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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
DE VOLTA PARA O PRESENTE
Uma história dos militantes comunistas de Porto Alegre e suas
representações acerca da democracia (1945-1947)
Dissertação de Mestrado
Marisângela T. A. Martins
Porto Alegre
Março de 2007
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MARISÂNGELA T. A. MARTINS
DE VOLTA PARA O PRESENTE
Uma história dos militantes comunistas de Porto Alegre e suas representações acerca da
democracia (1945-1947)
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre junto ao Programa de
Pós-Graduação em História do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, sob a orientação da
Professora Drª Carla Simone Rodeghero.
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Drª Carla Simone Rodeghero (Orientadora)
Prof. Dr. Benito Bisso Schmidt (UFRGS)
Prof. Dr. Jorge Ferreira (UFF)
Prof. Drª Sandra Jatahy Pesavento (UFRGS)
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AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Carla Simone Rodeghero, sou imensamente grata pela
orientação atenta e cuidadosa, por toda paciência com minhas indecisões teóricas, pelo
carinho e amizade com que me acolheu e, sobretudo, pela confiança que depositou em meu
trabalho.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
agradeço a bolsa concedida ao longo da pesquisa aqui apresentada. Sem o financiamento,
muitas das dificuldades encontradas não teriam sido transpostas. Nesse sentido, também
reconheço o apoio financeiro cedido pelo Programa de Pós-Graduação em História para a
realização da pesquisa no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ).
A alguns professores que compartilharam comigo de maneiras diversas e no tocante
a vários assuntos – um pouco de seu conhecimento, erudição e experiência de pesquisa, dando
idéias preciosas para o andamento dessa investigação. São eles: Anderson Zalewski Vargas,
Benito Bisso Schmidt, José Rivair Macedo, Maria Luíza Martini, René Gertz, Sandra
Pesavento, Susana Bleil de Souza e Temístocles César. Ao professor Jorge Ferreira, da
Universidade Federal Fluminense (UFF), que juntamente com o professor Benito Schmidt e a
professora Sandra Pesavento, compôs a banca avaliadora, meus sinceros agradecimentos.
Aos profissionais do Núcleo de Pesquisa Histórica do Departamento de História da
UFRGS Francisco Carvalho Jr., Lisete Kummer e Rosemari Brum e do APERJ Isaura,
Maria Helena, Rodrigo, Moisés e Alessandra: obrigada pelo eficiente e carinhoso
atendimento.
Ao jornalista e escritor João Batista Marçal, amigo e militante incansável, agradeço
por manter as portas de sua casa, de seu acervo e de suas lembranças sempre abertas; por
compartilhar tudo isso comigo e meus colegas de maneira tão amistosa, ato que também o
deixa de ser uma forma de militância. Tens de mim profunda admiração.
Aos meus queridos, amados e necessários amigos e colegas de profissão, com os quais
partilhei não apenas angústias e dúvidas teóricas, descobertas e desenganos – aspectos da vida
profissional mas também muitos de meus problemas pessoais (e existenciais).
Companheiros de viagens, caríssimos colegas que leram meus textos em diversas ocasiões;
trocaram idéias em conversas e discussões (em sala de aula, por telefone, pelo msn, tomando
um café no “chique” ou um chopp na Casa de Cultura). Esses momentos foram presentes
valiosos. São merecedores de minha gratidão, de modo especial, Aristeu Lopes, Cristiane
Pinto Bahy, Débora Gomes, Evandro dos Santos, Igor Salomão Teixeira, Jonas Moreira
Vargas, Juliano Doberstein, Luciana Lopes dos Santos, Mariana F. C. T. Flores, Michele
Bonatto, Mônica Karawejczyk, Paúl Montoya, Ricardo De Lorenzo e Viviane Trindade
Borges.
À Maíra Cristina Correia da Silva, que, através do Juliano, ajudou-me na paginação da
versão final da dissertação. Muito obrigada!
À minha família e meus amigos por agüentarem meus instantes de mal-humor...
Ao Alexandre, meu melhor amigo, meu companheiro, presente e ausente nos
momentos certos, paciente com as particularidades da profissão que escolhi, agradeço pelos
indispensáveis momentos em que a dissertação não ocupou o centro de minhas atenções.
É pura é simplesmente fazer
pouco dos trabalhadores e
explorados falar de democracia
pura, de democracia em geral,
de igualdade, liberdade e
direitos universais, quando os
operários e todos os
trabalhadores andam mal
alimentados, mal vestidos,
arruinados e exaustos [...].
V. I. Lenine – Moscou, 23 de dezembro de 1918.
RESUMO
A presente dissertação conta uma história dos militantes comunistas de Porto Alegre no maior
período de legalidade do Partido Comunista do Brasil (1945-1947). Seu objetivo é mostrar as
representações que tais agentes elaboraram acerca da democracia exaltada mundialmente
com base nos jornais Correio do Povo, Diário de Notícias, Tribuna Gaúcha e Libertação, em
relatórios da Polícia Política, nalguns documentos oficiais do Partido, nos Anais da
Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, além de entrevistas e memórias. A
interpretação dos testemunhos foi orientada pelos conceitos de “espaço de experiência”,
“horizonte de expectativas” e “representação”, e seus resultados apresentam-se em duas
partes, as quais tentam dar conta da inflexão entre euforia e decepção. Na primeira, dedicada
ao ano de 1945, os significados apresentam-se motivados pelo entusiasmo desmedido causado
por todas as possibilidades legais de atuação permitidas pela abertura política, sendo
caracterizados por um forte viés social e por expectativas extremamente positivas. Na
segunda, que abarca os dois anos seguintes, as representações defrontaram-se com questões
delicadas e cruciais para o futuro da militância, sendo elaboradas concomitante à insistente
retomada do passado antidemocrático e expressando-se por meio de metáforas altamente
negativas, embora sem perder totalmente de vista as esperanças no futuro.
Palavras-chave: militância comunista; democracia; representação.
ABSTRACT
The dissertation presented here talks a history about the communist militants from Porto
Alegre during the biggest period the Communist Brazil´s Party legally acts (1945-1947). The
research´s aim is to show the representations those agents produced in respect of democracy –
hailed all over the world – taking as reference the papers Correio do Povo, Diário de
Notícias, Tribuna Gaúcha and Libertação, Political Police´s reports, some Parts official
documents, the Legislative Assemble of Rio Grande do Sul´s accounts and, beyond these,
interviews and memories. The testimony´s interpretation here offered was guided by concepts
like “experience space”, “horizon of expectations” and “representation” and its results are
displayed into two parts that try to show the inflection between euphoria and deception. In the
first part of these, dedicated entirely to the year of 1945, the representation’s meanings have
their origins in the unmeasured enthusiasm caused by all possibilities of legal activity allowed
by political aperture, being characterized by a high social bias and by expectations too
positives. In the second, concerned the following two years, the representations faced to
subtle and crucial issues in respect of the activism´s future, being developed at the same time
with the re-emergence of an anti-democratic past and being expressed by metaphors highly
negatives although the hope of a future were not lost absolutely.
Key-words: communist militancy; democracy; representation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 – Atividades desenvolvidas em Porto Alegre no ano de 1945........................
p. 59
Gráfico 2 – Atividades desenvolvidas em Porto Alegre no ano de 1946........................
p. 122
Gráfico 3 – Atividades desenvolvidas em 1945 e 1946 – Quadro comparativo.............
p. 122
Gráfico 4 – Atividades desenvolvidas na conjuntura 1945-1947 – Quadro comparati-
vo.....................................................................................................................
p. 150
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Ocupação Profissional....................................................................................
p. 44
Tabela 2 – Época de Nascimento.....................................................................................
p. 45
Tabela 3 – Militantes comunistas gaúchos......................................................................
p. 46
Tabela 04 – As eleições de 1945 e a representatividade de Yeddo Fiúza no Rio
Grande do Sul...................................................................................................................
p. 115
Tabela 05 – Os candidatos à deputação federal nas eleições de 1945 no Rio Grande
do Sul..............................................................................................................................
p. 115
Tabela 06 – Eleições para a Assembléia Legislativa em 19 de janeiro de 1947 no Rio
Grande do Sul....................................................................................................................
p. 148
LISTA DE SIGLAS
ABAPE: Associação Brasileira de Amigos do Povo Espanhol
ABDE: Associação Brasileira de Escritores
ADP: Aliança Democrática Popular
ALN: Aliança Libertadora Nacional
ANL: Aliança Libertadora Nacional
APERJ: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
CEDEC: Centro de Estudos e Cultura Contemporânea
CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DOPS: Departamento de Ordem Política e Social
DRT: Delegacia Regional do Trabalho
EUA: Estados Unidos da América
FEB: Frente Expedicionária Brasileira
FORGS: Federação Operária do Rio Grande do Sul
GPNR: Governo Popular Nacional Revolucionário
JUC: Juventude Comunista
LEC: Liga Eleitoral Católica
MUT: Movimento Unificador dos Trabalhadores
PCB: Partido Comunista do Brasil
PCB: Partido Constitucionalista Brasileiro
PCUS: Partido Comunista da União Soviética
PL: Partido Liberal
PPP: Partido Popular Progressista
PRL: Partido Republicano Liberal
PRP: Partido de Representação Popular
PRR: Partido Republicano Riograndense
PSD: Partido Social Democrata
PSP: Partido Social Progressista
PTB: Partido Trabalhista Brasileiro
TSE: Tribunal Superior Eleitoral
UDN: União Democrática Nacional
UFF: Universidade Federal Fluminense
UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
URSS: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
LISTA DE ABREVIATURAS
CP: Correio do Povo (jornal)
DN: Diário de Notícias (jornal)
LIB: Libertação (revista)
TG: Tribuna Gaúcha (jornal)
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................................... 15
Parte I – Os comunistas de Porto Alegre no ocaso do Estado Novo................................ 40
Capítulo 1 – Rumo à “democracia soviética”: os militantes comunistas e o
centralismo democrático....................................................................................... 42
1.1 – Nossos protagonistas: alguns dados quantitativos................................................
42
1.2 – O PCB em Porto Alegre: estrutura, organização e funcionamento.......................
48
Capítulo 2 – A democracia desponta no horizonte............................................... 64
2.1 – Anistia e União Nacional: os primeiros passos na marcha para a democracia
..... 64
2.2 – Na luta pela Assembléia Constituinte: os comunistas rumo ao horizonte..............
76
2.3 – As eleições de 02 de dezembro: a democracia resplandece...................................
105
Parte II – Os comunistas de Porto Alegre e o eclipse da legalidade................................ 119
Capítulo 3 – A democracia se afasta no horizonte............................................... 121
3.1 – As greves e o retorno da repressão: o horizonte enevoado....................................
121
3.2 – A campanha eleitoral e os preparativos para o IV Congresso: tentando dissipar
as nuvens.........................................................................................................................
135
Capítulo 4 – A democracia se perde no horizonte............................................... 147
4.1 – O centenário de nascimento de Castro Alves: os comunistas como continuadores
da obra dos antepassados.................................................................................................
147
4.2 – O fechamento do PCB: o horizonte tem a face negra da tirania............................
160
4.3 – O imperialismo norte-americano: a ameaça iminente...........................................
171
4.4 – A cassação dos mandatos: o limite do horizonte..................................................
