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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
PATRÍCIA CATTA PRETA GUATIMOSIM
CONSUMO E MEIO AMBIENTE: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA
FLORIANÓPOLIS
2008
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2
PATRÍCIA CATTA PRETA GUATIMOSIM
CONSUMO E MEIO AMBIENTE: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre em
Administração.
Universidade Federal de Santa Catarina.
Curso de Pós-Graduação em
Administração.
Área de concentração em Sistemas de
Produção e Meio Ambiente.
Orientador: Hans Michael van Bellen,
Dr.
FLORIANÓPOLIS
2008
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3
Catalogação na fonte por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071
G918c Guatimosim, Patrícia Catta Preta
Consumo e meio ambiente: uma análise exploratória / Patrícia Catta Preta
Guatimosim; orientador Hans Michael van Bellen. – Florianópolis, 2008.
111 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Curso
de Pós-Graduação em Administração, 2008.
Inclui bibliografia
1. Desenvolvimento sustentável. 2. Problemas ambientais. 3. Consumo.
4. Racionalidade. I. Bellen, Hans Michael van. II. Universidade Federal de
Santa Catarina. Curso de Pós-
Graduação em Administração. III. Título.
CDU: 65
4
PATRÍCIA CATTA PRETA GUATIMOSIM
CONSUMO E MEIO AMBIENTE: UMA ANÁLISE
EXPLORATÓRIA
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Grau de Mestre em
Administração na área de concentração em Sistemas de Produção e Meio Ambiente do
Curso de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina
e aprovada, em sua forma final, em 06 de junho de 2008.
_____________________________
Prof° Rolf Hermann Erdmann, Dr°
Coordenador do Curso
Apresentada à Comissão Examinadora composta pelos professores:
________________________________
Prof° Hans Michael van Bellen, Dr°
Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC
__________________________________
Prof° Altamir da Silva Souza, Dr°
Fundação Universidade Federal do Rio Grande/FURG
________________________________
Prof° Maurício Roque Serva de Oliveira, Dr°
Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC
5
RESUMO
GUATIMOSIM, Patrícia Catta Preta. Consumo e meio ambiente: uma análise
exploratória. 2008. 111 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de Pós-
Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2008.
Orientador: Hans Michael van Bellen, Dr.
Defesa: 06/06/08
A sociedade contemporânea confronta-se nesse início de século com várias reflexões
relacionadas aos modelos de desenvolvimento adotados e seus impactos econômicos,
políticos, sociais e ambientais. Entre as questões mais relevantes da modernidade,
figuram as discussões sobre os problemas ambientais, cujo debate difunde-se cada vez
mais pelos meios de comunicação, mobilizando hoje não o meio político e
acadêmico, mas também as entidades privadas e a sociedade civil, entre outras
instituições. Partindo da perspectiva do desenvolvimento sustentável e dos
questionamentos que tal conceito suscita, vários olhares lançam-se ao cenário atual em
busca de análises que permitam compreender os problemas decorrentes da relação
existente entre a sociedade e o meio ambiente. Inúmeros problemas ambientais têm sido
estudados no meio acadêmico, mas para alguns teóricos, tais como Portilho (2005) e
Cohen e Murphy (2001), a questão do consumo emerge como fundamental para que se
possa vislumbrar uma sociedade sustentável. Este estudo visou aprofundar a
compreensão sobre os pontos de vista que se desenvolvem em torno da questão do
consumo. Para isso, foram entrevistados estudantes de Florianópolis, aos quais
apresentamos questões envolvendo a importância dos problemas ambientais em
comparação com outras questões da atualidade; a importância da questão do consumo
entre os problemas ambientais; ações e agentes para solução dos problemas ambientais
decorrentes do consumo; e racionalidade. Os resultados indicam que, entre os
problemas gerais enfrentados pela sociedade na atualidade, os estudantes, tendem a
preocupar-se mais com a violência, a saúde e a educação do que com o meio ambiente.
quando o foco é apenas a crise ecológica, os resultados indicam que a emissão de
gases e a perda dos habitats naturais são as questões que mais lhes preocupam. O
impacto ambiental do consumo humano situa-se nos patamares intermediários, não
sendo, portanto, um problema ambiental que gera grande mobilização, mas também não
se tratando de uma questão que passa despercebida. Quanto as possíveis formas de
resolução dos problemas ambientais relacionados ao consumo, na percepção dos jovens
são as pessoas comuns seguidas das empresas as maiores responsáveis por implementar
ações nessa área. Já sobre quais as ações especificamente devem ser adotadas para lidar
com os problemas ambientais decorrentes do consumo, receberam maior número de
citações as soluções de cunho tecnológico. No geral, as respostas dos pesquisados
deixam implícita a necessidade de um maior debate público sobre o tema, de forma que
este possa ser mais difundido.
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, Problemas ambientais, Consumo,
Racionalidade.
6
ABSTRACT
GUATIMOSIM, Patrícia Catta Preta. Consumption and environment: an
exploratory analysis. 2008. 111 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso
de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2008
Orientador: Hans Michael van Bellen, Dr.
Defesa: 06/06/08
The contemporary society has recently been dealing with different reflections about
developmental models and their economical, political, social and environmental
impacts. Amongst the most relevant questions of modernity, stand out the discussions
about environmental problems, which have been widely debated through the media,
mobilizing not only the political and academical fields, but also private entities and the
civil society, as well as other institutions. From the very perspective of sustainable
development, and the many different questions that emerge from this concept, attention
goes to the present scenario, aiming at better understand the problems involving the
relation between the society and the environment. Many environmental issues have been
studied by academia, but for theorists as Portilho (2005) and Cohen & Murphy (2001)
consumption emerges as a fundamental issue when it comes to a sustainable society.
This study aimed a deeper understanding of the different viewpoints that surround the
debate on consumption. We have interviewed students from Florianópolis and asked
them about the importance of environmental problems compared to other current
modern imbroglios. There were also questions about the importance of consumption
compared to other environmental issues, as well as the predominant rationality, actions
and agents that could solve the problems associated to consumption. Results indicate
that among the general problems of society nowadays, students tend to worry more
about violence, health and education than with environmental matters. When the focus
is only the environmental issues, results indicate that gas emission and the loss of
natural habitats are the categories that youth pays more attention to. Environmental
impacts of consumption occupy an intermediary degree and it is not considered an
environmental problem able to generate massive mobilization. It is not, however, a
totally unknown matter. When asked about the possible solutions for the environmental
problems related to consumption, young students reported that the ordinary people,
followed by the private corporations, are the primary responsible for the development
and implementation of policies. When it comes to specific policies, technological
solutions were more voted. The data collected reflect the implicit need for more public
debate about the theme, so it becomes more widespread.
Key Words: Sustainable development, Environmental problems, Consumption,
Rationality.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Crescimento no consumo de energia na era industrial.........................................
12
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Distribuição da amostra por tipo de escola.........................................................
63
Gráfico 2 - Idade segundo tipo de escola.............................................................................. 64
Gráfico 3 - Renda familiar segundo tipo de escola............................................................... 64
Gráfico 4 - Valoração dos problemas da atualidade segundo tipo de escola........................ 65
Gráfico 5 - Valoração dos problemas da atualidade segundo renda familiar........................ 66
Gráfico 6 - Valoração do consumo segundo tipo de escola.................................................. 71
Gráfico 7 - Valoração do consumo segundo renda familiar.................................................. 72
Gráfico 8 - Agentes para liderar ações segundo tipo de escola............................................. 73
Gráfico 9 - Agentes para liderar ações segundo renda familiar............................................ 74
Gráfico 10 - Natureza da ação segundo tipo de escola..........................................................
78
Gráfico 11 - Natureza da ação segundo renda familiar......................................................... 79
Gráfico 12 - Ação a ser implementada segundo tipo de escola.............................................
80
Gráfico 13 - Ação de natureza econômica a ser implementada segundo renda familiar...... 81
Gráfico 14 - Ação de natureza social a ser implementada segundo renda familiar.............. 81
Gráfico 15 - Ação de natureza tecnológica a ser implementada segundo renda familiar..... 81
Gráfico 16 - Racionalidade segundo tipo de escola.............................................................. 85
Gráfico 17 - Racionalidade segundo renda familiar.............................................................. 85
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Paradigmas vigentes no mundo científico........................................................... 13
Quadro 2 - Principais tendências socioeconômicas e suas conseqüências ambientais..........
21
Quadro 3 - Instrumentos de comando e controle e instrumentos econômicos...................... 33
Quadro 4 - Preceitos de uma sociedade sustentável.............................................................. 34
Quadro 5 - O consumo na perspectiva da racionalidade....................................................... 83
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição da amostra por tipo de escola...........................................................
63
Tabela 2 - Idade segundo tipo de escola................................................................................ 63
Tabela 3 - Renda familiar segundo tipo de escola................................................................. 64
Tabela 4 - Valoração dos problemas da atualidade segundo tipo de escola.......................... 65
Tabela 5 - Valoração dos problemas da atualidade segundo renda familiar......................... 66
Tabela 6 - Número de jovens que colocam o meio ambiente em primeiro e em último
lugar segundo a renda familiar..............................................................................................
67
Tabela 7 - Número de jovens que colocam o meio ambiente em primeiro e em último
lugar segundo tipo de escola..................................................................................................
67
Tabela 8 - Valoração do consumo segundo tipo de escola.................................................... 71
Tabela 9 - Valoração do consumo segundo renda familiar................................................... 71
Tabela 10 - Número de jovens que colocam o consumo em primeiro e em último lugar
segundo a renda familiar........................................................................................................
72
Tabela 11 - Número de jovens que colocam o consumo em primeiro e em último lugar
segundo tipo de escola...........................................................................................................
72
Tabela 12 - Agentes para liderar ações segundo tipo de escola............................................ 73
Tabela 13 - Agentes para liderar ações segundo renda familiar............................................ 74
Tabela 14 - Natureza da ação segundo tipo de escola........................................................... 77
Tabela 15 - Natureza da ação segundo renda familiar...........................................................
78
Tabela 16 - Ação a ser implementada segundo tipo de escola.............................................. 80
Tabela 17- Racionalidade segundo tipo de escola............................................................... 84
Tabela 18 - Racionalidade segundo renda familiar............................................................... 85
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................
01
1.1 OBJETIVOS...............................................................................................................................................
05
1.1.1 Objetivo Geral...........................................................................................................................................
05
1.1.2 Objetivos Específicos................................................................................................................................
05
1.3 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................................................
06
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................
10
2.1 RELAÇÃO HOMEM E MEIO AMBIENTE..........................................................................................
10
2.2 PROBLEMÁTICA AMBIENTAL CONTEMPORÂNEA.....................................................................
19
2.2.1 Ações para lidar com os problemas ambientais........................................................................................
27
2.3 PROBLEMÁTICA AMBIENTAL RELACIONADA AOS PADRÕES DE CONSUMO..................
35
2.3.1 Definição do conceito de consumo............................................................................................................
35
2.3.2 Importância do consumo em meio à problemática ambiental...................................................................
36
2.3.3 Relevância cultural, social e psíquica do consumo...................................................................................
42
2.3.4 Ações para lidar com os impactos ambientais do consumo......................................................................
46
2.4 RACIONALIDADE, VALORES E MUDANÇAS AMBIENTAIS.......................................................
52
3 METODOLOGIA...........................................................................................................
57
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA.........................................................................................................
57
3.2 UNIVERSO DA PESQUISA.....................................................................................................................
57
3.3 COLETA DE DADOS................................................................................................................................
58
3.4 ANÁLISE DOS DADOS............................................................................................................................
59
3.5 DEFINIÇÃO DE TERMOS......................................................................................................................
60
3.6 LIMITAÇÕES............................................................................................................................................
61
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS...................................................................................
62
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ..................................................................................................
62
4.2 VALORAÇÃO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS..............................................................................
65
4.3 VALORAÇÃO DO CONSUMO EM MEIO AOS PROBLEMAS AMBIENTAIS.............................
68
4.4 AGENTES E AÇÕES PARA LIDAR COM OS IMPACTOS DO CONSUMO..................................
73
4.5 RACIONALIDADE E MUDANÇA AMBIENTAL................................................................................
83
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................
88
5.1 RECOMENDAÇÕES.................................................................................................................................
90
REFERÊNCIAS.................................................................................................................
92
APÊNDICE.........................................................................................................................
96
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO................................................................................................................
97
1
1 INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea confronta-se nesse início de século com várias
reflexões relacionadas aos modelos de desenvolvimento adotados e seus impactos
econômicos, políticos, sociais e ambientais. Calcada em uma racionalidade instrumental
e marcada pela valorização do conhecimento científico e tecnológico, pela busca de
produtividade e eficiência e pela emergência de relações em âmbito global, tal
sociedade se encontra frente a questões de natureza diversa.
Entre as questões mais relevantes da modernidade, figuram as discussões sobre
os problemas ambientais, cujo debate difunde-se cada vez mais pelos meios de
comunicação, mobilizando hoje não o meio político e acadêmico, mas também as
entidades privadas e a sociedade civil, entre outras instituições.
Os problemas ambientais são compreendidos de formas diversas entre teóricos
de diferentes áreas, havendo também uma efervescência de visões sobre o assunto entre
os países, especialmente no que se refere à proporção e impacto de tais problemas e
sobre quais as ações mais adequadas para minorá-los.
Em meio a este turbilhão que caracteriza o debate sobre a temática ambiental,
surgem, por volta da década de 70, algumas idéias que vieram a constituir aquilo que se
denomina hoje desenvolvimento sustentável. A partir do questionamento dos modelos
de desenvolvimento vigentes e da análise de seus impactos sobre a sociedade e o meio
natural, tal conceito tem sua emergência relacionada às propostas de eco-
desenvolvimento, elaborados por Ignacy Sachs.
A princípio, a concepção de ecodesenvolvimento centrava-se nos países
subdesenvolvidos, buscando enaltecer os conhecimentos das comunidades locais com o
objetivo de alcançar uma gestão ecológica dos recursos ali existentes. Posteriormente,
tal concepção ganha complexidade e passa a abarcar críticas às relações entre os países
do Norte e do Sul e às conseqüências negativas do processo de industrialização (LEIS,
1999, p. 146).
Na concepção de Sachs, o ecodesenvolvimento se integrava com outros
aspectos não estritamente ambientais para definir um verdadeiro
desenvolvimento. Os principais desses aspectos eram: a satisfação das
necessidades humanas básicas, a solidariedade com as gerações futuras, a
participação da população envolvida e o respeito às culturas nativas.
A construção do conceito de desenvolvimento sustentável se organiza ao longo
do tempo, consolidando-se a partir dos debates implementados pelo Clube de Roma,
2
que resultaram na publicação, em 1972, do relatório The Limits of Growth. Além de se
constituir em uma alternativa em termos de modelos desenvolvimentistas, a concepção
de desenvolvimento sustentável se destaca por propor o alinhamento de dois
importantes elementos: o crescimento econômico e a proteção ambiental.
A idéia de um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI,
compatibilizando as dimensões econômica, social e ambiental surgiu para
resolver como ponto de partida no plano conceitual, o velho dilema entre
crescimento econômico e redução da miséria de um lado, e preservação
ambiental de outro.
(CAMARGO et al, 2002, p.13)
Embora o desenvolvimento sustentável possa ser entendido como, por exemplo,
“uma maneira de a sociedade se relacionar com seu ambiente de forma a garantir a sua
própria continuidade e a de se seu meio externo” (VAN BELLEN, 2005, p.22) é
importante ressaltar que existe uma multiplicidade de interpretações em torno de tal
conceito (LEIS, 1999).
Por se tratar de um processo contínuo e complexo, observa-se hoje que existe
uma variedade de abordagens que procura explicar o conceito de
sustentabilidade. Ela pode ser mostrada pelo enorme número de definições
deste conceito. (VAN BELLEN, 2005, p.23)
A literatura surgida em torno do conceito de desenvolvimento sustentável
permite deduzir que grande parte da diversidade de interpretações desse
conceito se deriva da tensão introduzida pela ética no campo da economia e
da política. (LEIS, 1999, p.153)
Entre as muitas definições existentes, duas podem ser consideras mais
conhecidas e aceitas: a apresentada no relatório Brundtland, elaborado a partir da World
Commision on Environment and Development, realizado em 1987; e a desenvolvida ao
longo de todo o documento denominado Agenda 21, fruto da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992.
Na primeira definição, a qual foi escolhida para fins deste estudo, o
desenvolvimento sustentável é explicitado como aquele em que se atende às
necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações
futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. (LEIS, 1999; TURNER et al, 1993;
VAN BELLEN, 2005).
Segundo van Bellen (2005) o conceito de desenvolvimento sustentável
apresentado pelo relatório Brundtland contém duas idéias fundamentais: a concepção de
necessidade, que se referiria especificamente aos países subdesenvolvidos, e a questão
da limitação, que se relacionaria com os estágios de evolução tecnológica e de
organização social e as pressão que tais elementos exercem no presente e no futuro.
3
Além de tais idéias, o conceito descrito também evidencia a articulação entre as
gerações de hoje e de amanhã, demonstrando a preocupação quanto ao papel dos
indivíduos de diferentes faixas etárias na construção e perpetuação da idéia de
sustentabilidade.
Sobre a definição acerca do desenvolvimento sustentável, deve-se ainda destacar
que segundo Dahl (apud van Bellen, 2005, p. 27) tal termo “é claramente um conceito
carregado de valores, e existe uma forte relação entre os princípios, a ética e os valores
que fundamentam uma sociedade ou comunidade e sua concepção de sustentabilidade”.
Colocações desta natureza levam a reflexão sobre o caráter global e local que o
desenvolvimento sustentável pode abarcar, além da importância que as comunidades e
suas respectivas culturas assumem no processo.
Partindo da perspectiva do desenvolvimento sustentável e dos questionamentos
que tal conceito suscita, vários olhares lançam-se ao cenário atual em busca de análises
que permitam compreender os problemas decorrentes da relação existente entre a
sociedade e o meio ambiente.
Diamond (2005) classifica os problemas ambientais atuais em doze categorias
relacionadas entre si, que contemplam a destruição ou perda de recursos naturais, a
limitação dos recursos naturais, a produção ou transporte de itens capazes de causar
danos à natureza e as questões populacionais.
As categorias elaboradas por Diamond (2005) se referem à destruição dos
habitats naturais; a diminuição dos alimentos selvagens; a perda da biodiversidade; a
erosão do solo; a limitação no acesso a fontes de combustíveis fósseis; a dificuldade na
obtenção de água doce; a limitação da quantidade de luz solar utilizável pelo homem; a
fabricação ou liberação de produtos tóxicos; a transferência de espécies do lugar de
onde são nativas para outras áreas; a emissão de gases que danificam a camada de
ozônio ou colaboram para o efeito estufa; o crescimento da população mundial e,
finalmente, o impacto de cada indivíduo no meio ambiente, a partir do seu consumo.
Vários destes problemas têm sido estudados no meio acadêmico, mas para
alguns teóricos tais como Portilho (2005) e Cohen e Murphy (2001) a questão do
consumo emerge como fundamental para que se possa vislumbrar uma sociedade
sustentável.
Embora possa ser tratado como um dos temas centrais em meio à problemática
ambiental, o consumo é um tema complexo: mudanças nesta área implicam
4
transformações estruturais na sociedade em que vivemos, pois nela as relações sociais e
econômicas baseiam-se em trocas entre aqueles que produzem e aqueles que consomem.
Ao mesmo tempo em que do consumo decorrem significativos impactos
ambientais, este se constitui na mola propulsora da organização do mundo
contemporâneo, sendo que qualquer mudança na área pode ser interpretada como uma
limitação das liberdades individuais ou uma restrição ao desenvolvimento econômico.
Considerando que grande parte da humanidade insere-se numa sociedade de
consumo, a questão volta-se a compreensão de como conciliar a estrutura social e
econômica atual a novos padrões de consumo que permitam a proteção do meio
ambiente, dentro de uma perspectiva mais sustentável.
Para que se construam propostas para os problemas ambientais relacionados ao
consumo faz necessário compreender a importância que este assume para os indivíduos
e a percepção destes acerca das possíveis soluções para seus impactos. Trata-se de uma
questão eminentemente política e por seu caráter multifacetado é passível de
contribuições oriundas de diferentes áreas do conhecimento, tais como as ciências
econômicas, exatas, sociais, entre outras (COHEN e MURPHY, 2001).
Partindo destes pressupostos, este estudo visou aprofundar a compreensão sobre
os pontos de vista que se desenvolvem em torno da questão do consumo. Buscou-se
uma análise que abrace tanto a importância que o consumo assume no modo de vida
moderno como seus impactos ambientais no meio natural. Para tanto, o estudo se propôs
a analisar como se posiciona uma determinada camada da população brasileira frente a
este problema, tendo como foco quatro aspectos específicos.
O primeiro aspecto se refere à valoração dos problemas ecológicos frente a
outras questões da atualidade. Pergunta-se: qual importância tem a crise ambiental para
o público jovem?
O segundo aspecto relaciona-se com a importância que o consumo assume entre
os problemas ecológicos. Questiona-se: o consumo é visto como um problema
ambiental? Em caso positivo, qual importância este assume em comparação com outros
fenômenos, tais como a perda da biodiversidade ou a erosão do solo?
O terceiro aspecto abrange as possíveis ações e agentes para a solução dos
problemas ambientais decorrentes do consumo humano. Pergunta-se: o que deve ser
feito para contornar os impactos negativos do consumo no meio ambiente? Que agentes
– mercado, Estado ou sociedade civil - devem liderar ações nesse campo?
5
Finalmente, o quarto aspecto se refere à racionalidade que norteia a ação
individual. Indaga-se: predominância de uma racionalidade instrumental ou
substantiva entre os pesquisados? Em caso positivo, em que medida a racionalidade
predominante influi nas atitudes e comportamentos dos jovens frente à crise ecológica?
Nesse contexto, investigou-se qual a percepção dos jovens de Florianópolis
sobre os problemas ambientais, especialmente os relacionados ao consumo
humano, e como este público avalia as possíveis ações e agentes para sua solução.”
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar a percepção dos jovens de Florianópolis sobre os problemas ambientais,
especialmente os relacionados ao consumo humano, verificando como este público
avalia as possíveis ações e agentes para sua solução.
1.1.2 Objetivos Específicos
a. Verificar a valoração das questões ambientais em meio aos demais problemas
enfrentados pela sociedade na atualidade;
b. Examinar a valoração da problemática do consumo entre as demais questões
ambientais;
c. Identificar a racionalidade predominante entre os estudantes e seu impacto na
forma como estes se relacionam com o meio ambiente;
d. Verificar as expectativas em relação aos agentes e as ações possíveis para lidar
com a problemática do consumo.
6
1.2 JUSTIFICATIVA
A crescente importância que a temática do consumo têm assumido faz com que
tal assunto seja abordado por diferentes campos do conhecimento. Na Administração, o
consumo tem sido discutido principalmente na área de Marketing, existindo um menor
número de estudos que abordem o tema a partir de outras perspectivas, como a do
desenvolvimento sustentável.
Os estudos brasileiros que abordam o consumo na perspectiva do
desenvolvimento sustentável vêm investigando, por exemplo, a forma como as
empresas estão agindo em relação ao meio ambiente e as percepções dos consumidores
sobre os impactos do consumo (GONÇALVES-DIAS et al, 2007).
Tais pesquisas discutem, por exemplo, as melhores ferramentas de gestão
ambiental empresarial; os níveis de consciência ambiental dos consumidores e a posição
dos mesmos frente a produtos ecologicamente produzidos e comercializados; as
diferenças entre os conceitos de “consumo verde” e de “consumo sustentável”, entre
outros temas.
Gonçalves-Dias et al (2007) afirmam que, de forma geral, entre os estudos que
tratam da questão dos impactos ambientais do consumo existe uma forte tendência em
abraçar as perspectivas da economia e da engenharia. Estes autores chamam a atenção
para a necessidade de uma concepção mais ampla da questão do consumo, que
incorpore outras disciplinas como a sociologia, a antropologia, a psicologia e a filosofia.
Este estudo visa dar seqüência aqueles já realizados, reunindo algumas das
propostas debatidas anteriormente, no âmbito nacional e internacional, e abarcando,
sempre que possível, uma perspectiva mais abrangente, o que inclui teóricos de outras
áreas além da administração.
Pretende-se inicialmente verificar se a problemática ambiental, em primeiro
plano, e do consumo, em segundo plano, transcendem a esfera cientifica e se constituem
também em uma preocupação para uma parcela da sociedade civil.
Buscamos ainda agrupar algumas das possíveis ações relacionadas à
problemática do consumo, discutidas em outros estudos, em três grupos (natureza
econômica, natureza social e natureza tecnológica) e verificar o posicionamento dos
jovens em relação às mesmas, discutindo também que agentes devem liderar a
7
implementação de tais soluções. Introduz-se, por fim, a discussão sobre a racionalidade
e a forma como esta interfere na relação entre o homem e a natureza.
Independentemente do estado da arte em que se encontra a investigação sobre o
consumo e o meio ambiente, no plano teórico o assunto se constitui em uma área que
demanda intensa discussão.
Conforme afirma Diamond (2005), está longe de estar claro, tanto no meio
científico como no governamental, o que fazer em relação às questões ambientais
associadas ao consumo, tão complexas são as interações que o conformam. Logo, a
realização de pesquisas multidisciplinares sobre o consumo se torna absolutamente
necessária, colaborando tanto na expansão do conhecimento científico na área como na
resolução de problemas de ordem prática.
É necessário ressaltar que a implantação das possíveis alternativas à questão do
consumo discutidas no plano acadêmico ou governamental dependerá da adoção e da
aprovação dos indivíduos.
Esta pesquisa se alicerça no pressuposto de que a sociedade atual, fortemente
influenciada por valores como a democracia e o liberalismo, tem nos indivíduos os
principais agentes a quem se dirige o consumo e, por essa razão, justifica-se verificar
como estes pensam e tendem a agir em relação a tal questão.
As pessoas comuns desta sociedade podem sustentar ou não decisões políticas e
iniciativas privadas, além de serem apontadas como elementos de grande importância na
tomada de atitude frente aos problemas ambientais decorrentes do consumo (COHEN e
MURPHY, 2001; DIAMOND, 2005; ESTER et al, 2004; FURTADO, 1998;
PORTILHO, 2005). Ações relacionadas, por exemplo, ao controle da publicidade ou a
delimitação dos padrões de consumo podem ser interpretadas como uma afronta à
liberdade tão proclamada na modernidade, levando a decisões de outra natureza
(MURPHY, 2001).
Segundo Ester el al (2004), a efetividade das emergentes políticas de
sustentabilidade globais depende não somente da disposição dos governos nacionais em
ratificar os acordos ambientais internacionais, mas, igualmente, da aceitação pública
nacional dos impactos nos seus estilos de vida e padrões de consumo. A realização de
um futuro global sustentável vai se materializar quando o público, como parte da
comunidade global, concordar que as metas sociais embutidas nas políticas da
sustentabilidade são legítimas, justas, eficientes e possíveis.
