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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE MESTRADO EM TURISMO
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O PATRIMÔNIO
HISTÓRICO-CULTURAL E A FOLHETERIA TURÍSTICA DE RIO PARDO (RS):
Um Estudo Exploratório
CLAUDIANA Y CASTRO
CAXIAS DO SUL - RS
2007.
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE MESTRADO EM TURISMO
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O PATRIMÔNIO
HISTÓRICO-CULTURAL E A FOLHETERIA TURÍSTICA DE RIO PARDO (RS):
Um Estudo Exploratório
Claudiana Y Castro
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Mestrado em Turismo da Universidade de
Caxias do Sul, como parte dos requisitos para
a obtenção do título de Mestre em Turismo.
Área de Concentração: Desenvolvimento do
Turismo. Linha de Pesquisa: Turismo, Meio
Ambiente, Cultura e Sociedade.
Orientação: Prof.a Dra. Margarita Barretto
Co-Orientação: Prof.Dr. Rafael José dos
Santos
Caxias do Sul – RS
2007.
2
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DEDICATÓRIA
Aos meus Pais Claudionor e Renilda, pela compreensão nos momentos
que estive ausente e pelo apoio nos momentos que mais precisei.
Do mesmo modo ao meu querido irmão Maicon, pelo carinho e amizade.
Ao Leandro, pelo amor, companheirismo e apoio em todos os momentos
desta jornada.
3
AGRADECIMENTOS
À Universidade de Caxias do Sul, pela oportunidade da realização do
curso de Mestrado em Turismo.
À Professora Dra. Margarita Barretto, pelo interesse na orientação do
trabalho, pela amizade e disponibilidade para atender nos momentos
solicitados.
Ao professor Rafael José dos Santos pela sugestão do enfoque da
pesquisa e pelas constantes co-orientacões.
Aos professores Fábio Sager e Marcelo Ribeiro pelas dicas de leitura.
Aos demais professores do Mestrado em Turismo pelas trocas de
conhecimentos e convivência durante o período do programa.
Aos meus colegas da turma V de uma forma geral, em especial as
colegas e amigas Luciana Babinski, Karol Mota, Gisele Pereira e Cinthia
Verbisth pela amizade, pelo acolhimento em Caxias do Sul e principalmente
pelos momentos de construção do conhecimento que compartilhamos.
Da mesma maneira aos colegas da turma IV que me acolheram como
aluna especial no programa.
Aos sujeitos entrevistados no Município de Rio Pardo, pelo interesse em
participar da pesquisa que muito contribuíram com a realização do mesmo.
4
A ciência não corresponde a um mundo a descrever.
Ela corresponde a um mundo a construir.
Bachelard
5
Castro, Claudiana Y
As Representações Sociais sobre o patrimônio histórico-cultural e a
folheteria turística de Rio Pardo (RS): Um estudo exploratório/
Claudiana Y Castro. Caxias do Sul, 2007.
Dissertação (Mestrado) Mestrado em Turismo.
Universidade de Caxias do Sul, 2007.
Área: Desenvolvimento do Turismo Regional
Orientadora: Profa. Dra. Margarita Barretto
1. Turismo e Cultura 2. Representação Social. 3. Patrimônio
Histórico-Cultural 4. Rio Pardo – RS
6
RESUMO
O turismo é um fenômeno complexo, que abrange a esfera ambiental,
social, cultural e econômica. A temática do patrimônio histórico-cultural
assume um lugar muito importante na questão relacionada ao planejamento
e desenvolvimento da atividade turística, uma vez que, o poder público tem
que ser socialmente responsável, divulgando como patrimônio aquilo que
efetivamente é considerado como tal pela população local. Fundamentada
no anterior, esta pesquisa de caráter exploratório qualitativo teve como
objetivo geral analisar as relações entre as Representações Sociais dos
entrevistados do Município de Rio Pardo sobre o patrimônio histórico-
cultural e a folheteria turística elaborada pela Prefeitura Municipal que traz a
indicação do que o poder público entende que seja patrimônio histórico-
cultural. Foi realizado um resgate teórico do conceito de Representações
Sociais bem como de Patrimônio Histórico-Cultural e Turismo. Para a coleta
das informações foram feitas entrevistas abertas com 16 moradores do
Município de Rio Pardo. Constatou-se que as Representações Sociais
sobre o patrimônio histórico-cultural que os sujeitos entrevistados
expressam está presente no discurso do poder público e mostram que a
divulgação promovida pela última gestão através da folheteria turística, esta
sendo ancorada e objetivada pelos sujeitos entrevistados. Também o apelo
ao desenvolvimento do Município através da atividade turística, com o
objetivo de gerar renda à comunidade é aceito pelos sujeitos entrevistados,
que vêem no Turismo, a alternativa viável para o desenvolvimento da
cidade e preservação dos bens históricos e culturais.
Conceito-chave: Turismo e Cultura, Representações Sociais, Patrimônio
Histórico-Cultural, Rio Pardo -RS
7
ABSTRACT
Tourism is a complex environmental, social, cultural and economic fact.
Heritage issues are relevant in planning and developing tourism since official
agencies have social responsibility in promoting as heritage those
expressions which are also considered heritage by locals. This is a
qualitative exploratory research aimed to analyze the relation between social
representations about heritage and the contents of tourism folders issued by
municipal government. It begins with considerations on social
representations theory, and heritage and tourism concepts. Field work was
held with 16 inhabitants, who were interviewed with open questions. The
conclusion is that social representations about heritage match the official
discourse printed in tourism folders and that official discourse is anchored
and objectified by those locals who were interviewed. They also accept that
development through tourism will benefit local economy and all of them
understand tourism is an alternative both for city development and for the
conservation of heritage.
Keyword: Tourism and Heritage, Social Representations, Heritage, Rio Pardo-
RS
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 01. Mapa do Brasil.................................................................................
68
Figura 02. Mapa do Rio Grande do Sul............................................................. 69
Figura 03. Mapa da Divisão dos Conselhos Regional de Desenvolvimento
Coredes............................................................................................................. 69
Figura 04- Mapa do Município de Rio Pardo..................................................... 70
Figura 05-Planta da Fortaleza de Jesus Maria José......................................... 96
Figura 06-Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário.......................................... 97
Figura 07-Capela de São Francisco de Assis................................................... 98
Figura 08- Igreja Nosso Senhor dos Passos..................................................... 99
Figura 09-Capela de São Nicolau...................................................................... 99
Figura 10- Solar do Almirante Alexandrino (Museu Barão de Santo Ângelo)...
1
100
Figura 11-Colégio Militar (Centro Regional de Cultura de Rio Pardo).............. 101
Figura 12-Antiga Casa da Câmara e Presídio..................................................
102
Figura 13-Espaço Cultural Panatieri.................................................................. 102
Figura 14- Antigo Hotel Brasil e Prefeitura Municipal ...................................... 103
Figura 15-Clube Literário e Recreativo.............................................................. 104
Figura 16-Rua da Ladeira.................................................................................. 105
Figura 17-Ponte do Couto................................................................................ 105
Figura 18-Fazenda Abellina.............................................................................. 106
Figura19- Procissão de Sexta-Feira Santa - Público........................................ 107
Figura 20- Procissão de Sexta-Feira Santa – Senhor Morto............................ 107
Figura 21- Carnaval de Rua..............................................................................
108
9
Figura 22- Sonhos Portugueses........................................................................ 108
Figura 23- Feira dos Sonhos de Inverno de Rio Pardo, 2005........................... 109
Figura 24- Festa Portuguesa de Rio Pardo, 2005............................................. 109
Figura 25- Praia dos Ingazeiros......................................................................... 110
Figura 26- Balneário Porto Ferreira................................................................... 110
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Sujeitos de Pesquisa ....................................................................... 18
Quadro 2: Principais distâncias de Rio Pardo................................................... 71
11
SUMARIO
12
Resumo................................................................................................................. 05
Abstract................................................................................................................. 06
Lista de Figuras ................................................................................................... 07
Lista de Quadros.................................................................................................. 09
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12
1.1 Delimitação do Tema e Problema................................................................... 12
1.2 Objetivos da Pesquisa.................................................................................... 13
1.3 Metodologia.................................................................................................... 14
1.3.1 Pesquisa de Campo Piloto........................................................................... 15
1.3.2 Sujeitos de Pesquisa...................................................................................
1
17
1.3.3 Instrumentos de Pesquisa........................................................................... 20
1.3.4 Análise Qualitativa...................................................................................
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS EM REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.................
21
23
2.1 Conceitos de Representações Sociais........................................................... 24
2.2 Processo de Ancoragem e Objetivação.......................................................... 30
2.3 Funções das Representações Sociais............................................................ 32
2.4 Dimensões das Representações Sociais....................................................... 33
3. PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL.......................................................... 36
3.1 Cultura............................................................................................................ 37
3.2 Patrimônio Histórico........................................................................................
38
3.2.1 Monumento Histórico................................................................................... 40
3.3 Patrimônio Cultural......................................................................................... 43
3.4 Turismo Cultural........................................................................................... 49
3.4.1 Uso Turístico do Patrimônio Histórico- Cultural........................................... 52
4. RIO PARDO: CENÁRIO DE ESTUDO............................................................. 58
4.1 Os Portugueses no Rio Grande do Sul...........................................................
59
4.2 A Formação de Rio Pardo...............................................................................
60
13
CAPITULO 1:
INTRODUÇÃO
1.1 Delimitação do Tema e Problema
A presente pesquisa parte da perspectiva da teoria das Representações
Sociais, que, devido ao seu caráter interdisciplinar, tem sido aplicada às
diversas áreas do conhecimento e, cada vez mais, tem aumentado o seu foco
de abrangência. A atividade turística, por sua vez, tem sido um campo propício
para sua aplicação, porque através do estudo das Representações Sociais
identifica-se as reais concepções da comunidade sobre este fenômeno nas
suas diversas manifestações.
Nesse sentido, o presente estudo discorre sobre as Representações
14
Sociais dos entrevistados a respeito do patrimônio histórico-cultural do
Município de Rio Pardo, e a relação dessas pessoas com a folheteria turística.
As Representações Sociais elaboradas pelos entrevistados, constituem-
se em elementos significativos para determinação dos reais interesses da
comunidade frente aos seus patrimônios.
A escolha de abordar a temática do patrimônio histórico-cultural iniciou
quando a autora cursou disciplinas no Programa de Mestrado em Turismo da
Universidade de Caxias do Sul, mais especificamente a disciplina de Turismo e
Patrimônio Histórico-Cultural.
A partir disso, buscou-se realizar a pesquisa no Município de Rio Pardo,
localizado no Estado do Rio Grande do Sul, que integra a Região do Vale do
Rio Pardo, município este que foi um dos primeiros a serem fundados no
Estado.
Considerando o interesse da pesquisadora na temática do patrimônio
cultural, justifica-se a escolha do Município de Rio Pardo, pela importância de
analisarem-se as Representações Sociais dos entrevistados a respeito dos
prédios, das casas, das ruas, das festas ligadas à cultura luso-açoriano
existentes no Município e divulgados pela Secretaria de Turismo como
patrimônio histórico-cultural e atrativo turístico.
A temática do patrimônio histórico-cultural assume um lugar muito
importante na questão relacionada ao planejamento e desenvolvimento da
atividade turística, uma vez que, o poder público tem que ser socialmente
responsável, divulgando como patrimônio aquilo que efetivamente é
considerado como tal, pela população local.
Assim, considera-se importante discorrer sobre este tema, visto que no
Município de Rio Pardo existe a necessidade de maior informação para
subsidiar políticas e ações locais sobre o uso do patrimônio cultural, uma vez
que este uso deve ter posturas que asseguram a sua continuidade.
A partir disso, a pesquisa buscou responder o seguinte questionamento:
Quais são os elementos que constituem a Representação Social dos sujeitos
entrevistados no Município de Rio Pardo, sobre o patrimônio histórico-cultural e
qual a relação com a folheteria turística?
1.2 Objetivos da Pesquisa
15
Para realizar essa pesquisa, teve-se como principal objetivo, analisar as
relações entre as Representações Sociais dos sujeitos entrevistados no
Município de Rio Pardo sobre o patrimônio histórico-cultural e a folheteria
turística. Como objetivos específicos, buscou-se identificar e analisar as
Representações Sociais dos entrevistados de Rio Pardo sobre o patrimônio
histórico-cultural. Objetivou-se ainda apresentar a folheteria turística que traz a
indicação sobre o que o poder público entende que seja patrimônio histórico-
cultural.
1.3 Metodologia
Na busca da compreensão sobre as Representações Sociais dos
sujeitos entrevistados no Município de Rio Pardo sobre o patrimônio histórico-
cultural, entendeu-se que a análise dialética histórico-estrutural parece ser a
mais indicada para a compreensão dos processos históricos e das
representações resultantes das entrevistas.
A dialética histórico-estrutural, como proposta por Demo (1980, p. 94),
“tem como marca reconhecer, no mesmo patamar de relevância, condições
objetivas e subjetivas das estruturas históricas, que são formas de acontecer,
partindo-se da crença científica comum de que a realidade social é pelo menos
regular”.
Segundo Konder (1981, p. 84) o método dialético nos incita a revermos o
passado à luz do que está acontecendo no presente; ele questiona o presente
em nome do futuro, o que esta sendo em nome do que “ainda não é”.
Conforme Chatelet (apud HAGUETTE,1990, p.13), “a dialética é, em
primeiro lugar, o movimento real de uma unidade no seu fazer e não o estudo,
mesmo “funcional” e “dinâmico”, de uma unidade já feita”.
Uma virtude da dialética é a de respeitar a complexidade da realidade
social, visto que a ciência é uma estratégia inquisidora, que levanta perguntas,
16
muito mais do que colhe respostas. As perguntas são as mesmas, enquanto
que as respostas são incrivelmente discutíveis.
A pesquisa constituiu-se por uma abordagem qualitativa de caráter
exploratório, visto que a pesquisa qualitativa responde a questões muito
particulares, trabalhando com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis. Busca a compreensão da realidade humana
vivida socialmente, ou seja, procura compreender e explicar a dinâmica das
relações sociais, que o integradas de crenças, valores, atitudes e hábitos.
(MINAYO, 1994). Também, conforme Goldenberg (1999, p.18), os fatos sociais
não o suscetíveis de quantificação, que cada um deles tem um sentido
próprio, diferente dos demais, e isso torna necessário que cada caso concreto
seja compreendido em sua singularidade. Neste sentido é que esta pesquisa
buscou analisar as Representações Sociais dos sujeitos, visto que as mesmas
não podem ser quantificadas. Assim, numa visão qualitativa, buscou-se
compreender os valores, as crenças, as motivações e os sentimentos frente ao
patrimônio histórico-cultural dos sujeitos entrevistados no Município de Rio
Pardo.
1. 3.1 Pesquisa de Campo Piloto
O trabalho de campo iniciou-se com uma pesquisa piloto no mês de
dezembro de 2005. Esta primeira etapa da pesquisa buscou testar o roteiro de
entrevista desenvolvido para o estudo, e também obter informações para a
construção do Projeto de Qualificação, que foi apresentado em abril de 2006. O
objetivo da pesquisa estava pautado na análise comparativa das
Representações Sociais da comunidade Rio Pardense sobre o patrimônio
histórico-cultural, com o que a folheteria turística indicava como sendo
patrimônio histórico-cultural. Porém, quando da qualificação do projeto, a banca
sugeriu que não comparasse as Representações Sociais dos moradores com a
folheteria e sim, fizesse uma análise das relações entre elas. Na pesquisa
piloto foram feitas duas tentativas de entrevistas, a primeira tentativa foi através
de uma abordagem junto aos moradores que estavam transitando pelas ruas
17
de Rio Pardo, porém esta opção não teve sucesso. Os cidadãos que eram
abordados pela pesquisadora não se dispunham a responder o roteiro de
entrevista proposto, destacando vários motivos, entre eles: não tinham tempo,
pois estavam trabalhando ou tinham compromisso marcado, declaravam que
não queriam comprar nada, antes mesmo que a pesquisadora explicasse do
que tratava a entrevista, além disso, muitas vezes as pessoas se negavam a
responder a pesquisa, declarando que elas o sabiam o que dizer. Depois de
várias tentativas conseguiu-se chegar a um número de dez entrevistados,
constituindo-se assim em um número relativamente bom de sujeitos para a
pesquisa piloto. A outra tentativa foi através de um contato com algumas
empresas locais, objetivando entrevistar os colaboradores das mesmas. No
entanto, os diretores não permitiram que fosse aplicada a entrevista durante o
expediente de trabalho, argumentando que os colaboradores não poderiam
parar o seu trabalho para dar atenção à pesquisadora.
Cabe destacar aqui, as dificuldades enfrentadas pela pesquisadora para
conseguir entrevistar a comunidade, isto se justifica por uma série de questões,
como por exemplo, o medo que os cidadãos têm de se expor frente à mídia do
Município, visto que isso foi relatado pelos entrevistados muitas vezes. A
indisponibilidade de ser entrevistado, pois quando era feito o contato com o
potencial sujeito, o mesmo salientava motivos sem fundamentação para não
dispor de tempo para tal entrevista, e ainda a falta de interesse dos moradores
em expor suas idéias, salientando que não estariam contribuindo com a
pesquisa.
Realizadas as entrevistas com os dez sujeitos na rua, foram
sistematizadas as informações e levadas para a qualificação. Por sugestão da
banca de qualificação trabalhou-se com uma entrevista aberta. A entrevista
aberta conforme sugere Thompson (1992), deve ter questões simples, com
linguagem clara e coloquial, para que o sujeito possa falar livremente sobre o
assunto proposto.
O desdobramento metodológico que resultou no presente estudo foi
realizado entre os meses de junho, julho e agosto de 2006, pela autora, que
entrevistou sujeitos do Município de Rio Pardo, que se dispuseram a colaborar
com a pesquisa com informações sobre as Representações Sociais do
18
patrimônio histórico-cultural, como será detalhado no item a seguir. A partir das
informações levantadas com o roteiro de entrevista aberta, conseguiu-se
chegar aos resultados da presente pesquisa, os quais deve-se salientar que
não atingiram a totalidade da população Rio Pardense dada as dificuldades
anteriormente citadas.
1.3. 2 Sujeitos de Pesquisa
O processo de escolha dos sujeitos para a entrevista ocorreu seguindo
os seguintes critérios de seleção: que fossem naturais do município, sendo que
a partir disso, o entrevistado teria uma relação de vida com o mesmo, dada a
importância histórica do seu município de origem. Também utilizou-se o critério
de idade, sendo que houve interesse em entrevistar os sujeitos com idade
acima de 50 anos, pois poderiam contribuir com suas histórias de vida e por
fim, aqueles que tivessem disponibilidade de tempo para a entrevista e vontade
de conversar sobre as questões do patrimônio, visto que a pesquisadora
realizou as entrevistas de segunda-feira à sexta- feira, tempo disponível pelos
entrevistados, pois no final de semana os mesmos saem para viajar ou
recebem visitas em suas casas.
A partir disso, foi contatada uma senhora moradora de Rio Pardo, que
faz parte do Clube de Mães da cidade, por indicação da Coordenadora do
Centro Regional de Cultura de Rio Pardo, questionando-a sobre a possibilidade
de disponibilizar algum tempo para ser entrevistada, sendo que a mesma
disponibilizou a sua casa para servir de local para a entrevista. A esta senhora,
foi solicitado a indicação de outro morador de Rio Pardo para também ser
entrevistado. Foi solicitado o endereço e o telefone do indicado para agendar a
entrevista.
19
Houve então, o contato por telefone com o sujeito que participou da
pesquisa, com o objetivo de agendar o encontro. Inicialmente, logo após o
contato de viabilização da entrevista, foi solicitado ao mesmo sujeito a
indicação de outro morador de Rio Pardo que colaborasse com a pesquisa,
resultando assim em uma cadeia aleatória de entrevistados.
Por fim, foi feito um contato com 28 pessoas, sendo que desse número,
somente 16 moradores disponibilizaram duas horas do seu dia para serem
entrevistados.
No quadro abaixo é possível verificar o perfil dos sujeitos entrevistados.
Sujeito Nativo de Rio Pardo Idade Profissão
Aida Aparecida dos
Santos Ferreira
Rio Pardense 56 anos Professora
Carmem Rezende Rio Pardense 77 anos Professora
Cirrilo Ferraz Rio Pardense 63 anos Policial Militar
Ceni Lisboa Rio Pardense 54 anos Professora
Eneiva Muller Rio Pardense 57 anos Professora
Elvira Panatieri Rio Pardense 67 anos Bióloga
Fernando Wunderlich Rio Pardense 75 anos Advogado
Getúlio Franco Rio Pardense 57 anos Artesão
Ivone Heitling
nasceu em Santa
Cruz do Sul, mas
criou-se em Rio
Pardo
56 anos Do lar
Jardelina Bandeira Rio Pardense 70 anos Cozinheira
Liane Marques Rio Pardense 52 anos Artesã
Marlene Franco Rio Pardense 54 anos Artesã
Silvia Barros
Rio Pardense, 51 anos Professora
Sérgio Silveira Rio Pardense 69 anos Engenheiro
eletrônico
Vera Schultze Rio Pardense 52 anos Arquiteta
Valídio Scherer Rio Pardense 62 anos Professor e Músico
Quadro 1: Sujeitos de Pesquisa
Fonte: a autora.
É necessário ressaltar que durante a pesquisa de campo, foi
entrevistada uma senhora que nasceu no Município de Santa Cruz do Sul,
porém foi residir no Município de Rio Pardo com cinco anos de idade. A sua
colaboração com a pesquisa foi com total espontaneidade que a autora
considerou a sua participação, visto que o fato de ter ido residir no município na
sua infância conta muito, pois é nesta fase da vida que se formam as primeiras
percepções de mundo.
20
No dia marcado para a entrevista, em um primeiro momento foi feita a
apresentação da pesquisadora, bem como da proposta da pesquisa. A partir
disso, foi entregue o termo de consentimento ao residente e solicitado ao
mesmo a sua leitura e posterior assinatura para que não houvesse distorção de
suas falas (Apêndice A). Foi feito este documento, visto que no município de
Rio Pardo, existe uma forte vinculação de qualquer assunto com as questões
políticas.
Cabe ressaltar, que embora o foco de pesquisa fosse a comunidade
local do Município de Rio Pardo, de fato não foi atingida a totalidade da
população, porém, a pesquisa está representada pelos sujeitos entrevistados
e pelas referências bibliográficas sugeridas.
De acordo com Minayo (1995, p.43), “esse tipo de pesquisa
(qualitativa) não pode basear-se no critério numérico, para poder garantir sua
representatividade. A amostragem boa é aquela que possibilita abranger a
totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões”.
Conforme o conceito de corpus da teoria das Representações Sociais
as informações suficientes para a pesquisa são aquelas que respondem o
problema de pesquisa. Destaca-se também que os moradores que formam o
grupo de pessoas que foram entrevistadas pela pesquisadora, possuem
alguma relação com as questões culturais do Município de Rio Pardo.
A pesquisa foi realizada com os moradores que residiam no centro da
cidade (8 entrevistados), com os moradores do bairro Ramiz Galvão (3
entrevistados), além disso com os moradores do bairro Fortaleza (5
entrevistados), constituindo-se em um total de 16 entrevistados que atenderam
aos objetivos da pesquisa sob uma abordagem qualitativa.
O número de sujeitos entrevistados foi sendo denominado pelo conteúdo
das entrevistas. Conforme Goldenberg (1999, p.14), “na pesquisa qualitativa a
preocupação do pesquisador não é com a representatividade numérica do gru-
po pesquisado, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo so-
cial ”.
1.3.3 Instrumento de Pesquisa
21
Como instrumento metodológico foi utilizado um roteiro de entrevista
aberto. Conforme Voldmam (1997, p.33), a fonte oral serve como elemento
comprobatório, como prova histórica
1
. Os entrevistados foram abordados a
partir da mesma pergunta inicial, que consistia em saber qual a importância do
patrimônio histórico- cultural de Rio Pardo para eles.
Em um segundo momento, mostrou-se somente as figuras dos
elementos divulgados como patrimônio pelo poder público de Rio Pardo. A
partir disso, o entrevistado foi questionado se conhecia as figuras, se ele sabia
o que era, se ele as teria visitado, que lembranças ele teria daqueles
elementos e qual a importância e o significado para ele. ( Apêndice B)
A partir disso, as perguntas restringiram-se apenas ao aprofundamento
das questões colocadas pelos entrevistados, deixando-os livres para fazerem
as observações que considerassem pertinentes. A pesquisadora se restringiu
basicamente a perguntas que exigiam respostas de definição, sobre qual era a
representação do patrimônio para o entrevistado.
Para o registro dos relatos e depoimentos dos entrevistados de Rio
Pardo foi utilizado um microgravador, marca Panasonic, modelo RN- 305, 5,0
cm de largura e 10,0 cm de comprimento, com pilhas. Cada entrevista durou
em dia uma hora, sendo que após o termino da mesma, foram feitos os
agradecimentos com o microgravador desligado. Foram feitas em média três
entrevistas por dia, sendo que imediatamente após as entrevistas realizou-se a
transcrição das mesmas, seguida da leitura do material, intercalando a escuta
do material gravado com a leitura do material transcrito, de modo a afinar a
escuta, buscando deixar aflorar as categorias a serem analisadas nas
entrevistas.
Durante a pesquisa de campo, foram fotografados os elementos que
constam na folheteria turística e que são considerados como patrimônio
histórico-cultural pelo poder público, para posterior análise dos mesmos em
relação às representações sociais dos entrevistados. Com esse registro
fotográfico, segundo Achutti (1997, p.24), buscam-se “evidências para
documentar a realidade social” dos elementos que compõem o patrimônio
1
Segundo Voldman (1997, p. 249), a “ fonte oral, seja provocada por aquele que ira servir-se
dela para a sua pesquisa, seja utilizada por um outro historiador, tem a priori um status de fonte”.
22
histórico-cultural do município. Foi utilizada para o registro fotográfico câmera
digital Sony cyber shot DSC- P200, 7.2 megapixels.
