surgem na Mitologia, com a história de Pigmalião, rei de Chipre:
Pigmalião via tantos defeitos nas mulheres que acabou por
abominá-las e resolveu viver solteiro. Era escultor e executou,
com maravilhosa arte, uma estatueta de marfim, tão bela que
nenhuma mulher de verdade com ela poderia comparar-se. Era,
na verdade, de uma perfeita semelhança com uma jovem que
estivesse viva e somente o recato impedisse de mover-se. A arte,
por sua própria perfeição, ocultava-se, e a obra parecia
produzida pela própria natureza. Pigmalião admirou sua obra e
acabou apaixonando-se pela criação artificial. Muitas vezes
apalpava-a, como para se assegurar se era viva ou não, e não
podia mesmo acreditar que se tratasse apenas de marfim [...].
Estava próximo o festival de Vênus, celebrado com grande pompa
em Chipre. Vítimas eram oferecidas, os altares fumegavam e o
cheiro de incenso enchia o ar. Depois de ter executado sua parte
nas solenidades, Pigmalião de pé, diante do altar, disse
timidamente:
-Deuses, vós que tudo podeis, dai-me por esposa... – não se
atreveu a dizer “minha virgem de marfim”, mas acrescentou:
...alguém semelhante à minha virgem de marfim.
Vênus que estava presente ao festival, ouviu-o e compreendeu o
pensamento que ele não se atrevera a formular, e, como augúrio
de sua benevolência, fez a chama do altar erguer-se três vezes no
ar. Ao voltar para casa, Pigmalião foi ver a estátua e,
debruçando-se sobre o leito, beijou-a na boca. Beijou-a de novo e
abraçou-a; o marfim mostrava-se macio sob seus dedos, como a
cera de Himeto. Atônito e alegre, embora duvidando e receando
que se tivesse enganado de novo, muitas vezes, com o ardor de
um amante, toca o objeto de suas esperanças. Estava realmente
vivo. (BULFINCH, 2001, p. 78-79)
Pigmalião, vendo o seu desejo tornar-se realidade, batiza a sua
estátua, antes marmórea, de Galatéa e casa-se com ela. Já no canto
XVIII do célebre poema épico Ilíada de Homero, encontra-se registrado a
seguinte passagem:
“Vem até aqui, caro Hefesto, que Tétis deseja falar-te”.
Disse-lhe, então, em resposta, o deus coxo de braços possantes:
“Acha-se, então, aqui em casa a deidade que estimo e venero, que me
acolheu quando tive o infortúnio de cair do alto do Olimpo, por
minha mãe imprudente atirado, que, assim, pretendia de mim livrar-
se, tão só! Por ser coxo! Teria sofrido imensamente, a não ser
recolhido por Tétis e Eurínome – a bela Eurínome, filha do oceano
que a terra circunda. – Junto das duas, nove anos, vivi numa gruta
escavada, a fabricar-lhes objetos de bronze, fivelas, colares, e
braceletes, e brincos. Fluía a corrente do oceano à minha volta,
espumosa, com seu incessante murmúrio. Homem nenhum,
nenhum deus onde certo eu me achava sabia, a não ser Tétis e
Eurínome, as duas que ali me ocultavam. E ora que Tétis, de tranças
venustas, vem ver-me em visita, é simplesmente um dever procurar
compensar-lhe a bondade. Dons hospitais primorosos apresta-lhe e
Figura 9 –
Galatéa. Fonte:
Bulfinch, 2001, p. 79.