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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO
RENATA RAMOS GOULART
AS VIAGENS E O TURISMO PELAS LENTES DO DEFICIENTE FÍSICO
PRATICANTE DE ESPORTE ADAPTADO:
um estudo de caso
Caxias do Sul
2007
1
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RENATA RAMOS GOULART
AS VIAGENS E O TURISMO PELAS LENTES DO DEFICIENTE FÍSICO
PRATICANTE DE ESPORTE ADAPTADO:
um estudo de caso
Dissertação de Mestrado submetida à Banca
Examinadora designada pelo Colegiado do Programa
de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de
Caxias do Sul, como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do Título de Mestre em Turismo.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Airton Negrine
Caxias do Sul
2007
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RENATA RAMOS GOULART
AS VIAGENS E O TURISMO PELAS LENTES DO DEFICIENTE FÍSICO
PRATICANTE DE ESPORTE ADAPTADO:
um estudo de caso
Dissertação de Mestrado submetida à Banca
Examinadora designada pelo Colegiado do Programa
de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de
Caxias do Sul, como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do Título de Mestre em Turismo.
Caxias do Sul, 21 de setembro de 2007.
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Airton da Silva Negrine (Orientador)
Universidade de Caxias do Sul
Prof. Dr. Luiz Antonio Rizzon
Universidade de Caxias do Sul
Prof. Dr. Rafael José dos Santos
Universidade de Caxias do Sul
Profa. Dra. Mirian Rejowski
Universidade Anhembi Morumbi
3
AGRADECIMENTOS
Ao grupo de pessoas que constituem o Centro Integrado dos Portadores de Deficiência Física
de Caxias do Sul-RS – CIDeF, por aceitarem participar desta pesquisa.
A Luís Alberto da Silva Pereira, presidente do CIDeF, que, além de colaborar em todas as
instâncias da pesquisa, convidou-me para fazer parte do CIDeF, como técnica esportiva.
A Luciano Comerlato, técnico da equipe masculina de Basquete Sobre Rodas, por estar
sempre disposto a ajudar com informações relevantes sobre o CIDeF.
À Roberta Spader, uma pessoa mais que especial, a quem devo muito por suas inúmeras
contribuições em minha carreira profissional ao longo dos últimos sete anos.
Ao Professor Dr. Airton Negrine, meu orientador, pelo comprometimento de ser o facilitador
do processo em busca do conhecimento científico e pela confiança que depositou no meu
trabalho e na minha formação.
A Carlos Bonone, meu marido, e a Lorenzo G. Bonone, meu filho, por compreenderem e
respeitarem minhas ausências e por estarem comigo nesta etapa tão importante de minha
formação, pois, sem o apoio e o amor dessas pessoas, eu não teria conseguido.
À Maria da Graça, minha mãe, a Renato, meu pai e a Mateus, meu irmão, pelo amor
incondicional que foi fundamental para me dar força nesta caminhada.
À Denize Bonone, minha sogra, pela ajuda que deu a minha família e a mim durante este
período do Mestrado.
Aos amigos Guto, Márcia, Nilton e Braulio, um agradecimento especial por se mostrarem
meus verdadeiros irmãos, em um momento ímpar da minha vida acadêmica e pessoal.
E é claro, a Deus por me acolher nos momentos de angústia e por me dar força para superá-
los.
4
Amanhã será um lindo dia
Da mais louca alegria
Que se possa imaginar
Guilherme Arantes
5
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo descrever e analisar as percepções que os deficientes
físicos que fazem parte do Centro Integrado dos Portadores de Deficiência Física de Caxias
do Sul-RS-Brasil CIDeF apresentam em relação aos destinos visitados. Na condição de
atletas, essas pessoas viajam para competir e, no intervalo dos jogos, no período de folga da
competição, realizam atividades turísticas, além de usufruírem da infra-estrutura destinada à
prática dessas atividades, como transporte rodoviário, transporte aéreo, hospedagem entre
outros. O marco teórico foi elaborado com a intenção de discutir alguns conceitos
relacionados aos portadores de necessidades especiais, o deficiente no contexto social,
apresentando-se o paradigma da inclusão, a criação dos estigmas e as questões de
acessibilidade aos mais diversos lugares. Encaminhou-se, em seguida, para as discussões
referentes à participação dos deficientes físicos nas atividades de lazer e de turismo, e às
relações entre as viagens de turismo esportivo e os portadores de necessidades especiais. A
trajetória metodológica apresenta-se na forma de um estudo etnográfico de corte qualitativo.
Trata-se de um estudo de caso, uma vez que os participantes fazem parte do grupo esportivo,
o CIDeF. Para coleta das informações, utilizaram-se os seguintes instrumentos: análise
documental, observação e entrevista. A descrição das informações levou à estruturação das
seguintes categorias de análise: Perfil dos deficientes físicos estudados; Experiências e
viagens os destinos significativos, e Percepções dos deficientes físicos frente às condições
de acessibilidade. O estudo revelou que os atletas portadores de necessidades especiais, que
fazem parte do CIDeF, percebem que viajar tem fundamental importância para sua qualidade
de vida. As dificuldades encontradas apresentam-se principalmente sob a forma de barreiras
arquitetônicas, mostrando-se como as mais complicadas, na opinião dos participantes da
pesquisa: o difícil acesso aos banheiros nos hotéis e a falta de ônibus rodoviário adaptado.
Palavras-chave: Turismo. Viagem. Deficiência física. Esporte adaptado. Barreiras
arquitetônicas.
6
ABSTRACT
The present study has as objective to describe and analyze the perceptions that the people with
disabilities, those part of the “Centro Integrado dos Portadores de Deficiência Física de
Caxias do Sul-RS-Brasil CIDeF” present in relation to the sites, while in their condition as
athletes, they have been. As they travel to compete, between the games, they act as tourists
and enjoy the infrastructure that is used to make the sports possible like bus, train, lodging
and others. The theoretical base was built with the intention to open the discussion to some
concepts related to the people with disabilities: their context in the society, the problem of
exclusion, the labeling, and the problem of accessibility that these people have to move in the
most different places. Their participation in the leisure activities and tourism, their relation
between the sport tourism travels is also discussed. The methodology presents itself as a study
under ethnographic features, with a qualitative focus. It is a case study, once that the
participants are part of the CIDeF sportive group. To collect information the following
instruments were used: documental analyses, observation and interview. The description, of
the information, made it necessary to create some categories: profile of the disabled people
studied; travels and experiences the signficative places and their perception of the
accessibility conditions. The study revealed that the athletes with disabilities, part of the
CIDeF group, realized that traveling is very important for the quality of life. The found
difficulties were, in their most part, in the form of arquitetures barriers, showing themselves
as the most complicated, in the opinion of the interviewed, are the difficult accesses to the
hotels bathrooms and the lack of a adapted bus.
Key Words: Tourism. Travel. Physical deficiency. Adapted sport. Architectural barriers.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Fotografia dos atletas do CIDeF ............................................................................ 15
Figura 2: Fotografia do embarque no aeroporto de Caxias do Sul para Vitória-ES em agosto
de 2006..................................................................................................................................... 57
Figura 3: Área de transferência à bacia sanitária ou ao bidê ........................................ 72
Figura 4: Perspectiva de sanitário completo .......................................................................... 73
Figura 5: Acessórios sanitários .............................................................................................. 74
Figura 6: Exemplos de sanitários com banho ........................................................................ 75
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Síntese dos instrumentos utilizados ...................................................................... 43
Quadro 2: Síntese do perfil dos participantes do estudo ....................................................... 51
Quadro 3: Participantes com lesão congênita e a freqüência de viagens .............................. 52
Quadro 4: Perfil das pessoas com deficiência no Brasil, de acordo com FGV e a
Fundação Banco do Brasil .......................................................................... 62
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
2 TEMA, FORMULAÇÃO DO PROBLEMA, QUESTÕES DE PESQUISA E
OBJETIVOS DO ESTUDO ................................................................................................. 11
3 CENÁRIO DE ESTUDO ................................................................................................... 15
4 MARCO TEÓRICO .......................................................................................................... 17
4.1 Os portadores de necessidades especiais ....................................................................... 17
4.1.1 O deficiente físico ........................................................................................................... 17
4.1.2 O deficiente no contexto social .............................................. ........................................ 19
4.2 O lazer e o turismo do deficiente físico ......................................................................... 26
4.3 O esporte e o deficiente físico ......................................................................................... 33
5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ................................................................................ 36
5.1 Características da pesquisa............................................................................................. 36
5.2 Aproximação ao grupo de estudo .................................................................................. 36
5.3 Estratégias metodológicas .............................................................................................. 38
5.4 Definição dos Instrumentos de coleta de informação .................................................. 38
5.4 1 Análise documental ........................................................................................................ 39
5.4.2 Observação .................................................................................................................... 39
5.4.3 Entrevista ....................................................................................................................... 40
5. 5 Categorias de análise ..................................................................................................... 42
6 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES ....................................................... 43
6.1 Organização das informações ........................................................................................ 43
6.1.1 A Análise documental ..................................................................................................... 44
6.1.2 As Observações .............................................................................................................. 46
6.1.3 As entrevistas ................................................................................................................. 49
7 DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES .............................................................................. 61
7.1 Perfil dos deficientes físicos estudados .......................................................................... 61
7.2 Experiências e viagens: destinos significativos ............................................................. 65
7.3 Percepções dos deficientes físicos frente as condições de acessibilidade .................... 70
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 78
8.1 Limitações do estudo ....................................................................................................... 78
8.2 Considerações sobre o problema e questões de pesquisa ........................ .................... 79
8.3 Perspectivas de continuidade ................................................... ...................................... 82
8.4 Reflexões pessoais ............................................................................................................ 82
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 84
9
APÊNDICES ...........................................................................................................................88
A – Fotografias dos atletas do CIDeF ............................................................................ 89
B – Roteiro de entrevista Semi-etruturada ................................................................... 90
C – Termo de consentimento .......................................................................................... 91
D – Registro dos instrumentos utilizados ...................................................................... 92
E – Informações a partir dos Informativos de abril a dezembro de 2006 ................ 94
F – Observação realizada ............................................................................................... 95
G – Entrevista realizada ................................................................................................. 96
ANEXOS .............................................................................................................................. 100
A – Estatuto do CIDeF................................................................................................... 101
B – Texto do CIDeF no site da UCS............................................................................. 108
C – Exemplo de Informativo CIDeF ........................................................................... 114
10
1 INTRODUÇÃO
Estabelecer uma relação entre o esporte adaptado e o turismo, apresentou-se como
um desafio interessante, o qual motivou a realização desta pesquisa. Relacionar o tema a
conceitos, listar objetivos, buscar a resolução de uma indagação por meio de instrumentos,
fizeram parte do processo desta investigação científica.
A partir da análise dos capítulos a seguir, apresentam-se algumas interpretações
significativas e procura-se colocar em evidencia as considerações a respeito das viagens e do
turismo para portadores de necessidades especiais deficientes físicos, especificamente as
dos integrantes do: Centro Integrado dos Portadores de Deficiência Física (CIDeF), que tem
como foco, o esporte como indutor da inclusão social.
No próximo capítulo, destacam-se a justificativa da escolha do tema, a formulação
do problema, as questões de pesquisa e os objetivos do estudo.
No terceiro capítulo, apresenta-se a descrição do cenário do estudo, a caracterização
do CIDeF, o perfil dos membros da associação e o local de treinamento.
No marco teórico, que se apresenta no quarto capítulo, discute-se quem é o portador
de necessidades especiais deficiente físico e suas relações no contexto social de acordo com
o paradigma da inclusão. Algumas questões referentes ao lazer, ao turismo e ao esporte do
deficiente físico, também são vistas neste capítulo.
O quinto capítulo descreve a trajetória metodológica da pesquisa, com as
características do estudo, a aproximação ao grupo, as estratégias metodológicas, a definição
dos instrumentos e de coleta de informação, sendo eles: a análise documental, a observação e
a entrevista. As categorias de analise também são inicialmente listadas neste capítulo.
A descrição e análise das informações podem ser vista no sexto capítulo, onde estas
foram organizadas de acordo como instrumento utilizado.
No sétimo capítulo, a discussão das informações é feita, a luz, das categorias de
análise, relacionando-se o que foi encontrado com a coleta de informações com as bases
teóricas já existentes.
No último capítulo, as considerações finais apresentam também as limitações do
estudo, as considerações sobre o problema e questões da pesquisa, as perspectivas de
continuidade e as reflexões pessoais.
11
2 TEMA, FORMULAÇÃO DO PROBLEMA, QUESTÕES DE PESQUISA E
OBJETIVOS DO ESTUDO
Atualmente, o turismo vem se destacando entre as atividades preferenciais de lazer,
fundamentalmente para as camadas mais abastadas da população. Como área de produção de
conhecimento e de investigação no meio acadêmico, o turismo, no Brasil, ainda é recente
quando comparado a outras áreas de conhecimento com tradição científica.
A escolha do tema de pesquisa é uma tarefa difícil, antecede a formulação do
problema e costuma vincular-se à trajetória e às motivações daquele que pesquisa. O tema
desta investigação situa-se no âmbito do Esporte Adaptado e Turismo para portadores de
necessidades especiais, embora, no Brasil, ainda sejam de pouca mostra os estudos de turismo
voltados a esse segmento social.
O esporte adaptado, como tema, é um fragmento de um tema maior que engloba
portadores de necessidades especiais. Estudos de turismo com esse segmento social são ainda
restritos no contexto brasileiro. Isso não significa que se deve abandonar a perspectiva de
realizar estudos científicos, ao contrário, foi o foco motivador para definir a temática de
estudo.
A expressão portadores de necessidades especiais costuma ser aplicada a todos os
portadores de deficiências, sejam elas físicas, mentais, perceptivas ou múltiplas. Sabe-se que
cada deficiência tem suas peculiaridades e complexidades. Para estudá-las, é fundamental
particularizar o segmento que se vai estudar, para melhor compreender o fenômeno. Por
exemplo: estudar deficientes visuais requer um olhar diferenciado quando comparado a um
estudo sobre deficiência física, embora exista esportes adaptados aos deficientes visuais. O
que se quer acentuar é que o grupo de deficientes, foco deste estudo, é um grupo de pessoas
dos gêneros masculino e feminino, portadores de deficiência física, que praticam basquetebol
em cadeiras de rodas.
O esporte é um dos meios eficazes de integração e reintegração social, e serve como
elemento desencadeador de promoção da saúde, fundamentalmente, quando praticado por
pessoas portadoras de deficiência física, que compromete a locomoção, como é o caso do
grupo estudado.
O deficiente físico com dificuldade de deslocamento encontra, no cotidiano,
diferentes barreiras, desde o uso do transporte público até a falta de uma infra-estrutura
arquitetônica nas cidades, que permita seus deslocamentos com mais independência. Por
12
exemplo: passeios adequados para transitarem com cadeiras de roda e/ou banheiros públicos
adaptados.
Proclama-se o respeito à diversidade cultural, mas nem sempre com um olhar
diferenciado para perceber as diferenças e as minorias que, por problemas circunstanciais,
perdem suas potencialidades decorrentes de moléstias, doenças, acidentes e/ou síndromes,
como é o caso de grande parte dos deficientes físicos com dificuldades de locomoção bi-
pedal.
As reflexões preliminares objetivam focar a discussão quanto à inclusão e à
acessibilidade do deficiente físico aos programas turísticos, que, no Brasil, o turismo
inclusivo apresenta um potencial indiscutível. Por outro lado, constata-se que o esporte
adaptado vem crescendo a passos largos e, por extensão, suas vinculações com o turismo.
O esporte adaptado a cada dia vem ganhando destaque na mídia internacional e
nacional, tanto que, após grandes eventos esportivos, costumam ocorrer jogos para os
portadores de deficiências, que inclusive possuem denominações próprias, como Jogos
Paraolímpicos e Jogos Parapan-americanos.
A realização desses jogos pressupõe viagens, deslocamentos e hospedagens. Tudo
isso tem uma resultante no fomento da atividade turística. O que se quer investigar é como o
portador de deficiência física que participa de equipe de esporte adaptado, percebe as
condições de acessibilidade nos lugares por onde transita.
Acredita-se ser relevante que se discuta, a partir de estudos de cunho científico, as
relações sociais desse segmento social com aqueles que promovem e agenciam o turismo
decorrente do esporte adaptado. Dessa forma, o estudo pretende contribuir para a tomada de
ações práticas e efetivas que venham a contribuir para melhorar a inclusão e a acessibilidade
dos portadores de deficiência física.
Sabe-se que existe uma parcela de deficientes físicos ativa na sociedade; eles
trabalham, estudam, têm família. Também dispõem de tempo livre para ser ocupado com
atividades de lazer. Esse é um direito universal de todos os seres humanos. O turismo, no
momento atual, cada vez mais é uma alternativa de lazer que as pessoas buscam para desfrutar
o tempo livre.
Logo, o turismo se constitui em uma alternativa de lazer, com diferentes
representações significativas para as pessoas que o elegem. O deficiente físico que participa
de equipes de esportes adaptados, acaba sendo turista, uma vez que as viagens e os
deslocamentos fazem parte das práticas esportivas. Convém saber deles com quais facilidades
13
e dificuldades se deparam, por serem elementos relevantes aos gestores de turismo e para
aqueles que promovem esportes adaptados.
A fim de delimitar o campo de estudo, a população da investigação é um grupo de
deficientes sicos do Centro Integrado dos Portadores de Deficiência Física (CIDeF), que
desenvolve atividades esportivas com o apoio da Universidade de Caxias do Sul UCS e da
Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. O grupo está estruturado desde 1996, e até a realização
desta pesquisa, contava com a participação de vinte e cinco (25) atletas, distribuídos nas
seguintes modalidades esportivas: basquetebol, tiro, luta de braço, levantamento de peso, tênis
de mesa e canoagem, embora alguns poucos pratiquem mais de uma atividade.
Esse grupo por participar de diversas competições em nível regional, nacional e
internacional, realiza viagens constantes. Devido a tal circunstância, costumam, nos períodos
em que não estão competindo, realizar passeios nos destinos em que têm a oportunidade de
conhecer.
Lê-se, num texto do CIDeF a seguinte afirmativa:
O esporte adaptado é o melhor meio para fazer com que a pessoa portadora de
deficiência saia de casa, conquiste independência, conheça novos lugares e acima de
tudo seja mais feliz. Mesmo em uma cadeira de rodas ou usando muletas a pessoa
deve saber que ela tem potencial para praticar um esporte e nele poder dar o melhor
de si em iguais condições que seus companheiros. (2005)
Refletindo sobre essa afirmação pode-se deduzir que o esporte pode ser um indutor
de turismo, no momento em que a pessoa portadora de deficiência sica adquire autonomia e
pode viajar sozinha, por exemplo. Portanto, a escolha por estudar os portadores de deficiência
física, praticantes de esporte adaptado foi um desafio, que esse cenário esportivo mostra-se
fértil e é capaz de trazer contribuições significativas aos estudos em turismo.
Portanto, o cenário de estudo é o grupo de deficientes físicos que pratica esportes no
CIDeF, e a indagação principal que se propõe a responder é a seguinte:
Como os atletas do CIDeF percebem as condições de acessibilidade com as quais
se deparam em suas viagens?
Os atletas do CIDeF são todos portadores de deficiência física, mais especificamente,
portadores de paraplegia; de amputações dos segmentos inferiores (pernas) e de seqüelas de
poliomelite e mielomeningocele.
As viagens, como variáveis, devem ser entendidas tanto aquelas que os participantes
realizam com finalidade de passeio, quanto as realizadas para competir pela UCS.
14
As condições de acessibilidade se referem às facilidades e dificuldades encontradas
para locomoção, hospedagem e alimentação de forma independente.
Com a finalidade de responder à indagação principal da investigação, formularam-se
as seguintes questões de pesquisa:
Questão 1: Quais são as motivações e experiências turísticas das pessoas que fazem
parte do grupo do CIDeF?
Questão 2: Quais as condições de acessibilidade, no que se refere ao transporte e à
hospedagem, segundo a opinião dos participantes da pesquisa?
Questão 3: Quais as condições de acessibilidade, no que se refere aos complexos
esportivos nos quais transitam os atletas participantes da pesquisa?
Tendo como norte o problema e as questões de pesquisa, o estudo teve como
propósito os seguintes objetivos:
Descrever o perfil dos participantes do estudo, identificando o tipo de deficiência
física da qual são portadores;
Descrever e analisar percepções dos deficientes físicos que fazem parte do grupo
do CIDeF, em relação aos destinos visitados;
Identificar os motivos das viagens, as facilidades e dificuldades encontradas face
à deficiência da qual são portadores;
Destacar questões pertinentes à infra-estrutura dos complexos esportivos para
portadores de deficiência física.
Considerando a abrangência da pesquisa, trata-se de um estudo de caso, uma vez que
os resultados obtidos referem-se particularmente às opiniões dos atletas que fazem parte do
CIDeF e não dos deficientes físicos em geral.
15
3 CENÁRIO DE ESTUDO
O cenário do estudo é o Centro Integrado dos Portadores de Deficiência Física
CIDeF, uma associação da qual fazem parte deficientes físicos que praticam esportes
adaptados, como o basquetebol em cadeira de rodas (equipe masculina e feminina), a
canoagem, tênis de mesa e a luta de braço.
Na figura 1, vê-se a equipe de basquetebol sobre rodas masculina na quadra onde
desenvolve treinamentos, no Ginásio Poliesportivo da Universidade de Caxias do Sul.
Figura 1: Fotografia dos atletas do CIDeF
Fonte: Site da UCS, www.ucs.br
O CIDeF realiza suas atividades esportivas no Ginásio Poliesportivo do complexo
esportivo da Universidade de Caxias do Sul, uma vez que uma parceria entre a associação
e a Universidade, que tem como propósito incentivar o paradesporto. A UCS é a principal
apoiadora da entidade, pois, além de disponibilizar espaço físico para treinos, também auxilia
como patrocinadora da equipe, cobrindo gastos com viagens e materiais diversos, como
fardamentos, cadeiras de jogo e bolas de basquetebol.
16
Até março de 2007, o CIDeF não tinha uma sede, local para guardar equipamentos e
documentos. A partir dessa data, a UCS disponibilizou uma sala no mesmo ginásio em que
ocorrem os treinos da equipe, para que a associação faça uso. Além do apoio da UCS, a
entidade conta também com o apoio da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul.
No ano de 2006, momento da coleta de informações à pesquisa, o CIDeF contava
com a participação de 25 portadores de deficiência física. No ano de 2007, até o mês de
junho, 45 portadores de deficiência física fazem parte do projeto esportivo adaptado. O centro
tem, como objetivo, estimular a prática do esporte para pessoas portadoras de deficiência
física e ampliar a integração social dos deficientes físicos à sociedade. Objetiva também, por
meio das atividades que desenvolve, melhorar a capacidade física dos participantes,
contribuindo dessa forma para a melhoria da qualidade de vida.
O ideário do CIDeF preconiza que o esporte adaptado é um meio eficaz para que o
deficiente físico adquira e/ou readquira independência; amplie seu círculo de amizades;
melhore a saúde; conheça novos lugares e se integre à sociedade.
No Apêndice A, podem ser vistas mais fotos dos integrantes do CIDeF nos locais de
treino e competições.
17
4 MARCO TEÓRICO
4.1 Os portadores de necessidades especiais
De acordo com Sassaki entende-se que a expressão portadores de necessidades
especiais, dentro do paradigma da inclusão social, pode ser entendida como:
pessoas que, em caráter temporário, intermitente ou permanente, possuem
necessidades especiais decorrentes de sua condição atípica e que, por essa razão,
estão enfrentando barreiras para tomar parte ativa na sociedade com oportunidades
iguais às da maioria da população. Além de necessidades especiais, pessoas têm, é
claro, necessidades comuns a todo ser humano. (1997, p.15)
Por ser uma expressão genérica, ou seja, por fazer referência a qualquer pessoa que
apresenta uma condição atípica, podendo ser uma gestante; uma pessoa com muletas, por
estar se recuperando de uma cirurgia ortopédica; uma pessoa acometida por uma doença
degenerativa, que a levou a se locomover em uma cadeira de rodas; deficientes mentais,
sensoriais ou físicos; diabéticos, cardiopatas, todas essas pessoas se incluem no grupo de
portadores de necessidades especiais, por necessitarem de uma atenção diferenciada, pois
enfrentam barreiras sociais que limitam suas ações.