Foi realizada uma pesquisa documental da folheteria turística dos
últimos doze anos de gestão municipal, ou seja, das últimas três gestões
municipais, constituindo-se em quatro (4) folders, sendo que a atual gestão
publicou dois folders distintos. As informações destes folders foram transcritas
e as imagens foram coletadas através do recurso fotográfico.
1.3.4 Análise Qualitativa
A partir da transcrição das entrevistas e da leitura das mesmas,
selecionaram-se as categorias temáticas que foram consideradas mais
importantes. Esta seleção foi feita procurando-se contemplar o que estivesse
presente com maior freqüência. Após a análise das três primeiras entrevistas,
foi possível categorizar, sendo que a partir daí, pode-se perceber a repetição
de temas que poderiam ser agrupados na mesma categoria.
As seguintes categorias foram selecionadas, a história, a memória, o
pertencimento, a identidade, a arquitetura, a cultura (gastronomia, música,
hábitos, costumes), a religiosidade, a herança, a preservação e a valorização.
Para a análise das informações utilizou-se a técnica de análise do
discurso do sujeito coletivo descrita por Simioni e Cols (apud Lefevre e
Teixeira, 2000), que são: idéia central, expressões-chave e discurso do sujeito
coletivo.
A idéia central refere-se a categoria que foi selecionada das falas dos
sujeitos entrevistados. As expressões-chave remetem a própria fala literal dos
informantes. A partir disso, procurou-se esquematizar, através da identificação
das expressões-chaves de cada sujeito entrevistado, as principais
representações expressas no discurso. A seguir, buscou-se elaborar os
discursos dos sujeitos coletivos, que é a última etapa da metodologia utilizada,
constituindo-se na análise da relação entre as Representações Sociais sobre o
patrimônio histórico- cultural e a folheteria turística.
A dissertação encontra-se delimitada em cinco capítulos.
No primeiro capítulo, apresenta-se a introdução com o histórico da
pesquisa, explicitando, tema, problema, objetivo geral e específico e a
23
metodologia utilizada na mesma.
No segundo capítulo são discutidos os conceitos relacionados à teoria
das Representações Sociais, buscando utilizar os referências teóricas da
psicologia social para a construção do campo de pesquisa em turismo.
O terceiro capítulo traz os conceitos e as abordagens referentes à
cultura e a patrimônio histórico-cultural, notadamente nos aspectos específicos
aos bens tangíveis e intangíveis. Destaca-se também uma abordagem holística
do turismo cultural e das questões relacionadas ao uso turístico do patrimônio
histórico-cultural.
No quarto capítulo apresenta-se o local de estudo, Rio Pardo, contendo
uma contextualização histórica sobre a ocupação militar portuguesa no Estado
do Rio Grande do Sul, bem como uma caracterização histórica da colonização
açoriana no município até a atualidade.
No quinto capítulo, apresentam-se as informações fornecidas pelos
entrevistados durante a pesquisa de campo, constituindo-se em uma análise da
relação entre a Representação Social dos sujeitos do município de Rio Pardo
sobre o patrimônio histórico-cultural e a folheteria turística.
Acredita-se que a presente pesquisa contribui de forma significativa na
construção de um conhecimento interdisciplinar do fenômeno turístico. Isso
porque, trata-se de um tema ainda pouco examinado no campo teórico do
turismo. A contribuição se essencialmente pelo fato de se analisar as
representações sociais sobre o patrimônio cultural e a relação com a folheteria
turística no contexto particular do Município de Rio Pardo, possibilitando a
construção de um conhecimento cientifico que possa servir de subsídio para o
planejamento e desenvolvimento sustentável da atividade turística.
24
CAPÍTULO 2:
FUNDAMENTOS TEÓRICOS EM REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
"Construir uma Representação Social de um obje-
to é compartilhar dos modelos de pensamento e
de explicações existentes na sociedade"
Maria de Fátima Santos ( 2000)
No presente capítulo apresentam-se os pressupostos teóricos sobre a
Representação Social partindo da psicologia social. Logo, apresentam-se
alguns conceitos sobre a teoria das Representações Sociais, bem como,
algumas análises. Em seguida, abordam-se as questões sobre o processo de
ancoragem e objetivação, bem como as funções e dimensões das
Representações Sociais. Este capítulo pretende discutir o uso do conceito de
representações, tendo em vista as suas implicações teóricos na compreensão
do patrimônio histórico-cultural.
Algumas obras são fundamentais para tal discussão e este capítulo
considera como base teórica no que tange a teoria da Representação Social os
aportes teóricos de Abric (2000), Arruda (1998), Denise Jodelet (1996),
Pedrinho Guareschi (1995), Serge Moscovici (1981), Sandra Jovchelovitch
(2000), Sa ( 1996), Spink (1995).
É necessário destacar que não se pretende esgotar as possibilidades
25
de discussão do referido campo, mas buscar subsídios para o entendimento de
alguns aspectos fundamentais para a análise da presente pesquisa.
2.1 Conceitos de Representações Sociais
A teoria das Representações Sociais é uma vertente sociológica da
Psicologia Social que se originou na Europa com a publicação, em 1961, do
livro "La psychanalyse: son image et son public", de Moscovici.
A psicologia social aborda as Representações Sociais no âmbito do seu
campo, do seu objeto de estudo a relação indivíduo-sociedade e de um
interesse pela cognição, embora não situado no paradigma clássico da
psicologia: ela reflete sobre como os indivíduos, os grupos, os sujeitos sociais,
constroem seu conhecimento a partir da sua inscrição social, cultural etc., por
um lado, e por outro, como a sociedade se dá a conhecer e constrói esse
conhecimento com os indivíduos. Em suma, como interagem sujeitos e
sociedade para construir a realidade, como terminam por construí-la numa
estreita parceria que, sem dúvida, passa pela comunicação.
Moscovici nos ensina que as Representações Sociais são uma maneira
de interpretar o cotidiano uma forma de conhecimento social” e, ainda “um
conjunto de conceitos, proposições e explicações que se originam na vida
diária no processo das comunicações inter-pessoais; o o equivalente, em
nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais:
elas poderiam igualmente serem vistas como a versão contemporânea do
senso comum (MOSCOVICI, 1981, p.181-186). As Representações Sociais
designam o modo como o saber do senso comum, ou ainda, o saber popular,
do conhecimento do cotidiano, se transforma numa espécie de conhecimento
distinto do conhecimento científico.
Segundo Arruda (1998, p.11) “a teoria das Representações Sociais,
26
inaugurada por Serge Moscovici, vem nos últimos anos expandindo sua
produção teórica e seu campo de aplicação”. Essa autora informa que os
estudos sobre as representações sociais tiveram início no Brasil a partir dos
anos 80, com Denise Jodelet que vem aprofundando esta linha teórica.
Nesse sentido, conforme Moscovici (1978, p.50), “as Representações
Sociais são teorias, ciências que interpretam e elaboram o real”. Para Jodelet
(1986) as Representações Sociais são como imagens compartilhadas que
condensam um conjunto de significados.
Ressalta-se que as Representações Sociais o elementos simbólicos
que os homens expressam mediante o uso de palavras e de gestos. No caso
do uso de palavras, utilizando-se da linguagem oral ou escrita, os homens
explicitam o que pensam, como percebem esta ou aquela situação, que opinião
formulam acerca de determinado fato ou objeto, que expectativas desenvolvem
a respeito disto ou daquilo e assim por diante. Essas mensagens, mediadas
pela linguagem, o construídas socialmente e estão, necessariamente,
ancoradas no âmbito da situação real e concreta dos indivíduos que as emitem.
Conforme Jovchelovitch (2000, p.41), as Representações Sociais o
"fenômenos simbólicos produzidos na esfera pública [...] nos espaços em que
sujeitos sociais reúnem-se para falar e dar sentido ao cotidiano". Nesse
processo, a autora informa que as representações sociais enquanto fenômenos
expressam, em sua estrutura interna, permanência e diversidade, tanto a
história como realidades atuais. A permanência e a diversidade ocorrem nas
construções das representações porque diferentes atores sociais atribuem
significados aos objetos sociais de conformidade com a posição que cada um
deles ocupa no conjunto da sociedade.
Na busca de uma conceitualização, Jodelet (1996), diz que o conceito
das Representação Social designa uma forma de conhecimento especifico, o
saber de sentido comum, cujos conteúdos manifestam a operação de
processos funcionais socialmente caracterizados. Em um sentido mais amplo,
designa uma forma de pensamento prático orientado pela comunicação,
compreensão e pelo domínio do entorno social, material e ideal. (tradução da
27
autora).
Acredita-se que as Representações Sociais são elaborações mentais
construídas socialmente, a partir da dinâmica que se estabelece entre a
atividade do sujeito e o objeto do conhecimento. Ou ainda, é uma forma de
conhecimento socialmente elaborada e partilhada, tendo um objetivo prático e
servindo à construção de uma realidade comum a um conjunto social.
Segundo Moscovici (2003, p. 54, 56), “a finalidade de todas as
representações é tornar familiar algo não-familiar, ou a própria não-
familiaridade que é caracterizada pela não presença real de algo ausente, a
exatidão relativa de um objeto”.
Abric (2000, p. 27), por sua vez, “informa que a “visão de mundo” que os
indivíduos ou os grupos sociais têm e utilizam para agir e para tomar posição, é
indispensável para compreender a dinâmica das interações sociais e clarificar
os determinantes das práticas sociais". Neste sentido, as Representações
Sociais se manifestam em palavras e condutas, e devem ser analisadas a partir
da compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais.
Segundo Moreira e Oliveira (1997) os sujeitos e os grupos estabelecem
relações sociais através das representações que eles constroem e nesse
processo de representação transita o pensar, o falar, o sentir, o criar, o desejar
e o agir do sujeito. Concordando com isto, Wagner (2000, p. 11) afirma que a
interação entre as pessoas expressa e confirma suas crenças subjacentes,
porque a representação é sempre uma unidade do pensar e do fazer das
pessoas. Este autor adverte que "uma representação é mais do que uma
imagem estática de um objeto na mente das pessoas; ela compreende também
seu comportamento e a prática interativa de um grupo".
Isto é explicado por Jovchelovitch (2000, p. 117):
As representações são estruturas que envolvem, (...), a cognição, os
afetos e a ação. A cognição, porque as representações envolvem
certo modo de conhecer o mundo. Elas são saberes sociais, isto é,
formas de saber e fazer que circulam em uma sociedade, que são
parte da cultura popular, erudita e científica, que se mesclam e
penetram umas nas outras, e emergem como recursos que uma
comunidade dispõe para dar sentido a sua realidade e entender seu
cotidiano. Os afetos, porque saber envolve o desejo de saber ou
desejo de não-saber, envolve investimento e paixão em relação ao
objeto do saber e ao ato do saber. Representar (...); é um ato que
vem de gente que pensa e sente, que tem motivos e intenções, que
28
sustenta uma identidade e vive em um mundo social. A ação, porque
a cognição e os afetos são atividades que envolvem sujeitos que
falam, relacionam-se se engajam e assim por diante.
Nessa linha de pensamento, os indivíduos ou os grupos não devem ser
vistos como “receptores passivos”. Ao contrário, de modo constante, eles
“produzem e comunicam representações” (MOSCOVICI, 1981, p.183). Em
outras palavras, eles são atores sociais. É importante salientar que uma
permanente construção social da realidade que se através e no fluxo das
interações comunicativas cotidianas. Assim sendo, "a representação funciona
como um sistema de interpretação da realidade que rege as relações dos
indivíduos com o seu meio físico e social, ela vai determinar seus
comportamentos e suas práticas" (ABRIC, 1997, p. 28),
Na visão de Spink, (1995, p. 118). "as Representações Sociais,
enquanto formas de conhecimento, envolvem cognição e afeto e, desta monta,
não podem ser reduzidas apenas ao seu conteúdo cognitivo. Precisam ser
entendidas, assim, a partir do contexto que as engendram e a partir de sua
funcionalidade nas interações sociais do cotidiano".
Adotar a teoria das Representações Sociais para o entendimento dos
fenômenos implica numa constante integração sujeito-objeto para que os
significados venham à tona, pois,
(...) não existe uma realidade objetiva apriori, mas sim que toda
realidade é representada, quer dizer, reapropriada pelo indivíduo ou
pelo grupo, reconstituída no seu sistema cognitivo, integrada no seu
sistema de valores, dependente de sua história e do contexto social e
ideológico que o cerca (ABRIC, 1997, p. 27).
Guareschi (1995) informa que nas Representações Sociais "estão
presentes elementos dinâmicos e explicativos, na realidade social, física ou
cultural. Também estão presentes aspectos culturais, cognitivos e valorativos.
Tais elementos estão presentes nos objetos e nos sujeitos”.
Esta perspectiva é compartilhada por Wagner (2000, p 3-4) que analisa
a “Representação Social como um conteúdo mental estruturado - isto é,
cognitivo, avaliativo, afetivo e simbólico - sobre um fenômeno social relevante,
que toma a forma de imagens ou metáforas, e que é conscientemente
partilhado com outros membros do grupo social".
Outra contribuição significativa na formulação do conceito sobre o termo
29
representação é a apresentada por Oliveira e Werba (1998):
Estudar a Representação Social é buscar conhecer o modo como um
grupo humano constrói um conjunto de saberes que expressam a
identidade de um grupo social, as representações que ele forma
sobre uma diversidade de objetos, tanto próximos como remotos, e
principalmente o conjunto dos códigos culturais que definem, em cada
momento histórico, as regras de uma comunidade. Uma das
principais vantagens desta teoria é sua capacidade de descrever,
mostrar uma realidade, um fenômeno que existe, do qual muitas
vezes não nos damos conta, mais que possui grande poder
mobilizador e explicativo.
Esses autores informam que o aspecto diferencial do conceito de
Representações Sociais é a sua dinamicidade e historicidade específicas. Isto
explica em parte, a dificuldade da elaboração de um conceito em definitivo. As
Representações Sociais estão associadas às práticas culturais, reunindo tanto
o peso da história e da tradição, como a flexibilidade da realidade
contemporânea, delineando as representações sociais como estruturas
simbólicas desenhadas tanto pela duração e manutenção, como pela inovação
e metamorfose.
Moscovici (2003) ressalta que a teoria das Representações Sociais
estuda a maneira pela qual os indivíduos buscam compreender o mundo que
os cercam. Portanto, estudá-las é considerar que os seres humanos não
apenas manipulam informações ou agem sem explicações, mas - sobretudo
pensam.
A teoria das Representações Sociais se contrapõe à relação sujeito-
objeto na produção do conhecimento. Elas são um conjunto de conhecimentos
sobre os saberes populares elaborados e partilhados pelos diversos grupos
com a finalidade de construção da realidade. Nesse processo, existe uma
relação de simultaneidade nas interações com os objetos, pois, ambos se
modificam e complementam. Isto acontece porque "o objeto está inscrito num
contexto ativo, sendo este contexto concebido pela pessoa ou grupo, pelo
menos parcialmente, enquanto prolongamento do seu comportamento, de suas
atitudes e das normas às quais se refere" (ABRIC, 1997, p. 27).
Muitas disciplinas específicas das ciências humanas utilizam as
Representações Sociais. Este caráter multidisciplinar explica em parte, a
dificuldade de se atribuir um conceito definitivo para as Representações
30
Sociais. (2000, p. 30) lembra que o próprio "Moscovici sempre resistiu a
apresentar uma definição precisa das Representações Sociais, por julgar que
uma tentativa nesse sentido poderia acabar resultando na redução do seu
alcance conceitual".
Diversos autores têm demonstrado a dificuldade de se elaborar um
conceito específico para as Representações Sociais, devido à complexidade do
termo, o qual se aplica às diversas áreas do conhecimento humano.
As Representações Sociais podem ser estudadas pela sociologia, pela
psicologia, pela antropologia, pela educação, pela economia, pelo turismo entre
outras áreas. A sociologia traz os estudos sobre representações, a partir da
noção durkheimiana de Representações Coletivas. No campo da Psicologia, é
apresentada por Jodelet (1989, p. 36) que as Representações Sociais como
"uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma
visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um
conjunto social". As articulações entre os aspectos cognitivos e sociais têm
sido utilizadas para compreender as representações formuladas sobre a
criança, a doença, a mulher, o idoso, a saúde entre outros temas desse campo
de aplicação.
No campo da Antropologia, Laplantine (2001, p. 242) afirma que
"representação é o encontro de uma experiência individual e de modelos
sociais num modo de apreensão particular do real: o da imagem-crença, que,
contrariamente ao conceito e à teoria que é sua racionalização secundária,
sempre tem uma tonalidade afetiva e uma carga irracional". Este autor
acrescenta ainda que "trata-se de um saber que os indivíduos de uma dada
sociedade ou de um grupo social elaboram acerca de um segmento de sua
existência ou de toda a existência".
No campo da Educação, as pesquisas salientam a importância das
Representações Sociais dos professores constituindo-se em uma tentativa de
ampliar a compreensão dos aspectos que envolvem a educação na sociedade.
Quanto à aplicação da teoria das Representações Sociais ao campo do
turismo, Oliveira (2003), concluiu que a mesma serviu como articulador dos
outros aspectos teóricos desenvolvidos que confluem para a compreensão
interdisciplinar da complexidade do turismo no contexto do processo sócio-
histórico da mudança do Campeche e na sua relação com o processo mais
31
amplo de transformação de Florianópolis e, especialmente com o aspecto de
desenvolvimento turístico da Ilha de Santa Catarina.
Hallal (2004), ressalta que a teoria das Representações Sociais permitiu
a construção de um quadro conceitual abrangente, que possibilitou a
apreensão do conhecimento prático da comunidade local de Pelotas, no Rio
Grande do Sul sobre o turismo.
Assim, o estudo das Representações Sociais se torna relevante visto
que conforme Guareschi e Jovchelovitch (1995, p. 20),
O fenômeno das Representações Sociais, diz respeito à construção
de saberes sociais e, nessa medida, ele envolve a cognição. O
caráter simbólico e imaginativo desses saberes traz à tona a
dimensão dos afetos, porque quando sujeitos sociais empenham-se
em entender e dar sentido ao mundo, eles também o fazem com
emoção, com sentimento e com paixão.
A partir disso, algumas idéias sobre a teoria das Representações Sociais
podem ser tiradas a partir das contribuições conceituais de diversos autores
e considerando as informações sobre os diferentes campos de aplicação:
saberes sociais, atribuição de significado, conteúdo valorativo e prática social.
Por fim, as representações sociais podem ser entendidas como o
processo de apropriação do mundo pelo homem, assimilação da realidade, a a
partir de suas vivências e experiências concretas, das informações sobre o
objeto e das interações com outros homens. Nesse sentido, o estudo das
representações tem possibilitado melhor o entendimento das atitudes das
comunidades em relação a fenômenos sociais diversos.
2.2 Processos de Ancoragem e Objetivação
As Representações Sociais, são campos socialmente estruturados, que
revelam o poder de criação e de transformação da realidade social. Como
produtos sociais, as representações têm sempre que ser remetidas às
condições sociais que as engendraram, ou seja, ao contexto de produção.
Conforme Jodelet (1989) dentre os processos sociocognitivos que atuam,
32
dialeticamente, na formação das representações sociais, destacam-se: a
objetivação e a ancoragem.
A objetivação pode ser definida como a transformação de uma idéia, de
um conceito, ou de uma opinião em algo concreto, isto é, a atribuição de
formas, físicas ou não, mas claras, delimitadas, facilitadoras da
“materialização”, da “visualização” do novo conceito. Cristaliza-se a partir de
um processo figurativo e social e passa a constituir o núcleo central de uma
determinada representação, seguidamente evocada, concretizada e
disseminada como se fosse o real daqueles que a expressam.
A ancoragem refere-se à integração do novo conceito a esquemas,
idéias, acontecimentos, relações etc. preexistentes. Por intermédio da
ancoragem, o não familiar ganha espaço no universo conhecido, ocupando a
posição que lhe cabe e integrando-se aos esquemas habituais” (AVELATO,
1999, p. 92-93).
Segundo Jodelet (1989, p. 46), “a ancoragem consiste na integração
cognitiva do objeto representado a um sistema de pensamento social pré-
existente e nas transformações implicadas em tal processo”. Bauer e
Jovchelovitch (1995), afirmam que o processo de ancoragem está intimamente
ligado à identidade social dos sujeitos. A ancoragem é a apropriação de
determinado objeto social, que vem ao encontro, ou não, de uma identidade
social estabelecida. A ancoragem se de forma a literalmente “ancorar” as
novas representações, que são trazidas até as categorias e imagens de um
referencial reconhecível, ou seja, prender uma representação nova nun quadro
já existente.
A objetivação por sua vez, segundo Jodelet (1989, p. 47), “consiste em
uma operação imaginante e estruturante, pela qual se da uma forma, ou figura,
especifica ao conhecimento acerca do objeto, tomando concreto, quase
tangível, o conceito abstrato, como que materializando a palavra”.
A objetivação, segundo Guimelli (1999, p.64) é aquele processo pelo
qual o grupo irá “naturalizar” um conceito abstrato, isto é, irá efetuar as
transformações ao mesmo, visando torná-lo “concreto”. O que ocorre é uma
simplificação dos elementos da informação, que serão portanto concretizados e
resumidos “a partir de uma lógica que é interna ao grupo”.
33
Segundo Moscovici (apud Sager, 2002, p.30) o processo de objetivação
se materializa com:
Aquelas palavras que, devido a sua capacidade para serem
representadas, tiverem sido selecionadas, [..]são integradas ao que
eu chamei de um padrão de núcleo figurativo, um complexo de
imagem que reproduz visivelmente um conjunto de idéias[...] Uma
vez que a sociedade tenha adotado tal paradigma ou núcleo
figurativo, fica mais fácil sobre qualquer coisa que possa ser
associado ao paradigma e, por causa dessa facilidade, as palavras
referentes a ele são usadas mais frequentemente.
Conforme Moscovici (1984) os processos de ancoragem e objetivação
visam transformar o não-familiar em familiar, incorporando e transformando
novos elementos advindos da estrutura social. Em síntese, “a duplicação de um
sentido por uma figura, pela qual se materialidade a um objeto abstrato, é
cumprida pelo processo de objetivação. A duplicação de uma figura por um
sentido, pela qual se fornece um contexto inteligível ao objeto, é cumprida pelo
processo de ancoragem”, explica Sá (1996, p. 46).
Salienta-se que o primeiro processo o da objetivação se situa numa
relação dialética com o segundo o da ancoragem. Logo, a comunidade se
apropria, internaliza e dá sentido a partir de seu mundo vivido, a partir das suas
estruturas significativas, a partir de sua identidade social. Isto é o que
Moscovici chamou de ancoragem, sendo que ela está fundamentalmente
relacionada com a identidade social.
2.3 Funções das Representações Sociais
As Representações Sociais são estruturadas a partir de um
conhecimento prático que influencia as formas de agir dos sujeitos. Conforme
Abric (apud Sá, 1996), as Representações Sociais comportam quatro funções
essenciais: a) a função do saber, que permite compreender e explicar a
realidade, fazendo com que os atores sociais adquiram conhecimento de
maneira a integrá-los a um quadro assimilável e compreensível. Além disso, é
34
condição necessária para a comunicação social que permite as trocas sociais,
a transmissão e a difusão do saber ingênuo; b) funções identitárias, pois as
representações sociais também têm a função de situar os indivíduos e os
grupos no campo social, permitindo a elaboração de uma identidade social e
pessoal compatível com sistemas de normas e valores sociais, historicamente
determinados; c) funções de orientação, pois sua finalidade é orientar o sujeito
quanto as suas práticas, definindo a priori os tipos de relações pertinentes ao
sujeito e definindo o que é lícito, tolerável ou inaceitável em um determinado
contexto social; d) funções justificatórias que permitem justificar a posteriori as
ações do sujeito.
2.4 Dimensões das Representações Sociais
Na estrutura da Representações Sociais é possível a identificação das
seguintes dimensões: a atitude, a informação e o campo de representação.
Segundo Moscovici (1978, p.66) a dimensão da informação, “se refere à
organização dos conhecimentos que um grupo possui a respeito de um objeto
social”, ou seja, constitui-se a partir da atitude do sujeito. Os sujeitos com mais
conhecimentos sobre o objeto da representação têm melhores condições de
informação sobre esse objeto.
Conforme Paiva (1994, p. 45), a informação pode ser nula - não existir
esta dimensão - ou atingir extremos de complexidade e coerência. O grau de
informação que os indivíduos possuem pode variar em quantidade e qualidade
e depende de certos fatores. Ibañez (1988, p. 47), menciona que entre esses
fatores, a origem da informação, além do modo como as pertinências e
posições sociais, seus interesses e valores, mediatizam a quantidade e a
precisão da informação disponível, influenciando no tipo de representação que
se forma.
Moscovici (1978, p. 67), ressalta que a dimensão campo de
representação “remete à idéia de imagem, de modelo social, ao conteúdo
concreto e limitado das proposições acerca de um aspecto preciso do objeto da
representação”.
35
Por fim, conforme Moscovici (1978, p. 69) a atitude “termina por focalizar
a orientação global em relação ao objeto da Representação Social”. “Uma
tomada direta de posição” do sujeito em relação ao objeto da representação,
implicando “juízo de valor” e qualificação positiva, negativa ou posição neutra.
Na visão da autora, entre os diversos conceitos existentes sobre
Representações Sociais, optou-se pelo que Moreira e Oliveira (2000) que
explicam: "Representações Sociais são idéias, imagens, concepções e visões
de mundo que os atores sociais constroem sobre a realidade, as quais estão
vinculadas às práticas sociais". Estes autores informam que os grupos sociais
constroem Representações Sociais conforme sua posição no conjunto da
sociedade, representações essas que emergem de seus interesses específicos
e da própria dinâmica da vida cotidiana.
