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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS CURITIBA
GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
ELÉTRICA E INFORMÁTICA INDUSTRIAL - CPGEI
PAULO ROBERTO STEFANI SANCHES
AVALIAÇÃO DE TÉCNICAS CONSERVADORAS
PARA TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA
URINÁRIA FEMININA EMPREGANDO
INSTRUMENTAÇÃO PARA MONITORIZAÇÃO
DOMICILIAR
TESE DE DOUTORADO
CURITIBA
ABRIL DE 2008
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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial
TESE
apresentada à UTFPR
para a obtenção do título de
DOUTOR EM CIÊNCIAS
por
Paulo Roberto Stefani Sanches
Avaliação de técnicas conservadoras para tratamento da
incontinência urinária feminina empregando instrumentação
para monitorização domiciliar
Banca Examinadora:
Presidente e Orientador:
Prof. Dr. Percy Nohama UTFPR/CPGEI
Examinadores:
Prof. Dr. Alberto Cliquet Junior USP, UNICAMP
Prof. Dr. Joaquim Miguel Maia UTFPR
Prof. Dr. Manoel João Batista Castello Girão UNIFESP
Prof. Dr. Paulo José Abatti UTFPR
Prof
a
. Dra. Vivian Ferreira do Amaral PUCPR
Curitiba, Abril de 2008
Paulo Roberto Stefani Sanches
Avaliação de técnicas conservadoras para tratamento da
incontinência urinária feminina empregando instrumentação
para monitorização domiciliar
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Elétrica e Informática Industrial da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, como
requisito parcial para a obtenção do título de “Doutor em
Ciências” - Área de Concentração: Engenharia
Biomédica.
Orientador: Prof. Dr. Percy Nohama
Co-orientador: Prof. Dr. José Geraldo Lopes Ramos
Curitiba
2008
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UTFPR – Campus Curitiba
S211a Sanches, Paulo Roberto Stefani
Avaliação de técnicas conservadoras para tratamento da incontinência urinária feminina
empregando instrumentação para monitoração domiciliar / Paulo Roberto Stefani Sanches.
Curitiba. UTFPR, 2008
XVIII, 125 p. : il. ; 30 cm
Orientador: Prof. Dr. Percy Nohama
Co-orientador: Prof. Dr. José Geraldo Lopes Ramos
Tese (Doutorado) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Gra
duação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial. Curitiba, 2008
Bibliografia: p. 93-106
1. Engenharia biomédica. 2. Incontinência urinária. 3. Instrumentação. I. Nohama,
Percy, orient. II. Ramos, José Geraldo Lopes, co-orient. III. Universidade Tecnológica
Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática
Industrial. IV. Título.
CDD: 618.97663
Agradecimentos
Ao meu orientador, Prof. Dr. Percy Nohama, pela confiança e desafio de orientar um
trabalho à distância e pelo exemplo de dedicação pessoal e abnegação em prol da pesquisa.
Ao meu co-orientador Prof. Dr. José Geraldo Lopes Ramos pela dedicação aos trabalhos
de pesquisa, em meio a tantas atividades, e pela disponibilidade nos momentos de decisão do
projeto.
À médica ginecologista e mestre em Medicina Adriana Prato Schmidt pela dedicação e
parceria importante neste trabalho.
Às fisioterapeutas Simone Nickel e Camila Martins Chaves pelo apoio na avaliação e
treinamento das pacientes.
A Maria Luiza pela compreensão e paciência em suportar um engenheiro que, entre uma
série de outras atividades, resolveu fazer doutorado.
Ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, cuja estrutura foi fundamental para o
desenvolvimento deste trabalho, e ao apoio financeiro do Fundo de Incentivo à Pesquisa.
À Universidade Tecnológica Federal do Paraná que permitiu o acesso a mais um degrau
de minha qualificação profissional.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, que mesmo diante
das dificuldades financeiras do estado, continua investindo nos projeto de pesquisa.
Aos meus colegas da Engenharia Biomédica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre pela
parceria no projeto, em especial ao engenheiro e mestre em Matemática Danton Pereira da Silva
Junior.
À família e aos amigos sempre presentes.
iv
Resumo
Tratamentos conservadores atuais para incontinência urinária feminina incluem uma combinação
de exercícios da musculatura do assoalho pélvico (EMAP), cones vaginais, estimulação elétrica e
biofeedback. Todavia, estudos recentes têm sido incapazes de determinar qual técnica
suplementar é mais vantajosa. Além disso, a avaliação da adesão ao tratamento é difícil, quando
as técnicas são aplicadas em ambiente domiciliar. Assim, os objetivos da pesquisa descrita
envolvem o projeto de um equipamento portátil para aplicação de EMAP associados ao
biofeedback e à estimulação elétrica em ambiente domiciliar e a realização de estudo piloto em
grupo de pacientes com incontinência urinária. O novo equipamento desenvolvido consiste de
uma unidade microprocessada portátil com capacidade de memória para armazenar os exercícios
realizados pela paciente em ambiente domiciliar. A cada consulta o conteúdo da memória é
descarregado via interface serial e pode ser analisado pelo terapeuta, visando a determinação da
adesão e performance na realização dos exercícios. A monitorização da pressão de contração da
musculatura pélvica é realizada com uma probe vaginal. Foram incluídas no estudo 32
voluntárias, alocadas em 3 grupos de intervenção e submetidas a um protocolo de 13 semanas.
Ao início e final do tratamento as voluntárias passaram por avaliação urodinâmica, perineometria
e preencheram um diário miccional e questionário de qualidade de vida. A avaliação dos
resultados do tratamento mostrou que após 3 meses, 71,9% das pacientes (23) tiveram cura ou
melhora significativa, 18,8% (6) melhora parcial de sintomas e 9,3% (3) resposta ruim, sendo
encaminhadas para tratamento cirúrgico. A adesão ao tratamento não mostrou diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos (p=0,201), porém a performance na realização dos
exercícios mostrou diferenças significativas (p<0,05), com melhores resultados no grupo de
biofeedback. Em todos os grupos, foram observados aumento significativo na força de contração
máxima da musculatura pélvica (p<0,05) e uma melhora nos escores do questionário de
qualidade de vida (p<0,02). O número de perdas por esforço apresentou uma redução
estatisticamente significativa (p<0,05) e observou-se uma tendência de redução no número de
micções diárias e número de perdas por urgência. A nova instrumentação desenvolvida para uso
domiciliar mostrou-se eficaz e as voluntárias participantes do estudo apresentaram alterações
significativas nas variáveis analisadas.
Palavras-chave:
Incontinência urinária feminina, exercícios pélvicos, tratamento conservador, biofeedback,
estimulação elétrica neuromuscular.
v
vi
Evaluation of conservative techniques for treatment of the female urinary
incontinence using home monitoring-based instrumentation
Abstract
Current conservative treatments for female urinary incontinence include a combination of pelvic
floor muscle exercises (PFME) and vaginal cones, neuromuscular electrical stimulation and
biofeedback. However, recent studies have been insufficient to determine which supplementary
technique is more advantageous. In addition, since those techniques are performed at home by
the patient, assessment of compliance is difficult. The main goals of this research are the
development of a portable device for the treatment of female urinary applying PFME combined
with or electrical stimulation and make a pilot study with a patients group. The device developed
for this study consists of a microprocessor controlled unit with sufficient memory to store the
exercises carried out by patients at home. At each consultation the contents of the memory are
downloaded via USB interface for analysis by the therapist. Effective compliance and the quality
of the exercises performed can be evaluated. The device includes a vaginal probe for monitoring
pelvic muscle contraction pressure during the exercises. The study included 32 patients,
allocated to one of 3 intervention groups. Outcomes were: change in quality of life score and in
urodynamic and perineometric parameters and changes to urinary habits and episodes of losses
recorded in the bladder diary. After 3 months, 71.9 % of the patients (23) had achieved cure or
significant improvement, 18.8% (6) partial improvement of symptoms and 9.3 % (3) poor
response, being referred for surgical treatment. Compliance with treatment was not different
between groups (p=0.201), however the performance in the execution of exercises shows
significant differences (p<0.05), with better results in the biofeedback group. In all groups a
significant (p<0.05) increase was observed in maximum pelvic muscle contraction strength, in
addition to an improvement in the quality of life questionnaire scores (p<0.02). The number of
urine losses due to stress exhibited a statistically significant reduction (p<0.05) in all groups.
There was a trend towards reduced number of urinations per day and reduced number of urge
urine losses. The novel developed instrumentation for home use was efficient and the patients
allocated in the research protocol had significant alterations in the assessed variables.
Keywords:
Female urinary incontinence, pelvic exercises, conservative treatment, biofeedback,
neuromuscular electrical stimulation.
vii
viii
Lista de Figuras
Figura 1: Ilustração do sistema urinário feminino (modificado de
http://www.medicineonline.com ) ………………....................................................... 8
Figura 2: Disposição anatômica de alguns músculos pélvicos (modificado de
http://summit.stanford.edu) ......................................................................................... 9
Figura 3: Inervação simpática, parassimpática e somática do trato urinário inferior
(modificado de Yoshimura e Groat, 1997) ..................................……………............ 12
Figura 4: Atividades simpática, parassimpática e somática durante a fase de
armazenamento de urina. …………………................................................................. 15
Figura 5: Atividades simpática, parassimpática e somática durante a fase de
eliminação de urina. .…………………........................................................................ 16
Figura 6: Espéculo dinamométrico de Dumoulin et al. extraído de Bø e Sherburn, 2005.......... 27
Figura 7: Formatos diversos de cones vaginais extraído de Bø e Sherburn, 2005….................. 29
Figura 8: Balonete (probe) do fabricante BEAC Biomedical (Italy) utilizado para
medição da pressão intra-vaginal. ................................................................................ 42
Figura 9: Apresentação de seqüências de exercícios no display gráfico: Seqüência 1
- contrações rápidas, Seqüência 2 - contrações lentas. ……….................................... 42
Figura 10: Diagrama em blocos do equipamento proposto. ....................................................... 44
Figura 11: Circuito eletrônico da unidade de processamento: microcontrolador,
memórias e display gráfico........................................................................................ 45
Figura 12: Circuito eletrônico da interface serial padrão RS-232. ............................................. 46
Figura 13: Circuito eletrônico do módulo estimulador. .............................................................. 46
Figura 14: Circuito eletrônico da fonte de alimentação. ............................................................. 46
Figura 15: Seqüência de telas apresentadas à paciente com o equipamento operando
no modo biofeedback. ……………........................................................................... 48
Figura 16: Fluxograma principal do firmware dos equipamentos …………………………….. 50
Figura 17: Forma de onda de contração rápida: manobra proposta (linha tracejada)
e efetivamente realizada (linha cheia). ……………………...................................... 52
Figura 18: Forma de onda de uma contração sustentada da MAP para avaliação
perineométrica…………………….............................................................................53
Figura 19: Ilustração do protocolo de treinamento de 13 semanas proposto às pacientes…….. 56
Figura 20: Curva de calibração do sensor de pressão de 0 a 120 cmH
2
O (r
2
=0,999).................. 59
ix
Figura 21: Setup experimental proposto para caracterização da probe vaginal frente
à variações de temperatura.......................................................................................... 61
Figura 22: Pressão no interior do balonete medida por meio do módulo SMRT-EB
com um sensor de 5 PSI do fabricante Sensym (r
2
=0,998)......................................... 62
Figura 23: Simulação do sistema de medição usado por Hahn et al. (1996) com o balonete
conectado ao sensor de pressão por meio de um tubo de 2m de comprimento .......... 62
Figura 24: Curvas de calibração a diferentes temperaturas(α corresponde ao coeficiente
angular). ................................................................................................................... 63
Figura 25: Curvas de calibração obtidascom a probe em diferentes pressurizações iniciais
(α corresponde ao coeficiente angular).…………………………............................. 64
Figura 26: Curvas de calibração após correção de pressão de offset (subtração da
pressão média após estabilização térmica)…………………………………............. 65
Figura 27: Curva de saída do conversor A/D, com balonete a 37° C (em azul) e
reta de ajuste com r
2
=0,999 (em vermelho)........................................……………... 66
Figura 28: Ensaio com paciente voluntária empregando a probe vaginal, onde são
mostrados o incremento de pressão por efeito térmico, a pressão basal e
os picos de pressão provocados pela contração da musculatura pélvica.................... 66
Figura 29: Resposta do transdutor vaginal a um degrau de pressão.
Tempo no eixo X igual a 10 ms/div e tensão no eixo Y de 1V/div........................... 67
Figura 30: Foto do protótipo do equipamento desenvolvido....................................................... 68
Figura 31: Plotagem do arquivo referente a 5 dias consecutivos de utilização
domiciliar do equipamento configurado para a opção biofeedback. ………........... 68
Figura 32: Sessão de exercícios composta por 3 séries de 10 contrações rápidas (2 s/4 s)
e 10 contrações lentas (4 s/ 4 s) com intervalo de 72 s de repouso........................... 69
Figura 33: Série de exercícios composta por 10 contrações rápidas seguidas
de 10 contrações sustentadas. ................................................................................... 69
Figura 34: Sessão de exercícios - em azul, exercícios propostos e em vermelho,
exercícios efetivamente realizados............................................................................. 70
Figura 35: Forma de onda do sinal de estimulação elétrica com carga de 150 adquirida
com osciloscópio Tektronix THS710, à esquerda (eixo X - 20 ms/div, eixo Y -
5V/div), trem de pulsos e à direita (eixo X - 100 µs/div, eixo Y - 5V/div), pulso
de estimulação............................................................................................................. 70
Figura 36: Subrotina de preparação de condições iniciais (setup) …………………………….. 113
Figura 37: Subrotina de detecção de linha de base (estabilização).……………………………. 114
x
Figura 38: Subrotina de gerenciamento da sessão de exercícios ……………………………… 115
Figura 39: Subrotina de comunicação serial …………………………………………………... 116
Figura 40: Subrotina atendimento interrupção do Timer0 …………………………………….. 117
Figura 41: Subrotina atendimento interrupção externa ………………………………………... 117
Figura 42: Subrotina atendimento interrupção serial ………………………………………….. 117
Figura 43: Seqüência de telas apresentadas à paciente com o equipamento na opção
estimulação elétrica gatilhada.………........................................................................ 119
Figura 44: Seqüência de telas apresentadas à paciente com o equipamento na opção
exercícios pélvicos seqüenciados.........………………............................................... 120
xi
Lista de Tabelas
Tabela 1: Medidas de pressão intra-vaginal …………………………………………................ 26
Tabela 2: Características das pacientes (n=32)………………………………………………… 72
Tabela 3: Adesão, performance e duração do tratamento (n=32) …………………………….. 72
Tabela 4: Resultados da avaliação perineométrica (n=32) ……………………………………. 73
Tabela 5: Escores do QQV (n=32) …………………………………………………………….. 73
Tabela 6: Resultados do diário miccional (n=32) ……………………………………………... 74
Tabela 7: Resultados da avaliação urodinâmica (n=32) ………………………………………. 74
Tabela 8: Descritivo de pacientes do grupo BIO ……………………………………………… 107
Tabela 9: Descritivo de pacientes do grupo EMAP …………………………………………… 107
Tabela 10: Descritivo de pacientes do grupo ELETRO ………………………………………. 108
Tabela 11: Resultados da cistometria no grupo BIO no início (0) e após 3 meses (3) ………... 108
Tabela 12: Resultados da cistometria no grupo EMAP no início (0) e após 3 meses (3)……… 108
Tabela 13: Resultados da cistometria no grupo ELETRO no início (0) e após 3 meses(3)…… 109
Tabela 14: Resultados do Diário Miccional no grupo BIO no início (0) e após 3 meses (3)….. 109
Tabela 15: Resultados do Diário Miccional no grupo EMAP no início (0) e após 3 meses (3).. 109
Tabela 16: Resultados do Diário Miccional no grupo ELETRO no início (0) e após
3 meses (3) .................................................................................................................110
Tabela 17: Resultados da Perineometria no grupo BIO no início (0) e após 3 meses (3)……....110
Tabela 18: Resultados da Perineometria no grupo EMAP no início (0) e após 3 meses (3)…... 110
Tabela 19: Resultados da Perineometria no grupo ELETRO no início (0) e após 3 meses (3)... 111
Tabela 20: Resultados do QQV no grupo BIO no início (0) e após 3 meses (3) ........................ 111
Tabela 21: Resultados do QQV no grupo EMAP no início (0) e após 3 meses (3).....................111
Tabela 22: Resultados do QQV no grupo ELETRO no início (0) e após 3 meses (3)................ 112
xii
Abreviaturas
A/D: analógico/digital
ANOVA: análise de variâncias
AVC: acidente vascular-cerebral
CONEP: Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
CVM: capacidade vesical máxima
DECIT: Departamento de Ciência e Tecnologia
ECR: ensaio clínico randomizado
EMAP: exercícios da musculatura do assoalho pélvico
EMG: eletromiografia
EUE: esfíncter uretral externo
EUI: esfíncter uretral interno
F. S.: fundo de escala
HCPA: Hospital de Clínicas de Porto Alegre
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMC: índice de Massa Corporal
IUE: incontinência urinária de esforço
IUM: incontinência urinária mista.
IUU: incontinência urinária de urgência
LED: light emitting diode
MAP: musculatura do assoalho pélvico
NiMH: hidreto metálico de níquel
NMD: número de micções diárias
NMN: número de micções noturnas
NPE: número de perdas por esforço
NPU: número de perdas por urgência
P
B
: pressão basal
P
C
: intensidade perineométrica
PDM: primeiro desejo miccional
PMC: Pontine Micturition Center
PSC: Pontine Storage Center
PWM: pulse-width modulation
RNM: ressonância nuclear magnética
xiii
RU: resíduo urinário
QQV: questionário de qualidade de vida
SUS: Sistema Único de Saúde
TCLI: termo de consentimento livre e informado
T
r
: tempo para atingir a intensidade máxima
TRH: terapia de reposição hormonal
TUI: trato urinário inferior
xiv
Sumário
Resumo
………………………………………………………………………………………. v
Abstract
……………………………………………………………………………………… vii
Lista de Figuras .................................................................................................................... ix
Lista de Tabelas .................................................................................................................... xii
Abreviaturas
.......................................................................................................................... xiii
1 Introdução
......................................................................................................................... 1
1.1 Justificativa
............................................................................................................... 2
1.2 Objetivos
.................................................................................................................... 5
1.3 Estrutura da tese
...................................................................................................... 5
2 Fundamentação Teórica ............................................................................................... 7
2.1 Anatomia
.................................................................................................................. 7
2.2 Neurofisiologia do trato urinário
...................................................................... 10
2.3 Tipos de incontinência urinária ......................................................................... 16
2.3.1. Incontinência de esforço(stress).......................................................................... 16
2.3.1. Incontinência de urgência................................................................................... 17
2.3.3. Incontinência urinária mista .............................................................................. 17
2.3.4. Incontinência funcional....................................................................................... 17
2.3.5. Incontinência por transbordamento ou paradoxal (overflow)..........................18
2.4 Métodos para avaliação funcional da MAP.................................................. 18
2.4.1. Palpação vaginal .................................................................................................. 19
2.4.2. Ultra-som e Ressonância nuclear magnética .................................................... 20
2.4.3. Eletromiografia (EMG) ...................................................................................... 20
2.4.4. Manometria ......................................................................................................... 22
2.4.5. Dinamômetros ..................................................................................................... 26
2.5 Técnicas conservadoras para tratamento da incontinência ................... 27
urinária
2.5.1. Cones vaginais ..................................................................................................... 28
2.5.2. Exercícios da Musculatura do Assoalho Pélvico ...............................................29
2.5.3. Biofeedback .......................................................................................................... 33
2.5.4. Estimulação elétrica............................................................................................. 36
2.5.5. Estimulação magnética ....................................................................................... 38
2.5.6. Medicamentos....................................................................................................... 39
3 Casuística e Métodos
....................................................................................................... 41
3.1 Descrição das técnicas de tratamento propostas
…………………………. 41
3.1.1. Técnica I: Exercícios da musculatura pélvica com biofeedback ......................41
3.1.2. Técnica II: Estimulação elétrica acionada por sinal pressórico ……………..42
3.1.3. Técnica III: Exercícios da musculatura pélvica seqüenciados………………. 43
3.2 Descrição da instrumentação .............................................................................. 43
3.2.1 Hardware dos equipamentos…………………………………………………….43
3.2.2 Interface com o usuário………………………………………………………….47
3.2.3 Firmware dos equipamentos……………………………………………………. 47
3.2.4 Software de comunicação e visualização………………………………………. 51
3.3 Parâmetros extraídos a partir dos sinais de pressão .................................. 51
3.4 Delineamento do ensaio clínico
.......................................................................... 52
3.4.1 Critérios de inclusão ............................................................................................ 54
3.4.2 Critérios de exclusão..............................................................................................54
3.4.3 Logística ................................................................................................................ 54
3.4.4 Parâmetros de avaliação quantitativos .............................................................. 56
3.5 Análise estatística .................................................................................................... 57
4 Resultados
.......................................................................................................................... 59
4.1 Ensaios com o transdutor
...................................................................................... 59
4.1.1 Curva de calibração do sensor ............................................................................ 59
4.1.2 Comportamento do transdutor com a variação de temperatura .................... 60
4.1.3 Resposta dinâmica do transdutor……………………………………………… 66
xvi
4.2 Protótipo do equipamento ................................................................................... 67
4.3 Testes com a instrumentação
............................................................................... 68
4.3.1 Módulo Biofeedback ............................................................................................. 68
4.3.2 Módulo Estimulador ............................................................................................ 70
4.4 Resultados do ensaio clínico…………………………………………………… 71
4.4.1 Perineometria ………………………………………………………………….. 72
4.4.2 Questionário de Qualidade de Vida ………………………………………….. 73
4.4.3 Diário miccional e variáveis urodinâmicas …………………………………... 73
5 Discussão
............................................................................................................................ 77
5.1 Instrumentação para monitorização da contração da MAP
………….. 78
5.2 Protocolo clínico ………………………………………………………………..... 81
5.3 Estimulação elétrica gatilhada por sinal de pressão
…………………….. 85
6 Conclusões
………………………………………………………………………………. 89
6.1 Contribuições da pesquisa
……….…………………………………………….. 89
6.2 Possibilidades de continuidade da pesquisa
……………………………..… 90
6.3 Comentários finais
……………………………………………………………….91
Referências Bibliográficas
................................................................................................ 93
Apêndice I ............................................................................................................................... 107
Apêndice II ............................................................................................................................. 113
Apêndice III.............................................................................................................................119
Anexo I ..................................................................................................................................... 121
Anexo II.................................................................................................................................... 123
xvii
xviii
Capítulo 1
Introdução
Incontinência urinária é definida pela International Continence Society como a perda
involuntária de urina objetivamente demonstrada. É uma doença que atinge 13 milhões de norte-
americanos e representa um problema de saúde pública naquele país (WILSON et al., 2001).
Segundo dados da National Association for Continence (
www.nafc.org):
- a incontinência urinária afeta 200 milhões de pessoas no mundo;
- 80% são mulheres;
- 2 em cada 3 mulheres acima de 30 anos apresentarão perda urinária em algum momento
da vida;
- as mulheres com sintomas de incontinência levam em média 6,5 anos para procurar um
médico.
Existem situações transitórias e definitivas que podem levar à incontinência urinária.
Dentre as situações transitórias, que são responsáveis por cerca de 50% dos casos de
incontinência urinária nas mulheres idosas, pode-se destacar: efeito colateral de medicamentos
(medicamentos psicotrópicos, analgésicos narcóticos, bloqueador do canal de cálcio, álcool, etc),
aumento da produção de urina (hiperglicemia, insuficiência cardíaca, edema, insuficiência
venosa), atrofia genital e deficiência hormonal, infecção urinária e alterações mentais graves nas
quais o indivíduo perde o sentido de orientação, podem levar à perda da consciência do
enchimento vesical (REIS et al., 2003) .
Dentre as situações definitivas que levam à incontinência pode-se citar:
- o estiramento e ruptura das fibras musculares do períneo que pode ocorrer durante o
parto, deslocando a bexiga e a uretra de suas posições normais,
- cirurgias abdominais ou pélvicas como a histerectomia, as falhas das cirurgias para
incontinência, as cirurgias para tratamento de tumores pélvicos, as complicações de cirurgias
pélvicas como fístulas,
- acidente vascular cerebral, traumas e tumores medulares nos quais pode haver
comprometimento do controle do sistema nervoso sobre a micção,
- presença de alterações próprias da uretra como os divertículos uretrais,
- enfraquecimento de músculos da região pélvica,
- anormalidades congênitas (fístulas congênitas),
2
- doenças metabólicas (diabetes).
O número de partos também parece influenciar na prevalência da incontinência de esforço.
Milsom et al. (1993)
avaliaram 3168 mulheres entre 36 e 46 anos e relataram uma prevalência de
5,5 a 7,7% de perda urinária entre as nulíparas, enquanto que nas mulheres com três ou mais
partos essas taxas passaram para 14 a 16,4%. Baseando-se em estudo epidemiológico prévio
sobre a incontinência urinária na Noruega (HANNESTAD et al., 2000), Rortveit et al. (2003),
avaliaram 15.307 mulheres com idade superior a 20 anos através de questionários e encontraram
associação significativa entre incontinência de esforço e o modo de parto. No entanto, não há
evidência de que um aumento do número de cesarianas, na tentativa de diminuir os casos de
incontinência, represente benefício em nível populacional.
Em aproximadamente 10% dos casos, a incontinência de esforço não é causada por uma
alteração anatômica, mas sim pelo que se denomina insuficiência intrínseca do esfíncter uretral.
Situações que alteram a vascularização desta musculatura como cirurgias genitourinárias
múltiplas, traumatismos, doenças neurológicas e mesmo o hipoestrinismo decorrente da
menopausa podem provocar uma perda da elasticidade com diminuição do tônus uretral
(RAMOS et al., 2006).
No Brasil, não existem estudos em grande escala sobre a prevalência e incidência da
incontinência urinária e imagina-se que a proporção verdadeira do problema deva estar
amplamente subestimada devido ao constrangimento da mulher em buscar ajuda nos serviços de
saúde (KOFF, 2001).
Porém, levando-se em conta o último censo do IBGE (2000), que mostrou uma população
feminina de 86 milhões de habitantes e destas 24,4 milhões com idade superior a 40 anos, pode-
se estimar a possibilidade, portanto, que cerca de 10 milhões de mulheres sejam incontinentes.
No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, RS (HCPA), por exemplo, são atendidas cerca de
960 novas pacientes por ano com incontinência urinária feminina no Setor de Uroginecologia.
Em estudo realizado no Serviço de Uroginecologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, que é um centro de referência para incontinência urinária, foi observada
prevalência de 42,5% das pacientes com este diagnóstico.
1.1 Justificativa
As técnicas conservadoras são terapias não destrutivas, praticamente sem efeitos colaterais
associados como ocorre com diversos medicamentos, podendo ser empregadas, inclusive, em
3
pacientes onde a abordagem cirúrgica tenha falhado. Representam, portanto, uma alternativa
para tratamento de mulheres com incontinência urinária.
Os efeitos de cirurgias para incontinência também não devem ser negligenciados, pois
apesar das altas taxas de resultados positivos, possuem uma série de riscos associados. As taxas
de cura, em curto prazo, de pacientes submetidas à colposuspenção de Burch são altas, da ordem
de 90% (JARVIS, 1994). Porém, em avaliações de longo prazo (10 ou mais anos) estas taxas
decaem para 62% (EL-TOUKHY, MAHADEVAN e DAVIES, 2000).
Uma pesquisa com cirurgiões ingleses que realizam procedimentos com fita vaginal de
tensão (TVT -Tension-free vaginal tape), para tratamento de incontinência de esforço, revelou
que 44% tiveram casos de perfuração da bexiga, 37% casos de repetição de instabilidade do
detrusor e 28% de dificuldades urinárias persistindo por mais de seis semanas (DUCKETT et al.,
2004).