189
Considerações Finais........................................................................................................ 196
Referências Bibliográficas............................................................................................... 204
Fontes............................................................................................................................... 210
Apêndices......................................................................................................................... 213
Apêndice A – Relação de Militantes Comunistas da cidade de Porto Alegre (1945-1947)......................
214
Apêndice B – Relação de Células do Partido Comunista do Brasil em Porto Alegre (1945 e 1947).......
232
Apêndice C – Relação das Atividades Desenvolvidas pelos Militantes Comunistas (1945-1947)...........
235
Anexos............................................................................................................................. 257
15
INTRODUÇÃO
Realidade concreta e viva,
submetida à irreversibilidade
de seu impulso, o tempo da
história [...] é o próprio plasma
em que se engastam os
fenômenos e como o lugar de
sua inteligibilidade.
Marc Bloch – 1944
16
I
O tempo como lugar de inteligibilidade da história. À citação de Marc Bloch, ousaria
acrescentar a questão do tempo também como parâmetro da escrita histórica. Tratar-se-á,
nessas linhas, de um trabalho sobre teoria da história? Não exatamente. Na verdade, o que me
leva a iniciar esse texto parafraseando um dos fundadores da Escola dos Annales é a validade
de suas palavras para introduzir o leitor no universo de minha pesquisa. Pois, sim, a história
acontece no tempo e é através dele que se torna inteligível. Mas ela não apenas “acontece”. A
história é feita por homens, por homens no tempo. Ao fazer a defesa do ofício do historiador,
Bloch afirmou que “por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições
aparentemente mais desligadas daqueles que a criaram, são os homens que a história quer
capturar”.
1
Na presente dissertação, quero contar uma parte da história de alguns homens que
viveram na não muito distante, cronologicamente falando, década de 1940. Através de
vestígios, relatarei experiências e expectativas em relação à democracia de um grupo de
brasileiros que militaram pelo comunismo na cidade de Porto Alegre durante a maior fase de
legalidade do Partido Comunista do Brasil (PCB). Em minha narrativa, levarei em conta,
sobretudo, o tempo, pois, semelhante ao historiador alemão Reinhart Koselleck, não acredito
na existência de história alguma que não tenha se constituído mediante experiências e
esperanças de pessoas que atuam e sofrem.
2
O comunismo no Brasil e os assuntos a ele correlatos é um dos temas retomados
pelas pesquisas históricas nos últimos anos. Após ser explicado por vieses diversos,
principalmente através do marxismo e da história política, ele retorna ao palco da história
iluminado por conceitos típicos da abordagem cultural, de modo a responder a perguntas que
uma nova época vem colocando acerca desse que é, certamente, um dos fenômenos mais
importantes da história brasileira e mundial no século XX.
Após 1989, o comunismo baseado no marxismo-leninismo deixou de ser uma
alternativa real ou uma ameaça em potencial para alguns ao capitalismo. Novas condições
tornaram possível lançar um outro olhar aos comunistas: eles não são mais nem o baluarte da
revolução, nem os “filhos das trevas”, ateus e inimigos da democracia. Da idealizada
1
BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, O ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 54.
2
KOSELLECK, Reinhart. Futuro pasado: para una semántica de los tiempos históricos. Barcelona: Paidós,
1983, p. 335.
17
bipolaridade abriu-se um espaço para pensar nesses revolucionários como homens e mulheres
concretos, com determinadas experiências de vida, preocupações cotidianas, possíveis
conflitos existenciais e dramas particulares, além de perspectivas de futuro. Mas, que tipo de
indagações esse novo tempo marcado pela ânsia cada vez maior pelo lucro, pelo delírio em
relação às inovações tecnológicas e pela banalização das coisas humanas coloca aos estudos
sobre o comunismo e os comunistas e como o historiador pode responder tais questões?
Meu interesse pelos militantes comunistas teve início durante a graduação realizada
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul quando comecei a trabalhar, como bolsista
de iniciação científica, com fontes relativas à conjuntura 1945-1947.
3
Minha tarefa consistiu
em conhecer um pouco melhor esse importante alvo dos anticomunistas no contexto
imediatamente pós-Estado Novo, os militantes do PCB. Em um primeiro momento, as
atenções voltaram-se para a construção da identidade dos adeptos do comunismo, análise
através da qual não somente logrei resgatar alguns elementos da sua maneira de ser como
também pude perceber a forte defesa da democracia nos diversos documentos.
4
Tal
constatação levou-me a explorar a concepção de democracia entre comunistas e
anticomunistas nos debates da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul durante o ano de
1947, cujos Anais mostraram-me que ela constituía-se num objeto de intensa disputa entre as
diferentes correntes que estavam representadas no Poder Legislativo gaúcho. A oposição
democracia versus fascismo estava presente em todas as correntes. O que as diferenciava era a
maneira de caracterizar os dois termos antitéticos.
5
Assim, o tema da democracia foi ganhando uma dimensão maior em meu olhar sobre
as fontes relativas ao comunismo na capital sul-riograndense. A isso acrescentaram-se mais
algumas questões, como: (1) a constatação de que o debate em torno do ideal em questão, nos
últimos anos, desdobra-se em uma mescla de descrença e aposta confiante, numa série de
dúvidas relacionadas à sua validade enquanto regime baseado em princípios de soberania
3
Desenvolvi trabalho, ao longo dos anos de 2003 e 2004, junto ao projeto de pesquisa da Profª Drª Carla
Rodeghero, cujo título é A conjuntura de 1945-1947: o combate à subversão e ao comunismo na encruzilhada
do autoritarismo e da democracia, em Porto Alegre.
4
Essa pesquisa foi planejada e executada ao longo das cadeiras de Técnica de Pesquisa Histórica I e II, tendo
como resultado a monografia intitulada Ser pecebista em Porto Alegre: analisando a identidade dos militantes
comunistas através da organização partidária e de suas posturas políticas durante o período de sua legalidade
(1945 a 1947). O resumo desse trabalho está publicado em: MARTINS, M. T. A. Ser pecebista em Porto Alegre
entre 1945 e 1947. In: XV Salão de Iniciação Científica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, 2003, v.01, p.937;Com alguns acréscimos em: MARTINS, M. T. A. Organização, militância e
identidade: uma reflexão sobre a atuação comunista em Porto Alegre entre 1945 e 1947 In: VII Encontro
Estadual de História - História, Memória e Testemunho: caderno de resumos. São Leopoldo: Oikos Editora,
2004, v.01, p.177-178.
5
MARTINS, M. T. A. Viva à democracia: a apelo à democracia nos discursos dos comunistas e anticomunistas
na Assembléia Legislativa gaúcha em 1947. In: XVI Salão de Iniciação Científica da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2004, v. 01, p. 755-756.
18
popular e distribuição eqüitativa de poder e a incapacidade de pensar em outro regime que
não seja o democrático, visto o trauma causado pela Ditadura Militar vigente entre 1964-1985
no Brasil; (2) a percepção de que as reflexões sobre o ideal em questão perpassam temas
candentes e polêmicos da história e da historiografia brasileira, como os igualmente
relacionados ao sistema político instaurado em 1964. Em alguns trabalhos, o
questionamento das concepções de democracia que defensores do sistema político e seus
oponentes tinham, o que também se refere à avaliação do regime democrático criado pela
Constituição de 1946.
6
Enfim, em tempos de terrorismo, em que a maior potência capitalista
invade países soberanos e humilha seus cidadãos em nome da democracia, é importante
entender o que pessoas que dedicaram sua vida por uma alternativa ao capitalismo pensavam
acerca desse ideal.
Diante desse quadro, cabe deixar claro que o objetivo da pesquisa aqui relatada foi
analisar as representações que os militantes comunistas de Porto Alegre elaboraram em torno
da democracia desde o ocaso do Estado Novo, quando conquistaram o direito de militarem
legalmente, até 1947, ano em que o registro de seu Partido foi cancelado e o mandato dos
parlamentares, eleitos ao longo da conjuntura, cassados. A pretensão de investigar tais
representações vem acompanhada de uma outra intenção, a de compreender a concepção de
democracia desses personagens históricos, quer dizer, vislumbrar em que medida as coisas
ditas sobre ela, a cada momento baseadas em experiências e orientadas por certas
expectativas, se conformavam com uma forma específica de ver a realidade. Assim, não a
pretensão de priorizar continuidades ou descontinuidades dessas representações em relação
aos períodos anterior ou posterior ao recorte temporal considerado. Importa ressaltar as
nuances que permanências e mudanças na forma de conceber a democracia ganharam diante
das exigências que a vida legal impunha aos nossos protagonistas.
II
Depois da origem do PCB, nos anos 1920, a fase de 1945 a 1947 foi o seu maior
período de legalidade, possibilitando a sua instalação em diversos estados e, na seqüência, a
configuração de um conjunto de grupos bem articulados. Leandro Konder afirmou que, no
imediato pós-guerra, devido à legalidade, os comunistas puderam vir “inteiramente à
6
Como é o caso de REIS FILHO, Daniel Aarão. A revolução faltou ao encontro: os comunistas no Brasil. São
Paulo: Brasiliense, 1990, especialmente no capítulo 4.
19
superfície”, revelando-se completamente aos olhos da opinião pública.
7
Por isso, seu estudo,
durante tal intervalo, ganha outra vantagem: o fato de não existirem grandes lacunas
documentais como nos períodos de ilegalidade, pois tanto o número de filiados como o de
publicações do Partido cresceu nesse período.
De um modo geral, a militância comunista na fase da legalidade do PCB mostra-se um
campo pouco explorado pela historiografia. As durezas da clandestinidade parecem atrair
mais os pesquisadores. Nos casos em que os estudiosos deram atenção à conjuntura 1945-
1947 ou à relação entre democracia e comunismo, é o Partido Comunista, e não tanto seus
militantes, que ganha maior visibilidade.
8
Especificamente sobre a relação entre comunistas e democracia, o trabalho de Leandro
Konder se destaca, embora seja uma reflexão incipiente.
9
Partindo de uma perspectiva teórica
marxista e de fontes predominantemente jornalísticas, o interesse maior do filósofo, ao
escrever, em 1980, sobre a democracia e o comunismo no Brasil, estava em olhar para o
passado a fim de entender melhor seu presente. Sua principal contribuição, ao tratar o período
de 1945 a 1947, está na afirmativa de que a concepção que os comunistas tinham de
democracia aparecia muito nas atividades culturais, principalmente nos trabalhos de
intelectuais como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e
Monteiro Lobato. No entanto, Konder não explora essa concepção. Como ele mesmo
esclareceu nas primeiras páginas do seu trabalho, os resultados a que chegou são provisórios,
limitados, “muito grudados” aos fatos e não encerram conclusões “retumbantes”, embora
possam representar um “tijolo” útil na construção do conhecimento histórico sobre o tema.
10
Seis anos depois, quando o Brasil já respirava ares democráticos, Marco Aurélio
Garcia organizou o livro As Esquerdas e a Democracia, que é a transcrição de importante
debate ocorrido naquele ano sobre as relações entre o pensamento de esquerda e a questão da
democracia no Brasil, uma discussão motivada pela eleição da Assembléia Nacional
Constituinte.
11
Por se tratar da transcrição de um debate, a obra carece de certos detalhes
como especificação de fontes e de referenciais teóricos não satisfazendo uma leitura mais
7
KONDER, Leandro. A democracia e os comunistas no Brasil. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1980, p. 49.