8
Ester et al (2004), baseados na premissa de que políticas designadas a resolver
problemas ambientais o alcançaram sucesso caso não tenham amplo suporte político,
alegam que os tomadores de decisão responsáveis por políticas ambientais necessitam
de uma compreensão precisa das atitudes gerais do público quanto ao meio ambiente.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1998) propõe que
mudanças rumo ao consumo sustentável incluam um melhor entendimento do assunto e
uma crescente consciência geral a respeito dele o que, portanto, enaltece a participação
efetiva da sociedade civil e justifica a realização de estudos que abordem este público.
O consumo sustentável não poderá ser bem sucedido a menos que a maioria
dos consumidores participe do processo voluntariamente. Os indivíduos
precisam "traduzir" os conceitos ligados a visões do futuro para novos
comportamentos, aqui e agora. (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS
PARA O DESENVOLVIMENTO, 1998, p.65)
Os governos e agências internacionais devem efetuar e promover pesquisas
sobre o comportamento dos consumidores e danos ao meio ambiente
decorrentes, a fim de identificar meios de mudar os padrões de consumo para
uma forma mais sustentável e ao mesmo tempo atender às necessidades
básicas de todas as pessoas. (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA
O DESENVOLVIMENTO, 1998, p.125)
Sobre o ponto de vista da resolução dos problemas ambientais relacionados ao
consumo, em meio ao universo das pessoas comuns, uma parcela merece destaque. Os
jovens além de constituírem em segmento de relevante impacto social e econômico no
contexto brasileiro, também são decisivos para garantir que o consumo seja exercido de
maneira sustentável nos próximos anos:
Particularmente, a população jovem do País constitui-se em um público-alvo
de uma gama de estratégias necessárias e/ou intencionais (marketing, mídia,
indústria do consumo e do lazer) voltadas exclusivamente para este grupo
(...). Basta citar que estes jovens formam o conjunto de pessoas que,
efetivamente, pressiona a economia para a criação de novos postos de
trabalho. (IBGE, 1996, p. 01)
Por já constituírem um importante segmento do mercado consumidor, os
jovens são o público-alvo de muitas ações de publicidade. É uma parcela da
população que, nos últimos anos, tem aumentado significativamente o peso
relativo de suas compras, movimentando bilhões de dólares e tornando-se
importante fonte de negócios (...). E, para o mundo dos negócios, os jovens
valem não pelo que podem realizar agora, uma vez que nessa fase
consolidam comportamentos de consumo que vão manter por toda a vida.
(INSTITUTO AKATU, 2001, p.09)
Desta forma, face às diversas contribuições e propostas de ação apresentadas
pelas diferentes áreas do conhecimento para a problemática do consumo, faz-se
essencial conhecer a percepção dos indivíduos e, especialmente, dos jovens, de forma a
direcionar o caminho a seguir.
9
Serão os eleitores, consumidores e cidadãos aqueles que colocarão em prática
parte destas ações. Quando se trata do contexto brasileiro, a importância de pesquisas
que investiguem as percepções da população sobre as questões ambientais ganha força
em dois sentidos.
Primeiro, fortalece o processo de participação da sociedade civil nos debates que
envolvem o meio ambiente, processo esse que se encontra em evolução (CAMARGO et
al, 2002, p. 10).
A participação da sociedade civil nas decisões, principalmente das
populações mais atingidas por ações governamentais e da iniciativa privada,
é fundamental para gerar um controle público através da transparência das
políticas de gestão de recursos de modo a promover o acesso igual aos meios
e fins do desenvolvimento sustentável.
Segundo, fornece dados sistematizados, já que nem sempre é de conhecimento
dos tomadores de decisão qual postura a população assume frente à temática ambiental
Para Ester et al (2004) existem distorções marcantes e sistemáticas na competência dos
decision makersem estimar as crenças ambientais e o apoio a políticas públicas entre
o público em geral. Estas distorções, curiosamente, estão relacionadas a questões
centrais ao debate sobre sustentabilidade.
Os resultados deste estudo podem ser abarcados pela Administração em duas
grandes frentes. Na Administração pública, este pode trazer dados relevantes sobre a
racionalidade e tendência ideológica dos cidadãos acerca das questões ambientais e
mais especificamente sobre o consumo e suas possíveis formas de resolução.
Na Administração de empresas, o estudo pode colaborar evidenciando até que
ponto os consumidores valoram a problemática ambiental e o que tipo de postura eles
esperam das empresas em relação aos impactos decorrentes do consumo. Tais dados
podem indicar se a responsabilidade socioambiental é vista como um campo de ação
pertinente para lidar com o problema, e quais agentes devem assumir a tomada de
decisões (empresas, governo ou sociedade civil).
10
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo serão apresentados os principais temas que fundamentam e
norteiam o processo de pesquisa. Inicialmente, será abordada a relação entre homem e
meio ambiente. Em seguida, discute-se a emergência da crise ambiental atual e os
principais problemas que dela decorrem. Posteriormente, foca-se na temática do
consumo, a partir da definição desse conceito, da discussão sobre o papel do consumo
em meio à problemática ambiental e do debate sobre possíveis ações para contornar
seus impactos negativos. Por fim, discute-se a racionalidade e seu papel mediador na
relação entre homem e natureza.
2.1 Relação homem e meio ambiente
Originada há mais de cem anos, a preocupação do homem em relação à natureza,
ganha, na transição para o século XXI, novos contornos. Tal relação, contudo, tem
passado ao longo do tempo por fases distintas, sendo profundamente marcada pelos
valores e crenças vigentes em cada época.
Harper (1996) analisa a relação entre o ser humano e o meio ambiente a partir de
três perspectivas, fundadas nas sociedades coletora-caçadora, agrícola e industrial. As
sociedades coletoras-caçadoras, que correspondem a três quartos da existência humana,
eram constituídas por pequenos grupos de pessoas que sobreviviam da coleta de plantas
nativas e da caça de animais, inclusive marinhos. Em tais sociedades quase não havia
acumulação material e a busca por alimento era quase diária, havendo uma forte
dependência de conhecimento sobre a natureza, tais como sobre as mudanças oriundas
das estações do ano, as rotas de migração e as fontes de água. Segundo o autor, como
estas populações viviam em pequenos agrupamentos possuíam padrões sociais
descentralizados, usavam materiais e ferramentas pouco sofisticados (como flechas e
cestas) e dependiam da energia vinda do próprio corpo, geravam impactos ambientais
localizados e de pequena dimensão. Nestas sociedades, havia uma tendência a equidade
social e prevaleciam crenças de que os seres e as coisas eram governados por forças
11
espirituais e que os humanos, como parte da natureza, deveriam lidar com a abundância
e a limitação existentes neste mundo (HARPER, 1996).
Nas sociedades agrícolas que se desenvolveram a partir da descoberta dos modos
de cultivo de grãos e da domesticação de animais, começa a ocorrer uma maior
possibilidade de acumulação material, como no caso dos alimentos. Embora existissem
muitos grupamentos nômades, nessa fase iniciam-se as comunidades de maior porte.
Surgem estruturas formais de poder, regras e instituições, assim como a estratificação e
a diferenciação social, emergindo categorias como a nobreza, a igreja e as pessoas
comuns. À medida que as tecnologias de plantio e criação de animais vão se
sofisticando, as sociedades agrícolas passam a contar com populações cada vez maiores,
embora quase a totalidade das pessoas vivesse diretamente no campo (HARPER, 1996).
Os impactos ambientais das sociedades agrícolas, como a erosão do solo e a
poluição das fontes de água, foram um dos motivos que levaram muitas das mesmas a
desaparecem. Segundo Harper (1996), nesse período a visão predominante deixa de ser
a do homem como parte da natureza para ser a do homem controlando a natureza. Tal
controle também era exercido entre os próprios homens e entre pessoas do sexo
masculino sobre as do sexo feminino.
As sociedades industriais, marcadas pelas novas formas de produção por meio
das máquinas e a diversificação das fontes de energias, apresentaram um salto na
capacidade de acumulação material e econômica em comparação com as anteriores.
Houve uma diminuição da demanda pela força de trabalho nas áreas agrícolas, existindo
um forte aumento da urbanização. Fortificam-se as organizações e os estados-nação e
passam a prevalecer classes sociais fundadas nas riquezas geradas pelo sistema
industrial e pela posse de terras, passando a existir uma significativa iniqüidade na
apropriação dos bens (HARPER, 1996).
O desenvolvimento da ciência e a grande capacidade de geração de alimentos
geram um enorme aumento populacional, mas as pessoas passam a desvincular-se cada
vez mais da natureza e da vida em comunidade. Países industrializados passam a
colonizar e dominar nações que outrora haviam dominado a era agrícola (como a Índia e
o Egito) e constitui-se uma nova ordem mundial. Os impactos no meio ambiente
aumentam, quantitativamente e qualitativamente, com a intensificação no uso dos
recursos naturais e a emergência de novos tipos de substâncias sintéticas e mais
poluidoras. Passa a ser notória a diferenciação entre os impactos ambientais das pessoas
12
das diversas classes sociais, sendo que a questão da pobreza e da riqueza torna-se
relevante na análise dos problemas ecológicos (HARPER, 1996).
Figura 1: Crescimento no consumo de energia na era industrial
Fonte: Davis (apud Harper, 1996, p. 210)
O Iluminismo, e a proeminência da racionalidade e do cientificismo, colaboram
para que a natureza passe a ser vista nas sociedades industriais como uma fonte de
recursos a ser usada e gerida pelo homem. Prevalecem preceitos como a valorização da
maximização das riquezas e a aceitação dos riscos deste processo; a baixa valorização
da natureza por sua própria conta; a compaixão pelos seres que estão próximos e o
maior descaso com aqueles inseridos em realidades mais distantes; entre outros
(HARPER, 1996).
De forma a elucidar o pensamento predominante no período moderno, Harper
(1996) compara os paradigmas vigentes no meio científico no período que se refere às
sociedades industriais. O autor discorre primeiramente sobre os paradigmas
predominantes nas ciências sociais e econômicas, para depois mencionar aqueles
relativos à sociologia ambiental e a economia ambiental, categorias científicas que
emergiram junto aos movimentos ecológicos a partir das décadas de 60 e 70:
13
PARADIGMAS DA ECONOMIA E
SOCIOLOGIA
PARADIGMAS DA ECONOMIA E DA
SOCIOLOGIA AMBIENTAL
- Os homens são únicos entre as criaturas existentes
na Terra, já que possuem uma cultura.
- A cultura pode variar indefinidamente e pode
mudar muito mais rápido do que os traços
biológicos.
- Assim, muitas diferenças entre os homens são
socialmente induzidas em vez de originadas com o
nascimento, podendo ser socialmente alteradas e
suas inconveniências excluídas.
- A acumulação cultural significa que o progresso
pode continuar sem limites, pois todos os
problemas sociais são, de alguma forma, solúveis.
- Ainda que os humanos tenham características
excepcionais, tais como a cultura e a tecnologia,
estes estão inseridos entre outras espécies que são
interdependentes e envolvidas em um ecossistema
global.
- As relações humanas não são influenciadas apenas
por fatores culturais e sociais, mas também por
intrincadas conexões de causa e efeito na rede da
natureza, sendo que ações humanas m muitas
conseqüências não intencionais.
- Os seres humanos vivem e o dependentes de um
ambiente biofísico finito, que impõe restrições as
ações humanas.
- Embora a inventividade humana e os poderes dela
derivados possam parecer capazes de estender os
limites ecológicos, as leis da natureza não podem
ser anuladas.
Quadro 1 - Paradigmas vigentes no mundo científico
Fonte: Adaptado de Harper (1996)
Fica claro que embora existam diferenças entre as formas de pensamento, tais
correntes teóricas baseiam-se em uma visão do homem como uma entidade superior aos
demais membros da natureza, detendo meios e poderes para controlá-los.
Harper (1996) baseia-se em Rossides para afirmar que o fator mais distintivo
sobre os seres humanos é que eles são criadores de cultura, portadores de cultura e
entidades culturalmente controladas. Os serem humanos não seriam governados por
processos naturais que governam plantas, animais e planetas, mas o são por suas
próprias criações.
Harper (1996) ressalta, contudo, que a humanidade poderia estar passando por
uma nova mudança rumo a sociedades pós-industriais ou pós-modernas, calcadas em
novos valores e crenças. Para o autor, poderia estar emergindo um novo paradigma, que
vêm sendo investigado a partir de estudos científicos.
Outro autor que analisa a relação entre homem e meio ambiente é Keith Thomas.
Tendo como pano de fundo principalmente a Inglaterra e partindo de uma perspectiva
histórica, Thomas (1988) afirma ter predominado entre os séculos XV e XVIII no
Ocidente uma postura majoritariamente antropocêntrica. Tal postura era sustentada
fortemente por fundamentos filosóficos e teológicos; e influenciada significativamente
pelos patamares de desenvolvimento existentes naquele período.
14
(...) a visão tradicional era que o mundo fora criado para o bem do homem e
as outras espécies deviam se subordinar a seus desejos e necessidades. Tal
pressuposto fundamenta as ações dessa ampla maioria de homens que nunca
pararam um instante para refletir sobre a questão. (...) A natureza não fez
nada em vão, disse Aristóteles, e tudo teve um propósito. As plantas foram
criadas para o bem dos animais e esses para o bem dos homens. Os animais
domésticos existiam para labutar, os selvagens para serem caçados.
(THOMAS, 1988, p.21)
(...) o predomínio humano tinha, portanto, lugar central no plano divino. O
Homem era o fim de todas as obras de Deus. (...) Foi tendo em mente as
necessidades humanas que Deus criou criteriosamente, projetou e distribuiu
os animais. Os camelos, observou um pregador de 1696, foram sensatamente
colocados na Arábia, onde não havia água. (THOMAS, 1988, p.23)
Entre o século XV e o início do século XVII, grande parte da força motriz
provinha da tração animal, de tal forma que os elementos da natureza eram vistos
unicamente como recursos para a sobrevivência e bem estar da humanidade. Os
preceitos morais existentes neste período possibilitavam o uso indiscriminado e
ilimitado dos recursos naturais, sendo algumas das ações humanas, tais como a
domesticação de animais, vistas como benéfica aos mesmos, que “os civilizava e
aumentava seu número” (THOMAS, 1988, p.25). Separado do restante da natureza por
deter o livre-arbítrio, a razão e a capacidade de falar, o ser humano era visto como
soberano.
(...) “civilização humana” era uma expressão virtualmente sinônima de
conquista da natureza. O mundo vegetal sempre foi fonte de alimento e de
combustível; o Ocidente, por esta época, caracterizava-se por sua
dependência excepcionalmente alta dos recursos naturais. A civilização da
Europa medieval seria inconcebível sem o boi e o cavalo. (THOMAS, 1988,
p.23)
Esta visão predominante nos primórdios da modernidade foi sendo gradualmente
modificada, segundo Thomas (1988), a partir de uma conjunção de processos, tais como
o desenvolvimento da história natural e de estudos científicos sobre animais e plantas.
O conflito entre a convivência cotidiana dos homens e animais e as ortodoxias
teológicas da época, também contribuiu para a mudança, estimulando os intelectuais a
desenvolverem uma nova visão sobre a relação ser humano e natureza. A defesa acerca
do caráter e inteligência dos animais, por exemplo, inicia-se com o convívio e
observação dos homens acerca de seus animais de estimação (THOMAS, 1988).
(...) conquanto os teólogos pregassem uma separação estrita entre homem e
natureza, a prática usual na Inglaterra dos primeiros tempos modernos de
forma alguma era tão rígida. (...) as relações do homem com os animais
domésticos eram muito mais íntimas do que pretendia a religião oficial.
(THOMAS, 1988, p.111)
15
A partir do final do século XVII, a preocupação do homem com a natureza
começa a ganhar outros sentidos. Embora o antropocentrismo ainda detenha força, passa
a ser aceitável pela doutrina cristã a idéia que animais e vegetais fossem considerados
membros da Criação Divina e tivessem direito a serem usados com respeito (THOMAS,
1988).
No âmbito popular, torna-se crescente o sentimento de compaixão pelos animais.
A crueldade existente na caça e no trato dispensado aos mesmos é algo que passa a ser
visto com repugnância por parcelas do povo Inglês, não somente pelo sofrimento capaz
de impor-lhes, mas também por deter um efeito negativo sobre o caráter humano,
tornando os homens brutos e cruéis entre si. Segundo Thomas (1988, p. 198):
Em fins do século XVII, a própria tradição antropocêntrica sofria acentuada
erosão. A aceitação explícita da idéia de que o mundo não existe somente
para o homem pode ser considerada como uma das grandes revoluções no
moderno pensamento ocidental (...). Tornou-se cada vez mais comum
defender que a natureza existia para a glória divina e que Deus se preocupava
tanto com o bem estar das plantas e animais quanto com o do homem.
De acordo com Thomas (1988, p. 199), no âmbito científico, avanços na
Astronomia trazem à tona novos questionamentos sobre a centralidade do homem no
universo e alteram algumas das crenças até então vigentes:
(...) foi, acima de tudo, a vasta expansão no tamanho do mundo conhecido o
que levou os sábios a mudarem de opinião. À medida que astrônomos
revelavam não apenas que a Terra não era o centro do universo, mas que
havia uma infinidade de outros mundos, cada um deles possivelmente
habitado por espécies desconhecidas, ia se tornando mais difícil defender que
a criação existisse para uso exclusivo e benefício dos moradores humanos de
um diminuto planeta.
Reforçando esse processo, a crescente industrialização e urbanização que se
seguem aos séculos XVII e XVIII tornam os animais e vegetais cada vez mais marginais
ao processo de produção e trazem à tona novas maneiras de concebê-los. Embora a caça
e a destruição de floretas sigam ocorrendo, bichos de estimação, árvores e flores passam
a deter cada vez mais valor simbólico para as novas populações urbanas, que tendem a
desvinculá-los de sua função prática (THOMAS, 1988).
A idéia de que os animais selvagens devem ser preservados mesmo que não
tenham nenhuma utilidade começa a ser discutida, embora ações em prol da proteção de
criaturas destinadas à caça existisse de forma isolada desde os tempos medievais.
Segundo Thomas (1988, p. 339), “o início do período moderno de fato engendrou essa
sensibilidade cindida, da qual sofremos até hoje.”
16
Devemos ressaltar, no entanto, que esta sensibilidade para com a natureza entra
em choque com os modelos de produção e consumo que passam a ser praticados na era
mais recente, o que se constitui em um grande paradoxo. Se por um lado o homem
tende a afeiçoar-se às criaturas e a desejar protegê-las, por outro emprega métodos cada
vez mais sofisticados para manipular e alterar o meio ambiente. Segundo Thomas
(1988, p. 357-358):
A independência econômica face à energia animal e o isolamento urbano em
relação aos bichos de criação nutriram atitudes difíceis, senão impossíveis, de
se conciliar com a exploração dos animais que dava sustento à maior parte
das pessoas. Doravante, uma visão cada vez mais sentimental dos animais
enquanto bichos de estimação e objetos de contemplação iriam acomodar-se
mal com a sombria realidade de um mundo no qual a eliminação das “pestes”
e a criação de animais para abate ia-se tornando cada dia mais eficiente.
Oliver Goldsmith escrevia, de seus contemporâneos, que “eles se apiedam e
se alimentam dos objetos de sua compaixão”. O mesmo podia ser dito das
crianças de hoje que, alimentadas por uma dieta de carne e protegidas por
uma medicina desenvolvida através de experimentos com animais, levam,
não obstante, bichinhos de pelúcia para a cama e prodigam afeição a
cordeiros e pôneis. Para os adultos, os parques nacionais e as áreas
preservadas cumprem uma função que não é diferente da que os bichos de
pelúcia têm para as crianças; são fantasias que cultuam valores mediante os
quais a sociedade, como um todo, não tem condições de viver.
Para Thomas (1988) o conflito homem e natureza é uma das maiores
contradições em que se assenta a civilização no período moderno, sendo, por essa razão,
passível apenas de especulações. Independentemente da força que tal conflito assume
nos últimos séculos, cabe reconhecer que recentemente esforços têm sido feitos para
delimitar e buscar soluções às questões ambientais.
Entre os esforços existentes, podemos mencionar a expansão do movimento
ambientalista, que tem suas raízes no século XIV e se torna uma das mais importantes
forças em direção à compreensão e preservação da natureza. Embora possa ser definido
de outras formas diferentes, o ambientalismo pode ser compreendido, segundo Leis
(1999), como um movimento histórico que vê a sociedade atual como insustentável, não
no que tange a seus modelos de desenvolvimento, mas também às suas instituições e
valores, em especial aqueles que se referem ao consumismo e ao crescimento
econômico ilimitado.
A história do movimento ambientalista pode servir de ponto de partida para uma
compreensão mais detalhada acerca da relação entre o homem e a natureza no período
moderno. Partindo deste ponto de vista, pode-se afirmar que no decorrer dos séculos
XVIII e XIV a tendência a proteção e preservação do meio ambiente vêm se
expandindo, embora nem sempre com força e intensidade uniformes.
17
Em 1909 foi realizado o primeiro Congresso Conservacionista Norte-
Americano, cujo resultado mais relevante foi evidenciar que a conservação da natureza
era uma questão internacional, o que abriu espaço para se pensar em um encontro
mundial em torno do tema, que acabou não sendo realizado devido à substituição de
Theodore Roosevelt por Taft na presidência dos EUA. Na Europa, movimentos de
caráter preservacionista ocorriam concomitantemente, tendo sido realizado em Paris o
Congresso Internacional para Proteção da Natureza, que fomentou a criação, em 1913,
de uma Comissão Consultiva para a Proteção Internacional da Natureza (LEIS, 1999).
A consolidação do movimento ambientalista, entretanto, foi impactada pela
ocorrência das duas grandes guerras mundiais, especialmente a última, cujo cessar fogo
marcou uma preocupação eminente com a reconstrução econômica e a reabilitação
social do mundo. Segundo Leis (1999, p. 73), nesse período, a prioridade mais próxima
à problemática ambiental referia-se ao combate à fome.
(...) a guerra tinha sido acompanhada por uma austeridade que todos queriam
agora abandonar e substituir pelo consumo e a prosperidade. A proteção a
natureza ecoava em muitos ouvidos como um chamado a uma nova
austeridade que ninguém queria escutar, e uma inserção efetiva dos
ambientalistas nas atividades e no sistema das Nações Unidas (e na política
em geral) deveria esperar praticamente até a conferência de Estocolmo-72
sobre Meio Ambiente Humano.
As décadas de 60 e 70 foram marcadas por um debate ambientalista com
tendências radicais: idéias neomalthusianas e de crescimento zero da economia
chocavam-se com percepções de que tudo se resumia a simples “alarmismos”. Nessa
mesma época há uma grande profusão de organizações não-ambientais.
Tais organizações foram capazes de renovar o movimento e mobilizar muitas
pessoas, tal como ocorreu em abril de 1970, quando quase meio milhão de norte-
americanos participou do Dia da Terra.
Esta mobilização indicava uma alteração nos valores existentes na sociedade
civil, abrindo espaço para que fossem discutidas transformações drásticas na economia e
nos estilos de vida: “o preservacionismo e conservacionismo que dominaram o
ambientalismo nas décadas anteriores era revitalizado agora para uma expressão que
combinava as preocupações estéticas e científicas com as sociais” (LEIS, 1999, p. 105).
Além da proliferação das ONGs, mobilizando a sociedade civil, a partir da
década de 70 começam a se organizar os partidos verdes (em 1980 foi fundado o Partido
Verde Alemão, que em três anos possuía 27 representantes), indicando que o
ambientalismo passava à esfera política (LEIS, 1999).
18
O movimento ambientalista passa a ganhar ainda mais força a partir da
Conferência da ONU em Estocolmo, em 1972, em que as organizações não-
governamentais compareceram em peso e obtiveram grande destaque. O encontro
fomentou a criação de programas e instituições voltados à proteção da natureza, tanto
nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos, além de propiciar a redação de
um documento que chamava a atenção para a necessidade de adoção de políticas globais
para contornar os problemas ambientais. (LEIS, 1999)
Apesar de destacar o caráter global da crise ambiental, o documento elaborado
na Conferência de Estocolmo também se ateve ás questões particulares, enumerando,
por exemplo, os problemas relativos às nações desenvolvidas, tais como contaminação,
consumismo e pressão sobre recursos naturais; e aqueles relacionados às nações
subdesenvolvidas, tais como as pressões populacionais e o crescimento urbano. (LEIS,
1999).
Embora tal conferência tenha trazido avanços expressivos, nem todos os países
participantes alinhavam-se ao seu discurso central. No que se refere ao contexto
nacional, “a conferência da ONU em Estocolmo teve um impacto mínimo na opinião
pública brasileira, se comparado não apenas com os países desenvolvidos, mas também
com outros países do Terceiro Mundo como a Índia e a Venezuela” (VIOLA, 1992,
p.5). De acordo com o autor, o Brasil enfrentava uma repressão político-cultural e este
defendeu no encontro muitas das batalhas contra o reconhecimento da problemática
ambiental.
Mesmo em vista de uma certa falta de consenso nas posições políticas dos países
frente às questões relativas à natureza, fato que geralmente marca encontros na área
ambiental, após Estocolmo, muitas outras conferências, como a Rio Eco 92, vieram a
colaborar para o desenvolvimento e solidificação do movimento ambientalista. Embora
existam divergências e conflitos de interesse, pode-se afirmar que tais conferências em
muito colaboraram para o desenvolvimento de novas reflexões sobre a relação homem e
natureza.
Entre as concepções elaboradas a partir da década de 70 e discutidas em
conferências na área ambiental, chamamos atenção para a que propõe o
desenvolvimento sustentável. Uma importante contribuição desta proposta é evidenciar
a necessidade de aliar proteção ao meio ambiente com desenvolvimento econômico,
contrariando algumas tendências anteriores que propunham ora o crescimento
19
econômico zero, ora um desenvolvimento ilimitado, a despeito de suas conseqüências
ecológicas.
Por um lado, pode-se questionar se tal concepção evidencia de fato a emergência
de um novo paradigma e de uma nova etapa na relação entre a humanidade e a natureza,
que mostra como urgente e definitiva a necessidade de respeito e equilíbrio no uso
dos recursos naturais e define uma nova forma de enxergar a natureza.
Por outro lado, cabe indagar se tal respeito e parcimônia no uso dos recursos
naturais, embutida no conceito de desenvolvimento sustentável, não carregaria em si
uma motivação essencialmente antropocêntrica que um dos objetivos é garantir as
necessidades das gerações (humanas) futuras, não se distanciando, desta forma, da
priorização do homem frente a natureza, latente ao longo dos últimos milênios.
