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UNIVERSIDADECATÓLICADOSALVADOR
MESTRADOEMPLANEJAMENTOTERRITORIALE
DESENVOLVIMENTOSOCIAL
MARIAAURASEIXASPAMPONETBAPTISTA
UMAANÁLISEDAAGRICULTURAFAMILIARNO
SEMI-ÁRIDODABAHIA:
OCULTIVODOABACAXINOMUNICÍPIODEITABERABA
Salvador
2007
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MARIAAURASEIXASPAMPONETBAPTISTA
UMAANÁLISEDAAGRICULTURAFAMILIARNO
SEMI-ÁRIDODABAHIA:
OCULTIVODOABACAXINOMUNICÍPIODEITABERABA
DissertaçãoapresentadaàUniversidadeCatólica
do Salvador como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Social na linha de
pesquisa Territorialidade e Desenvolvimento
Social.
Orientador: Prof
a.
Dr
a
Barbara-Christine Nentwig
Silva
Salvador
2007
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UCSAL.SistemadeBibliotecas.
SetordeCadastramento.
B222aBaptista,MariaAuraSeixasPamponet
Umaanálisedaagriculturafamiliarnosemi-áridodaBahia:ocultivodoabacaxino
municípiodeItaberaba/MariaAuraSeixasPamponetBaptista.-Salvador:UCSal.
SuperintendênciadePesquisaePós-graduação,2 007 .
177p.
DissertaçãoapresentadaàUniversidadeCatólicadoSalvador,comorequisito
parcialparadotítulodeMestreemPlanejamentoTerritorialeDesenvolvimentoSocial.
Orientadora:ProfªDrªBarbara-ChristineNentwigSilva
Incluibibliografia.
1.Agriculturafamiliar-Análise-Itaberaba-BA.2.Produçãoagrícolafamiliar-Susten-
tabilidade.3.Abacaxi-Cultura-Territorialização-Itaberaba–BA.4.Desenvolvimento
socioeconômico.4.Planejamentoterritorial-Dissertação.II.UniversidadeCatólicado
Salvador.SuperintendênciadePesquisaePós-Graduação.III.Título.
CDU711.3(813.8)
MARIAAURASEIXASPAMPONETBAPTISTA
UMAANÁLISEDAAGRICULTURAFAMILIARNOSEMI-ÁRIDODA
BAHIA:
OCULTIVODOABACAXINOMUNICÍPIODEITABERABA
Dissertação apresentada à Universidade
Católica do Salvador como requisito
parcialparaaobtençãodotítulodeMestre
em Planejamento Territorial e
DesenvolvimentoSocial.
Linha de Pesquisa: Territorialidade e
DesenvolvimentoSocial.
Áreadoconhecimento: Territorializaçãoe
DesenvolvimentoSocial
Aprovadoem06/11/2007
BancaExaminadora:
_____________________________________________
Prof
a.
Dr
a.
Barbara-ChristineNentwigSilva(orientadora)
Instituição:UniversidadeCatólicadoSalvador
_____________________________________________
Prof.Dr.HumbertoMirandadoNascimento
Instituição:UniversidadeCatólicadoSalvador
______________________________________________
Prof.Dr.AntônioÂngeloFonseca
Instituição:UniversidadedoEstadodaBahia
Salvador,06denovembrode2007
À Prof
a.
Dr
a
RESUMO
Este trabalho procurou mostrar as possibilidades para a viabilização
socioeconômicadoterritóriodoabacaxinomunicípiodeItaberaba–Bahia,através
da geração de trabalho e renda na agricultura familiar e do aproveitamento das
potencialidades climáticas existentes no Nordeste semi-árido. Escolhemos o
município de Itaberaba na Mesorregião Centro-Norte da Bahia para realização do
estudo por serumgrande produtordeabacaxi com excelentequalidadee grande
aceitação no mercado. Os frutos estão sendo cultivados em terras anteriormente
conceituadas como inférteis para o cultivo pelas dificuldades climáticas. O clima
semi-árido,commuitosolepoucachuvaduranteoano,favoreceuàterritorialização
do plantio do abacaxi por ser uma cultura de sequeiro. A produção tornou-se o
principal sustentáculo econômico da região e está em franco crescimento com a
maioria das unidades em nível de pequena produção agrícola familiar.
Apresentamos neste trabalho a atual situação do município, os problemas e
dificuldades encontrados pelos agricultores e a necessidade de melhoria da
capacidadeorganizacionaldascomunidadesparaasustentabilidadedaprodução.
Palavras-chave: Territorialização; Sustentabilidade; Agricultura familiar;
Desenvolvimentosocioeconômico.
RÉSUMÉ
Ce travaille cherche montrer les possibilités pour la viabilisation
socioéconomique du territoire de l´ ananas au municipe de Itaberaba – Bahia, à
traverslagénérationdetravailleetrevenupourl´agriculturefamiliaireetduprofitdes
possibilitées climatique existentes au Nordest semi-aride. Nous avons choisi le
municipedeItaberaba,àlámeso-régioncentre-norddeBahiapourlaréalisationde
cetétudepourêtreungrandproducteurd´ananasd´excelentequalitéeettrèsbien
acceptéaumarchéconsommateur. Lesfruits sontcultivés en terresantérieurment
connuescommeimproductivespourlesdificultésclimatique.Leclimatsemi-aride,
avec un fort soleil e très peu de pluit pendant toute l´année, a facilité la
territorializationdel´ananaspourêtreuneculturedesécheresse.Laproductionest
devenu le support économique régionale, étant actuellement en grande
développement,aveclapluspartdesunitésagricoleauniveauxdepetiteproduction
familiaire. Nous présentons dans ce travaille la situation actuelle du municipe de
Itaberaba,lesproblèmesetlesdificultésdesagriculteursetlebesoind´unemeilleur
organizationdescommunotéspourlasustentabilitédelaprodutcion.
Mots-clés: Territorialization; Sustentabilité; Agriculture familiaire; Développement
socioéconomique.
1.LocalizaçãodomunicípiodeItaberabanoestadodaBahia .................................18
2.DistribuiçãodapopulaçãononordestedoBrasil ..................................................38
3.Áreamédiadosestabelecimentosfamiliares(emha)..........................................41
4.Rendatotal(RT)porha/anodosestabelecimentosfamiliaresepatronais ...........41
5.Agricultoresfamiliares:regiões,númerodeestab.familiares,área,valorbrutode
produçãoefaturamentototal.....................................................................................47
6.CrescimentodosrepassesdoPRONAFnonordeste-2002a2005 ....................48
7.ÍconedeentradadacidadedeItaberaba.............................................................55
8.Itaberabaemunicípiosvizinhos. ..........................................................................55
9.EstradasdeacessoàItaberaba............................................................................57
10.PopulaçãototaldomunicípiodeItaberaba-1991e2000 ..................................58
11.Localizaçãodosemi-áridodoBrasil....................................................................60
12.CasasdaPraçadoRosário.................................................................................62
13.PraçaDr.J.J.SEABRA ......................................................................................62
14.TerminalRodoviáriodeItaberaba........................................................................ 63
15.TerminalRodoviário:interiorcominscriçõessobreoabacaxi.............................63
16.TerminalRodoviário:interiorcominscriçõessobreoabacaxi............................. 63
17.MercadoMunicipaldoProdutor...........................................................................65
18.MercadoMunicipaldoProdutor............................................................................65
19.MercadoMunicipaldoprodutor ...........................................................................65
20.MercadoMunicipaldoProdutor...........................................................................65
21.Fábricademóveiseplantaçãodeabacaxi..........................................................65
22.ShowroomdafábricademóveisCapri.............................................................. .65
23.FábricadetênisDilly. ..........................................................................................66
24.Bicicletáriodafábrica ..........................................................................................66
25.CâmaraMunicipal ...............................................................................................66
26.GabinetedoPrefeito. ..........................................................................................66
27.Ônibusescolardazonarural...............................................................................70
28.EscolasdazonaruraldomunicípiodeItaberaba................................................71
29.EscolasdazonaruraldomunicípiodeItaberaba................................................71
30.EscolasdazonaruraldomunicípiodeItaberaba................................................71
31.Assocas:plantasapósaprimeiracolheita,comfrutotemporão.........................77
32.Localidadesondeexistecultivodeabacaxi.........................................................83
33.CentroComunitáriodeTestaBranca...................................................................84
34.CentroComunitáriodeBomViver.......................................................................85
35.Mudasaguardandoplantio..................................................................................89
36.Mudasjáplantadas .............................................................................................89
37.Plantaçãodeabacaxi:lavouralivredeplantasdaninhas.....................................90
38.Inflorescênciaouflordoabacaxi. ........................................................................91
39.Pequenahabitaçãonazonaruralcomluzeantenaparabólica..........................97
40.TanqueinstaladopelaCARnoprogramaPRODUZIR........................................98
41.CasasemTestaBranca...................................................................................100
42.Asnovascasasconstruídasemblocosedoispisos..........................................100
43.MercadoMunicipalàssextas-feiras ..................................................................100
44.ConsórciodemotosHonda,patrocinadordoSãoJoão2007 ...........................101
45.Decoraçãodapraça ..........................................................................................101
46.CentraldoItaforró-SãoJoão2007 ....................................................................101
47.Caminhonetedeagricultordarigião:orgulhodoabacaxiqueproduz...............102
48.Caminhonetecarregadademudasparaplantio................................................102
49.Barracadefrutas:rendacomvendadeabacaxieoutrosprodutos ..................104
50.Condiçãodoprodutornaslocalidadespesquisadas .........................................106
51.Tamanhodasáreasplantadasnascomunidadespesquisadas.........................106
52.Tiposdeveículosutilizadospelospreodutoresdeabacaxi................................ 107
53.Formasdeaprendizadodastécnicasdeplantio ...............................................108
54.Necessidadedemão-de-obranasplantaçõesporfasesdocultivo ..................110
55.Proprietária,trabalhandoemplantaçãoprópria ................................................114
56.Famíliadeagricultores:paiefilhos,todosproprietáriosdeplantações. ...........114
57.Classificaçãodoabacaxipelacordapolpa.......................................................117
58.Diferentescoloraçõesexternasdoabacaxi.......................................................118
59.Acondicionamentodasfrutasparatransporte....................................................119
60.PrincipaisdestinosdoabacaxideItaberaba .....................................................120
61.SededaCOOPAITAnocentrodeItaberaba.....................................................125
62.SededaCOOPAITAnocentrodeItaberaba.....................................................125
63.Localizaçãodasmudasourebentos .................................................................133
64.Tratorarandoaterraparaplantiodeabacaxiemnovasáreas.........................138
65.Áreaqueimadaparanovoplantiodoabacaxi ...................................................139
66.Queimadaparaprepararáreadeplantiodoabacaxi ........................................139
LISTADETABELAS
1.ResultadodaproduçãoagrícolafamiliarnoBrasil-2006.................................... .39
2.PrincipaisprodutosdaagriculturafamiliarnoBrasil-2006...................................39
3. Brasil: estabelecimentos, área, valor bruto de produção e financiamento
total..............................................................................................................................40
4. Agricultores familiares: percentual de estabelecimentos por região, área, valor
brutodeproduçãoefinanciamentototal-2000 ..........................................................46
5.Estabelecimentos,área,valorbrutodeproduçãoefinanciamentototal-2000 ....51
6.DistânciasentreItaberabaeoutrosmunicípios.....................................................56
7.Crescimentopopulacionaletaxadeurbanização-1970-2000.............................58
8.ProduçãoagrícoladomunicípiodeItaberaba-2004............................................ 67
9.EvoluçãodaproduçãodoabacaxiemItaberaba-1990-2006........................... ...74
10.AumentodaprodutividadedoabacaxiemItaberaba-2000-2005.................. ....75
11.Coeficientestécnicosparaproduçãodeabacaxipérola.....................................78
12.Pesquisadecampo:percentualdepesquisadosporcomunidade....................105
13.DistânciaentreItaberabaeprincipaismercadosconsumidores–2006 ...........120
14.Variaçãonospreçosdecompraevendadoabacaxi-2007.............................121
15.Tipodefrutaevalordacargadeumcaminhãodeabacaxi-jan.2007.............121
16. Linhas do PRONAF para a fruticultura aplicadas ao cultivo do abacaxi em
Itaberaba–2007 .....................................................................................................145
LISTADEQUADROS
1.Problemas,objetivosehipóteses...........................................................................20
2.Coletadeinformaçõesdapesquisa.......................................................................22
3.CiclodeproduçãodoabacaxiemItaberaba..........................................................76
4.Ciclodeproduçãoparaumasegundacolheitaapartirdassocas ........................77
5.CultivodoabacaxiemItaberaba:característicasdascomunidadespesquisadas 86
6.Classificaçãodoabacaxipelacoloraçãoexterna................................................ 177
7. Programas e ações existentes em 2006/2007 para o cultivo do abacaxi em
Itaberaba .................................................................................................................152
LISTADESIGLAS
ADAB-AgênciaEstadualdeDefesaAgropecuáriadaBahia.
AGROAMIGO-ProgramadeMicrocréditoRuraldoBNB/PRONAF.
BB-BancodoBrasil.
BID-BancoInteramericanodeDesenvolvimento.
BNB-BancodoNordestedoBrasil.
BNDES-BancoNacionaldeDesenvolvimentoEconômicoeSocial.
CAR-CompanhiadeDesenvolvimentoeAçãoRegional.
CDL-CâmaradosDirigentesLojistas.
CEAGESP-CompanhiadeEntrepostoseArmazénsGeraisdeSãoPaulo.
CEASA–CentraldeAbastecimentodaBahia.
CEDRS-ConselhoEstadualdeDesenvolvimentoRuralSustentável.
CEF-CaixaEconômicaFederal.
CEI-CentrodeEstatísticaeInformações.
CENOP-CentraldeOperaçõesdoBancodoNordestedoBrasil.
CESI-CentrodeEnsinoSuperiordeItaberaba.
CETA–MovimentodosTrabalhadoresAcampados,AssentadoseQuilombolas.
CIA–CentroIndustrialdeAratu.
CMDRS-ConselhoMunicipaldeDesenvolvimentoRuralSustentável.
CNA-ConfederaçãodaAgriculturaePecuáriadoBrasil.
CNDRS-ConselhoNacionaldeDesenvolvimentoRuralSustentável.
CNPq-ConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecnológico.
COELBA-CompanhiadeEletricidadedoEstadodaBahia.
COOFRULAPA-CooperativadeFrutasdeBomJesusdaLapa.
COOPAITA-CooperativadosProdutoresdeAbacaxideItaberaba.
CPF-CadastrodePessoaFísica.
CPT-ComissãoPastoraldoTrabalho.
CTP-ComissãoPastoraldaTerra.
DATAR-DelegaçãoparaaOrganizaçãodoTerritórioeAçãoRegional,(França).
DDF-DepartamentodeDefesaFlorestal.
DECON-DepartamentoEconômico.
EBDA-EmpresaBaianadeDesenvolvimentoAgrícola.
EMATER-EmpresadeAssistênciaTécnicaeExtensãoRural.
EMBRAPA-EmpresaBrasileiradePesquisaAgropecuária.
EPI-EquipamentosdeProteçãoIndividual.
FAEB-FederaçãodaAgriculturaePecuáriadoEstadodaBahia.
FAO–OrganizaçãodasNaçõesUnidasparaaAgriculturaeAlimentação.
FNE-FundoConstitucionaldeFinanciamentodoNordeste.
IAC-InstitutoAgrônomodeCampinas.
IBAMA-InstitutoBrasileirodoMeioAmbienteeRecursosNaturaisRenováveis.
IBGE-InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística.
INCRA–InstitutoNacionaldeColonizaçãoeReformaAgrária.
ITR-ImpostosobreaPropriedadeTerritorialRural.
MDA–MinistériodoDesenvolvimentoAgrário.
MAPA-MinistériodaAgricultura,PecuáriaeAbastecimento.
MMA–MinistériodoMeioAmbiente.
NIS-NúmerodeIdentificaçãoSocial.
ONG-OrganizaçãoNãoGovernamental.
PEC-PropostadeEmendaConstitucional.
PIB-ProdutoInternoBruto.
PIF-ProgramaIntegradodeFruto.
PRODUZIR-ProgramadaCARparamelhoriadainfra-estruturafísicae
equipamentossociaisnosemi-árido.
PRONAF-ProgramaNacionaldeFortalecimentodaAgriculturaFamiliar.
SAF-SecretariadaAgriculturaFamiliar.
SEBRAE-ServiçodeApoioàMicroePequenasEmpresasdoEstadodaBahia.
SEI-SuperintendênciadeEstudosEconômicoseSociaisdaBahia.
SENAR-ServiçoNacionaldeAprendizagemRuralAdministraçãoRegional.
SIDRA-SistemaIBGEdeRecuperaçãoAutomática.
SIGEOR-SistemadeGestãoEstratégicaOrientadaparaResultados.
TJLP-TaxadeJurosdeLongoPrazo.
UNEB-UniversidadedoEstadodaBahia.
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO ........................................................................................................1
1.1.Justificativa..........................................................................................................5
1.2.Problema,hipóteseseobjetivos...........................................................................6
1.4.Materiaisemétodos .............................................................................................9
1.5.Embasamentoteórico-conceitual .......................................................................26
2.TERRITÓRIOEDESENVOLVIMENTONOBRASIL,NORDESTEEBAHIA .......31
2.1.Globalização,êxodoruraleosimpactossobreohomemdocampo .................31
2.2.Os(des)incentivosàagriculturafamiliarnoBrasil..............................................34
2.3.Aatividadeagrícolacomopropulsoradedesenvolvimentolocal .......................36
2.4.OpapeldoPRONAFnaagriculturafamiliarnoNordeste ..................................40
2.5.AagriculturafamiliarnaBahia............................................................................44
3.CONTEXTUALIZAÇÃODAÁREADEESTUDO ...................................................48
3.1.Localizaçãogeográficaecaracterizaçãodomunicípio.......................................48
3.2.Opoderpúblicoeainfra-estruturalocal.............................................................64
3.3.Aeducaçãonomunicípio...................................................................................66
3.4.AterritorializaçãodoabacaxiemItaberaba........................................................70
3.5.Característicasedafoclimáticaseaadaptaçãoàregião....................................76
3.6.Localizaçãodascomunidadesprodutoras..........................................................79
4.APRODUÇÃODOABACAXINOMUNICIPIODEITABERABA....................... ...85
4.1.Asapropriaçõessocioeconômicasnascomunidadesprodutoras................... ..85
4.1.1.GeraçãodetrabalhoerendaeoêxodoruralemItaberaba............................85
4.1.2.Asmelhoriassociaisacorridas.........................................................................92
4.1.3.Oparecerdospequenosagricultores............................................................100
4.1.4.Apapeldamulhernaplantação................................................................... .109
4.2.Aorganizaçãodaprodução............................................................................ .112
4.2.1.Oprodutoabacaxi:qualidade,classificaçãoemercado.................................112
4.2.2.Formasdecomercializaçãoeescoamentodaprodução..............................120
4.2.3.Osimpactosambientaisesustentabilidade...................................................127
4.2.4.Linhasdecréditofederaisnoincentivoàprodução:OPRONAF..................136
5.CONCLUSÃO...................................................................................................... 140
6.REFERÊNCIAS....................................................................................................147
7.ANEXOS
A.Roteirosdeentrevistasaplicadosnapesquisadecampo
15
1INTRODUÇÃO
O surgimento de uma economia global pós-industrial baseada no
conhecimentoabalouvelhasrealidades,criandograndesoportunidadeseenormes
problemas. Transformações radicais aconteceram nos setores público e privado,
exigindo mudanças urgentes. Surge a necessidade de repensar os meios de
produção de bens e serviços, as novas formas de organização do trabalho e
geraçãorendaeoatendimentoàscrescentesnecessidadesdapopulação.
No contexto econômico atual, administrar as carências territoriais foge das
limitaçõesimpostaspelaburocraciaepassaaserumabuscaporsoluçõesparaas
demandassociaiscadavezmaiores.Osprocessosprecisamserrepensadospara
quesetornemmaiseficazeseasaçõessociaismaisefetivas.
Cresce a necessidade de criar meios para aumentar a participação das
comunidades locais na produção do espaço econômico e geográfico por terem
demonstrado,segundoSilvaeSilva(2003,p.19),maioraptidãoparaaresolução
dos próprios problemas, pois, conhecendo seu território, têmmaior controlesobre
eleeà medidaqueseapropriamdanaturezaeatransforma,produzemumnovo
espaçogeográficoatravésdotrabalho.
Épreciso,portanto,criarterritórios(lugareseregiões)dinâmicos,
integrados e solidários, capazes de sustentar um processo de
desenvolvimento interno associado a complexos mecanismos
externos. Para tanto é necessário construir socialmente políticas
regionaisqueexpressemumasólidaorganizaçãosócio-territorial.
(SILVA;SILVA,2003,p.180)
Então, por exemplo, a participação dos pequenos produtores rurais no
processo econômico passa a requerer a formação de uma rede de apoio entre
iniciativa privada e poder público, favorecendo uma nova organização social e
econômica com novas formas de organização do trabalho como a formação de
associações e cooperativas, disponibilizando apoio financeiro e tecnológico. Esta
relação tem se mostrado eficiente, melhorando resultados e enriquecendo
qualitativamente as sociedades mais afastadas dos grandes centros, trazendo
oportunidadesdemelhoriassociaisregionais.
16
Os saltos tecnológicos das últimas décadas, associados à necessidade de
qualificaçãodosrecursoshumanos,geraramumaumentoconsiderávelnosgastos
públicos e acentuaram ainda mais as desigualdades sociais. A introdução de
tecnologiasmaissofisticadas,associadasaganhosdeprodutividade,significaquea
economia global pode produzir um número cada vez maior de bens e serviços,
empregando uma porcentagem cada vez menor da força de trabalho disponível.
(OSBORNE;GRAEBLER,1994,p.47).
O grande desafio passou a ser a criação de condições para a
inclusão social dos menos favorecidos, apesar da desproporção
entre o crescimento das demandas em relação aos bens
produzidos, reduzindo as desigualdades existentes através da
criação de mecanismos, oportunidades e recursos capazes de
produzirmudançasemsuastrajetóriasdevidae,sobretudo,dar
dignidade ao cidadão. Esses requisitos têm na geração de
empregoerendaseumaiorexpoente.
Devido à necessidade de suprir demandas cada vez maiores em vista da
inércia das instituições públicas, assistimos nas últimas décadas o surgimento,
crescimentoemultiplicação deassociações,cooperativaseorganizaçõesprivadas
sem fins lucrativos (ONGs,OSCIPs efundações), trabalhandopara amelhoria de
determinados grupos sociais,promoçãodos direitos humanos e proteção domeio
ambiente.Essasorganizaçõessãohojeumareferênciaparaodebatedetemasde
interessepúblico.Comaforterepresentaçãosocialdessasinstituições,aspolíticas
públicas, anteriormente exclusivas do Estado, não podem mais ser planejadas e
executadassemquestionaropapelquecabeàsaçõesdessesgruposorganizados
(GRANJEIRO,2003,p.90)
.
As áreas rurais são altamente díspares, incluindo comunidades
com pobreza crônica, locais turísticos prósperos, cidades
industriais,condadosdeflorestasedefazendas.[…]Adimensão
rural estimula as idéias sobre a diversidade e não sobre as
respostas genéricas. E um dos temas mais importantes para o
redesenho da governança é delegar autoridade para que as
pessoas proponham soluções que atendam às suas
peculiaridadeslocais.(Ibid.;p.101).
Aproduçãofamiliaragrícola,suasassociações,cooperativaseinstituiçõesde
apoioganharamdestaquecomograndesforçasgeradorasdeocupaçãoerendae
reduçãodoêxodorurale,segundoSilvaeSilva(2003,p.10),mantêmasociedade
“fundamentadaemsua‘formadevida’e‘estruturasdesentimentos’peculiaresaos
17
lugares e comunidades”, como vimos no município de Itaberaba-Bahia durante a
realizaçãodestetrabalhodepesquisa.
Natentativademelhorarodesempenhogovernamentalnoâmbito
econômico e social e com finalidade de promover, coordenar,
acompanhareintegrarasaçõesdestinadasànecessáriamelhoria
dascondiçõesdevidanocampoeconseqüentedesenvolvimento
sustentável das regiões onde os agricultores familiares são
maioria, osgovernosfederaleestadualcriaramórgãosdeapoio
técnico e financeiro, como veremos ao longo desse trabalho.
Incluímos na pesquisa a verificação de algumas dessas
instituições, observando a eficácia das ações criadas
especificamente para o território do abacaxi no município de
Itaberabaeseusimpactosnaregião.
Segundo Küster et al.; (2003, p. 34), a agricultura familiar e conseqüente
desenvolvimento socioeconômico sustentável é o resultado de um arranjo
institucional que envolve a gestão das instituições de microfinanças, mudanças
tecnológicas, comerciais e culturais. Inclui ainda uma relação mais ampla entre
sociedade,instituiçõespúblicasemeioambiente,partindodoconhecimentoprévio
docontextosocioeconômico,culturalocal,característicasambientaisesuascausas
e efeitos sobre as atividades econômicas e sobre o comportamento social,
utilizando-seessasbasescomoenfoqueaodesenvolvimentosociallocal.
Para compreendermos um desses tecidos produtivos, seu funcionamento e
efetividade das ações, escolhemos como local de pesquisa as comunidades de
plantadores de abacaxi de Itaberaba no semi-árido nordestino, um dos 417
municípiosquecompõemoEstadodaBahia(figura1),pelasapropriaçõesocorridas
como resultado de uma nova dinâmica socioeconômica proporcionada pela
territorializaçãodoabacaxi.
18
Figura1-LocalizaçãodomunicípiodeItaberabanoEstadodaBahia
Fonte:IBGE.Malhamunicipaldigital,2001.
Asíntesedessetrabalhofoiaelaboraçãodeumaanálisedaatualsituação
socioeconômica do território do cultivo do abacaxi, os problemas, dificuldades e
expectativas das comunidades locais, os impactos econômicos e sociais, sem
desprezarosefeitosdaplantaçãosobreomeioambiente,avaliandoacapacidade
organizacionaldosplantadoresedasinstituiçõesenvolvidas.
1.1Justificativa
Oestudodaagriculturafamiliarnaregiãodosemi-árido,particularmenteuma
análise do cultivo do abacaxi no município de Itaberaba justifica-se por estar
mudando a realidade socioeconômica da região através do aproveitamento da
aptidão natural do solo, redução do êxodo rural, geração de ocupação e renda e
fortalecimentodotrabalhoemconjuntodasassociaçõesecooperativaexistentes.
O município, tendo capacidade ociosa de trabalho e largas extensões de
terras agricultáveis, além das condições climáticas ideais, tornou-se uma região
propícia para o plantio do abacaxi. As comunidades envolvidas, antes
19
marginalizadas pelo isolamento no campo, puderam encontrar uma forma de
produzirdentro doseu próprio espaço,passandoaserem incluídassocialmente a
partirdosgruposorganizados,criandoforçaerepresentatividade.
Aescolhadotemadeve-seàconstantebuscaporsoluçõesparaaagricultura
familiarnosemi-áridodoPaís,devidoàurgênciaerelevânciadasdemandassociais
queseapresentamemritmosemprecrescente.Opontocentraldapesquisasãoos
impactoseconômicosesociaisocorridosnascomunidadesdepequenosagricultores
familiaresenvolvidoscomaprodução,asnovasrelaçõessurgidascomaatividade,
suas formas e efeitos, além das necessidades e expectativas atuais das
comunidadesdeplantadorese,numavisãomaisampla,osefeitossobreopróprio
município.Emfunçãodeoferecersoluçãoviáveldecurtoprazo,ocultivodoabacaxi
(com ciclo médio de produção de menos 2 anos), tornou-se uma atividade
estratégicaparaaregião.
Nessecontexto,umapesquisasobreastransformaçõesocorridas,asformas
de articulação do tecido produtivo do abacaxi, suas expectativas e atuais
necessidades, tornam-se altamente relevantes por demonstrarem a viabilidade do
semi-árido para a atividade agrícola e para a formação de uma sociedade digna,
compossibilidadesdesedesenvolveratravésdoseuprópriotrabalho.
1.2Problemas,objetivosehipóteses
Os dois grandes questionamentos foram, inicialmente, as condições da
territorialização do abacaxi em Itaberaba e a ocorrência - ou não - de melhorias
socioeconômicas para as comunidades de agricultores familiares envolvidas. O
objetivoprincipaldapesquisafoiaelaboraçãodeumaanálisedascaracterísticasdo
sistemaprodutivodoabacaxi,destacandooestudodosproblemasepossibilidades
paraascomunidadesprodutorasnomunicípiodeItaberaba–Bahia.
A partir dos objetivos e hipóteses levantadas, analisamos o processo de
fixação,crescimentoedesenvolvimento do cultivo; asdificuldades encontradasna
produçãoecomercialização;asmelhoriassociaisocorridas;osimpactosambientais
easaçõesparaasustentabilidadedaprodução,conformequadro1.
Quadro1-Problema,hipóteseseobjetivosdapesquisa
Elaboração:AuraPamponet,2007
PROBLEMAEOBJETIVO
GERAL
HIPÓTESES
OBJETIVOSESPECÍFICOS
Problema:
-Como o abacaxi se
adaptou às condições
climáticas e se
desenvolveuemItaberaba?
Objetivogeral:
Analisar os impactos
socioeconômicosdo cultivo
do abacaxi nas
comunidades de
agricultores familiares do
município de Itaberaba –
Bahia, destacando as
condições para a
territorialização do cultivo,
osproblemasexistentes,as
necessidades e
expectativas quanto à
sustentabilidade da
atividadenaregião.
Principal
:
O município de Itaberaba ofereceu condições climáticas
ideaisparaaterritorializaçãodoabacaxi,trazendomelhorias
econômicas e sociais para as comunidades envolvidas
apesardaexistênciadeproblemas,carênciasefragilidades
nocultivoquecomprometemasustentabilidadedaprodução.
Secundárias:
- As comunidades da zona rural do município tiveram
melhoriasdaqualidadedevidadevidoaoaumentodopoder
aquisitivoemaioracessoàaquisiçãodosbensdeconsumo,
alimentação e melhoria das condições de moradia e
transporte.
-Asassociaçõeseacooperativaexistentesnãoestãoainda
bem organizadase articuladas, reduzindo aspossibilidades
de negociações para redução dos custos de produção e
comercializaçãodosfrutos.
-Odesempregoficousensivelmentereduzidonazonarural
de Itaberaba por que a agricultura familiar no cultivo do
abacaxi envolve todos os membros das comunidades de
plantadores.
- Os agricultores buscam acompanhar as técnicas para
melhoriadosfrutosereduçãoderiscosdeproduçãoatravés
deconsultasaosagrônomosquetrabalhamnaregiãoedos
cursos de capacitação para obterem uma elevação da
qualidadeequantidadeproduzidaseconseqüenteaumento
doretornofinanceiro.
- Analisar a territorialização da produção do
abacaxinomunicípiodeItaberaba.
- Identificar as variáveis geográficas, agrícolas,
econômicas e sociais que contribuíram para o
desenvolvimentodocultivodoabacaxinaregião.
- Analisar as condições atuais da produção,
demonstrando as possibilidades existentes para
umanovaorganizaçãosocioeconômicaqueleveà
sustentaçãoprodução.
- Demonstrar o crescimento econômico e a
conseqüentemelhoria-ounão-dascondiçõesde
vida das comunidades no território do abacaxi,
ocasionadaspeloincrementoaoplantio.
- Demonstrar as expectativas das comunidades
quantoatrabalho,condiçõesdevida naregião e
perspectivasparaasfuturasgerações.
-Demonstraraefetividadedasaçõesdeapoioao
plantio, criadas pelas instituições federais,
estaduaisemunicipais.
20
21
A bibliografia encontrada sobre o cultivo do abacaxi está limitada aos
aspectostécnicoseagrícolas.Apesardosmuitosestudosepesquisasjárealizados,
nãoencontramosmaterialbibliográficosobreocultivodoabacaxinaBahia,voltados
paraoestudodosimpactosocorridoscomamudançadasituaçãosocioeconômica
dos pequenos agricultores familiares da região. Essa constatação nos incentivou
quanto à realização do trabalho e contribuiu para que recebêssemos apoio de
diversosórgãos,instituiçõesepessoasqueparticipamdaprodução.
Diantedessefato,optamospelométodoindutivoapartirdolevantamentode
hipóteses,questionamentoseproblemasqueforamsendorespondidosatravésda
coletadedadosbibliográficos,dasinformaçõescoletadasduranteasdiversasvisitas
deacompanhamentodaproduçãofeitasaomunicípiodesdeoiníciodoprojetode
pesquisaatéomêsdejulhode2007,edeumaamplapesquisadecampocomos
váriosatoressociaisenvolvidosemdiversosaspectosdaplantaçãodoabacaxi.
Apesquisarealizadadiretamentecomascomunidadesecomosatoreslocais
selecionados,baseadaemquestõesvoltadasparaodesenvolvimentosocioterritorial
em funçãodocultivo do abacaxi,despertouointeresse e estimulouacuriosidade
dos envolvidos quanto aos resultados, o que muito nos ajudou pelo nível de
envolvimentodospesquisados.
Iniciamos com uma pesquisa bibliográfica, estatística e cartográfica com o
levantamento de informações em livros, jornais, revistas especializadas e sites
específicos para conhecimento de estudos anteriores e formação de uma base
teórico-conceitual.
Para a pesquisa de campo foram elaborados roteiros de entrevistas
encontradosnoanexoA(p.164),umroteiroparacoletadeinformaçõesnoquadro
síntese2(p.22),eumroteiroparapesquisadeobservaçãodascaracterísticasdas
trêscomunidadesescolhidas,conformeoquadro5(p.86),capítulo3.
22
Quadro2-Coletadeinformaçõesdapesquisa
OBJETIVOS
INFORMAÇÕES
TÉCNICAS
FONTES
Pesquisaro
históricoda
territorialização
docultivodo
abacaxino
municípiode
Itaberaba
Onde,como,
quandoeporque
começou
Pesquisa
bibliográficae
documental
Bibliografiatemática,acervo
jornalístico,levantamentocartográfico,
materialáudio-visual,artigos,
monografias,registrosjornalísticos,
registrosfotográficos,arquivopúblico
municipal.
Pesquisa
bibliográfica
Acervojornalístico,livros,artigos,
dissertações;documentoseletrônicos,
publicaçõesdeórgãosgovernamentais
deapoio.
Refletirquantoà
posturados
órgãosdeapoio
técnicoede
capacitaçãodos
agricultores
Programas
técnicose
agrícolassobreo
sistemade
produçãocriados
especificamente
paraoapoioà
plantaçãodo
abacaxiem
Itaberaba
Pesquisa
documentale,
arquivos
privadose
públicosdo
município.
Publicaçõeseregistrosdasinstituições
financeiras,cooperativaedosórgãos
oficiaisdeapoio:EMBRAPA,EBDA,
ADABeoutrosexistentes.
Bibliografiade
referência
Acervojornalístico,publicaçõesde
órgãosdeapoiotécnico,financeiroede
órgãosgovernamentais.
Analisaronível
de
desenvolvimento
socioeconômico
aportado
Comoviviamas
comunidadesda
zonaruralantese
depoisdocultivo
doabacaxi
Pesquisade
campo
Roteirosdeentrevistasaserem
aplicadosemórgãospúblicose
privados,atoresselecionadosea
comunidadeemgeral
Pesquisade
campo
Roteirosparaentrevistas.Roteiropara
pesquisadeobservação
Analisara
cultura
associativistae
cooperativista
daregião
Identificara
participaçãonas
organizações
sociaispara
produçãoeos
benefíciosobtidos
pelas
associaçõese
cooperativajá
formadas.
Pesquisa
documental
Publicaçõestemáticas,publicaçõesda
cooperativalocaledosórgãos
governamentaisdeapoio.
Analisaras
necessidadese
expectativasdas
comunidades
Identificaras
atuais
necessidadese
expectativaseo
queesperam
paraaspróximas
gerações
Pesquisade
campo
Roteirosdeentrevistascomquestões
abertassobreotema,aplicadosjunto
aosagricultoresfamiliaresdediversas
faixasetáriaseoutrosatoresenvolvidos
comoplantio.
Elaboração:AuraPamponet,2006
23
O universo escolhido para a pesquisaforam três localidades em Itaberaba-
Bahia: Testa Branca, Lagoa Nova e Bom Viver, conforme mostra o cartograma
encontrado no capítulo 4, figura 32, página 83, por apresentarem características
diferentesegrandenúmerodeagricultoresfamiliaressededicandoexclusivamente
aocultivodoabacaxi.
Os roteiros de entrevistas foram elaborados de forma direcionada para os
principaisitensdapesquisa,demonstradosaseguir:
Nomunicípio:
Aplantaçãodoabacaxicresceemumaregiãoespecifica;
Formasdedeslocamentosdepessoasentreaszonasruraleurbana;
Ocorrênciadereduçãodoêxodorural;
Circulação de recursos financeiros obtidos pelos agricultores familiares do
abacaxi;
Impactodaproduçãodoabacaxisobreomunicípio.
Famíliaesociedade:
Níveisatuaisdedesempregonocampo;
Possíveisbenefíciosparaasfamíliasdaspequenaspropriedades;
Níveldeaceitaçãodenovastecnologiaspelosagricultores;
Asapropriaçõesculturaisocasionadaspelamaiorcirculaçãodeinformações;
Opapeldamulher,criançaseadolescentesnocultivodoabacaxi;
Expectativasparaaspróximasgerações.
Ocorrênciademelhoriadequalidadedasmoradias
Acessoabensdeconsumo:geladeira,liquidificadoreoutros.
Políticaspúblicas:
Mudanças ocorridas nas comunidades de plantadores devido a uma maior
representatividade.
Programaseaçõesdeapoioàplantação.
Políticaspúblicasimplantadasparamelhoriadaproduçãoecomercialização.
