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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MIRO LEOPOLDO RECKZIEGEL
A PEQUENA FRATERNIDADE: UM ESPAÇO POSSÍVEL DE PARTILHA DE VIVÊNCIAS
E DA ESPIRITUALIDADE
Porto Alegre
2008
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A PEQUENA FRATERNIDADE: UM ESPAÇO POSSÍVEL DE PARTILHA DE VIVÊNCIAS
E DA ESPIRITUALIDADE
Dissertação apresentada para obtenção de grau
de Mestre, pelo programa de pós-graduação em
psicologia da faculdade de psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.
Orientador: Nedio Antonio Seminotti
Porto Alegre
2008
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
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2
MIRO LEOPOLDO RECKZIEGEL
A PEQUENA FRATERNIDADE: UM ESPAÇO POSSÍVEL DE PARTILHA DE VIVÊNCIAS
E DA ESPIRITUALIDADE
COMISSÃO EXAMINADORA
_______________________________________
Prof. Dr. Nédio Seminotti
Prsidente
_______________________________________
Profa. Dra. Marlene Neves Strey
Programa de Pós-Graduação em Psicologia - PUCRS
_______________________________________
Prof. Dr. Ricardo Tescarolo
Programa de Pós-Graduação em Educação - PUCPR
3
AGRADECIMENTOS
Um grande obrigado ao Superior Provincial Marista por me ter autorizado percorrer o
caminho do Mestrado.
Aos meus coirmãos de comunidade pelo apoio e compreensão ao longo destes dois anos
de pesquisa e reflexão.
Ao Coordenador Provincial do MChFM pela autorização concedida para realizar a
pesquisa com as Fraternidades pertencentes à rede do Movimento.
Às Fraternidades que responderam ao questionário e às que participaram do Grupo Focal.
Ao orientador Prof. Dr. Nedio Antonio Seminotti por sua clarividência, firmeza e
paciência em me conduzir, levando-me além de onde eu tinha chegado.
Ao bolsista de IC João Vitor Haeberle Jaeger por seu companheirismo nas horas difíceis e
pelas suas artes nos gráficos.
À Pró-Reitoria de Pesquisa da PUCRS pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica em
parceria com o Banco Santander.
Aos colegas do grupo de pesquisa Processos e Organizações dos Pequenos Grupos pelo
incentivo, ajuda e amizade.
Ao revisor Ir. Salvador Durante pelo trabalho paciente e eficiente.
4
Experimentar o invisível
A minha alma me ensinou a tocar
aquilo que não se fez carne;
a minha alma me revelou
que qualquer coisa que tocamos
faz parte do nosso desejo.
Mas hoje os pensamentos se transformaram
em neblina
que se difunde no universo visível
e se confudem
com o invisível.
(GIBRAN, K. My Soul Preached to Me. Thoughts and Meditations,
p. 18, in Parole non dette. Torino: Paoline, 1991)
5
LISTA DE GRÁFICOS
SEÇÃO II - A FRATERNIDADE MARISTA COMO PEQUENO GRUPO, A
ESPIRITUALIDADE E A PERTENÇA, E OS BENEFÍCIOS AOS PARTICIPANTES E
AO CONTEXTO SOCIAL
Gráfico 1 - Quanto tempo, em anos, faz que a fraternidade existe? ............................................ 36
Gráfico 2 - Como está a questão da missão da fraternidade? ...................................................... 38
Gráfico 3 - Quanto ao estado civil, você é? ................................................................................. 39
Gráfico 4 - Qual o motivo que você tem para estar na fraternidade? .......................................... 45
Gráfico 5 - Qual foi sua experiência mais significativa? ............................................................. 46
Gráfico 6 - Qual o grau de satisfação que você sente por pertencer à fraternidade? ................... 46
Gráfico 7 - Você já desejou abandonar a fraternidade? ............................................................... 47
Gráfico 8 - O que lhe dá mais satisfação? ................................................................................... 48
Gráfico 9 - Qual é a atividade predominante da fraternidade? .................................................... 50
6
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
EM – Espiritualidade Marista
C – Constituições do Instituto dos Irmãos Maristas
GF – Grupo Focal
IC – Iniciação Científica
Is – Profeta Isaías
Jo –Evangelista São João
Lc – Evangelista São Lucas
MChFM – Movimento Champagnat da Família Marista
Mt – Evangelista São Mateus
7
RESUMO DA DISSERTAÇÃO
O tema do presente estudo é a Pequena Fraternidade do Movimento Champagnat da
Família Marista posta em discussão do ponto de vista de princípios dos sistemas complexos e dos
pequenos grupos com o mesmo pressuposto. O delineamento para o estudo é misto articulando-se
os dados qualitativos com os quantitativos mediante a triangulação destes com as teorias sobre
espiritualidade, pequenos grupos, sistema e rede, e o pensamento complexo. Da discussão dos
resultados evidenciou-se que a Fraternidade tem características de pequeno grupo, constitui uma
rede sistêmica, ligada a uma grande rede que é o Movimento. Apesar de a Fraternidade ter
estrutura simples de funcionamento, tem autonomia, vive a recursividade. Quase sempre, a parte
(Fraternidade) vive o espírito do todo (Movimento) e vice-versa. Os motivos evidenciados da
adesão ao grupo foram a vivência e o aprofundamento da Espiritualidade Marista, provinda do
fundador São Marcelino Champagnat. Seguem o convívio, a partilha de vivências antigas e
atuais, a amizade, o suporte mútuo, o aporte na educação dos filhos, crescimento pessoal, da
família e da comunidade em que estão inseridos. Emergiu ainda a paixão que os participantes do
grupo têm pelo Fundador, os Irmãos Maristas e o engajamento social promovendo a inserção e o
exercício da cidadania em dinâmica recursiva.
Palavras-chave: Pequena Fraternidade, Sistemas Complexos, Pequenos Grupos, Vivências,
Espiritualidade, Cidadania.
ABSTRACT
The subject of this study is the small fraternity of Champagnat Movement of Marist
Family, discussed from the perspective of principles of complex systems and small groups with
the same presupposition. The design of this study has been combined, articulating both
qualitative and quantitative data through their triangulation with theories of spirituality, small
groups, system and network, and complex thought. From the discussion about the results, there
has been evidence that the fraternity has characteristics of a small group; it constitutes a systemic
network, linked to a large network, which is the Movement. Although the Fraternity has a simple
functioning structure, it has autonomy and experiences recursivity. Often, the part (Fraternity)
experiences the spirit of the whole (Movement) and vice-versa. The reasons for adherence to the
group have been both experiencing and deepening Marist spirituality, as preached by its founder,
San Marcelino Champagnat. They are related to living, sharing both old and current experiences,
friendship, mutual support, support in child-rearing, personal growth, as well as family and
community development. Two other reasons have been found out: the passion the group
participants have both for the Founder and Marist Brothers, and the social engagement fostering
the insertion and the exercise of citizenship in recursive dynamic.
Key Words: Small Fraternity, Complex Systems, Small Groups, Experiences, Spirituality,
Citizenship.
8
SUMÁRIO
LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................... 5
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................. 6
RESUMO DA DISSERTAÇÃO .................................................................................................. 7
ABSTRACT .................................................................................................................................. 7
INTRODUÇÃO DA DISSERTAÇÃO ...................................................................................... 10
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 11
SEÇÃO I – A ESPIRITUALIDAE MARISTA NAS FRATERNIDADES LEIGAS DO
PONTO DE VISTA DE REDE E DA COMPLEXIDADE ..................................................... 12
RESUMO ..................................................................................................................................... 12
ABSTRACT ................................................................................................................................ 12
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 13
2 A FRATERNIDADE DO LEIGO MARISTA ...................................................................... 16
3 A COMUNIDADE COMO UM SISTEMA COMPLEXO................ ................................. 17
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 25
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 26
SEÇÃO II – A FRATERNIDADE MARISTA COMO PEQUENO GRUPO, A
ESPIRITUALIDADE E A PERTENÇA, E OS BENEFÍCIOS AOS PARTICIPANTES E
AO CONTEXTO SOCIAL ........................................................................................................ 29
RESUMO ..................................................................................................................................... 29
ABSTRACT ................................................................................................................................ 29
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 30
2 MÉTODO ................................................................................................................................. 33
2.1 Delineamento ................................................................................................................. 33
2.2 Participantes .................................................................................................................. 33
2.3 Coleta de dados .............................................................................................................. 33
2.4 Passos seguidos para a coleta de dados ......................................................................... 34
2.5 Procedimento para análise e compreensão .................................................................... 34
3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................................................... 34
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 51
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 52
9
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO ................................................................ 54
REFERÊNCIAS DA DISSERTAÇÃO...................................................................................... 58
APÊNDICE A – MAPA SISTÊMICO ...................................................................................... 62
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO FECHADO E AUTO-APLICÁVEL ............................ 63
APÊNDICE C – GRUPO FOCAL ............................................................................................ 68
APÊNDICE D – A HISTÓRIA DAS FRATERNIDADES ..................................................... 69
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO ...................................................................................... 72
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA O
GRUPO FOCAL ......................................................................................................................... 73
ANEXO C – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA PARA A REALIZAÇÃO DA
PESQUISA .................................................................................................................................. 74
10
INTRODUÇÃO DA DISSERTAÇÃO
As pessoas na sociedade se organizam, autonomamente, ou estimuladas por instituições,
em pequenos agrupamentos com as mais variadas finalidades e formas. Muitos deles se articulam
entre si formando redes, sistemas ou movimentos de diferentes amplitudes. Esse é o caso da
Fraternidade Marista Pequeno Grupo (Rede) integrando a Grande Rede do Movimento
Champagnat da Família Marista, objeto desse estudo. Esse grupo surgiu no final do século
passado. O Projeto de Vida (MOVIMENTO, 1990 [?]) do Movimento relata que os seus
membros se reúnem em pequenos agrupamentos, denominados Fraternidades, para partilhar e
alimentar seus ideais comuns. Seus participantes se denominam de fraternos ou fraternas. São
compostos por filiados ao Instituto Marista, jovens, pais, colaboradores, antigos alunos, amigos
que têm o desejo de aprofundar o espírito do Fundador para dele viver e testemunhar (cf.
INSTITUTO, C 164.4, 1997)
1
.
O objetivo da pesquisa visa a conhecer melhor esses grupos, compreender os motivos de
adesão, da permanência, os aportes para a vida pessoal e social dos seus participantes, assim
como sua missão em vista da construção da cidadania. A interlocução dos dados empíricos foi
feita por meio da triangulação com os aportes teóricos (MINAYO, 2005) dos pequenos grupos
(BACK, 1979; ANZIEU, 1978), da sistêmica e de rede (VASCONCELLOS, 2005, SERRES,
1994), do pensamento complexo (MORIN, 2006), perpassadas pela dimensão espiritual
(KIVITZ, 2007; LIBÂNIO, 1985). Entre os resultados esperados, ficou confirmado que o maior
motivo de pertença ao grupo é a espiritualidade, seguida pelo busca de convívio, partilha de vida,
aporte para a vida do participante e a amizade, entre outras. A questão norteadora do estudo foi
saber por que, numa sociedade da cultura do descartável e das relações passageiras, existem
pessoas que se organizam em grupos e neles permanecem desenvolvendo projetos sociais.
1
Para maiores informações sobre a história das fraternidades, consultar Apêndices A e D.
11
REFERÊNCIAS
ANZIEU, D. El Grupo y el Inconsciente. Madrid: Biblioteca Nueva, 1978.
BACK, W. K. In: O Jornal de Ciência Aplicada do Comportamento, NTL Instituto para Ciência
Aplicada do Comportamento, Vol. 15, n. 3, 1979.
INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS DAS ESCOLAS. Constituições. Edição do
Centenário, São Paulo: Loyola, 1997.
KIVITZ, E. R. Espiritualidade no mundo corporativo: aproximações entre prática religiosa e
vida profissional. São Bernardo do Campo: UMSP, 2007. Dissertação de Mestrado, Faculdade de
Filosofia e Ciências da Religião, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião,
Universidade Metodista de São Paulo, 2007.
LIBÂNIO, João Batista. Discernimento vocacional: a experiência fundante. Convergência. Juiz
de Fora, MG, ano XX, n. 182, p. 195-220, maio de 1985.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de
programas sociais. 20. ed. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005.
MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2006.
MOVIMENTO CHAMPAGNAT DA FAMÍLIA MARISTA. Projeto de Vida. Porto Alegre:
Centro Marista de Comunicação, 1990 [?].
SERRES, M. La legende des anges. Paris: Ed. Flammarion, 1994.
VASCONCELLOS, M. J. E. de. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. ed.,
Campinas: Papirus, 2005.
12
SEÇÃO I - A ESPIRITUALIDADE MARISTA NAS FRATERNIDADES LEIGAS DO
PONTO DE VISTA DE REDE E DE SISTEMAS COMPLEXOS
RESUMO
O presente artigo a conhecer as Fraternidades Maristas e de como vivem a espiritualidade e a
partilha de vida, olhadas a partir de sistemas complexos. Elas são compostas por uma
multiplicidade de agrupamentos com características de pequenos grupos que no seu conjunto
constituem uma rede sistêmica complexa. A reflexão é realizada ainda por conceitos de
espiritualidade marista e de vínculo, pontos fortes do seu modus vivendi. A Fraternidade em sua
prática dá ênfase na educação dos filhos, na paixão pelo Fundador e pelos Irmãos Maristas. Além
disso, considera-a um espaço cálido, poético, bom de se viver, de revivescência de experiências
anteriores, de amizade entre os fraternos, de ganho pessoal e social, entre outros.
Palavras-chave: fraternidade, espiritualidade, pequeno grupo, partilha, sistema complexos, rede,
amizade
ABSTRACT
The present article introduces Marist Fraternities and the way they live spirituality and life
sharing, as seen from the perspective of complex systems. They are composed by a multiplicity
of groupings with characteristics of small groups that, on the whole, constitute a complex
systemic network. This reflection has also been guided by concepts of Marist spirituality and
bond, strengths of their modus vivendi. The Fraternity, in its practice, puts emphasis on child-
rearing, as well as on the passion for both its Founder and Marist Brothers. Besides that, the
Fraternity sees itself as a warm, poetic, good-to-live-in place, a space where to relive past
experiences, to enjoy friendship among the participants, and promote both personal and social
growth, among other things.
Key Words: fraternity, spirituality, small group, sharing, complex systems, network, friendship.
13
1 INTRODUÇÃO
As Fraternidades de Leigos Maristas, criadas no ano de 1985, qual pequenos agrupamentos, são
constituídas, em média, por 8 indivíduos. Surgiram com a tentativa de reviver e aprofundar o
espírito do fundador do Instituto Marista, Marcelino Champagnat. Esse desejo sentido no
cotidiano, pelos Leigos Maristas, foi experimentado pelos antigos alunos maristas, desde que
deixaram os bancos escolares e o convívio com os Irmãos Maristas. Após percorrer um caminho
de quase dois séculos, alcançaram sua oficialização, ao final do culo passado, na década de 80,
pelo Capítulo Geral do Instituto, que as denominou Fraternidades do Movimento Champagnat da
Família Marista. Surgiu assim um espaço onde os antigos alunos, filiados, pais, amigos dos
Irmãos podem realizar esse desejo.
O tema desta seção é a Fraternidade Marista que vai levar em conta os motivos da pertença
ao grupo tais como a espiritualidade e a partilha de vivências. Essa fraternidade, vista como uma
rede, será posta em discussão dentro de sistemas complexos, da teoria do pequeno grupo, da
pertença e da espiritualidade. A reflexão realizada, dialogando com os operadores teóricos
anteriormente relacionados, tem o sentido que Morin (1990, 2005) ao termo reflexão, quando
o define como “a aptidão mais rica do pensamento do pesquisador, o momento em que ele é
capaz de se autoconsiderar, de se metassistemar” (p. 338-339)
Um primeiro elemento que queremos explicar é o termo Fraternidade. A palavra tem sua
origem no latim frater, fraternitate, que significa irmão, parentesco de irmãos. Segundo o
dicionário Aurélio, pode significar também união ou convivência como de irmãos. D’Avila-Neto
(2006), chama a Fraternidade de Comunidade constituída por laços de solidariedade,
engendramento de iguais e fraternos. A autora vê ainda, nessa agregação em Fraternidade,
elementos de nostalgia de uma unidade perdida, para se opor a uma sociedade fragmentada, em
que se perdeu a unidade e foram desfeitos os laços. Isso, diz ainda a autora, citando Martuccelli,
representaria o desejo, por vezes irresistível, de recompor uma totalidade. Porém, esta totalidade
é utópica, segundo Simmel (1909), citado por D’Avila-Neto (2006), porque o homem é um ser de
ligação que precisa sempre separar e que não pode ligar sem haver separado.