Uma revisão de literatura de trabalhos envolvendo técnicas conservadoras para tratamento
da incontinência urinária feminina mostra resultados positivos em relação aos exercícios da
musculatura do assoalho pélvico (EMAP), porém indefinição quanto à eficácia da associação
com biofeedback e estimulação elétrica, assim como na avaliação do melhor desempenho de
alguma delas em relação às outras: os resultados são absolutamente não conclusivos
(BERGHMANS et al., 1998,2000; HAY-SMITH et al., 2001, 2007).
A aplicação domiciliar dessas técnicas possibilita um tratamento intensivo, que pode
acelerar os processos de plasticidade muscular e cerebral. Porém os trabalhos geralmente
apresentam problemas no acompanhamento e grau de controle a que são submetidas as pacientes
durante o uso domiciliar (JUNDT, PESCHERS e DIMPFL, 2002). O controle da adesão é
realizado através de diários mantidos pelas pacientes ou relatos durante as consultas periódicas
(HAY-SMITH et al., 2001). Com isso, não se tem a avaliação da efetiva adesão ao tratamento,
que é importante nesse tipo de terapia. Isso se deve em parte à limitação dos equipamentos
utilizados nos diversos trabalhos de pesquisa.
No estudo proposto, o equipamento, além de propiciar o tratamento à paciente, funciona
como um datalogger, armazenando todo o ciclo de exercícios (contrações da musculatura
pélvica, voluntárias ou induzidas pela estimulação elétrica) executados pelas pacientes. Em cada
consulta (periodicidade de 2 semanas), o conteúdo da memória é analisado, permitindo avaliar a
real adesão da paciente ao programa. Com isso, minimizam-se os aspectos subjetivos e obtêm-se
uma avaliação real se a paciente executou os exercícios com a intensidade e a periodicidade
recomendadas. Todas as pacientes recebem monitoração dos exercícios realizados em casa, não
4
apenas as pacientes do grupo de biofeedback como ocorre em diversos trabalhos (MORKVED,
BØ e FJORTOFT, 2002; AUKEE et al., 2004).
Então, as pacientes têm monitorização direta, apenas não recebem a supervisão de um
terapeuta durante o uso doméstico do equipamento.
Todavia muitas pacientes desistem de continuar os EMAP sem supervisão e esta é uma
importante justificativa para as técnicas que envolvem biofeedback (LAYCOCK e JERWOOD,
2001).
A técnica de monitoração da força de contração da musculatura pélvica utilizando balonete
com ar no interior já foi empregada em diversos trabalhos (KEGEL, 1948, 1951; BØ et al., 1990;
HAHN et al., 1996), porém sem a caracterização adequada do comportamento estático e
dinâmico do transdutor. Nesta pesquisa o transdutor foi submetido a ensaios para determinação
de seu comportamento frente a variações de temperatura, determinação da curva de calibração e
resposta dinâmica, características importantes e não descritas em trabalhos prévios.
Os trabalhos associando biofeedback e estimulação elétrica empregam a estimulação como
complemento aos EMAP com biofeedback ou aplicam estas técnicas em sessões alternadas
(SUNG et al., 2000; MAHONY et al., 2004). A associação da estimulação elétrica disparada
pelo sinal de pressão, proposta neste estudo, visa associar o desejo voluntário de produzir a
contração, a uma contração efetiva, garantida pelo estímulo elétrico. Essa associação pode
aumentar a intensidade de contração muscular e torna a paciente uma participante ativa de seu
processo de reabilitação, o que não acontece na estimulação elétrica tradicional. Esta técnica,
apesar de já empregada para reabilitação pós-AVC (acidente vascular-cerebral) (BOLTON,
CAURAUGH e HAUSENBLAS, 2004), ainda não foi proposta para reabilitação da musculatura
pélvica, constituindo-se em um dos aspectos inovadores da pesquisa proposta.
A realização deste estudo com a quantidade proposta de voluntárias e, em ambiente
hospitalar, seria inviável. Desta forma, ao final, foram projetados equipamentos inéditos que
possibilitam a utilização dessas técnicas conservadoras pelas pacientes em ambiente doméstico e
sob supervisão periódica.
Em trabalho prévio de Barroso et al. (2004), desenvolvido no HCPA, empregou-se
estimulação elétrica para o tratamento da incontinência urinária feminina e, após os bons
resultados, incorporou-se esta técnica na rotina de tratamento de pacientes do ambulatório de
Uroginecologia. Desde 2002 até o presente, aproximadamente 250 pacientes foram submetidas a
este tratamento, com custos cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
5
Seguindo neste cenário, espera-se que os resultados alcançados nesta pesquisa venham a
proporcionar uma nova alternativa de tratamento a pacientes que procuram atendimento em
hospitais da rede pública de saúde.
Levando-se em conta a alta incidência da incontinência urinária na população que, apesar
de não gerar mortalidade, produz transtornos sociais importantes às pacientes, considera-se
fundamental a continuidade de pesquisas nesta área, principalmente, devido às limitações dos
estudos já realizados.
1.2 Objetivos
Geral
O objetivo geral desta pesquisa consiste na avaliação experimental da eficácia de técnicas
de tratamento conservador envolvendo exercícios pélvicos, biofeedback e estimulação elétrica no
tratamento da incontinência urinária feminina, empregando instrumentação desenvolvida para
este propósito.
Específicos
Para alcançar o objetivo geral definiram-se os seguintes objetivos específicos:
(1) desenvolver instrumentação específica para tratamento domiciliar da incontinência urinária
por meio de exercícios pélvicos associados a biofeedback e estimulação elétrica;
(2) avaliar a eficácia da técnica de EMAP com biofeedback no tratamento da incontinência
urinária feminina;
(3) avaliar a eficácia da técnica de estimulação elétrica acionada por sinal pressórico no
tratamento da incontinência urinária feminina;
(4) avaliar a eficácia da técnica de EMAP seqüenciados no tratamento da incontinência urinária
feminina;
(5) avaliar a adesão ao tratamento e desempenho na realização dos exercícios por meio dos
recursos implementados nos equipamentos.
1.3 Estrutura da tese
No capítulo 2 descreve-se a anatomia e neurofisiologia do trato urinário inferior (TUI), os
métodos para avaliação da musculatura do assoalho pélvico (MAP) e as principais técnicas
6
conservadoras para tratamento da incontinência urinária feminina. O capítulo 3, materiais e
métodos, apresenta o desenvolvimento da instrumentação para uso domiciliar e a metodologia
proposta para o ensaio clínico. No capítulo 4 apresenta-se os resultados dos ensaios com a
instrumentação proposta e as avaliações realizadas no grupo de pacientes ao início e final do
protocolo experimental. O capítulo 5 dedica-se à discussão dos resultados e o capítulo 6 às
conclusões e proposta de trabalhos futuros.
Capítulo 2
Fundamentação Teórica
Neste capítulo, realiza-se uma descrição da anatomia do TUI e da neurofisiologia do
processo miccional. A seguir, definem-se os tipos de incontinência urinária, os métodos de
avaliação da MAP e apresentam-se as principais técnicas conservadoras para tratamento da
incontinência urinária feminina.
2.1 Anatomia
A continência urinária depende de haver urina armazenada em uma bexiga com
complacência adequada e fechada por um esfíncter competente. A incontinência pode resultar de
uma falha na armazenagem, por instabilidade do músculo detrusor ou falha no mecanismo
esfincteriano. Todo o sistema urinário está sob um controle neural complexo que coordena a
função da uretra e da bexiga para armazenar ou eliminar urina em períodos socialmente
aceitáveis (KEANE e O’SULLIVAN, 2000; CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
A bexiga é um órgão oco com parede constituída de feixes de musculatura lisa, em três
camadas, representadas, principalmente, pelo detrusor e trígono superficial. O músculo detrusor
é inervado pelo sistema simpático e suas contrações provocam elevação da pressão intra-vesical
necessária à micção (KEANE e O’SULLIVAN, 2000).
Os músculos lisos que revestem o colo da bexiga e a uretra formam o esfíncter uretral
interno (EUI), que é envolvido pelo músculo estriado chamado rabdo-esfíncter. Juntos, o
músculo estriado peri-uretral (fibras musculares estriadas que envolvem a uretra) e o rabdo-
esfíncter constituem o esfíncter uretral externo (EUE) (KEANE e O’SULLIVAN, 2000).
A incontinência urinária de esforço em mulheres está geralmente associada a uma
diminuição do suporte do tecido conectivo e do assoalho pélvico (KEANE e O’SULLIVAN,
2000).
O assoalho pélvico está localizado na parte inferior da cavidade abdomino-pélvica e dá
sustentação para as vísceras abdominais e pélvicas, conforme ilustrado na figura 1.
A MAP é formada por uma rede de músculos que se estende de lado a lado através da
pelve. Esses músculos são ligados na parte frontal ao osso púbico e na parte posterior ao cóccix
(final da coluna espinhal). Têm como principais funções o suporte de órgãos pélvicos e conteúdo
8
abdominal, auxílio para manter a bexiga fechada por meio da compressão ativa da uretra em
momentos de tosse ou espirros, segurar e controlar fezes e função sexual.
Os diversos músculos têm diferentes direções de fibras e se cada músculo conseguisse
contrair-se isoladamente, eles poderiam ter diferentes funções. Todavia, a única função
voluntária da MAP é uma contração de massa, melhor descrita como uma elevação para dentro e
compressão em torno da uretra, vagina e reto. Estudos com ressonância magnética têm
demonstrado que durante a contração voluntária, o cóccix é movido ventralmente em direção à
sínfise púbica e a musculatura pélvica se contrai concentricamente (BØ et al., 2001).
Os músculos estriados do assoalho pélvico são compostos de fibras tipo I (lentas) e tipo II
(rápidas). Como a principal função desta musculatura é atuar como estrutura de suporte, a fibra
tipo I, que possui capacidade de atividade sustentada, é a predominante. Todavia, para responder
a mudanças súbitas na pressão intra-abdominal, os músculos pélvicos contêm também fibras tipo
II, que podem contrair vigorosamente por períodos mais curtos de tempo. Alguns autores
descrevem a razão entre os tipos de fibras em 60-70% para fibras lentas e 30-40% para fibras
rápidas, com uma variação na distribuição em diferentes áreas do assoalho pélvico (HELT et al.,
1996).
Figura 1: Ilustração do sistema urinário feminino (modificado de http://www.medicineonline.com).
Uma contração consciente da MAP causa a compressão e o movimento de elevação para
dentro com resultante fechamento uretral, estabilização e resistência ao movimento descendente.
Em voluntárias saudáveis, a contração de outros grandes grupos musculares como glúteos,
adutores do quadril e abdominais resultam em uma contração simultânea da MAP; porém, estes
9
músculos não estão em uma posição anatômica para atuarem com suporte estrutural para
prevenir o movimento descendente do colo vesical e da uretra (BØ, 2004).
O principal músculo de suporte do assoalho pélvico feminino é o elevador do ânus, que
também contribui para a função de esfíncter uretral, particularmente, nos períodos de exercícios
físicos.
A MAP é composta por três camadas (NETTER, 2001):
- a musculatura pélvica é revestida de uma fáscia conectada à fáscia endopélvica (parietal),
que envolve os órgãos pélvicos e também auxilia no suporte destes órgãos;
- a camada profunda é formada pelos músculos do diafragma pélvico composto pelos
músculos pubococcígeo, puborretal e iliococcígeo, que juntos formam o elevador do ânus. Essa é
uma camada muscular com orientação horizontal possuindo um hiato na parte central por onde
passam a vagina, a uretra e o ânus;
- a camada superficial é formada pelos músculos do diafragma urogenital composto pelos
músculos isquiocavernoso, bulboesponjoso e transverso superficial do períneo, que juntos são
denominados músculos perineais.
A disposição anatômica de alguns desses músculos pode ser vista na figura 2.
Figura 2: Disposição anatômica de alguns músculos pélvicos (modificado de http://summit.stanford.edu).
Os músculos pélvicos consistem de fibras musculares estriadas, que estão sob controle
voluntário e podem ser exercitados.
10
Embora as camadas superficiais e profundas da musculatura pélvica compreendam
estruturas anatômicas distintas com diferentes inervações, clinicamente, elas atuam como uma
unidade funcional (BØ e SHERBURN, 2005).
A correta ação da musculatura pélvica é descrita como uma contração ao redor das
aberturas pélvicas e movimento muscular para dentro do corpo (KEGEL, 1948).
Em pessoas sem incontinência urinária a musculatura pélvica contrai-se simultaneamente
ou precede ao aumento da pressão abdominal, em uma co-contração automática inconsciente
(SAPSFORD e HODGES, 2001).
Contrações sub-máximas podem ser realizadas como contrações isoladas; porém, uma
contração máxima da musculatura pélvica parece não ser possível sem a co-contração dos
músculos abdominais, especialmente o transverso abdominal e o oblíquo interno. Esta contração
abdominal pode ser observada como um pequeno movimento para dentro do abdome inferior
(NEUMANN e GILL, 2002).
A continência normal é mantida por uma integração complexa de fatores pélvicos,
espinhais e supra-espinhais. A musculatura pélvica é um dos vários fatores que contribuem para
o mecanismo de fechamento uretral e é o tecido alvo dos fisioterapeutas no tratamento da
incontinência e outras disfunções pélvicas. Outros fatores pélvicos importantes para a
continência são a contração dos músculos lisos e estriados da parede uretral, plexo vascular
patente e fáscia e ligamentos intactos suportando a bexiga e a uretra em posição ótima durante o
aumento de pressão abdominal (ASHTON-MILLER, HOWARD e DELANCEY, 2001).
Pode ser postulado que as perdas de urina decorrem das diferenças individuais na posição
anatômica do assoalho pélvico, composição de tecido conectivo, distribuição de fibras rápidas e
lentas e seção transversal dos músculos. Danos posteriores no assoalho pélvico durante a
gravidez ou parto vaginal como estiramento ou ruptura de fibras musculares, nervos periféricos e
tecido conectivo em ligamentos e fáscias podem se somar aos fatores genéticos (BØ, 2004).
2.2 Neurofisiologia do trato urinário
A bexiga e a uretra funcionam reciprocamente. Quando a bexiga enche durante a fase de
armazenamento, o músculo detrusor permanece em regime quiescente, com pequena alteração na
pressão intra-vesical, adaptando-se ao incremento de volume pelo aumento do comprimento das
fibras. Além disso, os caminhos neurais que estimulam a bexiga para a micção estão quiescentes
nesta fase, e os caminhos inibitórios estão ativos (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997). A saída
11
uretral permanece fechada, com progressivo aumento das contrações do EUE em resposta ao
aumento do volume vesical (reflexo de guarda) (CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
Quando o volume da bexiga atinge um limiar crítico, o EUE relaxa e o músculo detrusor
inicia uma série de contrações, o colo vesical abre e a eliminação ocorre.
Em crianças, este processo denominado reflexo miccional, ocorre involuntariamente, sem a
sensação do volume vesical ou reflexo de guarda. O indivíduo aprende que a micção pode ser
controlada, torna-se consciente de que a bexiga está atingindo o limiar crítico, e inibe as
contrações do detrusor, mantendo a continência (CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
O processo miccional envolve uma combinação e interação única de funções autonômicas e
voluntárias. O TUI é inervado por fibras simpáticas, parassimpáticas e somáticas periféricas que
são componentes de um intrincado circuito eferente e aferente do cérebro e da coluna espinhal
(Figura 3) (CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
Os circuitos neurais agem como um complexo integrado de reflexos que regulam a micção,
permitindo que o TUI esteja no modo armazenamento ou eliminação.
Em pessoas com incontinência urinária algum aspecto deste sistema tem disfunção e a
perda de urina ocorre durante a fase de armazenamento (MAHONY, LAFERTE, BLAIS, 1977;
CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
Caminhos eferentes: coluna espinhal para TUI
Os músculos lisos da bexiga (detrusor) são inervados primariamente por nervos
parassimpáticos, e os do colo vesical e uretra (EUI) por nervos simpáticos. O músculo estriado
do EUE recebe inervação primária de nervos somáticos (CHANCELLOR e YOSHIMURA,
2004).
Os caminhos de inervação simpática, parassimpática e somática do TUI são mostrados na
figura 3.
Nervos parassimpáticos
Os caminhos eferentes parassimpáticos provêm a maior inervação excitatória do músculo
detrusor (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997). Axônios pré-ganglionários emergem dos núcleos
sacrais parassimpáticos nos segmentos espinhais S2-S4 e sofrem sinapse no gânglio pélvico. Os
axônios pós-ganglionares continuam por uma curta distância no nervo pélvico e terminam em
uma camada do detrusor (CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
12
O principal neurotransmissor envolvido na sinapse celular simpática/detrusor é a
acetilcolina.
Em adição à estimulação parassimpática do músculo liso da bexiga, alguns neurônios
parassimpáticos pós-sinápticos exercem um efeito de relaxação no músculo uretral liso, por
transmissão de óxido nítrico (ANDERSSON, 1993; YOSHIMURA e DE GROAT, 1997). Então,
quando a bexiga contrai durante a fase de eliminação, o EUI relaxa.
Nervos simpáticos
Os nervos simpáticos estimulam a contração dos músculos lisos da uretra e colo da bexiga
e causam o relaxamento do detrusor.
Os neurônios pré-ganglionares simpáticos estão localizados nos segmentos toraco-lombares
(T11-L2) da coluna espinhal e fazem sinapse com os neurônios pós-ganglionares no interior do
gânglio mesentérico. Os axônios pós-ganglionares fazem parte do nervo hipogástrico e
transmitem noradrenalina em seus terminais. Os maiores terminais estão na uretra e colo vesical,
bem como no corpo da bexiga (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997).
A noradrenalina estimula a contração da uretra e do colo vesical, e produz o relaxamento
do detrusor devido aos receptores específicos contidos nessas estruturas.
Figura 3: Inervação simpática, parassimpática e somática do trato urinário inferior
(modificado de Yoshimura e Groat, 1997).
13
Nervos somáticos
Os nervos somáticos provêm inervação para os músculos estriados do EUE e assoalho
pélvico. Os motoneurônios eferentes estão localizados no núcleo de Onuf nos segmentos sacrais
S2-S4, sendo levados pelo nervo pudendo e liberando acetilcolina em seus terminais. A
acetilcolina age nos receptores do músculo estriado induzindo contração e fechamento EUE
(YOSHIMURA e DE GROAT, 1997).
Caminhos eferentes: Componentes supra-sacrais
Informações de décadas de experimentos em animais e estudos clínicos têm mostrado que a
coordenação normal das funções de armazenamento e eliminação de urina requer integração das
entradas supra-espinhais (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997; FRASER e CHANCELLOR,
2003).
Estudos experimentais empregando rastreamento histoquímico de neurotransmissores ou
vírus neurotrópicos localizaram regiões cerebrais similares que influenciam na atividade uretral e
vesical (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997; FRASER e CHANCELLOR, 2003).
Duas regiões importantes, o PMC (Pontine Micturition Center) e o PSC (Pontine Storage
Center), são centros integrativos que recebem, integram entradas dos nervos aferentes da coluna
espinhal e de outras regiões do cérebro e controlam uma chave on/off para o TUI
(CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
Neurônios do PSC projetam-se diretamente para os motoneurônios no núcleo de Onuf. A
estimulação no PSC produz contrações no EUE. Neurônios no PMC projetam-se para os núcleos
sacrais parassimpáticos, e a estimulação dos neurônios do PMC resulta em contração da bexiga e
relaxamento do EUE (CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
Caminhos aferentes
Os nervos pélvico, hipogástrico e pudendo carregam informações sensitivas do TUI em
fibras aferentes para a coluna espinhal lombo-sacral. Os nervos aferentes pélvicos e pudentais
chegam aos segmentos sacrais S2-S4 e o nervo hipogátrico nos segmentos toraco-lombares T11-
L2 (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997; CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
Os aferentes pélvicos monitoram o volume vesical durante a fase de armazenamento e a
amplitude das contrações vesicais durante a micção. Então, estes nervos sensoriais servem para
iniciar o processo de micção e reforçar o impulso que mantém as contrações vesicais.
14
São compostos por fibras sensíveis à distensão da bexiga (mecano-receptores) e fibras
sensíveis à substâncias químicas agressivas e ao frio (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997).
Reflexos
Múltiplos caminhos reflexos operam entre o sistema nervoso central e o TUI. No nível
mais simples de organização, os caminhos centrais operam como chaves on/off que mantêm a
relação recíproca entre a bexiga e a uretra (DE GROAT, BOOTH, YOSHIMURA, 1993).
Esses circuitos de chaveamento são precisos no tempo, pois, por exemplo, quando o
músculo uretral liso é estimulado pelo nervo hipogástrico para contrair, o músculo detrusor não
está recebendo estímulo do nervo pélvico. Enquanto um caminho do nervo hipogástrico
transmite informação estimulatória para o músculo uretral liso, outro caminho do mesmo nervo
transmite informação inibitória à bexiga (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997).
Fase de armazenamento
Até que a urina na bexiga atinja um limiar crítico para urinar, o detrusor mantém-se quieto,
e a bexiga mantém um nível baixo e relativamente constante de pressão interna durante o
enchimento (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997). Isto é conseguido passivamente: a
viscoelasticidade intrínseca do músculo detrusor permite que a parede da bexiga se ajuste ao
aumento de volume e o caminho estimulatório parassimpático permanece inativo (Figura 4).
O reflexo de guarda é iniciado pela distensão da bexiga durante o enchimento que ativa os
mecano-receptores na parede vesical, os quais geram sinais aferentes para a coluna espinhal,
onde os motoneurônios eferentes são ativados. Estes motoneurônios estimulam a contração do
EUE mantendo a resistência de saída e a continência urinária. Este reflexo aumenta em
intensidade à medida que o volume vesical aumenta (CHANCELLOR e YOSHIMURA, 2004).
A figura 4 mostra a inibição ou ativação das estruturas do TUI durante a fase de
armazenamento de urina.
Alterações em qualquer desses ciclos de reflexos pode contribuir para disfunções do TUI.
Os efeitos terapêuticos conseguidos com a neuromodulação sacral decorrem da ativação de um
ou mais reflexos pela estimulação elétrica das raízes sacrais (CHANCELLOR e CHARTIER-
KASTLER, 2000).
Os reflexos envolvidos no armazenamento de urina estão integrados na coluna espinhal e
parecem funcionar normalmente em animais com transecção supra-espinhal. Todavia, muitos
indivíduos com lesões que interrompem o caminho do cérebro têm controle urinário prejudicado.
15
Então, embora o início da fase de armazenamento pareça ser estabelecido na coluna espinhal, a
manutenção da resistência uretral estável aparentemente requer controle supra-espinhal. É sabido
que o PSC provê sinais descendentes que ativam os neurônios motores do pudendo que
aumentam a resistência uretral (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997).
Figura 4: Atividades simpática, parassimpática e somática durante a fase de armazenamento de urina.
Fase de eliminação
O primeiro passo na micção é o relaxamento do EUE. Em crianças, o início do estímulo
ocorre quando o volume vesical atinge um limiar crítico. Em adultos, com função normal do
TUI, o indivíduo tem a sensação de volume consciente de enchimento da bexiga e o reflexo de
guarda é intensificado até que a eliminação voluntária seja possível. Ambos os processos, de
início e término do processo de eliminação, quer voluntário ou autonômico, dependem de
controle do cérebro (YOSHIMURA e DE GROAT, 1997).
Para que o reflexo de guarda seja revertido e o EUE relaxado, um sinal inibitório deve ser
gerado no PMC. Fibras aferentes da bexiga dos nervos pélvicos chegam ao centro de micção
cerebral. O centro de micção integra esta informação sensitiva com sinais de outras regiões do
16
cérebro e gera um sinal inibitório para os centros simpáticos e somáticos na coluna espinhal e
sinal de estimulação para os centros parassimpáticos (Figura 5).
Este reflexo resulta no relaxamento do EUE e EUI, seguido de contração do músculo
detrusor, aumento da pressão vesical e fluxo de urina.
Reflexos secundários devido ao fluxo de urina na uretra facilitam o esvaziamento vesical.
Tem sido especulado que em mulheres com incontinência mista e de esforço, a perda de urina
pela uretra pode estimular aferentes uretrais induzindo ou aumentando a instabilidade do
detrusor (JUNG et al., 1999).
Figura 5: Atividades simpática, parassimpática e somática durante a fase de eliminação de urina.
2.3 Tipos de incontinência urinária
2.3.1. Incontinência de esforço (stress)
A incontinência de esforço é a forma mais comum de incontinência em mulheres e
manifesta-se por perdas de urina ao tossir, rir, espirrar ou realizar movimentos ou exercícios que
provoquem aumento de pressão na bexiga.
17
Este tipo de incontinência pode ser determinado por alteração anatômica ou funcional da
uretra e freqüentemente ocorre hipermotilidade do colo vesical durante o aumento da pressão
intra-abdominal, fazendo com que a pressão intra-vesical suplante a pressão uretral e causando
perda urinária. Em aproximadamente 10% dos casos decorre da perda da função esfincteriana
intrínseca da uretra.
O enfraquecimento da musculatura pélvica pode reduzir a capacidade de compressão para
fechamento da uretra e provocar um deslocamento descendente da bexiga, produzindo alterações
na transmissão da pressão abdominal para a bexiga e uretra.
2.3.2. Incontinência de urgência
A incontinência de urgência representa a perda urinária associada ao intenso desejo
miccional (urgência) e pode ser causada por disfunção motora (contrações não-inibidas do
músculo detrusor) ou por hipersensibilidade vesical (urgência sensorial).
A incontinência de urgência pode ocorrer durante o sono, após beber pequena quantidade
de água ou quando escutar ou tocar água corrente.
A ação involuntária dos músculos da bexiga pode ocorrer por lesão dos nervos da bexiga,
sistema nervoso (coluna espinhal ou cérebro) ou aos próprios músculos. Esclerose múltipla,
doença de Alzheimer ou Parkinson, derrame cerebral e lesões cirúrgicas podem afetar os nervos
e músculos da bexiga.
2.3.3. Incontinência urinária mista
O termo incontinência mista é utilizado para descrição de pessoas que sofrem
simultaneamente de incontinência de "urgência" causada por bexiga hiperativa e de
incontinência de esforço.
Quanto à abordagem científica e terapêutica da incontinência mista é importante lembrar
que, as incontinências de urgência e de esforço devem ser tratadas como entidades separadas,
pois são processos diferentes em seus estágios e evolução.
2.3.4. Incontinência funcional
A incontinência funcional ocorre com pessoas que têm dificuldade para pensar, locomover-
se ou comunicar-se, que as impede de chegar a um local adequado e em tempo, para urinar.
18
2.3.5. Incontinência por transbordamento ou paradoxal (overflow)
A incontinência por transbordamento ou paradoxal é decorrente de lesões neurológicas
periféricas, obstruções miccionais crônicas ou degenerações detrusoras senis que causam
arreflexia vesical. Também é chamada de bexiga hiporreflexa.
2.4 Métodos para avaliação funcional da MAP
A avaliação da MAP não é uma tarefa fácil e até o momento nenhum método isolado
mostrou-se capaz de medir as duas funções destes músculos: elevação e força de compressão
(BØ e SHERBURN, 2005).
A elevação da MAP na pélvis durante as contrações pode ser observada por ultra-som e
ressonância nuclear magnética (RNM). O fato da medida de elevação da MAP ser um bom
indicador da força desta musculatura merece discussão, pois uma grande elevação pode
representar não uma força intensa, mas o estiramento ou ruptura da fáscia muscular. Um grande
deslocamento pode não ser sinal de intensa força, sendo mais provável que uma MAP bem
posicionada e com grande volume e força estará em uma posição onde pequena elevação
voluntária será adicionada (BØ e SHERBURN, 2005).
