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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Andiara Valentina de Freitas e Lopes
Orientadora: Dra. Circe Gama Monteiro
Condomínios Residenciais:
novas faces da sociabilidade e
da vivência de transgressões sociais
RECIFE – 2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Andiara Valentina de Freitas e Lopes
Orientadora: Dra. Circe Gama Monteiro
Condomínios Residenciais:
novas faces da sociabilidade e
da vivência de transgressões sociais
Tese apresentada à banca examinadora de defesa no
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Urbano do Centro de Artes e Comunicação da
Universidade Federal de Pernambuco UFPE, como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau
de doutor.
RECIFE – 2008
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Catalogação Biblioteca do Centro de Artes e Comunicação da
Universidade Federal de Pernambuco
Lopes, Andiara Valentina de Freitas e
Condomínios residenciais: novas faces da
sociabilidade e da vivência de transgressões sociais /
Andiara Valentina de Freitas e Lopes.
Recife:
Autor, 2008.
329 folhas: il., fig., tab., gráf., quadros.
Tese (doutorado)
Universidade Federal de
Pernambuco. CAC. Desenvolvimento Urbano, 2008.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Arquitetura de habitação. 2. Condomínios. 3.
Sociabilidade. 4. Habitação - Brasil. 5. Moradia -
Normas sociais. 6. Conjuntos habitacionais. I. Título.
728.2
CDU (2.ed.)
UFPE
728.314
CDD (21.ed.)
CAC2008
-
51
Dedico esse trabalho
a Agamemnon e Deuzinda, meus pais, minhas origens...
a Max, meu marido, meu presente...
e a Lui, meu filho, minha eternidade...
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos que contribuíram direta e indiretamente para a realização
deste trabalho e desde já me desculpar por algum esquecimento.
Gostaria de começar agradecendo ao Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento
Urbano da Universidade Federal de Pernambuco MDU/UFPE e a Fundação Coordenação e
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – que forneceram suporte para o
desenvolvimento desta pesquisa.
Meus maiores agradecimentos e admiração à professora Circe Maria Gama Monteiro,
minha orientadora, pelos ensinamentos passados, pela firmeza nas colocações, pelo diálogo
permanente, mas, sobretudo, pela amizade, generosidade e simplicidade que recebi e retribuo
sinceramente. Obrigada Circe por acreditar em mim.
Ao prof. Antônio Roazzi pela disponibilidade, ajuda com as análises e sugestões que sem
dúvida contribuíram muito para esse trabalho. Aos Professores Luis de la Mora e Paulo Henrique
Martins pelas colocações e sugestões em todas as etapas da pesquisa.
A Andaira Lopes e Klaus Hachenburg e a todo o pessoal da Casullo Design da
Informação; sem eles seria impossível a realização da pesquisa de campo nos moldes como foi
feita.
A todos os professores e funcionários do programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Urbano – MDU. Aos meus colegas de turma e aos que, apesar de não serem da
turma, também foram amigos. Especialmente a Bertrand, Verônica, Ana Luíza, Jeniffer, Gustavo
e Helena
A todos os professores e funcionários do Departamento de Expressão Gráfica,
especialmente Thyana, Iolanda, Gisele, Ana Magda, Vilma, Lílian, Angélika, Bruno, Cris,
Rafaela, Beth, Claudinha e Sena.
Agradeço muitíssimo aos meus amigos que souberam compreender tão bem minhas
ausências. Agradeço especialmente a Adriana Bierwag, Luciana Dantas, Lorena, Silvana e
Henrique. Meus agradecimentos especiais a minha amiga Thyana pela ajuda, sinceridade e
carinho. Valeu Thy você é demais!
Agradeço à minha família: Gilson e Terezinha pelo imenso carinho, preocupação, orações
e pelo apoio sempre presente; Tia Socorro, Paloma e Rodrigo pelo carinho; Adriana, Ariadna,
Andaira e Isaura, minhas irmãs, especialmente a Ariadna, pelos conselhos, presteza e ajuda
sempre; meus sobrinhos lindos e queridos, Lucas, Luiza, Amanda, Lucas, Alice, Nicole, Milena,
Matheus e Nicholas, por tornarem a vida mais doce; Isaura (in memoriam) minha vozinha
querida; Agradeço imensamente a Deuzinda, minha mãe, pelo amor incondicional, pelo carinho,
preocupação e especialmente pela dedicação de uma vida inteira e Agamemnon, meu pai, pelo
amor, imenso apoio em todas as formas e pelas longas conversas que, sem dúvida, contribuíram
fortemente para a elaboração deste trabalho.
Ao meu amado filho Lui que é minha maior alegria e orgulho. Obrigada filho pela
paciência e compreensão de ter uma mãe doutoranda sempre com a cabeça e o coração divididos.
Finalmente, quero agradecer a Max, meu marido, companheiro inseparável e amigo fiel.
Agradeço, sobretudo pelo amor, cumplicidade, confiança, generosidade e tudo que construímos
juntos nesses quinze anos de respeito e comunhão. Agradeço pelas longas horas de conversa e
pelo silêncio confortante de apoio. Enfim, por toda uma vida compartilhada que também faz da
vida acadêmica uma prazerosa jornada.
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI
Eduardo Alves da Costa
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Resumo
Espaços residenciais fechados, chamados condomínios ou gated communities,
representam uma tipologia habitacional em expansão em todo o mundo. Os motivos explícitos
que fomentam essa expansão são a perda da qualidade de vida nas cidades e principalmente da
segurança. A busca por melhores condições de vida passam pela exigência de novas formas de
lazer e de serviços, exigindo estruturas auto-suficientes que acabam por representar também
níveis de prestígio e status social. No Brasil, especialmente nas grandes cidades, a busca por
qualidade de vida insere-se também na busca por segurança traduzida através do controle do
espaço e das pessoas que o utilizam. Esta tese objetiva compreender os problemas e questões que
surgem juntamente com a cultura do morar em condomínios residenciais. Assim, foi necessário
analisar os elementos que estruturam esta vivência e desenvolver investigações para
compreender como estes novos espaços coletivos induzem diferentes formas de sociabilidade.
Um dos principais focos de interesse deste trabalho é a emergência de comportamentos anti-
sociais e a identificada presença de transgressões sociais na vivência dos condomínios. A
pesquisa foi desenvolvida com moradores de condomínios residências verticais e horizontais em
diversas cidades no Brasil, através de um questionário disponibilizado on-line. A metodologia
de pesquisa foi estruturada utilizando a Teoria das Facetas, tanto na formulação de hipóteses,
desenho de instrumentos, como entrevistas e questionários e principalmente pela aplicação de
análises multidimensionais aos dados obtidos. Foram desenvolvidos também análises estatísticas
não paramétricas visando aferir a significância e a predição de certas variáveis no perfil de
respostas. Os resultados indicam que a vivência em condomínios, embora imbuída de uma idéia
de comunidade, não reflete a experiência de ações e laços presentes em uma comunidade. Na
realidade, o estudo sobre socialização demonstra uma vida individualizada dentro de uma
suposta estrutura coletiva, onde os moradores se isentam dos interesses coletivos e a primazia
dos interesses próprios, leva a não observância das regulamentações coletivas. A identificação e
julgamento das transgressões observadas indicam a presença de uma atitude leniente frente a
transgressões ocorrendo no interior dos condomínios, sendo mais severa quando as mesmas
ocorrem em áreas públicas da cidade. Os resultados mostram ainda que as experiências em
condomínios verticais e horizontais diferem significativamente. Esta condição explica ainda a
presença de diferentes percepções de qualidades desejáveis, assim como a presença de
incômodos ambientais, sensoriais e sociais. Finalmente, a tese discute os efeitos de experiências
residenciais baseadas na segregação, atitudes lenientes relacionadas às transgressões e a corrosão
de um sentimento de coletividade.
Palavras chave: condomínios residenciais, condomínios horizontais e verticais, sociabilidade,
transgressões sociais e habitação no Brasil.
Abstract
Closed residential spaces, namely, gated communities or condominiums, are type of
habitations that has been growing all over the globe. The reasons behind such expansion are both
the loss of life quality in the cities and particularly the matter of security. The search for
improved ways of living includes new forms of leisure and services, which demands self-
sufficient structures that convey levels of prestige and social status. In Brazil, especially in large
cities, the search for quality of life also embraces the search for security, which are reflected in
the management of controlled spaces and people that use it. The scope of this dissertation is to
comprehend issues and problems that arise with the practice of living in residential
condominiums. Accordingly, it was necessary to analyze the elements that compose this new
way of life in order to understand how these new collective spaces stimulate different forms of
sociability. One of the main points of interest of this research is the emergence of anti-social
behaviors and social transgressions in the residential condominiums. The research was developed
through the use of multidimensional analysis of data acquired through on-line questionnaires
among dwellers of both horizontal and vertical condominiums from assorted cities in Brazil. The
methodology used was based on the Facet Theory, which includes the hypothesis formulation,
the structure of interviews and questionnaires, and specially the use of multidimensional
analysis. In addition, non parametrical statistical analyses were developed in order to measure
the significance and the prediction of variables in the answers profile. The results indicate that
the living in residential condominium though impregnated by the idea of community do not
reflect the experience of actions and ties found in the life of a community. Actually, the study of
socialization in these condominiums depicts the manifestation of an individualized life inside a
so called collective life structure, in which dwellers neglect the communal interests as well as the
rules and regulations of these spaces. The identification and judgment of observed transgressions
inside the condominiums indicate the presence of a lenient attitude while transgressions in public
areas of the cities are judged more severely. Besides, the results also show that experiences
inside vertical and horizontal condominiums differ significantly. This difference explains diverse
perceptions of desired quality of life and the presence of ambient, sensorial, and social
inconvenience. Finally, the dissertation discusses the effects of such residential experiences
based on segregation, lenient attitudes related to transgressions, and the corrosion of a collective
sentiment.
Key words: Residential Condominiums, Horizontal and Vertical Condominiums, Sociability,
Social Transgressions, Habitations in Brazil.
Lista de Quadros, Figuras e Tabelas
QUADROS
Quadro 1.1 – Quadro comparativo entre Condomínios e gated communities. 57
Quadro 2.1 – Quadro demonstrativo do cruzamento uso x propriedade e possíveis variações. 82
Quadro 2.2 – Distinção entre espaço social, pessoal e coletivo. 86
Quadro 4.1 Quadro comparativo entre o ideal americano e o europeu, feito a partir da livre adaptação do
texto de Jock Young (2002).
127
Quadro 4.2 Quadro esquemático sobre a visão do desviante em três períodos da história, feito a partir de
livre adaptação do texto de Jock Young (2002).
132
Quadro 4.3 – Neoclassicismo e criminologia atuarial (Fonte: Young, 2002: 77). 139
Quadro 4.4 – A transição para a modernidade recente: os conceitos cambiantes de criminalidade e seu
controle (Fonte: Young, 2002: 78).
139
Quadro 4.5 – Principais problemas e conflitos entre moradores de condomínio. 152
Quadro 4.6 – Principais problemas relatados pelos leitores do “Morar Bem”. 153
Quadro 4.7 – Classificação dos principais tipos de transgressão quanto à sua origem. 154
Quadro 5.1 – Processo de mapeamento na Teoria da Facetas. 168
Quadro 5.2 – Esquema da relação entre as facetas. 171
Quadro 5.3 – Os tipos de facetas. 172
Quadro 5.4 – Questionário de motivações para escolha do local de moradia. 175
Quadro 5.5 – Questionário de frequência nas reuniões de condomínio. 175
Quadro 5.6 – Questionário de conhecimento das leis que regem o condomínio. 175
Quadro 5.7 – Sentença mapeadora do estudo de sociabilidades em condomínios fechados. 176
Quadro 5.8 Questionário de sociabilidade em condomínios com os elementos estruturadores e racionais de
respostas.
177
Quadro 5.9. – Tipos e classificações de transgressões condominiais. 178
Quadro 5.10 – Sentença estruturadora de investigação de atitudes frente a situações transgressoras. 179
Quadro 5.11 – Questionário de investigação de atitudes frente a situações transgressoras. 180
Quadro 5.12 Sentença estruturadora de investigação de frequência e julgamento frente a situações
transgressoras.
183
Quadro 5.13 – Questionário de investigação de frequência e julgamento frente a situações transgressoras. 184
Quadro 5.14 – Quadro demonstrativo da amostra da pesquisa piloto. 186
Quadro 5.15 – Distribuição da amostra segundo as cidades, estados e regiões. 191
FIGURAS
Figura 1.1. Anúncio de um edifício em Boa Viagem. Fonte: Diário de Pernambuco, 05/04/1970. 41
Figura 1.2. Anúncio de edifício em Boa Viagem, mostrando a dúvida frequente da classe média acerca do
melhor espaço de morar. Fonte: Diário de Pernambuco, 08/07/1979.
41
Figura 1.3. Vários anúncios por folha de classificados. Fonte: Diário de Pernambuco, 06/07/1980. 43
Figura 1.4. Anúncio de edifício em Boa Viagem com sistema de porteiro eletrônico. Fonte: Diário de
Pernambuco, 06/07/1980.
43
Figura 1.5. Anúncio de um edifício no bairro do Espinheiro. Fonte: Diário de Pernambuco, 04/07/1982. 44
Figuras 1.6, 1.7 e 1.8. Anúncio do edifício Safira, o primeiro no Recife a ter um luxuoso Clube Prive em sua
cobertura à disposição apenas para os condôminos. Fonte: Diário de Pernambuco, 04/06/1989.
45
Figuras 1.9 e 1.10. Matéria publicada na capa do Diário de Pernambuco, divulgando o Recife como capital do
medo. Observe a notícia em destaque ao lado que trata da favelização da cidade. A mídia relaciona a
criminalidade à pobreza. Fonte: Diário de Pernambuco, 12/12/1988 e 25/12/1988.
46
Figuras 1.11. Anúncio de apartamento em Boa Viagem com destaque para o programa do “prédio” e para o
programa da unidade de apartamento em separado. Fonte: Diário de Pernambuco, 08/07/1990.
46
Figuras 1.12 e 1.13. Anúncio de imóvel no bairro do Derby com destaque para e questão dos equipamentos
de segurança. Fonte: Diário de Pernambuco, 29/07/1990.
47
Figura 1.14. Anúncio de condomínio de apartamentos em Boa Viagem. Os incorporadores imobiliários
destacam fortemente Boa Viagem como melhor Bairro da cidade. Fonte: Diário de Pernambuco, 19/01/1992.
48
Figura 1.15, 1.16, 1.17, 1.18, 1.19 e 1.20. Várias imagens de anúncios que apostam na venda do condomínio
fechado como modelo ideal de moradia. Fonte: Google Images.
48
Figura 1.21, 1.22, 1.23 e 1.24. Perspectivas mostrando como será o Alphaville Brennand. Fonte: Google
Images.
50
Figura 5.1 – Diagrama mostrando os modelos mais comuns de interpretação das regiões do SSA. 198
Figura 6.1 Projeção SSA, mostrando as questões de motivações para escolha do local de moradia (projeção
1x3 - 3D), Coeficiente de Alienação=0.10
206
Figura 6.2 – Projeção do SSA para Associados (1x2 - 2D) Coeficiente de Alienação=0.27 218
Figura 6.3 – Projeção do SSA para Referente das ações (1x2 - 3D), Coeficiente de alienação=0.17 224
Figura 6.4 – Projeção do SSA- para Nível Espacial (1x2 - 3D), Coeficiente de Alienação=0.17 228
Figura 7.1 – Projeção do SSA, para Nível Espacial (1x3 - 3D), Coeficiente de Alienação=0.14 250
Figura 7.2 – Projeção do SSA, para Referente das Transgressões (1x2 - 2D), Coeficiente de Alienação=0.22 261
Figura 7.3 – Projeção do SSA, para Nível Espacial (1x2 - 2D), Coeficiente de Alienação=0.22 264
TABELAS
Tabela 1.1 – Roteiro de busca: A Publicidade Imobiliária no Diário de Pernambuco. 39
Tabela 5.1 – Presença de equipamentos de segurança nos condomínio pesquisados. 193
Tabela 5.2 – Presença de equipamentos de lazer nos condomínio pesquisados. 193
Tabela 6.1 – Itens do questionário sobre motivação para escolha do local de moradia. 207
Tabela 6.2 – Variáveis externas plotadas na Estrutura de dados do SSA. 207
Tabela 6.3 – Médias de avaliação da importância dos motivos para escolha do local de moradia. 209
Tabela 6.4 Análise Kruskal-Wallis mostrando a significância entre motivos para a escolha da moradia e os
grupos de respondentes segundo tipo de moradia.
210
Tabela 6.5 – Análise Kruskal-Wallis de motivadores para escolha do local de moradia mostrando as médias
separadas por tipo de moradia do respondente.
211
Tabela 6.6 – Análise Kruskal-Wallis mostrando a significância da relação entre as questões de motivos para a
escolha da moradia e os grupos diferenciados por condição de propriedade.
212
Tabela 6.7 Análise Kruskal-Wallis de motivadores para local de moradia mostrando as médias separadas
pela Condição de Propriedade do respondente.
213
Tabelas 6.8 – Médias gerais da freqüência de Atividades de Sociabilidade. 231
Tabela 6.9 – Análise Kruskal-Wallis de Sociabilidade segundo Gênero. 234
Tabela 6.10 – Análise Kruskal-Wallis de Sociabilidade e gênero segundo médias dos grupos. 234
Tabela 6.11 – Análise Kruskal-Wallis de Sociabilidade segundo Tipo de Moradia. 236
Tabela 6.12 – Análise Kruskal-Wallis mostrando as médias separadas por Sociabilidade e o Tipo de moradia
do respondente.
237
Tabela 6.13 – Análise Kruskal-Wallis de Sociabilidade segundo Condição de Moradia. 238
Tabela 6.14 – Análise Kruskal-Wallis de Sociabilidade mostrando as médias separadas por Condição de
Moradia do respondente.
239
Tabela 6.15 – Conhecimento dos moradores sobre as normas do condomínio. 242
Tabela 7.1 – Médias das frequências de observação de transgressão segundo respondentes de toda a amostra. 255
Tabela 7.2 – Análise Kruskal-Wallis da ocorrência de transgressões segundo os Tipos de Moradia (Vertical e
Horizontal).
258
Tabela 7.3. – Análise Kruskal-Wallis mostrando as médias de percepção de ocorrência de transgressão
separadas pelo Tipo de Moradia do respondente.
259
Tabela 7.4 – Médias dos Julgamentos das Transgressões. 266
Tabela 7.5 – Análise Kruskal-Wallis das questões de julgamento das transgressões segundo Tipo de Moradia.
269
Tabela 7.6 – Análise Kruskal-Wallis de Julgamento das Transgressões mostrando as médias separadas por
Tipo de Moradia do respondente.
270
Tabela 7.7 – Análise Wilcoxon de Julgamento das Transgressões comparando situações de transgressão
dentro e fora do condomínio.
273
GRÁFICO
Gráfico 7.1 – Participação nas reuniões de condomínio. 241
Sumário
INTRODUÇÃO
17
CAPÍTULO 1
CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS: A EMERGÊNCIA DE UM “NOVO” ESPAÇO
URBANO
24
INTRODUÇÃO 25
CONCEITUANDO CONDOMÍNIOS 26
Definições e interpretações 26
Interpretações jurídicas 29
Tipos de Condomínios 32
Condomínios Residenciais Verticais e Horizontais 34
AS ORIGENS DO CONDOMÍNIO RESIDENCIAL NO BRASIL 35
A construção de um desejo: o caso dos condomínios no Recife 38
CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS E GATED COMMUNITIES 51
Condomínios e Gated Communities: origem e contexto 51
Gated Communities: produto das periferias ricas Norte-Americanas 51
Condomínios Horizontais: ricos inseridos em periferias pobres 55
Condomínios Horizontais e Gated Communities: fragmentação espacial e
segregação social
57
Gated Communities e o desejo da homogeneização social 57
Condomínios Horizontais e o desejo da segregação social 59
A disputa por impostos e direito à segregação e as CID’s 60
Medo versus Proteção: condomínios, gated communities e o mito da segurança 62
CAPÍTULO 2
O ESPAÇO COMUM NOS ENCLAVES E CONDOMÍNIOS
65
INTRODUÇÃO 66
O ABONDONO DO ESPAÇO PÚBLICO: ARQUITETURA DO MEDO E ENCLAVES
FORTIFICADOS
67
O abandono do espaço público 67
Os enclaves fortificados 69
DISTINGUINDO ESPAÇO E LUGAR 72
A DICOTOMIA PÚBLICO E PRIVADO NO BRASIL 76
Entre a casa e a rua 79
Espaço comum nos enclaves e condomínios: quando a casa vira rua e a rua vira
casa
82
O Espaço comum e as transgressões no condomínio 83
O ESPAÇO SOCIAL ORDINÁRIO E O ESPAÇO PESSOAL EXTRAORDINÁRIO 84
CAPÍTULO 3
O CONDOMÍNIO RESIDENCIAL: UMA NOVA COMUNIDADE?
88
INTRODUÇÃO 89
BUSCA POR UMA COMUNIDADE ATRAVÉS DA SEGREGAÇÃO SÓCIO-
ESPACIAL
89
A busca por segurança 91
De comunidade à sociedade 93
Distância social versus associação individual 97
Dilemas na busca da “comunidade” 99
A emergência de novas “comunidades” 102
As novas identidades e os novos estilos de vida 104
Novas fronteiras para identidades “líquidas” 106
O CONDOMÍNIO: UMA NOVA COMUNIDADE? 107
Os enclaves garantem segurança? 108
CAPÍTULO 4
TRANSGRESSÃO E CONFLITOS ENTRE MORADORES DE CONDOMÍNIO:
SOCIEDADE, CONTROLE SOCIAL E NORMAS SOCIAIS
110
INTRODUÇÃO 111
SOCIEDADE, CONTROLE SOCIAL E TRANSGRESSÃO 112
Regras, Normas, Leis, Hábitos e Costumes 112
Sociedade e Controle Social 115
Transgressão Social 117
Infração, Violação, Delito e Transgressão 121
Comportamento Anti-Social 123
A “grande” e a “pequena” transgressão 125
MUDANÇAS SOCIO-ECONÔMICAS E DESENVOLVIMENTO DO CRIME 126
Individualismo e Meritocracia: de uma sociedade includente para uma sociedade
excludente
126
A Criminologia e o Desviante: o trajeto da visão do “eu” e do “outro” 130
A Insegurança Ontológica 131
A Díade do Crime 133
A Criminologia Atuarial 134
LEIS QUE REGEM O CONDOMÍNIO 140
O Novo Código Civil Brasileiro (NCC) e a Lei de Condomínio (LC) 142
Inovações do Novo Código Civil 144
O Regimento Interno e a Convenção dos Condomínios e as Decisões da 146
Assembléia Geral
O papel do síndico: eleição, destituição e direitos e deveres do síndico 147
TRANSGRESSÕES E CONFLITOS ENTRE OS MORADORES 150
Conflitos entre os moradores: duas pesquisas sobre transgressões em condomínios 151
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS: EXPLORANDO EMPIRICAMENTE A
VIVÊNCIA EM CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS
160
INTRODUÇÃO 161
PROCEDIMENTOS DE PESQUISA 162
Aprendendo com a experiência 163
Aproximações preliminares ao tema 163
Questionários estruturados e a Teoria das Facetas 164
TEORIA DAS FACETAS E ANÁLISE MULTIDIMENSIONAL 166
Explicando a Teoria das Facetas 166
Mapeamento e Atribuições 167
Três Estágios da Pesquisa 168
Desenhando as Facetas 169
A Sentença Estruturadora 170
A Teoria das Facetas aplicada a presente pesquisa 172
ESTRUTURAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA 173
Investigação
1 Investigação sobre motivações para moradia em Condomínios
fechados
174
Investigação
2 – Experiência residencial e social no condomínio 176
Investigação
3 Atitudes frente a situações transgressoras em condomínios e áreas
da cidade
178
Investigação
4 - Investigando a experiência de transgressões nos condomínios e
julgamento quanto a punições
182
PESQUISA PILOTO: DIFICULDADES E AJUSTES 185
Instrumento Final de Pesquisa: questionário on-line 187
PESQUISA, UNIVERSO E AMOSTRA 188
Descrição da amostra da pesquisa 190
MÉTODOS DE ANÁLISE 194
Análise dos Dados 194
Análise da Estrutura de Similaridade - SSA 195
A interpretação de projeções 195
Análise SSA com elementos externos 199
A Análise do Teste Kruskal-Wallis 199
CAPÍTULO 6
ESCOLHA DA MORADIA, EXPERIÊNCIA RESIDENCIAL E PADRÕES DE
SOCIABILIDADE
201
INTRODUÇÃO 202
MOTIVOS PARA ESCOLHA DO LOCAL DE MORADIA 203
Análise Estrutural dos motivos para escolha de moradias 204
Motivos para escolha da moradia – médias da avaliação geral 208
A influência do tipo de moradia na avaliação dos motivos para escolha de moradia
através do teste Kruskall-Wallis
210
A influência da condição de propriedade na avaliação dos motivos para escolha de
moradia através do teste Kruskal-Wallis.
212
Discussão 214
A ESTRUTURA DA SOCIABILIDADE EM CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS 215
O papel dos Associados na estrutura de sociabilidade 216
Discussão 221
O tipo de ação na determinação de uma estrutura de sociabilidade 222
Discussão 225
O papel do espaço na determinação de uma estrutura de sociabilidade 226
Discussão 228
Sociabilidade – indicação da direção da frequência 230
Explorando o resultado com perfil dos respondentes – teste Kruskal-Wallis 233
EXPERIÊNCIAS FORMAIS DE COLETIVIDADE 240
CAPÍTULO 7
OCORRÊNCIA E JULGAMENTO DE TRANSGRESSÕES SOCIAIS EM
CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS
244
INTRODUÇÃO 245
A ESTRUTURA DA TRANSGRESSÃO EM CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS 246
A OCORRÊNCIA DE TRANSGRESSÕES SOCIAIS NOS CONDOMÍNIOS 247
O papel do espaço na determinação da estrutura de percepção da transgressão 248
Discussão 252
A relação das variáveis externas com a estrutura dos dados 254
A observação da transgressão 255
Explorando e aprofundando resultados 257
O JULGAMENTO DAS TRANSGRESSÕES SOCIAIS 260
O tipo de transgressão na determinação do julgamento das transgressões 260
Discussão 263
O papel do espaço na determinação do julgamento das transgressões 263
Discussão 265
Análise das variáveis externas 266
O julgamento das transgressões – teste Kruskal-Wallis 266
Aprofundando os resultados 268
Aprofundamentos da análise: a significância do julgamento entre transgressões
ocorrendo dentro dos condomínios e no espaço externo
271
CONCLUSÃO
276
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁ
FICAS
290
ANEXO 1
Carta pedido de colaboração e participação na pesquisa
297
ANEXO 2
– Questionário on-line
298
ANEXO 3
– O Novo Código Civil Brasileiro e a Lei de Condomínio
305
ANEXO 4
– Tabelas da análise Kruskal-Wallis
320
17
Introdução
O condomínio residencial é uma tipologia habitacional em expansão em todo o
mundo. O seu crescimento acelerado provém de várias razões, e sem dúvida a promoção feita
pelo mercado imobiliário tem um papel importante na construção do desejo por esse tipo de
moradia. No entanto, não há oferta sem demanda e os condomínios vêm atender novos
desejos e novas necessidades das pessoas à procura de conforto, lazer, serviços e
principalmente de segurança. Os condomínios verticais estão mais presentes no espaço
urbano, maximizando a infra-estrutura existente das cidades e beneficiando um maior número
de pessoas com boas localizações e viabilizando economicamente serviços especializados
1
.
Contudo, com o aumento do número de condomínios, cada vez mais pessoas passam a
viver em um regime de coletividade sujeito ao surgimento de problemas resultantes dos novos
processos de socialização e das novas formas de normatização. Nesse sentido, alguns estudos
recentes revelam a necessidade de entendimento dos problemas e questões que começam a
surgir juntamente com a expansão do morar em condomínios residenciais tanto no exterior
(BLAKLEY e SNYDER, 1997; LOW, 2003) como no país (VELHO, 1982; CALDEIRA,
2000; LOPES, 2000; GALVÃO, 2004). Em outras palavras, condomínios residenciais
abrigam grupos de moradores que convivem com constantes conflitos advindos da ausência
de normatizações claras ou de uma conscientização do respeito pelo espaço compartilhado por
eles.
Esta pesquisa tem como foco a vivência em condomínios residenciais, as formas de
sociabilidade que surgem desses espaços, assim como a experiência com transgressões
sociais, que geram conflitos entre moradores, que passam a apresentar um recolhimento social
1
Os moradores dividem os custos de serviços, segurança e lazer como funcionários, porteiros eletrônicos,
sistemas de segurança, playground, piscinas, salão de festas, entre outros. Dessa forma uma combinação de
interesses que explicam de forma sucinta o surgimento e crescimento dessa “nova” entidade urbana.
18
para não serem incomodados. Consequentemente, ao invés de uma vida em coletividade,
observamos a emergência de uma vida individualizada dentro de uma suposta comunidade de
moradores, que é o condomínio residencial. Além disso, esse tipo de comportamento contribui
também para a emergência de uma atitude permissiva ou de aceitação das ocorrências de
transgressões dentro dos condomínios, abrindo precedentes para novas formas de
transgressões.
Uma questão de fundamental importância para o entendimento dessas questões dentro
dos condomínios está relacionada ao fato de que este traz em sua conformação espacial um
espaço diferenciado, ou seja, o espaço privado-coletivo, que é de propriedade de todos os
condôminos, mas não da sociedade em volta. Esse espaço privado e coletivo ao mesmo
tempo é ambivalente, pois nele as pessoas apresentam comportamentos semelhantes aos
observados tanto em espaços privados como em espaços públicos. E apesar de todas as
vantagens e qualidades propagadas a respeito da vida em condomínios residenciais, os efeitos
negativos desse tipo de moradia são latentes.
Esta pesquisa está inserida num conjunto mais amplo de estudos recentes sobre
condomínios residenciais dentro da perspectiva dos estudos sobre o ambiente construído e
desenvolvimento urbano (BLAKLEY e SNYDER, 1997; CALDEIRA, 2000; LOW, 2003). A
intenção é dar continuidade a esses estudos e focalizar aspectos até então vistos
tangencialmente por estes autores. Essa pesquisa visa assim conhecer o fenômeno da
transgressão em condomínios residenciais, estabelecer seus contornos e mensurar efeitos na
indução de atitudes transgressoras tanto nos espaços dos condomínios como na sociedade.
Condomínio: um espaço ambivalente
A procura por espaços aparentemente homogeneizados, controlados e segregados para
residir nas cidades tem sido amplamente correlacionada a sociedades menos tolerantes com as
19
diferenças e com maiores índices de violência (SENNET, 1996). As populações dos grandes
centros urbanos no mundo têm vivenciado um aumento do medo da vida urbana. Isso é
refletido na procura de novas espacialidades, traduzidas em espaços que tentam contrapor o
problema da violência, através da proteção física, isolando as pessoas dentro de ambientes
controlados como os condomínios, shopping centers, clubes, bancos, entre outros. Esses
novos espaços – chamados por Teresa Caldeira de “enclaves fortificados” – “são propriedades
privadas para uso coletivo e enfatizam o valor do que é privado e restrito ao mesmo tempo em
que desvalorizam o que é público e aberto na cidade” (CALDEIRA, 2000: 258). A vida
nesses enclaves especialmente no condomínio residencial fechado está sendo
correlacionada com o aparecimento de novos comportamentos sociais. Um destes
comportamentos é a desobediência às normas dos condomínios residenciais, que é um
fenômeno mais comum do que normalmente se pensa (CALDEIRA, 2000; LOPES, 2000). É
paradoxal que o condomínio residencial fechado surja como promessa de atendimento a
algumas necessidades (solução para problemas externos, como a violência urbana), ao mesmo
tempo em que surgem dentro deles novos problemas, como a segurança interna. Em suma,
todo o aparato de proteção externa não consegue livrar moradores de problemas quanto à
segurança e tranquilidade internas no condomínio.
Na cidade, fora dos enclaves, nas vias públicas, as pessoas são reguladas por leis e
normas claras e conhecidas da sociedade em que vivem. É muito claro o limite entre o que é
público e o que é privado, bem como o comportamento apropriado nas respectivas esferas,
privada (casa) e pública (rua) (DAMATA, 1997). Dentro dos condomínios, no entanto, a
situação é significativamente diferente. Mesmo sendo o condomínio um espaço privado
regido por convenções, as leis e regimento interno são sistematicamente desconhecidos,
negligenciados e em grande extensão desobedecidos. Isso porque dentro dos condomínios, os
conceitos entre o que é privado e o que é coletivo frequentemente são confundidos. um
20
encolhimento de responsabilidades e geralmente cada morador limita-se a zelar apenas por
aquilo de seu domínio imediato, isto é, apenas sua unidade de apartamento. Ao mesmo tempo
uma expansão de direitos e o morador sente-se proprietário não apenas da sua unidade
residencial (casa ou apartamento), mas também da área comum aos outros moradores.
Nesse sentido, existe uma crença bastante difundida de que normas sociais aplicadas à
cidade não seriam necessariamente válidas dentro de locais privados como os condomínios. É
como se os muros e portões limitassem não apenas o espaço do condomínio em relação à
cidade, mas também isolassem o condomínio socialmente do restante da cidade. Como
consequência, observa-se em muitos condomínios, moradores que se sentem no direito de
poder fazer barulho a qualquer hora do dia, carros são arranhados nas garagens, crianças
dirigem veículos nas ruas internas, animais que causam transtornos e, mais grave,
descompromisso com o pagamento das taxas condominiais comprometendo a administração
do condomínio. Tais práticas que o de encontro às normas em geral, incluindo as leis, as
regras e o bom senso – constituem-se como comportamentos anti-sociais que podem ser
denominados de transgressões.
São exatamente essas transgressões, que muitas vezes passam por atos banais ou
inconsequentes, que serão investigadas nessa pesquisa. Acreditamos que a minimização de
tais atos, acaba por gerar uma cultura da transgressão, na qual desvios de conduta social
passam a ser vistos como ões normais e sem consequências. No entanto, as consequências
são geralmente reveladas em forma de conflitos sociais e de uma inércia relacional (LOPES,
2000), fazendo com que indivíduos que habitem um condomínio residencial, tornem-se
estranhos (SIMMEL, 1987) convivendo dentro de um mesmo espaço coletivo.
Portanto, esta pesquisa procura compreender a vivência em condomínios residenciais e
especialmente sobre a emergência de atitudes transgressoras por parte de seus moradores. O
argumento central desse texto propõe que delitos e infrações cometidas no dia-a-dia dentro
21
dos condomínios residenciais, adquirem maior relevância ao proporcionar as bases
experienciais para a consolidação de uma cultura transgressora e leniente às leis e regras
sociais.
Metodologia da pesquisa
A metodologia empregada nesta pesquisa está fundamentada na Teoria das Facetas
que consiste em uma teoria para desenho, elaboração e análise de instrumentos de pesquisa,
visto que utiliza meios para explicitar e clarificar o universo de pesquisa e suas hipóteses. É
um método de pesquisa que permite o controle de todas as etapas da pesquisa (Capítulo 5).
Foi feita uma opção pelo uso de um questionário estruturado para ser aplicado aos
moradores de condomínios horizontais e verticais. No entanto, devido a algumas adaptações
realizadas após a pesquisa piloto, o questionário foi disponibilizado on-line para proporcionar
um novo direcionamento da pesquisa, que passou a abranger moradores de condomínio em
todo o Brasil, bem como a possibilidade de uma análise comparativa entre moradores de
condomínios horizontais e verticais.
A amostra utilizada foi do tipo intencional, isto é, foi gerada a partir de uma “rede de
conhecimentos”. Esse procedimento solucionou o problema de acesso aos moradores de
condomínio detectado durante a pesquisa piloto. Os dados coletados através do questionário
on-line foram organizados em um banco de dados para utilização do software SPSS
(Statistical Package for Social Sciences). Este programa computacional oferece variados
recursos que possibilitam a organização e realização de diversos testes estatísticos, análise e
interpretação dos dados. Além dos testes estatísticos desenvolvidos pelo SPSS, os dados
foram trabalhados com análises multidimensionais, mais especificamente o SSA (Análise da
Estrutura de Similaridade), que mostra as relações entre variáveis como pontos em um espaço
euclidiano revelando assim regiões e relações na estrutura dos dados.
22
Estruturação dos capítulos
A tese está dividida em sete capítulos. No capítulo 1, são esclarecidas questões
relevantes sobre os condomínios residenciais definições e interpretações quanto a tipos de
condomínios e concepções jurídicas. Esse capítulo situa-se também na discussão internacional
acerca da recente expansão desta tipologia e desenvolve um histórico de sua implantação no
Brasil, sendo resultante de trabalhos apresentados pela autora em congressos internacionais
(IAPS) e nacionais (ANPUR).
O capítulo 2 abre a discussão para a questão do novo espaço coletivo ou comum, fruto
dos “enclaves fortificados” que tem nos condomínios sua versão residencial. O capítulo parte
da discussão sobre a “morte” do espaço público e o desenvolvimento dos enclaves e dos
novos espaços coletivos em seu interior. Esse capítulo faz uma análise do conceito de espaço
coletivo de propriedade privada e uso comum partindo de conceitos estabelecidos como o
de espaço público e espaço privado no Brasil.
O capítulo 3 investiga os conceitos de comunidade e sociedade, através de pares de
temas como: comunidade vs. sociedade, liberdade vs. segurança, distância social vs.
associação individual e local vs. global.
No capítulo 4 são abordadas as questões que envolvem a definição do que vem a ser
transgressão, através do entendimento de questões como ordem social, controle social e
comportamento anti-social, no qual são construídos os tipos de transgressão que serão
pesquisados ao longo do trabalho. Ainda nesse capítulo é feito um estudo das leis que
regulamentam o condomínio, através de uma abordagem comparativa entre a Lei de
Condomínio e o Código Civil.
No capítulo 5 são feitas considerações sobre os caminhos empíricos da pesquisa,
detalhando a escolha teórica da perspectiva metodológica adotada e todos os passos
percorridos e instrumentos utilizados.
23
O capítulo 6 apresenta a análise das investigações sobre os motivos que levam as
pessoas a escolherem sua moradia e o tipo de sociabilidade experimentada pelos moradores
nos dois tipos de condomínios residenciais estudados. Portanto, este é um capítulo que
apresenta aspectos fundamentais para compreender os padrões de vivência nos condomínios
tanto verticais como horizontais. O capítulo apresenta aprofundamentos com a utilização de
testes estatísticos de significância.
Finalmente, o capítulo 7 discute a ocorrência de transgressões sociais, mais
precisamente, com que frequência são percebidas e como são avaliadas pelos moradores de
condomínios. A percepção sobre a ocorrência de atos anti-sociais considerados transgressões,
pode nos fornecer informações relevantes sobre a experiência da vida cotidiana das pessoas
com seus vizinhos ou grupos com quem compartilham espaços comuns e coletivos. Este
capítulo também apresenta aprofundamentos com a utilização de testes estatísticos de
significância, buscando comprovar a relação de diversos fatores externos na conformação dos
resultados.
CAPÍTULO 1
CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS:
A EMERGÊNCIA DE UM “NOVO” ESPAÇO URBANO
25
INTRODUÇÃO
Condomínios Residenciais são vistos, especialmente pela classe média urbana, como
espaços seguros para morar. Elementos de controle e segurança como muros altos, portões,
portaria, câmeras e vigilantes representam barreiras de proteção contra o crime e propiciam
uma vida em segurança, para um grupo de pessoas que partilham uma mesma área. Em
contrapartida, esses elementos de segurança promovem uma separação entre o condomínio
residencial e o restante da sociedade, uma vez que os dispositivos de proteção estabelecem a
separação entre o que está dentro e o que está fora do condomínio.
A primeira parte desse capítulo esclarece questões relevantes sobre os condomínios
residenciais definições e interpretações quanto a tipos de condomínios ao mesmo tempo
em que aponta os Condomínios Residenciais Verticais e Horizontais como objetos de estudo
dessa pesquisa. Em seguida, o condomínio é contextualizado dentro de sua origem e
desenvolvimento no Brasil, em especial na cidade de Recife. A terceira parte estabelece uma
comparação entre condomínios residenciais no Brasil especialmente o condomínio
horizontal, ou condomínio fechado e as Gated Communities norte-americanas, abordando
semelhanças e diferenças entre os dois tipos de habitação e relacionando o impacto dessas
configurações urbanas (enclaves fortificados) na experiência residencial das pessoas. Por fim,
na quarta e última parte são abordadas as origens dessa tipologia residencial no Brasil.
26
CONCEITUANDO CONDOMÍNIOS
Definições e interpretações
O condomínio é uma tipologia residencial recente e em expansão em muitas
sociedades, principalmente nas grandes metrópoles. A palavra condomínio está presente no
cotidiano das pessoas que moram em centros urbanos e, em geral, são veiculados através de
propagandas de televisão, panfletos publicitários e seções de imóveis dos jornais. Nesse
contexto, o condomínio é geralmente um produto a ser vendido e como tal, apenas suas
inúmeras vantagens, quase sempre em consonância com os desejos e demanda do mercado,
são mencionadas. No entanto, devido a essa constante expansão, o crescimento do número de
condomínios poderá trazer impactos sociais e urbanos que, aliados a problemas de ordem
socioeconômica, poderá acarretar um processo de fragmentação e exclusão social e espacial.
O termo condomínio é definido como uma forma de co-propriedade e designa um
espaço físico indivisível que tem propriedade partilhada, isto é, “o direito de propriedade de
duas ou mais pessoas sobre partes ideais de uma mesma coisa indivisa” (MEIRELLES,
1990:18); ou ainda, “domínio exercido conjuntamente com outrem; co-propriedade”
(FERREIRA, 2006). O termo condomínio, na sua origem, designa a igualdade entre os pares
na propriedade privada, na qual todos são donos e têm os mesmos direitos tanto das unidades
de uso privado como nas de uso coletivo:
“No sentido literal mais puro, tem-se o condomínio como a propriedade em comum, ainda em
estado de indivisão, na qual o direito de cada condômino não incide sobre uma parte
determinada ou definida, mas tão somente sobre um quinhão ou fração ideal”
(GERSTENBERGER, 1999: 1).
27
O condomínio se constitui de um edifício, um conjunto de edifícios, ou um conjunto
de casas unifamiliares, ou seja, o conjunto de duas ou mais residências edificadas em um ou
vários pavimentos, independente da natureza residencial ou comercial. Os condomínios de
forma geral possuem dois tipos de regime de propriedade aos quais está sujeito: o da
propriedade exclusiva e o da propriedade comumde onde se origina o termo condomínio. A
propriedade exclusiva, seja ela casa unifamiliar ou unidade de apartamento, é uma unidade
autônoma e de uso privado de um proprietário. A propriedade comum são as demais áreas de
uso coletivo e indivisível, ou seja, de todos os moradores. Todos os moradores que possuem
áreas exclusivas são também proprietários de toda a área comum e o de uma parte em
particular, cabendo a cada um uma fração ideal dessa área comum.
Gerstenberger, em seu livro Condomínio Urbano, ressalta dez características do
condomínio:
“I – deve incidir sobre uma edificação ou um conjunto de edificações, de um ou mais
pavimentos;
II – a edificação e o conjunto de edificações devem estar divididos em unidades autônomas;
III – cada unidade autônoma deve contar com acesso para a via pública;
IV – cada unidade deve conter um sinal de identificação;
V a cada unidade autônoma deve corresponder uma fração ideal do terreno e demais partes
comuns;
VI – a existência de duplo regime dominial;
VII – a inalienabilidade autônoma do terreno e demais partes comuns;
VIII – a indivisibilidade do terreno e demais partes comuns;
IX – a inexistência de direito de preferência; e
X – perpetuidade”.
Mesmo com todas estas características, deve-se ressaltar a diferença básica entre
condomínios residenciais e condomínios comerciais, isto é, enquanto que os primeiros são
destinados apenas à moradia, os últimos têm função estritamente comercial. Contudo, existem
condomínios que são mistos, ou seja, condomínios que possuem uso residencial e comercial
28
ao mesmo tempo. Os condomínios mistos possuem, em geral, lojas comerciais no andar térreo
e no andar superior a este (sobreloja ou mezanino) e nos demais andares seu uso é
simplesmente residencial. Condomínios de uso misto são tipologias comuns, ainda hoje, em
muitas cidades como Londres e Roma. No Brasil, essa tipologia foi muito comum nas décadas
de 1960 e 1970 em áreas centrais de grandes cidades, onde ainda hoje existem alguns
conjuntos mistos. Mas, com o passar dos anos essa tipologia caiu em desuso, deixando de ser
construída.
O foco principal deste trabalho, no entanto, é o condomínio residencial e a experiência
vivida por moradores no seu cotidiano social. Silva (2005), durante o Seminário de Regulação
Fundiária do Ministério das Cidades, classifica os condomínios residenciais em quatro tipos
básicos: 1) condomínio voluntário (comum); 2) Loteamento e Desmembramento; 3)
Loteamento Fechado; e 4) Condomínio Edilício.
O condomínio voluntário é decorrente da manutenção de co-propriedade sobre um
imóvel por duas ou mais pessoas, sendo caracterizado pela indivisão do condomínio e pela
divisão dos proprietários. Cada proprietário possui uma fração ideal, mas na prática cada
proprietário pode dizer-se dono do todo. O condomínio voluntário é muito comum quando um
imóvel é partilhado por herdeiros do antigo proprietário ou quando parentes e ou amigos
decidem adquirir um imóvel comum para usufruir deste conjuntamente, como é o caso de
algumas casas de campo ou de veraneio que são partilhadas por uma mesma família ou
amigos.
O loteamento é a subdivisão de um terreno em lotes destinados principalmente à
habitação, mas também a equipamentos comerciais e de serviço em geral. Nesse caso, a
abertura também de vias de circulação e/ou modificação de vias existentes. As vias de acesso
e os espaços livres criados com o loteamento são de domínio do município, portanto, de uso
29
público. O desmembramento é semelhante ao loteamento, com a diferença de que no primeiro
as vias existentes são aproveitadas, não ocorrendo a abertura de novas vias de circulação.
O loteamento fechado também é semelhante ao loteamento, com a diferença de que o
primeiro possui seu perímetro cercado por muros e portões, sendo o acesso ao seu interior
controlado. Isto faz com que as vias de circulação e os espaços livres sejam de uso restrito aos
moradores e visitantes, ou seja, as vias e logradouros no interior do loteamento fechado são de
uso especial – coletivo ou comum – e não de uso público.
Por fim temos o condomínio edilício, que não possui necessariamente vias de
circulação nem públicas, nem especiais mas que tem áreas de propriedade privada e áreas
de propriedade comum dos condôminos.
Interpretações jurídicas
O condomínio se constitui numa realidade jurídica e no Brasil existem leis específicas
que os regulam. Até janeiro de 2003 vigorava o Código Civil elaborado em 1916. Nessa lei
havia a definição do “condomínio tradicional” que, de acordo com a sociedade da época e
com a forma de governo liberal, protegia a propriedade privada dando poderes quase
absolutos aos proprietários. Em 1964 surge a Lei de Condomínio (Lei Federal 4.591/1964)
que, ainda em vigor, delibera especificamente sobre os condomínios comerciais e
residenciais, em especial o condomínio de apartamentos. A lei de condomínio é ainda
importante porque foi a primeira a detalhar e especificar assuntos relativos ao condomínio tais
como formas de funcionamento, direitos e deveres dos condôminos, tarefas do síndico, entre
muitas outras (ver capítulo 5).
Em janeiro de 2003, entrou em vigor o Novo Código Civil Brasileiro (Lei Federal
10.406/2002). Nesse Novo Código o tema do condomínio aparece bem mais detalhado e
especificado, chegando por vezes melhor a ser até mesmo melhor do que a Lei de
30
Condomínio. Como podemos ver, o condomínio conta com definições bem desenvolvidas
nas leis e é com base nelas que deve ser gerido e interpretado.
Para se constituir um condomínio é necessário que o mesmo seja registrado em um
Cartório de Registro de Imóveis para ser reconhecido e contar com as deliberações das leis
que tratam desse assunto. Para isso, faz-se necessária a elaboração de uma Convenção e um
Regimento Interno, específicos para o condomínio e devidamente aprovados por 2/3 das
frações ideais de moradores que compõe o condomínio. Dessa forma, o condomínio será
oficialmente constituído para a sociedade.
Contudo, o grande problema atualmente não é a definição legal sobre condomínio. O
problema enfrentado pela esfera jurídica recai na dificuldade de definição prática do que vem
a ser “condomínio”. A interpretação jurídica para os condomínios horizontais, por exemplo, é
confusa e contraditória em grande parte dos casos. O condomínio vertical, por sua vez, possui
uma legalidade estabelecida, já que possui legislação específica: a Lei Federal 4.591 de 1964,
mais conhecida como a Lei de Condomínio. Mais recentemente, o Novo Código Civil
Brasileiro, também passou a reger os condomínios verticais. Todavia, quando se trata dos
condomínios horizontais a situação é muito complicada, porque a interpretação jurídica acerca
dessa tipologia é ainda controversa. De acordo com Silva (2004), existem duas opções para
interpretar os condomínios horizontais. A primeira é entender esse tipo de condomínio como
condomínio especial e, portanto, devendo atender a Lei de Condomínios. A segunda seria
entender os condomínios horizontais como loteamentos e que, neste caso, deveriam atender à
Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei Federal
Nº 6.766/79), a qual declara que
:
“As divergências jurídicas e urbanísticas sobre o que pode ser aprovado, registrado e tratado
como condomínio residencial [horizontal] dividem a opinião de juristas e urbanistas no Brasil,
e, conseqüentemente, quanto à qual lei deve atender: à Lei Federal de Condomínios e
Incorporações n.º 4.591/64, ou, às Leis Federais e Municipais de Parcelamento do Solo
Urbano”. (SILVA, M. F. P. S., 2004) [grifo nosso].
31
Nessa pesquisa entende-se que a interpretação mais adequada seria a primeira opção
descrita por Silva (2004), ou seja, interpretar os condomínios horizontais através da Lei de
Condomínios. Esta escolha apóia-se no critério de que o condomínio, para essa pesquisa, é
entendido como uma área que abrange espaços privados associados a espaços comuns do
condomínio, sendo a prerrogativa para ser um espaço comum, a de ser necessariamente
fechado, restringido apenas aos seus moradores e proibindo o acesso ao público externo. Caso
contrário, isto é, se o espaço comum não possuísse fechamento (muros, portões, etc.), isto
permitiria o acesso a todos, tornando-se público e não mais comum aos moradores,
descaracterizando-o como condomínio.
Um caso diferente dos condomínios horizontais são os loteamentos, por se
caracterizarem como espaços privados permeados por espaços públicos, abertos sem
restrições. Porém, os loteamentos que são fechados, são entendidos aqui como semelhantes
aos condomínios horizontais, uma vez que, assim como estes, possuem vias internas que
funcionam como áreas comuns restritas aos moradores e serviços de segurança, limpeza e
conservação prestados por empresas privadas, sendo as despesas rateadas pelos moradores.
Dessa forma, temos duas realidades diversas: o condomínio horizontal ou loteamento fechado
e o loteamento, como bem explica Oliveira:
“O condomínio não se constitui como um tipo de parcelamento urbanístico do solo, do ponto
de vista jurídico. Condomínios são conjuntos construídos dentro de um mesmo terreno, o qual
é propriedade de todos. Pequenos ou grandes conjuntos construídos são condomínios quando
todo o espaço de uso comum, como acessos, ruas, praças, infra-estrutura e equipamentos
implantados, é propriedade e responsabilidade do conjunto de moradores, os condôminos. A
gleba, assim utilizada, não perde sua individualidade, diferentemente do loteamento, onde
uma parte do terreno transforma-se em lotes privados e outra parte se integra ao espaço
público da cidade” (OLIVEIRA, 2000: 2, citado por SILVA, 2004:32).
32
Talvez, devido à incerteza quanto à melhor definição jurídica, o condomínio
horizontal possua tantas designações: condomínios fechados, condomínios especiais,
loteamentos fechados, loteamentos especiais, condomínio de fato, condomínio exclusivo e
condomínio horizontal (SILVA, 2004), sendo esta última a definição escolhida para essa
pesquisa.
Tipos de Condomínios Residenciais
De forma geral, os condomínios residenciais podem ser divididos em dois grandes
tipos: Condomínios Verticais e Condomínios Horizontais. Os Verticais foram durante as
décadas de 1960 e 1970 muito procurados pelas camadas médias urbanas brasileiras
(VELHO, 1982). Em razão disso são mais comuns e numerosos, tanto porque são mais
facilmente adaptáveis ao tecido urbano das grandes cidades, como porque podem atender a
diferentes classes sociais, variando no tamanho da lâmina das unidades e na oferta de lazer e
serviços.
Os Condomínios Verticais geralmente contam com equipamentos mínimos e essenciais
como hall, escada, garagem, elevador, guarita e portaria, mas podem chegar a incluir
equipamentos de lazer e prática de esportes como, por exemplo, piscina, playground, quadra
de esportes e salão de festas. Em suma, áreas abertas e comuns a todos os moradores,
oferecidas como opções para o convívio e relacionamento com outros moradores. Contudo, na
prática jurídica, tanto os condomínios verticais mais simples como os mais sofisticados são
interpretados como condomínios, nos quais os moradores possuem direitos e deveres com
relação ao condomínio e com relação a outros moradores.
Os Condomínios Horizontais, por outro lado, se constituem em um conjunto de casas,
ruas e áreas livres cercadas por equipamentos de segurança como muros, portões, guaritas,
cercas elétricas, entre outros. Os condomínios horizontais são uma tipologia também em
33
crescimento. Porém, como carecem de uma área maior para serem instalados ficam, na
maioria das vezes, mais afastados dos centros das cidades. Isto ocorre, no entanto, sem
dificuldade de acesso para quem reside nesse tipo de espaço, uma vez que estes nascem
dentro da nova lógica de acessibilidade da cidade.
Os condomínios horizontais, não raras as vezes, são provenientes de loteamentos
fechados, legais e ilegais. Os legais foram assentados em terras legalizadas e reconhecidas
pelo governo. Os ilegais foram assentados de forma irregular, ou em áreas não reconhecidas e
regularizadas pelo governo. Essa discussão é bastante complexa hoje no Brasil, e não há ainda
um consenso de como essas áreas irregulares devem ser tratadas pela justiça, havendo,
portanto, muitas interpretações sobre o assunto.
A principal característica dos Condomínios Residenciais Verticais e Horizontais aqui
pesquisados é a presença de áreas de uso privado e de áreas de uso comum ou coletivo.
Consequentemente, uma característica fundamental dos condomínios é o fechamento físico,
muros, grades, portões. Outra característica importante é a escolha referente ao ato voluntário
por viver em condomínios e o que essa escolha traz em seu bojo, isto é, a escolha por
segregar-se atrás de barreiras físicas e simbólicas.
As áreas privativas são, naturalmente, de uso exclusivo de cada morador e sua família
e amigos e seu acesso é restrito ao proprietário, familiares e convidados. Nos Condomínios
Horizontais as áreas de uso privado são as casas térreas que eventualmente podem possuir
jardins e quintais também privativos e nos Condomínios Verticais, as áreas privadas são as
unidades de apartamentos.
A área comum, como diz o próprio nome, é de uso comum, coletivo, ou ainda
condominial, o que significa que seu uso se estende a todos os moradores, familiares e
convidados. Essas áreas tanto podem ser aquelas necessárias ao acesso dos moradores, como
locais destinados ao lazer e esportes. Para ambos os tipos de condomínios, as áreas comuns
34
são playgrounds, salões de festa, piscinas, quadras de esportes, áreas verdes, garagem, entre
outras. No caso dos Condomínios Verticais, esses possuem a mais: elevadores, hall,
corredores e escadas, que são também de uso comum. Nos Condomínios Horizontais as ruas,
calçadas, parques e demais áreas livres são de uso de todos os moradores.
Como se pode ver, os condomínios são caracterizados por áreas privadas cercadas por
áreas de uso comum, sendo estas circundadas em seu perímetro por barreiras físicas,
geralmente muros, grades e portões. A diferença maior entre os Condomínios Horizontais e
Verticais está na forma, que resulta, no caso dos Horizontais, na reprodução de formas
normalmente pertencentes à cidade como um todo, como é o caso das ruas, calçadas e praças
existentes no interior desses condomínios.
Condomínios Residenciais Verticais e Horizontais
Uma vez que esta pesquisa objetiva estudar o fenômeno das transgressões, que em
grande parte são experienciadas nos espaços comuns dos Condomínios Residenciais
(elevadores, escadas, ruas, praças, parques e áreas de lazer), é necessário definir o que se
entende aqui como condomínio. O Condomínio Residencial focalizado nesta pesquisa pode
ser delimitado segundo alguns critérios. Portanto, foi estabelecido que os condomínios
estudados deveriam possuir fechamento por muros ou grades e possuir espaços comuns, tais
como: estacionamentos e áreas de circulação, áreas verdes, áreas comuns de lazer, etc. Dessa
forma, os dois últimos tipos classificados por Silva (2005): o loteamento fechado e o
condomínio edilício preenchem esses requisitos.
Tanto Loteamento Fechado como o Condomínio Edilício são trabalhados aqui como
sendo Condomínios Residenciais. Isso porque, na verdade, a diferença entre ambos está tão
somente na forma. O loteamento fechado que de agora em diante será chamado de
Condomínio Horizontal – é caracterizado por uma ocupação horizontal de casas unifamiliares,
35
em alguns casos podendo ser a ocupação mista, composta de casas e edifícios de
apartamentos. Cada casa pode ou não possuir jardim e quintal de uso privado, exclusivo.
Contudo, as ruas, calçadas, parques e o restante das áreas livres são de uso comum de todos os
moradores.
O condomínio edilício ou de apartamento de agora em diante chamado de
Condomínio Vertical é caracterizado pela construção de um ou mais edifícios residenciais
em um terreno. Nesse caso, mesmo quando não ruas, calçadas ou praças, há espaços
comuns que propiciam o encontro dos moradores.
Com a escolha por trabalhar com Condomínios Residenciais, a classe social fica mais
ou menos delimitada também, uma vez que para residir em condomínio especialmente os
Condomínios Horizontais – é necessário um poder aquisitivo característico das classes médias
e média alta. Portanto, a classe social trabalhada na pesquisa é resultado do critério adotado
para escolha de condomínios com áreas comuns de lazer. Outra observação deve ser feita
quanto à questão dos Condomínios Horizontais, que possuem experiências espaciais que
podem ser consideradas semelhantes em alguns aspectos com outros contextos e culturas
como é o caso das gated communities norte-americanas.
AS ORIGENS DO CONDOMÍNIO RESIDENCIAL NO BRASIL
No Brasil, o primeiro momento de crescimento de condomínios residenciais se deu na
década de 1970. Os condomínios horizontais começaram a aparecer geralmente na periferia
das cidades, originando-se da procura de moradores urbanos em compartilhar uma infra-
estrutura de serviços e espaços de lazer, para fins de semana e férias. Os condomínios
36
verticais urbanos surgem, assim, visando um melhor aproveitamento da infra-estrutura
consolidada do solo urbano por parte dos empreendedores.
A classe média tinha o costume de possuir uma segunda casa de praia, de campo,
sítios ou granjas para onde, nas férias e finais de semana, fugia-se da rotina e agitação das
grandes cidades. O custo dessas segundas casas, no entanto, começou a ficar muito alto
devido ao custo com caseiros e da própria manutenção do imóvel. Foi dentro dessa lógica que
surgiram os condomínios de férias, conjunto de casas de praia e campo, onde os proprietários
passariam a dividir custos e aproveitar os serviços comuns.
Dessa forma, os condomínios surgiram a princípio como áreas afastadas dos centros
urbanos, nas praias ou no campo. Eles possuíam basicamente a função de lazer, para férias e
finais de semana, mas que pouco a pouco se tornaram opções residenciais permanentes. Nas
décadas seguintes os condomínios residenciais passaram a se localizar em áreas urbanas e a
constituir-se na mais procurada forma de moradia, representando um símbolo de status e um
meio de manutenção de estilo de vida para as classes mais abastadas.
O Rio de Janeiro foi uma das primeiras cidades a observar, na segunda metade da
década de 1970, a criação da Barra da Tijuca, um novo bairro constituído por condomínios
verticais que prometiam “um novo morar” com uma completa estrutura de serviços e lazer
destinada somente aos seus moradores. Neste caso, os empreendedores imobiliários
praticamente criaram uma nova mercadoria imobiliária, e uma nova necessidade de bem
viver. Os condomínios de edifícios da Barra passaram a oferecer quadra de tênis, piscina,
áreas sociais, salão de festas, salão de beleza, academia de esportes, boate, sauna, enfim, todo
tipo de espaços de bem estar. Tudo isso dentro de uma estrutura que contava muitas vezes
com ruas e praças privativas, comércio e transporte interno (LEITÃO, 2006).
Este é o momento em que o edifício de apartamentos se diferencia do condomínio
vertical, ou seja, quando o conceito de edifício de apartamentos adere à questão da oferta de
37
serviços e lazer e torna-se o condomínio urbano vertical que não se constitui em um espaço
apenas de moradia, mas que vai mais além, contando com espaços para sociabilização, lazer e
até comércio. Outro traço diferenciador se refere à complexidade da estrutura organizacional
destes condomínios, que em muitos casos, exigem profissionais e empresas para gestão do
mesmo.
Recentemente, a busca por segurança consiste num motivo maior, que se incorpora
para o sucesso dos condomínios. O medo associado ao aumento da violência urbana é um
fator que impulsiona a procura de moradia nos condomínios, uma vez que, além da oferta de
lazer e serviços, esses enclaves passaram a oferecer todo um aparato de serviços
especializados relacionados à segurança. O resultado disso é um número cada vez maior de
pessoas morando, trabalhando e vivendo dentro destes enclaves, negando e discriminando o
espaço público da cidade e privilegiando os espaços privados (CALDEIRA, 2000).
Os condomínios são vistos assim como uma solução para fugir dos problemas de uma
sociedade desigual, com níveis de criminalidade crescente e onde a segurança passa a ser o
maior requerimento de todos. Por isso, atualmente os condomínios residenciais são oferecidos
como opção de moradia não apenas às classes altas, mas a grande parte da classe média e
chegando mesmo às camadas mais populares da população.
Com um número elevado de pessoas morando em condomínio fechados a cidade de
São Paulo que possui cerca de 40.000 condomínios (RACHKORSK & FÉRES, 2005) – faz-se
necessário estudar quais os efeitos deste novo modo de morar na vida da população. Ainda
são poucos os trabalhos que abordam o efeito da multiplicação dos condomínios residenciais
em cidades brasileiras, considerando não somente as questões espaciais, mas também as
questões legais e econômicas, e principalmente os efeitos sociais e comportamentais
promovidos pela vivência segregada.
38
Para Velho (1982), que desenvolveu estudos na década de 1970 sobre a vida em um
edifício de apartamentos no bairro de Copacabana, o edifício de apartamentos neste período
abrigava as camadas médias brasileiras nos grandes centros urbanos e era palco para o
estabelecimento de novos tipos de relações sociais. Os condomínios verticais surgem
exatamente a partir deste tipo de edifício de apartamentos. No entanto, uma grande
diferença entre high-rise residential buildings, apresentados no estudo, e os novos
condomínios. Estes últimos passam a oferecer benfeitorias sociais e serviços, além de áreas
específicas para lazer e divertimento dentro de seus limites. Estes condomínios oferecem não
somente um lugar de moradia, mas promovem uma socialização ampliada, na medida em que
oferecem atividades antes disponíveis somente em espaços públicos da cidade.
A construção de um desejo: o caso dos condomínios residenciais no Recife
Este texto é baseado numa pesquisa documental que foi realizada entre os meses de
março e maio de 2007 no Arquivo Público Estadual de Pernambuco
1
. O objetivo principal
aqui é fazer uma breve descrição sobre como ocorreu o desenvolvimento da prática de morar
em condomínios, a partir do registro da publicidade imobiliária divulgada em veículo
impresso referente à venda dos espaços de moradia característicos dos anos 1970 até 2005. O
Diário de Pernambuco foi o jornal escolhido devido a sua importância histórica e enorme
popularidade entre os recifenses. A consulta foi restrita à publicidade imobiliária nos jornais
dominicais, pois estes apresentavam uma maior quantidade do objeto pesquisado, tendo em
conta sua ampla divulgação no primeiro dia da semana, abordando o leitor descansado e
disposto a consumir. A tabela exposta a seguir apresenta o esquema roteirizado para o registro
das informações:
1
Essa pesquisa foi realizada em conjunto com Thyana Galvão, doutoranda do programa de Pós-Graduação em
Psicologia Ambiental da UFRN.
39
Tabela 1.1 – Roteiro de busca: A Publicidade Imobiliária no Diário de Pernambuco
Anos Meses da Consulta
1970 Todos os meses do ano
1975 Janeiro/abril/agosto/dezembro
1979 Julho
1980, 82, 85, 88 Janeiro/julho/dezembro
1981, 89 Junho
1990, 92, 95, 98 Janeiro/julho/dezembro
1991, 99 Junho
2000, 02, 05 Janeiro/julho/dezembro
2001 Junho
Essa pesquisa documental buscou compreender os conceitos que guiam o mercado
imobiliário, e, por extensão, a procura e apreciação dos consumidores em potencial do
produto. Respondendo à pergunta “quais são as principais características ressaltadas pelo
mercado imobiliário para atrair a atenção e o interesse do leitor e futuro consumidor?
Chegamos à conclusão de que as principais características destacadas pelos anúncios foram:
infra-estrutura, acabamento, localização, formas de financiamento, preço do imóvel, conforto,
tranqüilidade, amplitude do espaço residencial e segurança física. Entretanto, essas
características não eram destacadas ao mesmo tempo em um mesmo anúncio para todos os
imóveis. Ao longo do tempo ocorreu um desenvolvimento na escolha destas características
por parte dos anúncios. No início da década de 1970, por exemplo, as características mais
ressaltadas pelos anúncios eram os materiais, o conforto e ao luxo do imóvel. na década de
1980, o destaque era dado ao preço e as formas de financiamento do imóvel. No início da
década de 1990, as principais características ressaltadas eram os itens de segurança. E foi
exatamente o fato de que as características do imóvel foram destacadas diferentemente a cada
década que nos revelou como ocorreu o desenvolvimento nos conceitos do morar em
condomínios ao longo das décadas estudadas.
Na segunda metade da década de 1970, o mercado imobiliário da cidade do Recife
voltou-se para a classe média e para imóveis verticais. Nessa época, começaram a se
40
intensificar as propagandas, slogans e fotografias de edifícios de apartamentos voltados para a
classe média recifense. Daí em diante teve início um processo de intensa verticalização da
cidade que chegou a quase à exaustão nos dias de hoje. Juntamente com esse processo surgiu
uma relação mais intensa entre a figura do consumidor e o mercado, que alimenta cada vez
mais os desejos de compra do consumidor. Contudo, esse desejo não se restringe ao lar
desejado, mas se estende também a um campo social maior, porque “as mensagens veiculadas
reúnem o sonho de uma vida contemporânea, aliado a nobreza e tradição, amoldando o gosto
da nova classe média, oferecendo tanto uma vida de fantasia quanto um conjunto de valores
culturais”. (LOUREIRO & AMORIM, 2005-a: 4).
As figuras 1.1 e 1.2, adiante, mostram um dos primeiros anúncios feitos em cores e
utilizando uma representação gráfica do imóvel divulgado. Antes, os anúncios de imóveis
eram pequenos e se referiam ao produto apenas através de textos. A oferta do edifício de
apartamento foi de difícil aceitação para a classe média no início, porque a habitação
multifamiliar vertical sempre esteve associada à população de baixa renda, tendo como
estigma maior a figura do cortiço. Houve a princípio um processo de convencimento das
camadas médias de que o edifício de apartamento poderia ser um tipo de habitação com estilo,
glamour e luxo, a exemplo de alguns slogans veiculados no Diário de Pernambuco: “Em
plena Boa Viagem um apartamento de classe num prédio de luxo” (16/08/70) ou o anúncio do
dia 04/10/70 sobre o edifício Michelângelo que o destacava como “O mais luxuoso do
nordeste”, além de outro no dia 15/07/79 sobre o edifício Ilha de Kea que ressaltava a
distinção para os moradores: “Um privilégio para família de fino trato”.
41
Figura 1.1. Anúncio de um edifício em Boa Viagem.
Fonte: DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 05/04/1970.
Texto do Anúncio: “Casa ou Apartamento: morar em casa tem suas vantagens; morar em apartamentos,
outras. s conseguimos reunir todas em um empreendimento. Na quadra da Beira Mar e de frente
para o mar. Com garagem privativa para 2 automóveis para apartamento, 2 andares vazados, com amplo
salão de festas e áreas de lazer, grande área ajardinada, 2 elevadores, gerador próprio, central de gás,
interfone, apartamentos com 292m2 de área. Uma verdadeira casa! 4 quartos sociais. Ampla sala para 2
ambientes, lavabo social e terraço, excelente cozinha, áreas e dependência de serviço” (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 08/07/79).
Figura 1.2. Anúncio de edifício em Boa Viagem, mostrando a dúvida freqüente da classe média acerca
do melhor espaço de morar.
Fonte: DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 08/07/1979.
Na tentativa de convencer o consumidor a morar em apartamento, os anúncios
comparam o apartamento à casa, mostrando que o apartamento reúne as vantagens do morar
em casa e ainda adiciona outras vantagens típicas dos “novos” apartamentos. Nesse sentido,
encontramos vários anúncios da época destacando apartamentos com amplas áreas, “como
uma casa” e adicionando valores novos como “morar com elegância e estilo” numa boa
localização. É muito comum nos anúncios da época o destaque dado ao bairro e aos
equipamentos de lazer, comércio e serviços dos quais os novos moradores poderiam usufruir.