Fraternidade, no entendimento de D’Avila-Neto, são laços existentes entre os participantes
que compõem essa Fraternidade. O laço ou vínculo, aqui considerados como sinônimos, do ponto
de vista da psicanálise, Pichon-Rivière (2000) o concebe como “a maneira particular de o
14
indivíduo se relacionar com o outro ou outros, criando uma estrutura particular a cada caso e a
cada momento (p. 3). Esse vínculo se manifesta nas relações, como a participação ativa e
presencial dos participantes de um grupo, como são considerados os fraternos do Movimento e
que se pode considerar como um compromisso consciente, citado por Cardoso e Seminotti
(2006). No vínculo há uma estrutura inconsciente que liga dois ou mais sujeitos em uma relação
de presença, constituindo-os como sujeitos do vínculo (BERENSTEIN, 2003). No entanto, como
a estrutura vincular é inconsciente, acrescentam Cardoso e Seminotti (2006), seu registro pelo
sujeito dá-se pelo sentimento de pertença. A pertença designa a ocupação de um lugar pelo
sujeito na estrutura vincular e, por não ser definitiva, deve ser constantemente reconhecida pelos
outros sujeitos vinculados (PUGET & BERENSTEIN, 1993; BRANDE, 1998; BERENSTEIN,
2001), citados por Cardoso e Seminotti (2006).
Vanier (1987), vale-se da noção de sentimento de pertença para descrever os vínculos de
outras fraternidades, como por exemplo algumas aldeias de africanos que vivem a pertença de tal
forma que um tem o sentimento de ser o outro. Entre os nativos da Austrália, cita ainda o autor, a
única coisa importante são os laços da fraternidade que cultivam. A união entre eles parece tão
intensa que “sabem quando um deles morre; sentem-no em suas entranhas” (p. 11). Em geral,
esse conceito de pertença é um caminho de duplo sentido, se assim se pode denominar. Isto pode
ser melhor entendido valendo-nos da Sociologia, quando Morin (1999) diz que é um ciclo de
projeção e identificação, por intermédio de um ato de compreensão, que “comporta uma projeção
(de si para o outro) e uma identificação (com o outro), num duplo movimento de sentido
contrário formando um ciclo” (p. 175). Assim poderíamos dizer que em qualquer grupo, como o
das Fraternidades, esse ciclo pode estabelecer-se de indivíduo para indivíduo assim como de
indivíduo para o todo do grupo. Esta relação espontânea compreende sentimentos, desejos,
temores. O ato de compreensão, segundo Morin (1999), citando Novalis, vê o outro como um “eu
sou tu” e nesse sentido a relação adquire um sentido fraterno ou sororal, incluindo o outro numa
esfera de simpatia e num círculo comunitário (ou de grupo) que pode durar mais do que o
sentimento inicial de empatia.
Baumann (2003), a exemplo de Vanier e Morin, citados anteriormente, prefere chamar as
agregações de pessoas de comunidades. Segundo aquele autor, comunidade é hoje outro nome de
paraíso perdido ao qual ansiamos retornar. Associamos a ela, diz ainda o autor, a sensação de
“um lugar ‘cálido’, um lugar confortável e aconchegante” (p.7). Os fraternos, conforme foi
descrito anteriormente, procedem de uma experiência significativa e seu movimento, em parte, é
15
recuperar este espaço aprazível, de partilha de vida e de espiritualidade, contradizendo em parte a
previsão cética de Baumann que parece acreditar na impossibilidade de viver tal experiência na
contemporaneidade.
Essa fraternidade é impregnada de espiritualidade e por ser um termo muito abrangente,
muito se tem escrito e falado sobre ele. Na atualidade retorna seguidamente, pelos veículos de
comunicação social, com a intenção de reivindicar um espaço que as tendências pós-modernas, o
materialismo, o hedonismo, o ateísmo e o voluntarismo comprimiram tanto que a impressão
que não existe mais. De outro lado, temos conhecimento que movimentos auto-organizados
que valorizam e cultivam essa dimensão. Mais que isso, uma tendência de médicos que
querem incluir essas vivências na rotina do tratamento de saúde. Isso foi confirmado também
pelo grupo de pesquisa Processos de Organizações dos Pequenos Grupos da Psicologia da
PUCRS que estudou os grupos informais na universidade (SEMINOTTI, MORAES e ROCHA,
2008).
Do ponto de vista da experiência cristã, no século IV, dizia santo Agostinho (2004),
minha alma está inquieta enquanto não repousar em Deus. Mais recentemente Rahner (apud
Libânio, 2002) acrescentou dizendo que o cristão do futuro será místico ou não será cristão.
Contemporaneamente um conceito de espiritualidade pode ser esta inclinação do ser humano pela
divindade e a vivência dos valores autotranscendentes que conectam o espírito humano ao seu
Criador. Geralmente esse anseio pelo transcendente tem suas raízes numa experiência primeira,
que Libânio (1985) chama de experiência fundante. Uma experiência de paz, de alegria na
duração. É fonte de dinamismo, faz-se presente onde se está, diz ainda o autor. Uma realidade
que no fundo é dom de Deus, precisa ser cultivada pela oração e contemplação. Experiência que
está na origem dos carismas dos fundadores e essa abundância mística tem sua expressão visível
na missão, completa Libânio. No ambiente marista isso se torna visível na busca das
Fraternidades em reviver essas experiências anteriores.
Acrescenta Kivitz (2007) que “a espiritualidade é manifesta entre o finito e o infinito nas
profundezas do ser humano” (p. 34). É um retorno à experiência básica para além de suas
sistematizações. A espiritualidade é uma indagação pelo sentido último das coisas que abre
caminho para novas experiências, acrescenta o autor. Morin (1977-1986), filósofo e sociólogo
francês, a partir do pensamento complexo, dialoga com os mais diferentes operadores teóricos
para contemplar as múltiplas dimensões do ser humano. Entre elas inclui o conceito de noosfera,
termo forjado por Teilhard de Chardin, na década de 1920, para designar as coisas do espírito
16
com a finalidade de integrar essa dimensão humana, tanto em sua especificidade quanto na
universalidade, por meio do princípio hologramático.
Retomando o termo mística, referido anteriormente, diz ainda Libânio (1985) que não
pertence ao sentimental, nem é um fenômeno do mundo emocional. A vivência mística, não é de
ordem psicossomática, mas de âmbito espiritual (GUIMARÃES, 2006). Morin (2006) propõe
que, mesmo quando se trata de mística, se mantenha um pensamento científico, porém complexo,
em que seja possível distinguir sem isolar, mantendo as conexões e fazendo comunicar o que é
distinto. Segundo ele, o pensamento místico é diferente disso, porque ultrapassa as distinções e
transforma comunicação em comunhão.
2 A FRATERNIDADE DO LEIGO MARISTA
Na contemporaneidade difundiu-se uma outra visão da vivência da espiritualidade, de modo
particular quando praticada por pessoas que vivem inseridas na ordem temporal, os cristãos
Leigos. Nela são desafiados continuamente a harmonizar fé e cultura, imanência e transcendência
e fazer leituras transcendentes. Garcia (1989) os denomina de místicos horizontais. Fazem
leituras da realidade a partir da que lhes possibilitam contemplar o que está além da aparência.
Percebem, desta forma, por meio da fé, por trás das criaturas, o seu Criador
2
.
O Projeto de Vida (MOVIMENTO, 1990 [?]) do Movimento Champagnat da Família
Marista (MChFM) concebe as Fraternidades como grupos abertos a qualquer cristão, homem ou
mulher, que se sinta chamado por Deus a comprometer-se com um seguimento mais íntimo de
Jesus, de acordo com a espiritualidade de São Marcelino Champagnat. Para se tornar membro do
Movimento, o interessado faz o pedido para ser admitido numa das Fraternidades. Após um
tempo de preparação, o candidato é aceito como membro efetivo.
As Fraternidades Maristas, o são grupos de pesquisa, nem de trabalho, nem somente
visam ações filantrópicas ou caritativas. O motivo para se agregar, segundo o Projeto de Vida, é o
desejo de partilhar e alimentar ideais comuns. O Projeto de Vida define também a estrutura da
Fraternidade como algo simples, constando de um animador, um relator das atividades do grupo,
um assessor Irmão Marista, de 4 a 15 participantes e uma reunião quinzenal ou mensal. Percebe-
se que a organização da Fraternidade é a de um grupo com pequeno número de pessoas, que
2
Na Gestalt-Terapia isto é denominado de figura e fundo.
17
oportunidade a todas para se expressar, ser ouvidas, participar das discussões e realizar as tarefas
estabelecidas, configurando-se numa realidade muito próxima ao funcionamento dos pequenos
grupos. Este assunto será tratado mais adiante, sendo que no momento nos referimos apenas a
Anzieu (1978), que diz que o número ideal de indivíduos que integra o pequeno grupo deve ser
entre 7 e 15 sujeitos. Pois, as razões desta cifra se baseiam numa lei que a dialética enunciou, faz
muito tempo, segundo a qual chegado a um patamar determinado, uma variação quantitativa
produz um salto qualitativo.
A espiritualidade Marista, concebida pelas Constituições do Instituto Marista e legada por
Marcelino Champagnat
3
, é mariana e apostólica. Brota do amor de Deus, cresce pelo dom de si
mesmo aos outros e conduz ao Pai (INSTITUTO, C 7, 1997). O Projeto de Vida acrescenta que
as principais características da espiritualidade expressam-se no amor e na compaixão, por um
grande dinamismo apostólico, pela simplicidade, o amor a Maria como Mãe e Modelo, a
capacidade de resposta às necessidades dos irmãos por ações concretas, o espírito de família, o
entusiasmo pelo seu próprio trabalho. Neste contexto vivem sua apostolicidade, tendo como
modelo de seguimento Cristo Mestre e Maria, a Mãe de Jesus, a primeira discípula.
O Fundador inculcou nos primeiros Irmãos a vivência do que ele chamou três primeiros
lugares da espiritualidade Marista. Dos mistérios do Presépio, da Cruz e do Altar (os Irmãos e
Leigos) haurem o seu dinamismo e vivem na presença de Deus (cf. INSTITUTO, C 7). São três
fontes inexauríveis de espiritualidade, graças e fervor. O Marista que for assíduo a esses três
mananciais sagrados tornar-se-á semelhante à árvore plantada junto da corrente de águas, e que,
conforme o profeta, traz frutos em todos os meses (cf. BÍBLIA, Is 12,3, 2002 ; FURET, 1927/
1987). Entre as características mais marcantes da Espiritualidade Marista temos a presença e o
amor e Deus, a confiança ilimitada Nele, o amor a Jesus Cristo e ao seu Evangelho, o jeito de
Maria, a Mãe de Jesus, o espírito de família e a espiritualidade de simplicidade (INSTITUTO,
2007, 16-41). Hoje os Fraternos seguem os mesmos ensinamentos deixados por são Marcelino e
os primeiros Maristas.
3 A COMUNIDADE COMO UM SISTEMA COMPLEXO
A expressão “pequena fraternidade”, na presente seção, é utilizada como sinônima da
expressão pequeno grupo ou Fraternidade. Esse significado vem ao encontro da conceituação dos
3
Foi um sacerdote francês que, a 2 de janeiro de 1817, fundou o Instituto dos Irmãos Maristas, na França. Algumas
vezes é denominado também pelo nome de Fundador.
18
teóricos grupalistas que em como características importantes do pequeno grupo o fato de que
nele é propiciado aos membros que todos se vejam e ouçam simultaneamente, conheçam-se e
reconheçam-se em suas singularidades e diversidades, devido ao número reduzido de
participantes (SEMINOTTI, BORGES e CRUZ, 2004).
Para Hobsbawn e Ranger (2002), um olhar retrospectivo para a história conta de que as
pessoas, de muito, vivem em grupos, em famílias ou unidades de trabalho, tribos e grupos
sociais. Do ponto de vista de Morin (2006), podemos afirmar que o indivíduo é grupo e que o
grupo é o indivíduo, segundo o princípio hologramático, que será discutido a seguir. Assim
também pensou Marx (1988), ao afirmar que o indivíduo é social. Os cientistas têm se
preocupado com os grupos em seus estudos e os sociólogos escreveram sobre relações humanas e
enfocaram, mormente, as unidades pequenas. O grupo mais estudado foi a família e as demais
agregações foram derivadas desse exemplo. Depois surgiu o novo, dizem ainda os autores, que
são outros grupos pequenos, e sua natureza passou a ser um tópico unificado para estudo.
As características dos pequenos grupos passaram a ser o centro das investigações, ainda
antes do surgimento das Fraternidades Maristas. A tendência hodierna de as pessoas se auto-
organizarem em pequenos grupos como caminho para discutir suas questões está se tornando uma
realidade comum, inclusive na academia e nas organizações do trabalho (FAGUNDES &
SEMINOTTI, 2007). Assim, os pequenos agrupamentos foram percebidos como uma unidade
estável que, segundo Back (1979), vive em algum lugar situado no espaço entre o indivíduo e a
sociedade. Segundo Jovchelovitch (2000), para capturar a dinâmica grupal é preciso considerar
os sujeitos sociais, porque “sua experiência não está descolada da experiência de sua sociedade
(p.113). E acrescenta: “É precisamente do conjunto multifacetado de experiências únicas que a
totalidade da realidade social emerge” (p. 113). As Fraternidades Maristas, organizadas em
pequenos grupos, podem ser consideradas unidades plurais, porque de certa maneira retratam o
social que de uma forma ou de outra estão tangenciando ou pelo qual são tangenciadas.
Inserindo-se num universo global, possuem infinitas possibilidades, que Baumann (2003)
denomina de “mundo líquido”. Desse contexto emerge a pergunta: Quais são as razões mais
profundas que os membros das Fraternidades têm para construir esses grupos estáveis em meio à
cultura do descartável e do efêmero da sociedade contemporânea?
Antes de os grupos das Fraternidades Maristas serem reconhecidos, como vimos
anteriormente, imagina-se que existiram manifestações, ações de indivíduos com a intenção de
19
trocas e referências a um objeto comum. Isso nos remete ao desejo de saber como se originaram
esses pequenos grupos e qual foi o caminho que percorrem para se constituírem. Hobsbawn e
Ranger (2002) relatam que inicialmente os bitos e tradições são cultivados por pessoas
singulares. Aos poucos as pessoas vão percebendo que têm algumas coisas em comum e então
passam a se aproximar, formando pequenos grupos. Os costumes individuais, conforme Berger e
Luckmann (2004), precedem geralmente os costumes grupais, passando posteriormente por um
processo de institucionalização. Morin (2005) refere-se a um indivíduo egocêntrico e que trata
todos os objetos e dados referidos a ele mesmo. Esse mesmo indivíduo, acrescenta o autor, à
medida que se torna consciente, desenvolve a afetividade e passa a estabelecer um livre trânsito
entre autonomia e dependência, tornando-se sujeito capaz de viver em grupo. Pelo escrito
anteriormente pode-se inferir que a espiritualidade e o desejo de partilhar vivências são as duas
dimensões que os antigos alunos tinham em comum e para o qual buscavam espaço para reviver e
aprofundar em grupo e o encontraram na criação das Fraternidades Maristas. Segunda a nossa
compreensão, esses também são os dois principais motivos que os mantém no grupo, dando
estabilidades aos mesmos.
Nota-se que a palavra “estrutura” da Fraternidade, referida anteriormente, é empregada
no sentido de um padrão visível e superficial de funcionamento do grupo, transformando-o num
sistema, “ou uma organização de instituições em uma sociedade global” (GIDDENS, 2000, p.
138). Alonso e Berbel (1997) referem que os elementos observáveis mais comuns da estrutura de
um grupo são: a composição do grupo, as posições, os estatutos e papéis, assim como o tamanho,
as redes de comunicação e as normas do grupo. Esses elementos, segundo os autores, podem ser
tratados, em nível de análise, porque vem associado a indivíduos concretos dos grupos.