8
Cabe esclarecer que as obras analisadas na seguinte revisão bibliográfica serão retomadas ao longo da
dissertação, de maneira a incorporar suas contribuições à presente pesquisa. O objetivo é traçar um constante
diálogo com os autores, confrontando informações e acrescentando singularidades da militância comunista de
Porto Alegre.
9
KONDER, Leandro. Op. Cit.
10
Id. Ibidem. p. 10.
11
GARCIA, Marco Aurélio (Org.) As Esquerdas e a Democracia. Rio de Janeiro: Paz e Terra: CEDEC, 1986.
Os debatedores eram: Carlos Nelson Coutinho, Daniel Aarão Reis Filho, Francisco Weffort, José Álvaro Moisés,
Marco Aurélio Garcia, Maria Victória Benevides e Régis de Castro Andrade.
20
exigente. Contudo, certos aspectos levantados pelos debatedores mostram-se pertinentes,
como a discussão a respeito das facetas política, econômica e social da concepção de
democracia dos comunistas nas conjunturas 1945-1947 e 1960-1964, e a questão da
(in)existência de democracia interna no Partido.
Em algumas abordagens dedicadas ao PCB no período em questão, certos elementos
mostram-se constantes, como o processo de retorno à legalidade, a libertação de Prestes, o
êxito do Partido nas eleições, a política da União Nacional e o processo de cassação do
registro do PC. Muitos desses trabalhos apóiam-se apenas em documentos oficiais do Partido
e analisam de modo bastante superficial tais eventos, contentando-se em citá-los
simplesmente.
12
na obra do norte-americano Ronald Chilcote, publicado no início da década de
1980, encontra-se um esforço maior no sentido de caracterizar o PCB desde sua fundação até
1972.
13
O estudo desenvolvido por esse autor privilegiou, sobretudo, o Partido trajetória,
organização, estrutura, papel dos dirigentes e das massas, relação com os meios internacional,
nacional e local – e não os seus militantes. Vendo-o como um “partido comunista não-
governante”, Chilcote apresentou uma faceta praticamente inexistente nas demais obras: o PC
inserido em uma sociedade não somente brasileira, mas também latino-americana. Como
Chilcote considerava o PCB um partido personalista a partir de 1945, examinou sua história
com ênfase nos pronunciamentos e nas decisões de Luiz Carlos Prestes, classificando a
política assumida no período defesa da democracia e da Constituição de oportunista, um
ponto a ser questionado nessa dissertação. Embora prejudicada pela escassez documental, a
obra desse historiador foi pioneira na descrição da estrutura e do funcionamento do PCB, a
partir de amplo levantamento e mapeamento da agremiação em todo o país. Nesse sentido,
ela mostra-se fértil tanto para a caracterização do Partido ao qual os militantes estavam
filiados quanto para a análise da relação entre ambos.
A tese de doutorado de Berenice Cavalcante, convertida em livro em 1986, deu conta
da história dos comunistas durante a fase de redemocratização da sociedade brasileira após o
12
É o caso dos livros: PACHECO, Eliezer. O Partido Comunista Brasileiro (1922-1964) São Paulo: Alfa-
Ômega, 1984 e SEGATTO, José Antônio. Breve História do PCB. São Paulo: Livraria Editora Ciências
Humanas, 1981. E também dos capítulos de livros de autoria de: GOMES, Ângela Maria de Castro. O Brasil
republicano: sociedade e política (1930-1964). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996; RODRIGUES, Leôncio
Martins. “O PCB: os dirigentes e a organização”. In: FAUSTO, Boris (Dir.). História Geral da Civilização
Brasileira. São Paulo: DIFEL, 1981, T. 3, v. 3, pp. 361-443; e SEGATTO, Jo Antônio. PCB: a questão
nacional e a democracia. In: DELGADO, Lucília de Almeida Neves & FERREIRA, Jorge. (Org.) O Brasil
Republicano. O tempo da experiência democrática: da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. v. 3, pp. 217-240.
13
CHILCOTE, Ronald. Partido Comunista Brasileiro: conflito e integração (1922-1972). Tradução de Celso
Mauro Paciornik. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982.
21
Estado Novo.
14
As emoções e apreensões dos primeiros anos da década de 1980 motivaram o
interesse da autora pela democracia e pelo socialismo, levando-a a investigar quatro aspectos
da atuação comunista nos anos 1940: a visão de mundo que presidiu a formulação política do
PCB; a relação entre o Partido e seus militantes, sobretudo os intelectuais; a proposta de
ordem, bem como o posicionamento do PC acerca da questão democrática e nacional; o
nascimento do prestismo. Dessa forma, a hierarquia, as oposições democracia versus fascismo
e democracia versus totalitarismo, a posição dos intelectuais diante da política de União
Nacional, as características da democracia na luta pela revolução democrático-burguesa,
assim como as imagens elaboradas em torno da União Soviética e de Prestes são elementos
importantes com os quais a presente dissertação estabelece diálogo. Um ponto a ser discutido,
por exemplo, é a caracterização que a autora fez do PCB como organização totalitária porque
calcada numa visão totalizante do social. É pertinente salientar, ainda, que, muito embora as
reflexões de Cavalcante pretendam abarcar a realidade brasileira, elas apóiam-se em fontes
que a remetem ao Partido e à militância no Rio de Janeiro.
Marco Aurélio Santana, por sua vez, dedica-se à relação do PCB com os sindicatos,
mas explorando o recorte temporal que vai de 1945-1992.
15
Ao abordar o período de 1945-
1964, o autor apresenta dados importantes sobre a repercussão da linha política do Partido
(marcada pela defesa da “ordem da tranqüilidade” para a consolidação da democracia) no
meio sindical, lócus do operariado por excelência. Nesse sentido, o trabalho de Santana
colabora sobremaneira para com a pesquisa, visto, no caso de Porto Alegre, ter sido
descoberto muito pouco sobre as atividades comunistas no meio sindical na fase de
legalidade. Assim, a presente dissertação serve-se das reflexões realizadas pelo autor acerca
do papel desempenhado pelos sindicatos na tentativa do PCB se inserir e intervir na vida
política brasileira.
16
O livro de Daniel Aarão Reis Filho, A Revolução faltou ao encontro: os comunistas no
Brasil, de 1990, apresenta informações pertinentes.
17
A questão que orienta o trabalho de
Aarão é a de como explicar e compreender os constantes desencontros entre os comunistas e a
realidade social que pretendiam transformar, situando-se, temporalmente, nos anos 1960.
Tentando dar conta da questão norteadora, o autor estudou no quarto capítulo,
14
CAVALCANTE, Berenice. Certezas e Ilusões. Os Comunistas e a redemocratização da sociedade brasileira.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Niterói: Universidade Federal Fluminense/EDUFF/PROED, 1986.
15
SANTANA, Marco Aurélio. Homens partidos. Comunistas e sindicatos no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2001.
16
O estudo realizado por Santana apóia-se diversas vezes na obra de Arnaldo Spindel sobre a atuação do Partido
Comunista do Brasil em relação aos organismos ligados ao Ministério do Trabalho nos anos de 1944 a 1946.
Embora consultado, o livro não apresentou maiores contribuições para a presente dissertação. Ver: SPINDEL,
Arnaldo. O partido comunista na gênese do populismo. São Paulo: Símbolo, 1980.
17
REIS FILHO, Daniel Aarão. Op. Cit.
22
especialmente o que chamou de organizações comunistas como “estados-maiores
revolucionários”, quer dizer, ele buscou em uma dimensão mais interna da militância
respostas para entender por que determinadas carências ou desvios não foram superados e, por
conseguinte, impediram o encontro entre revolucionários e revolução. O que chama a atenção
é, justamente, o fato do historiador apontar postulados e mecanismos de funcionamento que
davam coesão a organizações como o PCB e outros grupos comunistas que dele divergiram a
partir do início dos anos 1960, como a ALN (Aliança Libertadora Nacional), liderada por
Marighella. Daí tê-las como organizações de estado-maior. Nesse sentido, Aarão trabalha com
a questão dessas organizações cultivarem mitos, tais como: a inevitabilidade da revolução, o
papel missionário do proletariado e a posição esclarecedora e de vanguarda que os comunistas
ocupavam no processo revolucionário. A questão da inevitabilidade da revolução, da missão
revolucionária do proletariado, do partido como vanguarda indispensável, do complexo da
dívida entre os militantes, do massacre de tarefas entre outros aspectos, estudados por Aarão,
foram retomados por Jorge Ferreira, em 2002, e examinados a partir de conceitos ligados à
história da cultura.
O livro de Dulce Pandolfi examinou o processo de construção da identidade do Partido
Comunista desde a sua fundação até a cada de 1990.
18
Pandolfi baseia-se no eixo Rio de
Janeiro-São Paulo talvez por seu interesse repousar nas interpretações construídas pelo
Partido a respeito de alguns episódios que marcaram sua história e em como tais releituras
contribuíram para a elaboração de uma dada maneira de ver a própria organização. Dessa
forma, a historiadora partiu da documentação produzida pelo PCB a respeito de sua história,
como jornais e revistas, artigos e livros, informes, resoluções, manifestos e teses muitos
deles de caráter sigiloso além de autobiografias, memórias e entrevistas com alguns
militantes. O uso que Pandolfi faz de tais fontes aproxima seu trabalho da presente
investigação. Camaradas e Companheiros mostra-se relevante para a pesquisa por mais
algumas razões. Ao tratar do intervalo 1945-1947, por exemplo, a autora dispensa dois
capítulos, analisando como a recordação de certos aspectos desse período, realizada anos mais
tarde, repercutiu na identidade comunista. Assim, a construção da figura de Prestes como
“dono do Partido”, o caráter sagrado e, ao mesmo tempo, problemático da União Nacional,
bem como a reinserção na clandestinidade em 1947, foram detalhados por Pandolfi, que, em
seguida, compara tais acontecimentos com a retomada que dirigentes do PC fizeram deles
anos depois. Ademais, as questões da defesa e da concepção de democracia dentro do Partido
18
PANDOLFI, Dulce. Camaradas e Companheiros: História e Memória do PCB. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará: Fundação Roberto Marinho, 1995.
23
– tanto na conjuntura por mim problematizada, como em outros momentos da história do PCB
permeia não somente esses dois capítulos, como é retomada no final do livro sob uma
perspectiva mais ampla, observando a relação entre comunismo e democracia entre os
comunistas da III Internacional, nos estudos de Marx, Lênin e Rosa Luxemburgo e assim por
diante.
O trabalho publicado por Ferreira em 2002 é referência de uma forma de estudar a
militância comunista brasileira pelo viés cultural.
19
Partindo de reflexões realizadas por
Berenice Cavalcante e Daniel Aarão (para mencionar autores também consultados para a
pesquisa aqui narrada) e apoiando-se em um corpus documental vasto e diverso, como
memórias, biografias, relatos de viagem, obras literárias, documentos oficiais publicados e
periódicos tanto comunistas como de grande circulação Ferreira buscou recuperar idéias,
valores e padrões de comportamento daqueles que encontraram no comunismo o projeto de
sua vida e de sua identidade social, reconstituindo a cultura e o imaginário desses
revolucionários. A abordagem do livro não é linear, e, sim, de acordo com a construção dos
diversos “mitos” que acompanharam a trajetória do Partido e da repercussão destes na
conformação da identidade e das práticas comunistas.