Em caso afirmativo, fica claro que embora a humanidade tenha passado por
significativas modificações no sentido que atribui à natureza e que o movimento
ambientalista tenha surgido em defesa desta última, o antropocentrismo é um traço
onipresente, mesmo entre aqueles que se dedicam a encontrar os melhores caminhos
para a problemática ambiental.
2.2 Problemática ambiental contemporânea
Para compreender os desafios que se apresentam à proposta de desenvolvimento
sustentável, revisaremos a seguir os principais problemas ambientais da atualidade,
focando, em momento posterior, especificamente na questão do consumo.
Faz-se necessário salientar, antes de tudo, que a crise ecológica suscita uma
pluralidade de opiniões, que muitas vezes não encontram consenso. Kennedy (1993)
afirma existirem visões mais otimistas e mais pessimistas sobre o assunto, o que
também ocorre na percepção de Harper (1996), que denomina como “Pollyannas” e
“Cassandras”, pessoas que se assumem a primeira ou segunda postura, respectivamente.
Segundo Harper (1996), as Cassandras apontam uma catástrofe ambiental e
afirmam que o mundo atual passa por uma fase em que cada vez mais pessoas
demandam recursos naturais e que muito mais tecnologias poderosas capazes de
alterar o meio ambiente hoje do que nas sociedades pré-industriais. As Cassandras
alegam também que o desejo comum da maioria das populações de diversas partes do
mundo é elevar seus padrões de vida (o que significa maior nível de consumo e de
20
geração de rejeitos) e que o volume de lixo gerado atualmente por atividades humanas é
maior que em outros tempos, além de ser cada vez mais quimicamente complexo e por
isso de difícil reabsorção pela natureza.
Pollyannas contra argumentam, apontando que de fato existe uma degradação
ecológica, mas que por outro lado, há também melhorias, como a recuperação ambiental
de lagos e rios anteriormente poluídos, que relativizam os cenários mais ameaçadores.
Pollyannas acreditam que fontes de recursos naturais podem ser ainda descobertos e
melhor explorados pelo homem, a partir de sua engenhosidade. Pollyannas também
afirmam que muitas previsões desastrosas feitas no passado, como as elaboradas por
Malthus ou pelo Clube de Roma, não se concretizaram e colocam em cheque as
evidências científicas existentes sobre a crise hoje.
A despeito das posições existentes frente à crise ecológica, Harper (1996)
ressalta que as mudanças ambientais contemporâneas diferem das que ocorreram no
passado em dois aspectos: tais mudanças são hoje muito mais rápidas e, como em
nenhum outro período, suas causas se relacionam às ações humanas, mais do que a
fenômenos gerados pela própria natureza.
Tendo em vista a importância do fator humano em meio à crise ecológica, Stern
et al (apud Harper, 1996) aponta algumas variáveis sociais que seriam responsáveis por
estas transformações no meio ambiente, tais como o crescimento populacional; os
arranjos institucionais, incluindo a política econômica e o crescimento econômico; a
cultura, abrangendo os valores, crenças e atitudes; e as mudanças tecnológicas.
Reforçando a tese de que a crise ecológica atual é desencadeada por ações
humanas e baseado nas críticas que o movimento ambientalista apresenta frente ao
mundo contemporâneo, Leis (1999) afirma que os problemas ambientais do presente
estão associados à evolução e ao progresso característicos das sociedades
contemporâneas. Para o autor, “a sociedade evolui à medida que se intensificam seus
fluxos de pessoas, informação, energia e mercadorias” (LEIS, 1999, p.42), sendo a
sociedade dos dias de hoje, portanto, mais desenvolvida que as organizações humanas
da antiguidade.
Para Leis (1999), os aglomerados humanos existentes na Idade da Pedra podem
ser considerados menos complexos que os atuais, tendo vivido à base da caça e da
pesca, sem imprimir profundas mudanças no meio ambiente. as sociedades
constituídas nos últimos milênios, que atravessaram revoluções tais como a agrícola, a
industrial e, mais recentemente, a da informação, têm sido capazes de alterar
21
substancialmente a natureza, a partir de um acelerado processo de produção relacionado
a uma vida social de grande complexidade.
O autor analisa algumas das tendências sócio-econômicas das sociedades
modernas e aponta quais seriam suas prováveis conseqüências ambientais:
PRINCIPAIS TENDÊNCIAS
SOCIOECONÔMICAS
PRINCIPAIS CONSEQÜÊNCIAS
- Aumento da população - Pobreza
- Escassez de recursos naturais
- Urbanização e Industrialização - Mudanças climáticas globais
- Desflorestamento
- Mudanças no aproveitamento e uso da terra e seus
recursos
- Desertificação
- Perda da biodiversidade
- Perda da diversidade cultural
- Globalização da economia, a tecnologia e as
comunicações.
- Contaminação e\ou degradação de ar, água, terra e
mares.
Quadro 2 - Principais tendências socioeconômicas e suas conseqüências ambientais.
Fonte: Leis, (1999, p. 42)
Para analisar o contexto atual, Kennedy (1993, p. 29) menciona algumas das
tendências sócio-econômicas citadas por Leis (1999) e demonstra como a combinação
de aumento populacional e baixo desenvolvimento tecnológico por parte dos países
menos desenvolvidos, aliados as altas taxas de consumo por parte dos desenvolvidos
impactam negativamente o meio ambiente na atualidade.
(...) a Terra está sofrendo um duplo ataque dos seres humanos, devido tanto
às demandas excessivas e hábitos perdulários das populações ricas dos países
desenvolvidos, como aos bilhões de novas bocas nascidas no mundo em
desenvolvimento que (muito provavelmente), aspiram aumentar os seus
níveis de consumo.
O autor ressalta que quando Malthus elaborou previsões catastróficas para a
humanidade, em 1798, este não contou com as possibilidades de expansão das fronteiras
geográficas, de revolução agrícola e de maior produtividade industrial, que acabaram
por salvaguardar aquela sociedade de uma catástrofe. Kennedy (1993, p. 11) argumenta
que diferentemente do que aconteceu na Europa naquele culo, atualmente a
humanidade não possui as mesmas possibilidades de solução para seus problemas
ambientais.
A explosão tecnológica está ocorrendo, de maneira predominante, nas
sociedades economicamente adiantadas, muitas das quais com populações de
lento crescimento, ou mesmo em declínio. Mas a explosão demográfica está
acontecendo em países com limitados recursos tecnológicos, poucos
22
cientistas e trabalhadores especializados, investimento inadequado em
pesquisa, e poucas, ou nenhuma, empresas bem sucedidas.
É interessante ressaltar que embora Kennedy (1993, p. 104) atribua à tecnologia
o poder de impulsionar nações rumo ao desenvolvimento e de atenuar os impactos
ambientais nocivos, o autor explicita que a mesma tecnologia colaborou para a geração
de muitos dos problemas ecológicos existentes atualmente. Ou seja, conforme o autor,
se por um lado a tecnologia é vista como uma solução à crise ambiental e um fator
fundamental para a prosperidade, ao mesmo tempo ela é capaz de promover
desequilíbrios na sociedade.
(...) as descobertas tecnológicas em conseqüência das revoluções científica e
industrial produziram novas formas de conversão a máquina a vapor, a
combustão interna, a eletricidade (...). Também contribuíram para a
intensificação do ritmo de crescimento da população mundial depois de 1750,
o que por sua vez provocou o dilema atual.
Além de variáveis como desenvolvimento tecnológico e taxas de crescimento
populacional, para Kennedy (1993) fatores como a cultura, as crenças religiosas e as
atitudes sociais são responsáveis pela capacidade de ação e de mudança, sendo tais
fatores capazes de diferenciar as sociedades e explicar sua postura frente aos desafios
modernos, entre eles os problemas de ordem ecológica.
Diamond (2005), assim como Kennedy (1993), estabelece parâmetros de
comparação entre as diferentes sociedades e acaba por construir sua análise acerca da
crise ambiental contemporânea a partir do questionamento sobre as razões que levam
algumas destas sociedades a tomarem decisões desastrosas. Kennedy (1993) menciona
fatores culturais, religiosos e sociais e Diamond (2005, p. 625) segue na mesma direção,
afirmando que mudanças de rumo capazes de contribuir positivamente para as
sociedades dependem de alterações em seus valores:
(...) que valores devem ser alijados e substituídos por abordagens diferentes?
A Groenlândia Nórdica recusou-se a se livrar de parte de sua identidade
como sociedade européia, cristã e pastoril, e morreu por isso. Em contraste,
os insulares de Tikopia tiveram a coragem de eliminar seus porcos
ecologicamente destrutivos, mesmo esses porcos sendo o único animal
doméstico grande e um símbolo de prestígio nas sociedades melanésias.
Como citamos anteriormente, para Diamond (2005, p. 581) “os problemas
ambientais mais sérios enfrentados por sociedades do passado e do presente recaem em
uma dúzia de grupos”. Antes de examinar estes grupos de problemas ambientais, é
necessário explicitar, que embora tais problemas possam ser classificados em algumas
categorias, estes estão intimamente interligados, tendo assim seus efeitos multiplicados.
23
Segundo Harper (1996), para compreender os problemas ecológicos que se
ter em mente que a natureza nada mais é que um sistema, ou uma cadeia de partes
interconectadas e interdependentes. Um lago ou uma floresta pode ser um ecossistema e
seus componentes são inseparáveis do todo.
Altvater (1996, p. 30) explicita esta relação afirmando que “quando se extingue
uma espécie de ave, extinguem-se (pela estatística) meia espécie de mamíferos, duas
espécies de peixes, 35 espécies de plantas e 90 espécies de insetos.”
Neste contexto, o primeiro problema ambiental descrito Diamond (2005) refere-
se a destruição de habitats naturais ou transformação dos mesmos em, por exemplo,
áreas industriais, residenciais ou estradas. Segundo o autor, os habitats mais ameaçados
são as florestas, os pântanos, os recifes de coral e os fundos oceânicos. Sobre as
florestas, o autor alega que estas cumprem importante papel na formação dos regimes de
chuva, além de serem lar de diversos animais e plantas, resguardarem as bacias
hidrográficas e protegerem o solo contra processos erosivos, sendo ainda fontes de
diversas matérias primas, tais como a madeira. O desmatamento conforme Diamond
(2005) levou ao colapso algumas sociedades do passado.
O segundo problema trata da perda ou diminuição dos alimentos selvagens, tais
como peixes e mariscos, que representam uma parcela das fontes de proteínas
consumidas em nossa sociedade. Para Diamond (2005), este tipo de alimento é
importante, pois ajuda a sustentar cerca de dois bilhões de pessoas que dependem dos
oceanos para sua sobrevivência.
O terceiro problema ambiental é a perda de diversas espécies nativas,
restringindo o patrimônio e a diversidade genética. Diamond (2005) argumenta que
embora a princípio algumas espécies pareçam ter pouca importância (em especial para o
uso humano), a natureza é composta por uma ampla teia de relações entre as diferentes
espécies, sendo que um desequilíbrio em um dado ponto pode afetar toda uma cadeia. O
autor exemplifica tal relação de inúmeras formas, dentre elas mencionando o caso das
sementes dispersadas por morcegos frutívoros (frequentemente exterminados) ou das
bactérias do solo que nele fixam nitrogênio, elemento essencial nas áreas cultivadas.
O quarto problema citado é a erosão do solo a partir da ação da água e do vento,
dificultando sua regeneração e afetando diretamente a agricultura. Além da erosão,
Diamond (2005) cita ainda outros impactos negativos no solo como a salinização, a
perda da fertilidade, a acidificação (em alguns lugares) e a alcalinização (em outros
pontos). Juntos tais fatores foram capazes de gerar algum tipo de dano à uma parcela de
24
20% a 80% das terras cultiváveis existentes, o que põe em risco a produção de
alimentos. Segundo Diamond (2005), de forma análoga ao desmatamento, alterações no
solo foram igualmente responsáveis por catástrofes em determinados países.
A limitação na disponibilidade de exploração de fontes de energia de origem
fóssil é o quinto problema descrito por Diamond (2005). Petróleo, gás natural e carvão
vegetal são as principais fontes de energia nas sociedades modernas e embora o autor
argumente que existem discussões sobre os limites de exploração de tais recursos, pode-
se dizer que estes têm limites que podem se esgotar em algumas décadas. Além do risco
de esgotamento, a exploração destas fontes de energia tende a ser cada vez mais
dispendiosa, tanto no que tange aos custos financeiros como quanto aos ambientais
(Diamond, 2005).
A limitação de outra categoria de recursos naturais, neste caso, os hídricos, é o
sexto problema ambiental apontado por Diamond (2005). Para o autor, grandes
quantidades de água doce oriundas de rios e lagos vêm sendo empregadas na
agricultura, na indústria, para transporte, para recreação e para abastecimento
doméstico. Diamond (2005) afirma que enquanto os aqüíferos subterrâneos esgotam-se
antes que possam se recompor-se naturalmente, as fontes de água doce ainda não
exploradas (tais como alguns rios e lagos) encontram-se distantes dos núcleos
populacionais, agravando a situação, existindo atualmente cerca de um bilhão de
pessoas sem acesso à água potável.
A limitação da energia fornecida pela luz solar é o sétimo problema ambiental
que Diamond (2005) elenca. Conforme o autor existe uma crença de que o fornecimento
de luz solar é infinito. Porém trata-se de um recurso limitado, cuja tendência é ser
monopolizado para propósitos humanos, seja sendo aproveitado para em plantações ou
na produção de árvores, seja sendo desperdiçado a partir da incidência em estradas e
construções de concreto, pouco restando para as comunidades vegetais, o que afeta sua
capacidade fotossintética.
O oitavo problema ambiental de que trata Diamond (2005) é a fabricação ou
liberação de produtos químicos tóxicos, tais como os produzidos pelas indústrias
químicas. Estas substâncias, em pequenas ou grandes quantidades, contaminam o ar, a
água e o solo. Exemplos conhecidos, segundo o autor, são os pesticidas, o mercúrio,
detergentes e gases refrigeradores, todos com históricos de danos aos seres vivos,
inclusive os humanos e que, em muitos casos, são capazes de permanecer um longo
tempo antes de se diluir, gerando altos custos de recuperação ambiental nas áreas
25
afetadas. Diamond (2005, p. 588) afirma que “em baixíssimas concentrações, causam
diversos defeitos de nascença, retardamento mental e dano temporário ou permanente de
nossos sistemas imunológico e reprodutor.”
O transporte e a disseminação de espécies exóticas é o nono problema entre os
doze descritos por Diamond (2005). Apesar de plantas de cultivo, animais domésticos e
vegetação para paisagismo comporem um conjunto de espécies exóticas usualmente
presentes em nosso cotidiano, a disseminação de tais espécies pode ser extremamente
perigosa. Por não possuírem experiência evolucionária anterior, ao entrar em contato
com espécies nativas, as espécies exóticas são capazes de alterar seu curso natural e até
exterminá-las, alterando todo um sistema biológico de uma determinada região.
O décimo problema ambiental é a emissão de gases na atmosfera, que danifica a
camada de ozônio e contribui para o efeito estufa, este último associado ao processo de
aquecimento global. De acordo com Diamond (2005), relacionados direta ou
indiretamente a atividades humanas, o dióxido de carbono e o metano são exemplos de
gases nocivos capazes de colaborar para o aumento da temperatura no globo. Este
aumento tende a ter efeitos mais nocivos, tais como erosões e inundações, em locais
como os Países Baixos, Bangladesh, costa leste dos EUA, ilhas baixas do pacífico,
deltas dos Rios Nilo e Mekong, cidades costeiras do Reino Unido, Índia, Japão e
Filipinas.
O décimo primeiro problema ambiental refere-se ao crescimento populacional,
ao qual, segundo Diamond (2005), tem sido atribuída grande atenção nas últimas
décadas. Diamond (2005, p. 590) alega que “mas gente requer mais comida, espaço,
água, energia e outros recursos”, sendo a ocorrência de tal fenômeno desigual entre os
países. O autor ressalta que inexiste um consenso sobre a estabilização ou não do
crescimento populacional no futuro, existindo algumas estimativas que prevêem a
continuidade de tal processo por pelo menos mais setenta anos.
Finalmente, o décimo segundo problema ambiental abordado pelo autor é a
questão do consumo humano e sua conseqüente geração de rejeitos. Assim como o
crescimento populacional, o consumo não ocorre uniformemente no planeta. Diamond
(2005), que como Kennedy (1993) utiliza cálculos matemáticos para comparar os danos
causados pelos indivíduos de cada país, afirma que cidadãos dos EUA, Europa
Ocidental e Japão consomem 32 vezes mais do que os que vivem em nações do Terceiro
Mundo. Os impactos ambientais do consumo serão discutidos detalhadamente em
26
capítulo posterior, mas cabe desde expor a dificuldade que Diamond (2005, p. 593)
percebe em contorná-los:
No momento, é politicamente impossível para os líderes do Primeiro Mundo
propor aos seus cidadãos que baixem o seu padrão de vida, através do menor
consumo de recursos e da menor produção de rejeitos. O que acontecerá
quando os povos do Terceiro Mundo finalmente se derem conta de que os
padrões de vida do Primeiro Mundo são inalcançáveis, e que o Primeiro
Mundo recusa-se a abandonar tais padrões?
Embora a crise ecológica seja hoje amplamente debatida nos meios de
comunicação e existam inúmeros teóricos capazes de discorrer sobre os problemas
ambientais, é importante destacar que tais percepções, além de muitas vezes
confrontarem-se entre si, como explicitamos, podem não corresponder àquelas
existentes entre as diversas populações distribuídas no globo.
Pode-se perguntar se os problemas anteriormente citados são, por exemplo,
reconhecidos pelas pessoas comuns ou se são capazes de preocupá-las e de alterar seus
comportamentos.
Segundo um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(1998, p. 25) os problemas ambientais nem sempre são compreendidos pela população,
principalmente porque os impactos negativos não são comumente detectáveis pelos
sentidos humanos. O fato de as causas e as conseqüências da crise ecológica estarem
muitas vezes distantes no tempo e no espaço também dificulta o dimensionamento dos
problemas. Outra questão envolve a divulgação das informações sobre o assunto:
Mudanças no conhecimento científico a respeito de problemas ambientais e
modificações na extensão dos próprios problemas também tornam mais
difícil para os consumidores entender essas questões. É como se quase todo
dia as notícias trouxessem uma palavra sobre outro prejuízo ao meio
ambiente revelado por pesquisas, ou talvez um novo debate que põe em
dúvida se um dano anteriormente divulgado é realmente um problema. Os
consumidores médios freqüentemente não sabem em que acreditar quando
não há consenso entre os especialistas.
De acordo com Harper (1996), o comportamento social é direcionado por
construções simbólicas, sendo que apesar de as pessoas estarem inseridas em ambientes
naturais, estas vivem e agem em mundos mediados e construídos por símbolos culturais.
Assim sendo, embora exista um ambiente biofísico real, as pessoas agem
conforme o que elas acreditam ser o meio ambiente, o que abre fronteiras para uma
multiplicidade de opiniões, não só dentro do meio científico, mas também fora dele. Tal
fato reforça a necessidade de conhecer as percepções sobre os problemas ambientais
existentes, em busca de um consenso sobre as possíveis ações para contorná-los.
27
2.2.1 Ações para lidar com os problemas ambientais
Embora seja possível delimitar e categorizar grande parte dos problemas que
decorrem da ação humana sobre o meio ambiente, autores como Leis (1999) e Diamond
(2005) indicam que a busca de soluções para tais problemas mostra-se tarefa bem mais
complexa.
Segundo Leis (1999, p. 24), as instituições modernas encontram-se em um
impasse quando se trata de questões ambientais. Este impasse seria fruto tanto da
inexistência de autoridades internacionais com poderes concretos para gerir os recursos
naturais globais, quanto da tendência a uma orientação individualista e competitiva por
parte dos agentes envolvidos, impossibilitando a tomada conjunta de resoluções de
maior amplitude.
(...) as causas da crise ecológica vão, portanto, muito além da eventual falta
de compreensão dos riscos ambientais existentes ou da pouca vontade
política para tratar desses temas, por parte das elites, desafiando a
humanidade a encontrar soluções abrangentes e complexas que claramente
transcendem as capacidades da ciência, da técnica e das instituições
existentes.
Ainda que assumam a dificuldade existente na busca de soluções para os
problemas ambientais, autores de diferentes áreas de conhecimento apresentam
propostas de ação. Analisando tais propostas conjuntamente, é possível notar que estas
se sustentam, no geral, em três grandes agentes – no Estado, no mercado e na sociedade
civil.
Leis (1999, p. 97), baseado em Max Weber, afirma que “as peculiaridades do
mundo moderno são um derivado direto da importância alcançada pelas forças do
mercado e do Estado.”
Segundo Leis (1999), as concepções de desenvolvimento presentes no século
XX delinearam-se a partir de dois modelos, um calcado no papel do mercado e o outro
no papel do Estado. Porém, mudanças trazidas pela vida moderna, tais como
questionamentos sobre valores e práticas fundamentais da nossa sociedade, estariam
pondo em cheque os modelos existentes. Reflexões sobre os direitos humanos, o meio
ambiente, a paz, entre outras, favoreceriam a ampliação e o fortalecimento dos
movimentos sociais e das organizações não-governamentais, suportadas pela sociedade
civil.
28
Conforme Leis (1999) existiriam hoje diferentes preferências institucionais para
conduzir as questões relativas à crise ecológica. A primeira delas a qualidade
ambiental como um bem comum que deve ser preservado a partir da intervenção
normativa e reguladora do Estado. Tal posição está relacionada às políticas ambientais e
às instituições do setor localizados na Europa Ocidental e América do Norte sendo
também defendida, em parte, pelas organizações ligadas ao movimento ambientalista.
Uma segunda corrente aposta na sociedade civil como instituição mais capaz de
lidar com tal problemática. De acordo com Leis (1999, p. 153), esta é a preferência de
agentes ligados às organizações não-governamentais do hemisfério Sul, que
“desconfiam do Estado e do mercado como alocadores de recursos, julgando que ambos
deveriam preencher um papel subordinado aos critérios dados pela sociedade civil.”
Uma terceira corrente prioriza o mercado e defende a premissa de que os bens
ambientais podem sofrer apropriação privada. Os defensores desta proposta, que são
principalmente os representantes da esfera empresarial, acreditam que os produtores
tenderão a preservar o meio ambiente a partir de demandas de seus consumidores e que
tal modelo é mais eficaz que o sistema de regulação estatal.
Para Leis (1999, p. 153), este grupo alega que por meio da lógica de mercado
“acompanhada de uma significativa apropriação privada dos recursos naturais e da
expansão dos consumidores verdes, avança-se eficientemente na direção de uma
sociedade sustentável.”
Frente às três preferências institucionais descritas, Leis (1999) aponta que as
forças do Estado tendem a continuar possuindo legitimidade na solução dos problemas
ambientais, principalmente em vel local. Contudo, quando se trata de governabilidade
em âmbito global, a solução de tais problemas passa a contar cada vez mais com a
sociedade civil. Para Leis (1999, p. 129), “(...) sem o surgimento de novos valores e
movimentos no seio da sociedade civil não se pode esperar que surjam partidos verdes
ou políticas ambientais.”
Viola (1992) afirma existir um debate em torno de qual o tipo de
desenvolvimento sustentável desejável, e a partir deste debate o autor alega existirem
três posturas, as quais denomina “estatista”, “mercado” e “comunitária”. Analisando tais
posturas observamos que estas correspondem às descritas por Leis (1999),
anteriormente citadas.
A posição estatista se utiliza de mecanismos normativos, reguladores e
promotores e valoriza a equidade em detrimento da eficiência. A posição de mercado,
29
ao contrário, prioriza a eficiência em detrimento da equidade e propõe o emprego de
mecanismos como as taxas e tarifas de poluição e depleção de recursos, assim como as
permissões de poluição comercializáveis. A posição comunitária se estruturaria a partir
dos movimentos sociais e das organizações não-governamentais cujo objetivo é
constituir um novo sistema de valores calcado na solidariedade. Seu foco é na equidade,
sendo desconsiderada a questão da eficiência (VIOLA, 1992).
Segundo Viola (1992, p. 15) enquanto grande parte dos integrantes do
movimento ambientalista identifica-se com a posição comunitária, os cientistas tendem
a priorizar a posição estatista. Os empresários orientados para a sustentabilidade são
aqueles cuja aposta é na posição de mercado. Embora o debate em torno das três
posições descritas possa significar um avanço rumo à sustentabilidade, o autor ressalta
que uma significativa dificuldade em colocar em prática os preceitos que as
constituem:
Os comportamentos individuais estão muito aquém da consciência ambiental
presente no discurso; são muito poucas as pessoas (inclusive entre os
ambientalistas militantes) que pautam conscientemente seu cotidiano pelos
critérios da eficiência energética, reciclagem de materiais, redução do
consumo suntuário e participação voluntária em tarefas comunitárias de
limpeza ambiental. As políticas públicas estão a meio caminho entre um
discurso-legislação bastante ambientalizados e um comportamento
individual-social bastante predatório: por um lado as políticas públicas têm
contribuído para estabelecer um sistema de proteção ambiental no país; por
outro lado, o poder público é incapaz de fazer cumprir aos indivíduos e
empresas uma proporção importante da legislação ambiental.
As três posições descritas enfrentam ainda outros desafios, além dos citados por
Viola (1992). A questão conhecida como “tragédia do bem comum” é um modo
particular de conflito de interesse que pode dificultar a gestão de recursos que não
pertencem nem a entidades públicas nem a privadas.
Segundo Diamond (2005), numa situação em que um grupo de pessoas exploram
um recurso comum, tal como a pesca no mar ou a criação de ovelhas em um campo
comunitário, caso estas pessoas excedam tal exploração, os recursos tenderão a declinar
ou mesmo a desaparecer, prejudicando a todos.
Embora a opção mais adequada fosse que o interesse coletivo prevalecesse e que
os recursos fossem utilizados de forma coerente, quando não uma regulação efetiva
sobre quanto cada pessoa pode explorar dos mesmos, pode prevalecer o comportamento
racional e individual, levando à destruição do bem comum.. Os pescadores ou pastores
podem pensar que se eles próprios não pescarem ou deixarem suas ovelhas pastarem,
30
outros logo o farão, passando assim realizarem uma super exploração, que ao final
conduz o grupo ao prejuízo. Para Diamond (2005, p. 513):
A solução remanescente para a tragédia do bem comum é os consumidores
reconhecerem seu interesse comum e projetarem, obedecerem e aplicarem
quotas de extração prudentes para si mesmos. Isso ocorre se foram
cumpridas uma série de condições: os consumidores precisam formar um
grupo homogêneo; aprender a confiar uns nos outros e a se comunicar entre
si; esperar compartilhar um futuro comum e passar o recurso para seus
herdeiros; ser capazes de se organizar e policiar a si mesmos; e definir bem
os limites do recurso e o grupo de consumidores.
Outro tipo de desafio relaciona-se a interação entre a sociedade civil e as forças
de mercado e se refere à capacidade de tal sociedade tomar conhecimento, julgar e
intervir junto aos demais agentes em casos de problemas ambientais.