A observação do movimento para dentro da musculatura também pode não ser uma tarefa
simples, pois pode ser criada por uma contração dos músculos perineais superficiais, sem
influência no mecanismo de fechamento uretral. Ou pode-se ter uma contração palpável sem
movimento externo visível, particularmente em mulheres obesas (BØ e SHERBURN, 2005).
Bump et al. (1991) demonstraram que mesmo contraindo corretamente a MAP, apenas
50% das mulheres continentes estudadas eram capazes de contrair voluntariamente a
musculatura com força suficiente para aumentar a pressão de fechamento uretral.
A medida de força muscular pode ser considerada uma medida indireta da função da MAP
em atividades normais da vida diária, uma vez que mulheres continentes não contraem
voluntariamente antes de tossir ou saltar. A contração de sua MAP é considerada uma co-
contração automática ocorrendo como uma rápida e forte ativação de um sistema neural intacto.
Outros importantes fatores para uma rápida e forte contração são a localização do assoalho
pélvico no interior da pélvis, o volume muscular e os tecidos conectivos intactos. Um assoalho
pélvico estirado e fraco pode estar posicionado mais baixo dentro da pélvis comparado a um
bem-treinado e sem lesão. O tempo requerido para que os músculos estirados atinjam a contração
19
ótima pode ser muito lento para efetivamente prevenir a descida provocada pelo aumento da
pressão abdominal (BØ e SHERBURN, 2005).
As técnicas descritas a seguir podem também ser empregadas para gerar biofeedback
durante a realização de exercícios da musculatura pélvica.
2.4.1. Palpação vaginal
Esta técnica foi descrita pela primeira vez por Kegel (1948, 1951) como método para
avaliar a função da MAP e é comumente usada por muitos fisioterapeutas para avaliar a correta
contração. Kegel colocava um dedo no terço distal da vagina e solicitava à paciente para
comprimir em torno do dedo e produzir o movimento de elevação e para dentro. Não empregava
este método para medir a força da MAP, mas para ensinar às pacientes como contrair sua MAP e
classificar a contração qualitativamente como correta ou não. Para medir a força da MAP, Kegel
desenvolveu o perineômetro, um manômetro de pressão, que mede a habilidade da MAP em
promover pressão de contração vaginal, que será descrito posteriormente.
Van Kampen et al. (1996) reportaram que desde que Kegel (1951) descreveu a palpação
vaginal como método para avaliar a MAP, mais de 25 diferentes métodos de palpação foram
propostos.
Laycock (1994) desenvolveu a escala de Oxford modificada para medir a força da MAP
usando palpação vaginal. Consiste de uma escala de 6 pontos: 0 – sem contração, 1 – trêmula, 2
– fraca, 3 – moderada, 4 – boa (com levantamento), 5 – forte.
Bø e Finckenhagen (2001) questionaram a sensibilidade desta escala, pois não conseguiram
diferenciar entre contrações fracas, moderadas, boas e fortes definidas pela escala quando
comparadas com as medidas de pressão de contração vaginal medidas por balonete conectado a
transdutor de pressão por fibra óptica, em um grupo de fisioterapeutas voluntárias (13
assintomáticas e 7 com sintomas de incontinência de esforço).
Morin et al. (2004) confirmaram estes resultados mostrando que as categorias de palpação
vaginal não correspondiam às medidas efetuadas com dinamômetro.
Os resultados de estudos avaliando a confiabilidade intra-teste e inter-teste mostram
resultados conflitantes. Isherwood e Rane (2000) encontraram alta confiabilidade inter-teste. Bø
e Finckenhagen (2001) e Laycock et al. (2001) encontraram concordância entre os examinadores
em apenas 45% e 47% respectivamente, empregando a escala de Oxford modificada.
20
2.4.2. Ultra-som e Ressonância nuclear magnética
Mais recentemente, o ultra-som e a RNM vêm sendo empregados para avaliar a ação da
MAP durante as contrações.
Bø, Sherburn e Allen (2003) demonstraram que a imagem de ultra-som é um método mais
preciso que a palpação ou observação clínica na avaliação funcional da MAP em estudo
envolvendo 20 fisioterapeutas voluntárias. A contração da MAP produziu um deslocamento
médio de 11,2 mm, enquanto a contração abdominal (músculo abdominal transverso) mostrou
um deslocamento significativamente menor, de 4,3 mm.
Thompson et al. (2006) avaliaram 120 mulheres, 60 continentes (30 nulíparas) e 60
incontinentes (30 com incontinência de esforço e 30 com incontinência de urgência) empregando
ultra-som perineal, perineometria e palpação vaginal. Observaram uma forte tendência de
mulheres continentes apresentarem uma maior elevação do colo vesical do que as incontinentes
(p=0,051). A correlação do movimento do colo vesical, avaliada por ultra-som, e da força
muscular, medida através de perineometria, foi moderada (r=0,43; p=0,01).
Peng, Jones e Constantinou (2006) avaliaram os efeitos das contrações pélvicas na uretra,
vagina e no reto, a partir de imagens de ultra-som perineal na freqüência de 3,5 MHz. Um
algoritmo para detecção de bordas foi utilizado para identificação das interfaces entre a sínfise
púbica, uretra e reto nos frames de vídeo capturados. As análises de imagem foram focadas no
deslocamento anatômico das estruturas urogenitais, o que permitiu a determinação de seus
parâmetros biomecânicos em termos de deslocamento, velocidade e aceleração.
Bø et al. (2001), usando RNM, não conseguiram confirmar o deslocamento de 2 a 4 cm da
MAP durante as contrações, relatado por Kegel (1951) utilizando palpação vaginal. Com as
pacientes na posição supino, mediram um deslocamento (elevação para dentro) de 10,8 ± 6,0 mm
na MAP durante as contrações.
Dumoulin et al. (2007) realizaram um estudo preliminar envolvendo 5 mulheres com
incontinência, antes e após participarem de um programa de fisioterapia da MAP, utilizando
imagens de RNM. Demonstraram que os EMAP produziram alterações anatômicas no músculo
elevador do ânus e redução do movimento púbico.
2.4.3. Eletromiografia (EMG)
A EMG tem sido usada para medir a atividade elétrica dos músculos esqueléticos e
corresponde à representação dos estímulos enviados pelos motoneurônios da medula espinhal
21
aos músculos como o resultado de uma contração voluntária ou reflexa. A captação do sinal
eletromiográfico pode ser feita com eletrodos de superfície ou intramuscular (agulhas ou fios)
(TURKER, 1993).
Eletrodos de superfície são recomendados para medir a atividade de músculos grandes e
superficiais e eletrodos intramusculares para detectar a atividade de músculos pequenos ou
internos (BØ e SHERBURN, 2005).
Diversos equipamentos e diferentes técnicas empregando eletrodos de superfície, eletrodos
de fio e eletrodos concêntricos têm sido usados para medir a atividade da MAP. Na prática
clínica, todavia, eletrodos de superfície em uma probe vaginal são os mais empregados para
monitorar a atividade da MAP devido à alta sensibilidade da região perineal e habilidade
requerida para usar eletrodo de agulha ou fio (BØ e SHERBURN, 2005).
Em geral, o número de unidades motoras ativadas aumenta com o aumento de força quando
a força muscular é baixa, enquanto a freqüência de disparo das unidades motoras aumenta em
níveis de força elevados. Então, é razoável esperar que a atividade elétrica possa representar o
nível de força desenvolvido pelo músculo. Todavia, os pesquisadores devem ser cautelosos no
uso da informação de EMG como medida absoluta de força, pois muitos músculos têm respostas
não-lineares (TURKER, 1993).
Quando são utilizados eletrodos de superfície clinicamente, a interpretação dos resultados
deve ser feita com cuidado devido ao risco de interferência por outros músculos (cross talk) e
pela variabilidade da posição dos eletrodos na vagina.
A intensidade do sinal de EMG é afetada por uma série de fatores como tamanho e tipo do
eletrodo, localização, equipamento usado para aquisição, amplificação e filtragem, assim como
por características do músculo como seção transversal, comprimento e temperatura. Os sinais de
EMG captados são uma aproximação da atividade mioelétrica e não representam
necessariamente o número e a freqüência das unidades motoras.
A intensidade do sinal de EMG aumenta após exercícios da musculatura pélvica, porém,
não é possível deduzir que a força produzida seja maior, apenas que há um aumento do número
de unidades motoras ativadas. Porém, alguns autores já encontraram correlação entre a força
muscular e o sinal de EMG em alguns músculos. A média do sinal retificado e o valor quadrático
médio (RMS) sobre uma janela móvel de sinal aumentam com o aumento da contração muscular,
porém, ainda não está claro qual a melhor medida (CLANCY, BOUCHARD e RANCOURT,
2001).
22
Acredita-se que a evolução das técnicas de processamento de sinais e dos algoritmos de
identificação permita extrair do sinal de EMG as informações necessárias às diversas aplicações,
que incluem, além de biofeedback, o controle mioelétrico de próteses e avaliações ergonômicas.
Glazer, Romanzi e Polaneczky (1999) realizaram estudos para verificar a confiabilidade e
validade clínica das medidas do sinal eletromiográfico dos músculos pélvicos empregando
eletrodos de superfície para o uso na detecção precoce das disfunções uroginecológicas.
Encontraram confiabilidade teste-reteste significativa (p<0,001) e significativa validade clínica
preditiva (p<0,05) para incontinência de esforço, urgência e estado menstrual.
2.4.4. Manometria
Kegel (1948, 1951) usou um dispositivo para medir a pressão vaginal conectado a um
manômetro, o perineômetro; porém, não apresentou dados relacionados à sensibilidade,
confiabilidade ou validade deste método.
O termo perineômetro causa certa confusão, porque a região sensível à pressão da probe
não é posicionada no períneo, mas na vagina, ao nível do músculo elevador do ânus (BØ e
SHERBURN, 2005).
O perineômetro desenvolvido por Kegel consistia de uma câmara vaginal pneumática com
8 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro, conectada por um tubo de borracha a um manômetro
calibrado de 0 a 100 mmHg. Mulheres continentes apresentavam leituras de 30 a 60 mmHg e
pacientes com incontinência urinária e função muscular pobre ou ausente entre 0 a 5 mmHg.
Gradualmente, e com o fortalecimento muscular, as pacientes conseguiam produzir pressões da
ordem de 60 a 80 mmHg.
Atualmente, estão disponíveis diversos dispositivos para medir pressão vaginal, com
diferentes tamanhos e características técnicas. Resultados de dispositivos diferentes para
medição da força de compressão vaginal ou empregando EMG não podem ser comparados
devido às diferenças de diâmetro das probes vaginais. Não ficou estabelecido se a utilização de
um dispositivo vaginal largo, ou a palpação com dois dedos distende a MAP, provocando a
inibição de sua atividade ou, ao contrário, produz aumento em sua atividade por prover um
feedback proprioceptivo.
Dos três canais pélvicos, as medidas na uretra são a melhor aproximação para a pressão de
fechamento causada pela força da contração muscular. Esta é a localização onde o aumento de
pressão criado pela contração muscular é necessário. Todavia, devido ao risco de infecção e falta
23
de equipamentos em muitas clínicas, este método é empregado apenas com propósito de
pesquisa.
A pressão retal, por sua vez, não pode ser usada como medida válida para a MAP porque
inclui a contração do esfíncter anal.
Um problema comum é o posicionamento do transdutor de pressão na uretra, vagina ou
reto. Na uretra, o posicionamento mais comum do transdutor é no ponto de mais alta pressão.
Kegel sugeriu que a MAP estava localizada no terço distal da vagina; porém, Bø (1992) mostrou
que muitas mulheres têm o maior aumento de pressão quando a porção média do balonete é
posicionado 3,5 cm para dentro do intróito da vagina. Entretanto, diferenças individuais podem
ocorrer.
As medidas da pressão de contração obtidas pelos três canais podem ser inválidas, pois um
aumento na pressão intra-abdominal provoca um aumento nas medidas de pressão. Para ser uma
medida válida, deve ser observado o movimento para dentro do períneo ou do instrumento (BØ
et al., 1990).
Alguns pesquisadores têm tentado evitar a co-contração dos músculos abdominais nas
medidas de força da MAP usando EMG do músculo reto abdominal para treinar os pacientes a
relaxar os músculos abdominais ou por medidas simultâneas de pressão intra-abdominal.
Todavia, diversos pesquisadores têm mostrado que há co-contração dos músculos abdominais
(transverso abdominal e oblíquo interno) durante tentativas de contrações corretas máximas.
Contração de outros músculos como o adutor do quadril, músculos rotadores externos e glúteo
também alteram as medidas de pressão intra-vaginal (BØ et al., 1990; NEUMANN e GILL,
2002).
Bø et al. (1990) avaliaram a reprodutibilidade das medidas de pressão intra-vaginal
durante contrações da musculatura pélvica empregando balonete com ar em seu interior. Para
isso, utilizaram um balonete de 6,7 cm de comprimento e 1,7 cm de diâmetro conectado a um
transdutor de pressão à fibra óptica, fabricados pela empresa Camtech Ltd.(Sandvica, Norway).
O transdutor de pressão foi calibrado na faixa de 0 a 75 cmH
2
O.
A posição do balonete foi padronizada a 3,5 cm do intróito da vagina, uma vez que o
esfíncter uretral está localizado um pouco abaixo da metade da uretra.
As voluntárias foram orientadas a comprimir o balonete 10-20 % para expansão do ar a
temperatura corporal e, então, conectá-lo ao transdutor de pressão. A calibração, ou seja, o
zeramento do transdutor de pressão é, então, realizado, com o balonete suspenso no ar. Após
isto, introduziam o balonete na vagina sob o controle do pesquisador.
24
O estudo envolveu 28 mulheres saudáveis voluntárias (enfermeiras e fisioterapeutas)
divididos em dois grupos sem treinamento prévio em EMAP. Todas as participantes receberam
orientações sobre EMAP e quanto à forma correta de executá-los. Executaram 3 séries de 3
contrações da musculatura pélvica com re-instalação do balonete após cada série. No grupo II as
medidas foram repetidas no mesmo dia e no grupo I após 2 semanas.
As voluntárias do grupo I foram orientadas a não realizarem EMAP durante as duas
semanas. Para as medidas de pressão, consideraram apenas as contrações máximas, excluindo a
pressão de repouso (basal).
As medidas de pressão no grupo I, entre o primeiro dia e após 2 semanas, apresentaram
correlação significativa (r0,48; p=0,01). Para cada participante, calculou-se a diferença entre a
primeira e a segunda medidas. A mediana dessas diferenças em todo o grupo foi pequena, 3, 1 e
1 cmH
2
O respectivamente nas séries I, II e III. Porém, a faixa de variação foi grande atingindo
de –28 a 11 cmH
2
O na série I.
A variabilidade observada nesta amostra pode ser explicada pela variação natural na
população, e a variação individual das medidas, considerada pequena pelos autores, mas cujos
gráficos mostram não ser tão desprezível, poderia ser explicada pela falta de treinamento dos
grupos em EMAP.
Os autores apenas relataram que as voluntárias possuíam ciclos menstruais regulares, não
realizavam EMAP regularmente e que os grupos eram praticamente iguais quanto a outros
fatores de controle.
A calibração do transdutor foi feita antes da introdução, e a estabilização térmica na mão.
A diferença de temperatura entre a mão e a vagina pode atingir quase 8°C, considerando-se uma
participante com extremidades frias e em período menstrual. Isto, por si só, introduz um erro nas
medidas, devido à variação de pressão pela expansão do ar com a temperatura. O fato de
descontarem a pressão basal pode ter minimizado este erro, porém, a mudança de
comportamento da curva com o aumento da pressão leva a sobre-estimação das medidas.
Hahn et al. (1996) realizaram medidas de pressão vaginal com tubo 90 mm de
comprimento (extremidades rígidas e parte central de silicone flexível) e 22 mm de diâmetro
conectado através de um tubo flexível com diâmetro interno de 4 mm e comprimento de 2 m ao
transdutor de pressão. O sistema foi pressurizado a 5 cmH
2
O.
O estudo envolveu 30 mulheres com incontinência de esforço e grupo controle com 30
mulheres saudáveis de mesma faixa etária e características similares (IMC, número de partos,
quantidade de participantes pós-menopausa).
25
Encontraram diferença estatisticamente significativa (p<0,001) na pressão máxima de
contração entre o grupo de mulheres continentes (8,6±0,7 cmH
2
O) e incontinentes (4,2±0,4
cmH
2
O). Já a pressão de repouso (basal) não apresentou diferenças significativas. Também não
encontraram diferenças nas medidas de pressão antes e após a remoção e re-inserção do tubo na
vagina. Da mesma forma, esse estudo não relata preocupações ou cuidados quanto a variações
induzidas pela temperatura.
Sapsford e Hodges (2001) realizaram medidas de pressão intra-vaginal e anal com
balonete, pressão gástrica e atividade mioelétrica da musculatura pélvica, do esfíncter anal
externo e dos músculos abdominais. O estudo envolveu voluntários saudáveis e demonstrou
atividade coordenada da musculatura pélvica em resposta a um aumento da atividade voluntária
de músculos abdominais. Os balonetes usados para medição de pressão foram inflados com ar, o
que garante a pressurização necessária à manutenção do comportamento uniforme do transdutor
de pressão. Porém, não relatam cuidados quanto ao tempo necessário à estabilização térmica do
ar no interior do balonete.
Bø e Finckenhagen (2001) empregaram o mesmo sistema, descrito no artigo de 1990, para
medir a pressão de repouso, pressão de contração máxima e tempo de contração sustentada em
grupo de mulheres praticantes de EMAP nas posições de supino e em pé. Não encontraram
diferença estatística significativa na pressão de contração máxima nas posições supino (24,1±2,8
cmH
2
O) e em pé (23,9±3,1 cmH
2
O) e no tempo de contração sustentada (11,9±0,7 s na posição
supino e 11,0±0,9 s na posição em pé). As pressões de repouso, por sua vez, foram
estatisticamente diferentes (p<0,001).
No trabalho de Bø e Finckenhagen (2001) foi usado o mesmo protocolo descrito no artigo
de Bø et al. (1990) e igualmente não são comentados cuidados quanto às variações de pressão
por efeito térmico.
Trabalho recente de Bø, Raastad e Finckenhagen (2005) comparou as medidas de pressão
máxima de contração vaginal de dois equipamentos comerciais empregados na avaliação da
força de contração da musculatura pélvica. O primeiro equipamento foi o Camtech squeeze
meter (Camtech AS, Sandvika, Norway) que consiste de um balonete de 6,7 cm x 1,7 cm
conectado a um transdutor de pressão a fibra óptica, já avaliado em artigo anterior dos mesmos
autores. O segundo é o Peritron (NEEN Healthcare, Oldhah, UK) com elemento sensor
(balonete) de 10,8 cm x 2,8 cm.
Vinte voluntárias realizaram contrações máximas da musculatura pélvica utilizando as duas
probes. As medidas de pressão máxima de contração foram de 19,7 cmH
2
O (95 % IC: 16,5-22,9)
26
para o Camtech e 36,5 cmH
2
O (95 % IC: 31,7-41,3) para o Peritron, mostrando diferenças
estatisticamente significativas (p<0,01).
Esse resultado mostra que medidas de pressão realizadas com probes de tamanhos
diferentes apresentam resultados diferentes.
A tabela 1 mostra alguns resultados de medidas de pressão vaginal obtidos por inúmeros
pesquisadores empregando diferentes transdutores.
Tabela 1: Medidas de pressão intra-vaginal.
Pesquisador Grupo de estudo Medidas (cmH
2
O)
Bø et al. (1990) Mulheres saudáveis Pressão de contração: 4 - 52
Hahn et al. (1996) Continentes
Incontinentes
Pressão de contração: 8,6±0,7
Pressão basal: 4,5±0,4
Pressão de contração: 4,2±0,4
Pressão basal: 3,8±0,2
Gunnarsson et al. (2002) Saudáveis e incontinentes Pressão de contração: 9 a 22
Bø e
Finckenhagen (2001)
Mulheres saudáveis
Pressão de contração: 24,1±2,8
Pressão basal: 29,1±1,4
Dolan et al. (2003) Incontinência de esforço
Saudáveis
Pressão de contração: 14,4 (9,7–19,1)
Pressão de contração: 27,2 (13,3– 41,0)
Bø, Raastad e Finckenhagen
(2005)
Mulheres saudáveis
Camtech squeeze meter
Peritron
Pressão de contração: 19,7 (95% IC: 16,5-22,9)
Pressão de contração: 36,5 (95% IC: 31,7-41,3)
Atualmente, não há consenso sobre as dimensões ideais para a probe vaginal, mas deve-se
ter cuidado ao comparar medidas de grupos que empregam diferentes tamanhos de probe.
2.4.5. Dinamômetros
Sampselle et al. (1998) foram os primeiros a reportar o uso de um espéculo dinamométrico
para medir a força da MAP; porém, não foram publicados relatos de sensibilidade, confiabilidade
e validade do modelo proposto.
Dumoulin et al. (2003, 2004) desenvolveram um espéculo dinamométrico para medir a
força dorso-ventral da MAP composto de duas peças de alumínio paralelas, uma fixa e outra
ajustável aos diferentes diâmetros vaginais. Uma das hastes possui strain gages, que fornecem
uma saída em tensão linear para forças de 0 a 15 N. A figura 6 mostra o protótipo deste espéculo
dinamométrico.
27
Figura 6: Espéculo dinamométrico de Dumoulin et al. (extraído de Bø e Sherburn, 2005).
Verelst e Leivseth (2004) desenvolveram um dinamômetro para medir a força médio-
lateral da MAP, constituído por duas peças não flexíveis e ajustáveis, uma delas contendo strain
gages. Foi testado com forças de até 60 N apresentando ± 2 % de linearidade.
Os espéculos dinamométicos, assim como os outros dispositivos para avaliar a MAP,
medem apenas a compressão muscular, não indicando o movimento de elevação promovido pela
musculatura. Além disso, suas medidas tamm são afetadas por aumentos de pressão intra-
abdominal e contração de outros grupos musculares como adutores e glúteos (BØ e
SHERBURN, 2005).
2.5 Técnicas conservadoras para tratamento da incontinência urinária
The Scientific Committee of the First International Consulation on Incontinence (1998)
publicou o consenso “Assessment and treatment of urinary incontinence” na revista The Lancet
(2000), considerando a incontinência urinária uma doença de prevalência global e faz
recomendações para investigação e tratamento de pacientes.
A abordagem inicial recomendada inclui correções hormonais, tratamento de infecções
urinárias e mudanças de estilo de vida como redução de peso, parar de fumar e regulação da
ingestão de líquidos e alimentos. Como técnicas conservadoras, recomenda EMAP para
incontinência de esforço (stress incontinence) e treinamento da bexiga, exercícios pélvicos e uso
de drogas para os casos de incontinência de urgência (urge incontinence). Para mulheres idosas
ou com deficiências físicas, a recomendação inclui EMAP, treinamento da bexiga, biofeedback e
28
estimulação elétrica. Ressalta a necessidade de realização de estudos controlados envolvendo
equipes multidisciplinares na avaliação e tratamento de pacientes.
A recomendação do uso de biofeedback e estimulação elétrica apenas em casos específicos,
decorre da lacuna deixada por diversos trabalhos com resultados não conclusivos.
Berghmans et al. (1998) publicaram uma metanálise avaliando os tipos de tratamento
conservador para a incontinência de esforço. Foram identificados 22 ensaios clínicos
randomizados e apenas 11 apresentavam qualidade metodológica para a análise. Baseados em
critérios de evidência, a estimulação elétrica parece superior ao placebo, porém, há muita
variabilidade dos parâmetros empregados e evidência limitada de que não haja diferença em
relação a outras terapias físicas como biofeedback e EMAP.
Berghmans et al. (2000) publicaram outra metanálise procurando avaliar o tratamento
conservador da incontinência urinária mista e de urgência. Foram identificados 15 estudos, mas
apenas 8 preencheram os critérios de qualidade. Novamente, a tendência é de resultados
positivos, porém, os trabalhos são heterogêneos e há poucos envolvendo EMAP com ou sem
biofeedback. Ressaltam a necessidade de realização de trabalhos de pesquisa com qualidade
metodológica para avaliação dos efeitos de cada método de terapia física.
Trabalhos de biofeedback e EMAP em ambiente controlado e sob supervisão ou em uso
doméstico mostram resultados controversos.
A seguir, são descritas as principais técnicas conservadoras para tratamento da
incontinência urinária feminina.
2.5.1. Cones vaginais
Os cones vaginais foram desenvolvidos por Plevnik em 1985 como uma ferramenta de
medida e um método de treinamento. O conjunto original de cones consistia de 9 pesos com
igual volume mas incrementos de peso de 20 a 100 g.
Nas versões atuais, os conjuntos de 3 a 5 cones são mais comuns em diferentes tamanhos e
formatos, conforme pode ser visto na figura 7.
O maior peso que a paciente consegue segurar por 1 min sem contração voluntária é
denominado de força de repouso da MAP ou força passiva, enquanto o peso que pode segurar
por 1 min com contração voluntária é chamado força ativa da MAP.
Os cones não foram testados para certificação de sensibilidade na graduação da força
muscular da MAP e a força muscular para segurar cada cone não é conhecida (BØ e
SHERBURN, 2005).
29
Figura 7: Formatos diversos de cones vaginais extraído de Bø e Sherburn, 2005.
Hahn et al. (1996) encontraram baixas correlações entre o peso dos cones e medidas de
pressão intra-vaginal (r=0,10) ou entre palpação vaginal e peso dos cones (r=0,18) em mulheres
com incontinência. Neste estudo, 20 % das mulheres tinham baixo escore de palpação e baixa
pressão vaginal e mesmo assim conseguiam segurar o cone mais pesado. Radiografias mostraram
que o cone estava apoiado sobre o cóccix em algumas mulheres. Além disso, outros músculos ao
invés da MAP podem ser contraídos para reter o cone na vagina.
Ademais, Olah et al. (1990) mostraram que 17 % das pacientes não são capazes de usar
cones porque estes são muito pequenos ou muito grandes em relação à vagina.
2.5.2. Exercícios da Musculatura do Assoalho Pélvico
A Kegel, credita-se a introdução dos EMAP como terapia efetiva para incontinência
urinária em mulheres (KEGEL, 1948). Porém, Chang (1984) relatou que EMAP tem sido uma
parte importante dos programas de exercício no Taoísmo chinês por mais de 6000 anos e
tensionar a MAP tem sido usada por fisioterapeutas na Inglaterra para tratar e prevenir
incontinência urinária e fecal desde pelo menos a década de 20 do século XX (CHANG, 1984
apud BØ, 2004).
Kegel (1951) relatou que a terapia consistia de duas fases, educação muscular e exercício
resistivo. Em uma série de 500 pacientes relatou restauração da continência em 84%, sendo 70%
com incontinência urinária de esforço (pacientes incontinentes apenas durante tosse, espirros ou
esforços) e os casos restantes com complicações de vários fatores.
30
Porém, mesmo sendo estudos não controlados e sem acompanhamento rigoroso, vários
ensaios randomizados e controlados posteriores e revisões sistemáticas têm confirmado que
EMAP é um tratamento efetivo para incontinência de esforço e mista (BØ, 2004).
Segundo Kegel (1948), a perda de coordenação muscular é mais fácil de prevenir do que
restaurar e na preservação e restauração da função muscular nada é mais importante que a
repetição freqüente de exercícios guiados e com o esforço do próprio paciente. Relata quatro
fases ao longo do tratamento: a fase 1 é o período necessário para estabelecer a consciência da
função e coordenação, podendo ser ausente ou breve, ou requerer períodos maiores, até 8 dias.