Trataremos, a seguir, o entendimento de pequeno grupo como um sistema ou rede.
Sabe-se que além das normas convencionadas e explícitas na vida de um grupo, circulam
trocas intra ou intersubjetivas. Embora aquelas sejam manifestas, ambas são difíceis de serem
conhecidas. O mesmo sucede no interior das Fraternidades Maristas, onde nem sempre se tem
clareza sobre tudo e todos, porque são respeitadas as individualidades e as tendências pessoais.
Segundo Maturana e Varela (2005), existem sistemas orgânicos formados pelos organismos
vivos, entre eles estão as pessoas, e sistemas sociais humanos, os grupos humanos. O termo
“sistema” conduz à idéia de rede. Conforme Musso (2001), rede é concebida como o laço
invisível, ao mesmo tempo externo e interno, reenviando a essa ordem do Cosmo na qual todo
corpo se inscreve. Ou ainda, Serres (1994), que trata dos fundamentos epistemológicos do
20
conceito de diagrama em redes que é constituído por uma pluralidade de pontos, religados entre
eles por uma pluralidade de ramificações ou nós. Cada está na intersecção de muitos
caminhos, do mesmo modo que um caminho se relaciona com muitos nós. Essa alegoria de rede
nos a idéia de grupo, de rede. Os sujeitos que se vão constituindo na inter-relação com outros
sujeitos, como um está ligado a outros nós, dão origem ao grupo social (ZANELLA et al.,
2002), citado por Alves e Seminotti (2006). Neste, evidencia-se a idéia de rede, em que os nós
(pai mãe filhos) estão separados e ao mesmo tempo unidos, e o que um vivencia é
comunicado aos demais, numa dinâmica de fluxo e refluxo, auto-organização e recursividade
(MORIN, 2006).
Migrando para o conceito de sistema, inicialmente, segundo Vasconcellos (2005), as teorias
sistêmicas se preocuparam com a noção de feedback ou retroalimentação, a qual supõe que “uma
parte do efeito (output) ou do resultado do comportamento/funcionamento do sistema volta à
entrada do sistema como informação (input) e vai influir sobre o seu comportamento
subseqüente” (p.115). Com o avanço do pensamento sistêmico no sentido de contemplar a
complexidade sistêmica, Morin (2002), diz que o sistema é uma unidade e multiplicidade a um
tempo, ou seja, unidade múltipla. Esse conceito vai além do simples feedback, abrangendo os
princípios dialógico, da recursão organizacional e hologramático, conceitos que serão retomados
posteriormente. Nessa compreensão o sistema pequeno grupo, tratado por Alves e Seminotti
(2006), é considerada uma unidade constituída pelos indivíduos/sujeitos e seus subgrupos, e as
inter-relações produzidas entre eles, além da relação entre esse sistema e o contexto socio-
histórico do qual faz parte.
Esse desafio nos conduz à teoria sistêmica. Baseando-nos em Morin (2006), temos que a
campo da teoria dos sistemas é muito mais amplo que toda a realidade conhecida. Pode ser
considerado sistema “desde o átomo até a galáxia, passando pela molécula, a célula, o organismo
e a sociedade, isto é, associação combinatória de elementos diferentes” (p. 19). O pensamento
sistêmico foi iniciado com von Bertalanffy numa reflexão sobre a Biologia, a partir de 1950,
expandindo-se nas mais diversas direções. Morin assevera ainda que existe um sistema fecundo
que traz em si um princípio de complexidade e um sistemismo vago e vazio, baseado em
verdades que não poderão ser operacionalizadas. A nós interressa o primeiro, a saber, aplicar o
sistema fecundo às Fraternidades Maristas.
21
Outro aspecto a considerar na teoria sistêmica é a dos sistemas abertos. Estes são os
sistemas vivos que dependem de alimentação externa. Todo sistema vivo precisa buscar
constantemente um equilíbrio, um estado de estabilidade e de continuidade, que implica fechar-se
ao mundo exterior para manter sua estrutura e seu meio interior, sem descuidar-se da abertura
para o exterior de onde vem o alimento e energia para continuar a crescer e especialmente o
sentido da existência.
Seguindo essa linha de raciocínio, as Fraternidades Maristas, quais nós constitutivos da rede
Movimento Champagnat da Família Marista, são compreendidas aqui como um sistema
complexo. A palavra “complexo” imediatamente nos leva a pensar em enrolado, prolixo,
confuso, desordenado. Pode ser tudo isso e muito mais. E é aqui que entra o pensamento para
enfrentar o emaranhado, diz Morin (2006), “esse jogo de infinitas inter-retroações, a
solidariedade dos fenômenos entre eles, a bruma, a incerteza, a contradição” (p. 14). O
pensamento complexo possui propriedades específicas, como auto-organização, autonomia, viver
e lidar com a desordem, as emergências que surgem nas relações interpessoais, relações
complementares e antagônicas, a solidariedade, a autonomia e a interdependência, entre outras
(MORIN, 2006).
Atendo-nos a uma dessas propriedades, o sistema vivo em busca do equilíbrio implica numa
auto-organização. A organização viva, diz Morin (2006), alimenta um elo entre a desorganização
e organização complexa. Os fenômenos da desorganização (entropia) e da reorganização
(neguentropia), diz o autor, não se opõem, ou seja, o elo de vida e morte é tão profundo que não
para imaginar. Esse caráter paradoxal dessa afirmação nos mostra que a ordem das coisas
vivas não é simples, pois postula uma lógica da complexidade.
A complexidade, a primeira vista, “é um fenômeno quantitativo, a extrema quantidade de
interações e de interferências entre um número muito grande de unidades” (MORIN, 2006, p.
35). Mas não é isto. A complexidade compreende também incertezas, indeterminações,
fenômenos aleatórios. Num certo sentido, a complexidade sempre tem relação com o acaso.
Morin, ao longo de sua obra, elenca uma série de princípios que, com o evoluir da reflexão,
vai reduzindo em mero e por fim chega a três (MORIN, 2006). Esses nos ajudam a
compreender o pensamento complexo. O primeiro dos princípios do pensamento complexo é o
dialógico. Este supera a visão dialética da realidade que tende a eliminar os contrários e
simplificar. A concepção dialógica da realidade acolhe os contrários, dialoga com os opostos,
22
permite manter a dualidade no seio da unidade. Trabalha com a dinâmica da recursividade, retro-
alimentação e contempla as emergências. Associa dois termos ao mesmo tempo complementares
e antagônicos. As Fraternidades vistas a partir do princípio dialógico, representam um campo
vasto de situações e identidades dos seus participantes que requerem esta flexibilidade e abertura
para contemplar todos os aspectos presentes no grupo e fazer deles emergências que contribuam
na construção do seu projeto.
O segundo princípio da complexidade é a recursão organizacional. Por ela “um processo
recursivo é um processo onde os produtos e os efeitos são, ao mesmo tempo, causas e produtores
do que os produz” (p. 74). “A idéia recursiva é pois, uma idéia em ruptura com idéia linear de
causa/efeito, de produto/produtor, de estrutura/superestrutura…” (p. 74). Nos pequenos grupos,
assim como no grupo da Fraternidade, a recursividade se efetiva pelo crescimento que seus
participantes produzem nos demais e que retorna para eles, recursivamente, em crescimento
pessoal. Assim, pelo ato de gerar crescimento nos outros, eles mesmos crescem (ALVES e
SEMINOTTI, 2006).
O terceiro princípio da complexidade é o hologramático. Por este princípio “não apenas a
parte está no todo, mas o todo está na parte” (p. 74). No grupo, como o da Fraternidade, o
participante representa a família, a sociedade. Assim como o sujeito leva para a família, para o
seu meio social a sinergia desenvolvida no grupo. O indivíduo traz para o grupo o que vive no
seu ambiente social. Estabelece-se assim uma recursividade hologramática, na qual o indivíduo
nunca está só, mas é rede e está em rede.
Para entender a articulação desses dois veis de troca no dia-a-dia do grupo da
Fraternidade, ter-se-á presente a teoria do paradigma sistema, a partir de Morin (2005). Este,
citando Pascal, diz: “Considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, como
conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes” (p. 257). A intersecção dos ideais que
os fraternos buscam, os laços fraternos que cultivam, a espiritualidade que vivenciam, as questões
pessoais que aportam nas reuniões e a missão que se propõem a desenvolver em seu meio social,
entre outras, remetem a uma complexidade que, para Morin (2005) “pode encontrar sua
explicação básica em alguns princípios simples, permitindo a combinação quase infinita de
alguns elementos simples” (p. 271). Esta afirmação do autor é consoante com o que vivem as
Fraternidades, porque sua Espiritualidade é de simplicidade e com esse matiz constroem suas
relações grupais. (INSTITUTO, 2002, 33-41). Diz ainda Morin que os indivíduos produzem
23
movimentos de constituição de si e do outro no contexto das relações sociais, marcados por suas
histórias de vida e em relações causais retroativas e recursivas.
Outra dimensão vivenciada pelas Fraternidades é a missão, ou ação concreta. A respeito da
missão, lemos em Morin (2006) “que a mesma supõe, evidentemente, a fé, tanto na cultura
quanto nas possibilidades do espírito humano”. Por isso, diz ainda o autor, que “a missão é muito
elevada e difícil, uma vez que supõe, ao mesmo tempo, arte, e amor”. Nessas, o fraterno
defronta-se com emergências e interferências que exigem freqüentes recursos à arte, fé e amor, a
“trindade laica”, nomeado por Morin. Coexistem, assim, como acabamos de refletir, aspectos
fundacionistas ou da tradição, e aspectos da complexidade contemplados na contemporaneidade,
da diversidade do meio onde o fraterno realiza a missão. E este é o lado rico da missão, dentro de
uma visão multidimensional e solidária, próprio da consciência da complexidade que traz em sua
concepção a incerteza de que a ação apostólica da Fraternidade sempre será limitada, apesar de
trazer em si a aspiração à plenitude (MORIN, 2006). O livro Água da Rocha (INSTITUTO, 1,
2007), apresenta as duas dimensões da espiritualidade que impulsionam a ação missionária do
Marista, de forma integrada e complementar: paixão por Deus e compaixão pela humanidade.
A amizade é outra dimensão presente nos grupos humanos. Nem sempre conseguimos
distinguir se um sentimento é de amizade ou de amor. Morin (2005) diz que pode-se conhecer
perfeitamente o cleo da amizade e do amor, mas também situações intermediárias, mistas,
cujas fronteiras não são claras. Assim, diz o autor, “há amizades amorosas e amores amigáveis”
(p. 73). Giner (1995) refere que na sociedade hodierna urbana os vínculos tendem a se
enfraquecer, esfriando as relações a ponto de desaparecerem gradativamente os vínculos sociais
significativos. Conforme a autora, as relações se tornam sempre mais impessoais, superficiais,
transitórias e fragmentadas.
Segundo Saint’Exupery (2000), a amizade não se encontra por acaso, é muito difícil de se
conseguir e é mais difícil ainda de ser mantida. “A pessoa que amamos, pode morrer, porém
sempre levaremos dentro de nós toda essa amizade que nos presenteou”, assegura Villapalos
(2000, p. 146). A amizade pode se tornar tão intensa que pode ser considerada um presente de
vida. Ou ainda, “é dia quando estamos juntos tu e eu; e noite quando nos separamos” (p. 150). Do
ponto de vista de Lisboa e Koeller (2003), a amizade é uma ligação, uma interação entre duas ou
mais pessoas, recíproca, de livre escolha, voluntária, de preferências mútuas, com forte
componente afetivo e sem tempo pré-estabelecido de duração.
Aliatti (2004, p.84) traz outros aspectos da amizade afirmando que
24
no vínculo os amigos, de alguma forma, sabem dos benefícios dela advindos. Reconhecem que
estão juntos numa relação de interesse afetivo, de esperanças, de medos, de tristezas, de alegrias,
de luta e de confiança e, assim, se sentem mutuamente valorizados.
Afirma ainda a autora que a amizade incide na auto-estima, a pessoa se sente valorizada
porque tem alguém com quem contar, sabe que está no pensamento e no afeto do outro. A relação
na amizade é gratuita, um não esperando recompensa do outro nem castigo.
A amizade intensa gera uma sensação de união e comunhão de sentimentos entre duas
pessoas. Morin (2006), explica isto pelo princípio de inclusão asseverando que “posso inscrever
um “nós” em meu “Eu”, como eu posso incluir meu “Eu” em um “nós”, assim, posso introduzir,
em minha subjetividade e minhas finalidades, os meus parentes, meus filhos, minha família,
minha pátria” (p. 122). Isso pode ser entendido a partir do princípio hologramático do
pensamento complexo de Morin (2006), pelo qual “não apenas a parte está no todo, mas o todo
está na parte” (p. 74). Assim mesmo, é possível compreender essa concepção de Morin como
noção de pertencimento. Dito de outra forma, encontramos em Pichon-Rivière (2000), a idéia de
que pertencer se faz notar pelo emprego da primeira pessoa do plural nós, que é expressão que
indica que o indivíduo faz parte de um grupo no qual há um nível profundo de coesão e
integração. E o mesmo podemos dizer da amizade (SEMINOTTI; CARDOSO, 2007).
25
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo das pequenas Fraternidades, com o olhar da Psicologia, a partir da teoria dos
pequenos grupos, sistêmica/rede, do pensamento complexo e da visão sociológica, atravessado
pelos conceitos de espiritualidade e dos vínculos, permite-nos algumas considerações.
Ficou claro que as Fraternidades têm estrutura e organização de pequeno grupo, onde
todos podem se ver, ouvir, interagir e ter respeitadas suas individualidades. Apesar de ser uma
rede auto-organizada e autônoma, têm nculos “duros” entre seus membros e em relação à rede
maior que é o Movimento Champagnat da Família Marista. Isto não exclui que a adesão ao grupo
seja uma decisão pessoal e livre de cada participante, permitindo que cada um nele permaneça o
tempo que desejar, caracterizando-se assim linhas de fuga, próprias dos sistemas complexos.
Além disso, evidenciou-se que a vivência da espiritualidade, vínculo mais vigoroso da
pertença à Fraternidade, apesar de ter um lado nostálgico, é também o ‘motor’ de seu
compromisso social e da missão. Ficou evidente ainda na reflexão que o grupo constitui-se num
espaço impregnado por uma amizade intensa e um amor de irmãos entre seus participantes.
Outra comprovação que ocorreu ao longo do estudo foi que a pequena fraternidade se
constituiu no espaço entre o indivíduo e o social, preenchendo este vácuo deixado pelos projetos
sociais, com uma instituição auto-eco-organizada, de grande significado para seus participantes e
considerável aporte para o crescimento dos indivíduos, da família e do seu entorno.
A partir do pensamento complexo compreendem-se as incertezas, as indeterminações, os
fenômenos contraditórios e aleatórios que as Fraternidades enfrentam no dia-a-dia de sua atuação.
Em meio a este contexto de insegurança e do inesperado, cada grupo vai construindo seu
itinerário, em diálogo constante entre certezas, imprevistos e o acaso. Por fim, como organização
viva, a pequena Fraternidade está sujeita, a cada momento, à desorganização (entropia), assim
como ao movimento contrário, à reorganização (neguentropia), em sua trajetória de crescimento e
de fidelidade. É um desafio constante e para enfrentá-lo conta com um trunfo valioso, a mística.
Esta remonta à experiência fundante de são Marcelino, com uma atualização no aqui e agora, que
a torna visível, ao mesmo tempo que permanece sinal de uma realidade impalpável e indizível
aos olhos do observador.
26
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29
SEÇÃO II A FRATERNIDADE MARISTA COMO PEQUENO GRUPO, A
ESPIRITUALIDADE E A PERTENÇA, OS BENEFÍCIOS AOS PARTICIPANTES E AO
CONTEXTO SOCIAL
RESUMO
Nesta parte da dissertação apresentamos um relatório de pesquisa de uma rede composta
por pequenos grupos, as Fraternidades Maristas. Esta é posta em discussão articulando-se a teoria
sistêmica-complexa, a noção de rede e de pequenos grupos como sistemas complexos. Apóiam,
ainda, a discussão, noções de espiritualidade, de amizade, partilha de vida e pertença. Tem como
objetivos conhecer e compreender motivos pelos quais as pessoas se agregam em Pequenas
Fraternidades do Movimento Champagnat da Família Marista e de como vivem a espiritualidade.
