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PUCRS
FACULDADE DE BIOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS - ZOOLOGIA
A toninha, Pontoporia blainvillei (Mammalia: Cetacea), no litoral norte do Rio
Grande do Sul: mortalidade acidental em redes de pesca, abundância
populacional e perspectivas para a conservação da espécie.
Autor: Daniel Danilewicz Schiavon
TESE DE DOUTORADO
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
Av. Ipiranga 6681 - Caixa Postal 1429
Fone: (051) 320-3500 - Fax: (051 339-1564
CEP 90619-900 Porto Alegre - RS
Brasil
2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE BIOCNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS - ZOOLOGIA
A toninha, Pontoporia blainvillei (Mammalia: Cetacea), no litoral norte do Rio
Grande do Sul: mortalidade acidental em redes de pesca, abundância
populacional e perspectivas para a conservação da espécie.
Autor: Daniel Danilewicz Schiavon
Orientador: Dr. Nelson Ferreira Fontoura
TESE DE DOUTORADO
PORTO ALEGRE - RS - BRASIL
2007
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1
SUMÁRIO
Resumo ........................................................................................................................................ 2
Abstract ........................................................................................................................................ 3
Apresentação ............................................................................................................................... 4
Artigo 1. Mortalidade acidental de toninha, Pontoporia blainvillei, pela pesca costeira comercial
do litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil................................................................................ 5
Artigo 2. A new abundance estimate for a threatened population of franciscana dolphins in
southern Brazil: uncertainties and conservation considerations.................................................. 45
Artigo 3. Manejando os comuns e conservando os golfinhos - perspectivas e recomendações
para a problemática das capturas acidentais de toninha no sul do Brasil................................... 64
Apêndice 1. Descrição da pesca costeira de média escala no litoral norte do Rio Grande do Sul:
comunidades pesqueiras de Tramandaí/Imbé e Torres/Passo de Torres................................... 84
2
Resumo
A toninha, Pontoporia blainvillei, é a espécie de pequeno cetáceo mais ameaçada na América do
Sul, devido às capturas acidentais em redes de pesca em toda sua distribuição geográfica. Na costa
do Brasil, a região onde a espécie sofre os mais altos níveis de mortalidade acidental é o Rio
Grande do Sul. A presente tese apresenta os resultados de três trabalhos distintos relacionados a
aspectos populacionais e da conservação da espécie: um estudo sobre a mortalidade causada pelas
capturas acidentais em redes de pesca, uma estimativa de abundância populacional, e um ensaio
crítico sobre perspectivas de conservação, recomendações de políticas públicas e medidas de
manejo para a pesca. Com os objetivos de apresentar estimativas de mortalidade atualizadas,
identificar épocas do ano, tipos e tamanho de rede de pesca e faixas de profundidades com maior
risco de captura, foi realizado entre 2002 e 2004, no litoral norte do Rio Grande do Sul, um estudo
sobre as interações da pesca e a toninha. As comunidades de pesca de Torres e Tramandaí foram
monitoradas durante 350 dias para seleção das embarcações colaboradoras, condução de
entrevistas com pescadores e distribuição dos cadernos de bordo e embarques acompanhando as
operações de pesca. No total, foram coletados dados relativos a 823 operações de pesca realizadas
pelas treze embarcações monitoradas. Foram registradas as capturas acidentais de 99 toninhas em
74 eventos de captura. A mortalidade anual de toninhas foi extrapolada para as 31 embarcações da
pesca comercial costeira que atuam em Torres e Tramandaí, resultando em duas estimativas,
dependendo do índice empregado: 429 animais (IC 95%: 168 – 853) utilizando CPUE e 353
toninhas (IC 95%: 171 629) utilizando taxa de captura. Os resultados desse trabalho não apontam
soluções rápidas e fáceis para a mitigação das capturas acidentais da toninha através de restrições
de áreas, artes e épocas de pesca. As capturas acidentais de toninhas ocorreram em profundidades
variando de 9 a 40 m, havendo uma leve propensão das capturas diminuírem à medida que a
profundidade aumenta. Não foram detectadas diferenças significativas entre as redes de corvina e
brota/pescada, as duas redes de espera mais empregadas na região. O inverno é a estação do ano
com maior mortalidade relativa de toninhas. Apesar do notável aumento no esforço de pesca nos
últimos 15 anos, as taxas de capturas de toninhas se mantiveram praticamente inalteradas,
reforçando que a população de toninhas do Rio Grande do Sul está declinando em tamanho. A
estimativa da abundância para espécie tem sido sistematicamente recomendada como uma alta
prioridade de pesquisa para a espécie. Os resultados de um segundo levantamento aéreo realizado
em março de 2004 no Rio Grande do Sul é apresentado. Transectos lineares com padrão de zig-zag
foram seguidos desde a linha da costa até uma distância média de 24 km em direção à mar aberto.
A área total monitorada compreendeu 13.341 km
2
. Abundância foi estimada utilizando o programa
Distance sampling assumindo g
0
= 0.304. Durante 48 transectos e um esforço total de 1256.8 km,
foram registradas 31 toninhas em 25 grupos. A densidade corrigida é 0.51/toninhas/km
2
, resultando
em uma estimativa de abundância de 6.839 toninhas (95% CI = 3,709-12,594) para a área coberta.
A taxa de encontro para grupos de toninha é de 0.02 grupos por cada km sobrevoado. A estimativa
de abundância apresentada aqui é restrita apenas para a área monitorada e extrapolações para a
distribuição restante da espécie são fortemente desaconselhadas. Embora estudos de abundância
de toninha tenham mostrado progressos recentes, ainda muitos pontos a ser melhorados. Os
aspectos críticos são: (a) um valor de erro de percepção deve ser estimado; (b) os parâmetros
influenciando o erro de disponibilidade devem ser melhorados; (c) tamanho amostral deve ser
aumentado. O atual grau de conhecimento sobre a toninha e suas ameaças tem direcionado a
pergunta de quando terá início alguma ação concreta para a conservação da espécie? No entanto, a
questão mais importante agora não é quando, mas sim como o manejo deve ser implementado. Em
minha opinião, o problema das capturas acidentais da toninha requer um modelo de manejo
adaptativo caracterizado por um monitoramento contínuo dos indicadores que aferem o progresso
das medidas propostas. Quatro proposições de manejo para a pesca que exerce impacto sobre as
populações de toninha são comentadas criticamente: o uso de alarmes acústicos em redes, a
criação de áreas marinhas protegidas, a redução do esforço de pesca, a modificação das redes de
pesca. As seguintes recomendações relativas à implementação de medidas de manejo são
propostas e discutidas: (1) ações de manejo não devem ser vistas como uma solução final; (2) o
sucesso das ações de manejo devem ser monitoradas a longo prazo; (3) ações de manejo não
devem ser inviáveis logisticamente para fiscalização; (4) ações de manejo devem contar com ampla
disseminação de informação; (5) ações de manejo devem contar com a concordância e participação
de parte das comunidades de pesca envolvidas; (6) ações de manejo devem ter uma abrangência
nacional; (7) o impacto econômico das medidas de manejo deve ser previamente estudado; (8)
ações de manejo devem ser acompanhadas de pesquisa.
3
Abstract
The franciscana dolphin, Pontoporia blainvillei (Mammalia: Cetacea), in the northern
coast of Rio Grande do Sul: bycatches in commercial gillnets, abundance estimation,
and perspectives for the species conservation
.
Bycatch in demersal coastal gillnets is the main conservation problem faced by the franciscana,
Pontoporia blainvillei. The highest rates of mortality for this species in Brazil are found on Rio Grande
do Sul’s coast area. This thesis presents the results of three different research works related to the
conservation and population biology of franciscanas in Rio Grande do Sul: a study on the bycatch
mortality, an abundance estimation, and a critical essay on the conservation perspectives fo the
species. Between January 2002 and December 2004, the fisheries communities of Torres and
Tramandaí were visited during 350 days in order to obtain data about the fishery, to select the fishery
vessels that could collaborate with the project, to interview the fishermen and to distribute logbooks
to the vessels´ masters. In addition, 33 onboard observations were carried out to obtain direct
information on the fishery-franciscana interactions. Data from 823 fishery operations and thirteen
fishery vessels were collected. During this study, the bycatch of 99 franciscanas in 74 fishery
operations were recorded. The annual mortality estimate extrapolated for 31 fishery vessels that
operate in Torres and Tramandaí, utilizing CPUE in the calculations, is 429 animals (CI 95%: 168
853). When the mortality rate is utilized in the calculations, the annual estimate is 353 animals (CI
95%: 171 629). The estimates presented here confirm the high rates of bycatch faced by the
species in Rio Grande do Sul, with very similar estimates with those presented for the 1992-97
period in the same region. The results of this paper do not point out fast and easy solutions for the
fishery-franciscana problematic in Rio Grande do Sul, thought the restrictions of areas, seasons or
fishery gear. Franciscana bycatch occurs in water depths varying from nine to 40 meters, with a
slight decrease in the catches as the water depth increases. Demersal gillnets present higher
bycatch rates than surface gillnets. Nevertheless, it was not detected statistical differences in the
franciscana catchability between the gillnet set for croakers and the one set for weakfishes and hake,
the two kinds of nets more employed in Rio Grande do Sul. Two peaks were noticed in total mortality
estimates: one in winter and another in summer. Nevertheless, regarding the relative mortality, the
winter is the season presenting the highest mortality estimates. In spite of the remarkable increase in
the fishery effort in the last 15 years in Rio Grande do Sul (e.g. about 500% in nets length), the
franciscana mortality rates remained almost unaltered, corroborating that the population that inhabits
this region is declining in size. The estimation of the species abundance has been systematically
recommended as a highest research priority. The results of the second aerial survey carried out in
March 2004 for franciscana abundance in Rio Grande do Sul, southern Brazil, are presented. Line-
transect with a zigzag pattern were followed between the shoreline and a mean distance of 24 km
offshore. The overall surveyed area comprised 13.341 km
2
. Abundance was estimated using
Distance sampling assuming g
0
= 0.304. During the 48 transects and a total effort of 1256,8 km, 31
franciscanas were observed in 25 groups. The corrected density is 0.51 franciscanas/km
2
, resulting
in an abundance estimation of 6,839 franciscanas (CV = 32%; 95% CI = 3,709-12,594) for the
surveyed area in Rio Grande do Sul. The encounter rate for franciscana groups was 0.020 groups for
each km surveyed. The abundance estimate presented is restricted only to the area covered in the
survey and extrapolation for the whole species distribution range is not recommended. Although
franciscana abundance studies have been showing recent progresses, there is still much room for
improvement. The critical points to be improved are: (a) a perception bias value should be firstly
estimated; (b) the parameters influencing availability bias should be improved; (c) sample size should
be increased. While the lack of factors to correct for perception bias and group size underestimation
in aerial surveys leads to an underestimation of franciscana abundance, the use of surfacing and
diving time data from boat and land-based surveys to correct for availability bias is likely to cause its
overestimation. Since the magnitude of both errors is unknown, it should not be assumed that one
error balance the other. The present knowledge on the the franciscana and its threats frequently
raises the following question: when management action on the fishery should take place. However,
the pertinent question now in not when, but how management actions should be implemented.
In my
view, the franciscana bycatch problem requires an adaptive management model characterized
by a program of continual monitoring of indicators that measure progress toward goals. Four
management propositions
for the fishery that affect the franciscana are critically comented: the use
of acoustic alarms, the criation of marine protected areas, the restriction of fishery effort and the
modification of fishery gear.
4
Apresentação
Nesta tese de doutorado, são apresentadas pesquisas científicas conduzidas entre 2002 e
2004 no litoral norte do Rio Grande do Sul sobre aspectos da conservação e biologia
populacional da toninha, Pontoporia blainvillei. Os resultados são apresentados em três frentes
distintas, em formato de artigos científicos. O primeiro artigo intitula-se “Mortalidade acidental
de toninha, Pontoporia blainvillei, pela pesca costeira comercial do litoral norte do Rio Grande
do Sul, Brasil” e aborda justamente o principal problema de conservação da espécie em uma
área com altos níveis de mortalidade. O artigo encontra-se escrito em português e está
formatado de acordo com as regras de submissão do periódico Iheringia. O segundo artigo, A
new abundance estimate for a threatened population of franciscana dolphins in southern Brazil:
uncertainties and conservation considerations”, apresenta um trabalho de estimativa de
abundância para a espécie, o segundo realizado no Brasil. O artigo encontra-se escrito em
inglês e está formatado de acordo com as regras de submissão do periódico Conservation
Biology. O terceiro documento, “Manejando os comuns e conservando os golfinhos -
perspectivas e recomendações para a problemática das capturas acidentais de toninha no sul
do Brasil”, é a junção de um ensaio não publicado (as seis páginas iniciais) com um capítulo de
livro sobre a toninha, atualmente no prelo. O capítulo está sendo publicado no livro “Espécies
da fauna ameaçadas de extinção - recomendações para o manejo e políticas públicas, Volume
1” pelo Ministério do Meio Ambiente, e está formatado de acordo com as regras de submissão
do periódico Iheringia. Finalizando a tese, pode ser encontrado o apêndice “Descrição da
pesca costeira de média escala no litoral norte do Rio Grande do Sul: comunidades pesqueiras
de Tramandaí/Imbé e Torres/Passo de Torres”. Apesar de estar localizado no final deste
trabalho, recomendo que esse seja o primeiro documento a ser lido, especialmente pelo leitor
não familiarizado com a pesca, suas terminologias, métodos e dinâmica. As informações
presentes nesse apêndice certamente deixarão mais claros muitos aspectos da pesca citados
e discutidos no primeiro e terceiro artigo dessa tese.
5
Mortalidade acidental de toninha,
Pontoporia blainvillei
(Mammalia, Cetacea), associada à pesca
costeira no litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil.
Daniel Danilewicz
1,2,3
, Ignacio Moreno
1,3
, Maurício Tavares
1,3
, Paulo H. Ott
1,3,4
, Rodrigo Machado
1
& Nelson F. Fontoura
2
1. Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (GEMARS). Rua Felipe Neri,
382/203, 90440-150 Porto Alegre, RS, Brasil. ([email protected])
2. Departamento de Biodiversidade e Ecologia Faculdade de Biociências – PUCRS. Av. Ipiranga,
6681, 90619-900 Porto Alegre, RS, Brasil.
3. Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Av. Tramandaí, 976, 95625-000 Praia do Imbé, RS, Brasil.
4. Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Cidreira, RS, Brasil.
ABSTRACT
.
Incidental mortality of franciscanas, Pontoporia blainvillei, by the coastal fishery
in northern Rio Grande do Sul, Brazil.
Bycatch in demersal coastal gillnets is the main
conservation problem faced by the franciscana,
Pontoporia blainvillei
. The Rio Grande do Sul coast
is the area where the species suffer the highest rates of mortality in Brazil. This study aims to
present new franciscana mortality estimates in northern Rio Grande do Sul and to identify seasons,
fishery gear and depths with the highest risk for the franciscana. Between January 2002 and
December 2004, the fisheries communities of Torres and Tramandaí were visited during 350 days in
order to obtain data about the fishery, to select the fishery vessels that could collaborate with the
project, to interview the fishermen and to distribute logbooks to the vessels´ masters. In addition, 33
onboard observations were carried out to obtain direct information on the fishery-franciscana
interactions. Data from 609 fishery operations and thirteen fishery vessels were collected. Three
6
relative indexes of mortality were calculated: linear CPUE, CPUE by area, and mortality rate.
During this study, the bycatch of 99 franciscanas in 74 fishery operations were recorded. It was
detected an unexpected influence of the fishery effort on the CPUE values: the highest the fishery
effort, the lowest the CPUE. In this manner, we recommend to employ CPUE as a tool for
franciscana mortality comparisons only in cases where the fishery effort between the groups to be
compared are similar. Mortality rate may be employed as an alternative, simpler mortality index in
these occasions. The annual mortality estimate extrapolated for 31 fishery vessels that operate in
Torres and Tramandaí, utilizing CPUE in the calculations, is 429 animals (CI 95%: 168 853).
When the mortality rate is utilized in the calculations, the annual estimate is 353 animals (CI 95%:
171 629). The estimates presented here confirm the high rates of bycatch faced by the species in
Rio Grande do Sul, with very similar estimates with those presented for the 1992-97 period in the
same region. The results of this paper do not point out fast and easy solutions for the fishery-
franciscana problematic in Rio Grande do Sul, thought the restrictions of areas, seasons or fishery
gear. Franciscana bycatch occurs in water depths varying from nine to 40 meters, with a slight
decrease in the catches as the water depth increases. Demersal gillnets present higher bycatch rates
than surface gillnets. Nevertheless, it was not detected statistical differences in the franciscana
catchability between the gillnet set for croakers and the one set for weakfishes and hake, the two
kinds of nets more employed in Rio Grande do Sul. Two peaks were noticed in total mortality
estimates: one in winter and another in summer. Nevertheless, regarding the relative mortality, the
winter is the season presenting the highest mortality estimates. In spite of the remarkable increase in
the fishery effort in the last 15 years in Rio Grande do Sul (
e.g.
about 500% in nets length), the
franciscana mortality rates remained almost unaltered, corroborating that the population that inhabits
this region is declining in size. Franciscana conservation in Rio Grande do Sul depends on a
reduction in the fishery effort. It is suggested that this reduction should contemplate the number and
length of the gillnets.
7
KEYWORDS
. Franciscana, bycatch, Rio Grande do Sul, management, fishery
RESUMO
. A captura acidental em redes de pesca demersal costeira é o principal problema para a
conservação da toninha,
Pontoporia blainvillei
. Na costa do Brasil, a região onde a espécie sofre os
mais altos níveis de mortalidade acidental na atualidade é o Rio Grande do Sul. Com os objetivos de
apresentar estimativas de mortalidade atualizadas, identificar épocas do ano, tipos e tamanho de rede
de pesca e faixas de profundidades com maior risco de captura, foi realizado entre 2002 e 2004, no
litoral norte do Rio Grande do Sul, um estudo sobre as interações da pesca e a toninha. As
comunidades de pescadores de Torres e Tramandaí foram monitoradas durante 350 dias para seleção
das embarcações colaboradoras, condução de entrevistas com pescadores e distribuição dos
cadernos de bordo para obtenção de dados sobre a pesca e as capturas acidentais de toninhas para os
mestres. Foram também conduzidos 33 embarques acompanhando as operações de pesca de
embarcações. No total, foram coletados dados relativos a 609 operações de pesca realizadas pelas
treze embarcações monitoradas. Três índices de captura relativa foram empregados: CPUE linear,
CPUE em área e taxa de captura. Foram registradas as capturas acidentais de 99 toninhas em 74
eventos de captura. Foi detectada uma influência do esforço de pesca sobre a CPUE: há um
decréscimo significativo nos valores de CPUE para a toninha à medida que o esforço de pesca linear
e o esforço em área aumentam. Assim, recomendamos utilizar a CPUE como ferramenta para
comparações de mortalidade somente em casos onde os grupos comparados apresentem esforço de
pesca similar. A taxa de captura pode ser utilizada como um índice alternativo, mais simples de se
obter e com resultados confiáveis. A mortalidade anual de toninhas foi extrapolada para as 31
embarcações da pesca comercial costeira que atuam em Torres e Tramandaí, utilizando a CPUE em
área como base para os cálculos, e estimada em 429 animais (IC 95%: 168 853). A mortalidade
anual foi também estimada utilizando a taxa de captura ao invés da CPUE como base para os
cálculos, resultando em uma estimativa de 353 toninhas (IC 95%: 171 629). As estimativas de
8
mortalidade anual de toninhas aqui apresentadas confirmam os altos níveis de mortalidade na região,
sendo bastante similares à anterior existente (1992-97) para a mesma área. Os resultados desse
trabalho não apontam soluções rápidas e fáceis para a mitigação das capturas acidentais da toninha
através de restrições de áreas, artes e épocas de pesca. As capturas acidentais de toninhas ocorreram
em profundidades variando de 9 a 40 m, havendo uma leve propensão das capturas diminuírem à
medida que a profundidade aumenta. Redes de fundo possuem índices de captura maiores que redes
de superfície. No entanto, não foram detectadas diferenças significativas entre as redes de corvina e
brota/pescada: as duas redes de espera mais empregadas no Rio Grande do Sul. Foram observados
dois picos na mortalidade total: um no inverno e outro no verão. O inverno, entretanto, é a estação
do ano com maior mortalidade relativa de toninhas. Apesar do notável aumento no esforço de pesca
nos últimos 15 anos, com as redes chegando a um aumento de 500% em comprimento, as taxas de
capturas de toninhas se mantiveram praticamente inalteradas, reforçando que a população de
toninhas do Rio Grande do Sul está declinando em tamanho. A conservação da toninha passa pela
redução do esforço de pesca. Recomenda-se a redução progressiva no mero e tamanho das redes
como medidas de manejo.