Destaca-se que, o foco deste estudo é o portador de necessidades especiais - deficiente
físico. Nesse segmento do texto, serão apresentados os termos que estão diretamente ligados
ao conceito de deficiente físico no contexto social, abordando as barreiras, a acessibilidade, o
modelo médico, entre outros.
4.1.1 O deficiente físico
O termo deficiente físico caracteriza as pessoas que apresentam limitações
osteomusculares ou neurológicas, de causas congênitas ou adquiridas, que afetam a estrutura
ou a função do corpo, interferindo na motricidade e que, geralmente, necessitam de
equipamentos como cadeiras de rodas, muletas e bengalas para facilitar sua locomoção.
Fávero (2004, p. 30), sustenta que a deficiência sica traduz-se como alteração
completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, tendo como conseqüência o
18
comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia,
monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,
hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com
deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam
dificuldades para o desempenho de funções. Algumas dessas limitações podem ser assim
especificadas:
a) Paraplegia: perda total das funções motoras dos membros inferiores;
b) Paraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores;
c) Monoplegia: perda total das funções motoras de um membro (podendo ser
membro superior ou inferior);
d) Monoparesia: perda parcial das funções motoras de um membro (podendo ser
membro superior ou inferior);
e) Tetraplegia: perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores;
f) Tetraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e
superiores;
g) Triplegia: perda total das funções motoras em três membros;
h) Triparesia: perda parcial das funções motoras em três membros;
i) Hemiplegia: perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito
ou esquerdo);
j) Hemiparesia: perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo
(direito ou esquerdo);
k) Amputação: perda total de determinado segmento de um membro (superior ou
inferior);
l) Paralisia cerebral: lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo
como conseqüência alterações psicomotoras, podendo ou não causar deficiência
mental.
De acordo com o tipo de equipamento que utilizam para locomoção, os deficientes
físicos podem ser classificados como:
a) Cadeirante: pessoa portadora de deficiência física que utiliza cadeira de rodas para
se locomover e para praticar esportes como, por exemplo, o basquetebol em
cadeira de rodas;
b) Andante: pessoa portadora de deficiência física que necessita de muletas ou
bengalas para sua locomoção. Geralmente, essas pessoas apresentam um
comprometimento menor de suas funções motoras, e o uso desses equipamentos
19
permite que elas se locomovam com independência. Entretanto, deficientes
físicos, que necessitam de muletas ou bengalas para se locomover e que utilizam
cadeiras de rodas para praticar algum esporte. Isso significa que os atletas de uma
equipe de basquetebol em cadeira de rodas são cadeirantes conforme definição
utilizada.
4.1.2 O deficiente no contexto social
Segundo dados do Censo Demográfico de 2000, aproximadamente 24,6 milhões
de pessoas portadoras de alguma deficiência no Brasil, representando 14,5% da população
brasileira. Não há, porém, uma classificação específica quanto aos tipos de deficiência e
níveis de comprometimento, ou seja, informações que realmente retratem a população
nacional com referência à deficiência.
Mesmo assim, tais estimativas servem para demonstrar a amplitude da situação.
Além disso, pretende-se apresentar neste estudo as peculiaridades qualitativas, que, segundo
Negrine (2002), destacam-se nos fenômenos e processos do estudo da deficiência, não
ressaltando apenas as limitações ou os aspectos negativos da deficiência, mas as
potencialidades que qualquer pessoa deficiente pode desenvolver em benefício próprio e até
mesmo da sociedade em que está inserida.
De acordo com Ribas, existem três tipos de deficiência:
[...] as deficiências físicas (de origem motora: amputações, malformações ou
seqüelas de vários tipos), as deficiências sensoriais, que se dividem em deficiências
auditiva (surdez total ou parcial) e visuais (cegueira também total ou parcial) e
deficiências mentais (de vários graus, de origem pré, peri ou pós-natal). (1994, p26)
Cada deficiência tem sua particularidade e especificidade, no que se refere à questão
da origem e demais complicações acarretadas em conseqüência dela. casos também de
deficiências múltiplas, em que a pessoa apresenta mais de um tipo de deficiência, mas cabe
deixar claro que isso não é regra, ou seja, o deficiente físico o é necessariamente um
deficiente mental e vice-versa.
Após identificar quem é o deficiente físico, procura-se verificar de que forma a
sociedade vem acolhendo esse cidadão, de acordo com as concepções e paradigmas sociais
20
apresentados. Na relação entre deficientes e sociedade, destaca-se que dois grandes
paradigmas podem ser percebidos: o paradigma da integração e o paradigma da inclusão.
De acordo com o pensamento inclusivista, o paradigma da integração é considerado
ultrapassaoa. Por esse paradigma, segundo Sassaki (1997, p. 30), a sociedade continua
basicamente a mesma em suas estruturas e nos serviços oferecidos, cabendo às pessoas com
deficiência serem capazes de adaptar-se à sociedade. Isso porque a sociedade foi organizada
somente para atender as pessoas sem deficiência e, portanto, quem é deficiente, se quiser ser
aceito, deve então se enquadrar ao modelo já existente, buscando, de uma maneira ou de outra
,adaptar-se, procurando cura para seu problema.
A partir dessa concepção de cura, Sassaki (1997, p. 28) apresenta que tal idéia parte
de um modelo médico, em que os deficientes são expostos à discriminação, pois são
freqüentemente declarados doentes, que dependem dos saudáveis e que, portanto, levam a
vida inutilmente.
Observa-se que o modelo médico ainda se apresenta em nosso meio social, pois a
palavra do médico é acatada como verdade absoluta e de difícil contestação. Geralmente, os
médicos dizem que determinada deficiência e seus comprometimentos são irreversíveis,
restando apenas esperar pelo inevitável. Tal atitude faz com que a família do deficiente
desacredite dele e, principalmente, ele próprio passe a não acreditar em si, o que acarreta uma
acomodação. Isso o induz a nada fazer para mudar sua situação.
Porém, esse paradigma es sendo superado, mesmo que paulatinamente. Os
deficientes, com o apoio de alguns membros da sociedade, estão mostrando que o modelo
médico definidor do paradigma da integração não representa a verdadeira imagem do
deficiente, e que este, mesmo possuindo uma limitação, não pode ser classificado como
doente ou inválido.
Segundo Padilha, ao discutir sobre os modos de olhar para o deficiente, na tentativa
de superar o modelo médico, destaca:
mais importante que reconhecer a deficiência, compreender o desenvolvimento
humano, ‘sem deter-se apenas na natureza dos processos patológicos’; compreender
como as pessoas enfrentam as suas dificuldades, como dominam a deficiência, como
utilizam suas forças. (2001, p33)
Em outras palavras, significa que não se deve reconhecer o deficiente apenas pela
sua limitação, mas valorizar suas potencialidades e respeitar seus direitos como cidadãos.
Sabe-se que, se a eles forem oferecidas oportunidades, conseguirão superar sua limitação e
poderão usufruir de uma vida normal, sem grande dependência de outras pessoas.
21
Para superar a concepção da integração, almeja-se o paradigma da inclusão, em que
não mais o indivíduo portador de necessidades especiais deve adaptar-se à sociedade,
buscando uma cura ou simplesmente se acomodando por sua condição. Na inclusão, é a
sociedade que deve se adaptar aos cidadãos, como diz Sassaki:
A sociedade torna-se um lugar viável para a convivência entre todas as pessoas, de
todos os tipos e condições na execução de seus direitos, necessidades e
potencialidades. Nesse sentido, os adeptos e defensores da inclusão, chamados de
inclusivistas, estão trabalhando para mudar a sociedade, a estrutura dos seus
sistemas sociais comuns, suas atitudes, os seus produtos e bens, a sua tecnologia, em
todos os aspectos: educação, trabalhos, saúde, lazer, mídia, cultura, esporte, turismo,
transporte, etc. (1997, p.41)
Nota-se que a configuração ideal desse paradigma é muito difícil. É complicado
mudar comportamentos estruturados, mas, sem essa atitude, a sociedade vai continuar
medíocre e egoísta, que valoriza apenas os perfeitos. Uma questão que se apresenta é: será
que a sociedade está preparada para receber o deficiente em seus sistemas sociais comuns,
como no turismo, por exemplo? O principal passo que a sociedade pode dar é na organização
de ações concretas e efetivas que visem a amenizar as barreiras que limitam à inclusão social
dos portadores de necessidades especiais aos diferentes sistemas sociais.
Ainda no modelo social vigente, Sassaki relata que,
pelo modelo social da deficiência, os problemas da pessoa com necessidades
especiais não estão nela tanto quanto estão na sociedade. Assim, a sociedade é
chamada a ver que ela cria problemas para as pessoas portadoras de necessidades
especiais, causando-lhes incapacidades (ou desvantagem) no desempenho de papéis
sociais em virtude de: seus ambientes restritivos, suas políticas discriminatórias e
suas atitudes preconceituosas que rejeitam a minoria e todas as formas de diferenças,
seus discutíveis padrões de normalidade, seus objetos e outros bens inacessíveis do
ponto de vista físico, seus pré-requisitos atingíveis apenas pela maioria
aparentemente homogênea, sua quase total desinformação sobre necessidades
especiais e sobre direitos das pessoas que têm essas necessidades, suas práticas
discriminatórias em muitos setores da atividade humana. (1997, p. 41)
Por esse modelo de visão social ao portador de necessidades especiais, em uma
sociedade que se caracteriza como pós-moderna, é paradoxal manter um pensamento
discriminatório e com valores ultrapassados. A partir do momento em que a sociedade acolher
o deficiente, como ser integrante e com direitos, a formação dos estigmas poderá, inclusive,
ser amenizada.
Estigmatizada é toda pessoa considerada fora das normas e das regras estabelecidas.
Ribas (1998, p. 16) destaca que é importante perceber que o estigma não está na pessoa
deficiente, mas nos valores determinados pela sociedade. Complementando, Goffman (1982
apud SILVA 2002, p. 26) diz que a pessoa estigmatizada sente aquilo que dizem dela,
22
internalizando como uma verdade os modelos apresentados, tendo atitudes de compensação
diante dos outros que vão desde inventar histórias, apoiar-se em seus fracassos ou buscar a
constante e doentia superação no trabalho em atividades consideradas impossíveis diante de
sua real condição.
Destaca-se ainda que a sociedade insiste em permanecer inflexível, atribuindo as
mesmas obrigações para um deficiente, como se fosse uma pessoa não-deficiente. (ADAMS
et al., 1985, p. 1).
Pelo que foi apresentado até agora, destaca-se a dificuldade em definir e descrever
claramente o papel dos deficientes na sociedade. É confortante para muitos, inclusive para o
Estado, atender o deficiente com um paternalismo caritativo. Políticas públicas mais recentes,
contudo, fundamentadas em declarações e recomendações mundiais como a Lei Norte-
Americana para Portadores de Deficiências (ADA) (1990), a Declaração de Salamanca
(1994), a Carta para o Terceiro Milênio (1999), a Classificação Internacional de
Funcionamento, Deficiência e Saúde, a Declaração de Washington (1999), a Declaração de
Caracas (2002) (SASSAKI, 2005) procuram intervir de forma significativa para a
modificação do paradigma anteriormente apresentado.
Alguns exemplos positivos de acessibilidade, vistos em países desenvolvidos, são
realidade como nos apresenta Conte (2005), na Nova Zelândia, onde nas escolas observam-se
diversos deficientes sicos em cadeira de rodas. Na estrutura dos estabelecimentos escolares,
rampas em todos os blocos, as quais dão acesso às salas de aula. Os alunos têm também
um programa para as aulas de Educação Física e há também alunos deficientes visuais sempre
acompanhados de cão-guia.
Nota-se que, nesse caso, trata-se de um país desenvolvido, onde as pessoas possuem
um padrão de vida razoável, mas o exemplo serve para mostrar que a acessibilidade é
possível, desde que haja principalmente interesse e conseqüentemente ões para concretizá-
la.
As questões de acessibilidade, assim como as relacionadas à educação, também são
polêmicas no que tange a sua execução nos mais diferentes setores sociais, como habitação,
saúde (reabilitação), transporte, trabalho, cultura, desporto, lazer e turismo. O termo
acessibilidade começou a ser utilizado recentemente, surgindo dos serviços de reabilitação
física e profissional. De acordo com Sassaki (2005), na década de 1980, motivados pela
pressão do Ano Internacional das Pessoas Deficientes em 1981, grupos de deficientes
desenvolveram campanhas mundiais para alertar a sociedade a respeito das barreiras
arquitetônicas e exigir, não apenas a eliminação do desenho adaptável, e sim a não-inserção
23
de barreiras nos projetos arquitetônicos, o projeto deveria seguir o padrão do desenho
universal ou acessível. Neste último, os projetos devem ser desenhados para todos e, portanto,
não apenas para a pessoa deficiente.
Observa-se, porém, que muitos aspectos, pelo menos no Brasil, não foram corrigidos,
e as mudanças ainda são sutis. Algumas tentativas do Governo Federal em garantir o
desenvolvimento do desenho universal, apresentam-se no Decreto Federal 5296/2004 a
seguir:
Art. 8°. Para fins de acessibilidade, considera-se:
I Acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou
assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos
serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e
informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;
II Barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a
liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de se
comunicarem ou terem acesso à informação.
[...]
IX Desenho universal: concepção de espaços, artefatos e produtos que visam
atender simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características
antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-
se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade. (BRASIL, 2004)
Ao especificar e explicar termos, como acessibilidade, barreiras e desenho universal
em um decreto federal, dever-se-ia dar condições para que ele fosse aplicado em todo o
Território Nacional, no que se refere aos produtos e serviços que são oferecidos à população;
no entanto, isso não acontece.
O conceito de desenho universal foi criado por uma comissão em Washington, EUA,
em 1963, e era inicialmente chamado “Desenho Livre de Barreiras”, por ter seu enfoque na
eliminação das barreiras arquitetônicas em projetos de edifícios, equipamentos e áreas
urbanas. (Guia de acessibilidade em edificações, publicado pela Comissão Permanente de
Acessibilidade – CPA da Secretaria da Habitação e de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura
de São Paulo – SEHAB, 2002)
No Brasil, além da legislação, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT,
apresenta uma regulamentação para a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência. Na
coletânea de normas, é possível encontrar a normatização para os seguintes casos:
NBR 9050:1994 Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a
edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos.
NBR 13994:2000 Elevadores de passageiros Elevadores para transporte de
pessoa portadora de deficiência.
24
NBR 14020:1997 – Transporte – Acessibilidade à pessoa portadora de
deficiência – Trem de longo percurso.
NBR 14021:1997 – Transporte – Acessibilidade à pessoa portadora de
deficiência – Trem metropolitano.
NBR 14022:1997 – Transporte – Acessibilidade à pessoa portadora de
deficiência em ônibus e trólebus, para atendimento urbano e intermunicipal.
NBR 14273:1999 Acessibilidade da pessoa portadora de deficiência no
transporte aéreo comercial.
Os objetivos dessas normas são fixar os padrões e critérios que visam a proporcionar
às pessoas portadoras de deficiência condições adequadas e seguras de acessibilidade
autônoma, atendendo aos preceitos do desenho universal.
Outra tentativa que busca uma regulamentação nacional, quanto aos direitos dos
portadores de necessidades especiais, é o Projeto de Lei do Senado, n. 6 de 2003, do Senador
Paulo Paim, que institui o Estatuto do Portador de Deficiência. Esse documento ainda está
tramitando no Congresso Nacional. Segundo o Senador Paulo Paim, a lei vem para atender a
uma demanda da sociedade. O objetivo é assegurar uma legislação moderna, a exemplo do
Estatuto do Idoso. (BAHIA, 2005, p. 22).
O Estatuto do Portador de Deficiência, dentre seus objetivos, no art. 6°, destaca “a
garantia de acesso, ingresso e permanência em todos os serviços públicos e privados de que
necessite oferecido à comunidade”. (BRASIL, 2003). Prevê ainda as regulamentações de
acesso, inclusive ao turismo e ao lazer, destacando o último como forma de promoção social.
Como dito anteriormente, além de leis, decretos e projetos, que nos documentos
oficiais são muito claros na questão da acessibilidade e da inclusão, destaca-se a importância
de transformar as intenções em ações práticas. Estas pouco podem ser observadas no contexto
em que estamos inseridos. A questão que se coloca é: os portadores de deficiência têm
conhecimento de seus direitos?
Retomando as considerações quanto à acessibilidade, leva-se a refletir sobre a
superação das barreiras. Como dito anteriormente, as barreiras apresentam-se como
limitações, e sua superação é que determina a acessibilidade.
25
Segundo Aguirre et al., podemos compreender essa relação da seguinte forma:
É certo que, na maior parte dos casos, a participação social das pessoas portadoras
de necessidades especiais se obstaculizada por barreiras físicas, legais e também
por aquelas de tipo moral. Suprimir as barreiras existentes e evitá-las no futuro é
uma tarefa difícil, mas possível. Sua aplicação não é tarefa que possa ser realizada
num prazo curto e nem depende apenas dos poderes públicos, da sociedade civil ou
dos interessados, tem que ser um trabalho continuado e compartilhado. (2003, p. 40-
41
Em função dessa superação de barreiras, esses mesmos autores ainda nos apresentam
as quatro frentes que a sociedade deve assumir de forma efetiva, a fim de rever seus
paradigmas com relação às pessoas portadoras de necessidades especiais, que têm direito de
usufruir de todos os benefícios sociais, como o turismo e o lazer por exemplo, sejam eles na
forma de produtos ou serviços:
Acessibilidade ao meio sico: implica suprimir barreiras urbanísticas,
arquitetônicas e de transporte, reconhecendo claramente a necessidade que todos
os indivíduos têm de se movimentar;
Acessibilidade à educação: contribuir para o desenvolvimento das pessoas e que,
por definição, são todas educáveis. Pode ser total ou parcial, segundo cada caso;
Acessibilidade ao trabalho: aparece como um dos mecanismos integradores mais
eficazes, por ser considerado como o mais necessário para a independência das
pessoas. Altamente desejável, pois, por meio do trabalho, essas pessoas têm
acesso aos meios propícios para seu sustento;
Acessibilidade à vida social: evidencia aspectos menos visíveis, mas que são
transcendentes para o desenvolvimento e a dignidade da pessoa, tais como:
família, convivência no bairro, atividades culturais e recreativas, assim como a
formação dos mais variados tipos de vínculo inerentes a cada uma.
Evidencia-se então a idéia de que a sociedade deve apresentar condições de
acessibilidade aos mais variados segmentos sociais. Educação e trabalho, lazer e, por
conseqüência, turismo, devem fazer parte dessa frente de pensamento inclusivo, pois, tendo
acesso a esses segmentos, os momentos de lazer também tornar-se-ão rotina a um portador de
necessidades especiais, que apresenta os mesmos desejos que os demais integrantes da
sociedade.
Considerando que a qualidade de vida das pessoas, cada vez mais, está associada ao
tempo e ao direito de lazer, no próximo segmento discutem-se as implicações do lazer e do
turismo do deficiente.
26
4.2 O lazer e o turismo do deficiente físico
Com base nas idéias de que o deficiente apresenta-se como indivíduo integrante da
sociedade, entendendo-se que seus desejos e necessidades são comuns como os de qualquer
outra pessoa, discute-se o direito ao lazer e, conseqüentemente, à prática do turismo, principal
foco desta pesquisa.
Atividades de lazer são aquelas que se estruturam no tempo livre, em que algo
prazeroso é realizado. Tais atividades estão presentes em no dia-a-dia e se manifestam em
ações e comportamentos, em diferentes situações, podendo ser: a leitura de um livro, a
participação em um jogo, uma viagem com a família ou amigos, etc. Ou seja, pode-se realizar
uma série de atividades, desde que se sinta prazer ao praticá-las, e que essas atividades, de
certa forma, tenham uma representação significativa para a vida como um todo, sejam elas
praticadas por uma criança, por um adulto, por pessoas com ou sem deficiência.
No caso dos adultos, segundo Negrine, Bradacz e Carvalho (2001, p. 40), sua
capacidade lúdica está diretamente relacionada à pré-história de vida, é antes de tudo um
estado de espírito, relacionado à cultura do corpo, fazendo parte da apropriação de uma
conduta do indivíduo, frente ao seu modo de vida.
Então, o ser humano, apresentando uma história de vivências lúdicas desde sua
infância, continuará sentindo necessidade de prazer em realizar atividades que atendam as
suas expectativas, no que se refere aos momentos de lazer.
A questão da capacidade lúdica também se aplica ao adulto deficiente, indivíduo que
caracteriza o principal elemento analisado neste estudo. Com base no que foi discutido
anteriormente, no que tange às questões sociais do deficiente, entende-se que, por sua
condição social, apresenta-se com direito irrestrito ao lazer e, conseqüentemente, ao turismo,
como alternativa de uma vivência lúdica acessível.
Relacionado às questões de lazer dos deficientes, apresenta-se um estudo realizado
por Raposo e López (2002), que cita as concepções de lazer em portadores de lesão medular,
bem como suas principais preferências com relação às atividades. As informações foram
obtidas por meio de entrevista e análise de prontuário médico. Os principais resultados foram:
Constatação de que o conceito de lazer distribui-se em cinco categorias 50%
diversão, 20% descanso, 25% fazer o que gosta, 11% associação ao termo
acessibilidade e 4% não têm conceito;
27
Conclusão de que 75% dos portadores apresentam um conceito de lazer, por
grupo de interesse. Destacam-se o artístico, o intelectual, o esportivo, o manual,
o turístico e o social. A prevalência foi para as atividades manuais 87%, as
sociais 78% e as de turismo: 60%;
Também a percepção de que a maior opção por atividades manuais dá-se pela
condição de estarem em cadeira de rodas. As atividades, como pequenos
consertos, artesanato e jardinagem são relacionados à vida diária normal, como
uma rotina. Nas atividades sociais, demonstram que gostam de sair, ir a festas e
bares. As atividades não ocorrem com freqüência em função das barreiras
arquitetônicas e de existirem preconceitos sociais. No entanto, gostam muito
desse tipo de atividade. Com relação ao turismo, viajar implica transporte,
hospedagem, entre outros aspectos. As opções por passeio curto ou viagem à
casa de parentes foram as mais citadas.
Observa-se nessa pesquisa que as pessoas portadoras de lesão medular apresentam
gosto pelo lazer e que, devido às muitas barreiras e dificuldades encontradas, contentam-se
em realizar atividades simples.
Independentemente de o deficiente realizar atividades práticas ou contemplativas,
estas devem ser apresentadas com qualidade, visando à satisfação plena de quem as realiza.
Ao buscar uma compreensão do significado da palavra lazer, Marcellino, apresenta
que “trata-se de um termo carregado de preferências e juízos de valor.” (2003, p. 19-20) Nota-
se que a concepção apresentada pelas pessoas quanto ao lazer pode variar de acordo com suas
preferências ou com o que a própria sociedade apresenta como o ideal para a sua realização,
inclusive dos que possuem o direito de usufruir de seus benefícios quanto a sua prática, o que
deveria ser realizada sem barreiras ou pelo menos, com o mínimo delas. O autor destaca ainda
que
a palavra “lazer” faz parte do vocabulário técnico e científico muito tempo. A
novidade fica por conta do seu uso no nível corrente ou comum, onde as palavras
são dotadas de significados imediatos. Está ligada assim, à relação do homem com a
realidade experimentada. Sua incorporação se deu a partir de situações vivenciadas
ou desejadas e sua utilização nada mais é que a objetivação dessas experiências.
Vale observar que a palavra tem valor instrumental para exprimir um significado.