Infra-estrutura:
Mudançasnainfra-estruturarural:saneamentobásico,esgotos,cisternas,luz;
24
A situação das rodovias municipais, estaduais e federais e o escoamento da
produção.
Educação:
Agricultoresprocuramescolasdeeducaçãofundamentalousededicamapenas
àprodução?
Existênciadeincentivoparaosjovensdazonaruralfreqüentaremasescolas;
Compatibilizaçãodoshoráriosdetrabalhonocampoedasaulas;
Necessidadedemelhoriaemeducaçãonazonarural;
Níveldedemandaporprogramasdecapacitação.
Cultivodoabacaxi:
Inícioporprocessonaturaloudeformainduzida;
Comocomeçouacresceresetornarconhecido;
Quandoecomomelhorouaqualidade;
Porqueequandodespertouaatençãodostécnicoseprogramasdogoverno;
Crescimentoemáreaenúmerodeagricultores;
Existênciadeprojetodeaumentodaprodução;
Existênciadeprojetodesustentabilidadeparaocultivo;
Existênciadeprogramadepreservaçãoambiental;
Existênciadelimitaçãoparapreservaçãodacaatinga;
Oquesefazemcomasterrasexauridas.
Produçãoecomercialização:
Formasdenegociação,comercializaçãoeprincipaismercados;
Níveldeproduçãonolimiteouexistedemandamaiorparaumamaiorprodução;
Opapeldacooperativaedosatravessadores;
Exigênciasdequalidadenomercadodosfrutosparaentradanomercado.
Associaçãoecooperativa:
Existênciadeculturacooperativistaeassociativista:porquêsercooperado;
Percentualdecooperadosemrelaçãoaototaldeplantadores;
O comportamento dos associados e cooperados: organização da produção,
comercialização,união,liderança,trabalhoemgrupo;
Entendimentoquantoànecessidadedeaplicaçãodenovastecnologias;
25
Nívelderepresentatividadejuntoàsociedadeecorpopolíticolocaleestadual;
Formasdecontatocomcompradores.
Quetipodereivindicaçõessãofeitasequaisforamobtidas.
Agentesfinanceiros:
Linhasdecréditoerecursosdisponíveis:acessibilidadeaosplantadores;
Osprogramascriadoseasespecificidadesdociclodeprodução;
Exigênciasparaobtençãodecrédito:documentos,garantias,outros;
Níveldesatisfaçãodosplantadorescomapolíticadecrédito;
Nívelerazãodainadimplência;
Dificuldadedosagentesfinanceiros:quaiseporque;
Formasencontradasparamelhoraraofertadecréditoparaprodução.
Após definição dos principais itens e orientações para a elaboração dos
questionárioseentrevistas,foramdefinidoscomoprincipaisentrevistados:
autoridades políticas e administrativas locais: prefeito, secretários de
desenvolvimentosocial,infra-estrutura,educaçãoeagricultura.
representantesdeórgãosdeapoiotécnico:EMBRAPA,EBDA,ADAB,Sebraee
ONGs;
agentesdecrédito:gerentesgeraisedecréditodoBancodoNordesteeBanco
doBrasil;
agrônomosquetrabalhemcomocultivodoabacaxi;
pecuaristaslocais(buscandoumaoutravisãosobreoabacaxi);
presidentedacooperativaCOOPAITA;
umhistoriadorlocal;
umjornalistadaimprensalocal;
umradialistaligadoàagricultura(existemprogramasderádioespecíficos);
lojistasecomercianteslocais;
funcionáriosdearquivosebibliotecasmunicipais;
umcompradorouatravessador;
umfornecedordemudasdeabacaxi;
jovensmoradoresdepequenaspropriedadesrurais;
agricultoresparticipantesdoscursosdecapacitação;
agricultoresfamiliaresquetrabalhemnaplantaçãodeabacaxi;
26
pequenosproprietáriosqueaindanãoplantemabacaxi;
mulheres,jovensecriançasmenoresde12anosqueparticipemativamentedo
cultivodoabacaxi.
A pesquisa com os plantadores foi aplicada através de lista disponibilizada
pelos presidentes de cadauma dastrês associaçõescomunitárias eem 50%dos
participantes,númeroesteescolhidoporsetrataremdepequenascomunidadesna
zonarural, bastantehomogêneas,combaixavariabilidade,favorecendo o graude
precisãodaamostra.
Foi percebido que, por ter se tornado principal sustentáculo econômico da
região, a dinâmica atual do município gira em torno do cultivo do abacaxi,
“homogeneizando” a população da zona rural do município. Assim sendo, após
vários dias de convivência com produtores de diversas outras comunidades
visitadas,edefreqüentarmos ospontos de encontrodosprodutoresnacidadede
Itaberaba, podemos afirmar que essas três comunidades específicas retratam
atualmentearealidadedomunicípiodeformageral.
Os capítulos dessa dissertação foram elaborados seguindo uma linha de
raciocínio que favorecesse a leitura e compreensão das abordagens textuais.
Iniciamospeladescriçãodosmateriaisemétodosutilizadosnasdiversasfasesda
pesquisa,seguindopelosconceitosdedesenvolvimentoeterritórioqueofereceram
abaseteóricaeconceitualparaaconduçãodostrabalhos.Ocapítulo2ofereceuma
visão geral de território e desenvolvimento no Brasil, no Nordeste e na Bahia. O
terceirocapítuloapresentaoMunicípiodeItaberaba,localescolhidoparaoestudo.
O quarto capítulo descreve os impactos socioeconômicos ocasionados pela
plantação do abacaxi, além dos aspectos organizacionais da pequena produção
agrícola familiar no Município. Concluímos com uma avaliação sobre as
possibilidades e expectativas para as comunidades plantadoras e para a
sustentabilidadedaprodução.
1.4Embasamentoteórico-conceitual
Para iniciarmos o estudo sobre território e desenvolvimento, buscamos
primeiramente a compreensão dos conceitos que servirão como base ao longo
dessetrabalho.
27
• Conceitodedesenvolvimento
O conceito de desenvolvimento pode ser subdividido em diversos outros,
porém utilizaremos principalmente desenvolvimento, desenvolvimento social e
desenvolvimentolocal.
Começamos com o conceito mais abrangente de desenvolvimento adotado
peloBancoMundial(2000,p.3),“odesenvolvimentocorrespondeàcapacidadede
construção social, com participação das bases, descentralização e práticas
ambientaiscorretas”.
Paraentendermososignificadodedesenvolvimentosocialesuaabrangência,
RagnarNurkse(1953;apudMYRDAL,1972p.32),economistaamericanodeorigem
estoniana, considerado como um dos pioneiros da economia do desenvolvimento
explicadeformaclaraeobjetivao“cicloviciosodapobreza”edesigualdadesocial:
[...]um homem pobre talvez não tenha o bastante para comer;
sendo subnutrido, sua saúde será fraca; sendo fraco, sua
capacidadedetrabalhoserábaixa,oquesignificaqueserápobre,
o que, porsua vez, implica dizer que não terá osuficiente para
comer;eassimpor diante.Umasituaçãodessa,aplicada atodo
um país, pode reduzir-se aumaproposiçãotruística: ’um país é
pobreporqueépobre’.
Como desenvolvimento local adotamos o conceito da Delegação para a
Organização do Território e para a Ação Regional (DATAR) da França
(AMBAFRANCE, 2006) por ter as raízes na formação da sociedade em um
determinadoterritório:
É um processo concreto de organização do futuro território,
resultante dosesforçosconjuntosde uma populaçãoafetada,de
seus representantes, dos atores socioeconômicos e,
eventualmente,dosagentesdoestado,paraconstruirumprojeto
de desenvolvimento integrando as diferentespartes econômicas,
sociaiseasatividadeserecursoslocais.
Para Buarque (2002, p. 26), desenvolvimento local apresenta uma vertente
maiseconômicaepolíticadodesenvolvimento:
28
O desenvolvimento local é o resultado de múltiplas ações
convergentes e complementares, capazes de quebrar a
dependência e a inércia do subdesenvolvimento e do atrasoem
localidades periféricas, e de promover uma mudança social no
território. […] Apenas com economia eficiente e competitiva
gerando riqueza local sustentávelpode-sefalarefetivamente em
desenvolvimento local, reduzindo a dependência histórica de
transferênciasderendasgeradasemoutrosespaços.
Outra questão importante para o entendimento dos conceitos de
desenvolvimento e território é que, para a maioria dos autores, são verdadeiros
comosinônimos,eque“discordamapenasarespeitodecomoeporquealgunsse
industrializarameoutrosnão”.(ARRIGHI,1997,p.208).
Numaanálisemundialsobreodesenvolvimento,asoportunidadesdeavanço
paraumsóPaísdecadaveznãoconstituememsiavançoseconômicosparatodos.
Sósechegaráaumrealdesenvolvimentoquandotodosospaísesestiverememum
mesmonívelsocioeconômicoe,enquantoistonãoocorre,odesenvolvimentopassa
aserumailusãopois,paraoautor,osistemacapitalistaquelevouessespaísesao
desenvolvimentoéumsistemaevolucionárioondeaestabilidadedotodotemcomo
premissaamudançadaspartes(ibid.,p.211).
Para Myrdal (1972, p. 47), os países desenvolvidos tendem a permanecer
ricoseosmaispobrestendemaseguirdessaforma,existindocausaseefeitospara
permaneceremnomesmopatamar:
O fato de um baixo nível de desenvolvimento econômico ser
acompanhado,emgeral,porgrandesdesigualdadeseconômicas
representa,porsimesmo,grandeobstáculoaoprogresso.Estaé
uma das relações interdependentes, por meio das quais, no
processo cumulativo, ‘a pobreza se torna sua própria causa’.
(MYRDAL,1972,p.63).
Ocírculoviciosodapobrezaeatrasoentãonãoéapenasumfatoeconômico,
contendovariáveissociais,culturaisepolíticasque,parasemodificarem,têm que
serplanejadasemconjunto.
29
• Conceitodeterritório
O debate a cerca do que vem a ser um território e de todas as questões
subjacentes tornam-se fundamentais para compreensão desse conceito. Para
Santos(1992,p.34):
Nafaseatual,ondeaeconomiatornou-semundializada,todasas
sociedades terminaram por adotar um modelo técnico único que
se sobrepõe àmultiplicidadede recursosnaturais e humanos. É
nessas condições que a mundialização do planeta unifica a
natureza,unificadapelahistória,embenefíciodefirmas,estadose
classeshegemônicas.
Segundooautor(ibid.;p.48),oentendimentodoquevenhaaserterritório,
suas dimensões e a dialética que lhe é pertinente, faz-se indispensável para o
entendimento de comoosfenômenosse manifestamecomosedáaapropriação
territorialpelosatoreslocais.
A compreensão da sociedade, da manifestação dos eventos históricos em
seusrespectivoslugares,ouseja,noespaço,sempreforamobjetosdaGeografia,
entendendo esta como uma Ciência Social. Pode-se dizer que “vista do alto, nas
relações com o homem, a Geografia não é outra coisa a não ser a história do
espaço,domesmomodoqueaHistóriaéaGeografiadotempo”(RECLUS,1857;
apudSOUZA,2002,p.21).
O conceito de território é, sem dúvida, um dos mais antigos, contudo, vem
sendocontinuamenterevisadopelosgeógrafos.
Vivemos com uma noção de território herdado da modernidade
incompleta e do seu legado de conceitos puros, tantas vezes
atravessando os séculos intocados. [...] Trata-se de uma forma
impura, um híbrido,umanoção que,porissomesmo,carecede
constanterevisãohistórica.(SANTOS,2002,p.15).
O significado de território, sua complexidade, suas dimensões, são
constituintesdebasilaresdaGeografia.Estenãoestáisoladodentrodoarcabouço
deconceitosdequeseserveaciênciadaGeografia,estãoaoseuladonoçõese
definições de espaço, região, local, entre diversos outros. Estas definições e
conceitos tornam inteligíveis os fenômenos sobre os quais se debruçam os
“cientistasnormais”dessecampodoconhecimentohumano.(KUHN,1995,p.32).
30
Para a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI,
2006), conceitualmente, território é a área geográfica de atuação de um projeto
político-institucionalqueseconstróiapartirdoconsensoentreinstituiçõesemtorno
de objetivos e métodos de desenvolvimento comuns. “Partindo do entendimento
político, desenvolvem-se projetos produtivos, sociais, culturais e ambientais,
normalmente orientados ou liderados por um projeto dominante ou idéia-guia”,
esclareceCoutoFilho(SEI,2006),ex-coordenadordeprojetosdasNaçõesUnidas
no Brasil. A lógica do desenvolvimento territorial permite, então, a articulação e o
encadeamento de políticas públicas, o que otimiza os gastos e evita perdas de
recursospúblicos(SEI,2006).
Couto Filho (2007, p. 104) descreve território como “o ambiente onde se
executaumprojetopolíticodedesenvolvimentoterritorial”eexplica:
Um projeto territorial é essencialmente um projeto político,
envolvendoatorese instituiçõeslocaisquenãonecessariamente
defendemosmesmosgrupos,interesseseidéiasmastrabalham
deformaarticulada,buscandoconsensosemtornodeumtipode
desenvolvimento.
Emseguida(ibid.,p.104),oautordistingueváriostiposdeterritórioscomo:
• Território consolidado: aquele cujo projeto político de desenvolvimento vem
sendoexecutadodeformacontínuaepermanente,complanejamento,alcançando
osresultadosesperados.
• Território emergente: o espaço cujo projeto político está em fase inicial de
execuçãoouemestruturação.
• Territórioprioritário:éoterritórioconsolidado ou emergente,cujoprojetode
desenvolvimentodeveserprioritariamenteapoiadopelaspolíticaspúblicas.
• Território potencial: é o consolidado ou emergente, cujo projeto de
desenvolvimento deve ser apoiado por meio de políticas públicas, uma vez
atendidososprojetosconsideradosprioritários.
• Território não-prioritário: o consolidado ou emergente, cujo projeto de
desenvolvimentonãodeveterapoioprioritáriodaspolíticaspúblicas.
31
ParaSilvaeSilva,(2003,p.118)territorializaçãoseria:
[…]Abuscaconscientedeoportunidadeslocacionaisdecorrentes,
empoucaspalavras,dousoeficientedosrecursoslocalizadosem
termosabsolutoserelativos,hojeassociados,maisdoquenunca,
às vantagens comparativas e competitivas cada vez mais
entendidas, no contexto da globalização, como a expressão da
capacidadeorganizacionaldoslugareseregiões.
Estesconceitosedefiniçõesnãoestãoisolados,aocontrário,“[...]guardam
entresifortegraudeparentesco,poistodossereferemàaçãohumana,modelando
asuperfícieterrestre”.(CORRÊA,1997,p.16).
Para Moraes (1999, p. 22), é Importante destacar que a forma como a
comunidade científica e acadêmica compreende o que seja território, está
intimamente ligado aos momentos históricos que se desenvolvem ao longo do
tempo.Comoparâmetroapartirdoqualpoder-se-adiscutiroconceitodeterritório,
tem-sequeestepodeservistocomo“[...]determinadaporçãodasuperfícieterrestre
apropriadaporumgrupohumano”.(MORAES,1990,p.23).
Estásubjacentenoconceitoapresentadoqueadefiniçãodeterritórioassocia-
se fortemente à ocupação, utilização e transformação dos espaços territoriais em
funçãodeobjetivosdefinidosporumgruposocial,ouseja,“Éousodoterritórioe
nãooterritórioemsimesmoquefazdeleobjetodeanálisesocial”.(SANTOS,1995,
p.15).
Assim, podemos descrever território como o local onde os atores mantêm
relaçõeseconômicas, sociais, culturais emesmoreligiosas,ouseja,encontram-se
emtornodeumobjetivoemcomum.Éaformadeutilizaçãodadapelohomemque
fazdeumespaçogeográficoumterritório.Nestadissertação,oterritórioestudadofoi
sendo formado em torno da ocupação do espaço geográfico e das interações
criadaspelocultivodoabacaxinomunicípiodeItaberaba,Bahia.
32
2TERRITÓRIOEDESENVOLVIMENTONOBRASIL,NORDESTEEBAHIA
2.1Globalização,êxodoruraleosimpactossobreohomemdocampo
Segundo Couto Filho (2007, p. 46), o meio rural, em várias regiões do
planeta, está passando por grandes transformações, indo desde mudanças dos
fluxosmigratóriosatéosurgimentodenovasatividadeseconômicas:
Diante destas, muito se tem discutido em busca de um novo
conceito do mundo rural: a visão de que este está estritamente
relacionado às atividades agrárias, enquanto a indústria e os
serviços são atividades exclusivasdomeio urbano, parece estar
ultrapassada,pelomenosnasregiõesmaisdesenvolvidas.
Para Strazzacappa e Montanari (1998, p. 32), nas ultimas décadas, com o
avanço das telecomunicações e transportes, o processo de globalização da
produçãofoiacelerado:
[…] com a televisão mostrando o mundo e os aviões indo e
voltandoparaondequerquefossem,asmercadoriascomeçaram
achegardepressaatodososlugares.[…]NoBrasilviroumoda
consumir produtos importados numa dimensão jamais vista ... e
aumentouaindamaisafebredeconsumo.
O lado perversofoi aonda de importações,inclusive da produção agrícola,
que trouxe consigo os avanços tecnológicos e a concorrência desleal dos preços
baixos. Várias indústrias diminuíram o faturamento, tendo como conseqüência
inevitável o desemprego, um dos fatos mais assustadores para quem vive na
sociedade atual. “A globalização altera de modo contundente as relações da
sociedadecomosmeiosdeprodução”.(STRAZZACAPPA;MONTANARI,1998,p.
35).
ParaBerthaBecker(1993,p.137):
Os progressos da globalização, entendida ao mesmo tempo como
extensãodediversostiposderedes(capitalfinanceiro,comunicação,
tecnologia, mídia, consumo), estão cada vez mais afastadas das
coletividadesedasculturas.[…]Aglobalizaçãogeraummovimento
antiglobalização (ao qual aderem em geral os movimentos sociais)
queusatambémtécnicaseestratégiasglobalizadasparasefirmar.
33
Ao visitar uma linha de produção de uma fábrica de automóveis, pode-se
verificar asubstituição dohomem porrobôs, computadores e outras máquinas.O
homem nesse processo passa a ser o operador. Porém, são necessários poucos
indivíduos com conhecimentos específicos, o que exclui do processo de
mundializaçãoohomemdocampo:
[…]airadotrabalhadorpelaperdadacolocaçãoprofissionalrecai
sobreaprópriasociedade,eessarespostapodesermedidapelas
eventuais quedas do consumo, pelo aumento da violência e da
miséria.(STRAZZACAPPA;MONTANARI,1998,p.37).
Apobrezaeexclusãosocial,diretamenteligadasàfaltadeoportunidadede
trabalhonazonarural,vãoencontrandonovosmeiosparaseperpetuaratravésda
flexibilizaçãodotrabalhoedasmodernasformasdeexploraçãodamão-de-obra:
A economia informal de serviços se amplia então, mesmo no
caminho da estrita sobrevivência. A exclusão, já considerável,
cresce. A pobreza que antes aumentava conforme o ritmo da
aceleraçãodainflaçãoencontraoutrafonteparasuaexpansão:a
insuficientegeraçãodeemprego.(SALAMA,1999,p.124).
Mike Davis, urbanista norte-americano, pesquisador do crescimento
vertiginoso da população em moradias precárias nas áreas pobres das grandes
cidades, analisa osparalelos entre as políticas econômicas e urbanas defendidas
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, e suas
conseqüências:
Comoaceleradocrescimentodascidadesnospaísesperiféricos,
associado à concentração de renda, nas próximas décadas o
mundo deverá abrigar 2 bilhões de favelados […] São
desempregadosativos,semforçadetrabalhovendávelnemlugar
no sistema,quesubsistem dequalquerjeito para nãomorrerde
fome.(DAVIS,2006,p.32).
Oprocessodeurbanizaçãoiniciou-senoBrasilnoperíodopós-guerracoma
instalaçãodemultinacionaispeloPresidente Juscelino Kubitcheckem1958com a
atraçãodacidadecomagrandeofertadeempregosprincipalmentenaconstrução
civil.Ressalta-senessetempoafugadocampopelasuperpopulaçãorelativa,força
de trabalho excedente devido à mecanização e carência de terras devido à
concentraçãodosmonopóliosagráriosnasmãosdaelite.(TAVARES,2004,p.68).
34
Afaltadeoportunidadesnocampolevouapopulaçãodazonaruralabuscar
soluçõesdesobrevivêncianasgrandescidades,criandoproblemasdedifícilsolução
comoosbolsõesdepobrezaemtornodoscentrosurbanos,levandoascidadesa
serem responsáveis por todo o crescimento populacional futuro, com 95% deste
ocorrendonasáreasurbanasdospaísesperiféricos:
Segundoateoriaortodoxa,arecessãourbanadeveriaterlimitado
oêxodoruralapontodedetê-looumesmorevertê-lo,masnãofoi
o que aconteceu. O crescimento das cidades desafia a lógica
econômica.(COSTA,2006,p.10).
Encontra-seexplicaçãoparaoêxodoruralnofenômenonamecanizaçãoda
lavoura,nofimdaproteçãoaosagricultoreslocaiscontraaimportaçãodealimentos,
na competição do agronegócio em escala industrial e na absorção das pequenas
propriedades pelos latifúndios que não deram alternativas às populações rurais e
aceleraramamigraçãoparaasfavelas,mesmocomascidadesdeixandodegerar
empregos(idem,2006,p.13).
ParaDAVIS(2006,p.129),asmáscondiçõesdehabitaçãonacidadegrande
e a fuga do campo são vistas como problemas para muitos, mas “são soluções
possíveisparaessesrefugiadosdaglobalizaçãoqueosexpulsoudavidatradicional,
e lhe bateu a porta na cara quando tentaram ingressar no mercado de trabalho
formalenosdireitossociaisdamodernidadeurbana”.
A favelização e o êxodo rural são apenas alguns dos problemas causados
pela atual dinâmica socioeconômica diante dos diversos e incontáveis problemas
nasdiversasregiõesdoNordestedoBrasilquenecessitariamsoluçãourgentenum
curtoespaçodetempo.
2.2Os(des)incentivosàagriculturafamiliarnoBrasil
SegundoKüsteretal.;(2004,p.56),agestãotecnológicaestárelacionadaà
gestão econômica e novas tecnologias de produção envolvem maiores
investimentosporém:
35
Oprocessodedesenvolvimentodaagriculturaseráresultantede
um arranjo institucional que promova mudanças tecnológicas,
financeiras,comerciaiseatéculturais,ouseja,umarelaçãomais
ampla entre sociedade, instituições governamentais e meio
ambiente.
Abramovayanalisaqueasoluçãoparaoproblematerritorial,agrícolaesocial
noBrasilestáemummelhoraproveitamentoeusodaterra,ouseja,numamelhor
estruturafundiária:
UmestudorealizadopelaOrganizaçãoInternacionaldoTrabalho
(OIT)indicaque,senoNordestedoBrasiltodasasterrasfossem
distribuídas eqüitativamente pelas famílias que trabalham no
camponaregião,oresultadoseriaumaumentonocurtoprazoem
80%daproduçãoagropecuária.[…]Masumacoisaécerta:na
maior parte da América Latina, é absolutamente impossível
melhorarascondiçõesdevidadapopulaçãosemumamudança
profunda no regime de propriedade fundiária. (ABRAMOVAY,
1983,p.66).
Couto Filho (2007, p. 135) destaca a importância da capacitação nas
atividades agrícolas para melhoria da produtividade e valorização das
potencialidadeslocais:
O processo de capacitação é indubitavelmente o grande
instrumento estruturado de qualquer projeto de desenvolvimento
rural voltado para ossegmentosda agriculturafamiliarno Semi-
Árido. A potencialização das habilidades com elevação da
produtividadedamão-de-obra,oestímuloàmudançadeatitudes
e de valores, o fortalecimento da autoconfiança e do nível de
ambição e a redução da dependência externa que a agricultura
familiar pode obter por seu intermédio, necessitam, contudo, de
serem sedimentados por crescimento simultâneo na valorização
dasuaculturaenareafirmaçãodasuaidentidadelocal.
O gerente da Unidade de Agronegócios do Serviço de Apoio à Micro e
PequenasEmpresasdoEstadodaBahia(SEBRAE)JuarezdePaula,afirmaquea
agricultura familiar gera mais ocupações e é menos intensiva no uso de agro-
químicos, “estando mais próxima das práticas da agroecologia, razão pela qual é
considerada mais sustentável. Por isso, é importante afirmar que a agricultura
familiar também é um agronegócio." (GLOBORURAL, 2007). No Brasil, afirma de
Paula, os critérios do censo populacional induzem a pensar que o rural está em
processodeextinção."Quasetodosacreditamquesomosumpaísessencialmente
urbano",observa."Asestatísticasfalamque80%dapopulaçãoéurbanaesomente
36
20%delaérural.Todavia,dos5.561municípios,maisde4milpossuemmenosde
50milhabitantes.Sãomunicípiosessencialmenterurais."
Porém,segundodeclaraçãodopresidentedaConfederaçãodeAgriculturae
Pecuária do Brasil(CNA) AntônioErnesto deSalvo, noInformativo SENAR-FAEB
(2006,p.4)“oscustosdaatividadeaumentarameaproduçãoémenorpelabaixa
remuneração, criando um ‘perverso sistema de exclusão’, onde os menos
favorecidossãoexpulsos”.
AindasegundoSalvo(2006,p.5):
As açõesoficiais começam a produzir um contingente de novos
produtores rurais que logo se tornarão desamparado. […]
certamente ainda mais vulneráveis pela pequena dimensão de
suas economias. A parte sadia do setor é dinâmica,moderna e
competitiva, com resultado econômico-social surpreendente para
umpaísque optoupor crescerseminvestiremnenhumtipode
políticapúblicaconstanteedefinida.
Conforme o Presidente da CNA (FAEB-SENAR, 2006, p. 5): “É como se a
seleção agrícola brasileira tivesse que disputar um campeonato mundial entrando
emcamposemchuteira,semtécnicoesemmassagistas”.
A entrada de instituições de microfinanças amplia adequadamente a
capacidadedefinanciarosempreendimentoscomasofertasdecrédito,poupançae
seguros adaptados às condiçõeslocais, mas, para tanto, é necessário que essas
instituiçõesconheçampreviamenteoambientesocioeconômico, a culturalocal,as
características ambientais e seus efeitos sobre as atividades econômicas e o
comportamento social. A partir daí deverão ser formulados os serviços a serem
oferecidos(KÜSTERetal.;2004,p.62).
Em umaanálisefeita pelochefe doDepartamentoEconômico (DECON)da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Getúlio Pernambuco, a
expansão do PIB em 2005, como divulgado pelo IBGE, foi superestimada e não
refletearealidadedarendadoPaís(FAEB-SENAR,2006,p.6):
O crescimento real não ultrapassou 1,3%, na medida em que a
agropecuária, que participa com 10% do PIB, registrou uma
pequena queda de 10% na renda, com perdas de quase R$17
bilhões.DeacordocomdadosdoPIBdivulgadosem24demarço,
a agropecuária registrou um crescimento de 0,8% em 2005, a
menortaxadesde1997.
37
No ano de 2005, a estimativa inicial era de uma safra de 130 milhões de
toneladas, mas a colheita ficou em 113 milhões de toneladas. Essas diminuições
fazem com que a queda da renda reduza o fluxo de caixa dos produtores,
dificultando a obtenção de recursos para aquisição de insumos e pagamento das
dívidascomosetorbancário,causandoendividamentocrescente(Ibid.;p.06).
Em contrapartida, segundo declaração de Salvo (2006, p. 5), vê-se o
abandono e afalta deapoio governamental ao setor agrícola e, principalmente, à
agriculturafamiliarcomograndefontegeradoradetrabalhoerenda,sobretudoem
regiões com baixos níveis de empregabilidade como é o caso do Nordeste semi-
árido:
Ocenárioédeabandono,fundamentadonorançoideológico,no
total desconhecimento dos temas do setor, na desigualdade de
tratamento em relação aos demais segmentos da economia e à
concorrência externa. A agricultura cresceu, apresentou
resultados, sustenta a balança comercial, mas o agricultor ficou
maispobre.Contribuiparaessequadroaexcessivatributação,a
faltadeinfra-estruturaeainformalidade.Aagropecuáriagera38,4
bilhõesnabalançacomercial,equilibraasdespesasdopaís,mas
nãofechaacontadequemproduz.(Ibid.;p.07).
2.3Aatividadeagrícolacomopropulsoradedesenvolvimentolocal
Apósoentendimentodoconceitodeterritóriocomooespaçoondeosatores
mantêmrelaçõeseconômicas,sociaiseculturais,compondoumlimitegeográficode
interesse comum, reconhecemos então a existência de vários territórios da
agriculturafamiliarnoBrasilformadospelasidênticasatividadesdiretamenteligadas
àspeculiaridadesdoclima,solo,culturaeeconomiadecadaregião.
Para Abramovay (1983, p. 64), a agricultura e o aproveitamento das terras
férteis em todo o planeta, seriam atividades propulsoras de desenvolvimento,
aportando oportunidades de trabalho e geração de renda no campo, além de um
aumentoconsideráveldaofertadealimentosque,juntos,resolveriamgrandeparte
dosrelevantesproblemasdaatualidade:
38
Se as melhores terras do planeta fossem todas colocadas em
cultivo, a superfície deplantioda Terra aumentaria4,7 vezes. E
veja que neste calculo só incluímos as melhores terras: as que
nãonecessitamdeirrigaçãoartificialequepodemsertrabalhadas
com arado, isto é, sem contar, então os terrenos montanhosos,
pedregosos, e relativamente secos, que também podem ser
empregados para a agricultura ou criação de animais.
(ABRAMOVAY,1983,p.64).
A populaçãodo Brasil em 2006era de 186,7milhões de habitantes, sendo
51,6milhõesvivendonoNordeste(27,6%dototal).Dessetotalnaregião,53%se
encontranaszonasurbanase47%(16milhões)naszonasrurais,conformemostra
a figura 2.Esses dados demonstram aimportância dacriação deuma política de
desenvolvimento agrícola para o Nordeste, que torne o campo mais atrativo e
proporcione uma melhor distribuição populacional, reduzindo a concentração nas
grandescidades.
Fonte:IBGE,2006.Elaboração:AuraPamponet
De acordo com a Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) (MDA, 2007), a agricultura familiar tem papel
estruturante e fundamental para o desenvolvimento do país. Cerca de 60% dos
alimentosconsumidospelapopulaçãobrasileirae40%dovalorbrutodeprodução
agropecuáriasãoproduzidosporagricultoresfamiliares(tabela1).
39
Tabela1-ResultadodaproduçãoagrícolafamiliarnoBrasil-2006
Alimentosconsumidospela
população(%)
Valorbrutodaproduçãosobretotal
produzido(%)
60
40
Fonte:MDA,2006.Elaboração:AuraPamponet.
Aagriculturafamiliaréresponsávelpor84%damandioca,67%dofeijão,58%
dossuínosedosfrangos,52%dabovinoculturadeleite,49%domilhoe31%do
arrozproduzidosnoBrasil(tabela2).
Tabela2-PrincipaisprodutosdaagriculturafamiliarnoBrasil-2006
Produto Totalproduzido(%)
Mandioca 84
Feijão 67
Suínosefrangos 58
Bovinoculturadeleite 52
Milho 49
Arroz 31
Fonte:MDA,2006.Elaboração:AuraPamponet.
Apesar das características regionais serem únicas e inimitáveis, é
compreensível que as dificuldades, obstáculos e a forma de adesão dos agentes
locais às dinâmicas territoriais sejam quase sempre baseadas nas mesmas
necessidades:geraçãodetrabalhoerenda,sobrevivênciaedesejodepermanência
daspessoasnolocaldeorigem.
PeloCensoAgropecuáriodoIBGEem1995/96,existiamnoBrasil4.859.864
estabelecimentos rurais (tabela 3), ocupando uma área de 353,6 milhões de
hectares.Nestasafra,ovalorbrutodaproduçãoagropecuáriafoideR$47,8bilhões
eofinanciamentototalfoideR$3,7bilhões.
40
Aenormedesigualdadeestánasdiferençasentreasáreasdaspropriedades
patronais e as ocupadas pela agricultura familiar e suas conseqüências. São
4.139.369deestabelecimentosfamiliares,ocupandoumaáreade107,8milhõesde
hectares, sendo responsáveis por R$ 18,1 bilhões do valor bruto de produção,
recebendoapenasR$937milhõesdefinanciamentorural.Osagricultorespatronais
são representados por 554.501 estabelecimentos, ocupando 240 milhões de
hectares,segundorelatóriodaparceriaentreoInstitutoNacionaldeColonizaçãoe
ReformaAgrária–INCRAeaOrganizaçãodasNaçõesUnidasparaaAgriculturae
Alimentação–FAO,doanode2000.
Tabela3–Brasil:Estabelecimentos,área,valorbrutodaproduçãoefinanciamento
total-2000
CATEGORIAS
Estab.
Total
%Estab
.
s/total
ÁreaTot.
(milha)
%Area
s/total
Valorbruto
de
produção
(milR$)
%Valor
bruto
de
prod.
s/total
Faturamento
total(milR$)
%Fat.
Total
s/total
FAMILIAR 4.139.369
85,2
107.768
30,5
18.117.725
37,9
937.828
25,3
PATRONAL 554.501
11,4
240.042
67,9
29.139.850
61,0
2.735.276
73,8
Outras* 165.994
3,4
5.801
1,6
538.894
1,1
34.008
0,9
TOTAL 4.859.864
100,0
353.611
100,0
47.796.469
100,0
3.707.112
100,0
Fonte:ProjetodeCooperaçãoTécnicaINCRA/FAO,censoAgropecuário1995/96–IBGE
Adaptação:AuraPamponet,2007.
*Instituiçõesreligiosas,entidadespúblicaseoutrasnãoidentificadas.
Percebe-se,apartirdatabelaacima,arelevânciasocialdaagriculturafamiliar
comopropulsoradeocupaçãoerenda no campo,principalmente se comparadaà
patronal:aproporçãodeestabelecimentoséde7familiarespara1patronal,masa
áreatotal patronalé omais que o dobro dafamiliar. O desequilíbrioeconômico e
social fica mais evidenciado pelo financiamento total que canaliza 73,3% dos
recursos para os estabelecimentos patronais enquanto apenas 25,3% são
destinadosàfamiliar,impactandoovalorbrutodeproduçãonumadesproporçãode
61%contra37,9%produzidospelosestabelecimentosfamiliares.
Aproximadamente85%dototaldepropriedadesruraisdoPaíspertencema
gruposfamiliarese7emcada10trabalhadoresruraisestãoocupadosnestetipode
agricultura(figura3).Porém,aáreamédiadosestabelecimentosfamiliaresémuito
41
inferior à dos patronais, apresentando também uma grande variação entre as
regiões. A área média dos estabelecimentos familiares no Brasil é de 26 ha,
enquantoqueapatronaléde433ha.(INCRA/FAO,2000).
Figura3-Áreamédiadosestabelecimentos
familiares(emha)-2000
17
84
57
30
21
36
NE CO NORTE SE SUL BR
Emha
Fonte:ProjetodeCooperaçãoTécnicaINCRA/FAO.CensoAgropecuário1995/96–IBGE
Poroutrolado,arendatotalporhectaredemonstraqueaagriculturafamiliaré
muitomaiseficientequeapatronal,produzindoumamédiadeR$104/ha/anocontra
apenasR$44/ha/anodosagricultorespatronais(INCRA/FAO,2000),conformefigura
4.
Figura4-Rendatotalporha/anodos
estabelecimentosfamiliaresepatronais-2000
70
48
51
129
241
104
37
25
12
85
99
44
NE CO NORTE SE SUL BR
R$/ha/ano
Familiar Patronal
Fonte:ProjetodeCooperaçãoTécnicaINCRA/FAO-CensoAgropecuário1995/96–IBGE
42
ConformeosestudosrealizadospeloINCRA/FAO(2000),amaioreficiência
daagricultura familiar sobrea patronalocorre em todas as regiõesbrasileiras.No
Nordeste, os agricultores familiares produzem em média R$70/ha contra R$37/ha
dospatronais,noCentro-Oeste produzemumamédiadeR$48/hacontraR$25/ha
dospatronais.NaregiãoSul,osagricultoresfamiliaresproduzemR$241/hacontra
R$99/hadosagricultorespatronais.NaregiãoNorte,osagricultoresfamiliaresobtêm
uma média de R$ 52/ha de renda total, valor quase cinco vezes superior à dos
agricultorespatronais,queobtêmumamédiadeapenasR$12/ha/ano.
Numa análise territorial da Bahia rural elaborada pela Superintendência de
Estudos Econômicos e Sociais daBahia (SEI) (2004, p. 74), na década de 1950,
autoresdevisãoindustrialistascomoColinClark,JosephSchumpeter,RaulPrebisch
e outros, viam “a agricultura como uma atividade fadada a permanecer numa
posição tecnológica desfavorável, e, por extensão, a ver a produção rural como
subsidiária dessa agricultura”. Mas, essa visão não se concretizou devido ao
surgimentodeoutrosfatoresnadécadade1960quelevaramanovodesfecho:
[…]comabiotecnologiaearevelaçãodecaminhosprópriosda
agriculturaparadesenvolvertecnologiasavançadas.Primeiro,por
que a agricultura torna-seum espaço produtivo do capitalismo e
usa formas combinadas, avançadas e atrasadas, segundo os
projetos de produção. Segundo,por queasrelaçõesregionais e
inter-regionais de poder são mais claramente penetradas pelas
articulações internacionais da produção, tanto pela entrada de
capitais internacionais como pela internacionalização de
operaçõesregionais.(SEI,2004,p.78).