PALAVRAS-CHAVES
. Toninha, captura acidental, Rio Grande do Sul, manejo, pesca.
Interações entre atividades de pesca e os mamíferos marinhos são de ocorrência global (R
EAD
et al
., 2006). Essas interações podem ser divididas em duas categorias: operacionais, quando os
animais entram em contato direto com os aparelhos de pesca, ou ecológicas, quando a pesca e
mamíferos marinhos interagem através da cadeia trófica (B
EVERTON
, 1985). Entre as interações
operacionais, as capturas em redes de pesca são aquelas com maior impacto nas populações de
cetáceos em todo o planeta (R
EEVES
et al
., 2003), colocando em risco a existência de algumas
espécies seriamente ameaçadas, como a vaquita,
Phocoena sinus
, e o golfinho-de-Hector,
9
Cephalorhynchus hectori
(D’A
GROSA
et al
., 2000; D
AWSON
et al
., 2001) e possivelmente tendo
levado à extinção o baiji,
Lipotes vexillifer
(G
UO
, 2006). Anualmente, estima-se uma mortalidade de
cerca de 300.000 cetáceos em todo mundo devido às capturas acidentais em redes de pesca (R
EAD
et
al
., 2006).
Captura acidental em redes de pesca é também o principal problema para a conservação da
toninha,
Pontoporia blainvillei
. A mortalidade decorrente dos emalhes em redes ocorre ao longo de
praticamente toda distribuição geográfica da espécie na costa atlântica da América do Sul (
e.g
. V
AN
E
RP
, 1969; P
RADERI
et al
., 1989; C
ORCUERA
et al
., 1994; S
ECCHI
et al
., 1997; M
ORENO
et al
., 1997;
D
I
B
ENEDITO E
R
AMOS
, 2001; B
ERTOZZI E
Z
ERBINI
, 2002, R
OSAS
et al
., 2002; O
TT
et al
, 2002;
S
ECCHI
et al
., 2003). Como conseqüência, a toninha tem sido considerada o pequeno cetáceo mais
ameaçado em todo o Atlântico Sul Ocidental (S
ECCHI
et al
., 2003). Embora a espécie esteja listada
na categoria
Dados Deficientes
no Livro Vermelho da União Mundial para a Conservação da
Natureza (IUCN 2006a), a população que habita as águas do Rio Grande do Sul e Uruguai – regiões
que formam a terceira área de manejo da toninha (
Franciscana Management Área III
FMA III; ver
S
ECCHI
et al
., 2003) – está listada como “
Vulnerável
” (IUCN, 2006b).
O Rio Grande do Sul é, provavelmente, a região na costa do Brasil onde a espécie sofre os mais
altos níveis de mortalidade acidental (O
TT
,
et al
., 2002; S
ECCHI
et al
., 2003). A mortalidade de
toninhas pela pesca nessa área foi documentada ainda na segunda metade da década de 1970
(P
INEDO
, 1986). De acordo com P
INEDO
(1994), 1.085 toninhas foram encontradas encalhadas na
costa do Rio Grande do Sul entre 1976 e 1987. Estas informações, entretanto, eram baseadas
exclusivamente no número de carcaças encontradas ao longo das praias. Posteriormente, estudos
sobre a mortalidade acidental da toninha através do monitoramento direto das comunidades de pesca
permitiram a coleta de informações mais robustas que subsidiaram a publicação de estatísticas mais
apuradas de mortalidade para a espécie no Rio Grande do Sul (M
ORENO
et al
., 1997; S
ECCHI
et al
.,
10
1997; O
TT
, 1998; K
INAS
& S
ECCHI
, 1998; S
ECCHI
, 1999). Atualmente, estima-se que a mortalidade
nessa região esteja em torno de 1.000 toninhas por ano (O
TT
, 2002,
S
ECCHI
et al
. 2004).
Apesar das estimativas de abundância da espécie ainda apresentarem várias incertezas e
necessitarem de revisão (S
ECCHI
et al
., 2001, D
ANILEWICZ
et al
., nessa tese), algumas linhas de
pesquisa têm sugerido que a população que habita a FMA III está declinando (ver P
INEDO
&
P
OLACHEK
, 1999; K
INAS
2002; S
ECCHI
, 2006). A alta mortalidade na região tem feito com que se
recomendem medidas de manejo para a pesca costeira de emalhe (S
ECCHI
et al
., 2003). Ações que
visem a mitigação da mortalidade da toninha em redes de pesca incluem, por exemplo, o fechamento
de áreas de pesca permanentemente ou por períodos do ano, modificações e restrições nas artes de
pesca e redução do esforço de pesca (S
ECCHI
et al
., 2006; D
ANILEWICZ
et al
.,
no prelo
). No entanto,
o conhecimento sobre áreas, períodos do ano ou artes de pesca de maior risco para o emalhe de
toninhas ainda é escasso e pouco conclusivo. Estatísticas de mortalidade atualizadas e refinadas
também o essenciais para um avanço na compreensão do impacto da pesca sobre a população de
toninhas da FMA III. No litoral norte, as estimativas de mortalidade existentes são referentes apenas
ao período de 1992-97 (M
ORENO
et al
., 1997; O
TT
, 1998).
Pretendendo contribuir para as lacunas nos pontos mencionados, este trabalho visa apresentar
novas estimativas de mortalidade para a toninha no litoral norte do Rio Grande do Sul. Além disso,
pretende-se identificar épocas do ano, tipos e tamanho de rede de pesca e faixas de profundidades
com maior risco de captura de toninha na região.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesca na área de estudo
A frota de pesca comercial do Rio Grande do Sul está concentrada em três localidades: em
Torres/Passo de Torres (29
o
19’S, 49
o
43’W) e Tramandaí/Imbé (29
o
58’S, 50
o
07’W) no litoral norte,
11
de agora em diante referidas apenas como Torres e Tramandaí, respectivamente, e em Rio Grande
(32°08S; 52°05W) no litoral sul (Fig. 1). Ao contrário da pesca realizada pelas embarcações de Rio
Grande, que se concentram fundamentalmente na exploração dos estoques de corvina
(
Micropogonias furnieri
) e pescada (
Cynoscion guatucupa
), a pesca no litoral norte é mais
diversificada (Tab. I). Redes direcionadas à viola (
Rhinobatus
sp.), anchova (
Pomatomus saltatriz
),
papa-terra (
Menticirrhus litoralis
e
M. americanus
) e cações (várias espécies de Chondrichthyes,
principalmente
Sphyrna
spp.,
Carcharhinus
spp. e
Mustelus
spp.) são também utilizadas. No
entanto, assim como em Rio Grande, o maior esforço concentra-se também na pesca de corvina e do
peixe miúdo (pescada e brota,
Urophycis brasiliensis
). Embora a pesca ocorra ao longo de todo o
ano, no outono, os dias de pesca o bastante reduzidos devido ao período de entressafra de peixes
(Tab. I). Durante esse período, grande parte dos pescadores das comunidades do litoral norte
aproveita para reparar e reformar suas embarcações e reparar e aumentar as redes.
A área utilizada para a pesca pelas embarcações baseadas nas comunidades do litoral norte se
estende para o norte até o Farol de Santa Marta, SC (28º35’S; 48º33’W) e para o sul até Conceição,
RS (31º43’S; 51º18’W) (Fig. 1). As profundidades de pesca variam, em sua maioria, entre 9 a 50m.
O número de embarcações de uma comunidade pesqueira é bastante dinâmico, apresentando
variações inter-anuais e mesmo intra-anuais. No período deste trabalho, a comunidade de Tramandaí
e Torres contavam com três e 42 embarcações pesqueiras, respectivamente. Para efeito de análise
das estatísticas de pesca e mortalidade, as embarcações de Torres foram separadas em três categorias
de acordo com seu tamanho e autonomia de pesca:
Categoria 1
Embarcações de grande porte: barcos acima de 14 metros de comprimento,
dotados de casaria completa, com autonomia de no mínimo sete dias e capacidade para até nove
pescadores.
12
Categoria 2
- Embarcações de médio porte: barcos entre 10,5 e 14 metros de comprimento,
dotados de casaria completa, com autonomia de no mínimo cinco dias e capacidade para até sete
pescadores.
Categoria 3
- Embarcações de pequeno porte: barcos de até 10 metros de comprimento,
dotados de casaria completa, com autonomia de até três dias e capacidade para até quatro
pescadores.
Em Torres, sete embarcações eram baleeiras sem casaria, ou com casarias muito pequenas, com
baixa capacidade de armazenamento e operando em uma área muito restrita (geralmente em frente à
praia de Torres) por não mais que um dia. Estas não foram monitoradas nesse estudo.
Coleta de dados
A coleta de dados referentes às atividades pesqueiras e à mortalidade de toninha foi realizada
entre janeiro de 2002 e dezembro de 2004. As
duas comunidades de pesca do litoral norte do Rio
Grande do Sul foram visitadas para seleção das embarcações colaboradoras com o projeto, condução
de entrevistas com pescadores (mestres de embarcação e tripulantes), distribuição dos cadernos de
bordo para os mestres e observações a bordo das embarcações. A comunidade de Torres foi
acompanhada quinzenalmente, enquanto que em Tramandaí o acompanhamento foi realizado, em
sua maior parte do tempo, semanalmente. Um total de 350 dias de trabalho foram realizados em
ambas localidades para a distribuição e verificação dos cadernos de bordo e entrevistas. Foram
também conduzidos 33 embarques acompanhando as operações de pesca.
Na comunidade de Tramandaí, todas as três embarcações foram acompanhadas. na
comunidade de Torres, dez embarcações características foram selecionadas e junto a elas foram
conduzidos os acompanhamentos. Os dados obtidos a partir do monitoramento dessas embarcações
(n=13) serviram como referencial para estimar a dinâmica de pesca da região e quantificar o impacto
geral desta atividade sobre a toninha.
13
O número de embarcações foi obtido através de visitas às comunidades e entrevistas com os
pescadores. Os dias de pesca, o esforço diário mediano e a CPUE foram obtidos separadamente para
as embarcações de Tramandaí e para as embarcações das três diferentes categorias de Torres
(total=28). Desta maneira, a estimativa de mortalidade foi calculada separadamente para essas
embarcações e posteriormente somada para se obter uma estimativa para todas as embarcações do
litoral norte do Rio Grande do Sul. Em Tramandaí, em razão do monitoramento mais intensivo, foi
possível obter os dias de pesca exatos de todos os três barcos operando naquela região. Em Torres,
os dias de pesca foram contabilizados tanto através da análise dos cadernos de bordo preenchidos
como pelas entrevistas com os pescadores.
As informações coletadas para cada operação de pesca através do caderno de bordo incluíam a
data da pesca, o local de pesca (nome e coordenadas geográficas), a profundidade, o tipo de rede
(espécie-alvo de peixe, tamanho da malha em milímetros, comprimento e altura da rede em metros),
tempo de pesca (em horas) e o número de toninhas capturadas. Uma operação de pesca foi definida
como a colocação e retirada de uma rede. Tempo de pesca é o período de tempo decorrido entre
essas duas atividades. Uma embarcação é capaz de realizar mais de uma operação de pesca por dia.
No total, foram coletados dados relativos a 609 operações de pesca realizadas pelas
embarcações monitoradas. As embarcações de Torres foram responsáveis por 535 operações de
pesca e as de Tramandaí responsáveis por 174 operações de pesca coletadas.
Análises dos dados
Os dados dos anos 2002, 2003 e 2004 foram compilados e analisados em conjunto. Para
verificar tendências ao longo do ano (sazonais), os meses foram divididos por estações da seguinte
forma: verão (dezembro, janeiro e fevereiro), outono (março, abril e maio), inverno (junho, julho e
agosto) e primavera (setembro, outubro e novembro). A comparação das estatísticas de captura entre
as diferentes profundidades foi realizada utilizando as informações contidas nos cadernos de bordo,
14
em intervalos pré-estabelecidos. A média de cada intervalo era utilizada nas análises. Em ocasiões
em que o preenchimento era falho ou vago (ex.: profundidade “maior que 35m”), as coordenadas da
operação de pesca contida no caderno de bordo foram plotadas em uma carta náutica e sua
profundidade verificada na carta.
A influência da altura da rede nos índices de mortalidade foi testada dividindo as redes
utilizadas na região em duas categorias: redes com altura variando de 2 a 4 m e redes com altura
variando de 9 a 22 m (ver Tab. I). Variações temporais nas taxas de mortalidade da toninha foram
analisadas comparando os dados coletados por O
TT
(1998) em 1992-1997 com os dados do presente
estudo.
Captura por unidade do esforço (CPUE)
- A partir dos dados presentes nos cadernos de bordo,
foi possível calcular o esforço de pesca diário para cada operação de pesca. O esforço diário de
pesca foi calculado de duas formas:
Esforço por área. Produto da área da rede empregada (comprimento x altura, ambos em metros)
pelo tempo (em horas) que a rede ficou pescando no mar.
Esforço linear. Produto do comprimento da rede (em metros) pelo tempo (em horas) que a rede
ficou pescando.
Uma CPUE geral foi calculada para todas as operações do litoral norte do Rio Grande do Sul,
bem como estratificada por estação do ano, tipo de rede, faixas de profundidade e categoria de
embarcação. Em razão do menor número amostral de operações de pesca em Tramandaí, a CPUE
para esta comunidade não pode ser estratificada, tendo sido calculada uma CPUE única para todo o
ano.
Como uma alternativa ao lculo da CPUE, foi também estimada uma Taxa de Captura. Seu
cálculo é a simples divisão do número de eventos de captura (independente do número de toninhas
capturadas) pelo número de operações de pesca.
15
Mortalidade
- Para a estimativa de mortalidade anual de toninha pelas embarcações do litoral
norte do Rio Grande do Sul, a CPUE para cada estação do ano e tipo de embarcação é multiplicada
pelo número de dias de pesca por estação, esforço diário mediano por categoria de embarcação e
pelo número de embarcações da categoria. Assim, a estimativa de mortalidade
M
é calculada da
seguinte forma:
M
= (n
o
. de embarcações) X (dias de pesca) X (esforço diário mediano) X (CPUE).
Devido aos dados de CPUE apresentarem distribuição não normalizada, o intervalo de
confiança para a CPUE foi estimado como os percentis de 97,5% e 2,5% após 10.000 replicações do
bootstrap
. Essa medida de variação foi empregada para a estimativa do intervalo de confiança da
mortalidade anual de toninhas.
Todas as amostras foram testadas quanto sua normalidade utilizando o teste de Kolmogorov-
Smirnov. Quando a normalidade falhava, testes não paramétricos eram empregados. Em amostras
sem uma distribuição normal, a medida de tendência central apresentada é a mediana, com o
intervalo de confiança (IC) sendo os valores 25% e 75% da amostra. A comparação entre dois
grupos foi realizada com Teste-t ou Mann-Whitney, e entre mais de dois grupos com Análise da
Variância ou Kruskall-Wallis. A relação da taxa de captura e do CPUE com rias medidas de
esforço de pesca foi estudada através de regressões lineares e não lineares. Um nível de significância
de α = 0.05 foi considerado em todos os testes.
16
RESULTADOS
Esforço de pesca
Uma considerável variação no comprimento das redes para diferentes espécies-alvo de peixes
foi verificada (Fig. 2). Excetuando as comparações entre os comprimentos das redes de viola com
corvina e viola com brota/pescada, as diferenças nos valores medianos foram estatisticamente
significativas (P<0,001). No entanto, a altura mediana das redes varia pouco entre as redes utilizadas
para a pesca de corvina (2,9m), brota/pescada (2,4m) e viola (2,3m). A rede de superfície destinada
à pesca de cações é uma exceção (13,3m).
O esforço de pesca depende, fundamentalmente, do tamanho das redes de uma embarcação, do
tempo que elas permanecem na água e da autonomia de pesca do barco. Conseqüentemente, uma
considerável variação no esforço de pesca diário entre as embarcações das categorias propostas para
Torres e Tramandaí (Tab. II). O esforço de pesca ao longo do ano não é constante (Fig. 3). Foram
constatadas diferenças sazonais significativas tanto na comparação do esforço linear (P<0,001)
como do esforço por área (P=0,002). No entanto, as estações do ano que não diferiram entre si em
relação ao esforço de pesca, variaram de acordo com a abordagem utilizada na descrição do esforço.
No esforço em área, não houve diferenças entre inverno e verão e entre inverno e outono. no
esforço linear, não houve diferenças entre outono e verão e entre inverno e primavera.
O esforço de pesca não apresenta as mesmas proporções nas duas comunidades estudadas. Foi
encontrada uma diferença significativa entre o comprimento das redes utilizadas em Torres
(mediana=7.408m; IC=3.333-11.112m) e Tramandaí (mediana=5.556m; IC=5.000-6.482m)
(P<0,001), bem como no esforço de pesca em área entre Torres (mediana=419478; IC=266688-
671720) e Tramandaí (mediana=200016; IC=180014-375030) (P<0,001).
17
Capturas acidentais
Foram registradas as capturas acidentais de 99 toninhas em 74 eventos de captura. A grande
maioria dos eventos de captura (81%) foi de apenas um único indivíduo por rede, apesar de duas
(14%), três (4%) e até dez toninhas (1%) numa mesma rede tenham também sido registradas. O uso
de carcaça de toninha como alimento foi documentado apenas em uma ocasião por um morador, não
sendo um hábito comum nessas localidades.
Estimativa de mortalidade anual
A mortalidade anual de toninhas foi extrapolada para as 31 embarcações da pesca comercial
costeira que atuam em Torres e Tramandaí, utilizando a CPUE em área como base para os cálculos,
e estimada em 429 animais (IC 95%: 168 853) (Tab. II). uma tendência bimodal, com inverno
e verão sendo as estações com maior mortalidade (Fig. 4). A mortalidade anual foi também estimada
utilizando a taxa de captura ao invés da CPUE como base para os lculos, resultando em uma
estimativa de 353 toninhas (IC 95%: 171 – 629).
Relação entre esforço de pesca e índices de mortalidade
um decréscimo significativo nos valores de CPUE à medida que o esforço de pesca linear e
o esforço em área aumentam (P=0,003) (Figs. 5, 6). A taxa de captura, entretanto, mantém-se
constante com o aumento do esforço de pesca linear e em área (P=0,56) (Figs. 7, 8). Quando
verificamos a relação entre as médias das taxa de captura por comprimento da rede, é verificado que
o aumento das redes tem influência direta no aumento das dias das taxa de captura (r
2
= 0,93),
sendo a equação resultante y = 0,0479Ln(x) - 0,3142 (Fig. 9).
18
Mortalidade por faixa de profundidade
As capturas acidentais de toninhas ocorreram em profundidades que variavam de 9 a 40 m. O
esforço de pesca linear e em área não segue constante nas faixas de profundidades estabelecidas
(P=0.002 e P <0.0001, respectivamente), havendo uma flutuação entre os intervalos, sem uma
tendência definida. As diferenças na taxa de captura e CPUE linear ou em área entre faixas de
profundidades não são significativas (P<0,05). Os maiores valores de taxa de captura e CPUE em
área estão localizados no intervalo de profundidade entre 15-20m (Figs. 10a, 10c). a observação
da CPUE linear demonstra um decréscimo gradativo dos valores com o aumento da profundidade
(Fig. 10b).
Contudo, quando os valores de CPUE e taxa de captura são divididos em duas classes de
intervalo de profundidade um até 25m de profundidade, e outro mais de 25m os valores desses
índices de mortalidade são sempre superiores em águas mais rasas. Em profundidades menores que
25m, a CPUE linear é 2,9 vezes maior, a CPUE em área é 1,8 vezes maior e a taxa de captura 1,2
vezes maior.
Mortalidade por estação do ano
O esforço de pesca no verão ocorre em águas significativamente mais rasas (18m) que no
restante do ano (outono=28m, inverno=23m, primavera=23m) (P<0.001). A CPUE, independente do
método utilizado, é maior no inverno, seguida pelo verão e outono (com valores bastante similares
entre si), e menor na primavera (Tab. II). A taxa de captura apresenta o mesmo padrão de variação.
No inverno, ocorrem 0,13 eventos de captura por operação de pesca. No verão e outono a taxa de
captura é de 0,10, enquanto na primavera ela diminui para 0,08.