Este conceito foi escolhido para analisar as Representações Sociais dos
moradores de Rio Pardo sobre o patrimônio histórico-cultural, considerando
também, o que diz Moscovici (2003, p. 216): “Representações Sociais são
sempre complexas e necessariamente inscritas dentro de um referencial de um
pensamento existente, sempre dependentes, por conseguinte, de sistemas de
crença, ancorados em valores, tradições e imagens do mundo e da existência”.
É justamente o conjunto de saberes que os sujeitos elaboraram sobre a
realidade, os quais estão vinculados às práticas sociais, que foram os
elementos significativos utilizados nesse trabalho. Assim, seja no seu
conteúdo, nas duas dimensões ou no seu processo, as representações
oferecem possibilidades de perceber atitudes e conceitos que refletem e
orientam pensamentos, opiniões e ações.
É possível então, compreender que, em cada expressão pessoal,
podem-se encontrar idéias que expressem o pensamento coletivo. Nessa
compreensão encontra-se uma das mais significativas possibilidades de estudo
de representações como uma das perspectivas de entendimento da formação e
consolidação do pensamento social.
No caso desta pesquisa, compreender as Representações Sociais dos
moradores de Rio Pardo sobre o patrimônio histórico-cultural, permite explicar
não os comportamentos e atitudes em relação aos mesmos, mas também
como estas representações são apreendidas e reconstruídas pelos moradores,
36
servindo de referência à construção de sua identidade.
CAPITULO 3:
PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL
“A verdadeira riqueza do patrimônio de um povo
não está em seus monumentos, em suas obras de
arte ou em seu saber coletivo, mas na capacidade
desse povo em valorizá-los”.
Antonio Sanchez Del Barrio (1985)
Este capítulo inicia com o conceito de cultura e, em seguida apresentam-
se reflexões sobre a questão do patrimônio cultural. Logo, são discutidos os
conceitos ligados a turismo e turismo cultural, bem como ao uso turístico do
patrimônio cultural. Faz-se um resgate teórico de autores como Alfredo Ascanio
(2003), Américo Pelegrini Filho (1993), Andreas Huyssen (2000), Bob
Mackercher e Hilary Du Cros (2002), Cecília Londres Fonseca (1997), Clifford
Geertz (1989), Eclea Bosi (1994), Françoise Choay (2001), Haroldo Leitão
Camargo (2002), Jean-Pierre Warnier (2000), José Luiz dos Santos (1994),
José Reginaldo S. Gonçalves (1996), Júlia Azevedo (1998), Margarita Barretto
(2001), Maria Pedro Paulo Funari e Jaime Pinsky (2001), Mário Jorge Pires
(2002), Mário Carlos Beni (2001), Marustcka Moesch (2002), Murta e Goodey
(1995).
Tendo em vista a continuidade da construção cientifica no campo do
patrimônio cultural e do turismo, desde já se salienta que não pretensão de
37
esgotar a discussão e sim de colaborar para o avanço científico da temática,
oferecendo assim como produto um conhecimento cujos benefícios possam ser
disseminados para toda a sociedade.
3.1 Cultura
Ao longo da história, a palavra “cultura” foi entendida de forma diferente
de uma escola de pensamento para outra, de uma sociedade ou de uma época
para outra, assim como de sua aplicação a um ou outro campo de estudo. Ao
mesmo tempo, as tentativas de delimitá-la conceitualmente não têm chegado a
avanços significativos.
Conforme Santos (1994, p. 44-45), a cultura é um produto da história
de cada sociedade, é uma dimensão do processo social, da vida em
sociedade.Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções ou
apenas a uma parte da vida social, independente da mesma. A cultura diz
respeito a todos os aspectos da vida social.
Para Warnier (2000, p. 16), a cultura é:
[...] uma totalidade complexa constituída por normas, por hábitos, por
repertórios de ação e de representação, adquiridos pelo homem
enquanto membro de uma sociedade. Toda a cultura é singular,
geograficamente ou socialmente localizada, objeto de expressão
discursiva numa língua determinada, fator de identificação pelos
grupos e pelos indivíduos e de diferenciação em relação aos outros,
sendo as orientações dos atores uns em relação aos outros e em
relação aos seus lugares vizinhos. Toda a cultura é transmitida pelas
tradições reformuladas em função do contexto histórico.
As culturas também são feitas de práticas e crenças religiosas,
educativas, alimentares, artísticas, dicas e dizem respeito às regras de
organização do parentesco, da família e dos agrupamentos políticos, entre
outros. Para transmiti-las e assimilá-las é preciso tempo (WARNIER, 2000, p.
16-17).
Geertz (1989, p.15), define a cultura a partir de uma ótica semiótica:
O conceito de cultura que eu defendo, (...) é essecialmente semiótico.
Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a
teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como
38
sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência
experimental em busca de leis, mas como um ciência interpretativa, à
procura do significado.
A cultura que compreende o patrimônio e a criação de um povo, se
forma em uma “dimensão do processo da vida de uma sociedade. Não é
estanque ou estável. É mutável e se vale das mais variadas formas de
expressão humana” (NOGUEIRA, 2001,p.163).
Portanto, a cultura não é vivenciada passivamente por aqueles que a
recebem como herança. Eles reagem àquilo que lhes é proposto ou que se
pretende impor. Assimilam certos aspectos e rejeitam outros, criam, ao longo
de suas existências, novas maneiras de fazer e criticam os valores usuais
quando estes não correspondem as suas inspirações. A cultura é dinâmica.
Nos tempos atuais, a cultura constitui-se em uma preocupação
constante, uma vez que “o desenvolvimento da humanidade está marcado por
contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social [...]”. É
nesse sentido que ao se discutir sobre cultura, deve-se pensar na humanidade
em toda a sua riqueza e multiplicidade de formas de existência (SANTOS,
1994, p.7).
Mesmo sendo a cultura objeto de estudo de diversos campos do
conhecimento e analisada sobre enfoques distintos, o componente social
permeia todos eles, reafirmando o papel da mesma como um referencial
essencial para a identificação de um indivíduo com seu grupo. Compreender a
formação e a evolução de tantos aspectos culturais exige uma compreensão
holística dos componentes que estão sobre sua influência, mas destaca-se,
entre eles, a relação direta com a ação humana do passado e do presente,
principal força geradora e direcionadora da cultura através dos tempos.
3.2 Patrimônio Histórico
A palavra patrimonium é de origem romana e significa “bem de herança
que é transmitido dos pais para os filhos por força da lei” (CHOAY, 2001, p.11).
Durante muito tempo, o termo foi entendido como o coletivo das obras
39
monumentais, as grandes propriedades de luxo, as edificações oficiais e
igrejas. Primeiramente o conceito de patrimônio está ligado às estruturas
familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade, enraizada no tempo e no
espaço. Posteriormente, designa um bem destinado ao usufruto de uma
comunidade, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de
objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das
belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes
dos seres humanos.
A Revolução Francesa é momento em que, pela primeira vez, o termo
patrimônio, noção emanada do direito, através da qual a sucessão é
normalizada em relação ao conjunto das posses, metaforicamente passa a
designar as propriedades que pertencem à nação. Como conseqüência da
revolução, os bens confiscados da igreja, da coroa e da aristocracia passaram
ao domínio do Estado. Para evitar a destruição (o “vandalismo”, neologismo
cunhado à época para condenar a desaparição dos bens produzidos pelo
“gênio do povo francês”) era preciso proteger e catalogar as propriedades
remanescentes, pois, além da destruição muitas foram vendidas: da
monarquia, dos aristocratas imigrados e da igreja.
Conforme Choay (2001), foi preciso que surgissem ameaças concretas
de perda dos monumentos e ao culto à nação para que a preservação dos
monumentos se tornasse um tema de “interesse público”. Os atos de
vandalismo contrariavam diretamente os ideais iluministas de acumulação e
difusão do saber, logo surgiram as primeiras medidas para impedir as
destruições e foi forjado o termo “patrimônio nacional”. Os monumentos
passaram a ser encarados como a materialização da identidade nacional,
devendo ser preservados por seu valor pedagógico e artístico. Assim, os
comitês revolucionários transformaram os monumentos históricos em
propriedades do povo dando-lhes um valor nacional, provando que romper com
o passado não significa abolir sua memória, nem destruir seus monumentos,
mas conservar tanto uma quanto outros, num movimento dialético que, de
forma simultânea, assume e ultrapassa seu sentido histórico original,
integrando-o num novo estatuto semântico.
Nas décadas que sucederam ao nascimento institucional desta idéia, os
debates concentraram-se nas concepções de restauro e conservação deste
40
patrimônio. Isto porque as grandes transformações no espaço geográfico,
resultantes da Revolução Industrial, ajudaram a constituir uma visão nostálgica
do passado. Ao término da Primeira Guerra Mundial esta preocupação
estendeu suas fronteiras para os demais países europeus, num primeiro
esforço internacional, ainda que restrito a este continente. Os países europeus,
arrasados fisicamente pelo confronto e preocupados em como restaurar seu
patrimônio, organizaram em 1931 uma conferência que resultou na Carta de
Atenas. Esta foi o primeiro documento internacional relativo a políticas de
preservação do patrimônio tornando-se, por vários anos, uma referência para a
restauração de bens.
A Carta de Atenas de 1931 também acenava, ainda que de forma
incipiente, para a inclusão de um patrimônio natural. Estabelecia que para a
valorização dos monumentos era necessário o estudo das "plantações e
ornamentações vegetais convenientes a determinados conjuntos de
monumentos" (IPHAN, 1995, p.16).
A idéia de um patrimônio comum a um grupo social, definidor de sua
identidade e, enquanto tal, merecedor de proteção, se consolida através de
práticas que ampliaram o círculo dos colecionadores e apreciadores de
antigüidades e se abriram a novas camadas sociais: exposições, vendas
públicas, edição de catálogos das grandes vendas e das coleções particulares.
Inicialmente, a categoria do patrimônio que mereceu a atenção foi a que
se relaciona mais diretamente com a vida de todos: o patrimônio-histórico
representado pelas edificações e pelos objetos de arte. De todos os elementos
responsáveis por esta representação identitária, os edifícios sempre assumiram
uma importância considerável em relação aos outros elementos considerados
patrimônios, uma vez que eram facilmente percebidos e freqüentados por um
número significativo de pessoas.
3.2.1 Monumento Histórico
Conforme Choay (2001, p.31), pode-se situar o nascimento do conceito
de monumento histórico na Roma de 1420, período que se convencionou deno-
minar de Renascimento e que foi marcado pela generalização de ideais huma-
41
nistas. Entre eles, o da valorização do homem e da natureza em contraposição
ao divino e ao sobrenatural e o grande interesse, um verdadeiro fascínio, pelas
obras da Antiguidade Clássica, consideradas como uma "lição de construção".
Foram principalmente os escritores e artistas humanistas que ressaltaram a im-
portância dos monumentos da civilização greco-romana como representativos
de um passado antigo e, portanto, portadores de informações históricas e de
qualidade artística. No entanto, segundo Choay (2001), foi somente no século
XIX, na França, que nasceu a proteção institucional do patrimônio cultural naci-
onal através da criação de um órgão responsável pelo classement (1837).
O monumento histórico, de qualquer modo, “se insere em um lugar imu-
tável e definitivo num conjunto objetivado e fixado pelo saber” (CHOAY, 2001,
p.27), e sua conservação tem as características da conservação de documen-
tos históricos. Seu valor se aproxima de um valor arqueológico, como se fosse
o testemunho de outra sociedade.
Um monumento é antes de tudo uma referência a um momento na traje-
tória histórica de um povo, um instrumento de memória coletiva. Os objetos pa-
trimoniais e os edifícios e centros históricos, podem refletir a maior parte da his-
tória, sendo a evidência concreta da continuidade, assim como da mudança
dos processos culturais.
O termo monumento é compreendido aqui como todos os elementos que
foram construídos por determinada comunidade para proporcionar às gerações
presentes ou futuras a memória do passado. (CHOAY, 2001, p. 18). A autora
salienta que a palavra monumento se origina do latim monumentum que signifi-
ca trazer à lembrança alguma coisa, e desta forma, coloca claramente a inten-
cionalidade destes elementos em remeter à memória coletiva. O termo monu-
mento histórico por sua vez, agrega o valor de historicidade ao elemento e me-
morial, tornando-o mais forte no imaginário coletivo.
A verdadeira essência do monumento está relacionada diretamente com
a memória e com um tempo vivido, caracterizando a natureza afetiva de uma
sociedade, ou determinada cultura, com o artefato produzido. Esta função origi-
nal do monumento foi perdendo gradativamente o seu sentido na nossa socie-
dade, adquirindo, aos poucos outros significados.
Hoje em dia, o sentido de “monumento” progrediu. Ao prazer dispen-
sável pela beleza do edifício, sucedeu a admiração ou o espanto que
42
provocam a maestria técnica e uma versão moderna do colossal, na
qual Hegel tinha visto o começo da arte nos povos da Alta Antiguida-
de oriental. Doravante, o monumento sem passado chama a atenção,
intepela no instante, trocando o seu antigo estatuto de signo pelo de
sinal. ( CHOAY, 2001, p. 18).
Choay (2001, p.165) apresenta algumas categorias de valores
associadas aos monumentos históricos, apontadas de forma inédita por Riegl
no século XVI. Para esse estudioso tais valores são divididos em duas
características opostas, ou seja, uma ligada ao passado e outra ligado ao
presente do monumento.
Os valores ligados ao passado são aqueles remetidos à própria idade do
elemento, marcados pela memória de um tempo passado definido, de um
período histórico marcante de uma sociedade e de sua própria intencionalidade
de monumentalização. Em contrapartida, os valores ligados ao presente são
aqueles associados à funcionalidade (mesmo que museográfica) do elemento
no tempo presente, ao seu estado de conservação e ao seu efeito estético.
Huyssen (2000, p.54-55), situa esta vertente do monumento como um
modo,
“(...) de garantir a origem e a estabilidade bem como a largueza do
tempo e do espaço de um mundo que se transformava rapidamente e
era vivido como transitório, desenraizador e instável (...)
Especialmente a arquitetura monumental (...) parecia garantir a
permanência e oferecer um baluarte contra a aceleração do tempo,
as bases movediças do espaço urbano e a transitoriedade da vida
moderna.”
A construção da identidade é feita a partir de uma representação arqui-
tetônica do passado, e não necessariamente da presença em um espaço. Além
disso, a qualificação de monumento histórico é atribuída posteriormente ao edi-
fício, em geral por especialistas: “Todo objeto do passado pode ser convertido
em testemunho histórico sem que para isso tenha tido, na origem, uma destina-
ção memorial” (CHOAY, 2001, p.26).
Entretanto, Choay (2001, p.18), considera que os monumentos seriam
um “universal cultural”, presentes em quase todas as sociedades, na forma de
edifícios com uma função memorial: “chamar-se-á monumento tudo o que for
edificado por uma comunidade de indivíduos para rememorar ou fazer que ou-
tras gerações de pessoas rememorem acontecimentos, sacrifícios, ritos ou
crenças”.
43
O monumento é definido a partir do seu modo de atuação sobre a me-
mória, de natureza afetiva: “não se trata de apresentar, de dar uma informação
neutra, mas de tocar, pela emoção, uma memória viva” (CHOAY, 2001, p.18).
A função primordial do monumento, carregada para o patrimônio, é fundar uma
identidade; vencer a morte ou a própria vida, se considerarmos que seus ci-
clos tudo transformam sem cessar.
3.3 Patrimônio Cultural
O primeiro órgão de proteção do patrimônio nacional no Brasil foi o
SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criado em 13 de
janeiro de 1937. A implantação do serviço estava sob o comando de Rodrigo
Melo Franco de Andrade. Segundo Pelegrini Filho (1993), a criação do SPHAN
enfatizava a preservação de bens culturais, é que se leva a cabo a
preocupação com o patrimônio cultural.
A criação do SPHAN surge no contexto do Modernismo e do Estado
Novo. O Modernismo “representou um esforço de penetrar mais fundo na
realidade brasileira” (BOSI, 1994, p. 332), representava a busca de uma
identidade cultural brasileira, enquanto isso, o Estado Getulista passou a
integrar ao seu projeto de construção de uma identidade nacional a valorização
do patrimônio histórico. “A ideologia vigente no estado-novo apoiava-se no
nacionalismo, o que resultou na legitimação do discurso dos modernistas sobre
o patrimônio” (MELO, 1998, p. 24).
No Brasil, a promulgação do Decreto-Lei 25, de 30 de novembro de
1937, organizou a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e
instituiu o instrumento do tombamento. Na realidade, a política preservacionista
brasileira data do início do século XX, com a criação da Inspetoria de
Monumentos Nacionais, em 1934, iniciativa pioneira do poder público no
sentido de institucionalizar uma ação de proteção do patrimônio cultural
brasileiro. A preocupação com a valorização do patrimônio brasileiro inicia-se
com os intelectuais modernistas, oriundos do movimento cultural denominado
“Semana de 22”, destacando-se Mário de Andrade e Lúcio Costa, os quais
exerceram papel determinante na criação e no funcionamento da agência
nacional de proteção.
44
Nesse sentido, conforme Camargo (2000), privilegiam-se na noção de
patrimônio, as relíquias barroco-coloniais e obras modernistas que eram
qualificadas como tais, com isso deixando de valorizar áreas de formação
históricas mais recentes e desconsiderando a imensa multiplicidade e
diversidade cultural do território.
Contraditoriamente, os modernistas, que buscavam novos parâmetros
para a cultura, elegem como patrimônio cultural a ser protegido apenas as
edificações e os monumentos de pedra e cal, representativos do país colonial,
escolhendo os sítios e monumentos setecentistas como símbolo das nossas
raízes socioculturais, o nosso lastro de identidade nacional.
Porém o art. do Decreto-Lei 25/37 limita a incidência normativa do
conceito de patrimônio cultural, considerando que “constitui patrimônio histórico
e artístico nacional o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e
cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos
memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico
ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. (IPHAN, 2005).
Em 1998 é promulgada outra nova Constituição (ainda em vigor),
abarcando vários artigos sobre o patrimônio cultural brasileiro. Nesse
documento se efetiva a definição desse patrimônio, precisamente no Artigo
216º:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I as formas de expressão;
II os modos de criar, fazer e viver;
III as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V os conjuntos urbanos e tios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (IPHAN,
2004).
O Decreto nº3.551, de 04 de agosto de 2000, representou outro avanço
considerável do conceito de patrimônio cultural brasileiro: tal documento
instituiu o registro de bens culturais de natureza imaterial e criou o Programa
Nacional do Patrimônio Imaterial. O registro dos bens imateriais é, a partir de
então, condicionado à inscrição em um dos seguintes Livros: Livro de Registro
45
dos Saberes; Livro de Registro das Celebrações; Livro de Registro das Formas
de Expressão; e Livro de Registro dos Lugares.
A partir daí, passou-se a considerar também os bens materiais e todo o
patrimônio imaterial (saberes e fazeres), também como as manifestações das
camadas populares. Nessa direção, conforme Barretto (2000), a noção de
patrimônio cultural engloba tanto os bens tangíveis (materiais) como os
intangíveis (imateriais); abarcando desde as manifestações artísticas até os
saberes-fazeres produzidos historicamente pelo homem, incluindo-se aí, os
modos de vida, as relações humanas e de produção, as representações do
passado e do presente, a ciência, a sabedoria popular, a história, os usos e
costumes.
Ainda segundo a mesma autora, na atualidade existe um consenso de
que patrimônio cultural inclui não somente os bens tangíveis, mas, também, os
intangíveis, não as manifestações artísticas, e sim, todo o fazer humano,
representando a cultura de todas as classes sociais. Não é apenas o edificado
que possui valor histórico, mas também o conjunto de utensílios, bitos, usos
e costumes, crenças e forma diária de viver de todas as pessoas que
constituem a sociedade. (BARRETTO, 2000, p. 11)
A noção de patrimônio cultural, antes circunscrita à categoria de arte, no
caso do Brasil, a arquitetura colonial brasileira - associada à alta cultura,
expandiu-se. Atualmente, diferentes formas de “cultura popular” são
consideradas como bens e valorizadas como parte da vida cotidiana e como
forma de expressão de diferentes segmentos da sociedade brasileira
(GONÇALVES, 1996). A língua, as atitudes, as crenças, as tradições, os
prédios, as obras de arte, o artesanato, os monumentos, os sítios históricos, os
documentos, os rituais, as festas populares, as religiões, os esportes são
patrimônio cultural. São considerados bens culturais tangíveis e intangíveis que
retratam a identidade e a memória da comunidade e que representam todos os
segmentos que compuseram e compõem a sociedade.
Sendo assim, considera-se hoje, também a cultura dos menos
favorecidos e não apenas aquilo que é representativo das elites. Desde então,
pode-se constituir como possíveis componentes do acervo patrimonial,
conforme Azevedo (1998) todos os tipos de assentamentos humanos ou de
ocupação territorial, que sejam representativos de uma cultura ou mais e até
46
mesmo a associação de acontecimentos e tradições vivas, idéias e crenças.
O patrimônio sempre teve importância significativa na vida das pessoas,
uma vez que representa um pouco o passado e os valores da vida em
sociedade. Embora sempre qualificado com adjetivos - histórico, cultural,
urbano, natural - compreende-se como patrimônio o conjunto de bens materiais
e imateriais ligados à cultura de uma sociedade (CHOAY, 2001, p.11).
Camargo (2002, p.09) acrescenta ainda que o conceito de patrimônio implica
um sentido de herança, de sucessão que muitas vezes materializa a identidade
de uma localidade.
Fonseca (1997), entende como “patrimônio cultural “, todo um conjunto
de objetos móveis e imóveis aos quais se atribui um significado simbólico pelo
fato de constituírem- se em uma representação da nação. Em outras palavras,
são bens que assumiram um valor diferencial enquanto manifestação da
cultura, que levando em conta a pluralidade, têm valor de memória coletiva
num determinado lugar atuando no sentido de reforço à identidade nacional.
Para Ballart (1997, p.17), a noção de patrimônio surge ”quando um
individuo ou grupo de indivíduos identifica como seus um objeto ou um
conjunto de objetos”. Este autor sugere que a idéia de posse presente na
afirmativa corresponde a algo de valor, atribuído ao legado material do
passado, pelo sentimento que desperta individualmente ou coletivamente numa
sociedade.
Dessa forma, adota-se o conceito de patrimônio cultural mencionado por
Toledo (2005):
Patrimônio cultural é a riqueza comum que nós herdamos como cida-
dãos, transmitida de geração em geração. Constitui a soma dos bens
culturais de um povo. Ele conserva a memória do que fomos e so-
mos, revela a nossa identidade. Expressa o resultado do processo
cultural que proporciona ao ser humano o conhecimento e a consci-
ência de si mesmo e do ambiente que o cerca. Apresenta, no seu
conjunto, os resultados do processo histórico. Permite conferir a um
povo a sua orientação, pressupostos básicos para que se reconheça
como comunidade, inspirando valores, estimulando o exercício da ci-
dadania, a partir de um lugar social e da continuidade do tempo.
O patrimônio cultural é uma invenção e uma construção social, de
acordo com Prats (1998). Invenção na medida em que se submete aos
discursos hegemônicos e, dessa forma, está relacionado ao poder; e
construção social enquanto processo de assimilação, de legitimação daqueles
47
discursos. Construção social, ou se quiser cultural, porque é uma idealização
construída. Aquilo que é ou não é patrimônio, depende do que, para um
determinado coletivo humano e num determinado lapso de tempo, se considera
socialmente digno de ser legado a gerações futuras. Trata-se de um processo
simbólico de legitimação social e cultural de determinados objetos que
conferem a um grupo um sentimento coletivo de identidade.
Segundo Funari (2001, p.16), “a construção do patrimônio cultural é um
ato que depende das concepções que cada época tem a respeito do que, para
quem e por que preservar. A preservação resulta, por isso, da negociação
possível entre os diversos setores sociais, envolvendo cidadãos e poder
público. O significado atribuído ao patrimônio também se modifica segundo as
circunstâncias do momento”.
Ampliando a discussão, Barretto (2001) aborda a dialética existente
entre turismo e legado cultural. Conforme seja conduzido, o turismo pode
promover a conservação do patrimônio e incentivar a sua preservação, ou
atuar como “predador cultural”, gerando descaracterização da cultura local e
interferências no modo de vida dos habitantes da localidade receptora.
Seguindo a afirmação de Azevedo (2002) e as distintas possibilidades
apontadas por Barretto (2001, p. 106), pode-se considerar os diferentes
caminhos a tomar, baseados na utilização do patrimônio:
a) Empregá-lo como um “recurso turístico, potencial atrativo e
instrumentalizar o bem para promover o turismo “; caso em
que se reconhece o bem cultural como meio e o turismo
como objetivo maior;
b) Tomá-lo enquanto “representante de um passado que se quer
conservar e buscar as formas de sustentar esse bem
transformando-o em atrativo turístico”; caso em que o turismo
surge como meio e a conservação do bem patrimonial como
um fim.
Assim, a tríade cultura, patrimônio e turismo emerge com suas variáveis
nitidamente interativas na sociedade contemporânea. Tanto nos seus aspectos
materiais quanto simbólicos o turismo encontra na cultura e no patrimônio, os
48
subsídios fundamentais para a sua realização e fomento.
3.4 Turismo Cultural
O Turismo é uma atividade social, complexa e de abordagem
multidisciplinar, que permite a aliança com as mais diversas áreas do
conhecimento humano. É uma atividade que engloba aspectos sociais,
culturais, econômicos e utiliza-se do patrimônio natural e cultural como atrativo,
sendo que ao mesmo tempo proporciona um envolvimento entre as pessoas
que viajam, os visitantes, com as da localidade visitada.
Barretto (1995, p. 12), diz sobre o Turismo:
Embora ainda alguns círculos, principalmente leigos, vejam o turismo
penas como a “indústria de viagens de prazer”, trata-se de algo mais
complexo do que um simples negócio ou comércio [...] o turismo é um
amálgama de fenômenos e relações, fenômenos estes que surgem
por causa do movimento de pessoas e sua permanência em vários
destinos. no turismo um elemento dinâmico a viagem um
elemento estático – a estada.
