 1099, na primeira cruzada chefiada por Godofredo de Bouillon
(duque de Lorena), foi hasteada no Santo Sepulcro, em Jerusalém.
326
Somente em 1920, a União Internacional Contra a Tuberculose (UICT) adotou
a cruz como símbolo da luta e, em 1928, durante a VI Conferência Internacional da
Tuberculose, ocorrida em setembro, em Roma, o Conselho UICT decidiu
recomendar sua adoção, a todos os Membros Constituintes.
Um artigo publicado no Boletim da UICT, em setembro de 1982, revela que a
Cruz de Barra Dupla ou Cruz de Lorena remonta ao século II e era o símbolo de
Jerusalém. Durante a quaresma o patriarca a oferecia ao povo em adoração e
consolo. À ela eram atribuídas propriedades milagrosas. A partir do século VII, a
Cruz de Barra Dupla se tornou mais freqüente. Desde Justiniano II (685-711),
Imperador de Bizâncio, é encontrada em moedas, embaixo do nome "crux gemina".
A partir do século XVII, a Cruz de Barra Dupla tornou-se um símbolo cristão muito
disseminado. Coroava os campanários, estátuas, capelas, conventos, castelos e
protegia contra tempestades e tormentas. Foi relacionada com a arte de curar e
encontrada em um manual de medicina do século XVII "Practica in Chirurgia".
Decorava, também, os frascos dos farmacêuticos como "cruz benéfica de cura",
contra a bruxaria, a peste, o incêndio e as maquinações do diabo.
327
326 “Señores Es necesario um estandarte para a lucha mundial emprendida por la Beneficência pública y privada contra la
tuberculosis. Se precisa um signo de adhesión que permita a los soldados así como a los jefes de esta cruzada pacífica el
reconocerse y contarse”.
Boletim de la Union Internacional Contra la tuberculosis,. v. 57, n° 3-4. Septiembre/Diciembre 1982, p. 196.
327 Ibidem, p. 199.
175
3.3. O selo antituberculose
L’idée d’émettre des vignettes ou des timbres au profit des
malades tuberculeux remonte aux dernières années du siècle
dernier. L’objectif était alors de recueillir les fonds nécessaires à
l’édification d’hôpitaux et de sanatoriums.
328
Outro símbolo que se tornou ícone da luta contra a tísica foi o “Selo
Antituberculose” com difusão em mais de 60 países. Sua origem remonta aos últimos
anos do século XIX.
A figura 21 mostra os selos mais antigos do mundo, de 1897, emitidos em
Nova Gales do Sul. Os selos 1 e 2 trazem a efígie da Rainha Victória e os selos 3 e
4, editados por ocasião do Jubileu de Diamante da Rainha Victória, tiveram suas
vendas destinadas aos tuberculosos de Sidney.
329
FIGURA 21
SELOS ANTITUBERCULOSE MAIS ANTIGOS DO MUNDO
NOVA GALES DO SUL (1897)
1 2 3 4
Fonte: CHRETIEN, Jacques. La tuberculose Parcours Imagé, Tome 2, Regards, Paris, Hauts-de-
France, 1995, p.154.
328
“A idéia de emitir as vinhetas ou selos em beneficio dos doentes tuberculosos remonta aos últimos anos do século
passado. O objetivo era recolher fundos necessários à construção de hospitais e sanatórios”.
CHRETIEN, Jacques. La Tuberculose Parcours...Op. cit., p. 154.
329
Les premières iniciative dont nous ayons connaissance remont à 1897 em Nouvelles Galles du Sul. A l’occasion du “Jubile
de Diamant” de la Reine Victoria, sont emis deux timbres vendus douze fois leur valeur facile, surtaxe destinée aux
“Consumtives homes” de Sydney”.
176
FIGURA 22
PRIMEIROS SELOS ANTITUBERCULOSE EDITADOS NO MUNDO (1903- 1914)
5- Portugal-1903 6-Dinamarca-1904 7- Suécia-1905 8-P. Baixos-1906
9- Noruega-1906 10-Suécia-1909 11-Áustria-1910 12-Baviera-1911
13-Dinamarca-1912 14-Finlândia-1912 15-Islândia-1914 16-Noruega-1914
___________________________________________________________________________
Fonte: CHRETIEN, Jacques. La tuberculose Parcours Imagé, Tome 2, Regards, Paris, Hauts-de-
France, 1995, p.155.
177
Os primeiros países do mundo que editaram selos antituberculose foram:
Portugal, Dinamarca, Suécia, Países Baixos, Noruega Áustria, Baviera, Finlândia e
Islândia. Na figura 22, pode-se observar, em ordem cronológica, alguns dos
primeiros selos editados no mundo. A grande maioria traz efígies de reis e rainhas
(selos 6, 7, 8, 9, 10, 11, 13). Os da Finlândia e Noruega trazem figuras de animais
(selos 14,16). É interessante observar que o selo da Noruega, de 1914, (selo 16) é o
único que traz a cruz de Lorena no canto superior esquerdo. O selo emitido em
Portugal, de 1903, (selo 5) um dos mais antigos do mundo traz a mesma inscrição do
primeiro selo emitido naquele país “Assistência Nacional aos Tuberculosos”.
330
Os selos antituberculose difundiram-se no mundo graças ao dinamarquês
Einar Hollboel, funcionário dos correios, que, em 1904, teve a iniciativa de criar,
todos os anos, selos no natal. Logo foi editado um selo com a efígie da Rainha
dinamarquesa que era tuberculosa (selo 6). Em Portugal, a ANT, encampando a
idéia, lançou um selo com o retrato da Rainha Dona Amélia que também era
tísica.
331
A edição de selos no natal teve boa receptividade e, a partir daí,
disseminou-se em outros países.
330
Em 1899, graças a um decreto real de 17 de abril, Portugal emitiu um selo com a menção “Assistência Nacional aos
Tuberculosos”.
Ibidem, p. 155.
331
ROSEMBERG, José. ”Tuberculose. Aspectos históricos...Op. cit. p. 23 e CHRETIEN, Jacques. Op. cit.,
p. 154.
178
FIGURA 23
SELOS ANTITUBERCULOSE EDITADOS NO BRASIL
17- São Paulo-1937 18-São Paulo-1939 19-São Paulo-1941 20-São Paulo-1949
21-Pernambuco-1949 22-Campos Jordão s/d 23-RGS-1952 24-Não identificado
25-Pernambuco-1956 26-Bahia-1947 27-S. B. T. -1948 28-S. B. T. -1950
Fonte: Coleção Particular de Selos do Professor Dr. José Rosemberg
179
A figura 23 traz alguns selos editados no Brasil pelas Ligas e Associações de
Luta contra a Tuberculose.
332
Eles não estão em ordem cronológica, pois a idéia é
mostrar, pelo menos, um evento de alguns estados e, ou, instituições.
A Federação Brasileira das Sociedades de Tuberculose (FBST), a Sociedade
Brasileira de Tuberculose (SBT) e as Ligas: Pernambucana, Bahiana, Riograndense
do Sul e Paulista, entre 1927 e 1955, editaram selos, como instrumentos de
educação sanitária e como meio de obter recursos para a luta. Só a Liga Paulista
editou 14 campanhas como já comentado. Os selos das três primeiras traziam as
efígies de três grandes tisiólogos fundadores da LBCT: Azevedo Lima, Hilário de
Gouveia e Cypriano de Freitas. Quase todos os selos editados por Clemente Ferreira
traziam a seguinte frase: “Pró-tuberculosos pobres”. Segundo Rosemberg, nos anos
30, uma entidade fantasma arrecadou boa soma vendendo selos falsos com a
inscrição: ”Tudo pela luta antitubercular” (selo 24).
333
332
Os selos eram vendidos e distribuídos entre as entidades filiadas. O dinheiro adquirido era repassado em benefícios aos
doentes, principalmente aos pobres, oferecendo camas em hospitais, alimentos e remédios”.
MORAES, Mirtes de. Op. cit., p. 53.
333
ROSEMBERG, José. ”Tuberculose. Aspectos históricos...
Op. cit., p. 23.
180
FIGURA 24
SELOS ANTITUBERCULOSE EDITADOS EM VÁRIOS PAÍSES DO MUNDO
29-Austrália s/d 30-Áustria s/d 31-Argentina-1938 32-Argentina-1940
33-Albânia-1943 34-Bélgica-1925 35-Checos.-1948 36-Grécia-1944
37-China-1948 38-Colômbia-1951 39-Cuba-1938 40-Dinamarca-1904
Fonte: Coleção Particular de Selos do Professor Dr. José Rosemberg
181
FIGURA 25
SELOS ANTITUBERCULOSE EDITADOS EM VÁRIOS PAÍSES DO MUNDO
41-Espanha-1940 42-Rep. Dominicana-1949 43-Áustria-1937 44-Danzig-1939
45-Alemanha-1943 46-Estônia-1933 47-França-1948 48-Finlândia-1946
49-França-1926 50-Mônaco-1946 51-Marrocos-1945 52-Hungria-1924
Fonte: Coleção Particular de Selos do Professor Dr. José Rosemberg
182
FIGURA 26
SELOS ANTITUBERCULOSE EDITADOS EM VÁRIOS PAÍSES DO MUNDO
53-Iugoslávia-1948 54-Holanda-1934 55-Itália-s/d 56-Japão-1955
57-Iugoslávia-1937 58-Letônia-1930 59-Luxemburgo-1925 60-Marrocos s/d
61-Noruega-1959 62-Haiti-1949 63-Pérsia s/d 64-Polônia-1948
Fonte: Coleção Particular de Selos do Professor Dr. José Rosemberg
183
FIGURA 27
SELOS ANTITUBERCULOSE EDITADOS EM VÁRIOS PAÍSES DO MUNDO
65-Portugal-1903 66-Portugal-1929 67-Suíça-s/d 68-Portugal-1932
69-România- 1932 70-Suécia-1906 71-Rússia –s/d
72-Suécia-1911 73-Suíça-1950 74-EUA-1930
Fonte: Coleção Particular de Selos do Professor Dr. José Rosemberg
184
As figuras 24, 25, 26 e 27 mostram selos de diversos países do mundo. Aqui
não há uma preocupação de ordem cronológica e sim de trazer um, ou mais, eventos
de cada país. Os selos foram valiosos instrumentos de educação sanitária e muitos
foram usados para proteger a infância. As imagens de crianças e das mães velando
os filhos tuberculosos foram muito utilizadas, bem como nas propagandas da vacina
BCG (selos18, 28, 32, 33, 38, 39, 48, 50, 53, 59, 61, 64, 66, 67); outros foram
usados para homenagear reis, rainhas e grandes vultos da medicina (selos 1, 2, 6, 7,
8, 9, 10, 11, 13, 20, 21, 26, 30, 36, 43, 44, 45, 47, 49, 54); outros divulgaram
dispensários e sanatórios (selos 17, 43, 62, 69, 71, 73, 83); muitos foram emitidos
com motivos de natal para campanhas editadas todos os anos a fim de angariar
recursos (selos 23, 31, 74).
185
FIGURA 28
SELOS ANTITUBERCULOSE COM REPRESENTAÇÕES DA CRUZ DE LORENA
76-s/p-1947 77- Suriname-1964 78-Bélgica-1940
79-Turquia-1968 80-Iraque-s/d 81-EUA-s/d
82- Barcelona-1957 83- Genebra-1943 84- Finlândia-1993
Fonte: CHRETIEN, Jacques. La tuberculose Parcours Imagé, Tome 2, Regards, Paris, Hauts-de-
France, 1995, pp.156-159.
186
A figura 28 mostra selos com a representação da Cruz de Lorena. A partir da
década de 1920, todos os selos editados pelas associações filiadas à UICT
passaram a exibir a cruz de Lorena.
334
No inicio, de uma maneira discreta,
posteriormente, tornou-se, em muitas edições, um símbolo de grande significado. Às
vezes como uma arma capaz de vencer a hidra da tuberculose (selos 60, 76, 77, 79);
outras vezes, como símbolo do escudo na defesa contra a tísica (selos 78, 81);
outras, ainda, como sustentação para os tuberculosos agonizantes (selo 19);
algumas vezes como símbolo de proteção e solidariedade (selo 82); outras como
símbolo da alegria de viver (selo 84); outras, em forma de dispensários (selo 83).
334 “Não se esperava que a cruz de braço duplo criasse incidente diplomático religioso com os países muçulmanos, cujas
organizações anti-tuberculose negaram-se a adotá-la. O impasse durou até 1959, havendo acordo no Congresso da União
Internacional contra a Tuberculose, no Cairo: os países com crença maometana passaram a usar o quarto crescente como
símbolo anti-tuberculose, ficando optativa a representação simultânea da cruz”.
ROSEMBERG, José. ”Tuberculose. Aspectos históricos” Op. cit., p. 24.
187
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de a tuberculose ter sido responsável, na cidade de São Paulo, por um
alto índice de mortalidade no final do século XIX e começo do século XX, maior até
do que de todas as doenças pestilenciais reunidas, ela não recebeu, dos poderes
públicos, a assistência adequada para o seu controle.
A atenção do Estado estava voltada, naquele momento, para combater a
febre amarela, a varíola, a febre tifóide, a cólera, a malária e a peste do oriente por
comprometerem os interesses dos cafeicultores já que atingiam com maior força os
imigrantes, mão de obra para a agricultura do café e para a incipiente indústria
paulistana.
Coube a Clemente Ferreira e colaboradores, através da associação
filantrópica denominada de “Liga Paulista contra a Tuberculose”, o inicio da luta,
influenciados pelos movimentos que ocorriam na Europa, especificamente na
Alemanha, onde a tuberculose atingia seu pico epidêmico.
A Liga conseguiu, por meio de subvenções do governo e de donativos da
população paulistana, instalar alguns armamentos de luta, mas não conseguiu
realizar seu principal objetivo, ou seja, inaugurar, nos arredores da capital paulistana,
um sanatório para o isolamento e tratamento dos tuberculosos indigentes. O grande
óbice enfrentado para este desiderato foi a necessidade de vultosas verbas e o
desinteresse do Estado em liberá-las. Entretanto, a Liga conseguiu construir um
prédio na Rua da Consolação, que ainda hoje funciona com os mesmos objetivos
iniciais, para instalar o dispensário que, durante 30 anos, foi o baluarte da luta na
capital paulistana.
A distância abismal entre o número de armamentos criados nas capitais
européias em relação as capitais brasileiras, inclusive São Paulo, no inicio do século,
é facilmente explicada. Na Europa, a industrialização, em fase adiantada, permitiu
que o dinheiro da previdência dos trabalhadores fosse usado para cobri-la de
sanatórios. No Brasil, por tratar-se de um país agrário com uma industrialização
muito incipiente, não houve quem financiasse os referidos sanatórios. Além disso,
não havia consciência e nem interesse dos poderes públicos em combater a
tuberculose.