Justificou o trabalho o pouco conhecimento que se têm sobre os motivos pelos quais as pessoas
se agregam a essas Fraternidades e os aportes que isso traz às suas vidas, às suas famílias e ao seu
meio social; existem poucos dados sociodemográficos sobre as fraternidades e seus participantes;
não se ter conhecimento de uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado, em Psicologia,
sobre as Pequenas Fraternidades Maristas. A pesquisa teve uma abordagem quantitativa e
qualitativa. Os instrumentos de coleta foram: um Questionário Fechado, Auto-aplicável, o Grupo
Focal e o Diário de Campo. Os resultados indicam que entre os motivos mais significativos pelos
quais as pessoas aderem às fraternidades estão a espiritualidade, o convívio, a amizade, ajuda na
educação dos filhos, entre outros.
Palavras-chave: fraternidade, espiritualidade marista, pequeno grupo, sistemas complexos.
ABSTRACT
In this section, a research report about a network composed of small groups, the Marist
Fraternities has been presented. These have been discussed by articulating the complex systemic
theory, the notion of network and small groups as complex systems. The Fraternities advocate the
discussion, notions of spirituality, friendship, life sharing and belonging. The aim is to know and
understand the reasons why people have joined Small Fraternities of Champagnat Movement of
the Marist Family and how they experience spirituality. The justification of this work has been
the little knowledge we have about the motifs why people join those Fraternities and subsides that
this fact brings to their lives, their families and their social environment. There have been little
social-demographic data on fraternities and their participants. No reports either of a Psychology
dissertation or thesis about Small Marist Fraternities have been found. The research has had both
a quantitative and qualitative approach. The collection instruments were a Closed, Self-
Applicable Questionnaire, a Focus Group, and the Field Diary. The results have pointed that the
most significant reasons why people join fraternities include: spirituality, living, friendship, and
support in child-rearing, among others.
Key Words: fraternity, Marist spirituality, small group, complex systems.
30
1 INTRODUÇÃO
A Fraternidade Marista, qual pequeno grupo, é o tema da presente pesquisa. Constitui-se
como uma pequena rede de quatro a quinze pessoas e integra a grande rede do MChFM. As
Fraternidades foram criadas no final do século passado, com o objetivo de aprofundar a
espiritualidade marista, partilhar vivências e realizar ações sociais. As pessoas que integram a
Fraternidade, em geral, são filiados ao Instituto Marista, jovens, pais, colaboradores, antigos
alunos, amigo dos Irmãos Maristas, entre outros.
O estudo teve como objetivo principal conhecer e compreender motivos pelos quais as
pessoas se agregam em Pequenas Fraternidades do MChFM e como vivem a espiritualidade.
Como objetivos específicos, propôs-se mapear as características e os contextos sociais em que
vivem as pessoas que se agregam às Fraternidades, compreender as formas de pertença à
Fraternidade Marista, saber se a experiência da pertença à Fraternidade é algo inédito em suas
vidas e conhecer algum aporte que a participação na Fraternidade traz às suas vidas e ao seu meio
social.
As justificativas que geraram esta busca foram: conhece-se pouco sobre os motivos pelos
quais as pessoas se agregam em Fraternidades e os aportes que isso traz às suas vidas, às suas
famílias e ao seu contexto social; existem poucos dados sociodemográficos sobre as
Fraternidades e seus participantes; não se tem conhecimento de uma dissertação de mestrado ou
tese de doutorado, em Psicologia, sobre as Pequenas Fraternidades Maristas.
Para situar o leitor, damos a seguir alguns breves conceitos dos operadores teóricos e seus
autores que ajudaram na compreensão desses grupos.
O primeiro é a teoria dos Pequenos Grupos. Segundo Back (1979), é uma unidade estável
que vive em algum lugar entre o indivíduo e a sociedade. Constituído de 4 a 15 participantes
(MOVIMENTO, 1990 [?]). Anzieu (1978) acrescenta que deve ter de 7 a 15 integrantes, pois
chegado a um patamar, uma variação quantitativa gera um salto qualitativo. Além disso, o
pequeno grupo tem uma organização, geralmente em círculo, tal que todos podem se ver, ouvir,
conhecer e ter reconhecida as suas singularidades (SEMINOTTI, BORGES e CRUZ, 2004).
Esses grupos são compreendidos como redes dentro de redes mais amplas do ponto de vista
de sistemas complexos. Segundo Serres (1994), rede é uma pluralidade de pontos, religados entre
eles por uma pluralidade de ramificações ou nós. Contém um laço invisível interno e externo que
o conecta ao Cosmo (MUSSO, 2001). E sistema nos uma noção de inter-retroação ou ação
31
recursiva na qual cada grupo é causa e efeito de sua própria ação, ao mesmo tempo (MORIN,
2006). As Fraternidades, como grupos humanos, isto é, sistemas orgânicos, do ponto de vista da
biologia do social, compreendem os sistemas sociais humanos e estes conduzem à idéia de nichos
dentro de nichos mais amplos (MATURANA E VARELA, 2005).
Ainda do ponto de vista dos sistemas complexos, a organização desses grupos remete a uma
compreensão do ponto de vista da complexidade, pois alimenta um elo entre a desorganização
(entropia) e a reorganização (neguentropia), ou seja, é um sistema complexo no qual seus
participantes mantém relações que não se deterioram em seu processo, mas ao contrário, têm
uma sinergia, uma espiritualidade, uma amizade que por si própria, constitui, mantém e
desenvolve o grupo (MORIN, 2006). Os sistemas complexos apresentam uma infinidade de
interações e de interferências intra e intersistêmicas que supõe incertezas, indeterminações,
fenômenos aleatórios, o acaso. Essa organicidade social é compreendida segundo três princípios
básicos: o dialógico, a recursão organizacional e o hologramático (MORIN, 2006). Por meio do
princípio dialógico tenta-se superar a visão dialética da realidade que tende a eliminar os
contrários pela produção de uma síntese. A concepção dialógica da realidade acolhe os
contrários, dialoga com os opostos, permite manter a dualidade, complementaridade e a
contradição no seio da unidade. Supõe a dinâmica da recursividade, retro-alimentação e
contempla as emergências que decorrem das relações. As Fraternidades vistas a partir do
princípio dialógico representam um campo vasto de situações e identidades dos seus participantes
que requerem essa flexibilidade e abertura para contemplar todos aspectos presentes no grupo e
fazer deles emergências que contribuam na construção do seu projeto e sua ação social.
O segundo princípio da complexidade, a recursão organizacional, significa que “um
processo recursivo é um processo onde os produtos e os efeitos são, ao mesmo tempo, causas e
produtores do que os produz” (p. 74). Com isto contemplam-se rupturas com a linearidade,
objetividade e estabilidade como questões únicas e absolutas na organização social (MORIN,
2006). Nos pequenos grupos, assim como no grupo da Fraternidade, a recursividade se efetiva
pelo crescimento que seus participantes geram nos demais e que retorna para eles,
recursivamente, fazendo-os crescer pessoalmente. Assim, pelo ato de gerar crescimento nos
outros, eles mesmos crescem (ALVES e SEMINOTTI, 2006).
O terceiro princípio da complexidade, o hologramático, traz que “não apenas a parte está no
todo, mas o todo está na parte” (MORIN, 2006, p. 74). No grupo, como o da Fraternidade, o
participante representa a família, a sociedade. O sujeito leva para a família, a sociedade a sinergia
32
desenvolvida no grupo e traz para o grupo o que vive na sociedade. Estabelece-se assim uma
recursividade hologramática, na qual o indivíduo nunca está só, mas é rede e está em rede.
Como anunciamos, a Fraternidade está impregnada da espiritualidade de uma maneira
significativa. Esta se manifesta entre o finito e o infinito nas profundezas do ser humano
(KIVITZ, 2007, p. 34). A espiritualidade, diz ainda o autor, é um retorno à experiência básica
para além de suas sistematizações. É uma indagação pelo sentido último das coisas que abre
caminho para novas experiências. Mantendo o princípio dialógico, recorremos a Morin (1977-
1986), que nos ajuda a dialogar com os mais diferentes operadores teóricos para contemplar as
múltiplas dimensões do ser humano. O autor prefere utilizar o conceito de noosfera, termo
forjado por Teilhard de Chardin, na década de 1920, para designar as coisas do espírito com a
finalidade de integrar essa dimensão humana, tanto em sua especificidade quanto na
universalidade, por meio do princípio hologramático do pensamento complexo. A espiritualidade
Marista, por sua vez, tem algumas especificidades, a saber: é mariana e apostólica. Tem na
pessoa de Maria seu modelo de ação pedagógica como educadora de Jesus e de vivência cristã. É
apostólica porque segue os ensinamentos dos Apóstolos e procura testemunhar, por sua vida e
atitudes, os valores evangélicos. A Espiritualidade Marista tem três fontes de inspiração, a saber:
“os mistérios do Presépio, da Cruz e do Altar” (INSTITUTO, C 7, 1987).
Considerando o exposto até a aqui, a Fraternidade como rede, sistema complexo, a questão
que norteou o estudo foi saber por que pessoas se reúnem nesses grupos, neles permanecem e
desenvolvem ações sociais?
O Movimento Champagnat da Família Marista é uma rede mundial e também presente em
nossa região, por meio de uma rede particular, que são as Fraternidades Maristas. Entre elas
escolhemos 12, eleitas por um critério de conveniência, localizadas na Grande Porto Alegre.
Apresentamos a seguir o método que foi adotado para realizar o estudo.
33
2 MÉTODO
2.1 Delineamento
Esta pesquisa caracteriza-se por uma abordagem mista, integrada por uma etapa inicial de
natureza quantitativa, constante de um Questionário Fechado, Auto-aplicável, respondido pelos
participantes. Decidiu-se primeiramente aplicar um questionário a fim de conhecer melhor as
Fraternidades em estudo, por meio de um levantamento sociodemográfico. Como não havia um
questionário adequado para este fim, o pesquisador, acompanhando a sugestão de Gil (1999),
escolheu a melhor estratégia a ser empregada. Neste caso criou um questionário adequado para
conhecer melhor as Fraternidades.
Conhecidas as Fraternidades pelo levantamento sociodemográfico pôde-se definir um tema
central para discussão no Grupo Focal. Nesta etapa utilizou-se um enfoque de natureza
qualitativa com a finalidade de compreender melhor as Fraternidades em estudo. Tratando-se de
uma abordagem qualitativa, não se utilizou o método de isolar e manipular variáveis
(TELLEGEN, 1984). Mas, teve-se a preocupação de conhecer como os participantes da
Fraternidade experienciam a espiritualidade e a partilha de vida ou como entendem sua pertença
ao grupo (MARTINS E BICUDO, 1989).
2.2 Participantes
Participaram da pesquisa 12 Fraternidades, perfazendo um total de 84 indivíduos
pesquisados.
2.3 Coleta de dados
O procedimento de coleta de dados utilizou um Questionário fechado, auto-aplicável,
realizado com 10 Fraternidades e o Grupo Focal, feito com 4 Fraternidades, duas que haviam
respondido o Questionário e outras duas fora deste grupo, seguindo-se sempre o critério de
escolha por conveniência. Em ambos os procedimentos, foram elaborados Diários de Campo.
34
2.4 Passos seguidos para realizar o levantamento dos dados:
1 Escolha, por conveniência, de dez Fraternidades da grande Porto Alegre.
2 Aplicação de um questionário referido aos membros das Fraternidades, excluído o
assessor. O questionário é criação do pesquisador que, após a aplicação piloto obteve sua
validação semântica e posteriormente recebeu o parecer favorável da Comissão Científica da
FAPSI-PUCRS.
3 Realização do Grupo Focal, com 4 Fraternidades, escolhidas por conveniência.
4 Elaboração dos Diários de Campo.
2.5 Procedimento para análise e compreensão
1 Tabulação das respostas, traduzidas em gráficos, compondo uma compreensão descritiva
da Fraternidade.
2 Leituras compreensivas dos gráficos e dedução de uma questão central para ser discutida
com as Fraternidades, numa segunda etapa. Surgiu desta forma a questão principal para o Grupo
Focal: Por que você integra este grupo da Fraternidade Marista?
A técnica do Grupo Focal está explicada no final desta dissertação, APÊNDICE C.
De posse dos dados hauridos dos Grupos Focais e dos Diários de Campo, fez-se uma leitura
preliminar, desprendida e flutuante sobre o que foi recolhido para um primeiro contato com o
todo da realidade das Fraternidades. De possa da compreensão resultante dessa leitura, realizou-
se uma interpretação dos dados, por meio da discussão que segue.
3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A abordagem dos dados obtidos mediante a aplicação dos instrumentos de coleta
utilizados segue uma articulação triangular: cruza esses dados empíricos com a psicologia dos
pequenos grupos, articulada com a teoria sistêmica complexa e a reflexão do pesquisador que é
co-produzida nos seminários do grupo de pesquisa, juntamente com o método. A palavra
reflexão aqui é empregada com o sentido que dá Morin (1990/2005), quando a define como “a
35
aptidão mais rica do pensamento do pesquisador, o momento em que ele é capaz de se
autoconsiderar, de se metassistemar” (p. 338-339), com a intenção de ir além das análises lineares
habituais e da simples compreensão (MINAYO, 2005). Na leitura reiterada dos dados auferidos,
segundo a autora, dá-se particular atenção às contradições, às dissonâncias e às dialéticas, numa
relação dialogal também entre possíveis opostos, conforme o pensamento complexo de Morin
(2005), destacando consensos e contradições em vista de novos aportes dessa vivência grupal,
para a vida dos participantes do grupo, e para melhorias na rede social.
Essa noção de rede está presente também no pequeno grupo da Fraternidade porque se
organiza com diferentes nós: um animador, um assessor e o relator das atividades, tais como
encontros, ação social, formação e retiros. A rede também está presente na organização das
Fraternidades por regiões, observando os limites territoriais das Províncias Maristas e por fim em
rede internacional, formando o Movimento Champagnat da Família Marista, abrangendo os 77
países onde os Irmãos Maristas estão presentes.
O olhar histórico das Fraternidades trouxe à luz seu itinerário percorrido, as diferentes
etapas e as redes constituídas para recuperar o que os primeiros discípulos do Fundador tiveram a
oportunidade de vivenciar. As redes das associações dos antigos alunos constituídas no momento
seguinte, bem que tentaram reviver aquelas experiências, mas fracassaram. Constataram que algo
mais pairava no ambiente. Um misto de subjetividade e misticismo, que o idealizador da obra
marista desenvolvera, diante do qual sentiram-se impotentes para captá-lo e simbolizá-lo em suas
vidas. Nesse hiato existencial, surgiram as Fraternidades Maristas como tentativa de habitar o
espaço e realizar o desejo de apropriar-se do espírito marista. E perguntamos: como conhecer
melhor estas pequenas redes, compreender a forma de viver esse desejo e o que seus participantes
encontram para nelas permanecer tanto tempo? Na busca de algumas respostas à pergunta,
seguiremos uma triangulação entre os dados obtidos pelo questionário, o grupo focal, o diário de
campo, os operadores teóricos e a reflexão do pesquisador.
A realidade sociodemográfica das fraternidades pesquisadas revelou que mais de cinqüenta
por cento têm acima de dez anos de existência. A mais antiga está com 16 anos e a vida média
dos grupos pesquisados é de 10 anos. Existe também um índice elevado de fidelidade entre os
participantes do grupo e raramente migração de participantes entre um grupo a outro. Apenas
em dois grupos pesquisados foi relatado que dois participantes entraram ultimamente no grupo
porque o seu de origem se havia extinto. Evidencia-se aqui que os grupos, por serem sistemas
vivos, estão sujeitos à desorganização (entropia) e à reorganização (neguentropia), explica Morin
36
(2005). Quando os participantes sentem instalar-se no grupo a tendência à desorganização, diz
Enriquez (1991), exige de seus participantes condutas novas, confrontos com os imprevistos em
si mesmo e com os outros para reverter essa tendência. Na pesquisa evidenciou-se que algum
grupo percebeu que a tendência à desorganização andou ameaçando sua existência. Houve
desaparecimentos, porém muitos conseguiram reverter o processo graças aos meios que
encontraram em si mesmos e na experiência primeira (LIBÂNIO, 1985) para continuar vivendo.