Paraoentendimentodaagriculturafamiliar,tomamoscomobaseadefinição
deKüster(etal.;2004,p.56):
[…] é a produção vinda de estabelecimentos onde quem está à
frente é o produtor; a participação familiar é maior que a
contratada; tem uma área até quinze vezes inferior ao módulo
regional mas a terra pode não ser necessariamente do produtor
direto.
Por essa definição, a grande maioria das unidades produtivas do País se
enquadra como agricultura familiar e, pelos dados do Programa Nacional de
FortalecimentodaAgriculturaFamiliar(PRONAF)doMinistériodoDesenvolvimento
Agrário,85%dototaldeestabelecimentosagropecuáriosestãonessacategoria:de
43
4,86milhõesdepequenaspropriedades,4,14milhõesoquerepresenta30,5%da
áreatotal,sãoresponsáveispor38%dovalorbrutodaproduçãoagrícola(ibid.;p.
63).
ParaDAVIS(2006,p.87):
A agricultura familiar deve ser vista como solução para o
desemprego da mão-de-obra pouco qualificada, que hoje é um
dos maiores problemas sociais no Brasil, envolvendo grandes
questões como marginalidade, pobreza e abandono. A
mecanizaçãodalavoura,ofimdaproteçãodosagricultoreslocais
contra aimportação de alimentos, acompetição do agronegócio
em escala industrial e a absorção das pequenas propriedades
pelos latifúndios, não deram alternativas às populações rurais e
aceleraram a migraçãopara as favelas,mesmo com as cidades
deixandodegeraremprego.
Aagriculturafamiliarmereceespecialatençãopelosignificadosocialeparaa
saúde, pois devido à dificuldade de acesso a fertilizantes industrias e defensivos
agrícolas,muitasvezestransformarecursosnaturaisembensdeconsumodeforma
maismoderadaquenaagriculturaconvencional(Küsteretal.;2004,p.73).
NoBrasil,cercade80%daproduçãodefrutasnoterritórionacionalvemdas
pequenas propriedades. Estudos técnicos demonstram que, para cada 10 mil
dólaresinvestidosemfruticultura,épossívelabrirtrêsempregosdiretosnocampoe
doisindiretos.OBrasiléoterceiromaiorprodutordefrutasfrescascom38milhões
de toneladas anuais, atrás da China e da Índia, sendo uma atividade estratégica
paraoPaís(GloboRural,2004,p.52).
Abaseagrícoladacadeiaprodutiva,especificamentenafruticulturanoBrasil,
abrange 2,2milhõesde hectares, empregaquatro milhões de pessoas e gera um
PIB agrícola de 11 bilhões de dólares, mas as condições de crédito são
desanimadoras.Nessetotal,oabacaxivemganhandoterrenoapesardomelãoter
assumido o primeiro lugar em crescimento de demanda, segundo dados do
MinistériodaAgricultura,PecuáriaeAbastecimento.(Ibid.;p.56).
2.4OpapeldoPRONAFnaagriculturafamiliarnoNordeste
OGovernoFederalnosúltimosanosvembuscandoaprimorareaumentaros
repassesderecursosparamelhorar ascondiçõesdaproduçãofamiliaremtodo o
44
País. De acordo com a Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do Ministério de
Desenvolvimento Agrário (MDA), o Programa Nacional de Fortalecimento da
AgriculturaFamiliar(PRONAF)éumprogramadeapoioaodesenvolvimentorural,a
partirdofortalecimentodaagriculturafamiliarcomosegmentogeradordepostosde
trabalhoerenda.
Foicriadoparapropiciarapoiofinanceiroàsatividadesagropecuáriasenão-
agropecuárias,exploradascomoempregodiretodaforçadetrabalhodopequeno
produtor. O programa é executado de forma descentralizada e tem como
protagonistasosagricultoresfamiliaresesuasorganizações.
A partir de outubro de 1996, com uma nova resolução do Banco Central,
ocorreu uma mudança nos procedimentos do PRONAF: ampliou-se o público
beneficiário passando a incluir as associações de produtores e cooperativas
habilitadasparaorepassedoscréditos,ampliandooslimitesderecursos.
OPRONAFrepresentaapossibilidadedecolocarempráticauma
novaconcepçãodedesenvolvimentorural,atravésdeumapolítica
pública diferenciada que visa o fortalecimento dos agricultores
familiares. Propicia, condições para a melhoria da estrutura
produtiva,darenda,gerandoempregosnocampo,favorecendoo
exercício da cidadania e elevando a qualidade de vida de seus
beneficiários.(ABREU,2000,p.151).
Segundo o enunciado do programa, o objetivo é construir um padrão de
desenvolvimento sustentável para os agricultores e suas famílias, visando o
aumentoeadiversificaçãodaprodução,comoconseqüentecrescimentodosníveis
detrabalhoerenda,proporcionandobem-estarsocialequalidadedevida.
O programa tem como finalidade financiar investimentos destinados à
implantação, ampliação emodernização da infra-estrutura de produção e serviços
agropecuários e não-agropecuários no estabelecimento rural ou em áreas
comunitárias próximas, destinando-se a agricultores familiares, pescadores
artesanais, extrativistas, aqüiculturas e silvicultores que obtenham renda bruta
familiardeatéR$2.000,00aoanoenomínimo30%dessarendasejaproveniente
daexploraçãoagropecuáriaounãoagropecuáriadoestabelecimento.
Propicia apoio financeiro de até R$1.000,00 para atividades produtivas
agropecuáriasenão-agropecuárias.Osjurossãocobradosàtaxaefetivade1%ao
ano (2006), com bônus de adimplência de 25% sobre cada parcela da dívida
45
(principaleencargos),desdequepagaatéadatadoseurespectivovencimento.O
prazoédeaté2anos,inclusiveaté1anodecarência,segundodadosdo
site
do
BancodoNordesteem2006.
Oscréditossãodestinadosa:
•
Agricultoresfamiliaresqueatendamosseguintesrequisitos:
-sejamdetentoresdadeclaraçãodeaptidãoaoPRONAF–DAP;
-exploremparceladaterranacondiçãodeproprietário,posseiro,arrendatárioou
parceiro;
-tenhamotrabalhofamiliarcomobasenaexploraçãodoestabelecimento;
-nãodetenhamáreasuperioraquatromódulosfiscais;
-partedarendabrutaanualsejaprovenientedaexploraçãorural,cujopercentual
variaconformeogrupo;
-residamnapropriedadeouemlocalpróximo.
•
Cooperativas,associaçõesououtraspessoasjurídicas,constituídasde
agricultoresfamiliares.
•
AssentadosdoProgramaNacionaldeReformaAgráriaedeassentamentos
estaduaisreconhecidospeloGovernoFederal.
•
BeneficiáriosdoProgramaNacionaldeCréditoFundiário
Oreferidoprograma adotouagestãosocial comobasedesuasações.Paraa
participação, alguns critérios básicos são necessários para que os produtores
tenhamacessoaocrédito:
1) nãodeter,aqualquertítulo,áreasuperiora4módulosfiscais;
2) terotrabalhofamiliarcomobasenaexploraçãodoestabelecimento;
3) terrendamédiabrutafamiliarmensalaté1,5(umemeio)saláriosmínimos
nosdozemesesqueantecederemàinscrição,excluídososbenefícios
previdenciáriosrurais;
4) cultivaráreasnãoirrigadas;
5) aderirantesdoplantio;
6) teráreaplantadadeaté10hectarescomasculturascompreendidasnos
programasdecapacitaçãoparaaconvivênciacomosemi-árido;
7) efetuaracontribuiçãoindividual;
8) possuiroNúmerodeIdentificaçãoSocial(NIS),aserfornecidopelaCaixa
EconômicaFederal(CEF),quandodarealizaçãodoCadastramentoÚnico.
46
Aintençãoéválida,porémaburocraciadeacessoaocréditoaindaéumfator
de complicação para o pequeno agricultor. Aforma de aplicação também é outro
empecilho,requerendoaperfeiçoamentosparasuaoperacionalização.
Segundo estudos do INCRA/FAO (2000), o financiamento destinado à
agriculturaédesproporcionalentreosagricultoresfamiliaresepatronais,sendoque
emtodasasregiõesaparticipaçãodosestabelecimentosfamiliaresnocréditoruralé
inferioraoper
centualdoValorBrutodeProdução(VBP)peloqualsãoresponsáveis.
Quandocruzadososdadosdascincoregiõesbrasileiras(tabela4efigura5),
o Nordeste desponta com o maior percentual de propriedades, tendo 49,7% de
todososestabelecimentosfamiliaresbrasileiros.Entretanto,ocupaapenas31,6%da
áreatotaldosestabelecimentosfamiliares,éresponsávelpor16,7%dovalorbruto
de produção dos agricultores familiares e absorve 14,3% do financiamento rural
destinadoàcategoria,oquecomprovaanecessidadedeaberturadecréditoparaa
região.
Tabela4-Agricultoresfamiliares:participaçãopercentualdasregiõesnonúmerode
estabelecimentos,área,valorbrutodeproduçãoefinanciamentototal–2000
REGIÃO
%Estab.
s/total
%Área
s/total
%valorbruto
deprodução
s/total
%
Faturamento
brutos/total
Nordeste 49,7 31,6 16,7 14,3
Centro-Oeste 3,9 12,7 6,2 10,0
Norte 9,2 20,3 7,5 5,4
Sudeste 15,3 17,4 22,3 15,3
Sul 21,9 18,0 47,3 55,0
BRASIL 100 100 100,0 100,0
Fonte:ProjetodeCooperaçãoTécnicaINCRA/FAO-censoAgropecuário1995/96–IBGE
Analisandoosdadosdafigura5comasdisparidadesexistentesentre
asregiões,ficacomprovadoque,noNordeste,muitoprecisaserfeitopara
oincrementodaatividadeeconômicadevidoaovalorsocialagregado.
47
Figura5-AgricultoresFamiliares:regiões,númerode
estabelecimentos,áreas,valorbrutodeprodução
(vbp)efaturamentototal(ft)-2000
50
32
17
14
4
13
6
10
9
20
8
5
15
17
22
16
22
18
47
55
%Estab. %Área %vbp %ft
Nordeste C.Oeste Norte Sudeste Sul
Fonte: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO - censo Agropecuário 1995/96 – IBGE
Com o objetivo de fomentar o repasse de créditos do PRONAF, o Banco do
Nordeste do Brasil (BNB), por ser um banco criado para desenvolvimento do
Nordeste,adotouaagriculturafamiliarcomoprioridade(BNB,2006,p.23).
Segundo a publicação, o programa de micro-crédito rural do PRONAF – o
Agroamigo, operacionalizado pelo BNB e lançado em 2005 em parceria com a
Cooperação Técnica Alemã – GTZ e o Instituto Nordeste Cidadania, têm como
objetivoexpandirocréditoaagricultoresfamiliaresdepequenoportecomusode
metodologiademicrocréditoprodutivoorientado.É,baseadonaconcessãoatravés
doassessordemicrocréditoruralparaascomunidades,atendendooprodutorem
suapróprialocalidade.
A figura 6 mostra o crescimento dos investimentos do PRONAF aplicados
através do Banco do Nordeste nos últimos quatro anos, onde vê-se um grande
crescimentodosinvestimentosnosanosde2004e2005.
48
Figura6-CrescimentodosrepassesdoPRONAFnoNordeste–2002-2005
CrescimentodosrepassesdoPRONAF
noNordeste(valoresemmilhõesde
reais)-2002-2005
207.2
315.4
695.8
1051.1
2002 2003 2004 2005
Fonte:www.bnb.com.br,2006.
Conforme publicado no Informativo FAEB/SENAR de outubro de 2006 foi
sancionada uma Lei 11.322 em 13/07/2006, que permite a liquidação de dívidas
ruraiscomaté75%dedescontos,comoformadeincentivarabuscaporcrédito.O
Banco do Nordeste renegociou em 2006 aproximadamente 500 mil operações de
produtoresquecontrataramfinanciamentosruraiscomrecursosdoFundoNacional
de Financiamento do Nordeste (FNE) e de outras fontes enquadradas nesta lei
sendoamaiorpartedoPRONAF.
De acordo com o gerente de operações, Luis Sérgio Machado, a grande
maioria dos contratos a serem renegociados com base na lei possui valores
inferiores a R$15 mil. O tratamento quanto a juros e bônus de inadimplência é
diferenciado a depender do valor da dívida sendo que os de até R$15 mil terão
descontos de até 75% sobre o valor total da dívida (FAEB-SENAR, 2006, p. 7).
Casooprodutordesejealongaradívida,existeapossibilidadedeefetuaro
parcelamentoematé10anos,comcarênciade2anosejurosde3%aoano,sem
encargosdeinadimplência,segundoMachado.Osjurosde3%aoanosãoapenas
para contratos até 35 mil. Acima desse valor as taxas são de 6% para mini e
pequenosprodutorese8,75%paraosdemais.ALeiconcedeaindaumbônusextra
de 10% para quitação total da dívida, segundo o Gerente de Recuperação de
CréditodoBNB,EdílsonFerreira.
PeladeclaraçãodoSuperintendentedoBNBPauloSérgioRebouçasFerraro
emoutubrode2006,obancoestáimprimindoumacartilhaparadistribuiçãoentreos
produtores, sindicatos e associações para divulgar amplamente os benefícios:
49
“Essas medidas estão sendo tomadas como forma de incentivo à pequena
produção”(Ibid.;p.07).
2.5AagriculturafamiliarnaBahia
ParaacompreensãodohistóricodaagriculturafamiliarnoEstadodaBahiae
comovemsedesenvolvendo,utilizamosoconceitodeSilvaeSilva(2003,p.121)
ondeexplicam:
As atividades ligadas à agricultura são, por natureza,
territorializadas já que elas, no fundo, lidam com questões
concretas domeio ambiente e com questões locacionais. Oque
produzir, para quem vender, como produzir e sobre que formas
organizacionaisotrabalhodeveassumir,quevariaçõesdecustos
de produção ede transporte existem em diferentes lugares etc.,
são questões já de dois séculos nos meios acadêmicos e
aplicados,desdeRicardoeThünen,simbolicamente.
Segundo os autores, os produtores rurais formaram progressivamente uma
lógica territorial setorializada com crescente relacionamento com a indústria,
transportes, comércio e serviços entre outros, mas, apesar disto, a lógica setorial
permaneceupormuitotempo(ibid.,p.123).
O entendimento do que vem a ser território rural em todas as variáveis
envolvidas,representa“umavisãodeconjuntodosproblemasruraiseummodode
usoderecursos técnicos, humanos e financeiros”(SEI,2004,p. 82). Assim, cada
nova proposta política de desenvolvimento para um determinado território, neste
caso a agricultura familiar no Nordeste semi-árido onde o Estado da Bahia está
inserido,deverefletiraexperiênciaacumuladanastentativasdeprojetosanteriores,
buscandoaassertividadequelevaráaodesenvolvimentolocalsustentável.
50
Para Nascimento (2003, p. 108), as experiências para o desenvolvimento
sustentávelnosemi-áridobaianooferecemduaslições:
Primeira lição: o que se pode fazer de mais relevante no semi-
áridoéaprenderaconvivercomoespaçorural,valorizandosuas
características peculiares: condições geo-edafo-climatológicas,
identidade cultural, vocações econômicas, tradições, valores e
saberes.Segundalição:éprecisoplanejaressaconvivência.[…]
quedeveestarintegradaaumprocessomaior,dereestruturação
da pequenapropriedadefamiliar– tãosujeitaàs turbulências do
mercado,àsalteraçõesdoclima,aosrevesesdaestruturasociale
da política deletéria -, levando-se em conta as condições de
ocupaçãofamiliar,paraampliaraschancesdesuasobrevivência,
eaelevaçãodostatusdecidadania.
SegundoLagesetal.(2004,p.115);aassociaçãodeespecificidadesculturais
a territórios para o desenvolvimento de atividades econômicas de forma geral,
envolvealgunspassoslógicos:
[…]aidentificaçãodeáreasgeográficasquesejamoupossamvir
a ser diferenciadas em função das singularidades culturais de
seus habitantes e das atividades por eles desenvolvidas; e
segundo, aseleção debensou serviços quesejamcompetitivos
no mercado e cuja comercialização possa beneficiar-se desse
vínculo.
Dentro dessa lógica, é inquestionável que a agricultura familiar oferece
grandeoportunidadeparaoNordeste-porinclusãoaBahia,porseraregião“onde
seconcentramossegmentosmaispobresdosagricultoreseaspolíticasdegeração
de renda encontram maior dificuldade de implementação” (KÜSTER et al.; 2004,
p.56),comopodemosobservarnatabela5.
Comopodeserobservadonatabela5,aregiãoNordesteapresentaomaior
númerodeagricultoresfamiliaresrepresentadospor2.055.157deestabelecimentos
(88,3%), ocupando 43,5% da área regional e produzindo 43% o valor bruto de
produção,masficandocomapenas26,8%dovalordosfinanciamentosagrícolada
região(INCRA/FAO,2007).
51
Tabela5–Agriculturafamiliar:estabelecimentos,área,valorbrutodeproduçãoe
financiamentototalsegundoasregiões-2000
REGIÃO
Estab.
Total
%
Estab.
s/total
ÁreaTotal
(Emha)
%
Área
s/
total
Valorbruto
deprodução
(milR$)
%Vl.
bruto
prod.
s/total
Fatura-
mento
total
(milR$)
%Fat.
total
s/
total
Nordeste
2.055.157
88,3
34.043.218
43,5
3.026.897
43,0
133.973
26,8
Centro-
Oeste
162.062
66,8
13.691.311
12,6
1.122.696
16,3
94.058
12,7
Norte 380.895
85,4
21.860.960
37,5
1.352.656
58,3
50.123
38,6
Sudeste 633.620
75,3
18.744.730
29,2
4.039.483
24,4
143.812
12,6
Sul 907.635
90,5
19.428.230
43,8
8.575.993
57,1
515.862
43,3
BRASIL 4.139.369
85,2
107.768.450
30,5
18.117.725
37,9
937.828
25,3
Fonte:ProjetodeCooperaçãoTécnicaINCRA/FAO.CensoAgropecuário1995/96–IBGE
Seanalisarmosaregião Sulquetem quaseametade deestabelecimentos
familiares,porémrecebe43,3%dosfinanciamentosdaregião,vemosclaramentea
faltadeincentivoàessetipodeatividadenoNordeste.(INCRA/FAO,2000).
Ospassosparaumatransformaçãoradicalnasestruturassociais
arcaicas do sertão ainda não são visíveis nem possíveis sem
consideraroNordestecomo umtodo.Todaviaalgunsfiosdesse
processodetransformaçãojásefazempresentesnotecidosocial,
que aqui está representado por uma articulação bem-sucedida
entre vários atores, e, particularmente, pelo movimento social
existentenointeriordoEstadodaBahia.(NASCIMENTO,2003,p.
101).
A Bahia é o estado que concentra a maior parcela dos recursos
disponibilizadospeloBancodoNordeste.SegundodeclaraçãodoSuperintendente
EstadualdaBahiaPauloSérgioFerraro(OBNB...,2006,p.4),obancoprevêuma
aplicaçãodeR$1,3bilhão doFundoConstitucionaldeFinanciamentodoNordeste
(FNE)naBahiaem2006,oquerepresenta28%dametatotaldeaplicaçãoemtoda
a região Nordeste, aplicando R$183 milhões através das 35 agências em todo o
interior,inclusivenomunicípiodeItaberaba.
O Estado, em 2005, foi responsável por cerca de 40% do total das
exportaçõesdoagronegóciodaregiãoNordeste,atingindocercadeUS$1,4bilhão,
numsetorquerespondepor,emmédia,umterçodoPIBnacionalegeramilhõesde
52
empregosdiretoseindiretos,segundodeclaraçãodoSuperintendenteEstadualdo
BancodoNordeste.(OBNB...,2006,p.4).
ConformeaAnáliseTerritorialdaBahiaRural(SEI,2004,p.80),nopanorama
rural do Estado convivem núcleos de transformação econômicas com situações
ondepredominameatrasotécnico,apobrezaeaexclusãosocial,combinando-sea
atualização de formas tradicionais de organização tais como as grandes
propriedades familiares, com novas modalidades de produção familiar. O atual
quadro socioeconômico reflete a acumulação desigual de uma variedade de
processos que atingiram a esfera rural, vinculadas a questões tais como
monoculturasouastransformaçõesnointeriordaprópriasociedaderural, comoa
dosprogramasdeproduçãoeaorganizaçãodaagropecuária.
Nascimento(2003,p.101)explica:
Há necessidade de mudar o modelo de desenvolvimento rural
existentenaBahiaporqueéaltamenteexcludente,inaplicávelàs
condições socioeconômicas do semi-árido e, além de tudo,
sustentaformasarcaicasdepoder.Porissofaz-semisterqueos
atores sociais, organizados, disputem espaços de poder na
sociedade, tenham voz e vez, valorizem suas demandas mais
urgentes eproponhamalternativas dedesenvolvimentoviáveise
adaptáveisaosertão,emumapalavra,includentes.
Observa-se que, no Estado, conforme o relatório existem regiões mais
dinâmicascomoJuazeiro,Barreiras,LençóiseExtremoSul;outrasperderamforça
econômica e regrediram como a região cacaueira, a de Senhor do Bonfim e o
Recôncavo;eumespaçoquaseinerte,osemi-árido,ondesobressaiapobrezaea
falta de formação de capital. Dentro desse quadro de falta de dinâmica territorial,
sobrepõe-se o cultivo do abacaxi em Itaberaba como um caso de sucesso na
geraçãodetrabalhoerendaemobilidadesocialnosemi-áridodaBahia(SEI,2006).
SegundodadosdaSEI(2007),noEstado,asatividadesparaapromoçãodo
desenvolvimento territorial estão sendo articuladas no âmbito da Coordenação
Estadual dos Territórios na Bahia (CET), composta por algumas das instituições
públicas e da sociedade civil organizada que têm planejado, executado ou
financiadoatividadesdedesenvolvimentoterritorial.
ApesardeseradotadohámuitosanosempaísescomoaFrança,aaplicação
do conceito de desenvolvimento territorial no Brasil é relativamente nova. “O
conceitoqueadotamosnaBahiaseaproximadaidéiafrancesade‘aménagement
53
dutérritorie’,teorizadaporalgunsautorescomoBernardKayser,queafirmaquesão
‘osprojetospolíticosquemoldamosterritórios”,explicaCoutoFilho,ex-coordenador
de projetos no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a
Alimentação(FAO).(SEI,2007).
NoEstado,amaioriadosterritóriosatendidostemcomoidéia-guiaofomento
àagriculturafamiliar,e,segundodeclaraçãodeCoutoFilhono
site
daSEI(2006):
“osesforçossãoconcentradosemcategoriasfamiliaresfragilizadas,historicamente
deixadas de lado, como os ribeirinhos, quilombolas, assentados, acampados,
indígenaseagricultoresfamiliarestradicionais”.
O segmento pode contribuir para o desenvolvimento do Estado e do País,
criandomaisoportunidadesdetrabalhodo queaagricultura patronal,reduzindoo
êxodo rural, diversificando e dinamizando aatividade econômica e promovendo o
desenvolvimento de pequenos e médios municípios. Por se tratar de métodos
produtivosbaseadosnopolicultivo,aindaproduzmenosimpactoaomeioambiente
doqueaproduçãoemgrandeescala,quesesustentanamonocultura(SEI,2007).
Assim, depois de uma análise dos dados apresentados, torna-se
inquestionável a importância da agricultura familiar para o Estado da Bahia. Fica
ressaltada também a necessidade de incentivo à atividade rural agrícola e não-
agrícolacomosoluçãoparaoêxodorural e aformação doscinturõesdepobreza
quenasceramemtornosdascidadesdotadasdeindústriasdaregiãometropolitana
deSalvadoreoutroscentrosurbanosnoEstado.
54
3CONTEXTUALIZAÇÃODAÁREADEESTUDO
3.1LocalizaçãoecaracterizaçãodomunicípiodeItaberaba
OlocalescolhidoparaessetrabalhodepesquisafoiomunicípiodeItaberaba,
no Estado da Bahia, mais especificamente as comunidades de plantadores de
abacaxinaslocalidadesdeTestaBranca,LagoaNovaeBomViver.
Itaberaba está localizada na mesorregião centro-norte do Estado e
microrregião de mesmo nome – Itaberaba. Faz parte da bacia hidrográfica do
Paraguaçu,sendobanhadopelosriosCapivari,RiachodoFeijãoePiranhas“sobre
oqualfoiconstruídooaçudepúblico,nolocalconhecidoporPoçodoPrataedepois
poçodoUrubu,seguramenteporessasavesfazerempousoparadescansonolocal”
(CERQUEIRA, 2002, p. 64). Possue espelhos d´água como os açudes de Juraci
MagalhãeseRedenção(IBGE-CEI,2000).Asprincipaisatividadeseconômicassão
apecuáriaeaagricultura,principaisfontesgeradorasdeocupaçãoerendanazona
rural,alémdaextraçãovegetalemineral.
O município é chamado “Portal da Chapada”
(figura 7)
por ser um dos
acessos àChapada Diamantina. A entrada da cidade pelaBR-242 éreconhecida
pelomonumentonotrevorodoviáriocomainscrição“Itaberaba-PortaldaChapada”
ondeo“M”,comastrêspernas,representaoterceiromilênio,segundoCerqueira
(2002,p.152).
Itaberabaoriginou-sedomunicípiodeIpirá,tendolimitesaolestecomesse
municípioecomomunicípiodeIaçu,aonortecomomunicípiodeRuiBarbosa,ao
sulcomIaçueaoestecomBoaVistadoTupim,conformefigura8.
O município está localizado há 266 km de distância de Salvador, tendo
acessopelasBR-324(queligaSalvadoraFeiradeSantana),BR-116(deFeirade
SantanaatéoArguim)eBR-242apartirdaí,cortandoomunicípioeseguindoaté
Brasília,conformetabela6efigura9.
55
Figura7–ÍconedeentradadacidadedeItaberaba.Jan.2007
Figura8–Itaberabaemunicípiosvizinhos
Ipirá
Iaçu
Itaberaba
Andaraí
Itaeté
RuyBarbosa
ó
is
BoaVistadoTupim
Ibiquera
Laje
MundoNovo
U
b
a
í
r
a
Utinga
Itatim
o
Planaltino
Lajedinho
RafaelJambeiro
Macajuba
BaixaGrande
MarcionílioSouza
Brejões
P
i
n
t
a
d
a
s
CastroAlves
T
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p
i
r
a
m
u
t
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Irajuba
C
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Wagner
SerraPreta
P
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S
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r
r
a
Ipecaetá
SantaTeresinha
Amargosa
Milagres
NovaItarana
M
u
t
u
í
p
e
SantaInês
NovaRedenção
SantoEst
ê
Varzedo
Ang
u
Antô
n
Sa
p
ElísioMedrado
SantoAntô
n
SãoMigueldasMatas
Cabaceiras
d
DomM
a
Fonte:IBGE.Malhamunicipaldigital,2001.
56
Tabela6–DistânciasentreItaberabaeoutrosmunicípios
Itaberabaa
Distância
Rodovia
Salvador 266km BR-324,BR-116eBR-242
FeiradeSantana 146km BR-116eBR-242
Ipirá 76km BA-488
RuiBarbosa 41km BA-046
BoaVistadoTupim 51km BR-242eBA-130
Lençóis 137km BR-242eBA-850
Ibotirama 378km BR-242
Barreiras 587km BR-242
Fonte:DERBA,2006.
Figura9–EstradasdeacessoàItaberaba
Fonte:DERBA,2007
57
Há25kmdacidade,nomeiodacaatingaedeumimensotabuleiro,encontra-
se a pedra de 220 metros dealtura que deu nome à cidade. Segundo Cerqueira
(2003, p.67), historiador local: “os índios faziam referências a uma pedra, muitas
léguasparaosertão,queera‘muiformosaeresplandecente’,oquenalínguatupi
se traduz por ‘itaberaba’, e diziam conter em seu seio riquezas fabulosas”. Esta
pedra até hoje é um dos pontos mais conhecidos do município e referência de
proximidadedacidadeparaquem,viajapelaBR242.
O município tem uma altitude de 280 metros em relação ao nível do mar,
latitude sul de 12
O
32´ e longitude oeste de 40
O
18´ (SEI, 2000). “A cidade de
Itaberaba, há muito cognominada ‘Pérola do Sertão’ está erigida em pequenas
elevaçõesàesquerdadorioPiranhas”(CERQUEIRA,2002,p.26).Noanode2000
apresentouumapopulaçãototalde58.943habitantes,sendo44.517nazonaurbana
e 14.426 na zona rural. Possue uma extensão territorial absoluta de 2.366km²
relativade0,42%emrelaçãoaoEstado.(CERQUEIRA,2002,p.151;IBGE-SIDRA,
2006).
Quanto ao crescimento populacional, o município apresentou entre 1970 e
2000 um aumento de 75,27%, passando de 33.629 para 58.943 habitantes,
conformedemonstraatabela7.
Tabela7–Crescimentopopulacionaletaxadeurbanização-1970a2000
Ano
1970
1980
1991
1996
2000
Rural 17.648 17.689 16.808 14.420 14.426
Urbana 15.981 27.548 36.934 41.961 44.517
Total 33.629 45.237 53.742 56.381 58.943
Taxade
urbanização
47,52%
60,89% 68,72% 74,42% 75,53%
Fonte:IBGE-SIDRA,2006.Elaboração:AuraPamponet,2007.
Ataxadeurbanizaçãoaumentouemmaiorproporção,passandode47,52%
em 1970 para 75,53% em 2000, demonstrando uma maior atratividade da zona
urbanasobreazonarural,conformedemonstraafigura10.
58
Figura10-Populaçãototaldomunicípiode
Itaberaba-1991e2000
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
1991 2000
Urbana Rural
Fonte:SIDRA/IBGE,2007
•
ResumohistóricodoMunicípio:deOrobóaItaberaba
A serra de Orobó está entre as elevações mais evidentes, com trezentos
metrosdealtura,localhistóricodeguerrilhasindígenasequilombolas,servindode
linhadivisóriaentreomunicípiodeItaberabaeRuiBarbosa:“entremontesemorros,
odeItaberaba,quelhevaleuotopônimo”.(CERQUEIRA,2002,p.30).
Na época do descobrimento, as terras que hoje compõem o município de
Itaberaba eram habitadas pelos índios maracás, da raça dos tapuias, do grupo
lingüístico cariri. Contam no município (CERQUEIRA, 2002, p. 34), que eram
travadas lutas entre os habitantes primitivos e desbravadores que vinham para
escravizá-los e disputar as terras que supunham ter ouro na serra de Orobó que
significa“ourobom”.Maistarde,OrobófoiumdosquilombosdaBahia.
OpovoadodeOrobófoiformadoem1817porumnúcleodemoradoresem
torno da capela de Nossa Senhora do Rosário do Orobó e cresceu em razão da
devoção,recebendohonrasdefreguesiaedistritodepaz,atravésdaresoluçãon
°
195,de18demaiode1843.
Em 1877, Orobóé elevadaa vila através daresoluçãon
°
1715, de 26de
marçoepossedaCâmaraMunicipal.“Em30dejunhode1897,pelaLeiEstadualn
°
176,aviladeOrobópassaaserelevadaàcategoriadecidadecomadenominação
59
deItaberaba,ocorrendoainstalaçãoem05dejulhodomesmoano”.(CERQUEIRA,
2002,p.22).
•
Clima
Omunicípiotemtipoclimáticosemi-árido,comtemperaturamédiade24.6
O
C,
sendo a máxima de 29.6
O
C e mínima de 20.1
O
C, com período chuvoso de
novembroajaneiro(máximoemdezembro),pluviosidadeanualmédiade763mm,
sendoamáximade1.494mmeamínimade152mm.(SEI,2000).
•
Geografia
Comrelaçãoàgeografia,omunicípio(CERQUEIRA,2002,p.25),divide-se
em duas zonas distintas: uma, à leste, englobando dois terços da área, tem
vegetaçãoralaeraquítica,conhecidavulgarmenteporcaatinga(vocábulodeorigem
tupi que quer dizer mata clara), de terreno carrasquento e arenoso, pouco
acidentado, apresentando extensas planícies - os tabuleiros - com pequenas
elevações em forma de montes e morros, geralmente granitosos e com inúmeras
lagoasrasascobertasdeplantasaquáticas:
Nesta zona abundam vegetais oleaginosos e medicinais, madeira
paralenha,sendopropiciaparaocriatóriodeanimaisdepequeno
porte.Aoutrazona,aoeste,destinadaàagriculturaepecuária,é
montanhosa, com elevações consideráveis, de terras humosas,
silico-argilosas,úmidasecobertasdematas,comgrandevariedade
demadeiradelei.(CERQUEIRA,2002,p.25).
Itaberaba está localizada na região semi-árida da Bahia, fazendo parte do
biomacaatinga.Osemi-áridoé caracterizadopelaelevadaevaporaçãodaságuas
por força do sol e do vento e pela falta de plantas e outras coberturas naturais
suficientes.Aschuvasnaregiãocaemdeformadesordenadaduranteoano,oque
dificultaaatividadeagrícolanaregião.Cercade50%dos terrenossãodeorigem
cristalinaeosoutros50%sãorepresentadosporterrenossedimentares,originários
derochaduraquenãofavorecemaacumulaçãodeágua.
O semi-árido abrange oito estados nordestinos (incluindo, na Bahia, o
municípiodeItaberaba)epartedonortedeMinasGerais,tendocercade962.857,3
km² da área situada no Polígono das Secas (figura 11). Em 2005, foi feita uma
60
redefinição da região semi-árida do Nordeste e polígono das secas, para orientar
políticaspúblicasdeapoioaodesenvolvimentodaregião,emparticular,doFundo
ConstitucionaldeFinanciamentodoNordeste(FNE).(M.M.A.,2007)
Figura11–LocalizaçãodeItaberabanosemi-áridodoBrasil
Fonte:M.M.A,2007
A região já enfrentou prolongado período de seca, sendo um dos piores
durantecincoanosconsecutivosentre1979e1983.Nadécadade90,iniciandono
ano de 1993, depois de quatro invernos irregulares, houve também um longo
períododeestiagem.Nestaépocahouvefalênciatotaldaslavouraseesgotamento
das reservas hídricas, agravando a situação econômica regional e a crescente
descapitalizaçãodohomemdocampo(IBAMA,2006).
Devidoaoclima,omunicípiotemaptidãoregularparalavourasepastagem
plantada. Conta com o apoio técnico da Empresa Baiana de Desenvolvimento
Agrícola(EBDA)quemantemumagerênciaregionalemItaberaba,dandoapoioàs
cidadesvizinhasdeBoaVistadoTupim,Iaçu,Itaetê,MarcionílioSouza,RuiBarbosa
e Utinga, onde mantem escritórios locais. O principal cultivo atualmente é do
abacaxi,seguidodamandiocaemamona,conformetabela8.(CERQUEIRA,2002,
p.141).
61
Tabela8–ProduçãoagrícoladomunicípiodeItaberaba-2004
Cultura
ÁreaColhida
(ha)
Quantidade
Produzida Unidade
Valor(R$
1.000)
Abacaxi 1.440
41.000
1000Frutos
10.660
Banana 110
1.804
t
541
Batata-doce 12
14
t
3
Café
(beneficiadoou
emgrão)
10
8
t
2
Côco-da-baía 100
400
1000Frutos
160
Feijão(emgrão)
73
42
t
17
Laranja 10
120
t
24
Limão 300
2.400
t
552
Mamão 20
700
t
266
Mamona(baga)
25
23
t
7
Mandioca 200
3.000
t
930
Manga 420
5.040
t
1.411
Milho(emgrão)
70
65
t
16
Tomate 5
100
t
20
Uva 12
60
t
39
Fonte:IBGE,2006
Baseadonatabela,observa-seque,noanode2004,ovalordaproduçãode
abacaxinomunicípiofoi167%superioràsomadototaldetodasasoutrasprincipais
culturas: o abacaxi gerou um total de recursos da ordem de R$10.660.000,00
enquanto todas as outras reunidas somaram um valor total de R$3.988,00,
comprovandoassimaimportânciaeconômicadocultivoparaaregião.
Napecuária,comocentrodeengordaecriaçãodegado,em1982estavam
cadastradas1950propriedadesruraisdedicadasàatividade,sendoamaioriacom
gado tipo zebu, indu-brasil, guzerá, gir e na grande maioria, mestiços e pé-duros
semraçadefinida.(CERQUEIRA,2003,p.141).
62
•
AcidadedeItaberaba
Figura12–CasasdaPraçadoRosário.Jan.2007Figura13–PraçaDr.J.J.Seabra.Jan.2007
Na cidade de Itaberaba (figuras 12 e 13) estão sediados os escritórios
regionaisdoServiçodeApoioàMicroePequenas EmpresasdoEstadodaBahia
(SEBRAE)de1997;AgênciaEstadualdeDefesaAgropecuáriadaBahia(ADAB)e
doConselho MunicipaldeDesenvolvimento Rural Sustentável constituído pela Lei
Municipal n
°
976, dedezembrode 2002 (CERQUEIRA, 2002,p. 141). Conta com
sededealgunsórgãoscomooSindicatoRuralPatronalde1968;oSindicatodos
Trabalhadores Rurais de Itaberaba de 1975 e a Empresa Baiana de
DesenvolvimentoAgrícola(EBDA).
Possue os meios de comunicação disponíveis nas grandes cidades como
correios; canais de televisão com boa transmissão (na zona rural são instaladas
antenasparabólicasadquiridaspelosmoradores);emissorasderádiosnacionaise
regionais;jornaisdoEstadoelocais;revistasnacionaiseregionais;telefoniaurbana,
ruralecelularcompostodeserviçostelefônicos;provedoresdeinternet;todoscom
fácilacessoàpopulação.