Perseguindo, obstinadamente, o modelo de luta europeu, a Liga Paulista
conseguiu, por outro lado, implantar medidas efetivas contra a tuberculose como:
188
criar uma consciência na população e nos governantes da necessidade de combater
a tísica, através da profilaxia e do tratamento dos doentes em sanatórios.
Clemente Ferreira, como presidente da Liga Paulista, conseguiu verbas do
governo através de políticos que fizeram parte da diretoria da instituição como, entre
outros, o deputado Azevedo Sodré. Aliás, Clemente Ferreira conseguiu verbas para
abrir e manter o dispensário foi através de membros da Liga que eram amigos do
Presidente do Estado de São Paulo (como era chamado na época) e até do
Presidente da República. Emílio Ribas, mesmo mostrando boa vontade e
encaminhando os pedidos de Clemente Ferreira para abrir sanatórios não tinha
poder para isso. O seu poder foi o de um Diretor Sanitário, hoje, comparável ao de
um Secretário de Saúde.
O problema da tuberculose era tão complexo, naquela época, que nem o
Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, com todo prestígio que tinha por ter vencido a
febre amarela e ocupado um cargo comparado, hoje, ao de Ministro da Saúde, não
conseguiu verbas para implantar um programa de combate à mesma.
A meu ver, a questão da utopia médica, do discurso médico de lamentação,
das impossibilidades de realizar projetos, etc., tem várias explicações. A mais
importante não é a divisão que existe na classe médica, apesar de reconhecer o seu
peso. Porém, a mais importante é a luta de forças, com diferentes interesses
econômicos, que se dá entre os políticos donos do poder. Essa luta nem sempre
contempla os interesses médicos.
A tuberculose, no caso, não representava ameaça – pelo menos era assim
que era vista – aos interesses dos poderosos e donos do capital. Daí a dificuldade
de liberar verbas para o seu combate. A febre amarela foi debelada com muita
rapidez por causa dos interesses dos cafeicultores que precisavam dos imigrantes e
esses eram altamente atingidos por ela. O jogo de interesses econômicos sempre
falou mais alto em todas as questões, não só na da saúde. A dança de forças muda
o tempo todo, sabe-se disso.
O grande mérito da Liga foi ter perseguido uma interação mais eficaz com o
Estado mostrando as causas sociais que geravam a doença, os altos custos para
implantação de medidas de controle e, mostrando, ainda, que somente com a
intervenção do Estado era possível enfrentar, com êxito, o problema.
Neste período, o Estado atuava no enfrentamento das questões sociais
incentivando as iniciativas particulares, associações beneficentes, através de
189
subvenções. Inclusive, as subvenções que foram liberadas para a Liga Paulista,
apesar de insuficientes, responderam pelo patrimônio da mesma em escala bem
maior do que as doações da população. Por outro lado, a Liga serviu ao Estado
como instituição filantrópica motivada por sentimentos humanitários e agindo em
nome da ciência. Finalmente, conseguiu, depois de 30 anos, a adesão do Estado na
luta contra a tuberculose.
A participação das mulheres na luta contra a tuberculose, no começo do
século XX, evidenciava a capacidade de organização e de empenho das mesmas
nas causas humanitárias, demonstrando que o papel da mulher não se restringia
somente ao lar.
O trabalho da Liga não foi eficaz para a diminuição da mortalidade causada
pela tuberculose, e nem poderia ter sido de outra forma, diante de uma “doença
social” ligada a pobreza, miséria, fome e moradia insalubre das populações. Seu
controle estava vinculado à erradicação da miséria, propiciando, assim, dignas
condições de vida ao proletariado. Diante deste complexo problema de saúde
pública, de tão grande magnitude, como era a tísica no começo do século, seu
controle passava pela questão social. Fugia, portanto, da competência de uma
instituição filantrópica que, por outro lado, teve um papel fundamental para a
implantação de uma consciência sanitária na população paulistana; para a
implantação da vacina BCG e dos métodos terapêuticos e cirúrgicos da época; para
a formação de especialistas na área; para acolher e confortar os tuberculosos pobres
e seus familiares. E mais ainda, serviu para que a tísica passasse a ser objeto de
interesse das elites políticas.
Paradoxalmente, o fato da Liga ter perdido o Dispensário-Modêlo, seu
principal armamento, fez com que o Governo do Estado assumisse a luta e desse
grande impulso a mesma criando sanatórios e dispensários em diversas regiões.
A atuação do Governo para o enfrentamento da tuberculose oficializou-se em
1931, com a criação da “Secção de Profilaxia da Tuberculose”, do Serviço Sanitário.
A partir de 1934, quando o Estado passou a comandar o Dispensário-Modêlo, com o
nome de “Instituto de Pesquisa Clemente Ferreira”, foi desenvolvida uma política de
controle da tuberculose, que passou a ser, efetivamente, uma questão estatal.
A tuberculose era doença de pobre e, por isso, foi hercúlea a luta de Clemente
Ferreira para conseguir suas conquistas, que não foram poucas, diga-se de
passagem. Foram frutos dessa dedicação, sem limites, a uma causa que, como
190
disse Rosemberg, em 1957, 10 anos após a morte do patriarca da tisiologia
brasileira, nos intriga.
Clemente Ferreira teve desavenças, sim, com um sucessor de Emílio Ribas
chamado Geraldo de Paula Souza, que achou por bem extinguir a Secção de
Proteção à Primeira Infância. Secção, esta, criada por Emílio Ribas, em 1905, e que
esteve, durante 20 anos, sob a chefia de Clemente Ferreira porque Emílio Ribas o
nomeou e o manteve no cargo o tempo em que dirigiu o Serviço Sanitário do Estado
de São Paulo, demonstrando, assim, confiança e amizade em sua pessoa.
Não explorei a desavença entre Clemente Ferreira e Paula Souza porque o
meu tema era a tuberculose e Clemente Ferreira, como Presidente da Liga e não
como pediatra e funcionário de Estado. Depois de muita leitura, muita pesquisa,
inclusive nas fontes que levaram às interpretações equivocadas, concluí que a
querela entre Clemente Ferreira e Emílio Ribas nunca existiu.
Clemente Ferreira, por ter tido uma vida longa, sofreu as dores de perder
muitos entes queridos, mas teve o privilégio de ver que sua luta no combate à
tuberculose foi vitoriosa e pôde, no final de sua vida, saborear a satisfação de saber
que valeu a pena os longos anos de labuta e sacrifícios empregados na magna
causa.
Clemente Ferreira, apesar de ter empenhado, competentemente, todos os
esforços na luta para o controle da tuberculose, não conseguiu lugar no panteão
destinado pela História aos higienistas Emilio Ribas, Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Vital
Brasil e outros que conseguiram debelar as doenças pestilenciais em um curto
período de tempo. A tuberculose por ser uma “doença social”, milenar, causada por
um bacilo que acompanha o homem desde o inicio de sua trajetória na terra não
poderia ter sido controlada, e muito menos erradicada, por maiores que fossem os
esforços para vencê-la. Hoje, mais de 100 anos após o inicio da luta, a tísica
recrudesceu e se apresenta desafiando a ciência, no mundo globalizado.
Por ter sido a tuberculose uma doença tão usual no começo do século XX, foi
criada em torno dela diversas representações. A “visão romântica”, que predominou
durante o século XIX, deu lugar à “visão social” graças à industrialização que
favoreceu a disseminação da mesma entre o proletariado. O modelo de beleza física,
ostentado pelo tuberculoso, no século XIX, sucumbiu, no século XX, diante do perigo
do contágio causando repugnância, medo e discriminação. Vista como refinamento,
antes da descoberta do bacilo, a tuberculose passou a significar grande entrave ao
191
progresso diante do assustador obituário que a mesma causava. O binômio higiene-
saúde, calcado no cientificismo do saber médico, foi perseguido exaustivamente
pelos higienistas. A tuberculose concebida como doença social passou a ser
associada às condições precárias de vida dos trabalhadores como: moradia, higiene
e alimentação deficientes. A erradicação da tísica prescindia a erradicação desses
fatores. Diante deste óbice, os higienistas perseguiram um combate através da
educação sanitária respaldados em folhetos, cartazes e campanhas de selos com
mensagens educativas para criar uma consciência sanitária na população. As
imagens utilizadas serviam para incutir o medo do contágio.
Este trabalho de pesquisa não pretendeu esgotar as inúmeras possibilidades
de investigação da luta contra a tuberculose, na capital paulistana, na primeira
metade do século XX. Pelo contrário, ele apenas abriu uma brecha para que outros
pesquisadores, com olhares diferentes, vejam a questão por outros prismas e
ângulos. Espero ter contribuído, mesmo modestamente, para que a tuberculose volte
a ter a atenção dos governantes e da população, como nas últimas décadas da era
pré-quimioterápica.
192
FONTES
1. NÃO PUBLICADAS (IMPRESSAS E MANUCRITAS)
1.1. DE CLEMENTE FERREIRA
FEREIRA, Clemente. Carta dirigida ao Sr. Morato. São Paulo, 02 de outubro de 1934.
________. Carta dirigida à Imprensa Resendense. São Paulo, 04 de março de 1942.
________. Discurso proferido por ocasião da inauguração do laboratório do dispensário Infantil e do
pavilhão de vacinação BCG. São Paulo, 1941.
________. Discurso proferido por ocasião da entrega, do 5ª premio “Clemente Ferreira” ao melhor
trabalho de tisiologia, oferecido pela Associação Paulista de Medicina. 12 de outubro de 1943.
________. Discurso proferido por ocasião da inauguração do Dispensário de Araraquara. Araraquara,
12 de abril de 1942.
________. Discurso proferido em Taubaté em homenagem ao Dr. Guisard pela criação das
organizações de amparo e proteção social. Taubaté, s/d.
________. Discurso proferido em Salvador, Bahia, no Instituto Brasileiro para a Investigação do Tórax
(IBIT), homenageando o Dr. José Silveira. Bahia, 30 de maio de 1946.
________. Minhas Memórias – Minha Vida Social e Científica – Minha Carreira Profissional (1881-
1944). São Paulo, mimeo, s/d.
1.2. OUTRAS
Carta Anônima dirigida ao Dr. Clemente Ferreira. s/d.
Ata da Reunião Solene da Diretoria da Liga Paulista Contra a Tuberculose, realizada no dia 17 de
julho de 1999, data da comemoração de 100 anos da Instituição.
Livros de Atas das Reuniões da Liga Paulista Contra a Tuberculose de 1920 a 2006.
SILVA, João José da. A fera Invisível ou O triste fim de uma trapezista que sofria do pulmão.
Literatura de Cordel.s/e, s/d.
2. PUBLICADAS (IMPRESSAS)
2.1. JORNAIS
2.1.1. O PAIZ
1899 – (10, 22, 30, 31) de janeiro; (25) de março; (13, 23, 26) de junho; (18, 19, 29) de julho; (26) de
agosto; (s/d) de setembro.
1900 – (15) de agosto.
1913 – (17) de março; (20, 28) de abril; (19, 23, 26, 28) de maio.
2.1.2. A GAZETA
1947 – (07) de agosto.
1949 – (6) de abril.
1952 – (s/d) fevereiro; (18) de julho; (22) de outubro; (s/d) de dezembro.
1953 – (01, 04, 10, 11) de julho; (07) de outubro.
1957 – (27) de maio; (24) de julho; (27) de agosto; (15, 17, 22, 24, 25, 28, 29, 30) de setembro.
1958 - (s/d) de janeiro; (11) de dezembro.
1959 – (16, 17,18) de julho; (16,21) de dezembro.
193
1960 – (06) de agosto; (29) de setembro; (11, 12, 20) de outubro.
2.1.3. O JORNAL DO COMÉRCIO
1949 – (06) de abril.
2.1.4. O DIÁRIO DE SÃO PAULO
1947- (07, 08) de agosto.
1950 - (17) de julho.
1953 - (04,11) de julho.
1957 - (7) de julho; (14, 29) de setembro.
1960 – (06) de agosto.
2.1.5. DIÁRIO DA NOITE
1947 - (07) de agosto.
1959 – (21) de dezembro.
2.1.6. DIÁRIO POPULAR
1947 – (07) de agosto.
2.1.7. FOLHA DA MANHÃ
1947 – (07, 08) de agosto.
1950 – (22) de agosto.
1952 – (18) de julho.
1953 – (26) de julho.
1954 – (06) de agosto.
1956 – (26) de julho.
1959 – (18) de dezembro.
2.1.8. FOLHA DA NOITE
1949 - (22) de julho.
1960 – (29) de setembro; (11) e outubro.
1965 – (29) de setembro.
2.1.9. ÚLTIMA HORA
1958 – (20) de novembro.
2.1.10. ESTADO DE SÃO PAULO
1914 – (03) de abril.
1932 – (25) de junho.
1947 – (07, 08) de agosto.
1952 - (18) de julho.
1953 – (08) de julho.
1957 – (01) de agosto.
1966 – (28) de outubro.
2.1.11. CORREIO PAULISTANO
1913 – (11) de julho.
1947 – (07, 08) de agosto.
2.1.12. CORREIO BRASILIENSE
194
1913 - (11) de julho.
2.1.13. FOLHA DE SÃO PAULO
2005 – (20) de agosto.
2.2. PERIÓDICOS
2.2.1. DEFESA CONTRA A TISICA
EDITORIAL – “Defesa contra a Tísica”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(1):1-2, maio,1902.
“Associação Paulista dos Sanatórios Populares para Tuberculosos”. In: Defesa Contra a Tísica.
1(1):3-8, maio, 1902.
GODINHO, Dr. Victor. “Dispensarios para tuberculosos”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(1):9-16, maio,
1902.
VEIGA, Saturnino. “A Luta contra a Tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):17-31, maio, 1902.
“Appello ás Municipalidades e ás Administrações das S.
tas
Casas do interior do Estado”. In: Defesa
Contra a Tísica.1(1):32-36, maio,1902.
“Hygiene das escolas e das Repartições Públicas”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):37-39, maio, 1902.
“Hygiene das vias férreas”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):40-43, maio, 1902.
“Hygiene das fabricas e officinas”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):43-44, maio, 1902.
“Propaganda anti-tuberculosa”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):45-48, maio, 1902.
“Legendas hygienicas anti-tuberculosas”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):49, maio, 1902.
“A educação anti-tuberculosa nas escolas”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):50-51, maio, 1902.
“Defesa contra a tuberculose nos hospitaes”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):52-53, maio, 1902.
“Hygiene dos correios”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):54-55, maio, 1902.
“Propaganda anti-tuberculosa” In: Defesa Contra a Tísica.1(1):59, maio, 1902.
“Propaganda anti-tuberculosa por meio dos cartões postaes, cintas dos jornaes e enveloppes”. In:
Defesa Contra a Tísica.1(1):62-63, maio, 1902.
“Reacção anti-tuberculosa”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):73-74, maio, 1902.
“Vulgarisação anti-tuberculosa”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):75, maio, 1902.