42
Dessa forma, eram destacados não apenas as qualidades do imóvel, mas também do entorno
onde ele estava localizado.
No início da década de 1980 o mercado imobiliário passou a ser mais enfático.
Podemos observar isto através da utilização de vários anúncios ocupando meia página e até a
página inteira do jornal (figura 1.3). É também nesse período que começou a surgir nos
anúncios de imóveis a preocupação com a segurança, nos quais o porteiro eletrônico é
destacado como uma inovação e representa um dos primeiros itens de segurança específicos
surgidos para os apartamentos. Até então, o termo “segurança” era utilizado para fins
econômicos, ressaltando a segurança em investimento seguro como o exemplo dos slogans
“segurança em ter um patrimônio”, “fique seguro, tenha sua casa própria” (figura 1.4).
É também nesta mesma década que começaram a surgir os primeiros anúncios de
condomínios residenciais horizontais, em Aldeia, bairro localizado na região metropolitana do
Recife. A princípio, os anúncios destacavam a possibilidade de morar numa “comunidade
sofisticada” a exemplo do anúncio do condomínio Portal de Aldeia: “Um projeto para quem
quer oferecer à família o convívio em mais do que um simples loteamento. Uma comunidade
sofisticada. Portal de Aldeia é um conjunto de 100 áreas [sic] de 500m2 com jardins e praças,
‘playgrounds’, água, luz, pavimentação, à margem da estrada de Aldeia (km13) a 20 minutos
do Recife” (06/07/1980).
43
Figura 1.3. Vários anúncios por folha de classificados.
Fonte: Diário de Pernambuco, 06/07/1980.
Figura 1.4. Anúncio de edifício em Boa Viagem com sistema de porteiro eletrônico.
Fonte: Diário de Pernambuco, 06/07/1980.
Outro ponto forte destacado pela propaganda de imóveis é a importância progressiva
dada às áreas de lazer oferecidas pelos condomínios de apartamentos. A então, o que se
observava era um destaque exclusivo aos itens da unidade de apartamento. A partir do início
44
da década 1980, começamos a observar que os itens do condomínio como áreas de lazer,
andar vazado, áreas verdes, salão de festas, entre outros, começaram a ter grande destaque
como vantagens a mais oferecidas pelos empreendedores, como mostra o anúncio do Edifício
São Marcos da construtora Oliveira Maciel (figura 1.5): “O espinheiro pediu e nós atendemos.
Queremos um prédio de verdade com quadra de esportes, sauna, ducha, sala de repouso, sala
de jogos, playground e salão de festas” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 04/07/1982).
Figura 1.5. Anúncio de um edifício no bairro do Espinheiro.
Fonte: Diário de Pernambuco, 04/07/1982.
Até o final da década de 1980 vemos o surgimento de edifícios com grandes estruturas
de lazer na busca de garantir satisfação aos moradores. Com isso, temos o início da
substituição do espaço público pelos espaços privados, para atividade de lazer e prática de
esporte, e com isso, as pessoas passaram a utilizar as novas áreas comuns de seus
condomínios e não mais os espaços públicos da cidade para esses fins (figuras 1.6, 1.7 e 1.8).
45
Figuras 1.6, 1.7 e 1.8. Anúncio do edifício Safira, o primeiro no Recife a ter um “luxuoso Clube Prive
em sua cobertura à disposição apenas para os condôminos”.
Fonte: DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 04/06/1989.
Em 1988, a cidade do Recife passou a ser destaque no país pelos seus altos índices de
criminalidade, chegando mesmo a ser chamada de “a capital do medo” (figuras 1.9 e 1.10). A
figura do condomínio, especialmente o de apartamentos, ficou cada vez mais associada à
garantia de segurança, contando com um aparato de segurança cada vez maior e alardeado.
Esse fato levou a uma demanda cada vez maior pelos condomínios e a cidade alcançou altos
índices de verticalização.
46
Figuras 1.9 e 1.10. Matéria publicada na capa do Diário de Pernambuco, divulgando o Recife como
capital do medo. Observe a notícia em destaque ao lado que trata da favelização da cidade. A mídia
relaciona a criminalidade à pobreza.
Fonte: DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 12/12/1988 e 25/12/1988.
No início dos anos 1990, os anúncios seguem um modelo mais sóbrio, fornecendo ao
leitor informações precisas, como tamanho em m² das plantas, inclusive com o desenho de
plantas baixas ambientadas. Os destaques são para preço e programa dos imóveis, tanto da
unidade em específico, como das áreas comuns do condomínio (figura 1.11). Começamos a
observar nessa época a diminuição da área das unidades residenciais e o aumento da oferta de
espaços comuns nos condomínios. Essa diminuição das unidades aparece associada à
praticidade em possuir um apartamento menor e “mais prático”, mais adaptado à vida
moderna.
Figuras 1.11. Anúncio de apartamento em Boa Viagem com destaque para o programa do “prédio” e
para o programa da unidade de apartamento em separado.
Fonte: Diário de Pernambuco, 08/07/1990.
47
Nos anos 1990, aumentaram as ofertas de equipamentos de segurança como o Sistema
de Segurança Integrado (SIS), que contam com circuito interno de televisão, contrato com
empresas de segurança, porteiro 24 horas, e outros itens a mais, como nesse anúncio da
construtora Carrilho para o edifício Maria Fernanda, no bairro do Derby: “Segurança total:
central de portaria com guarita panorâmica, portões eletrônicos (controle remoto), dispositivo
de segurança com alarme interligado a todos os apartamentos” (29/07/1990). Por outro lado
aumentou também a propaganda de itens relacionados à qualidade de vida tais como
“conforto, tranqüilidade e liberdade”. Possivelmente, as palavras chaves que mais sintetizem
os anúncios dessa época sejam “conforto” e “segurança” (figuras 1.12 e 1.13).
Figuras 1.12 e 1.13. Anúncio de imóvel no bairro do Derby com destaque para e questão dos
equipamentos de segurança.
Fonte: DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 29/07/1990.
No início dos anos 1990, as incorporadoras e imobiliárias passaram a divulgar mais os
condomínios residenciais fechados. Com isso, houve o aumento da demanda dessas novas
estruturas. Em fins desta mesma década, apesar de projetos como “Revitalizar o Centro” e
“Viver o Recife Antigo”, tem-se a formação de novas centralidades na RMR. O bairro de Boa
Viagem passou a ser o concentrador da renda da cidade e morar neste bairro passa a ser
sinônimo de status e poder (figura 1.14).
48
No começo desse século, os anúncios de imóveis ganharam espaço também na mídia
televisiva. Os anúncios na televisão contam com recursos de computação gráfica para expor o
imóvel e suas vantagens. As plantas baixas ambientadas passaram a ser substituídas por
perspectivas que mostram os ambientes internos e externos dos imóveis, inclusive com um
apartamento modelo mobiliado.
Figura 1.14. Anúncio de condomínio de apartamentos em Boa Viagem. Os incorporadores imobiliários
destacam fortemente Boa Viagem como melhor Bairro da cidade.
Fonte: Diário de Pernambuco, 19/01/1992.
Figura 1.15, 1.16, 1.17, 1.18, 1.19 e 1.20. Várias imagens de anúncios que apostam na venda do
condomínio fechado como modelo ideal de moradia.
Fonte: Google Images.
49
No início do século XXI, no Brasil e no restante do mundo, a moradia em
condomínios horizontais isolados dos centros das cidades começou a ser divulgada e desejada,
tanto por questões de segurança, como é o caso do Brasil, mas, sobretudo por conta da
qualidade de vida que se acredita que tais lugares possam promover. Nesse sentido, no Recife,
os anúncios de imóveis são bombardeados por um arsenal de informações relacionadas à
maravilha de morar em espaços isolados. A população de classe média da cidade do Recife
passou a buscar uma nova alternativa de moradia no bairro de Aldeia, município de
Camaragibe da Região Metropolitana, pois o ambiente oferece clima mais ameno por se tratar
de uma região mais elevada e por estar localizada longe do centro, distante do caos urbano e
da insegurança cotidiana.
Em 2003, o grupo Alphaville anunciou a instalação, a exemplo de outras cidades do
sudeste e centro-oeste do Brasil, de um condomínio residencial horizontal no bairro do
Curado, chamado de Alphaville Brennand:
“Pernambuco está entrando na rota dos megacondomínios residenciais horizontais. A
Alphaville Urbanismo S/A está iniciando a análise técnica do projeto de implantação na
Região Metropolitana do Recife. As expectativas da empresa paulista são de que o Alphaville
Recife possa ser lançado num prazo máximo de dois anos. O projeto conta com a parceria do
Grupo Brennand e coloca o Estado no circuito dos grandes empreendimentos urbanísticos
privados do País. Orçado em R$ 50 milhões, o condomínio irá ocupar uma área de 900 mil
metros quadrados nas proximidades do Terminal Integrado de Passageiros (TIP), no Bairro do
Curado” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 22/08/2003).
A exemplo de outros empreendimentos Alphaville, o Alphaville Brennand em Recife
contará com um sistema de autogestão, funcionando como um bairro independente, ou melhor
uma mini cidade independente, uma vez que possuirá uma mini-prefeitura responsável por
50
serviços básicos como coleta de lixo, circulação de veículos e sistema de segurança. O projeto
prevê um total de 900 lotes de 500 m2 com uso exclusivamente residencial e uma área
comercial com lojas de comércio e serviços, que incluem escritórios, consultórios médicos,
posto de gasolina e até uma escola. Tudo isso sem contar com as áreas de lazer e esportes e
uma área preservada de Mata Atlântica, além de um acesso facilitado através de um viaduto
na BR – 408 para atender aos futuros moradores. Sem dúvida é um mega projeto que inaugura
em Recife esse novo estilo de moradia tão alardeado nas grandes capitais do país,
especialmente São Paulo. Esse novo estilo oferece ao consumidor a possibilidade de morar
num espaço mais tranqüilo, com possibilidade de maior liberdade e qualidade de vida para a
família. Porém, um dos quesitos subjacentes do empreendimento é o estabelecimento ou
restabelecimento de um espírito de comunidade, que se julgava perdido devido ao grande
aumento populacional e conseqüentemente o crescimento das cidades e a perda da segurança
pessoal, quesito que vêm atrelado à esse processo (figuras 1.21, 1.22, 1.23 e 1.24).
Figura 1.21, 1.22, 1.23 e 1.24. Perspectivas mostrando como será o Alphaville Brennand.
Fonte: Google Images.
51
CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS E GATED COMMUNITIES
Um aspecto importante para a compreensão do fenômeno dos condomínios
residenciais são os diversos estudos sobre as Gated Communities norte-americanas. Estes
estudos recentes têm muito a contribuir com as pesquisas sobre Condomínios Horizontais no
Brasil porque, partindo do entendimento de como as gated communities se originaram,
cresceram e funcionam nos Estados Unidos, podem-se estabelecer similaridades e
divergências para o tipo de Condomínios Horizontais que temos nas cidades brasileiras. A
semelhança morfológica pode levar o observador a uma falsa percepção de similaridade ao
comparar as Gated Communities e os Condomínios Residenciais, porque ambas as estruturas
se caracterizam por oferta de áreas verdes, ocupação horizontal de residências unifamiliares e
pela oferta de amenidades no tocante a comércio, lazer e serviços. Contudo, deve-se atentar
para o fato de que uma grande distinção entre os condomínios fechados brasileiros e as
gated communities norte-americanas, particularmente as que envolvem a origem desses
espaços e sua distribuição e localização no espaço urbano.
O surgimento de estruturas muradas e altamente vigiadas, tanto das gated communities
norte-americanas como dos condomínios horizontais brasileiros, têm suas origens em diversos
fatores sociais e econômicos que vão desde a proteção contra a criminalidade até a
consequente segregação espacial e social.
Condomínios Horizontais e Gated Communities: origem e contexto
Gated Communities: produto das periferias ricas
Originado nos Estados Unidos, o termo Gated Communities foi empregado para
designar um fenômeno que começou a surgir na década de 1960 em algumas cidades norte-
americanas. As Gated Communities norte-americanas surgiram e vêm se desenvolvendo
52
rapidamente em áreas residenciais localizadas mais especificamente nos subúrbios ricos
norte-americanos. A maior concentração delas acontece nos estados da Califórnia, Texas e
Flórida, em cidades como São Francisco, Los Angeles, Riverside-Palm Springs, Orange
County, Dallas e Miami (BLAKELY & SNYDER, 1997).
Nas cidades norte-americanas as periferias ou subúrbios são áreas onde residem as
classes “alta e média alta anglo-americana” (BLAKELY & SNYDER, 1997). Essas classes
buscam residências nos subúrbios para se distanciar dos centros, ocupados pela classe baixa
composta em sua maioria por latinos e afro-americanos. Isso porque apenas muros e portões
não são o bastante, sendo a distância física um requisito necessário para a segurança; muito
embora já existam muitos casos de proximidade entre bairros de subúrbios ricos norte-
americanos e bairros pobres de comunidade latina. Aliás, essa situação de proximidade é um
dos fatores que também promove o aparecimento de novas gated communities. Quando essa
proximidade ocorre, os estudos mostram que esses bairros ricos optam por cercar o seu
perímetro com muros, portões e segurança para se proteger da ameaça da proximidade com
essa população pobre indesejada (MAHER, 2003).
Para Blakely e Snyder (1997), o termo Gated Communities se refere a áreas
residenciais com acesso restrito, nas quais os espaços “normalmente públicos” são na verdade
privatizados. Por espaços “normalmente públicos” entenda-se ruas, calçadas, parques,
estacionamentos, praias, rios, etc. Esses espaços seriam normalmente de acesso ao público em
geral, mas quando estão cercados pelos muros das gated communities tornam-se
categoricamente de acesso privado e restrito. É interessante ressaltar que estes autores
consideram que lobbies, hallways e estacionamentos de estruturas residenciais multifamiliares
não são espaços “normalmente públicos”.
A maioria das gated communities norte-americanas se desenvolveu a partir de uma
comunidade residencial onde não existiam muros ou portões no perímetro da mesma na
53
qual são instalados muros, portões, entre outros dispositivos, supostamente para segurança
dos moradores. Em outras palavras, uma área ou bairro residencial com avenidas, ruas,
calçadas, parques e jardins passa a ser cercada em seu perímetro por muros, grades e portões.
A partir desse momento, essa área que antes possuía ruas e parques de acesso ao público
como em qualquer cidade, passa após tornar-se uma gated community a controlar e
restringir o acesso a esses lugares, antes públicos, permitindo apenas o acesso aos seus
moradores.
Atentar para essa origem, a qual remonta à maioria das gated communities norte-
americanas, é fundamental para entender o fenômeno e a sua repercussão hoje. O principal
problema enfrentado hoje nas gated communities é a decisão sobre quais os impostos devem
ser pagos. Isso porque, uma vez que as avenidas, ruas e praças são engolidas pelo perímetro
da comunidade residencial tornando-se gated”, os moradores contratam empresas privadas
para fazer os serviços regularmente prestados pelo governo, como os de limpeza e
manutenção das ruas e áreas públicas. Dessa forma, os moradores que passam a pagar por
esses serviços de forma privada acreditam que pagar os impostos ao governo por esses
mesmos serviços seria um caso de dupla-tributação ou dupla-taxação. O governo, por seu
lado, alega que as gated communities apropriaram-se de áreas públicas, impedindo o acesso
dos serviços prestados pelo governo, como a coleta de lixo, por exemplo. Além disso, o
governo declara que os moradores dessas áreas não vivem confinados dentro das gated
communities e regularmente utilizam o restante da cidade para trabalhar, fazer compras, entre
outras atividades. Por essa razão, deveriam pagar pela manutenção dessas outras áreas
utilizadas como qualquer outro cidadão (MCKENZIE, 1994).
As gated communities surgem com a promessa de resolver três problemas
fundamentais para os norte-americanos: 1) a prevenção ao crime; 2) o controle do tráfego; e
3) a restauração do senso de comunidade e vizinhança. No entanto, Blakely e Snyder (1997)
54
identificam e classificam as gated communities de acordo com quatro critérios baseados em
fatores sociais: senso de comunidade, exclusão, privatização e estabilidade. Seguindo uma
combinação desses critérios, elas são divididas em três tipos principais: lifestyle, prestige e
securite zone, cada uma com subdivisões próprias. Cada um dos três tipos apresenta uma
combinação com intensidades variadas dos quatro critérios básicos.
Nas lifestyle communities, o critério privatização é prioritário enquanto que por último
está o senso de comunidade. Este tipo de “comunidade” atrai basicamente aposentados em
busca de descanso, lazer e atividades esportivas como o golfe. Todas essas facilidades são
encontradas nesses locais. Nas prestige communities, o critério primordial é a estabilidade e
exclusão. Elas são ocupadas pelos ricos e famosos e neste caso, os muros e portões denotam
uma barreira de status e propriedade. De acordo com Blakely e Snyder (1997), esse é o tipo
de gated community que mais cresce em número hoje nos EUA. Nas security zone
communities o principal critério é o da exclusão, pois elas são “enclaves de medo” que se
desenvolveram como forma de reação ao aumento do crime e da desordem urbana. Este tipo
de “comunidade” são geralmente bairros nos quais são colocados os muros e portões, partindo
da iniciativa da vizinhança, que decide sobre a necessidade de proteção contra o crime.
Apesar da classificação proposta pelos autores ser didaticamente interessante, os elementos
caracterizadores por cada tipo de “comunidade” não são necessariamente rígidos, pois fica
fácil perceber uma superposição desses elementos entre os três tipos.
Fica claro, portanto, que a busca pelo critério “senso de comunidade” não representa
prioridade em nenhum dos três tipos de gated communities classificados pelos autores. Apesar
disso, muitos residentes apontam esse critério como um dos principais motivos para
procurarem esses tipos de moradias: a busca por laços estreitos entre vizinhos e um
sentimento de comunidade. Os próprios Blakely e Snyder (1997) não apresentam uma
definição precisa sobre o termo “comunidade”. Inicialmente, apresentam-na como uma noção
55
de local, espaço físico e residência. Além disso, são discutidas noções sociais como
responsabilidade mútua, interação e cooperação. São ainda incluídos conceitos psicológicos
como “comunidade de sentimento”. Mas, mesmo sem uma definição única e coerente sobre o
termo comunidade, os autores são claros ao apontarem e criticarem a ausência prática do
senso de comunidade nas gated communities.
As gated communities são o reduto de pessoas economicamente e socialmente
aparentemente homogêneas, sendo a gica por trás disso o sentimento de pertencimento e
segurança gerado pelo fato de estar entre “iguais”. Isso se reflete até mesmo numa busca
homogeneizada por projetos arquitetônicos, plantas e fachadas iguais e padronizadas para
todos dentro de uma gated community. Essa padronização chega ao ponto de definirem cores
iguais para fachada e até mesmo os tipos de vegetação a ser utilizada por todos.
Condomínios Horizontais: ricos inseridos em periferias pobres
Os condomínios horizontais brasileiros surgiram tendo como principal diferencial a
oferta de lazer e serviços. Contudo, com o passar dos anos, fatores como oferta de segurança e
prestígio social foram agregados. Esses fatores são importantes e devem ser levados em
consideração para entendermos a expansão desta tipologia habitacional no Brasil, uma vez
que a parcela mais rica da população, que possui renda suficiente para morar nesses
condomínios, o faz mesmo em cidades interioranas, onde a criminalidade é mais baixa.
O desenvolvimento da maioria das cidades brasileiras de grande porte, até a década de
1980, se deu do centro para a periferia, de forma que o centro recebeu infra-estrutura e
melhoramentos que encareceram o preço da moradia. Esse processo resultou na “expulsão” da
população de baixa renda para as periferias, que não possuíam infra-estrutura para receber
essa população (CALDEIRA, 2000).
56
Enquanto nos Estados Unidos as gated communities se localizam nos subúrbios, que
são ricos, no Brasil, em contrapartida, os subúrbios são pobres. Apesar disso, a maioria dos
condomínios residenciais horizontais de grande porte está localizada nos subúrbios, porque
nesses locais ainda existem áreas suficientes para a instalação de Condomínios Horizontais,
que requerem terrenos mais amplos para serem instalados. Dessa forma, os Condomínios
Horizontais estão muitas vezes localizados nas periferias pobres lado a lado com as favelas,
cuja separação reside nos muros, portões e equipamentos de segurança.
No Brasil, os condomínios residenciais ao contrário das gated communities são
construídos na maioria das vezes em áreas privadas, isto é, são áreas que nascem como
particulares em sua natureza, não havendo no processo de construção e instalação nenhum
tipo de apropriação de área pública. Mesmo no caso dos Condomínios Horizontais que
possuem áreas coletivas como ruas, praças e parques, estes já são construídos em áreas
privadas. Talvez por serem instalados originariamente em áreas privadas, a questão sobre os
impostos ainda permanece em discussão de forma tímida.
No Brasil pode ser observado casos em que movimentos de moradores fazem uma
apropriação de uma rua colocando guaritas e fechando a rua ao acesso público. No entanto,
esse tipo de movimento além de ser irrelevante em número, é considerado ilegal pela
legislação vigente porque realiza apropriação indevida de áreas públicas sendo combatido
pelas prefeituras locais na maioria das vezes em que ocorre. Outro caso similar é o loteamento
fechado ilegal, como foi descrito, onde o loteamento é feito em áreas ilegais ou em locais
em que áreas públicas são apropriadas.
No que diz respeito à restauração do senso de comunidade e vizinhança, isto tem se
tornado uma preocupação para os moradores de condomínios residenciais. A razão disto é
que, enquanto percebe-se que certa homogeneidade econômica nos condomínios, percebe-
se também que não existe uma homogeneidade social e cultural entre seus moradores. O que
57
se observa, portanto, é uma busca para distinguir-se individualmente dos outros moradores
(CALDEIRA, 2000; LOPES, 2000). Essa distinção se estende, de forma contrária ao caso
norte-americano, ao projeto arquitetônico. No Brasil, casas padronizadas estão associadas a
classes populares e por isso são desvalorizadas. Neste sentido, os moradores de Condomínios
Horizontais fazem o possível para se diferenciarem uns dos outros, personalizando e
individualizando suas residências.
QUADRO 1.1: Quadro comparativo entre Condomínios e gated communities.
Elementos
comparativos
Condomínios Horizontais Gated Communities
CONTEXTO
URBANO
Ocupação centro periferia
Periferia
desvalorizada
sem infra-estrutura
População pobre expelida p/
periferia
Ocupação centro + periferia
Periferia
valorizada
com infra-estrutura
População rica escolhe periferia
MOTIVADORES
Lazer
Segurança
Prestígio
Controle tráfego
Segurança
Restauração senso vizinhança
ORIGEM Áreas privadas Áreas públicas
IMPOSTOS
Discussão ainda muito tímida
sobre isenção de impostos
Discutem a isenção de impostos
sobre serviços públicos. Alegam
dupla tributação
COMUNIDADE
Preocupação inicial com a
constituição de uma comunidade
Há uma preocupação, apenas no
discurso, com a constituição de uma
comunidade
PROJETO
ARQUITETÔNICO
Projetos distintos. A padronização
é vista como algo negativo
Casos de projetos semelhantes. a
padronização é vista como algo
positivo.
CONSTRUÇÃO
Projeto e construção por iniciativa
de cada morador
Em muitos casos o incorporador
constrói em série
Condomínios Horizontais e Gated Communities: fragmentação espacial e segregação
social
Gated Communities e o desejo da homogeneização social
Nos Estados Unidos, o crescimento das Gated Communities revela o declínio da
comunidade pública, da cidadania e do homem enquanto cidadão e refletem a fragmentação
social que vem assolando esse país nos últimos anos (SENNETT, 1996). Para isso, Blakely e
Snyder (1997) apontam dois argumentos. Em primeiro lugar, as gated communities limitam o
58
contato social entre os diferentes grupos da sociedade. As classes desprivilegiadas são
excluídas não apenas de viver nessas áreas pelo valor elevado dos imóveis e taxas de
manutenção mas são excluídas até mesmo de transitarem dentro dessas áreas, fechadas com
muros e portões. Essa separação, para os autores, está caracterizada como “segregação racial”,
que conduz a um desconhecimento e desentendimento entre os diferentes grupos sociais.
O segundo argumento está no fato de que as gated communities são administradas por
uma associação de moradores, que atuam como uma forma de governo privado. Os espaços
públicos (ruas, calçadas, parques, etc.) localizados dentro dos limites dos muros ficam sob a
administração dessas associações. Todos os serviços de cuidados e manutenção dessas áreas
são cobrados dos moradores na forma de taxas, que podem ser aumentadas conforme
determinação dessas associações. Atualmente, moradores de gated communities questionam o
duplo pagamento de taxas urbanas, pois eles não recebem os serviços prestados pelo governo,
visto que pagam pelos mesmos serviços de forma privada e “mais eficiente” através da
administração das gated communities onde moram. De acordo com Blakely e Snyder (1997),
estes residentes estão propondo se isentar dos interesses e responsabilidades do bem público e
coletivo da sociedade, o que seria prejudicial para um país calcado na democracia.
As gated communities, de acordo com Setha Low (2003), resultam das transformações
políticas e econômicas pelas quais os EUA m passando desde o final do século XIX,
associadas a uma crescente polarização econômica e social da população, com claro
beneficiamento das classes altas e a marginalização das classes baixas. Low (idem) considera
que as gated communities são enclaves separatistas, nos quais seus residentes se isolam
socialmente e economicamente do resto da sociedade. Para isso, as gated communities
estabelecem certa homogeneidade social e econômica entre os seus residentes, ou seja, é uma
comunidade de pessoas aparentemente similares. Contudo, essa homogeneidade, segundo
59
Low (idem), desencadeia outro problema, que é a fomentação ao medo dos “outros”, ou seja,
daqueles que estão fora desses enclaves.
Nos Estados Unidos, essa separação está caracterizada também como segregação
racial, que por sua vez são a base do medo e da desconfiança entre os diferentes grupos. Nesse
caso, muito mais no sentido dos grupos economicamente privilegiados contra os que não são.
Esse problema pode ser visto como a necessidade de controlar aquilo que é conhecido como
“áreas urbanas deterioradas”, ou seja, áreas habitadas por latino-americanos e afro-
americanos, vistos como minorias indesejáveis. Nesse processo, as gated communities
funcionam como áreas em que determinados grupos anglo-americanos, na sua maioria
estariam “protegidos” do convívio com essas minorias, que são consideradas “perigosas”,
exacerbando e consolidando a procura pela “purificação social” presentes nos subúrbios
dos Estados Unidos (SENNETT 1996; MAHER, 2003).
Condomínios Horizontais e o desejo da segregação social
No caso do Brasil, temos um país marcado por grandes desequilíbrios sociais. Apesar
de diversas políticas sociais e programas econômicos implementados nas últimas décadas,
continuamos a testemunhar um incrível desequilíbrio social e econômico. Como resultado
disso, uma grande parcela da população continua vivendo em péssimas condições de vida
porque não tem acesso a serviços, emprego e meios para suplantar a pobreza, aumentando
ainda mais os índices de violência e criminalidade urbana.
As classes médias perdem a cada dia a crença na promoção da segurança, ordem e
justiça social pelas instituições do governo e procuram refúgio em condomínios residenciais,
que não raramente contam com seu próprio contingente de vigilantes. A construção desses
condomínios, ou seja, espaços que restringem o contato com a sociedade exterior implica na
procura por dotar esses espaços de auto-suficiência. Tanto as gated communities como os
60
condomínios residenciais se estruturam a partir de uma lógica de separação social e espacial,
pois ambos limitam o contato social entre os diferentes grupos da sociedade.
É interessante salientar que o Brasil não é uma sociedade rigidamente estratificada,
possibilitando processos de mobilidade social. Assim sendo, pessoas com um mesmo padrão
econômico podem possuir perfis culturais bastante diversos. Aparentemente não restrições
ou distinções étnicas ou raciais, como nos Estados Unidos. Aqui a distinção social acontece,
sobretudo, em termos econômicos. Desde que tenha recursos econômicos, qualquer pessoa
pode escolher onde morar. No entanto, nos condomínios residenciais, a procura não é apenas
por uma homogeneidade sócio-econômica, mas primordialmente de status social. Nesse
sentido, muitas pessoas acreditam que o condomínio residencial é constituído por uma
comunidade homogênea em termos sócio-econômicos, na qual elas procuram partilhar um
mesmo status social ou ainda se inserir em um círculo social almejado. Em suma, elas
procuram uma homogeneização social ao mesmo tempo em que se diferenciam de uma
sociedade circundante menos privilegiada em termos econômicos (VELHO, 1980). Em
resumo, no caso do Brasil, os condomínios residenciais fechados caracterizam-se por uma
segregação social e também econômica. Grupos privilegiados de classe média e alta se isolam
do restante da população da cidade, desenvolvendo uma vida cotidiana em um circuito à parte
do restante da cidade.
A disputa por impostos e direito à segregação e as CID’s
Estima-se que mais de 30 milhões de norte-americanos vivem atualmente em algum
tipo de CID (Common Interest Development), que são na verdade formas de governo privado
exercido por associações de moradores, geralmente de gated communities. As CID’s visam o
desenvolvimento dos interesses comuns dos proprietários de imóveis dentro de gated
communities. (MCKENZIE, 1994). Segundo Evan McKenzie (1994), existe hoje quatro tipos
61
de CID’s: condomínios, áreas planejadas, cooperativas de “stock” e comunidades de
apartamentos. Baseando-se nisto, Mckenzie (1994) traça um histórico do desenvolvimento
das CID’s partindo do modelo utópico das “Cidades Jardins” do final do século XIX de
Ebenezer Howard. A idéia de Howard era a de áreas urbanas planejadas onde houvesse um
equilíbrio entre áreas residenciais e de comércio nas quais todas as classes sociais
conviveriam de forma equilibrada e harmônica. O modelo norte-americano das CID’s que
possui origem no conceito das “cidades Jardins” deu origem à criação de áreas residenciais
restritivas e segregacionistas, cujo principal interesse é a valorização e preservação da
propriedade privada para os seus moradores.
McKenzie (1994) apresenta sérias preocupações com o desenvolvimento e
popularização das CID’s. Para ele, as CID’s são enclaves homogêneos onde privilégios são
exclusivos para o uso de poucos. Assim, áreas tanto urbanas quanto suburbanas são
privatizadas e convertidas em propriedade residencial privada. Essa reformulação do tecido
urbano de acordo com o interesse de poucos gera, consequentemente, uma reformulação
nas práticas de cidadania. Isso porque na medida em que as CID’s voltam os interesses para a
proteção da propriedade privada, ocorre também um desinteresse e uma não-participação nos
interesses públicos.
Outro problema fundamental largamente discutido por McKenzie (idem) é a “dupla
taxação”, i.e., as CID’s, em nome dos moradores da comunidade, afirmam que são vítimas de
dupla taxação pelo governo. Isso acontece porque as CID’s oferecem os mesmos serviços do
governo local de forma privada. Serviços como coleta de lixo, manutenção de ruas e praças,
serviços de segurança e recreação, etc. são fornecidos e cobrados livremente pelas associações
de moradores. Como os moradores pagam por esses serviços nas suas taxas condominiais,
eles entendem que pagar por esses mesmos serviços ao governo, na forma de impostos,
mesmo sem utilizá-los, seria uma dupla taxação.
62
Essa questão da “dupla taxação” é uma discussão séria e tem sido defendida
agressivamente pelas CID’s, inclusive sendo levada aos tribunais. Por enquanto, a justiça não
entende o problema como dupla taxação e as CID’s não tem conseguido ir em frente com a
idéia. O fato é que além de se beneficiarem pelos serviços privados que pagam nos
condomínios, esses mesmos moradores também utilizam os serviços promovidos pelo
governo quando utilizam áreas públicas da cidade. Essas formas privadas de governo como as
CID’s, são vistas assim como “secession of the successful”.
Uma das maiores preocupações de McKenzie (1994) é como moradores de CID’s
podem facilmente se isentar dos problemas e interesses públicos que abrangem a maioria da
população que está do lado de fora desses enclaves. Daí a preocupação fundamentada do autor
com as consequências políticas, econômicas e sociais que as CID’s carregam em seu bojo. No
entanto, as CID’s representam apenas uma face do problema que é bem mais profundo e
complexo, ou seja, a decadência da esfera pública e o crescimento da esfera privada. Essa
decadência do espaço público urbano dificulta a resolução de problemas como a criação de
espaços comuns e a restauração de uma heterogeneidade nas relações sociais.
Medo versus Proteção: condomínios, gated communities e o mito da segurança
Apesar dos altos índices de satisfação dos residentes de gated communities nos
Estados Unidos, estes residentes ainda se mostram bastantes temerosos em relação à
criminalidade e violência, mesmo sem ter sofrido algum tipo de experiência com crime. O que
realmente importa para essas pessoas é que as gated communities mantenham do lado de fora
pessoas indesejáveis, sejam elas criminosos ou simplesmente pessoas de outras classes e
raças. Contudo, as gated communities falham em dois pontos que propõem sanar. O primeiro
é que as gated communities não mantém necessariamente as pessoas indesejáveis do lado de
fora. O segundo é que, diferentemente do que as pessoas acreditam ao se mudarem para esses
63
locais, os laços de comunidade e vizinhança não são melhores do que em outras vizinhanças
que não possuem muros e portões. Em suma, os muros e portões provocam mais ansiedade e
senso de isolamento nos moradores dessas comunidades do que os fazem sentir-se seguros
(LOW, 2003).
Blakely e Snyder (1997) também afirmam que as gated communities não resolvem”
os problemas aos quais se propõem como a prevenção ao crime, o controle do tráfego e a
restauração do senso de comunidade e vizinhança. Tanto Blakely & Snyder (idem) quanto
Low (2003) afirmam que os índices de criminalidade em gated communities não são,
necessariamente, menores do que em non-gated communities nos mesmos arredores. Além
disso, apesar dos índices de criminalidade estarem em queda em muitas cidades norte-
americanas como afirmam estes autores, o medo do crime na população em geral tem
especialmente crescido na última década.
Ao contrário dos Estados Unidos onde os índices de criminalidade estão em queda
como visto acima no Brasil o que vemos é o aumento da violência e da criminalidade
urbana. Fatos recentes demonstram o poder do crime organizado em grandes cidades como
Rio de Janeiro e São Paulo, quando ordenam a paralisação dos meios de transporte, o
fechamento de áreas comerciais e até mesmo o ataque a forças policiais, paralisando quase
toda a cidade. Em toda parte, as pessoas sofrem com a violência, assaltos, sequestros, roubos
e arrastões, que são registrados em diferentes lugares, sejam eles públicos ou privados. Muros,
portões, grades, cercas elétricas e segurança privada, são os recursos que estão sendo usados
por uma parcela da população em busca de segurança. Nesse contexto, o isolamento e a
segregação espacial fazem com que os espaços públicos da cidade sejam ainda mais
negligenciados, contribuindo ainda mais para a insegurança destes espaços.
No Brasil os assaltos, roubos e sequestros dentro de condomínios residenciais são cada
vez mais frequentes. As pessoas não têm mais tanta certeza de estarem em segurança.
64
Todos os dias os jornais publicam casos de assaltos e roubos feitos em condomínios, inclusive
nos condomínios fechados mais abastados e protegidos. existem quadrilhas de assaltantes
especializadas em roubar condomínios residenciais, que desenvolvem meios de enganar os
porteiros, com conhecimento dos horários dos moradores e utilizando recursos de alpinismo
para escalar varandas e janelas, entre outras inúmeras formas desenvolvidas para burlar a
segurança (CALDEIRA, 2000).
CAPÍTULO 2
O ESPAÇO COMUM
NOS ENCLAVES E CONDOMÍNIOS
66
INTRODUÇÃO
Esse capítulo tem como objetivo a construção de um conceito de espaço coletivo ou
comum, tendo em vista que esse espaço desempenha um papel fundamental na vida das
pessoas que moram em condomínio. O espaço coletivo é palco para as mais diversas
atividades de socialização dentro dos condomínios, desde encontros ocasionais, atividades de
lazer e diversão e principalmente para muitas das transgressões sociais que veremos ao
decorrer desta pesquisa.
O espaço coletivo surge juntamente com os novos espaços fechados destinados a um
público a exemplo dos shoppings e condomínios, que se constituem em enclaves, no sentido
atribuído por Caldeira (2000), e por isso mesmo refletem a busca por um espaço “público” de
qualidade cercado por segurança e conforto. Tendo em vista a natureza indissociável do
espaço coletivo e a ocorrência de interações sociais em diversos níveis, é fundamental uma
discussão sobre a relação dos espaços comuns no interior de enclaves e particularmente nos
condomínios.
A conceituação do espaço coletivo ou comum requer, em um primeiro momento, um
entendimento mais aprofundado e abstrato do significado de espaço e, conseqüentemente,
uma conceituação do que vem a ser lugar. Espaço e lugar são conceitos complementares, mas
distintos, que guardam diferenças com relação às práticas sociais a que dão suporte. Feito
isso, podemos partir para uma conceituação do espaço coletivo com base nas concepções de
espaço público e privado no Brasil.
67
O ABONDONO DO ESPAÇO PÚBLICO: ARQUITETURA DO MEDO E ENCLAVES
FORTIFICADOS
O abandono do espaço público
Em City Making, Gerald Frug tem como premissa básica a de que as cidades se
desenvolvem dentro de uma lógica de heterogeneidade; essa é a própria ideologia da cidade.
Para Frug (idem) a cidade representa a diversidade, onde a convivência com o “outro” e o
“diferente” é exercitada no dia-a-dia. A cidade nos ensina como interagir com estranhos e esse
senso de “estar entre estranhos” é o que Frug se refere no subtítulo do livro e que vem sendo
perdido ao longo dos anos, ou seja, a prática de building communities without building
walls”. Frug nos faz atentar para o fato de que talvez essa proposta seja mal-interpretada por
conta da palavra “comunidade”, porque esta vem sendo exaustivamente utilizada. O termo
comunidade muitas vezes adquire significados e formas diversas, dependendo do autor que a
utiliza (capítulo 3). Neste sentido, Frug parece evitar o senso romântico de comunhão
associado a esse termo e “comunidadecomo uma multidão heterogênea que convive sem
tensões explosivas. Resumindo, é exatamente a partir da diversidade que é construída a
identidade da cidade e é nesta teia de relações entre atores sociais, muito mais do que suas
características de espaço construído, que a cidade constrói sua face.
Contudo, o que vemos se desenvolver dentro das cidades é exatamente o contrário do
convívio harmônico promovido pela diversidade. O que vemos em realidade é uma grande
transformação do espaço urbano, onde a cidade torna-se cada vez mais segregada, sendo a
criminalidade e a violência urbana os principais vilões que favorecem o fechamento de
espaços normalmente e usualmente públicos como parques, bancos e locais de comércio e
serviços. Hoje essas atividades encontram-se, em grande parte, localizadas dentro de locais
protegidos por grades, muros, portarias e segurança privada, como é o caso dos shopping
68
centers. O controle de entrada e saída de pessoas, em muitos casos, conta também com
segurança feita por empresas especializadas. Em bancos já é comum o uso de câmeras
internas para monitorar o movimento e ajudar na identificação de suspeitos em casos de
roubo. Em alguns países da Europa, nos Estados Unidos e até mesmo no Brasil, o uso de
câmeras é feito também nas ruas, em locais considerados mais críticos, pelo movimento
maior de pessoas.
Essa “arquitetura do medo”, como se referem autores como Flusty (1997), Jacobs
(2000) e Newman (1972) apesar de criativa e engenhosa, propicia uma leitura segregada da
cidade. Locais que, pela própria concepção de uso público, deveriam ser abertos a todos, são
na verdade espaços fechados ao público em geral, porque precisam controlar a entrada e
saídas de pessoas. De acordo com Richard Sennett (1998), esta “arquitetura do medo” está
aliada à morte do espaço público. Segundo ele, os espaços públicos, e por excelência a praça,
estão “morrendo”. Este espaço não é mais convidativo ao estar, mas sim ao passar. Isto
concorre para uma valorização dos espaços íntimos, ou seja, uma vez mais fica bem delineado
o limite entre o espaço público e o privado:
“o espaço público morto é uma das razões, e a mais concreta delas, pelas quais as pessoas
procurarão um terreno íntimo que em território alheio lhes é negado. O isolamento em meio à
visibilidade pública e a exagerada ênfase nas transações psicológicas se complementam. Na
medida em que alguém, por exemplo, sente que deve se proteger da vigilância dos outros no
âmbito público, por meio de um isolamento silencioso, compensa isso expondo-se para
aqueles com quem quer fazer contato. A relação complementar existe então, pois são duas
expressões de uma única e geral transformação das relações sociais” (SENNETT, 1998: 29-
30).
Sennett (1998) afirma que com a morte do “homem público” acontece uma
valorização do eu individual, que por sua vez, ocorre em detrimento da vida social: “temos
tentado tornar o fato de estarmos em privacidade, a sós ou com a família e amigos íntimos, em
69
um fim em si mesmo”. Sennett vai mais além, quando se refere à idéia do indivíduo como um
ator social:
“... o homem em público possui uma identidade enquanto ator um en-ator, se quiserem e
essa identidade o envolve e envolve outros num laço social. A expressão enquanto
apresentação das emoções é o trabalho do ator se tomarmos provisoriamente essa palavra
num sentido bem amplo. Sua identidade se baseia em fazer expressão como um trabalho de
apresentação. Quando uma cultura passa da crença na apresentação da emoção para a
representação desta, de modo que as experiências individuais, cuidadosamente reportadas,
cheguem a ser expressivas, então o homem público perde sua função e também sua identidade.
Assim como ele perde uma identidade significativa, a própria expressão irá se tornando cada
vez menos social” (SENNETT, 1998:139-140).
James Holston (1982) também faz uma alusão a essa “morte” do espaço público,
através de uma análise da rua, suas representações e seu espaço:
“Sugiro que a desintegração da rua e, como a rua é o lugar mais público das cidades, a
desintegração, também do espaço público organizado estão, inseparavelmente, ligadas aos
fundamentos teóricos e culturais da própria cidade de arquitetura moderna” (HOLSTON,
1982: 153).
Os enclaves fortificados
A versão que mais vem se popularizando desses espaços que buscam a segurança é o
Condomínio Residencial, pois se acredita que com todos esses equipamentos tecnológicos de
guaritas, câmeras, portões eletrônicos, etc., a questão da segurança ficaria, em um sentido
geral, resolvida. Esse senso comum é valorizado tanto pelos empreendedores como pelos
proprietários. No entanto, muitos estudos mostram que muros e portões além de não
resolverem a questão da violência externa geram mais medo e ansiedade (BLAKELY &
SNYDER, 1997; LOW, 2003).
70
Teresa Caldeira, em Cidade de Muros, nos mostra como São Paulo tornou-se uma
cidade fortificada, isto é, de como a classe média alta e a classe alta passaram a viver no que
ela chama de “enclaves fortificados”, na tentativa de escapar da criminalidade que se alastra
dia a dia:
“Os enclaves fortificados incluem conjuntos de escritórios, shopping centers, e cada vez mais
outros espaços que têm sido adaptados para se conformarem a esse modelo, como escolas,
hospitais, centros de lazer e parques temáticos. Todos os tipos de enclaves fortificados
partilham algumas características básicas. São propriedades privadas para uso coletivo e
enfatizam o valor do que é privado e restrito ao mesmo tempo que desvalorizam o que é
público e aberto na cidade. São fisicamente demarcados e isolados por muros, grades, espaços
vazios e detalhes arquitetônicos. São voltados para o interior e não em direção à rua, cuja vida
pública rejeitam explicitamente. São controlados por guardas armados e sistemas de
segurança, que impõem as regras de inclusão e exclusão. São flexíveis: devido ao seu
tamanho e aos sistemas de segurança, eles são espaços autônomos, independentes do seu
entorno, que podem ser situados praticamente em qualquer lugar” (CALDEIRA, 2000: 258-
259).
A forma de enclave estudada por Caldeira (2000) são os “condomínios fechados”, que
nessa pesquisa são chamados de Condomínios Residenciais Horizontais. Segundo Caldeira, os
“condomínios fechados” são a versão residencial dos enclaves fortificados. O condomínio,
assim como as outras formas de enclave, aumenta a segregação, tanto no nível social quanto
no espacial, promovendo o desuso e a discriminação do espaço público e daqueles que o
utilizam. Segundo Caldeira (idem), além da segregação social e espacial promovida pelos
enclaves fortificados existe o fato de que estes falham na tentativa de produzir uma vida
harmônica e ideal em seu meio interno e isolado, ou seja, os condomínios falham na tentativa
de produzir comunidades harmônicas e sem o problema da violência.
Dessa forma, Caldeira (2000) ressalta a dificuldade em organizar a vida social dentro
dos condomínios. A ocorrência de crimes, como roubos, furtos, estupros, homicídios e até
71
atropelamentos são relatadas em seu estudo. Pelo fato de os condomínios horizontais
possuírem uma estrutura autônoma e independente do restante da cidade, as pessoas tendem a
se isolar do restante desta. Esse isolamento no qual as pessoas estão compelidas é aplacado ou
contornado pelos equipamentos domésticos como a televisão, o vídeo, a TV por assinatura, o
telefone, o fax e o computador (internet). Assim, o indivíduo pode resolver muitas de suas
necessidades sem precisar sair de casa; comprando comida, medicamentos, livros, roupas e
eletrodomésticos, ou ainda efetuando pagamentos, enviando e recebendo documentos, etc.
Todavia, esse isolamento restringe os contatos sociais, especialmente entre extratos sociais
diferentes, desabilitando esses indivíduos para o convívio social e a socialização como um
todo.
Paralelo a isto, a vida no condomínio residencial está sendo correlacionada com o
aparecimento de novos comportamentos sociais. Alguns destes são a desobediência a leis,
normas e regras dentro dos condomínios residenciais, que é um fenômeno mais comum do
que normalmente se pensa. Na verdade, apesar de todos os cuidados com a segurança externa,
o problema da segurança interna é bem mais comum, como relata Caldeira (CALDEIRA,
2000; LOPES, 2000).
Além da falta de segurança interna, o maior problema que surge dentro dos
condomínios são as transgressões sociais. Este tipo de transgressão ocorre pela falta de
obediência às normas que regulamentam os condomínios como as leis internas e também pela
desobediência às regras de conduta social em geral, que são regras de convivência e de boa
vizinhança. Esse problema em parte pode ser visto como conseqüência do número elevado de
moradores nesse tipo de condomínio, mas, sem dúvida, é um problema gerado também pela
dificuldade de regulamentação e execução de leis, fiscalização e controle das áreas comuns
(LOPES, 2000).
72
É paradoxal que o condomínio residencial surja como promessa de atendimento a
algumas necessidades, já mencionadas anteriormente, e solução para problemas externos
como a violência urbana, ao mesmo tempo em que surgem dentro deles novos problemas,
como os de segurança interna. Assim, todo o aparato de proteção externa não consegue livrar
os (as) moradores (as) de problemas quanto à segurança e tranquilidade internas no
condomínio.
DISTINGUINDO ESPAÇO E LUGAR
É necessário esclarecer os conceitos de espaço e lugar para podermos situar
posteriormente o conceito de espaço coletivo. Esses conceitos têm sido abordados por
diversas áreas do conhecimento ao longo do tempo, tais como a geografia, a sociologia, a
filosofia e a arquitetura. As concepções variam de uma área para a outra, mas especialmente
entre os autores, que tratam sobre o tema independentemente das suas respectivas áreas de
estudo. Por essa razão abordaremos as concepções de três autores consideradas relevantes:
Michel de Certeau, Anthony Giddens e Michel Foucault.
“O espaço estaria para o lugar como a palavra quando falada, isto é, quando percebida na
ambiguidade de uma efetuação, mudada em um termo que depende de múltiplas convenções...
Diversamente do lugar, não tem portanto nem univocidade nem a estabilidade de um
‘próprio’” (DE CERTEAU, 1994: 202).
O sociólogo Michel de Certeau delimita campos distintos para as concepções de
espaço e lugar. Para ele o lugar é onde se a relação de coexistência entre elementos. O
lugar é regido pela lei do “próprio” e do “estável”. Distintamente, o espaço é produzido pelo
movimento, pelo tempo e por operações. “O espaço é o lugar praticado” (DE CERTEAU,
73
1994: 200). Percebemos que uma distinção tênue entre espaço e lugar na concepção de
Certeau. Isso acontece porque espaço e lugar se justapõem em alguns momentos sem, no
entanto se confundirem.
“Um lugar é a ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem elementos nas relações de
coexistência. se acha, portanto excluída a possibilidade, para duas coisas, de ocuparem o
mesmo lugar. impera a lei do ‘próprio’: os elementos considerados se acham uns ao lado
dos outros, cada um situado num lugar ‘próprio’ e distinto que define. Um lugar é portanto um
configuração instantânea de posições. Implica uma indicação de estabilidade” (DE
CERTEAU, 1994: 201).
Muito dos conceitos de de Certeau derivam da filosofia de Merleau-Ponty. Esse último
fazia uma distinção entre um “espaço geométrico” e um “espaço antropológico”, que, para de
Certeau, seriam o “lugar” e o espaço”, respectivamente. No entanto, a distinção feita por
Merleau-Ponty originava-se de uma preocupação, que seria separar da noção geométrica a
experiência de um “fora”, ou seja, a experiência da relação com o mundo. O ser humano
situado em sua relação com o meio, uma experiência fenomenológica (DE CERTEAU, 1994).
“Existe espaço sempre que se tomam em conta vetores de direção, quantidades de velocidade
e a variável tempo. O espaço é um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo
conjunto dos movimentos que se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações
que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade
polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais... Em suma, o espaço é
um lugar praticado. Assim a rua geometricamente definida por um urbanismo é transformada
em espaço pelos pedestres. Do mesmo modo, a leitura é o espaço produzido pela prática do
lugar constituído por um sistema de signos – um escrito” (DE CERTEAU, 1994: 202).
Acrescentando algo mais às concepções de espaço e lugar de de Certeau, Anthony
Giddens (HALL, 2004 e SIMÕES, 2004) amplia essas noções vinculando-as aos conceitos de
modernidade tardia e globalização. Isso porque Giddens acredita que os processos de
74
globalização têm início muito antes do que se supõe atualmente. Segundo ele, esse processo
começa juntamente com o processo de modernização, ou seja, na passagem da Idade Média
para a Idade Moderna, com a substituição da economia baseada na agricultura para
industrialização. Em outras palavras, para Giddens nas sociedades pré-modernas, baseadas na
agricultura, as idéias de lugar, espaço e também de “tempo” eram fixas e coincidentes. O
processo de modernização e suas consequências geram um desencaixe do lugar, do espaço e
do tempo, destruindo a idéia fixa e estreita entre os três na medida em que promovem um
“tempo universal”
(SIMÕES, 2004).
“Nas sociedades pré-modernas, o espaço e o lugar eram amplamente coincidentes, uma vez
que as dimensões espaciais da vida social eram, para a maioria da população, dominadas pela
presença - por uma atividade localizada ... A modernidade separa, cada vez mais, o espaço do
lugar, ao reforçar relações entre outros que estão “ausentes”, distantes (em termos de local), de
qualquer interação face a face. Nas condições da modernidade..., os locais são inteiramente
penetrados e moldados por influências sociais bastante distantes deles. O que estrutura o local
não é simplesmente aquilo que está presente na cena; a “forma visível” do local oculta as
relações distanciadas que determinam sua natureza” (Giddens apud Hall, 1994:18).
Segundo Giddens “o lugar é específico, concreto, conhecido, familiar, delimitado, ou
seja, o ponto de práticas sociais específicas que nos moldaram e nos formaram e com as quais
nossas identidades estão estreitamente ligadas” (Hall, 2004: 72 [grifo nosso]).
Assim como Giddens, Michel Foucault trabalha com a noção de espaço e
espacialidades dentro da perspectiva da modernidade tardia. Para isso ele desenvolve um
termo chamado “heterotopias”, que são espaços característicos e representativos do mundo
moderno. As heterotopias existem em todas as sociedades, mas tomam variadas formas ao
longo do tempo. Para Foucault, a noção de espaço é fundamental para qualquer forma de vida
pública.
75
“A heterotopia é capaz de justapor em um único lugar real, vários espaços, várias vistas que
são em si mesmos incompatíveis... eles (espaços, vistas) m uma função em relação a todo o
espaço que resta. Esta função revela-se entre dois pólos extremos. O papel dela (função) é
tanto o de criar um espaço de ilusão que expõe todo lugar real, todas as visões dentro das quais
a vida humana é compartilhada, ainda mais ilusória... ou, ao contrário, o de criar um espaço
que é outro, um outro espaço real, perfeito, meticuloso e tão organizado quanto o nosso espaço
é desordenado, mal construído e confuso. Este último tipo seria a heterotopia, não de ilusão,
mas de compensação; e eu imagino se certas colônias não tem funcionado de alguma forma
dessa maneira” (Foucault, 1986:23, [tradução da autora]).
As heterotopias são espaços “verdadeiramente vividos e socialmente produzidos”,
espaço heterogêneo de lugares e relações entre eles. São ainda, “concreto e abstrato ao mesmo
tempo”, o habitus das práticas sociais (FOUCAULT, 1986).
“O espaço em que nós vivemos que nos tira de nós mesmos, no qual a erosão de nossas
vidas, nosso tempo e nossa história ocorre; o espaço que nos prende e consome é também, em
si mesmo, um espaço heterogêneo. Em outras palavras, nós não vivemos em um tipo de vazio
no qual podemos colocar indivíduos e coisas. Nós não vivemos em um vazio que pode ser
colorido com diversas tonalidades de cores. Nós vivemos dentro de um conjunto de relações
que delineiam posições (lugares), as quais são irredutíveis umas com as outras e, de forma
alguma, super impostas uma com as outras” (Foucault, 1986:23, [tradução da autora]).
A contribuição de Foucault reside em trazer à tona a necessidade da noção de
espacialidade para o momento contemporâneo. Os estudos acadêmicos privilegiaram por
muito tempo as noções de tempo dentro da história, em detrimento da noção de “espaço”.
Foucault não propõe que se faça o contrário, privilegiando o espaço em um posicionamento
anti-histórico. Ele propõe que a história seja “espacializada” desde o seu começo. Para isso
Foucault retoma o debate do estruturalismo em uma de suas mais importantes contribuições, a
reafirmação do espaço na teoria social (SOJA, 1999).
Fazendo uma comparação entre Giddens e Foucault, vemos interpretações diferentes
do papel da modernidade e sua relação com lugar e espaço. Para Giddens os processos de
76
modernização promoveram uma dissociação entre o lugar, o espaço e o tempo. De forma
contrária, para Foucault as heterotopias que são os espaços produzidos pelo mundo
moderno englobam as noções de lugar e espaço numa só. No entanto esses autores têm
visões semelhantes quanto à importância da dimensão histórica para o entendimento dessas
noções.
Essa discussão sobre os conceitos de espaço e lugar nos desperta para a constatação de
que os espaços heterotópicos estão presentes em nossas vidas, porque hoje podemos observar
que existem espaços que englobam múltiplas características como, por exemplo, os espaços
dentro dos enclaves. Dentro dos enclaves há uma sobreposição de espaços, em um shopping
center o espaço é ao mesmo tempo público e privado, de comércio e de lazer, passeio. Dentro
dos condomínios isso não é diferente, observamos uma associação entre espaços privados e
espaços coletivos, entre espaço de moradia e espaço de lazer, e em alguns casos de comércio e
serviço. Em muitas cidades do Brasil é grande o número de condomínios que oferecem
escolas, shoppings, centros empresariais e serviços utilitários diversos, o maior exemplo desse
tipo de condomínio são os Alphaville de São Paulo, considerados como verdadeiras cidades.
A DICOTOMIA PÚBLICO E PRIVADO NO BRASIL
Mesmo percebendo os espaços heterotópicos, a dicotomia público versus privado
ainda existe claramente em muitos “lugares” da cidade. Os conceitos de público e privado
surgiram no império romano no qual, “o termo público remete à esfera da coletividade e ao
exercício do poder, à sociedade dos iguais. Em contrapartida, o privado se relaciona com as
esferas particulares, à sociedade dos desiguais” (CRUZ, 2007).
A definição de público é aquilo “relativo ou pertencente a um povo, a uma
coletividade; relativo ou pertencente ao governo de um país, estado, cidade etc.; que é aberto
77
a quaisquer pessoas, sem caráter secreto; manifesto; transparente; universalmente conhecido”
(HOUAISS, 2001). Podemos ainda, definir público em oposição ao privado. A definição de
privado, por sua vez, é aquilo “que pertence a um indivíduo particular; relativo ou pertencente
à fonte não governamental; assumido individualmente ou por conta própria; restrito,
reservado a quem de direito; confidencial” (HOUAISS, 2001). Ou ainda, de forma análoga,
em oposição ao público.
Contudo, a definição clara do limite entre os espaços públicos e privados não é
estática, as fronteiras entre público e privado sofreram muitas transformações ao longo da
história. As cidades européias medievais construíram-se através de uma constante apropriação
da terra blica e da definição desordenada de ruas, normalmente estreitas e insalubres. Com
o surgimento dos Estados Nacionais, foram impostas normas e leis para definir o
comportamento do cidadão, sobretudo no espaço público, que passou a ser caracterizado por
relações desiguais (CRUZ, 2007). Com a consolidação do Estado e o surgimento do Mercado,
surge o contrato, que passa a regular relações não controladas pelo Estado, trazendo uma
relação entre pares iguais para a esfera privada (BOBBIO, 1992).
Ainda é possível verificar essa dicotomia entre blico e privado e espaço público e
espaço privado nas cidades em geral. Todavia, essa delimitação clara está sendo cada vez
mais mesclada, e isso ocorre por inúmeras razões. Acreditamos que uma das razões principais
é o desequilíbrio das relações entre Estado, sociedade e indivíduo:
“Durante a modernidade, tanto os dominados como os dominantes haviam sido considerados
cidadãos diante da legislação do Estado; ou, se preferirmos, coletivamente como povo perante
a Constituição. A razão universal, formal e abstrata, criara entre o indivíduo – com sua
consciência subjetiva e o mundo objetivo uma oposição que era mediada pelo espaço da
política. No entanto, na pós-modernidade o conceito de sociedade civil foi absorvido pelo
mercado e não pelo Estado. Na verdade, a pós-modernidade não mais produziu uma
identidade coletiva; o sentido dessa identidade não foi mais percebido nem pela cultura e nem
por uma ideologia de legitimação associada ao poder e a uma comunidade política. Para a pós-
78
modernidade, a ordem social implicou a superação de uma dinâmica de oposição de classes
mediante a criação de uma nova estrutura de castas: de um lado, os incluídos, de outro, os
excluídos de todos os tipos” (DUPAS, 2005:34).
Com o desequilíbrio nessas relações a liberdade está cada vez mais reduzida ao
consumo e consequentemente passa a dissociar-se do compromisso com a sociedade. Cada
um passa se preocupar apenas com si mesmo, o individualismo e desigualdade são marcos da
nossa sociedade e eles ameaçam as nossas esperanças e nossa confiança em tudo o que é
coletivo ou depende de uma coletividade. Através desse sentimento podemos entender como e
por que está acontecendo o abandono do espaço público, ou “a morte do espaço público”,
como prefere Sennett (1988).
Há um sentimento de mal-estar geral, traduzido pela ansiedade, desesperança e,
sobretudo, insegurança (FREUD, 1961; BAUMAN, 2003; DUPAS, 2005; GIDDENS, 2005).
Os enclaves fortificados no mundo todo são uma resposta a esses sentimentos, busca-se a
segurança física imediata, mas indiretamente busca-se por segurança psicológica e emocional.
No Brasil isso não ocorre de forma diferente, talvez até de forma mais exacerbada
porque os índices de desigualdade social e econômica são fatores que alimentam a
insegurança, o descrédito e a descrença na capacidade do Estado tratar essas questões
estruturais. Consequentemente existe um abandono de tudo que está relacionado com o que é
público: saúde, educação, habitação, segurança.
Os enclaves são uma tentativa de (re) produzir um espaço público seguro, controlado,
agradável, limpo, tudo o que não podemos mais encontrar no espaço público. No entanto, o
que é produzido dentro dos enclaves não é espaço público, é um espaço de uso público, mas
de propriedade privada e consequentemente não está aberto ao público em geral. Está aberto a
quem pode pagar para “usar” esses espaços, portanto, a maioria da população está excluída do
perfil de “consumidores de espaços como shoppings, clubes, centros empresariais e
79
condomínios. No caso dos condomínios o espaço não chega a ser de uso público, é de uso de
uma coletividade, proprietários de espaços privados do condomínio, o que segrega e divide
ainda mais a sociedade.
Entre a casa e a rua
A dicotomia entre público e privado na sociedade brasileira está retratada de forma
clara e sintética na idéia de casa” e rua” do antropólogo Roberto Da Matta. Segundo ele, a
“casa” representa a esfera de tudo o que é privado e, de forma análoga, a “rua” representa a
esfera do público, com todas as respectivas representações culturais construídas ao longo da
história. Por outro lado, o par casa e rua também é utilizado pelo autor para a construção de
um referencial individual. Dessa forma a “casa” também pode representar o que é familiar,
como podemos perceber no texto:
“A casa define tanto um espaço íntimo e privativo de uma pessoa (por exemplo: seu quarto de
dormir) quanto um espaço máximo e absolutamente público, como ocorre quando nos
referimos ao Brasil como nossa casa. Tudo, obviamente, depende de outro termo que está
sendo implícita ou explicitamente contrastado. Deste modo, meu quarto (por oposição aos
outros quartos) é a ‘minha casa’. Já na vizinhança, refiro-me à minha casa incluindo na
expressão não a residência em si, mas também o seu jardim e o seu quintal. Mas, se estou
no “centro” da cidade, minha casa pode muito bem ser o meu bairro, com todas as suas ruas e
jardins” (DA MATTA, 1997: 16).
A “rua” seria o referencial contrário e complementar ao de casa, isto é, tudo o que é
estranho e não conhecido. Com essa descrição o autor coloca claramente o problema
referencial/espaço. Contudo, em sua colocação a casa quando contrastada com a vizinhança
inclui não a residência em si, mas também inclui o quintal e o jardim que representam os
espaços de transição entre o público e o privado. Seguindo esse raciocínio, o que dizer então
quando a casa não é mais uma casa e sim uma casa ou apartamento dentro de um
80
condomínio? Isto significa que os espaços de transição deixam de ser propriedade privada e
passam a ser propriedade de uma coletividade.
Outro contraste entre a casa e a rua feito por Da Matta é que, segundo ele, no Brasil
“sabemos que em casa podemos fazer coisas que são condenadas na rua”. Em casa somos
“supercidadãos”, temos um lugar determinado e permanente na hierarquia da família. Já na
rua somos “subcidadãos”, indivíduos anônimos e desgarrados. Talvez, por isso nosso
comportamento na rua seja tão negativo:
“Jogamos o lixo para fora de nossa calçada, portas e janelas; não obedecemos às regras de
trânsito, somos até mesmos capazes de depredar a coisa comum, utilizando aquele célebre e
não analisado argumento segundo o qual tudo que fica fora de nossa casa é um ‘problema do
governo’! (...) limpamos ritualmente a casa e sujamos a rua sem cerimônia” (DA MATTA,
1997: 20).
As indagações que surgem a partir das questões levantadas por Da Matta são muitas:
Na casa, cuidamos dos jardins e quintais porque são exclusivamente nossos? Porque na casa
somos supercidadãos? Será que cuidaremos tão bem dos quintais e jardins em um
condomínio, quando estes são pertencentes a uma coletividade? Nos espaços comuns do
condomínio nos comportamos como supercidadãos ou subcidadãos?
O condomínio é um espaço privado em oposição ao espaço público da rua, assim
como Da Matta propõe a “casa” versus a “rua”, ou ainda, o “público” versus o “privado”.
Porém, essa constatação não abrange todas as nuances dessa relação. Isto porque, categorizar
todo o espaço do condomínio como sendo privado é simplificar toda uma relação de espaços
dentro do próprio condomínio.
Em termos físicos, a diferença entre a “casa” e a “rua” é notável, uma é privada e a
outra éblica. Todo o espaço físico entre-muros da casa é de propriedade exclusiva do dono
da casa e, de forma análoga, todo o espaço físico da rua é público, todos são donos. No
81
entanto, quando trazemos essa comparação para o caso do condomínio essa relação não pode
ser estabelecida de forma dicotômica, porque dentro do condomínio uma sobreposição de
espaços “heterotópicos”. O espaço físico entre-muros do condomínio não de propriedade
exclusiva de um único dono.
O espaço do condomínio está composto por dois tipos de espaços distintos: os espaços
de propriedade privada exclusiva que são as unidades residenciais sejam elas casas ou
apartamentos e os espaços comuns que são os espaços de propriedade privada e de uso
comum ou coletivo, portanto, compartilhados por todos os proprietários de casas ou
apartamentos nos condomínios. Esse espaço comum não é privado nem público, mas reúne
características dessas duas categorias, ou seja, é privado na medida em que pertence a um
grupo privado e está localizado em uma área cercada e privativa; mas também é público na
medida em que pertence a um grupo de pessoas que podem fazer uso deste, juntamente com
parentes e amigos. Portanto, a caracterização mais precisa desses espaços é serem espaços
privados de uso coletivo.
No quadro abaixo podemos ver mais claramente os três níveis básicos de propriedade
a que esse trabalho se refere e os outros níveis que surgem ao se cruzar as categorias de
propriedade e uso. O primeiro é o espaço privado exclusivo de uma pessoa ou grupo
familiar. O segundo é o espaço comum ou coletivo, geralmente confundido com espaço
privado, porque como vimos trata-se de fato de um espaço privado pertencente a um grupo. O
terceiro é o espaço público, com todas as denominações e representações atreladas a ele
através da cultura brasileira ao longo da história, na qual o espaço blico é maltratado,
relegado, é um espaço negado e adquire uma conotação quase pejorativa por ser de todos.
82
Quadro 2.1. – Quadro demonstrativo do cruzamento uso x propriedade e possíveis variações
USO
Propriedade
Exclusivo
Comum (Coletivo)
Com restrições
Sem restrições
(público)
PRIVADA
Individual
* Casa
* Apartamento
* Escritório particular
* Shopping
(1 proprietário)
Condominial
* Apto do zelador do
condomínio
* Shopping Center
* área comum dos
condomínios
PÚBLICA
Estatal
* Residência de
Governador
* Teatro público
Dominial
* Ruas, praças e
Praias
Espaço comum nos enclaves e condomínios: quando a casa vira rua e a rua vira casa
A questão do espaço comum está diretamente ligada ao fato de que atividades antes
desenvolvidas no espaço público lazer, comércio, etc. estão cada vez mais sendo
desenvolvidas em espaços privados de uso coletivo. São shoppings, parques, clubes, centros
empresariais, etc. Essa “privatização” de espaços públicos gera um novo tipo de espaço, ou
seja, o espaço de uso público ou coletivo, mas de domínio privado. Esse novo espaço é,
sobretudo, de uso coletivo, mas como o cuidado e a manutenção são feitos de forma privada,
consequentemente, cria-se um conflito entre a esfera do público e do privado.
Antes desse novo espaço, a relação público versus privado era bem delimitada e
definida em seus respectivos papéis. Com a criação desse novo espaço comum essas duas
esferas se fundem em um espaço. Da mesma forma o comportamento das pessoas com
relação a esse espaço torna-se confuso. Por um lado tem-se um espaço aberto ao público,
como num shopping, mas por outro lado esse espaço não é a rua, pertence a um proprietário
ou a um grupo de proprietários, como nos shoppings. Dessa forma, a pessoa sente-se confusa
ao encontrar-se em um espaço fechado, vigiado, bem cuidado, ou seja, com aspecto de
privado, mas ao mesmo tempo esse espaço é aberto para o uso de todos.
O entendimento é ambíguo nesse caso, porque não se sabe se devemos nos comportar
como se estivéssemos em um espaço privado ou público. Isso aumenta ainda mais no caso do
83
Brasil onde a relação público versus privado é antagônica. No Brasil o espaço privado sempre
foi valorizado e bem cuidado, enquanto que o espaço público sempre foi maltratado e
relegado.
O Espaço comum e as transgressões no condomínio
Quando trazemos a discussão entre público e privado para o condomínio, a questão
fica mais exacerbada. Isso porque o condomínio é a associação de espaço privado e espaço
comum, isto é, não espaço público. E a relação desses espaços é conflitante na medida em
que o espaço comum assume características mais ambíguas do que, por exemplo, em um
shopping. Esse ambiguidade acontece porque as pessoas por um lado tratam o espaço comum
como se fosse privado, abrangendo-o como uma extensão de suas casas, caracterizando uma
expansão de direitos. Por outro lado, tratam o espaço comum como se fosse público, ou seja,
sem o menor cuidado ou preocupação, o que caracteriza uma isenção de responsabilidades.
A expansão dos direitos com relação ao espaço comum pode ser claramente
observada nos exemplos dados por Caldeira em um condomínio Alphaville em São Paulo, no
qual os moradores utilizam o espaço coletivo do condomínio de forma arbitrária.
(CALDEIRA, 2000). A isenção de responsabilidades é observada pelo mau uso desses
espaços e até mesmo através de atos extremos como os atos de vandalismo comuns em
condomínios. O vandalismo sempre esteve associado ao espaço público, isto é, o espaço que é
de todos e que ninguém cuida. O fato de atos como estes acontecerem em espaços comuns de
condomínios revela o sentimento de algumas pessoas com relação a esse espaço, tratando-o
como se ele fosse público. Por todas essas razões, o espaço comum do condomínio passa a
ser o palco principal de conflitos e o mais grave é que esses conflitos tendem a ser resolvidos
de forma particular sem a interferência da polícia ou da justiça (CALDEIRA, 2000).