Acidadeédotadadeumaeroportocompistaasfaltadacom1100metrosde
comprimento para aeronaves de pequeno porte. Tem uma estação rodoviária
(figuras 14, 15 e 16) que recebe vários ônibus diretamente de Salvador e muitos
outrosdepassagemparalocaismaisdistantescomoBrasíliaeGoiânia.Nointerior,
encontram-sefigurasdeabacaxisdecorandoasparedescominscriçõesressaltando
aqualidade,demonstrandoque,devidoàimportânciadaproduçãoparaomunicípio,
osfrutostornaram-seexpressãodeidentidadelocal.
63
Figura14–TerminalRodoviáriodeItaberaba.Jan.2007.
Figuras15e16–TerminalRodoviário:interiorcominscriçõessobreoabacaxi.Jan.2007.
Na área de saúde, a cidade, como sede do município, conta com três
unidades hospitalares com centro cirúrgico, “sendo o mais importante o Hospital
NossaSenhoradoRosário,maisconhecidocomoHospitalRegionaldeItaberaba,
da Santa Casa de Misericórdia de Itaberaba, fundado em 1957” (CERQUEIRA,
2002,p.157);umProntoSocorroequinzepostosdesaúde;alémdeumaboarede
privada de consultórios de diversas especialidades,
Day Hospital
, laboratórios de
análises clínicas, diagnósticos por imagem, cirurgia plástica, entre outras. (SEI,
2000).
Emculturaelazer,Itaberabacontacomtrêsbibliotecas:aMunicipalAntônio
DiasdeAndrade;aRuiBarbosadaAgênciaMunicipaldeEstatísticaeaBiblioteca
Pública no Colégio Modelo. Em publicações tem o jornal regional O Paraguaçu,
lançado em 1977, a Gazeta do Vale fundada em 1979 e o Jornal da Chapada,
iniciadoem1997.(CERQUEIRA,2002,p.161).
64
Em 12 de agosto de 1991, por autorização da Lei Estadual n
°
5563 de
28/12/1989,foicriadooCentrodeEnsinoSuperiordeItaberaba(CESI),integrante
daUniversidade do Estado daBahia(UNEB), oferecendoocursodepedagogiae
iniciadoporvestibularrealizadonomesmoano.
AUNEBapartirde2002passouaoferecertambémoscursosdeHistóriae
Letras. Atualmente conta com uma unidade própria em final de construção,
estrategicamente situada na entrada da cidade, ao lado da estação rodoviária,
visandoatendertambémaosmunicípiosvizinhoseàcrescenteprocuraporcursos
denívelsuperiornaregião.
Itaberaba tem um forte comércio que foi crescendo de forma lenta. Iniciou
mais ativamente nos anos quarenta quando grandes boiadas vinham do sul do
EstadoparaFeiradeSantana,atravessandoasestradasdoParaguaçu,atualmente
chamadaIaçuederivavamparaCamisão,hojechamadaIpirá.Acidadetemcomo
principaispraçasdetransaçãocomercialSalvadoreFeiradeSantana.
Éummercadoativodecereaisefrutas(figuras17,18,19e20)eatualmente
tem grande fluxo de compradores de abacaxi vindo de várias partes do Brasil na
épocadacolheita.
Figuras17,18,19e20-MercadoMunicipaldoProdutor.Jan.2007.
65
A cidadeconta com duas fábricas como maiores geradoras de emprego: a
fábricademóveisdaCapri(figuras21e22)eafábricadetênisDilly(figuras23e
24),quefabricaaschuteirasPenalty.
Figura21–FábricademóveiseplantaçãodeabacaxiFigura22–ShowroomdafábricademóveisCapri.
Figura23–FábricadetênisDilly.Jan.2007.Figura24–“Bicicletário”dafábricaDilly.Jan.2007.
Dois aspectos são relevantes nas figuras acima: a proximidade da
plantaçãodeabacaxicomafábricademóveisCaprinaentradadacidade(figura21)
eaquantidade de bicicletas que sevê na entradadafábrica de tênis Dilly (figura
24),sugerindoquearendadosempregadosdacidadeésuficienteapenasparaa
aquisição de bicicletas enquanto na plantação do abacaxi a maioria dos
trabalhadorespossuemotos.
3.2Opoderpúblicoeainfra-estruturalocal
Nummomentoondeaparticipaçãopopularétãovalorizadanaadministração
pública, o município de Itaberaba, segundo declarações da população local, vive
66
uma séria crise político-administrativa, com o poder público local afastado da
população.
Figura25–CâmaraMunicipal Figura26–GabinetedoPrefeito
Em Itaberabadificilmente tinha-se acessoao Prefeito ou àgrande partedo
secretariado. A maioria dos órgãos públicos municipais estava sem telefones,
cortadosporfaltadepagamento.Segundoapopulaçãolocal,acomunicaçãoentre
ossecretárioseoprefeitoerafeitaviacelularesquenãoeramdivulgados,alémde
seremconstantementetrocadosparaqueapopulaçãonãotivesseacesso.
Naocasiãodapesquisadecampo,aprefeitura(figura26)vinhaatrasandoos
salários dos funcionários e o prefeito não aparecia na cidade, causando grande
insatisfação.ComprovamosessasituaçãodurantenossasvisitasaoMunicípionas
váriastentativasdeencontrá-lonaprefeituraounaresidência,oquefoiimpossível.
DuranteoperíododapesquisasótivemosacessoàSecretáriadeEducaçãoeao
SecretáriodeInfra-Estrutura,queprontamentenosreceberam.
Não existia em janeiro de 2007, época em que foi feita essa pesquisa,
nenhuma forma relevante de apoio do poder público ao cultivo do abacaxi em
Itaberaba. O Grupo Gestor do Abacaxi, grupo de técnicos e agricultores que
trabalhamnodesenvolvimentoesustentabilidadedocultivo,temumacadeiraparao
prefeito,maseleatéhoje(janeirode2007)sóparticipoudeumareunião.Segundoo
presidente de uma das associações comunitárias pesquisadas: “infelizmente as
autoridadesmunicipaisnãotêmatuaçãodiretanoabacaxi.Émuitodifíciloacesso
aopoderpúblicoemuitomaisdifícilconseguiralgumapoio”.
Paraeditordeumjornallocal:“aadministraçãopúblicaéomissa,éalheiaàs
necessidades da população. Existe um Secretário de Agricultura que ninguém
67
conhecenemsabequemé”.Poroutrolado,acreditaque,nopoderpúblicoestadual,
amudançadegovernovaimelhoraraeconomiaporquedescentralizouopoderque
estavaestagnado,semprenasmãosdosmesmos:“aBahiaéo5
o
estadocommaior
índicedepobrezadoBrasil”,declarouojornalista.
Para um representante da Cooperativa de Produtores de Abacaxi de
Itaberaba(COOPAITA):“Precisademaiorapoiodopoderpúblico.Podeverquenão
constanemdosfoldersdacooperativa.”
Também não foram encontradas entidades não governamentais ligadas à
produçãoagrícolaatuandonaregião.EncontramosapenasaComissãoPastoralda
Terra (CTP), trabalhandocom assentados.Falaramtambém da Cáritas e daOlho
VivodaDioceselocal,masnãoconseguimosencontrarosrepresentantes.
Uma ameaça à plantação, colheita e transporte dos frutos do abacaxi é o
estado precário das estradas vicinais. Os plantadores reunidos em associações,
vereadores, produtores e comunidades estão sempre procurando a Secretaria de
Infra-estruturaparapedirmelhoriasdevidoàscondiçõesprecárias.
Segundoo gerente de estradasmunicipais daSecretariadeInfra-Estrutura,
“naschuvastêmmuitosproblemasdetransportedaproduçãoporqueosterrenos
sãofracosparaestradasnasvariantes.Oscaminhõesde12toneladas(médiade
carga de 7.000 frutos de 1,600 kg) atolam com facilidade”. Quando têm
possibilidades, mandam a Patrol (tipo de trator para terraplanagem de estradas),
caminhãocomcascalhoeoutrosrecursostemporáriosquenãoresolvemasituação
equandoaschuvaschegam,atrânsitodecaminhõesficaimpossível.
AsestradasmaisutilizadassãoasdeTestaBrancaeGuaribas,localidades
vizinhas(figura32,página83),porteremummaiorfluxodecaminhões.Naépocada
colheitarecebemumtotalde50a60veículosnomunicípiocomumamédiade10a
15 caminhões carregados por dia em cada estrada. Acontecem freqüentes
atolamentos,entãoaSecretariamandatratorou“besouro”para“puxar”e,setiver
águaempossada,mandacascalhoouentulhoderestosdeconstruçãoque,segundo
oGerentedeEstradas,“émelhoraindaporqueospedaçossãograndes”.
A COOPAITA pediu a manutenção das vias de acesso e, segundo o
representante,“oprefeitosecomprometeuadarmanutençãonasviasdeacessoao
abacaxi durante a reunião do Grupo Gestor em que esteve presente”. Muitas
estradasnovastiveramqueserabertasnomunicípioemfunçãodoaumentodaárea
68
plantada com o abacaxi. Os grandes produtores quando desmatam já abrem os
acessos,algumasaprefeiturafaz.
Paraoex-secretáriodeDesenvolvimento,alémdemelhorarasestradasvicinais,
serianecessárioconstruirumPortoSecoparaseleçãoedistribuiçãodoproduto.O
localindicadoseriaoDepartamentodeDefesaFlorestal(DDF)naentradadacidade
que se encontra atualmente abandonado. Essa localização estratégica poderia
reduzir custos de transporte utilizando “carga de retorno”, ou seja, os caminhões
vêem cheios, descarregam e levam o abacaxi no retorno, reduzindo o valor do
transporteeovalorfinaldoproduto.
Porenquanto,estásónosplanosporqueasituaçãoatualdemonstraumenorme
descaso com o município, desperdiçando todo um trajeto de tentativa de
organização social que, apesar da ausência de fortes articulações, continua
elevando o cultivo do abacaxi à posição de principal sustentáculo econômico da
região.
3.3AeducaçãonoMunicípio
Quantoàsituaçãodaeducação,aSecretáriaMunicipaldeEducaçãoafirmou
nãoterdadosespecíficossobreosplantadoresdeabacaximasdizque,emgeral,
asfamíliasdeagricultoresincentivamosfilhosaestudar.
Azonaruraldomunicípioédotadadeescolasatéa4
a
sérieparaascrianças
e os ônibus da prefeitura levam os maiores para Itaberaba. O programa Bolsa
Escolaservedeincentivoporqueexigecomprovaçãodefreqüência,oqueincentiva
porqueamãepodeperderodireitodereceberseofilhofaltaràsaulas.Asmães
recebemR$15,00porcadafilhoatéos16anos,masestãopedindoparachegaraos
18anosdeidade.OprogramaBolsaFamíliacontribuicomR$50,00parafamíliasde
baixarenda.
Segundo a Secretária, diminuiu onúmerode escolasnocampo, queforam
desativadasporfaltadealunos,masnacidadedeItaberabaaprocuraporvagasaté
a 4ª série aumentou. A secretaria faz programa de agrupamentos de alunos nas
escolas rurais para não ficar com número muito reduzido em uma só, causando
desmotivação.Acreditaqueasfamíliastêmmenosfilhoshojetambémnocampo.Já
69
não se vê famílias com muitos filhos pequenos, o que pudemos constatar na
pesquisadecampoquandosóencontramosumafamíliacomoitofilhoseforamos
plantadoresemmaiorsituaçãodepobreza.Masochefedafamíliajápossuíauma
caminhonetevelhaquenegociavafrutosemudasdeabacaxi,possuíaumapequena
plantaçãode2tarefas(0,86ha)eestavamconstruindoumacasinhapoismoravam
emumgalpãoemprestado:“conseguimostudocomoabacaxi.Antesnãotínhamos
nemondemorar.Agoraqueroadiantaraobradacasaecomprarmaisumaterrinha,
logoquepuder”.
Quando questionada se os agricultores pedem escolas à noite para os
adultos,arespostadaSecretáriadeEducaçãofoiafirmativa:
Pedem,sim.Mas,oproblemaéquecomeçambemoanoevão
abandonandocom o passardosmeses. Deveser o cansaço do
dia no cultivo, ficam sob sol quente, abaixados, acordam muito
cedo. Eles sonham com o estudo mas a fadiga atrapalha.
Também, não tem merenda escolar à noite e isso afasta muito
mesmonacidadeporqueelesnãotêmtempodefazeralgopara
comer.
Mas, segundo ela, a partir deste ano, vão introduzir a merenda à noite e
acreditamqueaevasãonoturnadiminua:“nãodátempodecomerentreotrabalhoe
aescola.Issoéigualnocampoenacidade”.
Aprefeituraofereceônibusgratuitoparaosestudantesdazonarural(figura
27)quepassanasviasprincipaisnahoramarcadaparatrazerelevarascrianças
paraaescola.Osagricultoresconfirmamque,apesardenãoserumserviçoperfeito,
nãofaltatransporteparatodososjovens.
Figura27–Ônibusescolardazonarural
70
Outro problema apresentado pela secretaria é a dificuldade de professoras
paraazonarural:“elasnãoqueremirparaocampoapesardedarmosotransporte
de ida e volta diariamente. Atualmente são todas contratadas e muitas sem nível
superior.Agora,em2007,vaiterconcursopúblicoparatodooEstado.Entãoserão
concursadaseteráaexigênciadenívelsuperior”.
Asecretáriadeclarouaindaque,paramelhoraroacessoàeducaçãoparaas
famílias de agricultores, precisaria de escolas melhor estruturadas fisicamente no
campo, melhor aparelhadas, mais atrativas. Seria necessário melhorar mesmo a
aparência daescola: “precisa de construção demais salas de aula. Nomunicípio
nãotemescolaestadualinicial,sãotodasmunicipais.Da4ªà8ªtemmunicipaise
estaduaiseno2ºgrausótemestadual”.
Paraummaiorentendimentodasituação,apresentamosnasfiguras28,29e
30algumasunidadesescolaresdazonarural.
Figuras28–EscoladazonaruraldomunicípiodeItaberaba.Jan.2007.
71
Figuras29e30–EscolasdazonaruraldomunicípiodeItaberaba.Jan.2007.
72
3.4AterritorializaçãodocultivodoabacaxiemItaberaba
PartindodaabordagemdeBuarque(2002,p.29)ondedizque“cadaregião
ou município deve procurar espaços de competitividade de acordo com suas
potencialidades, nos setores de maior capacidade e vantagem locacional,
concentrandoesforçosnasáreasemquepodemvirasermaiscompetitivos”.
Dentrodesteprincípio,aproveitandoaspotencialidadeslocais,omunicípiode
Itaberabatornou-seumdosgrandesprodutoresdeabacaxidoEstadoatravésdeum
processodemaisde30anos,predominantementeempequenaspropriedades,com
áreasinferioresatrêshectares,ondeseempregamão-de-obrafamiliare,namaioria
dasvezes,recursosprópriosparaimplantaçãoemanutençãodalavoura(CUNHA;
REINHARDT,2004,p.9).
Historicamente já se plantava abacaxi em Itaberaba há 40 ou 50 anos,
segundoumagrônomodaEmpresaBaianadeDesenvolvimentoAgrícola(EBDA).A
EmpresadeAssistênciaTécnicaeExtensãoRural(EMATER), identificouocultivo
emumprojetodepesquisaeextensãohá20anoscomoumaatividadeestratégica
domunicípio.Naépocaexistiam40produtorese60hectaresdeplantação.
Foiobservadopelostécnicos queofrutoseadaptariabemaoclimaeseria
uma alternativa de trabalho e renda que traria melhorias socioeconômicas para a
região. Com o incentivo do crédito bancário apoiado pelo Banco do Nordeste e
parceriascriadascomaEBDA,EMBRAPA,SEBRAE,ADAB,osagricultoresforam
visitadoseincentivadosainiciaraplantação.
Paraimplantaçãodacultura,sãonecessáriascincoetapas:
1o-preparaçãodaárea;
2o-correçãodosolo,casosejanecessário;
3o-plantação:depoisdacompradasmudas,aduboseinsumos;
4o-tratosculturais:compradedefensivosecontrataçãodamão-de-obra;
5o-colheita.
Apesardenãoexistirumaclassificaçãooficialportamanhodepropriedade,
os técnicos e agricultores definem como pequena uma propriedade de até 6
tarefas1; média, entre 7 e 14 tarefas e grande acima de 15 tarefas. Apesar da
1
NomunicípiodeItaberaba,umhectareequivalea2,3tarefas.Porsetratardecultivoempequenas
propriedades,amedidamaisutilizadaéemtarefas.
73
maioriadosplantadoresterematé6tarefas,fazendoumaavaliaçãoportamanho,os
técnicosachamqueasplantaçõesdevemiraténomáximo30tarefas,pelosaltos
custos e pelos cuidados necessários. As áreas plantadas que ultrapassam esse
tamanhosãocasosisoladosepertencemaprodutoresdeforadomunicípio.Oque
podeocorrerlocalmenteéauniãodeumgrupo,formandoumaáreaplantadade30
a50tarefas(13a22ha).Maisde100tarefas(43,5ha),asplantaçõescomeçama
dar problemas porque falta pessoal para as etapas do cultivo, resultando em
prejuízospelafaltadeuniformidadenaqualidadeetamanhodosfrutos.
OcultivodoabacaxisempresedestacounafruticulturadoBrasilnãoapenas
pelaqualidadedosfrutos,mas,sobretudo,pelarentabilidade,sendoaquintafruteira
em área colhida no mundo ea terceira noBrasil (CUNHA et al.; 1999, p.4). Em
Itaberaba, tornou-se o principalsustentáculoeconômico daregião,única dosemi-
áridoaproduzirabacaxitipopérolacomsuperiorqualidade,oquetemcontribuído
paraelevaroEstadodaBahiaàcondiçãodegrandeprodutor,ocupandooquarto
lugarnaproduçãodoPaís.Em1991,oBrasilassumiuoprimeirolugarmundialem
produção de abacaxi, conforme dados do IBGE de 2005, passando a ter uma
produçãototalde2.292.470toneladas.(ATardeRural,2007,p.5).
A produção está em franco crescimento sendo a maioria das unidades em
níveldepequenaproduçãoagrícolafamiliar,tendoatingidonoanode2000,umtotal
aproximadodecinqüentamilhõesdepésemaisdedezoitomilhõesdefrutos(tabela
6).Nofinaldoanode2001omunicípiotornou-seomaiorprodutordofrutonoBrasil
(EBDA,2003).
Ocensoregionalde2002indicouaexistênciade625produtores
cultivando1.320ha,sendo538plantadosnaqueleano,536haem
2001e256hadesocas(plantajátiradaaprimeiraproduçãode
frutos e da qual serão retiradas mudas ou frutas de qualidade
inferior)plantadasem2000,ouantes.Aáreacolhidaem2003foi
estimada em 805 ha, resultando numa produção estimada em
maisde20milhõesdefrutos,representandoumvalordeprodução
superior a R$8 milhões e a circulação de recursos financeiros
superioresaR$12milhões(CUNHA;REINHARDT,2004,p.9).
Atabela9(IBGE,2006),mostraecrescimentodaproduçãoentreosanosde
1994 e 2004. Percebe-se um grande salto entre 1996 e 1997, período em que a
produção de frutosmais que dobrouem funçãodo crescimentodeáreaplantada,
passando de 80 para 380 hectares em 1997, impactando a oferta de frutos e a
74
economialocal.Apartirde1998,ovolume,qualidadedosfrutoseocrescimentoda
áreaplantadachamaramaatençãodetécnicos,agentesfinanceiros e agrônomos
de instituições oficias de apoio à agricultura da região, passando areceber apoio
técnico e a fazer parte de estudos e pesquisas específicos para a fruticultura do
abacaxi.
Outravezemapenasumano,entre2000e2001,houveumaumentode82%
daquantidadedefrutosproduzidos,demonstrandooutrafasedegrandeexpansão
daofertadefrutos.Apósestafase,pelosdadosdatabela9,vê-seatendênciade
crescimento constante da atividade com relevante aumento da área plantada em
maisqueodobroentre2005e2006.
Ano
Quantidade
produzida
(milfrutos)
Valorda
produção
(milreais)
Áreaplantada
ecolhida
(hectare)
1994 4.014
474
180
1995 1.115
223
50
1996 1.784
357
80
1997 8.474
949
380
1998 9.834
1.475
490
1999 11.660
1.749
530
2000 18.400
2.760
800
2001 33.450
4.014
1.200
2002 36.960
5.174
1.320
2003 38.000
5.320
1.350
2004 41.000
10.660
1.440
2005 41.569
10.808
1.460
2006 56.000
12.320
3.000
Fonte:IBGE,2006
75
O aumento daprodução foi acompanhado de melhoria do sistema utilizado
pelos produtores, ocasionando aumento da densidade do plantio, elevando a
produtividadede23.000milfrutosporhectarenoanode2000paraumamédiade
28.472frutosporhectareem2005,conformetabela10.Valeressaltarqueatabela
sugereumareduçãodaprodutividadeporhectareem2006emfunçãodasrecentes
plantaçõesemnovasáreascomcolheitaprevistapara2008,quandoosresultados
apontarãooaumentodaprodutividade.
Tabela10–AumentodaprodutividadedoabacaxiemItaberaba-2000-2005
Ano Quant.produzida
(milfrutos)
Áreacolhida
(hectare)
Produtividade(hectare)
2000 18.400 800 23.000
2005 41.569 1.460 28.472
Fonte:IBGE,2006.Elaboração:AuraPamponet,2007.
Esse volume de oferta deu maior projeção à região, passando a abastecer
nãosóoEstado,mastambémmercadosinterestaduaiseabrirperspectivasparao
mercado externo (CUNHA; REINHARDT, 2004, p. 22). O aumento da oferta de
frutoseaaberturadenovosmercadostrouxeramexigênciascrescentesemtermos
dequalidadeeaelevaçãodocustodosinsumos,determinandoanecessidadede
melhoriasconstantesnastécnicasdecultivoemanejodosfrutosnacolheitaepós-
colheita.
Existem ameaças à sustentabilidade da produção pelo aumento
dafusariosee pelacrescentedegradaçãodo soloedosdemais
recursos naturais, exigindo medidas de controle da doença e
implantaçãodemedidasparaaconservaçãodavegetaçãonatural
edossoloscultivados(CUNHA;REINHARDT,2004,p.26).
Porém,segundodadosdaFAO(2007)apresentadosnaediçãoATardeRural
(2007, p. 5): “embora a cultura apresente um grande potencial econômico, a
produtividade no Brasil ainda é considerada baixa, em torno de 30 t/ha, quando
comparadacomalgunspaísesquetêmprodutividadede50a60toneladasdefrutos
porhectare”.
Comoaindaexistemgrandesextensõesdeterrasagricultáveisnaregiãode
Itaberabaegrandedemandapeloprodutofacilitandoocrescimentodoterritóriodo
abacaxi, segundo a COOPAITA, seria necessário ter mais cooperativados para
76
aumentar o volume de produção, trazendo uma maior visibilidade para as
comunidadesemaiorrepresentatividadeparaaprodução.
Ocultivotemcustoeriscoaltosdeproduçãocomoempregodetecnologia.
Nãoexistem indústrias quesejamproprietáriasdegrandes plantações,vindo80%
daproduçãodepequenaspropriedades.Umafamíliademédioportepodecultivar
até10hectareseumafamíliacommaiscomponentespodeiraté15a20hectares.
(EMBRAPA,2005).
Asfasesdaplantaçãoobedecemaociclomédiode19a20meses,conforme
calendário agrícola apresentado no quadro 3, que serve como base para pré-
estabeleceramão-de-obraeinsumosnecessáriosemcadafase.
Quadro3–CiclodeproduçãodoabacaxiemItaberaba
Preparodo
solo
Plantio
Tratos
culturais
Indução
Colheita
Agostoa
dezembro
Janeiroa
março
Duranteos
dozemeses,
entreo
plantioea
induçãoà
floração
Janeiroa
Março,doze
mesesapóso
plantio
Agostoa
setembro,cinco
aseismeses
apósaindução
Fonte:COOPAITA,2006.Elaboração:AuraPamponet.
Apósa primeira colheita, ficamassocas(figura 31),ouseja, as plantasde
ondeforamretiradososprimeirosfrutos.Casooagricultorqueira,poderáobteruma
segundacolheitacomciclodeumano(quadro4).Nestecaso,procede-seentãoà
limpeza das socas, retirandoosfilhotes emexcessoque enfraquecem as plantas.
Após seis meses (não precisa mais esperar um ano, pois a planta já está
devidamenteenraizada),faz-seumasegundainduçãoàfloração.Seismesesapós
a indução, ocorre a colheita. Normalmente neste caso, não ocorre a mesma
quantidade de frutos da primeira colheita e a qualidade superior tem menor
produção. Alguns plantadores preferem não arriscar, limpando a área para novo
plantio.
77
Figura31–Assocas(plantasapósaprimeiracolheita)commudaefruto“temporão”
Quadro4–Ciclodeproduçãoparaumasegundacolheitaapartirdassocas
Limpezadas
socas
Tratosculturais
Indução
Colheita
Agostoa
setembro
Duranteosseis
meses,entrea
primeiracolheitaea
indução
Fevereiroaabril,
seismesesapósa
primeiracolheita
Agostoa
setembro
Fonte:COOPAITA,2006.Elaboração:AuraPamponet.
Ocultivodeabacaxiéumaatividadeestratégicaparaosemi-áridodesdeque
a produção não aceita máquinas. Os tratos são manuais, o que assegura que
pequeno produtor esteja inserido na economia, favorecendo a redução do êxodo
rural ocasionado pelo desemprego nas entressafras e épocas mais secas.
(EMBRAPA, 2005). Os coeficientes técnicos de necessidade de mão-de-obra e
outros aspectos para produção por hectare de abacaxi pérola não irrigado, estão
apresentadosnatabela11.
Nositenspreparodosolo,plantio,tratosculturaisecolheitaebeneficiamento,
percebe-se o volume considerável de absorção de mão-de-obra. No caso da
colheita,sãonecessários30homenspordiaparaumhectare.ComoemItaberaba
78
são estimados 1.320 ha colhidos e, supondo-se que a colheita ocorre entre os
meses de julho e setembro, existe, nessa época, uma necessidade de 39.600
trabalhadoressóparacolheita.Porocasiãodalimpezadasáreasplantadas,esse
índiceéaindamaiorvistoque,sãonecessáriasemmédia100homens/dia(tabela
11),elevandooíndicedeocupaçãopara132.000trabalhadores.
Tabela11–Coeficientestécnicosparaproduçãodeabacaxipérola
Espaçamentode1,20x0,40x0,35,com35.714plantasporhectare
Especificação
Unidade
Quantidade
PREPARODOSOLO
Roçagem h/d 20
Encoivaramento h/d 05
Destoca h/d 25
Aração h/t 04
Gradagem h/t 02
PLANTIO
Marcação,coveamento,plantio h/d 20
Seleçãoetratamentodasmudas h/d 11
TRATOSCULTURAIS
Limpas(10) h/d 100
Aplicaçãodefertilizantes(03) h/d 15
Aplicaçãodeformicida h/d 01
Aplicaçãodecarburetodecálcio h/d 05
Aplicaçãodefungicidaeinseticida h/d 16
Amontoa(02) h/d 08
Desbastedasmudas h/d 04
Aplicaçãodeindutorfloral h/d 03
COLHEITAEBENEFICIAMENTO
Colheita/beneficiamento h/d 30
PRODUÇÃOESPERADA
Porhectare unidades 27.500
Frutosclasse3a4 unidades 11.000
Frutosdeclasse2 unidades 11.000
Frutosdeclasse1 unidades 5.500
Fonte:CUNHAetal,2004,p.186.
Esses índices vêm confirmar a produção do abacaxi como grande fonte
geradora de ocupação e renda no semi-árido. Após análise, ficam evidentes os
impactospositivosdocultivosobreodesempregonaregião.
79
3.5
Característicasedafoclimáticaseaadaptaçãoàregião
O abacaxi (
Ananas Comosus (L.) Merril
) é uma autêntica fruta das regiões
tropicais e subtropicais consumido em todo o mundo de forma natural ou
industrializada. As características edafoclimáticas (clima e solo) e geográficas de
Itaberabafavoreceramaterritorializaçãodocultivoeoaumentodaprodução,sendo
o abacaxi uma cultura de sequeiro. A região é favorável à produção pelo calor e
muitosoldurantetodoociclodeprodução,fatoresquegarantemumsaborespecial
aosfrutos.Foramtestadosdoistiposmaisconhecidosnomercado:otipo“pérola”
mostrou-semaisaptoenquantoo“smoothcayenne”nãoconseguiuboaadaptação.
Segundoumagrônomoentrevistado,residenteemItaberabaequetrabalha
abrindo áreas para o cultivo desde 1996, o abacaxi vem se tornado quase uma
monoculturadevidoàsdificuldadesdeadaptaçãodeoutrasespéciesnaregião:
Oabacaxiesperaachuva.Namaioriadaplantaçãoéaocontrário:
os grãos precisam de chuva logo para germinar. Existe grande
dificuldadeemconsorciarporqueoutrasculturasnãoresistemàs
limitaçõesclimáticas.
As mudas ficam plantadas, esperando que venha para vingar (situação
encontradanomêsdejaneiroduranteapesquisa).Podeesperar2ou3mesesmas,
senãoviernada,elemorre.Tambémparainduzirafloração,emmédia1anoapós
oplantiodeformahomogêneaparaqueosfrutosvenhamtodosentreosmesesde
julho a setembro, é preciso chuva. Se não vier, os frutos podem sofrer atrofia e
mesmo morrer. A terceira etapa onde a chuva é fundamental é na adubação.
(CUNHA;REINHARD,2004,p.20).
O atual Secretário de Infra-Estrutura em entrevistado durante a pesquisa
declarou:“Itaberabacompradeterminadosalimentosdeoutroslocaispeloabandono
da cultura no município. As casas de farinha estão abandonadas. O feijão de
‘arranca’poderiatambémserumasoluçãoeItaberabatembomsoloparaalgodão,
mas ninguém planta. A mamona ainda não tem mercado certo”. Outras pessoas
dizem que os agricultores poderiam plantar também mandioca que tem mercado
certo. Cada um tem uma opinião, porém, segundo um agrônomo da EBDA que
80
trabalhacomoabacaxihá20anos,amonoculturadoabacaxivemsetornandoum
problema:
Nãosepode,aquinaregião,fazer5ou6plantaçõesaomesmo
tempocomoemBarreirasporquenãoresistemàseca.Asoutras
plantaçõesdaquisãodesubsistência,nãodápraganhardinheiro.
Já existe um projeto para a mamona, girassol e pinhão na
Chapada em função do biodiesel. O projeto de pesquisa é
chamado ‘Produção de plantas oleaginosas para biodiesel’. O
amendoim se provou caro para combustível. Já se tentou a
plantaçãodemamonaháanosatrás,masrendepouco:oabacaxi
rendeR$4000,00porhectareeamamonarendeR$200,00.
Para outro agrônomo da região “toda monocultura adoece. Clima e terra
colaboraram: são os fatores culturais e edafoclimáticos definindo a economia
regional”.Amonoculturaexigeeducaçãoepesquisaqueaportemsoluçõesparaque
ocultivotenhasustentabilidade:“seforpensadoassimdesdecedo,aatividadepode
tercontinuidadepormuitosanos”,disseramosagrônomos.Alémdoclima,aágua
de Itaberaba é salobra, o que não interfere no cultivo do abacaxi podendo ser
utilizada na pulverização, irrigação e em todo o ciclo, mas dificulta no
desenvolvimentodeoutrasculturas.
O abacaxi pode ser consorciado com culturas de ciclo curto enquanto está
pequeno.Omilhopoderiaviraserumaalternativaporquetemciclorápido,entre90
e 120 dias mas a EMBRAPA não aconselha por que fica mais alto, criando
sombreamentoeoabacaxiprecisadosoldiretamentesobreaplantaparagarantira
qualidade e sabor. Pode consorciar como diversificação da produção na mesma
área,umaaoladodaoutraenãonecessariamentejuntas.
Um agrônomo damesma instituição que acompanha o cultivo explicou que
“nobojodobiodieselpoderiaconsorciarparalelamentecomamamona,masprecisa
verociclo.EmItaberabaatéocultivodamandiocafoireduzidoeoabacaxisegue
setornandoumamonocultura”.
Para 100% dos envolvidos com a produção, o maior problema da região é
climático, ou seja, a falta de freqüência das chuvas, tornando o até abacaxi uma
atividadederisco.Sechovessedeformamelhordistribuída,aproduçãoseriamaior.
Oabacaxisuportaaadversidadeclimática,seadaptouàregião,masexistesempre
oriscodeagravamentodaseca.
OpresidentedaassociaçãodemoradoresdeLagoaNovaqueconcentraas
áreasmaisnovasdeplantaçãocompostaporpequenosprodutores,namaioriacom
81
atétrêstarefas(1,3ha)argumentouque“oqueprecisaéterraparaplantarmaise
umprojetodetrabalhoparaaregião”.
Os pontos críticos da produção citados pelos agricultores em ordem de
importânciaforam:
1. Clima:faltadechuva
2. Acessoàterra
3. Comercialização
4. Acessoaocrédito
5. Ampliaçãodesordenadadaáreacultivada
6. Monocultura:sederproblemapodecriardepressãonomunicípio.
7. Faltadeapoiodopoderexecutivo
8. Estradasparaescoamentodaprodução
9. Técnicosparaacompanhamentodemudas:riscodepragas
Osagricultoreslocaisacreditamqueasfamíliasenvolvidasvãopermanecerna
produção (filhos e netos), caso recebam apoio e o abacaxi continue dando
resultados positivos. Mas se preocupam com a questão do crédito: os
financiamentossãodifíciesporqueosbancospedemavalistaeninguémquerser.
Seapessoanãoéproprietáriadaterra,oproprietáriotemqueseroavalista.Fica
difícil”.
O PRONAF, para facilitar o acesso aos pequenos produtores e arrendatários,
atualmente não exige escrituramas pedeum avalista,o quetermina pordificultar
também.
3.6Localizaçãodascomunidadesprodutoras
Aqui não tem ambição. Todos incentivam uns aos outros. O
abacaxinãoécompetitivo,ésolidário.(SdneyQueiroz,presidente
daAssociaçãodeLagoaNova).
Aproduçãodeabacaxiencontra-sedistribuídaporquasetodoomunicípio,não
existindodadosconcretossobreáreasdeconcentraçãodaprodução,quantidadede
produtores em cada comunidade ou quaisquer outras estatísticas oficiais. As
82
informaçõessãoapenasestimadaspoisnãoexistiaaté janeirode2007umcenso
sobreaprodução.
Em entrevista, o Gerente de Produção e Mercado da Cooperativa dos
Produtores de Abacaxi de Itaberaba (COOPAITA) afirmou que “os dados da
plantação do abacaxi são estimados, pois não existe um censo específico”,
informaçãoconfirmadapelostécnicos,produtoresedemaisenvolvidos.
Em 2006 o município contava com uma média de 1200 a 1600 famílias
produtoras,gerando4.000empregosdiretoseindiretosentrefamiliares,produtores
eempregados,numtotalaproximadode3.000hectaresdeáreaplantadaereceita
bruta de mais de R$30 milhões (EMBRAPA, 2006), com tendência de aumento a
cadasafra.
Aslocalidadesdemaiorconcentraçãodaproduçãosão:Guaribas,Tombador,
Barro Duro, Chapada, Três Esquinas, Couro Seco, Periquito, Lorena, Papagaio,
Formosa, Vazante (assentamento), formando um verdadeiro território do abacaxi
queseestendeporquasetodooMunicípio.
Por se tratarem de plantações em áreas recentemente abertas, não existe
atualmente um mapa indicando todas essas novas localidades. O censo agro-
pecuáriode2007doIBGEestátrabalhandonaregiãoparaidentificaroslocais.Na
figura32,encontram-sealgumasdessascomunidadeslocalizadasnocartogramado
município com o auxílio de técnicos locais, inclusive as três escolhidas para a
pesquisa:TestaBranca,LagoaNovaeBomViver.
83
Figura32–MunicípiodeItaberaba:localidadesondeexistecultivodeabacaxi
Fonte:CERQUEIRA,2003,p.173.Adaptação:AuraPamponet,2007
84
As três comunidades pesquisadas, devidamente localizadas no mapa acima,
escolhidasparapesquisa,devidoàssuaspeculiaridadesforam:
1. TestaBranca
Localidadecomloteamentodecasas, centrocomunitário(figura33),mas não
temcooperadosentreasfamílias.Existeumamédiade46famíliasfazendoparte
da associação comunitária, muitos residindo no local. Não estão muito
organizados, porém o novo presidente da associação de moradores está
tentandoreorganizaracomunidade.Tem“venda/armazém”quejávendeadubos
edefensivosRolliereSingentalámesmo,demonstrandoointeressedasfábricas
em São Paulo pelo local. Apesar do tempo de atividade, as famílias de
agricultoresnãofazempartedacooperativa.Jáproduzirammel,masatualmente
aextraçãoépequena.
Figura33–CentroComunitáriodeTestaBranca.Jan.2007.
2. BomViver
Localidade com uma média de 45 famílias fazendo parte da associação
comunitária.Amaioriaéresidentenolocal.Éamaisorganizada.Alocalidade
tem um microclima adequado, o que contribui para que concentre as maiores
propriedades.Temassociaçãodemoradores(figura34)ecomopresidenteum
proprietário de grande plantação tida como modelo. Trabalhavam
tradicionalmente com feijão, mas trocaram por abacaxi, mantendo também
pequenascriaçõesdegadoleiteiro.Temdiversosprodutorescooperativados.
85
Figura34–CentroComunitáriodeBomViver.Jan.2007.
3. Lagoa Nova, novo condomínio de pequenos produtores familiares vizinhos
entre irmãos, familiares e amigos, “cada um com sua rocinha”, conforme
declararam.Existeumamédiade40agricultoresfamiliaresfazendoparteda
associação comunitária (podem ser moradores ou só plantadores que
residem em outros locais).