19
Mortalidade por arte de pesca
Os valores de esforço diário de pesca, taxa de captura, CPUE linear e CPUE em área para
diferentes tipos de rede são apresentados na Tab. III. Apesar de também serem empregadas no litoral
norte do Rio Grande do Sul, as redes para a pesca de anchova e papa-terra possuíram número
amostral baixo e o foram utilizadas em comparações desse estudo. A taxa de captura não diferiu
significativamente entre os tipos de rede (P = 0.17), enquanto a CPUE linear (P = 0.013) e em área
(P = 0.007), sim.
Não diferenças nas profundidades de pesca para corvina (média=28m) e brota/pescada
(média=28m). No entanto, as pescas para viola e cação foram realizadas em águas
significativamente mais rasas (média=20,5m) do que para corvina e brota/pescada (P<0.001). Redes
de pesca com menor altura (2-4m) apresentaram maiores taxas de captura, CPUE linear e CPUE em
área do que rede com alturas maiores (9-22m), porém não significativas (P>0,05).
Em relação aos dois tipos de redes mais utilizadas pela frota do litoral norte durante o ano, a rede
para brota/pescada apresentou valores mais altos, porém o significativos, do que a rede
direcionada à corvina para taxa de mortalidade (P = 0.614), CPUE linear (P = 0.27), CPUE em área
(P = 0.25).
Variações temporais de mortalidade (1992-1997 e 2002-2004)
Houve um aumento significativo no tamanho mediano das redes, tendo ocorrido um acréscimo
de 1500m (IC = 1000 - 2000m), no período 1992-97, para 7408m (IC = 3.333 - 11.112m) em 2002-
04 (P<0,001). Conseqüentemente, o esforço de pesca linear diário também aumentou
significativamente de 27000 (IC = 18000 – 36000) para 100008 (IC = 60004 – 200016) (P<0.001).
Em relação aos índices de mortalidade, no entanto, as mudanças não seguiram o mesmo padrão
entre si. Enquanto a taxa de captura permaneceu muito similar (P=0.83), a CPUE linear e em área
apresentaram menores valores para os anos 2000-2004 (Tab. 4).
20
DISCUSSÃO
Esforço de pesca
O esforço de pesca pode ser mensurado de várias formas. Por entender que não apenas o
comprimento, mas também a área da rede poderia estar influenciando a probabilidade de uma
toninha ser capturada, esse trabalho optou inicialmente por medir o esforço de pesca a partir dessas
duas abordagens. À exceção do outono, estação em que um significativo decréscimo nas saídas
para o mar, muito pouca variação nos dias de pesca durante o inverno, primavera e verão. No
entanto, as diferenças no comprimento e área das redes são refletidas na variação do esforço linear e
em área entre as três principais estações de pesca (Figura 3). O maior esforço de pesca da primavera,
tanto linear como em área, reflete os maiores comprimentos das redes direcionadas à corvina
utilizadas em maior proporção nessa estação do ano. No entanto, durante o verão, o esforço de pesca
em área apresenta valores bastante expressivos, como conseqüência do emprego de redes de
superfície para cação com alturas que podem atingir até 20m.
A tendência da pesca no litoral norte do Rio Grande do Sul pode ser simplificada da seguinte
maneira. No outono, a pesca entra em uma entressafra. Os dias de mar caem a um terço em relação
ao resto do ano, e os proprietários das embarcações aproveitam esse período para reparar suas
embarcações e redes. A pesca recomeça em grande escala no inverno, direcionada principalmente à
brota e pescada, com redes de espera demersais de malha 10-11cm. Na primavera, a pesca começa a
ser direcionada à corvina e as redes aumentam em comprimento e malha (14cm), porém a
profundidade de pesca segue similar ao inverno. No verão, embora a pesca de corvina continue,
muitas embarcações dirigem um maior esforço para águas mais costeiras para a pesca para viola e
cações. Essa última, utilizando uma rede de superfície com altura muito maior que as redes de
21
corvina e brota/pescada. A malha de ambas as redes também aumenta consideravelmente para 18-
22cm.
Limitações no uso de dados de CPUE
Um dos principais objetivos deste trabalho era identificar áreas, períodos do ano ou artes de
pesca mais críticas para as capturas acidentais, ou seja, onde, quando e como as capturas aconteciam
com maior intensidade. Essas tentativas de identificação o geralmente realizadas através da
comparação das CPUEs. A escolha desse índice deve-se ao fato da CPUE eliminar as diferenças de
esforço de pesca entre as categorias da variável testada. No entanto, os resultados desse estudo
indicam que isso não é totalmente verdadeiro. A CPUE pode ser usada como ferramenta para
comparações de mortalidade somente em casos onde os grupos comparados apresentem esforço de
pesca similar. A utilização da CPUE em comparações pode facilmente conduzir a conclusões
equivocadas caso existam diferenças nos comprimentos ou área das redes e no tempo que ela
permanece no mar. Essas diferenças entre esforço de pesca não necessariamente precisam ser
significativas estatisticamente para induzir a erros de interpretação.
Para a CPUE ser um índice de captura útil na identificação de áreas/períodos/redes mais
impactantes para a toninha, os valores de CPUE não deveriam apresentar qualquer tendência
significativa estatisticamente em relação ao esforço de pesca. No entanto, foi claramente notado um
decréscimo da CPUE com o aumento do esforço de pesca. Qual a razão para essa tendência? Seriam
as redes menores mais perigosas à toninha do que as maiores? Não, este estudo identificou que o
oposto é verdadeiro: o comprimento da rede influencia positivamente a probabilidade de uma
captura ocorrer, independente do número de animais. As taxas de capturas aumentam à medida que
os intervalos de comprimento de rede também aumentam. No entanto, essa relação não é linear.
Após um rápido aumento na probabilidade de captura nos primeiros 7.000m de rede, o aumento
torna-se mais lento, porém contínuo.
22
O problema na utilização de CPUE para avaliação de áreas/períodos/redes de maior risco para a
toninha advém do fato que, embora pareça um contra-senso, a captura de uma toninha é um evento
raro. A toninha é um mamífero de grande porte, apresentando grupos pequenos e baixa densidade
(S
ECCHI
et al
., 2001, C
RESPO
et al
., 1998, B
ORDINO
et al
., 1999; M
ORENO
et al
., 2003). Uma captura
acidental ocorre em torno de 10% das operações de pesca e a grande maioria das capturas (mais de
80%) é individual. Assim, mesmo que a taxa de captura aumente com o comprimento das redes, a
divisão das capturas pelo esforço linear ou em área resulta em valores maiores de CPUE para redes
menores. Consequentemente, se as comparações envolverem áreas/períodos/redes em que o esforço
seja discrepante, a CPUE poder ser um índice tendencioso e apontar áreas/períodos/redes em que o
menor esforço de pesca é empregado como sendo as mais críticas para a toninha. Por esta razão, a
taxa de captura pode ser utilizada como um índice alternativo - mais simples de se obter e com
resultados mais confiáveis - em comparações da mortalidade da toninha, bem como de outros
pequenos cetáceos.
Uma proporcionalidade entre CPUE e densidade tem sido freqüentemente assumida (M
AUNDER
et al
., 2006). A partir desse pressuposto crítico, CPUE tem sido utilizado como um índice de
densidade relativa, principalmente no manejo de estoques pesqueiros (
e.g
. M
YERS AND
W
ORM
,
2003). Essa abordagem, contudo, apresenta problemas reconhecidos, sendo a CPUE raramente
proporcional à abundância (G
ULLAND
, 1974; H
ARLEY
et al
., 2001; W
ALTERS
, 2003). Em relação à
captura acidental de toninha, um organismo com densidade imensamente inferior aos recursos
pesqueiros estudados para essa relação, essa abordagem deveria ser usada com ainda mais cautela.
Erros de avaliação podem ocorrer caso a extrapolação de densidade seja realizada entre áreas com
esforço de pesca distintos. Por exemplo, uma área onde a frota pesqueira emprega um esforço menor
poderá apresentar valores relativamente mais elevados de CPUE em relação à uma área onde a frota
utiliza um esforço de pesca maior. Isso pode induzir a uma conclusão incorreta de que a população
na área de menor esforço de pesca possui uma densidade mais elevada do que realmente possui.
23
A hipótese de que as toninhas apresentam maior densidade no litoral norte do que no sul do Rio
Grande do Sul foi levantada por S
ECCHI
& O
TT
(2000) após compararem valores de CPUE entre as
áreas. Os autores sugeriram a que o estreitamento da isóbata dos 30m no norte seja responsável por
uma diminuição de área de uso da espécie e conseqüente aumento de sua densidade. É mais
provável, no entanto, que as diferenças no CPUE estivessem apenas refletindo as reconhecidas
diferenças de esforço de pesca entre as frotas estudadas, muito maior na região sul do Estado.
Seguindo o mesmo raciocínio, extrapolações de densidades obtidas em estimativas de abundância no
Rio Grande do Sul (S
ECCHI
et al
., 2001) para outras regiões, corrigidas através de CPUE, como as
realizadas por S
ECCHI
(2006) para todos os estoques de franciscana, devem ser interpretadas com
cautela.
A partir destes dados de CPUE e taxa de captura, é possível inferir que a probabilidade de mais
de um grupo de toninha entrar em contato com uma rede de pesca em menos de 20 horas
(geralmente o período máximo que uma rede fica no mar pescando), independentemente de seu
comprimento, é muito baixa. A baixa densidade da espécie pode explicar esse resultado, uma vez
que a captura de uma toninha dificilmente exerce uma influência negativa direta sobre uma próxima
captura, a não ser, possivelmente, sobre indivíduos de um mesmo grupo. Além disso, as redes são
longas e a visualização embaixo da água de uma toninha emalhada é possível somente a uma
distância de poucos metros.
Mortalidade de toninhas: estatística atual e tendências temporais.
As estimativas de mortalidade anual de toninhas aqui apresentadas confirmam os altos níveis de
mortalidade na região, sendo inclusive bastante similares à anterior existente para o litoral norte do
Rio Grande do Sul. Previamente, O
TT
(1998) estimou uma mortalidade anual de 425 toninhas pela
frota pesqueira das mesmas localidades. Quando a mortalidade de toninhas do litoral norte é somada
às estatísticas de captura acidental do sul do Rio Grande do Sul, o resultado atinge valores
24
superiores a 1.000 animais mortos anualmente. Em uma compilação, O
TT
et al.
(2002) estimam uma
mortalidade dia anual de cerca de 900 para o Rio Grande do Sul. Mais recentemente, S
ECCHI
et
al
. (2004) apresentaram várias estimativas de mortalidade para a FMA III (área que compreende o
Rio Grande do Sul e Uruguai), e concluiu que os valores anuais podem chegar a até 1.500-1.800
animais.
A estimativa de mortalidade deste estudo baseou-se em esforços estratificados diferentemente
para cada tipo de embarcação, considerando suas características, o que diminuiu os erros advindo
das extrapolações. No entanto, alguns fatos precisam ser destacados. Primeiro, uma parte da frota
não foi acompanhada pelo projeto. Embarcações menores (baleeiras) e embarcações que operam
com redes de arrasto não foram monitoradas. Embora os pescadores das comunidades estudadas
nunca tenham reportado a captura de toninhas em pesca de arrasto, sabe-se que em alguns locais
essa atividade de pesca captura toninhas (C
APPOZZO
et al
., 2000). Embarcações originárias de Rio
Grande e de outros estados (principalmente Santa Catarina) também utilizam o litoral norte do Rio
Grande do Sul como área de pesca para redes de espera demersal. A mortalidade de toninhas por
essas embarcações é também desconhecida. Dessa forma, a mortalidade para as toninhas no litoral
norte apresentada aqui pode estar subestimada. Além disso, recentemente, uma nova modalidade de
pesca surgiu no litoral do Rio Grande do Sul. Essa atividade utiliza barcos infláveis a partir da praia
para a colocação de redes demersais até uma distância de 3 a 5 milhas náuticas. Embora estudos
sistemáticos ainda não tenham sido realizados, sabe-se que esta atividade também captura
acidentalmente toninhas (Moreno & Ott , com. pess.).
Como visto, o comprimento de rede tem uma influência positiva sobre a probabilidade de um
evento de captura ocorrer. A imensa diferença entre o esforço de pesca dos dois períodos (1992-97 e
2002-05) impede o uso da CPUE como índice de comparação. A taxa de captura, entretanto,
apresenta valores surpreendentemente muito similares. Esta é, provavelmente, a melhor evidência de
declínio da população de toninhas no norte do Rio Grande do Sul que a comparação destes trabalhos
25
permite. Isto é, embora o comprimento das redes de pesca seja atualmente cerca de cinco vezes
maior, a taxa de captura não aumenta como esperado, mas permanece inalterada. Isto reflete as
estimativas de mortalidade bastante similares entre os dois períodos, reforçando que a população de
toninha no Rio Grande do Sul está declinando em tamanho.
Mortalidade de toninhas: artes de pesca, estações e faixas de profundidade críticas.
O esforço de pesca no norte do Rio Grande do Sul é composto, em sua maior parte, por redes de
espera de fundo, as quais são as responsáveis pela grande maioria das capturas acidentais de toninha.
Nesse estudo, as menores taxas de captura são justamente relativas às redes de superfície
direcionadas à pesca de cação. Historicamente, as capturas acidentais de toninha sempre estiveram
relacionadas às redes de pesca de fundo (ver as revisões de P
RADERI
et al
., 1989 e O
TT
et al
., 2002).
Essa característica está relacionada ao fato da espécie ser capturada durante atividades de
forrageamento (O
TT
, 1998). A toninha alimenta-se de uma ampla variedade de espécies de peixes e
cefalópodes, a maior parte delas de hábitos demersais (P
INEDO
et al
., 1989; D
ANILEWICZ
et al
.,
2002). Pelo menos duas hipóteses podem ser evocadas para explicar a captura majoritária de
toninhas em redes de fundo. Primeiro, as redes na superfície são possivelmente mais fáceis de serem
detectadas visualmente do que redes fixadas no fundo, onde a incidência de luz é menor. Segundo,
como sugerido por outros autores (
e.g.
O
TT
, 1998), é provável que, durante as atividades de
forrageamento, a toninha esteja com sua atenção na atividade de ecolocação direcionada à captura
das presas, possivelmente com o foco da ecolocação dirigido para baixo e não para frente, ficando
mais propensa a não detectar uma rede de pesca.
De uma forma geral, os resultados desse trabalho não apontam soluções pidas e fáceis para a
mitigação das capturas acidentais da toninha através de restrições de áreas, artes e épocas de pesca.
As tendências notadas nesse sentido são leves e, algumas, conhecidas e esperadas. Primeiro, foi
notado uma propensão para a diminuição nos índices de captura à medida que a profundidade de
26
pesca aumenta. A toninha é uma espécie de distribuição costeira, que no Rio Grande do Sul habita
desde a linha da arrebentação até as isóbatas de 40-50m. É esperado que à medida que o limite
oceânico de sua distribuição se aproxime, a densidade da espécie vá progressivamente diminuindo, e
que isto se reflita em mudanças nos índices das capturas acidentais da espécie. Embora uma
concentração de maiores valores de índices de capturas possa ser notada em profundidades menores
que 25m, o fato é que as capturas continuam ocorrendo até os 40m. Além disso, a isóbata dos 25m
está localizada a uma distância dia de 15 milhas náuticas da costa no litoral norte do Rio Grande
do Sul, uma distância que torna a criação de áreas de proteção bastante complicada em termos de
logística de fiscalização.
Segundo, a exemplo do que ocorre no sul do Estado (S
ECCHI
et al
., 2004), redes para pesca de
corvina possuem índices de captura um pouco maiores do que redes para pescada e brota. É
necessário enfatizar, todavia, que em ambos os casos as diferenças não são significativas. As redes
utilizadas nessas pescas são bastante similares, diferindo basicamente no tamanho de malha (a rede
de corvina apresenta cerca de 4 cm a mais) e no comprimento total da rede (a rede de corvina
também apresenta os maiores comprimentos) e as diferenças notadas são provavelmente aleatórias.
Este trabalho aponta que as principais redes demersais utilizadas no Rio Grande do Sul possuem
índices de captura relativamente similares. Não indicação que simples substituições no tamanho
de malha de redes de espera de fundo possam produzir reduções significativas nas capturas
acidentais da toninha. Embora a rede destinada à pesca de viola apresente valores mais altos que as
demais redes demersais (ver Tab. III), trata-se de uma rede utilizada em uma escala muito baixa no
Rio Grande do Sul quando comparada às redes de brota/pescada e corvina. Os níveis mais altos de
captura dessa rede podem estar associados à sua utilização mais costeira e pode, inclusive, ser um
artefato produzido pelo baixo número amostral de operações de pesca.
A influência do tamanho da malha de uma rede na captura de uma toninha ainda é pouco
entendida. Após entrar em contato físico com a rede, desconhece-se qual a taxa de emalhe e
27
liberação de um animal. Já foi reportado que redes com malhas maiores constituem uma maior
ameaça de emalhe para uma toninha. Essa hipótese tomou forma graças aos altos níveis de captura
em redes direcionadas a elasmobrânquios com malhas de tamanho grande no Uruguai na cada de
1980 (
e.g.
P
RADERI
1997, 2000). Em nossa área de estudo, os dois tipos de redes com maior
tamanho de malha apresentaram a menor e a maior taxa de captura – viola (0,15) e cação (0,5). Essa
diferença na taxa de captura provavelmente é ocasionada pelo tipo de rede, de superfície no caso do
cação e de fundo no caso da viola, revelando que o fator “tamanho de malha” é menos crítico para
uma captura ocorrer do que se ela está localizada na superfície ou no fundo.
Uma tendência clara, entretanto, pôde ser verificada na sazonalidade das capturas acidentais.
Todos os índices de mortalidade (taxa de captura e CPUEs) indicam os meses de inverno como o
período de maior captura relativa de toninhas no norte do Rio Grande do Sul, seguido de verão e
outono, e com a primavera apresentando os menores índices. Este padrão segue estável pelo
menos 15 anos, sendo exatamente o mesmo resultado encontrado por O
TT
(1998) para a mesma área
no período entre 1992 e 1997. a mortalidade absoluta apresenta os maiores níveis no inverno e
verão. A razão, ou razões, para esse padrão, como flutuações sazonais na turbidez da água, padrões
de movimentos e ocupação do habitat pela toninha, permanecem apenas especulações.
Diferenças nos índices de captura entre estações do ano não devem ser interpretadas apenas
como sendo reflexos da utilização de artes de pesca mais ou menos perigosas para a toninha. As
capturas são igualmente conseqüência de variações na taxa de encontro de indivíduos com as redes
de pesca, resultante de diferenças no uso do habitat ao longo do ano. A toninha é uma espécie
residente do Rio Grande do Sul. Nada se conhece sobre movimentos diários ou sazonais da espécie
em ambientes de mar aberto. Um trabalho de uso de habitat indicado por profundidades de captura
acidental revelou haver uma distribuição bastante homogênea de sexos, classes etárias e
reprodutivas por faixa de profundidade (D
ANILEWICZ
, 2000). Entretanto, é plausível que estudos
28
futuros mais refinados identifiquem movimentos sazonais realizados pela toninha no Rio Grande do
Sul, como já reportado para outros locais (B
ORDINO
, 2002)
Capturas acidentais de organismos de vida longa e baixa taxa reprodutiva estão entre as
principais ameaças à conservação de espécies de mamíferos marinhos, aves, tartarugas-marinhas e
tubarões em todo o mundo (H
ALL
et al
., 2000). Em relação aos cetáceos, embora um sucesso na
redução das capturas tenha sido documentado em alguns poucos casos (J
OSEPH
1994; H
ALL
&
D
ONOVAN
, 2000), ainda muito pouco avanço na busca de soluções para este problema. Em nosso
entender, a conservação da toninha passa em por dois pontos: redução do esforço de pesca (S
ECCHI
,
2006; D
ANILEWICZ
et al
., no prelo) e tentativas de modificação das redes. A primeira medida
depende de iniciativas políticas e de fiscalização séria. A segunda depende de pesquisa em
colaboração com os pescadores. As duas medidas podem ser tomadas independentemente, embora a
redução do esforço de pesca possua considerável potencial de criar antagonismos entre pescadores e
pesquisadores (ver D
ANILEWICZ
, nessa tese, para maiores detalhes).
