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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA
COM CRIANÇAS
ELISABETH KUHN DEAKIN
Profª Drª. Maria Lucia Tiellet Nunes
Orientadora
Porto Alegre, junho de 2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA
COM CRIANÇAS
ELISABETH KUHN DEAKIN
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Psicologia da Faculdade de Psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul como requisito para obtenção do grau de
Doutor em Psicologia
Profª. Drª. Maria Lucia Tiellet Nunes
Orientadora
Porto Alegre, junho de 2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA
COM CRIANÇAS
Elisabeth Kuhn Deakin
COMISSÃO ORGANIZADORA
_______________________________________
Profa. Dr. Maria Lucia Tiellet Nunes
Presidente
________________________________________
________________________________________
Dr. Ângela Plass
Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
________________________________________
4
Aos meus filhos Thomas, Arthur e
Julia. Ao meu marido, Russell, e
aos meus pais, Olavo e Nadir.
5
AGRADECIMENTOS
São muitas as pessoas que gostaria de mencionar neste momento tão especial de
minha vida, porém seria impossível citar o nome de todos. De qualquer forma, aproveito
esta oportunidade para agradecer a todos os pacientes, a seus familiares, às instituições,
aos alunos, professores e colegas de profissão que, de uma forma ou de outra,
contribuíram com este trabalho.
Minha gratidão a algumas pessoas que estiveram mais próximas e merecem ser
nomeadas. Em primeiro lugar, meus filhos Thomas, Arthur e Julia e meus pais Olavo e
Nadir, que me apoiaram muito ao longo de todo este percurso. Mostraram sua
admiração pelo meu desejo de querer continuar a estudar e de me aprimorar na
profissão.
Ao meu marido Russell, que, apesar de o concordar com a realização deste
projeto no primeiro momento, conseguiu entender seu significado e, enfim, me
acompanhou-me na decisão de realizar este doutorado.
À minha tia Thalita, que muito me ajudou nas logísticas da PUCRS quando me
mudei para os Estados Unidos e sempre procurou manter tudo em perfeita ordem.
À Maria Lucia Tiellet Nunes, minha orientadora e grande amiga, que muito me
ensinou e incentivou ao longo desta trajetória.
Aos colegas, Rodrigo Linck Graeff e Silvia Dian, que foram incansáveis na
coleta dos dados, análise do material e concretização do projeto. Tenho certeza de que,
se não fosse pelo estímulo destes colegas, eu não teria conseguido finalizar.
Ao grupo de pesquisa, com atenção especial a Milene Merg, Cristiane Feil,
Juliane Borsa e Rodrigo Souza. Também a todos os funcionários do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da PUCRS.
Aos diretores do CEAPIA, que apostaram na realização deste projeto e
acreditaram no seu valor.
Aos funcionários do CEAPIA, em especial à secretária Ângela Maria Godoi dos
Santos, que foi sempre muito otimista na busca dos pacientes e suas famílias, meu muito
obrigado.
À Vânia Hirakata pela excelente assessoria estatística e disponibilidade de me
ajudar mesmo a distância.
6
SUMÁRIO
Resumo....................................................................................................................
7
Abstract...................................................................................................................
8
Apresentação..........................................................................................................
9
Seção I - Modelo de Efetividade e Eficácia na Avaliação de Resultados de
Psicoterapia com Criança......................................................................................
14
Seção II: - Avaliação de Resultados de Psicoterapia Psicanalítica com
Crianças..................................................................................................................
44
Seção III: - Abandono de Psicoterapia com Crianças........................................
82
Considerações Finais..............................................................................................
109
Anexos.....................................................................................................................
Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.......................................................................
Termo de Consentimento Livre e Informado................................................
Ficha de Acompanhamento do Paciente........................................................
Ficha de Evolução do Paciente........................................................................
116
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120
7
RESUMO
Esta tese objetivou fazer uma revisão sobre a pesquisa em psicoterapia com crianças,
mas especificamente a psicoterapia psicanalítica, bem como investigar a efetividade e o
abandono prematuro desta modalidade de atendimento. Para tanto foram elaborados três
estudos. O primeiro é um trabalho de revisão sobre os modelos de investigação mais
utilizados na atualidade para avaliar resultados de psicoterapia: o modelo de estudo de
eficácia e o modelo de estudo de efetividade. O segundo é uma pesquisa empírica sobre
os resultados da psicoterapia psicanalítica individual com crianças em um ambulatório
de Porto Alegre, RS. Neste estudo foram aplicados três testes psicológicos com 23
crianças de 6 a 11 anos (WISC III, Bender-Gestáltico e Rorschach) e um questionário
auto-administrado (CBCL) com os pais ou responsáveis. Todos os testes foram
aplicados antes da intervenção psicoterápica psicanalítica e, novamente, após 12 meses
da primeira avaliação seguindo os mesmos princípios metodológicos. As 23 crianças
que receberam atendimento psicoterápico psicanalítico foram comparadas com 22
crianças do mesmo sexo, idade e resultado total do CBCL que não receberam
tratamento. Neste estudo, foram encontradas diferenças positivas estatisticamente
significantes no grupo clínico que recebeu intervenção psicoterápica nas seguintes
variáveis: redução dos sintomas de ansiedade (.002) e problemas escolares (.031);
melhora das relações interpessoais medidas pelo Rorschach (.022); melhora nas escalas
de retraimento (.010), pensamento(.022), ansiedade e depressão (.017), introversão
(.008) e total (.003) medidas pelo CBCL. O resultado da escala total do CBCL foi
utilizado para cálculo do tamanho de efeito da intervenção, que foi estimado em 0.696,
portanto, moderado. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes
nos testes do WISC III e Bender. Por último foi realizada uma pesquisa empírica sobre
abandono de psicoterapia com crianças no qual foi feita uma comparação de uma
amostra de 24 crianças que completaram 12 meses de psicoterapia psicanalítica com
uma amostra de 38 crianças que interromperam prematuramente o tratamento. Foram
encontradas diferenças estatisticamente significantes nas variáveis sexo, sintomas,
freqüência dos atendimentos, capacidade da criança de controlar as emoções (%CF) e
de controlar impulsos (%m + mF), medidas pelo Rorschach e escalas de sociabilidade,
queixas somáticas, ansiedade e depressão e comportamentos internalizantes medidas
pelo CBCL. Este estudo revelou que a psicoterapia psicanalítica é efetiva no tratamento
da criança do sexo feminino, que apresenta transtornos internalizantes, tem maior
descontrole de emoções e impulsos e recebe atendimento com uma freqüência de duas
vezes por semana por pelo menos 12 meses.
Palavras-chave: Psicoterapia Psicanalítica com Crianças; Pesquisa de Resultados;
Psicanálise.
8
ABSTRACT
This dissertation aimed to review the current research in child psychotherapy, more
specifically, the child psychoanalytic psychotherapy, as well as to investigate the
effectiveness of child psychoanalytic psychotherapy and early termination of this
treatment modality. Three different studies were carried out. The first was a theoretical
study which discussed two models that are mostly used to evaluate psychotherapy
outcome: the efficacy model and the effectiveness model. The second study was an
empirical research on individual child psychoanalytic psychotherapy outcome in a
clinical outpatient setting in Porto Alegre, Brazil. Three psychological testing
(Rorschach, Bender, WISC III) were administered in 23 children, ages 6 to 11 years old
and the Child Behavior Check List (CBCL) was completed by the parents. All testing
was completed before the beginning of the psychoanalytic psychotherapy. The same
measures were repeated after 12 months of intervention. The 23 children who received
individual psychoanalytic psychotherapy were compared with 22 children (same age,
gender and total CBCL score) who did not receive any kind of intervention. In the
clinical group the results indicated statistical significant reduction of anxiety symptoms
(.002) and school problems (.031) , improvement in interpersonal relationships (.022)
and positive change in the following CBCL scales : withdrawn (.010), thought
processing (.022), anxiety and depression (.017), internalizing (.008) and total (.003)
.An effect size of 0,696 was calculated based on the CBCL total scale before and after
intervention .No statistical significant differences were found in the WISC III and
Bender-Gestalt results. The third study comprised an empirical research in child
psychotherapy drop out in which 24 children who completed 12 months of
psychoanalytical psychotherapy were compared with 38 children who dropped out of
psychotherapy before 12 months of intervention. Statistical significant differences were
found in the following variables: gender, presenting problems, frequency of sessions,
child’s impulse and emotion control and the socialization, somatic, anxiety, depression,
internalizing CBCL scales. The results revealed that the child psychoanalytical
psychotherapy is mostly effective in the treatment of female children, who present
internalizing problems, such as anxiety and depression, has little control of impulses and
emotions and attends at least 12 months of psychoanalytical psychotherapy twice
weekly.
Key words: Child Psychoanalytic Psychotherapy, Outcome Research, Psychoanalysis.
9
APRESENTAÇÃO
Esta tese de Doutorado está inserida no grupo de Pesquisa: Formação, Avaliação
e Atendimento em Psicoterapia Psicanalítica, coordenado pela Profª. Drª. Maria Lucia
Tiellet Nunes, na Linha de Pesquisa em Intervenções Psicoterapêuticas, do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS).
Estudos epidemiológicos sugerem que de 10% a 20% das crianças brasileiras
sofrem de doenças psiquiátricas em algum momento de sua infância e esses transtornos
tendem a ser persistentes se não atendidos efetivamente (Fleitlich-Bilyk & Goodman,
2004). Destas crianças que necessitam de tratamento, somente 10% a 20% chegam a
receber algum tipo de atendimento psicológico e/ou psiquiátrico. Mesmo entre crianças
atendidas, 40% a 60% abandonam prematuramente o tratamento (Kazdin, 1996). Esse
dado remete a um problema de saúde pública e reforça a urgente necessidade de
disponibilizar tratamentos efetivos da doença mental na infância a toda população.
O estudo da efetividade de um tratamento permite uma perspectiva da qualidade
da psicoterapia oferecida por um profissional autônomo ou por um ambulatório. Pode-se
observar um número acentuado de profissionais que oferecem serviços de atendimento
psicoterápico para as crianças em Porto Alegre e em todo o Rio Grande do Sul, mas
muito poucos realmente se envolvem com a investigação empírica. No que diz respeito
à psicanálise, parece haver uma resistência ainda maior a avaliar o trabalho realizado
(Kandel, 2003).
O fato de existirem poucas pesquisas de resultados de psicoterapia psicanalítica
com crianças não significa que esta modalidade de atendimento seja ineficiente.
Entretanto, atualmente existe uma forte tendência que privilegia a medicina baseada em
evidências, ou seja, na utilização de intervenções que demonstram produzir mudanças
10
terapêuticas em estudos clínicos controlados (Kazdin, 2008). Essa tendência está
diretamente relacionada a uma constante pressão quanto ao reembolso das sessões por
parte do governo e planos de saúde, principalmente nos Estados Unidos e países da
Europa. Para estes, os recursos disponíveis para a saúde mental devem ser destinados a
modalidades de tratamento que ofereçam o melhor custo-benefício aos pacientes
(Fonagy, 2003).
Neste cenário, a psicanálise acaba por deparar-se com novas demandas que
podem ser traduzidas em uma necessidade de produzir mais pesquisas de resultados do
trabalho oferecido. Apesar disso, a escassa literatura na área confirma que a psicanálise
e os métodos derivados desta ainda produzem uma pesquisa tímida e cautelosa,
principalmente nos países da América Latina (Serralta & Streb, 2003).
É justamente pelos fatores citados até então que o interesse pelo presente estudo
surgiu. Este procura unir anos de experiência clínica psicanalítica com crianças com à
investigação empírica dos resultados do trabalho realizado. Busca-se, também,
aprimorar a compreensão do paciente que busca atendimento nos dias de hoje e oferecer
a modalidade de atendimento que seja mais adequada às suas necessidades.
O estudo foi facilitado pelo fato de sta autora estar inserida em um ambulatório
de Porto Alegre que oferece atendimento psicoterápico psicanalítico a um grande
número de crianças da comunidade e que vem demonstrando interesse de desenvolver o
setor de pesquisa e avaliar a efetividade do tratamento psicoterápico oferecido.
Para ir ao encontro deste objetivo foram elaborados três estudos sobre a
temática, conforme resolução do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, a saber:
Seção I: Modelo de Efetividade e Eficácia na Avaliação de Resultados de
Psicoterapia com Crianças.
Seção II: Avaliação dos Resultados da Psicoterapia Psicanalítica com Crianças.
11
Seção III: Abandono de Psicoterapia com Crianças.
O primeiro estudo aborda o tema relativo às diferentes modalidades de estudo de
avaliação de resultados de psicoterapia. O objetivo deste trabalho é discorrer sobre
importantes conceitos teóricos relacionados à avaliação de resultados de psicoterapia
com crianças, em especial a psicoterapia psicanalítica. Por fim é apresentada uma
discussão na qual se procura argumentar a superioridade do modelo de estudo de
efetividade sobre o modelo de estudo de eficácia na avaliação de resultados da
psicoterapia psicanalítica com crianças.
O segundo estudo apresenta e discute os resultados encontrados no estudo de
avaliação de resultados de psicoterapia psicanalítica com crianças em um ambulatório
de Porto Alegre. Foram comparados os resultados antes versus depois de 23 crianças
que realizaram psicoterapia psicanalítica por 12 meses com os resultados de 22 crianças
do grupo controle que não receberam nenhum tipo de intervenção. Foram encontradas
diferenças estatisticamente significantes nos resultados antes versus depois das crianças
que se mantiveram em tratamento por 12 meses nos resultados do Child Behavior
Checklist (CBCL), no teste projetivo do Rorschach e nas fichas de evolução
preenchidas pelos terapeutas. Este texto aborda temas relativos ao alcance da
psicoterapia psicanalítica com crianças, assim como suas limitações.
O terceiro e útimo trabalho procura retratar as diferenças encontradas no
primeiro momento da avaliação entre 24 crianças que se mantiveram em tratamento
psicoterápico psicanalítico por 12 meses e as 38 crianças que abandonaram o
tratamento. Aborda temas relativos ao abandono de psicoterapia, o perfil do paciente
que abandona e as razões que levam a interrupção do tratamento. Além do mais,
procura-se levantar formas de prevenção do abandono da psicoterapia com crianças.
12
Espera-se que este estudo possa trazer contribuições para a transmissão de
informações científicas a respeito da efetividade da psicoterapia psicanalítica com
crianças, através da indicação de possíveis respostas para melhorar a organização das
instituições que oferecem este serviço e prevenir o abandono de psicoterapia.
A composição dessa tese está estruturada da seguinte forma: 1) apresentação
geral do trabalho; 2) seção de revisão da temática; 3) seção empírica sobre resultados de
psicoterapia psicanalítica com crianças; 4) seção empírica sobre abandono de
psicoterapia e, por fim, 5) os comentários finais sobre todos os resultados, em uma
tentativa de integrá-los e englobar os conceitos analisados ao longo dos diferentes
estudos.
13
Referências Bibliográficas
Fleitlich-Bilyk, B. & Goodman R. (2004). The prevalence of child and adolescence
psychiatric disorders in south east Brazil. Journal of American Academy of Child
and Adolescence Psychiatry, 43, 727-734.
Fonagy, P. (2003). The research agenda: the vital need for empirical research in child
psychotherapy. Journal of Child Psychotherapy, 29(2), 129-36.
Kandel, E.R. (2003). A biologia e o futuro da psicanálise: um novo referencial
intelectual para a psiquiatria revisitado. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul,
25(1), 139-165.
Kazdin, A.E. (1996). Dropping out of child psychotherapy: issues for research and
implications for practice. Clinical Child Psychology and Psychiatry, 1, 133-156.
Kazdin, A.E. (2008). Evidence-Based treatment and practice: New opportunities to
bridge clinical research and practice, enhance the knowledge base and improve patient
care. American Psychologist, 63(3), 146-159.
Seralta F.B, Streb L.G. (2003). Notas sobre pesquisa em psicoterapia psicanalítica:
situação atual e perspectivas. Revista Brasileira de Psicoterapia, 5(1), 53-65.
14
SEÇÃO I
MODELO DE EFETIVIDADE E EFICÁCIA NA AVALIAÇÃO DE
RESULTADOS DE PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS
15
Introdução
O desenvolvimento e a identificação de intervenções psicoterapêuticas que se
mostrem efetivas no tratamento da doença mental na infância são fundamentais. Este
estudo teórico se propõe a explorar possibilidades de investigação de resultados de
psicoterapia com crianças, com ênfase nos modelos de estudo mais utilizados na
atualidade: o modelo de efetividade e o modelo de eficácia. Neste texto, serão apontadas
as especificidades de cada um dos modelos e, por fim, procurar-se-á argumentar a
superioridade do modelo de efetividade na avaliação de resultados da psicoterapia
psicanalítica.
Psicoterapia Psicanalítica e Investigação Científica
Ser psicoterapeuta independente da linha teórica escolhida, requer sensibilidade,
flexibilidade, capacidade empática e criatividade. Ao mesmo tempo requer
conhecimento científico da teoria e da técnica utilizada. Esse conhecimento, por sua
vez, não é estático, pois a área está em constante evolução e produzindo novas idéias.
Esse processo de evolução requer uma metodologia que permita verificar a validade do
conhecimento e possibilite preparar as mudanças necessárias para melhorar o produto
que daí resulta. Nesse sentido, a psicoterapia, assim como as demais ciências, deve se
preocupar com sua validade e utilidade, sendo a investigação científica uma das formas
pelas quais se é possível questionar e verificar a validade deste determinado
conhecimento (Villegas, 1991)
Atualmente existe forte tendência que privilegia a medicina baseada em
evidências, ou seja, naquilo que pode ser comprovado cientificamente. Esse movimento
se deve ao fato de que governos, planos de saúde e, até mesmo, os próprios pacientes
estão interessados na relação custo/benefício dos tratamentos psicológicos,
16
principalmente naqueles de longo prazo, como o proposto pela psicanálise e pelos
tratamentos de orientação analítica (Target & Fonagy, 1994). Essa necessidade de
avaliar os resultados dos tratamentos psicoterapêuticos parece estar também relacionada
com a forma de pensamento/não pensamento que a pós-modernidade propõe: a cultura
de imagens, de explosões emocionais e de gratificação imediata. Há uma busca de
soluções de baixo custo que não exijam muita reflexão, mas
aliviem o sofrimento
psíquico que motivou a busca de atendimento (Eizirik, 2001). A descrição de Kristeva
(2004) para o homem contemporâneo é de um habitante de um espaço e um tempo
retalhados e acelerados, com dificuldade de reconhecer em si mesmo uma fisionomia.
Para esta autora, o homem atual está perdendo sua alma justamente pela falta de tempo
e disponibilidade psíquica para a reflexão.
Na verdade, todas as áreas da saúde se encontram comprometidas com as
exigências sociais e econômicas que tomam conta do dia-a-dia das pessoas, fazendo
com que estas tenham que lutar pela sua sobrevivência em uma realidade muito
competitiva. No contexto desta discussão, as pesquisas de avaliação de resultados de
psicoterapia têm se desenvolvido com o intuito de demonstrar que são superiores, iguais
ou inferiores a outros tratamentos, similares ou não, que se dispõem a tratar as mesmas
formas de doença ou expressão de sofrimento psíquico (Eizirik, 2001).
Não obstante, existem aqueles que acreditam que este recente interesse por
pesquisas de resultados está mais relacionada com uma imposição social e política de
controle sobre o profissional da saúde do que com o aprimoramento do serviço
oferecido ao paciente. Fonagy (1997) sugere que, na maioria das pesquisas de
resultados, as necessidades do paciente não são consideradas, sendo o foco as
necessidades dos governos e planos de saúde. Para Jimenez (1998), na América Latina
ainda estamos na etapa de justificação da psicoterapia, que começou como resposta à
17
publicação dos estudos de Eysenck em 1952. Este autor colocou em dúvida a eficácia
dos tratamentos psicológicos em comparação com a melhora por remissão espontânea.
Nesta etapa de justificação, as psicoterapias têm sido desafiadas a demonstrar que são
mais eficazes e/ou efetivas que o placebo ou a remissão espontânea e que, inclusive,
reduzem o gasto com a saúde geral dos pacientes atendidos.
No Brasil, tem havido muitas discussões relativas às possibilidades e limitações
da pesquisa em psicoterapia psicanalítica (Caon, 1996; Eizirik, 1998; Lowenkron,
2000). Apesar de ser possível observar maior envolvimento com a investigação
empírica de resultados dessa modalidade de atendimento, o número de pesquisas na
América Latina ainda é muito reduzido se comparado a outros países, principalmente
aos Estados Unidos (Serralta & Streb, 2003)
Autores reconhecidos no meio psicanalítico contemporâneo, como Wallerstein
(1996) e Green (1996), defendem posições diversas no que diz respeito à pesquisa em
psicanálise e psicoterapia psicanalítica. Enquanto Wallerstein (1996) afirma que é
possível produzir pesquisa empírica em psicanálise, Green (1996) se refere a isso como
uma ilusão, pois acredita que não compatibilidade entre o modo de pensar
psicanalítico e todas as exigências do método científico.
Kernberg (1999) discute que a psicanálise e a psicoterapia psicanalítica
apresentam algumas peculiaridades que acabam por dificultar as pesquisas. Para o autor,
as características do processo analítico e sua intersubjetividade criam empecilhos à
objetivação da pesquisa. Além disto, sugere que os métodos empíricos ainda são
simplistas e não contemplam a complexidade da relação terapêutica. Também
argumenta que a formação analítica não se mostra muito preocupada com a produção do
conhecimento quanto à evidência empírica e que há, inclusive, certo distanciamento
18
entre os centros de formação e as universidades, locais em que são fomentadas as
pesquisas empíricas.
É fato que os tratamentos psicanalíticos se baseiam no significado psicológico
de um determinado sintoma e muito pouco no sintoma em si. Isso faz com que seja mais
difícil definir o objetivo desta modalidade de tratamento quando comparada com outras
modalidades de atendimento como, por exemplo, a psicoterapia cognitivo-
comportamental. Além disso, vários indivíduos e diferentes escolas de tratamento
psicanalítico conceituam a “natureza psicanalítica” de sua prática de forma muito
diversa: técnica, freqüência das sessões, ações terapêuticas, entre outros aspectos (Liz,
Zennaro & Mazzeschi, 2001). Como se pode perceber, nem sempre uma coesão de
idéias entre os diferentes profissionais que trabalham a partir de uma orientação
psicanalítica o que dificulta ainda mais a realização da investigação empírica na área.
