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FERNANDA ELOUISE BUDAG
COMUNICAÇÃO, RECEPÇÃO E CONSUMO:
suas inter-relações em Rebelde-RBD
Dissertação apresentada ao programa de
Mestrado em Comunicação e Práticas
de Consumo da Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM), linha
de pesquisa impactos socioculturais da
comunicação orientada para o mercado,
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Comunicação.
Orientadora: Profa. Dra. Maria
Aparecida Baccega
SÃO PAULO
2008
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Budag, Fernanda Elouise
Comunicação, recepção e consumo : suas inter-relações em Rebelde-
RBD / Fernanda Elouise Budag. – São Paulo: ESPM, 2008.
274 p. : il., color.
Orientador: Profa. Dra. Maria Aparecida Baccega
Dissertação (Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo)
Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP, 2008.
1. Recepção. 2. Consumo. 3. Telenovela. 4. Identidade. 5. Jovens. I.
Título. II. Budag, Fernanda Elouise. III. Baccega, Maria Aparecida. IV.
Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Ficha Catalográfica – SBE – Biblioteca Central – SP
Campus I “Francisco Gracioso”
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Fernanda Elouise Budag
Comunicação, recepção e consumo: suas inter-relações em
Rebelde-RBD
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Comunicação pelo Programa de Mestrado
em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de
Propaganda e Marketing. Aprovada pela Comissão Examinadora
abaixo assinada.
Maria Aparecida Baccega
Orientadora
ESPM
Rosamaria Luiza (Rose) de Melo Rocha
ESPM
Veneza Mayora Ronsini
UFSM
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)
São Paulo, ____ de ________ de 2008
Com todo o meu amor, aos meus pais, por
todo o seu amor.
AGRADECIMENTOS
Não há a quem não agradecer e não há, da mesma forma, espaço nem palavras
suficientes para tanto.
Assim, registramos brevemente agradecimentos específicos àqueles que
diretamente e mais de perto acompanharam e contribuíram para a conclusão e materialização
da dedicação de dois anos.
À Professora Maria Aparecida Baccega. Por sua sensibilidade e paciência. Por sua
habilidade na transmissão de seus muitos saberes e também pelas horas de dedicação. Sem ela
– sua visão e seus apontamentos –, definitivamente, não haveria uma página completa.
À minha família, meu porto seguro. Pelo carinho e pelas palavras de conforto e
motivação para seguir em frente. Mesmo a distância não fez esfriar o calor de seus
sentimentos. Obrigada pelo pensamento positivo e por tudo o mais: desde os primeiros
conselhos até as mais recentes sugestões.
Ao melhor amigo e companheiro. Pelo estar junto: separados por 600
quilômetros, não deixou de acompanhar-me diariamente. E, principalmente, por compreender
minha ausência física. Ausência em momentos importantes, ausência em momentos de
alegria, ausência em momentos difíceis.
Agradecimentos também àqueles que indiretamente colaboraram. Independente de
como tenham operado tal colaboração: aos novos e aos velhos amigos.
Por fim, à força que rege este universo, por nos ter permitido chegar até aqui.
O consumo não é apenas reprodução de
forças, mas também produção de sentidos:
lugar de uma luta que não se restringe à posse
dos objetos, pois passa ainda mais
decisivamente pelos usos que lhes dão forma
social e nos quais se inscrevem demandas e
dispositivos de ação provenientes de diversas
competências culturais.
Jesús Martin-Barbero
RESUMO
O objeto de estudo desta dissertação são as inter-relações recepção/consumo na
telenovela Rebelde e banda RBD, investigando a influência deste produto da cultura da mídia
(Rebelde-RBD) no processo de formação das identidades dos jovens. Destacam-se as questões
relacionadas à produção de sentidos, apropriações e reapropriações, construção de
representações sociais, as quais ocorrem no processo de recepção e interferem na constituição
desses jovens enquanto sujeitos. Abordam-se as práticas de consumo que envolvem a
interação entre as esferas materiais e simbólicas, destacando as singularidades que Rebelde-
RBD promove nessas práticas: percebe-se uma extensão, um certo privilegiamento do pólo do
simbólico relacionado ao material. A pesquisa buscou identificar quais as valorações que o
público infanto-juvenil atribui ao consumo material atrelado ao simbólico e, sobretudo, quais
os pontos que os jovens destacam como motivadores do imperativo que se percebe, no caso
específico desse produto de mídia, existir com relação à aquisição dos objetos referentes à
telenovela e à banda e qual o resultado concreto desse movimento de recepção/consumo na
formação das identidades dos sujeitos.
Palavras-chave: Recepção. Consumo. Telenovela. Identidade. Jovens.
ABSTRACT
The study object of this dissertation are the intersections reception/consumption in
the Rebelde soap opera and RBD teenage band, searching the influence of that product of
media culture (Rebelde-RBD) in the formation process of teenagers’ identities. The emphasis
is in the questions related to the production of meanings, appropriations and reappropriations,
and also the construction of social representations that happen in the reception process and
interfere on the constitution of these teenagers as individuals. We approach the consumption
practices that involve the interaction between the material and symbolical spheres,
emphasizing the singularities that Rebelde-RBD promotes in these practices: we notice an
extension, a kind of privilege of the symbolical pole related to the material one. The research
sought to identify which values the young public imputes to the material consumption linked
to the symbolical consumption and, mainly, what are the points that the teenagers emphasize
as the motivations to the imperative that, in the specific case of this media product, we notice
to exist in what concerns to the acquisition of the objects relative to the soap opera and the
band and what is the concrete result of this reception/consumption movement in the formation
of individual identities.
Keywords: Reception. Consumption. Soap opera. Identity. Teenagers.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Cena em que o personagem Diego cai na piscina..................................................26
Figura 2 – Fotografia do ambiente externo à Escola Joaninha Grassi Fagundes....................34
Figura 3 – Fotografia da parte externa ao local do show de RBD...........................................37
Figura 4 – Fotografia dos alunos participantes do grupo focal ...............................................39
Figura 5 – Fotografia de aluna participante de entrevista em profundidade ...........................40
Figura 6 – Primeiro CD em português de RBD (Rebelde – edição Brasil) .............................57
Figura 7 – CD mais recente de RBD (Empezar desde cero) ...................................................57
Figura 8 – Propaganda do Trio RBD (lanche da rede Giraffas)..............................................59
Figura 9 – Coleção Barbie Rebelde.........................................................................................60
Figura 10 – Cena em que Roberta lê em voz alta aos amigos a carta do Professor Reverte...67
Figura 11 – Cena em que Professor Madariaga conversa com os alunos ...............................68
Figura 12 – Cena do casamento de Nico e Lupita...................................................................70
Figura 13 – Parte da cena em que Roberta sofre por causa da desilusão com sua família......71
Figura 14 – Parte da cena em que Roberta sofre por causa da desilusão com sua família......71
Figura 15 – Cena em que Colucci agradece à Roberta, Mía, Josy e Alma .............................72
Figura 16 – Fotografia do personagem Miguel.......................................................................74
Figura 17 – Fotografia da personagem Mía ............................................................................74
Figura 18 – Fotografia do personagem Diego.........................................................................77
Figura 19 – Fotografia da personagem Roberta ......................................................................77
Figura 20 – Fotografia do personagem Giovanni....................................................................79
Figura 21 – Fotografia da personagem Lupita ........................................................................79
Figura 22 – Quadro ilustrativo do perfil dos personagens de Rebelde....................................80
Figura 23 – Cena em que Nico e sua mãe conversam sobre seu namoro com Lupita ............97
Figura 24 – Fotografia da personagem gordinha, Celina (ao centro)......................................99
Figura 25 – Fotografia do quarto dos personagens ...............................................................113
Figura 26 – Cena com par romântico ....................................................................................117
Figura 27 – Cena com par romântico ....................................................................................117
Figura 28 – Cena de show de RBD veiculada na telenovela .................................................118
Figura 29 – Cena em que Roberta declara seu amor à mãe...................................................118
Figura 30 – Gráfico com categorias de produtos por nível socioeconômico ........................119
Figura 31 – Quadro ilustrativo dos meios de manifestação das identidades.........................121
Figura 32 – Celular Rebelde..................................................................................................122
Figura 33 – CD Nuestro Amor – Diamante ..........................................................................122
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................1
1 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS...................................................4
1.1 Estudos Culturais .....................................................................................................5
1.1.1 Trajetória histórica............................................................................................5
1.1.2 Perspectivas e conceitos introduzidos...............................................................7
1.2 Estudos de Recepção ..............................................................................................11
1.2.1 Relação entre Estudos de Recepção e Estudos Culturais..............................13
1.2.2 Características .................................................................................................15
1.2.3 Mediações.........................................................................................................16
1.2.3.1 Delimitações teóricas....................................................................................16
1.2.3.2 Operacionalizações práticas .........................................................................18
1.2.4 Recepção e consumo: aproximações...............................................................23
1.3 Análise de Discurso.................................................................................................24
1.3.1 Elementos.........................................................................................................25
1.3.1.1 Condições de produção do discurso .............................................................26
1.3.1.2 Interdiscurso .................................................................................................27
1.3.1.3 Não-dito........................................................................................................28
1.3.1.4 Esquecimento ...............................................................................................28
1.3.1.5 Paráfrase e polissemia ..................................................................................29
1.4 Procedimentos metodológicos................................................................................32
1.4.1 Considerações introdutórias............................................................................32
1.4.2 Contextualizações............................................................................................34
1.4.3 O passo a passo................................................................................................36
1.4.3.1 Etapas preliminares ......................................................................................36
1.4.3.2 Fases posteriores...........................................................................................37
2 TELENOVELA, REBELDE E SEU DISCURSO........................................................41
2.1 A telenovela: fundamentos e renovações..............................................................41
2.1.1 O melodrama: origem e reapropriação pela telenovela.................................41
2.1.2 Características clássicas e mudança de base tecnológica..............................44
2.2 A telenovela: produto cultural inserido nas práticas cotidianas........................46
2.2.1 O cotidiano na telenovela................................................................................47
2.2.2 A telenovela no cotidiano................................................................................48
2.3 Rebelde e sua antecessora Rebelde Way................................................................50
2.3.1 Rebelde Way.....................................................................................................50
2.3.2 Rebelde.............................................................................................................51
2.4 Rebelde e seus números..........................................................................................53
2.4.1 Audiência, shows, outros formatos e prêmios................................................53
2.4.2 CDs, DVDs e demais produtos........................................................................56
2.5 Rebelde, música, telenovelas antecessoras e formatos posteriores.....................60
2.5.1 Antecessoras recentes......................................................................................60
2.5.2 Telenovela e música.........................................................................................62
2.5.3 De 1989 para os dias atuais.............................................................................63
2.5.4 Telenovela Rebelde e telefilme High School Musical....................................64
2.6 Rebelde e seu discurso ............................................................................................66
2.6.1 Valores em Rebelde .........................................................................................66
2.6.2 Reconhecimento identitário dos personagens de Rebelde .............................72
2.6.2.1 Personagens Miguel e Mía ...........................................................................73
2.6.2.2 Personagens Roberta e Diego.......................................................................75
2.6.2.3 Personagens Lupita e Giovanni....................................................................77
2.6.2.4 Demais personagens .....................................................................................79
3 CONSUMO, IDENTIDADES E REBELDE................................................................81
3.1 Por dentro da Economia Cultural.........................................................................81
3.1.1 Fluxos globais e fluxos locais.........................................................................81
3.1.2 Complexos sistemas midiáticos .......................................................................86
3.1.3 Comunicação e Educação...............................................................................88
3.2 Identidades..............................................................................................................89
3.2.1 Identidades: conceituações..............................................................................91
3.2.2 Identidades: caráter fluido..............................................................................92
3.2.3 Identidade de pertencimento...........................................................................94
3.2.4 Estereótipos: análise dos discursos.................................................................95
3.3 Práticas de Consumo............................................................................................102
3.3.1 As duas dimensões do consumo: a simbólica e a material ..........................102
3.3.2 O consumo e a telenovela..............................................................................105
3.4 A vez dos receptores/consumidores ....................................................................106
3.4.1 Mapa de consumo cultural............................................................................107
3.4.2 Análise de Discurso: emergência de sentidos...............................................110
3.4.3 Categorias de manifestações das identidades...............................................113
3.4.4 Singularidades nos modos de uso.................................................................121
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................125
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................128
APÊNDICES.........................................................................................................................136
1
INTRODUÇÃO
“Qual o momento exato em que começamos a decidir a nossa vida? Quem testou
nossos pais pra saber se seriam capazes de escolher o melhor pra gente? Quando eles
escolhem o nosso colégio, será que têm a consciência de que esse lugar vai marcar a nossa
história pra sempre?” Este é o discurso inicial da telenovela Rebelde. E, igualmente a ele,
podemos dizer que nosso discurso inicial também terminava em ponto de interrogação, ou
melhor, interrogações – no plural –: o que há nesta telenovela que atrai tanto aos jovens
1
?
Recursos, valores, temáticas, etc. O que vêem os jovens neste produto midiático? Por que o
consomem? Ou será que têm suas identidades consumidas por ele? Este interrogatório veio à
tona após termos notícia da quantidade de jovens que foram a uma “simples” tarde de
autógrafos; ocasião em que, para nós, Anahí Portilla, Dulce Maria, Christopher Uckermann,
Alfonso Herrera, Maite Perroni e Christian Chávez (integrantes de RBD e protagonistas de
Rebelde) eram total desconhecidos. Depois, nossa atenção foi chamada por situações que
ocorrem à nossa volta e acabamos captando justamente porque nossa mente já estava focada
para tal norte: ao andar pelas ruas de São Paulo, notamos jovens com camisetas ou mochilas
de Rebelde, ao entrarmos no metrô nos deparamos com um rapaz lendo a revista da
telenovela-banda e, ao aguardar o abrir de um semáforo, flagramos uma conversa de uma
amiga para a outra: “Quem você prefere? Sabe que eu acho que gosto mais da Roberta do que
da Mía?!”.
Não construímos hipóteses propriamente ditas como ponto de partida. Porém,
tínhamos algumas pistas para orientar, principalmente, nossos primeiros passos. A primeira
delas, como um rastro que se encontra ao acaso ou um insight que se revela de repente, é a
constatação de que Rebelde foi concebida desde o princípio para vender mercadorias e, entre
elas, sobretudo a banda RBD. E aqui se insere a segunda pista: RBD (a banda) deu origem a
Rebelde (a telenovela). No formato de um produto rentável, a telenovela mostrou-se, aos seus
produtores, uma ótima “propaganda” para divulgar a banda que, fazendo sucesso, teria uma
vida mais longa do que a telenovela. O que, com efeito, aconteceu.
Com o traçar destas poucas linhas e com a ciência de estarmos localizados no
campo da comunicação, o leitor já deve ter uma breve noção de nosso objeto de estudo. Este
1
Esclarecemos que adotamos os termos “criança” e “adolescente” segundo as definições do Estatuto da Criança
e do Adolescente, em vigor no Brasil, que considera criança os sujeitos até 12 anos de idade incompletos e,
adolescente, os sujeitos entre 12 e 18 anos de idade. E quando usamos a palavra “jovem” estamos nos referindo
aos dois grupos (criança e adolescente).
2
se configura como a recepção e o consumo da telenovela Rebelde – e da banda RBD a ela
“vinculada”. O foco é a pesquisa da importância de um produto da cultura da mídia –
Rebelde-RBD – na construção das identidades juvenis, importância fundamentada no diálogo
com as práticas de consumo simbólico e material.
Talvez, nessas sentenças já tecidas, esteja implícita nossa escolha por este tema.
Por estarmos inseridos num Programa de Mestrado que está preocupado tanto com as
estratégias das indústrias da comunicação e do consumo quanto com as influências destas
sobre o âmbito sociocultural dos sujeitos, pareceu-nos um caminho que, ao mesmo tempo em
que levaria em consideração as exigências do Programa, contemplaria (e contemplou) as
aspirações da autora. Nossa opção por estudar o nexo entre a cultura jovem e a telenovela gira
em torno da possibilidade de aproximarmo-nos de atores sociais criativos e apaixonados – que
são os jovens – e vivermos um pouco “dentro” de um mundo que mistura realismo e fantasia
da maneira que lhe é peculiar – que é a telenovela. Isto, como experiência de aprendizado
para ampliar nosso repertório sobre a comunicação – até então bastante restrito ao âmbito da
publicidade – e, a partir daí, com o pano de fundo sociocultural, enxergar a comunicação em
sua amplitude e complexidade.
Da mesma forma, para o campo da comunicação social, entrevemos com este
estudo uma produção de conhecimento que vem a enriquecer as pesquisas sobre identidades
juvenis, telenovela e práticas de consumo. Contribuições que podem estar na articulação
singular dos diversos autores com os quais dialogamos, nos procedimentos de análise do
corpus coletado, nos contatos estabelecidos entre as os operadores teóricos e as constatações
da pesquisa de campo ou no arranjo entre os distintos procedimentos metodológicos.
A rigor, nossa mola propulsora foi a busca de pistas para descortinar as relações
comunicação-consumo. E nisto, procurar desvelar identidades, identificações, marcas
identitárias, etc. Para tanto, para conseguirmos trabalhar este objeto, assumimos dois objetivos
centrais e norteadores do estudo. Primeiro, procuramos perceber as práticas de consumo
efetuadas por jovens (crianças e adolescentes) agenciadas por Rebelde-RBD. E em um
segundo momento – distinto, mas simultâneo – buscamos caminhos para, no processo de
recepção e consumo de Rebelde-RBD, identificar traços das identidades desses jovens.
Consumo e identidade, pois, inter-relacionados com a comunicação midiática.
No que concerne ao primeiro objetivo, prioritariamente procuramos responder por
que, em se tratando de Rebelde-RBD, o consumo dos produtos materiais é tão fundamental
para a satisfação plena do consumo simbólico. E, de maneira secundária, buscamos esboçar
constatações sobre o valor e a importância que os jovens atribuem aos bens materiais de
3
Rebelde-RBD. Já no segundo objetivo o foco está na exploração da possível conexão existente
entre as identidades da criança e do adolescente a partir da recepção e do consumo que estes
fazem de Rebelde-RBD: personagens em que se espelham, situações em que se projetam, etc.
Para conseguirmos operacionalizar esta pesquisa a fim de alcançarmos os
objetivos propostos, adotamos uma abordagem multimetodológica ao inserirmo-nos em
campo. A mesma consiste em diversas etapas contínuas e complementares: observação
participante, pesquisa participante, questionário quanti-qualitativo, grupo focal e entrevistas
em profundidade. Coletamos, então, falas, denúncias, desabafos, experiências cotidianas e
encantamentos vividos por jovens a partir de sua relação com uma telenovela a eles dirigida.
Estes discursos por eles proferidos compõem nosso corpus e, como tal, precisamos “decifrá-
los”. Ao mesmo tempo em que procuramos fazer emergir sentidos destes enunciados por meio
de procedimentos da Análise de Discurso, empreendemos também análises gerais para
tentarmos alcançar as práticas de consumo que identificamos.
No capítulo 1 trazemos nosso panorama conceitual de base – Estudos Culturais,
Estudos de Recepção e Análise de Discurso – e uma apresentação detalhada de nossos
procedimentos metodológicos. Assemelha-se, assim, a uma preparação para a investigação
que estava por vir nos dois capítulos seguintes. No capítulo 2 os holofotes, com essas
lâmpadas bem acesas, dirigem-se exclusivamente para a nossa atriz principal, a telenovela:
sua matriz cultural, suas estratégias de produção, sua inserção no cotidiano, finalizando com
uma análise das personagens e valores de Rebelde. Por sua vez, o capítulo 3 dedica-se à
interface identidade-consumo-Rebelde. Apesar de termos procurado apresentar resultados da
pesquisa de campo em todo o percurso do estudo, grande parte concentra-se aqui. Justamente
porque a lógica de construção da dissertação pediu este movimento.
O que o leitor encontrará aqui é uma das possíveis aproximações a esse objeto, o
que, evidentemente, não tem a pretensão de esgotar o tema. De qualquer maneira, esperamos
que as cenas dos próximos capítulos iluminem percursos para novas investigações, que o
“final feliz” não fique concentrado apenas na malha da ficção e possa eclodir para a realidade
concreta na forma de pesquisas afins ou, no mínimo, que nossas palavras ilustrem passagens
da fantástica novela que é a experiência de consumo material e cultural-midiático.
4
1 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
"As teorias oferecem recursos para falar de experiências, discursos,
práticas, instituições e relações sociais comuns. Também indicam
conflitos e problemas, fornecendo recursos para discuti-los e para
procurar soluções."
(Douglas Kellner)
2
Ao longo deste estudo, estaremos todo o tempo tratando da relação comunicação-
consumo-cultura. Em verdade, uma vez que entendemos por cultura as práticas cotidianas,
experiências e produções simbólicas dos sujeitos sociais, comunicação e consumo são cultura,
são práticas culturais. Ou seja, cultura é uma instância plural e, para dar conta de investigá-la,
enxergamos que os Estudos Culturais
3
, por terem um caráter plural e interdisciplinar, são-nos
indispensáveis.
Compreendemos teorias – como a teoria dos Estudos Culturais e dos Estudos de
Recepção, por exemplo – “[...] como ferramentas que nos ajudam a enxergar, atuar e
movimentar por campos sociais específicos, indicando fenômenos relevantes, estabelecendo
nexos, interpretando e criticando, e talvez explicando e prevendo determinados estados de
coisas.”
4
Assim, os Estudos Culturais são a perspectiva com a qual observamos nosso objeto
e o panorama de base a partir do qual fazemos nossas análises.
Para compreendermos a importância e a opção por estes aportes teórico-
metodológicos, é importante esclarecermos um certo percurso dos Estudos Culturais –
britânicos e latino-americanos – e seus fundamentos – o conceito de cultura e o subsídio
gramsciano –, assim como as peculiaridades e “vantagens” dos Estudos de Recepção em
detrimento de outros paradigmas teóricos da comunicação.
Adotamos como pressuposto o fato de que apenas partindo dos Estudos Culturais
é que conseguimos fazer pesquisa de comunicação (e isso não se aplica apenas para recepção
de telenovela) que tenha uma visão da recepção como um processo e não uma visão
funcionalista, da recepção como estímulo-resposta. Esta visão processual, aliás, é uma grande
contribuição de Stuart Hall, que pensa o processo comunicativo “[...] em termos de uma
2
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-
moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001. p.38.
3
Optamos por utilizar o termo “Estudos Culturais” com as letras iniciais em maiúsculas para fazer jus à
importante corrente de investigação que deseja designar. Eventualmente poderá aparecer em letras minúsculas
quando fizer parte de citação de autores que assim utilizam a expressão.
4
Ibid., p.38.
5
estrutura produzida e sustentada através da articulação de momentos distintos, mas
interligados – produção, circulação, distribuição/consumo, reprodução”
5
.
Por esta razão, fazemos primeiramente aqui uma introdução aos balizamentos dos
Estudos Culturais que nos são mais pertinentes. Em seguida, trazemos apontamentos teóricos
sobre os Estudos de Recepção e, já incorporando dados de nossa pesquisa empírica,
apontamos as mediações que identificamos como principais influenciadoras no processo de
recepção da telenovela Rebelde – produto midiático em que focamos nosso estudo. Depois,
buscamos apresentar as teorizações da Análise de Discurso, que corresponde à base da análise
de nosso corpus. E, por fim, descrevemos minuciosamente os procedimentos metodológicos
por nós empreendidos.
1.1 Estudos Culturais
1.1.1 Trajetória histórica
Não temos a pretensão de efetuar uma apresentação sistemática da trajetória de
todos os autores, pesquisas e conceitos dos Estudos Culturais. Até porque não se faz
necessário todo este desdobramento dada a natureza e o objetivo desta pesquisa. Queremos,
pois, “apenas” fazer uma breve apresentação do que são os Estudos Culturais, explanar seus
pensamentos que nos interessam mais de perto e esclarecer as suas contribuições para a nossa
investigação: contribuições que são possíveis adotando os Estudos Culturais como ponto de
vista.
Podemos dizer que Estudos Culturais é uma corrente de estudos, uma tradição
teórica, uma área de pesquisa que possui como eixo principal de investigação “[...] as relações
entre a cultura contemporânea e a sociedade, isto é, suas formas culturais, instituições e
práticas culturais, assim como suas relações com a sociedade e as mudanças sociais [...].”
6
As
primeiras teorizações que forneceram o suporte para os Estudos Culturais são três textos que
datam de final dos anos 1950 e início dos anos 1960: The uses of literacy (1957), Culture and
society (1958) e The making of the english working-class (1963), respectivamente de Richard
Hoggart, Raymond Williams e Edward Palmer Thompson. Estes textos correspondem à base
dos Estudos Culturais; contudo, sua efetiva fundação se deu com a criação, em 1964, do
5
HALL, Stuart. “Codificação/Decodificação”. In: Liv Sovik (org.). Da diáspora: identidades e mediações
culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003. p.387.
6
ESCOSTEGUY, Ana Carolina. “Estudos Culturais: uma introdução”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). O
que é, afinal, estudos Culturais? 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.138-139.
6
Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS), da Universidade de Birmingham, onde as
primeiras pesquisas ficaram concentradas. Estes três autores fazem parte do grupo de
pesquisadores da primeira fase dos Estudos Culturais. Eles vêm da literatura e, com o
percurso de seus trabalhos, acabam estudando a comunicação de massa. Por isso, e por
estarmos localizados no campo da comunicação, acabamos aqui dando ênfase às posições
assumidas pelos pesquisadores em Estudos Culturais ao investigarem a comunicação.
Fala-se em Estudos Culturais britânicos para designar justamente este panorama
que acabamos de traçar: o projeto original, os primeiros anos dos Estudos Culturais. De
maneira dispersa, os Estudos Culturais britânicos existem até hoje – dispersa porque o CCCS
foi fechado em 2002 –, mas são referência principalmente por causa deste início: de maneira
especial o período que vai de 1964 a 1979. A partir daí se começa a perceber a emergência de
projetos de Estudos Culturais em diversas outras partes do Mundo.
A começar dos anos 1980 os Estudos Culturais passam a internacionalizar-se, a
repercutir fora de seu âmbito de origem, a descentralizar-se do CCCS. Segundo Escosteguy,
os Estudos Culturais “não se confinam mais à Inglaterra e Europa nem aos Estados Unidos,
tendo se alastrado para a Austrália, Canadá, Nova Zelândia, América Latina e também para a
Ásia e África.”
7
E é justamente por isso que aqui falaremos, além de Estudos Culturais no
geral, como um todo – pois seus princípios-base são similares nas diversas localidades –,
também de Estudos Culturais britânicos (já tratados) e Estudos Culturais latino-americanos.
Ainda sobre os Estudos Culturais britânicos, é marcante a sua preocupação com
discussões políticas, na tentativa de construção de um projeto político – sobretudo antes dos
anos 1990 –, o seu compromisso com movimentos sociais, especialmente o feminismo e,
também, seu vínculo com questões relacionadas às condições sociais e à estrutura social.
Enquanto estava mais localizado no CCCS, a pesquisa dos Estudos Culturais “[...] estava
delimitada, principalmente, nas seguintes áreas: as subculturas, as condutas desviantes, as
sociabilidades operárias, a escola, a música e a linguagem”
8
.
Por sua vez, aqui na América Latina, os Estudos Culturais introduzem avanços e
trazem grandes contribuições às pesquisas em comunicação. Não se institucionalizou aqui um
Centro à imagem do CCCS. Percebe-se que
na América Latina, eles [os Estudos Culturais] sobrevivem como uma tendência
dentro de um departamento acadêmico através de posicionamentos isolados ou de
7
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-americana. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. p.39.
8
ESCOSTEGUY, Ana Carolina. “Estudos Culturais: uma introdução”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). O
que é, afinal, estudos Culturais? 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.146.
7
um coletivo de pesquisadores, outras vezes como linha de pesquisa de programas de
pós-graduação ou mesmo como projetos de investigação interdisciplinar.
9
Podemos mencionar os principais nomes dos Estudos Culturais latino-americanos:
Jesús Martin-Barbero, com suas teorizações sobre mediações; Néstor García Canclini, que
trabalha muito com o que chama de hibridação cultural; Renato Ortiz, com seus trabalhos
sobre o internacional-popular e Jorge González, tratando das frontes da cultura cotidiana.
10
Além de nomes como: Guillermo Orozco Gómez (México), Rossana Reguillo (México),
Guillermo Sunkel (Chile), José Joaquin Bruner (Chile), Beatriz Sarlo (Argentina), Aníbal
Ford (Argentina), Rosa Maria Alfaro (Peru) e outros.
11
1.1.2 Perspectivas e conceitos introduzidos
A perspectiva dos Estudos Culturais possibilita perceber o processo da
comunicação como um todo e sua inserção no contexto sociocultural mais amplo. É Hall o
responsável por incorporar este ponto de vista do “todo”, pensando o processo comunicativo
como
[...] uma complexa estrutura em dominância, sustentada através da articulação de
práticas conectadas [produção, circulação, distribuição/consumo, reprodução], em
que cada qual, no entanto, mantém sua distinção e tem sua modalidade específica,
suas próprias formas e condições de existência.
12
Assim, os Estudos Culturais permitem “desbotar” as fronteiras entre as diversas
disciplinas das Ciências Sociais e percebem a dinâmica entre os níveis socioeconômicos.
Adiante, em nossos escritos nos próximos capítulos, é possível entrever como isto se dá.
Diante do exposto, queremos apresentar algumas das principais idéias e princípios
norteadores dos Estudos Culturais.
A) Alargamento do conceito de cultura
Inserido nos Estudos Culturais britânicos, vemos como grande contribuição o
conceito de cultura introduzido por Raymond Williams (em Culture and Society, 1958).
Williams mostra que cultura é a produção de todas as classes sociais e não somente a
produzida pela elite. Mattelart, parafraseando Williams, expressa bem a concepção de cultura
9
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-americana. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. p.44.
10
MATTELART, Armand e NEVEU, Érik. Introdução aos estudos culturais. São Paulo: Parábola, 2004. p.143.
11
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-americana. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. p.41.
12
HALL, Stuart. “Codificação/Decodificação”. In: Liv Sovik (org.). Da diáspora: identidades e mediações
culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003. p.387.
8
do autor: “[...] a cultura é o processo global por meio do qual as significações são social e
historicamente construídas; a literatura e a arte são apenas uma parte da comunicação
social.”
13
Ou seja, Williams promove uma expansão do sentido de cultura. Isto porque, até
aquele momento, o pensamento vigente – mesmo que já tivessem ocorrido interferências
anteriores neste modo de pensar – era de que cultura era “A cultura”, a “alta cultura” (por
exemplo, as belas-artes, música, pintura, literatura, etc.). Enfim, uma idéia elitista de cultura
que não considerava os produtos dos meios de comunicação como produtos culturais.
Enxergava os meios de comunicação como perversos. Via nos produtos da mídia a diluição da
arte e do saber restritos a classe “culta” dominante. Assim como visualizava o desabamento
de valores éticos, humanos e familiares.
Agora, com Williams, não apenas a produção midiática é cultural, como todas as
práticas cotidianas são cultura, incluindo as das camadas populares ou subalternas, como diz
Gramsci. “Esta [a cultura] refere-se, então, a um amplo espectro de significados e práticas que
move e constitui a vida social.”
14
Reconhecemos como cultura desde expressões humanas
como os artesanatos e festas populares, passando por práticas de consumo, práticas de lazer e
manifestações sociais como a linguagem, abrangendo formas simbólicas como a telenovela e
a publicidade.
Esta concepção de cultura será apropriada, por volta dos anos de 1980, por
representantes da vertente latino-americana dos Estudos Culturais, como Jesús Martin-
Barbero e Néstor García Canclini.
B) Conceito de hegemonia de Gramsci
Com esse deslocamento, ou melhor, alargamento, da concepção de cultura, é de se
perceber que seria importante compreender a dinâmica entre as classes sociais, uma vez que
agora todas são consideradas como produtoras legítimas de cultura. E é neste aspecto que vem
contribuir, tanto para a corrente britânica quanto para a latino-americana, Antonio Gramsci.
Antes disso, porém, no início dos trabalhos dos Estudos Culturais – sejam britânicos ou de
outras localidades – o conceito de ideologia foi bastante incorporado. Ideologia como um
processo implícito que influencia as práticas dos sujeitos e, tomando por base a escala social,
concebe uma manipulação sempre de cima para baixo: uma imposição tácita do grupo
dominante ante o grupo dominado. Contudo, o conceito de ideologia passou a apresentar
13
MATTELART, Armand e MATTELART, Michèle. História das teorias da comunicação. 6. ed. São Paulo:
Loyola, 2003. p.105.
14
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-americana. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. p.26.
9
deficiências e fragilidades para explicar a relação entre as culturas, a dinâmica cultural.
Explicava, “[...] meio mecanicamente, as idéias circulantes como sendo sempre aquelas
impostas pelas classes dominantes e, em direção inversa, atribuía às idéias e expressões
culturais subalternas um caráter alienado, passivamente sujeito à dominação ou
conscientemente resistente”
15
.
Secundarizando a noção de ideologia, Gramsci empreende um “[...]
desbloqueamento, a partir do marxismo, da questão cultural e da dimensão de classe na
cultura popular.”
16
E, sobretudo, incorpora aos Estudos Culturais o conceito de hegemonia:
[...] possibilitando pensar o processo de dominação social já não como imposição a
partir de um exterior e sem sujeitos, mas como um processo no qual uma classe
hegemoniza, na medida em que representa interesses que também reconhecem de
alguma maneira como seus a classe subalterna.
17
Considerando que uma mesma sociedade comporta interesses diferenciados em
seu interior, isso origina, conseqüentemente, uma produção de sentidos igualmente distintos.
É o que ocorre, por exemplo, entre práticas da cultura hegemônica e da cultura popular.
Donde a razão de tantos teóricos afirmarem que a cultura é “um espaço de diferenças e lutas
sociais”
18
e compreenderem a “[...] esfera cultural como um cenário em que se desenrolam
importantes lutas para a obtenção e manutenção da hegemonia.”
19
Cada grupo busca o
estabelecimento do sentido que mais o favorece. Igual disputa ocorre no campo da linguagem.
Segundo Bakhtin, “o signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classes.”
20
E esta
luta se desenvolve no sentido de a classe dominante tentar fazer prevalecer apenas um
significado a determinado signo. “A classe dominante tende a conferir ao signo ideológico um
caráter intangível e acima das diferenças de classe, a fim de abafar ou de ocultar a luta dos
índices sociais de valor que aí se trava, a fim de tornar o signo monovalente”
21
.
Assim, “em determinados momentos, a cultura popular resiste e impugna a cultura
hegemônica; em outros, reproduz a concepção de mundo e de vida das classes
15
MENDONÇA, Maria Luisa. “Comunicação e cultura: um novo olhar”. Novos Olhares, São Paulo, n.1, p.30-
38, 1º sem. 1998. p.31.
16
MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 4. ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2006. p.112.
17
Ibid., p.112.
18
JOHNSON, Richard. “What is cultural studies anyway?” In: STOREY, John (org.). What is Cultural Studies?
A Reader. Apud: ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-
americana. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p.60.
19
MENDONÇA, Maria Luisa. “Comunicação e cultura: um novo olhar”. Novos Olhares, São Paulo, n.1, p.30-
38, 1º sem. 1998. p.33.
20
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. p.46.
21
Ibid., p.47.
10
hegemônicas.”
22
Talvez, hoje – e desde algum tempo –, um dos maiores desafios para os
pesquisadores comprometidos com os Estudos Culturais seja tentar entender como age a força
hegemônica dentro do contexto popular.
C) Interdisciplinaridade
Para dar conta de estudar esse domínio complexo que é o da cultura, onde se
encontra a comunicação, os Estudos Culturais buscam a interdisciplinaridade. Em verdade,
podemos dizer que eles nasceram nessa confluência de disciplinas.
Os estudos culturais não configuram uma “disciplina” mas uma área onde diferentes
disciplinas interatuam, visando ao estudo de aspectos culturais da sociedade. [...] É
um campo de estudos em que diversas disciplinas se interseccionam no estudo de
aspectos culturais da sociedade contemporânea, constituindo um trabalho
historicamente determinado.
23
De fato, os Estudos Culturais deixam transparecer um certo descontentamento
com os limites das disciplinas. Justamente porque entendem que somente uma convergência
de disciplinas (preocupações e métodos) “[...] propicia entender fenômenos e relações que não
são acessíveis através das disciplinas existentes”
24
.
Como diz Morin, “o todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas
nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas qualidades ou propriedades
das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo.”
25
Portanto, os limites
entre as disciplinas dificultam ou até mesmo impedem uma investigação mais ampla, com
uma visão do todo, necessária quando o que está em jogo é a cultura. Ainda mais quando
levamos em consideração que esta não deve ser estudada como instância isolada de demais
circunstâncias; e sim sempre vinculada ao momento histórico, ao contexto social e às relações
de poder aí presentes.
D) Metodologia qualitativa
Metodologicamente destaca-se nos Estudos Culturais a adoção de pesquisas
qualitativas. Aliás, isto ocorre nos Estudos Culturais de forma geral e nas pesquisas de
recepção de maneira específica. O enfoque qualitativo consegue melhor explicar os
22
ESCOSTEGUY, Ana Carolina. “Estudos Culturais: uma introdução”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). O
que é, afinal, estudos Culturais? 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.147.
23
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-americana. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. p.28.
24
TURNER, Graeme. British Cultural Studies – an introduction. Apud: ESCOSTEGUY, Ana Carolina.
“Estudos Culturais: uma introdução”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). O que é, afinal, estudos Culturais? 3.
ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.138.
25
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF:
UNESCO: 2003. p.37.
11
fenômenos sociais – complexos e dinâmicos – do que trabalhos quantitativos, focados em
estatísticas e categorias mensuráveis que enrijecem os resultados em vez de descrevê-los de
maneira mais profunda e, logo, mais consoante com a natureza dos objetos de estudo.
Dentro da abordagem qualitativa, a etnografia ganha ênfase. “A escolha por
trabalhar etnograficamente deve-se ao fato de que o interesse incide nos valores e sentidos
vividos. O estudo etnográfico acentua a importância dos modos pelos quais os atores sociais
definem, por si mesmos, as condições em que vivem
26
.
Fazendo uso da etnografia, por exemplo, num estudo de recepção, ingressa-se no
âmbito das condições experienciadas de fato pelos sujeitos componentes da amostra da
pesquisa. Porém, Escosteguy
27
alerta para o fato de que, tendo essa possibilidade de vivenciar
“ao vivo” práticas de recepção dos meios não deve levar o pesquisador a colocar em relevo
demais as leituras negociadas e resistências que os sujeitos empreendem, porque, afinal,
mesmo sendo os receptores participantes da produção dos sentidos, não deixam de serem
marginais em relação à produção midiática em sua origem.
Enxergamos no trabalho de Ronsini um exemplar estudo recente em que essa
teorização sobre métodos qualitativos é aplicada em pesquisa de campo. A autora associa
estudo de caso e “etnografia crítica do consumo cultural”
28
para examinar o vínculo entre
estilos juvenis e mídia. O objetivo é “[...] indagar sobre a forma como se realizam, se
negociam ou se rechaçam as táticas do poder econômico, político e cultural que perpassam a
vida cotidiana”
29
de jovens inseridos em subculturas, na região Sul do Brasil. E, assim, a
junção das duas metodologias, abarca com sucesso as questões referentes às práticas culturais
e sociais que aí estão em jogo.
1.2 Estudos de Recepção
De acordo com o que já mencionamos previamente, nossa pesquisa enquadra-se
no âmbito dos Estudos de Recepção. Parece-nos uma vertente das pesquisas em comunicação
adequada para estudarmos a interação mídia/receptor.
26
ESCOSTEGUY, Ana Carolina. “Estudos Culturais: uma introdução”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). O
que é, afinal, estudos Culturais? 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.143.
27
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-americana. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. p.37.
28
RONSINI, Veneza Mayora. Mercadores de sentido: consumo de mídia e identidades juvenis. Porto Alegre:
Sulina, 2007. p.24.
29
Ibid., p.25.
12
Os Estudos de Recepção são uma corrente que muda o “lugar” a partir do qual
anteriormente se olhava para a comunicação. Uma nova postura diante da comunicação.
Vertentes das pesquisas em comunicação que são anteriores aos Estudos de Recepção, como a
pesquisa dos efeitos, a pesquisa dos usos e gratificações e a pesquisa dos estudos literários
possuem como característica comum o fato de estudarem a interação da comunicação com a
audiência a partir dos meios (sejam os meios de comunicação de massa, sejam as obras
literárias). Preocupam-se em saber o que os meios fazem aos sujeitos. Ainda que a corrente
“dos usos e gratificações” faça uma inversão – interroga o que os sujeitos fazem com os
meios –, suas análises são muito reducionistas e ainda acabam por considerar o receptor como
passivo. Então, emerge uma corrente teórica que vem alterar este quadro, com “[...] um
enfoque que privilegia as conexões entre comunicação e cultura”
30
: são os Estudos de
Recepção. Contribuem para essa emergência e renovação teórico-metodológica “[...] as
dinâmicas culturais, entre as quais estão os embates gerados pela globalização e suas
transformações na experiência social [...].”
31
Passam a receber atenção especial “[...] o
contexto, as interações, os sujeitos [...]”
32
.
Antes dessa abordagem da recepção, era
como se houvesse uma relação sempre direta, linear, unívoca e necessária de um
pólo, o emissor, sobre outro, o receptor; uma relação que subentende um emissor
genérico, macro, sistema, rede de veículos de comunicação, e um receptor
específico, indivíduo, despojado, fraco, micro, decodificador, consumidor de
supérfluos; como se existissem dois pólos que necessariamente se opõem, e não
eixos de um processo mais amplo e complexo, por isso mesmo, também permeado
por contradições.
33
A rigor, é Hall
34
quem primeiro enxerga o dinamismo no processo comunicativo,
sugerindo que a produção de sentido se dá no receptor, sendo quem de fato decodifica a
mensagem codificada no âmbito da produção. Por esta razão, Gomes diz que “estudar a
recepção não se traduz por checar se a audiência alcança os sentidos transmitidos pelos meios
de comunicação. Ao contrário, procuram-se ‘os diferentes sentidos que a audiência constrói’ a
partir das mensagens disponibilizadas pelos media
35
.
30
JACKS, Nilda e ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Comunicação e recepção. São Paulo: Hacker, 2005. p.52-
53.
31
Ibid., p.52.
32
Ibid., p.56.
33
SOUSA, Mauro Wilton de. “Recepção e comunicação: a busca do sujeito”. In: SOUSA, Mauro Wilton de
(org.). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995. p.14.
34
HALL, Stuart. “Codificação/Decodificação”. In: Liv Sovik (org.). Da diáspora: identidades e mediações
culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
35
GOMES, Itania Maria Mota. Efeito e Recepção: a interpretação do processo receptivo em duas tradições de
investigação sobre os media. Rio de Janeiro: E-papers, 2004. p.175.
13
Com isto, justificamos a adoção do viés dos Estudos de Recepção. Porque esta
perspectiva de olhar para um objeto de estudo da comunicação permite-nos perceber o que
ocorre no durante, no processo, e não somente no ato (momento estático) de, por exemplo,
assistir à televisão – assistir à telenovela.
1.2.1 Relação entre Estudos de Recepção e Estudos Culturais
Colocando em ação diversas disciplinas, os Estudos Culturais estudam a
comunicação a partir de vários enfoques; entre eles a recepção. Por isso, podemos afirmar que
os Estudos de Recepção “[...] são hoje considerados um desenvolvimento importante dentro
da corrente dos Estudos Culturais”
36
.
A partir dos anos 1980 há um crescimento, entre os pesquisadores envolvidos com
Estudos Culturais, da temática da recepção. Nessa época,
são implementados estudos de recepção dos meios massivos, especialmente, no que
diz respeito aos programas televisivos. Também são alvo de atenção a literatura
popular, séries televisivas e filmes de grande bilheteria. Todos estes tratam de dar
visibilidade à audiência, isto é, aos sujeitos engajados na produção de sentidos.
37
Stuart Hall, um expoente dos Estudos Culturais, escreve um texto que marca esse
posicionamento de recepção como processo – e não como etapa isolada na comunicação. Em
seu texto, intitulado Codificação/Decodificação (Encoding/Decoding no original), escrito em
torno de 1973, o autor diz que “em um momento ‘determinado’, a estrutura emprega um
código e produz uma ‘mensagem’; em outro momento determinado, a ‘mensagem’
desemboca na estrutura das práticas sociais pela via de sua decodificação”
38
.
Assim, de acordo com as formulações de Hall, o processo comunicativo ocorre da
seguinte forma: o emissor – a mídia, por exemplo – tem na sociedade a sua fonte de matéria-
prima e, enquanto possuidor dos meios, constrói a mensagem. Ou melhor, nas palavras de
Hall, codifica a mensagem. Enfim, produz o discurso que, posto em circulação, deve ser
decodificado pelos receptores para então ter seus sentidos apreendidos.
Com outras palavras, diz-nos Baccega:
os estudos de comunicação, durante longo tempo, preocuparam-se
fundamentalmente com a instituição do pólo da emissão. Havia que se conhecer os
mecanismos sociais que possibilitavam o uso da tecnologia e dos artifícios com a
finalidade precípua de, mascarando realidades, aparentemente conseguir levar os
indivíduos a serem meros tambores de percussão dos valores dominantes. Percebeu-
36
Ibid., p.174.
37
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-americana. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. p.36.
38
HALL, Stuart. “Codificação/Decodificação”. In: Liv Sovik (org.). Da diáspora: identidades e mediações
culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003. p.390.
14
se, então, que o ritmo nem sempre era o desejado: os objetivos do pólo da emissão,
afinal, não estavam sendo totalmente atingidos. Fazia-se necessário ampliar o objeto
de estudos, priorizando agora o pólo da recepção.
39
E mais do que isso, a autora ainda continua propondo que os estudos de
comunicação devam dar um passo além, não passando simplesmente a estudar a recepção em
detrimento da emissão, e sim “[...] preocupando-se com a inter-relação emissão/recepção,
território efetivo onde ocorre a comunicação”
40
.
Na confluência entre o campo da comunicação e o dos Estudos Culturais, “[...]
identifica-se uma forte inclinação em refletir sobre o papel dos meios de comunicação na
constituição de identidades, sendo esta última a principal questão deste campo de estudos na
atualidade.”
41
E, não por acaso, é importante ponto de discussão nesta nossa investigação.
Especificamente na América Latina, também por volta dos anos 1980, as
pesquisas em comunicação começam a ganhar estes contornos de uma visão mais cultural dos
meios de comunicação e, simultaneamente, passam a fazer uso do conceito de hegemonia de
Gramsci. Ou seja, são o que podemos chamar de estudos latino-americanos de recepção.
Despontam nessas pesquisas os mesmos teóricos já mencionados como representantes da
vertente latino-americana dos Estudos Culturais: entre eles Jesús Martin-Barbero, Néstor
García Canclini, Guillermo Orozco Gómez e demais pesquisadores. Aqui os Estudos de
Recepção representam uma “[...] reflexão alternativa às análises funcionalistas, semióticas e
frankfurtianas predominantes até então.”
42
No território latino-americano,
é sobretudo dentro da temática das culturas populares que uma teoria complexa e
multifacetada da recepção começou a ser desenvolvida, tendo como eixos básicos de
reflexão o deslocamento dos meios às mediações (Martin-Barbero) e os processos de
hibridização cultural (García Canclini).
43
Conseguimos notar no desenho deste panorama dos Estudos de Recepção traços
comuns com a perspectiva dos Estudos Culturais. Enfim, apenas com estas contribuições dos
Estudos Culturais é que a pesquisa de recepção se estabelece em moldes dialógicos. Ou seja, a
recepção vista como um processo. A recepção está, pois, inserida nas práticas culturais:
constitui-se com as e nas práticas culturais do sujeito receptor.
39
BACCEGA, Maria Aparecida. “O gestor e o campo da comunicação”. In: BACCEGA, Maria Aparecida
(org.). Gestão de processos comunicacionais. São Paulo: Atlas, 2002. p.16.
40
Ibid., p.16.
41
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais – Uma versão latino-americana. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. p.39.
42
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. “Estratégias metodológicas da pesquisa de recepção”. Intercom
Revista Brasileira de Comunicação, São Paulo, v. XVI, n. 2, p.78-86, jul/dez 1993. p.83.
43
Ibid., p.83.
15
1.2.2 Características
Em conformidade com as teorizações de Hall – Codificação/Decodificação –,
entendemos a recepção enquanto processo (momentos interligados), em que o receptor tem
participação ativa na interpretação das mensagens e no qual é interpelado por mediações que
atuam como influenciadoras, formando a circularidade, em espiral, do processo de
comunicação. De fato, essa ação do receptor acontece conforme Lopes coloca: “a recepção é
parte tanto de processos subjetivos quanto objetivos, de processos micro, controlados pelo
sujeito, e macro, relativos a estruturas sociais e relações de poder que fogem ao seu
controle.”
44
Assim, temos que “os estudos de recepção baseiam-se em dois pressupostos.
Primeiro, o de que a audiência é sempre ativa; segundo, o de que o conteúdo dos meios é
polissêmico [...]”
45
.
A respeito do segundo pressuposto – polissemia das mensagens midiáticas –, o
que queremos dizer é que os discursos (sejam visuais ou verbais) dos meios são passíveis de
terem mais de um sentido. Afinal, como diz Bakhtin, a palavra é um signo (“fenômeno do
mundo exterior”) cujo sentido constrói-se no entre, entre o emissor e o receptor: “[...] toda
palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém,
como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação
do locutor e do ouvinte
46
.
Decorre daí o porquê de o domínio da codificação não conseguir garantir que a
decodificação empreenda uma só e mesma leitura. É claro que “[...] a codificação produz a
formação de alguns limites e parâmetros dentro dos quais as decodificações vão operar.
[Pois,] se não houvesse limites, as audiências poderiam simplesmente ler qualquer coisa que
quisessem dentro das mensagens”
47
, e não haveria comunicação, diálogo. E isto nos remete ao
primeiro pressuposto, segundo o qual os Estudos de Recepção concebem o receptor como
possuidor de uma postura ativa diante da mídia; assumem a atividade criadora dos receptores
diante dos meios. Enfim, assumem que os espectadores
[...] estabelecem suas próprias significações e constroem sua própria cultura, ao
invés de sofrer passivamente os efeitos da presença da TV nas sociedades
44
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; BORELLI, Silvia Helena Simões; RESENDE, Vera da Rocha.
Vivendo com a telenovela: mediações, recepção, teleficcionalidade. São Paulo: Summus, 2002. p.14.
45
GOMES, Itania Maria Mota. Efeito e recepção: a interpretação do processo receptivo em duas tradições de
investigação sobre os media. Rio de Janeiro: E-Papers, 2004. p.175.
46
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. p.113.
47
HALL, Stuart. “Codificação/Decodificação”. In: Liv Sovik (org.). Da diáspora: identidades e mediações
culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003. p.399.
16
contemporâneas, em vez de receber passivamente os significados previamente
construídos em outros momentos do processo comunicativo.
48
Em verdade, é este sujeito receptor quem efetivamente define o significado a
partir do conteúdo com que teve contato. Finalizando, tentando captar as diversas nuances dos
Estudos de Recepção, estes se apresentam
[...] como um termo guarda-chuva que abriga desde a consideração inicial dos
processos de ‘decodificação’ das mensagens até à ênfase nos ‘usos dos meios’ e no
‘consumo cultural’; acolhe desde a investigação de campo sobre o modo como os
receptores ‘produzem sentido’ a partir dos textos mediáticos até a ‘etnografia da
audiência’, que procura examinar certos encontros entre media e receptores a partir
de sua inserção no espaço doméstico e nas práticas da vida cotidiana. Comum a
todos esses enfoques e desdobramentos é a ênfase na atividade do receptor.
49
1.2.3 Mediações
1.2.3.1 Delimitações teóricas
Do ponto de vista dos estudiosos de recepção latino-americanos – sobretudo nas
vozes dos teóricos Jesús Martin-Barbero e Guillermo Orozco Gómez –, é de fundamental
importância a noção de mediações. Entendemos mediações como práticas culturais que
interpelam a recepção, ou melhor, “fatores que atuam entre a emissão e a recepção”
50
. As
mediações correspondem, com efeito, ao “lugar”
51
em que se constroem os sentidos no
processo de recepção. Afinal, uma das premissas dos Estudos de Recepção é justamente o fato
de que o território de construção do sentido é no entre: entre a emissão e a recepção. Ou seja,
nas mediações. Pois elas são “[...] responsáveis pelos processos de assimilação, rejeição,
negociação, resistência, etc., a que estão sujeitas as mensagens massivas”
52
.
As abordagens das investigações inseridas nos Estudos de Recepção apontam ser
mais pertinente estudar as audiências a partir das mediações do que através dos meios de
comunicação. Este movimento, na América Latina, foi introduzido especialmente por Martin-
Barbero (Dos meios às mediações), o qual diz que “a recepção passa a ser vista como
momento privilegiado da produção de sentido, refutando a concepção reprodutivista e
firmando que ‘mais do que de meios, a comunicação se faz hoje questão de mediações, isto é,
48
GOMES, Itania Maria Mota. Efeito e recepção: a interpretação do processo receptivo em duas tradições de
investigação sobre os media. Rio de Janeiro: E-Papers, 2004. p.174.
49
Ibid., p.174.
50
JACKS, Nilda. Querência: cultura regional como mediação simbólica – um estudo de recepção. Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 1999. p.25.
51
Quando falamos em “lugar”, não se trata do lugar físico propriamente dito. E sim, o lugar “metafórico” da
Análise de Discurso. Assim, as mediações ocupam uma posição no espaço processual da recepção.
52
Ibid., p.25.
17
de cultura’”
53
e que mediações são os “[...] lugares dos quais provêm as construções que
delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade cultural”
54
da mídia; daí
Dos meios às mediações.
De maneira mais ampla, não apenas em relação à interação sujeitos-mídia, há
mediações em todos os processos pelos quais os sujeitos passam em suas experiências
cotidianas e não apenas no processo comunicativo. Deste ponto de vista ampliado, “as
mediações são as expressões históricas das relações que o homem edificou com a natureza e
conseqüentemente das relações sociais daí decorrentes, nas várias formações sócio-humanas
que a história registrou.”
55
Assim, mediação é toda e qualquer manifestação construída
historicamente que opera entre o sujeito e a realidade.
De qualquer forma, o conceito de mediação, agora de volta ao campo da
comunicação, não é de fácil delimitação. A crítica feita a Martin-Barbero reside justamente no
fato de que o autor emprega o termo “mediações” já no título de sua obra seminal (Dos meios
às mediações) e não se preocupa em conceituá-lo com clareza. Tentando elucidar esta
questão, Signates
56
empreende uma análise do conceito de mediação, buscando delinear seu
“mapa conceitual”. Para tal, ele procede com uma análise das obras de Raymond Williams,
Martin-Barbero e Orozco Gómez. Signates então afirma que mediação não é “intermediação”,
não é “filtro” e não é “intervenção”. Explorando as obras de Williams, Signates conclui que o
autor emprega mediação para revelar a inadequação do termo reflexo, no qual se embute a
concepção de que há uma ponte direta entre a sociedade que cria a obra de arte e a
representação dessa sociedade na obra de arte. Dessa forma, passa a ver a obra de arte como
resultado de uma mediação: entre a realidade e a obra ocorre um processo de mediação e não
simplesmente um reflexo. Aqui então mediação é “[...] concebida como um processo ativo,
um ato de intercessão, reconciliação ou interpretação entre adversários ou estranhos”
57
.
Já na obra de Martin-Barbero, Signates identifica cinco possíveis conceituações
para a noção de mediação. Destacamos aquela que Signates conceitua e que se aproxima mais
de nosso ponto de vista: enxergar as mediações como práticas sociais ou estruturas que
53
MARTIN-BARBERO, Jesús. Comunicación y cultura: unas relaciones complejas. Apud: LOPES, Maria
Immacolata Vassallo de; BORELLI, Silvia Helena Simões; RESENDE, Vera da Rocha. Vivendo com a
telenovela: mediações, recepção, teleficcionalidade. São Paulo: Summus, 2002. p.22.
54
MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 4. ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2006. p.294.
55
PONTES, Reinaldo Nobre. Mediação e Serviço Social. Apud: BACCEGA, Maria Aparecida.
“Comunicação/Educação: conhecimento e mediações”. Comunicação e Educação, São Paulo, ano VII, n. 20,
p.7-14, jan/abr 2001. p.9.
56
SIGNATES, Luiz. “Estudo sobre o conceito de mediação”. Novos Olhares, São Paulo, n. 2, p.37-49, 2º sem.
1998.
57
Ibid., p.39.
18
operam o nexo entre a emissão e a recepção, seja na forma de instituições sociais, na forma de
distintos ordenamentos temporais ou na forma de diferentes discursividades.
58
Mesmo sabendo de toda esta discussão em torno da conceituação de mediação e
também das limitações que o termo imprime, apostamos no seu uso porque acreditamos que
abandoná-lo seria considerar que o processo de recepção é linear e que não há ações e agentes
atuando entre o emissor e o receptor. Além disso, como diz Signates, é positiva a adoção da
noção de mediação porque ela favorece “[...] a manutenção de perspectivas sócio-históricas e
políticas, entranhadas na vivência cultural”
59
.
1.2.3.2 Operacionalizações práticas
Fazendo um levantamento de três pesquisadores que trabalham com a noção de
mediação (Jesús Martin-Barbero, Guillermo Orozco Gómez e Maria Immacolata Vassallo de
Lopes) temos o panorama que segue.
Martin-Barbero propõe “três lugares de mediação”
60
na interação sujeito-
televisão: a cotidianidade familiar, a temporalidade social e a competência cultural. O
primeiro “lugar” compreende o espaço doméstico, espaço do bairro ou demais localidades, em
que o ato de assistir à TV ocorre e em que se dão também as ressignificações das mensagens
recebidas. O segundo “lugar”, a temporalidade social, corresponde ao fato de os espectadores,
depois de anos de vivência com a televisão, já entenderem a lógica dos tempos sob os quais
ela opera, suas repetições e seus fragmentos. E isto é aprendido socialmente, passando de
geração para geração. Podemos dizer que faz parte de uma memória social. Já sobre o último
“lugar” de mediação, a competência cultural, Martin-Barbero diz o seguinte:
a partir deles [os gêneros], ela [a televisão] ativa a competência cultural e a seu
modo dá conta das diferenças sociais que a atravessam. Os gêneros, que articulam
narrativamente as serialidades, constituem uma mediação fundamental entre as
lógicas do sistema produtivo e as do sistema de consumo, entre a do formato e a dos
modos de ler, dos usos.