Uma redução em torno de 50% do esforço de pesca é sugerida por S
ECCHI
(2006) para atenuar a
situação de ameaça da toninha. O esforço de pesca pode ser reduzido através da diminuição dos
seguintes fatores: (1) número de dias de pesca por embarcação, (2) número de redes por
embarcação, (3) tamanho das redes e (4) número de embarcações operando em uma determinada
área. Dessas quatro medidas mencionadas, sugerimos a redução progressiva no número e tamanho
das redes. Essas ações o certamente as mais simples do ponto de vista de fiscalização, uma vez
que podem ser verificadas nos portos pesqueiros, sem a necessidade de implementar um programa
de fiscais a bordo. No entanto, como visto anteriormente, somente a diminuição do tamanho das
redes torna-se uma medida inócua se o for acompanhada da manutenção (ou redução) do número
existente de redes. Esse é um ponto fundamental de ser entendido e seguido. Nossos dados sugerem
que o número de redes é mais perigoso que o comprimento das redes, se a soma do comprimento
dos dois for idêntica. Ou seja, transformar uma rede de 15.000m (taxa de captura = 0,15) em três de
29
5.000m (taxa de captura = 0,094 x 3 = 0,28) seria uma forma de burlar a fiscalização, pois os
pescadores poderiam argumentar, com razão, que diminuíram o comprimento das redes, e uma ação
ainda mais impactante para a toninha.
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer profundamente aos mestres e pescadores das comunidades de Torres e
Tramandaí que participaram da coleta de dados deste trabalho. Sem sua cooperação, esse trabalho
seria inviável. A coleta de informação sobre as capturas acidentais e as necropsias de toninhas
tiveram o auxílio de Janaína Carrion Wickert, Sue Bridi Nakashima, Cariane Campos Trigo, Márcio
Borges-Martins, Larissa Rosa de Oliveira, Márcia Bozzeti Moreira, Luciana Marquadt e Larissa
Heinzelmann. Cariane Campos Trigo prestou grande ajuda na editoração do artigo. O nosso muito
obrigado ao Jorge (DEPREC-Imbé) e sua família, pela ajuda na coleta de dados e armazenamento
das toninhas capturadas em Tramandaí. Esse trabalho teve o financiamento do Fundo Nacional do
Meio Ambiente (FNMA-MMA) e da Yaqu Pacha Fundation.
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Tabela I
. Representação da sazonalidade da pesca costeira comercial no litoral norte do Rio Grande
do Sul. Entre parênteses estão o tamanho da malha em cm medido entre nós opostos, e tipo de rede
(de fundo (F) ou de superfície (S)).
Espécies visadas Verão Outono Inverno Primavera
Dez Jan Fev Mar Abr
Mai
Jun Jul Ago Set Out Nov
Anchova (S – 9)
Brota (F – 9 a 10)
Pescada (F – 9 a 10)
Papa-terra (F – 7)
Viola (F – 18 a 22)
Cações (S – 14 a 22)
Corvina (F – 14)
Entressafra
37
Tabela II. Sumário do número de embarcações, de dias de pesca, esforço de pesca diário em área, CPUE em área e mortalidade de toninha,
Pontoporia blainvillei, estratificado por estação do ano e categorias de embarcações do litoral norte do Rio Grande do Sul.
Outono Inverno Primavera Verão
Mín. Méd. Máx Mín. Méd. Máx Mín. Méd. Máx Mín. Méd. Máx
Torres - categoria I
CPUE
0.0000002431 0.0000007712 0.0000014471 0.0000006413 0.0000011143 0.0000016850 0.0000001516 0.0000003980 0.0000007183 0.0000002923 0.0000007725 0.0000013866
Esforço diário
112709 112709 112709 123238 123238 123238 152145 152145 152145 157744 157744 157744
Dias de pesca
12,5 12,5 12,5 27 27 27 34 34 34 30,5 30,5 30,5
No. embarcações
6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6
Mortalidade 2.1 6.5 12.2 10.9 22.2 43.6 4.0 12.4 28.2 8.4 22.3 40.0
Torres - categoria II
CPUE
0.0000001314 0.0000004169 0.0000007823 0.0000003467 0.0000006024 0.0000009109 0.0000000820 0.0000002151 0.0000003883 0.0000001580 0.0000004176 0.0000007496
Esforço diário
247542 247542 247542 270665 270665 270665 334154 334154 334154 346451 346451 346451
Dias de pesca
12,5 12,5 12,5 27 27 27 34 34 34 30,5 30,5 30,5
No. embarcações
8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8
Mortalidade 3.3 10.3 19.4 17.3 35.2 69.0 6.4 19.6 44.6 13.4 35.3 63.4
Torres - categoria III
CPUE
0.0000000926 0.0000002937 0.0000005512 0.0000002443 0.0000004244 0.0000006418 0.0000000578 0.0000001516 0.0000002736 0.0000001113 0.0000002942 0.0000005282
Esforço diário
450792 450792 450792 492902 492902 492902 608520 608520 608520 630914 630914 630914
Dias de pesca
12,5 12,5 12,5 27 27 27 34 34 34 30,5 30,5 30,5
No. embarcações
14 14 14 14 14 14 14 14 14 14 14 14
Mortalidade 7.3 23.2 43.5 38.8 79.1 155.0 14.3 43.9 100.2 30.0 79.3 142.3
Tramandaí
CPUE
0.0000002545 0.0000005638 0.0000009716 0.0000002545 0.0000005638 0.0000009716 0.0000002545 0.0000005638 0.0000009716 0.0000002545 0.0000005638 0.0000009716
Esforço diário
400032 400032 400032 200016
200016 200016
200016
200016 200016
166680
166680 166680
Dias de pesca
9.75 15.9 21 24 36 45.75 18 23.1 30 18.75 31.2 48
Mortalidade 3.0 10.8 24.5 3.7 12.2 26.7 2.7 7.8 17.5 2.4 8.8 23.3
Mortalidade Total 15.6 50.8 99.6 70.6 148.7 294.3 27.4 83.6 190.5 54.2 145.7 269.0
38
Tabela III
. Esforço diário de pesca linear, esforço diário de pesca em área, taxa de captura, CPUE
linear e CPUE em área para toninha,
Pontoporia blainvillei
, no litoral norte do Rio Grande do Sul.
Esforço diário de
pesca (linear)
Esforço diário de
pesca (área)
Taxa de
captura
CPUE linear
CPUE em área
Brota/pescada (n=236) 133344 266688 0,10 0,0000015 0,00000073
Corvina (n=191) 143345 430034 0,07 0,0000006 0,00000024
Cação boiada (n=80) 50004 676721 0,05 0,0000020 0,00000015
Viola (n=53) 170034 373363 0,15 0,0000021 0,00000093
Tabela IV
. Comparação entre taxa de captura, CPUE linear e CPUE em área para a toninha,
Pontoporia blainvillei
, nos períodos 1992-1997 e 2002-2004 no litoral norte do Rio Grande do
Sul.
1992-1997 2002-2004
Taxa de captura 0,095 (IC = 0,05 – 0,13) 0,10 (IC = 0,08 – 0,13)
CPUE linear 0,0000062 (IC = 0,0000022 – 0,0000128) 0,0000018 (IC = 0,0000012 – 0,0000025)
CPUE em área 0,00000136 (IC = 0,0000058 – 0,0000128) 0,00000045 (0,00000033 – 0,00000058)
39
Fig. 1
. Mapa da área de estudo evidenciando as comunidades de pesca do litoral do Rio Grande do
Sul (RS). A área mais escura representa a área de pesca utilizada pelas embarcações do litoral norte
do Rio Grande do Sul.
40
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
Brota/pescada Corvina Viola Cação
Tipo de rede (escie alvo)
Comprimento da rede (m)
Fig. 2
. Comprimento mediano (m) das redes destinadas à brota/pescada, corvina, viola e cação.
Barras inferiores e superiores indicam 25% e 75% dos valores de comprimento para cada tipo de
rede, respectivamente.
0
2000000
4000000
6000000
8000000
10000000
12000000
14000000
16000000
18000000
outono inverno primavera verão
Estações do ano
Esforço por área
0
1000000
2000000
3000000
4000000
5000000
6000000
7000000
Esforço linear
Fig. 3
. Esforço de pesca em área (barras área da rede (m
2
) x tempo de água (h) x dias de pesca (d)
por estação) e linear (linha comprimento da rede (m) x tempo de água (h) x dias de pesca por
estação) estratificados por estação do ano no litoral norte do Rio Grande do Sul.
41
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
0.40
Outono Inverno Primavera Verão
Meses do ano
Frequência relativa
Fig. 4.
Freqüência relativa da mortalidade anual de toninhas,
Pontoporia blainvillei
, no litoral norte
do Rio Grande do Sul.
0
0.00001
0.00002
0.00003
0.00004
0.00005
0.00006
0.00007
0.00008
0.00009
0.0001
0.00011
0.00012
0 100000 200000 300000 400000 500000
Esforço de pesca linear
CPUE
Fig. 5.
Relação entre esforço de pesca linear e CPUE de toninha,
Pontoporia blainvillei
, no litoral
norte do Rio Grande do Sul.
42
0
0.000002
0.000004
0.000006
0.000008
0.00001
0.000012
0.000014
0.000016
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000 1400000
Esforço de pesca em área
CPUE
Fig. 6.
Relação entre esforço de pesca em área e CPUE de toninha,
Pontoporia blainvillei
, no litoral
norte do Rio Grande do Sul.
0
0.02
0.04
0.06
0.08
0.1
0.12
0.14
0.16
0.18
0 100000 200000 300000 400000
Esforço linear
Taxa de captura
Fig. 7.
Relação entre esforço de pesca linear e a taxa de captura de toninha,
Pontoporia blainvillei
,
no litoral norte do Rio Grande do Sul.
43
0
0.02
0.04
0.06
0.08
0.1
0.12
0.14
0.16
0.18
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000 1400000
Esforço em área
Taxa de captura
Fig. 8.
Relação entre esforço de pesca em área e a taxa de captura de toninha,
Pontoporia blainvillei
,
no litoral norte do Rio Grande do Sul.
0.000
0.020
0.040
0.060
0.080
0.100
0.120
0.140
0.160
0.180
1500 3000 4500 6000 7500 9000 10500 12000 13500 15000 16500 18000
Comprimento das redes (m)
Taxa de captura
0.0000000
0.0000500
0.0001000
0.0001500
0.0002000
0.0002500
0.0003000
0.0003500
0.0004000
0.0004500
0.0005000
CPUE linear
Taxa de captura
CPUE linear
Fig. 9
. Relação entre taxa de captura (linha fraca) e CPUE linear (linha forte) de toninha,
Pontoporia blainvillei
, com o comprimento de rede (m) no litoral norte do Rio Grande do Sul.
44
A
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
0,12
0,14
0,16
0,18
0,2
< 15 15 - 20 20 - 25 25 - 30 30 -35 35 - 40 mais de 40
Intervalos de profundidade (m)
Taxa de captura
B
0,00000000
0,00000050
0,00000100
0,00000150
0,00000200
0,00000250
0,00000300
0,00000350
< 15 15 - 20 20 - 25 25 - 30 30 -35 35 - 40 mais de 40
Intervalos de profundidade (m)
CPUE linear
C
0,00000000
0,00000010
0,00000020
0,00000030
0,00000040
0,00000050
0,00000060
0,00000070
0,00000080
0,00000090
< 15 15 - 20 20 - 25 25 - 30 30 -35 35 - 40 mais de 40
Intervalo de profundidades (m)
CPUE em área
Fig. 10
. Taxa de captura (A), CPUE linear (B) e CPUE em área (C) de toninhas,
Pontoporia
blainvillei
, no litoral norte do Rio Grande do Sul estratificadas por intervalos de profundidade.
45
Abundance estimate for a threatened population of franciscana dolphins
(Pontoporia blainvillei): uncertainties and management implications
Daniel Danilewicz*
,†,‡
, Ignacio B. Moreno*
,†
, Paulo H. Ott*
,†,§
, Maurício Tavares*
,†
, Alexandre F.
Azevedo**, Eduardo R. Secchi
††
& Artur Andriolo
‡‡
* Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul. Rua Felipe Neri, 382/203. Porto Alegre 90440-150,
RS, Brazil. Email daniel.danilewicz@gmail.com
CECLIMAR/UFRGS. Av. Tramandaí, 976, Imbé 625-000, RS, Brazil
Pós-Graduação em Biociências. PUC-RS. Porto Alegre, RS, Brazil
§
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). Cidreira, Rio Grande do Sul, Brazil.
** Laboratório de Mamíferos Aquáticos (MAQUA)/UERJ. Rio de Janeiro, RJ, Brazil
††
Departamento de Oceanografia and Museu Oceanográfico “Prof. E.C. Rios” - FURG. Rio Grande, RS, Brazil
‡‡
Instituto de Ciências Biológicas. Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brazil.
.
R
UNNING HEAD
: Abundance estimation for franciscana dolphins
K
EY
W
ORDS
: Abundance estimate; aerial survey; franciscana; southern Brazil, line transect.
Correspondence should be sent to Daniel Danilewicz
*
46
ABSTRACT
The franciscana dolphin has been considered the most threatened small cetacean in the Southwestern
Atlantic Ocean due to the bycatches in commercial gillnets. The estimation of the species abundance has
been systematically recommended as a highest research priority. In this paper, the results an aerial survey
carried out for franciscana abundance in Rio Grande do Sul, southern Brazil, are presented. Line-transect
with a zigzag pattern were followed between the shoreline and a mean distance of 24 km offshore. The
overall surveyed area comprised 13.341 km
2
. Abundance was estimated using Distance sampling assuming
g
0
= 0.304. During the 48 transects and a total effort of 1256,8 km, 31 franciscanas were observed in 25
groups. The corrected density is 0.51 franciscanas/km
2
, resulting in an abundance estimation of 6,839
franciscanas (CV = 32%; 95% CI = 3,709-12,594) for the surveyed area in Rio Grande do Sul. The
abundance estimate presented is restricted only to the area covered in the survey and extrapolation for the
whole species distribution range is not recommended. Although franciscana abundance studies have been
showing recent progresses, there is still much room for improvement. The critical points to be improved are:
(a) a perception bias value should be firstly estimated; (b) the parameters influencing availability bias should
be improved; (c) sample size should be increased. While the lack of factors to correct for perception bias and
group size underestimation in aerial surveys leads to an underestimation of franciscana abundance, the use
of surfacing and diving time data from boat and land-based surveys to correct for availability bias is likely to
cause its overestimation. Since the magnitude of both errors is unknown, it should not be assumed that one
error balance the other. In an attempt to assess the effects of the uncertainties of the g
0
and group size
estimates on the present franciscana abundance estimation, alternative values for these critical parameters
were incorporated in the analyses, creating 60 different scenarios. Four rates of increase were applied to the
alternative abundance estimates, producing 240 different estimates of annual increment for this franciscana
population. Even in the most optimistic scenario (with the lowest g
0
and the highest group size estimates),
the annual increment of franciscanas is not compatible with the current levels of bycatch, reinforcing that
fishery mortality in Rio Grande do Sul is not sustainable and that fishery management must be promptly
initiated.
Introduction
The franciscana, Pontoporia blainvillei, is a small dolphin endemic to shallow, coastal waters of tropical
and temperate regions along the coasts of Brazil, Uruguay and Argentina (Crespo et al. 1998; Siciliano et al.
2002). Mortality of franciscana in fishing operations has been observed for almost sixty years. Reports on
bycatch in shark gillnet fisheries off Uruguay date back to the early forties (Van Erp 1969). Although
gillneting in Argentina and southern Brazil also emerged in the forties, no record of bycatch exists for those
areas. Gillnet fisheries for bottom dwelling fish became the major conservation concern for franciscana in
47
both countries only in the eighties. Nowadays, bycatch has been reported from all main fishing villages along
most of the species geographical distribution (Corcuera 1994; Praderi 1997; Secchi et al. 1997; Kinas &
Secchi 1998; Ott 1998; Di Beneditto & Ramos 2001; Bertozzi & Zerbini 2002; Ott et al. 2002; Rosas et al.
2002).
In the coast of Rio Grande do Sul, southern Brazil, the franciscana has been experiencing an intense
bycatch in gillnets for at least 25 years (Praderi et al. 1989; Moreno et al. 1997; Ott et al. 2002). Recent
annual estimates of mortality of franciscanas in this region have been around one thousand individuals
(Secchi et al. 1997; Ott 1998; Ott et al. 2002; Secchi et al. 2004). Multiple lines of evidence, including a
declining trend in stranding rates and capture per unit of effort (CPUE), suggest that the stock inhabiting
southern Brazil and Uruguay (Franciscana Management Area III – FMA III; see Secchi et al., 2003a, for
definitions) is declining (Praderi, 1997; Pinedo and Polacheck, 1999; Secchi, 1999; Kinas 2002). This
resulted in the listing of this population as Vulnerable under the IUCN Red List of Threatened Species (IUCN
2004a).
Knowledge of population size plays a crucial role in wildlife conservation. The estimation of franciscana
abundance has been repeatedly recommended as a highest research priority to better assess the status and
improve the management of the species (e.g. Secchi et al., 2002). However, the species small body size,
non conspicuous color pattern, small group size, and avoidance behavior make surveys for estimating
abundance for this species challenging. To date, there is no current estimate for almost all populations along
the species range. The only existing attempt to compute abundance was a pioneering aerial survey
conducted in 1996 in a limited fraction (1%) of the franciscana distribution range in Rio Grande do Sul,
southern Brazil (Secchi et al. 2001). Results indicated a density of 0,66 individuals/km
2
within an area of 435
km
2
. In this study, we present novel population density estimates for the species in a broader area in
southern Brazil, and combine the results with the current bycatch mortality in order to evaluate the fishery
impact on the population. Moreover, we discuss the potential sources of bias in the franciscana abundance
studies and recommend enhancements for further research.
Methods
Study area and field methodology
The survey was conducted along the coast of Rio Grande do Sul, from Torres (29
o
19'S, 49
o
43'W) up to
31 km north to the border with Uruguay (33
o
17’S 052
o
46’W) (Fig 1). The survey design followed a zig-zag
pattern and transect lengths ranged from 22.2 to 35.2 km (mean = 27.9 km). Survey mean offshore limit was
24 km and the overall area surveyed comprised 13.341 km
2
.
Survey effort depended primarily on the weather. Surveys were undertaken only on sea conditions of
Beaufort 3 or less. The research team remained mobilized in the field during ten days waiting for the proper
48
weather conditions. The study area could be fully covered during two days of work (19 and 24 February
2004).
A high-wing, twin-engine Aerocommander aircraft was used as the survey platform. The aircraft was
equipped with one bubble window on each side to allow for direct visualization underneath the plane
(trackline). It flew at a constant altitude of 500 ft (152 m) and speed of nearly 165 km/h. The survey crew
consisted of the pilot, co-pilot, and a team of four observers. The latter rotated among a left and right
observation position, data recorder and a resting position at the end of each transect (6-10 minutes). Each
transect started no earlier than 30 min after sunrise and finished no later than 30 min before sunset. The
survey was conducted in “passing mode” (ie. the aircraft did not end effort or divert from its course when
franciscanas were seen) (Buckland et al 2001).
Information on weather condition (sun glare, Beaufort state, visibility) were collected by each observer in
the beginning of the transect or every time a change was noted. Visibility was subjectively scored on a scale
of 1 (excellent) to 4 (bad). Glare was noted as the percent of the observer search view that was affected by
the sun glare. Communication among observer and data recorder was done through the airplane internal
communication system. When a sighting occurred, the observer alerted the recorder to mark the time and
the position on GPS. Then the species, group size, and vertical angle measured with a hand-held
declinometer were immediately reported to the recorder. Sightings detected by the data recorder or off the
survey transects (e.g. when changing transects or when flying from/to the airport) were recorded as ‘off
effort’. To familiarize the pilot and observers with survey protocols, we conducted two training flights on
which we made three sightings on 18 transects. These data were used for training only, and are not
analyzed here.
Data analysis
Density was estimated using conventional distance sampling methods (Buckland et al. 1993, 2001)
using program Distance 4.0. The uncorrected density (g
0
=1) estimator (D
un
) is given by:
D
un
= [(n Es) / (2L ESW)],
where n was the number of sightings, E(s) the expected mean group size, L the total distance searched,
ESW the effective search width. This first step of the analysis was done using the program Distance 4.0.
In aerial surveys for marine mammal abundance estimation, the probability of detecting groups on the
trackline (g
0
) is always lower than 1. For this reason, the quantity computed with the estimator above need to
be corrected for missed dolphins: density D
cor
= D
un
x g
0
-1
. In order to improve our estimation of group size,
off-effort sightings were included in the analysis because these records were done when observers had
more time to visualize and estimate franciscana group size.
