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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
ROSEMEIRE SANTIAGO
CUIDANDO DA DIGNIDADE E DA IDENTIDADE DO
CUIDADOR: UMA PROPOSTA PRAGMÁTICA
São Paulo
2007
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ROSEMEIRE SANTIAGO
CUIDANDO DA DIGNIDADE E DA IDENTIDADE DO
CUIDADOR: UMA PROPOSTA PRAGMÁTICA
Dissertação de Mestrado stricto sensu
apresentada à Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como um dos requisitos para
obtenção do grau de mestre no curso de pós-
graduação em Ciências da Religião.
Orientadora: Profª. Drª. Marcia Mello Costa De Liberal
São Paulo
2007
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ROSEMEIRE SANTIAGO
CUIDANDO DA DIGNIDADE E DA IDENTIDADE DO
CUIDADOR: UMA PROPOSTA PRAGMÁTICA
Dissertação de Mestrado stricto sensu
apresentada à Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como um dos requisitos para
obtenção do grau de mestre no curso de pós-
graduação em Ciências da Religião.
Aprovada em _____________ de 2008.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. Márcia Mello Costa De Liberal
Orientadora
Prof. Dr. Paulo Roberto de Camargo
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Vi as lágrimas dos oprimidos, mas não há
quem os console; o poder está ao lado dos
seus opressores e não há quem os console.
Eclesiastes 4.1
Podemos não curar sempre,
mas podemos sim, cuidar sempre,
diminuindo assim o sofrimento do outro.
Rosemeire Santiago
ii
Este trabalho é dedicado Dona Lila, a qual
sentiria um “orgulho santo” por estar
acompanhando a filha neste momento. Mesmo
com tantas diferenças e incertezas, ela
batalhou por seus filhos, brigou pela sua
sobrevivência e os dedicou a Deus, na certeza
que não poderiam estar em melhores mãos.
Ela apostou em sua filha, por isso se crê que
ela tenha chegado até aqui.
À mestra, amiga e mentora, Roselly Farias,
sem a qual sequer a pesquisadora teria
conhecido a Terapia Comunitária. Seu
incentivo, suas puxadas de orelha e
preocupações fizeram-na enxergar muitas
coisas, até mesmo o outro e a si mesma, sem
nunca desistir do outro, como nunca deveria
desistir de si mesma. Os momentos em que
ela não sabia para onde ir ou que voz ouvir,
Roselly estava presente, com sabedoria e
paciência, conhecimento e experiência,
ajudando-a a descobrir, dentro de si mesma, o
caminho da verdade.
AGRADECIMENTOS
A Deus, toda glória. Por ter transformado a vida
em um milagre e permitir à pesquisadora ter
chegado até aqui. Na experiência do cotidiano,
a ensinou que o “amar ao próximo como a si
mesma”. É muito simples, pois faz parte de um
aprendizado enriquecedor, além de ser uma
verdade cheia de reciprocidade. Ele a ensinou,
ao longo dos anos como cuidadora, que ela foi
muito mais cuidada, amada, abençoada e que
a sua trajetória; tornou-se ainda mais rica,
exatamente porque no sofrimento Ele
reescreveu sua história e lhe deu vida e vida
em abundância.
À querida orientadora e amiga, professora Dra.
Márcia De Liberal, que em sua simplicidade
ensinou, além de seus conhecimentos, também
sobre a vida. Ela é um exemplo vivo do que é
importar-se com o outro a despeito da agenda
ou do nível intelectual. Leva-se deste mestrado
as suas impressões digitais na alma.
Ao Prof. Dr. Paulo Romeiro, que mesmo em
meio a tantas atividades pastorais e familiares,
dedicou tempo, ouviu, deu idéias, suscitou
dúvidas e curiosidades, deixando a autora
muitas vezes com a “pulga atrás da orelha”
sobre seu tema, exatamente para levá-la a uma
pesquisa mais aprofundada. Sim, ele
conseguiu. Obrigada!
À família que mesmo de longe sempre apoiou e
também acreditou. Mal sabiam eles que, em
alguns momentos, a mestranda não acreditava
em si mesma, e a família caminhou com ela
ii
neste percurso tão longo. Principalmente ao
irmão Rubens, que tanto a ajudou em
pesquisas, digitações, conversas, procuras,
brainstormings e elucubrações, mas
principalmente nas caminhadas e na amizade,
e à cunhada Fátima, que mesmo em meio a
tantos afazeres, com tanto carinho e
dedicação, conseguiu achar tempo para ajudá-
la e valorizá-la.
Aos queridos e queridas voluntários do CERVI -
Centro de Reestruturação para a Vida, ONG da
qual a pesquisadora foi uma das fundadoras e
na qual trabalha até hoje. Estes e estas muitas
vezes serviram de cobaia para a Terapia
Comunitária e têm caminhado juntos, ajudando
a acreditar que vale a pena celebrar a vida.
Aos queridos e queridas irmãos e irmãs da
Igreja Batista de Água Branca, que se tornaram
a família aqui em São Paulo. Nela, pessoas
como Silvia Kivitz, Silvia Carvalho, Lídia Kilter,
Mirtes Stancanelli - que ajudou de várias
formas neste trabalho - e tantas outras, que há
tantos anos têm caminhado juntas e servido de
braço forte, alegria, aprendizado - presentes de
Deus.
Ao Fundo Mackpesquisa, que proporcionou
condições para que se fizesse vários estudos e
se participasse de encontros, nos quais se
pôde entender mais sobre a Terapia
Comunitária. Além de tornar possível que todo
este trabalho ficasse pronto e entregue às
mãos das pessoas.
À Capes, que por estes dois anos, ao
possibilitar o estudo, possibilitou o crescimento,
tanto pessoal, quanto o de muitas pessoas que
poderão ser ajudadas por meio desta pesquisa
Finalmente, a gratidão aos amigos queridos
que, ao longo da vida, contribuíram para
escrever uma história linda, de alegria. Ela,
com certeza, terá um final muito feliz, pois seu
meio já é de felicidade, sonhos e esperança.
Não há como citar o nome de cada um, o P.G.,
a banda, o coro, os amigos de fora do país, os
amigos mais chegados que irmãos, os amigos
que chegaram de mansinho e hoje dão uma cor
iii
e um cheiro especial neste mundo e alguns
amigos que já se foram, mas também deixaram
sua impressão digital na alma.
RESUMO
No decorrer da história, muitos acontecimentos levaram a desumanização a fazer
parte do cotidiano, contagiando, envolvendo famílias e pessoas
indiscriminadamente, destruindo egos, dizimando relacionamentos. Criou-se a
necessidade de olhares diferentes, olhares que trouxessem alento e esperança.
Com isso, começaram a surgir as primeiras organizações chamadas filantrópicas,
hoje conhecidas como Organizações Não Governamentais ou Organizações do
Terceiro Setor. Quanto mais essa área crescia, tanto maior era o número de
voluntários que se abdicavam em prol de seu próximo. Entretanto, esses voluntários,
em seu papel de cuidadores, não eram cuidados. Armazenavam dores e desamores,
sonhos destruídos e vidas repartidas, pois trabalham com gente, que há muito
esqueceu o significado da palavra esperança. Portanto, a dissertação analisa esses
cuidadores que começaram a ter a sua identidade perdida, demonstrando - nos
atendimentos - a impressão de que precisavam ser lembrados e cuidados. A
pesquisa busca criar um embasamento para uma profunda reflexão sobre a
necessidade da conscientização, de treinamento e de reconhecimento do “outro” e
do “eu”, bem como da importância do trabalho de grupo. O cuidador ajuda às
pessoas a colocarem em ordem seu caos emocional e vivencial, mas é preciso que
seja também ouvido e abraçado. É necessário um resgate de sua dignidade e
identidade para promover eco no coração do outro.
Palavras-chave: Terceiro Setor. Cuidador. Cuidado. Sofrimento. Voluntariado.
ABSTRACT
Through history, many occurrences that have made dehumanization a regular part of
life, invading families and individuals indiscriminately, destroying souls, and
decimating relationships. This created a necessity for a different way of
seeing/perceiving these people, which would bring them hope and courage. With
this, there began to arise the first organizations called “philanthropic”, today known as
Non-Governmental Organizations, or Third-Sector Organizations. As these structures
grew, the number also of volunteers who had the vision of helping these forgotten
people grew. However, in the majority of cases, these caretakers were not cared for
themselves. They carried pain, lack of love, destroyed dreams and broken lives
working with people who had long ago lost the meaning of the word “hope.” An
analysis of these caretakers will be done, who for innumerable reasons begin to lose
their own identity, demonstrating, often in the way they treat the people they are
serving, that they themselves need to be remembered and cared for. We intend to
prepare a basis to raise consciousness of the need for training and recognition of the
“other” and the “I,” creating a proposal for working in a group. The caretaker helps
other people many times to bring order of the chaos into their emotional and social
lives, but it is necessary also that the caretaker be heard and embraced. Having
his/her own sense of dignity and worth recognized, will reflect in the heart of the other
the ones cared for.
Keywords: Third-Sector. Caretaker. Care. Suffrering. Volunteering.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS
FIGURAS
Figura 1 – Fotos do curso de formação de multiplicadores 40
Figura 2 – Home Page com fotos do Projeto 4 Varas 41
Figura 3 – Home Page da ABRATECON 43
Figura 4 Logo do CERVI 67
Figura 5 – Home Page do CERVI - atendimento 68
Figura 6 – Home Page do CERVI – parcerias e colaboração 69-70
Figura 7 – Home Page do CERVI – quem somos? 71
Figura 8 – Home Page do CERVI – seja um doador 73
Figura 9 – Home Page do CERVI – parcerias 74
QUADROS
Quadro 1 Motes para reflexão 49
TABELAS
Tabela 1 – Voluntariado Brasileiro 33
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................... 13
CAPÍTULO 1. ORIGEM E TRAJETÓRIA DO TERCEIRO SETOR 20
1.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TERCEIRO SETOR 20
1.2. CONCEITUAÇÃO DOS TRÊS SETORES 22
1.3. CONCEITUAÇÃO DE FILANTROPIA E SOLIDARIEDADE 25
1.4. CONCEITUAÇÃO E VISÃO HISTÓRICA DAS ONGS 27
1.5. DESENVOLVIMENTO DAS ONGS E MOVIMENTOS
SOLIDÁRIOS NO BRASIL 29
1.6. ESTATÍSTICAS DO VOLUNTARIADO BRASILEIRO 33
CAPÍTULO 2. O VOLUNTÁRIO COMO CUIDADOR 34
2.1. BINÔMIO: CUIDADOR X CUIDADO 34
2.2. A TERAPIA COMUNITÁRIA 39
2.3. ALICERCES DA TERAPIA COMUNITÁRIA 44
2.4. O DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA COMUNITÁRIA 46
2.4.1 Acolhimento 46
2.4.2 Escolha do tema 47
2.4.3 Contextualização 48
2.4.4 Problematização 48
2.4.5 Rituais de agregação e conotação positiva 50
2.4.6 Avaliação 51
ii
CAPÍTULO 3. OS PRINCIPAIS PROBLEMAS APRESENTADOS
POR VOLUNTÁRIOS
52
3.1. A NEGAÇÃO DO NEGATIVO 52
3.2. A NEGAÇÃO SOB DIFERENTES ÓTICAS: 55
CAPÍTULO 4. A NEGAÇÃO DO NEGATIVO X O CONTATO
COM A DOR
61
4.1. AINDA SOBRE A NEGAÇÃO DO NEGATIVO 62
4.2. UMA EXPERIÊNCIA DE CONTATO COM A DOR 65
4.3. DA COLETA E ANÁLISE DOS DADOS DOS CUIDADORES 68
4.3.1 Da análise quantitativa 70
4.3.2 Da análise qualitativa 72
CONCLUSÃO................................................................................................ 75
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 78
ANEXO A. Modelo de pesquisa/análise utilizada .............. 83
INTRODUÇÃO
A presente dissertação de Mestrado em Ciências da Religião tem a finalidade de
contribuir para a produção científica e atingir o grau de aprofundamento acadêmico
que se espera para um curso de tal nível de excelência. Dadas a experiência junto
ao Terceiro Setor e a pesquisa prévia que a mesma fez para a sua elaboração, a
dissertação inspira-se numa tentativa de avaliar e propor um olhar acadêmico sobre
a área em que atua a mestranda.
DELIMITAÇÃO DO TEMA
Nesta dissertação, é abordada a trajetória do Terceiro Setor, ressaltando a missão
do voluntário – cuidador - e de como os reflexos de sua ação humanitária podem
fragilizá-lo. Busca-se demonstrar que o trabalho do cuidador tem como meta levar
àqueles que sofrem a visualização da luz da esperança. Para permitir que possam
emergir da escuridão na qual se encontram - esperança gerada na certeza de que
não se está mais só. Ao analisar o papel do cuidador, circunscrevendo-se à área de
Ciências da Religião, a presente pesquisa enfatiza a importância de o cuidador criar
novos paradigmas, para apresentar formas de atendimento que minimizem o
contágio com a dor do outro. Tenta-se, portanto, demonstrar o valor da Terapia
Comunitária como instrumento para que o cuidador descubra seus próprios valores e
potencialidades, sem perdê-los no emaranhado dos problemas relatados por seus
assistidos.
14
JUSTIFICATIVAS PARA A PESQUISA
Sobretudo há o interesse pessoal da mestranda. Porém, o tema se mostra relevante
para a área em que se insere. O assunto é instigante para os círculos religioso e
cidadão, nesta primeira década do século XXI. É boa a contribuição que uma
pesquisa desta natureza pode emprestar à compreensão do real papel do cidadão
imbuído da função de cuidador. Uma sociedade carente de solidariedade e
cidadania é marcadamente composta de pessoas em busca de sentido para a
própria existência, além de uma crescente busca por valores profundos e
existenciais.
Há total relevância científica nessa pesquisa uma vez que as Organizações Não
Governamentais e o próprio Terceiro Setor, no Brasil, têm uma relevância muito
grande. Num país onde não existe a correspondente oferta de empregos a tantos
que buscam uma sólida formação ou mesmo para aqueles que buscam
minimamente sobreviver com dignidade. Tanto não é suprida a demanda, como não
é oferecido, de forma suficiente, um competente cuidado para com os desvalidos e
necessitados de maior atenção. Embora isso atinja grande parte da população
brasileira, o desemprego continua à margem das preocupações daqueles que
poderiam lutar em prol de melhorias. A pesquisa pode, então, contribuir, entre outras
coisas, para a devida avaliação da necessidade e da qualidade do voluntário
cuidador. Contribui também para uma compreensão da realidade deste país em
desenvolvimento, no qual o Terceiro Setor é o grande instrumento de cidadania; e,
fornece elementos para um entendimento do que a sociedade brasileira oferece aos
seus integrantes.
Por outro lado, a relevância social da pesquisa se mostra pelo fato de que o estudo
permitirá ajudar na resposta a uma pergunta básica: justifica-se a existência da
figura do voluntário cuidador nas ONGs? Ao mesmo tempo, a pesquisa poderá
ajudar a compreender o papel e a relevância deste voluntário. Crendo na sua real
importância, a pesquisa visa analisar histórica, teológica e praticamente a sua
realidade para, de alguma forma, ajudar a compreender o seu papel, a partir do que
é oferecido a Ele e a partir das próprias carências que este cuidador traz em si.
15
O interesse pessoal da pesquisadora, como já explicitado, advém do fato de militar
na área em foco nesta dissertação, e devido à sua postura em prol de se envolver
mais efetivamente com o objeto de sua investigação (e de sua atuação profissional).
A despeito do pioneirismo, pela parca existência de estudos na área - especialmente
no Brasil - o tema se mostra de execução viável, primeiro, pela existência de fontes
a serem consultadas; segundo, pelo apoio recebido tanto no Mackenzie, com o seu
programa de pós-graduação, quanto na própria ONG estudada, os quais forneceram
subsídios para os estudos teóricos desenvolvidos nesta área.
Nesta dissertação, é abordada a trajetória do Terceiro Setor, ressaltando a missão
do voluntário – cuidador - e de como os reflexos de sua ação humanitária podem
fragilizá-lo. Busca-se demonstrar que o trabalho do cuidador tem como meta levar os
que sofrem à visualização da luz da esperança, tal que permita com que possam
emergir da escuridão na qual se encontram - esperança gerada na certeza de que
não se está mais só.
É aqui enfatizada a importância de o cuidador criar novos paradigmas, para
apresentar formas de atendimento que minimizem o contágio com a dor do outro.
Tenta-se, portanto, demonstrar o valor da Terapia Comunitária como instrumento
para que o cuidador descubra seus próprios valores e potencialidades, sem perdê-
los no emaranhado dos problemas relatados por seus assistidos.
REFERENCIAL TEÓRICO
Não apenas são aqui apontados os textos existentes até o momento, mas são
analisados os progressos, resultados, conclusões e limitações que ora se
apresentam. Segue, portanto, uma relação sumária do que foi pesquisado com
vistas à elaboração da dissertação, tanto no aspecto da apresentação do estado
atual da questão, como propriamente o referencial teórico empregado na pesquisa –
configurando o seu marco teórico.
Os textos basilares da pesquisa foram, entre tantos, o de Adalberto de Paula
Barreto, Terapia comunitária: passo a passo. Também o texto Terceiro Setor e a
16
questão Social, de Carlos Montano e a obra de Paulo Romeiro, Decepcionados com
a graça. Outro referencial utilizado foi o texto de Jung Mo Sung e Hugo Assmann,
Competência e sensibilidade solidária.
PROBLEMA e HIPÓTESE DE PESQUISA
A pesquisa se organiza a partir do seguinte problema central: o voluntário-cuidador
requer algum tipo de tratamento ou cuidados especiais para o bom desempenho de
suas funções? Com base em argumentos históricos, teológicos, técnicos e práticos,
esta é a hipótese sugerida: é de fundamental necessidade estruturar o vínculo do
voluntário com a dor e, a partir daí, obter um olhar para a sua própria formação e a
maneira de lidar com ela.
OBJETIVOS
Esta pesquisa/proposta procurará abrir os olhos de muitas pessoas, alertando-as e
ajudando-as a desempenharem seus papéis, de maneira mais eficaz e livre para se
doarem mais, sem se ferirem muito. Entre os seus objetivos de trabalho, destacam-
se:
1. Estudar as origens históricas do Terceiro Setor;
2. Estudar a inserção e o desenvolvimento do voluntariado no Brasil;
3. Despertar para a necessidade de se promover a aplicação da Terapia
Comunitária
1
como alternativa de trabalho de cuidado com o cuidador;
4. Estudar a relação do voluntário com a dor.
De fato, o objetivo mais importante é estruturar o vínculo do voluntário com a dor e, a
partir daí, obter um olhar para a sua própria formação e a maneira de lidar com ela.