Com a evolução do estudo do Turismo no Brasil surge a necessidade do
desenvolvimento e compreensão desse fenômeno em toda a sua
complexidade. Com a constatação progressiva de que o Turismo envolve
simultaneamente diversos componentes, e de que seu entendimento não pode
ser baseado apenas na reflexão proposta por uma área de estudo, as
definições holísticas, com uma abordagem mais abrangente, passaram a ser
consideradas as mais condizentes com uma adequada avaliação da atividade.
Beni (2001), propõe a complementaridade entre os diversos
componentes da atividade, ao mesmo tempo em que justifica a sua inadequada
relação com o conceito de indústria, situação que retrata bem a “confusão”
formada pela utilização de tantos referenciais acadêmicos em outros idiomas,
sem a adequada tradução ou interpretação:
[...] o que ocorre, na realidade, é uma agregação de valores aos
diferenciais turísticos naturais e culturais, e não uma transformação
tangível e concreta na matéria-prima original. O produto turístico final
para venda e pós-venda é de natureza compósita e agregada. O
processo de agregação de valores inicia-se na aquisição dos atrativos
turísticos, continua nos meios de transporte, hospedagem,
alimentação, serviços de recreação e entretenimento, e termina na
49
fruição do roteiro (BENI, 2001, p. 35).
Em sua análise estrutural do Turismo, o autor leva em conta a
complexidade do Turismo para que este não seja considerado apenas um
aspecto do setor econômico, mas sim protagonista de um sistema próprio. O
autor considera o Turismo um processo humano, que ultrapassa o
entendimento como função de um sistema econômico.
Moesch (2002) também propõe uma conceituação holística para o
Turismo, destacando que o mesmo é uma combinação complexa de inter-
relacionamentos entre produção e serviços, em cuja composição se integram
uma prática social com base cultural e histórica e um ambiente
simultaneamente natural, social e cultural.
Considerando as propostas conceituais da visão holística do Turismo,
nota-se que o turismo é uma atividade econômica com interfaces culturais,
sociais, psicológicas, ambientais e administrativas. Nesse foco, o Turismo é
compreendido como um processo amplo e complexo que envolve o
deslocamento das pessoas, gerando relações socioculturais, econômicas e
afetivas, assim como conseqüências tanto positivas quanto negativas para os
moradores, turistas e as suas culturas.
Sendo um “fenômeno de caráter humano” (MOESCH, 2000, p.13) -
porque são as pessoas que se deslocam e não as mercadorias - envolvendo a
satisfação das necessidades do homem, o turismo pode ser analisado de
acordo com as motivações que impulsionam o indivíduo a viajar e assim
conhecer lugares e culturas diferentes. Neste caso, o turismo seria analisado
tendo como base o critério da motivação e desta forma, viajar para conhecer a
cultura de uma localidade de maneira viva e autêntica tem sido uma tendência
da atividade turística, colocando em evidência o turismo cultural.
O Turismo cultural, segundo Barretto (2000, p. 19), é todo o turismo em
que o principal atrativo não seja a natureza, mas algum aspecto da cultura
humana. Esse aspecto pode ser a história, o cotidiano, o artesanato ou
qualquer outro dos inúmeros aspectos que o conceito de cultura abrange.
O Turismo cultural permite o acesso à história, à cultura e ao modo de
viver de uma comunidade. O turismo cultural, assim, promove o conhecimento
50
de um universo em relação ao outro, e, quando tratado de forma consciente,
pode gerar aos agentes envolvidos neste contato, emoções, aprendizado e
crescimento, tanto pessoal quanto social. É uma forma de turismo que, entre
outros objetivos, envolve a apreciação de monumentos e sítios históricos,
contribuindo dessa forma, para a manutenção e proteção do patrimônio cultural
e natural da humanidade. (DIAS, 2002, p. 133).Uma visão que confirma esses
benefícios que são gerados pelo turismo cultural é apresentada por Beni
(2001), que afirma que “o turismo é, em certo sentido, o instrumento que serve
de veículo à reabilitação das culturas, contribuindo em grande medida para sua
difusão mundial”.
Ainda segundo Beni (2003, p. 422) o turismo cultural refere-se à
afluência de turistas a núcleos receptores que oferecem como produto
essencial o legado histórico do homem em distintas épocas, representado a
partir do patrimônio e do acervo cultural, encontrado nas ruínas, nos
monumentos, nos museus e nas obras de arte.
Dentre as vantagens acima citadas, observa-se também a preservação
do patrimônio cultural, a valorização da cultura local tanto por parte dos
visitantes, quanto dos moradores, um intercâmbio interpessoal mais intenso,
notável melhoria na infra-estrutura local, geração de empregos, e efeito
multiplicador de benefícios junto ao destino receptor.
Ascanio (2003), diz que o turismo cultural é uma bifurcação das
identidades culturais de distintas ordens na qual se concretiza a unidade e a
diversidade, tendo por base a relação entre o que provém de outros locais com
o local e, também, as novas formas híbridas que podem surgir e queo parte
do desenvolvimento social.
Segundo Campo & Gonçalves (1998), basicamente o turismo cultural
pode ser caracterizado pelo interesse em manter contato com outros povos,
outras culturas, monumentos artísticos, sítios arqueológicos, visando ao
enriquecimento cultural. Para Funari & Pinsky (2001), o turismo cultural efetiva-
se quando da apropriação de algo que pode ser caracterizado como bem
cultural.
Autores como Freire e Pereira, salientam que,
51
O turismo cultural se viabiliza, em grande parte, através da
interpretação planejada e realizada junto com a comunidade,
reconhecida por Aloísio Magalhães, desde os anos setenta, como ‘a
melhor guardiã de seu patrimônio’, e que deve ser também a melhor
anfitriã de seus visitantes (FREIRE & PEREIRA, 2002, p. 127).
Dito isso, por Turismo cultural, entende-se a viagem de busca de novos
conhecimentos, a partir de herança histórica, artística e cientifica de uma comu-
nidade para saber os hábitos de outras populações, conviver com pessoas de
cultura diferentes, participar de manifestações artísticas e desfrutar do conheci-
mento de outros povos e de suas expressões.
3.4.1 Usos Turísticos do Patrimônio Cultural
Muito se discute sobre o uso turístico do patrimônio cultural como um
meio de impulsionar o desenvolvimento econômico das localidades, porém,
sabe-se que não é por si que a atividade turística trará a valorização e a
preservação desse patrimônio. Muito pelo contrário, se essa iniciativa de
exploração turística não vier permeada por posturas políticas e critérios de
proteção, conservação e revalorização, a atividade tenderá a descaracterizar
este patrimônio.
Analisando o contexto sobre o uso do patrimônio para o turismo, pode-
se ressaltar que, nesse processo é importante a participação da comunidade,
no que diz respeito ao uso turístico do patrimônio pois são as pessoas,
residentes do lugar, que conhecem tal patrimônio e que devem participar, pois
precisam ser motivadas a fortalecerem o sentimento de identidade. O uso
turístico deve ser resultado de uma política que envolva a administração local,
a comunidade e os órgãos de classe. A preservação do patrimônio tem entre
suas funções o papel de realizar “a continuidade cultural”, ser o elo entre o
passado e o presente que nos permite conhecer a tradição, a cultura, e até
mesmo quem somos, de onde viemos.
A busca da preservação do patrimônio, dessa maneira, incentiva a
restauração e a revitalização de bens patrimoniais para serem utilizados como
recursos turísticos. Esta é uma importante forma de preservação da memória e,
52
ao mesmo tempo, de melhorar a economia do lugar, dinamizando o turismo.
Entretanto, a restauração e revitalização do patrimônio para o aproveitamento
turístico m preocupando especialistas e estudiosos da área de cultura, pois
“o patrimônio deixa de ser valioso por sua significação na história e passa a ser
valioso porque pode ser ‘vendido’ como atrativo turístico” (BARRETTO, 2000,
p.32), valorizando apenas o seu aspecto econômico-financeiro.
Conforme Ascanio (2003), a Carta de Turismo Cultural, resultante do
Seminário Internacional de Turismo Contemporâneo e Humanismo, realizado
em Bruxelas pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS),
em 1976 chamava a atenção para a necessidade de uso equilibrado do
patrimônio cultural para fins turísticos, ressaltando que o respeito ao patrimônio
mundial cultural e natural deve ser priorizado frente aos argumentos sociais,
políticos e econômicos que costumam ser enfatizados na defesa do
desenvolvimento da atividade turística.
O uso adequado do patrimônio tem que exercer duas funções: garantir o
respeito à cultura, inclusive no que se refere aos estilos artísticos e garantir o
significado histórico da comunidade, que não pode ser excluída do processo de
decisão sobre o uso desse patrimônio ou mesmo dos benefícios econômicos
advindos da atividade turística. O desenvolvimento tem de representar a
inserção social, pois entendo que a participação é essencial para que os
impactos não degradem o lugar e os confrontos entre comunidade e turistas
não se estabeleçam; além disso, o lugar deve gerar empregos para a
comunidade, oportunidade de comercialização do artesanato e de prestação de
serviços.
Num momento em que redescobre-se o valor do patrimônio, como
elemento de identidade cultural, torna-se comum a discussão sobre as formas
de seu uso. Percebe-se lentamente o interesse do governo federal e até
mesmo dos gestores estaduais pelo patrimônio. Países europeus como
Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, França, República Tcheca e outros
perceberam que investir na restauração e preservação dos bens culturais,
trouxe o benefício da dinamização do turismo, ao mesmo tempo que fortaleceu
a identidade nacional. Consequentemente, empresários e sociedade
organizada se beneficiaram com o aumento da riqueza interna, pois o turismo
gerou negócios e empregos. Os patrimônios possuem a estrutura necessária
53
para receber os turistas, que encontram sinalização adequada, folhetos, guias
e uma série de serviços para a visitação do bem cultural.
Temos que discutir sistematicamente a revitalização dos lugares de
turismo, ampliando os espaços de manifestação cultural e de lazer, criando
mecanismos de preservação do patrimônio, para que nossas identidades
culturais se fortaleçam, ou mesmo, para que possamos compreender nossa
diversidade, tornando o patrimônio uma referência da história e tradição. É
necessário ampliar o senso de cidadania e viabilizar o seu uso de forma
adequada, para que possa ser um fator de conhecimento, formação, interação
e geração de renda e emprego.
Ribeiro (2000), ressalta a importância da revitalização do patrimônio,
para o uso turístico na medida em que reabilita o espaço urbano, fortalece
manifestações culturais descaracterizadas em sua tradição, promove o
reconhecimento dos cidadãos em relação aos bens culturais, e além disso,
gera renda para a comunidade e para o município. Ribeiro apresenta o caso de
Porto Alegre:
No centro de Porto Alegre podemos identificar outra proposta de
revitalização e reutilização de espaços de grande porte que sofreram
o processo de proposta cultural. É o da conhecida Usina do
Gasômetro, que se situa às margens do Guaíba, que antigamente
dividia espaço com um presídio público e era conhecida como “ponta
da cadeia”. Este espaço abriga diversas exposições, teatros e show e
possui como diferencial uma chaminé que se projeta de qualquer
ângulo como símbolo do passado: de gerador de energia passou a
centro de cultura (...) Pensar e planejar áreas de lazer aliadas a
espaços ociosos da urbe e a sua posterior valorização através de
parques e praças com motivos culturais e históricos são formas de
resgate da cultura e homenagem a etnias que habitam as cidades.
(RIBEIRO, 2000, p. 148 ,149).
Conforme Barretto, a “recriação de espaços revitalizados”, é um dos
fatores que podem “desencadear o processo de identificação do cidadão com
sua história e cultura” (BARRETTO, 2000. p.44).
Concorda-se com Barretto quando afirma que, a revitalização do
patrimônio tem contribuído para a: “recuperação de identidades locais
ameaçadas em todas as partes do mundo pelo avanço de uma única cultura
hegemônica, que se impôs nas últimas décadas na música, no vestuário, na
alimentação, nas formas de lazer e de consumo” (BARRETTO, 2000, p.44)
Acima de tudo, o processo de revitalização tem que ser benéfico para a
54
sociedade, ao transformar o lugar em um espaço agradável para os cidadãos e
para os turistas. Deve, ainda, respeitar as características culturais da
população, da arquitetura, e das construções, não podendo distorcer o seu
significado artístico.
Conforme Barretto as questões do uso do patrimônio são interessantes,
ao indicar que um centro histórico ou bairro revitalizado pode se transformar
em “site museum”, entendidos como “museu de sítio” ou, ainda, “museu no
local”, onde os espaços podem ser preparados para representar uma época:
construções, vestuário, culinária e costumes devem “espelhar” uma época,
fazendo com que os visitantes conheçam a história e a cultura (BARRETTO,
2000. p 58, 59). É, inclusive, uma forma da população local conhecer-se e
discutir sua identidade.
Barretto afirma que:
“Embora todos os problemas antes mencionados sobre a
transformação da história e do patrimônio em bem de consumo e o
fato real de que uma ressignificação nesse processo, acredita-se
que é sempre uma melhor opção do que o esquecimento da história,
do que a marginalização de bairros ou do que a derrubada de prédios
por causa da especulação imobiliária” (BARRETTO. 2000, p.51).
O fortalecimento da identidade cultural, passa necessariamente pela
questão do patrimônio, como elemento que fortalece o sentimento de
pertencimento a uma comunidade, cultura ou tradição, que permite realizar o
elo entre passado e presente. Tornar um casarão ou fazenda do século XIX um
museu, representa o fortalecimento da identidade cultural, a geração de
conhecimento, formação para os cidadãos e fundamentalmente
desenvolvimento sustentável da atividade turística.
Portanto, o uso do patrimônio como atrativo para o turismo cultural deve
considerar o respeito à população local, objetivando um aproveitamento efetivo
que alcance o significado e a importância do patrimônio para os turistas.
Os estudiosos e planejadores do turismo cultural, especialmente no que
tange aos atrativos turísticos e históricos, devem priorizar a organicidade
existente entre tais bens. Vale dizer que, para o uso turístico, o respeito ao
diálogo presente nas edificações e entre estas e os respectivos logradouros
permite uma visão do conjunto dos atrativos e da forma como eles se articulam
levando a um melhor aproveitamento turístico. ( PIRES, 2002).
55
Pensando na conservação do patrimônio cultural Kerr (apud
MACKERCHER e DU CROS, 2002, p. 12) concorda com a existência de
conflito entre conservação e uso turístico:” o que é bom para a conservação
não é necessariamente bom para o turismo e o que é bom para o turismo,
raramente é bom para a conservação”. (tradução da autora).
Porém, uma pratica que vem sendo utilizada com sucesso no uso e
gestão do patrimônio cultural como atrativo turístico, é a interpretação
patrimonial: um processo continuo que envolve a comunidade a fim de
promover ou apresentar um sítio ou cidade como atrativo para o visitante e
residentes. Conforme Murta e Goodey (1995, p. 19), “a interpretação é um
processo de adicionar valor à experiência de um lugar por meio da provisão de
informações e representações que realcem sua história e suas características
culturais e ambientais”.
Os princípios básicos inerentes aos planos de interpretação do
patrimônio seriam: a atenção para o estímulo dos sentidos dos visitantes; a
utilização de variadas artes visuais e de animação; a provocação da
curiosidade do visitante, incitando-o a querer descobrir por conta própria; a
acessibilidade a um público amplo; o destaque à diversidade e a pluralidade
culturais; e, principalmente, a realização da interpretação em parceria com a
comunidade, estimulando a troca de conhecimentos e recursos. Os planos
interpretativos devem contemplar o planejamento de trilhas e roteiros, museus
locais, centros culturais e de informação, de modo que as características
naturais e urbanas locais se revelem tanto para visitantes quanto para a
comunidade, contribuindo para a educação ambiental e patrimonial desta
última e desenvolvendo um sentido do lugar ( MURTA e GOODEY, 1995).
Para os mesmos autores, o plano interpretativo deve ser constituído de
três etapas: (1) o registro: onde é feito o levantamento exaustivo de recursos,
temas e mercados; (2) o desenho e montagem: que engloba a escolha dos
meios de interpretação mais adequados ao objeto ou sítio, podendo ser textos
e publicações, interpretação ao vivo e com base no design; e, por fim, (3) a
publicidade e gestão: que deve promover o sítio ou objeto interpretado, além de
indicar alternativas de gestão de modo a sustentar padrões aceitáveis de
qualidade para o visitante.
Os argumentos para a implantação de planos de interpretação
56
patrimonial vão desde a conservação e gerenciamento do uso do patrimônio de
forma a orientar o fluxo de visitantes, pensando também na proteção do objeto
da visita, quanto à instrumentalização e capacitação de quadros técnicos
locais, através do envolvimento da comunidade na elaboração e prática da
interpretação, especialmente quando a responsabilidade pela gestão do
patrimônio natural e cultural é transferida para a esfera municipal. (MURTA e
GOODEY, 1995).
Diante do exposto, finaliza-se a reflexão acerca do uso turístico do
patrimônio, salientando a importância do papel desempenhado pela
comunidade local em termos de valorização e preservação do patrimônio, para
o fortalecimento da identidade cultural e para o desenvolvimento da atividade
turística de forma sustentada.
CAPÍTULO 4:
57
RIO PARDO: CENÁRIO DE ESTUDO
“Uma cidade não se torna histórica simplesmente
por que ocupa um mesmo sítio durante um longo
tempo. Os acontecimentos não produzirão impacto
no presente se não forem gravados em livros de
história, monumentos, desfiles e festividades
solenes e alegres que todos reconhecem fazer
parte de uma tradição que se mantém viva. Uma
cidade antiga guarda um acervo de fatos nos
quais as sucessivas gerações de cidadãos podem
se inspirar e recriar sua imagem de lugar”.
Yi-Fu Tuan ( 1980)
Neste capitulo busca-se apresentar um breve histórico sobre o processo
de ocupação do Estado do Rio Grande do Sul pelos portugueses, considerando
a importância deste contexto na origem da fortificação de Rio Pardo e posterior
formação do Município de Rio Pardo. Evidencia-se também a chegada dos
colonizadores açorianos ao Município. Por fim, apresenta-se o município na
atualidade. Utiliza-se como referencial os seguintes autores: Dante de Laytano
(1983), Francisco Riopardense de Macedo (1984), Laudelino Medeiros (1975),
Luiz Fernando Rhoden (1999), Luiz Carlos Barbosa Lessa (1984), Luiz Carlos
Schneider (2005), Marina de Quadros Resende (1993), Sabrina Silva de Souza
(1998), Vera Lúcia Maciel Barroso (1994).
Salienta-se que o presente capítulo contribui de forma significativa para
melhor compreensão do local de estudo, o município de Rio Pardo, que foi um
dos primeiros a serem fundados no estado do Rio Grande do Sul, tendo sido
um dos principais núcleos urbanos estratégicos do estado, devido ao seu
caráter militar e a sua posição enquanto defensor da fronteira gaúcha.
4.1 Os Portugueses no Rio Grande do Sul
A região platina, compreendida pelos territórios que hoje formam o
58
Estado do Rio Grande do Sul e a República Oriental do Uruguai, teve desde o
inicio a sua ocupação marcada pelas desavenças e conflitos entre Portugual e
Espanha, que tinham diferentes interesses na delimitação das fronteiras destes
territórios.
Apesar da existência do tratado de Tordesilhas, cuja linha imaginária
tinha ao sul a cidade de Laguna como referência ou divisor das terras
pertencentes aos dois reinos, o entendimento da coroa portuguesa foi sempre
de que “ ...o limite natural, ao sul dos seus domínios americanos, era o estuário
da prata...” ( RHODEM, 1999, p. 127)
Com o objetivo de assegurar o domínio sobre o Rio da Prata e a riqueza
da pecuária da região, os portugueses fundaram em 1680 a Colônia do
Sacramento, quase em frente a Buenos Aires. A implantação da colônia tinha
uma série de vantagens econômicas, onde se incluíam
a preservação do comércio ilícito, o conhecimento mais detalhado das
imensas reservas de gado das vacarias do mar e o conseqüente
desenvolvimento de uma intensa atividade de caráter predatório.
“(RHODEN, 1999, p. 130).
Paralelamente, os portugueses trataram de garantir o acesso à Colônia,
fundando, em 1686, o povoado de Laguna (em Santa Catarina). Mas mesmo
esse posto avançado entre São Paulo e a Colônia ainda estava muito distante,
era necessário ocupar a área mais ao sul, as atuais terras gaúchas, o que foi
feito a partir de Laguna. E, para assegurar militarmente a presença portuguesa,
foi criado em 1737 o presídio de Jesus, Maria e José, que deu origem à cidade
de Rio Grande e que também é o marco oficial do início da formação do atual
estado do Rio Grande do Sul.
Como lembram Rhodem (1999) e Barroso (1994), o presídio como
primeiro núcleo estável, teve na sua fundação uma nítida prioridade militar
tanto pela denominação do empreendimento, quanto pela estratégica
impedindo o acesso dos espanhóis via Lagoa dos Patos.
Em 1750 foi assinado o Tratado de Madri, entre Espanha e Portugual,
que oficializou a troca da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos das
Missões. Após a assinatura desse tratado avança de forma acentuada a
concessão de sesmarias em territórios localizados no interior do Rio Grande do
Sul, acompanhando o movimento de fundações de povoações e núcleos ao
59
longo de rios como Jacuí, Vacacaí, Piratini e outros.
4.2 A Formação de Rio Pardo
A origem de Rio Pardo liga-se, portanto, a um momento decisivo dentro
do processo de ocupação do Rio Grande do Sul, caracterizado pela intensiva
ação militar de fundação de fortificações e povoados (no segundo movimento
via fluvial no território), pelo sistema de concessão de sesmarias e pela
estratégia de colonização dos territórios com a imigração açoriana, sobre a
qual falar-se-á mais adiante.
Rio Pardo constituía-se em um último ponto de acesso desse movimento
fluvial. Era necessário ser estabelecido, com urgência, um importante centro
logístico para as operações militares de delimitação das fronteiras e também
para o povoamento da extensa região das missões. Dessa maneira, com o
favorecimento das condições de navegabilidade dos rios que permitiram o
movimento português de interiorização, foi implantada em 1752, na confluência
dos Rios Jacuí e Pardo, mais uma fortificação Jesus Maria José, construída a
mando do Capitão General Gomes Freire de Andrade, Governador do Rio de
Janeiro. Esta fortaleza foi implantada com o objetivo de consolidar o processo
de ocupação do território do Rio Grande do Sul, no sentido de proteção das
divisas.
Nesse ponto, origem da cidade de Rio Pardo, seria feita a concentração
das forças portuguesas, pois era o local mais próximo das Missões, sendo que
os portugueses eram responsáveis pela evacuação de três dos Sete Povos,
segundo o Tratado de Madri.
Inicialmente o capitão de Dragões Francisco Pinto Bandeira estabelece
uma guarda, a cargo de aventureiros paulistas. Depois, o Sargento Mor
Luís Manuel de Azevedo manda levantar galpões para armazenamento
de mantimentos e dos trens necessários à Comissão Demarcadora. A
seguir, o engenheiro João Gomes de Melo acrescenta aos armazéns
uma "tranqueira", constituída por paliçadas capazes de fazerem frente
a eventual ataque missionista. Por fim, vão se transferindo para ali os
esquadrões do Regimento de Rio Grande, sob chefia do Tenente,
Coronel Tomás Luís Osório. (BARBOSA LESSA, 1984, p. 63)
Os esquadrões do Regimento de Rio Grande iriam constituir-se no
famoso Regimento dos Dragões de Rio Pardo, vindo a permanecer
60
definitivamente até o primeiro quartel do século XIX. A localização estratégica
da fortificação e a garantia da presença militar foram os fatores decisivos para
alavancar o desenvolvimento e o crescimento da povoação.
Com o tratado de Madri, nomearam-se os comissários de demarcação
para a definição de limites. Seriam Gomes Freire de Andrade por parte de
Portugal e o Marquês de Vai de Lírios, Ministro do Conselho das Índias. Gomes
Freire subiu o Rio Guaíba e o Rio Jacuí em 1752, com alguns exploradores e o
Furiel de Dragões Francisco Manuel de Távora. Seu objetivo era o de
consolidar um posto de defesa que impedisse o avanço dos índios sobre os
campos de Viamão.
Em 1754 Gomes Freire mandou fazer um armazém para o
recebimento dos mantimentos das tropas que para ali houvessem de
fazer sua marcha, recomendando ao mesmo tempo se fortificassem e
pusessem as coisas em estado de defesa. (IBGE, 1959, p. 136)
Nesse ano ainda, chegaram as ordens para marcação do local e desta
forma foi nomeado o Tenente de Dragões Francisco Pinto Bandeira que
deveria proteger os construtores do forte contra eventuais ataques índios. Isso
porque, a entrega de um território por outro, segundo o estipulado pelo tratado
de Madri,o se deu da forma como era pretendida. Mas o Forte Jesus, Maria
José, em Rio Pardo, ia sendo erguido aos poucos, e com instalação
mencionada do Regimento de Dragões, "ficava assim segura a passagem ou
trânsito das tropas, dos povoadores, do gado e cavalos ." (IBGE, 1959, p. 136)
Houve resistência e levantes dos índios guarani, com diversos combates
que prosseguiram até 1756, quando da derrota dos missioneiros no combate
de Caiboaté, foram as guerras guaraníticas, onde os índios missioneiros
travaram batalhas contra as forças coligadas da Espanha e Portugal. O forte foi
atacado pelos índios em diversas ocasiões, na mais conhecida, houve um
cerco e aprisionamento de indígenas e entre eles encontrava-se o lendário
Sepé Tiaraju
2
, chefe índio missionista. A fortificação estabelecida em Rio Pardo
2
Sepé Tiaraju, nascido provavelmente em 1723 na Redução de São Luiz Gonzaga, era Corre-
gedor da Redução de São Miguel, o quarto dos Sete Povos das Missões e o mais ilustre chefe
guerreiro guarani, foi assassinado, juntamente com 2500 outros guerreiros, pelos exércitos es-
panhóis e portugueses, nos campos de Caiboaté, às margens da Sanga da Bica em 7 de feve-
reiro de 1756.