Para Diamond (2005), uma das armas que a sociedade civil dispõe é sua
capacidade de boicotar produtos de empresas, forçando-as a adotar posturas
ecologicamente mais corretas. Entretanto, nem sempre uma proximidade entre os
centros produtores e os consumidores, ocasionando desconhecimento por parte da
sociedade civil sobre os danos, por exemplo, gerados por uma determinada empresa.
Sem conhecer tais danos, os consumidores podem deixar de punir tal empresa, o que
representa uma falha neste sistema.
Ainda que estes tipos de barreira possam vir à tona, Diamond (2005, p. 579) se
posiciona francamente favorável à atuação da sociedade civil na solução dos problemas
ambientais, em especial aqueles relacionados com a atuação de grandes empresas.
As empresas mudaram quando o público passou a esperar e a exigir
comportamento diferente, e a recompensar empresas pelo comportamento
que esperava delas, e tornar as coisas difíceis para empresas que tivessem
comportamentos avessos à vontade pública.
Harper (1996) se refere às mesmas instituições que Leis (1999) e Viola (1992)
ao discorrer sobre agentes ligados a crise ambiental. Baseado em Gramsci (1971),
Harper (1996) define a esfera política como aquela que inclui o estado, as burocracias
públicas e os partidos políticos; a esfera econômica como a que inclui as corporações,
os empreendimentos privados e os sindicatos; e a esfera da sociedade civil como a que
inclui uma diversidade de organizações ligadas à comunidade, religião, cultura e demais
filiações ideológicas.
Harper (1996) analisa os campos de ação das três esferas e aponta os desafios
das propostas ligadas ao mercado e ao estado na solução dos problemas ambientais.
31
Segundo Harper (1996), para os economistas neoclássicos, o mercado, espaço que reúne
investidores, produtores, vendedores e compradores, é tido como capaz de alocar os
valores que as pessoas atribuem aos produtos e serviços. Contudo, o sistema de mercado
enfrenta alguns desafios para sanar os problemas ambientais.
Uma falha em tal sistema relaciona-se à presença de externalidades, que
conforme Harper (1996) significa que os custos ambientais da produção e do consumo
são suportados por alguns, mas não são incorporados aos preços dos produtos e
serviços. Desta forma, a poluição afeta os seres humanos e as outras espécies de forma
geral, na medida em que se espalha no ar ou flui junto à correnteza dos rios, envolvendo
não somente determinadas indústrias ou certos consumidores de determinados produtos.
outros fatores que dificultam o bom funcionamento do sistema de mercado
na solução dos problemas ambientais, fatores esses por vezes relacionados à interação
da esfera governamental com a econômica. Harper (1996) alega que um problema
relaciona-se ao fato de que existem diferentes tipos de recursos recursos de
propriedade privada, recursos de propriedade comum e recursos de propriedade pública
- sendo que no que tange aos dois últimos, nem sempre os mecanismos de mercado
funcionam bem.
Além da questão da tragédia dos comuns, relativa aos recursos de propriedade
comum e descrita anteriormente neste capítulo, Harper (1996) cita a influência de
interesses políticos organizados que pressionam o governo na regulação dos bens
naturais. Tal pressão faria com que estes sejam utilizados a custos mais baixos do que se
estes fossem tratados como propriedades privadas.
Segundo o autor, direitos de acesso a florestas, pastagens, minerais e recursos
energéticos são frequentemente dados a preços muito mais baixos do que eles teriam se
fossem tratados como recursos de propriedade privada. Essas dificuldades em prevenir o
uso insustentável de dos recursos de propriedade comum e pública existem porque não
há razões econômicas reais para preservá-los.
Harper (1996) menciona também os subsídios e incentivos dados pelos governos
na exploração de recursos naturais e na própria agricultura, que muitas vezes são
capazes de impedir ou suplantar o bom funcionamento do mercado e gerar graves
impactos ambientais. O autor cita o caso de incentivos para o povoamento e exploração
de pecuária na Amazônia brasileira, que foi incentivada pelo governo a partir do
abatimento de taxas e que têm causado desflorestamento, perda da biodiversidade,
erosão do solo e degradação das águas.
32
Frente a tais falhas, Harper (1996) afirma que emergem inúmeras idéias, tais
como a internalização dos custos ambientais, de forma a reverter as externalidades; e a
privatização das propriedades comuns. Segundo Harper (1996), no ponto de vista de
pensadores econômicos e políticos mais conservadores, deve-se diminuir as
intervenções e deixar “que a mágica do mercado trabalhe”.
No entanto, Harper (1996) demonstra que mesmo havendo propostas para a
correção das falhas existentes no sistema de mercado, esta vertente encontra limitações,
pois de uma forma ou outra, todos esses problemas com o mercado significam que ele
não precifica todas as coisas efetivamente e não precifica muitas coisas com as quais as
pessoas possam se importar.
Harper (1996) conclui que o sistema de mercado pode superar suas falhas com o
apoio de instituições da esfera política, porém em um modelo diferente do atual. Para o
autor, as estratégias de mercado para lidar com os problemas ambientais tais como as
taxas verdes, a privatização dos comuns e a criação de mercados de emissão de
permissões comercializáveis, necessitam de ação política para reorganizar mercados que
emitem diferentes sinais para produtores e consumidores. Não é o caso de mover-se de
um livre mercado para um mercado muito organizado, mas de mudar das intervenções
perversas de hoje para um novo conjunto de outras menos perversas.
Conforme Harper (1996), a esfera política pode colaborar paralelamente ao
mercado na solução dos problemas ambientais a partir de quatro estratégias, ligadas a
mudanças nas tecnologias, comportamentos, idéias e leis.
Quanto às tecnologias, as políticas públicas podem estimular inúmeras ações,
como a produção mais limpa ou o menor consumo de energia, a partir de investimentos
públicos, mandatos regulatórios, taxas, etc. No que se refere aos comportamentos, as
políticas públicas podem objetivar a alteração de hábitos, como diminuir o uso de
aquecedores e sistemas de ar refrigerado, economizando energia; a partir de um sistema
de incentivos ou penalidades. Quanto às idéias, as políticas públicas podem gerar
consciência dos problemas entre as pessoas, o que inclui campanhas na mídia e ações na
educação pública. Sobre as leis, os governos podem estabelecer mandatos legais que
exijam a instalação de equipamentos anti-poluição ou a reciclagem de lixo industrial
(HARPER, 1996).
Ao analisar criticamente a atuação do mercado e do Estado, Harper (1996)
propõe ajustes em ambas as esferas. Fica evidente que o autor não aposta em apenas um
entre estes modelos para solucionar a crise ecológica, pelo contrário, ele acredita numa
33
junção dos mesmos enquanto melhor caminho para lidar com as questões ambientais
existentes.
Atribuindo ao estado e ao mercado críticas semelhantes às expostas por Harper
(1996) e corroborando com as conclusões deste autor, Turner et al (1993) afirmam que
os governos são eles mesmos muitas vezes as causas da degradação ambiental.
Enquanto estaríamos acostumados com a idéia de que os governos devem colocar as
coisas nos lugares certos, estaríamos menos familiarizados com a idéia de que políticas
públicas que ostensivamente não têm nada que ver com o meio ambiente possam gerar
danos ao meio ambiente, o que caracterizaria a falência do governo na área. Segundo
Turner et al (1993), que os mercados falham também, a questão é encontrar um
balanço adequado entre mercados e intervenções políticas.
Exemplos de ações práticas envolvendo tanto o mercado como o Estado e que
conduzam a um uso mais racional dos recursos naturais são também analisadas por
Margulis (1996), que discorre sobre alguns tipos de instrumentos que vêm sendo
empregados na atualidade.
Para o autor, tais instrumentos podem ser divididos em duas categorias: os
instrumentos de comando e controle e os instrumentos econômicos, relacionados,
respectivamente, as forças políticas e as forças econômicas. Tais instrumentos
encontram-se elencados no quadro abaixo:
INSTRUMENTOS DE COMANDO E
CONTROLE
INSTRUMENTOS ECONÔMICOS
- as licenças, empregadas pelos órgãos ambientais
para controlar a instalação de projetos e atividades
que contenham impactos ambientais.
- o zoneamento, que é um conjunto de regras cujo
objetivo é definir o uso da terra, indicando aos
agentes econômicos a melhor localização para suas
atividades.
- os padrões de qualidade ambiental, que definem
os limites máximos de concentração de poluentes
em um dado ambiente; os padrões de emissão, que
delimitam a emissão de fontes de poluição; os
padrões tecnológicos, que delimitam o uso de
tecnologias; os padrões de produto e processo, que
colocam limites para a liberação de poluentes
segundo o processo ou a unidade de produção; e os
padrões de desempenho, que visam especificar a
eficiência dos processos.
- as taxas ambientais, que são os preços a serem
pegos a partir da emissão de poluentes.
- os mercados onde são negociados direitos de
poluição entre empresas de um mesmo setor ou de
vários setores.
- os sistemas de depósito e reembolso, em que os
consumidores são levados a pagar um valor sempre
que adquirirem produtos potencialmente
poluidores.
- os subsídios, que podem ser concessões,
incentivos fiscais ou créditos subsidiados, visando
estimular os poluidores a diminuírem suas emissões
de poluentes ou reduzirem seus custos de controle.
Quadro 3 - Instrumentos de comando e controle e instrumentos econômicos
Fonte: Adaptado de Margulis (1996)
34
Apoiando-se no preceito que as forças políticas e econômicas devem trabalhar
juntas para contornar os problemas ambientais, Margulis (1996, p. 09) afirma que os
instrumentos de comando e controle e os instrumentos econômicos são complementares.
O bom funcionamento dos primeiros dependerá “(...) da capacidade que o órgão de
controle ambiental tiver para assegurar a obediência à lei, ou seja, fazer os poluidores se
conformarem com os padrões e punir os infratores (...)”. Independentemente de se
apoiarem-se no Estado, no mercado ou na sociedade civil - ou em uma combinação
destas esferas - alguns autores vislumbram ações genéricas que seriam necessárias para
um desenvolvimento sustentável. Apesar de considerá-los “utópicos” ou em sua “forma
pura”, Harper (1996) aponta alguns pré-requisitos para a sustentabilidade, que se
encontram descritos em sete categorias no quadro abaixo:
CATEGORIA PRÉ-REQUISITO AÇÕES
POPULAÇÃO
- uma sociedade sustentável
amorteceria o crescimento populacional
e estabilizaria seu tamanho,
principalmente nos países menos
desenvolvidos.
- programas de contracepção e saúde
familiar e ações de suporte para as
necessidades humanas básicas.
BASE
BIOLÓGIA
- uma sociedade sustentável conservaria
e restauraria sua base biológica,
incluindo melhorias na fertilidade do
solo, nas florestas, nas estoques de água,
nos estoques de vida marinha, entre
outros.
- desenvolvimento de uma agricultura
capaz de imitar o funcionamento da
natureza, estimulando a produção orgânica e
evitando o uso ostensivo de químicos e a
prática de monocultura.
ENERGIA
- uma sociedade sustentável
gradualmente minimizaria ou delimitaria
o uso de combustíveis fósseis.
- restrição no uso de carvão e petróleo e
incentivo ao uso de gás natural e de outras
fontes de energia renováveis, de acordo com
o potencial de cada região.
EFICIÊNCIA
ECONÔMICA
- uma sociedade sustentável trabalharia
para se tornar economicamente eficiente
em todos os sentidos
- diminuição da produção de lixo nos
processos de produção, distribuição e
comercialização, além de maximização da
reciclagem de detritos e incentivo a
produção de bens ecologicamente eficazes.
FORMAS
SOCIAIS
- uma sociedade sustentável teria formas
sociais compatíveis com suas
características naturais, cnicas e
econômicas.
- estabelecimento de políticas para
estimular múltiplas formas de transporte e
novas formas de adensamentos
populacionais. Apoio às indústrias de
reciclagem e de serviços ambientais, entre
outros.
CULTURA
- uma sociedade sustentável requer uma
cultura de crenças, valores e paradigmas
sociais compatíveis com suas
características naturais, cnicas e
econômicas.
- percepção dos ambientes naturais mais
como sistemas ecológicos a serem mantidos
do que a ambientes abertos a serem
completamente explorados. Frugalidade e
suficiência material em substituição da
cultura de consumo e do materialismo.
ORDEM
GLOBAL
- uma sociedade sustentável promove a
cooperação e a negociação destes ideais
com outras sociedades.
- participação em tratados, agências
regulatórias e organizações, nos planos
regionais e internacionais.
Quadro 4 - Preceitos de uma sociedade sustentável
Fonte: Adaptado de Harper (1996)
35
Ainda que possam não se concretizar plenamente, estes pré-requisitos podem
indicar direções para a solução dos problemas ambientais atuais. Embora muitas destas
ações envolvam mudanças estruturais que podem demandar tempo e investimentos,
estas podem ser usadas para nortear os rumos que a sociedade atual escolherá tomar
para lidar com os problemas ambientais, além de servirem como centro de debates entre
os agentes - mercado, Estado e sociedade civil – sobre o tema.
2.3 Problemática ambiental relacionada aos padrões de consumo
A seguir, contextualizaremos especificamente a questão do consumo em meio à
problemática ambiental contemporânea, apontando também possíveis soluções para
lidar com a questão.
2.3.1 Definição do conceito de consumo
O olhar específico em direção à questão do consumo no âmbito do pensamento
ambientalista iniciou-se por volta da década de 60, a partir do movimento da
contracultura (PORTILHO, 2005). Contudo, antes de problematizar a questão do
consumo e seus impactos ambientais, é preciso delimitar uma definição conceitual para
o tema, pois a palavra consumo é traduzida de múltiplas maneiras.
Segundo Stern (1997) os físicos que se baseiam nas leis da termodinâmica,
acreditam que a matéria e a energia não podem ser produzidas e tampouco consumidas,
sendo o consumo um ato de transformação, por meio de processos de entropia. Os
economistas estabelecem uma distinção entre produção e consumo e estes definem o
último como a troca de bens no mercado (MURPHY, 2001). Os ecologistas relacionam
o consumo aos ecossistemas e consideram que os vegetais seriam os produtores
primários enquanto os animais e os seres humanos seriam os consumidores. O papel dos
seres humanos iria além da apropriação da produção primária, tendo influência direta na
transformação de ecossistemas. Os sociólogos compreendem o consumo enquanto a
atividade por meio da qual os indivíduos e seus grupos familiares investem seus
orçamentos, em busca de, por exemplo, reconhecimento social.
36
Stern (1997), considerando o escopo dos estudos que pretendem investigar os
impactos ambientais do consumo, propõe que o termo seja definido como
transformações humanas de materiais e energia. Segundo o autor, o consumo é
ambientalmente importante na medida em que faz com que materiais e energia estejam
menos disponíveis para uso, move dinamicamente sistemas biofísicos estáveis a outros
estados ou, por meio dos seus efeitos nesses sistemas, ameaça à saúde humana, o bem
estar e outras coisas valorizadas pelo homem.
A partir das definições citadas é possível perceber como são “estreitas” algumas
das conceituações do termo consumo, como as descritas para cada área de
conhecimento, e, por outro lado, como as mesmas podem ser excessivamente genéricas,
como o trecho descrito acima em que o consumo é considerado “transformações
humanas de materiais e energia”.
Cohen e Murphy (2001) sugerem que o consumo seja entendido como a
aquisição, não necessariamente no mercado e com o uso de dinheiro; e o uso de objetos,
serviços e lugares. Nesse caso, a preocupação ambiental se daria tanto em relação aos
impactos físicos do consumo sobre outras pessoas e sobre o ecossistema como
quanto impactos sociais - como as questões de distribuição e igualdade.
Tendo em mente tal definição conceitual, é necessário compreender a
emergência da questão do consumo em meio ao debate em torno dos problemas
ambientais e como esta questão vem se tornando central no processo de busca pela
sustentabilidade.
2.3.2 Importância do consumo em meio à problemática ambiental
Portilho (2005) acredita que a questão do consumo está ganhando importância
frente às demais causas de degradação ecológica e por isso vem se tornando central no
debate sobre a crise ambiental. Segundo a autora, a emergência da problemática do
consumo deveu-se a dois deslocamentos discursivos no âmbito de discussão de tal crise.
O primeiro deslocamento refere-se à mudança de foco sobre o impacto do aumento
populacional em direção ao impacto do modelo de produção das nações desenvolvidas.
A preocupação com o aumento populacional surgiu em 1650, porém foi com
Malthus em 1803 que o tema gerou maior debate. Embora as previsões de Malthus não
37
tenham se concretizado, sua forma de pensamento influenciou muitos teóricos que
posteriormente fundaram a corrente neomalthusiana.
Esses teóricos acreditavam que o ser humano é essencialmente racional e
objetiva maximizar seu próprio bem estar. Segundo esta perspectiva, para reverter os
problemas ambientais, devia-se então defender a propriedade privada e controlar o
crescimento populacional e a imigração (PORTILHO, 2005).
Entre as décadas de 60 e 70 surge, entretanto, um debate entre teóricos que
apontavam como causa da crise ambiental o aumento populacional e outros que
acreditavam que esta se devia a tecnologias pouco eficazes. Esse debate foi ampliado,
trazendo para o plano da discussão o impacto ambiental gerado por outros elementos,
tais como a produção agrícola, a apropriação excessiva dos recursos naturais, a
produção industrial e os níveis de poluição. (PORTILHO, 2005).
Portilho (2005, p. 43) afirma que “o foco começa a se dividir entre problemas
derivados de crescimento populacional e problemas derivados do crescimento industrial
e tecnológico, estabelecendo a primeira transição discursiva.”
Na Conferência de Estocolmo e na Conferência das Nações Unidas sobre a
Biosfera, respectivamente em 1972 e 1968, as nações em desenvolvimento passam a
influenciar as discussões, trazendo à tona os debates sobre crescimento econômico,
projetos de desenvolvimento e padrões de consumo das nações desenvolvidas, gerando
um clima de desacordo entre os países de ambos os extremos.
A dimensão do impacto dos sistemas de produção dos países desenvolvidos
passa a ser mais visada e continua a manter presença em discussões, por exemplo, do
meio ambientalista e acadêmico (PORTILHO, 2005).
Mesmo em vista de tal deslocamento, conforme Cohen e Murphy (2001), as
idéias elaboradas nesse período foram apropriadas pelas nações desenvolvidas, que
continuaram a enfatizar argumentos que se apoiavam no aumento populacional para
explicar os problemas ambientais, mascarando outras questões, como seu próprio
padrão de consumo.
O segundo deslocamento refere-se à mudança de foco do impacto ambiental dos
modelos de produção em direção aquele relacionado ao consumo. Tal mudança foi
primeiramente sinalizada em 1987 no Relatório Nosso Futuro Comum da Comissão
Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, ao permitir que fosse
reconhecido o impacto ambiental dos estilos de vida dos países mais e menos
desenvolvidos.
38
Embora o relatório sugira que o crescimento econômico deva ser acompanhado
da preservação do meio ambiente e distribuição de riqueza, ele não menciona a
necessidade de alteração nos padrões de consumo das nações mais desenvolvidas
(PORTILHO, 2005).
Esta alteração somente foi assumida a partir da realização da Rio 92, em que
países em desenvolvimento junto a ONGs reuniram esforços para que os estilos de vida
das nações desenvolvidas fosse definitivamente associado as causas da crise ambiental.
Apesar da tentativa das nações desenvolvidas em manter o foco da discussão em
torno do crescimento populacional e das possibilidades tecnológicas de resolução da
crise, a Agenda 21, a Declaração do Rio e o Tratado das ONGs, gerados a partir do
encontro permitem observar a ocorrência do segundo deslocamento discursivo
(PORTILHO, 2005). É importante ressaltar que segundo Durning (apud Portilho, 2005,
p. 53-54):
Tanto o problema do crescimento populacional quanto do modelo produtivo
receberam atenção e foram, adequadamente ou não, debatidos e até mesmo
enfrentados. Com relação à problemática do consumo (...) existe uma
dificuldade maior, justamente pelo fato de que esse estilo de vida é apreciado
e desejado pela maioria da população do planeta.
Mesmo que a dificuldade em implementar ações de enfrentamento do consumo
seja significativa (DIAMOND, 2005; MURPHY, 2001; PORTILHO, 2005), iniciativas
para reverter tal quadro (as quais serão mais bem descritas em capítulo posterior),
tornam-se realidade em alguns países desenvolvidos, cuja parcela das políticas
ambientais passa a contemplar a questão.
Este direcionamento não subentende que investimentos em melhorias na
produção visando à diminuição de seus impactos ambientais tenham se esvaecido,
inexistindo consenso no meio acadêmico sobre até que ponto pode-se ainda otimizar sua
relação com o meio natural.
Os argumentos de Portilho (2005) explicitam a centralidade das discussões em
torno da questão do consumo, mas devemos destacar que este tema tem sido analisado
por alguns outros autores sob diferentes pontos de vista.
Wong (2001) analisa as percepções de estudantes universitários de Taiwan sobre
os problemas ambientais e sobre a questão do consumo. O autor afirma que um tema
que tende a ser tornado popular na análise ambiental é o que considera o aumento dos
padrões de consumo como a principal causa dos problemas ecológicos.
No caso específico de Taiwan, o autor afirma que o desenvolvimento econômico
existente nas últimas décadas, aliado ao proporcional incremento do consumo, foi
39
notável e se refletiu, por exemplo, no crescimento da produção de lixo doméstico, que
dobrou entre os anos 80 e 90.
Tal fato é percebido pelos estudantes entrevistados, sendo que 86% deles
assumem que a afluência crescente da sociedade de Taiwan tem levado a um super-
consumo dos recursos. Wong (2001) conclui que para alcançar um desenvolvimento
sustentável, os padrões de consumo e estilos de vida prevalecentes em Taiwan devem
ser mudados.
O conceito de afluência citado na pesquisa realizada por Wong (2001) também é
discutido por Harper (1996). Este autor discorre sobre um modelo elaborado por Paul
Ehrlich e por John Holdren que resume o impacto humano sobre o meio ambiente em
uma equação:
I = P x A x T
Segundo tal modelo, o impacto ambiental das ações humanas seria relacionado
ao tamanho de sua população, ao seu nível de afluência e aos efeitos das tecnologias que
suportam tal afluência. Para Harper (1996), a equação acima nada mais seria do que
uma forma simples de ilustrar as diferentes, mas relacionadas, dimensões do impacto
ambiental. Tal impacto se daria em função do mero de pessoas, das tecnologias que
elas empregam para produzir bens e da quantidade de bens que elas consomem.
De acordo com Harper (1996), o consumo ou a afluência descritos no modelo se
constituem em aspectos de suma importância em nossa sociedade, pois segundo o
paradigma vigente nos países mais desenvolvidos, em especial nos Estados Unidos,
estes seriam pré-requisitos para a felicidade, embora tal fato nem sempre seja
comprovado em estudos científicos.
Além disso, Harper (1996) afirma que a questão do consumo tem chamado à
atenção dos cientistas sociais e vêm sendo estudado junto ao fenômeno da desigualdade
social, que estaria ocorrendo de forma crescente entre as nações e também entre as
classes sociais de um mesmo país.
Para o autor, tanto os altos quanto os baixos níveis de consumo, associados à alta
ou a baixa concentração de renda, seriam capazes de impactar o meio ambiente. Por
exemplo, enquanto os mais ricos tendem a consumir quantidades desproporcionais de
comida, energia e bens manufaturados; os mais pobres tendem a ocupar e super explorar
os recursos naturais locais em busca de sobrevivência, o que inclui erosão do solo e
desmatamento.
40
Além disso, pessoas com menos recursos financeiros não poderiam arcar com
produtos menos poluentes e mais eficientes quanto ao consumo de energia, que
geralmente são mais caros.
Segundo Kennedy (1993), a importância do impacto ambiental decorrente do
consumo se relaciona a constatação de que a Terra não dispõe de recursos naturais
suficientes para sustentar a exploração humana e nem para absorver os rejeitos gerados
pela mesma, especialmente se todas as nações menos desenvolvidas chegarem a
alcançar o patamar de desenvolvimento dos países centrais e adotarem o estilo de vida
neles atualmente vigente. Tal pensamento é corroborado por Altvater (1995, p. 25), que
afirma:
O modelo da industrialização capitalista visivelmente não é universalizável;
as exceções bem sucedidas desta regra não chegam a invalidá-la. A sociedade
capitalista afluente possui um lado ordeiro ao Norte, e um lado desordeiro ou
caótico ao Sul. Não parece ser possível espalhar pelo mundo inteiro um modo
de vida e de trabalho que, em primeiro lugar, se baseia em um elevado
consumo energético e material (...).
Furtado (1983, p. 08) segue na mesma direção e alega que a concretização do
ideal de universalização do desenvolvimento existente nos países desenvolvidos seria
impossível e por essa razão o “progresso” e o “crescimento econômico” tais como são
concebidos e propagados constituiriam um mito. Este mito se relaciona com a crença de
que:
O desenvolvimento ecomico, tal qual vem sendo praticado pelos países
que lideraram a revolução industrial, pode ser universalizado. Mais
precisamente, pretende-se que os padrões de consumo da minoria da
humanidade (...) sejam acessíveis às grandes massas de população em rápida
expansão, que formam o chamado Terceiro Mundo. Essa idéia constitui,
seguramente, uma prolongação do mito do progresso, elemento essencial na
ideologia diretora da revolução burguesa, dentro da qual se criou a atual
sociedade industrial.
Kennedy (1993) afirma que o aumento projetado para a população mundial não
poderá ser sustentado caso sejam mantidos os atuais padrões de consumo. Para o autor,
como 95% do crescimento populacional estimado para o globo até o ano 2025
concentra-se nos países em desenvolvimento, algumas pessoas podem incorrer o erro de
acreditar que reside em tais nações a raiz do problema: bastaria uma redução no ritmo
de aumento populacional em tais países para haver uma queda na demanda por recursos
naturais.
Contudo, Kennedy (1993), deixa claro que as regiões setentrionais mais
desenvolvidas exercem uma pressão significativamente maior sobre os recursos
naturais, pela simples razão de que praticam altos níveis de consumo. O autor evidencia
41
desta maneira que não é sensato focar apenas na questão do aumento populacional, pois
não somente a quantidade de pessoas na terra, mas o modo de vida que tais pessoas
adotam são forças capazes de promover o desequilíbrio ecológico.
Kennedy (1993, p. 29) exemplifica o impacto que altos níveis de consumo
podem imprimir a partir da comparação entre os patamares de utilização de insumos tais
como o petróleo. Segundo o autor, em 1989 os Estados Unidos, que detêm apenas 4%
da população mundial em seu território, consumiram dez vezes mais petróleo que a Grã
Bretanha ou o Canadá e centenas de vezes mais do que muitos países subdesenvolvidos.