61
Orozco Gómez, partindo das conceituações de mediação de Martin-Barbero,
propõe uma operacionalização das mesmas. Desenvolve, assim, uma proposta que tem sido
chamada de “modelo das multimediações”
62
, que apresenta cinco principais mediações, quais
58
Ibid., p.41-42.
59
Ibid., p.47.
60
MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 4. ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2006. p.295.
61
Ibid., p.300-301.
62
OROZCO GÓMEZ, Guillermo. “O telespectador frente à televisão. Uma exploração do processo de recepção
televisiva”. Communicare, São Paulo, v. 5, n. 1, p.27-42, 1º sem. 2005.
19
sejam: a mediação videotecnológica, a mediação situacional, a mediação institucional, a
mediação cognitiva e a mediação de referência.
A mediação tecnológica refere-se à possibilidade de que os suportes tecnológicos
dos meios de comunicação sejam também mediadores entre o real concreto e o sujeito
receptor. De fato os meios são, ao menos parcialmente, responsáveis pela construção do real
em que vivemos.
Com relação à mediação situacional, esta diz respeito a influências do momento
mesmo da recepção. Por exemplo, fatores como: se o sujeito assiste à televisão sozinho ou
acompanhado, o local em que assiste, se realiza ou não alguma atividade simultaneamente a
essa assistência e também como este receptor escolhe o que assiste na TV.
As mediações institucionais, de acordo com Orozco Gómez, são as das
instituições às quais pertence o sujeito receptor e que interferem na apropriação de
significados durante o processo de recepção. As mediações institucionais são
[...] constituintes da relação do sujeito com o discurso televisivo, pois com elas o
sujeito interage, intercambia, produz e reproduz sentidos e significados. As
instituições a que pertence o receptor – escola, empresa, igreja, partidos, família, etc.
– são fundamentais para entender o processo de recepção, uma vez que ele é muito
mais que telespectador.
63
Entre essas mediações, podemos exemplificar com a família, o trabalho, a escola,
a vizinhança, a igreja e demais comunidades da qual o sujeito participa e que podem
influenciar em sua visão de mundo e maneira de pensar.
A mediação cognitiva diz respeito a fatores que influenciam nas ações e
pensamentos dos sujeitos. Consiste em “[...] um conjunto de fatores que influenciam na
percepção, processamento e apropriação de elementos/acontecimentos que estão diretamente
relacionados com a aquisição de conhecimento (informações, valores, crenças, emoções,
etc.)”
64
.
Já a mediação de referência corresponde a características identitárias do sujeito,
como idade, gênero, etnia e nível socioeconômico.
Uma terceira pesquisadora, Lopes
65
, ao empreender um estudo estruturado de
recepção, trabalha em cima de quatro mediações. São elas: o cotidiano familiar, a
subjetividade, o gênero ficcional e a videotécnica. O cotidiano familiar foi escolhido por ser
“[...] o cenário imediato onde se dá a situação de assistência da telenovela.”
66
A subjetividade
63
JACKS, Nilda e ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Comunicação e recepção. São Paulo: Hacker, 2005. p.70.
64
Ibid., p.69.
65
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; BORELLI, Silvia Helena Simões; RESENDE, Vera da Rocha.
Vivendo com a telenovela: mediações, recepção, teleficcionalidade. São Paulo: Summus, 2002. p.46.
66
Ibid., p.46.
20
como mediação refere-se aos “[...] processos que atuam na consciência, no pensamento,
sentimentos e desejos”
67
ao receber as mensagens midiáticas e que depois se materializam nas
incorporações efetuadas nas práticas cotidianas. A mediação videotécnica corresponde aos
recursos videotécnicos que atuam na recepção. E, por último, o gênero ficcional como
mediação é a telenovela que, tendo sua matriz no âmbito popular, ativa a competência cultural
da audiência e gera repertório compartilhado.
Estudamos estes três autores e, após analisarmos as respostas de nossos
entrevistados no questionário que teve, entre outros objetivos, o propósito de investigar as
principais mediações na recepção da telenovela Rebelde, identificamos os principais agentes
nesse processo e passamos a trabalhar com duas fontes de mediação: a mediação da técnica e
a mediação da identidade.
Lembramos que, mais à frente, ainda neste capítulo, fazemos uma abordagem
detalhada dos procedimentos metodológicos adotados em nossa pesquisa de campo. Contudo,
já trazemos agora dados
68
de nossa pesquisa para inter-relacionarmos com as teorizações
sobre mediações.
A) Mediação da técnica
Com a mediação da técnica estamos querendo referir-nos às características
próprias do aparato tecnológico, em nosso caso a televisão. A televisão representa a realidade
social fazendo uso de particularidades como o nível de verossimilhança, o gênero, a
linguagem audiovisual e os recursos técnicos da TV. E justamente por fazer uso desses
recursos é que corresponde a uma importante mediação. Pois é um dos principais meios a
partir dos quais os sujeitos recebem informações e, assim, atua na percepção da realidade
destes mesmos sujeitos. Segundo Orofino, “[...] as mediações tecnológicas transformam tanto
a narratividade da vida social como as competências que os atores possuem nos modos de
fruir e usar estas mesmas linguagens”
69
.
Considerando que estamos trabalhando com a televisão, as mediações da técnica
que vimos emergir com maior força em nosso estudo foram o gênero e o zapping. No que diz
respeito ao gênero, em nossa pesquisa realizamos a seguinte pergunta: “cite os três programas
de televisão de que você gosta mais” e, categorizando por gênero, obtivemos os resultados
67
Ibid., p.182.
68
Estes dados que constam nesta parte do estudo são resultados da tabulação e análise dos questionários quanti-
qualitativos aplicados em uma escola pública e em uma escola particular da cidade de São Paulo.
69
OROFINO, Maria Isabel. Mediações na produção de TV: um estudo sobre O Auto da Compadecida. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2006. p.58.
21
que seguem. Entre os jovens de níveis socioeconômicos mais baixos, os percentuais de
respostas por gênero ficaram assim distribuídos: 147%
70
assistem a telenovelas; 18%,
desenhos; 8%, filmes; 4%, programas de música; 29%, programas de variedades; 4%
seriados; 14%, programas infantis; 6%, programas de auditório; 2%, jornais; 10% não
responderam e 55% responderam nomes de canais de televisão e não gêneros televisivos.
Entre os jovens de níveis socioeconômicos superiores, os resultados são os seguintes: 110%
assistem a telenovelas; 150%, desenhos; 20%, filmes; 10%, programas de música e 10% não
responderam. Notamos, traçando este cenário, que a telenovela é, de fato, um gênero que atrai
este público receptor: está em primeiro lugar entre os jovens de nível socioeconômico mais
baixo e em segundo lugar na preferência de jovens de nível socioeconômico mais elevado.
Provavelmente porque os jovens de nível socioeconômico mais alto possuem canais de TV
fechados é que os percentuais de assistência a desenho e a filmes sejam bem superiores aos
dos jovens de nível socioeconômico mais baixo. Isto porque a variedade de desenhos e filmes
aumenta substancialmente possuindo televisão paga. Enfim, os gêneros organizam a recepção
dos produtos midiáticos a partir de suas normas internas. Nós as apreendemos, as
naturalizamos e passamos a guiar-nos por elas sem nos darmos conta.
Observamos que outra marcante mediação da técnica é uma possibilidade que o
próprio aparato televisivo permite: o zapping, ou seja, a mudança de um canal para o outro.
Obtivemos uma porcentagem de 34% das entrevistas que confirmam que escolhem a
programação a que irão assistir alternando os canais até encontrarem o que desejam. O
próprio controle remoto estimula o zapping: comprovamos isto com os 12% de entrevistados
que, em vez de dizerem que escolhem o que vão assistir alternando os canais, mencionaram
que fazem esta escolha por meio do uso do controle remoto. Contudo, não nos interessa o
zapping pelo zapping e sim o que ele provoca nas visões de mundo dos sujeitos
contemporâneos. Conforme nos diz Martin-Barbero, “[...] é com pedaços, restos e desejos que
boa parte da população arma os barracos em que habita, tece o rebusque com que sobrevive e
mescla os saberes com que enfrenta a opacidade urbana.”
71
Da mesma forma, Sarlo, também
falando sobre o zapping, diz que
surge uma forma de leitura e uma forma de memória: alguns fragmentos de imagens,
os que conseguem fixar-se com o peso do icônico, são reconhecidos, lembrados,
70
Salientamos que há questões que resultam em um total de respostas superior a 100% porque correspondem a
perguntas que permitiam mais de uma resposta por parte dos entrevistados.
71
MARTIN-BARBERO, Jesús. “Cidade virtual: novos cenários da comunicação”. Comunicação & Educação,
São Paulo, n.11, p.53-67, jan/abr 1998. p.66.
22
citados; outros são desprezados e se repetem infinitamente sem aborrecer a ninguém,
pois, na verdade, ninguém os vê.
72
B) Mediação da identidade
Com a mediação da identidade, estamos nos referindo às características
identitárias do sujeito, como idade, gênero, etnia e nível socioeconômico.
Dentre as mediações de acesso mais facilitado pelo instrumental utilizado por nós,
verificamos que as principais mediações da identidade presentes entre os receptores de
Rebelde participantes de nossa pesquisa são o gênero (masculino e feminino) e o nível
socioeconômico. Pois é nestas características que encontramos as maiores disparidades
explícitas: enquanto temos um total de 80% de receptores do sexo feminino, temos apenas
20% de receptores do sexo masculino. De acordo com Orozco Gómez,
la preferencia por uno u otro tipo de programación generalmente conlleva un
estereotipo de lo que es propio del hombre y de la mujer. Este estereotipo, a su vez,
resulta de la propia educación diferenciada de la que los adultos hemos sido objeto
según hayamos nacido hombres o mujeres.
73
Da mesma maneira, de um lado temos 47% de receptores dos níveis
socioeconômicos
74
C e D e apenas 15% de receptores do nível socioeconômico A. O nível
socioeconômico atua como mediação importante porque “[...] delimita desde a quantidade de
televisões no lar e as possibilidades de acesso a outras atividades culturais da audiência, até os
gostos sobre a programação”
75
.
Estes dados corroboram outras pesquisas, como aponta Hamburger
76
, segundo as
quais as mulheres e integrantes de níveis socioeconômicos menos privilegiados compreendem
o público majoritário de telespectadores de telenovelas. Na forma de senso comum este
pensamento também existe. Então, talvez, por este pensamento estar presente na sociedade, o
estereótipo tenha influenciado as respostas de nossos entrevistados e pode ter inibido rapazes
e integrantes de níveis socioeconômicos mais elevados a afirmarem que assistem a Rebelde.
72
SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte e videocultura na Argentina. 3. ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2004. p.62.
73
OROZCO GÓMEZ, Guillermo. Recepcion televisiva: tres aproximaciones y una razón para su estudio.
México: Universidade Iberoamericana. Cuadernos de comunicacion y practicas sociales, 1991. p.32.
74
Para a atribuição dos níveis socioeconômicos fazemos uso do “Critério de Classificação Econômica Brasil –
CCEB”, mais conhecido por “Critério Brasil”. É elaborado pela ABEP (Associação Brasileira de Empresas de
Pesquisa) e utilizado pelas empresas de pesquisa e comunicação, sobretudo, para a divisão das verbas de
publicidade. O CCEB estima o poder de compra dos indivíduos e famílias urbanas, com base no LSE
(Levantamento Socioeconômico) do IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), classificando-
os por classes econômicas, abandonando a pretensão de classificar a população em termos de “classes sociais”.
75
OROZCO GÓMEZ, Guillermo. “O telespectador frente à televisão. Uma exploração do processo de recepção
televisiva”. Communicare, São Paulo, v. 5, n. 1, p.27-42, 1º sem. 2005. p.36.
76
HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: a sociedade da novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p.53-
55.
23
1.2.4 Recepção e consumo: aproximações
Além de todo o exposto, os Estudos de Recepção são imprescindíveis também
para os estudos do consumo – questões cruciais em nossa pesquisa. Isto porque o consumo
material, tal qual a recepção (que se enquadra no nível do simbólico), é um processo, não se
resume apenas ao momento do ato da compra de um produto. Daí os estreitos laços entre os
dois campos de estudo – recepção e consumo.
Partimos da premissa de que somente se consegue perceber como se dá
efetivamente o consumo entendendo-se que é preciso que se apreenda todo o processo de
construção das “necessidades”
77
a serem satisfeitas. E tal construção se banha nas mediações
aqui apontadas. Compreendemos o consumo – as práticas de consumo – como prática
sociocultural que envolve não apenas o consumo material ou simbólico como
tradicionalmente entendido, mas o consumo como práxis, que dialoga com a cultura.
Ao longo de nosso texto fazemos uso das expressões “consumo material” e
“consumo simbólico”. Convém, portanto, explicarmos o que entendemos e o que queremos
dizer com cada uma delas. Quando usamos a expressão “consumo material” estamos fazendo
referência ao uso que os sujeitos fazem dos bens materiais, dos produtos propriamente físicos.
Já ao falarmos em “consumo simbólico”, estamos tratando das apropriações que os sujeitos
efetuam das representações sociais nas quais as mercadorias estão imersas. Contudo, vale
ressaltar que, em verdade, estes dois consumos não são “tipos de consumo” que existem
separadamente, são duas esferas de um mesmo consumo, são as faces de uma mesma moeda.
Afinal, todo produto material possui uma carga de significados simbólicos. Portanto, sempre
que falamos em consumo estamos levando em consideração tanto o âmbito material quanto o
âmbito do cultural e simbólico.
Apenas mais uma consideração: pode ser observado (especialmente no capítulo 3)
o emprego da expressão “consumo cultural”. Com esta expressão, estamos querendo designar
77
Utilizamos o termo necessidade aqui de acordo com a concepção de Marx. “En opinión de Marx, la reducción
del concepto de necesidad a la necesidad económica constituye una expresión de la alienación (Capitalista) de
las necesidades, en una sociedad en la cual el fin de la producción no es la satisfacción de las necesidades, sino la
valorización del capital, en la que el sistema de necesidades está basado en la división del trabajo y la necesidad
sólo aparece en el mercado, bajo la forma de demanda solvente. […] En sus [Marx] obras la tendencia principal
estriba en considerar los conceptos de necesidad como categorías extraeconómicas e histórico-filosóficas, es
decir, como categorías antropológicas de valor, y por consiguiente no susceptibles de definición dentro del
sistema económico”. (HELLER, Agnes. Teoría de las necesidades en Marx: historia, ciencia, sociedad.
Barcelona: Península, 1978. p.24-26).
24
as práticas de consumo que os atores sociais fazem das mercadorias culturais, como a
televisão, a própria telenovela, o cinema, a música, entre outras.
1.3 Análise de Discurso
78
Abordamos neste momento aspectos concernentes ao aporte teórico para a análise
da parte empírica de nosso estudo. Compartilhando do pensamento de Baccega, consideramos
a linguagem como porta de entrada para os estudos de comunicação.
[...] Consideramos categorias fundamentais para os estudos do campo da
comunicação as conquistas da Análise de Discurso, sobretudo as da Escola Francesa
(Pêcheux et al.), que nos possibilitam desvelar a materialidade da articulação das
ciências sociais, o conhecimento do percurso das apropriações ocorridas, vez que
permitem revelar o discurso como o lugar em que linguagem e ideologia (pontos de
vista, idéias, conteúdos, temáticas etc.) se manifestam de modo articulado.
79
Por este motivo é que, após termos empreendido o estudo empírico de recepção, e
sendo o nosso corpus formado em sua totalidade por enunciados
80
(sejam orais ou escritos),
fizemos grande parte da apreciação do material coletado em campo por meio da Análise de
Discurso.
Dessa forma, julgamos que o mais adequado seria procedermos com a Análise de
Discurso de linha francesa pelo fato de ela levar em consideração diversos aspectos que
remetem ao sujeito e suas práticas e, pois, à identidade – um dos focos de nosso estudo. A
chamada Escola francesa de Análise de Discurso emergiu na metade dos anos de 1960. Hoje,
em um sentido mais amplo, abrange as pesquisas em Análise de Discurso que possuem em
comum certas características, como a importância dada ao interdiscurso, ao sujeito no
discurso e à relação entre a formação discursiva e seu contexto. Podemos dizer que a Análise
de Discurso preocupa-se com a relação da linguagem com suas condições de produção; a
relação da linguagem com sua exterioridade.
A Análise de Discurso, portanto, diferencia-se da Lingüística porque esta estuda o
texto nele mesmo e por ele mesmo e não leva em consideração reflexões sobre os significados
e sobre as condições sócio-históricas de produção do texto. A Análise de Discurso – de
78
Adotamos a expressão “Análise de Discurso”, com iniciais em letras maiúsculas e com a preposição “de” para
designar o campo de estudos a que se refere. Por exemplo, na frase: “A Análise de Discurso de linha francesa
leva em consideração aspectos como...”. Por sua vez, empregamos a expressão “análise do discurso”, com
iniciais em letras minúsculas e com a preposição “do” quando nos referimos a algum discurso em particular. Por
exemplo, na frase: “A análise do discurso do jovem entrevistado levou-nos a concluir que...”.
79
BACCEGA, Maria Aparecida. “O gestor e o campo da comunicação”. In: BACCEGA, Maria Aparecida
(org.). Gestão de processos comunicacionais. São Paulo: Atlas, 2002. p.20.
80
Independente de diversas distinções de vários autores, consideramos em nosso texto “discurso”, “fala” e
“enunciado” como sinônimos.
25
tradição européia e principalmente francesa – usando inicialmente de conceitos da
Lingüística, passa a considerar os dizeres em articulação com o contexto, com o que é exterior
ao discurso. Um dos autores inaugurais da Escola francesa de Análise de Discurso é Michel
Pêcheux. Este elabora seus conceitos fazendo uso da noção de “formação discursiva”, de
Foucault (Arqueologia do saber) e de “formação ideológica”, de Althusser (Aparelhos
Ideológicos de Estado).
81
Ressaltamos de antemão que nossas análises dos discursos coletados – que se
encontram ao longo do corpo destes escritos – são interpretações e estas são, pois, de natureza
subjetiva, fruto de nossas leituras e vivências. Por conseguinte, são interpretações relativas.
Assim, seriam possíveis compreensões outras se outros fossem nossos pontos de vista,
experiências, repertório teórico, trajetória e condições de produção. Mesmo os leitores podem
acabar por fazer considerações diversas das nossas. Isso tudo para dizermos que as nossas
análises que compõem este estudo não podem ser tomadas como absolutas e sim, talvez,
como provisórias ou inacabadas. Enfim, a autora deste trabalho “[...] é um indivíduo/sujeito,
resultado dos discursos sociais, com um sistema de referências por ela interpretado, a qual
interage com a realidade, apropriando-se dela de acordo com seus valores”
82
.
Neste momento, registramos certos aspectos teóricos que serviram de base para as
nossas análises (item 1.3.1), como o não-dito, o interdiscurso, o esquecimento, etc., e
começamos a traçar um paralelo entre esses conceitos e os discursos coletados
83
de nossos
sujeitos pesquisados. Nos próximos capítulos (principalmente no capítulo 3) é possível a
leitura mais completa dos resultados de nossas análises.
1.3.1 Elementos
Neste espaço queremos dedicar-nos à explanação de conceitos que transpassam a
teoria da Análise de Discurso. Ao mesmo tempo em que vamos apresentando os aspectos da
análise de discurso que norteiam nosso olhar, damos os primeiros passos nas interpretações
dos enunciados que colhemos na pesquisa de campo. Ou seja, transpomos para a nossa
realidade – o nosso objeto de estudo – as abordagens dos diversos autores de Análise de
Discurso com os quais trabalhamos.
81
BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 6. ed. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 1997. p.18.
82
BACCEGA, Maria Aparecida. Palavra e discurso: história e literatura. São Paulo: Ática, 2003. p.16.
83
Utilizamos para estas análises discursos coletados em todas as fases empreendidas em campo: abordagens no
show de RBD, questionários quanti-qualitativos, grupo focal e entrevistas em profundidade.
26
1.3.1.1 Condições de produção do discurso
O ambiente em que nasceram e vivem, os ensinamentos e valores recebidos da
família, a educação recebida na escola, os meios de informação a que têm acesso e demais
agentes construtores da visão de mundo e do “ser” do sujeito formam o repertório que
constrói os discursos e, assim, constituem o domínio das condições de produção do discurso.
Além deste âmbito mais amplo, pré-adquirido, as condições de produção ainda abarcam o
momento da fala, pois cada situação de fala acontece em circunstâncias tais que “exigem”
determinados comportamentos e discursos. As condições de produção são “o que condiciona
o discurso”
84
. Enfim, são elementos exteriores ao discurso, elementos não lingüísticos que
condicionam sua construção.
Assim, em nossa pesquisa de campo, tanto ao responder ao questionário ou ao
participar do grupo focal, podemos indagar-nos se, no contexto da situação em sala de aula, o
que cada jovem respondeu é o que ele pensa mesmo ou é o que ele acha que a escola quer que
ele diga? Um exemplo é o que aconteceu quando, no grupo focal, mostramos uma cena em
que o personagem Diego embriaga-se e cai na piscina (vide apêndice H). Questionamos os
jovens se era correto o personagem ter bebido tanto e todos os alunos juntos se manifestaram
e falaram um “não” em uníssono. E dois alunos complementaram com os seguintes
enunciados: “Ele podia morrer, ter se afogado” e “É, se não tivesse ninguém, poderia ter
morrido afogado”. Como será o comportamento efetivo desses jovens na mesma situação?
Figura 1 – Cena em que o personagem Diego cai na piscina
Fonte: DVD Rebelde, 2007
84
CHARAUDEAU, Patrick e MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2006. p.114.
27
O mesmo acontece nas abordagens que realizamos no show de RBD. “A situação
social mais imediata e o meio social mais amplo determinam completamente e, por assim
dizer, a partir do seu próprio interior, a estrutura da enunciação.”
85
Ou seja, os discursos dos
jovens foram interpelados pelas circunstâncias singulares do momento da entrevista – a
gritaria toda vez que passava o carro de reportagens do SBT, a euforia de estar a poucas horas
de ver seus ídolos, etc. – e também pelas demais condições gerais em que se encontram ou nas
quais cresceram: contexto cultural, social, econômico, político, o momento histórico, a faixa
etária, enfim, toda a conjuntura atual.
1.3.1.2 Interdiscurso
Os “[...] sentidos já ditos por alguém, em algum lugar, em outros momentos,
mesmo muito distantes, têm um efeito sobre o que [...]”
86
o sujeito diz. Parece-nos que esta
descrição sintetiza bem o que é o interdiscurso.
Assim, um enunciado que identificamos como reprodução de um já-dito, um que
está em circulação na sociedade, está inscrito na fala a seguir: “[não gosto da personagem]
Sol, porque ela é uma loira burra”. Há um certo estereótipo vigente de que as mulheres loiras
são burras e aí podemos perceber como o jovem o reproduz. Outro caso que destacamos
ocorre quando perguntamos aos jovens a opinião de seus pais a respeito de Rebelde. O jovem
responde que “eles [os pais] acham que influencia muito para o lado negativo”.
Provavelmente esse jovem ouviu de seus pais ou de outros conhecidos que a televisão é má
influência para as pessoas, então incorporou esta enunciação e, na ocasião da pesquisa,
propagou-a.
Enfim, interdiscurso é “[...] o conjunto das unidades discursivas com as quais ele
[o discurso] entra em relação: [...] poder-se-á tratar dos discursos citados, dos discursos
anteriores do mesmo gênero, dos discursos contemporâneos de outros gêneros, etc.”
87
Assim,
por exemplo, podemos pegar o enunciado da menina que diz que gosta da “Lupita porque ela
não precisa de maquiagem pra ficar bonita”. Descartando discursos como os que a mídia em
geral transmite, a menina parece trazer à tona um discurso que tem começado a ganhar força
nos últimos tempos: um discurso de valorização da beleza natural da mulher, como a
85
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. p.113.
86
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas, SP: Pontes,
2007. p.31.
87
MAINGUENEAU, Dominique. Termos-chave da análise do discurso. Belo horizonte: Ed. UFMG, 1998. p.86.
28
mensagem que tenta passar a “campanha pela real beleza”
88
da marca de cosméticos Dove,
que tenta incentivar a valorização da diversidade, da beleza das mulheres de diversos biotipos.
1.3.1.3 Não-dito
O não-dito, ou o implícito, é o que não está presente no enunciado de modo tácito,
são subentendidos. Podemos proceder então “[...] procurando escutar o não-dito naquilo que é
dito, como uma presença de uma ausência necessária. Isso porque [...] só uma parte do dizível
é acessível ao sujeito pois mesmo o que ele não diz (e que muitas vezes ele desconhece)
significa em suas palavras”
89
.
Por exemplo, quando o jovem diz: “o que eles [os pais] acham [de Rebelde] eu
não sei, só sei que eles assistem” denota que parece não haver muita conversa entre os pais e o
filho, pois o filho não tem idéia da opinião dos pais. Ou quando a menina fala que gosta da
personagem Mía “[...] porque ela prefere fingir que é Barbie ou criancinha do que ser mulher
metida”, podemos aí inferir que a menina se identifica com a personagem citada, que possui
em torno de 15 anos, justamente porque tem um comportamento – mais infantil – que se
aproxima da idade da menina, que tem 10 anos. E talvez ela considere que há outras
personagens em Rebelde que, diferente de Mía, são metidas e comportam-se como adultas.
1.3.1.4 Esquecimento
Falamos aqui de dois tipos de esquecimento. Um deles é aquele esquecimento que
nos faz pensar que só há um modo de dizer o que queremos. Percebemos este esquecimento,
por exemplo, na fala de um jovem da escola pública. Ele diz: “eles [os pais] não me proíbem
de assistir à novela Rebelde”. Em vez de usar a expressão “não me proíbem”, poderia ter
utilizado “deixam-me” (ex.: “meus pais deixam-me assistir à novela”). Dessa maneira,
expressaria muito mais a permissão de assistir à telenovela do que ao combinar numa
sentença um termo de negação (“não”) com um termo que exprime restrição (“proíbem”).
Mas o sujeito enunciador esquece que pode falar usando outras palavras. Isto porque “[...] o
esquecimento é estruturante. Ele é parte da constituição dos sujeitos e dos sentidos. As ilusões
88
CAMPANHA pela real beleza. Dove. Disponível em: <http://campanhapelarealbeleza.com.br> Acesso em: 11
jan. 2008.
89
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas, SP: Pontes,
2007. p.34.
29
não são “defeitos”, são uma necessidade para que a linguagem funcione nos sujeitos e na
produção de sentidos.”
90
Isto é, esse esquecimento, esse tirar da memória é fundamental.
O outro esquecimento, que é até mais importante, é o que possibilita que
tenhamos “[...] a ilusão de ser a origem do que dizemos quando, na realidade, retomamos
sentidos pré-existentes.”
91
Afinal,
quando nascemos os discursos já estão em processo e nós é que entramos nesse
processo. Eles não se originam em nós. Isso não significa que não haja singularidade
na maneira como a língua e a história nos afetam. Mas não somos o início delas.
Elas se realizam em nós em sua materialidade.
92
Dessa forma, podemos ver este segundo esquecimento quando os jovens
respondem “o que é ser rebelde”: (1) “pra mim significa, assim, pensar muito bem antes de
fazer e ser rebelde contra o mal. Você ser rebelde com causa. Rebelde contra as injustiças do
mundo” ou (2) “como eu costumo dizer, rebelde com causa. Pra poder se rebelar contra a
guerra, contra as coisas más que existem no mundo”. De fato, parece mesmo que esses jovens
se posicionam como enunciadores de discursos inaugurais, quando é bem o contrário, estão
reproduzindo discursos já presentes na sociedade.
1.3.1.5 Paráfrase e polissemia
Generalizando, a paráfrase é a repetição, a conservação de idéias anteriores e a
polissemia é a diferença, a multiplicidade de sentidos.
Se toda vez que falamos, ao tomar a palavra, produzimos uma mexida na rede de
filiação dos sentidos, no entanto, falamos com palavras já ditas. E é nesse jogo entre
paráfrase e polissemia, entre o mesmo e o diferente, entre o já-dito e o a se dizer que
os sujeitos e os sentidos se movimentam, fazem seus percursos, (se) significam.
93
A relação entre paráfrase e polissemia, portanto, faz emergir os sentidos: os
mesmos ou novos.
Em literatura, paráfrase é “a reafirmação em palavras diferentes, do mesmo
sentido de uma obra escrita.”
94
Paráfrase pode ser equiparada à tradução: traduzir
determinado texto para a mesma língua, mesmo que não seguindo as palavras com exatidão,
mas mantendo-se o sentido
95
. Com isto, paráfrase é “[...] fazer corresponder a cada enunciado
90
Ibid., p.36.
91
Ibid., p.35.
92
Ibid., p.35.
93
Ibid., p.36.
94
SANT’ANNA, Affonso Romano. Paródia, Paráfrase e Cia. 5. ed. São Paulo: Ática, 1995. p.17.
95
Ibid., p.18.
30
outros enunciados desta mesma língua considerados sinônimos e semanticamente
equivalentes [...].
96
” Esta é a repetição sobre a qual falamos no início.
Em nossa pesquisa de campo a paráfrase pode ser notada nas respostas dadas à
pergunta “de qual personagem de Rebelde você gosta menos?”. Obtivemos respostas como:
“[A Sol]. A personagem dela era horrível, né. Uma pessoa... frívola, que acha que é melhor
que todo mundo. Porque tem dinheiro, porque é bonita...”; “[A Lola]. Ai, porque ela é muito
chata. Falsa demais. Porque ela, assim, sei lá, fazia muita maldade com as pessoas” e “[A
Sol]. Porque ela sempre queria separar os casais. Era a má, assim, vamos se dizer”. Podemos
perceber nestes discursos uma idéia nuclear de personagem ruim, assim como a maldade
ocupando uma posição central. Ou seja, “produzem-se diferentes formulações do mesmo dizer
sedimentado.”
97
Isto é a paráfrase.
Agora, retomamos a polissemia. Esta, em relação à paráfrase, não é mais
repetição, mas “[...] deslocamento, ruptura de processos de significação.”
98
Por exemplo,
vemos transparecer nos discursos de nossos jovens que, do ponto de vista dos alunos, Rebelde
retrata a realidade, enquanto do ponto de vista dos professores (de acordo com as falas dos
alunos), Rebelde é vista como fantasia, como uma produção irreal. Ou seja, um mesmo
produto cultural midiático – Rebelde – sendo recebido, lido e interpretado de maneiras
diferentes, possibilitando a geração de uma rede de sentidos, sentidos às vezes distintos.
Igualmente, a polissemia, a diferença de significações que os receptores dão às mensagens
recebidas da mídia, está presente quando analisamos os enunciados que nossos entrevistados
deram para a questão “para você, o que significa ser rebelde?”. Há a emergência de uma série
de sentidos.
Os integrantes do nível socioeconômico A, ao responderem a este
questionamento, dividem-se claramente em dois grupos, os que vinculam a palavra rebelde a
“independente” e os que a vinculam a “extrovertido”. Fornecem-nos definições do tipo: ser
rebelde é “ser livre (ter liberdade)”; “poder fazer o que quiser na hora que quiser”; “ser
independente e ter atitude”; “ser uma pessoa travessa”; “ser legal e ser tudo” e “ser
descolado”.
Já nos discursos dos jovens de nível socioeconômico B a maior ocorrência é da
definição bastante generalista de rebelde como “ser legal”. Em verdade, legal é uma palavra
de significado tão aberto que deixa de ter valor para a compreensão do que foi dito. E
96
Ibid., p.20.
97
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas, SP: Pontes,
2007. p.36.
98
Ibid., p.36.
31
começamos a encontrar, neste nível socioeconômico, jovens que não responderam ou
disseram não saber responder a questão proposta. Também encontramos as categorias
“independente” e “extrovertido” que apareceram nos discursos dos jovens de nível
socioeconômico A: ser rebelde é “ser uma pessoa firme e forte”; “significa caráter e bom
senso”; “ter muita atitude e ser independente”; “ser extrovertido” e “divertido”.
No nível socioeconômico C ocorre uma divergência de discurso em relação aos
dois níveis imediatamente superiores. Aparece um sentido mais “negativo” de rebelde, com
expressões como: ser rebelde é “ser desobediente”; “ser uma criança malcriada e
respondona”; “quando não segue as regras, é muito impaciente”; “significa jovens
bagunceiros”; “significa desobedecer aos pais, mal educado e ignorante”; “ser mal educado e
que não fica respeitando os mais velhos” e “significa ser muito respondona, agitada”.
Percebemos nesses enunciados que chamamos de negativos a presença de valores
conservados pela cultura que, em geral, não são seguidos – apenas ditos – pela geração que os
divulga. São tradicionais. A rigor, esse “rebelde” que emerge no discurso dos integrantes de
nível socioeconômico C é um rebelde que se revolta somente contra a microestrutura – no
ambiente de sua casa ou no ambiente da escola, por exemplo – e não se interessa pela esfera
social mais ampla.
Enfim, as definições de “ser rebelde” derivam de diversos “sítios de
significação”
99
, produzindo novos sentidos para o termo. Com isto, ressaltamos, desde já,
uma importante constatação de nosso estudo. No processo de recepção de Rebelde, as
ressignificações operadas pelos receptores fazem emergir novas conceituações de rebeldia que
nos parecem fundamentais destacar. Seus receptores esvaziam o significado de rebeldia em
dois sentidos. Primeiro porque afirmam que rebelde é “ser legal”, expressão esta que, por
exprimir um grande número de atributos positivos, acaba por ser muito generalista e retira de
rebelde a carga de revolta que possui. Segundo, porque a rebeldia, que até então remetia a
uma tentativa de ação de mudança da macroestrutura e a uma ida de encontro à autoridade
constituída na busca de uma modificação profunda dos valores da sociedade, passa a ser,
conforme os receptores de Rebelde, uma revolta que se esgota na microestrutura – no âmbito
da escola e da família. Restringe-se simplesmente à já conhecida “crise da adolescência”: o
jovem briga com os pais por causa de alguma questão insignificante (importante apenas para
o jovem, como a insistência, frente à negação dos pais, em pedir-lhes dinheiro para comprar
99
Ibid., p.39.
32
uma roupa cara para ir à balada), e não questiona, por exemplo, a instituição familiar. Em
suma, a telenovela Rebelde altera a noção de rebelde.
Consideramos que um caminho adequado para pensarmos sobre essa postura “de
agir microssocialmente” passa pelo que diz Ronsini:
no final das contas, o desejo de liberdade, a ousadia e o inconformismo se resumem
ao poder de comprar um estilo “próprio” e os significados que caracterizam a
juventude contemporânea acabam por estar em comunhão com a economia
capitalista.
100
De certa maneira, Ronsini consegue resumir bem a articulação entre consumo e
identidades agenciada por uma telenovela que possui um título que remete à transgressão, mas
que inserida na cultura midiática parece esvaziar-se de sentidos concretamente
transformadores.
1.4 Procedimentos metodológicos
1.4.1 Considerações introdutórias
Por vezes, ao lermos determinados textos (artigos em publicações científicas,
livros ou mesmo dissertações de Mestrado e teses de Doutorado) que, por exemplo, trazem
resultados de uma pesquisa de recepção, sentimos falta de saber com maior aprofundamento
cada procedimento efetuado no trabalho de campo: com a respectiva descrição de locus,
amostra, material de apoio utilizado, etc. Em uma dissertação de Mestrado essas informações
constam no projeto de pesquisa apresentado no momento da Qualificação. Mas este não está
disponível para consulta do público em geral – nas bibliotecas das faculdades – e, no estudo
finalizado (dissertação), essas informações às vezes encontram-se diluídas ao longo dos
escritos, dificultando sua compilação e compreensão do todo. O que ocorre também, agora no
caso de um artigo de periódico, é que há apenas uma simples menção das etapas da
investigação em campo, sem maiores explanações. Essa ausência é até justificável porque, na
maioria dos casos, o objetivo primordial de muitos textos não é a exposição exaustiva desses
procedimentos e sim a apresentação das considerações deles decorrentes. Por esta razão – e
por pensarmos que a natureza desta pesquisa permite –, optamos por incluir neste espaço,
detalhadamente, os passos que trilhamos no caminhar de nossa pesquisa de campo.
100
RONSINI, Veneza Mayora. “Mídia, cultura e classe: a ordem da diferença”. In: 16º ENCONTRO ANUAL
DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO, 2007,
Curitiba. Anais do 16º Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em
Comunicação. Curitiba: Compós, 2007. p.14-15.
33
Seguindo o pensamento de Lopes, embasamos nossa pesquisa em uma estratégia
interdisciplinar e de multimétodos. A autora desenvolve esta proposta
101
baseada no fato de o
fenômeno comunicacional ser complexo e multidimensional, exigindo para seu estudo mais
de uma disciplina e mais de um método de investigação. De acordo com Morin, este “para
além das disciplinas” faz progredir as ciências:
[...] seja pela circulação de conceitos ou de esquemas cognitivos; seja pelas invasões
e interferências, seja pelas complexificações de disciplinas em áreas
policompetentes; seja pela emergência de novos esquemas cognitivos e novas
hipóteses explicativas; e seja, enfim, pela constituição de concepções organizadoras
que permitam articular os domínios disciplinares em um sistema teórico comum.
102
Também compartilhamos da noção de que “pesquisas que envolvem a análise dos
processos de produção e recepção possuem abordagem metodológica multi-estratégica, que
permite a utilização de várias técnicas e instrumentos de observação de caráter direto ou
indireto.”
103
Com isto, sendo nossa pesquisa empírica um estudo de recepção, justificamos
sua organização em procedimentos que congregam técnicas que se aproximam da natureza
qualitativa com técnicas que se aproximam da natureza quantitativa. À parte da pesquisa
teórica, de investigação bibliográfica, nossa pesquisa de campo foi composta de três fases,
com métodos distintos: aplicação de questionário (fase 1), realização de grupo focal
104
ou
discussão em grupo (fase 2) e realização de entrevistas em profundidade (fase 3). Mas, ainda
antes dessas três fases, efetuamos duas etapas que podemos chamar de (etapa 1) observação
participante e (etapa 2) pesquisa participante.
Antes de tudo – antes de começarmos a apresentação detalhada de cada passo
tomado –, abrimos aqui um parêntese para registrarmos explicitamente a dificuldade que
tivemos para conseguir locais (escolas ou organizações do Terceiro Setor) para
empreendermos cada fase da pesquisa de campo. Entramos em contato com instituições como
Escolas e ONGs porque visualizamos nelas um facilitador: trabalharem junto ao público por
nós desejado, não exigindo de nós a formação de grupos por conta própria. A primeira fase,
por ter sido planejada para o mês de dezembro (2006), foi realmente difícil sair do papel. Em
verdade, só conseguimos essas escolas por intermédio de pessoas conhecidas de Baccega
dentro de cada uma das instituições escolares e que então mediaram nossa comunicação com
101
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. 8. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
p.105-110.
102
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2000. p.112.
103
BACCEGA, Maria Aparecida. “O impacto da publicidade no campo comunicação/educação”. Cadernos de
Pesquisa – ESPM. São Paulo, ano 1, n. 3, p.11-91, set/out 2005. p.17.
104
Apesar de considerarmos “discussão em grupo” sinônimo de “grupo focal”, adotamos como padrão a
expressão “grupo focal”, utilizada por Costa. (COSTA, Maria Eugênia Belczak. “Grupo focal”. In: DUARTE,
Jorge e BARROS, Antonio (orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005).
34
o profissional responsável e permitiram nossa entrada. Para as fases seguintes, como não
conseguimos autorização da escola particular para darmos continuidade à pesquisa, entramos
em contato com mais três escolas da rede privada de ensino. Infelizmente, com o longo prazo
entre o nosso contato inicial e a resposta de cada escola, chegamos ao mês de dezembro
novamente (2007) e tivemos recusadas nossas tentativas nas três escolas. Fizemos contatos
com duas ONGs, os quais também foram infrutíferos. Lamentavelmente não conseguimos
mais entrevistas em profundidade como havíamos planejado.
1.4.2 Contextualizações
Traçamos uma breve apresentação de cada locus da pesquisa para ser possível
visualizar um panorama de cada ambiente.
A) Escola Municipal de Ensino Fundamental Profa. Joaninha Grassi Fagundes
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Profa. Joaninha Grassi Fagundes
oferece todo o Ensino Fundamental (1ª à 8ª séries) e também Educação de Jovens e Adultos
(EJA). Esta escola está localizada na Rua Alberto Andaló, nº 36 (Bairro Freguesia do Ó),
Zona Norte da cidade de São Paulo. Criada em fevereiro de 1961 com o nome de Escolas
Agrupadas do Parque São Luiz, passou a ter a atual denominação a partir de abril de 1969. Há
na Escola uma biblioteca, um laboratório de informática com aproximadamente 20
computadores, um laboratório de ciência, uma quadra de esportes coberta e duas descobertas.
O nome da Escola é em homenagem a Joanna Grassi Fagundes, profissional com dedicação
de 38 anos à área da Educação, como Professora, Diretora de Jardim de Infância, trabalhos
junto a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e demais atividades.
Figura 2 – Fotografia do ambiente externo à Escola Joaninha Grassi Fagundes
Fonte: Escola Joaninha Grassi Fagundes, 2007
35
Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Censo
Demográfico 2000), o rendimento médio dos chefes de família do Distrito Freguesia do
Ó/Brasilândia (local em que se encontra a Escola Profa. Joaninha Grassi Fagundes) é de R$
777,74 (enquanto a média no município de São Paulo é de R$ 1.325,43 mensais). Segundo a
mesma fonte, a média de anos de estudo dos chefes de família no Distrito Freguesia do
Ó/Brasilândia é de 6,55 anos (enquanto a média no município de São Paulo é de 7,67 anos) e
a taxa de analfabetismo na região é de 5,83% (contra a média de 4,88% do município de São
Paulo). A taxa de crescimento anual da população favelada neste mesmo Distrito é de 3,68%
(contra 2,97% no município de São Paulo) e de acordo com o Censo Demográfico 1991-2000,
a taxa de urbanização é de 97,75%.
105
B) Colégio São Luís
O Colégio São Luís é uma instituição escolar de caráter privado que oferece os
seguintes níveis de ensino: Creche, Pré-escola, Ensino Fundamental, Ensino Médio e
Educação Profissional. Localiza-se na Zona Central da cidade de São Paulo, no Bairro
Cerqueira César (Rua Haddock Lobo, nº 400). É um colégio de tradição jesuíta: o segundo
colégio do Brasil criado pelos jesuítas. Foi fundado pelos padres jesuítas no ano de 1867 em
Itu (interior do Estado de São Paulo) e transferido para a Capital no ano de 1918. Possui uma
ampla infra-estrutura: parque de informática com mais de 150 computadores; biblioteca com
mais de 400 mil volumes; laboratórios de Física, Química, Biologia/Ciências, Matemática e
Línguas; auditório; três quadras internas e sete externas; um ginásio; uma piscina aquecida;
restaurante e lanchonete.
O Bairro Cerqueira César (onde se situa o Colégio São Luís) faz parte do Distrito
Jardim Paulista que, por sua vez, pertence à subprefeitura de Pinheiros. De acordo com o
Censo Demográfico 2000, Pinheiros possui uma taxa de analfabetismo de 0,94% (contra a
média de 4,88% do município de São Paulo) e a média de anos de estudo dos chefes de
família em Pinheiros é de 12,67 anos (enquanto a média do município de São Paulo é de 7,67
anos). Segundo a mesma fonte, em Pinheiros o rendimento médio dos chefes de família é de
R$ 4.402,84 (contra a média de R$ 1.325,43 do município de São Paulo). Pinheiros possui
105
SÃO PAULO. Prefeitura Municipal da Cidade de São Paulo. Sumário de dados 2004. Disponível em:
<http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/governo/sumario_dados/ZN_freguesia_Caderno03.pdf>.
Acesso em: 21 jul. 2007.
36
uma taxa de urbanização de 100% e a taxa de crescimento anual da população favelada é
negativa, de - 29% (enquanto a média do município é de 2,97% anuais).
106
1.4.3 O passo a passo
1.4.3.1 Etapas preliminares
Antes de realizarmos os procedimentos metodológicos que dariam origem ao
nosso corpus definitivo, efetuamos duas etapas que fazem parte do que estamos chamando de
investigação exploratória: uma espécie de “pré-teste” mais elaborado. Na primeira etapa nós
apenas ficamos na posição de observadores e, na segunda, interferimos no evento.
Eventualmente, aproveitamos muitos discursos exteriorizados nestas etapas, pois foram muito
ricos.
A) Observação participante
107
O que denominamos observação participante ocorreu na ocasião do show de RBD,
no dia 07 de outubro de 2006, no estádio do Morumbi, em São Paulo. Tivemos a oportunidade
de entrar no show e, fazendo parte da platéia, inserimo-nos anonimamente no grupo
pesquisado e vivemos os mesmos momentos que os seus membros experienciaram. Foi uma
oportunidade única para aproximarmo-nos destes jovens e ver de perto o sentimento que
cultivam pelo produto midiático RBD. Acompanhamos pessoalmente a sua fascinação: choros
e berros estridentes, gritos de “eu te amo”, alternados com o canto das letras das músicas que
estavam “na ponta da língua”.
B) Pesquisa participante
108
Seis meses após a primeira etapa (descrita acima), empreendemos uma
metodologia similar. A diferença é que desta vez chegamos a efetivamente abordar os
receptores, fazendo-lhes questionamentos sobre a telenovela Rebelde, os seus personagens
favoritos, a banda RBD e sobre a compra de produtos da marca Rebelde-RBD. E é esta
106
SÃO PAULO. Prefeitura Municipal da Cidade de São Paulo. Sumário de dados 2004. Disponível em:
<http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/governo/sumario_dados/ZO_PINHEIROS_Caderno31.pdf
>. Acesso em: 21 jul. 2007.
107
Adotamos a nomenclatura sugerida por Peruzzo. (PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. “Observação
participante e pesquisa-ação”. In: DUARTE, Jorge e BARROS, Antonio (orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa
em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. p.133).
108
O questionário aplicado nesta pesquisa corresponde ao questionário 1 (apêndice A) e a transcrição das
abordagens efetuadas junto aos jovens corresponde à transcrição 1 (apêndice E).
37
abordagem que designamos pesquisa participante. Em tempo, “a pesquisa participante
consiste na inserção do pesquisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua
interação com a situação investigada”
109
.
Esta etapa aconteceu por ocasião do show de RBD que ocorreu em São Paulo no
dia 26 de abril de 2007. Com a autorização dos organizadores, permanecemos do lado de fora
do local do show (casa de espetáculos Via Funchal) e interagimos com os jovens que
aceitaram responder aos nossos questionamentos.
Figura 3 – Fotografia da parte externa ao local do show de RBD
Fonte: Casa de espetáculos Via Funchal, 2007
Dessa vez, pudemos observar aspectos como a interação dos receptores com a
imprensa, as reações emotivas do público e demais comportamentos. Definitivamente, com
esta aproximação aos receptores – as duas etapas do que chamamos de investigação
exploratória – captamos singularidades que foram úteis para a continuidade da pesquisa. No
total, abordamos 28 jovens neste show: pequeno contingente bastante revelador, cuja análise
muito colaborou para o todo da análise dos discursos dos receptores de Rebelde-RBD.
1.4.3.2 Fases posteriores
Adotamos escolas como locus principal para a coleta de dados, pelo fato de serem
instituições agregadoras do público que queríamos atingir: crianças e adolescentes entre 10 e
13 anos de idade, sempre da cidade de São Paulo. Para cada fase, buscamos manter a
distinção entre os níveis socioeconômicos, pelo contraste escola pública/escola particular. O
locus que reúne jovens de níveis socioeconômicos inferiores manteve-se o mesmo durante as
109
PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. “Observação participante e pesquisa-ação”. In: DUARTE, Jorge e
BARROS, Antonio (orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. p.125.
38
três fases: a Escola Municipal de Ensino Fundamental Profa. Joaninha Grassi Fagundes,
localizada no bairro Freguesia do Ó, com a maior parte de seus alunos sendo moradores do
próprio bairro e pertencentes ao nível socioeconômico C.
Já o locus escolhido por reunir jovens de nível socioeconômico mais elevado se
concentra apenas na fase 1. Nesta, então, trabalhamos junto ao Colégio São Luís, instituição
situada no bairro Cerqueira César e em que prevalecem alunos dos níveis socioeconômicos A
e B. Porém, não conseguimos dar continuidade à pesquisa neste Colégio. Verificamos (com
base no que já havíamos levantado) que os receptores de Rebelde se concentram mais no nível
socioeconômico C, o que corrobora com Hamburger
110
, a qual afirma que os consumidores de
nível socioeconômico C são os consumidores de telenovela por excelência. Logo, apesar da
ausência das 2ª e 3ª fases na escola particular, o prejuízo aos objetivos da pesquisa foi mais
restrito.
Para a fase 1, ocorrida em 2006, escolhemos alunos de 4ª e 6ª séries (ou 5º e 7º
anos respectivamente, de acordo com a nomenclatura de cada escola). Nas fases 2 e 3, que
foram empreendidas no ano seguinte, escolhemos exclusivamente a 5ª série (ou 6º ano), que
abarca os alunos que concluíram a 4ª série (ou 5º ano) no final de 2006 (série esta por nós
pesquisada no ano anterior). Optamos por este deslocamento de séries de um ano para o outro
– em virtude de as fases terem ocorrido em anos letivos distintos – para podermos, na Escola
Joaninha Grassi Fagundes, permanecer com ao menos alguns alunos nas três fases. Dessa
forma, nesta escola, as quatro alunas com as quais realizamos as entrevistas em profundidade
(fase final da pesquisa) participaram das três fases do estudo.
A) Fase 1: questionário
111
A fase 1 corresponde à aplicação de um questionário quanti-qualitativo com
perguntas abertas e fechadas. Este teve como finalidade investigar os hábitos de consumo
cultural em geral – consumo de televisão, cinema, rádio, livros, revistas, etc. –, assim como as
mediações mais presentes no processo de recepção de Rebelde – entre as quais o gênero, o
zapping, a família, a escola, o sexo e o nível socioeconômico – e o diálogo que os sujeitos
entrevistados mantêm com este produto ficcional televisivo. Tentamos identificar em que
lugar os jovens assistem à telenovela, com quem comentam, quais as interpretações que fazem
e quais as interpretações que fazem as pessoas com quem assistem, se é que assistem com
alguém, etc. O questionário foi respondido por 333 alunos de 4ª e 6ª séries: 179 alunos da
110
HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: a sociedade da novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p.55.
111
O questionário aplicado nesta pesquisa corresponde ao questionário 2 (apêndice B).
39
escola pública (113 alunos da 4ª série e 66 alunos da 6ª série) e 154 alunos da escola
particular (94 alunos da 4ª série e 60 alunos da 6ª série). Destes, selecionamos os
questionários mais representativos para trabalharmos nossas análises: os 53 alunos que
responderam que assistiam a Rebelde (43 alunos da escola pública e 10 alunos da escola
particular).
B) Fase 2: grupo focal
112
Optamos, na fase 2, por grupo focal porque “[...] tem grande potencial para
complementar pesquisas quantitativas [...]”
113
, como o questionário que aplicamos na fase 1
de nosso estudo. Na ocasião do grupo focal, apresentamos trechos da telenovela Rebelde (vide
apêndice H) para os jovens comentarem e exporem as suas opiniões. Foram trechos que
consideramos relevantes mesclados com trechos que foram citados pelos entrevistados no
questionário da fase 1 como sendo cenas de que gostaram bastante. O propósito foi
complementarmos, com discursos orais, os discursos escritos coletados nos questionários.
Realizamos um grupo focal na escola pública, em que participaram 29 jovens, sendo que 16
deles haviam participado também da fase 1.
Figura 4 – Fotografia dos alunos participantes do grupo focal
Fonte: Escola Joaninha Grassi Fagundes, 2007
112
O questionário aplicado nesta pesquisa corresponde ao questionário 3 (apêndice C) e a transcrição dos
discursos enunciados na ocasião corresponde à transcrição 2 (apêndice F).
113
COSTA, Maria Eugênia Belczak. “Grupo focal”. In: DUARTE, Jorge e BARROS, Antonio (orgs.). Métodos
e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. p.182.
40
C) Fase 3: entrevista em profundidade
114
Por sua vez, as entrevistas em profundidade (fase 3), como o próprio nome sugere,
tiveram a intenção de investigar mais a fundo, com mais detalhamento alguns integrantes do
grupo focal. A entrevista em profundidade “[...] é uma técnica dinâmica e flexível, útil para
apreensão de uma realidade tanto para tratar de questões relacionadas ao íntimo do
entrevistado, como para descrição de processos complexos nos quais está ou esteve
envolvido.”
115
Assim, a pesquisa em profundidade mostrou-se adequada para nosso caso, uma
vez que estamos investigando as identidades dos sujeitos e o diálogo que eles mantêm com
um produto cultural. De posse de um roteiro composto por questões semi-estruturadas,
realizamos, na escola pública, a entrevista em profundidade (de natureza qualitativa e semi-
aberta) individualmente com quatro alunas.
Figura 5 – Fotografia de aluna participante de entrevista em profundidade
Fonte: Escola Joaninha Grassi Fagundes, 2007
114
O questionário aplicado nesta pesquisa corresponde ao questionário 4 (apêndice D) e a transcrição das
entrevistas corresponde à transcrição 3 (apêndice G).
115
DUARTE, Jorge. “Entrevista em profundidade”. In: DUARTE, Jorge e BARROS, Antonio (orgs.). Métodos e
técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. p.64.
41
2 TELENOVELA, REBELDE E SEU DISCURSO
“No contexto das lutas e dos sofrimentos que causa o desemprego, a
violência, a pobreza, a exclusão social e as economias atadas às
receitas da globalização neoliberal, a ficção televisiva se torna um
dos lugares onde sonham, se olham, se refugiam, se emocionam, onde
nossas identidades plurais, precárias e acuadas são compartilhadas.”
(Nora Mazziotti)
1
Neste capítulo, tudo que escrevemos gira em torno da telenovela e, mais
especificamente, em torno de Rebelde. Primeiramente fazemos um percurso para resgatarmos
as marcas melodramáticas das telenovelas como um todo, depois apresentamos reflexões
sobre a presença das telenovelas no contexto cotidiano da vida de seus sujeitos receptores e,
então, tecemos considerações sobre o vínculo estabelecido entre telenovela e música. No que
concerne a Rebelde e RBD, efetuamos a exposição de uma ampla gama de fatores e elementos
que envolvem este produto cultural midiático. Ao final, fazemos mais algumas incursões na
Análise de Discurso ao empreendermos uma análise do discurso de Rebelde, ou melhor, das
falas de suas personagens. É por meio do discurso que destacamos os valores mais fortemente
presentes em Rebelde. E, por meio dos enunciados das personagens – e de suas atitudes –
tentamos traçar o perfil identitário dos protagonistas. Isto para localizarmos o leitor na trama
da telenovela e talvez conseguirmos entender as aproximações afetivas entre receptores e
personagens.
2.1 A telenovela: fundamentos e renovações
2.1.1 O melodrama: origem e reapropriação pela telenovela
Consideramos importante iniciarmos ressaltando que a telenovela – em especial,
para nós, a latino-americana – tem sua matriz cultural no popular, sobretudo o melodrama.
Convém, portanto, uma breve explicação do que é o melodrama e sua retrospectiva histórica.
O melodrama, antes de chegar à televisão (em nosso caso, interessa-nos principalmente a
telenovela), teve origem no teatro, passou pela literatura, também pelo rádio (radionovela) e
1
MAZZIOTTI, Nora. “A força da emoção. A telenovela: negócios, audiências, histórias”. In: LOPES, Maria
Immacolata Vassallo de. Telenovela: internacionalização e interculturalidade. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
p.400.
42
pelo cinema. Em seu local de nascimento – o teatro –, o melodrama se expande no século
XVIII, como gênero teatral que tinha o interesse de dirigir-se a burgueses menos cultos que a
aristocracia intelectual. Precisava, pois, conseguir ser acessível a este público. A estratégia
encontrada foi o viés do sentimento, fundamento do melodrama, que resultava em
identificação por parte da platéia. Uma grande característica do melodrama é a
superabundância nas representações.
Segundo Huppes, a estrutura do melodrama
é uma composição muito simples. Bipolar, estabelece contrastes em nível horizontal
e vertical. Horizontalmente, opõe personagens representativas de valores opostos:
vício e virtude. No plano vertical, alterna momentos de extrema desolação e
desespero, com outros de serenidade ou de euforia, fazendo a mudança com
espantosa velocidade. Em geral, o pólo negativo é mais dinâmico, na medida em que
oprime e amordaça o bem. Mas, no final, graças à reação violenta, que inclui duelos,
batalhas, explosões, etc., a virtude é restabelecida e o mal conhece exemplar
punição.
2
Referente aos temas com que trabalha o melodrama, Huppes esclarece que há dois
núcleos centrais em suas matrizes temáticas: “[...] a reparação da injustiça e a busca da
realização amorosa. Em ambas as alternativas a dificuldade de sucesso é introduzida pela ação
de personagens mal-intencionados”
3
.
Esta estrutura e temáticas modernas do melodrama, já tão antigas, de fato
parecem-nos bastante familiares nos dias atuais. Isto porque, com mudanças socioculturais,
socioeconômicas e tecnológicas, ocorreu uma readequação do estilo melodramático para o
espaço dos meios de comunicação. Dentre eles, a televisão (e, nela, a telenovela).
O melodrama retorna
4
em produtos culturais cultivados nos meios de comunicação
de massa e se mostra plenamente sintonizado com a lógica da sociedade de
consumo. Mais uma vez revela eficiência para atrair a camada emergente de
consumidores, como já o fizera ao incorporar o público que recém ganhava acesso
ao teatro, no final do século XVIII e durante o seguinte.
5
Fazendo uma transposição para os dias de hoje, para a telenovela, podemos dizer
que esta costuma ser escrita mesclando-se características do antigo melodrama com elementos
originais, oriundos de temas contemporâneos, do contexto sociohistórico ou mesmo do
“simples” arranjo inédito entre as múltiplas situações da trama. É verdade que a dramaturgia –
princípios e técnicas para a construção de obras teatrais e afins
6
– foi se modificando,
obedecendo às transformações socioeconômicas e culturais. Podemos talvez dizer que ela foi
tornando-se mais complexa. Passamos a ter na dramaturgia não apenas o que se chama de
2
HUPPES, Ivete. Melodrama. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2000. p.27.