Outros permanecem na crise, como explica Enriquez (1991), porque ainda não tiveram a coragem
de se aproximar do abismo e olhá-lo de frente. Enquanto permanecerem nesse marasmo, será
difícil encontrar novas vias para trilhar, com mais lucidez, o caminho que traçaram para si, rumo
ao seu renascimento.
Gráfico 1 – Quanto tempo, em anos, faz que a Fraternidade existe?
Fonte: Dados da Pesquisa
Outro dado é o número de participantes das Fraternidades visitadas. A pesquisa revelou que
das doze Fraternidades estudadas, dez possuem oito ou mais integrantes. A Fraternidade mais
numerosa, entre as pesquisadas, tem 13 participantes. Apenas duas, com três pessoas cada,
portanto, abaixo da média, que é de 8.3 participantes por grupo. Perguntamos: Qual é o futuro de
um grupo com apenas três indivíduos? Em princípio, não tem limite mínimo nem máximo para
que uma Fraternidade exista. No Projeto de Vida (MOVIMENTO, 1990 [?], p. 18) sugere-se que
as Fraternidades tenham entre 4 e 15 participantes. Conforme Anzieu (1978), o número ideal de
indivíduos que deve integrar o pequeno grupo deve ser entre 7 e 15 sujeitos. Pois, as razões desta
cifra se baseiam numa lei que a dialética enunciou, faz muito tempo, segundo a qual chegado a
um patamar determinado, uma variação quantitativa produz um salto qualitativo. No Movimento
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
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37
existe uma norma tácita de constituir grupos segundo a capacidade das casas dos participantes
para poder realizar seus encontros. No caso em que o grupo cresça muito, sugere-se que o
mesmo seja dividido, constituindo-se uma nova fraternidade. Assim se caracteriza o pequeno
grupo, em que é propiciado aos integrantes que todos se vejam e ouçam simultaneamente,
conheçam-se e reconheçam-se em suas singularidades e diversidades, devido ao número reduzido
de participantes (SEMINOTTI, BORGES E CRUZ, 2004).
Numa triangulação transdisciplinar entre a teoria dos pequenos grupos e a Teologia Bíblica,
no que diz respeito à eficácia do pequeno grupo, pode-se fazer uma ancoragem com o livro de
Isaías 4,3: “Então o resto de Sião...” (BÍBLIA, 2002). E no livro de Sofonias lê-se que Deus
deixará em Sião um povo pobre e humilde, o resto de Israel (3,12-13). Este resto lhe será fiel e
Ele o abençoará. Logo, na linguagem blica, do pequeno resto, sairão as grandes mudanças. Isso
vem ilustrado também nas Parábolas do Fermento (Lc 13,21) e do Grão de Mostarda (Mt 13,31).
Lemos na história das Fraternidades (cf. APÊNDICE D), que os antigos alunos, de vivências
realizadas nas escolas em que estudaram, evoluíram para a rede das associações locais, depois
para associações regionais e nacionais e por fim criou-se a União Mundial. A rede ampliou-se
tanto a ponto de a razão primeira de se reencontrar diluir-se nos grandes eventos e na pompa dos
congressos internacionais. Foi necessária uma volta às fontes, como se dizia na época s-
conciliar, para recuperar o essencial. Recapturado o espírito original (LIBÂNIO, 1985), o espírito
do Fundador, nova rede surgiu: a Fraternidade Marista. Um pequeno grupo, uma minúscula
semente, uma pequena rede em meio ao emaranhado dos macrossistemas planetários. Morin
(2005), por meio do princípio hologramático, explica essa recursividade que permite que, nas
pequenas unidades, é possível reconhecer o espírito do todo. Portanto, o espírito do Movimento
como um todo, está presente na parte, que é a pequena Fraternidade.
As Fraternidades, como foi visto na parte histórica, primeiramente têm uma finalidade
aparentemente mais ad intra, isto é, a vivência da espiritualidade. Em segundo lugar, têm
também uma razão de ser que aponta ad extra, qual seja, dar continuidade à missão deixada pelo
Fundador: tornar Jesus Cristo conhecido e amado entre as crianças e os jovens. A respeito da
missão, lemos em Morin (2006) “que a mesma supõe, evidentemente, a fé, tanto na cultura
quanto nas possibilidades do espírito humano”. Por isso, diz ainda o autor, que “a missão é muito
elevada e difícil, uma vez que supõe, ao mesmo tempo, arte, fé e amor”. E como é isto para os
fraternos? Vejamos as respostas dadas à pergunta que segue:
38
Gráfico 2 – Como está a questão da missão da Fraternidade?
Fonte: Dados da Pesquisa
A reflexão que Morin faz sobre a seriedade da missão é confirmada pelo alto percentual de
fraternos que têm a missão muito clara: 77%. No Manual das Fraternidades (1987, 1999, 2004)
lê-se: “o primeiro trabalho apostólico do fraterno começa na própria pessoa e na família. Outro
campo de apostolado é a profissão. Depois vem a comunidade, a Igreja” (p. 14). Na concepção do
manual percebe-se a interlocução entre aspectos básicos e restritos, qual seja a pessoa e a família.
Depois cita áreas mais amplas, irrestritas, como a profissão, a comunidade, qual rede social e a
própria Igreja, como rede religiosa. Nessas, o fraterno defronta-se com emergências e
interferências que exigem freqüentes recursos à arte, e amor, a “trindade laica”, nomeado por
Morin (2006). Coexistem, assim, como acabamos de refletir, aspectos fundacionistas ou da
tradição, e aspectos da complexidade, da diversidade do meio onde o fraterno realiza a missão. E
este é o lado rico da missão, dentro de uma visão multidimensional e solidária, próprio da
consciência da complexidade que traz no seu bojo a incerteza de que a ação apostólica da
Fraternidade sempre será limitada, apesar de trazer em si a aspiração à plenitude, conforme o
mesmo autor.
Dois outros dados que emergiram dos dados do questionário dizem respeito ao gênero e ao
estado civil. No primeiro caso, temos 56% dos participantes são homens e 44% mulheres. O
leitor certamente se pergunta: por que mais homens do que mulheres? A explicação, que parece
ser pertinente, é que até meados da década de 70, a maioria dos colégios maristas do Estado eram
freqüentados apenas por meninos, com exceção das Escolas Técnicas de Comércio e de
Contabilidade, que eram noturnas. Os professores eram todos Irmãos Maristas. Depois, aos
poucos, foi admitido algum professor leigo e as professoras chegaram mais tarde, e hoje são a
maioria. Como muitos fraternos são antigos alunos, professores, pais de alunos, portanto, pessoas
de meia idade ou mais, faz com que a maioria dos participantes seja homem. A outra questão é o
0%
5%
18%
77 %
Está clara
Meio esquecida
Não está clara
Não tem missão
39
estado civil. Constatamos que 50% dos que responderam ao questionário são casados, 34% são
casadas. Isto confirma as cifras anteriores onde percebemos que a maior parte dos participantes é
do sexo masculino. A realidade dos Colégios e Centros Sociais mantidos, hoje, pelos Maristas, no
Estado, apresenta um quadro inverso. A presença feminina é igual ou senão maior do que a
masculina. A tendência para o futuro é termos também mudanças na constituição das
Fraternidades, quanto ao gênero e ao estado civil, repercussões da crescente flexibilização da
estrutura familiar na sociedade contemporânea (BAUMANN, 2003).
Gráfico 3 – Quanto ao estado civil, você é?
Fonte: Dados da Pesquisa
Junto com as questões de gênero e do estado civil vem o nível sóciodemográfico dos
fraternos. A pesquisa revela que Fraternidades que vivem no centro das cidades, outros em
bairros e outros ainda em pequenas cidades do interior do Estado. A origem e a classe social dos
participantes formam um caleidoscópio variado e rico, fazendo com que as Fraternidades sejam
grupos abertos e multifacetados quanto à dimensão sociodemográfica. Uma fala no Grupo Focal
corrobora esta conclusão: “[...] a gente se torna irmãos e pessoas estranhas que moram distantes,
e aqui a gente vira uma família”.
Entre os fraternos entrevistados, o grupo predominante é dos que foram alunos Maristas,
pais de alunos, antigos professores e auxiliares administrativos. Em segundo lugar vem um grupo
misto de pessoas que foram funcionários de algum colégio ou obra social. No terceiro grupo
predominam pessoas ligadas diretamente a alguma comunidade de Irmãos, estabelecida em
região carente, em meio a um bairro ou cidade do interior. Nas três situações descritas, existe um
laço de pertença a uma comunidade de Irmãos, preservando assim o caráter espontâneo, gratuito
e filantrópico da pertença à Fraternidade. Resguarda-se assim a liberdade de permanecer ou não,
2%
3%
2%
50%
34 %
6%
3%
casado
casada
solteiro
solteira
separada
viúva
outro
40
assim como um espaço de amizade, bem-querer, ajuda mútua, amor fraterno, como se fossem
irmãos de sangue. “O meu motivo hoje de estar no grupo é a espiritualidade, mas compartilhada
com os demais para além da minha família de sangue” (GF).
Os caminhos percorridos pelos indivíduos até chegar à Fraternidade são bem variados. O
resultado do questionário não apresenta uma prevalência maior, a saber: 43% chegaram por meio
de um familiar; 24% por causa do trabalho com os Irmãos; 23% por intermédio de um amigo, que
em muitos casos foi um Irmão Marista e os 10% restantes têm motivos vários. Podemos nos
perguntar ainda: qual o grau de parentesco dos fraternos com algum Irmão Marista? Nas
respostas colhidas constata-se que 47% dos participantes das Fraternidades têm algum familiar
ligado aos Maristas, enquanto a maioria (53%) não tem. Estas cifras nos induzem a pensar que
diversos caminhos são percorridos para se chegar a um grupo da Fraternidade Marista. O fator
familiar vem citado em segundo lugar, com relativa força. As pessoas, que entraram no grupo e
não têm uma ligação mais estreita com os Irmãos Maristas, estariam procurando, no Movimento,
um espaço de participação social? Em certos casos, isto até pode ser verdade, mas em outros, os
motivos vêm um tanto misturados e é difícil de afirmar uma ou outra coisa. No grupo focal
alguém declarou: “É procurar distribuir amor, atenção aos outros, é procurar ser humano
dividindo o pouco que temos, nem que seja com um sorriso”.
No questionário, foi perguntado: qual é o motivo que você tem para estar na Fraternidade
Marista? 66% das respostas apontaram como motivo principal de pertença
4
à Fraternidade o
aprofundamento da Espiritualidade Marista. Uma fala do Grupo Focal diz: “Basicamente é por
motivos espirituais, religiosos que existe este grupo”. Em segundo lugar vem a vivência cristã,
com 15% de indicações. Uma pessoa declarou: “Todos nós temos a prática de estar junto nos
sacramentos de nossa Igreja, de cultivar isto, ir à missa”. Estabelecendo uma interface entre o
olhar psicológico e o saber teológico, encontramos que vivência cristã e vivência da
Espiritualidade Marista são aspectos complementares da cristã, recebida no batismo. A
espiritualidade Marista é uma forma peculiar de viver a espiritualidade cristã, isto é, com as
características do espírito do seu Fundador. Esta questão é confirmada por uma fala, no grupo
focal: “Então, num ambiente onde Jesus Cristo está é um ambiente de partilha, de amizade, e é
um ambiente de vivência Marista, também”. Somando-se os 66% atribuídos à Espiritualidade
4
Como pertença, entendemos os laços existentes entre os fraternos dos grupos. Apoiando-se na Psicanálise,
tomamos a palavra laço como sinônimo de vínculo. Pichon-Rivière (2000), amplia o seu significado, concebendo-o
como “a maneira particular de o indivíduo se relacionar com o outro ou outros, criando uma estrutura particular a
cada caso e a cada momento” (p. 3).
41
Marista, com os 15% que indicaram a vivência cristã, alcançamos um total de 81% dos
pesquisados que apontaram a vivência da Espiritualidade cristã e Marista como o principal
motivo da pertença à Fraternidade. Mas, onde mais isto é confirmado? Na discussão do Grupo
Focal, alguém falou: “Cultivamos a família, a espiritualidade na família. É um valor forte estar
juntos nos sacramentos de nossa Igreja, que é a católica”. Outra pessoa assim se expressou: “Hoje
a gente acha que vive bem a nossa espiritualidade, tem o apoio do grupo, embora continue
freqüentando a Igreja”. Nos diários de campo foi observado que três das fraternidades
pesquisadas, reuniram-se após terem participado juntos da celebração da missa, sendo que uma
Fraternidade animou a missa como equipe de liturgia. “Os trabalhos que a gente faz também,
como a missa que a gente tem na nossa comunidade” (GF). Algum participante, relacionando a
dimensão espiritual com o compromisso com o outro, assim se expressou: “Essa busca, por
exemplo, dessa socialização espiritual, é porque nós estamos, de certa forma, nos
complementando no outro”.
Junto com o motivo espiritual e de forma muito colada, vai a questão humana, da amizade,
da valorização das pessoas e do acolher. Reportando-nos ao relato histórico da origem das
Fraternidades e ao “vale
5
em que foram engendradas, podemos entender que certas atitudes dos
Irmãos deixaram uma marca, por assim dizer indelével, nas personalidades dos jovens que
conviveram com eles. Essas atitudes que os marcaram trazem embutidas o carisma, as virtudes do
espírito marista, entre elas, as chamadas violetas maristas: humildade, simplicidade e modéstia.
“Um exemplo de vida dos Irmãos, uma maneira diferente de evangelizar, de valorizar e de
acolher” (GF). Acrescido às violetas maristas está o espírito de família, amor ao trabalho, a
devoção à Maria, em particular no seu modo discreto de servir, presente no recado dado aos
servos, nas Bodas de Caná: “fazei tudo o que Ele vos disser” (BÍBLIA, 2002, Jo 2,5). Nessa
relação, entre o jovem e o Irmão, esta forma humana e próxima de tratar o jovem, estava presente
o “tempero” da confiança na capacidade, no respeito pela dignidade e na responsabilidade de
cada jovem. Eles sentiram-se valorizados. Esse “jeito marista” deixou marcas na vida e na
personalidade dos que eram orientados por eles, a tal ponto que nunca se esqueceram dessa forma
diferenciada de serem tratados. Pelo contrário, fazem de tudo para continuar a viver e a passar
esses valores às futuras gerações. “Eles (os filhos) estão se criando, se educando, formamos uma
família que cultiva Cristo” (GF).
5
Trata-se do vale do rio Gier, em L’Hermitage, França, onde Champagnat construiu o berço do Instituto Marista.
42
Anteriormente, temos falado da amizade mais relacionada com o jeito de ser e acolher
dos Irmãos Maristas, este jeito de se fazer próximo da criança, do jovem, que marcou tanto os
alunos maristas. Aqui queremos refletir um outro ângulo da amizade, mais ligado ao amor, à
tolerância, ao suporte, à atenção, ao prazer de estar junto, na Fraternidade. surge a dúvida
sobre o que entendemos quando usamos as palavras amizade/amor. Morin (2005) diz que pode-se
conhecer perfeitamente o núcleo da amizade e do amor, mas também situações intermediárias,
mistas, cujas fronteiras não são claras. Assim, diz o autor, “há amizades amorosas e amores
amigáveis” (p. 73). Essa dificuldade em precisar as fronteiras entre uma coisa e outra transparece
na fala de um fraterno, quando disse: “Ao sairmos de cada reunião, sentimos falta de outra
reunião, porque criou-se um grande amor, um amor fraterno e com isso nós avançamos” (GF).
Para Aliatti (2004), citando Giner (1995
),
O processo de urbanização e de industrialização, e isolamento social urbano, passou a se
constituir como o modo de existência contemporâneo. Este modo é marcado por uma carência
de vínculos sociais significativos, estabelecendo-se a idéia das relações impessoais,
superficiais, transitórias e segmentadas do espaço urbano.
Para suprir essa carência apontada pela autora, o espaço familiar da Fraternidade sugere ser
um lugar apropriado para se cultivar esses laços de amizade, amor, suporte, tolerância, desabafo,
estímulo tuo e até para partilhar vivências, dificuldades no emprego, na relação entre o casal,
com os filhos e com outras situações de fora do grupo. “Então é o lugar onde cada um é bem
transparente, se coloca como é, com suas limitações, seus valores, suas contribuições” (GF).