84
Outro aspecto importante de ser ressaltado é com relação às normas. No espaço da
cidade as normas e leis são bem conhecidas de todos e o limite entre o público e o privado é
bem marcado. Quando se está em público o indivíduo sabe como deve se comportar. Porém, o
mesmo não ocorre nos condomínios, porque existe um senso comum que diz que dentro dos
condomínios se está fora das leis da cidade. O condomínio é um espaço de moradia que está
associado ao sentimento de liberdade e relaxamento. Nesse contexto, as pessoas esquecem
que o condomínio não é propriedade particular exclusiva – mas sim composto de propriedades
particulares permeadas por propriedade comum e agem como se normas, leis e regimentos
não existissem.
O ESPAÇO SOCIAL ORDINÁRIO E O ESPAÇO PESSOAL EXTRAORDINÁRIO
Se fizéssemos uma comparação tendo como referencial o indivíduo e sua vida social e
pessoal, poderíamos dizer que sua vida social está dentro de parâmetros regidos pelo
ordinário, enquanto sua vida pessoal é regida pelo extraordinário (DURKHEIM, 1996).
Nesse sentido, o indivíduo dentro dos espaços, nos quais se relaciona socialmente, estaria
num plano ordinário, uma vez que os acontecimentos nesse espaço estão dentro, em princípio,
de uma ordem normal, habitual, comum, corriqueira, ou seja, dentro de uma rotina que é
regida em geral por regras e leis formais, pré-estabelecidas e claras na maioria das vezes
como, por exemplo, as leis de trânsito. O trabalho, a escola, o trânsito, o supermercado, são
espaços que fazem parte de um cotidiano, de uma rotina de alguma forma estabelecida por
cada pessoa. Não necessidade de pensar sobre essa rotina, fazemos de modo automático,
que ela se reproduz e repete seguidamente. A rotina é encarada como uma necessidade, um
dever e até como uma obrigação, algumas vezes. Não há relaxamento quando você está dentro
85
dessa rotina, muito embora possa haver prazer em trabalhar, estudar, enfim fazer o que se tem
que fazer. As rotinas se entrecruzam no espaço social, comum a um grupo de pessoas e as
ações realizadas neste. Estas ações são pensadas como fazendo parte de uma rotina, portanto
dentro de um mundo ordinário.
O espaço pessoal do indivíduo é em princípio seu lar, onde ele se relaciona com sua
família e seus amigos. Nesse espaço doméstico, o indivíduo não está diretamente regido por
regras formais externas – as regras formais externas existem indiretamente – a não ser aquelas
estabelecidas no âmbito familiar e que mudam de família para família. Há também uma
rotina, mas uma rotina não obrigatória. Em seu lar o indivíduo relaxa das tensões fora de casa
porque está em um espaço que é seu e no qual ele estabelece quais são as regras às quais ele
irá obedecer e quando pode quebrá-las. As ações podem a qualquer momento fugir da rotina
sem qualquer prejuízo externo, social. Dentro de seu lar, o indivíduo pode se considerar fora
da rotina do ordinário, ele está dentro do extraordinário.
No entanto essa comparação vai além da existência ou não da rotina e de ações
comuns e habituais. O espaço social é também, em geral, um espaço de uso público enquanto
o espaço pessoal, doméstico, é um espaço privado. Essa contraposição é mais um elemento
que ratifica a idéia de ordinário e extraordinário. Espaço público e ordinário é um espaço
comum, coletivo e habitual, mas também é ordinário em outro sentindo, quando é considerado
de má qualidade e inferior pela maioria das pessoas que faz uso dele. Não faltam exemplos da
falta de zelo tanto do poder público como dos usuários desse espaço: atos de vandalismo;
condição de serviços oferecidos como transporte, segurança. Nesse espaço, nota-se uma
ausência de preocupação com a coletividade, cada indivíduo faz uso desse espaço não como
se fosse exclusivo, porque nesse caso teria zelo para poder utilizá-lo depois, mas faz uso como
se esse espaço fosse efêmero, para ser usado apenas naquele momento e outras pessoas não
tivessem o direito de fazer o mesmo. No espaço social, público e ordinário o comportamento
86
em geral é de desrespeito às regras, elaboradas exatamente para garantir o bom
funcionamento do mesmo.
Por outro lado, o espaço pessoal e doméstico é em muitos aspectos o oposto do espaço
social e público. No espaço doméstico as regras são respeitadas porque se não o fossem seria
inviável viver dentro dele. Esse espaço é extraordinário, ele é considerado diferente do
restante porque é nosso e queremos poder desfrutar dele e continuar desfrutando sempre.
Mesmo maus hábitos e comportamentos tolerados no espaço público são absolutamente
banidos dentro do espaço doméstico. É exatamente nesse ponto em que ele também pode ser
considerado extraordinário, enquanto o ordinário pode ser desrespeitado porque tem
qualidade, o extraordinário não abre concessões, nenhum comportamento que venha por em
risco seu bom funcionamento é permitido.
Até agora estão muito bem definidos os pares público e privado, ordinário e
extraordinário. No entanto como podemos analisar de forma análoga o espaço privado de uso
comum ou coletivo? O espaço coletivo está exatamente entre o espaço social, público e o
espaço doméstico, privado, porque tem características de ambos. O espaço coletivo é de uso
público, mas de propriedade privada, é regido por regras formais – oficialmente e previamente
estabelecidas, mas que não são usualmente conhecidas são informais, regidas pelo senso
comum (conforme o quadro 2.2.).
Quadro 2.2. – Distinção entre espaço social, pessoal e coletivo
ESPAÇO USO ORDEM CLASSIFICAÇÃO DIREÇÕES DE COMPORTAMENTO
Social público
Regras
formais,
conhecidas
ordinário
desrespeito
às
regras, porque não há
preocupação em zelar
por esse espaço
respeito
às regras,
porque há
possibilidade de
punição
Pessoal privado
Regras
informais,
conhecidas
extraordinário
respeito
às regras,
porque há interesse
em zelar por esse
espaço
desrespeito
às
regras,
porque se quer
liberdade e
relaxamento
Coletivo/
comum
coletivo
Regras formais
e informais,
desconhecidas
Ordinário/
extraordinário
desrespeito
às
regras,
porque não há
preocupação em zelar
por esse espaço
desrespeito
às
regras,
porque se quer
liberdade e
relaxamento
87
As perguntas que surgem são: será que o uso público, somado ao desconhecimento das
regras formais e ao senso comum desprovido de preocupação com a coletividade são uma
receita para o desrespeito às regras? Será que o espaço coletivo dos enclaves, especialmente
dos condomínios, são facilitadores para a ocorrência de transgressões? Existe a possibilidade
da construção, por interesses privados, de espaços coletivos “saudáveis” entre a tensão
(ambivalente) público/privado? Essa pesquisa intenciona uma conclusão nas qual possamos
encontrar respostas para essas perguntas.
CAPÍTULO 3
O CONDOMÍNIO RESIDENCIAL:
UMA NOVA OMUNIDADE?
89
INTRODUÇÃO
Esse capítulo trata das formas de sociabilidade das pessoas em comunidade e em
sociedade através de pares de temas como: comunidade versus sociedade; liberdade versus
segurança; distância social versus associação individual e local versus global. A intenção aqui
é lançar bases teóricas para o entendimento e futura discussão de como se a sociabilização
das pessoas que moram em condomínios residenciais, ou seja, das pessoas que dividem um
espaço coletivo, mas que não apresentam, necessariamente, formas de compartilhamento e
associação semelhante às que encontramos em uma comunidade tradicional. Dessa
constatação, parte-se para a discussão de um novo conceito, o de “comunidade urbana”, que
possuem relações sociais semelhantes a uma comunidade, mas que na verdade estão inseridos
em uma malha social mais ampla de relações sociais que são criadas e recriadas.
A compreensão desse aspecto é fundamental para entendermos a ocorrência de
transgressões em um local de moradia, que em princípio estaria livre de comportamentos
transgressores, uma vez que todos estariam supostamente voltados para interesses comuns.
BUSCA POR UMA COMUNIDADE ATRAVÉS DA SEGREGAÇÃO SÓCIO-
ESPACIAL
Os enclaves residenciais e comerciais funcionam como comunidades artificiais no que
diz respeito à questão da segurança, seja ela efetiva de fato ou não. Como foi discutido no
capítulo anterior, a segurança é uma das principais qualidades que são “vendidas” pelos
enclaves, condomínios, shoppings centers, etc.
Entretanto, se por um lado opta-se por viver isolado do restante da sociedade em um
lugar à parte, controlado, junto com o que se acredita serem outros pares e, sobretudo
90
desfrutando de segurança, por outro, essa opção representa abrir mão da esfera pública e tudo
o que ela representa, em especial o anonimato e a liberdade. Dessa forma, a vida nesses
enclaves está associada à perda da privacidade, do anonimato, e, consequentemente, da
liberdade, uma vez que esta dentro dos enclaves é na verdade uma liberdade vigiada. Portanto,
liberdade e segurança são aspectos contraditórios e muitas vezes excludentes, como afirma
Bauman (2003).
Para se ter uma idéia mais clara dessa afirmação, basta comparar a questão da
segurança entre comunidades e sociedades. As comunidades estão muito mais relacionadas
com a questão da segurança, sendo seus membros responsáveis por proporcionar segurança
para todos da comunidade. Em troca da segurança, todos perdem de certa forma liberdades
individuais, que para garantir uma maior segurança, todos tinham que se submeter ao
controle social exercido pelo grupo. Nas comunidades, os indivíduos se conheciam
mutuamente e esse é um fator fundamental, pois quanto mais proximamente relacionados,
mais seguros todos se sentiam. O perigo é na verdade representado pelo estranho, o
desconhecido ou o que vem de fora; e é exatamente para fora que todas as estratégias de
segurança são direcionadas.
Com o surgimento das primeiras cidades, as pessoas experimentaram mais liberdade,
pois havia a possibilidade do anonimato, do não pertencimento a uma determinada
comunidade que exercesse sobre ele total controle. Pela primeira vez, as pessoas podiam estar
sós, sem laços de sustentação e segurança, que ninguém as conhecia, estando livres para
agir como desejassem e gozando de liberdade individual. No entanto, esse sentimento de não
pertencimento também trouxe algumas desvantagens, entre elas a perda relativa ou total da
segurança. A escolha por liberdade individual em detrimento da segurança foi, durante
séculos, a opção feita pelo ser humano. Contudo, essa opção vem se modificando nas últimas
décadas.
91
No mundo inteiro, após a década de 1960, houve um aumento considerável da
criminalidade que trouxe consequências em vários níveis da sociedade, incluindo a escolha de
uma nova morfologia espacial (YOUNG, 2002). O surgimento de “enclaves fortificados”
expressão utilizada por Teresa Caldeira (2000) e segregacionistas está relacionado a tais
modificações. Contudo, o que temos dentro destes enclaves são grupos de pessoas que
optaram por viver juntos em troca de status, prestígio, conforto, comodidade e, acima de tudo,
segurança (BLAKELY & SNYDER, 1997; LOPES, 2000; LOW, 2003), ou seja, não mais
comunidades vivendo juntas, de forma coesa e harmônica. Em contrapartida, quando se opta
por uma maior segurança, abre-se mão de liberdades individuais, e no caso dos enclaves isto
não é diferente. Neste sentido, a vida nos enclaves tolhe a liberdade individual, pois deixa-se
de ser anônimo, desconhecido e livre para fazer o que se deseja. As pessoas passam a ser
observadas nas portarias e guaritas, tendo que identificar-se constantemente, além de conviver
com outras pessoas estranhas em um espaço comum, perdendo sua privacidade, seu
anonimato e, consequentemente, sua liberdade de ir e vir sem ser observado.
Toda essa experiência de estar sendo observado ficou ainda mais evidente com o uso
de câmeras e circuitos internos de televisão que cada vez mais são rotineiros. As câmeras
tornam ainda mais explícita a perda da liberdade em troca da segurança, e se a princípio elas
estavam apenas dentro dos enclaves shoppings, condomínios, bancos, escolas, elevadores,
garagens, etc. – aos poucos elas estão sendo usadas para observar e controlar espaços públicos
como ruas, praças e praias.
A busca por segurança
Com o advento da urbanização, as relações sociais passaram do caráter de comunidade
para o de sociedade. Estas novas formas de relacionamento criadas na sociedade, dentro do
meio urbano, foram exaustivamente discutidas por autores como Benjamim (1985), Simmel
92
(1987), Park (1987), Wirth (1987), entre outros. Termos como “Anonimato”, “atitude blasé” e
“reserva” foram designados para conceituar comportamentos observados como provenientes
da interação entre pessoas que habitam os grandes centros urbanos, que estão sujeitos a um
turbilhão de estímulos e que naturalmente procuram nessas atitudes uma forma de proteção.
No entanto, mesmo lançando mão dareserva” e “indiferença”, a necessidade de
estabelecer relações sociais mais estreitas é intrínseca a maioria das pessoas; além do fato de
que estar em grupo ou dentro de uma coletividade, fornece às pessoas a impressão de estar em
segurança. A vida urbana trouxe assim para o indivíduo a possibilidade de escolha, de uma
liberdade individual, mas ao mesmo tempo menor em termos de segurança, que por sua vez só
pode ser alcançada coletivamente. Em resumo, a busca por segurança é uma das principais
causas da busca pelo estabelecimento de relações sociais em grupo.
Essa necessidade de se relacionar com outras pessoas encontra espaço com o
estabelecimento de pequenos grupos sociais urbanos como a família, amigos do trabalho, do
grupo religioso, da escola, ou seja, relacionamentos escolhidos voluntariamente através dos
locais frequentados por cada um. Nesses grupos, os laços sociais se assemelham aos
encontrados em comunidades, com a diferença de que cada pessoa pertence a diferentes
grupos simultaneamente, isto é, ela se divide em relações com grupos distintos, fazendo com
que cada um de nós passe a ter identidades líquidas, flexíveis e híbridas para os diferentes
tipos de situações em que nos encontramos cotidianamente (BAUMAN, 2001; HALL, 2004).
Dessa forma, para entendermos as relações sociais dentro dos condomínios residenciais é
preciso antes de mais nada saber um pouco mais sobre os processos de mudança social
sofridos pelas sociedades ocidentais ao longo do tempo.
93
De comunidade à sociedade
O advento da agricultura deu início a um grande processo de mudanças nas formas de
organização da humanidade. A possibilidade de se fixar em uma terra e dela poder retirar seu
alimento e sua sobrevivência fez com que o ser humano saísse de sua condição nômade e se
fixasse em um local que pudesse lhe proporcionar uma forma de vida mais estável, fazendo
com que ele exercesse um maior controle sobre sua própria vida. Com a expansão das
comunidades, cresce também o contingente populacional e em pouco tempo a idéia de
propriedade privada se torna comum. Em decorrência disto, surge a necessidade de se
estabelecer formas mais efetivas de organização social e administrativa, numa tentativa de
minimizar as relações conflitantes nas comunidades e sociedades.
As primeiras estruturas sociais formadas pela humanidade eram baseadas em
pequenos círculos e as formas de relação entre círculos vizinhos eram fechadas e
caracterizadas pela desconfiança. As pessoas pertencentes a um pequeno círculo possuíam um
campo estreito de ação para que pudessem desenvolver suas qualidades e movimentos
próprios, porque era apenas dentro do convívio com pessoas do mesmo círculo que se podia
aprender, relacionar-se ou realizar qualquer outra atividade. Alguns grupos políticos ou
religiosos e também grupos de parentesco, têm essas características, que são próprias das
comunidades tradicionais. A liberdade individual não é “permitida” porque, de alguma forma,
ela é uma ameaça à organização social e interna do grupo; aquilo que Simmel (1987)
denomina de “ciúme do todo contra o individual”. O conhecimento mais ou menos íntimo
entre as pessoas do grupo faz com que elas vigiem e protejam umas as outras, para que o
grupo permaneça coeso e harmônico.
Mas, com o passar do tempo essa configuração inicial das estruturas sociais se
expande, afrouxando os laços sociais existentes dentro do grupo, surgindo assim os primeiros
centros urbanos. A unidade central, com o aumento populacional, se abre para um
94
desenvolvimento social mais complexo, com a criação do Estado e do Cristianismo são nestes
tipos de organizações mais amplas. Porém, o mais importante é que esse processo de
expansão e afrouxamento dos laços sociais possibilita que o indivíduo ganhe “liberdade
pessoal” e uma individualidade específica, o que foi muito útil e importante para o
estabelecimento das atividades de especializações que ocorreram com a divisão social do
trabalho (SIMMEL, 1987). As cidades, em seus primórdios, começaram a estabelecer-se com
a finalidade de proteger os seus habitantes contra as guerras e por isso as primeiras cidades
surgiram envoltas por muralhas. Em meados da idade média, começaram a surgir os primeiros
burgos, onde as pessoas aglomeram-se em busca da atividade de troca, comércio e serviços,
existentes nestes burgos e propiciados pelo excedente de produção (BENÉVOLO, 1981).
As Modernas Cidades após o fenômeno da Revolução Industrial, das revoluções
tecnológicas e do crescimento populacional transformam-se e passam a adquirir uma feição
mais aproximada das cidades que conhecemos hoje em dia. A revolução industrial foi um
divisor de águas com relação à questão do fim da comunidade, pois nesse período acaba-se a
comunidade e tem início a vida automatizada nas fábricas, com a desculpa de retirar o
indivíduo da inércia da “massa” para emancipá-lo. Na verdade esta emancipação era
desfrutada por muito poucos cidadãos, ao passo que o trabalhador assalariado das fábricas
passa a fazer parte da comunidade da “massa” trabalhadora das fábricas (BAUMAN, 2003).
Em alguns textos de década de 1930, Walter Benjamin (1985a e 1985b) descreve o
processo de desenvolvimento urbano pelo qual a cidade de Paris passa na segunda metade do
século XIX. A revolução na indústria da construção, que passa a utilizar o ferro e o vidro, fez
surgir as famosas passagens e galerias de Paris e as grandes obras de urbanização de
Haussmann abriram grandes avenidas por entre as ruas estreitas e vielas de Paris. Esse
processo requer uma necessidade de normatização e controle social e administrativo da cidade
de Paris, estabelecendo-se assim nomes e números para as ruas e residências,
95
respectivamente. A cidade adquire então um caráter impessoal, no qual a população parisiense
passa a ter agora um caráter de uma sociedade (BENJAMIN, 1985a e 1985b).
Souza (1994) nos fala sobre uma questão semelhante que aconteceu um século depois
na cidade do Rio de Janeiro:
“O conhecimento do espaço urbano por parte do povo, através de uma prática de luta e
sobrevivência – os becos, as demolições, as casas abandonadas, a topografia, foram elementos
explorados para enfrentar as tropas do governo mediante armadilhas e tocaias. Tais fatos iriam
provocar a necessidade do planejamento urbano na cidade, ou seja, estabelecer um controle
mais rígido e melhor fluidez do espaço urbano. São, portanto, as práticas coletivas, cotidianas,
de luta que vão oferecer os critérios para uma reformulação urbana voltada para interesses
específicos” (SOUZA, 1994: 44).
Dito isto, podemos estabelecer uma analogia entre as primeiras estruturas sociais, que
são baseadas em pequenos círculos sociais, e a definição de Gemeinschaft (comunidade)
formulada por Tönnies (1988). Na comunidade, de acordo com Tönnies, as pessoas se
conhecem bem e estabelecem relações mais estreitas, baseadas no afeto, propiciando uma
vida “real e orgânica” com interações sociais face a face. Partindo disto, podemos assim fazer
o uso da mesma analogia entre os tipos de organização social característicos dos centros
urbanos contemporâneos onde o indivíduo possui mais “liberdade pessoal” e menos
segurança e a definição de sociedade usada por Tönnies, onde as pessoas se conhecem
pouco e suas relações são distantes, gerando uma conformação de vida “ideal e mecânica”:
“Toda vida de conjunto, íntima, interior y exclusiva, deberá ser entendida, a nuestro parecer,
como vida en comunidad. La sociedad es lo público, el mundo. (...) Comunidad es lo antiguo,
y sociedad lo nuevo, como cosa y nombre. (...) comunidad es la vida en común duradera y
auténtica; sociedad es sólo una vida em común pasajera y aparente. Con ello coincide el que
la comunidad misma deba ser entendida a modo de organismo vivo, y la sociedad como
agregado y artefacto mecánico” (
TÖNNIES,
1988: 19,20 e 21).
96
Ao contrapor comunidade e sociedade, Tönnies (1988) relacionou dois estados
diferentes e opostos da vida social. A intenção dele era a de fazer um contraste histórico,
que a comunidade existiu no final da Idade Média, em um mundo pré-capitalista, pré-
urbanizado e com uma organização social hierárquica, uma perda que ele lamentava. Por
outro lado, a sociedade é própria do mundo moderno e urbanizado onde os indivíduos se
relacionam apenas parcialmente e se dividem de acordo com o trabalho e as especializações
de cada um (TÖNNIES, 1988; SENNETT, 1998).
Com o crescimento das cidades, ocorreu uma passagem do caráter de comunidade para
sociedade, como afirma Tönnies (1988). As sociedades se expandem e ganha espaço o
estabelecimento de relações mútuas entre elas, cujo fortalecimento contribuirá, mais adiante,
para o estabelecimento da sociedade moderna. É importante salientar que nem todas as
sociedades foram ou são formadas desse modo. Isso vale também para algumas comunidades,
que nem todas elas irão evoluir para uma sociedade, e mesmo que isso acontecesse, o
processo não seria tão simples assim. Essa simplificação foi feita aqui com o intuito de
salientar o contraste existente entre uma e outra forma de organização social. Contudo, o mais
importante deste processo de transformação é o surgimento de grandes modificações na
organização social e no comportamento do homem, ou seja, o crescimento das cidades foi
acompanhado pela substituição de relações diretas e primárias (face a face), por relações
indiretas ou secundárias nas associações entre as pessoas em uma comunidade ou sociedade
(PARK, 1987). A esse respeito Wirth (1987) afirma que:
“O aumento do mero de habitantes de uma comunidade para mais de algumas centenas,
obrigatoriamente limitará a possibilidade de cada um dos membros da comunidade de
conhecer pessoalmente os outros. Max Weber, reconhecendo o significado social desse fato,
salientou que, do ponto de vista sociológico, os grandes números de habitantes e a densidade
do agrupamento significam que as relações de conhecimento pessoal mútuo entre os
97
habitantes, inerentes à vizinhança, estão faltando. O aumento do número, pois, envolve uma
modificação no caráter das relações sociais” (WIRTH, 1987: 100).
Distância social versus associação individual
Em 1902, Simmel nos fala que o homem que mora na metrópole enfrenta todos os
dias, um turbilhão de estímulos, especialmente visuais e auditivos. Segundo ele, o homem da
metrópole, atordoado com tantos estímulos, se esgota e torna-se muitas vezes incapaz de
reagir, como seria esperado, a todos esses estímulos. Nesse ponto, as pessoas partem para um
comportamento de atitude ou ar blasé na grande cidade, isto é, aquilo que é exatamente “a
incapacidade de reagir a novas sensações com a energia apropriada” (SIMMEL, 1987). Em
decorrência disso, a atitude blasé pode ser interpretada como uma espécie de indiferença, ou
auto-proteção, em relação ao meio que o cerca, ou ainda, em última análise, uma ação
involuntária.
Entretanto, na medida em que o indivíduo está submetido a agir de tal forma, seu
senso de sobrevivência e auto-preservação, para com a cidade grande, exige dele um tipo de
comportamento de natureza social, o que para Simmel se traduz da seguinte forma:
“Essa atitude mental dos metropolitanos um para com o outro, podemos chamar de reserva. Se
houvesse, em resposta aos contínuos contatos externos com inúmeras pessoas, tantas reações
interiores quanto as da cidade pequena, onde se conhece quase todo mundo que se encontra e
onde se tem uma relação positiva com quase todos, a pessoa ficaria completamente atomizada
internamente e chegaria a um estado psíquico inimaginável. Em parte esse fato psicológico,
em parte o direito a desconfiar que os homens têm em face dos elementos superficiais da vida
metropolitana, tornam necessária nossa reserva. Como resultado dessa reserva,
freqüentemente nem sequer conhecemos de vista aqueles que foram nossos vizinhos durante
anos” (SIMMEL, 1987: 17).
98
Na verdade, Simmel (
1987)
tem plena consciência, e fala sobre isso, que essa atitude
blasé e atitude de reserva não estão isentas de uma forte carga negativa, mas “essa reserva
que, aos olhos da gente da cidade pequena, nos faz parecer frios e desalmados” se faz
absolutamente necessária para a manutenção da vida do indivíduo na metrópole. Se formos
um pouco mais adiante nas idéias de Simmel, veremos que ele nos fala que toda essa “esfera
da indiferença”, tão antinatural, termina por gerar um estado de antipatia latente nas pessoas
com as quais interagimos:
“A antipatia nos protege de ambos esses perigos típicos da metrópole, a indiferença e a
sugestibilidade indiscriminada. Uma antipatia latente e o estágio preparatório do antagonismo
prático efetuam as distâncias e aversões sem as quais esse modo de vida não poderia
absolutamente ser mantido (..). O que aparece no estilo metropolitano de vida diretamente
como dissociação na realidade é apenas uma de suas formas elementares de socialização”
(SIMMEL, 1987: 18).
Em seus estudos sobre a distância social entre os Tuareg, Robert Murphy (1971)
descreve uma atitude de reserva ou distância social entre eles. Utilizando o mesmo sentido
que Simmel, Murphy afirma que os termos “reserva” e “distância social” existem em quase
todas as formas de interação social. Contudo, “reserva e distância social” são comumente
entendidas num sentido geral como antipatia, em oposição ao afeto. Mas, se a antipatia é algo
natural, este sentimento só é amenizado de acordo com o conhecimento daquele com quem se
interage. A função básica da distância social e/ou reserva é dessa forma a manutenção da
privacidade do indivíduo dentro do seu meio social e quanto mais amplo esse meio, mais
esses sentimentos serão exacerbados.
Contudo, apesar da reserva e da atitude blasé, Simmel (1987) estava atento ao fato
de que nas cidades o homem se associava em “subsociedades” – ou seja, “sociedades” menores
dentro de uma única sociedade. A participação nessas diversas “sociedades” pelas pessoas foi
99
facilitada pelos modernos meios de transporte e os meios de comunicação, fazendo com que as
ralações sociais fossem divididas, em parte pelo trabalho, pela escola, por grupo religioso, ou
qualquer outro tipo de associações, como por exemplo, a vizinhança. Muito diferente da vida
em comunidade (no sentido colocado por Tönnies) onde todos esses locais estão interligados,
onde as relações de trabalho e do grupo religioso muitas vezes são partilhadas pelos vizinhos.
Numa comunidade as pessoas se encontram num todo onde elas estão inseridas, ao passo que
numa sociedade este todo está dividido, pois elas se satisfazem por partes e em locais
diferentes, isto é, naquilo que Simmel (1987) denominou de “subsociedades”. Portanto, as
pessoas que vivem nas metrópoles estão inseridas numa multidão onde tudo que elas
conhecem e vêem como familiar são algumas situações e ações no meio de tantas outras que
lhe são absolutamente estranhas (SIMMEL, 1987).
Vivemos em “sociedades de indivíduos”, nas quais existe tanto a idéia do indivíduo
como produto da sociedade, como também a idéia da sociedade como produto dos indivíduos
(ELIAS, 1993 e 1994). Assim, o indivíduo e a sociedade estão interligados num processo de
construção onde um influencia o outro de forma ativa, rompendo com a velha dicotomia
unilateral de que o indivíduo é fruto do meio (sociedade) e que não o influencia em nenhuma
ocasião.
Dilemas na busca da “comunidade”
A palavra comunidade está geralmente associada a algo bom, positivo, ou seja, algo
que transmite a idéia de aconchego, abrigo, apoio, boa vontade, receptividade, confiança e
segurança. Estivemos, estamos e estaremos sempre em busca de todos esses valores
associados à vida em comunidade. Na verdade, a humanidade vive num movimento de
aproximação e afastamento da idéia de comunidade, que pode ser associada à procura por
uma comunidade imaginada ou imaginária, ou seja, uma busca pelo “paraíso” terreno.
100
Bauman (2003) nos diz que se essa busca for por algo que se julga perdido no passado, por
algo que não mais existe então estamos em busca de uma comunidade “perdida”. Mas se
essa busca é por algo que se acredita ou se espera estar no futuro, trata-se de uma busca por
uma comunidade “idealizada”. Portanto, vivemos hoje um movimento de busca pelo
sentimento de comunidade e existem inúmeras referências à palavra comunidade que conjuga
todos esses sentimentos positivos que se acredita estarem presentes na vida em comunidade.
No entanto a busca pela comunidade traz consigo um problema de difícil resolução
que é a contradição entre liberdade e segurança (BAUMAN, 2003), como já foi mencionado
anteriormente. Isso porque uma comunidade real requer do seu participante obediência,
lealdade e exclusividade, e em troca a comunidade proporciona segurança e proteção. Mas
para oferecer o que a comunidade pede em troca de segurança, é preciso abrir mão da própria
liberdade individual, o que significa abrir mão da autonomia, auto-afirmação e da identidade
individual. Entretanto, há então uma enorme diferença entre a comunidade “imaginada”,
desejada e a comunidade “real”, possível de ser alcançada, como detecta Bauman:
“a segurança e a liberdade são dois valores igualmente preciosos e desejados que podem ser
bem ou mal equilibrados, mas nunca inteiramente ajustados e sem atrito. De qualquer modo,
nenhuma receita foi inventada até hoje para esse ajuste. O problema é que a receita a partir da
qual as ‘comunidades realmente existentes’ foram feitas torna a contradição entre segurança e
liberdade mais visível e mais difícil de consertar. (...) A tensão entre a segurança e a liberdade
e, portanto, entre a comunidade e a individualidade, provavelmente nunca será resolvida”
(BAUMAN, 2003: 10).
Percebemos assim que a valorização do sentido de comunidade geralmente concorre
para uma desvalorização do individual, porque na medida em que se promove a coletividade
uma supressão natural da individualidade. E é exatamente por isso que quando se vive em
comunidade menos liberdade individual na mesma proporção em que um ganho em
segurança. Nesta disputa entre liberdade e segurança, o homem moderno escolheu ficar com a
101
liberdade, sacrificando sua segurança. O movimento recente de retomada da comunidade
“perdida” ou em vias de ser “encontrada” é simplesmente uma tentativa de restabelecer a
segurança perdida com o processo civilizatório.
Baseando-se nos estudos sobre comunidade desenvolvidos por Tönnies e Redfield,
Bauman (2003) salienta três características da comunidade, que segundo ele é a comunidade
“distinta”, “pequena” e “auto-suficiente”. Distinta porque é visível onde começa e onde
termina; pequena porque deve estar à vista de todos os seus membros; e auto-suficiente
porque atende a todas as necessidades dos seus membros, pois “a pequena comunidade é um
arranjo do berço ao túmulo” (BAUMAN, 2003: 17). De fato, a vida da própria comunidade
depende da manutenção destes três aspectos, e caso algum deles se rompa uma quebra no
sentido de naturalidade e homogeneidade do entendimento comunitário. A importância desses
três aspectos reside no fato de que na comunidade existe um entendimento mútuo, tácito,
natural que não precisa ser alcançado nem pleiteado, que ele é inato porque provém do
relacionamento de pessoas que comungam de formas semelhantes de pensar, agir e ver o
mundo. Portanto, o entendimento natural entre os membros de uma comunidade é a sua
principal característica.
Contudo, quando as fronteiras da comunidade são ameaçadas ou banidas e o que está
dentro estabelece contato com o que está fora, isto faz com que os laços internos sejam
quebrados ou fragilizados, enfraquecendo-os e dissolvendo-os na medida em que traz
elementos heterogêneos e extrínsecos para o interior homogêneo da comunidade. O
entendimento natural já não é possível, pois para haver entendimento é preciso diálogo e
negociação das partes envolvidas, uma vez que estas possuem lógicas diversas. Neste sentido,
se o entendimento precisa ser pensado, reestruturado e não mais tácito e acordado, a
comunidade começa a deixar de existir (BAUMAN, 2003).
102
São vários os fatores que contribuem para isto, mas sem dúvida os transportes e a
comunicação são os dois grandes contribuintes para que esse processo ocorra. Os transportes,
por romperem com a distância antiga proteção natural das comunidades e transportando
com facilidade e rapidez elementos para dentro e para fora das comunidades. Paralelo a isto,
as comunicações passaram a propagar informações e conhecimento que ultrapassam qualquer
fronteira, independente do lugar. Dessa forma é declarado o fim da vida em comunidade
(BAUMAN, 2003).
A emergência de novas “comunidades”
O termo comunidade” está sendo exaustivamente e indiscriminadamente utilizado
atualmente, como afirmam autores como Hobsbawm (1994), Bauman (2003) e Young (2002).
Podemos identificar diversos usos do termo tais como comunidades virtuais, comunidades
carentes, comunidades negras, entre muitas outras. O significado de comunidade vem
ganhando novos significados e sendo modificado de acordo com o que quer se identificar ou
reunir coesamente como sendo um agrupamento social. O que se acredita como tendência
atual de um processo de homogeneização, leva à necessidade de contrariar esse fluxo
generalizante fazendo o contraponto com o particular, que neste caso, é a tentativa de
identificar comunidades dentro do meio urbano homogeneizador. De fato, os agrupamentos
sociais existem em qualquer sociedade moderna, mas, tratar como comunidade grupos de
pessoas que se associam parcialmente em dias e locais específicos, pode nos levar a uma
confusão no que diz respeito à profundidade e o grau de envolvimento dessas pessoas.
O termo comunidade vem sendo empregado nas ciências sociais por estudiosos como
Weber (2004), Tönnies (1988) e Durkheim (1987), e embora guardadas as diferenças de
abordagem entre esses autores, podemos perceber neles um conceito comum sobre
comunidade e o grau de envolvimento social dentro dela. Contudo, à parte essa discussão
103
sobre a escolha da terminologia mais correta, comunidade ou agrupamentos sociais urbanos,
outro aspecto se faz mais importante, que é exatamente o fato de que todas essas novas
“comunidades” divulgadas pelos jornais, revistas, internet, surgem para suprir a necessidade
de associação entre as pessoas no mundo contemporâneo.
O que foi dito acima ratifica a idéia central desse texto de que hoje entre o nível
amplo da sociedade e o vel particular das pessoas que vivem nos centros urbanos existem
relações sociais num nível intermediário, ou seja, existem agrupamentos de pessoas que se
relacionam face a face, como numa comunidade sem, contudo, estarem presos exclusivamente
a estes. Esses agrupamentos podem ser chamados de “subculturas” (HALL, 2004) ou
“subsociedades” (SIMMEL, 1987). A grande diferença das relações entre os agrupamentos
sociais urbanos de hoje e as comunidades no sentido tradicional do termo é que na
comunidade, os indivíduos são absorvidos de forma total e exclusiva, ou seja, um indivíduo
pertence a uma comunidade e somente a ela. No entanto, no caso dos agrupamentos, uma
pessoa não pertence exclusivamente a este, mas ao contrário, cada membro pertence,
necessariamente, a diferentes grupos. A pessoa é quase compelida a pertencer a vários grupos,
uma vez que sua própria vida está fragmentada em práticas sociais que demandam diferentes
espaços e tempos. Dentro desse universo de relações sociais, cada pessoa elege quais delas
podem ser mais próximas e amistosas, fazendo com que, de certa forma, se aproximem ao que
era antes conseguido e atingido em uma comunidade.
Portanto, esses agrupamentos agregam pessoas com interesses, costumes,
comportamentos e atitudes similares, mas não necessariamente comuns. As relações que
ocorrem dentro desses agrupamentos são caracterizadas pelo respeito e envolvimento
emocional próprio das relações face a face. Porém, mais do que isso, a organização de pessoas
em agrupamentos sociais é uma reunião em torno de uma identidade coletiva, uma forma de
resgatar o sentimento de pertencimento perdido pelo tipo de vida nos grandes centros urbanos.
104
As novas identidades e os novos estilos de vida
Para alguns autores a idéia de uma nova forma de organização social em pequenos
grupos urbanos está intimamente relacionada ao contexto social, econômico e político no qual
as pessoas se inserem, ou seja, os agrupamentos surgem como respostas às mudanças pelas
quais o mundo ocidental vem passando há pelo menos quatro décadas. Essas mudanças
incluem dois processos distintos, mas estreitamente interligados. O primeiro é a revolução
cultural do individualismo e o segundo é a crise econômica e de reestruturação dos mercados
de trabalho do mundo industrial moderno. Ambos os processos se combinam, resultando em
mudanças radicais nas esferas da ordem do trabalho e da vida em grupo.
O mundo ocidental e capitalista do pós-guerra estava fortemente apoiado na
industrialização, produção em massa e oferta de empregos (setor primário) irrestrita como
nunca se viu na história. A sociedade encontrava-se em um período de afluência e riqueza,
para a Europa Ocidental e os Estados Unidos que foram chamados de “Anos Dourados”. Esse
quadro muda no início dos anos 1960 com o desenvolvimento do setor secundário e o
encolhimento do setor primário. E é esta diminuição do setor primário uma das causas que
gera a expansão do individualismo e a necessidade de atender a essa demanda de cada um
individualmente (YOUNG, 2002).
O que nos interessa aqui é o processo de surgimento e desenvolvimento do
individualismo moderno, porque é exatamente desse processo que surgem as novas formas de
se organizar em grupos ou “comunidades”. Diferente do individualismo estudado por Luis
Dumont (1985) relacionado com a expansão do cristianismo e as mudanças na relação do
homem com a sociedade e com Deus o individualismo moderno, de acordo com Young
(2002), possui raízes no Pós-fordismo e a nova estrutura econômica e social que conhecemos
hoje. Com a mudança do mercado primário para o secundário e, em especial, para o terciário,
a produção em massa se diversifica para atender à demanda do consumo em massa agora
105
individualizado. Essa corrente de consumo, dirigida tanto pelo mercado como pelos
consumidores, promove os chamados “estilos de vida”, característicos do final do culo XX.
A partir da possibilidade de um sem número de escolhas, as pessoas gradativamente passam a
construir identidades próprias, distintas da sociedade em geral.
Alguns autores vêem nessas novas e variadas identidades urbanas, geradas pelo
pertencimento aos novos agrupamentos sociais, lugares de imaginação, de inovação e de
resistência. Dessa forma, o individualismo que emerge da sociedade de consumo em massa,
possibilita escolhas pluralistas e cria novos estilos de vida, ou seja, novas identidades que vão
se formando de acordo com as transformações sociais contemporâneas. Nas infinitas
possibilidades de escolhas, as pessoas criam voluntariamente estilos de vida e
consequentemente uma identidade pessoal e individual, diferente de uma identidade em
comunidade, ou seja, comunitária. A busca por sucesso monetário e status social é a expressão
desse período da modernidade recente, e a não conquista desses atributos, juntamente com a
privação relativa do mundo material, são a fonte de frustrações e insatisfação que geram fortes
tensões e conflitos no mundo atual.
“A insatisfação face à situação social e a frustração de aspirações e desejos, podem dar lugar a
uma variedade de respostas políticas, religiosas e culturais capazes de abrir possibilidades para
os imediatamente concernidos, mas também podem, frequentemente de propósito, fechar e
restringir as possibilidades dos outros” (...) “Desse modo, os excluídos criam divisões entre
eles mesmos, com frequência sobre bases étnicas, [ou seja], (...) eles são excluídos e criam
uma identidade que é rejeitadora e excludente” (YOUNG, 2002: 30 e 31).
Stuart Hall (2004) analisa esse processo de surgimento de novos grupos urbanos
relacionado-o com o surgimento de identidades híbridas. Para ele as identidades híbridas estão
relacionadas com os processos de globalização e oposição entre valores locais e globais. Se
por um lado uma tendência à homogeneização cultural, mas não social e econômica, por
106
outro lado um movimento de resistência e reação das culturas locais a essa
homogeneização. Aliado a esse processo, o desenvolvimento da percepção de individualidade
e alteridade levaram à descentralização da idéia de uma identidade fixa para cada pessoa.
Com a desestabilização da identidade, surge a necessidade de buscar recompô-la, e dessa
forma ganham destaque as identidades nacionais, que são baseadas por sua vez numa dita
cultura nacional unificadora. Ao longo de sua análise, Hall demonstra como a idéia de uma
identidade e uma cultura nacional unificada não não existe como está, na verdade,
fragmentada em uma multiplicidade de identidades dentro de uma só nação. O interessante é
que essas “novas” identidades surgem exatamente em reação e resposta às identidades
dominantes e homogeneizadoras que sempre tentaram igualar as pessoas em uma sociedade, o
que não ocorre na prática.
Novas fronteiras para identidades “líquidas”
Uma vez quebradas as fronteiras que mantinham a comunidade unificada e também
os laços de auto-suficiência que unia os membros desta ocorre a entrada dessa comunidade
num entorno mais amplo e as possibilidades de contatos e trocas tornam-se ainda mais amplas
e irrestritas às pessoas. A possibilidade de escolha se apresenta agora de forma irresistível,
pois é a possibilidade de liberdade individual e, portanto, não mais volta. É no momento
em que a comunidade se perde que surge a identidade coletiva dos agrupamentos, que passa a
ser de alguma forma, a grande substituta da vida em comunidade. No entanto para se criar um
agrupamento em torno de uma identidade coletiva é necessário selecionar, separar e reunir as
diversas identidades, mesmo levando-se em conta que esta união não é semelhante à
comunidade, pois há a ameaça permanente de que esse todo reunido possa se partir a qualquer
momento quando “novas” identidades sejam postas em questão. Dessa forma, uma
fluidificação da identidade, já que o indivíduo tende a sentir-se portador de muitas identidades
107
diante das possibilidades de adequação e escolha. Por isso, para manter a fronteira em torno
das identidades será preciso discussão e negociação, o que mais uma vez ficará longe das
práticas encontradas nas comunidades clássicas (BAUMAN, 2003). Neste sentido quando se
afirma que as fronteiras globais estão sendo derrubadas e o mundo tende para uma
homogeneização graças ao processo de globalização o que vemos atualmente nesta busca
pelo sentido de comunidade em torno de identidades coletivas, é o fato de que novas
fronteiras surgem a cada dia em volta dessas “novas comunidades”.
O CONDOMÍNIO: UMA NOVA COMUNIDADE?
O condomínio, apesar de ser um agrupamento, não pode ser considerado uma
comunidade, pelo menos não no sentido clássico do termo. Essa afirmação vai de encontro ao
senso comum de que o condomínio é uma comunidade formada de pessoas homogêneas e por
isso mesmo com alguma coesão e harmonia. Na verdade, a coesão existe apenas no que se
refere à demanda por segurança, serviços, lazer e relações sociais próximas (laços de
vizinhança). Mesmo assim, a procura por esses itens com diferentes graus de prioridade e
interesse – não faz de um condomínio residencial uma comunidade, mas sim um agrupamento
social urbano, pois para o estabelecimento dos laços e relações típicos de uma comunidade, é
preciso um envolvimento de todos visando um objetivo em comum, independente da
individualidade de cada um. Por essa razão, não podemos esperar que em um condomínio as
relações sociais se dêem da mesma forma que em uma comunidade.
Um condomínio é na verdade um agrupamento social formado por pessoas diferentes
com interesses diversos, cujo fator de união é o fato de estarem dividindo uma mesma área
comum, ou seja, o fator mais forte de coesão nesse caso é o caráter da espacialidade. Outro
108
elemento que se mostra presente para se viver em um condomínio é o sentimento de pertencer
a um determinado grupo, que envolve um status social representado pelo poder aquisitivo,
como é o caso dos condomínios localizados em áreas nobres da cidade. Entretanto, estudos
como o de Gilberto Velho (1980) mostram haver certo grau de competição dentro dos
condomínios, uma vez que o modo de vida contemporâneo faz com que surja a necessidade
de diferenciação, mesmo considerando a opção de se fazer parte de um agrupamento social.
Essa diferenciação, que leva os moradores a desejarem uma identidade individual dentro de
uma vida em coletividade, é exercida desde a procura por reformas no espaço construído até
da busca por mostrar um status de superioridade nas relações internas no condomínio. Além
disso, a rotina de um condomínio nos mostra que essa coesão em torno de um interesse
comum é muitas vezes posta à prova, como é o caso da grande ausência de moradores nas
assembléias gerais e reuniões de condomínio (DANTAS, 2007). Contudo, o espaço físico é
apenas um elemento que contribui para o contato inicial, cabendo às pessoas a sua
perpetuação, pois o agrupamento social do condomínio não exige exclusividade, mas pede
envolvimento de cada um, mesmo que de forma superficial e temporária.
Os enclaves garantem segurança?
Mesmo abrindo mão da liberdade em prol da segurança individual, os enclaves, em
especial o condomínio, parecem não garanti-la (CALDEIRA, 2000). A segurança em troca da
liberdade funcionava bem para as primeiras comunidades porque todos se conheciam
mutuamente, o controle social era exercido e acatado por todos. Além disso, todos estavam
comprometidos com o bem-estar de todos. Neste sentido, a segurança funcionava porque a
proteção precisava ser erguida contra os de fora da comunidade, pois dentro da
comunidade todos podiam confiar uns nos outros. Uma comunidade era um todo harmônico
onde a vida estava voltada para o coletivo.
109
Em agrupamentos sociais como os dos condomínios, um pacto baseado não em
laços de comprometimento, coletividade e bem-estar, mas em um acordo para usufruir as
vantagens associadas a esse tipo de moradia. Dessa forma, a segurança não pode ser
garantida, porque não há um comprometimento interno do grupo com seus membros, uma vez
que não há um controle social semelhante ao das comunidades. Como nenhum morador
conhece bem todos do grupo, ninguém tem o direito de vigiar ninguém e muito menos
interferir na forma de agir um do outro. Nos condomínios, cada indivíduo está sozinho,
mesmo cercado de seus pares sociais, e está preocupado apenas com sua individualidade e da
sua família. É nesse ambiente de individualidade e busca por privacidade que surgem os
conflitos relacionais nos condomínios, que são gerados pela convivência de um grupo, no qual
o bem-estar e a harmonia não são um objetivo em comum.
CAPÍTULO 4
TRANSGRESSÃO E CONFLITOS
ENTRE MORADORES DE CONDOMÍNIO:
SOCIEDADE, CONTROLE SOCIAL E NORMAS SOCIAIS
111
INTRODUÇÃO
O objetivo deste capítulo é abordar o tema da transgressão como fenômeno social que
ocorre em condomínios residenciais. Serão abordadas questões e definições de conceitos
como infração, violação, delito e transgressão, especialmente a última, que vem a ser o objeto
de estudo dessa pesquisa. Esse esclarecimento é sempre necessário, porém, difícil,
principalmente em se tratando de termos tão similares. No entanto, antes de entrar nessa
discussão é essencial para o desenvolvimento desse trabalho discutir conceitos e perspectivas
sobre Ordem Social e Controle Social. É fundamental entender, como ocorrem esses
processos dentro dos grupos sociais, nas mais variadas formas de exercer o controle social,
além de estabelecer o que é considerado desvio dentro de uma ordem social e o que vem ser
um comportamento transgressor. Contudo, esse capítulo não trata o tema da transgressão sob
o ponto de vista legal ou jurídico. Da mesma forma, não é nossa intenção uma abordagem da
transgressão como algo exclusivamente negativo, mas um fenômeno social que pode revelar
aspectos importantes para o entendimento de nossa sociedade. Portanto, a intenção aqui é
abordar o tema da transgressão como fenômeno social que ocorre em condomínios
residenciais.
Esse capítulo também tem como objetivo abordar dois pontos fundamentais para o
desenvolvimento da pesquisa: as leis que regem os condomínios e os principais tipos de
transgressão encontrados. As leis que regem os condomínios são a Lei Federal Nº 4.591. 1964
de 16 de dezembro, ou Lei de Condomínio e a Lei Federal 10.406. 2002 de 10 de janeiro,
Novo Código Civil Brasileiro. Será apresentada aqui uma análise comparativa sobre as leis
que, direta e indiretamente, regem os condomínios residenciais, através de um texto sintético
com comentários pontuais e citações dos principais temas referentes ao condomínio.
112
Posteriormente será feita uma análise dos avanços e retrocessos dessas leis com respeito aos
principais temas discutidos atualmente sobre condomínios.
Os principais tipos de transgressões ocorridas em condomínios são descritas com base
em duas pesquisas, ambas realizadas pela autora sendo a primeira uma pesquisa realizada em
um condomínio na cidade do Recife em 2000. A segunda pesquisa foi realizada durante os
anos de 2005 e 2006 no Jornal O Globo, através do caderno “Morar Bem”, dedicado à questão
imobiliária, no qual existe uma coluna específica chamada “Carta do Leitor”, em que leitores
de todas as partes do Brasil, especialmente Rio de Janeiro, podem tirar dúvidas sobre a melhor
forma de resolver problemas enfrentados em condomínios.
SOCIEDADE, CONTROLE SOCIAL E TRANSGRESSÃO
Regras, Normas, Leis, Hábitos e Costumes
A definição de Giddens (2005) para normas é sucinta: “normas são regras de
comportamento que refletem ou incorporam os valores de uma cultura” (p: 38). Valores, por
sua vez, são idéias que definem o que é considerado importante, válido e desejável. Dessa
forma, os valores e as normas moldam a forma como as pessoas se comportam dentro de sua
cultura e de sua sociedade.
Todas as comunidades e sociedades foram e são baseadas em normas, pois elas são
fundamentais para o bom convívio social. Existe normalmente um consenso sobre a
necessidade de normas e também sobre a necessidade em se respeitá-las. Normas são
compostas por regras (informais) e leis (formais), sem as quais seria impossível o convívio em
uma comunidade em uma sociedade. Mas, para que as normas sejam utilizadas e respeitadas
em uma sociedade é preciso que todos as conheçam. Portanto, a situação ideal, e esperada, é
113
que todos aprendam, aceitem e respeitem essas normas e quando isso não ocorre, são
necessárias medidas para reprimir o não acatamento das mesmas.
Os membros de cada sociedade, e cada cultura, criam suas próprias normas, regras,
leis, hábitos e costumes baseados em valores culturais peculiares e, em grande parte, variáveis
de uma sociedade para outra. É importante fazer aqui uma distinção entre “sociedade” e
“cultura”, termos que muitas vezes são usados indistintamente. Apesar de diferentes,
sociedade e cultura guardam entre si conexões profundas e muitas vezes indissociáveis. Uma
não pode existir sem a outra, “sem cultura, não seríamos sequer ‘humanos’” (GIDDENS,
2005:38). Uma sociedade é unida pelo fato de seus membros construírem relações sociais
estruturadas de acordo com sua própria cultura. A cultura, portanto, compreende aspectos
aprendidos socialmente e não herdados biologicamente, ou seja, são aspectos compartilhados
por membros de uma sociedade que tornam possível o acontecimento das relações sociais.
Estes aspectos culturais podem, segundo Giddens (idem), ser divididos entre aspectos
tangíveis objetos, símbolos e tecnologia e intangíveis crenças, idéias, valores, sendo
cada cultura única e possuindo características próprias, diferentes de todas as outras.
Portanto, desde o momento em que nascemos, começamos a apreender e interiorizar
uma cultura, cujos valores e normas fazem com que nossos comportamentos e ações sejam
voltados para o convívio harmônico em nossa sociedade. Mas, valores e normas fazem parte
do processo dinâmico de desenvolvimento de uma sociedade e de uma cultura, e por essa
razão estão sujeitos a mudanças e transformações através do tempo. Assim, o comportamento
pode variar diante de situações semelhantes, em culturas diversas ou mesmo dentro de uma
mesma sociedade, já que são raras as sociedades que hoje em dia se encontram isoladas
culturalmente (GIDDENS, 2005; HALL, 2004).
As primeiras comunidades tinham normas informais, isto é, normas que não eram
escritas. Com o desenvolvimento da escrita, as sociedades sentiram a necessidade de
114
estabelecer normas formalizadas, pois dessa forma seriam mais bem difundidas e mais fáceis
de serem aplicadas e cumpridas. Mas, antes de entrar em contato com a sociedade, o primeiro
contato do ser humano é com a família, que transmite regras para a integração do indivíduo
dentro de sua organização social. A família, assim como os centros religiosos e as escolas, são
as instituições básicas de uma sociedade. Essas instituições têm um papel fundamental para a
pessoa, porque é através delas que são ensinados os valores e normas que fazem parte da
cultura de uma sociedade (DIAS, 2005).
Existem vários tipos de normas em uma sociedade, que são comumente divididas em
dois grupos: as formalizadas e as não formalizadas. No Brasil, as formalizadas são as leis
como as que estão na Constituição, no Código Civil, no Código Penal e outros tipos de leis
oficializadas pelo Estado. Essas normas oficiais são obrigatórias e a priori inquestionáveis, e
a desobediência a elas pode acarretar em sanções punitivas como multas e prisões. As normas
não formalizadas incluem um vasto leque de regras para o bom convívio social, isto é,
relações informais entre indivíduos, como, por exemplo, as normas de cortesia. Daí a
dificuldade em defini-las com precisão, porque são subjetivas e não explícitas. O respeito às
normas não formalizadas não consiste em uma obrigatoriedade, como nas leis e regulamentos,
mas existe uma obrigação social em respeitá-las, pois caso isso não ocorra, pode haver
sanções sociais como um olhar de reprovação ou até mesmo o banimento de um grupo.
As leis e regulamentos, especialmente as primeiras, são considerados mais fortes do
que as regras. Em parte isso ocorre pelo tipo de sanção que a desobediência ou o desrespeito a
elas podem trazer. Ser multado, preso ou desclassificado é algo que faria um indivíduo pensar
duas vezes antes de transgredir uma lei ou regulamento. No entanto, receber um olhar de
censura ou passar por ridículo são sanções mais leves, se comparadas com as multas ou
encarceramentos. Talvez por essa razão as leis e regulamentos sejam mais respeitados do que
as regras. No entanto, ambas as normas, formalizadas e não formalizadas, possuem a mesma
115
origem que são os valores de uma cultura. Para que uma lei seja pensada, proposta e algum
tempo depois sancionada, é preciso que inicialmente haja a necessidade da sua existência.
Essa necessidade parte da prática de uma ação conflitante que, após constantes repetições,
gera um consenso sobre a necessidade de reprimi-la.
Sociedade e Controle Social
Para que um grupo social – uma comunidade ou uma sociedade – possa ter um
convívio saudável e harmônico é necessário o estabelecimento de uma ordem social. Dentro
de um grupo social, cada indivíduo possui um papel social e o bom funcionamento da
sociedade depende do fato de que cada indivíduo desempenhe seu papel da forma esperada.
Dessa forma, o papel social de cada um está dentro de certa previsibilidade, ou seja, em geral,
todos sabem o que esperar de cada papel. Esse comportamento previsível e esperado é o que
torna possível a ordem social, na qual cada um desempenha seu papel e espera que todos
façam o mesmo.
Para assegurar que cada indivíduo cumpra seu papel dentro da ordem social, cada
grupo social desenvolve mecanismos de controle social. O controle social envolve técnicas,
estratégias e esforços para manter a ordem social. Dias (2005) classifica três formas de
exercício de controle social: a socialização, a pressão do grupo e as sanções. O processo de
socialização é primordial, pois ele é a base de qualquer grupo social. Durante o processo de
socialização cada membro de uma sociedade apreende valores, bitos e costumes
importantes para a sociedade e necessários para o bom convívio dentro dela. A socialização é
fundamental tanto para a interação entre indivíduos como para cada indivíduo desenvolver
mecanismos próprios de auto-regulação, isto é, pensar sobre suas ações e comportamentos e
se auto-julgar, procurando agir da forma como pensa que é melhor e mais aceitável para si e
para os outros.
116
A pressão da sociedade, por sua vez, parte de dois tipos básicos de grupos que atuam
sobre o indivíduo, a saber: o grupo primário família, amigos e, às vezes, vizinhos e o
grupo secundário que inclui a sociedade como um todo. Nos grupos primários, o controle
social é feito informalmente e pode ser demonstrado de várias formas. Um comportamento
não aceito pelo grupo pode ser percebido por um olhar de reprovação, de desprezo, de
ridicularizar e até de exclusão. Dessa forma, o indivíduo exposto a essas situações sente-se
coagido e tende a não se comportar mais da forma que suscitou tal reação do grupo, ou de
uma única pessoa. De forma inversa, um comportamento que é aprovado pode ser
demonstrado através de um elogio ou de um gesto de simpatia. nos grupos secundários o
controle é mais formalizado, porque é feito através de regulamentos e leis. Nesses grupos, o
controle torna-se mais efetivo quando é reforçado pelos grupos primários.
As sanções podem ser divididas em positivas ou negativas e formais ou informais. As
positivas são formas de aprovação de determinado comportamento, como elogios, promoções
e recompensas. Esse tipo de sanção incentiva o comportamento aceito como normal e
esperado pelo grupo. As sanções negativas são formas de punição a um tipo de
comportamento não aceito ou tido como nocivo ao grupo. São formas de sanções negativas a
prisão, o ostracismo e as advertências. As sanções formais são as oficiais, de conhecimento
público, e incluem multas e sentenças de prisão. As sanções informais não são oficiais e
muitas vezes são sutis como um olhar de reprovação e a exposição ao ridículo. Para Dias
(2005) as sanções podem ainda ser classificadas como sociais (expulsão, rejeição, ostracismo,
ridículo), econômicas (multa, boicote, recusa de matrícula de estudante em débito) e físicas
(tortura, prisão, pena de morte).
Por essa razão, a importância do controle social para o desenvolvimento de uma
sociedade é crucial, uma vez que o controle social é responsável pela coesão social. Para
Durkheim (1987), o que faz com que a sociedade exista é a coesão social. A coesão social é
117
estabelecida pelas normas sociais, que se encontram expressas na religião, nas leis jurídicas,
nos costumes etc. Cada sociedade, da mais simples a mais complexa, estabelece normas que
fazem com que os indivíduos interajam entre si segundo valores aceitos ou não socialmente,
exercendo assim um tipo de solidariedade. Nas sociedades tradicionais, essa solidariedade é
mecânica e os valores sociais predominam fortemente sobre os indivíduos. Nas sociedades
industriais, a solidariedade é orgânica, como se a sociedade fosse um corpo e os grupos
sociais fossem seus órgãos, gerando uma interdependência entre as partes e o todo. Quando há
quebra das regras sociais, uma desestabilização social (como nos momentos de embate
social ou nas crises econômicas) que gera um estado de anomia, enfraquecendo os laços de
solidariedade. Portanto, onde há anomia há ausência de normas para regular as relações
sociais, ou seja, uma desestabilização social. Contudo, de acordo com Durkheim, este
estado tende a ser passageiro, pois caso contrário a sociedade se dissolveria. Mesmo nos casos
de revolução, a anomia encontra seu ápice no confronto, para logo após serem refeitos os
laços de solidariedade sob novas normas (DURKHEIM, 1987).
Transgressão Social
Esclarecido o entendimento de normas sociais, podemos dizer que o comportamento
transgressor é aquele que infringe as normas, sejam elas formalizadas ou não. Porém, a
definição do que vem a ser uma transgressão é bastante complexa e não encontra uma
definição segura na sociologia. Isso porque o conceito de transgressão está ligado a um
conjunto de normas, leis e regras. Para que haja uma transgressão é preciso haver uma norma
a qual foi desobedecida ou desrespeitada. Se cada sociedade cria seu próprio conjunto de leis
e regras, os conceitos de transgressão e normas irão variar de sociedade para sociedade, com
todas as diferenças culturais embutidas nessa variação (COHEN, 1968).
118
Vivemos em constante estado de alerta para estar de acordo com o que é aceito e
tolerado por nós mesmos, pela nossa família e amigos, e pela sociedade. No caso de
“pequenas” transgressões ou delitos, um olhar de censura é suficiente para entendermos que o
que fizemos não foi aceito. Para transgressões “maiores”, como é o caso dos crimes, a sanção
extrema é a prisão. Todavia, entre o primeiro e o segundo exemplo uma gama de
comportamentos considerados transgressores da mesma forma que suas respectivas punições.
Por isso, existem várias correntes que se ocupam em entender e explicar o problema da
transgressão, dentre elas a filosofia, a psicologia e a sociologia. Porém, mesmo dentro de cada
uma dessas áreas existem vertentes diferentes e muitas vezes divergentes.
Dentro da filosofia existem inúmeras abordagens sobre esse tema. Dentre elas, a idéia
do “Homem Natural”, desenvolvida por Thomas Hobbes, que apesar de ser considerada uma
visão determinista, é ainda bastante utilizada. Segundo o conceito de Hobbes, “o homem
natural, sem os laços da sociedade civil, é governado pela razão a serviço de suas paixões”
(COHEN, 1968: 12). Essas paixões são o desejo por lucro, segurança e prestígio. Para
Hobbes, num quadro que ele chamou de Leviatã, isso é traduzido numa luta de todos contra
todos, que não existem regras, leis ou restrições a essa propensão inata do homem. A
solução seria então a nomeação de uma pessoa, ou um grupo de pessoas, com o poder de
promulgar leis adequadas (contrato social) e assegurar que elas sejam cumpridas.
Nos estudos da área de Psicologia também existem diversas explicações para a
transgressão, entre as quais a linha Freudiana, a qual estabelece que cada pessoa tem dentro de
si uma energia agressiva e destrutiva, chamada por ele de id. Em contraposição ao id estão o
ego que é a capacidade de levar em conta a realidade e o superego, a consciência moral.
Nesse sentido o indivíduo teria dentro de si três forças atuando de forma que o ego e o
superego se contrabalanceiam para controlar o id. A pessoa vivendo em sociedade aprenderia,
portanto, a controlar seu impulso agressivo e transgressor.
119
Em algumas das teorias filosóficas e psicológicas, descritas acima de forma breve,
percebe-se que existe um mesmo postulado no qual a natureza humana teria uma tendência
para a transgressão. Diversamente dessas, algumas vertentes da Sociologia tentam mostrar
que a natureza humana tem uma tendência à moralidade. A moralidade é vista, dessa forma,
como uma obrigação e um dever, mas ao mesmo tempo como boa desejável e um estímulo
positivo (DURKHEIM, 1996).
Em pelo menos um ponto todas essas teorias convergem. Todos insistem que “para
haver relações entre os seres humanos, é preciso haver regras, e as pessoas precisam ser
capazes de supor que, de um modo geral, essas regras serão cumpridas” (COHEN, 1968: 15).
Contudo, toda regra cria uma potencialidade de transgressão.
A transgressão, em seu sentido mais amplo, ameaça a vida em sociedade. Mas em
alguns casos ela pode servir de termômetro ou indicador de que as regras precisam ser
revistas. Nesse aspecto, a transgressão pode ser um instrumento de controle e mudança,
mostrando regras que não estejam adequadas a determinado contexto social. A ausência de
atitudes transgressoras pode significar a satisfação com as regras em vigor, mas por outro lado
pode significar também uma conformação passiva com essas regras, uma ausência de reação.
Por isso, transgressões devem ser vistas como importantes elementos, necessários ao
equilíbrio de uma sociedade, porque é através de transgressões que muitas vezes são expostas
insatisfações e conflitos em forma de reação ao um modelo vigente. Dessa forma, a
transgressão atua como um termômetro denunciador de vários fatores que cercam uma
sociedade.
Os níveis de tolerância são importantes na questão de determinação da própria
transgressão. Transgressões toleradas podem ser entendidas como “não transgressões” ou
transgressões “menores”. Transgressões não toleradas são logo entendidas como “sérias” e
não desejadas. De certa forma, o nível de tolerância atua como regulador dos tipos e
120
frequências das transgressões. Todo sistema social tem uma tolerância relativa a determinados
tipos de transgressão, desde que não atinjam pontos vitais dentro do sistema. Os pontos vitais
de um sistema, por sua vez, só podem ser determinados com uma análise de sua organização e
pela atividade desempenhada por cada componente.
Existem três tipos de transgressões que são nocivas à organização social de acordo
com Cohen (1968). O primeiro deles é o descumprimento de um acordo, que em uma
atividade social organizada é necessário que haja ações coordenadas. Se uma dessas ações não
for efetuada, um comprometimento ou ruptura no funcionamento contínuo dessa atividade,
como por exemplo, o não pagamento por um serviço prestado. Pressupõe-se que houve um
acordo quanto ao tipo de serviço e ao pagamento deste. Porém, se uma das partes não cumpre
o acertado um rompimento do acordo prévio. O segundo tipo de transgressão é a
desproporcionalidade entre esforço e recompensa. Esse tipo de transgressão destrói a
disposição das pessoas em cumprir seus papéis dentro do sistema social, como é o caso de um
impostor e/ou especulador que tem os lucros sem passar pelas etapas ou “sacrifícios” para
obtê-los. Finalmente, o terceiro e talvez o mais nocivo tipo de transgressão para um sistema
social é a desconfiança. Cada componente do sistema possui um papel e o desempenho de um
papel depende do desempenho dos outros participantes, pois os papéis têm uma correlação
entre si e faz sentido obedecer às regras se todos assim o fizerem. A desconfiança
enfraquece a organização e desconfiar do outro significa considerar em vão os próprios
esforços já que o futuro da convivência fica como incerto e arriscado (COHEN, 1968).
A forma mais comum de controle das transgressões é a punição. Punir um infrator
pode servir de exemplo e de controle, fazendo com que as pessoas voltem a confiar no
sistema. Sem a punição, a confiança vai sendo minada e nada garante que a punição faça com
que os indivíduos voltem a acreditar no sistema. As regras normativas dão alívio à incerteza
da interação social, pois elas definem o que é permitido e o que é proibido, assim como os
121
direitos e obrigações de cada participante. No entanto, as regras não são óbvias. A função da
justiça é a de balizar e reduzir as interpretações ambíguas às regras. O comportamento
transgressor é aquele que infringe as regras, mas a transgressão não é necessariamente
sinônimo de desorganização social. Mas, caso isso aconteça, a desorganização social pode
gerar a dissolução dos laços sociais, a desintegração dos grupos sociais e a ruptura das
atividades sociais e a transgressão social passa a ser uma ameaça à organização social
(COHEN, 1968).
Infração, Violação, Delito e Transgressão
As ações transgressoras podem acontecer em vários níveis, em diferentes graus de
intensidade e gerar diversos tipos de consequências. Dependendo desses fatores, o que
nomeamos aqui de transgressão pode assumir outros nomes como infração, violação, delito,
entre outras nomenclaturas. A definição mais encontrada nos dicionários é a de que infringir
é “desobedecer a; violar, transgredir, desrespeitar uma lei, um regulamento, um uso, uma
norma”, ao passo que violar é “qualquer transgressão a normas, leis ou obrigações” ou
“qualquer ofensa a um direito ou à liberdade alheia”. o delito é “qualquer ato que constitua
uma infração às leis estabelecidas; ato considerado punível pelas leis que regem uma
sociedade; crime, infração; transgressão da moral ou de preceito preestabelecido; falta,
infração”. Por fim, a transgressão é definida como o ato de “não cumprir, não observar
(ordem, lei, regulamento etc.); infringir, violar”. Como se pode ver, as quatro definições se
assemelham no momento em que para definir uma é necessário utilizar as outras. No entanto,
para efeito desse trabalho faz-se necessário adotar apenas um dos quatro termos para efeitos
didáticos, sendo o termo escolhido “transgressão”.
A definição da palavra “transgredir” varia pouco entre os dicionários da língua
portuguesa. De acordo com o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, transgredir significa “1.
122
passar além de; atravessar; 2. desobedecer a; deixar de cumprir; infringir; violar; postergar”
(FERREIRA, 2006). De forma semelhante, para Francisco Fernandes e Celso Luft, transgredir
significa “atravessar; passar além de; violar; infringir: transgredir as leis; deixar de cumprir;
postergar” (FERNANDES, 1998).
O objeto de investigação desse trabalho é a transgressão ocorrida dentro dos
condomínios residenciais. Um dos critérios utilizados nessa pesquisa para caracterizar uma
ação como transgressora é ir de encontro a pelo menos uma das três normas que regulam os
condomínios residenciais ou ainda, ir de encontro às regras da boa convivência. As normas
que regulam os condomínios são o Código Civil Brasileiro, a Lei de Condomínio e a
Convenção Interna do Condomínio. É importante observar que o tipo de transgressão que é
objeto de interesse dessa pesquisa não inclui necessariamente a violência. O interesse aqui é
estudar ações infratoras que normalmente são consideradas “leves”, “pequenas”, e por essa
razão as ações criminosas não se encaixam no objeto de estudo desse trabalho, mesmo
considerando que uma ação transgressora, que implica na desobediência às normas, pode ser
caracterizada como criminosa. No entanto, a palavra “crime” não raras vezes está associada à
violência e possui uma conotação mais forte do que a palavra “transgressão”.
Para deixar mais claro o que vem a ser o objeto de estudo dessa pesquisa, alguns
exemplos de ações transgressoras podem ser dados, como é o caso, por exemplo, da
inadimplência, um tipo de transgressão muito frequente em condomínios residenciais. Tanto
no Novo Código Civil Brasileiro como na Lei de Condomínios, está previsto que cada
morador deve obrigatoriamente arcar com as despesas coletivas do condomínio. Por isso, o
não cumprimento dessa obrigação constitui certamente uma ação transgressora. Outro
exemplo muito comum é o barulho provocado por festas ou aparelhos de som em alto volume.
Nesses casos, as duas leis citadas acima possuem cláusulas restringindo esse tipo de ação
proveniente de um ou mais moradores, a partir do momento em que prejudica ou incomoda
123
outros moradores. Para o caso específico do barulho, existem ainda em alguns estados
brasileiros a Lei de Silêncio, que também pode ser acionada para resolver esse tipo de
problema. Os dois exemplos citados são muito frequentes em condomínios residenciais e são
alguns dos tipos de transgressões que serão trabalhadas nessa pesquisa.
Comportamento Anti-Social
Além do que foi mencionado, a ação transgressora abordada por essa pesquisa
também pode ser entendida como aquela que é o resultado de um comportamento anti-social.
O termo anti-social é comumente usado para designar pessoas introvertidas ou reservadas.