Relatos de Kegel mostram que 60% das mulheres necessitavam de apenas 1 ou 2 períodos de
exercícios, enquanto as demais necessitavam de até 8 dias. A segunda é uma fase de transição, a
terceira ou período de regeneração é reconhecida grosseiramente pelo aumento gradual da
resistência muscular. É durante esta fase que a mudança nos sintomas, como um alívio na
incontinência urinária ocorre. A quarta fase ou período de restauração é marcado pelo aumento
da força e controle dos esforços e menor fadiga.
EMAP é recomendado como tratamento inicial e as taxas de cura e melhora clínica nos
ensaios clínicos randomizados (ECR) que incluem pacientes com incontinência mista e de
esforço variam de 56 a 70 % (FANTL, 1996 apud BØ e SHERBURN, 2005; HAY-SMITH et al.,
2001).
Miller, Ashton-Miller e Delancey (1998) denominaram uma manobra para evitar perdas de
urina que consiste na orientação da paciente a contrair a MAP antes do esforço físico e manter
esta contração durante o esforço de “Knack”. Em um ECR, as pacientes foram orientadas a
contrair antes e manter esta contração durante a tosse. O teste de perda de urina empregando uma
toalha de papel foi realizado no início e após uma semana de manobras realizadas em casa,
mostrando redução de perdas de 98,2 % e 73,3 %, em tosses médias e profundas,
respectivamente. Porém, índices de cura na vida diária não foram reportados.
Perchers et al. (2001) avaliaram 10 mulheres sem filhos usando ultra-som perineal e EMG
durante a tosse com e sem contração voluntária. A descida do colo vesical foi significativamente
menor nas mulheres que contraíram a musculatura antes da tosse. Os autores concluíram que a
contração voluntária da MAP estabiliza o colo vesical durante o aumento da pressão abdominal.
Porém, segundo Howard et al. (2000), se os músculos não são suficientemente fortes e não
estão em uma posição adequada, apenas orientar a paciente a pré-contrair a musculatura não será
o bastante para a melhora ou cura das perdas de urina durante esforços.
O fortalecimento intensivo da MAP pode melhorar o suporte estrutural da pélvis através da
elevação do músculo elevador do ânus a uma posição permanente mais alta no interior da pélvis
31
e pelo aumento da hipertrofia e rigidez da MAP e de tecido conectivo. Isto facilitará uma efetiva
ativação automática de unidades motoras (adaptação neural), prevenindo a descida durante
aumentos da pressão abdominal (BØ, 2004).
Os programas de EMAP têm provado serem efetivos na prevenção de perdas durante
atividades físicas prolongadas como correr ou saltar, durante as quais as participantes não foram
orientadas a contrair voluntariamente a MAP durante os exercícios. Como não é provável que
alguém consiga contrair continuamente a MAP durante exercícios prolongados, pode-se deduzir
que alguma alteração morfológica tenha ocorrido (BØ et al., 1990; MORKVED, BØ e
FJORTOFT, 2002).
É pouco provável que atletas jovens e continentes ou mulheres nulíparas pensem ou
tenham aprendido a contrair a MAP, ou que contraiam conscientemente durante aumentos da
pressão abdominal. Em adição, não parece possível contrair continuamente e ativamente a MAP
durante a maioria das atividades da vida diária. Mulheres não seriam capazes de participar de
atividades físicas populares como tênis, dança, aeróbica ou corridas se precisassem contrair a
MAP antes de cada passo ou movimento para evitar perdas. Por isso, o resultado esperado de
programas de EMAP é atingir este nível de co-contração automática (inconsciente) presente em
mulheres continentes (BØ, 2004).
Sale (1988) mostrou que o grau de potencialização dos reflexos está correlacionado com o
grau de ativação de unidades motoras atingidas por um esforço voluntário. Então, com o
fortalecimento muscular e alteração da morfologia muscular (através da elevação permanente do
músculo elevador do ânus a uma posição mais alta na pélvis, aumento do volume muscular,
fortalecimento do tecido conectivo nos músculos, fortalecimento das conexões com os ossos e
recrutamento mais efetivo de neurônios motores), pode-se elevar e enrijecer a base estrutural
formada pelo assoalho pélvico, fazendo uma co-contração automática possível (BØ, 2004).
Assim como no uso de medicamentos, há uma relação entre a dose e a resposta em todas as
formas de treinamento com exercícios. O termo dose de exercícios inclui o tipo de exercício,
freqüência, intensidade e duração do período de treinamento. Todos estes fatores associados à
adesão ao protocolo de treinamento afetam a avaliação final.
Em ECR avaliando o efeito dos EMAP, o número de contrações por dia variou de 36 a 360,
o tempo máximo de sustentação da contração de 4 até 30-40 s e a duração do período de
treinamento de 4 semanas a 6 meses. Infelizmente, os protocolos de treinamento são pobremente
descritos e devido à heterogeneidade de pacientes, formas de avaliação e protocolos de
treinamento, a comparação entre os estudos é difícil e não se pode tirar qualquer conclusão sobre
qual protocolo de treinamento foi mais efetivo (HAY-SMITH et al., 2001).
32
Uma recente meta-análise para determinar a resposta em função da dose de treinamento em
músculos esqueléticos em geral concluiu que a resposta parece ser diferente em função do estado
inicial de treinamento dos participantes. O treinamento com intensidade de 60 % de uma
repetição máxima possibilita ganho máximo em indivíduos não-treinados, enquanto 80 % é mais
efetivo em indivíduos treinados. Indivíduos não-treinados precisam treinar 3 dias por semana,
enquanto 2 dias parece suficiente para pessoas treinadas (RHEA et al., 2003).
Embora seja reportado que EMAP não tenham influência nos parâmetros urodinâmicos
comuns, EMAP aumentam o suporte vesical aumentando a força e resistência dos músculos
perineais (ELSER et al., 1999).
Sugaya et al. (2003) criaram um dispositivo para auxiliar na realização de EMAP em casa,
que disparava um alarme três vezes por dia para iniciar a sessão de exercícios e também gerava
sons para dar o ritmo aos exercícios. O display mostrava um personagem de desenho animado
que mudava em função do empenho na realização dos exercícios. Realizaram o estudo com dois
grupos de pacientes realizando EMAP, com e sem o apoio do dispositivo. Observaram melhora
na incontinência urinária de esforço no grupo que usou o dispositivo, e que muitos pacientes
deste grupo se sentiam pressionados a realizar os exercícios sempre que o alarme soava. Embora
o número de vezes em que cada paciente realizou os exercícios não pode ser checado nos dois
grupos, os autores supõem que os participantes do grupo com dispositivo realizaram os
exercícios mais freqüentemente devido ao alerta do equipamento. Ao final do estudo, 48 % dos
participantes do grupo com dispositivo estavam satisfeitos com os resultados, contra 15 % no
grupo controle.
Se fatores outros que a função da musculatura pélvica são a causa da incontinência como,
por exemplo, a ruptura total de ligamentos durante o parto, o treinamento muscular pode não ter
sucesso. Todavia, como a musculatura pélvica não é treinada na maioria das pessoas, os
exercícios têm um grande potencial na melhora clínica e uma musculatura bem condicionada
pode compensar outros fatores.
Mesmo na presença de patologias de tecidos, como neuropatia, se não houver alteração na
função da musculatura pélvica ou aumento de força, o programa de treinamento pode ter sido
insuficiente (intensidade, freqüência ou período de treinamento) ou a adesão das pacientes foi
inadequada. É provável que esses programas não tenham seguido recomendações de treinamento
muscular.
33
2.5.3. Biofeedback
Biofeedback é definido como um grupo de procedimentos experimentais onde um sensor
externo é usado para dar uma indicação de um processo biológico, usualmente visando modificar
a qualidade da medida.
Assim, a informação sobre o processo fisiológico, que está sob o controle do sistema
nervoso, mas não é percebida pelo paciente de forma clara e precisa, é fornecida a ele durante o
aprendizado ou treinamento. Ele deve ter a capacidade cognitiva intacta para usufruir do sinal de
biofeedback (MIZENER, THOMAS, BILLINGS, 1988).
As técnicas de biofeedback têm se desenvolvido na área de psicologia, principalmente para
medidas de sudorese, batimentos cardíacos e pressão sangüínea durante diferentes formas de
stress (YOKOYAMA et al., 2002; DEL POZO et al., 2004, ZIEGELSTEIN, 2007).
Em fisioterapia, sua aplicação visa modificar hábitos posturais, fornecendo uma
informação ao paciente sobre o estado de contração/relaxamento de músculos durante a
execução de determinados movimentos.
Na área de treinamento da musculatura pélvica, EMG ou pressão da musculatura vaginal
ou anal têm sido usadas para tornar o paciente informado da função muscular e aumentar a
motivação e esforço durante o treinamento. A técnica de biofeedback é um adjunto para o
treinamento com exercícios da musculatura pélvica.
Segundo Kegel (1948), apenas mulheres excepcionais continuarão a se exercitar o tempo
suficiente para produzir resultados, após mera instrução de como fazê-los. Muitas mulheres,
adicionalmente, não têm consciência funcional desta musculatura e a não ser que recebam
informações quanto ao sucesso ou não, tornam-se desencorajadas e sem vontade de fazer uma
tentativa inicial de exercício. É importante, então, ter-se à disposição algum método através do
qual a paciente possa ver os resultados de sua atividade e ser encorajada a continuar seus
esforços, dando um incentivo para aumentar a força contrátil dos músculos perineais e
esfíncteres vaginais.
As pacientes eram orientadas a exercitarem-se durante 20 min, três vezes ao dia,
totalizando 300 repetições diárias. Anotavam em uma tabela os períodos de exercícios e leituras
máximas de cada dia, bem como as omissões.
Segundo Kegel (1948), a restauração do tônus e função de músculos perineais atrofiados e
frouxos requer de 20 a 40 h de exercícios em um período de 20 a 60 dias com acompanhamento
semanal.
34
Shepperd e Montgomery (1983) realizaram estudo com 22 mulheres com incontinência de
esforço (11 usando perineômetro com balão vaginal e 11 com EMAP) durante 6 semanas
obtendo bons resultados em 73 % das pacientes com biofeedback contra 27 % do grupo
realizando EMAP. Isso encorajou a realização de novos trabalhos envolvendo essa técnica.
Estudo similar de Burgio et al. (1986) envolvendo 24 pacientes, 12 com biofeedback visual
(balão monitorando pressão no esfíncter anal externo) em ambiente hospitalar e EMAP em casa
e 12 realizando EMAP supervisionado, demonstraram que os resultados do grupo que utilizou
biofeedback foram melhores.
Resultados de Ferguson et al. (1990) com grupo de 20 mulheres (10 com biofeedback e 10
com EMAP) durante 6 semanas mostraram pequenas diferenças entre os dois grupos com maior
benefício no teste do absorvente (pad test) para o grupo de EMAP.
Burns et al. (1990) realizaram um estudo com 121 pacientes durante 8 semanas divididas
em 3 grupos: 40 com biofeedback, 43 com EMAP supervisionado e 38 controles (sem
tratamento). A quantidade de perdas de urina reduziu de forma similar (não significativa
estatisticamente) entre o grupo de biofeedback e EMAP, porém, ambos significativamente em
relação ao grupo controle.
Berghmans et al. (1996) também não encontraram diferenças significativas entre
biofeedback, usando EMG e eletrodos de superfície, e EMAP supervisionado durante 4 semanas.
Porém, observaram uma taxa de melhora mais rápida no grupo de biofeedback que já na segunda
semana atingiu 35 % versus 15 % no grupo de EMAP.
Glavind, Nohr e Walter (1996) compararam 34 pacientes, 19 com biofeedback usando
EMG e 15 EMAP com supervisão limitada durante quatro semanas. Os resultados do grupo de
biofeedback foram significativamente melhores.
Porém, esses trabalhos não relatam a duração das sessões de biofeedback ou de EMAP
supervisionado, apresentavam tempos de tratamento diferentes e utilizam metodologias
diferentes na avaliação dos resultados e acompanhamento dos pacientes, tornando difícil a
comparação entre a efetividade das técnicas e o custo associado a cada tratamento.
O controle das pacientes durante o tratamento é variável exigindo, no caso de EMAP
supervisionado ou biofeedback, a presença de um terapeuta ao lado da paciente durante cada
sessão de terapia. Ou no caso de utilização doméstica, resume-se a ligações telefônicas ou visitas
periódicas ao consultório médico; e o controle da adesão da paciente é limitado.
O papel do biofeedback no treinamento da musculatura pélvica é controverso. Estudo de
Hirsch et al. (1999) reportou uma melhora ou cura de 85 % após EMAP com biofeedback
utilizando EMG em pacientes com incontinência urinária de esforço e mista.
35
Morkved, Bø e Fjortoft (2002) conseguiram uma taxa de cura objetiva após 6 meses de
biofeedback domiciliar em 67 % das pacientes com incontinência de esforço.
Em outro ECR, realizado por Sung et al. (2000), 60 pacientes com incontinência foram
divididas em 2 grupos de 30 pacientes, comparando o uso de biofeedback com um programa
intensivo de exercícios perineais durante 6 semanas. As mudanças objetivas foram verificadas
através de perineômetro vaginal, evidenciando melhora significativa na intensidade e duração
das contrações perineais em ambos os grupos (p<0,001 e p<0,05, respectivamente), sem, no
entanto, haver diferença entre eles. Na análise subjetiva, através de questionário, o grupo tratado
com auxílio de biofeedback apresentou resultados significativamente superiores ao controle em
todos os parâmetros avaliados, incluindo freqüência, número de perdas, sintomas irritativos e
noctúria, dentre outros, com p<0,001.
Em trabalho recente de Jundt, Perchers e Dimpfl (2002), realizado com 36 mulheres
utilizando EMAP e biofeedback, os autores relatam o problema de avaliar a adesão das pacientes
em estudos clínicos com equipamentos para uso domiciliar. Embora cada paciente preencha um
diário de treinamento, deve-se ter cuidado com a confiabilidade dessas informações. Ressaltam a
necessidade de um programa de manutenção da continência, após resultados bem sucedidos com
essa terapia, realizado uma ou duas vezes por semana. Porém, os custos de equipamento e
acompanhamento tornam esta conduta impraticável.
A tecnologia moderna tem permitido o desenvolvimento de uma variedade de probes
vaginais e retais sensíveis à pressão ou atividade eletromiográfica. Estes dispositivos podem
medir e coletar dados dos exercícios para análises futuras, possibilitando menos visitas ao
consultório médico. Programas de treinamento individuais com instruções sonoras também são
disponíveis (AUKEE et al., 2002; MORKVED, BØ e FJORTOFT, 2002).
Aukee et al. (2004) realizaram estudo com pacientes executando EMAP em casa, com e
sem biofeedback. As pacientes do grupo de biofeedback receberam o equipamento Femiscan
(MegaElectronics, Kuopio, Finland,) que realiza biofeedback por sinal de EMG. O processador
interno do equipamento contém o programa de treinamento, um sintetizador de voz para
instruções verbais e capacidade de memória para armazenar o treinamento realizado em casa.
Todas as pacientes receberam informações verbais e por escrito para prática dos exercícios
e recomendadas a realizá-los por 20 min, 5 vezes por semana. A sessão de exercícios incluía
exercícios de curta e longa duração, visando recrutar fibras rápidas e lentas. O grupo de EMAP
manteve apenas um diário de treinamento.
Todas as pacientes visitaram o mesmo fisioterapeuta 5 vezes durante as 12 semanas de
treinamento intensivo.
36
No grupo de biofeedback 68,8% das pacientes evitaram a cirurgia e 52,6% no grupo sem
biofeedback; porém, esta diferença não foi estatisticamente significativa (p=0,005).
O treinamento supervisionado consegue mais adesão à reabilitação, necessitando menos
contatos entre fisioterapeuta e paciente e EMAP com biofeedback pode prevenir a frustração
pelo treinamento de longo prazo, mostrando ao paciente a força de contração e aumentando a sua
motivação.
Os mesmos autores recomendam a necessidade de novos ensaios para confirmar a
diferença real entre EMAP com e sem biofeedback.
2.5.4. Estimulação elétrica
O método de estimulação elétrica é diferente dos EMAP, que induzem o paciente a
executar contrações voluntárias, pois a corrente elétrica aplicada aos nervos da musculatura
produz contrações independentes da vontade do paciente.
É possível a escolha de eletrodos intra-vaginais ou anais, uso de dois eletrodos de
superfície ou de 4 eletrodos no caso de terapia interferencial.
A terapia interferencial é realizada com quatro eletrodos, geralmente, posicionados
ortogonalmente na região a ser tratada, e aos quais é aplicada corrente com freqüência de 2 a 4
kHz e diferenças de 1 a 100 Hz entre os pares de eletrodos. Com isso, tem-se nos músculos
bursts de pulsos com duração de 250 µs ou menos na freqüência de batimento entre os dois
sinais.
Esta mesma técnica pode ser aplicada com apenas dois eletrodos e estímulo formado por
sinal de 2 a 4 kHz modulado por outro de menor freqüência, tipicamente de 1 a 100 Hz.
Green e Laycock (1990) demonstraram objetivamente as diferenças na corrente produzida
na musculatura pélvica e conseqüente atividade muscular induzida pelos métodos de
posicionamento de eletrodos usualmente empregados.
O produto final de todos esses métodos é usualmente uma corrente de 10 a 100 mA, com
duração de pulsos variando de 0,1 a 5 ms, freqüência de estímulos de 10 a 50 Hz e aplicada de
forma intermitente em duty cycles ou razões ligado/desligado (on:off) de 1:2, 1:3 ou 2:5, visando
evitar a fadiga muscular.
A utilização de freqüência de 10 a 20 Hz provoca a inibição da contrabilidade do músculo
detrusor, sendo aplicada nos casos de incontinência de urgência, enquanto 50 Hz estimula os
músculos esqueléticos do assoalho pélvico a se contraírem, sendo empregada no tratamento de
37
incontinência de esforço (AMUZU, 1998; BØ, TALSETH e HOLME, 1999; CASTRO, 2000;
BARROSO et al., 2004).
Trabalhos de estimulação elétrica também não mostram suficientes evidências para
recomendar essa técnica como tratamento de primeira linha para incontinência urinária. Os
resultados são divergentes na literatura. Taxas de cura variam de 30 a 50% e de melhora clínica
entre 6 e 90%. Os primeiros resultados, em 1991, demonstravam resultados positivos da
estimulação em relação a exercícios perineais, mas a randomização não foi adequada.
Em 1993, Laycock e Jerwood (1993) relataram 56% de redução da perda urinária
comparada a 21% no grupo controle.
Sand et al. (1995) realizaram um ensaio clínico controlado com uso de placebo envolvendo
35 mulheres com incontinência de esforço e 17 controles durante 12 semanas. Observaram
melhoras significativas de parâmetros objetivos e subjetivos do grupo submetido à estimulação.
O grupo de estudo obteve melhora clínica de 50 a 62 % e o grupo controle 19 %.
Luber e Wolde-Tsadik (1997) não encontram diferenças significativas entre 20 mulheres
com incontinência de esforço e 24 controles que utilizavam o equipamento em suas casas duas
vezes por dia e supervisão de duas ligações telefônicas por semana. A quantidade de
desistências foi alta (10 pacientes) e ao final de 12 semanas, 15 % do grupo de estudo e 12,5 %
do grupo controle, estavam objetivamente curadas.
O uso de aparelhos domiciliares foi descrito em 1994 em um estudo norueguês (SCHIOZ,
1994). A percentagem de cura ou melhora foi significativa para pacientes com incontinência leve
(71%), comparado à moderada (33%) ou severa (25%).
Em trabalho realizado no HCPA, por Barroso et al. (2004), foram demonstrados resultados
positivos da estimulação elétrica em grupo de 24 pacientes comparados a 12 controles. O
percentual de cura ou melhora clínica significativa foi de 87,5 % ao final do tratamento em 3
meses e de 66 % na reavaliação semestral. As pacientes utilizavam o equipamento estimulador
em casa e eram avaliadas e orientadas em visitas periódicas ao HCPA, momento em que era
verificada a adesão ao tratamento através da leitura de um contador de tempo de uso incorporado
ao equipamento.
Seo, Yoon e Kin (2004) realizaram estudo envolvendo 120 mulheres com incontinência de
esforço divididas em dois grupos, um deles usando EMAP com biofeedback e estimulação
elétrica, alternadamente em duas sessões por semana e o outro usando um novo modelo de cone
vaginal. Obtiveram melhora no grau de incontinência em 91,6% e 88,3%, nos grupos de FES-
Biofeedback e cones, respectivamente. Porém, as alterações pós-tratamento em ambos os grupos
não foram estatisticamente significativas.
38
2.5.5. Estimulação magnética
Ishikawa et al. (1997) propuseram um equipamento para tratamento de incontinência
urinária utilizando estimulação magnética. A principal vantagem em relação à estimulação
elétrica é o fato de não necessitar eletrodos de superfície ou outras formas de contato com o
corpo humano.
A aplicação de pulsos de tensão a uma bobina posicionada na região perineal provoca
estimulação da musculatura do assoalho pélvico e nervos pudendos com correntes induzidas no
próprio tecido (eddy currents) pelo campo magnético variável no tempo.
Em experimentação animal, foi obtido aumento da pressão uretral por contração da
musculatura do assoalho pélvico e inibição das contrações da bexiga devido à atuação nos nervos
pudendos.
Como problemas, há a necessidade de potência alta (2 kW) para operação e a alta perda de
energia no sistema e, principalmente, na bobina, que necessita de refrigeração.
Shafik (1998) realizou experimentação animal avaliando o efeito da estimulação magnética
na pressão vesical e retal e na evacuação. A estimulação sacral, com a bobina posicionada entre
L
4
e L
5
provocou um aumento significativo nestas pressões e uma redução na pressão anal e
uretral. O reto e a bexiga cheios foram evacuados com o uso de estimulação magnética
intermitente.
O efeito da estimulação magnética pode ser produzido não apenas por neuromodulação,
mas também através da estimulação do nervo pudendo.
Shafik (1999) investigou o efeito da estimulação magnética do nervo pudendo em pacientes
com incontinência urinária neurogênica e incontinência fecal. A aplicação da bobina geradora de
campo magnético na região perineal provocou aumento na pressão uretral e anal e aumento na
atividade mioelétrica do esfíncter estriado anal e uretral.
But (2003) reportou uma melhora significativa (p<0,001) nos sintomas de incontinência
urinária em 56,3% do grupo submetido à estimulação magnética, comparado a 26,3% do grupo
placebo. Os pacientes do grupo ativo receberam estimulação magnética pulsátil de 10 µT de
intensidade e freqüência de 10 Hz continuamente por 2 meses, produzida por um equipamento
portátil denominado Pulsegen.
Porém, novos estudos são necessários para investigar o mecanismo de ação da estimulação
magnética na melhora da incontinência urinária e fecal, evacuação de bexiga e reto neurogênico
e na indução da defecação na inércia retal.
39
2.5.6. Medicamentos
Com os recentes avanços no entendimento da neurologia e da neurofarmacologia do TUI,
foi possível lançar mão dos fármacos no tratamento de algumas disfunções que levam à retenção
ou à incontinência urinária.
Pode-se classificar em quatro áreas básicas os efeitos dos fármacos sobre o TUI,
envolvendo a contração e o relaxamento da bexiga e da uretra:
a) inibição farmacológica das contrações não-inibidas vesicais: anticolinérgicos;
b) quando há inabilidade da bexiga em contrair-se eficientemente quando cheia:
colinérgicos;
c) aumento excessivo da pressão uretral em discordância com a atividade funcional da
bexiga: bloqueador α-adrenérgico ou estimulante β-adrenérgico;
d) pressão intra-uretral baixa: estimulante α-adrenérgico.
No tratamento da incontinência de urgência destacam-se os medicamentos anticolinérgicos,
antiespasmódicos, capsaisina e derivados e os bloqueadores alfa.
Os medicamentos anticolinérgicos agem inibindo a contrações involuntárias da bexiga,
aumentando a capacidade vesical e atrasando o desejo inicial para urinar. Estas drogas são úteis
no tratamento da incontinência de urgência, mas podem ter efeitos adversos desagradáveis que
limitam o seu uso, e a adesão das pacientes é pequena (SCHEIFE e TAKEDA, 2005).
Dentre os anticolinérgicos de uso clínico, destacam-se a tolterodina, a oxibutinina e os
antidepressivos tricíclicos (principalmente, a imipramina). A limitação dessas drogas são seus
efeitos colaterais, que incluem boca seca, constipação, tontura, visão turva, hipotensão
ortostática, dentre outros, dificultando a adesão ao tratamento (PORTERA e LIPSCOMB, 1998).
As drogas antiespasmódicas ajudam a relaxar a musculatura da bexiga, porém apresentam
como possíveis efeitos adversos reportados cansaço, desmaios, sonolência, alucinações, insônia e
boca seca (HAEUSLER et al., 2002).
No tratamento da incontinência de esforço, devido à ausência de medicamentos efetivos e
bem tolerados, a terapia farmacológica continua a prescrição de estrógenos ou agonistas alfa-
adrenérgicos (CASTRO-DIAZ e AMOROS, 2005).
Os medicamentos agonistas alfa-adrenérgicos são usados para aumentar o tônus da
musculatura lisa que produz a abertura e o fechamento do esfíncter interno, sendo mais efetivos
em pacientes com incontinência moderada. São ingredientes comuns de descongestionantes e
moderadores de apetite e seus efeitos colaterais incluem agitação, insônia e ansiedade.
40
A terapia de reposição hormonal com o uso de estrógenos aplicados na forma de cremes
vaginais ou adesivos pode auxiliar na restauração da continência em mulheres idosas atuando de
duas formas: restaurando o revestimento uretral, que se torna fino com a deficiência de
estrógenos, aumentando o risco de incontinência de esforço e desensibilizando a bexiga, o que
auxilia nos casos de incontinência de urgência.
Evidências indicam que a incontinência de urgência pode estar relacionada com níveis
alterados de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores importantes na depressão. Os
medicamentos antidepressivos têm como alvo estes neurotransmissores e algumas vezes são
usados para incontinência de urgência e em alguns casos de incontinência de esforço. Destacam-
se os antidepressivos tricíclicos que agem com agentes anticolinérgicos, possuindo efeitos
adversos similares e os inibidores da recaptação serotonina-noradrenalina (MARIAPPAN et al.,
2005).
Capítulo 3
Casuística e Métodos
Neste estudo, foram investigadas quantitativa e qualitativamente técnicas de tratamento
conservador da incontinência urinária feminina envolvendo EMAP, biofeedback e estimulação
elétrica.
Para atingir este objetivo, propôs-se o desenvolvimento de equipamentos para tratamento
da incontinência urinária feminina empregando três técnicas conservadoras: exercícios da
musculatura pélvica com biofeedback, estimulação elétrica acionada por sinal pressórico e
exercícios da musculatura pélvica seqüenciados, com monitorização simultânea da contração da
musculatura pélvica, durante a utilização domiciliar.
Propôs-se também a execução de ensaio clínico randomizado e controlado para avaliação
da eficácia destas técnicas, através da análise estatística dos resultados.
3.1 Descrição das técnicas de tratamento propostas
As três técnicas conservadoras para tratamento da incontinência urinária feminina avaliadas
neste estudo são descritas na seqüência.
3.1.1 Técnica I: Exercícios da musculatura pélvica com biofeedback
O Biofeedback é realizado através da monitoração de sinal de pressão da musculatura
pélvica por meio de uma probe vaginal.
O equipamento tem um balonete (probe) vaginal conectado a um sensor de pressão,
indicando em display gráfico a curva de pressão resultante da contração da musculatura pélvica
durante a realização dos exercícios. A figura 8 mostra o balonete fabricado pela empresa BEAC
Biomedical (Stradella (PV) Italy) utilizado como transdutor de pressão.