Os encontros festivos, tanto de recordação como de celebração, que eram os motivos
principais para os reencontros dos antigos alunos, referidos anteriormente, continuam presentes
nas respostas dadas ao questionário, porém de forma um pouco mais atenuada, com 8% das
respostas. A fala de uma pessoa, no grupo focal diz: “E a reunião da gente é normalmente uma
festa, por isso costumam chegar 19h30min, outros 20h30min. Não tem hora para começar, nem
para terminar. Não é uma coisa muito convencional. É um encontro de vida mesmo. Estamos
contextualizados”. Esta cifra dos 8% da festa, somada ao item convívio (24%), resulta um total
de 32%. Acrescentando o fator conforto e suporte, que representa 3% das respostas, atingimos
um total de 35%. Significa que esta parte humana da companhia, suporte tuo, conforto e festa
presentes na motivação dos primeiros ex-alunos para retornar à escola em que estudaram,
continua presente nas Fraternidades de hoje, porém com força motivacional mais reduzida do que
então. E a fala de um fraterno parece confirmar esta realidade: “o grupo é algo muito importante
43
para minha vida. Por quê? Em primeiro lugar somos todos muito amigos, temos uma amizade
muita grande entre nós, um precisa de suporte, outro atende. Então, a amizade é muito importante
e forte em nosso grupo”. Outra afirmou:
É pensar no outro muito positivamente, até com concessões para ranços e rabugices que nós
temos, mas até de ser assim tolerantes a isso não valorizando ou supervalorizando outros
aspectos de parceria e amizade, enfim de descontração e de momentos de falar mais ou falar
menos.
Além da espiritualidade e da amizade como motivos que mais atraem os fraternos aos
grupos, “tem o carisma de Champagnat, dos Maristas, que é uma maneira diferente de viver o
grupo” (GF). Outra pessoa assim se expressou: “Uma maneira feliz, uma maneira alegre, e aí, eu
me senti bastante cativado”. Aqui se percebe que muitos fraternos não estabelecem uma distinção
entre a dimensão humana referida no parágrafo anterior, com suas particularidades, e os aspectos
do carisma de Champagnat (INSTITUTO, C 2,3,4), a saber: a espiritualidade (C 7); as três
violetas (C 5); o amor a Maria e a união com Deus (C 17), entre outras. Transparece assim uma
interrelação entre essas duas dimensões. As outras alternativas da pergunta eram: Estudo do
fundador, com 18% e trabalho com os Irmãos, 5%. Esse resultado indica que a tendência de
querer continuar a viver a espiritualidade e as práticas maristas da escola ou de alguma outra
situação de contato com os Irmãos persistem, de forma semelhante, nos fraternos de hoje, como
acontecia com os primeiros ex-alunos dos Irmãos, nos primórdios da fundação do Instituto
Marista. Ainda sobre o carisma marista, uma fala declarou: temos um “encantamento pela vida de
são Marcelino Champagnat”. “São Marcelino, nós invocamos todos os dias em nossas orações”,
falou outra pessoa. E um terceiro participante disse: “Nós somos apaixonados pelos Maristas”. E
ainda: “Esse momento de estar com outros casais para o cultivo da espiritualidade, que aqui é
voltada para o carisma Marista, mas enfim, é a espiritualidade, como é bom, como é
reconfortante” (GF). Essa forte atração pelo carisma e vida de são Marcelino, entendida, a partir
de um ponto de vista religioso, como força do Espírito Santo, podemos denominar também, desde
o ponto de vista da Psicologia, força motivadora que põe em movimento as energias intelectuais,
afetivas e comportamentais do indivíduo. Esses três componentes das atitudes, de forma
integrada e recursiva, constituem as condições ideais para a internalização dos valores do
Carisma de São Marcelino, a vivência na vida privada e social, assim como seu testemunho pela
missão e gestos de caridade que realizam em seu entorno. Isso se justifica, pois, baseia-se no
44
espírito do Fundador constituído pelas três virtudes (humildade, simplicidade e modéstia), o amor
ao trabalho, o amor à família e à pessoa de Maria, como mãe e educadora do menino Jesus,
modelo do seu ideário pedagógico. São Marcelino fundou o Instituto Marista em 1817, e com
seus quase duzentos anos de existência, continua a ser inspiração e ponto de referência dos
Leigos Maristas das Fraternidades em nossos dias.
Um outro tema que emergiu é a questão familiar e as modalidades de constituição dos
grupos. Sobre isto surge uma pergunta: fazer parte de uma Fraternidade é um projeto de família
ou de apenas de um indivíduo? A palavra família aparece no nome do Movimento. E qual é o
motivo da inclusão do termo no nome? Na maioria das Fraternidades, é o casal que participa do
grupo. No entanto, em algumas, os filhos adolescentes, e em outras ainda, as crianças participam,
porém não em tempo pleno. No Diário de Campo lê-se: “Numa Fraternidade, depois da abertura
do encontro, as crianças foram para uma sala contígua, onde receberam uma tarefa relacionada
com o assunto do encontro”. Outra observação do Diário relata: “Terminada a discussão, as
crianças foram chamadas e no meio do círculo apresentaram o que tinham realizado e algumas
pessoas fizeram perguntas às crianças sobre o que tinham feito”. Existe ainda uma quarta
modalidade de constituir o grupo da Fraternidade: o grupo uni-gênero, formado de homens,
antigos alunos, ex-funcionários administrativos ou ex-professores de alguma escola marista. E
imediatamente surge a pergunta: e como fica a questão família nesta última modalidade de viver
Fraternidade Marista? Baseando-nos em Morin (2006), pelo princípio de inclusão, “posso
inscrever um “nós” em meu “Eu”, como eu posso incluir meu “Eu” em um “nós”, assim, posso
introduzir, em minha subjetividade e minhas finalidades, os meus parentes, meus filhos, minha
família, minha pátria” (p. 122). Dessa forma, mesmo que esteja o marido, a família está
incluída por meio dele e assim não se quebra o que foi idealizado e escrito no nome, isto é, um
movimento que abarque a família e que tenha ares de família, jeito de família, ambiente de
família. Eis mais um motivo porque se reúnem nas casas das famílias. Confirma-se assim o
princípio hologramático do pensamento complexo de Morin (2006), pelo qual “não apenas a
parte está no todo, mas o todo está na parte” (p. 74)
Outra resposta alternativa existente na pergunta sobre o porquê de estar na Fraternidade é se
a pessoa está buscando reviver experiências anteriores. Esta alternativa foi assinalada por 6% dos
participantes. No início da elaboração do Projeto, o pesquisador tinha a intuição de que um
considerável mero de fraternos aderia à Fraternidade Marista para reviver experiências
passadas. “Foram momentos muito felizes da minha vida enquanto jovem” (GF). Talvez nos
45
perguntemos: por que seis por cento apontaram esta alternativa? Este percentual baixo não
derruba a intuição do pesquisador? Pode-se ainda entender que, mesmo que a maioria (66%)
apontasse o aprofundamento da Espiritualidade Marista como motivo de estar na Fraternidade,
essa questão da revivescência também está contida naquela resposta majoritária, uma vez que
aquele que se liga ao grupo, para aprofundar a espiritualidade Marista, com certeza o faz também
porque, em algum momento, vivenciou-a como algo positivo e significativo em sua vida e que
agora deseja reviver. Vejamos o gráfico.
Gráfico 4 – Qual é o motivo que você tem para estar na Fraternidade?
Fonte: Dados da Pesquisa
Uma outra fala do Grupo Focal dá outros ângulos do motivo principal de estar no grupo.
Então, aliás, essa amizade, esse amor que a gente sente dentro do grupo também tem o carisma
de Champagnat, dos Maristas, que foi uma maneira diferente de viver o grupo. Uma outra
perspectiva, uma outra maneira de encarar o crescimento espiritual muito grande, um apoio,
faltando a palavra, o exemplo de vida dos Irmãos, uma maneira diferente de evangelizar, de
valorizar e de acolher.
E a preferência pela oração e espiritualidade, com 48% é consoante com o percentual
evidenciado no gráfico anterior, na alternativa do aprofundamento da Espiritualidade Marista
(66%), como motivo principal da pertença à Fraternidade. Os 5% atribuídos à alternativa do
trabalho com os Irmãos acena que o vínculo duro (ser funcionário) (DELEUZE e GUATTARI,
1995) tem pouca força para manter uma pessoa por muito tempo no grupo. Advindo uma crise
relacional, esse vínculo geralmente se rompe e, se não existe um outro mais forte, a pessoa pode
se retirar da Fraternidade. Dessa forma, evidencia-se que o vínculo mais duradouro para manter
alguém no grupo vai além das relações de compromisso. Vejamos o gráfico.
15%
66 %
6%
8%
3%
2%
Aprofundar a EM
Buscar vivência cris
Acompanhar cônjuge
Reviver o que tinha aprendido
Ação social
Outra
46
Gráfico 5 – Qual foi sua experiência mais significativa?
Fonte: Dados da Pesquisa
A fala do Grupo Focal caracteriza esta relação: volta muita vezes o convívio entre amigos,
as amizades, a partilha de vida, a festa como algo muito marcante e destacado nas relações dos
participantes da Fraternidade”.
Outro dado evidenciado na análise dos gráficos do questionário é o grau de satisfação dos
participantes da Fraternidade. 62% estão muito satisfeitos com o grupo, 27% estão satisfeitos
“Nós somos felizes no jeito marista de ser” (GF), e 11% estão pouco satisfeitos. Vejamos o
gráfico.
Gráfico 6 – Qual é o grau de satisfação que você sente por pertencer à Fraternidade?
Fonte: Dados da Pesquisa
Ligando-se a questão do grau de satisfação por estar no grupo com aquela do desejo de
abandonar o grupo, constata-se, no gráfico a seguir, que 48% nunca pensaram em abandonar o
grupo. Acrescido dos 10% que jamais o fariam, obtemos um total de 58% de fidelidade total ao
grupo. Somando os 31% que pensou em abandonar uma vez, mas não o fez, obtemos um
percentual de 89% de participantes que são fiéis ao grupo. E até os 11% que pensaram em
abandoná-lo diversas vezes, porém não o fizeram, leva-nos a concluir que, em geral, os grupos
são estáveis e que sua grande maioria não o abandona tão facilmente. Ocorre aqui uma
coincidência. O percentual que aparece em terceiro lugar no gráfico anterior, com a formulação
0%
27%
11%
62%
Muito satisfeito
Satisfeito
Pouco satisfeito
Nada satisfeito
24%
2%
2%
5%
18%
49%
Oração e Espiritualidade
Convívio
Estudo do Fundador
Trabalho com Irmãos
Solidariedade
Outras
47
de ‘pouco satisfeito’, isto é, 11%, se repete no gráfico a seguir, porém com a formulação de
‘diversas vezes’. Isto faz pensar que nas Fraternidades nem sempre as coisas estão 100% e que
existem discordâncias, choques de mentalidade, descontentamentos em relação a colegas ou ao
animador. Porém, em se tratando de questões normais no funcionamento de grupos, as mesmas
são toleradas e não chegam a serem causas suficientes para retira-se da Fraternidade. Apesar
dessas limitações, constata-se uma constância, comprovada pelos índices alcançados pelas somas
das duas primeiras questões em ambos o gráficos em discussão. Assim, estar na fraternidade
parece ser um ato de escolha pessoal e livre, possibilitando-se, o tempo todo, ao indivíduo retirar-
se ou permanecer no grupo. Há liberdade para estar ou não no movimento.
Gráfico 7 : Você já desejou abandonar a Fraternidade?
Fonte: Dados da Pesquisa
Sobre a possibilidade de abandonar o grupo, alguém no Grupo Focal assim se expressou:
Então, hoje, por mais atividades que cada jovem tenha, abandonar o grupo não está em
hipótese nenhuma em nossas cabeças. Porque o grupo já é referência de vida para nós. É uma
experiência viva, de partilha, experiência viva de crescimento do grupo, de ajuda mútua,
experiência viva de ser e estar como cristãos. A gente consegue partilha, simplicidade, um
ajuda o outro, ajuda mútua, nós somos uma grande família.
A fidelidade ao grupo vem colada à questão da satisfação por pertencer a ele, ilustrada na
pergunta que segue.
Gráfico 8: O que lhe dá mais satisfação?
Fonte: Dados da Pesquisa
31%
11%
10%
48%
Não, nunca
Sim, uma vez
Diversas vezes
Jamais faria isso
8%
11%
34%
39%
2%3%
3%
Momentos de
celebração
Convívio
Confraternizão,
alegria,..
Partilha das
dificuldades
Ajuda mútua
Conforto e suporte
Animador
48
O aporte à educação dos filhos, que apareceu durante a pesquisa, não estava contido nos
objetivos específicos relacionados aos possíveis ganhos da pertença à Fraternidade. Vejamos o
que foi dito no Grupo Focal: “[...] jamais quero parar porque é um exemplo que a gente para
os filhos, é um ensinamento, uma catequese. Eles estão se criando, se educando, uma família que
cultiva Cristo”. E outra pessoa assim falou: “É uma escola para os nossos filhos, é o caminho de
educação dos nossos filhos, e depois numa visão mais geral, é um meio de a gente melhorar a
sociedade”. Então, ganha a família porque o grupo é uma escola para os filhos e não pára aí,
melhora também o ambiente social.
As afirmações anteriormente citadas a respeito de alguns valores, do ambiente da
fraternidade, que incidem sobre a vida dos filhos e do meio social, com certeza devem ter
chamado atenção. Outras falas no Grupo Focal ampliam essa contribuição, referindo-a também à
vida pessoal dos fraternos. “A fraternidade tem essa contribuição para a vida de cada um de nós”.
“Eu acho que a gente encontra suporte e reforço na fraternidade”. Esta idéia foi intuída pelo
pesquisador quando, num dos objetivos, aludia a um possível aporte para a vida pessoal do
fraterno e para o seu meio. Pela ênfase das falas dos participantes, percebe-se que é uma força na
ajuda entre o indivíduo e seu meio
6
, em recursão organizacional (MORIN, 2005), como
crescimento, processo formativo pessoal dos participantes e de melhoria do seu meio social. Isto
é confirmado por algumas falas dos Grupos Focais: “Em primeiro lugar aqui eu cresci desde o
início espiritualmente. Modifiquei meu modo de vida”. “Também cresci como pessoa”. “Hoje
participamos também de um grupo de caridade, e distribuímos alimentos, roupas”. Enquanto se
discutia sobre as influências no todo da família, um fraterno disse: “Esta semana eu tive uma
outra surpresa de uma das filhas: ela fez um ato concreto que não esperava dela”. Isso ilustra bem
a recursividade, ou seja, o que os pais vivem e passam para os filhos, retorna aos primeiros em
forma de satisfação e bem-estar ao presenciar tais atitudes nos últimos.
Outra pergunta do questionário esclarece uma lacuna apontada por algumas pessoas durante
o grupo focal. Ouviu-se uma certa insatisfação no que diz respeito à ação concreta do grupo, aqui
entendido como ação concreta na área social. O pesquisador constatou que esta deficiência
apareceu apenas nos grupos em que pessoas não estavam presentes ao encontro. Perguntado o
motivo das ausências, ouviu-se que estas estavam participando de atividades formativas na Igreja;
6
Deleuze e Guattari (1995) denominam essa ação em dois sentidos de agenciamento, em que uma coisa puxa a outra
e esta é puxada pela primeira.
49
outras estavam preparando a festa do Padroeiro; outros estavam prestando serviço em cursos de
formação na paróquia. Pode-se inferir que o engajamento das pessoas de um mesmo grupo tem
graus e intensidades diferentes, com estreita ligação com o nível de pertença ao grupo. Mas na
grande maioria das Fraternidades, o engajamento por meio de alguma ão comunitária é muito
forte e assumido com muita vibração e dedicação. Apesar disso, existem grupos que ainda não
encontraram seu jeito próprio para realizar ações solidárias, porém estão conscientes dessa
dimensão social e, até certo ponto, ansiosos por encontrar seu lugar para poder ajudar quem mais
precisa. Assim, no gráfico, encontramos um cifra bem elevada, 71% que apontaram a oração e a
partilha como a atividade principal. Logo em seguida vêm rias ações sem predominância de
uma específica, com 27%. Essas cifras fazem crer que um número significativo de pessoas está
engajado em alguma ação concreta e que esta dimensão do social um equilíbrio ao grupo,
constituindo-se quase como o fiel da balança para escapar da polaridade do oração e partilha
de vida ou só ação social. Pelo visto, os grupos buscam um equilíbrio entre essas duas atividades,
apesar da consciência de que isto não é fácil. Na fala que segue, evidencia-se o que se acenou
nos objetivos específicos: há um aporte social. Ganha a comunidade em que estão inseridos, onde
praticam ações ligadas à religião ou não, levando bem-estar. “As notas fiscais recolhidas foram
doadas e a instituição (que as recebeu) comprou ventiladores, cortinas, material pedagógico e
de expediente” (GF).