61
recebeu implementações neste período, sendo decisivo seu papel de centro
das operações militares, onde os castelhanos partiam de Montevidéu e os luso-
brasileiros de Rio Pardo.
A fundação da aldeia de São Nicolau em Rio Pardo deu-se em 1756, em
local não muito distante da fortaleza. Ao cessarem as operações militares da
guerra guaranítica, o quartel principal do Regimento dos Dragões não retorna
mais para Rio Grande, ficando definitivamente instalado em Rio Pardo. Para
Barbosa Lessa (1984), neste momento não existe mais uma simples
tranqueira, mas um forte onde estão conjugados igreja, capela e uma
população constituída por militares, portugueses e guaranis.
Em 1763, a Colônia do Sacramento e a vila do Rio Grande são invadidas
pelo Governador de Buenos Aires, o Vice-Rei Pedro de Ceballos, que estende
os domínios espanhóis sobre o território do Rio Grande do Sul e obriga um
recuo dos portugueses em direção norte, com a conseqüente necessidade de
mudança do centro administrativo para Viamão.
Quando da invasão de Ceballos, cabe ressaltar, segundo Cruz (1984
apud SCHNEIDER, 2005), a divisão territorial que ocorreu e que perdurou até
1776: “... o Rio Grande português viu-se reduzido à faixa litorânea, entre a
Lagoa dos Patos e o mar, de Estreito para o norte, compreendendo os campos
de Viamão, Porto Alegre, até a fronteira de Rio Pardo. O resto do território
permanecia em mãos dos espanhóis." (CRUZ, 1984, apud SCHNEIDER, 2005)
Em 1773, por ocasião da investida militar realizada por Juan Jose de Vertiz y
Salcedo, governador de Buenos Aires, é fundado pelos espanhóis o forte de
Santa Tecla, na região da cidade de Bagé. De outro lado, o domínio Português
é consolidado pela “Fronteira de Rio Pardo, constituído pelas vilas de Santo
Amaro, Taquari e Rio Pardo com suas fortificações, área de vital importância
para aos portugueses, por servir de acesso tanto à zona missioneira como para
a campanha. ( CRUZ, 1984, apud SCHNEIDER, 2005).
Rio Pardo foi elevado à posição de freguesia em 1769 com a
denominação de “Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo”. Pouco tempo
depois, em 1771, era criada a Primeira Vara na Diocese (quarta no Rio Grande
do Sul). Em relatório enviado pelo General Boehm ao Vice-Rei Marquês de
Lavradio, em 1774, podemos considerar o rápido desenvolvimento da
população de Rio Pardo a partir de uma descrição sua feita da seguinte forma:
62
"De Porto Alegre, remontando o Guaíba, encontra, se a 30 léguas a povoação
de Rio Pardo. É a freguesia mais numerosa deste Continente." ( BARBOSA
LESSA, 1984, p. 84).
Quando houve a reconquista de Rio Grande, em 1777, Porto Alegre
passou a constituir-se em um entreposto comercial para Rio Pardo. Esta
“segunda fronteira” era então estratégica para garantir a resistência contra os
espanhóis, defendendo diversos núcleos tais como Triunfo, Santo Amaro e
Taquari. Em Rio Pardo as forças militares que ficaram aquarteladas na
fortaleza Jesus Maria José, tinham o suporte para suas campanhas de
interiorização. A política de concessão das sesmarias, imprimida pela coroa
portuguesa, implementava cada vez mais a distribuição de terras na "fronteira
de Rio Pardo", procurando, desta maneira, organizar a resistência necessária à
ocupação espanhola.
Esta estrutura básica para a ocupação era então constituída juntamente
com Rio Grande e Porto Alegre no que Macedo (1984), chama de pinça, onde
Rio Pardo encontrava-se ligada a um dos extremos do território português a
partir dos caminhos fluviais. A extensa região das Missões Jesuíticas, que tinha
seu domínio também assegurado pela “segunda fronteira”, foi definitivamente
conquistada em 1801. No início do século XIX, a fase de organização
administrativa do estado ainda iria fazer com que Rio Pardo mantivesse sua
importância militar e estratégica por mais alguns anos até a consolidação
definitiva destes territórios. Mas a cidade havia se transformado, de sua
origem puramente militar para um importante entreposto comercial, com uma
grande população de índios, escravos e portugueses no seu território. O
posicionamento estratégico do núcleo urbano de Rio Pardo próximo ao rio
favorecia o transporte das mercadorias que vinham de Porto Alegre e que,
mais tarde, seguiam em grandes carroças para o interior da região que era das
Missões Jesuíticas.
Por tais razões Rio Pardo assumia importância quase tão grande como
a da Capital. Era o centro administrativo, político e econômico da maior
parte do Continente de São Pedro. Sua população, durante algum
tempo teria sido superior à de Porto Alegre e durante muitos anos deve
ter com ela rivalizado. (MACEDO, 1984, p. 20)
A localização geográfica da povoação de Rio Pardo beneficiou-a,
portanto, como o centro de interesses para os avanços militares em direção à
63
fronteira oficial, bem como local de passagem e assentamento das
colonizações açorianas. De forma que o núcleo, bem servido pelos rios como
meio de transporte, vai assumindo também a função de um importante
entreposto comercial para a sua região. Era na povoação de Rio Pardo que
seriam garantidas as trocas de produtos, a compra e venda de mercadorias e
gêneros de todas necessidades. Assim, vão se estabelecendo inúmeros
comerciantes na freguesia, dentre os mais conhecidos destaca-se Matheus
Simões Pires, que também teve grande participação política na comunidade
Rio Pardense. O seu comércio, localizado em um sobrado da antiga Rua do
Brasil, viria a estender suas atividades por boa parte do século XIX, sendo a
edificação hoje conhecida como o Solar do Almirante Alexandrino.
O período compreendido entre 1809 e 1865 é marcado, principalmente,
pelo desenvolvimento econômico e pela organização da então vila de Rio
Pardo.
4.3 A Colonização Açoriana de Rio Pardo
Enquanto no Sul do Brasil o Império Português se defrontava com o
problema de possuir muita terra para pouca gente, nas ilhas dos Açores a
situação era inversa: havia muita gente para pouca terra. Assim, a decisão da
coroa portuguesa de promover a imigração de açorianos para a região de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em meados do século XVII, representou a
solução de dois problemas, aliviando a pressão populacional nas ilhas e
garantindo ao sul um povoamento mais denso do que o do sistema de
sesmarias (uma sesmaria tinha 10.503 hectares), em que enormes glebas de
terras ficavam nas mãos de poucos proprietários.
Conforme Cruz (1984 apud SCHNEIDER, 2005) o processo de
povoamento e desenvolvimento dos povoados do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina, tomou um impulso quando em 1747 uma provisão régia de D.
João V ordenava a vinda e o estabelecimento de 4.000 casais açorianos para a
região sul. Vindos das ilhas dos Açores, contavam com o apoio oficial do
governo, que pretendia utilizá-los para ocupar a região das Missões, que pelo
Tratado de Madrid (1750) passaria para Portugal, em troca da Colônia de
Sacramento.
64
Entretanto, para dar cumprimento ao tratado de Madri tratou a Coroa
de estimular a vinda de casais para o Rio Grande de São Pedro para
aguardar o momento de ocupar o território missioneiro, do que foi
encarregado Gomes Freire de Andrada. (CRUZ, 1984 apud
SCHNEIDER, 2005)
Segundo Cruz (1984, apud SCHNEIDER, 2005), "...há a presença,
registrada em documentos, de diversos açorianos na margem setentrional do
rio Jacuí, por volta de 1756, principalmente em Rio Pardo." Mas salienta
também que as primeiras concessões de datas para os colonos açorianos
somente iniciaram com o governo de José Custódio de e Faria, em 1764. O
que indica que mesmo após a chegada dos colonos açorianos em Rio Pardo, a
administração portuguesa estava centrada nas prioridades militares que eram
necessárias para a garantia de manutenção dos seus territórios.
A fase açoriana é marcada principalmente pela cultura do trigo, iniciada
em grande escala, mas sabe-se que era cultivado também feijão, milho, aveia,
ervilha e cevada.
Quanto aos casais açorianos foram trazidos com o objetivo de iniciarem
o povoamento do território e “fundarem uma agricultura intensiva, sendo
arranchados em regiões que determinaram quase sempre o nascimento de
cidades ou foram colocados ao derredor de incipientes centros urbanos, como
em Rio Pardo e Rio Grande”. ( LAYTANO, 1983, p. 21). Dessa forma, quando
os açorianos chegaram, receberam certamente datas de terras ao invés de das
sesmarias, mas “... encontraram logo na pecuária uma atração lucrativa melhor
do que na agricultura, pois as safras de trigo, que eram as principais nem
sempre correspondiam ao sacrifício que faziam”. (LAYTANO, 1983, p. 21). Do
Rio Pardo, a colonização açoriana foi sendo dirigida para as Missões e para as
regiões onde hoje localizam-se os municípios de São Gabriel, Bagé e Alegrete,
sendo que uma boa parte dos colonos açorianos que ficaram em Rio Pardo
foram destinados para a Rua Velha, próxima da área hoje conhecida como
Ramiz Galvão. (REZENDE, 1993, p. 27)
O rápido crescimento de Rio Pardo logo trouxe a necessidade de
organização da vida espiritual e religiosa da povoação, sendo instalada em
1762, a Capela Curada de Santo Ângelo, com pároco residente.
Dois anos depois da criação da freguesia, foi estabelecida a Comarca
65
Eclesiástica de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo, tendo como
vigário o Padre Manoel da Costa Mata. (REZENDE, 1993, p.28)
A religião acompanhava todo povoamento e era parte fundamental da
vida cotidiana como referência para os dias de culto e de festas na vida
familiar. "Nas casas de fazenda ou nas habitações mais simples quase nunca
faltava uma imagem de Santo Antônio, de Nossa Senhora da Conceição ou de
Nossa Senhora do Rosário." (MEDEIROS, 1975, p.37). Ainda são descritas as
organizações de missas, procissões, jantares, jogos como combates de touros,
música, danças.
A elevação da freguesia de Rio Pardo à condição de Vila aconteceu
efetivamente em vinte de maio de 1811. Nesta data houve a instalação solene
da vila e do município, o que significou conseqüentemente uma nomeação de
cargos públicos, tais como os de juizes, vereadores, procurador do conselho e
outros. A partir de então era possível ser erguido o pelourinho, bem como
redigir os códigos de posturas que regulamentariam as necessidades da vila.
Das posturas existentes neste período, destacam-se as de 1811, ano da
instalação da Câmara, as de 1832, pelas complementações recebidas e as de
1851, quando da redação de novas posturas municipais. Em sua extensão
territorial, Rio Pardo abrigava as freguesias de Santo Amaro, São José do
Tebiquari e Nossa Senhora de Cachoeira. Além disso, incluíam-se as capelas
de Nossa Senhora da Assunção de Caçapava, Santa Maria da Boca do Monte,
Santa Bárbara da Encruzilhada e ainda as povoações dos Sete Povos e de
Nossa Senhora do Rosário de São Gabriel (SOUZA, 1998).
Em 1817, no entanto, aconteceriam novas divisões administrativas no
território estadual, sendo criado o município de São Luíz da Leal Bragança e
em 1819, Vila Nova de São João da Cachoeira. Até 1822, no período da
Independência do Brasil, Rio Pardo havia perdido muito do seu extenso
território para o novo município de Cachoeira, que passaria a englobar todo o
território oeste do Rio Grande. Bem mais tarde, em 1849, foram também
desmembradas as áreas ao sul, formando-se o Município de Encruzilhada do
Sul.
Em 1835, eclode o movimento de cunho liberal conhecido como a
Revolução Farroupilha. no primeiro ano da Revolução, em 1835, houve o
primeiro combate em Rio Pardo. Ao longo deste período iriam travar-se no
66
município muitas batalhas entre as forças farroupilhas e monarquistas. Em uma
dessas ocasiões, quando da invasão de Antônio Joaquim da Silva, conhecido
como "menino-diabo", a vila foi saqueada, tendo sido retomada pelos legalistas
alguns meses mais tarde. Diversos combates iriam ainda seguir-se até 1839,
quando Rio Pardo permanece até o fim da revolução em poder dos legalistas
(REZENDE, 1993). A Revolução Farroupilha tinha dado também
prosseguimento à multiplicação de povoados. "Neste sentido, as aglomerações
em torno de Rio Pardo ganham maior importância e, com a cidade, tornam-se
de grande significação comercial para Porto Alegre" (MACEDO, 1968, p.93).
Após o fim da Revolução Farroupilha e por ocasião da visita do Imperador D.
Pedro II e Dona Teresa Cristina, a vila de Rio Pardo é elevada à condição de
cidade em 31 de março de 1846. O valoroso Regimento dos Dragões,
responsável por tantas campanhas e pelo suporte para a conquista do
território, havia sido transformado, em 1824, no Regimento de Cavalaria
Ligeira, sendo que, em 1834, foi transferido para Bagé (REZENDE, 1993). Com
isso, inicia-se também uma perda da função militar da cidade. Em 1860
extingue-se a escola preparatória do Exército em Rio Pardo, sendo que pouco
após é criada a Escola Militar Auxiliar (LAYTANO, 1946).
4.4 Rio Pardo Hoje
Atualmente o município de Rio Pardo encontra-se no extremo Sul do
Brasil (Figura 01), que por sua vez localiza-se na região central do Estado do
Rio Grande do Sul (Figura 02), sendo que seu território faz divisa ao sul com o
município de Pântano Grande, ao norte com Santa Cruz do Sul, Candelária,
Vera Cruz, e Passo do Sobrado, a oeste com Cachoeira do Sul e ao leste com
Minas do Leão e Vale Verde. Na sua organização político-administrativa, Rio
Pardo integra a região do Vale do Rio Pardo VRP (Figura 03). Segundo
dados do IBGE (2000), a área de unidade territorial é de 2.050,53 quilômetros
quadrados (Figura 04) e sua sede o mesmo nome está localizada a 144Km de
Porto Alegre, pelas rodovias BR- 290 e BR-471, duas das principais vias de
acesso à cidade de Rio Pardo.
67
Figura 01. Mapa do Brasil
Fonte: www.guianet.com.br
Figura 02. Mapa do Rio Grande do Sul
Fonte: www.guianet.com.br
68
Figura 03. Mapa da Divisão em Conselhos Regional de Desenvolvimento – COREDES
Fonte: www.scp.rs.gov
A área destacada na cor verde corresponde aos municípios que
compõem a região do Vale do Rio Pardo, sendo eles: Arroio do Tigre,
Boqueirão do Leão, Candelária, Encruzilhada do Sul, Estrela Velha, General
Câmara, Herveiras, Ibarama, Lagoa Bonita do Sul, Pântano Grande, Passa
Sete, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Segredo, Sinimbu,
Sobradinho, Tunas, Vale do Sol, Vale Verde,Venâncio Aires e Vera Cruz.
69
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1
PREFEITURA MUNICIPAL
DE RIO PARDO
1
1
Figura 04- Mapa do Município de Rio Pardo
Fonte: Secretaria Municipal de Turismo de Rio Pardo .
Dois rios cortam o município: o rio Jacuí, que corre no sentido oeste-
leste, dividindo o território em duas porções e o seu afluente, o rio Pardo, que
corre no sentido norte-sul. Existem cerca de 31 lagoas, entre elas Segredo,
Coração, Forno, Viúva, Santa Maria, Formosa, Caco, do Meio, Buff. Além delas
cerca de 15 ilhas nos rios, destacando-se: Piquiri, Comprida, Pederneiras,
Morcego, Canta Galo, Biscoito e Vão. O município possui balneários (praias de
água doce) tanto para o lazer da população local, como para os turistas que as
visitam no verão. As principais praias são: Ingazeiros, Porto Ferreira, Porto das
Mesas, Praia do Lambari e Santa Vitória.
O clima do município de Rio Pardo é variável em todas as épocas do
ano, apresentando um clima subtropical, com temperatura média que fica entre
17º e 20º C. Durante o inverno, aparecem as geadas e a temperatura pode cair
até abaixo de 0º C.
Nos dados da contagem do IBGE (2000) sua população total era de
70
37.783 habitantes, sendo 18.473 homens e 19.310 mulheres, com uma
população urbana de 26.041 e rural de 11.742 pessoas.
3
Os principais distritos
de Rio Pardo são: Rincão Del Rey, Albardão, Bexiga, Iruí, João Rodrigues,
Passo da Areia e Passo do Adão. Na figura 02 pode-se visualizar no mapa do
Rio Grande do Sul a localização do Município de Rio Pardo.
Como parte do sistema de transporte do município existe um terminal ro-
doviário por onde circulam diariamente linhas de ônibus da região e as que
atendem aos distritos. Rio Pardo possui um ramal da estrada de ferro que liga
Porto Alegre a Santa Maria, atualmente somente para transporte de cargas.
Existe também o sistema ferroviário, que possui estações, tanto na sede, quan-
to em Ramiz Galvão, e que atualmente estão sendo revitalizadas com o intuito
de desenvolver um projeto de passeio turístico. Os rios permitem navegação de
barcos de pequeno porte. No rio Jacuí, a navegação é facilitada pelas compor-
tas da Barragem de Dom Marcos. O município possui um aeroclube, com pista
de 800m, com capacidade para aviões de pequeno porte.
Porto Alegre 146km
Pantano Grande 24 km
Santa Cruz do Sul 32 km
Santa Maria 193km
Passo Fundo 271km
Caxias do Sul 188Km
Quadro 2. Principais distâncias de Rio Pardo.
Fonte: Secretaria Municipal de Turismo de Rio Pardo, 2005.
Entre as atividades econômicas desenvolvidas no município estão a
agricultura, com o cultivo de arroz, soja, fumo e hortifrutigranjeiros; a pecuária,
com a criação de bovinos de corte, gado leiteiro, ovinos e peixes; e no setor
terciário destacam-se o comércio e as pequenas indústrias de beneficiamento
de produtos agrícolas e pecuários (carne, massas, cereais, biscoitos,
salgadinhos), metalurgia, vestuário, esquadrias de ferro, móveis, utensílios de
aço, esquadrias de madeira. No setor de hospedagem, a cidade dispõe do
Hotel Terraço, Hotel Minuano, Casa Jesus Maria José e a Pousada das Águias.
Na área gastronômica existem cinco alternativas: o Restaurante Terraço, o
3
Dados da página oficial do município. www.riopardo.rs.gov.br em 11 de janeiro de 2006.
71
Restaurante Moinhos de Vento, o Restaurante Taquari, o Restaurante
Costaneira (Flutuante) e o Restaurante Minuano. Rio Pardo dispõe de uma
agência de turismo que faz o receptivo no local, organizando roteiros pela
cidade histórica e uma agência emissiva.
No que se refere às questões ligadas ao patrimônio, o município de Rio
Pardo tem três bens históricos tombados, dentre eles a Rua da Ladeira, hoje
Júlio de Castilhos, construída em 1813 com grandes pedras irregulares e com
escoamento central copiando a ''Via Appia'', ligando o antigo Forte Jesus Maria
José ao centro da cidade, tombada em 1954 pelo Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional do Brasil- IPHAM, a Escola Militar, construída de 1846 a
1880, tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual em 1983 IPHAE e a Igreja
da Matriz Nossa Senhora do Rosário, construída em 1779, com 7 altares e 16
metros de direito e sacadas para os nobres assistirem às missas e eventos,
tombada pelo Patrimônio Municipal de Rio Pardo em 1978.
Uma das pessoas das que não se pode deixar de falar é sobre Biaggio
Tarantino, grande historiador nascido em Rio Pardo (1903-1973), filho de
Nunziato Tarantino (nascido na Itália) e Capitulina Tarantino (nascida no
município de Encruzilhada do Sul), que foi um grande defensor do patrimônio
histórico de Rio Pardo. Ele fundou o Museu de Arte Sacra da Capela São
Francisco, o Museu Municipal Barão de Santo Ângelo, a Bilbioteca Municipal, o
Arquivo Histórico. Foi o responsável pelo tombamento da Rua da Ladeira pelo
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1954. Depois de ir muitas vezes ao
Rio de Janeiro, mesmo contra a vontade do prefeito da época (que foi
radicalmente contra o tombamento), Tarantino conseguiu por seus próprios
esforços este grande feito, enquanto haviam sido arrancadas metade das
pedras da Ladeira para dar lugar à pavimentação moderna e servir de alicerce
para imóveis. Foi Secretário do Turismo e Vereador da Cidade; e também
Conselheiro do Conselho de Educação e Cultura pelo Governador Euclides
Triches.
É neste sentido que podem-se destacar, especialmente nas últimas duas
décadas, algumas ações que partiram tanto da municipalidade como de grupos
da população local. Como exemplo, a realização de dois levantamentos e
inventários do patrimônio arquitetônico, a elaboração de um Plano Diretor que
contempla em sua estrutura uma legislação básica pertinente ao assunto é a
72
realização de um Fórum Municipal no ano de 2003, sobre o patrimônio
arquitetônico de Rio Pardo, em parceria com a esfera pública e privada, bem
como a Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. ( Anexo A)
Porém, cabe destacar que, até a publicação da lei de preservação do
patrimônio histórico, em 1979, os edifícios históricos eram vistos de forma
depreciativa e representavam um “contra-desenvolvimento”, segundo o
conceito de desenvolvimento da época, que valorizava o novo, ao mesmo
tempo em que negava o antigo. A partir da inventariação de alguns prédios
históricos, surgiram outras iniciativas no sentido de preservar e valorizar o
patrimônio histórico-cultural.
Houve a iniciativa da população, em revitalizar as obras como a Igreja
Matriz, a capela de São Francisco, a Antiga Escola Militar, a criação da casa do
turista na rua da Ladeira e as ações individuais de valorização do patrimônio,
como a Casa de Cultura Panatieri.
Paralelamente a este movimento crescente pela defesa do patrimônio
cultural, surgem ações ligadas à promoção e criação de eventos. São diversos
eventos dentre os quais podem-se citar a Semana Santa, na época da páscoa,
e a Procissão de Corpus Christi que liga-se às tradições religiosas da
comunidade local, a festa do Divino Espírito Santo e também a procissão do
Senhor Morto. O carnaval de Rua de Rio Pardo é considerado um dos
melhores desfiles da região. O Festival dos Sonhos de Inverno, é um evento
que busca resgatar parte da história do município e integrá-la ao
desenvolvimento do turismo, valorizando a gastronomia e a cultura local, onde
o atrativo o os sonhos de Rio Pardo. Também pode-se destacar a Feira do
Livro, a Festa do Peixe, realizada anualmente na primeira semana de fevereiro
e o Natal nas águas de Rio Pardo, que ocorre tanto na parte central da cidade,
quanto nos balneários situados junto do rio Jacuí.
Atualmente, Rio Pardo retoma sua importância na região do Vale do Rio
Pardo, através da atual administração púbico que criou em 2004 a Festa
Portuguesa, evento que tem como objetivo revitalizar os usos e costumes dos
lusoaçorianos. Outro acontecimento recente em Rio Pardo foi a construção da
vila cenográfica para a gravação do filme: Diário de um novo mundo, baseado
no livro “Um Quarto de Légua em Quadro”, de Luís Antônio de Assis Brasil. O
filme foi lançado em 2005 nos cinemas brasileiros.
73
Na atualidade observa-se uma busca incessante ao patrimônio para o
uso turístico, e as últimas gestões municipais colocaram o desenvolvimento do
turismo cultural como uma necessidade urgente para o município.
CAPÍTULO 5:
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O PATRIMÔNIO HISTÓRICO–
CULTURAL DE RIO PARDO
"Para se compreender e explicar uma
representação, é necessário começar com aquela,
ou aquelas, das quais ela nasceu".
74
MOSCOVICI ( 1981)
5.1 Análise das relações entre as representações sociais do patrimônio
histórico-cultural e a folheteria turística
Neste capitulo serão analisadas as relações entre as Representações
Sociais que os entrevistados têm sobre o patrimônio histórico-cultural do
Município de Rio Pardo e o que é divulgado como patrimônio cultural pela
folheteria turística. Foram encontradas dez categorias, sendo elas: história,
memória, pertencimento, identidade, arquitetura, cultura, religiosidade, herança
material, preservação e valorização.
A primeira categoria da pesquisa refere-se à história. A história é vista,
neste trabalho, como uma forma de analisar e decodificar o passado, através
dos vestígios e fragmentos que ficaram dele, mas considerando as
circunstâncias do presente (SCHIAVO & ZETTEL, 1997).
Os entrevistados associam o patrimônio histórico-cultural às questões
históricas do município, destacando o orgulho dos moradores em pertencer a
um dos primeiros municípios do Estado do Rio Grande do Sul. Todo o
patrimônio cultural existente na cidade de Rio Pardo tem uma relação com os
acontecimentos vividos pelos antepassados que colonizaram o município.
Na fala do entrevistado, morador do centro da cidade, pode-se verificar a
importância do patrimônio histórico- cultural,
A importância de Rio Pardo em termos históricos [...], pois ele
foi um embrião de uma quantidade enorme de município aqui
no Rio Grande do Sul e foi palco de vários episódios como a
Revolução Farroupilha, a primeira retirada dos espanhóis, a
Revolução de 23, uma porção de coisas e ainda aqui em Rio
Pardo nasceram uma quantidade enorme de pessoas influentes
na República, o próprio Bento Gonçalves, era originário daqui,
não nasceu aqui em Rio Pardo hoje, porém nasceu onde na
época era Rio Pardo.