20
O trabalho que aqui se propõe, portanto, insere-se nesse contexto historiográfico
marcado pela ligação entre a história política e a história cultural, com a intenção de colaborar
para a construção do conhecimento histórico sobre a militância comunista em Porto Alegre.
Trata-se de uma faceta da história do comunismo brasileiro ainda desconhecida e em cuja
direção os aportes teórico-metodológicos da História Cultural permitem avançar em alguns
aspectos.
III
Prisioneiros do Mito é particularmente importante para a presente pesquisa. Na
primeira parte do livro, Ferreira mencionou e existência, entre os revolucionários, de um
“conjunto coordenado de representações”, um imaginário (no sentido que o Pierre Ansart)
através do qual eles reproduziam seus valores e normas, descreviam a sociedade, distribuíam
identidades e papéis sociais, expressavam as necessidades coletivas e estabeleciam os fins que
19
FERREIRA, Jorge. Prisioneiros do mito: cultura e imaginário político dos comunistas no Brasil (1930-1956).
Niterói: EdUFF; Rio de Janeiro: MAUAD, 2002.
20
Permito-me fazer uma apreciação resumida da obra de Jorge Ferreira nesse momento, uma vez que ela será
retomada já nos próximos parágrafos.
24
queriam alcançar.
21
A esse conjunto de representações, que alimentavam nos comunistas a
certeza de que a revolução aconteceria e que, em decorrência dela, a humanidade desfrutaria
da “Idade do Ouro”, com fartura material e espiritual para todos, fazia parte do que esse autor
chamou de “imaginação mítica”, modelo através do qual analisou o marxismo-leninismo
cultivado entre os revolucionários brasileiros entre 1930 e 1956, período em que o movimento
comunista foi dominado pelo stalinismo. Ferreira alertou para a existência de laços de
continuidade desse imaginário com tradições mais antigas, como mitos, simbologias e
hierofanias, ainda que secularizados e resignificados com base em argumentos científicos
típicos do século XIX.
22
De acordo com o autor, mesmo laicizados, os arquétipos e as
mitologias continuaram a oferecer ao homem moderno crenças, aspirações e representações
sociais.
23
No caso do marxismo-leninismo, o “Manifesto do Partido Comunista” se
constituiria nas palavras fundadoras e reveladoras da “Verdade”, desvelando uma concepção
messiânica do proletariado como redentor da Humanidade
24
e uma escatologia comunista, na
medida em que a revolução seria o destino inevitável, a verdade apocalíptica, pois que havia
sido revelada pelo texto fundador (prevista por Marx).
25
Jorge Ferreira aborda a interpretação que os militantes comunistas faziam das idéias de
Marx como respostas a indagações mais antigas, normalmente, direcionadas para a religião.
26
As idéias concernentes ao imaginário comunista, reveladas por ele, são pertinentes para o
presente trabalho por se tratarem de um primeiro passo no sentido de se preocupar em
esclarecer questões relativas à forma como os militantes do PCB atribuíam sentido à sua
existência. Contudo, podemos não concordar totalmente com a posição de Ferreira, que
caracteriza os comunistas como “prisioneiros” do marxismo-leninismo.
Não dúvidas de que existiram continuidades, que os pressupostos marxistas
retomaram e prolongaram – embora dessacralizados – mitos escatológicos de sociedades
antigas. Koselleck afirma que antes do século XVIII no Ocidente, o horizonte de expectativas
da doutrina cristã era limitado de forma inalcançável, referindo-se a um outro mundo e se
orientando para o além, concentrando-se no fim do mundo. No entanto, essa orientação
21
FERREIRA, Jorge. Op. Cit., p. 22.
22
Id. Ibidem, p. 24.
23
Id. Ibidem, p. 26.
24
Id. Ibidem, p. 28.
25
Id. Ibidem, p. 50.
26
O historiador e sociólogo francês Bernard Pudal igualmente acredita na possibilidade de se estudar o
marxismo da mesma forma que as pesquisas teológicas, numa analogia. A Igreja Católica e o movimento
comunista, segundo ele, têm um conjunto de aspectos estruturais em comum, como, por exemplo, a
infalibilidade tanto do Papa, para os católicos, quanto de Stálin para os comunistas. Cf. Conferência realizada na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 09 de outubro de 2006, sob o título “Sócio-história do
comunismo: pesquisas recentes”.
25
permanecia ligada ao passado Bíblia). É possível percebermos, aqui, a semelhança entre a
concepção de tempo cristã e aquela denominada por Jorge Ferreira como “imaginação mítica”
(a revolução como destino inevitável da humanidade, a verdade apocalíptica, revelada por um
texto fundador, que é o “Manifesto do Partido Comunista”).
27
A partir do século XVIII,
contudo, a profecia religiosa foi substituída por uma mundana: a idéia de progresso. Nessa
perspectiva, a história se dirige para uma transformação ativa do mundo, e não para o além. O
futuro é progressista (evolui e se aperfeiçoa na medida em que isso acontece), modificando o
estatuto do passado. O impacto do progresso técnico-industrial muda os ritmos da vida,
produzindo aceleração e tornando o abismo entre passado e futuro cada vez maior. Ademais,
o objetivo da perfeição presente na doutrina cristã é temporalizado e introduzido na
execução do acontecer mundano. Daí, a impressão de que o futuro é diferente do passado e/ou
melhor do que ele.
28
Trata-se de uma forma de compreender o tempo que François Hartog chama de
“regime moderno de historicidade”. Por “regime de historicidade” esse historiador francês
entende os diferentes modos de articulação das categorias do passado, do presente e do futuro.
De acordo com o acento colocado em uma dessas dimensões, a ordem do tempo muda.
29
É
uma ferramenta heurística que ajuda a tornar mais inteligíveis as experiências ocidentais do
tempo. No regime moderno de historicidade, o ponto de vista do futuro é que domina; ele
esclarece a história passada e é previsível.
30
Essa concepção do tempo é típica das teorias
cientificistas do século XIX dentre elas: marxismo e positivismo e perpassava o discurso
dos comunistas brasileiros. Toda a questão da existência, entre eles, de um conjunto de
representações, seus laços profundos com antigas tradições, o processo de secularização e
resignificação, enfim, a “imaginação mítica” de que fala Jorge Ferreira só tornou-se possível
dentro de um contexto aberto pelo advento de uma concepção de tempo pautada pelo futuro,
presente tanto na tradição judaico-cristã quanto nas teorias cientificistas oitocentistas.
De fato, muitas vezes o dogmatismo dos comunistas assumia feições de religiosidade.
Entretanto, Jorge Ferreira parece apegar-se demasiadamente em tal aspecto, vendo as
sobrevivências como novas roupagens de antigos arquétipos a ponto de atribuir aos militantes
do PCB a condição de seus “prisioneiros”, o que escamoteia e, de certa forma, menospreza a
27
É importante ressaltar que a inevitabilidade da revolução foi denunciada antes por Daniel Aarão, no livro A
revolução faltou ao encontro. Ferreira partiu dessa constatação, conectando-a a outras reflexões sobre a verdade
apocalíptica, texto fundador e etc..
28
KOSELLECK, Reinhart. Op. cit., p. 344-347.
29
HARTOG, François. Temps du monde, histoire, écriture de l’histoire. Texto apresentado pelo autor em
conferência na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 05 de outubro de 2005. p. 2.
30
HARTOG, François. O tempo desorientado. Tempo e história. “Como escrever a história da França?”. Anos
90. Porto Alegre – PPG – História – UFRGS, n. 7, julho de 1997, p. 9.
26
capacidade desses agentes sociais de dar novos significados à realidade social nos diferentes
contextos históricos e diante de questões locais, por exemplo. A meu ver, antes de serem
aprisionados pelo mito, como o próprio título da obra de Ferreira sugere, os comunistas se
deixaram aprisionar, entregaram-se à causa por verem nela um sentido para a resolução de
problemas econômicos e sociais que perpassavam séculos. A historiadora Eliane Garcia, por
exemplo, mostrou que, no Rio Grande do Sul, alguns intelectuais optaram pelo PCB não
porque o viam como o meio ideal para as mudanças sociais que almejavam, mas porque
acreditavam que a organização apresentava as propostas mais acertadas para o momento,
quando comparadas a outras alternativas que lhes eram oferecidas.
31
Optei pela utilização do conceito de representação justamente para poder captar os
significados construídos em torno da democracia pelos mais diversos militantes, portadores de
distintas bagagens de vida e dedicados a profissões variadas, embora sem perder de vista que
tais representações inseriam-se em uma rede de símbolos maior. Partilho do ponto de vista de
Roger Chartier, mas realizando algumas considerações e adaptações. A frase emblemática do
historiador francês, presente na maioria dos trabalhos que se rotulam culturais no âmbito da
história, postula uma relação, na qual
de um lado, a representação manifesta uma ausência, o que supõe uma clara
distinção entre o que representa e o que é representado; de outro, a representação é
a exibição de uma presença, a apresentação pública de uma coisa ou de uma
pessoa.
32
Trata-se da definição da edição de 1727 do Dictionmaire Universel, de Furetière, a que
o autor recorre para o estudo das práticas de leitura durante o Antigo Regime. Dessa forma,
Chartier investe de uma “pertinência operatória” um dos conceitos centrais manipulados nas
mesmas sociedades que estuda.
33
Ele havia mencionado, na Introdução do livro A História Cultural: entre práticas e
representações, de 1988, a relevância do conceito de representação para a história cultural, a
31
GARCIA, Eliane. A ação legal de um partido ilegal. O trabalho de massa das frentes intelectual e feminina do
PCB no Rio Grande do Sul (1947-1960). Porto Alegre: 1999. Dissertação de Mestrado defendida no Programa
de Pós-Graduação em História da UFRGS. p. 123.
32
CHARTIER, Roger. À Beira da Falésia. A História entre Certezas e Inquietude. Porto Alegre: Editora da
Universidade/UFRGS, 2002, p. 74. O texto em que Chartier trata da categoria de representação foi publicado
pela primeira vez na revista Annales, sob o título “Le monde comme représentation”, no final de 1989. No
Brasil, o artigo apareceu traduzido para o português em 1991, publicado pela revista Estudos Avançados, do
Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Em 2002, tanto na França como no Brasil, o
historiador lançou o livro Au bord de la falaise: L’histoire entre certitudes et inquiétude (À beira da falésia: A
história entre certezas e inquietude), do qual o artigo faz parte. Atualmente, a revista Estudos Avançados
disponibiliza “O mundo como representação” em meio digital, através do link
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141991000100010&script=sci_arttext&tlng=pt#back
, do qual é
possível efetuar o download do artigo.
33
CHARTIER, Roger. Loc. Cit.
27
qual teria como objeto as formas de compreensão do mundo.
34
Segundo ele, a pertinência
operatória da concepção de Furetière seria explicada por duas ordens de razões: porque, por
um lado, a representação daria a ver uma coisa ausente, supondo uma distinção radical entre
aquilo que representa e aquilo que é representado; por outro, exibindo uma presença, tal como
a exibição pública de algo ou de alguém.