Segundo um cálculo, o bebê americano médio representa duas vezes mais
dano ambiental de uma criança sueca, três vezes o de uma italiana, 13 vezes o
de uma brasileira, 35 vezes o de uma indiana e 280 vezes o de uma criança
chadiana ou haitiana, porque o seu nível de consumo será, durante toda a
vida, muito maior.
Apesar de expor a problemática do crescimento populacional associada aos altos
níveis de consumo como ponto central para a análise da crise ambiental, Kennedy
(1993, p. 29) afirma quem veja o incremento do número de pessoas e de
consumidores no planeta como algo positivo.
Na opinião dos otimistas, os recursos naturais não constituem uma
quantidade absoluta que está sendo desgastada; pelo contrário, muitos
recursos são criados pela inventividade e o trabalho humanos, e a tecnologia
tem uma capacidade infinita de produzir novos recursos. A escassez de um
produto, como o petróleo, leva à busca de (e a descoberta de) novas reservas,
e à criação de formas alternativas de energia (...).
Isto indica que embora pareça evidente que “se não controlarmos o mais
depressa possível os danos ao meio ambiente (...) pagaremos um preço pesado pela
nossa negligência coletiva” (KENNEDY, 1993, p.29), serão encontradas entre o meio
acadêmico opiniões contrárias. quem acredite que um número maior de pessoas
consumindo seria extremamente benéfico para a economia mundial, gerando empregos
e riquezas, e que para sustentar ambientalmente esta situação lançar-se-ia mão de
soluções tecnológicas que contornariam os limites existentes.
Contrariando esta possibilidade de consumo infinito, Altvater (1995) utiliza dois
conceitos oriundos da física termodinâmica para explicitar os contornos que delineiam a
relação humanidade e natureza: o primeiro é o de sintropia, que pode ser definido como
um sistema fechado de elevada ordem, fonte de recursos energéticos; e o segundo é o de
entropia, que pode entendido como a conversão de energia livre em energia vinculada.
A fonte primária de sintropia para a evolução da vida na face da Terra é a
radiação solar direta. O desenvolvimento cnico é alimentado
42
essencialmente por carvão, petróleo e gás, provenientes de radiações solares
recebidas anteriormente (...). A exploração de ilhas não renováveis de
sintropia positiva para o nosso processo de criação de valor tem desvantagens
em relação aos processos utilizados pela natureza no nosso planeta, e
constitui a causa essencial de uma ampla parcela das nossas dificuldades
globais: nós estamos gastando o que não pode mais ser reposto e, portanto,
estamos consumindo a própria substância (...). (DÜRR apud ALTVATER,
1995, p.45)
Para o autor, o planeta em que vivemos é um sistema fechado e, por essa razão, a
exploração dos recursos naturais com fins a manutenção das altas taxas de consumo é
limitada. Entretanto, Altvater (1995) alega que existem ilhas de sintropia que podem ser
exploradas de maneira desigual pelos países, fazendo com que, embora os recursos
naturais do planeta como um todo sejam limitados, a apropriação dos mesmos pelas
diferentes nações seja distinta.
Tal fato permite que Estados desenvolvidos consumam fontes energéticas e
descartem detritos em quantidade desproporcional se comparados a outros menos
desenvolvidos, que não poderiam sequer pleitear um modelo similar, devido aos limites
totais existentes.
A Terra constitui, em ampla medida, um sistema fechado (este sistema é
aberto em relação à radiação diária de energia do Sol e ao “buraco negro”
noturno do espaço, que absorve o aquecimento), mas os Estados nacionais
isoladamente não são assim. Eles podem importar matérias-primas e energia,
e exportar rejeitos sólidos, líquidos e gasosos. Portanto, em princípio, cada
país pode melhorar seu balanço de entropia enquanto piora o balanço de
outros países ou regiões, na medida em que exterioriza seus problemas
ecológicos relativos à produção e ao consumo. (ALTVATER, 1995, p.37)
Estas colocações nos levam a acreditar que, embora possa existir quem defenda
o crescimento ilimitado do consumo humano, existe uma ampla gama de autores que
destacam e descrevem os impactos negativos decorrente deste consumo, fazendo com
que ele se consolide como aspecto de suma importância na discussão sobre a crise
ecológica.
2.3.3 Relevância social, cultural e psíquica do consumo
Embora muitos argumentos nos levem a considerar o consumo um elemento
central no debate ambiental contemporâneo, ações nessa área atingem alto grau de
complexidade: o consumo é fator estruturante dos modelos econômicos em curso, sendo
vital também nas relações coletivas e individuais.
43
Featherstone (1995) afirma que o consumo na atualidade pode ter sua
importância delimitada em quatro esferas distintas: econômica, social, cultural e
psíquica. Na esfera econômica o consumo de bens e serviços seria a base para a geração
de riquezas e empregos, sustentando o sistema econômico vigente e se constituindo em
condição para o crescimento econômico.
Na esfera cultural, o consumo, próprio de cada cultura, pode ser compreendido
como uma expressão coletiva de um grupo populacional. Na esfera social, o consumo
seria capaz de mediar e promover a interação entre grupos e indivíduos, sendo muito
importante para a definição de papéis sociais.
na esfera psíquica, o consumo teria importante função na constituição da
identidade individual, sendo um canal por meio do qual os indivíduos podem revelar
suas crenças e valores, assumindo determinados papéis e inserindo-se em grupos
sociais.
Cohen e Murphy (2001) afirmam que, primeiramente, o consumo relaciona-se
com o objetivo que as pessoas têm em se manterem vivas, como, por exemplo, o que se
a partir do consumo de alimentos. Os autores destacam, no entanto, que quando se
têm em mente países economicamente mais desenvolvidos o consumo não pode ser
visto apenas sobre esse ponto de vista.
À medida que as pessoas se tornam mais ricas o significado material do
consumo declina, passando a relacionar-se com objetivos sociais e psicológicos, tais
como o desejo de pertencimento a certos grupos sociais e a busca por status.
Levando-se em conta as esferas sociais, culturais e especialmente, a psíquica, a
importância do consumo na atualidade funda-se em mudanças na estrutura social
relacionadas aos estilos de vida, que anteriormente calcavam-se na produção e no
trabalho, passando, na sociedade presente para as esferas do lazer e do consumo.
Se antes o principal referencial identitário e de inserção coletiva centrava-se na
atividade laboral realizada pelo indivíduo, ou seja, em sua profissão, hoje este abrange a
posse de bens e os hábitos de consumo (PORTILHO, 2005).
Para Zavestoski (2001) trabalhadores na força de trabalho capitalista têm
dificuldade de obter por meio do seu trabalho os níveis de auto-estima, eficácia e
autenticidade que desejam. Conseqüentemente, eles procuram formas de satisfação a
partir do consumo de bens materiais.
Além da diminuição do trabalho como alicerce no referencial identitário,
autores que apontam ainda outros fatores que podem ajudar a compreender o papel do
44
consumo nas esferas culturais, sociais e psíquicas. Hobson (2001) se baseia em Beck e
Giddens para afirmar que estão em erosão na sociedade pós-moderna as formas
tradicionais de construção da identidade social, tais como a classe e a religião.
Os indivíduos desta sociedade teriam então que se responsabilizar por suas
escolhas, questionando-se constantemente sobre sua trajetória de vida, sobre como
querem ou podem viver. A identidade social seria mais fluida e sujeita às rápidas
transformações nos âmbitos da vida social, podendo se apoiar então no consumo de
objetos, cujas características e significados seriam bastante dinâmicos.
Zavestoski (2001) distingue os estudos que tratam da relação entre o consumo e
a formação da identidade social em duas diferentes vertentes teóricas. Na primeira,
estudos na área de Marketing indicam que o consumo é parte do processo de formação
do auto-conceito porque a estrutura psíquica seria maleável o suficiente para permitir
que os consumidores busquem alcançar satisfação por meio da aquisição de item
diversos, associem suas identidades a determinadas marcas ou acreditem que certos
produtos, sob o ponto de vista de seu poder simbólico, detêm prestígio o suficiente para
lhes aumentar a auto-estima.
Uma segunda vertente teórica, ligada à sociologia, a antropologia e aos estudos
sobre a cultura, apresenta uma visão mais crítica quanto à relação entre consumo e
formação de identidade.
Para Zavestoski (2001), estudos feitos por Baudrillard (1981, 1983), Bourdieu
(1984), Featherstone (1991) e Jameson (1984) indicam que a proliferação de bens
materiais na sociedade atual, calcada no consumo, está tornando os indivíduos
“esquizofrênicos” que buscam criar identidades em um mundo repleto de símbolos e
sinais transitórios e efêmeros. Tal fenômeno permitiria que as estruturas sociais
estratifiquem-se tendo como base a questão do consumo de produtos e serviços.
Em meio aos debates sobre a relação entre consumo e as esferas sociais,
culturais e psíquicas da vida humana, notam-se também os estudos que investigam a
posse de objetos e seu significado. Cohen e Murphy (2001) analisam o significado da
posse de objetos a partir de sua utilidade, interconexão e simbolismo.
Segundo tais autores, a escolha, aquisição e posse de produtos não se limitam a
sua funcionalidade, durabilidade e preço que estariam mais relacionados a sua
utilidade. Os sujeitos levariam em conta a relação de um objeto com outros bens e
serviços que já possuem e a simbologia associada a tais posses.
45
Cohen e Murphy (2001) partem de Baudrillard para afirmar que poucos objetos
hoje são oferecidos sozinhos, fora de um contexto de objetos que ‘falem’ por eles. E
isso muda a relação do consumidor com o objeto: ele não mais se refere a um objeto a
partir de sua utilidade específica, mas a partir da significação total de um conjunto de
objetos.
Máquinas de lavar roupas, refrigeradores e máquinas de lavar louças levam
consigo diferentes significados frente ao que cada uma individualmente representa. As
vitrines, a publicidade, o fabricante e a marca, que têm um papel crucial, impõem uma
visão coerente e coletiva, como se eles fossem quase uma totalidade indissociável, uma
série. Assim não temos mais apenas uma seqüência de meros objetos, mas uma cadeia
de significados, levando os consumidores para uma série de motivações mais
complexas. A simbologia associada aos produtos também é descrita por Featherstone
(1995, p. 35):
Comida e bebida, em geral, são mercadorias de vida curta, mas nem sempre:
uma garrafa de vinho do Porto de boa safra, por exemplo, pode gozar de
prestígio e exclusividade; isso significa que ela nunca será consumida de fato
(isto é, aberta e bebida), embora possa ser consumida simbolicamente de
diversas maneiras (contemplada, desejada, comentada, fotografada ou
manipulada) que propiciam uma grande dose de satisfação. É nesse sentido
que podemos designar o aspecto “duplamente” simbólico das mercadorias
nas sociedades ocidentais contemporâneas: o simbolismo não se evidencia
apenas no design e no imaginário embutido nos processos de produção e
marketing; as associações simbólicas das mercadorias podem ser utilizadas e
renegociadas para enfatizar diferenças de estilo de vida, demarcando as
relações sociais.
O contexto brasileiro apresenta contornos específicos que podem indicar um
impacto ainda maior do consumo na formação de identidade e na mediação da relação
entre os grupos sociais. O Brasil é um país que tem sido influenciado pela cultura norte
americana, em que o consumo é supra valorado. Além disso, o país vive séculos de
brutal desigualdade social.
Podemos nos questionar se, nestas condições, o uso de bens como forma de
estratificação social e distinção de classe não poderia ser ainda mais exacerbado: ao
ascender socialmente as pessoas necessitariam demonstrar a partir de suas posses que
não estão inseridas nos grupos menos privilegiados, o que se daria, por exemplo, por
meio da aquisição de automóveis luxuosos, vestimentas de marcas internacionais e
adoção de hábitos e atitudes similares as das altas classes.
Sob o ponto de vista dos objetivos desta pesquisa, a mais importante conclusão
que os estudos anteriormente mencionados nos deixa é que não seria possível examinar
a percepção dos indivíduos em relação ao consumo com se estes fossem agentes
46
autônomos. Ou seja, não se pode deixar de ter em mente a ampla gama de influências
sociais e culturais nas quais o consumo individual está inserido.
É possível desde supor que tais influências sociais e culturais relacionadas ao
consumo em muito impactaram as respostas que os sujeitos da pesquisa apresentaram
quando forem levados a refletir sobre suas próprias ações na área.
Zavestoski (2001) ao investigar se a preocupação com o meio ambiente e as
posições anti-consumistas são parte do auto-conceito individual revela que apenas um
pequeno número de pessoas têm valores altamente desenvolvidos no que tange a
preocupação a natureza, embora seja comum que as pessoas tenham atitudes favoráveis
a um meio ambiente mais limpo e preservado. O autor conclui que uma minoria das
pessoas desenvolveu uma preocupação mais consistente no que se refere às
conseqüências de suas ações e comportamentos individuais sobre o meio ambiente.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1998, p.
49) destaca ainda que embora muitas pessoas quando abordadas possam demonstrar
atitudes positivas em relação ao meio ambiente, tais atitudes nem sempre correspondem
a comportamentos na mesma direção, tornando a incorporação de ações práticas
ecologicamente corretas um desafio.
Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup a respeito de problemas do
meio ambiente, maiorias significativas, tanto no Norte como no Sul,
classificaram tais problemas como "muito importantes”. Resultados muito
próximos foram obtidos em pesquisas de opinião nacionais nos EUA e na
Holanda (...). Na maior parte desses estudos, os consumidores também
expressaram a vontade de procurar mais por produtos menos danosos ao
meio ambiente, ou pagar impostos mais altos em apoio a medidas de proteção
ambiental. Porém, como nos alertam freqüentemente especialistas em
pesquisas, as atitudes não correspondem necessariamente ao comportamento.
Tais informações aliadas às demais citadas neste capítulo mostrar-se-ão
fundamentais para compreender as respostas dos jovens frente à relação do consumo
com o meio ambiente.
2.3.4 Ações para lidar com os impactos ambientais do consumo
Sendo o consumo um fator tão significativo no contexto atual, um dos aspectos
mais controversos é pensar sobre soluções para o modo de vida predominante em nossa
sociedade.
47
De acordo com Diamond (2005) esta é uma questão complexa já que o primeiro
mundo, por si só, mantém hoje um ritmo de consumo não sustentável, sendo
politicamente improvável que os governantes destes países proponham aos seus
habitantes a diminuição no consumo de recursos ou na produção de resíduos. Aliás, a
definição do que seria um consumo mínimo e, por outro lado, no que consistiria um
consumo perdulário, o aspectos polêmicos em que não prevalece um consenso
(FELDMANN, 2003).
Diamond (2005) deixa claro que a problemática relativa ao consumo não se
limita ao hemisfério Norte. Os padrões de consumo ali adotados são refletidos por meio,
entre outras formas, dos meios de comunicação, à população do terceiro mundo, cuja
tendência é aspirar ao mesmo estilo de vida.
As conseqüências desta aspiração aos padrões de vida do primeiro mundo entre
os demais países, na opinião de Diamond (2005), são pressões em duas direções: o
aumento no patamar de consumo entre nações cuja economia vem crescendo nas
últimas décadas (como na China, Índia e em alguns países do leste asiático) e a
ocorrência do fenômeno da imigração de pessoas aos países desenvolvidos, buscando
inserção no modelo vigente. Segundo Diamond (2005, p. 593):
(...) o problema populacional esmagadoramente mais importante para o
mundo como um todo não é a alta taxa de aumento populacional no Quênia,
Ruanda e alguns outros países pobres do Terceiro Mundo (..). Em vez disso,
o maior problema é o aumento do impacto humano total, como resultado da
melhora do padrão de vida do Terceiro Mundo, e de indivíduos do Terceiro
Mundo se mudando para o Primeiro Mundo e adotando seus padrões. (...)
Mesmo que a população do Terceiro Mundo não existisse, seria impossível
para o Primeiro Mundo manter o padrão atual, porque não está em estado
sustentável e sim, exaurindo os seus recursos e os importados do Terceiro
Mundo.
Tal fenômeno é igualmente observado por teóricos que analisam a evolução no
tratamento das questões ambientais no contexto brasileiro nas últimas décadas:
O consumo mundial e brasileiro vem crescendo em vários aspectos gerando
impactos desiguais entre países e entre regiões de um mesmo país. As
“pegadas ecológicas”, ou seja, o quando se afeta o meio ambiente, dos países
desenvolvidos são quatro vezes maiores do que as dos países de menor renda.
(WWF apud CAMARGO et al, 2002, p.9)
Até agora, o caminho trilhado pelo Brasil e por outros países em
desenvolvimento, no que diz respeito aos padrões de consumo e produção é
muito similar ao dos países desenvolvidos, replicando (...) o caminho de
uso não sustentável dos recursos naturais anteriormente percorrido.
(CAMARGO et al, 2002, p.9)
48
Camargo al (2002, p. 09) ainda ressaltam que embora altos níveis de consumo
sejam comumente associados às populações dos países desenvolvidos, podem existir
nos países em desenvolvimento camadas da população com padrões de compra iguais
ou ainda mais elevados: “em alguns aspectos, a população rica dos países em
desenvolvimento como o Brasil consomem até mais que a população dos países ricos”
.
Logo, o dilema existente tanto no que se refere ao Brasil como aos demais países
consiste em “como encorajar as pessoas a adquirirem um padrão de vida mais alto, sem
minar tal padrão através da exploração excessiva dos recursos globais” (DIAMOND,
2005, p.593).
Considerando-se a importância que o consumo assume em nossa sociedade, mas
tendo em mente os problemas ambientais a ele associados, partem da perspectiva do
desenvolvimento sustentável algumas propostas.
Cohen e Murphy (2001) categorizam as propostas de ação relativas aos
problemas ambientais decorrentes do consumo em três grupos: as de ordem econômica,
as de ordem tecnológica e as de ordem social, tendo as duas primeiras dominado as a
maior parte das discussões.
As propostas de ação de ordem econômica baseiam-se na economia neoclássica
e sugerem que o mercado deva funcionar plenamente e que os problemas em geral
decorrem da falta de boas informações disponíveis para os indivíduos e preços
ajustados. Da esfera econômica surgem então ações tais como a internalização dos
custos relacionados à destruição ambiental, a remoção de subsídios inadequados, a
prática de eco-rotulação e eco-impostos, além da melhoria na qualidade das informações
circulantes no mercado.
Cohen e Murphy (2001) criticam alguns aspectos destas propostas,
especialmente o fato de elas pressuporem que os consumidores são sempre racionais e
autônomos, o que, tendo em conta as interações sociais, culturais e psíquicas
relacionadas ao consumo deixam em aberto sérios questionamentos.
As propostas de ação de ordem tecnológica baseiam-se principalmente nas áreas
de design e engenharia e sugerem que os problemas ambientais sejam resolvidos a partir
de invenções técnicas. Segundo Cohen e Murphy (2001), nesta área os estudos
consideram a relação entre os recursos e a fluidez dos materiais; e os inputs e outputs de
energia, tendo como objetivo a máxima eficiência do sistema.
Ações de ordem tecnológica incluiriam melhoramentos no design dos produtos
fazendo com que estes tenham menor impacto sobre o meio ambiente (especialmente na
49
fase de utilização), o uso de ferramentas como a análise do ciclo de vida dos produtos, a
obrigatoriedade por parte das empresas de receber os produtos já utilizados de volta,
dando-lhes o aproveitamento ou descarte adequado, o estímulo ao tele-trabalho, etc.
(COHEN e MURPHY, 2001).
Tais propostas recebem críticas na medida em que promovem um otimismo
exacerbado ao inferir que todos os problemas podem ser solucionados pela tecnologia,
além de não incluir reflexões sobre como os indivíduos vão lidar com tais invenções,
desconsiderando também os possíveis efeitos de segunda ordem (COHEN e MURPHY,
2001).
Medidas técnicas são, na melhor das hipóteses, de eficácia apenas parcial na
solução de problemas ambientais. Especialmente a longo prazo, o efeito dos
níveis cada vez mais altos de consumo e o crescimento acelerado da
população mundial neutralizarão as vitórias obtidas, a curto prazo, com a
adoção de tecnologias mais eficientes. (PROGRAMA DAS NAÇÕES
UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 1998, p. 23)
Kennedy (1993) ainda aponta que as soluções de cunho tecnológico devem ser
avaliadas dentro de um contexto. Embora possam ser eficazes, no mundo atual, nem
sempre tais tecnologias estão à disposição de todos os indivíduos ou de todas as nações.
Pelo contrário, segundo o autor, muitas nações pobres, por exemplo, que necessitariam
de soluções tecnológicas não detêm recursos para desenvolvê-las ou adquiri-las. Além
disso, as empresas multinacionais têm cada vez mais assumido o papel de grandes
detentoras de tecnologia, utilizando-as segundo seus próprios interesses.
Segundo Murphy (2001) as propostas de natureza econômica ou tecnológica são
importantes, mas é necessária uma expansão nos horizontes, incluindo a dimensão
social e ações a ela associadas. Para o autor, as invenções tecnológicas podem colaborar
positivamente na modernização ecológica do consumo, mas é necessário também
observar os processos sociais que estão escondidos atrás das mudanças nos
comportamentos do consumidor.
Para Murphy (2001) políticas que encorajam e requeiram mudanças tecnológicas
orientadas aos produtos podem ser parte do programa, mas uma concepção mais ampla
é necessária. Para de fato reestruturar as práticas de consumo por meio da integração
das preocupações ambientais as políticas públicas deverão reconhecer pelo menos três
questões: o papel que o consumo tem na formação de identidades; as características
relacionais das práticas de consumo e os constrangimentos na estrutura-infra-estrutura
relacionadas ao consumo.
50
As propostas de ordem social incluem idéias como a do consumo sustentável e
sugerem ações que poderiam ser implementadas pelos governos, tais como mudanças
nos currículos escolares, promoção do debate público sobre consumo e qualidade de
vida e, até, restrições nas mensagens enviadas via campanhas publicitárias (MURPHY,
2001).
Sobre a idéia de consumo sustentável, conforme Paavola (apud Bedante, 2004)
esta pode ser caracterizada simplesmente como um padrão de consumo em que os
impactos ambientais são minimizados. Segundo um dos relatórios do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (1998, p. 65), uma possível definição para o
conceito de consumo sustentável seria:
O fornecimento de serviços e de produtos correlatos, que preencham as
necessidades básicas e dêem uma melhor qualidade de vida, ao mesmo tempo
em que se diminui o uso de recursos naturais e de substâncias tóxicas, assim
como as emissões de resíduos e de poluentes durante o ciclo de vida do
serviço ou do produto, com a idéia de não se ameaçar as necessidades das
gerações futuras.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1998, p. 65) ressalta
que o “consumo sustentável não é uma quantidade específica entre o baixo consumo
causado pela pobreza e o super consumo gerado pela riqueza, mas um padrão de
consumo bem diferente para todos os níveis de renda pessoal em países do mundo
todo.”
Além disso, o consumo sustentável seria amplo e abrangente, sendo capaz de
envolver não somente o uso dos produtos em si, mas toda a extensão da cadeia ligada a
sua produção, assim como os demais fatores ligados a sua utilização.
O conceito de consumo sustentável compreende toda a gama de produtos e
serviços da sociedade em geral, os processos que os produzem e o consumo e
a manufatura de muitos produtos colaterais e dependentes que o uso de um
único produto ou o fornecimento de serviços implica. Por exemplo, a
utilização do automóvel compreende todos os impactos ambientais durante a
produção e o uso do próprio carro. Também implica a produção e o uso de
petróleo, a construção de estradas, o uso do solo para estacionamentos e os
congestionamentos. (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO, 1998, p. 65)
Portilho (2005), considerando a dificuldade em normatizar ou regular o
consumo, aponta a emergência de duas propostas, a do “consumo verde” e a do
“consumo sustentável”, sendo necessário estabelecer uma distinção entre elas.
O consumo verde teria surgido “a partir da conjunção de três fatores, inter-
relacionados: o advento (...) do ambientalismo público; a ambientalização do setor
51
empresarial (...) e a preocupação com o impacto ambiental de estilos de vida e consumo
das sociedades afluentes” (PORTILHO, 2005, p.04). Os consumidores verdes seriam
então aqueles que entre seus critérios de escolha optam por observar a variável
ambiental, dando preferência a produtos que impactem menos o meio ambiente.
Enquanto o consumo verde tem como pressuposto mudanças comportamentais
individuais e restringe-se a alterações tecnológicas e de design nos produtos, o consumo
sustentável seria, segundo Portilho (2005) mais abrangente, baseando-se também em
mudanças coletivas que afetariam a formulação de políticas públicas na esfera do
consumo.
A diferenciação destacada por Portilho (2005, p. 134) aponta para um novo olhar
sobre a questão, em que “o que importa não é exatamente o ‘impacto ambiental do
consumo’ em si, mas antes, o’ impacto da distribuição desigual de recursos naturais’,
uma vez que tanto o ‘superconsumo’ quanto o ‘subconsumo’ são apontados como
causando degradação social e ambiental.”
Assim sendo, apesar de as propostas de comercialização de produtos com menor
impacto ambiental e da possível aceitação destes entre alguns extratos da população,
refletindo uma ampliação da consciência ecológica em alguns níveis, persiste a idéia de
que o padrão de consumo atual e sua dinâmica são incongruentes com a perspectiva de
uma sociedade sustentável, indicando a necessidade de mudanças mais profundas na
estrutura que temos hoje (PORTILHO, 2005).
Para Cohen e Murphy (2001) a importância da proposta de consumo sustentável
reside justamente no fato de ela suscitar a necessidade de mudanças sociais. Os autores
afirmam que os responsáveis pelas políticas públicas e privadas se apoiaram durante
muitos anos na ciência e na tecnologia como propostas de ação para reverter problemas
ambientais relacionados ao consumo, acreditando que tais problemas se deviam a
processos produtivos perigosos ou geradores de grandes desperdícios.
Segundo os autores, embora publicações apocalípticas como The limits of
growth) e Blue print for survival sugerissem que as coisas poderiam se tornar mais
complicadas, os responsáveis pelas políticas públicas não perceberam a idéia de que os
problemas ambientais levantavam questões básicas sobre a estrutura da sociedade. A
emergência recente de um debate sobre políticas na área de consumo sustentável,
contudo, pode representar uma iniciativa para superar algumas décadas em que se
ignorou as dimensões sociais dos problemas ambientais.
52
Cohen e Murphy (2001) concluem que a questão do consumo sustentável não se
limita a ações isoladas, tendo na realidade profundas implicações na estrutura política
de nossa sociedade.
Portilho (2005) afirma que o consumo por um lado, pode ser um agente
fortalecedor da desintegração social e política, reforçando a apropriação privada dos
bens naturais e o individualismo, mas por outro pode também ser visto como um
promotor da participação dos cidadãos em decisões que envolvem a coletividade,
tornando o debate sobre as questões ambientais mais presente no dia-a-dia.