Assim, as pessoas abstraem o sentido daquilo que está próximo das suas
necessidades e desejos fundamentais, ou seja, que lhes é significativo, passando a
utilizar símbolos que os expressem. (2003, p. 20)
Nessa idéia, uma pessoa só é capaz de atribuir significado a uma palavra se essa for
relevante em sua vivência, como, neste caso, o lazer. Quem teve pouca ou praticamente
nenhuma oportunidade de lazer não é capaz de enumerá-lo como relevante em sua prática
28
diária ou mesmo semanal. Com relação aos portadores de necessidades especiais, isso é mais
complicado ainda, pois, sendo adultos, mesmo em uma época de transição de paradigmas,
vieram de um diagnóstico médico que restringia suas funções, e muitas atividades, mesmo
inofensivas, eram proibidas. Essa atitude, com certeza, refletiu-se na sua concepção de lazer e
de seu valor para sua qualidade de vida.
Se o paradigma está mudando, comportamentos e ações também devem estar. Com a
intenção de verificar o que as políticas públicas nacionais têm feito, buscaram-se, inicialmente
em alguns documentos oficiais, as normas que asseguram a acessibilidade do deficiente a
situações de lazer e turismo, o que deveria de certa maneira favorecer então seu acesso mais
efetivo.
Viu-se que, a partir da Constituição Federal de 1998 que consagra o lazer como um
dos direitos de todos os brasileiros, foi organizado pela EMBRATUR um manual de
acessibilidade para pessoas portadoras de deficiência a empreendimentos e equipamentos
turísticos. O manual destaca o turismo como uma dessas atividades de lazer.
O presente manual preocupa-se em criar parâmetros de acesso ao portador de
deficiência não só ao hotel, mas aos locais turísticos em geral, sugerindo adaptações,
como rampas, patamares, portas e sinalizações especiais, que garantam a circulação
e o acesso, interno e externo, a apartamentos, banheiros, calçadas, travessias,
estacionamento e meios de transporte. (EMBRATUR, Manual de recepção e
acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a empreendimentos e
equipamentos turísticos)
Observa-se, nesse documento, que, mesmo com boas intenções, ainda prevalece o
pensamento da integração com o desenho adaptável, pois onde se “sugerindo adaptações,
como rampas, patamares, portas e sinalizações específicas, que garantam a circulação [...]”,
infere-se a palavra sugestão, não sendo portanto obrigatória a adaptação.
De acordo com o Decreto Federal 448/92, art. 3°, da Política Nacional de Turismo, é
objetivo do poder público democratizar o acesso ao turismo de forma a contribuir para que
classes menos favorecidas também usufruam desse direito.
Na questão do turismo, no que refere à importância da acessibilidade para todos, e do
destaque que o turismo deve ter, como um instrumento de inserção social, são necessárias
ações concretas. É o que mostra Player (2005), quando afirma que a busca pela atividade
turística cresce a cada ano. O autor descreve esse crescimento ao relatar que, após tornar-se
deficiente físico em um acidente, resolveu oferecer serviços turísticos acessíveis, ainda em
1992. Hoje, possui três empresas ligadas ao setor: serviços para turistas deficientes e idosos,
29
serviços imobiliários para clientes deficientes e serviços para a organização de eventos
desportivos internacionais.
Quanto ao crescimento desse tipo de atividade, é fundamental inicialmente haver
comunicação entre os agentes que promovem o turismo comunidade receptora e o turista
deficiente. A qualidade dos serviços e as opções variadas são os atrativos que fazem a
diferença, para se fornecer um serviço de melhor qualidade. Essa ordem de serviços oferecida,
dentro do desenho universal, é fundamental para que a estrutura turística se apresente sem
barreiras.
A hospitalidade no setor hoteleiro visa ao conforto dos hóspedes, combinando
estrutura arquitetônica com atitudes e serviços. (CHON; SPARROWE, 2003, p. 133). Os
hóspedes querem sentir-se independentes e ser bem tratados. Se isso acontecer, a fidelidade
será a conseqüência da satisfação por terem sido bem-atendidos em todas as suas
necessidades.
Parte-se do princípio de que o turismo deve transcender o caráter meramente
comercial e contemplar as diferentes necessidades humanas, sendo, com isso, um “turismo
suave”, de acordo com a concepção de Krippendorf. Para ele,
a política do turismo não estará mais centrada exclusivamente nas finalidades
econômicas e técnicas, mas também respeitará o meio ambiente e levará em conta a
necessidade de todas as pessoas envolvidas. Um turismo que satisfaça essas
condições, no meu entender, é um turismo suave ou um turismo adaptado (em
analogia à argumentação em prol da tecnologia adapatada); aquele que obedece
apenas às coerções de ordem econômica e técnica é um turismo duro. Ninguém
contestará que foi o turismo duro que prevaleceu a o momento, em todos os
lugares e sem nenhuma discriminação. Para passar do turismo duro ao turismo
suave, caberia um ajuste às novas prioridades: a primazia deve incindir sobre o ser
humano. O turismo terá futuro se caminhar na direção de um humano maior. O
importante é reconhecer que o turismo deve servir ao homem, e não o contrário.
(2001, p. 136)
Concordando com a idéia de que o ser humano deve ser valorizado, e que o turismo
deve servir o homem, estabelece-se a relação com os portadores de necessidades especiais,
pois essas pessoas devem usufruir do turismo, sem precisar pagar mais caro por isso. Sendo o
turismo desenhado para todos, ele deve atender aos mais heterogêneos grupos humanos, e
dentro do paradigma da inclusão, o portador de necessidades especiais não deve
necessariamente realizar as atividades turísticas apenas com seus pares, mas com as pessoas
que desejarem, sejam elas portadoras de alguma deficiência ou não.
30
Ainda tratando de turismo acessível, Gómez destaca que
el complejo de actividades, originadas durante el tiempo libre orientado al turismo y
a la recreación activa y passiva, que posibilitan la plena integraión de cualquier
persona, más allá de sus capacidades físicas, psíquicas o sensoriales, en un ambiente
abierto o cerrado, ya sea en un âmbito cultural o disfrutando de la naturaleza. (2004,
p. 17)
Sendo o turismo acessível uma atividade complexa, necessariamente as inter-
relações entre pessoas e ambiente são fundamentais. Para que isso aconteça, outros fatores
que visam a potencializar essa atividade, para que as pessoas portadoras de necessidades
especiais aproveitem de forma satisfatória o que buscam no turismo. Ainda completa Gómez
(2004, p. 19) que, para o pleno desenvolvimento de um indivíduo, necessita-se potencializar
três variáveis: a confiança em si mesmo, a independência e os sentimentos de solidariedade
nas distintas fases de seu desenvolvimento, sendo ele individualmente, com seu par, ou em
grupo.
O desenvolvimento dessas variáveis fica muito mais evidente quando se busca a
inclusão como realidade, pois, nesse caso, os deficientes são preparados para interagir no
ambiente.
Silva e Boia (2003) apresentam uma concepção de turismo inclusivo, no qual a
sociedade deve garantir espaços adequados para todos, aceitando e valorizando a diversidade
humana. Para elas, relegando seu papel meramente econômico, o turismo redimensiona-se,
passando a exercer função social inclusiva, num contexto que reorienta espaços e atitudes
sociais.
No entanto, observa-se que esse discurso ainda faz parte de uma realidade idealizada.
O que se constata é uma sociedade ainda cheia de barreiras, como mostra a pesquisa de Boia
(2000), sobre o turismo e a pessoa portadora de necessidades especiais. A autora analisa a
imagem que as pessoas atuantes num hotel-escola têm da pessoa portadora de necessidades
especiais. Em suas considerações finais relata que
A qualificação técnica e humana dos futuros profissionais, bem como a capacitação
dos profissionais em exercício no hotel-escola, devem ser revistas no sentido de
prepará-los para concretizar o ideal democrático de favorecer o turismo para todos,
quebrando barreiras e limitações de toda ordem, que geram segregacionismo e
discriminações. Os resultados desta pesquisa mostram ainda que este hotel-escola
não se encontra adaptado arquitetonicamente, dificultando o acesso e a permanência
do turista portador de necessidades especiais.
O que se percebe nesse estudo é que, em se tratando de um hotel-escola, onde os
profissionais que ali atuam estão se preparando para o mercado de trabalho, em uma estrutura
31
física que deveria servir de modelo, não condições de acessibilidade. A pesquisa destaca
que os profissionais não tiveram uma preparação específica para servir a essa clientela.
Entende-se que uma reflexão para a mudança estrutural deve ser feita. Se descrever o
que está faltando, o que está inadequado e não se realizarem mudanças práticas, nada
efetivamente irá melhorar. Essas pessoas vão continuar sendo tratadas com caridade e não
com dignidade.
Outro estudo que trata da acessibilidade na hotelaria é de Sansiviero e Dias, em que
apresentam a temática da hospitalidade oferecida às pessoas com mobilidade reduzida, como
hóspedes em hotéis, abordando o conceito de acessibilidade pela ótica da arquitetura e da
inclusão social. Após um levantamento realizado na rede hoteleira da cidade de São Paulo, as
autoras destacam o seguinte:
[...] com base nas informações obtidas nessa pesquisa, pode-se concluir que: a
criação de um produto turístico e hoteleiro com qualidade e hospitalidade para o
segmento estudado implica, primeiramente, reconhecer o mercado potencial que as
pessoas com deficiência representam na sociedade. [...] A pesquisa conclui também
que, na visão das pessoas com mobilidade reduzida, a existência de qualidade e de
conforto nos hotéis não é contraditória com a acessibilidade, mas que a não-
existência de acessibilidade (principalmente física) implica não se possuir um
produto com qualidade. Esta informação é comprovada quando na análise das
entrevistas se conclui que: para pessoas com mobilidade reduzida, qualidade é
principalmente acessibilidade física, e hospitalidade é isto com algo mais. [...]
Embora a pesquisa apresente a acessibilidade arquitetônica do hotel como um
grande diferencial, é importante ressaltar que a disponibilidade e a boa vontade dos
funcionários envolvidos no atendimento também foram considerados pelos
entrevistados como fator essencial para propiciar uma estada agradável. (2005, p.
16-17)
Com o que foi apresentado pelas autoras, pode-se perceber a abordagem comercial
norteando seus apontamentos, pois apresentam as pessoas com deficiência como um mercado
em potencial. Deve-se ter atenção e, principalmente, discernimento para não tratar essa
população como meros consumidores. No entanto, sabe-se que as estruturas capitalistas são o
suporte da sociedade contemporânea, e ignorar esse contexto seria como ficarcego” frente à
realidade. A questão então deve ser em como encontrar um ponto de equilíbrio para que o
consumidor não conte muito mais que o ser humano que representa esse papel.
Dentro da visão comercial, mas sem deixar em segundo plano o respeito às
diferenças humanas, um estudo de Neri (2005) apresenta o exemplo espanhol a respeito do
lazer e do turismo para pessoas com necessidades especiais. Inicialmente, a autora destaca que
o número de pessoas com necessidades especiais aumenta a cada ano em todo o mundo, e que
é importante que a sociedade esteja preparada para conviver com esse coletivo heterogêneo,
pois qualquer pessoa pode ter reduzida sua mobilidade, ainda que temporariamente, em
32
qualquer momento da vida. As atividades de lazer, assim como o turismo, são importantes
elementos de integração para as pessoas com algum tipo de deficiência. A oferta de um
produto turístico acessível pode ser um fator importante para o crescimento da atividade. A
autora apresenta o seguinte panorama espanhol com os exemplos que seguem:
Na ilha de Lanzarote, no Arquipélago Canário, existe um hotel específico para
PNE. Esse hotel pertence à Cruz Vermelha de Oslo-Noruega, e abriga somente
portadores de deficiência física e um acompanhante. O hotel é acessível em
todas as suas acomodações. O governo norueguês subsidia a estadia de PNE ,que
não têm condições econômicas de se permitirem umas férias em Lanzarote.
Em Tenerife, também no Aquipélago Canário, o empresário alemão Hans
Fischer instalou um hotel totalmente adaptado para hóspedes com necessidades
especiais. Cumpre todos os requisitos constantes na Lei Canária de
Acessibilidade.
A fundação ONCE (Organização Nacional de Cegos da Espanha), criou em
Madrid o Museu Tiflológico, especialmente adaptado para deficientes visuais.
A comunidade valenciana é considerada modelo para todo o país, em se tratando
de praias acessíveis, pois ela conta com 80 pontos de praia acessíveis a
deficientes físicos. Esses pontos contam com passarelas de madeira para trânsito
de cadeira de rodas sobre a areia, cadeiras e muletas aquáticas, sanitários
adequados, bem como ajuda de pessoal capacitado para auxiliar o PNE no banho
de mar.
Barcelona é considerada a cidade mais acessível do país, isto se deve ao fato de a
cidade ter sediado, nas últimas décadas, uma Copa do Mundo de Futebol (1982)
e também de Olimpíada e Paraolímpíada (1992). Para receber esses dois grandes
eventos mundiais, a cidade foi preparada de acordo com as exigências da FIFA e
do COI.
Referente à acessibilidade social, o Ministério de Assuntos Sociais espanhol
oferece um programa de turismo social, que incentiva a prática do turismo para
idosos e portadores de deficiência, subsidiando as viagens daqueles que o
possuem renda suficiente para viajar em férias.
Realmente são exemplos a serem seguidos, pois eles apresentam preocupação com o
bem-estar, além de visar à atividade comercial. Devido a essa visão, o turismo efetivamente
acaba sendo acessível a uma grande parcela da população, que pode aproveitar esses
benefícios.
33
Uma reflexão feita por Pertille (2005), sobre a importância de os atrativos turísticos
no Brasil serem acessíveis para deficientes físicos, usuários de cadeira de rodas, ilustra um
pouco a realidade no contexto nacional. Mais uma vez, a abordagem econômica se faz
presente, pois, em suas análises, a autora destaca que, numa pesquisa realizada com um grupo
de turistas ingleses deficientes físicos na cidade de Foz do Iguaçu PR, contatou-se que
viajam em média duas a três vezes ao ano e que existe interesse em viajar mesmo com todas
as dificuldades enfrentadas. Gastam aproximadamente R$ 40.700, 00 (quarenta mil e
setecentos reais) com viagens por ano. Sendo que, dificilmente, viajam desacompanhados,
representando assim mais ocupação nos hotéis e aumento de divisas para a região turística
visitada.
A atividade turística dos deficientes, como visto até aqui, está atuante, porém sua
escala poderia ser maior, principalmente no Brasil, devido a seus inúmeros atrativos. Percebe-
se que não faltam leis, ou normas para regulamentar as ações. O que falta é uma política de
aplicação e fiscalização, para que a qualidade dos serviços melhore.
Sendo uma alternativa, o esporte manifesta-se como uma oportunidade para que as
pessoas desprovidas de condições financeiras, e, no caso dos deficientes, apresentando
limitações físicas, possuem de realizar o turismo. Esses indivíduos, nos momentos em que não
estão competindo, realizam atividades turísticas, pois viajam com sua equipe a lugares que
tiveram a oportunidade de conhecer por pertencerem a uma equipe esportiva. No próximo
segmento do texto, são apresentadas algumas relações entre esporte e viagem para competir,
feitas por atletas deficientes físicos.
4.3 O esporte e o deficiente físico
A prática de esportes em cadeira de rodas, realizada por deficientes físicos, teve sua
origem, num primeiro momento, devido à realização de exercícios terapêuticos e atividades
recreativas, que auxiliassem a restauração da função orgânica dos soldados americanos que
voltavam com paraplegia e/ou amputações em função dos combates na Primeira Guerra
Mundial.
Entretanto, foi após a Segunda Guerra Mundial que os exercícios terapêuticos
tiveram maior inserção, principalmente em hospitais. Adams et. al. contam que “centros de
convalescença e reabilitação foram criados. Jogos e esportes adaptados para amputados,
34
paraplégicos e outros, com deficiências maiores, tornaram-se populares”. (1985, p. 36).
Destaca-se que, mesmo com as atrocidades de uma guerra, ela ainda assim pode alavancar o
desenvolvimento de uma atividade que assumiu a função de devolver a esses paraplégicos ou
amputados uma nova perspectiva de vida, o que serviu de exemplo também para os que
eram deficientes físicos em seu país.
Entende-se como esporte adaptado aquela modalidade esportiva convencional que foi
modificada para se adequar às pessoas portadoras de necessidades especiais, assim definida
por Winnick:
Esporte adaptado designa o esporte modificado ou criado para suprir as
necessidades especiais dos portadores de deficiência. Pode ser praticado em
ambientes integrados, em que os portadores interagem com não-portadores de
deficiência, ou em ambientes segregados, nos quais a participação esportiva
envolve apenas portadores de deficiência. Com base nessa definição, por exemplo,
o basquetebol é um esporte regular, ao passo que o basquetebol em cadeira de rodas
seria considerado um esporte adaptado. (2004, p. 6)
Retomando as questões históricas, depois de superada a fase de reabilitação que
caracterizava o esporte adaptado no período pós-guerra, por volta de 1946 nasceu, nos
Estados Unidos, o basquetebol em cadeira de rodas, sendo esse o primeiro esporte adaptado
de que se tem registro. É nesse período, também, que se define a nova função da atividade,
que deixa de ser apenas de reabilitação e passa a ter um papel mais significativo aos seus
participantes, como momentos de recreação e de lazer. (ADAMS et al. 1985, p. 39).
Sobre acontecimentos por volta de 1946, os autores destacam o seguinte
Jogadores de basquete em cadeira de rodas surgiram de vários estados americanos.
Esses veteranos gradualmente adaptaram as regras e regulamentos do basquetebol
regular para suas necessidades específicas. Mais e mais homens deficientes
começaram a praticar o esporte na cadeira de rodas, até que rios times foram
oficialmente organizados. Assim o basquetebol tornou-se o primeiro esporte em
cadeira de rodas organizado da história. Por causa das grandes distâncias que as
equipes de cadeira de rodas tinha, que viajar para competir com outras equipes de
iguais condições e também por causa das despesas envolvidas com o transporte em
cadeira de rodas, os times em cadeira de rodas com freqüência competiam e
ganhavam de times compostos por jogadores sãos, mas que jogavam em iguais
condições, ou seja, também em cadeira de rodas. O jogo era tão entusiasmente como
o jogo normal, senão mais, porque era necessário muita habilidade para jogá-lo.
(1985, p. 40)
Desde a origem, a relação do esporte adaptado com as viagens pode ser notada, no
que diz respeito ao desejo de viajar para competir com outros jogadores de cadeira de rodas.
Inicialmente, foi pouco difundida, devido à falta de condições de estrutura que o transporte da
época apresentava. De certa forma, o esporte serviu também para despertar a atenção dos
responsáveis por esses transporte, que precisaram operacionalizar adaptações para atender a
mais essa categoria de passageiros.
35
As barreiras apresentadas pelo transporte não desmotivaram o crescimento do esporte,
que foi aos poucos se estruturando e recebendo reconhecimento e apoio, inicialmente nos Es-
tados Unidos e em seguida na Europa.
Dentro do que foi visto, até o momento, destaca-se que o esporte adaptado estruturou
sua base no período pós-guerra e que se mantém sólida até os dias atuais. Pelo surgimento de
competições em nível regional e nacional, o desenvolvimento dos grandes eventos de
importância mundial, como as Paraolimpíadas, despertou investimento de grandes
corporações, levando a um marketing internacional, que atinge um número cada vez maior de
atletas e, conseqüentemente, espectadores do esporte. Isso, sem dúvida, favoreceu o
aperfeiçoamento de estruturas, inicialmente esportivas e, logo em seguida, as de transporte e
hospedagem, levando à prática da atividade turística dessa população portadora de
necessidades especiais.
36
5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
A investigação se deu com um grupo de deficientes físicos, que pertence ao Centro
Integrado do Portador de Deficiência Física de Caxias do Sul CIDeF, e que desenvolve suas
atividades esportivas na Universidade de Caxias do Sul. Devido ao fato de o grupo ser
constituído de atletas, que viajam para competir, procurou-se verificar como essas pessoas
percebem as condições de acessibilidade em suas viagens. Para tanto, estruturam-se os
procedimentos metodológicos e os instrumentos para a realização da pesquisa e,
conseqüentemente, para a resolução do problema de pesquisa.
5.1 Características da pesquisa
Trata-se de uma pesquisa de tipo etnográfica de corte qualitativo, nas especificidades
e na perspectiva dos atores que fizeram parte do processo investigatório. Trata-se de um estu-
do de caso, uma vez que os participantes pertencem ao grupo esportivo, CIDeF, que recebe
apoio da Universidade de Caxias do Sul e da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul e que via-
jam em função desse status social.
A natureza qualitativa é, segundo Molina Neto, empregada para sustentar um leque
de técnicas e investigação centradas em procedimentos hermenêuticos que tratam de descre-
ver e interpretar as representações e os significados que um grupo social à sua experiência
cotidiana”. (1999, p. 112). Devido a isso, o presente estudo aborda as questões que relacio-
nam os fatos vivenciados pelo grupo e suas representações frente às viagens.
5.2 Aproximação ao grupo de estudo
Ao se estabelecerem os procedimentos metodológicos do projeto de pesquisa, não se
imaginava que, com o decorrer da aplicação da pesquisa, ela tomaria o rumo da etnografia.
37
Inicialmente, tratava-se de uma pesquisa descritiva, mas, no momento em que a pesquisadora
iniciou aproximação com o grupo do CIDeF, a mesma recebeu convite para organizar a equi-
pe feminina de basquetebol em cadeira de rodas e de natação paraolímpica. Então, em junho
de 2006, a pesquisadora começou a trabalhar no CIDeF e a conviver com o grupo de deficien-
tes físicos, o que permitiu ampliar sua percepção sobre o grupo.
A oportunidade de trabalhar com o grupo favoreceu uma aproximação natural, pois,
estando inserida no dia-a-dia dos treinamentos e na convivência social, foi possível para a
pesquisadora observar reações, expectativas, percepções, desejos e necessidades frente à práti-
ca do esporte e às oportunidades de viagem.
Considerando o corte etnográfico da pesquisa, buscou-se, na literatura, uma base teó-
rica que justificasse os procedimentos metodológicos que seriam adotados, em Laplantine:
Não se pode, de fato, estudar os homens à maneira do botânico examinando a sa-
mambaia ou do zoólogo observando o crustáceo; só se pode fazê-lo comunicando-se
com eles: o que supõe que se compartilhe sua existência de maneira durável (Griau-
le, Leenhardt) ou transitória (Lévi-Strauss). Pois a etnografia, que é fundadora da et-
nologia e da antropologia [...], não consiste apenas em coletar, através de um método
estritamente indutivo, uma grande quantidade de informações, mas em impregnar-se
dos temas obsessionais de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O etnó-
grafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cul-
tura que estuda. (2005, p. 149-150):
A etnografia requer comprometimento no trabalho de campo. A convivência com o
grupo permite a observação sensível dos detalhes sutis. É o que relatavam os etnógrafos do
passado ao estudar tribos exóticas. Nos tempos atuais, os etnógrafos costumam se ocupar em
estudar tribos urbanas que apresentam características próprias. Tais estudos servem de refe-
rência para os estudos etnográficos em várias outras áreas do conhecimento.
Malinowski (1978) sustenta que, na etnografia, o autor é ao mesmo tempo o seu pró-
prio cronista e historiador. O autor é de opinião que as fontes de informação são bastante
acessíveis, mas também podem ser extremamente enganosas e complexas, já que não estão in-
corporadas a documentos materiais fixos, mas ao comportamento e à memória de seres huma-
nos. Para ele, o fato de pesquisar “seres humanos” em seu próprio hábitat pode ter limitações,
pois certos comportamentos sociais ou atitudes não podem ser previstos, mas, pelo fato de se
estabelecer uma rotina, uma convivência, a reincidência de determinado comportamento acaba
sendo destacada pelo pesquisador, e então a reflexão é feita, e o processo científico toma for-
ma. É com base nesse princípio que se buscou estruturar esta pesquisa.
As reflexões desse autor foram muito significativas, por um lado, para a definição da
etnografia como método; por outro, para se pensar nas estratégias metodológicas.
38
5.3 Estratégias metodológicas
O foco central da investigação foi verificar a percepção que os integrantes do CIDeF
têm, com relação às viagens, sejam elas a passeio com familiares ou amigos, sejam para parti-
cipar de competições esportivas, ou não. Tal questão norteou a estruturação dos instrumentos
para a coleta das informações.
