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ALICE DE OLIVEIRA VIANA
A PERSISTÊNCIA DOS RASTROS: MANIFESTAÇÕES DO ART DÉCO
NA ARQUITETURA DE FLORIANÓPOLIS
FLORIANÓPOLIS – SC
2008
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC
CENTRO DE ARTES – CEART
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS
ALICE DE OLIVEIRA VIANA
A PERSISTÊNCIA DOS RASTROS: MANIFESTAÇÕES DO ART DÉCO
NA ARQUITETURA DE FLORIANÓPOLIS
Dissertação de Mestrado elaborada junto ao
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do
CEART/UDESC, para obtenção do título de Mestre
em Artes Visuais.
Orientadora: Professora Dra Sandra Makowiecky
FLORIANÓPOLIS – SC
2008
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ALICE DE OLIVEIRA VIANA
A PERSISTÊNCIA DOS RASTROS: MANIFESTAÇÕES DO ART DÉCO
NA ARQUITETURA DE FLORIANÓPOLIS
Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do
CEART/ UDESC, para obtenção do título de Mestre em Artes Visuais, na linha de pesquisa
Teoria e História das Artes Visuais.
Banca examinadora:
Orientador:__________________________________________________
Professora Drª Sandra Makowiecky (UDESC)
Membro:____________________________________________________
Professora Drª Rosângela Cherem (UDESC)
Membro:___________________________________________________
Professor Dr. Raul Antelo (UFSC)
Florianópolis, 26 de junho de 2008.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meus pais pelas oportunidades na vida e pela confiança silenciosa que
sempre depositaram em mim.
Agradeço a José Gustavo Bononi, pelo amor, pelo carinho, pela cumplicidade e pela
paciência nos momentos em que eu me esquecia das coisas importantes da vida.
Agradeço à professora Sandra Makowiecky por ter me recebido aberta e
carinhosamente desde o início, quando eu ainda não sabia o quão gratificante seria nossa
convivência nestes quatro semestres. Obrigada pela oportunidade e por estar sempre presente
de forma compreensiva e atenciosa.
Agradeço à professora Rosângela Cherem, pela generosidade que sempre teve com
todos, especialmente comigo, e por ter transformado meu olhar. Parte dele está exposto aqui e
é resultado de intensas aulas e agradáveis conversas das quais não me esquecerei.
Agradeço à Elisiana Trilha Castro, pelo carinho, pela amizade e pelo apoio nestes
semestres de descobertas e ansiedades compartilhadas.
Agradeço à Sandra Lima e a todos os colegas do Programa de pós-graduação, pela
participação, de uma forma ou de outra, em todo este processo e pela convivência que
deixará, sem dúvida, saudades.
RESUMO
Esta pesquisa teve por objetivo estudar expressões da arquitetura de linguagem art
déco do centro de Florianópolis, característica da modernidade que se configurou a partir dos
anos trinta, e que ainda se encontra pouco reconhecida pela historiografia assim como pelos
órgãos de preservação do patrimônio arquitetônico. No primeiro capítulo, chamado A fantasia
imagética do novo foi analisada a introdução do “moderno” na cidade através dos prédios
públicos que constituíram o desejo de renovação do Estado que se consolidava e que
trouxeram, de uma forma geral, a fantasia imagética do “novo”. O segundo capítulo, chamado
O passado inscrito em detalhes, apresenta e analisa a estética das edificações de porta-e-
janela e alguns sobrados que compõem grande parte da paisagem dos centros das cidades
brasileiras, especialmente de Florianópolis. Percebe-se como a linguagem singela deste art
déco mais “popular” apresenta-se, em grande medida, como a sobrevivência de formas de
nosso barroco colonial, a reaparição do passado por trás da aparência modernizante das
fachadas. O terceiro e último capítulo, intitulado Por uma lógica da salvação, pretende
debater questões acerca da preservação das arquiteturas, levando em consideração a análise de
edificações art déco do centro da ilha de Santa Catarina e sua inclusão ou não nas ações de
preservação municipais realizadas. Este estudo foi realizado com variada pesquisa
bibliográfica confrontada com a análise das imagens percebidas na cidade e com textos
oficiais do órgão de preservação municipal. Para aprofundar a investigação foi realizado um
levantamento fotográfico dos projetos de edificações de linguagem art déco aprovados pela
Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos (SUSP) entre as décadas de trinta e cinqüenta
que, acompanhado das imagens daquelas edificações ainda existentes em Florianópolis,
resultou num inventário localizado ao final do trabalho que poderá servir posteriormente
como fonte de consultas.
Palavras-chave: art déco. arquitetura. Florianópolis. imagem.
ABSTRACT
This research had as a goal to study the expressions of art deco architecture in
Florianópolis downtown, characteristic of the modernity that was configured from the 30’s,
and still is not much recognized by historiography as well as by the architectonic patrimonial
preservation departments. In the first chapter, named The imagistic fantasy of the new was
analyzed the introduction of the “modern” in the city through public buildings that constituted
the desire for renovation of the State that was strengthened and brought, a general way, the
imagistic fantasy of the “new”. The second chapter, named The past inscribed in details,
presents and analyzes the aesthetics of door-window edifications and some townhouses that
compose the biggest part of the landscape in Brazilian downtown cities, especially here in
Florianópolis. It is realized as the simple speech of this more “popular” art deco is presented,
in great manner, as the survival of our colonial baroque forms, the reappearing of the past
behind the modernizing appearance of the fronts. The third and last chapter, named For a
salvation logics, intends to debate questions concerning the preservation of architectures,
considering the analyses of the art déco edifications in the Santa Catarina island downtown
and its inclusion or not in the performed actions of municipal preservation. This study was
done with a diverse bibliographic research that was confronted with the analyses of the
perceived images in the city and with official texts of the municipal preservation department.
To deepen the investigation was done a photographic survey of the edification projects with
art deco speech approved by the Urbanization an Public Services Clerkship (SUSP) among
the 30’s and 50’s which, accompanied of the images of those still existent edifications in
Florianópolis, resulted in an inventory localized in the end of the text which will be able to
serve later on as a source for consultation.
Key-words: art déco. architecture. Florianópolis. image.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Projeto de prédio do centro de Florianópolis, rua Fernando Machado, datado de
1936. Autor: Tom Wildi. Fotos da autora. Fonte:
SUSP....................................................................................................................15
Figura 02 - Imagem atual do prédio rua Fernando Machado, 2008. Foto da autora...............15
Figura 03 - Antigo Abrigo de Menores, atual prédio da Justiça da Infância e da Juventude,
rua Delminda Silveira, Florianópolis, 2008. Foto da autora..................................21
Figura 04 - Grupo Escolar Getúlio Vargas, rua João Mota Espezim, Florianópolis, 2008.Foto
da autora.................................................................................................................21
Figura 05 - Gregori Warchavchik: casa na rua Bahia, São Paulo, 1930. Fonte: SEGAWA,
Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990.SP: Edusp, 2002..................................23
Figura 06 - Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, anos 40. Fonte: SEGAWA,
Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990.SP: Edusp, 2002..................................25
Figura 07 - Christiano Stockler das Neves: Ministério da Guerra, Rio de Janeiro, 1939.
Fonte: SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. SP: Edusp, 2002...26
Figura 08 - Departamento de Correios e Telégrafos: agência de Belo Horizonte, décadas de
1930-40. Fonte: SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. SP: Edusp,
2002........................................................................................................................26
Figura 09 - José Maria da Silva Neves: Grupo Escolar Visconde de Congonhas do Campo,
São Paulo, 1936. Fonte: SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. SP:
Edusp, 2002............................................................................................................26
Figura 10 - Antigo Banco do Brasil, atual Arquivo Municipal de Florianópolis, 2008. Foto da
autora......................................................................................................................30
Figura 11 - Antiga Câmara Municipal de Florianópolis, 2008. Foto da autora.......................31
Figura 12 - Detalhe de fachada com elementos art nouveau. Disponível em
<http://www.markeff.wordpress.com>. Acesso em 19 maio 2008........................33
Figura 13 - Fotografia de automóvel ilustrando o livro Arte Decorativa,de Le Corbusier.SP:
Martins Fontes, 1996, p.95.....................................................................................38
Figura 14 - Interior do estúdio de Ozenfant, projetado por Le Corbusier e Pierre Jeanneret.
Fonte: BENÉVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. SP: Editorial
Perspectiva,1998, p.425.........................................................................................40
Figura 15 - Edifício das Secretarias, Florianópolis, 2008. Foto da autora...............................41
Figura 16 - Detalhe da entrada do edifício das Secretarias, Florianópolis, 2008. Foto da
autora......................................................................................................................41
Figura 17 - Departamento de Saúde Pública de Florianópolis, sem data. Fonte: Casa da
Memória – Fundação Franklin Cascaes.................................................................44
Figura 18 - Edificação antiga no centro de Florianópolis, apresentando afastamentos laterais,
2007. Foto da autora...............................................................................................46
Figura 19 - Projeto de construção de prédio no centro de Florianópolis, datado de 1933, com
porão elevado. Autor: Tom Wildi. Fotos da autora. Fonte:
SUSP......................................................................................................................47
Figura 20 - Imagem atual do prédio, 2008. Foto da autora......................................................47
Figura 21 - Edifício das Diretorias, rua Tenente Silveira, Florianópolis, 2008. Foto da
autora......................................................................................................................51
Figura 22 - Edifício das Diretorias, 2008, detalhe da parede curva. Foto da autora................52
Figura 23 - Edifício das Diretorias, 2008, detalhe da parede curva. Foto da autora................52
Figura 24 - Edifício das Diretorias, 2008, detalhe da marquise curva. Foto da autora............53
Figura 25 - Hospital Nereu Ramos, sem data. Fonte: Casa da Memória – Fundação Franklin
Cascaes...................................................................................................................54
Figura 26 - Eric Mendhelson. Torre Einstein, 1920. Disponível em http://www.dw-world.de.
Acesso em
17.03.2008.........................................................................................,....................55
Figura 27 - Projeto de construção de prédio em Florianópolis, com esquina curva, avenida
Hercílio Luz, datado de 1939. Autor: Defendente Rampinelli. Foto da autora.
Fonte: SUSP...........................................................................................................55
Figura 28 - Imagem atual do prédio, 2008. Foto da autora.....................................................55
Figura 29 - Projeto de construção de prédio em Florianópolis, com balcão curvo, rua
Conselheiro Mafra, datado de 1948. Autor: Raul Bastos. Foto da autora. Fonte:
SUSP......................................................................................................................56
Figura 30 - Imagem atual do prédio, 2008. Foto da autora......................................................56
Figura 31 - Oscar Niemeyer. Pilares do Palácio do Planalto. Fonte: PENTEADO, Hélio.
Oscar Niemeyer. São Paulo: Almed, 1985............................................................58
Figura 32 - Oscar Niemeyer. Catedral de Brasília, inaugurada em 1970. Disponível em
www.caminhandosinrumbo.com. Acesso em 28.mar.2008...................................58
Figura 33 - Oscar Niemeyer. Prédio da Oca, parque Ibirapuera, São Paulo, inaugurado em
1954. Disponível em <http://www.tvnanet.com.br>. Acesso 20.maio.2008........58
Figura 34 - Pilares do Instituto de Educação de Florianópolis, 2008. Foto da autora.............59
Figura 35 - Fórum de Florianópolis, 2008. Foto da autora......................................................59
Figura 36 - Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, 2008. Foto da autora...............60
Figura 37 - Correios e Telégrafos, Florianópolis, 2008. Foto da autora..................................61
Figura 38 - Edifício do IPASE, Florianópolis, 2008. Foto da autora......................................65
Figura 39 - Pavilhão suíço na cité universitaire de Paris, Le Corbusier e P. Jeanneret, 1930.
Fonte: BENÉVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. SP: Editorial
Perspectiva,1998, p.509.........................................................................................66
Figura 40 - Detalhe de forma reticular em edificação no centro de Florianópolis, 2008. Foto
da autora.................................................................................................................67
Figura 41 - Planta de Brasília. Disponível em <forumpermanente.incubadora.fapesp.br>.
Acesso 26 mar.2008...............................................................................................67
Figura 42 - Prédio do centro de Florianópolis, rua Felipe Schmidt, antigo Hotel Santa
Catarina , 2007. Autor: Tom Wildi. Foto: Márcia Regina.....................................70
Figura 43 - Detalhe edificação à rua General Bittencourt esquina com Beco Tupy,
Florianópolis, 2007. Foto da autora.......................................................................71
Figura 44 - Detalhe edificação à rua General Bittencourt esquina com Travessa Urussanga,
Florianópolis, 2007. Foto: Márcia Regina.............................................................71
Figura 45 - Detalhe de edificação a rua General Bittencourt esquina com Beco Tupy,
Florianópolis, 2007. Foto: Márcia Regina.............................................................71
Figura 46 - Edificação com uma fachada moderna e outra barroca. Rua Conselheiro Mafra,
Florianópolis, 2007. Foto Márcia Regina..............................................................73
Figura 47 - Fachadas modernas e barrocas. Rua Conselheiro Mafra, Florianópolis, 2007. Foto
da autora.................................................................................................................73
Figura 48 - Igreja Nossa Senhora das Necessidades, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis,
2008. Foto da autora...............................................................................................74
Figura 49 - Rua General Bittencourt, Florianópolis, 2007. Foto da autora.............................76
Figura 50 - Triunfo, Pernambuco. Fonte: MARIANI, Anna. Pinturas e Platibandas: fachadas
populares do Nordeste brasileiro. São Paulo: Mundo Cultural, 1987....................77
Figura 51 - Juazeirinho, Paraíba. Fonte: MARIANI, Anna. Pinturas e Platibandas: fachadas
populares do Nordeste brasileiro. São Paulo: Mundo Cultural, 1987....................77
Figura 52 - Piaçabuçu, Alagoas. Fonte: MARIANI, Anna. Pinturas e Platibandas: fachadas
populares do Nordeste brasileiro. São Paulo: Mundo Cultural, 1987....................78
Figura 53 - Nora Dobarro. Portão de Feira de Santana. Disponível em:
<http://www.boladenieve.org.ar/?q=node/186>.Acesso em 30.03.2008...............79
Figura 54 - Nora Dobarro. Portão de Feira de Santana. Disponível em:
<http://www.boladenieve.org.ar/?q=node/186>.Acesso em 30.03.2008...............79
Figura 55 - Nora Dobarro. Portão de Feira de Santana. Disponível em:
http://pagina12.com.ar/diário/suplementos/espectaculos/6-2816-2006-06-15.html
Acesso em 30.03.2008...........................................................................................79
Figura 56 - Nora Dobarro. Portão de Feira de Santana. Disponível em:
<http://www.pagina12.com.ar/diário/suplementos/espectaculos/6-2816-2006-06-
15.html>Acesso em 30.03.2008.............................................................................79
Figura 57 - Projeto de reforma de prédio do centro de Florianópolis, rua João Pinto, datado
de 1934. Autor: João Batista Berreta. Foto da autora. Fonte: SUSP.....................81
Figura 58 - Projeto de construção de prédio em Florianópolis, rua desconhecida, datado de
1941. Autor: Estanislau Makowiecky. Foto da autora. Fonte: SUSP....................81
Figura 59 - Projeto de reforma de prédio do centro de Florianópolis, rua Conselheiro Mafra,
datado de 1938. Autor: João José Mendonça. Foto da autora. Fonte: SUSP.........82
Figura 60 - Projeto de construção de prédio do centro de Florianópolis, rua Conselheiro
Mafra, datado de 1935. Autor: Theodoro Bruggemann. Foto da autora. Fonte:
SUSP......................................................................................................................82
Figura 61 - Triunfo, Pernambuco. Fonte: MARIANI, Ana. Pinturas e Platibandas: fachadas
populares do Nordeste brasileiro. São Paulo: Mundo Cultural, 1987....................86
Figura 62 - Giorgio de Chirico. Piazza d'Italia. 1916. Óleo sobre tela. 91 x 121 cm.
Disponível em http://www.abcgallery.com/c/chirico/chirico10.html . Acesso em
17 abr. 2008............................................................................................................88
Figura 63 - Giorgio de Chirico. Love song. Le Chant D’Amour. 1914. Óleo sobre tela. 73 x
59,1 cm. Disponível em http://www.abcgallery.com/c/chirico/chirico10.html.
Acesso em 17 abr. 2008.........................................................................................89
Figura 64 - Conceição do Coité, Bahia. Fonte: MARIANI, Anna. Pinturas e Platibandas:
fachadas populares do Nordeste brasileiro. São Paulo: Mundo Cultural, 1987.....90
Figura 65 - Edificação colonial do centro de Florianópolis, rua Conselheiro Mafra, 2008.
Foto da autora.........................................................................................................90
Figura 66 - Edificação colonial do centro de Laguna, 2008. Foto Sandra Makowiecky.........90
Figura 67- Edificação colonial do centro de Laguna, 2008. Foto Sandra Makowiecky..........91
Figura 68 - Edificação colonial do centro de Florianópolis, rua Conselheiro Mafra, 2007.
Foto da autora.........................................................................................................91
Figura 69 - Rua Menino Deus, 2008. Foto da autora...............................................................92
Figura 70 - Rua Conselheiro Mafra, Florianópolis, 2006. Foto Márcia Regina......................92
Figura 71 - Projeto de reforma de edificação em Florianópolis, rua Almirante Lamego,
datado de 1935. Autor: Theodoro Bruggemann. Foto da autora. Fonte: SUSP.....92
Figura 72 - Projeto de reforma de edificação em Florianópolis, rua Jerônimo Coelho, datado
de 1952. Autor: Theodoro Bruggemann. Foto da autora. Fonte: SUSP................92
Figura 73 - Rua Bento Gonçalves, Florianópolis, 2008. Foto da autora.................................93
Figura 74 - Rua Conselheiro Mafra, Florianópolis, 2008. Foto da autora...............................93
Figura 75 - Projeto de construção de edificação em Florianópolis, Travessa Urussanga,
datado de 1951. Autor: Moellmann & Bruggemann. Foto da autora. Fonte:
SUSP......................................................................................................................93
Figura 76 - Imagem recente da edificação, 2007. Foto da autora............................................93
Figura 77 - Projeto de construção de edificação em Florianópolis, rua Victor Meirelles,
datado de 1948. Autor: João José Mendonça. Foto da autora. Fonte: SUSP.........93
Figura 78 - Imagem atual da edificação, cujo projeto foi em parte modificado, 2008. Foto da
autora......................................................................................................................93
Figura 79 - Projeto de construção de edificação em Florianópolis, rua Anita Garibaldi, datado
de 1936. Autor: Estanislau Makowiecky. Foto da autora. Fonte: SUSP...............94
Figura 80 - Imagem recente da edificação, 2007. Foto Márcia Regina...................................94
Figura 81 - Projeto de construção de edificação em Florianópolis, rua Felipe Schmidt, datado
de 1938. Autor: João José Mendonça. Foto da autora. Fonte: SUSP.....................94
Figura 82 - Imagem recente da edificação, 2007. Foto Márcia Regina...................................94
Figura 83 - Alfredo Volpi. Casario de Moji das Cruzes. Têmpera sobre tela. 46 x 60,5 cm.
Década de 50. Fonte: MUSEU DE ARTE MODERNA DE SP.Volpi: 90 anos.
São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo,1986.......................................98
Figura 84 - Alfredo Volpi. Composição com círculo e faixas. Têmpera sobre tela. 101 x 72
cm. Década de 60. Fonte: MUSEU DE ARTE MODERNA DE SP.Volpi: 90 anos.
São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo,1986.......................................99
Figura 85 - Tarsila do Amaral. Estrada de Ferro Central do Brasil,1924. Óleo s/ tela, 142,0 x
127 cm. Disponível em < http://www.tarsiladoamaral.com.br>. Acesso em 17
abril 2008.............................................................................................................100
Figura 86 - Joaquin Torres-Garcia. Pintura (1937). Óleo s/ tela; 106 x 85 cm. Fonte: MUSEU
NACIONAL DE BELLAS ARTES. Torres Garcia. Buenos Aires: Museu
Nacional de Bellas Artes, 1974............................................................................102
Figura 87 - Omar Rayo. Tilodiran (1971). Acrílico s/ tela; 101,8 x 101,3 cm. Disponível em
http://www.macvirtual.usp.br. Acesso em 17 abr. 2008......................................103
Figura 88 - Omar Rayo. Fresh Fog (1966). Óleo s/ tela; 101.6 x 101.6 cm. Disponível em
http://www.rogallery.com/rayoomar/rayo hm.htm. Acesso em 17 abr. 2008......103
Figura 89 - Manuel Espinosa. Na nuai dheact (1969). Óleo s/ tela; 100cm x 100cm.
Disponível em http://www.fundacionkonex.com.ar/coleccion/coleccion_01.asp.
Acesso em 29maio 2008......................................................................................104
Figura 90 - Edgar Negret. Da série Navegantes (1967). Alumínio pintado; 32” x
45”.Disponível em http://www.velsani.com. Acesso em 17 abr. 2008...............104
Figura 91 - Antigo prédio Banco de São Paulo, 1938. Disponível em
<http://www.piratininga.org>. Acesso em 07 nov.2007......................................107
Figura 92 - Edificação à rua Major Augusto Farias, Florianópolis, 2008. Foto da autora....108
Figura 93 - Fortaleza de Ratones, Florianópolis, 2006. Foto Sandra Makowiecky...............113
Figura 94 - Casa natal de Victor Meirelles, rua Victor Meirelles, Florianópolis, 2008. Foto da
autora....................................................................................................................113
Figura 95 - Edificação à rua Alves de Brito, Florianópolis, 2006. Foto Sandra
Makowiecky.........................................................................................................120
Figura 96 - Edificação à rua Mauro Ramos, Florianópolis, 2008. Foto da autora.................121
Figura 97 - Edificação à rua General Bittencourt, Florianópolis, 2008. Foto da autora........121
Figura 98 - Penitenciária de Florianópolis, bloco modernista, 2008. Foto da autora............123
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14
1.0 A fantasia imagética do novo ............................................................................... 20
1.1 A sobriedade antiornamental ................................................................................ 30
1.2 Curvas higiênicas .................................................................................................. 43
1.3 Recorrências ortogonais ........................................................................................ 61
2.0 O passado inscrito em detalhes ............................................................................ 69
2.1 A máscara, o semblante urbano ............................................................................. 76
2.2 O fundo que sempre retorna ................................................................................... 86
2.3 A geometria sensível .............................................................................................. 98
3.0 Por uma lógica da salvação ................................................................................ 106
3.1 Uma memória perdida? ........................................................................................ 108
3.2 O ideal estético da imago urbis ............................................................................ 118
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 125
FONTES .................................................................................................................... 127
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 129
ANEXO.......................................................................................................................133
Mapa dos conjuntos urbanos tombados.......................................................................134
Inventário da arquitetura art déco do centro de Florianópolis....................................135
14
Introdução
Um texto de Nelson Brissac Peixoto chamado “O olhar do estrangeiro” fala sobre
olhar e sobre como nossa forma de ver as coisas se modificou ao longo do tempo,
principalmente ver a cidade contemporânea (PEIXOTO IN NOVAES, 1988). Nossa visão é
superficial, andamos apressados e a velocidade com que as imagens chegam até nós nos
anestesia, impedindo-nos de perceber o sentido das coisas. Para este autor, o olhar de
estrangeiro seria aquele que nos faria verdadeiramente perceber a poesia de tudo, assim como
o olhar da criança que está sempre descobrindo, o primeiro olhar.
Talvez esta pesquisa tenha se iniciado ainda no colegial quando meu olhar se
surpreendeu ao avistar pela primeira vez uma igreja do período do barroco mineiro. Acredito
que desde então passei a adquirir o hábito de olhar para o alto, hábito que me fez sentir algo
familiar e aconchegante ao chegar à Florianópolis, uma cidade cujo centro me pareceu bem
preservado e pouco densificado, em contraposição ao Rio de Janeiro, cidade grande onde
passei grande parte da infância e adolescência.
Ao longo destes anos que aqui vivo, era no caminhar pela cidade, quase sempre
olhando para cima, que via essas pequenas e modestas casas ou sobrados art déco que ainda
restam na centralidade principal da cidade. Como elas podem ser tão recorrentes como o
próprio barroco o foi? E como, ao olhá-las, percebemos uma aparente continuidade visual
com prédios coloniais, chegando muitas vezes a confundir o que é moderno e o que é
barroco? Um “estilo moderno”, como havia aprendido na faculdade? Mas então, porque me
faz sentir em uma cidade tradicional, “de um tempo cadeiras na calçada”, como descreve
Mário Quintana(2001, p.109), onde o público se confundia (ou se invertia) com o privado?
Pequenas peças de lego, miniaturas quase padronizadas, singelas e que se organizam quase
sempre em relação à Igreja, a maior das peças, aquela que orienta sua localização na cidade.
Eu tive a pretensão de, nestas extensas linhas, escrever um pouco sobre essas minhas
conjecturas, buscando estudar o fenômeno do art déco em Florianópolis, uma recorrência
arquitetônica em muitas cidades brasileiras entre as décadas de trinta e de cinqüenta, na
juventude da modernidade nos países latino-americanos, um momento onde se procurava
limpar as máculas de um passado retrógrado e insistente e assim entrar nas sendas da tão
sonhada civilização.
15
O art déco, de acordo com os manuais de arte e arquitetura e trabalhos acadêmicos,
surgiu na França, no período de entre-guerras
1
em um momento de enriquecimento de uma
parcela da população que se manteve alheia à guerra. Uma elite consumidora que, de acordo
com Campos (1996), optou por uma estética caracterizada pela manutenção de alguns cânones
do passado como, por exemplo, a composição clássica de base, corpo e coroamento dos
edifícios - somados à junção de novas referências da era da máquina, como a citação de
elementos de navios, aviões, entre outros, ou seja, a estética art déco se caracterizaria por uma
“releitura modernizada de valores universalmente aceitos” (CAMPOS, 1996, p.17) e talvez
seja este o motivo que pôde ser apropriada por diversos outros países como a então eminente
sociedade norte americana e os países da América Latina.
Desta forma, alguns autores
2
apresentam o art déco como uma estética ambígua,
fundindo manifestações diversas, como referências do futurismo e do neoplasticismo, através
da insinuação da noção de movimento e da utilização de formas abstratas na composição,
como elementos das culturas ditas “exóticas”, a exemplo da apropriação de baixos relevos de
ornamentação geométrica, típicos da cultura marajoara (ver figuras 01 e 02), entre outros,
tendo apresentado leituras próprias e diferenciadas em cada sociedade e em cada localidade.
Figura 01 - Projeto de prédio do centro de
Florianópolis, rua Fernando Machado,
datado de 1936. Autor: Tom Wildi. Fotos
da autora. Fonte: SUSP
Figura 02 Imagem atual do prédio, 2008.
Foto da autora.
1
O Art Déco como uma convenção figurativa, surgiu na França, durante a Exposition Internationale des Arts
Décoratifs et Industriels Modernes, em 1925, porém, o termo só foi cunhado mais tarde, em uma mostra
retrospectiva desta exposição, também na França, em 1966.
2
Podem ser citados os trabalhos de Hugo Segawa, em Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2002 e de Victor José Baptista Campos. O Art Déco e a construção do imaginário
moderno: um estudo de linguagem arquitetônica. São Paulo: Tese (doutorado em arquitetura) USP, 2003.
16
A minha decisão por este tema surgiu da constatação da pouca visibilidade com que
esta estética era tratada, especialmente durante os anos de faculdade, assim como da
percepção de que este fenômeno teria sido e ainda é - mais constante aqui em Florianópolis
e em outras cidades do que se pensava até então. Talvez o que houvesse fosse a falta de
conhecimentos e pesquisas mais sólidos das expressões que surgiram aqui na cidade entre as
décadas de trinta e cinqüenta. Meu objetivo desde o início foi analisar a manifestação da
estética art déco e como ela se expressou aqui na cidade, julgando que ela era mais presente
do que se supunha, manifestando-se na imagem urbana de forma muitas vezes modificada,
outras vezes preservada.
Para isto, recorri aos arquivos, onde encontrei plantas das décadas de trinta a cinqüenta
de projetos construídos em Florianópolis
3
, e foi onde pude selecionar aqueles que
expressavam esta intenção modernizante própria ao art déco. Tirei fotografias destes
registrando também dados como data, nome do autor do projeto e do construtor, entre outros,
e que estarão expostos ao final do trabalho. Cabe levantar aqui que, em virtude da
precariedade do arquivo onde pesquisei - situação não muito diferente de outros arquivos do
país -, muitos desenhos estavam inacessíveis, rasgados, esfarelados ou até queimados
4
,
justamente por isso, não foi possível contemplar a totalidade de edificações. Da mesma forma,
tirei fotografias daquelas edificações art déco ainda existentes em Florianópolis, localizadas
no centro da cidade, onde era maior a concentração urbana no período especificado,
buscando, no inventário, relacionar com seus respectivos projetos sempre que possível. Assim
também, ao longo do texto, procurei, quando julgasse necessário, fazer a correspondência
entre a imagem atual e a do projeto, como no exemplo acima de autoria do arquiteto Tom
Wildi, entretanto, muitas vezes não tive êxito, uma vez que é provável que a idéia original do
projeto nem sempre fosse seguida à risca, ocorrendo o fato de muitas edificações serem
modificadas durante sua execução. Cabe também destacar que, dos dados constantes
referentes a estas edificações, o item “natureza” do projeto indica se o mesmo representou
uma simples “reforma”, muitas vezes demonstrado por esta palavra ou por “fachada”,
indicando o hábito comum de reforma de fachadas, ou ainda “acréscimo”, ou “prédio”, este
último para indicar a construção integral da edificação, além de outras nomenclaturas
encontradas nos documentos do arquivo.
3
Pesquisa realizada na Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos – SUSP, onde é possível encontrar fachadas
e plantas de qualquer construção realizada na cidade desde a segunda década do século vinte.
4
De acordo com o responsável pelo arquivo, Sr. Juraci, ocorreu um incêndio na década de oitenta que queimou
parte dos documentos.
17
Friso ainda que minha atenção na pesquisa se dirigiu às fachadas por estas
apresentarem a cidade enquanto imagem e, sendo analisadas como semblantes urbanos,
expressarem modos de ser, muitas vezes apresentando-se como simples apropriações das
referências da época, outras vezes constituindo-se como disfarces, sendo esta última condição
a que foi mais explorada ao longo do estudo.
Além do levantamento desses dados visuais, o trabalho teve como respaldo variada
pesquisa bibliográfica, onde selecionei autores modernos e contemporâneos para diálogo. É
importante salientar que eu procurei pensar a cidade em parte enquanto artefato e enquanto
imagem, ao invés de somente estudá-la como documento de uma época, resultado disto ou
daquilo, tipo de estudo já realizado por outros autores, mas, em minha opinião, estudos que
foram pouco esclarecedores. Segundo Henri Leffebvre (1991), pensar a cidade como artefato
privilegia seu aspecto físico, sua topografia e geografia, enquanto imagem a cidade é pensada
através das memórias e dos valores que povoam o imaginário urbano. Procurei, em grande
medida, pensar a imagem da cidade enquanto algo que possa gerar sentido, buscando algumas
vezes empreender uma análise desta estética dita “moderna” para alcançar certos lapsos e
transbordamentos, anseios e recalques que possam ter ficados guardados nesta linguagem.
No primeiro capítulo analiso os prédios públicos construídos em Florianópolis a partir
da década de trinta, edificações construídas em linguagens distintas, mas que trouxeram, de
uma forma geral, a idéia do “moderno” para a cidade. Neste estudo, o art déco oficial é
constatado somente no prédio dos Correios e Telégrafos, as demais construções seguem a
linha moderna da arquitetura, assim como o próprio art déco o seguiu. Um período onde se
estabelece uma nova racionalidade administrativa nos governos nacional e estadual,
racionalidade que irá se refletir na imagem destas arquiteturas, imagens que, em grande
medida, expressavam um desejo de modernidade, sonhos com um Brasil do futuro. A
modernidade das primeiras décadas do século vinte era guiada pela utopia do novo, um desejo
de renovação que trazia a idéia de alcance do progresso e a projeção em direção ao futuro,
necessitando, para isto, eliminar o passado recente, visto como atrasado e retrógrado. E
algumas vezes percebo como essa idéia da renovação, da criação de algo “inédito”, tão
peculiar a esse período da história, nada mais era do que a sobrevivência do passado, o
retorno, mas não necessariamente o retorno do idêntico, que muitas vezes demonstra a
repetição dos mesmos anseios e desejos.
18
Para esta análise, estudo os debates responsáveis em grande parte por esse desejo de
renovação e que se travaram no seio da modernidade em diferentes esferas intelectuais,
debates que possuíam em comum uma insatisfação com a situação do momento, muito devido
às condições desregradas de uma Europa industrial, e que alcançaram posteriormente o Brasil.
Analiso os pensamentos nas esferas artísticas, médico-sanitárias e urbanísticas que de certa
forma questionavam a cidade de então e suas imagens e que foram em grande medida
responsáveis pelo estabelecimento da cidade regulada, ordeira e de pureza geométrica
percebida através do fenômeno do art déco, por exemplo, nas cidades brasileiras.
Conduzindo conceitualmente este pensamento estão as reflexões contidas no texto
Paris, capital do século XIX, escrito por Walter Benjamin, onde o mesmo levanta questões
para pensar a modernidade a partir do final do século dezenove. Neste texto, Benjamin analisa
a fantasia do novo como formada pelos sonhos da sociedade, sonhos que muitas vezes já
foram sonhados, e que geram a “falsa aparência do sempre-igual, do eterno-retorno do
mesmo” (BENJAMIN IN KOTHE, 1991 p.40).