3
Ibid., p.33.
4
Interpretamos o termo “retorna” de que Huppes faz uso como sendo a “readequação” que acabamos de apontar.
Pois o melodrama de fato nunca desapareceu para então regressar.
5
HUPPES, Ivete. Melodrama. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2000. p.155.
6
PALLOTINNI, Renata. O que é dramaturgia. São Paulo: Brasiliense, 2005. p.13.
43
personagens planas, mas também as chamadas personagens redondas. Personagens planas são
aquelas que permanecem as mesmas do início ao fim da trama (seja de um romance, de uma
telenovela ou de um filme). São personagens previsíveis: ou são boas do início ao fim ou são
más do início ao fim da história. Podemos dizer que nos primórdios do melodrama era esse
tipo de personagem que prevalecia. Mas então houve a emergência de personagens redondas,
que são aquelas que vão se modificando no decorrer da trama. Por exemplo, uma personagem
que começa má no início de uma telenovela no transcorrer pode acabar não tendo a
predominância dos traços tão negativos que tinha no começo. Essa é umas das mudanças que
tivemos no melodrama. Não deixamos de ter a estrutura básica do melodrama, mas ele não é
mais só bipolar com coerência das personagens (boas versus más).
É nesta dinâmica que a telenovela se renova e continua a agradar o espectador.
Reafirmamos, então, que o melodrama é o ponto de partida a partir do qual se desenvolve o
desenrolar da história da telenovela e é talvez o principal fator que provoca o reconhecimento,
a identificação entre a telenovela e os seus receptores. Isto porque o melodrama trabalha com
dramas íntimos. Exemplificando um pouco, podemos citar mais alguns recursos estruturantes
do melodrama: o drama familiar, o embate entre o bem e o mal, os amores proibidos, enfim,
as tristezas e amarguras que acabam em final feliz.
Oportuno voltar um pouco no tempo e falarmos dos mitos, pois o melodrama e a
telenovela fazem exatamente o que os mitos faziam. Os mitos são histórias fantasiosas, sem
embasamento científico, que, usando da imaginação, descrevem ou até mesmo explicam uma
determinada realidade. Prescrevem, em alguns casos, modelos de comportamentos. Então, de
certa maneira, podemos dizer que os homens sempre procuraram agir à semelhança dos
deuses e heróis mitológicos. A lógica de construção do melodrama e da telenovela é similar à
lógica de construção de uma história mítica (assim como também dos contos fantásticos): a
busca de um desejo, o desrespeito à norma e a punição subseqüente. Na Mitologia Grega
temos exemplos de histórias mitológicas como Homero, Odisséia, Ilíada, Helena de Tróia e a
Guerra de Tróia. Enfim, duelos e batalhas, como no melodrama. Em verdade, como diz
Baccega, a telenovela “atualiza os mitos a partir do cotidiano dos fatos que estão ocorrendo.”
7
7
BACCEGA, Maria Aparecida. “Narrativa ficcional de televisão: encontro com os temas sociais”. Comunicação
& Educação, São Paulo, n.26, p.7-16, jan/abr 2003. p.10.
44
2.1.2 Características clássicas e mudança de base tecnológica
Pejorativamente, ouvimos com freqüência, no dia-a-dia, melodrama como
sinônimo de “novela mexicana”. Neste caso, como temos uma telenovela mexicana (Rebelde)
como objeto de análise de nosso estudo, cremos ser conveniente, para entender o caráter
melodramático que estamos tentando desenhar, exemplificarmos justamente com o retrato de
algumas personagens da primeira temporada de Rebelde. Traçamos a seguir o perfil dessas
personagens (não exatamente os seis protagonistas principais): (1) a menina rica que sofre
pela ausência do pai que está sempre viajando e, quando ela faz algo para chamar a atenção
do pai, tê-lo ao seu lado e receber um pouco de carinho, apenas piora a situação e cada vez
mais o afasta. Além disso, vive um conflito interno por estar apaixonada pelo colega de classe
“caipira”; (2) o rapaz de família judia que se apaixona por uma menina não-judia e recebe
advertência de sua mãe argumentando/ameaçando que ele matará de desgosto o pai que já está
internado no hospital; (3) o rapaz que perde o pai e, para vingar a sua morte, ingressa como
bolsista em um colégio elitizado de Ensino Médio, o mesmo colégio da filha do suposto
assassino de seu pai. No fim, o jovem acaba apaixonando-se pela menina; (4) a menina
rebelde que tem problemas de relacionamento com a mãe e com muitos de seus colegas e vive
em pé de guerra com o rapaz de que gosta e não admite; (5) o filho que se envergonha da
origem humilde de sua família e reveste-se de “nova identidade” para ser aceito no grupo e
(6) o rapaz que deseja seguir uma carreira musical e é atormentado pela discriminação de seu
pai com relação à música. O pai é um político machista e corrupto que vê no filho um futuro
brilhante na política.
Feito isto, trazemos mais alguns apontamentos característicos do melodrama para
reforçar a aproximação de Rebelde deste gênero da dramaturgia. O melodrama enquanto
gênero codificado, orquestrado por regras bem precisas, [...] apresenta-se com temas
característicos – a perseguição à pureza, a felicidade ameaçada por um vilão e um
desenlace baseado no castigo e no reconhecimento – no interior de uma estrutura
fixa, de um gráfico invariável que determina um universo maniqueísta onde forças
antagônicas – a virtude e o vício – encarnam-se em personagens esquemáticos – o
herói virtuoso e perseguido, ajudado por um personagem tolo (niais) e agredido por
um vilão/traidor/intrigante.
8
Por meio das aproximações que percebemos entre as características da trama de
Rebelde e as características de um melodrama clássico é que podemos dizer que a telenovela
Rebelde é um melodrama. E, neste melodrama, de acordo com os exemplos supracitados,
podemos notar que injustiças, desentendimentos amorosos, lágrimas e atitudes extremistas são
8
FACHIN, Lídia. “Melodrama e soberania popular”. Revista de Letras, São Paulo, n.32, p.223-231, 1992. p.225.
45
alguns de seus elementos. Obviamente que nos dias atuais ocorrem renovações e rupturas,
porém o melodrama é a base, o fundamento da formação discursiva e audiovisual da
telenovela. O que estamos querendo dizer é que a telenovela tem uma tendência
melodramática (que é sua matriz), mas que incorpora a este seu eixo aspectos característicos
da contemporaneidade.
Ao final, achamos interessante trazermos apontamentos sobre uma mudança na
base tecnológica da novela – até porque envolve Rebelde. Trata-se do que vem sendo
chamada de web-novela. Consiste em uma novela publicada na internet. Identificamos
formatos variados de web-novelas: (1) pode ser em forma de texto, escrita por apenas uma
pessoa que publica esporadicamente capítulos na internet. Por exemplo, a escritora Sylvia
Pellegrino, que escrevia a web-novela Corpo e consciência: publicava um novo capítulo uma
vez por semana e teve mais de 800 mil internautas leitores no ano de 2000
9
; (2) ou a web-
novela pode ser interativa, desenvolvida a partir de contribuições dos web-espectadores
10
; (3)
ainda em forma de texto, é comum, no caso de Rebelde, os sujeitos criarem histórias
utilizando-se dos atores/personagens da telenovela. Ou seja, os sujeitos inventam roteiros e
inserem neles as personagens de Rebelde; (4) pode ser também na forma de vídeo, em que os
internautas se apropriam de cenas de telenovelas e as ressignificam com legendas, músicas ou
outros elementos; (5) ainda na forma de vídeos, há as web-novelas “originais”, no estilo de
telenovelas, mas com episódios bem mais curtos, produzidas por sites, como o Portal IG, que
publicou a novela De que lado você está?. Esta web-novela, por sinal, estava fazendo
considerável sucesso: chegou ao final da primeira temporada com um total de 250 mil
visitantes únicos.
11
Realizando uma busca pelo termo “web-novela” no Googlesite de buscas na
internet – encontramos 41.200 ocorrências (por “webnovela”, 69.100; por web-novela, sem
estar entre aspas, 103.000 e por “web novela”, sem hífen, 41.200)
12
. Aliás, para se ter uma
idéia, dentre os primeiros vinte resultados, quinze apresentam a web-novela a partir de
Rebelde-RBD. Não sabemos ao certo o porquê dessa ocorrência, mas parece que os receptores
brasileiros de Rebelde aderiram com intensidade a essa nova plataforma para veiculação de
9
TELLES, Sergio. Companheira a qualquer hora. Disponível em:
<http://www.canaldaimprensa.com.br/canalant/midia/dnov/midia5.htm>. Acesso em: 29 jul. 2007.
10
Fizemos uso deste termo para contemplarmos o público receptor com o mesmo hibridismo que a expressão
web-novela propõe.
11
BERGAMASCO, Cláudia. Novela interativa do iG chega ao fim. Disponível em:
<http://www.meioemensagem.com.br/novomm/br/Conteudo.jsp?origem=ultimas&IDconteudo=94914>. Acesso
em: 24 jul. 2007.
12
Acesso em 06 de julho de 2007.
46
telenovela. Talvez, pelo fato de Rebelde ter chegado ao final, encontraram na internet, no
formato de web-novela, um jeito de dar continuação a ela.
Ao lado da web-novela, há também a emergência da novela para celular: novelas
desenvolvidas especialmente para exibição em telefones celulares, com capítulos de curta
duração, e acessíveis aos usuários via download da rede das operadoras de telefonia móvel,
que firmam parceria com as produtoras desse tipo de novela. Um exemplo é a novela Rango
& Charlote (criada pela produtora Radioativa, de Porto Alegre) que, exibida no mês de junho
de 2007 pela operadora TIM, “[...] gerou mais de 10 mil downloads na primeira fase do
enredo.”
13
E em novembro de 2007 estreou no mercado brasileiro, (disponível pelas
operadoras Oi, TIM, Claro e Vivo) a novela para celular Diário de Sofia (produzida pela
empresa Aitec), prometendo ter bastante repercussão porque, além de disponibilizada pelas
maiores operadoras do País, permite que os espectadores interajam votando nas resoluções
dos dilemas vividos pela protagonista.
2.2 A telenovela: produto cultural inserido nas práticas cotidianas
Se estamos falando em cultura, em telenovela e também em consumo e
identidades, como não falar do cotidiano? Heller apresenta o cotidiano enquanto “o mundo da
vida comum”, local do “homem inteiro”, onde este coloca “[...] em ‘funcionamento’, todos os
seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus
sentimentos, suas paixões, idéias e suas ideologias.”
14
E Certeau fala em cotidiano como
“lugar praticado” e, assim, abre perspectivas para refletir a respeito de “[...] maneiras de
pensar as práticas cotidianas dos consumidores.”
15
Ambos, então, nos permitem pensar o
cotidiano e, melhor, remetem nosso pensamento para reflexões sobre a atuação da telenovela,
produto teledramático, no cotidiano.
Nas práticas cotidianas, nas experiências culturais da vida cotidiana de muitos
brasileiros a televisão é uma constante. E isto mesmo com o avanço de novas mídias como a
internet, pois em um país como o Brasil a maioria da população ainda é excluída
digitalmente: em nosso País, conforme pesquisa da comScore, a participação na web é de
13
SOBRAL, Eliane. “Novelinha portuguesa atrai operadoras de celular”. Valor Econômico, São Paulo, p.B4, 7
nov. 2007. p.B4.
14
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1989. p.17.
15
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano 1: artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. p.103.
47
apenas 11% da população
16
. Portanto, a televisão ainda é e continuará sendo por um bom
tempo a mídia com maior alcance. “No Brasil de hoje muitas casas não possuem camas para
todos os seus moradores, geladeira ou fogão, mas o aparelho de TV é onipresente e muitas
vezes entronizado em pequenos altares domésticos”
17
.
E mais do que isso, para uma população de nível socioeconômico inferior, sem
acesso a serviços culturais como teatro e cinema ou mesmo demais formas de lazer pagas –
por terem custo elevado ou, mesmo se barato, não é gasto prioritário – a televisão e, em
especial, a telenovela converte-se na grande fonte de lazer, entretenimento e descanso.
Enquanto para sujeitos de níveis socioeconômicos mais elevados a televisão é consumida, por
exemplo, apenas quando não há outra coisa para fazer, para o outro extremo da sociedade a
televisão pode ser a única opção possível. Esta realidade se confirma também nas palavras de
Elias, ao contrastar o comportamento de adolescentes urbanos e rurais frente à televisão:
a mobilidade e o grande número de atividades [aula de inglês ou computação, jogo
de voleibol ou visita a um amigo são exemplos dados por Elias] que o universo
urbano oferece fazem com que este adolescente não se prenda por muito tempo, de
forma contínua, à televisão.
Já no universo rural, os adolescentes, ao fim de seu horário escolar, não têm mais
nenhuma atividade educacional ou esportiva, têm muito trabalho esperando no sítio.
Assim, ao chegarem da escola, almoçam e vão cumprir suas obrigações, as quais só
terminam ao final da tarde. Aí é banho, janta e televisão.
18
Quando falamos em telenovela e cotidiano, há duas questões que nos vêm à
mente. A primeira é a questão mesma de a telenovela fazer parte da vida diária das pessoas.
Ou seja, telenovela inserida no cotidiano. A segunda diz respeito à questão (mais pertinente às
telenovelas brasileiras) de a telenovela retratar o cotidiano, abordar temas da vida diária (da
conjuntura atual). Ou seja, inserção do cotidiano na telenovela.
2.2.1 O cotidiano na telenovela
Estamos mais interessados aqui na primeira questão (a telenovela no cotidiano).
Contudo, vamos trabalhar a segunda rapidamente. Isto com o objetivo de ressaltar uma, dentre
16
PAÍS só ganha da Colômbia em uso da internet na AL. Folha de S. Paulo, São Paulo, Caderno Dinheiro, p.
B10, 26 jul. 2007. p. B10. (Outra pesquisa (do Datafolha) apresenta um total de 39% de brasileiros que dizem
costumar acessar a internet – seja em sua própria residência, na casa de parentes ou amigos, no trabalho ou em
locais públicos como lan houses. (PUBLICIDAD. Chega a 49 milhões o número de brasileiros com acesso a
web. Disponível em: <http://www.revistapublicidad.com/index.asp?InCdMateria=8258>. Acesso em: 31 jul.
2007.). A porcentagem é bem superior à pesquisa da comScore. Contudo, a penetração da internet não deixa de
ser inferior à penetração da televisão nos domicílios brasileiros).
17
ASSIS, Regina de. TV, sociedade e responsabilidade. Disponível em:
<http://www.multirio.rj.gov.br/portal/riomidia//rm_materia_conteudo.asp?idioma=1&idMenu=3&label=Artigos
&v_nome_area=Artigos&v_id_conteudo=68410>. Acesso em: 22 jul. 07.
18
ELIAS, Maria de Fátima Faila. “O adolescente diante da telenovela”. Comunicação & Educação, São Paulo,
n. 11, p.35-47, jan/abr 1998. p.40.
48
tantas, das diferenças principais entre as telenovelas brasileiras e mexicanas. Neste caso, a
diferença está no processo de produção da telenovela. Nas telenovelas brasileiras inclui-se o
cotidiano porque a telenovela produzida no Brasil é um percurso “em aberto”, “[...] escrita
enquanto vai ao ar, sujeita a sofrer todas as modificações que a circunstância, os
acontecimentos do dia, o sucesso e o insucesso, o êxito de audiência e outros detalhes mais
podem lhe impor.”
19
A telenovela brasileira possui um eixo a partir do qual se vão incluindo
os acontecimentos e temas cotidianos. Ou seja, a telenovela brasileira é pautada pela realidade
enquanto esta acontece. E pode sofrer alterações com as pesquisas de análise de audiência,
grupos de discussões sobre conteúdo, preferências do público e percepção – por parte dos
profissionais da produção – dos elementos que possibilitam a manutenção do interesse pela
telenovela. Já nas telenovelas mexicanas, em Rebelde em especial, não há essa inclusão do
cotidiano. Ao menos não no mesmo formato do brasileiro. O que cremos que há em Rebelde é
um levantamento – anterior à escritura da telenovela – de valores especificamente da
juventude (público alvo da telenovela). E estes valores estão na trama, eles são a trama. É
diferente de trazer o cotidiano (os acontecimentos do momento) para a trama. Há na história
os valores e os comportamentos previamente levantados como sendo os dos jovens, os da
maioria dos jovens. A telenovela mexicana é uma “obra fechada”, se podemos assim dizer.
Ela é escrita e gravada sem interferência da conjuntura do momento em que ocorre e sem a
influência da opinião dos espectadores. No caso de Rebelde isto pode ser comprovado até pelo
fato de ela ter sido comprada do Cris Morena Group (empresa produtora de Rebelde Way,
obra que deu origem a Rebelde) e, conforme exigências de contrato de compra, a Televisa
teve que seguir o roteiro adquirido (já pronto): sem inserir acontecimentos do momento.
2.2.2 A telenovela no cotidiano
Falamos agora sobre a primeira questão a que nos referimos anteriormente: a
inserção da telenovela no cotidiano. Importa-nos esta reflexão justamente pelo fato de a
telenovela diariamente entrar nos lares dos telespectadores e passar a ser prática cultural
cotidiana e, conseqüentemente, influenciar na cultura do lar, na cultura familiar e, portanto,
influenciar na construção de identidades individuais.
19
PALLOTTINI, Renata. “Minissérie ou telenovela”. Comunicação & Educação, São Paulo, n. 7, p.71-74,
set/dez 1996. p.73.
49
A telenovela é um produto teledramático que arrebata 2 bilhões de pessoas no
mundo inteiro
20
. Com características que lhe são peculiares – em sua linguagem, em sua
dramaturgia e nos demais elementos que a compõem –, este gênero ficcional retrata a
realidade, apresentando-a no campo simbólico, e pode chegar a promover uma verdadeira
educação dos sentidos em seus receptores. No Brasil, conforme Baccega
21
, “mais que mania
nacional, a telenovela é manifestação de cultura e agente da dinâmica social.” E mais:
a telenovela, a ficção televisiva em geral (minissérie, seriado, caso especial, também
chamado unitário) estão aí e, pelo próprio formato do gênero – figurativo por
excelência –, conseguem, de maneira muito mais ágil, expor conceitos e caminhar
com êxito no sentido da persuasão da população em geral.
22
Por isso, podemos dizer que a telenovela facilita a inserção, no âmbito familiar,
por exemplo, de uma discussão de valores entre os seus membros. Como ocorre na sociedade
brasileira uma constante circulação de comentários sobre as telenovelas que estão no ar,
mesmo as pessoas que não assistem assiduamente a uma telenovela acabam acompanhando-a
pelos diálogos das pessoas com quem convivem. Então a possibilidade de discussão de
valores agrega também estes sujeitos. A telenovela, como bem cultural e forma simbólica,
permite a quebra de algumas barreiras para introduzir uma conversa de um assunto delicado.
Assim, se uma determinada telenovela está abordando um tema como a sexualidade – como
ocorre com Rebelde –, uma mãe pode, por exemplo, sentir-se mais à vontade para conversar
com sua filha sobre sua iniciação sexual.
Complementando este quatro, uma outra característica da telenovela é que ela faz
as pessoas refletirem sobre suas relações íntimas, afetivas, amorosas. A telenovela constitui,
pois, “[...] um texto cultural capaz de promover certa educação sentimental.”
23
Com ela
[...] os espectadores tanto entram em contato com certas situações e sentimentos,
como através destas situações refletem e discutem sobre suas vidas privadas, sobre
certas concepções sociais que são veiculadas pelas novelas e que permitem a revisão
de suas próprias concepções.
24
Mais uma questão interessante que queremos trazer é mencionada por Hamburger.
A autora diz que umas das coisas que os telespectadores desejam encontrar na telenovela são
“[...] padrões de comportamento, alguns considerados ideais, outros condenáveis, para o que
20
O PLANETA tem 2 bilhões de noveleiros. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno TV & Lazer, p.8, 21 out.
2007. p.8.
21
BACCEGA, Maria Aparecida. “Do mundo editado à construção do mundo”. Comunicação & Educação, São
Paulo, n.1, p.7-14, set/dez 2004. p.14.
22
BACCEGA, Maria Aparecida. “Narrativa ficcional de televisão: encontro com os temas sociais”.
Comunicação & Educação, São Paulo, n.26, p.7-16, jan/abr 2003. p.8.
23
ALMEIDA, Heloisa Buarque de. Telenovela, consumo e gênero: “muitas mais coisas”. Bauru, SP: EDUSC,
2003. p.205.
24
Ibid., p.206.
50
imaginam como a comunidade nacional brasileira.”
25
Dessa forma, assistindo à telenovela, os
receptores passam por uma espécie de socialização antecipada: vêem na telenovela formas de
agir em sociedade.
Procuramos neste espaço revelar algumas das maneiras da presença e do agir da
telenovela na trama cultural da vida cotidiana – espaço em que se inserem instituições outras
que também interferem nos modos de produção de sentido. Mais adiante estas reflexões
dialogarão com as questões de identidades.
2.3 Rebelde e sua antecessora Rebelde Way
Rebelde é uma telenovela mexicana, produzida pela Televisa em 2004. É baseada,
sem muitas alterações de enredo, em Rebelde Way, de criação e produção argentina (2002).
Sem adaptações, apenas traduzida, esta versão mexicana foi comprada pelo canal de televisão
SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) e veiculada no Brasil no período de 15 de agosto de
2005 a 29 de dezembro de 2006 (três temporadas). Mencionamos, a título de curiosidade, que
o SBT, antes de comprar a versão mexicana de Rebelde, estava com a idéia de produzir uma
versão brasileira da telenovela. Até chegaram a produzir um piloto da mesma. Porém, a idéia
não teve prosseguimento e o SBT acabou comprando a Rebelde mexicana.
2.3.1 Rebelde Way
Apresentamos, em princípio, a telenovela Rebelde Way, o original argentino de
Rebelde. A empresa Cris Morena Group, da produtora argentina Cris Morena, é a responsável
pela produção de Rebelde Way, telenovela que foi ao ar entre 2002 e 2004. Segundo a própria
produtora, Rebelde Way é uma telenovela sobre “jovens que se percebem insatisfeitos com a
forma de vida que levam e que decidem buscar sua própria identidade”
26
.
Por não ter sido veiculada no Brasil, Rebelde Way não teve repercussão por aqui.
Contudo, alcançou êxito onde foi transmitida. Não somente na Argentina, porque a mesma foi
exportada para diversos outros países, como “Chile, Equador, Paraguai, Peru, Costa Rica,
Nicarágua, Honduras, República Dominicana, Cazaquistão, Bósnia, Sérvia e Montenegro,
Espanha, Ucrânia, Turquia, Indonésia e Israel”
27
.
25
HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: a sociedade da novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p.58.
26
FERLA, Marcelo. Segredo Rebelde. São Paulo: Futuro Comunicação, 2006. p.30.
27
Ibid., p.36.
51
Da mesma forma como em Rebelde, em meio à trama de Rebelde Way os quatro
personagens principais descobrem que possuem afinidades com o mundo da música e assim
se forma a banda Erreway. Israel parece ter sido o país em que Rebelde Way-Erreway fez
maior sucesso. O aeroporto de Tel Aviv (segunda maior cidade de Israel) foi invadido por
sujeitos histéricos ansiosos para ver de perto a chegada do quarteto de Rebelde Way. Erreway
realizou 16 shows em Tel Aviv, contabilizando um público total de 160 mil pessoas. E o que
nos chama mais a atenção é o fato de que o parlamento de Israel chegou a discutir a influência
de Rebelde Way na vida dos jovens do país (fato que se repetiu com Rebelde).
28
Erreway fez seu último show em 27 de novembro de 2004. Neste mesmo ano Cris
Morena Group vende os direitos de Rebelde Way à Televisa, para a realização da versão
mexicana da telenovela. Inicia-se então a telenovela Rebelde. O roteiro permaneceu o mesmo
da original argentina. As alterações ficaram por conta de alguns detalhes como o nome da
banda, que passou de Erreway para RBD; o número de integrantes da banda, de quatro para
seis pessoas; os nomes dos personagens e, principalmente, a faixa etária dos protagonistas,
que, de idades entre 15 e 19 anos, passaram para uma faixa etária de 18 a 21 anos, garantindo
muito mais sensualidade do que os protagonistas argentinos. Outra modificação é que na
telenovela original, argentina, não há uma terceira temporada, como acontece na versão
mexicana. Em Rebelde Way (argentina), os acontecimentos que, em Rebelde (mexicana), são
da terceira temporada, fazem parte da segunda temporada. De qualquer maneira, mesmo com
mudanças nas formatações das cenas, a história permanece com o mesmo conteúdo e
intenção: mostrar jovens de diferentes personalidades vivendo conflitos em um ambiente
elitizado.
2.3.2 Rebelde
Aprofundando um pouco mais: a história de Rebelde (assim como de Rebelde
Way) se passa em uma escola de prestígio chamada Elite Way School. Trata-se de um semi-
internato de Ensino Médio para filhos de pessoas famosas e poderosas (políticos, empresários,
celebridades, etc.). Em síntese, a telenovela apresenta as relações de amizade, amor, intrigas e
desentendimentos entre os jovens estudantes. A Elite Way possui regras próprias, distintas de
outras escolas. Por esta razão, possui um acordo com o governo: suas regras são aprovadas
com a condição de que o colégio forneça bolsas de estudos para alunos de baixa renda. Estes
28
Ibid., p.36.
52
bolsistas sofrem discriminação social: recebem ameaças de uma suposta sociedade secreta –
La Logia (“A Seita”, em português) –, que teria a missão de preservar a “pureza” da classe
elitizada. No decorrer da trama, os seis personagens principais descobrem que partilham de
uma paixão comum: a música. Compõem uma banda, nomeada RBD, que, superando
obstáculos, pressões e discriminações, realizam ensaios e apresentações nos palcos da ficção.
Um depoimento dos próprios atores que interpretam os protagonistas, quando
questionados sobre o que pensam da Elite Way School (escola cenário central de Rebelde),
esclarece o que é a escola e o que acontece na trama:
aquilo é uma fantasia, não é real. Mas uma fantasia que serve para falar de
problemas reais, que tem a ver com a vida dos jovens. Autoconhecimento, drogas,
gravidez, doenças, família. Claro, com muita confusão, briga e separação, para
manter o interesse do público.
29
Afora a fantasia, o grupo musical RBD passou também a realizar, com grande
sucesso, shows nos palcos do mundo real. Em verdade, enxergamos o processo de maneira
inversa. Contrária do que o que a mídia veicula e o que os receptores acreditam. Não
pensamos ter RBD saído de Rebelde. Se pensarmos em um processo anterior – o processo de
produção do produto midiático –, cremos que RBD deu origem à Rebelde. Assim, Rebelde
saiu de RBD, não o oposto. Isto porque, refletindo sobre as estratégias de produção,
acreditamos que os produtores visualizaram em uma banda a possibilidade de alcançarem
audiência – e, conseqüentemente, lucro. Então, pensaram eles (os produtores), o que poderia,
em termos de América Latina, garantir lançamento e exposição dessa banda (RBD)? Uma
telenovela (Rebelde)! Uma comprovação deste raciocínio é o fato de que os integrantes de
Rebelde-RBD possuem em seus currículos experiência com música e dança. Ou seja, parece-
nos que música e dança eram pré-requisitos para ser ator de Rebelde. Aliás, parece que ser
ator era secundário. Exploraremos esta questão em outros momentos, mas já começamos aqui
a delinear a visão com que enxergamos Rebelde-RBD.
Os seis personagens principais de Rebelde (e que integram o grupo RBD) são: a
popular Mía Colucci, interpretada por Anahí Portilla; a transgressora Roberta Pardo Rey,
interpretada por Dulce Maria Espinoza Saviñon; o playboy Diego Bustamante, interpretado
por Christopher Alexander Luis Casillas von Uckermann; o “bom moço” Miguel Arango,
interpretado por Alfonso Herrera Rodriguez; a romântica Lupita Fernández, interpretada por
Maite Perroni Beoriegui e o interesseiro Giovanni Méndez López, interpretado por Christian
Chávez Garza. Vejamos um breve perfil de cada um desses personagens e as relações que
mantêm entre sim.
29
URBIM, Emiliano. “RBD Cara a cara”. Capricho, São Paulo, p.87, 30 abr. 2006. p.87.
53
Mía é a menina mais popular da escola, aquela com quem todos os meninos
sonham. Uma “patricinha”, uma Barbie. Sofre com a ausência de seu pai, que vive viajando.
Assim como sente falta de não ter a presença de sua mãe, que supostamente morreu quando
Mía era pequena. Apaixona-se por Miguel e, no início, não quer admitir, pois ele é o bolsista
“caipira” – como Mía o chama. Roberta seria, explicitamente, a mais rebelde de todas as
personagens, quem arma as grandes confusões. Filha de uma cantora de sucesso, com quem
tem muitos desentendimentos. No desenrolar da trama acabamos percebendo que ela inveja a
mãe por ser tão bonita e ser uma vencedora na vida. A menina sente-se uma perdedora ao lado
da mãe. Lupita é uma menina romântica e sonhadora, que se mostra bastante madura e
mantém sempre um pensamento positivo que a possibilita dar conselhos e ajudar os amigos.
Diego, por sua vez, como Roberta o chama, é “um bonequinho de plástico”. Esse seu apelido
deve-se ao fato de que Diego, no fundo, tem medo de enfrentar o pai – um político rico,
corrupto e que conserva valores machistas – e, portanto, deixa-se manipular por ele. Diego e
Roberta se gostam e não admitem. Por esta razão, vivem em pé de guerra, com provocações
de ambos os lados. Miguel é muito bondoso e educado. Conforme Mía o chama, é o “bolsista
caipira”. Na realidade, ele é mais velho, já formado no Ensino Médio e, portanto, poderia
estar na faculdade. No entanto, entrou como bolsista na Elite Way School, escola em que
estuda a filha do suposto assassino de seu pai, com a intenção exatamente de vingar a morte
de seu pai e a conseqüente desestruturação de sua família. Contudo – como era de se esperar –
apaixona-se por Mía, a filha desse suposto assassino. Vive então um conflito pessoal.
Giovanni é um rapaz um tanto mentiroso. Sua família é representante do que podemos chamar
de “novos-ricos”. E Giovanni envergonha-se dessa origem humilde de sua família, a qual só
conseguiu vencer na vida devido a muito esforço e trabalho.
2.4 Rebelde e seus números
2.4.1 Audiência, shows, outros formatos e prêmios
Muitos números comprovam o sucesso de Rebelde-RBD e, portanto, a pertinência
de seu estudo. No Brasil, a telenovela alcançou uma “média mensal de 10 pontos de
audiência, atingindo picos de 18.”
30
Cada ponto de audiência equivale, nacionalmente, a
aproximadamente 495 mil televisores ligados no momento da medição. Ou seja, isto significa
30
MORAES, Rebeca de. Juventude transviada e lucrativa. Meio & Mensagem, São Paulo, p.32, 14 ago. 2006.
p.32.
54
que Rebelde foi vista, diariamente, se tomarmos 1 telespectador por aparelho – o que não
ocorre –, por 4 milhões 950 mil telespectadores brasileiros. Rebelde tornou-se um produto
mercadológico de abrangência internacional, transmitida em mais de 70 países, dentre eles:
México, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Estados Unidos, Porto Rico, Peru,
Venezuela, Brasil, Espanha, Equador, Angola, República Dominicana, Paraguai, Guatemala,
Bolívia, Indonésia, Nicarágua, Israel, Japão, Romênia, Canadá, Honduras, Rússia, Índia e
Inglaterra.
31
No mesmo caminho, RBD também passou a ser uma sensação mundial. Mesmo
com o término da telenovela (no Brasil seu último capítulo foi exibido em dezembro de
2006), a banda continua suas atividades intensamente.
O produto Rebelde-RBD ficou de fato conhecido pelo grande público, em nosso
País, por causa de uma trágica apresentação e sessão de autógrafos em fevereiro de 2006 que,
devido à superlotação no local, acabou com vários feridos e três mortes. Enquanto eram
esperadas 7 mil pessoas, o número total e real de presentes foi de 20 mil
32
receptores de
Rebelde e RBD. Interessante apontar uma equivalência com o que representou e ocorreu com
o grupo musical Menudo. Trata-se de uma banda também latino-americana, originada em
Porto Rico, que fez grande sucesso, principalmente, nos anos de 1980 e conquistou
admiradores em muitos países – fizeram quatro shows lotados no Madison Square Garden,
em Nova York, e tiveram 10,7 milhões de discos vendidos somente em 1985. Em um dos
shows de Menudo no Rio de Janeiro, parte da primeira turnê do grupo no Brasil, em 1985,
duas mulheres morreram esmagadas. Ou seja, esses grupos musicais latinos são produtos
recorrentes da indústria cultural – vinculados ou não à telenovela – e podemos localizar
Menudo como o primogênito do gênero. Tornam-se rapidamente “febre” latina ou mesmo
mundial, provocam os mesmos efeitos de deslumbramento nos sujeitos – e até tristes
incidentes – e podem perdurar por mais ou por menos tempo na memória e nas práticas
cotidianas. Aliás, comprovando esta “teoria” de ciclo de ocorrências e também a força da
marca Menudo, destacamos que o grupo está sendo reinventado. Acontece atualmente uma
espécie de reality show, veiculado pela MTV Tr3s (versão do canal de televisão MTV
originalmente um canal destinado à veiculação de videoclipes –, exibido nos EUA com o
objetivo de valorizar e dar espaço à cultura, música e artistas latino-americanos), com o
propósito de selecionar os cinco rapazes para integrarem o novo Menudo. O que estamos
31
WIKIPEDIA (Brasil). Países em que foi ou é exibida. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Rebelde_(telenovela)#Pa.C3.ADses_em_que_foi_ou_.C3.A9_exibida>. Acesso
em: 06 jul. 2007.
32
FOLHA DE S. PAULO. Reportagem local. Ação cobra indenização por show do RBD. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1304200622.htm>. Acesso em: 24 nov. 2006.
55
percebendo é que, cada vez mais, esses produtos fonográficos tendem a ser mais intensos,
talvez, principalmente, em termos de consumo.
Retornando aos dias de hoje, a Rebelde, podemos dizer que o triste episódio da
tarde de autógrafos não abalou a paixão dos jovens brasileiros por Rebelde-RBD. Pelo
contrário. Só fez aumentar, na medida em que eles foram solidários às famílias, chegando a
visitar doentes em hospital. O sexteto retornou ao País em setembro de 2006 e realizou 13
shows em diversos Estados brasileiros. Apenas na cidade de São Paulo, cerca de 40 mil
pessoas assistiram à RBD no Morumbi. Já no Rio de Janeiro, RBD tocou para 120 mil pessoas
no Maracanã. Vale lembrar que o sucesso de público dos shows da banda, em nosso País,
começou em Belém e que o Brasil é apenas um dos muitos países em que o grupo fez
apresentações. Nos Estados Unidos o sucesso também é impressionante e bateu recordes: para
o primeiro show da turnê no País, 12 mil ingressos foram vendidos em apenas meia hora,
superando o registro anterior que era de Madonna, e o show em Los Angeles teve “[...] o
maior público alcançado por um artista latino nos Estados Unidos [...]”
33
.
Ao total foram três temporadas de Rebelde. E aqui destacamos outro recorde
conquistado: foi a telenovela de maior duração do México, com 440 capítulos
34
(divididos
entre as três temporadas). Além de Rebelde permanecer viva com o trabalho ainda
desempenhado por RBD, alguns outros formatos de produtos cultural-midiáticos
complementam a telenovela e a banda. Foi lançado um desenho animado com os seis
personagens do grupo e já está no ar no México desde março de 2007 a série de televisão
RBD: La Família (com estréia prevista no Brasil para o segundo semestre deste mesmo ano).
Aliás, a série é exibida em um canal dedicado especialmente ao grupo: o Canal Rebelde – que
é transmitido por uma empresa de TV paga – que coloca no ar, além da série, shows
gravados, shows inéditos e também cenas de bastidores. No momento, acabam de informar à
imprensa que estão se preparando para iniciarem as gravações da segunda temporada desta
série de TV. Estava nos planos, também para 2007, o lançamento de um longa-metragem
sobre a banda. Entretanto, não conseguimos confirmar sua efetiva realização. O mais recente
destaque de RBD só vem ratificar sua grande repercussão em todo o mundo: o grupo foi a
grande atração musical da edição de 2007 do Concurso Miss Universo. Portanto, mais de 1
bilhão de telespectadores espalhados por todo o Planeta assistiram ao grupo, em transmissão
direta.
33
FERLA, Marcelo. Segredo Rebelde. São Paulo: Futuro Comunicação, 2006. p.93.
34
EMI MUSIC. Celestial chega às lojas em espanhol e português. Disponível em:
<http://www.emi.com.br/artista.asp?a=07600>. Acesso em: 05 fev. 2007.
56
Há atestados “legítimos” de todo esse sucesso de Rebelde-RBD: os prêmios por
eles conquistados. Destacamos aqui alguns deles. No Billboard Latino 2006: Prêmio do
Público e Álbum Pop do Ano. No Premios Juventud 2006, receberam vários prêmios, entre
eles: (1) Voz do momento; (2) Canção mais pegajosa com Aún hay algo, do CD Nuestro
Amor; (3) Morro sem esse disco por seu CD Nuestro amor; (4) Meu show favorito; (5)
Canção de cortar as veias com a música Este corazón, do CD Nuestro Amor, e também
ganharam nas categorias (6) Na mira dos paparazzi; (7) Meu artista pop favorito; (8) Meu
ídolo é..., além do prêmio (9) Especial internet: mais buscados. Como não bastasse, Dulce
Maria (integrante de Rebelde-RBD) recebeu o troféu Quero vestir-me como ela e Alfonso
Herrera (também integrante de Rebelde-RBD) levou para casa o troféu Gato Tudo-de-Bom.
35
De certa maneira, este consumo simbólico/cultural da telenovela Rebelde (e seus
desdobramentos) tem seu ápice nos shows de RBD. Ocasião em que a intensidade desse
consumo, desse arrebatamento pela mídia, pelos atores-personagens-cantores, parece ser
ainda maior. São momentos em que uma multidão se reúne para uma fruição coletiva.
Ultrapassa-se o “simplesmente” televisual (relativo à televisão), abre-se ao “visual-
presencial”. Portanto, todos os sentidos (e não apenas a visão e audição) estão mais aguçados
pelo deslumbre e fascinação com a proximidade dos ídolos. Jovens, cantando aos gritos,
exteriorizam e materializam suas identidades ao vestirem o figurino das personagens da
telenovela.
36
2.4.2 CDs, DVDs e demais produtos
Para complementar este consumo cultural de Rebelde, há as materializações deste
“universo rebelde”: o consumo material. Bens materiais, possíveis de serem comprados, de
serem tocados, usados... E, claro, especialmente, valorados; pois não se desvinculam do
âmbito do simbólico e, portanto, são repletos de significados. Deste modo, compartilhamos
com Silverstone
37
a idéia de que consumimos a mídia e, também, consumimos pela mídia. A
mídia nos convida ao consumo material. Rebelde-RBD convida seus receptores ao consumo
material.
35
RBD BRAZIL. Tudo que aconteceu no Billboard Awards 2006. Disponível em:
<http://z001.ig.com.br/ig/14/39/918439/blig/rbdbrazil_/>. Acesso em: 17 jul. 2007.
36
Experiência por nós vivenciada e observada em show de RBD no dia 07 de outubro de 2006, no estádio do
Morumbi, em São Paulo.
37
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p.150.
57
Dentre os muitos produtos, há os CDs e DVDs lançados pela banda. Além dos
CDs em espanhol, o sucesso os obrigou a fazer regravações em português, para os receptores
brasileiros. Ao total, disponíveis para venda no Brasil, são sete álbuns e três deles com
versões em português (Rebelde: edição espanhol, Rebelde: edição Brasil, Tour Generación
RBD en vivo, Nuestro Amor, Nosso Amor Rebelde, Live in Hollywood, Celestial: edição
espanhol, Celestial: edição Brasil, Rebels e Empezar desde cero). Fora as edições especiais de
CDs lançados pela produtora EMI exclusivamente no México, quais sejam: Rebelde – Edicion
Diamante, Tour Generación RBD en vivo – Edicion Diamante, Nuestro Amor – Edicion
Diamante e Celestial – Fan Edicion e o single Inalcanzable. Quanto aos DVDs de Rebelde-
RBD, são seis ao todo (Tour Generación RBD, Live in Hollywood, RBD Live in Rio, Tour
Celestial hecho en España e o documentário Que hay detras de RBD) e mais os DVDs da
telenovela, que são três (da 1ª, da 2ª e da 3ª temporadas) e o primeiro DVD da série RBD La
Família, que não é vendido no Brasil pelo fato de a série não ser transmitida aqui (ao menos
por enquanto). O número de vendas é impressionante, tanto no México quanto no Brasil e nos
Estados Unidos. No México, o CD Nuestro Amor tornou-se platina em apenas sete horas.
Antes de sua turnê nos Estados Unidos, o RBD já havia vendido 2 milhões de cópias. E no
Brasil, estima-se que “[...] cerca de quatro milhões de discos do grupo saíram do mercado,
formal e informal, para as mãos dos consumidores”
38
.
Figura 7 – CD mais recente de RBD (Empezar desde
cero)
Fonte: EMI Music (http://www.emi.com.br), 2007
Figura 6 – Primeiro CD em português de RBD
(Rebelde – edição Brasil)
Fonte: EMI Music (http://www.emi.com.br), 2007
E não apenas RBD é um produto vendido por Rebelde. Além dessa “extensão” da
telenovela para a música, há os muitos produtos licenciados com a marca Rebelde,
aumentando ainda mais o consumo material. Antes de apresentarmos alguns números das
produções e vendas destes bens materiais, é interessante salientarmos que a Televisa é quem
38
FERLA, Marcelo. Segredo Rebelde. São Paulo: Futuro Comunicação, 2006. p.92.
58
negocia todos os licenciamentos. Foi criada, em julho de 2003, a Televisa Licencias “[...] com
o objetivo de explorar o potencial comercial de suas produções [...].”
39
Há as agências de
licenciamento (provavelmente uma em cada país, como a Redibra, no caso do Brasil), mas a
Televisa Licencias é quem faz o controle. Ou seja, considerando que Rebelde começou a ser
produzida pela Televisa em 2004, este é um grande indício de que a venda de produtos
relacionados à telenovela está presente como objetivo desde o momento de sua concepção.
A Rede Globo, uma das emissoras de televisão de maior prestígio e audiência do
Brasil – se não a de maior prestígio e audiência –, segue na mesma linha da Televisa. Ou
melhor, a Televisa segue os passos da Rede Globo, pois esta, já no ano de 2000 (antes da
Televisa) criou a empresa Globo Marcas, com o propósito de zelar pelo licenciamento de suas
marcas e personagens.
A área [Globo Marcas] tem uma visão integrada do processo de licenciamento,
buscando desde o início da criação de um programa as melhores oportunidades de
licenciamento, conceituando as marcas através de um planejamento estratégico e de
uma adequação correta na escolha das categorias de produtos.
40
Este trecho, retirado de um press-release da Rede Globo, vem reforçar nossa
concepção de que os produtos com a marca da telenovela são pensados ao mesmo tempo – ou
até antes – em que a telenovela começa a ser escrita. E a Rede Globo acaba de dar um passo
além: acaba de lançar a Loja Globo Marcas, uma loja virtual que se propõe a concentrar em
um só local todos os produtos licenciados da emissora. Concebemos esta estratégia, este novo
posicionamento como um facilitador (talvez estimulador) a mais para o consumo material (ao
menos da parcela da população com acesso à internet), que é, na verdade, a materialização do
simbólico que perpassa nas telenovelas.
Agora, adentramos diretamente no mundo do consumo material de Rebelde-RBD
e seu sucesso, suas vendas (do lado de quem produz), suas compras (do lado de quem
consome). As projeções indicavam que a marca Rebelde poderia movimentar até R$ 80
milhões ao final de 2006
41
. Neste mesmo ano, sem considerar o Natal, grande número de
produtos de Rebelde foram vendidos: “400.000 bonecas Baby Brink, 40 milhões de figurinhas
da Panini, 10 milhões de revistas e pôsteres da OnLine Editora e 350 milhões de chicletes da
Riclan, por exemplo.”
42
E há muitos outros produtos, que vão de cadernos, pastas e demais
39
REDIBRA. Uma propriedade da Televisa. Disponível em: <http://www.redibra.com.br/site/>. Acesso em: 11
fev. 2007.
40
CENTRAL GLOBO DE COMUNICAÇÃO. TV Globo lança loja virtual. São Paulo, 22 maio 2007. Press-
realese distribuído à imprensa.
41
AZEVEDO, Bruno. “Novela do SBT prevê faturar R$ 80 mi com licenciamento”. DCI: Diário Comércio,
Indústria & Serviços,
São Paulo, p.B2, 24 maio 2006. p.B2.
42
CARAS (São Paulo). Exclusivo: um raio x das estrelas do RBD. Disponível em:
<http://caras.uol.com.br/materias/materias_760.htm>. Acesso em: 20 dez. 2006.
59
artigos de papelaria, passando por roupas, roupa de cama, tênis, sandália, bijuterias e
mochilas, até o setor de eletrônicos, com aparelhos de mp3 players, celular, câmera digital e
lap top. Com certeza há muitos outros produtos não mencionados aqui e ainda mais dezenas
de outros produtos no mercado paralelo – “produtos piratas” – que saturaram e continuam
saturando as lojas. A rede de restaurantes fast food Giraffas lançou o Trio RBD, produto
focado no público infanto-junvenil, composto de sanduíche, porção de fritas e refrigerante.
Figura 8 – Propaganda do Trio RBD (lanche da rede Giraffas)
Fonte: Giraffas (http://www.giraffas.com.br), 2007
Pela primeira vez na América Latina a empresa de cosméticos Revlon associou
seus produtos a uma marca licenciada. A empresa desejava lançar uma linha de produtos para
crianças e pré-adolescentes e, baseada em pesquisas, Rebelde era naquele momento a marca
referência entre este público. Com a chancela bem sucedida de Rebelde, a empresa apostou no
lançamento de uma linha composta por xampu, condicionador e gel; com foco em estilo e
comportamento para essas crianças que têm gostos próprios e querem ser tratadas como
adolescentes.
43
Aos nossos olhos, um grande destaque dentre esses produtos de Rebelde-RBD:
trata-se de um que ainda não chegou ao Brasil – a Barbie Rebelde. Ou melhor, é uma
“coleção” de Barbie Rebelde, pois são três Barbies, cada uma inspirada em uma das
personagens femininas de Rebelde (Mía, Roberta e Lupita). As vendas no México iniciaram
em junho de 2007, com previsão de chegarem ao Brasil no segundo semestre deste mesmo
ano. Nossa atenção a este produto deve-se ao fato de que Barbie é uma boneca clássica,
lançada no mercado em 1959, um ícone da cultura pop e é a queridinha de crianças e adultos
43
RP1 COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL. Revlon licencia produtos da marca Rebelde. Disponível em:
<http://www.rp1.com.br/redator/item14446.shtml>. Acesso em: 05 fev. 2007.
60
(crianças que cresceram brincando com Barbie). A empresa Mattel, fabricante de Barbie,
lança novos modelos da boneca a cada ano. Dessa forma, o mais interessante é que a Barbie
Rebelde encontra-se ao lado de Barbies de atrizes como Marylin Monroe e Audrey Hepburn e
também de personagens como Rose, do filme Titanic (1997), Dorothy de O mágico de Oz,
Samantha do seriado A Feiticeira e Alice de Alice no país das maravilhas. Ou seja, Barbie
Rebelde está ao lado de verdadeiros clássicos. Mas, claro, como não poderia faltar, há versões
Barbie também das personagens do que se pode chamar de atual “concorrente” de RBD: High
School Musical (e seu grupo musical HSM). O que é mais instigante é o fato de que a Barbie
Rebelde é a primeira versão da boneca inspirada em personagens mexicanos.
Figura 9 – Coleção Barbie Rebelde
Fonte: Univision (http://www.univision.com), 2007
2.5 Rebelde, música, telenovelas antecessoras e formatos posteriores
2.5.1 Antecessoras recentes
Não é de hoje que as telenovelas mexicanas e argentinas são exportadas para
outros países. No caso do Brasil, sejam importadas sem adaptações por emissoras locais ou
sejam compradas e refilmadas especialmente para nosso País, fazem grande sucesso entre os
brasileiros.
Quando pensamos nessa questão de compra ou de adaptação de telenovelas
estrangeiras, uma questão que emerge é: com tantos bons autores de telenovelas no Brasil, por
61
que comprar ou adaptar uma telenovela estrangeira? Jaqueline Vargas
44
, roteirista que
trabalhou na adaptação de Floriscienta (argentina) para Floribella (brasileira) dá-nos uma das
possíveis respostas. Segundo ela, é muito perceptível neste processo (de opção por criar uma
telenovela nova versus adaptar uma telenovela já existente) a questão comercial. Emissoras,
como a Bandeirantes (no caso de Floribella), preferem apostar na adaptação de uma
telenovela que fez sucesso em outro país do que começar do zero a produção de uma
telenovela que pode não dar certo, pode não conseguir audiência e, com isso, não conseguir
anunciantes e, assim, quebrar o orçamento de produção levando a emissora ao prejuízo – é
todo um ciclo de dependências aí envolvido. “Às vezes a novela é comprada para ser adaptada
porque a emissora tem garantias de que aquilo vai fazer algum sucesso porque já fez sucesso
antes.”
45
Ou seja, é uma coisa meio óbvia, meio lógica: trata-se de um negócio mesmo, no
sentido de transação comercial. Nosso foco não está nesse “por trás das câmeras” (e sim no
durante e no pós “aparecer na câmera”), mas cabe sempre lembrar: o que uma emissora de
televisão almeja é a venda de espaço publicitário e, para isso, precisa comprovar audiência
para, então, valorizado, conseguir aumentar o preço deste espaço: precisa que a telenovela
tenha sucesso entre o público receptor (este sim nosso foco de atenção). Há todo um
complexo sistema midiático que está por trás e sobre o qual trataremos com maiores detalhes
no capítulo 3.
Na lógica da produção, Rebelde não é a primeira telenovela latino-americana que
obtém êxito atrelando música a sua trama. Da mesma produtora argentina de Rebelde, Cris
Morena, podemos destacar dois casos: Chiquititas (1997-2000) e, mais recentemente,
Floribella (2005-2006). Chiquititas (1997-2000) teve o seu formato vendido para o SBT que,
em co-produção com a emissora argentina Telefé, produziu uma versão brasileira. Já
Floribella (2005-2006), adaptada do original argentino Floriscienta, foi produzida pela
Bandeirantes em parceria com a produtora Argentina RGB.
No decorrer de Chiquititas (versão brasileira) foram lançados dois CDs com os
temas cantados pelos personagens. As vendas desses CDs giraram em torno de 1 milhão de
cópias cada. Já na mais recente, Floribella, a música, na trama, é explorada como receita para
enfrentar os desafios da vida e espantar as tristezas. A protagonista (Flor), em suas horas
vagas, toca em uma banda integrada por mais quatro amigos seus. Além desses dois casos,
44
VARGAS, Jaqueline. Adaptação da novela Floribella. In: SEMINÁRIO TELENOVELA E
INTERCULTURALIDADE, São Paulo, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-
USP), 10 nov. 2006.
45
VARGAS, Jaqueline. Adaptação da novela Floribella. In: SEMINÁRIO TELENOVELA E
INTERCULTURALIDADE, São Paulo, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-
USP), 10 nov. 2006.
62
convém registramos mais um, mesmo que as suas telenovelas não tenham como público
prioritário os jovens: é a atriz e cantora Thalia, que teve sua carreira como cantora
impulsionada por intermédio de telenovelas. No Brasil ficou conhecida por sua atuação na
“trilogia das Marias”, composta pelas telenovelas: Maria Mercedes (lançada no México, pela
Televisa, em 1992 e no Brasil, pelo SBT, em 1996), Marimar (lançada no México, pela
Televisa, em 1994 e no Brasil, pelo SBT, foi exibida pela primeira vez em 1996) e Maria do
Bairro (exibida pela primeira vez no Brasil, pelo SBT, em 1997). É certo que Thalia já havia
lançado discos antes dessas telenovelas. Porém, as telenovelas foram as grandes responsáveis
por deslanchar sua carreira musical.
2.5.2 Telenovela e música
Pertinente fazer neste momento algumas reflexões sobre a relação música-
telenovela. Não pensando na música enquanto “produto” da telenovela, da maneira como
viemos explorando acima. Queremos discutir um pouco a música enquanto integrante da
trama, como trilha sonora: “integração das linguagens ‘som e imagem’.”
46
Por exemplo, sobre
a caracterização sonora dos personagens: no final dos anos de 1960 Salatiel Coelho, grande
sonoplasta brasileiro “[...] começou a associar personagens a determinados sucessos da época.
Criou-se um vínculo entre a novela e a indústria do disco.”
47
Alguns anos depois, no início
dos anos 1970, o maestro Júlio Medaglia foi convidado pela Rede Globo para implantar “[...]
uma sonoplastia inteligente na televisão brasileira.”
48
Medaglia defende que o som possui
características distintas do texto e da imagem. O que ele fez foi tirar o papel da trilha sonora
de simples repetidora e decoradora do que o texto e a imagem narram: a trilha sonora como
complementação, informando mensagens que o texto e a imagem não contam.
49
Este foi ao
menos um primeiro momento da sonoplastia nas telenovelas brasileiras. Hoje, no Brasil,
segundo depoimentos de Del Rangel – diretor de cinema e televisão – e de Ana Moretzsohn –
escritora –, a realidade é outra: não há trilha sonora de telenovela. Ambos defendem que já
houve uma época em que se produzia realmente a música para a telenovela. Porém, na
46
RIGHINI, Rafael Roso. A trilha sonora da telenovela brasileira: da criação à finalização. São Paulo: Paulinas,
2004. p.16.
47
Ibid., p.47.
48
Ibid., p.48.
49
Ibid., p.48-49.
63
atualidade, o que há é uma compilação de músicas já existentes. “A trilha sonora da
telenovela, na verdade, é uma coletânea de canções”
50
.
Este foi um breve histórico da música na telenovela brasileira. Sabemos
perfeitamente que a telenovela objeto de nosso estudo não é brasileira e que nela a música
entra de maneira diversa. Na realidade, em Rebelde a música ocupa um papel muito mais
central e de destaque. Optamos por desenhar esse cenário brasileiro no sentido de traçar um
paralelo. Em ambas as culturas telenovelísticas (brasileira e mexicana), a música é elemento
de importância no todo da obra (telenovela). Contudo, se a música for trabalhada (como em
Rebelde e como muitas vezes a Televisa já fez), se podemos assim dizer, enquanto
protagonista da telenovela, a tendência é haver muito mais intervenção da telenovela sobre as
práticas dos sujeitos receptores. Ou seja, Rebelde consegue interferir com tamanha
intensidade nas práticas de consumo material e simbólico de seus sujeitos espectadores, em
grande parte, porque concede considerável destaque para a música, para a banda RBD.
2.5.3 De 1989 para os dias atuais
Feito isto e retornando ao percurso que estávamos empreendendo, de uma
trajetória de telenovelas mexicanas/argentinas com foco no público infanto-juvenil
transmitidas no Brasil antes de Rebelde, podemos trazer uma última ocorrência, retrocedendo
um pouco mais no tempo, no ano de 1989: ano da primeira veiculação no Brasil, pelo SBT, da
telenovela Carrossel, de produção da Televisa. O paralelo que podemos traçar entre Carrossel
e Rebelde não é mais com relação à música. O traço comum agora é a questão de serem
ambientadas em instituições de ensino (Carrossel representa alunos de 2ª série do Ensino
Fundamental e Rebelde, alunos de 1ª série do Ensino Médio). A diferença, a inovação, que
conseguimos perceber de 1989 para cá é a ênfase cada vez maior no que podemos, talvez,
chamar de “mercantilização”
51
da telenovela. Obviamente que de Carrossel foram lançados
produtos como álbum de figurinhas, revistas, discos e brinquedos. Fica difícil analisarmos no
quadro atual (e não é este o propósito), após tanto tempo, a dimensão desse sucesso.
Afirmamos que houve uma repercussão bastante forte e vendas intensas desses produtos.
Contudo, vemos esses produtos de Carrossel como apenas um complemento a mais da
telenovela: são decorrentes de um processo natural que é o licenciamento de produtos de
50
Ibid., p.98.
51
OROZCO GÓMEZ, Guillermo. “La telenovela en Mexico: ¿de una expresión cultural a un simple producto
para la mercadotecnia?”. Comunicación y Sociedad. Guadalajara, n.6, p.11-35, jul/dez 2006. p.30.
64
marcas que alcançam representação pública, ou seja, o lançamento dos produtos depende do
êxito da telenovela, diferente do que ocorre em Rebelde. Em uma telenovela brasileira, da
Rede Globo, por exemplo, será lançado um produto se a telenovela fizer sucesso. Em Rebelde
o lançamento é ao mesmo tempo: ou os dois (a telenovela e os produtos de consumo material)
fazem sucesso ou nenhum faz. Com o passar dos anos (de Carrossel à Rebelde) poder-se-ia
imaginar um desgaste das novelas mexicanas/argentinas que seguem sempre essa mesma
fórmula padrão: jovens + escola/orfanato + música. No entanto, vemos que esse desgaste não
se concretiza de fato. As audiências, vendas de produtos, variedades de produtos tendem a
aumentar. Mais do que isso: o avanço que queremos destacar está no fato de que notamos que
em Rebelde esses produtos são efetivamente pensados juntamente com a produção da
telenovela.
O que acontece é que, segundo Orozco Gómez
52
, a partir dos anos 2000 as
telenovelas mexicanas entraram em uma quinta etapa de seu desenvolvimento industrial,
chamada por ele de mercantilização. As telenovelas hoje são produzidas para serem vendidas.
E é deste pressuposto que partimos para fazermos nossas reflexões. O próprio autor cita
Rebelde, explicando que hoje a tendência de produção de uma telenovela é reduzir-se o
melodrama e aumentar os efeitos espetaculares com a intenção de chamar a atenção do
telespectador e estimular o consumo.
2.5.4 Telenovela Rebelde e telefilme High School Musical
Parece que esta estratégia ficção + ambientação escolar + música tem inspirado
outros formatos da cultura da mídia
53
. Deixando o panorama latino-americano, podemos
exemplificar com um caso norte-americano: o telefilme High School Musical (HSM). Trata-se
de um filme, estilo musical, produzido pela Disney, para o seu canal pago (Disney Channel),
exibido desde 2006. Resumindo, a história do filme gira em torno do romance entre o rapaz
(Troy), jogador de basquete e a menina “nerd” (Gabriella) que partilham o amor pela música.