“A lucta contra a tuberculose na Rep. Argentina”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):76-78, maio, 1902.
“Tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):79-80, maio, 1902.
REDACÇÃO – “A prophylaxia da tuberculose pela intervenção da providencias administrativas” In:
Defesa Contra a Tísica. 1(2):1-13, novembro, 1902.
“Relações entre a tuberculose humana e bovina”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):14-24, novembro,
1902.
“A tuberculina – Seu valor diagnostico no homem e nos animaes. – Preparação – Causas possíveis
de erro”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):25-33, novembro, 1902.
“As escarradeiras hygienicas”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):34-38, novembro, 1902.
RIBEIRO, Dr. Olegario. “Sanatorio de Oliveira”. In: Defesa Contra a Tísica.1(2):17-31, novembro,1902.
PARANHOS, Dr. Ulysses. “O leite e a tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):42-49, novembro,
1902.
“Liga Paulista contra a Tuberculose – Educação antituberculosa nos estabelecimentos industriaes”. In:
Defesa Contra a Tísica. 1(2):50-51, novembro, 1902.
195
“A Associação Paulista dos Sanatorios Populares e o appello ás Câmaras Municipaes”. In: Defesa
Contra a Tísica. 1(2):52, novembro, 1902.
“A defesa contra a tisica” In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):53-54, novembro, 1902.
“Appello aos bancos” In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):55-57, novembro, 1902.
“A hygiene nas egrejas”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):58-60, novembro, 1902.
“Propaganda anti-tuberculosa por meio das caixas de phosphoros”. In: Defesa Contra a Tísica.
1(2):61-63, novembro, 1902.
“Representação ao Congresso Legislativo do Estado de S. Paulo”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):64-
65, novembro, 1902.
GODINHO, Dr. Victor. “A Luta anti-tuberculosa no Brasil”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):67-78,
novembro, 1902.
NOTICIAS – “Sanatório São Luiz, em Piracicaba”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):86-89, nov,1902.
REDACÇÃO – “A Liga Paulista contra a Tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):1-4, mai, 1904.
KNOPF, S. A. “Carta do dr. Knopf de Nova York”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):5-12, mai, 1904.
GODINHO, Dr. Victor. “A tuberculose sob o ponto de vista social”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):13-
44, maio, 1904.
“A Luta anti-tuberculosa em a Republica Argentina”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):45-50,
maio,1904.
“Appello ao Conselho Municipal em favor da creação e custeio de um dispensario anti-tuberculoso”.
In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):54-58, maio,1904.
“VARIEDADES E NOTICIAS – O estado actual do problema da tuberculose nos Estados Unidos”. In:
Defesa Contra a Tísica. 3(1):59-61, maio, 1904.
“A obra de preservação da infância contra a tuberculose em França”. In: Defesa Contra a Tísica.
3(1):62-71, maio, 1904.
“Os requisitos essenciaes de um sanatorio modelo, segundo o tisiologista Arthur Latham”. In: Defesa
Contra a Tísica. 3(1):72-75, maio, 1904.
VEIGA, Dr. Saturnino da. “O dispensário Octavio de Freitas”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):176-178,
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REDACÇÃO – “O Dispensário da Liga Paulista contra a Tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica.
6(1):1-6, janeiro-julho, 1907.
CRUZ, Dr. Oswaldo Gonçalves. “Prophylaxia da tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica. 6(1):19-33,
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RYN, Dr. Van. “Guerra aos Escarros”. In: Defesa contra a Tísica. 6(1):15-18, janeiro/julho, 1907.
2.2.2. REVISTA PAULISTA DE TISIOLOGIA
GONZAGA, Dr. A. Gavião. “Organização das estâncias climáticas de tratamento e de repouso. Sua
administração sanitária. Sanatórios populares. Subvenções”. In: Revista Paulista de
Tisiologia, 1(3-4):65-69, março-abril, 1935.
TELLES, Décio de Queiroz. “O Problema da Tuberculose em São Paulo”.In: Revista Paulista de
Tisiologia,1(3-4):70-81, março-abril de 1935.
196
MIRANDA, Dr. Ary. “Critica e commentarios á margem do 3º. Congresso Pan-Americano de
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EDITORIAL. “Novas diretrizes na lucta antituberculosa em São Paulo”. In: Revista Paulista de
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SOUZA, Raphael de Paula. “Organização antituberculosa em São Paulo”. In: Revista Paulista de
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SOUZA, Dr. Raphael de Paula. “Estações climatericas para tuberculosos em São Paulo e
Bioclimatologia”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 1(7-8):255-263, julho-agosto de 1935.
PENNA, Dr. Camillo de Oliveira. “Clima e Tuberculose”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 1(5-6):210-
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LOPES, Ivan de Souza. “Organização antituberculosa em São Paulo”. In: Revista Paulista de
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NEBIAS, Octavio. “Organização Anti-tuberculosa em São Paulo”. In: Revista Paulista de Tisiologia,
1(11-12):481-483, novembro-dezembro de 1935.
SOARES, Dr. João B. de Souza. “Organização antituberculosa em São Paulo”. In: Revista Paulista de
Tisiologia, 1(9-10):385-390, setembro-outubro de 1935.
COVELLO JUNIOR, Manuel. ”Commentários sobre a Tuberculose” In: Revista Paulista de Tisiologia.
2(2):96-104, março-abril de 1936.
PRADO, Xavier do. “Sanatório do Médico”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 3(2):154, maio-junho de
1936.
2.2.3. SÃO PAULO MÉDICO
AZEVEDO, Dr. Antonio Vicente de. “A Creação de Dispensários Antituberculosos em SP”. In: São
Paulo Médico. Anno XI, vol. 1, maio-junho de 1938, nº
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5 e 6. pp. 57 a 74.
COVELLO JUNIOR, Miguel. “Como evoluio o conceito social sobre a tuberculose”. In: São Paulo
Médico. Anno VIII, vol. 1, maio-junho de 1935, nº
s
5 e 6, pp. 115-125.
COMENALLE FILHO E TISI NETO. “A phenicectomia no tratamento da tuberculose pulmonar”. In:
São Paulo Médico. Anno III, 1934.
________. “Critica sobre o conceito moderno da climatotherapia”. In: São Paulo Médico. Anno VI,
vol.II, nº.1, janeiro de 1934, pp. 1-16.
EDITORIAL. “Sociedade dos médicos do dispenrio de tisiologia - Clemente Ferreira”. In: São Paulo
Médico. Anno IV, vol. II, nº. 5, março de 1932, pp. 662-663.
EDITORIAL. “3º Congresso Pan-Americano de Tuberculose”. In: São Paulo Médico. Anno VII, 1934.
EDITORIAL. “Clinica de Diagnóstico do dispensário Clemente Ferreira”. In: São Paulo Médico. Anno
VII, 1934.
MOREIRA, Uzida. “Perigos da Heliotherapia na tuberculose pulmonar”. In: São Paulo Médico. Anno
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SAMPAIO, Mesquita. “Climas e tuberculose pulmonar”. In: São Paulo Médico. Anno I, 1929.
KEHL, Renato. “Porque sou eugenista”. In: São Paulo Médico. Anno X, 1938.
2.2.4. ARCHIVOS DE HYGIENE
197
ESTATISTICA – “Movimento do Estado civil: população, casamento, nascimento, etc”. In: Archivos de
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PITANGA FILHO, Genésio. “A Inspetoria de profilaxia contra a tuberculose – 9 anos de trabalho”. In:
Archivos de Hygiene. 1930.
________. “Ligeiro Histórico do movimento anti-tuberculosso até 1920”. In: Archivos de Hygiene,
1930.
2.2.5. ARCHIVOS DE HYGIENE E SAÚDE PUBLICA
BRAZIL, Vital. “Emilio Ribas”. In: Archivos de Hygiene e Saúde Pública. São Paulo, Anno I, vol. 1, nº.
1, pp. 17-12, junho de 1936.
2.2.6. REVISTA DE HIGIENE E SAÚDE PÚBLICA
BARBOSA, Plácido. “O problema da tuberculose”. In: Revista de Hygiene e Saúde Pública. Anno I, nº.
I, 1925.
BARBOSA, Renato. “O lar e a tuberculose”. In: Revista de Hygiene e Saúde Pública. Rio de Janeiro,
s.e., 1929, anno III, nº.1.
_______. “O operário tuberculoso”. In: Revista de Hygiene e Saúde Pública. Anno IV, nº. 8, 1930.
COSTA, Bonifácio. “A capacidade physica do tuberculoso para o trabalho” In: Revista de Hygiene e
Saúde Pública. Anno IV, nº. 8, 1930.
DAMAZIO, Alazino. “O problema da tuberculose no exército”. In: Revista de Hygiene e Saúde Pública.
Anno II, nº. 4, 1929.
EDITORIAL. In: Revista de Hygiene e Saúde Pública. Anno I, nº.1, 1925
RICARDO, Austides. “Defesa das populações contra a tuberculose” In: Revista de Hygiene e Saúde
Pública. Anno IX, nº. 2, 1935.
2.2.7. REVISTA MÉDICA DE SÃO PAULO
BOLETIM DA SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DE S. PAULO. “Acta da Sessão
extraordinária a 17 de julho de 1899”. In: Revista Medica de S. Paulo. 2(9): 274-275, 15 de
setembro de 1899.
BURGOS, Coriolano. “A liga contra a tuberculose”. In: Revista Médica de São Paulo. São Paulo, Esc.
Typ, Salesiana, nº. 10, anno 2, 1900.
EDITORIAL. In: Revista Médica de São Paulo. São Paulo, Esc. Typ, Salesiana, nº. 1, anno 3, 1900.
GODINHO, Victor. ”Hospital de Isolamento”. In: Revista Médica de São Paulo. Esc. Typ, Salesiana,
nº. 8, anno 3, 1900.
LUTZ, Adolpho. “Observações sobre as moléstias da cidade e do Estado de São Paulo”. In: Revista
Médica de São Paulo. Esc. Typ, Salesiana, nº. 2, anno 1, 1898.
_______. “Relatório dos trabalhos do Instituto Bacteriológico”. In: Revista Médica de São Paulo. Esc.
Typ, Salesiana, nº. 10, anno 1, 1898.
SODRÉ, Azevedo. EDITORIAL. In: Revista Médica de São Paulo. Esc. Typ, Salesiana, nº. 4, anno 1,
1898.
2.2.8. REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
SOUZA, Raphael de Paula. ”Financiamento do armamento antituberculoso – a questão social” In:
Revista da Associação Paulista de Medicina. vol. 7, 1935.
198
________. “Impregnação tuberculosa dos universitários paulistas”. In: Revista da Associação Paulista
de Medicina. Vol. 9, 1936.
TELLES, Décio de Queiroz. “O problema da tuberculose em São Paulo”. In: Revista da Associação
Paulista de Medicina. vol. 6, 1935.
2.2.9. REVISTA BRASILEIRA DE TUBERCULOSE
EDITORIAL. “A questão sanatorial”. In: Revista Brasileira de Tuberculose. Rio de Janeiro, s.e., vol. 1,
1932.
EDITORIAL “Os factores sociais na luta antituberculosa”. In: Revista Brasileira de Tuberculose. Rio de
Janeiro, s.e., vol. 1, 1933.
EDITORIAL. “Herança e Contágio na tuberculose”. In: Revista Brasileira de Tuberculose. Rio de
Janeiro, s.e., vol. 2, 1934.
2.2.10. REVISTA DE MEDICINA E HYGIENE MILITAR
BARBOSA, Plácido. “Sobre o diagnóstico da cura da tuberculose”. In: Revista de Medicina e Hygiene
Militar. Rio de Janeiro, s.e., nº. 9, 1927.
KUSS, G. “Contágio da tuberculose e preconceitos populares” In: Revista de Medicina e Hygiene
Militar. nº. 8, 1923.
SOUZA, Raphael de Paula. “A tuberculose no Estado de São Paulo – subsídios para uma luta
antituberculosa no Estado”. In: Revista de Medicina e Hygiene Militar. Rio de Janeiro, s.e.,
1922, nº. 3.
2.2.11. REVISTA MANGUINHOS – HISTÓRIA CIÊNCIA E SAÚDE
PORTO, Ângela e NASCIMENTO, Dilene Raimundo do. “Tuberculosos e seus Itinerários”. In: Revista
Manguinhos – História, Ciências e Saúde. Rio de Janeiro, Casa Oswaldo Cruz, vol. 1 n°. 2,
novembro de 1994 – fevereiro de 1995.
SOARES, Pedro Paulo. “A dama branca e suas faces: a representação iconográfica da tuberculose”.
In: Revista ManguinhosHistória, Ciências e Saúde, Rio de Janeiro, Casa Oswaldo Cruz,
vol.1 n°. 1, 1994, pp. 127-34.
2.2.12. BOLETÍN DE LA UNION INTERNACIONAL CONTRA LA TUBERCULOSIS
EDITORIAL. “Centenário del Descubrimiento del Bacilo de la Tuberculosis por Robert Koch 1882-
1982” In: Boletin de la Union Internacional Contra la Tuberculosis, vol. 56, Nº 3-4,
Septiembre/Diciembre, 1981, pp. 91-93.
KOCH, Dr. Robert. « La etiologia de la Tuberculosis. Según el trabajo presentado a la Sociedad de
Fisiologia de Berlin, el 24 de Marzo de 1882 y l Berliner Klinische Wochenschrift, 1882, xix,
221 ». In: Boletin de la Union Internacional Contra la Tuberculosis, vol. 56, Nº 3-4,
Septiembre/Diciembre, 1981, pp. 95-109.
KRAUSE, Allen K. « Introduccion a la etiologia de la tuberculosis » In: Boletin de la Union
Internacional Contra la Tuberculosis. vol. 56, Nº 3-4, set./dic., 1981, pp. 110-114.
STEINBRUCK. P. “Homaje a Robert Koch. Su vida y obra contra la tuberculosis”. In: Boletin de la
Union Internacional Contra la Tuberculosis, vol. 56, Nº 3-4, set./dic., 1981, pp. 115-118.
MECKLINGER, L. «Robert Koch » In: Boletin de la Union Internacional Contra la Tuberculosis, vol. 57,
Nº 2, Junio, 1982, pp.109-110.
199
SAKULA. A. “Robert Koch: Centenário del Descubrimiento del Bacilo Tuberculoso – 1882”. In: Boletin
de la Union Internacional Contra la Tuberculosis, vol. 57, Nº 2, Junio, 1982, pp. 111-117.
GRANGE, J. M. y BISHOP, P. J. “‘Uber Tuberkulose’ Homage al descubrimiento del bacilo
tuberculoso por Robert Koch em 1882”. In: Boletin de la Union Internacional Contra la
Tuberculosis, vol. 57, Nº. 2, Junio, 1982, pp. 117-121.
SAKULA. A. “La historia del bacilo tuberculoso narrada por ‘La balada de la Jeringa’” . In: Boletin de la
Union Internacional Contra la Tuberculosis, vol. 57, Nº 3-4, septiembre e diciembre de 1982,
pp.192-196.