O segundo capítulo parte de uma constatação decorrente da análise das imagens que
olhei, onde percebi que o art déco na cidade é e foi mais recorrente pelo viés “popular” do
que por expressão das classes mais ricas ou do próprio poder público, uma expressão talvez
de uma classe média urbana, e opto por focar minha atenção. Analiso essas pequenas casas
como máscara, semblante urbano onde sobrevivem formas do barroco singelo, o barroco de
traços simples, linhas geométricas e cores diversas. É por um sutil jogo de linhas e proporções
que esta, que foi a primeira linguagem moderna na arquitetura, se assemelha à nossa primeira
linguagem arquitetônica enquanto colônia. O passado ressurge aí como algo que foi reprimido
na modernidade das primeiras décadas do século vinte por ser considerado retrógrado. O
passado travestido de futuro. Para esta análise, teço relações com outras imagens da história
da arte e da arquitetura e me conduzo pelo conceito de anacronismo de Didi-Hubermann
(2006) para demonstrar como as imagens em grande medida possuem mais memória do que
história, são formadas mais pelos diferentes pensamentos de diversas épocas que contribuíram
em sua fatura, ao invés de serem resultado somente do contexto do período em que foram
feitas, e que, sendo assim, poderiam ser analisadas a partir de uma história não linear, mas sim
anacrônica, formada pelos retornos compulsórios e intempestivos de lâminas de diferentes
pensamentos do passado. A imagem de arquitetura, neste caso, pode ser geradora de sentido.
19
No terceiro e último capítulo retorno a este semblante urbano para refletir acerca de
questões patrimoniais, tão intensamente debatidas desde o modernismo no Brasil, e aí procuro
levantar alguns pontos acerca dos critérios atuais de preservação, critérios na maioria das
vezes baseados em ideais estéticos e na “memória ilustre de determinados personagens da
cidade”, que deixam de lado parte considerável de seus cidadãos, rostos anônimos, ignóbeis,
que muitas vezes são mal lidos ou tidos como inexistentes.
Encontra-se aqui então, um pouco da história de Florianópolis, esta cidade que tomei
como minha, assim como também o tomaram outros olhares de estrangeiros que nela
desembarcaram, um pouco sobre o fenômeno do art déco em si, e também minhas derivas
pessoais sobre esta temática resultadas destes breves, mas intensos, quatro semestres de
aprendizado (ou desaprendizado) no mestrado. Sim, desaprendizado, porque muito do que eu
julgava saber foi posto em questão, ou visto sob novos olhares, me possibilitando armar novos
questionamentos para o trabalho, alguns deles expostos aqui.
Creio que este trabalho, além de ter me possibilitado aprender um pouco a pensar,
talvez possa servir como contribuição a outra forma de refletir sobre e olhar a cidade,
levantando questões, questões que envolvem a cidade, a memória, a história, o tempo, a
imagem e o olhar. Através desta pesquisa pude entender que a história, para além de um relato
causal, de causa e efeito, é também criação, unindo o próximo ao distante, o familiar com o
estranho, o lapso com o premeditado. Em grande medida, é um pouco isto que pretendi fazer
nestas linhas, falar estranhamente sobre aquilo de que fala a poesia de Mario Quintana, sobre
o corriqueiro e o banal, no mais puro sentido dos termos.
20
Capítulo 01. A fantasia imagética do novo
Graças,assim, ao profundo senso de previdência, à vigorosa segurança
orientadora e, sobretudo, ao vigilante espírito patriótico do Sr. Getúlio
Vargas, se vai processando, em todos os quadrantes do nosso território, uma
obra renovadora, límpida e benéfica, que avulta em significação e amplitude,
por nela se fundir, com a firmeza de ação conjunta e uniforme dos que
trabalham e que produzem, a exaltação cívica da própria nacionalidade[...]A
capital vai, assim, experimentando um surto de progresso raramente
registrado, perdendo, sob essa como vontade entusiástica de remodelação, a
crosta colonial desajudada de títulos valorizadores...(GOVERNO DO
ESTADO DE SANTA CATARINA, 1939, p.04-08)
O espírito de renovação que se percebe nestes trechos do primeiro e único número da
revista de propaganda do Estado publicado em 1939 em Santa Catarina, foi marca registrada
da administração que se instaurou após a Revolução de 1930 no Brasil. Era necessário
instaurar o novo e, para isso, romper com o passado atrasado e retrógrado, especialmente um
passado em grande medida rural e oligárquico, alcançando o progresso e o futuro. Desta
forma, as promessas de ruptura com o passado e o alcance do Brasil moderno eram realizados
com base na idéia do novo, deste espírito de renovação.
Durante estes anos, uma das formas de se atingir esta condição era pela construção de
obras públicas, grandiosos monumentos que contribuiriam na eliminação desta “crosta
colonial”, ao trazerem a imagem do novo, ou, pode-se dizer, uma nova imagem, simbolizando
também uma nova era na administração nacional e, conseqüentemente, estadual e municipal.
De acordo com Carlos Humberto Corrêa (2004), em Florianópolis, apesar da intensidade do
discurso da revista de propaganda, poucas foram as obras vultosas construídas neste período.
Sob a administração de Nereu Ramos, que assumiu o governo em 1935 para em seguida ser
nomeado interventor federal com o Golpe de Estado de 1937, as principais construções
realizadas foram o Departamento de Saúde Pública (ver figura 17), nos altos da rua Felipe
Schmidt, o Abrigo de Menores no bairro Agronômica (figura 03) e o Grupo Escolar Getúlio
Vargas, no Saco Dos Limões (figura 04),edifícios que foram inaugurados durante a visita do
presidente Getúlio Vargas à capital de Santa Catarina em 1939 (CORRÊA, 2004).
21
Figura 03 Antigo Abrigo de Menores, atual
prédio da Justiça da Infância e da Juventude,
rua Delminda Silveira, Florianópolis, 2008.
Foto da autora.
Figura 04 Grupo Escolar Getúlio Vargas, rua
João Mota Espezim, Florianópolis, 2008.Foto
da autora.
Entretanto, apesar desta parca participação do Estado em Florianópolis, nas poucas
obras construídas ou nas reformas e readequações realizadas, a idéia de transformação e
renovação fazia-se presente em consonância com a construção da nova nação:
Êsse aspecto da ação administrativa, em Santa Catarina, se acentua em linhas
firmes, através do trato de obras de vulto marcante, formando, na grandeza
dos seus fins, um conjunto de realizações magníficas. [...] Missão essa, de
resto, bem compreendida pela clarividência patriótica do Sr. Nerêu Ramos,
que vem planejando e executando não só melhoramentos de esplêndida
eficiência, mas verdadeiros monumentos assinaladores de uma ação
transformadora benéfica... (GOVERNO DO ESTADO DE SANTA
CATARINA, 1939, p.25)
22
Construir a nação era foco dos anseios das novas administrações que surgiam neste
período não no Brasil, mas em grande parte da América Latina. O nacionalismo e a
elaboração de uma identidade própria foram buscados em outros períodos da história do
país pelos diferentes movimentos que se sucederam, todavia, com a modernidade das
primeiras décadas do século vinte, especialmente com o movimento modernista, estas
questões assumem um novo papel, uma nova configuração.
Na primeira metade do século, os conceitos de cultura e de história passam a ser
definidores da nova sociedade, em detrimento das noções de raça surgidas a partir das teorias
científicas em voga no final do século dezenove. A multiplicidade de nossas práticas culturais,
buscada principalmente em nosso passado histórico seria um dos fatores que iriam revelar a
identidade do país. Situação ilustrada por obras que surgiram na época e que representaram
profundas modificações no pensamento social brasileiro de então, especialmente a partir da
década de trinta, como Casa Grande e Senzala (1933), de Gilberto Freire e Raízes do Brasil
(1936), de Sérgio Buarque de Holanda, que procuravam, dentre outros, explicar a situação do
Brasil de então através do passado colonial.
Dentro deste contexto, a preocupação em construir a nação e forjar uma identidade
nacional fazia premente a necessidade em se dizer o que é o Brasil, em definir qual seria a
cara do Brasil, o que foi buscado, como explicitado, em seus traços culturais. Assim, a
intelectualidade da época, especialmente aquela que se reuniu em torno do Movimento
Modernista, deflagrado a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, assume a
responsabilidade de falar pela população e então definir a nação e organizar a sociedade.
Entretanto, essas questões relativas à construção da nação não eram consenso na
época, especialmente no meio dos arquitetos e, dentro deste contexto, pode-se afirmar que
dois grupos disputavam a elaboração do projeto cultural desta nova nação a partir da
construção de novas arquiteturas, ambos expressando, em suas idéias, sonhos com o Brasil
moderno: os neocoloniais, encabeçados pelo crítico de arte José Mariano Filho, e os
funcionalistas, representados pelo arquiteto Lúcio Costa e outros profissionais que em 1936 se
envolveram na construção do prédio do Ministério da Educação e Saúde (MES)
5
. Os
primeiros assumiam uma postura tradicionalista ao defender a adoção do neocolonial, uma
linguagem baseada na arquitetura do nosso passado colonial, procurando adaptá-la ao
presente e que já estava sendo estudada desde o final da primeira década do século vinte; os
5
O grupo que se uniu a Lúcio Costa na elaboração do prédio do Ministério da Educação e Saúde em 1936 era
compreendido por Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Afonso Eduardo Reidy, Jorge M. Moreira e Ernani
Vasconcelos.
23
segundos afinavam-se com as idéias que surgiam a partir do movimento racionalista da
Europa e foram incentivados pelo pensamento do arquiteto franco-suíço Le Corbusier, que
esteve no Brasil em 1929 e 1936. A arquitetura funcionalista, de acordo com Yves Bruand,
tinha como características:
arquitetura essencial e fundamentalmente social, devendo exprimir a
extraordinária mudança na vida que ocorreu há uma ou duas gerações;
predominância do fator econômico, justificando o emprego do concreto
armado, o mais perfeito e mais barato material de construção; necessidade de
padronização para permitir o nascimento de um estilo original de caráter
internacional (BRUAND, 1981, p.73; grifo nosso).
Este tipo de arquitetura havia sido ensaiada anteriormente em manifestações
isoladas nas obras do imigrante russo Gregori Warchavchik, que nos anos vinte construíra em
São Paulo casas que procuravam se basear em alguns princípios funcionais, na medida em que
utilizavam o concreto armado e materiais estandardizados, possuíam uma arquitetura de
volumes simples e geométricos, com poucos detalhes de ornamentação(figura 05); entretanto,
estas experiências não tiveram grande repercussão à época, possivelmente por representar
casos isolados em um momento de voga do neocolonial.
Figura 05 Gregori Warchavchik: casa na rua
Bahia, São Paulo, 1930. Fonte: SEGAWA,
Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990.SP:
Edusp, 2002.
24
Apesar da boa repercussão do neocolonial nas primeiras décadas do século, esta
linguagem passou a ser criticada por aqueles que exigiam uma arquitetura “original”, que não
implicasse em citações do passado como o fizeram os historicismos anteriores, e, dentre estes
se encontrava Lúcio Costa que, após um período de fidelidade a esta voga tradicionalista,
inclusive através de projetos realizados, reconheceu as limitações inerentes ao neocolonial,
passando a defender o funcionalismo.
A crítica ao neocolonial residia, dentre outros motivos, no fato de sua estética
reutilizar formas do passado de maneira arbitrária e copiosa, além da falta de sinceridade
construtiva também percebida, como exemplifica Yves Bruand:
Dobradiças falsas, caixotões imitando vigas, juntas falsas simulando pedra,
estrutura de concreto cuidadosamente disfarçada, vigas de madeira cortadas
perfeitamente na serraria e depois retocadas a machado para parecer que
foram esquadradas por esse meio, arestas puras das barras de ferro mutiladas
para fazê-las perder sua perfeição (1981, p.73).
O fato é que o impasse estava feito, romper com o passado, procurando um “estilo
original” como queriam os defensores funcionalistas, ou se basear nele e em nossas tradições
para a elaboração da imagem do Brasil moderno; o que foi em parte resolvido quando do
concurso para a sede do Ministério da Educação e Saúde (MES), em 1936(figura 06). O então
ministro Gustavo Capanema, assessorado por uma equipe de intelectuais modernistas, como
Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade, convida Lúcio Costa, cuja proposta fora
desclassificada anteriormente, para a construção do novo prédio, ignorando o projeto vencedor,
de autoria de Archimedes Memória, professor da Escola Nacional de Belas-Artes e defensor do
neocolonial.
25
Figura 06 Ministério da Educação e Saúde,
Rio de Janeiro, anos 40. Fonte: SEGAWA,
Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990.SP:
Edusp, 2002.
Lúcio Costa forma então uma equipe de profissionais afinados com as idéias
racionalistas e, a partir de então, estabelecia-se o grupo que estaria envolvido na construção
do prédio que representaria um marco na arquitetura brasileira, definindo a linguagem do
modernismo oficial do país.
Entretanto, a imagem do novo governo não foi definida somente por esta linguagem
arquitetônica; o Estado, pelo que se percebe, não primou por estabelecer uma única imagem,
tendo adotado nos novos símbolos, diferentes arquiteturas, todas exprimindo, ao mesmo
tempo, sonhos com um Brasil do futuro. Além do modernismo oficial do prédio do MES,
podem-se citar o Ministério da Guerra (figura 07), cuja estética apresentava formas aludindo
ao neoclássico, novas agências dos Correios e Telégrafos e Grupos Escolares, estes dois
últimos construídos em linguagem art déco (figuras 08 e 09).
26
Figura 07 – Christiano Stockler das Neves: Ministério da
Guerra, Rio de Janeiro, 1939. Fonte: SEGAWA, Hugo.
Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. SP: Edusp, 2002.
Figura 08 Departamento de Correios e Telégrafos:
agência de Belo Horizonte, décadas de 1930-40. Fonte:
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990.
SP: Edusp, 2002.
Figura 09 José Maria da Silva Neves: Grupo Escolar
Visconde de Congonhas do Campo, São Paulo, 1936.
Fonte: SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-
1990. SP: Edusp, 2002.
27
Em Florianópolis, como foi dito, poucas foram as grandes obras públicas
efetivamente construídas no período do governo de Nereu Ramos, de 1935 até 1945. Em
grande medida, pode-se dizer que ocorria uma situação de “paralisação”, que Corrêa (2004)
afirma ter se estendido até 1951, na administração de Aderbal Ramos da Silva. Além do
Departamento de Saúde Pública, do Grupo Escolar Getúlio Vargas e do Abrigo de Menores,
como se afirmou, também se podem citar a nova sede dos Correios e Telégrafos (figura 37),
em linguagem art déco e a do Banco do Brasil (figura 10). Apesar de estes edifícios
apresentarem linguagens um pouco diferenciadas entre si, cabe analisar o caráter de
“moderno” que era comum a todos eles.
A modernidade das primeiras décadas do século vinte trazia uma noção de moderno e,
concomitantemente de “novo”, que se mostrava, em grande medida, comum a estas
linguagens distintas que se manifestaram na arquitetura após a Primeira República no Brasil,
tendo se estendido algumas vezes até as expressões das décadas de setenta e oitenta e que
eram em grande parte resultado do pensamento surgido principalmente no século dezenove e
que trouxe a idéia do novo. O Brasil do futuro deveria romper as amarras com o passado,
encarado como retrógrado e atrasado, e investir na busca do novo, procurando projetar-se em
vários sentidos, para o futuro. Era através do novo que a cidade se impunha como um meio de
ser moderna, como uma alternativa de alcance do progresso e do futuro, concepção que fazia
parte do ideário da administração nacional deste período. A cidade moderna pretendia ser,
através de sua imagem do presente, a imagem do futuro.
Entretanto, o paradoxo do moderno é que o novo nada mais é do que uma fantasia
imagética engendrada pela sociedade, e que, na verdade, muitas vezes trata da sobrevivência
de formas, formas estas já existentes na própria história da cultura.
Walter Benjamin, em Paris, capital do século dezenove apresenta uma descrição desta
utopia moderna:
Essas imagens são imagens do desejo e, nelas, a coletividade procura tanto
superar quanto transfigurar as carências do produto social, bem como as
deficiências da ordem social da produção. Além disso, nessas imagens
desiderativas aparece a enfática aspiração de se distinguir do antiquado
mas isto que dizer: do passado recente. Tais tendências fazem retroagir até o
passado remoto a fantasia imagética impulsionada pelo novo. No sonho, em
que ante os olhos de cada época aparece em imagens aquela que a seguirá,
esta última comparece conjugada a elementos da proto-história, ou seja, a
elementos de uma sociedade sem classes. Depositadas no inconsciente da
coletividade, tais experiências, interpenetradas pelo novo, geram a utopia
que deixa o seu rastro em mil configurações da vida, desde construções
duradouras até modas fugazes (BENJAMIN IN KOTHE, 1991, p.32)
28
O novo aparece como quase obsessão da modernidade, e o presente é vivido nesta
dialética passado-futuro, buscando-se muitas vezes o passado remoto, de forma consciente ou
inconsciente. Esta busca é marcada pela sobrevivência, mas não necessariamente sobrevive o
igual, o idêntico. É a “origem da falsa aparência” que gera a “falsa aparência do sempre-igual,
do eterno-retorno do mesmo” (BENJAMIN IN KOTHE, 1991, p.40).
Desta forma, como a concepção do novo que vigorou principalmente na modernidade
das primeiras décadas do século vinte foi engendrada no seio da civilização ocidental?Quais
eram as discussões que forjaram essa fantasia de renovação e busca pelo novo e que
contribuíram para a construção das modernas arquiteturas e da cidade moderna?
Para aceder a estas questões levantadas é necessário, portanto, compreender o pano de
fundo dos debates que se instauraram com a modernidade de meados do século dezenove e
começo do vinte, e que foram responsáveis em grande medida pela idéia de moderno,
percebendo a reverberação destes debates nas imagens das arquiteturas construídas pelo poder
estatal em Florianópolis. Cabe destacar que muitas das obras públicas construídas em
Florianópolis, principalmente durante a primeira metade do culo vinte, eram elaboradas por
profissionais da capital federal que provavelmente tiveram contato com as idéias provindas da
Europa através da vinda de profissionais renomados como Le Corbusier que, como já foi dito,
esteve no Brasil por duas vezes, ou até pelo acesso a revistas de arquitetura e engenharia da
época.
Durante o século dezenove na Europa encontramos muitos intelectuais discutindo o
seu tempo e as insatisfações com a cidade da sociedade industrial e suas conseqüências.
Cidades que se mostravam desordenadas, focos de infecção e insalubridade, onde os produtos
de consumo apresentavam-se repetitivos e padronizados, resultantes de uma indústria que
solapou o trabalho dos artesãos, entre tantas outras insatisfações. E dentro deste contexto,
novos debates e teorias surgiam, em diferentes esferas de pensamento, procurando todos, da
mesma forma, dar ordem à situação desregrada de então.
O novo nas vanguardas européias implicava no rompimento com o passado e na
ordenação da situação das cidades. Foram pensamentos cuja proposta de renovação em grande
medida forjou muitas linguagens modernas na arquitetura, como por exemplo, o art déco,
posto que o mesmo apresentava-se aparentemente como a primeira linguagem arquitetônica
que evitava citações do passado.
29
Podemos assim identificar três grandes focos, provindos de distintos meios
intelectuais, cujas idéias terão grande importância nos desdobramentos da modernidade de
então: o pensamento dos teóricos da estética, que questionavam se a beleza da sociedade de
então deveria ou não ser composta por ornamentos, envolvendo preocupações acerca dos
próprios fazeres artístico e estético; o daqueles que viam a sociedade pelo viés da saúde e
onde o modelo da nova civilização deveria corresponder aos conceitos do higienismo; e, por
fim, o pensamento dos arquitetos e daqueles intelectuais que procuravam urbanizar a cidade,
com teorias e idéias em estreito vínculo com o grupo anterior.
30
1.1 – A sobriedade antiornamental
Em 1940, entrava nos arquivos da Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos de
Florianópolis (SUSP) o projeto do novo prédio do Banco do Brasil
6
(figura 10), em terreno
estratégico na Praça XV de Novembro, esquina com a rua Tiradentes, onde atualmente
funciona o Arquivo Público do município de Florianópolis. Com um aspecto tendendo ao
monumental, ressaltado pela grande entrada na esquina, por grandes os de janelas e por
apresentar parte de seu revestimento em material nobre, o novo prédio se diferenciava do
edifício vizinho, referência na cidade, e que abrigava a Câmara Municipal, antiga Câmara e
Cadeia da cidade (figura 11), principalmente por lançar mão de linhas retas e da quase
ausência de detalhes de ornamentação.
Figura 10 Antigo Banco do Brasil, atual Arquivo
Municipal de Florianópolis, 2008. Foto da autora.
6
Como o projeto original era composto por mais de uma fachada, ele não foi inserido aqui, entretanto, é possível
encontrá-lo no inventário em anexo. Não foi possível encontrar a identificação do autor do projeto, mas acredita-
se, por não haver menção acerca do mesmo, que ele tivesse sido proveniente da capital federal à época.
31
Figura 11 – Antiga Câmara Municipal de Florianópolis,
2008. Foto da autora.
A linha reta e a ausência de ornamentos passavam a fazer parte da estética dos prédios
públicos construídos principalmente a partir da década de trinta e eram em grande medida
resultado de um longo processo de debates e questionamentos acerca do ornamento na estética
contemporânea.
O ornamento, ao longo da história ocidental, esteve presente em grande parte das
linguagens arquitetônicas utilizadas pelas diferentes sociedades. No período do Renascimento,
Alberti, teórico da arte e humanista, em seu tratado De Re Aedificatoria, pensando os edifícios
que compunham Roma antiga, faz uma divisão em duas grandes abordagens: a das estruturas
e a dos ornamentos. À primeira corresponderia uma beleza inata e à segunda uma beleza
acrescentada. Todavia, ambos seriam igualmente importantes e deveriam se corresponder,
assim, “a beleza ‘acrescentada’ do ornamento deveria integrar a beleza ‘inata’ das estruturas”
(ARGAN, 2005, p.108).
Entretanto, não foi esta a concepção sobre o ornamento que vigorava durante o século
dezenove e começo do vinte. Nesta época, a idéia da beleza contemporânea oscilava entre a
valorização do ornamento por alguns teóricos e a sua condenação por outros, muitas vezes por
acreditarem que o mesmo não correspondesse ao “espírito da época” moderna.
O teórico inglês da arte John Ruskin foi um dos que arduamente positivavam o
ornamento, acreditando ser este elemento primordial da arquitetura, sendo o responsável por
distingui-la da mera construção, definindo a mesma como arte (RUSKIN, 1857).
32
Ruskin (1992) criticava e questionava a intensa reprodução dos ornamentos pela
indústria durante o século dezenove, condenava sua repetição e padronização principalmente
porque os mesmos seriam fruto da submissão do trabalho dos artesãos à indústria moderna, e
porque a falta de variação, segundo ele, tornava o mundo completamente monótono e
repetitivo. Essa monotonia era resultado principalmente da obsessão pela perfeição, ou seja,
pelo rigor no acabamento e na sua execução, situação que para ele existia no período do
Renascimento e que contrariava toda a espontaneidade e beleza do período do gótico, a “idade
de ouro”.
Ainda segundo ele (1992), foi a distorção dos conceitos clássicos de perfeição que
originou a estética renascentista. Os homens, ao invés de buscarem a realização das formas da
perfeição clássica, buscaram a perfeição das formas, o que exigia um altíssimo nível de
acabamento e execução, conseguido pelos grandes mestres, não pelos simples artesãos,
situação que acabava por suprimir a capacidade criativa destes últimos e a expressão do
sentimento na realização das obras:
Esquecendo que é possível concluir obras desprezíveis e aprender coisas
inúteis, os homens quiseram encontrar por toda a parte uma mão-de-obra
perita e douta. Exigindo imperiosamente uma grande habilidade de
execução, desprezaram pouco a pouco a expressão da ternura do sentimento;
exigindo imperiosamente um saber preciso, desprezaram pouco a pouco
reivindicar a originalidade do pensamento (RUSKIN, 1992, p.111).
Essa falta de criatividade e de liberdade de expressão era percebida principalmente na
atividade daqueles trabalhadores cujo ofício era a imitação de outros materiais, como o
mármore e a madeira, situação condenável para Ruskin e que impedia o trabalhador de
possuir qualquer capacidade de abstração devido à exigência mecânica da cópia perfeita
(RUSKIN, 1992). Assim sendo, a imitação, ou seja, a falsificação de materiais como, por
exemplo, a pintura imitando o mármore ou o cobrimento de uma parede com reboco e sua
divisão em listras para imitar a pedra, ou até a sugestão de uma falsa estrutura em parte da
edificação seria uma situação imoral para John Ruskin:
Touching the false representation of material, the question is infinitely more
simple, and the Law more sweeping; all such imitations are utterly base and
inadmissible. It is melancholy to think of the time and expense lost in
marbling the shop fronts of London alone, and of the waste of our resources
in absolut vanities, in things about which no mortal cares, by wich no eye is
ever arrested (...) (1857, p.39)
33
Condenável igualmente era a manufatura de objetos pela indústria, que substituía o
trabalho artesanal e não reconhecia o verdadeiro valor do ornamento que se encontrava,
dentre outros, no tempo que ele levou para ser feito pelas mãos do trabalhador.
A beleza ornamental para Ruskin estava localizada na reprodução das formas da
natureza, formas que eram curvas, visto que não havia no mundo natural formas retas,
concepção que teve importância na criação do estilo art nouveau.
O art nouveau foi desenvolvido na Europa no final do século dezenove e começo do
vinte e recebeu diferentes designações nos diversos países que o adotaram
7
. Sua estética
utilizava uma linguagem floral, com formas ondulantes e suaves, linhas delgadas e contínuas
(figura 12).
Figura 12 Detalhe de fachada com elementos
art nouveau. Disponível em
<http://www.markeff.wordpress.com>. Acesso
em 19.maio.2008.
7
Foi denominado Modern Style na Inglaterra, Jugendstil na Alemanha, estilo Secessão na Áustria, entre outros.
34
Walter Benjamin afirma que o art nouveau representou o “abalo” da valorização
excessiva do interior no final do século dezenove. A “fantasmagoria do interior” para
Benjamin era caracterizada pelo excesso de ornamentação do espaço privado do homem
daquele período, uma ornamentação que utilizava elementos de períodos variados da história,
e que por isto traziam a ilusória idéia do “novo”, a fantasia da renovação que acalmaria sua
“alma solitária” (BENJAMIN IN KOTHE,1991, p.37), percebida, por exemplo, na fachada do
citado prédio da antiga Câmara Municipal de Florianópolis (ver figura 11), construído no
final do século dezoito, que utiliza detalhes ornamentais diversos, como máscaras, elementos
imitando colunas clássicas, simulação de alvenaria de pedra, capitéis em desenhos
diferenciados, entre outros. O abalo que Benjamin declara é que o art nouveau, na medida em
que não apresentaria citações de estilos do passado, não corresponderia mais a essa
necessidade do homem contemporâneo de retroagir até um tempo pretérito, sendo
considerado como o primeiro estilo “moderno” dos objetos decorativos na medida em que
procurava romper com esta atitude historicista, tão criticada, por exemplo, por estes teóricos
que refletiam sobre o ornamento e a estética moderna
8
. Benjamin afirma que a verdadeira
significação desta linguagem estava mais de acordo com as concepções do próprio fazer
artístico, representando uma última tentativa de superar a separação entre arte e técnica que
ocorria então.
Entretanto, apesar disto, os objetos art nouveau também foram utilizados para
preencher a casa, fizeram parte da compulsão do homem em ornamentar tudo, situação muito
criticada por Ruskin, para quem o lar devia ser local de repouso e tranqüilidade destinado à
apreciação dos mais belos ornamentos, não um depósito de quinquilharias da mais péssima
qualidade e de forma aleatória (RUSKIN, 1857).
Para Ruskin, a ornamentação se distinguia da decoração por ser feita de forma
artesanal, por reproduzir as formas da natureza e por estar localizada em locais adequados à
apreciação, diferentemente da decoração contemporânea, feita com objetos reproduzidos em
série pela indústria, que muitas vezes imitavam materiais nobres e serviam para serem
amontoados na casa burguesa.
8
Não é comum se falar de um prédio essencialmente art nouveau, este se apresentou como uma linguagem mais
associada aos objetos decorativos, existindo algumas partes das edificações desenhadas nesta estética, conforme
esclarecido por Marcos em Ornamento e Modernismo: a construção de imagens na arquitetura. Rio de
Janeiro: Rocco, 2005: Nas edificações não havia uma forma propriamente Art-nouveau, mas a adaptação do
edifício às características essenciais do estilo: a linha sinuosa e nguida e a ornamentação orgânica inspirada na
flora” (p.71).
35
Essa foi uma das maiores críticas dos grandes teóricos deste período, a compulsão em
ornamentar tudo, encontrada tanto no interior doméstico como nas fachadas das edificações, e
também foi criticada por Alois Riegl, para quem “as formas mais elevadas de arte resultaram
sempre da interação entre os impulsos ornamental e expressivo, entre a ‘festa para os olhos’ e
a expressão das inquietações individuais e coletivas a respeito de Deus, da morte, do poder,
do sexo etc” (PAIM, 2000,p.46). Para este teórico, a ornamentação possuía um caráter
ontológico, de ligação do ser com o divino e o supremo, e a atitude contemporânea de
preencher tudo, esse horror ao vazio que ele tanto criticava, era resultado de uma falta de
sentido dos artistas da época e que não era vista como ornamentação por Riegl, mas sim como
a superficialidade da decoração (PAIM, 2000). Assim como Ruskin, Riegl rejeitou a poluição
ornamental que se percebia então, - cunhando-a pejorativamente de decoração - e,
percebemos, nas idéias de ambos, já um indício do culto ao despojamento que viria a
predominar no modernismo.
O que se percebe é que as idéias destes teóricos do século dezenove e começo do
vinte, de crítica à poluição visual do ornamento e à aleatoriedade de sua aplicação, por mais
que os mesmos defendessem a valorização do ornamento, acabaram em grande medida
preparando o terreno para a sua negação total pelo modernismo. Uma das justificativas que
prevaleceram posteriormente era de que a era moderna, baseada na velocidade do automóvel e
da máquina, além da altura dos arranha-céus como imagem dominante na cidade moderna,
não permitia que se observassem atentamente os detalhes das coisas, por exemplo, as fachadas
dos prédios.
A negação do ornamento teve como um de seus precursores o arquiteto austríaco
Adolf Loos, que defendia que a arquitetura deveria expressar o “espírito da época” (LOOS,
1972, p.86), o qual se caracterizava, dentre outros, pela eliminação do ornamento da vida
moderna. Seu intenso combate ao ornamento teve grande importância nos desdobramentos do
modernismo.
A utilização do ornamento pela sociedade da época era para este arquiteto um crime,
pois acreditava ser algo supérfluo e em desacordo com o mundo e o homem moderno. Para
ele “ornamento es fuerza de trabajo desperdiciada y por ello salud desperdiciada”(1972, p.47).
Defendia uma estética pura e sóbria, sem ornamentos, que ele justificava ardentemente pela
exemplificação da moda masculina inglesa. O homem bem vestido deveria apresentar-se ante
a sociedade de forma que chamasse o mínimo possível de atenção, o que acontecia com o
terno preto de botões pretos, o mais distinto possível. Essa simplificação do traje era típica de
uma sociedade do trabalho e assalariada, onde a atividade corporal exigida pelo homem que
36
trabalha impedia a utilização, por exemplo, de roupas largas e excessivamente adornadas
como o era antigamente, assim, a forma seguia a função. Desta forma, a evolução da
sociedade seguia a eliminação gradual do ornamento dela:
Cuanto más recôndita es uma civilización tanto más vigoroso aparece el
ornamento. El ornamento debe ser superado. El papua y el criminal se hacen
tatuar la piel. El índio cubre de ornamentos totalmente su barca y remos.
Pero la bibicleta y la máquina de vapor carecen de ornamentos. La
civilizacion que progresa elimina de los objetos la necessidad de
ornamentación (LOOS, 1972, p. 81).
Essa era a estética moderna para Loos, uma estética que primava pelo funcional e
também pela ética. A sobriedade e a distinção eram para este arquiteto uma forma de se
destacar em relação às classes inferiores, evitando a cópia pelas mesmas. Situação que seria
atingida pela perfeição - um conceito que ele valorizava, diferentemente de Ruskin -, e que
deveria se fundamentar na época clássica, “la madre de todos los subsiguientes períodos
culturales” (LOOS, 1972, p. 84) pois, para Loos, a boa cadeira era a melhor cadeira. Essa
valorização da qualidade de execução e a utilização de materiais nobres como a madeira, o
mármore, entre outros, substituiria a falta de ornamentação.
O que Adolf Loos parecia concordar com o pensamento de John Ruskin era quanto à
condenação da imitação de materiais pela sociedade da época. Uma sociedade que copiava
estilos de épocas passadas e os reproduzia utilizando materiais contemporâneos escamoteados
com a falsa aparência do original, como por exemplo, a imitação da ornamentação de palácios
renascentistas, que parecia ser feita com estuque, como o era originalmente, entretanto era
imitada com concreto moldado. Para Loos essa era uma situação imoral, a de aparentar o que
não se é, a situação de querer, mas não poder e para isto, enganar.
La pobreza no es ninguna deshonra. No todos tienen el deber de haber
venido al mundo en uma propriedad feudal. Pero, representar ante el prójimo
la farsa de que se tiene esa propiedad es ridículo e inmoral. ¡No nos
avergoncemos de vivir en una casa de alquiler junto com otras muchas
personas que tengan la misma posición social que nosotros! ¡No nos
avergoncemos de que haya materiales de construcción demasiado caros para
nosotros! ¡No nos avergoncemos de ser hombres del siglo XIX, de los que
no desean vivir en una casa que, arquitectónicamente, podría ser de épocas
pasadas! Si fuésemos así, veríais como volveríamos a tener el estilo própio
de nuestra época (LOOS, 1972, p.208).