Deste filme, criou-se um musical-concerto que realizou turnê pelos Estados Unidos e América
52
Ibid., p.30.
53
Utilizamos a expressão “cultura da mídia” no sentido em que Kellner emprega. Ou seja, no sentido de que na
trama da cultura contemporânea o fio mais forte é a questão da mídia. Conforme o autor, “a expressão ‘cultura
da mídia’ tem a vantagem de designar tanto a natureza quanto a forma das produções da indústria cultural (ou
seja, a cultura) e seu modo de produção e distribuição (ou seja, tecnologias e indústrias da mídia). Com isso,
evitam-se termos ideológicos como ‘cultura de massa’ e ‘cultura popular’ e se chama a atenção para o circuito de
produção, distribuição e recepção por meio do qual a cultura da mídia é produzida, distribuída e consumida”.
(KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-
moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001. p.12).
65
Latina no primeiro semestre de 2007. E, devido ao grande sucesso, foi lançada em 2007 a sua
seqüência: High School Musical 2. Com estréia nos EUA em agosto de 2007 e, no Brasil, em
setembro deste mesmo ano. Para completar, prevê-se a filmagem de um documentário a ser
lançado no final de 2007, intitulado High School Musical: the music in you. A título de
informação, dentre outros prêmios, HSM recebeu em 2007 o Emmy de melhor programa feito
para crianças.
Uma vez que o filme HSM está disponível apenas para compra ou locação de
DVD e é transmitido por um canal de televisão por assinatura, podemos inferir que esta é uma
produção midiática à qual os jovens de níveis socioeconômicos mais baixos não têm acesso –
diferente de Rebelde-RBD. De qualquer maneira, a repercussão é grande no Brasil: calcula-se
que cerca de 45 mil pessoas assistiram ao espetáculo de High School Musical no estádio do
Morumbi, em maio de 2007. Deixando as fronteiras brasileiras, o filme HSM foi assistido por
mais de 14 milhões de pessoas apenas na América Latina. Lançado em julho de 2006, “[...] o
disco com a trilha sonora do musical já vendeu 120 mil unidades, e sua edição especial dupla
(um CD com versões para karaokê), 36 mil [...]”
54
.
Um dos fatores que nos permite fazer este paralelo entre Rebelde-RBD e High
School Musical é que, por exemplo, na lista dos dez CDs internacionais mais vendidos em
São Paulo, divulgada pela Folha Online
55
em 06 de outubro de 2006, Rebelde – Live in
Hollywood ocupava a primeira posição e, imediatamente abaixo, ocupando a segunda posição,
estava High School Musical. Isto é, os dois produtos parecem obedecer a uma e mesma
fórmula que agrada ao público infanto-juvenil – a quem são, prioritariamente, destinados.
Respeitando-se as singularidades de cada formato (telenovela e telefilme), HSM
contém elementos comuns a Rebelde: a música como elemento principal, seis protagonistas
integrantes dos shows e, na trama, estudantes com mesma idade escolar e a discriminação
sofrida pelo filho por parte do pai, pois este não aceita sua opção pela carreira musical.
Porém, também apresentam diferenças profundas. Descrevemos aqui a diferença mais
marcante: em Rebelde a sexualidade é explorada constante e explicitamente, já em High
School Musical há representações bastante ingênuas e o máximo que ocorre são cenas
românticas que nem chegam a se concretizarem em beijos, apenas levam o telespectador a
deduzir uma paixão entre o casal protagonista. E isto revela exatamente as diferenças
54
LICHOTE, Leonardo. Na onda de "High School Musical", CDs da Disney ignoram crise, e cantores fazem
show no Brasil.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/05/02/295593633.asp>. Acesso em:
17 jul. 2007.
55
FOLHA ONLINE. Disco do RBD ao vivo está há 4 meses entre os mais vendidos. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u64951.shtml>. Acesso em: 17 jul. 2007.
66
culturais: nestes aspectos que mencionamos, a cultura norte-americana tende a ser muito mais
conservadora do que a cultura mexicana (latina).
2.6 Rebelde e seu discurso
Damos início a uma Análise de Discurso da telenovela Rebelde, focada em dois
objetivos. O primeiro é captarmos os valores mais recorrentes nos capítulos da telenovela. O
segundo objetivo é fazer, por meio de falas das personagens, um reconhecimento identitário
dos seis protagonistas de Rebelde para que, ao longo do próximo capítulo, possamos construir
uma ponte com as identidades dos jovens receptores de Rebelde abordados. Ou seja, esse
reconhecimento identitário das personagens serve de pano de fundo para a Análise de
Discurso que fazemos no próximo capítulo, que abrangerá mais a fundo as questões de
identidades.
2.6.1 Valores em Rebelde
Primeiramente, queremos começar com a apresentação dos principais valores que
reconhecemos em Rebelde. Assistindo aos DVDs
56
das três temporadas dessa telenovela,
identificamos, sobretudo, quatro valores principais que permeiam toda ela, quais sejam:
amizade, amor, família e rebeldia. Na maioria das vezes são os professores os enunciadores
que mais explicitamente transmitem mensagens de valores morais e comportamentais.
Vejamos algumas das representações desses valores.
A) Amizade
Com relação à amizade, exemplificamos com o discurso do Professor Reverte
(vide apêndice H), em uma carta lida pela aluna Roberta: “Às vezes, nas pequenas coisas,
estão os maiores momentos da nossa vida. Numa das minhas viagens fui a um lugar onde as
pessoas jogavam flores ao mar, oferecendo a uma deusa. Que pedia um desejo para cada flor
que o mar levava. Eu peço pela amizade. Que é um dos maiores tesouros que uma pessoa
pode ter. E brindo a vocês. Os adolescentes. Que sabem melhor do que ninguém do que eu
falo.” O Professor Reverte é uma personagem do bem, que entra na segunda temporada de
56
REBELDE – primeira temporada da novela. EMI Music, 2006. 3 DVD, (780min), son., color; REBELDE –
segunda temporada da novela. EMI Music, 2006. 3 DVD, (780min), son., color; REBELDE – terceira temporada
da novela. EMI Music, 2007. 3 DVD, (780min), son., color.
67
Rebelde e vai ganhando cada vez mais destaque. Podemos dizer que ele faz parte do núcleo
central da telenovela, principalmente porque seu ambiente de atuação é o Colégio Elite Way
ambientação central da trama. Em sua fala acima, percebemos a amizade retratada à maneira
dos adolescentes: para eles, nesta fase, no período em que estão, no Ensino Médio, os amigos
são seus maiores confidentes. Portanto, para eles, é uma das prioridades de sua vida.
Figura 10 – Cena em que Roberta lê em voz alta aos amigos a carta do Professor Reverte
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Na realidade, o discurso que encerra Rebelde (vide apêndice H) – o último
enunciado do capítulo final da terceira temporada – diz respeito, principalmente, à amizade,
comprovando que se trata de uma mensagem que a telenovela desejava dar importância. Na
voz de sete dos principais alunos do Colégio – isto é, integrantes do núcleo central da
telenovela – a mensagem é a seguinte: “Não sei se o Colégio era exatamente como me
lembro. Ou se os professores eram tão bons ou tão ruins como ficaram na minha memória. O
que eu sei é que o mais importante que eu aprendi naqueles dias foi o valor da amizade. Os
amigos sempre presentes, para o bem ou para o mal. Nos melhores e nos piores momentos.
São deles [sic] que eu me lembro com maior nitidez. E o amor? O primeiro amor. Amores,
amigos, não importa como ou onde estejam, sempre os levo comigo. E eu sei que vou com
eles. Porque naquilo que somos hoje, está presente o que fomos. A vocês, meus amigos do
coração, não me canso de agradecer, sempre. Porque naquela época em que caminhávamos no
mundo de coração aberto, conseguimos fazer do mundo um lugar melhor para se viver.” A
temática da amizade permeia boa parte deste discurso. No trecho final desta fala – “naquilo
que somos hoje está presente o que fomos” – percebemos a presença da “formação
discursiva” deste enunciado. Por formação discursiva entendemos o conjunto de regras que
regulam os discursos, de acordo com posições ocupadas e com contextos históricos
68
determinados
57
. Assim, para cada posição, uma formação discursiva. Em nosso caso, o sujeito
fala da posição de ex-aluno do Colégio. Se outra fosse sua posição, obedeceria a uma
formação discursiva diferente. Falando desta sua posição, percebemos que o enunciador
profere um discurso nostálgico sobre a temática da amizade e o valor que ela representa.
B) Rebeldia
A respeito de rebeldia, podemos trazer o discurso do Professor Madariaga (vide
apêndice H): “[Vocês, alunos] mostraram uma união, como grupo, incrível. Me
surpreenderam. E mais uma vez enfrentaram tudo para defender a um de vocês. A uma de
vocês, nesse caso. [...] O melhor de tudo... O melhor de tudo gente, é que por trás dessa
rebeldia de vocês, mostraram ter valores muito fortes. Muito fortes. Eu sei que no dia de
amanhã essa força vai fazer com que possam mudar muitas coisas. E ainda que cresçam
(acreditem, vai acontecer), não percam isso, gente. De verdade. Não percam essa rebeldia,
mas sempre com razão e com o coração.” O Professor Madariaga está inserido no núcleo
central da telenovela. É uma personagem do bem que está presente no início de Rebelde,
depois fica ausente da trama e retorna ao final. É um professor muito querido pelos alunos e,
assim, consideramos uma personagem importante. Em verdade, ele aparece como um ponto
positivo da telenovela, pois – não somente nessa situação, mas em muitas outras – fala coisas
dirigidas a uma situação de mudança de fato (“essa força vai fazer com que possam mudar
muitas coisas”). Não fica claro o que é essa mudança a que a personagem se refere, se é
macro ou microssocial, mas é uma mudança das coisas de maneira geral. E mais: ressalta o
uso da razão e do coração, o qual consideramos ser uma mensagem importante.
Figura 11 – Cena em que Professor Madariaga conversa com os alunos
Fonte: DVD Rebelde, 2007
57
MAINGUENEAU, Dominique. Termos-chave da análise do discurso. Belo horizonte: Ed. UFMG, 1998. p.68.
69
Porém, ao mesmo tempo, notamos que o Professor Madariaga nem precisava ter
feito uso da palavra “rebeldia” (“por trás dessa rebeldia de vocês”). Percebemos então que
rebeldia, em Rebelde, é utilizada como substituta da palavra “atitude”, por exemplo. Portanto,
a telenovela defende que é preciso que os jovens tenham uma postura pró-ativa. O que é bom.
Contudo, analisando esta cena conjuntamente com demais cenas desse tipo em Rebelde,
percebemos que a telenovela acaba sustentando uma rebeldia com causas que se restringem à
esfera escolar ou à esfera pessoal desses jovens – não se aprofunda na macroestrutura social.
Geralmente, conforme as histórias no transcorrer da telenovela, as causas da rebeldia – de
nível micro – são injustiças que ocorrem com um ou outro colega. Na situação acima, a
injustiça era a expulsão de uma aluna grávida.
Como mostramos no capítulo 1, os receptores apropriam-se desta mesma noção de
rebelde como ator social que atua de maneira restrita e por causas de importância mínima para
o sistema social em sua totalidade. Podemos então inferir que a recepção de Rebelde se dá tão
proximamente porque a telenovela de fato consegue trabalhar com o que está presente nos
anseios de jovens de todo o mundo. Que são questões superficiais, originárias de um
repertório estreito e construído sem reflexões de nível macro. Um exemplo seria a temática da
corrupção que Rebelde aborda. Ao final da trama, presenciamos o filho denunciando seu pai,
um político corrupto. Aliás, este gesto é altamente discutível, porque lembra a situação do
estado nazista em que os jovens eram motivados a denunciar seus pais. Não vamos adentrar-
nos nesta questão, mas o que queremos destacar é que a rebeldia se concentra apenas aí, na
corrupção, que é uma palavra de ordem da classe média. Denunciar a corrupção não significa
trazer mudanças consideráveis ao sistema capitalista, como por exemplo, na distribuição mais
igualitária da renda ou na melhoria das condições de vida da população. Mais uma vez a
rebeldia aparece concentrada em um ponto localizado. Não extrapola este ponto.
C) Amor
Agora, sobre o amor, percebemos duas posturas que se complementam: a primeira
é de luta para manter um relacionamento e a segunda é de hiper valorização do amor. Uma
pequena fala da aluna Roberta com seu amigo Diego (vide apêndice H) resume bastante dos
comportamentos e atitudes que os alunos possuem diante dos relacionamentos amorosos e,
portanto, parece ser um posicionamento que a telenovela deseja propagar: “[...] O amor que o
Miguel e a Mía sentem justifica sim as loucuras. Porque amar alguém é isso, Diego. É correr
riscos. É fazer loucuras. É... É fazer o que for. Porque, afinal, o amor é a única coisa que fica.
O amor é a única coisa que salva [...].” A personagem Roberta faz parte do núcleo central de
70
Rebelde. Na verdade, é a representante maior da rebeldia. Porém, apesar de indisciplinada e
teimosa, não deixa de ser uma personagem do bem. Ao afirmarmos que este seu enunciado
sintetiza o comportamento que os alunos do Elite Way School possuem ante o amor queremos
dizer que de fato eles fazem essas loucuras que a personagem Roberta menciona: desde
serenatas até situações para colocar ciúme na pessoa amada.
Outro discurso ratifica este posicionamento diante do amor: “Bom, estamos aqui
para festejar algo pelo qual vocês têm lutado com todas as forças. Estamos aqui para celebrar
o amor! (suspiro) Lupita e Nico se apaixonaram... E esperaram... Fizeram mil coisas pra
ficarem juntos e nós sabemos disso. E, na verdade, eu acho que, ver que nada e nem ninguém
pode separá-los, foi o melhor que pôde acontecer no Colégio este ano que estivemos juntos.
(suspiro) Por isso eu, que sou uma rebelde, e que hoje tenho a honra e a sorte de representar
os rebeldes do mundo (pausa)... Quero pedir para lembrarmos algo muito importante e que a
maioria dos adultos já se esqueceu. Que o amor é o mais importante e o mais forte que existe
no Mundo. E por isso estamos aqui! [...] Bom, pois, agora sim, diante das leis da Natureza, da
liberdade e do amor, nós todos os declaramos marido e mulher! O que os amigos unem, nada
e ninguém pode separar.” Novamente é uma fala da personagem Roberta. Mas, desta vez ela
ocupa a posição de “mestre de cerimônias” em uma cerimônia, sem valor legal ou religioso,
que os amigos preparam para o casamento de Nico e Lupita. Observando os não-ditos – ou
implícitos –, podemos notar, principalmente pelo trecho “fizeram mil coisas pra ficarem
juntos”, que o casal passou por situações de prova do seu amor, possivelmente pessoas que
tramaram situações para colocar um contra o outro e separá-los. Assim, palavras como “única
coisa que salva”, “única coisa que fica”, “celebrar”, “festejar”, “o mais importante” e “o mais
forte” são todas indicativas da posição de celebração do amor, que Rebelde veicula.
Figura 12 – Cena do casamento de Nico e Lupita
Fonte: DVD Rebelde, 2007
71
D) Família
Como na maioria das telenovelas, em Rebelde a família tem papel importante.
Mesmo sendo às vezes fonte de sofrimentos, em Rebelde também se passa um valor de
família como fonte de felicidades. Vejamos, então, um discurso típico de cada um dos casos.
Sobre o primeiro caso (sofrimento), em uma fala da personagem Roberta (do núcleo central
da telenovela) notamos seu desapontamento com relação a sua família: “O mundo não é nada
como falam. Essa casinha de boneca com uma família que demonstra tudo que se quer. Isso
só existe nas brincadeiras. Na vida real, a família é um grupo de desconhecidos, que só
pensam em sobreviver. Quando não é possível mais acreditar nos próprios pais, o que sobra?
Tudo uma grande mentira. E eu não quero ser parte disso. Agora eu vou fazer tudo o que eu
quiser. Vou fazer tudo o que me disseram pra não fazer.”
Figura 13 – Parte da cena em que Roberta sofre por
causa da desilusão com sua família
Figura 14 – Parte da cena em que Roberta sofre por
causa da desilusão com sua família
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Fonte: DVD Rebelde, 2007
E sobre o segundo caso (felicidade), temos um discurso de Franco Colucci (vide
apêndice H), empresário do ramo da moda, muito rico, pai de Mía. Um personagem do bem
que, apesar de não estar ligado diretamente ao Elite Way School, insere-se no núcleo central
de Rebelde: “Eu quero dizer que quem está agradecido sou eu. Eu era um homem só, na
minha solidão. Eu quero dizer que devo agradecer à vida porque graças a vocês a minha vida
se converteu em luz e alegria de viver. Obrigado.” O contexto de enunciação é o momento
que antecipa o casamento de Franco com Alma Rey (mãe de Roberta). E, nesta fala, Franco
agradece a Alma, Mía (sua filha), Roberta (filha de Alma) e Josy (amiga de Roberta e Mía
que foi adotada pelo casal) por iluminarem sua vida. Assim, no que se refere à família,
constatamos a presença da polissemia (multiplicidade de sentidos): “família” gerando sentidos
positivos e negativos.
72
Figura 15 – Cena em que Colucci agradece à Roberta, Mía, Josy e Alma
Fonte: DVD Rebelde, 2007
2.6.2 Reconhecimento identitário dos personagens de Rebelde
Começamos então a construção identitária dos personagens. Ao mesmo tempo em
que vamos formatando a identidade de cada personagem, vamos exemplificar com falas e/ou
comportamentos de cada um deles, empreendendo a análise dessas falas. Antecipamos nossa
percepção de que o perfil da maioria das personagens de Rebelde é do tipo “redondo”
(conforme nossa explanação anterior neste mesmo capítulo), pois vai sofrendo alterações ao
longo das três temporadas. Ou seja, a descrição inicial de cada um – que é oficialmente
apresentada, pelo SBT, na sinopse da 1
a
temporada como sendo a sinopse da telenovela – não
necessariamente irá coincidir com a sua descrição final. Pensamos em vários motivos para
isso. Muito é devido ao desenrolar da trama, obviamente. Outra causa é o fato de Rebelde ser
dividida em temporadas: o que prolonga a telenovela e também permite certas “rupturas” de
uma para outra, resultando em mudanças nos personagens. Mais um fator seria o caso de os
personagens serem todas adolescentes e esta corresponde a uma fase em que o sujeito está
formando sua personalidade e passando, pois, por mudanças mais intensas. O que vemos é
que todos os personagens passaram por certo amadurecimento: talvez, redundando, todos se
tornaram mais humanos, no sentido de maior respeito com o próximo e compreensão para
com a alteridade. Em verdade, retrata um pouco o processo que de fato acontece na
adolescência: mesmo que todos os sujeitos, independentemente da idade, possuam suas
identidades fluidas e efêmeras, na adolescência esse caráter é mais extremo e explícito.
73
2.6.2.1 Personagens Miguel e Mía
A primeira personagem que retratamos é Miguel Arango. É um aluno bolsista do
Elite Way School. Faz parte do núcleo central da telenovela e, apesar de no início parecer o
contrário, é um personagem do bem. Nos primeiros episódios de Rebelde, Miguel externa
falas e pensamentos como: (1) “[Franco Colucci] vai pagar pelo que fez ao papai. Ele vai
pagar muito caro”; (2) “sabe de uma coisa, vou atingi-lo [Franco Colucci] onde mais dói nele.
[...] Ele tem uma filha. [...] Andei pesquisando na internet e já investiguei a escola onde está
estudando essa menina riquinha. [...] Eu pedi uma bolsa para estudar no mesmo ano que essa
menina”; (3) “a Mía é uma hipócrita, assim como todos os Colucci. Estão sempre
menosprezando e arrasando a gente. E sabe o que me revolta mais nisso? Que se aproveitam
dos mais fracos. [...] Simplesmente todo mundo daquele tipo é igual. E alguém tem que dar
um basta nisso”; (4) “a única coisa que preciso é destruir você [Franco Colucci] e a arrogante
da sua filhinha”; (5) “olha, você [Mía] abaixa a sua bola, ta. Você não é o centro do mundo.
Você não compreende isso? Além disso, tem meninas muito mais lindas e menos frívolas e
vazias que você!” Enfim, vemos que estão inscritas em todos estes enunciados de Miguel as
condições de luta de classes. E suas falas são como são justamente por causa de seu
pertencimento a um nível socioeconômico mais baixo.
Após essa fase inicial Miguel percebe-se apaixonado por Mía – justamente a
menina a quem desejava fazer o mal – e seu discurso passa a ser contraditório. Primeiramente,
condena a si mesmo e nega para Mía este sentimento. Após a fase da negação e muitos
conflitos, ficam juntos e o discurso de Miguel para com Mía é totalmente outro, por exemplo:
“Mía. Eu to fazendo isso tudo porque realmente te amo. E porque, de verdade, nunca tinha
encontrado uma pessoa que... Que eu realmente amasse como amo você.” De fato, enquanto
sua preocupação inicial era fazer mal à Mía, sua maior meta ao final é conquistar o amor da
menina.
Falamos então de Mía Colucci, tentando traçar seu perfil. É uma aluna muito rica
do Elite Way School, é do bem e está inserida no núcleo central de Rebelde. Notamos que no
início da telenovela, nos primeiros capítulos, ela se mostra realmente “vazia” e fútil como
Miguel a descreve. E também deixa transparecer que é filha de um pai com muito dinheiro e,
com isto, sente-se possuidora de poder sobre os outros. Vejamos algumas de suas falas
iniciais: (1) “quer saber de uma coisa. Acho bom não esquecer que estou acima do bem e do
mal”; (2) “olha, me desculpa, mas... Eu não sei. Acho que a sua mãe não gosta muito de você.
74
Ela só compra essas roupas feias pra você, não é? Mas não se preocupe. Eu entendo muito de
moda. Então hoje vamos fazer um ritual. Vamos fazer uma fogueira e queimar todas as roupas
feias que você trouxe. Eu tenho roupas novas incríveis! Posso te emprestar. É assim que eu
faço com as outras meninas. É legal”; (3) “sua cafona! Se os meus sapatos não fossem tão
caros, eu jogava na cabeça dela”; (4) “não, não me expulsaram. Mas meu pai cancelou meus
cartões de crédito. Me diz, tem alguma coisa pior do que isso?”. Se não tivéssemos já
mencionado que Mía é uma menina de família muito abastada financeiramente, somente
analisando os implícitos constantes em seus enunciados já seria possível inferir que se trata de
uma personagem que possui muito dinheiro, que o investe muito em roupas e sapatos
(provavelmente de marcas famosas, pois ela diz que são caros) e mais, uma pessoa que dá
muito valor ao que o dinheiro proporciona.
Mía não deixa de ser filha de um pai rico, no entanto, ao final de Rebelde, deixará
de ter essas características de futilidade e ostentação tão presentes. Percebemos que cresceu
enquanto pessoa. Na primeira temporada Mía se nega a ir a uma festa que tem como objetivo
arrecadar material escolar para dar a Miguel dizendo: “Ta, bom, olha, querido [Giovanni]...
Você sabe muito bem que eu faço muitas obras beneficentes. Mas, eu faço tipo almoços
internacionais da Cruz Vermelha, coisas assim.” Já na última temporada Mía diz que aceita
fazer a turnê com RBD porque então poderão dar o dinheiro recebido para as crianças do
orfanato que visitaram. Na verdade, muito do seu amadurecimento é decorrente do convívio
com Miguel e também do sofrimento que passou com o temporário término do namoro dos
dois. Possui um relacionamento muito mais amigável e pacífico com Roberta, apesar das suas
grandes diferenças de personalidade. Aprendeu a conviver com essas diferenças e tornaram-se
grandes amigas.
Figura 16 – Fotografia do personagem Miguel Figura 17 – Fotografia da personagem Mía
Fonte: DVD Rebelde, 2007 Fonte: DVD Rebelde, 2007
75
2.6.2.2 Personagens Roberta e Diego
Outra personagem é Roberta Pardo Rey. É uma aluna também muito rica do Elite
Way School, integrante do núcleo central da telenovela e mostra ser do bem. A nosso ver,
representa o papel da garota realmente rebelde da telenovela. Ela permanece com uma postura
contestadora do início ao fim. O que muda é que Roberta melhora seu relacionamento com
seus amigos e familiares e também de negação do amor que sente por Diego passa a admitir e
declarar este amor. Nas questões de relacionamento com os outros, por exemplo, podemos
mencionar seu desentendimento constante com a mãe. Em determinado momento, Roberta
confessa que isto acontece porque, no fundo, inveja a mãe: a mãe é uma vencedora, sempre
ganha em tudo, e Roberta se sente uma perdedora ao lado dela. O comportamento rebelde de
Roberta muitas vezes ocorre porque ela quer ajudar os amigos, conforme comprovamos com
um de seus enunciados: “Olha, desculpa, mas pelos meus amigos eu me meto em qualquer
coisa.” Porém, ao mesmo tempo em que diz que não gosta de injustiças ela demonstra, no
início da telenovela, bastante discriminação para com Celina, uma menina gordinha do
Colégio. Por exemplo, ela joga uma lata de refrigerante em Celina e diz: “Ué, foi a coisa mais
parecida com uma lata de lixo que eu encontrei: redonda e verde.”. E outras falas como: (1)
“ih. Quem abriu a porteira? As vacas estão fugindo”; (2) “acho que as baleias estão fugindo
do mar” e (3) “shssss. As vaquinhas estão falando com você.” Vemos aqui total preconceito
de Roberta contra Celina. Assim, seguindo apontamentos de Heller, que diz que “o
preconceito é a categoria do pensamento e do comportamento cotidianos”
58
, podemos inferir
que Roberta faz uso de preconceitos porque os adquire socialmente, interioriza-os e externa-
os em sua cotidianidade. Mas este tipo de atitude de Roberta não é mais notado na terceira
temporada. O que corrobora nossa idéia de que a personagem amadureceu em seus
relacionamentos.
Roberta cresce inclusive no relacionamento amoroso, porque se no início da
primeira temporada o que mais Roberta fazia era aprontar armações para cima de Diego, no
final da última temporada Roberta declara seu amor a ele. Algumas das tramóias de Roberta
para cima de Diego na primeira temporada são representativas de sua fase inicial: (1) Roberta
coloca um fogo de artifício para explodir próximo a Diego por que ele a tinha ameaçado um
pouco antes; (2) Roberta pede para que um jornalista investigue o mandato de prisão de um
58
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1989. p.43.
76
homem que foi preso injustamente a pedido de Diego – usando-se dos poderes de seu pai – e,
com isso, Diego sofre as conseqüências tendo que pagar uma pena em trabalhos comunitários
e (3) Roberta coloca para tocar na rádio uma música de Diego cantando, o que deixa o pai de
Diego furioso, chegando a puni-lo. Nesta época Roberta falaria sobre Diego coisas do tipo:
“Tomara que [Diego] arrebente todos os neurônios e ainda que seus miolos derretam e saiam
pelas orelhas e pelo nariz. E depois esparrame pelas perninhas dele e que ele escorregue e bata
com a cabeça. E depois suje todo o seu cabelinho loro oxigenado.” Porém, como já
mencionamos, o relacionamento de Roberta e Diego muda ao longo da telenovela. Na terceira
temporada Roberta fala a Diego frases como: (1) “tudo o que eu sinto por você faz eu fazer o
que eu faço. E mesmo que você seja o pior, não me importa, não vou permitir que ninguém te
machuque. Só eu posso quebrar a sua cara. (risos)” e (2) “por você sou capaz de fazer
qualquer coisa, Diego. Eu te amo”.
Considerando estereótipo como “representação coletiva cristalizada”
59
, vemos que
Roberta e Diego correspondem a um estereótipo de casal
60
. De casal que dizem que se odeiam
quando no fundo se amam. Típico de melodramas, pois passam por tristezas e brigas durante
toda a história para, então, quando alcançam a felicidade, a história terminar – no fundo, as
narrativas possuem esta lógica porque felicidade não dá história.
Diego Bustamante é mais um personagem: também é do bem e do núcleo central
da telenovela, um aluno muito rico do Elite Way School. Diego começa a telenovela evitando
falar de determinados assuntos com seu pai por medo de sua reação sempre violenta ou
obedecendo cegamente as suas ordens, mesmo sendo contra e possuindo valores contrários. O
pai de Diego o controlava facilmente e, no fundo, Diego tinha medo de ficar igual ao pai: um
político corrupto e manipulador. Alguns comportamentos de Diego no começo da telenovela
traduzem seu perfil inicial: (1) Diego fica sabendo que sua namorada estava traindo-o com
seu melhor amigo (Tomás) e, seguindo as diretrizes do pai – que lhe disse que deveria “limpar
seu nome no Colégio” –, Diego da uma surra em Tomás; (2) a atitude de fuga de Diego
quando sabe que seu pai quer interná-lo em um colégio militar para aprender disciplina e (3) o
receio de Diego de falar que gosta de música ao seu pai porque sabe que ele sonha com uma
carreira política para o filho.
Apesar disto tudo, no final de Rebelde, Diego passa a atacar e responder a seu pai
à altura e também começa a tomar suas próprias decisões sem subordinar-se restritamente ao
59
CHARAUDEAU, Patrick e MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2006. p.215.
60
Abordamos mais a fundo a questão dos estereótipos no capítulo 3.
77
pai. Uma fala representativa desta sua nova postura é a seguinte: “É que... Eu quero detê-lo
[seu pai]. Mas isso significa arruiná-lo. [...] agora é o momento de ser um verdadeiro rebelde.”
É então que Diego entrega papéis que comprovam as falcatruas de seu pai e, com isto, destrói
a imagem e a carreira política de seu pai. Feito isto, Diego vai ao encontro do pai,
corajosamente encarando-o frente a frente, e diz: “Eu to sofrendo, papai. Isso quer dizer que
ganhei minha guerra interna: porque não sou igual a você.”
Na primeira fala de Diego, a rebeldia aparece aqui novamente no formato de
manifestação contra algo restrito a um ambiente microssocial (o pai, a família). Já no seu
segundo enunciado, os não-ditos apontam que Diego agora se considera uma pessoal melhor
porque percebe que não é igual ao seu pai – uma pessoa sem sentimentos. Ao contrário do pai,
Diego sofre por fazer mal às pessoas.
Figura 18 – Fotografia do personagem Diego Figura 19 – Fotografia da personagem Roberta
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Fonte: DVD Rebelde, 2007
2.6.2.3 Personagens Lupita e Giovanni
Mais uma personagem: Lupita Fernández. Lupita é uma personagem totalmente
do bem, é bolsista do Elite Way School e também faz parte do núcleo central da telenovela: no
início não tinha tantas aparições e depois começa a ganhar maior destaque. Esta é a
personagem que vemos que menos sofreu modificações. Seria a que mais se equipara a uma
personagem plana. A sua principal modificação talvez seja que deixou de ser uma menina
muito tímida para ser uma garota um pouco mais extrovertida. Esta alteração parece estar
associada a sua entrada no grupo RBD. Percebemos que o papel que esta personagem
representa é de apaziguadora entre as partes. É como se estivesse sempre sendo o peso que
equilibra a balança: impedindo os amigos de fazerem besteiras maiores do que as que já
fazem. O seu discurso não possui mudanças significativas durante a telenovela, o qual gira em
torno de enunciados como: (1) “ai, mas, gente, e se tivesse acontecido alguma coisa com
78
alguém?! Nunca mais faça isso [Roberta], por favor, nunca mais”; (2) “Roberta, não! Pára
com isso, por favor. Por favor. Ela é filha do Diretor, lembra disso.” Segundo a Análise de
Discurso, estão evidentes as condições de produção dos discursos de Lupita. Nos casos
exemplificados, em situações em que Roberta começa a entrar em confusões, ela externa falas
para alertar a amiga.
Por último, temos o personagem Giovanni Méndez López. É um personagem do
bem. Giovanni é de família rica. Porém, ao contrário de Roberta, Diego e Mía, sua família é
de ricos emergentes: possuem muito dinheiro, mas são extremamente humildes. É um
personagem do núcleo central da telenovela: no início é mais periférica e começa a ganhar
maior importância ao ingressar para a banda RBD. Na realidade o nome de Giovanni é Juan
(João em português). Contudo, apresenta-se como Giovanni porque considera Juan um nome
muito comum e que denuncia sua ascendência simples. O grande crescimento desta
personagem está no fato de que passou do estado de vergonha que sentia de sua família para
uma posição de valorização de sua família, que é de origem humilde e possui um açougue
como fonte de renda. De uma fala como “Quer saber por que eu entrei [para a Seita]? Eu
entrei porque eu queria ser alguém, papai. Porque ser um Méndez López neste Colégio não
significa nada. Ainda que você tenha muito dinheiro”, passou para um discurso como “Eu
também quero agradecer aos pais, aos que estão à frente de uma empresa de moda. Ou
também aos que estão num palco cantando. Ou àqueles que estão à frente de um açougue. Eu
quero dizer obrigado por nos apoiar e por nos ensinar o que é o amor. Papai, sou o Juanzito!
Uhuuuuu!” No primeiro discurso, principalmente no trecho “ser um Méndez López neste
Colégio não significa nada”, há a ocorrência de paráfrase: a repetição de um discurso que,
aparentemente, é presente na cultura dos alunos do Elite Way School. Já no seguinte discurso,
Giovanni não faz mais uso deste pensamento “dominante”. Giovanni, ao fim de tudo, tem
orgulho de ser quem realmente é: Juan, filho de uma família que conseguiu ascender
financeiramente, mas que continua com traços muito fortes de sua simplicidade. Enxergamos
Giovanni como um personagem que ocupa um espaço de meio-termo: está entre a grande
maioria rica do Colégio que tem posições totalmente elitistas e a minoria pobre, que sofre
discriminações, representada pelos bolsistas. Ocupa um papel semelhante à Lupita: mas não
porque seu discurso seja de moderador e sim porque seu local originário de fala não é de
nenhum dos extremos.
79
Figura 20 – Fotografia do personagem Giovanni Figura 21 – Fotografia da personagem Lupita
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Fonte: DVD Rebelde, 2007
2.6.2.4 Demais personagens
Além destes seis personagens principais de Rebelde, há muitos outros integrantes
na telenovela, que fazem parte do núcleo principal ou secundário da trama. Inserimos agora
um quadro com o perfil sintetizado dos personagens que foram mais mencionados pelos
jovens receptores que abordamos, tenham sido eles citados como amados ou odiados.
80
PERSONAGENS QUE TENDEM
PARA O BEM
PERSONAGENS QUE TENDEM
PARA O MAL
Mía Colucci
Popular e “patricinha”. Rica, filha de
empresário bem sucedido da moda.
Pilar Gandia
Fria e calculista. Filha do diretor do
colégio.
Roberta Pardo Rey
Contestadora, rica, filha de uma cantora
famosa.
Sol de la Riva
Vingativa, rica e trabalha como modelo.
Lupita Fernández
Romântica e sonhadora. Bolsista.
Gastão Diestro
Arrogante, professor de educação física e
inspetor do colégio.
Diego Bustamante
Rico, filho de político corrupto, teme as
agressões do pai.
Raquel Byron Sender
Rica e faz maldades para os outros alunos.
Miguel Arango
Bondoso e educado. Bolsista.
Sabrina Guzman
Filha do produtor de RBD, estrategista e
mimada.
Giovanni Méndez López
Mentiroso e orgulhoso. Filho de família
emergente da qual se envergonha.
Celina Ferrer
Gordinha e insegura.
Vick Paz
Bonita e popular. Bolsista.
Santos (Diego de los Santos)
Revoltado no início de sua aparição.
Bolsista.
Josy Lujan
Órfã, batalhadora e esforçada.
Lola (Dolores Fernández)
Problemática.
Rocco Fuentes
Sente-se superior aos demais.
Figura 22 – Quadro ilustrativo do perfil dos personagens de Rebelde
Fonte: Abordagem realizada junto a receptores de Rebelde, na entrada do show de RBD, em 26 abr. 2007
81
3 CONSUMO, IDENTIDADES E REBELDE
O consumo “[...] como fato social, como fenômeno da ordem da
cultura, como construtor de identidades, como bússola das relações
sociais e como sistema de classificação de semelhanças e diferenças
na vida contemporânea.” (Everardo Rocha)
1
“A identidade é um desses conceitos que operam “sob rasura”, no
intervalo entre a inversão e a emergência: uma idéia que não pode
ser pensada da forma antiga, mas sem a qual certas questões-chave
não podem ser sequer pensadas.”
(Stuart Hall)
2
Neste último capítulo, trabalhamos com dois eixos principais, que se vinculam ao
produto cultural-midiático Rebelde-RBD: as identidades e as práticas de consumo. Porém,
antes de tudo, discutiremos alguns dados de contexto que nos parecem importantes para
situarmos a comunicação e o consumo. Trata-se das questões a respeito dos sistemas
midiáticos, esses complexos que estão por trás e movem a Economia Cultural.
Partimos, então, para uma linha de abordagem da constituição de identidades e
das práticas de consumo simbólico e material para, ao final, dedicarmos amplo espaço para
apresentarmos resultados concretos de nossa análise dos discursos, em que tentamos
justamente fazer emergir dos enunciados os sentidos e demais elementos que remetem à
construção de identidades e às práticas de consumo.
3.1 Por dentro da Economia Cultural
3.1.1 Fluxos globais e fluxos locais
Os mesmos canais de televisão sendo assistidos em diversos países, o mesmo
livro fazendo sucesso nas variadas partes do mundo, os mesmos filmes passando nas salas de
cinema espalhadas pelo globo, a mesma marca de tênis e de jeans figurando desejos de
consumo em praticamente todos os continentes, um mesmo lanche fast-food consumido, uma
mesma música em mp3 também sendo consumida culturalmente e um mesmo vídeo no
1
ROCHA, Everardo. “Culpa e prazer: imagens do consumo na cultura de massa”. Comunicação, mídia e
consumo. São Paulo, v.2, n.3, p.123-138, mar. 2005. p.127.
2
HALL, Stuart. “Quem precisa de identidade?”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (org.). Identidade e diferença: a
perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. p.104.
82
YouTube sendo assistido ao mesmo tempo por pessoas de línguas distintas. E assim por
diante. Isso que podemos chamar de internacionalização é uma das faces da globalização. Mas
globalização não é apenas isso.
Só neste breve panorama que desenhamos podemos destacar dois aspectos
principais: a ubiqüidade dos produtos – sejam eles culturais ou materiais – e a presença das
tecnologias da comunicação nas práticas cotidianas de sujeitos os mais distantes fisicamente.
Neste sentido, dialogamos com Rubim, segundo o qual a
[...] globalização é uma coisa além da internacionalização. E um além muito
importante. Globalização significa que essa dimensão internacional está presente na
vida das pessoas cotidianamente. [...] Presente na nossa vida cotidianamente
enquanto produtos que estão ao nosso redor, enquanto idéias que estão circulando,
enquanto mensagens que estão passando. Quer dizer, em outras palavras, nós não
vivemos só o local, nós não vivemos só o regional, nós não vivemos só o nacional.
Nós vivemos hoje o global. Porque o global é cotidiano pra gente, faz parte da nossa
vida cotidiana.
3
Ou seja, convivemos com o global sem, às vezes, nos darmos conta, porque já é
um elemento do dia-a-dia de nossas vidas. Talvez possamos dizer que o global, em certa
medida, mesmo sendo uma construção social, está naturalizado para nós. Além dessas
questões que estão relacionadas mais ao âmbito cultural, poderíamos mencionar também
muitos outros aspectos políticos, geopolíticos, econômicos, financeiros, tecnológicos e sociais
que emergiram com a globalização, mas não é nosso foco principal aqui. Interessa-nos mais o
papel fundamental da cultura
4
neste contexto.
Ou seja, como diz Ianni, no início dos anos 1990, o objeto das Ciências Sociais –
e inclui-se aí a Comunicação – “[...] transforma-se de modo visível, em amplas proporções e,
sob certos aspectos, espetacularmente”
5
, desafiando as Ciências Sociais a pensarem “[...] o
mundo como uma sociedade global”
6
.
Contudo, vale lembrar, primeiro, que também o nacional tem presença marcante,
assim como as várias articulações regionais e locais, os quais também emergem como
protagonistas na cena cultural. Em outras palavras: o global só opera no intercâmbio com
essas realidades. Tanto é verdade que autores vêm utilizando o termo “glocal”
7
para dar conta
3
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Cultura, Conexão, Contemporaneidade. In: AULA INAUGURAL DO
PROGRAMA DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E PRÁTICAS DE CONSUMO, São Paulo, Escola
Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), 09 mar. 2007.
4
O termo cultura é usado aqui para fazer referência aos sistemas de significação e às práticas cotidianas dos
atores sociais.
5
IANNI, Octavio. “Globalização: novo paradigma das ciências sociais.” Estudos Avançados. São Paulo, v.8,
n.21, p.147-163, maio/ago 1994. p.147.
6
Ibid., p.147.
7
Autores como Paul Virilio, em sua obra A velocidade da libertação e Eugênio Trivinho, em “TRIVINHO,
Eugênio. “Glocal: para a renovação da crítica da civilização mediática”. In: FRAGA, Dinorá Fraga da e
FRAGOSO, Sueli (orgs.). Comunicação na cibercultura. São Leopoldo: Unisinos, 2001.
83
dessa simultânea convivência do global e do local. É a sinergia entre global e local: o global
está no local assim como o local no global, um não anula o outro como se poderia pensar.
Enfim, vale reforçar, “[...] o local não é uma oposição ao global [...].”
8
Não faremos uso deste
termo ao longo do texto, mas temos consciência de sua importância e podemos até dizer que
glocal talvez sintetize bem uma de nossas constatações neste processo de produção e recepção
de Rebelde-RBD: reapropriações locais de representações globais. Quer dizer, chegamos à
conclusão de que em Rebelde existem representações supostamente universais que estão
sendo reiteradas. E isto corresponderia ao global. Porém, a recepção de Rebelde se dá de
modos diferentes em cada país em que é veiculada – devido a contextos culturais e demais
fatores influenciadores. E isto constituiria o local.
Aliás, de acordo com Ortiz, no campo da cultura é preferível falarmos em
“mundialização” e não em globalização. O autor emprega o termo “global” quando faz
referência a processos econômicos e tecnológicos; e “mundial”, para o domínio da cultura. De
acordo com o mesmo autor, “mundo” “[...] vincula-se primeiro ao movimento de globalização
das sociedades, mas significa também uma ‘visão de mundo’, um universo simbólico
específico à civilização atual”
9
.
E aqui inserimos a noção de fluxo desenvolvida por Raymond Williams. O autor
concebeu a idéia de fluxo para “[...] caracterizar a natureza seqüencial e interrompida da
programação no meio televisivo, principalmente os sistemas comerciais”
10
.
Em todos os sistemas de radiodifusão desenvolvidos, a organização característica e,
portanto, a característica da experiência, é uma seqüência ou “fluxo”. Este
fenômeno, do fluxo planejado, é então talvez a característica definidora da
radiodifusão, simultaneamente como uma tecnologia e como uma forma cultural.
Em todos os sistemas de comunicação, antes da radiodifusão, os itens essenciais
eram discretos.
11
Ou seja, diferentemente de sistemas comunicacionais antecedentes – como um
panfleto ou mesmo o Código Morse –, a televisão possui um movimento contínuo: de
anúncios publicitários interconectando as unidades de conteúdo. Williams refere-se
essencialmente à organização da programação de televisão e à recepção de suas mensagens.
Complementando esta noção de fluxo de Williams – o qual abrange a seqüência da grade de
8
REBOUÇAS, Edgard. “Estudos e práticas da economia (e da) política de comunicações na América Latina”.
Comunicação, mídia e consumo, São Paulo, v.2, n.5, p.65-89, nov. 2005. p.73.
9
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1998. p.29.
10
PIEDRAS, Elisa Reinhardt. A articulação da publicidade com o mundo social: a constituição do fluxo
publicitário nas práticas de produção e de recepção. 2005. 138f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e
Informação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. p.92.
11
WILLIAMS, Raymond. Television: Technology and Cultural Form. Apud: PIEDRAS, Elisa Reinhardt. A
articulação da publicidade com o mundo social: a constituição do fluxo publicitário nas práticas de produção e
de recepção. 2005. 138f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Informação) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. p.92.
84
programação da TV, que passa a compor os sentidos, especialmente na forma do
palimpsesto
12
–, trazemos agora contribuições de Appadurai, que emprega “fluxo” para dar
conta da maneira como os processos culturais operam no mundo atual: transnacionalmente.
Segundo Appadurai, os atuais fluxos culturais globais ocorrem por meio da
disjuntura de paisagens (que ele nomeia de etnopaisagens, mediapaisagens, tecnopaisagens,
financiopaisagens e ideopaisagens
13
), como o deslocamento de pessoas transnacionalmente, a
disseminação de informações e imagens, a distribuição veloz e desigual da tecnologia, a
rapidez do capital girando globalmente, etc. E como estamos falando essencialmente de
comunicação, interessa-nos mais no momento a paisagem que trata diretamente da mídia (a
mediapaisagem).
O aspecto mais importante destas mediapaisagens
14
é que fornecem (especialmente
sob a sua forma de televisão, cinema e cassete) vastos e complexos repertórios de
imagens, narrativas e etnopaisagens
15
a espectadores de todo o mundo, e nelas estão
profundamente misturados o mundo da mercadoria e o mundo das notícias e da
política.
16
Se pensarmos nos conglomerados de mídia, nas grandes empresas de produção
cultural temos um forte exemplo da atuação transnacional dos produtos midiáticos. O sistema
de televisão mexicano Televisa, por exemplo, em 1980 exportava 24 mil horas de programas
de televisão
17
. No ano de 2000, a Televisa “[...] vendeu 90 mil horas de diferentes programas
para outros países, principalmente da América Latina.”
18
Dados de 2007 apontam que a
Televisa “[...] concentra 70% do mercado televisivo do México, é a maior produtora e
exportadora de novelas do planeta, com vendas estimadas em 260 milhões de dólares por
12
Palimpsesto é um suporte (como o pergaminho) sobre o qual foram escritos muitos textos e em cuja superfície
é possível enxergar, mesmo que com imperfeição, as escritas anteriores. Em muitos casos, como no nosso, a
imagem do palimpsesto é utilizada para conotar essa sobreposição de camadas que retornam, memórias que
passaram e emergem no presente.
13
APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema,
2004. p.50.
14
Mediapaisagem refere-se à distribuição da capacidade eletrônica para produzir e disseminar informação
(jornais, revistas, estações de televisão e estúdios de produção de filmes) que estão agora ao dispor de um
número crescente de interesses privados e públicos em todo o mundo e das imagens do mundo criadas por esses
meios de comunicação.” (APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias.
Lisboa: Teorema, 2004. p.53).
15
Etnopaisagem refere-se à “[...] paisagem de pessoas que constituem o mundo em deslocamento que habitamos:
turistas, imigrantes, refugiados, exilados, trabalhadores convidados e outros grupos e indivíduos em movimento
[...].” (APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema,
2004. p.51).
16
APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema,
2004. p.54.
17
MIRA, Maria Celeste. “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”. Margem, São Paulo, n.3,
p.131-149, dez. 1994.
p.137.
18
LOZANO, José-Carlos. “Conglomerados de mídia e fluxos audiovisuais na América Latina”. Comunicação,
mídia e consumo, São Paulo, v.2, n.5, p.91-121, nov. 2005. p.103-104.
85
ano.”
19
É a mais importante concorrente da Rede Globo no mercado internacional. A seguir,
abordamos mais detalhadamente essa rede de mídia chamada Televisa.
E já que começamos a falar em telenovela, e estamos estudando um dos mais
recentes e bem sucedidos exemplares de sua espécie – Rebelde –, convém nos alongarmos um
pouco mais nessa temática. Hoje em dia as telenovelas movimentam US$ 70 milhões
anualmente e são assistidas por 2 bilhões de pessoas espalhadas pelo mundo
20
. Apesar de
países como França e Coréia do Sul estarem começando a se destacar na produção e
exportação de telenovelas, os países latino-americanos ainda figuram entre os principais
produtores e exportadores. Observando este cenário, percebe-se que, havendo telespectadores
ao redor de todo o globo, a telenovela mexicana, ou a telenovela latino-americana no geral
transpõem suas barreiras nacionais e/ou latinas.
Lugares tão distantes quanto a Rússia assistem em média a nove telenovelas latino-
americanas por dia. Mapear esse fluxo transnacional é como realizar uma cartografia
do desejo, em especial do desejo melodramático exacerbado pelos meios de
comunicação de massa e suas mediações com as comunidades locais, tanto
produtoras quanto consumidoras.
21
Neste sentido, se este fosse um estudo com o objetivo primordial de investigar os
fluxos locais e globais da comunicação, focalizando na recepção da telenovela Rebelde,
partiríamos da constatação de que essa mesma telenovela é assistida em mais de 70 países ao
mesmo tempo para, assim, fazermos interrogações do tipo: que ressignificações ocorrem em
cada país em que ela é transmitida, uma vez que apresentam culturas tão diferentes, como
Brasil e Israel, por exemplo?
Afinal, há singularidades em um país que não se repetem em outro. Entre México,
produtor de Rebelde, e Brasil, receptor dessa telenovela, há coincidências e discrepâncias.
Além de diversidade nas vestimentas e hábitos alimentares, há um conjunto de costumes e
crenças que diferem de um país para outro e influenciam, portanto, na recepção de um
produto cultural-midiático. Corroboramos com Jacks, quando esta diz que “a mediação
cultural é o terreno no qual todas as informações se originam, onde o consumo se efetiva e o
sentido é produzido”
22
.
19
SCHELP, Diogo. O México Vota. E já descartou o populismo. Veja on-line. São Paulo, 31 maio 2006.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/310506/p_082.html>. Acesso em: 06 nov. 2007.
20
O PLANETA tem 2 bilhões de noveleiros. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno TV & Lazer, p.8, 21 out.
2007. p.8.
21
COSTA, Cristine. Eu compro essa mulher: romance e consumo nas telenovelas brasileiras e mexicanas. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p.48.
22
JACKS, Nilda. Querência: cultura regional como mediação simbólica – um estudo de recepção. Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 1999. p.57.
86
3.1.2 Complexos sistemas midiáticos
Como a Televisa – produtora da telenovela que estamos estudando aqui – é um
complexo sistema midiático exemplar para percebemos a interação comunicação-consumo,
queremos trabalhar agora um pouco esse modelo de produção que organiza a Indústria
Cultural contemporânea. Aliás, dissemos que a Televisa é um exemplo nobre justamente
porque é transnacional, faz uso de estratégias bem sucedidas e lança produtos culturais que
recaem sempre num consumo fortíssimo de produtos materiais licenciados. E o que há por
trás disso? É que a Televisa é um mega conglomerado midiático e, portanto, obedece a
interesses comerciais e a estratégias empresarias. Lembrando que o que “[...] rege as
estratégias de comunicações é o mercado, o lucro.”
23
Aliás, o estudo deste “por trás” tem um
nome, chama-se Economia Política da Comunicação: “o estudo das relações sociais,
particularmente das relações de poder, que mutuamente constituem a produção, a distribuição
e o consumo de recursos”
24
.
No geral, nota-se a partir das décadas de 1980 e 1990 o desenvolvimento e a
consolidação do mercado audiovisual latino-americano, deixando de dependerem totalmente
das importações dos Estados Unidos
25
, por exemplo. É aqui que entram grandes
conglomerados latinos, como Grupo Clarín (Argentina), Televisa (México), Globo (Brasil) e
Grupo Cisneros (Venezuela).
A Televisa, assim como essas demais empresas, pensando mercadológica e
transnacionalmente, mantém relações estratégicas entre si e também com grupos na Europa ou
América do Norte. A Televisa “[...] tem parcerias com emissoras de TV no Brasil, no Chile,
no Equador, na Guatemala, no Paraguai, no Peru e nos Estados Unidos, entre outros países”
26
.
Pensando nessa transnacionalidade, no sucesso dos produtos da Televisa no
exterior, podemos citar diversos outros posicionamentos e táticas adotados pela emissora: (1)
a Televisa tem participação acionista na Univision, grupo que domina o mercado de
comunicação em língua espanhola nos Estados Unidos. E, como tem seus produtos na grade
de programação da Univision, a Televisa consegue assim aproximar-se do amplo mercado
hispânico em cidades como Miami; (2) “[...] para tornar suas telenovelas mais atrativas, a
23
REBOUÇAS, Edgard. “Estudos e práticas da economia (e da) política de comunicações na América Latina”.
Comunicação, mídia e consumo, São Paulo, v.2, n.5, p.65-89, nov. 2005. p.73.
24
MOSCO, Vincent. The political economy of communication: rethinking and renewal. Apud: REBOUÇAS,
Edgard. “Estudos e práticas da economia (e da) política de comunicações na América Latina”. Comunicação,
mídia e consumo, São Paulo, v.2, n.5, p.65-89, nov. 2005. p.85.
25
LOZANO, José-Carlos. “Conglomerados de mídia e fluxos audiovisuais na América Latina”. Comunicação,
mídia e consumo, São Paulo, v.2, n.5, p.91-121, nov. 2005. p.95.
26
Ibid., p.99.
87
Televisa contrata atores colombianos e venezuelanos para falarem um espanhol com menos
sotaque”
27
e (3) para elevar o interesse dos receptores espanhóis por telenovelas latino-
americanas, a estratégia bem sucedida encontrada pela Televisa foi “[...] levar roteiros
produzidos no México para serem reescritos e produzidos no mercado espanhol [...]”
28
.
Aliás, a inserção e boa aceitação dos programas (especialmente telenovelas) da
Televisa entre a comunidade hispânica dos Estados Unidos – que mencionamos acima – é
decorrente da migração de pessoas de países latino-americanos ou de língua castelhana para o
país. Essa “[...] desterritorialização cria novos mercados para as produtoras de filmes,
empresários das artes e agências de viagens, que apostam na necessidade de contato da
população desterritorializada com o país de origem”
29
.
Além de todo este cenário econômico há também questões políticas que envolvem
esses conglomerados midiáticos. E queremos então ressaltar a Televisa nesta questão, em um
caso que evidencia o poder que essa rede exerce no México. Desde 2001 estava sendo
discutida a urgência de uma reforma nas leis de regulação dos serviços de telecomunicações
no México, entre outros fatores, por causa do processo de convergência digital que tende a
modificar a dinâmica das empresas do ramo. Após dois anos e meio de discussões, foi
apresentado um anteprojeto em outubro de 2004. Mas este permaneceu parado.
Surpreendentemente, em dezembro de 2005 é apresentado um projeto totalmente diferente e
que foi prontamente aprovado por todos os partidos políticos e pela maioria do Senado. Este
beneficia claramente as grandes corporações de mídia do País (principalmente Televisa e TV
Azteca) e, por isso, passou a ser chamado de Lei Televisa. É interessante, pois, apresentarmos
as principais diretrizes desta reforma: (1) as concessões de televisão não têm mais a
interferência do Estado e não é imposto um limite de cobertura por praça para impedir o
monopólio; (2) rádios comunitárias e a televisão pública são obrigadas a se limitarem a
subsídios estatais e contribuições comunitárias. Assim, sem incentivos, tenderão a desaparecer
e sua freqüência ficará livre para ser adquirida por outra emissora; (3) não define se as
emissoras de TV deverão pagar para o Estado pelo direito de uso da freqüência digital que
lhes será concedida. Esta freqüência é necessária para que uma emissora ingresse na
convergência digital para poder, por exemplo, oferecer serviços de telefonia e informática. A
Televisa, por exemplo, dispõe de aproximadamente 3.100 MHz e não paga nada ao Estado;
(4) retira funções das instituições reguladoras (COFETEL – Comisión Federal de
27
Ibid., p.104.
28
Ibid., p.100.
29
APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema,
2004. p.57.
88
Telecomunicaciones e COFECO – Comisión Federal de Competencia); (5) não regula as
campanhas políticas, coisa que o anteprojeto propunha. Pois, claro, as empresas de mídia
envolvidas no desenvolvimento deste projeto não queriam perder as grandes verbas das
campanhas eleitorais.
30
3.1.3 Comunicação e Educação
Após entrarmos em contato com todo esse panorama mercadológico e rentável
que sustenta as redes de mídia, é inevitável abrirmos um parêntese para problematizarmos
brevemente essa conjuntura. Já é fato que na atualidade os variados suportes midiáticos são
constituintes das práticas culturais dos sujeitos, principalmente dos mais jovens. Estes, por já
terem nascido imersos neste universo, naturalizam os meios, não enxergam as mídias como
construções sociais e sim como elementos naturais: para eles é difícil pensar um mundo sem
celular e internet e imaginam que a televisão existe desde sempre, por exemplo.
Daí resulta um novo sensorium
31
que, podemos comparar, está relacionado à
existência das três telas: a do cinema, geração dos avós; a das duas telas – cinema e
televisão, característica da formação dos pais; e a das três telas: às duas anteriores
acrescenta-se a tela do computador. A geração atual já nasceu na fase das três telas
[...] Por isso, a geração atual costuma aparentar muita dificuldade para perceber a
possibilidade de “vida inteligente” nas gerações anteriores.
32
Portanto, parece-nos cada vez mais fundamental uma leitura crítica dos meios.
Trata-se da imbricação dos campos da Comunicação e da Educação
33
. Não é apenas saber ler
e interpretar o que a mídia veicula, é mais que isso. É entender que o que as mídias, a
televisão, por exemplo, nos transmitem é apenas um recorte da realidade e não o mundo em
sua totalidade. Compreender que, além de os meios selecionarem os fatos a que temos acesso,
selecionam também o ponto de vista a partir do qual vamos interpretar estes mesmos fatos.
Isto porque vivemos em uma trama cultural em que a mídia está fortemente presente.
Hoje se fala muito na ressignificação da escola: que deixou de ser a instância
legitimadora do saber, pelo fato, principalmente, de as informações estarem disponíveis e
acessíveis em abundância na internet, por exemplo. O que muitos não entendem é que os
30
GAYTÁN ALCALÁ, Felipe e FREGOSO BONILLA, Juliana. La ley Televisa de México. Disponível em:
<http://chasqui.comunica.org/content/view/472/1/>. Acesso em: 03 set. 2007.
31
No sentido de Benjamin (BENJAMIN, Walter. “Paris, Capital do século XIX”. In: BENJAMIN, Walter.
Sociologia. 2. ed. São Paulo: Ática, 1991).
32
BACCEGA, Maria Aparecida. Tecnologia e comunicação: produção e recepção por sujeitos contemporâneos.