For the corrected densities D, variance estimates were calculated with the following equation obtained
by the delta method (Seber, 1982):
49
V(D)= g
0
-2
. (V(D
un
)+D
2
.V(g
0
))
The probability to detect a franciscana groups in the transect line (g
0
) is affected by both availability bias
(animals that are submerged and can not be sighted) and perception bias (observer fail to detected an
animal in the surface due to observer inexperience, fatigue, or adverse survey conditions such as glare or
rough sea state) (Marsh & Sinclair, 1989). So, g
0
is computed as the product between availability and
perception bias. Availability bias was estimated using the formulae provided by Barlow et al. (1988):
Pr (being visible) = (s + t) / (s + d)
where: s is the average time of franciscana being at the surface; d is the average time of franciscana
being submerged; and t is the time window during which the franciscana is within the visual range of an
observer. Values of s (1.2 sec) and d (21.7 sec) were obtained from a study on ecology and behavior of
franciscanas in Argentina by Bordino et al. (1999). The time window that a franciscana is at the surface to be
detected by the observer was calculated by collecting this value from the aircraft for floating bodies at
various distances. The values of time were then regressed against distance, and the resulting linear
regression (y=0,0292x + 5,7723; R
2
=0,93) presented a time window of 5,77 seconds for an object in the
transect line. In this manner, availability bias was calculated as 0,304. It was not possible to calculated
perception bias in this study and therefore, for the purpose of the analysis presented here, g
0
was assumed
to correspond to the value of availability bias presented above.
ESW was estimated by fitting perpendicular distance data with three key functions (Uniform, half-normal,
hazard rate) with (1) no adjustment term, (2) cosine, (3) simple and (4) hermite polynomial series
expansions. The best model was selected by the Akaike’s Information Criterion (AIC). To minimize the
negative effect of sunglare on observer sightability, segments of transect that presented more than 80% of
sun glare in the observer search view were discarded from the analysis.
Abundance uncertainties and evaluation of the bycatch impact
In order to assess the effects of the uncertainties of the g
0
and group size estimates on the present
franciscana abundance estimation, we applied eight alternative values for perception bias, diving and
surfacing time (affecting g
0
), and group size, and produced 59 density estimations as alternatives to the one
initially presented. This procedure created 60 different scenarios for the franciscana in Rio Grande do Sul,
from the more pessimistic to the more optimistic. Alternative group size values utilized were the mean on-
effort (1.36) and the mean off-effort group size from this study (2.0), and the mean group size estimated by
Bordino et al. (1999) (2.8). Alternative estimates of perception bias utilized were the ones published for
harbour porpoise for experienced and inexperienced observers by Laake et al. (1997). The alternative diving
50
time utilized (11.5 seconds) was the approximate median of the data published by Bordino et al. (1999). The
alternative surfacing time was maximum time a dolphin may remains available for an observer (5.77 secs),
and the mean between this maximum value and the initial one (1.2 secs). See Table 1 and read the
discussion in the “Evaluation of the field survey and statistical methods” section for details.
For an evaluation of the impact of the bycatch on the franciscana population of Rio Grande do Sul, four
estimates of the population rate of increase were applied to the 60 abundance estimations, resulting in 240
estimates of the annual population increment, that is, how many animals are added in the population each
year. Rates of increase were estimated by Secchi (2006) utilizing a deterministic model with no fishing
(r=0.029) and with the current fishing effort (r=0.017), and a stochastic model with no fishing (r=0.025) and
with the current fishing effort (r=0.011). The estimates of population increments were compared to the latest
mortality estimates for Rio Grande do Sul (1.149 and 1.379 animals), after combining data from Secchi et al.,
(2004) and Danilewicz (2007).
Results
During the 48 transects and a total effort of 1256,8 km, 31 franciscanas were observed in 25 groups
(Table 2). Twelve off-effort sightings were made by the data recorder or by the observers between the end of
a transect and the beginning of another or during displacements to/from the airports. Group size ranged from
1 to 5 individuals, with solitary individuals representing 67.5% of the sightings. Mean group size for on-effort
and off-effort sightings was 1.36 and 2, respectively. Mean group size applied in the analysis was 1.55 (the
mean for both on- and off-effort sightings). There was no significant relationship between group size and
perpendicular distance from the transect line (linear regression; p.=0.66, r
2
=0,01).
Franciscana sightings were recorded from the shoreline to 19.6 km offshore. Three groups were
observed just beyond the surf zone, and about 70% of the sightings were located in waters up to 10 km
offshore (Figure 3). Displacements of dolphins and abrupt dive as a negative reaction to the aircraft noise
were observed just once. In only one group sighted, a calf was recorded.
Few observations were recorded near the trackline, forcing perpendicular distance data to be left-
truncated at 74m prior to analysis. Right truncation was specified at 254m from the line, reducing the dataset
used to fit the detection function to 21 sightings. The best perpendicular distance fitting model (AIC=56,14;
Chi-p=0,87) was the uniform function with one cosine adjustment term (Fig. 4).
The corrected density for area surveyed was 0.51 franciscanas per km
2
, resulting in an abundance
estimation of 6,839 franciscanas (CV = 32%; 95% CI = 3,709-12,594). The encounter rate for franciscana
groups was 0.020 groups / km surveyed (Table 3).
The combination of alternative values for g
0
and group size resulted in 60 franciscana densities, ranging
from 0.205 to 3.17 franciscanas/km
2
(Figure 4). In 59.3% of combinations, the alternative estimates were
higher than the initial density presented in this paper. The annual population increment of franciscanas in Rio
Grande do Sul ranged from 30 to 1227 animals (Figure 5).
51
Discussion
Comparison of franciscana population size estimates
The previous estimate (1996) of franciscana density for Rio Grande do Sul (D=0.657; CV=34.47%,
Secchi et al. 2001) is slightly higher than the one presented here (D=0.55; CV=33.3%). These estimates are
not comparable and therefore this difference should not be viewed as a population decline. The area
covered in both studies differed greatly because of the constraints imposed by the flight autonomy of the
single-engine aircraft utilized in 1996. The first study was composed by eight replicate flights in the same
area located to the south of Cassino beach, between the shoreline and a maximum distance of 9.3km from
the coast, corresponding to a boundary approximately at the 15m isobath. The present study covered a
much larger, more than 30 times in extension, and heterogeneous area. In some regions the mean offshore
distance of 24 km corresponded to the isobath of 50m. In addition, the airplanes differed in some
characteristics that potentially affect the observation of animals. The single-engine plane utilized in the first
survey limited the flight duration to about one hour, while in the present study some flights it lasted 4 hours.
Longer periods of flight may increase observers fatigue and affect the detection of animals.
Extrapolation of abundance estimates
In the 1996 survey, Secchi et al. (2001) extrapolated the franciscana density found in the 435 km
2
surveyed area for all the stock inhabiting the FMA III (coastal waters of Uruguay and Rio Grande do Sul, up
to the 30m isobath). It resulted in an abundance of 42.048 franciscanas (95% CI 33.024 - 53.504) for an area
of 64.000km
2
.
Although tempting, any extrapolation of abundance estimates away from the surveyed areas needs to be
carefully considered. A major source of bias when estimating population size comes from the extrapolation of
estimates obtained in smaller sampling area to a larger one (Ancrenaz et al., 2004). One of the most
common ways to overestimate population size are produced is through the extrapolation of high density
areas over non-surveyed low density areas. In the present case, the surveyed area in Rio Grande do Sul
does not necessarily correspond to density beyond the surveyed area within the range of this stock (FMAIII -
including the coast of Uruguay and areas beyond the 50m isobath). Therefore, franciscana abundance
estimate presented is restricted only to the area covered in the survey.
Evaluation of the field survey and statistical methods
Population abundance is key to viability analysis of populations under threat. It is fundamental
information when designing and negotiating enforcements and management procedures with the scientific
52
community, governments and stakeholders. It is therefore important that all significant sources of uncertainty
be considered, quantified whenever possible, and reported as follows.
The parameters used to calculate availability bias for franciscana aerial surveys (surface time (s), diving
time (d), and the time an object remain in the view of the observer (t) were accounted for in this study. The
first two parameters were obtained from a study of the diving behavior of free-ranging franciscanas in Bahia
Anegada, Argentina (Bordino et al. 1999). The study was carried out with observers both from a boat and
land-based. This results in franciscanas remaining available for a very short time above the surface for the
observers. For this reason, the estimated average surfacing time (s) (only 1.2 seconds in Bordino et al.
1999) should be much lower than if observations were made from an airborne platform. Franciscanas remain
visible for a longer period, even under the water surface (personal observations from this survey), when seen
from an airplane.
Diving time (d) may vary among individuals, gender, behavior and age/size class and region (e.g.
Bordino et al., 1999). This parameter is not easily obtained from aerial surveys and therefore it must be
taken from other studies. In this work, the mean value (21.7 seconds) provided by Bordino et al. (1999) was
used. Nevertheless, the distribution of franciscana diving times is positively skewed, as shown in Figure 9 in
Bordino et al. (1999). The median is less sensitive to outliers than the mean and is a measure of central
tendency that better reflect a skewed distribution (Zar 2000). If the median diving time (d) (ca. 11.5 seconds)
is applied in the estimation of g(0), the resulted franciscana density decreases drastically from 0.51 to 0.28
group/km
2
. That alone indicates the importance of obtaining new and reliable estimates of diving time for the
species.
Estimation of group size is one of the variables affected by aircraft speed. While reducing potential
issues with responsive movement (Buckland et al. 2001), increased flight speed may reduce the time
required for accurately counting the number of individuals in a group. Franciscana group size estimates from
aerial surveys are smaller than the estimates obtained from vessel surveys. Bordino et al. (1999) in their
observations from vessels and land reported a mean group size of 2.8 franciscanas, while the aerial surveys
mean group sizes ranged from 1.17 to 1.55 animals (Secchi et al. 2001; this study). Such differences
suggest that estimates of franciscana group size are likely underestimated in aerial surveys. This led us to
propose that future aerial surveys should consider the use of closing mode instead of passing mode
approaches. This methodological change may result in more accurate estimates of group size, but will make
surveys more expensive.
Franciscana births in Rio Grande do Sul occur mainly from October to December (Danilewicz 2003), and
lactation and parental care last about nine months (Brownell 1984). Besides that, the pregnancy rates are
high – about 65% of mature females give birth each year in Rio Grande do Sul (Danilewicz 2003) – and
consequently, groups with calves would be expected to be observed during the aerial survey period
(February). However, in only one sighting (3% of all observations) a calf could be observed. Franciscana
calves are only 70-100 cm long this time of the year. As there is no difference in pigmentation, smaller
53
franciscanas are obviously more difficult to spot from the airplane than larger ones and it is probably yet
another factor in underestimating franciscana group size.
Because of the lack of a perception bias estimate, both this study and the past ones assumed that all
observers detected all franciscanas that were available in the transect line. This assumption is clearly
violated. Perception bias occur even in surveys working with very good sightability, that is, clear and calm
water, large and/or conspicuous species, such as humpback whales, Megaptera novaeangliae, in Brazil
(A.A., unpublished data) and Hector dolphins, Cephalorhynchus hectori, in New Zealand (Slooten et al.
2002).
Harbor porpoises (Phocoena phocoena) resembles some franciscana characteristics, such as small
body size and group size. Laake et al. (1997) estimated perception bias from aerial surveys for harbor
porpoises in Washington and concluded that the probability an experienced observer sees and correctly
identifies a group of harbor porpoises that is near the surface was 0.865. However, this probability decreases
to only 0.292 for inexperienced observers. Because of all the franciscana characteristics summarized above,
it is clear that perception bias is also less than unity in franciscana aerial surveys, even for experienced
observers. This is likely one of the most important sources of bias while estimating franciscana population
size.
In summary, while the lack of factors to correct for perception bias and group size underestimation leads
to an underestimation of franciscana abundance, the use of surfacing and diving time data from boat and
land-based surveys is likely to cause its overestimation. Since the magnitude of both errors is unknown, it
should not be assumed that one error balance the other.
Management implications
The franciscana is probably the most endangered small cetacean of the Atlantic coast of South America
(e.g. Secchi et al. 2003b). Although the species is listed as Data Deficient in the 2004 IUCN Red List of
Threatened Species (IUCN 2006b), the FMA III subpopulation is currently classified as Vulnerable (IUCN
2006a). The latest estimates of annual mortality for Rio Grande do Sul are 1.149 and 1.379 dolphins, after
combining data from Secchi et al. (2004) and Danilewicz (2007), and there is no reason to believe that
mortality estimates are positively biased. In fact, all evidences suggest that bycatch numbers are
underestimated. Supporting this premise are the following. First, an unknown number of fishing vessels from
other regions of Brazil (e.g. Santa Catarina) operate in Rio Grande do Sul waters utilizing gillnets and also
bycatch franciscanas. These vessels have not collaborated with franciscana conservation projects and were
never included in the franciscana mortality statistics. Second, fishermen tend to underreport bycatches. Even
the most trustful and cooperative fishermen eventually may underreport bycatches by forgetting to fill the log-
books. Third, a small number of entangled dolphins may fall from the net before or during the hauling-in
process (Bravington & Bisack, 1996) and remain unreported in the log-books.
54
Although there is a general consensus that the franciscana bycatch is unsustainable in Rio Grande do
Sul (Kinas 2002; Secchi 2006), and it is agreed that management procedures for franciscana are necessary,
the fact is that the abundance estimates are still uncertain. However, these uncertainties should not be
viewed as “burden-of-proof” situation to researchers and conservationists, rather, the franciscana
conservation issue in Rio Grande do Sul might be even worse than currently stated.
The simulations of alternative scenarios of franciscana densities and annual population increment
combined with the latest bycatch estimates, strongly suggests that the current mortality is not sustainable
(Figure 5). Even in the most optimistic scenarios, that is, when the lowest g
0
and the highest group size
estimates are incorporated in the density estimates, the population increment does not prevail over the
lowest mortality estimate, one more warning that this population is declining. Only in one out of 240
combinations (0.42%), the resulting population increment is higher than the bycatch mortality. It should be
noted, however, that these simulations are rather simple and require being refined, since it does not
incorporate all the parameter variances. Furthermore, it compares the population increment obtained from
density estimates restricted to the surveyed area, with mortality estimates obtained from a slightly larger
area. Nevertheless, it should also be noted that bycatch estimates are also probably underestimated, and
there is no reason to believe from the data available until the moment that the current mortality is
sustainable. Therefore, we reinforce that precautionary management procedures must to be initiated.
There are currently a plethora of proposals and attempts to mitigate small cetacean bycatch all over the
world (Reeves et al. 2003). Management actions for the mitigation of franciscana bycatch are reviewed by
Danilewicz (2007) and will unavoidably have to revise and modify the current commercial fishery
methodology in southern and southeastern Brazil. Among the mitigation procedures usually suggested are (i)
the reducing of fishery effort by decreasing gillnet length or fishing activity period, (ii) excluding fishery by
creating marine protected areas, or (iii) the use of acoustic deterrent devices (pingers) in the gillnets.
Independently of the chosen action, it is imperative to reinforce here two simple - but often forgotten -
considerations. First, top-down imposition is not management. Second, management is inadequate when it
is seen as an end in itself. The franciscana bycatch problem requires an adaptive management model
characterized by a program of continual monitoring of indicators that measure progress toward its goal, that
is, the reduction of bycatch. Management should then be faced as a hypothesis test. Bycatch mortality and
population abundance must be continually measured. Bycatch mortality will only be measured satisfactorily
with the cooperation and involvement of at least part of the stakeholders involved in the problematic. Reliable
population abundance will only be achieved with periodic research effort, methodology improvement and
observers training.
Research recommendations
There is still much room for improvement in franciscana abundance studies. In order to avoid simple
replicate of past surveys and to improve abundance estimates, it is recommended to:
55
i) Increase sample size which is crucial for robust abundance estimation. The two surveys conducted in
Rio Grande do Sul had the same sighting rate (0.02 group/km) and that can be used to estimate adequate
sample sizes for future studies (Buckland et al. 2001). Taking this information into account, subsequent
aerial surveys in Rio Grande do Sul should cover about 3,000 to 4,000 km of transects in order to obtain a
minimum of 60-80 sightings recommended by Buckland et al. (2001) for adequate estimation of detection
probability. Also, increasing sample size will likely reduce variance of encounter rate and, consequently,
abundance estimates.
ii) Develop a correction factor for perception bias, which should also be viewed as a priority considering
that this was probably the main factor causing bias in franciscana abundance estimations. Aircrafts allowing
independent observers during the survey should be used in the future surveys. Alternatively, the probability
of detecting a franciscana group on the transect line could be estimated using the Hiby circling method (Hiby
1999).
iii) Expand the survey area to cover the whole stock range. Next aerial surveys in Rio Grande do Sul
should cover also the Uruguayan coast. Besides that, research effort on abundance estimation should begin
in FMA I and FMA II.
Acknowledgments
This study was possible thanks to the financial support of Fundo Nacional do Meio Ambiente – Brazilian
Federal Government (Projeto Biologia e Conservação de Pontoporia blainvillei FNMA 094/2001) and Yaqu
Pacha Organization. We are very grateful to all the people that gave invaluable logistical and safety support
for this survey: the Museu Oceanográfico de Rio Grande´s staff, mainly director Lauro Barcellos,
CECLIMAR´staff, Aeroclube de Osório, PATRAM e Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Márcio Borges-
Martins, Larissa Oliveira, Rodrigo Machado, Rodrigo Baleia and Mestre Gasolina. We wish to express our
gratitude to the pilots Marcelo Marques Graciano and Fernando Moura for their great job. It is a pleasure to
thank A. Zerbini for assisting the analyses and reviewing the manuscript. The Conselho Nacional para o
Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPq (Brazil) has granted PHD fellowships to D. Danilewicz
(140452/2003-6) and I.B. Moreno (140660/2004-6).
56
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60
Table 1. Estimates of the parameters applied in the density estimates of franciscana
(Pontoporia blainvillei) in Rio Grande do Sul, Brazil.
Parameter Estimates
Initial Alternatives
Group size 1.36 2.0 1.55 2.8
Perception bias 1.0 0.865 0.292
Surface time 1.2 5.77 3.49
Diving time 21.7 11.5
Table 2. Details of the line transects carried out and franciscana (Pontoporia blainvillei)
sightings during this study
Date No. Transects Hours
surveyed
Transect length
(km)
Groups observed
19/Feb (morning) 20 4:03 hs 557,5 8
19/Feb (afternoon) 8 1:28 hs 188,0 3
24/Feb (morning) 20 3:49 hs 511,3 14
Total 48 9:20 hs 1256,8 25
Table 3. Summary on parameter estimation and confidence interval for
franciscana (Pontoporia blainvillei) abundance estimation in Rio Grande do Sul.
Estimate % CV 95% Confidence Interval
ESW
83m 24.98 49.7 138.7
f (0)
0,012 24.98 0.072 0.02
Encouter rate
0.016 26.56 0.01 0.028
D
un
(g
0
=1)
0.13 37.56 0.064 0.274
N
un
2304 37.56 1,115 4,759
D (g
0
=0,305)
0.51 32.02 0.278 0.944
N
6,839 32.02 3,809 12,594
61
Fig. 1. Map of the study area presenting the line transects for the franciscana (Pontoporia blainvillei) aerial survey in Rio
Grande do Sul, Brazil.
62
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
0 a 5 5 a 10 10 a 15 15 a 20
Distance from the shore (km)
Relative frequence of franciscana sighting
Fig. 2. Relationship between distance from the shore and percent of franciscana (Pontoporia
blainvillei) sightings in Rio Grande do Sul, Brazil.
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
0 50 100 150 200 250 300
Perpendicular distance in meters
Detection Probability
Fig. 3 Distribution of perpendicular distances and fit of the detection function for the franciscana (Pontoporia
blainvillei) using a uniform model with one cosine adjustment term.
63
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.2-
0.39
0.4-
0.59
0.6-
0.79
0.8-
0.99
1.0-1.19 1.2-1.39 1.4-1.59 1.6-1.79 1.8-1.9 2.0-
2.19
2.2-
2.39
2.4-
2.59
2.6-
2.79
2.8-
2.99
3.0-
3.19
Franciscana density estimations
Relative frequency
Fig. 4 Relative frequency of density estimates for franciscanas (Pontoporia blainvillei) in Rio
Grande do Sul, considering 60 different scenarios for group size and g
0
.
A
B
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
Combinations
Annual population increment
Fig. 5 Estimates of annual population increment for franciscana (Pontoporia blainvillei) in Rio Grande do Sul
(n=240), applying 60 combinations of g
0
and group size and four population rates of increase. Grey lines A and B
indicate the two latest annual bycatch mortality estimates for Rio Grande do Sul.