37
Foi esse hábito de falsificação de materiais que levou Loos (1972) a elaborar seu
princípio do revestimento. Assim como a pele do homem e a casca da árvore na natureza, a
arquitetura também possuía seu revestimento que servia para diversos fins, como algumas
vezes para proteger contra as intempéries, outras por motivos higiênicos ou até para produzir
determinados efeitos na própria superfície. Os revestimentos, diferentemente dos ornamentos
– que na época representavam cópias de estilos do passado -, deveriam ser sinceros quanto ao
material que cobriam. Por exemplo, ao revestir as paredes de uma cozinha, qualquer material
poderia ser usado, menos aquele que imitasse ladrilhos, como pintura colorida com listras
brancas. Assim também a madeira deveria ser pintada com qualquer cor ou até esmalte
incolor, menos com pintura que imitasse os veios da mesma. Loos usa como exemplo as
pernas das bailarinas, cujo tecido de revestimento poderia ter qualquer cor, exceto a cor de
pele, porque assim imitaria a tez natural. Desta forma, o material de revestimento não deveria
imitar de qualquer maneira o material que está sendo revestido, ou seja, aquele que está por
baixo.
A beleza da vida moderna, sóbria e austera, consistia assim, em revestir os ambientes
com materiais nobres, como madeira ou pedras, permitindo perceber sua nudez, ou seja, sua
verdade. Essa era, para Loos, a sensibilidade do homem moderno, e estaria refletida, por
exemplo, na beleza sóbria e austera do prédio do antigo Banco do Brasil em Florianópolis, na
medida em que este apresenta revestimento em mármore tanto interna quanto externamente,
linhas completamente retas e ausência de ornamentação (ver figura 10).
Esta sensibilidade sóbria e austera também foi defendida por Le Corbusier, arquiteto
franco-suíço que teve contato com os conceitos de Adolf Loos e utilizou-os para elaborar sua
visão da estética moderna do século vinte.
Para Le Corbusier (1996), a arte decorativa do século vinte termo que ele emprega
para designar a elaboração dos utensílios de então, mas que constantemente ele questiona a
validade não deveria possuir decoração. A decoração era sinônimo de ornamentação, essa
ornamentação que ele via nos estilos do passado, de cópia dos elementos da natureza e outros,
e servia somente para camuflar as falhas, as manchas, os defeitos. Ela representava a falta de
franqueza construtiva, insatisfação já percebida em Ruskin e Loos.
38
Importante notar que essa insatisfação com a falsificação dos materiais e com a falta
de franqueza construtiva comuns ao pensamento de todos estes teóricos, em grande medida
conduziu à afirmação completa da estrutura das edificações pelo movimento moderno, uma
estética tautológica que se originou, onde as estruturas, as tubulações e as superfícies
deveriam estar totalmente à mostra, afirmar sua existência e sua participação na composição
do conjunto.
Os escritos de Le Corbusier foram reunidos em seu livro A arte decorativa, elaborado
em 1925, na época da Exposição de Artes Decorativas e Industriais Modernas na França. O
livro é ilustrado principalmente por imagens de máquinas e das grandes invenções das últimas
décadas (ver figura 13), como aviões, carros, engrenagens, navios e outras descobertas da
ciência. Segundo Le Corbusier, a máquina “opera uma reformulação do espírito” (1996,
p.103) e é a partir dela, de suas formas limpas, geométricas e funcionais, que é baseada a
estética deste arquiteto. A arte decorativa deveria ser como a máquina, deveria atender às
necessidades humanas, que eram comuns a todos os homens, e seus objetos deveriam ser
elaborados através da escala humana e da função a desempenhar. Assim, teríamos “objetos-
membros humanos” (p.76), objetos funcionais que seriam um prolongamento dos membros de
nosso corpo e atenderiam a essas necessidades padrões.
Figura 13 Fotografia de automóvel ilustrando o livro
Arte Decorativa,de Le Corbusier.SP: Martins Fontes,
1996, p.95.
Desta forma, Le Corbusier padroniza o homem e todos os objetos criados por ele,
concepção que teve grande importância na teoria do movimento moderno e que, mais tarde,
será responsável pela crítica ao modernismo arquitetônico por tipificar o que não é
“tipificável”.
39
A arte decorativa seria, dentro destes princípios, uma ferramenta, como a própria
máquina, algo que simplesmente deve servir ao homem:
A arte decorativa é um termo vago e inexato com o qual se representa o
conjunto dos objetos-membros humanos. Estes atendem com certa exatidão
a necessidades de ordem claramente objetiva. Prolongamentos de nossos
membros, são adaptados às funções humanas que são funções-padrões.
Necessidades-padrões, funções padrões, logo, objetos-padrões. O objeto-
membro humano é um servidor dócil. Um bom servidor é discreto e se retrai
para deixar seu patrão livre (LE CORBUSIER, 1996, p.79).
Diferentemente do princípio de revestimento de Adolf Loos, Le Corbusier afirmava
que a elegância da habitação moderna a “máquina de morar” (1989, p.65) - de então estaria
na brancura das paredes brancas, pintadas a cal. Segue ainda Le Corbusier (1996) dizendo que
isso expressaria a verdade de cada objeto que seria obrigado a ser feito com perfeição, pois as
falhas saltariam aos olhos diante do fundo branco, e desta forma nos cansaria a “mentira” dos
objetos de recordações, as quinquilharias ornamentais que ele denomina pejorativamente de
objetos-sentimentos, opostos aos objetos-padrões e que seriam destinados a cada indivíduo
em particular e elaborados pelos artistas decoradores.
Se a casa é inteiramente branca, o desenho das coisas nela se destaca sem
transgressão possível; nela o volume das coisas aparece nitidamente; nela a
cor das coisas é categórica. O branco da cal é absoluto, tudo nele se destaca,
escreve-se absolutamente, preto no branco; é franco e leal. (...) Lei da Tinta
Esmalte, Leite de Cal: supressão do equívoco. (...) Temos em nós um
imperativo leal que é o espírito da verdade e que, no liso da tinta esmalte e
no branco da cal, reconhece o objeto verdadeiro (LE CORBUSIER,1996,
p.193)
Simplicidade e despojamento, pois o “homem inteiramente nu não usa colete bordado;
deseja pensar” (1996, p.23). Essa seria a estética de Le Corbusier, baseada na pureza da caixa
branca e nas formas geométricas que tinham como inspiração a linguagem da máquina. Uma
estética que, em grande medida, resume a ascese antiornamental que prevaleceu nas obras
modernistas e de grande parte da produção arquitetônica da primeira metade do século vinte e
cujos princípios estariam demonstrados, por exemplo, no estúdio que Le Corbusier criou para
seu colega Ozenfant, com paredes lisas, brancas, linhas retas, formas geométricas, ausência de
qualquer vestígio de ornamentação, sobriedade e despojamento (figura 14).
40
Figura 14 Interior do estúdio de Ozenfant, projetado
por Le Corbusier e Pierre Jeanneret. Fonte:
BENÉVOLO, Leonardo. História da Arquitetura
Moderna. SP: Editorial Perspectiva,1998, p.425.
Todas estas concepções de sobriedade e simplificação da forma encontram-se, de uma
forma ou de outra, nas arquiteturas públicas construídas em Florianópolis a partir da década
de trinta. Apesar das variações de linguagens e referências, a grande maioria expressa esta
ascese moderna. O edifício das Secretarias (figuras 15 e 16), construído na década de
cinqüenta, localizado também à frente da Praça XV de Novembro, em esquina com a rua
Tenente Silveira, é um destes exemplos.
41
Figura 15 Edifício das Secretarias, Florianópolis,
2008. Foto da autora.
Figura 16 Detalhe da entrada do edifício das
Secretarias, Florianópolis, 2008. Foto da autora.
42
Projetado pelo escritório local Moellmann e Rau, foi elaborado como uma arquitetura
clássica modernizada (CASTRO, 2002), ou seja, fazendo alusão a elementos da arquitetura
neoclássica, assim como foi feito anteriormente o do Banco do Brasil, mas em menor escala.
Sua entrada é marcada por duas gigantes colunas que precedem um hall revestido de mármore
marcado por uma grande porta com gradil em metal trabalhado (figura 16). Suas janelas são
limpas, quase sem detalhes ornamentais, padronizadas e repetidas, apresentando em um dos
lados do edifício, o quebra-sóis, elemento de proteção solar preconizado por Le Corbusier
(ver figura 15). Ambos os prédios possuem uma estética limpa, sóbria, verificada
principalmente pela utilização de materiais nobres e pela pouca presença de detalhes
ornamentais, destacando-se no prédio das Secretarias uma grossa cimalha, elemento da
estética clássica, que marca o térreo.
Dentre deste caldo de disputas acerca da beleza da vida moderna, o ornamento foi
aparentemente vencido por uma estética limpa, sóbria, que pudesse eliminar o ranço do
passado, um passado que era, antes de tudo, ornamental, traço pico da estética barroca.
Apesar das justificativas sociais, econômicas, éticas e estéticas implícitas no pensamento de
alguns destes intelectuais e que acabaram caracterizando o “espírito da época” -,
defendendo que o ornamento não estava de acordo com a nova sociedade, perceberemos que a
repressão à atitude ornamental que se inicia com o art déco, ao negar as referências do
passado, conduzirá a seu retorno, o retorno inconsciente daquilo que ficou reprimido, um
retorno não programado na obra de arquitetos da modernidade do século vinte.
43
1.2 – Curvas higiênicas
A utopia moderna, para se realizar, deveria eliminar toda a sujeira do passado.
Entretanto, na “obra límpida”, defendida no discurso do governo do estado catarinense e
citada anteriormente (GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, 1939, p.04), a
sujeira não era negada apenas metaforicamente, a idéia da sua eliminação provinha de
concepções higienistas que tomaram força no século dezenove e faziam-se perceber nas
construções tomadas a cabo na capital.
Em 1939, quando da visita do presidente Getúlio Vargas à capital catarinense, é
inaugurado o edifício que abrigaria o novo Departamento de Saúde Pública de Florianópolis
(figura 17), no entroncamento da rua Felipe Schmidt com a Rio Branco, onde funcionaria
também um Centro de Saúde para a população da ilha. Durante esses anos, a nova
racionalidade administrativa do governo fez-se perceber na criação de um sistema
administrativo nacional para a saúde, distribuindo delegacias federais e departamentos
estaduais por todo o país, procurando ampliar a atuação do governo nesta área, uma vez que,
anteriormente, as ações visando a saúde da população ficavam restritas à capital federal e às
cidades que possuíam os principais portos (AMORA, 2006). Desta forma, em 1937 foi
realizada a primeira reforma nacional na saúde, e a partir dela o Estado de Santa Catarina teria
sido dividido em sete distritos sanitários, com centros de saúdes em cada sede, abastecidos de
serviços especializados nas diversas questões de higiene. Esta maior coordenação das ações
sanitárias era parte de um processo federal de modernização que visava construir uma nova
cultura e, assim, uma nova nação a partir dos “padrões do hodierno sanitarismo” (GOVERNO
DO ESTADO DE SANTA CATARINA, 1939, p.29).
44
Figura 17 Departamento de Saúde Pública de Florianópolis,
sem data. Fonte: Casa da Memória Fundação Franklin
Cascaes
Os conceitos deste sanitarismo moderno são decorrentes do discurso médico que se
instalou principalmente a partir dos séculos dezoito e dezenove na Europa, a partir de novas
descobertas nas áreas da saúde e da doença. Fazia-se necessário descobrir as causas para os
males do indivíduo e da sociedade como um todo, que viviam constantemente surtos de
doenças e epidemias. O saber médico, ao procurar solucionar estas questões, adentrou com
grande força em diferentes esferas da sociedade, influenciando o pensamento social, as
condutas e modos de ser dos indivíduos; novos hábitos e concepções que alcançaram,
posteriormente, o Brasil.
No século dezoito vigoravam as teorias baseadas no pensamento de Hipócrates,
filósofo grego para quem a origem das moléstias se encontrava no meio, na atmosfera, nos
ares e na água (COSTA, 2002). Para o pensamento médico da época, a doença estava
relacionada à natureza e à sociedade, caracterizando-se aquilo que Michel Foucault chamou
“de medicina das coisas: ar, água, decomposições, fermentos; uma medicina das condições de
vida e do meio de existência” (FOUCAULT, 1979, p.92). Neste tipo de medicina, o meio
passou a ser estudado procurando encontrar nele as causas das moléstias e, com isto, teorias
foram elaboradas, ocasionando a designação dos locais que se consideravam infestados e sua
posterior intervenção. Algumas teorias afirmavam que os miasmas, elementos considerados
nocivos, seriam os responsáveis por contaminar o ar e o ambiente e em seguida o corpo
humano, sendo sua proliferação maior nos locais estagnados (COSTA, 2002). Desta forma,
a circulação e renovação do ar eram necessárias para a boa saúde do ambiente e dos
indivíduos, e a poeira passou a ser perseguida, assim como todos os locais onde ela pudesse se
acumular. Não o acúmulo de poeira era desaconselhado pelos médicos, como também o
45
acúmulo de pessoas; os navios, os hospitais e as prisões passaram a ser objeto de estudo dos
especialistas, assim como dos arquitetos, que buscavam novas soluções espaciais que
evitassem o amontoamento. Assim também os cemitérios passaram a receber maiores
atenções, pois o amontoamento de cadáveres, que exalavam um fedor pútrido, era considerado
uma das maiores ameaças ao controle das emanações nocivas (CORBIN, 1987).
Diante destas convicções, a medicina procedia a uma reelaboração do espaço da
cidade, com o alargamento e asfaltamento de ruas, criação de praças e fontes, canalização de
córregos, o distanciamento de hospitais, prisões e cemitérios das aglomerações principais,
entre outros. Em seguida, essas prescrições alcançam a casa burguesa, passando a regular
novos hábitos e condutas sociais.
As habitações, de uma forma geral, apresentavam-se mal ventiladas, em espaços
exíguos, sendo consideradas como locais privilegiados de concentração de micróbios. O
discurso de uma boa ventilação também se tornou fator essencial para uma casa saudável, que
evitasse a presença de organismos indesejáveis. Assim também a pavimentação do solo e o
revestimento das paredes passaram a ser necessários nesta nova prática de assepsia. Como cita
Corbin, “rebocar, forrar, pintar, caiar paredes, tetos e madeiramentos é vestir uma couraça
contra o miasma” (1987, p.121). O lixo e os dejetos também foram objetos de atenções
especiais, seus odores infecciosos os quais, ainda de acordo com Corbin, eram a
“materialização do miasma” (1987, p.138) - deveriam ser eliminados, o que levou à
particularização do dejeto, com a posterior individualização do ato de defecar, assim como a
compartimentação do lixo em locais específicos.
Para responder às novas exigências de salubridade, muitas edificações sofrem
gradativas mudanças em sua concepção espacial, alterações percebidas através de algumas
tipologias do final do século dezenove ou começo do vinte, na forma de pequenos
afastamentos laterais (figura 18).
46
Figura 18 Edificação antiga no centro de
Florianópolis, apresentando afastamentos laterais, 2007.
Foto da autora.
Acreditando na qualidade purificadora do ar, os quartos da casa burguesa, por
exemplo, passam a ser conectados por um corredor, não mais ligados uns aos outros. Os
afastamentos laterais, à princípio um só, introduziram-se como inovação na época,
proporcionando maior ventilação ao interior da residência, eliminando os odores das antigas
alcovas. Estas, locais de intimidade, escuros e sem a menor ventilação, exalavam não somente
os odores do ambiente, mas também aqueles do sexo, da carne, dos prazeres íntimos que
deveriam a partir de então ser controlados.
A utilização de porões elevados, além de resguardar a intimidade da família dos
olhares urbanos, possibilitava a ventilação debaixo da residência, evitando assim o mofo e a
possível contaminação por micróbios (figuras 19 e 20). Da mesma forma, muitos antigos
sobrados que eram residência e local de trabalho ao mesmo tempo, alguns ainda encontrados
em Florianópolis, passaram a ser só local de trabalho, em muito devido às medidas higiênicas,
pois, segundo Nestor Goulart Reis Filho, no Brasil, “os pavimentos térreos dos sobrados,
quando não eram utilizados como lojas, deixavam para a acomodação dos escravos e
animais...” (REIS FILHO,1978, p.28).
47
Figura 19 Projeto de construção de
prédio no centro de Florianópolis, datado
de 1933, com porão elevado. Autor: Tom
Wildi. Fotos da autora. Fonte: SUSP
Figura 20 Imagem atual do prédio, 2008.
Foto da autora.
Com os afastamentos laterais, muitas edificações passam a apresentar varandas, novos
espaços de sociabilidade, além de jardins, elemento que possibilitaria o contato com a
natureza, proporcionando o ar puro necessário na renovação do ar e dos odores privados.
Todas estas alterações faziam parte de um processo de mudanças mais amplo que se
fez perceber também através de um maior individualismo e valorização da vida íntima,
associados a novos hábitos e práticas de limpeza pessoal, primeiramente entre as elites,
definindo o que ficou conhecido como higiene. Importante destacar que a palavra higiene
deriva de Higia
9
, deusa grega relacionada à saúde, e este conceito originalmente referia-se ao
evitamento da doença. No período em questão, parece que houve uma associação entre
limpeza, identificada através do aspecto visual das coisas, à saúde do indivíduo, associação
que nos permite fazer relação com a modificação estética que ocorria, por exemplo, em torno
da negação do ornamento - que nada mais era do que uma limpeza visual, pois este, além de
“poluir visualmente”, poderia também acumular poeira -, o que é corroborado pela afirmação
de Corbin ao declarar que “aquilo que as elites entendem então por higiene, quando se trata do
povo, diz respeito, sobretudo à aparência” (1991, p.444).
9
Segundo GRIMAL, Higia é “a personificação da saúde, é muitas vezes considerada como uma das filhas de
Asclépio” (2000, p.228).
48
O povo, por seus hábitos e condutas insalubres, passa a ser em grande medida
responsabilizado pela causa de doenças, uma vez que as epidemias não cessam pela simples
intervenção no meio. A população humilde torna-se então objeto de atenção dos reformadores
higienistas e do poder público, inclusive porque novas teorias passaram a afirmar que a causa
das doenças não se encontrava exclusivamente no meio, mas no próprio indivíduo. Passa a ser
necessário ao poder público cuidar da saúde desta parte da população, assegurando, ao mesmo
tempo, a aptidão ao trabalho dos mais pobres e a saúde dos mais ricos. Michel Foucault
(1979) localiza nesta prática uma medicina de controle da saúde e do corpo do indivíduo, uma
medicina calcada na assistência médica aos menos favorecidos e no controle da saúde da
população, principalmente pela difusão de hábitos coletivos de higiene.
Cuidando da saúde do indivíduo como uma faceta do coletivo, cuidar-se-ia da nação, e
neste contexto, podemos inserir as ações do governo brasileiro após a Revolução de 1930,
principalmente após 1937, como por exemplo, a construção dos diversos centros e postos de
saúde no Estado de Santa Catarina para atender à população e difundir novos hábitos de
higiene, evitando o surgimento de epidemias que bloqueariam o projeto modernizador do
país.
Amora afirma que a criação do Departamento de Saúde Pública de Florianópolis fazia
parte de “uma ação ampla em prol da proteção e do desenvolvimento da saúde física e mental
da população” (2006, p.264), o que é percebido nesta afirmação do governo estadual:
Como se vê, a preocupação de não descuidar de forma alguma as
gerações futuras, pois que em todos os núcleos importantes do Departamento
funcionarão dispensários destinados à segurança da mulher grávida, do
infante, do pré-escolar e do escolar (...) Em apenas 18 mêses de exercício,
cerca de 13.000 pessôas na grande maioria infantes e escolares, foram
matriculados nos seus serviços, recebendo os cuidados que suas condições
físicas exigiam e robustecendo suas energias para maior contribuição,
presente ou futura, ao progresso econômico e bem estar
coletivos(GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA,1939, p.32).
Somado a isso, os novos conceitos do higienismo eram percebidos também através de
detalhes do desenho das fachadas do novo prédio.
49
Para além das informações relativas ao gosto ou ao “estilo” da construção, alguns itens
neste prédio são importantes assinalar como condizentes com a idéia de salubridade que se
queria imprimir, como por exemplo, o grande número de aberturas, sua padronização e
repetição, a presença de venezianas, refletindo uma maior preocupação com a ventilação, o
recuo do alinhamento da calçada, indicando possivelmente novas posturas de construção
sobre o tecido da cidade, separação dos acessos, sendo um pela entrada principal do
entroncamento e outro pela lateral na rua Felipe Schmidt (ver figura 17). Também devem ser
ressaltadas e melhor analisadas a fachada curva da esquina e a pintura na cor branca.
O branco, principalmente o branco da cal, no século dezenove era considerado
como necessário na desodorização dos ambientes (CORBIN, 1987) e, esteticamente, ele
passou a ser associado à higiene e à limpeza.
Um dos maiores defensores na utilização do branco nas arquiteturas, como já foi
mostrado, foi Le Corbusier. Fica claro em sua obra que as considerações higiênicas são
tratadas em conjunto com diretrizes estético-visuais.
O purismo –a própria designação é sugestiva - nome do movimento criado por ele e
pelo pintor Amedée Ozenfant em 1919, tinha por pressuposto estético a utilização das formas
puras da geometria, a geometria encontrada, por exemplo, como foi ressaltado, nas
máquinas modernas, e a casa moderna deveria valer-se destas formas e da cor branca, mais
especificamente da pureza da cor da cal e da tinta esmalte como já assinalado:
Um ato que conduz à alegria de viver: a perseguição da perfeição. Imagine
os efeitos da Lei da Tinta Esmalte. Cada cidadão é obrigado a substituir seus
revestimentos de parede, seus damascos, seus papéis de parede, suas pinturas
decorativas, por uma demão pura de tinta esmalte branca. A pessoa torna
limpa a sua casa: não em nenhum lugar canto sujo, nem canto escuro:
tudo se mostra como é. Depois a pessoa limpa a si própria, pois entra-se na
trilha de recusar-se a admitir o que quer que não seja lícito. Autorizado,
querido, desejado, concebido: só se age quando se concebeu. Quando a
sombra e os cantos escuros cercam você, você está em casa até o limite
turvo dessas zonas obscuras que seu olhar não penetra; você não é dono em
sua casa. (LE CORBUSIER, 1996, p. 191)
A idéia da higiene e princípios de salubridade são notavelmente percebidos na teoria
de Le Corbusier para a nova arquitetura, uma vez que, constantemente o arquiteto francês cita
a necessidade de ventilação, iluminação, banhos de sol e ar fresco(1989).
50
Le Corbusier elaborou cinco princípios que guiariam as novas construções: o pilotis, a
planta livre, a fachada livre, o terraço-jardim e o pano de vidro na fachada; o pilotis libera o
edifício do solo, facilitando a circulação de ar e de pessoas, a planta livre facilita a mobilidade
dos móveis e paredes na busca da melhor disposição para iluminação e aeração, as janelas de
vidro com as fachadas livres possibilitam maior entrada de luz, integrando interior e exterior,
o terraço-jardim traz a natureza, o ar puro, e, somando a esses princípios, o arquiteto também
postulava a utilização de quebra-sóis que regulam a incidência do sol. Uma estética que
buscava através da própria construção proporcionar a saúde - mas também em grande medida
controlá-la, assim como a natureza, o interior e o exterior -, e cujos princípios foram
apropriados pelos arquitetos brasileiros, fazendo parte do programa da arquitetura modernista
oficial da nação a partir da construção do prédio do MES (ver figura 06), projetado em 1936
por Lúcio Costa e equipe, conforme citado. Este prédio serviu como modelo ao novo
edifício das Diretorias em Florianópolis (figura 21), com projeto de 1953 do engenheiro
Domingos Trindade - formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, de onde
provavelmente surgiu a referência desta linguagem –, e inaugurado em 1961(CASTRO,
2002), tendo sido o primeiro prédio na capital em consonância com o Modernismo oficial,
marcando um período de consolidação da linguagem na cidade
10
.
10
Para maiores informações sobre este edifício e sobre o modernismo oficial em Florianópolis, conferir:
CASTRO, Eloah Rocha Monteiro de. Jogo de formas híbridas. Arquitetura e modernidade em Florianópolis na
década de 50. Florianópolis: tese (doutor em historia cultural) UFSC, 2002.
51
Figura 21 Edifício das Diretorias, rua Tenente
Silveira, Florianópolis, 2008. Foto da autora.
O edifício das Diretorias, diferentemente da proposta de Le Corbusier, não é
totalmente liberado do solo, apesar de apresentar o pilotis. Apresenta uma volumetria formada
por formas geométricas dois prismas retângulares em L -, o pano de vidro, o quebra-sóis, a
planta e a fachada livres, entretanto, apresenta um elemento que na época já marcava presença
na obra de alguns arquitetos brasileiros: a curva, encontrada no desenho das paredes do térreo
(figuras 22 e 23) e da marquise formada pelo pilotis (figura 24).
52
Figura 22 – Edifício das Diretorias, 2008, detalhe
da parede curva. Foto da autora.
Figura 23 – Edifício das Diretorias, 2008, detalhe
da parede curva. Foto da autora.
53
Figura 24 – Edifício das Diretorias, 2008, detalhe da
marquise curva. Foto da autora.
A partir dos séculos dezoito e dezenove, novas curvas associadas à clareza e à higiene
são utilizadas como princípio estético. Pelo pensamento higienista, a curva passa a ser
recomendada pelos tratadistas por evitar a acumulação de sujeira nos cantos, pois reentrâncias
e saliências dificultavam a limpeza e a passagem do ar. Este princípio era premente nas
primeiras décadas do culo vinte no Brasil, uma vez que o governo do Estado de Santa
Catarina, ao dissertar sobre a reformulação do prédio da penitenciária do Estado, no bairro da
Agronômica, descreve que as celas têm os cantos de entrada arredondados, para permitirem
uma completa inspeção” (GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, 1939, p.74;
grifo nosso).
Assim também foram feitas algumas construções que procuravam obedecer aos novos
princípios: Alain Corbin cita que o projeto de Soufflot para o Hospital da cidade de Lyon, na
França, era modelar, pois o mesmo concebeu “uma sala abobadada, cuja forma elíptica
permite eliminar os cantos estagnantes e estabelecer correntes de ar ascendentes” (1987,
p.131). Nesta concepção pode também ser inserido o projeto do Hospital Nereu Ramos (figura
25), em Florianópolis, construído em 1938 e cujo corpo principal é elíptico, assim como a
curva que marca a entrada principal do referido Departamento de Saúde Pública de
Florianópolis (ver figura 17), possibilitando a circulação de ar ao longo dos seus dois lados
simétricos.
54
Figura 25 Hospital Nereu Ramos, sem data. Fonte: Casa da
Memória – Fundação Franklin Cascaes.
No começo do século vinte a curva é utilizada esteticamente também em virtude de
outras descobertas da ciência, como a descoberta do universo curvo de Albert Einstein. Albert
Einstein procurou provar cientificamente que o formato do universo era curvo, pois o peso
dos corpos no espaço deformaria o mesmo, o qual a partir daí apresentaria curvaturas
decorrentes do peso das massas, um modelo diferente do paradigma euclidiano predominante
até então que acreditava ser o universo reto.
Dentro deste contexto, nas primeiras décadas do século vinte, o arquiteto alemão Eric
Mendhelson, partidário da corrente dita expressionista na arquitetura, lançava mão da curva
em seus projetos por acreditar ser ela a expressão da intuição, do registro individual do artista,
construindo em 1920 seu projeto mais conhecido, a Torre Einstein (figura 26) que teria a
pretensão de servir de observatório ao cientista.
55
Figura 26 Eric Mendhelson. Torre Einstein, 1920.
Disponível em http://www.dw-world.de. Acesso em
17.03.2008.
Também Oscar Niemeyer justificava sua estética de formas expressivas pela referência
ao “universo curvo de Einstein” (NIEMEYER, 2000, p.17), e é possível perceber que nestes
dois arquitetos a curva era saudada com uma nova relação do homem com o universo e como
expressão da intuição. Novas curvas surgidas com a modernidade ocidental e que são
introduzidas no Brasil primeiramente em prédios de linguagem art déco públicos (ver figuras
08 e 09) ou particulares (figuras 27 a 30).
Figura 27 Projeto de construção de prédio em
Florianópolis, com esquina curva, avenida
Hercílio Luz, datado de 1939. Autor: Defendente
Rampinelli. Foto da autora. Fonte: SUSP
Figura 28 Imagem atual do prédio, 2008. Foto
da autora.
56
Figura 29– Projeto de construção de
prédio em Florianópolis, com balcão
curvo, rua Conselheiro Mafra, datado de
1948. Autor: Raul Bastos. Foto da autora.
Fonte: SUSP.
Figura 30– Imagem atual do prédio,
2008. Foto da autora.
Entretanto, no período do Barroco, a curva aparecia associada a esses termos, ao
universo, às descobertas da ciência, e à expressão das emoções, sendo muitas vezes
decorrente das novas concepções do homem em relação ao cosmos. Durante o século
dezessete, novas teorias desenvolvidas por Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Johannes
Kepler passaram a defender que era a Terra que se movia em torno do sol- ao contrário da
teoria heliocêntrica defendida pela Igreja e em vigor até então-, assim como que o universo
era infinito e descrevia uma órbita elíptica, afirmações que possivelmente afetaram a crença
do homem em sua posição central no cosmos, posição que lhe era atribuída até então pela
Divina Providência (HAUSER, 1998). Desta forma, a estética barroca teve na curva o
impasse do homem entre razão e emoção, entre o céu e a terra, racionalidade e intuição,
apresentando uma nova relação do homem com o universo, com o cosmos.
57
Dentro desta perspectiva, podemos dizer que o século vinte, com a afirmação da
racionalidade científica moderna, através dos conceitos higienistas, das novas descobertas da
ciência, ao tentar reprimir o passado, um passado que de certa forma poder-se-ia dizer que
ainda era barroco, pela presença do ornamento, pela adoção de formas que não eram
reguladas ou funcionais, pela falta de salubridade percebida pelos espaços exíguos, escuros,
com odores, detritos, entre outros, acabou por fazê-lo retornar como recalque na obra de
alguns arquitetos do século vinte.
A obra de Niemeyer, por exemplo, surgida neste momento de negação do passado, de
afirmação da pura geometria como fim da atitude ornamental, em grande medida assinala o
retorno do ornamento, por seu aspecto expressivo, quase figurativo.
Em um momento de afirmação da estrutura da edificação, de uma estética tautológica,
da abstração das formas e volumes puros que compõem as janelas, os pilares e o próprio
edifício, estes mesmos elementos passaram a ser melhor explorados plasticamente sendo
valorizadas suas capacidades de expressão formal, assinalando um retorno da curva
expressiva, do movimento, da expressividade de formas, muitas vezes tornando-se o próprio
prédio um grande objeto ornamental, de caráter quase escultórico (figuras 31 a 33). Uma
situação que também foi ensaiada em Florianópolis, por exemplo, no edifício das Diretorias,
pelos planos curvos do térreo e pela marquise também expressiva, elementos aqui referidos
(figuras 22 a 24), no Instituto de Educação, construído entre 1951 e 1964, pela
experimentação formal de seus pilares (figura 34)
11
, assim como no prédio do Fórum de
Florianópolis, projetado pelo arquiteto local Carlos Stodieck e inaugurado em 1986 (figura
35) e no do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, inaugurado em 1975 (figura 36)
12
. Estes
dois últimos também podem ser associados a um grande objeto ornamental, com aspecto
bastante figurativo, situação verificada pelas designações que lhes são atribuídas por parte do
senso comum: “marmitão” para referir-se ao prédio do Fórum, e “transformador”, para o do
Tribunal de Justiça.
11
Não foi possível localizar o nome do autor do projeto.
12
Também não se localizou o responsável pelo projeto do mesmo.
58
Figura 31 Oscar Niemeyer. Pilares do Palácio
do Planalto.Fonte: PENTEADO, Hélio. Oscar
Niemeyer. São Paulo: Almed, 1985.
Figura 32 Oscar Niemeyer. Catedral de
Brasília, inaugurada em 1970. Disponível em
www.caminhandosinrumbo.com. Acesso em
28.março.2008.
Figura 33 Oscar Niemeyer. Prédio da Oca,
parque Ibirapuera, São Paulo, inaugurado em
1954. Disponível em
<http://www.tvnanet.com.br>. Acesso em
20.maio.2008.
59
Figura 34 Pilares do Instituto de Educação de
Florianópolis, 2008. Foto da autora.
Figura 35 Fórum de Florianópolis, 2008. Foto
da autora.
60
Figura 36 – Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina, 2008. Foto da autora.
Dentro desta perspectiva, tem-se em grande medida uma memória que ficou enterrada
e que ressurge como recalque, como a sobrevivência do passado que reaparece não
necessariamente de forma idêntica - através de pensamentos inconscientes que ficaram
latentes (DIDI-HUBERMANN, 2006). A obra de arquitetura, enquanto imagem, pode aqui
ser pensada como montagem, como empilhamento de tempos heterogêneos, sendo formada
mais por memórias distintas que atravessam sua fatura do que pela memória histórica
eucrônica e contextual com que usualmente é narrada.
