Download PDF
ads:
MARCELO BARBOSA RIBEIRO
Avaliação da contaminação tumoral do trajeto da
biópsia de tumores musculoesqueléticos malignos
primários: estudo histopatológico
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo para obtenção do título
de Mestre em Ciências
Área de concentração: Ortopedia e Traumatologia
Orientadora: Dra. Cláudia Regina Gomes Cardim Mendes de Oliveira
São Paulo
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Preparada pela Biblioteca da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
©reprodução autorizada pelo autor
Ribeiro, Marcelo Barbosa
Avaliação da contaminação tumoral do trajeto da biópsia de tumores
musculoesqueléticos malignos primários : estudo histopatológico / Marcelo
Barbosa Ribeiro. -- São Paulo, 2008.
Dissertação(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Departamento de Ortopedia e Traumatologia.
Área de concentração: Ortopedia e Traumatologia.
Orientadora: Cláudia Regina Gomes Cardim Mendes de Oliveira.
Descritores: 1.Neoplasias ósseas/patologia 2.Biópsia 3.Neoplasias de tecidos
moles/patologia 4.Sarcoma
USP/FM/SBD-260/08
ads:
Dedicatória
A Minha esposa Aline e minha filha Amanda.
A Dona Maria e Seu Djalma (In Memoriam), meus pais, de onde tudo
começou.
Aos meus irmãos e irmãs por acreditarem sempre em mim.
Aos meus sogros e cunhadas pelo apoio e incentivo.
Minha terra!
Quanto é grato em terra estranha
Sob um céu menos querido,
Entre feições estrangeiras,
Ver um rosto conhecido;
Ouvir a pátria linguagem
Do berço balbuciada,
Recordar sabidos casos
Saudosos — da terra amada!
E em tristes serões d'inverno,
Tendo a face contra o lar,
Lembrar o sol que já vimos,
E o nosso ameno luar!
Certo é grato; mais sentido
Se nos bate o coração,
Que para a pátria nos voa,
P'ra onde os nossos estão!
Depois de girar no mundo
Como barco em crespo mar,
Amiga praia nos chama
Lá no horizonte a brilhar.
E vendo os vales e os montes
E a pátria que Deus nos deu,
Possamos dizer contentes:
Tudo isto que vejo é meu!
Meu este sol que me aclara,
Minha esta brisa, estes céus:
Estas praias, bosques, fontes,
Eu os conheço — são meus!
Mais os amo quando volte,
Pois do que por fora vi,
A mais querer minha terra,
E minha gente aprendi.
Gonçalves Dias (1823-1864)
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Olavo Pires de Camargo por permitir que fizesse a
complementação de minha especialidade em Oncologia Ortopédica e a pós-
graduação na FMUSP, pelos ensinamentos em Ortopedia, Oncologia,
Medicina e de vida. Mesmo com tanta importância no meio médico e
científico não perde sua maneira sincera, simpática e carismática dos
grandes homens deste país. Muito obrigado.
A Dra. Cláudia R. G. C. de Oliveira pela paciência e dedicação na
orientação desta dissertação.
A Dra. Renné Z. Fillipi pelos exames histopatológicos dos casos
estudados.
Aos Srs. Carlos F. Saito e Sérgio Antônio B. do Nascimento que
contribuíram na confecção das lâminas.
A Rosana secretária da pós-graduação pelo espírito cooperativo e
eficiência.
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
RESUMO
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................01
1.1 - REVISÃO DA LITERATURA......................................................04
2. OBJETIVOS..............................................................................................07
3. CASUÍSTICA, MATERIAIS E MÉTODOS................................................08
3.1 - ESTUDO DA CASUÍSTICA........................................................08
3.2 – MATERIAIS E MÉTODOS.........................................................13
4. RESULTADOS..........................................................................................18
5. DISCUSSÃO.............................................................................................33
6. CONCLUSÕES.........................................................................................37
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................38
LISTA DE SIGLAS
CDC..........................“Center of Disease Control”
FMUSP......................Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
HC.............................Hospital das Clínicas
HE.............................Hematoxilina e Eosina
IOT............................Instituto de Ortopedia e Traumatologia
QT.............................Quimioterapia
LISTA DE ABREVIATURAS
Dir. direito
Dist. distal
Dr. doutor
Dra. doutora
Esq. esquerdo
Prox. proximal
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Modelo de trefina usada................................................................13
Figura 2. Modelo de pinça usada para os tumores de partes moles............13
Figura 3. Realização de biópsia....................................................................14
Figura 4. Cicatriz do trajeto antes da cirurgia...............................................14
Figura 5. Peça cirúrgica. Osteossarcoma osteoblástico de úmero proximal.
Trajeto da biópsia ao lado.............................................................................16
Figura 6. Exemplo de lâminas de um caso para estudo do trajeto...............17
Figura 7. Fotomicrografia Hematoxilina-Eosina (HE) 400X –
Condrossarcoma. Estudo de trajeto mostrando presença de células
neoplásicas no subcutâneo. Caso nº 21, lâmina nº 07 – 508.......................29
Figura 8. Fotomicrografia Hematoxilina-Eosina (HE) 50X –
Leiomiossarcoma. Estudo do trajeto mostrando presença de células
neoplásicas. Caso nº 11, lâmina nº 114599-1...............................................30
Figura 9. Fotomicrografia Hematoxilina-Eosina (HE) 50X – Lipossarcoma.
