Para Michel de Certeau “o espaço é um lugar praticado” (2004, p.202). O lugar para
este autor seria somente a configuração resultante da distribuição de elementos, os quais
estariam situados ao lado uns dos outros, “um lugar é, portanto uma configuração instantânea
de posições. Implica uma indicação de estabilidade” (2004, p.201). O espaço, de forma
diferente, seria constituído pelas operações que nele se desdobram, pelas condições do
movimento, levando em conta a velocidade e o tempo. Neste sentido, o espaço pode ser
entendido como um modo de ser, cultural e individual, e podemos pensar que os modos de
utilizar o espaço acabam por produzir concepções e práticas, conscientes ou inconscientes.
Tanto as referências nos modos de praticar o espaço como as imposições podem gerar certos
modos muito peculiares de deslizes e travestimentos, disfarces e apropriações.
É considerável pensar que, em Florianópolis, estas edificações de que falamos foram
na sua maioria desenhadas e executadas por construtores que não apresentavam nenhuma
formação, por profissionais possuidores de um saber empírico, quase artesanal. Na pesquisa
realizada na SUSP podem ser citados os nomes de Estanislau Makowiecky, João José
Mendonça, João Batista Berreta e Theodoro Bruggemann, como os mais encontrados na
autoria destas tipologias de edificações
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Estanislau Makowiecky era filho de pai polonês, nasceu no Brasil em 1890 e iniciou
na profissão de construtor sem possuir formação, de forma autodidata, auxiliado por uma
equipe de pedreiros e serventes (BRESOLIN, 2008). João José Mendonça nasceu no Brasil
em 1892, era descendente de portugueses e, da mesma forma não possuía formação, era
pedreiro e conseguiu uma licença para trabalhar como construtor, assim como Makowiecky
(MENDONÇA, 2008). João Batista Berreta trabalhou durante a mesma época que os demais,
era descendente de italianos, natural de Urussanga, e também não possuía formação
(BERRETA, 2008). Já Theodoro Bruggemann nasceu em 1900 e era natural aqui da cidade, e,
provavelmente também não era formado em curso superior (BRUGGEMANN, 2008)
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Estes nomes já haviam sido citados pela pesquisadora Eliane Veras da Veiga em seu livro “Florianópolis:
memória urbana. Florianópolis: Editora da UFSC, 1993”, onde, na página 158 eles aparecem juntamente com os
nomes de outros profissionais que tiveram seus projetos aprovados na SUSP entre os anos de 1921 e 1934, data
anterior à do início da presente pesquisa. Sabe-se, por depoimentos coletados, que, destes quatro profissionais
aqui destacados, suas famílias permaneceram na cidade e seus filhos acabaram tornando-se amigos, a maioria
tendo seguido estudos superiores, alguns deles formando-se economistas, advogados, contadores, engenheiros,
entre outros. Também é importante destacar os nomes de Theodoro Grundel, Castúlio do Amaral, Gilberto Reiz,
Afonso Zilli, Avelino José Vieira, Raul Bastos, Calvy de Souza Tavares, Cid Rocha Amaral, Defendente
Rampinelli, entre muitos outros cujos projetos encontram-se no inventário em anexo.
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Foi realizada uma entrevista com seu neto, também chamado Theodoro Bruggemann, e o mesmo não se
recorda se o avô tenha cursado alguma faculdade. Fato curioso ele não ter isto em recordação, uma vez que
Theodoro foi criado pelo avô, o que nos leva a supor que este último provavelmente não tenha concluído curso
superior.