64
Manejando os comuns e conservando os golfinhos - perspectivas e recomendações para
a problemática das capturas acidentais de toninha no sul do Brasil
Daniel Danilewicz
Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (GEMARS). Rua
Felipe Neri 382/203, 90440-150 Porto Alegre, RS, Brasil. (daniel.danilewicz@
terra.com.br)
Departamento de Biodiversidade e Ecologia Faculdade de Biociências – PUCRS. Av.
Ipiranga, 6681, 90619-900 Porto Alegre, RS, Brasil.
Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (CECLIMAR – UFRGS). Av. Tramandaí, 976, 95625-000 Praia do Imbé,
RS, Brasil.
PALAVRAS-CHAVE
. Pesca,
Pontoporia blainvillei
, captura acidental, manejo,
conservação.
65
A toninha,
Pontoporia blainvillei
, é a espécie de pequeno cetáceo mais ameaçada em
toda costa atlântica da América do Sul. Esta é uma sentença seguidamente reproduzida
na literatura científica e seguramente condiz com o conhecimento atual sobre a fauna de
cetáceos no continente e seus problemas de conservação (
e.g.
S
ECCHI
et al
., 2003;
R
EEVES
et al
., 2003).
Desde o momento em que pesquisas sistemáticas com cetáceos começaram a ser
conduzidas no Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul, a partir de
monitoramentos de praia em meados da década de 1970, foi constatado que a toninha
poderia estar enfrentando um impacto significativo da pesca (P
INEDO
, 1986). Quando
dados obtidos diretamente dos portos de pesca ou embarques começaram a ser
divulgados (L
ODI
& C
APISTRANO
, 1991; S
ECCHI
et al
., 1997; M
ORENO
et al
., 1997), o
que inicialmente eram fortes indícios transformaram-se em certeza: nenhuma outra
espécie de cetáceo apresentava taxas de capturas acidentais em redes de pesca mais altas
que a toninha. Na Argentina e Uruguai, países vizinhos ao Brasil onde a toninha ocorre
também apresentavam os mesmos resultados preocupantes, principalmente no Uruguai
(P
RADERI
, 1985; P
RADERI
et al
., 1989; C
ORCUERA
et al
., 1994).
O histórico de encontros para a discussão sobre os problemas de conservação da
toninha tem início em 1986, com a realização do
Workshop on
Biology and
Conservation of River Dolphins
na China. Após esse evento, iniciou-se em 1992 uma
série de cinco
workshops
dedicados exclusivamente às discussões sobre a biologia e
conservação da toninha. O que no começo eram reuniões dedicadas à divulgação de
novidades sobre aspectos biológicos/ecológicos de uma espécie nunca vista viva na
natureza e de dados preliminares sobre capturas acidentais, logo se tornou um canal de
66
apresentação de informações sobre história de vida, genética populacional, estimativas
de abundância, definições de estoques populacionais, estimativas refinadas de
mortalidade, estudos comportamentais incluindo o uso de radio-telemetria e análises
de viabilidade populacional, para citar alguns dos estudos mais relevantes. Portanto,
além de ser a espécie de pequeno cetáceo mais ameaçada em toda costa atlântica da
América do Sul, a toninha tornou-se decididamente uma das espécies de mamíferos
marinhos mais conhecidas e pesquisadas em todo continente. Apesar disso,
estranhamente, sua classificação na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da World
Conservation Union (IUCN) ainda consta como Dados Insuficientes
(DD) (IUCN,
2006a), embora a população que habita o Rio Grande do Sul e Uruguai esteja
classificada como Vulnerável (VU) (IUCN, 2006b).
O atual grau de conhecimento sobre a espécie tem direcionado o levantamento da
seguinte questão: quando terá início alguma ação concreta para a conservação da
toninha? Quando o manejo da pesca que efetua as capturas acidentais da toninha
começará? Contudo, a questão pertinente no momento não é
quando
o manejo terá
início. Pelo menos no Rio Grande do Sul, existem evidências que a população está
declinando (P
INEDO
& P
OLACHEK
, 1999; K
INAS
, 2002, S
ECCHI
, 2006) e que o momento
para ações concretas chegou.
A questão mais importante agora não é
quando
, mas sim
como
o manejo deve ser
implementado.
Em minha opinião, o problema das capturas acidentais da toninha requer um modelo
de manejo adaptativo caracterizado por um monitoramento contínuo dos indicadores que
aferem o progresso das medidas propostas (C
ARROLL
& M
EFFE
, 1997). Isto é, o manejo
67
deve ser encarado como um teste de hipóteses. As análises de viabilidade populacional
conduzidas até o momento indicam que a toninha não sofre um risco eminente de
extinção nos próximos 25 anos (K
INAS
, 2002). Conseqüentemente, há ainda tempo para
propor ações, testá-las, corrigi-las e modificá-las se necessário. Isto não significa,
obviamente, que
qualquer ação
deve testada. Descuidos, atropelos e negligências em
nome de uma ação rápida para abrandar pressões públicas, políticas ou
conservacionistas, podem comprometer a viabilidade futura do manejo da pesca que
impacta as populações de toninha.
Acredito ser este o cerne do problema e o maior desafio para as pessoas seriamente
envolvidas na conservação da toninha: como implementar medidas de manejo para a
pesca costeira comercial e ainda conseguir monitorar o sucesso (ou insucessos) delas em
mitigar a mortalidade acidental?
Dois pontos devem ser inicialmente compreendidos: (
i
) não existe a possibilidade de
um dia haver uma mortalidade zero de toninhas, a não ser que a pesca costeira comercial
entre o Espírito Santo e Rio Grande do Sul seja extinta. Esse não deve ser um objetivo a
ser almejado; (
ii
) não como diminuir a mortalidade da toninha sem interferir
diretamente na pesca, em suas metodologias e dinâmica. E qualquer tentativa de
interferência e mudança na pesca acarretará reações fortes. As reações devem vir em
diferentes formas, principalmente das empresas de pesca que atuam em águas do sul e
sudeste do Brasil. No entanto, uma das prováveis conseqüências de modificações na
pesca que afetará diretamente o monitoramento das medidas de manejo é a criação de
68
antagonismos entre pescadores e pesquisadores em campo, com provável interrupção
das colaborações já existentes.
Neste sentido, as pessoas interessadas e envolvidas no processo de conservação da
toninha devem ter em mente que absolutamente
toda
informação relevante sobre a
mortalidade da espécie foi possível de se obter exclusivamente através da cooperação
dos pescadores com os projetos de pesquisa. Seja essa informação obtida por
observações diretas durante embarques de pesca, cadernos de bordo preenchidos pelos
mestres de embarcações, ou através de entrevistas com pescadores. Os pescadores
sempre foram cientes que as leis federais existentes proíbem e punem a captura – mesmo
acidental de toninhas. Não obstante, concordavam em coletar informações sobre as
toninhas capturadas, muitas vezes permitindo o embarque de pesquisadores, em outras
eles próprios coletando os animais e levando ao porto para os pesquisadores,
possibilitando as estatísticas de mortalidade hoje existentes em vários locais do Brasil.
Os pescadores nunca foram diretamente remunerados por essa atividade, pelo menos nos
projetos de pesquisa de meu conhecimento. A colaboração, em sua grande parte, era e é
baseada, essencialmente, na boa vontade e na confiança.
Se a cooperação entre pescadores e pesquisadores for interrompida, muito
provavelmente terá início um período marcado por incertezas e ignorância em relação à
mortalidade de toninhas. Não qualquer exagero nessa afirmação. Retornaremos à
década de 1980, quando toda informação de mortalidade provinha de animais
encalhados nas praias. Sem um monitoramento contínuo da mortalidade acidental, não
haverá todos para assegurar que as medidas de manejo propostas seja a criação de
69
Áreas Marinhas Protegidas, diminuição do esforço de pesca, ou outra qualquer – estejam
de fato sendo eficientes. Será um retrocesso no processo de conservação da espécie.
Pode-se argumentar que esse é um risco a ser assumido. Eu discordo. Infelizmente,
não existe um método indireto robusto para estimar a mortalidade acidental de toninhas.
Estimativas indiretas de mortalidade, como a contagem de animais encalhados nas
praias, possuem fatores que adicionam erros, como a influência de variáveis
oceanográficas e a adição de animais com mortalidade natural nas estatísticas, apenas
para citar dois exemplos. Modelos estatísticos elaborados utilizando informações de
tendência de esforço de pesca e tendência de quantidade de pescado no desembarque nos
portos poderiam ser desenvolvidos e aplicados para se estimar a tendência de
mortalidade da toninha. Entretanto, mais uma vez, a variância inserida nessas tendências
impossibilitaria uma avaliação da tendência de mortalidade da toninha. A verdade é que
na ausência do monitoramento direto da mortalidade acidental, o uma maneira
confiável de se certificar que as medidas propostas estão sendo eficientes e em que
pontos devem ser melhoradas.
No entanto, dados diretos de mortalidade acidental de toninha poderiam ser obtidos
de duas maneiras alternativas: (
i
) obrigação dos mestres a preencher cadernos de bordo
com dados sobre capturas e (
ii
) obrigação de haver fiscais de bordo coletando
diretamente esses dados. Essas duas opções possuem sérias limitações: (
i
)
preenchimento obrigatório de cadernos de bordo, com os mestres cientes do problema
das capturas acidentais e suas conseqüências sobre seu trabalho, resultará em dados
adulterados; (
ii
) embora fiscais de bordo seja uma alternativa interessante, o seu uso em
embarcações de pesca comercial costeira ainda não parece ser uma opção logisticamente
70
e financeiramente viável para a realidade da brasileira. Em muitas embarcações existem
sérias limitações de espaço e segurança que limitam a presença de eventuais fiscais de
bordo. Além disso, geralmente as atividades pesqueiras não seguem um calendário fixo
que um fiscal possa seguir: não existe uma data nem horário previsto para as
embarcações saírem dos portos para a pesca. Isto depende, fundamentalmente, de fatores
meteorológicos e mecânicos da embarcação.
Por estas razões, gostaria de reforçar o ponto de vista que deve haver o entendimento
e concordância de pelo menos
uma
parte
dos pescadores com as medidas de manejo,
para que o monitoramento das medidas possa ser realizado. Felizmente, o
entendimento, mesmo que de uma pequena porção dos pescadores, que “algo precisa ser
feito” para a pesca continuar viável a longo prazo. Está bastante claro não apenas para os
pesquisadores (
e.g.
H
AIMOVICI
, 1998), mas também para os pescadores, que os recursos
pesqueiros estão declinando acentuadamente. Esse é um dos principais argumentos a ser
utilizado para buscar o apoio de parte dos pescadores na continuidade com a colaboração
aos projetos de pesquisa. Sem essa colaboração e sem o monitoramento contínuo da
mortalidade da toninha e do sucesso das medidas de manejo propostas para a pesca,
haverá a falsa sensação de que o trabalho foi feito e o problema resolvido. Mas o
problema continuará existindo, apenas o poderá ser visto, e as carcaças de toninhas
continuarão a chegar às praias.
71
Proposições de manejo para a problemática das capturas acidentais de toninha
A seguir serão caracterizadas e brevemente comentadas de forma crítica algumas das
proposições de manejo usualmente sugeridas para a problemática das interações da
pesca de emalhe com a toninha. Acredito que a conservação da toninha passa por dois
pontos: redução do esforço de pesca associada a tentativas de modificação das redes. A
primeira medida depende de iniciativas políticas e de fiscalização eficiente. A segunda
depende de pesquisa em colaboração com os pescadores.
i. Alarmes Acústicos
A utilização de alarmes acústicos nas redes visando aumentar a percepção das
mesmas pelas toninhas é desestimulada. Seu uso ainda é motivo de discussão em função
de resultados controversos em vários experimentos conduzidos em diversas partes do
mundo com diferentes espécies de cetáceos (R
EEVES
et al
., 1996; D
AWSON
et al
., 1998).
Alguns poucos experimentos, nos quais os alarmes demonstraram-se efetivos para
reduzir as capturas acidentais (K
RAUS
et al
., 1997), não tiveram continuidade a longo-
prazo para avaliar o efeito da habituação que o cetáceo pode apresentar perante esse
novo ruído no seu ambiente. Foi constatado, em alguns experimentos, que após um
determinado período inicial, os golfinhos se habituam aos ruídos produzidos pelos
alarmes e não voltam à sua freqüência usual de ecolocação (C
OX
et al
., 2001).
72
O uso de alarmes com baterias de longa duração e que são resistentes à manipulação
durante a atividade normal de pesca, têm um elevado preço no mercado (em torno de
US$ 150 a 200 por unidade). O tamanho médio de uma rede, que normalmente captura
toninha no Rio Grande do Sul (
i.e.
5.000m) precisaria em torno de 100 unidades.
Considerando que a frota costeira de emalhe no Rio Grande do Sul está composta por
aproximadamente 180 embarcações, o uso de alarmes se torna inviável financeiramente,
mesmo desconsiderando o elevado custo que um experimento teria para pagar o salário
dos observadores de bordo necessários tanto para conduzir o experimento em si como
para monitorar sua eficiência e para a manutenção necessária
a posteriori
.
Além disso, experimentos realizados na Argentina demonstraram que, apesar das
capturas acidentais de toninha terem diminuído após a colocação dos alarmes, os sons
emitidos aumentaram os ataques de leões-marinhos (
Otaria byronia
) às redes de pesca, a
fim de retirar o pescado da rede, causando consideráveis prejuízos econômicos aos
pescadores (Bordino
et al
., 2002). Isto se torna particularmente problemático para o
litoral do Rio Grande do Sul, onde estão localizadas as duas mais importantes áreas de
concentração de leões-marinhos do Brasil (Ilha dos Lobos, em Torres, e o molhe leste da
Barra de Rio Grande). Outro fator negativo dos alarmes acústicos é a adição de poluição
sonora ao meio ambiente aquático com conseqüências desconhecidas para a fauna
marinha.
ii. Criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMP)
As áreas de uso preferenciais da toninha estão associadas a regiões de pouca
profundidade, que em geral não ultrapassam a profundidade de 40 m. Deste modo, a
73
criação de áreas de exclusão pesqueira para utilização de redes de espera, dentro do
limite de distribuição preferencial das populações da espécie, pode ser considerada uma
alternativa de manejo. A implementação dessa medida requer, entretanto, uma cuidadosa
avaliação prévia das condições sócio-econômicas das comunidades pesqueiras afetadas,
de modo a prever alguma forma de compensação pela suspensão, temporária ou
permanente, da pesca.
É importante salientar também, que de um modo geral, as AMPs possuem maior
sucesso quando a exclusão é direcionada a uma pescaria de pequena escala, em áreas
relativamente pequenas, e onde os estoques de peixes possuem baixa mobilidade, como
por exemplo, em ambientes de recifes de corais (H
ALPERN
, 2003). Entretanto, quando as
espécies alvo de proteção são organismos que realizam amplos movimentos, bem como
em situações em que a pesca a ser excluída é de larga escala e realizada em grandes
áreas, como é o caso da pesca em áreas temperadas, o sucesso das AMPs tem sido
bastante questionado (K
AISER
, 2005).
Além disso, é fundamental avaliar seriamente a capacidade de fiscalização de uma
área antes de torná-la uma AMP. Geralmente, em regiões temperadas e em áreas onde
existe uma pesca de larga escala, como é o caso das áreas onde a toninha utiliza no Rio
Grande do Sul, é necessário proteger uma área que varia de cerca de 10 a até 65% da
área de pesca utilizada pela espécie alvo (G
ELL
& R
OBERTS
, 2003). Uma área desta
magnitude certamente pode comprometer a fiscalização e a efetividade da criação de
uma reserva.
Outro aspecto a ser considerado é que a criação de uma AMP costeira provavelmente
teria um efeito apenas sobre os pescadores de menor porte que não teriam condições de
74
se deslocar para áreas de pesca mais afastadas da costa. As embarcações de maior porte
e aquelas pertencentes às grandes empresas de pesca, caso resolvam cumprir as medidas
de restrições de área de perca, desviarão seu esforço para fora da AMP. Ou seja, a
criação de uma AMP sem restringir o esforço de pesca apenas desloca o problema da
sobrepesca para outras áreas.
Uma alternativa interessante para aumentar a efetividade da fiscalização sobre as
áreas de exclusão de pesca seria a implementação de um programa de rastreamento por
satélite da frota pesqueira. Essa metodologia tem sido recentemente implementada de
forma preliminar (Z
AGAGLIA
& B
ONILHA
, 2007). Caso esse sistema torne-se uma
realidade, possui o potencial de revolucionar o sistema de fiscalização de embarcações
pesqueiras no país e aumentar a viabilidade das AMPs como opção de manejo.
iii. Redução do Esforço de Pesca
Uma redução em pelo menos 50% no esforço de pesca no Rio Grande do Sul é
sugerida por S
ECCHI
(2006) para alterar a classificação da toninha de Vulnerável para
uma situação de Baixa Preocupação. De maneira geral, o esforço de pesca pode ser
reduzido, através da (
i
) diminuição do tamanho das redes empregadas, (
ii
) redução do
tempo em que as redes permanecem na água, (
iii
) redução do número de dias de pesca
por embarcação ou (
iv
) redução do número de embarcações operando.
Dentre essas quatro medidas mencionadas, sugerimos a redução no número e do
tamanho das redes. Essas ações são certamente as mais simples do ponto de vista de
fiscalização, uma vez que podem ser verificadas nos próprios portos pesqueiros, sem a
necessidade de implementar um programa de fiscais a bordo. No entanto, somente a
75
diminuição do tamanho das redes torna-se uma medida inócua se não for acompanhada
da manutenção (ou redução) do número existente de redes. Esse é um ponto
fundamental de ser entendido e seguido. Transformar uma rede de 9.000m em três de
3.000m, por exemplo, é uma forma de burlar a fiscalização e uma ação ainda mais
impactante para a toninha (ver D
ANILEWICZ
et al
., nessa Tese).
iv. Modificações nas Artes de Pesca
Estudos focados na utilização de materiais que aumentam a densidade das redes de
pesca, e conseqüentemente, da refletância das mesmas, têm produzido resultados
positivos na tentativa de diminuir as capturas acidentais de golfinhos no Hemisfério
Norte (T
RIPPEL
& S
HEPHERD
, 2004). Com o aumento da densidade da rede, os golfinhos
conseguem percebê-las mais facilmente através de seu sistema de orientação
(ecolocação). O aumento de densidade das redes pode ser obtido através da inclusão de
partículas de sulfato de bário ou óxido de ferro no “nylon” com que as redes são
manufaturadas. Com isso, os golfinhos parecem perceber as redes modificadas com
maior antecedência do que aquelas com “nylon” comum, diminuindo, assim o número
de capturas. Com isso, os golfinhos parecem perceber mais facilmente as redes em
relação aquelas confeccionadas com “nylon” comum, diminuindo, assim o número de
capturas. É importante mencionar que, apesar das modificações, as redes modificadas
com esses materiais não capturam menos peixes que as normais, embora sejam cerca de
20% mais caras (T
RIPPEL
et al
., 2003). Apesar de existirem ainda poucos estudos nesse
sentido, esse parece ser uma alternativa promissora para a redução das capturas
acidentais de toninha no sul do Brasil.
76
Recomendações de políticas públicas para o manejo da pesca comercial costeira
1. Ações de manejo não devem ser vistas como uma solução final.
Ações de manejo não devem ser vistas como um ponto final, mas sim como um
teste de hipóteses. É imprescindível que as medidas propostas sejam continuamente
monitoradas, testadas e melhoradas. Esse é o principio do manejo adaptativo, o qual se
baseia na premissa de que não entendemos o suficiente sobre um ecossistema para
manejá-lo, e o precisamos esperar um entendimento total para agir em relação a um
problema de conservação. Possíveis falhas não devem ser encaradas como fracassos;
ajustes e correções nas medidas podem ser incorporados caso o monitoramento dos
resultados aponte essa necessidade. É preciso, assim, abdicar do conceito de que um
problema de conservação é resolvido simplesmente em função da criação de uma
legislação específica.
2. As ações de manejo devem ser monitoradas a longo prazo.
O sucesso das ações de manejo sobre a pesca comercial costeira que afeta as
populações de toninha deve ser monitorado constantemente. Esse monitoramento deverá
ser efetuado através do acompanhamento a longo prazo da tendência das taxas de
capturas acidentais e das estimativas de abundância.