O presidente da associação de moradores está
tentando reativar associação que esteve parada há algum tempo. Tem
trabalhadores que antes carregavam abacaxi nas épocas de colheita e
recentemente conseguiram comprar terra eter sua própria plantação. Não
possueaindaumcentrocomunitário.
Para maior conhecimento das especificidades das comunidades, para a
pesquisadeobservação,elaboramosoquadrosíntese5.
86
Quadro5–CultivodoabacaxiemItaberaba:característicasdascomunidades
pesquisadas
(continua)
Local
Elementos
COMUNIDADE
BOMVIVER
COMUNIDADE
TESTABRANCA
COMUNIDADE
LAGOANOVA
Característica Concentraasgrandeseantigas
propriedades,emnumerode5ou
6,antesdedicadasaoutras
culturas.
Amaisantiganoabacaxi.
Amaisnovaecomgrande
quantidadedepequenas
plantações.
Quantidadede
associados:As
associaçõessãode
moradoresenãosó
plantadores.
45famílias.Pesquisados25.
Existemmaisagricultores
familiaresporémnãoparticipam
dasassociações.
46famílias.Pesquisados25
Muitosnãofazemparteda
associação.
40famílias.Pesquisados:19
Muitosoutrosnãoparticipamda
associação
Condições das
habitações
Não tem vila, só plantações, a
maioria com casas dos
proprietários. Tem associação de
moradores e um Centro
Comunitárioparaasreuniões.
Localidade com casas em
construção ou reforma, grande
quantidade de motos, bar,
armazémquevendemalimentos,
adubos e defensivos no mesmo
espaço.Temcentrocomunitário.
Poucas e dispersas casas de
moradores,nãotemvila,tudotem
queserresolvidoemItaberaba
Número médio de
trabalhadores nas
pequenas
propriedades
Naspequenaspropriedades,2a3
trabalhadores.Nasmaioresde5a
10adependerdotamanhoefase
daplantação.
2 ou 3 trabalhadores nas
propriedadesmenoresemaisde
5 nas maiores a depender da
fase de plantação e da área
plantada.
Por só ter novas e pequenas
propriedades, os agricultores
trabalhammuitoemmutirão,numa
médiade2a4participantes.
Características da
propriedade(cômodos,
material,quintal)
Tem as grandes fazendas com
com4a5quartos,muitovetiladas,
lindavistaporestaremlocalizadas
nas partes mais altas de uma
região com aclives e declives. O
restante, são pequenas
propriedadesdeaté10ta(4,3ha).
Navila,casasrecémconstruídas
eemreforma,estilosobradinhos.
Nas roças, todas já melhoradas
ou novas. Não existem mais
casas de adobe que foram
abandonadasousubstituídaspor
outras de “construção” em
blocos.
Ascasassãonasroças,sãomais
simplesemenores,com2quartos
mastodasdefasedeconstrução.
Muitosproprietáriosnãomoramlá,
moramnacidadedeItaberaba.
Nível educacional do
núcleofamiliar
Todos os filhos estudam até a 4ª
série em escola rural depois vão
para Itaberaba. As famílias
incentivam e recebem bolsa
escola. Se os filhos não querem
estudar depois da 4ª série então
ficamsónoplantio.
IdemmasemlugardeItaberaba,
depois da 4ª série, a prefeitura
fez escola da 5ª a 8ª série no
distrito de Guaribas. Esse é o
primeiro ano de funcionamento
do sistema. As famílias estão
preocupadas e inquietas com a
mudançaecomdúvidassobrea
qualidade do ensino. Vai
continuar a ter ônibus da
prefeituraparaItaberabaparaos
universitárioseosdo2ºgrau.
IdemBom Viver.Se os filhosnão
queremestudardepoisda4ªsérie
em Itaberaba, então ficam só no
plantio.
Forma captação de
água - encontram-se
as três situações a
seguir:
1.Encanadaoupoçoartesianonas
maiorespropriedadesecommaior
poder aquisitivo. 2.Cisternas da
CAR para uso doméstico e água
de beber, colhida das bicas nos
períodos chuvosos. 3.Quando a
água acaba, a prefeitura manda
carro-pipa mas demora. Os que
não querem esperar, pagam
R$80,00porcarro-pipa.
Encanada em alguns lugares,
poucospoçosartesianosquesó
existem nas maiores
propriedades, algumas cisternas
daCAR.
Não tem água encanada. Tem
cisternas da CAR na maioria.
Usam água das aguadas quando
pioraasituação.
Existência e tipo de
banheiro
Nas fazendas maiores ou mais
modernas e com melhor poder
aquisitivo, existem banheiros mas
nas pequenas propriedades os
banheiros ainda são raros.
Existemcercadinhosdepalhacom
buraconochãoeoutrocercadinho
doladoparaobanho.
Amesmasituaçãoanterior. O mais comum são os
“cercadinhos”nofundodacasa.
87
Local
Elementos
COMUNIDADE
BOMVIVER
COMUNIDADE
TESTABRANCA
COMUNIDADE
LAGOANOVA
Condições de
acessibilidade
Ótimas estradas apesar de não
seremasfaltadas.Otempoestava
muito seco, sem chuvas e sol
muito quente o que favorece as
estradasnomomentodapesquisa.
Em todo o município de
Itaberaba as estradas vicinais
apresentam boas condições
apesardeserememterrabatida.
Algumaslombadasquesódariam
acesso a carros altos. Algumas
pequenas passagens de areia
soltamasconsegue-sepassar.
Uso de defensivos
agrícolas e cuidados
nomanejo.
A maioria dos trabalhadores não
usa luvas ou máscaras nas três
regiões pesquisadas. Deveriam
tomar muito leite por causa do
veneno mas não tomam. Não
assistimos a uma pulverização
masessarespostaéunanimidade
paraosagricultores.
IdemBomViver. IdemBomViver.
Relação com técnicos
ecapacitação
Nãorecebemvisitas.Procuramse
tiveremalgumproblema.
Por ser onde iniciou o cultivo,
têm maior interação com
técnicos da EBDA. No início
(1995) a equipe da EBDA ia lá.
Agora só vão se forem
chamadosparaalgumproblema.
Não têm quase ligação com os
técnicos.
Relacionamento com
vizinhos (distância e
forma de
comunicação)
A distância depende do tamanho
da propriedade. Os vizinhos se
encontram nas reuniões
comunitárias. Fazem visitas uns
aos outros para conversar. Falam
entreelesporcelular.
Têm celular, reuniões
comunitárias e visitas sociais.
Encontram-se na feira
semanalmente às 6as feiras.
Tem ônibus de linha particular
que circula dentro das
localidades que se interligam
pelasviasvicinais.
Temcelularnospontosmaisaltos.
Comotodaafamíliatrabalhaodia
todonaplantaçãoemuitossótêm
roças sem sede, se comunicam
menos socialmente. As reuniões
sãomaissobreaplantação.
Organização das
famíliasnaplantação
O trabalho no abacaxi é
homogêneo,todosfazemtudo:as
mulheres têm participação ativa e
são também proprietárias de
“roças”. Os adolescentes e
crianças também trabalham. As
famílias evitam a pulverização,
contratando equipes
especializadas. A colheita é feita
porquemcompra.
IdemBomViver
IdemBomViver
Horáriodetrabalho
Acordam entre 5:00 e 6:00 e
começam o trabalho às 6:30.
Moram próximo e almoçam em
casa mas retornam logo ao
trabalho. No abacaxi não tem
descanso.Paramàs17:00.
Idem Idem
Horáriosdeescola
As escolas rurais e na cidade
oferecemdoisturnos.Emgeralos
filhosestudamàtardeeajudamno
plantio pela manhã. Independe
tambémdeclassesocial.
Idem Idem
Relação com meio
ambiente
Desmatamentos, queimadas,
jogamvasilhamescomdefensivos
agrícolas no campo apesar de
saberquenãodeveriam.
Idem antes mas aqui, por ser a
regiãomaisantiganaplantação,
já tem representantes das
fábricasdeadubosedefensivos
que vendem e tem local na vila
pararecolhervasilhames.
IdemBomViver
Dificuldades diárias na
plantação
Solmuitoquente,umidaderelativa
do ar muito baixa, pouca chuva.
Muitotrabalhoeabaixados(coluna
curvada)odiatodo.
Idem Idem
Elaboração:AuraPamponetBaptista,2007
Observa-se, no entanto, que as associações são de moradores e não de
agricultores, demonstrando que, apesar de existir cooperação nas atividades de
cultivo, não existe uma organização formal da produção, o que fortaleceria a
atividadecomoumtodo.
88
4APRODUÇÃODOABACAXINOMUNICIPIODEITABERABA
4.1Asapropriaçõessocioeconômicasnascomunidadesprodutoras
4.1.1GeraçãodetrabalhoerendaeoêxodoruralemItaberaba
Uma das mais importantes características da produção do abacaxi para o
MunicípiodeItaberabaéaabsorçãodemão-de-obraduranteociclodeproduçãoe
conseqüentereduçãodoêxodoruralaquasezero.
Segundo Cunha e Reinhardt (2004, p.19), o cultivo do abacaxi tem grande
demandapormão-de-obra,sendoumgeradordetrabalhoerendadesdeopreparo
dosoloatéacolheitaevenda,conformedemonstradoaseguir:
1.Paraapreparaçãodosolo:
em áreas virgens: roçagem, destoca parcial, escoivamento e queima
controlada;
emáreascultivares:destoca,roçagem,araçãoegradagem.
Amão-de-obraéutilizadapara,nocasodeáreasanteriormenteplantadascom
abacaxi, proceder à incorporação de restos culturais, a fim de manter o teor de
matériaorgânicadosolo,ouentãousá-loscomocoberturamorta.
2. Correção da acidez do solo: de preferência com calcário dolomítico que
pode ser feito com equipamentos de tração mecânica ou animal, porém a forma
manualéomaiscomumnaspequenaspropriedades.
3. Antes da colheita as mudas devem passar por um processo de “ceva”
(período de crescimento no cacho, ainda na planta-mãe) e ser isenta de pragas,
outrasdoenças.Oprocessoétodomanual.
4.Aseleçãomanualdasmudasdeveserfeitaparaescolhadasmaissadiase
vigorosas,eliminandoosfrutosdoentesjuntamentecomoscachosdemudasantes,
duranteouimediatamenteapósoterminadacolheita.Atotaleliminaçãodemudas
doentes é um passo de grande importância, pois o plantio e comercialização de
mudascontaminadaspodemprejudicartodaaregião.
89
Figura35–Mudasaguardandoplantio.Jan.2007.
5. Durante o plantio, para abertura de covas e sulcos. O abacaxi deve ser
plantado (figuras 35 e 36) a partir do final da estação seca (julho/setembro) e
duranteaestaçãochuvosa(dezembroamarço)naregião.Existeapossibilidadede
consórcio com outras culturas principalmente alimentares e de ciclo curto como
feijãoeamendoim,oquesetornaocultivoumaindamaiorgeradordemão-de-obra.
Figura36–Mudasjáplantadas.Jan.2007.
6.Nostratosculturaisparamanteralavouralivredeplantasdaninhas(figura
37),principalmenteduranteos primeirosseismesesapósoplantio.Ocontroledo
mato pode ser feito por meio decapinas manuais com enxada, uso de cobertura
morta(palhasecaerestosculturaisdopróprioabacaxi)edeherbicidas.Adepender
daintensidadedeinfestaçãoporplantasdaninhas,sãonecessáriasdeseisadoze
90
capinasmanuaisduranteoprimeirociclo,oquecontribuiparaqueoabacaxiseja
umenormegeradordetrabalhonocampo.
Figura37–Plantaçãodeabacaxi:lavouralivredeplantasdaninhas.Jan.2007.
Cultivosàtraçãoanimalnãopodemserfeitosemsolosvirgens(noprimeiro
plantio)paranãoprejudicaraestruturanasentrelinhas,podendoserfeitosemsolos
já em utilização durante os primeiros meses após a plantação, sendo
complementadosporcapinasmanuaisnaslinhasdeplantio.
Osherbicidassãoemgeralutilizadosporprodutoresqueexploramáreascom
maisdetrêshectares,mas,paraoabacaxi,estãodisponíveisnamaioriadotipopré-
emergenteemrelaçãoaomato,precisandodesoloúmidoficandoentãorestritoaos
períodos chuvosos. Outra limitação desse tipo de herbicida é que não pode ser
utilizado no cultivo consorciado com feijão e outras culturas sensíveis, garantindo
assimoempregodemão-de-obraparaascapinasmanuais.
7. A mão-de-obra é utilizada na adubação sendo parcelada em duas
aplicações para o plantio feito no final do período, ou em três aplicações, para o
cultivonoiníciodoperíodoindicado.Nosegundociclo,devemserusadasdosesque
correspondamàmetade.
8. Para a antecipação da floração e colheita, é recomendado o uso de
aplicação de produtos químicos aplicados no “olho” (roseta foliar) da planta. O
empregodemão-de-obravaidesdeàpreparaçãodasoluçãodecarburetodecálcio
atéaaplicaçãocompulverizadorcostal.
9.Tratosfitossanitários:ocontroledafusariosecomeçacomaeliminaçãodos
restosdaculturaanterior,depreferênciaporincorporaçãoaosolo.Duranteoplantio,
91
mudas que apresentem sintomas da fusariose devem ser identificadas e
descartadas, depois queimadas ou enterradas, o que exige trato pessoal dos
agricultores.
Nos frutos, para fazer o controle químico, é recomendado pulverizar as
inflorescências (figura 38) com fungicidas autorizados para esse uso. Para
conseguirumbomcontroleénecessárioiniciarapulverizaçãoaproximadamente35
diasapósotratamentodeinduçãofloralerepetirapulverizaçãoacadasetedias,
até que todas as flores estejam fechadas. Após a última aplicação, faz-se o
acompanhamento para verificar as flores posteriores que requerem novas
pulverizações.Seporacasochoveratétrêshorasdepoisdapulverização,temque
repetiraaplicação.
38–Inflorescênciaouflordoabacaxi,2007.
10.Nocontroledepragas,comooabacaxizeiroestásujeitoàocorrênciade
formigas doceiras e diversos tipos de pragas como cochonilha, brocas do fruto,
ácaro alaranjado, broca dotalo e cupins subterrâneos, o produtor deve verificar a
ocorrênciaeefetuarosdiversostiposdecontrole.
11.Aqueima-solar,anomalianãoparasitaria,podecausarperdasde70%da
produção, a depender da época da colheita. Durante o período de maturação, 60
diasantesdacolheita,osfrutosficammaissensíveisaqueimapelosol,precisando
92
quesejamprotegidos.Umadasformas,semnenhumcustoadicional,éaamarração
dasprópriasfolhassobreosfrutos,feitaumaauma,manualmente.
12. A colheita é feita de forma totalmente manual, não aceitando nenhuma
opção de mecanização.Éfeitasegurando ofruto pelacoroa comumadasmãos,
enquantocomaoutramãocorta-seopedúnculoouhastecomumfacãoaunscinco
centímetros abaixo do fruto. Existe pouca mão-de-obra qualificada e o abacaxi
precisa de muita gente no trato diário: “só para carregar um caminhãoprecisa 13
pessoas sendo 6 carregadores, 2 arrumados, 3a4 sangradores (quebradores de
frutos) e um conferencista”, declarou o gerente de mercado da COOPAITA, que
contrataseuspróprioscortadoresnaépocadacolheita.
13. No manejo pós-colheita, os frutos destinados ao mercado local e à
indústriaexigemmenoscuidados,sendocolhidoseimediatamenteacondicionados
emcaminhõesparatransporte.Quandodestinadosaomercadoexternoealongas
distâncias, são colhidos, selecionados manualmente e transportados em balaios
paraocaminhão.Antes,porém,sãotratadoscomsoluçãofungicidaparaquenãose
estraguemnocaminho,exigindotratopessoalemtodasasetapas.
Questionado sobre os problemas com os trabalhadores das plantações de
abacaxi, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itaberaba, disse
queexisteaquestãodainformalidade,ouseja,ocultivonãotemempregados,só
diaristas/prestadores de serviços e assim os trabalhadores não teriam por que
procurar o sindicato. “Alguns fazem parte do sindicato mas a maioria não tem
carteira assinada, são informais. O sindicato se ocupa mais da parte trabalhista
comodemissõesehomologações”
declarouosindicalista.
EmLagoaNova,os“gatos”(pessoasquevêmbuscartrabalhadores)vinham
de São Paulo buscar pessoal para o corte da cana-de-açúcar. Segundo um
representantedaCOOPAITA:“agoraninguémvaimaisporfaltadetrabalhocomo
antigamente”,oqueéconfirmadopelatotalidadedepessoaspesquisadasnaregião.
A plantação tem capacidade de gerar empregos na periferia da
cidade. O pessoal da zona rural virou proprietário, têm moto e
caminhonete.Pessoasqueeramdiaristasagoraganham20a30
mil reais ao ano. Criou mobilidade social. A renda média da
produçãoéde60a70milreaisaoanoeaspessoascontinuam
noseulocaldeorigem,reduzindoazerooêxodorural.(agrônomo
daEBDA,2007).
93
Aluz,quechegouàmaioriadaslocalidadesondeexisteplantaçãodeabacaxi
na região a partir do ano de 2004 pelo Programa Luz para Todos do Governo
Federal,écitadafreqüentementecomofatorimportanteparaafixaçãodohomemno
campo. Segundo entrevista com o Secretário municipal de Infra-Estrutura, “o
municípiotem50projetoscadastradosparacolocaçãoderedeelétrica,chegandoa
cobrirquase60%daárea”.
Éinegávelqueoeventodailuminaçãoruralédeenormeimportânciaporque,
se tem luz, tem conforto, educação e comunicação, incluindo telefonia rural,
televisão e escolas à noite. A energia elétrica possibilita ainda outras formas de
trabalho por facilitar a utilização de eletrodomésticos para a produção caseira de
doces, costuras, artesanato e outras atividades que dependem de máquinas e do
tempolivrenoturnodanoite.
Quando perguntado sobre as expectativas para o futuro da produção por
parte das famílias, o presidente da associação de Testa Branca declarou: “a
tendênciaéquepermaneçamnaprodução”.Paraumagrônomoquetrabalhacom
projetos de viabilidade rural, nascido em Itaberaba, existe um fluxograma
relacionadoàchegadadaluzquelevaàreduçãodafugadocampo:
Em
Como comunicação no fluxograma acima, entenda-se também transporte
coletivo, moto, carro, celular, telefonia fixarural,
LANHouses
e computadoresem
casa.
Perguntados se gostariam de sair da região, 90% dos pesquisados
informaramque,agoracomoconfortodaluzetudoquederivadela,nãotrocariam
ondemorampornenhumoutrolugar.Omaiormotivoapresentadofoiaviolênciaea
consciência da falta de empregos dos grandes centros urbanos. A idéia de “não
conhecer ninguém” assusta porque no campo ainda existe a segurança de estar
incluídoemumgruposocialondetodosseconhecem,sabendoaquemrecorrerna
adversidade.Ospesquisadosnãodemonstraramnenhumsonhoouesperançaem
relaçãoàcidadegrande,aocontrário,têmplenaconsciênciadasdificuldadesdesair
dasuacomunidade.
LUZ
COMUNICA
ÇÃO
TRABALHO
E
RENDA
FIMDO
EXODO
RURAL
EDUCAÇÃO
94
Para um jornalista itaberabense, a energia elétrica acelerou em função do
aumento da densidade demográfica pelo cultivo, o quejá justifica a colocação da
luz:“ocustodacolocaçãoporresidênciabaixouchegandoapatamarescondizentes
comasexigênciasdocustoporhabitaçãodaCoelba.Aviolêncianocamporeduziu
porqueocupouapopulaçãomaisjovem.”
“O abacaxi aumentou a demanda por luz que até 2007 chegará à grande
maioria do município”,
declarou um ex-secretário de desenvolvimento social do
Municípioevereadorpordoismandatos.
Outrosaspectospsicológicosobservadosentreospesquisadossão:
a) amelhoriaauto-estimaportrabalhar,sustentarafamília,tersuaprópriaterrae
planejaravidadosfilhoscomoproprietáriosdeplantação;
b)asensaçãodecidadaniaque,mesmodeformainconsciente, épercebidapor
fazeremparteagoradeumapopulaçãoeconomicamenteativa,podendoreivindicar
direitos;
c) ainclusãosocial,porfazerpartedegruposorganizadoscomoasassociaçõesde
moradores,cooperativaeGrupoGestor,interagindocomequipesdeapoiotécnicoe
freqüentandoreuniõesondepodemtrocaridéiaseaprendercoisasnovas.
Esseestímulopelainserçãosocialpodesernotadoclaramente:aesperança
deumavidamelhorfazohomemaindamaisprodutivoeempreendedor.Oqueos
agricultoresatualmentemaisdesejaméjuntardinheiroparacomprarmaisterrase
isso faz com que eles trabalhem mais e procurem técnicas mais modernas para
aumentar a produtividade, criando o círculo virtuoso de desenvolvimento
demonstradoporGunnarMyrdalecitadonocapítulo1.
ParaoeditordojornaloParaguaçu:
O cultivo do abacaxi trouxe melhoria social para os que mais
precisavam. Fixou o homem no campo, reduziu o êxodo,
fortaleceuospequenosplantadores,valorizouaagriculturafamiliar
local proprietária de pequenas áreas. O abacaxi zerou o
desemprego no campo e vem buscar força de trabalho na zona
urbana,reduzindoodesempregourbanotambém.
Aslocalidadestêmumaassociaçãocomunitáriacomsedeondesereúnem,
ou deveriam se reunir, mensalmente. Já percebe-se, apesar da falta de cultura
associativista, uma organização tímida no campo incentivada pelos programas de
95
governo que são todos voltados para as associações, não podendo ter nenhum
benefíciorequisitadodeformaisolada.
As comunidades estão mais sintonizadas e com essa representatividade,
reivindicam,exigem,têmposturamaisfirme.Omovimentoassociativistaestásendo
assimilado de forma lenta, nota-se que levará um tempo, mas é importante já ter
iniciado.
Diretamenteligadaàquestãodoêxodorural,estáodesempregonocampo.
Para 80% dos pesquisados, não existe mais desemprego. Antes das plantações
ganhavam R$300,00 em trabalhos esporádicos, atualmente, segundo declarados
por vários deles, com o abacaxi ganham R$30 a R$40 mil ao ano (o cálculo de
ganhoséfeitoporanoemfunçãodacolheitaanual).
Perguntado sobre o assunto, o ex-secretário de desenvolvimento, tendo
acompanhado todo o processo do abacaxi declara: “não há mais desemprego no
campo.Existegrandedemandapormão-de-obraqueelevouovalor,principalmente
naépocadacolheita.Temtrêsturnosdecarregadores.Todososcarregadorestêm
moto”.
Na colheita, quem compra é que colhe. Precisa muita gente especializada
para arrumação da carga. As equipes são todas da região. Existe o problema
organizacional/socialporque,segundoumagrônomolocal:
Algumasdessaspessoas,depoisdascolheitasqueduramde2a
3meses,ficam semtrabalho.Algunstrabalham em outrasfases
comonoplantio,pulverização,etc.Nãoexisteumaorganizaçãode
uma instituição que coordene as equipes, preços de diárias etc
paradistribuirmelhorotrabalhodurantetodooano,conseguindo
formasdeocupaçãodessaspessoastodootempo.
Uma dificuldade para a melhoria das condições do trabalho ofertado é
também a falta de cultura associativista e cooperativista facilmente percebida na
região.Segundoos trêspresidentes dasassociaçõespesquisadas,osagricultores
sóseassociamquandotemalgumprojetoqueexigeessacondiçãoparareceberem
algum benefício. Poucos contribuem com a taxa única de R$1,00 ao mês que é
utilizadacomofundo de reservaparadespesascomdocumentos,necessidadede
saúde de algum sócio, alguma doação necessária. Segundo declaram os
presidentes, só querem ser associados para tirar proveito, enfraquecendo a
96
representatividade e demonstrando visão imediatista. O percentual mais alto de
adesãoentremoradoresconseguidopelasassociaçõesfoide50%.
Segundo uma representante do SEBRAE, a instituição trabalha na
conscientizaçãodanecessidadedeassociativismo:“oprincipaltrabalhodoSEBRAE
com o abacaxi é promover a cultura e a conscientização associativista e
cooperativistanaregião”.
4.1.2Asmelhoriassociaisocorridas
Atéfinsde70,arendadomunicípiovinhadoplantiodamamona;depoisficou
só a renda dos funcionários públicos municipais e federais; os bancos se
modernizaram, o que também causou desemprego. Itaberaba sofreu todos os
impactos dessas mudanças, chegando a um alto índice de desemprego,
principalmentenazonarural.Hojefaltamão-de-obranocampo.
ParaoatualSecretáriodeInfra-estrutura,éevidentequehouverammelhorias
dascondiçõesdevidanazonaruralemfunçãodoabacaxi.Aplantaçãoocupahoje
1.200 famílias e gera uma média de 6 mil empregos diretos no campo, o que
nenhumaoutraatividadeconseguiriagerarnaregião.
Paraum agrônomodaEBDA: “Houvemobilidadesocial,saíramdapobreza
extrema e agora têm trabalho e renda. Houve valorização da terra: as pequenas
propriedadesantessemvalor,agoravalemmaisporcausadoabacaxi.”
Existeunanimidadenadeclaraçãodequeoníveldevidanocampomelhorou:
muitostêmD20efilhostêmmoto.Areceitadomunicípiohojetemduasfontes:o
abacaxi,queémaisfortequepecuária,eosaposentadosefuncionáriospúblicos,
segundooatualSecretáriodeInfra-estrutura.
As opiniõessão controversas quanto àforça do abacaxi na eletrificaçãono
município:algunsdizemqueéprogramadoGovernoFederalequeascomunidades
seriam atendidas independentemente de atividade produtiva mas, para outros, o
aumento da densidade populacional fez com que as localidades atingissem um
númeromínimodepessoasquejustificassemaextensãodaslinhaselétricas,oque
foiconfirmadocomoexigênciadoprograma,devendosercomprovadonospedidos
deextensãodelinhas.
97
Figura39–Pequenahabitaçãonazonaruralcomluzeantenaparabólica,Jan.2007.
As casas em locais distantes (figura 39) estão providas de antenas
parabólicas compradas em parcelas fixas mensais e, segundo o proprietário da
maior revendedora: “não precisa nem documentos, só CPF. Não fazemos nem
consulta.Avendaénocarnêem4até10pagamentos.Nãoteminadimplênciacom
opessoaldoabacaxi”.
Existeoproblemadaáguaparaplantaçãoeusofamiliar,poisolençolfreático
no município é de água salobra, complicando ainda mais a questão da falta de
chuva naregião. O GovernoEstadual temprogramaPRODUZIR operacionalizado
pelaCAR,emtrêsfases:ProduzirI,IIeIII.EmItaberabafoiiniciadoem1996para
darsuporteàsclassesmaispobresdasáreasruraisedosemi-áridobaiano,fezuma
médiade210cisternasnazonarural,utilizando80%derecursosdoBancoMundial
e 20 % do Governo Estadual. Já está no PRODUZIR III, continuando as ações
anteriores.
No programa, a CAR tem parcerias com BID, Banco Mundial e órgãos da
administração estadual e federal. Segundo o chefe do escritório regional da CAR
“essa 3
a
etapa visa melhorar a qualidade de vida de 200 mil famílias com o
financiamentode2.500projetosnasáreasdeinfra-estrutura,saneamento,geração
derenda,apoioàeducação,culturaemeioambiente”.
98
Oobjetivoé,principalmente,aconstruçãodecisternas,banheiros(ondetem
águaencanada),compradetratores,construçãodeaguadas,pontilhões,casasde
farinhaeoutrastantasfinalidadesprodutivasesociais.
NocasodazonaruraldeItaberaba,aprioridadeéparaostanquesapesarde
existirem outros projetos na região. Os tanques são requisitados através das
associações de moradores que tem que participar das reuniões do conselho que
discute os problemas locais. A capacidade é de 15.000 litros (figura 40) e os
agricultoresrecebemokitcompleto:otanque,atampa,asbicas(de1,80x3,3de
diâmetro)eostubosquecaptameconduzemaáguadachuvaatéotanque.“Todos
sãofeitosparacolheráguadachuvadotelhado”declarouorepresentantedaCAR.
Éfeitoumperfildacomunidadeeatravésdeumplanodeinvestimentomunicipal,
priorizaafinalidade.
Figura40–TanqueinstaladopelaCARpeloprogramaProduzir.Jan.2007.
A instrução do programa é para que a contratação de mão-de-obra
remunerada seja da própria comunidade local quando for necessária para a
realizaçãodasações.Aparticipaçãodacomunidadeéimportantenaprestaçãode
serviçoseaproveitamentodosrecursoslocais.Segundoopresidentedaassociação
deLagoaNova“quemrecebeuacisternasecomprometeuadeixarpuxarumponto
de água para outro vizinho que não recebeu”. No ano de 2003, foram feitos 50
tanquesnalocalidade.
EmBomViverexistiaanteriormenteumprojetodeaçudecomunitário,masa
associaçãosereuniueachoumelhoraopçãodostanquesparacaptaçãodeágua
de chuva. Encaminharam o pedido à CAR, que foi atendido com recursos do
99
BNDES.Paraelegerquemreceberiajáquenãoteriaparatodosemfunçãodoteto
de50milreaisporprojeto,foifeitosorteio.Mas,numaatitudesolidária,combinaram
queumacasaforneceriaàoutracasamaispróximacomoemLagoaNova.Em2001
foraminstaladososprimeirostanques.Porem,segundoopresidentedaassociação
deBomViver,“oprogramadeacoletaeobtençãodeáguanãoveioemfunçãodo
abacaxi.Sãoprogramasdegovernoparadiversaslocalidades”.
Para o presidente da associação de Lagoa Nova “precisariam ser mais
organizadosporqueaCARdátratorparaacomunidadeprodutoras,seforpedido.
Manda oprojeto eeles avaliam a necessidade. Bom Viver,BarroBranco eBarro
Durojátêm”,concluiurefletindoque,sefossemmaisunidos,asconquistasseriam
aindamaiores.
Os banheiros são a maior carência: só 5% das habitações da zona rural
possue banheiro, diz o Secretário de Infra-estrutura. A CAR tem programas para
banheirosondetemáguaencanada,mascomoagrandemaioriadaárearuralnão
tem, então não é prioridade para o município, segundo os princípios do órgão. O
problemapassaasertambémdeausênciadesaneamentobásico.
ComoprogramaPRODUZIR,TestaBrancaeBomVivertiveramprojetode
mecanização agrícola. O kit completo, no valor de R$83.330,36, vem com trator,
implementos e galpão-garagem para guardar o veículo. As associações deveriam
dar sempre 10% de contrapartida, mas como eles não têm, a CAR faz tudocom
recursosnãoreembolsáveis,segundoorepresentantedoórgão.
Além da infra-estrutura básica melhorada em função do aumento da
densidadepopulacionaleformaçãodeassociaçõesimpondoumanovaorganização
social,aprópriarepresentatividadedaslocalidadesqueconcentramaproduçãoeos
recursos financeiros gerados com a plantação do abacaxi, apontam para várias
melhoriasconquistadas.Asmoradias,antesemadobe,estãosendosubstituídaspor
construçõesemalvenaria,ampliadascommaisumpisonoandarsuperior,conforme
demonstramasfiguras41e42,nalocalidadedeTestaBranca,umadaspioneiras
naconcentraçãodaprodução.
100
Figuras41–CasasemTestaBranca:Figura42–Asnovascasasconstruídas:blocos
pisosuperioremotosnaporta.Jan.2007.edoispisos.Jan.2007.
Otransporte,antespormeiodebicicletaoucavalo,foisubstituídopormotos
que, na maioria das vezes, são compradas com prestações médias de R$105,00
(centoecincoreais)nosconsórciosqueforamseestabelecendonoMunicípio.Em
diasdefeira,àssextas-feiras,vê-seaenormeaglomeraçãodasmotosnomercado
municipal,conformemostraafigura43.
Figura43–Mercadomunicipalàssextas-feiras:agricultoresdazonaruralvêmdemoto
para“fazerafeira”.Jan.2007.
101
Aquantidadedemotosvendidasnaregião,chamouaatençãodasfabricantes
Honda e Yamaha, que instalaram filiais dos consórcios na cidade. O consórcio
Honda,umdosmaisvendidosnomunicípio,éatualmenteumdospatrocinadoresda
festadeSãoJoãodacidade,nomêsdejunho.Afestaédegrandeimportânciapara
a população do município e dos arredores, atraindo um significativo número de
pessoas com os trios nordestinos de forró “pé-de-serra” e bandas de renome
nacional. A cidade nessa ocasiãorecebe decoração típicaarrojada, como consta
nasfiguras44,45e46.
Figura44–ConsórciodemotosHonda,patrocinadordoSãoJoão,2007
Figura45–Decoraçãodapraça-SãoJoão,2007Figura46–CentraldoItaforró-SãoJoão,2007
102
Outro meio de transporte que se tornou comum na região são as
caminhonetes D10 e D20 (figuras 47 e 48) por possibilitarem o transporte de
implementosagrícolas,mudasefrutos.Comotransportecoletivo,ligandoàsededo
municípioouaoutraslocalidades,existemônibusparticularesaocustodeR$3,00,
quecirculamemhorárioscertosepré-estabelecidos.
Figura47–Caminhonetedeagricultordaregião:orgulhodoabacaxique
produzem.Jan.2007.
Figura48–Caminhonetecarregadademudasparaoplantio.Jan.2007.
103
Segundo o presidente da associação de Bom Viver: “os trabalhadores têm
moto para se deslocar mais rápido e trabalhar mais. Logo que juntam dinheiro,
compram uma rocinha, colocam alguém da família para tomar conta com ele e
continuamganhandonadiária”.
AlocalidadedeLagoaNova,porseráreanovadeplantio,étambémamais
carente.Tempoucaspropriedadescomluz,águaencanadaecisternas,ebanheiros
nãoexistemnalocalidade.
Um agrônomo, quando entrevistado, refletiu sobre os impactos positivos
aportadosporumaatividadeagrícoladesucesso:“ocréditoqueoGovernoFederal
investetemumefeitosocialimportantíssimoporqueosdanossociaispelafaltade
trabalho seriam maiores. Iriam para construirprisões oucurar doenças, causando
desperdíciosocial.”
Os envolvidos com a plantação do abacaxi argumentam que nos últimos oito
anos o município teve uma melhora social significativa. Mas, segundo um dos
agrônomosentrevistadosquetambéméproprietáriodelojadepresentesnacidade
“os recursos do abacaxi melhoraram a vida dos agricultores, mas ainda não tem
impactosobreocomérciolocal.Ocultivoseguraopessoalnazonarural,masnão
impacta a zona urbana. O pessoal da cidade não quer ir para o campo,
permanecendoodesempregonacidade”.
Nosaspectossocioeconômicos,quandoperguntadossobreoquepoderiater
piorado depois doaumentodo cultivo do abacaxi, aresposta naquase totalidade
dospesquisadosé:“nada”.
Aúnicaressalvaéquantoàquestãoambiental.
O Secretário de Infra-Estrutura, quando perguntado sobre o assunto disse
que,comaculturadoabacaxi,nadapiorou:“aocontrário,aviolênciadiminuiu.As
drogaspodemchegaraospovoados.OsagricultoresrecebemdiáriasdeR$20,00a
R$30,00 (antes eram de R$8,00 a R$12,00), domingo tomam cerveja todos bem
vestidos,commotos.Precisaeducaçãoanti-drogas”.
4.1.3Oparecerdospequenosagricultores
Napesquisarealizadadiretamentecomosagricultores,encontramosumalto
níveldesatisfaçãocomanovadinâmicadaeconomianaregião.Apontodemaior
104
satisfação e primeiro citado por todos foi a geração de ocupação e melhoria da
rendaparaasfamílias.Amobilidadesocialgeradapelocultivodoabacaxiécitada
comoasalvaçãodaregiãoqueencontrounocultivooúnicomeiodesobrevivência,
principalmente para as camadas sociais menos favorecidas financeiramente: “o
abacaxiatraioscompradoresquepassamaquipelaestradaeaívendemostambém
outrosprodutoscomoovosdequintal,melanciaefrutosnativoscomoumbu,cajáe
sirigüela.Dápraganharumdinheirinhoamaisparaafeira”,disseaesposadeum
agricultor.“Elevaicedoparaaroçaeeuficotrabalhandonabarracaenacasaaqui
nofundo”(figura49).
Figura49–Barracadefrutas:rendacomavendadeabacaxieoutrosprodutos.Mar.2007
Pornãohaverumapesquisacomdadosoficiaissobreaagriculturafamiliardo
abacaxi, o meio de identificação utilizado para essa pesquisa foram as três
associaçõesdemoradores,quetambémnãotêmcertezadaexatidãodosdados.O
cadastramentoéfeitocomomoradorprocurandoasedecomunitáriadaassociação,
passandoafazerpartedolivroderegistros.Oacompanhamentodeveriaserfeito
atravésdapresençamensalparaefetuaçãodopagamentodeR$1,00(umreal)das
mensalidades,mascomoamaiorianãoseapresentaparaefetuaropagamento,as
associaçõesficamsemdadosconcretosatéparasaberseoagricultorcontinuana
região.
105
Dentro desse contexto conseguimos atingir uma média de 50% dos
registrados em cada comunidade, podendo dizer que, dentro desse quadro de
informalidadeeausênciadeexatidãodedados,torna-seumresultadosatisfatório.
Outrofatorrelevantepararatificaraquantidadedepesquisados,éahomogeneidade
de nível sócio-cultural encontrado nas comunidadesda zona ruraldo município,o
queimpõeaquasetodosumamesmaideologiaeconseqüenteargumentaçãonas
respostas.