SERSIRON. Dr. Gilbert. “La doble Cruz Roja. Transcripción de extractos del artículo publicado em el
Boletín de la Union Internacional Contra la Tuberculosis, Volumen 5 nº 2, 1928”. In: Boletin de
la Union Internacional Contra la Tuberculosis, vol. 57, Nº 3-4, septiembre e diciembre de 1982,
pp.196-199.
ROUILLON. A. “La Union Interncional Contra la Tuberculosis”. In: Boletin de la Union Internacional
Contra la Tuberculosis, vol. 57, Nº 3-4, septiembre e diciembre de 1982, pp. 200-206.
2.2.13. AMERICAN LUNG ASSOCIATION BULLETIN
EDITORIAL. “From Koch to Today” In: American Lung Association Bulletin, Special Anniversary Issue,
March, 1982, pp. 2-3.
DUBOS, René, M.D., Ph.D. « The Romance of Death » In: American Lung Association Bulletin,
Special Anniversary Issue, March, 1982, pp. 5-6.
WILSON, Julius L. M.D. “The daily Sanatorium Routine Was The Treatment” In: American Lung
Association Bulletin, Special Anniversary, March, 1982, pp. 7-10.
2.2.14. BOLETIM DE PNEUMOLOGIA SANITÁRIA
TEIXEIRA, Gilmário Mourão. Editorial – “Tuberculose e cultura através de tempos e espaços –
Homenagem ao Professor José Rosemberg”. In: Boletim de Pneumologia Sanitária, vol. 7,
nº. 2, jul./ dez., 1999, pp. 3-4.
ROSEMBERG, José. ”Tuberculose. Aspectos históricos, realidades, seu romantismo e
transculturação”. In: Boletim de Pneumologia Sanitária, vol. 7, nº. 2, jul./dez., 1999. pp. 5-29.
2.2.15. OUTRAS REVISTAS
NOGUEIRA, O. ”Experiências Sociais e Psíquicas do Tuberculoso”. In: Revista Didática e Científica.
SP, Escola de Sociologia e Política de SP, 1949, nº. 1a 4.
ROMERO, Mariza. “As normas médicas em São Paulo, 1899-1930”. In: Projeto História – Revista de
História da Pós-Graduação PUC-SP, Educ., 1996, n° 13.
RUFFINO NETTO, Antonio. “Epidemiologia da Tuberculose”. Revista de Medicina, Ribeirão Preto,
1975, p. 94.
________. “Mortalidade por Tuberculose e Condições de Vida”. Revista Saúde em Debate, 12:27 –
34, 1981.
________. “Brasil: doenças emergentes ou re-emergentes?”. Revista Medicina, 30:405, Ribeirão
Preto, 1997.
200
RUFFINO NETO, Antonio. E PEREIRA, J. C. O Processo Saúde - Doença e suas Interpretações.
Revista Medicina do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, pp. 15:1-4, Ribeirão
Preto, 1982.
2.3. ANAIS DE MEDICINA
Anais da 1ª. Semana Brasileira Antituberculosa e 3ª. Conferência Regional de Tuberculose.
Sociedade Brasileira de Tuberculose. Rio de Janeiro, 26 de agosto a 1 de setembro de 1945.
Rio de Janeiro, Gráfica Ouvidor S.A., 1946.
2.4. PUBLICAÇÕES DE CLEMENTE FERREIRA
2.4.1. TESE
FERREIRA, Dr. Clemente. Phthisica Pulmonar. These apresentada à Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro, 1880.
2.4.2. LIVROS
FERREIRA, Dr. Clemente. Contribution a L’ Étude Clinique des Applications Thérapeutiques de
L’antipyrine. Rio de Janeiro, Imprimerie a Vapeur Lombaerts & Comp, 1885.
________. Della Nefrite Parenchimale Nell’Infanzia.Napoli, Tipografia Dell’Unione, 1888.
________. Estudo Clinico sobre a Malária na Infância (Laureada pela Academia Nacional de Medicina
– Premio Alvarenga). Rio de Janeiro, Companhia Typographica do Brazil, 1895.
________. Ligeiras Considerações sobre A Epidemia Actual de Febre Amerella e sobre a Pathogenia
e Therapeutica do Syndroma Anurico. Rio de Janeiro, Typ. Bernard Frères, 1897.
________. Tuberculose e Sanatórios. São Paulo, Typographia Brasil, 1900.
KNOPF, S. A. e FERREIRA, Clemente. A Tuberculose como Doença Popular e os meios de
combatel-a. São Paulo, Escola Typographica Salesiana, 1901.
FERREIRA, Dr. Clemente. Congresso Internacional da Tuberculose (Paris – Outubro de 1905). São
Paulo, Typografia do Diário Oficial, 1906.
________. A Ophtalmo-Reação à Tuberculose no Diagnóstico Precoce da Tuberculose Humana, São
Paulo, Weiszflog Irmãos, 1907.
________. Instrucções Populares sobre a Tuberculose. São Paulo, Associação Paulista dos
Sanatorinhos, 1908.
________. État Actuel de la Lutte Anti-Tuberculeuse Au Brésil – Communication à la Conferénce
Internationale de la Tuberculose, que réalisera à Philadelphie – Octobre 1908 – L’ Association
Internationale contre la Tuberculose. São Paulo (Brésil) Typographia Irmãos Del Frate, 1908.
________. Campos do Jordão – Breves apontamentos sobre climatologia brazileira. Extrahído da
“Revista Médica de São Paulo", n°. 16-31, agosto de 1909. São Paulo, Tvp. Brazil de
Rothschild&Cia., 1909.
________. Catecismo sobre a Tuberculose destinado aos Operários. São Paulo, s/ed., 1911.
________. Luta Contra a Tuberculose Infantil – Armamento Puericola nos Diversos Paizes e entre
Nós. São Paulo, Typographia do Diário Official, 1911.
________. Relazione Esercizio 1910 presentata All’ Assembléa Generale – Lega Paulistana Contro la
Tubercolose. S. Paolo (Brazil), s/e, 1911.
201
________. L'Albumino-Réaction dans l’ Expectoration comme Elément sémiologique dans Diagnose
précoce de la Tuberculose pulmonaire. Paris, Masson et C
ie
, Éditeurs Libraires de L´Academie
de Medecine, 1911.
________. Les Trois Principaux Instruments de L’Armement antituberculeux à São Paulo (Brésil). São
Paulo, Casa Graphica São Paulo, 1911.
________. L’Atoxyl dans Tuberculose Pulmonaire (Travaux du Dispensaire « Clemente Ferreira ») –
Mémoire présenté au VII
me
Congrés International de la Tuberculose de Rome – Septembre
1911. São Paulo, Typographia Espindola & Comp., 1911.
________. A Luta contra a Tuberculose e os Principais Instrumentos de Combate. São Paulo,
Empresa Typographica Editora “O Pensamento”, 1913.
________. A Puericultura da Primeira Infância. São Paulo, Escolas Profissionaes do Lyceu Salesiano
S. Coração de Jesus, 1917.
________. Relatório do Exercício de 1917 apresentado à Assembléia Geral na Sessão ordinária de 7
de maio de 1918-Liga Paulista contra a Tuberculose. São Paulo, Casa Graphica Typographia
e Papelaria José Bráulio & C., 1918.
________. Relatório do Exercício de 1929, apresentado à Assembléia Geral Anual da Liga Paulista
contra a Tuberculose. São Paulo, Liga Paulista contra a Tuberculose, 1930.
________. Posse de Membro Honorário na Academia Nacional de Medicina (3 de Setembro de 1936).
São Paulo, s/e, 1936.
________. Relatório do Exercício de 1941, apresentado à Assembléia Geral Anual da Liga Paulista
contra a Tuberculose. São Paulo, Editora Limitada, 1942.
________. Posse de Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. Rio de Janeiro, J. R. de
Oliveira & Cia., 1938.
________. Labor Científico – Funções, títulos, comissões, recompensas, trabalhos científicos, etc.
São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939.
________.Discursos e Conferências 1892-1939. SP, Typographia Rossolillo, s/d.
________. Estudos e Conferências 1939-1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada,1943.
________. Notas Necrológicas e Elogio Histórico de Destacadas Personalidades Médicas. São Paulo,
Typographia Rossolillo, s/d.
________. O Problema da Tuberculose como moléstia social. A post-assistência e recuperação social
– O problema da tuberculose em São Paulo. Separata dos anais do Segundo Congresso
Médico Paulista, Março de 1945. São Paulo, Edigraf, s/d.
________. Poesias. São Paulo, Instituto D. Ana Rosa, 1946.
________. Estudos Tisiológicos (1945/1946). SP, Instituto D. Ana Rosa, 1946.
2.4.3. CONFERÊNCIAS E DISCURSOS
FERREIRA, Dr.Clemente. “Discurso pronunciado na sessão magna aniversaria da Academia Nacional
de Medicina a 30 de Junho de 1892, como orador oficial”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias -1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, s/d, pp. 3-12.
202
________. “Conferencia realizada no salão do Clube Piracicabano no dia 17 de Janeiro de 1904,
tendo por têma: Tuberculose e armamento antituberculoso’”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 13-33.
________. “Discurso pronunciado por ocasião da 1ª distribuição de premios de robustez, na Divisão
de proteção à primeira infancia do Serviço Sanitário do Estado, em 1915”. In: FERREIRA, Dr.
Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939,
pp. 34-37.
________. “Discurso pronunciado a 30 de Maio de 1916, por ocasião da 2ª distribuição dos premios
de robustez”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São
Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 38-41.
________. “Discurso proferido por ocasião da 3ª distribuição dos premios de robustez, em 1917”. In:
FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 42-47.
________. “Discurso pronunciado por ocasião da 4ª distribuição dos premios de robustez, em 1918”.
In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 48-58.
________. “Discurso pronunciado por ocasião da 5ª distribuição dos premios de robustez, em 1919”.
In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 59-68.
________. “Discurso pronunciado por ocasião da 6ª distribuição dos premios de robustez, em 1920”.
In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 69-77.
________. “Discurso proferido por ocasião da 7ª distribuição dos premios de robustez, em 1921”. In:
FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 78-83.
________. “Discurso proferido por ocasião da 8ª distribuição dos premios de robustez, em 1922”. In:
FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 84-91.
________. “Discurso proferido por ocasião da 9ª distribuição dos premios de robustez, em 1924”. In:
FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 92-96.
________. “Discurso pronunciado no áto da inauguração do Sanatório de Preservação, em Bragança,
em Janeiro de 1913”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939.
São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 96-101.
________. “
Discurso pronunciado por ocasião do ato da inauguração do dispensario-modelo
‘Clemente Ferreira’, da Liga Paulista contra a Tuberculose, à Rua da Consolação, a 10 de
Julho de 1913”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São
Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 102-122.
203
________. “Conferencia realizada em Ribeirão Preto, a convite do Dr. Antonio Gouvêa, diretor da
Associação de Proteção e Assistência à Infância”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e
Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 123-140.
________. “Conferencia realizada, a pedido da Cruz Vermelha – Secção Paulista, a 26 de Julho de
1920, no Jardim da Infância, tendo por tema ‘Instrumentos mais valiosos da puericultura da
primeira infância’”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São
Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 141-168.
________. “Conferencia realizada na Semana anti-alcoolica de 1921. O alccol, veneno da raça. A
guerra ao alcoolismo como fátor de luta contra a tuberculose”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 169-182.
________. “Discurso pronunciado em Piracicaba, em 31 de Outubro de 1926, no áto da inauguração
do Sanatório ‘São Luis’”. In: FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939.
São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 183-190.
________. Discurso proferido por ocasião da inauguração do Sanatório “São Paulo”, em Campos do
Jordão, a 17 de Agosto de 1930. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias -
1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 191-193.
________. “Liga Paulista Contra a Tuberculose Histórico, organização, programa e atuação (1899-
1933). Discurso proferido na solenidade de Posse de Membro Honorário da Academia
Nacional de Medicina, em 3 de Setembro de 1936”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Posse de
Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. Rio de Janeiro, J. R. de Oliveira &
Cia, 1938, pp. 7-44.
________. “Conferencia realizada a pedido da Associação Cristã de Moços, sobre o tema: ‘A
tuberculose, o que a produz, como se a evita e como deve ser tratada’”. In: FERREIRA, Dr.
Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939,
pp. 194-205.
________. “Discurso proferido por ocasião de ser recebido sócio honorário da Sociedade de Medicina
e Cirurgia de S. Paulo”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939.
São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 206-209.
________. “Conferencia realizada na secção de tisiologia, a 23 de Março de 1933, tendo por tema
‘Profilaxia da Tuberculose Infantil’”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias -
1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 210-232.
________. “Discurso proferido no áto da inauguração do Hospital-Sanatório “São Lus Gonzaga”, de
Jaçanã, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 233-238.
________. “Discurso proferido no áto da posse da presidente da Secção de Tisiologia, da Associação
Paulista de Medicina, em 1933”.
In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias -
1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 239-243.
________. “Discurso pronunciado no ato da inauguração do Ambulatório para tuberculosos, da
Fundação Gafrée-Guinle, em Santos, a 6 de Janeiro de 1934”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 244-246.
204
________. “Discurso proferido em Sorocaba, a 11 de Março de 1933, durante a ‘Semana
antituberculosa’. OS DISPENSARIOS ANTITUBERCULOLOS”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 247-263.
________. “Discurso proferido na inauguração do Dispensário de Assistencia e Profilaxia Infantil da
Liga Paulista contra a Tuberculose – ‘Papel dos Dispensários na Luta contra a Tuberculose’”.
In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 264-270.
________. “Discurso proferido no ato da inauguração da ‘Secção Calmette’, para a vacinação pelo
BCG, no ambulatório infantil, a 30 de outubro de 1935”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 271-274.
________. “Discurso proferido no ato de lançamento da pedra fundamental dos novos pavilhões do
Hospital-Sanatório ‘São Luiz Gonzaga’, da Santa Casa de Misericórdia de S. Paulo, a 30 de
Dezembro de 1935”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939.
São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 275-284.
________. “Palestra pronunciada no Rotary Club da São Paulo no dia 25 de Setembro de 1936. – A
luta contra a Tuberculose e principais elementos de sua profilaxia cívico-social”. In:
FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia
Rossolillo, 1939, pp. 285-290.
________. “Discurso proferido no áto da distribuição dos premios de robustez pela Cruzada Pró-
Infância, a 13 de Outubro de 1936”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias -
1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 291-293.
________. “Discurso proferido no áto da inauguração do Sanatório Ezra, em S. José dos Campos, a
15 de Novembro de 1936”. In: FERREIRA, Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939.
São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 294-297.
________. “Discurso proferido no áto do lançamento da pedra fundamental do Abrigo-Hospital para
tuberculosos, a 31 de Março de 1937”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e
Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 298-302.