77
3. Ações de manejo não devem ser inviáveis logisticamente para fiscalização.
Deve haver o máximo cuidado para que propostas de manejo para a problemática da
pesca-toninha sejam viáveis no que concerne à sua fiscalização. o ponto de vista de
que o papel dos cientistas e conservacionistas não é preocupar-se com a viabilidade de
fiscalização de uma proposta de manejo, mas sim propor a melhor solução científica
possível e delegar a responsabilidade de fiscalização para os órgãos governamentais
competentes. Contudo, discordamos dessa visão exclusivamente técnica, uma vez que
são evidentes as atuais limitações financeiras da maioria dos órgãos de fiscalização do
país. Medidas que exijam a presença de fiscais de bordo para garantir sua efetividade,
por exemplo, devem ser descartadas, pois são logisticamente e financeiramente
inviáveis. Da mesma forma, atualmente o fechamento de grandes áreas de pesca exige
um esforço desmedido e sistemático de fiscalização, através de meios de monitoramento
marinhos e aéreos (avião, helicóptero).
4. Ações de manejo devem contar com ampla disseminação de informação.
É fundamental que haja pleno entendimento pelo maior número possível de
envolvidos (
e.g.
pescadores, donos de empresas de pesca) sobre as ações de manejo que
serão implementadas. ões de manejo e restrições obscuras, sem o devido
esclarecimento prévio e divulgação dos seus objetivos e seus benefícios, a longo prazo,
para os envolvidos, acarretam, invariavelmente, em má-vontade para seu cumprimento.
A falta de esclarecimento geralmente é interpretada pelas comunidades envolvidas como
menosprezo por parte dos governantes e torna-se mais um motivador para seu
descumprimento. Além disso, a desinformação acerca da importância de medidas de
78
manejo é um dos principais fatores que contribuem para a falta de participação das
comunidades nas discussões e ações de manejo.
5. Ações de manejo devem contar com a concordância e participação das
comunidades de pesca envolvidas.
Qualquer medida de manejo que vise diminuir as capturas acidentais das toninhas
acarretará, obrigatoriamente, em modificações e/ou restrições à pesca costeira
comercial. Nesse sentido, a concordância total por parte das comunidades de pesca em
relação às medidas é utopia e sua ausência não deve ser supervalorizada. Sempre haverá
descontentamento e contrariedade por parte das comunidades envolvidas quando, de
alguma forma, o recurso pesqueiro for limitado. É indispensável, entretanto, empregar
todos os esforços para sensibilizar o maior número possível de indivíduos envolvidos
com a pesca. Sem que, pelo menos, um segmento dos pescadores concorde e acredite
nas medidas propostas, se impraticável o monitoramento do sucesso das ações de
manejo. Sem a colaboração de alguns pescadores para o monitoramento do sucesso
dessas ações, não haverá como avaliar se as mesmas estão atingindo seus objetivos em
relação à conservação da toninha.
6. Ações de manejo devem ter uma abrangência nacional.
É imperativo que qualquer ação de manejo que imponha limites ou modificações
no esforço pesqueiro tenha abrangência nacional. Embarcações pesqueiras não
reconhecem fronteiras estaduais. Embarcações provenientes dos Estados do sul e sudeste
do Brasil podem explorar recursos pesqueiros existentes em toda essa área. Para que
79
uma ão de manejo proposta seja respeitada e cumprida, é necessário assegurar às
comunidades locais envolvidas que pescadores provenientes de outras comunidades o
encontrarão facilidades para explorar os recursos pesqueiros que foram limitados.
7. O impacto econômico das medidas de manejo deve ser previamente estudado
Qualquer medida de manejo sobre a pesca - independentemente de qual for
escolhida - acarretará em perdas econômicas para diversos segmentos sociais envolvidos
nessa atividade. O impacto dessas perdas deve ser minimamente estudado e conhecido
para que mecanismos de compensação financeira possam ser propostos àqueles
segmentos menos favorecidos economicamente.
8. Ações de manejo devem ser acompanhadas de pesquisa.
Tão importante quanto implementar ações de manejo para a problemática da pesca e
da toninha é dar seguimento às pesquisas mais diretamente relacionadas à conservação
da espécie e ao monitoramento das ões de manejo. Nesse sentido, deve-se prosseguir
com o (1) monitoramento das estatísticas de mortalidade da toninha; (2) com as
estimativas de abundância para a espécie, bem como (3) iniciar experimentos com novas
tecnologias pesqueiras (ver Proposições de manejo) que visem mitigar as capturas
acidentais da espécie.
80
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84
DESCRIÇÃO DA PESCA COSTEIRA DE MÉDIA ESCALA NO LITORAL NORTE DO RIO
1
GRANDE DO SUL: COMUNIDADES PESQUEIRAS DE IMBÉ/TRAMANDAÍ E PASSO DE
2
TORRES/TORRES
*
3
Ignacio Benites MORENO
1
,
2
; Maurício TAVARES
1,2
; Daniel DANILEWICZ
1,3
; Paulo Henrique OTT
1
,
4
; Rodrigo
4
MACHADO
1,2
5
RESUMO
6
O presente trabalho apresenta uma descrição detalhada da pesca costeira de média escala no litoral norte do Rio Grande do Sul,
7
enfocando aspectos técnicos, econômicos e sociais de duas comunidades pesqueiras (Imbé/Tramandaí e Passo de
8
Torres/Torres). Um total de 49 embarcações foram monitoradas, entre janeiro de 2002 e dezembro de 2004. Os resultados
9
demonstram grande plasticidade quanto à utilização das áreas de pesca, bem como quanto aos tipos de artes de pesca
10
empregadas pelas embarcações, que se diferenciam em quatro categorias. Vários dos recursos explorados apresentam sinais de
11
sobrexplotação, tais como a corniva (
Micropogonias furnieri
), a castanha (
Umbrina canosai
) e diversas espécies de
12
elasmobrânquios.
13
14
Palavras-chave: descrição da pesca; sobrexplotação; emalhe; Rio Grande do Sul.
15
16
DESCRIPTION OF THE COASTAL MEDIUM SCALE FISHERY ON THE NORTHERN RIO
17
GRANDE DO SUL STATE: FISHING COMMUNITIES FROM IMBÉ/TRAMANDAÍ AND PASSO DE
18
TORRES/TORRES
19
ABSTRACT
20
The present study presents a detailed description of the coastal medium scale fishery on the northern Rio Grande do Sul State.
21
Technical, economic and social aspects about two fishing communities (Imbé/Tramandaí and Passo de Torres/Torres) are
22
detailed. A total of 49 fishing vessels were monitored from January 2002 and December 2004. The results demonstrate high level
23
of plasticity related to fishing areas, nets and fishing vessels, wich are divided in to four categories. Several exploited resources
24
present signs of over-exploitation, such as the whitemouth croaker (
Micropogonias furnieri
), the Argentine croaker (
Umbrina
25
canosai) and various types of Elasmobranchii.
26
Key-words: fishing description; over-exploitation; gillneting; Rio Grande do Sul.
27
INTRODUÇÃO
28
Nos últimos cinqüenta anos, a pesca mundial tem apresentado um significativo crescimento,
29
representando uma importante atividade econômica em todas as escalas, desde o nível de pequenas
30
comunidades locais até o comércio internacional (FAO, 2004). Como conseqüência, em muitas regiões
31
*
Esse trabalho foi realizado com o financiamento do Fundo Nacional do Meio Ambiente, através do projeto
Conservação e Biologia de Pontoporia blainvillei, convênio GEMARS/FNMA 094/2001, Edital Probio 4/2001 .
1
Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul. Rua Felipe Neri, 382/203. Porto Alegre 90440-
150, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
2
CECLIMAR/UFRGS. Av. Tramandaí, 976, Imbé, 625-000, RS, Brasil.
3
Departamento de Biodiversidade e Ecologia da Faculdade de Biociências – PUCRS. Av. Ipiranga, 6681, 90619-900,
Porto Alegre, RS, Brasil.
4
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). Cidreira, Rio Grande do Sul, Brasil.
85
do mundo, as atividades pesqueiras têm removido uma grande quantidade de biomassa dos
32
ecossistemas estuarinos, costeiros e marinhos (READ et al., 2006; MYERS e WORM, 2003).
33
Na costa brasileira, o litoral do Rio Grande do Sul é uma das regiões de maior potencial pesqueiro
34
(HAIMOVICI et al., 1996). Contudo, assim como as demais regiões do país, o Rio Grande do Sul carece
35
de uma efetiva política de manejo dos recursos vivos. Certamente, um dos fatores que dificultam o
36
manejo adequado desses recursos é a escassez de conhecimentos sobre as características e a dinâmica da
37
pesca desenvolvida na região.
38
Enquanto na região de Rio Grande, o principal porto pesqueiro do sul do país, existe um bom
39
conhecimento acerca dos recursos vivos existentes e um acompanhamento sistemático do setor
40
pesqueiro (e.g. HAIMOVICI et al., 1989; VOOREN et al., 1990; IBAMA, 1995), no litoral norte do Rio
41
Grande do Sul (LNRS), estas informações vêm sendo coletadas de forma bastante esporádica.
42
GLIESH (1925) foi um dos primeiros autores a descrever as atividades pesqueiras desenvolvidas no
43
LNRS, reportando as embarcações e os métodos pesqueiros utilizados na região de Torres. Em 1968, o
44
Conselho de Desenvolvimento do Extremo Sul (CODESUL) forneceu os primeiros dados referentes à
45
pesca costeira na região de Tramandaí. Alguns anos mais tarde, novas informações sobre a pesca nessa
46
região foram fornecidas pelo Grupo Executivo do Desenvolvimento da Indústria da Pesca (GEDIP,
47
1972). BERTOLETTI et al. (1983) apresentaram dados sobre a comunidade pesqueira da Bacia Inferior do
48
Mampituba - RS/SC, na região de Torres, enfocando aspectos sócio-econômicos e fornecendo
49
informações históricas. Porém, dados detalhados sobre as artes de pesca, bem como sua dinâmica de
50
funcionamento para as comunidades pesqueiras do LNRS, somente foram apresentados anos mais tarde
51
em estudos envolvendo a interação com mamíferos marinhos (MORENO et al., 1997; OTT, 1998).
52
Recentemente, GALINA e VOOREN (2005) apresentaram dados sobre pesca de elasmobrânquios em Passo
53
de Torres/Torres a partir de entrevistas durante desembarques durante um curto período (verão de 2004/2005).
54
KLIPPEL et al. (2005a) forneceram alguns dados sobre as comunidades do LNRS ao descreverem a pesca
55
industrial no sul do Brasil. KLIPPEL
et al
. (2005b) fizeram uma descrição detalhada da pesca artesanal de
56
beira-de-praia no litoral norte do RS, apresentando alguns dados sobre as comunidades pesqueiras.
57
Apesar do conhecimento geral sobre a pesca no litoral do Rio Grande do Sul obtido nos últimos
58
anos, é importante notar que as estatísticas de desembarque pesqueiro elaboradas pela antiga
59
Superintendência do Desenvolvimento de Pesca (SUDEPE) e, atualmente, pelo Instituto Brasileiro de
60
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) são referentes exclusivamente às embarcações
61
sediadas na localidade de Rio Grande. Apenas em 2003, o município de Passo de Torres (SC), que se
62
situa às margens do Rio Mampituba, assim como o município de Torres (RS), e que comporta grande
63
parte da frota pesqueira do porto de Torres/Passo de Torres, passaram a ser incluídos no Boletim
64
Estatístico da Pesca Industrial de Santa Catarina (UNIVALI/CTTMar, 2004). Contudo, os dados não
65
foram coletados nos anos subseqüentes (http://siaiacad04.univali.br/index_tabs.php?id=&ano=2005).
66
86
O presente trabalho objetiva fornecer uma descrição detalhada sobre a dinâmica da pesca costeira
67
de dia escala nas comunidades de Imbé/Tramandaí (RS) e Passo de Torres/Torres (SC), incluindo
68
aspectos técnicos, econômicos e sociais.
69
70
MATERIAL E MÉTODOS
71
72
Área de estudo
73
A frota comercial da pesca costeira de média escala do litoral norte do Rio Grande do Sul (LNRS)
74
está situada em duas localidades: Torres/Passo de Torres (29º19’S, 49º43’W) e Imbé/Tramandaí (29º58’S,
75
50º07’W). Essas duas localidades abrigam duas comunidades de pesca distintas, situadas às margens dos
76
Rios Mampituba (divisa entre os municípios de Torres, RS e Passo de Torres, SC) e Tramandaí (divisa
77
entre os municípios de Imbé e Tramandaí)(Figura 1).
78
79
Coleta de dados
80
O presente trabalho foi desenvolvido como parte do projeto Conservação e Biologia de Pontoporia
81
blainvillei”, realizado pelo Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (GEMARS)
82
em convênio com o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). A coleta de dados referentes às
83
atividades pesqueiras foi realizada entre janeiro de 2002 e dezembro de 2004. As duas comunidades de
84
pesca do LNRS foram visitadas em 350 ocasiões para seleção das embarcações colaboradoras com o
85
projeto, condução de entrevistas com pescadores (mestres de embarcação e tripulantes), distribuição dos
86
cadernos de bordo para os mestres e observações a bordo das embarcações. A comunidade de Passo de
87
Torres/Torres foi acompanhada quinzenalmente, enquanto que a de Imbé/Tramandaí foi monitorada
88
semanalmente. Foram também conduzidos 33 dias de observações a bordo das embarcações pesqueiras.
89
Cabe salientar que estas duas comunidades pesqueiras são acompanhadas pelo GEMARS desde 1992
90
para estudo das interações entre a pesca e os mamíferos marinhos, sendo que até o presente momento
91
foram realizados mais de 180 embarques (ver MORENO et al., 1997; OTT, 1998).
92
As informações coletadas para cada operação de pesca, através do caderno de bordo e dos
93
embarques, incluíam a data da pesca, o local de pesca (nome e coordenadas geográficas), a
94
profundidade, o tipo de rede (espécie-alvo de peixe, tamanho da malha em centímetros, comprimento e
95
altura da rede em metros) e tempo de pesca (em horas). Uma operação de pesca foi definida como a
96
colocação e retirada de uma rede. Enquanto o tempo de pesca como o período de tempo decorrido entre
97
essas duas atividades. Uma embarcação é capaz de realizar mais de uma operação de pesca por dia.
98
No total, foram coletados dados relativos a 821 operações de pesca realizadas pelas 22 embarcações
99
monitoradas (entre cadernos de bordo e embarques). As embarcações de Passo de Torres/Torres (n=19)
100
foram responsáveis por
647 (78,80
%) das operações de pesca e as de Imbé/Tramandaí (n=3)
101
responsáveis por 174 (21,20%) operações de pesca monitoradas.
102
87
103
RESULTADOS E DISCUSSÃO
104
Caracterização da pesca costeira de média escala no litoral norte do Rio Grande do Sul
105
Nas duas comunidades estudadas, a atividade pesqueira é caracteristicamente costeira atuando
106
apenas na plataforma continental rasa, sendo que dentro dessa área os pescadores são extremamente
107
móveis, sempre procurando regiões de maior produtividade pesqueira. No período de estudo, a frota
108
pesqueira era composta por 49 embarcações (46 em Passo de Passo de Torres/Torres e três em
109
Imbé/Tramandaí) que operavam normalmente dentro da área compreendida entre Araranguá/SC
110
(28°56’S), e o Farol de Mostardas/RS (31º15’S), em profundidades que variam de 10 a 50 m (Figura 1).
111
Porém, dependendo da espécie de peixe visada, as áreas de atuação podiam variar consideravelmente.
112
Por exemplo, em 2003 e 2004 no início da safra da corvina, algumas embarcações de maior porte
113
deslocaram-se até Santos/SP (24°56'S), a fim de antecipar as capturas e garantir uma maior rentabilidade
114
do recurso, antes mesmo da chegada da espécie no litoral do RS.
115
116
117
Figura 1. Principal área de pesca (região hachurada) utilizada pelas embarcações das
118
comunidades pesqueiras do litoral norte do Rio Grande do Sul.
119
120
Das 49 embarcações existentes no LNRS, 22 (45%) foram estudadas de maneira detalhada quanto às
121
características das atividades pesqueiras. Todas são construídas em madeira, entre oito e 20 m de
122
comprimento, possuem motores a diesel entre 22 e 360 HP e armazenam de duas a 60 toneladas de
123
pescado. Essas embarcações possuem aparelhos de navegação bastante simples, geralmente atuando
124
88
apenas com GPS, ecobatímetro e rádio Px. Entretanto, muitos barcos contam ainda com rádio VHF e, os
125
de maior porte, com rádio de longo alcance (SSB) e radar. O número de tripulantes por embarcação varia
126
de três a nove pescadores, enquanto a autonomia de um a 20 dias de pesca. Em Imbé/Tramandaí,
127
geralmente, os barcos realizam viagens com duração de um dia. Esse tipo de operação pesqueira é
128
chamado localmente de “bate-volta” e consiste, freqüentemente, na busca de uma rede de emalhe de
129
fundo colocada no dia anterior ou na colocação e retirada de uma rede no mesmo dia, seja ela de emalhe
130
de fundo ou de superfície. Esse tipo de pescaria também é praticado com freqüência pelas baleeiras e
131
embarcações de pequeno e médio porte em Passo de Torres/Torres, especialmente no verão, quando
132
ocorre a pesca do papa-terra (Menticirrhus spp.) em associação com a pesca da viola (Rhynobatos sp.) e de
133
outros elasmobrânquios (e.g. Sphyrna, Mustelus). O pescado é normalmente conservado em gelo, exceto
134
em viagens de apenas um dia, quando este processo torna-se desnecessário.
135
A pesca nessa região é caracterizada pela exploração de recursos demersais e pelágicos. Para
136
obtenção de tais recursos, os pescadores utilizam uma variedade de artes de pesca, incluindo redes de
137
emalhe de fundo e de superfície, redes de arrasto e espinhéis. Para cada espécie de peixe são
138
empregados equipamentos específicos de diferentes materiais, dimensões, tamanhos de malha e
139
flutuabilidade. No entanto, redes de emalhe de fundo, confeccionadas em poliamida monofilamento de
140
0,4 a 0,6 mm de diâmetro e malhas com tamanhos entre 7 e 22cm (medidos entre nós opostos e com a
141
malha esticada), são normalmente as mais utilizadas. Essas redes são chamadas de “peças” e apresentam
142
de 1,8 a 4 m de altura e aproximadamente 100 m de extensão. Contudo, várias “peças” são utilizadas em
143
conjunto, atingindo uma extensão total que varia entre 400 e 23.200 m. O tempo de permanência dessas
144
redes na água varia de 3 a 48 horas. Estas redes são consideradas relativamente seletivas, uma vez que
145
são espécie-específicas e tamanho-específicas.
146
Tipos de embarcações
147
As embarcações podem ser separadas em quatro categorias de acordo com seu tamanho e
148
autonomia de pesca (Figura 2).
149
Categoria 1 (Grande porte) (Figura 2A): embarcações acima de 14 metros de comprimento, dotadas de
150
casaria completa, com autonomia de no mínimo 10 dias e capacidade para até 9 pescadores.
151
Categoria 2
(
Médio porte
) (Figura 2B)
:
embarcações entre 10 e 14 metros de comprimento, dotadas de
152
casaria completa, com autonomia de no mínimo 5 dias e capacidade para até 7 pescadores.
153
Categoria 3 (Pequeno porte) (Figura 2C): embarcações de até 10 metros de comprimento, dotadas de
154
casaria completa, com autonomia de até 2 dias e capacidade para até 4 pescadores.
155
Categoria 4
(
Canoas ou baleeiras
) (Figura 2D)
:
embarcações de até 11 metros sem casaria e sem
156
autonomia para viagens longas, com capacidade de 2 a 3 pescadores.
157
158
89
159
Tipos de redes
160
Redes de emalhe de fundo (demersais): são as mais utilizadas na região de estudo e são destinadas
161
especialmente para a pesca da corvina (
Micropogonias furnieri
), brota (
Urophycis brasiliensis
), pescada
162
(Cynoscion guatucupa), papa-terra (Menticirrhus spp.) e diversas espécies de elasmobrânquios juvenis de
163
pequeno porte (e.g. Rhynobatos spp., Sphyrna spp., Rhizoprionodon sp.). Essas redes são fixadas no fundo
164
com âncoras, sendo sinalizadas através de bandeiras ou bóias na superfície. São colocadas no mar
165
manualmente e retiradas com recolhedores mecânicos, denominados de guinchos pelos pescadores. As
166
principais redes demersais utilizadas na região são descritas a seguir com a denominação utilizada pelos
167
pescadores:
168
1- Rede de corvina: malha geralmente de 13 ou 14cm, podem medir entre 400 e 23.200m (0,22 a 12,5
169
milhas náuticas) de comprimento e tem de altura entre 1,8 e 4m. Permanece na água, em média, de 18 a
170
24h pelas embarcações que realizam “bate-volta”. Porém nas embarcações que permanecem vários dias
171
no mar pescando, em geral, a rede fica na água de 3 a 10h, podendo chegar a até 20h em algumas
172
ocasiões.