Herrmann (2000) refere que especificamente a psicanálise está na defensiva no
que diz respeito à avaliação dos resultados de seu trabalho. O autor sugere que a partir
de atitudes como essas, a psicanálise e a psicoterapia psicanalítica acabam por se isolar
em uma pretensa autonomia, distanciando-se ainda mais das demandas sociais e
políticas da atualidade, correndo o risco de não sobreviver no mundo contemporâneo.
Bernardi (1996) argumenta que apenas a especulação intelectual não pode ser
considerada como científica e, por isso, necessidade de desenvolver metodologias
capazes de tornar evidentes resultados específicos no que diz respeito aos efeitos de
psicoterapia. O autor afirma haver uma crescente necessidade dos diferentes tratamentos
psicológicos, incluindo, entre eles, a psicanálise, bem como de revisar sua eficácia
através de fundamentos científicos mais consistentes. Jimenez (1995) assinala que a
ausência de estudos desse tipo faz com que a atenção terapêutica se organize em função
19
dos terapeutas e planos de saúde e não da demanda, quer dizer, das necessidades da
população.
Talvez o ideal fosse a confluência de distintas metodologias e tipos de estudo
que resultem complementares à investigação clínica, pois a psicanálise, assim como
toda disciplina viva, deve enfrentar processos de transformação que se originam, tanto
em seu próprio crescimento interno, como nas exigências de um ambiente que está
sempre mudando (Bernardi, 1996). Para tanto faz-se necessário unir os esforços
daqueles que estão envolvidos na investigação dos resultados da psicanálise e
psicoterapia psicanalítica, de forma a integrar os estudos, tornando estes representativos
da população que busca atendimento psicológico e solidificando de vez a investigação
empírica nesta área.
Por fim, é importante salientar que a urgência maior encontra-se na realização de
pesquisas na área da psicanálise infantil, pois a carência de avaliação empírica das
intervenções oferecidas à criança por esta linha de trabalho, faz com que seus resultados
sejam facilmente desafiados por outras formas de tratamento empiricamente validadas.
Em alguns países, como nos Estados Unidos, no qual os planos de saúde praticamente
comandam o tipo de tratamento que deve e pode ser oferecido ao paciente, a psicanálise
e modalidades oriundas desta correm o risco de serem consumidas por um sistema
pouco preocupado com as necessidades do paciente, mas muito atento aos custos de um
tratamento psicológico, principalmente aqueles de longo prazo como a psicanálise.
Pesquisa em Psicoterapia com Crianças
Para introduzir o tema relativo à pesquisa em psicoterapia com crianças na
atualidade, considera-se importante esclarecer que neste estudo, entende-se por
psicoterapia com crianças uma intervenção que visa atender problemas diversos que
20
causam estresse emocional, interferem no dia-a-dia da criança e dificultam o
desenvolvimento das habilidades adaptativas e/ou ameaçam o bem-estar da criança e
dos outros a sua volta. Sem dúvida, é um conceito amplo, no qual interação de um
grande número de fatores, e qualquer um deles pode influenciar significativamente o
resultado da intervenção (Weisz, Doss & Hawley, 2005).
Acredita-se ser relevante salientar que as intervenções psicoterapêuticas da
infância sofreram uma série de transformações durante o século XX. Em um
levantamento realizado por Kazdin (2000), foram encontrados 500 tipos de intervenções
psicoterapêuticas disponíveis para crianças e adolescentes. Por um lado, esta
proliferação de intervenções disponibilizou uma literatura mais ampla aos profissionais
que trabalham nesta área. Por outro, o grande número de listas, manuais e guias criados
recentemente são bastante complexos e paradoxalmente aumentam a dificuldade de
identificar qual o tratamento é melhor para qual paciente (Chorpita, Becker & Daliedes,
2007).
No contexto desta discussão, cabe referir que a diversidade das técnicas também
tornou problemática a avaliação dos resultados destas, visto não existir uma forma
singular de tratamento que possa ser utilizada como referência. Fonagy (1997)
questiona, no entanto, esta diversidade das técnicas, pois não acredita haver tantos tipos
genuinamente diferentes de ajudar uma criança que está sofrendo psiquicamente. O
autor argumenta que as diferenças entre as terapias não são claras e mais de 50% dos
terapeutas oferecem terapias ecléticas, utilizando elementos de várias orientações
teóricas na sua prática diária. O mesmo não acontece, no entanto, na seleção de uma
modalidade terapêutica ao se realizar uma investigação empírica, na qual a
necessidade de definir e, muitas vezes, manualizar o tratamento a ser oferecido.
21
Kovacs e Lohr (1995) revisaram a literatura sobre pesquisa em psicoterapia com
crianças e adolescentes no período de 1960 a 1995. Concluíram que a pesquisa nesta
área tem sido caracterizada por uma maior disponibilidade de terapias, intervenções
mais focalizadas e aumento do uso de grupos homogêneos de pacientes. Além disto,
sugeriram haver um consenso de que o tratamento psicoterápico para crianças pequenas
é melhor do que nenhuma intervenção.
Outros autores (Weisz et al., 2005), realizaram uma completa revisão
metanalítica e crítica sobre a pesquisa de resultados de psicoterapia com crianças nas
últimas quatro décadas (1962-2002). Os autores demonstraram que os estudos provaram
ser efetivos no tratamento das crianças que apresentam problemas psicológicos diversos
(depressão, ansiedade, conduta e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), mas
mostraram-se particularmente fracos em termos de representação clínica de suas
amostras, terapeutas e locais de atendimento, sugerindo uma necessidade de uma maior
ênfase na validade externa das pesquisas de resultados de psicoterapia com crianças.
Apenas 8% dos estudos incluídos neste estudo utilizavam abordagens psicodinâmicas.
Com relação à pesquisa de resultados de psicoterapia com crianças, Fonagy
(1997) sugere que a saúde mental de uma criança não pode ser considerada em termos
absolutos. Isso quer dizer que o impacto de uma intervenção deve ser analisado no
tocante ao contexto da totalidade daquela criança. Nesse sentido, a ausência ou presença
de sintomas não pode ser o único critério utilizado para avaliar a efetividade de uma
intervenção. De fato, o importante é que os resultados de psicoterapia com crianças
possam ser vistos de uma forma ampla e global, e que possam ser identificados os
mecanismos que foram responsáveis pelo processo de mudança.
O autor propõe cinco níveis pelos quais os resultados podem ser
conceitualizados: Primeiro, o nível sintomático ou diagnóstico, que é aquele que possui
22
medidas mais sofisticadas e de fácil utilização. Segundo, o nível relativo à adaptação da
criança ao seu ambiente psicossocial, já que problemas de saúde mental limitam o
funcionamento global da criança. Terceiro, o vel das capacidades emocionais e
cognitivas de uma criança, ou seja, a capacidade da criança compreender suas emoções
e de formar relações emocionais. O quarto vel é o chamado transacional, que diz
respeito às influências contextuais que podem ter relações transacionais com o problema
da criança, como por exemplo, as relações familiares, as características da comunidade,
a escola da criança assim como aspectos culturais de uma forma geral. O quinto e
último nível diz respeito à utilização de serviços, ou seja, os diferentes tipos de serviços
disponíveis para atender a criança e a integração entre eles (Fonagy, 1997).
É importante salientar que as medidas de ajustamento e sintomatologia são
menos desenvolvidas para crianças e adolescentes do que são para os adultos. Isso se
deve ao fato de que as medidas necessitam ser normatizadas para as crianças em
diferentes idades, sexo, nível socioeconômico, além disso, devem ser avaliadas
sistematicamente devido à complexidade da interação entre o desenvolvimento e a
psicopatologia da infância (Liz et al., 2001). Portanto, para que se possa avaliar os
resultados de uma intervenção psicoterápica com crianças, é importante que sejam
utilizados diferentes instrumentos (testes psicológicos, testes cognitivos, questionários
auto-administrados) bem como diferentes informantes (pais, professores, terapeutas e
criança) e que esta avaliação seja realizada em momentos diversos do tratamento (antes
de iniciar o tratamento, ao longo deste e follow-up), já que a prática clínica não se traduz
em apenas atingir um destino, como, por exemplo, eliminar os sintomas, mas também
na trajetória percorrida para se atingir o objetivo final, que nada mais é do que a
melhora psicológica da criança.
Kazdin (2008) sugere que os estudos sobre resultados
de uma intervenção devem poder explicar como o processo terapêutico transcorreu de
23
forma a alterar a vida da criança, isto é, quais os processos do tratamento são
responsáveis por aquele resultado em particular. assim, pode-se definir que tipo de
tratamento é mais efetivo para determinada população.
Existem outros aspectos que são igualmente importantes e devem ser
considerados na avaliação de resultados de psicoterapia com crianças. O primeiro ponto
diz respeito ao fato de que são os pais que buscam tratamento, e isso pode comprometer
os resultados já que a identificação dos casos que necessitam de tratamento é muito
mais complexa. As percepções parentais do ajustamento e do funcionamento de uma
criança estão moderadamente relacionadas com a psicopatologia parental
(especialmente ansiedade e depressão), discórdia marital e apoio social fora de casa
(Kazdin, 1994). Além disso, pais, professores e pediatras se mostram mais incomodados
com comportamentos exteriorizantes ou de conduta e, justamente, por isso a maioria das
crianças com esses problemas são encaminhadas a tratamento (Kazdin, Bass, Ayers &
Rodgers, 1990). os comportamentos interiorizantes como a depressão e a ansiedade,
são mais fáceis de passarem despercebidas porque causam menos desconforto àqueles
que convivem com a criança e, por esse motivo nem sempre esta é encaminhada para o
atendimento psicoterápico.
O segundo ponto é quanto ao fato de que a dependência de uma criança aos
adultos fazer com que estes sejam particularmente vulneráveis a determinados fatores
sobre os quais eles têm pouco controle. A relação do casal, a saúde mental dos pais, o
nível de estressores, a cultura, assim como a desvantagem socioeconômica são alguns
dos aspectos que influenciam a natureza e a severidade da doença da criança (Weisz &
Weiss, 1991; Dadds & MacHugh, 1992; Kazdin, 1995). Oferecer um tratamento para
uma criança é, muitas vezes, apenas uma parte da intervenção e com freqüência outros
24
esforços são necessários para alterar o contexto ou as pessoas com as quais a criança
interage.
O terceiro é quanto à inconsistência entre os informantes (pais, professores,
criança) sobre o problema em geral; o baixo índice de concordância, faz com que o
resultado de uma intervenção nem sempre possa ser julgado decisivamente. Ainda
assim, a maioria dos estudos de resultados de psicoterapia com crianças, realizados até
hoje, tem por base informações derivadas de diversos informantes. Se, por um lado,
estas diferentes informações podem oferecer perspectivas diversas, por outro podem
chegar a conclusões muito diferentes justamente pelo baixo índice de concordância
citado (Achenbach, McConaughty & Howell, 1987; Kazdin, 1994). Esse é um problema
particularmente sério na avaliação de resultados de psicoterapia infantil que as
informações derivadas destes informantes são essenciais para avaliação dos problemas e
planejamento do tratamento.
O quarto ponto é quanto à presença de dois ou mais transtornos na criança que
chega para tratamento ser mais uma regra do que uma exceção (Anderson, Williams,
Mc Gee & Silva, 1987). Não obstante, a comorbidade, que consiste na presença de
outros transtornos associados com os problemas que levaram à busca de tratamento, não
é geralmente incluída nos estudos de resultados. Esse fato acaba por obscurecer a
interpretação dada sobre a efetividade de um determinado tratamento. Muitas crianças
podem melhorar na condição tratada e que motivou a busca de tratamento, porém
podem seguir com os sintomas relacionados à condição co-mórbida não atendida no
tratamento. Nesses casos, a psicoterapia pode ser considerada efetiva em um
determinado estudo apesar dos sintomas da condição co-mórbida ainda estarem
presentes (Kazdin & Whitley, 2006).
25
Por último, cabe salientar que a criança está em desenvolvimento, e mudanças
normais podem obscurecer os efeitos do tratamento de um transtorno específico,
especialmente se um tratamento é de médio ou longo prazo (Roth & Fonagy, 2005).
Muitos problemas emocionais e de comportamento na infância têm diferentes
significados em diferentes idades. Eles se tornam disfunções em potencial quando
não fazem parte do desenvolvimento normal de uma criança. Por esse motivo, todo
estudo de avaliação de resultados de psicoterapia com crianças deve levar em conta o
estágio de desenvolvimento das crianças investigadas, através da utilização de
instrumentos que levem em consideração as diferenças entre as idades e o
desenvolvimento normal da criança (Liz et al., 2001).
Kazdin (1991) afirma ser a efetividade de um tratamento dependente de vários
fatores além da técnica de tratamento utilizada ou do tipo de problema ou transtorno. Os
psicoterapeutas que trabalham com crianças concordam que o resultado de um
tratamento depende da criança, dos pais e da família em que a criança es inserida
(Kazdin, Siegel & Bass, 1990). Por esse motivo é importante que sejam definidos os
fatores específicos e os fatores não específicos da investigação nas pesquisas de
avaliação dos resultados de psicoterapia. Os fatores específicos são aqueles elementos
da investigação que são inteiramente conhecidos e manipulados pelo investigador,
como, por exemplo, a teoria e a técnica utilizada. os fatores o específicos são
aquelas qualidades inerentes a qualquer relação humana, que, no caso da psicoterapia,
consiste em fatores presentes na relação terapeuta e paciente. Estes últimos são
dificilmente controlados, pois dizem respeito à condição humana que é, por si só,
totalmente diversa. Mesmo assim, na avaliação dos resultados de uma modalidade de
tratamento, é importante que os fatores não específicos sejam identificados de alguma
forma e os fatores específicos, controlados pelo investigador (Villegas, 1991).
26
Na maioria das pesquisas realizadas com crianças, a avaliação diagnóstica é
ainda muito utilizada para selecionar os sujeitos de uma amostra. Nestes casos, os
critérios diagnósticos mais utilizados são o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais - DSM-IV (APA, 1995) e a Classificação de Transtornos Mentais e
de Comportamento - CID-10 (OMS, 1993). Apesar da tentativa de agrupar as crianças
de acordo com quadros diagnósticos, existe pouca concordância quanto ao diagnóstico
standart a ser utilizado, principalmente no que se refere à criança, porque está em
desenvolvimento. Mesmo quando o estabelecimento de um critério diagnóstico, é
importante lembrar que as possibilidades de que duas crianças sejam muito diferentes,
apesar do mesmo diagnóstico, são muito elevadas. no transtorno de conduta existem
32.000 combinações de sintomas que os indivíduos podem apresentar e, mesmo assim,
receber o diagnóstico de transtorno de conduta (Perepletchikova, Treat & Kazdin,
2007).
Na ausência de uma concordância diagnóstica, é razoável exigir-se
documentação criteriosa dos casos selecionados para determinada pesquisa. O
detalhamento da natureza dos problemas que serviram para o encaminhamento para
tratamento pode ser um caminho para aprimorar a qualidade de uma investigação. No
caso de crianças, outras informações, como, por exemplo, psicopatologia dos pais,
estabilidade da relação parental, abuso, negligência, entre outros, são fatores relevantes
e devem ser considerados na avaliação dos resultados de determinada intervenção com
crianças (Kazdin, 1991).
No que diz respeito ao motivo de busca para atendimento, existem duas
categorias que são mais utilizadas para delinear problemas emocionais e de
comportamento de crianças: os chamados comportamentos interiorizantes (internalizing
behaviors), que correspondem à ansiedade, depressão e isolamento social e os
27
chamados comportamentos externalizantes (externalizing behaviors), que são os
comportamentos dirigidos ao ambiente externo, como a agressividade, hiperatividade e
o comportamento antisocial. A psicoterapia é mais aplicada para os comportamentos
interiorizantes, tanto na pesquisa como na prática, com crianças e adolescentes (Kazdin
et al., 1990).
Ainda, cabe ressaltar a importância da integridade do tratamento ao se avaliar os
resultados de uma determinada intervenção com crianças. A integridade se refere à
garantia de que o tratamento foi efetivado da maneira pela qual era esperado.
Obviamente, que, se um tratamento não é realizado da maneira como era esperado
inicialmente, o resultado não poderá ser avaliado. Mesmo quando dois tratamentos são
avaliados e comparados, é importante descartar a possibilidade de que as diferenças são
derivadas das variações de integridade em que cada tratamento foi conduzido (Kazdin,
1991) Os videoteipes e as gravações das sessões, citados por Busch et al. (2000)
, são
instrumentos que podem ser utilizados para assistir no monitoramento das intervenções
terapêuticas, sem substituir a ferramenta essencial, que é a mente do
analista/psicoterapeuta. Nos estudos de avaliação de resultados atuais, recursos de vídeo
e áudio são importantes para avaliar a aderência do terapeuta ao tratamento proposto e
para demonstrar o quanto uma psicoterapia é reproduzível. O uso de manuais também é
considerado um bom instrumento para assegurar a integridade de um tratamento;
existem, porém, muitas controvérsias quanto à manualização das intervenções
psicoterapêuticas, pricipalmente aquelas que seguem uma orientação psicanalítica.
Todos esses fatores citados remetem a uma questão muito importante na
pesquisa de resultados de psicoterapia com crianças: a complexidade clínica da criança
que chega ao tratamento nos dias de hoje. Estes pacientes têm patologias mais severas,
estão inseridos em famílias com transtornos diversos e, por sua vez, são mais
28
heterogêneos do que aqueles incluídos em muitas das pesquisas de resultados de
psicoterapia com crianças. A seguir, procurar-se-á discorrer sobre a situação da pesquisa
em psicoterapia psicanalítica com crianças nos dias de hoje, bem como sobre suas
peculiaridades e suas limitações.
Pesquisa em Psicoterapia Psicanalítica com Crianças
As psicoterapias psicodinâmicas, como a psicanálise e modalidades oriundas
desta, são amplamente utilizadas na Europa (Liz et al., 2001) e nos Estados Unidos
(Kazdin et al., 1990; Russell, 1991). No Rio Grande do Sul a psicanálise e as
abordagens psicodinâmicas com crianças igualmente ocupam um espaço significativo
na prática clínica e nas clínicas-escola (Campezatto & Nunes, 2007), porém ainda é
possível observar uma ausência de pesquisas que avaliem a efetividade destas
modalidades de atendimento. A revisão da literatura é contundente em afirmar que
existe uma escassez de pesquisas em psicoterapia psicanalítica com crianças em todo o
mundo e, isso faz com que seja muito difícil avaliar esta modalidade de atendimento
(Target & Fonagy, 1994; Fonagy, 2003).
Isso se deve, em parte, à subjetividade envolvida no processo psicanalítico. Os
profissionais que trabalham com esta abordagem buscam compreender e interpretar os
processos conscientes e inconscientes que estão envolvidos no tratamento e, por este
motivo, objetivam ir além do alívio da sintomatologia que motivou a busca para o
tratamento. Para tanto, estes mesmos profissionais se utilizam de encontros individuais,
em geral, pelo menos, duas vezes por semana e por um período de um a três anos, o que
caracteriza esta modalidade de intervenção como uma psicoterapia intensiva e de longa
duração (Liz et al., 2001).
29
Mais especificamente a psicoterapia psicanalítica com crianças pode ser definida
como uma forma de tratamento interpretativo que tem por base a compreensão
psicanalítica. Objetiva a resolução de sintomas, a modificação do comportamento, certo
grau de mudança estrutural da personalidade e o retorno da criança aos impulsos
desenvolvimentais normais. As técnicas da psicoterapia incluem a interpretação
utilizada junto à verbalização, o esclarecimento e as mudanças manipulativas do
comportamento, assim como uma experiência emocional corretiva de um novo objeto
(Sours, 1996).
Pesquisadores, como Peter Fonagy (1994, 1997, 2003) e Mary Target (1994),
têm trabalhado continuamente na compreensão e validação da psicanálise com crianças.
Estes autores fizeram uma extensa revisão da literatura sobre investigação empírica em
psicoterapia com crianças e concluíram que existem poucos estudos demonstrando a
utilidade da técnica para problemas psiquiátricos específicos. Entretanto, estudos
retrospectivos (Target & Fonagy, 1994) sugerem que o tratamento intensivo, como
aqueles propostos pela psicoterapia psicanalítica, podem ser a opção que traz o melhor
custo-benefício para crianças com distúrbios emocionais severos.
Estes autores fizeram uma investigação retrospectiva dos prontuários no Anna
Freud Center em Londres, Inglaterra, e concluíram que o tempo de permanência em
psicoterapia está diretamente relacionado com resultados positivos de psicoterapia para
crianças com transtornos internalizantes, ou seja, ansiedade e depressão. Além do mais,
o maior número de sessões semanais também parece estar diretamente relacionado com
o resultado positivo de psicoterapia. Para os transtornos externalizantes, como o de
conduta e oposicional desafiante, Fonagy e Target (1994) concluíram que os resultados
positivos estavam diretamente relacionados ao início precoce do tratamento (antes dos
30
15 anos) e que fatores desenvolvimentais, como idade e nível de funcionamento, afetam
os resultados da psicoterapia.
De qualquer forma existem muitas medidas que podem ser utilizadas para
avaliar resultados de psicoterapia. A dificuldade maior parece residir na possibilidade de
avaliar o processo psicoterapêutico com crianças, ou seja, descrever e medir o que
realmente ocorre entre o terapeuta e a criança durante a hora que estes interagem. Mais
especificamente, a pesquisa de avaliação do processo de psicoterapia objetiva estudar
sistematicamente os processos interpessoais, emocionais e cognitivos envolvidos na
psicoterapia com crianças. Shirk e Russell (1996) descreveram que apenas 22 artigos
haviam sido publicados entre 1946 e 1996 sobre processo de psicoterapia, em uma
média de um artigo a cada dois anos. Comparados às terapias cognitivo-
comportamentais e estudos de avaliação de resultados de psicoterapias diversas, pode-se
dizer que a pesquisa sobre processo de psicoterapia com crianças ainda se encontra nos
estágios iniciais e tem se desenvolvido de forma bastante lenta.