A tabela 12 apresenta o número de pesquisados nas associações
comunitáriasdaslocalidadesescolhidas,emtermosabsolutoserelativos,
Tabela12–Pesquisadecampo:percentualdepesquisadosporcomunidade
Comunidade Participantesda
associação
comunitária
Pesquisados Percentual
TestaBranca 46 25 54
BomViver 45 25 56
LagoaNova 39 19 49
Total 130 69 53
Elaboração:AuraPamponet,2007
Dos 69 agricultores questionados, 44 eram homens e/ou mulheres, 19
mulheres,4pessoasqueaindanãoplantame2jovensabaixode17anos.
Apresentamos,apartirdesteponto,osresultadosdasdiversasquestõesque
levaramaumdiagnóstico sobreaatualsituação socioeconômicaeorganizacional
doterritóriodoabacaxiemItaberaba.
Quandoaquestãofoiaquantidadedehorasdetrabalhodiáriasnecessárias
paraumbomresultadonaprodução,69%dasrespostasfoide8a9horase31%
disseramdezhorasoumais.
Percebe-seque,segundorespondidonosquestionários,omarcodeaumento
daquantidadedeagricultoresdedicadosaocultivodoabacaxifoioanode1998ea
partirdaí,com86%dasrespostaseapenas14%estãodistribuídosentreosanosde
1988e1997,sendotambém86%proprietáriosdasáreasplantadascontra14%de
arrendatários(figura50).
106
Figura50-Condiçãodoprodutornas
localidadespesquisadas
86%
14%
Proprietários
Arrendatários
Fonte:pesquisadecampo,jan.2007.Elaboração:AuraPamponet.
Quantoàáreaplantada,amaioriadaspropriedadestematéquatrotarefasou
1,7ha(figura51),demonstrandoqueocultivodoabacaxiestápredominantemente
empequenaspropriedadeseconseqüentementedentrodoscritériosdeagricultura
familiar.
0%
10%
20%
30%
40%
Até4 5a6 7a14 15a30 Maisde
30
Figura51-Tamanhodasáreasplantadas
nascomunidadespesquisadas,emtarefas
Fonte:pesquisadecampo,jan.2007.Elaboração:AuraPamponet.
Ocorreu uma grande modificação quanto aosmeios delocomoção na zona
ruralcomoimpactodanovadinâmicadaeconomia.AlémcaminhonetesD10,D20e
motos novas, foi citado o ônibus de linha particular com hora certa que passa
regularmente na zona rural, levando e trazendo pessoas para fazer compras na
cidade,iramédicoseoutrasnecessidades,conformefigura52.
107
0
10
20
30
40
Moto
D10/D20
Carro
Outros
Figura52
-
Tiposdeveículosutilizados
pelosprodutoresdeabacaxiemItaberaba
(%)
Fonte:pesquisadecampo,jan.2007.Elaboração:AuraPamponet.
Quanto à atividade anterior ao plantio do abacaxi, 41% dos agricultores
responderamqueseocupavamdeoutrasplantaçõescomofeijão,milho,mamona,
melanciaeabóbora, maso climamuitosecodificultava um retornofinanceiro que
garantisse a sobrevivência da família. Do total de agricultores questionados, 25%
eramanteriormentediaristassemtrabalhofixo;10%iamparaSãoPaulonaépoca
da colheita da cana-de-açúcar; 13% se dedicavam à pecuária, além de outras
atividadestemporárias.
Sobreoqueincentivouaplantarabacaxi,arespostaprincipalfoiorendimento
elucratividadedaprodução,seguidosdoincentivodostécnicosdaEBDA,incentivo
dacooperativa,aslinhasdecréditodisponíveis,famíliaeamigosqueensinarame
deramasmudas.
Oaprendizadosobre astécnicasé aindabastanteinformal. A maioria,com
55% das respostas, declarou ter aprendido com amigos e vizinhos; 24% com
técnicos e com a cooperativa; 11% com a família e 10% trabalhando em outras
roçascomodiaristaatéadquirirsuaprópriaterra(figura53).
108
Figura53-Formasdeaprendizadodastécnicas
deplantio
55%
11%
10%
24%
Amigosevizinhos Familiares
Trabalhandonoabacaxi Técnicosecooperativa
Fonte:pesquisadecampo,jan.2007.Elaboração:AuraPamponet.
Quanto aos cursos de capacitação, 64% disseram nunca ter participado.
Apesardasrespostasdemonstraremoriscodafaltadetécnicasapropriadas,60%
dos questionados disse que, quando precisam de apoio técnico, buscam no
escritórioregionaldaEBDA,ondesempresãoatendidos.Nasdúvidassobregestão
ecomercializaçãoalgunscitaramoSEBRAE.
Quantoàquestãodaorganizaçãosocial,todososentrevistadosfazemparte
de associações de moradores, mas apenas 15% faz parte da cooperativa que
declarou não aceitar mais cooperativados por falta de capacidade de venda do
produto, apesar de estarem fazendo um trabalho de abertura de novos mercados
paraemseguidaaceitarnovosprodutores.
Oproblemaorganizacionaléevidentenocultivodoabacaxi.Aorganizaçãoda
produção é precária nos quesitos compra e venda do produto e insumos. As
comprassãotodasfeitasseparadamente,ouseja,cadaagricultorcompraoinsumo
necessário para a sua plantação, o que encarece os custos de produção. Se
unissemasquantidadesfracionadas,conseguiriamvolumedecompraelogicamente
preçosmelhores.
Um exemplo é a compra de adubos e defensivos, feita em uma loja em
Itaberaba.Reunindo-seemgrupopoderiamcomprardiretamentedafábricaemSão
109
Paulo,reduzindoexpressivamenteospreços.Ointeressanteéquetodosconcordam
etêmconsciênciadessanecessidade,masnenhumtomaainiciativadeformarum
grupo.
Percebe-se claramente a falta de integração nas associações comunitárias
pela falta de cultura associativista. Os presidentes dessas associações foram
unânimesemdizerqueosmoradoressóaparecemquandotêmalguminteresseou
sabemdealgumprojetodegovernoquesóseráliberadoatravésdasassociações
demoradores.Segundoeles,osassociadosvisamapenasointeresseimediatoe,
conseguindo o que querem, desaparecem. Esse parecer é confirmado pelos
moradoresdascomunidadesquedizemnãoseremassociadosporquenãoadianta
nada e não vêem nenhuma necessidade disso. É uma forte herança cultural
negativaqueapesardesenotaralgunsmovimentosquelevemaumamudançade
paradigma,aindaestáimpregnadanazonarural.
Quanto às vendas dos frutos, são realizadas em conjunto apenas pela
cooperativa,mas ocorreomesmoindividualismocomosplantadoresquevendem
isoladamente aos compradores/atravessadores que vêm nas épocas de colheita,
ficandolimitadosaessetipodevenda.Atéhojetemdadocertoporqueomercado
absorve toda a produção, mas, com o aumento da ofertade frutos, fica a dúvida
sobreofuturo.Muitostambémconcordamquedeveriamseorganizarparavender,
masficaapenasnodiscurso.Oscasosdecompraevendaemconjuntosãoisolados
esemcontinuidadeouqualquertipodecompromissoparafuturasnegociações.
Sobre o futuro do cultivo do abacaxi em Itaberaba, 88% dos entrevistados
achaqueaplantaçãovaicontinuareteráaumentodaprodução.Algunsporsimples
esperançaedesejo,massemdadosconcretosquelevemaessaconclusão.Muitos
acreditamqueoclimaquente,muitosol,necessidadedepoucachuvaeotipode
solo são apropriados e, com os devidos cuidados ambientais, pode-se ter uma
atividadesustentável.Os12%quenãoacreditamnasustentabilidadedaprodução
citamoexcessivocrescimentodaofertaeaexaustãodosolo.
Ageraçãodeocupaçãoerendaéofatordemaiorimportâncianaatividade:
84%dosplantadoresnecessitamcontratarmão-de-obraemalgummomentodociclo
deproduçãoeos16%restantesseunememmutirãocomvizinhosouemfamília.O
número de trabalhadores varia em relação ao tamanho da propriedade e da área
cultivada.Anecessidadedemão-de-obrarelativaàsdevidasfaseséapresentadana
figura54.
110
Figura54-Necessidadedemão-de-obranasplantações,
porfasedocultivo
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
C
apin
a
Preparosolo
Fonte:Pesquisadecampo,jan.2007.Elaboração:AuraPamponet.
Naépocadacolheita,quemcompracolhe.Osfrutossãovendidos“nopé”.É
afasedemaiornecessidadedetrabalhadoresquesãoemnúmeroinsuficientena
regiãoparaademanda,devidoàgrandepartedacolheitaatualmenteseconcentrar
em três meses do ano, de julho a setembro. É uma época de exaustão para os
colhedoresquequeremaproveitarafaseparaganharomáximopossível,fazendo
com que trabalhem dia e noite. A contratação é feita com alguns meses de
antecedênciaparagarantiracolheita.Sedeixarparaahora,nãoencontramquem
colhaosfrutos.
No aspecto familiar, existe uma grande satisfação com o crescimento da
produção pela redução do êxodo rural. Está acontecendo um movimento inverso:
quemestavaemSãoPauloparaconseguirumtrabalho,estávoltandoparaaterra
natal e os que iam para o corte da cana quando os caminhões “paus-de-arara”
111
vinhambuscarnasépocasdecolheita,nãovãomais.Osqueconseguiramganhar
algumdinheiroporlá,compraramterranomunicípioevoltaramparaplantar.
Quando perguntados se querem que os filhos e netos permaneçam na
plantação,91%dizemquesimporquepodempermanecerpertodafamília,longe
dos perigos das capitais e serem proprietários de suas próprias plantações. O
mesmo percentual de homens, mulheres e jovens diz não querer sair da região,
estandosatisfeitoscomolocalonderesidem.Dizemaindaque,comtrabalho,luz,o
confortodoseletrodomésticos,telefoniarural,celulareantenaparabólicaparaaTV,
nãotemlugarmelhorparaviver:“ascidadesgrandesestãomuitoviolentas”.
Sobreoquepiorounaregião,aprimeirarespostaé“nada”mas,pedindopara
refletirumpoucosobrearesposta,nota-seumacertasombradepreocupaçãosobre
o meio ambiente. Os desmatamentos, os umbuzeiros tão respeitados pelos
nordestinos que se foram para dar lugar ao abacaxi, a exaustão do solo com a
retirada dos nutrientes pelos frutos formam um conjunto de preocupações
conscientes em todos os níveis socioeconômicos. Todos sabem que se nada for
feito essa melhoria não se sustentará. Esse é o motivo principal da formação do
GrupoGestor,quesereúnemensalmenteparabuscarsoluções.
•
Osjovens
Aopiniãodosfilhosdosprodutoressobreocultivoépositiva.Osjovenscom
até17anosdemonstraramvontadedepermanecernazonaruraledecontinuarem
na plantação do abacaxi, caso mantenha bons resultados financeiros como
atualmente,masnãopretendemparardeestudar.Játrabalhamnasplantaçõesno
turno em que não estão na escola mas como ajudante e por uma a duas horas
diárias.Sãounânimesemdizerqueoabacaximelhorouavidanomunicípioetêma
mesma preocupação dos mais velhos quanto às questões climáticas, quanto à
chuvaeàáguaparaoplantioeparaoconsumodoméstico.
Dizemestarconscientesdequeoestudotrásmelhoresperspectivasparao
futuro.Porém,segundoaSecretáriadeEducaçãodomunicípio,quandochegamao
2
O
grau e têm que continuar indo para as escolas em Itaberaba (o que acontece
desdea5
a
série),muitosdeixamosestudosepassamatrabalharemtempointegral
nasplantações,nãosabendoseeraporvontadeprópriaouporinfluênciadospais
queprecisamdemão-de-obranasplantações.
112
•
Osquenãoplantam
Esetudoétãopositivo,porquealgunsaindanãoseenvolveramnocultivo
do abacaxi? Essa é uma questão interessante diante da unanimidade sobre os
benéficosdaagriculturadoabacaxi.Aperguntafoifeitaacincohomensentre28a
73anos,emdiferentesidadesefasesdavida,obtendorespostasdiversificadas:
- Com 28 anos, um trabalhador diarista no abacaxi “por que não falta trabalho”.
Acreditanofuturodaplantaçãonomunicípioedizqueaindanãoteverecursospara
comprar terra, mas está trabalhando e juntando dinheiro para, em breve, ter sua
própriaplantação.
- Outro diarista de 40 anos diz que não falta trabalho e é muito procurado pelos
plantadores. Nãoquer plantaremroça própria por que não quer seenvolvercom
financiamentosdebanco,ocultivodámuitotrabalhoenadiáriasótrabalhaquando
quer.Preocupa-secomosdesmatamentosecomosagrotóxicosque,segundoele
“matouumhomemquecomeulogodepoisdetersidopulverizadocomagrotóxico”.
- A mesma opinião é compartilhada por outro trabalhador de 60 anos, também
diarista.Elecapina,planta,colhe,masnãoquercompromissocomroçaprópria.No
sistemadediáriasótrabalhaquandotemvontade.
- Com 58 anos, outro pequeno criador de “algumas cabeças de gado”, tem uma
caminhonete D20 para transportar o que produz e plantamelancia “quetem ciclo
rápidode120dias”.Dizqueoabacaxidámuitotrabalho,temmuitagenteplantando
eopreçopodecairnumfuturopróximo.
-Aos73anos, outrocriadordegado,viúvo,morandosozinho,acha quenãotem
maisidadeparacomeçarnalavoura,amão-de-obraestá escassa eoabacaxidá
muitotrabalho.
4.1.4 Opapeldamulhernaplantação
Um resultado surpreendente dessa pesquisa foi a participação ativa da
mulher na agricultura familiar do abacaxi em Itaberaba. Muitas delas estão em
igualdadecomoshomens,sãoproprietáriasderoças,plantam,colhemesedizem
mais eficientes na contagem dos frutos, no carregamento dos caminhões e na
113
conferênciadasmudasparanãoentrarfusariosenasroças,oqueexigemaiscalma.
Segundo elas “os maridos não têm paciência para isso”. Para o presidente da
associação de Bom Viver: “elas se envolvem diretamente. Fazem de tudo. Têm
muitasproprietáriasderoça”.
No início, foi elaborado um questionário específico para as mulheres pois
queríamosidentificaropapeldelasnocultivodoabacaximas,empoucotempo,o
questionário foi abandonado transferindo para elas o mesmo aplicado para os
homens/produtores.
Elas têm um enorme orgulho em plantar, colher, conferir mudas antes de
seremplantadas,contaracargadefrutosquesaemdasroças(doisitensondese
acham melhoresque oshomenspor serem mais pacientes), emmuitos casos ter
rendaprópriaeparticiparativamentedosustentodafamíliaedo desenvolvimento
daregião.
Seelastêmjornadadupladetrabalho,nãosedeixamabaterouapresentam
sinaisdecansaço,aempolgaçãocomaagriculturaéamesmadoshomense,por
demonstrarem com mais facilidade os sentimentos, aparentam até maior
entusiasmo.
Naquestãodaeducaçãodosfilhos,oshomenssouberamresponderdeforma
igualdemonstrandoumenvolvimentoemassuntosantessódasmulheres,mas,nos
cuidados da casa, preparado das refeições e cuidados diretos com os filhos e
assuntosreferentesàescola,asituaçãoficacomelasmesmas.
Umcasoevidentedadesenvolturadasmulheresnaagriculturadoabacaxifoi
encontrar umajovem de24anos (figura55),casada, sem filhosainda- deixados
para mais tarde “quando as condições financeiras melhorarem”, 2
o
ano de
pedagogianaUNEBdeItaberaba,abaixada,numcalorde36
O
deummêsdejaneiro
semchuvas,todacobertacomroupasechapéu,plantandomudas.
114
Figura55–Proprietáriadeterra,trabalhandoemplantaçãoprópria.Jan.2007.
Quandoquestionadaseestavaajudandooirmão,disseestarfazendooquea
família toda faz (figura 56): “uns ajudam aos outros e todos têm roça de abacaxi
vizinhas”.Elaéproprietáriadeuma roçaemsociedadecomamãe,omaridotem
outraplantaçãocomo pai,eafamíliatodaestavaajudandooirmãonaplantação
enquantoeramentrevistados:“paranãocontratarpessoasdeforadafamília.Agora
éavezdeplantaradele,jáplantamosaminha”,declarou.
Figura56-Famíliadeagricultores:paiedoisfilhos,todosproprietários
deplantações.Jan.2007.
115
Oquestionáriodapesquisafoiaplicadoa21mulherescomidadesentre22e
62anos,sendoque76%responderamtrabalhardiariamenteemhoráriointegralna
plantação do marido, da família ou em roça própria. A declaração foi ratificada
duranteasincursõesnascomunidadesvisitadaspelaquantidadedemulheresque
sãovistasnotrabalho,realizandoasmesmastarefasqueoshomens.
Quandoperguntadasseascondiçõesdevidanocampomelhoraramdepois
docultivo,100%disseramquesim,comoseguinteelencoderespostas,porordem
deimportância:
-
trabalhoemelhoriaderendaparatodos
-
osfilhosemaridosnãoprecisammaissairdaregiãoparatrabalhar
-
chegadadaluz
-
compradeeletrodomésticos
-
TVeantenaparabólica(nascomunidadesondetemluz)
-
outrasrespostas
Questionadassobreosprincipaismotivosdegostaremdaregião,dizemnão
teraviolênciadasgrandescidadescomovêempelatelevisão,terembonsvizinhose
facilidadedeacessoàescolaparaosfilhos.
Arelevânciadaparticipaçãodasmulheresnodesenvolvimentodoplantiodo
abacaxiemItaberabaeaigualdadedegêneroinstaladanaregiãosãoevidentes.As
mulheresestãocomseusespaçosasseguradosnaagricultura,têmparticipaçãonas
associações,nastomadasdedecisões,nasreivindicaçõescomunitáriasepolíticas.
Elas têm uma determinação - consciente ou inconsciente – de ocupar todos os
espaços.
116
4.2Aorganizaçãodaprodução
4.2.1Oprodutoabacaxi:qualidade,classificaçãoemercado
Para ser colocado no mercado de outros estados e para exportação, o
abacaxitemqueobedeceranormasnacionaiscomo:
•
InstruçãoNormativan
°
1,de1
°
defevereirode2002:RegulamentoTécnico
deIdentidadeeQualidadeparaaClassificaçãodoAbacaxidoMinistérioda
Agricultura,PecuáriaeAbastecimento–MAPA”;
•
Programa Brasileiro para a Modernização da Horticultura: programa de
adesãovoluntáriaedeauto-regulamentaçãosetorialcriadoem1997;
•
ProgramaPaulistaparaaMelhoriadosPadrõesComerciaisedeEmbalagens
deHortigranjeiros,formadopelaCâmaraSetorialdeFrutasepelaCâmara
Setorial de Hortaliças, Cebola e Alho da Secretaria de Agricultura e
AbastecimentodoEstadodeSãoPauloque,em2000,atendendoàdemanda
de outros estados brasileiros, tornou-se um programa federal de atuação
nacional.
Para a padronização do produtoem nível nacional,foram criadasnormas de
classificaçãodoabacaxi:
Classificação é a separação em lotes homogêneos, com
característicasmensuráveiseobediênciaaumpadrãomínimode
qualidade.[…]Tamanhonãoé qualidade.Tamanho equalidade
sãocaracterísticasdistintasnoabacaxi”.(COOPAITA,2006,p.3).
Osfrutosmaisprocuradossãoosdealtoteordeaçúcarebaixoteordeacidez:
“oteorde12Obrixfoidefinidocomoomínimoaceitávelemrelaçãoaosaçúcarese
aacideztitulávelentre0,40%e1,00%.”(CUNHAetal.;2004,p.161).
O lotedo abacaxi classificado deve ter todo o mesmo tamanho, coloração e
qualidadedefinidaparaquecadamercadorecebaoprodutocertoparaautilização
específica.Oabacaxi éclassificadocombasenaaparênciaexterna,ouseja, pela
cor da casca e características internas como cor da polpa, teor de açúcares e
acidez.(CUNHAetal.;2004,p.160).
117
Pela coloração da polpa pode ser: Smooth Cayenne ou Havaiano de polpa
amarelaePérolaouJupidepolpabranca-oqueéproduzidoemItaberaba(figura
57).
Figura57–Classificaçãodoabacaxipelacordapolpa
SmoothCayenne PérolaouJupi
Apósclassificadoseagrupadospelacordapolpa,osabacaxissãoseparados
emquatrosubgrupospelacorexternadacasca,conformeoquadro6efigura58.
Quadro6-Classificaçãodoabacaxipelacoloraçãoexterna
Cascaverde
Apresentaacascacompletamenteverdemasabase
comumverdemaisclaro
Cascapintada
Apresentaocentrodosfrutilhosamarelosouaté25%
dacascaamarela
Colorido
Apresentamenosde50%dacascacompletamente
amarela
Amarelo
Apresentamaisde50%dacascacompletamente
amarela
Fonte:CartilhadoProgramaBrasileiroparaModernizaçãodaFruticultura,2002
118
Figura58–Diferentescoloraçõesexternasdoabacaxi
VerdeouVerdoso Pintado
Colorido Amarelo
Fonte:CartilhadoProgramaBrasileiroparaModernizaçãodaFruticultura,2002
Apesar do abacaxi colhido em Itaberaba sair do local em caminhões
acondicionados entre camadas de capim e folhas (figura 59), a embalagem é um
itemdegrandeimportânciaparaaconservaçãodaqualidadeevalordemercadodo
abacaxiporqueserveparaproteçãonamovimentaçãoeexposiçãodoproduto.As
melhoressãoascaixasdepapelãoonduladocomperfuraçõeslateraisparafacilitar
astrocasgasosas.(CUNHAetal.;2004,p.160).
119
Figura59–Acondicionamentodosfrutosparatransporte.Out.2007
Da produção brasileira, apenas 1% é exportada. “Os supermercados e
exportadoras brasileiras que dominam o mercado externo exigem um fruto com
características mais próximas do Smooth Cayenne, enquanto do Brasil se cultiva
maisotipoPérola”.Paraqueoabacaxipérolasejaaceitopelomercadoexterno,é
preciso um esforço comercial com grande investimento em marketing e um
programademelhoramentogenéticoparamelhoraravariedade.(Ibid.,p.185).
Oproblemadasperdas pordiversosmotivos éum fator dereduçãodelucro
para os produtores. É necessário um estudo e a elaboração de um programa de
conscientizaçãoecapacitaçãoespecíficosparareduçãodedesperdíciosnaregião:
Perde-se aproximadamente 30% da produção apenas na fase
pós-colheita, principalmente por falta de cuidado na
comercialização.As condições de transporte são péssimas, indo
dafaltadeembalagemàpéssimamanutençãodasestradas,além
desériosproblemasdeconservaçãoafrio.(CUNHAetal.;2004,
p.185).
No ano de 2006, segundo cartilha da COOPAITA, os principais destinos e
respectivasdistânciasconstamdatabela13efigura60.
120
Tabela13-DistânciaentreItaberabaeosprincipaismercados
consumidores-2006
DeItaberabaa
DeItaberabaa
Salvador:270km
RiodeJaneiro:1.503km
SãoPaulo:1.842km
Brasília:1.253km
Curitiba:2.225km
Florianópolis:2.511km
BeloHorizonte:1.210km
Veranópolis:2.882km
PortoAlegre:2.937km
Juazeiro:444km
Campinas:1.810km
Fonte:COOPAITA,2006.
Figura60–PrincipaisdestinosdoabacaxideItaberaba
Fonte:CartilhaCOOPAITA,2006.
Dos41milhõesdefrutosproduzidosemItaberabaem2004,apenas3%ficou
noEstado,seguindo50%paraSãoPauloeorestanteparaRiodeJaneiro,Minas
121
Gerais,Brasília,SantaCatarinaeoutraslocalidades(figura60).Amaiorpartedos
frutosqueficanoEstadoéescoadaatravésdaCentraldeAbastecimentodaBahia
(CEASA)localizadanoCentroIndustrialdeAratu(CIA),queabasteceosmercados
depequenoporteeasmerceariasdaregiãometropolitanadeSalvador.Outraparte
é vendida aos supermercados na época da grande colheita, por exigir maior
quantidadedefrutos.
A lucratividade obtida do produtor para o atacado é de 40%. O prazo de
pagamento é de 30 a 35 dias nas vendas realizadas pela cooperativa. Os
atravessadores pagam na hora. O fruto é vendido por unidade, dentro critério de
preços da tabela 14, onde nota-se uma queda de valor de, em média, 50% pela
mudançadopeso.
Tabela14–Variaçãonospreçosdecompraevendadoabacaxi-2007
Qualidade Peso(g) Valordecompra
doprodutor
Preçodevendaao
consumidor
1
a
ouextra
1800a2000 1,30 2,25
2
a
1200a1500 0,65 1,10
3
a
900a1200 0,35 0,60
Fonte:COOPAITA,2007.Elaboração:AuraPamponet.
A tabela 15 apresenta como exemplo uma composição de carga de frutos
bastanterequisitadanaépocadacolheita,comosdevidosvolumesevalores.
Tabela15–Tipodefrutoevalordacargadeumcaminhãodeabacaxi
jan.2007
Qualidade
Quantidade
(milunidades)
Valorunitário
Total
Primeira 7 1,30 9.100,00
Segunda 2 0,65 2.200,00
Terceira 3 0,35 1.950,00
Valortotaldacarga R$13.250,00
Fonte:COOPAITA,2007.Elaboração:AuraPamponet.
SegundoopresidentedaassociaçãodeLagoaNova,quetempaiseirmãos
tambémproprietáriosdeplantações:
122
Ocusto datarefa éde3 mil reaismasseforfrutobome anodeboa
chuva, tiramos R$6 ouR$7milportarefa.Seformuito bomvaipara
R$8 a R$10 mil mas aí tem que ter chuva, época certa de colheita,
dificuldadesemoutros estadose todos ostratos culturaispara queos
frutossaiamdeprimeiraqualidadeetenhambommercado.
Conformeumagrônomolocal:“temquecolherentrejulhoesetembro,antes
dassafrasdosoutrosestadosparaganhardinheiro,sepassaropreçocaieaínão
dálucroporqueélavouracara.Olucrodependedachuvaedacomercialização”.
Explicando outras variáveis que garantem a lucratividade, os agricultores
relataram que no ano passado tiveram prejuízo por que choveu em novembro e
pensaram que janeiro iria chover. Então induziram a floração em janeiro, mas só
choveuemmarço,prejudicandoaprodução.Continuaramrefletindoque“esseano
(janeirode2007),noRioeMinasestãocommuitachuvaeenchentesentãonãovão
produzirnada.Issoébomparaaqui.Poroutrolado,oRioGrandedoSulégrande
consumidor,comoestáchovendomuito,fazfrioeconsomemmenos”.
Um custo importante é a mão-de-obra que é paga em diária. O valor das
diárias,dependendodaépoca,eradeR$15aR$25,00masdizemquejánãoacham
maisquemfaçaumtrabalhoporessevalordevidoàgrandeprocura.Osagricultores
procuram então ocupar a própria família para concentrar os recursos entre os
familiareseporteracertezadecontarcomelesnahoradanecessidade.Otrabalho
depulverizaçãoéomaiscaro-R$30,00-porseromaisnocivoàsaúde.
•
OreconhecimentonacionaldeItaberabapelaqualidadedosfrutosproduzidos
O abacaxide Itaberaba se tornou conhecidonacionalmente pela qualidade,
sabor e teor de açúcar (o brix). O caderno Rural do jornal A Tarde do dia 8 de
outubro de 2007 teve reportagem de capa sobre o abacaxi de Itaberaba e na
manchete: “Itaberaba é referencia no Estado”. O Bahia Rural que vai ao ar aos
domingospelaRedeGlobo,noanode2006levouaoarumareportagemnolocal,
tendo como entrevistado o presidente da cooperativa. Outras reportagens foram
feitasmostrandooabacaxideItaberabacomoumcasodesucessopelaqualidadee
produtividade. Com isso, os frutos se tornaram alvo de “pirataria”. Encontra-se
abacaxi sendo vendido como se fosse de Itaberaba, mas em realidade, vem de
outroslocais.SegundoopresidentedaassociaçãodeBomViver:
123
A CEAGESP já visitou Itaberaba e sugeriu um selo de qualidade e
autenticidadelocal.Vendemabacaxidizendoqueédaquiemuitasvezes
nãoé.Issocomprometeproduçãodaregiãoeincomodaosprodutores
locais.Seriaimportanteseorganizarmelhor,seunirmais.Poderíamos
reduzir o número de atravessadores/intermediários, regular melhor os
preçosdevendaecomprarinsumosemconjuntodiretodafábricapara
conseguirmelhorpreço.
Para a representante do Sebrae em Itaberaba, “existe um caminho para a
organização da produção que já está com a COOPAITA e em realidade todos
usufruem.Temqueorganizartambémomanejodaculturacomainduçãofloral.”A
própriacooperativapassouporumareestruturaçãocomaorientaçãodoSEBRAEe
agoratemdoisgerentesexecutivos:umadministrativo-financeiroeoutrocomercial
paraotrabalhoderelacionamentoexternoeaberturademercado.
Segundo um agrônomo da EBDA “o sucesso nas vendas do abacaxi de
Itaberabaestánaproximidadedosgrandescentrosconsumidores.AParaíba,queé
grande produtora, fica mais longe dos grandes centros consumidores”. Quanto à
comercialização, complementa: “o problema é que os produtores vendem muito a
atravessadores.Nãoestãoorganizados.Asaçõessãoisoladas”.
Aindasegundooagrônomo:
Temtambémquepreservarosolo.ComabarragemBandeiradeMello
está previsto lavoura de cana para Marcionílio Souza. Para Itaberaba
temduasáreasdeirrigaçãodefinidas.Oabacaxiirrigadopodeserbom
porquevaiproduzirnasentressafras.Temqueserumasafraemépoca
diferente dos outros estadospara ter procura e dar lucro. Itaberaba já
produziumandioca,mamona(pouco)mashojesóéforteemabacaxi.
Além do consumo dos frutos
in natura,
surgem outras aplicações para o
abacaxicomogeradordeocupaçãoerenda.AreportagemdarevistaGloboRural
(2005, n
°
239, p 77) apresenta uma utilidade para a casca, parte anteriormente
descartadadosfrutos,técnicatambémjápraticadaempequenaescalanaBahia:
ArtesãosdosudestedoParáestãoaprendendoatransformarsobrasdo
plantio de abacaxi em um produto com beleza e valor agregado,
possibilitando os profissionais de Floresta do Araguaia a 1.240 km de
distanciadeBelématransformarfolhasdofrutoempapel,queservirá
debaseparaaconfecçãodesacolas,envelopes,embalagensecaixas
depresente,entreoutros. Para ganharumatexturaadequada para o
trabalho,sãoassociadasàmisturafolhasdebanana,bagaçodecana,
palhademilhoefolhadebabaçu.Aregião,queabrigacercade14mil
pessoas, tem como principal atividade econômica a produção do
abacaxi.
124
Umaformadeagregarvaloreexpandiraproduçãoeconsumodoabacaxiéa
chegadaaomercadode umanovavariedadedafruta,denominada"IACgomode
mel"quecomeçouaserdesenvolvidonoBrasilem1992peloInstitutoAgronômico
(IAC)deSãoPaulo.Essetipodefrutonão precisamaisserdescascadoparaser
consumido.Éproduzidaemgomosmacios,muitodocesecombaixaacidez.“Esse
novoabacaxiétudooqueosconsumidoresqueremdeumafruta”,dizumprodutor
da região de Rio Claro, São Paulo (IAC,
2006). Segundo ele, os dois principais
entravesparaoconsumodoabacaxisãoeliminadoscomonovoproduto:aacideze
oinconvenientededescascá-lo.Obrix-aferiçãodoteordeaçúcarnumafruta-de
umabacaxitradicionaléde15.Nocasodo"gomodemel"éde21e,emalgumas
análises,chegoua26.
Paraconsumi-lo,bastacortaracoroa(partesuperior dafruta) e separaros
gomos de cima para baixo com uma faca pontiaguda. Quando a fruta está bem
madura,afacapodeatéserdispensada.Guedesexplicaqueosgomosdo"gomo
demel"sãobastanteproeminentes,oquefacilitasuaretirada.Paraconsumir,basta
segurar pela casca e comer orestante do gomo. O caule central também é mais
molequeodafrutatradicional.
O"gomodemel"abrenovosmercadosparaosagricultores.Éumprodutode
maiorvaloragregadoe,assim,poderendermais.Umabacaxinormalrendecerca
deR$0,70porfrutoaoprodutor(em2006).O"gomo demel"rendedeR$1,00a
R$3,00, dependendo do tamanho. O novo tipo tem demonstrado grande procura
interna pelo fruto, mas a oferta ainda é pequena. Por ora, o produto é vendido
apenas na região de Campinas (SP). Com isso, segundo os agricultores, a
expressão"descascaroabacaxi"utilizada paratarefas complicadas,podecairem
desuso.
4.2.2Formasdecomercializaçãoeescoamentodaprodução
Quando o assunto é a organização da produção nos aspectos de
comercializaçãoeescoamentodaprodução, trêspontosdevem serdestacados:a
comercialização dos frutospelos participantes da Cooperativa dos Plantadores de
Abacaxi de Itaberaba (COOPAITA), a tentativa de articulação dos diversos atores
125
sociais envolvidos com o plantio do abacaxi promovida pelo Grupo Gestor do
Abacaxi de Itaberaba que reúne várias instituições de apoio e agricultores, e a
ausênciadearticulaçãorelativaàscompras.
•
ACooperativadosProdutoresdeAbacaxideItaberaba(COOPAITA)
Acooperativatem120cooperados,foifundadaem2001,sendoaúnicado
Brasilemfruticulturaasededicarexclusivamenteàcomercialização.Recentemente
foicriadaumaemBomJesusdaLapaaCooperativadeFrutasdeBomJesusda
Lapa(COOFRULAPA),quecomercializabananas.Temsedenocentrodacidadede
Itaberaba(figuras61e62),àruaRuyBarbosa,384.Possuetelefonefixo,fax,e-mail
ecelularparafacilitaracomunicação.
Figuras61e62–SededaCOOPAITA,CentrodeItaberaba.Jan,2007
Segundoogerentedeproduçãoemercado,quepresidiuaCOOPAITAdesde
afundaçãoatéoanode2005,atuandocomogerentefinanceiroedemercadoaté
2006:
Existeumanecessidadedeviajarconstantementeparaconquistar
novos mercados. As associações existentes na região não têm
finalidade de lucro, são comunitárias com finalidades sociais e
políticas,nãopodendocomercializarprodutos.Porlei,essedireito
sóedadoàscooperativas.
Avantagem de participarda cooperativaé a segurançaquanto à vendada
produção que é comercializada em várias cidades e estados durante o ciclo
126
produtivo,pelaquantidadetotalestimadaparaacolheita.Outragarantiaéopreço:
oscooperadosnãoficamnasmãosdosatravessadoresporqueovolumetotalde
frutos é negociado em conjunto, tendo o valor baseado em cotação no mercado
nacional.
Os produtores procuram fazer parte da cooperativa, mas atualmente a
procura é maior que a capacidade de comercialização. Segundo o gerente da
cooperativa: “é necessário primeiro expandir o mercado para depois aumentar o
númerodeassociados”.A COOPAITAtemplanosdeaumentarmercado.Apoiado
pelo SEBRAE vai às feiras de frutos e rodadas de negócios nacionais e
internacionais no Brasil. Nos últimos anos foram à Expofrut no Rio de Janeiro;
FenafriemPetrolina;FrutalemFortalezaeFeiradeFrutas,LegumeseVerdurasem
SãoPaulo(Sebrae,n
°
157,p.13)
A “bolsa doabacaxi”, normatizada pelo Ministério daAgricultura, atende70
cidadesatravésdePernambuco.OEstadoabriumercadode2001a2005poréma
cooperativa no ano passado resolveu parar devido aos baixos preços baixos
conseguidosatravésdabolsa.SegundoPedroPaulo“opróprioatravessadorpagava
maisqueabolsa”.HojeestãoforadabolsamasseguindoemdireçãodaCEAGESP
em São Paulo no programa “Fruta Melhor Sabor”. Para melhorar a dinâmica da
produção do abacaxi, o Sebrae realiza um trabalho junto com a cooperativa com
foco em três premissas: qualidade dos frutos, cooperativismo e gestão e
comercialização.
Porém, conformedeclarado “o que encareceé oatravessador quecompra,
porexemplo,aR$1,00evendeporR$2,00oumaiseemumdiaganha50a60%”.
A cooperativa está organizando uma visita às centrais dos 550 lojistas de
supermercados no interior de São Paulo. Segundo ele: “Esta central faz pool de
compradiretadosprodutoresparareduzirpreçoseeliminarosatravessadores”.
Mas, mesmo os produtores independentes não precisam procurar
compradoresporqueelesjásabemaépocadacolheita,vêemdeváriosestadose
visitamasplantaçõescomprandodeformadiretodosprópriosagricultores.Segundo
os agricultores, vender não é difícil porque tem fila decomprador no municípioe
pagam na hora. Nos períodos de safra vem 30 a 40 compradores e o produtor
negocia direto com eles. Vêm de Minas Gerais, Tocantins, Paraíba, São Paulo e
váriosoutrosestados.
127
Esseémaisumpontopositivodaplantação:comoasafradeItaberabanão
coincide com a dos outros estados, os atravessadores correm para comprar e
abasteceromercado,conseguindoganhosrelevantes.Paraosagricultorestambém
é proveitoso por que vendem com facilidade a produção mas, se estivessem
organizados, poderiam aproveitar a época em que são os principais fornecedores
paraconseguirumbompreçoparaasafra.
Um ponto importante para fortalecimento da produção seria promover um
trabalho para eliminar o atravessador que termina por ter um lucro maior,
enfraquecendo o agricultor.OSebraetem umprogramadeapoio e orientação da
comercializaçãonomunicípiorealizadojuntoàcooperativaqueatualmentetrabalha
comototaldaproduçãodoscooperados.