Destaca-se que, desde o início, todos os membros do CIDeF foram informados sobre
a realização da pesquisa, incluindo-se o presidente da associação, o técnico da equipe
masculina e os atletas. A pesquisadora teve o cuidado de conversar com todos, explicar suas
intenções, ouvir a concordância e de se comprometer com os procedimentos éticos na
descrição, análise e interpretação das informações recolhidas.
Buscando-se atingir os objetivos propostos pelo estudo, a pesquisa começou a tomar
forma, e algumas etapas foram sendo definidas para facilitar a organização do trabalho de
campo, como:
a) Revisão de literatura;
b) Definição das estratégias metodológicas;
c) Definição dos instrumentos para coletar as informações;
d) Aplicação dos instrumentos para coletar as informações;
e) Descrição, análise e interpretação das informações obtidas.
O caráter dinâmico que caracteriza a pesquisa, e mais especificamente o método
etnográfico, fez com que houvesse definição dos instrumentos de coleta de informações, para
que posteriormente fossem feitas a descrição, a análise e a interpretação, com o objetivo de
responder ao problema da investigação e às questões de pesquisa.
5.4 Definição dos instrumentos de coleta de informação
Esse procedimento englobou mais uma tomada de decisão no curso do processo
investigatório, que se descreve na seqüência.
39
5.4 1 Análise documental
Podem ser considerados, como documentos, os registros escritos que contêm infor-
mações sobre o objeto de estudo em questão. Segundo, Mazzotti e Gewandszajder, “os docu-
mentos podem ser usados tanto como uma técnica exploratória, como para verificação ou
complementação dos dados obtidos por meio de outras técnicas”. (2002, p. 169)
No caso da presente pesquisa, os documentos analisados serviram de complemento
às informações obtidas por meio das observações e da entrevistas, constituindo-se em mais
uma fonte confiável de informações sobre as ações do grupo estudado.
Os documentos analisados foram: o estatuto do CIDeF (1 documento), o texto disponí-
vel no site da UCS (1 documento), que apresenta informações básicas sobre a associação, e os
informativos do CIDeF (9 documentos), que são distribuídos para a comunidade acadêmica
da UCS, Secretaria de Esporte e Lazer de Caxias do Sul, imprensa local e para os demais inte-
ressados nas ações do CIDeF. Ao todo foram 11 documentos analisados.
5.4.2 Observação
A observação foi também utilizada como instrumento para coleta de informações, so-
mando-se as entrevistas e a análise documental, que serviram para a estruturação das categori-
as de análise da pesquisa.
A observação, como instrumento de coleta de informações, requer atenção e um
olhar direcionado ao fenômeno que se pretende estudar. Com base nessa perspectiva, Triviños
destaca que
observar, naturalmente, não é simplesmente olhar. Observar é destacar de um con-
junto (objetos, pessoas, animais, etc.) algo especificamente, prestando, por exemplo,
atenção em suas características (cor, tamanho, etc.). Observar um fenômeno social
significa, em primeiro lugar, que determinado evento social, simples ou complexo
tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que, em sua dimensão singu-
lar, sejam estudadas em seus atos, atividades, significados, relações, etc. (1987, p.
153)
Isso significa que a observação para fins de investigação deve ser seletiva, voltada ao
que se pretende compreender. Foi nessa perspectiva que o estudo foi levado a cabo. Quanto ao
tipo de observação, optou-se pela observação participante, em que a pesquisadora/observado-
40
ra participava dos acontecimentos, fazendo os registros depois do acontecimento, conforma
destaca Negrine (1999).
A observação, como instrumento de coleta de informações começou a tomar corpo
no momento de aproximação da pesquisadora ao grupo de estudo, isto é, quando iniciou o tra-
balho como técnica de basquetebol da equipe feminina do CIDeF. Foi essa condição que per-
mitiu realizar a observação participante.
Para observar seletivamente, definiram-se previamente pautas de observações para
evitar a dispersão dos registros, como:
a) Relações interpessoais entre os integrantes do CIDeF;
b) Relação dos atletas portadores de deficiência física com os técnicos;
c) Organização das atividades do grupo feita pela coordenação do CIDeF;
d) Planejamento e preparação para as viagens com os portadores de deficiência físi-
ca.
Grande parte das observações foram realizadas no ginásio poliesportivo da UCS, onde
o CIDeF realiza os treinos. Outras observações foram realizadas em situações distintas, como
em passeios e em outras atividades de lazer da quais a pesquisadora participou com o grupo,
totalizando 54 (cinqüenta e quatro) observações. Foi no período de 4 de junho a 12 de dezem-
bro de 2006 que se recolheram essas informações.
5.4.3 Entrevista
A entrevista trata-se de um encontro combinado entre pessoas, que costuma ocorrer
em algum local preestabelecido e apresenta como objetivo recolher informações ou opiniões
sobre um determinado assunto, sendo realizada de forma oral, conforme sustenta Negrine
(1999). O autor diz ainda que uma das pessoas participantes da entrevista é a pesquisadora
que, por meio dessa estratégia, procura estabelecer melhor vínculo e melhor visualização das
pessoas e dos fatos que são objeto de pesquisa.
Nesse estudo, optou-se por utilizar a entrevista semi-estruturada. A entrevista semi-
estruturada é aquela que parte de uma série de questões preestabelecidas, baseadas em estudos
teóricos, observações e experiências do investigador e que, a partir das respostas obtidas, ori-
gina outras questões que não estavam previamente estabelecidas, ou seja, criam-se novos
questionamentos a partir de respostas anteriores.
41
O roteiro da entrevista semi-estruturada foi pensado no início da pesquisa e apresenta
questões fechadas. No Apêndice B, apresenta-se o roteiro da entrevista aplicada aos partici-
pantes. Com base nos princípios éticos, foi também pensado e aplicado um termo de consenti-
mento aos participantes, quando uma via ficou com o entrevistado e outra com a pesquisado-
ra, conforme Apêndice C.
As entrevistas ocorreram entre os meses de agosto e outubro de 2006. É importante
destacar que o convívio com o grupo estudado foi determinante para que a pesquisadora reali-
zasse as entrevistas. Com a prática de entrevistar, a pesquisadora foi adquirindo segurança
para a realização das entrevistas, o que tornou os diálogos produtivos. O fato de a pesquisado-
ra estar acompanhando o grupo estudado fez com que fosse possível observar reações e senti-
mentos e tornar a entrevista mais produtiva, no sentido de perguntar sobre questões pontuais
observadas no comportamento de cada um em determinadas situações.
A pesquisadora teve a preocupação de realizar as entrevistas em locais que faziam
parte da rotina dos participantes, como na própria residência ou no ginásio de esportes onde
ocorrem os treinamentos, mas sempre com agendamento prévio. No momento da entrevista,
sempre se deixou o entrevistado bem à vontade. Uma das preocupações da pesquisadora foi
não atrapalhar os treinamentos, pois, caso isso acontecesse, tal atitude poderia influenciar as
respostas, já que os participantes dão muita importância aos treinos.
Para a realização das entrevistas, adotaram-se algumas estratégias básicas, como:
a) Agendamento prévio com o entrevistado;
b) Esclarecimentos sobre as intenções da pesquisa;
c) Entrega do Termo de Consentimento em duas vias, em que constava a assinatura
da pesquisadora e, posteriormente, a do entrevistado, ficando cada um com uma
via;
d) A gravação da entrevista foi feita em fitas K7, com um aparelho gravador da
marca Panasonic, modelo 3x Rec Time;
e) Anotação, no decorrer da entrevista, de registros pontuais, entendos como rele-
vantes, facilitando assim a organização das informações, inclusive para definir
categorias e/ou subcategorias de análise;
f) Transcrição de todas as entrevistas na íntegra;
g) Criação de uma simbologia para identificar cada participante do estudo, para fa-
cilitar a descrição das informações.
42
Pseudônimos foram adotados, a fim de preservar a identidade dos participantes. Uma
vez transcritas as entrevistas, foram devolvidas aos entrevistados, com a finalidade de validar
seu conteúdo. O procedimento adotado teve como objetivo dar confiabilidade às informações.
No momento da devolução das entrevistas aos entrevistados, foi permitida alteração do con-
teúdo de suas respostas, se assim entendessem, seja retirando, ou seja acrescentando algo que
pensavam ser conveniente. Algumas validações foram feitas via e-mail, outras assinadas pelo
próprio entrevistado e devolvidas à pesquisadora.
Foi realizada um total de quinze entrevistas com os atletas do CIDeF. Os participantes
desse estudo se constituíram de pessoas do gênero masculino e feminino que se dispuseram a
participar do estudo.
5.5 Categorias de analise
A partir das descrições das informações, que será detalhada no capítulo seis e tendo
como foco a indagação principal e as questões de pesquisa, o desafio foi a definição das
categorias de análise, tarefa complexa e que exige muita abstração daquele que realiza a
pesquisa. O problema-foco da investigação foi: Como os atletas do CIDeF percebem as
condições de acessibilidade com as quais se deparam em suas viagens?”
A partir da formulação do problema, levantaram-se questões de pesquisa, como
estratégia para melhor compreender o fenômeno que se quis estudar. Tendo como norte as
questões da pesquisa, definiram-se as categorias de análise, focando os deficientes físicos
estudados:
Perfil dos deficientes físicos estudados;
Experiências e viagens: destinos significativos;
Percepções dos deficientes físicos frente às condições de acessibilidade.
43
6 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
A partir deste segmento da dissertação, são apresentadas a descrição e a análise das
informações recolhidas no decorrer do processo investigatório. As estratégias adotadas nesta
fase do trabalho foram as seguintes:
a) Organizar informações: inicialmente tomaram-se como referência os diferentes
instrumentos utilizados na coleta, como: análise de documentos, entrevistas e ob-
servações,
b) Discutir e interpretar: a partir da descrição e da análise das informações, focan-
do nas categorias de análise, a intenção foi estabelecer nexo entre a revisão de lite-
ratura e os resultados da pesquisa.
6.1 Organização das informações
Com o objetivo de dar dimensão ao leitor da abrangência das informações, com as
quais se trabalhou nesta pesquisa, apresenta-se inicialmente um quadro síntese.
INSTRUMENTOS UTILIZADOS QUANTIDADES
Análise documental 11
Entrevistas 15
Observações 54
Total de instrumentos analisados 80
Quadro 1: Síntese dos instrumentos utilizados
As informações foram organizadas de acordo com o instrumento utilizado; no Apêndi-
ce D, podem ser vistas tais informações.
6.1.1 A Análise documental
44
Foram analisados os seguintes documentos aos quais se teve acesso: Estatuto do CI-
DeF (1); Texto do CIDeF disponível no site da UCS (1) e informativos do CIDeF (9).
Para facilitar a identificação dos documentos na descrição das informações, optou-se
por numerá-los do D1 ao D11. O estatuto foi denominado de D1, o texto do CIDeF que consta
no site D2, e os informativos foram organizados e denominados D3 a D11.
O Estatuto é o documento que rege as ações do CIDeF; está constituído por 32 arti-
gos, distribuídos em 5 capítulos. Dentre as informações apresentadas, destacam-se: sua deno-
minação e finalidades, como entidade não-governamental, conforme consta no Anexo A.
O art. 1
º
do estatuto refere que o Centro Integrado dos Portadores de Deficiência Físi-
ca - CIDeF, foi constituído em 24/11/1996 como entidade civil, sem fins lucrativos e que tem
como sede o município de Caxias do Sul-RS.
No art. 2
°
do referido estatuto, está dito que o centro tem por finalidade promover en-
tre os associados o trabalho, o esporte, o lazer e a cultura, e no art. 3
°
, que, no desenvolvimen-
to das atividades do centro, não se fará qualquer discriminação racial, política, religiosa e so-
cial.
Embora o CIDeF tenha finalidades abrangentes, como por exemplo encaminhamento
para trabalho, neste estudo, o foco foi estudar o grupo a partir dos treinamentos esportivos e
das viagens que realizam, seja para competir, seja para lazer.
A análise do texto do CIDeF (Anexo B) indica que o mesmo está inserido no Progra-
ma UCS Olimpíadas e que pertence ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universi-
dade de Caxias do Sul. A partir da leitura do texto, fica explícito que a Universidade acolheu
o centro, uma vez que tem como princípio o esporte como meio de inclusão social.
No D2, destaca-se a caracterização do CIDeF como uma organização não-governa-
mental. A parceria entre o CIDeF e a UCS permitiu que se viabilizasse a proposta de inclusão
social do deficiente físico, a partir da prática esportiva, ampliando dessa forma as oportunida-
des de esportes oferecidos à comunidade na Vila Olímpica da UCS.
No D2 constam também: as regras do basquetebol em cadeira de rodas (modalidade
esportiva mais popular no CIDeF); os princípios da canoagem adaptada e as características do
tênis de mesa adaptado. Mais informações referentes ao documento D2, ou a outras ações na
Vila Olímpica da UCS, podem ser acessadas no site da Universidade de Caxias do Sul:
www.ucs.br. Destaca-se que até a redação deste texto de pesquisa, as informações sobre os-
tulos de 2006 ainda não haviam sido atualizadas.
45
Os informativos analisados do CIDeF (D3 a D11) são publicações mensais que ocor-
reram entre abril e dezembro de 2006. Tais informativos apresentam informações sobre as ati-
vidades desenvolvidas pelos membros do CIDeF; a participação em eventos comunitários e
esportivos; os resultados de jogos, assim como a programação das viagens para a participação
do grupo em competições. O material também é ilustrado com fotos dos membros do CIDeF
nos eventos em que participam. No Anexo C encontra-se um exemplar do informativo.
Os informativos são editados por Luciano Comerlato, técnico da equipe masculina de
basquetebol sobre rodas. Destaca-se que Luciano também faz parte da coordenação do CI-
DeF.
Encontraram-se, nos informativos analisados, os principais destinos da equipe do CI-
DeF em viagem para competir. No Apêndice E, pode-se ver um resumo dessas informações.
Com base no que consta nos informativos D3 a D11, os principais destinos das
viagens, em 2006, aconteceram de acordo com o tipo da competição:
Na Liga Gaúcha, competição de nível estadual, a equipe de basquete esteve em
Porto Alegre, Erechim e Santa Cruz do Sul;
Na Liga Sul, que reúne equipes do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do
Paraná, sendo uma competição classificatória para o Campeonato Brasileiro, os
destinos foram: Joinville-SC e Curitiba-PR;
O Campeonato Brasileiro aconteceu em Fortaleza-CE, sendo a segunda
participação equipe de basquete em competição devel nacional, a primeira foi
em Vitória-ES em 2005.
Em nível internacional, o CIDeF esteve representado pelo atleta de luta de braço
em Manchester na Inglaterra.
Uma informação que merece destaque encontra-se no D6: a equipe de basquetebol,
após uma partida de apresentação na cidade de Nova Petrópolis-RS, foi levada pelos
organizadores para apreciar os pontos turísticos da cidade. Percebe-se, nessa ação, a
sensibilidade dos organizadores do evento, demonstrando hospitalidade com os visitantes.
A análise desses documentos permitiu visualizar que os atletas do CIDeF viajam para
competir, o que justifica o uso desse instrumento para o estudo.
6.1.2 As observações
46
As observações foram realizadas no período de 4 de junho a 12 de dezembro de
2006. Com a finalidade de facilitar a descrição das informações e, em seguida sua análise,
elas foram divididas em dois blocos:
1) Convivência com o grupo do CIDeF e treinos de basquete masculino (19 obser-
vações – período dos registros – 4/6/06 a 12/12/06);
2) Treinos de basquete e natação feminino (35 observações período dos registros
– 18/6/06 a 2/12/06).
Apresentando-se como uma observação do tipo participante, os registros foram reali-
zados após os acontecimentos. A pesquisadora procurou seguir a seguinte pautas
Relações interpessoais entre os integrantes do CIDeF;
Relacionamento dos atletas portadores de deficiência física com os técnicos;
Planejamento e preparação para as viagens com os portadores de deficiência físi-
ca.
Procurou-se realizar uma observação seletiva que contribuísse para a resolução das
questões de pesquisa, a que se propôs no início desta investigação, seguindo o roteiro acima.
E, tratando-se de uma pesquisa etnográfica, muitas vezes a estudiosa é citada nas atividades
como uma das participantes. Uma das observações pode ser vista no Apêndice F.
Relações interpessoais entre os integrantes do CIDeF
Por ser uma das finalidades do CIDeF promover o lazer de seus associados (D1), foi
organizado pelo presidente da associação e pelos técnicos esportivos o projeto Lazer sem Li-
mites. Essa ação tem como proposta levar o grupo participante do CIDeF a realizar atividades
de lazer, em diversos locais de Caxias do Sul, tais como shoppings e parques.
O objetivo desse projeto vai além da integração do grupo, busca uma forma de inclu-
são dos portadores de deficiência física em ambientes públicos, onde normalmente a presença
dessas pessoas não é tão freqüente.
Abaixo está um trecho da observação realizada no dia da primeira edição do Lazer
sem Limites que aconteceu no Shopping Iguatemi de Caxias do Sul (O1, 4/6/06):
Encontramo-nos em frente à prefeitura, todos estavam alegres e demonstravam moti-
vação em realizar a atividade. na praça de alimentação do shopping, degustando
chopp, batatinhas e/ou café, divertimo-nos contando histórias engraçadas. A defici-
ência é tratada, no grupo, com humor.
47
Na abertura dos Jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul – JIRGS, que aconteceu
nos Pavilhões da Festa da Uva de Caxias do Sul (O14, 10/11/06):
Na abertura dos jogos, a delegação de Caxias do Sul estava também representada pe-
los atletas do CIDeF, que participariam das modalidades de basquete sobre rodas
masculino e natação feminina. O grupo estava integrado com os demais atletas das
outras modalidades. Conversamos sobre a expectativa de participar dos jogos, o gru-
po demonstrava determinação em conseguir o título. No jantar de confraternização
para os atletas, o clima estava ótimo, todos conversavam muito.
No dia da competição dos JIRGS, a equipe de basquete do CIDeF sagrou-se campeã
da modalidade. Os jogos aconteceram no ginásio Poliesportivo da UCS (O15, 11/10/06):
O ginásio apresenta 4 quadras, e ao mesmo tempo, estava acontecendo, além do bas-
quete sobre rodas, a competição das modalidades de futsal para cegos e voleibol. O
voleibol não era paradesportivo, ou seja, os atletas não eram portadores de necessida-
des especiais. No fim das partidas, os atletas do CIDeF e das outras modalidades
conversavam. Circulavam num ambiente freqüentado por portadores de necessidades
especiais e pessoas sem deficiência. Na modalidade de natação, a atleta do CIDeF
venceu as duas provas em que competiu, 25m e 50m livre. Na arquibancada da pisci-
na, além do público em geral, estavam atletas do CIDeF torcendo e comemorando a
vitória. A atuação despertou interesse em criar uma equipe de natação para o próxi-
mo ano de 2007.
No treino de basquete da equipe masculina do dia 14/11/06 (O16), depois da alegria
do título do JIRGS, a ansiedade dominava o ambiente, isso em função da convocação para o
Campeonato Brasileiro em Fortaleza-CE:
Os atletas aguardavam com expectativa sua convocação para participarem do campe-
onato. Após o anúncio da lista dos convocados, feita pelo técnico, alguns ficaram
tristes por não estarem na lista, outros não escondiam a alegria da convocação.
Relacionamento dos atletas portadores de deficiência física com os técnicos
Na condição de técnicos desportivos, procura-se manter um relacionamento profissi-
onal com os atletas, respeitando as limitações físicas dos mesmos, mas nunca com sentimen-
tos de piedade.
Na relação atleta X técnico, sempre a demonstração de respeito: contestações
acontecem, mas são resolvidas dentro do grupo.
O relacionamento é construído com o passar do tempo, na medida em que o atleta vai
adquirindo confiança no técnico para falar sobre suas limitações físicas. A partir desse
momento, o técnico começa a construir, junto com o atleta, estratégias para desenvolver seu
48
potencial e melhorar sua performance na quadra e também maneiras de melhorar sua
qualidade de vida fora da quadra.
Planejamento e preparação para as viagens
As viagens são organizadas de acordo com o destino. Para viagens mais curtas, por
exemplo, a Porto Alegre, Joinville, Curitiba, geralmente são alugadas Vans e reboque, para o
transporte das cadeiras de rodas; a hospedagem acontece em alojamentos. Nas viagens longas,
como as feitas para Vitória e Fortaleza, o transporte é aéreo, e a hospedagem acontece em ho-
téis.
Na O8, 12/09/06, pode-se destacar o seguinte:
Em uma das etapas da Liga Sul, que aconteceria em Curitiba, o técnico do masculino
e o presidente do CIDeF estavam organizando o transporte para a equipe. Discutiam
questões de ordem financeira, seria mais “barato” irem com uma Van ou com ôni-
bus. O transporte foi alugado e até o momento nunca se utilizou um transporte adap-
tado, os cadeirantes (paraplégicos) precisam ser levados para dentro da Van, ou do
ônibus. Em um reboque, as cadeiras de jogo e as cadeiras de atividade de vida diária
(AVDs) são acomodadas pelo auxiliar técnico e pelo motorista.
Como não se poderia deixar de citar, em seguida segue uma observação sobre o giná-
sio onde a equipe do CIDeF desenvolve seus treinamentos.
Acessibilidade no ginásio de treino
Transporte de acesso ao ginásio: a maioria dos atletas utiliza os serviços do
transporte adaptado, disponibilizado pela Secretaria Municipal de Transportes da
empresa VISATE de Caxias do Sul. O serviço precisa de agendamento prévio de 48
horas. Alguns possuem carro próprio.
Acessibilidade na entrada do ginásio: rampas de acesso e portas largas que
facilitam a passagem de cadeiras de rodas e muletas as 4 quadras do ginásio. Não
acesso para a arquibancada da quadra principal.
Acessibilidade à quadra de treino: amplo acesso, fácil trânsito de cadeiras de
rodas.
Banheiros: o ginásio possui um banheiro adaptado, e seu acesso é feito por rampas.
Os vestiários não possuem adaptação; os atletas do CIDeF, se quiserem utilizá-los,
deverão passar pelas seguintes barreiras: escadas de acesso, falta de boxe de banho
com barras, e falta de cadeira de banho
Cadeiras de jogo: as cadeiras de jogo são diferentes das cadeiras de AVDs, e os
atletas precisam passar de uma cadeira para outra, a maioria consegue sem ajuda,
alguns precisam de auxílio de outras pessoas para fazer a transição de uma cadeira
para outra. No caso dos andantes, o processo é mais fácil, pois apenas largam a
mulata, ou tiram a prótese para sentar na cadeira de jogo. (O2, 06/06/06):
49
As informações coletadas a partir das observações serviram para complementar os
depoimentos dos participantes da pesquisa na entrevista, pois o que se pretende apresentar são
as percepções dos deficientes físicos que viajam para fora de Caxias do Sul, e não apenas as
da pesquisadora.
6.1.3 As entrevistas
A entrevista foi mais um dos instrumentos de coleta de informações utilizados na
pesquisa. Foram realizadas com quinze membros do CIDeF, pessoas que se dispuseram a
responder às questões elaboradas pela pesquisadora. O instrumento foi composto por um
roteiro semi-estruturado (Apêndice B), dividido em três blocos de perguntas: informações
gerais, informações sobre viagens e informações sobre viagens com o CIDeF.
Sendo a identidade de cada participante sigilosa, utilizou-se a simbologia por
pseudônimos de E1 a E15. Incluiu-se também a caracterização de andante ou cadeirante, com
a finalidade de situar o leitor a respeito da real situação física do participante, frente a seus
relatos. No Apêndice G, pode-se contemplar uma entrevista feita com um participante da
pesquisa.
Primeiro bloco de questões: informações gerais dos portadores de necessidades
especiais estudados
O perfil dos participantes do estudo engloba faixa etária, grau de instrução, causa da
lesão e equipamento utilizado para a locomoção. O grupo estudado totalizou quinze
participantes, sendo onze homens e quatro mulheres. Todos participam do CIDeF mais de
cinco meses. Alguns fazem parte do CIDeF dez anos, isto é, desde a sua formação. A
atuação das mulheres é mais recente no grupo, uma vez que a equipe feminina foi formada a
partir de junho de 2006.