Estudo do trajeto livre de tumor. Caso nº 18, lâmina nº 114699-8................31
Figura 10. Fotomicrografia Hematoxilina-Eosina (HE) 50X – Sarcoma
Sinovial. Estudo do trajeto com presença de células neoplásicas. Caso nº
23, lâmina 07-549..........................................................................................32
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Correlação entre resultado do estudo do trajeto e tipo de
tumor..............................................................................................................23
Tabela 2. Correlação entre o resultado do estudo do trajeto e realização de
quimioterapia neo-adjuvante.........................................................................24
Tabela 3. Correlação entre o resultado do estudo do trajeto e presença de
componente inflamatório...............................................................................25
Tabela 4. Correlação entre o resultado do estudo do trajeto e a
neovascularização formada...........................................................................26
Tabela 5. Correlação entre tipo de tumor e fibrose.......................................27
Tabela 6. Correlação entre resultado do estudo do trajeto e fibrose............28
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Casuística....................................................................................11
Quadro 2. Local da biópsia...........................................................................12
Quadro 3. Graduação histológica do Departamento de Anatomia Patológica
do IOT HC FMUSP........................................................................................16
Quadro 4. Resultados dos estudos histopatológicos dos trajetos................20
Quadro 5. Alterações histológicas encontradas nos trajetos, com graduação
em ausente, leve, moderada e acentuada....................................................21
Quadro 6. Nível de infiltração tecidual nos casos onde houve contaminação
do trajeto com células neoplásicas................................................................22
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Distribuição quanto ao gênero.....................................................08
Gráfico 2. Grupo etário.................................................................................09
Gráfico 3. Diagnóstico histológico das neoplasias.......................................10
Gráfico 4. Resultados do estudo dos trajetos. Positivo = contaminados com
células neoplásicas. Negativo = ausência de células tumorais.....................18
Gráfico 5. Alterações histológicas................................................................19
RESUMO
Ribeiro, MB. Avaliação da contaminação tumoral do trajeto da biópsia de
tumores musculoesqueléticos malignos primários: estudo histopatológico
[dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo; 2008. 31p.
A ressecção ampla do trajeto de biópsia junto ao tumor faz parte da técnica
cirúrgica oncológica para evitar os riscos de implante de células tumorais e
recidiva local e/ou sistêmica da doença. O objetivo deste estudo foi verificar
se havia risco de contaminação por células neoplásicas no trajeto da biópsia.
Realizou-se um estudo prospectivo dos trajetos de biópsias de pacientes
operados por tumores musculoesqueléticos malignos no Instituto de
Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo no período de abril de 2006 a abril de 2007. Foram estudados por
histopatologia 25 casos. Houve implante de células neoplásicas em 32% dos
trajetos. Quando foram correlacionados os resultados dos estudos dos
trajetos e o uso de quimioterapia neo-adjuvante (p=0,19) não houve
significância, mostrando que mesmo com esse tratamento o risco de
implante existe. As alterações histológicas mais comuns foram: fibrose
acentuada, componente inflamatório leve e neovascularização acentuada.
Sugerimos a ressecção tradicional oncológica do trajeto junto com a peça.
DESCRITORES: 1.Neoplasias ósseas/patologia 2.Biópsia 3.Neoplasias
de tecidos moles/patologia 4.Sarcoma.
ABSTRACT
Ribeiro MB. Evaluation of the tumoral seeding of the biopsy tract of primary
malignant musculoskeletal tumors: histopathologic study [Dissertation]. São
Paulo: School of Medicine of the University of São Paulo; 2008. 31p.
Wide resection of biopsy tracts to tumors forms part of oncological surgical
techniques because of the risk of tumor cell implantation and local and/or
systemic disease recurrence. The aim of this study was to investigate the risk
of seeding by neoplastic cells along biopsy tracts. This was a prospective
histopathological study on biopsy tracts in 25 patients who underwent
operations due to malignant musculoskeletal tumors, at the Institute of
Orthopedics and Traumatology, School of Medicine of the University of São
Paulo, between April 2006 and April 2007. Neoplastic cells were found
implanted in 32% of the tracts. Correlation of the results from studying the
tracts with the use of neoadjuvant chemotherapy did not present significant
findings. This shows that, even with chemotherapy, the risk of implantation
exists. The most common histological abnormalities in positive cases were
classified as severe fibrosis, mild inflammatory component and severe
neovascularization. We suggest that oncological resection of the tract should
be carried out together with excision of the specimen.
DESCRIPTORS: 1. Bone neoplasms/diseases 2.Biopsy 3. Soft tissue
neoplasms/diseases 4.Sarcoma.
1
1. INTRODUÇÃO
A biópsia é um passo importante no estadiamento, diagnóstico e
tratamento dos tumores musculoesqueléticos malignos. Deve ser realizada
em todos os casos, já que, com raras exceções, é impossível determinar
com precisão a natureza da lesão por meio de outros métodos (Schajowicz,
2000).
Quando a hipótese é de tumor maligno o estadiamento deve ser
realizado antes da biópsia e o tratamento somente será iniciado após um
diagnóstico anatomopatológico. Nos tumores musculoesqueléticos este
diagnóstico muitas vezes necessita de correlação clínica e radiográfica, além
de complementação com imunoistoquímica.
O local da realização da biópsia no paciente é de extrema
importância, devendo-se evitar proximidade com feixe neurovascular,
incisões transversas e/ou proximidade com mecanismos de extensão ou
flexão dos membros, visto que posteriormente será retirado junto à peça
cirúrgica. Um planejamento pré-operatório deve ser realizado devido à
importância do procedimento (Scarborough, 2004).
É fundamental uma boa técnica para realização da biópsia, já que a
inadequada realização tem impacto negativo para sobrevida do paciente e
impossibilita, às vezes, a preservação do membro. A decisão de onde e
como realizar a biopsia é fundamental. Deve ser feita longitudinalmente e em
locais onde seja possível a ressecção ampla juntamente com a peça tumoral
no momento da cirurgia preservadora do membro (Bickles et al., 2001).
2
A ressecção ampla do trajeto de biópsia junto ao tumor faz parte da
técnica cirúrgica tradicional em Oncologia Ortopédica. Acredita-se que esse
local possa ser contaminado com células neoplásicas e a sua manutenção
no paciente aumentaria os riscos de recidiva local e/ou metástases.
Sabe-se que alguns pacientes procuram atendimento em Serviços de
Oncologia Ortopédica já biopsiados e algumas vezes em locais
inapropriados que se ressecados tornam inviáveis a preservação do membro
ou necessitarão de grandes retalhos microcirúrgicos.