Nenhuma pesquisa brasileira de resultados de psicoterapia psicanalítica com
crianças foi encontrada, quer como artigo quer como capítulos de livros, sobre avaliação
de resultados de psicoterapia com crianças, em busca realizada através de fontes
eletrônicas como MEDLINE (2000-2007), SCIELO (2000-2007) e PSYINFO (2000-
2007). Os termos usados na busca foram psicoterapia psicanalítica com crianças e
avaliação de resultados de psicoterapia psicanalítica com crianças. Considera-se
importante salientar tal ausência para confirmar a limitada investigação na área no
Brasil.
Com relação a esta escassez de pesquisas, Fonagy (2003) aponta para a
necessidade de mudança na atitude do psicanalista ou psicoterapeuta psicanalítico que
trabalha com crianças. O autor sugere que estes devem sair de uma cultura que conhece
31
e tem certeza e dirigir-se para uma cultura que questiona, admite não conhecer e quer
progredir. Para tanto o autor propõe uma agenda de pesquisa que pode vir a ser
incorporada pelos profissionais da área e que facilitaria o desenvolvimento da pesquisa
empírica. São todas relativas ao desenvolvimento de: 1) um sistema de classificação que
permita identificar os casos de crianças que são mais apropriados para a psicoterapia
psicanalítica; 2) medidas que comprovem que a psicoterapia psicanalítica com crianças
realmente ocorreu através da observação sistemática do que acontece na terapia; 3)
medidas que reflitam o tipo de mudanças que a psicoterapia psicanalítica objetiva gerar
(ex: mudança estrutural, mudança na representação de objeto, entre outras).
De forma mais ampla, o autor propõe uma sistematização das impressões do
terapeuta sobre a subjetividade da criança para que assim possa ser comprovada a
relação custo/benefício de um tratamento psicanalítico. Sem medidas sistemáticas de
avaliação, os resultados obtidos são facilmente desafiados por outras formas de
tratamento e acabam por levantar uma série de questionamentos sobre o que realmente
ocorreu ao longo do tratamento (Kazdin, 2008). A manualização e o monitoramento do
tratamento é uma proposta que de certa forma viabiliza a sistematização do estudo.
Os manuais de tratamento são utilizados para descrever e especificar
procedimentos utilizados pelos terapeutas, e as sessões são monitorizadas para garantir
que o terapeuta está realizando o tratamento de acordo com o que o manual exige. Essa
abordagem é, no entanto, altamente controversa. Em primeiro lugar os manuais
restringem as estratégias terapêuticas. Em segundo lugar, existem modalidades
terapêuticas, como, por exemplo, a psicoterapia psicanalítica com crianças, que são
mais difíceis de serem manualizadas, pois sua técnica é mais abrangente e menos rígida
que as terapias comportamentais. Além disso, o tratamento psicanalítico com crianças
depende muito da personalidade do profissional envolvido e da maneira pela qual ele e
32
seu paciente desenvolvem a aliança terapêutica. Não obstante, a ausência de estudos
manualizados levanta muitas questões metodológicas com relação aos estudos
psicanalíticos até então realizados. Somente um manual foi publicado sobre a
psicoterapia psicanalítica com crianças: The Cornell Project for Conduct Disordered
Children (Kernberg & Chazan, 1991), e não existem estudos de avaliação deste. Por
último, é importante salientar que o constante monitoramento das sessões raramente
acontece, pois apesar destas serem supervisionadas, não um acompanhamento
sistemático das supervisões, o que dificulta controlar as inúmeras variáveis que se
mostram presentes no processo psicoterapêutico (Roth & Fonagy, 2005).
Tudo leva a crer que, apesar das adversidades, é essencial que a psicoterapia
psicanalítica com crianças seja desenvolvida e avaliada, assim como as demais formas
de tratamento. Para tanto, é fundamental que as amostras utilizadas nas pesquisas
representem a prática clínica efetivada com crianças e não aquela que é mais facilmente
medida ou que pode se adaptar mais rapidamente a uma escala ou medida de avaliação.
Nesse sentido, se considera importante analisar os dois modelos de estudos mais
utilizados atualmente nas avaliações de resultados de psicoterapia: o modelo de estudo
de eficácia e o modelo de estudo de efetividade, e discorrer sobre as peculiaridades de
cada um desses modelos.
Dois Modelos de Estudo de Resultados de Psicoterapia: Eficácia e Efetividade
O modelo de estudo de efetividade se propõe a medir a extensão de quanto uma
determinada intervenção produz um resultado benéfico, quando empregado no mundo
real, em uma população definida. É o resultado observado nas condições habituais de
uso, ou seja, a sua utilidade em condições usuais. o modelo de estudo de eficácia se
propõe a medir a extensão de quanto uma determinada intervenção produz um resultado
33
benéfico em condições ideais de observação; trata-se do resultado no laboratório, ou
seja, da utilidade da intervenção em condições ideais (Pereira, 1995). Pesquisa de
eficácia é um termo que se refere à aplicação de estudos experimentais altamente
controlados do tratamento de pacientes que são selecionados a partir de uma amostra
homogênea (Beutler & Howard, 1998).
Serralta e Streb
(2003) sugerem que as pesquisas de efetividade são aquelas que
melhor representam o valor do tratamento psicanalítico; são estudos naturalísticos, nos
quais as condições da investigação são aquelas da prática clínica, pois são realizados
com pacientes que recebem tratamento igual ao que é ministrado nas clínicas e nos
consultórios psicoterapêuticos. Os estudos sobre efetividade, no entanto, agora estão
sendo reconhecidos, pois havia relutância, por parte dos pesquisadores, em aceitar a
pesquisa da atividade clínica como ela realmente é.
O modelo tradicional de eficácia é aquele que tem uma maior aceitação no meio
científico e, portanto, o que vem sendo mais utilizado em pesquisa de avaliação de
resultados de psicoterapia. De acordo com Seligman (1995), o modelo ideal de eficácia
tem as seguintes peculiaridades: 1) os pacientes são aleatoriamente designados; 2) os
tratamentos são manualizados, e uma fidelidade ao que o manual exige é esperada; 3) o
tratamento tem tempo determinado, geralmente até doze semanas; 4) o controle sobre o
tratamento realizado e o grupo controle que, muitas vezes não recebe nenhum tipo de
tratamento, é rígido; 5) as amostras são altamente selecionadas e geralmente compostas
de grupos homogêneos em termos de diagnóstico único, sendo os demais excluídos.
Para este autor, todos estes fatores acabam por não refletir a prática clínica que tem uma
natureza diversa e, portanto, não controlada. Além disso, o autor argumenta que os
“tratamentos puros” são raramente encontrados.
34
Beutler e Howard (1998) explicam que o modelo de estudo de eficácia espera
identificar, através do controle rígido de variáveis, que tratamento específico funciona
melhor e em que condições específicas. Como referido, a crítica mais comum ao
modelo de eficácia é de que as amostras de pacientes utilizadas não são bons exemplos
de amostras presentes nas clínicas de saúde mental. Estes pacientes são, geralmente,
menos comprometidos emocionalmente, não apresentam comorbidades e dificilmente
têm algo em comum além do diagnóstico inicial. Pacientes deprimidos, por exemplo,
têm estilos de vida altamente diversos, assim como personalidade e circunstâncias de
vida também muito diferentes. Talvez a crítica mais importante ao modelo de eficácia
seja de que é muito difícil utilizar tratamentos psicológicos da mesma forma em todas as
pessoas.
Esta tensão entre os dois modelos de estudo não é simplesmente resolvida
através da inserção da pesquisa em um contexto clínico
, já que isso pode vir a ameaçar a
validade interna do estudo que nada mais é que o grau em que as conclusões de um
estudo são corretas para a amostra de indivíduos investigados. Uma investigação que
tem uma boa validade interna é capaz de, por exemplo, investigar a precisão da técnica
utilizada, a relevância dos indicadores empregados e o controle dos fatores que podem
dificultar a interpretação. a validade externa diz respeito tanto à extrapolação dos
resultados tanto para a população de onde foi retirada a amostra quanto à generalização
para outras populações (Pereira, 1995). Entretanto, o que acaba por acontecer é que, ao
se aumentar a representatividade de uma pesquisa, diminui-se poder de explicação
(Roth & Fonagy, 2005). O número acentuado de variáveis a se considerar em um
ambiente natural de psicoterapia faz com que seja muito mais difícil se comprovar a
efetividade de um tratamento do que sua eficácia.
35
Seligman (1995) argumenta que as psicoterapias psicodinâmicas e de longo
prazo raramente aparecem nos estudos de eficácia, justamente, porque não se moldam
ao paradigma proposto por este modelo. O autor se mostra, até mesmo, irônico ao
propor um modelo de estudo de eficácia para a psicoterapia psicodinâmica de longo
prazo. Neste estudo, os grupos controles não poderiam receber tratamento
psicoterapêutico por um período de anos, seria necessário criar um manual que pudesse
cobrir centenas de sessões e, por último, os pacientes teriam que ser encaminhados
aleatoriamente a outro tipo de tratamento que dure pelo menos um ano. Não é preciso
dizer que as questões éticas deste tipo de pesquisa são assustadoras, além disso o custo
de um estudo como este o torna inviável.
O que Seligman (1995) parece propor é que o modelo de estudo de eficácia não
é o mais adequado para a validação empírica da psicoterapia tal como esta é praticada
porque omite muito dos elementos cruciais do que realmente é feito no dia-a-dia das
clínicas de saúde mental. O autor refere cinco características da psicoterapia realizada
no ambiente naturalístico: 1) a psicoterapia o tem um tempo determinado; 2) a
psicoterapia é autocorrigida, ou seja, se uma técnica não está funcionando outra pode
ser utilizada; 3) os pacientes buscam um determinado tipo de tratamento, com um
determinado tipo de terapeuta e geralmente não aceitam ser aleatoriamente designados a
um tipo ou outro de tratamento; 4) os pacientes, em geral, m problemas múltiplos e a
psicoterapia visa aliviar estes problemas diversos; 5) a psicoterapia geralmente busca a
melhora do funcionamento geral do indivíduo e não apenas o alívio dos sintomas.
Nesta procura por uma forma mais eficaz de avaliar resultados de psicoterapia,
muito se tem discutido sobre como medir a significância clínica de um tratamento. Os
estudos de eficácia são delineados para detectar as diferenças significativas entre um
tratamento e o grupo controle e, com isto, um tamanho de efeito pode ser computado.
36
Mas autores, como Seligman (1995), questionam o quanto um resultado estatisticamente
significativo tem uma significância clínica, ou seja, será que um tamanho de efeito
grande teve um impacto clinicamente significativo no paciente? Nas pesquisas de
avaliação de resultados de psicoterapia pouco se sabe sobre o quanto os pacientes
retornaram a um funcionamento normal ou o quanto suas vidas foram alteradas
positivamente com o tratamento psicoterápico. Essas questões reportam à significância
clínica de um estudo ao invés da significância estatística deste (Ogles, Lunner &
Boneskel, 2001).
Jacobson et al., (2000) sugerem que, para muitos problemas clínicos, a
significância clínica se refere ao movimento de uma pessoa de um funcionamento
disfuncional para um funcionamento funcional naquelas variáveis medidas para aquele
determinado estudo. Isso quer dizer que uma mudança é clinicamente significativa se o
paciente atinge um escore pós-tratamento que o coloque na população funcional. Para
Kendall (1999), ao se realizar o cálculo da significância clínica três índices devem ser
utilizados: 1) sintomas antes do tratamento passam a índices normais após a
intervenção; 2) mudanças grandes são atingidas (dois desvios-padrão) e 3) indíviduos
não apresentam um diagnóstico psiquiátrico ao final do tratamento. Os autores citados
referem que a combinação de critérios estatísticos e clínicos possibilita que os
indivíduos possam ser categorizados com uma maior confidência, diminuindo, assim o
conflito entre validade interna e externa de pesquisas de resultados de psicoterapia.
Considera-se importante lembrar que, enquanto a análise quantitativa dos dados
pode responder questões relativas ao custo/benefício de um tratamento, esta análise
dificilmente conseguirá responder ao processo de mudança no tratamento ou sobre a
natureza do processo terapêutico. Com isso, a análise qualitativa vai sempre preceder a
análise quantitativa. Entretanto, amostras de pesquisas qualitativas não são desenhadas
37
para serem estatisticamente representativas da população pesquisada, e isso significa
que qualquer afirmação sobre incidência ou prevalência não pode ser feita (Roth &
Fonagy, 2005).
Kazdin (2008) propõe uma maior utilização de métodos qualitativos nas
pesquisas de resultados de psicoterapia, que estes promovem uma união entre o rigor
científico e a relevância clínica e com isto possibilitam uma aproximação entre o clínico
e o investigador. Para este autor, o método qualitativo possibilita um olhar mais
detalhado sobre a real experiência do paciente e a maneira pela qual sua vida foi
influenciada pela intervenção, ou seja, avalia o processo terapêutico como um todo.
Esse processo pode vir a ser codificado de forma a ser replicado em outros estudos
ampliando assim a compreensão do paciente e das técnicas utilizadas. Infelizmente este
método é pouco estudado nas universidades e, portanto, é minimamente utilizado nos
estudos de avaliação de resultados de tratamento.
Apesar das diferenças citadas ao longo deste estudo, acredita-se ser fundamental
a escolha de um método de trabalho que possa refletir as necessidades da população que
está sendo avaliada, pois para cada estudo, dependendo de seus objetivos e limitações,
uma forma mais adequada de trabalhar. Os diferentes modelos de estudo (eficácia e
efetividade) e de análise de dados (quantitativa e qualitativa) não estão em uma relação
competitiva, em que há uma luta a respeito de quem é o melhor modelo de estudo. Estes
se referem simplesmente a diferentes questões de pesquisa. A partir disso, considera-se
importante discutir as peculiaridades da pesquisa em psicoterapia psicanalítica com
crianças e a aplicação do modelo de efetividade na avaliação dos resultados desta
modalidade de tratamento.
38
O modelo de efetividade aplicado à avaliação de resultados da psicoterapia
psicanalítica com crianças
A psicoterapia psicanalítica é extremamente complexa e subjetiva; nela uma
interação de inúmeros fatores e qualquer um deles pode influenciar o resultado. Os
terapeutas variam em termos de personalidade, formação, capacidade empática e de
vinculação com seus pacientes, que por sua vez diferem em termos de funcionamento,
diagnóstico, circunstâncias socioeconômicas, dentre outros. Assim, parece ser muito
difícil avaliar resultados de psicoterapia psicanalítica através de um modelo de eficácia,
que exige um controle rígido das variáveis mencionadas.
Como mencionado, a saúde mental de uma criança tem uma influência em
muitos aspectos do seu funcionamento e por isso considera-se a mudança sintomática
como um indicador de resultados reducionista se comparada a todo o complexo
processo interpessoal que evolve em centenas de sessões de psicoterapia psicanalítica.
Recente estudo metanalítico sugeriu que essas avaliações de mudança sintomática são
muito limitadas e podem levar a um resultado enganoso do tamanho de efeito de um
tratamento (Weisz, Weiss, Han, Granger & Morton 1995). Nesses casos muitas áreas
importantes do funcionamento de uma criança não são levadas em consideração o que
torna difícil a definição do que funcionou, em que determinado momento e como
ocorreu esta mudança.
No que se refere à psicoterapia com crianças, Kazdin (1991) compara as
características de psicoterapia conduzida em um ambiente natural com a psicoterapia
conduzida em um ambiente de pesquisa. No primeiro, os casos são geralmente
encaminhados para tratamento em clínicas ou consultórios privados, tem enfoque
individual, duração média de 6 a 12 meses, os pais são incluídos nos tratamentos e as
modalidades psicodinâmicas são freqüentemente utilizadas. No ambiente de pesquisa,
39
os casos são selecionados e recrutados para determinado tipo de tratamento, que tem a
duração máxima de oito a 10 semanas, o enfoque é, geralmente, grupal, os pais não são
vistos e as modalidades psicodinâmicas não são utilizadas. Em suma, a prática clínica e
a pesquisa diferem no que diz respeito a quem é tratado, a como é tratado, a que
modalidade de atendimento, a duração do tempo e no que se refere à presença dos pais
no tratamento. Um aspecto crítico da pesquisa nesta área é o profundo abismo ainda
presente entre a investigação e a prática dos tratamentos com crianças.
Por esse motivo acredita-se que modelo de estudo de efetividade, apesar de suas
limitações no que diz respeito à validade interna, parece ser aquele que mais se
aproxima da possibilidade de avaliação de resultados da prática psicoterapêutica
psicanalítica com crianças. Este modelo procura integrar a investigação empírica com o
dia-a-dia do profissional da saúde e, portanto, permite que o paciente estudado seja
aquela criança que está sendo tratada nos consultórios privados e clínicas de saúde
mental que seguem uma orientação psicanalítica nos dias de hoje.
Esta integração poder ser operacionalizada a partir da sistematização da
avaliação do trabalho realizado por parte das instituições de ensino e formação, através
da utilização de métodos quantitativos e qualitativos na análise dos dados de forma que
o tratamento possa ser codificado e continuamente replicado. Somente assim poder-se-á
desafiar outras formas de tratamento e confirmar empiricamente a importância da
psicoterapia psicanalítica no tratamento psicológico das crianças na atualidade.
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44
SEÇÃO 2
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DE PSICOTERAPIA
PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS
45
INTRODUÇÃO
Este estudo foi elaborado com o objetivo de avaliar a efetividade da psicoterapia
psicanalítica individual com crianças em um ambulatório de Porto Alegre (RS),
seguindo um modelo naturalístico e aberto. Para ir ao encontro deste objetivo, procurou-
se avaliar os resultados da psicoterapia psicanalítica em três veis: sintomático, de
adaptação da criança ao seu ambiente psicossocial e suas capacidades emocionais e
cognitivas. Além disto, este estudo visou compreender a criança que se apresenta para
tratamento nos dias de hoje através da utilização de diferentes informantes (crianças,
pais e terapeutas), avaliados por instrumentos diversos (testes psicológicos, cognitivo,
questionários auto-aplicados e fichas de evolução dos pacientes) em dois momentos do
tratamento. Espera-se que os resultados deste estudo possam ser utilizados para
aprimorar as técnicas psicoterápicas existentes e incentivar a investigação na área de
avaliação de resultados de psicoterapia tanto em outros centros de atendimento de
crianças em Porto Alegre (RS) como em demais locais do país.
Recentes estudos apontam que problemas psiquiátricos na infância o
freqüentes (10% a 20%) e persistentes. Infelizmente são poucos os que chegam a
receber um atendimento adequado às suas necessidades emocionais, e é ainda menor o
número de crianças que completam o tratamento proposto (Kazdin, 1996; Fleitlich-
Bilyk & Goodman, 2004). Estudos longitudinais também demonstram que doenças
psiquiátricas na infância são precursores desenvolvimentais para uma gama de
resultados negativos como a delinqüência e doenças psiquiátricas diversas na vida
adulta (Sourander, et al., 2007).
No Brasil, não existem estudos que avaliem a efetividade da psicoterapia
psicanalítica com crianças. Mesmo em outros países mais desenvolvidos, a maioria das
pesquisas de resultados de tratamento da criança é realizada com as modalidades
46
cognitivo-comportamentais e medicamentosas. Recente estudo de metnálise indicou que
apenas 8% dos estudos de avaliação de resultados de psicoterapia com crianças utilizam
uma abordagem psicodinâmica, como a psicoterapia psicanalítica (Weisz, Doss &
Hawley 2005). Apesar disso, esta mesma abordagem é amplamente utilizada nas
clínicas e consultórios privados do Brasil e em todo o mundo (Kazdin, Siegel & Bass,
1990; Liz, Zennaro & Mazzeschi, 2001).
Em face dessa realidade, é fundamental que estudos que avaliem a efetividade
da psicoterapia psicanalítica com crianças sejam desenvolvidos, buscando a
aproximação do clínico com o investigador, de forma a aprimorar o serviço e
disponibilizar tratamentos que se mostrem efetivos a toda população. O estudo da
efetividade também é importante para a compreensão da criança que busca atendimento
psicoterápico na comunidade nos dias de hoje e na prevenção do abandono prematuro
de psicoterapia. Neste estudo, os termos psicoterapia psicodinâmica e psicoterapia
psicanalítica serão utilizados como equivalentes, seguindo, portanto, a tendência da
maioria dos estudos na área (Gabbard, 2005).
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Avaliar a efetividade da psicoterapia psicanalítica com crianças em um
ambulatório de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Objetivos Específicos
Verificar as modificações cognitivas, emocionais, sintomáticas e de adaptação
ao ambiente psicossocial das crianças após 12 meses de psicoterapia de orientação
psicanalítica.
47
Comparar o grupo de crianças que recebeu tratamento psicoterápico
psicanalítico (G1) com o grupo controle de crianças que o receberam nenhum tipo de
intervenção (G2).
MÉTODO
Delineamento
Trata-se de um estudo quantitativo em dois grupos (tratamento G1 x controle
G2); tratamento quase-experimental, com delineamento de medidas repetidas, em um
intervalo de 12 meses. Para o G1, as medidas foram completadas antes e depois de 12
meses de intervenção psicoterápica psicanalítica. No caso do G2, nenhuma intervenção
foi oferecida e somente um instrumento, o Child Behavior Checklist (CBCL) foi
aplicado em dois momentos, também em um intervalo de 12 meses entre as aplicações.