1
Criada pelo Dr. Adalberto Barreto conforme explanado em capitulo adiante.
17
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa segue etapas próprias, a partir da sua hipótese norteadora e adota o
procedimento de observação participativa, bem como a leitura de textos de
orientação teórico-metodológica e a análise geral dos resultados. Procurou-se, neste
trabalho, utilizar a pesquisa exploratória por meio de documentos, livros,
enciclopédias, jornais, revistas e Internet para uma profunda reflexão sobre o tema
proposto. Foram realizadas ainda pesquisas através de respostas a questionários.
Estas pesquisas permitiram o embasamento também no conhecimento daqueles que
praticam o voluntariado, a fim de descobrir seus anseios e angústias, as quais
levaram a comprovar as afirmativas iniciais.
Uma tentativa de síntese dos capítulos desenvolvidos na dissertação pode ser assim
apresentada. No primeiro capítulo foi estudada a origem e a trajetória do Terceiro
Setor. Este setor da economia teve seu apogeu na revolução industrial, quando
houve uma grande migração do campo para a cidade. Com este crescimento, o
Estado e o governo começaram a ter dificuldades em atender às necessidades dos
indivíduos que foram tornando-se cada vez mais carentes de cuidados médicos,
assistenciais, de moradia e educacionais. Por isto, tornou-se necessária a criação do
Terceiro Setor, chegando ao Brasil pelas Santas Casas e tomando dimensões cada
vez maiores até os dias de hoje.
O segundo capítulo analisa o voluntário como cuidador. O voluntário é aquele que se
doa em prol do outro, seja por um chamado, seja por passar experiências
semelhantes, ou até mesmo por ter trabalhado na área em que se prontificou a ser
voluntário. Esta pessoa torna-se cuidadora a partir do momento em que se
disponibiliza a apostar na transformação, quando acredita que o próximo tem o
mesmo potencial que ele mesmo, por isto não se acha superior nem inferior. Ele
cuida e se deixa cuidar. Neste ponto aparece a proposta da Terapia Comunitária –
criar este espaço de cuidado para possibilitar uma cura ou, pelo menos, um cuidado
para aqueles voluntários que trabalham com pessoas em situação de sofrimento.
O capítulo terceiro aponta os principais problemas apresentados por voluntários.
Alguns voluntários, seja por crença religiosa ou por filosofia de vida, afirmam que, ao
18
aceitar o sofrimento, chamam-no para si, interferindo em sua cura ou na
possibilidade de sua inexistência. Atrapalhando, assim, o tratamento do paciente,
causando, em alguns casos, o óbito. Neste capítulo é feito um estudo sobre alguns
autores e suas afirmações sobre a cura, bem como suas dimensões, assim como as
definições da palavra negação em diversas ciências.
O último capítulo focaliza a negação do negativo e o contato com a dor. Na Bíblia
existem vários versículos sobre a cura completa e a salvação. Acredita-se que se
tais trechos escriturísticos forem declarados pelo cristão, este estará isento de
qualquer mal. Esta forma de crer predomina em alguns segmentos religiosos de viés
neopentecostal. Entre os seus criadores estão Kenyon, Mary Baker e Kenneth
Hagin, os quais foram pessoas que lutaram pela verdade, creram, deixaram vários
discípulos vivos ainda hoje e que trabalham como voluntários.
Quanto à análise de pesquisas, salienta-se que foi utilizada no presente trabalho a
pesquisa teórica e de campo. Em relação à pesquisa de campo: a elaboração de
questionário de múltipla escolha e de questão dissertativa objetivou obter dados
quantitativos e qualitativos sobre os elementos que podem servir de apoio aos
cuidadores, bem como objetivaram conhecer quais os sentimentos que mais
freqüentemente ocorrem a tais cuidadores durante seu trabalho voluntário. Optou-se
pela escolha de profissionais militantes em diferentes áreas de atendimento:
crianças, idosos, gestantes, doentes crônicos ou terminais. Com isso procurou-se
obter uma visão mais ampla do assunto em tela. Quanto à pesquisa exploratória, os
livros, jornais, e revistas foram utilizados tendo em vista o possível embasamento
teórico, para justificar a assertiva inicial referente aos cuidados necessários ao
cuidador.
Acerca da análise qualitativa, a população alvo foi do sexo feminino. Mulheres
exercendo funções de voluntárias em entidades de caráter assistencial. Observou-se
que todas, diante da impotência para solucionar problemas, sentem-se tristes.
Algumas também se afirmaram fragilizadas e, conseqüentemente, responderam
também necessitar de apoio emocional. Isso pareceu confirmar a assertiva de que o
cuidador também necessita de alguém que o ajude a minimizar sua angústia por não
poder resolver os problemas encontrados. Muitas se apóiam na própria família ou
possuem amigos que lhes proporcionam amparo e conforto. Há as que repartem
19
suas incertezas, angústias, dores e preocupações com o cônjuge, em pequena
quantidade deste universo de respondentes onde nem todas são casadas. Outro
fator importante considerado foi que a grande maioria demonstrou necessidade de
apoio intelectual e emocional. Isso conduziu à reflexão acerca da necessidade de
formas de atuação que minimizem tais necessidades; com treinamento e terapia
comunitária.
Estas cuidadoras entrevistadas sempre têm procurado mitigar a dor de seus
assistidos, envolvendo-os com palavras e ações carinhosas, pois entendem que o
carinho e o amor são imprescindíveis como alicerces de sua ação humanitária.
Sentem-se felizes por poderem auxiliar ao próximo, especialmente as que trabalham
com portadores de doenças incuráveis, como o câncer e o HIV. Embora seja um
trabalho emocionalmente exaustivo, elas sentem-se gratificados por poderem
distribuir apoio e esperança. Porém, afirmaram também sentir necessidade de um
ombro amigo, de um ouvido com quem repartam suas tristezas, de um incentivo que
as ajude a prosseguir no trabalho de cuidadoras. A grande maioria sente
necessidade de ampliar seus conhecimentos para fortalecê-las, para melhor se
realizarem enquanto profissionais, uma vez que elas afirmaram categoricamente a
necessidade de apoio intelectual.
Pela análise das respostas da pesquisa de campo, se pôde perceber que a grande
maioria gostaria de, além do apoio de familiares e amigos ou cônjuges, possuir
maior bagagem de conhecimentos e um amparo mais eficiente no campo emocional.
Com isso, persiste a questão que norteia esta pesquisa: se estas cuidadoras
pudessem receber maior apoio emocional, poderiam ser mitigadas as dores e
angústias destas mesmas cuidadoras?
CAPÍTULO 1
ORIGEM E TRAJETÓRIA DO TERCEIRO SETOR
As necessidades sociais podem tornar-se objeto de desejos coletivos, coesionados a
partir de experiências de esperança, no cotidiano das pessoas. Com isso, há que se
analisar, em primeiro lugar, algo acerca do Terceiro Setor que se inseriu na história
contemporânea da sociedade.
1.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TERCEIRO SETOR
A Revolução Industrial, no final do século 19, trouxe, dentre outras conseqüências,
uma evasão enorme de operários para a cidade. A vida nos campos era marcada
pela pobreza. O surgimento dos mecanismos do mercado fez com que existisse uma
ruptura brutal entre o sistema produtivo, pois, na ânsia por uma vida mais digna, as
pessoas buscavam seus sonhos e lutavam por ideais diferentes dos que
experimentavam ou vivenciavam anteriormente.
As discriminações sociais - dentro do sistema feudal - eram enormes. Portanto, já
com a dignidade achatada e a fome gritando dentro das casas e dos corações, o ser
humano se viu obrigado a lutar pela sobrevivência própria e de sua prole. Quando as
pessoas perderam de vista a maneira anterior de viver, surgiram outros códigos e
linguagens que as levavam a uma comunicação intrinsecamente ligada ao seu
status quo. As classes sociais passaram a divergir de forma exacerbada, a
distanciar-se acentuadamente e com isto a segregação começa a disseminar
sentimentos diversos de competitividade, soberba e discriminação.
As antigas teologias preconizavam que a esperança seria a
estratégia psicossociológica de uma aliança: a do homem com seu
deus. Tal apresentação por ser bastante tópica merece ser
conservada. Mas segue-se imediatamente que nem toda religião é
21
percebida como religião de esperança. Em dois casos pelo menos, o
da esperança evaporada e o da esperança obstruída. (DESROCHE,
1985, p. 15).
Esperança obstruída por uma sociedade endeusada por si mesma. Os templos
tornaram-se apenas cheios de cimento e vazios de relacionamentos. As famílias e a
plebe não se misturavam, ou seja, apenas os nobres tinham família. Os pobres não
tinham onde prestar seus cultos. Pode-se ter como exemplo o Egito antigo, quando
o Faraó e os deuses monopolizam a esperança, pois apenas eles tinham direito à
imortalidade. Nenhum outro homem simples via-se com direito a ela, ao bem estar, à
família, e ao eterno.
Com o Médio Império, começou então a haver mudança – a expansão da religião
torna-se visível, trazendo consigo a possibilidade dos pobres e as classes menos
privilegiadas terem acesso aos templos. Com isto começou o sagrado a promover a
resignação neste meio e o sacerdócio deixou de ser privilégio apenas da nobreza.
Com o sacerdócio pregou-se então a mensagem da vida e esperança, tentando
atingir todas as classes.
Outro tipo de esperança, segundo Desroche, é a esperança evaporada. Refletida no
século 19, fundindo religião e sociedade. À época, o quadro social destacou-se com
a Revolução Industrial e o proletariado passou a existir. As diferenças entre as
classes sociais começaram a naufragar as utopias socializantes. A esperança em
deuses mudos e indiferentes às necessidades da plebe passara a misturar-se com
práxis de um socialismo científico. Neste ponto da história, apareceram os indícios
convergentes de uma consciência, cada vez mais explícita, de uma profunda crise
de civilização. Não se tratava, então, apenas de problemas localizados. Havia um
mal estar generalizado que revelava algo profundamente equivocado nos rumos
gerais da humanidade.
As grandes cidades, estruturadas para um crescimento planejado recebem,
desordenadamente, esses indivíduos. Esse êxodo para os centros urbanos gera
uma gama de pessoas necessitadas, sem destino que, na busca de alimento e
moradia, encontraram nada menos que o vazio e o achatamento de sua dignidade.
O cuidado e as atenções que lhe são devidos desaparecem abruptamente e, sob o
olhar capitalista, tornaram-se inúteis e passam a ser dependentes do Estado.
22
O Estado deparou-se com um número cada vez maior de pessoas dependentes de
sua ajuda e as diferentes classes sociais se mobilizam, surgindo então os
movimentos sociais, as brigas de classe. Com isso, começaram a existir diferentes
correntes ideológicas e sensibilidades solidárias convergentes. Nestas, grupos de
pessoas iam se engajando e sendo engajadas, para se ajudarem mutuamente,
havendo a garantia de produção e distribuição de bens e serviços para a ampla
maioria. Não acontecendo o esperado em relação às instituições, a sensibilidade
solidária, surgida nos grupos de pessoas prontas a ajudarem-se mutuamente, foi se
dicotomizando do Estado. Este já não mais tinha a hegemonia do cuidado, criando-
se - ou sendo criados - então, os três setores para que as diferentes elites não
morressem.
1.2. CONCEITUAÇÃO DOS TRÊS SETORES
Esses setores começam a desempenhar um papel diferente na sociedade, operando
no âmbito da coletividade, no qual o indivíduo reconhecia cada uma de suas
necessidades e as legitimava. Pode-se conceituar cada setor, como se segue: o
primeiro setor corresponde ao Estado e seus agentes públicos com fins públicos:
A racionalidade da gestão do Estado, no caso a República
Federativa do Brasil, serve aos seguintes objetivos fundamentais: I -
Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - Garantir o
desenvolvimento nacional; III - Erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais regionais; IV -
Promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (VOLTOLINI,
2004, p. 71)
O Estado deve, entretanto, usar sua capacidade para que todas as suas ações
sejam em prol do cidadão, usando a legalidade, moralidade e incorruptibilidade.
Nesse Setor incluem-se a economia, as finanças públicas, as políticas do governo, a
saúde e a educação, o transporte e a moradia.
Já o Segundo Setor tem uma característica privativa de bens e serviços, com lucros
próprios, voltados para si mesmos. São incluídos o mercado, os agentes privados
com fins privados.
23
Sob a influência do mercado, o setor privatizado movimenta-se
basicamente em função de cálculos e metas, projeções que
comparam resultados e o desempenho da própria organização e das
organizações concorrentes. (VOLTOLINI: 2004, p. 68).
No Segundo Setor existe um ponto extremamente relevante em relação ao Primeiro
Setor, que é a pessoalidade. Aqui, as empresas podem contratar, dispensar,
promover em maior ou menor grau, as pessoas, de acordo com seu próprio critério.
O bom desempenho das atividades do profissional relaciona-se à finalidade
lucrativa, em detrimento de mera obrigação moral. Seu desempenho tem reflexo
diretamente proporcional à sua possibilidade de crescimento e conseqüentemente o
resultado passa a ser também de seu interesse.
Por fim, o Terceiro Setor engloba os agentes privados com fins públicos. Como
decorrência dos movimentos messiânicos, das mudanças pós-industrialização etc.,
as diferenças sociais pediram, do governo ou da sociedade, alguma atitude. O
governo não respondeu a esta tão grande necessidade e o setor privado não fez
diferença. O Terceiro Setor veio a ser um agente de transformação e mudança. Com
ele, o voluntariado fortificou-se de maneira significativa nestas organizações e a
responsabilidade social, passou a fazer parte do dia-a-dia do brasileiro.
O desafio desse setor passou a ser introduzido no vocabulário econômico pós-
Revolução Industrial, como conseqüência do êxodo rural em busca de melhores
condições de vida. Designa aquelas organizações que, não sendo públicas nem
privadas, haverão de cuidar dos problemas e questionamentos de uma sociedade
moderna. Não tendo finalidade lucrativa, suas ações são voltadas para a cidadania e
o seu trabalho deve servir como tentativa de resgate da dignidade humana, outrora
deteriorada pelas precárias condições de vida a que uma parcela da sociedade foi
submetida; devolução dos direitos da população, não importando raça, credo
religioso, cor ou etnia.
24
A inspiração para o nascimento e crescimento desse Terceiro Setor surgiu da
discussão sobre o fortalecimento da sociedade civil que – em decorrência da
democratização globalizada e da prática do neoliberalismo - traz consigo a crença ou
um sonho não alimentado, que é a do Estado como provedor. O Terceiro setor
busca a complementação ou a substituição das ações que deveriam ser executadas
pelo primeiro setor. Face ao reposicionamento do papel do Estado e do
fortalecimento da sociedade civil organizada, muitas empresas privadas passaram a
incluir, em seus objetivos institucionais, o que se originava do entendimento da
distinção entre empresa, negócio e Estado.
Existem duas linhas contraditórias quanto à nomenclatura do Terceiro Setor X (e/ou)
Estado. Para muitos, como Claudia Costin, ex-ministra da Administração Federal e
Reforma do Estado e atual diretora da unidade de setor público e governamental
para a América Latina e Caribe do Banco Mundial:
O Estado deixa a desejar quando se trata de aplicar com igualdade
os impostos que arrecada. Neste vácuo é que o Terceiro Setor se
torna importante e cada vez mais visível. O Terceiro Setor cresce
onde o Estado falha. O governo tem de lidar com regulamentação,
execução e policiamento. Na assistência social, existe um tratamento
específico por causa da desigualdade dos grupos e este trabalho é
para quem tem mais agilidade, como as instituições do Terceiro
Setor. (COSTIN, 2007, p. 12).
A outra linha é a de Montano: “o caminho seja da recuperação da crítica da
economia política desenvolvida por Marx é centrada agora no capitalismo
monopolista e sua reestruturação” (2005, p. 25). Para ele, todo processo de
transformação social tem que partir de uma correção da análise. O objetivo de retirar
a responsabilidade do Estado, de intervir nas questões sociais e trazê-los para o
Terceiro Setor. Não se trata de uma transferência por razão da competência ou
razões financeiras, nem ao menos para reduzir os custos do Estado ou cobrir uma
gap social que o mesmo não pode alcançar. Mas, trata-se muito mais de uma
questão político - ideológica, retirando os direitos do cidadão e de sua cidadania;
criar uma imagem de transferência de responsabilidades, na qual o setor
empresarial, por meio da responsabilidade social, acaba tendo uma demanda
lucrativa.
25
Ao se colocar numa esfera comparativa, analisando uma ou outra linha, a
característica básica distintiva entre esses três setores é a lógica que fundamenta
sua prática e suas ações. Os objetivos primordiais são os mesmos: a garantia de
melhores resultados e a promoção de uma visão de mundo melhor para o ser
humano. Seguindo essa linha de raciocínio, os autores do Terceiro Setor referem-se
a si mesmos, com os mais diversificados nomes: organizações não-lucrativas e/ou
não-governamentais, instituições de caridade e/ou religiosas, atividades filantrópicas,
ações solidárias, ações voluntárias ou atividades pontuais e informais. Trata-se,
portanto, apesar das várias nomenclaturas, de um conjunto de organizações formais
da sociedade civil.
1.3. CONCEITUAÇÃO DE FILANTROPIA E SOLIDARIEDADE
Analisam-se, na seqüência, os conceitos de filantropia e solidariedade.
Primeiramente filantropia, que é uma palavra originária do grego, que tem o sentido
de amor à humanidade, implicando uma ação altruísta e desprendida. A palavra traz
um significado subjacente, qual seja: percepção das aspirações autênticas do ser
humano, na razão inversa de suas próprias aspirações, provendo às necessidades
psicológicas ou físicas do outro:
Filantropia significa amor à humanidade, ao contrário do amor a si
próprio ou egoísmo. Surge da mesma raiz de filosofia, amor ao
conhecimento. (KANITZ, 2005, p. 78).
A filantropia não deveria escolher causas, nem prejulgar o que deve ou não ser feito
com o dinheiro, embora, nos primórdios, não tivesse ligação alguma com o dinheiro
propriamente dito. Era considerada uma elevada qualidade espiritual. Maimônides
(apud LERNER, 2007), filósofo judeu do século 12, propôs no Mishna Torah, a
existência da filantropia. Já na atualidade, Paul Uhrisaker, um dos pensadores mais
eminentes da filantropia americana, sugeriu que a caridade era diretamente
relacionada à filantropia. Embora o tema caridade tenha se desgastado muito na
última década do século 20, devido ao mau uso, acabando por refletir a doação
como ato paternalista, pelo qual quem tem certo poder aquisitivo acaba ajudando
26
aos menos privilegiados. Na América Latina, o tema da filantropia empresarial
começa a ser estudado.