35
Ao que parece, um determinado signo, por meio de
uma relação de representação, seria colocado no lugar de algo ausente, e, uma vez ocorrido
dessa maneira, ele poderia acabar por ser confundido com a própria coisa representada. A fim
de tornar essa relação inteligível, o historiador dedicado ao Antigo Regime estabeleceu duas
condições: (1) que se conheça o signo enquanto signo, no seu distanciamento da coisa
significada; (2) que se reconheça a existência de convenções partilhadas que regulam a
relação do signo com a coisa.
36
A representação, assim, apresenta-se por meio da pintura de um objeto, de palavras
e/ou de gestos. São os “dispositivos” e “mecanismos” acrescentaria o adjetivo extra-
pessoais através dos quais ela se apresenta como representando alguma coisa.
37
Temos a
diferença entre a coisa que representa – a pintura, a palavra, o gesto – e a coisa representada –
uma pessoa, um conceito, um rito, por exemplo. Se ela é a presença de uma ausência, o que é
visível e o que se oculta?
Um dos aspectos marcantes da construção do conhecimento histórico das últimas
décadas é a incorporação de uma postura de empatia em relação ao pretérito. Ver o passado e
seus personagens como outros” no tempo e no espaço, procurando tornar a estranheza que os
envolve em familiaridade. Porém, não é adequado esquecermos de que a antropologia
cultural, da qual os historiadores da cultura bebem muitas idéias, também avisa que a
intimidade excessiva pode se tornar um problema para a investigação. Assim, o uso do
conceito de representação deve servir para dar esse passo mais longe, para auxiliar a
interpretar as fontes e revelar o que está oculto no que estranhamos e no que nos parece
familiar na forma como os homens do passado davam sentido ao mundo em que viviam.
Na pesquisa aqui relatada, não apenas palavras, figuras e gestos são vistos como
signos, mas também frases e/ou expressões inteiras. É uma forma de ampliar o modo de
operar a categoria de representação, descobrindo o que está oculto nos distintos enunciados,
34
CHARTIER, Roger. A História Cultural. Entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1990. Nessa obra, o historiador promoveu a reunião de algumas reflexões realizadas ao longo da década de 1980
a respeito de assuntos candentes no debate historiográfico da época, como a relação entre história e filosofia, a
história da leitura e dos leitores, a apreensão da Revolução Francesa e das práticas políticas pela história cultural
etc.. Na França, o livro foi publicado em 1988.
35
Id. Ibidem, p. 20.
36
Id. Ibidem, p. 21.
37
CHARTIER, Roger (2002). Op. Cit., p. 171.
28
nas diferentes maneiras dos militantes comunistas referirem-se à democracia que, para nós,
podem parecer estranhos ou familiares, levando em conta o sujeito que representava, suas
experiências e expectativas ao longo dos quase três anos de legalidade do PCB. Isso significa
reconhecer que as representações não estão dadas e que minha tarefa foi justamente a de
desvelá-las através da interpretação dos testemunhos que os comunistas de Porto Alegre
deixaram de sua história, procedimento denominado pelo historiador François Hartog como
uma “tradução”.
38
Através da imposição de uma grade, tentamos entender os códigos do outro
dos personagens históricos diferentes de nós porque longe no tempo e no espaço a partir
dos nossos, inscrevendo o mundo que se conta no mundo em que se conta.
39
Como as representações são relações simbólicas que se estabelecem ancoradas no
existente e sem perder de vista os debates que estavam ocorrendo no momento em que os
comunistas viviam e produziam os jornais, os discursos etc. através dos quais nos
reportamos até seu mundo penso que os conceitos de “espaço de experiência” e “horizonte
de expectativas” são igualmente importantes. Segundo Koselleck, o espaço de experiência é
“um passado presente”, quer dizer, a elaboração de acontecimentos passados e a possibilidade
de tê-los presente por meio de resignificações. A experiência está reunida, formando uma
totalidade.
40
Já o horizonte de expectativas é “futuro feito presente”, envolvendo vontade,
inquietude, curiosidade, análise racional.
41
A expectativa está voltada para o “ainda-não”
experimentado, inserindo-se atrás de uma linha que remete ao desdobramento e à superação.
42
Através do espaço de experiência e do horizonte de expectativa, passado e futuro reenviam-se
mutua e constantemente, e é essa relação que dá sentido à idéia de temporalização.
Nas distintas ocasiões em que nossos protagonistas se referiram à democracia, eles
sempre estiveram apoiados em uma determinada forma de pensar seu passado e de imaginar o
futuro. O objetivo maior de levar tais categorias em conta no momento da interpretação das
fontes é o de mostrar de que maneira, diante de cada exigência imposta pelo presente, os
militantes do PCB deram significados para a democracia, resgatando o passado e projetando o
futuro; como, ao ultrapassar contínuos horizontes de expectativas, eles foram construindo um
dado espaço de experiência, visualizando novos horizontes e dando um lugar para a
democracia nesse complexo de intersignificações que se exercia entre as expectativas
38
HARTOG, François. O Espelho de Heródoto. Ensaio sobre a representação do outro. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999, p. 260.
39
Id. Ibidem, p. 229.
40
KOSELLECK, Reinhart. Op. Cit., p. 338-339.
41
KOSELLECK, Reinhart, Loc. Cit.
42
RICOEUR, Paul. Op. Cit., p. 361.
29
dirigidas para o futuro e as interpretações orientadas para o passado.
43
a caracterização dos
militantes estudados e da forma de vê-los ao longo da pesquisa são apresentados no primeiro
capítulo dessa dissertação.
IV
É o clima político da época (e a repressão) que determina a possibilidade de
visibilidade da historia dos comunistas no Brasil. No caso da conjuntura 1945-1947, as fontes
não apresentam tantas lacunas, comparando aos períodos de atuação ilegal. Contudo, mesmo
naquele contexto de abertura política e antes do cancelamento do registro do PCB, os
comunistas tinham seus passos monitorados pelos funcionários do Departamento de Ordem
Política e Social (DOPS). A partir da decretação da ilegalidade do Partido, uma farta e rica
documentação se perdeu. Muito do que chegou até nós é fruto de um verdadeiro trabalho de
garimpagem de pessoas interessadas na reconstrução da história do movimento operário,
assim como de socialistas, comunistas, anarquistas e demais organizações de esquerda
brasileiras.
É o caso do jornalista e escritor João Batista Marçal, cujo acervo, atualmente, conta
com álbum fotográfico de personalidades ligadas à esquerda brasileira; uma coleção de mais
de 50 dossiês, que é como ele chama documentos sobre a vida de diversas pessoas; textos
inéditos e originais, opúsculos dos movimentos anarquista, socialista e comunista; livretos,
panfletos, livros raros, além da hemeroteca, que é a parte mais consistente e valiosa do
arquivo. Nele, Marçal guarda em torno de 20.000 peças, todas devidamente organizadas e
catalogadas. O material disponibilizado pelo jornalista e suas publicações foram de extrema
relevância para a pesquisa relatada nessa dissertação.
Por detrás de papéis um dia manipulados pelos comunistas que militaram em Porto
Alegre, ou por aqueles que tinham o dever de vigiar seus passos, procurei perceber as
representações que eles elaboraram em torno da democracia, extremamente valorizada no
contexto pós-Estado Novo, nos diversos âmbitos da militância. Seus nomes, data e local de
nascimento, alguns poucos rostos, endereços, profissões, atividades partidárias
desempenhadas, discursos proferidos, reportagens publicadas, festejos e etc. muito menos
do que gostaríamos, mas talvez muito mais do que eles nos dariam a ver, caso pudessem se
manifestar a respeito encontram-se nas marcas deixadas em materiais muito diversos. Essa
43
RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa. Tomo III. Campinas, SP: Papirus, 1997, p. 360.
30
diversidade nos auxilia a chegar às distintas esferas de atuação de nossos protagonistas. Sendo
assim, atas de reuniões, periódicos, Anais da Assembléia Legislativa gaúcha, panfletos,
entrevistas, memórias e relatórios da polícia política do Rio Grande do Sul fazem parte desse
grupo.
Sem dúvida, as fontes jornalísticas foram as mais ricas para o trabalho. De um modo
geral, Correio do Povo, Diário de Notícias, Libertação e Tribuna Gaúcha colaboraram com
informações sobre o dia a dia da militância, fornecendo dados relativos aos militantes (seus
nomes, profissões, cargos no Partido etc.), acerca das unidades partidárias na cidade (nomes,
endereços e composições de comitês e células) e das atividades por eles levadas a efeito
(reuniões, assembléias, comícios, conferências, horas de arte, programas de rádio etc.), o que
ajudou a reconstruir a rede através da qual os comunistas de Porto Alegre se movimentaram
durante o período de legalidade.
Segundo Francisco diger, os jornais Correio do Povo e Diário de Notícias
definiram um novo regime jornalístico no Rio Grande do Sul, através de uma organização
empresarial.
44
O Correio do Povo foi fundado em 1895 pelo sergipano Caldas Júnior.
Periódico ligado aos “Diários Associados”, Diário de Notícias apareceu em 1925, tornando-se
o segundo maior jornal do Estado, com a proposta de promover campanhas de opinião
pública, o que ocorreu nessa primeira fase de sua existência.
45
A preocupação em não estar
ligado a nenhum órgão partidário não lhes tirou completamente o caráter político, apenas
modificou-o. Caracterizado pela dissimulação, o posicionamento político sempre esteve
presente em ambos. O primeiro foi usado mais intensivamente. Era nele que os militantes
divulgavam com freqüência suas atividades e, casualmente, publicavam matérias pagas. O
Diário, da mesma maneira, difundia informações sobre os comunistas, embora não de modo
recorrente. Este teve uma utilização esporádica, servindo para preencher lacunas deixadas
pelo Correio.
Antônio Albino Canelas Rubim lembrou que, com a democratização, os comunistas
iniciaram uma “fantástica rede de comunicação, configurando, sem dúvida, a fase áurea de
sua imprensa no Brasil”.
46
O Partido Comunista distribuiu deliberadamente oito diários e
inúmeros semanários nas principais cidades brasileiras, uma cadeia articulada não apenas em
torno da Tribuna Popular, do Rio de Janeiro, mas da Interpress, agência de notícias que
44
RÜDIGER, Francisco. Tendências do jornalismo. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1993, p. 61.
45
Id. Ibidem, p. 60.
46
RUBIM, Antônio Albino Canelas. “Marxismo, Cultura e Intelectuais no Brasil”. MORAES, João Quartim de
(Org.) História do Marxismo no Brasil. Vol. III: Teorias, Interpretações. Campinas: Ed. da Unicamp, 1998, p.
316.
31
destinava o material jornalístico para as publicações do Partido e para a imprensa de pequenas
cidades no interior do país.
47
A revista Libertação e o jornal Tribuna Gaúcha inseriram-se nessa rede. Libertação
apareceu pela primeira vez em 14 de abril de 1945 sob o lema “Democratização, Progresso,
pela Organização Unitária do Povo”, e seu nome fez referência ao momento de luta contra o
nazifascismo e o Estado Novo. Fundada por Décio Freitas e Sibilis da Rocha Viana, foi o
semanário da intelectualidade comunista, ligado ao Comitê Municipal de Porto Alegre, do
qual sobreviveram nove edições. Libertação circulou até 1946, quando foi substituída por
Tribuna Gaúcha. Esse diário comunista surgiu em 17 de fevereiro na capital do Rio Grande
do Sul e circulou durante 10 anos (embora com nomes diferenciados, como forma de burlar a
perseguição). De acordo com Marçal, seu nascimento não foi espontâneo, mas fruto de uma
articulada e ambiciosa discussão, sob o comando da direção nacional do PCB, no sentido de
dotar o Partido de uma rede de impressos que, sistematicamente, cobrisse a maior parte do
território brasileiro possível com as idéias dos intelectuais comprometidos com o “realismo
socialista”.