Anti-social também está ligado à antipatia, ou seja, um indivíduo que interage de forma
negativa nas suas relações sociais, ou ainda que possui poucas interações sociais. Por outro
lado, o termo anti-social é utilizado para marginais ou pervertidos. Nesse caso, o
comportamento anti-social pode ser sintoma de uma patologia psicológica ou social. A
literatura internacional aborda o tema do comportamento anti-social sob diferentes pontos de
vista, levando em conta os aspectos legais (criminologia) e psiquiátricos. Os atos anti-sociais
se referem a comportamentos condenados pela sociedade, com ou sem transgressão das leis
do Estado. (REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2000; BORDIN e OFFORD,
2000; RUTTER et al., 1998)
Mesmo considerando as definições acima, o que interessa aqui é a definição de
comportamento anti-social como sendo caracterizado pelo desprezo ou não cumprimento das
normas da sociedade. Por esta razão, o comportamento anti-social é, em alguns casos, ilegal,
podendo ser considerado um crime, mesmo que “leve”. Indivíduos anti-sociais
frequentemente ignoram a possibilidade de afetarem negativamente outras pessoas. Um
exemplo do comportamento anti-social muito frequente em condomínios é a ocorrência de
ruído ou barulho excessivo em horário inapropriado. Nos dicionários da língua portuguesa o
124
verbete anti-social significa aquele “contrário às idéias, costumes ou interesses da sociedade;
transgressor das regras da vida em sociedade e da moral social” (HOUAISS, 2001), ou ainda,
aquele que é “contrário à organização da sociedade como tal, ou que se opõe à ordem social
vigente” (FERREIRA, 2006).
Até aqui, a preocupação tem sido a definição de termos fundamentais para essa
pesquisa como transgressão e normas sociais. Dessa forma, o termo que melhor contribui para
a definição e conceituação de transgressão nos moldes dessa pesquisa é o de comportamento
anti-social, ou seja, o tipo de transgressão que é objeto de estudo desse trabalho é aquele
levado a cabo por consequência de um comportamento anti-social. Por isso, as transgressões
aqui estão intimamente relacionadas com o comportamento anti-social. Neste sentido, o
comportamento anti-social e as transgressões são uma ameaça à ordem interna do
condomínio, porque frequentemente levam os moradores a conflitos condominiais que criam
tensão e insegurança dentro dos condomínios residenciais.
O Novo Código Civil Brasileiro (NCC) é o primeiro a trazer um capítulo dedicado à
regulação dos condomínios. Além disso, uma das grandes contribuições do NCC é a
introdução do termo “anti-social” aplicada ao condomínio residencial:
“Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres
perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser
constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição
para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração,
independentemente das perdas e danos que se apurem”.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento anti-
social, gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores,
poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao cuplo do valor atribuído à
contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembléia” (NOVO
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO, Lei N
o
10.406, de 10 De Janeiro de 2002).
125
A “grande” e a “pequena” transgressão
Essa pesquisa se fundamenta na afirmação da importância em se observar ações
cotidianas, pois é no dia a dia que exercitamos nosso papel como pessoas pertencentes a uma
sociedade, ou seja, o fato de sermos cidadãos. Através de pequenas ações aprendemos a lidar
com as outras pessoas, e se essas ações e práticas cotidianas desrespeitam normas, por
menores que sejam elas, são um veneno para o bom convívio social. E é exatamente no nosso
espaço de morar, onde estamos juntos com nossas famílias, que ações transgressoras
aparentemente inofensivas e que por isso mesmo são consideradas pequenas e sem
importância são, na verdade, ações nas quais adultos, e principalmente crianças, aprendem
normas para o bom convívio social, como afirma o filósofo Peter Singer:
“A ética é um exercício diário, precisa ser praticada no cotidiano. Só assim ela pode se afirmar
em sua plenitude numa sociedade. Se uma pessoa não respeita o próximo, não cumpre as leis
da convivência, não paga seus impostos ou não obedece às leis de trânsito, ela o é ética.
Num primeiro momento, pequenas infrações isoladas parecem não ter importância. Mas, ao
longo do tempo, a moral da comunidade é afetada em todas as suas esferas. Chamo a isso de
círculo ético. Uma ação interfere na outra, e os valores morais perdem a força, vão se diluindo.
Para uma sociedade ser justa, o círculo ético é essencial” (SINGER, 2007).
Estudos sobre “pequenas” transgressões ainda são pouco ou quase não desenvolvidos.
Por isso a abordagem sobre transgressão da forma como trata esse trabalho irá necessitar
do lastro de estudos sobre crime e criminalidade apesar de este não ser objetivo dessa
pesquisa. Para conseguir o embasamento necessário em termos de definição e
contextualização, faz-se necessário um aprofundamento sobre o contexto social do crime nas
sociedades ocidentais. A criminologia estuda o crime em suas mais diversas faces, isto é,
desde o que forma um criminoso, motivações, papel da sociedade, sistema legal e judicial,
chegando a discutir sobre as formas de punição mais adequadas. Mas, ao longo dos culos a
126
criminologia tem mudado os enfoques e as abordagens em torno da temática do crime e é isso
que veremos a seguir.
MUDANÇAS SÓCIO-ECONÔMICAS E DESENVOLVIMENTO DO CRIME
Quando se fala em crime duas perguntas centrais surgem: Quais são as causas? E
Como pode ser combatido? Existem várias correntes de explicação sobre as causas da
criminalidade e as formas mais efetivas de combate a ela ao longo da história. A definição do
que vem a ser crime tem passado por um processo grande de mudanças nos últimos 30 anos.
Contudo, para entender as origens do crime é preciso entender que estas razões estão
relacionadas ao desenvolvimento da visão da pessoa na sociedade.
Individualismo e Meritocracia: de uma sociedade includente para uma sociedade
excludente
Em The Ages of Extremes, Hobsbawm fala das mudanças ocorridas no último terço do
século XX. Os “anos dourados”, na Europa ocidental e nos EUA, abrangem o período da pós-
segunda guerra mundial. Esse período é caracterizado por um mundo de afluência e
crescimento, entre eles: geração de empregos (setor primário das fábricas), absorção da
mulher no mercado de trabalho e na vida pública, numa época de inclusão e conformidade.
No entanto, todo esse quadro de crescimento e inclusão mudou no final dos anos 60, através
de uma grande revolução cultural. Essa revolução incluía a ascensão do individualismo, da
diversidade, da pluralidade e uma desconstrução dos valores até então aceitos amplamente. O
que era dado como certo cedeu espaço para o incerto, apesar do aumento contínuo das rendas
médias e das tentativas de construir uma sociedade satisfeita e ordeira. Valores como família e
127
trabalho foram questionados e colocados em pauta para discussão pela sociedade. Em outras
palavras, as sociedades industrializadas mais avançadas (EUA e Europa ocidental) que eram
sociedades inclusivas baseadas no mercado primário, no trabalho e na família passaram
por dois processos paralelos, mas relacionados de forma convergente: a revolução cultural do
individualismo e a crise econômica de reestruturação dos mercados. Após esse processo, no
final dos anos sessenta e início dos anos setenta essas sociedades inclusivas passaram a ser
sociedades exclusivas (YOUNG, 2002).
Nos “anos dourados” do pós-guerra o trabalho e a família eram considerados setores
gêmeos dentro de um sonho funcionalista: o trabalho era o lugar da produção e a família era o
lugar do consumo. Um apoiava a existência do outro e dependia desse outro. Essa foi a
dualidade Keynesiana, trabalho e família e de oferta e procura. Esse mundo consensual onde
os valores estavam centrados no trabalho e na família era inclusivo. Tinha-se interesse na
assimilação de faixas variadas da sociedade, a exemplo de mulheres, jovens, pobres,
imigrantes, etc. O projeto modernista foi idealizado pensando nessa incorporação (ou
tentativa) da população à plena cidadania. Sob todos os aspectos, havia um contrato social
cuja noção de cidadania incluía não apenas direitos legais e políticos, mas, sobretudo, direitos
sociais. Contudo, esse ideal possuía grandes diferenças entre o modelo Norte-Americano e o
Europeu, como mostra o quadro abaixo.
Quadro 4.1. Quadro comparativo entre o ideal americano e o europeu, feito a partir da livre adaptação
do texto de Jock Young (2002)
O ideal
Norte
-
A
mericano
O ideal
E
uropeu
Igualdade de oportunidades Igualdade de oportunidades, com direito de
inclusão
Igualdade legal e política, mas não
necessariamente igualdade social
Igualdade social é tão importante quanto
igualdade legal e política
O fracasso é considerado como individual O fracasso é considerado uma falha no sistema
Cidadania social a ser conquistada, não é um
direito intrínseco
A cidadania social é um direito
128
Nessa época, os pilares da modernidade são o estado de direito e o estado de bem-
estar, por isso no discurso de ideal modernista eram previstos uma cidadania plena, com
igualdade legal, política e social para todos. Para garantir a cidadania era preciso uma ordem
social absolutista, na qual a grande maioria racional adotava os valores vigentes propondo
uma ordem social, justa e voltada para todos e uma minoria desviante que não concordava
com esses valores era levada a pensar assim. Consequentemente, o papel do estado era
intervencionista e assimilativo, cabendo a ele intervir para promover a justiça social e também
assimilar os desviantes, sendo para isso criado um “corpus” de especialistas. “A história dos
vinte anos após 1973, é a de um mundo que perdeu seu esteio e entrou gradualmente em
instabilidade e crise” (HOBSBAWM, 1994: 403). Tanto para Hobsbawm (idem) quanto para
Young “a revolução cultural precedeu a crise econômica, é claro, bem como certamente o
aumento da taxa de criminalidade” (YOUNG, 2002: 22).
Num primeiro momento, nas décadas de 1960 e 1970, o individualismo ainda é
ascendente. É um período de criação de zonas de exclusividade pessoal, de esgarçadura de
tradicionalidades, comunidade e família. Num segundo momento, nos anos de 1980 e 1990, é
que ocorre um processo social de exclusão. São vários os aspectos que concorreram para esse
avanço da exclusão: 1) transformação e separação dos mercados de trabalho, com a
diminuição do setor primário e o aumento dos setores secundário e terciário, acarretando o
aumento do desemprego estrutural e 2) exclusão social decorrente das tentativas de controlar a
criminalidade.
Para Young (2002), o momento de transição da modernidade para a modernidade
tardia é também o de transição de uma sociedade inclusiva para uma sociedade excludente. O
fordismo do período s-guerra era caracterizado pela produção em massa e um consumo
também em massa. Esse período é marcado pela importância dada a duas instituições:
trabalho e família (keynesianismo). Porém, esse sistema já continha em si mesmo os germes
129
da mudança, pois uma sociedade que propõe a assimilação do outro e prega a igualdade de
direitos, promove também o respeito à diversidade e à pluralidade. Dessa forma, o
individualismo encontra terreno fértil para se desenvolver. Seguindo a mesma linha de
raciocínio, o contraste entre o mercado primário e o secundário gerou a diminuição do
primeiro e o desenvolvimento do último. Além disso, gerou a possibilidade de surgimento e
ascensão do setor terciário, conhecido como efeito downsizingda economia que caracteriza
o período pós-fordista. O downsizing acarreta a redução do mercado primário e a expansão
dos setores secundário e terciário. A maior consequência disso tudo é a geração de um
desemprego estrutural em massa.
O mercado terciário, baseado na meritocracia, provoca uma desestabilização dos
empregos, que se de forma pessoal e sem vínculo empregatício. As classes médias da
população vêem então seu mundo tornar-se precário e transitório. Não há mais garantia de um
emprego estável e duradouro, que na meritocracia baseada no mérito e no talento
sempre a possibilidade de rebaixamento. Por um lado, o mercado exige qualificação a
custos baixos enquanto que por outro, os trabalhadores buscam se diferenciar uns dos outros
oferecendo serviços qualificados ao preço que o mercado oferece. Portanto, a relação esforço
versus recompensa torna-se cada vez mais injusta e desigual e o desenvolvimento do mercado
terceirizado é marcado por uma dificuldade de padronização das recompensas por mérito. O
sistema que funciona hoje é o de recompensas desiguais para esforços desiguais. Esse sistema
promove uma frustração na grande maioria da população, o que aumenta o sentimento de
ansiedade, revolta e criminalidade.
A busca por sucesso monetário e status social é a expressão desse período da
modernidade tardia. A não conquista desses atributos juntamente com a privação relativa do
mundo material são a fonte de frustrações e insatisfação que geram fortes tensões no mundo
atual. Sem dúvida, uma cultura baseada em indivíduos que buscam realizações baseadas em
130
sucesso monetário está menos propensa a aceitar imposições quer seja de autoridades, quer
seja das tradições ou culturas, pois colocam em risco o alcance desses ideais. Essa
combinação de fatores constitui-se assim numa fonte para o desvio social.
A Criminologia e o Desviante: o trajeto da visão do “eu” e do “outro”
A forma como é entendido o crime e o criminoso pela humanidade mudou ao longo do
tempo. Segundo McNeill (2002), existem três formas básicas pelas quais os seres humanos
tentaram organizar e controlar o crime e a violência. A primeira foi através da ação
comunitária local, a segunda através de governos burocratizados em sociedades complexas e,
a terceira através dos modernos Estados-Nação.
Na primeira forma, pessoas de determinada comunidade se organizavam e faziam elas
mesmas a segurança dos outros membros da comunidade, assim como das propriedades.
Assim, os esquemas de segurança eram feitos por amigos, vizinhos e familiares. Essa forma
de organização da comunidade gerava um clima de união de todos os seus membros contra
um inimigo comum, externo ao grupo, um forasteiro ou estrangeiro. Durante toda a pré-
história as sociedades pré-modernas utilizaram esse tipo de organização, que funcionava para
garantir não só a segurança de uma comunidade, mas para qualquer processo que envolvesse a
questão da solidariedade. A solidariedade interna era vital, porém, o perigo estava do lado de
fora e o medo era direcionado exatamente para o que poderia vir de fora. Por isso a violência
e o crime eram considerados como provenientes da ação de um desviante que, por sua vez, era
considerado como pertencente a classes perigosas ou grupos relevantes, socialmente distintos
e espacialmente identificáveis.
No entanto, esse sistema baseado nas comunidades não pode resistir ao aparecimento e
desenvolvimento das cidades. A civilização passou a depender das cidades, onde um grande
número de pessoas se reunia e, consequentemente, onde o sistema de segurança adotado pelas
131
comunidades primárias não funcionava. Portanto, era preciso inventar novos meios para
garantir a segurança de uma população mais numerosa e heterogênea. O primeiro passo era
tratar o estranho de forma mais amigável; esse mesmo estranho que antes fora tratado com
desconfiança e hostilidade. Em parte, essas inovações necessárias à segurança foram
resolvidas pelos governos burocráticos, que de maneira simplificada funcionavam mediante o
pagamento de impostos nem sempre de forma pacífica pelos moradores e usuários das
cidades que recebiam segurança, uma vez que o governo detinha o poder sobre os exércitos.
Durante esse período, o desviante era visto como um “outro” pertencente a uma minoria, em
contraste com a maioria que comungava dos mesmos valores e padrões. O desviante era
considerado um indivíduo separado, um indivíduo atomístico como produto aleatório da
sociedade, principalmente da família de onde provinha.
No final dos séculos XVI, XVII e XVIII, na Inglaterra, França e Estados Unidos
respectivamente, surgiram os Estados-Nação, que são uma combinação dos outros dois
sistemas de governo, o comunitário e o burocrático. Nos Estados-Nação os cidadãos livres
unem-se em torno de um ideal liberal e democrático, deixando de lado diferenças,
principalmente as religiosas. Esse tipo de governo trouxe riqueza e poder para alguns poucos
países ocidentais, especialmente os mencionados acima. Enquanto isso, o restante do mundo
tem tentado trilhar o mesmo caminho, mas sem muito sucesso. Nesse período, o desviante é
considerado um indivíduo coletivo, identificado assim com um grupo ao qual pertence, sendo
este um grupo desviante. Neste sentido, o indivíduo desviante está localizado dentro de uma
subclasse social.
A Insegurança Ontológica
Giddens (2005) defende a idéia de que a vida moderna está caracterizada por
“escolhas ampliadas”, o que nos levaria a um questionamento de crenças, valores estáveis e
132
um questionamento sobre nós mesmos. Outro fator que reforça esse último é a falta de uma
biografia e trajetória de vida embasadas num controle social e a confrontação constante com a
pluralidade. Esses dois fatores geram uma situação de “insegurança ontológica” quando a
auto-identidade não está baseada no nosso sentido de continuidade biográfica ou quando a
proteção aos riscos se torna fraca quando o sentido de normalidade se desorienta pelo
relativismo dos valores. O individualismo também contribui para a insegurança ontológica, na
medida em que ênfase à escolha existencial e à própria criação. A insegurança ontológica
de um mundo plural torna atraente a revelação do desvio a ser evitado e combatido e essa
tarefa é em parte liderada pelos meios de comunicação. Porém, o “outro” a ser combatido, o
desviante, não está mais fixo e identificável como antes, que ele pode ser qualquer um, em
qualquer lugar, em qualquer nível social.
“Na cidade todos são potencialmente desviantes” (SENNETT, 1990), ou seja, na
modernidade tardia o “outro” desviante está em toda parte, pois a pluralidade de culturas
fornece efeitos de sobreposição umas sobre as outras. A situação de “insegurança ontológica”
cria a necessidade de estabelecer uma base segura, de estabelecer valores morais e limites
claros. Neste sentido, tudo o que é considerado ruim tem que ser excluído e com isto a
tolerância ao desvio diminui.
Quadro 4.2. – Quadro esquemático sobre a visão do desviante em três períodos da história, feito
a partir da livre adaptação do texto de Jock Young (2002).
Período
Quem é o desviante
O desviante em sociedade
Pré-modernidade O desviante era considerado
como pertencente a classes
perigosas
Grupos relevantes,
socialmente distintos e
espacialmente identificáveis
Modernidade O desviante era considerado
um indivíduo em separado
Indivíduo atomístico como
produto aleatório da
sociedade (família)
Modernidade recente O desviante é um indivíduo,
porém identificado com um
grupo ao qual pertence, um
grupo desviante
Indivíduo desviante
localizado dentro de uma
subclasse
133
A Díade do Crime
A díade do crime inclui as causas da criminalidade e do desvio e as reações contra a
criminalidade e o desvio. As causas da criminalidade foram exploradas até agora e a privação
relativa ao mundo material e o individualismo são fatores que determinam as causas da
criminalidade. Existem três fatores que estão relacionados às reações à criminalidade: o
comportamento público de evitação, a exclusão penal e a exclusão de espaços públicos. Na
maioria dos países, se um aumento na criminalidade, consequentemente há um aumento da
população carcerária, o que não é necessariamente uma resposta certa ao controle da
criminalidade. O comportamento público de evitação está intimamente ligado à exclusão dos
espaços públicos, porque uma coisa leva à outra. O espaço público tem uma função
estabelecida dentro da sociedade e com o aumento da criminalidade, cresce o medo da
população de utilizar tais espaços. Esta é uma das razões que contribui para a privatização dos
espaços públicos como shoppings, parques, estradas de ferro, aeroportos e residências. Tais
espaços são de uso do público em geral, mas contam hoje em dia com controle e segurança
privados. Como nos fala Jock Young, as barreiras mais corriqueiras e de longe as mais
onerosas são precisamente as que somos obrigados a erguer para proteger nossas próprias
casas” (YOUNG, 2002: 39).
Neste processo, uma parcela relativa da população que possui empregos estáveis,
família estável e salário justo, está encolhendo. Essa parcela está localizada em um núcleo que
está cada vez menor. Em volta desse núcleo estável passa a existir um “cordão sanitário”, que
estabelece uma fronteira clara entre o grupo do núcleo central e os que estão de fora. O
resultado de tudo isso é que os grupos que estão de fora deste “cordão” são comumente
identificados como causadores de desordem e mal-estar. Para se defender desse estigma, essas
pessoas se unem em grupos (capítulo 3) e é por isso que estão, em todo o mundo, associados a
minorias étnicas, facilmente transformadas em bodes expiatórios. É através deste
134
planejamento urbano, que se estabelece o chamado “cordão sanitário”, no qual estradas
dividem cidades, grades protegem propriedades particulares, espaços públicos são
privatizados e a polícia passa a controlar as áreas nucleares (YOUNG, 2002).
A Criminologia Atuarial
Nos últimos vinte anos ocorreram grandes mudanças nos estudos de criminologia. As
mudanças ocorreram na própria concepção do que é crime, de quem o comete e do controle ao
este. Os paradigmas modernos estão sendo substituídos pelos paradigmas da modernidade
tardia.
O iluminismo do século XVIII e a revolução científica do século XIX criaram as duas
principais correntes que influenciam os estudos de criminologia: o classicismo e o
positivismo. Essas correntes têm sido contestadas e debatidas até hoje, principalmente pelas
duas correntes mais atuais que são o neoliberalismo e o pós-modernismo. Porém, a cada dia
surgem novos movimentos sociais que discutem essa questão como, por exemplo, o
feminismo e correntes de proteção ao meio ambiente e etnias, que criam concepções próprias
sobre a sociedade, o progresso e o contrato social.
As mudanças ocorridas no final de década de 1960 e início da década de 1970 que
caracterizam a modernidade tardia influenciaram todos os setores da sociedade. O movimento
de transição da modernidade para a modernidade tardia influenciou o mercado de trabalho, a
família, os espaços públicos e privados, as relações de gênero e as concepções de
criminalidade e vitimização. Além desses fatores, duas crises internas nos estudos de
criminologia surgiram. A primeira é a crise na própria etiologia da disciplina: a hipótese mais
aceita era de que com progresso das sociedades haveria um declínio natural da criminalidade
e da incivilidade. Porém, a prática mostrou o contrário, o período pós-segunda guerra mesmo
exibindo os maiores e mais altos índices de padrão de vida alcançados na história pela Europa
135
e Estados Unidos exibiram, contraditoriamente a esta teoria, os maiores e mais altos índices
de criminalidade (YOUNG, 2002). A segunda crise foi provocada pelas super lotações nas
penitenciárias e pela reavaliação do papel da polícia. Esses dois fatores fizeram com que a
posição do sistema de justiça criminal fosse redefinida. Essas crises põem sob suspeita o papel
do Estado democrático, um Estado incapaz de proteger seus cidadãos da criminalidade ao
mesmo tempo em que coloca uma parcela cada vez maior da população encarcerada
(YOUNG, 2002).
Não apenas os países industrializados, mas todo o mundo observa alarmado os níveis
crescentes de criminalidade e desordem. Juntamente com o aumento do crime, ocorre uma
generalização em torno das formas de ocorrência desse crime, ou seja, o crime deixa de ser
algo anormal e passa a ser cotidiano. O crime sai da esfera do extraordinário e passa a ser
comum, ordinário. Ele passa a ser visto não apenas nas esferas mais pobres da população, mas
como presente também nas camadas médias e altas (YOUNG, 2002).
Em seu livro A Sociedade Excludente, Young nos fala que para entender o
desenvolvimento dos estudos de criminologia, é preciso realizar uma contextualização dos
problemas exteriores da criminalidade, que são as correntes políticas e sociais. O autor se
concentra nas últimas e elege duas problemáticas principais: o individualismo e a
meritocracia. Para ele as sociedades baseadas nesses dois modelos fizeram uma revolução nas
formas de entendimento sobre a criminalidade, questionando e criticando cinco fatores aceitos
pelo paradigma modernista.
O primeiro fator é a “taxa crescente de criminalidade”. De acordo com o paradigma
positivista, o crime era resultado de más condições sociais. Este conceito foi claramente posto
à prova pelo fato de que o aumento da criminalidade ocorreu, nos Estados Unidos e países da
Europa, mesmo em um período em que esses países prosperaram com os melhores níveis de
emprego e padrões de vida altos. Com isso fica excluída a hipótese de que com o progresso
136
haveria um declínio na criminalidade e na incivilidade. A causalidade saiu do nível social para
o individual e mais precisamente da família. O criminoso não é mais um produto de meio
social ruim, pois ele passa a ser um indivíduo produto de uma família com problemas. Com
isso, passou-se a enfatizar o papel do Estado e da Justiça Criminal no controle e combate ao
crime. ainda outra interpretação para o aumento das taxas de criminalidade, na qual esse
aumento poderia ser relativo e não real por conta do aumento das denúncias, das respostas
governamentais e do público à criminalidade. Todavia, isso não explicaria apenas em parte os
números alarmantes.
O segundo fator é a “revelação das vítimas”, ou seja, a descoberta de que as taxas de
criminalidade são pelo menos três vezes maiores do que os números oficiais. Isto porque as
taxas oficiais se baseiam apenas nos crimes notificados, deixando de incluir um grande
número de crimes não notificados. Sem contar que os crimes notificados eram, em grande
parte, crimes contra a propriedade e homicídios, sendo que os crimes de violência e agressões
sexuais eram pouco notificados. Isso lançou um novo interesse sobre as origens do crime.
Essas descobertas também ajudaram a reforçar a idéia do crime como um evento normal em
vez de excepcional, atingindo todas as classes sociais.
O “aumento de criminalidade” e a “revelação das vítimas” foram fatores que
colocaram em cheque os paradigmas positivista e neoclassicista. O primeiro, porque com a
revelação de uma violência no âmbito privado e íntimo, a exemplo dos crimes sexuais, mostra
como o crime acontece em toda a estrutura de classes e não só nas classes mais baixas – como
acreditava o positivismo. No segundo, com a revelação dos crimes acontecendo também na
esfera de vida privada, as ações criminosas se mostram realizadas por pessoas conhecidas das
vítimas. Abre-se assim uma brecha nas concepções neoclássicas que direcionavam o perigo
como vindo exclusivamente de fora e que o criminoso seria sempre um forasteiro.
137
O terceiro fator é a “problematização do crime”. Os dois primeiros fatores levaram a
novas interpretações sobre a realidade de criminalidade, mas, além disso, lançaram um novo
olhar sobre a própria natureza do crime. Para o modernismo, o crime era óbvio, mas a partir
dos anos 1960 essa concepção passou a ser contestada por uma corrente que via o crime e o
desvio como construções sociais. Portanto, as taxas e índices de criminalidade passaram a ser
relativizados, dependendo da forma como a sociedade da época reconhecia um fato criminoso
e até que ponto o tolerava. Ao invés de uma distinção clara entre crime e não crime passou-se
a ter uma distinção entre comportamento tolerado e comportamento não tolerado. Por isso a
noção de crime adquiriu o interesse do debate público.
O quarto fator é a “universalidade do crime e a seletividade da justiça”. A descoberta
dessa generalização do crime trouxe dois pontos importantes a serem revistos pelos estudos de
criminologia. Como foi dito anteriormente, o primeiro é a crise da etiologia e o segundo é a
crise da penalidade. A criminologia, tradicionalmente, até a década de 1960 entendia que a
criminalidade estava concentrada na parte mais baixa da estrutura social e havia um perfil
estereotipado do criminoso: classe inferior, masculino e jovem. Porém, essa visão começou a
mudar nos anos 1970, mais particularmente depois de trabalhos como White Collar
Criminality de Edwin Sutherland. Essa revisão sobre o estereótipo dos anos 1960 apontou
para uma natureza universal e endêmica do crime porque:
“As velhas certezas do positivismo social de que pobreza e desemprego conduzem ao crime
se tornam problemáticas, uma vez considerada a criminalidade dos que estão no alto da
estrutura social e o caso das mulheres. Os primeiros deveriam apresentar um taxa de
criminalidade extremamente baixa, o que não o fazem, ao passo que as mulheres, devido ao
seu empobrecimento comparativo e suas altas taxas de desemprego, deveriam apresentar taxas
altas [de criminalidade], o que manifestadamente não exibem. Assim, a criminalidade ocorre
em lugares em que não devia ocorrer. E vice-versa” (YOUNG, 2002: 73).
138
Finalmente, o quinto e último fator, que é a “problematização da punição e da
culpabilidade”. Com grande volume de criminalidade no mundo torna-se difícil a detecção e a
punição dos criminosos. Nesse ponto, entra em cena a seletividade da justiça. É inevitável
com um volume tão grande de crimes detectar e punir os criminosos individualmente e por
isso categorias inteiras de pessoas são colocadas sob suspeita. Além disso, o volume de crime
resulta em um aumento da população carcerária. Dessa forma, a justiça, em posse de
criminosos e falta de vaga para colocá-los, passa a adotar um processo mais seletivo, isto é,
distinguir primeiramente infratores perigosos, crônicos ou reincidentes dos demais. O
criminoso passa a receber uma punição não baseada no seu crime, mas sim baseada em como
o sistema judicial pode aplicar essa punição de fato.
Todos esses fatores abalaram os conceitos de crime e controle até então aceitos pela
criminologia, pela sociedade e pelo Estado. Com a generalização da criminalidade, o crime
pode acontecer em qualquer lugar. Não se sabe de onde o crime pode partir, nem quem pode
atingir. Outro ponto em questão são as causas do crime. Neste sentido, houve uma dissociação
entre pobreza e crime, já que o crime não é necessariamente resultado da pobreza. As causas
da criminalidade são mais complexas, envolvendo explicações políticas, econômicas e
também sociais. Todos esses fatores enfraquecem o interesse em combater o crime na sua
origem e entender suas motivações. As atenções estão voltadas para a prevenção ao crime,
diminuindo riscos e oportunidade para que os crimes aconteçam. O foco não está mais na
ocorrência do crime e nas formas de punição; o foco agora é anterior ao crime, na
possibilidade do crime. É esta a abordagem da criminologia atuarial.
Na criminologia atuarial não existe espaço para os discursos positivistas ou
neoclássicos, que se preocupavam com motivos causadores e controle dos efeitos. A
criminologia atuarial se preocupa antes com a prevenção da ocorrência do crime do que com
as formas de combate e reabilitação do criminoso. Por isso para criminologia atuarial o que
139
importa é prever o crime antes que ele aconteça. Consequentemente, o combate aos
comportamentos anti-sociais é de extrema importância para a criminologia atuarial, tendo em
vista que este tipo de comportamento pode se transformar em comportamentos mais graves.
São exatamente esses comportamentos anti-sociais em geral, criminosos e não criminosos,
que ameaçam o bom funcionamento de um sistema social (quadro 4.3. e 4.4.). Para
criminologia atuarial, o crime é dado como algo que certamente ocorrerá, que é impossível ser
eliminado, mas que pode ser prevenido:
“Trata-se, isto sim, de um discurso excludente que busca prever o problema, seja no shopping
ou na prisão, e excluir ou isolar o desviante. Ele [estudos sobre crime] não está interessado no
crime per se, mas sim na possibilidade de crime, em comportamentos anti-sociais em geral,
criminosos ou não, em prováveis doenças mentais ou recalcitrâncias conhecidas: em qualquer
coisa que possa perturbar o funcionamento suave do sistema” (Young, 2002: 76).
Quadro 4.3. – Neoclassicismo e criminologia atuarial (Fonte: Young, 2002: 77).
Neoclassicismo
Criminologia atuarial
Foco Crime
Ocorrência concreta
Intenção
Comportamento anti
-
socia
l
Risco
Comportamento
Prova Prova indubitável Balanço de probabilidade
Objetivo Eliminação Limitação de perdas/ minimização de danos
Suspeita Individual Categórica
Método Dissuasão Prevenção
Agência Estado
Privado
Locus
Espaço Público
Propriedade Privada de massa
Solução Reparação Seguro
Sentença Proporcionalidade Periculosidade
Quadro 4.4. A transição para a modernidade recente: os conceitos cambiantes de criminalidade e seu
controle (Fonte: Young, 2002: 78).
1. Definição de crime Óbvia Problemática
2. Prevalência de infratores Minoria Extensiva
3. Incidência de vitimização Excepcional Normal
4. Causas do crime
Distantes, determinadas,
excepcionais
Presentes, racionalmente
escolhidas, disseminadas
5. Relação com a
“normalidade”
Separada
Normal/ continuum
6. Relação com a
sociedade mais ampla
Vazamentos Integral
7. Lócus da infração Público
Público/privado
140
8. Relação do infrator com
a vítima
Estranho/forasteiro
Estranho/íntimo
Outsider/integrado
9. Lócus do controle social Sistema de justiça criminal Informal/multiagências
10. Efetividade da
intervenção social
Tida como evidente
Problemática: “nada
funciona”
11. Reação pública Óbvia e racional
Problemática: “medo do
crime” e pânicos morais
12. Dimensão espacial Segregada
Espaço contestado
A pertinência desse trabalho está exatamente em convergência com os interesses da
criminologia atuarial. Apesar de não ser uma pesquisa dentro da área da criminologia e sim de
desenvolvimento urbano, a preocupação está em estudar esses novos espaços eleitos como
foco onde podem acontecer comportamentos anti-sociais, criminosos ou não.
LEIS QUE REGEM O CONDOMÍNIO
1
É crescente o número de condomínios residenciais no Brasil, como por exemplo, na
cidade de São Paulo, onde existe hoje cerca de 40.000 condomínios, número quatro vezes
maior do que o número de condomínios na cidade do Recife onde existem cerca de 11.000
condomínios. Conseqüentemente nos últimos 5 a 10 anos podemos notar um interesse
crescente do mercado em torno dos condomínios. Os condomínios geram uma receita
fabulosa, recolhem impostos, pagam encargos trabalhistas, efetuam compras, em suma,
movem uma grande quantidade de dinheiro. Estima-se que em São Paulo mais de 8 milhões
de reais sejam movimentados, gerando cerca de 300 mil empregos diretos e 280 mil empregos
indiretos. Além disso, é um mercado que cresce e não vai à falência, porque uma vez
aberto não há retorno nem fechamento. Existe hoje um grande número de profissionais
ligados de alguma forma à questão condominial: advogados, administradores, prestadores de
1
Para um melhor aprofundamento com relação ao Novo código Civil e a Lei de Condomínio ver anexo 3, que
consiste numa síntese dos principais assuntos tratados por essas leis.
141
serviço em geral, empresas que fornecem material especializado para condomínios, entre
outros.
Todo esse crescimento dos condomínios residenciais no Brasil, no entanto, fez com
que algumas questões ficassem mais perceptíveis como é o fato de que muitos deles,
principalmente os de grande porte, têm hoje os mesmos problemas de uma cidade. Grande
parte desses problemas existe porque há um senso comum de que leis e regras sociais
normalmente aplicados à cidade, ao espaço público, não são aplicáveis dentro de locais
privados, como é o caso dos condomínios. Regras e autoridades são questionadas e a
hierarquia encontrada revela apenas dois níveis de pessoas: moradores e funcionários. Os
primeiros estão acima nos últimos no que diz respeito às relações de poder. O síndico surge
então como figura importante e fundamental para regularizar o condomínio. Ele deve
desencorajar comportamentos transgressores através da aplicação de multas e da inibição
verbal ou por escrito, de comportamentos nocivos à convivência no condomínio. No entanto,
as leis e normas que regulam os condomínios residenciais são comumente desconhecidas,
negligenciados e/ou em grande extensão desobedecidos pela maioria dos moradores.
As Leis e normas que regulam o condomínio são:
O Novo Código Civil Brasileiro (Lei Federal Nº 10.406 / 2002)
A Lei de Condomínio (Lei Federal Nº 4.591 / 1964)
O Regimento Interno e a Convenção dos Condomínios (particulares p/ cada
condomínio)
Decisões da Assembléia Geral
Além das leis e normas, o bom senso e o respeito também devem ser utilizados para
promover o bem-estar e a boa convivência da coletividade. é grande o número de estudos
que mostram a importância do cultivo de pequenas ações de civilidade para a construção de
algo maior que extrapola as fronteiras da boa educação, como a solidariedade e o convívio
harmônico dos moradores.
142
O Novo Código Civil Brasileiro (NCC) e a Lei de Condomínio (LC)
Do Condomínio
O condomínio é previsto no NCC e na LC como uma edificação contendo propriedade
exclusiva e propriedade comum, podendo ser residencial ou comercial. A área exclusiva é de
uso particular do condômino e as áreas comuns são de uso de todos, não podendo ser
alienadas ou divididas. Nenhuma unidade imobiliária pode ser privada do acesso ao
logradouro público.
Da Convenção de Condomínio
A convenção do condomínio deve ser elaborada pelos titulares das unidades, sendo no
mínimo 2/3 das frações ideais. É obrigatória para os titulares e/ou para os de posse ou
detenção sobre as unidades. Com relação ao conteúdo da Convenção, a LC é mais detalhada.
No entanto, a LC é vaga com relação à forma de utilização das unidades exclusivas e áreas
comuns. Ela deveria conter, no entanto, uma orientação mais objetiva, deixando pré-
estabelecido alguns desses usos.
Dos Direitos e Deveres dos Condôminos
Com relação aos direitos dos condôminos, o CC e a LC deixam claro que estes têm o
direito de utilizar sua unidade livremente, desde que essa utilização não interfira no mesmo
direito dos outros condôminos de fazerem o mesmo com suas unidades. No entanto, as formas
de interferência no direito de outrem não são claras, deixando livre a interpretação do que é,
de fato, uma interferência. Com relação a esses deveres, o CC é um pouco mais detalhado
quando cita despesas, obras, fachadas, etc., mas continua sendo pouco claro no item IV do
Art. 1.336. A LC diz que a violação dos deveres sujeita o infrator à multa e que compete ao
síndico a aplicação e cobrança da mesma.
143
Das Ações Proibitivas
A LC repete o que foi estabelecido no CC no tocante à fachada, acrescentando o item
II (esquadrias). Porém, incorre no mesmo problema de carência de especificação das formas
proibitivas de usos.
Das Ações Punitivas
No caso do descumprimento dos deveres, o transgressor será sujeito à multa prevista
na Convenção. Essa multa não pode ser superior ao valor de 5 mensalidades. No caso de não
haver disposição expressa na Convenção, cabe à assembléia (composta de 2/3) decidir sobre a
transgressão e a multa referente a esta. Obs.: O CC estabelece que a inadimplência seja punida
com cobrança de multa de até 1% ao mês a de até 2% sobre o débito.
Das Despesas
As despesas das partes comuns são divididas pelos condôminos de acordo com a
fração ideal de terreno de cada unidade. Cabe ao síndico arrecadar as taxas condominiais e, se
necessário for, executar cobrança judicial de taxas atrasadas.
Das Obras
Tanto o CC como a LC são claros quanto à questão das obras. Sendo estas necessárias
e urgentes não é preciso a aprovação dos condôminos e podem ser realizadas pelo síndico ou
morador (nesse caso, o condômino que as efetuou será devidamente reembolsado). Se a obra,
mesmo urgente, acarretar em custos excessivos, ela necessitará de aprovação em Assembléia
(2/3). No caso das obras: úteis a todos; não urgentes; reparos, etc., será necessária a aprovação
em Assembléia (maioria, metade +1). O CC é mais detalhado em relação às obras.
144
Do Seguro: do Incêndio, da Demolição e da Reconstrução Obrigatória
Poucas pessoas sabem da existência dessa cláusula que obriga os condomínios ao
seguro contra incêndio e destruição. A LC é mais detalhada e delibera que a forma de
utilização desse recurso, quando necessária, será decidida em assembléia.
Da Administração do Condomínio
A administração do condomínio é feita por um síndico eleito em Assembléia, podendo
ser morador ou não, pessoa física ou jurídica. O mandato é de dois anos com direito a
reeleição. A destituição de um síndico é possível, desde que esteja de acordo com as
disposições da Convenção.
Da Competência do Síndico
É importante que os condôminos tenham conhecimento sobre a competência do
síndico e do seu papel na administração do condomínio, para que todos possam ajudá-lo,
possam cobrar ações, controlar gastos entre outros assuntos de interesse geral.
Da Assembléia Geral
Uma assembléia geral por ano é obrigatória para prestação de contas, aprovação das
despesas e discussão sobre assuntos de interesse do condomínio. Porém, assembléias
extraordinárias poderão ser convocadas pelo síndico ou por 1/4 dos condôminos.
Inovações do Novo Código Civil
Até 2003 os condomínios eram regidos pela Lei de Condomínio (LC). Em 2003 o
Novo Código Civil (NCC) trouxe em seu corpo uma parte dedicada aos condomínios, o que
145
não invalida a Lei de Condomínio de 1964, mas entra em conflito com essa em alguns pontos,
nos quais a orientação é que prevaleça o NCC.
O NCC trouxe, segundo Rachkorsky (2005), avanços e retrocessos. Dentre os avanços,
está o estabelecimento da conduta anti-social. Esse termo é previsto no NCC e o indivíduo
que dentro do condomínio for considerado como tendo uma conduta anti-social é passível de
multa. No entanto, a definição do que venha a ser uma conduta anti-social é difícil e não
específica. Nesses casos, uma assembléia extraordinária deve ser convocada para deliberar
sobre o assunto e o NCC prevê multas mais pesadas para inibir condutas anti-sociais.
Entretanto, deve-se atentar para o fato de que anti-social é um termo recentemente utilizado
dentro do NCC e dessa forma é preciso um pouco mais de tempo para que ele seja absorvido
pela população. Outro fator que depõe contra a eficácia da aplicação de multas altas é que
estas são praticamente inaplicáveis, pois dependem de um quorum elevado, 2/3 ou 3/4 da
massa condominial, e “a prática ensina que às assembléias nunca comparecem condôminos
em número bastante para atingi-lo” (Franco, 2007).
De acordo com Rachkorsky (2005), o condômino anti-social é aquele que age,
reiteradamente, de forma contra as tradições e a moral dos moradores do condomínio. Nessa
pesquisa esse conceito é um pouco mais abrangente e a conduta anti-social é definida como a
do condômino que age, reiteradamente, contra o sossego, a salubridade e a segurança de um
ou mais moradores do condomínio.
Dentre os retrocessos, o principal está ligado à questão da inadimplência. A mudança
da alíquota de 20% para 2% de multa no caso de atraso do pagamento da taxa condominial
instituída pelo NCC está promovendo uma insegurança financeira e administrativa para os
condomínios. Isso porque foi criada uma nova categoria de inadimplentes, isto é, o
inadimplente “volante”, que é o morador que atrasa em apenas alguns dias o pagamento da
taxa condominial. Esse morador prefere atrasar o pagamento da taxa condominial em que os
146
juros são de 2%, do que atrasar, por exemplo, o pagamento de cartões de crédito e cheque
especial, em que os juros chegam a 10%.
O Regimento Interno e a Convenção dos Condomínios (particulares p/ cada
condomínio) e as Decisões da Assembléia Geral
Tanto o Regimento Interno como a Convenção de Condomínio são normas criadas
pelos proprietários de determinado condomínio para regulamentar o convívio interno dos
moradores. A Convenção, inclusive, é um dos pré-requisitos para constituir-se o condomínio e
poder registrá-lo em cartório. Existe uma dúvida muito freqüente sobre a diferença entre
Regimento Interno e Convenção do condomínio. Enquanto a Convenção regulamenta o
direito sobre a propriedade, o Regimento regulamenta o direito sobre o uso, complementando
a Convenção (DANTAS, 2007).
Recentemente, houve uma determinação da justiça para que as Convenções dos
condomínios fossem atualizadas. Dessa forma, problemas que até bem pouco tempo não
existiam, puderam ser resolvidos. Um desses problemas é a individualização dos medidores
de água, hoje uma questão polêmica em muitos condomínios. Porém, a questão mais
importante a ser sanada pela atualização das Convenções ainda diz respeito à inadimplência.
Como foi dito, com o Novo Código Civil Brasileiro a multa para inadimplência caiu de 20%
para 2%, o que causou o aumento do número de condôminos inadimplentes. Com a
atualização da Convenção, podem ser previstas multas diárias e a incorporação do condômino
reiteradamente inadimplente ao rol dos condôminos anti-sociais, o que pode resultar em multa
de até dez vezes o valor da taxa condominial.
147
O papel do síndico: eleição, destituição e direitos e deveres do síndico
O síndico é uma figura central no condomínio, porque cabe a ele representar o
condomínio, comandar a administração e fazer cumprir as normas e prestar contas de todo o
dinheiro gasto no condomínio. O síndico é eleito em assembléia geral para um mandato de
dois anos, podendo ser reeleito, de acordo com o artigo 1.347 do Código Civil (Lei Federal
10.406, 2002). O síndico pode ser pessoa física ou jurídica e pode ainda ser ou não morador
do condomínio onde exerce a função de síndico, segundo o parágrafo 4 do artigo 22 da Lei de
Condomínio (Lei nº 4.591, 1964). Normalmente o síndico é pessoa física e morador do
condomínio onde ele é síndico. No entanto, existem hoje muitas empresas administradoras de
condomínio no mercado que tanto podem substituir a figura do síndico ou, como mais
comumente ocorre, auxiliar o síndico na administração do condomínio através da prestação de
serviços burocráticos e legais, realizando cálculos de folha de pagamento de funcionários e
até prestando consultoria para questões jurídicas.
O síndico pode ser destituído se praticar irregularidades previamente descritas na
convenção de condomínio como, por exemplo, deixar de fazer a prestação de contas; ou se
administrar o condomínio inconvenientemente. Para que isso ocorra é necessária a
convocação de uma assembléia especial, convocada por um quarto dos condôminos. As
condições e o quorum necessários para que haja a destituição do síndico devem estar previstos
na Convenção. Mas, caso não haja nenhuma cláusula referente a essa questão na convenção, o
voto de dois terços dos condôminos presentes na assembléia especial a favor da destituição
podem decidir sobre a questão, de acordo com o parágrafo 5 do artigo 22 da Lei de
Condomínio (Lei Federal nº 4.591, 1964).
Cabe a assembléia decidir também se o síndico receberá ou não algum tipo de
remuneração. Se a decisão for pela remuneração esta poderá ocorrer tanto pela isenção da taxa
condominial ordinária, como pelo pagamento de um salário, também fixado pela assembléia.
148
Segundo pesquisa realizada em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, o perfil mais
comum do síndico é: homem, com idade acima de 41 anos, que possui curso superior e gasta
em média duas horas por dia para resolver questões ligadas ao condomínio (JORNAL
NACIONAL, 2007). Os direitos e especialmente os deveres do síndico estão bem descritos
nas Leis de Condomínio (Lei Nº 4.591, 1964) e Novo Código Civil Brasileiro (Lei Nº 10.406,
2002), como foi detalhado anteriormente.
Responsabilidade criminal, tributária e civil do síndico
Além das obrigações previstas em lei, analistas apontam mais responsabilidades aos
síndicos, a saber: criminal, tributária e civil (RACHKORSKY & FÉRES, 2005). Na área
criminal, o ndico é responsável por qualquer crime ou ato ilegal que acontece no
condomínio. A responsabilidade do síndico é enorme. É o que se chama de responsabilidade
solidária, ou seja, em qualquer questão levada à justiça, o CPF do síndico está anexado ao
CNPJ do condomínio. É por isso que em qualquer processo envolvendo o nome do
condomínio e o mesmo sendo considerado culpado pela justiça, o síndico também é
considerado culpado solidariamente. Como exemplo, Rachkorsky (2005) cita o caso do
condomínio onde um dos moradores mantinha vasos de plantas no peitoril da varanda. Num
certo dia estava chovendo forte e um dos vasos caiu danificando o carro de um morador do
prédio. O morador levou à questão à justiça e ganhou a causa e o condomínio foi obrigado a
pagar pelo conserto do carro.
Outro exemplo, também envolvendo vasos de plantas mantidos na varanda, aconteceu
com uma criança que brincava no pilotis do condomínio e que foi atingida por um vaso. A
criança ficou gravemente ferida e mais uma vez a questão foi levada a justiça. que dessa
vez, o condomínio foi indiciado por homicídio culposo e o ndico foi indiciado pelo mesmo
crime ficando com ficha corrida na polícia, sendo ambos obrigados a pagar pelo crime.
149
Na área tributária, o síndico também é responsável por todos os impostos que devem
ser recolhidos pelo condomínio, tanto os impostos do condomínio como os impostos
referentes a empregados e serviços utilizados pelo condomínio. Existem vários exemplos de
condomínios onde os síndicos não recolheram os impostos devidos e foram julgados,
condenados e presos pela justiça.
O síndico também tem obrigações civis para com o condomínio tais como: participar
de audiências envolvendo o condomínio; observar a manutenção e/ou regularização de
elevadores, sinalizações, extintores de incêndio, entre outros equipamentos utilizados pelo
condomínio cuja falta de cuidados pode acarretar acidentes graves e até mesmo fatais. No
caso de ocorrer um acidente por comprovada falta de cuidado com algum equipamento pelo
síndico, este pode ser levado à justiça e caso seja provado, pode até vir a ser condenado.
Como vimos, o condomínio não pode mais ser considerado algo caseiro. Com o
crescimento do mercado em torno dos condomínios e com a quantidade de casos levados a
justiça, o condomínio precisa de um apoio especializado para funcionar, pois ele hoje atua
como uma empresa. O síndico pode e deve procurar ajuda especializada. Atualmente,
existem no mercado várias empresas que oferecem serviço de administração e de advocacia.
Aos moradores cabe auxiliar e, sempre que possível, colaborar com o síndico na
realização de suas tarefas uma vez que, além das responsabilidades inerentes ao cargo, uma
das maiores dificuldades encontradas pelos síndicos é resolver problemas de convivência
entre moradores. Embora existam normas que regulam os direitos e deveres dos moradores,
sempre existem casos passíveis de múltiplas interpretações, até mesmo por parte da justiça, e
que precisam de bom senso e certa flexibilidade na hora de procurar uma solução para as
partes envolvidas. O síndico deve interferir nos problemas que acontecem dentro do
condomínio e sua interferência não é bem vinda, mas necessária para que o problema seja
150
resolvido da melhor forma e sem confrontos entre os moradores. O síndico é um representante
de uma comunidade e ele deve ser um agente social para esta.
TRANSGRESSÕES E CONFLITOS ENTRE OS MORADORES
Os moradores de condomínio têm uma grande preocupação em se fechar para a rua,
em ficar por trás de muros, grades, guaritas de segurança, com o intuito de se proteger da
criminalidade crescente no espaço público. No entanto, toda essa concentração de esforços em
se proteger, de algo que se acredita vir de fora do condomínio, leva à desconsideração e
minimização de problemas que ocorrem dentro dos condomínios. São problemas que vão
desde crimes como roubo, vandalismo, atropelamentos, homicídios (CALDEIRA, 2000;
GALVÃO, 2004) até problemas de conflitos entre vizinhos que, por sua vez, também podem
chegar a envolver agressões verbais e físicas.
Os conflitos entre vizinhos são uma questão importante porque, quando se trata de
relações entre vizinhos, os problemas surgem mais facilmente do que as aproximações
(VELHO, 1987; JORNAL DO COMERCIO, 10 de janeiro de 1999; LOPES, 2000). Para
Velho (1987) esses conflitos são como uma “válvula de escape”, na qual o indivíduo
descontente com o mundo em que vive “aceita as regras do jogo reservando seu
descontentamento para os conflitos cotidianos com os vizinhos”. Quanto mais os anos
passam, mais os indivíduos ficam intolerantes quanto a esse tipo de problema entre vizinhos e
o processo de socialização faz com que as pessoas se tornem mais vigilantes no seu
relacionamento com os vizinhos “aprendendo a se defender”. Velho (idem) define em poucas
palavras o que ele classifica como “conflitos verticais”:
151
“O grande número e a pequena distância entre os apartamentos faz com que o morador do
apartamento 706 possa ser incomodado não pelo que se passa nos 705 e 707 mas,
praticamente, pelo que possa ocorrer em todos os dezesseis apartamentos do seu andar sem
contar com os dos andares de cima e de baixo. teríamos o que chamávamos de ‘conflito
vertical’ ” (VELHO, 1982:35).
Conflitos entre os moradores: duas pesquisas sobre transgressões em condomínios
Em uma pesquisa realizada em um condomínio de apartamentos na cidade do Recife
Lopes (2000) detectou diversos casos de conflitos entre vizinhos (quadro 4.5.). Ao investigar
o motivo para a ocorrência desses conflitos verificou-se que os conflitos eram gerados por três
fatores principais: a proximidade física, a heterogeneidade dos habitantes e a não observância
às normas que regem o condomínio.
O primeiro fator, a proximidade física, é fundamental, principalmente em condomínios
verticais, onde essa proximidade entre os apartamentos é um aspecto relevante que concorre
para relativa perda de privacidade e choque de rotinas e horários entre moradores. Como
exemplo disso temos a falta de acústica de separação entre os apartamentos, que ocasiona a
troca de ruídos provocados pela rotina dos moradores, como caminhar ou mover uma cadeira,
e que são inevitáveis. O segundo fator, a heterogeneidade entre os moradores é bastante
relevante no Brasil onde é comum a diversidade de classes sociais coexistindo dentro dos
condomínios pode levar a um choque de hábitos e de outras idiossincrasias. Por último, o
terceiro fator, a transgressão às normas (leis e regras) que regulam os condomínios, que
consiste num dos principais motivos que levam aos conflitos entre moradores.
A proximidade física e a heterogeneidade de pessoas são questões inevitáveis em um
condomínio e é exatamente por isso que são estabelecidas normas que visam uma convivência
pacífica entre vizinhos. As normas são para todos e devem ser observadas, acatadas e
obedecidas por todos. Se isto ocorresse, os problemas como a proximidade física e a
heterogeneidade tenderiam a diminuir. No entanto, a lei e o regimento interno dos
152
condomínios residenciais são comumente desconhecidos, negligenciados e em grande
extensão desobedecidos. A desobediência às leis, regras e normas sociais gera confrontos
entre moradores que passam a apresentar um recolhimento social para não se envolver com
tais questões. Assim ao invés de uma vida em coletividade, observamos a emergência de uma
vida cada vez mais individualizada dentro de uma suposta comunidade de moradores, que é o
condomínio. Este tipo de comportamento por sua vez, contribui também para a emergência de
uma atitude permissiva ou de aceitação da ocorrência de transgressões dentro dos
condomínios.
Quadro 4.5 – Principais problemas e conflitos entre moradores de condomínio
Problema Entre vizinhos Todo o condomínio
Inadimplência
Falta de benefício p/ o condomínio
Atraso no pagamento das contas e
funcionários do condomínio
Barulho
Televisão em volume alto
Aparelho de som em volume alto
Crianças brincando
Festas
Reformas
Vagas de
garagem
Pessoas que estacionam em garagem de
outrem
Pessoas que estacionam fora do limite
da sua própria garagem, dificultando a
manobra para a garagem vizinha
Famílias com dois, três e até quatro
carros, tornam insuficiente o número de
vagas do condomínio
Animais
Barulho Sujam as áreas comuns (elevadores,
corredores,escadas,estacionamento,
parque)
Infiltrações
Entre apartamentos Nas áreas comuns
Lixo
Jogado pela janela e entra pela janela de
apartamento vizinho
Jogado pela janela e cai em áreas
comuns
Jogado diretamente em áreas comuns
Água
Limpeza de janelas, a água respinga em
apartamento (s) vizinho (s).
Roupa molhada estendida para secar
diretamente sobre o peitoril da área de
serviço, a água respinga em apartamento
(s) vizinho (s)
Desperdício de água
Segurança
interna
Carros arranhados e/ou quebrados
Tapetes e enfeites de porta roubados
Interfones quebrados e/ou roubados
Extintores de incêndio danificados e/ou
roubados
Gerais Reformas e construções em áreas comuns
Problemas na estrutura das edificações,
incêndio, dedetizações e assaltos
153
Durante os anos de 2005 e 2006, a autora realizou uma pesquisa no Jornal O Globo,
no caderno “Morar Bem”, na seção “Carta do Leitor”. Ao todo foram 64 seções examinadas,
nas quais consta um total de 403 consultas (quadro 4.6). A seção “cartas do leitor” é voltada
para tirar dúvidas sobre questões imobiliárias em geral, e por isso as dúvidas mais freqüentes
e comuns são sobre questões de herança, hipotecas, transações de compra e venda, impostos,
entre outras questões burocráticas e legais. Essas perguntas são respondidas por advogados
que trabalham com o ramo de imóveis. No entanto, mesmo em uma coluna aberta para
leitores tirarem dúvidas sobre questões de ordem jurídica, surge um número significativo de
perguntas não relacionadas diretamente com questões jurídicas. Estas questões são as que
envolvem problemas da vida cotidiana dos condomínios e os problemas de convivência. Da
mesma forma que as questões jurídicas, os advogados também respondem a esse tipo de
dúvida sempre citando as normas que regulam o condomínio. Mas, na maioria das vezes, eles
aconselham que uma boa conversa e o bom senso podem resolver os problemas sociais dos
condomínios. Abaixo segue um quadro esquemático sobre as perguntas não relacionadas
diretamente com questões burocráticas e jurídicas.
Quadro 4.6. – Principais problemas relatados pelos leitores do “Morar Bem”
Problema
Numero de
consultas
Inadimplência 34
Comportamento irregular do síndico (negligência, mandato, funcionários) 32
Vagas de garagem 28
Cobrança irregular (taxa condominial, taxa extra) 38
Obras ilícitas (feitas por síndicos e moradores) 27
Legislação de condomínio 26
Infiltração 20
Problemas com animais (barulho, sujeira, animais soltos, maus tratos) (cães, gatos, pássaros e
galinhas)
18
Apropriação de áreas comuns 17
Barulho (vizinhos, reformas, festas, equipamentos) 16
Práticas que ameaçam a segurança e o pudor (incêndio, violência, agressões físicas e verbais,
nudismo)
13
Regularização do condomínio ou alterações nas convenções 7
Restrição de direitos 7
Furtos (objetos, arrombamento de veículos) 5
Respingos de água 2
154
Com base nessas duas pesquisas, foi elaborado um quadro (quadro 4.7.) contendo
tipos e classificações das transgressões mais comuns que ocorrem nos condomínios e que
geram os principais problemas relatados por moradores de condomínio.
Quadro 4.7. – Classificação dos principais tipos de transgressão quanto à sua origem
Tipo de
transgressão
Classificação da
transgressão
Origem Que prejudica Prevista pelo (a)
Financeira Inadimplência
Crônica
Todo o condomínio
Código civil;
Lei de condomínio;
Convenção do
condomínio;
Regras Sociais
(normas de
convivência)
Avulsa
Sensorial Barulho/ruído
Festas
Todo o condomínio
ou outro morador
Reformas
Equipamentos
domésticos (som, TV)
Animais
Espacial
Apropriação de
áreas comuns
Lajes da cobertura
Todo o condomínio
Dependências
condominiais
Apropriação de
áreas particulares
Vagas de
estacionamento
Outro morador
Ambiental
Desperdício de
água
(infiltrações)
Unidade de
apartamento
Todo o condomínio
Áreas comuns
Sujeira em áreas
comuns
Lixo
Todo o condomínio
Animais
Social
Pessoal Fofocas Outro morador
Furtos
Propriedade individual Outro morador
Propriedade coletiva Todo o condomínio
Vandalismo
Propriedade individual
Outro morador
Propriedade coletiva
Todo o condomínio
ou outro morador
Drogas Coletivo ou individual
Agressões Entre indivíduos
Transgressão Financeira
A Inadimplência é sem dúvida o problema mais sério enfrentado pelos condomínios
atualmente. No entanto, há uma distinção feita por síndicos e moradores entre a inadimplência
crônica e a avulsa. Como o próprio nome diz, a crônica é aquela cometida por um morador
por um longo período ou cometida repetidas vezes. Alguns moradores fazem uma distinção
entre dois tipos de pessoas inadimplentes: os “conscientes” (inadimplência avulsa) e os cara-
155
de-pau” (inadimplência crônica). O “consciente” é o sujeito que está passando por algum
problema, geralmente financeiro e, por conta disso, não está podendo cumprir seus deveres
para com o condomínio. Normalmente este indivíduo procura o síndico e tenta esclarecer seus
problemas e tem interesse em sair dessa situação. Coloca-se pronto a regularizar a situação
assim que puder, pois está constrangido com a situação. O “Cara-de-pau” que às vezes
também está passando por problemas financeiros – ao invés de procurar o síndico para
esclarecer a situação, não faz isso, nem satisfação ou previsão para regularizar o débito.
Geralmente se acomoda com a situação e passa a dever meses seguidos, desrespeitando, não
tão indiretamente, todos os outros moradores do condomínio.
Os moradores têm o direito de ter acesso às despesas do condomínio, inclusive das
contas em atraso e a receber, assim como a dos apartamentos inadimplentes. De acordo com a
Lei do Condomínio, o nome do morador inadimplente não deve ser exposto nos quadros de
aviso do condomínio, mas sim o número do apartamento em atraso. Isso é motivo de grandes
problemas dentro do condomínio, como relata Velho sobre uma situação ocorrida em um
edifício o qual era objeto de seu estudo:
“Era comum encontrar-se pessoas nestas listas devendo dois ou três trimestres à
administradora. Havia um sistema de multas, mas a lista parece ter mais efeito. No dia em que
era afixada, viam-se grupos de pessoas em volta, procurando atualizar-se em relação ao
assunto. Umas procurando reafirmar sua condição de “boas pagadoras”, proclamando em alto
e bom som, geralmente sem estarem se dirigindo a alguém especificamente, o fato de serem
“pontuais” e “corretas”. Outras, procurando simplesmente informações sobre a vizinhança.
Viam-se também indivíduos mais furtivos, carregados de culpa olhando as listas de soslaio,
com aparente indiferença, apenas para confirmar o que esperavam. Era uma das ocasiões
“dramáticas” da vida do Estrela” (VELHO, 1982: 32).
156
Transgressão Sensorial: Barulho/ruído
Além da inadimplência, um dos principais problemas a que os moradores fazem
referência é o barulho. Os tipos de barulho são variados: uma televisão ou som ligados em um
volume maior; crianças brincando ou brigando; uma festa com barulho de pessoas e música
em volume alto que se prolongue até tarde; e o barulho de obras e/ou reformas nos
apartamentos vizinhos.
Em relação ao barulho provocado pela televisão ou aparelho de som em volume
elevado, os procedimentos podem ser os seguintes: tentar, de forma amistosa, conversar com
o vizinho sobre o incômodo, ou fazer uma reclamação ao próprio síndico sobre a questão.
Quanto ao barulho provocado pelas crianças, a indicação é para que elas não brinquem nas
áreas comuns de corredores, elevadores, estacionamentos, etc., mas sim que se limitem a
brincar nas áreas de lazer destinadas a esse fim. No caso das festas, um limite de horário
que deve ser respeitado, mas o que acontece é que a maioria dos moradores não tem
conhecimento desses horários. Quanto às obras e reformas nos apartamentos, também um
horário permitido para tais atividades. Geralmente esse horário é mais conhecido dos
moradores e fica entre oito horas da manhã e cinco horas da tarde, em dias úteis, e oito horas
da manhã e meio dia, nos sábados, ficando proibido esse tipo de atividade aos domingos.
Esses horários podem variar de acordo com cada regimento em, no máximo, para uma hora a
mais ou a menos.
Uma questão à parte é o barulho gerado por animais como passarinhos, papagaios e,
especialmente cães. Hoje em dia a tendência dos juízes é não proibir animais, quando essas
questões são levadas à justiça (REVISTA CONDOMÍNIO, janeiro 2007). Mesmo que a
convenção e/ou o regulamento interno do condomínio tenham uma cláusula proibindo e
presença de animais no condomínio, a tendência da justiça é permitir a presença de animais de
pequeno porte, principalmente o cachorro. Este é visto hoje como um elemento pacificador
157
social, especialmente para as crianças que muitas vezes não tem espaço para brincar ou se
divertir. A justiça decide pela proibição da presença do animal no condomínio se este
representar perigo ou perturbação para os outros moradores, como é o caso de barulho
produzido por latidos excessivos ou em horários inconvenientes, bem como a sujeira
provocada por estes animais nas áreas comuns do condomínio.
Transgressão Espacial
As transgressões espaciais envolvem utilização de áreas comuns e particulares de
forma nociva aos outros moradores do condomínio, como por exemplo, um morador utilizar
áreas comuns do condomínio exclusivamente, restringido o direito dos outros moradores de
fazerem o mesmo, ou um morador utilizar espaço pertencente a outro morador sem a
permissão deste. Obras que modificam as fachadas ou obras que põem em risco a segurança
ou salubridade dos outros moradores também são transgressões previstas nessa categoria.
O caso mais comum desse tipo de transgressão são os problemas encontrados com
relação às vagas da garagem. São comuns casos onde um morador estaciona na vaga de
propriedade de outro morador, ou estaciona o veículo em frente à vaga de outro morador
impedindo a saída. O número de carros por família tem aumentado ao longo dos últimos anos
nas camadas médias, portanto, como muitos condomínios são antigos, não
dimensionamento suficiente para abrigar todos os carros. Como conseqüência disto, é comum
que o morador insista em estacionar mais de um carro em uma vaga dimensionada para
apenas um. Outro problema é a locação de vagas para outro morador ou para pessoas de fora
do condomínio. Moradores que não utilizam suas vagas podem alugar a vaga para outra
pessoa. A vaga, apesar de localizada em espaço comum, é de propriedade do morador, tendo
este todos os direitos sobre a vaga, podendo inclusive alugá-la. Porém, o aluguel de vaga a
pessoas de fora do condomínio gera uma série de problemas com relação à segurança, porque
158
fica difícil para os porteiros fazerem o controle e a distinção entre moradores e não
moradores.
Quanto à apropriação de áreas, é comum encontrar construções particulares em áreas
comuns, espacialmente, lajes de cobertura. Todavia não dúvidas sobre essa questão: áreas
comuns são de uso de todos os moradores, portanto, um morador não pode utilizá-las
exclusivamente, restringindo o direito dos outros moradores.
Transgressão Ambiental
A transgressão do tipo Ambiental mais comum é aquela que envolve desperdício de
água e acúmulo de sujeira. O desperdício de água pode ser voluntário deixar torneiras
ligadas sem utilizá-las ou involuntário e o caso mais comum são as infiltrações. A sujeira
provocada pelo lixo e por dejetos de animais, tanto nas áreas comuns como nas áreas
privadas, também causam inconvenientes.
Questões que envolvem a utilização de água são comuns em condomínios, porém,
difíceis de detectar, especialmente no caso de infiltrações, que podem gerar problemas
maiores, como danos a estrutura da edificação. No caso de condomínios verticais é muito
comum situações envolvendo a água que escorre de um apartamento para outros localizados
abaixo, que ocorre durante a limpeza de janelas ou por conta das roupas penduradas para
secar colocadas pelo lado de fora do peitoril da área de serviço, ou penduradas nas grades.
O lixo jogado em áreas comuns é talvez um dos problemas mais visíveis em
condomínios, porque além de sujar as áreas comuns e/ou os apartamentos dos outros
moradores, outros objetos jogados pelas janelas como cigarros e objetos pesados podem trazer
danos muito mais sérios.
159
Transgressão Social
Esse tipo de transgressão é o mais difícil de ser detectado porque o autor da
transgressão dificilmente pode ser localizado. Outra característica das Transgressões Sociais
são os níveis de gravidade destas, que podem ir desde uma transgressão leve como fofocas e
difamações até transgressões mais sérias e até criminosas envolvendo a segurança interna do
condomínio, como atos de vandalismo.
Um problema menor, mas nem por isso menos grave, é o furto de pequenos objetos,
como tapetes e enfeites colocados nas portas dos apartamentos. Ainda dentro desta questão da
segurança interna está o problema dos arranhões e batidas nos automóveis dos moradores que
ficam estacionados nas garagens. Uma solução encontrada por muitos condomínios é a
colocação de um circuito interno de televisão que monitora áreas comuns 24 horas por dia.
Então, no caso de acontecer algum problema, é passada a fita e o(s) culpado(s) pode(m) ser
encontrado(s).
O problema com as drogas é também uma realidade enfrentada hoje pelos moradores
de condomínios. O condomínio é um local propício para quem quer consumir e para quem
quer vender drogas. Isso porque o condomínio de certa forma é um lugar de acesso mais
difícil para a polícia. Uma vez acionada a polícia, ela tem obrigatoriamente que passar por um
portão, uma portaria, elevadores, escadas, até chegar ao local da droga. Todo esse percurso
leva tempo, o que é o suficiente para que os consumidores ou vendedores de droga possam se
esconder ou esconder a droga. Nesses casos, o síndico não deve intervir e o melhor a fazer é
chamar a polícia. Nos casos específicos, que envolvem uma pessoa dentro do condomínio, o
melhor a fazer é conversar com a família e acessar o conselho tutelar.
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS: EXPLORANDO
EMPIRICAMENTE A VIVÊNCIA EM CONDOMÍNIOS
RESIDENCIAIS
161
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa investiga as formas de socialização e emergência de atitudes
transgressoras dentro de condomínios residenciais fechados, visando identificar o tipo de
transgressões existentes assim como a maneira como os moradores reagem a tais
contravenções. Para isso, foi preciso: investigar quais os tipos de transgressões são relatados;
quais são os casos mais freqüentes; procurar compreender quais são os elementos facilitadores
ou inibidores para a ocorrência de transgressões e, finalmente, compreender quais as
conseqüências da experiência cotidiana dessas transgressões para sociedade como um todo.
Uma vez definidos os objetivos deste estudo, uma série de possibilidades surge diante
do pesquisador quanto aos métodos de investigação mais adequados à pesquisa. Pode-se dizer
que existe uma gama de métodos que podem ser aplicados a cada investigação, dependendo
da eleição da metodologia e de uma série de condicionantes internos e externos à pesquisa.
Cabe ao pesquisador analisar as vantagens e desvantagens de cada perspectiva. Atualmente,
um consenso de que uma metodologia de pesquisa tende a ganhar ao empregar métodos
diversos, o que permite a triangulação de resultados e resultados mais confiáveis.
Dentro da tradição antropológica, estudos desta natureza tendem a empregar métodos
etnográficos que consistem em desenvolver um processo denso de observações, de
preferência, dentro do sistema observado. A experiência pessoal da autora identificou grande
dificuldade no desenvolvimento de uma pesquisa etnográfica no meio urbano e, no caso de
condomínios residenciais de classe média
1
, as dificuldades são ainda maiores (LOPES, 2000).
Primeiramente, porque pesquisar pessoas em seus locais de moradia representa entrar na
privacidade dessas pessoas, e nem sempre elas estão dispostas a abrir a porta da casa para um
estranho. Em segundo lugar, está a dificuldade de se trabalhar com classes médias e altas,
1
O conceito de classe-média utilizado nessa pesquisa é o descrito por Theotônio dos Santos (1982).