Num levantamento recente sobre filantropia e cidadania no Brasil,
realizado pelo Instituto da Religião (ISER), foi constatado que 70%
dos entrevistados afirmaram que fazer doações ou participar de
atividades voluntárias com organizações sociais faz parte de crença
religiosa. (DOMENEGHETTI, 2001, p. 211).
Portanto, a filantropia, seja empresarial ou social, tendo como uma das vertentes a
caridade, fez-se necessária para mudar o sistema. Mudança de sistema, não com a
conotação insana de resolver as questões de origem social, por uma caridade
paternalista, pois ela vai além da justiça. Para ser autêntica e verdadeira, a caridade
- filantropia - deve sempre levar em consideração a justiça.
Não devemos desejar que haja infelizes para que possamos fazer
obras de misericórdia. Dás pão a quem tem fome, contudo seria
melhor que ninguém tivesse fome e que não precisasses dar a
ninguém. Vestes a quem está nu; oxalá todos tivessem roupas para
vestir e que não houvesse necessidade desta obra de misericórdia!
Todos estes serviços são exigidos porque há indigência. Suprime os
infelizes e não haverá mais ocasião para obras de caridade.
Extinguir-se-á por isto a chama do amor? Mais autêntico, mais puro,
mais leal será teu amor por uma pessoa feliz, da qual não podes
fazer um devedor, pois, quando com teus dons empenhas a gratidão
do infeliz, talvez desejas elevar-te perante ele, desejas que esteja
abaixo de ti. (Santo Agostinho, apud GESTEL; 1956, p. 165).
A outra palavra é solidariedade: conceito que vai além de uma simples ação de
ajuda emergencial ou tática de marketing social para maximizar a sociedade. Leva
os seres humanos a se auxiliarem mutuamente, partilhando a dor com o outro ou se
propondo a agir para atenuá-la. Tolstoi afirmou que, “quem faz o próximo sofrer
pratica o mal contra si mesmo. Quem ajuda o outro, ajuda a si mesmo”. Essa palavra
não possui apenas um significado, sendo até mesmo ambígua em algumas
situações. Muitas vezes ela está relacionada a situações emergenciais, em que
existam movimentos, agrupamentos e disposições. Em decorrência de todos esses
27
movimentos sociais, ela passou a fazer parte do cotidiano, fornecendo um conceito-
chave para propostas de soluções.
Durkheim chega a segmentar a solidariedade em mecânica e orgânica. Tal
segmentação, ainda hoje, pode ser aplicada. Ele transformou esse termo em noção
básica da sua teoria de coesão social. Via a sociedade e cada um de seus setores
como parcialmente autônomos, sendo que seus atos convergiam para a
solidariedade, daí a explicação do conceito de:
[...] solidariedade mecânica- para descrever e criticar os processos
de excessiva autonomização no todo social, e o outro conceito- o de
solidariedade orgânica- para exaltar as dinâmicas de convergência
neste todo. (SUNG, 2000, p.74).
Para Émile Durkheim, a solidariedade básica de qualquer sociedade deve expressar-
se numa normatividade socialmente confiável. A metáfora que usa para a
solidariedade mecânica é uma máquina, enquanto que para a orgânica é o
organismo vivo. O autor analisa os valores positivos e negativos dos dois tipos de
solidariedade e, em ambos, o corporativismo é positivo, desde que não haja
interesses grupais que se oponham a outros grupos. Com o crescimento do Terceiro
Setor, o tema solidariedade passou a fazer parte da inclusão social, dos sonhos e
esperanças, tanto do indivíduo que faz parte de um grupo menos privilegiado,
quanto de indivíduos ou organizações de alta escala na sociedade. Ela é a mola
propulsora para o crescimento mútuo, o fortalecimento das classes e a
conscientização da existência do outro.
1.4. CONCEITUAÇÃO E VISÃO HISTÓRICA DAS ONGS
Montano (2005) define ONG como uma instituição particular com fins públicos. O
termo ONG foi cunhado pela Organização das Nações Unidas - ONU, para designar
entidades executoras de projetos humanitários ou de interesse público
transnacional. Tais entidades expandiram-se, nas décadas de 1960 e 1970, nos
países desenvolvidos, para agirem no então denominado Terceiro Mundo.
Expressam, na sua origem, o compromisso humanitário com os países pobres. Em
28
seu desdobramento, geraram ONGs locais nos países onde atuavam, introduzindo o
início das modernas redes de cunho local. Em alguns lugares, principalmente na
América Latina, passaram a ter um expressivo caráter político, atuando fortemente
na redemocratização dos países com ações voltadas para uma política social de
desenvolvimento comunitário e para a execução de atividades de assistência.
Para Montano (2005), as ONGs, nas décadas de 1970 e 1980, apresentavam um
papel articulador, junto aos movimentos sociais, captando recursos para esses
movimentos, os quais se articulavam com finalidades específicas tais como:
alimentação dos carentes, caldeirões populares, defesa de direitos humanos, etc.
Porém, a partir da última década do século 20, as ONGs passaram de coadjuvantes
a atores principais, passando a ter grande importância no cenário social.
Transformam-se em entidades beneméritas, preferidas por grande número de
voluntários, conquistando credibilidade e ampliando sua quantidade, tendo como
parceiros, muitas vezes empresas ou o poder público. Passaram a ter também maior
espaço na mídia
Na década de 1980, com a alteração da situação latino-americana de maior
democratização dos países, as ONGs passam a ter maior significado e inferência no
dia-a-dia da população. Elas, a partir daí, passaram a ser instituições privadas sem
fins lucrativos cujo lucro, ou geração de renda que possam vir a auferir, retorna para
a atividade alvo ou para o foco da organização. Para que isso seja resguardado,
seus representantes legais não podem ser remunerados, provindo daí a importância
do voluntariado. Portanto, não integram o aparelho governamental, não têm
acionistas e se auto-gerenciam.
A presença do voluntariado exige maior transparência e unidade e, apesar do
caráter não governamental, seus fins têm características de serviço público. São
muitas vezes micro-organizações, mas variam quanto à natureza de seus serviços.
Seu foco principal é procurar contemplar as demandas sócio-culturais não satisfeitas
pelo governo ou pelo mercado. Diferentemente de sindicatos, associações de
moradores de bairro, comunidades ou movimentos sociais, as ONGs não falam em
nome de terceiros nem dependem do poder político para legitimar suas decisões.
Seu valor está nas respostas obtidas de seus serviços. São iniciativas solidárias e
29
“[...] incidem, geralmente, em pontos emergenciais onde a lógica sistêmica
imperante se revela não apenas omissa, mas irracional” (SUNG, 2000, p. 64).
Ao longo dos anos e de sua história, as ONGs foram criando uma rede de
conscientização e idéias convergentes, concretizadas sob a forma de interligação
comunicativa, fortalecendo-se mutuamente, criando assim, uma rede solidária maior
ampla, capaz de atingir mais engajamentos de grupos e pessoas, resultando num
serviço de dimensões mundiais. Há que se considerar que a responsabilidade social
não se deva resumir apenas a uma coleção de práticas pontuais, de atitudes
ocasionais ou até mesmo de iniciativas motivadas pelo marketing, pelas relações
públicas ou quaisquer outras vantagens.
1.5. DESENVOLVIMENTO DAS ONGS E MOVIMENTOS SOLIDÁRIOS NO
BRASIL
A idéia de Terceiro Setor faz parte de um processo de mudança da democracia
representativa para a participativa. No Brasil, na República Velha, o Estado
oligárquico mostrava-se totalmente indiferente aos problemas sociais que atingiam à
população, não apresentando nenhuma solução nas políticas sociais. Nesse
período, coube à Igreja Católica o atendimento ao pobre, mas a necessidade foi se
tornando cada vez maior, fazendo-se necessária uma redistribuição de papéis dos
atores sociais em busca do bem comum. A sociedade civil organizada, o que mais
tarde seriam as ONGs, assumia novas responsabilidades pela proteção e defesa de
direitos do ser humano.
As profundas transformações sócio-econômicas, ocorridas no século 20, geraram
uma profunda mudança de valores, caminhando para o resgate da auto-estima, das
lideranças positivas, da preocupação com o meio ambiente, da cooperação, da
ética, atingindo até a dimensão espiritual do ser humano. Nascido no período militar,
o Terceiro Setor cresceu na década de 1980 e tornou-se polemizado na década de
1990. As primeiras instituições apontadas na história do país são as Santas Casas
de Misericórdia que chegaram com as caravelas dos portugueses, em 1543, na
capitania de São Vicente. Mais tarde, em 1560, foram inaugurados em São Paulo,
30
uma pequena enfermaria e um albergue. A instituição se espalhara pelo território
nacional. Chegaram depois, o mosteiro de São Bento e os Franciscanos. Essas
organizações começam a fornecer refeições aos pobres, órfãos e enfermos,
prestando-lhes, além de ajuda material, apoio espiritual e abrigo. Portanto, essas
instituições existiam basicamente no espaço da Igreja Católica, permeadas pelos
valores da caridade cristã, a partir das características do catolicismo e de suas
relações com o Estado. Isso aconteceu desde a colonização até os meados do
século 20, quando o Estado começou a agir juntamente com a sociedade.
No Estado Novo, Getúlio Vargas instalou uma ditadura do tipo populista, com
elementos de inspiração corporativa. Foi, então, criado, no Brasil, o Conselho
Nacional de Assistência Social, em que a assistência social passou a ser
regulamentada pelo governo. O Estado tomou para si a função assistencial e às
organizações sem fins lucrativos foi atribuído o papel de colaboração. Esse papel foi
legitimado e, em 1935, foi promulgada a lei declarando essas entidades como de
utilidade pública, datando desse governo, em 1972 a criação da Legião Brasileira de
Assistência, a LBA.
Na segunda metade do século 19, as ações filantrópicas ganharam impulso
significativo com a imigração. Os imigrantes traziam, de seus países de origem, as
experiências das sociedades de socorros mútuos com fins médicos, beneficentes ou
de amparo social. Multiplicaram-se também as instituições mantidas por outras
correntes religiosas como espíritas e evangélicas. A partir da década de 1970, houve
uma expansão significativa de associações civis, grupos ambientalistas e de defesa
das minorias, foi quando surgiu, pela primeira vez no cenário brasileiro, um grande
número de ONGs. A diversificação, pluralidade e articulação desses grupos ficaram
evidenciadas durante os trabalhos da Assembléia Constituinte de 1988.
No período da República Militar, o Estado começou a controlar as grandes estruturas
que tinham certa hierarquia. Assim, começaram a surgir várias organizações não
ligadas ao Estado. A Igreja foi perdendo seu apogeu quanto à centralização dessas
organizações e outras novas foram sendo criadas com mantenedores internacionais.
As ONGs, portanto, não eram vistam com bons olhos pelas instâncias
governamentais, devido aos trabalhos de assessoria aos trabalhadores urbanos e
rurais, em que se questionavam a reflexão dos grupos sobre a sua situação social.
31
Suas relações com o governo eram tensas e as parcerias praticamente inexistentes.
A situação começou a mudar muito tempo depois, na década de 1990, caracterizada
por um refreamento do fluxo de ajuda financeira de agências de cooperação para a
América Latina, principalmente para o Brasil. Elas foram se profissionalizando com
várias mudanças, abrindo assim, o campo para várias parcerias internacionais e
nacionais, infeliz e paradoxalmente como resultado do aumento da exclusão social e
diferenciação das classes sociais.
Apesar de muitas ONGs contarem com trabalho voluntário, o Terceiro Setor passou
a ajudar e muito, o Brasil no que tange à geração de empregos, o que acabava por
suprir a carência de muitos postos de trabalhos, ajudando a preencher o vazio
deixado pelo Estado e pelo Governo.
Dessa forma, integram o Terceiro Setor, por sua natureza jurídica, as
seguintes entidades sem fins lucrativos: as organizações sociais, as
organizações de sociedade civil de interesse público, outras
fundações mantidas com recursos privados, filiais de fundações ou
associações estrangeiras e outras formas de associação. Isto
significa que o setor é constituído a rigor, por 55% do total das
500.155 entidades sem fins lucrativos, contando com 276 mil
fundações privadas e associações sem fins lucrativos, com base nos
dados de 2002, distribuídas da seguinte forma pelos campos de
atuação: habitação, 322; saúde, 3.798; cultura e recreação, 37.539;
educação e pesquisa, 17.493; assistência social, 32.249; religião
70.446, etc. (PIMENTA et al., 1998, p. viii).
A partir da década de 1990, o Terceiro Setor brasileiro passou a se destacar, tendo
como marco a “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, um projeto
idealizado por Herbert de Souza, o Betinho
2
. Esta Ação da Cidadania contra a Fome,
a Miséria e pela Vida, surgiu em 1993, quando a sociedade civil tomou
conhecimento de que no Brasil havia 32 milhões de brasileiros vivendo abaixo da
linha de pobreza, na mais absoluta miséria. A partir desse momento, articulado
também por Herbert de Souza, surgiram em todo o Brasil, os Comitês da Ação da
Cidadania, grupos de apoio a esses brasileiros e desencadearam ações de combate
à fome e à miséria.
2
Maiores informações disponíveis em: www.acaocidadania.com.br. Acesso em 23 out. 2007.
32
O brasileiro despertara sua consciência para a necessidade de consolidar ações que
visem o bem estar social. Estabeleceram-se, a exemplo, calendários com as
principais campanhas nacionais de filantropia:
Campanha da Fraternidade, instituída pela CNBB - Confederação Nacional
dos Bispos do Brasil, que se inicia todos os anos no mês de Abril, abordando um
tema polêmico de cunho social e que recolhe contribuições para projetos sociais;
Campanha do Agasalho, coordenada pelos governos estaduais, que se
realiza todos os anos no mês de junho, em grande parte das cidades brasileiras,
com a arrecadação de agasalhos e cobertores que são posteriormente distribuídos
entre as entidades de assistência social.
Criança Esperança, apoiada pela UNICEF e transmitida pela Rede Globo de
Televisão para todo país, arrecada dinheiro para projetos sociais.
McDia Feliz, promoção realizada pela rede de lanchonetes McDonald’s, no
mês de Agosto, cuja renda obtida pela venda do sanduíche Big Mac é destinada a
projetos de combate ao câncer infantil, coordenada pelo Instituto Ronald McDonald;
Teleton, campanha da Associação de Assistência à Criança Deficiente,
promovida no mês de outubro em parceria com o SBT (Sistema Brasileiro de
Televisão), recolhe doações em dinheiro, para financiar centros de reabilitação para
crianças portadoras de deficiências;
Natal sem Fome. Ocorre entre os meses de Novembro e Dezembro,
promovido pela Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, arrecada
alimentos não perecíveis, para confecção de Cestas de Alimento a serem
distribuídas com o apoio de outras entidades;
Megabazar Ação Criança, realizada anualmente no mês de Dezembro, em
pareceria com Lojas de Departamento, comercializa roupas, calçados e acessórios
com a grife Ação Criança, o dinheiro arrecadado é distribuído para projetos de
assistência a creches e abrigos do país.
Registra-se ainda o sucesso alcançado pelo Projeto Pastoral da Criança,
coordenado pela médica, pediatra e sanitarista, Dra. Zilda Arns Neuman, que foi até
mesmo indicada ao prêmio Nobel da Paz.
33
1.6. ESTATÍSTICAS DO VOLUNTARIADO BRASILEIRO
O número de associações, de grupos voluntários que procuram minorar e suprir as
carências humanas cresceu bastante nas últimas décadas, razão pela qual se julgou
válido um estudo sobre esse tema. Em seguida, o número de voluntários divididos
por regiões no Brasil, em percentagem:
TABELA 1 – Voluntariado Brasileiro
REGIÃO INSTITUIÇÕES
Sudeste 67,0 %
Nordeste 13,0 %
Sul 12,0 %
Centro-Oeste 4,0 %
Norte 4,0 %
Fonte: Revista Veja. Guia para Fazer o Bem. (Dez. 2000).
Na tabela acima, pode-se compreender melhor a polêmica da complexidade do
Terceiro Setor, principalmente com o rumo que vem tomando na
contemporaneidade, colocando-se como uma das possibilidades de espaço de
constituição do sujeito na experiência atual. Mesmo que haja tantos
questionamentos quanto ao voluntariado, ou quanto ao Terceiro Setor colocando-se
no lugar do governo, de fato estes estão fazendo a diferença. Seu crescimento
mostra a seriedade do trabalho e a solidariedade inerente ao ser humano,
oferecendo para o outro a solução que gostaria para si.
Por um lado, oxalá não existisse sequer a necessidade de voluntários. Mas, em
existindo, oxalá houvesse um número cada vez maior de pessoas comprometidas.
Não apenas com o seu tempo, mas com o seu dinheiro, sua profissão, sua vida.
Investindo em outras vidas. A tendência do Terceiro Setor no Brasil é crescer muito,
pois quanto mais cresce a necessidade, maior será o apelo destas ONGs para tentar
o engajamento de pessoas sérias e compromissadas com seu próximo.
CAPÍTULO 2
O VOLUNTÁRIO COMO CUIDADOR
É o cuidado que confere força para buscar a paz no meio dos
conflitos de toda ordem. Sem o cuidado que resgata a dignidade da
humanidade condenada à exclusão, não se inaugurará um novo
paradigma de convivência. (BOFF, 1999, p.190).
A Lei do Voluntariado n. 9.608, sancionada em 18 de fevereiro de 1998 e publicada
no Diário Oficial da União, nesta mesma data, define o voluntariado como:
[...] a atividade não remunerada, prestada por pessoa física à
entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins
não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais,
científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive
mutualidade.
O cuidador, como é chamado o voluntário que trabalha com pessoas em situação de
sofrimento, ousa ir um pouco além da natureza social. É conhecido como aquele que
se dedica a cuidar de pessoas, mas também de si mesmo.
2.1 BINÔMIO: CUIDADOR X CUIDADO
Para Leonardo Boff, a palavra cuidado tem:
[...] a mesma raiz da palavra cura. No latim escrevia-se “coera” e era
usada num contexto de relações de amor e amizade. No entanto,
outros pesquisadores consideram-na derivada de “cogitare-
cogitatus”, cujo sentido é o mesmo de cura – cogitar, pensar, colocar
atenção, mostrar interesse. (BOFF, 2001, p. 190).