48
Para a presente pesquisa, foi possível contar com sete números de Tribuna
Gaúcha, todos do ano de 1947.
A lacuna entre o último número de Libertação e o primeiro da Tribuna (praticamente
todo o ano de 1946) foi preenchida, embora não com o mesmo caráter de informações, pelo
jornal Correio do Povo. Enquanto a primeira nos leva ao ano em que nossos protagonistas
retornavam à legalidade, repleta de artigos de opinião, editoriais dedicados ao momento
político e notícias da reorganização do PCB na cidade, a segunda nos remete ao ano em que a
militância ilegal voltou a fazer parte da vida dos comunistas. Suas reportagens igualmente dão
conta da não tão intensa movimentação dos militantes e das questões políticas nacionais e
internacionais, mas por meio de um outro formato e de um tom não tão eufórico. Um detalhe
faz Libertação mais atrativa ao presente trabalho: seu ineditismo. A revista mostra-se uma
fonte praticamente inexplorada e com muito a oferecer a futuras pesquisas.
Se, para os revolucionários de Porto Alegre, Libertação e Tribuna Gaúcha faziam-se
necessários na configuração da rede de comunicação partidária, conectando-os ao centro do
Partido (no Rio de Janeiro) e difundindo sua linha, ao mesmo tempo que divulgando e
articulando a militância em torno das várias atividades desenvolvidas no período, para a
pesquisa aqui relatada, são rastros de sua história. O tempo transformou-os em vestígios por
meio dos quais busco perceber os significados atribuídos à democracia.
47
Id. Ibidem, p. 317.
48
MARÇAL, João Batista. A Imprensa Operária do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2004, p. 161.
32
Não sou a “leitora-modelo” desses periódicos. Nem seus colaboradores escreveram matérias
pensando em satisfazer às perguntas colocadas por minha pesquisa. Como mencionou Cláudio
Elmir, quando tomamos a imprensa como fonte histórica, somos leitores de jornais que já não
mais circulam, que estão deslocados no tempo e no espaço.
49
Assim, é preciso considerar a
defasagem que existe entre a formulação do discurso inscrito no periódico em relação à nossa
própria experiência de leitura.
50
As respostas se mostraram, muitas vezes, nas entrelinhas, o
que exigiu um roteiro de outras perguntas, tais como: quem (homem, mulher, intelectual,
operário etc.) escreveu o artigo/reportagem/nota? Qual o contexto em que foi elaborado? De
que assunto tratava? A que conferia destaque e o que omitia? Que tipo de julgamento
realizava? Sobre o quê? Por detrás de questões semelhantes a essas, procurei desvendar a
importância e os significados que a democracia ganhava dentro dos assuntos tratados, como
nossos protagonistas a representavam diante das demandas impostas pelo momento e como,
para tanto, apoiavam-se num determinado passado e presentificavam um futuro.
O material jornalístico é pensado, assim, não como um conjunto de informações
válidas por si mesmas, mas como representações possíveis acerca da realidade, de modo
geral, e da democracia, em particular. Representações que lutavam para impor-se frente a
outras.
51
Ao mesmo tempo em que a imprensa dava vazão a um determinado discurso criador
de significados, também se encontrava atrelada ao que era possível dizer, isto é, as coisas
ditas não poderiam fugir da visão de mundo presente naquela sociedade, sob o risco de
tornarem-se algo sem sentido.
52
No caso dos periódicos vinculados ao PCB, havia ainda a
questão de serem pautados pelo marxismo-leninismo, embora não se menospreze a existência
de códigos sociais partilhados tanto pelos comunistas quanto pelos não-comunistas.
Porém, como advertiu Elmir, dificilmente se sustenta uma pesquisa maior que um
ensaio com um único tipo de fonte documental. Fazem-se necessárias muitas mediações.
53
Dando seguimento à apresentação dos testemunhos utilizados para a pesquisa e às
metodologias empregadas em sua análise, destaco os documentos referentes à polícia política.
Conforme dito anteriormente, mesmo com a abertura política e a legalização do PCB, os
comunistas continuaram tendo seus passos monitorados pelos funcionários do DOPS e, com o
retorno à clandestinidade, em 1947, suas sedes foram invadidas e toda a documentação
49
ELMIR, Cláudio Pereira. As armadilhas do jornal: algumas considerações metodológicas de seu uso para a
pesquisa histórica. Cadernos de estudos (PPG – História UFRGS), Porto Alegre, n. 13, dez. 1995, p. 21.
50
Id. Ibidem, p. 22.
51
Cf. ESPIG, Márcia Janete. O uso da fonte jornalística no trabalho historiográfico: o caso do Contestado.
Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, PUCRS, v. XXIV, nº 2, dezembro de 1998, p. 275-276.
52
Id. Ibidem, p. 277.
53
ELMIR, Cláudio Pereira. Op. Cit., p. 25.
33
existente apreendida. O acervo da polícia política, como bem lembraram Alexandre Fortes e
Antônio Luigi Negro, contém fontes produzidas tanto sobre o alvo de espionagem quanto
documentos produzidos pelo próprio espionado.
54
Os agentes policiais ficaram no encalço dos militantes do PCB e/ou de indivíduos
considerados tão “suspeitos” quanto ao longo de toda a conjuntura. Após observarem seus
passos, os investigadores redigiam relatórios, muitas vezes anexando notícias de jornais ou
documentos produzidos pelos observados, e encaminhavam para o Rio de Janeiro, então
capital federal. Foi nessa cidade que encontrei a maior parte do material relevante para a
pesquisa – no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) embora já tivesse tido
contato com uma pequena parcela, gentilmente cedida pela professora Me. Eliane Garcia,
ainda durante a graduação. Existem testemunhos dessa natureza também no Arquivo Nacional
e no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Porém, quando foram descobertos, já não
restava mais tempo para consultá-los, devido ao prazo para a realização dessa investigação.
O material produzido pela polícia política é rico e nos remete a facetas inexistentes em fontes
de outras naturezas. Os policiais preocupavam-se em dar os nomes de seus suspeitos,
endereços, profissões e locais de trabalho. Costumavam descrever o dia-a-dia de suas
atividades, desvendando a vida dos militantes, descrevendo suas vestimentas, suas falas, as
relações que mantinham entre si, como se “infiltravam” entre os trabalhadores e no meio
sindical, de que modo se confrontavam com a polícia e assim por diante. entre os
documentos produzidos pelos comunistas que constam nos relatórios, estão correspondências,
e protestos, por exemplo. Contudo, deve-se levar em conta alguns aspectos de ordem
metodológica no momento de analisá-los.
Fortes e Negro aconselham a adoção de uma postura metodológica ciente da dinâmica
em que esses testemunhos foram produzidos. Os relatos e a anexação dos documentos
encerram aspectos específicos de um mundo vigiado, no qual as informações confidenciais
eram um recurso para a preservação do poder do Estado e das classes dominantes e para a luta
de outras forças políticas pela viabilização de suas estratégias.
55
A produção da
documentação era pautada por uma lógica totalitária, que encarava qualquer dissonância, ou
novidade na dinâmica da sociedade, como um desvio.
56
Logo, tudo o que restou sobre os
comunistas presente nos arquivos da polícia política foi recolhido ou criado (no caso dos
relatórios elaborados pelos agentes policiais) no sentido de demonstrar que os comunistas
54
FORTES, Alexandre & NEGRO, Antônio Luigi. Esquerda e direita: fontes nacionais para a História social.
Métis: história & cultura. Vol. 3, nº 5, janeiro/junho de 2004, p. 15.
55
FORTES, Alexandre & NEGRO, Antônio Luigi. Loc. Cit.
56
Id. Ibidem, p. 18.
34
eram culpados de tentar subverter a ordem social. O material produzido constituía-se no passo
entre a suspeita e a culpa. Por isso, tal fonte, como qualquer outra, não encerra a verdade
absoluta, mas aquilo que os agentes repararam através de olhares treinados em detrimento
do que desconsideraram.
Muitas das manifestações dos comunistas de Porto Alegre aconteceram na tribuna da
Assembléia Legislativa gaúcha, através dos discursos dos deputados Otto Alcides Ohlweiller,
Antônio Pinheiro Machado Neto, Dyonélio Machado, Júlio Teixeira e Jover Telles eleitos
em janeiro de 1947. Seus pronunciamentos nos estão acessíveis nos Anais da Assembléia.
Através dessa fonte, busquei as representações elaboradas acerca da democracia nos últimos
meses em que nossos protagonistas militaram legalmente. Ela nos remete a um âmbito diverso
daqueles de 1945 e 1946, pois os Anais são as transcrições de discussões realizadas entre
pares, que seguiam uma lógica bastante específica.
Além de proporcionar a oportunidade de se examinar as votações dos comunistas, os
Anais nos mostram como os deputados respondiam a indagações feitas no calor do debate
parlamentar, em que o tempo de “estímulo-resposta” era bem curto; por vezes, condicionados
à possibilidade do colega ceder o aparte. Para Castoriadis, falar é escolher signos, hesitar,
corrigir, retificar os signos escolhidos, tudo em função de um sentido.
57
O tempo para essas
escolhas e retificações no debate parlamentar parecia ser bastante limitado. O registro deixado
pelos comunistas nesse âmbito de sua atuação política mostra-se diferente dos discursos
proferidos nos comícios ou das matérias de opinião redigidas por eles. A título de
comparação, as matérias de opinião eram escritas para um público distinto os leitores dos
periódicos vinculados ao PCB publicados à época e seu texto possivelmente sofria cortes,
substituição de palavras etc. ao longo do processo de redação. Ademais, o que os
pronunciamentos na Assembléia são capazes de nos revelar passou pelo processo de
transformação das falas pela taquigrafia. Isto implica considerarmos que não temos como
chegar em vários aspectos importantes do modo como se dava a comunicação entre os
parlamentares na tribuna, como os gestos, as possíveis piscadelas ou o ritmo e a tonalidade da
voz. Algumas palavras e expressões podem ter sido perdidas pelo taquígrafo ou por ele
confundidas. Muitos dos discursos não foram sequer revisados pelos deputados do Partido
Comunista. Isso implica no reconhecimento de que, possivelmente, muitos significados se
perderam no processo de transformação dos discursos parlamentares no material que, hoje,
nos permite estudá-los.
57
CASTORIADIS, Cornellius. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 167.
35
Distribuídos ao longo de 14 volumes, os pronunciamentos remetem às características e
à importância que os deputados da bancada do PCB atribuíam à democracia, isto é, aos
significados que teciam em torno dela, quando colocados diante de questões locais, estaduais
e nacionais. É uma fonte importante para percebermos o sentimento dos comunistas nesse ano
em que o Partido sofreu o golpe do cancelamento de seu registro e da cassação dos mandatos
dos seus parlamentares, assim como seu posicionamento em relação a determinados
acontecimentos, como o rompimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a União
Soviética.