A faixa etária dos participantes varia dos 18 aos 40 anos. No caso dos homens, oito
deles têm mais de 30 anos. O grupo feminino apresenta duas participantes com idades de 21 e
25 anos, uma acima de 30 anos e outra acima de 40 anos.
O CIDeF é uma associação que acolhe pessoas sem restrições de idade; os membros
da associação devem se comprometer com vontade e determinação para participar das
50
atividades esportivas e dos treinamentos físicos, técnicos e táticos e respeitar as determinações
da associação.
Quanto ao grau de instrução, grande parte dos homens não concluiu o Ensino
Fundamental (sete), um participante possui Ensino Médio incompleto e outro Ensino Médio
completo. Dois participantes possuem nível superior incompleto e, no momento de redigir
este relatório de pesquisa, ambos estavam com a matrícula trancada. No grupo das mulheres,
três possuem Ensino Médio completo e uma está cursando o Ensino Superior.
No grupo masculino, quanto à causa da lesão, destaca-se que dos 11 participantes,
dez tiveram lesões provocadas por acidentes de trânsito, amputações, patologias adquiridas
depois do nascimento (poliomelite
1
e osteomelite).
2
O participante com lesão congênita é
portador de mielomeningocele.
3.
Quanto às mulheres, duas participantes apresentam lesões adquiridas por acidente de
trânsito, sendo que uma é amputada e a outra é paraplégica. Nos casos congênitos, uma tem
seqüela de paralisia cerebral, com um comprometimento motor leve e a outra
mielomeningocele.
Os participantes do estudo utilizam diferentes equipamentos para auxiliar na
locomoção, como cadeira de rodas mecânica ou motorizada, bengalas, muletas e próteses.
Face ao equipamento de locomoção utilizado pelos participantes, pode-se dividir o grupo
estudado em cadeirantes e andantes. Os primeiros utilizam cadeira de rodas mecânica ou
cadeira de rodas motorizada para se locomover, os segundos utilizam bengalas, muletas ou
próteses. O segundo grupo utiliza a cadeira de rodas apenas para praticar o esporte. Há dois
participantes que não necessitam de nenhum tipo de equipamento para auxiliar sua
locomoção. Entre o grupo de mulheres, duas utilizam bengalas, uma utiliza cadeira de rodas e
uma bengala e prótese.
1
Poliomielite: (ou paralisia infantil ou doença de Heine-Medin) Compreende um vírus que atinge
particularmente crianças; a forma de contágio é representada pelo contato com indivíduo doente ou portador
de formas muito atenuadas. [...] A evolução da paralisia é variável, pelo que se distingue uma forma não
paralítica e uma paralítica. [...] A forma paralítica é muito mais grave porque atinge o sistema nervoso;
aparece gradual ou bruscamente com febre, vômito e cefaléia; em seguida surgem dores profundas nos
membros e hiperestesia, aparece depois a paralisia. Ela atinge pela ordem de freqüência: pernas, braços, dorso,
tórax. (GRANDE DICIONÁRIO DE MEDICINA, São Paulo: Tempo e Maltese, 1999).
2
Osteomelite: (ou osteíte) Processo inflamatório do osso. Habitualmente compromete também o periósteo e a
medula. Trata-se de moléstia bastante freqüente, pois os germes podem instalar-se facilmente nas paredes
ósseas, entrando diretamente através de ferimentos cutâneos ou, indiretamente, por via sangüínea ou linfática.
Existem diversos tipos de osteíte: infecciosa, micótica, parasitária e tóxica. (GRANDE DICIONÁRIO DE
MEDICINA, São Paulo: Tempo e Maltese, 1999).
3
Mielomeningocele: É um dos defeitos de fechamento do tubo neural, caracterizado por falha na fusão dos arcos
vertebrais. [...] Existe um déficit neurológico co-distal ao nível da lesão, com alterações paralíticas e anestésicas. A
paralisia é flácida na maior parte das vezes, mas pode haver espasticidade dos membros se a lesão for alta. (DIAS, Luciano
S.; GABRIELI, Ana Paula T. Mielomeningocele. In BRUSCHINI, Sérgio. (Org). Ortopedia Pediátrica.São Paulo:
Atheneu, 1993).
51
PARTICIPANTES
Homens – 11 Mulheres – 4
Faixa etária
16 a 20 anos – 1
21 a 30 anos – 2
30 a 40
anos – 4
acima de 40 anos – 4
21 a 30 anos – 2
30 a 40 anos – 1
acima de 40 anos – 1
Grau de instrução
Ensino Fundamental – 6
Ensino Fund. e Técnico – 1
Ensino Médio incompleto – 1
Ensino Médio – 1
Ensino Superior incompleto – 2
Ensino Médio – 3
Ensino Superior incompleto – 1
Equipamento para
locomoção
Cadeira de rodas – 5
Cadeira apenas para jogar – 2
Cadeira motorizada – 2
Bengala e prótese – 1
Muletas – 1
Bengalas – 2
Cadeira de rodas – 1
Bengala e prótese – 1
Etiologia
Lesão medular – 4
Amputação – 3
Poliomelite – 2
Acidente por arma de fogo – 1
Osteomelite – 1
Mielomeningocele – 1
Adquirida: 10
Congênita: 1
Lesão medular – 2
Paralisia cerebral – 1
Mielomeningocele – 1
Adquirida: 2
Congênita: 2
Quadro 2: Síntese do perfil dos participantes do estudo
Segundo e terceiro blocos de questões: informações sobre viagens e sobre as viagens
com o CIDeF
A partir daqui, muitas respostas dos entrevistados transitaram entre os dois blocos,
pois, sendo uma entrevista semi-estuturada, em muitos momentos de sua aplicação, ela se
tornou um diálogo entre pesquisadora e entrevistado. Então se buscou uma nova forma de
estruturar a descrição das respostas.
As informações sobre as viagens resultaram em um relato sobre as experiências
turísticas dos participantes da pesquisa. Elas foram classificadas em duas situações para
descrição e análise:
Situação 1: Experiências turísticas e/ou viagens realizadas com familiares e/ou
amigos.
Situação 2: Experiências turísticas realizadas com o grupo do CIDeF, nos períodos em
que viajaram para competir.
52
Como o grupo estudado é composto por deficientes físicos que apresentam casos de
lesão congênita ou adquirida, optou-se também por realizar uma descrição, observando essa
característica.
No quadro 3 a seguir, apresentam-se os participantes com lesão congênita e a
freqüência com que viajam.
Participante Freqüência de viagens
E2 Duas experiências de viagem
E7 Muitas viagens
E15 Viajava pouco até entrar para o CIDeF
Quadro 3: Participantes com lesão congênita e a freqüência de viagens
Até a realização da entrevista, a participante E2 havia relatado que tinha viajado
duas vezes e sempre acompanhando entidades de deficientes físicos:
Uma vez fui pra Santa Cruz e outra fui pra Veranópolis. Primeiro eu fui com o
CIDeF e segundo eu fui com outra entidade. (E2, andante, 2006)
A participante E2 teve raras oportunidades de viajar, de sair de Caxias do Sul, cidade
onde reside, trabalha e desenvolve todas as suas atividades. Também relatou que sempre teve
muito medo de andar sozinha e que não se arriscaria em viajar desacompanhada, pelo menos,
por enquanto.
A participante E7, que também é jovem (21 a 30 anos), trabalha e é solteira, tem uma
lesão congênita com comprometimento maior do que E2, por exemplo, e relatou que teve
muitas experiências turísticas.
A entrevistada E7 relatou que todas as suas experiências de viagem marcaram um
pouco, tanto as realizadas a locais mais próximos quanto a lugares mais distantes, como a
última que realizou ao Nordeste:
Eu fui pro Nordeste, pra Porto de Galinhas e Fernando de Noronha. Em Porto de
Galinhas, fiquei três dias num hotel, beira da praia, fiz passeios de bugue. Fui de
bugue pra tudo que era lugar, nos lugares mais complicados os bugueiros iam
bem perto com o bugue, não tinha problema. Depois ir pra Fernando de Noronha, nós
fomos de navio. dentro do navio a coisa bem melhor, tem toda a estrutura,
elevador pra tudo que é lugar, que o navio tinha nove andares. Depois lá em
Fernando de Noronha, também tu ia de navio pra e pra cá, por tudo, se precisava
tinha bugue. (E7, andante, 2006).
Nessa viagem, E7 realizou um dos passeios turísticos mais badalados por brasileiros
e principalmente estrangeiros, o Nordeste brasileiro e, em especial, Fernando de Noronha. O
53
fato de ser deficiente físico não a impediu de realizar sua viagem e seus passeios,
aproveitando todas as experiências da melhor maneira possível.
E7 contou ainda que:
As pessoas ajudam as pessoas que necessitam, não diferença, mas quando
precisam eles ajudam, isso foi uma coisa que me marcou bastante nessa última
viagem.
Ela também destaca como fato marcante, a disponibilidade das pessoas em ajudá-la
sempre que precisava. As pessoas a que se refere são a tripulação do navio, os motoristas dos
bugues, os guias locais, demonstrando que esses funcionários receberam um bom
treinamento, ou ainda melhor, tinham o bom senso e o discernimento para colaborar nas
situações em que percebiam que “o outro” estava precisando de ajuda.
no caso de outro participante, ele relatou que fazia poucas viagens antes de entrar
para o CIDeF. Eram mais viagens com a família à casa de parentes:
Viajava uma ou duas vezes por ano. Ia pra São Valentin, Chapecó, que eu sou de lá,
a maioria da minha família é de Chapecó. Então sempre no final do ano, na Páscoa,
feriado assim, a gente viajava. (E15, andante, 2006)
Essas viagens realizadas por E15 não podem ser classificadas como experiências
turísticas, pois sempre viajava para o mesmo destino e para a casa de familiares. O que se
pretende destacar, porém, é que E15 começou realmente a viajar com mais freqüência e a ter
experiências turísticas, depois de ter começado a participar do CIDeF:
A viagem mais legal que eu fiz foi pro JIRGS ano passado. (E15, andante, 2006)
Uma análise mais detalhada sobre o fato de os participantes do CIDeF realizarem
mais atividades turísticas depois de terem entrado para o grupo, será melhor desenvolvida a
seguir.
Por hora, retomam-se os casos de E2 e E7, em que suas experiências turísticas
acabaram sendo a percepção que tiveram da estrutura física, quando, em algumas situações,
apresentaram-se barreiras difíceis, mas em outras situações elas foram superadas sem maiores
problemas.
No caso de E2, quando relatou que:
Em Santa Cruz, tinha o jogo na quadra e a gente tinha de sair pra almoçar. Então
tinha um shopping que era um pouco longe, até eu saí com um cadeirante, a gente
foi junto almoçar. O acesso nas ruas era um pouco difícil, não tinha como aqui em
Caxias que tem rampas. (E2, andante, 2006)
54
Nesse caso, em que compara a estrutura das duas cidades, percebe-se que as barreiras
físicas são difíceis e que poderiam ser amenizadas com uma estrutura urbana mais adaptada
para o deficiente físico.
No caso de E7, as barreiras sicas foram superadas graças à colaboração e atenção
dos profissionais envolvidos, que se esforçaram em tratar o turista da melhor maneira
possível, para que ele se sentisse bem e pudesse aproveitar o passeio como os outros, sem
barreiras.
Ainda dentro da situação 1, que diz respeito às experiências turísticas e/ou às viagens
realizadas com amigos e/ou familiares, seis participantes, que apresentam casos de lesões
adquiridas, mostram suas impressões a partir do questionamento sobre a freqüência e os
principais destinos de suas viagens.
A participante E1 apresenta-se com paraplegia, causada por um acidente de carro,
destaca que, por ter sofrido acidente, ainda muito jovem, não tem lembranças de viagens antes
da lesão. Quando questionada sobre a freqüência e principais destinos, E1, contou:
Eu viajava bastante, mais eu ia em excursão, coisa assim. Eu fazia parte do CTG,
com o pessoal do CTG, a gente pegava, se juntava, e ía... Vamo pro Beto Carrero!
Vamo pra São Paulo! Fui pra São Paulo com excursão do CTG. Fazia bastente
passeios, sempre passeei bastante.
Quanto à organização das viagens, E1 falou que sempre viajou acompanhada de
amigos, agora que está casada, viaja com o marido, que também é deficiente físico, mas, pelo
menos por enquanto, realizam viagens mais curtas, a lugares próximos.
Outro participante contou que viaja em média de três em três meses a passeio. As
viagens são realizadas sem muita programação, pois tem carro próprio e com isso maior
liberdade para viajar. Destaca que o principal destino é o litoral:
Turismo é litoral. Tipo Balneário Camboriu, que é onde eu tenho facilidade de
acomodações, tenho parentes lá. E Salvador também, que eu tenho parentes . E
tudo facilita, só gasta com transporte mesmo. (E3, andante, 2006)
O participante relatou um fato interessante, realizou sua primeira grande viagem para
colocar sua perna mecânica no Rio de Janeiro:
Quando eu amputei minha perna, dali, dois, três meses fui pro Rio de Janeiro. que
eu comecei a viaja. Fui fazer a pena mecânica, porque meu primo tinha conseguido
as passagens pra nós. Fomos de avião. Fiquei um mês. Coisa mais boa ficar lá,
conheci um monte de gente. (E12, andante, 2006)
55
Depois dessa viagem ao Rio de Janeiro, E12 contou que também foi ao Mato Grosso,
à Fortaleza, Florianópolis, Camboriú e a outras praias do Litoral gaúcho.
Alguns participantes da pesquisa relataram que, em função da sua profissão,
realizavam viagens freqüentes por todo o Brasil, antes de adquirirem a deficiência física:
Viajava mais a serviço. Trabalhava com pesquisa e desenvolvimento de motores,
fazia teste de campo. (E10, cadeirante, 2006)
Eu era caminhoneiro. Eu conheço uma grande parte do país, porque viajei para quase
todos os lugares, principalmente as capitais; eu fui em todas. (E4, cadeirante, 2006)
Eu trabalhava no sindicato, então eu viajava bastante, eu conheci quase todos os
estados do país. (E14, cadeirante, 2006)
Na situação 2, os participantes relatam suas experiências turísticas realizadas com o
grupo do CIDeF, nos períodos em que viajaram para competir. Destaca-se que, do grupo de
15 pessoas pesquisadas, 6 começaram a viajar depois que entraram para o grupo e 10
participantes viajam com muita freqüência. Isso em função de estarem participando do
CIDeF:
Depois da lesão eu fui voltar a viajar quando entrei pro CIDeF. (E4, cadeirante,
2006)
E viagem mesmo eu fui fazer depois que fiquei com deficiência. Antes eu nunca
tinha viajado. (E8, andante, 2006)
Antes de ficar na cadeira eu não viajava. No momento que eu fiquei na cadeira,
depois de uns 8 meses é que eu comecei a participar do grupo. (E9, cadeirante, 2006)
Antes do acidente, muito pouco, eu quase não viajava antes. Com o grupo, digamos
que nós viajamos o que, um vez por mês, nessa média aí. ( E11, cadeirante, 2006)
Antes do acidente não viajava, eu ficava mais em casa mesmo. Comecei a viajar
depois que eu entrei no CIDeF. (E13, cadeirante, 2006)
Fazer parte de um grupo de atletas deficientes físicos proporcionou a essas pessoas a
possibilidade de viajar, de saír de sua residência, de conquistar a autonomia para realizar uma
atividade diferente de sua rotina, como viajar com amigos.
Quando questionados a respeito da experiência de viagem mais marcante que
recordavam, a viagem a Vitória foi a mais citada por sete dos quinze participantes da
pesquisa, sendo que os outros oito participantes não realizaram essa viagem: E4, E11 e E15,
estavam em outra competição, E5 retornou ao CIDeF em 2006, e os outros participantes
participam da equipe feminina que inda não viajou para competir.
56
Um participante contou que:
Aquela foi pelo Campeonato Brasileiro, foi em Vitória do Espírito Santo. Foi nossa
primeira participação na competição nacional em nove anos. Bem legal, muito legal,
foi a primeira vez até que um grupo de deficientes embarcou no aeroporto de Caxias.
Foi bem marcante, foi até televisionado pela UCS-TV. Muito show, muito legal,
aquela foi massa. O pessoal conheceu, tinha um pessoal que não conhecia, alguns
integrantes não conhecia praia, foi legal. Foi uma semana, bah, foi marcante, aa
vinda pra Caxias, a gente teve de ficá dormindo no aeroporto, mas tudo tranqüilo.
(E3, andante, 2006)
Foi excelente, a gente ficou num hotel beira-mar, praia. Eu nunca tinha ido na praia,
entendeu. A primeira praia que eu fui foi a de Vitória. A gente fez escala em São
Paulo e Minas, então tu pode dizer que tu teve nesse local, porque tu pisou, né? Eu
nunca tinha andando de avião. A primeira vez. (E6, andante, 2006)
Tem duas viagens que foram muito importantes pra mim, uma foi essa que nós
fomos a Vitória, com o basquete, né? Pra começar, assim, eu nunca tinha se quer
chegado perto de um avião, entendeu? Então aquilo pra mim foi uma emoção que eu
nunca mais vou me esquecer. (E8, andante, 2006)
A mais marcante foi Vitória do Espírito Santo, porque eu nunca imaginava que eu ia
disputando um brasileiro, uma série C, né, como grupo. Em 2005, foi a mais
marcante. Pra começá eu nunca nem tinha andado de avião na minha vida. (E9,
cadeirante, 2006)
E um lugar que eu nunca tinha esperança de ir era pro Espírito Santo, fui pra lá,
muito bonito. (E10, cadeirante, 2006)
A mais marcante foi Vitória, porque eu nunca andei de avião, foi bem legal. (E13,
cadeirante, 2006)
A de Vitória ano passado foi show, foi a mais marcante, porque a gente foi pra um
lugar longe. Eu já tinha passado por lá, mas com amigos é muito bom. Na beira da
praia, com os amigos e ainda jogando, tava muito bom, vai ficar marcado. (E14,
cadeirante, 2006)
Na fotografia a seguir, pode-se ver o momento do embarque dos atletas do CIDeF;
nota-se que, por falta de uma plataforma de embarque sem escadas, os paraplégicos precisam
ser carregados para dentro da aeronave com o auxílio de funcionários da companhia aérea.
57
Figura 2: Fotografia do embarque no aeroporto de Caxias do Sul para Vitória-ES em agosto de 2006
Fonte: Acervo CIDeF.
Ainda dentro da mesma questão, isto é, da experiência de viagem mais marcante,
alguns participantes relataram experiências negativas que vivenciaram em suas viagens, como
o caso de E11, cadeirante:
Experiência mais marcante de viagem que eu tenho, acho que foi pra Porto Alegre.
Pra um campeonato que nós fomos, que nós ficamos num alojamento no terceiro
andar, não tinha elevador. O almoço era direto no Tesourinha, uma marmita no
Tesourinha, não tinha nem garfo, nem faca, tinha de comer com a tampa da marmita.
A experiência não foi muito agradável.
Os comentários que seguem, a respeito das experiências negativas, são basicamente
sobre as poucas condições de acessibilidade, ou mesmo sobre a falta dessas condições, com as
quais o deficiente físico se depara ao realizar uma atividade turística, ou mesmo uma viagem.
As relações entre o turismo e o deficiente são ilustradas aqui com vários depoimentos
dos participantes da pesquisa, que, a partir da sua própria perspectiva, apresentam as barreiras
encontradas em viagens, mas também relatam que, apesar dessas dificuldades, gostam de
viajar e realizar atividades turísticas.
Das experiências de viagem que E1, cadeirante, tem recordação, uma em especial
merece destaque:
58
Todas foram legais, apesar de algumas dificuldades, como pra São Paulo, eu passei
22 horas dentro do ônibus, porque eu não ia descer em tudo que era parada, porque
descer e subir no ônibus era difícil. E fiquei 22 horas dentro do ônibus, foi terrível,
no mesmo banco.
Quando questionados a respeito de como percebem a estrutura física, o transporte, a
hospedagem e a alimentação, relataram que as principais barreiras encontradas são os acessos
aos banheiros nos hotéis. Falam que esses são geralmente apertados e não oferecem condições
de mobilidade para a cadeira, nem acesso fácil ao boxe de banho.
No hotel, o quarto era pra deficiente a entrada no banheiro, mas banho, não tinha
condições, era com boxe, era bem apertadinho, não tinha como uma cadeira de rodas
entrar. (E1, cadeirante, 2006)
Tu chega no quarto, o banheiro não é adaptado, geralmente é uma porta estreita que
não entra a cadeira de rodas. Um boxe pra tu tomá banho menor ainda, né? E fica
complicado. (E4, cadeirante, 2006)
O banheiro do hotel não era adaptado, mas assim: ele era grandinho, e eu não tinha
dificuldade de entrar. Só na porta, na porta sim, uma pessoa acho que com cadeira de
rodas, acho que não entrava. (E7, andante, 2006)
É como nós tava falando, que nem num hotel, por exemplo, eu não vi, talvez até
tenha, mas eu não vi banheiro adaptado pros cadeirantes.Tem a porta grande, tu entra
com a cadeira de roda. Mas daí no momento que tu quer ir no banheiro, não entra a
cadeira, fica difícil pra pessoa que não consegue andar, fica tudo complicado. (E8,
andante, 2006)
O único problema que nem nos hotéis que a gente pára é o banheiro, que não tem
banheiro adequado pro cadeirante entrar no banheiro. chega até na porta, daí o
cara vai ter de providenciar mais uma cadeira, daí desce da cadeira do cara, vai pra
outra cadeira, é uma mão-de-obra. (E9, cadeirante, 2006)
A gente sente bastante dificuldade. No hotel que nós ficamo ano passado, eu não
tinha acesso nem na porta do banheiro, pra ti ter uma idéia. A dificuldade é grande,
mas a gente se vira. Eu tinha de passar por duas cadeiras de plástico pra depois poder
botar uma outra de baixo do box. Eu tinha de passar por três cadeiras pra poder
chegar no banho. A dificuldade é grande. (E14, cadeirante, 2006)
Outro problema na estrutura, levantado pelos participantes da pesquisa, é a respeito
do transporte. Não existe, no Brasil, ônibus adaptado para transporte rodoviário de deficientes
físicos. Paraplégicos precisam ser carregados para dentro e para fora do ônibus.
Em transporte era ruim, dependia dos amigos pra me carregar, é ruim, fica chato né?
(E1, cadeirante, 2006)
59
Intermunicipal, alta dificuldade pra cadeirante principalmente. Muitas vezes as portas
são estreitas, não entra, é dificuldade. Escada pequena. Não sei quem é que faz
aquela estrutura, bem complicado. (E3, andante, 2006)
Não existe um ônibus rodoviário adaptado. Todos eles são ônibus normal. Então tu
tem que, a maioria tem que ser carregado pra dentro do ônibus. Como o ônibus tem
corredor estreito, sabe, às vezes até acontece de se raspar, se machucar,
principalmente o paraplégico. (E4, cadeirante, 2006)
Uma barreira é o ônibus, né? no ônibus, normalmente, não tem ônibus adaptados,
em qualquer viagem então tem escada, então essa é uma barreira. (E7, andante, 2006)
Quanto à alimentação, relataram que m adequado acesso a esse serviço, o
encontrando dificuldades.
Alimentação? Isso era fácil, pra isso eu nunca tive problema. (E1, cadeirante:, 2006)
Pra mim tava fácil. Mas, por exemplo, em Santa Cruz, eu acredito que para um
cadeirante era difícil sabe. O local era um pouco estreito sim. Mas pra outras pessoas
acho que era um pouco complicado. (E2, andante, 2006)
Assim, tranqüilo entre aspas. Que nem nos hotéis normalmente, pra se servir, se é
buffet, tem de ter alguém pra te ajudar a servir, que nem lá em Fernando de Noronha,
no navio, sempre tinha o pessoal, não precisava meus pais junto. (E7, andante,
2006)
Geralmente, para superar as barreiras, os próprios integrantes do grupo se ajudam,
sempre colaboram para que os colegas se sintam bem. Ao serem questionados sobre a
importância de viajar e de seus aspectos positivos, os participantes relataram que viajar é
importante para conhecer lugares, e pessoas diferentes e também porque favorece a integração
do grupo:
Eu gosto de conhecer outros lugares, gosto de me divertir. Eu acho que é um gosto
normal, todo mundo tem ele, todo mundo gosta de viajar, eu também gosto. (E1,
cadeirante, 2006)
Tu conhece outros lugares, tu, sei lá, sai um pouco da tua cidade e pode também
comparar. (E2, andante, 2006)
Pois olha, quando entrei na CIDeF, quando começou essas viagens, eu adorei.