Para Leonardo Boff (2001), cuidado significa desvelo, solicitude, diligência, zelo,
atenção, bom trato. Cuidado é um modo de ser de alguém que, saindo de si, centra-
se no outro com carinho e solicitude. Por vezes, o ato de cuidar é tão natural que se
torna intrínseco ao dia-a-dia do ser humano, seguindo o jeito das coisas e se
35
adequando às necessidades que se apresentam. Não é algo que se pensa muito
para fazer, é meramente uma reação intuitiva de um coração aberto, fazendo parte
da essência humana, mais do que a inteligência, a liberdade ou até mesmo a
criatividade. Ainda Boff: “[...] no cuidado se encontra o ‘ethos’ (em grego significa a
toca do animal ou a casa humana; conjunto de princípios que regem,
transculturalmente o comportamento humano), fundamental do humano.” (2001, p.
192, grifo do autor).
É no cuidado que identificam os valores, os princípios e as atitudes de uma
sociedade. Desde a era primitiva, o ser humano vivia em grupos e preocupando-se
com o outro. Até mesmo os seres irracionais, na luta pela sobrevivência cuidavam e
lutavam pelo ser de sua mesma espécie. Entretanto, a humanidade tem vivido
sintomas dolorosos de falta de cuidado, do descaso e do abandono. É o cuidado que
permite a revolução da ternura humana ao priorizar o social sobre o individual. Por
isso, há que se propor que surjam cuidadores natos, aqueles que pensem no ethos
e no que se pode ter como resultado do cuidado. O cuidado faz surgir o ser humano
complexo, sensível e solidário, conectado com tudo e com todos.
Portanto, uma das definições de cuidador, poderia ser a pessoa que sente prazer,
não somente naquilo que faz, mas também na maneira como o faz. Ao dar
expressão à sua generosidade inata, o ser humano experimenta sua afinidade, sua
amabilidade. Aquilo que era “seu” passa a ser de todos, pois, ao cuidar do outro,
reflete a imagem de seu Criador. A dor alheia, o sofrimento, a injustiça, as ações
coercitivas, a violência, a corrupção e a falta de ética não só passam a incomodar, a
ponto de gerar atitudes de enfrentamento, como paradoxalmente são consideradas,
por alguns, como práticas normais e algumas vezes, aceitáveis. A razão não pode
obliterar sentimentos, criando-se daí, a necessidade do cuidado/cuidador. Poder-se-
ia chamar de terceirização das relações afetivas?
O cuidador carrega consigo a experiência de sentir-se alguém em meio a muitos
outros. Encontrou acolhida, por isso compartilha vivências mais - ou mesmo menos -
profundas sem, contudo, ser mais um nas intermináveis galerias de consumo de um
shopping ou um número em sua identidade. Traz consigo o sentido de ser solidário,
mas de forma mais abrangente, a ponto de ascender a um estágio de consciência e
36
opção. O cuidador não é um ser destemido que nunca derramou uma lágrima, nem
deixou de visitar o vale da desolação. É um ser que veio do pó e voltará ao pó:
A evolução é parcimoniosa. Teve sua disposição nos cérebros de
inúmeras espécies, mecanismos de tomada de decisão que são
baseados no corpo e orientados para a sobrevivência, os quais se
revelaram úteis numa série de nichos ecológicos. Com o aumento
das contingências e à medida que novas estratégias de decisão
foram evoluindo, fazia sentido que as estruturas cerebrais
necessárias à manutenção dessas novas estratégias conservassem
um elo funcional com suas precursoras. Sua finalidade é a mesma, a
sobrevivência e os parâmetros que controlam seu funcionamento e
avaliam o êxito também são os mesmos: bem estar e ausência de
dor. (DAMÁSIO, 1994, p. 223).
Numa condição não inferior, mas diferente, a pessoa que é cuidada sabe que
precisa sair de sua dor, mas não consegue encontrar mecanismos para tal. Seus
esforços esgotam-se em si mesmos e ela se vê exaurida, sem forças e sem
esperanças. Busca socorro e o cuidador a amparar, auxiliando-a na procura de
solução para seus problemas.
Ambos, cuidado e cuidador, têm consciência de que não são os únicos a desejarem
viver melhor neste mundo conturbado. Têm também o grande desejo que os habita e
os leva a aspirar à salvação da alma nos outros, nos corpos sofridos. E é o mesmo
desejo que possibilita salvarem-se a si mesmos. Há uma linha de pensamento que
diz serem os indivíduos engajados em uma instituição narcísicos e objetais:
[...] pois, na instituição somos mobilizados nas relações de objetos
parciais idealizados e perseguidores, experimentam sua
dependência nas identificações imaginárias e simbólicas que
mantêm juntas a cadeia institucional e a trama de sua vinculação.
(KAES, 1988, p.19).
Portanto, por razões narcisísticas, este cuidador sente-se vocacionado. O que não
conseguiu resolver dentro de si, leva-o a viver em prol do outro, tentando ajudá-lo. O
movimento do cuidador resgata-o de si mesmo, de suas culpas e de seus medos.
Discordando do exposto acima, a linha desta pesquisa procura entender o cuidador
como pessoa que se realiza com o ato de ajuda. Não é algo sobre o que se pensa
ou acredita, e sim uma reação instintiva de um coração aberto, pleno de
compreensão e amor. Prestar assistência, para o cuidador, é apenas um reflexo de
37
seu coração. Ele sente prazer não somente no que faz, mas na forma pela qual faz
as coisas. O esforço é tão natural que não se diferencia o que ele faz, do que ele é:
Chegou a hora de fazermos as pazes com as limitações dos nossos
pendores sociais e imaginar formas de convivência social cada vez
mais favoráveis ao bem estar e à felicidade de todos os membros de
nossa espécie [...] Para tornar-nos solidários, num sentido mais
abrangente, precisamos ascender a um estágio de consciência e
opção, que implica numa conversão de valores que não são óbvios
em nossa experiência cotidiana. (SUNG, 2000, p. 30).
A condição do cuidador é natural no sentido do cuidar do outro e cuidar de si
mesmo. Pressupõe-se que há alguém que cuida e alguém que é cuidado. Ou seja, o
indivíduo que cuida e se deixa cuidar. A isto se denomina o cuidado de si mesmo.
Foucault salienta que:
[...] para os gregos da antiguidade, o preceito epimelesthaí autou, ou
seja, tomar conta de si mesmo ou o cuidado de si mesmo era uma
das regras da conduta da vida social e que o conselho técnico
‘conhece-te a ti mesmo’ (princípio délfico), só tem junção se estiver
associada ao princípio moral ‘cuide de si mesmo’. (2002, p. 17).
Conhecer-se é um dos princípios básicos do ascetismo cristão, pois está ligado ao
confessar os pecados uns aos outros. Os terapeutas de Alexandria, no início da era
cristã, cuidavam de si mesmos e de seu corpo para depois servir à comunidade. O
cuidado do corpo era sempre ligado ao cuidado da alma ou do espírito, pois
consideravam o homem como um todo. Por isto, fazia parte da espiritualidade o
cuidado de si, em primeiro lugar, para depois dirigir os cuidados em função do outro.
Desde o nascimento, o ser humano já se torna dependente do outro, pois nasce
desprovido de mecanismos de sobrevivência, da capacidade de se cuidar,
necessitando ser cuidado. Isso apenas vem ensinar-lhe sobre que no viver, jamais
estará só, necessitando sempre do outro. O cuidado não implica apenas em ajudar a
pessoa a livrar-se rapidamente de seu sofrimento, mas muitas vezes ajudá-lo a
caminhar com ele, até que descubra soluções por si mesma, ou aprenda com ele,
entendendo assim, seu sentido. O cuidado tem seu respaldo na misericórdia e
compaixão e se move em direção à inclusão, nunca na exclusão, eliminando assim
qualquer possibilidade de ação de poder, ou de que o cuidado fique em débito com o
cuidador.
38
Cuidar de alguém implica sempre em se ter compaixão pelo outro. Para Romeiro
(2006, p.183): “[...] compaixão não é apenas uma maneira de fazer certas coisas em
favor do outro, de determinada comunidade. Ela está relacionada com o coração
uma forma de experimentar a vida de dentro para fora”.
Quanto mais se dá ao cuidado, ao ouvir e ao caminhar junto, tanto mais se entra em
sintonia com as raízes do sofrimento e se visualiza meios para ajudar o outro. É por
meio do caminhar junto que a sabedoria, o talento e a oportunidade encontram
formas de ação, que ajudam de verdade. Mais do que tudo, a simples atitude de
estar ao lado ajuda a dissolver distâncias que podem existir entre os seres humanos,
trazendo-os mais perto do coração.
O cuidado reflete uma ação profunda, uma mensagem que pode ser extremamente
animadora para aquele que se sente sozinho, ou isolado em sua dor. Este
sentimento não acontece apenas decorrente das palavras ouvidas, mas do que elas
representam pela atitude apresentada, pelo amparo e compreensão demonstrados.
O compartilhar do sofrimento, o estar junto, o transmitir esperança produz eco no
coração do outro, mostra que ele não mais está sozinho, muitas vezes encontrando
forças para continuar e buscar mudanças, mesmo que internas.
No dizer de Romeiro (2006), a esperança é muito importante, pois ajuda o indivíduo
a passar pela dor, pois faz com que este contemple o futuro. Na experiência de
relacionar-se com o que é diferente, passa-se pelo processo de apropriação. Esta
aceitação do outro faz com que ele seja apropriado de tal forma que continue sendo
diferente dentro de si, transformando-o em alvo de sua ajuda e ao mesmo tempo
motivo de sua mudança.
A dor impede a pessoa de se autodestruir. É um sinal de que algo não está bem, por
isto precisa ser trabalhado. Tendo como exemplo uma gestante, que passou os nove
meses sem problema físico algum. De repente ela começa a sentir contração e não
sabe explicar que dor é esta, pois esta criança é seu primogênito. Imediatamente
procura seu médico por ajuda. Não tivesse este sinal, poderia ser um alerta de que
algo não estava indo bem, ou até mesmo poderia causar morte ao feto por passar
tempo demais no ventre. Esta dor que passa a ser insustentável foi responsável pelo
pedido de socorro, tendo como resultado o cuidado dos outros e conseqüentemente,
39
a vida de outro ser humano. Os cuidados podem ser desenvolvidos individualmente
ou através de terapia de grupos, a chamada terapia comunitária.
2.2 A TERAPIA COMUNITÁRIA
A Terapia Comunitária foi criada no Brasil pelo psiquiatra Adalberto Barreto, nascido
no Ceará, na cidade de Canindé. A terapia começou a existir para atender aos
moradores da favela de Pirambu, a maior favela de Fortaleza, que chegavam em
grupos para serem atendidos e para ganharem remédios para depressão, saúde
mental etc. Barreto passou a utilizar da competência destas pessoas para promover
a construção de redes sociais.
Caracterizava-se por um grupo de ajuda mútua, um espaço de palavras, escuta e
construção de vínculos, com o intuito de oferecer apoio a indivíduos que vivem em
situações de estresse e sofrimento psíquico. Como afirma o próprio criador da
terapia: “É graças aos outros que o ser humano se redescobre [...], pois só se
reconhece no outro o que se conhece em si mesmo” (BARRETO, 2005, p. 26). A
terapia comunitária parte do pressuposto de que o sofrimento humano, decorrente
do macro-contexto socioeconômico e social, fere a dignidade da pessoa, atinge seus
direitos como cidadão, gerando extremos de patologia social e adoecimento.
Em relação ao perfil do terapeuta comunitário, é importante ressaltar-se que sua
missão é semelhante à do educador. É preciso que o terapeuta tenha, assim como o
mestre, carinho, apreço e dedicação. É idêntico à missão a que se propõe cumprir.
Se não houver envolvimento e identificação, seu papel ficará prejudicado. Um autor
desconhecido afirmou: “Diz-me e esquecerei, ensina-me e eu me lembrarei, envolve-
me e eu aprenderei”.
O terapeuta bem como o educador, não deve nunca se esquecer de que a matéria
prima de seu trabalho não é um amorfo e sim um ser humano, que tem sonhos,
ideais, indagações, interrogações sobre o mundo que o cerca e sobre si mesmo.
Conforme ensina Barreto (2006), o terapeuta comunitário deverá ter uma visão
contextual e compreender que não está lá somente para realizar uma tarefa para os
40
outros, mas, sobretudo para si mesmo. Portanto, neste sentido, a natureza do
trabalho é pedagógica e política, pois envolve valores acerca da cidadania. Abaixo
há fotos do Dr. Adalberto Barreto em um de seus cursos de Terapia Comunitária:
Figura 1. Fotos do curso de formação de multiplicadores - técnicas de resgate da auto-estima na
comunidade. Coordenação: Prof. Dr. Adalberto Barreto. Disponível em:
http://saudedafamilia.org/noticias/cuidando_do_cuidador.htm
. Acesso em 12 Dez. 2007.
Outro ponto a ser considerado, relativo ao perfil do terapeuta é: respeito e aceitação
do outro que deve ser a tônica de seus atos. É preciso que o terapeuta aprenda a
respeitar às diversidades, a não discriminar nem manifestar preconceitos, a
apresentar pré-disposição para aceitar a pluralidade cultural do ser humano, ter
mente aberta para aceitar o novo, o diferente, e ter sempre a compreensão de que o
ser humano está num constante fazer-se. Para Paulo Freire (apud BARRETO, 2006,
p. xxiv): “[...] ninguém nasce feito. Vamos nós fazendo aos poucos, na prática social
de que tomamos parte”.
41
Figura 2. Home Page com fotos do Projeto 4 Varas. MISMEC – CE - Movimento Integrado de Saúde
Mental Comunitária. Disponível em: http://www.4varas.com.br/galeria.htm. Acesso em 12 Dez. 2007.
Algumas questões se colocam acerca desta Terapia Comunitária, ou
abreviadamente, apenas TC:
a) Por que Terapia Comunitária?
Do grego, therapeia, que significa, “acolher, ser caloroso, servir,
atender”. Portanto, o terapeuta é aquele que cuida dos outros de
forma calorosa. A palavra comunidade é composta de duas outras
palavras COMUM + UNIDADE, ou seja, o que estas pessoas têm em
comum? Entre outras afinidades têm sofrimentos, buscam soluções e
superação das dificuldades. (BARRETO, 2006, p. 35, grifos do
autor).
Respondendo à questão, o cuidador, por sua vez, poderá, ao cuidar, ser cuidado
trabalhando em comunidade e recebendo muito em troca, repartindo seu sofrimento
com outros que, como ele, recebe pessoas muito mais sofridas que ele próprio.
42
b) Onde ela é realizada?
Realiza-se tanto em comunidades, quanto em escolas, empresas, órgãos judiciários,
reuniões de famílias, de moradores de rua, em Programas de Saúde da Família -
PSF, em presídios, em postos de saúde e hospitais, em Centros de Apoio Psico-
Social - CAPS, em espaços públicos, em creches, em igrejas, em comunidades
indígenas etc.
c) Quais são as suas parcerias?
A Terapia Comunitária tem parcerias com a Secretaria Nacional Anti-Drogas -
SENAD, com as prefeitura municipais de Fortaleza, São Paulo, Santos, Londrina,
Salvador, Sobral e outras cidades. Também é parceira das Pontifícias Universidades
Católicas de São Paulo e de Salvador, da Pastoral Nacional da Criança, filiada à
CNBB, da Universidade Federal do Ceará, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI.
Internacionalmente mantém suas relações com a Haute École de Santé, de Genebra
– Suíça, com o Institut d´Études et Formation Continuée – CEFOC - também na
Suíça, com o Institut de Formation des Infirmiers – IFTS, em Grenoble – França.
d) Quais os resultados apresentados?
Após 20 anos de sua existência já foram realizadas: 660.000 terapias, com cerca de
3.611.000 atendimentos. Mais de 10.000 rodas de Terapia Comunitária foram
realizadas, com 150.000 atendimentos. 88,5% dos problemas foram resolvidos nas
próprias terapias e apenas 11,5% precisaram de encaminhamentos para a rede
primária.
Na terapia comunitária as pessoas se reúnem em um círculo, para que os que
desejarem falar de suas dores, angústias, dificuldades o façam: mas, também para
que compartilhem suas experiências de sucesso, a fim de que sirvam de
encorajamento ou empoderamento - como é chamado na terapia - para o outro.
Este trabalho iniciou-se em 1987. A princípio, aconteceu para quem atuava junto às
pastorais da saúde e hoje acontece em meio a comunidades carentes, cuidadores,
comunidades eclesiais de base e onde mais se fizer necessário.
43
A Terapia Comunitária é um instrumento que nos permite construir
redes sociais solidárias de promoção da vida e mobilizar os recursos
e as competências dos indivíduos, das famílias e das comunidades.
Procura suscitar a dimensão terapêutica do próprio grupo,
valorizando a herança cultural dos nossos antepassados indígenas,
africanos, europeus e orientais, bem como o saber produzido pela
experiência de vida de cada um. É essa diversidade cultural que faz
a grandeza deste País. Possibilitar a cada um agregar novos valores,
é uma riqueza inestimável no processo de “empoderamento” e na
construção da cidadania. Enquanto muitos modelos centram suas
atenções na patologia, nas relações individuais, privadas, a TC se
propõe cuidar da saúde comunitária em espaços públicos. Propõe-se
a valorizar a prevenção. Prevenir é, sobretudo, estimular o grupo a
usar sua criatividade e construir seu presente e seu futuro a partir de
seus próprios recursos. A TC nos convida a uma mudança de olhar,
de enfoque, sem querer desqualificar as contribuições de outras
abordagens, mas ampliar seu ângulo de ação. (BARRETO, 2007, p.
43)
3
.
A Terapia Comunitária é um espaço no qual se estabelece um diálogo entre
cuidador e cuidado, oferecendo a ambos a possibilidade, que se encontram e
descubram-se mutuamente. É graças aos outros que os cuidadores podem se
redescobrir e encontrar caminhos para, ajudando aos outros, ajudarem a si mesmos.
Isso permite o resgate e a participação dos valores culturais de um grupo social e
promove vínculos interpessoais e sociais, os quais possibilitam o fortalecimento
desses integrantes do grupo, levando-os a descobrirem o sentido de pertencimento
à humanidade.
Figura 3. Home Page da ABRATECOM – Associação Brasileira de Terapia Comunitária. Disponível
em: http://www.4varas.com.br/galeria.htm. Acesso em 12 Dez. 2007.
3
Home Page da ABRATECOM. Disponível em: www.abratecom.com.br. Acesso em 26 abr. 2007.
44
2.3 ALICERCES DA TERAPIA COMUNITÁRIA
A identidade da Terapia Comunitária foi alicerçada em cinco eixos teóricos:
1. O Pensamento Sistêmico
2. A Teoria da Comunicação
3. A Antropologia Cultural
4. A Pedagogia de Paulo Freire
5. A Resiliência
Conforme explica o próprio criador da TC, Barreto:
O Pensamento Sistêmico nos diz que as crises e problemas só
podem ser entendidos e resolvidos se os percebemos como partes
integradas de uma rede complexa, cheia de ramificações, que ligam
e relacionam às pessoas; somos um todo, em que cada parte, pode
interferir em outra. Somos a somatória de várias partes: corpo, mente
e a sociedade em que estamos inseridos.