162
porque além da desconfiança tornar-se maior, essas classes dispõem cada vez menos de tempo
em casa, tendo em vista novos arranjos familiares e demandas de trabalho (GOLDANI, 1993).
Outra condicionante do método etnográfico é o desenvolvimento de estudos aprofundados,
geralmente em uma ou poucas localizações em face da enorme demanda de tempo para
assimilação de cada realidade.
O tema aqui em questão traz, pela natureza de seu objeto, a experiência de uma
população de classe média em condomínios residenciais fechados, o que representa duas
dificuldades imediatas, como mencionado acima. Não são poucos os relatos que atestam a
dificuldade de acessar e conseguir a cooperação da classe média para participar em pesquisas
e responder a enquetes (CALDEIRA, 2000; MONTEIRO, 1989; e VELHO, 1982 e 2003). O
problema se agrava ainda mais na tentativa de acesso a estes espaços residenciais exclusivos,
que primam por não permitir a presença de pessoas “estranhas“ ao grupo.
A intenção de se ter um conhecimento mais abrangente sobre o fenômeno como um
produto de uma tipologia espacial, também requer que a investigação seja desenvolvida em
vários condomínios, e de preferência em localidades diversas. Assim, a atenção foi
direcionada para análises de metodologias de pesquisa estruturadas e que permitiriam
resultados que pudessem ser analisados comparativamente.
PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
A definição dos objetivos e hipóteses que atuam como diretrizes dessa pesquisa
emergiu de um extenso levantamento bibliográfico e da revisão crítica da literatura sobre o
tema. A partir dos objetivos e hipóteses foram elaborados estudos sobre procedimentos
163
operacionais necessários para a organização e sistematização de uma metodologia de
pesquisa.
Aprendendo com a experiência
Durante o curso de mestrado, a autora desenvolveu uma pesquisa sobre relações de
vizinhança em condomínios residenciais (LOPES, 200). Durante essa pesquisa, ficou clara a
ocorrência de transgressões dentro do condomínio pesquisado, cujas conseqüências chegavam
a influenciar negativamente as relações sociais entre os moradores. Uma das conclusões dessa
pesquisa foi a classificação dos tipos de transgressão mais comuns no condomínio (capítulo
4).
Contudo, o maior aprendizado da referida pesquisa foi com relação à questão
metodológica, uma vez que a autora desenvolveu uma pesquisa etnográfica com base em
observação participante e entrevistas semi-estruturadas. Houve muita dificuldade de acesso
aos moradores para concederem entrevistas. Como não havia meios de reunir todos os
moradores e fazer uma apresentação da pesquisadora como normalmente ocorreria em uma
comunidade e em um estudo etnográfico a solução encontrada foi pedir aos moradores com
quem se conseguia conversar e entrevistar que estes apresentassem a pesquisadora aos
vizinhos do mesmo condomínio. Esse método revelou-se como uma solução a contento para
essa pesquisa, que tinha como objeto o estudo de caso de um condomínio residencial.
Aproximações preliminares ao tema
Foi feita uma opção por iniciar a exploração do tema com o uso de diversos
instrumentos menos estruturados, tanto qualitativos como quantitativos, de modo a delimitar
seu universo. Nesse sentido foram feitas observações de campo, entrevistas com
administradores e advogados especializados em condomínios e pesquisa documental em
164
jornais e revistas especializados no tema. As entrevistas com administradores e advogados
foram feitas de forma semi-estruturada e aberta. As entrevistas foram gravadas e,
posteriormente, foram feitas transcrições de trechos considerados mais relevantes.
A pesquisa documental seguiu dois caminhos: o primeiro foi um levantamento no
Arquivo Público do Estado de Pernambuco, realizado entre os meses de março e maio de
2007. Foram selecionadas as seções dos Classificados dos Imóveis do Jornal “Diário de
Pernambuco” entre os anos de 1975 e 2005. O objetivo aqui foi entender como se deu o
processo de desenvolvimento dos condomínios residenciais no Recife, partindo dos primeiros
condomínios que atraíram seus moradores proporcionando lazer e diversão, até aqueles que se
justificam unicamente em função de segurança.
O segundo foi um estudo de artigos de jornal e revista especializados no tema
condomínios. Ao longo dos anos de 2005 e 2006 foi colecionado o caderno Morar Bem do
jornal O Globo, no qual em uma coluna intitulado “Cartas do Leitor”, pessoas consultam
especialistas sobre problemas enfrentados dentro de seus condomínios. As colunas trazem a
descrição do problema e a solução indicada por especialistas na questão condominial. A
revista Condomínio em circulação no Recife, João Pessoa e outros estados do nordeste é
especializada no tema condomínios e também possui uma coluna para tirar dúvidas de
moradores de condomínios. Nesta revista uma coluna dedicada à jurisprudência de casos
levados à justiça e à resolução dos processos. Ambas as fontes foram fundamentais para o
conhecimento do universo dos conflitos e transgressões apontados como principais problemas
da vida condominial.
Questionários estruturados e a Teoria da Facetas
A construção de um instrumento como o questionário é um processo longo e
cuidadoso que passa por diversos ajustes até a obtenção de sua versão final. Embora o uso de
165
questionários seja amplamente aceito em investigações acadêmicas e profissionais, uma
crítica ao instrumento quando este não é bem elaborado. Não são poucos os exemplos de
questionários mal elaborados que confundem o respondente, apresentam questões
tendenciosas, ou mesmo dirigem as questões a respostas esperadas. Some-se a estas críticas, a
utilização de procedimentos estatísticos pobres, que somente oferecem descrições dos
elementos estudados, mas não abordam as relações entre esses elementos e sua significância
estatística. Visando evitar tais percalços e a procura de métodos e técnicas para elaboração de
entrevistas e questionários, chegou ao nosso conhecimento a Teoria das Facetas, como uma
teoria para desenho, elaboração e análise de instrumentos de pesquisa.
A Teoria da Facetas pode ser apresentada como uma teoria de pesquisa, visto que
utiliza meios para explicitar e clarificar o universo de pesquisa e suas hipóteses. A Teoria das
Facetas utiliza uma diversidade de instrumentos e métodos de coleta de dados entre elas a
elaboração de questionários de forma consistente. Isso acontece porque os questionários são
resultantes de mapeamento estrutural da pesquisa, que é explicitado em um primeiro momento
a partir dos objetivos e a hipótese da pesquisa. O mapeamento funciona com uma espinha
dorsal para a organização e sistematização dos dados coletados e, conseqüentemente, a Teoria
da Facetas torna possível a comparação e acumulação dos resultados assim como sua
replicação científica (MONTEIRO, 1989).
A Teoria das Facetas, segundo Canter (1985), apresenta-se como uma nova
possibilidade de estruturação do conhecimento. A primeira ação ao se trabalhar com essa
metodologia consiste em estabelecer, de modo bastante claro, os aspectos sob análise, ou seja,
o que se quer conhecer e pode-se dizer a natureza das respostas que se deseja obter. Parte-se
assim para o estabelecimento de relações ou hipóteses, onde são considerados os conjuntos de
elementos que são julgados pertinentes de serem estudados (facetas) e suas relações com
outros aspectos (outras facetas) também julgadas relevantes.
166
TEORIA DAS FACETAS E ANÁLISE MULTIDIMENSIONAL
A teoria das Facetas (TF) foi elaborada na década de 1950 por Louis Guttman, que
criticava os métodos estatísticos utilizados nas Ciências Sociais pela falta de clareza na
definição dos problemas da pesquisa (CANTER, 1985). Partindo dessa constatação, Guttman
elaborou a Teoria das Facetas, como método de pesquisa que permitia o controle de todas as
etapas da pesquisa. Por essa razão a Teoria das Facetas é para Canter (idem) uma metateoria,
uma vez que, fornece uma estrutura de trabalho, na qual as hipóteses e a teoria da pesquisa
são especificadas e testadas.
A Teoria das Facetas encontra aplicação em vários campos disciplinares sendo, porém,
tradicionalmente aplicados em estudos atitudinais e comportamentais, (SHYE & ELIZUR,
1994; CANTER, 1985; ROAZZI & MONTEIRO, 1995; BILSKY, 2003). Um dos motivos
para que a TF não fosse ainda mais difundida entre pesquisadores no inicio de sua
formulação, foi a dificuldade de disponibilidade de softwares para a realização das análises
estatísticas multidimensionais. Atualmente, com o desenvolvimento dos computadores mais
velozes é possível contar com programas mais capazes de trabalhar com dados complexos.
Explicando a Teoria das Facetas
A Teoria das Facetas é uma meta-teoria que consiste na abordagem compreensiva das
observações e análises de dados empíricos de pesquisas. Para isso, a TF oferece ferramentas e
procedimentos que sistematizam desde a construção dos objetivos e hipóteses de uma
pesquisa, passando pela construção dos instrumentos de coleta dos dados, tendo em
consideração a possibilidade de análise dos dados. Consequentemente, a TF permite a
estruturação e reestruturação do conteúdo da pesquisa de maneira clara e lógica.
167
Uma das maiores vantagens da Teoria das Facetas é facilitar o conhecimento
cumulativo ao abrir possibilidades para a descoberta de leis essenciais da pesquisa científica
(SHYE & ELIZUR, 1994). A Teoria das Facetas parte do pressuposto de que “nas pesquisas
empíricas na maioria das vezes não interessam quaisquer variáveis concretas, mas sim o
universo das variáveis que representam” (BILSKY, 2003). Por isso, a utilização da TF em
pesquisas nas áreas das ciências sociais pode ser bastante reveladora e apresentar resultados
concisos.
Mapeamento e Atribuições
A noção de mapeamento está ligada ao sistema de representações simbólicas e, por
essa razão, está presente nas mais simples atividades mentais que realizamos todos os dias.
Todas as vezes que transformamos mentalmente uma coisa em outra coisa, estamos
realizando um mapeamento, ou seja, atribuindo algo simbolizado, esquematizado, idealizado
a algo real, que experimentamos nas nossas vidas cotidianas. Mas, não é apenas no plano
mental que realizamos mapeamentos, também fazemos isso de forma literal. Como por
exemplo, no caso do mapa de uma região, um país; esse mapa é uma representação em uma
escala reduzida de algo que existe realmente. Para confeccionar o mapa, cada pedaço do país
se torna um foco que será representado no mapa e para cada foco (cidade, lagoa, rio) é
atribuída uma imagem no mapa. As regras utilizadas para fazer as atribuições em uma
pesquisa são exatamente o do mapeamento.
168
Quadro 5.1 – Processo de mapeamento na Teoria da Facetas
Processo de mapeamento
FOCO [ATRIBUIÇÃO] IMAGEM
As noções de mapeamento e atribuições são utilizadas na Teoria das Facetas como
noções básicas de tratamento das observações empíricas. Todo esse processo toma forma,
com a construção de uma Sentença Estruturadora (General Mapping Sentence - GMS). A
Sentença Estruturadora se constitui no próprio processo de mapeamento.
Três Estágios da Pesquisa
Antes de nos atermos à Sentença Estruturadora, ainda são necessários esclarecimentos
sobre a Teoria das Facetas como método de pesquisa. Monteiro (1989) estabelece três
estágios para uma pesquisa utilizando a Teoria da Facetas: delineamento da pesquisa
(research design), análise e meta-teoria, onde os três estágios são trabalhados
simultaneamente.
169
No delineamento da pesquisa, ocorre a clarificação das hipóteses através da
averiguação das suposições e do estabelecimento de uma estrutura para guiar as observações
empíricas. Ainda nessa fase, acontece a geração das facetas, a construção da Sentença
Estruturadora (GMS) e a elaboração dos instrumentos de investigação em formulários, no
caso os questionários com as respectivas escalas de respostas.
O processo de análise permeia todo o processo, desde a concepção da estrutura de
investigação. Existem métodos de análise multidimensionais como o MDS (Multidimensional
Scaling) e o SSA (Similarity Structural Analysis) e o POSA que são classicamente utilizados
nas análises de facetas. Estas análises apresentam os elementos das facetas mapeadas em um
espaço geométrico obedecendo à condição de que a distância entre pontos (variáveis)
representa a similaridade entre eles.
A meta-teoria é um estágio resultante das análises críticas entre as relações definidas
teoricamente e as observações empíricas. A TF é uma teoria que permite o estabelecimento de
uma estrutura que suporte à definição de teorias para a pesquisa, assim como do
reconhecimento de suas falhas e contradições.
Desenhando as Facetas
Na teoria das Facetas, as variáveis, ou seja, cada elemento de uma faceta, são
concebidas como relacionadas a priori com outras variáveis que estão dentro do contexto de
domínio da pesquisa, formando uma rede de co-relações entre si. Esse contexto de definição
da população, das facetas e suas relações, é chamando de universo de conteúdo.
As facetas são conjuntos de elementos ou variáveis correspondentes a uma
determinada categoria a ser pesquisada. Por isso as facetas são designadas por nomes. Os
relacionamentos entre as facetas são indicados por setas e conexões, essas últimas feitas em
linguagem ordinária.
170
Cada faceta é um conjunto de objetos conceitos, pessoas, etc. que assumem o
papel de componentes nesse conjunto, os quais podem ser representados de forma cartesiana
(SHYE & ELIZUR, 1994). As facetas definem quem, o quê e onde a ser investigado. As
facetas não são variáveis da pesquisa, elas são conjuntos de variáveis, isto é, os elementos
formadores das facetas delimitam de algum modo um fenômeno de avaliação. As facetas são
relacionadas formando uma estrutura, onde cada faceta não possui sentido isolada, mas sim
em relação com outras facetas dentro da estrutura. Essa estrutura é chamada de Sentença
Estruturadora Geral (General Mapping Sentence, GMS). A geração da GMS é um processo
input e output ao mesmo tempo. (MONTEIRO, 1989).
A Sentença Estruturadora
A Sentença Estruturadora é uma ferramenta utilizada pela Teoria da Facetas e que,
como o próprio nome explicita, funciona como uma estrutura para formular definições claras
dos conceitos de uma pesquisa através do estabelecimento de relações entre esses conceitos e
as observações empíricas. A Sentença Estruturadora é uma frase, isto é, uma afirmação verbal
que contém um conjunto de aspectos ou facetas e os seus respectivos relacionamentos. A
sentença estruturadora possui uma aparência esquemática e, talvez por isso mesmo,
proporcione um leque vasto de possibilidades para formulação e modificação dos conceitos e
objetivos de uma pesquisa. Dessa forma, a pesquisa pode ser adequada de forma mais clara e
precisa ao que se deseja obter como resultados (MORENO, 1999).
A Sentença Estruturadora fornece informações importantes sobre o modo de
observação realizado para a pesquisa. Primeiramente ela identifica o assunto, ou tema, a ser
observado. Posteriormente, revela o que é para ser observado sobre aquele tema. Com relação
aos dois primeiros passos ela indica o que é para ser observado e registrado (SHYE &
ELIZUR, 1994).
171
A Sentença Estruturadora é um esquema para fazer atribuições específicas, uma vez
que esta se divide em três partes, a faceta domínio, a faceta de alcance e a regra para fazer as
atribuições entre o que está no domínio e o que está no alcance.
A faceta domínio (domain facet) se refere aos aspectos essenciais das questões
propostas, ou seja, que aspectos dentro de um dado contexto serão pesquisados.
Consequentemente, a faceta de domínio é um conjunto de conceitos que classificam e
descrevem o conteúdo da pesquisa. Essa faceta tem a forma de uma questão cuja resposta está
na faceta de alcance (range facet). A faceta domínio indaga para quê ou para quem os valores
da faceta de alcance devem ser atribuídos. A faceta domínio pode estar articulada com uma
faceta de foco e uma ou mais facetas de sentido.
A faceta de alcance (range facet) especifica as respostas possíveis ou aceitáveis à
questão formulada pela faceta domínio. Podem ser utilizadas qualquer número de categorias,
desde que sejam mais que duas, dependendo da natureza das informações disponíveis,
contando inclusive com as limitações de campo, e do que a hipótese da pesquisa abre como
possibilidades de respostas.
Quadro 5.2 – Esquema da relação entre as facetas
FACETA DOMINIO regra FACETA DE VARIAÇÃO
foco e sentido
alcance ou extensão
pergunta ou questão respostas possíveis
real imagem atribuída
172
Quadro 5.3 – Os tipos de facetas
FACETAS Descrição
DOMÍNIO
Referente
Apresenta os aspectos centrais a serem pesquisados, como por
exemplo, os tipos de transgressões: Financeira, Sensorial, Espacial,
Ambiental, Social e Criminal.
Foco
Apresenta o foco da faceta anterior, como por exemplo, o nível de
gravidade da transgressão que pode ser: Leve, Regular ou Grave.
Nível
Espacial
Apresenta o conjunto de variáveis espaciais, como por exemplo:
Privado (casa), Comum (área comum do condomínio) e Público
(outros lugares da cidade
ALCANCE
Racional de
variação
Apresenta as possibilidades de resposta à sentença estruturadora. Ela
é geralmente apresentada em categorias que respondem a uma ordem
que vai de um extremo positivo a um extremo negativo, como por
exemplo, numa escala de freqüência que varia entre “nunca” e
“sempre”.
A Teoria das Facetas aplicada à presente pesquisa
A escolha pela utilização da teoria das facetas para essa pesquisa ocorreu por várias
razões. Em primeiro lugar estão as vantagens já mencionadas, entre elas a possibilidade de
sistematização dos objetivos e hipóteses para a construção de um instrumento para a pesquisa
empírica. Outra razão é o fato dessa pesquisa trabalhar com o estudo analisando
comportamentos, atitude, e julgamentos, como objetivo maior para entender a lógica por trás
de atitudes transgressoras em locais de residência nesse aspecto esta teoria abre
possibilidades para a descoberta de leis essenciais da pesquisa e para a pesquisa. A
possibilidade de gerar um conhecimento cumulativo é outra vantagem, visto que o objeto de
estudo ainda é pouco explorado e pouco se conhece a respeito da transgressão social nas
novas morfologias residenciais dos condomínios fechados.
Como foi dito anteriormente, o objetivo geral dessa pesquisa é investigar e entender a
existência de atitudes transgressoras dentro de condomínios residenciais; quais são os tipos de
transgressões; quais são os casos mais frequentes; quais são os motivos que levam a tais atos
173
transgressores; quais são os elementos facilitadores ou inibidores para a ocorrência de
transgressões e; quais as consequências dessas transgressões para os moradores de
condomínio e para a sociedade como um todo. Para tanto, serão estabelecidos padrões de
ações transgressoras e em que extensão a experiência (cotidiana) de transgressão nos espaços
de condomínios residenciais produzem, consolidam e facilitam a emergência de mais
transgressões dentro e fora dos limites do condomínio, especialmente no que concerne ao
julgamento legal e social (moral) de tais atitudes.
Apresentaremos a seguir o questionário da pesquisa com os passos para estruturação
das investigações utilizadas nesta pesquisa; apresentação das facetas e a formulação das
sentenças estruturadoras.
ESTRUTURAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA
O instrumento de pesquisa propõe a utilização de questionário considerado adequado
para identificação de padrões de comportamento, similaridades e diferenças entre grupos de
indivíduos, permitindo comparação das estruturas de respostas dadas a um mesmo conjunto
de perguntas.
O questionário possui ao todo 28 questões e está dividido em três partes. A primeira é
composta por 16 perguntas, tem o objetivo de investigar: informações sobre o tipo do
condomínio (tamanho, localização) em que o entrevistado reside; a experiência residencial no
tocante ao papel do entrevistado, anos de moradia, a condição de moradia, entre outras; os
motivos para escolher o condomínio como lugar de moradia; e o conhecimento sobre as
normas que regulam o condomínio.
174
A segunda parte, é essencial e central ao questionário, está divida em 3 questões
gerais, que por sua vez estão divididas em sub-questões específicas. Essa seção tem o objetivo
de investigar: as formas de interação social entre moradores, parentes, amigos, vizinhos e
funcionários; as atitudes frente a situações que possibilitem a transgressão; a freqüência dos
diversos tipos de transgressão; e o julgamento sobre atitudes transgressoras. Para construir as
questões dessa seção foi utilizada a Teoria das Facetas em todas as etapas do processo.
A terceira e última parte possui 9 perguntas sobre questões pessoais do entrevistado,
tais como: idade, sexo, número de pessoas por domicílio, ciclo de vida, escolaridade,
ocupação, e renda familiar.
Serão descritos a seguir os passos para a construção das investigações mais relevantes
do questionário. Serão descritas as questões 12, 13, 14, 15, 16 da primeira parte e as questões
da segunda serão totalmente descritas porque são seções centrais e específicas dessa pesquisa,
são elas:
Investigação 1 – Investigação sobre motivações para moradia em Condomínios fechados.
A questão 12 é referente aos “motivos para escolha do local de moradia” e as questões
13, 14, 15 e 16, são referentes à participação na reunião de condomínio e conhecimentos das
normas que regem o condomínio, respectivamente.
Questão 12: o objetivo dessa seção e descobrir dentre os aspectos abaixo
relacionados, os mais importantes para a escolha por morar em condomínio. Os aspectos
incluem infra-estrutura do condomínio e do bairro, dimensionamento das áreas comuns do
condomínio e da unidade residencial, sociabilidade, financeiro e segurança.
175
Quadro 5.4. – Questionário de motivações para escolha do local de moradia
Pergunta
12
:
Na sua opinião qual foi importância dos seguintes itens na sua escolha do seu
atual local de moradia?
grau de importância
não é
import
pouco
import.
+ ou –
import
iImport
muito
import
mot1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da
movimentação da cidade
mot2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência urbana
mot3
Um lugar onde moram pessoas com o mesmo padrão de
vida que o seu
mot4
Uma vizinhança tranqüila onde pudesse conhecer seus
vizinhos
mot5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
mot6
Um lugar onde crianças pudessem brincar livremente em
segurança
mot7
Um lugar próximo a comércio e serviços
mot8
Um lugar de fácil acesso
mot9
Um lugar com boa oferta de transporte público
mot10
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins
mot11
Um lugar com áreas comuns para a prática de lazer e
esportes
mot12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais espaçosa
mot13
Um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de
segurança como, TVs, portões, grades e cercas elétricas
mot14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e
prestígio social
mot15
Um lugar com possibilidades de valorização no futuro
Questões 13, 14, 15 e 16: o objetivo é descobrir a frequência das participações dos
moradores nas reuniões de condomínio e o grau de conhecimento a respeito das normas que
regulam o condomínio.
Quadro 5.5. – Questionário de freqüência nas reuniões de condomínio
frequência
nunca rara
mente
algumas
vezes
frequente
mente
sempre
reunião
Pergunta 13
:
Com que frequência você participa
das reuniões de condomínio
Quadro 5.6. – Questionário de conhecimento das leis que regem o condomínio
Grau de conhecimento da leis
nunca ouviu
falar
já ouviu
falar
leu
partes
consulta com
freqüência
Lei1
Pergunta 14
:
Você conhece a Convenção e o
Regimento Interno do seu condomínio?
Lei2
Pergunta 15
:
Você conhece a Lei de Condomínio
LEI Nº 4.591/1964?
Lei3
Pergunta 16
:
Você conhece o Código Civil Brasileiro
LEI Nº 10.406/2002?
176
Investigação 2 – Experiência residencial e social no condomínio
Essa seção tem o objetivo de investigar: as formas de sociabilidade entre moradores,
parentes, amigos, vizinhos e funcionários.
A construção de questões sobre sociabilidade utilizou a estrutura da teoria das facetas
assim como em estruturações de sentenças de estudos anteriores sobre padrões de
sociabilidade (MONTEIRO, 1989). Nesta seção, procuramos saber um pouco sobre
sociabilidade no ambiente residencial, visando aferir o padrão da vida social e em
comunidade experimentada por estes moradores. O questionário foi estruturado por meio da
teoria das facetas conforme sentença estruturadora abaixo:
Quadro 5.7. – Sentença mapeadora do estudo de sociabilidades em condomínios fechados
com que freqüência você ou alguém de sua família interagem com
Faceta
Associados
A
Amigos
A
Parentes
A
Vizinhos
A
Funcionários do condomínio
por motivos
Faceta
Referente
das
ações
R
1
Ocasionais
R
2
Sociais
R
3
Funcionais
em sua
Faceta
Nível
Espacial
E
1
Casa (privado)
E
2
Área comum de condomínio (comum)
E
3
Outros lugares da cidade (público)
Faceta
Racional
(freqüência)
F1
Nunca
F2
Raramente
F3
Algumas vezes
F4
Freqüentemente
F5
Sempre
177
A Sentença Estruturadora permite que se faça uma combinação de todos os elementos
das facetas, no caso dessa sentença partindo de A1R1E1F1 até chegar a A4R3E3F5. Seguindo
esse esquema, para essa sentença estruturadora, foram elaboradas 36 questões dentre as
opções com significado lógico. No entanto, foram escolhidas apenas 25 destas, consideradas
mais importantes e significativas (ver quadro 6.8.).
Quadro 5.8. - Questionário de sociabilidade em condomínios com os elementos estruturadores e racional de
respostas.
elementos
estruturadores
Pergunta: Gostaria que indicasse com que freqüência você ou
alguém de sua família costumam experimentar as seguintes
situações:
nunca
rara
mente
Algumas vezes
freqüente
mente
sempre
1 A3R1E2 encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns de seu condomínio
2 A3R2E1 convidar algum vizinho para vir a sua casa
3 A1R2E1 chamar amigos para virem em sua casa
4 A2R2E1 ir na casa de familiares
5 A1R1E3 encontrar amigos em outros locais da cidade
6 A2R2E3 fazer um programa com membros da família em outros lugares da cidade
7 A3R2E1 deixar crianças brincar na casa dos vizinhos
8 A3R3E2 ver crianças ou jovens freqüentar as áreas de recreação do condomínio
9 A3R2E3 Reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana
10 A3R1E2 cumprimentar os vizinhos com encontra nas áreas comuns
11 A3R3E2 participar de reunião para discutir questões do condomínio
12 A3R3E2 discutir por problemas com vizinhos
13 A3R2E2 Participar de festa organizada no condomínio
14 A3R2E2 evitar conversa com vizinhos para não ter problemas com eles
15 A1R2E3 sair com amigos do condomínio para um programa na cidade
16 A4R3E1 solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em sua
casa
17 A4R3E2 pedir aos funcionários para resolver problemas com vizinhos
18 A3R1E3 encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar
19 A1R3E2 participar de algum esporte na área de lazer (ou na piscina) com amigos
20 A2R3E2 utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de aniversário
ou outra ocasião festiva
21 A3R3E2 pedir para vizinhos do condomínio para ficar de olho nas crianças
22 A4R2E2 conversar com empregados para saber das coisas que acontecem no
condomínio
23 A3R2E1 deixar as crianças da vizinhança virem em sua casa
24 A3R3E1 ajudar vizinhos que precisam de algum favor
25 A3R2E1 trocar gentilezas com seus vizinhos
178
Investigação 3 - Atitudes frente a situações transgressoras em condomínios e áreas da
cidade
2
O primeiro passo para a construção do instrumento de pesquisa foi a elaboração de um
quadro de classificação das ações transgressoras em locais de moradia de acordo com a
origem da ação, ou seja, da situação ou contexto onde ação transgressora tem lugar, conforme
foi descrito no capítulo anterior (ver quadro 6.9.).
Quadro 5.9. – Tipos e classificações de transgressões condominiais
Tipo de
transgressão
Classificação da
transgressão
Origem Que prejudica Prevista pelo(a)
T1
Financeira
Inadimplência
Crônica
Todo o condomínio
Código civil;
Lei de condomínio;
Convenção do
condomínio;
Regras Sociais
(normas de
convivência)
avulsa
T2
Sensorial
Barulho/ruído
Festas
Todo o condomínio
ou outro morador
reformas
Equipamentos
domésticos (som, tv)
Animais
T3
Espacial
Apropriação de
áreas comuns
Lajes da cobertura
Todo o condomínio
Dependências
condominiais
Apropriação de
áreas particulares
Vagas de
estacionamento
Outro morador
T4
Ambiental
Desperdício de
água
Unidade de
apartamento
Todo o condomínio
Áreas comuns
Sujeira em áreas
comuns
Lixo
Todo o condomínio
Animais
T5
Social
Pessoal Fofocas Outro morador
Furtos
Propriedade individual Outro morador
Propriedade coletiva Todo o condomínio
Vandalismo
Propriedade individual
Outro morador
Propriedade coletiva
Todo o condomínio
ou outro morador
Drogas Coletivo ou individual
agressões Entre indivíduos
2
Não foi possível analisar este questionário devido a um problema no preenchimento por parte dos respondentes,
problema este que só foi detectado na fase final do trabalho de campo.
179
Quadro 5.10. – Sentença estruturadora de investigação de atitudes frente a situações transgressoras.
Qual seria sua atitude se você se encontrasse em situações de diversas naturezas,
dependendo do tipo de atos
Faceta
Foco
F1 Leves
F2 Regulares
F3 Graves
acontecendo em locais
Faceta
Nível
Espacial
E1 Privados
E2 Comuns
E3 Públicos
resposta: direção da atitude
Faceta
Racional
ATITUDE
F1 Jamais faria
F2 Dificilmente faria
F3 Talvez fizesse
F4 Provavelmente faria
F5 Certamente faria
Faceta
Referente
T1 Financeira
T2 Sensorial
T3 Espacial
T4 Ambiental
T5 Social
T6 Criminais
180
Seguindo o esquema da sentença estruturadora, foram elaboradas 54 questões no total.
No entanto, esse número foi bastante reduzido para que as situações mais corriqueiras, e,
portanto mais significativas, fossem mais exploradas. Dessa forma, apenas nove situações
foram escolhidas.
Quadro 5.11. – Questionário de investigação de atitudes frente a situações transgressoras
Apresentamos algumas situações abaixo que são comumente presenciadas em áreas
residenciais e até mesmo em outros locais da cidade, gostaria que você respondesse
rapidamente sem pensar qual você acha que seria sua atitude em cada uma destas situações:
Situação/atitude
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
T4F1E2
1.Um morador leva o cachorro para passear e o cachorro
defeca no gramado de uma área comum do condomínio, se
você estiver numa situação como essa você:
ati1.1
Deixa pra lá porque sabe que alguém logo vai limpar
ati1.2
Chama um funcionário para limpar
ati1.3
Vai buscar algo para limpar a sujeira e jogar fora
ati1.4
Já sai preparado para limpar as sujeiras do cachorro
T4F1E3
2. Uma pessoa leva o cachorro para passear em uma rua de
bairro residencial onde mora, o cachorrinho defeca no meio da
calçada, se você fosse essa pessoa o que faria?
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
ati2.1
Deixa pra lá, não adianta limpar porque a rua já é suja mesmo
ati2.2
Joga pro lado para ninguém pisar
ati2.3
Volta pra casa para pegar algo para limpar a sujeira do
cachorrinho
ati2.4
Deixa esta vez, mas da próxima lembrará de trazer algo para
limpar
T3F2E2
3. Um morador vai receber a visita de um amigo no seu
condomínio, mas não vagas para visitantes estacionarem,
nesta situação você:
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
ati3.1
Manda que ele estacione em qualquer lugar vago dentro do
condomínio
ati3.2
Manda que ele estacione na vaga de um vizinho que está
viajando
ati3.3
Pede ao porteiro ou outro funcionário que arranje uma vaga
para o seu amigo
ati3.4
Pede que ele estacione fora do condomínio
T3F2E3
4. Uma pessoa precisa comprar algo na farmácia e as vagas
de estacionamento estão todas ocupadas, se estiver nesta
situação você:
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
ati4.1
Estaciona em cima da calçada porque é uma coisa rápida
ati4.2
Pára atrás de um carro estacionado e vai fazer a compra
ati4.3
Espera na rua até liberar uma vaga
181
ati4.4
Vai tentar outra farmácia
T2F2E2
5. Você está em casa no fim de semana quando a música alta
da festa de um vizinho promete ir a de madrugada, nesta
situação você:
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
ati5.1
Não reclama porque você também mais cedo ou mais tarde
vai fazer uma festa barulhenta
ati5.2
Deixa pra lá, fecha a janela, liga o condicionador de ar e tenta
dormir assim mesmo
ati5.3
Liga para o sindico exigindo o cumprimento da lei no
condomínio
ati5.4
Chama o órgão da prefeitura de combate aos ruídos
T6F2E2
6. Um morador nota que pequenos furtos estão ocorrendo no
condomínio onde mora, se fosse você nesta situação:
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
ati6.1
Deixa pra lá porque isto é normal em um condomínio
ati6.2
Toma cuidado com suas coisas e deixa tudo bem fechado
ati6.3
Chama o síndico para que ele tome alguma providencia
ati6.4
Acha que a policia deveria ser chamada
T6F3E2
7. No seu condomínio está tendo uma festa de adolescentes
sem a supervisão dos pais e você desconfia que os
adolescentes estão consumindo drogas, nesta situação você:
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
ati7.1
não se mete, os pais deles é que devem se preocupar com
isso
ati7.2
resolve conversar com os pais dos adolescentes
ati7.3
comunica o que está acontecendo ao síndico
ati7.4
chama a polícia, afinal esse é um caso de polícia
T6F3E3
8. Na rua, perto da entrada do seu condomínio alguns
adolescentes se reúnem para consumir drogas, nessa
situação você:
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
ati8.1
faz de conta que não viu
ati8.2
não faz nada porque a rua é um lugar público
ati8.3
resolve conversar com os adolescentes
ati8.4
chama a polícia, afinal esse é um caso de polícia
T6F3E2
9. No seu condomínio um adolescente está dirigindo o carro
dos pais, sem a supervisão de um adulto, nesse situação
você:
jamais
faria
Dificil
mente
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
ati9.1
não se mete, os pais deles é que devem se preocupar com
isso
ati9.2
resolve conversar com os pais dos adolescentes
ati9.3
comunica o que está acontecendo ao síndico
ati9.4
chama a polícia, afinal esse é um caso de polícia
182
Investigação 4 - Investigando a experiência de transgressões nos condomínios e
julgamento quanto a punições
Este questionário explora a noção destes moradores quanto a existência cotidiana de
transgressões, procura em um primeiro momento identificar a freqüência percebida destas
transgressões no seu espaço residencial. Em segundo momento, solicita-se o julgamento que
tais infrações ou atos menos sociais devem receber na concepção do respondente.
Da mesma forma que a sentença anterior, partimos da hipótese que haveria uma
diferença no julgamento das transgressões de acordo com sua natureza, ou seja, a Faceta
Referente considera que transgressões financeiras, seriam julgadas diferentemente das
sensoriais, ou ambientais ou sociais. A faceta foco modula a gravidade destas ações que
podem ser tanto atos mais leves como ter conseqüências maiores, ou causar maiores
transtornos. Por exemplo, considera-se que uma situação grave de transgressões sociais
poderia ser roubo ou até mesmo atos violentos. Os resultados apresentam uma escala de
variação de respostas que vão desde penas leves ate mesmo punições severas.
183
Quadro 5.12. Sentença estruturadora de investigação de frequência e julgamento frente a situações
transgressoras.
Em que extensão você julga que ações de origem
Faceta
Referente
T1 financeira
T2 Sensorial
T3 Espacial
T4 Ambiental
T5 Social
Faceta
Foco
F1 Leves
F2 Regulares
F3 Graves
ocorridas em espaços
Faceta
Nível
Espacial
E1 Privados
E2 Comuns
E3 Públicos
são experienciadas
Faceta
Racional 1
(freqüência)
F1 Nunca
F2 Raramente
F3 Algumas vezes
F4 Freqüentemente
F5 Sempre
e julgando-as passíveis de
Faceta
Racional 2
(julgamento)
J1 Não punição
J2 Punição leve
(Advertência informal
Comunicação verbal)
J3 Punição moderada
(Advertência formal
Comunicação por escrito)
J4 Punição regular
(Multas, compensações)
J5 Punição severa
(Processo na justiça ou
polícia)
184
Seguindo o esquema da sentença estruturadora, foram elaboradas 54 questões. Destas,
25 questões foram selecionadas para constar no questionário, a partir de critérios semelhantes
aos mencionadas anteriormente, ou seja, situações mais significativas.
Quadro 5.13. – Questionário de investigação de frequência e julgamento frente a situações transgressoras.
Apresentamos algumas situações abaixo que são comumente presenciadas em áreas residenciais e até
mesmo em outros locais da cidade. Gostaria que você respondesse rapidamente:
Com que frequência você presencia tais ações tanto em seu condomínio como na rua?
Mesmo que você não tenha presenciado tais situações, como você julgaria a punição a tais
ações?
SITUAÇÕES FREQÜENCIA JULGAMENTO
nunca
raramente
algumas
vezes
frequente
mente
sempre
não punição
advertência
formal
advertência
informal
multa
processo na
justiça
trg1 T1F1E2
Morador que atrasa o pagamento da taxa de
condomínio
trg2 T2F1E1
Morador que possui um cão dentro de casa que late
durante o dia
trg3 T2F2E1
Morador que possui um cão dentro de casa que late
durante a noite
trg4 T2F1E1R
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto
volume durante o dia
trg5 T2F2E1R
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto
volume durante a noite
trg6 T2F3E1
Morador que realiza reformas em casa a noite ou
finais de semana
trg7 T5F3E2
crianças que quebram equipamentos das áreas de
comuns do condomínio
trg8 T2F1E2
Barulho de crianças (brincando, gritando) nas áreas
comuns do condomínio
trg9 T2F2E2R
Morador que realiza festa com música em alto
volume no condomínio, nos finais de semana
durante o dia
trg10 T2F3E2
Morador que realiza festa com música em alto
volume no condomínio, nos finais de semana
durante a noite
trg11 T3F1E2
Morador que estaciona veículo no condomínio em
vaga de outro morador
trg12 T3F3E2
Morador que toma posse ou faz construção em
áreas comuns do condomínio onde reside
trg13 T4F2E2
Morador que sai para passear com cão dentro do
condomínio e não recolhe a sujeira do animal
trg14 T4F3E2
Morador que deixa a mangueira ligada enquanto
lava veículo no condomínio
trg15 T5F1E2
Morador que faz fofoca sobre outros moradores
trg16 T4F1E2
Morador que joga lixo nas áreas comuns do
condomínio
trg17 T1F1E1
Pessoa que atrasa o pagamento da conta de energia
elétrica ou de água
trg18 T1F3E1
Pessoa que realiza ligação clandestina de água ou
luz
trg19 T1F1E3
Pessoa que não efetua o pagamento do IPTU
185
trg20 T2F1E3
Barulho de carros de som fazendo propagandas nas
ruas
trg21 T2F3E3
Casa de festa que realiza eventos com música em
alto volume em áreas residenciais
trg22 T3F2E3
Pessoa que estaciona em local proibido na rua
trg23 T3F3E3
Estabelecimento comercial que utiliza a calçada para
benefício próprio
trg24 T4F1E3
Pessoa que joga lixo no chão da rua
trg25 T4F2E3
Pessoa que sai com o cão para passear na rua e
não recolhe a sujeira do animal
PESQUISA PILOTO: DIFICULDADES E AJUSTES
A pesquisa contou com a aplicação de teste piloto durante o processo de construção do
questionário. Foram aplicados 18 questionários com moradores de condomínios e 64
questionários com síndicos, como mostra o quadro. Os síndicos foram contatos em uma feira
do setor e se propuseram a responder a pesquisa apresentada em formulário impresso. Todos
os síndicos entrevistados são moradores dos condomínios que administram.
Uma questão a analisar é em que medida a visão dos síndicos sobre os problemas
enfrentados no condomínio difere da visão dos moradores, ou será que o conhecimento das
normas e legislações confere ao síndico uma visão mais crítica e punitiva?
Sempre que possível procurou-se aplicar os questionários pessoalmente. No entanto,
isso não foi possível na maioria dos casos porque as pessoas pesquisadas alegaram falta de
tempo e opção por responder o questionário em um momento mais cômodo. Dessa forma,
embora entregues pessoalmente, a maioria das pessoas pesquisadas solicitou uma entrega
posterior, que no caso dos moradores chegou a se concretizar na metade dos casos e no caso
dos síndicos em pouco mais de um quarto dos casos. Como o questionário é auto-
administrável não houve problemas quanto a essa solicitação. Muitas pessoas ao serem
contatadas para entrevista pessoal, no qual seria aplicado o questionário, solicitaram o envio
do mesmo por correio eletrônico, sendo que neste caso tivemos uma grande devolução de
186
questionários respondidos. Este resultado foi o que levou a uma discussão posterior sobre a
possibilidade de realizar uma pesquisa pela internet.
Quadro 5.14. – Quadro demonstrativo da amostra da pesquisa piloto
Questionários entregues Questionários respondidos
Moradores 40 18
Síndicos 200 64
total 240 82
Após a aplicação do piloto foram feitos os ajustes finais tanto do questionário
propriamente dito como na metodologia da pesquisa também, especialmente no que diz
respeito à escolha das amostras.
No início do trabalho a escolha era de trabalhar condomínios fechados na cidade do
Recife e Região Metropolitana. Porém, durante a pesquisa piloto foram constatadas muitas
dificuldades de acesso aos moradores e condomínios através de visitas para entrevista a
aplicação de questionários. Muitos moradores não tinham disponibilidade para receber o
pesquisador devido a horários reduzidos apenas ao período da noite, durante os dias úteis e
finais de semana. Houve muita resistência para marcar horário e receber de fato o
pesquisador. Além disso, houve outras dificuldades no tocante ao acesso do pesquisador aos
condomínios. Um estranho, no caso do pesquisador, não pode entrar em um condomínio
normalmente. Abordar o porteiro ou qualquer funcionário pedindo acesso ao condomínio é
uma tarefa em vão. Para entrar em um condomínio é necessário conhecer alguém que mora no
condomínio. Tendo em vista essa dificuldade, foi elaborada uma rede de conhecimento,
partindo de parentes e amigos. Essa rede foi aos pouco se expandindo.
Além dessa dificuldade de acesso aos condomínios, houve grande dificuldade de
acesso aos moradores. Entre identificar um possível contato, fazer o contato e realizar a
entrevista existe um longo caminho. Muitas vezes esse caminho é intransponível. Na maioria
187
das vezes as pessoas reagem negativamente ao fato de conceder uma entrevista, responder
algumas perguntas. Sentem-se invadidas na sua privacidade. Disponibilidade de tempo é outro
fator que dificulta o contato entre o pesquisador e o pesquisado. Isso porque, muitas vezes,
para encontrar as pessoas nas suas residências as entrevistas têm que ser realizadas à noite ou
nos finais de semana e nesses horários essas pessoas estão em momento de relaxamento com a
família e não estão dispostas a receber um pesquisador em casa.
Existem alguns trabalhos que mencionam essa dificuldade de acessar pessoas que
moram em condomínios classe-média e alta. (LOPES, 2000; MONTEIRO, 1989; VELHO,
2003). As soluções encontradas por tais estudos apontam diversas soluções para resolver o
problema de contato entre pesquisador e pesquisados, entre elas a melhor solução encontrada
foi a construção de uma rede de conhecimentos mencionada anteriormente como solução
adotada para essa pesquisa que possibilita um contato mais amistoso com os informantes,
uma vez que o pesquisador chega até o informante através de referências de amigos e
conhecidos deste, encontrando assim o informante mais disposto a colaborar com a pesquisa.
Diante das dificuldades mencionadas acima, decidiu-se então pela elaboração de um
questionário online auto-administrado (que se encontrava disponível no site da empresa
Casullo Design da Informação, no link: www.casullo.com.br/condominios). Dessa forma, o
entrevistado pode responder ao questionário com mais liberdade, sem passar pelo
“inconveniente” de receber um pesquisador em casa e podendo escolher um horário mais
cômodo e conveniente para responder ao questionário (BARBIE, 1999).
Instrumento final de pesquisa: questionário on-line
3
Uma grande vantagem do questionário online é o fato de poder abranger moradores de
condomínios de várias regiões do país. A possibilidade de garantir uma amostra nacional abre
3
Para visualizar o questionário na íntegra ver anexo2.
188
perspectivas para outras questões a serem exploradas tais como as diferenciações culturais
entre as regiões e culturas sócias diversas. Do mesmo modo fornece condições mais
consistentes de se testar a relação entre a experiência da tipologia de condomínios fechados
no desenvolvimento ou não de um padrão permissivo quanto a transgressões.
Utilizando-se a rede de relacionamentos utilizada no piloto, considerou-se a
possibilidade de expansão da rede com a utilização de acadêmicos de várias regiões do país
indicando os sujeitos a serem entrevistados (anexo 1).
Os dados preenchidos na internet são diretamente dirigidos para um banco de dados, o
que significou um estudo anterior de determinação de categorias que evitasse futuras
transformações dos dados com reclassificações. Além disso, um considerável ganho de
tempo no processo de tabulação de dados.
Os questionários pela internet vem sendo amplamente utilizado nas pesquisas de
opinião pública e de mercado, mas seu uso em pesquisas acadêmicas ainda não é muito
difundido. Um exemplo local foi a pesquisa Morar no Centro Histórico: Pesquisa de
Demanda Habitacional no Centro de Recife” desenvolvida pelo CECI/UFPE em convênio
com a Caixa Econômica Federal. Essa pesquisa utilizou-se de questionários via internet auto-
administrados, o que foi avaliado, segundo o relatório final da pesquisa, como muito positivo
e eficaz em atingir um público definido (RELATÓRIO FINAL MORAR NO CENTRO,
2003).
PESQUISA, UNIVERSO E AMOSTRA
Muito embora tenhamos uma bibliografia razoavelmente desenvolvida a respeito dos
condomínios residenciais, existe muito pouca bibliografia específica quanto à questão das
189
transgressões dentro dos condomínios. Além disso, esta é uma pesquisa de tese realizada por
apenas um pesquisador, com limitações de tempo e recursos. Essas duas constatações nos
levam a caracterizar esta pesquisa como uma Pesquisa Exploratória.
Uma pesquisa exploratória consiste na construção de conhecimento sobre um tema ou
problema, com o objetivo de: elevar o conhecimento acerca de um problema; desenvolver
com mais precisão um problema; acumular informações sobre a pesquisa; auxiliar na
elaboração de hipóteses de trabalho; auxiliar na determinação das variáveis mais relevantes;
clarificar conceitos e; estabelecer métodos e prioridades para futuras pesquisas.
Consequentemente, não é possível o estabelecimento de amostras representativas do universo
da pesquisa, ou seja, não é possível estabelecer generalizações probabilísticas partindo dos
casos estudados, para toda a pesquisa.
O Universo ou População de uma pesquisa consistem em um conjunto de elementos
que possuem ao menos uma característica em comum. No caso dessa pesquisa esse universo
está limitado aos moradores de condomínios residenciais no Brasil. Conforme foi
mencionado, a princípio esse universo estava restrito aos moradores de condomínio da cidade
do Recife, mas após verificarem-se as dificuldades de acesso aos condomínios e aos
moradores, decidiu-se pela implementação de um instrumento de coleta dados on-line que
possibilitou a expansão desse universo.
O tipo de amostra trabalhada em pesquisas exploratórias é a Amostra Intencional, que
é um tipo de amostra construída a partir de elementos selecionados de acordo com
características escolhidas pelo pesquisador e quando não controle sobre o objeto que está
sendo pesquisado, como é o caso dessa pesquisa (BARBIE, 1999). A amostra por julgamento
ou intencional pode ser combinada com outro tipo de técnica, a amostragem “bola de neve”,
“particularmente útil quando é difícil identificar entrevistados em potencial” (REA e
PARKER, 2002:150). A amostra dessa pesquisa foi feita utilizando o critério de escolha feito
190
através da “rede de conhecimentos” (VELHO e KUSCHNIR, 2003), na qual as pessoas
contatadas estão livres para colaborar com a pesquisa respondendo ao questionário e, em um
segundo momento, indicando outras pessoas que se encaixam no perfil pedido pelo
pesquisador para responderem ao questionário.
Descrição da amostra da pesquisa
O perfil dos respondentes
A pesquisa contou com a participação de 167 respondentes moradores de condomínio.
Dos respondentes 91.2% são apenas moradores enquanto que 8.2 % do total são moradores e
também síndicos. As mulheres somam 61.1% enquanto 38.9% dos respondentes são homens.
Com relação à idade 13,77% estão entre 20 e 29 anos, 18, 56% têm entre 30 e 39 anos,
10,78% possuem entre 40 e 49 anos, 8,38% têm entre 50 e 59 anos e pouco menos de 3% têm
mais de 60 anos.
Quanto à ocupação, 25.6% são profissionais liberais e 24.4% declaram-se funcionários
públicos. 61, 53%. A pesquisa foi realizada a partir de uma rede de conhecimentos construída
através de amigos e colegas em sua maioria estudantes, professores e pesquisadores
universitários. Isso justifica o fato de que 61.1% dos respondentes possuem escolaridade com
nível de pós-graduação, 30% possui nível superior enquanto apenas 8.9% possui nível médio.
Dos respondentes, 34.4% possuem renda familiar entre R$ 4.001,00 e 8.000,00 reais
mensais. Em 26.7% dos casos a renda fica entre R$ 2.001,00 e 4.000,00 reais mensais. A taxa
condominial está em 19,54% dos casos entre R$ 330,00 e 400, 00 reais por mês. O número
de pessoas por lar é de 3 a 4 pessoas por moradia, em média.
Com relação às cidades, estados e regiões dos respondentes não houve uma
distribuição de forma a possibilitar um estudo comparativo entre regiões, estados ou cidades
do país. Dessa forma o procedimento de análise irá contemplar a amostra sem que haja
191
qualquer inferência de comparação dos respondentes com relação a esse aspecto (ver quadro
5.15).
Quadro 5.15. Distribuição da amostra segundo as cidades, estados e regiões.
REGIÃO
%
ESTADO
%
CIDADE
Sudeste 7.5 SP 4.1
Araras
Santos
São José do Rio Preto
São Paulo
RJ 2.7
Niterói
Rio de Janeiro
MG 0.7
Contagem
Norte 13.6 PA 12.9
Belém
AM 0.7
Manaus
Centro-oeste 1.4 GO 0.7
Goiânia
DF 0.7
Brasília
Nordeste 77.6 PB 1.4
Cabedelo
João Pessoa
PE 63.9
Camaragibe
Jaboatão dos Guararapes
Olinda
Paulista
Recife
AL 6.8
Maceió
RN 1.4
Natal
MA 2.0
São Luis
BA 2.0
Lauro de Freitas
Sobradinho
Caracterização dos condomínios
O tipo de moradia dos respondentes é sem dúvida o critério mais importante para a
pesquisa, porque ele permitirá comparações entre moradores de condomínios verticais e
moradores de condomínios horizontais. Em princípio esse item tinha possibilidade de resposta
em quatro variáveis: (1) casa em condomínio fechado, (2) apartamento em condomínio
fechado, (3) casa em bairro e (4) apartamento em edifício. Contudo, por motivos
metodológicos foram feitos alguns ajustes no sentido de melhorar essa classificação. Dessa
forma, os itens 2 e 4 foram agrupados em uma única variável, a saber: apartamento em
Condomínio. A variável 1 permaneceu da mesma forma e não houve casos envolvendo e
192
variável 3, como era esperado. 16,3% dos respondentes moram em casa em condomínio
(condomínios horizontais), 83.7% residem em apartamento em condomínio. Dos respondentes
69.1% residiam antes em apartamentos, 28.8% moravam em casas de bairro (fora de
condomínios) e apenas 1.4% já moravam em casas em condomínio.
A moradia mais desejada é a casa em condomínio (condomínio horizontal) 47.6% das
preferências. Os apartamentos em condomínio são o segundo tipo de moradia mais desejado
37.3%. O tipo de moradia menos desejado é a casa de bairro, com apenas 13.8% das
preferências.
Quanto à localização dos condomínios, grande parte dos respondentes localizou suas
moradias em área urbana, 91%. Enquanto que 4.9% localizaram suas moradias em áreas de
periferia e 3.5% residem em condomínios fora das áreas urbanas.
Quanto ao tamanho dos condomínios, 42.5% possuem até 30 unidades residenciais,
83.4% possuem entre 30 e 100 unidades residenciais, 15.1% têm entre 100 e 500 residências.
Enquanto apenas 2.7% m entre 500 e 1000 residências e somente 1.4% possui mais de 1000
unidades residenciais.
Outra questão importante é o tempo de moradia, 23.8% dos respondentes residem na
atual moradia menos de 2 anos, 34% entre 2 e 5 anos, 16.3% entre 5 e 10 anos, 13.6%
entre 10 e 20 anos e apenas 12.2% dos respondentes residem nas suas atuais moradias há mais
de 20 anos.
A condição de moradia é uma variável importante para o entendimento de algumas
questões, especialmente as de sociabilidade. Dos respondentes 64.8% são proprietários dos
seus imóveis, 20.7% são pessoas que alugam os imóveis em que residem, 8.3% são
proprietários que estão pagando algum tipo de financiamento e apenas 4.8% moram em
residências emprestadas de algum amigo ou parente.
193
Equipamentos de segurança e lazer
A presença de equipamentos de segurança e lazer são importantes definidores do tipo
de condomínio. Além disso, a presença de áreas para lazer possibilita, teoricamente, o contato
social entre os moradores na medida em que são áreas específicas para a prática de esportes e
atividades de lazer coletivamente. Os equipamentos de segurança delimitam espacialmente a
área do condomínio ao mesmo tempo em que o isolam das demais áreas da cidade.
Quanto aos equipamentos de segurança, quase todos os condomínios pesquisados
possuem muros e uma grande parte possui portaria com vigilantes e portão eletrônico.
Equipamentos como circuito interno fechado de TV, cerca elétrica e contrato com empresa de
segurança ainda não são comuns nos casos pesquisados (ver tabela 1.1).
Equipamentos de lazer como áreas verdes e salão de festas são mais comuns entre os
entrevistados. Playground e piscina podem ser encontrados em quase metade dos casos,
enquanto quadras de esporte e salão para jogos e ginástica são menos frequentes (ver tabela
1.2).
Tabela 5.1 – Presença de equipamentos de segurança nos condomínio pesquisados
muros
cerca
elétrica
circuito
interno
fechado
de tv
contrato com
empresa de
segurança
portaria
com
vigilante
Portão
eletrônico
Não possui 7.5 61.6 53.4 63.2 11.6 21.2
Possui 92.5 38.4 46.6 36.8 88.4 78.8
Tabela 5.2 – Presença de equipamentos de lazer nos condomínio pesquisados
áreas
verdes
playground
piscina
quadra
esportes
salão de
festas
salão de jogos
e/ou ginástica
Não possui 37.7 44.8 60 65.8 34.9 76
Possui 62.3 55.2 40 34.2 65.1 24
194
MÉTODOS DE ANÁLISE
Os dados coletados através do questionário online foram organizados em um banco de
dados, organizado para utilização do software SPSS (Statistical Package for Social Sciences)
versão 15. Este programa computacional oferece variados recursos que possibilitam a
organização e realização de diversos testes estatísticos, análise e interpretação dos dados.
Além dos testes estatísticos desenvolvidos pelo SPSS, os dados foram trabalhados
com análises multidimensionais, mais especificamente o SSA (Análise da Estrutura de
Similaridade) que revela relações entre variáveis como
pontos em um espaço euclidiano
revelando assim regiões e relações na estrutura dos dados.
“A técnica de análise da estrutura de similaridade SSA é basicamente um escalonamento
multidimensional não-métrico, no qual as observações são representadas em um espaço
euclidiano como pontos; é um sistema de verificação que se fundamenta no princípio da
proximidade ou contigüidade. As relações de similaridade entre os itens (observações, ou, por
exemplo, perguntas de um questionário) são traduzidas nesta configuração geométrica em
termos da distância entre pontos, representando o grau de correlação entre duas variáveis:
quanto mais próximas duas variáveis, maior a correlação entre elas.”
(RELATÓRIO FINAL
MORAR NO CENTRO, 2003).
Análise dos Dados
Os dados empíricos sobre os motivos para escolha de tipo de moradia, padrões de
socialização e transgressões sociais (freqüência e julgamento) foram analisados por diversos
instrumentos estatísticos. As análises multidimensionais (SSA – Análise da Estrutura de
Similaridade) proporcionam uma análise da estrutura geral dos dados, ou seja, permitem
visualizar qual a relação de todos os itens entre si, conforme as respostas dos entrevistados.
Outras análises são utilizadas visando explorar de modo mais rico as informações, assim
195
como a confiabilidade dos resultados. Neste sentido, análises para identificar discordâncias
entre grupos ou amostras diferentes (Kruskal–Wallis) são desenvolvidas separadamente com
moradores dos dois grupos como, por exemplo, moradores de condomínios verticais e
moradores de condomínios horizontais. Uma terceira aproximação procurou verificar se
atributos pessoais dos entrevistados, tais como pertencer a uma classe de renda ou nível
educacional, ou mesmo tempo de moradia, poderiam justificar os diferentes padrões de
respostas.
Análise da Estrutura de Similaridade - SSA
Os questionários de motivação, sociabilidade e transgressão social foram submetidos à
Análise da Estrutura de Similaridade (SSA Similarity Structural Analysis). O SSA é uma
análise multidimensional que representa as correlações entre variáveis em um espaço
geométrico, as distâncias entre os pontos (que representam cada questão) são derivadas
estatisticamente e plotadas da mesma forma que em um mapa. Cada ponto representa uma
questão do questionário e a distância entre pontos corresponde ao grau de correlação entre
eles. Assim, quanto mais próximas as questões mais semelhantes o modo como foram
respondidas pelos entrevistados.
A análise do SSA resulta em uma série de pontos distribuídos em espaço
bidimensional ou tridimensional que são analisados através de projeções que rebatem os
pontos em duas dimensões para melhor serem visualizados.
A interpretação de projeções
As projeções são interpretadas segundo as facetas apresentadas na sentença
estruturadora, assim o processo de análise dos dados parte da verificação da proximidade
entre os itens plotados tanto nas projeções como nas tabelas de correlações.
196
Primeiramente é feita a análise em duas dimensões e depois em três dimensões para
escolher a impressão que melhor representa a relação entre as variáveis. Cada dimensão
apresenta um coeficiente de alienação que representa o grau de deformação sofrida na análise
para arranjar as variáveis no espaço. Não existe uma medida padrão aceita para o coeficiente
de alienação, porém, o coeficiente utilizado por muitos autores é igual ou menor do que 0,15.
Outra cnica consiste em imprimir a projeção em todas as suas dimensões e escolher a
projeção que melhor representa a estrutura dos dados. Uma projeção de apenas duas
dimensões apresenta apenas uma impressão. Uma projeção de três dimensões apresenta três
impressões, resultante da combinação dos três eixos, dois a dois. Cada impressão é nomeada
de acordo com os dois eixos utilizados do número de dimensões total, por exemplo, 1x2 de
3D (primeiro eixo versus segundo eixo de três dimensões).
A análise das projeções é feita levando-se em consideração as facetas da sentença
estruturadora. Cada ponto da projeção representa uma questão e cada questão é formada por
três elementos, um de cada faceta hipotetizada. Dessa forma, podemos associar cada ponto da
projeção com cada uma das facetas que lhe estruturou, assim as projeções são analisadas à luz
das facetas associados, referente e vel espacial. Após a análise e interpretação, é escolhida a
projeção que melhor expressa a estrutura das regiões dos dados. Consequentemente, é
possível descobrir a estrutura de organização dos dados em regiões de contiguidade. Isso
porque, o critério de análise é feito com base na contigüidade ou proximidade dos pontos.
Como cada ponto representa uma variável, a proximidade dos pontos representa a relação
entre as variáveis. Quanto mais próximos os pontos estão, mais forte é a correlação entre as
variáveis que eles representam. A correlação entre os pontos gera, por sua vez, regiões de
contigüidade. Como explica Monteiro (1989):
197
“The analysis of a projection implies the identification of all possible elements behind the
structure of each question; each facet should be analyzed at a time, and regions of contiguity
should be examined. For example, when taking a certain projection where we decide to
analyze the elements’ spatial distribution according to the level of experience, all questions
should be labeled by the level of concern […]. The next step covers the analysis of the
arrangements of these elements in the projection looking for any regularity, grouping,
separation, and define regions that could be related to the nature of the explored issue”
(MONTEIRO, 1989: 227).
A partir da identificação de regiões de contigüidade onde os pontos estão próximos
ou regiões que mostram separação, portanto onde não similaridade entre os pontos, e até
mesmo regiões vazias podemos identificar uma estrutura que poderá ser empiricamente
verificada, comprovando a existência de determinada faceta. As regiões formadas após a
análise não seguem um modelo pré-estabelecido de formação. Mas, existem modelos de
interpretação que são mais comumente encontrados; são eles: polar, modular, axial e unidas.
Esses modelos diferem com relação à forma de análise de cada um. O modelo Polar se
assemelha a uma pizza fatiada, onde cada fatia representaria uma região de contigüidade,
formada por elementos semelhantes. Porém as regiões diferem apenas qualitativamente, isso
significa dizer que não há diferença hierárquica entre as regiões. O modelo Modular apresenta
círculos concêntricos, que no espaço tridimensional seriam esferas. Nesse modelo, as regiões
estão circundando umas as outras e nesse caso uma diferenciação hierárquica das regiões
de fora para dentro. Por último, temos o modelo Axial e uma variação deste, o modelo
Unidas. Em ambos os modelos, uma formação de faixas que representariam as diferentes
regiões, além de uma diferenciação hierárquica entre as regiões.
A análise SSA é particularmente útil em análises exploratórias, como é o caso desta
pesquisa, porque ela produz coeficientes não-paramétricos. Além disso, existe uma antiga
198
relação entre o método de análise SSA com a Teoria das Facetas. Muitos trabalhos têm
utilizado o SSA como método de análise para questionários feitos a partir do uso da Teoria
das Facetas e essa parceria têm encontrado bons resultados (MONTEIRO, 1989; ROAZZI et
al., 2001; CARVALHO et al., 2005; NASCIMENTO e ROAZZI, 2007; MONTEIRO e
ROAZZI 2007).
Figura 5.1 – diagrama mostrando os modelos mais comuns de interpretação das regiões do SSA.
199
Análise SSA com elementos externos
As variáveis externas foram plotadas na projeção do SSA com o intuito de estabelecer
as correlações existentes entre uma estrutura conceitual e uma série de variáveis consideradas
importantes para a determinação da estrutura. A inserção das variáveis externas é feita sem
que haja nenhum tipo de alteração das variáveis internas ou originais. Dessa forma, é possível
fazer a análise em uma única projeção, avaliando ao mesmo tempo os dois tipos de variáveis.
As variáveis internas que representam as perguntas do questionário e que fornecerão uma
estrutura e as variáveis externas que representam os diferentes subgrupos da pesquisa e
que fornecerão uma explicação sobre a relação do perfil dos respondentes e as respostas
destes às perguntas do questionário (MONTEIRO e ROAZZI, 2007).
A Análise do Teste Kruskal-Wallis
O Kruskal-Wallis é um teste não-paramétrico. É utilizado quando os dados não
satisfazem as condições requeridas para a realização de uma ANOVA, como por exemplo, o
critério de distribuição normal. O Kruskal-Wallis, basicamente, procura diferença
significativa entre dois ou mais grupos ou amostras a serem comparados (DANCEY, 2006).
No caso desta pesquisa, são trabalhados grupos formados por variáveis como Gênero,
Propriedade, Tempo de moradia e principalmente Tipo de Moradia (Condomínio Vertical e
Horizontal), que serão relacionadas de acordo com cada uma das 25 sentenças referentes à
Sociabilidade.
Uma segunda análise considerou a partição da amostra por Condição de propriedade
da Moradia, que conta com 4 categorias: (1) próprio quitado, (2) próprio financiado, (3)
alugado e (4) propriedade de outros. Em uma etapa posterior esse grupo também foi
rearranjado em duas categorias. As variáveis 1 e 2 foram agrupadas na categoria Proprietário
e as variáveis 3 e 4 passaram a formar a categoria Não-proprietários.
200
Os grupos Gênero e Tempo de moradia permaneceram conforme previsto. Sendo as
variáveis para Gênero masculino e feminino e para Tempo de Moradia cinco possibilidades,
(1) até 2 anos, (2) entre 2 e 5 anos, (3) entre 5 e 10 anos, (4) entre 10 e 20 anos e (5) mais de
20 anos.
***
Este capítulo encerra as discussões teórico-metodológicas desta pesquisa. Até aqui,
construímos os subsídios teóricos e metodológicos necessários para o entendimento das
questões intrínsecas à pesquisa o entendimento de condomínio, espaço coletivo,
sociabilidade e transgressões sociais e para a abordagem dos componentes empíricos da
pesquisa. Nesse sentido, este capítulo procurou realizar uma delimitação estratégica e
metodológica buscando obter informações empíricas a respeito do tema pesquisado. De certa
forma, as escolhas foram definidas pela abrangência do fenômeno estudado condomínios
residenciais em todo o Brasil e sem dúvida o instrumento de pesquisa on-line foi
fundamental para a obtenção de informações que serão trabalhadas de forma comparativa e
cumulativa nos próximos capítulos. Mais do que uma estrutura metodológica, esse capítulo
deixa explícito um entendimento teórico sobre o tema e estabelece uma ligação entre
objetivos e hipóteses.
Os capítulos seguintes trazem uma análise das questões empíricas levantas nos
capítulos iniciais da pesquisa com o objetivo de verificar se os pressupostos teóricos são
confirmados pelos dados e se os resultados revelam novos conhecimentos. Dessa forma, o
capítulo 6 terá como foco as questões relativas à sociabilidade e motivações para escolha do
local de moradia, enquanto que no capítulo 7 serão abordadas as questões relativas à
observação da ocorrência e julgamentos de transgressões sociais. A idéia central é estabelecer
correlações entre as análises com todo o arcabouço teórico e metodológico desenvolvido
durante a pesquisa.
CAPÍTULO 6
ESCOLHA DA MORADIA,
EXPERIÊNCIA RESIDENCIAL E
PADRÕES DE SOCIABILIDADE
202
INTRODUÇÃO
Este capítulo investiga os motivos que levam as pessoas a escolherem sua moradia e o
tipo de sociabilidade experimentada pelos moradores nos dois tipos de condomínios residenciais
estudados. A identificação dos motivos para escolha do local de moradia nos permite entender
que tipos de características residenciais são indicadas como mais importantes pelas diversas
pessoas entrevistadas nesta pesquisa. Complementarmente, a identificação do tipo de
sociabilidade experimentado por estas pessoas nos permite comparar se as características que as
levaram a escolher a moradia estão de fato presentes no cotidiano residencial. Portanto, este é um
capítulo que apresenta aspectos fundamentais para compreender os padrões de vivência nos
condomínios tanto verticais como horizontais.
Conforme as considerações teóricas apresentadas nos capítulos anteriores, a procura de
moradia em condomínios verticais, claramente considerada a tipologia residencial mais procurada
pelas classes médias desde a cada de 60, passa aos poucos a ser substituída pela procura dos
condomínios horizontais fechados. Condomínios fechados se apresentam atualmente como objeto
de desejo residencial, 47.6% dos respondentes desta pesquisa declaram o desejo de morar em um
condomínio horizontal. A justificativa para escolha de desta nova modalidade de espaço,
geralmente distante do centro e marcada pela segregação urbana é em grande parte referida, como
procura por segurança. Igualmente importante é o anseio por melhores condições de vida,
incluindo amenidades ambientais e a busca por uma vivência marcada por maior sociabilidade
entre as pessoas ou mesmo um sentido de comunidade.
Isto também se reflete na propaganda sedutora dos projetos de condomínios residenciais
que se centram no planejamento de espaços para lazer, esporte, enfim lugares para uma
203
convivência comunitária e uma socialização mais intensa e aberta entre os moradores. Este apelo
responde a uma busca de vida em comunidade perdida na complexidade da vida urbana atual.
Este capítulo vem apresentar os resultados da pesquisa desenvolvida com moradores das
duas tipologias de condomínios, verticais e horizontais, onde se procurou saber quais são os
motivos considerados mais importantes na escolha do atual local de moradia. Este tema, embora
revelador das qualidades desejadas pelas pessoas, se situa entre o nível da aspiração e desejo e a
realidade possível.
O outro aspecto a ser analisado neste capítulo é a experiência de socialização entre
vizinhos nos condomínios onde moram. O objetivo dos dois estudos é comparar a visão desejada
com a experimentada, além de explorar a existência de outros aspectos influenciando os padrões
de comportamentos cotidianos.
MOTIVOS PARA ESCOLHA DO LOCAL DE MORADIA
O objetivo dessa investigação foi entender que critérios guiam as pessoas na hora de
escolher onde morar. Foram selecionadas 16 perguntas envolvendo quatro critérios centrais. O
primeiro critério foi a qualidade de vida onde estão agrupadas questões que envolvem sossego,
segurança, privacidade, espaço com áreas verdes e área para crianças (questões 1, 2, 5, 6, e 10,
respectivamente). O segundo critério diz respeito à sociabilidade presentes em “um lugar onde
moram pessoas com o mesmo padrão de vida que o seu” e “uma vizinhança tranquila onde
pudesse conhecer seus vizinhos (questões 3 e 4). O terceiro critério agrupa oito questões sobre a
infra-estrutura interna e externa do condomínio, tais como: “um lugar próximo a comércio e
serviços”, “de fácil acesso”, “com boa oferta de transporte público”, “com áreas comuns para a
204
prática de lazer e esportes” e “um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de segurança
(questões 8 a 13) Perguntou-se também do interesse em ter “uma casa maior e mais espaçosa”
(questão 12). O último critério que agrupa as questões de prestigio e valorização tais como: “um
lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio social”, “um lugar com possibilidades
de valorização no futuro” e “um lugar com um preço acessível” (questões 14, 15, 16).
Análise Estrutural dos motivos para escolha de moradias
A análise SSA dos motivos para escolha do local de moradia pode ser observada na
Figura 6.1. Pela disposição dos pontos no espaço pode-se notar a presença de uma estrutura polar,
ou seja, existem duas regiões de pontos opostos.