Falando com os outros colegas, justamente porque tu começa a conhecer pessoas
novas, de outras cidades né, e daí, existe aquela integração que a gente fica com
amizade enorme, aí tu troca experiências com eles né? ” E4, cadeirante
Porque a gente vai, conhece coisa diferente. Sempre tem uma coisa diferente. (E5,
cadeirante, 2006)
60
Porque tu conhece outras pessoas, tu vê outras pessoas diferentes. Tu sai do stress do
teu dia-a-dia. Tu até esquece que tem deficiência. (E12, andante, 2006)
Pra poder conhecer lugares, e tu fica dois, três dias com os amigos, você parece que
fica mais tranqüilo. (E14, cadeirante, 2006)
Além de apresentar suas considerações a respeito da importância de viajar, alguns
participantes contaram que, nos intervalos dos jogos em uma competição, o tempo pode ser
aproveitado para realizar atividades turísticas:
Tipo Campeonato Brasileiro, a gente fez muito turismo lá. Enquanto não jogava,
fazia turismo, porque era um ou dois jogos por dia. (E3, andante, 2006)
Quando a gente teve em Vitória, um dia que nós não competimos, eles mesmos
tinham ido lá, levou nós pra conhecer a cidade, levou nós na Vila Velha. Então nós
formamo um grupo pra conhecer a cidade. (E8, andante, 2006)
A gente conheceu bastante lugares né. Nós tinha as nossas hora de folga, o cara foi
conhecer os ponto turístico lá de Vitória. (E9, cadeirante, 2006)
Como dito anteriormente, a viagem a Vitória, até o momento, foi uma das mais
relevantes para o grupo, e conhecer essa cidade, para muitos dos participantes, foi possível
pela condição de serem atletas que viajam para competir.
61
7 DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES
Nesse segmento da dissertação, retomam-se as categorias de análise, com a intenção
de estabelecer relações significativas entre as informações coletadas e a literatura pertinente.
7.1 Perfil dos deficientes físicos estudados
O Centro Integrado do Portador de Deficiência Física de Caxias do Sul CIDeF– é
uma entidade não-governamental, formada por pessoas portadoras de deficiência sica, que
encontraram no esporte o meio viável de inclusão social, ressignificando sua própria vida.
No caso específico do grupo de deficientes estudados, pode-se observar que eles
buscam crescer também como cidadãos e estão sempre lutando por seus direitos. As pessoas
portadoras de deficiência entrevistadas, sendo 15 integrantes do CIDeF, 11 homens e 4
mulheres, com algum tipo de comprometimento físico de causas adquiridas, por acidentes ou
doenças crônico-degenerativas que totalizam 12 pessoas. Dos 15 participantes, 3 apresentam
deficiências físicas provenientes de causas congênitas.
Com uma história de 10 anos, o CIDeF constitui-se em uma associação com
princípios e valores definidos, que dão suporte para o desenvolvimento das atividades
promovidas pelos gestores. Os arts. e do Capítulo 1, do Estatuto do CIDeF (D1),
enfatizam que a finalidade da associação é promover entre os associados o trabalho, o esporte,
o lazer e a cultura, sem qualquer tipo de discriminação.
De acordo com Sassaki (1997, p. 41) a prática da inclusão social repousa em
princípios até então incomuns, tais como: aceitação das diferenças individuais, valorização de
cada pessoa, convivência dentro da diversidade humana, aprendizagem através da cooperação.
A proposta do CIDeF vem de encontro ao que propõe Sassaki, uma vez que essa instituição
tem como propósito respeitar aqueles que participam da entidade, oferecendo-lhes um
ambiente social com diferentes atividades, como acesso à educação, ao trabalho, ao lazer e ao
esporte adaptado.
A observação seletiva que se fez dos participantes das equipes de basquetebol em
cadeira de rodas, permitiu perceber que os integrantes do CIDeF mostram-se pessoas comuns,
62
em busca de objetivos de vida, que são corriqueiros a qualquer pessoa. Por exemplo, concluir
uma faculdade, constituir uma família, ter um emprego, ou destacar-se no esporte. O CIDeF
procura oferecer aos seus membros meios para que eles consigam atingir esses e outros
objetivos, incentivando-os a dar continuidade aos estudos, oferecendo benefícios de um plano
de saúde, promovendo oportunidades de emprego e oportunizando práticas esportivas e de
lazer.
Em um panorama nacional, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas FGV, em
parceria com a Fundação do Banco do Brasil, realizada em 2003, mostrou que existe no Brasil
“cerca de 24,5 milhões de pessoas com deficiência física ou mental ou ainda que declarem
ter a percepção de possuírem incapacidades. [...], em que o percentual sobe para 14,5% da
população”.
Em síntese, esse mesmo estudo apresenta as seguintes informações que podem ser
visualizadas no quadro 4:
21,6% dos deficientes do país nunca foram à escola R$ 529,00 é a renda média da pessoa com
deficiência no país, 100 reais a menos do que a
média geral
O Brasil possui cerca de 26 milhões de trabalhadores
formais ativos, isto é, pessoas que trabalham com
carteira registrada. Destes, 537.000 apresentam algum
tipo de deficiência, menos de 2,05% da população é
deficiente
O investimento do Governo Federal em políticas de
amparo ao deficiente vem diminuindo. Em 1997, foi
de 30,2 milhões de reais. No ano de 2000, esse valor
caiu para 15,9 milhões de reais
A maioria das deficiências (21%) tem origem em
doenças crônico-degenerativas
Cerca de 18% têm causas externas, como acidentes
de trânsito, de trabalho e violência
16,8% ocorrem por falta de assistência à mulher
durante a gravidez
16,6% das deficiências são motivadas por
transtornos congênitos e perinatais
11% resultam de desnutrição e outras causas ligadas a
condições de miséria
10% das deficiências são conseqüência do uso de
álcool e de drogas
6,6% acontecem em função de alterações psicológicas
Quadro 4: Perfil das pessoas com deficiência no Brasil, de acordo com a FGV e a Fundação Banco do Brasil
Fonte: www.autistas.org/fgv.htm.
A realidade do deficiente físico, no contexto nacional, está em estado de alerta. Os
números apresentados nessa pesquisa mostram uma realidade de cerca de 24,5 milhões de
brasileiros, sem esquecer as famílias dessas pessoas, que também pagam o ônus das
dificuldades que um deficiente físico enfrenta em seu dia-a-dia. O deficiente, assim como
qualquer cidadão necessita de oportunidades de ir à escola, de conseguir um emprego, de ter
condições de se deslocar. Ele não deseja ser um empecilho aos familiares e às demais pessoas
de seu contexto social. Esses são os sentimentos que foram expressos pelas pessoas
deficientes com as quais convivemos e que fazem parte do CIDeF.
63
De acordo com a Declaração de Madrid (2003), quando a União Européia se uniu
para buscar alternativas para acabar com a discriminação e efetivar mais ações para a inclusão
social, dentre outras questões, salientou o que segue:
a) A deficiência é uma questão de direitos humanos: as pessoas com deficiência
gozam dos mesmos direitos fundamentais que os demais cidadãos;
b) As pessoas com deficiência querem igualdade de oportunidades e não caridade:
as concepções obsoletas baseadas, em grande parte, na compaixão e na dita
incapacidade de defesa das pessoas com deficiência são atualmente julgadas
inaceitáveis;
c) As barreiras sociais geram a discriminação e a exclusão social: a forma como
estão organizadas as nossas sociedades leva à crença de que as pessoas com
deficiência não são capazes de exercer plenamente seus direitos fundamentais,
sendo excluídas socialmente;
d) As pessoas com deficiência apresentam-se como cidadãos invisíveis: a
discriminação que as pessoas com deficiência sofrem é, muitas vezes, baseada
nos preconceitos existentes contra elas e pelo fato de serem largamente
ignoradas e esquecidas;
e) As pessoas com deficiência constituem um grupo heterogêneo: estão presentes
em todas as esferas da sociedade;
f) Existe a necessidade de não-discriminação, incluindo-se ações positivas que
gerarão a inclusão social.
Esse mesmo documento relata que, em 2003, a Europa tinha mais de 50 milhões de
europeus com deficiência. A informação sobre as ações que a Europa pretende adotar com
relação aos seus cidadãos deficientes, serve como exemplo a outras nações.
As pessoas deficientes não querem nada além de seus direitos, não desejam
privilégios. As sociedades são mutáveis, seus preconceitos podem ser desfeitos, ações
inclusivas são uma realidade, o que se faz necessário é que essas ações sejam maiores e
mais freqüentes, para que um número cada vez maior de deficientes possa viver em plenitude,
em busca do que deseja.
As entrevistas apontaram que os deficientes físicos que adquiriram a deficiência por
essa ou aquela causa, têm o processo de auto-aceitação mais dificultado e mais penoso,
quando, comparados aos deficientes físicos de causa congênita.
Os primeiros mergulham em um luto que pode ser curto ou longo, dependendo do
tempo que levam para se reintegrar socialmente.
64
Quando vistos sob o olhar da deficiência da qual são portadores (SASSAKI, 1997;
PADILHA, 2001), serão tratados com piedade, considerados doentes e, devido a essa
situação, simplesmente ficam limitados ou impossibilitados de desenvolver suas
potencialidades. Se, porém, forem acolhidos dentro de um pensamento inclusivo, serão vistos
como indivíduos que apresentam um comprometimento físico, mas tal fato não significa que
são menos dignos de usufruírem de todas as atividades sociais conhecidas.
A inclusão dessas pessoas, no CIDeF, reforça a inserção social e uma melhora da
qualidade de vida, de acordo com o depoimento de E9 que é um cadeirante:
Tem fase, tem fase da vida, às vezes o cara diz, bah o cara ta numa cadeira, mas de
repente é uma oportunidade pra ti conhece vários lugares.
Essas pessoas o encontraram na deficiência uma barreira, souberam tirar dela
oportunidades nunca antes pensadas, como sair de Caxias do Sul e viajar para Vitória e andar
de avião. (E3, E6, E8, E9, E10, E13, E14)
A cadeira de rodas, a bengala, a muleta, ou a prótese tornam-se mais do que simples
equipamentos para auxílio da locomoção, tornam-se parte do corpo e da vida. E2 chama sua
bengala pelo nome, é uma companheira que possibilitou um pouco mais de liberdade e
autonomia. E12 tem sua perna forrada por adesivos e desenhos e são como tatuagens. Citam-
se esses dentre outros casos que a pesquisadora pôde observar.
A troca de experiências também acontece entre os integrantes do CIDeF, que, além
de treinar e jogar, aproveitam o tempo de convivência do grupo para conversar sobre suas
angústias e sobre suas conquistas, como observado e dito pelo participante E10, que contou
um fato interessante, que é comum para os cadeirantes. Disse que ele havia sido confundido
com um esmoleiro e que inclusive recebeu alguns trocados. Tal atitude mostra que o estigma
de incapaz e de alguém que precisa sempre de caridade assombra o cadeirante. (SASSAKI,
2005).
O portador de necessidades especiais, nesse caso o deficientesico, ainda sofre uma
discriminação que apresenta raízes históricas como afirma Aguirre et al.:
A pessoa afetada por uma deficiência ocupava um lugar na sociedade; tinha um
lugar assinalado, um status pré-estabelecido entre os atípicos e os pobres. Era
identificado, destarte, por uma dupla marginalização: orgânica/funcional e social,
visível em diferentes expressões culturais ao longo da História. (2003, p. 37):
65
Percebe-se que o estigma apresentado pelos autores vem perdendo fôlego na nossa
sociedade, face os programas que vêm sendo implementados para os portadores de
deficiências de diferentes matizes.
A fala do participante E7 (andante) merece destaque. Diz que trabalha em um dos
setores administrativos de uma grande empresa da cidade, recebe dela uma bolsa para seus
estudos de graduação, o que comprova que os pensamentos ultrapassados podem sim dar
lugar a atitudes inclusivas, que geram oportunidades para todos. Exemplos como os de E10 e
E7 são comuns no CIDeF: preconceito de um lado, mas conquista e reconhecimento de
outro.
Ainda sobre situações de discriminação, Mendes (2001, p. 12) acredita que o
preconceito existente é fruto da desinformação de muitos. Com base nesse pensamento,
pensa-se que o principal agente dessa mudança e dessa informação deva ser o próprio
portador de necessidade especial, mas, para isso, é imprescindível que ele tenha oportunidade
para tal atitude, e está a função do Estado. Esse, no entanto, limita-se a oferecer uma
pensão, uma ajuda de custo para que o deficiente pague seus remédios, faça seu tratamento e
espere a vida passar. Diz o autor que não se pode esperar pelo Estado, é a própria sociedade
que deve mudar esse paradigma e respeitar o deficiente pelo que ele é, e pelo que ele pode
fazer, e não discriminá-lo por aquilo que não tem.
No caso da maioria dos integrantes do CIDeF, a história não é muito diferente. Pelas
suas condições socioeconômicas, eles são, em grande parte, aposentados pelo INSS. Recebem
uma aposentadoria para cobrir as despesas pessoais e suprir os gastos da família. Essa
situação não permite uma vida com sobras financeiras. Alguns têm renda adequada para
suprir suas necessidades. Estes tiveram oportunidades e trabalham.
Em síntese, o perfil dos participantes do estudo é heterogêneo quando se analisa a
origem social, as condições econômicas, a forma de pensar e de encarar a deficiência. O ponto
em comum do grupo é que todos são portadores de deficiência física e participam de um
grupo socioesportivo onde praticam esporte adaptado.
7.2 Experiências e viagens: destinos significativos
As primeiras experiências turísticas de grupos portadores de deficiência física são
bem recentes. Sassaki (1997) afirma que foi somente na década de 70 que surgiram as
66
primeiras excursões turísticas organizadas por agência de viagens, para pessoas deficientes e,
inicialmente, para as pessoas que utilizam cadeira de rodas. Isso tudo começou em países
desenvolvidos. Diz o autor que eram excursões fechadas, exclusivamente com pessoas
deficientes e que havia muitas dificuldades para organizar as excursões, uma vez que, naquele
tempo, eram poucos os lugares turísticos no mundo que estavam acessíveis aos usuários de
cadeira de rodas, sem contar a total inacessibilidade a aviões, aeroportos, navios, portos, etc.
Como base nessa informação pode-se deduzir que organizar excursões somente para
cadeirantes era uma forma sutil de segregação, uma vez que as viagens eram pensadas para
não viajarem com as pessoas sem deficiência. O relevante disso tudo foi a idéia inovadora dos
agentes turísticos que promoveram esses eventos. A partir de então, o deficiente pode sair e
buscar suprir as motivações que levam um indivíduo a deslocar-se de sua residência para
outro destino.
O deficiente físico também quer aproveitar os benefícios que uma viagem oferece.
Krippendorf (2001) enfatiza que se viaja para encontrar uma compensação daquilo que falta
no cotidiano, para tudo que desapareceu. O deficiente físico viaja, para libertar-se da
dependência social, desligar-se e refazer energias, desfrutar da independência e da livre
disposição do próprio ser, entabular contatos, descansar, viver a liberdade e procurar um
pouco de felicidade.
Ao sair do meio social em que vive, é possível ter um pouco de liberdade, um pouco
mais de autonomia. Liberdade e autonomia são para o deficiente físico mais do que simples
palavras, representam conquistas, que, mesmo pequenas, proporcionam um ganho significado
na vidas O participante E8, andante, disse o seguinte:
Mas a viagem é muito importante pra nós que temos esse problema de deficiência,
isso é muito importante porque a pessoa não fica trancada em casa. A pessoa conhece
outras pessoas. A convivência muda totalmente. Conhecer outros lugares, viajar de
avião, nossa, é bom demais.
Viajar acaba sendo para essas pessoas muito mais do que simplesmente sair de casa,
viajar é uma oportunidade de viver com mais intensidade, e E12, andante completa: “Tu até
esquece que tem deficiência.”
Mas viajar, vivenciar atividades turísticas de lazer implica despesas financeiras. A
pergunta que se impõe é: como um grupo de deficientes físicos, que, em sua maioria, recebe
uma aposentadoria do INSS, poderá desfrutar de tais atividades?
A resposta: um pensionista do INSS, sem outras fontes de renda, o terá condições
de realizar viagens de turismo. Nesse sentido, o esporte adaptado, que hoje pouco difere do
67
esporte em geral, em termos de oportunidades de viagens, acaba favorecendo de forma
positiva a inclusão social dos deficientes físicos vinculados a equipes esportivas.
Pensando nessa direção para o grupo do CIDeF, o turismo somente vem sendo
possível graças à participação na equipe de esporte adaptado. Pertencer a uma equipe
esportiva, que viaja para competir, e tem apoio financeiro da UCS e da Prefeitura Municipal
de Caxias do Sul é uma oportunidade ímpar para realizar viagens, sair de casa e conhecer
outras pessoas e lugares, o que melhora de forma substancial a qualidade de vida.
E, no caso do CIDeF, a viagem também acaba sendo um estímulo a mais para os
treinamentos dos participantes do grupo, como relata E8, andante:
Pro portador de deficiência, [...] quando chega o dia do treino, eu penso naquilo
ali. To loco que chegue o dia do treino pra mim vir treiná. Dá uma viagem, eu
também quero ir.
Isso porque as viagens que são feitas pelo grupo são significativas para essas,
pessoas e todos possuem sempre boas lembranças, como a viagem a Vitória em 2005. Além
da euforia de participar de um campeonato de basquete sobre rodas, em nível nacional, a
chance de viajar de avião foi possível para a maioria por serem atletas e participarem de
uma equipe. Se não fosse essa condição, dificilmente teriam tal experiência.
Em Vitória, nos intervalos dos jogos, foram realizados passeios aos pontos turísticos
da cidade. Isso também foi, para muitos dos atletas, a primeira oportunidade de tomar banho
de mar.
Ainda em Vitória, o fato de serem bem recebidos foi fundamental para tal sucesso.
E8, andante, contou que saíram para conhecer a cidade e tudo estava pensado pelos
organizadores do evento. Tal atitude dos gestores daquele evento se caracteriza como aspecto
positivo e de relevância, por tratar-se de uma competição para portadores de deficiência física.
O grupo do CIDeF realizou muitas outras viagens, já que a condição de atletas enseja
muitas viagens para competir. A equipe do CIDeF participa do Campeonato Gaúcho, da Liga
Sul e do Campeonato Brasileiro. Para participar do Campeonato Gaúcho, a equipe viaja para
Porto Alegre, Erechim, Santa Cruz, Passo Fundo, entre outras cidades do estado. Também
viaja para realizar jogos de apresentação, como fez em 2006, na cidade de Nova Petrópolis-
RS, onde, depois do jogo, nesse mesmo dia, os integrantes do CIDeF foram visitar pontos
turísticos da cidade. Na Liga Sul, viajaram para Curitiba-PR, Florianópolis-SC e Joinville-SC.
No Campeonato Brasileiro, além de Vitória-ES em 2005, o CIDeF participou de mais uma
edição em 2006 na cidade de Fortaleza/CE. (D3, D4, D5, D6, D7, D8, D10 e D11)
68
Fora do contexto esportivo, as viagens dos participantes estudados não ocorrem com
freqüência. Ainda assim, os que viajam, relataram que os principais destinos são as praias.
Buscam o sol e o mar para satisfazerem seus desejos de descanso e para passeios com amigos
e com a família. Aqueles deficientes físicos que apresentam melhores condições
socioeconômicas realizam com mais freqüência atividades turísticas. A participante E7,
andante, foi para o Rio de Janeiro, São Paulo, Litoral catarinense, Nordeste e Fernando de
Noronha. Em suas viagensc costuma estar acompanhada pelos pais. E a participante E1,
cadeirante, que foi visitar o Parque de Lazer Beto Carreiro-SC com um grupo de amigos,
contou que o parque é acessível e que já o visitou mais de uma vez pelas facilidades de acesso
e locomoção.
O portador de deficiência física dificilmente viaja sozinho, o que Pertille (2005)
também afirma como conclusão da pesquisa que fez com esse extrato social. Gómez (2004)
destaca que as pessoas com necessidades especiais constituem uma parte importante do
mercado turístico em crescimento e que a oportunidade de viajar desperta um interesse cada
vez mais crescente a essas pessoas e aos seus acompanhantes.
A participante E7, andante, contou que, em sua última viagem, a que fez a Fernando
de Noronha, o fato marcante, além da própria viagem em si, foi a hospitalidade. Contou que a
tripulação do navio e as pessoas de modo geral sempre a trataram muito bem, fazendo com
que se sentisse incluída, com plena participação nas atividades que desenvolveu. A
hospitalidade, nesse caso, foi fundamental para que a participante E7 guardasse boas
recordações da viagem.
Camargo (2004) entende que a hospitalidade pode se definir como uma ação
humana, exercida em contexto doméstico, público e profissional, de recepcionar, hospedar,
alimentar e entreter pessoas temporariamente deslocadas de seu hábitat natural.
Ser bem recebido fora de casa é fundamental para que as pessoas se sintam acolhidas
e, no caso das pessoas com deficiência física, tal atitude é fundamental, pois elas procuram
nos anfitriões a segurança que, muitas vezes, não encontram no ambiente físico. As atitudes
positivas amenizam as barreiras que o deficiente precisa superar para desfrutar das atividades
turísticas.
Para que o deficiente se sinta bem, e com a finalidade de contribuir para a sua
inclusão social nas atividades sociais, inclusive nas turísticas, algumas organizações não
governamentais (ONGs) exercem papel fundamental na vida dessas pessoas. Alguns
exemplos são citados a seguir:
69
A ONG. Zvaz Telesne Postihnutej Mladeze ZTPM (União de jovens deficientes
físicos) da cidade de Bratislava, na Eslováquia, tem como principal objetivo a
inclusão de jovens deficientes físicos, tentando eliminar todo o tipo de preconceito
que ainda os rodeia. Desenvolve com seus membros o gosto pela natureza, por
meio de um contato direto com o meio ambiente, realizando atividades como
terapias, trilhas, jogos desportivos e teatro. Nas viagens, procura estabelecer trocas
culturais, compartilhando experiências de vida e experiências profissionais.
No Brasil existem iniciativas positivas, como a ONG. Caminhadores, em Porto
Alegre-RS. De acordo com seus ideais inclusivistas, essa ONG. tem consciência
de que o turismo é também uma forma de inclusão social, que oferece às pessoas
portadoras de deficiência o prazer de viajar e conhecer as belezas que o Estado do
Rio Grande do Sul possui.
Nesses dois exemplos, os facilitadores para o processo inclusivo são as atividades de
viagem e turismo, pois se entende que o deficiente deve realizar as mesmas atividades de uma
pessoa sem deficiência.O próprio CIDeF, aqui em Caxias do Sul, usa o esporte com esse
mesmo fim.
Ainda no Brasil, uma operadora de turismo, a Freeway Brasil dispõe de pacotes
turísticos exclusivos para portadores de necessidades especiais, com um departamento próprio
para esse tipo de cliente. Em visita ao site dessa operadora, encontram-se depoimentos de
clientes deficientes que realizaram passeios e demonstram satisfação em ser bem tratados e
por realizarem uma atividade turística, ou simplesmente um passeio.
O panorama, além das fronteiras do CIDeF, demonstra que os deficientes buscam
fazer turismo e passeios, mas em escala muito pequena. Os motivos? Quem pode saber com
certeza? As hipóteses podem ser: vergonha, medo do preconceito, o fato de encontrar ainda
muitas barreiras físicas ou por ser uma atividade cara.