________. “Discurso proferido em Bragança, a 25 de abril de 1937 – dia do 25° aniversário da
fundação do Preservatório de Bragança, da ‘Obra de Preservação de Filhos dos Tuberculosos
Pobres’”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo,
Typographia Rossolillo, 1939, pp. 303-310.
________. “Discurso proferido por ocasião da 7ª Campanha do Sêlo da Tuberculose, no Instituto de
Educação”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo,
Typographia Rossolillo, 1939, pp. 311-313.
________. “Discurso proferido no ato da inauguração do Abrigo-Hospital Clemente Ferreira, da Liga
Paulista Contra a Tuberculose, a 30 de Dezembro de 1937”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 314-321.
________. “Discurso proferido por ocasião da visita do Dr. Aloysio de Paula, eminente tisiólogo do
Departamento de Saude, do rio de Janeiro, ao Instituto ‘Clemente Ferreira’, no dia 19 de
205
Agosto de 1938”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e Conferencias - 1892-1939. São
Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 322-324.
________. “Discurso proferido por ocasião da manifestação com que foi homenageado pelos colegas
da diretoria da Liga Paulista contra a Tuberculose, médicos e funcionários do Instituto
‘Clemente Ferreira’, a 29 de Setembro de 1938”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e
Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 325-327.
________. “Discurso proferido no ato da inauguração do Pavilhão para o serviço do BCG, da Liga
Paulista Contra a Tuberculose, a 31 de Janeiro de 1939”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 328-331.
________. “Discurso proferido no ato do lançamento da primeira pedra do pavilhão ‘Paulo de Faria’ –
no Hospital ‘Clemente Ferreira’, a 4 de Abril de 1939”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Discursos e Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 332-335.
________. “Discurso de saudação aos congressistas, na fase final, em São Paulo, do 1° Congresso
Nacional de tuberculose – Maio de 1939”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Discursos e
Conferencias - 1892-1939. São Paulo, Typographia Rossolillo, 1939, pp. 336-342.
________. “Discurso pronunciado por ocasião de ser recebido como professor “Honoris Causa” da
Escola Paulista de Medicina”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -
1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 17-23.
________. “Conferencia realizada no Hospital-Sanatório de Jaçanã em maio de 1943. ‘A luta
antituberculosa em São Paulo e assistência médica aos pectários. Nossa situação atual
deficitária’”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo, SP
Editora Limitada, 1943, pp. 149-153.
2.4.4. ARTIGOS EM JORNAIS
FERREIRA, Clemente. “A Luta antituberculosa pela guerra ao Alcoolismo e Habitação Malsã” In: O
Estado e São Paulo, 03 de abril de 1914.
_________. “Os Sanatórios populares – para o isolamento profícuo e o tratamento eficaz dos
tuberculosos pobres”. In: O Paiz, 26 de junho de 1899.
2.4.5. EM REVISTAS
________. “A cruzada anti-tuberculosa”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):64-66, maio de 1902.
________. “A reacção contra a tísica”. In: Defesa Contra a Tísica.1(1):67-68, maio de 1902.
________. “A intervenção dos poderes municipaes como factor efficaz na realização dos intuitos da
Liga contra a tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(1):57-58, maio de 1902.
________. "Liga contra a tuberculose". In: Defesa Contra a Tísica.1(1):60-61, maio de 1902.
________. “O movimento anti-tuberculoso em São Paulo” In: Defesa Contra a Tísica. 1(1):72,
maio,1902.
________. “A prophylaxia da tuberculose pela intervenção de providencia administrativas”. In: Defesa
Contra a Tísica. 1(2): 1-13, novembro de 1902.
________. “Relações entre a tuberculose humana e bovina”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):14-24,
novembro de 1902.
________. “A tuberculina”. In: Defesa Contra a Tísica.
1(2):25-33, novembro de 1902.
206
________. “As escarradeiras hygienicas”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2): 34-38, novembro de 1902
________. “O movimento anti-tuberculoso em vários países”. In: Defesa Contra a Tísica. 1(2):79-85,
novembro de 1902.
________. “REDACÇÃO - A Liga Paulista contra a Tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):1-4,
maio de 1904.
________. “A Luta Anti-Tuberculosa em a Republica Argentina”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):45-
50, maio de 1904.
________. “A Liga Uruguaya contra a tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):51-53, maio,
1904.
________. “A obra de preservação da Infância contra a tuberculose em França”. In: Defesa Contra a
Tísica. 3(1):62-71, maio de 1904.
________. “Peter Dettweiler”. In: Defesa Contra a Tísica. 3(1):79-81, maio de 1904.
________. “REDACÇÃO – “O Dispensário da Liga Paulistas contra a Tuberculose”. In: Defesa Contra
a Tísica. 6(1):3-6, janeiro-julho de 1907.
________. “A tuberculose. – Sua transmissibilidade e prophylaxia especifica”. In: Defesa Contra a
Tísica. 6(1):7-13, janeiro-julho de 1907.
________. “O Dispensario de hygiene social de Douai”. In: Defesa Contra a Tísica. 6(1):14-15,
janeiro-julho de 1907.
________. “O Professor Grancher”. In: Defesa Contra a Tísica. 6(1): 80-84, Janeiro-Julho de 1907.
________. “A collocação do Dispensário Modelo ‘Clemente Ferreira’”. In: Defesa Contra a Tísica.
8(1):59-96, janeiro-julho de 1909.
________. “REDACÇÃO – Isolamento dos tuberculosos em S. Paulo e a prophylaxia da tuberculose,
de accôrdo com as disposições do ultimo regulamento sanitário”. In: Defesa Contra a Tísica.
12(1):1-6, janeiro-julho de 1913.
________. “Davos-Platz”. In: Defesa Contra a Tísica. 12(1):7-14, Janeiro-Julho de 1913.
________. “Uma visita ao Dispensário anti-tuberculoso ‘Ré-Umberto’”. In: Defesa Contra a Tísica.
12(1):15-17, janeiro-julho de 1913.
________. “Dispensário ‘Clemente Ferreira’”. In: Defesa Contra a Tísica. 12(1):24-30, janeiro-julho
de 1913.
________. “O tratamento chimio-therapeutico da tuberculose”. In: Defesa Contra a Tísica. 12(1): 31-
37, janeiro-julho de 1913.
________. “O Sanatório Popular d’Alsemberg, nos arredores de Bruxellas”. In: Defesa Contra a
Tísica. 12(1):38-41, janeiro-julho de 1913.
________. “O Sanatório popular de Leysin e as clinicas do dr. Rollier”. In: Defesa Contra a Tísica.
12(1):42-50, janeiro-julho de 1913.
________. “In memoriam – O Dr. Azevedo Lima”. In: Defesa Contra a Tísica. 12(1):7678, janeiro-
julho de 1913.
________. “Editorial”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 1(1-2):3-5, janeiro-fevereiro de 1935.
________. “O isolamento e a assistência dos pacientes tuberculosos nos hospitais gerais”. In: Revista
Paulista de Tisiologia.1(3-4):62-64, março-abril de 1935.
207
________. “O ar da montanha em domicilio”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 1(3-4):101-102, Março-
abril de 1935.
________. “O complexo primário ou Primar Komplex dos alemães= primo=infecão tuberculosa”. In:
Revista Paulista de Tisiologia.1(5-6):150-155, maio-junho de 1935.
________. “A organisação sanitaria antituberculosa atual na Italia”. In: Revista Paulista de Tisiologia.
1(5-6):214-219, maio-junho de 1935.
________. “Organização Antituberculosa em São Paulo”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 1(5-6):
202-205, maio-junho de 1935.
________. “Uma importante Linha de Defesa anti-tuberculosa na Infância Escolar”. In: Revista
Paulista de Tisiologia. 1(7-8):246-254, julho-agosto de 1935.
________. “O Problema da Tuberculose e a Deficiente Aparelhagem antituberculosa de S. Paulo”. In:
Revista Paulista de Tisiologia. 1(7-8):282-289, julho-agosto de 1935.
________. “Os preventorios infantis e a profilaxia da tuberculose”. In: Revista Paulista de Tisiologia.
1(9-10):335-340, setembro-outubro de 1935.
________. “Editorial – Revista Paulista de Tisiologia”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 1(11-12):419-
420, novembro-dezembro de 1935.
________. “Contribuição para o estudo da climatologia medica”. In: Revista Paulista de Tisiologia.
1(11-12):421-435, novembro-dezembro de 1935.
________. “A tuberculose”. In: Revista Brasileira de Tuberculose. Vol. 3, 1935.
________. “A Tuberculose – A Magna Doença Mundial Suas Devastações em São Paulo – A Atuação
da Administração da Santa Casa de São Paulo no Terreno da Assistência aos Tuberculosos
Necessitados”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 2(4):301-308, julho-agosto de 1936.
________. “Estado Atual da Organização antituberculosa no Brasil”. In: Revista Paulista de Tisiologia.
2(5):343-348, setembro-outubro de 1936.
________. “Assistencia Hospitalar Especializada”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 2(6):423-426,
novembro-dezembro de 1936.
________. “A Escola de Tisiologia do Professor Mac Dowell na Policlínica Geral do Rio de Janeiro”.
In: Revista Paulista e Tisiologia, 4(1):81, janeiro-fevereiro de 1937.
________. “A Escola de Tisiologia do Professor Mac Dowell na Policlínica Geral do Rio de Janeiro”.
In: Revista Paulista e Tisiologia. 4(1):8, janeiro-fevereiro de 1937.
________. “As actividades da Liga Paulista contra a Tuberculose” In: Revista Brasileira de
Tuberculose. Vol, 8, 1939.
________. “A roentgenfotografia ou método de Manuel de Abreu. Seu valor na profilaxia da
tuberculose”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 6(1): 6-9, janeiro-fevereiro de 1940.
________. “O BCG”. In: Revista Paulista de Tisiologia. 6(2):109-110, março-abril de 1940.
________. “Domiciliamento Insalubre e Tuberculose. As lições dos fatos”. In: Revista Paulista de
Tisiologia. 6(2):70-73, março-abril de 1940.
________. “O Dr.Emilio Ribas, um Benemérito Servidor do Estado e Bemfeitor da Humanidade” In:
Archivos de Hygiene e Saúde Pública. 1(1):15-19, junho de 1936.
________. “Le mouvement antituberculeux au Brésil”. In: Tuberculosis. 2 (7):308-320, s/d.
208
2.4.6. EM LIVROS
________. “La terapia della tubercolina”. In: 7º Congresso Internazionale Contro la Tubercolosi. São
Paolo, Casa Graphica, 1912.
________. “The latest progess of the anti-tuberculosis in Brazil”. In: Internacional Conference on
Tuberculosis. São Paulo, Vanorden, 1913.
________.”Influencia sobre a fatalidade dos casos de Tuberculose, do tratamento medico-cirurgico e
da segregação em estabelecimentos institucionais. – Post-assistencia a rehabilitação
profissional”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo,
São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 3-10.
________.”Profilaxia antituberculosa infantil – Preventorios, Preservatorios e Vacina BCG”. In:
FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora
Limitada, 1943, pp. 11-16.
________.”A Readaptação Profissional dos Pacientes Tuberculosos”. In: FERREIRA, Dr. Clemente.
Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 24-26.
________.”A readaptação profissional dos ex-pacientes de tuberculose e assistência post-sanatorial e
post-hospitlar”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo,
São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 27-30.
________. “Profilaxia da tuberculose – Post- assistência e readaptação profissional”. In: FERREIRA,
Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada,
1943, pp. 31-44.
________. “O problema da tuberculose como moléstia social – A post-assistencia e recuperação
sócia”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939-1943. São Paulo, São
Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 45-63.
________. “Assistência especializada aos pectarios, na hora atual, no Brasil”. In: FERREIRA, Dr.
Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943,
pp. 64-67.
________. “O problema da tuberculose como doença social”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e
Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 68-73.
________. “Vivendas populares e habitações econômicas, como fator de profilaxia antituberculosa”.
In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo
Editora Limitada, 1943, pp. 75-85.
________. “A tuberculose na infância’. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -
1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 86-99.
________. “A campanha pró diagnose precoce e a grande profilaxia pela radiofotografia e o
recenseamento tuberculinico”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -
1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 100-104.
________. “A rehabilitação profissional do ex-tuberculoso, seu reajustamento ao trabalho e sua
restauração social”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São
Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 105-108.
209
________. “A incidência da tuberculose no meio escolar”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e
Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 109-117.
________. “O cortiço rural e o alastramento campesino da peste tuberculosa”. In: FERREIRA, Dr.
Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943,
pp. 118-121.
________. “Regime alimentar dos tuberculosos. A subalimentação coletiva e o aumento da
morbilidade e da mortalidade por tuberculose”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e
Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 122-128.
________. “Os perigos dos desportos”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e Conferencias 1939 -
1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 129-139.
________. “A profilaxia da tuberculose nas zonas rurais”. In: FERREIRA, Dr. Clemente. Estudos e
Conferencias 1939 -1943. São Paulo, São Paulo Editora Limitada, 1943, pp. 140-148.
2.5. PUBLICAÇÕES SOBRE CLEMENTE FERREIRA
2.5.1. LIVROS
SILVEIRA, Romero. Uma Vida Inteira em Luta contra a Tuberculose. São Paulo, Indústria Gráfica
Siqueira S/A, 1949.
LIGA PAULISTA CONTRA A TUBERCULOSE. Comemorações em São Paulo do 1° Centenário de
Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857-1957. São Paulo, Tipografia Edanne S. A.,
1957.
SECRETARIA DA SAÚDE PÚBLICA E DA ASSISTENCIA SOCIAL DE SÃO PAULO. Clemente
Ferreira – Breves Notas Biográficas ao ensejo do Centenário do Nascimento (1857-29/9-
1957) do Pioneiro da Luta Contra a Tuberculose no Brasil. São Paulo, Imprensa Oficial do
Estado, 1957.
2.5.2. CONFERÊNCIAS E DISCURSOS
DOUAT, Nelson Etienne. “Oração In Memoriam a Clemente Ferreira, diante de seu túmulo no
Cemitério da Consolação (São Paulo)”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose.
Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor Clemente
Ferreira 1857- 1957.o Paulo, 1957, pp. 113-114. Discurso pronunciado no dia 29 de
setembro de 1957.
DOWELL, A. Mac. “Oração do Professor A. Mac Dowell”. In: FERREIRA Clemente. Posse de Membro
Honorário na Academia Nacional de Medicina. Rio de Janeiro, J. R. de Oliveira & Cia, 1938,
pp. 3-7.
FERREIRA, Aulio Clemente. “Discurso de agradecimento”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose.
Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor Clemente
Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, pp. 115-116. Discurso pronunciado na sessão
realizada no auditório do Instituto de Pesquisa “Clemente Ferreira”, no dia 28 de setembro,
1957.
FERREIRA, Geraldo Silva. “Discurso pronunciado em nome da Liga Paulista contra a Tuberculose no
dia 29 de setembro de 1957, diante do túmulo de Clemente Ferreira, no Cemitério da
Consolação (São Paulo)”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São
210
Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857- 1957. São
Paulo, 1957, pp. 109-110.