Para compreender o que diferenciava as duas regiões buscamos analisar o conteúdo das
questões nas duas zonas. Ao verificarmos a localização das variáveis independentes na estrutura,
pudemos notar o papel da variável “tipo de moradia”. A condição Condomínio Vertical se
localiza na proximidade de um grupo de questões e a variável Condomínio Horizontal se
encontra correlacionada com o grupo em localização oposta. A posição das outras variáveis
externas tais como “Condição de Propriedade” (Próprio e Não-Próprio) também indicam uma
relação diferenciada com as duas regiões de questões. A estrutura polar sugere a presença de uma
diferença qualitativa entre as questões, ou seja, existem diversas regiões segundo a natureza das
questões, mas não há uma ordem hierárquica entre elas.
Podemos observar ainda uma correlação entre as variáveis independentes, onde a variável
Condomínio Horizontal está próxima da variável de condição de propriedade “Próprio” sendo
que ambas estão pertencendo a uma mesma região de contiguidade onde se localizam as questões
que mencionam, “um lugar silencioso e sossegado”, “seguro da violência urbana”, “onde moram
pessoas com o mesmo padrão de vida”, “uma vizinhança tranquila onde pudesse conhecer seus
205
vizinhos”, “próximo a comércio e serviços”, “com áreas comuns para a prática de lazer e
esportes”, com possibilidade de ter uma casa mais espaçosa”, “destacado pelo status e prestígio
social” e “com possibilidades de valorização futura” (questões 1,2, 3, 4, 7, 11 12, 14 e 15,
respectivamente).
Dito de outro modo, estes motivos foram respondidos de forma mais semelhante pelas
pessoas que moram em Condomínios Horizontais e pelas pessoas que moram em imóveis
próprios. Portanto, resolvemos designar tal região como Motivos para Morar em Condomínio
Horizontal.
Por outro lado a variável externa Condomínio Vertical também se relaciona mais
fortemente com a variável “Não Próprio” mostrando uma região onde estão localizadas as
questões: “um lugar onde pudesse ter privacidade”, “onde crianças pudessem brincar livremente
em segurança”, “de fácil acesso”, “com boa oferta de transporte público”, “com um preço
acessível” (questões 5, 6, 8, 9, e 16, respectivamente). Chamamos, de forma análoga, esta relação
de Motivos para Morar em Condomínios Verticais.
Podemos perceber que as duas regiões apresentam questões pertencentes aos quatro
critérios ou facetas, ou seja: qualidade de vida, sociabilidade, infra-estrutura e financeiro, mas
que são valorizados pelos respondentes dos dois grupos, de forma diversa.
206
LEGENDA:
QUALIDADE DE VIDA =
Q
SOCIABILIDADE = S
INFRAESTRUTURA = I
FINANCEIRO = F
Figura 6.1 Projeção SSA, mostrando as questões de motivações para escolha do local de moradia (projeção 1x3 -
3D), Coeficiente de Alienação=0.10
MOTIVOS DO
MOTIVOS
DO
207
Tabela 6.1– Itens do questionário sobre motivação para escolha do local de moradia
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da movimentação da cidade
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência urbana
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo padrão de vida que o seu
4
Uma vizinhança tranquila onde pudesse conhecer seus vizinhos
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar livremente em segurança
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
8
Um lugar de fácil acesso
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins
11
Um lugar com áreas comuns para a prática de lazer e esportes
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais espaçosa
13
Um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de segurança como, TVs, portões, grades e
cercas elétricas
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio social
15
Um lugar com possibilidades de valorização no futuro
16
Um lugar com um preço acessível
Tabela 6.2 – Variáveis externas plotadas na Estrutura de dados do SSA.
VARIÁVEIS EXTERNAS
Condo.H Moradores de condomínios horizontais
Condo.V Moradores de condomínios verticais
Prop. Morador proprietário do imóvel onde reside
N-prop Morador não proprietário do imóvel onde reside
Masc. Pessoa do sexo masculino
Fem. Pessoa do sexo feminino
A projeção do SSA apresenta um resultado bastante claro da diferenciação das pessoas
quanto à valorização das qualidades desejadas para o lugar em que se quer morar. Embora
relevante, o resultado partiu-se em um detalhamento verificando a relação entre as questões e as
variáveis externas. A análise Kruskal-Wallis possibilitará uma complementação maior no
entendimento dessas diferenças, no sentido de proporcionar uma dimensão quantitativa da
direção destas avaliações. Dessa forma, apresentaremos também uma análise das médias gerais
das respostas para esse questionário.
208
Motivos para escolha da moradia-média da avaliação geral
A Tabela 6.1 apresenta as médias gerais das respostas dadas ao questionário. Cada item
poderia ser respondido segundo o grau de importância dos diversos motivos para as pessoas
escolherem sua moradia, apresentando uma escala de 1 a 5, sendo (1) não importante, (2) pouco
importante, (3) mais ou menos importante, (4) importante e (5) muito importante.
Os itens do questionário que apresentam médias altas, representando valor entre
importante e muito importante foram: “Um lugar onde moram pessoas com o mesmo padrão de
vida que o seu”, “próximo a comércio e serviços”, “onde crianças pudessem brincar livremente
em segurança”, “com áreas verdes com árvores e jardins”, “de fácil acesso” e “com um preço
acessível”. (3, 7, 6, 10, 8 e 16 respectivamente). Podemos perceber que uma clara eleição de
questões que envolvem todos os quatro critérios, ou seja, qualidade de vida, sociabilidade, infra-
estrutura, financeiro. Isso demonstra que não uma diferenciação entre os critérios, em todas as
categorias existem motivos importantes para os respondentes.
Dentre as questões, oito itens apresentaram média das respostas em um intervalo entre
“mais ou menos importante” e “importante”: “Um lugar com boa oferta de transporte público”,
“bastante seguro, se possível com sistemas de segurança”, “Um lugar com privacidade”, “com
possibilidade de uma casa mais espaçosa”, “com áreas comuns para a prática de lazer”, “seguro
da violência urbana”, “com possibilidades de valorização no futuro” e “uma vizinhança tranquila
onde pudesse conhecer seus vizinhos” (questões 9, 13, 5, 12, 11, 2, 15 e 4, respectivamente).
Mais uma vez, podemos perceber que esse grupo inclui questões relacionadas com os quatro
critérios. Contudo, é interessante notar que a questão 11 “Um lugar com áreas comuns para a
prática de lazer e esportes”, aparece como um item entre “mais ou menos importante” a
“importante” sempre seja uma das qualidades mais focalizadas pelas promoções imobiliárias.
209
O item 14, “Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio social”, aparece
com um valor médio que o coloca entre “pouco importante” e “mais ou menos importante”. E,
por último, entre “não importante” e “pouco importante” temos o item “Um lugar silencioso e
sossegado, afastado da movimentação da cidade” (1).
Esse resultado surpreende porque no início da pesquisa partimos da hipótese que a
segurança e o silêncio seriam os itens mais importantes para a escolha do local de moradia. Este
resultado também indica uma direção oposta dos resultados obtidos em estudos europeus onde a
procura por silêncio encabeça a lista de qualidades desejadas (CANTER, 1983).
Tabela 6.3. – Médias da avaliação da importância dos motivos para escolha do local de moradia
Questionário – Motivos para escolha do local de moradia
Média
Desvio
Padrão
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da movimentação da cidade
1,09
,291
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência urbana
3,60
1,217
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo padrão de vida que o seu
4,57
,752
4
Uma vizinhança tranquila onde pudesse conhecer seus vizinhos
3,45
1,124
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
3,78
1,037
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar livremente em segurança
4,39
,728
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
4,41
,999
8
Um lugar de fácil acesso
4,03
,849
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
3,97
1,057
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins
4,27
,890
11
Um lugar com áreas comuns para a prática de lazer e esportes
3,70
1,135
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais espaçosa
3,71
1,170
13
Um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de segurança
3,82
1,205
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio social
2,23
1,066
15
Um lugar com possibilidades de valorização no futuro
3,58
1,174
16
Um lugar com um preço acessível
4,03
,885
Em seguida, veremos os resultados do teste Kruskal-Wallis para o cruzamento de cada
item do questionário de motivações, visto acima, com as variáveis como Gênero, Tipo de
Moradia, Tipo de Propriedade e Tempo de Moradia. Essa análise apresentará um detalhamento
das correlações apresentadas na estrutura do SSA da Figura 6.1.
210
A influência do tipo de moradia na avaliação dos motivos para escolha de moradia através
do teste Kruskal-Wallis.
Os resultados do teste Kruskal-Wallis relacionando a variável Gênero com as respostas da
amostra demonstrou que não existem diferenças significativas entre homens e mulheres no que
diz respeito às escolhas dos aspectos importantes para a escolha do local de moradia. Apenas o
item 13, “um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de segurança como, TVs, portões,
grades e cercas elétricas”, aparece como sendo prevalecido mais para as mulheres do que para os
homens (P= .033) (ver tabela no anexo 4).
A análise Kruskal-Wallis demonstrou também que diferenças significativas entre os
motivos para escolher o local de moradia segundo respondentes morando em casa em
condomínio e morando em apartamento em condomínio, (ver Tabela 6.4.). Os moradores de casa
em condomínio valorizam mais do que os moradores de apartamento os seguintes itens: “Um
lugar onde moram pessoas com o mesmo padrão de vida que o seu”, “próximo a comércio e
serviços”, “seguro onde esteja a salvo da violência urbana”, “com áreas comuns para a prática de
lazer e esportes”, “com possibilidade de ter uma casa mais espaçosa” e “silencioso e sossegado,
afastado da movimentação da cidade”
Tabela 6.4 Análise Kruskal-Wallis mostrando a significância entre motivos para a escolha da moradia e os grupos
de respondentes segundo tipo de moradia (P < .05).
Questionário – Motivos para escolha do local de moradia
df
p
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da movimentação da cidade
6,804
1
,009
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência urbana
10,307
1
,001
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo padrão de vida que o seu
8,487
1
,004
4
Uma vizinhança tranquila onde pudesse conhecer seus vizinhos
3,404
1
,065
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
,408
1
,523
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar livremente em segurança
,566
1
,452
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
6,436
1
,011
8
Um lugar de fácil acesso
1,173
1
,279
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
1,517
1
,218
211
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins
2,346
1
,126
11
Um lugar com áreas comuns para a prática de lazer e esportes
5,343
1
,021
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais espaçosa
4,294
1
,038
13
Um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de segurança
1,587
1
,208
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio social
,158
1
,691
15
Um lugar com possibilidades de valorização no futuro
,157
1
,692
16
Um lugar com um preço acessível
2,223
1
,136
A Tabela 6.5 apresenta as médias de cada questão segundo os dois grupos de moradores,
mostrando a direção da discrepância das respostas.
Tabela 6.5 – Análise Kruskal-Wallis de motivadores para escolha do local de moradia mostrando as médias
separadas por tipo de moradia do respondente
Condomínio
vertical
Condomínio
horizontal Total
Questionário – Motivos para escolha do local
de moradia
média
Desvio
Padrão Media
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da
movimentação da cidade
1,06
,231
1,23
,429
1,09
,280
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da
violência urbana
3,46
1,234
4,35
,832
3,61
1,220
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo
padrão de vida que o seu
4,50
,797
4,96
,209
4,58
,753
4
Uma vizinhança tranquila onde pudesse
conhecer seus vizinhos
3,51
1,134
3,09
1,041
3,44
1,127
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
3,75
1,043
3,91
1,041
3,78
1,041
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar
livremente em segurança
4,37
,732
4,48
,730
4,39
,730
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
4,32
1,061
4,87
,344
4,41
1,002
8
Um lugar de fácil acesso
4,08
,770
3,74
1,176
4,03
,852
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
4,02
1,025
3,70
1,222
3,97
1,060
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e
jardins
4,22
,913
4,52
,730
4,27
,891
11
Um lugar com áreas comuns para a prática
de lazer e esportes
3,60
1,158
4,23
,869
3,70
1,139
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais
espaçosa
3,62
1,213
4,23
,752
3,71
1,173
13
Um lugar bastante seguro, se possível com
sistemas de segurança
3,77
1,217
4,09
1,151
3,82
1,209
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo
status e prestígio social
2,23
1,100
2,26
,915
2,23
1,070
15
Um lugar com possibilidades de valorização
no futuro
3,58
1,221
3,61
,941
3,58
1,177
16
Um lugar com um preço acessível
4,08
,881
3,83
,887
4,04
,884
212
A influência da condição de propriedade na avaliação dos motivos para escolha de moradia
através do teste Kruskal-Wallis.
O teste Kruskal-Wallis demonstra que diferença significativa, em sete itens, entre os
grupos de proprietários e não-proprietários no que diz respeito aos motivadores para escolha de
um local de moradia (Tabela 6.6). Os proprietários valorizam mais do que os não-proprietários,
“Um lugar com possibilidades de valorização no futuro”, “Uma vizinhança tranquila onde
pudesse conhecer seus vizinhos” e “Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio
social”.
Tabela 6.6 Análise Kruskal-Wallis mostrando a significância da relação entre as questões de motivos para a
escolha da moradia e os grupos diferenciados por condição de propriedade. A significância foi considerada foi P <
.05
Questionário – Motivos para escolha do local de moradia
df p
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da movimentação da cidade
5,268
1
,022
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência urbana
,268
1
,605
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo padrão de vida que o seu
2,100
1
,147
4
Uma vizinhança tranquila onde pudesse conhecer seus vizinhos
4,916
1
,027
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
,025
1
,875
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar livremente em segurança
,006
1
,940
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
,244
1
,621
8
Um lugar de fácil acesso
4,483
1
,034
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
4,673
1
,031
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins
,000
1
,984
11
Um lugar com áreas comuns para a prática de lazer e esportes
,151
1
,698
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais espaçosa
,597
1
,440
13
Um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de segurança
2,194
1
,139
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio social
5,424
1
,020
15
Um lugar com possibilidades de valorização no futuro
12,792
1
,000
16
Um lugar com um preço acessível
1,146
1
,284
Resultados apresentados na Tabela 6.7 indicam que há, segundo a condição de
propriedade, interesse na valorização do patrimônio e procura pelo destaque da condição social.
A propriedade do imóvel de moradia indica a tendência de maior tempo de permanência no
imóvel do que os não-proprietários que alugam seus imóveis. O primeiro grupo atribui
213
significava importância a uma vizinhança amistosa e tranquila. Contudo, os não-proprietários
valorizam mais, a presença de um lugar “silencioso e sossegado, afastado da movimentação da
cidade”, juntamente com “fácil acesso”, “boa oferta de transporte público” e “preços acessíveis”.
Tabela 6.7 Análise Kruskal-Wallis de motivadores para local de moradia mostrando as médias separadas pela
Condição de Propriedade do respondente
Não Próprio Próprio Total
Questionário
Motivos para escolha do local
de moradia
média
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da
movimentação da cidade
1,18
,393
1,05
,229
1,09
,292
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da
violência urbana
3,49
1,335
3,63
1,171
3,59
1,215
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo
padrão de vida que o seu
4,36
1,013
4,65
,620
4,57
,754
4
Uma vizinhança tranquila onde pudesse
conhecer seus vizinhos
3,03
1,386
3,62
,965
3,46
1,121
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
3,74
1,093
3,80
1,023
3,78
1,039
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar
livremente em segurança
4,38
,711
4,38
,739
4,38
,729
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
4,39
,946
4,41
1,026
4,41
1,002
8
Um lugar de fácil acesso
4,31
,569
3,95
,870
4,05
,814
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
4,26
,938
3,89
1,050
3,99
1,031
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e
jardins
4,26
,938
4,27
,877
4,27
,891
11
Um lugar com áreas comuns para a prática de
lazer e esportes
3,62
1,184
3,72
1,119
3,69
1,134
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais
espaçosa
3,54
1,295
3,76
1,119
3,70
1,169
13
Um lugar bastante seguro, se possível com
sistemas de segurança
3,59
1,257
3,90
1,187
3,82
1,209
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo
status e prestígio social
1,92
1,064
2,35
1,047
2,24
1,065
15
Um lugar com possibilidades de valorização
no futuro
2,92
1,402
3,81
,991
3,57
1,178
16
Um lugar com um preço acessível
4,10
1,071
4,02
,808
4,04
,884
Quanto à variável tempo de moradia, apenas a questão 1 “Um lugar silencioso e
sossegado, afastado da movimentação da cidade” apresentou significância para quem reside
mais de 20 anos no mesmo local (P = .031) (ver anexo 4).
214
Discussão
A estrutura do SSA indica uma distribuição regional das motivações de escolha da
moradia em ordem polar, distinguindo os quatro critérios apresentados na hipótese original.
Demonstra também, uma forte influência da condição de moradores de condomínio vertical e
horizontal na escolha de elementos motivadores, porém sem hierarquia de uma com relação à
outra. Isto indica que o que diferencia a estrutura das respostas não é uma ordem interna da
natureza das questões (como se, por exemplo, as questões de qualidade de vida fossem mais
importantes que as de infra-estrutura), mas elementos de natureza externa, segundo a experiência
dos respondentes com seu tipo de moradia e condição de propriedade do imóvel. A importância
dada a certos motivos, e não a outros, é significativamente determinada (segundo o teste Kruskal-
Wallis) pelo tipo de moradia e pela condição de propriedade do respondente.
Morar em condomínio vertical significa valorizar a proximidade com infra-estrutura
urbana, enquanto que para quem mora em condomínio horizontal o que importa mais é o maior
espaço interno nas residências, presença de áreas verdes e estruturas de lazer.
Estes resultados corroboram o que foi visto anteriormente, na evolução do discurso
imobiliário (capítulo 2) que responde ou cria um novo padrão de necessidades ou qualidades
vistas positivamente pela sociedade.
215
A ESTRUTURA DA SOCIABILIDADE EM CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS
A sociabilidade é um aspecto complexo que pode ser determinado por condicionantes de
diversas naturezas. Neste trabalho definiu-se uma sentença estruturadora que claramente indica
quais elementos, chamados de facetas, são aqui estabelecidos como importantes para conhecer
como ocorre esta experiência no cotidiano residencial de diversas tipologias habitacionais.
A hipótese inicial, formulada com a estrutura da teoria das facetas e apresentada no
capítulo 5, considerou que existem elementos de três naturezas que poderiam determinar ações
cotidianas de socialização. Primeiro, o tipo de pessoas com quem se pode engajar em uma relação
social. Neste caso, consideramos que os elementos mais prováveis e importantes seriam: os
parentes ou familiares, os amigos, os vizinhos e tratando-se de locais de residência, os
funcionários presentes em tais locais, tais como gerentes, porteiros, vigias e serventes. Todos
estes elementos fazem parte de uma faceta denominada “Associados” com quem se estabelece
ações de sociabilidade.
A segunda faceta é a “Referente das Ações” que está ligada ao motivo de estabelecimento
das ações de socialização. Esta faceta focaliza três elementos: ações de natureza ocasional, ações
com objetivos sociais e ações com objetivos funcionais.
Enfim, a terceira e ultima faceta é chamada de Nível Espacialque explora três tipos de
espaços diferentes onde podem ocorrer as ações de socialização. O primeiro elemento é o espaço
privado que diz respeito ao espaço do lar, onde ocorrem relações em uma esfera de intimidade
maior do que nos outros espaços. O espaço coletivo é o segundo elemento desta faceta, seguindo
as questões discutidas no capítulo 2 sobre as características desse espaço privado de uso coletivo
ou comum dos moradores.
216
Como foi mencionado no início desta pesquisa, procura-se verificar a hipótese da
importância do espaço coletivo, como espaço ambivalente, na determinação de um novo perfil de
sociabilidade cotidiana, como também lócus favorável à emergência de transgressões sociais. O
espaço público é o terceiro e último elemento da faceta. Este último espaço abrange o mundo
externo aos condomínios ou locais de moradia. Isso significa que as ações ocorridas nesse espaço
podem ocorrer tanto na rua, como em espaço privados e coletivos distantes do condomínio, como
por exemplo, na residência de familiares ou amigos ou até mesmo em um shopping ou outro local
da cidade.
O questionário apresentado previamente no Capitulo 5, foi composto de 25 perguntas
formadas pela combinação de elementos das facetas uns com os outros. Essas perguntas tratam de
situações onde acontecem ações cotidianas ocasionais, de uma cordialidade ou formalidade social
até ações e atividades sociais mais íntimas. Conforme a faceta dos Associados estas ações são
concebidas envolvendo vizinhos, amigos, familiares e crianças, consideradas como familiares.
Conforme apresentado no capítulo metodológico, a estrutura resultante de uma análise
SSA deve ser submetida ao escrutínio de relevância de cada Faceta formadora. Assim, como cada
questão é composta de três facetas, é necessário verificar como a estrutura espacial da
sociabilidade reflete estas facetas. Tal análise permite também identificar leis e teorias de
correspondência entre estas facetas.
O papel dos Associados na estrutura de sociabilidade
A primeira faceta a ser analisada será a Faceta Associados que permite uma melhor
explicitação das estruturas das interações sociais segundo os papéis das pessoas com as quais se
mantém a atividade social, neste caso amigos, parentes, vizinhos e funcionários do condomínio.
217
A Figura 6.2 é uma projeção feita a partir de uma análise do SSA que mostra a distribuição em
pontos de cada questão do questionário de sociabilidade de acordo com a faceta Associados.
É importante lembrar que cada ponto na projeção corresponde a uma pergunta do
questionário. Para realizar a análise é necessário relacionar cada ponto com o elemento da faceta
escolhida ao qual ele corresponde. Neste caso, a faceta escolhida, a Associados, é composta pelos
elementos: amigos; parentes; vizinhos e funcionários. Feito isso, podemos efetuar a análise da
distribuição dos pontos na projeção em busca de uma estrutura de composição dos dados que
pode ser observada pelo estabelecimento de regiões delimitadas, de certa forma, uma das outras.
A análise da projeção do SSA mostra uma separação dos elementos associados em três
regiões que segundo as leis regionais indicam uma estrutura axial com ordem. Na primeira
região, localizada acima e a direita da projeção, estão localizadas as atividades sociais que
envolvem parentes e amigos. Na segunda região, localizada abaixo da primeira, seguindo o
sentido anti-horário, estão as questões que envolvem as atividades realizadas com vizinhos. Por
último, a terceira região, que está abaixo da segunda seguindo o sentido anti-horário, mostra onde
estão localizadas as atividades sociais que envolvem os funcionários do condomínio.
218
LEGENDA: FACETA ASSOCIADOS
AMIGOS = Amg
PARENTE S = Par
VIZINHOS = Viz
FUNCIONÁRIOS = Fun
Figura 6.2 – Projeção do SSA para Associados (1x2 - 2D) Coeficiente de Alienação=0.27
LEGENDA para as figuras do SSA relativas às questões de sociabilidade:
QUESTÕ
ES
1 Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns de seu condomínio
2 Convidar algum vizinho para vir a sua casa
3 Chamar amigos para virem em sua casa
4 Ir à casa de familiares
5 Encontrar amigos em outros locais da cidade
6 Fazer um programa com membros da família em outros lugares da cidade
7 Deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
8 Ver crianças ou jovens frequentar as áreas de recreação do condomínio
219
9 Reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana
10 Cumprimentar os vizinhos com encontra nas áreas comuns
11 Participar de reunião para discutir questões do condomínio
12 Discutir por problemas com vizinhos
13 Participar de festa organizada no condomínio
14 Evitar conversa com vizinhos para não ter problemas com eles
15 Sair com amigos do condomínio para um programa na cidade
16 Solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em sua casa
17 Pedir aos funcionários para resolver problemas com vizinhos
18 Encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar
19 Participar de algum esporte na área de lazer (ou na piscina) com amigos
20 Utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de aniversário ou outra
ocasião festiva
21 Pedir para vizinhos do condomínio para ficar de olho nas crianças
22 Conversar com empregados para saber das coisas que acontecem no condomínio
23 Deixar as crianças da vizinhança virem em sua casa
24 Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
25 Trocar gentilezas com seus vizinhos
VAR
VEIS EXTERNAS
Condo.H Moradores de condomínios horizontais
Condo.V Moradores de condomínios verticais
Prop. Morador proprietário do imóvel onde reside
N-prop Morador não proprietário do imóvel onde reside
Masc. Pessoa do sexo masculino
Fem. Pessoa do sexo feminino
Podemos observar ainda que surge uma segunda orientação nesta estrutura que distingue
áreas transversalmente à primeira divisão axial. Esta segunda orientação distingue dois
hemisférios na projeção, sendo um superior e outro inferior. Na região superior estão localizadas
as interações sociais, tais como atividades sociais com fins de lazer e bem estar vistas como
positivas ou desejáveis. Na segunda região, abaixo da primeira, estão localizadas atividades que
visam à resolução de problemas, tanto em nível doméstico como com relação ao condomínio
como um todo, que foram classificadas como negativas ou indesejáveis.
Como podemos observar, os elementos amigos e parentes da faceta Associados estão
compreendidos na primeira região que reúne os dois elementos, demonstrando que as atividades
que envolvem parentes e amigos são consideradas de modo similar pelos respondentes. As
atividades que estão próximas na projeção indicam maior grau de correlação, ou seja, uma
similaridade na forma como foram respondidas por todos os sujeitos da amostra. É interessante
notar que as questões 15 e 19, inicialmente concebidas como relacionadas com o elemento
220
amigos revelaram-se empiricamente como relacionadas com o elemento vizinhos. A questão 15
“sair com amigos do condomínio para um programa na cidade” revelou que amigos nesse caso
são também considerados como vizinhos. De forma análoga, a questão 19 “participar de algum
esporte nas áreas de lazer do condomínio com amigos” revela que este tipo de atividade também
é realizada com amigos que são considerados vizinhos. Dessa forma, quando o papel de amigo é
anexado ao papel de vizinho, o último se sobressai ao primeiro de acordo com a estrutura de
respostas. A pergunta 20 “utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de
aniversário ou outra ocasião festiva” foi concebida como uma atividade que envolveria parentes
prioritariamente, mas os resultados demonstraram que esta atividade está mais próxima das
atividades que envolvem vizinhos. Portanto, podemos concluir que, em geral, as festas realizadas
no salão de festas do condomínio são festas que contemplam a presença de vizinhos, ou como
vimos, de vizinhos-amigos.
A segunda região (Vizinhos), que envolve as atividades sociais relacionadas com
vizinhos, apresenta algumas atividades que guardam forte correlação entre si, como “deixar
crianças brincar na casa dos vizinhos (7), reunir-se com vizinhos para um programa de fim de
semana” (9), “convidar algum vizinho para vir a sua casa” (2), “pedir para um vizinho do
condomínio ficar de olho nas suas crianças” (21) e “deixar as crianças da vizinhança vir em sua
casa” (23). Essas atividades estão próximas mostrando que foram respondidas de forma
semelhante pelos entrevistados. Estas são ações de socialização mais íntimas que estariam
relacionadas a uma idéia de vida em comunidade; porém os resultados indicam pouca frequência
com que são experienciadas, ou seja, o que as constitui como região é o fato de agrupar ações não
realizadas com frequência, como veremos mais adiante em outras nas análises.
A terceira região (Funcionários) apresenta as questões que envolvem algum tipo de
interação social com funcionários do condomínio, como as questões “conversar com funcionários
221
para saber das coisas que acontecem nos condomínios” (22), “solicitar algum funcionário do
condomínio para fazer algum serviço em sua casa” (16) e “pedir aos funcionários para resolver
problemas com os vizinhos” (17). No entanto, é importante perceber que nesta mesma região
estão localizadas as questões “evitar conversas com vizinhos para não ter problemas” e “discutir
por problemas com vizinhos” (14 e 12 respectivamente). Essa proximidade demonstra que essa
região está caracterizada pela presença de ações que envolvem a resolução ou o ato de evitar
problemas relativos ao condomínio. Tal fato pode justificar a localização oposta às questões de
sociabilidade visando lazer e diversão.
Discussão
A projeção dos Associados mostra uma estrutura ordenada, o que significa que esta faceta
teve um papel ativo na determinação da socialização cotidiana. Se esse for o caso, esta faceta
poderá estar influenciando outras facetas, ou seja, poderá estar modulando também a natureza das
ações (Referente) ou lugar onde elas acontecem (Nível Espacial). Pesquisas anteriores sobre
experiências em diversos locais de moradia (MONTEIRO, 1989) demonstram o caráter trans-
espacial da socialização classe média. As pessoas desta classe social desempenham ações em
diversos espaços, locais e instituições distribuídos em toda cidade, sendo estes locais escolhidos
em função dos pares que os frequentam mais do que qualquer outro motivo.
A análise mostra que a concepção inicial da faceta Associados encontrou ressonância
empírica, ou seja, as respostas indicam uma discriminação segundo os papéis das pessoas quando
da indicação da frequência da experiência de relações sociais.
Outro fator percebido é que as atividades que estão localizadas no centro da projeção são
as atividades realizadas com menos frequência. Dessa forma, o critério de contiguidade e
similaridade residem no fato de que o que elas têm em comum é serem pouco realizadas. De
222
forma diversa, os pontos mais periféricos da projeção referem-se às atividades realizadas mais
frequentemente, como por exemplo, a “cumprimentar os vizinhos quando os encontra nas áreas
comuns” (10) que é a atividade realizada com maior média de frequência, como mostra a análise
estatística que veremos mais adiante. No entanto, a atividade 10, pelo fato estar localizada em
posição periférica da projeção, demonstra que ela não foi respondida de forma semelhante pelos
entrevistados.
O tipo de ação na determinação de uma estrutura de sociabilidade
A segunda faceta a ser analisada é a faceta Referente das ações. Em princípio essa faceta
foi concebida como formada pelos elementos: ocasionais; sociais e funcionais. No entanto, o
resultado da análise do SSA demonstra que essa classificação feita a priori pela pesquisadora não
encontrou respaldo empiricamente, pelo menos não com o sentido inicial dado aos três elementos
formadores da faceta. O que os resultados mostram é que os respondentes classificam as
atividades sociais, em três regiões que podem ser entendidas como distinguindo atividades
“Intencionais” (mais pessoais ou íntimas), atividades “Ocasionais” (de cordialidade e cotidianas)
e atividades “Funcionais” (práticas).
A análise do SSA apresentada na Figura 6.3, mostra uma projeção dividida de forma
polar, em três regiões. A primeira região (Ocasional) está localizada acima e à direita da
projeção. Essa região escaracterizada pela presença de atividades realizadas ocasionalmente,
sem que seja necessário um planejamento prévio, como exemplo a atividade “cumprimentar os
vizinhos quando os encontra nas áreas comuns” (10). A segunda região (Intencionais) está
localizada no lado esquerdo da primeira e é caracterizada pela presença de atividades planejadas
realizadas em grande parte com amigos e familiares. A terceira região (Funcionais) está
223
localizada na parte de baixo das duas primeiras regiões. Ela é caracterizada por atividades
funcionais, centradas na solução de problemas.
Na primeira região estão localizadas as atividades sociais que possuem pouca
profundidade e envolvimento entre as partes. São interações sociais ocasionais e de curta duração
provocadas por um encontro amistoso e casual entre as pessoas. Esse tipo de encontro ocorre
muito comumente nas áreas comuns dos condomínios e podem aproximar vizinhos que
normalmente não teriam um motivo mais forte que promovesse o encontro. Por essa razão essa
região foi chamada de “Ocasional”. Apesar de serem encontros superficiais, essas atividades são
realizadas com uma frequência média maior do que as atividades da segunda região. A atividade
10 “cumprimentar os vizinhos quando os encontra nas áreas comuns” é a atividade realizada com
a maior frequência de todas, enquanto as atividades 8, 1, 24 e 25, são realizadas com frequência
média.
224
LEGENDA: FACETA REFERENTE DAS AÇÕES
INTENCIONAIS = Int
OCASIONAIS = Oca
FUNCIONAIS = Fun
Figura 6.3 – Projeção do SSA para Referente das ações (1x2 - 3D), Coeficiente de alienação=0.17
A segunda região, “Intencionais”, compreende a área onde estão localizadas atividades
caracterizadas pela intencionalidade do ato, isto é, atividades onde planejamento da ação.
Outra característica marcante é que um grau de intimidade ou acordo entre as partes
envolvidas. As questões desta região estão ainda subdivididas em dois níveis, o primeiro
localizado em posição central e o segundo em posição periférica ao primeiro. Analisando as
225
atividades periféricas nota-se que correspondem também à faceta anterior de parentes e amigos
em situações de encontros sociais íntimos. As atividades mais centrais são as que envolvem
amigos, vizinhos e funcionários do condomínio em situações de maior intimidade do que um
encontro casual, como por exemplo, a questão “convidar um vizinho para vir a sua casa” (2), que
embora seja realizada com um vizinho está localizada nessa região por ser uma atividade
planejada e que requer certa intimidade ou proximidade entre as partes. As outras atividades
pertencentes a essa região são: “reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana” (9),
“participar de algum esporte na área de lazer com amigos” (19), “sair com amigos do condomínio
para um programa na cidade” (15). Todas essas situações guardam entre si a característica de
serem atividades programadas e que envolvem pessoas em situações mais íntimas do que uma
situação puramente ocasional que poderia em princípio colocar lado a lado pessoas sem nenhuma
afinidade. A questão “solicitar aos funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em sua
casa” (16) também está caracterizada pela ação voluntária de solicitar a presença de um
funcionário do condomínio em casa, ou seja, embora a interação social não seja íntima, o local
onde ela se realiza é um espaço íntimo.
A terceira região Funcional” compreende atividades que não são ocasionais nem
intencionais, mas sim situações que requerem um encontro formal entre pessoas no intuito de
solucionar algum problema. Um exemplo disso é a localização nesta região da questão “participar
de reunião para discutir problemas do condomínio” (11).
Discussão
Esta faceta apresenta uma clara influência da faceta anterior, a Associados. Isso porque o
tipo de relação social está, em geral, determinado pelo papel da pessoa com quem se estabelece a
relação. Monteiro (1989) encontrou resultado semelhante em sua pesquisa no tocante aos tipos de
226
interação social estabelecidas pela classe média, para a qual o fato de ser amigo, parente ou
vizinho influenciava claramente o tipo de relação que era estabelecida.
A análise dessa faceta demonstrou a existência de uma estrutura diferente do que se
esperava; que as atividades fossem de alguma forma distinguidas pelo tipo de interação. Nessa
hipótese eram três os tipos de relações: ocasionais, sociais e funcionais. Na verdade, a divisão
mostrou outra gica de diferenciação do tipo de interação onde as regiões de contiguidade são
formadas de modo diferente do hipotetizado. O primeiro grupo proposto foi o de relações
“Ocasionais”, mas a análise indica que outro grupo substituiu o primeiro no tocante à assiduidade
da interação. Dessa forma, a denominação da região de atividades “Cotidianas-Ocasionais”
explica melhor a região composta por atividades que ai se localizam. A segunda faceta proposta
relacionava atividades e relações Sociais; porém fica melhor caracterizado segundo as variáveis
agrupadas sob a característica de serem “Intencionais-Íntimas”. Não esquecendo a relação com a
outra faceta, nota-se a relação com as atividades desenvolvidas com parentes e amigos, onde os
vizinhos pertencentes a esse grupo compartilham atividades que os aproximam da caracterização
de amigos. Por último, o grupo proposto foi o de relações Funcionais. Contudo, mais uma vez
essa caracterização não foi suficiente para explicar uma série de atividades agrupadas e que
mantinham como característica fundamental o fato de serem atividades “Práticas-Funcionais”,
que envolviam muitas das relações com funcionários do condomínio, mas também agrupavam
atividades como participar de reuniões de condomínio.
O papel do espaço na determinação de uma estrutura de sociabilidade
A última faceta analisada foi a faceta “Nível Espacial”. Em princípio havia uma suspeita
de que o tipo de lugar onde ocorriam as relações sociais influenciasse o tipo de relação social. De
fato, a análise SSA nos mostrou que há uma formação de regiões de acordo com o nível espacial
227
onde elas acontecem. Na Figura 6.4 pode-se perceber a formação de duas regiões de contiguidade
mais ou menos concêntricas, o que sugeriria uma formação modular. A primeira região está
agrupando as atividades, “ir à casa de familiares”, “encontrar amigos em outros locais da cidade”,
“fazer um programa com familiares em outros locais da cidade” e “sair com amigos do
condomínio para um programa na cidade”, questões 4, 5, 6, e 15 respectivamente. Todas essas
atividades estão caracterizadas por ocorrerem distante de casa e do condomínio, são
necessariamente atividades que acontecem no restante da cidade, na rua. Essa região recebeu o
nome de “Espaço Público”, em oposição ao espaço privado, familiar de casa e do espaço do
condomínio que também é familiar.
A segunda região agrupa as questões 2, 3, 7, 16, 23, 24, 25. Essas questões estão
agrupadas pelo fato de que são atividades realizadas na casa do respondente, portanto no espaço
privado do lar: “convidar algum vizinho para vir na sua casa” (2), “convidar amigos para virem a
sua casa” (3) e “solicitar funcionários do condomínio para fazer algum serviço na sua casa” (16).
A questão “deixar as crianças brincarem na casa dos vizinhos” (7), embora aconteça fora do
espaço residencial do respondente está nesse grupo. O entendimento aqui é que isso aconteceu
porque essa atividade é entendida como provavelmente acontecendo na casa do respondente
também. As questões ajudar vizinhos que precisam de um favor” (24) e “trocar gentilezas com
vizinhos” (25) também estão localizadas nesse grupo.
228
LEGENDA: FACETA NÍVEL ESPACIAL
ESPAÇO PÚBLICO = PUB
ESPAÇO PRIVADO = PRIV
ESPAÇO COMUM (coletivo) = COM
Figura 6.4 – Projeção do SSA- para Nível Espacial (1x2 da 3D), Coeficiente de Alienação=0.17
Discussão
As regiões “Espaço Público” e “Espaço Comum” aparecem com muitas sobreposições,
isso talvez se deva ao fato de que o espaço público e o espaço coletivo sejam experienciados de
forma semelhante, onde não haja uma delimitação rígida entre os dois. Esse fato talvez aponte
229
para a comprovação de uma das hipóteses da pesquisa para a qual as pessoas entendem o espaço
comum ou coletivo como se fosse público.
Como foi mencionado anteriormente, as variáveis externas foram plotadas juntamente
com as variáveis correspondentes às questões do questionário sem detrimento da estrutura destas
últimas. A análise mostrou que existe uma diferenciação das atividades de socialização quanto ao
gênero dos respondentes. As mulheres estão mais próximas de atividades cotidianas que
envolvem parentes e o trato com crianças de forma geral. As mulheres também estão mais
próximas das atividades como “encontrar com vizinhos fazendo compras no mesmo local” e
“ajudar um vizinho”, demonstrando que estão mais próximas e envolvidas no âmbito doméstico.
Os homens, por sua vez, estão mais próximos quando respondem sobre atividades funcionais
como “ir à reunião de condomínio” e “discutir com vizinhos para resolver problemas”. As
atividades que envolvem funcionários também encontram maior correlação com respondentes
masculinos.
Quanto às questões do tipo de moradia também existem diferenças nas respostas de
socialização entre moradores de condomínios verticais e horizontais. Os moradores de
condomínio horizontal correlacionam-se mais fortemente com atividades que envolvem vizinhos
em situações de lazer como “reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana”,
“participar de festa no condomínio”, “usar áreas de lazer do condomínio” e também de atividades
envolvendo crianças como “deixar suas crianças brincarem na casa dos vizinhos” e “receber
crianças dos vizinhos para brincarem na sua casa”. Os moradores de condomínio vertical estão
mais relacionados com atividades envolvendo os funcionários do condomínio, como por
exemplo, solicitar serviços de funcionários e pedir informações aos funcionários. Também estão
mais próximos de atividades ocasionais cotidianas envolvendo vizinhos como ajudar um vizinho,
trocar gentilezas com vizinhos e cumprimentar vizinhos quando os encontra nas áreas comuns.
230
uma pequena diferenciação quanto ao regime de propriedade com relação a questões
de socialização. Os moradores proprietários estão mais próximos de atividades como participar
das reuniões de condomínio, participar de festas organizadas no condomínio, convidar um
vizinho para vir à sua casa e, por outro lado, discutir com vizinhos por causa de problemas. Ao
que parece, o fato de ser proprietário interfere no interesse em se envolver mais com as questões
do condomínio e com outros moradores. Consequentemente, havendo mais envolvimento podem
ocorrer aproximações ou conflitos entre os moradores como demonstra a ultima questão de
direção negativa às outras.
Sociabilidade – indicação da direção da frequência
Quando falamos de análise de sociabilidade umas das primeiras perguntas que surgem é
qual a atividade de sociabilidade realizada com mais frequência e qual a realizada com menos
frequência. Muito embora a média não seja um parâmetro que assegure essas respostas,
mostramos na Tabela 6.8 as médias gerais das atividades de sociabilidade que indicam uma
direção ou sentindo das repostas.
A atividade realizada com mais frequência pelos respondentes é “Cumprimentar os
vizinhos quando encontra nas áreas comuns”, foi a única atividade que obteve média 4,72,
portanto apontada como sendo realizada de “frequentemente” a “sempre”. “Cumprimentar os
vizinhos quando encontra nas áreas comuns”, apesar de ser uma atividade de rápida duração, na
qual não há, necessariamente, um envolvimento emocional aprofundado de ambos os lados,
demonstra que faz parte da rotina dos respondentes um comportamento amistoso e de simpatia
para com vizinhos em geral o que representa um importante aspecto da interação entre vizinhos
de condomínio.
231
Tabela 6.8 – Médias gerais da frequência de Atividades de Sociabilidade
Questionário – Atividades de sociabilidade
Média
Desvio
padrão
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns de seu condomínio
3,08
1,052
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
2,26
1,049
3
Chamar amigos para virem em sua casa
3,53
,945
4
Ir à casa de familiares
3,78
,946
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
3,79
,901
6
Fazer um programa com membros da família em outros lugares da cidade
3,47
1,003
7
Deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
2,43
1,155
8
Ver crianças ou jovens frequentar as áreas de recreação do condomínio
3,36
1,193
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana
1,80
,990
10
Cumprimentar os vizinhos quando encontra nas áreas comuns
4,72
,530
11
Participar de reunião para discutir questões do condomínio
2,93
1,488
12
Discutir por problemas com vizinhos
2,11
1,084
13
Participar de festa organizada no condomínio
2,32
1,291
14
Evitar conversa com vizinhos para não ter problemas com eles
1,95
1,094
15
Sair com amigos do condomínio para um programa na cidade
1,76
1,008
16
Solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em sua casa
1,96
1,063
17
Pedir aos funcionários para resolver problemas com vizinhos
1,64
,978
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar
2,81
,992
19
Participar de algum esporte na área de lazer (ou na piscina) com amigos
1,55
,804
20
Utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de aniversário ou outra
ocasião festiva
2,17
1,153
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar de olho nas crianças
1,34
,770
22
Conversar com empregados para saber das coisas que acontecem no condomínio
1,95
1,124
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em sua casa
2,40
1,418
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
3,45
1,109
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
3,74
1,107
As Atividades realizadas de “algumas vezes” a “frequentemente” são: “encontrar amigos
em outros locais da cidade”, “ir à casa de familiares”, “trocar gentilezas com vizinhos”, “convidar
amigos para vir a sua casa”, “fazer programa com familiares em lugares fora do condomínio”,
“ajudar vizinhos que precisem de algum favor”, “ver crianças e jovens frequentarem as áreas
comuns do condomínio”, “encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns do
condomínio”. Nessa categoria prevalecem as atividades que envolvem parentes e amigos para
estabelecimento de um contato mais íntimo com atividades que demandam mais tempo. As
atividades que envolvem vizinhos mais uma vez são de rápida duração provenientes de encontros
232
e cumprimentos cordiais, como trocar gentilezas e ajuda em um momento de necessidade, mas,
como era esperado, não um envolvimento mais íntimo como acontece com parente e amigos.
“Ver crianças e jovens frequentarem as áreas comuns do condomínio” confirma algumas das
observações de campo nas quais a frequência nas áreas comuns de lazer dos condomínios, em
geral, é basicamente composta por crianças e jovens e raramente por adultos.
Atividades como: “participar das reuniões de condomínio para discutir questões
importantes para o mesmo”, “encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar”, “deixar
crianças da vizinhança virem a sua casa para brincar”, “participar de festa organizada no
condomínio”,“convidar algum vizinho para vir na sua casa”, “utilizar a área de festas do
condomínio para organizar festa”, “discutir com vizinhos por causa de problemas”, são realizadas
de “raramente” a “algumas vezes” pelos respondentes. Nessa categoria, estão em sua maioria
atividades realizadas dentro do condomínio, todas envolvendo vizinhos. Confirma-se a hipótese
de que a participação nas reuniões de condomínio ainda é uma atividade pouco realizada por
moradores.
A utilização das áreas de lazer do condomínio aparece aqui como atividade pouco
realizada pelos respondentes, que são em sua totalidade adultos. Muito possivelmente, em uma
pesquisa que envolvesse jovens e crianças, a expectativa é de que a utilização das áreas de lazer e
esportes do condomínio seja bem maior.
O relacionamento com os funcionários do condomínio e relacionamento mais íntimos,
como de amizade, com vizinhos, aparecem na última categoria, ou seja, de atividades realizadas
entre “nunca” e “raramente”, são elas: “solicitar a um funcionário do condomínio para fazer
alguns serviços”, “evitar conversas com vizinhos para não ter problemas”, “conversar com
funcionários do condomínio para saber informações sobre o condomínio”, “reunir-se com
vizinhos para um programa de fim de semana”, “sair com amigos/vizinhos do condomínio para
233
um programa fora do condomínio”, “solicitar aos funcionários que resolvam problemas com
vizinhos”, “participar de algum esporte ou lazer nas áreas comuns do condomínio com amigos”,
“pedir para um vizinho tomar conta das suas crianças”.
Explorando o resultado com perfil dos respondentes – teste Kruskal-Wallis
Com o auxílio da análise SSA, foi realizada uma análise geral da relação entre as
variáveis externas com as questões do questionário. A análise que segue apresenta um
aprofundamento sobre essa relação através de um teste não paramétrico, o Kruskal-Wallis. É
importante dizer que, diferentemente da tabela anterior, esse teste demonstra não necessariamente
as atividades mais realizadas mais sim aquelas atividades onde uma diferença significativa
entre os grupos, nesse caso homens e mulheres (ver tabela 6.9).
Os resultados da aplicação do teste Kruskal-Wallis, relacionando as questões de
sociabilidade com a variável gênero, demonstrou que existem diferenças significativas entre
homens e mulheres com relação às questões “fazer um programa com membros da família em
outros lugares da cidade” (6), “deixar as crianças brincarem na casa de vizinhos” (7), “participar
de reunião para discutir questões do condomínio” (11), “discutir com vizinhos por causa de
problemas” (12), “encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar” (12), “deixar as crianças
da vizinhança virem em sua casa” (23) e “ajudar vizinhos que precisam de algum favor” (24), ver
Tabelas 6.9 e 6.10. Esses resultados confirmam a análise SSA feita previamente na qual se
relacionou as variáveis externas com as questões do questionário. De certa forma, essas
atividades concordam com o perfil de algumas mulheres, como por exemplo, atividade
envolvendo o cuidado com as crianças e a prestação de ajuda a um vizinho, uma vez que as
mulheres passam mais tempo em casa e cuidando das crianças do que os homens. Os Homens,
234
por sua vez, exercem mais atividades como frequentar as reuniões de condomínio e discutir mais
com vizinhos por causa de problemas.
Tabela 6.9 – Análise Kruskal-Wallis Sociabilidade segundo Gênero (P < .05)
Questionário – Atividades de Sociabilidade
df
p
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns de seu condomínio
,214
1
,644
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
,675
1
,411
3
Chamar amigos para virem em sua casa
,418
1
,518
4
Ir à casa de familiares
,218
1
,641
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
,608
1
,436
6
Fazer um programa com membros da família em outros lugares da cidade
10,660
1
,001
7
Deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
8,407
1
,004
8
Ver crianças ou jovens frequentar as áreas de recreação do condomínio
2,668
1
,102
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana
,009
1
,925
10
Cumprimentar os vizinhos com encontra nas áreas comuns
1,272
1
,259
11
Participar de reunião para discutir questões do condomínio
5,829
1
,016
12
Discutir por problemas com vizinhos
4,972
1
,026
13
Participar de festa organizada no condomínio
,801
1
,371
14
Evitar conversa com vizinhos para não ter problemas com eles
,110
1
,740
15
Sair com amigos do condomínio para um programa na cidade
1,287
1
,257
16
Solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em sua casa
3,110
1
,078
17
Pedir aos funcionários para resolver problemas com vizinhos
1,573
1
,210
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar
4,887
1
,027
19
Participar de algum esporte na área de lazer (ou na piscina) com amigos
,188
1
,665
20
Utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de aniversário ou
outra ocasião festiva
,193
1
,661
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar de olho nas crianças
,008
1
,928
22
Conversar com empregados para saber das coisas que acontecem no
condomínio
1,529
1
,216
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em sua casa
4,838
1
,028
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
5,407
1
,020
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
1,951
1
,163
Tabela 6.10 – Análise Kruskal-Wallis de Sociabilidade e gênero segundo médias dos grupos.
Feminino Masculino Total
Questionário – Atividades de Sociabilidade
Média
Desvio
padrão Média
Desvio
padrão
Média
Desvio
padrão
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas
comuns de seu condomínio
3,10
1,142
3,17
,822
3,13
1,021
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
2,42
1,167
2,14
,944
2,31
1,087
3
Chamar amigos para virem em sua casa
3,49
,912
3,60
,881
3,53
,896
4
Ir à casa de familiares
3,79
,906
3,66
1,056
3,74
,965
235
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
3,91
,861
3,74
,852
3,84
,856
6
Fazer um programa com membros da família em
outros lugares da cidade
3,70
,992
3,03
,891
3,43
1,003
7
Deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
2,87
1,189
2,14
,944
2,57
1,148
8
Ver crianças ou jovens frequentar as áreas de
recreação do condomínio
3,58
1,184
3,17
1,224
3,42
1,210
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de fim
de semana
1,79
,915
1,83
1,071
1,80
,975
10
Cumprimentar os vizinhos com encontra nas
áreas comuns
4,77
,505
4,65
,597
4,72
,543
11
Participar de reunião para discutir questões do
condomínio
2,57
1,435
3,34
1,514
2,88
1,507
12
Discutir por problemas com vizinhos
1,91
1,024
2,46
1,197
2,13
1,123
13
Participar de festa organizada no condomínio
2,42
1,351
2,17
1,317
2,32
1,335
14
Evitar conversa com vizinhos para o ter
problemas com eles
2,02
1,152
1,89
,993
1,97
1,088
15
Sair com amigos do condomínio para um
programa na cidade
1,91
1,114
1,63
,973
1,80
1,063
16
Solicitar funcionários do condomínio para fazer
alguns serviços em sua casa
2,19
1,161
1,74
,919
2,01
1,088
17
Pedir aos funcionários para resolver problemas
com vizinhos
1,79
1,054
1,51
,818
1,68
,970
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo
lugar
2,98
,930
2,46
1,010
2,77
,991
19
Participar de algum esporte na área de lazer (ou
na piscina) com amigos
1,60
,768
1,60
,914
1,60
,824
20
Utilizar a área de festas do condomínio para
organizar festa de aniversário ou outra ocasião
festiva
2,26
1,163
2,17
1,224
2,23
1,182
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar de
olho nas crianças
1,38
,932
1,29
,572
1,34
,804
22
Conversar com empregados para saber das
coisas que acontecem no condomínio
1,83
1,115
2,11
1,207
1,94
1,155
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em sua
casa
2,73
1,523
2,00
1,181
2,44
1,436
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
3,69
1,076
3,11
1,078
3,46
1,108
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
3,85
,949
3,46
1,221
3,69
1,076
A análise Kruskal-Wallis demonstrou que há diferenças significativas para as atividades
de sociabilidade, 7, 9, 13, 16, 18, 19, 23 com relação ao tipo de moradia, ou seja, há uma
diferença de comportamento entre os moradores de casa em condomínio e os moradores de
apartamento em condomínio, com relação às atividades supracitadas, ver tabelas 6.11 e 6.12. Os
moradores de casa em condomínio diferenciam-se dos moradores de apartamento em condomínio
porque realizam com mais frequência atividades como: deixar crianças brincarem na casa dos
vizinhos, reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana, participar de festa
236
organizada no condomínio, encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar, participar de
algum esporte na área de lazer (ou na piscina) com amigos, deixar as crianças da vizinhança
virem em sua casa. Nota-se um tipo de sociabilidade diferenciado, atividades envolvendo um
contato mais íntimo com vizinhos, tanto de adultos como de crianças. A utilização das áreas
comuns do condomínio seja para festas, seja para atividade de lazer estabelece um padrão
diferenciado de sociabilidade entre moradores de casa e apartamento em condomínios no
universo desta pesquisa.
Solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em seu lar é a única
atividade que os moradores de apartamento realizam mais do que os moradores de casa. Essa
atividade é compatível com o fato de que é mais fácil o contato entre moradores e funcionários
em apartamentos por causa da própria concepção do espaço.
Tabela 6.11 – Análise Kruskal-Wallis Sociabilidade segundo Tipo de Moradia (P < .05)
Questionário – Atividades de Sociabilidade
df
p
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns de seu condomínio
,174
1
,676
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
1,797
1
,180
3
Chamar amigos para virem em sua casa
,013
1
,911
4
Ir à casa de familiares
,010
1
,921
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
,474
1
,491
6
Fazer um programa com membros da família em outros lugares da cidade
2,537
1
,111
7
Deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
7,057
1
,008
8
Ver crianças ou jovens frequentar as áreas de recreação do condomínio
2,958
1
,085
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana
6,969
1
,008
10
Cumprimentar os vizinhos com encontra nas áreas comuns
,704
1
,401
11
Participar de reunião para discutir questões do condomínio
1,129
1
,288
12
Discutir por problemas com vizinhos
,733
1
,392
13
Participar de festa organizada no condomínio
15,837
1
,000
14
Evitar conversa com vizinhos para não ter problemas com eles
,369
1
,544
15
Sair com amigos do condomínio para um programa na cidade
,531
1
,466
16
Solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em sua casa
4,419
1
,036
17
Pedir aos funcionários para resolver problemas com vizinhos
,001
1
,980
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar
4,739
1
,029
19
Participar de algum esporte na área de lazer (ou na piscina) com amigos
7,980
1
,005
20
Utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de aniversário ou outra
ocasião festiva
2,596
1
,107
237
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar de olho nas crianças
3,723
1
,054
22
Conversar com empregados para saber das coisas que acontecem no condomínio
,510
1
,475
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em sua casa
15,353
1
,000
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
,362
1
,547
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
,044
1
,834
Tabela 6.12 – Análise Kruskal-Wallis mostrando as médias separadas por Sociabilidade e o Tipo de moradia do
respondente
Condomínio
Vertical
Condomínio
Horizontal Total
Questionário – Atividades de Sociabilidade
média
Desvio
Padrão Media
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas
comuns de seu condomínio
3,07
1,106
3,18
,728
3,08
1,052
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
2,22
1,089
2,47
,800
2,26
1,049
3
Chamar amigos para virem em sua casa
3,52
,986
3,59
,712
3,53
,945
4
Ir à casa de familiares
3,79
,982
3,76
,752
3,78
,946
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
3,81
,923
3,65
,786
3,79
,901
6
Fazer um programa com membros da família
em outros lugares da cidade
3,40
,992
3,82
1,015
3,47
1,003
7
Deixar crianças brincarem na casa dos
vizinhos
2,30
1,122
3,12
1,111
2,43
1,155
8
Ver crianças ou jovens frequentar as áreas de
recreação do condomínio
3,28
1,218
3,82
,951
3,36
1,193
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de
fim de semana
1,71
,968
2,29
,985
1,80
,990
10
Cumprimentar os vizinhos com encontra nas
áreas comuns
4,75
,459
4,53
,800
4,72
,530
11
Participar de reunião para discutir questões
do condomínio
2,87
1,552
3,29
1,047
2,93
1,488
12
Discutir por problemas com vizinhos
2,09
1,118
2,24
,903
2,11
1,084
13
Participar de festa organizada no condomínio
2,10
1,206
3,47
1,125
2,32
1,291
14
Evitar conversa com vizinhos para não ter
problemas com eles
1,94
1,135
2,00
,866
1,95
1,094
15
Sair com amigos do condomínio para um
programa na cidade
1,72
,995
1,94
1,088
1,76
1,008
16
Solicitar funcionários do condomínio para
fazer alguns serviços em sua casa
2,04
1,059
1,53
1,007
1,96
1,063
17
Pedir aos funcionários para resolver
problemas com vizinhos
1,65
1,001
1,59
,870
1,64
,978
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no
mesmo lugar
2,72
,960
3,29
1,047
2,81
,992
19
Participar de algum esporte na área de lazer
(ou na piscina) com amigos
1,47
,767
2,00
,866
1,55
,804
20
Utilizar a área de festas do condomínio para
organizar festa de aniversário ou outra ocasião
festiva
2,24
1,164
1,76
1,033
2,17
1,153
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar
de olho nas crianças
1,30
,745
1,59
,870
1,34
,770
22
Conversar com empregados para saber das
coisas que acontecem no condomínio
1,94
1,171
2,00
,866
1,95
1,124
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em
sua casa
2,16
1,329
3,65
1,222
2,40
1,418
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
3,42
1,122
3,59
1,064
3,45
1,109
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
3,72
1,138
3,82
,951
3,74
,107
238
A análise Kruskal-Wallis demonstrou que há diferenças significativas para as atividades
de sociabilidade, 2, 11, 12 e 13 com relação à Condição de Moradia (Propriedade), ou seja, a
realização destas atividades diferencia Proprietários e Não-proprietários. Por exemplo,
Proprietários convidam mais os vizinhos para virem em suas casas, participam mais das reuniões
de condomínio, discutem mais com vizinhos e utilizam mais o salão de festas do condomínio
para organizarem festas do que Não-proprietários.
Tabela 6.13 – Análise Kruskal-Wallis Sociabilidade segundo Condição de Moradia (P < .05)
Questionário – Atividades de Sociabilidade
df
p
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns de seu condomínio
3,094
1
,079
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
6,532
1
,011
3
Chamar amigos para virem em sua casa
2,092
1
,148
4
Ir à casa de familiares
,704
1
,402
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
1,169
1
,280
6
Fazer um programa com membros da família em outros lugares da cidade
,685
1
,408
7
Deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
,527
1
,468
8
Ver crianças ou jovens frequentar as áreas de recreação do condomínio
,773
1
,379
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana
,207
1
,649
10
Cumprimentar os vizinhos com encontra nas áreas comuns
2,343
1
,126
11
Participar de reunião para discutir questões do condomínio
7,319
1
,007
12
Discutir por problemas com vizinhos
4,375
1
,036
13
Participar de festa organizada no condomínio
11,158
1
,001
14
Evitar conversa com vizinhos para não ter problemas com eles
,233
1
,629
15
Sair com amigos do condomínio para um programa na cidade
,102
1
,750
16
Solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em sua casa
1,546
1
,214
17
Pedir aos funcionários para resolver problemas com vizinhos
,155
1
,694
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar
,896
1
,344
19
Participar de algum esporte na área de lazer (ou na piscina) com amigos
3,638
1
,056
20
Utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de aniversário ou outra
ocasião festiva
3,237
1
,072
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar de olho nas crianças
,328
1
,567
22
Conversar com empregados para saber das coisas que acontecem no condomínio
1,359
1
,244
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em sua casa
,014
1
,906
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
,832
1
,362
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
,150
1
,699
239
Tabela 6.14 – Análise Kruskal-Wallis de Sociabilidade mostrando as médias separadas por Condição de Moradia do
respondente
Não Próprio Próprio Total
Questionário – Atividades de Sociabilidade
Media
Desvio
padrão Media
Desvio
padrão Media
Desvio
padrão
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas
comuns de seu condomínio
2,75
,928
3,21
1,073
3,08
1,052
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
1,86
1,008
2,41
1,032
2,26
1,049
3
Chamar amigos para virem em sua casa
3,29
1,150
3,62
,852
3,53
,945
4
Ir à casa de familiares
3,63
1,115
3,84
,883
3,78
,946
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
3,96
,999
3,72
,861
3,79
,901
6
Fazer um programa com membros da família em
outros lugares da cidade
3,32
1,249
3,52
,904
3,47
1,003
7
Deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
2,29
1,150
2,49
1,159
2,43
1,155
8
Ver crianças ou jovens frequentar as áreas de
recreação do condomínio
3,14
1,380
3,44
1,118
3,36
1,193
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de
fim de semana
1,79
1,101
1,81
,954
1,80
,990
10
Cumprimentar os vizinhos com encontra nas
áreas comuns
4,86
,356
4,67
,574
4,72
,530
11
Participar de reunião para discutir questões do
condomínio
2,29
1,384
3,16
1,463
2,93
1,488
12
Discutir por problemas com vizinhos
1,75
,928
2,24
1,112
2,11
1,084
13
Participar de festa organizada no condomínio
1,59
,747
2,57
1,346
2,32
1,291
14
Evitar conversa com vizinhos para não ter
problemas com eles
1,96
1,319
1,95
1,011
1,95
1,094
15
Sair com amigos do condomínio para um
programa na cidade
1,71
1,049
1,77
,999
1,76
1,008
16
Solicitar funcionários do condomínio para fazer
alguns serviços em sua casa
1,75
,967
2,04
1,091
1,96
1,063
17
Pedir aos funcionários para resolver problemas
com vizinhos
1,74
1,095
1,61
,939
1,64
,978
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo
lugar
2,64
1,026
2,87
,979
2,81
,992
19
Participar de algum esporte na área de lazer
(ou na piscina) com amigos
1,29
,535
1,65
,863
1,55
,804
20
Utilizar a área de festas do condomínio para
organizar festa de aniversário ou outra ocasião
festiva
1,82
,983
2,29
1,189
2,17
1,153
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar de
olho nas crianças
1,23
,514
1,38
,837
1,34
,770
22
Conversar com empregados para saber das
coisas que acontecem no condomínio
1,75
1,041
2,03
1,151
1,95
1,124
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em sua
casa
2,37
1,418
2,41
1,427
2,40
1,418
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
3,26
1,228
3,51
1,066
3,45
1,109
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
3,61
1,286
3,78
1,040
3,74
1,107
A análise Kruskal-Wallis demonstrou que diferenças significativas para as atividades
de socialização, 2 (P= .025), 9 (P= .037), 13 (P= .038) e 15(P= .012) com relação ao Tempo de
Moradia, ou seja, quem tem mais tempo de moradia convida mais os vizinhos para virem às suas
240
casas, reúnem-se mais com vizinhos para um programa de fim-de-semana, participam mais de
festas organizadas no condomínio, saem mais com amigos para um programa fora do condomínio
(ver anexo 4).
EXPERIÊNCIAS FORMAIS DE COLETIVIDADE
Outra informação foi julgada necessária e foi incorporada no questionário para aferir a
frequência de sua ocorrência: a participação dos moradores nas reuniões de condomínio
(assembléias ordinárias e extraordinárias) e o nível de conhecimento acerca das normas que
regulam os condomínios. Consideramos que esses aspectos são indispensáveis para uma boa
convivência em condomínios.
Face aos relatos da crescente presença de transgressões nos condomínios, hipotetizamos
que
provavelmente os moradores de condomínios residenciais desconheciam as normas e regimentos
gerais que regem os condomínios. Também hipotetizamos que os moradores frequentavam pouco as
reuniões de condomínio, o que contribuiria para a presença de moradores não atentos ao fato de morarem
em um lugar onde a coletividade é uma característica marcante, onde as ações e problemas precisam ser
decididos coletivamente.
De acordo com os resultados, a participação nas reuniões de condomínio é realmente
pouca, sendo que 27.59% dos respondentes declaram que nunca atendem às reuniões, 20%
declaram que raramente vão às reuniões, 15.86% declaram que frequentam às vezes, o mesmo
percentual declara que frequentemente participa e 20.69% declaram que sempre atendem às
reuniões de condomínio.
241
As reuniões de condomínio são ocasiões onde os assuntos do condomínio são discutidos.
Esses assuntos são de interesse de todos porque as decisões tomadas democraticamente terão que
ser acatadas por todos. Abster-se de participar a votar nas questões importantes demonstra
desinteresse nas questões importantes para a vida em coletividade dentro do condomínio.
Gráfico 7.1- Participação nas reuniões de condomínio
reunião
semprefrequentementeas vezesraramentenunca
Percentual
30
20
10
0
20.69%
15.86%15.86%
20.00%
27.59%
reunião
Contradizendo a hipótese inicial de que os moradores conheciam pouco a respeito das
normas reguladoras do condomínio, os respondentes declararam conhecer bem sobre o
Regimento e a Convenção do condomínio: 47.2% leram partes dessas normas e 20.1%
consultam sempre. A lei de Condomínio é menos conhecida do que o Regimento e a Convenção
– que são específicos para cada condomínio – 36.1% dos moradores nunca ouviram falar e 36.8%
ouviram falar dessa lei. Um percentual semelhante pode-se verificar quanto ao conhecimento
do Código Civil Brasileiro o qual 35.2% dos entrevistados ouviram falar, 23.4% leram
242
partes e 10.3% consultam sempre. Considerando que a amostra trata em grande parte de pessoas
com escolaridade de nível superior, com acesso mais fácil à informação de forma geral,
consideramos que o conhecimento geral com relação às normas que regulam o condomínio ainda
é pouco.
Tabela 6.15 – Conhecimento dos moradores sobre as normas do condomínio
Normas reguladoras do
condomínio
Grau de conhecimento
(1)
nunca ouviu
falar
(2)
já ouviu
falar
(3)
já leu
partes
(4)
consulta
sempre
Convenção e Regimento
11.1% 21.5%
47.2%
20.1%
Lei de Condomínio 36.1%
36.8%
19.4% 7.6%
Código Civil 31.0%
35.2%
23.4% 10.3%
Morar em condomínio é morar coletivamente. Portanto, o esperado seria que os
moradores construíssem essa coletividade de forma sadia e democrática. O Regimento Interno e a
Convenção do Condomínio são normas criadas pelos próprios moradores do condomínio, é uma
forma de pacto coletivo. Tanto o Regimento como a Convenção são normas flexíveis e passíveis
de adaptações, atualizações e modificações sempre. Basta apenas que haja necessidade para isso e
que seja respeitado o quorum mínimo para implementar tais modificações.
Desconhecer essas normas significa não estar atento às normas estabelecidas
democraticamente por uma maioria e que são imprescindíveis para uma vida coletiva harmônica.
A garantia de que todos irão agir de acordo com tais regras estabelecidas pelo grupo garante
também um mínimo de segurança ordenada. Não conhecer tais normas não isenta a pessoa da
obrigação de respeitá-las o que pode gerar problemas de convivência, conforme essa pesquisa
tem demonstrado.
243
No tópico a seguir passaremos a explorar o entendimento de como os respondentes
experienciam e julgam situações de transgressão dentro e fora do condomínio. Acreditamos que,
entendendo como os moradores lidam com a transgressão, possamos entender a estrutura da
transgressão em condomínios.
CAPÍTULO 7
OCORRÊNCIA E JULGAMENTO DE TRANSGRESSÕES
SOCIAIS EM CONDOMINIOS RESIDENCIAIS
245
INTRODUÇÃO
Seguindo os objetivos deste estudo de investigar como moradores com diversas
experiências residenciais reagem a questões cotidianas assim como a problemas advindos da
sociabilidade, este capítulo discute a ocorrência de transgressões sociais, mais precisamente, com
que frequência são percebidas e como são avaliadas pelos moradores de condomínio.
A percepção sobre a ocorrência de atos anti-sociais considerados transgressões, pode nos
fornecer informações relevantes sobre a experiência da vida cotidiana das pessoas com seus
vizinhos ou o grupo com quem compartilham espaços comuns e coletivos. As transgressões serão
enfocadas de duas maneiras: inicialmente analisa-se a percepção de ocorrência dos atos de
transgressão, ou seja, com que frequência as pessoas relatam presenciar estes atos. Em seguida,
busca-se saber como as pessoas reagem a tais atos, como avaliam e julgam a presença dos
mesmos em seus espaços residenciais e outros lugares da cidade.
Foi solicitado aos respondentes que examinassem cada questão descrevendo atos de
transgressões, definidos conforme procedimento apresentado no capítulo metodológico, e
apresentassem um julgamento moral que refletisse como consideravam a gravidade de tais atos.
Assim, solicitou-se um julgamento, onde deveria ser indicado o grau de punição que cada
transgressão mereceria.
Este capítulo apresenta ainda aprofundamentos sucessivos nas análises estatísticas
buscando comprovar a relação de diversos fatores externos na conformação dos resultados.
Perseguem-se assim medidas de significância e testes capazes de comprovar que as relações
originalmente estabelecidas como hipóteses, são de fato robustas e o advindas de alguma
probabilidade extemporânea.
246
A ESTRUTURA DA TRANSGRESSÃO EM CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS
As transgressões sociais apresentadas nessa pesquisa foram tipificadas de acordo com a
metodologia utilizada nas investigações anteriores. Para determinar os tipos de transgressão a
serem trabalhados, assim como outros fatores importantes para seu estabelecimento, foi
necessário partir de uma teoria claramente especificada. Assim definiu-se uma sentença
estruturadora contendo facetas que a priori constituiriam ou determinariam as situações de
transgressão. Uma faceta, chamada de “Referente” das transgressões, delimita um universo por
natureza amplo e o restringe a cinco elementos capazes de classificar transgressões sociais que
ocorrem em locais residenciais como transgressões de ordem: financeira, sensorial, espacial,
ambiental e social.
Uma segunda faceta determina o “Foco” das transgressões, ou seja, considera as mesmas
conforme o nível de sua gravidade, que em uma conjectura inicial refletia três variantes de
transgressões: leves, regulares e graves.