(Sérgio Silveira, 69 anos, Rio Pardense, Engenheiro eletrônico)
O mesmo entrevistado ainda ressalta na sua fala a questão ligada à
75
colonização do município até a sua formação,
Rio Pardo teve uma colonização essencialmente açoriana,
porém começou com um bastião militar, aqui se travaram as
lutas dos de antes contra os espanhóis, e Rio Pardo se firmou
com a tranqueira invicta do Rio Grande do Sul. Por que daqui
os espanhóis não passaram, eles vieram para o sul, chegaram
na barranca do rio, e se assustaram com um forte que existia
lá, com os canhões. Então a partir disso nasceu Rio Pardo, Rio
Pardo prosperou com este grupo militar, destacamento militar,
depois veio parar no tempo, varias partes de Rio Pardo foram
se desmembrando, foram formando uma porção de municípios
que existente hoje, a maioria quase, o oeste do Rio Grande do
Sul, tudo era Rio Pardo.
(Sérgio Silveira, 69 anos, Rio Pardense, Engenheiro eletrônico)
Percebe-se que esse residente ao identificar a representação do
patrimônio cultural remete ao processo histórico. O entrevistado confirma a
questão de que atualmente o patrimônio histórico-cultural de Rio Pardo deve
ser valorizado e preservado principalmente pela sua história.
Na folheteria turística aparecem os prédios que marcaram a história do
município como, por exemplo, o Solar Almirante Alexandrino, que é
reconhecido como um dos sobrados mais representativos de um importante
período da história Rio-grandense. Pode-se perceber isso claramente na fala
da professora de história que trabalha nesse elemento do patrimônio cultural,
que hoje é um museu,
No inicio este prédio pertencia ao Senhor Matheus Simões
Pires, que também teve grande participação política na
comunidade Rio Pardense. O seu comércio, localizava-se aqui
neste prédio que a rua se chamava antigamente de rua do
Brasil, ele manteve suas atividades por boa parte do século
XIX, sendo que hoje esta edificação é conhecida como o Solar
do Almirante Alexandrino.
(Aida Aparecida dos Santos Ferreira, 56 anos, Rio Pardense,
Professora)
Para os entrevistados, a importância histórica está apoiada no
patrimônio cultural existente atualmente no município. E esta importância se
relaciona aos traços culturais que remetem a um tempo passado abstraído de
76
uma representação contemporânea. A importância histórica do patrimônio
cultural esta ligada ao passado, marcado pelas memórias de um período
histórico da cidade de Rio Pardo.
Salienta-se que a categoria história permanece representada para os
entrevistados, visto que o patrimônio cultural tem uma relação com todo o
contexto histórico pelo qual o município passou, conforme consta na fala da
entrevistada,
Pra mim o patrimônio representa bastante porque. Eu acho
assim em primeiro lugar foi o inicio da colonização portuguesa,
então as primeiras imagens os primeiros prédios, e também a
minha família, meus antepassados fizeram parte disso aí né,
de uma forma eu acho assim se agente conservar aquele
inicio, a gente gostaria que isso aí continuasse fosse a frente
de uma reforma, de uma conservação. Tem um lado da minha
família inclusive que eles vieram inclusive com os dragões né,
da época dos dagrões, que fizeram parte deste inicio da
cidade.
(Ceni Lisboa, 54 anos, Rio Pardense, Professora)
Esta entrevistada salientou que a história de Rio Pardo é também a
história de sua família, então a representação que ela tem sobre o patrimônio é
de valorização e preservação desta riqueza.
Quando mostrada a folheteria turística a uma das entrevistadas, a
mesma ressalta que,
Eu vejo aí, toda a questão histórica, aqui existe um resgate de
certa forma de todo nosso patrimônio arquitetônico, e também
alguma coisa imaterial com fundo popular, (...). Mas o que eu
vejo aqui são elementos relacionados com a formação da vila,
com a formação do Rio Grande do Sul.
(Silvia Barros, 51 anos, Rio Pardense, Professora)
Percebe-se que a representação da entrevistada coincide com o que
está posto na folheteria turística. A entrevistada ressalta que o poder público
está divulgando como patrimônio, aquilo que realmente é, no que se refere ao
77
fatos que contribuíram para a construção da história do município de Rio
Pardo.
A memória é a segunda categoria que permeia as Representações
Sociais e os significados do patrimônio histórico-cultural. A memória é um
elemento essencial da identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das
atividades fundamentais dos homens e das sociedades atuais (LE GOFF,
1990).
Para Halbwachs (1950) a memória é “o que ainda é vivo na consciência
do grupo para o indivíduo e para a comunidade”.
Moscovici desde seu trabalho pioneiro em 1961 ressaltou a importância
da memória para as Representações Sociais. A memória para Moscovici
(1989), não é nem inerte, nem completa, mas dinâmica e em mutação. Para
ele, a memória está presente na ancoragem e na objetivação, em ambas as
direções para dentro e para fora.
A Representação Social sobre o patrimônio histórico-cultural está
ancorada na categoria memória, pois possibilita a reconstituição de épocas da
vida que são recordadas em uma entrevista, em um bate-papo com um amigo
daquela época, entre outras ocasiões.
No que se refere a esta categoria, uma das residentes entrevistada
salienta que,
A igreja, tenho a lembrança de que o padre vinha seguido
almoçar com a gente aqui, eu tinha que me confessar, coisa
que eu não gostava, outra coisa a prefeitura, por exemplo aqui
eu aprendi muito, neste prédio aqui do lado, porque embaixo
era uma biblioteca e tinha um mini-museu zoológico de aves
empalhadas, então na noite era uma possibilidade de se ler,
porque abria a noite, então a gente tinha acesso `a biblioteca,
neste local de cultura, isso influenciou muito mesmo o
desandar de conquista profissional tanto até que eu sou
bióloga, talvez porque vivi muito tempo com todos aqueles
bichos empalhados aqui, entendeu.
(Elvira Panatieri, 67 anos, Rio Pardense, Bióloga).
Neste relato, apresenta-se o significado dos prédios antigos como
lembrança, nostalgia, testemunhos de uma época de infância e adolescência
da entrevistada que ao falar até fica emocionada. Verifica-se também na fala
da mesma que existe atribuição de valor a tal patrimônio. O patrimônio
78
histórico-cultural, dessa forma, representaria a memória, a formação da própria
entrevistada como profissional e ofereceria a possibilidade de remontar partes
de sua trajetória de vida.
Na fala de outro entrevistado também se pode perceber a categoria
memória, como é visto a seguir,
Eu nasci no interior do município, vivi a minha infância no
interior, e o museu teve uma participação na minha vida de
estudante, é um sentimento muito bom de recordar os tempos
de infância.
(Valídio Scherer, 62 anos, Rio Pardense, Professor).
A memória das pessoas, aparece nas entrevistas na forma de re-
construções do passado, lembranças de fatos relevantes, que constroem a
representação social atualizada.
A entrevistada ressalta a importância do forte Jesus Maria José na sua
adolescência, quando juntamente com a professora de história ia visitar esse
lugar conhecido como o marco de criação do município de Rio Pardo.
Quando eu estava na oitova série, me recordo que íamos ao
forte visitar, era muito legal pois a professora de história nos
contava toda a história daquele lugar e nos ficávamos
surpreendidos. É uma lembrança muito boa que guardo com
carinho na minha memória, da adolescência.
(Silvia Barros, 51 anos, Rio Pardense, Professora)
Com relação à folheteria turística a categoria memória está contemplada
pela apresentação de alguns elementos citados pelos entrevistados como, por
exemplo, o forte Jesus, Maria, José, a igreja Senhor dos Passos, a Antiga
Prefeitura e o Solar do Almirante Alexandrino, onde atualmente esta o museu
Barão de Santo Ângelo.
Em terceiro lugar aparece o pertencimento como categoria das
Representações Sociais sobre o patrimônio histórico-cultural,
Eu tenho amor a estas coisas né, amor eu acho porque eu me
criei aqui entende, então tu vê, tudo pra mim tem um
significado diferente, dos olhos das pessoas de fora. Eu tenho
79
prazer em dizer para as pessoas que eu sou Rio Pardense, eu
tenho prazer de vir participar do festival do sonhos, tanto é que
hoje eu estou fazendo este cursinho dos sonhos, por que sou
apaixonada. Mas assim, amor a terra, amor as coisas antigas,
valorizo as coisas que estão sendo feitas. Eu sou descendente
de alemã, mas eu acho que a cultura luso-açoriana é rica, até
quando teve o festival de danças folclóricas e o pessoal veio
pra cá, eu até participei das danças, porque o eu gosto muito, é
de participar, sou apaixonada em participar de tudo que é bom,
sabe, então eu acho que isso ai é bacana, eu acho que isso
é o que falta no colégio, o pessoal ensinar mais os jovens a
preservar, ter amor às coisas de Rio Pardo, isso falta muito
aqui em Rio Pardo.
(Ivone Heitling, 56 anos, nasceu em Santa Cruz do Sul, mas
criou-se em Rio Pardo, Do Lar)
A entrevistada ressalta o seu amor em pertencer a uma comunidade na
qual o nasceu, mas veio a residir e se orgulha de viver. Também é notório o
valor dado por ela ao patrimônio que existe no município e ao empenho do
poder público em revitalizar os costumes e o legado dos luso-açorianos na
atualidade, mesmo que seja com o objetivo de desenvolver o turismo cultural
com fins econômicos.
No que se refere à folheteria turística, o poder público está divulgando
como patrimônio os saberes e fazeres da comunidade. Isto se evidencia na,
realização de eventos como a Festa Portuguesa, com a gastronomia e o
Festival dos Sonhos.
O pertencimento também pode ser verificado na fala do residente da
casa que foi da primeira médica do Brasil,
A gente se sente muito orgulhoso de morar numa casa da
primeira médica formada no Brasil né, isto pra mim será
sempre um orgulho, que muita gente assim, vem me procurar
saber informações , do passado, das coisas que eram dela
também, vem ver e isto pra mim tem muito significado, fazer
parte da criação deles, eles me criaram desde de pequeno me
deram de tudo, graças a eles e eu fico muito orgulhoso.
(Getúlio Franco, 57 anos, Rio Pardense, Artesão)
É notavel o sentimento de pertencimento do sujeito, pois segundo ele,
80
existe a obrigação de preservar e valorizar todo o legado deixado pela sua mãe
adotiva. Ele ressalta que: “é um sentimento muito forte, pois faz parte da
história da gente também né”. (Getúlio Franco, 57 anos, Rio Pardense, Artesão)
Esta casa particular não é apresentada na folheteria turística, porém nos
city tours realizados pela secretária de turismo, está incluída a observação da
parte externa da residência.
O casal que reside na casa que foi da primeira médica do Brasil também
ressalta o sentimento de pertencimento pelos outros elementos do patrimônio
cultural,
Todo o patrimônio, os prédios, as manifestações têm um valor
sentimental como Rio Pardense nato, no caso deste prédio que
está nos meus olhos todos os dias, que o dono não tem
dinheiro pra arrumar e é tombado, eu sinto como uma tragédia,
o senhor dono, até adoeceu passou mal quando começou a
cair isso aí, aí ele quis botar tudo no chão e foi proibido é que é
tombado. E simplesmente tá aí o dono caminhando com uma
bengala, olha pra aquilo ai, e tristeza de ver mas ele não
tem dinheiro pra fazer o que ele queria fazer. E ai o prédio
caindo e ai vai ficar tombado mesmo só que tombado no chão.
(Marlene e Getúlio Franco, 54 anos e 57 anos, Rio Pardense,
Artesões)
Na fala dos entrevistados percebe-se que eles não apenas se
preocupam com o patrimônio que lhes pertence (a casa em que moram), mas
também com a situação de um vizinho, cujo prédio histórico esta arrolado no
tombamento municipal e precisa de reparos urgentes para não cair, mas que o
proprietário não dispõe do recurso necessário para tal fim.
Uma questão que é pertinente ressaltar, se refere à posição do vizinho
do casal entrevistado, que quer derrubar o seu prédio para construir uma
garagem para aluguel de barcos. Neste caso, fica implícito que existe uma
contradição entre o posicionamento do casal que foi entrevistado e o vizinho
que possui o prédio em más condições. A posição do vizinho pareceria indicar
que ele não tem o mesmo sentimento de pertencimento que os entrevistados,
pois se ele realmente sentisse algo pelo seu patrimônio estaria lutando para
buscar apoio para a revitalização deste prédio. O fato que ele queira derrubar
seu prédio prova que ele o está se importando com o seu patrimônio. Fica
evidente que existe um conflito de interesses entre os entrevistados e o vizinho
que não quis ser entrevistado.
81
A categoria de pertencimento aparece na fala da Professora de História,
que diz que,
Simplesmente sentimento, eu sempre reconhecia a minha
cidade aquela coisa de andar pela rua e nem se dar conta de
por onde está passando, mas sabe que está passando por um
lugar que é familiar, que é conhecido, que faz parte da gente.
Então a minha primeira percepção sempre foi esta. Porque
talvez por ter nascido aqui, ter sido criada aqui, gostar da
cidade onde eu moro.
(Silvia Barros, 51 anos, Rio Pardense, Professora)
O processo de pertencimento acontece quando o sujeito está consciente
do que lhe pertence, e se coloca como protagonista daquele patrimônio. Na
fala da entrevistada fica claro que ela se sente parte da cidade em que reside e
trabalha.
Com relação à folheteria turística se pode constatar que o poder público
apresenta um discurso, buscando que a comunidade se sensibilize pelo
patrimônio existente na cidade.
A identidade é a quarta categoria a ser analisada, e conforme Hall
(1992), é flexível e sujeita a transformações .
Para Pires (2002, p. 102), a identidade cultural seria “o conjunto de
caracteres próprios e exclusivos de um corpo de conhecimentos, seus
elementos individualizadores e identificadores; enfim, o conjunto dos traços
psicológicos, o modo de ser, de sentir e de agir de um grupo, que se reflete nas
ações e na cultura material”, e esta por sua vez, estaria diretamente
relacionada à forma como o indivíduo interage com a sua cidade e o patrimônio
coletivo, assim, como os problemas que atingem a comunidade.
Como é exposto na fala do Senhor Fernando Wunderlich, que ressaltou
a sua ascendência materna açoriana, para ele, todos os elementos do
patrimônio histórico-cultural são importantes, pois constroem a sua identidade
cultural.
Eu sou filho de uma açoriana, pra mim todo este patrimônio
existente aqui em Rio Pardo me faz lembrar as histórias que
minha falecida mãe contava, eu trago comigo se você pode
observar todas as recordações do passado e alguma coisa do
presente também, aqui no meu escritório eu consigo manter
uma relação com a minha identidade cultural e também
82
consigo preservar as lembranças da minha família.
(Fernando Wunderlich, 75 anos, Rio Pardense, Advogado)
De forma mais objetiva, o patrimônio histórico-cultural seria, para alguns
entrevistados, referência de sua identidade, trazendo informações sobre as
famílias das quais descenderam. Neste caso, o entrevistado atribui valores de
identidade ao patrimônio que fez parte da sua história de vida.
Com relação à folheteria turística de Rio Pardo, a categoria identidade
estaria presente na etnia luso-açoriana divulgada pelo poder público como
etnia que fundou e colonizou o município. Numa primeira análise, verifica-se
que a Representação Social dos entrevistados está de acordo com o que é
divulgado pelo poder público como patrimônio cultural.
As quatro primeiras categorias encontradas referem-se ao patrimônio
cultural imaterial, os saberes e fazeres. O decreto 3.551,de 04 de agosto de
2000, institui o registro de bens culturais de natureza imaterial e criou o
Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Os registros dos bens imateriais
são, a partir de então, condicionados à inscrição em um dos seguintes Livros:
Livro de Registro dos Saberes; Livro de Registro das Celebrações; Livro de
Registro das Formas de Expressão e Livro de Registro dos Lugares.
A quinta categoria a ser analisada refere-se à questão da arquitetura,
que segundo a arquiteta entrevistada em Rio Pardo,
Pouco resta da arquitetura açoriana original em Rio Pardo. Os
sobrados e casarões de linhas com suas janelas arqueadas, ei-
ras e beiras e cachorradas (beiradas de madeira) foram se
transformando com o tempo e sofrendo influências de outras
correntes arquitetônicas, principalmente do neoclássico francês
do final do século 18. Provavelmente, a característica mais
marcante que ainda resta são as duas igrejas, prova do apego
religioso dos primeiros colonizadores. Como um autêntico ex-
emplo da arquitetura portuguesa do século 19 o atual Museu
Barão de Santo Ângelo, onde nasceu e viveu o almirante Ale-
xandrino de Alencar. A casa foi reconstruída em barro e madei-
ra e preserva os traços originais, apesar de ter sido restaurada.
Tem na parte inferior uma senzala que abrigava os escravos
domésticos.
(Vera Schultze, 52 anos, Rio Pardense, Arquiteta)
A entrevistada salienta que no Município de Rio Pardo existem poucos
elementos da arquitetura colonial, mas que o que ainda restou está em bom
83
estado de conservação ou está sendo revitalizado.
A Representação Social da entrevistada sobre a arquitetura vai ao
encontro do que está sendo divulgado na folheteria turística. O poder público
apresenta vários elementos com características únicas da arquitetura
portuguesa do século 18, que é representada pelos entrevistados como
patrimônio.
Percebe-se que os sujeitos entrevistados salientam a importância
arquitetônica dos seus bens patrimoniais. Isto é visto na fala da senhora que
reside em uma casa que tem mais de 200 anos e que apresenta uma
arquitetura genuinamente portuguesa,
Conhecer uma casa de 1698, construída no estilo luso-
brasileiro, que era com material da época, barro taquara,
pedra, tijolo bem maciço bem enorme, que é conhecido como
pau a pique ou estuque, [...]e ai por exemplo ver a situação de
uma estrutura bem antiga do século passado, como moradia
as dificuldades que tinham os moradores, não tinha banheiro,
vasos, não tinha a água instalada, eram várias as dificuldades
que eles passaram. Por exemplo a temperatura da casa é
completamente diferente da temperatura do exterior, as
pessoas quando entram na casa sentem mais frio ela é mais
fresca, devido ao direito da casa, a estrutura do
espessamento das paredes que faz com que o sol tenha
dificuldade em penetrar somente pelas janelas, eu entendi
depois de muito tempo porque aquelas mulheres usavam
roupas fechadas de manga comprida mesmo no verão, a casa
permitia que elas tivessem esta maneira, não por estética e
sim pra se abrigar do frio. Outra coisa é falar da idéia que os
portugueses tinham de uma casa grande, é não ser uma casa
estanque aos compartimentos, eles viviam em família, não
adiantava fechar a porta do quarto, porque não existia uma
porta, e sim duas três, parece um labirinto, uma peça da pra
outra, é muito funcional no sentido de ninguém pode se
esconder.
(Elvira Panatieri, 67 anos, Rio Pardense, Bióloga).
Na fala da senhora Elvira fica claro o seu orgulho em poder mostrar para
os visitantes o seu patrimônio que tem uma arquitetura colonial, uma vez que
restam na cidade poucos sobrados com esta peculiaridade.
Especificamente com relação ao Solar Panatieri, a folheteria turística
traz informações que são de cunho pessoal, pois o prédio ainda é de
propriedade particular.
84
A cultura tendo como características específicas a gastronomia, a
música, os hábitos e os costumes aparecem como sexta categoria. Na análise
da fala da entrevistada percebe-se que o patrimônio simbólico é um importante
elemento da representação social.
Olha, a representação que eu tenho da nossa cultura
portuguesa é uma coisa muito boa, pois a gente convive não só
com o nosso pessoal da associação, os artesãos, mas com
toda a comunidade, vem gente de fora então a gente tem
contato com estas pessoas, a gente conversa, troca idéias. O
nosso artesanato é muito rico, existem pessoas que produzem
o artesanato em palha que é de época.
(Liane Marques, 52 anos, Rio Pardense, Artesã)
Neste relato, verifica-se que a cultura imaterial, ou seja, os costumes da
comunidade são evidenciados e valorizados pela entrevistada que além de
preservar suas raízes também pode através do artesanato mostrar aos
visitantes o legado luso-açoriano.
Percebe-se que a folheteria turística não apresenta o artesanato como
patrimônio cultural da comunidade de Rio Pardo, porém é considerado pela
entrevistada como um importante patrimônio cultural.
Em nenhum momento aparece na folheteria a descrição da cultura
imaterial como patrimônio, no entanto, conforme a fala da senhora Elvira, o
legado português ainda é mantido no município,
Existem algumas tradições bem portuguesas, por exemplo os
doces, a ambrósia, o arroz de capela, que é aquele arroz com
o sangue da galinha, Rio Pardo não seria Rio Pardo, seria
uma outra cidade se não tivesse o registro oral da caminhada
dos antepassados, o que seria Rio Pardo, seria nada.
(Elvira Panatieri, 67 anos, Rio Pardense, Bióloga).
A entrevistada ressalta que a gastronomia é um patrimônio imaterial que
deve ser valorizado para que continue a representar a cultura dos
antepassados que colonizaram o município e legaram à comunidade atual
estes saberes.
Com relação à gastronomia, a folheteria turística, apresenta alguns dos
elementos considerados como patrimônio pelos entrevistados no caso, os
sonhos de Rio Pardo e a culinária especifica da Festa Portuguesa.
Na fala da senhora Jardelina, é interessante salientar que o oficio de
85
cozinheira lhe traz muito orgulho, e que ela preza pelo legado luso-açoriano na
confecção dos sonhos autênticos de Rio Pardo,
Da culinária, eu trabalho com doces, salgados, bolos artísticos,
e também com o sonho de Rio Pardo, ai que estão resgatando
agora nestas festas, agora portuguesa, opa mais entra o sonho
tradicional, só que agora estes dias eu disse pro Prefeito, agora
eu fiquei muito triste andando pra e pra que era o festival
dos sonhos e não achei o sonho tradicional era sonho
recheado. Porque é mais fácil a massa [ ]. E uma que pode
ser portuguesa é a galinha cabidela ou ao molho pardo que são
poucas pessoas que fazem, eu tive muito tempo restaurante no
centro e as pessoas de Porto Alegre ligavam pra saber se eu
não ia fazer a galinha ao molho pardo, e muitas vezes as
pessoas daqui iam em outros lugares.
(Jardelina Bandeira, 70 anos, Rio Pardense, Cozinheira)
Muitas senhoras da comunidade participam de oficinas oferecidas à
comunidade pelo poder público para aperfeiçoar e aprender o ofício de doceira
e cozinheira. Em uma das visitas a campo a autora da pesquisa, pode observar
a realização da oficina com a participação de uma parcela relativamente
grande de senhoras da comunidade.
Ainda, com relação à cultura é interessante destacar na fala abaixo, do
entrevistado, como para ele a música é um importante patrimônio cultural,
a serenata é uma antiga tradição que nossos antepassados
trouxeram de além-mar e foi incorporado ao cancioneiro popular
brasileiro. Aqui em Rio Pardo ela foi muito praticada e agora
esta presente na Festa Portuguesa. Eu mesmo fui responsável
por organizar as serestas durante a Festa Portuguesa, o que me
deixou muito feliz.
(Valídio Scherer, 62 anos, Rio Pardense, Professor)
Cabe destacar que somente na fala a seguir, pode-se perceber que o
entrevistado ressalta a existência do carnaval, mas que para ele não é
importante como patrimônio,
E com referencia à cultura, eu acho que a cultura de Rio Pardo,
ela tem muito ainda que subir, o carnaval é uma coisa que é
cultura, eu acho bonito carnaval, gosto do carnaval. Eu fui da
diretoria do Taquari e participava ativamente do carnaval,
gostava e gosto muito de carnaval, mas é um dos tipo de coisa
86
que a gente poderia deixar em segundo plano.
(Cirrilo Ferraz, 63 anos, Rio Pardense, Policial Militar)
Na percepção do entrevistado o carnaval é uma manifestação cultural
que para ele não tem tanta importância como patrimônio, ou seja, ele salienta
que o que se refere a forma de ser no dia-a-dia, é mais importante que o
carnaval.
Porém, a folheteria turística divulga o carnaval como patrimônio cultural
da comunidade de Rio Pardo, salientando o sucesso do mesmo e a
importância para o desenvolvimento do turismo na cidade.
A religiosidade é a sétima categoria a ser destacada, visto que é um dos
traços culturais mais importantes herdados da colonização luso-açoriana em
Rio Pardo, como por exemplo, a tradicional Devoção ao Espírito Santo, o culto
ao Senhor Cristo dos Milagres, a procissão de Corpus Christi, entre outros.
Na entrevista feita com o Senhor Cirrilo, pode-se confirmar a importância
da religião para a comunidade de Rio Pardo,
Eu até, fugindo do assunto quero falar uma coisa sobre a
minha religiosidade, nós temos na minha religião um canto que
ele diz mais ou menos assim: agora é tempo de ser igreja,
caminhar junto, participar. Então em todos os motivos a gente
deveria de caminhar junto e participar, tanto em Rio Pardo
como no Rio Grande e como no Brasil.
(Cirrilo Ferraz, 63 anos, Rio Pardense, Policial Militar )
Segundo a Senhora Carmem, a religiosidade é um patrimônio a ser
mantido e passado de geração em geração e ela acredita que isso está sendo
feito em Rio Pardo com o passar dos anos.
Rio Pardo existe mais de duzentos anos e minha mãe
contava que desde sua infância, participava das celebrações. A
Semana Santa era o período mais intenso de reflexão cristã,
que se iniciava na quarta-feira de cinzas e se estendia por toda
a quaresma. Na sexta-feira santa, dia da paixão e morte de
Cristo a cidade ficava deserta. A Procissão do Senhor Morto
em Rio Pardo é um evento religioso e cultural, que faz parte do
patrimônio histórico dos cidadãos Rio Pardenses.
(Carmem Rezende, 77 anos, Rio Pardense, Professora)
87
A religiosidade é uma categoria muito importante, pois só na área central
do município existe a igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, a igreja Nosso
Senhor dos Passos e ainda a capela deo Francisco de Assis. A importância
das Igrejas relaciona-se com os serviços elementares à população, ou seja, as
diversas atividades sociais como as festas religiosas e as procissões que são
realizadas pelas mesmas.
Durante a pesquisa de campo pode-se observar que a devoção da
comunidade à religião é tão grande que as pessoas fazem o sinal da cruz
quando passam em frente às igrejas.