In: SEMINÁRIO COMUNICAÇÃO E TRABALHO: PLURIDISCIPLINARIDADE, INTERFACES E
MEDIAÇÕES, São Paulo, Grupo de Pesquisa Comunicação e Trabalho do Departamento de Comunicações e
Artes da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 23 e 24 ago. 2007.
33
REVISTA COMUNICAÇÃO & EDUCAÇÃO. São Paulo: CCA/ECA-USP, 1994-
89
meios nos passam informações e não conhecimento. E o conhecimento, que permite a
capacidade crítica, é indispensável para a formação dos atores sociais. E ainda é a escola, e
não os meios, a agência de formação apta para esta função. Conforme Baccega, a
característica fundamental da educação é
[...] desenvolver a capacidade para a contextualização e globalização dos saberes,
gerando o conhecimento (e não a informação). O conhecimento, característico da
educação, implica crítica, é capaz de reelaborar o que vem como um dado.
Considera o receptor como sujeito ativo, capaz de inter-relacionar o que lhe é dado
não apenas com sua cultura, mas com a totalidade em movimento.
34
Sendo nosso público de interesse as crianças e os adolescentes, esses aspectos são
muito relevantes para problematização.
Dessa maneira, exteriorizamos uma possível aplicabilidade deste nosso estudo:
sua conversão num formato de projeto didático, para que possa a ser posto em prática em
escolas. Isto possibilitaria a discussão da ficção televisiva em atividades pedagógicas, não
apenas utilizando alguma imagem da telenovela como simples ilustração de algum
ensinamento, mas trazê-la para o primeiro plano, como protagonista que é na cena brasileira.
3.2 Identidades
As músicas sendo ouvidas nos tradicionais rádios ou em modernos mp3 players,
nos mais diversos ambientes. A televisão assistida diariamente e com sua oferta gigantesca de
canais. O cinema, experiência de lazer e sociabilidade. A internet, mesmo que ainda não
acessível para a maioria, sendo usada maciçamente pelos já usuários. Os aparelhos celulares
(e similares até mais avançados, como o BlackBerry), sempre na ativa. Jornais e revistas,
portáteis, transportados e lidos em qualquer lugar, concorrendo como fonte de informação
com blogs e portais virtuais. Novas tecnologias convivendo com plataformas tradicionais. E
tudo tendendo a convergir para o formato digital. Este é, definitivamente, um cenário
contemporâneo. Mesmo até para os representantes de níveis socioeconômicos mais baixos.
Ainda que com profundas desigualdades, estes também estão se aproximando cada vez mais
desta cultura, justamente porque as tecnologias estão disseminadas na sociedade.
A cultura do consumo introduz novos estilos de vida, novos comportamentos,
novas práticas e até novos valores na sociedade. Emergem novas formas de estar junto:
virtualmente, pela internet, por exemplo. Tudo isto corresponde a um novo sensorium:
34
BACCEGA, Maria Aparecida. Tecnologia e comunicação: produção e recepção por sujeitos contemporâneos.
In: SEMINÁRIO COMUNICAÇÃO E TRABALHO: PLURIDISCIPLINARIDADE, INTERFACES E
MEDIAÇÕES, São Paulo, Grupo de Pesquisa Comunicação e Trabalho do Departamento de Comunicações e
Artes da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 23 e 24 ago. 2007.
90
originado, sobretudo, por causa da introdução e presença constante das tecnologias
comunicacionais a que estamos conectados e pelas quais somos mediados. Este sensorium
corresponde à emergência de novas sensibilidades. Considerando sensibilidade no sentido
apresentado por Williams: “[...] um tipo de resposta para um uso equivalente à formação de
uma mente específica: toda uma atividade, todo um modo de perceber e reagir, que não se
podia reduzir seja a ‘pensamento’, seja a ‘sentimento’.”
35
Martin-Barbero faz o que pode ser
um retrato deste cenário que estamos querendo clarear:
[...] os jovens experimentam uma empatia feita não só de facilidade para relacionar-
se com as tecnologias audiovisuais e informáticas, mas também de cumplicidade
expressiva: é em seus relatos e imagens, em suas sonoridades, fragmentações e
velocidades que eles encontram seu idioma e seu ritmo. Pois, frente às culturas
letradas, ligadas à língua e ao território, as eletrônicas, audiovisuais, musicais,
ultrapassam essa limitação, produzindo comunidades hermenêuticas que respondem
a novos modos de perceber e narrar a identidade.
36
Portanto, este sensorium é importante ser levado em consideração e ser
compreendido porque as crianças e adolescentes, público-alvo de nosso estudo, constroem
suas sensibilidades neste novo ecossistema. Sua interação com a realidade e sua vivência
cultural divergem das gerações anteriores. E é a partir deste contexto sociocultural que seus
enunciados são formados. E, como não conheceram outro mundo, constituem-se como
sujeitos desse modo que para eles é o único possível.
Operando um diálogo com estudos de Sibilia
37
, uma das materializações possíveis
dessa forte imbricação mídia-sujeito, e que pode ser observada nas práticas culturais e
cotidianas dos jovens, são os meios enquanto “próteses” dos corpos desses receptores:
aparatos como mp3 players, celulares e computadores pessoais, que acompanham os sujeitos
em todos os lugares e situações e que, assim, passam a literalmente ser incorporados.
Enfim, é preciso levar em consideração a totalidade das práticas culturais
vivenciadas por estes sujeitos, mesmo que desta cultura audiovisual em que constroem sua
existência nós tenhamos especial interesse no gênero ficcional telenovela – e as formas
culturais a ela vinculadas (música e práticas de consumo).
35
WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo, 2007.
p.369.
36
MARTIN-BARBERO, Jesús. “Cidade virtual: novos cenários da comunicação”. Comunicação & Educação,
São Paulo, n.11, p.53-67, jan/abr 1998. p.58-59.
37
SIBILIA, Paula. O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 2003.
91
3.2.1 Identidades: conceituações
Discutimos agora um conceito chave de nosso estudo, que é o conceito de
identidade. Muito se fala sobre identidade e consideramos essencial que, no mínimo, tentemos
trazer algumas conceituações norteadoras de nosso pensamento.
Talvez, em síntese, possamos dizer que identidade é o ser social, é uma
construção simbólica e uma prática de significação. De acordo com Ronsini, “[...] a
identidade é um processo de fazer-se, individualmente e coletivamente, na experiência social
com os repertórios disponíveis ou desejados que são confrontados ou abandonados de acordo
com a circunstância e a conveniência”
38
. Seguindo nesta linha, vem daí nosso desejo de
estudar a vinculação estabelecida entre um produto midiático (Rebelde-RBD) e as identidades
dos jovens. Pois este bem simbólico e cultural fornece material para se forjar as identidades.
Compartilhamos também das palavras de Hall, que diz utilizar o termo identidade
[...] para significar o ponto de encontro, o ponto de sutura, entre, por um lado, os
discursos e as práticas que tentam nos ‘interpelar’, nos falar ou nos convocar para
que assumamos nossos lugares como os sujeitos sociais de discursos particulares e,
por outro lado, os processos que produzem subjetividades, que nos constroem como
sujeitos aos quais se pode ‘falar’. As identidades são, pois, pontos de apego
temporário às posições-de-sujeito que as práticas discursivas constroem para nós.
39
Trazemos esta citação de Hall por dois motivos principais. Primeiro porque estas
suas reflexões nos parecem pertinentes por remeterem às questões do discurso e é exatamente
por meio do discurso dos jovens que tentamos pensar a respeito de suas identidades. E,
segundo, porque Hall menciona “subjetividade”: um âmbito que, apesar de permear nosso
estudo, não adentramos por fugir aos objetivos desta pesquisa.
O sujeito contemporâneo é “[...] conceptualizado como não tendo uma identidade
fixa, essencial ou permanente.”
40
Assim, a mídia opera como uma importante agenciadora de
identidades. Pois, [...] à medida em que os sistemas de significação e representação cultural
[como a mídia] se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e
cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao
menos temporariamente”
41
.
38
RONSINI, Veneza Mayora. Mercadores de sentido: consumo de mídia e identidades juvenis. Porto Alegre:
Sulina, 2007. p.66.
39
HALL, Stuart. “Fantasy, identity, politics”. In: CARTER, E.; DONALD, J. e McCREW, T. (orgs.). Modernity
and its futures. Apud: HALL, Stuart. “Quem precisa da identidade?” In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.).
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. p.111-112.
40
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. p.12.
41
Ibid., p.13.
92
De fato, há mesmo uma identificação do sujeito com a telenovela, seja pelas
temáticas trabalhadas, pelo perfil dos personagens ou outros elementos da linguagem e da
dramaturgia. Ou, igualmente, uma identificação e projeção com as celebridades atores da
telenovela.
Mirar-se nas imagens das celebridades televisivas, por exemplo, serve de mote tanto
para iniciativas da mais pura adesão – quando fotos de atrizes oferecem acessíveis
flashes de modos de se vestir e de se posicionar – quanto naquelas em que a imagem
da estrela confirma a impossibilidade da identificação.
42
E pudemos verificar justamente isto em nossa pesquisa de campo: a identificação
vai do simples “espelhar-se” para se vestir ou viver socialmente – “é importante ter as fotos
de Rebelde porque às vezes eu posso, um dia que for me vestir, me espelhar neles”, diz uma
menina ou “o que a gente vive é mostrado lá [em Rebelde] e a gente acaba aprendendo como
vai vivendo”, diz outra jovem – a uma profunda idolatria, colocando os ídolos em patamares
que se equiparam aos dos deuses – “nem em sonho eu posso querer ser um deles [os
integrantes de RBD]. Porque eu acho que eu não sou digna. Eles foram escolhidos. Eles são
perfeitos. E eles são únicos”, diz uma jovem que abordamos.
O que acontece é que, conforme nos lembra Baccega, pode acontecer uma
apropriação (passageira) do conteúdo e das modas da telenovela, mas não exatamente uma
incorporação que consistiria em “[...] efetiva mudança de valores e comportamentos que a
telenovela promoveria.”
43
Com outras palavras: o pequeno período de duração de uma
telenovela (no caso de Rebelde, um ano e meio) “[...] é suficiente apenas para mudar o visual
e não a personalidade ou o comportamento [dos adolescentes]. É suficiente para agir como um
potencializador de caráter e não como formador ou deformador dele.”
44
Daí o caráter fluido
das identidades de que falamos a seguir.
3.2.2 Identidades: caráter fluido
Essencial traçarmos algumas linhas sobre o caráter não centrado, não singular e
não perene da identidade. Aliás, justamente por este motivo é que estamos usando o termo no
plural: identidades. Ronsini nos ajuda a pensar sobre estas características das identidades: “a
metáfora da semente dá conta do caráter processual das identidades, de algo que é um vir a
42
ROCHA, Rosamaria Luiza (Rose) de Melo e SILVA, Josimey Costa da. “Consumo, cenários comunicacionais
e subjetividades juvenis”. E-compós, ago. 2007. Disponível em: <http://www.compos.org.br/e-compos>. Acesso
em: 18 dez. 2007. p.11.
43
BACCEGA, Maria Aparecida. “Narrativa ficcional de televisão: encontro com os temas sociais”.
Comunicação & Educação, São Paulo, n.26, p.7-16, jan/abr 2003. p.11-12.
44
ELIAS, Maria de Fátima Faila. “O adolescente diante da telenovela.” Comunicação & Educação, São Paulo,
n. 11, p.35-47, jan/abr 1998. p.45.
93
ser, cujo crescimento depende da terra (espaço das relações histórico-sociais) e do material
previamente definido na conformação do grão.”
45
Enfim, concebemos a identidade como um
processo; um processo incessante de construção de representações de si.
Efemeridade, instabilidade e inconstância são características das identidades que
vêm sendo tidas como essenciais pelos mais variados estudiosos. Bauman retrata muito bem
esta fragilidade e o caráter passageiro das identidades na seguinte metáfora:
Estamos passando da fase ‘sólida’ da modernidade para a fase ‘fluida’. E os
‘fluidos’ são assim chamados porque não conseguem manter a forma por muito
tempo e, ao menos que sejam derramados num recipiente apertado, continuam
mudando de forma sob a influência até mesmo das menores forças.
46
Portanto, as identidades hoje são fluidas e são várias. Revestimo-nos com várias
identidades no decorrer de um mesmo dia e, ao mesmo tempo, todas elas são efêmeras e
inconstantes.
O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que
não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades
contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas
identificações estão sendo continuamente deslocadas.
47
E é isto que ocorre com os sujeitos receptores de Rebelde. Eles que hoje se
fantasiam de Rebelde, vestirão outra fantasia da moda daqui a um ano ou menos.
Subjetividade e identidade, longe de serem singulares, são agora concebidas como
plurais: são performadas, brincamos com elas, são autênticas apenas talvez em sua
inautenticidade; estruturadas em sua falta de estrutura; consistentes em sua
inconsistência. O sujeito diferenciado se move pelo mundo, feito camaleão, com
listras e manchas sempre cambiantes. E esse movimento também é mediado,
refletido na mídia, refratado na mídia, possibilitado pela mídia e definido por nossa
relação com a mídia em suas diversas manifestações.
48
Esta transitoriedade das identidades na sociedade contemporânea ocorre muito em
virtude da crise de pertencimento à Nação, da mundialização dos bens culturais e de consumo
e das novas tecnologias comunicacionais. Bauman inclusive diz que a identidade “[...] só nos
é revelada como algo a ser inventado, e não descoberto; como alvo de um esforço, ‘um
objetivo’; como uma coisa que ainda se precisa construir a partir do zero ou escolher entre
alternativas e então lutar por ela e protegê-la lutando ainda mais.”
49
Com efeito, é isto que
acontece. Estes jovens que hoje são “rebeldes” (no sentido de fãs de Rebelde-RBD) amanhã
serão “high school musical” e em seguida se vestirão de algum outro ídolo por vir.
45
RONSINI, Veneza Mayora. Mercadores de sentido: consumo de mídia e identidades juvenis. Porto Alegre:
Sulina, 2007. p.63.
46
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p.57.
47
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. p.13.
48
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p.257-258.
49
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedito Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. p.21-
22.
94
Enfim, pensamos que os personagens e as celebridades, como as de Rebelde, que
são a refração do cenário contemporâneo, atuam sobre as identidades dos receptores
influenciando-as em suas formatações e imputando-as significados.
3.2.3 Identidade de pertencimento
Complementando a questão das identidades, que faz a pessoa sentir-se como
sujeito “singular”, consideramos importante refletirmos sobre a temática do pertencimento,
que dá a esse sujeito “singular” a possibilidade de relacionar-se e identificar-se com outros
“iguais”. Identidade tem em si implícita um determinado “pertencimento à”. Principalmente
para os jovens, o estar em grupo, os agrupamentos são fundamentais. É um aspecto que
sempre caracterizou a juventude. Fazer parte de um grupo de amigos que compartilha de um
mesmo gosto, como o gosto por Rebelde, por exemplo, é importante para os jovens. Afinal, é
nestes grupos – a galera da academia, os colegas do curso de inglês, os vizinhos do
condomínio, etc. – que o jovem começa a agir em sociedade, começa a descobrir-se e a
cultivar interesses comuns aos amigos com quem convive.
A diferença hoje, no novo sensorium já apresentado anteriormente, nesta trama da
cultura contemporânea em que o fio mais forte é o fio da mídia, é que as tecnologias
informáticas e comunicacionais transformaram este estar em grupo, reestruturaram as “formas
de socialidade”
50
. Essa reestruturação parece-nos uma via de mão dupla porque, ao mesmo
tempo em que as tecnologias podem ter amplificado a socialidade
51
– o estar junto –, podem
tê-la também fragmentado. O primeiro movimento refere-se, por exemplo, em se tratando da
internet, ao fato de que, tendo acesso a ela, mesmo quando estamos longe, estamos perto e,
mesmo quando estamos sozinhos, não precisamos ficar isolados. Já o segundo deslocamento
aponta para situações como o caso do espaço público que hoje é subaproveitado e a
50
MARTIN-BARBERO, Jesús. “Cidade virtual: novos cenários da comunicação”. Comunicação & Educação,
São Paulo, n.11, p.53-67, jan/abr 1998. p.55.
51
Chamamos a atenção para não confundir o termo “socialidade”, utilizado por Martin-Barbero, com o conceito
de “sociabilidade” das tribos, cunhado por Maffesoli (MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do
individualismo nas sociedades pós-modernas. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006). São expressões
que se complementam, com a diferença que a “socialidade” não é relacionada ao movimento de tribalização
(Maffesoli), como o é a “sociabilidade”. Segundo Martin-Barbero, socialidade “[...] é o nome com que hoje se
denomina o que na sociedade excede a ordem da razão institucional. É a trama que forma os sujeitos e atores
para costurar a ordem e redesenhá-la, mas também suas negociações cotidianas com o poder e as instituições.”
(MARTIN-BARBERO, Jesús. “De los medios a las práticas”. In: OROZCO GÓMEZ, Guillermo (org.). La
comunicación desde las práticas sociales. Apud: SOUSA, Mauro Wilton de. “Recepção e comunicação: a busca
do sujeito”. In: SOUSA, Mauro Wilton de. (org.). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense,
1995. p.30-31).
95
diminuição de encontros presenciais entre os sujeitos que passaram a encontrar-se
preferencialmente no espaço virtual.
De fato, o que mudou é que antes se tinha um pertencimento ligado ao território e
às grandes instituições sociais, como partidos políticos, sindicatos e governos. E hoje o
sentimento de pertencimento, importante para a auto-identificação dos atores sociais, dá-se
em locais outros, onde se formam novas formas de solidariedade. Dentre esses locais estão os
não-lugares, os quais, segundo Augé
52
, são espaços de trânsito, nos quais os sujeitos se
comunicam com máquinas e monitores: o hipermercado, o aeroporto, o shopping, etc. “Os
encontros se dão temporalmente, em movimento: no metrô, nas casas noturnas, nos ônibus,
nas redes de transporte virtuais, caminhando rapidamente em ruas ou pensamentos”
53
.
3.2.4 Estereótipos: análise dos discursos
As representações, os estereótipos, as imagens e as mensagens que as telenovelas
– e demais produtos culturais das demais mídias – veiculam interagem com os receptores,
colaborando na construção de “outras” percepções e visões de mundo. Portanto, estas
representações e estereótipos dialogam com as identidades destes sujeitos espectadores.
Estas imagens e cenas que as telenovelas põem em circulação são representações
sociais. Considerando aqui representação social tal qual o conceito de Jodelet: representações
sociais são “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma
visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto
social.”
54
Para Moscovici, a noção deve “[...] abranger a dimensão cultural e cognitiva; a
dimensão dos meios de comunicação e das mentes das pessoas; a dimensão objetiva e
subjetiva”
55
.
Em suma, representações sociais são construções simbólicas sobre o real. E,
assim, as telenovelas colocam na tela traduções e interpretações de uma realidade exterior.
Uma telenovela traz uma representação de homem bem sucedido, de criança feliz, de mulher
52
AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, SP: Papirus,
1994.
53
ROCHA, Rosamaria Luiza (Rose) de Melo. “No limite do olhar: imagem, urbanidade e tecnicidade”.
Comunicação, mídia e consumo, São Paulo, v.2, n.3, p.163-175, mar. 2005. p.166.
54
JODELET, Denise. “Représentations sociales: phénomènes, concept et théorie”. In: MOSCOVICI, Serge.
(ed.). Social Representations. Apud: GUARESCHI, Pedrinho A., “‘Sem dinheiro não há salvação’: ancorando o
bem e o mal entre neopentecostais”. In: GUARESCHI, Pedrinho A. e Sandra Jovchelovitch (orgs.). Textos em
representações sociais. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. p.202.
55
GUARESCHI, Pedrinho A., “‘Sem dinheiro não há salvação’: ancorando o bem e o mal entre
neopentecostais”. In: GUARESCHI, Pedrinho A. e Sandra Jovchelovitch (orgs.). Textos em representações
sociais. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. p.193.
96
bonita, etc. Desta maneira, não quer dizer, por exemplo, que há em Rebelde um retrato dos
jovens, mas uma representação de jovem – dentre as tantas possíveis. As imagens, as
representações são sempre construções. Não são reproduções do real.
Um dos modos de representação freqüentemente utilizado pelas telenovelas são os
estereótipos. De acordo com Lippmann, estereótipos são “[...] os tipos aceitos, os padrões
correntes, as versões padronizadas [...].”
56
Complementando, nas palavras de Schaff, o
estereótipo é
[...] um reflexo específico da realidade, mas com uma intervenção adicional do fator
subjetivo na forma de elementos emocionais, valorativos, volitivos, que conferem
um caráter próprio e peculiar tanto na ordem do conhecimento como do
comportamento humano.
57
(tradução nossa).
Dessa forma, podemos afirmar que os estereótipos são juízos de valor
impregnados de uma carga de emoção. Destacamos que eles podem ser tanto positivos quanto
negativos, ao contrário da faceta unicamente negativa que possuem no senso comum. Porém,
vale lembrar que os estereótipos podem passar-nos totalmente despercebidos por estarem já
aceitos e naturalizados por nós. “O estereótipo nos é transmitido com tal força e autoridade
que pode parecer um fato biológico.”
58
Conforme Baccega, “todo relato vem impregnado dos
valores e estereótipos da cultura de quem relata.”
59
Assim, é muito difícil escaparmos dos
estereótipos.
Com efeito, a telenovela faz uso de estereótipos por questões de economia: são
pré-concepções, pré-definições já conhecidas e que, dessa maneira, facilitam a compreensão
por parte dos receptores. Conforme Távola,
o estereótipo é, na telenovela, a forma atras da qual ela realiza em plenitude o seu
recurso. E se o recurso representa empobrecimento estético, amplia, por outro lado,
o teor comunicativo e facilita a decodificação que toma por base, nos mídia de
massas, a simplicidade, a síntese, a simplificação e a massificação.
60
Tudo isto, as representações, os estereótipos podem colaborar na alteração das
percepções, visões de mundo dos receptores. Lembrando, logicamente, que a construção de
significados, a decodificação é personalizada. Mesmo que influenciada por sedimentações
culturais e sociais, é uma atividade individual e, portanto, o significado recebido não
necessariamente permanece o mesmo pretendido pelo emissor.
56
LIPPMANN, Walter. “Estereótipos”. In: STEINBERG, Charles S. Meios de comunicação de massa. São
Paulo: Cultrix, 1970. p.153.
57
SCHAFF, Adam. Ensayos sobre filosofía del lenguaje. Barcelona: Editorial Ariel, 1973. p.138.
58
BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p.117.
59
BACCEGA, Maria Aparecida. “O estereótipo e as diversidades”. Comunicação & Educação, São Paulo, n.13,
p.7-14, set/dez 1998. p.9.
60
TÁVOLA, Artur da. “A telenovela, o recurso, o kitsch e o incurso”. Revista de Comunicação, São Paulo, n.19,
p.28-29, jun/ago 1989. p.28.
97
Percebemos que há em Rebelde uma série de personagens moldados por
estereótipos. Ilustramos aqui alguns deles com discursos pronunciados por personagens. Por
exemplo, o estereótipo da mãe judia: dominadora e religiosa. Uma situação que denota esta
representação estereotipada é quando essa mãe judia fica sabendo que seu filho está
namorando uma menina não-judia (vide apêndice H). Ela fala para o filho: “Quer matar o seu
pai? [...] Meu Deus, o que eu fiz de errado! [...] Você [o filho] sabe muito bem o que fazer.
Porque eu vou estar muito ocupada preparando o velório do seu pai.” E o estereótipo da
menina gordinha e insegura que sofre discriminação. Ela ouve frases do tipo: (1) “ué, foi a
coisa mais parecida com uma lata de lixo que eu encontrei: redonda e verde”; (2) “ih. Quem
abriu a porteira? As vacas estão fugindo.”; (3) “acho que as baleias estão fugindo do mar.” (4)
“shssss. As vaquinhas estão falando com você”.
Figura 23 – Cena em que Nico e sua mãe conversam sobre seu namoro com Lupita
Fonte: DVD Rebelde, 2007
E podemos ainda identificar muitos outros estereótipos em Rebelde, como: (1) o
político corrupto que quer manipular a tudo e a todos, que compra o silêncio de alguns e
realiza muitas coisas por baixo dos panos; (2) o amor entre a menina rica e o rapaz pobre; (3)
os casais que primeiro se odeiam e depois percebem que estão apaixonados e negam essa
paixão para, no final, viverem “felizes para sempre”; (4) a família rica que não é feliz; (5) a
menina que sofre quando descobre que é filha adotiva; (6) a menina popular e patricinha que
tem duas amigas que sempre a acompanham; (7) a cantora que sofre discriminação por causa
de sua carreira; (8) o menino que se revolta por ingressar em um novo colégio; (9) a menina
que apronta maldades e no final acaba na pior; (10) a menina rica e mimada pelo pai; (11) a
menina romântica e sonhadora e assim por diante.
98
Além destes estereótipos que identificamos no discurso e no enredo de Rebelde,
identificamos – como era esperado – estereótipos também nos discursos dos jovens receptores
de Rebelde que abordamos na pesquisa de campo
61
.
Aparece nos enunciados o estereótipo da “patricinha”, o qual é usualmente
utilizado para referir-se a meninas fúteis, que se preocupam muito com a aparência, vestem-se
com roupas da moda e participam de eventos elitizados. Nos discursos que seguem os jovens
receptores de Rebelde utilizam “patricinha” para referirem-se à personagem Mía: “pareço-me
com a Mía. Porque ela era legal e patricinha” (NSE
62
C); “gosto da Mía por ela ser meio
patinha assim. Meio pati, não me toque. Gosto bastante do jeito dela” (NSE C) e “gosto da
Mía por causa do jeitinho dela. Tipo, meio princesinha” (NSE D). Segundo Lippmann, “o que
importa é o caráter dos estereótipos e a ingenuidade com que os empregamos”
63
. Afinal, é
possível sentir a pureza e inocência com que esses jovens utilizaram o estereótipo da
patricinha para descrever Mía.
Igualmente à patricinha, a qualificação similar para o sexo masculino é o
estereótipo de “mauricinho”. Este seria um menino rico, que se veste conforme a moda e se
acha superior aos demais porque possui dinheiro. Assim, o personagem Diego é descrito
como o mauricinho ou, conforme verificamos nas falas dos jovens, é “o boyzinho” (NSE A).
De acordo com nossa exposição, estes meninos e meninas são rotulados pela
sociedade como mauricinhos e patricinhas, respectivamente, porque o estereótipo
[...] reduz toda a variedade de características de um povo, uma raça, um gênero, uma
classe social ou um “grupo desviante’ a alguns poucos atributos essenciais (traços de
personalidade, indumentária, linguagem verbal e corporal, comprometimento com
certos objetivos etc.), supostamente fixados pela Natureza. Encoraja, assim, um
conhecimento intuitivo sobre o Outro, desempenhando papel central na organização
do discurso do senso-comum.
64
No grupo focal também percebemos estereótipos. Desta vez, não pelo discurso,
mas pelo comportamento dos jovens. Notamos entre o grupo o estereótipo da “gordinha”.
Quando passamos para eles uma cena em que a Celina (uma personagem gordinha) aparecia,
notamos que os jovens riram, falaram entre si comentários maldosos e fizeram graçinhas.
Podemos inferir, com base no que vimos, que as pessoas acima do peso são vistas por eles
61
Utilizamos para estas análises discursos coletados em todas as fases empreendidas em campo: abordagens no
show de RBD, questionários quanti-qualitativos, grupo focal e entrevistas em profundidade.
62
NSE é a sigla para a expressão “nível socioeconômico”.
63
LIPPMANN, Walter. “Estereótipos”. In: STEINBERG, Charles S. Meios de comunicação de massa. São
Paulo: Cultrix, 1970. p.157.
64
FREIRE FILHO, João; HERSCHMANN, Micael e PAIVA, Raquel. “Rio de Janeiro: estereótipos e
representações midiáticas”. E-compós, dez. 2004. Disponível em: <http://www.compos.org.br/e-compos>.
Acesso em: 18 dez. 2007. p.4.
99
como diferentes e passíveis de gozação. Como diz Heller, “o desprezo pelo ‘outro’, a antipatia
pelo diferente, são tão antigos quanto a própria humanidade”
65
.
Figura 24 – Fotografia da personagem gordinha, Celina (ao centro)
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Identificamos nas falas também o estereótipo do “rebelde sem causa”: o
adolescente que se rebela por ser “característico da idade”, mas que, no fundo, não tem
motivo sério para tal atitude. Chama-nos a atenção a presença deste estereótipo no discurso
dos jovens porque bate perfeitamente com a imagem de rebeldia que constatamos que a
telenovela tenta passar (como mostramos no capítulo 2). Igualmente ao estereótipo do
“rebelde sem causa”, Rebelde propaga uma rebeldia com propósitos estreitos no âmbito da
família ou da escola, sem uma percepção de rebeldia que se insira na macroestrutura social.
Seguem alguns trechos dos discursos dos jovens que deixam transparecer o estereótipo do
“rebelde sem causa”. Ser rebelde significa: “ter a sua opinião própria” (NSE A); “não ligar
para o que os outros falam, tipo, seu pai e sua mãe. Seguir alguns conselhos que você acha
certo e ser livre, assim, entre aspas” (NSE A); “demonstrar pras pessoas o que você é de
verdade” (NSE B); “fazer as coisas sem se incomodar com o que as pessoas pensam, sabe?
Fazer o que der na telha, assim” (NSE D); “você ser você mesmo, não ligar para o que os
outros falam” (NSE C); “lutar pelos seus sonhos” (NSE C); “poder fazer o que quiser na hora
que quiser” (NSE A); “ser bagunceiro ou nunca ter medo” (NSE C); “ser desobediente” (NSE
C); “ser uma criança malcriada e respondona” (NSE C); “ser travesso” (NSE C); “ser mal
educado e não respeitar aos mais velhos” (NSE C).
65
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1989. p.55.
100
Da mesma forma, é freqüente, nos discursos externados pelos jovens, o
estereótipo do “vilão”. No caso de Rebelde, da vilã (no feminino), referindo-se,
principalmente, às personagens Sol e Sabrina. Estas receberam descrições como “má” (NSE
A), “chata” (NSE B, C e D), “nojenta” (NSE B e C), “trapaceira” (NSE B) e “bruxa
adolescente” (NSE C). Enfim, tiveram seu perfil simplificado por adjetivos como estes
citados.
O estereótipo não é uma simplificação porque é uma falsa representação de uma
dada realidade. É uma simplificação porque é uma forma presa, fixa, de
representação que, ao negar o jogo da diferença (que a negação através do Outro
permite), constitui um problema para a representação do sujeito em significações de
relações psíquicas e sociais.
66
Outro estereótipo que se faz notar é o do “fã-fanático”: aquela pessoa que ama
com muita intensidade e chega a fazer loucuras pelo seu ídolo. Um representante deste tipo de
discurso é o da menina que diz o que segue: “mas minha mãe não gosta de eu gostar tanto
deles [do RBD]. Acha que eu tô ficando doente. Que eu tô ficando muito, muito, muito
viciada. Mas num é. É que eles se tornam parte de nossa família. A gente passa a gostar deles
como se fosse alguém, assim, um irmão. Nooossa” (NSE B). Mais enunciados que discorrem
sobre o estereótipo do fã-fanático é de outra menina: “quase fui parar na Santa Casa, de tão
ruim que eu fiquei, de saber que eles estavam aqui no Brasil e eu não tinha vindo ver eles”
(NSE B); “eu vivo e respiro RBD” (NSE B) e “Eu falo, que se um dia eles precisarem do meu
coração, eu dou pra eles, entendeu? Que eu não agüentaria ver acabar a banda ou um deles
morrer. Que pra mim os seis são muito importantes” (NSE B).
Ao final, temos o estereótipo da “telenovela mexicana”. Este é caracterizado, por
uma jovem abordada, da seguinte maneira: “assim, no começo, eu não gostava [de Rebelde].
Eu não tinha assistido. Porque tem sempre aquele preconceito de novela mexicana. Que é,
tipo, bate de um lado, cai do outro. Alguma coisa assim” (NSE B). Este estereótipo costuma
aparecer quando os jovens justificam porque os seus amigos não assistem a Rebelde: “[não
assistem porque] a maioria tem preconceito por ser uma novela mexicana” (NSE A, B e C).
Ou quando uma menina justifica porque prefere as telenovelas do SBT às da Rede Globo: “aí
eu passei [a assistir a Rebelde], porque eu sempre gostei das novelas do SBT, as novelas
mexicanas, que é menos putaria, menos coisa, que eu não gosto muito das novelas da Globo
(NSE B). Sendo assim, a telenovela mexicana passa por uma ultrageneralização, que
[...] é inevitável na vida cotidiana. Cada uma de nossas atitudes baseia-se numa
avaliação probabilística. Em breves lapsos de tempo, somos obrigados a realizar
66
BHABHA, Homi K. “O estereótipo, a discriminação e o discurso do colonialismo”. In: BHABHA, Homi K. O
local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. p.117.
101
atividades tão heterogêneas que não poderíamos viver se nos empenhássemos em
fazer com que nossa atividade dependesse de conceitos fundados cientificamente.
67
E a própria telenovela Rebelde é ultrageneralizada, estereotipada como sendo uma
“telenovela para crianças”. Seguem alguns exemplos em que notamos este estereótipo
norteando os discursos dos jovens: “na escola, assim, tem uns que são meio preconceituosos
por causa de ser porque é Rebelde, que é de criança. Mas nada a ver. Eles mesmos [os atores]
são adultos praticamente” (NSE B); “falam que é coisa de criança então não é todos [os
amigos] que viam” (NSE A); “bom, é a maior complicação. Porque todo mundo fica zoando,
tirando sarro e isso e aquilo. Mas levam na esportiva, também. Todo mundo tira sarro
geralmente porque eles levam como se fosse coisa de criança. E num é bem assim também
[...] Todo mundo que escuta RBD, pra eles, é criança e isso e aquilo” (NSE A).
Podemos dizer que esta estereotipia ocorre porque “na maior parte das vezes, não
vemos primeiro para depois definir, mas primeiro definimos e depois vemos.”
68
Ou seja,
enquadramos os fenômenos do mundo real em categorias por nós já vistas ou vividas. Dessa
forma, pré-categorizamos os fenômenos antes de enxergá-los verdadeiramente. Assim, “[...]
notamos um traço que marca um tipo conhecido e enchemos o resto do quadro com os
estereótipos que trazemos na cabeça”
69
.
Podemos ver que a mídia dissemina representações sociais e corrobora
diariamente estereótipos. Não só, mas em grande parte, é por isto que as falas dos jovens que
abordamos estão repletas de estereótipos. De qualquer forma, estes “[...] desempenham papel
tão decisivo na construção do mundo mental”
70
porque “[...] é por intermédio dos significados
produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência, àquilo que somos e
àquilo que podemos nos tronar.”
71
Enfim, as representações – entre elas os estereótipos – a
que os jovens receptores de Rebelde têm acesso, contribuem para a formatação de suas
identidades.
67
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1989. p.44.
68
LIPPMANN, Walter. “Estereótipos”. In: STEINBERG, Charles S. Meios de comunicação de massa. São
Paulo: Cultrix, 1970. p.151.
69
Ibid., p.156.
70
Ibid., p.158.
71
FREIRE FILHO, João; HERSCHMANN, Micael e PAIVA, Raquel. “Rio de Janeiro: estereótipos e
representações midiáticas”. E-compós, dez. 2004. Disponível em: <http://www.compos.org.br/e-compos>.
Acesso em: 18 dez. 2007. p.2.
102
3.3 Práticas de Consumo
As práticas de consumo envolvem pessoas, envolvem identidades. Muito mais
hoje do que até recentemente, o consumo está envolvido com as questões de identidades. As
identidades são construídas socialmente. Desta maneira, práticas culturais como o consumo
impactam essa construção identitária.
O consumo é parte integrante da identidade; constitui – ao menos parte – das
identidades e cremos que podemos até mesmo dizer que na sociedade contemporânea
consumimos não apenas bens materiais, mas identidades simultaneamente. No consumo em
geral “[...] construímos nossos próprios significados, negociamos nossos valores e, ao fazê-lo,
tornamos nosso mundo significativo. Sou o que compro, não mais o que faço ou, de fato,
penso”
72
.
Os produtos são mercadorias impregnadas de características simbólicas, estéticas
e culturais. Sendo assim, consumimos para arquitetar estilos de vida. Consumimos para
comunicar. Consumimos, afinal, para fabricarmos e manifestamos nossas identidades. Tanto a
mídia quanto o consumo são agentes influenciadores na construção e desconstrução das
identidades do público jovem, receptor de Rebelde-RBD. Esta é a razão pela qual fazemos um
diálogo entre consumo e identidade. O consumo, a nosso ver, é constituinte da identidade.
3.3.1 As duas dimensões do consumo: a simbólica e a material
É necessário problematizar as questões do consumo que hoje em dia tem como
expressão maior a moda, a efemeridade, a obsolescência veloz:
[...] a curta vida de prateleira dos produtos e estilos de vida; a velocidade com que
muda a moda; a velocidade dos gastos; os polirritmos do crédito, da aquisição da
oferta; a transitoriedade das imagens dos produtos na televisão; a aura de
periodização que paira sobre os produtos e estilos de vida na iconografia dos meios
de comunicação de massa.
73
O consumo é questão fulcral em nossa pesquisa, pois estamos estudando as
práticas de consumo efetuadas por jovens receptores de Rebelde-RBD, procurando, desse
modo, descortinar as relações comunicação-consumo. Há um interesse pelo modo como os
bens materiais são utilizados e valorados pelo consumidor, que é concebido como agente
ativo.
72
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p.150.
73
APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema,
2004. p.117.
103
Segundo Silverstone
74
, “[...] o consumo é a única atividade essencial pela qual
nos envolvemos, diariamente, com a cultura de nossos tempos.” Pois, de fato,
coisas como moda, objetos, produtos, serviços, design, marcas, grifes, shoppings,
televisão, publicidade, comunicação de massa são traços indeléveis no espírito do
tempo [da sociedade contemporânea], e cada um à sua maneira dá ampla visibilidade
ao consumo na nossa vida social cotidiana.
75
Concebemos o consumo como uma prática de cultura e um sistema de
significação que, além de seu domínio material, possui um plano simbólico e, por isso,
comunica sentidos, estilos, identidades e diferenças. O material e o simbólico são duas esferas
inseparáveis do consumo. Inclusive, “os bens que servem às necessidades físicas – comida ou
bebida – não são menos portadores de significado do que a dança ou a poesia.”
76
Sem
adentrarmos na complexa questão das necessidades (ou da dualidade necessidade versus
desejo), apenas queremos deixar clara nossa concepção de que “[...] todos os bens são
portadores de significado.”
77
Mesmo que não por conta própria, intrinsecamente, mas todos
os bens possuem significados que lhes são atribuídos socialmente, na relação com os demais
bens e por acordos entre os sujeitos sociais.
E é por isso que Douglas e Isherwood, investigando os significados do consumo,
enxergam-no como uma atividade ritual: “os bens [...] são acessórios rituais; o consumo é um
processo ritual cuja função primária é dar sentido ao fluxo incompleto dos acontecimentos.”
78
Pois o consumo, de fato, está presente, em maior ou menor grau, em todas as celebrações de
nossa vida social. E, por que não, num show de RBD?
Nota-se, então, que as práticas de consumo ou, como dizem Douglas e Isherwood,
os bens, “[...] estabelecem e mantêm relações sociais”
79
. Os jovens reúnem-se para trocar
cards de Rebelde, encontram-se no Giraffas para saborear um lanche e ganhar o brinde
Rebelde e, na apresentação de final de ano da escola, uma turma de alunos da 5ª série opta por
apresentar a coreografia de uma música de RBD. Essas relações são criadas por meio do
consumo e do gosto compartilhado de Rebelde.
Por sinal, “O fã [receptor] internaliza uma lista de nomes dentro da cabeça.”
80
Esses nomes são, por exemplo, os títulos dos CDs de RBD, os nomes dos personagens da
74
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p. 150.
75
ROCHA, Everardo. “Culpa e prazer: imagens do consumo na cultura de massa”. Comunicação, mídia e
consumo, São Paulo, v. 2, n. 3, p.123-138, mar. 2005. p.135.
76
DOUGLAS, Mary e ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do consumo. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2004. p.120.
77
Ibid., p.121.
78
Ibid., p.112.
79
Ibid., p.105.
80
Ibid., p.124.
104
telenovela, os prêmios que a banda recebeu, as datas importantes – como o Dia Mundial de
RBD, celebrado em 04 de outubro de 2007, em virtude do aniversário da banda –, os recordes
de público em shows, etc. E as “[...]” alegrias de compartilhar [esses] nomes são as
recompensas de um longo investimento de tempo e de atenção, e também de dinheiro.”
81
Não
é à toa que, em nossas aproximações junto aos jovens receptores de Rebelde, eles gostavam de
contar suas experiências e conhecimentos sobre seus ídolos (Rebelde-RBD). “O consumo, de
modo muito especial nos setores juvenis, afirma-se como referente fundamental para a
conformação de narrativas, de representações imagéticas
82
e de universos imaginários
repletos de significação, das mais aterradoras às mais inspiradoras”
83
.
Entre outros pontos de vista, Rocha enxerga o consumo como um código que
traduz “[...] muitas de nossas relações sociais”
84
.
Ainda mais: este código, ao traduzir relações sociais, permite classificar coisas e
pessoas, produtos e serviços, indivíduos e grupos. Consumir é exercitar um sistema
de classificação do mundo que nos cerca a partir de si mesmo e, assim como é
próprio dos códigos, pode ser sempre inclusivo. Neste caso, inclusivo em dois
sentidos. De um lado, dos novos bens que a ele se agregam e são por ele articulados
aos demais, e de outro, inclusivo de identidades e relações sociais que são
elaboradas, em larga medida na nossa vida cotidiana, a partir dele.
85
Em outras palavras, o consumo distingue e classifica os sujeitos: gostar de RBD
comunica posicionamentos diferentes de gostar de The Beatles ou Madonna, por exemplo.
Assim como, em um mesmo show, é diferente estar na área vip e estar na arquibancada.
Complementando estas teorizações sobre o consumo, Canclini nos ajuda a
entender o consumo como prática que abrange também os processos comunicacionais e a
recepção de bens simbólicos: o consumo é “[...] o conjunto de processos socioculturais nos
quais se realizam a apropriação e os usos dos produtos.”
86
É uma conceituação rica por
articular a comunicação e o consumo – o que nos interessa.
81
Ibid., p.125.
82
Que é relativo à imagem.
83
ROCHA, Rosamaria Luiza (Rose) de Melo e SILVA, Josimey Costa da. “Consumo, cenários comunicacionais
e subjetividades juvenis”. E-compós, ago. 2007. Disponível em: <http://www.compos.org.br/e-compos>. Acesso
em: 18 dez. 2007. p.5.
84
ROCHA, Everardo. “Os bens como cultura: Mary Douglas e a antropologia do consumo”. DOUGLAS, Mary
e ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do consumo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
2004. p.16.
85
Ibid., p.16-17.
86
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 6. ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2006. p.60.
105
Em suma, “[...] a função essencial do consumo é sua capacidade de dar sentido.”
87
De maneira não verbal, o consumo, enquanto fenômeno cultural, outorga sentidos aos nossos
gostos, às nossas celebrações, ao que somos enfim.
3.3.2 O consumo e a telenovela
Ratificamos o fato de que pensamos as práticas de consumo como construídas na
interação entre as esferas materiais e simbólicas, inseparáveis. Mesmo não existindo uma
esfera material apartada da esfera simbólica, nossa hipótese é de que em Rebelde há um
vínculo muito forte entre essas duas dimensões do consumo. Nas telenovelas brasileiras o que
se tinha/tem é o chamado merchandising
88
, uma exibição explícita do consumo material no
decorrer da telenovela. Em Rebelde, percebemos que passamos a ter uma telenovela que
efetivamente embaralha o consumo simbólico e o consumo material. Em outras palavras, para
o sujeito telespectador consumir simbolicamente, ele tem que estar consumindo algum
produto material. Somente consumindo materialmente este sujeito é capaz de inserir-se no
universo de Rebelde. Conforme apresentamos no capítulo 2, a venda de produtos relacionados
à telenovela Rebelde parece estar presente como objetivo desde o momento de sua concepção.
Como já dissemos, todo bem material possui um valor simbólico construído
socialmente. Acontece que, entre essas práticas sociais, há a comunicação midiática e esta
amplia o simbólico característico de um bem material. “A cultura de massa – mídia,
marketing, publicidade – interpreta a produção, socializa para o consumo e nos oferece um
sistema classificatório que permite ligar um produto a outro e todos juntos às nossas
experiências de vida.”
89
Assim, uma telenovela – produto midiático –, colocando no ar
músicas, personagens e situações vividas por estes personagens, impinge sentidos que serão
lidos e interpretados por seus espectadores. A recepção da mídia desde sempre levou ao
consumo material. Isto porque os produtos sempre adquiriram características singulares, um
encantamento quando inseridos em uma produção cultural como uma telenovela ou um filme
87
DOUGLAS, Mary e ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do consumo. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2004. p.108.
88
Utilizamos o termo merchandising (para fazermos referência às ações de inclusão de marcas e produtos em
meio à história e às cenas de uma telenovela), por ser o mais encontrado na bibliografia de telenovela. Contudo,
avaliando uma bibliografia mais técnica sobre estratégias publicitárias, notamos que um termo mais correto,
substituindo merchandising, seria product placement. Isto porque a palavra merchandising é utilizada, no âmbito
das atividades publicitárias, para designar ações promocionais, geralmente realizadas no ponto-de-venda, com a
intenção de aumentar a visibilidade da marca ou produto e comumente fazendo uso de táticas de promoção de
vendas – como os brindes.
89
ROCHA, Everardo. “Culpa e prazer: imagens do consumo na cultura de massa”. Comunicação, mídia e
consumo, São Paulo, v. 2, n. 3, p.123-138, mar. 2005. p.137.
106
e colocados à venda posteriormente. Por exemplo, na Rede Globo, já em 1985, o batom Boka
Loka incitava beijos arrebatadores entre os personagens da telenovela Ti-ti-ti e fez tanto
sucesso que acabou sendo lançado no mercado.
90
Em Rebelde vemos este fenômeno com
muita intensidade e é isto que estamos tentando entender.
No romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, o autor apresenta uma
personagem – Emma Bovary – da qual, entre suas várias características, queremos destacar o
seu apetite pela leitura de folhetins e romances e seu impulso pelo consumo, na França do
século XIX. E aqui citamos Costa: “Emma é uma consumidora implacável de bens
imaginários. Para ela, ‘comprar e ler constituem manifestações da mesma síndrome, porque a
leitura romântica estimula o consumo e o comprar se transforma num prolongamento do
deleite de ler’.”
91
De certa forma, é uma personagem à frente de seu tempo. Nossa
contemporânea. Podemos transpor esta situação para o contexto atual, para os dias de hoje e,
substituindo o ato de ler pelo ato de assistir à televisão (telenovela), no caso específico de
Rebelde, o consumo compõe a fruição da telenovela.
Parodiando Costa, afirmamos que assistir à telenovela estimula o consumo e este
se transforma em um prolongamento da assistência à telenovela. Não apenas a temática do
amor romântico, que distraia e comprazia Emma Bovary, mas várias outras temáticas
presentes em Rebelde incentivam experiências, desejos e sensações que levam ao consumo.
3.4 A vez dos receptores/consumidores
Este é o espaço em que queremos trabalhar ao máximo os discursos dos jovens
receptores de Rebelde-RBD que coletamos em campo. Primeiro (item 3.4.1) desenhamos o
mapa de consumo cultural dos jovens receptores por nós abordados, por considerarmos que
são dados importantes para contextualizarmos quem são esses sujeitos. Após essa etapa e
sempre fazendo a inter-relação entre comunicação, práticas de consumo e identidades,
empreendemos três momentos da análise do corpus: (item 3.4.2) identificamos os sentidos,
(item 3.4.3) organizamos os discursos em categorias e (3.4.4) destacamos particularidades nos
modos de usos dos produtos.
90
LEITE, Renata. “Da fantasia ao mundo real”. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, Caderno Gerência, p.
B18, 08 maio 2007. p. B18.
91
COSTA, Cristiane. Eu compro essa mulher: romance e consumo nas telenovelas brasileiras e mexicanas. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar , 2000. p.40.
107
3.4.1 Mapa de consumo cultural
Por acreditarmos que o contexto em que se está inserido – as práticas que se
realizam e o acesso que se tem aos bens culturais – influencia o discurso produzido é que
decidimos por mapear o consumo cultural dos jovens que compõem nossa amostra. Afinal,
“as referências culturais traçam percursos de leitura, de interpretação.”
92
Entendemos mapa
de consumo cultural como um panorama geral das práticas e apropriações de bens culturais,
como TV, cinema e música, entre outros. De certa maneira, aproximamo-nos das reflexões de
Bourdieu
93
, que enxerga o consumo como instância de diferenciação simbólica e estética
entre os níveis socioeconômicos e entre grupos sociais outros (profissões distintas, por
exemplo).
As constatações que trazemos aqui são baseadas nas respostas dos 53 jovens (43
da escola pública e 10 da escola particular) que responderam, no questionário quanti-
qualitativo, que assistiam à telenovela Rebelde. Algumas questões que não ficaram muito
claras no questionário foram aprofundadas com base nas respostas das entrevistas em
profundidade.
Destacamos que fazemos nossas análises sob a polaridade nível socioeconômico
mais alto (NSE A) “versus” nível socioeconômico mais baixo (NSE B e C). Assim,
compartilhamos da perspectiva de Lopes, segundo a qual
a diferença de classe, ainda que mediada pela multiplicidade de distinções
introduzidas pela etnia, gênero, idade, entre outras, não é uma diferença a mais, mas,
sim, aquela que articula as demais a partir de seu interior e expressa-se por meio do
habitus, capaz de entrelaçar os modos de possuir, de estar junto e os estilos de
vida.
94
Dessa maneira, conseguimos traçar alguns cruzamentos e disparidades entre os
distintos níveis socioeconômicos concernentes às questões que colocamos em análise, tanto
neste primeiro momento, sobre o mapa de consumo cultural, quanto num segundo momento
(item 3.4.3) – na análise dos discursos dos jovens abordados –, quando tentamos captar
singularidades em suas identidades e particularidades nas suas práticas de consumo.
Enquanto todos os jovens de nível socioeconômico mais alto têm acesso à
internet, um pouco mais da metade dos jovens de nível socioeconômico mais baixo possuem
este acesso. Mas as práticas na internet, mais especificamente os sites que esses jovens
92
BACCEGA, Maria Aparecida. “O impacto da publicidade no campo comunicação/educação”. Cadernos de
Pesquisa – ESPM, São Paulo, ano 1, n.3, p.11-91, set/out 2005. p.22.
93
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk, 2007.
94
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; BORELLI, Silvia Helena Simões; RESENDE, Vera da Rocha.
Vivendo com a telenovela: mediações, recepção, teleficcionalidade. São Paulo: Summus, 2002. p.14.
108
acessam, são praticamente as mesmas. Segundo o que eles mencionaram espontaneamente,
acessam com mais intensidade sites de jogos, programas de mensagem instantânea (MSN),
sites de relacionamento (ex.: Orkut) e sites sobre Rebelde e RBD. Com relação à música, a
grande maioria dos jovens, em todos os níveis socioeconômicos, diz comprar CDs das bandas
e cantores de que gostam. Nas entrevistas em profundidade na escola pública, questionamos
os jovens se eles compram CD original ou “pirata” e verificamos que a compra de CDs
“piratas” é muito maior. Há os que só compram CDs “piratas” e os que possuem os dois tipos.
Porém, ninguém disse possuir somente CDs originais.
Entre os alunos de nível socioeconômico mais baixo, nem todos possuem
aparelhos móveis para escutar música (como walkman, diskman ou mp3 player). Dos que têm
algum aparelho, o mp3 player aparece em quantidade similar ao diskman. E entre os alunos de
nível socioeconômico mais elevado, todos afirmam possuir algum desses aparelhos de escuta
móvel de música, inclusive há os que indicam possuir mais de um tipo. E a recorrência de
Ipod (e não qualquer mp3 player “genérico”) é três vezes maior do que com os alunos de nível
socioeconômico mais baixo. O que constatamos a respeito do uso de tecnologia (internet e
tocadores móveis de música) corrobora resultados do levantamento chamado Playground
Digital, realizado pelo grupo Viacom (proprietário de canais de televisão como Nickelodeon e
MTV) em dez capitais do Brasil e em mais 11 países (Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia,
Itália, Índia, Holanda, Suécia, Japão, Alemanha, China e México), que entrevistou 7 mil
jovens (600 do Brasil) com idade entre 8 e 14 anos.
Só participou quem tem acesso a pelo menos duas tecnologias das listadas (câmera
digital, videogame, internet, mp3 player, celular e site de relacionamento). ‘A
pesquisa independe de classe social, mas o acesso, no Brasil, acaba ficando mais
com a classe AB. Quando há o acesso, a relação com a tecnologia é similar entre
crianças de diferentes condições financeiras’, diz a socióloga e publicitária Beatriz
Mello, do departamento de pesquisa da Viacom Brasil.
95
Quanto à leitura, 60% e 80% de nossos entrevistados de nível socioeconômico
superior e inferior, respectivamente, afirmam ler revistas. Nas entrevistas em profundidade
com os alunos da escola pública, notamos que o interesse maior é por gibis e revistas sobre
Rebelde. No que concerne aos livros, dois jovens de nível socioeconômico mais baixo e
nenhum de nível socioeconômico mais elevado dizem que não lêem nenhum livro por ano.
Mas aí cremos que muitos alunos consideraram em sua resposta os livros didáticos que são,
digamos, livros básicos, que todos devem ler. Deduzimos isto porque, por exemplo, das
95
CRIANÇA brasileira tem em média 12 amigos virtuais. Folha de S. Paulo, São Paulo, Cotidiano, p.C9, 27 out.
2007. p.C9.
109
quatro entrevistas em profundidade realizadas na escola pública, em duas delas as meninas
responderam não gostar de ler livros e muito menos terem o hábito de lê-los.
O celular está presente na vida de ambos os públicos na mesma porcentagem. A
diferença está na modalidade do celular: se nos níveis socioeconômicos mais altos 50% dos
alunos possuem celular pré-pago, esse percentual passa para 82% nos níveis socioeconômicos
mais baixos. E no que se refere ao cinema, não fizemos nenhuma pergunta específica, mas
foram relativamente poucos os que responderam que vão ao cinema ao irem ao shopping. Já
quando solicitados para assinalarem itens extremamente importantes para a vida das pessoas,
de uma lista composta por 22 itens, o cinema aparece com certa força: foi selecionado por
32% dos jovens de nível socioeconômico mais baixo e por 50% dos jovens de nível
socioeconômico mais alto. Podemos inferir daí que o cinema é considerado importante,
porém, ao ir ao shopping, não é a atividade mais praticada e nem está entre as mais lembradas
na hora de responder ao questionário, pois falaram muito em “comer” e “fazer compras”
quando vão ao shopping. É um indicativo de suas práticas de consumo dentro do espaço do
shopping. Talvez estes jovens comam no shopping quando se encontram com amigos ou
quando estão acompanhados de seus pais, uma vez que é bastante comum as mães deixarem
de fazer comida em casa nos dias de lazer ou mesmo durante a semana, seja ao meio-dia –
quando não possuem tempo para fazer almoço por causa do apertado horário de intervalo do
trabalho – ou à noite – quando chegam cansadas e também não dão prioridade para o preparo
da janta. O shopping então aparece como boa opção para as refeições por causa da variedade
de pratos oferecidos. E essa mesma praticidade de encontrar uma ampla gama de produtos em
um mesmo espaço é que deve motivar os jovens – e seus pais, pois são eles quem pagam as
contas – a fazerem compras no shopping.
Pelas respostas dadas à pergunta do questionário que solicitava os três programas
que mais gostam de assistir na televisão, conseguimos constatar que a quase totalidade dos
jovens de nível socioeconômico mais baixo não possuem televisão a cabo: apenas sete jovens
mencionaram que assistem a programas de TV fechada. Reforçamos isto ao interrogarmos
diretamente, nas entrevistas em profundidade, se possuem ou não TV por assinatura: apenas
uma entre as quatro jovens da escola pública possui.
Podemos perceber uma certa concentração do consumo cultural junto aos sujeitos
pertencentes aos níveis socioeconômicos mais altos em relação aos demais. Ratificamos então
o que diz o antropólogo Frederico Barbosa, sobre os dados do estudo intitulado Gasto e
consumo das famílias brasileiras contemporâneas – que traça o perfil do consumidor
brasileiro a partir da análise de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) dos anos
110
de 1987 a 2003, efetuadas pelo IBGE: “[...] em relação a classes sociais, constatamos que os
gastos em cultura são tão concentrados como a renda e o consumo em geral [...]”
96
.
Agora, fazendo uma análise trans-classista, tentamos perceber comportamentos
similares entre jovens que compartilham de um mesmo consumo. Quem possui acesso a
internet, costuma ir ao shopping e tem celular pré-pago. Quem tem mp3 player tem tendência
a valorizar atributos como “moda”, “marca” e “novidade” na hora de comprar produtos.
Quem adota o quarto como principal lugar da casa em que assiste à televisão, também assume
esse ambiente como local em que mais ouve rádio. Os sujeitos que apontaram que assistem à
televisão somente na parte da noite (que não assistem pela manhã e nem à tarde) aparecem
como os que mais comentam com os pais (principalmente a mãe) sobre o que assistem na
televisão. Provavelmente isto ocorre porque os pais (ou somente a mãe), estando na parte da
noite em casa, assistem à televisão junto com o filho neste horário.
Procuramos delinear qualitativamente o território cultural por onde transitam os
jovens cujos discursos são nosso material de análise. Partimos, pois, de uma afirmação de
Certeau
97
:
“[as estatísticas] só captam o material utilizado pelas práticas de consumo – material
que é evidentemente o que é a todos imposto pela produção – e não a formalidade
própria dessas práticas, seu ‘movimento’ sub-reptício e astucioso, isto é, a atividade
do ‘fazer com’.
Assim, não era nossa pretensão mostrar estatísticas e quantificar este consumo
cultural, e sim procurar caminhos para uma qualificação e descrição das práticas
empreendidas pelos jovens receptores de Rebelde-RBD. Não “apenas” contabilizar os bens
culturais de que se apropriam, mas procurar identificar os modos como se apropriam desses
bens.