Durante a realização da biópsia há uma quebra do compartimento do
tumor. Apesar dos cuidados operatórios quando há contaminação excessiva
com as células tumorais pode haver necessidade de grandes retalhos
cirúrgicos após a ressecção ampla (Jesus-Garcia, 1978 e 2005).
São necessários que se estudem antes da realização da biópsia
percutânea, guiada por tomografia computadorizada ou ultrassom, os
compartimentos do tumor. Este conhecimento permite um melhor
planejamento para evitar a provável contaminação com células neoplásicas
em compartimentos sadios (Toomayan, 2005).
A biópsia não realizada adequadamente pode, em alguns casos, levar
inclusive à amputação do membro (Simon, 1982; David et al., 1996;).
Existem dois tipos principais de biópsia: fechada (percutânea) e
aberta. A biópsia fechada pode ser feita com trefinas ou agulhas especiais,
tais como: Jamshidi, Ackermann e Tru-cut, dentre outras. A aberta é
realizada por uma pequena via de acesso direto ao tumor. Pode ser
3
incisional, quando se retira parte do tumor, ou excisional, quando se retira
todo o tumor (Jesus-Garcia, 2002).
Na biópsia aberta há maior precisão quando comparada ao método
percutâneo devido maior quantidade de material para estudo
anatomopatológico retirado (Jesus-Garcia, 1988).
Nos sarcomas de partes moles a hemostasia local deve ser
meticulosa para se evitar disseminação tumoral local e/ou sistêmica
(Bevilacqua, 1999).
Alguns autores consideram que a biópsia de tumores
musculoesqueléticos deve ser realizada por cirurgião treinado em oncologia
ortopédica, visto que a realização em local inadequado pode resultar em
amputação. Aconselha-se também que a biópsia seja feita pelo cirurgião que
fará a ressecção, pois este conhece o trajeto para esta última. (Shives,
1983; Jesus-Garcia, 1988; Simon e Bierman, 1993; Bickles et al., 1999;
Próspero, 2001).
As principais complicações da biópsia são: infecção, hemorragia e
fratura (Mankin, Lange e Sanier, 1982).
O intuito deste trabalho foi realizar um estudo histopatológico do
trajeto de biópsia para verificar se há ou não implante de células tumorais e
com isso sabermos se realmente é mandatória a ressecção.
4
1.1. REVISÃO DA LITERATURA
Há poucos trabalhos na literatura sobre contaminação com células
tumorais em trajetos de biópsias. Foram realizadas buscas nos portais
www.pubmed.com e www.bireme.br usando as palavras e descritores: “bone
neoplasms/diseases”, “soft tissue neoplasms/diseases”, “sarcoma”, “biopsy”,
“musculoskeletal tumors”, “needle”, “needle biopsy”, “percutaneous needle”,
“biopsy tract”, “biopsy path”, “biopsy pathways” e “biopsy passages” referente
aos últimos 30 anos.
De Santos et al (1978) descreveram os princípios da biópsia
percutânea com agulhas, citaram diversos modelos de instrumentais
cirúrgicos, vias de acesso e as principais complicações deste tipo de biópsia.
São citados alguns casos clínicos. Quanto à possibilidade de contaminação
do trajeto citam que clinicamente não é significante.
Enneking (1982) em editorial, apresentou os principais conceitos
sobre biópsia em tumores musculoesqueléticos acrescentando-lhes detalhes
para o enriquecimento do tema. Cita o risco de contaminação inadvertida do
trajeto da biópsia e tecidos circunvizinhos.
Ginaldi (1985) relatou caso onde houve implante por células tumorais
no trajeto da biópsia de um paciente do sexo masculino com 74 anos de
idade com linfoma Não-Hodgkin na crista ilíaca.
Reynaldo Jesus-Garcia Filho (1988) realizou tese de doutorado
apresentada à Escola Paulista de Medicina com título de: Biópsia
Percutânea do Esqueleto. Foram estudas naquela época 225 biópsias
percutâneas, não aspirativas, realizadas em 202 pacientes portadores de
5
neoplasias ósseas e cartilaginosas. Avaliou a eficácia, sensibilidade e
especificidade dos instrumentais cirúrgicos e da biópsia. Cita na discussão
alguns trabalhos sobre contaminação por células neoplásicas no trajeto da
biópsia.
Stoker, Cobb e Pringle (1991) analisaram a eficácia da biópsia com
agulha de Jamshidi de 2mm em 208 procedimentos realizados em dois
anos. Citam os benefícios deste tipo de biópsias e as complicações tais
como: infecção e fraturas. Indicam a retirada do trajeto na cirurgia definitiva.
Davies (1993) relataram caso de adolescente de 18 anos operado por
osteossarcoma do fêmur distal que após tratamento com quimioterapia neo-
adjuvante, ressecção com substituição por endoprótese, houve recidiva no
trajeto da biópsia 18 meses após a cirurgia.
Cassone et al (1996) estudaram 161 biópsias com agulha em lesões
ósseas tumorais realizadas no Departamento de Ortopedia do Centro Infantil
Boldrini em Campinas – SP, entre janeiro de 1990 e agosto de 1996.
Avaliaram a técnica, os instrumentais e a eficácia. Concluíram que devido ao
baixo custo, simplicidade da técnica e morbidade extremamente pequena, a
biópsia com agulha de tumores ósseos deve ser de escolha como primeiro
procedimento diagnóstico de lesão óssea maligna ou benigna.
Schwartz e Spengler (1997) relataram em três pacientes recidivas
locais após biópsias percutâneas com agulhas. Concluíram mesmo sendo
realizada com mini-incisões e por agulhas, as recidivas tumorais no local de
realização da biópsia podem ocorrer e deve-se ressecar o trajeto junto ao
tumor.
6
Schajowicz (2000) e Camargo (2002) enfatizam os riscos de
contaminação do trajeto nos sarcomas ósseos e alertam que se deve ter
cuidado na manipulação cirúrgica dos condrossarcomas devido o risco de
implante local e recidiva desses tumores.