Sabe-se que, para viajar, o se pode esquecer o fator econômico. Quem pode pagar
exige qualidade nos serviços. Para Aguirre et al. (2003), os principais serviços que a atividade
turística deve oferecer são cinco: contratação de serviços (1), transporte (2), área de
gastronomia (3), área de alojamento (4) e área de recreação (5). Os autores afirmam ainda que
cada uma dessas áreas precisa levar em consideração uma série de variáveis, que requerem
uma maior atenção quando se trata de pessoas participantes com restrições para deslocar-se no
espaço. Esses aspectos, quandoo adequados, apresentam-se como barreiras às pessoas com
deficiência.
70
7. 3 Percepções dos deficientes físicos frente às condições de acessibilidade
Em princípio, apresentam-se as percepções de acessibilidade no ginásio de treino da
UCS:
Como visto na O2, existem barreiras no próprio ginásio em que o CIDeF treina, como
falta de vestiários adaptados com boxe de banho ou cadeiras plásticas. Outra barreira
importante é o transporte, que, mesmo sendo adaptado, muitas vezes, por falha no sistema de
agendamendo, acaba por não servir ao seu usuário. Em algumas situações, o motorista do
ônibus não busca o atleta, fazendo com que ele perca seus compromissos.
O fato de o existir no município um meio de transporte rodoviário adaptado, como
um ônibus, as viagens mais curtas são feitas em veículos sem adaptação.
As percepções que esses indivíduos têm sobre suas viagens, e/ou experiências
turísticas apresentam aspectos relevantes a serem abordados neste trabalho. Essas percepções
destacam a importância de viajar e fazer turismo, mesmo com as dificuldades inerentes à sua
execução plena.
De maneira geral, os portadores de deficiência física acreditam que as viagens são
fundamentais, por facilitarem a inclusão social e possibilitarem que eles desfrutem dos
benefícios que a atividade turística proporciona para seu crescimento pessoal e para sua
qualidade de vida.
Os depoimentos dos participantes E1, E2, E4, E5, E12, E14 atestam que é importante
viajar para poder conhecer outras pessoas e outros lugares. As viagens também fortalecem a
integração do próprio grupo que viaja, sendo, na maioria das vezes, uma atividade gratificante
que dificilmente será esquecida.
Como dito em outras ocasiões, para a maioria dos integrantes do CIDeF, a
possibilidade de realizar atividades turísticas, por meio de viagens que realizam, somente é
concretizada pelo fato de serem atletas de uma equipe de basquete em cadeira de rodas. Sem
essa condição, dificilmente experimentariam tais experiências.
Nos locais em que são realizadas as competições, principalmente as de nível
nacional, desfrutam de passeios fazendo turismo, como relataram os participantes E3, E8 e
E9. Contaram que, nos intervalos do período de competição, realizaram passeios a pontos
turísticos, principalmente em Vitória-ES. Embora a viagem tenha sido para competir, tornou-
se também uma viagem turística.
71
Como o estudo em questão trata de viajantes portadores de deficiência sica, as
informações recolhidas apontam que as principais dificuldades encontradas nas viagens são as
barreiras arquitetônicas. Esse tipo de barreira apresenta-se, segundo Sassaki (2002), em:
aeroportos; terminais rodoviários; espaços urbanos; hotéis e similares; museus; teatros;
transporte coletivo; parques ecológicos; parques temáticos; locais de eventos; acampamentos;
etc.
As barreiras arquitetônicas representam, de acordo com a norma NBR 9050/1994 da
ABNT: “o impedimento da acessibilidade, natural ou resultante de implantações
arquitetônicas ou urbanísticas”. E, para que a acessibilidade seja efetivada, faz-se necessária a
implantação do Desenho universal, que, segundo essa mesma norma, é “aquele que visa a
atender à maior gama de variações possíveis das características antropométricas e sensoriais
da população”.
Os integrantes do CIDeF, que participaram da pesquisa, apresentam relatos sobre as
barreiras que encontraram ao realizar as viagens. Com base nesses depoimentos, as barreiras
arquitetônicas foram analisadas de acordo com as regulamentações da norma NBR 9050/1994
da ABNT, sobre acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações, espaço,
mobiliário e equipamentos urbanos.
A principal barreira arquitetônica relatada pelos deficientes físicos participantes da
pesquisa, está no difícil acesso aos banheiros, em hotéis (E1, E4, E7, E8, E9, E14). De acordo
com a norma NBR 9050/1994, os acessos aos sanitários devem ser livres, com uma área de
manobra, área de transferência e de aproximação: “Estas áreas, com dimensões de 1,10m x
0,80m, devem permitir a utilização das peças sanitárias, podendo estar dispostas frontal ou
lateralmente à peça, de acordo com a sua utilização.” Como pode ser visto na figura 3.
72
Figura 3: Área de transferência à bacia sanitária ou ao bidê
Fonte: Norma NBR 9050/1994.
Na maioria das vezes, os cadeirantes encontram dificuldades em utilizar os banheiros
dos hotéis, pois as adaptações feitas para atender às necessidades de um deficiente físico, que
utiliza cadeira de rodas, não são ideais, como exemplifica E8:
Tem a porta grande, tu entra com a cadeira de roda. Mas daí, no momento que tu
quer ir ao banheiro, não entra a cadeira, fica difícil pra pessoa que não consegue
andar, fica tudo complicado.
Os participantes costumam dizer que, além de sofrer com o preconceito por sua
condição física, o deficiente ainda precisa passar pelo constrangimento de solicitar ajuda para
utilizar o banheiro em ambientes estranhos, ou seja, fora de sua casa.
Disso tudo, ainda se pode depreender um aspecto positivo: o deficiente está saindo
de casa sim, e seus depoimentos devem servir para sensibilizar os responsáveis por projetos
arquitetônicos discriminatórios.
E, se o acesso ao banheiro é difícil, chegar até o boxe do banho é outro desafio:
Diz um participante:
Eu tinha de passar por duas cadeiras de plástico pra depois poder botar uma outra de
baixo do boxe. Eu tinha de passar por três cadeiras pra poder chegar no banho. A
dificuldade é grande.” (E14).
73
A norma também apresenta uma perspectiva para um sanitário completo, com acesso
ao banho, sem que o cadeirante encontre dificuldades, como visto nas figuras 4, 5 e 6:
Figura 4: Perspectiva de sanitário completo
Fonte: Norma NBR 9050/1994.
74
Figura 5: Acessórios sanitários
Fonte: Norma NBR 9050/1994.
75
Figura 6: Exemplos de sanitários com banho
Fonte: Norma NBR 9050/1994.
76
A disposição das peças em um sanitário e o espaço para a mobilidade entre elas
proporcionam independência e comodidade a um usuário de cadeira de rodas. A utilização do
sanitário não deve ser pensada apenas para quem apresenta membros inferiores saudáveis,
sem qualquer comprometimento, mas para todos, pois, em uma sociedade com padrões
culturais, o banheiro é essencial para que as pessoas, com ou sem deficiência, possam realizar
suas necessidade fisiológicas sem constrangimentos.
No caso do CIDeF, destaca-se que, às vezes, mesmo nos locais da competição, as
condições de acomodação e acessibilidade são difíceis para quem é portador de necessidades
especiais. O participante E11, cadeirante, contou que, em uma competição em Porto Alegre,
ficou alojado no terceiro andar, com a ressalva de que o prédio não tinha elevador.
Essa questão também foi apontada pelo participante E10, cadeirante:
Ginásio que a gente vai, também não existe adaptação pro deficiente. Tu qué tomá
um banho, às vezes não tem nem uma cadeira de plástico pra tu tomar banho. Muitas
vezes o cara senta até no chão pra tomar um banho.
A situação é mesmo complicada para quem usa cadeira de rodas. Alguns locais, onde
as competições para portadores de necessidades especiais são realizadas, não apresentam
condições mínimas de acessibilidade. Quando um evento é organizado, ele deve ser pensado
em todos os aspectos, para que o mínimo de falhas aconteça, mas, em se tratando de uma
competição para deficientes físicos, o acesso livre para cadeira de rodas, em todos os espaços,
deveria ser a principal preocupação de quem organiza esse tipo de atividade.
Além dos sanitários, outra dificuldade encontrada pelo usuário de cadeira de rodas
está no transporte. Geralmente, o meio de transporte utilizado pelo CIDeF, para a realização
de suas viagens é o ônibus. Até o momento, sempre a associação utilizou ônibus sem
adaptação, ou seja, sem acesso para cadeirantes. Nessas situações, os cadeirantes precisam ser
levados por outras pessoas para dentro da condução ou sobem de arrasto pelas escadas. Como
disse E4, cadeirante:
Tu tem que, a maioria tem que ser carregado pra dentro do ônibus. Como o ônibus
tem corredor estreito, sabe, às vezes, até acontece de se raspar, se machucar,
principalmente o paraplégico.
A norma NBR 15320/2005 da ABNT estabelece padrões de acessibilidade para
pessoas portadoras de deficiência física ao transporte rodoviário, e por meio deles, prevê
como deve ser um veículo acessível, assim como os demais equipamentos necessários ao
transporte rodoviário, como terminais e bilheteria. A norma também prevê situações de
77
inoperância, em que diz: “Em caso de inoperância dos dispositivos mencionados em 5.2 a 5.4,
deve ser prevista forma alternativa de acessibilidade. A empresa de transporte deve dispor de
procedimentos e de pessoal treinado para prestar auxílio de embarque e desembarque com
segurança.”
Pelo menos até o momento, nenhum dos participantes da pesquisa utilizou ou viu um
ônibus rodoviário adaptado para o portador de necessidades especiais. Sempre que desejar
viajar de ônibus, o cadeirante deve se sujeitar a ser carregado para dentro e para fora do
ônibus. Como relataram E1, E3, E4, E7, descritos na página 57.
Dentro do que foi apresentado até o momento, percebe-se que as barreiras ainda são
muitas, a estrutura física acessível disponível está distante da ideal e engana-se quem pensa
que essas dificuldades são apenas das pessoas de baixa renda. Em uma reportagem do jornal
O Globo de 3 de dezembro de 2004, lê-se o seguinte:
Herbert Vianna, líder do Paralamas do Sucesso, enfrentou duas vezes, mês passado,
uma situação constrangedora e, infelizmente, comum para qualquer usuário de
cadeira de rodas. Ao embarcar para São Paulo no Aeroporto Santos Dummont e
voltar para o Rio, no dia seguinte, precisou ser carregado nos braços, com cadeira e
tudo, por funcionários das companhias responsáveis pelos vôos, Varig e TAM. Em
ambos os casos, sob chuva. Todos os equipamentos automáticos para embarque e
desembarque de deficientes estavam quebrados. Situações como essa são rotina na
vida daqueles a quem é dedicado, hoje, o dia Internacional das Pessoas com
Deficiência.
A dificuldade encontrada para se locomover de uma forma autônoma, gera nos
deficientes físicos situações constrangedoras. Como seres humanos, essas pessoas têm
dignidade e querem respeito por isso. está na hora de a sociedade tomar atitudes mais
diretas para a resolução desses problemas. O desenho universal precisa ser mais do que um
projeto, necessita ser uma obra concreta, para que todos possam se sentir membros de uma
sociedade sem exclusão.
78
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste que se apresenta como capítulo final da pesquisa, destacam-se as considerações
finais e as disposições transitórias, descritas nos seguintes itens: limitações do estudo,
considerações sobre o problema e questões de pesquisa, perspectivas de continuidade e
reflexões pessoais.
8.1 Limitações do estudo
Como em toda pesquisa, limitações ocorrem, cabendo à pesquisadora listá-las,
juntamente com sugestões que possam contribuir para trabalhos futuros. Uma das limitações
diz respeito ao fato de que a pesquisadora não conseguiu acompanhar, em nenhuma viagem, o
grupo estudado. Isso não aconteceu por falta de convite ou oportunidade, mas por motivos
financeiros, que permitissem subsidiar as viagens e as despesas pessoais.
Como foi dito anteriormente, o CIDeF recebe apoio de instituições que cobrem seus
gastos em viagem, mas a contribuição se restringe a subsidiar os atletas que viajam para
competir. Todavia, a partir do momento em que a pesquisadora passou à condição de técnica
da equipe feminina de basquetebol sobre rodas e da equipe de natação do CIDeF, as viagens
continuarão a ocorrer, e, nessas ocasiões, vai ser possível observar as condições de
acessibilidade dos atletas aos lugares visitados para competir. Esse será outro momento, que
permitirá formar outras convicções e ampliar o olhar para melhor compreender o fenômeno
das barreiras, com os quais os deficientes físicos ainda se deparam.
Outra limitação do estudo foi que, mesmo a pesquisadora fazendo parte do CIDeF,
apresentando os objetivos da pesquisa e deixado claro que suas informações seriam de uso
acadêmico, sem qualquer divulgação de identidade, houve integrantes que não se sentiram à
vontade para falar e conceder entrevista. A pesquisadora entendeu que não deveria insistir e
procurou respeitar a vontade dessas pessoas. Esse é mais um elemento que atesta que os
deficientes sicos, embora integrados em um centro esportivo, ainda não se sentem seguros
para falar de si e das dificuldades com as quais se deparam.
79
8.2 Considerações sobre o problema e questões de pesquisa
O presente estudo teve como objetivo apresentar as percepções sentida por
portadores de necessidades especiais deficientes físicos sobre suas viagens, respondendo
dessa forma ao principal questionamento da pesquisa:
Como os atletas do CIDeF percebem as condições de acessibilidade com as quais
se deparam em suas viagens?
O atletas portadores de necessidades especiais que fazem parte do CIDeF, percebem
que viajar tem fundamental importância na melhoria da qualidade de vida, pois, além de sair
de casa sem o auxílio da família, permite-lhes conhecer lugares, pessoas e culturas, ao mesmo
tempo que as viagens fortalecem os vínculos afetivos do grupo.
As dificuldades encontradas apresentam-se, principalmente, sob a forma de barreiras
arquitetônicas. As mais complicadas, na opinião dos participantes da pesquisa, são o difícil
acesso aos banheiros nos hotéis e a falta de ônibus rodoviário adaptados. Essas situações
geram constrangimentos aos deficientes físicos, uma vez que necessitam se sujeitar à boa
vontade de algumas outras pessoas, para que possam realizar tarefas simples, como ir ao
banheiro ou subir e descer de um ônibus. Isso não seria necessário se as condições
arquitetônicas possibilitassem independência.
Embora encontrem ainda essas barreiras arquitetônicas e/ou outras de atitude, os
atletas dizem que isso não é empecilho para realizarem viagens para competir, uma vez que as
competições dão um significado existencial à vida de cada um.
Como aspectos positivos, relataram que as barreiras de atitude estão sendo rompidas,
e que os preconceitos estão diminuindo. As pessoas estão começando a perceber que o
deficiente tem potencialidades e que merece ser respeitado como ser humano. Isso se deve
também à mídia e à relevância que vem sendo dada aos esportes adaptados.
É oportuno lembrar as relações históricas que existem entre esporte adaptado e as
viagens como descreveram Adams et al. (1985). Os autores sustentam que o basquete sobre
rodas é o primeiro esporte adaptado de que se tem registro. Seus primeiros praticantes eram
soldados americanos mutilados pela guerra, que queriam viajar pelo país para competir, mas
não o faziam no início, devido à dificuldade com o transporte.
A promoção do esporte adaptado, o incentivo a sua prática e a organização de
competições municipais, estaduais, nacionais e internacionais vêm favorecendo o
desenvolvimento da infra-estrutura para atender esse público. Entretanto, apesar das
80
melhorias existentes, os deficientes físicos ainda encontram muitas barreiras em seus
deslocamentos, como falta de transporte adaptado, de hospedagens adequadas as suas
necessidades, para lhes permitir independência.
O que ficou evidente na pesquisa é que a oportunidade de saírem de casa, de
viajarem, sem seus familiares, foi possível, para a grande maioria dos deficientes
participantes do CIDeF, quando se tornaram atletas de basquetebol em cadeira de rodas e
passaram a fazer parte de uma equipe.
Retomando a questão de pesquisa, que aborda as motivações e as experiências
turísticas das pessoas que fazem parte do CIDeF, pode-se destacar o seguinte: o motivo
principal das viagens ser para competição, por se tratar de uma equipe esportiva, não impede
que, nos momentos de folga, os atletas realizem atividades turísticas. Convém lembrar que se
trata de um grupo de deficientes físicos que, em sua maioria, possui uma renda incompatível
para custear viagens de turismo. O esporte é o meio que proporciona tais experiências, sendo
elas muito significativas para essas pessoas. De acordo com os relatos do grupo estudado, a
viagem para Vitória-ES, foi a experiência turística mais marcante, até o momento, pelos
diferentes aspectos que uma viagem pode representar, como conhecer lugares e pessoas,
aliviar o estresse, passear, viajar de avião, tomar banho de mar, entre outras. Se, por um lado,
viajam para competir, a viagem acaba proporcionando uma série de outras vivências e
convivências sociais que não ocorreriam sem ela.
Na questão de pesquisa que relaciona as condições de acessibilidade, no que se
refere ao transporte e à hospedagem, apresenta-se que: nas viagens, os deficientes físicos
acabam se beneficiando da mesma infra-estrutura turística dos lugares, destinada aos turistas
em geral. Ocorre que muitos dos espaços voltados ao turismo, como hotéis, restaurantes,
meios de transportes e outras estruturas físicas, como passeios públicos e ruas, nem sempre
são pensados para oferecer condição de acessibilidade para quem é usuário de cadeira de
rodas.
As barreiras físicas encontradas pelos deficientes físicos ainda são muitas, como a
falta de transporte rodoviário adaptado e falta de acessibilidade no embarque e desembarque
em alguns aeroportos, como relataram os participantes do estudo. Informaram que, frente às
barreiras, procuram superá-las com estratégias adaptadas, para poderem desfrutar um pouco
mais das viagens que realizam. Essas estratégias, segundo os participantes da pesquisa, muitas
vezes exigem esforço e superação, pois quase sempre ficam na dependência da boa vontade e
da disponibilidade de pessoas para auxiliá-los. Costumam se adequar às situações com as
quais se deparam, embora nem sempre possam experimentar a independência na resolução
81
das tarefas do cotidiano, necessitando vez por outra de auxílio de alguém, principalmente no
que se refere à superação das barreiras arquitetônicas.
As barreiras físicas e arquitetônicas mais citadas pelos participantes do estudo são:
difícil acesso aos banheiros nos hotéis e transporte em ônibus não adaptado. Os direitos dos
deficientes são garantidos por lei, mas a garantia de ser efetivado tudo o que está escrito ainda
está distante de se tornar realidade, ao menos no nosso contexto sociocultural.
De acordo com as regulamentações de acessibilidade para portadores de necessidades
especiais, o desenho universal é o principal aspecto que deve ser implantado. Ele tem uma
proposta de que a sociedade estaria projetada fisicamente para atender às necessidades de
todos os seus cidadãos.
Com a terceira e última questão de pesquisa, indaga-se sobre as condições de
acessibilidade dos complexos esportivos nos quais os atletas do CIDeF realizam treinamentos
ou participam de competições. Nesse contexto, inclusive no próprio ginásio onde a equipe
realiza seus treinamentos, apesar de haver rampas de acesso às quadras e um banheiro
adaptado, ainda não há acessos aos vestiários, com chuveiros, nem acesso às arquibancadas da
quadra principal, o que impede ao cadeirante de assistir aos jogos nas arquibancadas.
Destaca-se que projetos na UCS que objetivam diminuir essas barreiras. Está
prevista a instalação de um elevador de acesso às arquibancadas e a reforma de dois
banheiros, para que estes sejam acessíveis aos cadeirantes. Inicialmente, o ginásio de esportes
não foi projetado para atender à demanda de cadeirantes, necessitando atualmente de
adequações para suprir as necessidades desses atletas e do público cadeirante em geral.
Outra situação freqüente nas dependências esportivas da UCS, e em outros ginásios, e
que necessita ser repensada, é a falta de cadeiras adaptadas para que os atletas cadeirantes
possam tomar banho após as competições. Uma das recomendações de higiene, históricas da
Educação Física, é que, após qualquer prática esportiva, deve-se tomar banho. Os
participantes do CIDeF informaram que em muitas ocasiões, após os jogos, para não molhar
suas cadeiras, tomam banho sentados no chão. Sugere-se uma forma simples para solução do
problema, isto é, disponibilizar cadeiras de plástico nos vestiários, para que os cadeirantes
possam utilizá-las para tomar banho. Quem sabe tenham que ser adaptadas, mas, para tanto,
deve haver vontade política dos responsáveis pelo funcionamento dos complexos esportivos
ou uma reunião com agenda positiva entre os dirigentes e o grupo de cadeirantes que utiliza
dependências esportivas.
82
Atitudes simples, como organizar um alojamento no térreo, ou disponibilizar uma
cadeira de plástico para banho, nesses casos, evitariam muitos constrangimentos e problemas
aos deficientes físicos.
8.3 Perspectivas de continuidade
A promoção cada vez maior do esporte adaptado, o sucesso do Brasil nos recentes
jogos Parapan-americanos, indicam que o tema acessibilidade aos portadores de deficiência
física e de outras deficiências passa a ser um desafio aos gestores de turismo e aos
organizadores de eventos esportivos. Também diz respeito aos arquitetos que planejam os
espaços onde o esporte se desenvolve, uma vez que passa a incorporar os hábitos das pessoas
na atualidade, como componente da qualidade de vida.
No caso desta pesquisa, o foco foram os atletas portadores de deficiência física,
considerandos os principais participantes do estudo. Dada a relevância e a atualidades do
tema, sugere-se a realização de outros estudos sobre outros olhares, como:
Existe preocupação dos gestores da rede hoteleira com esse público?
Os meios de transporte que servem ao turismo estão pensando em adequar-se
para atender a essas demandas?
Quais as condições de acessibilidade nas viagens e no turismo na perspectiva de
outros portadores de necessidades especiais, como os deficientes visuais, por
exemplo?
Enfim, muitos outros temas voltados aos portadores de necessidades especiais podem
e devem ser estudados, fundamentalmente quando se proclama que o turismo é uma atividade
que pode render muitos dividendos num país emergente como o Brasil.
8.4 Reflexões pessoais
É importante sinalizar que a realização de uma pesquisa etnográfica favoreceu a
possibilidade de um acompanhamento mais sistemático das ações do CIDeF. Estando a
pesquisadora envolvida em suas atividades, contribuiu para que pudesse ver e ouvir como é a
83
vida de deficientes sicos, suas dificuldades e suas conquistas. Os diálogos são abertos, sem
receios de perguntar e eles, de responder. Criou-se um vínculo de confiança entre a
pesquisadora e os integrantes do CIDeF. Fazer parte do grupo está sendo muito gratificante,
pois entende-se que se pode contribuir mais efetivamente para que essas pessoas sejam
incluídas na sociedade em todos os seus segmentos.
O fato de esse grupo sair para viajar também serve para que a sociedade perceba que
o deficiente existe e que não se pode mais negar que ele quer ocupar seu lugar de direito, quer
ter acesso à educação, ao trabalho, à saúde e ao lazer com qualidade e sem empecilhos. Sabe-
se que as mudanças sociais são lentas, mas elas são possíveis e podem ocorrer mais
rapidamente na nossa sociedade, basta que haja ações políticas e atitudes que incitem as
mudanças.
Mas, se as barreiras físicas ainda são muitas, as barreiras atitudinais, de acordo com a
presente pesquisa, estão aos poucos diminuindo, ou seja, a discriminação está perdendo força.
É evidente que existem ainda casos de discriminação, porém atitudes mais inclusivistas foram
citadas pelos deficientes participantes da pesquisa, ou seja, o fator humano está facilitando o
acesso do deficiente aos espaços sociais, e tal atitude merece destaque, pois deve servir como
exemplo para os que ainda sentem piedade e aqueles que discriminam os deficientes.
A moderna arquitetura não pode mais ignorar a presença dos deficientes ao projetar
prédios e meios de transporte, como se eles nunca fossem utilizar esses equipamentos, por
exemplo. Ficou demonstrado aqui que os deficientes viajam e fazem turismo. Então, não se
pode mais negar a necessidade de buscar qualidade nos serviços prestados, para que lhes seja
oferecido conforto e para que sintam liberdade e satisfação no seu dia-a-dia, minimizando o
constrangimento característico da própria condição.