MARTINS, Dr. Nogueira. “Discurso pronunciado em homenagem ao Dr. Clemente Ferreira na sessão
comemorativa ao trigésimo aniversário de funcionamento do Dispensário Modêlo, em 06 de
novembro de 1943”. In: Separata da Revista Paulista de Tisiologia, ano IX, vol.9, nº.6,
novembro e dezembro de 1943. São Paulo, Emp. Graf. Da Revista dos Tribunais LTDA,
pp. 317-334.
PASSOS FILHO, Manoel Caetano da Rocha. “Clemente Ferreira: o médico e o cidadão. Aspectos de
sua atuação à frente do Dispensário Modelo”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose.
Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor Clemente
Ferreira 1857-1957. São Paulo, 1957, pp. 31-50. Conferência pronunciada no auditório do
Instituto de Pesquisa “Clemente Ferreira”, no dia 21 de setembro de 1957.
RIBEIRO, Lourival. “Clemente Ferreira, pioneiro da luta contra a tuberculose no Brasil”. In: Liga
Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de
Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, pp. 96-106.
RODRIGUES, Antonio Carlos da Gama. “Atuação do Governo do Estado na organização da Luta
contra a Tuberculose no Estado de São Paulo”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose.
Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor Clemente
Ferreira 1857-1957, São Paulo, 1957, pp.19-30. Conferência pronunciada no auditório do
Instituto de Educação Caetano de Campos, no dia 16 de setembro de 1957.
ROSEMBERG, José. “Aspectos atuais da luta contra a Tuberculose e Clemente Ferreira como
pioneiro”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º
Centenário de Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, pp.
78-96. Conferência pronunciada no auditório do Instituto de Pesquisa “Clemente Ferreira”, no
dia 28 de setembro de 1957.
SOUZA, Raphael de Paula. “O trabalho de Clemente Ferreira pela formação de uma consciência
Sanitária em Face do problema da Tuberculose no Brasil”. In: Liga Paulista Contra a
Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de Nascimento do Professor
Clemente Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, pp. 51-78. Conferência pronunciada no
auditório da Fac. de Higiene e Saúde Publica, no dia 24 de setembro de 1957.
2.5.3. ARTIGOS DE JORNAIS
AMARAL, F. Pompeo do. “Clemente Ferreira”. Publicado no jornal Folha da Noite. São Paulo, 22 de
julho de 1949.
COMELALE, Costabile. “Perfil de Clemente Ferreira” Publicado no Jornal Mandaqui-Jornal – Órgão da
Caixa Beneficente do Hospital de Tuberculose do Parque do Mandaqui. Número Especial em
Homenagem ao Centenário de Nascimento do Professor Clemente Ferreira. Ano 1. nº. 8.
Setembro de 1957.
GAMA, Carlos. “Clemente Ferreira”. Publicado no jornal A Gazeta, São Paulo, janeiro de 1958.
FARO, Mario de Mello. “Clemente Ferreira e o Dispensário da Consolação”. Publicado no Jornal
Mandaqui-Jornal – Órgão da Caixa Beneficente do Hospital de Tuberculose do Parque do
211
Mandaqui. Número Especial em Homenagem ao Centenário de Nascimento do Professor
Clemente Ferreira. Ano 1. nº. 8, setembro de 1957.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. “Sobre um Novo Formalismo”. Publicado no Jornal Folha da Manhã,
São Paulo, 22 de agosto de 1950.
MEREGE, Ranulpho. “Clemente Ferreira no Centenário do seu Nascimento”. Publicado no Jornal
Mandaqui-Jornal – Órgão da Caixa Beneficente do Hospital de Tuberculose do Parque do
Mandaqui. Número Especial em Homenagem ao Centenário de Nascimento do Professor
Clemente Ferreira. Ano 1. nº. 8, setembro de 1957.
OLIVEIRA, Dutra de. “Clemente Ferreira”. Publicado no jornal A Gazeta, São Paulo, 10 julho de 1953.
________. “Clemente Ferreira, amigo das crianças”. Publicado no jornal A Gazeta, São Paulo, 07
julho de 1957.
________. “Clemente Ferreira, cidadão prestante”. Publicado no jornal A Gazeta, São Paulo, 27 de
agosto de 1957.
________. “Clemente Ferreira e o problema social da tuberculose”. Publicado no jornal A Gazeta, São
Paulo, 09 de setembro de 1957.
2.5.4. ARTIGOS DE REVISTAS
MARTINS, Nogueira. “Homenagem ao Dr. Clemente Ferreira”. In: Revista Paulista de Tisiologia, ano
IX – vol. 9-n° 6, novembro-dezembro de 1943, pp. 317-334.
EDITORIAL. “Homenagem ao Dr. Clemente Ferreira”. In: Revista Paulista de Tisiologia, São Paulo,
ano IX, v. 9. N° 6, novembro-dezembro, 1943, pp. 307-334.
EDITORIAL. “1° Centenário de Nascimento do Professor Clemente Ferreira”. In: Revista Paulista de
Tisiologia e do Tórax, vol.18- setembro-outubro. de 1957-números 9 e 10.
GARCIA, Maria Teresa Ortega; ROSEMBERG, Ana M. F. Arruda; MELO, Fernando Augusto Fiúza de.
“Instituto Clemente Ferreira (ICF): Referência e Excelência para tuberculose e doenças
respiratórias na cidade de São Paulo”. In: Revista de Pneumologia Paulista, São Paulo, ano
19, n° 32, 2006, pp. 40-42.
212
TESES E DISSERTAÇÕES
ALMEIDA, Marta de. República dos Invisíveis: Emílio Ribas, Microbiologia e Saúde Pública em São
Paulo (1898-1917). SP, Dissertação de Mestrado, Depto de História, FFLCH-USP, 1998.
AMADO, A. - A Política da Tuberculose na Formação Industrial de São Paulo. Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Medicina, USP, 1985.
BARROSO, Elizabeth Clara. Fatores de Risco para a Tuberculose Multirresistente. Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Medicina, UFC, 2001.
BERTOLLI FILHO, Cláudio - História Social da Tuberculose e do Tuberculoso: 1900-1950. Tese de
Doutorado, USP, 1993.
BERTUCCI, Liane Maria – Impressões Sobre a Saúde: A imprensa Operária, São Paulo-1891/1925.
Dissertação de Mestrado, Campinas IFCH/Unicamp, 1992.
CAMPOS, Nelson de Souza. Da Tuberculose Infantil e sua Prophylaxia. Vaccinação Preventiva pelo
BCG. These apresentada à Faculdade de Medicina de São Paulo,1927.
CAMPOS, O. Contribuição para o planejamento da luta antituberculose no Brasil. Tese de Doutorado,
Faculdade de Higiene e Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1965.
CARBONE, Maria Herminda – Tísica e Rua: Os dados da Vida e seu jogo. Dissertação de Mestrado,
Escola Nacional de Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, MS, Rio de Janeiro, 2000.
CERTAIN, Diógenes, A. Da atuação do dispensário de tuberculose da Faculdade de Higiene e Saúde
Pública sobre o grupo etário 0-2 anos, desde 1938 até dezembro 1947 (10 anos). Tese de
livre-docência. Faculdade de Higiene e Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1948.
DALCOLMO, Margareth Maria Pretti. Regime de Curta Duração, Intermitente e Parcialmente
Supervisionado. Como Estratégia de Redução do Abandono no Tratamento da Tuberculose
no Brasil. Tese de Doutorado, Escola Paulista de Medicina, UNIFESP, 2000.
FERLA, Luis Antonio Coelho. Feios, sujos e malvados sob medida. Do crime ao trabalho, a utopia do
biodeterminismo em São Paulo (1920-1945). Tese de Doutorado. Departamento de História
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2005.
FERREIRA, Clemente Miguel da Cunha. Phthisica Pulmonar. These de Doutorado, Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, RJ, 1880.
HIJJAR, Miguel Aiub. Aspectos do Controle da Tuberculose numa população favelada – Favela do
Escondidinho-Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado, UFRJ, RJ, 1985.
GALESI, Vera M. N. Mortalidade por Tuberculose no Município de São Paulo, análise de uma década,
1986 a 1995. Dissertação de Mestrado, Fac. de Higiene e Saúde Pública, USP-SP, 1999.
MASCARENHAS, Rodolfo dos Santos. Contribuição Para o Estudo da Administração Sanitária
Estadual em São Paulo. Tese apresentada à Comissão Julgadora do Concurso para a
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http://openlink.br.inter.net/santacasa/dores.htm
http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/P/verbetes/andnunfer.htm#dadospessoais
http://www.anm.org.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marianne
222
LOCAIS DE PESQUISAS
Arquivo Público do Estado de São Paulo – São Paulo-SP
Arquivo Edgard Leuenroth-Centro de documentação Social-IFCH-UNICAMP-Campinas-SP
Arquivo da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo–SP
Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas-UNICAMP-CAMPINAS-SP
Biblioteca Nadir Golvêa Kfouri- PUC-SP - São Paulo
Biblioteca da Faculdade de Medicina – USP – São Paulo-SP
Biblioteca da Faculdade de Saúde Pública – USP – São Paulo-SP
Biblioteca Particular do Professor Dr. José Rosemberg – São Paulo-SP
Biblioteca do Instituto Clemente Ferreira – São Paulo-SP
Biblioteca da Liga Paulista contra a Tuberculose
Museu Histórico da Faculdade de Medicina – USP – São Paulo-SP
Museu de Saúde Emílio Ribas – São Paulo-SP
Museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo–SP
223
ANEXOS
224
TABELA 4
COEFICIENTES ANUAIS DE MORTALIDADE POR TUBERCULOSE
SÃO PAULO (1899- 1924)
ANO Nº. de óbitos por
tuberculose
Coeficiente por 100.000
1899 389 164,77
1900 372 151,74
1901 355 138,60
1902 382 142,75
1903 415 148,43
1904 373 127,69
1905 358 117,30
1906 306 124,51
1907 429 128,77
1908 386 110,90
1909 439 120,72
1910 482 126,86
1911 463 116,64
1912 451 108,75
1913 583 134,55
1914 628 138,72
1915 639 135,10
1916 540 109,27
1917 596 115,44
1918 658 121,98
1919 633 112,32
1920 658 111,68
1921 739 120,51
1922 825 129,27
1923 759 114,27
1924 838 121,23
Fonte: MORAES, Mirtes de. Imagens e Ações – Representações e Práticas Médicas na Luta contra a
Tuberculose em São Paulo – 1899-1930. Dissertação de Mestrado, PUC-SP, 2000, p.72.
225
TABELA 5
POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DA CAPITAL DE SÃO PAULO (1899- 1924
)
Ano
População da Capital de São Paulo
1899 238.143
1900 245.155
1901 256.134
1902 267.605
1903 279.590
1904 292.112
1905 305.194
1906 318.862
1907 333.142
1908 348.062
1909 363.650
1910 379.937
1911 396.952
1912 414.730
1913 433.304
1914 452.710
1915 472.984
1916 494.166
1917 516.298
1918 539.420
1919 563.578
1920 589.191
1921 613.208
1922 638.196
1923 664.203
1924 691.296
1925 719.438
1926 748.756
Fonte: MORAES, Mirtes de. Imagens e Ações – Representações e Práticas Médicas na Luta contra
a Tuberculose em São Paulo – 1899-1930. Dissertação de Mestrado, PUC-SP, 2000, p.68.
226
TABELA 6
MOVIMENTO DO DISPENSÁRIO MODÊLO “CLEMENTE FERREIRA”
SAÍDAS E FALECIMENTOS DOS DOENTES– 1917
Meses
Altas apparentemente curados ou
radicalmente melhorados
Por não soffrerem de tuberculoses
nem serem suspeitos
Por não estarem em condições de
receber assistencia gratuita
Por haverem se retirado para o
interior ou para a Europa
Por abandono do Tratamento
Por baixarem aos hospitaes
Por falecimentos
Total
Janeiro 02 00 00 03 07 03 03 18
Fevereiro 12 01 02 04 14 01 02 36
Março 07 00 01 07 10 02 03 30
Abril 10 00 00 06 12 00 03 31
Maio 09 01 00 03 05 02 02 21
Junho 10 00 00 07 07 00 03 28
Julho 04 00 00 08 03 01 05 21
Agosto 13 00 00 03 06 00 01 23
Setembro 07 02 00 02 01 03 08 22
Outubro 06 02 01 05 14 01 01 30
Novembro 05 02 01 00 05 01 05 20
Dezembro 17 01 01 02 14 00 06 41
Total 102 09 05 50 98 14 42 321
Fonte: FERREIRA, Clemente. Relatório de Exercício de 1917 apresentado à Assembléia Geral na
Sessão ordinária de 7 de maio de 1918 – Liga Paulista contra a Tuberculose. São Paulo, Casa
Graphica Typographia e Papelaria José Bráulio&C., 1918, p.83.
227
TABELA 7
MOVIMENTO DO PREVENTÓRIO DE BRAGANÇA
ENTRADAS E SAÍDAS DE CRIANÇAS 1941
JANEIRO 1941 165 – CRIANÇAS
15- MENINOS ENTRARAM 1941
55 CRIANÇAS
40 – MENINAS
SAÍRAM
1941 27 – CRIANÇAS
FALECEU 1941 01 – CRIANÇA
48 MENINOS PASSARAM
PARA JANEIRO
DE 1942
1942 137
CRIANÇAS
89 MENINAS
Fonte: FERREIRA, Clemente. Relatório de Exercício de 1941
apresentado à Assembléia Geral da Liga Paulista contra a
Tuberculose. São Paulo, Editora Limitada, 1942, p.20.
TABELA 8
MOVIMENTO MENSAL DO ABRIGO-HOSPITAL “CLEMENTE FERREIRA”
SÃO PAULO - 1941
MESES Doentes Internados Altas Falecidos
Janeiro 10 04 06
Fevereiro 05 02 03
Março 07 01 05
Abril 03 02 03
Maio 06 05 03
Junho 10 01 08
Julho 12 00 09
Agosto 06 05 04
Setembro 13 05 07
Outubro 13 05 11
Novembro 12 02 06
Dezembro 13 01 09
Total 110 33 74
Fonte: FERREIRA, Clemente. Relatório de Exercício de 1941 apresentado à Assembléia Geral Anual
da Liga Paulista contra a Tuberculose. São Paulo, Editora Limitada, 1942, p.37.