Chojniak et al (2006) estudaram retrospectivamente, de julho de1994
a fevereiro de 2000, 1.300 biópsias realizadas no Hospital do Câncer A. C.
Camargo em São Paulo - SP. Encontraram um implante tumoral no trajeto
da biópsia em portador de carcinoma renal localmente avançado. Mostrando
que mesmo realizando biópsias por tomografia e agulhas especiais, existe
risco de implante tumoral.
Lewis (2007) fez recente revisão sobre as novidades em Oncologia
Musculoesquelética na literatura internacional, cita as mais novas
descobertas nos sobre sarcomas ósseos e partes moles, uso de
endopróteses, cimentação e cirurgia salvadora. Não menciona estudos
sobre biópsia.
7
2. OBJETIVOS
Avaliar a presença de células neoplásicas no trajeto da biópsia de
pacientes portadores de tumores musculoesqueléticos malignos primários.
Verificar alterações histológicas que possam estar relacionadas à
realização da biópsia ou à presença de neoplasia local.
8
3. CASUÍSTICA, MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 – ESTUDO DA CASUÍSTICA
Foi realizado um estudo prospectivo, do tipo descritivo, no período de
abril de 2006 a abril de 2007 com trajeto de biópsia de pacientes com
tumores musculoesqueléticos malignos primários operados pelo Grupo de
Oncologia Ortopédica do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do
Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP).
Todos os pacientes (Quadro 1) assinaram o termo de consentimento
livre e informado.
Foram estudados 25 trajetos de biópsias de pacientes com
diagnóstico de sarcomas primários de pelve e esqueleto apendicular no
período citado anteriormente.
Nenhum paciente fez radioterapia antes da cirurgia.
O sexo masculino predominou com 80% dos casos (Gráfico 1).
80%
20%
Masculino
Feminino
Gráfico 1. Distribuição quanto ao gênero.
9
A faixa etária variou de 6 a 73 anos com média de 27,2 anos. Sendo o
grupo etário de 11 a 40 anos o de maior incidência de neoplasias malignas
nesse estudo (Gráfico 2).
8%
52%
20%
12%
8%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%
0a10
11a20
21a40
41a60
>61
Gráfico 2. Grupo etário.
10
Foram estudados tumores ósseos, 72% dos casos (n = 18) e de
partes moles (n = 7) 28%.
O osteossarcoma osteoblástico (48%) e o sarcoma sinovial foram os
mais freqüentes (12%) tumores estudados (Gráfico 3).
8%
8%
4%
8%
4%
48%
4%
4%
12%
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Condrossarcoma
Ewing
Leiomiossarcoma
Lipossarcoma
Fibrohistiocitomamaligno
Osteossarcomaosteoblástico
Osteossarcomaparosteal
Sarcomadecélulasclaras
Sarcomasinovial
Gráfico 3. Diagnóstico histológico das neoplasias.
11
Quadro 1. Casuística
Casos Sexo Idade Local Diagnóstico QT
1.
M 20 Fêmur dist. esq. Osteossarcoma Sim
2.
M 20 Tíbia prox. dir. Osteossarcoma Sim
3.
F 29 Fêmur direito Osteossarcoma Sim
4.
M 59 Ombro esquerdo Sarcoma sinovial Sim
5.
M 10 Ilíaco esquerdo Ewing Sim
6.
M 17 Tíbia dist. esq. Osteossarcoma Sim
7.
F 73 Reg. escapular dir. Lipossarcoma Não
8.
M 16 Tíbia prox. dir. Osteossarcoma Sim
9.
M 45 Úmero prox. dir. Osteossarcoma Não*
10.
M 17 Ulna esquerda Fibroistiocitoma
Maligno
Sim
11.
F 60 Coxa esquerda Leiomiossarcoma Não
12.
M 06 Escápula esquerda Ewing Sim
13.
F 13 Fêmur dist. esq. Osteossarcoma Sim
14.
M 10 Úmero prox. esq. Osteossarcoma Sim
15.
M 17 Ilíaco direito Condrossarcoma Não
16.
M 13 Fêmur dist. esq. Osteossarcoma
Parosteal
Não
17.
M 45 Coxa direita Sarcoma sinovial Sim
18.
M 29 Coxa direita Lipossarcoma Não
19.
M 14 Úmero direito Osteossarcoma Sim
20.
M 20 Fêmur prox. esq. Osteossarcoma Sim
21.
F 70 Pododáctilo direito Condrossarcoma Não
22.
M 29 Tíbia prox. esq. Osteossarcoma Sim
23.
M 19 Tornozelo esquerdo Sarcoma sinovial Sim
24.
F 19 Fêmur distal esq. Osteossarcoma Sim
25.
M 36 Punho esquerdo Sarcoma de
células claras
Não
* Iniciou a quimioterapia mas teve que interromper por intercorrências clínicas.
12
A maioria dos tumores foi nos membros inferiores (n = 16), sendo o
fêmur distal a sede mais freqüente dessas neoplasias (Quadro 2).
Quadro 2. Local da biópsia.
Local da biópsia Freqüência Porcentagem
Coxa direita
2 8,0%
Coxa esquerda
1 4,0%
Escápula esquerda
1 4,0%
Fêmur direito
1 4,0%
Fêmur distal direito
1 4,0%
Fêmur distal esquerdo
3 12,0%
Fêmur proximal esquerdo
2 8,0%
Ilíaco direito
1 4,0%
Ilíaco esquerdo
1 4,0%
Ombro esquerdo
1 4,0%
Pododáctilo direito
1 4,0%
Punho esquerdo
1 4,0%
Tíbia distal esquerda
1 4,0%
Tíbia proximal direita
2 8,0%
Tíbia proximal esquerda
1 4,0%
Tornozelo esquerdo
1 4,0%
Tronco
1 4,0%
Ulna esquerda
1 4,0%
Úmero proximal direito
1 4,0%
Úmero proximal esquerdo
1 4,0%
13
3.2 – MATERIAIS E MÉTODOS
Realizaram-se biópsias percutâneas com trefinas de 4mm (figuras 1 e
3) para os sarcomas ósseos e os cartilaginosos, e com pinças especiais
(Figura 2) para os tumores de partes moles.