84
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88
APÊNDICES
89
Apêndice A
Fotografias dos atletas do CIDeF
1ª Edição do Lazer sem Limites Equipe masculina de basquete em cadeira de rodas
no Iguatemi Caxias em 2006 nos Jogos Inclusivos de Porto Alegre em 2006.
Preparação para a viagem a Curitiba pelo Embarque no aeroporto de Caxias do
Campeonato da Liga Sul, em 2006 Sul para o Campeonato Brasileiro em
Vitória, 2006
Todas as fotografias fazem parte do acervo do CIDeF.
90
Apêndice B
Roteiro de Entrevista Semi-estruturada
Roteiro de entrevista semi-estruturada
A – Informações gerais:
1 – Nome: ____________ (símbolo/referência para manter a identidade do entrevistado)
2 – Sexo: ( ) masc. ( ) fem.
3 – Faixa etária:
( ) até 15 anos
( ) de 16 a 20 anos
( ) de 21 a 30 anos
( ) de 30 a 40 anos
( ) acima de 40 anos
4 – Grau de instrução:
( ) Ensino Fundamental
( ) Ensino Médio
( ) Ensino Técnico
( ) Ensino Superior
5 – Equipamento que utiliza como auxílio para a locomoção:
( ) cadeira de rodas
( ) muletas
( ) bengala
( ) próteses ortopédicas
( ) outros
( ) não necessita de equipamento, usa cadeira apenas para praticar esporte
6 – Qual a causa da lesão?
B – Informações sobre viagens
7 – Se a lesão foi adquirida, você costumava viajar antes?
8 – Se a lesão é congênita: com que freqüência você costuma viajar?
9 – Como essas viagens são organizadas? Viaja acompanhado? Com quem?
10 – Qual o principal destino das suas viagens?
11 – Qual a experiência mais marcante de viagem de que você lembra? (positiva ou negativa)
C – Informações sobre viagens com o CIDeF
12 – Você já viajou com o grupo (CIDeF)? – freqüência
13 – Quais foram os destinos?
14 – Como foram essas viagens?
15 Como você percebe a estrutura sica (transporte, hospedagem, alimentação,...) dessas
viagens?
16 – Qual a experiência mais marcante de viagem que você já fez com o CIDeF?
17 Na sua opinião: quais são os aspectos positivos de uma viagem? (Por que é importante
viajar?)
91
Apêndice C
Termo de Consentimento
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Está sendo realizada pela pesquisadora Renata Ramos Goulart e por seu orientador
Prof. Dr. Airton Negrine, do Programa de Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias
do Sul, a pesquisa intitulada TURISMO E DEFICIÊNCIA FÍSICA: necessidades e desafios
de se pensar as viagens para portadores de deficiência física.*
A pesquisa tem como objetivo: descrever e analisar as percepções que os portadores
de necessidades especiais - deficientes físicos apresentam com relação aos destinos visitados
em viagens esportivas ou nos momentos de lazer com seus familiares e amigos.
A aplicação da pesquisa será feita com os portadores de necessidades especiais
-deficientes físicos que participam do CIDeF. Os instrumentos utilizados serão: entrevista
semi-estruturada, análise documental e memorial descritivo.
Todas as informações resultantes dos instrumentos de coleta de informações serão de
uso exclusivo dos pesquisadores, sendo utilizadas com a única finalidade de fornecer
elementos para a realização da investigação sobre o diagnóstico das viagens e as percepções
que esses deficientes físicos têm desse tipo de atividade. Os relatórios e artigos que dela
resultarem serão também de uso acadêmico. É garantido total sigilo para o entrevistado.
Qualquer dúvida ou informação a respeito da pesquisa poderá ser esclarecida
diretamente com a pesquisadora da mesma, Renata Ramos Goulart, pelo fone (54) xxxx-xxxx,
(54) xxxx-xxxx ou pelo e-mail.
Eu,......................................................................estou ciente da pesquisa a ser realizada e
concordo em participar voluntariamente desta pesquisa.
Caxias do Sul,...... de .......................................de 2006.
Entrevistado:.........................................................................................
Assinatura:............................................................................................
Pesquisadora:........................................................................................
Assinatura:............................................................................................
1ª Via: Pesquisadora
2ª Via: Entrevistado
* O título da pesquisa foi reformulado após a aplicação dos instrumentos.
92
Apêndice D
Registro dos instrumentos utilizados
Observações
Número de registro Data do registro Local da observação
1 04-06-06 Shopping Iguatemi Caxias
2 06-06-06 Ginásio Poliesportivo UCS
3 13-06-06 Ginásio Poliesportivo UCS
4 05-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
5 12-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
6 19-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
7 26-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
8 03-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
9 10-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
10 17-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
11 22-10-06 Casa de associados do CIDeF
12 10-11-06 Pavilhões da Festa da Uva, Caxias - JIRGS
13 11-11-06 Ginásio Poliesportivo UCS - JIRGS
14 14-11-06 Ginásio Poliesportivo UCS
15 18-11-06 Ginásio Poliesportivo UCS
16 05-12-06 Ginásio Poliesportivo UCS
17 09-12-06 Ginásio Poliesportivo UCS
18 11-12-06 Teatro UCS
19 12-12-06 Galpão do jantar
Número de registro Data do registro Local da observação
20 18-06-06 Ginásio Poliesportivo UCS
21 25-06-06 Ginásio Poliesportivo UCS
22 02-07-06 Ginásio Poliesportivo UCS
23 09-07-06 Ginásio Poliesportivo UCS
24 16-07-06 Ginásio Poliesportivo UCS
25 23-07-06 Ginásio Poliesportivo UCS
26 30-07-06 Ginásio Poliesportivo UCS
27 05-08-06 Ginásio Poliesportivo UCS
28 12-08-06 Ginásio Poliesportivo UCS
29 19-08-06 Ginásio Poliesportivo UCS
30 26-08-06 Ginásio Poliesportivo UCS
31 02-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
32 09-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
33 16-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
34 23-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
35 30-09-06 Ginásio Poliesportivo UCS
36 07-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
37 07-10-06 Piscina UCS
38 09-10-06 Piscina UCS
39 14-010-06 Ginásio Poliesportivo UCS
40 16-10-06 Piscina UCS
93
41 21-10-06 Piscina UCS
42 21-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
43 23-10-06 Piscina UCS
44 28-10-06 Piscina UCS
45 28-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
46 30-10-06 Piscina UCS
47 04-11-06 Piscina UCS
48 04-11-06 Ginásio Poliesportivo UCS
49 06-11-06 Piscina UCS
50 11-11-06 Piscina UCS
51 18-11-06 Ginásio Poliesportivo UCS
52 25-11-06 Ginásio Poliesportivo UCS
53 02-12-06 Ginásio Poliesportivo UCS
54 08-12-06 Ginásio Poliesportivo UCS
Entrevistas
Número de registro Data da entrevista Local
1 08-08-06 Ginásio Poliesportivo UCS
2 10-08-06 Casa da Cultura – Centro de Caxias
3 11-08-06 Local de trabalho do participante
4 15-08-06 Ginásio Poliesportivo UCS
5 29-08-06 Ginásio Poliesportivo UCS
6 29-06-06 Ginásio Poliesportivo UCS
7 18-09-06 Residência do participante
8 27-09-06 DEFI- UCS
9 01-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
10 01-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
11 01-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
12 09-10-06 Residência do participante
13 11-10-06 Local de trabalho do participante
14 17-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
15 17-10-06 Ginásio Poliesportivo UCS
Documentos
Número de registro Documento
1 Estatuto do CIDeF
2 Texto no site da UCS
3 Informativo abril 2006
4 Informativo maio 2006
5 Informativo junho 2006
6 Informativo julho 2006
7 Informativo agosto 2006
8 Informativo setembro 2006
9 Informativo outubro 2006
10 Informativo novembro 2006
11 Informativo dezembro 2006
94
Apêndice E
Informações a partir dos Informativos de abril a dezembro de 2006
Nos dias 21, 22 e 23 de abril, a equipe de basquete em cadeira de rodas do CIDeF estará
participando da Etapa da Liga Sul na cidade de Joinvile/SC. Nesta etapa, estarão presentes
equipes de Joinvile, Curitiba, Porto Alegre e Florianópolis. (D3, abril-06).
No dia 13 de maio, a equipe de basquete em cadeira de rodas do CIDeF estará participando
da etapa da Liga Gaúcha de Basquete em Cadeira de Rodas. A competição acontecerá em
Porto Alegre no ginásio Tesourinha. (D4, maio-06).
Nos dias 9, 10 e 11 de junho, a equipe de basquete em cadeira de rodas do CIDeF estará
participando da 2ª Etapa da Liga Sul de Basquete em Cadeira de Rodas. A competição aconte-
cerá em Curitiba/PR. (D5, junho-06).
No dia 22 de julho, a equipe de basquete em cadeira de rodas do CIDeF estará participando
de mais uma etapa da Liga Gaúcha na cidade de Santa Cruz do Sul/RS. No dia 24 de junho,
a equipe esteve em Erechim/RS. (D6, julho-06).
Nos dias 18, 19 e 20 de agosto, a equipe estará participando de mais uma etapa da Liga Sul
em Porto Alegre/RS. (D7, agosto-06).
Nos dias e 2 de setembro, a equipe do CIDeF estará perticipando dos Jogos Inclusivos
SESI-Faders na cidade de Porto Alegre/RS. (D8, setembro-06).
Entre os dias 20 e 24 de novembro, o CIDeF está disputando o Campeonato Brasileiro de
Basquete em Cadeira de Rodas na cidade de Fortaleza/CE. O atleta de Luta de Braço do CI-
DeF, Adelar da Silva, estará em Manchester, Inglaterra entre os dias 31 de outubro e 6 de
novembro disputando o Campeonato Mundial de Luta de Braço. O atleta convocado pela
Confederação Brasileira é atual Campeão Brasileiro na categoria portador de deficiência até
70kg. (D10, novembro-06).
Após uma semana de muito esforço e dedicação, a equipe masculina de basquete sobre ro-
das do CIDeF retornou de Fortaleza/CE com o lugar no Campeonato Brasileiro que acon-
teceu entre os dias 20 e 24 de novembro. Aproveitando o tempo disponível na cidade de For-
taleza/CE dois atletas do CIDeF participaram da Corrida do Empreendedor promovida pelo
SEBRAE no dia 25 de novembro, conquistando o e o lugares. O atleta de Luta de Braço
do CIDeF Adelar da Silva, conquistou o lugar no Campeonato Mundial de Luta de Braço
realizado em Manchester, Inglaterra. (D11, dezembro-06)
95
Apêndice F
Observação realizada
Número da observação: 14 Local: Abertura do JIRGS 2006
Data: 11/11/2006
A cerimônia de abertura dos Jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul foi nos Pavi-
lhões da Festa da Uva de Caxias do Sul.
O local da cerimônia foi onde se realiza o espetáculo som e luz, nas réplicas, o acesso
para cadeirantes é complicado. Um cadeiranteo conseguia subir sem ajuda para empur-
rar sua cadeira.
A alguns dias, uma reunião tinha sido feita com os técnicos das equipe para orientações
e para distribuir o fardamento da delegação de Caxias. Todos os atletas e comissão técnica
estavam uniformizados.
As pessoas estavam se divertindo, o pessoal do CIDeF conversava muito, tiravam fotos
e conversavam com os atletas das outras modalidades, principalmente os do voleibol.
– Não vi outro grupo de portadores de necessidades especiais, além do CIDeF.
Após o cerimonial, fomos ao jantar de confraternização de todas as delegações, no res-
taurante da Festa da Uva.
Os cadeirantes utilizaram a porta de serviço para entrar no restaurante, o acesso princi-
pal tinha escadas.
– O técnico Luciano e eu, ajudamos os cadeirantes no bufe para se servirem.
Na hora do jantar, mais festa e alegria, todos estavam motivados para o início dos jogos
no dia seguinte.
– No encerramento, dei carona a uma atleta do CIDeF.
96
Apêndice G
Entrevista realizada
Entrevista: 08 Data: 27/09/2006
Entrevistado: E8
Local da entrevista: DEFI/UCS
Horário da entrevista: 16h
INFORMAÇÕES GERAIS:
2– Sexo: mas
3– Faixa etária: acima de 40 anos
4– Grau de instrução: Ensino Fundamental
5– Equipamento que utiliza para locomoção: bengala e próteses ortopédicas
6– Causa da lesão: amputação / acidente de trabalho em 2000
Eu gostaria que você me contasse se você costumava viajar antes da lesão?
Eu viajava muito pouco, às vezes, mais era fim de ano né, ia visitar meus parente, mas
durante o ano eu não viajava, eu so trabalhava. E viagem mesmo eu fui fazer depois que eu
fiquei com deficiência. Antes eu nunca tinha viajado. Inclusive eu fui conhecer, eu
conhecia o RS antes: depois que eu comecei. Então você começou a viajar mesmo depois
que entrou no CIDeF? Depois que eu entrei no CIDeF, que daí, a gente começou primeiro a
viajar na canoagem, né. E daí o que eu comecei a fazer primeiro foi canoagem, com três
meses que eu tinha tirado a perna eu comecei a rema. Um colega meu me levou pra lá, e
daí depois pro basquete, né. Então praticava os dois esporte, canoagem e basquete. Em que
ano foi isso? Logo que eu tirei a perna, em 2000. Até inclusive eu fui no médico que me
tratava, o Dr. Geraldo, e falei pra ele sobre o negócio de fazer esporte. E ele disse que pra esse
problema teu aí, quanto mais você praticar esporte, melhor, diz ele. Qualquer tipo de esporte
que tu praticar melhor ainda, que não precisa tomar remédio, o negócio é o ficar parado.
Então eu vim pra aqui, eu comecei no basquete, e continuei, na canoagem também, depois não
parei mais, gostei, não parei mais.
97
E você lembra, então, desde que você entrou no grupo, que foi em 2000, com que
freqüência que você tem viajado? Você vai pra todas as competições? Sai uma vez por
ano? Uma vez por mês? Como é?
Não, esse ano não viajemo muito, esse ano fizemo 3, 4 viagem. Mas teve dois
anos atrás, eu viajava bastante, quase todas as semanas, as vezes de 15 em 15 dias. Porque, o
que que acontecia, eu ia no basquete, viajava pelo basquete, e daí já pela canoagem com outra
turma né, com o Álvaro, com o pessoal lá, eu viajava também pela canoagem. Então por
exemplo, eu ai lá pra POA disputar um torneio no fim de semana, aí no outro fim de semana o
Álvaro ia com a turma das meninas pra SP, eu ia junto com eles também, pra competir
com os outros deficientes também. Então você viajava com os dois grupos? Com os dois
grupos. Por isso que é maior, se fosse só num, ia a cada mês, né, depende. Depende das
competições.
E quais foram os lugares que você visitou? Que você viajou pelo esporte?
Aqui dentro RS nos viajamo quase todas as cidades que pratica basquete e canoagem.
Por exemplo, aqui em Gravataí, POA, Pelotas e também São Paulo, eu também fui com a
canoagem. Curitiba, isso na canoagem. No basquete, foi aqui no RS em quase todos os
lugares que tem, que pratica o basquete, Canoas, POA, Passo Fundo, esses lugares. E Vitória
também nós fomo, fomo pelo basquete. Bom antes de começar a praticar o esporte eu não
conhecia nem fora do RS, eu fui conhecer fora do RS, depois que eu comecei a praticar o
esporte, depois que eu comecei a viajá.
E nessas viagens, geralmente vocês ficam alojados onde? Como é a hospedagem, o
serviço de alimentação nos restaurantes? Você percebe que isso está adaptado para
receber o deficiente, ou não? Como você percebe essa estrutura, além da viagem, além
do transporte?
Algum lugar tem uma estrutura, bom, depende muito do local. Porque no caso da
canoagem, a gente, quando a gente vai praticar o esporte da canoagem, e difícil ter que nem
aqui em Caxias que tem o trapiche, tem tudo né, preparado, Tem o a hangar que foi feito
com a porta pra entrar nos banheiro, com cadeira de rodas. E no caso da gente na canoagem, a
gente não tem lugar certo, às vezes a gente fica numa pousada, às vezes fica num hangar, ou
às vezes num hotel. Depende da cidade. Agora no basquete, geralmente quase sempre a
agente fica em hotel, ou no ginásio mesmo. Daí a gente fica ali, os grupos tudo no ginásio. E é
como nós tava falando, que nem num hotel por exemplo, eu não vi, talvez até tenha, mas eu
98
não vi banheiro adaptado pros cadeirante. Daí você chega num hotel, pega o elevador, vai pro
quarto, chega no quarto, tem a porta grande, tu entra com a cadeira de roda. Mas daí no
momento qué tu que ir no banheiro, no banheiro não entra a cadeira, fica difícil pra pessoa
que não consegue andar, fica tudo complicado né. E também tem certos lugares que a gente
vai jogar o basquete que tb o tem adaptação, também não tem. No próprio lugar da
competição? No próprio lugar da competição. A gente vai, chega lá, que ir pra tomar um
banho, às vezes não entra a cadeira na porta do banheiro. É complicado, né, é complicado. Se
bem que ta bem melhor, antes era pior, e nos hotel também sempre tem a rampa né, por mais
que às vezes seja uma rampa complicada, seja muito descida, mas tudo bem. Mas aí tem né.
Mas pro deficiente sempre é meio difícil né.
Qual foi a viagem mais marcante pra você?
Tem duas viagem que foram muito importante pra mim, uma foi essa viagem que nós
fomos em Vitória, com o basquete né. A gente saiu daqui,.. pra começar assim, eu nuca
tinha se quer chegado perto de um avião, entendeu, então aquilo pra mim foi uma emoção que
eu nunca mais vou me esquecer. E outra viagem também que eu não esqueço, foi a que eu fui
em São Paulo, com o pessoal da canoagem. Foi toda a elite da canoagem, das meninas. E veio
o pessoal de Gravataí, de POA, que fazem a canoagem, daí, de deficiente tinha eu e o
Charles que é um outro rapaz que faz canoagem. Então nós fomos, nós de deficiente e mais
um grupo de meninas. E profissional, o pessoal que vive daquilo ali, e nós ali. A gente
se deu muito bem lá. Daí nos chegamos lá, tinha outros deficientes lá, que a gente competiu
com eles. Foi duas viagens que essas aí foi demais, foi bacana.
E na tua opinião, quais são os aspectos mais positivos de uma viagem? Você acha
que é importante viajar, ou não, tanto faz viajar ou não?
Não, eu acho que viajar é muito importante. Bah, a pessoa... Todo o atleta, não sei o
profissional, mas o amador como a gente, a gente treina o mês todo, com aquele objetivo, pra
viajar. Então vco de melhor no teu treino, pra que venha o treinador, você vai, você não
vai. Você ta bem, você não tá. Por que? Porque a gente tem de trazer um resultado também.
Nós tamos treinando pra isso aí. Nós temos espaço na universidade, nós temos praticamente
quase tudo aqui que a gente precisa a gente tem. tem de pensar nisso também. E o que
que acontece, alia a gente trina forte pra poder ir numa competição, né. Aquilo é uma alegria
quando uma pessoa vai pra uma competição e a gente vai muito preparado pra trazer um bom
resultado, porque é muito importante trazer um resultado. Às vezes um dia assim, o
99
importante é competir, tá, tudo bem, mas eu olha, eu tenho mais de 40 medalha que eu tenho
em casa que eu ganhei, em canoagem em basquete, mas eu nunca fui naquele negócio
assim, e vem é bom,... eu vo pra ganhar, se não ganhar tudo bem. Mas a viagem é muito
importante, pra nós que temos esse problema de deficiência, isso é muito importante pq a
pessoa não fica trancada em casa. A pessoa conhece outras pessoas. A convivência muda
totalmente. Conhecer outros lugares, viajar de avião... nossa é bom demais.
E, assim, nas viagens que vocês vão para competir, para SP, que você foi na
canoagem por exemplo, vocês conseguem conhecer a cidade? Tem passeios para
conhecer a cidade, ou é muito corrido? Ou dá tempo de conhecer um pouco a cidade?
Às vezes dá. Depende da competição. Por exemplo na canoagem ou a mesmo no
basquete, se a gente vai ficar três ou quatro dias, aí tem um dia que não tem competição. Aí se
tem uma pessoa que conhece, ta teve, ou tem mais instrução do que agente, que também
possa dar uma volta coma gente. Ou também, que nem agora quando a gente teve em Vitória,
um dia que nós não competimos, eles mesmo tinha lá, saiu um ônibus pra levar o pessoal.
Daí e eles derem um ônibus, o motorista foi lá, levou nós pra conhecr a cidade, levou nós na
Vila Velha. Então nós formamo um grupo pra conhecer a cidade. É bom , isso eu achei
muito importante. Nesses outros lugares a gente, de repente tb não dá, as vezes tem a
competição todo o dia, aí a gente vai focado naquilo ali. Então as vezes tem lugar que não dá.
Da minha parte era isso, não sei se você quer falar mais alguma coisa?
O que eu pretendo dizer é o seguinte, eu acho que a viagem é muito importante pra
nós, e o esporte é muito importante pro portador de deficiência. Poque, eu penso assim, no
meu caso, poucos dias eu quebrei o braço, me recuperando, treinando, to
começando a treinar forte, e o que que acontece, vira um vício sabe. Pro portador de
deficiência que ele não ta trabalhando, que nem no caso eu que to aposentado, quando chega
no dia do treino, eu penso naquilo ali. To loco que chegue o dia do treino pra mim vir
treiná. uma viagem, eu também quero ir, mas se o treinador diz assim, oh, tu não vai, tu
não ta em condições físicas, ou qualquer outra coisa, tudo bem. Mas que acho que uma das
coisas muito importante é prática. Praticar um esporte. O portador de deficiência que puder
praticar um esporte deve, tem de praticar, eu acho que isso é uma coisa muito importante, e nó
aqui no CIDeF, temo aberto aí pra quem quiser vir aqui praticar o basquete.
100
ANEXOS
101
Anexo A
Estatuto do CIDeF
102
103
104
105
106
107
108
Anexo B
Texto do CIDeF Disponível no site da UCS
109
110
111
112
113
114
Anexo C
Exemplar de Informativo CIDeF
115
Julho 2006
Informativo mensal do Centro Integrado do Deficiente Físico de Caxias do Sul– CIDeF
Informativo mensal do Centro Integrado do Deficiente Físico de Caxias do Sul– CIDeF
No dia 15 de julho a equipe de basquete em cadeira de rodas do CIDeF estará realizando mais
uma apresentação de divulgação da modalidade. Desta vez a ão será na cidade de Nova
Petrópolis. Após a apresentação e o almoço de confraternização o grupo será levado a conhecer
os pontos turísticos da cidade.
No dia 22 de julho a equipe de basquete em cadeira de rodas do CIDeF estará participando de
mais uma etapa da Liga Gaúcha de Basquete sobre rodas na cidade de Santa Cruz do Sul. O
evento contará com as 6 melhores equipes do estado e servirá com um bom teste de preparação
visando o campeonato brasileiro. O financiamento para a participação nesta competição é
exclusivo do FUNDEL.
Resultados da 2ª Etapa da Liga Gaúcha de Basquete em Cadeira de Rodas ocorrida em Erechim
no último dia 24 de julho
CIDeF – Caxias do Sul 17 X 06 ACD – Passo Fundo
CIDeF – Caxias do Sul 18 X 08 ADAU – Erechim
CIDeF – Caxias do Sul 18 X 04 ADEF – Lajeado
Nesta etapa a equipe do CIDeF consagrou-se campeã. A participação nesta competição
ocorre com o financiamento da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul, Secretaria Municipal de
Esporte e Lazer, através do FUNDEL. (Fotos 1 e 2)
1 2 3
No dia 07 de julho o treinador do basquete, Luciano Comerlato esteve na E.E Província de
Mendonza apresentado palestra para 120 alunos do Ensino Médio. Na ocasião o professor falou
sobre as atividades desenvolvidas pela entidade e os seus objetivos e explicou sobre o
funcionamento do jogo de basquete. (Foto 3)
Apoiadores:
F I N A N C I A M E N T O
FUNDEL
Fundo Municipal do Desenvolvimento
do Esporte e Lazer
S E C R E T A R I A M U N I C I P A L D E E S P O R T E E L A Z E R
116
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