Neste mesmo display traça-se o programa de exercícios, composto de séries de contrações
rápidas e lentas a ser executado, com duração máxima de 15 min. A figura 9 mostra a
visualização no display gráfico de algumas possibilidades de seqüência de exercícios para este
grupo.
42
Figura 8: Balonete (probe) do fabricante BEAC Biomedical (Italy) utilizado para medição da pressão intra-
vaginal
.
Para o controle da adesão e da capacidade da paciente em seguir a programação definida, o
ciclo de contrações efetuado será armazenado em memória não volátil e poderá ser transferido
via interface serial para um computador pessoal. Com isso, procurou-se eliminar o parâmetro
subjetivo de adesão das pacientes e determinar o percentual de exercícios realmente executado
diariamente pelas pacientes em suas casas.
Seqüência 1: contração 2s, repouso 4s
Seqüência 2: contração 4s, repouso 4s
Figura 9: Apresentação de seqüências de exercícios no display gráfico: Seqüência 1 – contrações rápidas, Seqüência
2 - contrações lentas.
3.1.2 Técnica II: Estimulação elétrica acionada por sinal pressórico
A paciente utiliza uma probe vaginal com monitoração de pressão (referente à contração da
musculatura pélvica) e eletrodos para estimulação elétrica.
43
A paciente comanda o início da estimulação elétrica contraindo a musculatura pélvica, e o
sinal de pressão gatilha o estimulador elétrico. Assim, combina-se o efeito da estimulação
elétrica com o desejo (vontade da paciente) em efetivamente realizar a contração pélvica.
A paciente não tem a informação visual da intensidade de contração realizada e é orientada
por indicador visual no painel (LED) que define os períodos de contração a serem executados.
No display gráfico são fornecidas instruções/informações à paciente.
O ciclo de exercícios foi padronizado para as três técnicas estudadas e a paciente é
orientada a contrair a musculatura pélvica sempre que o indicador visual estiver ligado. Quando
o sinal de pressão for superior a 30% do valor da intensidade perineométrica máxima (P
C
),
escolha esta do pesquisador, o estímulo elétrico é ativado e mantido até o fim da contração
proposta.
A intensidade da corrente elétrica é ajustada pela paciente, que foi orientada a utilizar a
máxima intensidade suportada sem desconforto. O tempo de sustentação da contração é
programado no equipamento, sendo equivalente aos períodos de contração definidos. Da mesma
forma, todo o ciclo de contrações é monitorado e armazenado em memória.
O sinal de estimulação é bifásico assimétrico balanceado, com freqüência de estimulação
de 50 Hz, tempo de duração dos pulsos de 300 µs e intensidade de corrente ajsutável de 0 a 100
mA (BARROSO et al., 2004).
3.1.3 Técnica III: Exercícios da musculatura pélvica seqüenciados
As pacientes recebem um equipamento com probe vaginal que seqüencia os exercícios da
musculatura pélvica via indicador visual; porém, à paciente não é fornecida informação quanto à
intensidade da contração efetuada.
A paciente é orientada por indicador visual (LED) que define os períodos de contração a
serem executados e no display gráfico são fornecidas instruções/informações à paciente. Da
mesma forma, todo o ciclo de contrações é monitorado e armazenado em memória não volátil.
3.2 Descrição da instrumentação
3.2.1 Hardware dos equipamentos
Os equipamentos para implementação das técnicas de tratamento foram desenvolvidos
44
como etapa desse trabalho.
A figura 10 mostra um diagrama em blocos da topologia proposta.
LCD
Gráfico
Memória
Interface c/
Usuário
Condicionador
de Sinal
Microcontrolador
Sensor de
Pressão
Eletrodos para
Estimulação
Interface
Serial
Driver de
Corrente
Transformador
Controle de
Intensidade
Figura 10: Diagrama em blocos do equipamento proposto.
O equipamento baseia-se em um microcontrolador que gerencia os periféricos responsáveis
pela interface gráfica com a paciente (display gráfico), armazenamento de dados (memória),
interface com o usuário (teclas) e interface serial. Também faz a aquisição do sinal de pressão e
geração dos pulsos para estimulação elétrica.
O projeto de hardware teve como escolha a definição de um circuito capaz de desempenhar
as três técnicas propostas apenas com alterações de software. Com isso, economizou-se tempo no
lay-out de placas de circuito impresso e engenharia de produto dos equipamentos. O custo de
confecção das placas de circuito impresso também foi reduzido, pois a quantidade de
fotoplotagens do processo foi menor.
As figuras 11, 12, 13 e 14 mostram detalhes do circuito eletrônico.
O microcontrolador (U2) escolhido foi o PIC16F877 da Microchip Inc., que possui a
quantidade de pinos de I/O necessária. O software para o microcontrolador foi desenvolvido em
linguagem C.
Como display gráfico (J1), adotou-se o módulo AG-12864D com 128x64 pixels, da
empresa Ampire Co. Ltd de Taiwan, que utiliza o controlador gráfico T6963C.
A memória de dados do equipamento com interface padrão SPI foi implementada com duas
memórias flash da ATMEL (U3 e U7) totalizando 1 Mbyte.
A memória EEPROM 24LC515 (U4) foi usada como arquivo de telas gráficas para o
display, sendo cada uma dessas telas um arquivo de 1024 bytes correspondentes ao espelho da
45
imagem a ser plotada no display. Assim, pode-se ter até 64 telas diferentes de exercícios e
orientações à paciente.
PWM
SCK
SI
SO
TXD
RXD
VSENSOR
VCCALL
CS0
VBAT
CS1
SENSOR
VCC
VCC
VCC
RST
CD
CE
D0
D1 D2
D3
D4
D5
D6
D7
VALL
PULSOS
CHARGER
D7
D6
D5
D4
D3
D2
D1
D0
CE
CD
RST
VALL
SOSI
SCK
CS0
CS1
VALL
R7
1k
AT45DB
SI
SCK
RST
CS WP
VCC
GND
SO
U7
AT45DB
SI
SCK
RST
CS WP
VCC
GND
SO
U3
D2
LED1
C13
100nF
R1
10k 40%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
J1
C11
100nF
24LC515
A0
A1
A2
VSSSDA
SCL
WP
VCC
U4
PIC16F877A
1
MCLR
2
RA0
3
RA1
4
RA2
5
RA3
6
RA4
7
RA5
8
RE0
9
RE1
10
RE2
11
VDD
12
VSS
13
OSC1
14
OSC2
15
RC0
16
RC1
17
RC2
18
RC3
19
RD0
20
RD1
21
RD2
22
RD3
23
RC4
24
RC5
25
RC6
26
RC7
27
RD4
28
RD5
29
RD6
30
RD7
31
VSS
32
VDD
33
RB0
34
RB1
35
RB2
36
RB3
37
RB4
38
RB5
39
RB6
40
RB7
U2
XTAL1
32.768KHz
XTAL2
10.000MHZ
C1
33p
C2
33p
C3
33p
C4
33p
S1
S2
D1
1N4148
D3
EXERC
C9
100nF
C10
100nF
R20
10k
R19
10k
R2
10k
R3
10k
R4
1k
R12
4k7
Figura 11: Circuito eletrônico da unidade de processamento: microcontrolador, memórias e display gráfico.
O sensor de pressão Motorola MPX5010DP, usado para medir a pressão no interior do
balonete, é conectado ao pino correspondente à entrada analógica do microcontrolador. O sinal
digitalizado em 10 bits é escalonado (Autoscale) para visualização no display gráfico.
Uma interface serial padrão RS232 (figura 12) permite a comunicação com um computador
pessoal para programação do equipamento e download do conteúdo da memória de dados.
RXD
TXD
VALL
DTR
RX
TX
Q3
BC547A
Q4
BC547A
R8
5k6
R9
10k
R10
5k6
R11
10k
Figura 12: Circuito eletrônico da interface serial padrão RS-232.
A corrente elétrica para a estimulação é gerada através do transformador T1 que recebe
pulsos de corrente gerados pelo driver formado pelos transistores Q6 e Q7 (figura 13). O
46
amplificador operacional U5 e o transistor Q5 permitem que estes pulsos tenham uma envoltória
criada a partir da saída PWM do microcontrolador. O resistor R16 e o capacitor C12 atuam como
filtro passa baixas para conversão do sinal digital (saída PWM) em um sinal analógico.
Este circuito foi dimensionado para produzir correntes de até 100 mA de pico em uma
carga de 150 .
O circuito da fonte, mostrado na figura 14, desempenha importantes funções:
- os transistores Q1 e Q2 permitem desligar os periféricos do microcontrolador durante o
período de hibernação, garantindo o baixo consumo de bateria;
- o regulador de tensão (U6), na configuração fonte de corrente, gera a corrente de carga
das baterias de hidreto metálico de níquel (NiMH) durante a conexão ao carregador externo;
- o relé (RLY1) desliga a saída do estimulador elétrico durante o período de carga para
garantir a segurança da paciente.
SENSOR
VCCSENSOR
VALL
VBAT
PWM
PULSOS
DTR
RX
TX
R2
R5
R3
R1
R4
R6
+
C0
1000uF
1
2
3
4
5
6
7
8
J3
RLY3
RLY2
C12
100nF
3
2
84
1
+
U5A
LM6142A
R14
10k 40%
T1
Q7
BC368
Q6
BC547A
Q5
BC547A
R16
10k
R15
10k
R13
2k7
Figura 13: Circuito eletrônico do módulo estimulador.
VCCVBAT
VCCALL
VSENSOR
VCCSENSOR
VALL
CHARGER
R18
4k7
R17
22R
R5
4k7
R6
4k7
RLY1
D4
CHARGE
IN
COM
OUT
U6
LM317
J5
+
C8
10uF
+
C6
10uF
+
C5
10uF
+
C7
10uF
Q1
BC557
IN
COM
OUT
U1
LM2936
+
V2
3.6 V
+
V1
3.6 V
Q2
BC557
D5
1N4148
Figura 14: Circuito eletrônico da fonte de alimentação.
47
3.2.2 Interface com o usuário
Na definição da interface com o usuário foram consideradas as características de
usabilidade e simplicidade, visando à adequação a pacientes de diferentes níveis sócio-culturais.
O equipamento destina-se a uso domiciliar, logo as telas visualizadas no display gráfico
devem conter as informações necessárias à operação do equipamento.
As pacientes foram orientadas a seguir as instruções fornecidas pelo equipamento e
procurou-se definir telas com figuras intuitivas (ícones) e informações textuais; porém, tomando-
se o cuidado de não gerar telas com excesso de informação, que poderia dificultar o
entendimento.
As telas propostas foram avaliadas por um grupo formado por três especialistas em
design utilizando com critérios a clareza, legibilidade e rapidez no entendimento das informações
fornecidas à paciente, os quais consideraram a interface com o usuário adequada e capaz de
evitar possíveis erros de operação ou uso inadequado.
A figura 15 mostra a seqüência de telas do equipamento no modo biofeedback. As telas
iniciais fornecem informações à paciente quanto ao estado do equipamento, posição de
realização dos exercícios e orientam todos os procedimentos que devem ser executados. A
seguir, apresenta-se uma seqüência de telas, correspondente à sessão de exercícios (Figura 9),
após a qual os dados são salvos e o equipamento é desligado automaticamente.
Cada modelo de equipamento possui uma seqüência de telas própria, com orientações
sobre como proceder em cada momento da sessão de exercícios. Estas seqüências são mostradas
nas figuras 43 e 44 (Apêndice III).
O painel frontal possui apenas duas teclas através das quais é possível ligar/desligar o
equipamento e iniciar/interromper a sessão de exercícios.
Adicionalmente, o equipamento que permite estimulação elétrica possui um
potenciômetro para ajuste da intensidade de corrente aplicada aos eletrodos.
3.2.3 Firmware dos equipamentos
O firmware, software que executa todas as funções de gerenciamento do equipamento e a
interface com o usuário, foi desenvolvido em linguagem C usando-se o compilador CCS (CCS C
Compiler).
48
Solicitão de conexão
do cabo da probe
Orientão da posição
correta para os exercícios
Tela inicial
Informões de
data/horário
Estado de carga
das baterias
Verificação da leitura
de pressão na probe
Solicitação de
introdução da probe
Tempo de 90 s para
estabilização térmica
Determinão da
linha de base
Início da sessão
de exercícios
Sessão de exercícios
Salvamento da
sessão de exercícios
Procedimentos para
desligamento automático
Figura 15: Seqüência de telas apresentadas à paciente com equipamento operando no modo biofeedback.
As três possibilidades de operação do equipamento empregam o mesmo hardware e são
escolhidas no momento da compilação do software. No programa, são selecionadas diretivas de
compilação que permitem a definição da função a ser assumida pelo equipamento.
Ao ligar o equipamento, o usuário recebe as orientações de como proceder através de telas
gráficas.
A filosofia de projeto do equipamento foi baseada em interrupções que desencadeiam a
execução de determinadas rotinas de software.
Na maior parte do tempo, o equipamento encontra-se na função SLEEP, com todos os
periféricos (display gráfico, memória FLASH, sensor e circuito estimulador) desligados e em
uma condição de baixíssimo consumo de corrente elétrica, tipicamente menor que 10 µA.
Porém, a cada segundo é despertado por interrupção de timer, atualiza o relógio de tempo
real implementado por software e retorna à condição SLEEP (Figura 40).
49
Dois outros tipos de interrupção provocam a ativação do equipamento: interrupção serial e
interrupção externa acionada pela tecla liga/desliga.
Em caso de interrupção serial (Figura 42), o comando recebido determina a programação
ou o download do conteúdo da memória FLASH (Figura 39).
A interface serial do equipamento opera em modo assíncrono na taxa de 115200 bits/s.
Trata-se de uma comunicação bi-direcional, que permite a programação do equipamento e o
download dos dados armazenados na memória.
Durante a programação são gravadas na memória interna a identificação da paciente que
receberá o equipamento e a intensidade máxima de contração proposta, variável esta determinada
no exame perineométrico, e atualiza-se o relógio de tempo real.
O comando download promove a descarga do conteúdo da memória FLASH referente às
sessões de exercício realizadas pela paciente. São transmitidos blocos de 64 páginas da memória,
sendo cada página composta por 264 bytes, seguida de byte de conferência (check sum), ao final
do qual deve ser recebida uma confirmação de recebimento sem erros, para a transmissão do
próximo bloco. Com isso o tempo médio para download de toda a memória ficou em
aproximadamente 3 min.
A interrupção externa (Figura 41), por sua vez, permite ligar/desligar o equipamento e
desencadeia a execução de inúmeras sub-rotinas (Figura 16) que:
- inicializam periféricos como display gráfico e memória FLASH,
- verifica estado de carga da bateria,
- coloca no display gráfico as telas de informação ao usuário,
- solicita que o usuário realize operações: conectar cabo ao equipamento, introduzir probe,
aguardar estabilização térmica, iniciar sessão de exercícios, etc.
Na figura 16, apresenta-se o fluxograma do programa principal e no Apêndice II (Figuras
36 a 42), algumas sub-rotinas do firmware dos equipamentos.
Alguns recursos foram implementados visando a economia de energia e evitar que o
usuário esqueça de desligar o equipamento, como por exemplo:
- desligamento em 2 min, quando alguma ação requerida não fosse executada ou alguma
condição necessária não fosse atingida como, por exemplo, a estabilização da linha de base;
- desligamento automático ao final do ciclo de exercícios.
Adicionalmente, têm-se sub-rotinas de controle dos periféricos como o display gráfico,
memória EEPROM e memória FLASH, também escritas em linguagem C.
50
SLEEP
SLEEP
N
N
N
S
S
S
Reset flag
ON
SLEEP
Atualiza pag 0
memória
Exame OK?
Estabilização?
S
Exibe tela
bateria fraca
V< ?
bat
V
min
N
N
N
S
S
Reset flag
ON
Tempo<120 s?
Setup?
Exibe carga
da bateria
Exibe tela
inicial
Exibe tela
config
Lê tensão
bateria
Configura:pins, timers,
interrupts, A/D,periféricos
Programa
Principal
Flag ON?
N
N
S
S
Exibe tela
de carga
Tem p o c ar ga
completo?
Reset
Charger
Charger?
Figura 16: Fluxograma principal do firmware dos equipamentos.
O módulo de software driver da memória EEPROM gerencia as operações de leitura e
escrita do conteúdo das telas, através de uma interface padrão I2C.
O display gráfico é formado por uma matriz de 128x64 pixels, associada a um vetor de
51
1024 bytes, no qual cada bit corresponde a um pixel no display. O módulo de software driver do
display gráfico encarrega-se da inicialização e das operações de ligar/desligar (set/reset) dos
pixels.
A memória de dados, por sua vez, é constituída de 1.081.344 bytes, divididos em 4096
páginas de 264 bytes. O driver de controle dessa memória FLASH se encarrega das operações de
leitura e escrita, que pode ser byte a byte ou por blocos.
Durante a operação, ou seja, o programa de exercícios (Figura 38), os sinais do transdutor
de pressão correspondentes às contrações da musculatura pélvica são adquiridos na taxa de 50
Hz e resolução de 10 bits e armazenados na memória de dados.
Essa memória é organizada de modo que cada sessão de exercícios possui um cabeçalho
com identificação da data e horário no qual foi realizada.
3.2.4 Software de comunicação e visualização
O software de comunicação com o microcomputador foi desenvolvido em Visual Basic 6.0
e possui as seguintes funções:
- programação do equipamento: ajuste do relógio de tempo real e transmissão de
informações referentes à identificação da paciente e intensidade de contração dos exercícios
proposta;
- recepção das sessões de exercícios de cada paciente e organização dos registros em uma
estrutura de banco de dados;
- recursos de visualização como, por exemplo, zoom para análise com detalhes de
segmentos do arquivo de dados.
3.3 Parâmetros extraídos a partir dos sinais de pressão
A partir dos dados armazenados no equipamento, referentes aos exercícios realizados em
ambiente domiciliar, pôde ser determinada a adesão efetiva e a quantidade de exercícios
efetivamente realizados.
Para a determinação do número de contrações efetuadas, considerou-se como critério de
decisão uma contração efetivamente realizada aquela que atingir pelo menos 50% da intensidade
proposta dentro do período de 2 s (contração rápida) ou 4 s (contração lenta), conforme ilustra a
figura 17. A partir deste número, calculou-se o percentual de contrações realmente efetuadas.
52
P
C
t(s)
P(cmH O)
2
50%
20
40
60
80
12
3
4
56
Figura 17: Forma de onda de contração rápida: manobra proposta (linha tracejada) e efetivamente realizada (linha
cheia).
A perineometria foi realizada através da monitoração do sinal de pressão da musculatura
pélvica por meio de uma probe vaginal. A probe era inserida na vagina com a porção central do
balonete localizada a aproximadamente 3,5 cm do intróito (BØ et al., 1990). Aguardou-se o
tempo necessário para estabilização térmica do ar no interior do balonete e, então, realizou-se o
zeramento.
As pacientes permaneceram deitadas na posição supina com os joelhos flexionados e foram
orientadas a realizar uma contração máxima da musculatura pélvica e sustentá-la, mantendo a
respiração normal. Foram realizadas três manobras com o adequado tempo de repouso entre elas,
sendo necessária a observação do movimento para dentro da probe para validação da contração.
Durante as manobras, não foi dado retorno (feedback) às pacientes e o examinador que realizou
as perineometrias não foi informado quanto ao grupo em que estava alocado a paciente.
Considerou-se o valor médio das três manobras.
Na avaliação perineométrica, a cada duas semanas, foram avaliados três parâmetros,
obtidos a partir de uma contração sustentada máxima (figura 18):
(1.) P
C
: intensidade perineométrica definida como o pico de pressão obtido durante a contração;
(2) T
r
: tempo para atingir a intensidade máxima definido como tempo transcorrido para o sinal
de pressão ir de 10% a 90% da intensidade máxima;
(3) P
B
: pressão de repouso (basal).
3.4 Delineamento do ensaio clínico
O protocolo clínico apresentado sob número 05-271 foi aprovado pela Comissão de
Pesquisa e Ética em Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que é reconhecida pela
53
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)/MS como Comitê de Ética em Pesquisa do
HCPA e pelo Office For Human Research Protections (OHRP)/USDHHS, como Institucional
Review Board (IB0000921).
t(s)
P(cmH O)
2
P
C
T
r
10%
90%
12 4
356789
20
40
60
80
P
B
Figura 18: Forma de onda de uma contração sustentada da MAP para avaliação perineométrica.
O grupo de estudo foi composto de mulheres com incontinência urinária selecionadas
segundo critérios de inclusão e exclusão previamente definidos e divididas de forma randômica
em 3 grupos:
Grupo BIO: mulheres tratadas com a técnica I,
Grupo ELETRO: mulheres tratadas com a técnica II,
Grupo EMAP: mulheres tratadas com técnica III.
Para detectar uma diferença, nas variáveis em estudo, de um desvio padrão, entre o início e
o final do protocolo de tratamento de 13 semanas, são necessárias 11 pacientes por grupo. Esta
amostra considera um nível de significância de 5%, poder de 90% e correlação entre as medidas
nos diferentes momentos de 0,5.
Neste trabalho, todas as pacientes realizaram exercícios da musculatura pélvica variando
apenas a associação de biofeedback, estimulação elétrica ou seqüenciamento entre os grupos.
Estes exercícios consistem em uma série de contrações rápidas, seguida de contrações
sustentadas da musculatura pélvica, definida pela primeira vez por Kegel (1948). Têm como
objetivos o fortalecimento desta musculatura, aumentando a sustentação pélvica e o
desenvolvimento de uma co-contração coordenada em resposta ao aumento da pressão intra-
abdominal.
54
3.4.1 Critérios de inclusão
Foram incluídas no estudo voluntárias que atendam aos seguintes critérios:
- incontinência urinária de esforço e mista,
- idade superior a 18 anos,
- saber ler e escrever,
- urocultura negativa e Exame Qualitativo de Urina sem alterações,
- compreender e assinar o termo de consentimento informado.
3.4.2 Critérios de exclusão
Foram excluídas do estudo voluntárias que atendam a um ou mais dos seguintes critérios:
- uso de marcapasso cardíaco,
- estadiamento de prolapso genital >2,
- gestação ou puerpério compreendendo o período de até 6 meses após o parto,
- pressão uretral inferior a 60 cmH
2
O, avaliada no estudo urodinâmico,
- cirurgia genitourinária nos últimos 6 meses,
- estimulação elétrica prévia do assoalho pélvico,
- mulheres que utilizam cronicamente medicamentos (antidepressivos, diuréticos, e
outros) que sabidamente podem alterar a função miccional serão excluídas se houver alteração da
dose ou início de novo medicamento nos últimos meses ou durante o tratamento proposto,
- incontinência urinária de urgência,
- incontinência urinária por hiperreflexia detrusora (lesão neurológica),
- incontinência urinária paradoxal (presença de fator obstrutivo),
- incontinência urinária por transbordamento, caracterizada por presença de resíduo
urinário significativo,
- pacientes com incontinência de urgência que tenham feito tratamento medicamentoso
nos últimos 3 meses.
3.4.3 Logística
Na primeira consulta as pacientes passaram por anamnese, avaliação física e urodinâmica,
receberam uma descrição da musculatura pélvica, posição anatômica, função dos exercícios no
55
fortalecimento desta musculatura e sua relação com a continência urinária. Essa explicação foi
repetida a cada duas semanas, caso necessário.
As pacientes foram informadas quanto aos objetivos do estudo, bem como da importância
da sua participação. A decisão de participar é livre e em caso de aceitação assinaram o termo de
consentimento informado, aprovado pela Comissão de Pesquisa e Ética em Saúde do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre. O documento de aprovação é mostrado no Anexo I.
A seguir, o pesquisador aplicou o Questionário de Qualidade de Vida validado para o
português (Versão em Português do “Kings´s Health Questionnaire” - Anexo II) para avaliação
da sua percepção subjetiva da incontinência e implicações em sua vida diária (KELLEHER e
KHULLAR, 1997; TAMANINI et al, 2003; FONSECA ASM et al, 2005).
Então, foram treinadas na realização dos EMAP sob a orientação de uma fisioterapeuta,
bem como no correto posicionamento da probe, posição em que deveriam realizar os exercícios e
na operação do equipamento. Receberam todas as informações também na forma escrita, em
linguagem acessível.
Adotou-se a posição deitada e com as pernas semi-flexionadas para realização dos
exercícios, visando facilitar a utilização domiciliar e padronizar a execução dos exercícios.
As pacientes selecionadas para o estudo foram escolhidas por sorteio para definição do
grupo em que seriam alocadas e submetidas à perineometria. A partir desse exame programou-se
os parâmetros do equipamento para uso domiciliar.
As pacientes foram orientadas no preenchimento do diário miccional, que funciona como
modo de avaliação subjetivo da evolução clínica, e remarcadas para retorno na próxima semana.
Todos os grupos têm o mesmo programa de exercícios, variando apenas a intensidade. O
programa de exercícios proposto consiste de uma série de 10 contrações rápidas (2 s de
contração / 4 s de repouso), seguida de uma série de 10 contrações lentas (4 s de contração e 4 s
de repouso) a ser realizada na posição deitada. Esta série é repetida três vezes com intervalo de
repouso de 72 s entre elas. Tal ciclo de exercícios proposto visa o recrutamento de fibras tipo I e
II.
Orientou-se às pacientes a realizar uma sessão de exercícios por dia, todos os dias.
Após a primeira semana, as consultas, realizadas por uma médica ginecologista, tiveram
periodicidade de 2 semanas, momento em que avaliou-se o ciclo de exercícios efetuado, o tempo
efetivo de utilização e realizou-se avaliação perineométrica. Nesta consulta também foram
sanadas eventuais dúvidas.
Ao final do protocolo (13 semanas) as pacientes foram submetidas novamente à avaliação
urodinâmica, perineometria, preenchem o diário miccional e o questionário de qualidade de vida.
56
Os resultados objetivos e subjetivos foram, então, analisados quantificando-se as alterações
entre o início e o final do tratamento.
Na figura 19 é ilustrado esquematicamente o protocolo proposto com as avaliações
realizadas em cada consulta.
1 consulta
a
2 consulta
a
3 consulta
a
8 consulta
a
1 semana
2 semanas
10 semanas
Avaliação urodinâmica
Perineometria
Diário miccional
QQV
Download
Exame físico
Avaliação urodinâmica
Perineometria
Diário miccional
QQV eTCLI
Sorteio
(Randomização)
Treinamento
uso do equipamento
Perineometria
Download
Perineometria
Download
Figura 19: Ilustração do protocolo de treinamento de 13 semanas proposto às pacientes.
3.4.4 Parâmetros de avaliação quantitativos
No início e ao final do tratamento, foi realizada avaliação cistométrica e as voluntárias
preencheram o diário miccional.
Na avaliação cistométrica foram avaliados os seguintes parâmetros:
- capacidade vesical máxima (CVM),
- volume de primeiro desejo miccional (PDM),
- resíduo urinário (RU).
57
No diário miccional de 24 h avaliou-se:
- número de micções diárias (NMD),
- número de micções noturnas (NMN),
- número de episódios de incontinência urinária por esforço (NPE),
- número de episódios de urgência miccional (NPU).
Nas avaliações com intervalo de duas semanas durante a consulta ambulatorial, realizou-se
perineometria e o download dos registros armazenados nos equipamentos.
A perineometria consiste na monitorização da pressão usando-se balonete intra-vaginal,
durante uma contração sustentada e a partir da qual pode-se extrair a intensidade perineométrica
(P
C
), tempo para atingir a intensidade máxima (T
r
) e a pressão basal (P
B
), conforme mostrado na
figura 18.