Amostra
Inicialmente, foi constituída uma amostra por conveniência de 66 crianças de
seis a 11 anos, 23 crianças do sexo feminino e 43 crianças do sexo masculino, pacientes
cujas famílias buscaram atendimento no Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da
Infância e da Adolescência (CEAPIA), em Porto Alegre (RS), nos anos de 2005 e 2006,
e concordaram em participar da pesquisa através de firmar o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Das 66 crianças que realizaram a avaliação inicial, 27 completaram 12 meses de
atendimento psicoterápico psicanalítico, havendo apenas um caso de alta combinada
após seis meses de tratamento. Em quatro casos, a família não concordou em participar
do re-teste por motivos pessoais. Dois casos foram excluídos por apresentarem o
diagnóstico de retardo mental. Outros dois casos foram excluídos porque as crianças
48
tinham menos de seis anos de idade no momento da busca. Em 34 casos dos 62
incluídos nesta amostra, houve interrupção do tratamento por parte da família do
paciente, sendo o índice de abandono de 54,8%. O índice de abandono desta amostra
está dentro das taxas de 40 a 60% de abandono esperadas nas psicoterapias com
crianças, citado por Kazdin (1996).
A amostra deste estudo consiste, então, de um grupo de 23 pacientes que
recebeu psicoterapia psicanalítica por um período de 12 meses e realizou o re-teste (G1)
e um grupo controle de 22 crianças que foram selecionados aleatoriamente e utilizados
para comparação. Os grupos foram equiparados em idade (seis a 11 anos), sexo e
resultado total do CBCL (Achenbach, Mcconaughy & Howell, 1987; Achenbach, 2006).
O tratamento para o G1 foi de, em média, 80 sessões em uma freqüência de uma
ou duas vezes por semana. A duração de 12 meses e o número médio de 80 sessões
caracteriza esta modalidade de tratamento como de longa duração (Gabbard, 2005). As
crianças do G2 não foram submetidas a nenhum tipo de intervenção psicoterápica,
apesar de muitas obterem um resultado clínico em várias escalas medidas pelo CBCL.
Foram critérios de inclusão para o G1: a idade das crianças entre 6 a 11 anos e a
realização de 12 meses de psicoterapia psicanalítica. Foram critérios de exclusão os
diagnósticos de retardo mental, transtornos orgânicos e transtornos invasivos do
desenvolvimento. Como critério de inclusão para o G2, foram considerados: ser criança
de seis a 11 anos e não estar em tratamento psicológico durante o período da pesquisa.
Com relação aos terapeutas, 14 foram envolvidos neste estudo, sendo 13 do sexo
feminino e um do sexo masculino. Destes terapeutas, 13 eram psicólogos formados e
uma terapeuta tinha formação médica. Todos os profissionais estavam realizando o
curso de formação em Psicoterapia da Infância e da Adolescência no CEAPIA, que tem
duração de três anos, no momento da realização deste projeto.
49
Todos os terapeutas foram supervisionados semanalmente por profissionais
experientes e treinados em psicoterapia psicanalítica com crianças. A psicoterapia foi
então, conduzida a partir das orientações recebidas nas supervisões e nos seminários
específicos do curso de formação em psicoterapia psicanalítica com crianças (média de
quatro por semestre).
A psicoterapia oferecida no serviço é individual, realizada face a face, com
freqüência de uma a três vezes por semana e sem a utilização de um manual. Neste
estudo entende-se por psicoterapia psicanalítica o tratamento interpretativo que tem por
base a compreensão psicanalítica. Objetiva a resolução de sintomas, a modificação do
comportamento, certo grau de mudança estrutural da personalidade e o retorno da
criança aos impulsos desenvolvimentais normais. As técnicas da psicoterapia incluem a
interpretação utilizada junto à verbalização, o esclarecimento e as mudanças
manipulativas do comportamento, assim como uma experiência emocional corretiva de
um novo objeto (Sours, 1996).
Características da amostra
Composta de 45 crianças, 23 do sexo feminino e 22 do sexo masculino, com
idades que variavam de 6 a 11 anos. Destas 45 crianças, 23 (G1) ingressaram no
CEAPIA nos anos de 2005 e 2006 e se mantiveram em atendimento por 12 meses e as
famílias concordaram em participar da pesquisa e realizar o re-teste. As outras 22
crianças (G2) foram escolhidas por conveniência e equiparadas em sexo, idade e
resultado da escala total do CBCL. As crianças do G2 não receberam nenhum tipo de
intervenção psicoterápica durante o período de realização desta pesquisa. As
características sócio-demográficas e clínicas da amostra são as seguintes:
50
Tabela 1- Características sociodemográficas da amostra
Características G1 % G2 % P
Sexo
0,670**
Feminino 15 65,2 12 54,5
Masculino 8 34,8 10 45,5
Idade
8,3 (1,7) 8,3 (1,9) 0,979*
Escolaridade
0,301**
Até segunda série 8 34,8 12 54,5
Terceira série em diante 15 65,2 10 45,8
* teste t de student. Valores apresentados em média e desvio-padrão.
** teste chi-quadrado de Pearson. Valores apresentados em frequência (%).
As características clínicas do G1 estão apresentadas na Tabela 2
Tabela 2- Características Clínicas (G1)
Características Clínicas N %
Encaminhamento
Escola 9 39,1%
Neurologista 2 8,7%
Psiquiatra 4 17,4%
Pediatra 2 8,7%
Familiar 4 17,4%
Outros 2 8,7%
Motivo de consulta
Problemas escolares 7 30,4%
Dificuldades na relação interpessoal 5 21,7%
Falta de atenção 6 26,1%
Depressão e tristeza 8 34,8%
Dificuldade de sono/ alimentação/controle dos esfíncteres 1 4,3%
Problemas de comportamento 5 21,7%
Ansiedade/insegurança/medos 14 60,9%
Agressividade 6 26,1%
Hipótese Diagnóstica Inicial
Transtorno de humor 5 21,7%
Transtorno de conduta 2 8,7%
Transtorno de ansiedade 6 26,1%
TDAH 1 4,3%
Outros 4 17,4%
Não tem informação 5 21,7%
Número de Sessões por Semana
Uma sessão por semana 12 52,2%
Duas sessões por semana 11 47,8%
51
Tratamentos Concomitantes
Sim 8 34,8%
Não 15 65,2%
Ano do Curso do terapeuta
Primeiro Ano 6 26,1%
Segundo Ano 14 60,9%
Terceiro Ano/Corpo Clínico 3 13,0%
Os resultados demonstram que ambos os grupos apresentaram um número maior
de meninas do que de meninos, sendo a média de idade de 8 anos e 3 meses. No G1, um
número maior de crianças havia completado a segunda série do ensino fundamental
(65,2%) no momento inicial da pesquisa se comparado ao G2. A maior fonte de
encaminhamento dos casos do G1 foi a escola (39,1%), seguida por diferentes
profissionais da saúde. As queixas mais freqüentes em ordem decrescente foram:
ansiedade, insegurança e medos (60,9%), seguidos de depressão e tristeza (34,8%), e
dificuldade escolar (30,4%). Como hipótese diagnóstica inicial, as de maior
concentração de casos foram ansiedade (26,1%) e humor (21,7%). Dos 23 casos, 52,2%
das crianças foram atendidas uma vez por semana, e 47,8% foram atendidas duas vezes
por semana
Com relação aos tratamentos concomitantes, 34,8% realizavam outros
tratamentos simultâneos à psicoterapia, seja com neurologista ou com psiquiatra. Das
crianças que realizavam tratamentos concomitantes, 75% tomaram medicação
psiquiátrica durante os 12 meses de tratamento.
No que diz respeito ao ano do curso do terapeuta da criança, 60,9% dos
terapeutas estavam no segundo ano do curso (que tem três anos de duração) e 25,0%
estavam no primeiro ano do curso no momento da avaliação inicial da criança. Os
restantes (13%) foram atendidos por alunos do terceiro ano ou corpo clínico da
instituição.
52
Instrumentos
Para esta avaliação, foram utilizados os seguintes instrumentos com as crianças
do G1: o Teste Gestáltico Visomotor de Bender; o Wechsler Intelligence Scale for
Children (WISC III) com padronização brasileira de Figueiredo (2002) e a técnica de
Rorschach. Aos pais foi solicitado o preenchimento do Child Behavior Check List
(CBCL), (Achenbach, 1991) Aos terapeutas foi solicitado o preenchimento de uma
ficha de levantamento sociodemográfico e clínico das crianças avaliadas (anexo C) no
início do tratamento e uma ficha de evolução do caso (anexo D) após 12 meses de
intervenção psicoterápica psicanalítica. No G2, somente o CBCL foi utilizado em um
intervalo de 12 meses. Os demais testes não foram utilizados porque as crianças do
grupo controle não estavam em tratamento e havia restrições quanto ao número de
instrumentos a serem aplicados. Além disso, a maioria das crianças do grupo controle
fazia parte de um estudo maior sobre o instrumento CBCL, que é um questionário auto-
aplicado, portanto de fácil utilização. O estudo citado não tinha como objetivo a
aplicação de mais instrumentos e/ou o encaminhamento das crianças para atendimento
psicológico.
A escolha dos instrumentos aplicados no G1 foi feita a partir da revisão da
literatura e interesse do grupo de pesquisa no qual a autora deste estudo estava inserida.
Pesquisadores de diferentes áreas têm enfatizado o papel central dos testes psicológicos
no planejamento e na avaliação dos resultados dos tratamentos oferecidos as crianças
(Stokes et al. 2003; Bem-Porath, 2007). Variáveis derivadas do teste projetivo
Rorschach, por exemplo, têm sido utilizadas para predizer resposta ao tratamento e para
medir os resultados de psicoterapia. Estas variáveis possibilitam medir a integridade da
estrutura da personalidade e recursos disponíveis ao paciente (Exner, 1995). Os
53
questionários auto-aplicados como o Child Behavior Check List (CBCL), também são
medidas amplamente utilizadas nas pesquisas de avaliação de resultados de
psicoterapia com crianças no mundo inteiro, já que suas escalas fornecem cobertura
ampla das situações psicopatológicas encontradas na infância e adolescência e são mais
desenvolvidas que as demais escalas multifatoriais existentes (Achenbach, 1991). os
testes Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC III) e o Teste Gestáltico
Visomotor do Bender são importantes na avaliação dos aspectos cognitivos e de
maturação viso percepto-motora da criança, principalmente quando retardo mental e
transtornos orgânicos são considerados critérios de exclusão do estudo.
Procedimentos de Coleta de Dados
Durante a triagem, procedimento padrão para ingresso da criança como paciente
da instituição, os pais ou responsáveis do G1 foram convidados a participar da pesquisa
em questão. Os técnicos, que foram previamente treinados quanto à realização desse
convite, explicaram aos pais ou responsáveis o que se tratava. Em caso de aceite ao
convite foi entregue aos pais um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
para assinatura (Anexo B). Após terem concordado com a participação e assinado o
TCLE, foram-lhes oferecido horários previamente definidos para a realização da coleta
de dados.
No momento anterior à psicoterapia, as crianças do G1 foram avaliadas por um
examinador treinado, nas datas definidas após a entrevista de triagem e antes de
iniciarem a psicoterapia propriamente dita. A coleta de dados com as crianças do G1 foi
realizada em dois encontros: um para a aplicação do Teste Gestáltico Visomotor do
Bender e do WISC III, e um segundo para a aplicação do Rorschach. O CBCL foi
preenchido pelos pais enquanto a criança estava sendo avaliada. As fichas de
54
levantamento sociodemográfico e clínico e de evolução foram preenchidas pelos
terapeutas das crianças avaliadas no início do tratamento e após 12 meses
respectivamente
. A aplicação desses instrumentos foi de acordo com o método
padronizado para cada um:
Para o Teste Gestáltico Visomotor do Bender, foi apresentado à criança um
conjunto constituído de nove cartelas (total de 9), contendo as figuras que compõem o
teste. Sua tarefa consiste em visualizar essas figuras, uma a cada vez, e transpô-las para
o papel. Não existe tempo-limite para essa tarefa. Material utilizado: folha de ofício
branca e lápis preto nº2; não foi utilizada borracha para a execução dos desenhos. Ao
errar a cópia de uma figura, a criança a circulava e tentava realizá-la novamente. O
sistema de correção utilizado foi o de Koppitz (1987) e a padronização brasileira de
Kroeff (1988).
Para o WISC-III, foi utilizada a padronização de Figueiredo (2002), sendo que
esse instrumento é composto de 10 subtestes (Informação, Compreensão, Vocabulário,
Semelhanças, Armar Objetos, Cubos, Aritmética, Arranjo de Figuras, Códigos e
Completar Figuras), divididos em Escala Verbal e de Execução. Para esta pesquisa,
foram utilizados os 10 subtestes obrigatórios, e com estes foi possível obter o QI total,
QI Verbal, QI de Execução, Compreensão Verbal (CV) e Organização Perceptual (OP)
da criança avaliada. A ordem de aplicação dos subtestes manteve a padronização de
Figueiredo (2002), e a correção do instrumento se deu por esse sistema validado para o
Brasil.
A técnica de Rorschach foi aplicada, classificada e analisada conforme o sistema
compreensivo de Exner (1995). Foram aplicadas as 10 lâminas que compõem o teste em
duas fases: a de verbalização e a do inquérito. A classificação e a análise das respostas
possibilitam avaliar os traços de personalidade, o funcionamento de condições
55
intelectuais, o nível de ansiedade básica e situacional, a depressão e as condições
afetivas e emocionais do testando, como também o seu controle geral , sua capacidade
para suportar frustrações e conflitos e a adaptação ao trabalho/estudo. Por último, o teste
apresenta condições de avaliar o ajustamento e a integração dos impulsos, instintos, das
reações emocionais bem como o nível de aspiração do testando.
O CBCL foi preenchido pelos pais das crianças avaliadas. Este é um
questionário composto de 138 itens, 20 dos quais avaliam a competência social da
criança e 118 avaliam os problemas de comportamento. O teste é dividido em duas
grandes dimensões, introversão e extroversão. A dimensão introversão consiste das
escalas: retraimento, queixas somáticas, ansiedade/depressão. Já a dimensão extroversão
é relativa às manifestações de conduta da criança e consiste de duas escalas:
comportamento agressivo e comportamento delinquente. Também fazem parte do teste
as escalas de problemas sociais, problemas de pensamento e de atenção (Achenbach,
1991).
Com relação às fichas preenchidas pelos terapeutas, a primeira ficha (Anexo C)
solicitava ao terapeuta informar a idade, motivo da busca, encaminhamento, hipótese
diagnóstica inicial, número de sessões por semana, presença de tratamentos
concomitantes e medicação no início do tratamento. A segunda ficha (Anexo D),
preenchida pelo terapeuta após 12 meses de intervenção psicoterápica, solicitava-lhe
informar sobre a evolução do tratamento. Continha questões relativas à presença ou
ausência de sintomas, desempenho da criança em tarefas diárias, mecanismos de defesa
utilizados, controle da ansiedade, tolerância à frustração, modulação afetiva, controle
dos impulsos, contato com realidade e padrão de relacionamento social da criança.
Todos os três avaliadores são psicólogos formados e treinados na aplicação e
interpretação de testes psicológicos. Os mesmos avaliadores que realizaram o teste
56
realizaram o re-teste, não havendo, portanto, o cegamento dos aplicadores. A ausência
do cegamento dos aplicadores dos instrumentos se deu pela dificuldade de formar um
grupo qualificado na aplicação destes. Houve, no entanto, um cegamento na
interpretação do teste do Rorschach, já que o profissional responsável pela interpretação
não tinha acesso à informação sobre o material a ser interpretado, isto é, se este se
referia a um teste ou a um re-teste da criança testada.
Após 12 meses da primeira coleta de dados, foi realizada uma segunda aplicação
dos instrumentos, seguindo os mesmos princípios metodológicos da primeira. Todos os
testes o Bender, o WISC-III, o Rorschach e o CBCL foram aplicados, avaliados e
interpretados conforme seus respectivos manuais e comparados com a avaliação e
interpretação dos mesmos testes realizados com as mesmas crianças, num delineamento
antes versus depois dos 12 meses da psicoterapia psicanalítica.
Para o G2, seguiram-se os mesmos princípios metodológicos, mas apenas o
CBCL foi utilizado, portanto os questionários foram enviados aos pais e recolhidos após
seu preenchimento pelos pesquisadores, com intervalo de 12 meses entre as aplicações.
Procedimento de Análise dos Dados
No teste Bender-Gestáltico duas escalas para pontuação de escores foram
utilizadas: a escala de maturação segundo a idade, conforme Koppitz (1987), e a escala
de maturação segundo a idade, conforme Kroeff (1988), que realizou uma padronização
com crianças de Porto Alegre. No WISC III, a escala utilizada para avaliação dos
resultados foi a adaptação e padronização a partir de uma amostra brasileira de Vera
Lúcia Marques de Figueiredo (2002). Já no Rorschach, os resultados foram levantados e
interpretados a partir do sistema compreensivo para crianças proposto por Exner (1995).
E, por fim, o CBCL foi levantado a partir de um programa de computador que apresenta
57
os escores numéricos e também os divide em ts categorias: clínico, limítrofe e o-
clínico (Achenbach, 1991).
Com relação às fichas preenchidas pelos terapeutas, o levantamento foi feito a
partir das informações fornecidas por estes quanto aos dados sociodemográficos e dados
clínicos. a ficha evolução do terapeuta foi levantada a partir do relato escrito do
terapeuta quanto à presença ou ausência dos sintomas que motivaram a busca;
adequação para a idade do paciente quanto ao controle de impulsos, tolerância à
frustração, controle da ansiedade, contato com a realidade, mecanismos de defesa
utilizados, desempenho em tarefas gerais, modulação afetiva e padrão de
relacionamento interpessoal.
Para o grupo controle, foi realizada apenas a aplicação do CBCL. Como já
mencionado muitas das crianças do grupo controle foram avaliadas como parte de uma
pesquisa mais ampla sobre o CBCL realizado pelo grupo de pesquisa no qual a autora
está inserida. As crianças do grupo controle foram escolhidas por conveniência e foram
equiparadas com o G1 em sexo, idade e o resultado da escala total do CBCL. A
aplicação foi realizada após consentimento livre e esclarecido dos pais em participar da
pesquisa. O teste foi aplicado, avaliado e interpretado conforme seu respectivo manual
e comparado com o mesmo teste das mesmas crianças num intervalo de 12 meses. As
crianças do G2 não receberam qualquer tipo de intervenção psicoterápica. Este grupo
controle foi constituído com o objetivo de permitir demonstrar que as mudanças
ocorridas no G1 não o decorrentes apenas da passagem do tempo e/ou
desenvolvimento da criança, mas da intervenção psicanalítica oferecida.
Os resultados de cada teste e das fichas de cada criança foram transportados para
o programa SPSS 11.0 (Statistic Package for Social Sciences). Os resultados foram
apresentados por meio de estatística descritiva através de média e desvio-padrão para
58
variáveis contínuas e freqüências absolutas e relativas para as categóricas. Para avaliar o
resultado da psicoterapia, foram comparados os dados antes versus depois da
intervenção terapêutica, utilizando-se o teste t de student para amostras dependentes e
testes não-paramétricos para duas amostras relacionadas (Wilcoxon & Mcnemar) O
nível de significância considerado foi de 0,05.
Para o cálculo do tamanho de efeito do tratamento, foi utilizada a seguinte
fórmula para dados emparelhados:
rdpdp
mm
ES
dpdp
21
22
21
2
21
+
=
.
Para comparar a variação entre os grupos estudados, tratamento (G1) e controle
(G2), foi utilizado o teste de análise de covariâncias dos valores das diferenças entre os
escores ajustados pelos valores basais. As freqüências das variáveis categóricas (sexo,
escolaridade) foram analisadas entre grupos através do teste do qui-quadrado e a
variável contínua (idade) através do teste t de student para amostras independentes.
Procedimentos Éticos
Os procedimentos éticos deste estudo incluíram o treinamento da equipe que
participou desta investigação quanto ao convite feito aos pais para participar da
pesquisa, à informação aos pais sobre a pesquisa e aos testes que seriam aplicados e à
entrega do Termo de Consentimento Livre e Informado a estes. Além disto, foi mantido
o sigilo quanto à identidade das famílias e das crianças avaliadas.
Os testes do G1 foram realizados em duas sessões para não sobrecarregar as
crianças que estavam sendo avaliadas. Além disto, foi oferecido um lanche às crianças
entre um teste e outro. Por último, foi oferecida a todos os pais uma devolução escrita
dos resultados dos testes aplicados.
59
RESULTADOS
Os resultados encontrados neste estudo foram divididos quanto ao motivo da
consulta, resultados do Bender, resultados do WISC III, resultados do Rorschach,
resultados do CBCL, antes e depois da intervenção psicoterápica para o G1. Para este
mesmo grupo de crianças, foi feita uma análise do relato da ficha de evolução do
paciente preenchida pelo terapeuta da criança, e aspectos relativos ao funcionamento
global dos pacientes foram transformados em duas variáveis categóricas: adequado à
idade e não adequado à idade.
Para comparação entre grupo de tratamento (G1) e o grupo controle (G2)
somente constam os resultados do CBCL, pois este foi o único teste comum aplicado
em ambos os grupos. Esta comparação consiste em analisar as diferenças entre o
primeiro e o segundo momento de avaliação dos sujeitos. O re-teste foi realizado em um
intervalo de 12 meses.
Os motivos de busca do G1 foram divididos em duas categorias: ausente ou
presente. A ausência ou presença dos sintomas foram obtidas através dos formulários
(Anexos C e D), preenchidos pelos terapeutas antes e depois de 12 meses de tratamento.
Foi aplicado então o teste não paramétrico Mc Nemar para duas amostras relacionadas.
Os resultados estão dispostos na tabela a seguir:
Tabela 3 – Motivos de Busca
N p
Dificuldades escolares 7 ,031
Agressividade 6 ,125
Falta de atenção 6 1,000
Problemas de comportamento 5 ,500
Depressão e tristeza 8 ,375
Dificuldade com alimentação, sono e esfíncteres 1 1,000
Ansiedade, insegurança e medos 14 ,002
Dificuldade de relacionamento 4 1,000
60
De acordo com o teste não paramétrico Mc Nemar para duas amostras
relacionadas, considerando-se um nível de significância de 5%, verificou-se uma
ausência de diferença estatisticamente significante nos seguintes motivos de busca:
agressividade (0,125) , falta de atenção (1,000), problemas de comportamento (0,500),
depressão e tristeza (0,375), dificuldades com alimentação, sono e esfíncteres (1,000) e
dificuldade de relacionamento (1,000). Os motivos de busca ansiedade, insegurança e
medos e problemas escolares apresentaram uma diferença positiva estatisticamente
significante. O valor obtido foi de p = 0,031 para problemas escolares e p = 0,002 para
ansiedade, insegurança e medos.
