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programação da TV, que passa a compor os sentidos, especialmente na forma do
palimpsesto
12
–, trazemos agora contribuições de Appadurai, que emprega “fluxo” para dar
conta da maneira como os processos culturais operam no mundo atual: transnacionalmente.
Segundo Appadurai, os atuais fluxos culturais globais ocorrem por meio da
disjuntura de paisagens (que ele nomeia de etnopaisagens, mediapaisagens, tecnopaisagens,
financiopaisagens e ideopaisagens
13
), como o deslocamento de pessoas transnacionalmente, a
disseminação de informações e imagens, a distribuição veloz e desigual da tecnologia, a
rapidez do capital girando globalmente, etc. E como estamos falando essencialmente de
comunicação, interessa-nos mais no momento a paisagem que trata diretamente da mídia (a
mediapaisagem).
O aspecto mais importante destas mediapaisagens
14
é que fornecem (especialmente
sob a sua forma de televisão, cinema e cassete) vastos e complexos repertórios de
imagens, narrativas e etnopaisagens
15
a espectadores de todo o mundo, e nelas estão
profundamente misturados o mundo da mercadoria e o mundo das notícias e da
política.
16
Se pensarmos nos conglomerados de mídia, nas grandes empresas de produção
cultural temos um forte exemplo da atuação transnacional dos produtos midiáticos. O sistema
de televisão mexicano Televisa, por exemplo, em 1980 exportava 24 mil horas de programas
de televisão
17
. No ano de 2000, a Televisa “[...] vendeu 90 mil horas de diferentes programas
para outros países, principalmente da América Latina.”
18
Dados de 2007 apontam que a
Televisa “[...] concentra 70% do mercado televisivo do México, é a maior produtora e
exportadora de novelas do planeta, com vendas estimadas em 260 milhões de dólares por
12
Palimpsesto é um suporte (como o pergaminho) sobre o qual foram escritos muitos textos e em cuja superfície
é possível enxergar, mesmo que com imperfeição, as escritas anteriores. Em muitos casos, como no nosso, a
imagem do palimpsesto é utilizada para conotar essa sobreposição de camadas que retornam, memórias que
passaram e emergem no presente.
13
APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema,
2004. p.50.
14
“Mediapaisagem refere-se à distribuição da capacidade eletrônica para produzir e disseminar informação
(jornais, revistas, estações de televisão e estúdios de produção de filmes) que estão agora ao dispor de um
número crescente de interesses privados e públicos em todo o mundo e das imagens do mundo criadas por esses
meios de comunicação.” (APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias.
Lisboa: Teorema, 2004. p.53).
15
Etnopaisagem refere-se à “[...] paisagem de pessoas que constituem o mundo em deslocamento que habitamos:
turistas, imigrantes, refugiados, exilados, trabalhadores convidados e outros grupos e indivíduos em movimento
[...].” (APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema,
2004. p.51).
16
APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema,
2004. p.54.
17
MIRA, Maria Celeste. “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”. Margem, São Paulo, n.3,
p.131-149, dez. 1994.
p.137.
18
LOZANO, José-Carlos. “Conglomerados de mídia e fluxos audiovisuais na América Latina”. Comunicação,
mídia e consumo, São Paulo, v.2, n.5, p.91-121, nov. 2005. p.103-104.