A partir dos registros armazenados no equipamento utilizado pela voluntária
domiciliarmente, extraiu-se:
- adesão ao tratamento, definida como a razão entre o número de sessões de exercício
registradas no equipamento pelo período (em dias) de tratamento. Assim, se a paciente realizar
uma sessão por dia, conforme recomendado, terá adesão de 100 %;
- percentual de contrações efetivamente realizadas: para isso utilizou-se o critério definido
no item parâmetros extraídos a partir dos sinais de pressão. O percentual de contrações
efetivamente realizadas é a razão deste número por 60, correspondente à quantidade diária
recomendada de contrações. Este percentual corresponde a uma taxa de performance na
realização dos exercícios.
3.5 Análise estatística
Os dados quantitativos foram descritos empregando-se a média e desvio-padrão. Utilizou-
se para comparação entre o início e o final do tratamento (13 semanas) o teste t de Student para
amostras pareadas e para comparação entre as características dos grupos o teste de análise de
variâncias (ANOVA) e o teste χ
2
.
Os dados foram avaliados pelo teste de Shapiro-Wilk visando à verificação de sua
distribuição normal. Analisou-se as variáveis do diário miccional utilizando o teste não
paramétrico de Wilcoxon.
58
O software de análise estatística empregado foi o Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS) versão 13.0 (SPSS Inc., Chicago, USA). O nível de significância foi
estabelecido em 5%.
Capítulo 4
Resultados
Neste capítulo, apresenta-se os resultados dos ensaios para determinação das
características do transdutor empregado nas medidas de pressão e a avaliação da instrumentação
desenvolvida para uso domiciliar. Além disso, apresentam-se os resultados das variáveis
objetivas e subjetivas ao início e final do protocolo de 13 semanas e da adesão e performance na
realização dos exercícios, bem como a análise estatística das mesmas.
4.1 Ensaios com o transdutor
4.1.1 Curva de calibração do sensor
O sensor de pressão MPX2010DP, calibrado e compensado em temperatura, usado nestas
medidas, foi condicionado para que a pressão de 120 cmH
2
O forneça uma saída em tensão de 1,6
V, conforme ilustra o gráfico da figura 20.
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
0
20
40
60
80
100
120
140
V (mV)
P (cmH2O)
Curva de calibração do sensor de pressão
P = 0.0765 * V -2.1523
Figura 20: Curva de calibração do sensor de pressão, entre 0 e 120 cmH
2
O (r
2
=0,999).
Adotou-se cmH
2
O como unidade de pressão para o eixo das ordenadas por se tratar da
unidade comumente empregada nos trabalhos envolvendo medidas de pressão resultante de
contrações da musculatura pélvica.
60
Este procedimento de levantamento da curva do sensor poderia ser considerado
desnecessário, uma vez que os dados fornecidos pelo fabricante relatam excelente linearidade de
resposta (±1 % da tensão de fundo de escala).
4.1.2 Comportamento do transdutor com a variação de temperatura
No momento da conexão do sensor de pressão ao balonete, o ar em seu interior encontra-se
na temperatura ambiente e à pressão atmosférica.
Esta conexão produz um incremento de pressão de aproximadamente 10 cmH
2
O (dado
experimental) no balonete, valor este medido pelo sensor de pressão diferencial MPX2010DP do
fabricante Motorola e pelo módulo SMRT-EB com sensor de 5 PSI do fabricante Sensym.
Porém, ao ser introduzido no corpo humano, ou seja, na cavidade vaginal, sofrerá uma
variação de temperatura atingindo a temperatura corporal de aproximadamente 36,7 °C. Esta
temperatura poderá ter variações inter-pessoais e ao longo do ciclo menstrual (MCCREESH,
EVANS e SCANLON, 1996). Torna-se, então, necessário definir uma rotina de calibração que
minimize o erro decorrente dessa variação de temperatura.
Essa variação de temperatura promove uma variação na pressão do ar no interior do
balonete. Trata-se de uma transformação isovolumétrica (isocórica), pois o volume do balonete e
a quantidade de ar em seu interior não se alteram. Para comprovação disso, montou-se o setup
experimental mostrado na figura 21 para variar a temperatura no interior do balonete de modo
uniforme e controlado.
A estrutura consistia de um banho-maria com aquecimento da água à resistência elétrica.
Simultaneamente, realizava-se a monitorização da temperatura da água, pressão no interior do
balonete e saída em tensão do sensor de pressão.
A medição da saída em tensão do sensor de pressão foi realizada com multímetro modelo
Fluke 77, da temperatura da água com termômetro a termopar com resolução de 0,1°C e precisão
de 0,5 % e da pressão com o módulo calibrador de pressão SMRT-EB (Sensym).
O módulo calibrador de pressão SMRT-EB consiste de uma placa de avaliação do sensor
modelo SMRT com os seguintes recursos:
- display de cristal líquido com 16 caracteres,
- transmissão serial de valores de pressão adquiridos,
- taxa de amostragem de aproximadamente 5 Hz,
- conversão de valores amostrados em várias escalas: PSI, inH
2
O, inHg, kPa, mBar,
cmH
2
O, mmHg.
61
O sensor da série SMRT é um transdutor de pressão de alta precisão e baixo custo,
compensado digitalmente (SENSYM, 1997). Com essa técnica de compensação, são reduzidos
erros devido à não-linearidade de pressão e drift térmico.
Cada sensor é individualmente caracterizado em sua faixa de pressão e temperatura de
trabalho e os dados resultantes são armazenados na memória. Assim, os dados armazenados
representam a curva de transferência ideal deste sensor de pressão. Durante a operação normal, o
microprocessador mede a temperatura e a saída do sensor de pressão para cada leitura e executa
a compensação com os dados armazenados em memória. O resultado disso é um transdutor de
pressão com erro máximo de 0,5 % F.S. (fundo de escala) na faixa de temperatura de –20 °C a
+85°C.
Aquecedor a Resistência
Sensor
Temperatura
Seringa
Água
Sensor de pressão
38
3,5 cm
Calibrador de Pressão
Figura 21: Setup experimental proposto para caracterização da probe vaginal frente a variações de temperatura.
Os resultados podem ser vistos na figura 22. Uma variação de temperatura de 28 a 37 °C
produz um incremento de aproximadamente 16 cmH
2
O na pressão no interior do balonete. Esta
variação de pressão tem a mesma ordem de grandeza das variações de pressão que se pretende
medir, justificando os cuidados no seu controle.
O ar não é um gás ideal, mas em determinadas condições apresenta um comportamento que
segue a lei dos gases. Isto é demonstrado pelo comportamento aproximadamente linear da
pressão com o aumento da temperatura. O valor da variação de pressão no interior do balonete
pode ser calculado, conhecendo-se a temperatura inicial e final.
62
26 28 30 32 34 36 38 40
0
5
10
15
20
25
30
T (°C)
P (cmH2O)
P = 1,829 * T - 44,035
Figura 22: Pressão no interior do balonete medida por meio do módulo SMRT-EB com um sensor de 5 PSI do
fabricante Sensym (r
2
=0,998).
Hahn et al. (1996) conectaram o balonete ao sensor de pressão através de um tubo de 2 m
de comprimento. A simulação deste experimento mostra que as variações de pressão com a
temperatura também ocorrem, porém, um pouco atenuadas, possivelmente devido à maior
quantidade de ar do sistema e parte do volume de ar estar à temperatura ambiente, conforme
ilustra a figura 23.
24 26 28 30 32 34 36 38 40
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
T (°C)
P (cmH2O)
Probe conectada ao sensor por tubo de 2 m
Figura 23: Simulação do sistema de medição usado por Hahn et al. (1996) com o balonete conectado ao sensor de
pressão por meio de um tubo de 2m de comprimento.
O mesmo arranjo da figura 21 foi usado para levantamento da curva tensão de saída do
sensor versus temperatura. Cabe ressaltar que a conexão da probe ao sensor foi realizada à
temperatura ambiente, 25°C naquele dia, sem pressurização adicional.
63
Uma vez estabilizada a temperatura, aplicava-se pressão ao sistema através da seringa
acoplada. O volume de água do sistema garantia a inércia térmica para manter a temperatura
estável durante as medidas.
As curvas ilustradas na figura 24 apresentaram um comportamento similar, partindo de
tensões diferentes, devido à variação de pressão com a temperatura, e descrevendo retas paralelas
com coeficiente angular de 0,116. A partir de determinados valores de pressão, sofrem uma
mudança de comportamento, alteram o coeficiente angular para 0,074, que corresponde ao
coeficiente da reta de calibração do sensor isoladamente.
Este ponto de mudança de inclinação é maior quando a temperatura aumenta, sugerindo
uma relação entre esses dois fatores.
O aumento de temperatura produz uma pressurização na probe, com relação linear,
conforme mostra-se na figura 22. Logo, deve ser possível simular este comportamento à
temperatura ambiente, simplesmente pressurizando o interior da probe.
Os resultados são mostrados na figura 25 e confirmam a hipótese levantada. Logo, a probe
pressurizada tem um comportamento linear até uma determinada pressão e após isto a reta
assume outra inclinação. Isto ocorre possivelmente devido à deformação do balonete de silicone
da probe.
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
0
20
40
60
80
100
120
V (mV)
P (cmH2O)
α = 0,1157
α = 0,0739
36°C
39°C
Figura 24: Curvas de calibração obtidas a diferentes temperaturas (α corresponde ao coeficiente angular).
A tabela 1 da seção 2.4.4 mostra valores de medidas de pressão intra-vaginal obtidos em
trabalhos de diversos pesquisadores empregando probes vaginais de diferentes formatos e
tamanhos. A partir desses dados, acredita-se que uma faixa de medição de pressão de 0 a 100
cmH
2
O seja adequada para o estudo envolvendo pacientes incontinentes.
64
Para que o transdutor de pressão tenha um comportamento linear na faixa de 0 a 100
cmH
2
O, percebe-se, a partir da figura 25, que a pressurização da probe deve ser superior a 20
cmH
2
O durante as medidas. Desta forma, a mudança de declividade da reta ocorrerá fora da
faixa de trabalho.
Esta pressurização pode ser obtida injetando-se ar no interior da probe, ou será atingida
simplesmente pela dilatação do ar devido à variação de temperatura entre o ambiente e o interior
do corpo humano.
Considerando-se que a conexão da probe ao balonete produz um incremento de pressão de
aproximadamente 10 cmH
2
O (medida experimental), será necessária uma variação de pressão
por temperatura de pelo menos 10 cmH
2
O. Isto só é possível com uma diferença de temperatura
de 5,5 °C entre a temperatura da probe e o corpo humano, dado este obtido a partir da curva da
figura 22. Caso isto não ocorra, nas pressões próximas ao fundo de escala ocorrerá um erro na
medida.
200 400 600 800 1000 1200 1400
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
V (mV)
P (cmH2O)
α = 0,0787
α = 0,1125
15 cmH2O
24 cmH2O
20 cmH2O
Figura 25: Curvas de calibração obtidas com a probe em diferentes pressurizações iniciais (α corresponde ao
coeficiente angular).
A medição da temperatura do ar no interior do balonete permitiria escolher a melhor curva
de calibração para cada caso. Porém, não é uma tarefa simples e acrescenta complexidade
construtiva à probe tornando-a mais delicada e susceptível a danos mecânicos.
Em razão disso, adotou-se uma outra abordagem subtraindo-se das curvas o valor de offset
correspondente à pressão zero (pressão atmosférica). Assim, as curvas passam a ter o mesmo
comportamento em toda a faixa de trabalho, conforme pode ser visto na figura 26.
Este procedimento deve ser realizado com a probe introduzida na cavidade vaginal da
paciente e após estabilização térmica. O valor descontado incluirá, então, o offset inicial do
65
sensor, a variação de pressão por temperatura e a pressão de repouso (basal). A partir deste
ponto, medir-se-ão apenas variações de pressão.
A paciente é orientada a permanecer na posição deitada, com as pernas semi-flexionadas e
respirando normalmente, pois tosse, espirros, alteração do padrão respiratório ou eventuais
movimentos que possam alterar a pressão intra-abdominal podem afetar o procedimento de
definição da linha de base. Uma vez detectada uma linha de base estável por 5 s (tempo
escolhido pelo pesquisador), o software se encarrega de calcular a pressão média deste intervalo
e esse valor passa a ser subtraído de todas as leituras de pressão.
0 200 400 600 800 1000 1200
0
20
40
60
80
100
120
V (mV)
P (cmH2O)
36°C
39°C
Figura 26: Curvas de calibração após correção de pressão de offset (subtração da pressão média após estabilização
térmica).
O sensor de pressão usado no design final do transdutor é o MPX5010DP, sensor do
fabricante Motorola compensado em temperatura e calibrado na faixa de 0 a 10 kPa.
O sinal de tensão do sensor é aplicado à entrada do conversor A/D de 10 bits do
microcontrolador. A curva de resposta da saída do conversor A/D é mostrada na figura 27, sendo
representada pela reta com equação P=0,165*AD+0,393, onde P está em cmH
2
O.
Uma vez definido o comportamento da probe e sua curva de calibração, realizou-se um
ensaio com uma paciente voluntária. A probe foi introduzida na vagina da paciente, aguardou-se
a estabilização térmica, retirou-se a probe para avaliar a variação de pressão pelo efeito térmico e
novamente introduziu-se a mesma. O resultado é mostrado na figura 28.
A variação de pressão devido ao aumento de temperatura atingiu 13 cmH
2
O, a pressão
basal foi de aproximadamente 24 cmH
2
O e os picos de contração 35 cmH
2
O. Percebe-se neste
ensaio a importância de considerar os efeitos da variação térmica, que são da mesma ordem de
grandeza das variáveis monitoradas, bem como do erro nos casos de ser subestimada.
66
0 100 200 300 400 500 600 700
0
20
40
60
80
100
120
Sda conversor A/D (unidades)
P (cmH2O)
P= 0,165 * AD + 0,393
Figura 27: Curva de saída do conversor A/D, com balonete a 37° C (em azul) e reta de ajuste
com r
2
=0,999 (em vermelho).
0 50 100 150 200 250
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
P (cmH2O)
Introdução da probe
Retirada da probe
Incremento de pressão por
variãormica
Preso Basal
Picos de contração
Tempo (s)
Figura 28: Ensaio com paciente voluntária empregando a probe vaginal, onde são mostrados o incremento de
pressão por efeito térmico, a pressão basal e os picos de pressão provocados pela contração da musculatura pélvica.
4.1.3 Resposta dinâmica do transdutor
Os tempos esperados para ativação da musculatura pélvica e para que a força de
contração atinja seu valor máximo são da ordem de décimos de segundo. Por isso, a resposta
dinâmica do transdutor deve ser muito inferior a este tempo.
O sensor de pressão Motorola tem rise time especificado de 1 ms. Porém, o transdutor,
composto pelo conjunto balonete e sensor de pressão, foi testado para avaliar o tempo de
67
resposta a um degrau de compressão. Para isso, provocou-se a queda de uma massa de 200 g
sobre o balonete, simulando uma variação brusca de pressão sobre o balonete.
O resultado é mostrado na figura 29 e o tempo de resposta medido foi de 10 ms.
Figura 29: Resposta do transdutor vaginal a um degrau de pressão.
Tempo no eixo X igual a 10 ms/div e tensão no eixo Y de 1 V/div.
4.2 Protótipo do equipamento
A figura 30 mostra a engenharia de produto final do equipamento apresentado no item
descrição dos equipamentos.
O equipamento tem como dimensões externas 123x84x38 mm e peso de 320 g, incluindo
as baterias de NiMH.
Este hardware apresenta consumo de aproximadamente 20 mA para o equipamento de
biofeedback e EMAP seqüenciados e 30 mA para o equipamento com estimulação elétrica. No
modo SLEEP do microcontrolador, o consumo médio medido ficou em 50 µA. Com isso, as
baterias de 600 mA/h (NiMH) garantem uma autonomia superior a 2 semanas de uso normal.
Outras características técnicas:
- faixa de medição de pressão: 0 a 120 cmH
2
O,
- intensidade de corrente do módulo estimulador: 0 a 100 mA em carga de 150 ,
- interface serial padrão RS-232 com velocidade de 115200 bits/s,
- capacidade de memória: 1 Mbyte.
68
Figura 30: Foto do protótipo do equipamento desenvolvido.
4.3 Testes com a instrumentação
4.3.1 Módulo Biofeedback
Após testes de laboratório submeteu-se o protótipo a ensaios de campo com voluntárias
(médicas e fisioterapeutas), que utilizaram o equipamento em suas residências. A figura 31
mostra a representação gráfica de cinco dias consecutivos de uso do equipamento, que
corresponde a um arquivo de 335 kbytes.
Figura 31: Plotagem do arquivo referente a 5 dias consecutivos de utilização domiciliar do equipamento configurado
para a opção biofeedback.
69
A figura 32 representa uma sessão de exercícios composta de três séries de 10 contrações
rápidas e 10 contrações lentas intercaladas com um período de repouso de 72 s.
Figura 32: Sessão de exercícios composta por 3 séries de 10 contrações rápidas (2 s/4 s) e 10 contrações lentas (4 s/
4 s) com intervalo de 72 s de repouso.
A figura 33 mostra um zoom de um segmento de apenas uma série de contrações rápidas
e lentas.
Figura 33: Série de exercícios composta por 10 contrações rápidas seguidas de 10 contrações lentas.
Na figura 34 mostra-se uma sessão de exercícios típica realizada em ambiente domiciliar,
plotada a partir do registro armazenado na memória do equipamento.
70
Figura 34: Sessão de exercícios - em azul, exercícios propostos e em vermelho, exercícios efetivamente realizados.
4.3.2 Módulo Estimulador
Em experimentos prévios, não publicados, foi medida a impedância do tecido intravaginal
usando-se eletrodos internos e esta ficou na faixa de 120 a 250 . O circuito do estimulador
foi, então, testado com carga de 150 e a forma de onda na saída é mostrada na figura 35.
Figura 35: Forma de onda do sinal de estimulação elétrica com carga de 150 adquirida com osciloscópio
Tektronix THS710, à esquerda (eixo X - 20 ms/div, eixo Y - 5V/div), trem de pulsos e à direita (eixo X - 100 µs/div,
eixo Y - 5V/div), pulso de estimulação.
71
McCreery et al. (1990) realizaram estudos em animais, empregando estimulação elétrica
transcranial direta na freqüência de 50 Hz, e demonstraram que densidades de corrente abaixo de
250 A/m
2
(250 µA/mm
2
) não produzem dano ao tecido cerebral mesmo aplicadas por um
período superior a 7 h.
O eletrodo intravaginal da probe mostrada na figura 8 tem formato anelar com 26 mm de
diâmetro e 7 mm de altura, ou seja, oferece uma área de contato de 571 mm
2
. Usando-se a
referência anterior poder-se-ia aplicar aproximadamente 143 mA, valor este superior ao limite
estabelecido de 100 mA, sem produzir dano em tecido cerebral.
Eriksen, Bergmann e Eik-Nes (1989) aplicaram estimulação elétrica em um grupo de
mulheres com instabilidade idiopática do músculo detrusor e incontinência urinária de urgência
utilizando eletrodos intravaginais ou anais. A intensidade média de corrente dos pulsos
monofásicos com freqüência de 5-10 Hz e duração de 1 ms foi de 86 mA. Envolveram no estudo
48 mulheres e não relataram efeitos adversos.
Os parâmetros utilizados no estudo citado definem um pulso de estimulação com carga
média de 86 µC, bastante superior ao valor máximo de carga do estimulador proposto, que é de
30 µC (100 mA e 300 µs).
4.4 Resultados do ensaio clínico
No presente estudo, foram alocadas 35 pacientes, divididas nos três grupos de intervenção.
Durante o protocolo de estudo, ocorreram 3 perdas, 2 pacientes devido às dificuldades em
retornar ao hospital a cada duas semanas e 1 paciente que transferiu sua residência para outro
estado. Estas pacientes foram excluídas da análise estatística. A distribuição de pacientes em
cada grupo ficou em 10 no grupo I (BIO), 11 no grupo II (ELETRO) e 11 no grupo III (EMAP).
Conforme pode ser observado na tabela 2, os grupos apresentaram características
homogêneas.
Dentre o grupo de pacientes, 43,8% (14) estavam no menacme e 56,2% (18) na
menopausa, sendo que destas apenas três realizavam terapia de reposição hormonal (TRH).
O cálculo de adesão foi realizado pela razão entre o número de sessões registradas na
memória do equipamento pelo número de dias do tratamento. A adesão ao tratamento não
mostrou diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, bem como o número de dias
em que as pacientes participaram do tratamento, conforme indica a tabela 3.
72
Tabela 2: Características das pacientes (n=32)
Variável BIO ELETRO EMAP p
Idade (anos) 54,70 (6,94) 49,18 (6,06) 52,09 (13,78) 0,434*
IMC (kg/m
2
) 29,80 (6,36) 30,63 (10,11) 30,73 (12,17) 0,973*
N
o
partos vaginais 2,40(1,26) 1,54(1,37) 2,27(1,35) 0,291*
Histerectomia 2(20%) 2(18,2%) 1(9,1%) 0,757**
Cirurgia IU 3(30%) 1(9,1%) 4(36,4%) 0,305**
Uso de diurético 4(40%) 1(9,1%) 2(18,2%) 0,216**
IUE
IUM
5(50%)
5(50%)
5(45,5%)
6(54,5%)
4(36,4%)
7(63,6%)
0,812**
Resultados apresentados em média (dp) ou n(%)
BIO: Grupo I, ELETRO: Grupo II, EMAP: Grupo III
IMC: Índice de Massa Corporal
IU: incontinência urinária
IUE: Incontinência urinária de esforço, IUM: Incontinência urinária mista.
* ANOVA
** Teste χ
2
Tabela 3: Adesão, performance e duração do tratamento (n=32)
Variável BIO ELETRO EMAP p **
Adesão (%) 75,31(9,44) 75,37(16,22) 84,09(11,31) 0,201
Performance (%) 81,79(27,56)* 70,77(17,25) 51,26(29,27)* 0,029
N
o
dias tratamento 90,50(5,10) 89,73(5,66) 89,81(7,32) 0,952
Resultados apresentados em média (dp)
BIO: Grupo I, ELETRO: Grupo II, EMAP: Grupo III
* Diferença estatisticamente significativa
** ANOVA
A performance foi calculada pela razão entre o número de contrações efetivamente
realizadas, determinadas utilizando-se o critério definido no item 3.2, pelo número de sessões
realizadas multiplicado por 60 (número de contrações propostas por sessão). Observou-se
diferença estatisticamente significativa entre os grupos e, especificamente, entre o grupo BIO e o
EMAP com p=0,025, a partir do teste estatístico de Tukey. No grupo BIO, 80% das pacientes (8)
apresentaram performance superior a 80% durante o uso domiciliar, percentual este de 27,3% (3)
nos grupos EMAP e ELETRO.
4.4.1 Perineometria
A tabela 4 mostra os resultados da avaliação perineométrica ao início e final do
tratamento e em todos os grupos foi observado um aumento significativo (p<0,05) na força de
contração máxima da musculatura pélvica, demonstrando uma hipertrofia desta musculatura.
As variáveis, pressão basal e tempo de ativação muscular não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas.
73
Tabela 4: Resultados da avaliação perineométrica (n=32)
Variável Grupo Início 3 meses p **
P
C
BIO 35,05 (26,30) 56,05 (25,36) 0,024*
(cmH
2
O) ELETRO 31,08 (14,13) 50,24 (22,16) 0,004*
EMAP 36,12 (22,94) 47,54 (23,97) 0,024*
P
b
BIO 39,75 (16,14) 42,89 (20,98) 0,257
(cmH
2
O) ELETRO 44,73 (24,14) 52,10 (16,61) 0,279
EMAP 38,37 (22,20) 36,69 (12,11) 0,678
T
r
(s) BIO 0,80 (0,41) 0,79 (0,48) 0,932
ELETRO 1,17 (0,71) 0,73 (0,29) 0,081
EMAP 1,05 (0,86) 0,62 (0,24) 0,123
Resultados apresentados em média (dp)
BIO: Grupo I, ELETRO: Grupo II, EMAP: Grupo III
P
C
: Intensidade perineométrica; T
r
: tempo para atingir a intensidade máxima e P
b
: Pressão basal
* Diferença estatisticamente significativa
**Teste t para amostras pareadas
4.4.2 Questionário de Qualidade de Vida
Os escores globais do King´s Health Questionnaire são mostrados na tabela 5. Em todos
os grupos, observou-se uma redução significativa na percepção subjetiva do impacto da
incontinência em suas vidas.
Tabela 5: Escores do QQV (n=32)
Grupo Início 3 meses p **
BIO 62,90 (16,62) 43,20 (8,34) 0,004*
ELETRO 56,00 (17,30) 32,36 (16,68) 0,002*
EMAP 60,45 (19,01) 48,27 (21,12) 0,027*
Resultados apresentados em média (dp)
BIO: Grupo I, ELETRO: Grupo II, EMAP: Grupo III
* Diferença estatisticamente significativa
**Teste t para amostras pareadas
4.4.3 Diário miccional e variáveis urodinâmicas
A tabela 6 mostra o número de micções diárias (NMD), o número de micções noturnas
(NMN), o número de perdas por esforço (NPE) e o número de perdas por urgência (NPU)
extraídas a partir do diário miccional preenchido pelas pacientes.
O número de perdas por esforço apresentou uma redução estatisticamente significativa
(p<0,02) em todos os grupos e observou-se uma forte tendência de redução no número de
micções diárias e número de perdas por urgência.
74
Como os dados do diário miccional apresentavam desvios padrões superiores a 50% da
média, optou-se por uma análise não paramétrica, empregando o teste de Wilcoxon.
Tabela 6: Resultados do diário miccional (n=32)
Variável Grupo Início 3 meses p **
NMD
BIO 9,50 (7,75-10,50) 7,00 (4,00-8,25) 0,027*
ELETRO 6,00 (5,00-7,00) 5,00 (5,00-6,00) 0,058
EMAP 9,00 (8,00-9,00) 7,00 (5,00-10,00) 0,052
NMN
BIO 1,50 (1,00-3,00) 1,00 (1,00-2,00) 0,098
ELETRO 1,00 (1,00-2,00) 0,00 (0,00-1,00) 0,010*
EMAP 3,00 (1,00-4,00) 2,00 (1,00-2,00) 0,196
NPE
BIO 4,00 (1,75-6,50) 1,00 (0,00-2,00) 0,021*
ELETRO 3,00 (2,00-3,00) 0,00 (0,00-1,00) 0,008*
EMAP 3,00 (2,00-5,00) 2,00 (0,00-3,00) 0,007*
NPU
BIO 2,00 (0,00-3,00) 0,00 (0,00-1,25) 0,025*
ELETRO 0,00 (0,00-2,00) 0,00 (0,00-0,00) 0,038*
EMAP 1,00 (0,00-4,00) 1,00 (0,00-2,00) 0,111
Resultados apresentados em mediana(quartil 25% - quartil 75%)
BIO: Grupo I, ELETRO: Grupo II, EMAP: Grupo III
NMD: número de micções diárias, NMN: número de micções noturnas, NPE: número de perdas por esforços, NPU:
número de perdas por urgência
* Diferença estatisticamente significativa
**Teste de Wilcoxon
Os resultados da avaliação urodinâmica podem ser vistos na tabela 7. As variáveis
capacidade cistométrica máxima, primeiro desejo miccional e resíduo urinário não mostraram
diferenças estatisticamente significativas entre o início e o final do tratamento.