173
2-
Rede de brota
: malha de 10cm, medem entre 1.850 e 20.300m (1 a 11 milhas náuticas) de
174
comprimento e tem de altura entre 1,8 e 3m. Permanece na água em média 18h. Essa rede também é
175
chamada de rede de pescada ou, ainda, “miudeira” por alguns pescadores.
176
3- Rede de papa-terra: malha 7 ou 8cm, medem entre 1.850 e 5600m (1 a 3 milhas náuticas) de
177
comprimento e tem de 1,5 a 2m de altura. Permanece na água de 6 a 8h.
178
4- Rede de viola: malha 18 a 22cm, medem entre 550 a 16.600m (0,3 a 9 milhas náuticas) de
179
comprimento e tem de altura entre 2 e 3m. Permanece na água em média de 18 a 24h, podendo ficar até
180
48h em alguns casos. É a única rede de fundo que permanece até dois dias na água, devido ao fato de
181
que as espécies visadas (diversas espécies de elasmobrânquios) suportam mais tempo vivas após o
182
emalhe. Esse tipo de rede também é chamada localmente de “sarninha”.
183
Redes de emalhe de superfície: são utilizadas essencialmente para a pesca da anchova (Pomatomus
184
saltatrix) durante o dia, sendo colocadas na água geralmente após a observação visual de cardumes na
185
superfície ou detecção de sua presença por meio de equipamentos eletrônicos (eco-sonda). Também são
186
empregadas para a pesca de determinadas espécies de elasmobrânquios em regiões próximas à costa.
187
Essas redes permanecem livres à deriva na superfície, sendo sinalizadas através de bandeiras em suas
188
extremidades. São colocadas e recolhidas manualmente sem a utilização de guincho. As principais redes
189
de emalhe de superfície utilizadas na região são descritas a seguir com a denominação utilizada pelos
190
pescadores:
191
90
1- Rede de anchova: malha 8 ou 9cm, com comprimento entre 300 e 3.700m (0,16 a 2 milhas náuticas)
192
e altura entre 7 e 17m. Normalmente, os pescadores realizam amostragens com algumas “peças” de rede,
193
as quais permanecem na água por períodos relativamente curtos de tempo (de 10 a 15 minutos). Caso
194
essas amostragens sejam positivas em relação ao número de indivíduos capturados, toda a rede é
195
colocada na água, permanecendo submersa por períodos mais longos (1 a 4h).
196
2- Rede de cação boiada: malha 14 a 22cm, medindo entre 1.850 e 5.600m (1 a 3 milhas uticas) de
197
comprimento e altura entre 9 e 20m. Permanecem na água de 3 a 18h e, em geral, ocupam toda a coluna
198
d’água. É empregada na pesca de elasmobrânquios, e, em muitos casos, é utilizada para a viola por
199
muitos pescadores que não possuem rede específica para essa espécie, porém para essa finalidade
200
utiliza-se a fixação da rede ao fundo através de âncoras. Dessa forma, essa rede é utilizada tanto como
201
rede de emalhe de superfície quanto de fundo. Diferentemente da usual poliamida monofilamento
202
utilizada nas outras redes descritas, essa pode ser confeccionada também com náilon seda. Esta rede
203
também é denominada localmente, pelos pescadores, de “caçoal”.
204
Redes de arrasto: No Litoral Norte do Rio Grande do Sul, esta arte de pesca é utilizada apenas na
205
comunidade de Passo de Torres/Torres para a captura de camarão e de pequenos peixes como a maria-
206
luiza (Paralonchurus brasiliensis). Geralmente é adotada por muitos barcos como atividade provisória,
207
quando a pesca com redes de emalhe apresenta baixa produtividade. A atividade de arrasto é
208
semelhante à descrita por BARCELLOS et al. (1991) para a frota de Rio Grande, sendo as portas de
209
madeira sobre armação de metal, com malhas no ensacador variando de 1 a 6 cm entre nós opostos.
210
Espinhel: arte de pesca utilizada por algumas embarcações de Passo de Torres/Torres como uma
211
alternativa de pesca nos períodos de entressafra. O espinhel de fundo utilizado nessa comunidade é
212
muito semelhante ao descrito por BARCELLOS et al. (1991) e geralmente é utilizado para a pesca de
213
peixes de fundo associados aos parcéis, tais como as garoupas (Epinephelus spp.) e os chernes (Polyprion
214
sp.). O tamanho total dos espinhéis varia de 0,25 a 9 milhas náuticas de comprimento, dependendo da
215
embarcação. Esporadicamente algumas embarcações menores das duas comunidades estudadas se
216
dirigem até alguns parcéis, munidas de linhas de mão, a fim de pescarem os peixes acima citados que
217
apresentam alto valor comercial e incrementam a baixa renda desses pescadores.
218
219
Safras de pesca
220
Cada uma das principais espécies de peixes visadas tem um período do ano específico para a sua
221
captura. Esses períodos constituem as safras, que duram, em geral, três meses (Tabela 1). Nesses
222
períodos pré-determinados são empregados petrechos específicos para cada espécie. Durante os meses
223
de abril e maio ocorre a entressafra, quando a maioria dos pescadores se dedicam ao conserto dos
224
petrechos de pesca e das embarcações. Esse período começa usualmente dias antes da “Semana Santa”,
225
com a realização das últimas saídas para garantir um bom estoque de peixes para a venda durante a
226
91
Páscoa. Comumente, as embarcações de Imbé/Tramandaí são levadas para os estaleiros de Passo de
227
Torres/Torres para pintura e reforma.
228
229
Tabela 1. Representação da sazonalidade da pesca costeira de média escala no litoral norte do Rio
230
Grande do Sul.
231
Verão Outono Inverno Primavera
Espécies visadas
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Papa-terra
Viola
Cações
Anchova
Brota
Pescada
Corvina
Entressafra
232
233
92
Figura 2 – Embarcações típicas do litoral norte do Rio Grande do Sul. (A) categoria 1, (B) categoria 2, (C) categoria 3 e (D) categoria 4.
234
A
B
C
D
93
A divisão do trabalho dentro das embarcações
235
Nas embarcações das categorias 1 a 3, os pescadores estão divididos em quatro funções: mestre da
236
embarcação (ou patrão), motorista, cozinheiro e marinheiro.
237
Ao mestre cabe toda a responsabilidade da segurança da embarcação, dos pescadores e do material
238
de pesca. São de sua responsabilidade as decisões sobre a escolha da área e da arte de pesca a ser
239
utilizada em uma saída. Em terra, o mestre, juntamente com os demais pescadores, é responsável pelo
240
conserto e manutenção das redes. É o mestre quem embarca (contrata) ou desembarca (despede) um
241
tripulante.
242
Durante a pescaria, os marinheiros o responsáveis por colocar e retirar as redes do mar. Cabe a
243
eles, também, a tarefa de despescar os peixes emalhados na rede enquanto ela é recolhida pelo guincho.
244
Durante as viagens, os marinheiros são responsáveis pela organização e limpeza das redes, do convés e
245
do interior da embarcação. Em terra, os marinheiros são responsáveis pelo conserto e manutenção das
246
redes.
247
O motorista, além de exercer as atividades normais de um marinheiro, é responsável pela mecânica
248
do barco. Da mesma forma, o cozinheiro também exerce as atividades de marinheiro e é responsável
249
pelas refeições a bordo. Para tanto, nos horários próximos às refeições ele é liberado pelo mestre dos
250
trabalhos no convés para poder cozinhar. Todas as embarcações sediadas nas comunidades de Passo de
251
Torres/Torres e Imbé/Tramandaí possuem atracadouros próprios e desembarcam os peixes nesses
252
locais. Recentemente, com a construção de embarcações maiores, alguns barcos realizam o desembarque
253
do pescado em portos de maior porte, tais como os de Laguna (28
º
29’S; 048
º
46’W) e Itajaí (26
º
54’S;
254
048
º
40’W), ambos localizados em SC.
255
256
Gastos e divisões da pescaria
257
Antes de partir do porto, uma embarcação possui basicamente três gastos: o óleo combusvel para a
258
viagem, o gelo para conservar o pescado e os neros alimentícios (rancho) para o consumo a bordo
259
durante a viagem. O fator determinante para o valor total gasto com cada um desses itens é o período de
260
viagem planejado e a capacidade de armazenamento da embarcação.
261
O rendimento da pescaria depende da quantidade e da espécie do pescado capturado pela
262
embarcação. Por sua vez, os valores do pescado apresentam uma variação considerável, dependendo,
263
fundamentalmente, da quantidade de oferta da espécie na região. Na maioria dos casos, o valor de peixe
264
é estipulado pelos próprios donos das embarcações e muitas vezes, quando a produção alcança números
265
elevados o preço do pescado diminui rapidamente, seguindo a lei da oferta e da procura.
266
Metade do pescado proveniente de uma pescaria é de propriedade do dono da embarcação que
267
geralmente possui uma peixaria e acaba adquirindo a outra metade da produção de seu barco. Essa
268
outra metade é dividida entre os pescadores como forma de pagamento, depois de descontados os
269
custos da viagem (óleo combustível, gelo e rancho). A divisão dessa quantia restante entre os
270
pescadores é baseada em um sistema de partes, no qual cada marinheiro ganha uma parte, o motorista e
271
94
cozinheiro uma parte e meia, enquanto que o mestre ganha três partes. Assim, se a embarcação possui
272
seis marinheiros (6 partes), um motorista (1,5 partes), um cozinheiro (1,5 partes) e um mestre (3 partes), a
273
quantia que pertence aos pescadores é dividida por 12 (6+1,5+1,5+3). Uma prática comum empregada
274
antes da divisão das partes é a retirada de uma pequena quantidade (~5kg) de peixe, denominada
275
“cambalacho” pelos pescadores, a qual é utilizada para consumo próprio ou comercializada diretamente
276
com moradores e turistas. Essa prática é especialmente importante no verão, quando a renda dos
277
pescadores aumenta com a venda de peixes para os turistas.
278
279
Produção, compradores e principais mercados consumidores
280
No momento do desembarque do pescado, aquelas embarcações que pertencem a alguma peixaria
281
entregam o peixe diretamente para esta, seguindo também o sistema de partes. Nas embarcações em que
282
o proprietário não possui peixaria ou nas poucas vezes em que o barco pertence aos próprios mestres, o
283
peixe é entregue em peixarias pré-determinadas, e o valor recebido é dividido entre o dono do barco
284
(50%) e a tripulação (50%), seguindo a mesma metodologia das partes. As peixarias possuem acordos
285
pré-estabelecidos com os donos das embarcações e pagam pelo peixe o valor de mercado local, o qual
286
muitas vezes é o mesmo em todas as peixarias da cidade. Esse valor usualmente não sofre aumento
287
mesmo que em outras localidades próximas peixe obtenha um valor maior durante aquela safra. O
288
contrário não é verdadeiro, e quando o valor do peixe sofre uma desvalorização em outras localidades, o
289
preço repercute quase que imediatamente nos portos locais. Devido a esta sistemática existente na
290
comercialização do desembarque pesqueiro, os pescadores praticamente não possuem escolha na hora
291
de vender o peixe.
292
No verão, com o aumento do número de turistas, o peixe alcança maiores valores. Porém, na maioria
293
dos casos, os peixes são diretamente comercializados pelas peixarias para atravessadores ou peixarias de
294
maior porte do sul e do centro do país. Algumas vezes, contudo, o produto pode alcançar diretamente os
295
mercados de cidades como Itajaí (SC), Porto Alegre (RS) e Rio Grande (RS). Numa prática pouco
296
comum, alguns donos de embarcações que possuem peixarias, estocam o pescado em câmaras frias e
297
realizam a exportação para outros países com a ajuda de peixarias de grande porte.
298
As espécies mais visadas, tais como a corvina, a pescada e a brota, possuem geralmente um baixo
299
valor comercial (entre R$ 1,00 e 2,00 por quilo em 2003-2004). Entretanto, algumas espécies como a
300
garoupa e o linguado, alcançam preços mais elevados (entre R$ 5,00 e 6,00 por quilo). Existem ainda,
301
espécies que possuem valor comercial muito baixo, tais como a savelha (
Brevoortia pectinata
) que, em
302
2003, era comprada dos pescadores por R$ 0,20 a 0,30 o quilo e revendida por peixarias da capital a R$
303
1,00 o quilo. A discrepância entre o valor pago aos pescadores e o preço praticado pelas peixarias locais e
304
principalmente pelos mercados da capital do Estado, reflete a exploração econômica a que os pescadores
305
são submetidos.
306
307
95
Situação trabalhista dos pescadores
308
Os rendimentos dos pescadores, durante o período de safra, dependem exclusivamente da
309
quantidade de peixe capturado. Conforme se verificou, nenhum pescador recebe um salário mínimo ou
310
qualquer outra compensação caso a pescaria não alcance o teto mínimo para cobrir seus gastos mensais.
311
Nos períodos em que a embarcação não está obtendo lucro ou nos períodos de entressafra, os pescadores
312
recebem um empréstimo, denominado de “vale”, que é descontado a medida que a captura alcança
313
níveis rentáveis ou as atividades de pesca são reiniciadas.
314
Com relação à situação trabalhista, nenhum pescador possui vínculo empregatício com as empresas
315
de pesca. Sendo assim, não possuem carteira assinada, salário, férias, 13º salário, FGTS ou qualquer
316
outro benefício trabalhista. Durante os períodos de entressafra ou no verão, muitos pescadores,
317
procuram empregos temporários alternativos. Aqueles pescadores que continuam vinculados a uma
318
embarcação, recebem um pagamento semanal para realizarem o conserto dos petrechos de pesca
5
.
319
320
CONCLUSÕES
321
As atividades pesqueiras praticadas no litoral norte do Rio Grande do Sul se assemelham em muito,
322
aquelas praticadas no porto de Rio Grande/RS (BARCELLOS
et al
., 1991; REIS, 1993). Nesse sentido, a
323
atividade pesqueira desenvolvida no litoral norte do Rio Grande do Sul se enquadra bem na designação
324
proposta por REIS (1993) como Pesca Costeira de Média Escala, pois possui mão-de-obra especializada
325
dividida entre os membros da tripulação. Além disso, a maioria das embarcações é equipada com
326
ecobatímetros, sistemas de localização por satélite (GPS) e recolhedores de redes mecânicos. Entretanto,
327
segundo OTT (1998), a utilização de “guincho” no recolhimento das redes no litoral norte se iniciou por
328
volta de 1994, pois até então o recolhimento era feito manualmente, como ainda ocorre em algumas artes
329
de pesca (
e.g.
rede de superfície para anchova) ou em pequenas embarcações.
330
A pesca comercial no Estado do Rio Grande do Sul, mais especificamente no extremo sul do Estado,
331
tem sofrido oscilações com relação ao total de pescado desembarcado. Nesse sentido, diversas espécies
332
costeiras encontram-se em regime de sobrexplotação ou no limite máximo de produção (JABLONSKI
333
2005), como exemplo podemos citar a corvina (HAIMOVICI
et al.
,
1989; BOFFO e REIS, 2003), a castanha
334
(
Umbrina canosai
) (HAIMOVICI e REIS, 1989) e diversas espécies de elasmobrânquios (
VOOREN e 335
KLIPPEL, 2005)
. Devido à diminuição dos estoques pesqueiros, existe uma tendência ao aumento do
336
esforço, a fim de capturar quantidades de pescado economicamente viáveis. Comparando os dados
337
apresentados por OTT (1998) com os atuais comprimentos das redes de emalhe utilizadas no litoral
338
norte, observa-se que todas as artes de pesca de emalhe, sofreram um aumento significativo no tamanho
339
mediano, tendo passado de 1500m (IC = 1000 - 2000m), no período 1992-97, para 7408m (IC = 3.333 -
340
11.112m) em 2002-04 (P<0,001). A mudança corresponde a um aumento de mais de 400% no
341
comprimento das redes em apenas 12 anos. Um aumento no tamanho das redes foi também evidenciado
342
5
Geralmente os pescadores recebem R$ 20,00 para o conserto de uma peça de rede que consome em média um dia e meio (trabalhando em
média 8 horas diárias).
96
no litoral sul do Estado do Rio Grande do Sul por KLIPPEL
et al.
(2005a). Outro aspecto interessante
343
relativo à pesca nos últimos anos é o surgimento de novas artes de pesca ou a mudança das espécies
344
alvo. Na localidade de Passo de Torres/Torres a grande maioria das embarcações utiliza redes de
345
emalhe. Entretanto, no período da entressafra, algumas embarcações passaram a operar com arrasto de
346
fundo. Essa arte de pesca utiliza malha pequena (~9 cm), visando principalmente à captura de maria-
347
luiza (
Paralonchurus brasiliensis
) e várias espécies de camarões, sendo realizada em águas costeiras de
348
profundidades que variam de 10 a 40 metros. Em função da grande quantidade de pescado capturado,
349
essa pesca garante um rendimento econômico razoável mesmo que algumas espécies capturadas tenham
350
um baixo valor de mercado. Porém, cabe salientar que esse tipo de pescaria possui um alto percentual de
351
descarte, além de causar um forte impacto físico no fundo do mar, ocasionando um considerável
352
prejuízo ambiental (KLIPPER
et al
. 2005a).
353
Levando em conta a atual situação dos estoques pesqueiros e também das espécies de vertebrados
354
(
e.g.
golfinhos, tartarugas marinhas) indiretamente impactados pela atividade pesqueira no litoral do Rio
355
Grande do Sul é imprescindível que sejam imediatamente colocadas em prática diversas mudanças no
356
modelo atual de gestão dos recursos costeiros e marinhos como já apontado por JABLONSKI (2005):
357
Conforme atesta a experiência internacional, a possível sustentabilidade da atividade pesqueira exige
358
uma nova filosofia de gestão, centrada na abordagem ecossistêmica; nas políticas de precaução; na definição de
359
áreas protegidas; e na contenção dos desperdícios. Trata-se de um investimento com retorno mais seguro que
360
a adoção de subsídios e de novas tecnologias de captura
.
361
362
Além disso, VOOREN & KLIPPEL (2005) listam diversas formas de proteger os estoques pesqueiros
363
da ameaça de extinção e como exemplo citam as áreas de exclusão de pesca e o banimento de algumas
364
atividades que tem como alvo espécies ameaçadas de extinção.
365
Cabe salientar, entretanto, que de nada servem proposições de gestão e manejo que não levem em
366
conta a situação socioeconômica das pessoas direta e indiretamente envolvidas na atividade pesqueira
367
(
e.g.
pescadores, comerciantes). Somente de maneira integrada e com a participação dos diferentes
368
setores da sociedade é que se pode encontrar uma maneira efetiva de proteger nossos recursos
369
pesqueiros e assim o ecossistema marinho como um todo.
370
371
AGRADECIMENTOS
372
O Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul gostaria de agradecer a
373
todos os pescadores das comunidades pesqueiras do litoral norte do Rio Grande do Sul que colaboraram
374
com esse trabalho de maneira voluntária, fornecendo dados sobre suas atividades de pesca e permitindo
375
o embarque dos pesquisadores. A maior parte dos dados deste estudo foram coletados durante a
376
realização do projeto; Biologia e Conservação de
Pontoporia blainvillei
financiado pelo Fundo Nacional
377
do Meio Ambiente FNMA (Projeto 094-2001). Agradecemos, ainda, a YAQU PACHA e a Cetacean
378
Society International SCI, pelo apoio financeiro. À Márcio Borges Martins, Larissa Rosa de Oliveira,
379
97
Sue Bridi Nakashima e Cariane Campos Trigo pela ajuda durante as atividades de campo. Ao Jorge
380
Xavier e sua família pelo seu incansável auxílio durante as entrevistas e o acompanhamento da pesca em
381
Imbé/Tramandaí. Ignacio Benites Moreno recebe bolsa de Doutorado do CNPq processo
382
140660/2004-6 (2004-2008). Este trabalho foi parte da tese de Doutorado de Daniel Danilewicz na
383
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e contou com uma bolsa do CNPq
384
140452/2003-6. Esta publicação é a contribuição Número 21 do GEMARS.
385
386
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387
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