para um benefício ou oportunidade própria, que é a de desenvolver o plano de carreira na
empresa; isto inclusive porque ela está nos meses iniciais de trabalho, conhecendo a loja,
experimentando diferentes relações de trabalho.
Douglas Marcel Junges, funcionário das Pernambucanas há 2 anos, apresenta uma fala
que exemplifica as tentativas ideológicas da empresa de convencer o funcionário de
determinados mecanismos, como a multifunção, mas que os funcionários percebem as
estratégias da loja e lidam com as situações de acordo com a sua necessidade ou intenções
com relação ao trabalho e a empresa. Douglas narra:
Eu acredito assim que a loja ela deveria tê uma estrutura, um aparato pra
justamente essas pessoas que são os vendedores, que é o que produz na loja,
que é o que vende, que dá salário. Elas tê um suporte só pra venderem,
praticamente só vender. Porque essa multifunção te deixa louco, sabe? Você
muitas vezes não tem um sorriso nos lábios pra você falá um bom dia pra um
cliente, porque você tá cheio de pepino, você tá com um telefone buzinando
na tua orelha, o gerente te cobrando, você tá com um caminhão de entrega,
você tá com uma fila de gente pra atendê, sabe? É uma loucura. Então, isso
sobrecarrega. Eu acredito assim: se tivesse mais funcionários pra exercê
algumas funções, né? Com certeza, além de você produzí mais, eu
desempenharia a minha função melhor. Em relação às outras funções da loja,
é... uma parte eu dependo delas e uma parte elas dependem de mim também.
Porque se eu não fizer o meu trabalho como vendedor, daí a pessoa não vai
comprar. Só que, porém, se eu fizer um bom trabalho como vendedor, e a
mulher que opera o crediário, se for estúpida e grossa, tipo assim, acabou ali.
Ou eu posso colocar a compra a vista, o cliente não vai retornar, o caixa a
mesma coisa, né? (...) Então essa multifunção é um assédio imoral, (...)
“você tem que”, e o cara fica louco, meu Deus do céu! É... tipo assim, você
tem que não, eles querem mostrá prá você como se fosse... um filósofo, né?
Ele te convida a í a merda, de uma forma tão convincente que você vai.
Desejoso, né? E você tem que fazê aquilo, né? prá cumprí. E... eu acho que
essa multifunção ela sobrecarrega, e às vezes ela acaba desestimulando a
vontade da pessoa exercê aquela função. Por mais atrativos que a empresa
ofereça, aí tem o plano de saúde, ai meu Deus a empresa tá dando uma
ferramenta! Você veja, anos atrás a empresa fazia assim, com fichário, agora
tem um computador. Se não fizesse isso não tava nem no mercado mais!
Então isso não existe, sabe? Eles colocam assim como benefício, mas na
verdade isso é uma baita duma ilusão, você tem que fazê muitas coisas,
acaba você gerando, você se especializa em uma área, nossa muito bem,
você é um doutor, você é um mestre. Agora você faz de tudo um pouco,
você não sabe muita coisa não, você sabe um poquinho de cada, entende?
Então, “ah, mas eu sô vendedor, mas eu tenho conhecimento de caxa.!” É,
você sabe fazê isso? “Não eu tenho um conhecimentozinho de caixa”. Mais
eu arrisco o crediário, eu sei telefoná, consulta, vê aonde que o cara trabalhô,
entende? (Risos). Então não é assim, você acaba dexando a pessoa triste,
você acaba dexando a pessoa sem vontade, sem ânimo, né? Então essa falta
de pessoa, que justamente, né? Às vezes o cara fala: porra, não tem ninguém
pra me atendê, né? Um dia eu até comentei com um cliente: olha, eu te
garanto que os que estão aqui eles tão fazendo o melhor que eles conseguem,
agora se você qué pedi mais alguém vai e peça pro gerente, entende? É... a
empresa que faz isso, com certeza só visa o lucro, entende? É... você vai