2.4 Racionalidade, valores e mudanças ambientais
Seguindo o ponto de vista dos autores que apostam no consumo sustentável
como uma das alternativas mais consistentes para lidar com os problemas ecológicos
atuais é preciso compreender como se dariam mudanças na estrutura da sociedade
moderna que favorecessem novos comportamentos mais alinhados a proteção do meio
ambiente.
Goodman et al (2001) analisam os preceitos de uma sociedade onde o consumo
seja mais sustentável e acreditam que transformações nesta direção pressupõem a
existência de outros tipos de racionalidade que não somente a instrumental.
Segundo tais autores, a visão reducionista pressupõe que o consumo sustentável
seja largamente associado a uma questão tecnológica, a ser resolvida dentro dos
parâmetros da racionalidade capitalista dentro de uma sociedade onde as relações de
troca capitalistas têm penetrado em todas as áreas da vida econômica e social. Em uma
segundo e menos restritiva concepção do consumo sustentável, tem-se como premissa
racionalidades alternativas e formas de organização social que poderiam coexistir e
potencialmente restringir o escopo das relações capitalistas de troca.
Guerreiro Ramos, entre outros autores, discute racionalidade ao teorizar sobre as
relações sociais, embora tenhamos que ressaltar que esta temática se constitui em ponto
central em muitos sistemas filosóficos, sendo desde a antiguidade um aspecto
fundamentalmente relacionado às escolhas sociais e aos princípios orientadores da ação
(CUNHA, 1990).
Ramos (1983) parte de Weber e Mannheim ao discorrer sobre o conceito, se
referindo a duas categorias de racionalidade, denominadas “funcional” e “substantiva”.
53
Ramos (1983, p. 38) afirma que “atos ou elementos são funcionalmente racionais
quando, articulados ou relacionados com outros atos ou elementos, contribuem para que
se logre atingir um objetivo pré-determinado” . O autor também entende que:
(...) é substancialmente racional todo ato intrinsecamente inteligente que se
baseia num conhecimento lúcido e autônomo de relações entre fatos. É um
ato que atesta a transcendência do ser humano, sua qualidade de criatura
dotada de razão. (...) A racionalidade substancial é estreitamente relacionada
com a preocupação em resguardar a liberdade. (RAMOS, 1983, P.39)
Ao discorrer sobre o assunto, Ramos (1983) cita ainda outros teóricos como
Voegelin, que igualmente assume a existência de dois tipos de racionalidade, as quais
denomina pragmática e noética e cujos sentidos correspondem, respectivamente, às
categorias “funcional” e “substantiva” propostas por Weber e Mannheim.
Segundo Voeglin (apud Ramos, 1983, p. 39) “a ‘qualidade’ de uma sociedade
pode ser aferida à luz da razão noética. Esta qualidade é tanto maior quanto mais a razão
noética assumir o caráter de força criadora e exercer influência sobre a vida humana”.
Contudo, que se frisar que nas sociedades contemporâneas, marcadas pela
industrialização e pela tecnologia, a racionalidade funcional vem sendo cada vez mais
presente nas atividades como no trabalho e em outras esferas da vida humana
(RAMOS, 1983). Ramos (1983, p. 40) dimensiona tal fenômeno ao afirmar que:
O operário de uma fábrica taylorizada, que executa o seu trabalho segundo as
instruções, os tempos e movimentos preestabelecidos, adota uma conduta
auto-racionalizada. O mesmo acontece com todos aqueles que se subordinam
a padrões e normas constitutivas de uma carreira. O fazer carreira implica
autodomínio, auto-racionalização da conduta de quem a pretende, que afeta
sua vida fora e até a sua vida interior. (...) A vida é constante luta por
promoções, melhoria, ascensões, tendendo assim, a diminuir o conteúdo de
(...) simpatia, emoções e sentimentos.
Neste contexto, observa-se uma modificação significativa no cerne da orientação
da ação humana, cujos objetivos afastam-se de um bem estar comum a todos e tendem a
focar-se em uma preocupação com a auto-sustentação e a acumulação material, de
cunho individualista. Sobre esse processo, Ramos (1981, p. 35) afirma que:
Através dos séculos de desenvolvimento comercial e industrial, a teoria
política foi redefinida (...). Sua principal preocupação passou a ser a
prosperidade material (...). O padrão ético inerente à teoria política
substantiva foi substituído pela justificação moral do interesse imediato do
indivíduo.
Estas mudanças foram capazes de afetar a estrutura da sociedade e as inter-
relações que nela decorrem, que prevalecem criaturas que tendem a comportar-se
54
segundo imperativos extrínsecos, havendo um arrefecimento da reflexão e da busca por
uma conduta ética. (RAMOS, 1981). Com base em tais idéias, pode-se visualizar a
existência de uma sociedade marcada por seres humanos que tendem à adoção acrítica
de modelos impostos:
Homens e mulheres já não vivem mais em comunidades onde um senso
comum substantivo determina o curso de suas ões. Pertencem, em vez
disso, a sociedades em que fazem pouco mais além de responder a persuasões
organizadas. (RAMOS, 1981, P. 51)
Goodman et al (2001) vislumbram dois cenários quando relacionam a questão da
racionalidade à problemática ambiental. O primeiro, o qual os autores denominam
“universalista”, propõe que as atividades de consumo sustentável possam ser
caracterizadas essencialmente como uma parte das relações gerais de produção e
consumo capitalistas focadas nas relações técnicas ou forças de produção e em suas
conseqüências ambientais.
Assim, o consumo sustentável não proporia nenhuma mudança fundamental na
sociedade capitalista e em sua distintiva racionalidade, mas apenas ajustes para re-
orientar a produção e o consumo em direção a algo mais ambientalmente amigável. O
objetivo seria estimular um processo reflexivo e auto-cognitivo que levaria as demandas
dos indivíduos e da sociedade a processos menos ambientalmente degradantes.
O segundo cenário descrito por Goodman et al (2001) baseia-se, conforme os
autores, em uma diferente teorização do capitalismo, propondo que em vez de uma
totalidade de relações de troca, a premissa subjacente seja a de que a racionalidade
instrumental da economia capitalista não é universal. Assim, formas alternativas de
organização social poderiam co-existir, e até mesmo conviver com a economia
capitalista. Neste modelo, a economia capitalista estaria estruturalmente acoplada a
outros sistemas com suas lógicas de operação próprias e a vida no mundo seria formada
por várias relações sociais, de identidades, de interesses e de valores.
Os conceitos de racionalidade instrumental e substantiva serão utilizados neste
estudo para analisar a orientação da ação dos jovens, de forma a melhor compreender
suas tendências comportamentais e sua forma de valorar e posicionar-se frente aos
problemas ambientais. É necessário, contudo, ressaltar que uma análise aprofundada
sobre a questão da racionalidade pode demandar uma investigação mais específica,
ficando este estudo limitado aos dados fornecidos pelo instrumento de coleta de dados
empregado.
55
Além da questão da racionalidade, outros elementos vinculados ao pensamento e
a ação humana têm sido estudados por teóricos quando o objetivo é compreender
diferentes posicionamentos frente à problemática ambiental. Diversos autores partem do
pressuposto que valores, crenças, atitudes e comportamentos são fatores determinantes
na compreensão da relação entre homem e natureza.
Ester et al (2004) acreditam que embora a compreensão dos valores não seja o
único elemento capaz de explicar o posicionamento dos indivíduos frente à
problemática ambiental, estes são bastante importantes no processo de mudança cultural
rumo a uma sociedade mais sustentável.
Para os autores pesquisas indicam que mudança de valores em algumas culturas
em particular, por exemplo, no noroeste europeu, deram origem ao mais alto nível de
consciência ambiental e suporte à proteção ambiental no mundo. Além disso,
compreender o impacto dos valores e sua influência nas atitudes e comportamentos
relacionados ao meio ambiente é o principal pré-requisito para o desenvolvimento e
implementação de políticas ambientais.
Segundo Ester et al (2004), existem duas diferentes correntes teóricas que
analisam a relação entre valores e posicionamento frente às questões ambientais: uma
aposta na análise de valores pós-materialistas e outra que investiga valores básicos ou
universais entre os seres humanos.
A primeira corrente é representada principalmente pelos estudos do cientista
político americano Ron Inglehart, que acredita ocorrer na modernidade uma mudança
dos valores relacionada ao crescimento econômico a a expansão dos estados de bem-
estar social.
Para este teórico, a geração nascida no pós-guerra teria prioridades como a
qualidade de vida e a auto-expressão. A degradação ambiental relacionada a sociedade
industrial é vista por esta geração como uma ameaça aos esforços por uma melhor
qualidade de vida, o que os tornaria mais conscientes sobre estes problemas e mais
dispostos a agir em relação a eles.
Esta corrente recebe críticas que se direcionam principalmente a relação entre
afluência econômica e atitudes a favor do meio ambiente. Sociólogos ligados a temática
ambiental alegam que a consciência acerca dos problemas ecológicos não pode ser vista
como um “luxo” entre habitantes de sociedades economicamente seguras (ESTER et al,
2004).
56
A segunda corrente, representada por diversos cientistas americanos, em sua
maioria psicólogos, aponta clusters de valores definidos a partir de inventários. Tais
clusters agrupariam valores que melhor explicariam o posicionamento das pessoas
frente às questões ambientais. Estes clusters abrangem desde preocupações com o bem
estar de um único indivíduo ou família até perspectivas ecocêntricas holísticas nas quais
os seres humanos o vistos como parte indissociável do meio ambiente. Os clusters
distinguem valores tais como interesse próprio, preocupação com os outros,
preocupação com a biosfera, etc., (ESTER et al, 2004).
Baseados nas vertentes teóricas que relacionam valores a posicionamento frente
às questões ambientais e em suas próprias pesquisas, Ester et al (2004) concluíram que a
preocupação ambiental é parte de uma estrutura de atitudes baseada em valores, sendo
que diferentes problemas ecológicos podem estar associados a diferentes tipos de
valores. Isto possibilita que as pessoas tenham atitudes a favor do meio ambiente em
alguns casos e contra o meio ambiente em outros, dependendo dos valores aos quais as
questões ambientais estão associadas (ESTER et al, 2004).
Ester et al (2004) concluem que nem sempre comportamentos ambientalmente
corretos, tais como reciclagem, ativismo político e uso racional de energia, entre outros,
formam um padrão consistente. A prática de um comportamento ecologicamente
consciente não pressupõe o engajamento em outro e isso pode dever-se ao fato de que o
mapeamento mental dos indivíduos consiste em uma heurística de decisão
multifacetada, incluindo questões como conforto, saúde, segurança, preço, eficiência,
efetividade e responsabilidade social, que parecem estar hierarquicamente ordenadas e
em competição com a heurística ambiental.
Ester et al (2004) afirmam que um paralelo entre a consciência ambiental e o
comportamento a favor do meio ambiente não é incontestável. Muitos estudos indicam
que indivíduos com altos níveis de consciência ambiental não são necessariamente
caracterizados por forte aderência a um comportamento ambiental amigável.
Neste estudo priorizou-se investigar a racionalidade predominante entre os
estudantes e sua possível influência na percepção dos mesmos em relação às questões
ambientais. Ainda assim, é importante ressaltar que diferentes fatores, tais como valores
e crenças, podem igualmente influir no comportamento dos indivíduos, podendo ser
analisados junto aos jovens de Florianópolis em estudos posteriores.
57
3 METODOLOGIA
O processo de investigação de caráter científico difere da observação cotidiana
na medida em que prioriza o controle sobre a qualidade do dado, assim como o cuidado
com a forma pela qual se deu sua obtenção (CASTRO, 1998).
Segundo Köche (1997), no processo de construção da ciência torna-se essencial
compreender as especificidades do método científico, que pode ser definido como a
descrição e a discussão de critérios básicos que são empregados nos processos de
investigação de caráter científico.
A metodologia abrange a formulação de hipóteses e problemas, métodos de
observação e coleta de dados, definição e mensuração de variáveis, além de cnicas
para analisar os dados obtidos (KERLINGER, 1979). Apresentamos a seguir as
definições metodológicas referentes a este estudo.
3.1 Delineamento da pesquisa
Como o objetivo deste estudo é verificar a percepção dos jovens sobre os
problemas ambientais, especialmente o consumo, incluindo agentes e ações para sua
solução, optou-se pela realização de uma pesquisa de caráter predominantemente
quantitativo, do tipo descritivo-interpretativa com corte e perspectiva seccionais e
unidade de análise centrada no indivíduo.
Foi realizado um levantamento de dados, método que pode ser definido como a
coleta de dados de uma população, com o objetivo de avaliar a incidência relativa,
distribuição e inter-relações de fenômenos que ocorrem de forma natural (SELLTIZ,
1987).
3.2 Universo da pesquisa
O universo desta pesquisa constitui-se em jovens estudantes do ensino médio
matriculados em escolas da rede particular e da rede pública estadual, situadas no
município de Florianópolis.
58
A amostra é não probabilística e definida por conveniência. De forma a tornar o
processo mais objetivo, foi realizado um levantamento junto a Secretaria Estadual de
Educação do Estado de Santa Catarina acerca das 10 escolas situadas no município de
Florianópolis com maior número de alunos matriculados no ensino médio. Entre estas
foram sorteadas aleatoriamente duas, que foram convidadas a participar do estudo.
O convite foi feito diretamente às diretoras das escolas sorteadas, por meio do
envio de correspondências. Após o recebimento das correspondências, as diretoras das
escolas foram contatadas por telefone e por correio eletrônico. Ambas as escolas
concordaram em participar do estudo, porém solicitaram que a coleta de dados fosse
realizada no início do ano letivo, quando os professores e os alunos disporiam de mais
tempo livre para atividades tais como a pesquisa em questão.
Os sujeitos que responderam à pesquisa foram os estudantes presentes na data de
aplicação do questionário nas turmas consideradas disponíveis a participar do estudo
conforme a direção das escolas que consentiram em participar do projeto. Os estudantes
foram entrevistados independentemente do ano letivo em curso e da idade. Apenas
exigiu-se que estes cursassem o ensino médio e fossem residentes de Florianópolis.
3.3 Coleta de dados
Os dados foram coletados essencialmente de fontes primárias, por meio da
aplicação de questionários. Segundo Selltiz et al (1987) os questionários de
levantamento são elaborados antes da coleta de dados e permitem a exploração das
relações entre variáveis, não possibilitando, no entanto, investigar com profundidade
sentimentos ou interpretações dos informantes.
Antes da aplicação dos questionários os mesmos foram pré-testados junto a
estudantes de escolas públicas e privadas. No pré-teste foram aplicados dez
questionários, tendo sido observados aspectos tais como o tempo para preenchimento;
compreensão das instruções e questões; clareza e entendimento das opções de resposta;
e adequação da linguagem utilizada.
A partir dos resultados do pré-teste, os questionários foram alterados, de maneira
à melhor adequarem-se ao modo de comunicação dos estudantes e no sentido de
melhorar a identificação dos conceitos relativos à percepção dos jovens acerca dos
aspectos estudados. Uma mudança importante também se refere ao tipo de escala
59
empregado na terceira questão do instrumento de coleta de dados: inicialmente era
utilizada a escala de Likert - escala de concordância, porém, a partir das sugestões
oriundas no pré-teste, optou-se pelo emprego de uma escala de cinco pontos em que as
opções iam de “totalmente verdadeiro” a “totalmente falso”.
Após o pré-teste, a aplicação dos questionários ocorreu nas aulas de Biologia e
foi conduzida pelos professores das escolas, que foram previamente contatados e
orientados sobre os procedimentos relacionados à coleta de dados. Cogitou-se a
possibilidade de a própria pesquisadora aplicar os questionários nas salas de aula, mas
as diretoras julgaram ser mais adequado que os alunos fossem abordados pelos próprios
professores, não alterando o cotidiano das aulas. Desta maneira, embora informados que
o questionário relacionava-se a uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de
Santa Catarina, os alunos não tiveram um contato direto com a pesquisadora.
Foram aplicados 218 questionários, contudo, destes selecionamos 200, pois
existiam 18 casos de alunos que estudavam em escolas situadas em Florianópolis,
porém residiam em outros municípios. Destes 200 questionários, 128 referem-se a
alunos da escola privada e 72 a alunos da escola pública. Esta diferença deve-se a
determinação da direção das escolas participantes acerca do número de turmas que
poderiam participar do estudo.
3.4 Análise dos dados
Levando em conta o caráter predominantemente quantitativo do estudo, a
análise, que visa ordenar e sumarizar os dados coletados fazendo com que se definam
respostas ao problema elaborado (GIL, 1994) foi predominantemente estatística.
Primeiramente, realizou-se a entrada dos dados, previamente formatados. Em
um segundo momento, empregou-se ferramentas de estatística descritiva, tais como
ponderações e cálculos de médias e porcentagens, a partir das quais pode-se realizar a
análise dos dados, que foram posteriormente cruzados.
Os principais cruzamentos realizados tiveram como objetivo verificar se haviam
diferenças nos resultados obtidos entre estudantes de escolas privadas e públicas e,
também, entre pesquisados de diferentes faixas de renda familiar. Desta forma,
averiguamos se variáveis tais como a renda e o tipo de escola influenciam de alguma
maneira a posição dos jovens frente às questões ambientais.
60
Devido à fragilidade do arcabouço teórico e do tipo de amostragem utilizados,
não foi possível realizar análises mais complexas, tais como as de correlação e de
regressão.
3.5 Definição de termos
De maneira a delimitar as principais variáveis observadas neste estudo é
necessário apresentar a definição dos termos relacionados à pesquisa conduzida juntos
aos jovens de Florianópolis.
O primeiro termo a ser delimitado é o consumo”, cuja definição adotada é
aquela apresentada por Cohen e Murphy (2001). Segundo os autores o consumo é a
aquisição, não necessariamente no mercado e com o uso de dinheiro; e o uso de objetos,
serviços e lugares.
O segundo termo a ser delimitado é o problema ambiental”. Para tanto,
devemos nos referir primeiro a definição de meio ambiente. De acordo com Anger
(2006), meio ambiente é aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas,
incluindo desta maneira elementos urbanos ou não. Desta forma, um problema
ambiental pode ser caracterizado como qualquer interferência negativa em tal meio
ambiente.
O terceiro termo a ser delimitado é a racionalidade”, cuja definição no
dicionário Aurélio é “(...) a qualidade, socialmente construída, da atividade humana que
é adequada às finalidades visadas.” Segundo Cunha (1990), a racionalidade se refere às
escolhas sociais e aos princípios orientadores da ação humana.
Os últimos termos a serem definidos referem-se aos possíveis agentes capazes de
liderar ações que visem contornar os impactos ambientais do consumo: mercado”,
Estado” ou “sociedade civil”. Baseado em Gramsci, Harper (1996) afirma que a esfera
política trata do poder e da governança, a esfera econômica trata dos meios de
subsistência e da geração de renda e a esfera da sociedade civil se refere à promoção de
normas de civilidade, tais como igualdade, justiça e direitos civis.
61
3.6 Limitações
Cabe afirmar que devido ao tipo de amostra empregado, este estudo tem sua
capacidade de generalização limitada, pois os sujeitos que forneceram os dados não
representam, necessariamente, o conjunto de características da população em questão.
62
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Neste capítulo serão analisados os dados da pesquisa. A apresentação dos
resultados se iniciará com a caracterização da amostra pesquisada. Posteriormente,
abordaremos os resultados referentes à valoração da problemática ambiental e da
questão do consumo, assim como as percepções sobre as ações e os agentes adequados
para lidar com tal questão. Por fim, analisaremos a relação entre a racionalidade e os
comportamentos relativos ao consumo.
De forma a complementar a análise, os resultados obtidos junto aos jovens de
Florianópolis foram eventualmente comparados aos dados levantados em outros estudos
anteriormente realizados. Segundo Ester et al (2004), a partir da década de 70 pesquisas
sobre a preocupação dos indivíduos para com o meio ambiente vêm sendo conduzidas,
tanto por agências comerciais como por cientistas sociais ligados a academia, sendo que
utilizaremos aqui tanto uma como outra fonte de dados.
4.1 Caracterização da amostra
De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Akatu, em parceria com a
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), os jovens brasileiros
são filhos do período pós-ditadura militar e sucederam à chamada geração rebelde e os
hippies e pacifistas dos anos 60 e 70. Estes jovens cresceram em um mundo marcado
pelo fim da Guerra Fria e pela globalização econômica.
Ainda segundo a pesquisa, os jovens enfrentarão uma forte competição em um
mercado de trabalho estreitado pelo processo da globalização e pela reengenharia
produtiva, estando, aparentemente, mais preocupados consigo mesmos do que com
questões que envolvam a coletividade.
De fato, a maioria dos jovens que compõem a amostra utilizada neste estudo
nasceu no início da década de noventa, tendo presenciado no Brasil um período de
consolidação da democracia e de abertura econômica, acompanhadas de rápida
modernização empresarial e tecnológica. Tais jovens têm acesso a um grande número
63
de informações sobre os mais diferentes assuntos e estes vivem uma era em que as
distâncias são cada vez menores.
Embora os dados coletados não nos permitam aprofundamentos quanto às
características demográficas dos jovens pesquisados, podemos afirmar que estes, em sua
maioria, estudam em escola privada e têm entre 15 e 16 anos. A faixa etária dos
estudantes encontrou maior variação na escola pública. Já na escola privada, houve
maior homogeneidade neste quesito:
Tabela 1 - Distribuição da amostra por tipo de escola
Tipo de escola Representatividade na amostra
Escola pública 36%
Escola privada 64%
Fonte: elaborado pela autora
36%
64%
Escola pública
Escola privada
Gráfico 1 - Distribuição da amostra por tipo de escola
Fonte: elaborado pela autora
Tabela 2 - Idade segundo tipo de escola
Tipo de escola Idade
13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos 18 anos 20 anos NS\NR
Escola pública 0% 4% 12,5% 10% 6,5% 1,5% 1,5% 0%
Escola privada 1% 14,5% 24,5% 18% 6% 0% 0% 6%
Total 1% 18,5% 37% 28% 12,5% 1,5% 1,5% 6%
Fonte: elaborado pela autora
64
0
5
10
15
20
25
30
35
40
13
anos
14
anos
15
anos
16
anos
17
anos
18
anos
20
anos
NS\NR
Escola pública
Escola privada
Total
Gráfico 2 - Idade segundo tipo de escola.
Fonte: elaborado pela autora
Quanto ao perfil sócio-econômico, os estudantes da escola privada possuem, em
sua maioria, renda familiar acima de R$5000,00. Os estudantes da escola pública
possuem rendas familiares bastante diferenciadas, mas, ainda assim, entre parte deles tal
renda varia de R$1001,00 a R$3000,00:
Tabela 3 - Renda familiar segundo tipo de escola
Tipo de escola Renda
Até R$1000,00 De R$1001,00
a R$3000,00
De R$3001,00 a
R$5000,00
Mais de
R$5000,00
NS\NR
Escola pública 9% 16,5% 4% 2,5% 4%
Escola privada 0% 4,5% 9,5% 41% 9%
Total 9% 21% 13,5 43,5% 13%
Fonte: elaborado pela autora
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
até R$1000 R$1001 a
R$3000
R$3001 a
R$5000
Mais de
R$5001
NS\NR
Escola pública
Escola privada
Total
Gráfico 3 - Renda familiar segundo tipo de escola.
Fonte: elaborado pela autora
65
4.2 Valoração dos problemas ambientais
De forma a investigar espontaneamente qual valoração os estudantes atribuem à
crise ambiental, em meio às demais questões existentes na realidade brasileira, pedimos
aos mesmos que ordenassem sete categorias de problemas da atualidade.
Realizamos uma ponderação atribuindo mais pontos aos problemas considerados
mais graves e os resultados indicam que, de forma geral, os estudantes, tendem a
preocupar-se mais com a violência, a saúde e a educação do que com o meio ambiente.
Contudo, enquanto os estudantes da escola privada colocam os problemas ambientais
em quarto lugar, os da escola pública os colocam na última posição:
Tabela 4 - Valoração dos problemas da atualidade segundo tipo de escola
Tipo de escola Problemas da atualidade – ponderação de pontos
Violência
Desemprego
Corrupção Meio
ambiente
Desigualdade
social
Saúde Educação
Escola pública 421 236 254 206 250 306 275
Escola privada 642 393 474 503 429 556 586
Total 1063 629 728 709 679 862 861
Fonte: elaborado pela autora
0
200
400
600
800
1000
1200
Vi
ol
ên
ci
a
Desempre
g
o
C
o
r
r
u
pçã
o
Meio
ambiente
D
esi
g
ua
l
d
a
d
e
soci
a
l
Saúde
E
d
ucaçã
o
Escola pública
Escola privada
Total
Gráfico 4 - Valoração dos problemas da atualidade segundo tipo de escola.
Fonte: elaborado pela autora
66
A tendência de diferenciação entre estudantes da escola pública e da escola
privada quanto à valoração dos problemas ambientais se repete entre estudantes de
diferentes rendas familiares. Observamos que estudantes com rendas familiares mais
altas tendem a valorizar mais os problemas ambientais do que aqueles com rendas
familiares mais baixas.
Tal resultado pode estar associado ao maior acesso a informações sobre o
assunto por parte dos estudantes com rendas familiares mais altas ou a maior
preocupação dos estudantes com rendas familiares mais baixas com questões básicas de
sobrevivência, tais como segurança, saúde e educação, que podem ser mais agudas em
sua realidade social.
Tabela 5 - Valoração dos problemas da atualidade segundo renda familiar
Renda Problemas da atualidade – ponderação de pontos
Violência
Desemprego
Corrupção Meio
ambiente
Desigualdade
social
Saúde Educação
Até R$1000,00 106 59 70 38 70 78 57
De R$1001,00 a
R$3000,00
238 141 146 133 150 183 169
De R$3001,00 a
R$5000,00
141 81 99 97 93 103 116
Mais de
R$5000,00
431 260 318 329 293 397 407
Fonte: elaborado pela autora
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
V
iolê
n
cia
De
se
mpr
ego
Cor
r
u
pç
ão
Meio
ambient
e
De
si
g
ua
l
d
a
d
e social
Saúde
Educação
até R$1000
R$1001 a R$3000
R$3001 a R$5000
Mais de R$5001
Total
Gráfico 5 - Valoração dos problemas da atualidade segundo renda familiar
Fonte: elaborado pela autora
67
É importante ressaltar que, embora tenha sido entrevistado um menor número de
estudantes de escolas públicas, houve um maior número de pesquisados deste perfil que
considerou o meio ambiente como último problema com o qual se preocupa:
Tabela 6 - Número de jovens que colocam o meio ambiente em primeiro e em último lugar, segundo o
tipo de escola
Tipo de escola Número de jovens que colocam o meio
ambiente em primeiro lugar
Número de jovens que colocam o
meio ambiente em último lugar
Escola pública 05 23
Escola privada 16 19
Fonte: elaborado pela autora
Tabela 7 - Número de jovens que colocam o meio ambiente em primeiro e em último lugar, segundo a
renda familiar
Renda Número de jovens que colocam o meio
ambiente em primeiro lugar
Número de jovens que colocam o
meio ambiente em último lugar
Até R$1000,00 0 10
De R$1001,00 a
R$3000,00
04 11
De R$3001,00 a
R$5000,00
03 05
Mais de
R$5000,00
08 12
Fonte: elaborado pela autora
Estes resultados, se confrontados a outros dados coletados anteriormente, nos
levam a interessantes comparações. A pesquisa “O que o brasileiro pensa do meio
ambiente”, levantamento nacional de opinião realizado pelo Ministério do Meio
Ambiente e pelo ISER (Instituto de Estudos da Religião) a cada quatro anos, desde
1992, verificou que:
(...) de 1992 para 2001, evoluiu de 22% para 31% o número de pessoas que
acreditam que o meio ambiente deve ter prioridade sobre o desenvolvimento
econômico. Em quatro anos, de 1997 para 2001, cresceu de 23% para 31% o
número de pessoas que estão convencidas de que os nossos hábitos de
produção e consumo precisam de grandes mudanças para conciliar o
desenvolvimento com a proteção ambiental. (CAMARGO et al, 2002, p.13)
Embora exista uma tendência de crescimento significativo no nível de
informação e preocupação da sociedade brasileira para com as questões relativas à
sustentabilidade nos últimos anos (CAMARGO et al, 2002), como verificado pela
pesquisa citada, no caso dos jovens pesquisados em Florianópolis outros problemas
chamam mais atenção, quando colocados lado a lado com as questões ambientais.