Trata-se também de pensar a história das imagens de arquitetura não como sendo
formada pela alternância das formas historicamente determinadas, como o supunha Wolfflin
(2000), que propôs pares de opostos para definir as imagens. O sistema que ele propôs era
baseado na oposição entre o clássico e o barroco, o primeiro, por exemplo, sendo formado
pelas linhas retas, em ângulos retos, pela estabilidade, o segundo pela linha curva sugerindo
movimento. Entretanto, estas obras de que tratamos são formadas mais pela conjunção e pelo
aspecto nuançado de retas e curvas, pela concomitância, numa mesma obra ou no mesmo
período, de formas abertas, convexas e formas fechadas, côncavas, percebidas, por exemplo,
nos exemplos da Catedral de Brasília (figura 32) e no do prédio da Oca (figura 33), ou no do
Fórum (figura 35). Devemos pensar a história das imagens mais pela sobrevivência de formas,
formas que interrompem esta lógica eucrônica e que assinalam o retorno de uma vontade que
talvez tenha ficado encapsulada e que reaparece anacronicamente.
61
1.3Recorrências ortogonais
Em Paris, capital do século XIX, Walter Benjamin, ao dissertar sobre as modificações
urbanas de Paris no governo do Barão de Haussmann, revela que era prática comum das
instituições do governo tratar as necessidades técnicas de mudança como sendo projetos
artísticos, justificando a necessidade de transformação da cidade - causada mais pelas
mudanças na forças produtivas- através de um fetiche da burguesia, o que era cunhado como
“embelezamento estratégico” (BENJAMIN IN KOTHE, 1991, p.42). O desenvolvimento da
técnica desfez os “símbolos de desejo” da burguesia, como por exemplo, a caracterização da
arquitetura como uma prática de engenheiro ou da fotografia como cnica de reprodução da
natureza.
As reformas urbanas ocorridas nas principais cidades brasileiras nas primeiras décadas
do século vinte podem ser inseridas neste contexto, como um “projeto artístico” que se
delineou no traçado e nas fachadas urbanas, e que era em grande parte resultado da gradativa
incorporação de uma nova racionalidade científica no pensar a cidade. Assim, novas
construções eram saudadas como verdadeiros “monumentos”, como, por exemplo, o
“majestoso” (GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, 1939, p.60) edifício dos
Correios e Telégrafos, construído em 1937 na capital da ilha de Santa Catarina para abrigar a
nova sede desta instituição (figura 37).
Figura 37 Correios e Telégrafos, Florianópolis, 2008.
Foto da autora.
62
Em linguagem art déco, desenhado com linhas retas e poucos elementos de
ornamentação, o prédio é inserido estrategicamente na malha tradicional da cidade, em frente
à Praça XV de Novembro, estendendo-se por toda dimensão longitudinal da quadra e em
terreno que faz esquina com as ruas Vitor Meirelles e Saldanha Marinho. Hugo Segawa
declara ter sido este o “mais ambicioso projeto nacional de normalização arquitetônica
oficial” (2002, p.69), o de aperfeiçoar e estender o sistema dos Correios e Telégrafos por todo
o país a partir dos anos trinta. As principais capitais e cidades receberiam novas sedes, com
novos projetos elaborados por arquitetos da capital federal, projetos cujas diretrizes eram
especificadas previamente pelo governo
13
. As especificações geralmente eram referentes à
localização estratégica no tecido da cidade, muitos privilegiando os lotes em esquina,
separações de acesso, grandes salões para atendimento, utilização do concreto armado e
despojamento da decoração (SEGAWA, 2002). O prédio em Florianópolis também apresenta
parte dele em revestimento em pastilhas cerâmicas e um grande número de aberturas que
originalmente apresentavam janelas basculantes, em acordo com os preceitos modernos de
conforto higiênico.
Concomitante à construção do prédio dos Correios, consolidava-se na cidade um
processo de reformas urbanas que teve início na Primeira República. No final do século
dezenove, como foi dito, as concepções higienistas que chegavam da Europa traziam novos
olhares e pensamentos principalmente sobre a cidade, visando ordenar o espaço urbano,
eliminando locais insalubres assim como intervindo no modo de habitar das populações mais
humildes que passavam a ser encaradas como responsáveis pelos focos de epidemias surgidos.
Assim, muitas reformas foram realizadas na cidade buscando modificar esta situação; em
1909 instalaram-se as primeiras redes de água encanada, entre 1913 e 1917 foi a vez das redes
de esgoto e energia elétrica, em 1919 iniciou-se a construção da Avenida Hercílio Luz,
primeira grande avenida da cidade, mais tarde, em 1926 inaugurou-se a construção da ponte
Hercílio Luz, ligando a ilha ao continente, obra que contou com a transferência do cemitério
encontrado anteriormente na cabeceira da mesma, uma vez que esta localização passou a ser
considerada inadequada também por questões de salubridade (NECKEL, 2003). Da mesma
forma, ruas foram redefinidas e calçadas, como a Padre Roma e a Marechal Deodoro, outras
criadas, como a Rio Branco e a Curitibanos, e também muitas residências humildes foram
desapropriadas visando a higienização do espaço da cidade.
13
Não foi encontrado o nome do responsável pelo projeto dos Correios e Telégrafos de Florianópolis, mas
confirma-se, por documentos encontrados no órgão e informações do mesmo, que ele foi elaborado por um
profissional da capital federal na época.
63
Concepções que também se tornaram prementes durante o governo que assumiu a
partir da terceira década, quando reformar a cidade, adequando-a aos conceitos modernos de
higiene e civilidade era também fazê-la ingressar no mundo moderno, livrando-se da antiga
condição de vila e de tudo que a ela remetia para atingir o status de cidade moderna,
alcançando a grandeza e a prosperidade (NECKEL, 2003).
Era necessário vencer o passado, um passado que era em grande medida, barroco, com
suas ruas estreitas, irregulares, casas de aspecto singelo, mal iluminadas e de espaço exíguo,
que exalavam odores e acumulavam sujeira:
Perdendo, pouco a pouco, a sua velha feição urbana, com o desaparecimento
de bêcos, o alargamento e a abertura de novas ruas, o ajardinamento de
logradouros públicos, a cidade remóça, adquirindo aspectos encantadores,
substituindo as linhas arquiteturais do casario colonial pelos graciosos
modelos de excelentes construções. [...] o presente, sem dúvida, saudando na
garridice moça da sua imaginação convertida em realidade, um passado que
vai sumindo, desfazendo-se na poeira rútila dos muros que se abatem,
vencidos, no local e no espaço, pela ânsia humana de
progresso...(GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, 1939,
p.45/46)
Estas novas concepções em relação ao urbano pode-se dizer que se estenderam ao
longo de toda a modernidade do século vinte e trouxeram igualmente novos modelos de
cidades modernas. Um processo que teria se iniciado durante os séculos dezoito e dezenove
na Europa, onde, além do saber médico, a cidade passou a ser pensada também em suas
dimensões social e econômica. Surgem nesta época grupos de pensadores que elaboraram
novos projetos de cidades consolidando o que conhecemos por urbanismo, cujas idéias
chegaram a Florianópolis gradativamente.
Dentro destes grupos, Françoise Choay (2005) reconhece dois “modelos” de imagens
da cidade futura que organizavam suas idéias em relação ao passado ou ao futuro, assumindo
respectivamente a atitude da “nostalgia” ou do “progressismo”. O primeiro era o modelo
culturalista, cujo principal representante foi o arquiteto austríaco Camillo Sitte, e o segundo
grupo, chamado de progressista, cujas idéias prevaleceram na modernidade ocidental, era
representado principalmente por Le Corbusier, cujas propostas foram assimiladas por
profissionais brasileiros em suas duas vindas ao Brasil, em 1929 e 1936, e através de revistas
de arte e arquitetura, conforme já exposto.
64
O modelo culturalista, que teve sua concretização primeiramente em alguns projetos
de cidades elaborados na Alemanha e Áustria nas duas últimas décadas do século dezenove, é
partidário das idéias de John Ruskin de crítica ao desaparecimento da tradicional organicidade
da cidade antiga, da tentativa de fazer reviver um passado que, para esses pensadores, era
ideal. De acordo com Choay (2005), a maior preocupação dos teóricos culturalistas era
estética, e podemos percebê-la nas idéias de Camillo Sitte (1992), para quem a cidade ideal
não deveria possuir ângulos retos. Era necessário livrar-se da obsessão renascentista da
simetria e da proporção em busca de um traçado irregular, onde a localização dos
monumentos era cuidadosamente pensada para surpreender o olhar ao dobrarmos as esquinas
de suas tortuosas ruas, como nas cidades medievais. Sitte também pensava nas dimensões e
desenho das praças, lugares primordiais de convívio, que deveriam ser fechados e cercados
pelos edifícios que decoram suas paredes, um fechamento também necessário nas ruas. Os
monumentos e as fontes deveriam ser localizados às margens dos logradouros, não nos seus
eixos de simetria, em locais onde a circulação não era intensa em vias de serem mais bem
apreciados. Desta forma, Camillo Sitte pensava muito em termos da surpresa do olhar, da
espontaneidade da cidade que, a cada caminhada nos espantaria com um grande monumento
ou uma estátua localizados nos locais mais inesperados, diferentemente do modelo
progressista, onde o hábito da utilização dos ângulos retos e das grandes perspectivas
regulares e simétricas já escancara tudo facilmente ao olhar.
Entretanto, o modelo progressista foi o que predominou na elaboração das cidades
ocidentais. Como a própria designação demonstra, é baseado na idéia de progresso,
orientando-se para o futuro, para a criação do “novo”, uma vez que seus pensadores
acreditavam estarem desenhando uma cidade nova e livrando-se de tudo que remetia ao
passado. L’Esprit Nouveau é o nome sugestivo da revista que Le Corbusier funda em 1919
com Ozenfant onde ele exporia suas idéias sobre a cidade e a arquitetura do futuro.
Neste modelo, o desenho do espaço é primordialmente aberto, diferente do modelo
culturalista. Esta orientação é justificada principalmente pelos conceitos científicos da higiene
e que foram aplicados, por exemplo, na construção de largas avenidas para a circulação
especialmente do automóvel, a máquina moderna. E seriam as funções humanas, que seriam
padrões para todos os homens, que regeriam a diferenciação dos espaços. Assim, este modelo
adota uma concepção do homem como tipo, como um padrão.
65
Assim como para a arte decorativa, a máquina também era uma referência para a
cidade que Le Corbusier preconizava, esta deveria ser dividida em funções, determinando
desta forma a área residencial, comercial, industrial, entre outras, e ser construída baseando-se
na geometria pura e simples. Grandes volumes prismáticos elevados do solo, que
concentrariam as habitações, muitas padronizadas, e liberariam o chão para o verde e para a
circulação de ar. Estas idéias tiveram como exemplo brasileiro a construção da cidade de
Brasília, projetada por Lúcio Costa e inaugurada em 1960, cujas diretrizes são decorrentes
deste pensamento progressista. As propostas deste urbanismo progressista foram mais
efetivamente introduzidas em Florianópolis com a elaboração do Plano Diretor do ano de
1952, onde se procurou, em termos de usos do solo e de crescimento da cidade, dar uma
primeira ordenação. Entretanto, em se tratando da forma e da imagem da cidade, as idéias
deste urbanismo haviam adentrado a capital de Santa Catarina, de uma forma ou de outra.
Pode-se citar, por exemplo, o edifício do IPASE (figura 38) Instituto de Pensão e
Aposentadoria dos Servidores Estaduais – que, de acordo com Castro (2002), foi aprovado em
1944 e projetado por Raul Pinto Cardoso, trazendo, por exemplo, a solução dos
pavimentos-tipo e do edifício elevado do solo, com parte da área de baixo livre.
Figura 38 – Edifício do IPASE, Florianópolis,
2008. Foto da autora.
Saudado como uma ruptura com o passado atrasado e como uma nova era, um “novo
espírito”, este modelo de cidades teve nas linhas retas e no ângulo reto sua expressão
principal. Encontrados tanto na malha urbana como nas fachadas das edificações, o xadrez ou
o reticulado são, para Le Corbusier, as “linhas reveladoras” destas novas cidades e
arquiteturas (1989, p.24).
66
A retícula, na arte moderna do século vinte, passou a ser utilizada como uma forma,
como uma tentativa da pintura de se libertar da narrativa, da literatura, uma reivindicação da
pintura para os seus próprios meios, a planaridade e o pictórico. Nesta época, a retícula
aparece como algo inédito na obra dos artistas que optaram pela abstração, fazendo parte do
discurso da originalidade da vanguarda, um discurso pautado no sentido de começo, de
renovação e ruptura. Entretanto, de acordo com Rosalind Krauss (1986), a prática dos artistas
da vanguarda revelou que esta intenção de originalidade ocasionava, em grande medida,
repetição e recorrência, uma vez que a retícula era uma forma extremamente inflexível, capaz
de ser repetida em qualquer superfície, já tendo sido utilizada em outros momentos da
história.
Foi durante o Renascimento que as cidades começaram a ser desenhadas com formas
geométricas, especialmente com o tabuleiro xadrez. Para os artistas renascentistas, a
geometria possuía um sentido original, de formação do mundo, que eles sabiam e afirmavam
estar retomando dos clássicos.
No século vinte, Mondrian foi um dos artistas que mais abriu mão da retícula em suas
telas. Nas primeiras décadas deste século fez parte do De Stijl, grupo do qual faziam parte
muitos arquitetos, e cujas idéias primavam pela abstração. Mondrian buscava, por meio de um
jogo de horizontais e verticais e da utilização das três cores primárias, eliminar a
representação, a narrativa, em busca do equilíbrio perfeito.
A retícula, de uma forma ou de outra, se refletiu na estética de muitas edificações
desse século, como nas construções do já citado Le Corbusier (figura 39), como no próprio
prédio dos Correios e Telégrafos em Florianópolis (figura 37), do edifício do IPASE (figura
38), entre outros, e até em arquiteturas menores (figura 40).
Figura 39 Pavilhão suíço na cité universitaire
de Paris, Le Corbusier e P. Jeanneret, 1930.
Fonte: BENÉVOLO, Leonardo. História da
Arquitetura Moderna. SP: Editorial
Perspectiva,1998, p.509.
67
Figura 40 Detalhe de forma reticular em
edificação no centro de Florianópolis, 2008. Foto
da autora.
Como foi dito, estas linhas retas convivem em muitas obras modernas em
consonância com as curvas, caracterizando algumas vezes o aspecto ornamental a que chegará
a arquitetura moderna em certo ponto, um período de experimentação formal até nas plantas
de cidades. Lúcio Costa, ao descrever a elaboração do plano de Brasília, assim define o
desenho do traçado urbano: “Nasceu de um gesto primário de quem assinala um lugar ou dele
toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz
(COSTA, 1995 apud GUIMARAENS,1996,p.39; grifo nosso), ou seja, desnecessário afirmar
o caráter bastante figurativo da planta de Brasília (figura 41), onde estes dois eixos são
formados por uma linha reta e outra curva, tendo sido muitas vezes comumente associado a
figuras, como a de um avião, por exemplo.
Figura 41 – Planta de Brasília. Disponível em <http:
//www.forumpermanente.incubadora.fapesp.br>. Acesso
26.mar.2008
68
Enfim, fala-se aqui de uma época caracterizada por um espírito de devaneios e utopias,
de sonhos com o futuro, com o alcance do progresso, sonhos de um desejo de modernidade os
quais, em grande medida, representavam a sobrevivência, a sobrevivência do passado nestas
imagens desiderativas. Buscando o “novo”, negando o passado, figurativo, ornamental, este
reaparece de forma inconsciente, não programada. E, para Marcos Sá, este processo teria se
iniciado com o art co, ao ser o primeiro a procurar romper com as formas do passado indo
em direção à abstração na arquitetura (SÁ, 2005).
Estes foram sonhos que, em grande medida, anunciavam a época que estava por vir
a partir da década de setenta, um período assumidamente ornamental, figurativo. Como
Walter Benjamin anunciava sobre a modernidade, “cada época não apenas sonha a
seguinte, mas, sonhando, se encaminha para seu despertar” (BENJAMIN IN KOTHE,1991,
p.43).
69
Capítulo 02. O passado inscrito em detalhes
Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado
de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as
linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos
corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das
bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes,
esfoladuras.
Ítalo Calvino, Cidades Invisíveis.
Zaíra é aquela cidade que, de acordo com Ítalo Calvino (1990), não conta seu passado,
ela o contém, em cada detalhe, em cada vestígio de seu modo de existir, uma cidade onde as
formas do tempo pretérito sobrevivem e estão ali, atravessando o dia-a-dia de cada habitante.
De certa forma, assim como Zaíra, Florianópolis também contém citações do passado nas suas
entrelinhas, detalhes cuja visão de relance não percebe, mas onde o olhar atento possibilita
descobertas. Nela, podemos encontrar o passado inscrito, por exemplo, nessas modestas
edificações que chamamos de art déco, imagens de uma Florianópolis moderna.
Apesar da pouca presença de prédios públicos art déco em Florianópolis, são as
arquiteturas particulares que apresentam maiores referências a esta estética, através da
imagem de alguns poucos arranha-céus (figura 42), mas principalmente através de sobrados e
casas de porta-e-janela (figuras 46 e 47). Estes dois últimos, apesar de não terem sido muito
estudados, talvez constituam a maior parte das expressões arquitetônicas dos centros das
cidades brasileiras, expressões em que podemos identificar aspectos recorrentes, ao encontrar
na simplicidade de linhas e na linguagem geométrica sua marca dominante. Pequenas casas de
porta-e-janela ou sobrados, ordinariamente modestos, pertencentes em grande medida a uma
classe média ou popular, e que, como dito, não ficam restritos a uma determinada localidade,
uma vez que são bastante encontrados pelo país.
70
Figura 42 Prédio do centro de
Florianópolis, rua Felipe Schmidt, antigo
Hotel Santa Catarina , 2007. Autor: Tom
Wildi. Foto: Márcia Regina
Estas expressões art déco são em grande parte decorrentes de uma estética que era
propagada pelos meios de comunicação, estética que provavelmente chegava a Florianópolis
através das telas de cinemas e televisões a partir da década de trinta, expressando modismos
da época, como citações à era da máquina, como por exemplo, frisos nas fachadas indicando a
velocidade (figura 43), referências ao avião, ou aos novos transatlânticos, através de
elementos que aludiam ao desenho da proa destes últimos (figura 44), reproduzindo as
mesmas curvas “higiênicas” inseridas com a modernidade do século vinte (figura 45) e
trazendo, a partir destes, a idéia de moderno em consonância com as propostas da vanguarda
artística. Imagens que fizeram parte do imaginário da época e que foram reproduzidas por
alguns construtores da cidade, como Tom Wildi.
71
Figura 43 – Detalhe edificação à rua General Bittencourt
esquina com Beco Tupy, Florianópolis, 2007. Foto da
autora.
Figura 44 – Detalhe edificação à rua General Bittencourt
esquina com Travessa Urussanga, Florianópolis, 2007.
Foto: Márcia Regina.
Figura 45 Detalhe de edificação a rua General
Bittencourt esquina com Beco Tupy, Florianópolis,
2007. Foto: Márcia Regina.
72
Tom Traugott Wildi nasceu na cidade de Wohlen, na Suíça, estudou Belas-Artes em
Zurique e Arquitetura em Genebra, cidades que à época estavam em contato com as
produções artísticas da vanguarda. Em 1919, desembarcou no Brasil onde trabalhou na
empresa General Electric, tendo sido convidado a vir para Florianópolis participar da
execução de projetos da empresa, fato que o fez estabelecer-se na cidade. Wildi era
interessado em arte e arqueologia, tendo realizado muitas viagens para pesquisa, dentre estas
algumas para a ilha de Marajó, onde estudou a cerâmica marajoara (LINS, 2008), linguagem
que estava em voga na época pelos apelos ao nacional, tendo utilizado referências desta
estética em suas obras (ver figura 01). Foi responsável pela construção e reforma de muitas
edificações na cidade, podendo ser citado, por exemplo, o atual prédio do conhecido
“Senadinho”
14
, na rua Felipe Schmidt, antigo Hotel Santa Catarina( ver figura 42)
15
.
Todavia, Tom Wildi era uma exceção em uma cidade onde poucos eram os que
possuíam formação acadêmica. De acordo com Corrêa (2004), a distância e a dificuldade de
deslocamento para centros maiores como Curitiba e Porto Alegre eram alguns dos fatores que
dificultavam a formação de profissionais qualificados na cidade nas primeiras décadas do
século vinte. Em 1917 um grupo de profissionais resolveu criar o Instituto Politécnico de
Florianópolis, que passou a oferecer os cursos de Agrimensura, Odontologia e Farmácia, mas
que foi dissolvido em 1935, dentre muitos motivos pela falta de corpo docente. Além desta
iniciativa, em 1932 foi criada a Faculdade de Direito, mas, pode-se dizer que a capital por um
bom tempo permaneceu com a deficiência de especialistas em algumas áreas (CORRÊA,
2004).
Em grande medida, aqueles que construíam e executavam projetos de edificações por
volta dos anos trinta e quarenta em Florianópolis eram profissionais sem formação,
autodidatas, muitos eram antigos pedreiros e ajudantes que possivelmente também
desenhavam os projetos ou coordenavam alguém para fazê-lo. E foram estes os maiores
responsáveis pela construção de grande parte dos sobrados e das casas de porta-e-janela da
cidade que merecem aqui um olhar mais atento.
14
O edifício recebeu esta designação por seu bar, localizado no térreo, em esquina com a rua Trajano, ter sido
ponto de encontro de personalidades importantes da política da cidade.
15
Alguns projetos particulares de Tom Wildi podem ser encontrados no inventário em anexo.
73
Muitas destas edificações são manifestações bastante modestas, que, ao olharmos, em
algumas situações podemos perceber sutilmente a existência de uma aparente continuidade
visual das mesmas com as expressões do nosso barroco colonial, ocorrendo, por vezes, o fato
de não conseguirmos diferenciar uma fachada moderna de outra barroca (figuras 46 e 47).
Pelas ruas principais do centro da cidade, como Conselheiro Mafra e Felipe Schmidt, o
moderno e o colonial se alternam, muitas vezes um não se distinguindo facilmente do outro.
Figura 46 - Edificação com uma fachada moderna e
outra barroca. Rua Conselheiro Mafra, Florianópolis,
2007. Foto Márcia Regina.
Figura 47 - Fachadas modernas e barrocas. Rua
Conselheiro Mafra, Florianópolis, 2007. Foto da autora.
Uma semelhança com nossa primeira expressão como colônia que muitas vezes passa
despercebida por um olhar desatento, e os traços destacados talvez possam ser os da
simplicidade de linhas, da utilização de poucos detalhes geométricos e de alguns elementos
decorativos, características encontradas também em nossas capelas e pequenas igrejas do
período colonial (figura 48).
74
Figura 48 Igreja Nossa Senhora das
Necessidades, Santo Antônio de Lisboa,
Florianópolis, 2008. Foto da autora.
Interessante perceber que essas modestas edificações art déco, construídas a partir da
década de trinta, são tão recorrentes pelo país quanto o próprio barroco o foi; muitas das
cidades brasileiras, desde as maiores até os pequenos povoados do interior do sertão
apresentam, em algum lugar, pequenas casinhas de porta-e-janela ou sobrados desenhados
com poucas linhas e pintados muitas vezes com cores diversas, assim como antigamente
apresentavam um grande número de casas térreas, sobrados e capelas coloniais.
Acerca desta constatação, por esses anos da década de trinta, Gilberto Freire declarava
em Casa Grande e Senzala (2001) que, no Brasil, não teria sido a catedral ou a igreja isolada
a responsável por nossa formação religiosa, mas sim as pequenas capelas, distribuídas pelas
casas de engenho e pelas diversas localidades do país.
Desta forma, durante estes anos, em um momento onde se discutia que feição teria o
país, qual seria nossa identidade, parece que a expressão popular do art déco disseminada
pelas cidades brasileiras foi como uma das respostas das margens, uma expressão que em
grande medida era produto da reprodução em massa, difundida pelos meios de comunicação à
época.
Entretanto, como foi dito, ao olharmos para muitas dessas casas construídas na
modernidade do século vinte, veremos que o passado ali ainda se mostra presente, um passado
que a nova racionalidade do século vinte reprimiu por ser considerado retrógrado e por talvez
denunciar nosso atraso em relação à moderna sociedade da máquina.
Como explicar essa continuidade visual entre estas duas linguagens referentes a
tempos distintos da história? Talvez pelo fato de as imagens de ambas evocarem as mesmas
paisagens.
75
Para os teóricos Deleuze e Guatarri (1997, v.3), a paisagem é estreitamente
relacionada com o rosto. A “rostidade”, termo criado por estes autores, seria um processo de
produção social de rostos, como um rosto é socialmente produzido a partir dos códigos
vigentes, por exemplo, os códigos e referências imagéticos. Estas arquiteturas também devem
ser entendidas como rostos, como semblantes urbanos e para eles “os manuais de rosto e de
paisagem formam uma pedagogia, severa disciplina, e que inspira as artes assim como estas
as inspiram. A arquitetura situa seus conjuntos, casas, vilarejos ou cidades, monumentos ou
fábricas, que funcionam como rostos, em uma paisagem que ela transforma” (DELEUZE;
GUATARRI, 1997, v.3, p.38). Desta forma, a paisagem evoca determinados rostos assim
como determinados rostos evocam também uma paisagem. O rosto seria então um clichê e
essas casas podem ser entendidas como rostos, como ready-mades, como um produto
formatado, resultado da produção em massa. O close do cinema é um rosto; Walter Benjamin
anunciava com o close, o surgimento do inconsciente óptico da imagem (BENJAMIN, 1994).
O close sobre o relógio mostrando as horas anuncia um acontecimento que está por vir, uma
determinada cena talvez. Cabe aqui perceber que paisagem ou cena estas imagens de cidades
evocam e como elas o fazem de forma que permitam o encontro do passado com o presente.
Em grande medida, Florianópolis, assim como a Zaíra de Ítalo Calvino, é anacrônica,
marcada pela sobrevivência do passado no presente. Através de seus arranhões, de seus
entalhes e de suas esfolafuras, ela expressa os rastros do tempo na história, rastros que
sobrevivem para expressar a história da cidade. Para Walter Benjamin (1994), a história seria
formada pelas reminiscências do passado no presente, pelo passado que se faz presente,
unindo o próximo ao distante, o familiar com o estranho, marcando a sobrevivência de outras
temporalidades. Assim “la supervivencia (Nachleben) concierne perfectamente al
‘fundamento de la historia en general’. Ella expresa al mismo tiempo un resultado y un
proceso: expresa los rastros y expresa el trabajo del tiempo em la historia” (DIDI-
HUBERMAN, 2006, p.143).
76
2.1 - A máscara, o semblante urbano
Figura 49- Rua General Bittencourt, Florianópolis,
2007. Foto da autora.
A cidade, a partir de suas expressões populares pode ser pensada, como nos colocam
Deleuze e Guatarri (1997, v.5), como tendo sido um espaço estriado que se deixou alisar,
tornar-se liso. O espaço que a racionalidade tenta regular, estriar, ordenar, mas que logo fica
desordenado, incapturável, subverte as imposições ou referências e alisa, criando uma nova
configuração ao espaço da cidade. O art déco pode ser entendido por estas duas dimensões,
uma delas é resultado das expressões do Estado (ver figura 37), com formas sóbrias e cores
austeras, e a outra seria aquela das expressões particulares, mais reconhecida nestas casas de
porta-e-janela e sobrados espalhados pelas cidades, que destoam desta rigidez do Estado,
apresentando formas simples, traços decorativos e todo um colorido. No primeiro caso, ele
pode ser entendido como parte da dimensão do espaço estriado, no outro como do espaço liso.
Entretanto, o liso acaba se estriando quando vira padrão, clichê, torna-se o rosto socialmente
produzido e reproduzido de que falamos, torna-se ready-made. Neste caso, não importa se ele
está localizado em Florianópolis ou até na Bahia, por exemplo, através das casas que a
fotógrafa Anna Mariani tem como objeto de estudo.
Uma série de fotografias de casas, no sertão do nordeste, muitas com traços e linhas do
art déco, outras com uma geometria tipicamente moderna, através das quais a artista consegue
captar a riqueza das expressões simples dessas edificações (figuras 50 a 52).
77
Figura 50- Triunfo, Pernambuco. Fonte: MARIANI,
Anna. Pinturas e Platibandas: fachadas populares do
Nordeste brasileiro. São Paulo: Mundo Cultural, 1987.
Figura 51- Juazeirinho, Paraíba. Fonte: MARIANI,
Anna. Pinturas e Platibandas: fachadas populares do
Nordeste brasileiro. São Paulo: Mundo Cultural, 1987
Máscaras, como afirmou Baudrillard (1997), atravessadas por fendas escuras das
portas e janelas e criadas com uma variedade de cores e de composições ornamentais abstratas
em um local onde não se imaginava o menor indício de vida para além da pobreza. Anna
Mariani não pensa na pobreza, vai além dela ao negar nas imagens a presença dos seus
moradores, só extrai a beleza que dali resulta.
78
Anna Mariani rejeita o sentido comum de realidade. Sabe que criar uma imagem não
consiste em mostrar o real, algo que ela nunca o fará, mas sim em negar o sentido do real,
interromper o sentido do mundo. Na concepção de Baudrillard (1997), as imagens deveriam
ser criadas e captadas respeitando seu irrealismo através da busca da abstração máxima, do
seu maior desaparecimento, subtraindo todas as suas dimensões como peso, textura,
profundidade, tempo, relevo, entre outros.
Figura 52- Piaçabuçu, Alagoas. Fonte:
MARIANI, Anna. Pinturas e Platibandas:
fachadas populares do Nordeste brasileiro. São
Paulo: Mundo Cultural, 1987.
Assim, ela suspende a temporalidade do próprio objeto fotográfico, que não é mais
objeto, que não é mais estilo, que não é mais arquitetura. Esta, de acordo com Baudrillard
(1997), seria a sua desaparição. E talvez essa seja a melhor forma como as imagens, até
mesmo simples fachadas, deveriam ser criadas e olhadas.
Assim como Anna Mariani, Nora Dobarro, pintora e fotógrafa argentina também
fotografou construções, mais especificamente portas e portões que ela encontrou em visita à
cidade de Feira de Santana na Bahia, elementos onde ela enxergou recorrências formais da
arte concreta por seus desenhos geométricos abstratos pintados com cores diversas (figuras 53
a 56).
A situação de destaque destes portões, de acordo com ela (DOBARRO, 2008), parece
querer contradizer a condição de passagem própria a esta cidade, e diversos são os motivos
que levam a isto, motivos que foram percebidos pela artista. Feira de Santana foi
originalmente fundada por vaqueiros que atravessavam a região levando seus gados, além de
79
ser conhecida como “Portal do Sertão” por estar localizada no início do agreste baiano,
situações que a distinguem como um marco de passagem.
Somado a isto, outro elemento interessante seria o mapa da cidade, que possui um
desenho circular de onde se conectam as diversas “portas” de entrada e saída desta cidade,
uma vez que a mesma encontra-se num importante entroncamento de rodovias do nordeste
liga-se à BR101, BR116 e BR324. Para a artista, este desenho circular da cidade assim como
as composições de suas portas e portões seriam elementos cuja intenção estaria em fixar, em
atrair a atenção para o lugar, contrariando a situação de cidade de passagem
(DOBARRO,2008). E talvez uma tentativa de desviar de sua condição humilde, marginal.
São portas e portões de casas construídos com composições geométricas abstratas, os
quais a artista acredita serem resultado provavelmente da herança africana daquela população,
uma vez que as máscaras ritualísticas africanas eram formadas por composições abstratas e
teriam servido como inspiração para a produção de parte vanguarda artística do século vinte.
Figura 53- Nora Dobarro. Portão de
Feira de Santana. Disponível em:
<http://www.boladenieve.org.ar/?q
=node/186>.Acesso em 30.03.2008
Figura 54- Nora Dobarro. Portão de
Feira de Santana. Disponível em:
<http://www.boladenieve.org.ar/?q
=node/186>.Acesso em 30.03.2008
Figura 55- Nora Dobarro. Portão de
Feira de Santana. Disponível em:
<http://www.pagina12.com.ar/diári
o/suplementos/espectaculos/6-
2816-2006-06-15.html>Acesso em
30.03.2008
Figura 56- Nora Dobarro. Portão de
Feira de Santana. Disponível em:
<http://www.pagina12.com.ar/diári
o/suplementos/espectaculos/6-
2816-2006-06-15.html>Acesso em
30.03.2008
80
Para Michel de Certeau “o espaço é um lugar praticado” (2004, p.202). O lugar para
este autor seria somente a configuração resultante da distribuição de elementos, os quais
estariam situados ao lado uns dos outros, “um lugar é, portanto uma configuração instantânea
de posições. Implica uma indicação de estabilidade” (2004, p.201). O espaço, de forma
diferente, seria constituído pelas operações que nele se desdobram, pelas condições do
movimento, levando em conta a velocidade e o tempo. Neste sentido, o espaço pode ser
entendido como um modo de ser, cultural e individual, e podemos pensar que os modos de
utilizar o espaço acabam por produzir concepções e práticas, conscientes ou inconscientes.
Tanto as referências nos modos de praticar o espaço como as imposições podem gerar certos
modos muito peculiares de deslizes e travestimentos, disfarces e apropriações.
É considerável pensar que, em Florianópolis, estas edificações de que falamos foram
na sua maioria desenhadas e executadas por construtores que não apresentavam nenhuma
formação, por profissionais possuidores de um saber empírico, quase artesanal. Na pesquisa
realizada na SUSP podem ser citados os nomes de Estanislau Makowiecky, João José
Mendonça, João Batista Berreta e Theodoro Bruggemann, como os mais encontrados na
autoria destas tipologias de edificações
16
.