Figura 1. Modelo de trefina usada.
Figura 2. Modelo de pinça usada para os tumores de partes
moles.
14
Figura 3. Realização de biópsia.
Figura 4. Cicatriz do trajeto antes da cirurgia.
15
No exame macroscópico do espécime cirúrgico foi ressecado o trajeto
da biópsia (Figuras 4 e 5), incluindo epiderme, derme, subcutâneo, além de
fáscia muscular se presente, sendo esse o limite profundo. Após isso foram
feitos cortes longitudinais de 2mm, em vários níveis, em relação à cicatriz da
biópsia. O material foi encaminhado para processamento histológico: fixação
(formol 10%), desidratação (álcool de 96% a absoluto), diafanização (xilol) e
banhos de parafina. Nos blocos em parafina foram feitos cortes histológicos
corados em hematoxilina e eosina e análise histológica em vários níveis de
espessura de todas as lâminas (Figura 6). Foram analisados: a presença de
células neoplásicas, o nível de infiltração nas camadas da pele para os
casos onde houve presença de neoplasia no trajeto e alterações histológicas
tais como: granuloma de corpo estranho, fibrose, neovascularização e
componente inflamatório; de acordo com a graduação das alterações
histológicas do Departamento de Anatomia Patológica do IOT HC FUMSP
(Quadro 03).
16
Quadro 3. Graduações das alterações histológicas do Departamento de
Anatomia Patológica do IOT HC FMUSP.
Graduação Alterações Histológicas
por 10 campos de 400X*
Leve Moderada Acentuada
Neovascularização
(capilares)
< 10 vasos
10 a 25
vasos
> 25 vasos
Processo inflamatório
Infiltrado focal
somente
perivascular
Infiltrado focal
perivascular +
intertiscial
Infiltrado difuso
perivascular +
intertiscial
Fibrose
Somente
dérmica
Dérmica +
subcutâneo
Dérmica +
subcutâneo com
colagenização
*Coloração HE.
Figura 5. Peça cirúrgica. Osteossarcoma osteoblástico de úmero
proximal. Trajeto da biópsia ao lado.
17
Os dados foram arquivados no “software” Epi Info 3.4.1 do CDC
(Centro de Controle de Doenças em Atlanta nos Estados Unidos) que serviu
como banco de dados e instrumento de análise estatística e apuração.
Considerou-se valor de “p” significante < 0,05.
As fotografias dos exames do espécime cirúrgico mostradas foram
realizadas em microscópio Axioskop 2 plus
®
, lentes Zeiss
®
e câmera
AxionCam HrC
®
(Figuras 7,8,9 e 10).
Figura 6. Exemplo de lâminas de um caso para estudo do trajeto.
Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise de
Projetos de Pesquisa (CAPPesq) da Diretoria Clínica do Hospital das
Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em
sessão de 25.05.06 com protocolo nº 448/06.
18
4. RESULTADOS
Em 32% (n = 8) dos casos houve contaminação do trajeto com células
neoplásicas (Gráfico e Quadro 4).
68%
32%
Negativo
Positivo
Gráfico 4. Resultado do estudo dos trajetos. Positivo = contaminados
com células neoplásicas. Negativo = ausência de células tumorais.
19
Em relação às alterações histológicas, de maneira geral, a
neovascularização foi acentuada em 56% dos casos, o componente
inflamatório foi leve em 68% dos trajetos analisados e a fibrose foi
acentuada em 68% (Gráfico e Quadro 5).
O granuloma de corpo estranho foi encontrado em dois casos.
0
32%
68%
68%
24%
8%
32%
12%
56%
0 0,2 0,4 0,6 0,8
Fibrose
Componente
inflamatório
Neovascularização
Acent uada
Moderada
Leve
Gráfico 5. Alterações histológicas.
As alterações histológicas mais comuns nos casos positivos foram
classificadas como: fibrose acentuada, componente inflamatório leve e
neovascularização acentuada.
20
Quadro 4. Resultados dos estudos histopatológicos dos trajetos.
Caso Diagnóstico Lâmina Trajeto
1.
Osteossarcoma 114193-7 Negativo
2.
Osteossarcoma 114289-5 Negativo
3.
Osteossarcoma 114187-2 Negativo
4. Sarcoma sinovial 114228-3 Positivo
5.
Ewing 114242-9 Negativo
6.
Osteossarcoma 114309-3 Negativo
7.
Lipossarcoma 114339-5 Negativo
8.
Osteossarcoma 114445-6 Negativo
9. Osteossarcoma 114476-6 Positivo
10.
Fibroistiocitoma Maligno 114557-6 Negativo
11. Leiomiossarcoma 114599-1 Positivo
12.
Ewing 114638-6 Negativo
13.
Osteossarcoma 114651-3 Negativo
14.
Osteossarcoma 114656-4 Negativo
15.
Condrossarcoma 114665-3 Negativo
16.
Osteossarcoma Parosteal 114687-4 Negativo
17.
Sarcoma sinovial 114732-3 Negativo
18.
Lipossarcoma 07-25 Negativo
19.
Osteossarcoma 07-38 Negativo
20. Osteossarcoma 07-497 Positivo
21. Condrossarcoma 07-508 Positivo
22. Osteossarcoma 07-529 Positivo
23. Sarcoma sinovial 07-549 Positivo
24.
Osteossarcoma 07-622 Negativo
25. Sarcoma de células claras 07-640 Positivo
21
Quadro 5. Alterações histológicas encontradas nos trajetos, com
graduação em ausente, leve, moderada e acentuada.
Alterações Histológicas Caso Resultado
Estudo
Trajeto
Fibrose Componente
Inflamatório
Neovascularização
1.