A Teoria da Comunicação nos aponta para o fato de que a
comunicação é o elemento que une os indivíduos, a família e a
sociedade. É através da comunicação que nos integramos a um
grupo, que podemos sentir a sensação de pertencimento, sendo está
um instrumento para o crescimento e transformação, quer do
indivíduo, quer da sociedade.
A Antropologia Cultural é um elemento de referência, fundamental na
construção de nossa identidade pessoal e grupal, interferindo de
forma direta na definição de quem eu sou e quem somos nós. A
partir da construção de nossa identidade, reflexo do contexto cultural
em que vivemos, é que passaremos a nos aceitar, para só então
podermos aceitar e respeitar os outros, com todas as suas
diversidades individuais.
A Pedagogia de Paulo Freire nos lembra que ensinar é o exercício do
diálogo, da troca, da reciprocidade entre educador e educando.
Ensinar não é apenas transmitir conhecimentos, é um tempo de
ouvir, e um tempo de olhar ao mesmo tempo em que se ensina
também se aprende. É o momento em que o respeito ao outro se
mostra de importância vital, para uma aprendizagem eficiente.
A Resiliência, onde as crises, os sofrimentos e as vitórias de cada
um expostos ao grupo, são utilizados como matéria-prima em um
trabalho de criação gradual de consciência social para que os
indivíduos descubram as implicações sociais da gênese da miséria e
do sofrimento humano. (2006, p. xxi).
De acordo com a Revista Mackenzie (Ano VIII, 2006), o conceito de resiliência vem
da física, sendo a propriedade que alguns materiais a apresentam de voltar ao
normal depois de submetidos à máxima tensão. A psicologia utilizou-se dessa
imagem para explicar a capacidade de lidar com problemas, superá-los e até se
deixar transformar por adversidades. Ela é importante fonte de embasamento para a
45
Terapia Comunitária, pois é por meio do conhecimento da história de vida de cada
um que se alicerçará o trabalho do terapeuta.
A formação proposta, baseada nas linhas teóricas acima descritas e na valorização
das vivências, permite aos terapeutas comunitários sentirem-se mais confiantes em
suas competências e menos dependentes em teorias gerais ou especializadas. Na
conceituação de Barreto (2006: pg. 93), a Terapia Comunitária é:
[...] um espaço de partilha de sofrimento e preocupação, daquilo que
está tirando o sono, trazendo tristeza e inquietação, com a certeza de
que o grupo que lá está presente vai ouvir as pessoas e acolher a
sua dor.
Os terapeutas comunitários são treinados para assumirem as ações básicas em
saúde mental e emocional comunitária, voltadas para a prevenção, mediação nas
crises e promoção na inserção social dos indivíduos. Os encontros da Terapia
Comunitária são semelhantes a uma teia de aranha, a qual é tecida de forma
invisível, mas é fortíssima. Este tipo de trabalho terapêutico tem permitido agregar os
que precisam de ajuda, tem aberto espaço de expressão para os que sofrem, sendo
suporte e apoio que permite a muitos nutrirem-se do que ali se constrói.
A TC objetiva suscitar as forças e capacidades dos indivíduos, das famílias e das
comunidades para possibilitar soluções aos problemas e dificuldades enfrentados
pelos seres humanos. A Terapia Comunitária tem alguns objetivos, dos quais os que
se inserem neste estudo são os seguintes:
1. Reforçar a dinâmica interna de cada indivíduo para que possa
fortalecer seus valores e potencialidades;
2. Suscitar em cada pessoa, ou grupo, seus valores e sentido de
pertencimento;
3. Redescobrir e reforçar a confiança em cada indivíduo, diante de sua
capacidade de evoluir e se desenvolver como pessoa;
4. Estimular à participação como requisito fundamental para dinamizar
as relações sociais, promovendo a conscientização, através do diálogo e
da reflexão, ao indivíduo para tomar iniciativas e ser agente de sua
própria transformação;
5. Reforçar a auto-estima individual e coletiva;
46
6. Enfatizar o trabalho de grupo, para que juntos partilhem problemas e
soluções e possam funcionar como escudo protetor para os mais frágeis,
sendo instrumentos de agregação e inserção social. O alvo da
intervenção é o sofrimento, jamais a patologia. Para a TC, a solução está
no coletivo e em suas interações. No compartilhar, nas identificações com o outro,
no que diz respeito às diferenças.
2.4 DESENVOLVENDO A TERAPIA COMUNITÁRIA
Esta TC se desenvolve em seis etapas, a saber: 1
a
) acolhimento; 2
a
) escolha do
tema; 3
a
) contextualização; 4
a
) problematização; 5
a
)
rituais de agregação e
conotação positiva e 6
a
) avaliação.
2.4.1 Acolhimento
A primeira tarefa do terapeuta comunitário é ambientar o grupo e fazer que ele sinta-
se a vontade, acomodando-o, preferencialmente em círculo, pois esta é a proposta,
a teia de aranha - em círculo. O grupo é acolhido, sente-se livre para cantar uma
música ou fazer algum tipo de brincadeira, para quebrar o gelo e, logo em seguida,
se homenageiam os aniversariantes do mês. O terapeuta então explica como
acontece a terapia, expondo-lhe algumas regras:
A regra principal é o silêncio. Quando uma pessoa fala, ninguém deve
conversar com o outro, mas ficar calado para ouvir esta pessoa.
Faz-se necessário sempre expor a própria experiência, ou o que faz quem
está falando sofrer, ou o que a ajudou a superar as dificuldades. Por isso,
quando alguém fala, deve sempre usar o verbo na primeira pessoa do
singular, ex., “eu fiquei abalado”.
O grupo não pode esquecer que ninguém está ali para dar conselhos. Agora,
o cuidador não está ali desempenhando este papel. Nem tampouco deve
fazer discursos ou apresentar soluções para o outro, ou até mesmo emitir
47
valor de juízo. Ao contrário, está ali para compartilhar suas vivências e
aprender com as experiências dos outros, tendo como conseqüência o
cuidado de sua dor que porventura exista.
Entre uma fala e outra, qualquer pessoa pode sugerir uma música, lembrar
um provérbio ou um poema, ou até mesmo contar uma piada, desde que
esteja no contexto. Isto serve para quebrar um pouco o gelo e aliviar um
pouco a tensão que um ou outro assunto pode suscitar.
Faz-se necessário também, lembrar que é importante respeitar a história e a dor de
cada pessoa, pois o lugar da TC é um espaço de escuta, de compreensão do
sofrimento do outro.
2.4.2 Escolha do Tema
Depois que todos os participantes já se acomodaram e se sentem mais à vontade, o
terapeuta pergunta se existe alguém no grupo que gostaria de começar a falar
daquilo que tem tirado seu sono, ou o tem feito sofrer. Em seu papel de cuidador, a
pessoa tem a tendência de colocar-se ou de se expor cada vez menos, carregando
o peso do outro que passa a ser seu, a dor do outro que passa a doer em si mesmo
e a angústia do outro que acaba transformando-se em fala do corpo. Portanto, este
momento de fala e escuta é importante. Não apenas para quem está compartilhando
de sua dor, mas ao que está escutando, pois ao se identificar, irá escolher um tema,
de todos os que foram debatidos.
Enquanto cada um fala de seu problema o terapeuta anota seu nome e o que esta
pessoa traz para que, quando todos terminarem, possa fazer uma síntese de cada
um, com o objetivo que o grupo faça a escolha. É de extrema importância proteger
os que não foram escolhidos, deixando claro que não é rejeição e colocar-se à
disposição - o terapeuta ou outro ajudador do grupo - para conversar e explorar o
assunto um pouco mais tarde.
Após ter sido escolhido o tema, o terapeuta passa a palavra à pessoa para explanar
um pouco melhor seu sofrimento. Até então houve uma breve apresentação, em
48
síntese. Decorrente disto, o grupo pode então fazer perguntas concernentes ao que
foi exposto, sem, portanto, emitir juízo de valores nem dar opiniões. Com isto o
problema apresentado é dissecado e muito melhor compreendido. A discussão para
o tema do dia é muito importante, pois oferece oportunidade de cunho educativo:
aprender a estabelecer critérios para priorizar aquilo que é mais urgente e mais
grave.
2.4.3 Contextualização
Na contextualização, a pessoa coloca sua situação–problema e, ao fazê-lo, ele
oferece a todo o grupo a possibilidade de uma reflexão mais ampla em que estão
incluídos os diversos fatores e os diversos elementos do contexto do sistema
econômico e social brasileiro. Decorre daí ser impossível eleger uma só resposta,
um só lado da questão, quando esta tem inúmeras possibilidades. A preocupação
central da TC não é classificar como certo ou errado, mas lançar perguntas que
tragam luz de entendimento. Só há mudança e crescimento quando as pessoas são
capazes de transformar as sensações em emoções. Estas emoções carecem de ser
pensadas. O pensamento gera consciência e a consciência permite a transformação.
Cada pessoa tem aproximadamente 15 minutos para expor seu problema,
contextualizando-o, vindo então a próxima etapa. É importante ressaltar que durante
esta contextualização, o terapeuta deve estar atento às falas e respostas, anotando
sempre as palavras-chaves, pois estas construirão os motes, conformes à
explicação abaixo.
2.4.4 Problematização
Nesta etapa, o indivíduo que expôs seu problema fica em silêncio. O terapeuta deixa
de lado a sua história, por alguns minutos, e apresenta um mote que levará o grupo
a uma reflexão. Exemplos no quadro a seguir:
49
Palavras-chave Motes Possíveis
1. Culpa
Quem já se sentiu culpado?
O que fez para superar a culpa?
2. Ser enganado
Quem já se sentiu enganado?
Quais lições tirou para a sua vida depois de ter sido
enganado?
O que tem feito para não ser enganado outra vez?
3. Depressão/Perda
Qual a sua maior perda? Como a superou?
4. Traição
O que mais dói numa traição?
O que você tem feito para evitar ser traído?
5. Relações
familiares
Qual sua dificuldade no relacionamento com sua
sogra/sogro/nora/genro/cunhado?
6. Intriga
O que a intriga destrói em você?
O que tem feito para superá-la?
7. Desamparo
Quem já se sentiu desamparado na vida?
Como superou o desamparo?
Quadro 1. Motes para reflexão. Fonte: Apostila Terapia Comunitária. Núcleo de Família e
Comunidade da PUCSP. (CERVENY e GRANDESSO, 2004).
O mote é a alma da TC: ele promove a reflexão coletiva, a qual permite a cada um
trazer à tona alguns elementos fundamentais, revendo seus esquemas mentais,
construindo, algumas vezes, novas realidades. A qualidade da escuta é o que
determina a qualidade do mote. A partir da análise do quadro acima, aponta-se
ainda a existência também do mote coringa: “Quem já viveu uma situação como a do
senhor ou da senhora tal? E como fez para se sair dela?”
Na problematização, é importante que o terapeuta levante o maior número de
questões possíveis, a fim de que o grupo entenda bem o problema apresentado.
Quando o indivíduo verbaliza seu sofrimento, ele dá um novo significado a ele. Antes
da escolha do mote, o terapeuta agradece à pessoa que falou e sintetiza o que foi
falado, apontando os principais pontos. Uma vez escolhido o tema, o mote é
lançado. Uma alternativa positiva é lançar dois motes correlacionados, geralmente
do tipo intriga-perda. Esta é a hora em que o individuo não diz mais nada. Apenas
ouve o que os outros têm a dizer. Eles não devem dar conselhos ou emitir juízos de
valor, apenas compartilhar as suas experiências, os seus sofrimentos que
porventura são identificados com o apresentado. Quando se colocam, devem dizer
como agiram numa situação semelhante ou como se saíram em tal situação.
50
Ao fazê-lo, existe a identificação, ou seja, a pessoa que compartilhou sua dor toma
consciência que não é a única a passar por esta experiência. O que está agora
apresentando sua experiência própria sente-se, de alguma forma, útil, dando-lhe,
conforme é denominado na TC, o empoderamento, ou seja, ele sai dali com a
sensação de ter, de alguma forma, contribuído. Seu sofrimento do passado o ajudou
a ajudar no presente. É importante dar atenção tanto aos que têm a tendência de
tomar sobre si toda a atenção, como também aos que têm a tendência de
espiritualizar o cotidiano, ou seja, os que crêem não ser necessário repartir sua dor
com os homens. Estes devem ser respeitados, porém, deve-se analisar se são
aconselhados a participar de um grupo de Terapia Comunitária.
2.4.5 Rituais de agregação e conotação positiva
A conotação positiva trata de reconhecer, valorizar, agradecer o esforço, a coragem,
a determinação e a sensibilidade de cada um. Muitas vezes, tentam ofuscar a dor e
o sofrimento, principalmente quando esta pessoa está acostumada a carregar a dor
do outro e o fato de suprimir sua própria já tenha se tornado parte de seu estilo de
vida. Não por escolha, mas por costume, defesa ou até mesmo falta de pessoas que
a escutem sem julgar, ou lhes dêem ouvidos sem estar prontas para dar uma
solução ou uma resposta. Nem sempre, quando se compartilha uma dor ou
sofrimento, precisa-se de uma resposta ou solução. O cuidador, por carregar tantos
pesos e cargas, não necessariamente necessita de alguém que carregue as suas.
Por vezes precisa apenas repartir o peso, colocar para fora o que pode “azedar”
dentro de si, para que tenha condições de continuar a se doar e a servir seu
próximo.
Outro ponto deste subtítulo é que não se trata de supervalorizar o sofrimento, mas
de reconhecer o esforço da pessoa que o compartilhou. Para alguns se torna muito
difícil conseguir verbalizá-lo. Na verdade, trata-se de reconhecer o esforço e a
vontade de superar as dificuldades. Além disto, a conotação positiva permite ao
indivíduo repensar seu sofrimento e ter a possibilidade de repensá-lo de forma mais
ampla, dando um sentido mais profundo à crise, situando-se melhor na vida e tirando
um proveito melhor da situação. Com isso, pode sair de lá com mais segurança.
51
2.4.6 Avaliação
Todos os participantes fazem um círculo para o término. Os que expuseram seu
sofrimento fazem o círculo no meio. Os outros fazem um círculo em volta deles. O
terapeuta, então, lhes pergunta o que estão levando dali como produto final do
encontro. Essa, em outras palavras, é uma forma de avaliação vinda de todos os
participantes. É importante que estes cuidadores, ao deixarem o encontro de Terapia
Comunitária, regressem às suas casas sentindo-se fazendo parte de um grupo. Eles
que estão o tempo todo abraçando e recebendo, deveriam sair dali mais aliviados,
sabedores de que existe um grupo para eles também, no qual não serão vistos com
olhares de surpresa por se mostrarem frágeis ou vulneráveis.
CAPÍTULO 3.
OS PRINCIPAIS PROBLEMAS APRESENTADOS POR
VOLUNTÁRIOS
Um dos pontos importantes nesta análise é que o voluntário cuidador necessita,
como premissa básica, ter uma base emocional sólida que lhe possibilite trabalhar
com a mente humana. Em contrapartida, um problema pode surgir e talvez por sua
formação religiosa, o cuidador não aceite o sofrimento do outro, minimizando-o ou
espiritualizando-o. A doença passa a ser curada pela simples declaração e/ou
negação da mesma. Para alguns religiosos o sofrimento não pode existir, pois vivem
na esperança do porvir e o que sofrem aqui, nesta vida, é para purificá-los ainda
mais e preparar-lhes a salvação eterna. Essas e outras várias situações levam esse
cuidador a uma insólita experiência que acaba desembocando no medo de ter
medo. Diante dos mistérios da vida, acaba substituindo emoções e sentimentos pela
fé e pela interpretação subjetiva dos sortilégios e, com o objetivo de explicá-los,
recorre à religião, a Deus e aos demônios.
3.1 A NEGAÇÃO DO NEGATIVO
Entretanto, o risco de lidar com o sofrimento, com as doenças e com a dor, como se
fossem inimigos, é o seu desaparecimento temporário, surgindo mais tarde sob a
forma de instabilidade emocional, irritabilidade, ambição exagerada, egoísmo,
prepotência, inflexibilidade, arrogância, problemas cardíacos e circulatórios. Enfim,
por meio de muitos outros disfarces, levando até a morte, em alguns casos, a
pessoa que assim encarou a adversidade:
53
53
Como alguém pode glorificar a Deus em seu corpo quando ele não
funciona direito? Como ele pode obter glória quando seu corpo nem
mesmo funciona? O que faz você pensar que o Espírito Santo quer
viver dentro de um corpo onde Ele não possa espiar através das
janelas e nem ouvir pelos ouvidos? O que leva você a pensar que o
Espírito Santo queira viver dentro dum corpo físico onde os
membros, os órgãos e as células não funcionam direito? E o que faz
você pensar que Ele deseje viver num templo onde não possa ver
com os olhos, andar com os pés e nem mover as mãos? Os únicos
olhos que Ele tem nesta dimensão terrestre são os olhos do corpo.
Se Ele não puder ver por meio deles, Deus estará verdadeiramente
limitado. (PRICE, 1976, p. 12).
Por isso, tais pessoas não crêem ou não podem crer - por questão religiosa - que a
doença possa fazer parte de seu cotidiano ou do cotidiano da vida de alguém que
ele conheça. Elas tentam espalhar esta verdade, pois acreditam nela e a vivem
como regra de fé e prática. Enganam-se a si mesmo e, conseqüentemente, a
pessoa cuidada, em seu desespero e fragilidade é levada a acreditar, pois é a única
coisa que lhe resta, uma vez que os médicos já não lhe deram esperança alguma
sobre si mesmo ou sobre um ente querido.
Para estes, o primeiro passo para a maturidade espiritual é a percepção de sua
posição diante de Deus. Por ser filho de Deus, é co-herdeiro com Cristo, tendo
assim, todos os direitos e privilégios no Reino que ele teve e dois deles são: o de
saúde - Jesus nunca ficou doente, pelo menos, não o apontam os Evangelhos ou a
Bíblia toda - e o poder de curar. O indivíduo nunca entenderá plenamente a cura
enquanto não souber, de uma vez por todas, que Deus o quer curado. A decisão é
apenas e somente deste indivíduo que, como filho de Deus, deveria ser curado por
meio desta verdade – de uma vida completa, livre de qualquer mal, doença ou
maldição satânica. Desta forma estes cristãos vêem a doença. Dunn adverte para o
seguinte perigo contido nesta forma de pensar e agir:
Provavelmente, uma tragédia espiritual e mental supera a tragédia
física, pois nenhum desapontamento se iguala à perda da fé nas
promessas de Deus. É algo muito sério dar esperança a uma
multidão de pessoas enfermas, dando-lhes garantias de que Deus
sempre recompensará e verdadeira fé com cura e depois deixar a
grande maioria na desilusão e desespero. (1999, p. 151)
Entretanto, durante a sua vida Jesus fez muito mais coisas além da cura. Andou por
sobre as águas, acalmou a tempestade, transformou a água em vinho, alimentou
multidões, ressuscitou mortos e até dinheiro da boca de um peixe ele tirou. Por que
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será que esta linha apega-se apenas à cura, esquecendo-se da vida de Jesus como
um todo? Citando o Evangelho segundo João, em seu capítulo 21 e versículo 25:
“Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas
uma por uma, creio que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam
escritos”.