Estanislau Makowiecky era filho de pai polonês, nasceu no Brasil em 1890 e iniciou
na profissão de construtor sem possuir formação, de forma autodidata, auxiliado por uma
equipe de pedreiros e serventes (BRESOLIN, 2008). João José Mendonça nasceu no Brasil
em 1892, era descendente de portugueses e, da mesma forma não possuía formação, era
pedreiro e conseguiu uma licença para trabalhar como construtor, assim como Makowiecky
(MENDONÇA, 2008). João Batista Berreta trabalhou durante a mesma época que os demais,
era descendente de italianos, natural de Urussanga, e também não possuía formação
(BERRETA, 2008). Já Theodoro Bruggemann nasceu em 1900 e era natural aqui da cidade, e,
provavelmente também não era formado em curso superior (BRUGGEMANN, 2008)
17
.
16
Estes nomes haviam sido citados pela pesquisadora Eliane Veras da Veiga em seu livro Florianópolis:
memória urbana. Florianópolis: Editora da UFSC, 1993”, onde, na página 158 eles aparecem juntamente com os
nomes de outros profissionais que tiveram seus projetos aprovados na SUSP entre os anos de 1921 e 1934, data
anterior à do início da presente pesquisa. Sabe-se, por depoimentos coletados, que, destes quatro profissionais
aqui destacados, suas famílias permaneceram na cidade e seus filhos acabaram tornando-se amigos, a maioria
tendo seguido estudos superiores, alguns deles formando-se economistas, advogados, contadores, engenheiros,
entre outros. Também é importante destacar os nomes de Theodoro Grundel, Castúlio do Amaral, Gilberto Reiz,
Afonso Zilli, Avelino José Vieira, Raul Bastos, Calvy de Souza Tavares, Cid Rocha Amaral, Defendente
Rampinelli, entre muitos outros cujos projetos encontram-se no inventário em anexo.
17
Foi realizada uma entrevista com seu neto, também chamado Theodoro Bruggemann, e o mesmo não se
recorda se o avô tenha cursado alguma faculdade. Fato curioso ele não ter isto em recordação, uma vez que
Theodoro foi criado pelo avô, o que nos leva a supor que este último provavelmente não tenha concluído curso
superior.
81
Significativamente algumas de suas obras foram em grande parte muito semelhantes
por seu aspecto singelo, por apresentarem fachadas com traços simples, sem muitos
ornamentos (figuras 57 a 60) e formaram uma parte da imagem do centro da cidade, algumas
ainda existentes, outras não mais.
Figura 57 Projeto de reforma de prédio do
centro de Florianópolis, rua João Pinto, datado de
1934. Autor: João Batista Berreta. Foto da autora.
Fonte: SUSP
Figura 58 Projeto de construção de prédio em
Florianópolis, rua desconhecida, datado de 1941.
Autor: Estanislau Makowiecky. Foto da autora.
Fonte: SUSP.
82
Figura 59 Projeto de reforma de prédio do
centro de Florianópolis, rua Conselheiro Mafra,
datado de 1938. Autor: João Jo Mendonça.
Foto da autora. Fonte: SUSP.
Figura 60 Projeto de construção de prédio do
centro de Florianópolis, rua Conselheiro Mafra,
datado de 1935. Autor: Theodoro Bruggemann.
Foto da autora. Fonte: SUSP.
Dentro desta perspectiva, podemos reafirmar que a cidade forma rostos, ou talvez,
máscaras, como já foi dito. Para Jacques Lacan (1992) a máscara é o semblante, e este é
caracterizado como algo definido pelo outro, pelo olhar do outro. Somos definidos a partir de
um fora, a partir de uma imagem que geralmente nos é próxima. A imagem significante que,
de acordo com o autor seria de início local de toda alienação, pois seria um sujeito que não
sabe o que diz, seria formada por um outro, um outro responsável por sua subjetivação.
E isto é particularmente percebido nestas edificações criadas sem nenhum repertório
prévio, por um saber mais intuitivo, empírico, sendo talvez parte de um esforço de se integrar
ao universo urbano, uma tentativa de superar a condição marginal, humilde. Neste sentido,
Florianópolis assemelha-se à Feira de Santana, pela concomitância marginal de ambas. Nestas
máscaras de desenhos modernos podemos encontrar talvez um desejo de superação, de
ultrapassar a antiga condição de vila que durante os anos trinta e quarenta ainda prevalecia em
Florianópolis.
83
Entretanto, a máscara possui sombras, sombras que vemos nesses buracos de rostos;
ela pode ser entendida em grande medida como um artifício. O rosto de que falam Deleuze e
Guatarri, como sendo um produto de fora, do meio, possui um desvio, ele é um disfarce, onde
muitas vezes encontramos lapsos, deslizes no modo de se constituir.
Dentro desta perspectiva, para empreender uma análise destas imagens buscando
encontrar os desvios em seu modo de expressão, devemos olhar estas fachadas como imagens
anacrônicas, imagens que possibilitam o prevalecimento do tempo, o tempo como memória.
Levando-se em conta que é na repetição que se encontra a diferença que é a
particularidade da obra, aquilo que não é permutável e que define sua singularidade, pensar
essa tipologia de porta-e-janela, exige pensar a série, ou seja, a partir deste padrão encontrar
na imagem aquilo que é imutável, a diferença, a parte da arte que contradiz o tempo
cronológico, aquilo que sobrevive na obra e que se constitui como recalque, e que o olhar de
imediato não observa. Isso pressupõe que a imagem, sendo formada por estes retornos
compulsórios e intempestivos, possui muito mais memória do que história, que ela é
composta das diversas temporalidades heterogêneas que atravessam o seu próprio fazer.
Esse procedimento, que contraria toda uma tradição da história da arte que remonta a
Vasari no século dezesseis, tradição baseada na factualidade e na relação vida-obra para
pensar as imagens, possui um modelo de tempo que é da ordem do anacrônico, e que se
constrói a partir da montagem. A imagem, sendo sobrecarregada de memória, seria composta
a partir da montagem dessas reminiscências, sobreposição de lâminas dos diferentes passados
que a constituem.
É nesse sentido que Didi-Huberman (2006), historiador e teórico francês da arte
argumenta que a história tradicional, na medida em que apresenta-se como factual, contextual,
eucrônica, não consegue dar conta do objeto, reduzindo as imagens a simples documentos da
narrativa. A fatalidade dessa histórica eucrônica estaria em basear-se na concordância de
tempos e em não reconhecer que a imagem é sobrecarregada de memória, sendo construída a
partir de temporalidades distintas. Assim, em cada imagem operam diferentes diferenciais de
tempo, e podemos citar como simples exemplo os quadros de Rafael Sânzio, em que ele pinta
cenas de um passado bíblico, como o casamento da virgem, em meio a um cenário de
arquitetura renascentista, expressão clássica que surgia na época, nada mais do que uma
sobreposição de tempos.
84
A crítica que Didi-Huberman faz não é especificamente à história, mas sim em como a
história, enquanto um campo de conhecimento, trabalha o tempo, lida com a memória. O que
ele reivindica é nada mais do que um modelo de tempo que não se reduza à história como o
fazem tradicionalmente os historiadores, mas sim um modelo de tempo que leve em conta a
manipulação de diferentes pensamentos, conscientes ou não, engendrados na fatura da obra.
Assim, considerando a imagem como uma manipulação de tempos e pensando que é
analisando a série que encontramos a individualidade da obra, sua diferença, esta aparece
como condição compulsória do recalque, como o eterno retorno daquilo que foi reprimido e
que interrompe o curso cronológico da história. Falamos mais assim em uma história dos
sintomas (DIDI-HUBERMAN, 2006) e desta forma o esquecimento se torna condição
essencial para o aparecimento da potência da obra. Podemos então afirmar que a morte, como
sendo essa condição de esquecimento, aparece nas imagens como potência de criação, e que
toda obra estaria relacionada a uma perda, a perda necessária para o surgimento da sua
individualidade.
Considerando que “toda imagem é um retorno, mas ela não assinala o retorno do
idêntico” e que “aquilo que retorna na imagem é a possibilidade do passado” (ANTELO,
2004, p.09), olhando para essas casas podemos perceber que o passado aparece como parte
de sua configuração não visual, oscilando em uma relação de sua presença-ausência. Mas que
passado é este? Que sintoma é este que faz aparecer naquilo que é familiar uma sensação de
estranheza?
Trabalhando com a montagem - e sendo esta uma operação que articula o próximo ao
distante, o novo ao antigo -, e considerando a tradição dos gêneros artísticos das academias de
arte como algo que pode ser utilizado para pensar a problemática da imagem, podemos
analisar estas imagens como cenas ainda que estas não tenham existido oficialmente como
gêneros, estavam presentes como uma forma de narrativa -, como uma cenografia das coisas e
dos seres apresentados.
Entendendo o olhar como crença, diante dessas fachadas temos uma narrativa que nos
dá acesso ao invisível da imagem, à ilusão inventada pelo olhar. A imagem fala em termos do
visível-invisível, do que está presente e ausente, não sendo o olho que olha, mas nada menos
do que o olhar. A imagem, neste sentido, seria um exercício do olhar, que demanda uma
atitude de crença, uma atitude de enxergar não o visual, mas sim aquilo que se torna visível,
levando-nos a crer que não somos nós que olhamos, mas sim a imagem que nos olha.
85
Retorno e corte alimentam, portanto, uma certa indecibilidade ou
indiferença, uma impossibilidade de discernimento entre julgamento
verdadeiro e falso, que potencializa, entretanto, o artifício da falsidade como
a única via possível de acesso à estrutura ficcional da verdade (ANTELO,
2004, p.09)
Dentro desta perspectiva, considerando que a imagem é delírio, é ilusão, qual seria a
cena ou a paisagem que nos trazem essas imagens? O que constituiria a sombra dessas
máscaras, o lapso ou o deslize em seu modo de ser?
86
2.2 - O fundo que sempre retorna
Singelas casas de porta-e-janela e sobrados. Pinturas fendidas por rasgos, buracos que
diferem o interior do exterior, o dentro do fora, o continente e o conteúdo. Qual o interior e
qual o exterior?
As fendas, as aberturas aparecem aí como um limite, limiar que separa o olho do olhar,
o visual do visível. As portas possuem um duplo caráter, um de obstáculo e outro de abertura.
Muro – anteparo, e labirinto – entrada de um templo ou lugar temível, “um lugar aberto diante
de nós, mas para nos manter à distancia e nos desorientar ainda mais” (DIDI-HUBERMAN,
1998, p.232).
A porta foi extensamente tematizada pela religião, por narrativas míticas e contos
arcaicos, possuindo esse duplo valor de um local a ser atravessado e a ser obstaculizado. Nas
passagens da Bíblia, a porta ou o portão aparece com elemento constante, como um símbolo
de passagem ao reino dos mortos, ao Inferno ou mundo do Paraíso
18
.
Figura 61- Triunfo, Pernambuco. Fonte: MARIANI,
Ana. Pinturas e Platibandas: fachadas populares do
Nordeste brasileiro. São Paulo: Mundo Cultural, 1987.
A porta como umbral, como um rito de passagem, como uma transição entre aquilo
que seremos e aquilo que deixamos de ser, entre o futuro e o passado, entre o alcance do
desejo e a abandono da melancolia.
O motivo da porta é encontrado também nos arcos dos triunfos, como no arco de
Constantino em Roma (312dc), construído para enaltecer o imperador, representando uma
passagem para a glória, o alcance da vitória. Freqüentemente as arquiteturas apresentam na
18
Respectivamente aparecem em Isaías (38,10); no evangelho de Mateus(16,18); no Gênesis(28,17) e
Apocalipse(4,1).
87
sua entrada um pórtico para identificar esse momento de passagem, de transição. Um projeto
de Michelangelo no século XVI, a Biblioteca Laurenziana em Florença, ou melhor, sua ante-
sala, chama a atenção para seu espaço exíguo, com suas escadas gigantescas, suas colunas
espremidas em nichos nas paredes, os vãos das janelas cegos, alguns extremamente altos e
desenhos de portas que não se abrem. Um espaço sombrio, janelas que remetem a túmulos
sem corpos, trazendo a imagem mesma da morte como algo inultrapassável, uma tensão entre
o corpo e a alma.
De acordo com Didi-Hubermann, a porta aberta demonstra a própria ambigüidade da
imagem na medida em que mostra a nossa impossibilidade de atingir aquilo que está distante,
ausente:
Olhar seria compreender que a imagem é estruturada como um diante-
dentro: inacessível e impondo sua distância(...). Isto quer dizer exatamente
e de uma maneira que não é apenas alegórica que a imagem é estruturada
como um limiar. Um quadro de porta aberta, por exemplo. Uma trama
singular de espaço aberto e fechado ao mesmo tempo. Uma brecha num
muro, ou uma rasgadura, mas trabalhada, construída, como se fosse preciso
um arquiteto ou um escultor para dar forma a nossas feridas mais íntimas.
Para dar, à cisão do que nos olha no que vemos, uma espécie de geometria
fundamental (1998, p.243).
A porta, essa fenda geométrica na imagem, atravessá-la-ia e delimitaria sua própria
morte, permitindo ver através de sua abertura mesma, ou seja, permitindo o retorno desse
fundo que sempre retorna, o retorno do reprimido.
Assim, podemos pensar que através dessas imagens, por trás dessas rachaduras, dentro
desses vazios de sombra que se fixam, é que se dá a cisão do que nos olha naquilo que vemos.
Não foi sem razão que Baudrillard (1997) cunhou as imagens de Anna Mariani de máscaras,
que oscilam na medida mesma entre aquilo que esconde e aquilo que revela.
Nas casas de Anna Mariani, por exemplo, não pessoas, somente os cheios e os
vazios, os murmúrios da pedra e o silêncio das sombras. É como se as pessoas acabassem da
passar por ali, e estivessem em algum lugar, atrás das máscaras.
O murmúrio das pedras e o silêncio das sombras. Enquadrando sua lente e buscando
captar a potência pictórica dessas fachadas, Anna Mariani utiliza a sombra como um elemento
de composição formal. As sombras aparecem neste caso como rasgos na pintura, fendas que a
atravessam e fazem querer ver seu fundo, o que está por trás da imagem.
88
Ao longo das décadas de 1910 e 1920, e próximo a de 30, momento em que no Brasil
as cidades se modernizavam, modificando seu aspecto visual por formas mais limpas, puras,
procurando eliminar qualquer rastro de passado que ainda existisse, as imagens de De Chirico
(figuras 62 e 63), pintor italiano, na contramão da racionalidade da máquina que parte da
vanguarda se vangloriava, invocavam, através de uma atmosfera misteriosa, uma nostalgia do
passado em imagens de cidades e arquiteturas que inquietavam. Imagens ambíguas na medida
em que trazem o desconhecido e ao mesmo tempo familiar. De Chirico se apropria de
imagens de elementos clássicos, como estátuas, bustos e dorsos de figuras conhecidas da
história da arte e os combina aleatoriamente muitas vezes com arquiteturas contemporâneas,
ou melhor, com a releitura clássica de arquiteturas contemporâneas, que estava em voga na
época, gerando imagens esvaziadas de sentido. A melancolia, percebida talvez pela perda de
traços não mais recuperáveis da história e da tradição, a consciência da perda de sentido do
mundo moderno são percebidas nestas combinações repetidas ao acaso, combinações de
elementos que muitas vezes beiram o pastiche, a cópia superficial. De Chirico, em certo
ponto, estaria ironicamente falando também da formação de rostos, do rosto como um padrão,
um clichê, tão percebido na moderna sociedade industrial.
Arquiteturas vazias, edifícios fantasmagóricos e praças desertas, a luz nestas imagens
adentra como um elemento inquietante, produzindo grandiosas sombras que invadem o
espaço vazio. As sombras em seus quadros, assim como nas imagens de Anna Mariani,
inquietam, abrindo a curiosidade para o que estaria ali, oculto, sugerindo, talvez, as sombras
do passado.
Figura 62- Giorgio de Chirico. Piazza d'Italia.
1916. Óleo sobre tela. 91 x 121 cm. Disponível
em
http://www.abcgallery.com/c/chirico/chirico10.ht
ml . Acesso em 17 abril 2008.
89
Figura 63- Giorgio de Chirico. Love song. Le
Chant D’Amour. 1914. Óleo sobre tela. 73 x
59,1 cm. Disponível em
http://www.abcgallery.com/c/chirico/chirico10.
html. Acesso em 17 abril 2008.
Todos estão e não estão ao mesmo tempo, num paradoxo onde o que é certo é o
silêncio. Uma poesia do silêncio, assim são as imagens de De Chirico, imagens que
surpreendem por sua inquietante presença e também pela ausência de relação entre o espaço e
o tempo.
As imagens de Anna Mariani de certa forma também suspendem o tempo, recusam
traduzir o tempo da narrativa e, assim, possibilitam a aparição da memória, a memória como
surgimento do inconsciente. As casas que ela fotografa (figura 64) e muitas outras
semelhantes que encontramos pelas cidades fizeram parte de uma época de mudanças no país
em que uma racionalidade administrativa trazia, até para as localidades mais distantes, novas
ordenações que modificavam, dentre outros, seu aspecto visual. Grandes edifícios, linhas
retas, cores sóbrias e austeras, afastamentos e recuos das edificações em relação a seus
vizinhos, dentre outros, traziam a imagem do futuro.
90
Figura 64- Conceição do Coité, Bahia. Fonte:
MARIANI, Anna. Pinturas e Platibandas:
fachadas populares do Nordeste brasileiro. São
Paulo: Mundo Cultural, 1987.
Essa inquietação deste fundo de sombra que sempre retorna, essa aparição da memória
que sugerimos encontrar nestes prédios art déco, muitos fotografados por esta artista, outros
localizados em Florianópolis, pode-se dizer que, em grande medida, são decorrentes da
sobrevivência de formas, formas encontradas no nosso barroco colonial (ver figuras 65 a
68). A imagem da fachada barroca geralmente era composta por um elemento muito peculiar
que são as janelas de esquadrias reticuladas, que muitas vezes dialogavam com o revestimento
azulejar, quando existente.
Figura 65- Edificação colonial do centro de
Florianópolis, rua Conselheiro Mafra, 2008.
Foto da autora.
Figura 66- Edificação colonial do centro de
Laguna, 2008. Foto Sandra Makowiecky.
91
Figura 67- Edificação colonial do centro de
Laguna, 2008. Foto Sandra Makowiecky.
Figura 68- Edificação colonial do centro de
Florianópolis, rua Conselheiro Mafra, 2007. Foto
da autora.
Este padrão muitas vezes sobrevive em prédios art déco construídos na década de
trinta, muitos repetindo o desenho das linhas das esquadrias, sejam estas formadas pelo
entrecruzamento de filetes de madeiras nos vidros, seja por tábuas de madeiras substituindo
estes nos locais mais humildes, como, por exemplo, nas imagens do sertão de Anna Mariani.
Sobrevivem, da mesma forma, uma mesma proporção de cheios e vazios, ou seja, um mesmo
padrão de dimensões das portas e janelas, assim como o elemento de enquadramento destas.
Também podem ser citados discretos frisos decorativos e cimalhas, estas últimas beirando os
telhados ou as platibandas (ver figuras 69 a 82).
92
Figura 69 –Rua Menino Deus, 2008. Foto da
autora.
Figura 70- Rua Conselheiro Mafra,
Florianópolis, 2006. Foto Márcia Regina
Figura 71 Projeto de reforma de edificação em
Florianópolis, rua Almirante Lamego, datado de
1935. Autor: Theodoro Bruggemann. Foto da
autora. Fonte: SUSP.
Figura 72 Projeto de reforma de
edificação em Florianópolis, rua Jerônimo
Coelho, datado de 1952. Autor: Theodoro
Bruggemann. Foto da autora. Fonte:
SUSP.
93
Figura 73- Rua Bento Gonçalves,
Florianópolis, 2008. Foto da autora.
Figura 74- Rua Conselheiro Mafra,
Florianópolis, 2008. Foto da autora.
Figura 75- Projeto de construção de
edificação em Florianópolis, Travessa
Urussanga, datado de 1951. Autor:
Moellmann & Bruggemann. Foto da
autora. Fonte: SUSP.
Figura 76 Imagem recente da
edificação, 2007. Foto da autora.
Figura 77- Projeto de construção de
edificação em Florianópolis, rua Victor
Meirelles, datado de 1948. Autor: João
José Mendonça. Foto da autora. Fonte:
SUSP.
Figura 78 Imagem atual da edificação,
cujo projeto foi em parte modificado,
2008. Foto da autora.
94
Figura 79 - Projeto de construção de
edificação em Florianópolis, rua Anita
Garibaldi, datado de 1936. Autor:
Estanislau Makowiecky. Foto da autora.
Fonte: SUSP.
Figura 80 Imagem recente da
edificação, 2007. Foto Márcia Regina.
Figura 81 - Projeto de construção de
edificação em Florianópolis, rua Felipe
Schmidt, datado de 1938. Autor: João José
Mendonça. Foto da autora. Fonte: SUSP.
Figura 82 Imagem recente da
edificação, 2007. Foto Márcia Regina.
95
Na modernidade do século vinte, apesar da introdução do concreto armado e de
novas soluções estilísticas nas fachadas, muitos construtores, especialmente aqueles já citados
cujo trabalho era caracterizado mais por um saber fazer empírico, desenhavam as fachadas de
novos prédios nesta mesma proporção, ou seja, utilizando as mesmas dimensões de abertura
das janelas e portas encontrados antes em casas de porta-e-janela ou sobrados coloniais.
As curvas suaves, encontradas nas janelas barrocas ou até nos frontões das igrejas
barrocas (ver figura 48) sobrevivem agora em alguns desenhos de platibandas e nos balcões
(ver figuras 73 e 78). Podemos dizer ainda que retornam as cores suaves e pastéis nas
fachadas, cores percebidas nos interiores rococó, que preconizavam um gosto intimista,
típicos de uma frivolidade de uma classe decadente. O art déco em grande medida também se
mostrava frívolo, tendo surgido em um momento entre-guerras, foi caracterizado como ligado
a uma época de “prazeres efêmeros” (SEGAWA, 2002, p.54). No caso das casas de moradia
no Brasil, essas cores, em contraposição àquelas sóbrias e austeras das edificações do governo
e em algumas das elites podem ser entendidas, em um momento de Estado Novo,
caracterizado por um governo de certa forma autoritário e centralizador, talvez como uma
descrença, como uma fuga às imposições e referências criadas por este.
Eliane Veiga (1993) afirma que no culo dezenove em Florianópolis muitas
edificações apresentavam-se com pintura colorida, sendo evitados os tons escuros ou o preto,
possivelmente por este último aludir à morte, ao luto. Provavelmente, muitas destas cores
apresentavam um tom claro, pastel, devido ao tipo de pigmentação das tintas da época, e
foram estes os tons mais freqüentemente usados nas edificações art déco na primeira
metade do século vinte, de acordo com afirmação de um profissional da prefeitura de
Florianópolis (HAGEMANN, 2008), o que ocasionou a indicação da utilização deste tipo de
pintura para o processo de preservação do centro da cidade na década de oitenta do século
vinte, como se percebe no Plano Diretor do Distrito Sede de Florianópolis, que em seu artigo
156, item 04, ao dispor sobre as áreas históricas, recomenda “usar as cores tradicionais das
edificações, dando preferência aos tons pastéis” (IPUF, 1998, p.46).
96
Trata-se, em grande medida, de uma semelhança extra-sensível, como afirmou Walter
Benjamim, cuja percepção dá-se somente num instante, de forma muito sutil. Na Doutrina
das Semelhanças (1994), Benjamin afirma que através da escrita manual podemos identificar
imagens que o inconsciente do autor ali insere, resultado de uma suposta faculdade mimética
própria ao ser humano. Assim também é possível identificar estas semelhanças nos desenhos
destas fachadas, correspondências sutis com outras imagens identificadas por conta de
determinadas circunstâncias que engendram sua fatura, pelo retorno de questões similares a
ambas, questões explicitadas aqui.
Neste sentido, podemos dizer que é a paisagem de um interior barroco que evocam
estas imagens, através da sobrevivência das formas, das cores, de sua condição modesta.
Podemos também entender que muitas vezes é a atitude de crença que retorna, o sentimento
de fé. É como se decorando suas fachadas, através de uma simplicidade criativa de formas e
cores, se estivesse ordenando o cosmos, fazendo o contato com o céu, com o sagrado.
É por esse aspecto que podemos entender a afirmação de Deleuze e Guatarri de que a
arte tem início com a casa, pois ambas se relacionam com esses dois elementos que seriam “a
Casa e o Universo, o Heimlich e o Umheimlich, o território e a desterritorialização” (1992,
p.240).
Essas casas, embora buscando alinhar-se com o que havia de mais moderno na época
através das imagens de suas fachadas, não rompem com o passado, permanecendo quase na
mesma situação das cidades coloniais. Pintando e decorando suas fachadas, mantendo seu
alinhamento na calçada, não possuíam recuos e afastamentos entre si, e muitas vezes
expressavam, através do seu colorido vibrante toda a alegria e crença das festas populares e
manifestações religiosas. Casas que insistem em ser o desenho das ruas, em enquadrar o céu,
em manter a nostalgia do passado em sua continuação singela.
A cidade barroca possuía suas edificações contíguas, uma ao lado da outra, uma se
desdobrando na outra, de forma quase desordenada, - podemos dizer que eram da ordem do
espaço liso (DELEUZE; GUATARI, 1997, v.5) conformavam quadros, pinturas que
desenhavam a moldura da rua e delimitavam o céu. Esse fechamento formava o espaço das
praças, dos espaços públicos e enquadrava, em meio ao quase tortuoso sentido das ruas, a
visão dos monumentos, a visão do sagrado. Os ornamentos evitavam a crueza e estreitamento
das paredes nuas, criando uma relação de figura-fundo, agradando ao olhar. De repente, era
olhar para o alto e, em algum ponto lá estava a torre da igreja, o divino guiando.
97
Apesar de seu contato com a modernidade, é o passado barroco que reaparece, a
cenografia de um cotidiano marcado pela e pela tradição. É como se as pessoas estivessem
dentro delas, rezando, costurando, ou construindo bandeirinhas para a festa de São João, e,
num instante, saíssem para encontrarem-se nas praças e igrejas, ou para montar os
preparativos para as celebrações religiosas.
Algumas fachadas pintadas com as cores das festas populares, cores do interior
caipira, cores de um universo ainda rural, cores coloniais. Resistência e nostalgia. Devoção
sincera, tentativa singela de estar mais perto do céu. Podemos pensar que essas imagens são
como retábulos que, fechados assemelham-se a pequenas arquiteturas cuidadosamente
construídas, e quando se abrem outro mundo apresentam, contam histórias, revelam o mundo
da crença e da fé.
Disfarçadas por um geométrico moderno, em consoante com a moderna arquitetura
pública que estava surgindo, revelam por detrás dessas máscaras o passado barroco
escondido, que persiste multiplicado pelas demais cidades do país. Em uma época de
modernização, de valorização da máquina e do progresso, o barroco retorna como elemento
de fé, transfigurado em fachadas geométricas modernas.
98
2.3 - A geometria sensível
Esta gramática geométrica possibilitou um diálogo entre a arte e a arquitetura,
reforçando esta ligação com a tradição, e expresso, por exemplo, nos quadros de Alfredo
Volpi (figuras 83 e 84), que pintava, durante as décadas de 1940 e 1950, elementos referentes
àquilo que via nas casas sua cidade natal e nas de Moji das Cruzes, durante viagens que para
fazia. De uma fase inicial mais realista, pintava as casas e lugares destas localidades,
passando mais tarde para a abstração a partir de elementos retirados desta realidade. Das
fachadas e das bandeirinhas das festas populares soube aproveitar seu aspecto geométrico,
realizando composições abstratas com ritmos aéreos e cores vibrantes, cores de um interior
caipira, cores também encontradas nas pinturas de casas art déco.
Figura 83 Alfredo Volpi. Casario de Moji das
Cruzes. Têmpera sobre tela. 46 x 60,5 cm.
Década de 50. Fonte: MUSEU DE ARTE
MODERNA DE SP.Volpi: 90 anos. São Paulo:
Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1986.
99
Figura 84 – Alfredo Volpi. Composição
com círculo e faixas. mpera sobre tela.
101 x 72 cm. cada de 60. Fonte:
MUSEU DE ARTE MODERNA DE
SP.Volpi: 90 anos. São Paulo: Museu de
Arte Moderna de São Paulo, 1986.
De acordo com Tadeu Chiarelli (2002), Volpi, assim como Tarsila do Amaral, foram
dois artistas que, na primeira metade do século vinte souberam bem resolver os impasses do
modernismo brasileiro em adentrar na arte erudita, engajada com os pressupostos europeus, e
ao mesmo tempo manter na sua produção ligações com a realidade local. Tarsila o fez através
do uso de molduras em seus quadros da fase “pau-brasil”, contrariando as teses modernistas
de libertação do envoltório do quadro, e através do caráter ornamental de suas obras expresso
pelo bem-acabado da composição, como por exemplo, na utilização de pinceladas muito bem
feitas, isso tudo concordando com elementos de composição cubista (figura 85). Nesse
sentido, “Tarsila do Amaral resgatava para a arte moderna que tentava instaurar no país um
substrato popular, preexistente no imaginário da sociedade e também no circuito artístico
brasileiro” (CHIARELLI, 2002, p.23).
100
Figura 85- Tarsila do Amaral. Estrada de Ferro
Central do Brasil,1924. Óleo s/ tela, 142,0 x 127
cm. Disponível em <
http://www.tarsiladoamaral.com.br>. Acesso em
17 abril 2008.
Volpi no seu caso, ao unir a erudição da arte européia a elementos percebidos e
transfigurados da realidade local, primava por um bem-acabado da composição, produzia uma
pintura com aspecto artesanal, percebido, de acordo com Chiarelli (2002), sobretudo na
utilização de moldes para a realização de seus quadros, aspecto que provavelmente herdou de
seu trabalho de artesão e de decorador de fachadas anteriormente.
Volpi repetia os padrões que ele olhava nas fachadas das casas, ele olhava para a
realidade, para estes elementos que percebia e criava uma nova visão desta realidade, mas
sem estar exatamente falando dela.
Dentro desta perspectiva, procurando não levantar a questão da busca por uma
identidade nacional, conscientemente forjada por nossas vanguardas artísticas e pelas elites
nacionais, percebe-se que, para além disto, persiste no Brasil, sob vários aspectos, essa nossa
ligação com a tradição, o gosto pelo vernáculo, daquilo que é nosso.
Em meio a tudo isto, verifica-se uma tendência por formas geométricas abstratas para
ilustrar muitas fachadas em locais distintos do país, assim como as fachadas do art co de
muitas cidades brasileiras, aquelas fotografadas por Anna Mariani. Uma tendência construtiva
também encontrada nos trabalhos de Tarsila do Amaral ainda que timidamente e de
Alfredo Volpi, assim como em parte das produções plásticas entre as décadas de vinte e trinta
e em grande parte daquelas das décadas de cinqüenta e sessenta.
101
Entretanto, como muito do nosso modernismo possui esse aspecto de apropriação e
adaptação, nosso geométrico difere daquele vindo da Europa. Podemos falar talvez de uma
“geometria sensível”
19
, não rigorosa, em oposição ao geometrismo programado, rigoroso,
calculado, do construtivismo das vanguardas européias. Nossos elementos em grande parte
são construídos mais em um diálogo com a realidade do que contra ela. Em Tarsila do
Amaral, por exemplo, a geometria aparece conjugada a todo um colorido das fachadas do
interior e a uma temática popular em alguns dos seus quadros.
Frederico Morais (MORAIS IN PONTUAL, 1978) afirma que importamos, em
diferentes épocas, teorias de arte construtiva, em muitos casos tendo assimilado-as antes
mesmo do restante da Europa, defendendo assim, a existência comum no Brasil e na América
Latina, de uma vontade construtiva, o que, de acordo com ele, talvez explicaria a ampla
aceitação das idéias de Le Corbusier em sua primeira vinda ao Brasil em 1929, por exemplo, e
das teorias construtivas de Joaquin Torres-Garcia.
Não no Brasil, mas também na América Latina de forma geral, muitos artistas, em
determinado período de suas produções, optaram pelo abandono da utilização de formas
associadas à realidade exterior, primando pelas formas puras da geometria.
A obra de Joaquin Torres-Garcia, artista uruguaio, tem como marca também esta
construção geométrica que define seus antecedentes no neoplasticismo de Mondrian. Assim
como este, os quadros de Torres-Garcia (figura 86) são formados por linhas horizontais e
verticais que constroem formas geométricas, retângulos e quadrados. As linhas em Mondrian,
grossas e bem definidas, aparecem em Torres-Garcia como que um rasgo na tela, ora
engrossando de um lado, ora afinando de outro, denunciam a pincelada, afirmando a
participação da mão, do sensível na fatura da obra. Em Mondrian a participação da mão do
artista é praticamente anulada, tanto no desenho das linhas grossas e bem definidas, que
rigidamente subdividem os planos, como na pintura destes mesmos planos, onde não
indícios das marcas das pinceladas. Ele busca o equilíbrio total, tanto de cores, através da
quantidade que usa de cada cor primária, quanto das linhas que se cruzam rigidamente em
formato ortogonal. Em Torres-Garcia, ao contrário, o equilíbrio não é previsto, a cor
ultrapassa a linha ou não preenche totalmente a forma gerada por esta, o que provoca certo
grau de dinamismo à imagem.
19
Esse termo foi cunhado a partir da exposição Arte Agora III /América Latina: Geometria Sensível, realizada de
junho a julho de 1978, no MAM- RJ, que foi a terceira de uma série de mostras cujo objetivo acabou sendo o de
manifestar um aspecto saliente da arte da América Latina, que seria sua vocação construtiva, o que resultou na
organização de um livro que acompanhou a mostra: América Latina, geometria sensível,coordenado por Roberto
Pontual.