Negativo Acentuada Leve Leve
2.
Negativo Acentuada Leve Leve
3.
Negativo Acentuada Leve Leve
4.
Positivo Moderada Leve Acentuada
5.
Negativo Moderada Leve Leve
6.
Negativo Acentuada Leve Moderada
7.
Negativo Acentuada Moderada Moderada
8.
Negativo Acentuada Leve Moderada
9. Positivo Moderada Leve Acentuada
10.
Negativo Acentuada Leve Acentuada
11. Positivo Moderada Leve Acentuada
12.
Negativo Acentuada Leve Acentuada
13.
Negativo Acentuada Leve Acentuada
14.
Negativo Acentuada Leve Acentuada
15.
Negativo Acentuada Acentuada Acentuada
16.
Negativo Acentuada Moderada Leve
17.
Negativo Acentuada Moderada Leve
18.
Negativo Moderada Moderada Leve
19.
Negativo Acentuada Acentuada Acentuada
20.
Positivo Moderada Leve Leve
21.
Positivo Moderada Leve Leve
22.
Positivo Acentuada Moderada Acentuada
23.
Positivo Moderada Leve Acentuada
24.
Negativo Acentuada Moderada Acentuada
25.
Positivo Moderada Leve Acentuada
22
Na maioria dos casos positivos o nível de infiltração foi no subcutâneo
e derme (Quadro 6).
Quadro 6. Nível de infiltração tecidual nos casos onde houve
contaminação do trajeto com células neoplásicas.
Nível de infiltração Caso Lâmina
Tipo de tumor
Dérmica Subcutâneo Dérmica
+
subcutâneo
4
114228-3 Sarcoma sinovial --- --- sim
9
114476-6 Osteossarcoma --- sim ---
11
114599-1 Leiomiossarcoma --- --- sim
20
07-497 Osteossarcoma --- --- sim
21
07-508 Condrossarcoma --- --- sim
22
07-529 Osteossarcoma --- sim ---
23
07-549 Sarcoma sinovial --- --- sim
25
07-640 Sarcoma de
células claras
--- sim ---
23
Nos sarcomas de partes moles houve contaminação em 57,1% dos
casos, já nas neoplasias ósseas e cartilaginosas houve contaminação em
22,2% conforme mostrado na tabela 1.
Tabela 1. Correlação entre resultado do estudo do trajeto e tipo de
tumor.
Teste exato de Fisher p = 0,12.
Resultado do estudo do trajeto
Tipo de tumor
Negativo Positivo Total
Sarcomas de partes moles
3 (12%) 4 (16%) 7 (28%)
Sarcomas ósseos e
cartilaginosos
14 (56%) 4 (16%) 18 (72%)
Total
17 (68%) 8 (32%) 25 (100%)
24
Dos trajetos positivos a quimioterapia neo-adjuvante foi realizada 50%
dos casos, os outros quatro casos (50%) não haviam recebido esse
tratamento previamente à cirurgia (Tabela 2).
Tabela 2. Correlação entre o resultado do estudo do trajeto e realização
de quimioterapia neo-adjuvante.
Teste exato de Fisher p = 0,19.
Quimioterapia Neo-adjuvante
Estudo do trajeto
Não Sim Total
Negativo
4 (16%) 13 (52%) 17 (68%)
Positivo
4 (16%) 4 (16%) 8 (32%)
Total
8 (32%) 17 (68%) 25 (100%)
25
O componente inflamatório foi leve em 87,5% dos casos positivos
(Tabela 3).
Tabela 3. Correlação entre o resultado do estudo do trajeto e presença
de componente inflamatório.
Qui Quadrado p = 0,32
Componente Inflamatório
Estudo do Trajeto
Acentuado Leve Moderado Total
Negativo
2 (8%) 10 (40%) 5 (20%) 17 (68%)
Positivo
--- 7 (28%) 1 (4%) 8 (32%)
Total
2 (8%) 17 (68%) 6 (24%) 25 (100%)
26
A neovascularização foi acentuada em 75% dos casos positivos
(Tabela 4).
Tabela 4. Correlação entre o resultado do estudo do trajeto e a
neovascularização formada.
Qui Quadrado p = 0,22.
Neovascularização Estudo do
Trajeto
Acentuada Leve Moderada Total
Negativo
7 (28%) 7 (28%) 3 (12%) 17 (68%)
Positivo
6 (24%) 2 (8%) --- 8 (32%)
Total
13 (52%) 9 (36%) 3 (12%) 25 (100%)
27
A fibrose foi acentuada em 83,3% dos sarcomas ósseos e 28,6% dos
de partes moles (Tabela 5).
Tabela 5. Correlação entre tipo de tumor e fibrose.
Graduação da Fibrose
Tipo de Tumor
Acentuada Moderada Total
Partes moles 2 (8%) 5 (20%) 7 (28%)
Ósseos 15 (60%) 3 (12%) 18 (72%)
Total 17 (68%) 8 (32%) 25 (100%)
Teste exato de Fisher P = 0,01
28
Em 94,1% dos trajetos negativos a fibrose foi acentuada e em 5,9%
dos casos positivos (Tabela 6).
Tabela 6. Correlação entre resultado do estudo do trajeto e fibrose.
Graduação da Fibrose
Estudo do trajeto
Acentuada Moderada
Total
Negativo 16 (64%) 1 (4%) 17 (68%)
Positivo 1 (4%) 7 (28%) 8 (32%)
Total 17 (68%) 8 (32%) 25 (100%)
Teste exato de Fisher P = 0,001
29
Figura 7. Fotomicrografia Hematoxilina-Eosina (HE) 400X –
Condrossarcoma. Estudo de trajeto mostrando presença de células
neoplásicas no subcutâneo. Caso nº 21, lâmina nº 07 – 508.
30
Figura 8. Fotomicrografia Hematoxilina-Eosina (HE) 50X –
Leiomiossarcoma. Estudo do trajeto mostrando presença de células
neoplásicas. Caso nº 11, lâmina nº 114599-1.