Os resultados do Bender foram divididos em maturação viso percepto-motora
compatível ou acima do esperado para a idade cronológica da criança e maturação viso
percepto-motora abaixo do esperado para a idade cronológica da criança, segundo
Koppitz (1987) e segundo Kroeff (1988). Foi aplicado, então, o teste não paramétrico
Mc Nemar para duas amostras relacionadas. Os resultados estão apresentados a seguir.
Tabela 4 – Resultados do Bender Gestáltico, segundo Koppitz (1987).
Teste (N) Teste% Re-teste(N) Re-teste%
Acima/Compatível com a idade 7 30,4 12 52,2
Abaixo do esperado para idade 16 69,9 11 47,8
Tabela 5- Resultados do Bender Gestáltico, segundo Kroeff (1988).
Teste (N) Teste% Re-teste(N)
Re-teste%
Acima/Compatível com a idade 17 73,9 17 73,9
Abaixo do esperado para idade 6 26,1 6 26,1
Tabela 6 – Teste estatístico Mc Nemar
p
Escore Koppitz teste & Escore Koppitz re-teste ,063
Escore Kroeff teste & Escore Kroeff re-teste 1,000
61
Ao se compararem os resultados do teste do Bender algumas diferenças foram
observadas, porém, estas não se mostraram estatisticamente significantes , segundo
Kroeff (1988) e Koppitz (1987). No entanto, considera-se importante ressaltar uma
mudança positiva maior nos resultados antes versus depois no escore Koppitz (1987)
com tamanho de p = 0,063.
No que diz respeito aos resultados do WISC III foram calculados a média e
desvio padrão dos escores totais de cada item do WISC III, antes e depois da
intervenção psicoterápica. Foi, então, aplicado o teste t de student com o objetivo de
avaliar se a média do momento pré e pós tratamento eram estatisticamente diferentes.
Os resultados são apresentados na tabela 7.
Tabela 7 – Resultados do WISC III (G1)
Média Desvio Padrão p
QI Verbal teste 115,91 17,56 ,914
QI Verbal re-teste 113,00 24,31
QI de execução teste 110,96 16,06 ,486
QI de execução re-teste 109,35 22,77
QI Total teste 114,74 16,45 , 456
QI Total re-teste 113,74 19,41
Compreensão verbal teste 113,70 18,39 -,369
Compreensão verbal re-teste 114,52 18,60
Organização perceptual teste 108,91 16,38 -,112
Organização perceptual re-teste
109,13 19,01
Sub-testes
Informação teste 11,35 3,11 1,428
Informação re-teste 10,57 3,70
Semelhança teste 13,04 3,24 -1,729
Semelhança re-teste 13,78 3,06
Aritmética teste 12,43 2,92 1,777
Aritmética re-teste 11,61 2,73
Vocabulário teste 14,00 4,06 -,061
Vocabulário re-teste 14,04 3,72
Compreensão teste 12,00 3,45 -,088
Compreensão re-teste 12,04 3,61
Completar figuras teste 11,70 3,53 ,405
Completar figuras re-teste 11,48 3,12
Código teste 12,17 2,98 -,251
Código re-teste 12,35 3,23
Arranjo de Figuras teste 10,57 2,69 -,347
62
Arranjo de figuras re-teste 10,74 3,51
Cubos teste 12,00 3,26 -,405
Cubos re-teste 12,22 3,37
Armar Objetos teste 11,57 2,94 ,569
Armar Objetos re-teste 11,22 3,57
Não foi possível verificar diferença estatisticamente significante entre os
resultados do WISC III quando comparados os resultados.
Com relação ao CBCL, foram calculados a média e o desvio padrão dos escores
totais de todas as áreas medidas pelo teste. Após, foi aplicado o teste t de student .
Tabela 8 – Resultados do CBCL
Média
Desvio
Padrão
p
Par 1 Atividade teste & 37,91 9,91 ,075
Atividade re-teste 40,74 6,93
Par 2 Sociabilidade teste & 43,13 8,60 ,528
Sociabilidade re-teste
42,39 7,79
Par 3 Escolaridade teste & 41,48 8,15 ,682
Escolaridade re-teste 41,96 6,65
Par 4 Total teste & 41,35 12,49 ,829
Total re-teste 41,65 10,56
Par 5 Retraimente teste & 62,63 6,77 ,010
Retraimento re-teste
59,00 6,37
Par 6 Queixas Somáticas teste & 64,65 9,95 ,113
Queixas Somáticas re-teste
61,57 8,20
Par 7 Ansiedade e Depressão teste & 65,26 7,82 ,017
Ansiedade e Depressão re-teste 61,13 9.72
Par 8 Contato Social teste & 59,48 7,57 ,056
Contato Social re-teste 56,26 6,54
Par 9 Problemas de pensamento teste 60,43 6,95 ,022
Problemas pensamento re-teste 56,96 7,27
Par 10 Problemas com atenção teste & 63,35 7,88 ,255
Problemas com atenção re-teste 61,70 6,20
Par 11 Comportamento Delinqüente teste 59,04 7,85 ,302
Comportamento Delinquente re-teste 57,65 6,13
Par 12 Comportamento Agressivo teste 61,74 8,55 ,105
Comportamento Agressivo re-teste 60,00 8,26
Par 13 Problemas Sexuais teste & 55,74 9,03 ,151
Problemas sexuais re-teste 53,87 7,00
Par 14 Escala Total teste & 65,91 8,33 ,003
Escala Total re-teste 62,04 8,35
63
Par 15 Escala Introversão teste & 63,22 7,56 ,008
Escala introversão re-teste 66,26 8,05
Par 16 Escala extroversão teste & 59,17 14,67 ,135
Escala Extroversão re-teste 56,96 14,41
Os resultados, apresentados nas tabelas 8, indicam que o houve diferenças
estatisticamente significantes entre os resultados antes versus depois da intervenção
psicoterápica nas seguintes áreas: atividade (0,075), escolaridade (0,682), sociabilidade
(0,528), queixas somáticas (0,113), contato social (0,056), problemas de atenção
(0,255), comportamento delinqüente (0,302), comportamento agressivo (0,105)) e
problemas sexuais (0,151).
nos itens ansiedade e depressão (0,017), problemas de pensamento (0,022),
retraimento (0,010), escala de introversão (0,008) e escala total (0,003) foram
encontradas diferenças positivas estatisticamente significantes, ou seja, as crianças
avaliadas apresentaram uma melhora nos sintomas de ansiedade, depressão, problemas
de pensamento e retraimento, como também no comportamento introversivo e global
após intervenção psicoterápica.
Os resultados da escala total, de introversão e extroversão do G1 foram
comparadas com os resultados das escalas do G2 em dois momentos. Encontraram-se os
seguintes resultados:
Tabela 9 – Comparação das médias dos resultados do CBCL (G1 versus G2)
G1 G2 P*
p** Basal 12 meses Basal 12 meses
Escala Total
0,519 0,014
65,7(±8,0) 61,8(±8,0)
-3,7
64,1(±9,0) 61,9(±8,8)
-2,4
Escala de
Introversão
0,035 0,023
66,6(±8,0)
63,2(±8,5)
-2,9
61,1(±8,9)
60,8(±
9,7)
-
0,9
Escala de
Extroversão
0,781 <0,001
62,2(±7,6)
59,8(±9,2)
-2,4
61,4(±10,5)
59,2(±
10,3)
-
2,3
* Teste t de student para amostras independentes
** Resultado de uma análise de covariância entre os valores de Delta ajustado pelos valores basais
64
A comparação entre os dois momentos do grupo de tratamento (G1) e do grupo
controle (G2) indica que houve uma diminuição mais significativa nos resultados do G1
que recebeu intervenção psicoterápica psicanalítica nas três escalas medidas. É
importante ressaltar que houve um caso no grupo controle (G2) que apresentou uma
queda de 20 pontos no momento do re-teste na escala de extroversão. Este sujeito,
possivelmente, fez com que a média do G2, no re-teste, diminuísse de forma inusitada,
resultando em um p = <0,001, apesar das diferenças entre os dois momentos nos dois
grupos não serem significativas (-2,4 no G1 e -2,3 no G2).
Com relação ao teste do Rorschach, foram feitas duas análises. Primeiro foi
aplicado o teste t de student para as variáveis contínuas que foram analisadas quanto à
média, desvio-padrão e tamanho do p. Em um segundo momento foi feita uma seleção a
partir da literatura estudada das variáveis consideradas relevantes para medir mudança e
analisar resultados de psicoterapia (Weiner & Exner, 1991; Blatt & Ford, 1994;
Hilsenroth, Handler, Toman & Padawer, 1995). Entre as variáveis escolhidas, estão
aquelas que: 1) avaliam a qualidade interpessoal das relações estabelecidas; 2) avaliam
os recursos internos disponíveis comparados às demandas (ou impedimentos) sobre
estes mesmos recursos; 3) avaliam a modulação afetiva do paciente. As escalas
utilizadas foram as propostas pelo sistema compreensivo de Exner (1995).
Para avaliar a qualidade das relações estabelecidas foram utilizados o somatório
de respostas com determinante de sombreado e textura (T), a variável EB que avalia o
tipo de vivência utilizado pelas crianças (dividida em três categorias: extroversivo,
introversivo e ambigual), e a variável que avalia a relação do conteúdo humano (H) com
os conteúdos de humano descaracterizado (H) detalhe humano (Hd) e detalhe humano
descaracterizado (Hd).
65
Para avaliar os recursos psicológicos versus as demandas ou impedimentos, foi
utilizada a relação do valor de EA (recursos) e o valor de es (impedimentos), resultando
em três categorias: sujeito tem mais recursos que impedimentos disponíveis; sujeito tem
o mesmo volume de recursos e impedimentos e, por último, o sujeito tem menos
recursos que impedimentos disponíveis.
Para avaliar a modulação do afeto, foram utilizadas as variáveis que estabelecem
uma relação entre os determinantes de cor cromática, como o FC (Cor cromática com
forma definida = modulação de afeto adequado), CF (Cor cromática com forma
indefinida = mais espontâneo, mas nem sempre adequado) e C(Cor cromática sem
forma = impulsividade emocional). Duas categorias foram utilizadas: FC > = CF+C
(paciente tem controle sobre suas emoções), FC < CF + C (Não controle sobre suas
emoções, mas esperado em crianças de até nove anos).
Os resultados do Rorschach foram calculados através da aplicação dos testes
não-paramétricos Mc Nemar (para as variáveis dicotômicas) e Wilcoxon (para as
variáveis não dicotômicas). Os resultados encontrados a partir do cálculo da média,
desvio-padrão e valor do p, estão dispostos na tabela a seguir.
Tabela 10– Resultados Rorschach Numérico
Média Desvio-padrão p
Número de respostas teste & 13,17 8,22 ,375
Número de respostas re-teste 15,04 8,43
% G teste & 49,83 26,27 ,489
% G re-teste 45,70 27,12
% D teste & 32,35 19,54 ,050
% D re-teste 44,57 23,29
% Dd teste & 13,13 13,62 ,001
% Dd re-teste 1,83 ,39
% SomS teste &
8,48 8,15 ,683
% SomS re-teste
7,39 7,56
Som F teste & 5,09 3,94 ,021
Som F re-teste 7,22 5,69
% Som F teste 35,83 21,14 ,113
% Som F re-teste 46,26 19,45
Som Fo/+ teste 4,79 3,86 ,045
66
Som Fo/+ re-teste 6,74 5,96
% FM teste & 18,04 15,30 ,846
% FM re-teste 18,91 14,12
% Fm teste 0,65 2,29 ,179
% Fm re-teste 2,39 2,25
Som m+mf teste & 0,35 0,57 ,008
Som m+mf re-teste 0,00 0,00
% FC´ teste & 6,30 9,12 ,793
%FC´ re-teste 6,09 9,06
% FC teste & 9,10 11,48 ,561
% FC re-teste 7,70 10,61
% CF teste 4,70 6,00 ,145
% CF Re-teste 2,30 4,60
% C teste & 1,39 2,89 ,957
% C re-
teste
1,35 3,45
% Som M teste &
7,26 8,88 ,295
% Som M re-tes
te
7,87 7,75
% Som FM teste &
18,04 15,30 ,846
% Som FM re-
teste
18,91 14,12
% A + Ad teste
57,09 20,93 ,613
% A + Ad re-
teste
54,17 15,51
% H + Hd teste
8,61 11,1 ,386
% H + Hd re-
teste
11,13 8,66
% (H) + (Hd) teste
5,96 7,66 ,404
% (H) + (Hd) re-
teste
4,43 7,11
Os resultados do Rorschach indicam que houve diferenças positivas
estatisticamente significantes nas seguintes variáveis contínuas: 1) Localização: %
Detalhe comum (D) (p = 0,050), % Detalhe incomum (Dd) (p = 0,001); 2)
Determinantes: Somatório de Forma (F) (p = 0,021), Somatório Movimento Inanimado
sem forma ou forma indefinida (m + mF) (0,008); 3) Qualidade da Forma (Fo ou F+) (p
= 0,045).
Os resultados do Rorschach também foram divididos em categorias (dentro da
faixa clínica normal e fora da faixa clínica normal) e aplicados os testes Mac Nemar ou
Wilcoxon. Os resultados estão apresentados a seguir:
67
Tabela 11 – Resultados do Rorschach categórico
valor do p
EA (recursos) x es
(impedimentos) teste
EA(recursos)x es(impedimentos) re-teste
,763
Tipo de vivência teste &
Tipo de Vivência re-teste
,574
Classificação % som C teste &
Classificação % som C re-teste
,207
Classificação EB
teste &
Classificação EB re-teste
,508
Classificação H : (H)+ (Hd)+Hd
&
Classificação H : (H)+ (Hd)+Hd re-teste
,022
Determinante T
Teste &
Determinante T Teste re-teste
,043
Os resultados do Rorschach, quando analisados através de categorias indicam
que houve diferença estatisticamente significante na categoria Relação Interpessoal,
através do valor do p = 0,022 na relação do conteúdo humano (H) versus conteúdo
humano descaracterizado (H), detalhe humano (Hd) e detalhe humano descaracterizado
(Hd) e o valor do p = 0,043 na relação do determinante T antes versus depois da
intervenção psicoterápica.
A ficha de evolução dos pacientes, preenchida pelos terapeutas após 12 meses de
tratamento, foi analisada e transformada em variáveis categóricas dicotômicas, sendo
estas: adequado à idade e não adequado à idade. Os resultados estão dispostos na tabela
a seguir.
Tabela 12 – Resultados da Ficha de Evolução do Paciente
p-valor
Desempenho em Tarefas Gerais
,001
Controle dos Impulsos
,001
Modulação Afetiva
,001
Controle da Ansiedade
,001
Relação Interpessoal
,008
Contato com Real
idade
,500
Os resultados indicam que houve diferenças estatisticamente significantes nas
variáveis: desempenho da criança em tarefas gerais (0,01), controle dos impulsos (0,01)
modulação afetiva (0,01), controle de ansiedade (0,01) e relação interpessoal (0,08)
68
relatadas pelo terapeuta responsável pelo tratamento da criança. Não foi encontrada
diferença na variável contato com a realidade (0,500).
Para o cálculo do tamanho de efeito do tratamento, foi utilizada a seguinte
fórmula para dados emparelhados do G1 :
rdpdp
mm
ES
dpdp
21
22
21
2
21
+
=
Conforme a fórmula, m1 refere-se à média do escore da escala total do CBCL
antes da intervenção psicoterápica, m2 à mesma média após 12 meses de intervenção
psicoterápica, dp1 refere-se ao desvio padrão do momento pré-intervenção, dp2 ao
desvio padrão pós-intervenção e r refere-se à correlação, que, neste caso, foi de ,778. O
tamanho de efeito do tratamento foi calculado em 0,696; portanto, de valor moderado.
O mesmo cálculo foi realizado utilizando os resultados dos G2, e o tamanho de efeito
obtido foi de 0,34 que caracteriza um tamanho de efeito leve.
Não foi feito o cálculo de tamanho de efeito para amostras dependentes porque a
fórmula não permitia utilizar os valores ajustados pelas diferenças basais. Ao se utilizar
os valores não ajustados no cálculo obteve-se um tamanho de efeito de 0,288, portanto
também leve.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para realizar este estudo sobre efetividade da psicoterapia psicanalítica com
crianças em um ambulatório de Porto Alegre, RS, priorizou-se a representação clínica
da amostra e a utilização de medidas que avaliaram a sintomatologia (fichas preenchidas
pelos terapeutas e CBCL), a adaptação da criança ao seu ambiente psicossocial (CBCL,
fichas preenchidas pelo terapeuta e Rorschach) e suas capacidades emocionais e
cognitivas (Rorschach, WISC III, Bender e fichas preenchidas pelos terapeutas). Deu-
se importância, ainda, à utilização de diferentes informantes e instrumentos de medidas
de resultados em dois momentos. Objetivou-se com isto analisar as características da
69
criança que chega a atendimento psicológico e se mantém em psicoterapia psicanalítica,
como também facilitar o planejamento do tratamento a ser oferecido e o
encaminhamento mais efetivo da criança que apresenta transtornos psicológicos a
serviços que vão ao encontro de suas necessidades .
Os resultados indicam que foram encontradas diferenças estatisticamente
significantes no grupo de crianças que recebeu tratamento de orientação psicanalítica
(G1) em vários dos aspectos medidos, a começar pelos motivos de busca: ansiedade,
insegurança e medos (0,002) e problemas escolares (0,031), havendo uma diminuição
estatisticamente significante destes sintomas após 12 meses de intervenção
psicoterápica psicanalítica. Esse resultado foi corroborado pela diminuição
estatisticamente significante dos sintomas de ansiedade e depressão medidas na escala
do CBCL (0,017) e na análise da ficha de evolução do paciente preenchida pelo
terapeuta (0,001). Isso quer dizer que todos os instrumentos que mediram o sintoma de
ansiedade indicaram que a criança que recebeu tratamento psicoterápico psicanalítico
por 12 meses passou a mostrar-se menos irritada, tensa e/ou preocupada, demonstrando
consistência positiva entre os resultados.
Esses resultados confirmam os dados encontrados em estudo retrospectivo de
prontuários realizado no Anna Freud Center (Londres), no qual houve melhora das
crianças com sintomas de ansiedade e depressão, ambos transtornos internalizantes,
após intervenção psicanalítica. A duração mais prolongada do tratamento e a maior
frequência das sessões foram associadas aos resultados positivos do tratamento (Target
& Fonagy, 1994). Os estudos realizados com adultos também demonstram que as
psicoterapias dirigidas ao insight, como a psicoterapia psicanalítica, são mais efetivas
para os transtornos internalizantes, enquanto as terapias comportamentais são mais
70
efetivas para os transtornos externalizantes. (Beutler, Horward, Alimohamed & Malik,
2002).
Considera-se importante salientar que, com a diminuição da ansiedade, que é
presente em 9,9% das crianças da população em geral (Costello, Mustillo, Erkani,
Keeler & Angold, 2003), pode-se observar também uma diminuição dos problemas
escolares. Esse resultado vai ao encontro da idéia de que alguns transtornos cognitivos
podem ser evidentes na criança ansiosa que tende a superestimar o perigo de uma
situação (Flanenry-Schoracer, Suveg, Safford, Kendall & Webb, 2004). a criança
menos ansiosa pode utilizar seu potencial cognitivo de uma forma mais efetiva
reduzindo, assim, os problemas relacionados à escola.
Além desses resultados foram encontradas diferenças estatisticamente
significantes no CBCL do G1 nas escalas de problemas de pensamento (p = 0,022),
retraimento (p = 0,010), introversão (p = 0,008) e escala total (p = 0,003) , indicando
uma melhora global da criança após 12 meses de intervenção psicoterápica
psicanalítica. Tanto a escala de retraimento e ansiedade/depressão estão dentro da
dimensão internalizante, que se referem aos problemas de comportamento que não
atuam diretamente no ambiente, ou seja, acontecem no âmbito privado da criança. Mais
especificamente a escala de retraimento diz respeito ao desejo e à capacidade da criança
de se relacionar com os outros a sua volta. A presença de uma diferença estatisticamente
significante nesta escala indica que a criança que recebeu psicoterapia psicanalítica
apresentou uma melhora nos aspectos relativos ao seu relacionamento interpessoal, com
diminuição do retraimento e aumento do desejo de relacionar-se com os demais.
Quanto ao perfil comportamental do CBCL, a significância estatística mostrou-
se presente apenas na escala específica de problemas de pensamento (p = 0,022),
71
indicando uma diminuição de pensamentos obsessivos e inadequados nos pacientes que
foram submetidos à psicoterapia psicanalítica.
o levantamento dos resultados do CBCL do grupo controle indicou
que as
crianças que não foram submetidas à intervenção psicoterápica psicanalítica
apresentaram uma diminuição menos significativa de resultados clínicos no re-teste. É
importante ressaltar que 63,4% do grupo controle apresentavam resultados clínicos. Este
dado leva a crer que aquelas crianças que realizaram psicoterapia psicanalítica, quando
comparadas ao grupo controle, obtiveram resultados mais positivos, sendo este um
indicador da efetividade do tratamento psicanalítico individual para esta amostra em
particular. O tamanho de efeito de 0,696 confirma a efetividade moderada da
intervenção.
Com relação aos demais testes que foram aplicados no grupo clínico podem-se
detectar diferenças estatisticamente significantes em algumas variáveis medidas pelo
Rorschach. Com relação ao valor do T, que avalia a necessidade do sujeito de contato
afetivo interpessoal, houve uma mudança positiva após intervenção psicoterápica
psicanalítica, no qual se pode observar um aumento do número de T = 1 (faixa clínica
normal) e valor do p = 0,043. Isto quer dizer que houve uma melhora no contato afetivo
interpessoal das crianças clínicas avaliadas. Esta melhora foi confirmada pela diferença
estatisticamente positiva na variável que avalia a relação entre o conteúdo humano
versus conteúdo humano descaracterizado (p = ,022). Ambas as variáveis avaliam a
relação interpessoal e pode-se observar uma mudança positiva antes versus depois da
psicoterapia psicanalítica. Esses resultados corroboram os demais encontrados na escala
específica de retraimento do CBCL.