102
Nestes planos gerados pelas linhas da estrutura de Torres-Garcia, ele coloca figuras
que funcionam como símbolos, muitos retirados da tradição dos povos pré-colombianos,
assim como símbolos contemporâneos, como, por exemplo, o relógio e o trem, formados pela
justaposição de formas geométricas. É através da montagem e composição destes símbolos na
estrutura gerada pelas linhas que podemos compreender o sentido da obra, uma vez que o
barco não é o barco literal, mas é entendido em sua proximidade ao coração, que também não
é o coração simplesmente. Torres-Garcia recusa a figuração, mas também não opta pela
abstração máxima, aquela do construtivismo europeu, cria uma linguagem própria, particular,
inovadora para a época, mas em sensível ligação com a realidade exterior.
Figura 86- Joaquin Torres-Garcia. Pintura
(1937). Óleo s/ tela; 106 x 85 cm. Fonte:
MUSEU NACIONAL DE BELLAS
ARTES.Torres Garcia. Buenos Aires: Museu
Nacional de Bellas Artes, 1974.
103
Assim como Torres-Garcia, o artista colombiano Omar Rayo em suas obras faz alusão
à arte dos povos pré-colombianos. Uma parte da produção de Rayo é formada por pinturas de
formas geométricas, faixas, que se dobram e redobram, muitas vezes sendo ali reconhecíveis
imagens da tradição como os labirintos geométricos, intitulados com nomes indígenas, uma
raiz pré-colombiana assumida por ele (PONTUAL, 1978). Somado a isso, suas pinturas
muitas vezes jogam com o olhar, que as percorre em movimento e tem a ilusão de
profundidade, contrariando todo o rigor e estaticidade do geometrismo erudito europeu
(figuras 87 e 88).
Figura 87- Omar Rayo. Tilodiran (1971).
Acrílico s/ tela; 101,8 x 101,3 cm.
Disponível em
http://www.macvirtual.usp.br. Acesso em
17 abril 2008.
Figura 88- Omar Rayo. Fresh Fog
(1966). Óleo s/ tela; 101.6 x 101.6 cm.
Disponível em
http://www.rogallery.com/rayoomar/rayo
hm.htm. Acesso em 17 abr. 2008.
Na Argentina, parte da obra de Manuel Espinosa também é constituída por formas
geométricas (figura 89). Ele repete serialmente a figura do quadrado ou do círculo, muitas
vezes superpostos ou deslocados uns aos outros que, apesar da disposição e repetição
rigorosa, são pintados com jogos de luz e sombra, numa transparência que parece fazer os
elementos flutuarem.
104
Figura 89- Manuel Espinosa. Na nuai dheact
(1969). Óleo s/ tela; 100cm x 100cm. Disponível
em
http://www.fundacionkonex.com.ar/coleccion/col
eccion_01.asp. Acesso em 29maio 2008
Também na escultura pode-se citar outro artista colombiano, Edgar Negret, que é tido
como um dos pioneiros da arte moderna neste país (TRABA, 2000). As esculturas de Negret
produzidas a partir da década de cinquenta são trabalhadas com metais rigorosamente
pintados, sendo compostas por formas geométricas, muitas vezes articuladas por parafusos
reforçadamente sobressalentes. Entretanto, somadas à designação que lhe é dada – Navegante,
Templo, Máscara, entre outros suas formas instigam a imaginação que procura ali relações
com a realidade, tendo sido caracterizadas por Marta Traba (2000) como uma configuração
animista, possibilitando livre curso da fantasia (figura 90).
Figura 90- Edgar Negret. Da série Navegantes
(1967). Alumínio pintado; 32” x 45”.Disponível
em http://www.velsani.com. Acesso em 17 abr.
2008.
105
Como explicar esta recorrência da geometria na produção latino-americana de uma
forma geral?
No começo do século vinte, o filósofo Wilheim Worringer em sua tese “Abstração e
Empatia” afirmava que a história da arte deveria ser abordada a partir da intenção do sujeito, a
partir de uma vontade de fazer, em contraposição a um poder fazer. Sendo assim, a abstração
seria resultado de uma forte inquietação interior do homem, de uma angústia perante o mundo
ou referente a algum momento de crise e de mudança, desviando-o de qualquer ligação com o
real. Desta forma, a arte abstrata teria o caráter transcendental, de ultrapassar a mera realidade
(VALLIER,1980). Ao longo da história da cultura podemos perceber esse aspecto, por
exemplo, durante a revolução do neolítico, e durante o próprio surgimento da arte abstrata, um
momento de profundas mudanças na sociedade, com o advento da máquina, das novas
tecnologias e, principalmente, com a situação de proximidade à guerra.
O construtivismo russo, tendo adquirido identificação com os pressupostos da
revolução russa, trazia essa idéia de construir uma nova realidade, a qual seria atingida
principalmente através do retorno da arte a suas bases primeiras, como a cor, a linha, o ponto
e as formas puras geométricas. O momento de surgimento dessa tendência na arte foi
concomitante a uma situação particular de fortes transformações na sociedade russa, que vivia
então uma mudança de regime político.
É sintomático que as primeiras manifestações em direção à abstração tenham surgido
nos países da América Latina a partir da segunda década do século vinte, momento em que
vivenciavam um período de amplas transformações, como a modernização das cidades e da
economia, a instauração de uma racionalidade administrativa com a consolidação do regime
republicano moderno e a procura por uma identidade nacional, sonhos de uma burguesia em
ascensão, assimilado pelas vanguardas artísticas.
Construir uma nova sociedade através de uma geometria feita com esmero, rigor,
porém, não rigorosa, fria. Um geométrico mais orgânico, encontrado nas pinceladas soltas de
Volpi, ou que viesse talvez para ordenar nossa cultura de “tradição emocionalista barroca”
(MORAIS IN PONTUAL, p.18). Talvez por isso tenha se adaptado tão bem à produção
plástica da América Latina e talvez por isso dialogue com essas pequenas casas de porta-e-
janela dos centros e subúrbios de nossas cidades e do interior do país, casas onde reverbera
esta vontade construtiva “emocionalista”, através de um desejo de renovar, transformar a
situação vivenciada, uma situação muitas vezes marginal, negando o passado, um passado
que, apesar disto, retornava como recalque e potência de criação ainda que em bases
populares.
106
Capítulo 03. Por uma lógica da salvação
O patrimônio é um recurso para o tempo de crise
François Hartog, Tempo e patrimônio
Na Antiguidade, a imago picturas correspondia à máscara mortuária colocada nos
umbrais das residências romanas, usada para ressaltar a dignidade e valorizar o culto cívico,
sendo resultado de uma transmissão genealógica. Para Plínio, o Velho, esta dignidade seria
aquilo que corresponderia à verdadeira noção de imagem ou de arte. Assim, a imago picturas,
antes da noção humanista e antropológica que o Renascimento posteriormente lhe outorgou,
pertencia a uma ordem jurídica e genealógica, que indicava o seu pertencimento à gens
romana (DIDI-HUBERMANN, 2006).
Em grande medida, a imago urbis, como atualmente é percebida pela historiografia da
arquitetura e pelos órgãos responsáveis pela preservação das formas arquitetônicas na cidade,
é também norteada por essa mesma lógica, a da “civilidade e da herança ilustre”.
Recentemente, alguns prédios de linguagem art déco no país estão entrando no rol das
edificações que merecem ser preservadas pelas instituições responsáveis, prédios públicos,
como os dos grupos dos Correios e Telégrafos, arranha-céus (figura 91), antigos hotéis, dentre
outras tipologias.
Assim como a imago, a máscara mortuária romana, que pretendia mostrar a todos a
dignidade e origem daquele indivíduo, esses grandes edifícios estão a fazer parte da lista das
edificações que merecem especial atenção. Em Florianópolis, da mesma forma, o Instituto de
Planejamento Urbano (IPUF) está iniciando análises do acervo de arquitetura moderna na
cidade para avaliar aqueles exemplares que mereçam ser preservados (IPUF, 2007).
107
Figura 91 – Antigo prédio Banco de São Paulo, 1938.
Disponível em <http://www.piratininga.org>. Acesso em
07 nov.2007.
Os critérios de preservação das formas arquitetônicas inserem-se na lógica da
importância de uma memória extraordinária de seus habitantes, daqueles bustos que
dignificaram a história da cidade e deixaram para a posteridade a lembrança de seus feitos.
E como ficaria a lembrança dos rostos anônimos, que ajudaram a construir a cidade e a
edificar seu aspecto de modernidade e progresso? Aqueles rostos remediados, com freqüência
mal lidos pelas instituições de preservação, rostos de uma classe média urbana, cuja máscara
possui esse caráter brido, muitas vezes reformado ao longo das épocas? Não existe imago
daquelas casinhas urbanas, responsáveis, na maior parte das vezes, por uma memória difícil
de desembrulhar, uma memória talvez até perdida?
O fato é que as questões de preservação em grande parte das vezes são conflito, jogos
de interesses e desejos diversos. Justamente por isto, não se pretende aqui trazer propostas ou
soluções para estas questões que no mais das vezes são impasses, cabe sim realizar um breve
levantamento de alguns pontos importantes em torno da questão da preservação, tendo como
referência a situação do art déco em Florianópolis. Para isto, acredita-se que seja necessário
analisar parâmetros importantes em torno dos quais se desenvolvem as ações de preservação
de uma forma geral e como eles se apresentam nas situações aqui em Florianópolis,
parâmetros que girariam em torno da questão da memória histórica e da estética urbana.
108
3.1 – Uma memória perdida?
Em Florianópolis, como foi dito, temos um conjunto significativo, não de grandes
edificações, mas sim de pequenas construções (figura 92), muitas de porta-e-janela, outras
antigos sobrados, distribuídos principalmente ao longo das ruas da centralidade principal da
cidade, como Conselheiro Mafra, Fernando Machado, General Bittencourt, Hercílio Luz,
Felipe Schmidt, Tenente Silveira, dentre outras, muitas elaboradas por construtores anônimos,
assim como estas edificações que eles ajudaram a construir. Uma parte destas encontra-se
preservada ao longo principalmente das ruas Conselheiro Mafra e Felipe Schmidt, outra
grande parte, não preservada, apresenta-se pelas outras ruas, muitas modificadas, outras
difíceis de reconhecer, provavelmente por ser parte de uma estética ainda pouco pesquisada,
apesar de ter sido quase contemporânea ao movimento moderno na arquitetura nas primeiras
décadas do século vinte.
Figura 92 – Edificação à rua Major Augusto
Farias, Florianópolis, 2008. Foto da autora.
109
Foi em grande medida durante a época de manifestação do art déco no Brasil, em um
período de mudanças principalmente na estrutura administrativa do país, que se inicia a
preocupação com a preservação dos monumentos. A primeira metade do século vinte nos
países ocidentais de uma forma geral foi marcada por uma ambivalência entre a criação do
“novo”, característica da modernidade do século vinte, e a preservação, em meio a este
processo de modificação, daquilo que restava de nosso passado, de nossa história. No Brasil,
este processo se expressava dentro do contexto de renovação do Estado associado à busca por
uma identidade própria, como demonstrado no primeiro capítulo. E foi durante esta época que
se elaborou o primeiro documento internacional relativo à preservação dos monumentos
históricos, a Carta de Atenas de 1933. Foi também neste período, mais especificamente em
1937, que é criado no Brasil, por um grupo de intelectuais modernistas, o Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN.
De acordo com Françoise Choay (2001), a preocupação com a preservação das obras
do passado teria se iniciado nos países da Europa durante a Renascença, mais especificamente
no período do Quattrocento na Itália, quando a Antigüidade assume importância como fonte
de pesquisa histórica e quando a obra de arte passa gradualmente ao status de atividade
autônoma, desvinculada de uma destinação religiosa como era anteriormente. Para esta
autora, em grande medida, o que teria acontecido, após muitas viagens dos artistas e teóricos a
Roma para estudar a Antigüidade, seria uma “tomada de consciência” (2001, p.52) do valor
histórico e artístico dos monumentos daquela civilização que teria dado origem à Itália do
Quattrocento. Todavia, esta consciência não implicou imediatamente na preservação. Ainda
Choay (2001) afirma que o conceito de monumento histórico e os instrumentos de
preservação do mesmo que conduzirão às ações preservacionistas são elaborados somente
durante período da Revolução Francesa em meio à situação de destruição e vandalismo que
ocorreu, lançando as bases para a consagração do termo monumento histórico e das ações
relativas ao mesmo, consagração que se dará a partir do século seguinte em parte dos países
ocidentais da Europa.
Na modernidade do século vinte percebe-se que a questão da preservação em grande
medida adquire mais força em contraposição à destruição causada pelo desejo de renovação,
com a vontade de modernização técnica gerada pela era da máquina, situação comum a todos
os países que passaram por processos de modernização. Nestas condições, o “novo” e o antigo
em contraposição, passam a ser, paradoxalmente e cada vez mais, duas faces complementares.
Esta condição seria de certo modo percebida por Alois Riegl, teórico da arte que viveu
entre a segunda metade do século dezenove e o alvorecer do vinte, e que teria, ao final de sua
110
vida, se envolvido nas questões de preservação de monumentos na cidade de Viena
20
. Riegl,
em sua obra “Le culte moderne des monuments: son essence et sa gênese” (1984) traz alguns
conceitos que parecem bastante contemporâneos e ainda pertinentes naquilo que se dirige à
preservação de monumentos. Para ele, seria o “valor de antigüidade” de um monumento
aquilo que acionaria na sensibilidade do espectador a sensação do decorrido do tempo, do vir-
a-ser e da morte, do ciclo fatal da vida, uma impressão que se dirigiria a todas as pessoas,
assim como os valores sentimentais da religião:
Le monument n’est plus que le substrat sensible nécessaire pour produire sur
le spectateur cette impression diffuse, suscitée chez l’homme moderne par la
représentation du cycle nécessaire du devenir et de la mort, de l’emergence
du singulier hors du general, et de son progressif et inéluctable retour au
general. Cette impression n’implique nullement une approche scientifique, et
ne semble pas tributaire d’une culture historique; elle met seulement em jeu
la sensibilité et l’affectivité, et ne prétend pas s’adresser exclusivement aux
persones cultivées que concerne seules, nécessairement, la conservation
historique des monuments, mais aussi aux masses, à tous les individus, sans
distinction de niveau culturel (RIEGL, 1984, p.46).
E esta sensibilidade seria particularmente oposta, mas complementar, ao “valor de
novidade”, da sensação do novo, próprio à época em que Riegl vivia, e que, em grande
medida, estende-se à modernidade do século vinte de uma forma geral e relaciona-se
especialmente com as idéias do movimento moderno, onde a necessidade de preservação dos
monumentos aparece juntamente com a destruição e construção do “novo”. Esta situação é
notada no Brasil, por exemplo, na década de trinta, quando o SPHAN era criado na mesma
época em que a capital federal construía o prédio que iria servir de modelo paradigmático para
a “nova” e moderna arquitetura, o prédio do MES, tendo sido saudado como emblema dos
tempos modernos, conforme citado anteriormente.
Esta necessidade de preservar o passado assumiu um ritmo maior no Brasil após a
segunda metade do século vinte, em meio à aceleração do processo de crescimento das
cidades. Foi em meio a uma consciência de um mundo que se transforma que o homem se viu
nesta situação de necessitar guardar tudo.
Salvar as coisas da finitude do mundo, da inexorável passagem do tempo, de uma
sensação de perda iminente, da sensação da morte, algo que, para as atuais sociedades
ocidentais, parece difícil de suportar. O medo ou o evitamento da perda, do esquecimento, da
20
Em 1902, Alois Riegl é nomeado presidente da Comissão de Monumentos Históricos da cidade de Viena e
incumbido de elaborar uma nova legislação acerca da conservação dos monumentos.
111
morte de uma forma geral, faz com que necessitemos de lugares para guardar, registrar a
lembrança daquilo do qual não queremos nos desligar. Comumente se localiza este longo
processo de criação de locais de registro, ou seja, de memórias artificiais, no surgimento da
escrita (CHOAY, 2001). A partir da utilização da escrita como um registro conferimos a outro
a tarefa de lembrar, situação de rememoração artificial que se contrapõe à memória oral,
passada de geração a geração, reavivada e atualizada por aqueles que vivenciavam os fatos,
como acontecia nas sociedades antigas.
É com base nesta memória reavivada e atualizada que se construíam monumentos,
elementos distintos ao monumento histórico, noção que prevalece atualmente. De acordo com
Francoise Choay, o monumento nas suas origens seria “tudo o que for edificado por uma
comunidade de indivíduos para rememorar ou fazer que outras gerações de pessoas
rememorem acontecimentos, sacrifícios, ritos ou crenças” (2001, p.18), ou seja, a lógica do
monumento atuava essencialmente sobre a memória, sua destinação original era a
rememoração, como uma forma de evocação do passado, conectando o ser com suas origens,
uma dimensão ontológica, e muitas vezes sagrada. o monumento histórico está ligado ao
surgimento da História enquanto um saber, ele apresenta um testemunho de um passado
selecionado, cujos fatos e referências acreditam-se serem importantes na definição daquilo
que determinados grupos foram ou daquilo que gostariam de ser, sendo assim designado a
posteriori de sua construção. Riegl (1984) descreve este tipo de monumento como
monumentos não intencionais, ou seja, aqueles que, em sua origem, não possuíam a intenção
de rememoração, de fazer lembrar.
Desta forma, o monumento histórico teria surgido então como uma ação da História
sobre a memória. A história, assim que se fez disciplina disposta a sistematizar o
conhecimento, dispôs-se a ordenar o tempo, fez Clio, a musa da história para os gregos,
apoderar-se de Mnemosine, aquela que traria as lembranças deixadas pelo tempo, esposa de
Zeus e mãe de Clio.
A partir de então, a História, julgando tomar a memória para si, em uma operação de
seleção, apodera-se daquilo que crê satisfatório para representação de determinados grupos da
sociedade a que pertence e rechaça outros, vive um jogo de lembranças e esquecimentos
voluntários, selecionados. E Clio sempre levou consigo o estilete da inscrição, que deixa as
marcas, e a trombeta da fama, que legaria os feitos dos gregos para a posteridade.
112
A historiografia da arte e a da arquitetura em grande medida ainda operam nesta
lógica, a da seleção, a de julgar válido geralmente aquilo que teve manifesto e ideário
definidos, aquilo que foi parte da produção das elites intelectuais de determinado país ou
região ou aquilo que foi selecionado por grupos específicos da sociedade. Constroem o
passado a partir de uma memória selecionada e cronologicamente definida.
Essa é também a questão mais presente na lógica da preservação, do patrimônio
cultural, encontrada nos órgãos responsáveis por salvaguardar este patrimônio e também nos
museus, que cada vez mais se multiplicam em mero e em temáticas. Preservam-se prédios,
praças, conjuntos urbanos, arquivos, obras de arte, manifestações folclóricas, documentos
políticos, entre outros, numa tentativa de salvar a nós mesmos do futuro, quem sabe sombrio,
que ainda está por vir.
Quando a cidade se sentiu ameaçada pela mudança, quando andar pelas ruas
passou a implicar um estranhamento, face o redesenho do tecido urbano,
quando não se reconheciam mais os lugares, face as demolições e ao
surgimento do novo, quando um habitante da urbs foi capaz de sentir-se
estrangeiro em sua cidade, este foi o momento da História ir no encalço da
Memória (PESAVENTO, 2002, p.30).
Desta forma, preservamos o passado com os olhos no presente e com o medo do
futuro. Assim sendo, a história inventa um passado para a cidade, assegurando ao mesmo
tempo seu futuro.
Em Florianópolis, as primeiras ações de preservação tiveram início no ano de 1938,
com o tombamento a nível federal, pelo recém criado SPHAN, atual Instituto do Patrimônio
Artístico Nacional (IPHAN), das quatro fortalezas do século XVIII (figura 93), sendo parte de
uma ação mais ampla do governo federal que abrangeu vinte fortalezas brasileiras. De acordo
com Betina Adams (2002), esta preservação visava valorizar momentos importantes de defesa
e expansão do território nacional, somados à valorização estética da nossa arquitetura
colonial, sendo baseada na preservação de grandes edificações que estivessem relacionadas a
fatos históricos notáveis.
113
Figura 93 Fortaleza de Ratones, Florianópolis,
2006. Foto Sandra Makowiecky.
Posteriormente, em 1950, teria sido a vez da casa natal do pintor Victor Meirelles
(figura 94), um sobrado colonial situado a rua Victor Meirelles, abrigando um museu com o
mesmo nome, também preservado a nível federal, uma vez que ainda não havia nenhuma
instância de proteção municipal na cidade. Para esta mesma autora (2002), a preservação da
casa teria sido motivada essencialmente por ter sido ali o local onde nasceu e viveu o ilustre
artista plástico, grande representante das bellas-artes catarinense, fato que teria evitado a
provável destruição do prédio pelo alargamento da rua com as obras de modernização da
cidade nos anos que se seguiram.
Figura 94 Casa natal de Victor Meirelles, rua
Victor Meirelles, Florianópolis, 2008. Foto da
autora.
A legislação que amparou estes tombamentos estaria baseada no Decreto Lei de
30.01.1937, ainda hoje em vigor no país e que dispõe sobre a proteção do patrimônio
nacional. Em seu artigo primeiro, considera que
114
Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens
móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse
público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil,
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou
artístico (BRASIL, 1937).
Ou seja, nesta época, a casa do pintor Victor Meirelles e as fortalezas da ilha de Santa
Catarina foram selecionados como elementos importantes referentes ao passado do país,
julgados por determinados grupos da sociedade que teriam voz no momento.
Posteriormente, na década de setenta em Florianópolis, a lei municipal 1202/74,
derivada da lei nacional, viria transpor estes interesses ao nível da cidade, assegurando a
proteção de seu patrimônio, dispondo em seu artigo primeiro que
Constituem patrimônio histórico e artístico do município de Florianópolis os
bens móveis e imóveis existentes em seu território, cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos históricos notáveis, quer
por seu valor cultural a qualquer título (FLORIANÓPOLIS, 1974).
Desta lógica de proteger o monumento histórico, seriam principalmente os valores
históricos e artísticos aqueles que determinavam a necessidade de preservação, sendo
considerados ainda hoje. Riegl (1984) ainda considerava que o valor artístico seria inerente ao
valor histórico, uma vez que os monumentos artísticos seriam monumentos históricos na
medida em que seriam testemunhos do próprio desenvolvimento da história da arte. Assim
também o historiador Giulio Carlo Argan preconiza que devemos conservar aquilo que possui
valor, ou seja, valor estético e histórico, pois, para este historiador, ambos andam juntos, uma
vez que “o valor histórico de um monumento consiste no fato de que existe e se vê, ou seja, se
dá como forma sujeita a avaliação estética” (ARGAN, 2005, p.227).
O fato é que estes primeiros tombamentos em Florianópolis, as fortalezas e a casa
natal de Victor Meirelles, ainda se pautavam na lógica do primeiro documento internacional
de preservação, a Carta de Atenas, de 1933, que lançava olhos primeiramente sobre os
edifícios isolados, de interesse “histórico ou artístico”, monumentos associados
primeiramente a um interesse da nação, daquilo que representasse os valores que o Estado
julgasse pertinente (CARTA DE ATENAS, 1933).
Ainda Adams (2001) afirma que nesta
época a motivação da preservação destes monumentos era associada a uma valorização dos
bens, não sendo ainda decorrente da situação extrema de perda ou de mudanças ameaçadoras
na estrutura da cidade.
115
Posteriormente, em 1964, a Carta de Veneza, outro importante documento
internacional de preservação, viria ampliar a noção de o quê preservar, estendendo os
objetivos da preservação, que antes ficavam restritos aos edifícios históricos isolados, grandes
obras de arquitetura, para os conjuntos urbanos históricos também, assim como para obras
“menores”, como se percebe em seu artigo 1º:
A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica
isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma
civilização particular, de uma evolução significativa ou de um
acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações, mas também
às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação
cultural (CARTA DE VENEZA, 1964)
Ela também viria associar o monumento histórico a um interesse não mais somente
das nações, mas da humanidade de uma forma geral:
Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais de
cada povo perduram no presente como o testemunho vivo de suas tradições
seculares. A humanidade, cada vez mais consciente da unidade dos valores
humanos, as considera um patrimônio comum e, perante as gerações futuras,
se reconhece solidariamente responsável por preservá-las, impondo a si
mesma o dever de transmiti-las na plenitude de sua autenticidade (CARTA
DE VENEZA, 1964).
Estas considerações provavelmente seriam o que norteariam a transferência do Serviço
do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do município de Florianópolis (SEPHAN), criado
em 1974 e inicialmente ligado à Secretaria de Educação, para o Instituto de Planejamento
Urbano de Florianópolis (IPUF). Também inserido nesta lógica estaria o tombamento de
dez conjuntos urbanos da centralidade principal da cidade em 1986, primeira ação de tal
magnitude realizada pelo SEPHAN de Florianópolis
21
.
O Decreto Municipal 270, de 30 de dezembro de 1986, tombou estes conjuntos de
edificações na área central de Florianópolis por evidenciarem a evolução urbana da cidade.
Deste decreto, foi preservado um número aproximado de quatrocentas edificações em áreas
separadas no tecido da cidade que tiveram sua justificativa principalmente pela importância
de seu “valor histórico e artístico” (FLORIANÓPOLIS, 1987), procurando salvar as mesmas
em um contexto onde as cidades apresentavam-se “muito fragmentadas, muito penetradas
21
Para visualização das áreas abrangidas pelo tombamento, vide mapa no Anexo.
116
pelas transformações trazidas por décadas de super-exploração do solo urbano, pela busca
incessante dos signos do progresso”
22
(IPUF, 1990). Parece que nesta época, a valoração dos
bens pautou-se naquela sensibilidade do decorrido do tempo, da sensação de perda,
especialmente em meio a um contexto de maiores transformações na cidade de Florianópolis,
situação que podemos associar à sensibilidade presente no “valor de antiguidade” sobre o qual
Riegl (1984) dispôs, característica de uma época de modernização.
Dos documentos constantes no processo de tombamento de 1986 e na reavaliação e
revisão que o IPUF realizou sobre o mesmo em 1990
23
, percebe-se que foram as edificações
coloniais e ecléticas as mais citadas, quase não havendo menção ao art déco, tendo sido este
preservado muitas vezes mais por fazer parte da malha a ser conservada, estando
“harmonicamente inseridos dentro do conjunto”
24
(IPUF, 1990?) e caracterizado como uma
linguagem ainda recente.
Somado a isto, a historiografia até então não lançava grandes olhares para este
fenômeno uma vez que, se considerarmos os manuais de arte ou arquitetura, não representou
fatos memoráveis ou notáveis relacionados ao país ou à própria cidade de Florianópolis, tendo
sido disseminado pelo país através de tipologias de casas de porta-e-janela e de sobrados,
expressões das classes mais humildes e, ao mesmo tempo, muitas vezes tendo se expressado
simplesmente pela reforma de prédios coloniais ou ecléticos.
Enfim, é possível que esta linguagem não tenha recebido atenção da historiografia e
concomitantemente dos órgãos de preservação devido ao fato de, comparando-a à arquitetura
modernista, por exemplo, ela não tenha sido expressa através de manifestos ou ideários, tendo
sido tratada muitas vezes somente como uma transição ao moderno (CAMPOS, 1996). O art
déco, como expressão de modernidade, ao contrário do ambiente agitador das vanguardas da
época, não veio imbuído de nenhum programa:
22
Documento do IPUF, denominado “Relatório de Avaliação do Tombamento dos Conjuntos da Área Central”,
elaborado por Ivan Pinheiros de Freitas, consultor do Rio de Janeiro contratado por este órgão.
23
Posteriormente, na década de noventa foi elaborado o Plano Diretor do Distrito Sede que criou as APCs, Áreas
de Preservação Cultural, que ampliaram a extensão da área a ser preservada, mas que ainda não foi
regulamentado.
24
Documento do IPUF, denominado “Análise das Impugnações ao Tombamento”, elaborado pelo corpo técnico
do IPUF, cuja data específica não foi encontrada, acredita-se que tenha sido na década de noventa, assim como
os outros documentos.
117
o engajamento político-ideológico do futurismo, o antiirracionalismo, o
antisubjetivismo e a eliminação do supérfluo nas plataformas dos programas
do neoplasticismo holandês, do construtivismo russo, do purismo francês e
da Bauhaus alemã foram manifestos contrários ao otimismo e à frivolidade
Déco, e nascidos em contextos históricos convulsivos, com assumido
engajamento ideológico e social (SEGAWA, 2002, p.54).
Comumente nos documentos do órgão de preservação, o valor das edificações é
relacionado a palavras como antigüidade, notabilidade de fatos ou moradores, raridade e
excepcionalidade
25
(IPUF, 1990). Como foi dito, a linguagem déco por muito tempo foi tida
como ainda recente ou não representou fatos notáveis da história do país ou de moradores
ilustres. Somado a isso, é possível que não se considerasse a qualidade de excepcionalidade,
tampouco raridade de um fenômeno que se apresentava como produto dos meios de massa,
transfigurado simplesmente pela reforma dos exemplares mais valorados de nosso passado.
25
Designações mais recorrentes no “Relatório de Avaliação do Tombamento dos Conjuntos da Área Central”, já
referido.
118
3.2 - O ideal estético da imago urbis
O Decreto municipal 521/89 chama a atenção por dispor da criação de categorias de
valoração e classificação dos imóveis preservados pelo Decreto 270/86, a saber, as
categorias P1, P2 e P3 (FLORIANÓPOLIS, 1990). As mais “valoradas”, de categoria P1,
seriam imóveis que, “pelo excepcional valor histórico, arquitetônico, artístico ou cultural”
26
deveriam ser totalmente preservadas, tanto interna quanto externamente. As de categoria P2,
que parecem ser a grande parte, tinham sua fachada preservada, era somente seu aspecto
visual que contava, e as caracterizadas por P3 eram aqueles que estariam nas proximidades de
edificações ou de conjuntos históricos valorizados e que por isto serviriam para “garantir sua
escala e reforçar seu caráter notável e/ou monumental”, devendo “assegurar a textura urbana
do conjunto”
27
(IPUF, 1990), podendo estes ser demolidos, mas onde a nova construção
estaria sujeita a restrições caso descaracterize visualmente o entorno de importância histórica.
Pode-se seguramente afirmar que se opera uma lógica da visualidade e da
manutenção desta visualidade, a preocupação em grande importância do fator estético nas
ações que preservam.
Acerca disto, Riegl em 1903 considerava que o valor de “novidade” seria um dos
valores contemporâneos atribuídos pela sociedade de então que determinariam a relação com
os monumentos, e podemos perceber a importância deste valor ainda hoje. O valor de
novidade para ele se exprimia na preocupação com o aspecto de integridade de um prédio,
através da apresentação de suas cores e formas intactas, excluindo qualquer aparência de
envelhecimento, e também por não lembrar de forma alguma as obras do passado, ou seja, por
sua “originalidade”: “Nous exigeons de la création recente une integrité totale non seulement
de la forme et de la couleur, mais aussi du style. Autrement dit, l’oeuvre moderne ne doit
rappeler des oeuvres antérieures ni par sa conception ni par le traitement de detail de sa forme
et de ses couleurs”(RIEGL, 1984, p.100).
Parece que este valor, principalmente no que concerne à integridade de cores e formas
ainda prevalece na questão atual sobre a preservação, uma vez que, nas ações de preservação
as edificações devem adquirir uma feição a mais nova e íntegra possível, como se percebe no
centro preservado de Florianópolis, em que todas as casas apresentam suas fachadas intactas e
sempre pintadas, inclusive sendo concedido vinte por cento de isenção do imposto predial e
26
Não houve preocupação nos documentos em discernir ou distinguir o que seria o valor artístico, arquitetônico
ou cultural, sendo assim são todos tratados aqui como elementos sujeitos a apreciação estética.
27
Conforme “Relatório de Avaliação do Tombamento dos Conjuntos da Área Central”, já mencionado.
119
territorial urbano (IPTU) para aqueles proprietários que pintem seus prédios e mantenham a
conservação das fachadas. Não se aceita o aspecto de envelhecimento de uma edificação e isto
parece estar em grande medida relacionado àquele evitamento e distanciamento da morte
citados anteriormente.
Podemos dizer que atualmente ainda conservamos sob uma gica moderna, e em
parte nossos valores ainda parecem modernos: acreditamos na “salvaçãodo passado, assim
como preservamos integralmente a fachada, para mantermos intacta uma visualidade que nos
assegura satisfação visual, mas mudamos o interior para responder à necessidade de
modernização, valorizamos o original, a “novidade”, dentre outros. Podemos dizer que de
certo modo vivemos ainda no paradigma dos tempos modernos, expresso claramente na forma
como preservamos o passado. E, de certa forma, ao procurarmos manter as fachadas com um
aspecto atual, podemos dizer neste caso que se busca o passado, mas ao mesmo tempo em que
ele é anulado, convertido em “novo”, em contemporâneo.
E toda esta discussão é incrementada quando se considera o patrimônio ingrediente
essencial da indústria do turismo. No relatório de revisão do decreto de tombamento 270/86
do IPUF (1990), que preservou os dez conjuntos urbanos na década de oitenta, consta na
introdução que “acredita-se que Florianópolis, além de pólo de turismo de verão deverá
tornar-se pólo de arte
28
, situação esta que será favorecida com a medida de preservação
adotada”. Desta forma, é imprescindível a manutenção do “novo”, para assegurar apreciação
visual para aqueles que olham os monumentos, aqueles que viajam justamente para avistar
paisagens “agradáveis” ao olhar.