Outra faceta no comportamento de alguns voluntários cuidadores é a exacerbação
do poder demoníaco no sofrimento ou diante da morte. Uma das características do
ser humano é a necessidade de compreender os fatos e conhecer o que se
apresenta diante dele. Sempre que se confrontar com algo desconhecido, a primeira
pergunta é: “O que é isso?”. Tal curiosidade natural mostra a necessidade de se
conhecer e de decifrar o mundo, para que cada um “sinta-se em casa”. Em
contrapartida, muitos aspectos que a vida apresenta da história da humanidade e do
universo não são fáceis de conhecer ou encarar. O desconhecido, que para uns é
fascinante, para outros causa medo, trazendo como conseqüência a negação da dor
ou a subordinação a uma dura realidade. Diante de situações ameaçadoras e
dolorosas, o ser humano torna-se singular, único, não existindo rico ou pobre, mito
ou fantasia, jovem ou idoso.
As soluções do tipo popular, tais como: “Deus sabe o que faz”, “É o destino”, “Só
Deus pode”, na verdade não resolvem realmente os problemas e nem respondem
aos questionamentos. São como anestésicos que consolam e diminuem,
momentaneamente, a dor. Entretanto, essas soluções paliativas não preparam o ser
humano para enfrentar verdadeiramente os problemas. São explicações que tiram a
responsabilidade humana de construir a história e reduzem estes seres a meros
joguetes nas mãos dos seres sobrenaturais. São explicações religiosas que levam à
passividade e à paciência e, por isso, legitimam e alimentam o status quo ou a
situação vivenciada.
Existe também a linha que, ao invés do conformismo, sequer chega a ter contato
com a dor. Seus seguidores crêem que sua posição, a qual revela Deus, não como o
autor do pecado, da doença e da morte, mas como princípio divino, o ser supremo e
isento de todo o mal. Estes crêem na “confissão positiva”, segundo a qual tudo o que
é declarado passa a ser verdadeiro e isso traz uma garantia cósmica para a sua
capacidade de compreender o mundo. Este tipo de ensinamento promete
55
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prosperidade e sucesso vindos da parte de Deus, para aqueles que conhecem as
leis espirituais do universo. Pode-se dizer “garantia cósmica”, porque está baseada
na certeza de que foi nos princípios universais da prosperidade que Deus deu início
ao cosmos. Contudo, se se acredita em Deus e no que ele pode fazer por meio de
suas promessas, então o homem pode se fartar de saúde e prosperidade, além de
tudo o que há de bom. Segundo um de seus defensores:
Temos que entender que há leis governando cada detalhe no
universo. Nada acontece por acidente. Existem leis no mundo
espiritual e leis no mundo natural [...] Precisamos nos conscientizar
que o mundo espiritual e suas leis são mais poderosos do que o
mundo físico e suas leis. As leis espirituais geram leis naturais. O
mundo e as forças físicas que o governam, foram criados pelo poder
da fé – uma força espiritual [...] É esta força da fé que faz com que as
leis do mundo espiritual funcionem [...] A mesma regra se aplica para
a prosperidade. Existem algumas leis que governam a prosperidade
na Palavra de Deus. A fé faz com que elas funcionem [...] As
fórmulas do sucesso na Palavra de Deus produzem resultado
quando usadas da maneira correta. (MacCCONNEL, 1990, p. 171).
Aqui o autor faz alusão ao poder da fé, sem colocar a barganha ou qualquer que
seja a afirmação de que a teologia da prosperidade venha a fazer sobre o barganhar
com Deus, a qual o indivíduo apenas teria quando doasse. Até então, esta
Confissão Positiva conhecia o poder da fé como verdade. O que a metafísica já
aplicava na ciência, assim também como a neurolinguística, como se observará mais
adiante.
3.2 A NEGAÇÃO SOB DIFERENTES ÓTICAS
Enfocam-se, a seguir, algumas das principais visões da negação. São as visões da
psicologia, da filosofia, da sociologia, da Confissão Positiva e da neurolingüística.
Negação vem do latim negare. Trata-se de um verbo transitivo, significando “dizer
que (uma coisa) não é verdadeira ou que não existe”; “contrariar a verdade de”;
“contestar”; “não permitir”; “não conceder”; “recusar”; “rejeitar”; “repudiar”;
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“desmentir”, “abjurar”; “dizer que não”. Como verbo reflexivo traz as seguintes
possibilidades: recusar-se; não se prestar a algo.
4
A negação é um dos mecanismos de defesa descritos por Freud (data). A negação é
uma tentativa de não aceitar, na consciência, algum fato que perturba o ego. Os
adultos têm a tendência de fantasiar que certos acontecimentos não são, de fato, do
jeito que são, ou que - na verdade - nunca aconteceram. Esse vôo de fantasia pode
tomar várias formas, algumas das quais parecem absurdas ao observador objetivo.
A seguinte história é uma ilustração da negação:
Uma mulher foi levada à Corte a pedido de seu vizinho. Esse vizinho
a acusava de ter pegado e danificado um vaso valioso. Quando
chegou a hora de ela se defender, sua defesa foi tripla: “Em primeiro
lugar, nunca tomei o vaso emprestado. Em segundo lugar, estava
lascado quando eu o peguei. Finalmente, Vossa Excelência, eu o
devolvi em perfeito estado” (folclore). A notável capacidade de
lembrar-se incorretamente de fatos é a forma de negação encontrada
com maior freqüência na prática psicoterápica. O paciente recorda-se
de um acontecimento de forma vívida, depois, mais tarde, pode
lembrar-se do incidente de maneira diferente e, de súbito, dar-se
conta de que a primeira versão era uma construção defensiva. Para
exemplificar a Negação, Freud citou Darwin, que em sua
autobiografia dizia obedecer a uma regra de ouro: “sempre que eu
deparava com um fato publicado, uma nova observação ou
pensamento, que se opunha aos meus resultados gerais, eu
imediatamente anotava isso sem errar, porque a experiência me
ensinou que tais pensamentos fogem da memória com muito maior
facilidade que os fatos que nos são totalmente favoráveis.
(DICIONÁRIO DE NEUROCIÊNCIA, 2006, verbete).
5
De forma lógica, a forma afirmativa ou negativa das proposições pode ser
independente da tendência psicológica para a afirmação tal como a considera
Sigwart (2003, p. 32):
E bem verdade que só é útil negar o que poderia ser afirmado; mas o
inverso não é menos verdadeiro e só vale a pena afirmar o que
poderia ser negado. ”Essa mesa é branca”, implica que se possa crer
que ela não o é. Dizer, ao meio-dia, “É dia”, é absurdo. Dizê-lo, no
verão, às três e meia da manhã, pode ser útil e razoável - ditado
alemão.
Desta forma, a negação pode ser: a) o ato do espírito que consiste em declarar uma
lexis cuja proposta é falsa. b) o signo gramatical que representa o universo do
4
Disponível em: www.priberam.pt/dlppo/definir_resultados.aspx. Acesso em 19 out. 2006.
5
Dicionário de Neurociências. Disponível em: www.psiweb.med/gloss/dicn.htm. Acesso em 19 out.
2006.
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discurso, diminuído da extensão do termo de que este símbolo é chamado à
negação (cf. Negativo). Pode-se ainda compreender a negação como niilismo, a
saber:
A) O niilismo, em seu sentido mais geral, designa uma atitude de
completa rejeição da moralidade corrente, sistematizada numa
ideologia que faz da propagação do próprio negativismo um dever
moral. B) O uso mais antigo do termo designava uma forma extrema
de ceticismo filosófico, envolvendo a negação de toda a existência.
Tal negação traz, claramente, implicações morais, profundas e
completas - chega a envolver, por extensão, a destruição total das
crenças morais e religiosas vigentes e, comumente, a substituição de
doutrinas negativas que defendem sua destruição. O significado
disso foi habilmente demonstrado por Albert Camus em suas
observações sobre o livro de F.M. Dostoievski – Os irmãos
Karamazov. Naquele livro, Ivã Karamozov age tendo como premissa
que “tudo é permitido”. Com este, “tudo é permitido”, a história da
negação contemporânea realmente começa. Ivã obrigou-se a fazer o
mal para ser coerente. Ele não se permitia ser bom. A negação
(niilismo) não é somente o desespero, mas, sobretudo, o desejo de
desesperar e negar. (SILVA, 1985, p.149).
Para compreender o que seja a negação, segundo a Confissão Positiva, é
necessário antes ter uma visão sobre a Ciência Cristã, que embora ambas sejam
vistas associadamente, na maioria das vezes, esta Ciência Cristã veio como
precursora da primeira. A Ciência Cristã, elevando-se acima das teorias físicas,
substitui os objetos materiais por idéias espirituais. Ensina que o real é a idéia, não a
matéria; a natureza humana é fundamentalmente espírito, portanto, pela fé pode-se
vencer a tudo: a doença, a pobreza, o mal. O homem pode criar sua própria
realidade através do poder de sua afirmação. O que o homem pensa faz toda a
diferença em sua vida. Se muito não são curados ou ficam enfermos é porque
pensam errado. O mesmo acontece quando são acometidos por uma desgraça,
decepção, falência ou até mesmo o engano. “O que faz um ser humano ser bem
sucedido é o pensamento certo, a crença certa e a confissão certa” (HANEGRAAFF,
1996, p. 268).
O ser humano, se viver pela fé, será isento de todo o mal. Foi nessa premissa que a
Confissão Positiva encontrou seu embasamento conceitual. Tal foi criada por Mary
Baker e Glaver Patterson Eddy, que fizeram uma fusão da ciência com a Bíblia,
tendo total influência na Confissão Positiva. A Confissão Positiva é um movimento
evangélico que surgiu no final do século 20, com o norte-americano Essek Willian
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Kenyon, que foi um dos pioneiros da evangelização através do rádio. Sabe-se pouco
ou quase nada da vida de Kenyon, pois sua biografia nunca fora escrita e seus
escritos contêm muito pouco a respeito de si mesmo. Segundo McConnell (1990, p.
31), ele nasceu no Estado de Nova Iorque, mudando-se para divisa com o Canadá,
na sua adolescência. Converteu-se ao cristianismo ainda adolescente e, aos
dezenove anos, foi ordenado diácono na Igreja Metodista, embora tenha saído de lá,
indo para a Igreja Batista e depois fundando várias igrejas interdenominacionais. Foi
um aluno muito dedicado, muito embora nunca tenha cursado escolas formais,
freqüentou vários cursos, pois era excelente autodidata.
Sua pressuposição básica era que a fé é o oposto do medo. Ela produz efeito
contrário no espírito, na alma e no corpo, causando ao homem mais confiança. Faz
com que a mente se torne mais descansada e positiva. Uma mente positiva repele a
doença e conseqüentemente a emanação do Espírito destrói os germes da doença.
A criação original de Deus foi muita boa, sem pecado, morte ou doença (Gênesis
1:31). Estes aconteceram apenas por causa de Satanás. Cristo veio para destruir as
obras de Satanás e, no Evangelho, consta sobre a cura de doenças, assim como o
perdão de pecados.
Segundo Kenyon: “apenas uma teologia sem fé e preconceituosa poderia restringir
as bênçãos da grande salvação para simples bênçãos espirituais e roubar, de um
mundo tão sofrido, o toque de suas asas que curam” (apud BOWMAN, 2001, p. 75).
Partindo para o seu sentido literal, a confissão positiva significa, conforme Paulo
Romeiro (2006, p. 89): “[...] trazer à existência o que declaramos verbalmente, uma
vez que a fé é uma confissão”. A confissão positiva foi primeiramente abordada por
E. W. Kenyon. Após a sua morte, em 1948, o seu discípulo Kenneth E. Hagin foi o
continuador de suas idéias.
Kenneth Hagin desenvolveu a teologia da saúde e da prosperidade, ou a confissão
positiva. Essa teologia é um dos mais controvertidos movimentos, dentro do mundo
evangélico atual, pois crê que a mente e a língua humana contêm habilidades (ou
poderes) sobrenaturais. Quando alguém fala, expressando sua fé, seus
pensamentos e expressões produzem uma força supostamente divina, que irá curar,
proporcionar riqueza, trazer sucesso, ou até mesmo influenciar o ambiente. As
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palavras têm poder absoluto, pois ao criar o mundo, Deus usou a palavra fé,
portanto o verbo é a coisa mais poderosa do universo.
Hagin era um homem muito fraco e doente, mas com o poder de sua fé, obteve o
milagre da cura, quer de seu grave problema cardíaco, quer da paralisia que o
imobilizava. Suas idéias expandiram-se, encontrando muitos adeptos, não só nos
Estados Unidos, mas em todo mundo. Na área da literatura seu sucesso é enorme.
Ele e seu filho já produziram aproximadamente 150 livros, propagando a teologia da
prosperidade. Em 1976, nos Estados Unidos, Hagin iniciou sua pregação sendo o
primeiro a utilizar a divulgação em programas televisivos, hoje tão comuns em todos
os países. A mídia televisiva alcançando milhares de fiéis.
Hagin afirmava que, no mundo espiritual, a contra partida, a confissão negativa,
poderia abrir espaço na vida de qualquer cristão, permitindo a Satanás entrar em
sua vida, enganando-o, ou levando tudo a perder, porque pode retratar a ausência
de sua fé. Quanto ao neopentecostalismo ou Confissão Positiva, poderia, no dizer
de Hagin, propiciar total poder ao crente, liberando-o de todos os seus problemas.
Uma das afirmações mais contundentes dessa corrente é:
[...] o cristão deve ser próspero financeiramente e sempre livre de
qualquer enfermidade. Quando isto não acontece é porque deve
estar vivendo em pecado ou não tem fé. (apud ROMEIRO, 1998, p.
25).
A partir disso, os neopentecostais fundamentam sua crença nos seguintes
versículos da Bíblia: Hebreus 11:1: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam,
a convicção de fatos que se vêem”; Isaías 53:4: “Certamente, ele tomou sobre si as
nossas enfermidades e as nossas dores e levou sobre si”.
No Brasil, o neopentecostalismo, crescente em vários aspectos e áreas, faz com que
a prosperidade, a negação da dor e do sofrimento, a sublimação de tudo o que é
negativo, aumentem o número de adeptos, lotem os cultos e acendam suas
esperanças idealizadas. O sofrimento é tão profundo que se faz necessário
encontrar um caminho que anestesie a dor ou, aparentemente, solucione o
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problema, pois, por natureza, ele tem necessidade de esconder a vergonha e
desacreditar da dor.
Aqui, pode-se afirmar que o neopentecostalismo e a metafísica caminham juntos,
pois existe uma fusão entre a neurolinguística, na qual o poder da mente e da
palavra têm grande influência na vida do ser humano. Mas, quando misturados com
a religião, têm estilos, substâncias, esquemas e contextos bíblicos - muitas vezes
deturpados - para que alcancem resultados. A palavra cheia de fé pode produzir o
que dizem. Quando se fala acreditando no que diz, os fatos se sucederão às falas e
o mesmo acontece em relação à saúde. Se o indivíduo confessa a sua cura e fala
com uma confissão positiva, o resultado será esta sua cura – ação e reação. A
mesma lógica se aplica à prosperidade material ou financeira. Por isso, o número
crescente de igrejas ou indivíduos que proíbem que outros digam frases ou palavras
negativas, faz com que cada vez mais pessoas adoeçam emocionalmente. Sua
mente está encharcada de dúvidas e medos, seu corpo, muitas vezes grita de dor
dia e noite, mas não se pode buscar ajuda. Basta apenas uma palavra de fé e será
curada. Se não o é, é porque há algo de errado em sua vida.
CAPÍTULO 4
A NEGAÇÃO DO NEGATIVO X O CONTATO COM A DOR
De acordo com a Teologia Neopentecostal, a vida do cristão deve ser isenta de
quaisquer problemas. Se isso não ocorrer é porque não tem fé, ou está vivendo em
pecado. O ser humano não foi criado para a morte nem para o sofrimento. Com essa
afirmação, os neopentecostais não aceitam a doença, a dor, a morte ou o
sofrimento. Acreditam na confissão positiva, crêem que o que falam é o que
determina a sua vida. Baseiam sua crença em vários versículos isolados, para
manipular idéias, pensamentos e emoções. Declaram a doença, por exemplo,
derrotada e inexistente.
Vários são os exemplos de pessoas, inocentemente ignorantes, que deixam
tratamentos médicos de lado, negando, ordenando e tomando posse de sua cura,
acreditando que ela já lhes pertence. Se perguntar a alguém que esposa tais idéias:
“Qual é a maior busca do ser humano?” Provavelmente a resposta será: “Ser feliz”.
A busca frenética do ser humano em sua vida é essa, refletida em tudo o que faz e
em tudo o que busca:
As escolas hedonistas definem a vida moral totalmente proveniente
de experiências de felicidade e infelicidade, que difere os tipos de
condutas que possam resultar e principalmente na vida religiosa,
estes adjetivos parecem ser os pólos que envolvem muitos
interesses diferentes...: e é necessário tomar conhecimento que as
maneiras mais complexas da experiência religiosa são novas formas
de produzir felicidade, caminhos maravilhoso de tipos de felicidade
supernaturais. (WILLIAM, 2003, p. 68).
A maneira de negar o sofrimento, crendo nessa felicidade, faz com que o ser
humano a supervalorize, sublimando ou negando a dor. O neopentecostalismo,
como já foi afirmado, não admite que seus seguidores aceitem a dor como sendo
“sua”, nem mesmo qualquer forma de negativo. O outro - ser humano - nunca deve
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usar a doença na primeira pessoa do singular ou plural, pois ela não lhe pertence.
Eles criam fórmulas, listas de como adquirir este ou aquele favor de Deus, como
aplicar as Escrituras e os How to (Como fazer) acabam transformando-se na maior
regra de fé. Maior que a própria Bíblia. Pela renovação da mente, como afirma Paulo
aos Romanos (8:6), se pode ser transformado e alcançar a mente de Jesus.