A categoria religiosidade está presente na folheteria turística, pois o
poder público apresenta quatro igrejas como patrimônio cultural e isto é
ancorado e objetivado pelos entrevistados.
A herança material por sua vez é a oitava categoria de análise, sendo
que pode-se perceber na fala da entrevistada que existe um sentimento
subjetivo ligado ao patrimônio,
Por um fato muito significativo pra mim que o amor que eu
tenho pelo o que eu recebi, pela herança que tenho neste
patrimônio aqui, que eu chamo de elefante branco, e pela
paixão que eu tenho pelo meu pai que me deu. É nossa
obrigação preservar o passado, para te acompanhamento
daquilo que um dia foi importante para constituir o presente, ou
seja, a nossa herança cultural.
(Elvira Panatieri, 67 anos, Rio Pardense, Bióloga).
A representação da entrevistada sobre a sua casa, relaciona-se a sua
própria origem, representando uma parte de si mesmo. O depoimento remete à
importância do prédio como herança de seu pai.
Salienta-se que o mais importante na representação aqui exposta pela
entrevistada sobre o seu patrimônio histórico-cultural, está além do valor
imobiliário. Percebe-se, pela fala dela, a importância afetiva do legado. A
entrevistada salienta ainda, que a questão da herança deve ser discutida por
todos.
O valor atribuído ao patrimônio pela entrevistada está, pautado no
desejo de permanência e continuidade de sua história, conforme a fala a
seguir,
Eu digo assim, as pessoas sempre nas suas famílias temos os
88
mais idosos, e o que costumam fazer com os mais idosos, o
normal é acolher, fazer com que eles se sintam quentinhos,
arrumadinhos bonitinho, remedinho, passear com eles, aquela
coisa toda, porque todo este cuidado? Pra que eles possam
continuar vivendo e dando a sua experiência, contando para os
mais moços toda aquela vivencia deles e tal. Então porque isso
não com o patrimônio? Que mal amado é o patrimônio. Porque,
não sei, ele precisa de remédio, de cuidado, de todo um
artefato de coisas, pois passou muito tempo 200 anos quase e
eles precisam continuar de pé.
(Elvira Panatieri, 67 anos, Rio Pardense, Bióloga).
A representação do patrimônio histórico-cultural insere-se, portanto,
naquilo que é partilhado por experiências comuns. Edificações, paisagens
naturais, sítios urbanos e rurais, praças, ruas, entre outros, são espaços
compartilhados pelos homens que, na vida cotidiana, os significam e os
reinterpretam a partir de suas vivências.
Conforme a folheteria turística os prédios, as ruas, as casas particulares,
as festas são elementos considerados como herança material pelo poder
público de Rio Pardo e é um importante atrativo para o turismo cultural.
Conforme pode-se perceber na fala da entrevistada, a herança tem valor
sentimental,
As excursões passam e param na frente e a guia conta que
esta casa foi da primeira médica do Brasil. Mas eu não abro
pra eles entrar, eu já estive na casa da Anita Garibaldi em
Santa Catarina, eles cobram cinco reais pra entrar e ver uma
sala, mas eu acho um absurdo isso, aqui não é valor, é
sentimento que não paga. Eu podia deixar uma peça aquí e
botar todas as coisas dela exposta e cobrar um real que seja,
mas isso não faz parte da índole da gente. Mas eu penso
comigo, a mulher trabalhou a vida inteira dela, se dedicou
criou meu marido, deixou isto pra nós e agora eu vou começar
a ganhar dinheiro ali, a não posso fazer isto. O que ela nos
deixou está acima de valor financeiro, é sentimental.
(Marlene Franco , 54 anos, Rio Pardense, Artesã)
Percebe-se na fala da entrevistada o valor existente no patrimônio
legado a ela e ao seu esposo que não tem preço. Pois para ela seria falta de
respeito ganhar dinheiro com um patrimônio que ficou de herança da primeira
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médica do Brasil.
Entende-se que existe uma disparidade entre o que a entrevistada fala e
o que a folheteria turística propõe, pois o poder público divulga os elementos
como patrimônio, com o objetivo de gerar renda à comunidade. E a
entrevistada ressalta que ela não se sente à vontade em abrir a sua casa,
como no caso da cidade de Laguna, em Santa Catarina, onde existe a visitação
à casa que foi de Anita Garibaldi. Para a entrevistada isso seria uma vergonha,
ganhar dinheiro com o sacrifício da mãe adotiva do seu esposo.
Percebe-se na fala abaixo, do entrevistado, a importância do patrimônio
atual para deixar como herança para os seus netos,
Eu acho isso de um valor imensurável, seria tão bonito se a
gente conseguisse deixar esta história para os nossos netos,
para as gerações futuras, que hoje nos não estamos tendo
condições de cuidar disso aí, na verdade existe ações
pontuais, como o centro de cultura ali, tem algumas outras,
mas teria que ter uma ação muito mais ampla, eu acho que
entra todos os cidadãos.
(Valídio Scherer, 62 anos, Rio Pardense, Professor).
O sujeito entrevistado ressalta a importância do patrimônio como
herança, mas ressalta que são poucas as ações concretas por parte da
comunidade e do poder público para que de fato as futuras gerações recebam
como herança algum patrimônio material e imaterial.
Pode-se salientar que com relação à folheteria turística, o poder público
divulga através da Festa Portuguesa a idéia de preservação da cultura,
apoiando o grupo de dança luso-açoriano, formado por adolescentes da
comunidade local.
A preservação aparece em nono lugar como categoria.
O termo preservação é utilizado num sentido amplo e dinâmico, atribuído
pelos especialistas ligados ao patrimônio, entendido como o processo de
restauro, preservação e manutenção de bens culturais (MURTA, 2002).
As ações do poder público e de alguns cidadãos da comunidade através
de ONGs são valorizadas e ancoradas pela entrevistada como pode ser visto
na fala da mesma,
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Quer dizer esta parte é uma das parte que eu adoro e gosto e
esta coisa do patrimônio como agora a casa de cultura, já fui ali
né, quer dizer que eu fico feliz e fico contente de eles estarem
restaurando estas casas antigas e mostrando uma coisa que
nunca mostravam que nunca ninguém falava, a rua da ladeira.
Tudo isso é super importante e cada vez valorize-se mais.
(Jardelina Bandeira, 70 anos, Rio Pardense, Cozinheira)
Vale destacar que a entrevistada se refere, à antiga Escola Militar, cuja
restauração foi feita através de ações da Prefeitura Municipal, em parceria com
a ONG União dos Ex- Alunos Amigos do Auxiliadora UNIAMA e com o
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Lei de Incentivo à Cultura
( LIC), passando a exercer atualmente, a função de “Centro Regional de
Cultura do Vale do Rio Pardo”.
A atual administração pública, juntamente com as secretarias de turismo
e planejamento estão buscando revitalizar os prédios públicos, principalmente
com o apoio do governo federal e estadual e também em parceria com a
Universidade de Santa Cruz do Sul, no que diz respeito aos projetos de
viabilização para a restauração. Durante a pesquisa de campo, a autora pode
observar que estavam acontecendo algumas ações, como pintura externa dos
elementos que estão na folheteria turística do Município.
Segundo a arquiteta entrevistada, os moradores valorizam as ações em
prol da preservação,
Outro bom exemplo de preservação é a Rua da Ladeira, atual
Júlio de Castilhos, que foi uma das primeiras ruas calçadas do
Estado (1813). Feita com blocos de pedras irregulares e escoa-
mento central, servia para ligar a fortaleza à parte residencial
da cidade. É tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Ou-
tra característica curiosa são as eiras e beiras, detalhes que
circundavam os telhados e representavam sinais de ostenta-
ção.Daí a origem da expressão "sem eira nem beira" referir-se
às classes menos abastadas.
(Vera Schultze, 52 anos, reside em Rio Pardo, Arquiteta)
Conforme pode ser visto na fala do entrevistado, ainda existem alguns
elementos do patrimônio histórico-cultural que não são preservados, ou não
estão sendo revitalizados como deveriam ser, este é o caso da Igreja Matriz.
Com referência aos prédios históricos aqui de Rio Pardo, eu
91
acho eles muito lindos,estão um pouco deixados pelo poder
público, especialmente a Igreja Matriz Nossa Senhora do
Rosário e a Igreja São Francisco, faz anos que eu ouço com
referência à restauração, mas fica no papel ou na conversa,
como eu gostaria de ver, especialmente a igreja matriz ela
restaurada, porque é uma igreja muito linda e é um dos pontos
turísticos principal de Rio Pardo, principalmente para os
católicos né.
(Cirrilo Ferraz, 63 anos, Rio Pardense, Policial Militar )
O sujeito entrevistado salienta que na sua percepção, deveria existir
mais vontade do poder público em manter sempre o patrimônio em bom estado
de conservação, pois alem de beneficiar a comunidade local estaria
contribuindo para desenvolver o turismo.
A entrevistada salienta que as ações do poder público só beneficiaram o
município, incentivando grupos isolados de cidadãos a preservar e revitalizar o
legado cultural,
A partir da inventariação de alguns prédios históricos, surgiram
outras iniciativas no sentido de preservar e valorizar o
patrimônio histórico arquitetônico, como a iniciativa da
população em restaurar as Igrejas Matriz e a Capela de São
Francisco e a antiga Escola Militar.
(Eneiva Muller, 57 anos, Rio Pardense, Professora)
Fica evidente a importância da preservação na fala da entrevistada, que
é descendente de escravos negros,
A preservação material e imaterial é de suma importância aqui
em Rio Pardo, pois é uma maneira de valorizar a cultura do
passado. Por exemplo, as telhas eram feitas nas coxas dos
escravos.
(Aida Aparecida dos Santos Ferreira, 56 anos, Rio Pardense,
Professora)
Salienta-se que os entrevistados se sentem parte da cidade e sabem da
importância de manter o seu patrimônio em um bom estado de preservação,
Eu sou uma pessoa dedicada a minha terra, se eu vejo um
problema tento resolver. É muito importante que haja a
preservação dos prédios históricos, da cultura das pessoas.
(Marlene Franco, 54 anos, Rio Pardense, Artesã)
92
Neste relato é possível verificar que a entrevistada se importa com os
acontecimentos da cidade, que valoriza as ações de preservação do patrimônio
cultural, uma vez que com isso ela terá renda, pois seu sustento vem do
artesanato que é vendido aos turistas quando em visita a cidade histórica.
Percebe-se claramente que todos os depoimentos valorizam as
iniciativas tanto do poder público como de grupos isolados de moradores de
Rio Pardo, pois além de valorizar a história de vida da comunidade estarão
podendo desenvolver o turismo cultural.
A folheteria turística busca ressaltar a importância da preservação até
porque é o nome do município que está sendo divulgado e os atrativos
necessitam estar em bom estado de conservação. As iniciativas do poder
público ocorrem, buscando firmar parceria com a comunidade no que diz
respeito a pintura de prédios particulares, ao embelezamento das ruas da
cidade, a divulgação do município em eventos estaduais e nacionais, entre
outras iniciativas que viabilizam o desenvolvimento do turismo.
A décima categoria refere-se à valorização do patrimônio, e esta
valorização vem ao encontro do desenvolvimento do turismo cultural. O
entrevistado confirma que é necessário a valorização do patrimônio para o
desenvolvimento turístico,
E eu penso que isso aqui é uma riqueza que não tem preço, e
se você deixar perder isso aqui, e se você olhar sob o aspecto
econômico poderia alavancar o turismo assim de uma forma
diferenciada aqui na região. Eu acho importantíssimo, a
preservação deste valores, desta tradição.Eu acho que além de
preservar a nossa história, nossas tradições, a festa
portuguesa, a festa do peixe, dos sonhos, elas enaltecem as
nossas riquezas e são muitas vezes instrumentos para
alavancar o turismo, trazem divisas para o município. A festa
portuguesa por exemplo tem como objetivo revitalizar as
origens, pois a comunidade aqui é de origem açoriana, buscam
resgatar esta história para as gerações que estão vindo né.
Apenas está se mostrando para as gerações presentes como
Rio Pardo se formou, seu desenvolvimento, e isso deveria de
ser mais valorizado, nossas origens, a nossa história não pode
se perder.
(Valídio Scherer, 62 anos, Rio Pardense, Professor)
93
Fica evidente nas falas dos entrevistados que entendem que é de
extrema importância a valorização do patrimônio para que o turismo de fato se
desenvolva,
A coisa mais importante pra s que somos naturais de Rio
Pardo, nascemos e se criamos em Rio Pardo né, é saber que
Rio Pardo ta sendo divulgado ai fora com a nossas histórias né.
Eu fui guia turístico aqui em rio pardo, quando chegava as
excurções aqui, eu saia em todos estes pontos, eu conheço
todos eles, a hidráulica (antigo forte), as imagens, a história da
noiva de Rio Pardo, agora saiu um seriado na globo, falando
sobre as noivas de Rio Pardo, o certo é a noiva, pelo menos foi o
que eu aprendi quando estudei para ser guia. O histórico de uma
cidade tem que permanecer uma só, não se pode inserir
palavras e mudar a história.
(Marlene Franco, 54 anos, Rio Pardense, Artesã)
Tu imagina , nos temos a rua da ladeira, que um dos pontos
turísticos de Rio Pardo, se agente passar ali e tiver alguém que
esta visitando se orgulha de olhar isso ai, e muitas vezes passa
despercebido por nós Rio Pardenses. Não o valor total pra
aquilo que merece, talves não sabe a história e talvez até não
saiba como foi construído, como e porque foi construído, como e
porque que aquelas pedras parram ali.
(Cirrilo Ferraz, 63 anos, Rio Pardense, Policial Militar )
Conforme o Senhor Cirrilo, é necessário que se fale mais sobre os bens
patrimoniais para que o residente acompanhe mais o que está acontecendo na
sua cidade, neste caso o turismo cultural.
Na folheteria turística encontra-se informações que sensibilizam os
moradores de Rio Pardo sobre a importância de valorizar o patrimônio para que
de fato o turismo se consolide no município. Os sujeitos entrevistados
incorporam o que é divulgado pelo poder público através da folheteria turística.
A análise das representações sociais dos entrevistados se torna
bastante complexa, pois existe uma disparidade entre elas, visto que, alguns
cidadãos representam o patrimônio existente na cidade como um todo e outros
apenas no âmbito pessoal. Podem ser destacadas algumas manifestações
pessoais, de preocupação dos entrevistados com as questões ligadas à forma
de divulgação do patrimônio histórico-cultural para o turismo.
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5.2 Apresentação da folheteria turística
Apresentam-se aqui os elementos considerados oficialmente como
patrimônio histórico-cultural pelo poder público nas últimas três administrações,
ou seja, dos últimos doze anos. As informações que estavam contidas na
folheteria turística do Município de Rio Pardo foram transcritas. Optou-se em
fotografar os elementos com o objetivo de uma melhor visualização dos
mesmos.
* A Fortaleza Jesus Maria José, que foi construída em conseqüência do
Tratado de Madri, e relembra a origem militar do município, com a permanência
de canhões e uma reprodução da planta da fortaleza. O desenho da planta é
de Francisco Riopardense de Macedo e a execução é de J.J. de Assis
Machado. A Planta consiste em: Praça das Armas, Casa do Governo,
Igreja/Sacristia/Cemitério, Corpo da Guarda, Casa da Pólvora, Casa de
Reabastecer, Armazém de El Rei, Quartéis de Soldados, Munições, Casa de
Moradores, Curral (cavalos e rezes), Escala para o Porto, Praças Baixas,
Praças Altas, Pau da Bandeira. Aqui os bravos "Dragões de Rio Pardo",
resistiram a todas as invasões e dela lançaram e fixaram as fronteiras
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meridionais da pátria. Localiza-se hoje no bairro Fortaleza.
5 - Planta da Fortaleza de Jesus Maria José
Foto: Claudiana Y Castro
* A Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, templo imponente
localizado na rua Julio de Castilhos, ou antiga rua da Ladeira. A Matriz é a
maior igreja do Município, foi inaugurada em 1779 em estilo barroco. A igreja
foi ricamente ornamentada, os altares tem detalhes em relevo, revestidos em
ouro palheta, com destaque para o altar-mor e o de Nossa Senhora das Dores.
Logo no acesso, à esquerda, está o túmulo do Barão do Triunfo, herói da
Guerra do Paraguai. Também uma estátua de Cristo articulada em tamanho
natural, conhecida como a imagem do Senhor Morto.
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6- Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário
Foto: Claudiana Y Castro
* A capela de o Francisco de Assis, pertencente à Ordem Terceira
dos Irmãos de o Francisco de Assis, está localizada à rua São Francisco. A
data da primeira missa é de 1812, quando se trasladou a imagem de São
Francisco das Chagas para o templo. A igreja reúne uma das mais ricas
coleções de arte sacra do Estado, contando com imagens que representam os
passos da paixão de Cristo, ou as sete imagens da Via Sacra. Ao lado da
igreja, encontra-se o museu de Arte Sacra, com exposições de diversas peças
e utensílios valiosos, como a Coroa do Imperador Divino, que era utilizada em
procissões pelo povo.
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7- Capela de São Francisco de Assis
Foto: Claudiana Y Castro
* Igreja Nosso Senhor dos Passos, pertencente desde a sua construção,
no século XIX, à Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos. Está localizada
na rua General Andrade Neves, foi inaugurada em 1815. Tem sete imagens da
Via Sacra e uma imagem de Nossa Senhora da Boa Morte, todas em tamanho
natural, que constituem o Museu de Arte Sacra da capela São Francisco.
8- Igreja Nosso Senhor dos Passos
Foto: Claudiana Y Castro
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*Capela de São Nicolau, situada à 5 km do centro da cidade no local
atualmente chamado Aldeia de São Nicolau. Foi construída no século XVIII
para dar assistência espiritual aos índios procedentes das Missões. Possui
interessante estatuária missioneira de feições sticas e primitivas dessa
época.
9-Capela de São Nicolau
Foto: Claudiana Y Castro
* O Solar do Almirante Alexandrino, neste sobrado de dois andares
nasceu e viveu o Almirante Alexandrino de Alencar, Ministro da Marinha e do
Supremo Tribunal, entre 1906 e 1922. O sobrado faz parte da arquitetura
colonial portuguesa, foi construído no final do século XIX, e ainda tem uma
senzala para escravos domésticos. Atualmente é sede do Museu Histórico
Barão de Santo Ângelo, nome em homenagem ao Barão de Santo Ângelo,
titulo de nobreza de Manoel de Araújo Porto Alegre, nascido em Rio Pardo em
1806. Possui um vasto acervo histórico e cultural, dotado de objetos que
reproduzem a memória de Rio Pardo e do Rio Grande do Sul.
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10- Solar do Almirante Alexandrino
(Museu Barão de Santo Ângelo)
Foto: Claudiana Y Castro
* O Colégio Militar, construção ligada aos confrades do Senhor dos
Passos. A pedra fundamental foi lançada em 1848. Originalmente a obra
destinava-se a ser uma casa de caridade ou hospital para a Comunidade. A
construção do prédio foi bastante demorada e por ocasião da segunda visita do
Imperador em 1865, foi dada uma destinação ao prédio como escola militar de
tática. Inicia assim uma longa tradição, pois pelo mesmo prédio continuariam
funcionando outras escolas militares até o inicio do século XX. Entre os
diversos oficiais formados destacam-se nomes como os de Generais Castelo
Branco, Costa e Silva, Eurico Gaspar Dutra, Getulio Vargas. Extinta a função
militar o prédio sediou por muito tempo ainda o colégio Nossa Senhora
Auxiliadora. Pela importância cultural e arquitetônica, a comunidade Rio
Pardense conseguiu restaurar o prédio para a instalação do Centro Regional
de Cultura de Rio Pardo.
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11-Colégio Militar ( Centro Regional de Cultura de Rio Pardo)
Foto: Claudiana Y Castro
* A antiga Casa da Câmara e Presídio, localizada na rua General
Andrade Neves, tem importância histórica no primeiro período de organização
administrativa do Rio Grande do Sul. O prédio da Câmara, a partir de 1811,
correspondia ao local de organização das funções judiciária e administrativa, e
também, de elaboração de posturas e leis para a vila de Rio Pardo e demais
localidades pertencentes ao seu território. Junto a câmara funcionava também
a cadeia, função que o prédio ainda exerce atualmente. Apesar de ser marcado
nitidamente pela influencia da arquitetura eclética, o prédio pertenceu
originalmente ao período da arquitetura colonial portuguesa. A antiga câmara
abriga hoje na parte da frente da casa, o Museu Zoológico de Rio Pardo.
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12- Antiga Casa da Câmara e Presídio
Foto: Claudiana Y Castro
* Solar Panatieri, esta localizado na rua Andrade Neves, esquina com a
rua da Ladeira. Foi construída no final do século XVIII e inicio do século XIX, é
típica da arquitetura colonial portuguesa. Este sobrado quando de propriedade
do Juiz Abílio Álvaro, recebeu em 1865 a visita de D. Pedro II, que esteve de
passagem por Rio Pardo para assistir a rendição das forças de Lopez durante
a Guerra do Paraguai. Atualmente abriga o Espaço Cultural Panatieri.
13- Espaço Cultural Panatieri
Foto: Claudiana Y Castro
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*O Prédio do antigo Hotel Brasil, esta localizado na rua General Andrade
Neves, foi construído no século XX, sendo que a partir de 1904, o prédio
abrigou a Prefeitura Municipal de Rio Pardo. Atualmente abriga a Secretaria
Municipal de Turismo e Biblioteca Municipal.
14- Antigo Hotel Brasil e Prefeitura Municipal
Foto: Claudiana Y Castro
* A sociedade do Clube Literário e Recreativo foi fundada em finais do
século XIX, nas dependências do Teatro Sete de Setembro em 1° de janeiro de
1886. Sendo utilizado, primeiramente, vários espaços de forma provisória, os
membros do clube lançaram-se a construção de um prédio próprio, que seria
inaugurado em 1909. A obra arquitetônica tem influencias do ecletismo.
103
15- Clube Literário e Recreativo
Foto: Claudiana Y Castro
* A Rua da Ladeira foi uma das primeiras a serem pavimentadas no
estado, com a data provável de seu calçamento tendo sido estimado em 1813.
Nesta época constituía uma importante via de comunicação da área portuária
de Rio Pardo com a rua principal, Santo Ângelo. Pela rua da ladeira passavam
as mercadorias trazidas do porto e que seguiriam, mais tarde para as
longínquas regiões de toda a fronteira do Rio Pardo. Sendo bastante íngreme
sua pavimentação facilitaria o trabalho de escoamento das águas pelo eixo
principal da rua. Na ladeira encontram-se ainda alguns frades, elementos de
forma cônica, utilizados para amarrar os cavalos. Pelo reconhecimento
histórico e importância de sua preservação foi tombada pelo Patrimônio
Artístico e Histórico Nacional em 1954.
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16- Rua da Ladeira
Foto: Claudiana Y Castro
* Ponte do Couto, foi construída em 1948 na estrada que atravessava a
várzea e arroio do Couto para facilitar a comunicação entre a cidade de Rio
Pardo e os distritos do Couto, Taquari e Santo Amaro. O distrito de Couto, que
no inicio da ocupação foi sede dos Dragões que vigiavam suas passagens
estratégicas, foi escolhido, posteriormente para local de colonização açoriana.
17- Ponte do Couto
Foto: Claudiana Y Castro
105
* Frederico Augusto Hanemann, considerado o pai da apicultura no país
trouxe as primeiras abelhas da Saxônia, na Alemanha. Hanemann se radicou
em Passo da Areia, Rio Pardo, onde construiu a Fazenda Abellina em 1868 e
desenvolveu a apicultura. Ele é responsável pela criação da centrífuga
extratora de mel, considerada a primeira do mundo. Hoje este importante sítio
recuperado de suas ruínas, transformou-se em um aprazível local de turismo
histórico, ecológico e rural. Na fazenda é produzida artesanalmente a cachaça
Abellina. Localiza-se a 7 Km da sede em direção ao Município de Cachoeira do
Sul.
18- Fazenda Abellina
Foto: Claudiana Y Castro
* A Semana Santa é um evento religioso que inclui a Encenação da
Paixão e Morte de Cristo e a Procissão da Sexta-Feira Santa. Este evento é
realizado no município mais de 150 anos. A encenação é uma atividade
realizada pelo população Rio Pardense há várias décadas. Como o nome já diz
a procissão acontece na Sexta-Feira Santa, considerado um evento histórico,
com caráter comunitário e religioso que relembra a Via Crucis- trajeto realizado
por Jesus Cristo carregando a cruz. Centenas de fiéis participam da
caminhada, relembrando o sofrimento de Jesus, acreditando que desta
106
maneira também estão pagando seus pecados.
19-Procissão de Sexta-Feira Santa
Foto: Claudiana Y Castro
20- Procissão de Sexta-Feira Santa
Foto- Claudiana Y Castro
* Carnaval de Rua de Rio Pardo é conhecido como um dos melhores da
região, com seus blocos de carnaval anima toda a comunidade Rio Pardense.
107
21- Carnaval de Rua
Foto: Claudiana Y Castro
* Os sonhos portugueses fazem parte do patrimônio cultural imaterial
de Rio Pardo. Em 2001, foi criada a primeira edição da Feira dos Sonhos de
Inverno no município de Rio Pardo, buscando a revitalização do patrimônio que
foi herdado dos portugueses.
22- Sonhos Portugueses
Foto: Claudiana Y Castro
108
23- Feira dos Sonhos de Inverno de Rio Pardo, 2005
Foto: Claudiana Y Castro
* A Festa Portuguesa aconteceu no município de Rio Pardo, durante o 5ª
Feira dos Sonhos de Inverno, nos dias 5, 6 e 7 de agosto de 2005. Evento que
tem como objetivo revitalizar a cultura portuguesa, ou seja, os costumes, a
gastronomia, o modo de vestir e a música de Rio Pardo para os Rio
Pardenses.A determinação, a coragem, o pioneirismo dos antepassados
portugueses deixaram de ser características admiradas e contadas apenas
como história, foram revitalizadas e vivenciadas.