3.4.2 Análise de Discurso: emergência de sentidos
Agora, prosseguimos buscando captar os sentidos nos discursos coletados
98
. Isto
porque “os dizeres não são [...] apenas mensagens a serem decodificadas. São efeitos de
96
CASTRO, Fábio de. Para onde vai o dinheiro. Disponível em:
<http://www.agencia.fapesp.br/boletim_print.php?data[id_materia_boletim]=7327> Acesso em: 22 jun. 2007.
97
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano 1: artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. p.98.
98
Utilizamos para estas análises discursos coletados em todas as fases empreendidas em campo: abordagens no
show de RBD, questionários quanti-qualitativos, grupo focal e entrevistas em profundidade.
111
sentidos que são produzidos em condições determinadas e que estão de alguma forma
presentes no modo como se diz [...]”
99
.
Neste momento, interessa-nos notar a emergência dos sentidos criados e/ou
reproduzidos nos discursos pronunciados pelos receptores de Rebelde que abordamos. De
acordo com Pêcheux,
[...] o sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe em si mesmo (isto é,
em sua relação transparente com a literalidade do significante), mas é determinado
pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sociohistórico em que
palavras, expressões, proposições são produzidas (isto é, reproduzidas).
100
Após estudarmos procedimentos possíveis de análise, escolhemos mesclar
métodos propostos por Orlandi
101
e Fiorin
102
. Orlandi, entendendo que os discursos são
construídos a partir de “materiais” que lhes são exteriores, chama de funcionamento esse
processo estruturante do discurso. E, para observar os diversos modos de funcionamento dos
discursos, elabora uma tipologia dos mesmos. A partir daí, aprofundando-se um pouco mais
nos discursos, procura traços que são responsáveis pelos seus diferentes funcionamentos.
Estes traços são as “marcas” e as “propriedades” dos discursos. Enquanto as marcas dizem
respeito à organização do discurso, as propriedades são considerações do discurso como um
todo.
Já, para entendermos o método empreendido por Fiorin, precisamos compreender
o que o autor entende por formação discursiva. Pêcheux é quem traz a noção de formação
discursiva, de Foucault, para a análise do discurso. Em uma tentativa de elucidar o conceito
de formação discursiva – comumente utilizado nas pesquisas de Análise de Discurso –,
podemos dizer que esta consiste em um conjunto de traços que, nos enunciados, fazem
referência às posições ocupadas pelos sujeitos. A formação discursiva é apreendida em nossa
vivência em sociedade, à medida que aprendemos a língua, e é esta formação discursiva que
arquiteta nossos discursos. Por fim, a formação discursiva, segundo Fiorin, “[...] é um
conjunto de temas e de figuras que materializa uma dada visão de mundo”
103
.
Com isto, torna-se essencial a compreensão do que Fiorin chama de tema e de
figura. “Tema é o elemento semântico que designa um elemento não-presente no mundo
99
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas, SP: Pontes,
2007. p.30.
100
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Apud: BRANDÃO, Helena H.
Nagamine. Introdução à análise do discurso. 6. ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1997. p.62.
101
ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso e leitura. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1993. p.23-27.
102
O autor utiliza este procedimento em duas de suas obras: FIORIN, José Luiz. O regime de 1964: discurso e
ideologia. 1. ed. São Paulo: Atual, 1988 e FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. 8. ed. São Paulo: Ática,
2005.
103
FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. 8. ed. São Paulo: Ática, 2005. p.32.
112
natural, mas que exerce o papel de categoria ordenadora dos fatos observáveis.”
104
E figura
“[...] é o elemento semântico que remete a um elemento do mundo natural [...].”
105
Por
exemplo: o tema “liberdade” (que aparece nos discursos por nós coletados) pode ser
figurativizado com uma expressão como “fazer o que quer na hora que bem entender”. Nosso
procedimento de análise então consistiu em desconstruir os discursos dos receptores de
Rebelde aos quais nos aproximamos com o intuito de identificar temas e figuras para, então,
registrarmos aqui os sentidos emergidos.
Quando questionamos os jovens a respeito do que os seus pais pensam da
telenovela Rebelde, percebemos, entre os jovens de nível socioeconômico mais baixo,
discursos que sofrem processo de mudança semântica pelo uso da conjunção “mas”, como nos
casos “eu assisto porque eles [os pais] deixam, mas eles não gostam” e “eles [os pais] não
gostam muito, mas eles deixam eu assistir”. O “mas” inverte a direção argumentativa e dá um
sentido de oposição e contraste. Em verdade, os jovens nem explicam o que os pais acham de
Rebelde, todavia, fazem questão de dizer que os pais permitem a assistência à telenovela
apesar de não gostarem do programa.
Ao analisarmos as respostas que os receptores de Rebelde deram à pergunta
“quais as personagens de que você gosta menos e por quê?” vimos o tema do “mau-caráter”
ser figurativizado por “tentam acabar com o namoro dos outros” (sobre as personagens Sol,
Jaque e Sabrina), “pessoa egoísta” (sobre a personagem Sol), “eles são falsos” (sobre os
personagens Pilar e Xavier), “é mentiroso” (sobre o personagem Giovanni) e “elas são
maldosas, intrometidas, interesseiras e mentirosas” (sobre as personagens Sol e Sabrina).
Por fim, mais uma questão: “o que tem a novela Rebelde que dá vontade aos
jovens de comprar os produtos para ficarem com a personagem sempre por perto?” Inserimos
esta pergunta no questionário para tentarmos identificar como os receptores de Rebelde-RBD
racionalizam e verbalizam este afeto que sentem por estes ídolos e pelos produtos midiáticos
que protagonizam. Escolhemos os enunciados respondidos a esta questão porque eles parecem
resumir bem o diálogo que os jovens mantêm com esta telenovela e o grupo musical a ela
vinculado. Encontramos, assim, o afeto tematizado em “âmbito do visual”, “âmbito do
conteúdo”, “âmbito material”, “âmbito musical” e “âmbito emocional”. E as figuras que
localizamos são as que seguem. O tema “do visual” é figurativizado pelos seguintes
elementos: a beleza e o jeito (modo de proceder) dos atores/músicos, o quarto das
personagens da telenovela, a roupa/uniforme e os acessórios deles. O tema “do conteúdo”
104
Ibid., p.24.
105
Ibid., p.24.
113
aparece figurativizado como “é uma novela que ensina muito”. Por sua vez, o tema “do
material”, que se refere aos bens materiais (produtos), é figurativizado em sentenças como
esta: “é legal ter os produtos para mostrar para os outros”. Já o tema “da emoção” nos parece
figurativizado nos enunciados que seguem: “é para ter a coleção de tudo deles para vê-los
todos os dias, toda hora e todo o momento”, “parece que eles são viciantes”, “porque eles
mechem com a nossa cabeça”, “nos atrai por ser parecido com a gente”.
Figura 25 – Fotografia do quarto dos personagens
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Procuramos fazer transparecer os sentidos, analisar sua emergência. Ou seja,
buscamos deixar sempre presente essa relação entre sujeito e sentido, porque, no fundo, “o
sujeito diz, pensa que sabe o que diz, mas não tem acesso ou controle sobre o modo pelo qual
os sentidos se constituem nele.”
106
Afinal, “[...] sentidos e sujeitos estão sempre em
movimento [...]”
107
.
3.4.3 Categorias de manifestações das identidades
Prosseguimos ainda com a análise dos discursos coletados. Desta vez focando
mais diretamente as questões concernentes às identidades e às práticas de consumo.
Compartilhando do pensamento de que “os processos através dos quais as produções culturais
interpelam o espectador e o modo como se dá a incorporação de seus elementos às práticas
106
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas, SP: Pontes,
2007. p.32.
107
Ibid., p.36.
114
cotidianas são profundamente subjetivos”
108
, buscamos captar como se dá a construção das
identidades de nossos jovens entrevistados no que concerne à recepção de Rebelde-RBD.
Identificamos os enunciados que nos remetem ao consumo de produtos materiais
de Rebelde-RBD. Isto com o objetivo de entendermos as influências deste consumo material
em suas práticas cotidianas, suas apropriações e reapropriações. Percebemos as valorações
empregadas a esses bens. Quais os valores simbólicos que a eles são atribuídos. Qual a
importância atribuída a esses bens materiais.
Enfim, fazemos apontamentos sobre o nexo entre Rebelde, práticas de consumo e
constituição de identidades dos jovens. E mais, também procuramos encontrar padrões nos
discursos, elementos recorrentes nos enunciados de sujeitos de níveis socioeconômicos afins,
ocupantes de uma mesma faixa etária, com condições de produção do discurso similares.
Lembrando novamente que procedemos nossas análises
109
por meio de aproximações e
distanciamentos entre os níveis socioeconômicos.
Entendemos que “[...] as identidades são construtos culturais e não entidades
substanciais, social ou biologicamente preestabelecidas e imutáveis.”
110
Sendo assim, por
meio da análise do discurso de nossos jovens entrevistados, buscamos elementos que
remetessem às cenas de que mais gostam, aos personagens com os quais se identificam, aos
motivos que os levam a assistir a Rebelde e aos produtos que consomem, para construirmos
um quadro com categorias no qual suas identidades tendem a encaixar-se. Com este quadro de
categorizações, construído após analisarmos os discursos dos jovens, tentamos revelar ao
menos alguns de seus traços identitários. Falamos em “tendência” de identidade porque temos
consciência da fluidez e efemeridade das identidades contemporâneas, muitas vezes
construídas e descontruídas ao “trocar-se de roupa”. Afinal, na sociedade contemporânea, as
modificações sucedem-se mais rapidamente, como lembra Hall
111
, falando da fragmentação
operada na chamada pós-modernidade.
Enfim, percebemos quatro possíveis meios de manifestação das identidades entre
os jovens entrevistados, quais sejam: (1) pelo perfil; (2) pela motivação; (3) pela emoção e (4)
pelo consumo.
108
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; BORELLI, Silvia Helena Simões; RESENDE, Vera da Rocha.
Vivendo com a telenovela: mediações, recepção, teleficcionalidade. São Paulo: Summus, 2002. p.181-182.
109
Utilizamos para estas análises discursos coletados em todas as fases empreendidas em campo: abordagens no
show de RBD, questionários quanti-qualitativos, grupo focal e entrevistas em profundidade.
110
FREIRE FILHO, João. Reinvenções da resistência juvenil: os estudos culturais e as micropolíticas do
cotidiano. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. p.121.
111
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
115
A) Categoria 1: perfil
Por meio do perfil, observamos que há os sujeitos que manifestam suas
identidades no plano da aparência (o visual) e há os que revelam essas identidades no plano
do comportamento (conduta).
Quanto ao perfil (categoria 1), os jovens de nível socioeconômico A tendem a
pertencer ao segundo grupo (comportamento), pois em seu discurso podemos perceber que
mencionam possuir marcas identitárias similares às das personagens sempre no âmbito do
comportamento. Algumas das características citadas por eles são: “esperta” e “com
personalidade” como Roberta; “jeitosa” como Lupita e “delicada” como Pilar.
O nível socioeconômico B, pelo perfil, abrange as duas tendências de planos de
manifestação das identidades. No primeiro plano, temos atributos como: “magrinha” como
Mía; “rosto” igual ao de Diego e “morena” como Lupita. Enquanto no outro plano vemos as
características que seguem: “jeito” de Mía e Lupita; “metida e fresca” como Mía; “teimosa” e
com “atitudes” como as de Roberta.
Da mesma forma, no nível socioeconômico C, verificamos a incidência dos dois
conjuntos de categorias de manifestação das identidades pelo perfil. Quanto à aparência, são
freqüentes menções como: “rosto” e “cabelo” de Diego; “bonita” como Lupita; “bonita”,
“loira” e da mesma “cor” de Mía e o “nariz” como o de Lupita. Quanto ao comportamento,
“exibida”, “sensível”, “delicada” e “fresca” como Mía; “irritada” como Roberta; “meiga”
como Lupita e “ajuda os amigos” como Miguel.
B) Categoria 2: motivação
Por meio de suas motivações (categoria 2) – ou seja, o porquê, o motivo que leva
os receptores pesquisados a assistirem a Rebelde –, notamos que suas identidades constroem-
se impulsionadas por dados de natureza “generalista”, “informacional”, “relativista” e
“musical”.
Os jovens de nível socioeconômico A apresentam-se com motivações de natureza
“generalista”, na medida em que se limitaram a dar explicações abstratas, utilizando palavras
vazias de sentido, como: assisto a Rebelde porque é “legal”, porque é “demais” e “porque é
divertida”. Notamos que permanecem no nível superficial do discurso, sem adentrar o nível
profundo, e acreditamos que isto ocorreu de maneira uniforme no nível socioeconômico A
dessa amostra pelo fato de todos serem alunos da 4ª série do Ensino Fundamental e, por não
possuírem maior domínio da língua, não conseguem expressar-se com maior articulação.
116
“Porque eu gosto” é extremamente presente no discurso dos pertencentes ao nível
socioeconômico B. Embora haja sujeitos deste nível socioeconômico que exprimem
motivações desta natureza “generalista”, há muitos outros receptores que oferecem pistas
mais detalhadas para pensarmos sobre os elementos que são empregados nesta telenovela para
conseguir conquistar a preferência de jovens de todo o planeta e, logo, alcançar pistas para os
interesses desses jovens. Interesses estes que compõem suas identidades. Estes jovens de nível
socioeconômico B revelam motivações de natureza que estamos chamando de
“informacional”, que seguem nesta linha: assisto a Rebelde porque “mostra que tudo se
resolve não gritando e sim conversando”; “passa muitas coisas que são reais na vida. São
coisas que acontecem”; “ensina a conhecer a si próprio” e “essa novela é rebelde, para jovens,
conta casos curiosos, fala sobre problemas amorosos, etc.”.
Em certo grau, nos enunciados dos jovens de nível socioeconômico B,
conseguimos notar uma percepção de verossimilhança das representações da telenovela com
as práticas cotidianas vivenciadas pelos receptores. Ou seja, estes sujeitos não enxergam a
telenovela como “representação” do real, e sim como o próprio real. Dialogamos então com
Vattimo, que problematiza questões deste âmbito e afirma que “as imagens do mundo que nos
são fornecidas pelos media [...] constituem a própria objetividade do mundo, e não apenas
interpretações diferentes de uma ‘realidade’ de algum modo ‘dada’”
112
.
Já entre os receptores do nível socioeconômico C encontramos jovens
representantes de três naturezas de motivação: “generalista”, “musical” e “relativista”. Da
mesma forma que os níveis socioeconômicos anteriores, a natureza “generalista” das
motivações de muitos jovens do nível socioeconômico C se expressa com sentenças como:
assisto a Rebelde “porque eu gosto”, “porque é legal” e “porque é interessante”. O que
percebemos, porém, é a grande ocorrência – nula nos demais níveis socioeconômicos – de
menções de motivações de natureza “musical”. Isto é, fazendo referência à face musical da
telenovela Rebelde com manifestações do tipo: assisto a Rebelde porque “é legal o grupo”;
“tem músicas”; “eles cantam, eles têm a voz muito bonita”. Os jovens de nível
socioeconômico C tendem também a expressar motivações de natureza “relativista”,
contrabalançando afirmações seguidas de negações. Dizem, por exemplo, que assistem a
Rebelde porque “é muito legal. Mas a gente pode assistir mas não pode fazer igual a eles” e
“ensina muitas coisas legais mas nem todas”.
112
VATTIMO, Gianni. A sociedade transparente. Lisboa: Relógio D’Água, 1992. p.31-32.
117
C) Categoria 3: emoção
No que diz respeito às emoções (categoria 3), mais especificamente sobre de que
tipo de cenas os receptores mais gostaram em Rebelde, reconhecemos gostos de três tipos:
“cenas amorosas”; “cenas de shows” e “cenas com personagens adultos”.
Para os jovens de nível socioeconômico A, segundo seus discursos, a maior
tendência de seus gostos recai em “cenas amorosas”: beijos e início de namoros. Enquanto as
inclinações dos sujeitos pertencentes ao nível socioeconômico B dividem-se entre as “cenas
amorosas” – cenas protagonizadas por pares românticos (vide apêndice H) – e as “cenas de
shows” – os espetáculos de RBD representados na telenovela (vide apêndice H).
Figura 26 – Cena com par romântico Figura 27 – Cena com par romântico
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Por fim, inseridos no nível socioeconômico C, há os sujeitos com gostos
propensos às “cenas amorosas” (os namorados), às “cenas de shows” e, o que chama a
atenção, diferentemente dos demais níveis socioeconômicos, emerge o tipo “cenas com
personagens adultos”. Por exemplo, é citada a cena em que Roberta declara em público seu
amor e admiração à mãe durante um show (vide apêndice H) e também os episódios em que
Alma Rey (mãe de Roberta) namora Franco Colucci (pai de Mía). As menções de cenas como
estas nos fazem pensar na aproximação entre os valores que Rebelde tenta passar (família,
conforme apresentamos no capítulo 2) e as mensagens recebidas e ressignificadas por seus
receptores.
118
Figura 28 – Cena de show de RBD veiculada na
telenovela
Figura 29 – Cena em que Roberta declara seu amor à
mãe
Fonte: DVD Rebelde, 2007
Fonte: DVD Rebelde, 2007
D) Categoria 4: consumo
O último meio de manifestação das identidades que arrolamos, como já
apontamos, é o consumo (categoria 4).
Impelidos a escolher, construir, sustentar, negociar e exibir quem devemos ser ou
parecer, lançamos mão de maneira estratégica, de uma variedade fenomenal de
recursos materiais e simbólicos – selecionados, interpretados e disponibilizados pela
publicidade, pelo marketing, pela indústria da beleza e da moda e pelos sistemas de
comunicação globalizados.
113
O consumo é, pois, um dos componentes das identidades. Bom, ao menos
algumas esferas das identidades são construídas pelo consumo. E, em nossa pesquisa,
distinguimos os diferentes sujeitos receptores de Rebelde-RBD pela intensidade de consumo e
categoria de produtos que consomem. De acordo com a intensidade, observamos então três
grupos de consumidores que correspondem a, digamos, “condutas” de consumo e não deixam
de ser, obviamente, manifestações de seu nível socioeconômico e de suas identidades. Estes
três grupos são: o “consumidor dispendioso”, o “consumidor mediano” e o “consumidor
intenso”. E, analisando as categorias de produtos consumidos, também conseguimos pincelar
traços de suas identidades sendo expressas nessas práticas de consumo. Dessa maneira,
agrupamos os bens materiais consumidos pelos jovens abordados em cinco grandes
categorias: “utilidade” (papelaria, livro, malas, etc.), “entretenimento” (bonecas, celular, CD,
DVD, etc.), “colecionáveis” (revistas, álbuns, cards, fotos, etc.), “vestimenta” (uniforme,
camiseta, sapato, tênis, etc.), “acessórios” (brinco, anel, colar, etc.) e “cosméticos” (xampu,
gel, perfume, condicionador, etc.).
113
FREIRE FILHO, João. Reinvenções da resistência juvenil: os estudos culturais e as micropolíticas do
cotidiano. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. p.126.
119
Notamos que o consumo perpassa todos os níveis socioeconômicos. No entanto,
foi nítido perceber em nosso estudo (ver figura abaixo) como a quantidade de produtos cresce
à medida que descemos na escala de níveis socioeconômicos. No nível socioeconômico A,
obtivemos uma média de 1,3 produtos comprados por consumidor; no nível socioeconômico
B, 2,2 produtos por consumidor e, no nível socioeconômico C, 2,5 produtos por consumidor.
Ou seja, o oposto da condição econômica. Dialogamos, então, com Hamburger, que afirma
que o nível socioeconômico C seria o segmento mais essencial para as emissoras de TV no
Brasil porque, “[...] embora possua menos recursos para gastar, seus membros representariam
uma porção maior da população brasileira, além de supostamente consumirem mais que
membros das classes B”
114
.
ut
ent
co ve ac
cos
ut
ent
co
ve ac
cos
ut
ent
co
ve
ac
cos
0
5
10
15
20
25
30
NSE A NSE B NSE C
Categorias de produtos por nível socioeconômico
ut
ent
co
ve
ac
cos
* ut = utilidade / ent = entretenimento / co = colecionáveis / vê = vestimenta / ac = acessórios / cos = cosmético
Figura 30 – Gráfico com categorias de produtos por nível socioeconômico
Fonte: Pesquisa realizada com receptores de Rebelde, na cidade de São Paulo
No consumo, as marcas identitárias dos entrevistados do nível socioeconômico A
tendem a se manifestar, de acordo com a intensidade de compra, como “consumidor
dispendioso” e, segundo as categorias dos produtos que consomem, inclinam-se para os
produtos de “utilidade” e de “entretenimento” (celulares, CDs e DVDs). Quando falamos em
“consumidor dispendioso” queremos dizer no sentido de que é o nível socioeconômico que,
em nossa pesquisa, compra menos em quantidade, mas despende mais recursos para o
consumo de bens materiais mais caros, como celulares. Aliás, celulares e livros, mencionados
pelos sujeitos do nível socioeconômico A, são produtos que estão completamente ausentes
nos demais níveis socioeconômicos. No caso de um produto como o livro, por exemplo,
114
HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: a sociedade da novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p.54.
120
cremos que não conste na lista de consumo dos níveis socioeconômicos mais baixos
justamente porque sua aquisição não é prioridade. Quanto ao celular, sua falta nos demais
níveis deve ter ocorrido porque na época da aplicação do questionário o celular Rebelde ainda
estava em lançamento e, como deveria estar com um valor mais elevado, a renda inferior dos
sujeitos de níveis socioeconômicos B e C impossibilitava o acesso a esse produto.
Para o nível socioeconômico B, verificamos que suas identidades são expressas no
sentido de um “consumidor mediano”: que consome, mas não consome em excesso. Tende a
consumir em maior quantidade produtos que estamos chamando de “colecionáveis”, em que
classificamos álbuns, cards, revistas e pôsteres e, como segunda categoria de produtos mais
consumidos, aparece o “entretenimento”, na figura de CDs e DVDs de Rebelde e RBD.
Já o nível socioeconômico C inclina-se para um consumidor do tipo “intenso”.
Isto porque se apresenta como o mais engajado, o mais apaixonado dentre os demais. Como já
dissemos, possui a maior cota de produtos por pessoa. Tende a ser um consumidor disparado
de “colecionáveis” de todos os tipos: fotos, cards, álbuns, pôsteres e revistas. Pensamos que
esta prática de consumo dos integrantes do nível socioeconômico C é decorrência do fato de
estes produtos serem de valor monetário mais baixo e, portanto, mais acessíveis a estes
sujeitos que possuem um poder aquisitivo menor. Além de consumirem em grau elevado
esses produtos “colecionáveis”, os sujeitos do nível socioeconômico C também consomem de
maneira mais ou menos equilibrada mais quatro categorias de produtos: “utilidade”
(papelaria), “entretenimento” (bonecas, CD e DVD), “vestimenta” (uniforme, camiseta e
tênis) e “acessórios” (brinco, colar, etc.).
Com base no que apresentamos, tentamos sintetizar no quadro abaixo o panorama
das vias pelas quais podemos perceber os planos em que Rebelde atua fornecendo material
para a constituição das identidades dos jovens por nós pesquisados.
121
NSE A NSE B NSE C
Perfil
No plano do
comportamento
Nos planos do
comportamento e da
aparência
Nos planos do comportamento
e da aparência
Motivação
De natureza generalista De natureza generalista
e informacional
De natureza generalista,
musical e relativista
Emoção
Aprecia cenas
amorosas
Aprecia cenas amorosas
e cenas de shows
Aprecia cenas amorosas, cenas
de shows e cenas com
personagens adultos
Consumo
Consumidor
dispendioso.
Tende a consumir
produtos de utilidade e
entretenimento
Consumidor mediano.
Tende a consumir mais
produtos colecionáveis e,
em menor grau, produtos
de entretenimento
Consumidor intenso.
Tende a consumir em maior
grau produtos colecionáveis.
Mas também consome produtos
de utilidade, de entretenimento,
vestimenta e acessórios
Figura 31 – Quadro ilustrativo dos meios de manifestação das identidades
Fonte: Pesquisa realizada com receptores de Rebelde, na cidade de São Paulo
Finalmente, podemos inferir que essa presença explícita do consumo em todos os
níveis socioeconômicos pode ser explicada de maneira diferente para o nível mais acima na
escala socioeconômica e para os níveis mais abaixo na escala. Pensamos da seguinte maneira:
os integrantes de nível socioeconômico mais elevado procuram no consumo um meio para a
diferenciação e, dessa forma, mesmo recorrendo a produtos massificados, tendem a ser mais
seletivos. Já os representantes de níveis socioeconômicos mais abaixo na escala (em nosso
caso, NSE C) aderem ao consumo de forma aspiracional, buscando uma equivalência (ao
menos na aparência) com os sujeitos acima na escala socioeconômica. Dessa forma, sem um
critério de seleção rigoroso e sem perceberem que tal equivalência não ocorrerá, acabam
consumindo mais em termos de quantidade. Se buscarmos referências em Kellner, acabam
todos recaindo na “[...] criação de um novo ‘eu-mercadoria’ por meio do consumo e dos
produtos da indústria da moda”
115
.
3.4.4 Singularidades nos modos de uso
Queremos ainda tecer mais algumas reflexões sobre a questão de aquisição e uso
das mercadorias, sobre as práticas de consumo enfim.
Por exemplo, não apenas um, mas dois entrevistados dizem ter banda cover de
RBD: uma menina, em sua banda, faz cover da integrante Dulce Maria e um menino, em outra
banda, faz cover do integrante Christian Chávez. A menina inclusive apresentava-se com o
cabelo vermelho, para assemelhar-se ao de Dulce Maria. Estes dois jovens efetivamente
115
KELLNER, Douglas. A Cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-
moderno. Bauru, SP: Edusc, 2001. p.335.
122
corporificam o seu sentimento afetivo pelos ídolos. Constroem suas identidades a partir dos
ídolos.
Interessante também quando o assunto são produtos mais caros – ou até mais
difíceis de conseguir, como no caso dos importados. Estes produtos aparecem nos discursos
de todos os níveis socioeconômicos que pesquisamos (A, B e C). Trazemos alguns fragmentos
deste tipo de discurso, que aparece quando os jovens são questionados a respeito de produtos
de Rebelde-RBD que gostariam de ter: (1) “[...] CDs em diamante que só saiu no México, não
saiu no Brasil ainda” (NSE A); (2) “o celular, talvez” (NSE B); (3) “tipo, eu tenho bastante.
Só que eu gostaria de ter o perfume. Só que o oficial, do México mesmo” (NSE B); (4)
“gostaria de ter... Que eu gostaria de ter, celular... As bonecas, que eu não tenho. Não tenho as
bonecas ainda (NSE C)” e (5) “ai, eu queria comprar o uniforme e o ingresso de mil reais
(NSE C)”. O interessante nisto é ver as distinções entre os desejos dos níveis
socioeconômicos mais altos e o nível socioeconômico mais baixo. Nesse âmbito de produtos
de luxo, os jovens de nível socioeconômico A e B mantêm-se no “topo da pirâmide”,
mencionando produtos importados. Já os jovens de nível socioeconômico C ficam mais
centrados no que podemos chamar de “luxo popular” ou “luxo acessível”. De qualquer
maneira, os sentidos dos bens são compartilhados pelos sujeitos sociais e é por esta razão que
“[...] quem não pode possuí-los [produtos importados e caros] conhece o seu significado
sociocultural”
116
.
Figura 33 – CD Nuestro Amor – Diamante
Fonte: EMI Music (http://www.emi.com.br), 2007
Figura 32 – Celular Rebelde
Fonte: Siemens (http://www.siemens.com.br), 2007
Verificamos uma peculiaridade na noção de produto que estes jovens receptores
conservam. Notamos como, nas falas destes sujeitos, os CDs e DVDs são vistos pelos
116
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 6. ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2006. p.63.
123
entrevistados como “não produtos”. Vejamos alguns discursos representativos dessa situação:
(1) “a gente não compra muita coisa deles, assim. Só CD, DVD, essas coisas. Mas produtos
assim, sobre a marca, a gente não compra muito”; (2) “[produtos] que eu não tenho? Num sei,
assim, eu tenho mais os CDs. Aí esses produtos paralelos, assim... Não tem nenhum que eu
gostaria de ter”; (3) “dos paralelos, deixa eu vê, eu tenho caneta, caderno, essas coisas. E daí
CDs, DVDs”; (4) “não. Tipo, importante é você ter o CD, ouvir o CD e tal. Acho que não é
muito importante, assim, [ter os produtos]”. Ou seja, o que queremos dizer é que muitos
jovens fazem uma distinção entre “produtos” e “CDs/DVDs”, como se CDs e DVDs não
fossem produtos. Parece-nos que produtos, para eles, são os rapidamente descartáveis, as
mercadorias que são mais baratas, como materiais escolares, revistas, álbuns, cards ou mesmo
os produtos do mercado paralelo (“pirata”), tais como: pulseiras, anéis e brincos. Talvez eles
não enxerguem CDs e DVDs como produtos justamente por serem mercadorias mais
permanentes do que, por exemplo, um brinco.
Também vale a pena destacar resultados sobre a valorização, a importância que
estes jovens imputam ao fato de possuir produtos de Rebelde-RBD. A grande maioria dos
entrevistados respondeu que é muito importante ter esses produtos da banda e da telenovela:
alguns ficaram no discurso superficial, dizendo apenas que é importante porque gostam dos
seus ídolos. Mas outros deram algumas pistas para pensarmos além. As maiores ocorrências
são de jovens que disseram que acham importante ter os produtos de Rebelde-RBD para
guardar como recordação. Num primeiro momento é até espantosa a consciência que muitos
deles mostraram possuir de que a banda acabará um dia, demonstrando como a lógica
mercadológica do showbizz é perfeitamente conhecida por eles. Alguns discursos mais
representativos desta categoria: (1) “acho que sim [é importante ter os produtos]. Porque é
uma recordação. Porque eu sei que um dia vai acabar. A novela já acabou. Um dia a banda vai
acabar. Aí vai ser a recordação de tudo isso. De uma fase boa”; (2) “sim [é importante ter os
produtos], se eu gosto deles. Assim, tipo, acho que é uma forma de demonstrar meu carinho
por eles também. Tendo sempre guardado. Porque, tipo, ter sempre guardado uma lembrança
deles vai ser sempre bom. Porque não sei se vai durar pra sempre. Então, vai ter sempre
guardado alguma coisa”; (3) “ah, [é importante ter os produtos] pra quando você crescer, você
se lembrar que você gostou daquele grupo e tal. Quando sentir saudade lá, ficar abraçando lá.
Aí eu gosto”; (4) “pra mim é importante [ter os produtos] porque eu posso, todo dia que me dá
vontade, ir lá, poder ler, poder ver de novo. Tudo o que eu passei. Os momentos que tava...
Pra mim, foi feliz, entendeu. Sempre recordar”. Enfim, os jovens têm vontade de comprar os
produtos vinculados a Rebelde e RBD como uma forma de materialização da lembrança: uma
124
vez que eles possuem consciência de que a banda não é eterna – a telenovela já chegou ao
fim, por exemplo –, eles querem comprar os produtos para guardarem como recordação de um
momento bom de suas vidas.
A partir destas singularidades que traçamos, pensamos que é possível visualizar e
ter uma idéia de como operam as práticas de consumo simbólico e material de Rebelde-RBD
na formatação das identidades, nas “representações de si” desses jovens sujeitos receptores.
Interessante seria aproximamo-nos deles novamente daqui a alguns anos para tentar captar o
que ficou de permanente deste gosto compartilhado e o que se perdeu no tempo, esquecido no
trajeto cotidiano de suas práticas.
125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aproximando-nos do fim, dedicamos este espaço às nossas “temporariamente
últimas” reflexões a respeito do objeto de estudo que optamos por investigar. Últimas porque
em algum momento precisávamos finalizar a escritura, a imersão em campo e as análises.
Contudo, também temporárias. Porque nada nos impede de darmos continuidade às nossas
explorações deste universo Rebelde em outro momento. Pelo contrário, a incompletude de
nosso texto clama por complementação. Se não da autora que escreve, de pesquisadores
outros que enxerguem brechas em que possam atuar e prolongamentos que consigam
empreender. Por sinal, um “temporário” típico dos muitos fenômenos e relações na
contemporaneidade.
Olhamos para trás e constatamos como nosso objeto de estudo cresceu e se
complexou – como é tendência em um estudo de comunicação. Desde o instante em que
começamos a pensar sobre ele, recebeu recortes, desdobramentos e novos olhares.
Primeiramente, no capítulo inicial, demos-lhe embasamento teórico, pois, tratando-se de um
estudo de recepção e de consumo, os estudos sobre cultura mostraram-se fundamentais. Para
dar conta da práxis, já nesta primeira parte trouxemos resultados da articulação teoria-campo.
Constatamos que a técnica e a identidade são as principais fontes de mediação no processo de
recepção de Rebelde. Ou melhor, são os elementos estruturantes que se mostraram mais
significativos na interação dos sujeitos com a telenovela. Dessa forma, ratificamos a
expressividade em explorarmos as construções identitárias dos jovens, assim como pudemos
comprovar o que grande número de pesquisadores tanto mencionam: a cena tecnológica e
midiática como cenário importante no palco das práticas culturais cotidianas.
Ainda neste capítulo, procedendo com a Análise de Discurso, apresentamos
situações em que os jovens que abordamos deixam transparecer saberes sedimentados –
paráfrase – e outras que revelam sua atividade no processo de recepção, na construção de
múltiplas significações para o conteúdo recebido dos meios – polissemia. Concluímos, pois,
que, como resultado da polissemia, a telenovela Rebelde opera alterações na conceituação e
nos sentidos de “ser rebelde”. Enquanto “ser rebelde” fazia alusão a uma tentativa de ação de
mudança da macroestrutura na busca de uma modificação profunda dos valores da sociedade
– indo contra as autoridades constituídas –, passa a ser, com as situações representadas em
Rebelde, uma revolta que se esgota na microestrutura – no âmbito da escola e da família –,
sem preocupações de nível macro.
126
No capítulo seguinte, encontramos uma pista para explicar o sucesso de Rebelde
junto a seu público de interesse. Comparando os sentidos transmitidos pela telenovela com os
sentidos construídos por seus espectadores, percebemos o quão próximos estão as temáticas
trabalhadas por Rebelde dos interesses dos jovens. O “ser rebelde” explorado pela telenovela
é perfeitamente compreendido por seus receptores. Permanecem no mesmo conjunto de
sentidos. Fica evidente que seus produtores procuraram trabalhar em cima de valores
especificamente da juventude como garantia de audiência e destaque no lotado ecrã televisivo.
Por isso, para alcançarmos a recepção, é que antes fizemos incursões na produção.
Um pouco, é verdade, ingressamos no universo das estratégias de “fabricação” que
visualizamos como adotadas por Rebelde-RBD. Mas nosso interesse maior naquele momento
não era exatamente esse “por trás das câmeras”, mas o “na câmera” mesmo: para, antes de
aproximarmo-nos dos receptores, termos contato com o bem cultural que eles tanto estimam.
Com isto, pudemos construir os perfis identitários dos protagonistas de Rebelde, como uma
tentativa de estabelecer relações com as identidades dos receptores que seriam trabalhadas no
capítulo subseqüente. Além disso, analisando a trama de Rebelde em sua totalidade,
percebemos que trabalha com um tríplice arranjo temático (família – amor – amizade). E
mais: este mesmo arranjo, explícita ou implicitamente, aparece nos discursos dos jovens por
nós abordados. Novamente a proximidade da recepção marcando presença.
Para o final, reservamos espaço especial aos testemunhos das atividades dos
receptores/consumidores, à produção “secundária” dos consumidores. Secundária no sentido
de ser uma produção do receptor que vem logo após a produção primária que é a do emissor.
Procurando padrões entre os diversos discursos dos jovens, avistamos quatro meios de
manifestações de suas identidades: pelas menções com relação ao perfil dos personagens dos
quais mais gostam, pelos gostos no que concerne a cenas, pelos elementos motivadores da
assistência e, principalmente, pelas práticas de consumo. Este último meio de expressão
identitária – o consumo – revelou jovens que vêem nos bens valores como a materialização
das lembranças e a comunicação de significados. Ainda, fez-nos enxergar como estes mesmos
jovens comungam das lógicas do mercado quando, regidos pela efemeridade e pela
obsolescência, denotam seu conceito de produto como sendo o que é descartável. As práticas
de consumo, enfim, além de reveladores identitários são reveladores do respectivo nível
socioeconômico do qual cada jovem procede.
De qualquer maneira, é possível inferir que as identidades desses jovens são
construídas por meio de simples apropriações passageiras e não incorporações profundas. Não
há nenhum demérito nisto. Apenas queremos apontar como estão em conformidade com o que
127
acontece comumente entre os diversos atores sociais – quiçá, principalmente, entre os mais
jovens em termos de faixa etária. Aliás, os muitos estereótipos que conseguimos apreender de
seus discursos apontam também para este “estar em conformidade”. Seja o estereótipo da
“patricinha”, do “rebelde sem causa”, do “fã-fanático”, do “vilão” ou da “telenovela
mexicana”, esses jovens traduzem como se apropriam de representações cristalizadas no
coletivo. No fundo, as imprudências e resignações de nossos jovens rebeldes (ou Rebeldes)
restringem-se à construção de um estilo “diferente”. Porém, um diferente que não diverge da
coletividade. Uma representação de si que permita um ingresso de pertencimento.
Agora registramos duas sugestões de investigações afins que possam vir a
complementar o trajeto que empreendemos. A primeira proposta, que muito nos estimula a
seguir em frente, é uma pesquisa que concretamente se dedique a estudar – talvez por meio de
procedimentos metodológicos de natureza etnográfica – os usos que os
receptores/consumidores efetivamente fazem dos bens simbólicos e materiais com os quais se
relacionam. A segunda proposta é igualmente desafiadora: optando-se por uma pesquisa que
se proponha a estudar identidades jovens, sugerimos que o foco se atenha a dois ou três
demarcadores identitários específicos para que se consiga captar com nitidez as contribuições
midiáticas às construções de identidades.
Nossa trajetória foi, concomitantemente, longa e curta: extensa em termos de
leituras a cumprir, tarefas a realizar, textos a formular, etc. e tudo em um breve e limitado
espaço de tempo. Confrontando o que desenvolvemos ao longo de dois anos com os objetivos
a que nos propusemos, acreditamos ter conseguido lançar luz sobre aspectos do consumo que,
se não originais, ao menos com porções de autoria. E, já que os estereótipos são uma
constante no produto midiático que estudamos, não há encerramento melhor que um “e
viveram felizes para sempre – Fim (?)”.
128
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136
APÊNDICES
Apêndice A – Questionário 1.................................................................................................137
Apêndice B – Questionário 2.................................................................................................140
Apêndice C – Questionário 3.................................................................................................150
Apêndice D – Questionário 4.................................................................................................151
Apêndice E – Transcrição 1...................................................................................................153
Apêndice F – Transcrição 2...................................................................................................248
Apêndice G – Transcrição 3 ..................................................................................................254
Apêndice H – DVD 1 ............................................................................................................262
137
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO 1
Questionário 1. Questionário utilizado nas entrevistas realizadas na entrada do local do show de RBD em
26 de abril de 2007
Questionário
1. Você assistia sempre a Rebelde?
2. Seus amigos também assistiam?
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
4. Do que você
mais gostava em Rebelde?
5. Do que você
menos gostava em Rebelde?
6. Do que você gosta na banda RBD?
7. O que seus pais acham de Rebelde?
8. E da banda RBD?
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
10. E da banda RBD?
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
12. Por quê?
13. De que personagens de Rebelde você gosta
mais?
14. Por quê?
15. De que integrantes de RBD você gosta
mais?
16. Por quê?
138
17. De que personagens de Rebelde você gosta
menos?
18. Por quê?
19. De que integrantes de RBD você gosta
menos?
20. Por quê?
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos você gostaria de
ter?
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
25. Para você, é importante ter esses produtos?
26. Por quê?
139
Nome: ____________________________________________________________________________
Idade: ____________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Escola em que estuda: ________________________________________________________________
Bairro em que mora: _________________________________________________________________
Série: _____________________________ Período: _______________________________________
CRITÉRIO BRASIL
Posse de itens:
Quantidade de itens
0 1 2 3 4 ou +
TV colorida 0 2 3 4 5
Rádio 0 1 2 3 4
Banheiro 0 2 3 4 4
Automóvel 0 2 4 5 5
Empregada mensalista 0 2 4 4 4
Aspirador de pó 0 1 1 1 1
Máquina de lavar 0 1 1 1 1
Videocassete / DVD 0 2 2 2 2
Geladeira 0 2 2 2 2
Freezer (independente ou de geladeira duplex) 0 1 1 1 1
Grau de instrução do chefe de família:
Analfabeto / Primário incompleto 0
Primário completo / Ginasial incompleto 1
Ginasial completo / Colegial incompleto 2
Colegial completo / Superior incompleto 3
Superior completo 5
SOMA: _______
Classe Pontos
A1 30 - 34
A2 25 - 29
B1 21 - 24
B2 17 - 20
C 11 - 16
D 6 - 10
E 0 - 5
140
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO 2
Questionário 2. Questionário aplicado na pesquisa realizada em Escolas de Ensino Fundamental
Questionário
Nome: ___________________________________________________________________________
Idade: ___________ Sexo: ____________________________
Escola em que estuda: ______________________________________________________________
Bairro em que mora: ________________________________________________________________
Série: _________________________________ Período: __________________________________
TELEVISÃO
1. De que modo você escolhe o programa a que vai assistir na televisão?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
2. Qual é o
principal lugar da casa em que você assiste à TV? (por exemplo: o quarto, ou sala, ou
cozinha, etc.).
____________________________________________________________________________
3. Quem ajuda você a escolher o programa a que vai assistir?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
4. Em que horários do dia você mais assiste à TV?
( ) Manhã
( ) Tarde
( ) Noite
( ) Madrugada
5. Você fala com alguém sobre o que você assiste na TV? Com quem? Sobre o que você costuma
falar?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
141
6. Enquanto assiste à TV, você faz ao mesmo tempo outras coisas? Que coisas?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
7.
Geralmente, como você assiste à TV? (assinale a situação mais freqüente).
( ) Sozinho
( ) Com familiares
( ) Com amigos
( ) Outros: ___________________
8. A sua escola permite que os alunos conversem sobre os assuntos transmitidos na televisão?
( ) Sim ( ) Não
9. Se sim, conte-nos em que momento. (pode assinalar mais de uma alternativa).
( ) Na aula, com a professora
Qual professora: ______________________________________
( ) No pátio, com os (as) amigos (as)
( ) Indo ou voltando da escola
( ) Outros: ______________________________________________
10. Cite os três programas de televisão de que você gosta mais. (especifique o canal de cada
programa).
1___________________________________________________________________________
2___________________________________________________________________________
3___________________________________________________________________________
RÁDIO / MÚSICA
11. Onde você costuma ouvir rádio?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
12. Cite suas três rádios preferidas:
1________________________________________
2________________________________________
3________________________________________
13. Você costuma comprar CD de bandas/cantores?
( ) Sim ( ) Não
14. Você costuma comprar DVD de bandas/cantores?
( ) Sim ( ) Não
142
15. Qual o último CD que você comprou? ________________________________________________
16. Qual o último DVD que você comprou? ______________________________________________
17. Qual o CD de que você gosta mais? __________________________________________________
18. Qual o DVD de que você gosta mais? ________________________________________________
19. Quais as três bandas ou cantores de que você mais gosta? Por quê?
1________________________________________
Por quê? ____________________________________________________________________
2________________________________________
Por quê? ____________________________________________________________________
3________________________________________
Por quê? ____________________________________________________________________
INTERNET
20. Tem acesso à Internet?
( ) Sim ( ) Não
21. Quais os três lugares onde você mais acessa a Internet?
1________________________________________
2________________________________________
3________________________________________
22. Cite os três sites de sua preferência:
1________________________________________
2________________________________________
3________________________________________
23. Você tem e-mail?
( ) Sim ( ) Não
143
REVISTAS
24. Você lê revistas?
( ) Sim ( ) Não
25. Quais as três revistas que você mais gosta?
1________________________________________
2________________________________________
3________________________________________
LIVROS
26. Qual o livro que você está lendo?
______________________________________________________________________
27. Qual foi o último livro que você leu?
______________________________________________________________________
28. Quantos livros você lê por ano? ____________________
PRODUTOS
29. Você tem diskman, walkman ou mp3 player (por exemplo, Ipod)?
( ) Sim ( ) Não
Especifique o que você tem: _____________________________________________________
30. Você usa celular?
( ) Sim ( ) Não
31. Seu celular é:
( ) Pré-pago ( ) Pós-pago
32. De que modo você usa o celular? (pode assinalar mais de uma alternativa).
( ) Para falar
( ) Para jogar
( ) Para fotografar
( ) Para navegar na Internet
( ) Para enviar torpedos / mensagens sms
( ) Para ouvir música
( ) Para armazenamento de dados / arquivos
( ) Outros: _______________________________________________
144
33. Marque com um X os itens extremamente necessários para a vida das pessoas, sem os quais não se
pode viver bem:
Itens
Extremamente
Necessários
Academia
Carro zero
Cinema
Aluguel de filmes
Compras de roupas e acessórios
Cursos de idiomas
Doação para entidades
Televisão
Jogo na loteria
Jogos (de futebol e outros)
Lanchonete (Mc Donalds e outros)
Livros
Revistas
Salão de beleza
Shows
Peças de teatro
Viagens
Computador
Celular
Internet
CD
DVD
34. Marque com um X os itens que, embora necessários e/ou agradáveis, podem ficar para depois:
Itens
Podem ficar
para depois
Academia
Carro zero
Cinema
Aluguel de filmes
Compras de roupas e acessórios
Cursos de idiomas
Doação para entidades
Televisão
Jogo na loteria
Jogos (de futebol e outros)
Lanchonete (Mc Donalds e outros)
Livros
Revistas
Salão de beleza
Shows
Peças de teatro
Viagens
Computador
Celular
Internet
CD
DVD
145
35. Como você fica sabendo sobre os produtos que quer comprar? (pode assinalar mais de uma
alternativa).
( ) TV
( ) Rádio
( ) Jornal impresso
( ) Revistas
( ) Internet
( ) Folhetos
( ) Outdoor (cartaz de rua)
( ) Conversando com outras pessoas
( ) Outros: ___________________________________________________________
36. Quando você compra algum produto, você leva em conta: (pode assinalar mais de uma
alternativa).
( ) Moda
( ) Marca
( ) Preço
( ) Novidade do produto
( ) Indicação de amigos (as)
( ) Promoção (por exemplo: brindes, descontos, sorteios, prêmios etc.).
( ) Propaganda
( ) Outro: ___________________________________________________________
37. Na sua opinião, as propagandas que
mais influenciam o consumidor são aquelas que aparecem:
(assinalar apenas uma alternativa).
( ) Na TV
( ) Em outdoor (cartaz de rua)
( ) Nas revistas
( ) Nos jornais
( ) Em folhetos de rua
( ) Na rádio
( ) Na Internet
( ) Outro: ___________________________________________________________
38. Qual foi o último produto que você comprou?
___________________________________________________________________
39. O que influenciou a sua decisão de comprar este produto?
___________________________________________________________________
40. Qual o produto que você está querendo comprar?
___________________________________________________________________
41. Você costuma ir ao shopping?
( ) Sim ( ) Não
42. A qual shopping você costuma ir?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
146
43. O que você faz no shopping?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
NOVELAS
44. Você está assistindo a alguma novela?
( ) Sim ( ) Não
45. Qual(is) novela(s) a que você está assistindo? (especifique o canal).
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
46. Qual ou quais das novelas que estão passando você acha que são para os jovens?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
47. Se você está assistindo a alguma dessas novelas, diga qual (quais) você está assistindo:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
48. Você acha que as novelas influenciam o comportamento dos jovens? Em caso afirmativo, você
acha que ela influencia de maneira positiva ou negativa? Conte um caso seu ou de algum
conhecido?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
REBELDE
49. Você conhece a novela Rebelde?
( ) Sim ( ) Não
50. Você assiste sempre?
( ) Sim ( ) Não
51. Seus amigos também assistem?
( ) Sim ( ) Não
147
Responda uma das duas perguntas abaixo: (ou a n° 52 ou a n° 53).
52. Por que você
assiste à novela Rebelde?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
53. Por que você
não assiste à novela Rebelde?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
54. Em que lugar da casa você assiste à Rebelde?
____________________________________________________________________________
55. Quem assiste à Rebelde junto com você?
____________________________________________________________________________
56. Com quem você comenta as coisas que passam em Rebelde?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
57. O que seus pais acham de Rebelde?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
58. E o que os seus professores acham de Rebelde?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
148
59. Qual das personagens de Rebelde se parece mais com você? Por quê?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
60. Quais as personagens de que você gosta
mais? Por quê?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
61. E quais as personagens de que você gosta
menos? Por quê?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
62. Conte um pedacinho de Rebelde de que você tenha gostado muito.
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
63. Para você, o que significa ser rebelde?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
64. A novela Rebelde está fazendo muito sucesso. Vários produtos foram lançados com a marca da
novela. Quando você gosta da novela, você sente vontade de ter esses produtos? Conte alguma
experiência sua ou de algum conhecido.
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
149
65. Quais os produtos da novela Rebelde que você conseguiu comprar?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
66. O que tem a novela Rebelde que dá vontade aos jovens de comprar os produtos para ficarem com
a personagem sempre por perto?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
CRITÉRIO BRASIL
Posse de itens:
Quantidade de itens
Não tem 1 2 3 4 ou +
TV colorida
Rádio
Banheiro
Automóvel
Empregada mensalista
Aspirador de pó
Máquina de lavar
Videocassete / DVD
Geladeira
Freezer (aparelho independente ou parte da
geladeira duplex)
Grau de instrução do chefe de família:
Analfabeto / Primário incompleto
Primário completo / Ginásio incompleto
Ginásio completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo
AGRADECEMOS MUITO A SUA COLABORAÇÃO!
150
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO 3
Questionário 3. Questionário/roteiro utilizado no grupo focal realizado na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Joaninha Grassi Fagundes em 30 de novembro de 2007
Questionário
1. Quem assistia Rebelde?
2. Como é a história que envolve essa cena?
3. Qual a opinião de vocês sobre o que vocês assistiram? O que vocês acham sobre essa cena?
4. De todas as cenas que passei, qual vocês mais gostaram? Por quê?
151
APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO 4
Questionário 4. Questionário semi-estruturado utilizado nas entrevistas em profundidade
Questionário
1. Com qual personagem de Rebelde você mais se identifica? Por quê?
2. Você acha ela parecida com você?
3 Qual a personagem que você gosta mais?
4. Tem alguma situação que a personagem passou que lembra algo que você já passou na sua vida?
5. Que cena de Rebelde que você lembra que tenha gostado bastante? Por quê?
6. Você comprou produtos de Rebelde e RBD? Quais?
7. Conte um pouco o uso que você faz desses produtos.
8. Pra você, é importante ter esses produtos?
9. Para você, o que significa ser rebelde?
10.. Você se considera rebelde? Por quê?
11. Qual você acha que é a mensagem que a novela tenta passar?
12. O que você gosta de fazer nas horas vagas?
13. Quantas horas por dia você assiste à televisão?
14. Quantas vezes você vai ao cinema por mês?
15. Você possui TV a cabo?
16. Você tem o hábito de ler livros?
152
17. Você compra CDs originais ou piratas?
18. Você tem o hábito de ler revistas?
153
APÊNDICE E – TRANSCRIÇÃO 1
Transcrição 1. Transcrição das abordagens realizadas na entrada do local do show de RBD em 26 de abril
de 2007
Transcrição
ABORDAGEM 01:
ELCIO FERREIRA DA SILVA
Idade: 19 anos
Sexo: Masculino
Escola: não estuda
Bairro: Mauá
Série: não estuda
Período: não estuda
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sim, desde o começo.
2. Seus amigos também assistiam?
Também.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
O grupo. Via o grupo. RBD.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ah, da Anahí. Da Anahí, a loirinha do grupo.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
É, duns maluquinhos lá nada a ver. Integrantes fora da novela. Um tal de Rocco aí. Esse daí...
Esse Diego Gonzáles que vai cantar aí agora também. Esses aí num... só pelo grupo mesmo.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Das músicas. Da Anahí também, né. A Anahí em primeiro lugar.
154
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Normal. Acham normal. O pai e a mãe acham normal. Levaram na esportiva.
8. E da banda RBD?
Também, acham normal também.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
[Não respondeu]
10. E da banda RBD?
[Não respondeu]
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Christopher. Christopher ou Diego, dá no mesmo.
12. Por quê?
Assim, acho mais... O maluco é mais de boa, assim. O jeitão dele assim. Assim, é mais de
boa, assim. É mais extrovertidão, mais da hora, mais... Sei lá. Um negócio assim.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
[Não respondeu]
14. Por quê?
[Não respondeu]
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Anahí.
16. Por quê?
Porque ela é bonita, canta melhor. Porque é perfeita. Pra mim é.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Menos? Rocco. E Sol também. E Sol também.
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18. Por quê?
Não tem nada a ver com a novela, não. Nada a ver. Não tem nada a ver. A Sol também. Sol ia
queima logo a mais bonita do grupo, que é isso! Contra a mais bonita do grupo, não dá certo
não.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Dulce Maria.
20. Por quê?
Não, não, não acho muito de boa, não... É meia... Comigo não acho muito bom, não. É a que
eu menos gosto. Eu não acho ela muito... Assim, ela não é muito ligada ao grupo, não. Não
acho ela muito, assim, ligada ao grupo, não. Minha opinião. Não sei de vocês outros aí. Nada
contra, só minha opinião.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Quando eles fizeram show no Coliseum.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
É ser extrovertido, ser legal, ser... Se dá bem com todo mundo, criar novos amigos. É isso aí.
Daí em diante.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Têm vários. Todos. Todos. Assim, deixa eu vê. Pode ser... (silêncio). Todos os CDs, todos os
DVDs. Pode ser camisa, pode ser jogo de cama também.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
CDs, DVDs. Deixa eu vê mais... (silêncio). Correntinha. E mais umas coisinhas aí. Esses
pôsteres aí. Daí em diante. Cards, aí vai indo.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Pra mim é.
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26. Por quê?
Assim, porque eu gosto, né. Assim, é um gosto. Assim, eu gosto. Sempre quando passa os
comerciais, as coisas, dá vontade de comprar. Aí, eu vou atrás pra comprar, assim. No caso,
eu trabalho e eu compro as coisas que acho melhor, assim.
ABORDAGEM 02:
CARLOS EDUARDO
Idade: 15 anos
Sexo: Masculino
Escola: Florestan Fernandez
Bairro: Perus
Série: 1ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sim, não perdia um capítulo. Mesmo quando eu tinha que trabalhar, assistia lá no meu
trabalho.
2. Seus amigos também assistiam?
A maioria não. Porque é um bando de preconceituoso. Mas a maioria gostava. Pelo menos
meus amigos, que era meus amigos mesmo, gostavam e assistiam comigo.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Tudo. Era perfeita. Os integrantes em si, os seis, né. Que era mais focado neles, que eu
preferia bastante. Entanto que eu segui o grupo em si. Da novela, fui seguindo o grupo.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
De tudo. Das partes chocantes, os beijos, que eram os mais chocantes ali. E falava da história
mesmo, a realidade, preconceito, tudo. Isso eu achava importante na novela, que tava
faltando.
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5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Menos? Nada! Era perfeito.
6. Do que você gosta na banda RBD?
É, as letras das músicas. É, as vozes deles, muito. E o Christian, que é o principal ali.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Ah, eles não têm que opinar nada. Mas, pra mim, eles nunca me falaram, né. Se não eu sabia
que o barraco tava feito. Eles num gostavam muito, mas também não opinam muito na minha
vida, não.
8. E da banda RBD?
RBD minha mãe até gosta e chora quando escuta RBD. Gosta do grupo.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Ah, minha professora até pediu meu CD emprestado, Celestial. Professora de Biologia. Então
isso é sinal que gosta, né. Falou que gosto.
10. E da banda RBD?
[Não respondeu]
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
O Christian, lógico. Maravilhoso, perfeito.
12. Por quê?
Pelo jeito dele, o caráter. Mas você está falando da novela ou do grupo? [do personagem] Do
personagem. Ah, não. Porque, pelo menos no começo da novela, ele foi meio chato. Agora, eu
seria por causa do final. No começo ele foi mais fechado. Ficou como a parte ruim da história,
né. O Giovanni.
13. Se você pudesse ser um integrante de RBD, qual você gostaria de ser? Por quê?
O Christian. Cantando “Tu amor” ainda, pra vocês lá. Porque ele é perfeito. A voz dele é
magnífica. Perfeita, perfeita.
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14. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Da Mía.
15. Por quê?
Ah, por ela ser meio patinha assim. Meio pati, não me toque. Gosto bastante do jeito dela.
16. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Do Christian e da Anahí.
17. Por quê?
Porque são os dois que eu amo. Que eu senti mesmo paixão.
18. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
O Rocco.
19. Por quê?
Porque ele era muito desfocado. Ele era muito chato e... Eu não gosto até hoje na vida pessoal
em si. Que ele é muito não me toque. Ele foi pelo embalo do RBD e acabou sendo mais,
querendo se sentir mais que eles. Isto gerou eu não gostar dele.
20. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Nenhum. Os seis são perfeitos. Não falo que eu não vou tirar e nem colocar, porque são
perfeitos. Conseguiram escolher bem o grupo. Ficaram perfeitos.
21. Por quê?
[o entrevistado respondeu na pergunta acima].
22. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
O beijo da Mía no final. Da Mía e do Miguel. Quando eles se abraçam e ela pega ele de
surpresa, assim. Que faz mó... Mó aquela pressão mesmo, o amor dos dois.
23. Para você, o que significa ser rebelde?
Ser... Ter a sua própria personalidade, apesar de tudo. E ser o que é.
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24. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Gostaria de ter... Que eu gostaria de ter... Celular... As bonecas, que eu não tenho. Não tenho
as bonecas ainda.
25. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Ai, foi pôsteres, foi CDs, DVDs, almofadas. É... Roupas, blusas, sapato.
26. Para você, é importante ter esses produtos?
É importante, que faz parte da minha vida já.
27. Por quê?
[o entrevistado respondeu na pergunta acima].
ABORDAGEM 03:
DANIELA FERNANDA DOS SANTOS
Idade: 18 anos
Sexo: Feminino
Escola: Escola Estadual Prof. Benedito Montenegro
Bairro: Jardim Orlando Ometo (Cidade: Jaú)
Série: 2ª e 3ª sério Ensino Médio - Supletivo
Período: Noturno
NSE: B2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sim. Todos os dias. Parei de estudar dois anos pra assistir à novela. Sério, parei de estudar no
segundo colegial porque eu ia pra escola, mas não conseguia ficar por causa da novela. Aí eu
trabalhava, também chegava cansada, aí desisti parar. Aí voltei a estudar agora que acabou a
novela.