Gráfico 9 – Qual é a atividade predominante da Fraternidade?
Fonte: Dados da Pesquisa
A fraternidade tem um objetivo inconfesso, mas muito forte que subjaz aos explicitados
pela pesquisa. O espaço da Fraternidade, descrito nas falas dos fraternos com inúmeros
qualificativos e matizes, parafraseando Morin, aqui o designamos como espaço lúdico, poético e
da gratuidade. É intrínseco ao homem, em algum momento quebrar a rotina, desabafar e expandir
27%
0%
71%
2%
Oração e partilha
Várias ações sem predominância de uma espefica
Encontros de lazer e convívio
Ação caritativa e solidária
50
a tensão, desopilar. Isso pode ser resultado da tendência de escapar do prosaico, da utilidade e da
necessidade de produzir e apresentar resultados. O grupo da Fraternidade oferece-se como esse
espaço para, como disse uma fala: “Procurar distribuir amor, atenção aos outros, é procurar ser
humanos dividindo o pouco que se têm”. Segundo Morin (2005), “a poesia nos leva à dimensão
da existência humana. Revela que habitamos a Terra, não prosaicamente sujeitos à utilidade
e à funcionalidade -, mas também poeticamente, destinados aos deslumbramentos, ao amor, ao
êxtase” (p.45). A poesia, diz ainda Morin, por meio da linguagem, coloca-nos em comunicação
com o mistério, que está além do dizível. Um fraterno tentou dizer isso quando falou: “Talvez a
materialização dessa comunicação superior não vem através de coisas materiais, mas ela vem
exatamente por esse sentimento que, às vezes, nós nem conseguimos expressar” (GF).
51
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final da pesquisa evidencia-se que a espiritualidade, com seus diferentes enfoques, é o
motivo principal da pertença à Fraternidade Marista. Além disso, a partilha de vivências é outro
motivo que atraiu e atrai as pessoas ao grupo, juntamente com o aporte que traz o convívio na
Fraternidade para o crescimento e bem-estar do participante, da família, com repercussões
positivas na comunidade onde se insere. Evidenciou-se também que alguns fraternos entram no
grupo para reviver experiências passadas, mormente aquelas relacionadas com a espiritualidade, a
oração e momentos festivos. Apesar de ter sido confirmada a revivescência de experiências
passadas, no entanto, na atualidade esta recebe um enfoque novo, ou seja, o desejo de aprofundar
a espiritualidade e a vida do Fundador.
No que diz respeito ao ganho pela pertença à Fraternidade, além dos dois aspectos
citados, surgiu um terceiro: a ajuda na educação dos filhos. Referiam-se tanto aos filhos que
participam dos encontros como aos demais, que também são beneficiados, porque toda a família
cresce quando um ou mais membros crescem nas Fraternidades.
Revelou-se como uma grande força o amor e a paixão dos fraternos pelo Fundador, sua
vida e pela vida dos Irmãos Maristas. É notável como o dinamismo que haurem destas fontes
torna-se inspiração e impulso para a vida pessoal, a dedicação à família, ao trabalho profissional,
às obras sociais e de evangelização que realizam.
A fidelidade ao grupo e à amizade profunda que nele cultivam são outras evidências da
pesquisa. A partir dessa vivência e partilha, na Fraternidade, tornam-se mais compreensíveis as
falas dos fraternos. No entanto, as considerações referidas não esgotam a compreensão e o
entendimento do tema em estudo, deixando um espaço para outras reflexões a cerca das
Fraternidades Leigas Maristas como espaço de grande sinergia humana e espiritual.
52
REFERÊNCIAS
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54
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO
A elaboração das considerações finais precisa lidar, de entrada, com o problema da
complexidade porque as pequenas Fraternidades, como vimos na discussão dos resultados, têm
dimensões complexas. Ao redigi-las, tomamos o cuidado de não isolar objetos uns dos outros,
porque trata-se de uma rede, um sistema vivo. A complexidade nos faz ver que tudo é solidário.
Devido ao caráter multidimensional do objeto de estudo, definir as conclusões tornou-se um
empreendimento trabalhoso, com a sensação de que, em algum momento, estávamos tocando as
fronteiras da contradição, do limite, do vácuo, além das evidências que apresentamos a seguir.
Um ponto forte evidenciado no estudo é o motivo do pertencimento à pequena
Fraternidade Marista. Pelos dados obtidos por meio de uma triangulação de instrumentos, pode-
se inferir que se trata de grupos que se constituem a partir de um desejo de viver e aprofundar a
espiritualidade Marista. Este dado é confirmado por diversas falas dos Grupos Focais, como foi
amplamente comprovado na discussão dos resultados. Citamos uma para ilustrar: “O encontro do
grupo nos fortalece, alimenta a nossa espiritualidade que a gente precisa a todo o momento”.
Um segundo aspecto intuído pelo pesquisador e que a pesquisa confirmou é o laço afetivo
como motivo de pertença ao grupo. Em alguns casos esse foi estabelecido num momento anterior
da vida dos fraternos, com colegas, familiares ou algum educador Irmão Marista. No Grupo Focal
a mesma idéia apareceu de forma mais ampliada, por meio das palavras como amizade, amigos,
convívio, confiança, troca. Esses dois motivos confirmados pela pesquisa, quais sejam, a
espiritualidade e a amizade, justificam os dois elementos presentes no título da pesquisa: as
pequenas Fraternidades, um espaço possível de partilha de vivências e da espiritualidade.
O segundo objetivo específico queria obter a certeza de que a vivência da espiritualidade
Marista era uma experiência inédita na vida dos fraternos ou revivescência de alguma situação
similar passada. Nas respostas dadas ao questionário, esta questão ficou um tanto na penumbra
porque estava no elenco das alternativas anteriores e como a maioria preferiu assinalar uma
daquelas, esta recebeu menos indicações. Somando-se o escore desta aos escores das duas
alternativas anteriores, alcança-se uma cifra significativa, uma vez que a espiritualidade e a
amizade, com certeza, estão entre as experiências agradáveis que os antigos alunos Maristas
55
tiveram prazer em recordar e reviver, e certamente os fraternos contemporâneos também sentem
o mesmo. Confirma-se, desta forma, a intuição presente no objetivo específico. Por parte da
maioria dos Fraternos, fazer parte da Fraternidade é uma revivescência de experiências passadas,
mormente de espiritualidade e de amizades. Em grande parte a tendência de reviver e
reencontrar-se como um grupo, é confirmado por D’Ávila-Neto (2006), que diz ser um
movimento de agregação que pode significar nostalgia de uma unidade perdida, para se opor a
uma sociedade fragmentada, em que se perdeu a unidade e foram desfeitos os laços.
Além dos aspectos destacados em que se confirmaram previsões feitas no início do
projeto, surgiram alguns aspectos novos. O primeiro que destaco é o ganho pessoal, familiar e
social que os participantes das pequenas fraternidades auferem do pertencimento ao grupo.
Crescem os participantes, beneficiam-se os colegas de trabalho, a comunidade religiosa e civil em
que atuam, assim como toda a sociedade. A pessoa que se eleva, eleva o mundo (LEZEUR,
1958).
Um outro ganho da pertença ao grupo consiste na ajuda que o fraterno obtém na educação
dos filhos. Este também é um resultado o intuído na elaboração do Plano de Pesquisa. Nas
falas dos Grupos Focais ficou evidenciado que os filhos que participam diretamente dos
encontros estão aprendendo muito com o grupo. Aqueles que ficam nas dependências da casa
onde é realizado o encontro dos fraternos e não se envolvem diretamente, mas ouvem as
conversas e sentem o clima reinante no grupo, também têm benefícios no seu crescimento. E
crescem inclusive os que não se envolvem com o grupo, porque se ausentam da casa em que se
realizam os encontros, mas conhecem os integrantes do grupo, captam os ecos das reuniões
quando retornam ao lar ou quando encontram os pais. Tem acontecido que, para surpresa de
algum desses casais, num dado momento do dia-a-dia, os filhos assumirem posturas que denotam
estar em sintonia e se deixando contagiar” pelo espírito reinante na Fraternidade. Isso deixa
claro que as pessoas que estão conectadas na rede da Fraternidade de alguma forma obtêm algum
retorno, influenciadas pela sinergia que nela circula.
Os resultados do questionário assim como algumas falas revelam a dimensão
sociodemográfica das Fraternidades. Esta nos trouxe um quadro variado quanto ao nível social e
localização geográfica. Alguns foram alunos Maristas, outros funcionários ou ainda são, outros
pais de alunos, outros familiares de Irmãos Maristas, outros não se conheciam ou se conheceram
em outra instituição (por exemplo, os ex-seminaristas) e, por fim, têm aqueles que não se
56
encaixam em nenhum grupo citado. Este dado não estava claro para o pesquisador e foi um fator
de surpresa, de modo particular, pela variada gama de situações das quais provêm os fraternos.
Algumas Fraternidades localizam-se no centro das grandes cidades, outras nos bairros, algumas
em vilas da periferia e outras ainda em pequenas cidades do interior do Estado. Essa variação,
quanto à origem e à classe social dos participantes, forma um caleidoscópio rico e variado. Não
obstante isso, as Fraternidades são grupos abertos e multifacetados quanto à dimensão
sociodemográfica. Uma fala no Grupo Focal corrobora esta inferência: “Meu Deus do céu, a
gente se torna irmãos e pessoas estranhas que moram distantes, e aqui a gente vira uma família”.
Evidenciou-se ainda, na pesquisa, outro aspecto novo, que chamamos de objetivo implícito,
mas forte, que subjaz aos motivos citados anteriormente. O espaço da Fraternidade, descrito nas
falas dos fraternos que, consoante a Morin, pode chamar-se de espaço lúdico, poético e da
gratuidade. Isso resulta da necessidade de escapar do prosaico, isto é, na expressão de Morin, da
utilidade e da necessidade de produzir e apresentar resultados. O grupo da Fraternidade oferece-
se como esse espaço para, como disse uma fala: “Procurar distribuir amor, atenção aos outros”.
Segundo Morin (2006), “a poesia nos leva à dimensão da existência humana. Revela que
habitamos a Terra, não prosaicamente sujeitos à utilidade e à funcionalidade —, mas
também poeticamente, destinados aos deslumbramentos, ao amor, ao êxtase” (p. 45). A poesia,
diz ainda Morin, por meio da linguagem, coloca-nos em comunicação com o mistério, que está
além do dizível. Uma fala de um fraterno confirma que esse espaço também existe na
Fraternidade: “(O encontro) não é uma coisa muito convencional. É um encontro de vida
mesmo”. “É um ambiente bem familiar, bem fraterno, bem de irmãos de troca”. “Então o grupo
tem que ter isto, a vivência e não só da doutrina da fé, do rito” (GF).
O terceiro aspecto novo que se evidenciou é o espaço que ocupa a Fraternidade entre o
indivíduo e a sociedade (BACK, 1979). Nesse intermezzo os casais se reúnem para discutir a
educação dos filhos e para vivenciar, aprofundar a espiritualidade. Justamente no vazio deixado
pelos projetos sociais referentes à educação e ao desenvolvimento da espiritualidade aparecem as
Fraternidades como sistemas auto-organizados, buscando respostas para as questões educativas e
espaço de partilha de vida e da espiritualidade do seu dia-a-dia de cristãos e de cidadãos. Dessa
forma geram cidadania e compromisso com o meio ambiente, evidenciando que o modelo nuclear
de família, onde se dá a socialização dos filhos e a introjeção de valores, está migrando para um
sistema de redes multifamiliares.
57
Um outro elemento significativo que emergiu de modo particular nos Grupos Focais é o
encantamento e a paixão que os fraternos sentem pela vida de São Marcelino e pelos Irmãos
Maristas. Este parece ser um propulsor da vida e da espiritualidade dos grupos. É algo muito forte
e cativante, um verdadeiro atrativo que em muitas falas vem junto com a referência à Boa Mãe, a
Mãe dos Maristas. “Todo pessoal ficou encantado pela vida de são Marcelino Champagnat e pela
espiritualidade. De modo particular quando a gente estudou a vida dele. Como isto enriqueceu a
gente”. E na medida em que a gente foi conhecendo um pouco a história, a trajetória, todos os
valores e princípios do Fundador, a gente foi se encantando. E eu acho que nós nos apaixonamos,
nós por Marcelino e ele por nós”. “[...] sua obra, a força com que ele (Champagnat) sempre
reforçou a imagem de Nossa Senhora, Boa Mãe” (GF).
Por último, temos a situação da Fraternidade formada somente por homens, fazendo parte
de um movimento que leva o nome de Família Marista. Aqui temos uma nova percepção e
vivência de família, fora dos padrões da família nuclear, formada por pai, mãe e filhos. Nela se
evidencia a idéia de rede, em que os nós (pai mãe filhos) estão separados e ao mesmo tempo
unidos, e o que um vivencia é comunicado aos demais, numa dinâmica de fluxo e refluxo, auto-
organização e recursividade (MORIN, 2006).
Como pensamento final, citamos a fala de um fraterno onde expressa o que significa ser
marista na Fraternidade: “Nós somos felizes no jeito marista de ser” (GF).
.
58
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62
APÊNDICE A – MAPA SISTÊMICO
Fonte: Elaborado pelo autor
Fundador
Espírito
Marista
Discípulos
Escolas
Alunos
Ex-alunos
Associações
UNIÃO MUNDIAL
Fraternidades
Movimento Champagnat da Família Marista
Regionais
Nacionais
Internacionais
Nostalgia
Regionais
Nacionais
Internacionais
1985
1817
63
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO FECHADO E AUTO-APLICÁVEL
Finalidade: Mapear dez Fraternidades Maristas da Grande Porto Alegre.
Instruções:
O presente questionário destina-se a dez grupos das Fraternidades Maristas. Será aplicado pelo
pesquisador. O pesquisador, tendo em mãos a autorização assinada pelo Coordenador do
Movimento Champagnat da Família Marista no Rio Grande do Sul, agenda a reunião com o
animador da Fraternidade. Na reunião marcada, o pesquisador motivará os participantes da
Fraternidade a contribuir com a pesquisa mediante a exposição dos motivos da mesma e sua
finalidade. Em seguida solicitará aos presentes assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Uma cópia do questionário é distribuída para cada participante presente à reunião. O
pesquisador permanece no ambiente para algum esclarecimento, enquanto os presentes
respondem as questões individualmente. No final da reunião, os formulários são recolhidos pelo
pesquisador.
Questão modelo de como devem ser respondidas as questões.
Assinale a alternativa da raça a qual você pertence:
1 ( ) amarela;
2 ( ) branca;
3 ( ) preta;
4 ( X ) mestiça;
5 ( ) morena:
6 ( ) outra
1 - Quanto tempo faz que a Fraternidade existe?
1 ( ) um ano;
2 ( ) dois anos;
3 ( ) três anos;
64
4 ( ) quatro anos;
5 ( ) de cinco a oito anos;
6 ( ) de 9 a 12 anos;
7 ( ) mais de 13 anos
2 - Quanto ao sexo, você é do:
1 ( ) sexo feminino;
2 ( ) sexo masculino
3 - Quanto ao estado civil, você é:
1 ( ) casado;
2 ( ) casada;
3 ( ) solteiro;
4 ( ) solteira;
5 ( ) separado;
6 ( ) separada;
7 ( ) viúvo;
8 ( ) viúva;
9 ( ) outro: especificar ....................................................................................................................
4 - Quanto tempo faz que está na Fraternidade:
1 ( ) um ano;
2 ( ) de dois a três anos;
3 ( ) de quatro a seis anos;
4 ( ) de seis a 8 anos;
5 ( ) de 9 a 10 anos;
6 ( ) mais de 10 anos.
5 - Como é que você chegou até aqui?