31
Figura 9. Fotomicrografia Hematoxilina-Eosina (HE) 50X –
Lipossarcoma. Estudo do trajeto livre de tumor. Caso nº 18, lâmina nº
114699-8.
32
Figura 10. Fotomicrografia Hematoxilina-Eosina (HE) 50X – Sarcoma
Sinovial. Estudo do trajeto com presença de células neoplásicas. Caso
nº 23, lâmina 07-549.
33
5. DISCUSSÃO
Foram estudados por histopatologia e prospectivamente 25 trajetos de
biópsias (Quadro 1). Em se tratando de neoplasias musculoesqueléticas
malignas que representam cerca de 1% dos cânceres em geral, 25 casos
em um ano de estudo é uma casuística significativa.
Quanto à distribuição do sexo, gênero, grupo etário e localização
corpórea dos tumores (Quadros 1 e 2. Gráficos 1 e 2), os dados desse
trabalho estão de acordo com os da literatura (Camargo, 2002; Jesus-
Garcia, 2005).
No estudo de trajetos de biópsia um dos principais questionamentos
de vários estudiosos no assunto é se seria possível localizar no meio do
subcutâneo o local por onde previamente passou o instrumento realizador de
biópsia. Para isso usamos as alterações histológicas locais (Quadro 5), já
que se trata de uma agressão ao tecido. Sendo portanto factível de ser
realizado. Sem estas alterações seria mais trabalhoso localizarmos o local
exato para estudo.
O estudo do nível de infiltração tumoral foi necessário para confirmar
se os casos positivos tratavam-se de implante pela realização da biópsia ou
se poderiam ser tumores que infiltraram pelo pertuito formado na fáscia
muscular resultando em falso-positivos (Quadro 6). Como nos casos
positivos não havia contigüidade do implante tumoral com o tumor, bem
como também apresentavam localização em derme e/ou subcutâneo, isso
nos permitiu concluir tratavam-se de células deixadas pela realização da
biópsia e não invasão do tumor pelo pertuito formado na fáscia muscular.
34
Foi verificado que dos oito casos considerados positivos o implante
ocorreu principalmente na derme e subcutâneo sem continuidade e/ou
proximidade com a fáscia. O que poderiam resultar em falso-positivos
(Quadro 6).
Em análise isolada dos dados, quando houve presença de células
neoplásicas no trajeto da biópsia (n = 8) o componente inflamatório foi
classificado como leve em 87,5% e a neovascularização acentuada em 75%
dos casos. Nos trajetos livres o componente inflamatório foi leve em 58,8% e
a neovascularização acentuada em 41,2% dos casos. Observou-se que nos
trajetos positivos houve uma freqüência maior do componente inflamatório
leve e da neovascularização acentuada, isso permite sugerir que a resposta
imune (inflamatória) e a angiogênese possam ter um papel importante na
disseminação neoplásica. Quando se correlacionaram os dados (Tabelas 3 e
4) não houve significância estatística, o componente inflamatório foi leve em
40% dos casos negativos e 28% dos positivos e a neovascularização foi
acentuada em 24% dos positivos e 28% dos negativos.
Não se comprovou diferença na probabilidade de ocorrência de
resultados positivos segundo o tipo de tumor, tabela 1 (p = 0,12), apesar do
número maior de sarcomas ósseos (n = 18) em relação aos de partes moles
(n = 7). Na análise isolada verificou-se que nos sarcomas de partes moles
57,2% foram positivos e nos ósseos 22,2% (Tabela 1). Pode-se sugerir que
a maior celularidade e a menor quantidade de matriz, características
próprias dos sarcomas de partes moles, estariam relacionadas à
disseminação das células. Ocorrendo o contrário nos tumores ósseos, onde
35
a matriz em maior quantidade permitiria uma diluição das células e menor
contaminação.
Quando se compararam os resultados do uso de quimioterapia neo-
adjuvante e o estudo do trajeto (Tabela 2) não houve significância estatística
(p = 0,19) sugerindo que mesmo com esse tratamento a possibilidade de
implante existe.
A correlação entre a fibrose e o tipo de tumor foi estatisticamente
significativa (p = 0,01): acentuada em 83,3% dos sarcomas ósseos e 28,6%
dos de partes moles (Tabela 5). Na realização das biópsias de tecido ósseo
há uma maior agressão local para obtenção da amostra o que pode estar
relacionado à maior resposta tecidual de fibrose.
Também foi estatisticamente significativa (p=0,00) a correlação entre
o resultado do estudo do trajeto e a quantidade de fibrose formada (Tabela
6): em 94,1% dos trajetos negativos a fibrose foi acentuada e em 5,9% dos
casos positivos. Observamos que na maioria dos casos onde a fibrose era
acentuada, não havia infiltração neoplásica, possivelmente devido ao fato de
que a fibrose poderia representar uma resposta local que funcionaria como
uma barreira a penetração de células neoplásicas.
Schwartz e Spengler (1997) ao relatarem o implante tumoral em
trajeto de biópsias de três pacientes concluem seu artigo afirmando que se
deve retirar o trajeto sempre mesmo que a biópsia tenha sido realizada de
maneira percutânea. Também fazem críticas a pobre literatura a respeito do
tema. Concordamos que há poucos artigos sobre estudos de trajetos e que a
ressecção ampla junto à peça cirúrgica deve ser feita.
36
Na literatura, dentre os tumores musculoesqueléticos malignos, o
condrossarcoma é relatado com de alto risco para recidiva local e no trajeto
da biópsia. Em nossa casuística foram estudados dois trajetos de
condrossarcomas sendo um deles positivo (50%), confirmando o que diz
Schajowicz (2000).
Pollock e Stalley (2004) chamaram atenção para os riscos da não
retirada do trajeto de biópsias em pacientes biopsiados por agulhas
finas,onde não se encontra a cicatriz da biópsia no momento da cirurgia.