Tabela 7: Resultados da avaliação urodinâmica (n=32)
Variável Grupo Início 3 meses p *
CVM BIO 341,11 (153,50) 366,67 (167,71) 0,133
(ml) ELETRO 310,45 (85,89) 334,55 (65,78) 0,394
EMAP 306,82 (101,35) 327,27 (90,45) 0,152
PDM BIO 181,11 (74,24) 205,56 (58,33) 0,194
(ml) ELETRO 138,18 (50,16) 150,00 (63,25) 0,379
EMAP 146,36 (79,28) 154,55 (61,05) 0,496
RU BIO 17,78 (32,70) 0,00 (0,00) 0,142
(ml) ELETRO 3,18 (4,62) 3,64 (6,74) 0,863
EMAP 11,36 (29,67) 16,82 (28,83) 0,104
Resultados apresentados em média (dp)
BIO: Grupo I, ELETRO: Grupo II, EMAP: Grupo III
CVM: Capacidade vesical máxima, PDM: Primeiro desejo micional, RU: Resíduo urinário
*Teste t para amostras pareadas
75
A avaliação dos resultados do tratamento mostrou que após 3 meses, 71,9% das pacientes
(23) tiveram cura ou melhora significativa, 18,8% (6) melhora parcial de sintomas e 9,3% (3)
resposta ruim, sendo encaminhadas para tratamento cirúrgico. Estes percentuais foram definidos
a partir da avaliação subjetiva da própria paciente.
Nas tabelas 8 a 22 do Apêndice I são mostradas as características das pacientes em cada
grupo e os resultados completos das variáveis analisadas.
76
Capítulo 5
Discussão
Kegel (1948) foi o primeiro pesquisador a relatar a eficácia do treinamento da MAP no
tratamento da incontinência urinária feminina. Desenvolveu um dispositivo, que denominou
perineômetro, para informar às pacientes quanto à intensidade da contração da MAP, porque
muitas mulheres são incapazes de contrair corretamente os músculos pélvicos e necessitam de
motivação para persistir no tratamento (KEGEL, 1948, 1951). Em seus estudos não controlados
e não randomizados, empregando este dispositivo como técnica de biofeedback, encontrou taxas
de cura de 84% nos diversos tipos de incontinência.
Desde então, vários ensaios clínicos têm repetido os resultados e demonstram que os
exercícios são mais efetivos quando comparados com pacientes não tratados ou sob efeito
placebo. As taxas de cura têm variado entre 44 e 67% nos estudos que comparam pacientes que
realizaram exercícios perineais e pacientes não tratados ou com outras metodologias de
tratamento (BØ, 1999, 2004; MORKVED, BØ e FJORTOFT, 2002; BERGHMANS et al., 1998,
2000; HAY-SMITH et al., 2007).
Os resultados encontrados na literatura sobre o uso de biofeedback em adição aos EMAP
são conflitantes. Morkved, Bø e Fjortoft (2002) estudaram um grupo de mulheres de 30 a 70
anos que participaram de um programa de treinamento de 6 meses, com um grupo realizando
apenas exercícios e o outro realizando exercícios com biofeedback. Ambos os grupos mostraram
melhoras significativas nas perdas de urina e tiveram altas taxas de cura; porém, não houve
diferença estatisticamente significativa entre os grupos.
Também há resultados conflitantes em revisões sistemáticas e meta-análises. Berghmans et
al. (1998, 2000) não encontraram evidências de que adicionar biofeedback aos EMAP seja
superior que EMAP somente. Todavia, De Kruif e van Wegen (1996) conduziram uma meta-
análise que mostrou uma tendência em favor de biofeedback com EMAP ser mais efetivo que
EMAP somente.
Essas técnicas, para tornarem-se viáveis terapeuticamente, devem ser eficazes e a paciente
precisa fazer o tratamento em casa com supervisão apenas em visitas periódicas ao consultório
médico. As pacientes devem executar o programa de tratamento 2 ou 3 vezes por semana
(porém, o ideal seria realizar todos os dias) e esta rotina de atendimento teria um alto custo para
atendimento ambulatorial em hospitais ou clínicas.
78
Jundt, Perchers e Dimpfl (2002) relataram o problema de avaliar a adesão das pacientes,
confiando apenas nos relatos verbais ou diários de exercícios mantidos durante o uso domiciliar.
Os equipamentos usados em diversos trabalhos de pesquisa ou disponíveis comercialmente
apresentam limitações técnicas e não permitem o acompanhamento efetivo da adesão e qualidade
dos exercícios realizados pelas pacientes. A instrumentação desenvolvida para o presente estudo
é portátil, com memória para armazenar o ciclo de exercícios realizados por um período de duas
semanas, para posterior análise de adesão e performance.
Acredita-se que a monitorização e informação à paciente, em cada consulta, de seu
desempenho durante o uso domiciliar dos equipamentos seja um importante fator de motivação.
5.1 Instrumentação para monitorização da contração da MAP
A técnica adotada para medir a contração da musculatura pélvica foi a manometria com
balonete conectado a um sensor de pressão. Acredita-se que os resultados fornecidos pela
manometria representem uma melhor aproximação da força de contração da musculatura pélvica,
uma vez que os registros de EMG de superfície são afetados por uma série de fatores e a
intensidade deste sinal (valor RMS ou retificado médio) pode ter uma relação não linear com a
força produzida, especialmente em contrações máximas, conforme relatos de Turker (1993).
Alguns equipamentos disponíveis comercialmente como o Neurotrac (EMS Physio Ltd,
Oxford Shire, Inglaterra) e o Vitacom BF-106 (Trondheim, Noruega) empregam o sinal de EMG
para determinação da força de contração da MAP e possuem probes robustas e de fácil limpeza.
Outros como o Peritron (Cardio Design, Austrália) utilizam balonetes com ar em seu interior.
Os ensaios com a probe vaginal da empresa BEAC Biomedical (Stradella (PV), Italy)
mostraram a necessidade de estabilização térmica para a obtenção de resultados confiáveis,
aspecto este negligenciado em diversos trabalhos que empregam balonetes com ar para medidas
de força de contração da MAP (BØ et al., 1990; HAHN et al., 1996; BØ e FINCKENHAGEN,
2001). Este tempo, definido em experimentos de laboratório e em pacientes, ficou em torno de
90 s.
Os resultados dos experimentos mostrados no item ensaios com o transdutor permitiram
avaliar o comportamento do transdutor, que apresenta ar em seu interior, frente às variações de
temperatura. Tais variações podem ser superiores a 20° C, considerando-se a temperatura
corporal em aproximadamente 36,7° C e a temperatura ambiente inferior a 15° C, produzindo um
aumento de pressão no interior do balonete por dilatação térmica do ar superior a 35 cmH
2
O.
79
Em experimento com uma voluntária, mostrado na figura 28, avaliou-se este aumento de
pressão por variação de temperatura que foi de 13 cmH
2
O, enquanto as pressões basais (de
repouso) e de contração foram de 24 cmH
2
O e 35 cmH
2
O, respectivamente.
O importante é que as variações de pressão por efeito térmico são da mesma ordem de
grandeza das medidas realizadas, não podendo ser negligenciadas.
As variações de temperatura inter-pessoais e ao longo do ciclo menstrual podem atingir de
2° C a 3° C (MCCREESH, EVANS e SCANLON, 1996). Torna-se, então, necessário definir
uma rotina de calibração que minimize o erro associado. As curvas da figura 26 mostram a
semelhança de comportamento do transdutor na faixa de 36° C a 39° C e ao descontar-se o offset
de pressão faz-se com que a equação de calibração seja a mesma neste intervalo de temperatura,
para pressões na faixa de 0 a 100 cmH
2
O.
Jones (1994) descreveu o desenvolvimento de um perineômetro, empregando câmara de ar
conectada a sensor de pressão, com possibilidade de fornecer biofeedback visual ou auditivo.
No mesmo artigo relatou que os perineômetros de baixo custo disponíveis comercialmente para
uso domiciliar são geralmente efetivos para a visualização de contrações musculares grosseiras,
mas tendem a ser imprecisos e inadequados para medidas quantitativas ou avaliação da evolução
durante o tratamento. Não demonstrou preocupações com as variações térmicas, porém foi um
dos únicos trabalhos encontrados que realizou ensaios para verificação da resposta dinâmica do
transdutor.
No presente projeto, a resposta a um degrau de pressão mostrou que o transdutor
empregado possui um tempo de resposta para variações de toda a faixa de 10 ms, tempo este
suficiente para responder às variações de pressão da MAP. A minimização da quantidade de ar
no sistema obtida com a colocação do sensor de pressão junto à probe contribuiu para esta
resposta.
Poder-se-ia considerar que as pacientes do grupo de EMAP seqüenciados, pelo fato de
usarem uma probe vaginal, tenham feedback sensitivo pela presença da probe, porém considera-
se esta informação pobre em relação à indicação da intensidade de contração em tempo real em
display gráfico do grupo de biofeedback propriamente dito. Em verdade, as pacientes do grupo
de EMAP não necessitariam da probe para realizar os exercícios, entretanto, esta permite
monitorar os exercícios executados e avaliar a adesão ao protocolo. Além disso, permite avaliar a
quantidade e intensidade dos exercícios realizados em ambiente domiciliar.
Taylor e Henderson (1986) realizaram estudo comparando dois grupos de pacientes, um
deles utilizando biofeedback com sensor vaginal de EMG e outro apenas o sensor vaginal, que
80
funcionaria como dispositivo resistivo (exercício isométrico). Obtiveram redução de 100 % dos
sintomas no grupo que recebeu biofeedback e 67 % no grupo que utilizou apenas o sensor.
A técnica empregada para monitorização das contrações da MAP não permite a detecção
do movimento de elevação para dentro preconizado na literatura como forma de verificação da
correta contração da musculatura pélvica (KEGEL, 1948,1951; BØ, 2005). Mas indiretamente,
através do formato das curvas de pressão armazenadas na memória dos equipamentos, pode-se
inferir se a paciente está executando alguma manobra inadequada, como, por exemplo, Valsalva,
ou exacerbando a contração de músculos auxiliares, como os abdominais.
No presente estudo, todas as pacientes tiveram a monitoração dos exercícios realizados em
casa, não apenas as pacientes do grupo de biofeedback. Com isso, procurou-se minimizar os
aspectos subjetivos e avaliou-se se a paciente realmente executou os exercícios com a
intensidade e periodicidade recomendados.
O número de pacientes alocadas neste estudo não permitiu a comparação entre as técnicas,
mas a instrumentação desenvolvida abre a possibilidade de realização de estudos mais amplos
em ambiente domiciliar, envolvendo grupos maiores de pacientes.
O hardware desenvolvido baseado no microcontrolador PIC16F877 atendeu aos requisitos
propostos, pois permitiu a confecção de um equipamento portátil, reduzidas dimensões e baixo
consumo de energia. Visando responder a este último aspecto foram implementados recursos
para economia de energia como o desligamento de periféricos, desligamento automático depois
de determinado tempo sem utilização e manutenção do microcontrolador em condição de baixo
consumo (SLEEP) nos períodos de inatividade. Com isso, obteve-se autonomia superior a uma
semana de utilização, tempo este considerado adequado, pois é com esta periodicidade que os
usuários de telefones celulares normalmente fazem a recarga de seus aparelhos.
A engenharia de produto com design simples e robusto, mostrado na figura 29, propiciou a
utilização domiciliar e durante o protocolo de estudo os problemas apresentados limitaram-se a
mau-contato ou ruptura do cabo de conexão da probe ao equipamento e ligação do carregador
das baterias em tensão inadequada.
O custo unitário dos protótipos foi de aproximadamente U$ 300,00, considerando-se
apenas a matéria-prima utilizada na montagem dos equipamentos. Este custo poderá ser reduzido
para a produção em escala, o que demonstra a viabilidade do emprego deste equipamento para o
tratamento de pacientes que procuram atendimento na rede pública de saúde.
81
5.2 Protocolo clínico
A faixa etária da amostra ficou entre 30 e 70 anos de idade, período afetado de forma
significativa pela incontinência urinária nas populações em geral. Guarisi et al. (2001), em
estudo transversal envolvendo 456 mulheres climatéricas brasileiras, identificaram 35% de
mulheres com incontinência urinária de esforço. Portanto, os achados do estudo têm
aplicabilidade clínica bastante ampla considerando o grande número de pacientes nesta faixa
etária.
A faixa etária ampla do grupo de pacientes envolvidas no estudo deveu-se a aplicação do
protocolo a pacientes que procuraram o Ambulatório de Uroginecologia da HCPA nesse período.
Este aspecto merece especial atenção, pois pacientes de idades diversas têm estados hormonais e
características musculares diferentes.
Theofrastous et al. (2002) estudaram um grupo de 134 mulheres incontinentes e
observaram que a pressão de contração da MAP aumentou significativamente com os EMAP,
porém encontraram uma correlação fraca (r=0,32, p=0,04) com a redução dos episódios de
incontinência urinária. Também concluíram que a resposta ao tratamento não depende das
características demográficas das pacientes, severidade clínica da incontinência, medidas
urodinâmicas ou força inicial da MAP.
Choi, Palmer e Park (2007), em recente meta-análise, concluíram que o efeito dos EMAP
nos episódios de incontinência pode ser maior em mulheres mais jovens e que o número diário
de contrações e a duração do tratamento não estão relacionados aos efeitos, se o programa incluir
no mínimo 24 contrações por dia e for mantido por, no mínimo, seis semanas.
No presente trabalho, todas as pacientes realizaram EMAP, segundo um protocolo definido
pelo autor e apresentado no item delineamento do ensaio clínico. A diferença entre os grupos de
estudo deve-se à associação ou não de estimulação elétrica ou biofeedback.
Como o programa de exercícios não está estabelecido na literatura havendo diferenças nos
diversos protocolos empregados nos trabalhos, conforme descrito na revisão de Hay-Smith et al.
(2001), os pesquisadores adotaram uma seqüência de treinamento visando o recrutamento de
fibras rápidas e lentas da musculatura pélvica. Esta seqüência consiste de 10 contrações rápidas
(2 s de contração e 4 s de repouso) seguida de 10 contrações lentas (4 s de contração e 4 s de
repouso) repetidas por 3 vezes, com intervalo de 72 s entre elas.
Com isso, o tempo médio diário de cada paciente para a realização dos EMAP é inferior a
15 min. Esse é um aspecto importante, pois sessões muito longas ou repetidas diversas vezes ao
82
dia podem desestimular as voluntárias, reduzindo a adesão ao tratamento. A adesão e a repetição
diária dos exercícios é um aspecto fundamental, pois potencializa os mecanismos de plasticidade
muscular e cerebral.
Na classificação de exercícios físicos, pode-se considerar as contrações da musculatura
pélvica como exercício isométrico, pois não há movimento articular visível ou mudança
apreciável de comprimento durante a contração. Alguns autores, inclusive o próprio Kegel,
relatam o uso de exercícios isométricos resistidos, em que a paciente promove a contração contra
uma resistência progressiva (KEGEL, 1948,1951; FERGUSON et al., 1990).
No presente estudo, a resistência oferecida é fixa, ou seja, trata-se apenas da complacência
do balonete. As pacientes, por sua vez, foram instruídas a executar o máximo esforço possível.
A orientação às voluntárias durante as sessões de tratamento domiciliares ocorre
simultaneamente em modo texto e gráfico para uma compreensão intuitiva daquilo que devem
fazer. Tais telas de orientação, mostradas nas figuras 15, 43 e 44, tiveram sua usabilidade
avaliadas por um grupo de três designers e foram consideradas adequadas e capazes de evitar
possíveis erros de operação.
Myers (1993) relatou as dificuldades e complexidade significativa à implementação de
qualquer software da interface com o usuário e que há estudos que quantificam em 50% o tempo
e a quantidade de código relacionado diretamente à interface.
As pacientes foram orientadas a seguir as instruções fornecidas pelo equipamento e
procurou-se definir telas com figuras intuitivas (ícones) e informações textuais, porém tomando-
se o cuidado de não gerar telas com excesso de informação, o que poderia dificultar o
entendimento.
Os recursos implementados nos equipamentos permitem que todas as participantes tenham
o mesmo programa de treinamento domiciliar, ou seja, possibilita a padronização do protocolo
de tratamento.
O software de análise dos dados da perineometria permitiu a análise da pressão máxima de
contração (P
C
), pressão basal (P
B
) e do tempo para atingir a contração máxima (T
r
). Esta última
variável não havia sido avaliada em trabalhos anteriores e acredita-se que a redução de T
r
seja
um bom indicador do aumento do recrutamento de fibras musculares do tipo II e da coordenação
para o uso deste tipo de fibra, importante para a resposta rápida da musculatura pélvica a
aumentos de pressão abdominal e manutenção da continência. A análise das alterações de T
r
nos
grupos não mostrou diferenças estatisticamente significativas entre o início e o final do
tratamento, possivelmente devido ao tamanho reduzido de cada amostra. Porém, analisando-se o
83
grupo de 32 pacientes alocadas no estudo, obteve-se redução de T
r
com diferença
estatisticamente significativa (p=0,021).
A variável pressão máxima de contração representa a intensidade de contração da MAP, e
como teve um aumento significativo durante o protocolo, pode-se afirmar que ocorreu um
aumento do tônus muscular. Isto sugere uma hipertrofia muscular, porém não pode-se afirmar
categoricamente, pois não foram realizados exames de imagem para avaliação do componente de
massa muscular da MAP.
Os resultados obtidos nos três grupos demonstram que os exercícios pélvicos associados ao
biofeedback e à estimulação elétrica são efetivos no tratamento da incontinência urinária
feminina. Foram obtidas alterações significativas na intensidade perineométrica, número de
episódios de incontinência por esforço e nos escores do questionário de qualidade de vida. As
variáveis tempo de ativação muscular, número de perdas por urgência e número de micções
diárias mostraram uma tendência de redução. Porém, pode-se afirmar que os grupos de estudo
tiveram adesão homogênea, comprovada pelo controle efetivo de adesão, e que foram
submetidos a protocolos de tratamento idênticos. Este aspecto metodológico foi negligenciado
em trabalhos anteriores, onde o controle dos grupos foi parcial.
Alguns trabalhos empregaram o controle eletrônico da adesão das pacientes através da
monitorização do tempo de uso em estudos com estimulação elétrica (BØ, TALSETH e
HOLME, 1999; BARROSO et al., 2004) ou dos valores máximos de contração executados nos
grupos de EMAP com biofeedback (AUKEE et al., 2002, 2004; JUNDT, PESCHERS e
DIMPFL, 2002, MORKVED, BØ e FJORTOFT, 2002).
Morkved, Bø e Fjortoft (2002) reportaram que 88,9% do grupo de biofeedback e 85,3% do
grupo de EMAP realizaram o treinamento de seus músculos pélvicos mais de três vezes por
semana.
Liao et al. (2006) envolveram 55 mulheres em um programa de treinamento que
recomendava a prática de 90-120 contrações por dia durante 30 min. A partir de relatos das
pacientes verificaram que apenas 27% realizavam a quantidade recomendada de contrações,
enquanto 33% e 27% realizavam de 1-2 h por semana e 1-2 h por mês, respectivamente.
Observaram também que pacientes com incontinência mais severa tendem a praticar os
exercícios mais freqüentemente.
No presente estudo, alcançou-se adesão média superior a 75% em todos os grupos,
resultado este considerado excelente para aplicação domiciliar e poder-se-ia classificar como
intensivo o regime de treinamento. Diversos autores e o próprio Kegel discutem o acréscimo
motivacional das técnicas de biofeedback; porém, acredita-se que a taxa de adesão alta e
84
homogênea nos três grupos esteja relacionada à supervisão periódica quinzenal, ao fato das
pacientes terem conhecimento que estão sendo supervisionadas durante o uso domiciliar e à boa
relação médico-paciente.
A partir dos registros armazenados na memória dos equipamentos, referentes ao uso
domiciliar, pretendia-se analisar a variação da intensidade de contração da MAP ao longo do
protocolo experimental. As pacientes, por sua vez, ao realizarem os exercícios em ambiente não
controlado, posicionam-se de modos diferentes, alteram a posição durante a sessão de exercícios,
exacerbam movimentos respiratórios ou empregam músculos auxiliares para intensificar a
contração, gerando uma variação das leituras de pressão. Essa variabilidade observada em
sessões sucessivas, não permitiu a análise da intensidade das contrações realizadas. Porém,
avaliou-se, em cada sessão de exercícios, o número de contrações que superou a 50% do valor
recomendado.
O cálculo de performance realizado nesta pesquisa não havia sido descrito em trabalhos
anteriores ou relatado na literatura, provavelmente por limitações técnicas da instrumentação
empregada naqueles estudos. Este parâmetro mostrou diferenças entre os grupos, com uma
tendência em favor do grupo de biofeedback, com percentuais de exercícios executadas com
intensidades superiores a 50 % do previsto maior. E especificamente na comparação com o
grupo EMAP, obteve-se diferença estatisticamente significativa (p<0,05).
Este resultado, intuitivamente, parece simples de explicar, pois o fato de fornecer
realimentação visual da intensidade e forma da contração que está sendo executada, faz com que
a paciente possa corrigir ou intensificar o exercício. Isto também já foi discutido por diversos
autores; porém, não havia sido demonstrado objetiva e quantitativamente (BURGIO,
ROBINSON e ENGEL, 1986; BUMP et al., 1991; MORKVED, BØ e FJORTOFT, 2002).
Glavind, Laursen e Jaquet (1998) concluíram que o efeito em longo prazo da terapia com
biofeeback é melhor que do que com EMAP somente, porque a motivação dos pacientes para o
treinamento é maior. Acredita-se que a motivação esteja relacionada não somente à freqüência
das sessões, mas também à credibilidade do tratamento e do interesse e habilidade do instrutor e
da paciente. Isto foi claramente demonstrado nos resultados apresentados, uma vez que a adesão
nos três grupos foi similar.
Analisando-se o grupo de pacientes que tiveram resposta parcial ou ruim ao tratamento de
3 meses, percebe-se que 100% tem idade superior a 50 anos, encontram-se na menopausa e sem
o uso de terapia de reposição hormonal. Esse efeito, a ser estudado, talvez possa ser minimizado
com reposição hormonal local antes de iniciar o treinamento da musculatura pélvica feminina.
85
Neste estudo, observou-se ainda que as pacientes com piores escores no questionário de
qualidade de vida também tiveram resultados parciais ou ruins na avaliação de três meses. Estes
dados confirmam contribuições de outros estudos anteriores que recomendavam o uso de
terapias conservadoras em pacientes com grau leve ou moderado de incontinência urinária
(BERGHMANS et al., 1996).
5.3 Estimulação elétrica gatilhada por sinal de pressão
Os trabalhos associando biofeedback e estimulação elétrica realizam-nas em sessões
alternadas ou empregam a estimulação como complemento aos EMAP com biofeedback (SUNG
et al., 2000; MAHONY et al., 2004).
Nissenkorn et al. (2004) realizaram estudo com um novo estimulador portátil comercial
denominado Miniaturo (Biocontrol Medical Inc., Yehud, Israel) para o tratamento de
incontinências de esforço, mista e de urgência. A estimulação elétrica foi aplicada através de
eletrodos implantados paralelamente à uretra e a ativação do estimulador nos pacientes com
incontinência de esforço e mista ocorre quando é detectado um aumento de pressão intra-
abdominal, por meio de um transdutor de pressão inserido no reto. Nos pacientes com
incontinência de urgência foi aplicada estimulação elétrica de menor intensidade e durante todo o
período.
Os pacientes apresentaram alterações significativas nos sintomas urinários, escores do
QQV e pad test e os tempos de estimulação foram de 1-4 h nos pacientes com incontinência de
esforço e 6 h naqueles com incontinência mista. Estas avaliações foram realizadas durante a
utilização do estimulador e os autores não relataram a presença de efeito residual do tratamento
depois de interrompida a estimulação.
O equipamento Myotrac Infiniti U-Control (Thought Technology Inc., Montreal, Canadá)
possui a função EMG-STIM na qual são alternados intervalos de estimulação elétrica com
biofeedback empregando o sinal de EMG. O intervalo de estimulação elétrica visa mostrar ao
paciente o modo correto de executar a contração muscular, que deve ser repetida em seguida
como uma contração voluntária.
A técnica de estimulação elétrica acionada por sinal de pressão gerado a partir da contração
muscular voluntária da paciente, proposta neste estudo, visa associar a vontade de produzir o
movimento a uma contração efetiva, garantida pela estimulação elétrica. O autor acredita que
esta associação possa aumentar o recrutamento muscular e tornar a paciente uma participante
86
ativa de seu processo de reabilitação, o que não acontece na estimulação elétrica tradicional. Esta
técnica, apesar de já empregada para reabilitação após acidente vascular cerebral (BOLTON,
CAURAUGH e HAUSENBLAS, 2004), ainda não havia sido proposta para reabilitação da
musculatura pélvica.
No estudo realizado os pacientes do grupo ELETRO apresentaram melhoras significativas
nas variáveis analisadas e, especificamente a variável número de perdas por urgência (NPU)
mostrou uma redução a zero dos episódios de perda. Este fato pode estar relacionado à
estimulação elétrica, que produz a inibição de contrações involuntárias do músculo detrusor,
através de mecanismos de neuromodulação. Isto é apenas uma hipótese e necessita de trabalhos
posteriores com grupos específicos de pacientes, preferencialmente com incontinência de
urgência ou mista.
O autor sugere que esta técnica seja empregada em pacientes com contração muscular
tênue, ou dificuldade de manter uma contração sustentada. Assim, pode-se definir um limiar bem
baixo e ao mínimo esforço para produzir contração, a estimulação elétrica será ativada,
garantindo a contração efetiva. A utilização de freqüência de estimulação elétrica de 50 Hz para
tratamento de incontinência de esforço e mista já havia sido descrita em trabalhos prévios como
eficaz para ativação de fibras rápidas e fortalecimento da musculatura pélvica (AMUZU, 1998;
BØ, TALSETH e HOLME, 1999; CASTRO, 2000; BARROSO et al., 2004).
O limiar de pressão para ativação da estimulação elétrica foi definido em 30% da
intensidade perineométrica e observou-se que em determinadas pacientes diversas contrações
não recebiam o reforço da estimulação elétrica. Nelas, as contrações apresentavam uma grande
variabilidade na intensidade, sendo muitas delas inferiores ao limiar de gatilho. A orientação
dada às pacientes nas re-consultas quinzenais melhorou este aspecto, porém acredita-se que este
limiar deva ser ajustado individualmente.
A saída do estimulador elétrico pode ser do tipo corrente constante (saída em corrente) ou
tensão constante (saída em tensão). Cada um dos tipos possui potenciais vantagens e
desvantagens conforme a aplicação clínica desejada. Estimuladores controlados por fonte de
corrente irão fornecer uma corrente que flui a uma intensidade constante, independente da
impedância que a mesma encontrar nos tecidos. Pela lei de Ohm, a tensão de saída alterar-se-á
para manter a corrente constante, conforme a impedância dos tecidos alterar-se ao longo do
tempo. De forma análoga, em estimuladores controlados por fonte de tensão (tensão constante), a
corrente alterar-se-á ao longo do tempo como função da impedância de carga (ROBINSON e
SNYDER-MACKLER, 1995).
87
Durante o tratamento a uma determinada intensidade, estimuladores a corrente constante
irão automaticamente reduzir a tensão de saída quando a impedância de contato dos eletrodos
reduzir, mantendo o nível desejado de estimulação. Em casos onde a impedância de contato dos
eletrodos aumenta, a tensão será aumentada, o que pode resultar em queimaduras na pele, se a
densidade de corrente aumentar de forma significativa. Por esta razão, estimuladores a corrente
constante devem apresentar um limitador de tensão de saída (ROBINSON e SNYDER-
MACKLER, 1995).
Estimuladores com fonte de tensão constante reduzem automaticamente a intensidade de
corrente quando a impedância de contato dos eletrodos aumenta, diminuindo o risco de
queimadura ao paciente. Se a impedância eletrodo-pele diminuir, a corrente irá aumentar,
podendo resultar em uma elevada e indesejada intensidade estimulatória (ROBINSON e
SNYDER-MACKLER, 1995).
No estimulador proposto, aptou-se pela saída em tensão, por considerá-la mais segura, uma
vez que normalmente tem-se o aumento da impedância de contato dos eletrodos decorrente de
mau contato na interface eletrodo-pele.