2. Seus amigos também assistiam?
É, então, a gente tem uma banda cover lá em Jaú e todos os meus amigos são fãs. Que nem,
eu vim de lá, que eu moro no interior de São Paulo, e eu vi só eu. Da outra vez, no Morumbi,
160
a gente veio com uma van, só que a gente ficou na arquibancada. Dessa vez eu vim, vou ficar
dois dias aí sozinha, o meu ingresso é pra amanhã e eu consegui comprar o vip. Então eu vim
assim, tipo, representando eles também. Mas, assim, a mais fanática mesmo, a mais louca de
todos sou eu. Mas, apesar de que eles também são. Então é um conjunto, assim, que tudo é...
Assim, uns até pararam de gostar um pouco. Porque eu sou muito fanática, falo 24 horas,
então eles começaram a enjoar, sabe. Muita coisa.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Então, no começo eu não gostava. Eu assistia Malhação no começo. Porque passava no
mesmo horário. Aí eu passei, porque eu sempre gostei das novelas do SBT, as novelas
mexicanas, que é menos putaria, menos coisa, que eu não gosto muito das novelas da Globo.
Aí eu comecei a assistir e comecei a gostar, assim. E vi que comecei a me interessar, gostar.
Tanto que, aí a vez que... Aí eu comecei a virar fã. Porque eu nunca gostei de nada, banda,
essas coisa. Ouvia, mas nunca fui fã assim de ah, ver, sabe, morrer. Aí eles vieram ano
passado em fevereiro. Foi perto do meu aniversário e aí que eu percebi que eu tava louca
mesmo. Porque aí, quando eu fiquei sabendo, já tinham acontecido as três mortes e eu tava
ruim. Ruim, ruim, ruim. Fiquei ruim, ruim, ruim, ruim. Quase fui parar na Santa Casa, de tão
ruim que eu fiquei, de saber que eles estavam aqui no Brasil e eu não tinha vindo ver eles.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Assim, o que eu mais gostava era o gênio, assim. Porque bate muito com a idade da gente,
assim. É, eles representavam a gente na novela. Porque eu mesma, eu sou uma... Uma Roberta
Pardo. O gênio, idêntico. Igualzinho. Gênio ruim, forte, daquele jeito, entendeu. E não é uma
coisa, assim, ilusão. É a realidade. Que a maioria dos jovens são daquele jeito.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Num tinha assim uma coisa que eu menos gostasse. Eu gostava de tudo. Porque a novela não
mostrava só... Porque, assim ó, que nem, a Malhação, ela só mostra assim: tem o malvado,
tem o bonzinho, mas no final o malvado fica bonzinho. E na realidade isso é raro acontecer. O
malvado sempre continua... Não o malvado assim de bruxo. O ruim, a pessoa que gosta de
fazer o mal, ela sempre acaba fazendo o mal. É muito raro ela se redimir. E isso que eu
gostava em Rebelde. Porque ele mostrava a realidade. Quando a pessoa fazia as coisas
erradas, ela fazia e num mudava e continuava daquele jeito.
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6. Do que você gosta na banda RBD?
Tudo. Tudo. Eu gosto das músicas. Eu gosto deles. Eu, ah, vou falar a verdade pra você, eu
vivo e respiro RBD. É o dia inteiro. Assim, na minha casa ninguém suporta. E todo mundo
sabe cantar, porque eu tiro um DVD, eu ponho um CD. Eu tiro o CD, eu ponho o DVD. Então
é o dia inteiro assim. Quando eu não tô assistindo eu tô procurando alguma coisa deles na
internet... É sempre assim. O meu quarto, lotado, assim. Durmo com eles. Penso neles 24
horas.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Então, minha mãe num gosta. Minha mãe não gosta porque eu já fiz muita loucura. A
primeira vez, no Morumbi, em outubro, eu vim. A gente veio de van, tudo. E eu peguei, eu fiz
loucura lá dentro. Eu passei mal, fiquei ruim. Quase me levaram de ambulância de lá.
Queriam me tirar porque eu tava muito ruim. Eu desci da arquibancada. Eu consegui descer
até lá embaixo, porque eu entrei na área de serviço pra descer. Porque a hora que eu cheguei...
Porque eu não conhecia. Eu achei então que aquelas três arquibancadas fossem uma só. E não
é. É o camarote, as cadeiras e a arquibancada. E a hora que eu cheguei, eu fiz assim “eu to
aqui nessa lonjura?”. Eu quase tive um treco. E, também, dessa vez, que nem, eu comprei o
ingresso escondido. Que eu vim, eu consegui carona, eu vim, comprei o ingresso, voltei.
Minha mãe não ficou nem sabendo. Ela ficou sabendo segunda-feira que eu ia vir no show.
Aí, por ela... Tanto que eu vim sem dinheiro quase. Eu vim com dinheiro pra comer. Eu vim
de carona e eu vou... Eu tô esperando carona pra voltar embora. E ela não sabe. Carona que eu
arranjar... Eu não conheço. Tudo pelo RBD. Porque se não fosse por eles, eu não faria. Porque
eu não sou louca. Eu não sou louca, sou uma pessoa normal, como todo mundo. Mas, assim,
fico fora do cabo quando o assunto é RBD. Fico mesmo. E ela não sabe. Tanto que a minha
mãe não sabe. Ela pensa que eu vou com a mesma pessoa que eu vim. E eu não vou. Eu
cheguei aqui... Eu fui a primeira a chegar aqui. Eu cheguei não tinha ninguém aqui. Eu
cheguei seis e meia da manhã aqui. Tanto que a gente fez a gravação pro SBT e eu era a
primeira da fila. E meu ingresso é só pra amanhã. Eu vou fazer de tudo pra tentar entrar hoje.
Porque eu não vou agüentar ficar aqui fora. Que eu vou... Eu vou ficar chorando. Vou ficar
me esperneando aí. Porque... Eu tô vendo, eles tão falando do hotel, quanto é. Porque eu não
tenho muito dinheiro. Então não posso pagar muito caro. Pra eu ir pelo menos tomar um
banho e voltar amanhã, entendeu. Porque daí amanhã eu sei que vem gente da minha cidade
pra cá. Vêm duas pessoas. Não é pro vip, mas vem. Não conheço, mas eu vou procurar na fila.
E eu sou comunicativa, então eu vou. Nem se eu não consigo pra minha cidade, se eu
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conseguir pra me deixar perto, eu vou pegando. Nunca fiz isso. Mas sempre tem a primeira
vez na vida da gente de fazer as coisas, né. E por isso minha mãe não aceita. Minha mãe falou
que depois que eu vier... Por ela e meu pai... Eu gastei 700 reais no ingresso. Eles viraram pra
mim e fizeram assim: “É o meu dinheiro, não é o seu dinheiro. Por nós, você não vai. Não
precisa você ir. Perde esse dinheiro.” Ficou como, entende... Pra mim não é o fato do tanto
que eu paguei. É o fato que eu vou estar frente a frente com eles. Eu não sei. E, eu falo, eu não
sei nem se eu vou sair viva daí. Porque a minha pressão, ela sobe, ela desce, ela... Eu fico...
Transtornada. Eu me transformo. Porque eu sou uma pessoa normal. Mas, é uma coisa assim,
que não se explica. É um amor tão grande. Um amor que se dá sem receber. Porque não tem
como você receber. Isso é muito, muito raro isso. Eu vou fazer de tudo pra tentar chegar perto
deles. Mas eu sei que é praticamente impossível. Mas o mais impossível eu já consegui.
Porque a minha cadeira é na frente do palco. Então, quase o máximo eu já consegui, entendeu.
Então vai ser muita pouca coisa pra eu pegar neles, abraçar. Só o simples fato de eles olharem
assim pra mim da distância daqui naquele orelhão, ali já vai ser tudo. Eu sei que eu vou sair
sem voz, sem nada. Aí, eu vou tentar voltar pra casa. Se eu não conseguir aí eu ligo. Aí eu
ligo pra casa, aí eu mando me buscar. Eu moro em Jaú, interior de São Paulo São 310
quilômetros. É a capital nacional do calçado feminino. E eu moro lá. E da outra vez eu vim de
van. Então foi mais tranqüilo. E dessa vez eu vim sozinha. Sem ninguém. Entendeu? Aí que
dá um pouco de medo. Um pouco de receio, assim. Mas eu vou conseguir.
8. E da banda RBD?
O meu pai, ele não mora comigo. Só que, assim, a primeira vez que eu vim, ele apoio, tudo,
tal. Só que, dessa vez, ele não acreditou que eu paguei tudo isso num ingresso. Entendeu?
Tanto que ele deu dinheiro pra eu comer as coisas, tal. Mas ele falou “não vai”, entendeu?
Não vai. Agora, a minha mãe, a minha mãe ela não gosta. Ela não gosta. Mas ela também não
fica falando. Porque se ela ficar falando eu brigo, né. Mas o meu irmão. Meu irmão tem 14
anos e ele, nossa. Ele implica com tudo. Com tudo que eu faço. Mas, assim, o resto, os meus
amigos, todo mundo gosta, apóiam.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Então, é assim, eu parei de estudar dois anos, pra trabalhar e por causa da novela. Eu voltei
agora a estudar. E eu, quando eu vou à escola, eu vou pra estudar. Então eu não fico falando.
Que nem, a minha professora, de Física, ela sabe, porque eu vim com o cunhado dela, que
veio me trazer. Então, eu falei, eu vou ao show e tal. Avisei os professores que eu iria faltar.
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Mas ninguém falou nada, entendeu. Que nem, eu estudo com crian... Pra mim é criança,
porque eu sou mais velha. E tem bastante que gostam. Mas, assim, como eu, assim, às vezes
ficam admirados. Pela idade, entendeu. Pelo porte, às vezes, por tudo. Ficam admirados por
eu ser tão fanática. Porque eu sei que, pra mim, é uma doença. Porque eu não sou fã. Eu sou
fanática. Eu sou louca. Eu faria qualquer coisa se pudesse.
10. E da banda RBD?
[Entrevistada respondeu na pergunta anterior].
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
A Roberta.
12. Por quê?
Ah, porque ela é igual a mim. A Roberta é igual a mim. O gênio, o jeito, assim, as atitudes. A
mesma coisa. Sem falar que o Diego é meu perfil, né. Diego, o Christopher também, os dois,
entendeu.
13. Se você pudesse ser um integrante de RBD, qual você gostaria de ser?
Nenhum. Porque eu acho que eu não sou digna. Eles foram escolhidos. Eles são perfeitos. E
eles são únicos. Num tem ninguém, nem que quisesse ser, nem que sonhasse. Acho que as
pessoas não têm o direito de... Porque cada um nasce com um destino. E Deus mesmo fala.
Não cai uma folha do céu se ele não permitir. E se RBD é o que eles são, é porque eles
merecem. Porque a maioria dos grupos consegue chegar ao topo, mas caem. Mas o RBD não.
O RBD é um amor pelos fãs imenso. É um amor pelo Brasil. Que eles mesmos falam. Eles
não vão a todos os shows e ficam gritando “eu te amo”. Não. Foi só aqui no Brasil. Os fãs do
Brasil responderam muito bem. No Morumbi os seis choraram, porque todo mundo gritou “eu
te amo” pros seis. Nas outras capitais não aconteceu isso. Gritaram pra Anahí, às vezes pra
Dulce, pros seis não gritaram. Então é um amor muito grande. Eu num... Eu não seria digna
de nem querer ser um deles.
14. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Que eu gosto mais? (silêncio). A Roberta. A Roberta e o Diego.
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15. Por quê?
O gênio. O gênio que bate com o meu. É o gênio, a atitude. É o que eu gostava de ver: os dois
brigando. Era aquela coisa assim de incompatibilidade, né. Então, gostava de ver os dois
brigando e tal.
16. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Todos. Sem tirar nenhum. É um amor assim que... Eu falo, eu e meus amigos. É, até eu falei
que eu fiz toda essa loucura, não foi à toa. Eu sei que o que eu tô fazendo... Assim, na vista de
muitas pessoas é uma loucura, uma coisa de gente retardada. Mas não é, eu sou uma pessoa
normal. Eu trabalho, eu estudo, eu tenho a minha casa. Só que é uma coisa, assim, é um sonho
da minha vida. Eu vivo e respiro eles. Eu falo que se um dia eles precisarem do meu coração,
eu dou pra eles, entendeu? Que eu não agüentaria ver acabar a banda ou um deles morrer. Que
pra mim os seis são muito importantes. Lógico, tem alguém que você se identifica mais. Que
nem, eu me identifico mais com a Dulce e com o Christopher. Mas eu não consigo comparar,
assim, um amor maior por um do que pelo outro. Porque o amor é por igual. Entendeu? Então,
é uma coisa muito... Não se explica. O amor, ele não se explica, né. Ele se dá sem receber.
17. Por quê?
[Entrevistada respondeu na pergunta anterior].
18. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
A Sol. Eu odiava ela. Eu odeio a atriz. Não gosto da atriz também. Não gosto dela. Por ela...
Não só daquela novela, várias outras novelas ela já fez também e não gosto dela. Não acho ela
bonita também.
19. Por quê?
Assim, pela... Só pela cara, entendeu. Num vou com a cara, não gosto. E o personagem dela
também era horrível, né. Uma pessoa... Frívola, que acha que é melhor que todo mundo.
Porque tem dinheiro, porque é bonita... Então, é uma coisa que, hoje em dia, na sociedade, é
difícil.
20. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Nenhum. Nenhum. Não tem como.
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21. Por quê?
[A entrevistada já explicou na pergunta 15 o porquê de gostar de todos os integrantes].
22. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Assim, eu gostava, eu gostei da novela inteira. Inteira, inteira. Mas, assim, no aniversário
delas. Quando o Poncho foi levar... O Miguel foi levar pra Mía, né. Na cama, assim. E o
Christopher deu o anel pra Dulce. Aquilo lá foi... Tem outras cenas também que eu gosto. Que
nem, o dia que ele bebeu, ele começou a se afogar na piscina, a Dulce foi salvar ele, eles se
beijaram. Então, se for, eu vou falar a novela inteira. O último dia. O último capítulo, que
começa a mostrar a escola vazia e eles falando, como seria, como serão os próximos que vão
vir, o que será do futuro deles. Então é tudo. Tudo.
23. Para você, o que significa ser rebelde?
(Silêncio) Pra mim, ser rebelde é você brigar pelos seus direitos. É você lutar por aquilo que
você quer, que você procura, que você busca. Não passando por cima dos outros. Lógico, a
pessoa quando ela é rebelde... O rebelde não quer dizer que ela é... Que ela vai passar por
cima de você. Isso não é ser rebelde. A pessoa, quando ela é rebelde, é que ela gosta, a
maioria das vezes, das coisas do jeito dela. Entendeu? Que ela procura fazer tudo, assim, pra
que saia bem e às vezes sai errado. Então, assim, pra mim, é você aprender a ter
responsabilidade. Porque você, você quebrando a cabeça, é que você vai aprender. Porque se
você não tropeçar nunca, você nunca vai saber o que é a dor. Entendeu? Então, pra mim, ser
rebelde é isso. É ser feliz, é ser alegre... É ser companheiro. Têm vários outros ritmos de
músicas, coisas... Que nem, a rebeldia num quer dizer assim você brigar com o seu pai, você
brigar com a sua mãe, você bater no seu irmão. Isso não é rebeldia. Isso aí é violência. Isso aí
você está agredindo a pessoa. Isso aí é falta de caráter. É um desrespeito ao ser humano. A
pessoa, ela ser rebelde, é ela lutar pelos seus objetivos. Pelo que ela procura, pelo que ela
busca. É isso pra mim que é ser rebelde.
24. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Então, eu tenho, eu tenho duas pastas de pôster. Meu quarto é todinho colado com pôster.
Assim, meu espelho, assim, é todo colado com card, foto. Tenho todos os DVDs, todos os
CDs. No máximo, porque, assim, eu não tenho tanto dinheiro. O máximo que eu consigo
comprar de CD e DVD original eu compro. Não são todos que eu tenho original. Mas o meu
166
quarto assim é tudo. É... Compro xampu, compro batom, compro caderno, tudo. Tudo, assim.
Tudo que eu vou vendo que eu puder comprar eu vou comprando deles.
25. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Eles. (risos). Eu gostaria... Se eu fosse rica, eu pagaria um show só pra mim. Não que eu não
levaria meus amigos e tal. Mas, se eu tivesse dinheiro, alugaria eles pra mim. Pelo menos um
dia.
26. Para você, é importante ter esses produtos?
Sim. Eu num... É assim, que nem, eu nunca gastava dinheiro com essas coisa, entendeu?
Nunca gostei. Aí eu comecei a comprar um pôster, dois, três, quatro, cinco, seis, sete... E aí o
amor foi aumentando. A vontade. Porque, uma coisa, assim... Você gostar de uma coisa não
nasce de um dia. Vai nascendo com o tempo. Eu fui vendo o trabalho deles, fui conhecendo, a
personalidade, as pessoas, pra ver quem que eram, entendeu. As músicas. Porque, assim, na
novela passava uma das músicas. Fui comprando CDs, DVDs. Então, pra mim, é super
importante. Assim, minhas coisas, assim, você pode, quem nem, levar tudo meu. Tudo. Pode
roubar meu computador. Se você entrar na minha casa, você pode levar tudo. Mas você não
mexe num card que custa 25 centavos, que eu quebro a sua cara. Porque é do RBD. Porque
uma vez aconteceu isso, uma amiga da minha mãe foi com a filha dela lá e ela pegou três
cards meus. Só não bati na menina porque minha mãe não deixou. Minha mãe falou “por
causa de pouca coisa!”. Eu falei “não, ela pegou. É meu.”. Não é meu? Então, não rele. Eu,
assim, eu, pra emprestar as coisas do RBD, bem... Nossa, é triste. É praticamente quase
impossível pra mim emprestar procê. Eu não empresto. E quando empresto ainda nego pisa na
bola, não devolve direito. Então, é por isso que eu não empresto. Ainda, os meus originais não
saem de casa. Tipo, a minha mãe briga por causa disso. Porque eu gasto muito. Eu gasto, que
nem, entre pôster, CDs, DVDs e shows que eu já vim eu já gastei três, quatro mil reais. É
dinheiro. Entendeu? Dinheiro que eu vim no show era pra eu tirar minha carta de motorista.
27. Por quê?
[Entrevistada respondeu na pergunta acima].
167
ABORDAGEM 04:
MARIANA LORE
Idade: 12 anos
Sexo: Feminino
Escola: Colégio Santo Antônio
Bairro: Vila Prudente
Série: 7ª série do Ensino Fundamental
Período: Matutino
NSE: B1
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre. Todos os dias.
2. Seus amigos também assistiam?
Alguns.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, tipo, tudo. A história, as personagens. Como era, assim. O cenário. Eu achava super legal,
assim. Tudo.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ah, um pouco de tudo. Tudo era legal. Tudo, assim, tinha um pouco de... (silêncio) É, tudo,
assim, tudo era legal.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Menos? Assim, da falsidade que tinha entre... Tinha brigas e falsidades entre a Mía, aí eu não
gostava muito, não.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Ah, tudo! São perfeitos. Sem tirar nada.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Assim, eles... Eles são adultos, eles não gostam muito. Mas eles não ligam que eu sou fã
deles, assim. Eles respeitam tudo.
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8. E da banda RBD?
A mesma coisa.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Ah, assim, teve, tem dois que gostam. O resto, ninguém gosta.
10. E da banda RBD?
Da banda também não gostam.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
A Anahí.
12. Por quê?
Ah, porque eu acho que, assim, ela tem uma personalidade forte. Tudo que ela quer, ela
consegue. Acho ela uma personagem, assim, muito legal, diferente.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Ah, vários. A Roberta, a Mía, a Maite. Todos, assim. A maioria.
14. Por quê?
Ah, porque eles se destacavam mais, assim, na novela. Os papéis deles eram mais legais.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Uix... Todos. Todos, todos, todos.
16. Por quê?
Ah, porque todos são muito legais.
17. De que personagens de Rebelde você gosta
menos?
A Lola.
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18. Por quê?
Ai, porque ela é muito chata. Falsa demais. Porque ela, assim, sei lá, fazia muita maldade com
as pessoas.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Nenhum.
20. Por quê?
[Não respondeu].
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Tem uma que... Foi quando eles foram pra viagem, pro Canadá. Que foi o, assim, foi muito
legal. Eles ficaram todos juntos. Aí aconteceu um monte de coisa legal.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ah... Significa ser uma pessoa assim que... Não que seja rebelde... Ela é, assim, brava. Num
sei, brava, mais ou menos... É... Ela consegue o que ela quer. Ela tem uma personalidade
forte.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Ah, é que a maioria assim que eu vi é material escolar. Mas produto mesmo é só CD, DVD,
livro.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Tem, CD, DVD, livro. Já comprei muita revista, pôster, card, álbum.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Acho que sim, né. Porque eu gosto muito deles. Então... Se, eu gosto demais e eu posso
comprar, eu acho que eu compraria. E compro.
26. Por quê?
[A entrevistada já respondeu esta questão na pergunta acima].
170
ABORDAGEM 05:
BÁRBARA SILVA BRUCOLI
Idade: 12 anos
Sexo: Feminino
Escola: Colégio Dinâmico
Bairro: Vila Prudente
Série: 6ª série do Ensino Fundamental
Período: Vespertino
NSE: B1
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Assistia.
2. Seus amigos também assistiam?
É, só alguns, assim.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Hmmmm... Acho que os romances, as intrigas que tinha.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Dos casais.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
É, acho que eu não gostava muito da falsidade que tinha também.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Na banda... Ah, eu gosto de tudo. Eu gosto deles, das músicas. Tudo.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Da novela eles não ligam muito. Eles nunca assistiram, assim.Daí eles não ligam.
8. E da banda RBD?
Da banda eles gostam.
171
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Os professores acham meio que polêmico, assim. As roupas que eles usam. Eles não gostam
muito.
10. E da banda RBD?
A mesma coisa.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
A Roberta.
12. Por quê?
É porque ela sempre conseguiu tudo que ela queria. Assim, ela lutava por tudo que ela queria.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Mais é da Roberta.
14. Por quê?
A mesma razão.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Da Dulce e do Christopher.
16. Por quê?
Ah, porque é o casal, assim. Eles fazem um casal bonito.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
É, não tinha um que eu gostava menos, assim. Nenhum.
18. Por quê?
[Não respondeu].
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Não.
172
20. Por quê?
[Não respondeu]
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
É, eu acho que as viagens que eles faziam, assim. Nas férias. Os lugares que eles iam, que
tinha muita intriga também. Era bem legal.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
É... Acho que é... Você lutar pelo que você quer, assim. Você ter... Caráter, personalidade.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
É, acho que CD, DVD, assim.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
É, os CDs e os DVDs. Claro, tenho pôster.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Eu acho que sim.
26. Por quê?
Porque, ah, se eu gosto deles, assim, eu acho que é importante ter.
173
ABORDAGEM 06:
EMILAY REDLAY PARELLA
Idade: 15 anos
Sexo: Feminino
Escola: Artigas
Bairro: Diadema (Bairro Vila Andréa)
Série: 1ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: A2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre. Não perdi nenhum capítulo.
2. Seus amigos também assistiam?
Alguns. Outros não gostam.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, as músicas, os jeitos deles de ser, a personalidade. Eu acho bem bonito.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ah, eu gostava do jeito, das roupas deles. Das atitudes. E também das músicas.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Ah, eu não gostava porque não tinha gente negra na novela. Achava meio que discriminação.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Ah, nossa, tudo. Ai, eu amo a Dulce. Demais. O jeito dela, assim, sabe. Quando você olha pra
uma pessoa e já.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Ah, eles gostavam. Meu pai até assistia comigo.
8. E da banda RBD?
Ah, ele gosta, assim. Mas, num escuta muito, não.
174
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Ah, eles gostam, porque a maioria dos filhos deles tamm gosta.
10. E da banda RBD?
[A entrevistada referiu-se tanto à banda quanto à novela na resposta anterior].
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
A Roberta.
12. Por quê?
Ah, eu achava ela de uma personalidade forte, assim. Sabia muito bem o que ia fazer. Gostava
muito disso.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
A Roberta e o Diego.
14. Por quê?
Acho que os casais se confrontavam. Por ele ser meio que boyzinho e ela ser toda rebelde.
Achava isso bem legal.
15. De que integrantes de RBD você gosta
mais?
A Dulce e o Christopher. Eu amo os dois.
16. Por quê?
Nossa, além de serem lindos eles cantam muito. Tem estilo, personalidade. Acho que isso
conta bastante.
17. De que personagens de Rebelde você gosta
menos?
Ah, eu gostava menos da Sol.
18. Por quê?
Porque ela sempre queria separar os casais. Era a má, assim, vamos se dizer. Aí eu não
gostava dela.
175
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Não, todos eu gosto. Bastante.
20. Por quê?
[Não respondeu].
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Lembro uma que a Roberta tava deitada na cama. Aí ela cantou a música que a Maite canta.
Aí o Christopher, o Diego, chega pela janela e começa a cantar junto com ela. Eu achei muito
lindo.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Pra mim significa, assim, pensar muito bem antes de fazer e ser rebelde contra o mal. Você
ser rebelde... Rebelde com causa. Rebelde contra as injustiças do mundo.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Que eu ainda não tenho? É... Os bonecos dos meninos. Colcha de cama, lençol e CDs em
diamante que só saiu no México. Não saiu no Brasil ainda.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Ah, CDs, toalha, pôsteres, DVDs... É, nossa, tudo, assim, praticamente. Bonecas das meninas
eu tenho.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
É... Ah, é que nem um vício, né. Tipo, eu passo pela banca, se eu não compro uma revista,
nossa, fico com aquilo na cabeça.
26. Por quê?
Ah, eu acho bom sempre estar atualizado sobre eles. O que lança, tudo. Aí eu gosto de
comprar.
176
ABORDAGEM 07:
MAYARA AGUIAR SALES DE SOUZA
Idade: 15 anos
Sexo: Feminino
Escola: Ancira (municipal)
Bairro: Jardim Santo Antônio (Macaé – RJ)
Série: 1ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: B1
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Assistia, sempre. Dez minutos antes da novela eu tava na televisão grudada, grudada,
grudada.
2. Seus amigos também assistiam?
A maioria. Na escola, assim, tem uns que são meio preconceituosos por causa de ser porque é
rebelde, que é de criança. Mas nada a ver. Eles mesmos são adultos praticamente.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Eu comecei a assistir desde quando passavam as propagandas dizendo como é que era. Eu
comecei a assistir e me identifiquei muito com as histórias, entendeu. Tudo contava. Porque é
muito... É real, assim. Pra gente é real. Tudo o que eles viviam, tudo o que eles sofriam, a
gente sofria junto. Ih, é tudo.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Do que? Ai, das travessuras. Dos personagens principais, que são os seis, são RBD. Das
manifestações, de tudo.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
O que eu menos gostava? Ai, não sei, acho que dos personagens que faziam mal, né, pros
principais. Principalmente a Sol.
177
6. Do que você gosta na banda RBD?
O que eu gosto na banda? Hmmm, Ai... Difícil. Eu gosto de tudo, assim. Porque... Hmmm...
Continuando, assim, a novela, entendeu. Então eles passam sempre pra gente aquela energia
toda. E são eles, entendeu. É uma coisa que não tem como explicar. É coisa de fã.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Da novela? Bom, minha mãe não chegou a acompanhar muito, não. Às vezes ela assistia um
capítulo ou outro. Gostava junto, sim. Mas, minha mãe não gosta de eu gostar tanto deles.
Acha que eu tô ficando doente. Que eu tô ficando muito, muito, muito viciada. Mas num é. É
que eles se tornam parte de nossa família. A gente passa a gostar deles como se fosse alguém,
assim, um irmão. Nossa.
8. E da banda RBD?
Da novela, ela nem ligava. Porque novela é normal. Todo mundo assiste. Mas, agora, com a
banda, é aquele negócio, que são eles, estão ali... Eu já fui no Maracanã também, no Rio. Aí,
agora eu tô vindo pra São Paulo de novo. Então, é por isso que ela não gosta.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
[Não respondeu]
10. E da banda RBD?
[Não respondeu]
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Eu seria a Roberta. A Dulce, no caso. Porque ela é uma pessoa, assim, que ela fala o que ela
pensa. Não tem medo de mentir, de dizer a verdade, quer dizer. Tudo... Ela sempre é a líder de
tudo. Pra poder fazer manifestações. Sempre por uma boa causa. Por isso.
12. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Dela, da Dulce.
178
14. Por quê?
Pela mesma razão. Até porque ela era a mais descontraída. Ela tinha um cabelo vermelho, que
dava aquele negócio. Acho que é por isso.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Eu gosto da Dulce e do Christian.
16. Por quê?
Eu gosto do Christian porque ele é o que dá mais atenção pros fãs, dos meninos. E, se tiver
que alguém descer pra falar com a gente, ele desce. E da Dulce, por tudo. Desde o trabalho
dela e como ela é como pessoa.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Sol de la Riva. Porque ela sempre atrapalhava, assim, os casais. Nunca dava certo o que eles
planejavam. Sem ela foi...
18. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Não. Eu gosto de todos, assim, iguais. O carinho que eu tenho, assim, especial, por um ou
dois é pela Dulce e pelo Christian.
20. Por quê?
[A entrevistada respondeu acima].
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Cena... (silêncio). Ai, acho que foi o dia que a Mía chega de viagem e encontra o namorado
dela, o Miguel, com uma menina. Aí ela começa a chorar. Tem uma cena que é muito triste,
assim. Pra quem está assistindo. Foi essa. E depois dá tudo certo no final.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
(Silêncio) Como eu costumo dizer, rebelde com causa. Pra poder se rebelar contra guerra,
contra as coisas más que existem no mundo. Como o Poncho disse no Live in Rio, que foi o
179
DVD gravado no Maracanã, que, pra que fazer a guerra se a paz não custa nada, entendeu?
Acho que é isso.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Que eu não tenho? (risos) Difícil, eu tenho muita coisa deles. Acho que o que eu não tenho
ainda é o DVD da terceira temporada. Que foi o que lançou mais recente.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
CDs, a maioria dos pôsteres que lançaram, as revistas, pulseiras, roupa, tudo assim. DVD
também.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Pra mim é importante porque eu posso, todo dia que me dá vontade, ir lá, poder ler, poder ver
de novo. Tudo o que eu passei. Os momentos que, pra mim, foram felizes, entendeu. Sempre
recordar.
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
ABORDAGEM 08:
ANAINA MONTEIRO DA COSTA
Idade: 13 anos
Sexo: Feminino
Escola: Cefete (federal)
Bairro: Parque Aeroporto (Macaé – RJ)
Série: 1ª série do Ensino Médio
Período: Vespertino
NSE: A2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre. Desde o primeiro capítulo até o último.
180
2. Seus amigos também assistiam?
Todos, todos não. A maioria tinha preconceito, assim. Porque a novela é mexicana e o pessoal
já tem... Falam que é coisa de criança e não são todos que viam.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Eu gostava porque mostrava, assim, tipo, a realidade e me ensinava também as coisas, assim.
Os valores, assim, da vida e tal.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Dessas coisas, de estar sempre mostrando a realidade da... O que a gente vive é mostrado lá e
a gente acaba aprendendo como vai vivendo, assim.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Ah, quando tinha alguns personagens ruins assim. Aí eu não gostava.
6. Do que você gosta na banda RBD?
[Não respondeu]
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Ah, assim, eles num gostam. Mas também num falam nada porque eu gosto, entendeu.
Aceitam que eu goste.
8. E da banda RBD?
[Não respondeu]
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Ah, acham que é coisa infantil, também.
10. E da banda RBD?
Da banda, falam que a música é ruim, assim. Só que é tudo... É preconceito, porque nunca
ouviram. Nunca viu a novela e já fala. Só porque é mexicana, assim, aí já fala, assim.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
É... A Roberta.
181
12. Por quê?
Pelo jeito de ser dela. De espontânea. De falar tudo que pensa, de debater com as coisas
erradas, injustiças, essas coisas.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
A Roberta.
14. Por quê?
Pelo mesmo motivo.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Anahí.
16. Por quê?
Pelo jeito de ser dela, espontânea, assim. Muito carismática. Simpática com o público.
Carinhosa.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Ai, assim, de todos os vilões que teve na novela. Aí a gente nunca gosta, né. Sol, o Gastão,
esses dois.
18. Por quê?
[Não respondeu].
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Não, eu gosto de todos.
20. Por quê?
[Não respondeu].
182
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Uma cena que eu gostei foi a última cena da novela. Que aí foi mostrando tudo que aconteceu
na novela, assim. Tudo que a gente aprendeu, as coisas. A última cena foi a que mais marcou,
assim, pra mim.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
É... Ser rebelde é você lutar contra as injustiças do mundo, assim, em tudo.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
É... O DVD da terceira temporada. Que eu ainda não tenho. E lançou há pouco tempo e ainda
não comprei.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Ah, eu tenho todos os CDs, DVDs, revistas. Revistas e pôsteres não tudo, mas quase lá.
Roupa, pulseira, bandana.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Acho que sim. Porque é uma recordação. Porque eu sei que um dia vai acabar. A novela já
acabou. Um dia a banda vai acabar. Aí vai ser a recordação de tudo isso. De uma fase boa.
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu acima].
183
ABORDAGEM 09:
BEATRIZ MACHADO RIZZATO
Idade: 13 anos
Sexo: Feminino
Escola: Spinoza
Bairro: Vila Mascote
Série: 8ª série do Ensino Fundamental (antiga 7ª série)
Período: Matutino
NSE: A2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Assistia. Todos os dias.
2. Seus amigos também assistiam?
Os que gostam, sim. Agora, tem uns que gostam mais ou menos ou só curtem as músicas.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, tinha assuntos que eu gostava, que me interessavam. E também... Eu gostava do ambiente
lá. Eu gostava das músicas que passavam. Dos atores, tudo.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Da banda, mesmo. E dos personagens, da Mía, do Miguel.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Ah, quando os casais, assim, brigavam, se separavam.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Além das músicas, a pessoa que eu gosto mais é o Poncho. Que fazia o Miguel na novela.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Assim, no começo, eles ficaram meio assim. Porque eu sempre gosto muito de uma coisa.
Mas aí depois meu pai até curtiu algumas músicas. Minha mãe também, canta comigo, assim.
E agora, até apóiam. Sobre a novela, eles assistiam junto comigo, né. Porque eu ficava lá na
sala.
184
8. E da banda RBD?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Assim, a minha professora de espanhol, ela acha que é legal a gente ouvir pra praticar o
espanhol mesmo. Agora, os outros, eu nunca perguntei nada.
10. E da banda RBD?
[A entrevistada respondeu acima].
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Da novela ou da banda? [Da novela]. A Mía.
12. Por quê?
Ah, porque eu gosto da atriz que faz, né. E também porque eu me identifico, assim, entre
aspas, com ela.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Do Miguel.
14. Por quê?
Ah, porque eu gosto da forma como ele, o Alfonso interpreta. E também porque ele é bonito.
(risos). É, por isso.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Do Poncho e da Anahí.
16. Por quê?
Porque eu prefiro a voz do Alfonso. E também porque eu gosto mais de como eles se portam
no palco.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Da Sol. Não, da Raquel, da Raquel.
185
18. Por quê?
Ah, porque era muito fresquinha, tudo.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Não, não tem.
20. Por quê?
[Não respondeu].
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
É, foi a última cena, né. Que foi, no fim da novela, que foi a formatura deles, tudo. Que tudo
ficou bem. E também eles falam, ficam mostrando o colégio e eles ficam falando um texto,
né. Achei muito bonito.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Eu acho que é... Você ter a sua opinião própria. Mas sempre... Não assim, não ligar para o que
os outros falam, tipo, seu pai e sua mãe. Seguir alguns conselhos que você acha certo... E ser
livre, assim, entre aspas. Tipo, você ter a sua própria opinião, essas coisas.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Não.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Eu tenho CD, DVD, pôster. Eu vi no Giraffas quando tinha aquela promoção. Também tenho
uma cadernetinha lá. Um monte de coisa. Card.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Assim, eu tenho mais porque eu compro uma revista que já vem com cinco pôsteres. É
importante porque eu fico com foto, assim. Às vezes eu posso, um dia que for me vestir, me
espelhar neles. CD, assim, pra ouvir. DVD também.
186
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
ABORDAGEM 10:
ISABELLA MARINELLI
Idade: 12 anos
Sexo: Feminino
Escola: Spinoza
Bairro: Vila Mascote
Série: 7ª série do Ensino Fundamental
Período: Matutino
NSE: B1
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Assistia.
2. Seus amigos também assistiam?
Alguns sim e alguns não. Alguns não gostam. Alguns ouviram, assim, e não gostaram do
estilo da música. Ou alguns começaram. Alguns nem ouviram. Mas, por preconceito, sei lá,
por ser novela mexicana, não ouviram e não compram.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Assim, no começo, assim, eu não gostava. Eu não tinha assistido. Porque tem sempre aquele
preconceito de novela mexicana. Que é, tipo, bate de um lado, cai do outro. Alguma coisa
assim. Mas daí eu comecei a assistir, daí eu comecei a gostar, assim. Não é uma coisa, assim,
vamos dizer, que tem um assunto, aquele assunto. Mas é, tipo, vida adolescente.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ah, eu gostava de tudo. Não tinha uma coisa que eu gostava, assim, separadamente.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Acho que não, não tinha nada que eu não gostava.
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6. Do que você gosta na banda RBD?
Ah, eu gosto, tipo, deles, né. Deles pessoas. Deles artistas. E das músicas.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
A minha mãe achava que era perda de tempo. Que não tinha assunto. Que era uma coisa meio
inútil. Mas ela deixava eu assistir.
8. E da banda RBD?
Da banda eles falam que, assim, vai passar um tempo e eu vou esquecer. Assim, eles num
gostam de pegar, por no rádio o CD e ouvir. Mas eles deixam eu... No outro show eu não fui
porque foi em estádio. Mas nesse minha mãe deixou.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Eu não sei da opinião deles. Assim, eu comentei com alguns que eu vinha no show. Eles
acham legal, porque tem que aproveitar mesmo o que gosta. Mas a opinião deles sobre isso eu
num sei. Até porque tem quem gosta e quem não gosta, entendeu.
10. E da banda RBD?
[A entrevistada respondeu na pergunta anterior].
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Personagem da novela? (silêncio). Ai, não sei. (silêncio). Acho que a Lupita.
12. Por quê?
É, porque eu gosto dela. Além dela na novela, do personagem, ela é mais quietinha, sei lá,
num sei. Dela na banda também gosto. Porque ela canta. Eu acho que ela canta bem.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Dos personagens? Dela, da Lupita.
14. Por quê?
Pelo mesmo motivo.
188
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Do Christian.
16. Por quê?
Ah, não sei, porque eu acho, assim, ele é uma pessoa, tipo, legal. Ele como pessoa. Ele não é
o mais bonito. Mas, assim, eu acho ele como pessoa. Assim, ele é muito simpático com os fãs
até. Daí nesses últimos casos que aconteceram, de ele assumir um lado dele. Eu achei que ele
foi muito sincero com os fãs também.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
A Sol. (risos).
18. Por quê?
Da Sol e da Sabrina. Ai, porque elas atrapalhavam tudo.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Não.
20. Por quê?
[Não respondeu].
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Uma cena da novela... Acho que os shows que tiveram na novela. Que mostravam parte dos
shows. O primeiro show... É, os shows que tiveram, que mostraram na novela.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
É... Ser rebelde... Ai, num sei, acho que é... Assim, você ser assim mais ou menos o que você
quiser. Demonstrar pras pessoas o que você é de verdade, entendeu? Não você sair... Rebelde,
querer... Eu quebro tudo, eu falo palavrão, faço isso, faço aquilo. Acho que vai de você
mostrar quem você é de verdade.
189
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Que eu não tenho? Num sei, assim, eu tenho mais os CDs. Esses produtos paralelos, assim...
Não tem nenhum que eu gostaria de ter.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Dos paralelos, deixa eu ver, eu tenho caneta, caderno, essas coisas. E daí CDs, DVDs.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Acho que sim. O material assim, em si, não é importante. Acho que o que é importante é o
que eu gosto. É o que eu acho, entendeu. O material não tem importância.
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
ABORDAGEM 11:
TAMIRES CRISTINO GOMES
Idade: 12 anos
Sexo: Feminino
Escola: Colégio São José
Bairro: Ipiranga
Série: 6ª série do Ensino Fundamental
Período: Matutino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Ah, muito. Todo dia, não perdia. Todos os dias.
2. Seus amigos também assistiam?
Alguns. Os meninos não. Mas as meninas sim.
190
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, eu gostava. A menina me falou que passava uma novela legal. Aí assisti o primeiro dia e
num parei mais. Aí gostei das pessoas, da novela e num parei mais.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ah, das partes engraçadas e da Mía. Que ela também fazia parte das partes engraçadas.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Que eu menos gostava? Na novela? Da parte que mostrava o diretor lá conversando com os
pais. Detestava aquilo. Até mudava de canal.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Ah, da Mía e das músicas.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Quando eu vou assistir, quando eu assistia, eles saíam, iam pra outro lugar. Num gostavam da
novela.
8. E da banda RBD?
Acham perda de tempo. Mas de tanto ouvir, eles cantam a música.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Não, nunca perguntei. Nunca perguntei.
10. E da banda RBD?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Não pode ser da banda também? Hummm... Acho que eu seria a Vick. Aquela uma loira,
amiga da Roberta.
12. Por quê?
Ah, porque ela era legal. Ela é bonita tamm. Engraçada. Eu gostava dela.
191
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Dela [Vick], da Josy (que era amiga da Roberta), de quem mais... Da Celina eu também
gostava.
14. Por quê?
Ah, da Josy porque ela era muito valente. Tudo que tinha pra ela, ela fazia. Não tinha medo de
nada. A Celina porque ela era legal também. Simpática. E a Vick porque ela é bonita também.
Elas são legais.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Da Mía e da Lupita.
16. Por quê?
Ah, num sei. Porque elas são, sei lá, as mais simpáticas. As que mais se soltam.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Tem a Sol. Ela era muito chata. Ela fazia muita coisa ruim, muita maldade.
18. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
19. De que integrantes de RBD você gosta
menos?
Ai, tem o Diego, Christopher.
20. Por quê?
Num sei. Ele num faz nada. Só dança. Num grita com o pessoal. Num... Na novela eu também
não gostava dele.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Tem uma viagem, que eles estavam no ano novo. Aí começou a soltar os fogos. Aí todo
mundo se abraçou. Até quem não se gostava se abraçou. Foi bem legal essa cena, assim. Do
ano novo.
192
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ai... Ser... Ser legal, ser lindo, ser alegre, ser tudo de bom.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Ai, eu queria comprar o uniforme e o ingresso de mil reais.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Ah, eu só comprei uma blusa. Porque as outras coisas a minha mãe não comprava. Porque não
gostava. Depois falava que iria acabar Rebelde e aí? Iria jogar fora? Ah, várias revistas
também eu já comprei.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Ah, tem... Pra quando você crescer, você se lembrar que você gostou daquele grupo e tal.
Quando sentir saudade lá, ficar abraçando lá. Aí eu gosto.
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
ABORDAGEM 12:
KARINA CRISTINA DA SILVA
Idade: 18 anos
Sexo: Feminino
Escola: não estuda
Bairro: Santo André (Bairro Jardim Santo Antônio)
Série: não estuda (Ensino Médio completo)
Período: não estuda
NSE: B2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Não, estudava.
193
2. Seus amigos também assistiam?
Alguns sim, alguns não.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
[A entrevistada não assistia a novela].
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ah, eles eram muito dinâmicos, né. Eles não paravam quietos. Sempre tinha algumas
novidades. Então, isso era legal na novela. Porque, apesar de eu não assistir toda semana,
algumas vezes eu assistia. É uma novela legal. A dinâmica deles. Eles eram muito flexíveis.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Menos? Na novela... Não.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Das músicas. Da dança. Da Anahí. De todos. Tudo. Tudo. A banda é maravilhosa.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Oh, meu pai... Meu pai... Ele até assistia. Meu pai assistia. Não acompanhava, mas assistia.
Então ele achava normal. Minha mãe não pegava pra assistir. Porque... Noveleira, mas não
dessas novelas. Mas num fala nada. Da novela nada.
8. E da banda RBD?
[Não respondeu]
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
[Ela terminou o Ensino Médio no ano passado e vai prestar vestibular agora. Ela falou a
respeito dos professores dela da 3ª série do Ensino Médio].
Falavam “Karina, como que você, com 17 anos, podia gostar de uma coisa infantil, até o
momento?” Ah, mas é gosto. Acho que gosto a gente não se discute, né.
10. E da banda RBD?
Da banda tinha... Agora, da banda, tem muita gente que gosta. Porque a banda é um caso à
parte da novela, né. Tanto é que depois que eles terminaram a novela, eles mudaram
194
radicalmente o estilo de se vestir. O estilo das músicas. Então, tinha aquela... No começo da
banda RBD, era assim focado na novela. Mas depois que a novela acabou, eles deram uma
desfocada legal.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Olha, não vou falar que eu queria ser a Anahí, porque eu queria estar lá junto com ela. Eu
gostaria de ser... A Celina. Porque era a melhor amiga dela.
12. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Conheço só os integrantes, alguns assim. Conheço sim. Gostava mais da Anahí, a Mía
Colucci.
14. Por quê?
Ah, porque ela é linda. Porque ela é... Ela também já foi sofrida. Ela já... Ah, tem tantas
qualidades boas que me fazem gostar dela. Porque ela canta super bem. Porque ela é
simpática. É isso.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Oh... A Anahí. Eu amo ela de paixão. E o Christopher. Eu gosto muito do Christopher
Uckermann.
16. Por quê?
O Christopher, por ele ser namorado da Anahí. É um deles [dos motivos]. E porque na novela
ele desempenhou um papel bem legal. Contra a corrupção do próprio pai. Então, adorei essa
parte dele. E da Anahí é porque ela é linda, ela é extrovertida. Ela é dinâmica. Ela é linda!
Canta bem.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Menos? Da novela? Ai, é uma menina muito chata. A Sol. Na novela era a Sol. Muito chata.
Ela era uma nojenta. Ela queria ser igual à Mía e num rolava.
195
18. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
[Não respondeu]
20. Por quê?
[Não respondeu]
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Cena da novela, que eu tenha gostado. Uma cena que eu gostei muito foi o do show deles, né.
Que eles fizeram, eu acho que no México. E mostrou na novela. Eu achei bem legal tamm
essa cena. Mas a cena que a Roberta Pardo e a Mía Colucci também vão com o grupo RBD
num orfanato, alegrar as crianças. A Anahí de palhaço, a Dulce idem. Muito legal essa parte
também. Então, bem interessante.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ser rebelde... É... É estar de bem com a vida. Não judiar de ninguém. Porque eu acho que
rebelde não é criminalidade. E sim coisa boa, só coisa positiva. E é isso que o RBD tenta
mostrar. Que rebelde não é ser rebelde. Pichando, matando, roubando. E sim, mostrando
alegria, ajudando as pessoas. Eu acho que ser rebelde é você ser diferente das demais.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
O celular? Talvez.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
DVDs, CDs. Não comprei assim nada demais assim, não. A não ser DVDs, CDs, né. Só.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Não. Porque o que eu sinto por eles, eu sinto. Não adianta eu comprar a coleção todinha RBD,
a coleção todinha Rebelde e não sentir nada. Então o que eu sinto é por dento e se eu comprar
ou não, não vai crescer mais eles.
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26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
ABORDAGEM 13:
EMERSON FELIPE FERNANDES COSTA DA SILVA
Idade: 18 anos
Sexo: Masculino
Escola: não estuda
Bairro: Marapé (em Santos)
Série: não estuda
Período: não estuda
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre.
2. Seus amigos também assistiam?
Alguns.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, tudo. A novela era boa. Os personagens, os atores. Tudo.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Pode ser um personagem? [Sim]. Da Mía.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Ai, a Sol. Porque ela era uma nojenta.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Na banda eu gosto de tudo. Das músicas e da Anahí.
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7. O que seus pais acham de Rebelde?
A minha mãe acha muito legal. Meu pai não gosta muito.
8. E da banda RBD?
O que eles acham? Minha mãe gosta. Meu pai não.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Alguns achavam legal. Outros achavam muito besta.
10. E da banda RBD?
O que eles achavam do RBD? Ah, isso eu não sei. Mas eu tinha uma professora de Espanhol
que tem todos os CDs.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Santos.
12. Por quê?
Porque é o Derrick que faz e ele é mó legal.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Pode ser dois? [Pode]. Mía e Santos.
14. Por quê?
Porque é a Anahí e o Derrick que fazem. E eles são os melhores.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Anahí.
16. Por quê?
Porque ela é perfeita, linda, canta bem, maravilhosa, tudo.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Da novela? [Sim]. A Sol.
198
18. Por quê?
Porque ela era muito folgada, queria acabar com a vida de todo mundo e é uma nojenta.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
[Não respondeu]
20. Por quê?
[Não respondeu]
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Ah, logo no começo, quando a Mía, pra provocar o pai dela, fez uma strip-tease. Aquela cena
é da hora.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Rebelde... Não é... Não é... É mais que um estilo de vida, é uma atitude.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Dos que foram lançados? [Isso]. Mas acho que a gente já tem todos.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Todos. A única coisa que falta é máquina digital.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Ah, muito. Ter tudo deles.
26. Por quê?
Porque se eu não tiver tudo, eu morro. Porque eu tenho que ser um fã número dez.
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ABORDAGEM 14:
FABIANA MURRAY TORRES DUARTE
Idade: 30 anos
Sexo: Feminino
Escola: não estuda
Bairro: Praia Grande
Série: não estuda
Período: não estuda
NSE: B2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sim, assisto.
2. Seus amigos também assistiam?
Sim.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Eu gostava do enredo da novela.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Diego e Pilar.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Da Sol de la Riva.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Eu gosto das músicas e gosto do Christopher. E a Maite também.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Minha mãe assistia. Mas não era muito fã.
8. E da banda RBD?
Minha mãe não gosta.
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9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Ah, já me formei há muito tempo.
10. E da banda RBD?
[A entrevistada não estuda].
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Pilar Gandia.
12. Por quê?
Porque eu gostava da Pilar... Porque eu gosto da atriz, a Karla Cóssio.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
A Pilar.
14. Por quê?
Ah, eu me identificava com ela.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Eu gosto de dois. Do Christopher e da Maite.
16. Por quê?
Ah, pela afinidade. Eu gosto mais. Eu acho ele bonito e acho ela muito simpática.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Da Sol de la Riva.
18. Por quê?
Porque eu achava ela muito chata. E muito trapaceira.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
De que integrante? Do Poncho.
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20. Por quê?
Porque não. Porque não...
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Ah, eu gosto da cena do Diego, que ele fica bêbado e cai na piscina. E a Roberta vai buscar
ele lá dentro. Adoro essa cena.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
É ter atitude.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Ah, eu tenho vários. Por isso, não dá pra escolher um. Porque eu tenho a maioria.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Ah, pôster, camiseta, caderno, lápis, borracha. Todas essas coisas eu tenho.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
É, eu gosto de colecionar. Por coleção.
26. Por quê?
Ah, é porque é por coleção. Eu gosto de colecionar.
202
ABORDAGEM 15:
MICHELE DE OLIVEIRA
Idade: 17 anos
Sexo: Feminino
Escola: Escola Estadual Edir
Bairro: Jardim São Geovani
Série: 1ª série do Esnino Médio
Período: Matutino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Claro, direto. Não perdi um capítulo. Nenhum, nenhum, nenhum. Todo dia assistia.
2. Seus amigos também assistiam?
Ah, alguns. Alguns deles. O meu irmão, também, de vez em quando. É, alguns.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, tudo, porque eles falam de tudo que acontece na adolescência. Preconceito, esses
negócios todos. Então eu assistia. Isso me fez... Foi o principal. E também por causa da
Anahí, que faz a Mía. Porque eu gostava dela desde o Diário de Daniela.
4. Do que você
mais gostava em Rebelde?
Da Mía.
5. Do que você
menos gostava em Rebelde?
Bom, eu amava toda a novela. Mas a pessoa que eu menos gostava era a Polly Pocket, que é a
Sol. E a Sabrina, a bruxa adolescente.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Tudo. A banda é perfeita. Não tem o que tirar nem pôr.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Ah, minha mãe, ela não fala nada. Minha mãe gosta. Minha mãe, assim, gosta das músicas,
assistia a novela de vez em quando. Meu pai não fala nada. Meu pai fica na dele.
203
8. E da banda RBD?
Ah, minha mãe... Minha mãe ama. Minha mãe compra tudo pra mim. Tudo, tudo. Meu pai
num gosta. Mas também não fala nada. Fica na dele, assim. Normal. Só minha mãe gosta
mesmo. Meu pai não fala nada.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Ah, nada. Eles não falam nada. Nada, nada.
10. E da banda RBD?
Também não. Nada. Nem comentam. Eu vou de camiseta de vez em quando. Eles falam que
eu gosto de Rebelde, eu falo sim. Só isso, mais nada.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Ah, eu gostaria de ser a Mía. Porque o cabelo dela é muito lindo. E ela é perfeita. Muito
bonita.
12. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Da Mía.
14. Por quê?
Ah, porque ela é perfeita. A Mía, a Mía é perfeita.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Anahí.
16. Por quê?
Que ela é perfeita!
204
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Personagem de Rebelde que eu menos gosto? Ou da banda? Da novela, eu não gosto da Sol,
nem da Sabrina.
18. Por quê?
Porque a Sol... Ela era muito intrigante. E a Sabrina queria ir contra a Mía. E a Sabrina queria
tomar o Miguel da Mía. Isso num pode. É da Mía e pronto.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Bom, eu gosto... Eu amo todos de paixão. Mas eu me identifico menos com a Dulce. Com a
Dulce Maria.
20. Por quê?
Ah, não sei. Porque ela, tipo, ela pode ser carinhosa com os fãs. Mas nem tanto. Que nem a
Anahí. A Anahí, ela acena, manda beijo. A Dulce não. A Dulce é mais na dela.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Ah, na hora que a Mía e o Miguel foram pra Cancun, na praia. Os dois ficaram juntos na ilha
deserta. Fizeram promessas de amor essas coisas tudo. Essa foi a parte que eu mais gostei.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Significa lutar pelo que quer, e, pelos seus sonhos. E correr atrás de tudo. Ser rebelde não é só
aprontar, fazer essas coisas. O rebelde que eles passam pra gente é lutar pelos nossos sonhos e
ter certeza do que quer, nossos objetivos. Acho que é isso.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Ah, eu tenho todos. Então, eu não gostaria de ter porque eu tenho todos. Mas eu gostaria que
saísse um pôster exclusivo da Anahí. Dela, do novo visual agora. Só isso. Porque eu tenho
todos.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Todos. Jogo de cama, toalha... Sapato, blusa... Correntinha, pôster, anel, brinco. Tudo essas
coisinhas que saíram, pulseira, tudo. Chinelo também.
205
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Muito, muito, muito. É minha vida, é minha vida.
26. Por quê?
Ah, porque, tipo... Ah, não sei, é uma coisa, tipo, eu amo, eu amo. É sempre bom ter, assim,
sabe. É sempre bom ter o que você ama perto de você. Então, meus pôsteres, minhas coisas...
É tudo como ouro pra mim. Ninguém mexe nem nada. É só meu e pronto.
ABORDAGEM 16:
ALINE CRISTINE
Idade: 14 anos
Sexo: Feminino
Escola: Escola Estadual José Maria Whitaker
Bairro: Vila dos Mercedes - Ipiranga
Série: 8ª série do Ensino Fundamental
Período: Vespertino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Não perdia um capítulo.
2. Seus amigos também assistiam?
A grande maioria não. Eles têm preconceito, assim, com novela mexicana, né.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Assim, só de falar “rebelde”, todo mundo já quer assistir. Se fossem “os comportados”, acho
que ninguém iria assistir. Assim, é o jeito, os uniformes, tudo, chama muita atenção.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Os personagens, assim, os conflitos.
206
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Ah, nada, assim. Sempre gostei de tudo.
6. Do que você gosta na banda RBD?
O estilo, as músicas, o carisma deles.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Eles acham que eu sou doente por RBD.
8. E da banda RBD?
Também, que eu sou doente. Aceitaram faltar na aula hoje pra vir no show. Meu pai que me
trouxe. Ele me trouxe e vai me buscar.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Odeiam. Porque eles não gostam do estilo rebelde. Falam que as músicas são ridículas.
10. E da banda RBD?
Mesma coisa.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
A Lupita.
12. Por quê?
Por causa do jeito meigo dela. Eu gosto.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
A Lupita.
14. Por quê?
Por causa do jeito meigo dela.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
A Maite.
207
16. Por quê?
Ah, porque eu gosto, assim, da pessoa dela. Além de ela ser muito simpática, carismática. A
voz dela eu também acho melhor, tudo.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
A Sabrina.
18. Por quê?
Ah, porque ela era muito falsa. Num gostava dela. Tudo. Além de ser feia.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Nenhum. O meu amor por eles é igual. Gosto de todos.
20. Por quê?
Ah, assim, que eu não gosto menos de um, assim. Porque eu gosto de todos, assim, vamos
dizer. Todos são perfeitos.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Ah, gostei de todas, assim. Mas o que eu mais gostava eram os beijos.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ah, ter personalidade própria. Ter seu próprio estilo, né. Rebelde não é de se rebelar, saí por
aí se rebelando. É ter personalidade própria.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Assim, eu tenho quase todos. Porque RBD já está me falindo. Mas, o que eu gostaria de ter?
A toalha, eu ainda não tenho.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
CD, DVD, pôsteres. Quase todos.
208
25. Para você, é importante ter esses produtos?
É, né. Porque... Ah, eu gosto de ouvir os CDs. Assim, como eu gosto da banda, gosto de ouvir
a música deles. Por isso eu compro.
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
ABORDAGEM 17:
PRISCILA DE SOUZA M. DE OLIVEIRA
Idade: 14 anos
Sexo: Feminino
Escola: Escola Municipal Eneus Carvalho de Aguiar
Bairro: Vila Sabrina (Zona Norte)
Série: 7ª série do Ensino Fundamental
Período: Vespertino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Não. Porque a maioria das vezes a televisão não tava pegando. Mas, depois que eu mudei de
casa, nossa, eu não faltava... Eu saía da escola voando. Não esperava ninguém. Até meu
material eu deixava com minha amiga e chegava correndo. Só a primeira temporada que eu
não consegui assistir. Da segunda em diante eu assisti todas.