Em decorrência destas ações, as cidades vêem agora na preservação do seu patrimônio
um meio de alavancar economicamente a região através do turismo, e acabamos por encontrar
em cada cidade um centro preservado, com edificações antigas apresentando pintura recente e
aspecto de novas, situação que pode acabar em grande medida por padronizá-las, tornar a
preservação um produto repetitivo, para o consumo. Ao procurar salvar as metrópoles da
despersonalização e da homogeneização contemporânea, de um tempo em que todas as
cidades ameaçam ficar iguais - conforme descreve o relatório de avaliação do IPUF sobre o
tombamento em Florianópolis ao afirmar que a diversidade do passado cedeu lugar “a
monótonas paisagens que tornaram semelhantes nossas cidades, destruindo sua
individualidade e heterogeneidade”
29
(IPUF, 1990) -, muitas vezes acaba-se incorrendo nesta
28
Não se pretendeu aqui problematizar o que se entende por arte nestes documentos, somente associamos o
termo à questão estética de uma forma geral.
29
Conforme “Relatório de Avaliação do Tombamento dos Conjuntos da Área Central”, já mencionado.
120
mesma situação ao se padronizar os centros das cidades com fachadas bem pintadas, com seu
aspecto o mais novo possível. Situação confirmada por Jeudy para quem, o simples fato de se
procurar manter intacta a integridade de formas e cores - para ele uma atitude de “limpeza dos
monumentos” que excluiria as marcas do tempo -, assinalaria a uniformização patrimonial a
que as cidades estão sujeitas (2005, p.81).
Tem-se, da mesma forma, o patrimônio como um produto para o consumo quando ele
é utilizado somente como fachadismo, simplesmente para conferir status a um novo
empreendimento imobiliário, afirmando-se nesta situação como uma peça de museu, por
exemplo (figura 95).
Figura 95 Edificação à rua Alves de Brito,
Florianópolis, 2006. Foto Sandra Makowiecky.
Ora, pensando nesta valorização do aspecto visual das edificações, este art déco
representante das classes mais populares, da forma como se encontra atualmente nas cidades,
muitas vezes suporte de outdoors, com algumas edificações muito modificadas e reformadas,
apresentando as marcas da passagem do tempo, com pintura, além de seu aspecto de
simplicidade, de uma linguagem padronizada, em grande medida não concorda esteticamente
com os motivos que levam a tombar uma edificação, os quais, como se disse, primam mais
pela originalidade, excepcionalidade, dentre outros (figuras 96 e 97).
121
Figura 96 Edificação à rua Mauro Ramos,
Florianópolis, 2008. Foto da autora.
Figura 97 Edificação à rua General Bittencourt,
Florianópolis, 2008. Foto da autora.
Neste caso, como foi dito, acredita-se que as edificações art déco encontradas nos
conjuntos preservados pelo decreto da cada de oitenta, não foram preservadas por serem
testemunhos importantes histórica e esteticamente como comumente se justifica de um
período importante da cidade, mas sim por serem parte de uma visualidade do conjunto
urbano, apresentando-se perfeitamente alinhadas e em harmonia com ele, não sendo sequer
citado na introdução da revisão, ao contrário das edificações ecléticas ou coloniais.
Esta valorização da visualidade da cidade é tão significativa que em grande medida
acaba deturpando o conceito original de monumento. Hoje, quando se fala em monumentos
contemporâneos muitas vezes pensa-se naquelas obras que adquiriram uma grande
122
importância estética, de embelezamento, associado ao poder, à grandeza e chegando
contemporaneamente a associar-se a edifícios de tamanhos colossais e de grande proeza
técnica. O próprio Riegl logo no título de sua obra “Le culte moderne des monuments: son
essence et sa gênese” preconizava a nova relação que naquela época se teria com os
monumentos que se tornariam objetos de culto, mas um culto que aparenta ser principalmente
apreciação estética. Choay (2001) indica o início desta valorização estética já no
Renascimento, no momento em que a arte adquire autonomia e torna-se objeto de
contemplação, localizando no ideal de beleza o objetivo supremo da produção artística a partir
de então.
Em grande medida, o que se verifica é que dois fatores aparecem na lógica
patrimonial, o edifício tombado como objeto de um saber histórico, como uma memória
criada, testemunho de um tempo passado selecionado, e ao mesmo tempo inserido numa
perspectiva estética cujos valores são contemporâneos, atualizados pelas sociedades que lhes
conferem valor. Estes dois fatores teriam sido de certa forma citados na Carta de Atenas,
que desde o início previa a preservação dos monumentos de “arte e de história” (CARTA DE
ATENAS, 1933), tendo este princípio se estendido à de Veneza, cujo artigo expõe sua
finalidade que seria “a conservação e restauração dos monumentos visam a salvaguardar tanto
a obra de arte quanto o testemunho histórico”, assim como a restauração deveria revelar os
valores estéticos e históricos do monumento” (CARTA DE VENEZA, 1964).
Estes dois parâmetros ainda são fundamentais na seleção daqueles edifícios a
ingressarem na lista dos monumentos de uma cidade. Em Florianópolis, recentemente, o IPUF
tem levantado a necessidade de lançar novos olhares sobre a arquitetura moderna e
modernista na cidade e selecionar exemplares a serem preservados onde possivelmente
podem estar inseridos exemplares art déco -, conforme percebido, por exemplo, em recente
debate surgido sobre a preservação do edifício da penitenciaria do Estado (figura 98).
123
Figura 98 Penitenciária de Florianópolis,bloco
modernista, 2008. Foto da autora.
Este edifício foi construído em várias etapas, possuindo blocos dos anos de 1926, 1936
e 1965, este último de linguagem modernista. Na ata 03/2007 das reuniões do IPUF, consta
que a comissão de preservação da prefeitura defende a preservação quase integral do edifício.
Dentre as justificativas apresentadas, constam as declarações de que o complexo apresenta-se
como um “marco da história penal de Santa Catarina” e de que seus blocos como “expressões
artísticas são estilisticamente únicas no território nacional” (IPUF, 2007, p.02). Outro ponto a
interessar seria a motivação da preservação, uma vez que “a permanência das construções
históricas é um testemunho do esforço do Estado de Santa Catarina como agente indutor da
ocupação qualificada da região de expansão urbana da capital do Estado(p.02; grifo nosso).
Parece que se subentende uma preocupação com o crescimento harmonioso da cidade e
podemos associar isto à recepção muitas vezes denegrida da situação de crescimento atual de
Florianópolis. A motivação da preservação da área da penitenciária em Florianópolis parece
também ser incentivada pelo receio de que, caso isto não ocorra, a área vire local para
especulação imobiliária, situação que constantemente ocorre atualmente na ilha de Santa
Catarina.
Tudo isto leva a pensar que em grande medida ainda possuímos a mesma sensibilidade
do valor de antiguidade especificado por Riegl, ainda preservamos o antigo o qual hoje em
dia parece sinônimo de tudo que é passado de uma forma geral - por este estar em
contraposição ao “novo”, assim como acontecia na modernidade das primeiras décadas do
século vinte. Entretanto, podemos pensar, como sugeriu Alan Colquhoun (2004), que nessa
época, o novo assumia um valor positivo, era saudado e possuía certa força estética; já
atualmente, ainda preservamos o antigo em detrimento do “novo”, - basta ver o aspecto novo
que assumem as fachadas dos centros preservados todavia podemos perceber que o “novo”
124
contemporâneo não é mais saudado como antes, a arquitetura contemporânea e a condição
atual das cidades em grande medida assustam, o antigo deve ser preservado em muito porque
o “novo” é ameaçador, é negativado, o que provavelmente levaria a uma necessidade ainda
maior de salvar o passado. Nesta perspectiva, podemos chegar a uma condição em que tudo o
que é passado deva ser salvado, onde não se excluem estas modestas casinhas art déco dos
centros de nossas cidades. Parece que o valor de rememoração que estaria na origem da
definição de monumento histórico estaria talvez sendo deixado para segundo plano.
125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em uma entrevista recente, o arquiteto italiano Renzo Piano, ao ser questionado sobre
a situação da arquitetura hoje declara que percebe nas criações arquitetônicas certa obsessão
por formas, pela criatividade, e acaba afirmando que “não é difícil fazer novas formas, mas
uma nova forma que tenha sentido é outra coisa” (PIANO, 2008, p.10).
É possível, como se supôs, que esta insatisfação com a arquitetura contemporânea seja
um dos maiores fatores responsáveis pela necessidade, apontada no último capítulo, de
guardar os documentos do passado. Procuramos salvar o passado porque o presente não se
apresenta a nós de forma agradável, conforme se deduziu. Em grande medida, buscar o
sentido na imagem de arquitetura - situação que foi reivindicada por Renzo Piano - foi o que
se tentou fazer nos dois primeiros capítulos.
Os estudos em arquitetura, ao procurar ler e analisar as imagens da cidade, muitas
vezes dirigem-se mais à esta enquanto artefato, enquanto produto da técnica, dos processos de
produção contemporânea, esquecendo-se que, antes de mais nada, as formas que construímos
nas cidades são imagens, se dirigem ao nosso olhar e, por isto, são passíveis de sentido e
leituras diversas.
Muito recentemente, têm surgido pesquisas acerca do fenômeno do art déco e defesas
com relação a sua preservação, principalmente nas cidades maiores. À medida que crescem os
estudos acerca da arquitetura mais recente, moderna e modernista, maiores valores lhes são
conferidos e buscamos assim, preservá-las. Queremos ter acesso ao passado e cada vez
procuramos reconstruí-lo objetivamente inserindo mais um item na lista da memória. O fato é
que não podemos salvar tudo e, analisando como o art déco foi recorrente na cidade, uma
constatação que surgiu principalmente através da pesquisa nos arquivos, percebe-se que seria
quase impossível a preservação integral daquilo que existe. Isto porque não podemos congelar
a cidade buscando preservar cada memória reivindicada, visto que a cada dia surge a
necessidade de novos usos e funções no tecido urbano, exigindo novas estruturas para
suportá-los.
Da mesma forma, acredita-se que a imobilização patrimonial, ocasionada pela
necessidade cada vez mais de se preservar o passado, não permite uma transmissão, digamos,
126
“saudável”
30
. A transmissão, a partir do ato de transmitir, estaria na base desta lógica da
herança do patrimônio, ela conjuga aquilo que se guarda e aquilo que se perde. Fixando tudo
o que resta do passado, não se permite esquecer e talvez imaginar sobre aquilo que foi
esquecido, sobre aquilo que foi ocultado. O esquecimento, neste caso, como se mostrou
através da leitura do moderno e do art déco nos capítulos 01 e 02, é condição fundamental
para o surgimento da potência da obra, para a criação, para o reconhecimento do sentido na
arquitetura. Assim como Funes, o memorioso, personagem de um conto de mesmo nome de
Jorge Luis Borges (2001), se não podemos esquecer, ao procurar guardar tudo, não podemos
abstrair, não podemos criar, e, de uma maneira geral, não podemos pensar.
Entretanto, acredita-se que talvez o registro fotográfico neste caso sobre o art déco e
em outros semelhantes, seria uma boa opção, principalmente por esclarecer nossa concepção
daquilo que foi a primeira expressão de modernidade das cidades no começo do século vinte,
suas semelhanças com o passado, suas variações tipológicas e soluções formais. O inventário
das edificações art co, realizado em caráter inédito referente à cidade e localizado ao final
do trabalho, possui esta função, de registrar aquilo que provavelmente não pode ou não pôde
ser guardado, e acredita-se que ele será de grande serventia para diversos estudos que
objetivem estudar as formas da cidade. Entretanto, tanto o inventário como a própria
dissertação em grande medida também compreendem um jogo de lembranças e
esquecimentos, voluntários ou não, e desta forma, pode-se seguramente afirmar que o art
déco não foi aqui contemplado inteiramente, tipologias maiores, formas e variações foram
deixadas de lado, expressando desejos e contaminações particulares da autora e cabendo estas
análises, quem sabe, para outros estudos.
30
Sobre este assunto, cf JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.
127
FONTES
1 – Fonte oral
BERRETA, Ana. Depoimento, abril de 2008, Florianópolis. Entrevistadora: Alice de Oliveira
Viana. Acervo da autora.
BRESOLIN, Ica Makowiecky. Depoimento, janeiro de 2008, Florianópolis. Entrevistadora:
Alice de Oliveira Viana. Acervo da autora.
BRUGGEMANN, Theodoro. Depoimento, maio de 2008, Florianópolis. Entrevistadora:
Alice de Oliveira Viana. Acervo da autora.
HAGEMANN, Dorotéia. Depoimento, abril de 2008, Florianópolis. Entrevistadora: Alice de
Oliveira Viana. Acervo da autora.
LINS, Jacqueline Wildi. Depoimento, março de 2008, Florianópolis. Entrevistadora: Alice de
Oliveira Viana. Acervo da autora.
MENDONÇA, Lilian. Depoimento, março de 2008, Florianópolis. Entrevistadora: Alice de
Oliveira Viana. Acervo da autora.
2 – Periódicos
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Santa Catarina: revista de propaganda
do Estado e dos municípios. – n.1, 1939. – Edição facsimilada/Governo do Estado. –
Florianópolis: Governo do Estado, 2002.
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http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/43b2a_Carta_de_Atenas_1933.pdf>. Acesso
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diferenciados, os prédios integrantes dos conjuntos históricos tombados pelo Decreto
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patrimônio histórico, artístico e natural do município e cria o órgão competente. Diário
Oficial, Florianópolis, 21 de abr.1974.
128
FLORIANÓPOLIS. Decreto-lei nº270, de 30 de dezembro de 1986. Tomba, como patrimônio
histórico e artístico do município, conjuntos de edificações existentes na área central do
território municipal. Diário Oficial, Florianópolis, nº13119, nº13.122, 13 de jan.1987.
4 - Acervo do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis – IPUF
INSTITUTO DE PLANEJAMENTO URBANO DE FLORIANÓPOLIS - IPUF.
Florianópolis: plano diretor do distrito sede. Florianópolis: IPUF, 1998
________________________________________________________. Ata nº 03/2007.
Florianópolis: IPUF, 2007.
________________________________________________________. Relatório de revisão
do Decreto de tombamento 270/86. Florianópolis: IPUF, 1990.
________________________________________________________. Justificativa histórica
e ambiental urbana. Florianópolis: IPUF, 1990?
________________________________________________________. Relatório de avaliação
do tombamento dos conjuntos da área central. Florianópolis: IPUF, 1990.
________________________________________________________. Análise das
impugnações ao tombamento. Florianópolis: IPUF, 1990?
5 - Acervo da Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos – SUSP
Fotografias e dados pesquisados nas caixas : 1151 a 1256; 1301 a 1400; 1401 a 1500; 1501
a 1600; 1601 a 1700; 1701 a 1800; 1801 a 1900; 1901 a 2000; 2001 a 2100; 2101 a 2200;
2201 a 2300; 2301 a 2400; 2401 a 2500; 2501 a 2600; 2601 a 2700; 2701 a 2800; 2801 a
2900; 2901 a 3000; 3001 a 3100; 3101 a 3200; 3201 a 3250; 3301 a 3400; 3401 a 3500; 3501
a 3565; 3570 a 3625; 3626 a 3700; 3701 a 3800; 3801 a 3900; 3901 a 4000; 4001 a 4100;
4101 a 4200; 4201 a 4300; 4301 a 4400; 4401 a 4500; 4501 a 4600; 4601 a 4700; 4701 a
4800; 4801 a 4900.
6 – Fotografias de arquiteturas do centro de Florianópolis e imediações. Acervo da
autora.
7 – Imagens de bibliografias e sites: ver lista de figuras.
129
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VEIGA, Eliane Veras da. Florianópolis: memória urbana. Florianópolis: Editora da UFSC,
1993.
133
ANEXO
134
MAPA DOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS
135
INVENTÁRIO DA ARQUITETURA ART DÉCO DO CENTRO
DE FLORIANÓPOLIS
136
PROJETO N° 1639
PROP. JOÃO TESTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°113
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NOVEMBRO – 1933
PROJETO N° 1652
PROP. DJALMA MOELLMANN
RUA FERNANDO MACHADO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1934
137
PROJETO N° 1653
PROP. LUIZ G. VALENTE
RUA FRANCISCO TOLENTINO
AUTOR E CONSTRUTOR CORSINI IRMÃO
NATUREZA: REFORMA
DATA: FEVEREIRO– 1934
PROJETO N° 1702
PROP. MANOEL J. G. PEREIRA
RUA JOÃO PINTO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: REFORMA
DATA: AGOSTO – 1934
PROJETO N° 1739
PROP. EDWISGES M. DUTRA
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°95
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: FACHADA
DATA: ABRIL– 1935
138
PROJETO N° 1775
PROP. RODOLFO KIRCHNER
RUA TENENTE SILVEIRA N°47
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: FACHADA
DATA: AGOSTO – 1935
PROJETO N° 1776
PROP. SIRIACO KALAFATZ
RUA TRAJANO N°27
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: SETEMBRO – 1935
PROJETO N° 1777
PROP. MARIA A. RODRIGUES
RUA VISCONDE DE OURO PRETO
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: FACHADA
DATA: SETEMBRO – 1935
139
PROJETO N° 1782
PROP. JOSÉ F. SILVA
RUA NUNES MACHADO
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIESCKY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1935
PROJETO N° 1786
PROP. MARIO PIZZA
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°57
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1935
PROJETO N° 1789
PROP. IDA FILOMENO SIMONE
RUA SALDANHA MARINHO N°05
AUTOR TRESKA JR. E P. MOTTA
CONSTRUTOR A. VON HERTWIG
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1935
140
PROJETO N° 1817
PROP. ÁLVARO SOARES DE OLIVEIRA
RUA FRANCISCO TOLENTINO N°12
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: DEPÓSITO
DATA: MARÇO – 1936
PROJETO N° 1825
PROP. JOSÉ ELIAS
RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: REFORMA
DATA: MAIO – 1936
PROJETO N° 1827
PROP. PANAGIOTE MANDALIN
RUA CONSELHEIRO MAFRA
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MAIO – 1936
141
PROJETO N° 1837
PROP. AUGUSTO FAUSTO DE SOUZA
RUA ANITA GARIBALDI N° 28
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1936
PROJETO N° 1852
PROP. DJALMA MOELLMANN
RUA FERNANDO MACHADO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: AGOSTO – 1936
142
PROJETO N° 1875
PROP. MIGUEL DA SILVA LEAL
RUA JOINVILLE
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1936
PROJETO N° 1879
PROP. JOSÉ Q. CARDOSO
RUA SALDANHA MARINHO N°01 ESQ. RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA TIRADENTES
DATA: OUTUBRO – 1936
143
PROJETO N° 1879
PROP. JOSÉ Q. CARDOSO
RUA SALDANHA MARINHO N°01 ESQ. RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA SALDANHA MARINHO
DATA: OUTUBRO – 1936
PROJETO N° 1879
PROP. JOSÉ Q. CARDOSO
RUA SALDANHA MARINHO N°01 ESQ. RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA SALDANHA MARINHO
DATA: OUTUBRO – 1936
PROJETO N° 1891
PROP. ELISA A. VENTURA
RUA PADRE ROMA
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: FACHADA
DATA: NOVEMBRO – 1936
144
PROJETO N° 1900
PROP. JOÃO BATISTA BERRETA
AVENIDA HERCÍLIO LUZ
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: FACHADA
DATA: DEZEMBRO – 1936
PROJETO N° 1931
PROP. HENRIQUE ROMANOS
RUA FELIPE SCHMIDT
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1937
PROJETO N° 1941
PROP. CONSTANCE PAPESCH
RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1937
145
PROJETO N° 1994
PROP. ESTEFANO SAVAS
RUA TRAJANO N°43
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1937
PROJETO N° 2011
PROP. NELSON TEIXEIRA
RUA SALDANHA MARINHO N°15
AUTOR E CONSTRUTOR O. D. MAGALHÃES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1938
146
PROJETO N° 2014
PROP. MANOEL G. VIEIRA
RUA ARAÚJO FIGUEREDO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1937
PROJETO N° 2021
PROP. SALVIO SÁ GONZAGO
RUA ESTEVES JÚNIOR
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: GARAGE
DATA: FEVEREIRO – 1938
147
PROJETO N° 2031
PROP. OSCAR CARDOSO
RUA FERNANDO MACHADO
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1938
PROJETO N° 2056
PROP. ENDOGINA APÓSTOLOS
RUA CONSELHEIRO MAFRA N° 122
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: FACHADA
DATA: JUNHO – 1938
148
PROJETO N° 2059
PROP. MANOEL JÚNIOR
RUA FELIPE SCHMIDT
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1938
PROJETO N° 2071
PROP. ANTÔNIO B. LINHARES
RUA FELIPE SCHMIDT
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1938
149
PROJETO N° 2073
PROP. BIASE FERRACO
RUA FELIPE SCHMIDT
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1938
PROJETO N° 2075
PROP. DOMINGOS JOSÉ DA SILVA
RUA ÁLVARO DE CARVALHO
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1938
PROJETO N° 2136
PROP. MARIA SEARA
AV. HERCÍLIO LUZ ESQ. GENERAL BITTENCOURT
AUTOR E CONSTRUTOR DEFENDENTE RAMPINELLI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA GEN. BITTENCOURT
DATA: MARÇO – 1939
150
PROJETO N° 2136
PROP. MARIA SEARA
RUA HERCÍLIO LUZ ESQ. GENERAL BITTENCOURT
AUTOR E CONSTRUTOR DEFENDENTE RAMPINELLI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA HERCÍLIO LUZ
DATA: MARÇO – 1939
PROJETO N° 2142
PROP. JOSÉ MORITZ
RUA SALDANHA MARINHO
AUTOR E CONSTRUTOR IVO C. PICCOLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: SETEMBRO – 1939
PROJETO N° 2143
PROP. DEMÉTRIO GAROFALIS
RUA TRAJANO ESQ. TENENTE SILVEIRA N° 16
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO –FACHADA TRAJANO
DATA: MARÇO – 1939
151
PROJETO N° 2143
PROP. DEMÉTRIO GAROFALIS
RUA TRAJANO ESQ. TENENTE SILVEIRA N° 16
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO –FACHADA TEN. SILVEIRA
DATA: MARÇO – 1939
PROJETO N° 2144
PROP. NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1939
PROJETO N° 2149
PROP. ALDO ALMEIDA
RUA FELIPE SHMIDT ESQ. ALVARO DE CARVALHO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA FELIPE SCHMIDT
DATA: MAIO – 1939
152
PROJETO N° 2149
PROP. ALDO ALMEIDA
RUA FELIPE SHMIDT ESQ. ALVARO DE CARVALHO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO –FACHADA ALV. CARVALHO
DATA: MAIO – 1939
PROJETO N° 2160
PROP. JORGE GALLIS
RUA NEREU RAMOS
AUTOR E CONSTRUTOR OSMAR RUPP
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1939
PROJETO N° 2162
PROP. SEVERO SIMÕES
RUA FERNANDO MACHADO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: FACHADA E ACRÉSCIMO
DATA: JULHO – 1939
153
PROJETO N° 2163
PROP. LEANDRO SILVA
RUA JOSÉ VEIGA ESQ. JAGUARUNA
AUTOR E CONSTRUTOR OSMAR RUPPI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1939
PROJETO N° 2166
PROP. PAULO POSIT
RUA TROMPOWSKY
AUTOR E CONSTRUTOR OSMAR RUPPI
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: JULHO – 1939
PROJETO N° 2168
PROP. VITORIA M. FERNANDES
RUA JOINVILLE N°21
AUTOR E CONSTRUTOR OSMAR RUPPI
NATUREZA: REFORMA
DATA: JULHO – 1939
154
PROJETO N° 2187
PROP. DIONISIO DAMIANI
RUA CRISPIM MIRA N°33
AUTOR E CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1939
PROJETO N° 2211
PROP. MAX KUNSER
RUA DEODORO
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: REFORMA
DATA: NOVEMBRO – 1939
PROJETO N° 2215
PROP. DEOLINO COSTA
RUA SACO DOS LIMÕES
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: FACHADA
DATA: NOVEMBRO – 1939
155
PROJETO N° 2254
PROP. DEMÉTRIO GAROFALIS
RUA TENENTE SILVEIRA ESQ. TRAJANO
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA TEM. SILVEIRA
DATA: MARÇO – 1940
PROJETO N° 2254
PROP. DEMÉTRIO GAROFALIS
RUA TENENTE SILVEIRA ESQ. TRAJANO
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA TRAJANO
DATA: MARÇO – 1940
PROJETO N° 2262
PROP. JOSÉ R. B. GUILHON
RUA FELIPE SCHMIDT ESQ. ÁLVARO DE CARVALHO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA FELIPE SCHMIDT
DATA: ABRIL – 1940
156
PROJETO N° 2262
PROP. JOSÉ R. B. GUILHON
RUA FELIPE SCHMIDT ESQ. ÁLVARO DE CARVALHO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA ALV. CARVALHO
DATA: ABRIL – 1940
PROJETO N° 2267
PROP. MAX KUNLER
RUA DEODORO N°31
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: RECONSTRUÇÃO
DATA: ABRIL – 1940
157
PROJETO N° 2283
PROP. MINERVINA C. DE MELLO
RUA ALMIRANTE LAMEGO
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: REFORMA
DATA: MAIO – 1940
PROJETO N° 2313
PROP. ELISEU DI BERNARDI
LARGO GENERAL OSÓRIO
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1940
PROJETO N° 2314
PROP. BANCO DO BRASIL
PRAÇA XV DE NOVEMBRO ESQ. RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR NÃO CONSTA
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA ESQUINA
DATA: 1940
158
PROJETO N° 2314
PROP. BANCO DO BRASIL
PRAÇA XV DE NOVEMBRO ESQ. RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR NÃO CONSTA
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA TIRADENTES
DATA: 1940
PROJETO N° 2314
PROP. BANCO DO BRASIL
PRAÇA XV DE NOVEMBRO ESQ. RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR NÃO CONSTA
NATUREZA: PRÉDIO FACHADA TIRADENTES
CONTINUAÇÃO
DATA: 1940
PROJETO N° 2324
PROP. EUCLIDES PEREIRA
RUA FELIPE SCHMIDT
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1940
159
PROJETO N° 2350
PROP. CARIOLANO MATTOS
RUA LAURA MEIRA
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NOVEMBRO – 1940
PROJETO N° 2369
PROP. JULIA DUTRA LOPES
RUA FRANCISCO TOLENTINO N°14
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NÃO CONSTA
PROJETO N° 2372
PROP. CARLOS VIEIRA GEVAERD
RUA FELIPE SCHMIDT
AUTOR E CONSTRUTOR ODORICO MAGALHÃES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NOVEMBRO– 1940
160
PROJETO N° 2382
PROP. PROTHENOR NUNES PIRES
RUA ALMIRANTE LAMEGO N°44
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1940
PROJETO N° 2389
PROP. JOÃO DA SILVA JUNIOR
RUA CONSELHEIRO MAFRA ESQ. FRANCISCO NAPI
AUTOR E CONSTRUTOR DEFENDENTE RAMPINELLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1941
PROJETO N° 2399
PROP. NÃO CONSTA
RUA DELMINDA SILVEIRA
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1941
161
PROJETO N° 2413
PROP. DAVID C. MOES
RUA ESTEVES JUNIOR N°106
AUTOR E CONSTRUTOR IVO C. PICCOLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1941
PROJETO N° 2417
PROP. LINO DE SOUZA
RUA LUIZ DELFINO N°34
AUTOR E CONSTRUTOR DEFENDENTE RAMPINELLI
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: MARÇO – 1941
PROJETO N° 2421
PROP. MARIA JOSÉ PERRONI
RUA DEODORO N°07
AUTOR E CONSTRUTOR DEFENDENTE RAMPINELLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1941
162
PROJETO N° 2424
PROP. DIAMANTINO ROMANOS
RUA FELIPE SCHMIDT
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1941
PROJETO N° 2429
PROP. MANOEL A. BRUNO
RUA MENINO DEUS
AUTOR E CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: REFORMA
DATA: ABRIL – 1941
PROJETO N° 2447
PROP. ALBANO LEAL JÚNIOR
RUA SALDANHA MARINHO N°18
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1941
163
PROJETO N° 2449
PROP. TEODORO COMELI
RUA DEODORO N°09
AUTOR E CONSTRUTOR DEFENDENTE RAMPINELLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1941
PROJETO N° 2450
PROP. ALCIDES DE LIMA VEIGA
RUA TENENTE SILVEIRA
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MAIO – 1941
PROJETO N° 2453
PROP. ALVARO REMÍGIO DE OLIVEIRA
RUA HERCÍLIO LUZ N°190
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1941
164
PROJETO N° 2475
PROP. JOÃO B. NATIVIDADE
RUA TRAJANO N°19
AUTOR E CONSTRUTOR IVO C. PICCOLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1941
PROJETO N° 2476
PROP. JOÃO E. DA COSTA
RUA PADRE ROMA N°77
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: REFORMA
DATA: JULHO – 1941
PROJETO N° 2477
PROP. JOÃO C. CARDOSO
RUA VIDAL RAMOS
AUTOR E CONSTRUTOR IVO C. PICCOLI
NATUREZA: RECONSTRUÇÃO
DATA: JULHO – 1941
165
PROJETO N° 2505
PROP. JOSÉ ZACARIAS LISBOA
RUA PADRE ROMA N°40
AUTOR E CONSTRUTOR DEFENDENTE RAMPINELLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1941
PROJETO N° 2511
PROP. IRACEMA REAL
RUA ANIT. BAROS N°16
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1941
PROJETO N° 2518
PROP. FRANCISCO BERKA
RUA CONSELHEIRO MAFRA ESQ. SETE DE SETEMBRO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1941
166
PROJETO N° 2537
PROP. GERMANO H. BOESKEN
RUA VIDAL RAMOS N°19
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1942
PROJETO N° 2549
PROP. IRÊ S. ULYSSES
RUA SETE DE SETEMBRO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: FACHADA
DATA: MARÇO – 1942
167
PROJETO N° 2554
PROP. JACOB JORGE JOSÉ
RUA TIRADENTES N°40
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: FACHADA
DATA: MARÇO – 1942
PROJETO N° 2559
PROP. WALTER JORGE JOSÉ
RUA JOÃO PINTO N°39
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL– 1940
PROJETO N° 2568
PROP. PEDRO MENDES SOUZA
RUA FERNANDO MACHADO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MAIO – 1942
168
PROJETO N° 2583
PROP. PEDRO LEÃO COELHO
RUA PADRE ROMA N°40
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1942
PROJETO N° 2591
PROP. AROLDO CALDEIRA
RUA TRAJANO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1942
PROJETO N° 2597
PROP. JOÃO DOS PASSOS MARTINS
RUA MAJOR COSTA ESQ. TRAVESSA URUSSANGA
AUTOR E CONSTRUTOR ODORICO DEMÉTRIO MAGALHÃES
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA FRONTAL
DATA: JULHO – 1942
169
PROJETO N° 2597
PROP. JOÃO DOS PASSOS MARTINS
RUA MAJOR COSTA ESQ. TRAVESSA URUSSANGA
AUTOR E CONSTRUTOR ODORICO DEMÉTRIO MAGALHÃES
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA LATERAL
DATA: JULHO – 1942
PROJETO N° 2623
PROP. MANOEL JOSÉ MACHADO
RUA MAJOR COSTA ESQ. TRAVESSA URUSSANGA
AUTOR E CONSTRUTOR ODORICO DEMÉTRIO MAGALHÃES
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA FRONTAL
DATA: NOVEMBRO – 1942
PROJETO N° 2623
PROP. MANOEL JOSÉ MACHADO
RUA MAJOR COSTA ESQ. TRAVESSA URUSSANGA