109
24- Festa Portuguesa de Rio Pardo, 2005.
Foto: Claudiana Y Castro
* Formada pelo encontro dos Rio Pardo e Jacuí, o local é dotado de
excelente infra-estrutura, bares, camping e barco de passeio, é o local onde
acontece a Festa do Peixe.
25- Praia dos Ingazeiros
Foto: Claudiana Y Castro
* Dotado de excelente infra-estrutura, com camping,bares, salão de
festas e restaurante, além das casas flutuantes de veraneio. Excelente local
110
para descanso com a família.
26- Balneário Porto Ferreira
Foto: Claudiana Y Castro
111
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Um sonho sonhado sozinho é, apenas um sonho.
Um sonho sonhado junto é realidade”.
Raul Seixas
A oportunidade de cursar o Programa de Mestrado em Turismo da
Universidade de Caxias do Sul, permitiu à autora a realização deste trabalho
acadêmico que proporcionou novos conhecimentos sobre o Município de Rio
Pardo e seu patrimônio histórico-cultural, uma vez que as experiências
anteriores remetiam à percepção de visitante da cidade. O processo de
desenvolvimento da pesquisa teórica, as entrevistas durante a pesquisa de
campo, a sistematização das informações e a organização do trabalho como
um todo, permitiram a compreensão da cidade de Rio Pardo e a importância do
processo de valorização do patrimônio cultural. A metodologia utilizada
proporcionou à pesquisadora vivenciar o cotidiano da cidade, o que
particularmente contribuiu muito para a conclusão desta pesquisa.
No estudo das Representações Sociais dos sujeitos sobre o patrimônio
histórico-cultural do Município de Rio Pardo, adotou-se a abordagem da
psicologia social, pois a mesma envolve aspectos de natureza cognitiva, afetiva
e social. No que tange à pesquisa, esta teoria serviu de aporte para o
conhecimento dos significados, da relação e das práticas da comunidade com
respeito ao patrimônio histórico-cultural. Trata-se de uma teoria que permite
aceder ao conhecimento sobre o que as pessoas sabem, o que sentem em
relação a este patrimônio, pois um modo de conceber as Representações
Sociais consiste em entendê-las como a expressão do que pensa ou acha
determinada população. Este pensar, por sua vez, pode se manifestar, dentre
outros modos, através de um conjunto de discursos verbais emitidos por
pessoas desta comunidade. Em outras palavras, conhecer as Representações
112
Sociais consiste em entender os sujeitos entrevistados em Rio Pardo, no seu
cotidiano. Conforme a teoria das Representações Sociais, um discurso está
ancorado, quando é possível encontrar nele traços lingüísticos explícitos de
teorias, hipóteses, conceitos, ideologias, existentes na sociedade e na cultura e
que estes estejam internalizados no indivíduo. Este tema é sobremaneira
complexo, porque parte das representações culturais das cidades, que passam
a fazer parte muitas vezes de escolhas e preferências de agências e órgãos
oficiais de cultura e turismo e nem sempre estão ancoradas em pesquisas e
estudos sobre a história e a cultura destes lugarejos. Imagens e
representações são forjadas, criando estereótipos e valores que por vezes
mitificam determinadas categorias, e por outras excluem passados, memórias e
saberes.
Buscando responder ao questionamento proposto para a pesquisa,
verifica-se que os elementos que constituem as Representações Sociais dos
sujeitos entrevistados sobre o patrimônio histórico-cultural estão ligados à
história do município, ou seja, aos fatos históricos, aos prédios, às primeiras
ruas, às igrejas, ao prédio da antiga intendência, à cultura imaterial presente
até a atualidade. Salienta-se também que as Representações Sociais dos
sujeitos entrevistados, estão relacionadas com o que o poder público divulga
na folheteria turística. Isso comprova a teoria de Moscovici, de que as
representações sociais são construídas pela mídia, neste caso, o folder
turístico que é uma dia impressa, que circula no espaço público. Ou seja, o
sujeito constrói, reproduz e manifesta Representações Sociais no espaço
público que ao mesmo tempo é social e valoriza a individualidade de cada um.
Assim, as normas, regras e concepções da sociedade vão sendo
internalizadas pelo sujeito. Moscovici (1978), dentre outros teóricos, destaca
que o homem não absorve os conteúdos tais quais lhe são repassados. Ao
contrário, segundo ele, os sujeitos os reformulam quando com eles se
deparam. Essa reformulação ocorre principalmente devido ao fato de o
indivíduo ser ativo e não meramente passivo diante do mundo. Ele pode às
vezes simplesmente reproduzir os significados recebidos, mas em outras, a
apropriação que faz da realidade passa por um processo de reorganização dos
significados que lhes foram fornecidos. Com isso, pode-se verificar que os
113
sujeitos entrevistados internalizam as informações divulgadas como patrimônio
e produzem Representacões Sociais próprias de suas percepções.
Uma das funções das Representações Sociais, como visto na revisão
bibliográfica, é permitir compreender e explicar a realidade, trata-se de um
saber prático do senso comum, isto é, um conhecimento comum construído
socialmente, o que aproxima o entendimento de Moscovici e Jodelet sobre tal
conhecimento - o do senso comum.
O que primeiro se destaca é a semelhança das idéias que, predominam
nas Representações Sociais dos sujeitos entrevistados e na folheteria turística.
Este compartilhamento de idéias é reforçado por Moscovici (1978) e Jodelet
(1986).
É possível perceber que a folheteria turística apresenta o contexto
histórico pelo qual o município passou e que isto está representado nas falas
dos sujeitos entrevistados. Entretanto, também é possível verificar que existem
representações subjetivas a cada entrevistado, que elege como patrimônio
aquilo que mais marcou em sua vida.
Na fala dos entrevistados pode-se perceber o elo afetivo dos mesmos
com a cidade, a questão da história, o valor do antigo, dentre outras
possibilidades de significados. Os entrevistados salientam a importância do
patrimônio histórico-cultural para as suas vidas, pois fizeram, fazem e farão
parte da historia de vida de cada um dos cidadãos do Município de Rio Pardo.
De uma forma geral, as Representações Sociais dos sujeitos
entrevistados estão vinculadas às questões históricas e culturais, ligadas à
dinâmica de suas vidas pessoais, ou seja, aos prédios, aos eventos que
aconteceram e acontecem na cidade até hoje. Por mais que muitos elementos
do patrimônio estejam em mau estado de conservação os sujeitos
entrevistados sentem respeito e orgulho por este patrimônio pertencer a eles.
Especificamente, percebem-se algumas coincidências entre as
Representações Sociais dos sujeitos e a folheteria turística, destacando-se a
religiosidade, que é um elemento que se apresenta no folder turístico através
das igrejas e também do evento Semana Santa de Rio Pardo. Os entrevistados
representam estes elementos como patrimônio, visto que os cidadãos fazem o
sinal da cruz quando estão passando pela frente de alguma igreja do
município, o que foi observado durante a pesquisa de campo. Os residentes
114
freqüentam os eventos relacionados à igreja, bem como as celebrações
religiosas realizadas nos domingos pela manhã, o que comprova a importância
da religião como patrimônio cultural.
O Solar do Almirante Alexandrino, que é hoje o Museu Barão de Santo
Ângelo, é representado pelos entrevistados como um elemento muito
significativo do patrimônio histórico-cultural, pois este prédio serviu de escola à
comunidade e hoje guarda relíquias históricas do Município, que os
entrevistados consideram importantes para a continuidade cultural.
A Escola Militar é outro elemento que é representativo do patrimônio
histórico-cultural dos entrevistados. Este espaço tem um valor imensurável
para os mesmos, sendo que no ano de 1991, foi fundada a União dos Ex-
Alunos e Amigos do Auxiliadora (UNEAMA), buscando a revitalização da
Escola para fins culturais. Hoje, a escola é denominada, Centro Regional de
Cultura, abrigando cursos e exposições de artes plásticas locais e regionais,
biblioteca, entre outras atividades que são desenvolvidas neste espaço.
Pode-se constatar que alguns entrevistados expressam a importância da
Rua da Ladeira, que serviu durante muitos anos como via para o fluxo de
mercadorias, sendo salientada a sua importância na época para o escoamento
da produção.
Grande importância também é dada ao Forte Jesus Maria José como um
símbolo da formação do município. Os entrevistados ressaltam o papel do forte
no inicio da cidade de Rio Pardo. Outro elemento que é representado pela sua
importância na história é o Solar Panatieri, propriedade particular que
hospedou D. Pedro II em visita a Rio Pardo. Uma das entrevistadas que é a
proprietária do prédio, ressalta a importância do lugar como patrimônio cultural
à atual e às futuras gerações.
O prédio que hoje abriga a Secretaria de Turismo foi primeiramente um
hotel, e em um segundo momento, abrigou a prefeitura municipal. A maioria
dos entrevistados representa-o como patrimônio cultural devido a sua
importância política e administrativa no cotidiano da cidade.
Com relação aos eventos que se referem à cultura, a Festa dos Sonhos,
é ancorada pelos entrevistados como uma opção de revitalizar e manter vivo o
115
patrimônio, bem como gerar renda à comunidade através do turismo cultural.
Já a Festa Portuguesa, é um evento criado em 2005, pelo poder público, com o
objetivo de resgatar todo o legado dos portugueses e açorianos que
colonizaram o município. Os entrevistados ressaltam a importância do mesmo
no que diz respeito à revitalização das manifestações culturais no município.
Conforme observação realizada durante a Festa, pode-se comprovar a
dedicação dos Rio Pardenses. A comunidade se mobilizou e decorou as
vitrines das lojas comerciais, a parte externa das residências e ainda participou
do evento com roupas típicas portuguesas.
Podem-se destacar algumas Representações Sociais que não
aparecem na folheteria turística, mas sim nas falas dos sujeitos
entrevistados. Para aqueles que participaram do estudo, o patrimônio
imaterial é um elemento forte que existe na comunidade de Rio Pardo e que
não é valorizado pela folheteria turística. Pode ser citado como exemplo, o
oficio das senhoras doceiras que fabricam compotas e doces, da mesma
forma como as suas mães faziam antigamente.
Durante a entrevista feita com um casal, verificou-se que as
representações dos mesmos não coincidiam com o que o vizinho
representava, sobre o patrimônio. Surge a dimensão do conflito onde
cidadãos da mesma comunidade com edifícios, prédios, casas e residências
históricas não compartem da mesma Representação Social sobre o que seja
importante valorizar e preservar. Esta informação é relatada neste momento
com o objetivo de salientar que apesar do discurso do poder público
enfatizar que o legado português e importante para os Rio Pardenses, os
mesmos não se sente parte disso, desconsiderando a importância de
preservação de seus patrimônios.
Observa-se que nas falas dos entrevistados a Representação Social
desse patrimônio está presente na gastronomia, nos saberes e fazeres, nas
crenças, que eles consideram como um patrimônio simbólico, herdado dos
colonizadores. Vale destacar a gastronomia que está sendo valorizada pela
atual gestão com a realização da Festa Portuguesa. Na folheteria turística não
se encontrou nenhuma indicação da gastronomia como patrimônio cultural.
O artesanato é outro elemento representado como patrimônio cultural
116
pelos entrevistados, mas que não está presente na folheteria turística. De
acordo com os entrevistados o artesanato é uma herança dos colonizadores do
Município, eles utilizavam a palha de trigo para fazer utensílios e brinquedos,
como bonecas para as crianças.
Observa-se que existem alguns elementos da folheteria turística que não
aparecem nas Representações Sociais dos sujeitos. Na análise dos folhetos
pode-se destacar a Ponte do Couto, que é um atrativo turístico. No entanto,
não e representado pelos entrevistados como sendo patrimônio histórico-
cultural. O Carnaval de Rua, destacado pelo poder público como um dos
melhores da região, não aparece nas Representações Sociais dos
entrevistados como patrimônio cultural. Este elemento até é citado por um dos
entrevistados mas não é ancorado como patrimônio.
O balneário Porto Ferreira, apesar de muitos cidadãos terem casa neste
local, não é representado como patrimônio. Ao mesmo tempo, a praia dos
Ingazeiros, que é um atrativo natural divulgado como patrimônio natural de Rio
Pardo não se efetiva nas representações dos entrevistados.
A sede da Fazenda Abellina, é um elemento divulgado pelo poder
público como patrimônio, porém em nenhum momento foi relacionado como
patrimônio histórico-cultural pelos sujeitos entrevistados, por ser uma
propriedade particular.
A Casa da Câmara e Presídio, o Clube Literário e Recreativo são outros
dois elementos considerados como patrimônio pelo poder blico, porém não
foram representados pelos entrevistados como patrimônio histórico-cultural.
A partir disso, observa-se que o discurso do poder público sobre o que é
patrimônio histórico-cultural do Município de Rio Pardo, está sendo aceito em
parte pelos entrevistados. Ou seja, alguns elementos que são apresentados
pelo poder público como patrimônio cultural, não são assim reconhecidos pelos
entrevistados, enquanto que outros são representados pelos entrevistados e
não são apresentados pelo poder público.
Outrossim, verifica-se que nos últimos anos os governos municipais
estão desenvolvendo ações fundamentais de valorização e preservação do
patrimônio, e isso está sendo interiorizado pelos cidadãos. O processo da vida
117
é dialético e contraditório quando não compreendido nas dimensões e
complexidades do sistema. Observa-se um processo dialético, onde o próprio
cotidiano influencia na construção das Representações Sociais dos sujeitos
entrevistados no Município de Rio Pardo.
Os sujeitos entrevistados apropriam-se dos elementos divulgados como
patrimônio pelo poder público e interiorizam o discurso gerando as
Representações Sociais enquanto residentes do município.
É importante salientar também, que ao longo deste trabalho
perceberam-se as diversas iniciativas e manifestações da população local
acerca da preservação e valorização do patrimônio cultural através do turismo,
o que se revela como um fator importante para o planejamento participativo e
elemento fundamental para a permanência dos valores históricos e culturais no
Município de Rio Pardo.
O patrimônio histórico-cultural é uma opção que, para parte dos
entrevistados representa um atrativo para o turismo cultural, sendo que, as
pessoas que compartilham dessa visão, entendem a importância da
valorização e preservação desse patrimônio. outra parte dos entrevistados
não vê o patrimônio como legado e como atrativo turístico.
A partir das informações colhidas pode-se concluir que as
Representações Sociais sobre o patrimônio histórico-cultural, são construídas
tendo o discurso do poder público como pano de fundo. As Representações
Sociais ajudam a decodificar a vida cotidiana, tornando possível atribuir a toda
figura um sentido e a todo sentido uma figura. Assim, pode-se concluir que é o
processo de representação que permite a comunicação entre os indivíduos de
um grupo social, é a visão, idéias e imagens dos sujeitos sobre a realidade que
os cerca, às quais estão vinculadas as suas práticas sociais.
O apelo ao desenvolvimento do município através da atividade turística,
com o objetivo de gerar renda à comunidade é aceito pelos sujeitos
entrevistados, que no Turismo, a alternativa viável para o desenvolvimento
da cidade e preservação dos bens históricos. Com as entrevistas realizadas
observa-se o apego dos sujeitos ao patrimônio, mas mais evidente ainda, a
busca da geração de renda através da atividade turística. Isso se percebe
118
também pelo discurso do poder público, que salienta a importância do turismo
como uma atividade que pode desenvolver o município e melhorar a qualidade
de vida da população.
119
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Cultural. São Paulo em Perspectiva. São Paulo, 2001.
127
SANTOS, J. L. O que é cultura. 14 Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
SÁNCHEZ DEL BARRIO, A .Arquitectura popular. Construcciones secun-
darias. Valladolid, Castilla, 1995.
SOUZA, S.S. Comerciantes em Rio Pardo-RS: atuações comerciais e
relações sociais (1800-1835). Porto Alegre, Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas- PUC/RS, 1998. ( Dissertaçåo Mestrado em História do Brasil).
SCHNEIDER, L. C. Rio Pardo: Evolução Urbana e Patrimônio Arquitetônico-
Urbanístico, Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2005.
SCHIAVO, C & ZETTEL, J (Coord.). Memória, Cidade e Cultura. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 1997.
SPINK, J. M. Desvendando as teorias implícitas: uma metodologia de análise
das representações sociais. In: GUARESCHI, P., JOVCHELOVITCH, S. (org.)
Textos em Representações Sociais. Petrópolis:Vozes, 1995.
THOMPSON, P. A voz do passado: história oral/ Paul Thompson, tradução
Lólio Lourenço de Oliveira, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
TOLEDO, S.F, A questão do patrimônio cultural. Disponível em
http://www.valedoparaiba.com, acesso em 20 de outubro de 2005.
TUAN, Yi Fu. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio
ambiente. São Paulo: Difel, 1980.
UNESCO. Operational Guidelines for the Implementation of the World Her-
itage Convention. Disponível em: <http://www.unesco.org >. Acesso em: 7
maio de 2005.
128
VOLDMAN, D. Definições e usos, (1992). In: FERREIRA, M.M. e AMADO, J.
(Orgs) Usos e abusos da história oral. Ed. FGV,1998.
WAGNER, W. Sócio-gênese e características das representações sociais. In:
MOREIRA, A. S. P; OLIVEIRA, D. C. (orgs). Estudos interdisciplinares de
representação social. 2. ed. Goiânia, GO: AB, 2000.
WARNIER, J.P. A Mundialização da Cultura. Trad. Luis Felipe Sarmento.
Lisboa: Notícias. 2000.
APÊNDICES
129
APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Prezado (a) Senhor (a)
Sou estudante do curso de Mestrado em Turismo da Universidade de
130
Caxias do Sul. Estou fazendo uma pesquisa sobre as representações sociais
dos moradores de Rio Pardo relacionado ao Patrimônio Histórico -
Cultural Gostaria de contar com a sua colaboração.
Dados de Identificação
1. Sexo
a) ( ) Masculino b) ( ) Feminino
2. Idade
____________________________
3.Profissão ou função
____________________________
4. Residente de Rio Pardo
____________________________
5- Qual a importância do patrimônio histórico- cultural de Rio Pardo para
você?
6-Você conhece estes elementos?
________________________________________________________________
7-Você sabe onde é?
_______________________________________________________________
8-Você já os visitou?
131
9-Quais as lembranças que você tem destes elementos?
______________________________________________________________
APÊNDICE B
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Está sendo realizada uma pesquisa intitulada “As Representações Sociais da
comunidade local de Rio Pardo sobre o patrimônio histórico-cultural e sua
relação com o Turismo”, com o objetivo de analisar as relações entre a
representação social da comunidade local de Rio Prado sobre o patrimônio
histórico-cultural e a folheteria turística. Para a realização desta pesquisa,
estão sendo realizadas entrevistas junto a residentes do centro de Rio Pardo.
O Projeto de Pesquisa é da acadêmica Claudiana Y Castro e a orientação é da
Profa. Dra. Margarita Barretto da Universidade de Caxias do Sul. A pesquisa
consta de uma entrevista com questões relacionadas as relações estabelecidas
entre a representação social dos moradores de Rio Pardo e a folheteria
132
turística.
Todas as informações resultantes da entrevista será de uso exclusivo para o
estudo de caso, sendo utilizadas com a única finalidade de fornecer elementos
para a realização da investigação para a dissertação do Mestrado em Turismo
da Universidade de Caxias do Sul, ou dos relatórios e artigos que dela
resultem. É garantido total sigilo, para o entrevistado. Em nenhum momento os
dados coletados serão utilizados para qualquer medida punitiva ou de
fiscalização.
Qualquer dúvida ou informação a respeito da pesquisa poderá ser esclarecida
diretamente com o Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Turismo, pelo
telefone (54) 3218-2100 ramal 2621, com Tiziana Fontanella e/ou pelo email
Declaro que, de acordo com as informações que me foram dadas, consinto que
o estudo seja realizado com o diretor da comissão.
Eu,______________________________________concordo em participar
voluntariamente desta pesquisa.
Rio Pardo , ___ de __________ de 2006.
Entrevistado:
________________________________________________________
Assinatura:
__________________________________________________________
Entrevistadora: Claudiana Y Castro
Assinatura:
__________________________________________________________
133
ANEXO
Anexo A
Carta de Rio Pardo
Documento resultante do 1º Fórum sobre o Patrimônio Arquitetônico de
Rio Pardo - Iniciativa Pública e Privada, envolvendo a temática da conser-
vação do patrimônio e desenvolvimento urbano em cidades de pequeno e
médio porte.
No dia 06 de outubro de 2003, durante o Primeiro Fórum do Patrimônio Arqui-
tetônico de Rio Pardo - RS, organizado pela Associação Comercial, Industrial e
de Serviços de Rio Pardo, da Agência de Desenvolvimento de Rio Pardo, da
134
Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, e contando com apoio da Federa-
ção e Centro das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul - FIERGS, da Pre-
feitura Municipal de Rio Pardo e do Conselho Municipal de Turismo, reuniram-
se representantes da iniciativa pública e privada considerando que:
- a necessidade incontestável de valorização das ações ligadas a conservação
patrimonial em cidades de pequeno e médio porte, sobretudo aquelas conside-
radas de extrema relevância pelos seus valores históricos, artísticos e culturais,
bem como a busca de sua efetiva integração com as estratégias de desenvolvi-
mento econômico, social e urbano conduz a busca de alternativas inovadoras e
a urgente necessidade de aprimoramento das discussões sobre a conservação
ambiental em âmbito público e privado;
- a existência de um amplo arcabouço legal internacional e nacional sobre a te-
mática da conservação e preservação patrimonial pressupõe a necessidade de
articular uma maior aproximação entre todos atores envolvidos na proteção do
acervo patrimonial incentivando-se a formação de parcerias na elaboração de
projetos relacionados ao tema e a busca de recursos humanos e financeiros;
Com base nessas considerações iniciais, este fórum aponta para as seguintes
recomendações e diretrizes gerais para municípios de pequeno e médio porte
da região:
existe a necessidade de atualização das leis municipais quanto à legislação
nacional e estadual pertinentes ao tema da conservação patrimonial bem como
a revisão e implementação de planos diretores em municípios de pequeno e
médio porte que ainda não o fizeram.
recomenda-se a criação de políticas públicas e incentivos a projetos que
envolvam a recuperação, conservação e desenvolvimento ambiental bem como
a inclusão deste tema nas definições de planos regionais;
a implementação de um sistema de planejamento municipal deve considerar a
necessidade de contratação ou assessoria permanente de técnicos
especializados no desenvolvimento ou aprovação de projetos relacionados à
conservação e restauro patrimonial;
existe a necessidade de realização de pesquisas e trabalhos científicos
fundamentais para embasar tomadas de decisão junto ao planejamento de
ações voltadas a conservação do patrimônio cultural e natural;
recomenda-se que sejam definidas em cada município diretrizes e estratégias
gerais integradas às ações que são empreendidas para conservação ambiental
e desenvolvimento, sugerindo-se portanto que seja realizado pelos municípios
de pequeno e dio porte da região um plano geral de atuação que considere
especificamente a temática “Patrimônio e Desenvolvimento”;
sugere-se que a necessidade de continuidade na discussão do tema deste
fórum tenha seu resguardo definido na criação ou consolidação de espaços
institucionais específicos como os conselhos municipais e comissões técnicas
abertas à participação popular;
recomenda-se também a criação de estratégias de resgate e valorização da
história e práticas culturais dos diferentes grupos sociais, incentivando-se uma
política pedagógica patrimonial e ambiental voltada sobretudo para o ensino
fundamental e médio bem como aos agentes privados e públicos da
135
comunidade local;
sugere-se a inclusão de disciplina específica em escolas públicas e privadas
da região com conteúdos pertinentes ao tema patrimônios e valores culturais,
históricos, artísticos, entre outros;
sugere-se também que as instituições públicas responsáveis pela
preservação patrimonial em âmbito nacional e estadual sejam consultadas
sobre todas ações previstas pelos municípios e que se constituam em
parcerias efetivas na assessoria técnica e implementação dos planos de
conservação patrimonial, contribuindo assim para o seu reconhecimento;
Encaminhamentos do Fórum considerando as especificidades do Pa-
trimônio da cidade de Rio Pardo:
como ponto de partida para iniciativas que digam respeito ao resgate e
valorização do patrimônio em cidades de pequeno e dio porte, sugere-se
que Rio Pardo, enquanto referência histórica e cultural para a região e o Rio
Grande do Sul, seja a primeira cidade a receber a elaboração de um plano de
conservação geral envolvendo parcerias em âmbito público nacional, estadual
e municipal bem como agentes privados e representantes da comunidade local.
Com o objetivo de atingir este fim, sugere-se ainda que seja constituído a partir
deste fórum um grupo de trabalho responsável pela proposição de diretrizes e
estratégias gerais voltadas à integração entre patrimônio e desenvolvimento
social, cultural e econômico.
Este Fórum, por intermédio da Carta, apoia o encaminhamento `a Assembléia
Legislativa do Projeto de Lei instituindo áreas históricas na cidade de Rio Pardo
bem como em outras regiões históricas do estado;
Fica definida a continuidade deste Fórum através da sua segunda edição a ser
organizado em outubro de 2004 em Rio Pardo e ampliando seu tema para Pa-
trimônio Cultural.
A articulação de um grupo de trabalho responsável pelos encaminhamentos e
definições de diretrizes gerais para conservação ambiental da cidade de Rio
Pardo é de responsabilidade dos organizadores desse evento. Nesse sentido
manifestaram-se como participantes a Promotoria Pública de Rio Pardo, a As-
sociação Comercial e Industrial de Rio Pardo, a Agência de Desenvolvimento
de Rio Pardo, a Prefeitura Municipal de Rio Pardo, a Universidade de Santa
Cruz do Sul - UNISC entre outras instituições e representações da comunidade
a serem convidadas a participar das reuniões de trabalho.
Rio Pardo, 06 de outubro de 2003.
ACI – Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Rio Pardo
Agência de Desenvolvimento de Rio Pardo
Universidade de Santa Cruz do Sul UNISC
Núcleo de Planejamento Urbano e Gestão Municipal
Curso de Arquitetura e Urbanismo.
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