58
Mas muitas informações relativas à militância comunista de Porto Alegre na
conjuntura 1945-1947 e mesmo sobre a vida dos militantes não foram produzidas naquela
época, mas décadas depois. É o caso das entrevistas e das memórias representações
trabalhadas e resignificadas pela temporalidade.
59
Não tive participação na realização de nenhuma das etapas das entrevistas utilizadas
na presente pesquisa. Elas foram feitas por outros pesquisadores ao longo da década de 1990,
ora tendo como objetivo reconstruir histórias de vida, ora levando em consideração temas
específicos. No primeiro caso, encontra-se o depoimento da operária Julieta Batistioli,
conduzido pelo historiador Francisco Carvalho Junior em 1992. No segundo, o do funcionário
público Carlos Callage, do metalúrgico Eloy Martins e do jornalista João Batista Aveline. Os
dois primeiros concederam entrevista para historiadora Carla Rodeghero em 1999, cujo centro
da investigação pairava sobre o anticomunismo. João Aveline, por sua vez, foi entrevistado
por Maria Luiza Martini, Eliane Garcia e Gustavo Coelho no mesmo ano, e seu relato foi
transcrito por Rodeghero.
Os depoimentos de Julieta Batistioli e João Aveline foram os mais profícuos para
responder à pergunta que norteia a pesquisa, fornecendo dados acerca do relacionamento dos
militantes com o Partido Comunista e das suas expectativas em relação às orientações de
Prestes. Mas, de um modo geral, tanto as coisas ditas por esses antigos militantes quanto as
palavras de Carlos Callage e Eloy Martins contribuíram com dados referentes às suas
bagagens de vida, profissões, local e data de nascimento etc..
58
Cogitei a possibilidade de me amparar nas reflexões do teórico alemão Hans Ulrich Gumbrecht, sobretudo
aquelas realizadas no livro As Funções da Retórica Parlamentar na Revolução Francesa (Belo Horizonte:
UFMG, 2003), para a análise dos pronunciamentos dos deputados comunistas. Entretanto, tal procedimento
exigiria uma leitura exaustiva dos Anais o que não seria possível, uma vez que a pesquisa apoiou-se em outros
documentos e o aprofundamento em relação aos aportes da Estética da Recepção e da Teoria das ações de
linguagem, medida que não se faria possível dentro dos prazos estabelecidos para a conclusão dessa pesquisa.
59
PESAVENTO, Sandra Jatahy. As leituras da memória: a cidade imaginária de um cronista do sul brasileiro
(Antônio Álvares Pereira Coruja e a Porto Alegre do início do século XIX). Anos 90, Porto Alegre, PPG
História – UFRGS, nº 14, dezembro de 2000, p. 47.
36
As memórias de Eloy Martins e de Dyonélio Machado, embora também sejam relatos
baseados em recordações, encerram outras características. No caso do metalúrgico, o peso da
idade fez com que resolvesse colocar no papel alguns episódios de sua vida. E ele assim
procedeu escrevendo Um depoimento político, livro através do qual pretendeu expor, com
seriedade e sinceridade, alguns pensamentos a respeito de questões que, por disciplina, não
defendeu como deveria.
60
Em relação ao período 1945-1947, Eloy nos fornece informações
preciosas sobre suas discordâncias em relação à política de União Nacional e acerca da
mobilização dos comunistas de Porto Alegre em torno das eleições e das visitas de Prestes.
Ele nos concede, através de suas lembranças, a oportunidade de percebermos não apenas o
que nossos protagonistas pensavam de tudo o que estava acontecendo, mas também as
emoções que a legalidade lhes despertava. o escritor gaúcho se descrevia “velho e doente
e “com o fim à vista” no momento da escrita de seu livro, embora alertasse que, a despeito
disso, não estava enamorado da morte, queria viver.
61
Dyonélio caracterizou suas memórias
dizendo assim: “Este livro é uma conversa com o passado. isso.”
62
Através dessa
afirmação, o médico psiquiatra parecia mostrar ciência de que suas recordações não eram
“puras”, de que dialogavam com o presente, o momento da escrita. Ele nos brinda com a
narrativa de episódios relativos, sobretudo, ao ano de 1947, quando, juntamente com mais
quatro companheiros, dividiu a bancada do PCB na Assembléia Legislativa gaúcha.
Todo o esforço de memorização realizado por esses antigos militantes aconteceu em
um determinado presente, ao qual as lembranças responderam. A recordação de um evento
passado já é completamente marcada pelo fato do indivíduo que lembra saber o que aconteceu
depois. Ao longo do trabalho de interpretação desse material, não considerei as lembranças
como imagens intactas, conservadas tais quais, mas como reconstruções de alguns aspectos
em detrimento de outros do passado no presente, quer dizer, uma série de representações
que ganharam novos significados no momento da recordação, que pôde ser tanto fruto da
erupção como da evocação.
63
Os comunistas, assim, não rememoraram e narraram somente
fatos, mas também significados que esses fatos tinham no calor dos acontecimentos e que
60
MARTINS, Eloy. Um Depoimento Político. 55 anos de PCB. Memórias de um metalúrgico. Porto Alegre:
Pallotti, 1989, p. 18.
61
MACHADO, Dyonélio. Memórias de Um Pobre Homem. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1990, p.
79.
62
Id. Ibidem, p. 75.
63
A respeito da memória como reconstrução do passado no presente baseei-me em HALBWACHS, Maurice. A
Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990 e em SEIXAS, Jacy. Halbwachs e a
memória reconstrução do passado: memória coletiva e história. História. São Paulo: EDUNESP, n. 20, 2002.
Nas reflexões de Seixas, também encontrei subsídios para relativizar alguns detalhes valorizados pelo sociólogo
francês no decorrer da constituição da memória e do processo de recordação, que são as questões referentes ao
aspecto individual ou coletivo da memória e à evocação versus erupção das lembranças.
37
tiveram depois, quando submetidos a novas experiências e às demandas do momento da
recordação. É também uma questão de atribuição de sentidos.
No decorrer da pesquisa, o propósito foi observar como os militantes, na época em que
escreveram suas memórias, ou que foram entrevistados, vivenciaram e relembraram sua
atuação entre 1945-1947, buscando informações que possibilitassem compreender as
expectativas que eles alimentavam em relação à democracia nesse período, e como esses
revolucionários refletiam sobre essas expectativas, que, anos mais tarde, faziam parte de
seu espaço de experiência.
Uma série de discursos de Luiz Carlos Prestes e documentos oficiais do Partido
também compõem o conjunto de fontes dessa pesquisa. São pronunciamentos feitos, na
maioria das vezes, em grandes comícios ou orientações publicadas e difundidas para todo o
Brasil, encontrados em obra publicada por Edgar Carone ou sob a guarda do jornalista
Marçal.
64
Através desses registros, é possível chegarmos aos significados que o líder
comunista atribuía à democracia (ou à ditadura, etc.). Porém, tentando ir um pouco além
disso, podemos contrapor suas opiniões às dos comunistas de Porto Alegre, procurando
avaliar até que ponto partilhavam as mesmas concepções acerca da realidade, e da
democracia, e as mesmas posições a respeito do momento político.
V
Santana mencionou, muito acertadamente, que “uma periodização, por mais
tradicional, usual e funcional que seja, é sempre arbitrária e leva em conta os interesses e as
preocupações da pesquisa”.
65
Ao distribuir os resultados da investigação, levei em conta a
inflexão sofrida pelos militantes comunistas entre um momento de euforia (com a abertura em
1945) e outro de decepção (devido ao retorno da repressão aos movimentos populares, em
1946, e da clandestinidade em 1947). Dessa forma, são duas partes que estruturam essa
dissertação.
“Os comunistas de Porto Alegre no ocaso do Estado Novo” é a primeira parte.
Composta por dois capítulos, ela abrange, substancialmente, o ano de 1945, momento em que
os militantes comunistas do Brasil, de um modo geral, e os de Porto Alegre, em particular,
desfrutaram a imensa euforia de retornar à legalidade depois de 23 anos de atuação
clandestina. Fontes como os periódicos Correio do Povo, Diário de Notícias e Libertação,
64
CARONE, Edgar. O P. C. B. (1943-1964). Vol. 2. São Paulo: DIFEL, 1982.
65
SANTANA, Marco Aurélio. Op. Cit., p. 23.
38
relatórios de reunião, documentos da Polícia Política, declarações oficiais do Partido,
entrevistas e memórias – foram fundamentais para a construção dessa parte da narrativa.
O primeiro capítulo, “Rumo à ‘democracia soviética’: os militantes comunistas e o
centralismo democrático”, traz informações diferentes dos demais. Através do uso de uma
série de dados quantitativos, ele ambiciona dar uma noção de quem eram os sujeitos que
militavam pelo comunismo na capital gaúcha do imediato pós-Estado Novo, informando
sobre suas opções profissionais, ano e local de nascimento. Em um segundo momento, o
capítulo aborda a relação entre nossos protagonistas e o PCB, desvelando como suas
representações acerca da democracia apareciam no que dizia respeito à estrutura, à
organização e ao funcionamento do Partido. O segundo capítulo, “A democracia desponta no
horizonte”, mostra como os comunistas foram atribuindo significados à democracia na
medida em que resignificavam o passado e projetavam o futuro diante das questões colocadas
pelo ano de abertura, como a anistia, a tática de União Nacional, a instalação da Assembléia
Constituinte e as eleições realizadas em dezembro de 1945.
“Os comunistas de Porto Alegre e o eclipse da legalidade” constitui a segunda parte do
trabalho. Igualmente composta por dois capítulos, ela abarca os anos de 1946 e 1947,
intervalo no qual nossos protagonistas sofreram o decepcionante impacto do retorno da
repressão e os processos de cancelamento do registro do PCB e de cassação dos mandatos dos
parlamentares comunistas. Os periódicos Correio do Povo e Tribuna Gaúcha, documentos da
Polícia Política, entrevistas e memórias foram as fontes que mais contribuíram para essa etapa
da investigação.
O terceiro capítulo, “A democracia se afasta no horizonte”, conta de que maneira os
militantes do PCB deram sentido à democracia diante da explosão de greves e da repressão a
elas desencadeada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra. É nessa etapa da narrativa também
que o leitor saberá das expectativas desses personagens em relação às eleições que ocorreriam
em 19 de janeiro de 1947 e ao IV Congresso do Partido Comunista do Brasil (evento que
se concretizaria oito anos depois). O quarto e último capítulo, “A democracia se perde no
horizonte”, mostra como os comunistas representaram a democracia ao longo de 1947, ano
em que seu Partido foi colocado de volta à clandestinidade. Com as sedes fechadas e as
atividades proibidas, eles apostaram no Legislativo gaúcho como principal lugar para suas
manifestações até janeiro de 1948, quando da cassação dos mandatos.
O leitor encontrará, ainda, algumas considerações finais, parte em que me proponho a
retomar os principais pontos trabalhados nessa dissertação. Além da bibliografia e da lista das
fontes examinadas, há também três apêndices, nos quais estão listados os militantes, as células
39
e as atividades desenvolvidas pelos comunistas de Porto Alegre ao longo da conjuntura em
questão, dados estes encontrados na documentação consultada. Por fim, três figuras do jornal
Correio do Povo foram reproduzidas na sessão de Anexos, de modo a auxiliar na
compreensão de uma dada situação mencionada no segundo capítulo.