AUTOR E CONSTRUTOR ODORICO DEMÉTRIO MAGALHÃES
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA LATERAL
DATA: NOVEMBRO – 1942
1
70
PROJETO N° 2643
PROP. JORGE JOÃO SALUM
PRAÇA GETÚLIO VARGAS
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1942
PROJETO N° 2647
PROP. OSVALDO R. CABRAL
RUA NUNES MACHADO ESQ. JOÃO PINTO
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1943
PROJETO N° 2679
PROP. OLGA ALBERTINA WENDHAUSEN
RUA TRAJANO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1943
171
PROJETO N° 2680
PROP. ALVARO REMÍGIO DE OLIVEIRA
LARGO BENJAMIN CONSTANT
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1943
PROJETO N° 2681
PROP. PEDRO MANZOLLI FILHO
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°118
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: FACHADA
DATA: MAIO – 1943
172
PROJETO N° 2714
PROP. DAVID GEVAERD
RUA PADRE ROMA N°83
AUTOR E CONSTRUTOR AVELINO JOSÉ VIEIRA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NÃO CONSTA
PROJETO N° 2734
PROP. CLARNO GALETI
RUA TIRADENTES
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: FACHADA
DATA: DEZEMBRO – 1943
173
PROJETO N° 2735
PROP. JOSÉ SALUSTIANO RODRIGUES
RUA SALDANHA MARINHO N°26
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: FACHADA
DATA: DEZEMBRO – 1943
PROJETO N° 2737
PROP. JOSÉ ZACARIAS LISBOA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
AUTOR E CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1943
174
PROJETO N° 2766
PROP. GEORGINA LEAL
RUA FERNANDO MACHADO ESQ. SALDANHA MARINHO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA FERNANDO MACHADO
DATA: ABRIL – 1944
PROJETO N° 2766
PROP. GEORGINA LEAL
RUA FERNANDO MACHADO ESQ. SALDANHA MARINHO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA SALDANHA MARINHO
DATA: ABRIL – 1944
PROJETO N° 2781
PROP. ESPIRIDIÃO AMIN E OUTROS
RUA DUARTE SCHUTEL
AUTOR E CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1944
175
PROJETO N° 2787
PROP. ILLAH ALMEIDA CORREIA DA LUZ
RUA JOSÉ JAQUES ESQ. PEDRO SOARES
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1944
PROJETO N° 2793
PROP. NICOLAU MANOEL GERMANO
RUA RUI BARBOSA N°94
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: FACHADA
DATA: JULHO – 1944
PROJETO N° 2810
PROP. OTÁVIO MOURA
RUA BOCAIÚVA N°187
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: SETEMBRO – 1944
176
PROJETO N° 2813
PROP. NAGIB E JORGE MASSAD
RUA FELIPE SCHMIDT ESQ. TRAJANO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI E J. C. MOELLMANN
NATUREZA: NOVO HOTEL SANTA CATARINA – FACHADA
FELIPE SCHMIDT
DATA: AGOSTO – 1944
PROJETO N° 2813
PROP. NAGIB E JORGE MASSAD
RUA FELIPE SCHMIDT ESQ. TRAJANO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI E J. C. MOELLMANN
NATUREZA: NOVO HOTEL SANTA CATARINA – FACHADA
TRAJANO
DATA: AGOSTO – 1944
177
PROJETO N° 2814
PROP. ANTÔNIO MARTINS DOS SANTOS
RUA VISCONDE DE OURO PRETO ESQ. PRESIDENTE
COUTINHO
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA FRONTAL
DATA: OUTUBRO – 1944
PROJETO N° 2814
PROP. ANTÔNIO MARTINS DOS SANTOS
RUA VISCONDE DE OURO PRETO ESQ. PRESIDENTE
COUTINHO
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA LATERAL
DATA: OUTUBRO – 1944
PROJETO N° 2822
PROP. JOÃO MATISAS GUSTENHOFEN
RUA TIRADENTES N°27
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: FACHADA
DATA: OUTUBRO – 1944
178
PROJETO N° 2836
PROP. SILVINO RUSSI
RUA GENERAL BITTENCOURT N°98
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: FACHADA
DATA: NOVEMBRO – 1944
PROJETO N° 2848
PROP. CARLOS TEIXEIRA
TRAVESSA ARGENTINA
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: FACHADA
DATA: JANEIRO – 1945
179
PROJETO N° 2854
PROP. ALZIRA W. BARBATO
RUA BOCAIÚVA N°146
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: FACHADA
DATA: JANEIRO – 1945
PROJETO N° 2858
PROP. GLADESTONE PALADINO
RUA BENTO GONÇALVES N°03
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1945
PROJETO N° 2859
PROP. JOSÉ AMARAL FILHO
RUA ALVES DE BRITO N°50
AUTOR E CONSTRUTOR AVELINO JOSÉ VIEIRA
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: FEVEREIRO – 1945
180
PROJETO N° 2869
PROP. EURÍPEDES E. LOPES
RUA FELIPE SCHMIDT N°81
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: FEVEREIRO – 1945
PROJETO N° 2873
PROP. SERAFIM FORNEROLI
RUA CAMBORIÚ
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1945
181
PROJETO N° 3010
PROP. ARI LUZ
RUA TIRADENTES N° 62
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: FACHADA
DATA: FEVEREIRO – 1946
PROJETO N° 2876
PROP. ANTONIO MARTINS SANTOS
RUA SETE DE SETEMBRO N°326
AUTOR E CONSTRUTOR ESTANISLAU MAKOWIECKY
NATUREZA: FACHADA
DATA: MARÇO – 1945
PROJETO N° 2877
PROP. HERDEIROS DE JOSÉ INÁCIO DIAS
RUA LAGES N°35
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: REFORMA
DATA: ABRIL – 1945
182
PROJETO N° 3016
PROP. VALDEMAR LUZ
RUA VISCONDE DE OURO PRETO N° 121
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: FACHADA
DATA: MARÇO – 1946
PROJETO N° 3025
PROP. ANTONIO SOUSA
RUA URUGUAI N° 21
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1946
PROJETO N° 3026
PROP. FERNANDO PACHECO DÁVILA
RUA VIDAL RAMOS N° 67
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1946
183
PROJETO N° 3028
PROP. VIRGÍLIO DAMINELLI
RUA JOINVILLE N° 14
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1946
PROJETO N° 3057
PROP. NORBERTO SERRATINE
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°117
AUTOR E CONSTRUTOR AVELINO JOSÉ VIEIRA
NATUREZA: FACHADA
DATA: JUNHO – 1946
184
PROJETO N° 3067
PROP. ARTHUR E ATÍLIO POLLI
RUA JOÃO PINTO N° 26
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: REFORMA
DATA: JULHO – 1946
PROJETO N° 3072
PROP. J.J. MENDONÇA
RUA GENERAL BITTENCOURT N° 117
AUTOR E CONSTRUTOR J.J. MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1946
185
PROJETO N° 3076
PROP. CARLOS PORTO
RUA FERNANDO MACHADO N° 22
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1946
PROJETO N° 3082
PROP. ARTHUR E ATÍLIO POLI
PRAÇA XV DE NOVEMBRO
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: REFORMA
DATA: JULHO – 1946
186
PROJETO N° 3094
PROP. ASTROGILDO MACHADO
RUA CRISPIM MIRA N° 35
AUTOR E CONSTRUTOR CID ROCHA AMARAL
NATUREZA: FACHADA
DATA: AGOSTO – 1946
PROJETO N° 3108
PROP. JOÃO MORITZ
RUA TIRADENTES N° 33
AUTOR E CONSTRUTOR CID ROCHA AMARAL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: SETEMBRO – 1946
PROJETO N° 3118
PROP. DIONISIO GASPAR DAMIANI
RUA CONSELHEIRO MAFRA ESQ. PADRE ROMA N°135
AUTOR E CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: SETEMBRO – 1946
187
PROJETO N° 3123
PROP. FELICIA ANA LOUREIRO
RUA VICTOR MEIRELLES
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: DEPÓSITO
DATA: SETEMBRO – 1946
PROJETO N° 3127
PROP. SUL AMÉRICA
PRAÇA XV DE NOVEMBRO ESQ. RUAS VISC. DE OURO
PRETO E PADRE MIGUELINO
AUTOR E CONSTRUTOR: NÃO CONSTA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: 1946
188
PROJETO N° 3128
PROP. EDIO ORTIGA FEDRIGO
RUA ESTEVES JÚNIOR ESQ. RIO BRANCO N°88
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1946
PROJETO N° 3129
PROP. AUGUSTO JAQUES
RUA CRISPIM MIRA
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1946
PROJETO N° 3131
PROP. HUMBERTO MACHADO
RUA BLUMENAU N° 12
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: FACHADA
DATA: OUTUBRO – 1946
189
PROJETO N° 3145
PROP. JOÃO MARÇAL
RUA GENERAL BITTENCOURT N° 115
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: REFORMA DA FACHADA E AUMENTO
DATA: NOVEMBRO – 1946
PROJETO N° 3158
PROP. DR. JOÃO DE ARAÚJO
RUA SANTOS DUMONT
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1946
PROJETO N° 3160
PROP. DURVAL SABOTA
AV. MAURO RAMOS N°303
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1946
190
PROJETO N° 3163
PROP. OLINDA SANTOS LINHARES
RUA CONSELHEIRO MAFRA N° 125
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: FACHADA
DATA: DEZEMBRO – 1946
PROJETO N° 3167
PROP. IRÊ IM WYSSÊS
RUA SETE DE SETEMBRO
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1947
191
PROJETO N° 3172
PROP. DIAMANTINA ROMANOS
RUA TENENTE SILVEIRA ESQ.DEODORO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA TEM.SILVEIRA
DATA: DEZEMBRO – 1946
PROJETO N° 3172
PROP. DIAMANTINA ROMANOS
RUA TENENTE SILVEIRA ESQ. DEODORO
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA DEODORO
DATA: DEZEMBRO – 1946
PROJETO N° 3219
PROP. CARLOS SCHMIDT
RUA TIRADENTES N° 66
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1947
192
PROJETO N° 3227
PROP. OMAR BASTOS
AV. HERCÍLIO LUZ N°17
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1947
PROJETO N° 3228
PROP. ULISSES JOSÉ FERREIRA
RUA FRANCISCO TOLENTINO N°20/22
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1947
PROJETO N° 3245
PROP. ANTONIA CARDOSO
RUA FERNANDO MACHADO N°26
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1947
193
PROJETO N° 3266
PROP. ULISSES JOSÉ FERREIRA
RUA FRANCISCO TOLENTINO N°20
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1947
PROJETO N° 3267
PROP. TEODORO COURELI
RUA MENINO DEUS N°19
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: FACHADA
DATA: JUNHO – 1947
PROJETO N° 3283
PROP. MATILDE PINTO DE LEMOS
RUA FERNANDO MACHADO ESQ. GEN. BITTENCOURT
AUTOR E CONSTRUTOR CID ROCHA AMARAL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1947
194
PROJETO N° 3305
PROP. CIA TELEFÔNICA CATARINENSE
PRAÇA XV DE NOVEMBRO
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: REFORMA
DATA: SETEMBRO – 1947
PROJETO N° 3324
PROP. FRANCISCO MAGNO VIEIRA
RUA RUI BARBOSA
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1947
PROJETO N° 3325
PROP. ADEMAR DIAS DE OLIVEIRA
RUA ALMIRANTE LAMEGO N°46
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: REFORMA
DATA: OUTUBRO – 1947
195
PROJETO N° 3326
PROP. AUGUSTO R. JAQUES
RUA CRISPIM MIRA N°38
AUTOR E CONSTRUTOR CID ROCHA AMARAL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1947
PROJETO N° 3331
PROP. JOÃO SCHLEGEL
AV. MAURO RAMOS N°309
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NOVEMBRO – 1947
PROJETO N° 3340
PROP. LOURIVAL ALMEIDA
RUA CRISPIM MIRA N°35
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NOVEMBRO – 1947
196
PROJETO N° 3370
PROP. NESTOR CARNEIRO
AV. HERCÍLIO LUZ N°116
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1949
PROJETO N° 3386
PROP. LEOPOLDO COELHO
RUA BULCÃO VIANA N°91
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: FACHADA
DATA: JANEIRO – 1948
PROJETO N° 3393
PROP. MARTA SALIM GARCIA
RUA ANITA GARIBALDI N°40
AUTOR E CONSTRUTOR J. B. BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: FEVEREIRO – 1948
197
PROJETO N° 3413
PROP. NÃO CONSTA
RUA BOCAIÚVA N°207
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: FACHADA
DATA: ABRIL – 1948
PROJETO N° 3440
PROP. ACELOU SOUZA
RUA VISCONDE DE OURO PRETO
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: GARAGE
DATA: ABRIL – 1948
198
PROJETO N° 3441
PROP. ARTHUR POLLI
LARGO BENJAMIN CONSTANT N°26
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: GARAGE
DATA: ABRIL – 1948
PROJETO N° 3442
PROP. ALCIRA NARCISO JANNIS
RUA NUNES MACHADO N°26
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: FACHADA
DATA: ABRIL – 1948
199
PROJETO N° 3443
PROP. JOÃO J. ROSA JR.
RUA DEODORO N°33
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: FACHADA
DATA: ABRIL – 1948
PROJETO N° 3446
PROP. PEDRO MENDES DE SOUSA
RUA FERNANDO MACHADO N°15
AUTOR E CONSTRUTOR VITOR VOUTES
NATUREZA: REFORMA
DATA: MAIO – 1949
PROJETO N° 3454
PROP. NÃO CONSTA
RUA BECO TUPY N°11 E 13
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: RECONSTRUÇÃO
DATA: JUNHO – 1948
200
PROJETO N° 3471
PROP. CLARNO GALETTI
RUA VICTOR MEIRELLES N°60
AUTOR E CONSTRUTOR J. J. MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1948
PROJETO N° 3477
PROP. BRUNO SELVA
RUA SETE DE SETEMBRO N°21
AUTOR E CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1948
PROJETO N° 3479
PROP. SECUNDINO LEMOS
RUA MAJOR COSTA N°58
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1948
201
PROJETO N° 3501
PROP. SRa CALIOPY J. BERDOLOGLON
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°88
AUTOR E CONSTRUTOR MOELLMANN & BRUGGEMANN
LTDA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1948
PROJETO N° 3504
PROP. ALVARO RODRIGUES SOARES
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°170
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: FACHADA
DATA: AGOSTO – 1948
202
PROJETO N° 3513
PROP. PROTASIO LEAL
RUA JOSÉ JAQUES
AUTOR E CONSTRUTOR J. J. MENDONÇA
NATUREZA: GARAGE
DATA: AGOSTO – 1948
PROJETO N° 3514
PROP. JAIME PIGOZZI
RUA GENERAL BITTENCOURT ESQ. BECO TUPY
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA BECO TUPY
DATA: AGOSTO – 1948
203
PROJETO N° 3514
PROP. JAIME PIGOZZI
RUA GENERAL BITTENCOURT ESQ. BECO TUPY
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA GEN. BITTENCOURT
DATA: AGOSTO – 1948
PROJETO N° 3538
PROP. JAYME ABRAHAM
PRAÇA GETÚLIO VARGAS N°24
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: REFORMA E AMPLIAÇÃO
DATA: SETEMBRO – 1948
PROJETO N° 3542
PROP. CARLOS CESAR DE MELO
RUA CURITIBANOS N°40
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: OUTUBRO– 1948
204
PROJETO N° 3556
PROP. PEDRO MANOEL REIS
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°178
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1948
PROJETO N° 3559
PROP. DEMÉTRIO LUCAS
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°85
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: OUTUBRO – 1948
205
PROJETO N° 3561
PROP. ALDO DE ALMEIDA
AVENIDA HERCÍLIO LUZ N°132
AUTOR E CONSTRUTOR J. J. MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1948
PROJETO N° 3574
PROP. JULIO CESARINO DA ROSA
AVENIDA HERCÍLIO LUZ
AUTOR E CONSTRUTOR VITOR FONTES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NOVEMBRO – 1948
PROJETO N° 3585
PROP. JAIME LINHARES
RUA VIDAL RAMOS N°60
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REIZ
NATUREZA: GARAGE
DATA: DEZEMBRO – 1948
206
PROJETO N° 3599
PROP. PAULO FONTES
RUA ALVES DE BRITO
AUTOR E CONSTRUTOR VITOR FONTES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1948
PROJETO N° 3604
PROP. OTHÍLIA XAVIER DOS SANTOS
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°176
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: FACHADA
DATA: JANEIRO – 1949
PROJETO N° 3605
PROP. ASSOCIAÇÃO IRMÃO S. JOAQUIM
RUA CRISPIM MIRA
AUTOR E CONSTRUTOR RENATO RIBEIRO CARDOSO
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1949
207
PROJETO N° 3611
PROP. AFONSO ZILLI
RUA GENERAL BITTENCOURT N°38
AUTOR E CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1949
PROJETO N° 3620
PROP. ALBERTO SCHUTZ
RUA ALMIRANTE LAMEGO N°61
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: ACRÉSCIMO E REFORMA
DATA: JANEIRO – 1949
PROJETO N° 3622
PROP. MARIA BARBOSA
RUA GENERAL BITTENCOURT N°126
AUTOR HEITOR FERRARI
CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: REFORMA E AMPLIAÇÃO
DATA: FEVEREIRO – 1949
208
PROJETO N° 3624
PROP. THEODORO FERRARI
RUA TRAJANO N°39
AUTOR HEITOR FERRARI
CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: FEVEREIRO – 1949
PROJETO N° 3635
PROP. ANTÔNIO CUNHA
RUA CEL. LOPES VIEIRA N°19
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: FEVEREIRO – 1949
PROJETO N° 3651
PROP. MANOEL GONÇALVES
AVENIDA HERCÍLIO LUZ N°155
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: SETEMBRO – 1949
209
PROJETO N° 3657
PROP. OSWALDO MACHADO
RUA JOÃO PINTO N°12
AUTOR E CONSTRUTOR MOELLMANN & BRUGGEMANN
NATUREZA: REFORMA
DATA: MARÇO – 1949
PROJETO N° 3665
PROP. RODOLFO MANOEL VIEIRA
AVENIDA HERCÍLIO LUZ N°134
AUTOR E CONSTRUTOR UMBERTO REI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1949
210
PROJETO N° 3722
PROP. CARLOS BERENHAUSEN
LARGO SÃO SEBASTIÃO ESQ. BOCAIÚVA
AUTOR E CONSTRUTOR VITOR FONTES
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA BOCAIÚVA
DATA: JUNHO – 1949
PROJETO N° 3722
PROP. CARLOS BERENHAUSEN
LARGO SÃO SEBASTIÃO ESQ. BOCAIÚVA
AUTOR E CONSTRUTOR VITOR FONTES
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA S. SEBASTIÃO
DATA: JUNHO – 1949
PROJETO N° 3723
PROP. MARIA DA GLÓRIA OLIVEIRA
RUA FELIPE SCHMIDT N°43
AUTOR GILBERTO REI
CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: REFORMA
DATA: JUNHO – 1949
211
PROJETO N° 3737
PROP. EGIBERTO DA COSTA MOELLMANN
RUA GENERAL BITTENCOURT
AUTOR E CONSTRUTOR MOELLMANN & BRUGGEMANN
NATUREZA: DEPÓSITO
DATA: JUNHO – 1949
PROJETO N° 3769
PROP. MARIA JOSÉ PERRONE
RUA GENERAL BITTENCOURT N°127
AUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
CONSTRUTOR AVELINO JOSÉ VIEIRA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1949
212
PROJETO N° 3781
PROP. EMÍLIO HERCÍLIO DAURA
RUA TIRADENTES N°10
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO F. REY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1949
PROJETO N° 3806
PROP. SYRIACO THEODÓCIO ATHERINO
RUA ALVARO DE CARVALHO N°20
AUTOR E CONSTRUTOR MOELLMANN & BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: SETEMBRO – 1949
213
PROJETO N° 3818
PROP. DIVA VEIGA FORMIGA
RUA SALDANHA MARINHO N°24
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: SETEMBRO – 1949
PROJETO N° 3821
PROP. NARBEL VILELA
RUA DEMÉTRIO RIBEIRO
AUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1949
214
PROJETO N° 3856
PROP. IRÊ MYSSÉA
RUA SETE DE SETEMBRO N°13
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1949
PROJETO N° 3901
PROP. JOÃO SHLEGEL
AVENIDA MAURO RAMOS N°309 ESQ. GERMANO
WENDHAUSEN
AUTOR GILBERTO REY
CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: DEZEMBRO – 1949
PROJETO N° 3919
PROP. COSMOS APÓSTOLO
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°186
AUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
CONSTRUTOR AVELINO JOSÉ VIEIRA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1950
215
PROJETO N° 3929
PROP. HORÁCIO SEVERINO MAFRA
RUA DELMINDA SILVEIRA N°213
AUTOR E CONSTRUTOR VITOR FONTES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: FEVEREIRO – 1950
PROJETO N° 3931
PROP. AROLDO VILELA
RUA DELMINDA SILVEIRA N°221
AUTOR E CONSTRUTOR VITOR FONTES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: FEVEREIRO – 1950
PROJETO N° 3935
PROP. JOSÉ MARIA PACHECO
RUA JOSÉ BOITEUX N°29
AUTOR E CONSTRUTOR CID ROCHA AMARAL
NATUREZA: CENTRO ESPÍRITA JOSÉ DE NAZARETH
DATA: ABRIL– 1950
216
PROJETO N° 3960
PROP. EURICO TOLENTINO SOUZA
RUA FELICIANO NUNES PIRES
AUTOR GILBERTO REY
CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: GARAGE
DATA: MARÇO – 1950
PROJETO N° 3970
PROP. CRISPIM C. DA COSTA
AVENIDA HERCÍLIO LUZ N°122
AUTOR HEITOR FERRARI
CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1950
217
PROJETO N° 3971
PROP. ANASTÁCIO JORGE KATICIPE
RUA BOCAIÚVA ESQ. TRAVESSA TRIUNFO
AUTOR GILBERTO REY
CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1950
PROJETO N° 3972
PROP. AUREA SOUZA
RUA MAJOR COSTA ESQ. RUA LAGES
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REY
NATUREZA: ACRÉSCIMO E REFORMA
DATA: ABRIL – 1950
PROJETO N° 3972
PROP. AUREA SOUZA
RUA MAJOR COSTA ESQ. RUA LAGES
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REY
NATUREZA: ACRÉSCIMO E REFORMA
DATA: ABRIL – 1950
218
PROJETO N° 3975
PROP. LAURO DAURA
RUA TIRADENTES N°12
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1950
PROJETO N° 3979
PROP. JACI ALMEIDA
RUA GENERAL BITTENCOURT N°129
AUTOR GILBERTO REY
CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1950
PROJETO N° 3995
PROP. DEMÉTRIO LUCAS
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°139 ESQ. PADRE ROMA
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA CONS.MAFRA
DATA: ABRIL – 1950
219
PROJETO N° 3995
PROP. DEMÉTRIO LUCAS
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°139 ESQ. PADRE ROMA
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA PADRE ROMA
DATA: ABRIL – 1950
PROJETO N° 4044
PROP. ZILDA P. DO LIVRAMENTO
RUA CONSELHEIRO MAFRA
AUTOR E CONSTRUTOR TOM WILDI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1950
PROJETO N° 4055
PROP. ANTONIO GOMES SOARES
RUA MAURO RAMOS ESQ. FERREIRA LIMA N°213
AUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MAIO – 1950
220
PROJETO N° 4055
PROP. ANTONIO GOMES SOARES
RUA MAURO RAMOS ESQ. FERREIRA LIMA N°213
AUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MAIO – 1950
PROJETO N° 4058
PROP. LIBANIA BARRETO
RUA PRESIDENTE COUTINHO N°49
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MAIO – 1950
PROJETO N° 4109
PROP. ALVARO JAQUES
RUA CRISPIM MIRA N°48
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REY
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1950
221
PROJETO N° 4118
PROP. OSVALDO MACHADO
RUA JOÃO PINTO ESQ. TIRADENTES E SALDANHA
MARINHO
AUTOR E CONSTRUTOR MOELLMANN & BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO– 1950
PROJETO N° 4209
PROP. OSCAR CARDOSO
AVENIDA HERCÍLIO LUZ N°90
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: SETEMBRO – 1950
PROJETO N° 4212
PROP. MARIA JOSÉ LEAL MENDES
RUA ANITA GARIBALDI N°67
AUTOR E CONSTRUTOR ZENO RINO
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1950
222
PROJETO N° 4214
PROP. SATURNINO LUIZ
RUA PADRE ROMA N°100
AUTOR E CONSTRUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO– 1950
PROJETO N° 4237
PROP. MANOEL JOSÉ MACHADO
RUA PEDRO SOARES N°18
AUTOR CASTÚLIO DO AMARAL
CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: FACHADA
DATA: SETEMBRO– 1950
PROJETO N° 4322
PROP. DR. ELPÍDIO BARDOCA
RUA JOSÉ JAQUES
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: GARAGE
DATA: ABRIL– 1951
223
PROJETO N° 4329
PROP. APÓSTOLO PASCOAL E IRMÃO
RUA CONSELHEIRO MAFRA N° 182 ESQ. PADRE ROMA
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REY
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA CONS.MAFRA
DATA: ABRIL– 1951
PROJETO N° 4329
PROP. APÓSTOLO PASCOAL E IRMÃO
RUA CONSELHEIRO MAFRA N° 182 ESQ. PADRE ROMA
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REY
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA PADRE ROMA
DATA: ABRIL– 1951
224
PROJETO N° 4331
PROP. EUSA FARIA RODRIGUES
RUA SALDANHA MARINHO N°26
AUTOR E CONSTRUTOR NORBERTO VERANI DEPIZOLATTI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MARÇO – 1951
PROJETO N° 4390
PROP. JORGE CHEREM SOBRINHO
RUA JERÔNIMO COELHO N° 18
AUTOR E CONSTRUTOR AFONSO ZILLI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: MAIO– 1951
225
PROJETO N° 4401
PROP. PAULO SCHELEMPER
RUA PEDRO IVO
AUTOR E CONSTRUTOR GILBERTO REY
NATUREZA: PRÉDIO GEMINADO
DATA: JUNHO– 1951
PROJETO N° 4414
PROP. DR. ARTUR PEREIRA OLIVEIRA
RUA JOÃO PINTO
AUTOR E CONSTRUTOR CELSO R. FILHO
NATUREZA: REFORMA
DATA: JUNHO – 1951
PROJETO N° 4429
PROP. MARIA TERESA EVANGELISTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA N° 140/142
AUTOR E CONSTRUTOR ZENO RIZZO
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1951
226
PROJETO N° 4445
PROP. CARLOS VITOR GEVAERD
RUA TRAVESSA URUSSANGA N° 13
AUTOR E CONSTRUTOR MOELLMANN & BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO– 1951
PROJETO N° 4454
PROP. ERNESTO STODIECK
RUA CONSELHEIRO MAFRA N° 66
AUTOR E CONSTRUTOR MOELLMANN E RAU LTDA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JULHO – 1951
227
PROJETO N° 4485
PROP. IAPI
AVENIDA HERCÍLIO LUZ N° 118
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1951
PROJETO N° 4526
PROP. IZIDRO P. COELHO
RUA IRMÃO JOAQUIM N° 13
AUTOR EMPRESA DE ENGENHARIA ARQ. E CONSTRUÇÃO
CONSTRUTOR CELSO RAMOS FILHO
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1951
228
PROJETO N° 4550
PROP. RODOLFO M. VIEIRA
RUA GENERAL BITTENCOURT N°131
AUTOR GILBERTO REY
CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: OUTUBRO – 1951
PROJETO N° 4568
PROP. JORGE CHEREM
RUA FREI CANECA
AUTOR E CONSTRUTOR MOELLMANN & RAU LTDA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NOVEMBRO – 1951
PROJETO N° 4582
PROP. ARNO ROMANOS
RUA TENENTE SILVEIRA N°28
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: NOVEMBRO – 1951
229
PROJETO N° 4587
PROP. JOAQUIM MANOEL ALVES
RUA CONSELHEIRO MAFRA N°138
AUTOR E CONSTRUTOR RUY SOARES
NATUREZA: FACHADA
DATA: DEZEMBRO – 1951
PROJETO N° 4619
PROP. DIAMANTINA ROMANOS
RUA TENENTE SILVEIRA N°25
AUTOR E CONSTRUTOR JOÃO BATISTA BERRETA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: DEZEMBRO – 1951
PROJETO N° 4620
PROP. OSVALDINA M. DA SILVA PARRELA
RUA JOÃO PINTO N°33
AUTOR E CONSTRUTOR LORIS CORSINI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: FEVEREIRO – 1952
230
PROJETO N° 4624
PROP. EURICO TOLENTINO
AVENIDA RIO BRANCO ESQ. TRAVESSA ADELAIDE N°7
AUTOR GILBERTO REY
CONSTRUTOR JOÃO JOSÉ MENDONÇA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JANEIRO – 1952
PROJETO N° 4646
PROP. JOSÉ CHEREM
RUA JERÔNIMO COELHO N°16
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: ACRÉSCIMO
DATA: FEVEREIRO – 1952
231
PROJETO N° 4660
PROP. CALVY DE SOUSA TAVARES
RUA GENERAL BITTENCOURT ESQ. TRAVESSA ORTIGA N°10
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA GEN. BITTENCOURT
DATA: FEVEREIRO – 1952
PROJETO N° 4660
PROP. CALVY DE SOUSA TAVARES
RUA GENERAL BITTENCOURT ESQ. TRAVESSA ORTIGA N°10
AUTOR E CONSTRUTOR CALVY DE SOUSA TAVARES
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA TRAVESSA ORTIGA
DATA: FEVEREIRO – 1952
232
PROJETO N° 4673
PROP. MARIO DOMINGOS ELPO
RUA GENERAL BITTENCOURT N°175
AUTOR E CONSTRUTOR LORIS CORSINI
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: FEVEREIRO – 1952
PROJETO N° 4723
PROP. FRANCISCO MOTTA ESPEZIM E OUTRO
RUA GENERAL BITTENCOURT ESQ. TRAVESSA URUSSANGA
AUTOR BERRETA E CIA LTDA
CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA GEN. BITTENCOURT
DATA: ABRIL – 1952
233
PROJETO N° 4723
PROP. FRANCISCO MOTTA ESPEZIM E OUTRO
RUA GENERAL BITTENCOURT ESQ. TRAVESSA URUSSANGA
AUTOR BERRETA E CIA LTDA
CONSTRUTOR THEODORO GRUNDEL
NATUREZA: PRÉDIO – FACHADA TRAV. URUSSANGA
DATA: ABRIL – 1952
PROJETO N° 4739
PROP. MILTON ESPEZIM VIEIRA
RUA SETE DE SETEMBRO
AUTOR E CONSTRUTOR THEODORO BRUGGEMANN
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: ABRIL – 1952
234
PROJETO N° 4802
PROP. DINAMAR AIRES DA SILVEIRA
RUA JOSÉ JAQUES N°16
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL BASTOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: JUNHO – 1952
PROJETO N° 4804
PROP. DR. ALFREDO CHEREM
RUA FERNANDO MACHADO N°03
AUTOR E CONSTRUTOR RAUL SOARES
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: FEVEREIRO – 1953
PROJETO N° 4856
PROP. NEWTON LEMOS DO PRADO
RUA TENENTE SILVEIRA N°86
AUTOR E CONSTRUTOR BERRETA E CIA LTDA
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1952
235
PROJETO N° 4885
PROP. WERNER SCHMIDT
RUA JERÔNIMO COELHO N°05
AUTOR ENARCO
CONSTRUTOR NEWTON RAMOS
NATUREZA: PRÉDIO
DATA: AGOSTO – 1952
NÃO CONSTA
AV. HERCÍLIO LUZ
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
236
NÃO CONSTA
RUA MENINO DEUS
NÃO CONSTA
RUA MENINO DEUS
NÃO CONSTA
AV. MAURO RAMOS
NÃO CONSTA
RUA MAJOR AUGUSTO FARIAS
237
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
238
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
NÃO CONSTA
AV. HERCÍLIO LUZ
NÃO CONSTA
AV. HERCÍLIO LUZ ESQ. VICTOR MEIRELLES
239
NÃO CONSTA
AV. HERCÍLIO LUZ ESQ. TIRADENTES
NÃO CONSTA
AV. HERCÍLIO LUZ
NÃO CONSTA
AV. HERCÍLIO LUZ
240
NÃO CONSTA
PRAÇA GETÚLIO VARGAS
NÃO CONSTA
PRAÇA GETÚLIO VARGAS
NÃO CONSTA
RUA FERNANDO MACHADO
241
NÃO CONSTA
RUA SALDANHA MARINHO
NÃO CONSTA
RUA PEDRO SOARES ESQ. JOSÉ JACQUES
NÃO CONSTA
RUA JOSÉ JACQUES
242
NÃO CONSTA
RUA PEDRO SOARES
NÃO CONSTA
RUA SALDANHA MARINHO
NÃO CONSTA
RUA SALDANHA MARINHO ESQ. VICTOR
MEIRELLES
243
NÃO CONSTA
RUA TIRADENTES
NÃO CONSTA
RUA NUNES MACHADO
NÃO CONSTA
RUA NUNES MACHADO ESQ. VICTOR
MEIRELLES
244
NÃO CONSTA
RUA TIRADENTES ESQ. TRAVESSA OSMAR
REGUEIRA
NÃO CONSTA
RUA TIRADENTES
NÃO CONSTA
RUA TIRADENTES
245
NÃO CONSTA
RUA TIRADENTES
NÃO CONSTA
RUA VICTOR MEIRELLES
NÃO CONSTA
RUA VICTOR MEIRELLES
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
246
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
247
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
248
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
249
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA ESQ. SETE DE
SETEMBRO
NÃO CONSTA
RUA SETE DE SETEMBRO
250
NÃO CONSTA
RUA SETE DE SETEMBRO
NÃO CONSTA
RUA SETE DE SETEMBRO
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
251
NÃO CONSTA
RUA DEODORO
NÃO CONSTA
RUA DEODORO
NÃO CONSTA
RUA JERÔNIMO COELHO
252
NÃO CONSTA
RUA FELIPE SCHMIDT
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA ESQ. SETE DE
SETEMBRO
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA ESQ. BENTO
GONÇALVES
253
NÃO CONSTA
RUA BENTO GONÇALVES
NÃO CONSTA
RUA BENTO GONÇALVES
254
NÃO CONSTA
RUA BENTO GONÇALVES
NÃO CONSTA
RUA BENTO GONÇALVES
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
255
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA ESQ. PADRE
ROMA
NÃO CONSTA
RUA PADRE ROMA
NÃO CONSTA
RUA PADRE ROMA
256
NÃO CONSTA
RUA FRANCISCO TOLENTINO
NÃO CONSTA
RUA FRANCISCO TOLENTINO
NÃO CONSTA
RUA FRANCISCO TOLENTINO
257
NÃO CONSTA
RUA FRANCISCO TOLENTINO
NÃO CONSTA
RUA FRANCISCO TOLENTINO
NÃO CONSTA
RUA FRANCISCO TOLENTINO
258
NÃO CONSTA
RUA TENENTE SILVEIRA
NÃO CONSTA
RUA DEMÉTRIO RIBEIRO
NÃO CONSTA
RUA CRISPIM MIRA
259
NÃO CONSTA
RUA CRISPIM MIRA
NÃO CONSTA
RUA MENINO DEUS
260
NÃO CONSTA
RUA MENINO DEUS
NÃO CONSTA
RUA MAJOR COSTA
NÃO CONSTA
RUA MAJOR COSTA
261
NÃO CONSTA
AV. MAURO RAMOS ESQ. JOSÉ BOITEUX
NÃO CONSTA
AV. MAURO RAMOS ESQ. JOSÉ BOITEUX
NÃO CONSTA
AV. HERCÍLIO LUZ
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
262
NÃO CONSTA
BECO TUPY
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
263
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
RUA CONSELHEIRO MAFRA
NÃO CONSTA
AV. HERCÍLIO LUZ
264
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
NÃO CONSTA
RUA GENERAL BITTENCOURT
265
266
267
268
269
270
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