A terceira e última faceta considera que um elemento importante da situação onde
acontecem transgressões é o espaço, o lócus de tais experiências. Assim, chamou-se de “Nível
Espacial” a faceta que estabelece a escala dos locais onde podem ser originadas as transgressões
cotidianas em espaços residenciais. Dessa forma, considerando que a experiência da transgressão
é pessoal, foram identificados um conjunto de espaços desde os mais próximos e privados até os
mais distantes ou públicos. A faceta apresenta três níveis espaciais de experiência: o espaço
privado, o espaço comum ou coletivo no interior de um condomínio e o espaço público da rua, ou
da cidade.
Como mencionado, o público respondente não pode ser caracterizado pela paciência e
disponibilidade de tempo para responder questionários. A opção final de pesquisa pela internet
247
foi mais um motivo para apresentar um instrumento não muito longo, mas suficiente para
recolher as informações requeridas. Portanto, foi estruturado um questionário com respostas
fechadas conforme apresentado no capítulo 5. O questionário indica 25 situações construídas a
partir da sentença estruturadora das facetas, sendo cada questão a expressão em linguagem
comum dos elementos de cada faceta.
As mesmas situações foram utilizadas tanto nas perguntas sobre a frequência em que tais
atos eram percebidos no dia a dia, como no julgamento das punições para cada situação. Com
isso poderemos comparar as percepções e julgamento de ações transgressoras conforme a
experiência de moradores em apartamentos em condomínios verticais e em casas em
condomínios horizontais.
A OCORRÊNCIA DE TRANSGRESSÕES SOCIAS NOS CONDOMÍNIOS
A estrutura de um fenômeno apresentada em uma projeção, mostra a configuração geral
das relações entre todos os elementos. Estes podem se distribuir ou reunir-se em clusters, com
diversas formas, tamanho, densidade, centralidade e regiões. A primeira análise a ser apresentada
neste capítulo é a analise multidimensional dos dados SSA (Similarity Structure Analysis). Esta
análise apresenta a correlação interna de todos os itens do questionário, que são então localizados
em um espaço euclidiano segundo a proximidade entre os itens. Assim, os pontos localizados
próximos uns aos outros guardam maior correlação entre si e as posições dos pontos no espaço
formam regiões chamadas de regiões de contiguidade.
248
As projeções dos dados em um espaço geométrico são analisadas segundo cada uma das
facetas que estruturam as questões. Deste modo, pode-se verificar se as respostas fornecidas por
todos os respondentes corroboram a existência das facetas e quais as relações entre elas.
O papel do espaço na determinação da estrutura de percepção da transgressão
A primeira faceta analisada foi a “Referente” das ações de transgressão. Essa faceta parte
da hipótese de que a natureza das transgressões seria um fator que explicaria como os
respondentes percebem as situações de transgressão, ou seja, as pessoas perceberiam
transgressões ambientais, sociais, espaciais, sensoriais e financeiras diferentemente.
Considerávamos que, pelo menos, as pessoas perceberiam da mesma forma as transgressões de
mesma natureza. Contudo, a projeção SSA para essa faceta não demonstrou nenhuma relação
entre o tipo de transgressão e a frequência com que são observadas pelos respondentes, ou seja,
independe da natureza financeira, sensorial, espacial, ambiental ou social das ações, a frequência
com que as transgressões são percebidas.
A segunda faceta analisada foi a faceta que estabelece um foco de intensidade das
transgressões. Acreditávamos que o nível de gravidade da transgressão (leve, regular ou grave)
pudesse afetar a frequência de observação das transgressões pelos respondentes. Por exemplo,
que as transgressões percebidas como mais frequentes fossem as graves e, analogamente, as
transgressões mais leves fossem percebidas como menos frequentes. Contudo, os dados
empíricos tampouco comprovam tal premissa.
Após a constatação de que as duas facetas iniciais não explicavam a percepção de
ocorrência das transgressões por parte dos respondentes surgiu o questionamento se haveria algo
que realmente pudesse explicar as diferentes formas de observação de transgressões dos
249
respondentes. O resultado da análise da última faceta, referente ao Nível Espacial, produziu
conhecimentos interessantes.
A Figura 7.1 apresenta a projeção do SSA referente ao Nível Espacial de ocorrência das
transgressões. Surpreendentemente, o lugar onde a transgressão ocorre determina uma diferença
na frequência com que os respondentes dizem presenciar tais situações. A análise da projeção do
SSA mostra uma conformação axial onde se nota a presença de duas regiões. É bom relembrar
que segundo as leis regionais de estruturação de dados multidimensionais ordinais, a divisão axial
pode indicar uma estrutura com ordem, ou seja, a divisão de regiões hierarquicamente diferentes.
Na primeira região, localizada acima e à esquerda da projeção, estão localizadas as
situações de transgressão que ocorrem em espaços públicos, portanto fora dos condomínios. Na
segunda região, localizada à direita e um pouco abaixo da primeira, estão todas as questões que
envolvem as situações de transgressão que ocorrem dentro do condomínio, no espaço comum e
no espaço privado das residências. Podemos perceber que a segunda região abriga elementos de
duas facetas ao mesmo tempo, mas que podem eventualmente ser subdivididos. Na primeira sub-
região, localizada à direita da primeira região, estão as questões que ocorrem no espaço comum
do condomínio, na segunda sub-região, localizada à direita dessa última, estão projetadas
questões que, mais uma vez, ocorrem dentro do condomínio, mas em ambos os espaços, comum e
privado.
250
LEGENDA: FACETA NÍVEL ESPACIAL
ESPAÇO PÚBLICO = PUB
ESPAÇO PRIVADO = PRIV
ESPAÇO COMUM (coletivo) = COM
Figura 7.1 – Projeção do SSA, para Nível Espacial (1x3 - 3D), Coeficiente de Alienação=0.14
LEGENDA para as figuras do SSA relativas às questões de percepção da ocorrência de transgressões e julgamento
das transgressões:
1
Morador que atrasa o pagamento da taxa de condomínio
2
Morador que possui um cão dentro de casa que late durante o dia
3
Morador que possui um cão dentro de casa que late durante a noite
4
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante o dia
5
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante a noite
6
Morador que realiza reformas em casa a noite ou finais de semana
7
Crianças que quebram equipamentos das áreas comuns do condomínio
8
Barulho de crianças (brincando, gritando) nas áreas comuns do condomínio
9
Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio, nos finais de semana durante
251
o dia
10
Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio, nos finais de semana durante
a noite
11
Morador que estaciona veículo no condomínio em vaga de outro morador
12
Morador que toma posse ou faz construção em áreas comuns do condomínio onde reside
13
Morador que sai para passear com cão dentro do condomínio e não recolhe a sujeira do animal
14
Morador que deixa a mangueira ligada enquanto lava veículo no condomínio
15
Morador que faz fofoca sobre outros moradores
16
Morador que joga lixo nas áreas comuns do condomínio
17
Pessoa que atrasa o pagamento da conta de energia elétrica ou de água
18
Pessoa que realiza ligação clandestina de água ou luz
19
Pessoa que não paga pagamento do IPTU
20
Barulho de carros de som fazendo propagandas nas ruas
21
Casa de festa que realiza eventos com música em alto volume em áreas residenciais
22
Pessoa que estaciona em local proibido na rua
23
Estabelecimento comercial que utiliza a calçada para benefício próprio
24
Pessoa que joga lixo no chão da rua
25
Pessoa que sai com o cão para passear na rua e não recolhe a sujeira do animal
VARIÁVEIS E
XTERNAS
Condo.H Moradores de condomínios horizontais
Condo.V Moradores de condomínios verticais
Prop. Morador proprietário do imóvel onde reside
N-prop Morador não proprietário do imóvel onde reside
Masc. Pessoa do sexo masculino
Fem. Pessoa do sexo feminino
Na primeira região denominada Espaço Público, estão agrupadas todas as questões
referentes a situações de transgressão ocorridas fora do espaço do condomínio, são elas: “barulho
de carros de som fazendo propagandas nas ruas” (20), “casa de festa que realiza eventos com
música alta” (21), “pessoa que estaciona em local proibido na rua” (22), “estabelecimento
comercial que utiliza a calçada para benefício próprio” (23), “pessoa que joga lixo no chão da
rua” (24) e “pessoa que sai com o cão para passear na rua e não recolhe a sujeira do animal” (25).
Esta estrutura demonstra que as atividades classificadas no início da pesquisa como espaço
público na faceta “Nível Espacial” foram realmente consideradas pelos respondentes de forma
similar porque estão agrupadas em uma região e guardam uma relação de proximidade entre si.
Essa região está numa posição que sugere certa hierarquia com relação à segunda região de
elementos de espaço comum e privado. A direção desta ordem hierárquica pode indicar que os
252
componentes da primeira região, estão sendo vistos como ocorrendo com mais frequência que as
da segunda região.
Na segunda região desta projeção, que foi denominada Espaço Privado, estão localizadas
transgressões como a do “morador que atrasa o pagamento da taxa de condomínio” (1) que é uma
questão à parte porque não mantém proximidade com nenhuma outra, significando que não é
vista de forma como as outras transgressões. A questão “pessoa que não paga o IPTU” (19) foi
originalmente classificada com relacionada ao elemento “Espaço Público”, porém, a localização
da questão na estrutura dos dados mostrou que ela está mais próxima das questões relacionadas
com o elemento “Espaço Privado” sendo, portanto, considerada como semelhante às questões
privadas. Pode indicar também que a atitude de não pagar o IPTU é uma decisão privada mesmo
que afete a todos como um problema público.
A segunda região apresenta uma tênue subdivisão dos elementos “Espaço Comum” e
“Espaço Privado”, o que pode sugerir que há pouca distinção entre transgressões ocorrendo
dentro do condomínio. Tal fato vem corroborar o que foi apresentado no capítulo anterior sobre
sociabilidade e, consequentemente, uma das hipóteses iniciais desta pesquisa que sugeria que o
espaço comum ou coletivo do condomínio era percebido de forma ambivalente pelos moradores
que ora se comportavam como se esse espaço fosse privado portanto, de propriedade exclusiva
e passível de ser utilizado arbitrariamente e ora se comportavam como se o espaço fosse
público o que nos trás à tona a questão da pouca valorização do espaço público, de forma geral
pela sociedade Brasileira.
Discussão
A análise de percepção da ocorrência das transgressões indica a presença de uma estrutura
axial ordenada para a faceta “Nível Espacial”, o que significa que estas desenvolvem um papel
253
ativo na percepção da frequência com que as situações de transgressão são percebidas pelos
respondentes.
A concepção inicial da influência de aspectos como a natureza das transgressões (Facetas
Referente) e a gravidade das ações (Faceta Foco) não encontraram respaldo empiricamente.
Contudo, a faceta Nível Espacial demonstrou ter respaldo empírico, ou seja, as respostas
produzidas pela amostra de moradores de condomínios mostraram uma estrutura na percepção de
ocorrências considerando o local onde as transgressões acontecem. As transgressões que ocorrem
no espaço público, fora do condomínio, são percebidas de modo diferente do que as transgressões
que ocorrem dentro do espaço do condomínio, em espaços residenciais tanto privados como
coletivos ou comuns.
É importante perceber que há uma divisão clara entre o espaço fora do condomínio e o
espaço dentro do condomínio. No entanto, o espaço dentro do condomínio é percebido de forma
semelhante, havendo apenas uma tênue diferenciação entre os espaços privados e coletivos. Isto
pode estar demonstrando que a percepção do espaço coletivo confunde-se com a percepção do
espaço privado o que corroboraria parte da hipótese inicial da pesquisa para a qual o espaço
coletivo é percebido como espaço privado sendo, portanto, tratados como tal.
Esta discussão nos leva a perguntar se os respondentes tendem a perceber com mais
frequência aquilo que os incomoda mais. Outro ponto sugerido pelas questões levantadas nos
capítulos anteriores questiona se perceber com mais frequência as situações de transgressão que
ocorrem fora do condomínio significaria considerar com maior leniência as transgressões que
ocorrem dentro do espaço do condomínio. As análises sobre o julgamento dos respondentes que
serão feitas nesse capítulo procuram responder a essas questões.
254
A relação das variáveis externas com a estrutura dos dados
A análise SSA, como foi mencionada anteriormente, apresenta uma estruturação dos
dados, no caso, as questões do questionário revelando as proximidades de todos os itens entre si.
Esta análise permite também anexar variáveis externas segundo suas correlações com as questões
do questionário e que são localizadas nos espaços de dados. É importante ressaltar que as
variáveis externas não fazem parte da estrutura e nem alteram sua conformação.
Na figura 7.1 podemos ver que as variáveis externas estão próximas umas das outras e
agrupadas no centro da projeção. Isso significa que proprietários e não proprietários, homens e
mulheres, com diferentes tempos de moradia não apresentam diferenciações com relação à
percepção das transgressões. Apenas as variáveis referentes ao “Tipo de Moradia” demonstram
estarem polarizadas com relação às regiões de respostas. Isto indica que há diferença de
percepção entre os moradores de condomínios verticais (apartamentos) e condomínios
horizontais (casas) quando se trata da frequência de observação das transgressões.
Os moradores de condomínio horizontal estão mais relacionados com a percepção de
transgressões que ocorrem dentro do espaço do condomínio como as questões: 13 “morador que
sai para passear com o cão dentro do condomínio e não recolhe a sujeira do animal”, 12 “morador
que toma posse ou faz construção em áreas comuns do condomínio onde reside”, 14 “morador
que deixa a mangueira ligada enquanto lava o veículo no condomínio” e as questões 4, 5 e 10
envolvendo barulho de som e festa durante o dia e durante a noite no condomínio.
Os moradores de condomínios verticais, por sua vez, estão mais relacionados com a
observação de transgressões que ocorrem na rua (questões 20, 21, 22, 23, 24 e 25) e de
transgressões como “morador que faz fofoca sobre outros moradores” (15), esse tipo de
transgressão é propiciado pela proximidade física própria da disposição vertical e
255
compartilhamento de áreas que ocorrem em condomínios verticais onde muitas vezes estar
próximo aos vizinhos e saber o que acontece em suas residências ocorre quase involuntariamente.
A observação da transgressão
A tabela 7.1 apresenta os resultados das médias gerais das respostas dadas ao questionário
sobre a observação da ocorrência de transgressões. Cada item podia ser respondido em uma
escala de 1 a 5, sendo (1) nunca, (2) raramente, (3) algumas vezes, (4) frequentemente e (5)
sempre. Sendo assim, respondendo a uma pergunta “qual a transgressão percebida como mais
frequente?” demonstramos a seguir uma aproximação sobre a percepção da transgressão pelos
respondentes através das médias gerais das respostas. Muito embora a média não seja um
parâmetro que assegure essas respostas precisas, a Tabela 7.1 apresenta os resultados das médias
das transgressões percebidas pelos respondentes.
Tabela 7.1 Médias das frequências de observação de transgressão segundo respondentes de toda amostra
Média
Desvio
Padrão
1
Morador que atrasa o pagamento da taxa de condomínio
3,64
1,148
2
Morador que possui um cão dentro de casa que late durante o dia
2,79
1,246
3
Morador que possui um cão dentro de casa que late durante a noite
2,31
1,155
4
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante o dia
2,57
1,148
5
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante a noite
2,21
1,028
6
Morador que realiza reformas em casa a noite ou finais de semana
2,20
,969
7
Crianças que quebram equipamentos das áreas comuns do condomínio
2,28
1,050
8
Barulho de crianças (brincando, gritando) nas áreas comuns do condomínio
2,84
1,041
9
Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio, nos finais de semana
durante o dia
2,62
1,001
10
Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio, nos finais de semana
durante a noite
2,44
1,007
11
Morador que estaciona veículo no condomínio em vaga de outro morador
2,39
,948
12
Morador que toma posse ou faz construção em áreas comuns do condomínio onde reside
1,56
,971
13
Morador que sai para passear com cão dentro do condomínio e não recolhe a sujeira do animal
2,00
1,160
14
Morador que deixa a mangueira ligada enquanto lava veículo no condomínio
1,83
1,078
15
Morador que faz fofoca sobre outros moradores
2,56
1,268
16
Morador que joga lixo nas áreas comuns do condomínio
2,36
,985
17
Pessoa que atrasa o pagamento da conta de energia elétrica ou de água
2,25
1,029
18
Pessoa que realiza ligação clandestina de água ou luz
1,57
,876
256
19
Pessoa que não paga pagamento do IPTU
2,05
1,114
20
Barulho de carros de som fazendo propagandas nas ruas
3,05
1,214
21
Casa de festa que realiza eventos com música em alto volume em áreas residenciais
2,82
1,248
22
Pessoa que estaciona em local proibido na rua
3,17
1,219
23
Estabelecimento comercial que utiliza a calçada para benefício próprio
3,32
1,313
24
Pessoa que joga lixo no chão da rua
3,80
1,143
25
Pessoa que sai com o cão para passear na rua e não recolhe a sujeira do animal
3,60
1,128
A situação de transgressão percebida como mais frequente é a questão “Morador que
atrasa o pagamento da taxa de condomínio” (1), isso confirma as fontes teóricas que retratam a
inadimplência como um problema real hoje em condomínios residenciais em todo Brasil,
conforme vimos no capítulo 4.
As situações de transgressão que acontecem fora do condomínio, ou seja, no espaço
público, são percebidas como ocorrendo entre “algumas vezes” e “frequentemente” pelos
respondentes, são elas: “Pessoa que joga lixo no chão da rua”, “Pessoa que sai com o cão para
passear na rua e não recolhe a sujeira do animal”, “Estabelecimento comercial que utiliza a
calçada para benefício próprio”, “Pessoa que estaciona em local proibido na rua” e Barulho de
carros de som fazendo propagandas nas ruas” (questões 24, 25, 23, 22 e 20, respectivamente).
Nas questões percebidas como ocorrendo entre raramente” e “algumas vezes” estão as
que envolvem barulho, estas questões pertencem ao elemento Sensorial na faceta Referentes das
transgressões: “Barulho de crianças (brincando, gritando) nas áreas comuns do condomínio”,
“Casa de festa que realiza eventos com música em alto volume em áreas residenciais”, “Morador
que possui um cão dentro de casa que late durante o dia”, “Morador que realiza festa com música
em alto volume no condomínio, nos finais de semana durante o dia”, “Morador que ouve rádio ou
TV em casa em alto volume durante o dia”, “Morador que realiza festa com música em alto
volume no condomínio, nos finais de semana durante a noite”, “Morador que possui um cão
dentro de casa que late durante a noite”, “Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume
257
durante a noite”, “Morador que realiza reformas em casa a noite ou finais de semana” (questões,
8, 21, 2, 9, 4, 10, 3, 5 e 6, respectivamente). Ainda nesse grupo estão as questões 15, 11, 16, 19,
17, 7 e 13: “Morador que faz fofoca sobre outros moradores”, “Morador que estaciona veículo no
condomínio em vaga de outro morador”, “Morador que joga lixo nas áreas comuns do
condomínio”, “Pessoa que não paga pagamento do IPTU”, “Pessoa que atrasa o pagamento da
conta de energia elétrica ou de água”, “Crianças que quebram equipamentos das áreas comuns do
condomínio” e “Morador que sai para passear com cão dentro do condomínio e não recolhe a
sujeira do animal”.
As questões percebidas como ocorrendo com menor frequência são “Morador que deixa a
mangueira ligada enquanto lava veículo no condomínio”, “Pessoa que realiza ligação clandestina
de água ou luz” e “Morador que toma posse ou faz construção em áreas comuns do condomínio
onde reside” (questões 14, 18, e 12, respectivamente).
Explorando e aprofundando resultados
Confirmando o que foi observado na análise SSA, a análise Kruskal-Wallis (tabela 7.2 e
7.3) não mostrou significância para as variáveis externas Gênero, Condição de Propriedade e
Tempo de Moradia. Isto significa dizer que não diferenciação na percepção quanto à
ocorrência de transgressões entre homens e mulheres, proprietários e não-proprietários ou
moradores que residem pouco ou muito tempo no atual local de moradia. A análise foi
significante apenas para a variável Tipo de Moradia, ou seja, uma diferença significativa na
percepção da ocorrência de transgressões entre moradores de condomínios verticais e horizontais.
Os moradores de Condomínio Horizontal parecem perceber com maior frequência
moradores que ouvem rádio ou TV em casa em alto volume durante o dia e durante a noite,
“morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio, nos finais de semana
258
durante o dia”, “morador que sai para passear com cão dentro do condomínio e não recolhe a
sujeira do animal”, “morador que deixa a mangueira ligada enquanto lava veículo no condomínio
e “pessoa que realiza ligação clandestina de água ou luz” (questões 4, 5, 9, 13, 14 e 18,
respectivamente). Os moradores de Condomínio Vertical percebem “Barulho de carros de som
fazendo propagandas nas ruas” (20) com mais frequência do que os moradores de Condomínios
Horizontais.
Tabela 7.2 – Análise Kruskal-Wallis da ocorrência de transgressões segundo os Tipos de Moradia (Vertical e
Horizontal) (P < .05 )
Questionário
Freq
u
ência de ocorrência de
transgressões
df p
1.
atraso no pagamento de condomínio
,023
1
,880
2.
cão em casa que late durante o dia
,012
1
,912
3.
cão em casa que late durante a noite
2,635
1
,105
4.
alto volume rádio ou TV em casa de dia
7,183
1
,007
5
. alto volume rádio ou TV em casa de noite
5,956
1
,015
6
. reformas em casa a noite ou finais de semana
,027
1
,870
7. dano de crianças em áreas comuns do condomínio
,403
1
,526
8.
barulho de crianças no condomínio
,999
1
,317
9
. festa e música alta no condomínio, de dia nos finais de semana
6,494
1
,011
10
. festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de semana
,837
1
,360
11.
estacionamento veículo no condomínio em outra vaga
,499
1
,480
12.
posse ,construção em áreas comuns do condomínio
1,937
1
,164
13
. passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
9,950
1
,002
14.
mangueira ligada na lavagem veículo no condomínio
15,163
1
,000
15
. fofoca sobre outros moradores
1,050
1
,305
16
. jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
,889
1
,346
17
. atraso na conta de energia elétrica ou de água
,089
1
,766
18
. ligação clandestina de água ou luz
4,681
1
,030
19
. não paga pagamento do IPTU
,093
1
,760
20.
barulho de carros de som nas ruas
6,330
1
,012
21.
casa eventos com música alta em áreas residenciais
,196
1
,658
22
. estaciona mento em local proibido na rua
2,059
1
,151
23
. comercio que utiliza a calçada
2,126
1
,145
24
. jogar lixo no chão da rua
2,598
1
,107
25
. passeio cão na rua sem recolher a sujeira
2,254
1
,133
259
Tabela 7.3. – Análise Kruskal-Wallis mostrando as médias de percepção de ocorrência de transgressão separadas
pelo Tipo de Moradia do respondente
Condomínio
Vertical
Condomínio
Horizontal Total
Questionário
Freq
u
ência de ocorrência de
transgressões
média
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão
1.
atraso no pagamento de condomínio
3.64 1,174 3.63 1,025 3.64 1,148
2.
cão em casa que late durante o dia
2.80 1,236 2.75 1,342 2.79 1,246
3.
cão em casa que late durante a noite
2.24 1,151 2.69 1,138 2.31 1,155
4.
alto volume rádio ou TV em casa de dia
2.44 1,123
3.25
1,065 2.57 1,148
5
. alto volume rádio ou TV em casa de noite
2.09 ,978
2.81
1,109 2.21 1,028
6
. reformas em casa a noite ou finais de semana
2.19 ,957 2.29 1,069 2.20 ,969
7. dano de crianças em áreas comuns do condomínio
2.25 1,022 2.44 1,209 2.28 1,050
8.
barulho de crianças no condomínio
2.80 1,010 3.07 1,223 2.84 1,041
9
. festa e música alta no condomínio, de dia nos finais de
semana
2.51 ,963
3.25
1,000 2.62 1,001
10
. festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de
semana
2.39 ,969 2.69 1,195 2.44 1,007
11.
estacionamento veículo no condomínio em outra vaga
2.41 ,938 2.27 1,033 2.39 ,948
12.
posse ,construção em áreas comuns do condomínio
1.53 1,002 1.69 ,793 1.56 ,971
13
. passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
1.84 1,077
2.93
1,223 2.00 1,160
14.
mangueira ligada na lavagem veículo no condomínio
1.67 ,999
2.73
1,100 1.83 1,078
15
. fofoca sobre outros moradores
2.62 1,269 2.21 1,251 2.56 1,268
16
. jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
2.40 ,989 2.13 ,957 2.36 ,985
17
. atraso na conta de energia elétrica ou de água
2.23 1,025 2.31 1,078 2.25 1,029
18
. ligação clandestina de água ou luz
1.52 ,891
1.87
,743 1.57 ,876
19
. não paga pagamento do IPTU
2.01 1,041 2.27 1,486 2.05 1,114
20.
barulho de carros de som nas ruas
3.17
1,153 2.33 1,345 3.05 1,214
21.
casa eventos com música alta em áreas residenciais
2.84 1,254 2.69 1,250 2.82 1,248
22
. estaciona mento em local proibido na rua
3.24 1,223 2.81 1,167 3.17 1,219
23
. comercio que utiliza a calçada
3.40 1,294 2.88 1,360 3.32 1,313
24
. jogar lixo no chão da rua
3.87 1,138 3.40 1,121 3.80 1,143
25
. passeio cão na rua sem recolher a sujeira
3.66 1,140 3.27 1,033 3.60 1,128
260
O JULGAMENTO DAS TRANSGRESSÕES SOCIAIS
Conforme foi dito anteriormente, foram apresentadas as mesmas situações de
transgressões tanto para investigar a percepção da frequência das transgressões como para
investigar de que forma os respondentes julgariam essas situações aferindo uma punição em
cinco níveis em uma escala de 1 a 5 sendo: (1) não punição, (2) advertência informal/comunicado
verbal, (3) advertência formal/comunicado por escrito, (4) multa e (5) instauração de um processo
na justiça/ polícia.
O tipo de transgressão na determinação do julgamento das transgressões
Da mesma forma como foi procedido com a análise de percepção da transgressão, a
primeira faceta demonstrada na análise SSA foi a faceta “Referente” das transgressões. A
hipótese inicial era a de que o julgamento para as ações de transgressões poderiam ser explicáveis
dependendo da natureza das transgressões, isto é, que as pessoas julgariam transgressões
ambientais, sociais, espaciais, sensoriais e financeiras de forma diferente.
O que a análise SSA mostrou é que de fato uma diferenciação quanto à natureza das
transgressões. A figura 7.2 é uma projeção feita no SSA para a faceta Referente das transgressões
e nos mostra uma formação polar dividida em três regiões qualitativamente diferentes. A primeira
região, Espacial/Ambiental, está localizada acima da figura e reúne todas as questões
relacionadas com os elementos espacial e ambiental. A segunda região, localizada abaixo e à
esquerda da primeira, foi denominada Sensorial porque engloba as questões relativas às situações
transgressões sensoriais. A terceira região, localizada abaixo e à direita da primeira, foi
denominada Financeira por conter as questões de caráter financeiro.
261
LEGENDA: FACETA REFERENTE
FINANCEIRA = F
SENSORIAL = Se
ESPACIAL = E
AMBIENTAL = A
SOCIAL = S
Figura 7.2 – Projeção do SSA, para Referente das Transgressões (1x2 - 2D), Coeficiente de Alienação=0.22
Conforme podemos observar, a primeira região engloba principalmente os elementos
Espacial e Ambiental da faceta Referente das transgressões, que são os seguintes: “Morador que
estaciona veículo no condomínio em vaga de outro morador”, “Morador que toma posse ou faz
construção em áreas comuns do condomínio onde reside”, “Pessoa que estaciona em local
262
proibido na rua”, “Estabelecimento comercial que utiliza a calçada para benefício próprio”,
“Morador que sai para passear com cão dentro do condomínio e não recolhe a sujeira do animal”,
“Morador que deixa a mangueira ligada enquanto lava veículo no condomínio”. “Morador que
joga lixo nas áreas comuns do condomínio”, “Pessoa que joga lixo no chão da rua” e “Pessoa que
sai com o cão para passear na rua e não recolhe a sujeira do animal” (questões 11, 12, 22, 23, 13,
14, 16, 24 e 25 respectivamente). Nessa Região ainda estão localizadas um elemento Sensorial,
“Morador que realiza reformas em casa a noite ou finais de semana” (6); um elemento Social
“Crianças que quebram equipamentos das áreas comuns do condomínio” (7) e; um elemento
financeiro, “Pessoa que realiza ligação clandestina de água ou luz” (18). Acreditamos que a
região é caracterizada primordialmente pelos elementos Espacial e Ambiental da faceta, porém a
presença de algumas questões pertencentes a outros elementos pode ser explicada pelo fato de
que esses elementos foram julgados com rigor semelhante aos outros elementos presentes nesta
região. Dessa forma, o que aproxima as questões pode não ser exclusivamente a sua natureza,
mas também o fato de terem sido julgadas com maior rigor.
Na segunda região, nomeada Sensorial, estão localizadas apenas as questões relativas aos
incômodos sensoriais, especialmente os sonoros, como podemos ver nas questões 2, 3, 4, 5, 8, 9,
10 e 20: “cão dentro de casa que late durante o dia”, “cão dentro de casa que late durante a noite”,
“rádio ou TV em casa em alto volume durante o dia”, “rádio ou TV em casa em alto volume
durante a noite”, “barulho de crianças (brincando, gritando) nas áreas comuns do condomínio”,
“festa com música em alto volume no condomínio, nos finais de semana durante o dia”, “festa
com música em alto volume no condomínio, nos finais de semana durante a noite” e “barulho de
carros de som fazendo propagandas nas ruas”. O fato de essas questões estarem localizadas em
uma mesma região mostra claramente que os entrevistados responderam de forma semelhante a
essas questões.
263
A terceira região foi denominada Financeira porque engloba as questões de caráter
financeiro “Morador que atrasa o pagamento da taxa de condomínio”(1), “Pessoa que atrasa o
pagamento da conta de energia elétrica ou de água” (17) e “Pessoa que não faz o pagamento do
IPTU”(19).
Discussão
A estrutura da projeção de julgamento das transgressões sugere uma formação polar na
qual há uma diferenciação qualitativa quanto ao tipo de julgamento das transgressões. Isto
demonstra que a elaboração dessa faceta encontrou comprovação empiricamente, ou seja, os
respondentes fazem na prática uma divisão com relação ao tipo da transgressão ao julgar a
punição que seria aplicável nos diferentes casos.
O papel do espaço na determinação do julgamento das transgressões
A segunda análise nas projeções SSA foi realizada para verificar a presença de alguma
estrutura para a faceta “Foco”. Porém, a análise não mostrou haver nenhuma relação entre a
gravidade da transgressão (leve, regular ou grave) com o julgamento dos respondentes quanto às
situações de transgressão.
Contudo, a análise da faceta “Nível Espacial” mostrou haver relação entre o lugar onde
ocorre a transgressão e o julgamento sobre tais ações (Figura 7.3). A análise mostra uma estrutura
modular dividida em duas regiões, uma central e uma periférica. É importante lembrar que essa
conformação estrutural sugere uma hierarquia entre as regiões.
264
LEGENDA: FACETA NÍVEL ESPACIAL
ESPAÇO PÚBLICO = PUB
ESPAÇO PRIVADO = PRIV
ESPAÇO COMUM (coletivo) = COM
Figura 7.3 – Projeção do SSA, para Nível Espacial (1x2 - 2D), Coeficiente de Alienação=0.22
A primeira região, localizada no centro da região foi denominada “Público” porque
engloba as questões com situações de transgressão ocorrendo em espaços fora do condomínio, ou
seja, espaços públicos. Como mostram as questões 20, 21, 22, 23, 24 e 25: “Barulho de carros de
som fazendo propagandas nas ruas”, “Casa de festa que realiza eventos com música em alto
265
volume em áreas residenciais”, “Pessoa que estaciona em local proibido na rua”,
“Estabelecimento comercial que utiliza a calçada para benefício próprio”, “Pessoa que joga lixo
no chão da rua e “Pessoa que sai com o cão para passear na rua e não recolhe a sujeira do
animal. A questão 16 “Morador que joga lixo nas áreas comuns do condomínio” está localizada
nesta região, mas na verdade é uma situação que ocorre dentro do condomínio.
A segunda região, localizada na periferia da primeira, foi denominada Privado/Comum
porque nela estão localizadas as questões que envolvem situações de transgressão que ocorrem
dentro do condomínio, tanto nos espaços privados residenciais, como nos espaços coletivos de
todos os moradores. Podemos perceber uma sutil subdivisão entre as questões que estão
localizadas mais próximas à região central e questões mais periféricas.
Discussão
A faceta “Nível Espacial” demonstrou capacidade explicativa para o julgamento das
transgressões. A estrutura Modular sugerida pela conformação da estrutura da faceta “Nível
Espacial” sugere uma divisão ordenada entre as duas regiões. Mais uma vez podemos observar
uma clara divisão entre as questões pertencentes ao elemento “Espaço Público” e as questões
pertencentes aos elementos “Espaço Privado” e “Espaço Comum” ou Coletivo, estas duas últimas
aparecem juntas devido às muitas sobreposições. Isso também ocorreu nas análises anteriores de
percepção da ocorrência de transgressões. Nas questões de sociabilidade, a situação ocorreu de
forma inversa, ou seja, as questões que ocorrem no espaço comum do condomínio ficaram
sobrepostas às questões que ocorrem no espaço público. Dessa forma, podemos reforçar a
hipótese inicial da pesquisa de que os espaços coletivos ou comuns dos condomínios são
percebidos de forma ambivalente pelos moradores que o tratam ora como espaço privado, ora
como espaço público.
266
Análise das variáveis externas
Para a realização desta análise, as variáveis externas também foram plotadas juntamente
com as questões do questionário para identificar a relação entre elas. A análise sugere que existe
uma diferenciação do julgamento dos respondentes com relação ao Tipo de Moradia, Gênero e
Condição de Propriedade. As análises Kruskal-Wallis possibilitarão um aprofundamento maior
nesse sentido.
Podemos perceber que os moradores de Condomínio Horizontal encontram-se mais
próximos das questões que envolvem situações de transgressão Espaciais e Ambientais que
ocorrem principalmente no espaço público. Os moradores de Condomínio Vertical encontram-se
mais próximos das questões relativas às transgressões Sensoriais principalmente.
O julgamento das transgressões – teste Kruskal-Wallis
A tabela 1 apresenta os resultados das médias das respostas dadas ao questionário de
julgamento das transgressões. Cada item podia ser respondido em uma escala de 1 a 5, sendo (1)
não punição, (2) advertência informal (verbal), (3) advertência formal (comunicado escrito), (4)
multa e (5) processo na justiça ou polícia, como mostra a Tabela 7.4 .
Tabela 7.4 – Médias dos Julgamentos das Transgressões
Questionário – Julgamento das Transgressões Média
Desvio
Padrão
1
Morador que atrasa o pagamento da taxa de condomínio
3,49
1,056
2
Morador que possui um cão dentro de casa que late durante o dia
2,36
,899
3
Morador que possui um cão dentro de casa que late durante a noite
2,80
,895
4
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante o dia
2,25
,938
5
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante a noite
2,65
,908
6
Morador que realiza reformas em casa a noite ou finais de semana
2,99
,810
7
Crianças que quebram equipamentos das áreas comuns do condomínio
3,29
,863
8
Barulho de crianças (brincando, gritando) nas áreas comuns do condomínio
1,67
,795
9
Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio, nos finais
de semana durante o dia
2,04
,984
10
Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio, nos finais
2,62
,999
267
de semana durante a noite
11
Morador que estaciona veículo no condomínio em vaga de outro morador
2,63
,933
12
Morador que toma posse ou faz construção em áreas comuns do condomínio
onde reside
3,94
1,267
13
Morador que sai para passear com cão dentro do condomínio e não recolhe a
sujeira do animal
3,23
,904
14
Morador que deixa a mangueira ligada enquanto lava veículo no condomínio
3,00
1,029
15
Morador que faz fofoca sobre outros moradores
1,67
,896
16
Morador que joga lixo nas áreas comuns do condomínio
3,09
,913
17
Pessoa que atrasa o pagamento da conta de energia elétrica ou de água
2,75
1,285
18
Pessoa que realiza ligação clandestina de água ou luz
3,82
1,234
19
Pessoa que não paga pagamento do IPTU
3,07
1,394
20
Barulho de carros de som fazendo propagandas nas ruas
3,04
1,406
21
Casa de festa que realiza eventos com música em alto volume em áreas
residenciais
3,53
1,224
22
Pessoa que estaciona em local proibido na rua
3,63
,939
23
Estabelecimento comercial que utiliza a calçada para benefício próprio
3,70
1,133
24
Pessoa que joga lixo no chão da rua
3,51
,976
25
Pessoa que sai com o cão para passear na rua e não recolhe a sujeira do animal
3,46
,994
Assim como na análise da percepção das transgressões podemos notar que os julgamentos
mais rigorosos estão direcionados às situações de transgressão que ocorrem no espaço público, na
rua: “Pessoa que realiza ligação clandestina de água ou luz”, “Estabelecimento comercial que
utiliza a calçada para benefício próprio”, “Pessoa que estaciona em local proibido na rua”, “Casa
de festa que realiza eventos com música em alto volume em áreas residenciais”, “Pessoa que joga
lixo no chão da ruae “Pessoa que sai com o cão para passear na rua e não recolhe a sujeira do
animal” (questões 18, 23, 22, 21, 24 e 25, respectivamente). As questões 12 “Morador que toma
posse ou faz construção em áreas comuns do condomínio onde reside” e 1 “Morador que atrasa o
pagamento da taxa de condomínio”, embora não ocorram no espaço público, receberam
julgamento semelhante.
As questões que receberam em média julgamento entre passíveis de “advertência formal”
a “multa” foram as questões 7, 13, 16, 19, 20 e 14, respectivamente: “Crianças que quebram
equipamentos das áreas comuns do condomínio”, “Morador que sai para passear com o dentro
268
do condomínio e não recolhe a sujeira do animal”, “Morador que joga lixo nas áreas comuns do
condomínio”, “Pessoa que não paga o IPTU”, “Barulho de carros de som fazendo propagandas
nas ruas” e “Morador que deixa a mangueira ligada enquanto lava veículo no condomínio”.
As situações de transgressão julgadas como passíveis de um “advertência informal” a
“advertência formal” foram as questões: “Morador que realiza reformas em casa a noite ou finais
de semana”, “Morador que possui um cão dentro de casa que late durante a noite”, “Morador que
ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante a noite”, “Morador que estaciona veículo no
condomínio em vaga de outro morador”, “Morador que realiza festa com música em alto volume
no condomínio, nos finais de semana durante a noite”, “Morador que possui um cão dentro de
casa que late durante o dia”, “Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante o
dia”, “Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio, nos finais de
semana durante o dia” e “Pessoa que atrasa o pagamento da conta de energia elétrica ou de
água”(questões 6, 3, 5, 11, 10, 2, 4, 9 e 17, respectivamente).
Como era esperado, as situações envolvendo crianças são julgadas de forma mais leve,
bem como as situações envolvendo fofoca.
Aprofundando os resultados
Os resultados da aplicação do teste Kruskal-Wallis relacionando as questões de
julgamento das transgressões com a variável Condição de Moradia demonstrou que não existem
diferenças significativas entre Proprietários e Não-proprietários. Com relação ao Gênero, existe
apenas uma questão significativa para homens e mulheres no que diz respeito ao julgamento de
situações de transgressão, item 6, “morador que realiza reformas em casa a noite ou finais de
semana”, aparece como sendo julgamento com maior rigor pelas mulheres do que pelos homens
(P= .013) (ver tabela no anexo 4).
269
A análise Kruskal-Wallis demonstrou que diferenças significativas para o julgamento
das transgressões com relação ao Tipo de Moradia. Os moradores de Condomínio Horizontal
tendem a julgar com maior rigor “Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume
durante a noite” e “Crianças que quebram equipamentos das áreas comuns do condomínio”
(questões 5 e 7). Enquanto que os moradores de Condomínios Verticais demonstram julgarem
com mais rigor “Barulho de crianças (brincando, gritando) nas áreas comuns do condomínio” e
“Morador que faz fofoca sobre outros moradores” (questões 8 e 15).
Tabela 7.5 – Análise Kruskal-Wallis questões de julgamento das transgressões segundo Tipo de Moradia. (P < .05)
Questionário – Julgamento das transgressões
p
1.
atraso no pagamento de condomínio
,642 ,423
2.
cão em casa que late durante o dia
,181 ,671
3.
cão em casa que late durante a noite
,440 ,507
4.
alto volume rádio ou TV em casa de dia
2,350 ,125
5
. alto volume rádio ou TV em casa de noite
4,358 ,037
6
. reformas em casa a noite ou finais de semana
,902 ,342
7. dano de crianças em áreas comuns do condomínio
5,231 ,022
8.
barulho de crianças no condomínio
4,334 ,037
9
. festa e música alta no condomínio, de dia nos finais de semana
,548 ,459
10
. festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de semana
,564 ,453
11.
estacionamento veículo no condomínio em outra vaga
,252 ,616
12.
posse ,construção em áreas comuns do condomínio
,770 ,380
13
. passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
,866 ,352
14.
mangueira ligada na lavagem veículo no condomínio
,444 ,505
15
. fofoca sobre outros moradores
4,384 ,036
16
. jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
3,162 ,075
17
. atraso na conta de energia elétrica ou de água
2,003 ,157
18
. ligação clandestina de água ou luz
,623 ,430
19
. não paga pagamento do IPTU
,008 ,929
20.
barulho de carros de som nas ruas
,101 ,750
21.
casa eventos com música alta em áreas residenciais
,633 ,426
22
. estaciona mento em local proibido na rua
1,380 ,240
23
. comercio que utiliza a calçada
,146 ,703
24
. jogar lixo no chão da rua
,371 ,542
25
. passeio cão na rua sem recolher a sujeira
1,096 ,295
Tabela 7.6 – Análise Kruskal-Wallis de Julgamento das Transgressões mostrando as médias separadas por Tipo de
Moradia do respondente
270
Condomínio
vertical
Condomínio
horizontal total
Questionário – Julgamento das Transgressões
média
desvio
padrão dia
desvio
padrão média
desvio
padrão
1.
atraso no pagamento de condomínio
3.45
1,054
3.69
1,078
3.49
1,056
2.
cão em casa que late durante o dia
2.38
,870
2.25
1,065
2.36
,899
3.
cão em casa que late durante a noite
2.84
,898
2.63
,885
2.80
,895
4.
alto volume rádio ou TV em casa de dia
2.17
,897
2.63
1,088
2.25
,938
5
. alto volume rádio ou TV em casa de noite
2.56
,889
3.13
,885
2.65
,908
6
. reformas em casa a noite ou finais de semana
2.97
,789
3.14
,949
2.99
,810
7. dano de crianças em áreas comuns do condomínio
3.22
,882
3.73
,594
3.29
,863
8.
barulho de crianças no condomínio
1.73
,808
1.29
,611
1.67
,795
9
. festa e música alta no condomínio, de dia nos finais de
semana
2.01
,988
2.19
,981
2.04
,984
10
. festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de
semana
2.59
,955
2.81
1,223
2.62
,999
11.
estacionamento veículo no condomínio em outra vaga
2.64
,944
2.56
,892
2.63
,933
12.
posse, construção em áreas comuns do condomínio
3.90
1,285
4.19
1,167
3.94
1,267
13
. passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
3.19
,932
3.44
,727
3.23
,904
14.
mangueira ligada na lavagem veículo no condomínio
3.02
1,045
2.88
,957
3.00
1,029
15
. fofoca sobre outros moradores
1.75
,918
1.21
,579
1.67
,896
16
. jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
3.02
,927
3.47
,743
3.09
,913
17
. atraso na conta de energia elétrica ou de água
2.67
1,297
3.19
1,167
2.75
1,285
18
. ligação clandestina de água ou luz
3.84
1,273
3.71
,994
3.82
1,234
19
. não paga pagamento do IPTU
3.06
1,442
3.14
1,099
3.07
1,394
20.
barulho de carros de som nas ruas
3.06
1,409
2.93
1,439
3.04
1,406
21.
casa eventos com música alta em áreas residenciais
3.48
1,256
3.80
1,014
3.53
1,224
22
. estaciona mento em local proibido na rua
3.58
1,003
3.93
,258
3.63
,939
23
. comercio que utiliza a calçada
3.66
1,199
3.93
,594
3.70
1,133
24
. jogar lixo no chão da rua
3.48
1,026
3.73
,594
3.51
,976
25
. passeio cão na rua sem recolher a sujeira
3.41
1,046
3.75
,577
3.46
,994
A análise Kruskal-Wallis demonstrou que há significância com relação ao tempo de
moradia para as questões 8, 10, 22 e 23, isto é, os moradores com até dois anos de residência
tendem a julgar com maior rigor “barulho de crianças no condomínio” (P = ,014), “morador que
faz festa com música alta no condomínio à noite nos finais de semana” (p= ,016), “estaciona
mento em local proibido na rua” (P = ,007) e “comércio que utiliza a calçada” (P = ,016) (ver
tabela no anexo 4).
271
Aprofundamentos da análise: a significância do julgamento entre transgressões ocorrendo
dentro dos condomínios e no espaço externo
O teste Wilcoxon foi utilizado para comparar algumas questões de transgressões que
acontecem dentro e fora do condomínio. Nosso intuito foi descobrir se havia uma diferença
significante no fato das transgressões analisadas ocorrerem dentro ou fora do condomínio. Para
isso foram analisados pares de questões pertencentes aos grupos de transgressões contendo as
mesmas situações, com a diferença de que no primeiro grupo estão as questões que acontecem
fora do espaço do condomínio, no espaço público e no segundo grupo estão as situações que
acontecem dentro do espaço do condomínio.
O teste Wilcoxon é um teste não paramétrico que avalia se existe “uma diferença
estatística significativa entre as médias dos postos das duas condições” (DANCEY, 2006: 528). O
teste Wilcoxon é utilizado quando os mesmos participantes ou participantes emparelhados nas
duas condições, como é o caso dessa investigação na qual é perguntado a mesma pessoa de que
forma ela julgaria determinada situação de transgressão acontecendo dentro e acontecendo fora
do condomínio.
O teste Wilcoxon mostra que significância para todas as questões comparadas (ver
tabela 7.11). Os primeiros pares de questões comparadas foram as transgressões financeiras, onde
a questão 1 “atraso no pagamento de condomínio” foi comparada com as questões 17 “atraso na
conta de energia elétrica ou de água” e 19 “não fazer pagamento do IPTU”, para as quais o
resultado mostrou significância ao demonstrar que a questão 1 foi julgada com maior rigor do que
as questões 17 e 19. Nesse caso temos duas situações onde o julgamento de uma situação de
transgressão dentro do condomínio foi julgada com mais rigor.
O terceiro par de questões foram as questões 21 “casa eventos com música alta em áreas
residenciais” e 10 festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de semana”. A análise
272
mostra significância quanto ao julgamento diferenciado entre as questões, a questão 21 foi
julgada com mais rigor se comparada à questão 10.
O quarto par comparado foram as questões 22 estacionar veículo em local proibido na
rua” e 11 “estacionar em vaga alheia no condomínio”. Mais uma vez a análise foi significante
demonstrando que a situação descrita pela questão 22 foi julgada com mais rigor, ou seja,
estacionar em vaga proibida na rua é considerado como passível de um julgamento mais duro do
que estacionar na vaga de outrem no condomínio.
O quinto par de questões envolvem situações de apropriação indevida em área pública,
como mostra a questão 23 “comércio que utiliza calçada em benefício próprio” e, em área
privada, descrita pela questão 12 “morador que toma posse ou faz construção em áreas comuns
do condomínio”. Para esse caso a situação foi semelhante à que encontramos nas duas primeiras
comparações, ou seja, a apropriação de áreas dentro do condomínio é julgada com maior rigor do
que a apropriação de áreas na rua.
O sexto par comparado foram as questões 24 “jogar lixo no chão da rua” e 16 “jogar lixo
nas áreas comuns do condomínio”. A análise mostra que “jogar lixo na rua” é julgado,
significativamente, com mais rigor do que jogar lixo nas áreas comuns do condomínio.
Enfim, o último par de questões comparadas foram a 25 “morador que não recolhe a
sujeira do cão quando sai para passear na rua” e a 13“morador que não recolhe a sujeira do cão
quando sai para passear nas áreas comuns do condomínio”. Mais uma vez a análise mostra que a
situação de transgressão que ocorre na rua é julgada com maior rigor do que situação semelhante
acontecendo dentro do condomínio.
273
Tabela 7.7 – Análise Wilcoxon de Julgamento das Transgressões comparando situações de transgressão dentro e fora
do condomínio
Questões comparadas do questionário de julgamento
Posto médio
(Mean Rank)
z
Significância
Assintótica
Bilateral
17
atraso na conta de energia elétrica ou de água
1 atraso no pagamento de condomínio
28,32
22,81
-4,907 ,000
19
não fazer pagamento do IPTU
1 atraso no pagamento de condomínio
33,56
22,26
-2,565 ,010
21
casa eventos com música alta em áreas residenciais
10 festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de
semana
30,40
38,61
-5,987 ,000
22
estacionar veículo em local proibido na rua
11 estacionar veículo no condomínio em outra vaga
30,00
37,51
-6,776 ,000
23
comércio que utiliza a calçada
12 posse ,construção em áreas comuns do condomínio
30,13
36,34
-2,311 ,021
24
jogar lixo no chão da rua
16 jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
24,29
29,03
-4,271 ,000
25
passeio cão na rua sem recolher a sujeira
13 passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
15,50
18,52
-3,947 ,000
Podemos entender, portanto, que as situações de transgressão na rua são julgadas com
maior rigor do que as mesmas situações ocorrendo dentro do condomínio. As duas únicas
exceções são para o atraso no pagamento de taxa condominial e a apropriação de áreas coletivas
do condomínio (questões 1 e 12, respectivamente), que são julgadas com mais rigor do que
situações semelhantes ocorrendo fora do condomínio. Isso pode ser explicado por motivos
diferentes. O atraso do pagamento da taxa condominial é uma situação que acontece com bastante
frequência em condomínios (como vimos nas análises), causando transtornos e aumento da taxa
condominial para os adimplentes, o que pode explicar o julgamento mais duro para esses casos.
A apropriação de áreas comuns ou coletivas dentro do condomínio são situações não
muito frequentes, mas que quando acontecem obrigam o condomínio a levar o caso à justiça,
causando inconvenientes para o condomínio como um todo, o que pode explicar a reação dos
respondentes julgando a situação com mais rigor do que situação semelhante ocorrendo em áreas
públicas, onde cabe ao governo resolver a questão.
274
Estes resultados devem ser interpretados segundo as considerações teóricas levantadas
nos capítulos anteriores sobre o tipo de socialização experimentado nestes condomínios
residenciais, composição e tipo de relação entre os moradores, suas atitudes perante formas mais
comunitárias ou individuais de vivência. Assim vejamos, se os resultados fossem contrários
conforme os relatados por Blakely e Snyder (1997) no estudo das Gated Communities Norte-
Americanas, teríamos indícios de uma sociedade que considera de maneira bastante rígida a
existência de normas e, portanto, julga suas próprias transgressões com maior rigor. Contudo, os
presentes resultados apontam na direção oposta. Muitas são as razões para que isso ocorra,
primeiramente, moradores de condomínios experimentam uma situação coletiva onde todos ao
mesmo tempo se sentem na categoria de “proprietários” e, portanto com poderes sobre o espaço
do condomínio o que revela uma percepção de homogeneidade perante os vizinhos. Isso poderia
ser a razão que os leva a minimizar atos transgressores perpetuados pelos iguais.
O segundo motivo é o sentimento de que no condomínio estes atos acarretariam menos
danos, pois existe a presença de funcionários e serventes cuja função é reparar quaisquer
problemas internos. Assim, se uma pessoa levar o cachorro para passear e não recolher seus
dejetos “alguém” do condomínio pago para isto prontamente providenciará a limpeza.
Tantas podem ser a explicações para tais fatos, mas o interessante neste resultado é a
comprovação da existência de uma atitude de leniência para com as transgressões sociais dentro
dos condomínios. Esta leniência poderia ser minimizada, afinal são ações que não podem ser
consideradas criminosas; mas, as evidências demonstram que exatamente a falta de punição
destas pequenas e cotidianas transgressões, que são perpetuadas indiscriminadamente, resultam
na crença da impunidade e na legitimidade da diferenciação entre atos cometidos por eles
mesmos em seus espaços e os cometidos por outros em outros lugares.
275
A recente situação de adolescentes de classe média alta, moradores de condomínios na
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro (O GLOBO ON-LINE, 24/06/2007 e 04/11/2007) que
consideram lícito bater em empregados e cometer transgressões mais graves fora do condomínio
poderiam ser interpretadas como resultados desta situação, isto é, da experiência da vivência
em enclaves exclusivos onde as leis da sociedade parecem não ser válidas. A situação de exceção
da moradia em condomínios proíbe o acesso da polícia em seu interior, afinal é um espaço
privado, que leva inclusive à desobediência das leis de trânsito (CALDEIRA, 2000).
Conclusão
Esta tese buscou compreender os condomínios residenciais no Brasil sob a ótica da
sociabilidade e transgressões sociais ocorridas nos espaços condominiais, uma vez que os
condomínios verticais e horizontais representam uma das opões mais desejadas de moradia
urbana atualmente. Contudo, esse tipo de moradia está relacionado a uma exclusão da vida
urbana o que, consequentemente, estabelece nos seus espaços internos novas formas de
sociabilidade, dentre elas os conflitos entre moradores que estão intimamente ligados à
ocorrência de transgressões sociais.
A pesquisa exploratória que forneceu subsídios para a realização dessa tese foi
desenvolvida com moradores de condomínios em várias cidades do Brasil. A amostra pode ser
classificada como intencional, visto que a pesquisa foi direcionada a moradores de condomínios
residenciais. A composição da amostra, com mais respondentes no Nordeste do Brasil, não
permite um nível de generalização mais amplo. Sendo assim, as conclusões desta tese baseiam-se
em aspectos que, se por um lado podem sugerir uma generalização, por outro podem mostrar
especificidades entre os dois tipos de condomínios trabalhados. Sendo assim, as conclusões
apresentadas são mais indicativas da existência de um comportamento generalizado.
O que leva as pessoas a morarem em condomínios?
No início da pesquisa partimos da hipótese de que os principais atrativos dos condomínios
eram a oferta de uma melhoria na qualidade de vida, que incluía conforto, serviços e segurança.
O que vimos durante a pesquisa é que o que mais motiva as pessoas a escolherem seu local de
moradia é a possibilidade de morar junto com pessoas com padrão de vida semelhante. De fato, a
277
procura por morar em um condomínio onde existem pessoas com o mesmo status social e
financeiro é um dos principais motivos para escolha por esse tipo de moradia. Entretanto, porque
razão as pessoas desejam morar em um lugar com pessoas com o mesmo padrão, se na prática
não há interesse em se estabelecer relações sociais mais estreitas?
Surpreendentemente, o item segurança não aparece explicitamente entre os considerados
mais relevantes pelos respondentes, o que vai de encontro a toda a bibliografia sobre a questão da
vida em condomínios (BLAKELY e SNYDER, 1997; LOW, 2003; CALDEIRA, 2000; LOPES,
2000; SMITH-BOWERS, 2003). No entanto, o fato do item segurança não constar como
prioritário pode também significar que ele foi incorporado como um item oferecido pelos
condomínios em geral e, portanto, não é mais desejado prioritariamente, uma vez que este item já
está implícito na escolha de grande parte dos moradores de condomínios .
A aspiração por morar em um lugar com oferta de áreas comuns para a prática de lazer e
esportes parece ser um item desejado visando apenas crianças e jovens, tendo em vista que a
utilização destas áreas parece ser um privilégio destes e que entre os adultos respondentes é
uma atividade pouco realizada.
É interessante notar que a questão do silêncio e do sossego aparece como um item pouco
importante para escolha do local de moradia. Esse resultado surpreende uma vez que as questões
que envolvem incômodos provocados por ruídos são as mais comuns e motivo para muitos
desentendimentos entre moradores de condomínio. (JORNAL NACIONAL, 24/10/2007; O
GLOBO, 12/03/2000; 2007; VELHO, 1982). Este aspecto indica também uma característica da
cultura nacional, mais exposta a manifestações ruidosas, visto que silêncio e privacidade são itens
que encabeçam os requisitos de qualidade residencial em outros países.
278
Condomínios Residenciais: vilões ou mocinhos?
Os enclaves fortificados, especialmente os shoppings e condomínios residenciais, estão
em expansão em todo o mundo. Além do conforto e da oferta de serviços variados, a segurança é
uma das principais razões apontadas para justificar o crescimento desses locais. Contudo, alguns
estudos (BLAKELY e SNYDER, 1997; FRUG, 2001; LOW, 2003; CALDEIRA, 2000; LESSA,
2005) apontam tais enclaves como estruturas segregadoras sociais e espaciais, porque são
desenvolvidos segundo uma lógica de privatização de espaços e atividades que usualmente eram
públicos. Dessa forma, os espaços privados de uso público estão sendo cada vez mais
privilegiados, enquanto que os espaços públicos passam a ser cada vez mais preteridos,
desprivilegiados e abandonados. Um dos principais argumentos dos autores que trabalham com
esse tema é o de que condomínios beneficiam apenas a iniciativa privada, tanto por parte dos
investidores, dos construtores e dos empresários envolvidos com a construção e oferta de tais
espaços, quanto por uma parcela elitizada da população que é usuária desses espaços. Portanto,
esse lucro estaria sendo “tirado” das mãos do poder público.
A discussão recente sobre o assunto coloca a seguinte indagação: os enclaves, em
particular os condomínios residenciais, são vilões que promovem a segregação ou são uma
solução legítima para o problema da falta de segurança urbana? Em primeiro lugar, é necessário
atentarmos para duas questões importantes no entendimento desse processo. A primeira questão é
que os muros, portões e guaritas que vemos hoje não foram construídos do dia para a noite. Eles
são na realidade o resultado e a resposta de um longo processo de desenvolvimento das cidades,
com todos os seus problemas econômicos, sociais e políticos. Não estamos, contudo,
concordando que esta solução é correta, mas, apenas indicando que não é novidade e que esse
processo deve ser analisado estruturalmente para podermos entendê-lo melhor.
279
A segunda questão diz respeito ao contexto sócio-econômico e político que tem influência
nesse processo. No caso do Brasil, o desenvolvimento dos enclaves está fortemente relacionado
com a inoperância do poder público para prover um espaço público de qualidade, que ofereça
segurança, equipamentos, conforto e bem-estar para a sociedade. Não está em discussão aqui os
motivos que levaram nossas cidades a essa situação, mas a constatação da inoperância pública em
prestar serviços não apenas de segurança e gerenciamento de espaços públicos para a população,
mas também em prestar serviços básicos de saúde, educação, habitação e transporte. Podemos
concluir, dessa forma, que a questão da segurança não é isolada, mas atrelada a um problema
muito maior que é o desequilíbrio social resultante da carência da oferta de serviços básicos de
qualidade para grande parte da sociedade.
Diante de uma oferta de má qualidade com relação aos serviços de saúde, educação,
habitação e transporte, uma parcela significativa da população que inclui as camadas médias e
altas já supre essa carência através da procura e utilização de serviços privados. Portanto,
seguradoras de saúde e escolas particulares crescem assim como os condomínios e shoppings.
Essas são soluções encontradas por essas parcelas da população para suprir a falta de oferta, ou a
oferta de má qualidade desses serviços prestados pelo poder público.
De forma semelhante, diante dos altos índices de criminalidade não só nas grandes
cidades, mas também em cidades de médio e pequeno porte, a população procura formas de se
proteger. Uma vez que o espaço público é palco para a criminalidade em crescimento, o
comportamento observado é de evitar o espaço público. Consequentemente, uma procura por
transferir as atividades antes desenvolvidas nesses espaços para os enclaves privatizados que
proporcionam mais segurança, conforto e comodidade.
A lógica de desenvolvimento de condomínios e shoppings é a mesma lógica de
desenvolvimento de outros serviços privados como os de saúde, educação e lazer, ou seja, diante
280
da ineficiência do poder público na oferta desses serviços, as parcelas da população que têm
condições de arcar com os custos da iniciativa privada, acabam por enfrentar essas despesas
duplamente. Em outras palavras, as pessoas pagam os impostos cobrados pelo Estado, para suprir
tais serviços, ao mesmo tempo em que têm que pagar pelos mesmos serviços no setor privado.
“O condomínio irregular é um exemplo do conflito que se estabelece entre o fato e o direito.
Primeiro, a sociedade se privada de bens e serviços essenciais que deveriam ser prestados pelo
poder público e não o são, em contrapartida, cria mecanismos para absorver esta omissão
objetivando o seu bem-estar. Ocorre que da forma como ela procura suprir a ausência do Poder
Público em muitas hipóteses é incompatível ao esquema legal [caso dos condomínios horizontais
que enfrentam o problema da legalização]. Cria-se então um impasse: como analisar então essa
nova manifestação social?” (SOARES, 1999: 38).
Contudo, muros e portões não são a solução ideal para as cidades. Eles são na verdade
uma realidade que cresce paulatinamente, promovendo a segregação de espaços e de pessoas e
criando consequências ainda mais drásticas para a sociedade do que as que vemos hoje. O retrato
das cidades tais como se encontram hoje reproduzem um processo injusto e complexo, mas que
por enquanto são reações e soluções legítimas de quem quer e pode suprir suas necessidades. A
culpa não está nos muros e portões, mas sim na lógica que levou as pessoas a erguê-los. A
derrubada desses muros e portões não vai mudar essa lógica, nem tampouco resolver o problema
da péssima oferta de serviços públicos bem como problemas sérios como pobreza, desigualdade
social e falta de urbanização que levam ao crescimento da criminalidade e do medo. A solução,
portanto não está na vilanização dos enclaves, mas em um entendimento mais profundo das
lógicas que estão por trás desse processo.
281
Da vida idealizada ao pacto quebrado
A idéia do condomínio residencial pressupõe uma idéia de contrato social, de um
“contrato orgânico” (DURKHEIM, 1987), que visa à organização da vida em coletividade. O
condomínio atrai pessoas que pensam que vão morar em um lugar organizado e protegido, graças
à publicidade que as convencem através da idéia de qualidade de vida e segurança nos enclaves.
Elas sabem que vão compartilhar espaços e equipamentos de lazer e segurança e que
provavelmente pagarão menos por tais vantagens do que se tivessem que pagar por esses custos
individualmente. Dessa forma, por trás de toda a idéia de condomínio está também a idéia de
coletividade, pagamento coletivo dos serviços (segurança, limpeza, etc.) e uso coletivo de
equipamentos, tendo em vista que no próprio dimensionamento e programa dos condomínios
estão previstas áreas comuns ou coletivas para uso dos moradores, que pagam conjuntamente por
tais vantagens. Em suma, o condomínio é instituído, pensado, planejado e explorado para atender
a um agrupamento de pessoas que irão viver com segurança e conforto em coletividade.
Os resultados do estudo sobre a estrutura de socialização em condomínios apresentados
no capítulo 6 demonstram que, na prática, o que ocorre é uma degradação e uma corrupção da
idéia inicial, ou seja, da idéia de que a vida em coletividade funcionaria harmonicamente.
Contrariando o senso comum, o que se observa em realidade é um comportamento individualista,
no qual cada morador preocupa-se apenas com o que considera seu e desconhecendo o espaço
coletivo como pertencente a todos.
As regiões de contiguidade da estrutura de sociabilidade (capítulo 6) indicam que, por um
lado, não estabelecimento de relações íntimas, enquanto que por outro não queixa quanto
aos problemas, que a socialização entre vizinhos limita-se a cumprimentos formais e
ocasionais, diferenciando-se das relações íntimas e intencionais reservadas à família e aos
amigos.
282
As regras, criadas pelo Estado e pelos próprios moradores para organizar a convivência de
todos nos condomínios, não são respeitadas, muito embora moradores declarem conhecê-las.
Consequentemente, o problema não parece residir em uma inadequação das regras à realidade do
condomínio, tendo em vista que as regras podem ser modificadas e atualizadas sempre que assim
se deseje.
Uma pseudo comunidade de indivíduos
Como visto no capítulo 3, os moradores de condomínios residenciais, a despeito do fato
de viverem juntos, não podem ser considerados como constituindo uma comunidade – pelo
menos não no sentido tradicional do termo (TÖNNIES, 1988; BAUMAN, 2003). Isso é
corroborado pela constatação de que a sociabilidade entre vizinhos nos condomínios é
caracterizada por contatos superficiais e ocasionais. As relações sociais podem envolver
cumprimentos cordiais, troca de favores e gentilezas, mas as interações mais profundas com
vizinhos – como receber alguém em casa ou sair com amigos do condomínio para um programa –
raramente ocorrem e as relações mais íntimas estão voltadas para familiares e amigos.
Os moradores separam bem o tipo e o nível de intimidade de acordo com os papéis de
cada um. A família e os amigos estão relacionados com as relações intencionais voluntárias
(desejadas e programadas), o passo que os vizinhos considerados amigos são diferenciados do
primeiro grupo e classificados em um estágio intermediário entre amigos e vizinhos. As
atividades sociais com vizinhos limitam-se apenas às interações entre as crianças e aos programas
dentro do próprio condomínio, quando ocorrem.
No entanto, moradores de condomínio horizontal parecem demonstrar mais abertura na
construção de relacionamentos mais estreitos com vizinhos, uma vez que estão mais propensos à
utilização das áreas comuns do condomínio e à interação com vizinhos menos restritas ao contato
283
formal, indicando um novo tipo de socialização advindo do condomínio horizontal. As crianças
são também um elemento importante para a socialização de forma geral, uma vez que se
relacionam mais constantemente com outras crianças do condomínio horizontal, que o ato de
receber crianças vizinhas em casa é uma atividade feita com mais frequência do que nos
condomínios verticais. Apesar de haver indício de uma sociabilização voltada para contatos mais
próximos entre os moradores dos condomínios horizontais, o processo de socialização é lento e
construído paulatinamente.
Como já mencionado anteriormente, a opção feita pela moradia em um condomínio
envolve critérios como localização, segurança, serviços, lazer, etc. Um morador pode escolher o
condomínio em que quer morar, mas não os vizinhos com os quais irá conviver cotidianamente.
Assim, quando pensamos na opção de residir em um condomínio, isto representa uma perda do
caráter de anonimato e da liberdade individual, intrínseco à sociedade e diferente da vida em
comunidade, onde existe uma proximidade social entre as pessoas. Não ser anônimo entre
pessoas amigas, que têm interesses em comum, não parece representar um problema. Porém,
quando se perde o anonimato e a liberdade individual entre estranhos isso pode significar uma
ameaça e uma invasão da privacidade, que é refletida através de um comportamento de reserva e
de isolamento com relação aos vizinhos.
O tipo de socialização caracterizado pela falta de interações mais profundas e íntimas
entre vizinhos pode estar influenciando na ausência de um sentido de coletividade, solidariedade
e cooperação, que pode ser traduzido como uma ausência de preocupação com o vizinho. Como
consequência disto, observamos a emergência de uma vida individualizada, na qual o
comportamento mais comum é o de reserva, evitação e desinteresse pelos outros que estão
próximos (SIMMEL, 1987; WIRTH, 1987). Por essas razões, problemas advindos da falta de
consciência sobre respeito e compartilhamento dos espaços começam a surgir.
284
O espaço ambivalente
O espaço condominial é formado por uma associação entre espaço privado e espaço
comum ou coletivo (capítulo 2). No entanto, durante as análises da pesquisa, o espaço comum ou
coletivo dentro dos condomínios revelou-se, na prática, como sendo entendido como um espaço
privado ou público, dependendo da ocasião.
Nas análises sobre sociabilidade, as atividades sociais realizadas no espaço coletivo
mostram-se associadas com as atividades sociais realizadas nos espaços públicos, estabelecendo
uma notável distinção entre as atividades ocorridas nestes primeiros e aquelas ocorridas nos
espaços privados. Isto quer dizer que as atividades realizadas tanto no espaço coletivo do
condomínio como no espaço público, fora do condomínio, são consideradas como semelhantes. O
que as análises também nos mostram é que as atividades realizadas com mais frequência e
intensidade são as realizadas com parentes e amigos no espaço doméstico, isto é, no espaço
privado. Essas atividades também são consideradas como próximas, voluntárias, desejáveis e
duradouras, enquanto que as atividades com vizinhos e funcionários, inversamente, ocorrem de
forma distante, involuntária, ocasional, efêmeras e muitas das vezes, por motivos não desejáveis,
para a resolução de problemas. O que podemos concluir é que o espaço coletivo é visto como um
espaço não propício ao estabelecimento de relações sociais desejáveis, próximas, voluntárias e
agradáveis, assemelhando-se às atividades que ocorrem nos espaços públicos, no qual os
encontros e atividades sociais são, da mesma forma, rápidos e ocasionais.
Contudo, é interessante notar que nas análises sobre transgressões sociais, houve uma
distinção exatamente oposta a que encontramos nas análises de sociabilidade, quando se trata da
dimensão espacial, ou seja, as transgressões sociais que ocorrem nos espaços coletivos dos
condomínios estão mais associadas com as transgressões que ocorrem nos espaços privados dos
condomínios. Em suma, quando se trata da ocorrência e julgamento de transgressões sociais,
285
uma distinção entre o que acontece no espaço blico e o que acontece nos espaços privados e
coletivos dos condomínios. O que as análises também nos mostram é que as transgressões que
ocorrem nos espaços públicos são as mais observadas e consideradas como passíveis de punições
mais severas, diferentemente das transgressões que ocorrem nos espaços privados, do lar, ou nos
espaços coletivos ou comuns dos condomínios. Se o espaço privado foi destacado como um
espaço onde praticamente não existem transgressões, podemos concluir que o espaço coletivo
dentro dos condomínios é entendido de forma semelhante, ou seja, um espaço onde não são
observadas transgressões, porque estas são consideradas como acontecendo em um âmbito
doméstico, o que as isentaria de uma possível punição.