A melhora na relação interpessoal igualmente foi encontrada na análise dos
resultados da ficha de avaliação preenchida pelo terapeuta, com valor do p = ,008, ou
72
seja, estatisticamente significante. As outras variáveis relativas ao controle dos
impulsos, modulação afetiva e desempenho em tarefas gerais também foram medidas e,
de acordo com relato do terapeuta, apresentaram diferenças positivas estatisticamente
significantes.
Além disso, também foram encontradas diferenças estatisticamente significantes
nos itens que avaliam a localização da resposta no Rorschach. Pode-se observar um
aumento significativo de respostas de Detalhe Comum (p = 0,050) e uma diminuição de
respostas de Detalhe Incomum (p = 0,001) no re-teste. Isso significa que após os 12
meses de atendimento psicoterápico psicanalítico, as crianças puderam desenvolver uma
melhor capacidade de perceber a realidade como ela é, sem maiores distorções. Esta
melhora também pode ser observada no aumento estatisticamente significativo de
respostas com forma de boa qualidade (p =0,045) e diminuição de respostas de
movimento inanimado sem forma (p =
0,008) no re-teste .Esses resultados são
confirmados pela melhora estatisticamente significante na escala específica de
problemas de pensamento medido no CBCL, já mencionado nesta discussão.
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes nos testes
Bender-Gestáltico e no WISC III. Isso que dizer que a psicoterapia psicanalítica não
promoveu diferenças estatisticamente significantes no aspecto cognitivo e de percepção
visomotora nas crianças avaliadas. Uma das razões da ausência de mudanças nesta área
pode ser creditada ao fato de que a inteligência é um constructo estável, e que a
presença de alterações psicológicas acabam por o afetar diretamente os resultados.
Mesmo assim, a utilização destes testes neste estudo foi importante para avaliar o
quoeficiente intelectual das crianças e sua percepção visomotora, já que o retardo
mental e os transtornos orgânicos eram critérios de exclusão .
73
Fonagy (2003) propõe cinco níveis pelos quais a investigação dos resultados de
psicoterapia pode ser conceitualizada de forma a avaliar globalmente a criança. Na
amostra investigada, pode-se observar uma melhora em três dos cinco veis propostos
por Fonagy: 1) nível sintomático: diminuição da ansiedade, depressão e problemas
escolares; 2) nível de adaptação da criança ao seu ambiente psicossocial: melhora no
relacionamento interpessoal e percepção da realidade; 3) nível das capacidades
emocionais e cognitivas da criança: sem alteração na capacidade cognitiva, mas com
melhora na capacidade da criança de compreender suas emoções e modulação afetiva.
Os dois últimos veis, transicional e de integração dos serviços utilizados, não foram
avaliados devido aos objetivos e limitações deste estudo.
É importante ressaltar que a maioria das crianças que permaneceu em tratamento
neste estudo eram meninas (60,9%) que apresentavam sintomas de ansiedade,
insegurança, medos (60,9%) e depressão (34,8%), os quaiso característicos dos
transtornos internalizantes. Para este grupo, a psicoterapia psicanalítica mostrou-se
efetiva, com tamanho de efeito moderado de 0,696. Os mesmos resultados positivos, no
entanto, não foram encontrados nas crianças que apresentavam comportamentos
externalizantes, como o transtorno opociosional desafiante e transtornos de conduta.
Estas crianças, predominantemente do sexo masculino (78,9%), formaram a maioria do
grupo que não respondeu positivamente ao tratamento psicoterápico psicanalítico e
abandonou-o antes de completar 12 meses.
Esses resultados confirmam os achados encontrados por Mary Target & Peter
Fonagy (1994) em estudo retrospectivo anteriormente citado, que sugerem que a
psicanálise e a psicoterapia psicanalítica são mais efetivas para transtornos emocionais,
como ansiedade e depressão, não demonstrando a mesma efetividade para transtornos
de conduta.
74
Não obstante, é importante considerar que existem limitações em todos os
estudos, e este mostrou-se particularmente vulnerável porque foi realizado em um
ambulatório que não possuía cultura de pesquisa e, por este motivo, todos os
procedimentos operacionais tiveram que ser gradualmente instituídos e incorporados
pela instituição. Houve uma resistência inicial a encaminhar os pacientes para a
avaliação exigida nesta pesquisa, mas, aos poucos, os próprios terapeutas puderem dar-
se conta do benefício obtido e valorizar, junto aos pais, a experiência de participar deste
estudo. A dificuldade maior foi obter a cooperação dos terapeutas quando se procurou
estudar aspectos do processo psicoterápico a partir da análise das sessões dialogadas
supervisonadas em três diferentes momentos do tratamento. Essa análise foi sugerida
pela banca de qualificação como complemento ao estudo da efetividade da psicoterapia
psicanalítica com crianças. Apesar das inúmeras tentativas de obter o material
solicitado, o retorno dos terapeutas foi mínimo, havendo uma real resistência destes a
dividir com os pesquisadores seu material clínico. Esta resistência confirma os achados
da literatura que menciona que os profissionais de orientação psicanalítica encontram-se
na defensiva de avaliar o seu trabalho, havendo pouca valorização da produção do
conhecimento obtido a partir da evidência empírica (Kernberg, 1999; Hermann, 2000)
Além disso, considera-se importante mencionar que existem mais dificuldades
de se avaliar a efetividade da psicoterapia psicanalítica com crianças em um ambiente
natural, como neste estudo, devido ao número acentuado de variáveis presentes (Roth &
Fonagy, 2005). Também, na investigação de resultados com crianças, não é ético
utilizar-se um grupo controle em que nenhum tratamento é oferecido; e a realidade de
Porto Alegre, onde existem poucos modelos alternativos à psicanálise de atendimento
de crianças, dificulta ainda mais a utilização de um grupo controle no qual outro tipo de
tratamento é oferecido (como, por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental, que é
75
amplamente utilizada nos Estados Unidos, e outros estados brasileiros). Não foi
possível,também, utilizar-se um grupo controle de lista-de-espera neste estudo já que
todas as famílias que buscavam atendimento no ambulatório eram prontamente
atendidas.
Neste estudo, foram utilizados diferentes bancos de dados para a formação do
grupo controle, que se almejava equiparar as crianças do grupo clínico em termos de
idade, sexo e resultado total do CBCL. Inicialmente, foi utilizado um banco de dados
apenas de um estudo que avaliou, através do CBCL, diversas crianças de uma escola da
rede pública de Porto Alegre, RS. Apesar de um retorno satisfatório dos pais em um
primeiro momento, o mesmo não foi observado no re-teste. Este fato provavelmente
está relacionado com a evasão escolar e à falta de contato direto dos pesquisadores com
os pais, já que o processo teve que ser intermediado pela diretora da escola. Procuraram-
se, então, outros bancos de dados, mantendo a equiparação das crianças; mesmo assim
não foi possível formar um grupo controle de 23 crianças como se esperava
inicialmente. Essa dificuldade na formação deste grupo controle em particular vai ao
encontro da idéia de alguns autores (Leichsering & Rabung, 2006) que reportam que o
uso de um grupo controle nos estudos de avaliação de resultados de psicoterapias de
longa duração é difícil de ser organizados e produzem altos custos de investigação.
Quanto a outras limitações encontra-se a dificuldade que se teve para assegurar a
integridade do tratamento, isto é, garantir que este foi efetivado da maneira pela qual era
esperado (Kazdin, 2003). Isso se deve ao fato de que é muito difícil criar um manual
para psicoterapias de longo prazo como a proposta neste estudo. Além disso, uma
maior flexibilidade nesta modalidade de tratamento, ou seja, quando um manejo técnico
não está funcionando uma adequação da intervenção às necessidades da criança e de
sua família (ex: intervenção familiar ao invés de individual). Em geral, as terapias
76
psicodinâmicas dão maior valor à espontaneidade do momento e percebem um plano de
tratamento detalhado e planejado de pouco uso ao processo psicoterápico, que
valorizam a improvisação e a criatividade (Bohart, O´Hara & Leitner, 1998;
Perepletchikova, Treat & Kazdin, 2007). Neste estudo procurou manter-se a integridade
do tratamento através das supervisões semanais oferecidas aos terapeutas envolvidos.
Não foi possível, no entanto, assegurar que todas as supervisões seguissem o mesmo
padrão, apesar de todos os supervisores terem uma formação psicanalítica, sendo muitos
psicanalistas.
A escolha do método e dos instrumentos a serem utilizados e a implementação
destes juntos aos profissionais que realizam os serviços são fundamentais na pesquisa de
efetividade de psicoterapia. Neste estudo acredita-se que outros instrumentos poderiam
ter sido utilizados, como o Child Global Assessment Scale (CGAS) ou o Children’s
Functional Assessment Rating Scale (CFARS), pois são instrumentos de fácil aplicação
e validados internacionalmente. Acabou-se optando por instrumentos conhecidos e
utilizados no ambulatório no qual foi realizada esta investigação, porém o re-teste foi,
certamente, dificultado pela extensão e exigência dos instrumentos escolhidos; além
disso estes pareceram menos sensíveis à mudança.
A utilização de métodos qualitativos, complementares aos quantitativos, como
foi sugerido pela banca de qualificação com a inclusão da análise das sessões
dialogadas, teria sido igualmente relevante neste estudo. Infelizmente procurou-se obter
o material junto aos terapeutas em um momento avançado do tratamento, e o retorno foi
mínimo. Como este material geralmente fica em posse dos terapeutas e não nos
prontuários dos pacientes, não foi possível fazer um estudo retrospectivo das sessões
dialogadas. Esta tendência de não utilizar medidas sistemáticas de avaliar o progresso
dos pacientes é muito comum entre os clínicos, porém impossibilita a união entre o
77
rigor científico e a relevância clínica, ou seja, a compreensão de como o processo
terapêutico faz com que se atinja determinado resultado (Kazdin, 2008)
Neste estudo, o único instrumento qualitativo utilizado foi a ficha de evolução
do paciente que foi criada especialmente para esta pesquisa. O retorno dos terapeutas foi
de 100% e possibilitou um olhar mais detalhado da real experiência terapêutica do
paciente. Optou-se pela categorização das medidas avaliadas na ficha de evolução em
adequado e não adequado à idade, pois o método escolhido havia sido o quantitativo;
mas, sem dúvida, este material pode vir a ser eventualmente analisado quanto ao seu
conteúdo de forma a facilitar a compreensão do processo terapêutico e suas múltiplas
facetas.
Apesar das dificuldades citadas ao longo desta discussão, acredita-se que se
possível dar um retorno positivo ao serviço que disponibilizou seu espaço e crianças
para realização deste estudo. Procurar-se-á dar este retorno de forma que a instituição e
os profissionais que ali atuam possam aplicar os resultados desta investigação na sua
prática. Por exemplo, considera-se importante enfatizar que são as meninas, que
apresentam transtornos internalizantes e que permanecem em tratamento por, pelo
menos, 12 meses, aquelas que mais se beneficiam com a psicoterapia psicanalítica. Já os
meninos que apresentam transtornos externalizantes não são beneficiados da mesma
forma e tendem a abandonar prematuramente o tratamento. Por este motivo,
modalidades alternativas à psicoterapia psicanalítica para o tratamento dos transtornos
externalizantes serão sugeridas. Também será reforçada a necessidade de investimento
na aliança terapêutica com os pais desde o início do tratamento, através da compreensão
detalhada de suas expectativas frente a este para evitar assim incongruências entre o
tratamento a ser oferecido e o desejo do paciente e sua família. Por último se
reforçada a importância da atualização dos prontuários e um maior controle sobre o
78
material contido nestes, bem como a operacionalização de medidas sistemáticas de
avaliação, através da utilização de instrumentos de fácil aplicação, como o CBCL e o
CGAS, em momentos diversos do tratamento. assim será possível um maior acesso
dos pesquisadores ao material dos pacientes, a realização de estudos retrospectivos e a
sistemática avaliação do progresso do paciente através de diferentes instrumentos,
informantes e momentos de tratamento.
É provável que haja uma resistência por parte do serviço a revisar sua maneira
de trabalhar, porém acredita-se que é somente através do investimento na pesquisa
empírica dos resultados do trabalho, do entendimento da criança e sua família que busca
atendimento e da compreensão dos fenômenos envolvidos no processo psicoterápico
que se poderão oferecer serviços que vão ao encontro das reais necessidades da
comunidade infantil que necessita de tratamento psicológico.
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82
SEÇÃO III
ABANDONO DE PSICOTERAPIA COM CRIANÇAS
83
INTRODUÇÃO
O abandono prematuro do tratamento psicoterápico é um problema de grande
relevância para aqueles que oferecem serviços a crianças, adolescentes e suas famílias.
Seu significado, entretanto, fica muitas vezes obscurecido pelas evidências empíricas da
efetividade de diferentes modalidades de atendimento oferecidas às crianças. (Weisz,
Weiss, 1993; Kazdin, 1996; Weiss, Doss & Hawley, 2005). Isso quer dizer que se uma
criança é engajada em tratamento, é provável que esta consiga se beneficiar deste. Não
obstante, a literatura demonstra que de 40% a 60% das crianças abandonam
prematuramente a psicoterapia (Kazdin, 1996). Estas mesmas crianças acabam por o
receber o tratamento planejado e são geralmente desconsideradas nos estudos de
avaliação de resultados de psicoterapia.
Além disto, estudos longitudinais indicam que as doenças psiquiátricas na
infância são precursoras de uma gama de resultados negativos, ou seja, se uma criança
sofre de uma doença psiquiátrica na infância e não é tratada, ela tem maior risco de
desenvolver outros transtornos emocionais ao longo de sua vida adulta (Sourander, et
al., 2007). Neste sentido, é fundamental a compreensão empírica do fenômeno que
envolve a interrupção prematura do tratamento psicoterápico de crianças para que ações
preventivas apropriadas possam ser tomadas, e, assim, um número maior de crianças
possa vir a ser apropriamente atendida .
Para ir ao encontro desta demanda, foi desenvolvido este estudo que teve como
objetivo comparar um grupo de 62 crianças que chegaram a atendimento psicológico
por problemas emocionais diversos em um ambulatório de Porto Alegre, Rio Grande do
Sul. Destas 62 crianças, uma recebeu alta após sete meses de atendimento, e 23
completaram 12 meses de tratamento e seguiram-no até alta combinada. As demais 38
crianças interromperam o tratamento denotando um índice de abandono prematuro de
84
61,3%, ou seja, um pouco acima do esperado nas psicoterapias com crianças (Kazdin,
1996)
Abandono de Psicoterapia com Crianças
Para poder se considerar abandono prematuro de psicoterapia são necessárias
três condições: 1) o paciente deve deixar de participar do tratamento; 2) a decisão deve
ser unilateral e feita pelo paciente ou seus pais e 3) esta mesma decisão não deverá ter a
concordância do terapeuta (Kazdin, 1996). O abandono prematuro de tratamento neste
estudo foi considerado como a interrupção da psicoterapia por decisão unilateral do
paciente e/ou sua família, sem a concordância do terapeuta, o qual o considerava como
incompleto.
Com relação a esta definição, é importante salientar que é o terapeuta quem
nomeia a interrupção do tratamento como prematura a partir de seu julgamento sobre a
necessidade da sua continuidade. Considerando que uma psicoterapia tem muitos
objetivos e possíveis benefícios a serem atingidos, e a obtenção de alguns objetivos
podem ser mais imediatos do que outros, a interrupção do tratamento após a obtenção
de um objetivo inicial, pode ser injustamente designado como prematuro para muitas
famílias (Kazdin, 1996).
Apesar das dificuldades de definição, na maioria dos casos o abandono
prematuro de psicoterapia é um problema significativo, que afeta um grande número
das crianças que buscam tratamento psicológico e tem implicações clínicas, de pesquisa
e para os serviços que oferecem este tipo de atendimento. As implicações clínicas
consistem na impossibilidade de prover o serviço necessário à criança, pois ao
abandonar o tratamento esta o recebe o seu benefício. Este é um problema de grande
relevância, que as crianças que abandonam são as que, em geral, mais necessitam
85
(Kazdin, Mazurick & Siegel, 1994). Em termos de pesquisa, as implicações consistem
em perda amostral que pode vir a ameaçar a validade do experimento, pois reduz seu
poder estatístico e limita a generalização dos resultados. Com relação aos serviços, o
abandono prematuro compromete os custos com profissionais e a área física do
estabelecimento. Em geral, as famílias que abandonam o tratamento tendem a faltar
muito às sessões antes de desistir e, por isto, ocupam horários de outras crianças que,
muitas vezes, aguardam tratamento (Kazdin, 1994)
Existem muitos fatores citados na literatura (Kazdin, 1996; Kazdin, Holland &
Crowley, 1997) relacionados ao abandono prematuro. São estes: a) percepção por parte
da criança e/ou família de que o tratamento não é relevante; b) uma aliança terapêutica
frágil com a criança e sua família no início do tratamento; c) desvantagem
socioeconômica; d) alto vel de stress e disfunção na família, entre outros (Gould,
Shaffer & Kaplan, 1985; Armbruster & Kazdin, 1994; Kazdin, Holland & Crowley,
1997). Na verdade, quanto mais fatores presentes, maior o risco de abandono prematuro.
Os estudos indicam que, na maioria dos casos, a razão do abandono reside nas
dificuldades familiares e não na criança que necessita atendimento. Apesar disto, os pais
têm dificuldades de identificar as razões do abandono quando indagados a respeito
(Kazdin et al., 1997)
Neste sentido a psicoterapia com crianças difere da psicoterapia com adultos
que a criança o busca tratamento para si mesmo e, portanto, depende da motivação
dos pais para que procurem ajuda e se mantenham em tratamento. Por este motivo, uma
aliança terapêutica positiva com os pais é, muitas vezes, mais importante para
manutenção do tratamento do que uma boa aliança terapêutica com a criança (Kazdin,
1996). Na maioria dos casos os pais participam ativamente da psicoterapia de seus
86
filhos. Quanto maior a resistência para participação, maior o risco de abandono
prematuro (Armbruster & Kazdin, 1994).
Término de Psicoterapia Psicanalítica com Crianças
O término da psicoterapia é uma fase distinta e crucial do processo de
tratamento, no qual são mobilizados sentimentos e emoções tanto por parte do paciente
como do profissional responsável. A maneira pela qual será manejado o rmino do
tratamento depende muito da orientação teórica do terapeuta. Nos casos das
psicoterapias psicodinâmicas, que neste estudo será utilizado como sinônimo de
psicoterapia psicanalítica, os objetivos incluem explorar as emoções geradas pelo
término, como, por exemplo, os sentimentos relacionados a perdas e separações (Curtis
2000; Watchell, 2002).
Em um estudo qualitativo (Kramer, 1986) sobre término de psicoterapia de
longa duração, como a psicoterapia psicanalítica, revelou-se que os terapeutas pouco
falam sobre o término da psicoterapia e não preparam seus pacientes para isso. Além
disto, o estudo demonstrou que havia muito desacordo entre terapeutas e pacientes com
relação a esta fase. Enquanto os pacientes tendem a atribuir o término a fatores externos
a psicoterapia, os terapeutas tendem a interpretar o fato como resistência ou falta de
motivação por parte do paciente. A maior parte da literatura sobre o assunto é ainda
teórica e especulativa, e os estudos que existem parecem mais preocupados em quando a
terapia terminou e não como esta fase específica do tratamento se apresentou (Roe,
Dekel, Harel & Fennig, 2006).
Ferro (1995) refere que será o próprio campo emocional, ou seja, o encontro
entre analista/psicoterapeuta e paciente, o lugar de sinalização do fim de análise. Tais
sinalizadores são resultantes das forças emocionais deste campo e se originam de sua
87
interação. Exemplos de tais indícios são relatos e sonhos do paciente, seus personagens
e narrações, jogos, desenhos, contratransferência e sonhos de contratransferência,
identificações projetivas, entre outras manifestações.
Todas as vezes que assumirmos uma escuta mais ampla e atenta às
manifestações do campo, segundo Ferro (1995), os sinalizadores poderão ser percebidos
e compreendidos. Para isso, no entanto, é imprescindível que um trabalho exaustivo de
análise pessoal, estudos teóricos e supervisão aconteçam, permitindo uma verdadeira
“desintoxicação” mental do analista/psicoterapeuta, o que permite a salvaguarda de seu
aparelho de pensar.
Como citado, a análise e a psicoterapia psicanalítica com crianças diferem em
muitos aspectos do tratamento de adultos. No que diz respeito ao término da
psicoterapia psicanalítica com crianças, as questões são igualmente diversas, que a
responsabilidade pelo estabelecimento dos critérios de término incide principalmente no
analista/terapeuta, pois dificilmente os pais ou a criança tem condições de entender os
processos envolvidos nesta decisão. Apesar disto, recente estudo realizado em Porto
Alegre sobre a efetividade da psicoterapia psicanalítica com adultos encontrou um
elevado número de abandonos, confirmando estudos anteriores (Jung, Tiellet & Eizirik,
2007). Já estudo específico sobre abandono precoce do tratamento em psicoterapia
psicanalítica com adultos, realizado na mesma cidade, encontrou uma taxa de abandono
de apenas 12,5%; portanto, bastante inferior a outros estudos. Os autores sugerem que
isto pode refletir uma indicação mais precisa para esta modalidade de atendimento,
que foram considerados 21 critérios baseados na literatura e em painel de experts para o
encaminhamento dos casos para psicoterapia psicanalítica. Dentre os critérios utilizados
estão a busca espontânea, a qualidade das relações de objeto, o sofrimento psíquico,
descontrole de impulsos, a aliança terapêutica, a motivação para mudança, entre outros.
88
O menor nível de insight e defesas mais imaturas foram associados a maiores taxas de
abandono. (Hauck et al., 2008)
Abrams (1996) sugere alguns pontos que devem ser considerados ao final de
uma análise com crianças e que podem ser, em parte, considerados para a psicoterapia
psicanalítica com crianças. O autor refere-se ao confronto das questões dinâmicas,
desenvolvimento de mecanismos de defesa e controle de impulsos apropriados à etapa
desenvolvimental da criança, bem como ao amadurecimento do aparelho emocional da
criança. Se o tratamento termina antes que estes critérios possam ser satisfeitos, deve ser
considerado interrompido prematuramente e não terminado.