2. Seus amigos também assistiam?
Ah, a maioria não. E a maioria sim. Quer dizer, metade não, metade sim. A outra metade,
porque era preconceituosa. E a outra metade, porque ficava tudo na rua.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
É mais ou menos a história, a história que eles estavam tentando mostrar pra gente: que
rebelde não é você querer passar por cima de todo mundo e enfrentar as pessoas. Mas sim
aquilo que você quer, entendeu. Seus objetivos.
209
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Mais gostava? A cena de todos. Eles cantando, eles dançando. Tudo, tudo.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Eu? Ai, o pai do Diego. O tal do León. León? León, acho que é León. O pai do Diego. León,
o pai do Diego. Ai, me esqueci já. Porque ele era muito rúdico em querer que o filho dele
fosse político e não querer deixar o filho dele seguir o sonho dele que era ser cantor.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Ai, o jeito que eles cantam, o jeito que eles dançam. O que eles falam. Ai, tudo, tudo, tudo,
tudo, tudo.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Oh, meu pai gosta. A minha mãe, tipo assim, ela me... Tipo assim, às vezes ela fica me
xingando. Mas, no fundo, no fundo, ela gosta. Ela não assiste junto. Mas, também, tipo assim,
ela num, tipo assim... Ela dá palpite porque eu fico gastando dinheiro. Eu falo “não interessa,
o dinheiro é meu, eu vou e compro”. Ela não dá palpite.
8. E da banda RBD?
Ah, ela [a mãe] gosta. Tanto que ela foi ano passado no show, ela falou “ai, ano que vem, se
tiver, a gente vem de novo”. Ela veio, só que ela não vai entrar. Só vai entrar eu. Mas ela
gosta.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Eu nem sei. Acho que num gostam, não.
10. E da banda RBD?
Ah, eu não converso de Rebelde com eles, não. Eu sei que acho que só uma, se eu não me
engano, gosta. Que acho que é a professora de inglês.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Roberta.
210
12. Por quê?
Por quê? Ai, porque acho ela linda, maravilhosa. Ela tem os objetivos dela. Ela não está nem
aí com o que os outros vão pensar. Ela faz o que ela quer e pronto, acabou.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Roberta.
14. Por quê?
Mesma coisa.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Dulce Maria. A Roberta.
16. Por quê?
Porque, tipo assim, eu acho... A voz dela bonita. Acho que ela sabe interpretar. Canta bem.
Ah, e ela é linda.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Sabrina e...
18. Por quê?
[Não respondeu]
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Nenhum. Pra mim, todos são iguais.
20. Por quê?
[Não respondeu].
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
A parte que a Mía descobriu que o Miguel estava doente e podia morrer.
211
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ser rebelde?... Ai, assim na hora... Nunca paro pra pensar, não. Ai, eu... Ai moça. Agora
assim, na hora, assim... A gente não lembra. Peraí! [A entrevistada pergunta para um amigo].
Ter um estilo de vida próprio, né. E ai, peraí. Ter um estilo de vida próprio [repetiu isso em
voz mais baixa, como se estivesse organizando os pensamentos] e não pensar no que os outros
vão dizer ou falar, entendeu? Acho que você tem que respeitar o gosto.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Ah, metade eu já tenho. Porque é... Conjunto de cama, mesa e banho. Almofada. E a roupa.
Esses eu não tenho.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
CD, DVD, nossa... Pôster, revista. Ai, não, moça, um monte de coisa.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Ah, acho que os CDs e DVDs sim. Os CDs porque acho que, tipo assim, pra gente poder
acompanhar eles, né. E os pôsteres, pra gente guardar de lembrança. Ter sempre eles perto da
gente. Já que a gente não consegue ver, tocar eles, assim, mesmo.
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
212
ABORDAGEM 18:
WESLEY
Idade: 19 anos
Sexo: Masculino
Escola: Escola Estadual Francisco Faria Neto
Bairro: Pirituba
Série: 2ª série do Ensino Médio
Período: Noturno
NSE: D
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre.
2. Seus amigos também assistiam?
Também.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
A Anahí.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Hmmm... De tudo. Num tem alguma coisa especial, assim. Mais os atores principais, do RBD.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Menos gostava? (silêncio). Não tem uma coisa que eu menos gostava, assim. Gostava de tudo.
Da novela inteira.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Na banda? O figurino deles. O visual.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Num gostam. Não suportam.
8. E da banda RBD?
Também não.
213
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Alguns apóiam, assim. Ser fã, ir atrás. Mas, outros falam que não tem futuro.
10. E da banda RBD?
A mesma coisa.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Christian, o Giovanni.
12. Por quê?
Porque eu faço cover dele.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Da Anahí, a Mía.
14. Por quê?
Ah, o jeitinho dela. Tipo, meio princesinha.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Christian.
16. Por quê?
Num sei porquê, assim. É o que eu mais gosto. Assim, dos meninos, ele é o que eu mais
gosto.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Da novela? A Sol.
18. Por quê?
Fresquinha, chata. Tipo, num tinha nada a ver com a novela. Ela não fazia nada.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Christopher. Acho ele meio chatão.
214
20. Por quê?
[O entrevistado respondeu na questão acima]
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
A última cena? [Uma cena]. Uma cena? Foi...(silêncio) O final. Último capítulo. Quando... O
beijo que a Mía deu no Miguel. Foi bem emocionante.Bem legal.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Rebelde... Ser rebelde é você... Expor suas opiniões. E fazer as coisas sem se incomodar com
o que as pessoas pensam, sabe? Fazer o que der na telha, assim. Ser você.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Produtos? Ah, gel, perfume.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Quase não compro produto deles, assim. Como eu tenho minha banda, então eu... É muita
coisa, é roupa que a gente tem que mandar fazer. São várias questões. A gente não compra
muita coisa deles, assim. Só CD, DVD, essas coisas. Mas produtos assim, sobre a marca, a
gente não compra muito. Eu não compro muito.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
É, pra divulgar o nome. É uma divulgação a mais, pro nome Rebelde não sumir. Eles
continuarem, fazendo sucesso.
26. Por quê?
[O entrevistado respondeu na pergunta acima]
215
ABORDAGEM 19:
RONI
Idade: 13 anos
Sexo: Masculino
Escola: Escola Estadual Renato Antônio Checchea
Bairro: Pirituba
Série: 7ª série do Ensino Fundamental
Período: Vespertino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Assistia.
2. Seus amigos também assistiam?
Aham, sim.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, os personagens. As coisas que eles faziam. É, essas coisas.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Mais gostava? Era, assim, é, deixa eu vê... Do casal, da Mía e do Miguel. O que eu mais
gostava.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
O que eu menos gostava? Deixa eu vê. Ah, num tem coisa que eu menos gostava. Eu não
gostava da Seita também. A Seita que tinha na novela. Que era o pessoal do mal. Eu não
gostava da Seita.
6. Do que você gosta na banda RBD?
O que eu mais gosto? Ah, das músicas.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
[Não respondeu]
216
8. E da banda RBD?
Eles num... Ah, eles num... Eles gostam mais ou menos. Minha mãe, é... Minha mãe até que
deixa. A minha mãe deixou eu vir aqui hoje. Mas ficou meio assim. Porque ela tem medo que
aconteça alguma coisa. Alguma coisa... Igual na primeira vez que eles vieram, né. Que
morreram três pessoas. Aí ela fica com medo. Aí ela deixou. Graças à Lesi, né Lesi [é a amiga
que está ao lado]. Da banda ela [a mãe]... Da banda ela gosta mais ou menos. De algumas
músicas.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Eles nunca falaram nada.
10. E da banda RBD?
Também não.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Deixa eu ver... (silêncio). Queria ser... Queria ser o Alfonso, o Miguel.
12. Por quê?
Ah, não sei. Porque ele beijava a Anahí. (risos).
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Que eu mais gosto, eu gosto da Anahí.
14. Por quê?
Ah, porque... Ah, ela atua muito bem. As coisas que ela já passou na vida dela. Ela é um
exemplo de vida. Ela é.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Que eu mais gosto? Eu gosto da Anahí.
16. Por quê?
Ah, porque ela canta bem. E ela faz tudo bem. Ela é bonita. Canta bem. Ela... Simpática,
alegre. Tudo.
217
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Eu menos gosto é da... Eu não gostava da Pilar. Acho ela muito falsa.
18. Por quê?
Ela era muito falsa.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Hmmm... Christopher.
20. Por quê?
Por quê? Ah, num sei. É paradão, assim.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Foi quando a Mía se encontrou com o Miguel pela primeira vez. Aí é a que eu mais gostei.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ah, é um estilo. É... Você ser você mesmo. Você não ligar pro que os outros falam. É isso.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Eu gostaria de ter... O gel, os perfumes. É, esses aí. Os forros de cama.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Eu comprei na Páscoa... Comprei uma caixa de bombom deles. Já consegui comprar revistas,
cards, um monte de coisa, pôster.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
É.
26. Por quê?
Ai, divulgar, pra eles num terminar com a banda. É divulgação. Tudo. É bom você ter isso
também. Aí você nunca... Vai ser uma recordação. Você nunca mais vai esquecer deles. Que
foi uma coisa que passou na sua vida e você nunca mais vai esquecer.
218
ABORDAGEM 20:
PRISCILA CAROLINA DE SOUZA COSTA
Idade: 14 anos
Sexo: Feminino
Escola: Objetivo
Bairro: Santos
Série: 1ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: B2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sim, assistia.
2. Seus amigos também assistiam?
Alguns. Outros não.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Porque era diferente, entendeu. Num tinha só aquele vilão e uma mocinha. Tinha o que
acontece na vida real, entendeu. Eles não eram só projetados pra separar os mocinhos. Tinha
um casal de vilão que queria ficar com o mocinho e a mocinha, que nem em outras novelas.
Era como a vida real, praticamente.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
É que eles expunham a opinião. Eles expunham... Eu gostava tamm muito dos personagens.
Que era bem da vida real, assim. Bem característico.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Num tinha. Gostava de tudo.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Das músicas. Gosto muito da Anahí e do Poncho. São meus ídolos.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Uma porcaria. Eles não gostam.
219
8. E da banda RBD?
Também. Minha mãe e meu pai não gostam.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Acham que a gente é louco, né. Por gostar e ainda pagar o ingresso que é mó caro. Já fui duas
vezes. Nessa segunda vez minha mãe... Acham muito loucura meus professores. Acham
loucura.
10. E da banda RBD?
Também.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
A Mía, que faz a Anahí. A Anahí, que faz a Mía.
12. Por quê?
Ah, porque ela é super alto astral. É bonita. Sei lá, ela é inteligente.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
A Mía.
14. Por quê?
Por causa da atriz que interpreta, que é a Anahí, eu amo muito ela, então...
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Anahí.
16. Por quê?
Porque ela é alto astral. Ela diverte as pessoas. Ela é a mais simpática. Ela chora por nós. Ela
sempre ta mandando recados pra gente pelo fórum que tem no México. Ela conversa com a
gente. Ela fala que o Brasil é um país muito acolhedor. Que ela se sente segura aqui. E os
outros não fazem isso, entendeu. É a única que vai lá e conversa com a gente mesmo. Dá
muita atenção pra gente.
220
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Da... Só que não é da banda, mas é da novela mesmo. É a Sol. Porque se metia muito. Ela era
muito patricinha, assim. Ela tentava... Era muito artificial.
18. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Da Dulce Maria.
20. Por quê?
Porque eu acho ela muito antipática. Ela num, sei lá, ela num... Ela só fica cantando. Não se
diverte com o público, sabe. Ela não fica lá se o público cantar. Então ela é a que eu menos
gosto.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Quando a Mía e o Miguel foram pra Cancun. Eles começaram a conversar. E também teve o
final, assim, que eles se beijaram. Ele pediu ela em casamento.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ser rebelde não quer dizer, assim, que vai desrespeitar, assim. Quer dizer você ser... Ter
personalidade. Entendeu? Ver o que você quer. Não é ficar discutindo com o mundo. É você
ser o que você é, entendeu? Sem se importar com a opinião dos outros.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Tipo, eu tenho bastante. Só que eu gostaria de ter o perfume. Só que o oficial, do México
mesmo.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Ah, eu tenho os CDs, todos. Revistas eu sempre compro todas. Tenho xampu, condicionador,
essas coisas.
221
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Pra mim é, muito.
26. Por quê?
Porque me faz lembrar deles, entendeu. Parece que eu tô dando dinheiro pra eles. Sei lá,
muito... É legal.
ABORDAGEM 21:
MARIAH LEITE
Idade: 14 anos
Sexo: Feminino
Escola: Don Bosco (particular)
Bairro: TV Moreno – Campo Grande
Série: 1ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: A2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre.
2. Seus amigos também assistiam?
Também.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ai, os personagens todos.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ai, da história, dos personagens. Tudo.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Ai, acho que não tinha do que eu menos gostava. Eu gostava de tudo, sei lá.
222
6. Do que você gosta na banda RBD?
Deles. Eu gosto deles. Das músicas.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Bom, eles às vezes pegam no pé, assim, um pouquinho. Mas, porque eu escuto demais, eu só
vejo sobre RBD, as coisas, assim. Mas levam tudo na boa.
8. E da banda RBD?
Bom, eles acham legal até. Escutam as músicas. Bem legal.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Bom, é a maior complicação. Porque todo mundo fica zoando, tirando sarro e isso e aquilo.
Mas levam na esportiva também. Todo mundo tira sarro geralmente porque eles levam como
se fosse coisa de criança. E não é bem assim também.
10. E da banda RBD?
Da banda é mesma coisa. Todo mundo que escuta RBD, pra eles, é criança e isso e aquilo,
então.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Dulce Maria.
12. Por quê?
Ai, porque é a que tem mais estilo. É a melhor.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Dulce Maria, Roberta.
14. Por quê?
Ai, por... Ai, porque é a melhor. Sei lá. Ela é a que tem mais estilo. Mais diferente.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Dulce Maria.
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16. Por quê?
Ai, porque... Ai, ela é, assim, ela é diferente dos outros. Tem opinião própria. Por isso.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Menos? Eu acho que da Maite.
18. Por quê?
Ai, acho que ela não tem assim tanto estilo. Então não gosto muito dela.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Acho que da Maite também.
20. Por quê?
Ai, ela tem menos estilo. Então num gosto muito dela.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Ai, acho que foi a última, a última cena do Diego e da Roberta. Que foi, assim, foi pra fechar,
entendeu. Foi a melhor cena da novela. Foi que eles ficaram juntos e tal.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Eu acho que é mais que... Um estilo. É uma personalidade, entendeu? Eu acho. Mais
personalidade.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Bom, eu tenho muita coisa. Então, eu acho que, falta ter, assim, coisa de cabelo, que eu não
tenho, que lançaram. Caderno eu não tenho. Boné, roupa, essas coisas assim, eu não tenho.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Revista, caneta, estojo... (silêncio) Bolsa. Tudo.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Eu acho. Porque, se tem a ver com Rebelde e RBD, acho que é importante.
224
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
ABORDAGEM 22:
HELENA MARIA
Idade: 11 anos
Sexo: Feminino
Escola: Escola Estadual Maestro Fabiano Lozano
Bairro: França Pinto – Vila Mariana
Série: 5ª série do Ensino Fundamental
Período: Vespertino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre.
2. Seus amigos também assistiam?
Aham, sim
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Porque a novela é muito legal. E ensinava muitas coisas. Não como rebeldia... Responder às
mães, assim, aos pais. Mas, é se ajudar a si mesmo.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Tudo. Os capítulos. Os personagens. Tudo, tudo eu gostava na novela.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Não tem o que não gostava de Rebelde. Tudo eu gostava deles.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Eu gosto das músicas. E porque eles falam muitas coisas pra você quando você está dentro do
show deles. Falam coisas que agradam você quando está dentro do show. Falam... Ficam
falando que a gente é muito importante. Ficam falando várias coisas pra gente.
225
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Ah, eu não sei, porque eu nunca perguntei pra eles. Mas acho que eles não gostam, não.
Porque ensina muita rebeldia, eles falam.
8. E da banda RBD?
Da banda eles gostam. Da novela não.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Eles acham uma porcaria.
10. E da banda RBD?
Da banda eles gostam, da banda eles gostam.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Dulce Maria.
12. Por quê?
Porque eu acho ela a mais bonita da banda.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Dulce e Poncho.
14. Por quê?
Porque eu acho eles mais bonito. E a Maite e o Christopher. A Anahí e o Christian muito não.
Mas eu gosto deles também.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Dulce Maria. Dulce Maria e Poncho.
16. Por quê?
Porque ela é a mais bonita.
226
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Christian. Christian e Anahí.
18. Por quê?
Porque... Eu acho que porque eles são tipo, meio fresco. Eu acho que é por isso.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Da Anahí.
20. Por quê?
Num tem porque eu não gosto dela. Mas eu gosto mais da Dulce e da Maite. E da Anahí
muito não. Gosto mais da Maite e da Dulce.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Quando a Lupita se casou com o Nico. Essa parte foi legal.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
(Silêncio). É... Você se cuidar de si mesma. [tosse] Mas não ser rebelde e responder às mães,
responder aos pais, responder aos professores... Isso daí, na novela, acho que não significa
isso, ser rebelde assim. Você mesmo querer o que você quer. E você conseguir, lutando pelo
que você quer. Não você ser rebelde respondendo as suas mães, seus professores, seus pais.
Acho que é isso.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
O xampu deles.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
As faixas, os brincos... As faixas, os brincos e os pôsteres.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
É.
227
26. Por quê?
Porque essas coisas dão pra você usar. Dá pra eu usar em mim mesma e dá pra eu colar na
parede os pôsteres. [Os produtos, você acha legal ter por quê?] Porque é bom. É porque
sempre quando você vai usar você vai ver a cara deles e é mó legal.
ABORDAGEM 23:
CAROL BARBOSA DA SILVA
Idade: 15 anos
Sexo: Feminino
Escola: Escola Estadual Maestro Fabiano Lozano
Bairro: Vila Mariana
Série: 1ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Aham, sim.
2. Seus amigos também assistiam?
Aham, muito.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ai, eu ficava doida. Ficava batendo na TV quando aconteciam aquelas coisas emocionantes.
Eles se beijavam, era da hora.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
O que eu mais gostava? Da banda.
5. Do que você
menos gostava em Rebelde?
O que eu menos gostava? Do Jack, que ele era muito sem graça.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Na banda? Tudo.
228
7. O que seus pais acham de Rebelde?
É, eles não gostam muito. Porque eles falam que eu faço muitas coisas e sou uma filha muito
rebelde.
8. E da banda RBD?
O que eles acham? Eles não gostam, né. Mas só que eles não gostam, mas também não
desgostam.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
O máximo.
10. E da banda RBD?
Da banda também. Eles gostam também. Mandaram tirar foto pra eu dar pra eles.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
A Maite, com certeza.
12. Por quê?
Porque ela é muito linda e é a melhor.
13. De que personagens de Rebelde você gosta
mais?
Maite e Poncho.
14. Por quê?
Porque eles são os melhores.
15. De que integrantes de RBD você gosta
mais?
Maite.
16. Por quê?
Porque ela é muito linda. É muito sensível. Amo ela muito.
229
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Menos? (silêncio) Ai... (silêncio). Da Pilar.
18. Por quê?
Porque ela é muito chata. E o pai dela ainda é diretor do colégio e ela quer mandar na escola.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Integrante? Christian. (risos).
20. Por quê?
Porque ele é gay. (risos). Porque, ai, sei lá... Porque os outros são mais bonitos e mais
agitados. Ele não.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
No dia que a Maite casou com o Nico. E ela começou a chorar. E estavam todos os
personagens da banda e foi muito da hora.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ah, não obedecer aos seus pais. Num fazer nada... Não fazer nada que seus pais mandam.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Ai... Gel... Gel.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Já consegui? Gel.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Muito. Porque eu amo eles muito. Porque eu amo eles.
26. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta anterior].
230
ABORDAGEM 24:
THIAGO SANTANA JUNIOR
Idade: 16 anos
Sexo: Masculino
Escola: Escola Estadual Fabiano Lozano
Bairro: Vila Mariana
Série: 2ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre.
2. Seus amigos também assistiam?
Com certeza.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
A banda.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
O Christian e a Dulce.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Nada.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Todos.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Demais. A minha mãe também gosta.
8. E da banda RBD?
Também.
231
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Não gostam muito. Porque ano passado eu não fui muito bom aluno. Por causa do RBD.
10. E da banda RBD?
Ah, eu também não sei. Acho que não gostam muito, não.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
O Giovanni.
12. Por quê?
Porque ele é demais.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Do Giovanni. E da Roberta.
14. Por quê?
Porque eles são incríveis. São tudo. Os melhores.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Do Christian e da Dulce.
16. Por quê?
Porque eles cantam super demais. Os dois juntos fazem um belo casal.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Nenhum.
18. Por quê?
Ai, porque eu amo eles.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Nenhum.
232
20. Por quê?
[Não respondeu].
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Quando a Roberta salvou o Diego quando ele caiu bêbado na piscina.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Um estilo de vida. Um estilo de vida diferente.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Todos. Todos os possíveis.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
O gel.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Com certeza.
26. Por quê?
Porque RBD é tudo.
233
ABORDAGEM 25:
ROBSON SILVA
Idade: 18 anos
Sexo: Masculino
Escola: Unimar (Publicidade)
Bairro: Jardim Holanda (Marilia)
Série: 1ª série do Ensino Médio
Período: Noturno
NSE: B1
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Todo dia.
2. Seus amigos também assistiam?
Alguns. A maioria não gosta. Mas eu assistia.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, ela... Por ela ser uma novela diferente das outras. Ser legal, assim. Me chamava a atenção.
É diferente das outras. Muito diferente. O formato. Não é aquela mesma historinha melosa,
assim. Sempre alguma coisa diferente.
4. Do que você
mais gostava em Rebelde?
Ah, dos casais.
5. Do que você
menos gostava em Rebelde?
Ai, que cortava muito. O SBT cortava muito. Não passava completo, entendeu. Cortava.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Não, somente da Dulce e do Christian.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Bom, eles não aceitavam. Agora eles estão começando a ajudar, assim, gostar, influenciar.
234
8. E da banda RBD?
Também. A mesma coisa.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Bom, alguns gostam, alguns não. Uns, tipo, falam mal deles ainda, assim. Que é uma banda
nada a ver, sabe. Mas outros preferem nem opinar. Cada um tem sua opinião.
10. E da banda RBD?
A mesma coisa.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Christian.
12. Por quê?
Porque acho que ele é o mais engraçado, o mais divertido da novela. E porque eu tô igual
(risos).
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
O Christian.
14. Por quê?
Ah, porque ele é demais.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
A Dulce.
16. Por quê?
Porque ela é linda, demais, perfeita.
17. De que personagens de Rebelde você gosta
menos?
Ai, difícil escolher um que gosta menos, assim. Deixa eu pensar. Ai, uma que era... Que fazia
a Sol.
235
18. Por quê?
Ah, por ela ser meio mal, assim. Como aquelas novelas, vilã da novela, sabe.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Vixe, é difícil falar. Tipo, acho que da Maite.
20. Por quê?
Ah, porque, tipo, minha preferência é mais, pela ordem, assim, mesmo, ela fica por último.
Mas não que eu deixe de gostar dela, assim. Gosto pra caramba. Mas não tanto quanto os
outros.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Deixa eu tentar lembrar. Da cena que o Diego tava bêbado. Aí a Roberta chegou. Os dois
caíram na piscina. E os dois começaram a se beijar.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Um estilo de vida. (silêncio). Hmmm... É, isso, um estilo de vida, diferente dos outros.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Todos. Praticamente todos. Eu tenho só os CDs, assim, mesmo. E pôster e revista. Mas eu
queria ter todos, todos.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
CDs e revistas. Pôsteres.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Sim, se eu gosto deles. Assim, tipo, acho que é uma forma de demonstrar meu carinho por
eles também. Tendo sempre guardado.
26. Por quê?
Porque, tipo, ter sempre guardado uma lembrança deles vai ser sempre bom. Porque não sei se
vai durar pra sempre. Então, vai ter sempre guardado alguma coisa.
236
ABORDAGEM 26:
MELISSA TERESA CHICONI DE PIERI
Idade: 17 anos
Sexo: Feminino
Escola: Objetivo
Bairro: Jaú
Série: 3ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: B2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Sempre. De segunda a sábado.
2. Seus amigos também assistiam?
Algumas. Mais as meninas, né.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, eu gostava dos personagens, da história. Porque é jovem, né.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Do amor, dos casais.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Às vezes tinha algumas coisas bem de crianças, né. Então eu não gostava.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Do estilo, das músicas.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Ai, eles não gostam muito, não. (risos) Estão já enjoado de tanto que eu ouço.
8. E da banda RBD?
Ai, eles gostavam, assim. Mas eles não são muito... Eles não gostam que eu gosto muito, não.
237
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Acham de criança, né. Mas eu não acho. Eu gosto.
10. E da banda RBD?
Da banda também.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Personagem da novela? A Roberta.
12. Por quê?
Porque eu gostava dela, que ela é de atitude. Tinha a própria personalidade dela.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Do personagem? Gosto do Diego.
14. Por quê?
Porque ele é lindo. (risos).
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Da banda, né? Gosto da Dulce e do Christopher.
16. Por quê?
Porque eu acho que eles são lindos. Cantam bem... E têm carisma, acho.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Menos? Ai, gosto de todos. Mas que eu gosto menos é da Anahí.
18. Por quê?
Ai, não sei, me identifiquei mais com os outros.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Integrante? Ah, da Anahí, eu acho, né.
238
20. Por quê?
Não, eu gosto de todos. Mas o que eu menos gosto é dela.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Uma cena... Hmmmm. Do aniversário da Mía e da Roberta. Que eles dançaram valsa. O
Diego com a Roberta. O Miguel com a Mía. E foi lindo.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
(Silêncio). Ter atitude. Ter seu próprio estilo. É, acho que é isso.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Os CDs e DVDs, né. (silêncio). Ah, as revistas. É, não tem muito, né.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Que eu já consegui comprar? Ah, revistas, CDs, DVDs. Perfume.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Ah, faz parte de você ser fã, né, eu acho. Mas acho que não é importante. Aqueles que não
têm condições de comprar, ficam fãs só, né. Sem produtos.
26. Por quê?
[Respondeu na pergunta anterior]
239
ABORDAGEM 27:
DÉBORA TOMASZEWSKI
Idade: 16 anos
Sexo: Feminino
Escola: Cervantis
Bairro: Mooca
Série: 2ª série do Ensino Médio
Período: Matutino
NSE: A2
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Todo dia. Posso falar? Assistia todo dia. Não perdia um capítulo.
2. Seus amigos também assistiam?
Ah, só alguns. A maioria não gostava, assim. Não gostavam muito, assim. Mas respeitavam,
assim, pelo menos.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, eu gostava dos atores. Eu gostava das músicas. Eu gostava da história.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ai, eu mais gostava... Vixe... Quando tinha show na novela. Era muito legal.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Eu não gostava... Quando tinha aquelas coisas muita espalhafatosas. Pareciam mentiras.
Quando aparecia... Ah, que eles estavam pensando e apareciam aqueles balões. Era meio
falso, assim. Aí eu não gostava muito.
6. Do que você gosta na banda RBD?
Ai, eu gosto de tudo. Gosto dos cantores. Da banda. Das letras. Tudo. Adoro.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Ah, meus pais... Eles sempre apoiaram, assim, tudo. Porque eu gosto. Eles respeitam, assim.
Meu pai até que ouve umas músicas, assim. Eles são de boa.
240
8. E da banda RBD?
Ah, não, também nada contra, assim. É o que eu gosto. Eles respeitam. Na boa.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Meus professoram zoam Rebelde. Toda vez. É, tipo, a gente colocou a camiseta, pro show,
assim, embaixo. Aí eles ficaram “ai, vai no Rebelde, que não sei o que”. Eles ficam zoando.
Mas nem ligo. É brincadeira.
10. E da banda RBD?
Ah, eles nem devem conhecer direito a banda. Eles sabem mais da novela. Porque eles não
acompanharam. Então eles acham que é a mesma coisa. Mas não é.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Gostaria de ser a Pilar. Porque eu gosto dela, porque ela tem os planos dela. Ela é bem
esperta, assim.
12. Por quê?
É, porque eu me identifico com ela, assim. O que ela faz eu achava muito divertido.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Mais gosto... Hmmmm... (silêncio). Da Roberta.
14. Por quê?
Ah, porque... Ah, ela é, assim... Ela não é tão boazinha, assim. Ela tem o seu lado mau e o seu
lado bom também. Ai, eu gosto... Ela não é tão fresca. Aí eu gosto dela.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Nossa. Essa pergunta é difícil, meu. Ai, eu gosto de todos. Ai, que difícil. Ai, não sei. Que
cada um eu gosto de um jeito diferente, assim. Ah, um gosto mais por causa da voz. Ai, cada
um tem o seu jeito. Eu gosto de cada um, um pouquinho, assim. Muito difícil escolher.
16. Por quê?
[A entrevistada justificou na pergunta acima].
241
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Que eu gosto menos? Deixa eu ver. Acabou a novela faz tanto tempo. Ai, eu não gostava
muito da Lupita. Ela era muito boazinha. Ela ficava toda “ai, nan, nan, nan e não sei o quê”.
Toda... Não gostava muito dela. É meio fresquinha.
18. Por quê?
Porque ela era boazinha demais. Era muito santa.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Impossível. Ah... Assim, eu gosto de todos. Mas o que eu menos gosto é o Christopher. Ah,
não sei, tipo.
20. Por quê?
Ah, eu gosto muito dos outros. E dele não é aquela coisa “eu amo ele”, assim. Lógico que se
eu visse ele na rua eu sairia gritando, né. Mas, no patamar, assim, acho que é o que eu gosto
menos.
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Uma cena de Rebelde... Ai, deixa eu lembrar. Ah, eu gostei logo no começo da novela. Eles
foram pra uma boate. E foram todos fantasiados com umas roupas super legais, assim. E
dançaram e teve o primeiro beijo de todos. Foi a cena que eu mais gostei. Assim, eu gosto
muito dessa cena. Acho muito legal.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ah, ser rebelde num é, assim, você se rebelar contra os seus pais. No lugar que você vive,
assim. É você, tipo, você mais lutar pelo seu sonho, pelo que você acredita, assim. Rebelde
não é, tipo, se vestir de tal jeito, gritar, não sei o que. É você ir atrás do que você quer de
verdade e tal. Acho que isso é o que eles tentam passar. E, assim, acho que é o verdadeiro
significado de rebelde.
242
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Ai, eu não tenho nenhum. Num gosto. Aquele gel Rebelde, calçinha Rebelde... Fica aquela
coisa meio... Ai, eu gosto dos CDs, só. Tipo, coisas, produtos, assim, nem curto, não.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
CD... Ai, vixe, quase nada. Boneca. A boneca. Eu ganhei a boneca. Então, acho que, de
Rebelde, só a boneca ainda. Boneca da Roberta e boneca da Mía. Eu ganhei. Foi mó história.
Acabei ganhando as duas. Bem legal.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Não. Tipo, importante é você ter o CD, ouvir o CD e tal. Acho que não é muito importante,
assim.
26. Por quê?
Ah, porque, assim, eles vendem, eles ganham dinheiro com isso. Mas acho que, sei lá. Eu não
acho... Eu não vejo muita graça, assim. Tipo, “oh, to com um tênis do Rebelde”. Tipo,
Rebelde não é... É a banda e tal. Nem gosto muito.
ABORDAGEM 28:
VANESSA RODRIGUES
Idade: 18 anos
Sexo: Feminino
Escola: Curso de Inglês – Itacua (SP)
Bairro: Recanto Mônica
Série: Ensino Médio completo
Período: não estuda
NSE: C
1. Você assistia sempre a Rebelde?
Todos os dias.
243
2. Seus amigos também assistiam?
A maioria assistia também.
3. O que fazia você assistir à novela Rebelde?
Ah, o cotidiano. A realidade que eles faziam. Cometiam erros. Que outras novelas não têm.
Nas outras novelas todos são certinhos. Só tem bonzinho. Não tem nada. Bom e o mal. E não.
Rebelde, eles cometem erros. Eles podem ser bons. Mas às vezes eles fazem coisas, sabe,
igual ao ser o humano normal. É uma novela que fala a realidade. Muitos não pensam. Mas
isso é a realidade, mesmo. Pelo que eu assisti, sempre eu me identificava.
4. Do que você mais gostava em Rebelde?
Ai, eu gostava da atitude deles. Lutando pelos sonhos. Sempre ajudando o próximo. Fazendo,
sabe, ajudando o próximo. Dando um pouco do amor que, sabe, ajudando. É, tudo positivo.
Rebelde, só positivo. O nome pode ser rebelde. Mas, de rebelde... De rebelde... Eles... São
rebeldes do bem. São rebeldes pra lutar por uma causa nobre. Uma causa positiva. Sempre,
sabe... Nada negativo da novela.
5. Do que você menos gostava em Rebelde?
Menos gostava? Não posso responder. Que eu num... Eu gostava de tudo.
6. Do que você gosta na banda RBD?
RBD... Passa carisma. Otimismo. Sabe, aquela coisa positiva. Que você vai ao show e você
sente aquela coisa bonita, sabe. Aquela... “Porque fazemos tanta guerra se o amor e a paz não
custam nada?”. Eles sempre falam coisas positivas. Tudo. Você não imagina. Porque têm
muitas pessoas que não conhecem o RBD e falam “ah, o RBD é má influência.”. Ma, se vocês
forem ao show... Cantar, sabe. Vão olhar, assim, “nossa, esses meninos trabalham mesmo”. E
são maravilhosos. Até me emociona falar deles. Eles são, talvez... Ninguém sabe o que a
gente sente por eles. É maravilhoso. Em uma palavra: maravilhoso! Num tem outra banda.
7. O que seus pais acham de Rebelde?
Meus pais adoram, como eu. Minha vó. Todo mundo da minha família. Se um não curte,
respeita. Respeito acho que é o mais importante. Se você não gosta “ah, eu não curto muito,
mas eu respeito”. Aí sim. Acho que tem que ser assim, né. Tudo...
244
8. E da banda RBD?
Ah, o meu pai acha eles maravilhosos. Minha mãe principalmente. Está ali minha mãe comigo
também.
9. O que os seus professores acham de Rebelde?
Ah, agora não sei. Meu professor de Inglês. Ele acha legal. Porque é uma banda pra
adolescentes. Coisa positiva. As músicas falam muitas coisas positivas, amor, paz, sabe. Não
tem nada de influência, assim, má influência. Eu acho que o RBD é uma ótima influência para
as pessoas. Porque eles sempre estão de alto astral. Não é aquela coisa... Aquela banda que,
sabe... Que não liga pros fãs. Que só liga pro dinheiro. Eles não. Eles ajudam... Eles têm uma
fundação pra ajudar as crianças. Eles têm uma fundação. “Salvame”. É fundação pra ajudar as
crianças de rua. Ajuda do Brasil, do México e de todos os países que eles fazem sucesso.
10. E da banda RBD?
Da banda eles acham muito legal. A atitude deles, né. Se um não gosta, respeita. Porque eu
terminei, né, os estudos. Só tô fazendo inglês. O meu professor respeita. Todo mundo
respeita, assim.
11. Se você pudesse ser uma personagem de Rebelde, qual você gostaria de ser?
Olha, eu vou falar a Mía. Porque ela pode ser patricinha, mas ela tem um grande coração. Que
ela faz, sabe, a gente rir, chorar com ela. Sempre querendo tudo de bom pra acontecer com
ela, sabe. É, a Mía. Todos, eu gosto de todos. Mas a Mía é carismática, engraçada.
12. Por quê?
Carismática, positiva, engraçada. Sonhadora também.
13. De que personagens de Rebelde você gosta mais?
Ai meu Deus, está difícil, hein. Gosto de todos. Mas especialmente da banda, os seis, né. Mas
eu... A Mía também. Mía.
14. Por quê?
Porque ela é sonhadora, positiva. Sempre... Nada, sabe, atrapalha os sonhos dela. Sempre
lutando. Ela passa uma coisa que, sabe, você se identifica assistindo. Fala “nossa, isso é
245
verdade”. Comete erros, como todo ser humano. Mas sempre com um grande coração no
final.
15. De que integrantes de RBD você gosta mais?
Ai meu... Só um? Eu gosto de todos. Maravilhosos. Lindos. Mas eu vou falar também da
Anahí, que é a Mía, do Rebelde. Ela é, nossa...
16. Por quê?
Maravilhosa. Canta. Ela cantando “Salvame” com aquela emoção, chorando. Que ela passou
por muitas coisas. Ela teve anorexia. Quase morreu, sabe. Ela... É um exemplo, eu acho. Pelo
que ela passou da doença, anorexia. Sempre tentando ajudar as pessoas. Pensando no próximo
e... Sempre positiva. É alto astral. É uma pessoa que você gosta de ficar ao lado, sabe. Pessoas
desse jeito, como todos os integrantes do RBD, todos. Todos são maravilhosos. Todos. Se eu
só pudesse escolher um, não daria. Porque têm que ser os seis. Maravilhosos, todos.
17. De que personagens de Rebelde você gosta menos?
Menos? Olha, tem, fora os seis, maravilhosos. Mas fora... Os outros integrantes, os atores, vou
falar... Da Sol.
18. Por quê?
Porque ela sempre, sabe, fazendo maldades. Eu não gosto. Coisas negativas, sabe. Fazer
maldade pros outros. Pessoas que... Só porque ela pode um pouco mais ou é mais bonita, mais
talentosa... Ela sempre tentando, sabe, destruir. Porque isso acontece na vida real. Tem gente
que, né... Mas é ela, a Sol mesmo. Têm outras tamm. Mas a Sol é uma das... Mas os
integrantes, os seis, da banda, sempre na novela, tudo, todos maravilhosos.
19. De que integrantes de RBD você gosta menos?
Ai, nem... Ai, gosto de todos. Dulce Maria, Poncho, Christopher, Christian, Maite,
Christopher, todos. Anahí. Todos. Eu adoro todos. Não tem nenhum que eu “ai, não, esse eu
não gosto mais.” Adoro todos.
20. Por quê?
[A entrevistada respondeu na pergunta acima].
246
21. Conte uma cena de Rebelde de que você tenha gostado muito.
Deixa eu escolher uma. Que têm várias. Eu acho que no show que eles fizeram pra arrecadar
dinheiro pra ajudar as crianças do México. Esse show eu gostei mais, na novela. Porque eles
fazem, sabe. Uma coisa ficção junto com a realidade. Eles ajudam as pessoas em várias...
Quando eles ajudam o outro. Começam, sabe, aquela amizade. Tentando ajudar um ao outro.
Aquela... Ah, tem tantas cenas. São tantas coisas que eu gosto do Rebelde. Gostava, né. Que
acabou. É, quando eles ajudam as pessoas. Quando eles... Ah, é, como eu falei, amor...
Sempre mostrando o amor que eles sentem um pelo outro. Isso.
22. Para você, o que significa ser rebelde?
Ser rebelde é lutar pelos seus sonhos. Nunca deixar de perder, sabe, os sonhos. Nunca se
esquecer que os seus sonhos... Você pensar, pensar positivo, falar “eu vou conseguir fazer
isso”, você consegue. E rebelde não é aquela coisa, sabe, se revoltar contra todos. Aquela
coisa negativa. Sempre pensando positivo. Para ajudar um ao outro. Pensando não só em
você, mas no próximo.
23. Vários produtos foram lançados com a marca de Rebelde e RBD. Quais produtos
você gostaria de ter?
Ah, todos, né. Mas, eu presto mais atenção nos CDs e nos DVDs. Mas todos os produtos são
maravilhosos. Também, né, como RBD. Mas eu presto mais atenção nos DVDs, CDs e
revistas.
24. Quais os produtos de Rebelde-RBD que você já conseguiu comprar?
Tenho CDs, DVDs, revistas, camisetas. Várias coisas. Mas tudo tem um limite, né. Eu sou fã,
mas todos têm, tudo tem um limite. Tem que respeitar o RBD. Porque eles são seres humanos,
né. Respeitar como a gente. Mas com o toquinho especial que eles têm. Maravilhosos.
Especiais. Muito importantes pra mim. Porque é uma felicidade. Se você tem um problema,
você vai lá, ouve, escuta uma música, sei lá... Nossa o RBD é demais. Sabe aquela coisa,
sabe, que faz você se emocionar muito. Só coisas positivas o RBD. Sempre.
25. Para você, é importante ter esses produtos?
Olha. Não é que eu não gosto. Mas pra mim não é o mais importante. O mais importante é
você gostar da banda. Você acompanhar eles. Se você não conseguir comprar um CD, um
DVD... O importante é que você goste. Porque tem gente que não tem condições, né. Pra
247
comprar tudo. Mas eles gostam. Acho que mais importante que os CDs, os DVDs, mesmo se
você não tiver condições, acho que o mais importante é gostar mesmo. Gostar, acompanhar
eles, como você puder.
26. Por quê?
É, o RBD... Uma palavra pra descrever o RBD não tem. Porque são várias. Todas positivas.
Maravilhosos, educados, honestos. É... Profissionais. Quando tem que ser, profissionais. E
carismáticos. E outras mais também.
248
APÊNDICE F – TRANSCRIÇÃO 2
Transcrição 2. Transcrição do grupo focal realizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Joaninha Grassi Fagundes em 30 de novembro de 2007
Transcrição
Cena 1: Roberta se declara pra a mãe
1) Como é a história que envolve essa cena?
Menina 1: E, ai ai...
2) Qual a opinião de vocês sobre o que vocês assistiram? O que vocês acham sobre essa cena?
Menino 1: Ele disse que achou muito chata.
Menina 2: Muito legal.
Menino 2: Uma parte é boa e uma parte é ruim. A parte boa é por causa das mulheres.
Menino 3: Ridículo.
Menina 3: [Não deu para entender o que ela falou. Os alunos pediram para ela repetir e ela
disse: Vocês ficam fazendo isso em frente das câmeras].
[Risos].
Menino 4: Ele falou que é ridícula.
Pesquisadora: E por que você acha ridícula?
Menino 5: Porque é para criança. E é pra quem é rebelde.
Menino 6: O Rodrigo sabe de tudo.
Menino 2: Uix, eu não, você que é rebelde.
Pesquisadora: Vou passar outra cena e vamos ver se vocês falam mais alguma coisa.
Menino 5: Ah, vai ser chata também.
Cena 2: Prof. Madariaga e alunos após manifestação
Observações:
Os alunos começam a rir quando aparece a Celina (menina gordinha) na tela.
1) Como é a história que envolve essa cena?
Menino 7: Eu não.
249
Menina 4: Fala, fala.
Menina 5: É o grupo.
Menina 6: Professora, a Aline quer falar.
2) Qual a opinião de vocês sobre o que vocês assistiram? O que vocês acham sobre essa cena?
Menino 8: É chata.
[Risos].
Menina 3: Essa cena mostra que, mesmo eles sendo desse jeito, eles têm uma parte forte
deles, uma parte boa.
Pesquisadora: Então ta, vou passar a outra cena.
Menina 4: Não vai aparecer o Miguel aí, não?
Menino 5: Professora, as meninas estão rezando pra aparecer o Miguel.
Menino 9: E o Diego.
Cena 3: Carta do Prof. Reverte para os alunos
Observações:
Algumas meninas acompanham cantando baixinho a música que passa na cena.
Uma amiga pega na mão da outra.
As meninas reclamam quando a cena acaba.
1) Como é a história que envolve essa cena?
Menina 7: Das férias.
Menina 5: Lembra a amizade.
Menino 11: Velório. Velório na praia.
2) Qual a opinião de vocês sobre o que vocês assistiram? O que vocês acham sobre essa cena?
Menina 4: É chato – fala ironicamente, imitando o que os meninos falariam.
Menina 4: Ela falou que é emocionante. Nós duas quase choramos aqui. Só!
Pesquisadora: Sobre amizade, vocês querem falar alguma coisa?
A menina 4 (Karina) abraça a menina 5.
Pesquisadora: Vou passar a outra cena.
250
Cena 4: Roberta e Diego falam sobre amor e loucura.
Observações:
Quando a cena acaba, a menina 4 diz: - Aaaaaah. Passa a novela inteira aí.
Menino 12: Eu vi o Diuego (fazendo gozação).
Meninos: Diuego, Diuego.
1) Qual a opinião de vocês sobre o que vocês assistiram? O que vocês acham sobre essa cena?
Menino 5: O Olívio falou que é romântico.
Menina 8: O amor, né.
Menino 5: O Olívio falou que ele queria estar aí no lugar do Miguel.
Meninas: Miguel, não, Diego.
Meninos: É, o Diuego.
Pesquisadora: Quem aqui assistia a essa novela?
[Em torno de nove jovens levantam a mão.]
Pesquisadora: Vocês querem dizer alguma coisa sobre a novela?
Menina 4: Muito legal essa novela.
Pesquisadora: E é legal por causa de que? Dos personagens?
Menina 4: Por causa de tudo. Tudo, tudo, tudo.
Menino 13: Essa parte foi legal, Professora. Essa parte foi legal.
Menino 12: Mó emoção.
Menino 13: Essa daí foi emocionante essa parte aí.
Menino 12: Essa parte foi emocionante.
Menino 13: Foi emocionante mesmo.
Menino 12: Foi emocionante.
Menino 13: Cala a boca (falando para um colega ao lado).
Pesquisadora: Mesmo quem não assistia gostou então?
Crianças: Sim.
Menino 12: Professora, é de amor. Ele (o menino 13) disse que fala de amor.
Menino 13: Mentiroso.
251
Cena 5: Show em que Miguel beija Mía
Observações:
Quando começa a cena, as crianças gritam “Uhuuuuuuu!”
A menina 4 começa a se abanar.
Quando Miguel e Mía se beijam, todos os alunos começam a gritar.
O menino 13 diz que um colega seu está chorando.
As três meninas lá atrás (que assistiram à telenovela) reclamam quando a cena acaba.
1) Qual a opinião de vocês sobre o que vocês assistiram? O que vocês acham sobre essa cena?
Menino 13: O Rodrigo (menino 12) disse que é romântico.
Todos juntos: Foi romântico, foi romântico.
Pesquisadora: De todas as cenas que eu passei (a filha declarando seus sentimentos pela mãe;
o professor falando com os alunos depois de eles terem feito uma manifestação para ajudar
um aluno que precisava; uma personagem lendo uma carta, que vocês falaram sobre amizade;
a personagem falando sobre amor com outra personagem e essa que foi um show), qual que
vocês mais gostaram?
Todos: A última.
Pesquisadora: Por quê?
Todos: Porque é romântica.
Menino 5: Porque rola uns beijos.
Menino 13: Porque quase me emocionou.
Menino 14: O João ta chorando!
Menino 15 (João): Eu não to chorando não, oh! Não to chorando nada.
Pesquisadora: Vou passar novamente a cena 1, que vocês não falaram quase nada.
Menino 12: Mostra o carinha beijando de volta.
Cena 6: Roberta se declara pra a mãe
Observações:
Começa a cena e o menino 12 fala: Ah, é mó chata.
O menino 13 finge que vai começar a chorar.
252
1) Qual a opinião de vocês sobre o que vocês assistiram? O que vocês acham sobre essa cena?
[Silêncio].
Pesquisadora: Vocês acham que a mãe e a filha se dão vem?
Todos: Dão mal.
Menino 16: Dão mal e bem.
Todos: Eiaaaa!
Pesquisadora: Agora vou passar a última cena.
Cena 7: Diego bebe e cai na piscina
Observações:
Menino 17: Ah, essa aí eu lembro
Menina 9: Essa eu lembro.
Menino 13: Ela vai beijar ele.
Menino 13: Vai logo, vai logo.
Menino 13: Oh, dá um beijinho nele.
Menino 13: Agora ele acorda, quer ver.
Menino 13: Falei.
1) Como é a história que envolve essa cena?
Menino 13: Eu não lembro, porque eu nunca assisti.
Menina 10: A Karina (menina 4) sabe.
Menina 4: Eu não sei nada. Falei que assistia, mas eu não lembro.
Menina 4: Ela falou assim: porque os dois tinham terminado e ele bebeu muito.
Menino 13: É, aí ficou bêbado e...
Menino 12: Só não morreu porque a menina salvou.
Menino 13: É, a mulher tava lá e salvou ele, deu um beijo nele.
Pesquisadora: E vocês acham certo ele ter bebido?
Todos: Não.
Menino 12: Ele podia morrer, ter se afogado.
Menina 4: É, se não tivesse ninguém, poderia ter morrido afogado.
253
Pesquisadora: E entre esta cena e a outra que vocês escolheram, qual delas é melhor?
Menino 13: A do show.
Menina 4: Todas.
Menino 12: Só a primeira que é ruim.
Pesquisadora: E porque a primeira é ruim?
Menino 13: Ai, ficam chorando.
Menino 12: É, só choram.
Menino 18: É humilhante.
Menino 12: Só fica humilhando a mamãe.
Menino 13: Fica humilhando a mãe dela e depois diz que ama a mãe dela.
Meninos 12 e 13: Te amo mãe, Te amo mãe (gozação com as falas das personagens).
Pesquisadora: Vocês querem falar mais alguma coisa?
[Não].
Pesquisadora: Era isso então. Muito obrigada.
Menino 19: Vou aparecer na televisão?
254
APÊNDICE G – TRANSCRIÇÃO 3
Transcrição 3. Transcrição das entrevistas em profundidade realizadas na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Joaninha Grassi Fagundes em 06 de dezembro de 2007
Transcrição
Karina Perandim da Silva
(K.P.S. – 11 anos – feminino – NSE B)
1. Com qual personagem de Rebelde você mais se identifica? Por quê?
A Roberta. Ah, porque ela é meio doidinha, aprontava muito. E bonita tamm.
2. Você acha que tem um jeito parecido com o dela?
Não.
3. Que cena de Rebelde que você lembra que tenha gostado bastante? Por quê?
[Silêncio].
4. Você comprou produtos de Rebelde e RBD? Quais?
Card, pôster, revistas, fotos. Comprava sempre.
5. Conte um pouco o uso que você faz desses produtos.
Trazia de vez em quando pra escola. Os repeti... Os repetidos nós trocávamos com as amigas.
E eu ficava lendo lá, brincando.
6. Pra você, é importante ter esses produtos?
Ah, eu gosto. Porque eu sempre gostei dessa novela. Desde o primeiro dia que anunciaram, eu
comecei.
7. Para você, o que significa ser rebelde?
Fazer loucura, meio revoltado, assim.
8. Você se considera rebelde? Por quê?
[risos]. Não. Só bagunço um pouco na sala, mas não tanto.
255
9. Qual você acha que é a mensagem que a novela tenta passar?
Um pouco de cada coisa. Um pouco da amizade, dos amigos. Do amor também e das
loucuras.
10. O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Eu ando de bicicleta, brinco com os meus amigos. À noite eu assisto televisão. Até umas 11
horas fico assistindo televisão. Depois eu pego e durmo.
11. Quantas horas por dia você assiste à televisão?
É, à tarde quando eu chego da escola. Aí acaba o negócio, aí acaba. Aí eu fico brincando na
rua. Depois eu chego, tomo banho, como e fico assistindo televisão.
12. Quantas vezes você vai ao cinema por mês?
Ah, meio difícil. Porque não sou muito chegada.
13. Você possui TV a cabo?
Não.
14. Você tem o hábito de ler livros?
Eu gosto de ler mais gibi. Gibi, nossa, eu tô cansada de ler em casa. Igual, meu pai tava
falando esses dias, pra eu ir à biblioteca pegar um livro e ler.
15. Você compra CDs originais ou piratas?
Cópia.
16. Você tem o hábito de ler revistas?
Leio gibi e quando lançava as revistas do Rebelde eu lia, mas agora acabou.
256
Amanda das Graças Serafim
(A.G.S. – 11 anos – feminino – NSE C)
1. Com qual personagem de Rebelde você mais se identifica? Por quê?
Com a Mía. Porque ela era legal e patricinha.
2. Você acha legal ser patricinha?
Não, mas ela era legal.
3. A Mía era a personagem que você mais gostava?
Era.
4. Você acha que ela tem o jeito parecido com o seu?
Não.
5. Você lembra alguma situação que a Mía passou que você gostou ou que lembra algo que
você já passou na sua vida?
Teve uma situação que eu gostei que foi o desfile. Que ela, a Sol, tipo fez um, como foi?
Gostei por causa da Mía.
6. Que cena de Rebelde que você lembra que tenha gostado bastante? Por quê?
Essa cena aí, por causa da participação da Mía.
7. Você comprou produtos de Rebelde e RBD? Quais?
Comprei card, pôster, revista, foto. Só. As revistas eu comprava pouco. Mas os cards bastante.
8. Conte um pouco o uso que você faz desses produtos.
Trazia pra escola e trocava os cards repetidos.
9. Pra você, é importante ter esses produtos?
É legal, né. Pra lembrar da novela, né.
10. Para você, o que significa ser rebelde?
Não sei. Deixa eu ver, é legal, né.
257
11. Você se considera rebelde? Por quê?
Não. Porque eu não sou rebelde, sou calma.
12. Qual você acha que é a mensagem que a novela tenta passar?
Pra você não ser muito rebelde, né. Teria que ter mais paciência. É isso.
13. O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Eu gosto de ler as revistas do Rebelde, né. E ficar no computador, na internet. [tem internet
discada em casa].
14. Quantas horas por dia você assiste à televisão?
Depois que eu chego da escola eu fico o dia inteiro, às vezes, né.
15. Quantas vezes você vai ao cinema por mês?
Ás vezes vou ao cinema, né.
16. Você possui TV a cabo?
Não.
17. Você tem o hábito de ler livros?
Não gosto.
18. Você compra CDs originais ou piratas?
Qualquer um.
19. Você tem o hábito de ler revistas?
Leio, do High School Musical, Rebelde e as outras eu leio também.
258
Larissa Ferreira de Souza
(L.F.S. – 11 anos – feminino – NSE B)
1. Com qual personagem de Rebelde você mais se identifica? Por quê?
Mía. Ah, porque eu achava ela bonita.
2. Essa era a personagem que você mais gostava?
É.
3. Você acha ela parecida com você?
Nenhum pouco.
4. E tem alguma coisa que a Mía viveu na novela que é parecido com alguma coisa que você
já passou?
Quando ela brigava com o pai dela.
3. Que cena de Rebelde que você lembra que tenha gostado bastante? Por quê?
Ah, quando a Roberta se, como é que fala, fica de bem com a mãe dela. Porque antes a
Roberta ficava brigando muito com a mãe dela e agora ela se entendeu.
4. Você comprou produtos de Rebelde e RBD? Quais?
Ah, eu comprei CD e álbum e os cards também.
5. Conte um pouco o uso que você faz desses produtos.
Trazia para a escola e ficava olhando em casa.
6. Para você, o que significa ser rebelde?
Ah, assim, brigar com os pais, xingar, maltratar. Acho que é isso.
7. Você se considera rebelde? Por quê?
Um pouco. Ah, porque às vezes eu brigo com a minha irmã, brigo com a minha mãe.
8. Qual você acha que é a mensagem que a novela tenta passar?
Acho que o grupo era muito rebelde e aí eles se acharam, assim. Se arrumaram.
259
9. O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Brincar.
10. Quantas horas por dia você assiste à televisão?
De manhã e à noite.
11. Quantas vezes você vai ao cinema por mês?
Ai, pra falar a verdade, eu não vou.
12. Você possui TV a cabo?
Não.
13. Você tem o hábito de ler livros?
Tenho. Às vezes eu pego até os livros da escola mesmo pra ficar lendo. Uns cinco livros por
mês.
14. Você compra CDs originais ou piratas?
Comprei três CDs e ganhei um. Aí minha prima deixou um lá em casa. Ela não gosta muito,
então ela deu pra mim. São todos piratas.
15. Você tem o hábito de ler revistas?
Não, não gosto.
260
Tamires Silva Santos
(T.S.S. – 11 anos – feminino – NSE C)
1. Com qual personagem de Rebelde você mais se identifica? Por quê?
Com a Lupita. Porque da sala era a mais quietinha, não falava muito. Eu também não falo
muito, assim, na sala.
2. Você acha que tem um jeito parecido com o seu?
Acho.
3. Essa era a personagem que você mais gostava?
Era.
4. Tem alguma coisa que ela viveu na novela que é parecido com alguma coisa que você já
viveu?
Não.
5. Que cena de Rebelde que você lembra que tenha gostado bastante? Por quê?
Ai, do show. Todos os shows. Porque eu já tinha o CD, daí eu cantava junto.
6. Você comprou produtos de Rebelde e RBD? Quais?
Ai, CD, álbum, card, foto, pôster. Tudo que lançava eu comprava.
7. Conte um pouco o uso que você faz desses produtos.
Trazia pra escola. E em casa até hoje eu escuto os CDs.
8. Para você, o que significa ser rebelde?
É não respeitar os pais, ficar brigando assim, arrumar confusão.
9. Você se considera rebelde? Por quê?
Um pouco. Ai, quando minha mãe fica brigando comigo. Aí eu fico falando um monte de
coisa.
261
10. Qual você acha que é a mensagem que a novela tenta passar?
Ai, acho que tenta passar a amizade deles, do grupo, quando eles vão viajar.
11. O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Ai, gosto de assistir filmes, na televisão.
12. Quantas horas por dia você assiste à televisão?
O dia inteiro.
13. Quantas vezes você vai ao cinema por mês?
Ai, é muito pouco. Uma ou duas vezes no máximo.
14. Você possui TV a cabo?
Sim.
15. Você tem o hábito de ler livros?
Tenho. Nossa, não dá nem pra contar. Eu gosto de ler. Na faixa de dez livros. Pego na escola
e em casa. Também tem um monte de livro lá em casa. Gibi, essas revistinhas.
16. Você compra CDs originais ou piratas?
Pirata.
17. Você tem o hábito de ler revistas?
Não.
262
APÊNDICE H – DVD 1
DVD 1. DVD com cenas da telenovela Rebelde
DVD
Este apêndice é um DVD com uma seleção de cenas de Rebelde retiradas dos
DVDs das três temporadas da telenovela. Na sua maioria são cenas escolhidas por terem sido
mencionadas pelos jovens nos questionários quanti-qualitativos ou nas abordagens realizadas
no dia do show de RBD. As que não foram mencionadas pelos jovens foram selecionadas por
terem sido utilizadas em nossas análises. Este mesmo DVD foi utilizado para reprodução na
ocasião do grupo focal.
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