Isto pode estar relacionado ao fato de a pesquisa realizado pelo Ministério do
Meio Ambiente e pelo ISER não ter sido realizada especificamente com jovens. Mas
68
também pode indicar que o meio ambiente, apesar de tender a ser cada vez mais
valorado, perde relevância quando comparado aos demais problemas da realidade
brasileira.
4.3 Valoração do consumo em meio aos problemas ambientais
Conforme descrevemos, segundo Ester et al (2004), as percepções em relação
aos problemas ambientais dependem de aspectos tais como cultura e valores. Embora
não tenham pesquisado especificamente o público jovem ou a questão do consumo,
estes autores investigaram, em meio aos aspectos ligados ao posicionamento dos
indivíduos em relação ao meio ambiente, quais são os problemas ecológicos que mais
chamam a atenção dos habitantes de diferentes países.
Os autores chegaram à conclusão que, enquanto na Holanda as pessoas estão
preocupadas com a poluição do ar e da água e com a superpopulação, no Japão a
preocupação é com o lixo industrial, com a poluição do ar e com a contaminação por
químicos tóxicos. No Brasil, o que mais chama a atenção são os problemas ligados ao
desmatamento e contaminação da água, que segundo Ester et al (2004) devem estar
relacionados ao fato de o país concentrar um terço das florestas do mundo e possuir
muitas deficiências em termos de saneamento básico e demais infra-estruturas urbanas.
Uma observação interessante formulada por Ester et al (2004) é a tendência das
pessoas oriundas dos países em desenvolvimento em associar os problemas sócio-
econômicos aos ambientais, ligando questões básicas de infra-estrutura com problemas
ecológicos. Isso explicaria o fato de nestes países - onde o saneamento e a distribuição
de água tratada podem ser deficientes - a poluição dos recursos hídricos ser comumente
citada, enquanto que nos países em desenvolvimento, é a poluição do ar que fica em
destaque.
Ainda segundo Ester et al (2004), é possível dizer que nos países em
desenvolvimento os problemas ambientais mais presentes no âmbito local por
exemplo, na cidade ou na região - tendem a ser mais valorados do que as questões mais
abrangentes, ou seja, aquelas que afetam o globo como um todo.
Tal fato pode ser observado na pesquisa realizada por Wong (2001) junto a
estudantes universitários de Taiwan. Quando questionados sobre quais eram os
principais problemas ambientais, os estudantes universitários de Taiwan apontaram a
69
poluição do ar, a destruição da camada de ozônio, a geração de resíduos sólidos e a
poluição da água, sendo as duas primeiras questões de âmbito global.
No que se refere à pesquisa desenvolvida com os jovens de Florianópolis, o
objetivo era verificar qual a importância os estudantes atribuem ao consumo em meio às
demais questões ambientais, e por isso elaboramos uma lista com os nove dos doze
problemas descritos por Diamond (2005). Estes problemas foram apresentados aos
estudantes, aos quais pedimos que os ordenassem conforme sua importância.
Vale ressaltar que não utilizamos todas as categorias de problemas propostas por
Diamond (2005) por acreditar que isso dificultaria a resolução da ordenação por parte
dos pesquisados. É importante também destacar que não houve uma preocupação em
distinguir problemas de âmbito local e global.
Os resultados indicam que a emissão de gases e a perda dos habitats naturais são
os dois problemas ambientais listados por Diamond (2005) que mais preocupam os
estudantes, tanto aqueles da escola pública como os da escola privada.
É importante ressaltar que, de forma genérica, a emissão de poluentes,
representada pelos problemas “emissão de gases” e “emissão de produtos tóxicos”,
assim como o dano direto aos habitats, representado pelos problemas “perda dos
habitats naturais” e “perda da diversidade biológica”, chamam mais a atenção dos
pesquisados do que a limitação dos recursos naturais, representada pelos problemas
“limitação dos recursos hídricos” e “limitação dos recursos não renováveis”, mesmo
tendo que tal limitação seja intensamente discutida no plano teórico, por autores como
Altvater (1995) e Furtado (1983).
Podemos supor que tal comportamento esteja associado a maior exposição na
mídia brasileira de casos e desastres ecológicos relacionados à emissão de poluentes e a
destruição de ambientes naturais, como, por exemplo, os vazamentos de óleo no mar, os
rompimentos de barragens liberando rejeitos de mineração em rios, o desmatamento, as
queimadas, entre outros.
Outra hipótese passível de explicar a menor preocupação dos pesquisados em
relação à limitação dos recursos naturais seja a crença por parte dos mesmos de que a
tecnologia e a inteligência humanas serão capazes de pesquisar e encontrar novas fontes
de recursos naturais ou explorar melhor as fontes existentes.
Enquanto a emissão de poluentes e o dano direto aos habitats dominam a atenção
dos pesquisados, as questões populacionais - representadas pelos problemas
“crescimento populacional” e “impacto do consumo humano” - tendem a despertar
70
interesse mediano, ocupando, respectivamente, o 7
o
. e o 6
o
. lugares nos resultados que
se referem aos alunos como um todo.
É interessante ressaltar, contudo, que embora por muitos anos o crescimento
populacional tenha ocupado lugar de destaque no meio acadêmico quando o assunto era
crise ambiental, tendo sido também amplamente discutido na mídia, este gera menos
preocupação entre os pesquisados que os impactos do consumo humano.
Ou seja, o deslocamento discursivo ocorrido no meio acadêmico em que o foco
da atenção se altera dos problemas ligados ao crescimento populacional em direção aos
problemas da produção e do consumo se reflete nos resultados obtidos. De alguma
forma, sob influência ou não da produção científica, os pesquisados expressam maior
preocupação com os impactos do consumo humano do que com o crescimento do
contingente de pessoas no globo.
Quando se compara a importância atribuída ao crescimento populacional e ao
impacto do consumo humano entre pesquisados de diferentes faixas de renda familiar,
este resultado tende a se repetir, a exceção dos estudantes com renda de R$3001,00 a
R$5000, 00, que colocam o crescimento populacional em 4
o
. lugar e o impacto do
consumo humano em 6
o
.
Em suma, o impacto do consumo humano se posiciona nos patamares
intermediários, não sendo um problema ambiental que gera grande mobilização, mas
também não se tratando de uma questão que passa totalmente despercebida.
Alunos de escolas públicas e privadas colocam o impacto do consumo humano
em 5
o
. e 6
o
. lugares, respectivamente, havendo ligeira diferença entre os resultados
segundo o tipo de escola.
Para compreensão dos gráficos e tabelas a seguir torna-se necessário explicitar
as seguintes abreviações: “Lim. rec. não ren.” indica limites de recursos não renováveis;
“Perda biod.” Indica perda da biodiversidade; “Erosão” indica erosão do solo; “Cresc.
pop.” indica crescimento populacional; “Lim. rec. hid.” Indica limitação dos recursos
hídricos; “Consumo” indica impactos do consumo; “Emissão de gas.” indica emissão de
gases; “Perda.hab.” indica perda dos habitats naturais e “Emissão prod. tox.” indica
emissão de produtos tóxicos.
71
Tabela 8 - Valoração do consumo segundo tipo de escola
Tipo
de
escola
Problemas ambientais – ponderação de pontos
Lim. rec.
não ren.
Perda
biod.
Perda
hab.
Erosão
Cresc.
pop.
Lim. rec.
hid.
Consumo
Emissão
de gas.
Emissão
prod.tox.
Escola
pública
207 328 433 309 298 303 312 478 403
Escola
privada
429 677 759 425 587 694 668 843 673
Total 636 1005 1192 734 885 997 980 1321 1076
Fonte: elaborado pela autora
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Lim. rec.
não re
n
.
Pe
r
da
bi
o
d.
E
r
o
o
Cr
e
sc
.
po
p.
Lim. rec. hid.
Consumo
Emissão gas.
Perda
h
ab
.
E
missã
o
pro
d
.
t
ox
.
Escola pública
Escola privada
Total
Gráfico 6 - Valoração do consumo segundo tipo de escola.
Fonte: elaborado pela autora
Curiosamente, pesquisados com as menores rendas - até R$1000,00 - e as
maiores rendas - mais de R$5000,00 - são aqueles que mais se preocupam com o
impacto do consumo humano, chegando a colocar o problema em 4
o
lugar na escala de
importância:
Tabela 9 - Valoração do consumo segundo renda familiar.
Renda Problemas ambientais – ponderação de pontos
Lim.
rec. não
ren.
Perda
biod.
Perda
hab.
Erosão
Cresc.
pop.
Lim.
rec. hid.
Consumo
Emissão
de gas.
Emissão
prod.tox.
Até
R$1000,00
50 75 104 76 81 87 88 115 94
De R$1001,00
a R$3000,00
129 202 248 183 174 185 174 282 229
De R$3001,00
a R$5000,00
80 125 172 86 137 131 130 164 145
Mais de
R$5000,00
300 459 522 283 377 457 461 585 466
Fonte: elaborado pela autora
72
0
200
400
600
800
1000
1200
L
i
m.
rec
.
não
r
e
n
.
Perda biod.
Erosão
Cr
e
sc
.
po
p.
Lim.
re
c.
h
i
d.
C
onsum
o
Emissã
o
gas.
Perda
h
ab
.
Emi
ss
ão pr
o
d.tox.
até R$1000
R$1001 a R$3000
R$3001 a R$5000
Mais de R$5001
Total
Gráfico 7 - Valoração do consumo segundo renda familiar.
Fonte: elaborado pela autora
Embora a tendência seja posicionar o consumo entre os patamares
intermediários, entre os jovens que estudam em escolas privadas, seis colocam o
consumo em primeiro lugar. Entre jovens com renda acima de R$5000, 00, cinco lhe
atribuem à mesma importância:
Tabela 10 - Número de jovens que colocam o consumo em primeiro e em último lugar, segundo tipo de
escola
Tipo de escola Número de jovens que colocam o
impacto do consumo humano em
primeiro lugar
Número de jovens que colocam o
impacto do consumo humano último
lugar
Escola pública 05 (em 72) 06
Escola privada 06 (em 128) 03
Fonte: elaborado pela autora
Tabela 11 - Número de jovens que colocam o consumo em primeiro e em último lugar, segundo a renda
familiar
Renda Número de jovens que colocam o
impacto do consumo humano em
primeiro lugar
Número de jovens que colocam o
impacto do consumo humano último
lugar
Até R$1000,00 03 02
De R$1001,00 a
R$3000,00
0 04
De R$3001,00 a
R$5000,00
0 01
Mais de
R$5000,00
05 02
Fonte: elaborado pela autora
73
4.4 Agentes e ações para lidar com os impactos do consumo
Quanto às possíveis formas de resolução dos problemas ambientais relacionados
ao consumo, pedimos aos jovens que apontassem entre governo, pessoas comuns,
empresas e organizações não governamentais quem seriam os principais agentes a
liderar mudanças na área.
Os resultados indicam que na percepção dos jovens são as pessoas comuns,
seguidas das empresas, as maiores responsáveis por implementar ações ligadas aos
impactos ambientais do consumo, existindo pouca diferenciação neste resultado
segundo o tipo de escola ou a renda familiar:
Tabela 12 - Agentes para liderar ações segundo tipo de escola
Tipo de escola Ator responsável pela solução dos problemas ligados ao consumo ponderação
de pontos
Pessoas comuns Governo Empresas ONGs
Escola pública 229 144 160 147
Escola privada 420 314 332 210
Total 649 458 492 357
Fonte: elaborado pela autora
0
100
200
300
400
500
600
700
Pessoas Governo Empresas ONG´s
Escola pública
Escola privada
Total
Gráfico 8 - Agentes para liderar ações segundo tipo de escola.
Fonte: elaborado pela autora
74
Tabela 13 - Agentes para liderar ações segundo renda familiar
Renda Ator responsável pela solução dos problemas ligados ao consumo ponderação
de pontos
Pessoas comuns Governo Empresas ONGs
Até R$1000,00 56 37 40 37
De R$1001,00 a
R$3000,00
135 88 100 77
De R$3001,00 a
R$5000,00
85 60 68 47
Mais de R$5000,00 288 215 222 141
Fonte: elaborado pela autora
0
100
200
300
400
500
600
Pessoas Governo Empresas ONG´s
até R$1000
R$1001 a R$3000
R$3001 a R$5000
Mais de R$5001
Total
Gráfico 9 - Agentes para liderar ações segundo renda familiar
Fonte: elaborado pela autora
Este resultado confirma a postura de alguns teóricos, tais como Diamond (2005),
de que existe uma grande dificuldade por parte dos governos em implementar ações
nessa área e que as mudanças tendem a se sustentar fortemente em ações pulverizadas,
calcadas no plano individual.
De alguma forma, seja devido aos impactos ecológicos relacionados à produção,
seja devido ao crescente investimento em responsabilidade sócio-ambiental por parte
das empresas, estas são apontadas como o segundo ator que deve liderar ações que
visem a minorar os impactos do consumo humano. Assim, a parceria entre empresa e
consumidor parece ser bem vista por parte dos jovens quando se trata de questões nesta
área.
Quando se analisam as colocações atribuídas ao governo e as organizações não
governamentais, enquanto o primeiro ocupa a terceira posição entre alunos de escolas
privadas, entre alunos de escolas públicas o mesmo é colocado em último lugar. Tal fato
75
pode estar relacionado à visão mais crítica daqueles que mais dependem dos serviços
públicos ou, por outro lado, um maior crédito por parte dos alunos de escolas privadas
em relação à importância da participação do Estado nesse campo.
Em comparação com os resultados obtidos em outras pesquisas, embora nem
sempre estas contemplem especificamente a questão do consumo, encontramos
concordâncias e dissonâncias.
A pesquisa “Os Jovens e o Consumo Sustentável”, realizada pelo Instituto Akatu
(2001, p. 43) buscou verificar quais eram os temas de interesse por parte dos jovens
brasileiros. Foram oferecidas as opções: educação\carreira, desfrutar a natureza,
música\dançar, sair com amigos, compras, assistir TV, esportes, usar computador,
literatura\ler, cultura/visitar museus, vídeo games e política\sociedade. Enquanto a
opção educação\carreira ficou em primeiro lugar, a literatura\ler ficou em nono lugar e a
política\sociedade ficou em último. Segundo as conclusões desta pesquisa:
Num mundo altamente competitivo, os jovens de hoje preocupam-se
predominantemente com seu futuro profissional. Essa preocupação desloca o
peso do binômio educação/carreira utilizado na pesquisa para o segundo
termo. A questão passa a ser mais técnica do que cultural: a necessidade do
diploma é maior do que a de leitura. Assim, os jovens da pesquisa parecem
caminhar sozinhos e solitários em direção a esse objetivo. A organização
social e política não são instrumentos com os quais eles contam. As saídas
são individuais, compostas por pequenas ações, capazes de transformar suas
vidas, mas sem a pretensão de uma transformação que além das questões
que os atingem mais imediatamente. Não se pretende com isso afirmar que os
jovens entrevistados sejam alienados ou que não tenham consciência do
mundo em que vivem. O que se conclui apenas é que não se coloca, para eles,
a responsabilidade por essas transformações, como já o fez a juventude de
outras épocas.
Os dados coletados junto aos jovens de Florianópolis e junto aqueles que
participaram da pesquisa realizada pelo Instituto Akatu mostram uma tendência entre os
jovens em optar por atitudes independentes no momento de buscar soluções para a
questão do consumo, em vez de apoiar soluções políticas.
Contudo, outras pesquisas encontraram resultados diferentes. A pesquisa “O que
o brasileiro pensa sobre o meio ambiente” realizada pelo ISER questionou aos
entrevistados quem eram as pessoas ou grupos responsáveis por solucionar os
problemas do meio ambiente. O governo (municipal, estadual e federal, nesta ordem),
ocupa os três primeiros lugares, seguidos das opções “cada um de s”, “entidades
ecológicas” e “comunidades locais”.
Uma das pesquisas realizadas por Ester et al (2004) encontra resultados
similares. Os autores afirmam que entrevistados de diferentes países abordados pelo
76
estudo GOES (Global environment survey) concordam que é o Estado quem deve
liderar políticas em prol do meio ambiente. No entanto, nos países em desenvolvimento,
esta responsabilidade tende a recair sobre os governos municipais enquanto que nos
países desenvolvidos tende a ser atribuída aos governantes da nação.
Para Ester et al (2004), a despeito das forças liberais do mercado, os públicos em
geral nos vários países participantes do GOES enfatizam a responsabilidade primária de
seus respectivos governos por lutar contra a degradação ambiental. Em diferentes
países, as pessoas desejam um papel forte e diretivo do governo em elaborar,
implementar e controlar políticas ambientais que estão muito longe de uma mentalidade
laissez-faire.
Ester et al (2004) destacam, contudo, que embora o governo seja a instituição
responsável por liderar a solução dos problemas ambientais, a ação individual também é
lembrada pelos entrevistados no GOES e vista como eficaz na conservação do meio
ambiente.
Segundo os autores, a valorização de ações desta natureza deve ser vista
positivamente, já que os problemas ambientais contemporâneos costumam estar além do
controle do cidadão comum, sendo complexos, multifacetados abstratos e fora dos
horizontes de tempo dos indivíduos.
Vale ressaltar que estas duas últimas pesquisas não tinham como público-alvo
somente pessoas jovens, além de tratarem dos problemas ambientais como um todo, não
tendo o consumo como foco principal.
Depois de investigar os agentes que deveriam liderar ações que tenham por
objetivo minimizar os impactos ambientais do consumo, avaliamos quais ações,
especificamente, devem ser implementadas.
Estudos anteriores com o público jovem, tais como o conduzido por Wong
(2001) apontam algumas ações possíveis de serem colocadas em prática tais como: a
compra de produtos artesanais ou naturalmente degradáveis, o boicote a produtos que
poluam o meio ambiente, a compra e reutilização de produtos usados ou de “segunda-
mão”, o uso de sacolas não descartáveis para as compras cotidianas, a separação do lixo
doméstico para reciclagem, entre outras.
77
No que se refere à pesquisa junto aos jovens de Florianópolis, para verificar
quais ações devem ser adotadas foi elaborada uma lista de doze soluções, sendo:
1. quatro delas de caráter econômico: existência de acordos entre empresas
que poluem mais e poluem menos, fazendo com que no fim a poluição
total não seja tão grande; criação de descontos para compra de produtos
feitos com matéria prima que não agrida o meio ambiente; criação de
rótulos/selos para os produtos fabricados de maneira ecológica, de forma
que as pessoas possam privilegiar as marcas ambientalmente corretas;
pagamento de mais impostos por parte das pessoas que consomem mais;
2. quatro de caráter tecnológico: invenção de máquinas cada vez mais
modernas para reciclagem de materiais, tais como plástico e borracha;
desenvolvimento de tecnologias mais avançadas para processamento do
lixo nos aterros sanitários; desenvolvimento de um maior número de
tecnologias para controlar a poluição na fabricação de produtos; invenção
de produtos que consumam cada vez menos energia;
3. quatro de caráter social: realização de aulas nas escolas sobre formas de
evitar o excesso de consumo; participação das pessoas em partidos
políticos, pressionando pela existência de leis que regulem o consumo;
realização de campanhas que ensinem as pessoas a consumir de forma
consciente; criação de leis que regulem o nível de consumo das pessoas.
Os jovens deveriam escolher cinco ações, sem que fosse necessário ordená-las
segundo sua importância e os resultados indicam a tendência dos mesmos em apoiar as
soluções tecnológicas, o que tende a se manter estável entre estudantes de diferentes
rendas e distintos tipos de escola:
Tabela 14 - Natureza da ação segundo tipo de escola
Tipo de escola Natureza da ação para contornar problemas ligados ao consumo mero de
citações
Tecnológica Econômica Social
Escola pública 153 87 101
Escola privada 312 205 120
Total 465 292 221
Fonte: elaborado pela autora
78
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
Tecnológico Social Econômico
Escola pública
Escola privada
Total
Gráfico 10 - Natureza da ação segundo tipo de escola
Fonte: elaborado pela autora
Tabela 15 - Natureza da ação segundo renda familiar
Renda Natureza da ação para contornar problemas ligados ao consumo número de
citações
Tecnológica Econômica Social
Até R$1000,00 35 23 26
De R$1001,00 a
R$3000,00
90 48 59
De R$3001,00 a
R$5000,00
62 44 19
Mais de R$5000,00 214 138 85
Fonte: elaborado pela autora
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
Tecnológico Social Econômico
até R$1000
R$1001 a R$3000
R$3001 a R$5000
Mais de R$5001
Total
Gráfico 11 - Natureza da ação segundo renda familiar
Fonte: elaborado pela autora
79
Embora não seja possível explicar as razões que conduzem a esse resultado,
pode-se supor que a valorização tecnológica existente na atualidade influencie as
respostas dos pesquisados levando-os a dar mais crédito às soluções desta área ou pode-
se ainda acreditar que para os jovens pesquisados é preferível “escolher” ou “comprar”
um produto ecologicamente produzido, do que fazer com as próprias mãos outras
mudanças mais profundas, como a redução do consumo ou a participação política.
Recordando a existência de dois conceitos em torno do consumo descritos por
Portilho (2005) - consumo verde e consumo sustentável - pode-se inferir que os jovens
pesquisados conhecem melhor ou apóiem com mais força o primeiro em detrimento do
segundo.
De forma específica, as ações mais citadas pelos pesquisados foram o
desenvolvimento de tecnologias mais avançadas para processamento do lixo nos aterros
sanitários (caráter tecnológico); o desenvolvimento de um maior número de tecnologias
para controlar a poluição na fabricação de produtos (caráter tecnológico); a existência
de acordos entre empresas que poluem mais e poluem menos, fazendo com que no fim a
poluição total não seja tão grande (caráter econômico); e a invenção de produtos que
consumam cada vez menos energia (caráter tecnológico). Apesar de as soluções
tecnológicas atingirem a preferência dos pesquisados, existem algumas ações
específicas de cunho econômico e social que alcançaram bons níveis de aceitação.
As ações menos citadas pelos pesquisados foram a participação das pessoas em
partidos políticos, pressionando pela existência de leis que regulem o consumo (caráter
social), a criação de leis que regulem o nível de consumo das pessoas (caráter social) e o
pagamento de mais impostos por parte das pessoas que consomem mais (caráter
econômico).
Para a compreensão das tabelas e gráficos a seguir é necessário salientar que:
“VS aulas” indica a realização de aulas nas escolas sobre formas de evitar o excesso de
consumo; “VS partidos” indica a participação das pessoas em partidos políticos,
pressionando pela existência de leis que regulem o consumo; “VS campanhas” indica a
realização de campanhas que ensinem as pessoas a consumir de forma consciente; “VS
leis” indica a criação de leis que regulem o nível de consumo das pessoas; “VE
acordos” indica a existência de acordos entre empresas que poluem mais e poluem
menos, fazendo com que no fim a poluição total não seja tão grande; “VE descontos”
indica a criação de descontos para compra de produtos feitos com matéria prima que
não agrida o meio ambiente; “VE rótulos” indica a criação de rótulos/selos para os
80
produtos fabricados de maneira ecológica, de forma que as pessoas possam privilegiar
as marcas ambientalmente corretas; “VE impostos” indica o pagamento de mais
impostos por parte das pessoas que consomem mais; “VT máquinas” indica a invenção
de máquinas cada vez mais modernas para reciclagem de materiais, tais como plástico e
borracha; “VT lixo” indica o desenvolvimento de tecnologias mais avançadas para
processamento do lixo nos aterros sanitários (lixões); “VT poluição” indica o
desenvolvimento de um maior número de tecnologias para controlar a poluição na
fabricação de produtos e “VT energia” indica a invenção de produtos que consumam
cada vez menos energia:
Tabela 16 - Ação a ser implementada segundo tipo de escola
Tipo
de
escola
Ação para contornar problemas ligados ao consumo – número de citações
VT
recicla
gem
VT
lixo
VT
poluição
VT
energia
VE
acordos
VE
descontos
VE
rótulos
VE
impostos
VS
aulas
VS
partidos
VS
campa
nhas
VS
leis
Escola
pública
34 51 27 41 40 31 14 2 31
22
24 14
Escola
privada
61 88 95 68 80 72 36 17 31 26 46 22
Total 95 139
122 109 120 103 50 19 62 48 70 36
Fonte: elaborado pela autora
0
20
40
60
80
100
120
140
160
VS aulas
VS partidos
VS
c
am
p
a
n
ha
s
V
S
lei
s
VE acordos
V
E
d
e
s
con
t
os
VE r
ó
tulos
VE impostos
V
T
m
áqu
i
nas
VT
lix
o
VT poluição
V
T
e
n
e
rgia
Escola pública
Escola privada
Total
Gráfico 12 - Ação a ser implementada segundo tipo de escola
Fonte: elaborado pela autora
Abaixo, as ações mais citadas de acordo com sua natureza - social, econômica
ou tecnológica:
81
0
10
20
30
40
50
60
70
VS aulas VS partidos VS
campanhas
VS leis
até R$1000
R$1001 a R$3000
R$3001 a R$5000
Mais de R$5001
Total
Gráfico 13 - Ação de natureza social a ser implementada segundo renda familiar
Fonte: elaborado pela autora
0
20
40
60
80
100
120
VE acordos VE descontos VE rótulos VE impostos
até R$1000
R$1001 a R$3000
R$3001 a R$5000
Mais de R$5001
Total
Gráfico 14 - Ação de natureza econômica a ser implementada segundo renda familiar
Fonte: elaborado pela autora
0
20
40
60
80
100
120
140
VT máquinas VT lixo VT poluição VT energia
até R$1000
R$1001 a R$3000
R$3001 a R$5000
Mais de R$5001
Total
Gráfico 15 - Ação de natureza tecnológica a ser implementada segundo renda familiar
Fonte: elaborado pela autora
82
As respostas obtidas deixam claro que a legislação, seja na forma de impostos,
seja na forma de regulamentos, não deve tornar a diminuição dos impactos relativos ao
consumo uma obrigação legal do cidadão. Os resultados indicam caminhos em outra
direção: como os pesquisados elegem as pessoas comuns e as empresas como líderes
para as ações na área e rejeitam soluções tais como leis e impostos que limitem
obrigatoriamente o consumo, fica implícito que a base para o processo de transformação
em direção a um consumo mais sustentável, no ponto de vista dos mesmos, é o diálogo
e o respeito às liberdades individuais.