4.1 AINDA SOBRE A NEGAÇÃO DO NEGATIVO
Existe uma lista citada no livro Há poder em suas palavras (GOSSET, 1976)
afirmando que, se o ser humano não quer receber coisas negativas em sua vida,
não deve dizê-lo. Renunciando a tudo o que não lhe pertence (de negativo) como
filho de Deus, e diligenciando sua mente com o que é bom, deve usar como base
versículos bíblicos que confirmem a sua confissão:
MINHA LISTA DE “NUNCA MAIS”
Nunca mais direi “Não posso”, “porque posso todas as coisas em
Jesus que me fortalece” (Filipenses 4:13);
Nunca mais direi que está me faltando algo, porque “meu Deus
suprirá todas as minhas necessidades em Cristo Jesus” (Filipenses
4:19);
Nunca mais terei medo, porque “Deus não me deu espírito de medo,
mas de amor, força e moderação” (2 Timóteo 1:7);
Nunca mais terei dúvidas ou falta de fé, porque, “Deus deu a todo
homem a medida de sua fé” (Romanos 12:3);
Nunca mais me sentirei fraco, porque, “o Senhor é a força da minha
vida” (Salmo 27:1) e “Aqueles que conhecem o Seu Senhor serão
fortes” (Daniel 11:32);
Nunca mais direi que Satanás tem a supremacia de minha vida,
porque, “maior é aquele que está em mim do que o que está no
mundo” (1 João 4:4);
Nunca mais me darei por vencido, porque, “Deus sempre me leva em
triunfo em Jesus Cristo” ’(2 Coríntios 2:14);
Nunca mais confessarei falta de sabedoria, porque, “Jesus Cristo é
em mim a sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1:30);
Nunca mais direi que estou doente porque, “por suas pisaduras eu fui
sarado” (Isaías 53:5) e o próprio “Jesus levou sobre si todas as
minhas enfermidades” (Mateus 8:17);
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Nunca mais ficarei preocupado ou me sentirei frustrado, porque,
“deixando sobre Ele todas as minhas preocupações, porque Ele tem
cuidado de mim” (1 Pedro 5:7);
“Em Cristo, sou livre”. Nunca mais direi tenho pendências, porque,
“onde está o espírito do Senhor, há liberdade” (2 Coríntios 3:17).
Nunca mais condenarei ou me sentirei culpado, pois, “não existe
condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos
8:1). “Estou em Cristo, portanto, sou livre de condenação”.
(GOSSET, 1976, p. 12-13).
Essas afirmações todas, as crenças, a confissão positiva e a nulidade do negativo,
não permitem que o ser humano sinta sua dor, muitas vezes até mesmo impedindo-
o de viver seu luto. A doença, a decepção, o resultado inesperado de uma pesquisa
ou de um exame, o desemprego súbito e muitos outros males trazem ao coração
uma vulnerabilidade inesperada. Pois, se as coisas não acontecem da melhor forma,
é falta de fé ou por estar em pecado, enxovalhando sobre a pessoa mais uma culpa
que não é verdadeira. A perda da segurança ou a decepção do não acontecimento
geram medo. A culpa irreal desemboca no medo de desagradar a Deus, gerando
então mais culpa e, a partir daí, é criado um círculo vicioso que vai consumindo a
alma.
Todos os esforços para encontrar uma construção religiosa, científica ou ideológica,
capazes de explicar a vida e aperfeiçoar o mundo, têm sua origem no medo pelas
angústias existenciais e no anseio de sobreviver. A negação da dor não dá espaço
para o sentir, causando experiências desagradáveis, muitas vezes afetando o
organismo, deixando suas marcas. A negação da dor colabora para um
emudecimento da alma e para o sufocar da esperança. Tomando como exemplo a
hanseníase. Ela é a causa da perda de vários membros do corpo, porque, não
sendo sentida, não pode ser tratada. Poucas experiências na vida de um ser
humano são mais universais do que a dor. Não existe um indivíduo sequer que não
tenha experimentado uma dor severa. Não que ela seja agradável, mas o alívio dela
traz consigo a certeza de que houve mudança, seja ela temporária ou permanente:
no caso, a cura.
Por trabalhar com pessoas, experimenta-se o fato de que algumas delas sofrem
profundamente com dores intensas, sejam elas na alma, na memória ou no corpo.
Em contrapartida, há aqueles que reclamam que gostariam de ter passado por mais
dores ou sofrimentos, talvez assim pudessem aprender a valorizar mais o que
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vivenciam agora. A dor é debilitante, muitas vezes paralisante, mas mostra que algo
não anda bem e precisa de tratamento:
Para o bem e para o mal, a espécie humana tem entre os seus
privilégios a preeminência da dor. Temos a capacidade única de sair
de nós mesmos e auto-refletir, lendo um livro sobre a dor ou
recapitulando a lembrança de um episódio terrível. Algumas dores –
a dor do luto ou de um trauma emocional – não envolvem nenhum
tipo de estímulo físico. São estados de espírito, forjados pela
alquimia do cérebro [...] Estas proezas nos oferecem o potencial para
atingir uma perspectiva que irá mudar o próprio panorama da
experiência da dor. Podemos aprender a lidar com ela e até triunfar.
(YANCEY, 2005, p. 28).
Existe e sempre existirá o questionamento sobre o que leva o indivíduo ou, no caso
em questão, este voluntário a negar a sua dor por causa de uma religiosidade ou de
uma linha filosófica. Seria pelo medo, como afirmado anteriormente ou
necessariamente pela crença no que acredite ser a verdade absoluta, como os
autores da Confissão Positiva, da Ciência Cristã e da Teologia da Prosperidade, ou
da Metafísica etc. afirmam?
Com toda essa gama de emoções sufocadas, mistificadas pela religiosidade ou
crença, voluntários avolumam-se em ONGs, querendo servir ao próximo, abdicando-
se de si mesmos e de suas vontades. Alguns o fazem como expiação de seus
pecados, outros como forma de auto-cura. Mas, existem aqueles com o genuíno
desejo de servir ao próximo, tentando enriquecer seu mundo e aliviar, de alguma
forma, sua dor. Entretanto, a sua crença os engessa, atravancando o desenrolar do
trabalho. Faz-se necessário um esclarecimento maior do que se trata o servir ao
próximo, ser voluntário e, assim mesmo, ter contato com dores e desamores. Por
isso, o acompanhamento ao voluntariado deve ser feito bem de perto. É importante
conhecer seu contexto de vida, sua história, suas crenças, suas dores, seus sonhos,
suas limitações e principalmente seus dons. Mas não se deve parar por aí. Um
trabalho de perto de gerenciamento semanal deve ser feito, além do cuidado que se
deve ter com este voluntário.
Não necessariamente torna-se importante um descrever um diagnóstico médico, por
exemplo, ou uma tragédia em detalhes. Mas, é urgente e necessário verbalizar
sentimentos e temores, fantasmas e fantasias. Muitas pessoas doentes, física e
emocionalmente, privam-se de conversar ou de dizer como se sentem,
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principalmente quando cristãs, pois temem ser julgadas e depreciadas por estarem
“em pecado”, ou “sem fé” que deus cuidará delas e pode “até” curá-las. Para
evitarem, em meio a tantos outros sentimentos, mais o peso da culpa, calam-se e
seu silêncio apenas é compartilhado em sua alma. Como cuidadora, esta pessoa
assume o papel, mais uma vez, de quem é muito forte e tem muita fé, por isto a
tempestade irá passar e logo tudo voltará ao normal.
Quando esta negação existir, já é um grande pressuposto para cautela do trabalho
voluntário. Como pode ele ou ela trabalhar com pessoas em situação de sofrimento
se nega o sofrimento? Como pode lidar com a dor, se para ele ou para ela a dor é
inexistente ou é submissa às suas ordens? Inconscientemente este cuidador pode
se colocar num patamar superior à pessoa cuidada, causando um distanciamento
que não trará resultado algum ao trabalho.
4.2 UMA EXPERIÊNCIA DE CONTATO COM A DOR
Alguma coisa está muita errada. Dobrando-se aos poderes deste
mundo, a mente deformou o Evangelho da graça em cativeiro e
distorceu a imagem de Deus [...] A comunidade cristã lembra uma
bolsa de obras de Wall Street, a elite é honrada e os comuns
ignorados. O amor é reprimido, a liberdade acorrentada e o cinto de
segurança da justiça devidamente apertado. (MANNING, 2005, p.
15).
Esse caos se reflete na inutilidade à qual foi sujeita à criação, assim também como
em sua decadência. Reflete no gemido desta criação, sendo o próprio gemido do ser
humano, como participante de tal. No entanto, quanto maior a tentativa de ajudar o
restabelecimento da auto-estima do outro - sem assistencialismo - parece que os
sonhos e o ego do cuidador, mais achatados se tornam.
Como afirmava o compositor Cazuza, numa de suas músicas: “quem vai pagar por
isto?” (198-?). O voluntário, por ver tanta dor, contagia-se ao se propor a caminhar
junto com quem sofre e tanta responder à pergunta de Cazuza. Ao carregar consigo
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a dor da alma do outro, por vezes, a adiciona à sua própria dor que se torna imensa,
e dificilmente será compartilhada por outrem.
A proposta deste trabalho surgiu em decorrência da própria trajetória de vida da
pesquisadora, a qual, desde muito tempo, envolveu-se na incessante busca de
auxiliar o outro. Trabalha há muito tempo com adoção internacional - no CERVI,
como se comentará neste mesmo capítulo - em parceria com os juizados de
menores do Brasil. Sempre acompanha a adoção de crianças de “difícil colocação” -
como eram chamadas as crianças acima de dois anos de idade, os grupos de
irmãos ou crianças com problemas físicos.
A dor do outro, seu sofrimento e ausência de ajuda a incomodavam, algumas vezes
misturavam-se com a sua própria dor e, na impotência desta ajuda, ela buscava uma
resposta em quem, de alguma forma detinha algum tipo de poder, como o próprio
juizado, no caso em questão. Exatamente por ver que o seu grito estava sufocando-
a. A cada dia que passava, ela se via mais fraca para dar forças para o outro,
precisava ter ouvidos abertos e olhos bem perspicazes e certeiros para não enganar
a gente sofrida que vinha pedir ajuda e abraço. O sentimento de abandono sempre a
incomodou, talvez por algo inconsciente ou até mesmo narcisista, como diz Montano
(2005) em suas reflexões acerca do Terceiro Setor, quando afirma que o movimento
do cuidador acontece, para que ele se cuide de si mesmo.
Mesmo nos anos em que lecionou Inglês, o seu objetivo último era sempre o que o
aluno carregava de dores e desamores dentro de si, pois sua preocupação com o
sofrer dos outros, foi sempre uma tônica em seu viver. Em 2000, foi convidada para
abrir uma Organização Não Governamental no Brasil, cuja missão era: “dar
assistência integral à mulher que enfrenta uma gravidez inesperada, valorizando a
opção pela vida”, conforme ilustrações mais adiante.
Relutante, mas certa que não dependeria apenas de si, ela aceitou o desafio - o
desconhecido sempre a fascinou. Com um grupo de sete pessoas foi iniciado o
trabalho, o qual recebeu o nome de CERVI – Centro de Reestruturação para a Vida -
e hoje, depois destes anos todos, já passaram por esta organização mais de sete mil
mulheres. A logomarca do CERVI encontra-se abaixo, conforme a Home Page do
Centro de Reestruturação para a Vida:
67
67
Figura 4. Logo do Centro de Reestruturação para a Vida – CERVI. Disponível em:
http://www.cervibr.org.br/. Acesso em 12 Dez. 2007.
Nesta trajetória descobriu que muitas vezes se perdera e se encontrara na dor do
outro. Outras vezes fez dela a sua própria dor e, na maioria destas vezes, a
identificação a fez descobrir que muito mais do que diagnóstico ou exclusão, o ser
humano precisa de diálogo e acolhimento. Aprendeu que o cuidar do outro exigia
que cuidasse de si mesma, que desse ouvido aos seus gritos silenciosos de socorro
e sofrimento. Aprendeu que cuidar de si aponta para relações de ajuda e deve ser
uma das regras de conduta da vida social e pessoal, um dos fundamentos da arte de
viver (FOUCAULT, 1994).
Conhecer-se a si mesmo, passou a ser um dos elementos centrais do ascetismo
cristão e, paradoxalmente, é um meio de renunciar-se a si mesmo em prol do outro.
Começou a ver que as pessoas ao redor tinham a mesma necessidade e não
conseguiam verbalizá-la. A solidão delas, fazendo de conta que - por serem
cuidadoras, ou voluntárias - eram fortes e não se abalavam, fazia com que suas
feridas aumentassem e fossem ignoradas, afastando-os de si mesmos. Foi então
que se iniciou, nesta ONG, o CERVI – Centro de Reestruturação para a Vida (da
qual a mestranda e sua atual diretora) – a Terapia Comunitária com os voluntários,
conforme detalhada em capítulo anterior desta dissertação.
O resultado foi e tem sido surpreendente. As crises, os sofrimentos e as vitórias de
cada um, quando expostos ao grupo nos seus encontros, são utilizados como
matéria-prima. Neste trabalho de criação gradual de consciência social, são úteis
para que se torne mais fácil a descoberta da gênese da dor e do sofrimento humano,
dando ao outro o empoderamento de ser ajudador, identificando-se com a dor
apresentada. Desde então, há encontros ao menos uma vez por mês, mas com o
olhar sempre voltado ao cuidador, na rotina de atendimento e com a alma aberta e
sensível a seus possíveis questionamentos, numa relação de troca e cuidado.
68
68
Atendimento inicial por telefone;
Teste diagnóstico de gravidez;
Orientação psico-espiritual (gestantes, mães e casais);
Cadastramento da cliente para acompanhamento;
Cursos sobre cuidados com a saúde dos bebês e das mamães;
Auxílio nas necessidades materiais básicas das gestantes;
Palestras sobre temas ligados à gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e assuntos
correlatos; Etc.
Desde a fundação do CERVI, em 2000, foram atendidas, gratuitamente:
Ano
2000 (Set-Dez) 2006
Atendidas
32 6678
Não há distinção de pessoas religiosas, raça, cor, classe econômica ou qualquer outro motivo.
Todos os que se deparam com a constatação ou suspeita de uma gravidez inesperada, as possibilidades
de uma opção pelo aborto ou que sofrem com suas conseqüências.
Trabalhamos na tentativa de transformação de vidas, ajudando na restauração do ser (mulher ou casal,
casados não) como um todo, físico, emocional e espiritual.
Se você está enfrentando dificuldades causadas por uma gravidez inesperada, ou já passou por
problemas causados por aborto ou dificuldades na gestação e ainda tem dúvidas ou tensão decorrentes
disso, entre em contato conosco por e-mail ou telefone:
Fale Conosco - Clique aqui
Telefone: (11) 3822-2001
Fiz o teste de gravidez no CERVI e recebi um enxoval completo para o meu bebê.
Oi, eu sou Eduardo Henrich, se eu soubesse falar, diria o tanto que estou grato por tudo o que vocês do
CERVI fizeram por mim, ajudando a minha mãe a me receber, com muito carinho e amor.
OBRIGADO POR VOCÊS EXISTIREM!
Eu já nasci com muita saúde e paz. Agradecemos em primeiro lugar a Deus e a vocês do CERVI. Que
nascem crianças que tem sorte de conhecer vocês! Como eu recebi o direito de ter tudo que mereço e
preciso, o melhor!? A vida é muito importante e o trabalho de vocês também. Nós somos muito gratos
por tudo o que vocês nos doaram, muito obrigado. 04-06-2003
Alameda Olga, 405 – Barra Funda – 01155-040 - o Paulo - SP - (11) 3822-2001 - 3662-5305.
Figura 5. Home Page do CERVI - atendimento. Disponível em: http://www.cervi.org.br/
. Acesso em 12
Dez. 2007.
4.3 DA COLETA E ANÁLISE DOS DADOS DOS CUIDADORES
Nesta dissertação foram utilizadas tanto a pesquisa teórica quanto uma pesquisa de
campo. Neste subtópico enfocam-se, em relação à pesquisa de campo, os seus
passos trilhados. A elaboração de quatro questões de múltipla escolha e de uma
69
69
questão dissertativa objetivou obter dados quantitativos e qualitativos sobre os
elementos que podem servir de apoio aos cuidadores. Também visou a conhecer
quais os sentimentos que mais freqüentemente ocorrem ao cuidador, durante seu
trabalho voluntário. Optou-se pela escolha de profissionais militantes em diferentes
áreas de atendimento: crianças, idosos, gestantes, doentes crônicos ou terminais,
para obter uma visão mais ampla do assunto da dissertação. Para chegar-se a tais
resultados adotou-se um procedimento de pesquisa, cujos resultados das análises
quantitativa e qualitativa dos dados coletados, são aqui apresentados. A seguir mais
dados acerca do CERVI, conformes à sua Home Page:
O CERVI começou seu trabalho em 2000 com uma diretoria, uma coordenadora, uma diretora
executiva e 20 voluntários. É sustentado por doações financeiras de pessoas físicas ou
jurídicas, assim como roupas de bebê e gestante, testes de gravidez e serviços voluntários
diversos. A dedicação dos mantenedores, colaboradores financeiros e voluntários tem feito
toda a diferença, não só na vida das mulheres e seus parceiros, mas também dos bebês e de
suas famílias.
Temos parcerias com Postos de Saúde da grande São Paulo, Laboratórios, Hospital das
Clínicas (com gestação de risco até 17 anos e gemelares), Hospital e Maternidade
Cachoeirinha, Hospital São Paulo, Santa Casa da Misericórdia de São Paulo, Companhia do
Metropolitano de São Paulo (na divulgação por meio de cartazes), escolas, igrejas, SPTM
(divulgação), ECT – Lapa, etc.
Fazemos palestras sobre prevenção de DST's, gravidez inesperada, gravidez na adolescência,
aborto e também estudos para pessoas que já passam pela experiência do aborto (sofrido ou
provocado) e vítimas de abuso sexual.
Profissionais voluntários: dentistas, médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos,
contadores, psiquiatras, advogados, profissionais da comunicação, engenheiros, assistentes
sociais, pastores, ginecologistas, obstetras, etc.
Sócios voluntários: conselheiros, intercessores, captadores de recursos, divulgadores.
O voluntariado nos dá o privilégio de amadurecer e ver que, enquanto investimos em vidas,
vivemos e amamos como Jesus o fez. Vemos que se queremos viver melhor, podemos
proporcionar, mesmo que lentamente, pessoas mais inteiras e seguras. "Existe muita gente no
mundo que é capaz de morrer por um pedaço de pão, mas existe muito mais gente que é capaz
de dar a vida por uma migalha de amor" Madre Tereza de Calcutá.