Quantoàcomercialização,segundoaCOOPAITA:“faltaaculturadeumPIF
–ProgramaIntegradodeFruto,comselodegarantiaqueexigepackhouseeoutros
equipamentos.Jáfoitentadomasencontrarammuitadificuldadeparaimplantar.É
necessáriooapoiodaEMBRAPA”.
ParaumagrônomodaEBDA,aproduçãoemItaberabaconcentraaofertade
frutosempoucosmeseseomercadonãoabsorvetodaaproduçãoem3meses:
Aschuvasaquisãoemjaneiro,fevereiroemarço.Temqueinduzir
com aterramolhada eforado frio.Seinduzir seco dádefeitoe
deformaçãodosfrutos.DepoisdeagostodáasafradeTocantins
e Paraíba. Conseguevendermas o transportefica por conta do
produtor e aí não compensa. Por isso os produtores estão
preocupadosquechovalogo.
Essetrabalhodecampofoirealizadoemjaneiroeoclimaestavamuitoseco.
Todos estavam preocupados, esperando que chovesse: “se chover de janeiro a
março,osfrutoscrescemtodosdeformaigual.Amudaresisteaosolatéachuva
chegar”.Entãoelecresceecom10ou12mesesesperaachuvamolharaterrapara
induzir a floração de maneira homogênea. O plantio de 2006 está esperando a
chuvaparainduzireode2007estáplantadoesperandoachuvaparaadubarcoma
terraúmida.
128
•
OGrupoGestordoabacaxideItaberaba
O projeto doabacaxi écomandado por um Grupo Gestor quese reúnena
primeira terça-feira de cada mês, em uma sala na sede da EBDA. É um grupo
informal, um “acordo de cavalheiros”, sem valor jurídico, que discute os diversos
aspectos do cultivo, buscando o aumento da produção, melhoria da qualidade e
quantidade dos frutos, melhores formas de escoamento da produção,
sustentabilidade, abertura de novos mercados e, conseqüentemente, a melhoria
socioeconômicaparaascomunidadesprodutoras.
Nas reuniões, técnicos e especialistas de diversos órgãos se reúnem para
discutir os problemas, perspectivas e possibilidades para a plantação. O Grupo é
compostoporrepresentantesdediversasinstituiçõesenvolvidascomaproduçãodo
abacaxicomo:
•
EMBRAPA–semprepresentecom2ou3pesquisadores.Éogerenciadordo
projeto;
•
EBDA–nadiscussãodosaspectostécnicos,capacitaçãoeacompanhamento
daproduçãopelosagrônomos;
•
ADAB – na capacitação e orientação técnicasobre utilizaçãode insumose
defensivos;
•
SEBRAE – na formação de associações, marketing, comercialização e
elaboraçãodeprojetoparaaberturademercado;
•
Banco do Nordeste e Banco do Brasil – com créditos, investimentos e
financiamentos;
•
COOPAITA – comercialização, problemas de abastecimento dos
mercadoserepresentaçãodosprodutorescooperados;
•
Presidente das associações comunitárias – na representação dos
interesseseproblemasdascomunidadesquantoaocultivo;
•
Agricultores em geral e interessados – nos debates sobre os
problemas,reivindicaçõesenecessidadesdaplantação.
Segundo os representantes do Sebrae na reunião do dia 06 de março de
2007:“nasreuniõesnãoexistematas,éfeitoapenasumresumo/síntesedoquefoi
129
discutido.Entretanto,nãosaberíamosinformaradataprecisaemquefoiimplantado
poiséinformal”.
AsreuniõesdoGrupoGestorsãoabertasatodososprodutores,técnicose
interessadospelocultivodoabacaxinoMunicípio.Porsaberemdonossointeresse
peloassunto,fomosconvidadosaparticipardaprimeirareuniãodoanode2007,no
mêsdemarço.Emjaneiroefevereirogeralmentenãotemencontroporquemuitas
pessoassaemdoMunicípioemférias.
Normalmenteparticipamasprincipaislideranças,aexemplodospresidentes
das associações comunitárias ou outros que tenham poder de decisão em sua
comunidade. “O Grupo Gestor chama para participar das reuniões. Isso trouxe
incentivoparaosprodutores”,disseopresidentedaAssociaçãodeBomViver.
SegundodeclaraçãodarepresentantedoSEBRAEemItaberaba:
Desde o ano 2000 quando iniciou o interesse pelo conceito de
desenvolvimento local Integrado e sustentável, se pensou em
trabalhardemaneirasistematizadacomasinstituiçõesdeapoioa
umadeterminadaatividadeparaqueosesforçosfossemsomados
eosresultadosmultiplicados.Desde2001oSebraetrabalhacom
o desenvolvimento local para criar governança para as
comunidadesatravésdoSIGEOR,ecomeçouamontarosGrupos
Gestores.
O SEBRAE tinha elaborado desde de 2001 o “ProjetoFruticultura de
Itaberaba”paraapoiaraproduçãodefrutasnomunicípio,principalmenteoabacaxi.
O projeto teve início de forma mais consistente a partir de 2003 com reuniões
mensais,mascertamenteoGrupoGestorseconsolidoucomainserçãonoSistema
deGestãoEstratégicaOrientadaparaResultados–SIGEOR,noanode2006.
OSIGEORconsisteemumdocumentoondetodososparticipantesdoGrupo
Gestor se comprometem a desenvolver e executar ações de acordo com as
competências em prol do desenvolvimento e crescimento da atividade, sendo
necessáriotambémenvolvimentodopúblico-alvobemdefinidoecomprometidocom
oprojeto.
Conforme declarado pela representante, antes disso, não havia muita
organização,asaçõeseramdefinidasconformesurgiamasdemandas,porém,com
asdiretrizesdoprojeto:
130
Asaçõessãodiscutidaseplanejadascombastanteantecedência
e ao iniciar o exercício fazemos uma revisão e os ajustes
necessários E nas reuniões mensais sempre fazemos avaliação
do mês anterior e projeções futuras. Vivemos numa sociedade
dinâmicaeplanejamentotemsemprequeservistoerevisto.
Segundoumagrônomoeagricultorquetrabalhacomprojetosdeviabilidade
agrícolanaregiãohá11anos:
Organizar a produção e a comercialização e uma política
governamentaldepreservaçãoambientalsãofundamentaispara
o equilíbrio sustentável da região. Não existe organização da
produção por parte dos agricultores, existe solidariedade no
trabalho. Eles incentivam uns aos outros a plantar, em alguns
casos até oferecem as mudas para o primeiro plantio, fazem
mutirões, contratam uns aos outros para diversas etapas do
plantioquandoénecessáriamaismão-de-obra.
Conclui-sequeexistemuitaajudamasfaltaempreendedorismo. Noquediz
respeitoàscompras,nadaéfeitoemconjunto.Umprodutorlocal,quejátrabalhou
também com associações e cooperativas na região diz que a própria cooperativa
nãotemessavisãoporquequersercooperadomasaindanãofoiaceito.Achaque
a cooperativa tem que crescer em número de cooperados e em rede de
relacionamento,masacreditaqueelestêmmedodaresponsabilidade
.
•
Anecessidadedeorganizaçãonascompras
Umdospontoscríticosnaorganizaçãodaproduçãodoabacaxidizrespeito
àscomprasquesãotodasrealizadasdemodopulverizado.Cada um compraseu
adubo, defensivo, mudas, o que, seguramente, aumenta os custos. Se, juntos,
comprasseminsumosemquantidade,opreçoseriamenor,oquebaixariaoscustos
de produção que são altos no abacaxi. A proximidade das plantações poderia
contribuir para esse sistema, mas não existe organização. Todos os fatores
contribuemparaaexistênciadeumaunidaderepresentativa,mas,especificamente
noterritóriodoabacaxiemItaberaba,éumaquestãocultural.
A cooperativa trabalha só na venda, tendo como objetivo apenas a
comercialização.Nascomprasdeprodutoseinsumos,mesmoparaoscooperados,
não tem interferência, o que poderia gerar uma grande economia para os
produtores.Tambémaindanãoexportam,asvendassãointernasnoBrasil.Comos
estados do Tocantins e da Paraíba, a relação é um tanto diferente: quando a
131
produçãocainosdoisestados,osnegociantesvêmbuscarfrutosemItaberabaeo
contráriotambémacontece.
Em poucos casos, 2 ou 3 plantadores se reúnem e compram adubos e
defensivosdiretamentedasfábricasou emFeiradeSantana,reduzindooscustos
de produção. Mas ainda é caso é raro. Na realidade, o que falta é uma visão
empreendedora em Itaberaba, quase todos são pequenos agricultores familiares
semculturaempresarial.Paraeles,empresaéacooperativa.
NoTocantins,estadoquetambémproduzabacaxi,jáexistemcincofazendas
com
packhouse
(espaçopós-colheitaparafazerostratosfito-sanitários,procederà
seleção de acordo com as normas do mercado e embalar os furtos para serem
entregues aos compradores) e alguns exportadores. Itaberaba exportou em 2004
atravésdoTocantinsecomumaquantidademaiorqueaParaíba,queproduzhá40
anos.Barreirasvai fazer umacentral de abastecimento de alimentose compraro
abacaxidiretodeItaberaba.
•
Beneficiamento
O beneficiamento doabacaxi constituium assuntoconstantemente citado e
desejadopelosprodutoresparaaregião.Pornãoserbeneficiado,nãotemquem
compreosfrutosdequalidadeinferiorquenãodápravendermasserviriamparaa
indústria.
Para o Gerente de Negócios do Banco do Nordeste: “Precisaria ter
beneficiamentonaregiãoparaaumentaroincentivoàproduçãoemelhorararenda
dosprodutores,reaproveitandoosfrutosrefugadosnasvendasparaomercadoeos
frutos com defeitos - não com doenças, que é outra coisa”. A necessidade de
beneficiamentocomumaindústriadesuco,umadespolpadeiraparafrutosinferiores
e outros tipos de reaproveitamento, é uma opinião compartilhada pela grande
maioriadosenvolvidosnaplantação.
ParaaComissãoPastoraldoTrabalho(CPT),“oquepoderiacontribuirparaa
sustentabilidade da produção era a industrialização ou beneficiamento. Os frutos
saemtodos’innatura’,deixandopartedoslucrosdaproduçãoemoutrasregiões.”
O editor do jornal regional
O Paraguaçu
, quando perguntado sobre o que
podeserfeitoparamelhoraraprodução,confirmaasituação:“oabacaxinãosair‘in
natura’. Precisa agregar valor com a industrialização e gerar empregos, trazendo
132
melhoria para a população. Já se discute essa possibilidade para as frutas de
terceiracategoria”.
Atualmente, a maioria dos frutos de primeira qualidade são vendidos para
outrosestados.OsdesegundaficamnomercadointernodaBahia.Jáosdeterceira
precisariamtervaloragregadonoprópriomunicípioatravésdaproduçãodesucos,
compotas,cristalizados,doces,balasegeléias,aumentandoolucroeaproveitando
as“safrinhas”eos“temporões”,ouseja,frutosmuitopequenosquenascemforade
épocaenãotêmmercado,sendoalgumasvezesatédescartados.
4.2.3Osimpactosambientaiseasustentabilidade
•
Aimportânciadasmudas(rebentos)doabacaxinapreservaçãodaatividade
Quando se trata de sustentabilidade da produção do abacaxi, um ponto de
preocupaçãodatotalidadedosagricultores,técnicoseenvolvidoscomocultivoéa
questãodasmudasourebentos.Elassãoretiradasdaprópriaplanta,próximasaos
frutos, conforme demonstra a figura 63. Caso entre no município uma muda
contaminadapelafusariose,podecomprometertodaaplantação,comoocorreuno
município de Coração de Maria – Bahia, que já foi o maior produtor e teve a
plantaçãodizimadapeladoença.
Todos os agricultores conhecem esse caso e demonstram grande
preocupação. As mudas têm que ser examinadas cuidadosamente, uma a uma,
buscandopontosqueidentifiquemadoença.Aorientaçãodostécnicos,repassada
pelos agricultores aos novos plantadores, é comprar dentro da própria região, de
pessoasconhecidas,vizinhosouparentes,comhistóricodecultivoconhecidos.Em
nenhumahipótese,receberouadquirirmudasdeoutrosmunicípios.
133
Figura63–Localizaçãodasmudasourebentos
Fonte:CartilhadoMinistériodeAgriculturaePecuária,2002.
Os agricultores recebem orientação técnica da ADAB e EBDA no controle
sanitário, o que foi confirmado pela COOPAITA: “Muda de fora é um perigo. O
plantadorsabeescolherasboas.Cadafrutodá7ou8rebentos(figura63),odono
aproveita um e os outros vende ou dá para outros plantadores iniciantes ou que
estejam ampliando a área de cultivo. A cooperativa tem controle de sanidade na
horadecomprar.VendemosmudasparaoRiodeJaneiro,Jequiéeoutroslocais”.
Em todos os cultivos, as mudas são necessárias só na primeira, e talvez
segundaplantação,porquedepoissãoretiradasdosprópriosfrutos,mantendo-se
no local de onde foram colhidas, reduzindo o risco de contaminação por outras
mudasvindasdeforacomadoença.Esseprocessodereplantefavoreceocontrole
sanitáriolocal,casosejamobedecidasàsinstruções,porquesãotodascultivadas
dentrodomesmomunicípioesubmetidasaosmesmoscontrolesfito-sanitários.
Segundo os agricultores, em 2006 faltou muda por que um novo plantador
comprougrandequantidadedosprodutoreslocais.Opreçoaumentoude30a40%
eaindaassimfaltou.Umagrônomoqueiniciouaplantaçãonessaépocarelata:“os
preçospularamdeR$0,02paraR$0,06eR$0,07aunidademas,feitososcálculos,
concluiquemesmocomessevalorseriavantajosoplantar”.
134
•
Outros fatores de sustentabilidade: a terra, os defensivos agrícolas,
conhecimentoeinformação.
Comoprogressodocultivo,surgea“corridadoouro”,ouseja,muitagente
quer adquirir terra para plantar e o preço vem aumentando muito. O abacaxi em
Itaberabaéumaatividaderelativamentenova,nãovemdeantepassados.Segundo
ostécnicosdaEBDA,osagricultoresprocuramcursosdecapacitaçãotécnicajunto
aoórgãoemudaramosprocessoscomoformadeasseguraraatividadenaregião:
Elessetornammultiplicadoresinformais.Queremfazeranálisede
solo em laboratório para corrigir a terra, aumentar e melhorar a
produção,pensandotambémnofuturodasfamílias.Sabemque,
com os cuidados e as técnicas necessárias, a produção terá
sustentabilidade.
AEBDAeoServiçoNacionaldeAprendizagemRuralAdministraçãoRegional
(SENAR)oferecemcapacitaçãoemcampo,quepodeserrequisitadadeacordocom
anecessidade daépoca e da região (FAEB/SENAR,2007,p.8).OGrupoGestor
convidaosagricultoresparaparticipardasreuniõesmensais,buscandoincentivá-los
com o compartilhamento de novas informações e transferência de tecnologia. Os
que acham que já sabem o bastante, não participam e acabam tendo prejuízos.
Segundo os própriosagricultores, antes elesouviamosvizinhos quandodecidiam
plantar,agoraprocuramostécnicos.
A EMBRAPA e EBDA ensinam a preservar a terra e os cuidados na
aplicaçãodosdefensivosagrícolas.OCNPqvaiiniciaranode2007umapesquisa
sobre o abacaxi irrigado com recursos da EBDA eEMBRAPA, com o objetivo de
oferecerfrutosoanotodoenãoemtrêsmesescomoocorreatualmente.NaParaíba
já existe plantação irrigada com estudo iniciado em 2006 e acompanhado pela
EMBRAPA.
A rádio Rosário FM, a rádio Baiana de Itaberaba AM e rádio FM Chapada
Diamantinaapresentamquinzenalmente,alternadamenteumprogramavoltadopara
oplantiodoabacaxifeitopeloSEBRAE,emumprojetoiniciadoemjaneirode2007.
OJornaldoAbacaxitemduraçãode15minutosejávemprontoparaasrádios.O
objetivoédisseminarnocampoainformaçãoespecializada,divulgandotécnicasde
cultivo,informaçõessobreomercado,cotaçõeseoutras“dicas”importantesparaa
melhoria dos frutos e incentivo à produção. Tivemos a oportunidade de ouvir o
135
segundo programa da série e constatamos que o formato desperta o interesse,
apresentandoumalinguagemclaraedefácilcompreensão.Ogerentedemercado
daCOOPAITAinformouqueapartirdejunhode2007,oprogramaserádiário.
Todos esses esforços em pesquisa, capacitação, compartilhamento de
informação e transferência de tecnologia buscam a sustentabilidade da produção
numaregiãocomreconhecidasdificuldadesclimáticasesobriscodesetornaruma
monocultura.
Asagressõesaomeioambientesãotambémreconhecidascomoameaçaà
sustentabilidade, mesmo pelo pequeno produtor. No elenco dos impactos sociais
nocivos,poderíamoscolocaraaplicaçãodedefensivosagrícolasemprimeirolugar
por atuar diretamente sobre o individuo. Para o presidente do Sindicato dos
TrabalhadoresRuraisdeItaberaba:
Sabemosqueomaiorproblemaénapulverizaçãodedefensivosqueos
trabalhadores não têm a proteção necessária como equipamentos,
roupas e alimentação próprias com ingestão de muito leite, colocando
em risco a própria vida pois em breve terão seguramente muitos
problemasdesaúde.Jáouvimosfalardealgumasocorrênciasnocampo
masnãovieramsequeixar.Osindicatoatendeaquemprocuramasnão
temestruturaparainvestigação.
Existe o problema dos vasilhames de material químico que os plantadores
deixam nas roças. A ADAB tem um projeto para os vasilhames, mas atualmente
pedemquecorteofundoparaquenãoutilizemparaoutrosfinsindevidamente.Têm
lojasquepedemquedevolvam,masprecisariaumaconscientizaçãomaiorquandoà
agressãoaoambientepeloplásticoeoperigodereutilizaçãoparaasaúde.
Em julho de 2007, um agrônomo da ADAB, agência responsável pelas
barreiras fito-sanitárias, controle de pragas e doenças, afirmou já haver uma
conscientização quanto àdevoluçãodosvasilhamesvazios,atéporqueamaioria
daslojasdedefensivostemcomoproprietáriosagrônomoslocaisqueconhecema
importânciadorecolhimentoefazemcampanhasdeincentivoàdevolução.
Quantoaousodeagrotóxicos,ostrabalhadoresdeveriamseguirnormas,mas
não usam roupas próprias e pulverizam perto dascasas. Omesmo agrônomo da
ADAB afirmou, em julho de 2007, estarem fazendo um esforço quanto à
conscientizaçãosobreousodeequipamentosdeproteçãoindividual(EPI)através
136
depalestrasqueforamintensificadasnesseúltimoano.Opresidentedaassociação
deBomViverdemonstroupreocupaçãocomosquetrabalhamnapulverização:
Deveriam seguir normas, mas não usam roupas próprias e
pulverizampertodascasas.Oventopodetransportarparadentro.
Os vasilhames de defensivos são pedidos pelas lojas para que
devolvam.AADABtemumprojetoparaisso.Atualmentepedem
que corte o fundo para que não utilizem para outros fins
indevidamente.
Outroproblemaapresentadopelopresidentedosindicatoéotransportedos
trabalhadores.Nocampo,alocomoçãoéfeitaapé,demoto,ounascaminhonetes.
Oproblema,segundodeclarou,équeagoraascaminhonetesD10eD20vêmpegar
opessoalnacidade,fazendootransportepelasestradasprincipaissemnenhuma
segurança:
Muitosvãoemmotosprópriasesemadevidaproteçãotambém.
Agora todo mundo tem moto por que fazem um consórcio na
cidade,dãoumlanceepegamamotologo.Comoqueganham
dá para pagar a prestação. Não existe um trabalho de
conscientização e orientação dos trabalhos específicos para a
plantação do abacaxi apesar de ser atualmente quase a única
geradoraderecursosetrabalho.
Uma fonte de renda quase em extinção é a produção de mel prejudicada
pelos desmatamentos e pelo choque com os agrotóxicos. Segundo um agrônomo
quetambéméapicultor:“aondeoabacaxichegaaapiculturacai.Umenxamecoleta
pólen num raio de 3 km em torno da colméia. Onde tem defensivo a abelha sai,
inviabilizandoaextraçãodomel”.
Conformeexplicadoporele:
Quando o abacaxi flora,tem que pulverizar por que a flor é ‘um
ferimento’naplanta,umaportaabertaparaummardedoenças.O
defensivoafastaasabelhas,inviabilizandoaapicultura,Masaqui
na região preferem o abacaxi por que tem maior adaptação ao
soloeclimaseco.
Os agricultores confirmam a necessidade do uso de defensivos por ser
impossíveldetectaranecessidadeapenaspelaaparênciadosfrutos:
Os frutos mantêm uma aparência sadia, mas a doença fica na
parte internanão podendoserpercebida.Só épossíveldetectar
quando o fruto é aberto e não podemos correr o risco de ter a
produção devolvida depois da venda, comprometendo a
credibilidadedaregião.
137
Segundoinformaçõesdaregião,oabacaxinãoentrounomunicípiodeRuy
Barbosa, vizinho a Itaberaba, por causa do desmatamento. Tem um grupo de
apicultores organizados, com boa produção de mel que fez frente ao cultivo. O
sindicato dos trabalhadores que discute as atividades do município e a Escola
Família Agrícola, reconhecida na região por ensinar aos jovens uma produção
agrícolapormeiosmaisnaturais,nãoincentivaramocultivo.Ascomunidadesbem
organizadaspreferiramnãocolocaremriscoasatividadesexistentes.
Num resumo dos problemas socioambientais mais citados, podemos
apresentar:
1- osdesmatamentos
2- o trabalho desorganizado, fora das normas de segurança e sem
nenhumvínculoempregatício.
3- ousodeagrotóxicos
“Senãotomaremcuidado,asterrasdomunicípiovãoficarabandonadas”,diz
um agricultor, demonstrando preocupaçãoquanto aofuturo da região. Asfamílias
não pulverizam as próprias plantações, elas contratam outras pessoas que, na
maioria dos casos, não receberam treinamento técnico especifico: aprenderam
empiricamentecomoutrosquefaziamomesmotrabalho.
Os locais pulverizados devem ficar três dias sem que ninguém entre nas
plantações mas as casas são muito próximas. Existe vento forte na região e o
venenopodeserlevadopeloventoparaascasas,masosagricultoresparecemnão
ter essa consciência. As cisternas são construídas ao lado das casas e das
plantações. “Será que não ficam contaminadas pelo solo? Não aparece nenhum
órgãofiscalizador,oIBAMAnãovemaquifiscalizarenuncaprocurouosindicatoou
adelegaciadotrabalho”,dizumagricultordemonstrandopreocupação.
“Para melhorar a vida dos plantadores, acho que deveriam começar a
trabalharcomprodutos-adubosedefensivos-orgânicosemvezdeagrotóxicos.Dá
maisvaloraosfrutosenãoagrideasaúdeeanatureza”,comentaopresidentedo
sindicatodostrabalhadoresrurais
.
Segundoele,umaempresadeSãoPauloligou
falando sobre produtos não tóxicos. O assunto seria abordado em assembléia
mensaldosindicatoqueérealizadaacadafinaldemêsereúneumamédiade200
pessoas: “vão me ligar depois para saber o nível de interesse e então mandam
primeiro um fax com os produtos e preços e depois um representante para fazer
reunião incentivando o uso”. Nota-se, então, mais um caso de interesse das
138
empresasdeSãoPaulopeloabacaxideItaberaba,caracterizandoomunicípiocomo
grandeprodutor.
Percebe-senaregiãoumapreocupaçãocomapreservaçãoambientalnoque
dizrespeitodiretamenteàprodução,masapreocupaçãocomanascenteeamata
ciliarorioParaguaçu,estárestritaaostécnicos. Paraoutroagrônomo“chove até
maisqueantes.Matanãofazchover,elaconservaosoloúmidoedistribuimelhora
chuva.Secasempreteveechuvasemprevaiter,sóquenãonosmesmosmesese
damesmaformadistribuída”.
Existeumapreocupaçãogeralpornãohaverum projetodepreservaçãodo
meio ambiente para o município ou para a região do abacaxi, mas estão
sensibilizados de que precisaria ter controle ambiental, criando instrumentos que
orientemacomunidadeparaumaboagestãoeparaaconseqüentesustentabilidade
dasatividades.“Noanode2006,osnegóciosdedesmatamentocaíramemfunção
do preço da terra. Reaproveitou-se em média 30% por questões de economia”,
informouoagrônomoquetrabalhacomtratorespara“limpar” áreasparaoplantio
(figura64)
.
Figura64–Tratorarandoaterraparaplantiodeabacaxiemnovasáreas.Jan.2007.
Asqueimadas(figuras65e66)sãooutraformadeagressãoambiental.Os
agricultores acham que queimar a área antes do plantio é melhor e até foram
orientados tecnicamente como uma forma de combate à fusariose e melhoria da
produçãoporcausadascinzas.Masascinzasqueosagricultoresalegamserboa
para o abacaxi, podem ser substituídas por cálcio e potássio nos adubos. O
139
beneficio “ésó no primeiro ano”,declara um ex-secretáriode desenvolvimento do
municípioeatualmenteparticipantedeumaONGdepreservaçãoambiental.
Figura65–Áreaqueimadaparanovoplantiodoabacaxi.Jan.2007.
Segundo um agrônomo e pesquisador do abacaxi: “existe preocupação
tambémcomafertilidadedosolo.Senaterceiraplantaçãonãotemprodução,nãoé
umproblemaquímico,éabiologiadosolo.Seriamelhorutilizarrestosculturaisde
plantação.Sóqueimamporqueémaispráticoebarato”.
Figura66–Queimadaparaprepararáreaparaplantiodoabacaxi.Jan.2007.
UmdosmaiorespesquisadoresdoabacaxidaEMBRAPAcitouaexistência
demáquinastrituradorasquedissolvemtotalmenteosrestos,nãopermitindoquea
140
fusarioseseinstale“afusariosesóresisteemmassavegetalviva.Nãoéfungode
solo.Acontaminaçãoésópelaplantamesmo”.
Agrandepreocupaçãoécomoaumentodaáreaplantadaavançandosobre
asáreasvirgens.Énecessárioumprogramadeincentivoparacultivarnasmesmas
áreasjáutilizadas,mesmodepoisdeváriosciclosecominvestimentosmaisaltos.
Segundotécnicoslocais“em2006aumentoumuitoaáreaplantada,ficandopoucas
áreasvirgens.Ambientalmente,vemosasplantaçõessubindoencostasempoucos
ciclos”.
ConformeoeditordojornalregionalOParaguaçu:
Omaiorproblemaéambiental.Depoisde3safrasou6anos,os
agricultores abandonam a terra e vão para áreas novas de
caatinga,inutilizandoaanteriorcomdefensivos,afetandoaindao
lençol freático. O jornal já fez várias reportagens sobre isso. A
EBDAestátrabalhandopararecuperarosolo.
Aindanãoexisteumlimitedeáreadomunicípioparaplantaçãodoabacaxi
mas, segundo os agricultores, as plantações de abacaxi são de pequenas áreas,
diferente dapecuária queexigegrandes extensões deterrae maiorinvestimento.
“Itaberaba já tem pouca mata nativa, a pecuária já desmatou bastante para fazer
pastos nos últimos 50 anos”, declarou um agricultor. Mas, para os pecuaristas, a
pecuária não tem agrotóxico, mantem áreas de caatinga e precisa preservar as
áreas sombreadas para o gado: “O abacaxi tira tudo, até os umbuzeiros tão
respeitados pelos sertanejos, e depois que planta tem agrotóxico contaminando o
chão”, afirmam. Se analisado pelo lado da sustentabilidade e agressão ao meio
ambiente,osdoisladosestãocertos.
Para os agrônomos, o que existe atualmente é muita capoeira que é
vegetação secundária, não é mata nativa nem original, então não teria muito
problematirarparaocultivo.Segundoeles,oabacaxiavançapelacaatingamasnão
éaáreamaisutilizadaporquequasenãotem,apecuáriaacabouquasetudo.Os
pecuaristas estão migrando para ocultivo do abacaxi em muitos casos, mas não
reduzem os pastos, mantendo-os edesmatando áreas plantadas de caatinga que
nuncaforamutilizadas.
O ideal seria reutilizar as áreas cultivadas, reduzindo a devastação e os
custosdeprodução:“Trabalhoemumprojetoparaplantiopor40/50anosnamesma
áreacomrecuperaçãodosoloatravésdedescanso,rotaçãodecultura,restosdo
141
próprio abacaxi como adubo” declarou um agrônomo da EMBRAPA. Os técnicos
sugeremdecomporaparteaérea,fazendoviraraduboconforme.
Atualmente é comum na região o reaproveitamento e reutilização da terra:
primeiroprocede-seàlimpeza,depoisàqueimaeoreaproveitamento,porqueficou
caroarrendaroucompraráreasnovas.Osagricultoresrecuperamosolomuitomais
porquestãoeconômicadoqueecológica.Comadivulgaçãodaplantação,asterras
subiramdepreçoseficarammuitocaras.Oarrendamentoestábaixoporqueestão
replantando.
Nota-se a falta de um programa de controle ambiental pelo poder público.
Houveépoca,entre10e15anosatrás,queaEBDAdavaapoiotécnicoeoBanco
do Nordeste só financiava plantações em terras novas por que a adubação sem
chuvasnãoresponde,entãosóproduziasafracomsegurançaemterradeprimeiro
plantio.Hoje,porquestõesambientais,asinstituiçõesnãotrabalhammaiscomesse
tipode incentivo. Mas,osagricultoresseguemacreditandoqueasqueimadasnão
prejudicamaterraeoabacaxigostadacinza.Emáreasjáplantadas,acreditamque
protegem de doenças que podem existir: “até o cupim morre quando queima”.
Porém, sabem também que elimina nutrientes da terra e insistem por questões
culturais.
Apesar da preocupação com o meio ambiente, existe a questão da
sobrevivênciadosagricultoresquenãopodemperderocapitalinvestidonoplantio.
Oidealéadubaremépocadechuva,masachuvanãoéseguraepõeemriscoa
colheita. “Estou no primeiro plantio e a chuva atrasou, ainda não veio apesar de
janeiro ser o mês de chuva, o que garante a colheita do abacaxi em Itaberaba”,
declarouWalmir,agrônomoeplantadordeabacaxi.
AEMBRAPAcomoapoiodoCNPqestainiciandoumprojetoparaocultivo
do abacaxi irrigado, aumentado a produtividade e criando safra o ano todo. Uma
plantação modelo será implantada em Itaberaba para estudo e observação dos
efeitos. O impacto socioeconômico e de grande importância, pois, atualmente, de
fevereiro a abril, a renda dos produtores cai devido à entressafra. O investimento
com irrigação será compensado com o aumento da produção e renda para os
agricultores,queterãofrutoscolhidosdeformadistribuídadurantetodooano.
Oabacaxi,mesmosendoumaculturadesequeiro,podeserirrigadodentro
datécnica,obedecendoàépoca,quantidade,evaporaçãoeíndicedesalinidadeda
142
água. “Não pode irrigar demais e tem a vantagem de uma maior produtividade”,
segundodeclaraçãodopesquisadordaEMBRAPA.
OsistemadeirrigaçãovaicaptaráguadorioParaguaçu:“orioéaltamente
veloz,vemdegrandealtitude,podendoterváriasbarragens.Comabarragem,terá
maisáreaspré-determinadasparaasplantaçõesirrigadasparanãoseespalharem
demais no caso de ter bom resultado”, segundo um técnico da EMBRAPA, que
trabalha no projeto. O sistema será por micro-aspersores por ser o de melhor
aproveitamentodosrecursoshídricos,sendobemaceitopeloabacaxiquegostada
águaempossadanacoroacomoaquerecebedagaroaemItaberaba.
•
Planejamentoestratégico,marketingecertificação
Visandoasustentabilidade,oSEBRAEelaborouumplanejamentoestratégico
porexigênciadogrupogestorquetemcomomaiorpreocupaçãoasustentabilidade
daprodução.Pesquisasestãosendofeitasparareutilizaçãode áreasplantadas e
preservaracaatinga.Todomêsoassuntoetrazidoparadiscussão,existindogrande
conscientizaçãodequeavertenteambientalprecisasercuidada.
Para que exista sustentabilidade na produção também é necessária a
prospecção de novos mercados pela cooperativa para que atue também como
reguladoradepreços.Torna-senecessárioummarketingforadaBahia,comoé o
casodauvanoSuldopaís“masnãocomtrioelétricotipo‘festadebaiano’.Temque
sereventodevendamesmo.OCarrefourjáesteveaqui,queria‘daroçaàgôndola’,
semnecessidadede‘packhouse’”,afirmouogerentedemercadodaCOOPAITA.
Alémdisso,outrainquietaçãoapresentadapelosprodutoreséanecessidadedeum
selodequalidadequegarantaaprocedênciaporquevendemosfrutosproduzidos
emoutroslocaiscomosefossemdeItaberabaporseremconhecidospelaqualidade
esabor.
Segundoinformado,oGrupoGestorestátrabalhandocomprojeçãopara50
anosembuscadealternativasparapreservaçãodaatividade,masaindanãoexiste
umdocumentosobreotema.ConformeopresidentedaassociaçãodeBomViver:
“sabemosdosriscoseestamospreocupados.FaçopartedoGrupo,vouatodasas
reuniões. Quanto às expectativas para o futuro da produção, todos esperam que
sejaumaatividadedurávelporquetrouxemuitassoluçõesparaaregião”.
143
Apesardoapoiotécnicoedoscuidadoscomocontroledepragasedoenças,
em julho de 2007, em plena época de colheita, ao visitarmos as plantações no
Município,umtécnicodaADABrelatouque,nassessentaroçasacompanhadaspelo
GrupoGestorequeobedecemtodosospadrõestécnicos,houveramdoisfatosque
chamaramaatenção:
-
um positivo: nessas plantações, 80% dos frutos foram de 1
a
qualidade e
apenas20%de2
a
,semocorrênciadefrutosdequalidadeinferior,demonstrando
que, com o uso de técnicas apropriadas, a qualidade e lucratividade são
conseqüentementeelevadas.
-
Outronegativo:emalgumasdessasplantaçõestidascomo“modelo”,apesar
deobedecerematodasasinstruções,surgiramcasosdefusariose,oqueameaçaa
sustentabilidade da região. Segundo o agrônomo que acompanha a produção do
abacaxihámuitosanos,nessescasosespecíficos,nãohouvefaltadecuidadosou
de obediência às técnicas: “o que pode ter ocorrido é uma resistência ao etrel -
defensivoutilizadohámuitosanosnaregião”.ElesteriamumareuniãonaSEAGRI
com oGerentedeAnálisedeRiscodaEBDAparadiscutirematrocadoprincípio
ativododefensivo.Asplantaçõesestavamtodassobvigilânciadosplantadorespara
comunicarem o surgimento de mais algum caso e a equipe de apoio tomar as
devidasprovidências.
4.2.4Linhasdecréditofederaiscomoincentivoàprodução
As linhas para o abacaxi são as designadas para custeio, ou seja, para
culturascomcicloinferiora2anos,sendoo abacaxicolhidoentre19e20meses
após plantio. As linhas de crédito para a produção em Itaberaba são
disponibilizadas através de recursos especiais do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e Fundo Constitucional de
FinanciamentodoNordeste(FNE),repassadaspeloBancodoNordeste.OBancodo
Brasil local quase não trabalhou com crédito agrícola em 2006 por dispor de
pouquíssimosrecursos,segundoumrepresentantedainstituiçãoduranteareunião
doGrupoGestor.
144
Umagrônomo quetrabalhacomprojetosdeviabilidade rural paraobtenção
de financiamentos diz que “depois do governo Lula não faltam recursos. Para ter
umaidéia,nogovernodoPresidenteFernandoHenriqueCardoso,osrecursoseram
de R$4 milhões, noprimeirogoverno doPresidenteLula foramR$7 milhõese no
finalde2006jáeramR$10milhões”.
Os agricultores procuramos agentesfinanceiros individualmente ouatravés
das associações comunitárias das localidades onde vivem. Anteriormente, com a
TaxadeJurosdeLongoPrazo(TJLP),osjuroserammuitoaltosmasagoraestão
maisbaixos.Semoscréditosficariadifícilparaosagricultoresporqueoabacaxitem
custoaltodeprodução.OvalormédiodospedidosédeatéR$15milporqueacima
exigegarantiasreais.Osfinanciamentossãoparacusteio,podendoincluirmáquinas
comoaradoseoutrosequipamentosparaaberturadesulcosepreparaçãodosolo.
Parafacilitaroacessodosprodutoresaocrédito,oPresidenteLula,quando
assumiu,deurebate(descontodefinanciamento)de80%paraquitaçãodedívidas
preexistentes. Assim, poderiam pedir novos financiamentos com condições mais
favoráveis e juros mais baixos. Segundo o agrônomo e projetista, “os sindicatos
desinformadosincentivamanãopegarcréditoporquepoderiamficarinadimplentes.
Precisamaisconscientizaçãoparaperderemomedodocrédito”.
A política do Governo Federal mudou para beneficiar os pequenos
produtores.Atualmente(janeiro2007)nãotemmaisaTJLP.Osjurossão6,5%ao
ano com desconto de 25% (os chamados rebates) sobre os juros se realizar os
pagamentosatéodiadovencimento.“Osquetinhamdívidasanterioresaogoverno
Lula,tiveramaté80%dedesconto,paraquitaretomarnovosfinanciamentos.Com
isso ficou favorável, mas o sindicato não se atualizou e continua desmotivando a
tomadadocrédito,oqueéumapena”,informou.
Quanto ao tempo para transito e liberação por parte do banco, seriam
necessários30dias,massempredemoraumpoucomais,segundoosagricultores.