Um aspecto importante a ser salientado diz respeito ao fato de que as
psicoterapias psicanalíticas não possuem um número pré-delimitado de sessões para
atingir seus objetivos, diferentemente das psicoterapias cognitivo-comportamentais. As
psicoterapias de orientação psicanalítica são, na sua maioria, de longa duração e têm
objetivos amplos e que vão se adequando às necessidades do paciente ao longo do
tratamento. São muitos os processos envolvidos em um tratamento psicoterápico, e tudo
depende da interação destes fatores, como a relação paciente-terapeuta, a motivação do
paciente e o seu funcionamento emocional.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Comparar o grupo de crianças que se manteve em psicoterapia psicanalítica por
12 meses e que seguiu o tratamento até o momento de alta combinada (G1) com o grupo
de crianças que abandonou prematuramente o tratamento (G2).
89
Objetivos Específicos
Realizar uma associação entre as variáveis sociodemográficas, clínicas e dos
resultados dos testes com a permanência em psicoterapia psicanalítica e o abandono do
tratamento.
Verificar se existem diferenças nos resultados dos testes das crianças do G1 e as
crianças do G2.
MÉTODO
Trata-se de um estudo quantitativo em dois grupos (tratamento G1 x abandono
G2); tratamento quase-experimental de medida única antes do início da psicoterapia
psicanalítica individual.
Os dados sociodemográficos, clínicos e dos resultados dos
testes foram associados com a permanência na psicoterapia psicanalítica por 12 meses e
seguimento do tratamento até alta combinada e o abandono da psicoterapia antes dos 12
meses ou alta combinada.
Amostra
Inicialmente foi constituída uma amostra de 66 crianças como parte de outro
estudo da mesma autora sobre efetividade da psicoterapia psicanalítica com crianças.
Nesta amostra inicial, 23 crianças eram do sexo feminino e 43 crianças eram do sexo
masculino, com idades entre 6 e 11 anos, pacientes cujas famílias buscaram atendimento
no Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância e da Adolescência
(CEAPIA), em Porto Alegre, nos anos de 2005 e 2006 e concordaram em participar da
pesquisa. Das 66 crianças que realizaram a avaliação inicial, 23 completaram 12 meses
de atendimento psicoterápico e seguiram atendimento até a data combinada com o
terapeuta. Um caso teve alta combinada após 7 meses de tratamento. Dois casos foram
90
excluídos por apresentarem diagnóstico de retardo mental, e dois casos foram excluídos
porque as crianças tinham menos de seis anos de idade. Em 38 casos dos 62 incluídos
nesta amostra, houve interrupção do tratamento por parte da família do paciente, sendo
o índice de abandono de 61,3%.
Características da Amostra
Composta de 62 crianças que buscaram atendimento psicoterápico no Centro de
Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência (CEAPIA), em Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, nos anos de 2005/2006 e concordaram em participar da
pesquisa. A amostra foi, então, dividida em dois grupos: o G1 que corresponde às
crianças que se mantiveram em atendimento por 12 meses e seguiram em atendimento
e/ou tiveram alta combinada, em um total de 24 crianças e o G2 que corresponde às
crianças que abandonaram o tratamento, em um total de 38 crianças. As características
sociodemográficas da amostra são apresentadas na tabela a seguir:
Tabela 1 – Características Sócio-demográficas
N G1 N G2 Ntotal %
Sexo
Feminino 15 37,5% 8 21,1% 23 37,1
Masculino 9 62,5% 30 78,9% 39 62,9
Idade
6 anos 5 20,8% 8 21,1% 13 21,0
7 anos 3 12,5% 5 13,2% 10 12,9
8 anos 4 16,7% 8 21,1% 12 19,4
9 anos 6 25,0% 9 23,7% 15 24,2
10 anos 4 16,7% 5 13,2% 9 14,5
11 anos 2 8,3% 3 7,9% 5 8,1
Escolaridade
Pré-escola 2 8,3% 2 5,3% 4 6,5
Primeira-série 4 16,7% 9 23,7% 13 21,0
Segunda-série 2 8,3% 9 23,7% 11 17,7
Terceira-série 7 29,2% 8 21,1% 15 24,2
Quarta-série 5 20,8% 6 15,8% 11 17,7
Quinta-série 3 12,5% 4 10,5% 7 11,3
91
A análise das freqüências indica que no momento da busca a amostra era
constituída de 37,1% de crianças do sexo feminino e 62,9% de crianças do sexo
masculino. Apesar de serem a minoria, no momento inicial deste estudo, as crianças do
sexo feminino são a maioria (62,5%) no grupo que permaneceu em psicoterapia durante
12 meses e não interrompeu o tratamento. As crianças do sexo masculino, por sua vez,
formaram a maioria no grupo que abandonou prematuramente o tratamento (78,9%).
Com relação à idade, o maior número de crianças em ambos os grupos se
concentra na idade de 8 a 10 anos. A escolaridade das crianças reflete a idade destas
que o número de repetências é praticamente nulo.
As características clínicas da amostra são apresentadas na tabela 2
:
Tabela 2-Características Clínicas
N %(G1) N %(G2)
Encaminhamento
Escola 10 41,7 13 34,2
Neurologista 2 8,3 2 5,3%
Psiquiatra 3 12,5 3 7,9
Pediatra 2 8,3 3 7,9
Psicólogo 1 4,2 1 2,9
Familiar 4 16,3 4 10,5
Outro 2 8,3 9 23,7
Não tem informação 0 0,0 3 7,9
Motivos de Busca
Problemas escolares 7 29,2 7 18,4
Dificuldades na rel. Interp 5 20,8 5 13,2
Falta de atenção 3 12,5 12 31,6
Depressão e tristeza 8 33,3 3 7,9
Dificuldade no sono/alimentação/ controle dos
esfíncteres
1 4,2 1 2,6
Problemas de comportamento 5 20,8 15 39,5
Ansiedade/insegurança/medos 17 70,8 13 29,2
Agressividade 7 29,2 7 18,4
Hipótese Diagnóstica Inicial
Transtorno de humor 4 16,7 10 26,3
Transtorno de conduta 9 29,2 15 10,5
Transtorno de ansiedade 7 37,5 4 39,5
92
TDAH 2 8,3 4 10,5
Outros 2 8,3 4 10,5
Não tem informação 0 0,0 1 206
Número de Sessões por Semana
Uma sessão por semana 11 45,8 18 47,4
Duas sessões por semana 13 54,2 3 7,9
Só avaliação 0 0,0 14 36,8
Tratamentos Concomitantes
Sim 8 33,3 5 13,2
Não 16 66,7 33 86,8
Uso de Medicação
Sim 6 25,0 3 7,9
Não 18 75,0 35 92,1
Ano do Curso do terapeuta
Estágio de Psicologia 2 8,3 3 7,9
Primeiro ano 5 20,8 17 44,7
Segundo Ano 14 58,3 10 26,3
Terceiro Ano/Corpo Clínico 3 12,5 8 15,8
Os resultados indicam que a escola foi a fonte de maior encaminhamento em
ambos os grupos, seguida por profissionais da saúde. Com relação aos motivos de
busca, os comportamentos internalizantes, como ansiedade (70,8%) e depressão
(33,3%) predominam no G1, que se mostram presentes em um grande número de
casos. Por outro lado, os comportamentos externalizantes, como problemas de
comportamento, são a maioria no G2, presentes em 39,5% dos casos.
Como hipótese diagnóstica inicial, a maioria dos casos em ambos os grupos se
concentra nos transtornos relacionados à ansiedade, o que pode ser relacionado aos
motivos de busca no G1, mas não aos motivos de busca do G2. A maioria dos pacientes
foi atendida duas vezes por semana no G1 (54,8%). Já no G2 a maior parte dos casos
realizou a avaliação (36,8%) ou foi atendida uma vez por semana (47,4%). Os
resultados também indicam que 86,8% das crianças do G2 não realizavam outros
atendimentos concomitantes à psicoterapia. No G1 este número corresponde a 66,7%.
93
Quanto ao ano do curso no qual o terapeuta se encontrava no momento de busca, 20,8%
estavam no primeiro ano, e 58,3% estavam no segundo ano no G1. no G2, apenas
26,3% estavam no segundo ano, estando concentrados a grande maioria dos terapeutas
no primeiro ano do curso (44,7%)
Instrumentos
Para a avaliação das 62 crianças foram utilizados os seguintes instrumentos: a)
Ficha de levantamento sociodemográfico e clínico das crianças avaliadas (Anexo C); b)
Teste Gestáltico Visomotor de Bender; c) The Wechsler Intelligence Scale for Children
(WISC III), com padronização brasileira de Figueiredo (2002); d) técnica de Rorschach
e d) Child Behavior Check List (CBCL),
Procedimentos de coleta de dados
Durante a triagem, procedimento padrão para ingresso da criança como paciente
da instituição, os pais ou responsáveis foram convidados a participar da pesquisa em
questão.Os técnicos, que foram previamente treinados quanto à realização desse
convite, explicaram aos pais ou responsáveis do que se tratava. Em caso de aceite ao
convite, foi entregue aos pais um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
para assinatura (Anexo B). Após terem concordado com a participação e assinado o
TCLE, foram-lhes oferecido horários previamente definidos para a realização da coleta
de dados.
No momento anterior à psicoterapia, as crianças foram avaliadas por um
examinador treinado, nas datas definidas após a entrevista de triagem e antes de
iniciarem a psicoterapia propriamente dita. A coleta de dados com as crianças foi
realizada em dois encontros: um para a aplicação do Bender e do WISC III, e um
94
segundo para a aplicação do Rorschach. O CBCL foi preenchido pelos pais enquanto a
criança estava sendo avaliada. As fichas de levantamento sociodemográfico e clínico
foram preenchidas pelos terapeutas das crianças avaliadas. A aplicação desses
instrumentos foi de acordo com o método padronizado para cada um :
Para o Bender, foi apresentado à criança um conjunto de cartelas (total de 9),
contendo as figuras que compõem o teste. O sistema de correção utilizado foi o de
Koppitz (1987) e a padronização brasileira realizada em Porto Alegre (RS) de Kroeff
(1988).
Para o WISC-III, foi utilizada a padronização de Figueiredo (2002), sendo que
esse instrumento é composto de 10 subtestes (Informação, Compreensão, Vocabulário,
Semelhanças, Armar Objetos, Cubos, Aritmética, Arranjo de Figuras, Códigos e
Completar Figuras), divididos em Escala Verbal e de Execução. Para esta pesquisa,
foram utilizados os 10 subtestes obrigatórios, e com estes foi possível obter o QI total,
QI Verbal, QI de execução, compreensão verbal (CV) e organização perceptual (OP) da
criança avaliada. A ordem de aplicação dos subtestes manteve a padronização de
Figueiredo (2002), e a correção do instrumento se deu por esse sistema validado para o
Brasil.
A técnica de Rorschach foi aplicada conforme Exner (1995). Foram aplicadas as
10 lâminas que compõem o teste em duas fases: a de verbalização e a do inquérito. A
classificação e a análise das respostas foram feitas pelo sistema compreensivo proposto
por Exner (1995).
O CBCL foi preenchido pelos pais das crianças avaliadas. Este é um
questionário composto de 138 ítens, 20 dos quais avaliam a competência social da
criança e 118 avaliam os problemas de comportamento. Os resultados são divididos em
95
não-clínico, clínico e limítrofe de acordo com as respostas dadas pelos pais (Achenbach,
1991)
Com relação à ficha preenchida pelos terapeutas, esta (anexo C) solicitava ao
terapeuta informar a idade, motivo da busca, encaminhamento, hipótese diagnóstica
inicial, número de sessões por semana, presença de tratamentos concomitantes e
medicação. Todos os três avaliadores são psicólogos formados e treinados na aplicação
e interpretação de testes psicológicos. Todos os testes – o Bender, o WISC-III, o
Rorschach e o CBCL – foram aplicados, avaliados e interpretados conforme seus
respectivos manuais.
Procedimento de análise dos dados
No teste Bender-Gestáltico, duas escalas para pontuação de escores foram
utilizadas: a escala de maturação segundo a idade conforme Koppitz (1987) e a escala
de maturação segundo a idade conforme Kroeff (1988). No WISC III, a escala utilizada
para avaliação dos resultados foi a adaptação e padronização a partir de uma amostra
brasileira de Vera Lúcia Marques de Figueiredo (2002). no Rorschach os resultados
foram levantados e interpretados a partir do sistema compreensivo para crianças
proposto por Exner (1995). E por fim, o CBCL foi levantado a partir de um programa de
computador que apresenta os escores e os divide em clínico, limítrofe e não-clínico.
Com relação à ficha preenchida pelos terapeutas o levantamento foi feito a partir
das informações fornecidas por estes quanto aos dados sociodemográficos e dados
clínicos
Os resultados de cada teste e das fichas de cada criança foram transportados para
o programa SPSS 11.0 (Statistic Package for Social Sciences). Foi, então, aplicado o
teste qui-quadrado para heterogeneidade com correção de Yates ou teste exato de Fisher
96
quando necessário para associação das variáveis categóricas. O teste t de student foi
utilizado para a associação das variáveis quantitativas. Objetivou-se, com isto, realizar
uma associação entre as variáveis sociodemográficas, clínicas e dos resultados dos
testes com a permanência em psicoterapia psicanalítica por 12 meses (G1) e o abandono
do tratamento (G2).
Procedimentos Éticos
Os procedimentos éticos deste estudo incluíram o treinamento da equipe que
participou desta investigação quanto ao convite feito aos pais para participar da
pesquisa, à informação aos pais sobre a pesquisa e aos testes que seriam aplicados e à
entrega do Termo de Consentimento Livre e Informado a estes. Além disso, foi mantido
o sigilo quanto à identidade das famílias e das crianças avaliadas.
Os testes foram realizados em duas sessões para o sobrecarregar as crianças
que estavam sendo avaliadas.
RESULTADOS
Para a análise das diferenças das variáveis sociodemográficas e clínicas foi
aplicado o teste chi-quadrado. Os resultados estão dispostos na tabela a seguir:
Tabela 3- Variáveis sociodemográficas e clínicas
valor do p
Idade
,998
Sexo
,001
Escolaridade
,575
Encaminhamento
Problemas escolares ,470
Agressividade ,324
Ansiedade/Insegurança e Medos ,005
Depressão/Tristeza ,011
Problemas de Relacionamento Interpessoal ,423
97
Problemas de Atenção ,088
Problemas com Sono/alimentação/Esfíncteres ,739
Outros ,487
Hipótese Diagnóstica
,510
Ano do Curso do Terapeuta
,083
Freqüência dos atendimentos
,0001
Atendimentos Concomitantes
,057
Uso de Medicação
,063
A análise das variáveis sociodemográficas e clínicas demonstra que houve
diferenças estatisticamente significantes nas seguintes variáveis: sexo (0,001), com
predominância do sexo feminino no grupo que permaneceu em tratamento por 12
meses(G1); nos motivos de busca ansiedade, insegurança, medos (0,005) e depressão
(0,001), ambos presentes em maior número no G1; freqüência dos atendimentos, sendo
a predominância da freqüência de duas vezes por semana no G1 e uma vez por semana
no G2. Todas as demais variáveis não apresentaram diferenças estatisticamente
significantes.
Com relação às variáveis relativas aos resultados dos testes Bender, WISC III,
Rorschach e CBCL o valor do p está demonstrado nas tabelas a seguir:
Tabela 4- Resultados dos Testes Bender
valor do p
Bender Koppitz ,577
Bender Kroeff ,327
Tabela 5 – Resultados do WISC III
valor do p
QI Verbal
,719
QI de Execução
,719
QI Total
,906
Compreensão Verbal
,385
Organização perceptual
,425
98
Tabela 6 – Resultados do Rorschach
valor do p
Numero de respostas
,678
% Gl
obal
,825
% Detalhe Comum
,795
% Detalhe Incomum
,668
% S
,846
% Respostas F
,249
% Fo
,372
% F-
,693
% FM
,463
% M
,135
% FC
,197
% CF
,041
% C
,433
% FC´
,760
% C´F + C´
,615
% Fm
,135
% m+ mF
,013
% FT
,905
% A + Ad
,174
% H
,868
Tabela 7 – Resultados do CBCL
valor do p
Atividade ,890
Sociabilidade ,045
Escolaridade ,945
Total ,091
Retraimento ,512
Somático ,021
Ansiedade/depressão ,019
Contato social ,961
Pensamento ,691
Problema de atenção ,758
Delinqüência ,909
Agressividade ,920
Problemas sexuais ,615
Escala introversão ,046
Escala extroversao ,916
Escala total ,108
Os resultados apontam diferenças estatisticamente significantes nas variáveis
%CF (p = 0,041) e %m+mF (p = 0,013) do Rorschach e escalas de sociabilidade (p =
0,045), ansiedade e depressão (p =0,019), somática (p =0,021) e introversão (p =0,046)
99
no CBCL. Nas variáveis medidas nos testes Bender e WISC III, não foram encontradas
diferenças estatisticamente significantes, assim como nas demais variáveis do
Rorschach e CBCL.
DISCUSSÃO
As pesquisas de abandono de psicoterapia de crianças realizadas até o momento
possibilitaram uma melhor definição do abandono prematuro, a identificação de fatores
que levam ao abandono, bem como formas de previnir e melhorar os serviços
psicoterápicos oferecidos às crianças (Armbruster & Kazdin, 1994; Kazdin, Holland &
Crowley, 1997). Entretanto, a investigação na área é ainda escassa, e esta limitação
parece estar relacionada com a dificuldade de acesso aos paciente que abandonam
prematuramente o tratamento, que estes raramente se dispõem a participar de
pesquisas longitudinais e acabam por limitar o entendimento dinâmico do tema.
Kazdin (2008) salienta a importância de caracterizar os moderadores que
influenciam os resultados de uma intervenção para o encaminhamento dos pacientes ao
tratamento mais efetivo às suas necessidades. Neste estudo em particular, a análise dos
resultados encontrados na comparação entre o (G1) e o (G2) demonstra que a criança
que permaneceu em tratamento era predominantemente do sexo feminino, apresentava
sintomas de ansiedade, insegurança, medos, depressão, queixas somáticas e de
dificuldades na sociabilidade no momento da busca - todos estes sintomas
característicos dos transtornos internalizantes - e recebeu atendimento com uma
freqüência de duas vezes por semana. Além disto, as crianças do G1 apresentaram
diferenças estatisticamente significantes em algumas das variáveis medidas pelo
Rorschach, com uma porcentagem maior de CF e m+mf, indicando uma maior
dificuldade de controlar os impulsos e emoções do que o G2.
100
Estes resultados demonstram que as crianças que possuem estas características
sociodemográficas (sexo feminino), clínicas (transtornos internalizantes e maior
freqüência de atendimentos) e nos resultados dos testes (Maior %CF e maior % m+mF)
são aquelas que têm uma maior chance de permanecer em psicoterapia psicanalítica,
beneficiarem-se com o tratamento e não abandonarem prematuramente o mesmo. O G2,
por sua vez, foi caracterizado por um número acentuado de meninos que apresentavam
problemas de comportamento e falta de atenção no momento da busca - estes
predominantemente comportamentos externalizantes - e receberam atendimento uma
vez por semana ou realizaram a avaliação antes de interromperem o tratamento.
Esses resultados indicam que as crianças que possuem as características descritas acima
têm mais chance de não se beneficiarem com a psicoterapia psicanalítica e de
interromperem o tratamento em sua fase.
Os resultados deste estudo também confirmam o alto índice de abandono
encontrado nas psicoterapias com crianças (Kazdin, 1996). É relevante salientar, no
entanto, que índices elevados de abandono são também encontrados nas psicoterapias
em diferentes idades, grupos diagnósticos e modalidades de tratamento (30-60%),
denotando que este não é um problema restrito à população infantil que realizou
psicoterapia psicanalítica. Estudos realizados no Brasil sobre o tema encontraram
índices de abandono que variam de 35% a 68,7% nos serviços que oferecem serviços
psicológicos (Lopez, 1983; Carvalho & Térziz, 1988; Lhullier, Nunes, Antochevis,
Porto & Figueiredo 2000). Recente amostra pesquisada em Porto Alegre (RS), sobre
efetividade da psicoterapia psicanalítica com adultos reportam taxas de desistência
ainda maiores entre 76,4% a 94,12% (Jung, Tiellet & Eizirik, 2007). Apesar disso
88,24% dos pacientes desta amostra descreveram sua experiência com o tratamento
como satisfatória. Estes achados comprovam dados de outros informes sobre a
101
tendência dos psicoterapeutas de subestimarem as altas e superestimarem as
interrupções.
Neste estudo sobre abandono de psicoterapia com crianças, procurou-se fazer
uma investigação longitudinal, através da aplicação do CBCL, com os abandonantes,
mas o retorno das famílias foi pouco significativo, confirmando evidências citadas na
literatura. (Armbruster & Kazdin, 1994). Acredita-se, porém, que similares resultados
poderiam ser encontrados, ou seja, apesar das desistências, o índice de satisfação seria
elevado. Essa suposição se deve aos resultados encontrados em um levantamento
informal realizado no ano de 2006, com os pais, nesta mesma instituição sobre sua
satisfação com o tratamento. Quase 100% dos pais, cujos os filhos estavam em
tratamento no momento do levantamento, consideravam-se plenamente satisfeitos ou
satisfeitos com a psicoterapia psicanalítica realizada com seus filhos até aquele
momento (Deakin & Dian, 2006).
Em estudo realizado sobre as características das crianças que abandonam o
tratamento, concluiu-se que a continuidade do tratamento o depende muito das
características da criança, mas sim de fatores situacionais e externos à psicoterapia,
como raça e classe social (Viale-Val, Rosenthal, Curtiss & Marohn 1984; Weisz, Weiss
& Longmeyer, 1987). Alguns fatores internos, no entanto, podem ser detectados na
avaliação, como, por exemplo, a motivação dos pais , e a sua utilização no planejamento
do tratamento a ser oferecido à criança.