Como outras ONGs, o CERVI tem seu funcionamento semelhante a um avião bimotor:
- Um dos motores são os funcionários que atuam continuamente para manter funcionando a
estrutura operacional da entidade;
- O outro motor é o conjunto dos voluntários que colaboram das mais diversas formas. São as
pessoas que se propõem a receber treinamento para orientações das clientes e repassam o
treinamento a novos voluntários. São os profissionais das áreas de saúde, administração,
70
70
comunicação, etc. que oferecem seus serviços sem receber remuneração. Finalmente os
colaboradores financeiros que contribuem para a operação da entidade.
As pessoas que atendem na sede já foram contagiadas pela responsabilidade social. Elas
sabem que as principais mudanças ocorrem quando cada um faz sua parte. Mas o CERVI não
acontece somente em sua matriz, para se manter aonde chegou e continuar crescendo ainda
mais, hoje tem o apoio do Hospital das Clínicas, com Postos de Saúde, Clínicas, etc. Temos
uma unidade, com alguns funcionários remunerados que trabalham todos os dias, e despesas
operacionadas de um escritório pequeno, com suas despesas características (aluguel, salários,
telefone e outras despesas). Como todo o atendimento é gratuito, nossa receita provém de
doações dos colaboradores.
Ser um colaborador é fazer parte de um grupo de pessoas que colaboram com uma
determinada quantia todos os meses.
Você pode fazer diferença em uma vida:
- Voluntariando-se;
- Fazendo doações financeiras, de roupas de bebês e gestantes, fraldas, móveis de criança, etc.
- Fazendo atendimento médico e psicológico;
- Doando-se.
Fale Conosco - Clique aqui / Telefone: (11) 3822-2001
Você, que usa computador em casa ou na empresa, pode nos ajudar: Aquele cartucho ou
tonner de impressora, que não funciona mais, tem valor para nós. É só você não tocar nas
saídas de tinta, ao removê-lo, e colocar na embalagem original ou, simplesmente, embrulhar
num jornal. Entre em contato conosco para retirarmos em sua empresa ou casa.
Alameda Olga, 405 – Barra Funda – 01155-040- São Paulo - SP - (11) 3822-2001 - 3662-5305
Figura 6. Home Page do CERVI - parcerias e colaboração. Disponível em: http://www.cervi.org.br/
.
Acesso em 12 Dez. 2007.
4.3.1 Da análise quantitativa
A pesquisa foi elaborada a partir de um questionário cujo modelo consta desta
dissertação como seu Anexo A. Neste questionário a primeira pergunta apresentada
às mulheres entrevistadas, cuidadoras-voluntárias, foi:
Como se sentem diante da impotência para auxiliar o assistido?
A totalidade das respondentes sente-se triste (100% de respostas afirmativas).
Deste total de voluntárias, 25% sentem-se além de tristes, também fragilizadas. Em
relação à segunda pergunta:
Em quem buscam apoio para o trabalho como voluntário?
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100% das entrevistadas recebem apoio da família e 90% sentem-se
simultaneamente apoiadas pelos amigos. Apenas 10% delas recebem apoio da
comunidade. Abaixo mais informações sobre o CERVI, a partir de sua página na
Internet:
Figura 7. Home Page do CERVI – quem somos? Disponível em: http://cervi.org.br/index1.html
.
Acesso em 12 Dez. 2007.
QUEM SOMOS
O CERVI - Centro de Reestruturação para a Vida é uma extensão do projeto "Life
International", com sede nos EUA e atuação em mais 15 países em desenvolvimento e com
altos índices de abortos. É a única instituição na América Latina que oferece assistência
integral à mulher que passa por uma gravidez inesperada.
A criação do Cervi em 2000, em São Paulo, foi motivada pelo o alto índice de abortos no Brasil
(de 4 a 5 milhões ano). Esses abortos resultam em infecções extremamente sérias em 40%
das mulheres que procuram os hospitais e resultam em morte de 10% das pacientes. (fonte:
Kaiser Foundation).
O Cervi já atendeu mais de 7.000 mulheres, que na grande maioria chegam pensando em
abortar, uma vez que essa criança foi gerada sem planejamento e, muitas vezes, maridos e
familiares nem mesmo foram informados da ocorrência da gestação. Elas se sentem indefesas
e desamparadas por viverem esse momento.
O Cervi oferece todo o tipo de apoio psicológico, médico, espiritual, formação profissional,
enxovais para os bebês em formação (é necessário que a gestante esteja sendo
acompanhada desde o teste de gravidez) e busca valorizar a importância do ser humano,
trabalhando a auto - estima da gestante.
Missão
Oferecer assistência integral à mulher que passa por uma gravidez inesperada, valorizando a
opção pela vida.
Filosofia
Na tentativa de dar assistência integral que contemple a pessoa como um todo (físico,
emocional e espiritual) o Cervi compartilha a valorização da vida, oferecendo alternativas de
superação, atuando de forma ética por meio do voluntariado e de parcerias com outras
organizações.
CERVI - Centro de Reestruturação para a Vida - Alameda Olga, 405 - Barra Funda - São Paulo
- CEP 01155-040 - Fone: 0xx113822-2001.
72
72
Quanto à terceira pergunta:
Com quem repartem as experiências vivenciadas?
Respostas obtidas: 70% repartem com a família e 60% também com os amigos;
20% repartem com o cônjuge e a família ao mesmo tempo; 10% o fazem com
religiosos. Quanto à quarta pergunta:
Que tipo de apoio gostaria de ter?
70% responderam que necessitam de apoio emocional, sendo que 20% declararam
necessitar também de apoio intelectual. 30% declararam que necessitam
exclusivamente de apoio intelectual. A partir da quinta pergunta, que é uma questão
dissertativa, a análise se deu sob o aspecto qualitativo.
4.3.2 Da análise qualitativa
Conforme anteriormente explicado, na introdução, a população-alvo foi do sexo
feminino. Mulheres que exercem as funções de voluntárias em entidades de caráter
assistencial. A constatação foi de que todas, diante da impotência para solucionar
problemas, sentem-se tristes. Acima se apontou que algumas também afirmam estar
fragilizadas e, conseqüentemente, responderam também que necessitam de apoio
emocional. Isso parece demonstrar a hipótese levantada na dissertação: o cuidador
também necessita de alguém que o ajude a minimizar sua angústia, por não poder
resolver os problemas encontrados.
Constatou-se que muitas se apóiam na sua família ou em seus amigos que lhes
proporcionam amparo e conforto. Há as que repartem suas incertezas, angústias,
dores e preocupações com o cônjuge. Outro fator importante a considerar é que a
grande maioria demonstra necessidade de apoio intelectual e emocional, o que leva
à reflexão sobre a necessidade de formas de atuação que minimizem essas
necessidades; desde treinamento até a própria Terapia Comunitária. Acerca do
CERVI, há formas de incentivar a participação de doadores, conforme ilustrado:
73
73
Figura 8. Home Page do CERVI – seja um doador. Disponível em: http://cervi.org.br/index1.html.
Acesso em 12 Dez. 2007.
Neste sentido, retomando a quinta pergunta, dissertativa, a partir das respostas
coletadas podem-se frisar alguns depoimentos. Uma das cuidadoras trabalha com
doentes terminais e apoio psicológico às famílias e considera que, embora se
envolva com a dor de seus assistidos, a sua dor está em escala bem menor que a
dos doentes.
Nestes depoimentos observa-se que estas cuidadoras sempre procuram mitigar a
dor de seus assistidos, envolvendo-os com palavras e ações carinhosas, pois
entendem que o carinho e o amor são imprescindíveis como alicerces de sua ação
humanitária. Elas sentem-se felizes por poderem auxiliar ao próximo, especialmente
aquelas que trabalham com portadores de doenças incuráveis: câncer, HIV etc. Uma
das respondentes afirmou que a dor que mais a afeta é quando uma mãe perde um
filho e se desespera.
Embora seja um trabalho emocionalmente exaustivo, essas voluntárias sentem-se
gratificadas por poderem distribuir apoio e esperança. Afirmam também que sentem
a necessidade de um ombro amigo, de um ouvido com quem repartam suas
tristezas, de um incentivo que as ajude a prosseguir no trabalho de cuidadoras. A
grande maioria sente necessidade de ampliar seus conhecimentos, posto que isso
as fortalecerá para melhor se realizarem enquanto profissionais, uma vez que
afirmam categoricamente a necessidade de apoio intelectual.
Seja um doador
Você pode fazer diferença em uma vida:
Você pode ajudar fazendo doações financeiras, de roupas de bebês e gestantes, fraldas e móveis
de criança, fazendo atendimento médico e psicológico ou simplesmente divulgando o nosso
trabalho.
Para doações em dinheiro, utilize os dados abaixo:
BANCO ITAÚ - AGÊNCIA 0383 - C/C 63082-9
Para doações de material, encaminhe à nossa sede, no endereço abaixo
CERVI - CENTRO DE REESTRUTURAÇÃO PARA A VIDA
Alameda Olga, 405 - Barra Funda - São Paulo - 01155-040 - Fone: 0xx11 3822-2001
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Para todas elas é muito importante poderem acenar com a luz da esperança,
demonstrando aos seus assistidos que eles não estão a sós em seus infortúnios,
que podem encontrar uma mão amiga afagando-os e amparando-os.
Pela análise das respostas da pesquisa de campo, constatou-se que a grande
maioria deseja, além do apoio de familiares e amigos ou cônjuges, possuir maior
bagagem de conhecimentos, bem como de um amparo mais eficiente no campo
emocional. Elas sentem-se impotentes e quando isso acontece a tristeza as envolve.
Abaixo há mais uma parte da página da Internet relativa ao CERVI:
Figura 6. Home Page do CERVI – parcerias. Disponível em: http://cervi.org.br/index1.html. Acesso
em 12 Dez. 2007.
PARCERIAS
Hospital das Clínicas
Atendimento de gravidez de adolescentes de até 17 anos e 11 meses;
Gravidez de risco;
Medicina fetal e gemelar.
Hospital e Maternidade Modelo Vila Nova Cachoeirinha
Hospital São Paulo
Santa Casa da Misericórdia
Centro de Solidariedade
Colocação de clientes atendidas (nas diversas áreas profissionais);
Laboratórios Ghelfond e Labor Labis
Para exames de BHCG
Demais exames de pré-natal com descontos especiais;
Postos de Saúde na grande São Paulo,
Encaminhamento de Pré-Natal
Consultas ginecológicas
Além de outras para a viabilização de atendimento e divulgação
CPTM (para divulgação)
SPTrans (para divulgação)
Metrô (para divulgação)
Comunidades Cristãs
CONCLUSÃO
Ao longo do trabalho constatou-ser que os seres humanos se encontram
fragilizados, por vezes emaranhados em situações que os oprimem e os conduzem
à angústia, dores, desamores, desenganos e tristezas. Vivenciam-se graves
problema, como o de um pai desempregado, em cujo lar muitos dependem do seu
trabalho para a própria sobrevivência; ou o caso de uma mãe que perde seu filho e
se desespera, não conseguindo administrar essa dor; também o caso de uma
gravidez inesperada e inoportuna, quando a futura mãe não tem ninguém para
ampará-la; ou ainda uma enfermidade incurável seguindo sua trajetória inexorável;
um casamento interrompido por incompreensão ou desamor ou quaisquer outras
situações que afligem. Diante destas tragédias pessoais, a pessoa humana sente-se
desarvorada, infeliz, incapaz de encontrar saída do labirinto de dores e angústias
que povoam a sua mente.
Quando desiludido e desesperado, o ser humano busca recursos no aconchego e no
amparo de pessoas beneméritas, caridosas, as quais doam seu tempo e suas ações
para o conforto dos oprimidos e desamparados. Surgem então as instituições de
apoio, quer religiosas ou laicas, que se propõem a fazer o bem, não discriminando
pessoas pela sua situação financeira, sua etnia, ou pelo credo religioso que
professem. Nessas entidades, nos tempos atuais avulta e cresce a figura do
voluntário cuidador, do terapeuta individual ou comunitário.
Este trabalho procurou destacar a figura do cuidador que, como ser humano que é,
também sofre, contagia-se e fere-se com a dor daquele que por ele é cuidado. Viu-
se que o perfil ideal do cuidador deve ser o de um ser humano dotado de
sensibilidade e de compreensão, que respeite o sofrimento alheio, que possua
conhecimentos psicológicos para amparar, apoiar, envolver quem precisa de
76
76
cuidado, fazendo com que, na escuridão em que se encontr cuidador ideal é aquele
que cria laços de empatia para socorrer o desesperado que o busca.
Ficou também patenteado, a partir da pesquisa bibliográfica, que não é negando a
dor e a angústia, afirmando que elas não existem ou que são apenas frutos de uma
distorção mental, afirmação típica da teologia da prosperidade, que se consegue
fortalecer o desesperado, encaminhando-o para a solução.
Pelo contrário, é no envolver-se na missão de ensinar e ser ensinado, no contato
mútuo, na inter-relação cuidador-cuidado, que se promove o crescimento de ambos.
Porque todo envolvimento entre pessoas gera vínculos que se ancoram no respeito
e no amor ao ser humano, como o preconizado pelos ideais de Cristo. Ressalta-se
que é importante ao terapeuta comunitário ter crença e respeito pelo outro, que
vislumbre em cada falha humana, o apelo, o grito de uma alma e a exteriorizarão de
uma carência. Sua função é trabalhar o sofrimento dos outros, estimulando a
partilha, para minimizar as dores e possibilitar a construção de uma rede de apoio
aos que sofrem.
É importante que o terapeuta comunitário possa despertar no grupo dos que sofrem,
a vontade de construir vínculos afetivos, pois só estes poderão conferir segurança e
sentido de pertencimento, os quais enriquecerão e fortalecerão os membros do
grupo. Vale ressaltar também que todo cuidador tenha sempre em mente, que o ser
humano é sempre a somatória de uma série de fatores biológicos e contextuais, e
que os problemas estarão sempre entrelaçados a essas causas, externas ou
internas ao ser humano. É preciso que se tenha sempre uma visão sistêmica na qual
veja o ser humano como parte de um todo, em que as partes influenciam-se entre si
e ao todo. O encontro do terapeuta e daquele que precisa de cuidados é um
momento mágico de crescimento mútuo. É o espaço no qual se estabelecem laços
em que, cuidador e cuidado se encontrem e se redescubram.
Foi aqui apresentada a concepção de Terapia Comunitária, conforme concebida por
seu criador, Adalberto de Paula Barreto, o qual afirma ser esta uma forma de
canalizar energias positivas sobre a visão de mundo daquele que precisa de
cuidados. É a maneira de revitalizar a capacidade de reação e de mobilização de
energias vitais, objetivando uma transformação integral do ser humano e todas as
77
77
suas dimensões: física, mental, espiritual, emocional e social. Para alcançar esse
objetivo, é importante que o terapeuta comunitário confie na comunidade, que
acredite nela como um sistema com possibilidades próprias de superação e de
resolução dos problemas. O terapeuta precisa estabelecer um diálogo com aquele
que é cuidado e ouvi-lo com atenção, sempre que este procurar extravasar suas
angústias, suas dúvidas e suas dores existenciais.
Se o desejo é realmente transformar o oprimido, o excluído, fazendo com que este
descubra seus próprios valores, como pessoas dignas de respeito, há que se ajudá-
lo a verbalizar as suas emoções e pensamentos. Por meio da comunicação, os seus
problemas poderão ser vistos sob ângulos diferentes, possibilitando o encontro de
soluções. A partir dessa redescoberta de si mesmos, poderão estes sofredores
passar do papel de vítimas e expectadores a agentes de suas próprias histórias.
Finalmente, não pode esquecer-se de mencionar que a pesquisa aponta o cuidador
também como ser que precisa de apoio. Para tanto, há na Terapia Comunitária a
forma mais eficiente para minimizar os problemas de envolvimento e identificação
entre cuidador e cuidado. Esta TC é o espaço em que se dá a partilha com todos os
membros do grupo que, sentindo-se co-responsáveis, têm como conseqüência a
ampliação de sua segurança. A TC possibilita ainda a redescoberta dos valores e
potencialidades de cada um, auxiliando na busca de caminhos iluminados pela
esperança, possibilitando melhores soluções para os problemas que afligem aos
assistidos e aos cuidadores voluntários.
O sucesso encontrado em seções práticas reforça esta opção e permite à
pesquisadora sugerir que esse seja um caminho viável para que, assistidos e
cuidadores sintam-se mais aptos a lidar com a dor alheia e com a sua própria.
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______; ASSMANN, Hugo. Competência e sensibilidade solidária. Petrópolis: Vozes,
2000.
VOLTOLINI, Ricardo. Terceiro setor, planejamento e gestão. São Paulo: s.n., 2004.
WILLIAM, James. The varieties of religious experience. New York: Signet Classic,
2003.
YANCEY, Philip. A dádiva da dor. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.
Sites visitados / utilizados:
<www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx>. Acesso em: 19 out. 2006.
<www.cacp.org.br/ciencia_crista.htm>. Acesso em 20 out. 2006.
<www.cacp.org.br/mov_fe.htm>. Acesso em: 20 out. 2006.
83
83
ANEXO A
MODELO DE PESQUISA / ANÁLISE UTILIZADA
1. Quando você se vê impotente, diante de um atendimento ou sofrimento da
pessoa atendida, sente-se:
( ) triste ( ) sem saída ( ) sozinha
( ) tranqüila ( ) fragilizada.
2. Quem apóia seu trabalho como voluntário?
( ) família ( ) amigos ( ) ninguém ( ) comunidade.
3. Com quem você reparte as experiências que leva quando sai da ONG?
( ) amigo ( ) religioso ( ) cônjuge
( ) família ( ) ninguém.
4. Que tipo de apoio, como voluntário/cuidador, você gostaria de ter?
( ) financeiro ( ) médico ( ) logístico
( ) emocional ( ) intelectual/conhecimento.
5. A partir dos questionamentos acima, dê seu depoimento/testemunho. Fale de
si mesmo como voluntário/cuidador. (Em cinco linhas)
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Copyright © 2007 Rosemeire Santiago
Elaboração
Rosemeire Santiago
Dados para catalogação
N322i Santiago, Rosemeire.
Cuidando da dignidade e da identidade do cuidador: uma proposta pragmática.
São Paulo: Mackenzie, 2007.
84 p.: il., 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião).
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2007.
Bibliografia p. 78-82.
1. Terceiro Setor 2. Cuidador 3. Cuidado 4. Sofrimento 5. Voluntariado. I. Título.
1. Trabalhos acadêmicos – normalização. I. Título.
2. Trabalho de Conclusão de Curso.
3. Monografia para pós-graduação stricto sensu.
LC HQ1394
CDD 248.4
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