228
TABELA 9
TOTAL DE DOENTES HOSPITALIZADOS POR IDADE E SEXO
ABRIGO-HOSPITAL “CLEMENTE FERREIRA” – 1941
Idade Homens Mulheres Total % H. % M. % Total
0-10 00 00 00 00,0% 00,0 % 00,0%
11-20 11 09 20 10,0% 08,2% 18,2%
21-30 29 22 51 26,4% 20,0% 46,4%
31-40 21 03 24 19,1% 02,7% 21,8%
41-50 06 04 10 05,5% 03,6% 09,1%
51-60 04 00 04 03,6% 00,0% 03,6%
61 a 01 00 01 00,9% 00,0% 00,9%
Total 72 38 110 65,5% 34,5% 100,0%
Fonte: FERREIRA, Clemente. Relatório de Exercício de 1941, apresentado à Assembléia Geral Anual
da Liga Paulista contra a Tuberculose. São Paulo, Editora Limitada, 1942, p.38.
GRÁFICO 4
NÚMERO DE CRIANÇAS PRESERVADAS
NO PREVENTÓRIO DE BRAGANÇA - SÃO PAULO (1913 – 1928)
Fonte: FERREIRA, Clemente. Posse de Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. Rio
de Janeiro, J. R. de Oliveira & Cia, 1938, pp. 25-28.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
1913
1
9
1
5
1
9
1
8
1
9
1
9
1921
1924
1925
1
9
2
7
CRIANÇAS
MENINAS
MENINOS
Total 920
229
GRÁFICO 5
NÚMERO DE DOENTES ATENDIDOS NO DISPENSÁRIO “CLEMENTE FERREIRA”
SÃO PAULO (1904-1917)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
1904 1906 1908 1910 1912 1914 1916
Nº de doentes
atendidos - Total
3.464
Fonte: FERREIRA, Clemente. Liga Paulista contra a Tuberculose – Exercício de 1917. Relatório
apresentado à Assembléia Geral na Sessão Ordinária de 7 de maio de 1918. São Paulo, Casa
Gráphica, Typografia e papelaria José Bráulio & C., 1918, p. 84.
GRÁFICO 6
NÚMERO DE CONSULTAS REALIZADAS NO DISPENSÁRIO “CLEMENTE FERREIRA”
SÃO PAULO (1904-1917)
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
1904 1906 1908 1910 1912 1914 1916
Nº de consultas
realizadas - Total
164.138
Fonte: FERREIRA, Clemente. Liga Paulista contra a Tuberculose – Exercício de 1917. Relatório
apresentado à Assembléia Geral na Sessão Ordinária de 7 de maio de 1918. São Paulo, Casa
Gráphica, Typografia e papelaria José Bráulio & C., 1918, p. 84.
230
GRÁFICO 7
NÚMERO DE BACILOSCOPIAS REALIZADAS NO DISPENSÁRIO “CLEMENTE FERREIRA”
SÃO PAULO (1904-1917)
0
200
400
600
800
1000
1200
1904 1907 1910 1913 1916
Exames de escarros -
Total 8.290
Fonte: FERREIRA, Clemente. Liga Paulista contra a Tuberculose – Exercício de 1917. Relatório
apresentado à Assembléia Geral na Sessão Ordinária de 7 de maio de 1918. São Paulo, Casa
Gráphica, Typografia e papelaria José Bráulio & C., 1918, p. 84.
GRÁFICO 8
NÚMERO DE VISITAS DOMICILIARES REALIZADAS POR INSPETORES
DISPENSÁRIO “CLEMENTE FERREIRA”
SÃO PAULO (1904-1917)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1904 1907 1910 1913 1916
Visitas - Total 17.425
Fonte: FERREIRA, Clemente. Liga Paulista contra a Tuberculose – Exercício de 1917. Relatório
apresentado à Assembléia Geral na Sessão Ordinária de 7 de maio de 1918. São Paulo, Casa
Gráphica, Typografia e papelaria José Bráulio & C., 1918, p. 84.
231
FIGURA 29
FOLHA DE ROSTO DA TESE DE DOUTORAMENTO DE CLEMENTE FERREIRA -1880
Fonte: Biblioteca particular do Prof. José Rosemberg
232
FIGURA 30 FIGURA 31
Clemente Ferreira – década de 1870 Clemente Ferreira - década de 1880
FIGURA 32 FIGURA 33
Clemente Ferreira à esquerda Clemente Ferreira, Anália e Àulio
Colação de grau em medicina – RJ , dez, 1880 São Paulo s/d
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
233
FIGURA 34 FIGURA 35
Célia e Aurélio - Rio de Janeiro 1896 Célia e Aurélio - Rio de Janeiro 1896
FIGURA 36 FIGURA 37
Clemente Ferreira s/d Clemente Ferreira s/d
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
234
FIGURA 38 FIGURA 39
Clemente Ferreira s/d Anália Ferreira s/d
FIGURA 40
Clemente Ferreira e sua esposa Anália – São Paulo - s/d
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
235
FIGURA 41
Clemente Ferreira, primeiro à direita.
Roma, Castelo Santo Ângelo, 1912 - Congresso Internacional de Tuberculose
FIGURA 42
Célia, Clemente Ferreira, Áulio e Esther
Comemoração do 81º aniversário de Clemente Ferreira
São Paulo, 29 de setembro de 1938. Dispensário da Rua Rêgo Freitas
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
236
FIGURA 43
Clemente Ferreira e as damas Paulistas
São Paulo, 1941
FIGURA 44
Clemente Ferreira primeira fila no centro - II Congresso Brasileiro de Tuberculose
São Paulo, Igreja da Consolação, maio de 1941
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
237
FIGURA 45
Clemente Ferreira, primeiro à direita, Ademar de Barros primeiro à esquerda e
membros da Liga Paulista contra a Tuberculose
Campanha do Selo Pró-Tuberculosos Pobres – São Paulo – s/d
FIGURA 46
Clemente Ferreira, sua filha Célia e seu genro Joaquim Mário de Souza Meirelles
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira e Arquivo particular do Dr. Milton de Souza
Meirelles Filho, bisneto de Clemente Ferreira
238
FIGURA 47
Clemente Ferreira com o fardão de PROFESSOR “HONORIS CAUSA” da Escola
Paulista de Medicina, São Paulo, 1942
Fonte: Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
239
FIGURA 48 FIGURA 49
PREVENTÓRIO DE BRAGANÇA PAULISTA DMCF - ANEXO CIRÚRGICO À ESQUERDA, 1934
FIGURA 50 FIGURA 51
DISP. INFANTIL - RUA C. MOTA, 15 DISP. INFANTIL - RUA R. FREITAS, 527
FIGURA 52 FIGURA 53
HOSPITAL CLEMENTE FERREIRA-JABAQUARA PAVILHÃO A. DE ASSIS - RUA T. BAYMA, 68
Fonte: SILVEIRA, Romero. Uma vida inteira... Op. cit., pp. 5-6 e Arquivo do Instituto Clemente Ferreira
240
DIRETORIA DA LIGA PAULISTA CONTRA A TUBERCULOSE -1899-1992
1899
Presidente – Dr. Clemente da Cunha Ferreira
Vice- Presidente- Dr. Victor Godinho
Vice- Presidente Honorário – Dr. Emilio Ribas
Demais Membros - Oliveira Fausto, Sérgio Meira, Diogo de Faria, Delfino de Uchôa Cintra, Duarte
Nunes, A. Campos Salles, Francisco Cavalcante, Comendador Alberto da Silva e Souza.
Fonte: Jornal O Paiz - 15 de Agosto de 1900.
1902-1903
Presidente - Dr. Clemente da Cunha Ferreira
1º. Vice- Presidente – Dr. Victor Godinho
Demais Membros - Sérgio Meira, Pereira Barreto, Delphino Cintra, João Pedro da Veiga, João Alfredo
Varella, A. de Campos Salles, Rodolpho Miranda, Cortines Laxes, Oliveira Fausto
Fonte: Revista Defesa contra a tísica – anno 1, nº.1, maio de 1902, pp. 63,74,75.
1907
Presidente- Dr. Clemente da Cunha Ferreira
1
o
. Vice-Presidente – Dr. Victor Godinho
Secretário Geral – João Pedro da Veiga
1
o
. Secretário – Dr. Saturnino de Veiga
2
o
. Secretário – Dr. Américo Braziliense
Thesoureiro – Nicolau Falcone
Fonte: Revista Defesa contra a tísica – anno 6, vol. 1, janeiro-julho de 1907, p. 71.
De 1908 a 1913
Presidente - Dr. Clemente da Cunha Ferreira
1
o
. Vice-Presidente – Dr. Victor Godinho
2
o
. Vice Presidente – Dr. Saturnino Simplicio da Salles Veiga
3
o
. Vice Presidente – Dr. Francisco de Paula de Abreu Sodré
Secretário Geral – Dr. Henrique Coelho
1
o
. Secretário – Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello
2
o
. Secretário – Dr. Remizio Gomes Guimarães
Thesoureiro – Comendador Joaquim d’Abreu de Lima Pereira Coutinho
Procurador - Tenente Coronel José de Amorim Lima
Fonte: placa de mármore fixada no hall do Instituto Clemente Ferreira.
A partir de 1920, encontramos o registro em Livros de Atas da Liga Paulista na seguinte seqüência:
Diretoria em 1920
, (fl. 2 do 1
o
. livro de atas)
1920
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice-Presidente - Dr. Emílio Ribas
2
o
. Vice Presidente - Dr. Américo Brasiliense
3
o
. Vice Presidente - Dr. Francisco Morato
Secretário Geral - Dr. Remízio Guimarães
1
o
. Secretário - Marcionillo Dario Trigo
2
o
. Secretário - André Porfírio Delgado
Tesoureiro - Comendador J. A L Pereira Coutinho
Procurador Geral - Dr. José dos Santos Azevedo
De 1921 a 1923
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Dr. Emílio Ribas
2
o
. Vice Presidente - Dr. Américo Brasiliense
3
o
. Vice Presidente - Dr. Francisco Morato
Secretário Geral - Dr. Remízio Guimarães
1
o
. Secretário - Marcionillo Dario Trigo
2
o
. Secretário - Carlos Correa Vasques
241
Tesoureiro - Comendador J. A L Pereira Coutinho
Procurador Geral - Dr. Luiz Pinto de Queiroz
De 1924 a 1926
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Dr. Américo Brasiliense
2
o
. Vice Presidente - Dr. Francisco Morato
3
o
. Vice Presidente - Dr. Vítor Freire
Secretário Geral - Dr. Remízio Guimarães
1
o
. Secretário - Marcionillo Dario Trigo
2
o
. Secretário - Ernesto de Carvalho
Tesoureiro - Comendador J. A L Pereira Coutinho
Procurador Geral - Luiz Manoel Pinto de Queiroz
De 1927 a 1929
:
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Dr. Américo Brasiliense
2
o
. Vice Presidente - Dr. Francisco Morato
3
o
. Vice Presidente - Dr. João Xavier da Silveira
Secretário Geral - Marcionillo Dario Trigo
1
o
. Secretário - Manoel Francisco Ferreira
2
o
. Secretário - Joaquim da Silva Marques
Tesoureiro - Antonio Pereira Lemos (l927); Dr. Manoel Moreira de Araripe Sucupira (1929/1929)
Procurador Geral - Alberto Moreira Baptista
De 1930 a 1932
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Dr. Américo Brasiliense
2
o
. Vice Presidente - Dr. Francisco Morato
3
o
. Vice Presidente - Esidio da Gama e Silva
Secretário Geral - Marcionillo Dario Trigo
1
o
. Secretário - Hermínio Gomes Moreira
2
o
. Secretário - Joaquim da Silva Marques
Tesoureiro - Dr. Manoel Moreira de Araripe Sucupira
Procurador Geral - Cel. José de Amorim Lima
De 1933 a 1935
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Dr. Américo Brasiliense
2
o
. Vice Presidente - Dr. Francisco Morato
3
o
. Vice Presidente - Dr. Esidio da Gama e Silva
Secretário Geral - Dr. Marcionillo Dario Trigo
1
o
. Secretário - Joaquim da Silva Marques
2
o
. Secretário - Antonio Carlos Canto Barros
Tesoureiro - Dr. Manoel Moreira de Araripe Sucupira
Procurador Geral - Cel. José de Amorim Lima
De 1936 a 1938
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Dr. Antonio Tisi Netto
2
o
. Vice Presidente - Dr. José Affonso Mesquita Sampaio
Secretário Geral - Marcionillo Dario Trigo
Secretário - Dr. Benevenuto Seckler, (Dr. Paulo Santos Fontes); Prof. Euzébio de Paula Marcondes
(Antonio Lemos);
Tesoureiro - Dr. Manoel Moreira de Arararipe Sucupira, (Dr. Pedro Marques Simões).
De 1939 a 1941
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Dr. José Affonso de Mesquita Sampaio, (Dr. Décio de Queiroz Teles);
2
o
. Vice Presidente - Ernani Fonseca, (Cel. José de Amorim Lima), (Antonio Tisi Netto);
242
Secretário Geral - Marcionillo Dario Trigo, (Dr. José de Moura Lacerda) Secretários - Antonio Pereira
de Lemos, (Dr. Ulisses Fagundes); (João Aureliano de Toledo).
Tesoureiro - Domingos da Silva Campos
De 1942 a 1944
Presidente - Dr. Clemente Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Dr. Aristides Ricardo, (Dr. Antonio Bento de Campos Nogueira Martins).
2
o
. Vice Presidente - Dr. Antonio Tisi Netto
Secretário Geral - Dr. Benevenuto Seckler
Secretários - Prof. Euzébio de Paula Marcondes, Joaquim da Silva Marques Tesoureiro - Dr. Ulisses
Fagundes
De 1945 a 1948
Presidente - Dr. Clemente Ferreira, (Dr. Antonio Bento de Campos Nogueira Martins).
1
o
. Vice Presidente - Dr. Antonio Bento de Campos Nogueira Martins;
2
o
. Vice Presidente - Alberto Nupieri
Secretário Geral - Dr. João Guilherme de Oliveira Costa
Secretários - Prof. Euzébio de Paula Marcondes, Joaquim da Silva Marques, 1
o
. Tesoureiro - Dr.
Ulisses Fagundes.
2
o
. Tesoureiro - José Ferreira de Oliveira
De 1948 a 1950
Presidente - Dr. Antonio Bento de Campos Nogueira Martins
1
o
. Vice Presidente - Bernardo Pedral Sampaio
2
o
. Vice Presidente - Dr. Ulisses Fagundes
Secretário Geral - João Guilherme de Oliveira Costa
1
o
. Secretário - Dr. Homero Silveira
2
o
. Secretário - Dr. Agenor Camargo Stein
1
o
. Tesoureiro - Joaquim da Silva Marques
2
o
. Tesoureiro - José Ferreira de Oliveira
De 1951 a 1953
Presidente - Dr. Antonio Bento de Campos Nogueira Martins
1
o
. Vice Presidente - Bernardo Pedral Sampaio
2
o
. Vice Presidente - Dr. Ulisses Fagundes
Secretário Geral - Dr. Homero Silveira, (Antonio Martiniano de Moura Albuquerque Filho).