Concordamos com os autores, visto os resultados do presente estudo,
apesar de não ter sido realizado com agulhas finas.
Gonçalves et al (2007) estudaram 17 trajetos de biópsia de pacientes
portadores de osteossarcoma e correlacionaram com o grau de necrose
tumoral após a quimioterapia neo-adjuvante. Em todos os casos não houve
implante de células tumorais independente do grau de necrose. Em nosso
estudo os resultados foram divergentes, apesar de termos uma amostra
mais variada.
O estudo histológico do trajeto de biópsia é factível de ser realizado
com critérios histológicos definidos podendo ser reproduzido em futuros
estudos.
37
6. CONCLUSÕES
O estudo histopatológico do trajeto de biópsias mostrou alto
percentual (32%) de contaminação por células neoplásicas indicando que há
necessidade de se ressecar o trajeto junto à peça cirúrgica.
As alterações histológicas encontradas são importantes para localizar
no subcutâneo do trajeto o provável local por onde previamente havia
passado o instrumental da biópsia, bem como o nível de infiltração tumoral
serviu para afirmar que os casos positivos não se tratavam de resultados
falso-positivos.
38
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bevilacqua RG. Biópsia dos sarcomas de partes moles. In: Lopes A.
Sarcomas de Partes Moles. Rio de Janeiro: Medsi; 1999. p.103-105
Bickles J, Jelinek JS, Shmookler BM, Malawer MM. Biopsy of
musculoskeletal tumors. In: Malawer MM, Sugarbaker PH. Musculoskeletal
cancer surgery: treatment of sarcomas and allied diseases. Washington, DC:
Kluwer Academic Publishers: 2001. p.37-46.
Bickles J, Jelinek JS, Shmookler BM, Neff RS, Malawer MM. Biopsy of
musculoskeletal tumors. Clinical orthopaedics and related research. 1999;
368: 212-19.
Camargo OP. Tumores do Sistema Musculoesquelético. Rio de Janeiro:
Medsi; 2002. p.839-841.
Cassone AE, Barbi-Gonçalves JC, Aguiar S. Eficácia da biópsia com agulha
nos tumores ósseos. Rev Bras Ortop. 1996; 31(11): 891-94.
Chojniak R, Isberner RK, Viana LM, Biópsia dirigida por tomografia
computadorizada: experiência em 1.300 procedimentos. Sao Paulo Med. J.
2006; 124(1). p.10-14.
39
David A, Rios AR, Tarrago RP, Dalmina W. Biópsia com agulha nos tumores
ósseos. Rev Bras Ortop. 1996; 31(1): 89-92.
Davies NM, Livesley PJ, Cannon SR. Recurrence of an osteosarcoma in a
needle biopsy tract. J Bone Joint Surg [Br]. 1993; 75B:977–8.
De Santos LA, Lukeman JM, Wallace S, Murray JA, Ayala AG. Percutaneous
needle biopsy of bone in cancer patients. Am J Roentegenol. 1978; 130:641-
49.
Enneking WF. The issue of the biopsy. J Bone Joint Surg. 1982; 64(A): 1119-
20.
Ginaldi S, Willians CD. Seeding of malignant lymphoma along the tract after
marrow biopsy. Southern Med J. 1985; 78:1007-8.
Gonçalves JC, Cassone AE, Aguiar SS, Gimenes A, Tonussi M.
Observational analysis of the osteogenic sarcoma scar biopsy: preliminary
report in 17 cases. In: 2007 Annual Meeting Podium Presentations. San
Diego: American Academy of Orthopedic Surgeons; 2007. [Podium no. 302].
Jesus-Garcia, R. Biópsia dos tumores musculoesqueléticos. In: Camargo
OP. Tumores do Sistema Musculoesquelético. Rio de Janeiro: Medsi; 2002.
p.667-674.
40
Jesus-Garcia R. Biópsia percutânea do esqueleto [tese]. São Paulo: Escola
Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo;1988.
Jesus-Garcia R. Biópsia percutânea nas lesões neoplásicas do esqueleto.
Rev Bras Câncer. 1978; 33(2):185.
Jesus-Garcia R. Diagnóstico e Tratamento de Tumores ósseos. São Paulo:
Elseveir; 2005. p.83-98
Lewis VO. What´s New in Musculoskeletal Oncology. J Bone Joint Surg Am.
2007; 89: 1399-1407.
Mankin HJ, Lange TA, Spanier SS. The hazards of biopsy in patients with
malignant primary bone and soft-tissue tumors. J. Bone Joint Surg. 1982;
64(8): 1121-27.
Pollock RC, Stalley PD. Biopsy of musculoskeletal tumours: beware. ANZ J.
Surg. 2004; 74: 516-19.
Próspero JD. Tumores ósseos. São Paulo: Roca; 2001. p.74-91.
Scarborough MT. The biopsy. Instr Course Lect. 2004; 53:639-44.
41
Schajowicz F. Neoplasias ósseas e lesões pseudotumorais. Rio de Janeiro:
Revinter: 2000. p.01-27.
Schwartz HS, Spengler DM. Needle tract recurrences after closed biopsy for
sarcoma: three cases and review of the literature. Ann Surg Oncol. 1997;
4(3):228-36.
Shives TC. Biopsy of the Soft-tissue tumors. Clin Orthop Relat Res. 1983;
289: 32-35.
Simon MA, Bierman JS. Biopsy of bone and soft-tissue lesions. J. Bone Joint
Surg. 1993; 75(4):616-21.
Simon MA. Biopsy of musculoskeletal tumors. J. Bone Joint Surg. 1982;
64(8): 1253-57.
Stoker DJ, Cobb JP, Pringle JA. Needle biopsy of musculoskeletal lesions –
a review of 208 procedures. J Bone Joint Surg. 1991; 73-B: 498-500.
Toomayan GA, Robertson F, Major NM. Lower extremity compartmental
anatomy: clinical relevance to radiologists. Skeletal Radiol. 2005; 34(6):307-
13.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo