32
de servir o povo é restituir-lhe a palavra, dar voz às suas silenciosas
atividades, dar corpo e visibilidade aos seus saberes milenários, ir ao
encontro das suas aspirações, pôr à sua disposição todos os elementos
informativos, críticos e doutrinais que lhe permitam ajuizar, ter opinião,
participar, adquirir voz ativa, ser cidadão. Que o povo encontre, nas páginas
da Encyclopédie os elementos que lhe permitam reconhecer-se como
público. Que o povo seja público, que o público seja interlocutor, que se
constitua como opinião pública. Tal só se consegue na medida em que se
fizer circular toda a informação (POMBO, 2007e, grifo do autor).
“A história da Enciclopédia tem seu momento mais importante na década de
1770; só então ela entra em uma fase que representa a difusão do Iluminismo em
grande escala [...] atingiu a maioria de seus leitores depois de ele a haver concluído”
(DARNTON, 1996, p.17). Isso ocorreu com a contribuição de Denis Diderot, sendo a
enciclopédia considerada um best seller dos livros do século, vendendo 25 mil
exemplares da edição completa, sendo o mais extraordinário empreendimento
comercial do século, conforme descreve Darnton (1996). Serviu como modelo para
outras enciclopédicas elaboradas desde então e constituiu o alicerce da renovação e
concepção filosófica e científica.
A obra pretendia [...] medir toda a atividade humana com padrões racionais,
e assim fornecer a base para reinterpretar o mundo. [...] O que identificava
os enciclopedistas como um grupo não era sua posição social, mas seu
comprometimento com uma causa, [...] È certo que muitos deles desertaram
quando essa causa se viu mais ameaçada, porém eles deixaram sua marca
na obra. [...] Pelos escândalos, perseguições e pela sobrevivência pura e
simples, a Enciclopédia passou a ser reconhecida [...] como a síntese de um
grandioso movimento intelectual, e os homens que dela participaram
ficaram conhecidos não meramente como colaboradores, mas como os
‘enciclopedistas’, um grupo heterogêneo de autores, unidos por um
comprometimento comum (DARNTON, 1996,18-26).
A primeira edição da enciclopédia organizada por Denis Diderot, em 1751,
constituía 17 volumes representados por textos escritos e 11 volumes compostos de
ilustrações, imagens ou figuras. Voltaire
8
estava entre os principais pensadores que
contribuíram de forma intensa com o notável ensaio de reunir em uma só obra, o
capital teórico do conhecimento intelectual humano. Jean Baptiste le Rond
D'Alembert, homem com amplo conhecimento matemático, apreciava a filosofia e a
literatura, e entre outras contribuições deixou sua marca na introdução da
8
Voltaire, pseudônimo de François-Marie Arouet. Foi poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo e
historiador francês. Senhor das letras, homem culto e conhecido por sua intensa correspondência -
sementes da Revolução Americana de 1776 - que para ele era um meio de comunicação marcada
pela agilidade, confiável e protegida de censuras. Sua contribuição nos verbetes da Encyclopédie
foram sobre Elegância, História, Espírito e Imaginação. Um sistemático teórico, contrário a todos os
abusos do Antigo Regime, convicto de que o poder deveria ser exercido de maneira a introduzir o
progresso da razão, benéfico à sociedade com incentivo à ciência e à tecnologia. Introduziu
reformas como a: imparcialidade de justiça criminal, liberdade de imprensa, tributação e privilégios
proporcionais a todos os membros da sociedade (O ILUMINISMO, 2007).