88
Capitulo 6
Conclusões
A instrumentação desenvolvida mostrou-se confiável, com interface amigável e de fácil
operação pelas pacientes durante o uso domiciliar, e permitiu a padronização do protocolo de
treinamento da MAP.
A monitorização do sinal de pressão referente às contrações da MAP, empregando
transdutor vaginal com balonete conectado a um sensor de pressão, durante o uso domiciliar,
possibilitou o controle de adesão efetiva e da performance na realização dos exercícios. Este
mesmo transdutor, devidamente caracterizado quanto à resposta dinâmica e frente às variações
térmicas foi empregado para quantificar as alterações nos parâmetros de uma contração
sustentada: pressão basal, pressão máxima e tempo de ativação.
As três técnicas propostas, EMAP seqüenciados e EMAP associados a biofeedback ou
estimulação elétrica, foram eficazes no tratamento da incontinência urinária feminina, com
alterações nas variáveis intensidade máxima de contração da MAP, número de perdas por
esforço e urgência e nos escores do questionário de qualidade de vida. A avaliação subjetiva da
própria paciente também foi positiva em 71,9% dos casos.
Os três grupos de pacientes tiveram adesão homogênea, demonstrada de forma objetiva,
através dos recursos implementados na instrumentação. A análise de performance mostrou que
as pacientes do grupo de biofeedback apresentaram um desempenho superior na execução dos
exercícios. Esse pode ser um ponto a favor da associação de biofeedback a EMAP, no tratamento
domiciliar; todavia, esta afirmação necessita de ensaios com um número maior de pacientes para
a sua comprovação.
6.1 Contribuições da pesquisa
Como contribuições do presente trabalho, pode-se destacar aspectos tecnológicos,
metodológicos e científicos.
A instrumentação desenvolvida no decorrer da pesquisa para uso domiciliar tem hardware e
software originais e encaminhou-se pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade
Industrial sob número PI0700965-8.
90
Os recursos implementados nos equipamentos permitiram a padronização dos exercícios
realizados pelos grupos, o controle efetivo da adesão das pacientes e a quantificação do
desempenho através da monitorização dos exercícios realizados em ambiente domiciliar. Esses
aspectos foram negligenciados ou não controlados em trabalhos anteriores, provavelmente por
limitações da instrumentação empregada.
A metodologia para calibração do transdutor e os ensaios para determinar o seu
comportamento frente às variações térmicas e sua resposta dinâmica ainda não foram descritos
suficientemente nos trabalhos pesquisados na literatura.
A análise conjunta de variáveis quantitativas e qualitativas em todos os grupos submetidos
ao protocolo também é outro aspecto inovador.
A técnica de estimulação elétrica gatilhada por sinal de pressão, por sua vez, ainda não foi
descrita para o tratamento da incontinência urinária, configurando-se também como inédita.
6.2 Possibilidades de continuidade da pesquisa
A instrumentação desenvolvida para este estudo pode receber algumas alterações para
melhorar a interface com o usuário e otimização do consumo de energia:
- utilização de cartão de memória, cujo custo teve uma redução significativa, para
armazenamento de dados. Com isso a capacidade de memória dos equipamentos pode ser
aumentada e o intervalo entre as re-consultas ampliado para um mês. Todavia, será necessária a
avaliação do impacto deste período prolongado na adesão das pacientes,
- utilização de componentes com tensão de alimentação de 3,0 V, que permitirá o uso de
apenas um conjunto de baterias de 3,6 V, tornando o equipamento menor e mais leve,
- substituição do display gráfico monocromático por um colorido, que possibilitará a
definição de uma interface com o usuário mais atraente.
- inclusão de um indicador de performance, que informará a paciente, ao final da sessão, o
seu desempenho na execução do exercícios. Isto pode ser uma forma de aumentar a motivação e
adesão ao tratamento.
A instrumentação desenvolvida permitirá a realização de estudos envolvendo uma
quantidade maior de pacientes, visando comparar entre as três técnicas propostas e, desse modo,
efetuar uma real avaliação de tecnologia em saúde.
Os bons resultados obtidos neste estudo animaram os médicos do ambulatório de
Uroginecologia do HCPA a aplicarem estas modalidades de tratamento em pacientes acometidas
91
de incontinência urinária. Com isso, aumentar-se-á o número de pacientes envolvidas no estudo
atendendo a pacientes que procuram atendimento pelo SUS.
O grupo envolvido nesta pesquisa está definindo uma proposta de estudo multicêntrico para
avaliação de técnicas conservadoras de tratamento da incontinência urinária a ser encaminhado
ao Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT) do Ministério da Saúde, abrangendo 3 ou 4
centros no Brasil. Com isso, espera-se difundir o emprego dessas técnicas, validar clinicamente a
sua utilização e viabilizar a inclusão destas modalidades de tratamento na rotina de atendimento
a pacientes pelo SUS.
Levando-se em conta os dados epidemiológicos sobre a incidência da incontinência urinária
e a estimativa da National Association for Continence (
www.nafc.org) de que 2 em cada 3
mulheres acima de 30 anos apresentarão perda urinária em algum momento da vida, pode-se
justificar a necessidade de ampliação dessa pesquisa, bem como a abrangência dessa modalidade
de tratamento.
A técnica de estimulação elétrica gatilhada por sinal de pressão, proposta neste estudo,
deverá ser avaliada posteriormente em um grupo específico de pacientes, objetivando a
determinação do nível de benefício da associação de estimulação elétrica aos EMAP, assim
como na definição do grupo de pacientes que pode ser beneficiado pela associação destas duas
técnicas.
O uso integrado de estimulação elétrica e biofeedback também pode ser alvo de trabalhos
futuros, pois acredita-se que esta associação em sessões alternadas, executadas mais de uma vez
por dia, possa potencializar o processo de reabilitação, através de mecanismos de plasticidade
muscular e cerebral.
Nos próximos trabalhos, sugere-se a utilização de outros exames para avaliação das
alterações anatômicas e funcionais do TUI, como exames de imagem (Ultra-som e RNM) ou a
monitorização urodinâmica ambulatorial (holter urodinâmico).
6.3 Comentários finais
Uma regra geral para escolha do tratamento médico sugere que a primeira escolha seja o
tratamento menos invasivo e com menores complicações adversas, porém, que seja apropriado
para o paciente.
As técnicas conservadoras envolvendo EMAP, biofeedback e estimulação elétrica
configuram-se como alternativas para tratamento de pacientes com incontinência urinária e a
92
possibilidade de realizar o tratamento em casa com consultas periódicas para revisão e
acompanhamento adapta-se à rotina ambulatorial dos hospitais públicos no Brasil.
Portanto, a alta prevalência da incontinência urinária na população feminina justifica os
esforços na pesquisa de alternativas de tratamento e no desenvolvimento de novas tecnologias
que auxiliem os pacientes na correta execução das técnicas e os profissionais da saúde no
acompanhamento e controle do programa realizado pelas pacientes em suas casas.
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Apêndice I
Resultados da avaliação do ensaio clínico
Tabela 8: Descritivo de pacientes do grupo BIO
N Idade
(anos)
IMC
(kg/m
2
)
NPV HT Cirurgia
IU
Tipo
IU
Uso de
diurético
N
o
dias
tratam
Adesão
(%)
Perform
(%)
1 56 22 2 não não IUE não 84 67,86 94,79
2 44 25 2 não sim IUE não 87 64,37 95,63
3 56 35 3 não sim IUE sim 90 63,33 89,14
4 55 33 5 não não IUE sim 99 80,81 98,12
5 49 30 3 não não IUE não 89 87,64 87,59
6 52 26 3 não sim IUM não 93 66,67 14,79
7 70 25 3 sim não IUM sim 84 76,19 93,15
8 56 28 1 sim não IUM não 90 87,78 97,11
9 50 30 1 não não IUM não 98 83,67 49,92
10 59 44 1 não não IUM sim 91 74,73 97,65
IMC: Índice de Massa Corporal, NPV: Número de partos vaginais, HT: Histerectomia, IUE: Incontinência urinária
de esforço, IUM: Incontinência urinária mista
Tabela 9: Descritivo de pacientes do grupo EMAP
N Idade
(anos)
IMC
(kg/m
2
)
NPV HT Cirurgia
IU
Tipo
IU
Uso de
diurético
N
o
dias
tratam
Adesão
(%)
Perform
(%)
1 65 21 2 não sim IUE não 92 84,78 41,73
2 41 29 2 não não IUE não 84 80,95 67,21
3 70 30 3 não não IUE não 94 100,00 54,91
4 34 19 2 sim não IUE não 92 69,57 14,37
5 77 29 5 não sim IUM sim 94 90,43 44,21
6 52 22 2 não não IUM não 91 79,12 81,34
7 49 25 1 não não IUM não 78 88,46 92,80
8 46 25 0 não não IUM não 99 87,88 23,95
9 35 30 2 não não IUM não 89 88,76 35,17
10 53 51 4 não sim IUM não 77 94,80 14,45
11 51 57 2 não sim IUM sim 98 60,20 93,76
IMC: Índice de Massa Corporal, NPV: Número de partos vaginais, HT: Histerectomia, IUE: Incontinência urinária
de esforço, IUM: Incontinência urinária mista
108
Tabela 10: Descritivo de pacientes do grupo ELETRO
N Idade
(anos)
IMC
(kg/m
2
)
NPV HT Cirurgia
IU
Tipo
IU
Uso de
diurético
N
o
dias
tratam
Adesão
(%)
Perform
(%)
1 42 32 1 sim não IUE não 97 80,41 95,43
2 44 26 2 não não IUE não 92 95,65 46,97
3 57 24 0 sim
não IUE não 83 63,86 77,18
4 46 24 4 não
não IUE não 91 100,00 49,34
5 55 24 0 não
não IUE não 92 75,00 92,08
6 42 28 3 não
não IUM não 92 78,26 71,64
7 50 32 1 não
não IUM sim 95 66,32 74,38
8 55 35 2 não
não IUM não 92 39,13 70,33
9 46 26 1 não
não IUM não 78 82,05 86,95
10 58 59 3 não
sim IUM não 84 72,62 66,97
11 46 27 0 não
não IUM não 91 75,82 47,20
IMC: Índice de Massa Corporal, NPV: Número de partos vaginais, HT: Histerectomia, IUE: Incontinência urinária
de esforço, IUM: Incontinência urinária mista
Tabela 11: Resultados da cistometria no grupo BIO no início (0) e após 3 meses (3)
N RU 0 (ml) RU 3 (ml) CVM 0 (ml) CVM 3 (ml) PD 0 (ml) PD 3 (ml)
1 100 0 580 700 320 300
2 30 0 300 350 180 150
3 20 0 250 300 100 200
4 0 0 200 250 100 150
5 10 0 620 600 260 300
6 0 - 360 - 170 -
7 0 0 320 300 200 150
8 0 0 200 200 120 200
9 0 0 300 300 200 200
10 0 0 300 300 150 200
média 16,00 0,00 343,00 366,67 180,00 205,56
DP 31,34 0,00 144,84 167,71 70,08 58,33
RU: Resíduo urinário, CVM: Capacidade vesical máxima, PDM: Primeiro desejo micional
Tabela 12: Resultados da cistometria no grupo EMAP no início (0) e após 3 meses (3)
N RU 0 (ml) RU 3 (ml) CVM 0 (ml) CVM 3 (ml) PD 0 (ml) PD 3 (ml)
1 0 5 300 300 150 150
2 0 10 280 300 100 100
3 0 10 300 350 100 100
4 5 10 155 250 50 150
5 0 10 200 200 170 150
6 0 30 300 300 150 200
7 0 0 220 300 100 100
8 10 0 500 550 350 300
9 0 0 450 400 200 200
10 10 10 320 300 140 150
11 100 100 350 350 100 100
média 11,36 16,82 306,82 327,27 146,36 154,55
DP 29,67 28,83 101,35 90,45 79,28 61,05
RU: Resíduo urinário, CVM: Capacidade vesical máxima, PDM: Primeiro desejo micional
109
Tabela 13: Resultados da cistometria no grupo ELETRO no início (0) e após 3 meses (3)
N RU 0 (ml) RU 3 (ml) CVM 0 (ml) CVM 3 (ml) PD 0 (ml) PD 3 (ml)
1 5 20 345 300 120 150
2 0 0 400 400 240 200
3 10 0 455 400 120 150
4 0 10 225 400 160 250
5 0 0 200 250 170 150
6 0 10 360 380 150 150
7 0 0 250 350 100 100
8 10 0 320 200 100 50
9 0 0 280 300 50 50
10 10 0 200 350 180 200
11 0 0 380 350 130 200
média 3,18 3,64 310,45 334,55 138,18 150,00
DP 4,62 6,74 85,89 65,78 50,16 63,25
RU: Resíduo urinário, CVM: Capacidade vesical máxima, PDM: Primeiro desejo micional
Tabela 14: Resultados do Diário Miccional no grupo BIO no início (0) e após 3 meses (3)
N NMD 0 NMD 3 NMN 0 NMN 3 NPE 0 NPE 3 NPU 0 NPU 3
1 6 4 0 0 8 1 0 0
2 33 111000 0
3 8 8 1 1 1 2 0 0
4 10 4 3 2 2 1 3 1
5 10 7 6 4 5 0 2 0
6 9 9 1 2 6 0 0 0
7 12 7 1 1 1 2 3 1
8 7 7 2 2 4 2 3 3
9 10 7 3 1 2 0 2 0
10 12 10 3 1 4 3 4 2
média 8,70 6,60 2,10 1,50 4,30 1,10 1,70 0,70
DP 2,79 2,27 1,73 1,08 3,02 1,10 1,57 1,06
NMD: número de micções diárias, NMN: número de micções noturnas, NPE: número de perdas por esforço, NPU:
número de perdas por urgência.
Tabela 15: Resultados do Diário Miccional no grupo EMAP no início (0) e após 3 meses (3)
N NMD 0 NMD 3 NMN 0 NMN 3 NPE 0 NPE 3 NPU 0 NPU 3
1 9 6 3 2 4 2 0 0
2 9 5 1 1 2 1 0 0
3 6 7 2 2 5 4 2 0
4 7 4 3 1 5 0 0 0
5 12 8 5 2 4 4 6 4
6 8 7 3 2 2 2 2 2
7 10 10 4 7 2 0 1 2
8 9 6 1 1 5 3 7 1
9 8 10 1 1 1 0 0 0
10 9 4 4 3 3 2 1 2
11 8 10 3 2 2 0 4 2
média 8,64 7,00 2,73 2,18 3,18 1,64 2,09 1,18
DP 1,57 2,28 1,35 1,72 1,47 1,57 2,51 1,33
NMD: número de micções diárias, NMN: número de micções noturnas, NPE: número de perdas por esforço, NPU:
número de perdas por urgência.
110
Tabela 16: Resultados do Diário Miccional no grupo ELETRO no início (0) e após 3 meses (3)
N NMD 0 NMD 3 NMN 0 NMN 3 NPE 0 NPE 3 NPU 0 NPU 3
1 6 5 3 1 3 1 0 0
2 6 5 1 0 3 0 0 0
3 5 6 2 1 2 0 2 0
4 5 5 1 0 2 1 0 0
5 8 6 1 1 2 3 0 0
6 6 3 2 0 2 0 2 0
7 7 6 0 0 6 0 5 0
8 4 4 1 1 3 3 0 0
9 5 6 1 0 3 0 0 0
10 10 7 5 2 8 0 5 0
11 6 5 2 0 3 1 2 0
média 6,18 5,27 1,73 0,55 3,36 0,82 1,45 0,00
DP 1,66 1,10 1,35 0,69 1,91 1,17 1,97 0,00
NMD: número de micções diárias, NMN: número de micções noturnas, NPE: número de perdas por esforço, NPU:
número de perdas por urgência.
Tabela 17: Resultados da Perineometria no grupo BIO no início (0) e após 3 meses (3)
N
P
C
0 (cmH
2
O) P
C
3 (cmH
2
O) P
B
0 (cmH
2
O) P
B
3 (cmH
2
O) T
r
0 (s) T
r
3 (s)
1
23,28 42,83 39,83 51,89 1,49 1,43
2
44,72 50,94 20,98 21,53 0,3 0,16
3
43,45 72,67 42,49 40,62 0,83 0,89
4
98,61 106,61 40,93 40,33 0,71 0,44
5
10,17 82 36,73 48,06 1,23 0,64
6
13,44 66,06 19,33 25,76 1,14 1,59
7
26,22 29,67 51,22 49,69 0,98 1,11
8
29,28 43,56 37,56 30,74 0,55 0,47
9
12,67 27 31,83 26,22 0,24 0,89
10
48,67 39,17 76,62 94,07 0,52 0,27
Média
35,05 56,05 39,75 42,89 0,80 0,79
DP
26,30 25,36 16,14 20,98 0,41 0,48
P
C
: Pressão máxima de contração, P
B
: Pressão basal, T
r
: Tempo de ativação muscular (10%-90%).
Tabela 18: Resultados da Perineometria no grupo EMAP no início (0) e após 3 meses (3)
N
P
C
0 (cmH
2
O) P
C
3 (cmH
2
O) P
B
0 (cmH
2
O) P
B
3 (cmH
2
O) T
r
0 (s) T
r
3 (s)
1
26,94 33,89 20,8 21,52 0,53 0,43
2
44,33 46,28 23,07 32,97 3,17 0,69
3
68,67 58,67 40,62 31,66 1,09 0,71
4
7,78 18,28 23,64 31,09 1,81 0,81
5
21,17 32,45 16,33 25,09 0,35 0,43
6
36,11 73,55 47,94 41,52 0,29 0,69
7
24,17 48,56 25,89 26,7 0,65 0,62
8
9,28 33,45 23,91 37,79 0,77 1,17
9
70,45 83,94 63,52 41,16 0,56 0,31
10
23,55 14,17 47,98 51,64 1,67 0,53
11
64,83 79,72 88,34 62,43 0,63 0,45
Média
36,12 47,54 38,37 36,69 1,05 0,62
DP
22,94 23,97 22,20 12,11 0,86 0,24
P
C
: Pressão máxima de contração, P
B
: Pressão basal, T
r
: Tempo de ativação muscular (10%-90%).
111
Tabela 19: Resultados da Perineometria no grupo ELETRO no início (0) e após 3 meses (3)
N
P
C
0 (cmH
2
O) P
C
3 (cmH
2
O) P
B
0 (cmH
2
O) P
B
3 (cmH
2
O) T
r
0 (s) T
r
3 (s)
1
39 60,33 67,48 71,91 0,67 0,41
2
14,34 20,08 31,5 34,48 0,89 1,15
3
7,89 19,28 64,9 63,16 1,87 1,12
4
47 56,89 35 42,3 0,57 0,43
5
30,11 58,5 35,4 51,55 1,09 0,97
6
24,83 39,61 21,19 22,22 1,26 0,66
7
27,83 92,45 38,71 56,9 0,39 0,58
8
38,61 45,72 103,04 58,33 1,15 1,01
9
38,06 63,22 28,62 44,1 1,27 0,37
10
54,89 67,5 36,61 80,4 2,92 0,52
11
19,28 29,06 29,56 47,8 0,79 0,83
Média
31,08 50,24 44,73 52,10 1,17 0,73
DP
14,13 22,16 24,14 16,61 0,71 0,29
P
C
: Pressão máxima de contração, P
B
: Pressão basal, T
r
: Tempo de ativação muscular (10%-90%).
Tabela 20: Resultados do QQV no grupo BIO no início (0) e após 3 meses (3)
N QQV 0 QQV 3
1 51 45
2 71 35
3 46 54
4 76 49
5 68 37
6 88 53
7 39 30
8 69 51
9 77 39
10 44 39
Média 62,90 43,20
DP 16,62 8,34
Tabela 21: Resultados do QQV no grupo EMAP no início (0) e após 3 meses (3)
N QQV 0 QQV 3
1 41 32
2 41 44
3 62 35
4 56 32
5 87 67
6 49 59
7 82 44
8 52 35
9 45 25
10 55 61
11 95 97
Média 60,45 48,27
DP 19,01 21,12
112
Tabela 22: Resultados do QQV no grupo ELETRO no início (0) e após 3 meses (3)
N QQV 0 QQV 3
1 60 37
2 37 24
3 47 22
4 49 28
5 51 38
6 57 25
7 69 28
8 75 80
9 25 22
10 87 25
11 59 27
Média 56,00 32,36
DP 17,30 16,68
Apêndice II
Fluxogramas do firmware
Comunicão
Serial
Leitura
A/D
SETUP
N
N
S
S
S
S
Return
SETUP OK
Return
SETUP NOK
A/D<Th_probe?
A/D<Th_vagina?
Exibe tela
espere
Leitura
estável?
Exibe tela
conectar
Flag serial?
Exibe tela
retira probe
N
Figura 36: Subrotina de preparação de condições iniciais (setup).
114
Exibe tela
introduzir
N
N
N
N
Reset flag
ON
Tempo<120 s?
Reset flag
ON
Tempo<120 s?
S
S
S
S
Espera
90 s
Return
Estabil NOK
Return
Estabil OK
Recupera
ponteiros
Exibe tela
estab_term
Exibe tela
espere
Inicia
aquisição
A/D<Th_vag?
Exibe tela
posão
Estabilizão
Sinal esvel
10 s?
Figura 37: Subrotina de detecção de linha de base (estabilização).
115
Exercícios
S
S
N
N
Leitura
A/D
Incrementa
contador telas
Tela
final?
Exibe leitura
display
Salva A/D
meria
Tempo <24 s?
Exibe tela
exercícios
Leitura
A/D
Salva A/D
meria
Contração?
Exibe tela
padrão
Return
Exame OK
Incrementa
contador telas
Te la
final?
Tempo<24 s?
LED ON
LED OFF
N
S
S
N
N
S
Flag estim
ON?
A/D>Th_contr?
N
Leitura
A/D
Salva A/D
memória
Contração?
Exibe tela
padrão
LED ON
N
S
S
Incrementa
contador telas
Te la
final?
Tempo<24 s?
S
S
S
N
N
LED OFF
Estímulo
OFF
Reset flag
stim
Set flag
stim
Estímulo
ON
BIO
ELETRO
EMAP
N
N
N
S
S
S
Return
Exame NOK
Reset flag
ON
Exibe tela
inicio
Exame
Aquisição
50 Hz
Tempo<120 s?
Tecla
início?
Te cla
liga/desl?
Figura 38: Subrotina de gerenciamento da sessão de exercícios.
116
N
N
S
S
S
Return
Retry<5?
Exibe tela
erro
Bloco
Final?
Return
Exibe tela
transf OK
Download
Memória
pag 0
memória
Check Sum OK?
Envia bloco
Exibe tela
tranferência
Programação
Exibe tela
programão
N
N
S
S
S
Return
Retry<5?
Exibe tela
erro
Byte
Final?
Check Sum OK?
Return
Exibe tela
program OK
Grava pag 0
memória
Recebe
bytes
Comunicação
Serial
Figura 39: Subrotina de comunicação serial.
117
Atualiza
RTCC
Carregador?
Return
Interruão
Timer 0
Seta flag
Charger
Reset CPU
S
N
Figura 40: Subrotina atendimento interrupção do Timer0.
Teclas
Liga/desliga?
Return
Interrupção
Externa
Seta flag
ON
Return
S
N
Figura 41: Subrotina atendimento interrupção externa.
caracter
Return
Interruão
Serial
Seta flag
Serial
Figura 42: Subrotina atendimento interrupção serial.
118
Apêndice III
Seqüência de telas apresentadas aos pacientes
Tela inicial
Informação de
data/horário
Estado de carga
das baterias
So lic it a ç ã o d e c o n e xã o
do cabo da probe
Verificação de leitura
da pressão na probe
Orientação da posição
correta para os exercios
Solicitação de
introdução da probe
Tempo de 90 s para
estabilização térmica
Determinão da
linha de base
Iníc io d a sessã o
de exercícios
Sessão de exercícios
Salvamento da
sessão de exercícios
Procedimentos para
desligamento automático
Ajuste da intensidade de
corrente de eletroestimulação
Icio do ajuste da
intensidade de corrente
Figura 43: Seqüência de telas apresentadas à paciente com o equipamento na opção estimulação elétrica gatilhada.
120
Tela inicial
Informação de
data/horário
Estado de carga
das baterias
So lic it a ç ã o d e c o n e xã o
do cabo da probe
Verificação de leitura
da pressão na probe
Orientação da posição
correta para os exercios
Solicitação de
introdução da probe
Tempo de 90 s para
estabilização térmica
Determinão da
linha de base
Iníc io da sessã o
de exercios
Sessão de exercícios
Salvamento da
sessão de exercícios
Procedimentos para
desligamento automático
Figura 44: Seqüência de telas apresentadas à paciente com o equipamento na opção exercícios pélvicos
seqüenciados.
Anexo I
Aprovação da Comissão de Pesquisa e Ética em Saúde do HCPA
122
Anexo II
Questionário de Qualidade de Vida
124
125
RESUMO
Tratamentos conservadores atuais para incontinência urinária feminina incluem uma
combinação de exercícios da musculatura do assoalho pélvico (EMAP), cones vaginais,
estimulação elétrica e biofeedback. Todavia, estudos recentes têm sido incapazes de
determinar qual técnica suplementar é mais vantajosa. Além disso, a avaliação da adesão
ao tratamento é difícil, quando as técnicas são aplicadas em ambiente domiciliar. Assim, os
objetivos da pesquisa descrita envolvem o projeto de um equipamento portátil para
aplicação de EMAP associados ao biofeedback e à estimulação elétrica em ambiente
domiciliar e a realização de estudo piloto em grupo de pacientes com incontinência
urinária. O novo equipamento desenvolvido consiste de uma unidade microprocessada
portátil com capacidade de memória para armazenar os exercícios realizados pela paciente
em ambiente domiciliar. A cada consulta o conteúdo da memória é descarregado via
interface serial e pode ser analisado pelo terapeuta, visando a determinação da adesão e
performance na realização dos exercícios. A monitorização da pressão de contração da
musculatura pélvica é realizada com uma probe vaginal. Foram incluídas no estudo 32
voluntárias, alocadas em 3 grupos de intervenção e submetidas a um protocolo de 13
semanas. Ao início e final do tratamento as voluntárias passaram por avaliação
urodinâmica, perineometria e preencheram um diário miccional e questionário de
qualidade de vida. A avaliação dos resultados do tratamento mostrou que após 3 meses,
71,9% das pacientes (23) tiveram cura ou melhora significativa, 18,8% (6) melhora parcial
de sintomas e 9,3% (3) resposta ruim, sendo encaminhadas para tratamento cirúrgico. A
adesão ao tratamento não mostrou diferenças estatisticamente significativas entre os grupos
(p=0,201), porém a performance na realização dos exercícios mostrou diferenças
significativas (p<0,05), com melhores resultados no grupo de biofeedback. Em todos os
grupos, foram observados aumento significativo na força de contração máxima da
musculatura pélvica (p<0,05) e uma melhora nos escores do questionário de qualidade de
vida (p<0,02). O número de perdas por esforço apresentou uma redução estatisticamente
significativa (p<0,05) e observou-se uma tendência de redução no número de micções
diárias e número de perdas por urgência. A nova instrumentação desenvolvida para uso
domiciliar mostrou-se eficaz e as voluntárias participantes do estudo apresentaram
alterações significativas nas variáveis analisadas.
PALAVRAS-CHAVE
Incontinência urinária feminina, exercícios pélvicos, tratamento conservador, biofeedback,
estimulação elétrica neuromuscular.
ÁREA/SUB-ÁREA DO CONHECIMENTO
3.13.00.00-6: Engenharia Biomédica
3.13.02.03-3: Instrumentação Odontológica e Médico-Hospitalar
3.13.01.01-0: Processamento de Sinais Biológicos
4.01.01.15-0: Ginecologia e Obstetrícia
2008
N. 33
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