Paraobterrecursosparaoplantioentredezembroefevereiro,precisaqueentrem
com os pedidos entre setembro e novembro para estarem com recursos para
preparaçãodaárea.Nocasodoabacaxi,opagamentodofinanciamentoéfeitotodo
deumasóvezapósacolheita,masosjuroscomeçamacontardepoisdaretirada
da4
a
parcela.
Questionados sobre a burocracia, os agricultores responderam que a
documentação, garantias exigidas e outras exigências diminuíram com relaçãoao
145
PRONAF.OsprojetosatéR$50milsãoanalisadosnaagência,oquedaceleridade
aosprocessos.Acimadestevalor,nocasodoBancodoNordeste,têmqueirparaa
Central de Operações (CENOP) em Salvador, o que resulta em longo tempo de
esperaparaliberação.
ComogovernodoPresidenteLula,nãoprecisamaisserproprietáriodaterra.
Agorapodeserposseiroouarrendatárioeapresentarcartadeanuência,ouseja,o
proprietáriodaterradáumaautorização(anuência)aoagricultorparautilizaçãoda
área, ficando o agricultor como arrendatário. Atualmente “as maiores dificuldades
para os agricultores conseguirem financiamento são CPF vencido e falta de
documentospessoais”,dizoprojetista.
Mas,paraosagricultores,oacessoaindae
complicado: “os financiamentos são difícies por que os bancos pedem avalista e
ninguém quer ser. Se a pessoa não é proprietária, o proprietário tem que ser o
avalista.Aificadifícil”.
AslinhasdecréditodoPRONAFC,DeEparaaagriculturafamiliar(tabela
16) são liberadas conforme determinados requisitos como renda familiar, tipo de
utilização (custeio, para cobrir despesas durante um ciclo de até dois anos) ou
investimento(comprademáquinaseequipamentos).
Tabela16–LinhasdoPRONAFparaafruticulturaaplicadasaocultivodoabacaxi
emItaberaba-2007
LINHAS
C
D
E
Rendabrutafamiliar R$3a16mil R$16a45mil R$45a80mil
Liberaçãocusteio R$500,00a4mil AtéR$8mil Até28mil
Liberaçãoinvestimento
R$1,5mila6mil AtéR$18mil Até36mil
Liberaçãototal DeR$2a10mil Máximo:R$26mil MáximoR$64mil
Fonte:BNB,2006.ElaboraçãoAuraBaptista,2007
Segundo o gerente de negócios do Banco do Nordeste, responsável pela
carteiradoPRONAFhá3anos,nãoexistemlinhasdecréditoexclusivamenteparaa
plantaçãodoabacaxi.Osrecursosutilizadossãoparaafruticulturaqueenglobao
abacaxi, porém os prazos de repasses e pagamentos obedecem ao calendário
agrícolaespecíficodaprodução.Nocasodoabacaxi,osrecursossãoparacusteio,
ouseja, cobrem os custos de produção e sãopagosapós vendada safra.Existe
146
ainda, porexemplo, oFNE com financiamentos acima de R$200 mil para médios
produtores,massóoBancodoNordestedispõedosrecursos.
Osprojetosdeviabilidadeparapedidosdefinanciamentossãoelaboradospor
projetistas da própria região, geralmente agrônomos. A maioria dos projetos se
enquadra no PRONAF “C” paraagricultores comrendafamiliar entreR$3eR$16
mil. Exige que resida no local, em regime comunitário e tenha renda bruta anual
médiadeR$9mil.Nocasodeagricultoresquenãotemcomprovaçãoderenda,os
órgãosoficiaistêmqueatestar,sendoemprimeirolugaraEBDAouSindicatoRural,
nãoexistindonenhumdosdoisnolocal,podeseraprópriaprefeitura.
O agricultor pode também ser anuente, ou seja, alguém tem terra ecedeu
para utilização. Segundo o gerente de crédito do BNB “o valor médio a ser
financiado por hectare é de R$8 mil, se a terra não tiver documentos. Se tiver
escritura pode ser mais de R$30 mil por que a terra fica como garantia”. É
necessário ter CPF; endereço; documentos da terra; os três últimos ITR´s pagos;
declaraçãodeaptidão(senãofordonodaterra)quepodeseremitidopelaEBDA
ouSindicatoRural,dizendoquemoranapropriedadeeseenquadranoPRONAF.
Aparentemente, ainda não está tão desburocratizado quanto à necessidade local
pediria.
Umdadointeressanteéacriaçãodo“PRONAFC–mulher”paraasesposas
dosagricultoresquequeiramtrabalharnobeneficiamentodoprodutodaagricultura
familiar.Nocasodoabacaxi,osrecursossãoparaafabricaçãodedoces,geléias,
compotas, abacaxi seco, polpa etc. O banco já tem as empresas parceiras
preparadasparaprestarassessoriatécnicaaosinteressados.Ospedidosprecisam
ser encaminhados sempre através de associações comunitárias. Mas, segundo o
gerentedenegóciosdoBanco,aindanãotevenenhumpedidodessetipodecrédito
emItaberaba,deixandoaimpressãodequeelaspreferemtrabalharnocultivo.
Segundo o gerente de negócios, o PRONAF tem sempre recursos
disponíveis,principalmentedepoisdogovernoLula,alémdoFNEederecursosde
poupançadoprópriobanco:“oacessoaocréditojámelhoroumuito.Aplanilhaagora
ésimplificada.AumentouoenvolvimentodoBNBcomaagriculturadoabacaxipor
quetevemuitainadimplência,eagoraobancoquerterrespaldo”.
ObancofezparceriacomaEBDAeoutrostécnicosquetrabalhamnocampo
comafinalidadedepesquisarosplantadoresquepedemfinanciamento.Existeum
projeto piloto em Fortaleza entre o Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Caixa
147
Econômica Federal que interliga todos os terminais para melhorar o acesso à
informação e cadastro dos agricultores. O projeto é, em breve, instalar esses
terminaisemoutrosEstados,inclusiveaBahia.
148
5CONCLUSÃO
Doexpostoaolongodestetrabalhodepesquisa,conclui-sequeosemi-árido,
com todas as especificidades climáticas, implicando em uma convivência
diferenciada com as condições ambientais, demonstra uma aptidão natural para
determinadasculturas,possibilitandoacriaçãodeterritóriosprodutivoseprósperos.
Ratificamos então que o estudo da agricultura familiar na região do semi-
árido, particularmente através do cultivo do abacaxi no município de Itaberaba,
justificou-se porter modificadoarealidadesocioeconômicadaregião,reduzindo o
êxodorural,gerandotrabalhoerenda,efortalecendoasociedadepelotrabalhoem
conjuntodasassociaçõesecooperativa.
AterritorializaçãodocultivodoabacaxinomunicípiodeItaberabacomprovou
a viabilidade da região pelaadaptaçãodo plantio às condiçõeslocais, produzindo
frutos de superior qualidade, devido exatamente às condições ambientais e
climáticas que pareciam inóspitas e inférteis quando utilizadas para outras
finalidades e sem os cuidados específicos. O abacaxi tornou-se expressão de
identidade local,conforme constatamos nas fotos e frasesimpressas emdiversos
pontosdacidade,mostradasnocapítulo4.
AatualsituaçãodaproduçãodoabacaxivemcomprovaraidéiadeFrançois
Plassard(2005)emquediz:“Nãoexistemterritóriospobres.Existemterritóriossem
projetos”pois,peloquepudemosassimilaraolongodesseestudo,oquefaltavano
municípiodeItaberaba,assimcomoemoutrasregiõessemi-áridasdopaís,eraum
projeto socioeconômico viável. Especificamente no território do abacaxi em
Itaberaba, apesar da falta de apoio por parte da administração pública municipal,
necessáriaeoportunadiantedobaixoíndicedeempregabilidadelocal,ocultivodo
abacaxi frutificou e potencializou positivamente os resultados a partir do momento
em que foi assumido comoumprojeto pelas instituições oficiais de apoiotécnico-
agrícola(EBDA, ADABeEMBRAPA), apartirdadécadade90,setransformando
em uma atividade economicamente representativa, através de um processo
endógenoiniciadopelospequenosprodutoresfamiliareshámaisde30anos.
Emalgunspontosdapesquisa,osresultadosnossurpreenderam:oorgulho
dos produtores familiares da zona rural de Itaberaba, principalmente de Testa
Branca, Lagoa Nova e Bom Viver, por serem agentes ativos de um território
149
dinâmico,reconhecido pelaqualidadedoqueproduz;arelevanteparticipaçãodas
mulheresquesaemdopapeldecoadjuvantesdoprocessoparaassumirumlugarde
destaquecomoproprietáriasdosespaçosprodutivos;adeterminaçãodosjovensem
permanecer no campo desde que encontrem condições de sobrevivência,
conscientes de que a “cidade grande” não tem espaço para eles; a mudança de
paradigmanoquedizrespeitoàstécnicasagrícolascomospequenosagricultores
familiares buscando novas formas de produzir para obter melhores resultados
quantoàqualidade,quantidadedoprodutoeconseqüenteretornofinanceiro;enfim,
umaideologiadistintadaqueacreditávamosencontrare,surpreendentemente,mais
compatívelcomarealidade.
Após esse período de estudos e pesquisas, compreendemos então que
existemopçõesparaaformaçãodeoutrospotenciaisterritóriosnoNordestesemi-
áridoquepossamviraevitaroaprofundamentodasituaçãodepobrezadasregiões
mais afastadas dos grandes centros, transformando governo e sociedade em
coadjuvantes e co-responsáveis por um processo que promova a melhoria da
qualidade de vida em regiões menos privilegiadas pelas agendas de
desenvolvimentoeconômico.
Fica assim ratificada a viabilidadenos aspectos econômicos e sociais, mas
comprovadatambémanecessidadedecuidadosespeciaisnoquedizrespeitoaos
aspectosambientais,buscandoaadaptaçãoaosprincípiosdasustentabilidadecom
atividadeseconomicamenteviáveis,socialmentejustaseambientalmentecorretas,
respeitando-seadiversidadecultural.
A necessidade de uma nova dinâmica socioeconômica para o território do
abacaxinomunicípiomostra-seurgente,principalmentenoquedizrespeitoaomeio
ambiente,àscomprasdeinsumos,àcomercializaçãodosfrutosereivindicaçõesde
carátersocial,implicandoumasomadeesforçosparaaconstruçãodeumterritório
representativo,produtivoesolidário,ondetodossãoagentesativosnoprocessode
construçãodeumnovoespaço,tendooindivíduocomoprincipalresponsávelpelo
seuprópriodesenvolvimento.
Éinquestionávelqueocultivodoabacaxitrouxemelhoriasdecondiçõesde
vida para os pequenos agricultores no contexto atual, recebendo um maior apoio
técnico na área da agronomia. Podemos então imaginar que, se houvesse um
projetomaisabrangenteenvolvendoosaspectosfinanceiros,demarketing,gestão
daprodução,comercializaçãoeexportação,teríamosumaregiãomaisprodutivae
150
com uma maior segurança quanto ao futuro da produção. Comprova-se que a
entrada de linhas de crédito específica incentivou o cultivo do abacaxi como
potencialidade local, ampliando adequadamente a capacidade de financiar as
atividadescomofertadecréditosadaptadosàscondiçõesregionais.
Mas,naatividadeagrícolafamiliaremItaberaba,ocréditonãoseresumeao
maior problemavisto que, ospequenos produtores mantêm uma certaresistência
aosfinanciamentos.Deigualimportânciaestáanecessidadedeapoioaofomento
produtivo, àgestão da produção, ao acessoàinovaçãotecnológica, aomarketing
territorial,àassistênciatécnicacontínuaeaberturadenovosmercados.
Otecidoprodutivoqueincluiagriculturafamiliar,associaçõesecooperativas
precisaserfortalecido,incentivandoapermanênciadohomemnoterritórioondetem
suas relações familiares, sociais e econômicas estabelecidas e consolidadas. Só
assim então, reduzindo a fuga do campo e criando estratégias que superem a
pobreza e a desigualdade, reduzem-se os problemas urbanos das sociedades
modernas.
As lideranças do poder público têm que favorecer o aproveitamento das
potencialidadeslocais,cabendoaosagentesenvolvidos,comvisãoestratégica,criar
meios de sustentabilidade no longo prazo para criar um território socialmente
organizado, transformado em um ator dinâmico e inteligente. Infelizmente no
municípiodeItaberaba,nãoéoqueocorrenaesferamunicipal,ficandoocultivodo
abacaxi limitado à determinação e empreendedorismo dos atores locais. É
necessárioparafortaleceraatividadeprodutivadoabacaxinomunicípio,fortalecero
capitalsocialeagovernançalocalatravésdaequação:
partindonosentidocontrárioàequaçãodas:
Estado+instituições+comunidades=desenvolvimentoeconômicoesocial
Demandascrescentesxrecursoslimitados=desperdíciosocial
151
Assim, noprocesso do cultivodo abacaxi em Itaberaba,pudemos observar
claramente que o capital humano, com as relações baseadas nos princípios da
solidariedade e da convivência comunitária, formou desde o início os pilares do
desenvolvimento alcançado, apesardafragilidadedocapital social e dasrelações
organizacionaisvoltadasparaaprodutividade.Ospequenosprodutoresarticulados
com os técnicos e instituições de apoio foram os descobridores do mapa de
oportunidades da região, comprovando que, mesmo na zona rural em localidades
distantes,sãoaspessoasquefazema diferença equedesenvolvimentodepende
de determinação, talento e criatividade, características inerentes aos seres
humanos.
A elaboração de um planejamento estratégico amplamente divulgado e
compartilhado por todos os envolvidos com o cultivo do abacaxi, incorporando as
questões ambientais e criando perspectivas para o futuro que possam minimizar
riscos seria fundamental para garantir a sustentabilidade da produção, criando
cenários de longo prazo que minimizem as dificuldades climáticas, geográficas,
econômicas e sociais. Apesar de comentarem a existência de um planejamento
estratégico já elaborado para a atividade, não tivemos acesso. Apesar do nosso
interesse e de nos informarem que tinha sido elaborado pelo SEBRAE, não
conseguimosdescobriratéofinaldapesquisa,ondeestaria.Osenvolvidoscomo
citadoplanejamentonãosabiamaocertocomquemestavaenãoexistiadivulgação
algumasobreoconteúdo.
O fato é que idéias e sugestões não praticadas têm muitas na região.
Apresentamos no quadro 7 uma síntese dos programas e ações atualmente em
práticanoterritóriodoabacaxiquetêmefetivamentecontribuídoparaamelhoriae
sustentabilidadedaproduçãodosfrutosemItaberaba.
152
Quadro7-Programaseaçõesexistentesem2006/2007paraocultivodoabacaxiemItaberaba
PROGRAMA
AGENTE
PROPOSTA
EFETIVIDADE
OQUEESTÁSENDOFEITO
PRONAF Bancodo
NordesteeBanco
doBrasil.
Financiaraagricultura
familiar,inclusiveoabacaxi
atravésdaslinhaspara
fruticultura.
Ospequenosagricultores
sãoresistentesaos
financiamentos.Têm
preocupaçãocomdívidase
nãopossuema
documentaçãonecessárias.
Osmaiores,procurammais
osbancosefazemos
financiamentos.
Osbancos,atravésdosagentesde
créditos,estãotentandomelhorara
relaçãocomosagricultoresetiraras
dúvidassobreosfinanciamentos.O
GovernoFederalexigecotasde
repasse.
Abacaxiirrigado
EMBRAPA/CNPq/
EBDA
Produzirabacaxiirrigado
paratersafradurantetodo
oanoemelhorararenda
dosprodutores.
Oprojetoestásendo
implantadoagoraeainda
nãotemresultadosapesar
deaspesquisasnão
indicaremproblemas.
Projetoemimplantação.
GrupoGestor EMBRAPA,
Sebrae,EBDA,
ADAB,agentes
financeiros,
presidentesde
associações
comunitárias,
agricultorese
interessado.
Discussãomensalsobre
osproblemas,novidadese
difundirinformaçõessobre
oabacaxiatravésdos
multiplicadoresdeopinião
quefazempartedoGrupo.
Temtrazidomelhoriase
ofereceumapoioefetivopor
quetécnicoseagricultores
discutemosproblemase
trazemsoluçõescomuma
freqüênciapré-determinada.
Precisariademaiorparticipaçãodos
pequenosprodutoresqueteriamum
ganhocomostemasdebatidos.
153
PROGRAMA
AGENTE
PROPOSTA
EFETIVIDADE
OQUEESTÁSENDOFEITO
Expansãode
mercado
COOPAITAcom
oapoiodo
Sebrae.
Expansãodemercadoem
SãoPaulo(CEAGESP)e
outrosestados.
Participaçãoemfeirasde
fruticulturanoPaís.
Acooperativatem
conseguidoaumentaro
mercadomasessetrabalho
quefoiiniciadoem2006e
exigetempoeinvestimento.
Viagensdogerentedeproduçãoe
MercadoparaoutrosEstados,fazendo
contatos.
Apoiotécnico
poragrônomos
EBDA Ofereceminformaçõese
acompanhamentotécnicoe
agrícolasobreocultivodo
abacaxi.
Comesseapoiolocal,o
cultivopôdecrescer.
Osagrônomosoferecem
todasasinformaçõesaos
novosplantadorese
acompanhamosqueestão
noplantio,quandosão
procurados.
Alémdacapacitaçãotécnica,os
agrônomostrabalhamparaa
sustentabilidadedaprodução,
conscientizandosobrecuidadoscom
contaminaçãodemudas,queimadas,
defensivosagrícolaseoutras
informaçõesimportantes.
Pesquisapara
melhoriada
produçãoe
sustentabilidade.
EMBRAPA Melhoriacontinuada
produçãoe
sustentabilidade.
Têmconseguidomantere
expandiraproduçãoem
Itaberaba.
Fazempesquisasparaconsorciamento
emelhoriasgenéticasdevidoà
preocupaçãoemnãoconcentrarem
umaúnicacultura.
Trituraçãode
restosculturais
EMBRAPA Triturarrestosculturaisdo
abacaxiparaeliminarrisco
defusariose,
transformandoemadubo
Foicriadoumtratorpróprio
paraotrabalho.
Ométodojáestásendoutilizadoem
umaplantaçãoemItaberabacomo
modeloparaapesquisa.
Elaboração:AuraPamponet,2007
154
A hipótese inicial de que o cultivo do abacaxi no município de Itaberaba
conseguiu promover melhorias sociais ficou confirmada. A atividade promoveu a
geraçãodetrabalhoerendadeformainclusivaeparticipativa,propiciouresultados
economicamentepositivos,reduziuoêxodorural,integroucomunidadesemtornoda
atividade,permitindoumsaltodequalidadedevidaparaospequenosagricultores
locais, apoiados em uma cadeia de valor da produção identificada como aptidão
natural local em prol de um objetivo comum: o desenvolvimento socioeconômico
sustentável.
Porém, faz-se necessário o fortalecimento sistemático da organização da
produçãocomaçõesamplasecontínuasde:
a) implementação constante de ações visando o desenvolvimento
sustentáveldocultivoeumainclusãosocialmaisampla;
b) articulaçãodocapitalhumano,socialefinanceiroparaaconsolidaçãoda
atividadeprodutiva;
c) promoçãoedivulgaçãodocultivodoabacaxicomoatividadeapropriadaà
agricultura familiar, criando meios de proteção contra as plantações em
grandesáreas;
d) promoçãodeumamaiorparticipaçãodoabacaxideItaberabanomercado
nacionaleinternacionalcomoincentivoàcontinuidadedaprodução;
e) geração de novas oportunidades de negócios e criação de empregos
atravésdobeneficiamentonoprópriomunicípio;
f) pesquisa e difusão de técnicas agrícolas que levem a uma produção
duráveleprotejamcontraosproblemasdamonocultura;
g) disseminação de propostas relacionadas à preservação ambiental como
formadesustentabilidadedaprodução;
h) e,porfim,elaboraçãoeampladivulgaçãodeumplanejamentoestratégico
com a participação de toda a sociedade local, sobretudo os pequenos
agricultores, para que se tornem agentes ativos e responsáveis pelo
destinodaregião.
Essas estratégias seguramente contribuirão para melhor estruturar a
produção do abacaxi no município, ampliando a representatividade da atividade
como geradora de melhorias socioeconômicas e como agente do tão desejado e
necessáriodesenvolvimentosocioeconômicosustentávelnosemi-áridodaBahia.
155
Observamosque,paraassegurarasoportunidadesparaohomemnocampo
e reverter o quadro atual de desordem social, assim como o abacaxi se tornou
agentedemobilidadesocialemItaberaba,outrasatividadesplanejadaseorientadas
por um projeto, poderiam ser desenvolvidas no semi-árido, baseando-se nas
potencialidades e especificidades climáticas locais. Citamos algumas que foram
observadas durante esseperíodo deconvivência com as comunidades residentes
nazonaruraldomunicípiodeItaberaba:
a) produçãodebromelina,substânciaobtidadediferentespartesdaplantacomo
folhas, suco do fruto, cascas, resíduos industriais e principalmente do caule,
empregada para amaciamento de carnes, clarificação de cervejas, fabricação de
queijos,nopreparodealimentosinfantisedietéticos,notratamentodecouros,na
indústriatêxtilparatratamentodelãenaindústriafarmacêutica(CUNHAetal,2004,
p.171);
b) produçãodemel ederivados(favo, própoliseoutros)favorávelnasregiões
decaatinga;
c) produçãodebroméliasdecorativas,nativasdaregião,comvariedadesflorais
exóticas;
d) produçãodefrutascristalizadasqueexigemclimamuitoseco,solecalorpara
garantiraproduçãodurantetodooano;
e) produção de babosa, também nativa da região, usada na indústria de
produtosmedicinaisecosméticos,segmentoondeéconhecidacomo“
aloevera”;
f) produçãodeoleaginosas como amamonaepinhãomanso, culturastípicas
dosemi-árido,paraproduçãodebiodiesel.
Estaanáliseda atualsituaçãodoterritóriodoabacaxiemItaberabaoferece
uma nova dimensão no conhecimento das possibilidades deviabilização do semi-
árido,mostrandoperspectivasparanovasdinâmicasdeproduçãoquetransformem
as aparentes dificuldades de muitas outras regiões do país em fatores de
potencializaçãodaatividadeeconômicaemelhoriasocial.
156
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166
7ANEXOS
ANEXOA-
Roteirosdeentrevistasutilizadosnapesquisadecampo
SECRETÁRIODEINFRA-ESTRUTURA
Nome: Mandato:
1. Quaisosprincipaisproblemasambientaisrelacionadosàproduçãodo
abacaxiatualmente?
2. Quaisasconquistasdascomunidadesdeplantadoresdeabacaxiemrelação
àspolíticaspúblicascomo:
a)cisternas
b)coletadeáguaparaplantaçãoeusofamiliar
e)energiaelétrica
3. Oquemelhorounomunicípiocomaprodução?
4. Oquepiorou?
5. Existeumprojetodepreservaçãodomeioambienteparaomunicípiooupara
aregiãodoabacaxi?
6. Oqueestásendofeitoparapreservarosolonasáreasplantadas?
7. Oqueestásendofeitoparapreservaracaatinga?
8. Existeumprojetodesustentabilidadeparaaregião?
9. Oqueestásendofeitocomasáreasexauridas?
10.Comoéfeitaacaptaçãodeágua?
11.Qualopercentualdebanheirosecisternasnascasaseplantações?
12.ExistemONGStrabalhandonaregião?Emqueprogramas?
13.Quaisasreivindicaçõesdosprodutores?
14.Houvemelhoriadascondiçõesdevidanazonaruraldoabacaxi?
15.Oquepoderiaserfeitoparamelhoraraproduçãoecomercializaçãodo
abacaxi?
167
SECRETÁRIADEEDUCAÇÃO
Nome:
Desde:
1. Osagricultoresqueplantamoabacaxivãoàescolaousededicamapenasà
plantação?
2. Asfamíliasincentivamosjovensaestudar?
3. Precisoudemaisescolasouaumentouonúmerodealunos?
4. Osjovensecriançastrabalhamtambémnaagricultura?
5. Comocompatibilizamoshoráriosdeescolaetrabalho?
6. Houveaumentodeprocuraporescolasapósoincrementoaocultivo?
7. Osagricultoresfazemalgumareivindicaçãoquantoàeducação?
8. Osmaisvelhosprocuramasescolasousóosjovens?
9. Oquemelhoroucomoincrementoaoabacaxinaregião?
10.Oquepiorou?
11.Oquepoderiafazerparamelhoraroacessoàeducaçãonasfamíliasde
plantadores?
12.Quaisosprincipaisproblemasnaáreadeeducaçãonaregião?
13.Oqueasfamíliaspensamparaseusfilhosnofuturo:continuemna
agricultura?Permaneçamnomunicípio?
168
APOIOTÉCNICO:EBDA
Nome:
Atuadesde:
1. Comocomeçouocultivodoabacaxinaregião?
2. Quando,comoeporquecresceu.
3. Quandosetornouumprojeto(órgãosresponsável)?
4. Osagricultoresprocuramcursosdecapacitaçãotécnica?
5. Quaisostemasmaisprocuradosnoscursos?
6. Aceitamasnovastecnologias(tantoosjovensquantoosvelhos)?
7. Queinstituiçõesfazemosprogramasdecapacitaçãotécnica?
8. Houvereduçãodoêxodorural?
9. Comoestáodesempregonocampo?
10.Comooabacaxisecomportacomafaltadechuva?
11.Existeumlimitedeáreadomunicípioparaplantaçãodoabacaxi?
12.Comoconseguemrecursosfinanceirosparaaplantação?
13.Oqueprecisariaserfeitoparasaumentaraofertadecréditoparaos
plantadores?
14.Existepolíticadepreservaçãodosolo?
15.Existepolíticadepreservaçãodacaatinga?
16.Easterrasexauridas,oqueestásendofeito?
17.Existeprojetodesustentabilidadeparaaregião?
18.Houvemelhoriaparaasfamíliasdeagricultores?
19.Oquemelhorouparaasfamílias?
20.Eoquepiorou?
21.Quaisosprincipaisproblemasdaproduçãodoabacaxi?
22.Oquepoderiaserfeitoparamelhoraraproduçãoecomercialização?
23.Eofuturoesustentabilidadedaprodução?
169
APOIOTÉCNICO:EMBRAPA
Nome:
Atuadesde:
01.Comocomeçouocultivodoabacaxinaregião?
02.Quando,comoeporquecresceu.
03.Quandosetornouumprojeto(órgãosresponsável)?
04.Osagricultoresprocuramcursosdecapacitaçãotécnica?
05.Quaisostemasmaisprocuradosnoscursos?
06.Aceitamasnovastecnologias(tantoosjovensquantoosvelhos)?
07.Queinstituiçõesfazemosprogramasdecapacitaçãotécnica?
08.Houvereduçãodoêxodorural?
09.Comoestáodesempregonocampo?
10.Comooabacaxisecomportacomafaltadechuva?
11.Existeumlimitedeáreadomunicípioparaplantaçãodoabacaxi?
12.Comoconseguemrecursosfinanceirosparaaplantação?
13.Oqueprecisariaserfeitoparasaumentaraofertadecréditoparaos
plantadores?
14.Existepolíticadepreservaçãodosolo?
15.Existepolíticadepreservaçãodacaatinga?
16.Easterrasexauridas,oqueestásendofeito?
17.Existeprojetodesustentabilidadeparaaregião?
18.Houvemelhoriaparaasfamíliasdeagricultores?
19.Oquemelhorouparaasfamílias?
20.Eoquepiorou?
21.Quaisosprincipaisproblemasdaproduçãodoabacaxi?
22.Oquepoderiaserfeitoparamelhoraraproduçãoecomercialização?
46.Eofuturoesustentabilidadedaprodução?
170
PRESIDENTEDACOOPERATIVAE
PRESIDENTESDASASSOCIAÇÕESCOMUNITÁRIAS
LOCALIDADE:
Nomedopresidente:
Presidentedesde:Númerodeassociados:
1. Quantasassociaçõesecooperativasdeprodutoresdeabacaxiexistemna
região
2. Qualopercentualdosassociadosnogeralemrelaçãoaototaldeplantadores
3. Porquenãosãotodosassociadosoucooperativados
4. Qualoníveldeatuaçãodopoderpúblicoemfavordoabacaxi.Comorecebe
asreivindicações?
5. Quaisasmaioresnecessidadesnaproduçãodoabacaxi
6. Quaisasmaiorescarênciasdasfamíliasdeprodutores
7. Qualaorigemedestinodosrecursosdoabacaxi?
8. QuaisasentidadesgovernamentaiseONGSquetrabalhamnaregião?
9. Quaisasconquistascomrelaçãoa:
–
Coletaeobtençãodeágua -Banheiros
–
Cisternas -Outros
10.Qualoimpactodaplantaçãosobreomunicípio?
11.Houvemelhoriadevidaparaasfamíliascomrelaçãoa:
-saúde-educação-moradia-compradeutensíliosdomésticos
12.Comoestáodesempregonocampo
13.Asmulherestrabalhamnaplantação
14.Comoorganizaeaquemacooperativapedeapoiotécnico?
15.Osprodutoresprocuramcursos?Aplicamastécnicasdepois?
16.Comovendemaprodução:
-vendememconjuntooucadaumasua
-ondeecomoconseguemoscompradores:
17.Têmmuitosatravessadores?Comoatuam?
18.Comoeondecompramasmudas?
19.Compramemconjunto(associação)()ouseparadamente()
20.Existemdificuldadesparaaprodução?Quais?
21.Oquemelhoroucomoincrementoàproduçãodeabacaxi?
22.Oquepiorou?
171
23.Oquepoderiasermelhorado?
24.Comoavaliaaorganizaçãodaprodução:oquefaltaparaestarmelhor
organizado?
25.Existepreocupaçãoquantoàsustentabilidadedaprodução?
26.Oqueestásendofeito?
AGENTESDECRÉDITO
BANCO: NOME:
CARGO: DESDE:
1. Existemlinhasdecréditoespecíficasecomrecursosparaaplantaçãodo
abacaxi?
2. OPRONAFtemsemprerecursosdisponíveis?
3. Osagricultoresprocuram?
4. Têmacesso?
5. Qualovalormédiodospedidos?
6. Quantotempolevamparareceber?
7. Burocracia:documentação,garantiasexigidas,...
8. Precisaserproprietáriodaterra?
9. Paraquefinalidadesãoosfinanciamentos?Investimentofixo,plantação,
máquinas,equipamentos?
10.Quaisasmaioresdificuldadesparaconseguirfinanciamento?
11.Oquepoderiaserfeitoparamelhoraroacessoaocrédito?
12.Demodogeral,oquepoderiaserfeitoparaincentivaraprodução.
172
FORNECEDORDEMUDA
Nome:
Cidadeondemorahoje Cidadeondemoravaantes
Temponaatividade Atividadeanterior:
1. Existemmudasemquantidade?
2. Existemtiposdiferentesdemudas?()sim()não
3. Quandoademandaaumenta
4. Comoconsegueasmudas
5. Onde
6. Transportaemveículopróprio
7. Paraquantaspropriedadesfornece
8. Forneceparaoutrascidades()sim()nãoQuais?
9. Existeproblemacomaqualidadedasmudas(doenças,sabor...)?
10.Quecontroleestásendofeito
11.Temapoioouacompanhamentotécnico
12.Dequeórgão
13.Osprodutoresseorganizam(individuaisouemassociação)paracomprar?(
)sim()não
14.Comoseriamelhor?
15.Opreçodasmudastêmvariações?Emfunçãodeque?
16.Oqueatualmentenãoestábomcomrelaçãoàproduçãoecomercialização?
17.Oquepoderiaserfeitoparamelhorareaumentaraproduçãodoabacaxi?
18.Achaqueocultivodoabacaxivaitersustentabilidadenaregião
173
QUESTIONÁRIO–AGRICULTORES
NOME: LOCALIDADE:
Plantaabacaxidesde: Éproprietário?()sim()não
Tamanhodapropriedade:
Horasdiáriasdetrabalho: Oquefaziaantesdeplantarabacaxi
Oqueincentivouaplantar
Comoaprendeu
Recebemapoiodetécnicos()sim()nãoDequeforma? Empresa?
Participamdecursos()sim()nãoQuantosporano?
Éassociadooucooperativado?()sim()nãoPorque?
Quantasvezessereúnemnacooperativa
Seorganizamemassociaçãoparavenderoucomprar()sim()não
Achaqueaplantaçãodoabacaxitemfuturo()sim()nãoPorque?
Temempregadosemalgumafase()sim()não
Quefases:
Quemeiodetransporteutiliza.Épróprio?
Dequemcompramasmudas
Dequemcompramadubosedefensivos
Paraquemvendemaprodução
Oquepodeserfeitoparamelhoraraprodução?
Ondeguardaosfrutosnaépocadacolheita
Oquepoderiaserfeitoparamelhorarvendadoabacaxi?
Ondeecomocoletamáguaparaaprodução?
Eparaousodacasa?
Queremqueosfilhosenetoscontinuemplantandoabacaxi()sim()não
Oquegostariaqueosfilhosfizessemnofuturo?Por
que?
Achaqueaplantaçãodeabacaxinaregiãotrouxemelhoradevida()sim()não
Oquemelhorounaregião?
Oquepiorounaregião?
RecebeuavisitadealgumaONGS()sim()nãoQual?
174
JOVENSAGRICULTORES(até17anos)
NOME:
LOCAL: TRABALHADESDE:
1. Queremcontinuartrabalhandonaplantação?()sim()não.Gosta(
)sim()não
2. Quantashorastrabalhapordia:.....horasTurno: M T
3. Oquegostariadefazernofuturo?
4. Temvontadedesairdaregião?()sim()nãoIrparaonde?
Porque
5. Quercontinuarmorandoaqui()sim()nãoAondegostariademorar?
6. Vaiàescola()sim()nãoQualhorário?MTN
7. Aescolaénacidade()ounazonarural()Emquesérieestá?
8. Comovãoparaaescola?()ônibusdaprefeitura()cavalo()carro
()outros
9. Temdificuldade()sim()nãoQuetipo?
10.Acreditaqueestudoecapacitaçãomelhoramavidadaspessoas()sim
()não
11.Quaisasdificuldadesdaplantaçãodoabacaxi?
12.Oqueachaquemelhorouaquinaregiãocomocultivodoabacaxi?
13.Oqueachaquepiorou?
14.Oquepodeserfeitoparamelhoraraindamaisavidaaquinessaregião?
175
PROPRIETÁRIODETERRAQUEAINDANÃOPLANTAABACAXI
Nome: Local:
Moradordesde: Númerodefamiliares:
1. Oqueproduz?
2. Porqueescolheuaatividadeatual?
3. Porqueaindanãoplantaabacaxi?
4. Quaisasdificuldadesdaplantaçãodoabacaxi?
5. Oquepoderiaserfeitoparamelhorararegião?
6. Oquepiorounosúltimosanosporaqui?
7. Achaqueaplantaçãodoabacaxivaiduraraqui?
8. Porque?
COMPRADORDE/ATRAVESSADORDEABACAXI:
NOME:
CIDADEDEORIGEM:
1. Comoencontrafornecedoresdeabacaxinaregião?
2. Oqueosagricultoresmaiscomentamnahoradavenda?
3. QualoníveldeaceitaçãodoabacaxideItaberaba?
4. Temnecessidadedeaumentaraprodução?
5. Seaumentartemquemcompre?
6. Comoatuaacooperativanahoradavenda?
7. Osprodutoresseorganizamnahoradavenda?Comofazem?
8. Paraquemrevende(instituição)eemquecidade?
9. Achaqueocultivodoabacaximelhorouavidadosprodutores?
10.Oqueachadocultivodaformaqueéfeitohoje(sustentabilidade)?
11.Oquemelhoroueoquepioroucomoaumentodocultivonomunicípio?
12.Oquepoderiafazerparamelhorar(eaumentar)aproduçãoe
comercialização?
13.Qualofuturodoabacaxiemnaregião?
176
AMULHERNOCULTIVO
Nome: Localidade:
Númerodepessoasnafamília:()casal()filhos()filhas()outrosfamiliares.
Quem?
Idadesdosfilhosentre:
Trabalhanaplantação()oucuidadacasa()
Casacom......cômodos.Temluz()sim()nãoBanheiro()sim()não
TV()sim()nãoGeladeira()sim()nãoLiquidificador()sim()não
Antenaparabólica()sim()nãoSom()sim()não
Filhosestudam?()sim()não Aescolaénacidade()ounazonarural(
)
Comovãoparaaescola?Temdificuldade()sim()não
Quetipo?
Querqueosfilhoscontinuemplantandoabacaxi()sim()nãoPorque?
Aquehoraafamíliaacorda?Aquehoradormem?Almoçamem
casa()sim()não
Comofazascomprasdealimentos?
Comofazquandoprecisamiraomédico
Temvontadedesairdaregião?()sim()nãoIrparaonde? Porque?
Avidamelhoroudepoisdaplantaçãodoabacaxi?
Oquemelhorou
Oquepoderiamelhoraraindamaisavidaaquinaregião
177
ONGs,pessoasououtrasinstituiçõesaocultivo:
NOME Telefone:
Sede: Siteoue-mail:
Localidade:
Nomedoentrevistado:
Trabalhanacomunidadedesde:
Áreadeatuação:
Recebeapoiodequeinstituiçõesouórgãos?
Oquepoderiasermelhoradoparaodesenvolvimentoeconômicoesocialdas
comunidades?
Quaisasmaioresdificuldadesencontradasparadesenvolvimentodoseutrabalho
aqui?
Recebemapoiodealgumórgãolocal?
Comoforamaceitospelascomunidadesquandochegaramaqui?
Oqueelesmaisnecessitam
Achaqueoabacaximelhorouavidadascomunidades.Emquesentido.
Oquepiorouparaeles
Oqueelesesperamparaofuturodosfilhosedafamília?
Oqueépiornavidanocampo
Oquepoderiamelhoraravidadocampo
Problemasambientaisdaplantação
Aplantaçãodoabacaxitemsustentabilidade?
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