Algumas hipóteses levantadas sobre as razões pelas quais esta amostra
apresentou um alto índice de abandono merecem ser mencionadas. Em primeiro lugar,
como referido anteriormente, a psicoterapia psicanalítica parece ser mais efetiva no
tratamento das crianças do sexo feminino e que apresentam transtornos internalizantes.
Estes resultados confirmam os achados encontrados em pesquisa realizada no Anna
102
Freud Center, Londres (Target & Fonagy, 1994), no qual o estudo retrospectivo de 763
prontruários demonstrou que a psicanálise com crianças e modalidades oriundas desta
são mais efetivas no tratamento de transtornos emocionais, como a ansiedade e
depressão, não demonstrando a mesma efetividade para transtornos de conduta.
Também existem evidências que apontam que são as crianças do sexo masculino
aquelas que tendem ao maior abandono de psicoterapia (Lasky & Salmone, 1977)
A amostra inicial deste estudo, no entanto, era composta predominantemente de
meninos e que apresentavam problemas de comportamento, portanto transtornos
externalizantes. Para esta população estudos indicam serem as psicoterapias
comportamentais as mais indicadas, e o elevado índice de desistência reforça a idéia de
que a psicoterapia psicanalítica não apresenta a mesma efetividade (Kazdin, 1994, 1996;
Target & Fonagy, 1994).
Em segundo lugar, cabe ressaltar que os terapeutas envolvidos eram, na sua
maioria, iniciantes e inexperientes quanto à realização da psicoterapia com crianças.
Estudos reportam uma correlação positiva entre a quantidade de tempo de trabalho e os
resultados de tratamento (Sandell et al., 2000). Em geral, os terapeutas iniciantes
tendem a criar expectativas ideais e não reais de seu trabalho, aspirando algo perfeito e
além do esperado pelo paciente (Gabbard, 2005).
Não obstante, vale mencionar que a maioria dos terapeutas que trabalham a
partir de uma orientação psicanalítica ou psicodinâmica, sejam estes iniciantes ou
experientes, objetiva ir além do alívio dos sintomas que motivaram a busca do
tratamento e visa a uma mudança estrutural da criança, na qual o estabelecimento de
uma nova relação objetal (Sours, 1996). Para obtenção desses objetivos é, muitas vezes,
necessária uma maior freqüência das sessões e duração mais prolongada do tratamento.
Entretanto, nem sempre os pais buscam essas mudanças, prevalecendo a normalização
103
do comportamento da criança como o objetivo principal. Quanto este é atingido, mesmo
que outros objetivos possam existir por parte do terapeuta, os pais podem se sentir
beneficiados e optar por interromper o tratamento que, para eles, o é considerado
prematuro, que suas expectativas foram atendidas (Soley, Hooper, Marshall &
Chambliss, 1998). Além disso, é importante ressaltar que os profissionais que trabalham
a partir de uma orientação psicodinâmica, como a psicoterapia psicanalítica, tendem
interpretar o término do tratamento como resistência ou falta de motivação por parte do
paciente e/ou sua família. Estes últimos, por sua vez, tendem a atribuir o término a
fatores externos à psicoterapia, como falta de tempo, dificuldades de transporte ou
financeira (Todd, Deane & Bragdon, 2003). Plunkett (1984) salienta que quando as
expectativas dos pais se mostram incongruentes com as do serviço no qual a criança está
inserida uma maior chance de que a família interrompa o tratamento e/ou tenha
dificuldade de participar deste. O autor cita algumas formas de prevenção do abandono
prematuro como a compreensão dos objetivos e expectativas dos pais e da criança frente
ao tratamento bem como a formação de uma forte aliança terapêutica com estes, que
no caso da psicoterapia com crianças, a aliança terapêutica com os pais é mais
importante do que com a criança (Tryon & Kane, 1990).
Pelos fatores citados, até então, é possível que tenha havido uma incongruência
entre as expectativas dos pais e os objetivos do serviço oferecido. Neste estudo, não foi
feita uma análise inicial das expectativas dos pais, e talvez uma maior ênfase tenha que
ser dada nesta questão em estudos futuros sobre efetividade e abandono de psicoterapia
com crianças. Recente estudo (Garland, Haine & Boxmeyer, 2007) demonstrou que a
satisfação da criança/adolescente está associada a expectativas positivas do terapeuta. Já
uma maior satisfação dos pais apareceu associada a um maior número de sessões e
melhora no funcionamento global da criança. Cabe ressaltar, no entanto, que os
104
constructos relativos às expectativas e satisfação parental frente à psicoterapia ainda são
vagos e necessitam ser mais bem definidos para que possam ser utilizados nos estudos
de avaliação de intervenções terapêuticas com crianças.
A posição de Gabbard e Westen (2003) vale aqui ser lembrada. Para estes
autores a teoria moderna de ação terapêutica diz respeito à utilização de estratégias
(sejam estas psicanalíticas ou não) que facilitarão o processo de mudança proposto no
plano de tratamento de determinado paciente. Com isto, os autores sugerem que o
profissional deve se preocupar mais com o fato de uma técnica ser terapêutica para
determinado paciente, e não se esta se enquadra dentro da linha teórica seguida por este
mesmo profissional. Dentro desta mesma linha de pensamento, Tryon e Kane (1990)
propõem que o se deve oferecer o mesmo tipo de tratamento a todas as crianças,
independente da situação, pois ao se desconsiderarem as características individuais de
cada caso, corre-se o risco de maiores índices de abandono de tratamento.
A necessidade de gratificação imediata, a pouca capacidade reflexiva das
crianças e seus pais e a busca de soluções rápidas e de baixo custo podem também estar
relacionadas a um maior índice de abandono das psicoterapias de longa duração, como
as propostas pela psicoterapia psicanalítica. Além disso, existe a constante pressão dos
planos de saúde que querem cortar custos a qualquer preço e, por isso limitam a
qualidade do serviço a ser oferecido. A distância entre o tratamento real e o tratamento
ideal para determinado paciente parece estar cada vez maior, comprometendo os
resultados e levando a maiores índices de abandono. Cabe aos profissionais que atuam
nesta área unir seus esforços na compreensão das demandas características da pós-
modernidade para que, assim, possam continuar oferecendo seus serviços, de forma
efetiva, a toda a comunidade infantil que apresenta problemas psicológicos.
105
Por fim é fundamental a integração entre o clínico e as universidades, locais nos
quais são fomentadas as pesquisas, para que, então, os importantes conceitos
desenvolvidos pela psicanálise infantil, ao longo do último século, possam ser aplicados
efetivamente ao paciente que se apresenta nos dias de hoje e, com isto, prevenir o
abandono prematuro do tratamento.
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109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A idéia original desta tese era a de realizar um estudo de efetividade da
psicoterapia psicanalítica com crianças com um grupo único de 50 pacientes que se
mantivessem em tratamento por 12 meses em um ambulatório de Porto Alegre. O
acompanhamento e a avaliação dos resultados do tratamento efetivados nestes pacientes
constituíam o objetivo final deste estudo. De acordo com a orientação da banca
examinadora do processo de qualificação, esse design original foi ampliado com a
inclusão de um grupo controle de crianças equiparadas em sexo, idade e resultado da
escala total do CBCL (63,4% clínico). Estas crianças do grupo controle não realizaram
nenhum tipo de tratamento psicoterápico. Também foram incluídas as crianças que
abandonaram prematuramente o tratamento, com as quais se realizou um estudo
específico sobre abandono de psicoterapia. Apesar destas alterações, o foco inicial deste
estudo foi preservado e a psicoterapia psicanalítica com crianças pôde ser avaliada
quanto a sua efetividade.
O que muito surpreendeu neste processo de investigação foi o alto índice de
abandono do tratamento. Apesar de a literatura citar que de 40% a 60% (Kazdin, 1996)
das crianças que iniciam psicoterapia abandonam prematuramente o tratamento,
almejava-se um índice menor nesta amostra. A perda amostral acabou por reduzir o
poder estatístico do experimento e limitou a generalização dos resultados. Além disso,
apesar dos esforços contínuos de fazer contato e re-testar as crianças que interromperam
o tratamento, não se contou com a cooperação das famílias e a grande maioria destes
pacientes não retornaram ao ambulatório para realizar o re-teste. Esse fato corrobora
estudos anteriores, nos quais nem um incentivo financeiro foi suficiente para obter um
retorno significativo das famílias que abandonam o tratamento (Kazdin, 1996).
110
É fato, porém, que a falta de um levantamento prévio mais preciso do índice de
abandono no ambulatório no qual foi realizado este estudo constituíu-se numa falha
importante. Esta falha pode ser atribuída, em parte, à ausência de dados relativos ao
abandono de psicoterapia nesta instituição já que nunca havia sido feito qualquer tipo de
levantamento a este respeito. Os dados preliminares deste estudo mobilizaram o
ambulatório a reformular os prontuários e a incluir uma ficha de levantamento do
motivo da alta/interrupção do tratamento. Além disto, foram incluídas fichas de
acompanhamento da evolução dos pacientes, o que de possibilitar a realização de
estudos retrospectivos no futuro. Mesmo assim, é importante uma maior sistematização
da avaliação do trabalho realizado de forma a possibilitar a investigação do processo de
tratamento e a identificação dos moderadores que influenciam a intervenção.
Apesar das limitações, pode-se concluir que a psicoterapia psicanalítica é efetiva
para aquelas crianças que se mantêm em tratamento por um período de 12 meses,
principalmente se elas forem do sexo feminino e apresentarem transtornos
internalizantes como ansiedade e depressão, confirmando estudos anteriores realizados
nesta área (Target & Fonagy, 1994).
Considera-se importante salientar que as limitações pertinentes à investigação de
resultados da psicoterapia com crianças parecem estar diretamente relacionadas com a
falta de pesquisas na área e com o limitado interesse dos profissionais a se dedicar à
investigação empírica dos resultados do trabalho realizado. Na verdade, pode se
observar, até mesmo, um distanciamento entre o clínico e o investigador. Para que o
processo de aproximação entre estes se inicie, é importante que os centros de formação
de psicoterapeutas que trabalham a partir de uma orientação psicanalítica se engajem
nos grupos de pesquisa das universidades e, com isso, estudos multicêntricos possam
111
ser realizados, visando, assim, a um aumento da amostra estudada e, com isso, a sua
representatividade.
Considera-se fundamental a adoção de uma nova atitude empírica, ou seja, o
hábito de avaliar o próprio trabalho à luz do fenômeno observável e não da seleção do
material de forma a confirmar uma teoria. Um exemplo disso seria a condução de
sessões de psicoterapia psicanalítica por psicoterapeutas treinados em sala de espelho,
onde eles poderiam ser observados por outros profissionais e ter, assim, seu trabalho
avaliado por estes. A vivência de observar profissionais experientes questionando seu
próprio trabalho é bastante diferente da prática que é transmitida, geralmente de forma
idealizada, através de estudos de caso (Jimenez, 2005).
A experiência de operacionalizar os conceitos necessários para uma pesquisa
empírica através da avaliação sistemática do trabalho realizado também é uma forma
que promove muitos ganhos ao clínico que se envolve com investigação (Jimenez,
2007). A minha experiência como investigadora me fez acreditar ser perfeitamente
possível modificar e acrescentar maneiras de trabalhar clinicamente a partir da
experiência empírica. Posso afirmar que os ganhos oriundos desta pesquisa empírica
aumentaram a minha liberdade como clínica no processo de decisão de qual intervenção
técnica é mais apropriada ao meu paciente. Safran e Muran (1994) chamam estas
mudanças de clinical byproducts of research”, ou seja, os produtos clínicos obtidos
através da investigação empírica. Neste sentido posso reinterar a idéia de que o
treinamento em pesquisa facilita a melhor combinação entre o processo de recolher
informações e a tomada de decisões no âmbito clínico. Entretanto, para que isso ocorra
de uma forma mais abrangente o conhecimento oriundo da pesquisa empírica tem que
ser integrado ao julgamento clínico e então aplicado à prática psicoterápica.
112
O desafio ainda parece residir na transmissão dos resultados encontrados na
investigação, de forma que estes possam ser aplicados na prática diária daqueles que
não estão diretamente envolvidos com a atividade clínica. O investigador, muitas vezes,
tem dificuldade para traduzir as diferenças estatísticas em mudanças no dia-a-dia do
paciente, mesmo que o modelo de estudo de efetividade tenha sido o escolhido.
Entretanto, é importante ter em mente que a integração entre o clínico e o investigador
será possível se os investigadores começarem a apresentar seus resultados de forma a
facilitar o processo de decisão clínica, através da descrição da proporção dos casos que
respondem melhor a que tipo de tratamento versus a outra intervenção e da
demonstração dos aspectos positivos e negativos de diferentes modalidades de
tratamento.
Apesar de todo o processo de decisão ser baseado na probabilidade, parece ser
mais correto apoiar-se em escolhas validadas empiricamente do que apenas na decisão
clínica de determinado profissional, já que não está bem estabelecido se consistência
na decisão clínica dos terapeutas quando apresentados ao mesmo caso, tampouco se o
tratamento escolhido teve um impacto na vida de seu paciente e no resultado do
tratamento (Kazdin, 2008).
Neste estudo, os resultados da investigação empírica poderão ser integrados à
prática clínica se houver uma abertura por parte dos profissionais a adequarem sua
forma de trabalhar ao paciente que busca atendimento e permanece em tratamento. É
fundamental que o método de trabalho se molde às necessidades do paciente e não vice-
versa. O plano de tratamento deve levar em consideração que são as crianças do sexo
feminino, que apresentam sintomas de ansiedade e depressão, aquelas que mais se
beneficiam com a psicoterapia psicanalítica. Novas formas de pensar e trabalhar com as
crianças que apresentam transtornos externalizantes devem ser instituídas. Neste
113
sentido, este trabalho foi pioneiro e procurou contribuir para a indicação de formas de
tratamento mais efetivas, motivando a economia de recursos e o direcionamento destes
para tratamentos que se mostram com maiores possibilidade de resultados positivos.
Muitos terapeutas são experts em seu campo profissional. Existe, porém, uma
tendência dos terapeutas a limitar seu interesse em estudos que se aplicam diretamente a
sua clínica e seletivamente desconsiderar resultados que possam requerer uma
modificação substancial na sua maneira de trabalhar. Esse fato parece ser verdadeiro
tanto para terapeutas comportamentais como para aqueles que trabalham a partir de uma
orientação psicanalítica/psicodinâmica (Raw, 1993; Suinn,1993). Isso que dizer que a
decisão clínica ainda parece estar muito baseada na formação de determinado
profissional e não nas necessidades do paciente e validação empírica dos resultados.
Os estudos epidemiológicos sobre doenças psiquiátricas na infância demonstram
o número significativo da população que necessita de atendimento na área da saúde
mental (10-20%). Apesar disso poucos chegam a atendimento (10-20%), e menor é o
número daqueles que permanecem em tratamento psicoterápico (40-60%). Isso quer
dizer que, mesmo fazendo uma estimativa conservadora, de um grupo de 100 crianças
brasileiras, de 10 a 20 crianças apresentam algum tipo de doença psiquiátrica, e destas,
apenas de 2 a 4 chegam a atendimento e 1 ou 2 permanecem em psicoterapia e recebem
algum tipo de ajuda. Mesmo para estes que recebem atendimento psicoterápico, são
raros os estudos que avaliam a efetividade do tratamento oferecido. Esse fato remete a
uma necessidade urgente de sistematizar a avaliação dos serviços de saúde mental
oferecidos à criança de forma que lhe possa ser oferecido o tratamento que seja o mais
efetivo, de melhor qualidade e de menor custo.
Algumas considerações merecem ser discutidas com relação ao trabalho
realizado. Merece atenção a argumentação de Kernberg (1999) sobre algumas
114
características do processo analítico que dificultam a objetivação requerida pela
pesquisa. uma real dificuldade de encontrar instrumentos que possam medir
adequadamente o processo psicanalítico, principalmente quando a amostra é constituída
de crianças. A investigação empírica com adultos está muito mais desenvolvida do que
aquela realizada com crianças, o que torna muitos trabalhos praticamente únicos no seu
campo de ação.
Além disso é importante ressaltar que muitos dos estudos revisados na literatura
sobre investigação empírica com crianças parecem pouco comprometidos com a
representação clínica de suas amostras (Weisz, Doss & Hawley, 2005). Na maioria dos
estudos de avaliação de resultados nos dias de hoje, a validade interna é mais
valorizada, havendo pouca preocupação com a validade externa dos estudos, ou seja, o
quanto estes representam o que realmente ocorre na prática clínica.
Sem dúvida, uma maior abertura dos profissionais que trabalham a partir de um
enfoque psicanalítico é essencial para que mais estudos de avaliação de resultados de
psicoterapia psicanalítica com crianças possam vir a ser realizados. Os psicoterapeutas
de crianças mostram-se mais interessados em atingir os resultados do que identificar os
ingredientes necessários para atingi-los. Enquanto o pesquisador tende a maximizar a
evidência negativa, isto é, incrementar o grau de questionamento e crítica dos achados,
o clínico tende a maximizar a evidência positiva; e isso se reflete na situação
terapêutica.
Por fim, gostaria de mencionar que concordo plenamente com as idéias de
Jimenez (2007), bem como de Gabbard e Westen (2003) de que o desafio maior reside
no desenvolvimento de uma técnica psicanalítica que seja ativa e flexível nas suas
múltiplas formas de intervenção e que seja capaz de incorporar o conhecimento obtido
através das pesquisas de resultados tanto em psicoterapia como em psicanálise. Espero
115
que esta minha investida empírica, após anos de carreira clínica psicanalítica possa ir
além do meu crescimento pessoal e abra caminho para o desenvolvimento de novos
estudos e possibilidades de tratamento psicanalítico com a criança que está sofrendo
psicologicamente nos dias de hoje.
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and Adolescent Psychiatry, 33(8), 1134-1144.
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research: a review and critique of the evidence base. Annual Review of Psychology,
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116
ANEXOS
117
Anexo A
118
Anexo B
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
A avaliação da efetividade e qualidade dos atendimentos psicoterápicos
prestados pelo CEAPIA é de extrema importância para a manutenção e planejamento
dos aspectos referentes ao ensino da psicoterapia da infância e adolescência, assim
como do próprio tratamento. Esta pesquisa tem como objetivo verificar a efetividade do
tratamento psicoterápico de orientação psicanalítica, modalidade realizada nesta
instituição. Para atingirmos esse objetivo utilizaremos quatro técnicas de avaliação
psicológica: o Bender,o WISC III (Weschler Inteligence Scale for Children) , o CBCL
(Child Behavior Check List ) e o Rorschach que serão aplicados em duas sessões, no
início do tratamento e um ano após essa data. É importante ressaltar que esse
procedimento não envolve risco algum para a criança, exceto graus nimos de
ansiedade, comuns em qualquer atividade desconhecida dessa natureza.
Eu__________________________________________(Responsável) fui
informado dos objetivos da pesquisa em questão, de maneira clara e detalhada. Recebi
informações a respeito dos procedimentos que serão realizados e esclareci minhas
dúvidas. Sei que, a qualquer momento, poderei solicitar novas informações e modificar
minha decisão de participar, sem que isso acarrete nenhuma interferência no tratamento
de minha criança. O psicólogo(a) responsável pela pesquisa certificou-me que todos os
dados referentes à identidade de minha criança são confidenciais, logo serão
preservados em sigilo, sendo permitido que apenas os responsáveis pela pesquisa e o
terapeuta da criança tenha acesso a estes.
Declaro que recebi o a cópia do presente termo de consentimento informado
Assinatura: __________________________________________ Data ___/___/____
_____________________________________
Pesquisador Responsável
Elisabeth Kuhn Deakin – (51) 9985 7747
119
Anexo C
FICHA SOCIODEMOGRÁFICA/CLÍNICA DA CRIANÇA
Caso :_____
Prontuário Ceapia : _________________
Data de nascimento :____/____/____ Idade : ____a____m
Escolaridade : __________________Número de repetências :_______
Data da triagem ____/___/_____
Fonte de encaminhamento : ________________________
Motivo Inicial da Busca :
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________
Hipótese Diagnóstica:
__________________________________________________________________
Data da primeira sessão com a criança; ___/___/_____
Terapeuta responsável : ________________________
Ano do Curso do terapeuta ( ) primeiro ( ) segundo ( ) terceiro ( ) estagiária
Freqüência Semanal do atendimento :____________________
Outros atendimentos concomitantes à psicoterapia :_____________________
Uso de medicação: sim ( ) não ( ) 16. Tempo de uso: ______________
Presença de aspectos neurológicos: sim ( ) não ( )
Observações : ___________________________________________________
120
Anexo D
FICHA DE ACOMPANHAMENTO DA EVOLUÇÃO DO PACIENTE
Nome do Paciente: _______________________________________________________
Idade: _________________________________________________________________
Tempo de tratamento:_____________________________________________________
Motivo Inicial da busca:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Hipótese Diagnóstica Inicial:
______________________________________________________________________
Hipótese Diagnóstica Atual:
______________________________________________________________________
Síntese da Evolução do Paciente : Faça uma análise comparativa do estado mental entre
o momento de busca e o momento atual seguindo os itens abaixo:
a) Desempenho em tarefas gerais (atenção,rendimento escolar, motivação para realizar
tarefas);
b) Controle de impulsos e tolerância à frustração;
c)Modulação afetiva (alterações do humor, adequação do afeto e controle da
agressividade);
d.) Controle da Ansiedade (presença de medos, ansiedade de separação, administração
da ansiedade de uma forma geral);
e) Padrão de relacionamento social (modificações no padrão de interação e
relacionamento interpessoal);
f) Mecanismos de defesa (modificações na utilização dos mecanismos de defesa que
sejam significativos no funcionamento psíquico do paciente);
g)Contato com a realidade (avaliação na capacidade de perceber a realidade objetiva, de
se organizar frente à realidade, fuga à fantasia, pensamento lógico);
h) Percepção da capacidade cognitiva (avanço na capacidade de estabelecer relações
abstratas, associações, capacidade simbólica);
i) Sintomas (continuidade ou remissão parcial ou total dos sintomas apresentados no
início do tratamento).
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