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No ensino brasileiro, a manifestação desse componente cultural da
competitividade mostra-se com toda sua força na valorização do
“credencialismo” acima dos próprios objetivos educativos da escola. É
muito marcante, na população de modo geral, a importância conferida
às notas escolares, aos diplomas e às promoções de série ou de grau.
Do diálogo-padrão de um pai ou mãe com seus filhos estudantes a
respeito de seu desempenho escolar, pode-se facilmente depreender
que as crianças e jovens vão à escola não para aprender, mas para
passar de ano, já que a preocupação do adulto é quase sempre com a
nota e com a promoção e não com o aprendizado e com a formação
da personalidade por meio da educação. A nota boa e a promoção
funcionam, assim, de modo bastante significativo, como o
reconhecimento do mérito do estudante, produto de seu esforço, na
competição pela vida. Mas a ideologia do mérito e da competição está
presente na própria escola. Contra ela Lauro de Oliveira Lima já disse
que “o sistema de verificação que consiste em comparar os alunos
entre si não só é profundamente injusto (dadas as diferenças
individuais), como provoca hostilidade e desavenças, quebrando a
desejável solidariedade que deve ser cultivada na juventude.” (lima,
1962, p. 330-331) Disse também que “os alunos devem ser educados
para a solidariedade e o trabalho em equipe característico das novas
tendências da civilização, e não para a desenfreada competição
característica de um liberalismo obsoleto e injusto”. (PARO, 2001, p.
78-79 apud LIMA, 1962, p. 331-332)
Vejamos, por fim, o pensamento dos nossos professores entrevistados a
respeito do ciclo de formação humana. A professora Flávia pensa da seguinte
maneira: “olha, a proposta do ciclo é muito boa, eu acho que ela é mal
interpretada, eu acredito que eu sou fruto da escola tradicional, estudei em
escolas públicas tradicionais e eu acho que tinha coisas que davam certo e não
é simplesmente tirar totalmente um sistema e implementar outro. Eu acho que a
gente tem que pegar o que deu certo em um e vir com outro, fazer uma coisa
híbrida mesmo, pegar o que deu certo no tradicional e trazer para o ciclo e
renovar mesmo, e eu vejo, por exemplo, o ciclo hoje é a bola da vez, todo
mundo diz que o ciclo é lindo e maravilhoso, o projeto do ciclo é muito bonito,
mas existe pouco investimento no ciclo, por exemplo escola de tempo integral
não tem em Betim, então se o aluno tem um tempo maior para aprender e se a
gente tá levando em consideração as individualidades, o aluno enquanto
indivíduo que tem seu tempo diferente do outro, então cadê esse outro tempo
que ele precisa para se desenvolver que não tem. Então me remete a outra
coisa, se o aluno não tem um tempo a mais na escola para suprir esse tempo
maior que ele precisa, então ele precisa ficar na escola mais um ano, mais dois
anos, então o ciclo dá várias interpretações nesse sentido. Eu acho que falta
investimento no ciclo para dar certo”.