112
─ Claro que foram discutidas, quer dizer, quando foi implantado o
sistema de ciclos. Trocar a seriação por ciclo, eu lembro foi meio
brusco, a mudança foi de repente. Foi tudo novo, até gerou espanto,
um monte de críticas. Meu Deus do céu o que será isso? (...) Eu
depois que entendi isso achei a coisa interessante, que tinha de ser
assim mesmo, a mudança, a organização, mas no começo não foi
fácil... Então demorou um bom tempo pra gente se adaptar. (ROSE,
2004)
─ Foi discutido com a comunidade não só uma vez. Pra nós não foi
fácil essa mudança no início. Imagina pros pais, aqueles pais
analfabetos, que tinham medo de chegar perto de você, tinham medo
de trazer o filho pra escola (...) com a própria comunidade a gente fez
várias reuniões, foi colocado. A direção, os professores também
colocaram e no fim a gente teve que chamar o pessoal da prefeitura.
Não foi uma vez só, um ano, foram vários anos. Repetia a mesma
coisa até que os pais entenderam (...) (ANA, 2004)
─ E como foi feita essa discussão com vocês, professores?
─ Antes de iniciar o ciclo mesmo, a gente teve várias reuniões,
encontros. Porque nós achávamos o “bicho de sete cabeças”, isso. E
pra nós foi difícil, implantar o ciclo... (ANA, 2004)
─ Essas mudanças foram discutidas, estão sendo discutidas?
─ A gente faz, desde a formação do ciclo, quando trocou de um
prefeito pro outro, de partido. No início foi um choque, se reuniram e
o pessoal colocou essa proposta e tudo o que é novidade a gente fica
com um pé atrás. Daí eles colocaram, explanaram o que ia ser o ciclo,
como ia ser a proposta. No início foi assim, eles colocaram,
explicaram que a partir daquele momento ia ser assim. Então a gente
não estava preparada pra isso, não sabia que ia acontecer isso (...).
Vai ser o ciclo a partir de agora. E a partir dali a gente começou a se
reunir, teve encontros, seminários, enfim, a prefeitura promoveu o que
pôde pra estar mudando as nossa idéias de aceitação dos ciclos, de
aceitação dessas mudanças. Porque a gente não sabia o que era e a
gente patinou bastante. Aí eles foram dando suporte pra gente estar
trabalhando dentro dessa proposta. Então teve por parte da secretaria
esse apoio: pessoal, palestrantes, a própria Unochapecó [Universidade
comunitária da cidade] que eles traziam. Eles também não sabiam,
mas estavam procurando, buscando. Foram pra Porto Alegre, traziam
textos de POA, levavam o pessoal daqui pra lá pra conhecer (...). Eles
foram fazendo tudo gradativamente e a gente foi entrando, foi
entrando e quando vimos estamos aqui dentro. Acho que isso foi
legal. (Wilma)
─ (...) Eu acredito que outros professores, como eu, demoraram um
tempo para compreender. E eu, sinceramente, acho que o pessoal que
nos auxiliava também demorou pra compreende o que era o filtrar da
fala para chegar aos elementos mais reais em sala de aula. Não
acredito que o pessoal, quando começou, tinha uma clareza. E nós
ainda não chegamos a uma clareza total (...). Quando a gente