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trecho, portanto:
Illud tamen in primis testandum est, nihil praecepta atque artes valere nisi adiuvante natura.
Quapropter ei cui deerit ingenium non magis haec scripta sint quam de agrorum cultu sterilibus
terris. Sunt et alia ingenita cuique adiumenta, vox, latus patiens laboris, valetudo, constantia, decor,
que si modica optigerun, possunt ratione ampliari, sed nonnumquam ita desunt ut bona etiam
ingenii studiique corrumpant: sicut haec ipsa sine doctore perito, studio pertinaci, scribendi legendi
dicendi multa et continua exercitatione per se nihil prosunt.
E o tema novamente é abordado pelo autor, no livro segundo, quando o mesmo faz
considerações sobre a maior importância do talento ou do ensino para a aprendizagem do orador. A
conclusão é simples, no sentido de que o talento
tem “vida própria” e pode contribuir sozinho para
a eloquência, ao contrário da aprendizagem
que, sem o talento, de nada vale; o ideal é associar o
talento com a aprendizagem. Com esse entendimento, Quintiliano deixa evidenciada a necessidade
de estudo, por um lado, e, por outro, a impossibilidade de ser a oratória ensinada a quem não tem
talento, ao menos no nível de perfeição preconizado na obra
.
A educação do orador envolveria, portanto, alguns pré-requisitos e não estaria disponível
como um sistema que transformaria todos em peritos na arte de se expressar.
PEREIRA
cita passagem de G. A. Kennedy (1962, p.132) em que referido autor menciona:
O único trabalho indubitavelmente genuíno de Quintiliano a chegar até nós é a Institutio oratoria, um
sistema de formação para o que chama orator do berço à aposentadoria, se não mesmo até o túmulo.
Ele reúne, assim, as disciplinas ensinadas pelo professor elementar e pelo retor de uma maneira
única entre as obras clássicas, embora aparentemente não original, uma vez que o Studiosus de Plínio
o Velho, de acordo com o sobrinho deste (Ep. III, 5), oratorem ab incunabulis instituit et perfecit, e a
tradição sem dúvida remonta aos professores da época helenística como Mólon, que tratou tanto da
gramática quanto da retórica, e em última instância aos sofistas.
PEREIRA continua caracterizando a obra de Quintiliano e afirma:
No entanto, como lembra igualmente Cousin (1975: XC), uma melhor e mais verdadeira
“
Contudo, isto deve ser esclarecido desde logo: de nada valem princípios e técnicas sem a natureza propensa. É que para aquele a quem falta o
talento, estes escritos não serão mais que o cultivo dos campos em terras inférteis. Existem outras capacidades inatas, voz, lado paciente de
trabalho, boa saúde, elegência e charme, que se existirem em quantidade módica, podem ser ampliados pela prática, mas algumas vezes, de tal
maneira faltam estudo e talento que também as boas qualidades se corrompe; no mesmo sentido, estas qualidades, sem um professor perito, sem
estudo permanente, sem muito escrever, ler e praticar, por contínua prática, por si só, a lugar nenhum chegam.”
A palavra utilizada pelo autor é natura.
Quintiliano usa o vocábulo doctrina.
É interessante registrar, ademais, que consideramos que a preocupação de Quintiliano com a existência do talento impede a banalização de sua obra,
por afastar a hipótese de se considerar a mesma como um manual de “auto-ajuda” para o futuro orador, já que o talento é apontado como essencial.
Não nos parece, contudo, que Quintiliano considere que quem não tenha o talento natural esteja impedido de estudar e desenvolver a arte oratória.
PEREIRA, Marcos Aurelio. Quintiliano Gramático: o papel do mestre de Gramática na Institutio Oratoria. São Paulo: Humanitas, 2000. p.26-27.