1 ( ) Por meio dos vizinhos
2 ( ) Trabalham na mesma obra marista
3 ( ) Vivem no mesmo bairro
65
4 ( ) Tem um familiar que está ligado aos Maristas
5 ( ) São amigos
6 ( ) Não conhecia ninguém do grupo antes de entrar
7 ( ) Vive distante de todos os demais do grupo
8 ( ) Tenho outra situação diferente das citadas acima.
Qual?...................................................................................................................................................
6 - Quanto ao vínculo com pessoas ligadas aos Maristas, você se situa em qual das seguintes
possibilidades:
1 ( ) Amigo de um Irmão Marista;
2 ( ) Pai de aluno marista;
3 ( ) Mãe de aluno marista;
4 ( ) Parente de algum Irmão Marista;
5 ( ) Cônjuge de algum(a) fraterno(a);
6 ( ) Amigo(a) de algum Fraterno Marista;
7 ( ) Outros.
Quais?.................................................................................................................................................
7 - Quanto ao motivo de estar no grupo, você entrou por:
1 ( ) Curiosidade;
2 ( ) Reviver o que tinha aprendido com os Irmãos Maristas;
3 ( ) Aprofundar a Espiritualidade Marista;
4 ( ) Acompanhar o cônjuge;
5 ( ) Para buscar uma vivência cristã mais profunda;
6 ( ) Engajar-se em algum ação social;
7 ( ) Outra.
Qual? ..................................................................................................................................................
8 - Quais são as principais experiências que você realiza na Fraternidade? Cite cinco, por ordem
de prioridade, marcando 1 para a mais importante, até chegar a 5, para a menos importante de
todas.
1 ( ) Convívio dos Leigos com os Irmãos Maristas;
66
2 ( ) Oração e Espiritualidade Marista;
3 ( ) Estudos sobre a vida do Fundador Marcelino Champagnat e a Obra Marista;
4 ( ) Trabalhos com os Irmãos Maristas;
5 ( ) Campanhas de solidariedade;
6 ( ) Outras.
Quais? ................................................................................................................................................
9 - O que no grupo da Fraternidade mais lhe dá satisfação?
1 ( ) Convívio;
2 ( ) Ajuda mútua;
3 ( ) Partilha das dificuldades;
4 ( ) Conforto e suporte mútuo;
5 ( ) Os momentos de celebração e oração;
6 ( ) Os gestos e ações concretas de caridade;
7 ( ) A atuação do coordenador do grupo;
8 ( ) Outras.
Quais? ................................................................................................................................................
10 - Com relação à tarefa, a missão da Fraternidade:
1 ( ) Está clara e bem definida para todos;
2 ( ) Está clara, mas meio-esquecida;
3 ( ) Não está clara;
4 ( ) O grupo não tem meta ou missão estabelecida.
11 - A atividade que prevalece na Fraternidade é:
1 ( ) Momentos de oração e partilha;
2 ( ) Momentos de encontro para lazer e convívio;
3 ( ) Ação caritativa e solidária com pessoas carentes;
4 ( ) Não existe nenhuma ação que seja preponderante na Fraternidade
12 - O que agrada menos no grupo?
1 ( ) O dia e o horário dos encontros;
67
2 ( ) As atitudes de algum colega;
3 ( ) O pouco comprometimento social do grupo;
4 ( ) As celebrações e orações do grupo;
5 ( ) A atuação do coordenador do grupo;
6 ( ) Outros.
Quais? ................................................................................................................................................
13 - Assinalem o grau de satisfação com o seu grupo da Fraternidade:
1 ( ) Muito satisfeito;
2 ( ) Satisfeito;
3 ( ) Pouco satisfeito;
4 ( ) Insatisfeito;
5 ( ) Nada satisfeito.
14 - Você já teve desejo de abandonar o grupo?
1 ( ) Sim, uma vez só;
2 ( ) Sim, diversas vezes;
3 ( ) Não, nunca;
4 ( ) Jamais faria isso.
68
APÊNDICE C – Grupo Focal
Descrição da Técnica:
1. Deixar cada membro do grupo falar e refletir o que quiser sobre o tema proposto, sem crítica
dos demais membros do grupo e nem do pesquisador.
2. Propor uma discussão do que foi falado no primeiro momento, possibilitando oportunidade de
se expressar a todos que quiserem fazê-lo.
3. Tentar construir, com o grupo, algumas questões consensuais de como estes vêem as questões
focais propostas e levantar algumas sugestões do grupo para modificar o que porventura acharem
não estar bem.
Modo de proceder:
Primeiramente o pesquisador motiva o grupo para colaborar na realização da tarefa, visto
tratar-se de um exercício grupal para aprofundar uma questão que é do conhecimento e vivência
deles. Nas intervenções não existe resposta certa ou errada e recomenda-se não se preocupar com
a opinião dos outros, num primeiro momento. Num segundo momento não é relevante desmentir
ou atacar alguma posição de algum colega, mas apenas reforçar a idéia própria e argumentar sua
posição. E num terceiro momento trata-se de fazer um exercício de construir um consenso,
naquilo que for possível, em vista de uma melhor performance dos grupos de Fraternidades
Maristas e da qualidade de vida dos seus membros.
69
APÊNDICE D - A HISTÓRIA DAS FRATERNIDADES
A história dos pequenos grupos das Fraternidades Maristas tem raízes que remontam ao
início do século XIX, antes mesmo de o Pe. Champagnat, fundador do Instituto dos Irmãos
Maristas, reunir os seus dois primeiros discípulos, na casinha de La Valla. Ele trazia esta
experiência da vivência familiar
7
. Na Biografia do Fundador, escrita por Furet (1989),
encontramos que certo dia a mãe o levou ao Santuário de São Francisco Regis e o consagrou ao
Senhor. Uma tia religiosa, que se abrigou na casa dos Champagnat, expulsa que fora do convento
pela Revolução Francesa, “ensinava-lhe os mistérios da religião, fazia-o repetir orações e
narrava-lhe fatos da vida dos santos. A devoção à Santíssima Virgem, aos santos anjos da guarda
era o assunto de suas instruções e conselhos” (p. 4). Sua devoção a Maria “cresceu visivelmente;
rezava o terço todos os dias, recomendava a Maria sua vocação, pedindo-lhe inteligência
necessária para vencer nos estudos” (p. 12).
Ordenado sacerdote, foi nomeado Vigário paroquial da pequena comunidade de La Valla.
Certo dia foi chamado para assistir um jovem que estava a beira da morte. Qual não foi se
espanto ao constar que ele não fora alfabetizado e ignorava totalmente as questões básicas da
religião. Esta foi a gota final para dar início a uma instituição que preparasse professores e
catequistas para a instrução das crianças e jovens. Chamou dois jovens e começou a prepará-los.
Depois vieram outros. Por meio do convívio diuturno com o Fundador e os colegas, nas
instruções que lhes fazia para prepará-los para a catequese e a educação das crianças, no
intermezzo da rotina cotidiana, bebiam de sua espiritualidade, sua visão de homem, de mundo e
seu compromisso com a época, estigmatizada pela Revolução Francesa
8
. Os seus discípulos iam
absorvendo, pouco a pouco, seus ensinamentos e seu espírito, isto é, o carisma pessoal do
Fundador, sua espiritualidade. Era um homem de fé, de confiança em Deus e na intercessão de
7
“A tantas qualidades excelentes, esta mãe modelar associava profunda devoção à Santíssima Virgem: todos os dias
rezava o teço com os filhos. Lia, ou mandava ler, a vida dos santos ou outro livro edificante. Fazia a oração da noite
em família. Além disso, praticava em particular muitos outros atos de piedade em honra de Maria, para merecer-lhe a
proteção” (FURET, 1989, p. 2 e 3).
8
“A França acaba de sair do caos em que a Revolução a mergulhara. A Igreja, novamente livre, purificava os
templos que a impiedade não destruíra. [...] Reorganizava seus quadros sacerdotais e se esforçava por preencher as
lacunas que o martírio, a apostasia e a morte haviam causado em suas fileiras” (FURET, 1989, p. 8).
70
Maria. Propunha a vivência das três virtudes maristas: humildade, simplicidade e modéstia como
contraponto da trilogia da Revolução: Igualdade, Fraternidade e Liberdade. Estas virtudes eram
acompanhadas de um grande amor à “instrução dos meninos”, como costumava dizer. Era
portador de um grande amor ao trabalho, de espírito de família e de vida austera e simples. Essa
espiritualidade vivenciada pelos primeiros Irmãos e passada aos alunos maristas, na escola ou no
pensionato, marcou-os tanto que uma vez egressos, sentiram o desejo de voltar a ela, para nas
conversações com os Irmãos, descobrir as verdadeiras atitudes maristas a fim de aprofundá-las,
vivenciá-las e irradiá-las em suas vidas de todos os dias e mesmo em seu lugar de trabalho
(LEFEBVRE, 1999). Aqui, podemos perceber que se esclarece a pergunta formulada pelo
pesquisador, no princípio do estudo, expressa num dos objetivos: certificar-se se esta é uma
experiência inédita em suas vidas ou uma revivescência de alguma situação similar passada,
relacionada com a espiritualidade marista. Na tentativa de encontrar o marco inicial dessa forma
de viver fraternidade e a espiritualidade Marista, Lefebvre (1999), em sua pesquisa atesta que
logo após a criação das escolas Maristas, em torno do ano de 1817 e seguintes, no interior da
França, surgiram os primeiros ex-alunos Maristas, egressos das Escolas que os Irmãos dirigiam.
“Os antigos alunos são os filhos espirituais dos Irmãos Maristas e levam em sua maneira de ser e
de agir o caráter do Instituto” (p. 125). Com o passar dos anos, foram crescendo em número, à
medida que terminavam sua formação escolar. Em suas ocupações quotidianas para ganhar seu
pão e seus afazeres como cidadãos, começaram a sentir a falta dos companheiros de escola, dos
mestres e também das vivências que experienciavam. Sentiam-se bem ao voltar ao ambiente
onde tinham estudado, mormente os que foram internos nos patronatos paroquiais que os Irmãos
dirigiam. Esses retornos se davam primeiramente para alguma festa ou celebração relacionada
com a escola ou com algum professor. A Associação de antigos alunos de Beaucamps, França,
fundada em 1865, tinha como finalidade “manter os laços formados entre mestres e discípulos e
entre eles próprios, [...] reunindo os antigos alunos, cada ano para participar de uma festa de
família, vantajosa para eles como interessante para o colégio” (LEFEBVRE, 1999, p. 122).
Depois sentiram um apelo por parte dos Irmãos de apoiarem a escola, principalmente em
momentos de dificuldades. “A associação foi principalmente um esteio para a escola dos irmãos e
para a escola católica, em geral” (p. 122). Como lemos anteriormente, havia duas finalidades
para o retorno dos antigos alunos: celebrar, reviver e apoiar a escola católica. Se observarmos nas
páginas que seguem, veremos que apenas a primeira se manterá, enquanto a segunda, ser um
apoio para a escola Marista, que é um problema conjuntural e transitório, poucas vezes vai
71
retornar. Depois da Associação de antigos alunos de Beaucmps, que foi a primeira, outras foram
surgindo por todo o país, onde os Irmãos mantinham escolas. Logo surgiram outras Associações
e a necessidade de estabelecer uma relação entre as associações a fim de fortalecer sua ação,
como “um complemento necessário da escola cristã, ao lado de outras obras de perseverança
(REGRAS COMUNS, 1947, art. 230, apud LEFEBVRE, 1999, p. 123). Surgiram assim as
Federações Nacionais de Associações de Antigos Alunos e as Confederações Internacionais. Em
1955, por ocasião da Beatificação de Marcelino Champagnat, aconteceu em Roma, a criação da
União Mundial dos Antigos Alunos Maristas. Esta União Mundial durou até 1985, quando, no
Capítulo Geral do Instituto, reunido em Roma, criou-se o Movimento Champagnat da Família
Marista, substituindo a União Mundial. Por meio dessa ntese histórica, percebe-se como foram
se constituindo as diferentes redes (VASCONCELLOS, 2002), cada uma com sua amplitude e
complexidade, num fluir progressivo, dos indivíduos. Da rede indivíduo ou antigo aluno, para a
associação local de antigos alunos, depois federação nacional de associações, as federações
internacionais e for fim a União Mundial. Parecia que algo faltava. O Conselho Geral do Instituto
Marista e suas Assembléias Gerais amadureceram a idéia, com o insistente mediação do Ir.
Virgílio Leon, el chispas”, e em 1985 foi criado o Movimento Champagnat da Família Marista.
Quem analisa a questão em termos evolutivos tem a impressão que houve um retrocesso no
tempo e no espaço. Em lugar de uma rede-mega-organizada, com diretoria, rede de comunicação
e suas ramificações nas confederações e depois associações locais, surge uma célula quase
“doméstica”, a rede-Fraternidade Marista. Sua descrição encontra-se nas Constituições do
Instituto Marista
9
. Após sua oficialização, as Fraternidades, que haviam emergido em alguns
lugares do mundo onde existem obras Maristas, foram reconhecidas, passando a fazer parte da
Grande Família Marista, constituída de Irmãos e Leigos Maristas
10
.
9
É um movimento que reúne pessoas atraídas pela espiritualidade de Marcelino Champagnat. Nesse movimento,
filiados, jovens, pais, colaboradores, antigos alunos, amigos aprofundam o espírito do Fundador para dele viverem e
difundi-lo (CONSTITUIÇÔES 164.4; 1997).
10
Ver APÊNDICE A, ilustração gráfica do histórico das fraternidades.
72
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(Para a aplicação do questionário fechado auto-aplicável)
Prezado(a) participante:
Sou Mestrando em Psicologia Social e da Personalidade da Faculdade de Psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Estou realizando uma pesquisa sob a
orientação do professor Dr. Nedio Seminotti CRP 07/0529, cujo objetivo é mapear as
Fraternidades Maristas da Grande Porto Alegre.
Sua participação consiste em responder a um questionário fechado e auto-aplicável sobre
sua pertença ao grupo da Fraternidade do Movimento Champagnat da Família Marista. A
aplicação do questionário terá a duração aproximada de quarenta e cinco minutos.
A participação nessa pesquisa é voluntária e se você decidir não participar ou quiser desistir
de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.
Os resultados poderão eventualmente ser publicados, mas sua identidade será mantida no
mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo(a).
Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará contribuindo
para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo pesquisador Miro
Leopoldo Reckziegel, fone 84288237, pelo Professor Orientador Nedio Seminotti, fone
33203500, R. 7747, ou pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Faculdade de Psicologia da
PUCRS, fone 33203550.
Atenciosamente,
Professor Orientador
____________________ _________________________
Nedio Seminotti – CRP 07/0529 Local e data
Pesquisador
________________________ _________________________
Miro Leopoldo Reckziegel – CRP 07/14.475 Local e data
Matrícula: 06190619-4
Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste termo de
consentimento.
____________________________ ____________________________
Nome e assinatura do(a) participante Local e data
73
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(Para ser usado com o Grupo Focal)
Prezado(a) participante:
Sou Mestrando em Psicologia Social e da Personalidade da Faculdade de Psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Estou realizando uma pesquisa sob a
orientação do professor Dr. Nedio Seminotti CRP 07/0529, cujo objetivo é compreender os
motivos por que pessoas, de diferentes contextos, se agregam em pequenos agrupamentos de
Fraternidades Maristas e conhecer a forma como vivem a sua espiritualidade.
Sua participação consiste em integrar um Grupo Focal, durante uma hora e meia, para
discutir os principais pontos focais evidenciados pelo mapeamento feito anteriormente com os
dez grupos pesquisados na primeira etapa do estudo. A reunião será gravada, se assim você o
permitir.
A participação nessa pesquisa é voluntária e se você decidir não participar ou quiser desistir
de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.
Os resultados poderão eventualmente ser publicados, mas sua identidade será mantida no
mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo(a).
Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará contribuindo
para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo pesquisador Miro
Leopoldo Reckziegel, fone 84288237, pelo Professor Orientador Nedio Seminotti, fone
33203500, R. 7747, ou pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Faculdade de Psicologia da
PUCRS, fone 33203550.
Atenciosamente,
Professor Orientador
____________________ _________________________
Nedio Seminotti – CRP 07/0529 Local e data
Pesquisador
________________________ __________________________
Miro Leopoldo Reckziegel – CRP 07/14.475 Local e data
Matrícula: 06190619-4
Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste termo de
consentimento.
____________________________ ____________________________
Nome e assinatura do(a) participante Local e data
74
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