As análises apontam para a confirmação da hipótese inicial de que o espaço comum dos
condomínios é entendido de forma ambivalente pelos seus moradores, ou seja, ora como se fosse
espaço privado, ora como se fosse público. Nesse sentido, o espaço coletivo aparece por um lado
como uma extensão do espaço privado, dando margem a uma extensão também de direitos, ou
seja, propiciando o surgimento de comportamentos e atitudes arbitrárias e individualistas de
“super-cidadãos” (capítulo 2). Por outro lado, o espaço coletivo aparece como uma supressão do
espaço condominial, na medida em que aparece associado ao espaço público, o que também
representa, em última análise, a possibilidade de comportamento do “sub-cidadão” (capítulo 2)
que maltrata e despreza o que é público.
Nas discussões sobre o Condomínio Residencial, partiu-se da hipótese que este não se
constitui em uma comunidade. As análises de sociabilidade confirmam esse pressuposto na
medida em que nos mostra que as relações entre vizinhos são centradas em encontros ocasionais
e rápidos, sem que haja um envolvimento mais próximo, o que estenderia esses contatos para os
espaços domésticos e privados. Essa constatação se reflete na ausência de um senso de
coletividade, de não interesse pelo outro e pelo bem do grupo, haja vista a pouca frequência dos
286
moradores em reuniões para discutir interesses do condomínio e encontros condominiais para
sociabilização dos moradores. Parece-nos que o desinteresse pelo outro também se reflete no
desinteresse pelo espaço desse outro. Essa ausência também ficou refletida nas análises sobre o
espaço comum ou coletivo dos condomínios, exatamente porque o espaço coletivo não é
entendido como tal. Consequentemente, o espaço coletivo intramuros passa a ser associado com o
que é conhecido, isto é, ou espaços privados ou públicos. No entanto, como o espaço coletivo é
um espaço comum, ou seja, é um espaço privado não exclusivo mas sim pertencente a um grupo,
ocorre uma confusão sobre como esse espaço deve ser tratado e como devemos nos comportar
nele. Vimos que essa conformação é entendida de forma ambígua pelos moradores, o que resulta
em uma sobreposição de espaços. Dessa forma, o espaço comum do condomínio é confundido
com o espaço privado no qual os moradores, por vezes, se comportam como se este fosse uma
extensão de suas casas, em detrimento da coletividade que têm os mesmos direitos com relação a
esse espaço ou com o espaço público no qual não se tem responsabilidade pelo zelo e
manutenção.
Parece-nos que a falta de senso de coletividade influencia na forma de entendimento do
espaço coletivo. Dessa forma, o espaço coletivo carece de um entendimento apropriado no que se
refere à sua própria condição de comum, tendo em vista que muitas das situações de transgressão
que ocorrem nesses espaços provêm da falta de entendimento de que esse espaço pertence de fato
a um grupo.
“Um peso duas medidas”: a transgressão está do lado de fora?
No Brasil existe uma prática social muito comum e bastante difundida que é aceitar
pequenos atos transgressores como normais, é o chamado “jeitinho brasileiro” (DA MATTA,
1997b). Como por exemplo, dar boas gorjetas ao garçom do restaurante para que não precise
287
esperar na fila; ou um funcionário de banco ajudar um amigo fazendo com que este não precise
esperar na fila. São muitas situações que ficam em uma zona entre o “certo” e o “errado”
(ALMEIDA, 2007).
A prática e a aceitação do “jeitinho brasileiro” como algo normal gera uma
permissividade a pequenos atos infratores, que passam a ser considerados irrelevantes.
Consequentemente, a aceitação do “jeitinho” o se limita à esfera pública, mas penetra nas
esferas privadas e especialmente na esfera que está entre o público e o privado, que seria esse
espaço de propriedade privada de uso comum, onde as áreas de lazer, as ruas internas, as
garagens, os jardins do condomínio são os principais palcos para a ocorrência de transgressões.
Observamos que a percepção e o julgamento de situações envolvendo transgressões estão
mais voltados para o espaço público que o privado, ou seja, as transgressões que ocorrem na rua
são vistas como mais frequentes e passíveis de julgamento mais severos. De forma inversa,
observamos que, quando se trata dos espaços dentro dos condomínios, as situações de
transgressão são menos percebidas e, mesmo quando isso acontece, são julgadas de forma mais
branda. Isto pode revelar uma atitude leniente dos moradores frente às situações de transgressão
que ocorrem nos condomínios, o que funcionaria como um acordo tácito de isenção das
responsabilidades dos moradores com o que acontece dentro do condomínio. Enquanto isso, o
comportamento transgressor se legitima e passa a não ser mais considerado transgressor, mas sim
aceito como normal e cotidiano. Por outro lado, apontar situações semelhantes que ocorrem na
rua como frequentes e passíveis de um julgamento mais severo, pode revelar mais uma vez a
isenção de responsabilidades, que neste caso com o espaço público. Resumindo, apontar um
erro dentro do condomínio pode acarretar para os moradores de um condomínio uma
responsabilidade indesejada. Por essa razão, é mais conveniente que não exista nenhuma situação
288
de conflito a ser resolvida, mas apontar um erro que acontece na rua é delegar a responsabilidade
à esfera pública.
A flexibilização perante as leis tornou-se um traço cultural na sociedade brasileira. A
prática cotidiana da impunidade faz com que ações transgressoras passem a ser encaradas como
naturais e até mesmo vantajosas para quem as comete. O desrespeito às leis e normas é visto
como sinal de esperteza e inteligência, na medida em que quem o comete consegue vantagens,
geralmente em detrimento de outrem. Existe até mesmo um sentimento de orgulho e regozijo em
transgredir, pois nesses casos quem transgride acredita passar adiante dos demais para atingir
seus objetivos. Esse é o tão chamado “jeitinho brasileiro”, que é caracterizado quando alguém
burla, transgride ou infringe uma norma para conseguir de maneira mais fácil e rápida o que se
quer. Nesse sentido, tendemos para uma inversão de valores na qual a ausência de regra vira
regra, ou seja, o comportamento de não observância às regras passa a ser o seguido por uma
maioria.
Em suma, as transgressões que ocorrem dentro dos condomínios são tratadas com
tolerância e algumas vezes leniência e tendem a continuar acontecendo. Essa tolerância existe
exatamente porque tais atos transgressores são considerados pequenos, irrelevantes e sem
maiores consequências. Dessa forma, sem punição ou reprimenda, as “pequenas” transgressões
passam a ser assimiladas como normais e consequentemente todos os moradores se sentem no
direito de violar as regras.
O fenômeno das transgressões sociais não pode ser encarado de forma superficial, pois ele
está enraizado nas estruturas das práticas sociais e culturais da sociedade como um todo. A
tolerância a comportamentos anti-sociais ou transgressores, mesmo quando considerados leves ou
pequenos, podem contribuir para a prática de comportamentos anti-sociais mais graves, além do
risco desses últimos se tornarem uma prática comum. Neste sentido, estudos que venham a
289
verificar a relação entre as experiências de transgressões e a emergência de atitudes
transgressivas em geral, serão muito importantes em um país, onde a forma de crescimento das
cidades está sendo baseada na propagação de condomínios residenciais segregados, muitas vezes
nas periferias.
Esta pesquisa aponta na direção de outras questões pertinentes aos condomínios
residenciais. Poder-se-ia perguntar: qual a importância de considerar a transgressão que ocorre
dentro dos condomínios como algo aceito? Como essa experiência pode repercutir em gerações
de pessoas que nascem e crescem dentro desse tipo de enclave, vivenciando diariamente
situações de transgressão tratadas como normais? Nesse sentido, estudos que venham a investigar
essas novas indagações serão importantes para o entendimento cada vez mais aprofundado das
formas de socialização dentro dos condomínios. Sugerimos assim um estudo sobre as atitudes
dentro dos condomínios, verificando qual o comportamento que as pessoas teriam em face de
situações de transgressões cotidianas ou um estudo que verificasse a visão de crianças e
adolescentes, com diversas experiências residenciais, com relação às transgressões.
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PROBLEMA Mora ao Lado, O. Jornal do Commercio. Recife, 10 jan. 1999. Caderno Família
REVISTA CONDOMÍNIO, janeiro 2007. Ano IV, nº 37.
297
ANEXO 1
Carta pedido de colaboração e participação na pesquisa
Caros amigos e pesquisadores,
Como é de conhecimento de alguns de vocês, estou desenvolvendo pesquisa de
doutorado focalizando a experiência de moradia em condomínios residenciais
(tanto horizontais como verticais), sob orientação da profª. Drª. Circe Monteiro no
Programa de pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE.
Estou solicitanto aos amigos e pesquisadores uma grande colaboração:
responder ao questionário se for o caso de residirem em condomínio e indicar o
site da pesquisa para conhecidos que residam em condomínios. Considero
condomínios conjuntos de casas ou apartamentos (um ou mais edifícios) que
possuam medidas de proteção do entorno como muros e portarias e que tenham
áreas comuns com equipamentos de lazer e/ou serviços.
Devido as dificuldades inerentes de pesquisar em locais de acesso restrito, além
da falta de disponibilidade manifesta pela classe média em geral, procuramos
desenvolver um instrumento online de fácil preenchimento. Esse questionário
está sendo disponibilizado no site da empresa Casullo Comunicação e Design até
o dia 15 de dezembro e você pode tanto indica-lo diretamente para conhecidos,
como também enviar seus endereços eletrônicos para que eu possa solicitar a
participação.
Para acessar o link da pesquisa é clicar aqui:
www.casullo.com.br/condominios
Agradeço antecipadamente a sua colaboração em indicar esse site somente para
moradores de condomínios, garantindo assim a confiabilidade desse
procedimento. Comentários e sugestões são também muito bem-vindos.
Atenciosamente,
Andiara Lopes
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano - MDU/UFPE
contatos: andiaralopes@yahoo.com
andiaravalentina@gmail.com
298
ANEXO 2
QUESTIONÁRIO ON-LINE PESQUISA ANDIARA
Matriz
(nome da
variável)
Questionário
(pergunta)
id (
sujeito
)
NÚMERO ID, a ser gerado automaticamente.
fase
( 1 ) piloto
( 2 ) final
amostra
( 1 ) internet
( 2 ) e-mail
( 3 ) campo
estado
Em que estado você mora?
(resposta aberta, escrever nome)
cidade
Em que cidade você mora?
(resposta aberta, escrever nome)
papel
Qual o seu papel no condomínio?
( 1 ) morador
( 2 ) sindico ou já foi síndico
ER1tipo
Em tipo de moradia você reside?
( 1 ) Casa em condomínio fechado
( 2 ) Apartamento em Condomínio fechado
( 3 ) Casa em bairro
( 4 ) Edificio de apartamentos
( 5 ) outros
ER2tempo
Há quanto tempo você reside na sua atual moradia?
( 1 ) até 2 anos
( 2 ) entre 2 – 5 anos
( 3 ) entre 5 – 10 anos
( 4 ) entre 10- 20 anos
( 5 ) mais de 20 anos
ER3antes
Em que tipo de moradia você residia antes?
( 1 ) Casa em condomínio fechado
( 2 ) Apartamento em Condomínio fechado
( 3 ) Casa em bairro
( 4 ) Edificio de apartamentos
( 5 ) outros
ER4deseja
Se você pudesse escolher atualmente onde gostaria de morar?
( 1 ) Casa em condomínio fechado
( 2 ) Apartamento em Condomínio fechado
( 3 ) Casa em bairro
( 4 ) Edificio de apartamentos
( 5 ) outros
ER5condição
Qual a sua condição de moradia?
( 1 ) próprio quitado
299
( 2 ) próprio financiado
( 3 ) alugado
( 4 ) propriedade de outros (parente/amigo)
( 5 ) outros
ER6
localiz
Qual a localização do seu condomínio com relação a sua cidade?
( 1 ) na área urbana
( 2 ) na periferia
( 3 ) fora da área urbana
( 4 ) outros
ER7
tamanh
Qual é o tamanho do seu condomínio?
( 1 ) até 30 residências
( 2 ) entre 30 e 100 residencias
( 3 ) entre 101 e 500 residencias
( 4 ) entre 501 e 1000 residencias
( 5 ) mais de 1000 residencias
Que tipo de equipamentos de segurança e lazer o seu condomínio
dispõe?
existência
não sim
ER9 muros
muros 1 2
ER10 cerca
cerca elétrica 1 2
ER11 cftv
circuito fechado de tv 1 2
ER12empr
empresa de segurança 1 2
ER13 portari
portaria com vigilante 1 2
ER14 portão
portão eletrônico 1 2
ER15 áreav
áreas verdes 1 2
ER16 playg
playground 1 2
ER17 piscin
piscina 1 2
ER18 quadr
quadra de esportes 1 2
ER19 slfesta
salão de festas 1 2
ER20 sljogo
salão de jogos ou ginástica 1 2
Na sua opinião qual foi importância dos seguintes itens
na sua escolha do seu atual local de moradia?
grau de importância
não é
import.
pouco
import.
+ ou –
import.
Import.
muito
import.
MT1silencio
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da
movimentação da cidade
1 2 3 4 5
MT2segura
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência urbana 1 2 3 4 5
MT3nivelso
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo padrão de
vida que o seu
1 2 3 4 5
MT4sociab
Uma vizinhança tranqüila onde pudesse conhecer seus
vizinhos
1 2 3 4 5
MT5privci
Um lugar onde pudesse ter privacidade 1 2 3 4 5
MT6espcria
Um lugar onde crianças pudessem brincar livremente em
segurança
1 2 3 4 5
MT7comser
Um lugar próximo a comércio e serviços 1 2 3 4 5
MT8acesso
Um lugar de fácil acesso 1 2 3 4 5
MT9transpp
Um lugar com boa oferta de transporte público 1 2 3 4 5
MT10areav
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins 1 2 3 4 5
MT11lazesp
Um lugar com áreas comuns para a prática de lazer e
esportes
1 2 3 4 5
MT12espint
A possibilidade de ter uma casa maior e mais espaçosa 1 2 3 4 5
300
MT13equip
Um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de
segurança como, TVs, portões, grades e cercas elétricas
1 2 3 4 5
MT14status
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e
prestígio social
1 2 3 4 5
MT15valoriz
Um lugar com possibilidades de valorização no futuro 1 2 3 4 5
MT16preço
Um lugar com um preço acessível 1 2 3 4 5
frequëncia
nunca rara
mente
algumas
vezes
frequente
mente
sempre
reunião
Com que frequëncia você participa das reuniões de condomínio
Grau de conhecimento
nunca
ouviu falar
já ouviu
falar
leu
partes
consulta
sempre
Lei1
Você conhece a Convenção e o
Regimento Interno do seu condomínio?
1 2 3 4
Lei2
Você conhece a Lei de Condomínio
LEI Nº 4.591/1964?
1 2 3 4
Lei3
Você conhece o Código Civil Brasileiro
LEI Nº 10.406/2002?
1 2 3 4
Por favor, indique com que freqüência você ou alguém de sua familia costumam experiementar as
seguintes situações:
frequëncia
nunca rara
mente
alguma
s vezes
frequente
mente
sempre
S1encovz
encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns de seu
condomínio
S2convvz
convidar algum vizinho para vir a sua casa
S3convmag
chamar amigos para virem em sua casa
S4visitpar
ir na casa de familiares
S5encoamg
encontrar amigos em outros locais da cidade
S6sairpar
fazer um programa com membros da família em outros lugares
da cidade
S7brincvz
deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
S8brincplay
ver crianças ou jovens freqüentarem as áreas de recreação do
condomínio
S9reunvz
reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana
S10cumpvz
cumprimentar os vizinhos quando os encontra nas áreas
comuns
S11reuniao
participar de reunião para discutir questões do condomínio
S12disctvz
discutir com vizinhos por causa de problemas
S13festcon
participar de festa organizada no condomínio
S14evitarvz
evitar conversa com vizinhos para não ter problemas com eles
S15sairamg
sair com amigos do condomínio para um programa na cidade
S16usarfun
solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços
em sua casa
S17intermfu
pedir aos funcionários para resolverem problemas com
vizinhos
S18encovz
encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar
S19usaráre
participar de algum esporte na área de lazer (ou na piscina)
com amigos
S20usarsal
utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de
aniversário ou outra ocasião festiva
S21cuidarcr
pedir para vizinhos do condomínio ficarem de olho nas crianças
S22infofunc
conversar com empregados para saber das coisas que
acontecem no condomínio
S23recebcri
deixar as crianças da vizinhança virem em sua casa
301
S24ajudarvz
ajudar vizinhos que precisam de algum favor
S25gentilvz
trocar gentilezas com seus vizinhos
Apresentamos algumas situações abaixo que são comumente presenciadas em áreas residenciais e até
mesmo em outros locais da cidade, gostaria que você respondesse rapidamente sem pensar qual você
acha que seria sua atitude em cada uma destas situações:
atitude
jamais
faria
difici
lme
nte
faria
talvez
faria
provavel
mente
faria
certa
mente
faria
1.Um morador leva o cachorro para passear e o cachorro defeca
no gramado de uma área comum do condomínio, se você
estiver numa situação como essa você:
A
1.1cãocon
Deixa pra lá porque sabe que alguém logo vai limpar
A
1.2
cãocon
Chama um funcionário para limpar
A
1.3
cãocon
Vai buscar algo para limpar a sujeira e jogar fora
A
1.4
cãocon
Já sai preparado para limpar as sujeiras do cachorro
2. Uma pessoa leva o cachorro para passear em uma rua de
bairro residencial onde mora, o cachorrinho defeca no meio da
calçada, se você fosse essa pessoa o que faria?
A
2.1
cãorua
Deixa pra lá, não adianta limpar porque a rua já é suja mesmo
A
2.2
cãorua
Joga pro lado para ninguém pisar
A
2.3
cãorua
Volta pra casa para pegar algo para limpar a sujeira do
cachorrinho
A
2.4cãorua
Deixa esta vez mas da próxima lembrará de trazer algo para
limpar
3. Um morador vai receber a visita de um amigo no seu
condomínio, mas não há vagas para visitantes estacionarem,
nesta situação você:
A
3.1
carroco
manda que ele estacione em qualquer lugar vago dentro do
condomínio
A
3.2
carroco
manda que ele estacione na vaga de um vizinho que está
viajando
A
3.3
carroco
pede ao porteiro ou outro funcionário que arranje uma vaga para
o seu amigo
A
3.4
carroco
pede que ele estacione fora do condomínio
4. Uma pessoa precisa comprar algo na farmácia e as vagas de
estacionamento estão todas ocupadas, se estiver nesta situação
você:
A
4.1
carroru
Estaciona em cima da calçada porque é uma coisa rápida
A
4.2
carroru
Para atrás de um carro estacionado e vai fazer a compra
A
4.3
carroru
Espera na rua até liberar uma vaga
A
4.4
carroru
Vai tentar outra farmácia
5. Você está em casa no fim de semana quando a música alta
da festa de um vizinho promete ir até de madrugada, nesta
situação você:
302
A
5.1
música
Não reclama porque você também mais cedo ou mais tarde vai
fazer uma festa barulhenta
A
5.2
música
Deixa pra lá, fecha a janela, liga o condicionador de ar e tenta
dormir assim mesmo
A
5.3
música
Liga para o sindico exigindo o cumprimento da lei no condomínio
A
5.4
música
Chama o órgão da prefeitura de combate ao ruídos
6. Um morador nota que pequenos furtos estão ocorrendo no
condomínio onde mora, se fosse você nesta situação:
A
6.1
furto
Deixa pra lá porque isto é normal em um condominio
A
6.2
furto
Toma cuidado com suas coisas e deixa tudo bem fechado
A
6.3
furto
Chama o síndico para que ele tome alguma providencia
A
6.4
f
urto
Acha que a policia deveria ser chamada
7. No seu condomínio está tendo uma festa de adolescentes
sem a supervisão dos pais e você desconfia que os
adolescentes estão consumindo drogas, nesta situação você:
A
7.1
drogac
não se mete, os pais deles é que devem se preocupar com isso
A
7.2
drogac
resolve conversar com os pais dos adolescentes
A
7.3
drogac
comunica o que está acontecendo ao síndico
A
7.4
drogac
chama a polícia, afinal esse é um caso de polícia
8. Na rua, perto da entrada do seu condomínio alguns
adolescentes se reunem para consumir drogas, nessa situação
você:
A
8.1
drogar
faz de conta que não viu
A
8.2
drogar
não faz nada porque a rua é um lugar público
A
8.3
drogar
resolve conversar com os adolescentes
A
8.4
drogar
chama a polícia, afinal esse é um caso de polícia
9. No seu condomínio um adolescente está dirigindo o carro dos
pais, sem a supervisão de um adulto, nesse situação você:
A
9.1
adoles
não se mete, os pais deles é que devem se preocupar com isso
A
9.2
adoles
resolve conversar com os pais dos adolescentes
A
9.3
adoles
comunica o que está acontecendo ao síndico
A
9.4
adoles
chama a polícia, afinal esse é um caso de polícia
Apresentamos algumas situações abaixo que são comumente presenciadas em áreas residenciais e até
mesmo em outros locais da cidade, gostaria que você respondesse rapidamente:
a)Com que frequencia você presencia tais ações tanto em seu condomínio como na rua?
b)Mesmo que você nunca tenha presenciado, como você julgaria tais ações?
SITUAÇÕES FREQÜENCIA JULGAMENTO
nunca
raramente
algumas
vezes
frequente
mente
sempre
não punição
advertência
informal
advertência
formal
multa
processo na
justiça
TF1taxacon
TJ1taxacon
Morador que atrasa o pagamento da taxa de condomínio
1
2 3 4 5
1 2 3 4
5
TF2latedia
TJ2latedia
Morador que possui um cão dentro de casa que late durante o dia
TF3latenoit
TJ3latenoit
Morador que possui um cão dentro de casa que late durante a noite
TF4somdia
TJ4somdia
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante o dia
TF5somnoit
Morador que ouve rádio ou TV em casa em alto volume durante a noite
303
TJ5somnoit
TF6reforma
TJ6reforma
Morador que realiza reformas em casa a noite ou finais de semana
TF7vandalis
TJ7vandalis
Crianças que quebram equipamentos das áreas comuns do condomínio
TF8barucri
TJ8barucri
Barulho de crianças (brincando, gritando) nas áreas comuns do
condomínio
TF9festad
ia
TJ9festadia
Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio,
nos finais de semana durante o dia
TF10festan
TJ10festan
Morador que realiza festa com música em alto volume no condomínio,
nos finais de semana durante a noite
TF11carroc
TJ11carroc
Morador que estaciona veículo no condomínio em vaga de outro morador
TF12apropr
TJ12apropr
Morador que toma posse ou faz construção em áreas comuns do
condomínio onde reside
TF13cãoco
TJ13cãoco
Morador que sai para passear com cão dentro do condomínio e não
recolhe a sujeira do animal
TF
14
água
TJ14água
Morador que deixa a mangueira ligada enquanto lava veículo no
condomínio
TF
15
fofoca
TJ15fofoca
Morador que faz fofoca sobre outros moradores
TF
16
lixocon
TJ16lixocon
Morador que joga lixo nas áreas comuns do condomínio
TF
17
luz
TJ17luz
Pessoa que atrasa o pagamento da conta de energia elétrica ou de água
TF
18
macac
TJ18macac
Pessoa que realiza ligação clandestina de água ou luz
TF
19
iptu
TJ19iptu
Pessoa que não paga pagamento do IPTU
TF
20
somru
TJ20somru
Barulho de carros de som fazendo propagandas nas ruas
TF
21
bar
TJ21bar
Casa de festa que realiza eventos com música em alto volume em áreas
residênciais
TF
22
carroru
TJ22carroru
Pessoa que estaciona em local proibido na rua
TF2
3
apropr
TJ23apropr
Estabelecimento comercial que utiliza a calçada para benefício próprio
TF
24
lixorua
TJ24lixorua
Pessoa que joga lixo no chão da rua
TF
25
cãorua
TJ25cãorua
Pessoa que sai com o cão para passear na rua e não recolhe a sujeira
do animal
idade
Pergunta 20
: Qual é a sua idade?
sexo
Pergunta 21
: Qual é o seu sexo?
( 1 ) masculino
( 2 ) feminino
númeropess
Pergunta 22
: Qual é o número de pessoas no seu domicílio?
( 1 ) apenas você
( 2 ) 2 pessoas
( 3 ) 3 pessoas
( 4 ) 4 pessoas
( 5 ) 5 pessoas
( 6 ) entre 6 e 8 pessoas
( 7 ) entre 9 e 11 pessoas
( 8 ) mais de 11 pessoas
escolar
idad
Pergunta 23
: Qual é o seu grau de instrução?
( 1 ) ensino fundamental ou 1º grau completo
( 2 ) ensino médio ou 2º grau completo
( 3 ) superior ou graduação completo
( 4 ) pós-graduação
304
ocupação
Pergunta 24
: Qual a natureza da sua ocupação?
( 1 ) estudante
( 2 ) empregado do setor privado
( 3 ) funcionário público
( 4 ) empresário/proprietário
( 5 ) profissional liberal
( 6 ) aposentado/pensionista
( 7 ) outros Qual?_______________
renda
Pergunta 25
: Qual a sua renda familiar?
( 1 ) até R$ 2.000 reais
( 2 ) de R$ 2.000 até R$ 4.000 reais
( 3 ) de R$ 4.000 até R$ 8.000 reais
( 4 ) de R$ 8.000 até R$ 12.000 reais
( 5 ) de R$ 12.000 até R$ 20.000 reais
( 6 ) mais de R$ 20.000 reais
taxacondo
Qual o valor da taxa mensal do seu condomínio?
cic
lovida
Qual opção melhor retrata a sua situação familiar no presente domicílio?
( 1 ) mora sozinho
( 2 ) mora com parentes ou amigos
( 3 ) mora com companheiro(a)
( 4 ) mora com companheiro(a) e com filhos ou crianças pequenas
( 5 ) mora com companheiro(a) com filhos adolescentes
( 6 ) mora com companheiro(a) com filhos adultos
( 7 ) outros
305
ANEXO 3
O Novo Código Civil Brasileiro e a Lei de Condomínio
Do Condomínio
O condomínio é previsto no NCC e na LC como uma edificação contendo propriedade
exclusiva e propriedade comum, podendo ser residencial ou comercial. A área exclusiva é de uso
particular do condômino e as áreas comuns são de uso de todos os condôminos, não podendo ser
alienadas ou divididas. Nenhuma unidade imobiliária pode ser privada do acesso ao logradouro
público.
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes
que são propriedade comum dos condôminos.
§ 1
o
As partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritórios,
salas, lojas, sobrelojas ou abrigos para veículos, com as respectivas frações ideais no solo
e nas outras partes comuns, sujeitam-se a propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e
gravadas livremente por seus proprietários.
§ 2
o
O solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição de água, esgoto,
gás e eletricidade, a calefação e refrigeração centrais, e as demais partes comuns,
inclusive o acesso ao logradouro público, são utilizados em comum pelos condôminos,
não podendo ser alienados separadamente, ou divididos.
§ 3
o
A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração ideal no solo
e nas outras partes comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária no
instrumento de instituição do condomínio.
§ 4
o
Nenhuma unidade imobiliária pode ser privada do acesso ao logradouro público.
306
§ 5
o
O terraço de cobertura é parte comum, salvo disposição contrária da escritura de
constituição do condomínio”
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. As edificações ou conjuntos de edificações, de um ou mais pavimentos,
construídos sob a forma de unidades isoladas entre si, destinadas a fins residenciais ou
não-residenciais, poderão ser alienados, no todo ou em parte, objetivamente
considerados, e constituirá, cada unidade, propriedade autônoma sujeita às limitações
desta Lei.
Art. Cada unidade com saída para a via pública, diretamente ou por processo de
passagem comum, será sempre tratada como objeto de propriedade exclusiva, qualquer
que seja o número de suas peças e sua destinação.
Art. O condomínio por meação de parede, soalhos, e tetos das unidades isoladas,
regular-se-á pelo disposto no Código Civil, no que lhe fôr aplicável.
Art. Sem prejuízo do disposto nesta Lei, regular-se-á pelas disposições de direito
comum o condomínio por quota ideal de mais de uma pessoa sôbre a mesma unidade
autônoma.”
Da Convenção de Condomínio
A convenção do condomínio deve ser elaborada pelos titulares das unidades, sendo no
mínimo 2/3 das frações ideais. É obrigatória para os titulares e/ou para os de posse ou detenção
sobre as unidades. Com relação ao conteúdo da Convenção, a LC é mais detalhada. No entanto,
ela é vaga com relação à forma de utilização das unidades exclusivas e áreas comuns. Deveria
conter uma orientação mais objetiva, deixando pré-estabelecido alguns desses usos.
307
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos
titulares de, no mínimo, dois terços das frações ideais e torna-se, desde logo, obrigatória
para os titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou
detenção.
Parágrafo único. Para ser oponível contra terceiros, a convenção do condomínio deverá
ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis.
Art. 1.334. Além das cláusulas referidas no art. 1.332 e das que os interessados
houverem por bem estipular, a convenção determinará:
I - a quota proporcional e o modo de pagamento das contribuições dos condôminos para
atender às despesas ordinárias e extraordinárias do condomínio;
II - sua forma de administração;
III - a competência das assembléias, forma de sua convocação e quorum exigido para as
deliberações;
IV - as sanções a que estão sujeitos os condôminos, ou possuidores;
V - o regimento interno.
§ 1
o
A convenção poderá ser feita por escritura pública ou por instrumento particular.
§ 2
o
São equiparados aos proprietários, para os fins deste artigo, salvo disposição em
contrário, os promitentes compradores e os cessionários de direitos relativos às unidades
autônomas.”
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. Os proprietários, promitentes compradores, cessionários ou promitentes
cessionários dos direitos pertinentes à aquisição de unidades autônomas, em edificações a
serem construídas, em construção ou já construídas, elaborarão, por escrito, a Convenção
308
de condomínio, e deverão, também, por contrato ou por deliberação em assembléia,
aprovar o Regimento Interno da edificação ou conjunto de edificações.
§ Considera-se aprovada, e obrigatória para os proprietários de unidades, promitentes
compradores, cessionários e promitentes cessionários, atuais e futuros, como para
qualquer ocupante, a Convenção que reúna as assinaturas de titulares de direitos que
representem, no mínimo, 2/3 das frações ideais que compõem o condomínio.
§ 3º Além de outras normas aprovadas pelos interessados, a Convenção deverá conter:
a) a discriminação das partes de propriedade exclusiva, e as de condomínio, com
especificações das diferentes áreas;
b) o destino das diferentes partes;
c) o modo de usar as coisas e serviços comuns;
d) encargos, forma e proporção das contribuições dos condôminos para as despesas de
custeio e para as extraordinárias;
e) o modo de escolher o síndico e o Conselho Consultivo;
f) as atribuições do síndico, além das legais;
g) a definição da natureza gratuita ou remunerada de suas funções;
h) o modo e o prazo de convocação das assembléias gerais dos condôminos;
i) o quorum para os diversos tipos de votações;
j) a forma de contribuição para constituição de fundo de reserva;
l) a forma e o quorum para as alterações de convenção;
m) a forma e o quorum para a aprovarão do Regimento Interno quando não incluídos na
própria Convenção.”
309
Dos Direitos e Deveres dos Condôminos
Com relação aos direitos dos condôminos, o CC e a LC deixam claro que estes têm o
direito de utilizar sua unidade livremente, desde que essa utilização o interfira no mesmo
direito dos outros condôminos de fazerem o mesmo com suas unidades. No entanto, as formas de
interferência no direito de outrem não são claras, deixando livre a interpretação do que é, de fato,
uma interferência. Com relação aos deveres dos condôminos, o CC é um pouco mais detalhado
qdo cita despesas, obras, fachada, etc. mas continua sendo pouco claro no item IV do Art. 1.336.
A LC diz que a violação dos deveres sujeita o infrator à multa e que compete ao síndico a
aplicação e cobrança da mesma.
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.335. São direitos do condômino:
I - usar, fruir e livremente dispor das suas unidades;
II - usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a
utilização dos demais compossuidores;
III - votar nas deliberações da assembléia e delas participar, estando quite.
Art. 1.336. São deveres do condômino:
I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo
disposição em contrário na convenção; (Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004)
II - não realizar obras que comprometam a segurança da edificação;
III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas;
IV - dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de
maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons
costumes.”
310
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. 19. Cada condômino tem o direito de usar e fruir, com exclusividade, de sua
unidade autônoma, segundo suas conveniências e interêsses, condicionados, umas e
outros às normas de boa vizinhança, e poderá usar as partes e coisas comuns de maneira a
não causar dano ou incômodo aos demais condôminos ou moradores, nem obstáculo ou
embaraço ao bom uso das mesmas partes por todos.
Art. 20. Aplicam-se ao ocupante do imóvel, a qualquer título, tôdas as obrigações
referentes ao uso, fruição e destino da unidade.
Art. 21. A violação de qualquer dos deveres estipulados na Convenção sujeitará o infrator
à multa fixada na própria Convenção ou no Regimento Interno, sem prejuízo da
responsabilidade civil ou criminal que, no caso, couber.
Parágrafo único. Compete ao síndico a iniciativa do processo e a cobrança da multa, por
via executiva, em benefício do condomínio, e, em caso de omitir-se êle, a qualquer
condômino.”
Das Ações Proibitivas
A LC repete o que foi estabelecido no CC no tocante à fachada, acrescentando o item II
(esquadrias). Porém, incorre no mesmo problema de carência de especificação das formas
proibitivas de usos
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. 10. É defeso a qualquer condômino:
I - alterar a forma externa da fachada;
311
Il - decorar as partes e esquadrias externas com tonalidades ou côres diversas das
empregadas no conjunto da edificação;
III - destinar a unidade a utilização diversa de finalidade do prédio, ou usá-la de forma
nociva ou perigosa ao sossêgo, à salubridade e à segurança dos demais condôminos;
IV- embaraçar o uso das partes comuns.”
Das Ações Punitivas
No caso do descumprimento dos deveres, o transgressor será sujeito à multa prevista na
Convenção. Essa multa não pode ser superior ao valor de 5 mensalidades. No caso de não haver
disposição expressa na Convenção, cabe à assembléia decidir (c/ 2/3) sobre a transgressão e a
multa referente a esta. Obs: O CC estabelece que a inadimplência sepunida com cobrança de
multa de até 1% ao mês a de até 2% sobre o débito.
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
Ҥ 1
o
O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios
convencionados ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois
por cento sobre o débito.
§ 2
o
O condômino, que não cumprir qualquer dos deveres estabelecidos nos incisos II a
IV, pagará a multa prevista no ato constitutivo ou na convenção, não podendo ela ser
superior a cinco vezes o valor de suas contribuições mensais, independentemente das
perdas e danos que se apurarem; não havendo disposição expressa, caberá à assembléia
geral, por dois terços no mínimo dos condôminos restantes, deliberar sobre a cobrança da
multa.
Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus
deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos
312
restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor
atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e
a reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento anti-
social, gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou
possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor
atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da
assembléia.”
LEI DE CONDOMÍNIO:
“§ O transgressor ficará sujeito ao pagamento de multa prevista na convenção ou no
regulamento do condomínio, além de ser compelido a desfazer a obra ou abster-se da
prática do ato, cabendo, ao síndico, com autorização judicial, mandar desmanchá-Ia, à
custa do transgressor, se êste não a desfizer no prazo que lhe fôr estipulado.”
Das Despesas
As despesas das partes comuns são divididas pelos condôminos de acordo com a fração
ideal de terreno de cada unidade. Cabe ao ndico arrecadar as taxas condominiais e, se
necessário for, executar cobrança judicial de taxas atrasadas.
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.340. As despesas relativas a partes comuns de uso exclusivo de um condômino,
ou de alguns deles, incumbem a quem delas se serve.”
313
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. 12. Cada condômino concorrerá nas despesas do condomínio, recolhendo, nos
prazos previstos na Convenção, a quota-parte que lhe couber em rateio.
§ Salvo disposição em contrário na Convenção, a fixação da quota no rateio
corresponderá à fração ideal de terreno de cada unidade.
§ Cabe ao síndico arrecadar as contribuições competindo-lhe promover, por via
executiva, a cobrança judicial das quotas atrasadas.”
Das Obras
Tanto o CC como a LC são claros quanto à questão das obras. Sendo estas necessárias e
urgentes não é preciso a aprovação dos condôminos e podem ser realizadas pelo síndico ou
morador (nesse caso, o condômino que as efetuou será devidamente reembolsado). Se a obra,
mesmo urgente, acarretar em custos excessivos, ela necessitará de aprovação em Assembléia
(2/3). No caso das obras: úteis a todos; não urgentes; reparos, etc., será necessária a aprovação
em Assembléia (maioria, metade +1). O CC é mais detalhado em relação às obras.
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.341. A realização de obras no condomínio depende:
I - se voluptuárias, de voto de dois terços dos condôminos;
II - se úteis, de voto da maioria dos condôminos.
§ 1
o
As obras ou reparações necessárias podem ser realizadas, independentemente de
autorização, pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer
condômino.
314
§ 2
o
Se as obras ou reparos necessários forem urgentes e importarem em despesas
excessivas, determinada sua realização, o síndico ou o condômino que tomou a iniciativa
delas dará ciência à assembléia, que deverá ser convocada imediatamente.
§ 3
o
Não sendo urgentes, as obras ou reparos necessários, que importarem em despesas
excessivas, somente poderão ser efetuadas após autorização da assembléia, especialmente
convocada pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer dos
condôminos.
§ 4
o
O condômino que realizar obras ou reparos necessários será reembolsado das
despesas que efetuar, não tendo direito à restituição das que fizer com obras ou reparos de
outra natureza, embora de interesse comum.
Art. 1.342. A realização de obras, em partes comuns, em acréscimo às já existentes, a fim
de lhes facilitar ou aumentar a utilização, depende da aprovação de dois terços dos votos
dos condôminos, não sendo permitidas construções, nas partes comuns, suscetíveis de
prejudicar a utilização, por qualquer dos condôminos, das partes próprias, ou comuns.”
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. 12. § 4º As obras que interessarem à estrutura integral da edificação ou conjunto de
edificações, ou ao serviço comum, serão feitas com o concurso pecuniário de todos os
proprietários ou titulares de direito à aquisição de unidades, mediante orçamento prévio
aprovado em assembléia-geral, podendo incumbir-se de sua execução o síndico, ou outra
pessoa, com aprovação da assembléia.”
315
Do Seguro: do Incêndio, da Demolição e da Reconstrução Obrigatória
Poucas pessoas sabem da existência dessa cláusula que obriga os condomínios ao seguro
contra incêndio e destruição. A LC é mais detalhada e delibera que a forma de utilização desse
recurso, quando necessária, será decidida em assembléia.
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.346. É obrigatório o seguro de toda a edificação contra o risco de incêndio ou
destruição, total ou parcial.”
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. 13. Proceder-se-á ao seguro da edificação ou do conjunto de edificações, neste caso,
discriminadamente, abrangendo tôdas as unidades autônomas e partes comuns, contra
incêndio ou outro sinistro que cause destruição no todo ou em parte, computando-se o
prêmio nas despesas ordinárias do condomínio.
Art. 14. Na ocorrência de sinistro total, ou que destrua mais de dois terços de uma
edificação, seus condôminos reunir-se-ão em assembléia especial, e deliberarão sôbre a
sua reconstrução ou venda do terreno e materiais, por quorum mínimo de votos que
representem metade, mais uma das frações ideais do respectivo terreno.”
Da Administração do Condomínio
A administração do condomínio é feita por um ndico eleito em Assembléia, podendo
ser morador ou não, pessoa física ou jurídica. O mandato é de dois anos com direito a reeleição.
A destituição de um síndico é possível, desde que esteja de acordo com as disposições da
Convenção.
316
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.347. A assembléia escolherá um síndico, que poderá não ser condômino, para
administrar o condomínio, por prazo não superior a dois anos, o qual poderá renovar-se.”
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. 22. Será eleito, na forma prevista pela Convenção, um síndico do condomínio, cujo
mandato não poderá exceder de 2 anos, permitida a reeleição.
§ Ao síndico, que poderá ser condômino ou pessoa física ou jurídica estranha ao
condomínio, será fixada a remuneração pela mesma assembléia que o eleger, salvo se a
Convenção dispuser diferentemente.
§ O síndico poderá ser destituído, pela forma e sob as condições previstas na
Convenção, ou, no silêncio desta pelo voto de dois têrços dos condôminos, presentes, em
assembléia-geral especialmente convocada.”
Da Competência do Síndico
É importante que os condôminos tenham conhecimento sobre a competência do síndico e
do seu papel na administração do condomínio. Para que todos possam ajudá-lo, cobrar ações,
controlar gastos e outros assuntos de interesse geral.
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.348. Compete ao síndico:
I - convocar a assembléia dos condôminos;
317
II - representar, ativa e passivamente, o condomínio, praticando, em juízo ou fora dele, os
atos necessários à defesa dos interesses comuns;
III - dar imediato conhecimento à assembléia da existência de procedimento judicial ou
administrativo, de interesse do condomínio;
IV - cumprir e fazer cumprir a convenção, o regimento interno e as determinações da
assembléia;
V - diligenciar a conservação e a guarda das partes comuns e zelar pela prestação dos
serviços que interessem aos possuidores;
VI - elaborar o orçamento da receita e da despesa relativa a cada ano;
VII - cobrar dos condôminos as suas contribuições, bem como impor e cobrar as multas
devidas;
VIII - prestar contas à assembléia, anualmente e quando exigidas;
IX - realizar o seguro da edificação.”
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. 22. § 1º Compete ao síndico:
a) representar ativa e passivamente, o condomínio, em juízo ou fora dêle, e praticar os
atos de defesa dos interêsses comuns, nos limites das atribuições conferidas por esta Lei
ou pela Convenção;
b) exercer a administração interna da edificação ou do conjunto de edificações, no que
respeita à sua vigência, moralidade e segurança, bem como aos serviços que interessam a
todos os moradores;
c) praticar os atos que lhe atribuirem as leis a Convenção e o Regimento Interno;
d) impor as multas estabelecidas na Lei, na Convenção ou no Regimento Interno;
318
e) cumprir e fazer cumprir a Convenção e o Regimento Interno, bem como executar e
fazer executar as deliberações da assembléia;
f) prestar contas à assembléia dos condôminos.
g) manter guardada durante o prazo de cinco anos para eventuais necessidades de
verificação contábil, toda a documentação relativa ao condomínio.
Da Assembléia Geral
Uma assembléia geral por ano é obrigatória para prestação de contas, aprovação das
despesas e discussão sobre assuntos de interesse do condomínio. Porém, assembléias
extraordinárias poderão ser convocadas pelo síndico ou por 1/4 dos condôminos.
NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
“Art. 1.350. Convocará o síndico, anualmente, reunião da assembléia dos condôminos, na
forma prevista na convenção, a fim de aprovar o orçamento das despesas, as
contribuições dos condôminos e a prestação de contas, e eventualmente eleger-lhe o
substituto e alterar o regimento interno.
§ 1
o
Se o síndico não convocar a assembléia, um quarto dos condôminos poderá fazê-lo.
§ 2
o
Se a assembléia não se reunir, o juiz decidirá, a requerimento de qualquer
condômino.
Art. 1.351. Depende da aprovação de 2/3 (dois terços) dos votos dos condôminos a
alteração da convenção; a mudança da destinação do edifício, ou da unidade imobiliária,
depende da aprovação pela unanimidade dos condôminos.
Art. 1.352. Salvo quando exigido quorum especial, as deliberações da assembléia serão
tomadas, em primeira convocação, por maioria de votos dos condôminos presentes que
representem pelo menos metade das frações ideais.
319
Parágrafo único. Os votos serão proporcionais às frações ideais no solo e nas outras
partes comuns pertencentes a cada condômino, salvo disposição diversa da convenção de
constituição do condomínio.
Art. 1.353. Em segunda convocação, a assembléia poderá deliberar por maioria dos votos
dos presentes, salvo quando exigido quorum especial.
Art. 1.354. A assembléia não poderá deliberar se todos os condôminos não forem
convocados para a reunião.
Art. 1.355. Assembléias extraordinárias poderão ser convocadas pelo síndico ou por um
quarto dos condôminos.”
LEI DE CONDOMÍNIO:
“Art. 24. Haverá, anualmente, uma assembléia geral ordinária dos condôminos,
convocada pelo síndico na forma prevista na Convenção, à qual compete, além das
demais matérias inscritas na ordem do dia, aprovar, por maioria dos presentes, as verbas
para as despesas de condomínio, compreendendo as de conservação da edificação ou
conjunto de edificações, manutenção de seus serviços e correlatas.
§ As decisões da assembléia, tomadas, em cada caso, pelo quorum que a Convenção
fixar, obrigam todos os condôminos.
§ O síndico, nos oito dias subseqüentes à assembléia, comunicará aos condôminos o
que tiver sido deliberado, inclusive no tocante à previsão orçamentária, o rateio das
despesas, e promoverá a arrecadação, tudo na forma que a Convenção previr.
§ Nas assembléias gerais, os votos serão proporcionais às frações ideais do terreno e
partes comuns, pertencentes a cada condômino, salvo disposição diversa da Convenção.
§ Nas decisões da Assembléia que não envolvam despesas extraordinárias do
condomínio, o locatário poderá votar, caso o condômino-locador a ela não compareça.”
320
ANEXO 4
Tabela do capítulo 6 Análise Kruskal-Wallis mostrando a Significância da relação entre as questões
de motivações para escolha do local de moradia e os grupos diferenciados por Gênero. A
Significância considerada foi P < .05
Questionário – Motivos para escolha do local de moradia
df p
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da movimentação da cidade
,331
1
,565
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência urbana
1,766
1
,184
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo padrão de vida que o seu
1,508
1
,219
4
Uma vizinhança tranqüila onde pudesse conhecer seus vizinhos
,385
1
,535
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
,096
1
,756
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar livremente em segurança
,004
1
,949
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
,430
1
,512
8
Um lugar de fácil acesso
1,612
1
,204
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
,363
1
,547
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins
,542
1
,462
11
Um lugar com áreas comuns para a prática de lazer e esportes
,638
1
,424
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais espaçosa
,177
1
,674
13
Um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de segurança
4,524
1
,033
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio social
1,475
1
,225
15
Um lugar com possibilidades de valorização no futuro
,428
1
,513
16
Um lugar com um preço acessível
,082
1
,774
a Kruskal Wallis Test
b Grouping Variable: Masc
Tabela do capítulo 6 – Análise Kruskal-Wallis de motivações para escolha do local de moradia
mostrando as médias separadas por Gênero do respondente
Feminino Masculino Total
Questionário
Motivos para escolha do local de
moradia
média
Desvio
Padrão Media
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da
movimentação da cidade
1,10
,306
1,06
,250
1,09
,284
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência
urbana
3,33
1,248
3,69
1,105
3,47
1,201
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo padrão
de vida que o seu
4,64
,729
4,43
,917
4,56
,809
4
Uma vizinhança tranqüila onde pudesse conhecer
seus vizinhos
3,55
1,033
3,37
1,165
3,48
1,083
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
3,67
1,123
3,77
,910
3,71
1,041
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar
livremente em segurança
4,40
,710
4,37
,770
4,39
,730
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
4,42
1,013
4,26
1,120
4,36
1,053
8
Um lugar de fácil acesso
4,20
,803
3,97
,857
4,11
,827
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
3,89
1,149
4,06
1,027
3,96
1,101
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins
4,15
,960
4,32
,806
4,22
,903
11
Um lugar com áreas comuns para a prática de
lazer e esportes
3,51
1,215
3,71
1,152
3,59
1,189
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais
espaçosa
3,73
1,062
3,54
1,291
3,66
1,153
13
Um lugar bastante seguro, se possível com
4,07
1,152
3,54
1,314
3,87
1,238
321
sistemas de segurança
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status
e prestígio social
2,27
1,027
2,03
1,014
2,18
1,023
15
Um lugar com possibilidades de valorização no
futuro
3,69
1,169
3,49
1,269
3,61
1,206
16
Um lugar com um preço acessível
4,07
,879
4,03
,857
4,06
,866
Tabela do capítulo 6 Análise Kruskal-Wallis mostrando a Significância da relação entre as questões
de motivações para escolha do local de moradia e os grupos diferenciados por Tempo de Moradia. A
Significância considerada foi P < .05
Questionário – Motivos para escolha do local de moradia
df p
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da movimentação da cidade
10,647
4
,031
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da violência urbana
2,627
4
,622
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo padrão de vida que o seu
3,043
4
,551
4
Uma vizinhança tranqüila onde pudesse conhecer seus vizinhos
5,780
4
,216
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
2,523
4
,640
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar livremente em segurança
2,999
4
,558
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
6,304
4
,178
8
Um lugar de fácil acesso
6,871
4
,143
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
4,439
4
,350
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e jardins
4,746
4
,314
11
Um lugar com áreas comuns para a prática de lazer e esportes
6,783
4
,148
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais espaçosa
5,190
4
,268
13
Um lugar bastante seguro, se possível com sistemas de segurança
4,685
4
,321
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo status e prestígio social
2,206
4
,698
15
Um lugar com possibilidades de valorização no futuro
7,486
4
,112
16
Um lugar com um preço acessível
1,546
4
,818
a Kruskal Wallis Test
b Grouping Variable: E2.Tempo ER2tempo/morad
322
Tabela do capítulo 6 – Análise Kruskal-Wallis de motivações para escolha do local de moradia mostrando as médias separadas por Tempo de
Moradia do respondente
0 - 2 anos <2 - 5 anos <5 - 10 anos <10 - 20 anos > 20 anos Total
Questionário
Motivos para escolha do
local de moradia
média
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão
1
Um lugar silencioso e sossegado, afastado da
movimentação da cidade
1,15
,364
1,02
,149
1,00
,000
1,14
,363
1,24
,437
1,09
,291
2
Um lugar seguro onde esteja a salvo da
violência urbana
3,67
1,291
3,76
1,021
3,61
1,076
3,11
1,560
3,56
1,338
3,60
1,217
3
Um lugar onde mora pessoas com o mesmo
padrão de vida que o seu
4,39
1,029
4,60
,571
4,63
,824
4,55
,686
4,78
,548
4,57
,752
4
Uma vizinhança tranqüila onde pudesse
conhecer seus vizinhos
3,09
1,308
3,44
1,091
3,50
1,180
3,90
,912
3,56
,856
3,45
1,124
5
Um lugar onde pudesse ter privacidade
3,97
1,159
3,66
1,022
3,79
,977
3,70
1,031
3,83
,985
3,78
1,037
6
Um lugar onde crianças pudessem brincar
livremente em segurança
4,36
,895
4,40
,571
4,46
,833
4,45
,759
4,22
,647
4,39
,728
7
Um lugar próximo a comércio e serviços
4,34
1,310
4,38
,830
4,58
,830
4,05
1,276
4,78
,428
4,41
,999
8
Um lugar de fácil acesso
4,21
,650
3,92
,877
3,88
,992
4,35
,875
3,83
,786
4,03
,849
9
Um lugar com boa oferta de transporte público
4,15
1,176
3,96
,903
3,83
1,204
4,05
1,050
3,72
1,074
3,97
1,057
10
Um lugar com áreas verdes com árvores e
jardins
4,30
1,045
4,18
,782
4,54
,721
4,21
1,084
4,17
,857
4,27
,890
11
Um lugar com áreas comuns para a prática
de lazer e esportes
3,55
1,227
3,86
1,069
4,08
,881
3,25
1,446
3,53
,874
3,70
1,135
12
A possibilidade de ter uma casa maior e mais
espaçosa
3,73
1,506
3,80
1,069
3,96
,751
3,15
1,387
3,71
,772
3,71
1,170
13
Um lugar bastante seguro, se possível com
sistemas de segurança
3,55
1,338
3,78
1,130
4,17
1,167
3,90
1,210
3,88
1,219
3,82
1,205
14
Um lugar reconhecidamente destacado pelo
status e prestígio social
2,10
1,106
2,16
1,095
2,46
1,103
2,35
1,137
2,22
,808
2,23
1,066
15
Um lugar com possibilidades de va-
lorização no futuro
3,31
1,401
3,60
1,050
3,96
,999
3,75
1,333
3,28
1,018
3,58
1,174
16
Um lugar com um preço acessível
4,03
,951
4,02
,820
4,25
,676
3,90
1,021
3,94
1,056
4,03
,885
323
Tabela do capítulo 6 Análise Kruskal-Wallis mostrando a Significância da relação entre as questões de Sociabilidade e os grupos diferenciados
por Tempo de Moradia. A Significância considerada foi P < .05
Questionário – Atividades de sociabilidade
df
p
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas comuns de seu condomínio
6,780
4
,148
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
11,157
4
,025
3
Chamar amigos para virem em sua casa
1,681
4
,794
4
Ir na casa de familiares
4,979
4
,289
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
4,969
4
,290
6
Fazer um programa com membros da família em outros lugares da cidade
5,300
4
,258
7
Deixar crianças brincarem na casa dos vizinhos
,390
4
,983
8
Ver crianças ou jovens freqüentar as áreas de recreação do condomínio
3,676
4
,452
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de fim de semana
10,191
4
,037
10
Cumprimentar os vizinhos com encontra nas áreas comuns
,287
4
,991
11
Participar de reunião para discutir questões do condomínio
3,968
4
,410
12
Discutir por problemas com vizinhos
4,637
4
,327
13
Participar de festa organizada no condomínio
10,171
4
,038
14
Evitar conversa com vizinhos para não ter problemas com eles
,259
4
,992
15
Sair com amigos do condomínio para um programa na cidade
12,900
4
,012
16
Solicitar funcionários do condomínio para fazer alguns serviços em sua casa
1,938
4
,747
17
Pedir aos funcionários para resolver problemas com vizinhos
3,288
4
,511
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no mesmo lugar
4,385
4
,356
19
Participar de algum esporte na área de lazer (ou na piscina) com amigos
3,371
4
,498
20
Utilizar a área de festas do condomínio para organizar festa de aniversário ou outra ocasião festiva
1,727
4
,786
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar de olho nas crianças
6,533
4
,163
22
Conversar com empregados para saber das coisas que acontecem no condomínio
4,187
4
,381
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em sua casa
1,828
4
,767
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
3,273
4
,513
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
3,318
4
,506
a Kruskal Wallis Test
b Grouping Variable: E2.Tempo ER2tempo/morad
324
Tabela do capítulo 6 – Análise Kruskal-Wallis de sociabilidade mostrando as médias separadas por Tempo de Moradia do respondente
0 - 2 anos <2 - 5 anos <5 - 10 anos <10 - 20 anos > 20 anos Total
Questionário – Atividades de sociabilidade
média
Desvio
padrão média
Desvio
padrão média
Desvio
padrão média
Desvio
padrão média
Desvio
padrão média
Desvio
padrão
1
Encontrar e conversar com vizinhos nas áreas
comuns de seu condomínio
3.29
,908
2.84
1.041
3.32
1.157
2.80
1.146
3.45
,934
3,08
1,052
2
Convidar algum vizinho para vir a sua casa
2.33
1.049
2.00
1.054
2.21
,855
2.25
1.183
3.09
,831
2,26
1,049
3
Chamar amigos para virem em sua casa
3.71
1.042
3.38
1.010
3.63
,761
3.50
1.033
3.55
,688
3,53
,945
4
Ir na casa de familiares
4.08
,830
3.73
,962
3.84
,898
3.40
1.121
3.73
,905
3,78
,946
5
Encontrar amigos em outros locais da cidade
3.88
,850
3.78
,886
3.68
,749
4.13
,885
3.27
1.191
3,79
,901
6
Fazer um programa com membros da família
em outros lugares da cidade
3.83
,917
3.32
,973
3.21
1.032
3.50
,894
3.55
1.293
3,47
1,003
7
Deixar crianças brincarem na casa dos
vizinhos
2.33
1.274
2.50
1.207
2.42
1.170
2.44
1.153
2.45
,820
2,43
1,155
8
Ver crianças ou jovens freqüentar as áreas de
recreação do condomínio
2.92
1.349
3.49
1.044
3.53
1.172
3.56
1.263
3.36
1.206
3,36
1,193
9
Reunir-se com vizinhos para um programa de
fim de semana
2.00
,978
1.59
,956
1.63
1.012
1.81
1.047
2.40
,843
1,80
,990
10
Cumprimentar os vizinhos com encontra nas
áreas comuns
4.75
,532
4.72
,513
4.63
,684
4.75
,447
4.73
,467
4,72
,530
11
Participar de reunião para discutir questões
do condomínio
3.25
1.452
2.84
1.573
2.53
1.389
2.81
1.515
3.45
1.368
2,93
1,488
12
Discutir por problemas com vizinhos
2.33
1.308
1.97
1.040
2.11
,809
1.88
1.258
2.45
,820
2,11
1,084
13
Participar de festa organizada no
condomínio
2.13
1.140
2.05
1.053
2.26
1.485
2.50
1.549
3.45
1.128
2,32
1,291
14
Evitar conversa com vizinhos para não ter
problemas com eles
1.96
1.122
1.97
1.013
1.95
1.129
1.94
1.289
1.91
1.136
1,95
1,094
15
Sair com amigos do condomínio para um
programa na cidade
1.88
1.076
1.43
,801
1.58
,961
2.06
1.181
2.45
,934
1,76
1,008
16
Solicitar funcionários do condomínio para
fazer alguns serviços em sua casa
1.92
1.060
1.81
,995
2.00
1.000
2.13
1.258
2.27
1.191
1,96
1,063
17
Pedir aos funcionários para resolver
problemas com vizinhos
1.46
,721
1.58
,874
1.74
,872
1.81
1.601
1.82
,874
1,64
,978
18
Encontrar vizinhos fazendo compras no
mesmo lugar
2.71
1.042
2.76
,983
2.63
1.116
3.00
,894
3.27
,786
2,81
,992
19
Participar de algum esporte na área de lazer
(ou na piscina) com amigos
1.67
,816
1.51
,804
1.68
,946
1.31
,704
1.55
,688
1,55
,804
20
Utilizar a área de festas do condomínio para
organizar festa de aniversário ou outra ocasião
festiva
1.96
1.083
2.14
1.134
2.37
1.116
2.25
1.438
2.27
1.104
2,17
1,153
21
Pedir para vizinhos do condomínio para ficar
1.22
,600
1.36
,798
1.37
,955
1.31
,873
1.55
,522
1,34
,770
325
de olho nas crianças
22
Conversar com empregados para saber das
coisas que acontecem no condomínio
2.29
1.233
1.97
1.183
1.95
1.224
1.56
,814
1.73
,786
1,95
1,124
23
Deixar as crianças da vizinhança virem em
sua casa
2,46
1,351
2,31
1,489
2,32
1,455
2,40
1,639
2,73
1,104
2,40
1,418
24
Ajudar vizinhos que precisam de algum favor
3,43
1,273
3,32
1,056
3,28
1,179
3,63
1,147
3,91
,701
3,45
1,109
25
Trocar gentilezas com seus vizinhos
3,92
1,100
3,49
1,193
3,67
1,138
3,94
1,063
4,00
,775
3,74
1,107
Tabela do capítulo 7 Análise Kruskal-Wallis mostrando a Significância da relação entre as questões de Julgamento das Transgressões e os
grupos diferenciados por Gênero. A Significância considerada foi P < .05
p
1.
atraso no pagamento de condomínio
3,041
,081
2.
cão em casa que late durante o dia
1,340
,247
3.
cão em casa que late durante a noite
1,041
,308
4.
alto volume rádio ou tv em casa de dia
,150
,699
5
. alto volume rádio ou tv em casa de noite
,304
,581
6
. reformas em casa a noite ou finais de semana
6,157
,013
7. dano de crianças em áreas comuns do condomínio
,802
,371
8.
barulho de crianças no condomínio
,776
,378
9
. festa e música alta no condomínio, de dia nos finais de semana
2,508
,113
10
. festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de semana
,760
,383
11.
estacionamento veículo no condomínio em outra vaga
,058
,810
12.
posse ,construção em áreas comuns do condomínio
1,032
,310
13
. passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
,027
,869
14.
mangueira ligada na lavagem veículo no condomínio
,003
,954
15
. fofoca sobre outros moradores
,090
,764
16
. jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
,249
,617
17
. atraso na conta de energia elétrica ou de água
,103
,748
18
. ligação clandestina de água ou luz
,135
,714
19
. não paga pagamento do IPTU
,033
,855
20.
barulho de carros de som nas ruas
1,523
,217
21.
casa eventos com música alta em áreas residenciais
,421
,517
22
. estaciona mento em local proibido na rua
,065
,798
326
23
. comercio que utiliza a calçada
,033
,857
24
. jogar lixo no chão da rua
2,632
,105
25
. passeio cão na rua sem recolher a sujeira
,006
,940
a Kruskal Wallis Test
b Grouping Variable: Masc
Tabela do capítulo 7 – Análise Kruskal-Wallis de Julgamento das Transgressões mostrando as médias separadas por Gênero do respondente
Feminino Masculino Total
Questionário – Julgamento das transgressões
Media
Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão
1.
atraso no pagamento de condomínio
3,36 1,039 3,78 ,975 3,52 1,031
2.
cão em casa que late durante o dia
2,23 ,877 2,53 ,950 2,35 ,912
3.
cão em casa que late durante a noite
2,73 ,827 2,97 ,933 2,82 ,872
4.
alto volume rádio ou tv em casa de dia
2,27 ,952 2,19 ,931 2,24 ,939
5
. alto volume rádio ou tv em casa de noite
2,77 ,831 2,69 ,821 2,74 ,823
6
. reformas em casa a noite ou finais de semana
3,24 ,790 2,81 ,749 3,07 ,798
7. dano de crianças em áreas comuns do condomínio
3,42 ,795 3,23 ,884 3,35 ,829
8.
barulho de crianças no condomínio
1,59 ,753 1,77 ,884 1,66 ,805
9
. festa e música alta no condomínio, de dia nos finais de
semana
1,90 ,985 2,22 ,941 2,02 ,975
10
. festa e música alta no condomínio, de noite nos finais
de semana
2,59 ,942 2,78 1,099 2,66 1,003
11.
estacionamento veículo no condomínio em outra vaga
2,64 ,963 2,58 ,958 2,62 ,956
12.
posse ,construção em áreas comuns do condomínio
3,98 1,263 4,25 1,047 4,08 1,187
13
. passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
3,25 ,947 3,34 ,827 3,29 ,899
14.
mangueira ligada na lavagem veículo no condomínio
3,04 1,018 3,09 ,963 3,06 ,992
15
. fofoca sobre outros moradores
1,72 1,026 1,58 ,765 1,67 ,936
16
. jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
3,17 ,849 3,06 ,929 3,13 ,875
17
. atraso na conta de energia elétrica ou de água
2,70 1,295 2,78 1,338 2,73 1,304
18
. ligação clandestina de água ou luz
3,96 1,224 3,94 1,093 3,95 1,171
19
. não paga pagamento do IPTU
3,12 1,367 3,10 1,469 3,11 1,397
327
20.
barulho de carros de som nas ruas
2,94 1,461 3,39 1,202 3,11 1,379
21.
casa eventos com música alta em áreas residenciais
3,53 1,187 3,69 1,176 3,59 1,178
22
. estaciona mento em local proibido na rua
3,68 ,894 3,75 ,842 3,71 ,870
23
. comercio que utiliza a calçada
3,79 1,063 3,72 1,143 3,76 1,087
24
. jogar lixo no chão da rua
3,63 ,937 3,39 ,966 3,54 ,950
25
. passeio cão na rua sem recolher a sujeira
3,51 ,973 3,55 ,905 3,52 ,942
Tabela 7.9 – Análise Kruskal-Wallis mostrando a Significância da relação entre as questões de julgamento das transgressões e os grupos
diferenciados por Tempo de Moradia. A Significância considerada foi P < .05
Questionário – Julgamento das Transgressões
p
1.
atraso no pagamento de condomínio
,063 1,000
2.
cão em casa que late durante o dia
2,734 ,603
3.
cão em casa que late durante a noite
,692 ,952
4.
alto volume rádio ou tv em casa de dia
5,931 ,204
5
. alto volume rádio ou tv em casa de noite
5,972 ,201
6
. reformas em casa a noite ou finais de semana
2,522 ,641
7. dano de crianças em áreas comuns do condomínio
2,146 ,709
8.
barulho de crianças no condomínio
12,493 ,014
9
. festa e música alta no condomínio, de dia nos finais de semana
6,857 ,144
10
. festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de semana
12,190 ,016
11.
estacionamento veículo no condomínio em outra vaga
,762 ,943
12.
posse ,construção em áreas comuns do condomínio
5,508 ,239
13
. passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
3,350 ,501
14.
mangueira ligada na lavagem veículo no condomínio
4,940 ,294
15
. fofoca sobre outros moradores
5,776 ,217
16
. jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
7,617 ,107
17
. atraso na conta de energia elétrica ou de água
4,915 ,296
18
. ligação clandestina de água ou luz
2,416 ,660
328
19
. não paga pagamento do IPTU
8,259 ,083
20.
barulho de carros de som nas ruas
8,487 ,075
21.
casa eventos com música alta em áreas residenciais
9,814 ,044
22
. estaciona mento em local proibido na rua
14,157 ,007
23
. comercio que utiliza a calçada
12,156 ,016
24
. jogar lixo no chão da rua
8,522 ,074
25
. passeio cão na rua sem recolher a sujeira
4,312 ,365
a Kruskal Wallis Test
b Grouping Variable: E2.Tempo ER2tempo/morad
329
Tabela 7.10 – Análise Kruskal-Wallis de Julgamento das Transgressões mostrando as médias separadas por Tempo de Moradia do respondente
0 - 2 anos <2 - 5 anos <5 - 10 anos <10 - 20anos > 20 anos Total
Questionário
Julgamento das Transgressões
média
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão média
Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão
1.
atraso no pagamento de condomínio
3,50 ,964 3,47 1,080 3,37 1,383 3,63 ,719 3,50 1,087 3,49 1,056
2.
cão em casa que late durante o dia
2,52 ,947 2,26 ,994 2,16 ,765 2,47 ,834 2,55 ,820 2,36 ,899
3.
cão em casa que late durante a noite
2,83 ,937 2,76 ,890 2,67 ,907 2,94 ,772 2,90 1,101 2,80 ,895
4.
alto volume rádio ou tv em casa de dia
2,48 ,790 2,24 1,103 2,17 ,924 2,38 ,885 1,73 ,647 2,25 ,938
5
. alto volume rádio ou tv em casa de noite
2,78 ,902 2,62 ,954 2,56 ,856 2,94 ,854 2,18 ,874 2,65 ,908
6
. reformas em casa a noite ou finais de semana
3,13 ,757 2,97 ,870 2,82 ,883 3,13 ,719 2,80 ,789 2,99 ,810
7. dano de crianças em áreas comuns do condomínio
3,43 ,728 3,26 ,898 3,35 ,931 3,31 ,873 3,00 ,953 3,29 ,863
8.
barulho de crianças no condomínio
2,05
,921 1,71 ,760 1,18 ,529 1,69 ,793 1,55 ,688 1,67 ,795
9
. festa e música alta no condomínio, de dia nos finais de semana
2,48 ,981 1,88 1,038 1,94 ,998 2,13 ,885 1,73 ,786 2,04 ,984
10
. festa e música alta no condomínio, de noite nos finais de semana
3,05
,950 2,29 ,938 2,89 1,079 2,81 ,834 2,09 ,944 2,62 ,999
11.
estacionamento veículo no condomínio em outra vaga
2,70 1,063 2,65 ,812 2,53 1,020 2,73 1,100 2,45 ,688 2,63 ,933
12.
posse ,construção em áreas comuns do condomínio
4,26 1,054 4,12 1,149 3,42 1,575 4,00 1,155 3,55 1,440 3,94 1,267
13
. passeio cão dentro do condomínio sem recolher sujeira
3,48 ,730 3,27 ,839 2,89 1,243 3,31 ,793 3,00 ,816 3,23 ,904
14.
mangueira ligada na lavagem veículo no condomínio
3,13 ,968 3,12 1,008 3,00 1,106 3,00 1,033 2,36 1,027 3,00 1,029
15
. fofoca sobre outros moradores
1,64 ,848 1,56 ,860 1,50 ,786 2,19 1,109 1,64 ,809 1,67 ,896
16
. jogar lixo nas áreas comuns do condomínio
3,35 ,714 2,88 ,808 3,06 1,162 3,31 1,138 2,91 ,701 3,09 ,913
17
. atraso na conta de energia elétrica ou de água
3,17 1,029 2,68 1,296 2,68 1,529 2,80 1,424 2,18 ,982 2,75 1,285
18
. ligação clandestina de água ou luz
4,00 1,024 3,88 1,149 3,56 1,504 4,07 1,163 3,36 1,502 3,82 1,234
19
. não paga pagamento do IPTU
3,70 ,974 2,85 1,417 2,89 1,676 3,29 1,437 2,40 1,174 3,07 1,394
20.
barulho de carros de som nas ruas
3,57 1,343 3,00 1,371 2,61 1,461 3,33 1,447 2,30 1,160 3,04 1,406
21.
casa eventos com música alta em áreas residenciais
3,91 1,240 3,51 1,040 2,78 1,555 4,00 1,000 3,36 ,924 3,53 1,224
22
. estaciona mento em local proibido na rua
4,09
,417 3,66 ,968 3,39 1,145 3,56 ,892 3,09 1,044 3,63 ,939
23
. comercio que utiliza a calçada
4,09 ,733 3,63 1,087 3,33 1,372
4,20
,862 3,00 1,414 3,70 1,133
24
. jogar lixo no chão da rua
3,96 ,367 3,54 ,980 3,00 1,333 3,57 ,852 3,30 ,949 3,51 ,976
25
. passeio cão na rua sem recolher a sujeira
3,74 ,541 3,57 1,008 3,16 1,302 3,50 ,816 3,00 1,183 3,46 ,994
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