1
o
. Secretário - Joaquim da Silva Marques
2
o
. Secretário - José Ferreira de Oliveira
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - Antonieta Arcoverde de Albuquerque Cavalcante
De 1954 a 1956
Presidente - Dr. Antonio Bento de Campos Nogueira Martins
1
o
. Vice Presidente - Dr. José Alcântara Machado Filho
2
O
. Vice Presidente - Dr. Antonio Martiniano de Moura Albuquerque Filho Secretário Geral - Joaquim
da Silva Marques
1
o
. Secretário - Nagib Abdo Hanna
2
o
. Secretário - J. B. Araújo Negrão
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - Bernardo Pedral Sampaio
De 1957 a 1959
Presidente, Dr. Antonio Bento de Campos Nogueira Martins
1
o
. Vice Presidente - Dr. Bernardo Pedral Sampaio
2
O
. Vice Presidente - Dr. José de Alcântara Machado Filho
Secretário Geral - Joaquim da Silva Marques
1
o
. Secretário - Nagib Abdo Hanna
2
o
. Secretário - Rui Nogueira Martins
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - J. B. Araújo Negrão
243
De 1960 a 1962
Presidente - Dr. Antonio Martiniano de Moura Albuquerque Filho
1
o
. Vice Presidente - Bernardo Pedral Sampaio
2
o
. Vice Presidente - José de Alcântara Machado Filho
Secretário Geral - Joaquim da Silva Marques
1
o
. Secretário - Nagib Abdo Hanna
2
o
. Secretário - Sylvio Lemos do Amaral
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - J B Araújo Negrão.
De 1963 a 1966
Presidente - Antonio Martiniano de Moura Albuquerque Filho
1
o.
Vice Presidente - José Alcântara Machado Filho
2
o
. Vice Presidente - Sylvio Lemos do Amaral
Secretário Geral - Joaquim da Silva Marques
1
o
. Secretário - Nagib Abdo Hanna
2
o
. Secretário - Gilberto Estela Morethgon
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - J B Araújo Negrão
De 1966 a 1969
Presidente - Antonio Martiniano de Moura Albuquerque Filho
Vice Presidente - Sylvio Lemos do Amaral
2
o
. Vice Presidente - Dr. Camilo Quvarah
Secretário Geral - Joaquim da Silva Marques
1
o
. Secretário - Nagib Abdo Hanna
2
o
. Secretário - Gilberto Estela Morethgon
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - J B de Araújo Negrão
De 1969 a 1971
Presidente - Antonio Martiniano de Moura Albuquerque Filho
1
o
. Vice Presidente - Camilo Ansarah
2
o
. Vice Presidente - Sylvio Lemos do Amaral
Secretário Geral - Joaquim da Silva Marques
1
o
. Secretário - Antonieta Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti
2
o
. Secretário - Gilberto Estela Morethgon
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - Nagib Abdo Hanna
De 1971 a 1973
Presidente - Antonio Martiniano de Moura Albuquerque Filho
1
o
. Vice Presidente - Silvio Lemos do Amaral
2
o
. Vice Presidente - Camilo Ansarah
Secretário Geral - Joaquim da Silva Marques
1
o
. Secretário - Roque Famá
2
o
. Secretário - Ângelo Paulo Ferrari
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - Nagib Abdo Hanna
De 1973 a 1976
Presidente - Antonio Martiniano de Moura Albuquerque Filho
1
o
. Vice Presidente - Sylvio Lemos do Amaral
2
o
. Vice Presidente - Ângelo Paulo Ferrari
Secretário Geral - Joaquim da Silva Marques
1
o
. Secretário - Roque Famá
2
o
. Secretário - Munir Abbud
Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
1
o
. Tesoureiro - Nagib Abdo Hanna.
244
De 1976 a 1978
Presidente - Sylvio Lemos do Amaral
1
o
. Vice Presidente - José Rosemberg
2
o
. Vice Presidente - Ângelo Paulo Ferrari
Secretário Geral - Joaquim da Silva Marques
1
o
. Secretário - Carlos Eduardo Moreira Ferreira
2
o
. Secretário - Munir Abbud
1
o
. Tesoureiro - João Guilherme de Oliveira Costa
2
o
. Tesoureiro - Nagib Abdo Hanna
De 1978 a 1980
Presidente - Carlos Eduardo Moreira Ferreira
1
o
. Vice Presidente - José Rosemberg
2
o
. Vice Presidente - Luiz Colucci
Secretário Geral - Ângelo Paulo Ferrari
1
o
. Secretário - Munir Abbud
2
o
. Secretário - Octávio Iório
1
o
. Tesoureiro - Nagib Abdo Hanna
2
o
. Tesoureiro - Luiz Moraes Altenfelder Silva Filho
De 1980 a 1983
Presidente, Carlos Eduardo Moreira Ferreira
1
o
. Vice Presidente - José Rosemberg
2
o
. Vice Presidente - Luiz Colucci
Secretário Geral - Angelo Paulo Ferrari
1
o
. Secretário - Munir Abbud
2
o
. Secretário - Sérgio Marques
1
o
. Tesoureiro - Nagib Abdo Hanna
2
o
. Tesoureiro - Luiz Moraes Altenfelder Silva Filho
De 1983 a 1985
Presidente - Carlos Eduardo Moreira Ferreira
1
o
. Vice Presidente - Luiz Colucci
2
o
. Vice Presidente - Luiz Moraes Altenfelder Silva Filho
Secretário Geral - Sérgio Marques
1
o
. Secretário - Munir Abbud
2
o
. Secretário - José Luiz de Paula Eduardo
1
o
. Tesoureiro - Nagib Abdo Hanna
2
o
. Tesoureiro - Angelo Paulo Ferrari
De 1986 a 1989
Presidente - Nagib Abdo Hanna
1
o
. Vice Presidente - Carlos Eduardo Moreira Ferreira
2
o
. Vice Presidente - Luiz Colucci
Secretário Geral - Sérgio Marques
1
ª
. Secretária - Helena da Silva Gordo
2
o
. Secretário - Munir Abbud
1
o
. Tesoureiro - Ângelo Paulo Ferrari
2
o
. Tesoureiro - Luiz Moraes Altenfelder Silva Filho
De 1989 a 1992
Presidente - Luiz Colucci
1
o
. Vice Presidente - Elizabeth Maria de Almeida (Madre Celina);
2
o
. Vice Presidente - José de Oliveira Costa
1
o
. Tesoureiro - Irene dos Santos (Ir. Maria Rachel).
2
o
. Tesoureiro - Ângelo Paulo Ferrari
Secretário Geral - Yeda Quirino Simões, (Ir. Maria Domitila).
1
o
. secretário - Sérgio Marques
2
o
. Secretário - Celézia Boaventura da Silva (Ir. Maria Lúcia)
245
DIFERENTES OLHARES SOBRE CLEMENTE FERREIRA
1947 – A 6 de agosto, cercado do carinho de seus familiares e rodeado
pelos amigos fechava os olhos o grande batalhador. (...) Com a cintilação
que nunca esmaeceu, objetivando sempre o bem-estar de seu semelhante,
com a paz interior dos que cumpriram o seu dever, descansou a pena e
morreu. (...) Revista Paulista de Tisiologia e do Tórax, uma de suas diletas
filhas, aqui está presente para de joelhos reverenciar-lhe saudosamente a
memória e dizer-lhe, mais uma vez, da imensa gratidão de todos os
brasileiros.
Diógenes Certain
1
Médico humanitário, figura singular, da mocidade pujante à velhice sábia e
encantadora, nunca se afastou do combate terrível contra a morte,
escrevendo, dia a dia, com heroísmo e abnegação, uma das mais belas
páginas da medicina brasileira.(...)
Clemente Ferreira é hoje um símbolo dos que lutaram contra a morte. A
paixão foi o denominador comum de todos os atos de sua vida, escondida
aqui e ali, por detrás da frieza da linguagem científica, mas surgindo lá em
uma atitude, numa ação desassombrada, na frase de um discurso ou num
gesto heróico. Do moço fluminense, voluntário destemido contra a febre
amarela em Campinas, do médico que escreveu centenas de trabalhos
científicos, aquele outro que encarava a tuberculose como um monstro
devorador de vidas, chamando-o, frequentemente, de “Terrível Minotauro”,
em todos eles o denominador comum é a paixão, a alma incendiada, o
artista que ouvia entre os doentes que a peste atacava, nos olhos dos
moribundos, o apêlo de vida! Vida.
Manoel Caetano da Rocha Passos Filho
2
Lançando um olhar saudoso sôbre tantos anos passados de lutas e
realizações, restar-lhe-ia o inefável consôlo de uma vida plenamente vivida
de incalculável proveito para a humanidade. As maiores sociedades
cientificas do mundo cumularam-no de honrarias. Seu acervo de trabalhos
publicados vai a mais de 300, além dos artigos de imprensa e discursos
vários. Compareceu pessoalmente e pelos seus representantes a todos os
Congressos de Tisiologia, onde sua palavra foi ouvida e acatada. A sua
verba municipal de cinco mil réis ascende em nossos dias à dotação
estadual, só para tuberculose, de cem milhões de cruzeiros. Os
tuberculosos contam hoje com 3.741 leitos em todo o estado, entre
indigentes e pagantes, espalhados em sanatório e abrigos, representando a
fecunda sementeira do ardorosos combatente de 1899.
Homero Silveira
3
1
CERTAIN, Diógenes. Editorial Clemente Ferreira *1857- 1947. In: Revista Paulista de Tisiologia e do Tórax, vol. 18,
setembro-outubro de 1957 – Nº 9 e 10.
2
PASSOS FILHO, Manoel Caetano da Rocha. “Clemente Ferreira: o médico e o cidadão. Aspectos de sua atuação à
frente do Dispensário Modelo”. In: Liga Paulista Contra a Tuberculose. Comemorações em São Paulo do 1º Centenário de
Nascimento do Professor Clemente Ferreira 1857- 1957. São Paulo, 1957, p.
31. Conferência pronunciada no auditório do
Instituto de Pesquisa “Clemente Ferreira”, no dia 21 de setembro de 1957.
3
SILVEIRA, Romero. Uma vida inteira em luta contra a Tuberculose. SP, Indústria Gráfica Siqueira S/A, 1949, pp. 10-11.
246
Foi Clemente Ferreira, pela grandiosidade de sua obra, sem dúvida um
desses homens excepcionais voltados para o bem estar do próximo e um
cientista emérito que soube colocar os seus conhecimentos e a sua ação a
serviço de uma causa que lhe deu um lugar dos mais destacados na galeria
dos maiores vultos da luta pelo nosso engrandecimento. A sua morte foi
dessas que o povo sente como a de um dos seus amigos mais ternos, pois
todos reconheciam nele, acima de tudo, um coração aberto a sentir todos
os sofrimentos alheios e um espírito combativo disposto a lutar com sua
inteligência e saber pela sorte da humanidade.
Sérgio Buarque de Holanda
4
Pela pena e pela palavra, nas revistas cientificas e nos jornais leigos, na
cátedra, em conferências e em palestras, e junto ao leito dos enfermos,
incansavelmente, até sua morte despertou a consciência da classe médica,
dos poderes públicos e do povo para a gravidade do problema, propondo e,
às vezes, obtendo os meios mais eficientes para combater os malefícios da
doença.
Antonio Moura de Alburquerque
5
4 HOLANDA, Sérgio Buarque de. “Sobre um Novo Formalismo”. Jornal Folha da Manhã, São Paulo, 22 de agosto de 1950.
5 ALBUQUERQUE, Dr. Antonio Moura. “Discurso de Abertura das Solenidades de Comemoração do 1º Centenário de
Nascimento do Professor Clemente Ferreira”. In: Revista Paulista de Tisiologia e do Tórax. vol. 18, setembro-outubro de 1957,
Nº. 9 e 10, pp. 347-350.
247
CLEMENTE MIGUEL DA CUNHA FERREIRA
(ASCENDENTES E DESCENDENTES)
6
Pai - José da Cunha Ferreira Mãe – Maria Neves da Cunha Ferreira
Avô materno - Capitão José Rodrigues Neves
Irmãos
1. Manoel da Cunha Ferreira
2. Maria Augusta da Cunha Ferreira
3. José da Cunha Ferreira
4. Luiz da Cunha Ferreira
5. Maria Cândida da Cunha Ferreira
6. Maria Júlia da Cunha Ferreira
Esposa - Anália Pinheiro da Silva (nome de solteira) - Anália da Silva Ferreira (nome de casada)
Filhos
1. Célia Ferreira de Souza Meirelles que foi casada com Joaquim Mário de Souza Meirelles -
deixaram descendentes
2. Aurélio da Silva Ferreira - faleceu com 12 anos de idade – sem descendentes
3. Áulio Clemente Ferreira foi casado com Esther Borges Ferreira - sem descendentes
Netos
7
1. Milton de Souza Meirelles que foi casado com Maria Aparecida Rodrigues Alves Meirelles –
deixaram descendentes
2. Alcyr de Souza Meirelles - faleceu com 2 anos de idade – sem descendentes
3. Ariovaldo de Souza Meirelles - sem descendentes
Bisnetos
8
1.
Milton de Souza Meirelles Filho casado com Maria Estela Comenale Meirelles
2. Maria Aparecida de Souza Meirelles viúva de Rubens Parata de Oliveira
3. Joaquim Mário de Souza Meirelles - falecido em 1964
Tataranetos
9
1. Eduardo de Souza Meirelles
2. Camila de Souza Meirelles (falecida)
3. Milton de Souza Meirelles Neto
6 Fonte: Jornal O Estado de São Paulo, 7 de agosto de 1947 e depoimento oral do Dr. Milton de Souza Meirelles Filho (bisneto
de Clemente Ferreira) em 8 de março de 2007.
7
Todos os netos citados são filhos do casal Célia Ferreira de Souza Meirelles e Joaquim Mário de Souza Meirelles.
8
Todos os bisnetos citados são filhos do casal Milton de Souza Meirelles e Maria Aparecida Rodrigues Alves Meirelles.
9
Todos os tataranetos citados são filhos do casal Milton de Souza Meirelles Filho e Maria Estela Comenale Meirelles.
248
HIPPOCRATIS APHORISMI
10
I
Frigida pectoris sunt inimicoe, tusses movent, sanguinis profluvio cient, catarrhos
excitant
(Sect. V., aph 24.)
II
Qui spumanteni sanguinem sputo rejiciunt, iis ex pulmone
(Sect. V., aph 12.)
III
Tabes proecipue contingit oetatbus, quoe ab anno décimo octavo ad trigesimum
quintum.
(Sect. V., aph. 8º.)
IV
A sanguinis sputo puris, sputum, malum.
(Sect. VII., aph. 15.)
V
Si tabe detento profluvium alvi celsi supervenerit, lethale.
(Sect. V., aph. 14.)
VI
EX morbo laterali pulmonis inflammatio malo est.
(Sect. VII., aph. II.)
10
HIPOCRATES apud FERREIRA, Dr.
Clemente. Phthisica Pulmonar. Op. cit., p. 469.
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