As composições coreográficas de Twyla Tharp se caracterizam como seqüências muito
elaboradas, que podem se sobrepor umas às outras ou se sucederem em encadeamentos não
obrigatórios, constituindo uma dança aparentemente aleatória que responde com precisão à
concepção da música aleatória, em que a organização dos fragmentos escritos pode variar
incessantemente. Pode-se encontrar uma atitude parecida nos pintores expressionistas
abstratos: simultaneamente liberdade de reunião das partes entre si e rigor na execução de cada
uma delas.
Por volta dos anos 80, surgem novos coreógrafos europeus, como: Jean-Claude
Gallotta
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, Maguy Marin
63
, François Verret
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e Mathilde Monnier
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. Permitem-se tudo, exceto
ser enfadonhos ou se parecerem com os antecessores. Alguns receberam uma formação técnica
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Ver mais sobre este assunto em: BOUCIER. Op. cit.., p. 285-287.
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Estréia em Julho de 1998, no Théâtre La Rampe. Ulisses, onde, a partir de seqüências improvisadas, cria um
simulacro do episódio entre Odisseu e Circe. Nos movimentos, a oposição entre a potência dos corpos
masculinos e a fragilidade do gesto feminino. Usa, em sua coreografia, tanto quanto a dança, a palavra, o
cinema, a música, porém, os elementos estão sempre submetidos à dança.
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A preocupação de Maguy Marin com o drama da natureza humana a leva a coreografar uma série de peças
com grande variação temática. Algumas são inspiradas na Bíblia - Babel,Babel e Eden. Também reelabora um
tema de contos de fadas, na montagem de Cinderela, para o Ballet de Lyon. May B, apresenta homens solitários e
desesperados, enquanto Qu'est-ce que ça fait à moi? olha sarcasticamente para o bicentenário da Revolução
Francesa. Seus dançarinos interagem igualmente com música, texto, acessórios, cenários, luzes e figurinos.
Todos os elementos servem como instrumentos para comunicar suas idéias e preocupações. Para Marin a dança é
drama narrativo contado por meio de elementos integrados.
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Fin et Début, de François Verret, é estreado em maio de 1999, dançado por sua companhia (Compagnie
François Verret) e produzido pelo Théâtre de la Commune, no Centre Dramatique National d'Aubervilliers.
Numa variação do vasto tema masculino/feminino, Verret encena uma estranha metamorfose de uma mulher em
raposa. O espaço é uma paisagem feita com um feixe de fios vermelhos. Três bailarinos (dois homens e uma
mulher), movem-se como numa luta. Ruídos enchem o espaço, juntando-se a outros sons que saem de duas
máquinas, manipuladas pelos homens. No meio do barulho, entra uma voz, ou melhor, um efeito de voz. A
mulher começa a mudar seus gestos, que acabam se assemelhando aos dos homens Aos poucos se vai
instaurando uma harmonia entre os gestos, a música e o efeito de voz. Porém, com a restauração do equilíbrio, a
cena não termina, mas convida para uma outra viagem, só dando a entender o término com a diminuição da
intensidade da iluminação até o escurecimento total da cena.
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A dança de Mathilde Monnier não apresenta ruptura com a história da dança moderna, mas procura, no íntimo
do movimento moderno, razões que o liguem com a realidade contemporânea. Influenciada por Merce
Cunningham, conserva um rigor formal na sua escritura coreográfica, dando porém uma liberdade maior aos
dançarinos, às possibilidades individuais de expressão. Entre suas obras temos Chinoise (1991), um solo que
evolui ao som do jazz do clarinetista Louis Sclavis. Interessada no processo de criação através de improvisação,
ela une a improvisação coreográfica à musical, o que concretiza em Antigone (1993). Em 1995, torna-se diretora
do Centre Choreographic National de Montpellier. Atualmente sua pesquisa está dirigida à área psiquiátrica,
onde estuda o fenômeno do autismo.