Sabe-se que o consumo assume importância nos planos psíquico, cultural, social
e econômico (FEATHERSTONE, 1995), mas não é possível afirmar qual razão
especificamente leva os pesquisados a demonstrar que mudanças nos padrões de
comportamento nessa área não podem ser impostas. Fica, porém, a idéia expressa pelos
jovens que o consumo não é um problema ambiental que possa ser tratado com medidas
excessivamente coercitivas. Conscientes ou não das conseqüências que a diminuição do
consumo possa acarretar na economia ou na vida em sociedade, as respostas dadas pelos
jovens entrevistados nos levam a se pensar na maior aceitação de ações autônomas
baseadas na livre iniciativa.
Nesse contexto, ações de caráter social tais como a realização de aulas nas
escolas sobre formas de evitar o excesso de consumo e a realização de campanhas que
ensinem as pessoas a consumir de forma consciente tiveram maior aprovação que
medidas mais impositivas, tais como a criação de leis que regulem o nível de consumo
das pessoas ou o pagamento de mais impostos por parte das pessoas que consomem
mais.
Vale ressaltar que embora o estudo GOES (Global environment survey)
realizado por Ester et al (2004) tenha investigado soluções para os problemas
ambientais como um todo e a pesquisa com os jovens de Florianópolis tenha se centrado
em soluções para a problemática do consumo, o caráter pouco coercitivo das medidas a
serem tomadas é um resultado comum.
Segundo Ester et al (2004) parece existir um acordo justo entre cidadãos dos
diferentes países pesquisados pelo estudo GOES no sentido de posicionar-se a favor de
medidas leves contra medidas duras na avaliação das políticas ambientais. Instrumentos
como campanhas de massa para educar os cidadãos para usar menos energia, usar
menos o carro e produzir menos lixo doméstico têm mais preferência que outras
medidas como aumentos de impostos para combustíveis, racionamento de energia ou
83
limitações no uso de carros. Desta forma, cidadãos tanto de países desenvolvidos como
de países em desenvolvimento parecem preferir mudanças de estilo de vida voluntárias.
4.5 Racionalidade e mudança ambiental
Embora a racionalidade subjacente à ação humana seja um tema complexo, em
relação ao qual por si se poderiam desenvolver diversos estudos, almejamos nesta
pesquisa verificar algumas das tendências comportamentais dos jovens pesquisados
neste campo.
Para tanto, apresentamos aos estudantes cinco afirmativas as quais estes
deveriam conceder uma resposta numa escala que continha as seguintes opções:
“totalmente falso”, “falso”, “nem falso, nem verdadeiro”, “verdadeiro” e “totalmente
verdadeiro”. As afirmativas foram construídas a partir de preceitos que diferenciam a
racionalidade instrumental e substantiva, conforme o Quadro 5:
AÇÃO DE CONSUMO RACIONAL
INSTRUMENTAL
AÇÃO DE CONSUMO RACIONAL
SUBSTANTIVA
EM RELAÇÃO AOS FINS VISADOS
Obedece a objetivos e valores econômicos, como o
acúmulo de bens materiais ou o aumento de poder
social e a conquista de status.
Obedece a valores morais, referentes a
subjetividade do indivíduo, como a auto-realização.
É pragmático e egoísta, sendo os benefícios visados
relacionados somente ao sucesso e ao aumento do
prazer individual.
Os benefícios ocorrem na dimensão individual,
porém sem comprometer os recursos e levando em
conta o direito dos outros indivíduos.
É orientado por imperativos exteriores, pelas leis do
mercado, sendo desprendido de ética e pautado
apenas pelo cálculo utilitário e pelas regras de
conveniência, adaptação e aprovação social.
É orientado por julgamentos independentes, pela
autonomia, pela autenticidade e por uma autoridade
própria guiada por uma razão comum presente em
qualquer momento e lugar.
EM RELAÇÃO AO CONSUMIDOR
É desorientado e não tem consciência da finalidade
e do significado de seu ato de consumo, pois a
escolha de fins é desprovida de argúcia. Não se
importa em construir uma sociedade melhor para
ser melhor e viver uma vida mais autêntica, pois
não se sente responsável por isso.
É consciente de seu papel de consumidor e agente
cultural da humanidade e percebe sua capacidade de
guiar sua própria evolução enxergando as
responsabilidades e as conseqüências de seu
consumo.
Vê-se como uma unidade separada lutando pela
própria sobrevivência econômica e material onde a
preocupação predominante é o ter.
Se enxerga como parte de algo maior, pois acredita
numa dimensão mais profunda da vida, buscando
sempre o desenvolvimento do ser.
no ato de consumo um meio crucial de exercer
sua cidadania no mundo social, de construir sua
identidade e estabelecer relações.
no ato de consumo um meio no qual pode
conduzir a sua vida pessoal na direção da auto-
realização e da emancipação individual e social.
Se comporta utilizando a racionalidade para a
perseguição dos desejos que não são contestados
acerca de sua natureza.
Age a serviço de sua convicção utilizando a
racionalidade para fazer conexões, analisar, criticar
e entender suas necessidades.
Quadro 5 - O consumo na perspectiva da racionalidade
Fonte: Adaptado de Girardi (2004)
84
De forma a não se afastar do tema central da pesquisa, as afirmativas foram
concebidas de maneira a abordar a questão do consumo e do meio ambiente e, ao
mesmo tempo, conter intrinsecamente ações que refletiam uma racionalidade
instrumental ou substantiva. Duas afirmativas relacionam-se à racionalidade
instrumental e três à racionalidade substantiva como exemplificado a seguir:
1. Racionalidade substantiva “Quando eu compro um produto eu penso se ele é
prejudicial ao meio ambiente”.
2. Racionalidade instrumental “Quando eu compro um produto eu penso se ele
tem um preço bom”.
3. Racionalidade instrumental – “Ter mais do que possuo hoje me faria uma pessoa
mais feliz, independentemente das conseqüências disso para a natureza”.
4. Racionalidade substantiva – “Quando eu jogo uma lata de refrigerante no lixo eu
faço isso porque acho que é a atitude certa e não porque existem multas ou a
reclamação de outras pessoas”.
5. Racionalidade substantiva “Eu acredito que as pessoas devem respeitar a vida
dos animais e plantas porque eles são parte da natureza, mesmo que eles não
tenham valor financeiro”.
Realizamos uma ponderação atribuindo mais pontos às respostas “totalmente
verdadeiro” e menos pontos as respostas “totalmente falso”. As afirmativas que
obtiveram o maior número de pontos foram de natureza substantiva e se referiam ao
respeito pela vida dos animais e plantas e ao descarte adequado de lixo,
respectivamente. Contudo, a afirmativa que recebeu o menor número de pontos foi
igualmente substantiva e se referia à reflexão sobre o impacto de um produto no meio
ambiente no momento de sua compra. É importante ressaltar que os números de pontos
existentes nos Gráficos 16 e 17 referem-se somente aos totais:
Tabela 17 - Racionalidade segundo tipo de escola
Tipo de escola Racionalidade – ponderação de pontos
RI prod.
Preço
RI ter mais RS prod.
meio
RS lixo RS
respeito
Escola pública 279 204 176 289 310
Escola privada 523 360 263 578 571
Total 802 564 439 867 881
Fonte: elaborado pela autora
85
Gráfico 16 - Racionalidade segundo tipo de escola.
Fonte: elaborado pela autora
Tabela 18 - Racionalidade segundo renda familiar
Renda Racionalidade – ponderação de pontos
RI prod.
Preço
RI ter mais RS prod.
meio
RS lixo RS
respeito
Até R$1000,00 66 51 42 69 75
De R$1001,00 a
R$3000,00
165 113 98 173 183
De R$3001,00 a
R$5000,00
103 76 52 113 113
Mais de R$5000,00 351 244 186 390 386
Fonte: elaborado pela autora
378
745
757
685
484
0
100
200
300
400
500
600
700
800
RS prod.meio
RS
l
i
xo
R
S
respe
it
o
RI prod.preço
RI
t
e
r
ma
i
s
até R$1000
R$1001 a R$3000
R$3001 a R$5000
Mais de R$5001
Total
Gráfico 17 - Racionalidade segundo renda familiar.
Fonte: elaborado pela autora
439
867
881
802
564
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
RS pr
od
.
me
i
o
RS
l
i
xo
R
S r
es
p.
RI pr
od
.preço
RI ter mais
Escola pública
Escola privada
Total
86
As afirmativas 1 e 2 (“Quando eu compro um produto eu penso se ele é
prejudicial ao meio ambiente” e “Quando eu compro um produto eu penso se ele tem
um preço bom”) são bons exemplos de como a atitude pode se diferenciar do
comportamento no caso dos estudantes em questão.
A análise das respostas dadas a essas afirmativas, se contrapostas às respostas
dadas às questões anteriores do questionário, nos propiciam uma interessante
comparação. Anteriormente, mencionamos que o impacto ambiental do consumo
humano não domina a atenção dos pesquisados, mas também não passa despercebido
ficando em 6
o
lugar numa escala de 9 pontos.
Contudo, quando os pesquisados são questionados sobre seu comportamento de
compra, a preocupação com o impacto ambiente se dissipa: a afirmativa “Quando eu
compro um produto eu penso se ele é prejudicial ao meio ambiente” é a que recebe o
menor número de respostas “totalmente verdadeiro” ou “verdadeiro”, somando apenas
439 pontos.
A afirmativa “Quando eu compro um produto eu penso se ele tem um preço
bom”, por outro lado, recebe 802 pontos, o que indica que os pesquisados podem ter
alguma consciência dos problemas ligados ao consumo ou até uma atitude positiva em
direção a resolvê-los, mas na prática, seu comportamento de compra tende a ser regido
por uma racionalidade instrumental, em que o preço do produto é mais valorado que seu
impacto ambiental.
Tal dado é preocupante, pois evidencia que o ato de compra individual pode não
estar diretamente associado a uma responsabilidade em relação ao meio ambiente, no
campo pragmático de ação. também a possibilidade de que exista uma
responsabilidade associada a um consumo sustentável, não havendo, contudo,
disposição a maiores gastos financeiros em troca de produtos mais ecológicos.
Ainda que em seu cotidiano, as relações de consumo pareçam ser baseadas numa
racionalidade instrumental, quando questionados sobre seus valores e objetivos de vida,
os pesquisados deixam a entender que predominam tendências mais substantivas. A
afirmativa que associa consumo a felicidade, por exemplo, não somou muitos pontos
(foi a segunda menor soma), o que indica que o individualismo ou o consumismo
quando expostos de maneira franca e direta não são vistos positivamente.
Embora seja inquestionável a presença de tendências antropocêntricas em nossa
sociedade, em maior ou menor grau, as respostas dos pesquisados tenderam a ser
alinhadas ao discurso ambiental moderno, de proteção à natureza e de esforços para
87
conter os danos relacionados ao lixo, o que é evidenciado no grande número de
respostas positivas às questões que abordam essas temáticas.
O paradoxo descrito por Thomas (1988) entre proteger e destruir a natureza fica
claro na incongruência entre as respostas dadas as afirmativas 1, 2 e 5. Os pesquisados
dizem acreditar ser correto proteger a vida dos animais e plantas, mas no seu ato de
consumo privilegiam o preço à proteção ao meio ambiente.
Logo, pode-se inferir se tal tendência preservacionista ou está desvinculada das
populações urbanas contemporâneas e pouco associada ao seu ato individual de
consumo ou faz parte apenas de um ideário compartilhado socialmente, mas que as
pessoas não sabem como concretizar em sua vida prática.
Outras explicações poderiam ser encontradas a partir da análise de estudos
anteriormente realizados. Como havia sido observado por Ester et al (2004), nem
sempre a consciência ambiental é acompanhada por comportamentos ecologicamente
amigáveis.
Também apontado pelos mesmos autores, atitudes e comportamentos favoráveis
à natureza em um determinado aspecto como, por exemplo, o descarte apropriado do
lixo, podem não ser encontrados quando se analisam outros tipos de problemas
ambientais, como a valorizam da produção ecologicamente correta no momento de
compra de produtos.
88
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face à efervescência que caracteriza o debate em torno da problemática
ambiental, este estudo buscou contribuir evidenciando as tendências comportamentais
de uma parcela da população brasileira frente a diversas questões, entre elas os impactos
ambientais relacionados ao consumo.
Apoiando-se nos pressupostos de que uma sociedade sustentável deve se basear
em padrões de consumo mais congruentes com a reserva de recursos naturais existente
na Terra e que mudanças nessa área demandarão apoio dos indivíduos, acreditamos que
verificar as percepções de parte dos mesmos sobre a crise ecológica e sobre suas formas
de solução pode colaborar para a tomada de decisões, tanto por parte dos governos
como das demais organizações.
Os resultados indicam que, embora o consumo esteja emergindo como um
aspecto crucial na busca pela sustentabilidade, seus impactos ambientais ainda não
dominam a preocupação da sociedade civil, aqui representada pelo grupo de jovens
pesquisados.
Contudo, apesar de não ser o problema ambiental que mais mobiliza tal grupo, o
consumo tampouco se constitui em um aspecto desconhecido. Pelo contrário, embora a
emissão de gases e a perda de habitats naturais sejam os problemas ecológicos que mais
chamam a atenção dos pesquisados, estes se mostram de alguma forma conhecedores
dos impactos negativos do consumo, o que demonstra espaço para a discussão deste
tema e possível incentivo a mudanças comportamentais na área.
Em meio ao embate teórico acerca das melhores formas para abordar a
problemática do consumo, os jovens pesquisados tendem a creditar seu apoio às
respostas de cunho tecnológico, o que pode ser compreendido se nos ativermos à
valorização que a ciência e a tecnologia alcançam na modernidade.
Um fator positivo, no entanto, é que embora as soluções tecnológicas obtenham
maior aprovação, as soluções econômicas e sociais não são totalmente rejeitadas, o que
indica que um conjunto heterogêneo de ações para lidar com os impactos negativos do
consumo pode ser aceita pelos jovens.
Antes disso, contudo, as respostas dos pesquisados deixam implícita a
necessidade de um maior debate público sobre o tema, de forma que este possa ser tão
difundido quanto à questão da emissão de gases e da destruição de habitats naturais.
89
Faz-se também necessário que a tomada de consciência sobre a problemática
relacionada ao consumo seja capaz de refletir-se em comportamentos cotidianos em
direção a um consumo mais sustentável.
Verificamos que muitas vezes, embora alinhados a preocupação ecológica
vigente em nossa era e de certa maneira conhecedores dos impactos negativos do
consumo, os pesquisados ainda tendam, na prática, a privilegiar outros atributos como
o preço em seus momentos de compra, deixando de refletir nas conseqüências de tais
atos, se somados, para a natureza.
Em suma, pode-se afirmar que no âmbito da Administração Pública, este estudo
indicou que os governos não são percebidos como os principais agentes na promoção
das mudanças relacionadas aos padrões de consumo. Apesar disso, os pesquisados
mostram-se alinhados ao discurso ambiental contemporâneo e provavelmente esperam
algum tipo de ação governamental na área. Esta deve basear-se em campanhas de
conscientização e de estímulo a proteção do meio ambiente. Medidas mais coercitivas,
como leis que restrinjam o consumo ou a criação de tributos que o delimitem, tendem a
não serem bem avaliadas.
No âmbito da Administração de Empresas, o estudo mostra que das corporações
privadas espera-se uma ação bastante efetiva quanto à problemática ambiental
relacionada ao consumo, o que pode envolver mudanças de cunho tecnológico no ciclo
de vida dos produtos, assim como ações de conscientização e de educação ambiental em
torno da compra e descarte dos mesmos.
Os jovens esperam que as empresas continuem investindo em tecnologia e
produzam soluções técnicas que otimizem o seu processo produtivo, mas que, além
disso, sejam capazes de agregar valor aos produtos, que devem obter um bom
desempenho na fase de uso, principalmente no que se refere ao consumo de energia e a
geração de detritos. Ou seja, além de um produto elaborado com mínimo impacto
ambiental, os jovens tendem a valorizar outros atributos intrínsecos ao mesmo, tais
como baixo consumo de energia e possibilidade de reciclagem após o uso.
As mudanças relativas aos produtos, contudo, não devem ter como conseqüência
um grande aumento nos preços dos mesmos, pois este parece ser um atributo de grande
importância para os jovens, suplantando até mesmo a preocupação ecológica.
Além da redução dos impactos ambientais associados à produção e ao consumo
dos produtos elaborados e comercializados pelas empresas, percebemos que o
investimento em responsabilidade sócio-ambiental e em ações que promovam o
90
desenvolvimento sustentável por parte das mesmas provavelmente seria visto
positivamente pelos jovens pesquisados, que muitos deles consideram ser totalmente
verdadeira a afirmação: “eu acredito que as pessoas devem respeitar a vida dos animais
e plantas porque eles são parte da natureza, mesmo que eles não tenham valor
financeiro”.
5.1 Recomendações
Por ser de caráter predominantemente quantitativo e basear-se em um
questionário estruturado, este estudo nos trouxe respostas a algumas perguntas, mais
deixou em aberto muitas outras. Analisando as respostas concedidas pelos 200
estudantes entrevistados, foi possível conhecer um pouco de suas atitudes e
comportamentos em relação aos problemas da atualidade, a crise ambiental e aos
impactos negativos do consumo.
Emergiram, no entanto, um número imenso de questionamentos sobre as razões
que sustentam as opiniões dadas, nos levando muitas vezes a inferências. Nesse
contexto, o primeiro contato com os resultados obtidos incita a novas pesquisas que
busquem investigar, por exemplo, porque o meio ambiente não é o problema atual que
mais preocupa os jovens.
Quanto ao consumo, surgem perguntas sobre a aparente contraposição existente
entre a atitude favorável a proteção à natureza e a um consumo “verde” ou “sustentável”
e o comportamento instrumental de compra que tende a privilegiar mais o preço que o
meio ambiente.
Cabe também indagar a razão de os impactos do consumo posicionarem-se nos
patamares intermediários quando comparados com outros problemas ambientais.
Segundo Harper (1996), o consumo - traduzido como afluência - seria uma das três
variáveis (juntamente ao tamanho da população e a tecnologia) capazes de mediar a
relação do homem com a natureza: neste contexto, por que tal questão ainda não se
destaca frente aos demais problemas ambientais na percepção dos jovens?
Um olhar mais aprofundado sobre a importância do consumo em meio aos
problemas ambientais nos leva a outros questionamentos teóricos. Partindo da
perspectiva de Harper (1996), não poderia o consumo ser visto como uma das “raízes”
dos impactos humanos ao meio ambiente, ao invés de ser tratado como um problema
91
ambiental em si, como descreve Diamond (2005)? Embora ainda não seja reconhecido
pelos indivíduos pesquisados como tal, o consumo nos parece um fator subjacente a
crise ambiental, uma variável capaz de gerar muitos outros impactos, tais como a
produção de lixo e a poluição do ar, entre outros.
Nesse contexto, nos perguntamos se os indivíduos vêem o consumo como um
problema ambiental qualquer ou o enxergam como uma questão de maior relevância, ao
qual está associada uma série de decorrências.
Subjacente a todas estas perguntas, pairam dúvidas sobre como é formada a
opinião destes jovens, que em alguns anos estarão liderando partidos políticos, empresas
e outras instituições. Como se informam sobre o meio ambiente, em que baseiam suas
opiniões, por que e por quem são influenciados?
Pode-se dizer que encontramos nesta amostra um grupo de estudantes para quem
de fato o meio ambiente não se coloca nos centro das atenções, mas que, quando
levados a pensar sobre o assunto reconhecem, de alguma maneira, a importância que os
impactos do consumo vêm assumindo em meio a crise ambiental e tendem a apoiar
como soluções para tal problema, ações de base tecnológica.
Acreditamos que este estudo pode levar a realização tanto de pesquisas
qualitativas que investiguem as atitudes, crenças e valores subjacentes às respostas
objetivas dadas, assim como outras pesquisas quantitativas capazes de abordar os
mesmos temas aqui investigados junto a outros públicos. Novas pesquisas quantitativas
também podem buscar conhecer melhor as percepções sobre a dimensão dos impactos
do consumo ou o processo de formação de opinião desta que será em breve a nova
geração de adultos.
92
REFERÊNCIAS
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natureza em Publicidade. In: III Encontro da ANPPAS, 2006, Brasília. GT10: Mídia e
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96
APÊNDICE
97
APÊNDICE A - Questionário
Questão 1 A sociedade tem vários desafios hoje em dia. Ordene os problemas abaixo,
colocando número 1 para aquele que você considera mais grave, número 2 para o que
você considera o segundo mais grave, e assim por diante.
___________ Violência
___________ Desemprego
___________ Corrupção
___________ Meio ambiente
___________ Desigualdade social
___________ Saúde
___________ Educação
Questão 2 Os desafios relacionados ao meio ambiente também são muitos. Ordene os
problemas abaixo, colocando número 1 para aquele que você considera mais grave,
número 2 para o que você considera o segundo mais grave, e assim por diante.
___________
Limitação dos recursos não renováveis,
como a dificuldade de acesso a
combustíveis como o petróleo.
___________
Perda da biodiversidade
, ou seja, a diminuição do número de espécies de plantas
e animais.
___________
Erosão do solo
, ou seja,
modificações no aspecto do solo, tornando–o menos fértil.
___________
Crescimento da população
mundial
, o que exerce pressão no uso de recursos
naturais, na ocupação do solo e na geração de detritos.
___________
L
imitação na obtenção de recursos hídricos
, como a maior dificuldade na
obtenção de água doce.
___________
Impacto do consumo
no meio ambiente a partir da aquisição de uma diversidade
de produtos e serviços por parte das pessoas, causando exaustão dos recursos
naturais e produção de lixo.
___________
Emissão de gases
que danificam a camada de ozônio e geram o efeito estufa.
___________
Destruição dos ambientes naturais
onde vivem plantas e animais.
___________
Fabricação ou liberação de produtos tóxicos
como, por exemplo,
os materiais
químicos que saem das pilhas e baterias usadas e que podem poluir a água e o solo.
98
Questão 3 Cada pessoa tem uma forma de agir em relação ao meio ambiente. Leia
cada frase abaixo e marque o quanto ela é verdadeira ou falsa para você. Seja sincero, o
que nos interessa é a forma como você realmente age no dia-a-dia.
1 - Quando eu compro um produto eu penso
se ele é prejudicial ao meio ambiente.
( )
Totalmente
falso
( )
Falso
( )
Nem falso
nem
verdadeiro
( )
Verdadeiro
( )
Totalmente
verdadeiro
2- Quando eu compro um produto eu penso se
ele tem um preço bom.
( )
Totalmente
falso
( )
Falso
( )
Nem falso
nem
verdadeiro
( )
Verdadeiro
( )
Totalmente
verdadeiro
3 – Ter mais do que possuo hoje me faria uma
pessoa mais feliz, independentemente das
conseqüências disso para a natureza.
( )
Totalmente
falso
( )
Falso
( )
Nem falso
nem
verdadeiro
( )
Verdadeiro
( )
Totalmente
verdadeiro
4 Quando eu jogo uma lata de refrigerante
no lixo eu faço isso porque acho que é a
atitude certa e não porque existem multas ou
a reclamação de outras pessoas
( )
Totalmente
falso
( )
Falso
( )
Nem falso
nem
verdadeiro
( )
Verdadeiro
( )
Totalmente
verdadeiro
5 Eu acredito que as pessoas devem
respeitar a vida dos animais e plantas porque
eles são parte da natureza, mesmo que eles
não tenham valor financeiro.
( )
Totalmente
falsa
( )
Falsa
( )
Nem falsa
nem
verdadeira
( )
Verdadeira
( )
Totalmente
verdadeira
99
Questão 4 O consumo humano de produtos e serviços é um dos fatores que mais
colabora para a crise ambiental atual. Tudo o que compramos é feito a partir de
materiais retirados da natureza, que muitas vezes depois de usados são descartados.
Ordene a lista abaixo, colocando 1 para quem você acha que tem mais responsabilidade
em preservar o meio ambiente controlando o consumo, 2 para o que tem a segunda
maior responsabilidade e assim por diante.
___________ Pessoas comuns
___________ Governo
___________ Empresas
___________ ONG`s
Questão 5 Existem algumas propostas para diminuir os impactos que o consumo traz
ao meio ambiente. Marque com um X as cinco melhores propostas para a preservação
do meio ambiente, em sua opinião.
___________ Realização de aulas nas escolas sobre formas de evitar o excesso de consumo.
___________ Existência de acordos entre empresas que poluem mais e poluem menos, fazendo
com que no fim a poluição total não seja tão grande.
___________ Invenção de máquinas cada vez mais modernas para reciclagem de materiais, tais
como plástico e borracha.
___________ Criação de descontos para compra de produtos feitos com matéria prima que não
agrida o meio ambiente.
___________ Desenvolvimento de tecnologias mais avançadas para processamento do lixo nos
aterros sanitários (lixões).
___________ Participação das pessoas em partidos políticos, pressionando pela existência de leis
que regulem o consumo.
___________ Criação de rótulos/selos para os produtos fabricados de maneira ecológica, de
forma que as pessoas possam privilegiar as marcas ambientalmente corretas.
___________
Desenvolvimento de um maior número de tecnologias para controlar a poluição na
fabricação de produtos.
___________ Realização de campanhas que ensinem as pessoas a consumir de forma consciente.
___________ Pagamento de mais impostos por parte das pessoas que consomem mais.
___________ Criação de leis que regulem o nível de consumo das pessoas.
___________ Invenção de produtos que consumam cada vez menos energia.
100
IDENTIFICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
1.- Nome: ______________
2 – Idade: ______________
3 –Cidade em que você reside:
( ) Florianópolis
( ) São José
( ) Palhoça
( ) Outros
3 – Renda familiar estimada:
(soma dos salários dos membros da família + aposentadorias + renda vinda de aluguéis
+ outra fontes de renda)
( ) Até R$ 1.000,00
( ) De R$ 1.000,01 a R$ 3.000,00
( ) De R$ 3.000,01 a R$ 5.000,00
( ) Mais de R$ 5.000,00
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