40
PARTE I
OS COMUNISTAS DE PORTO ALEGRE NO OCASO DO
ESTADO NOVO
Tuas mãos não esvoaçarão mais
como pássaros enlouquecidos
pela inutilidade e a angústia.
Não haverá mais angústia
e nada será inútil.
Então, nosso beijo terá
um significado universal.
Com a Paz ondularão os trigais
- como teu ventre branco.
E tuas mãos estarão calmas e serenas
- como os teus olhos.
A Paz Virá – Fernando Melo – 1945
41
A primeira parte dessa dissertação trata substancialmente do ano em que os militantes
comunistas de Porto Alegre experenciaram o fim do Estado Novo e o retorno à legalidade.
Trata-se do relato de uma parcela da pesquisa dedicada, sobretudo, a captar as representações
que os membros do PCB elaboraram em torno da democracia num momento de euforia ainda
não vivida por aqueles que militavam pelo comunismo no Brasil. Fontes diversas
contribuíram para essa etapa do trabalho, tais como: os periódicos Correio do Povo, Diário de
Notícias e Libertação, relatórios de reunião, documentos da polícia política, algumas
declarações oficiais do Partido, entrevistas e memórias. A partir desses testemunhos foi
possível reconstruir toda a dinâmica de reorganização do Partido Comunista na capital sul-
riograndense, saber as opiniões dos militantes em relação à situação política nacional e
internacional, além de captar os significados atribuídos por eles à democracia diante dessas
questões.
O primeiro capítulo concentra informações e discussões cujos teores são distintos dos
abordados nos demais capítulos. Nele, o leitor encontrará, inicialmente, uma série de dados
quantitativos a respeito dos militantes engajados na conjuntura 1945-1947. O intuito desse
procedimento é tornar mais claros os sujeitos sobre os quais a investigação se debruçou,
apresentando elementos sobre a ocupação profissional, o local e o ano de nascimento dos
comunistas estudados. Num segundo momento, o cerne do relato passa a ser a relação entre os
nossos protagonistas e o PCB, mostrando como sua caracterização da democracia acontecia
no que tocava a estrutura, a organização e o funcionamento do Partido, trazendo à baila a
questão do “centralismo democrático”. O segundo capítulo é aquele dispensado para o ano de
1945 e as representações que os militantes comunistas de Porto Alegre construíram acerca da
democracia ao longo do trabalho de reconstrução partidária, nos preparativos para recepcionar
Luiz Carlos Prestes e na campanha para as eleições de 02 de dezembro, por exemplo. Em
meio a esses acontecimentos, podemos observar de que maneira se deram os embates entre
comunistas e anticomunistas, e como os primeiros permaneceram sendo continuamente
vigiados pelos agentes do DOPS.
42
CAPÍTULO 1
RUMO À “DEMOCRACIA SOVIÉTICA”:
OS MILITANTES COMUNISTAS E O CENTRALISMO
DEMOCRÁTICO
1.1 – Nossos protagonistas: alguns dados quantitativos
Quando falo em militantes, não pretendo passar a falsa impressão de homogeneidade.
Antes, quero salientar a heterogeneidade dos membros do PCB de Porto Alegre. Cada um
deles tinha um nome e um rosto, havia vivido um passado, crescido em determinados meios e
aprendido certos valores. Foram agentes históricos que devem ser vistos dentro da dimensão
da qual fala Marco Aurélio Garcia:
os militantes são pessoas concretas, homens e... mulheres, portadoras de valores
éticos, de convicções políticas, de influências religiosas e refletem, no seu
cotidiano, sua formação cultural, seus antecedentes familiares e um conjunto de
‘determinaçõesque incidem na forma pela qual ‘aplicarão’ a ‘linha’ do partido na
sociedade, seja através de um discurso, de um panfleto, de outras formas da agit-
prop ou de uma ação violenta, armada.
66
Entre aqueles que militavam na capital sul-riograndese nos primeiros anos após a
ditadura de Vargas, existiam homens e mulheres provenientes de diversas regiões do Estado e
do país, educados dentro de padrões culturais variados e dedicados a ofícios distintos. No
intuito de tornar um pouco mais claro a quem estou me referindo, farei uso de uma série de
informações de cunho quantitativo. Não realizarei um trabalho prosopográfico no sentido que
o dá Lawrence Stone: “A prosopografia é a investigação das características comuns do
66
GARCIA, Marco Aurélio. O gênero da militância: notas sobre as possibilidades de uma outra história da ação
política. Cadernos Pagu. Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero/UNICAMP, (8/9), 1997, p. 322.
43
passado de um grupo de atores na história através do estudo coletivo de suas vidas”.
67
O leitor
não encontrará a trajetória de vida de todos os comunistas que militaram em Porto Alegre
entre 1945 e 1947, nem de parte significativa deles, até mesmo porque os registros
disponíveis e o prazo para realizar a pesquisa não permitiram um maior aprofundamento nesse
sentido. O que tenho em mente é fornecer alguns dados que contribuam para a caracterização
desse grupo, a fim de que vislumbremos algumas de suas particularidades, compreendamos
um pouco melhor quem eram e, por fim, o que concebiam como democracia. Não é demais
acrescentar que o objetivo maior da investigação que gerou a presente dissertação não foi
analisar os militantes, mas um aspecto de sua forma de ver a realidade brasileira no contexto
pós-Estado Novo.
68
Através de levantamento minucioso das fontes, foi possível encontrar o nome de 581
militantes.
69
Os documentos de maior auxílio foram os periódicos Correio do Povo e Tribuna
Gaúcha – nos quais o PCB divulgava suas atividades e convocava seus membros para
eventuais tarefas além dos relatórios da Polícia Política do Rio Grande do Sul, elaborados
com base em acompanhamento constante da atuação comunista por parte dos agentes policiais
do Estado.
70
Umas das vantagens de se estudar o período de legalidade da militância
comunista é, justamente, o fato de não existirem tantas lacunas documentais, como nas fases
de clandestinidade. Contudo, é muito provável que o número de filiados ultrapassasse o que
foi encontrado nos registros.
71
A quantidade de homens e mulheres mostra-se bastante desproporcional. Dos 581
nomes relacionados, apenas 92 eram mulheres, o que equivale a 15,83%. Combinando os
dados provenientes das fontes bibliográficas, foi possível obter maiores informações de 120
67
Apud. HEINZ, Flávio M. (Org.) Por outra história das elites. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 9, n. 6.
68
Optei por apresentar a proporção de homens e mulheres, além de dados relativos à profissão, ano e local de
nascimento. Tais informações aparecem com mais freqüência nas fontes, contribuindo para que tenhamos uma
visão mais ou menos geral dos meios nos quais os militantes comunistas circulavam, do tipo de preocupações
que poderiam ter e quais eventos haviam experenciado.
69
A relação encontra-se na sessão de Apêndices.
70
Acredito ser importante ressaltar que estive atenta para a possibilidade de indivíduos serem considerados
comunistas pelos policiais sem o sê-lo. Nesse caso, dei crédito aos nomes acompanhados de ampla explicação da
atuação do “suspeito”, na qual pudesse identificar lugares, atividades etc. típicos dos militantes em Porto Alegre.
71
É importante salientar que praticamente todas as fontes contribuíram com informações relevantes acerca tanto
dos comunistas de Porto Alegre quanto das atividades por eles levadas a efeito, e as tabelas e os gráficos
doravante apresentados foram elaborados com base nos dados delas provenientes. Os periódicos, os documentos
da Polícia Política, as memórias e as entrevistas – as quais encontram-se listadas no final da dissertação foram
de grande valia nesse sentido. Destaco, ainda, algumas referências bibliográficas: MARÇAL, João Batista. A
Imprensa Operária no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2004; ___________. Comunistas Gaúchos. A vida de
31 Militantes da Classe Operária. Porto Alegre: Tchê, 1986; TILL, Rodrigues. Dyonélio Machado. O homem – a
obra. Porto Alegre: E.R.T. Edições, 1995. MARTINS, Eloy. Um Depoimento Político. 55 anos de PCB.
Memórias de um metalúrgico. Porto Alegre: Pallotti, 1989.
44
dos 581 militantes, uma amostragem de 20,65%. A desproporção entre os sexos, nesse
recorte, aumenta: são 108 homens e 12 mulheres, quer dizer, elas representam apenas 11,11%.
Se quisermos saber a profissão dos comunistas, temos ainda menos dados. Dos 120
sobre os quais conseguimos maiores informações, encontramos ofício de 87 militantes, o
equivalente a 75%, e 15,49% dos 581 nomes listados. de se ressaltar, aqui, a questão das
“múltiplas profissões”, isto é, o fato de um indivíduo dedicar-se a mais de um mister, aspecto
comum entre os membros da elite brasileira, conforme o historiador Flávio Heinz.
72
Dentre os
filiados do PCB de Porto Alegre, os que tinham mais de uma ocupação eram aqueles que, por
motivos quaisquer, haviam usufruído algum contato com o universo intelectual, como
Dyonélio Machado (professor, médico psiquiatra e escritor). De acordo com o jornalista João
Batista Marçal, Dyonélio teria crescido no meio de livros e jornais; criado e educado entre
professores, jornalistas e pessoas ligadas ao teatro.
73
Com 11 anos de idade, o futuro autor de
Os Ratos era dono do próprio jornal, O Martelo “jornalzinho da mocidade”, segundo ele
mesmo.
74
Aliás, número considerável de revolucionários dedicava-se à redação de poesias,
romances, contos ou ensaios científicos. Dos 87 comunistas, cujas profissões foram
descobertas, 10 deles (12,48%), também eram escritores. Em contrapartida, militantes de
origens mais humildes e que não tiveram contato com a intelectualidade, possuíam apenas
uma profissão. Era o caso, à guisa de exemplo, dos metalúrgicos Abílio Fernandes e Eloy
Martins, do mineiro Manoel Jover Telles e da operária Julieta Batistioli.
A tabela 1 revela a distribuição de profissões entre 87 militantes dos quais obtivemos
informações. Vejamos.
Tabela 1
Ocupação Profissional
Profissão %
Advogado 09 10,34
Arquiteto 01 1,14
Artista 02 2,29
Barbeiro 02 2,29
Comerciante 01 1,14
Costureira 01 1,14
Economista 01 1,14
Eletricista 01 1,14
Engenheiro 05 5,74
Estudante 05 5,74
Fazendeiro 01 1,14
Ferroviário 04 4,49
72
HEINZ, Flávio M. “Elites rurais entre representação e política: exercício prosopográfico”. __________. (Org.)
Op. cit., p. 134, n. 28.
73
MARÇAL, João Batista (1986). Op. Cit., p. 75.
74
Id. Ibidem, p. 78.
45
Funcionário público 03 3,44
Jornalista 15 17,24
Mecânico 01 1,14
Médico 10 11,49
Metalúrgico 04 4,59
Militar 01 1,14
Mineiro 01 1,14
Operário 05 5,74
Padeiro 02 2,29
Pedreiro 01 1,14
Professor 09 10,34
Químico industrial 01 1,14
Tradutor 01 1,14
Total 87 100
Fonte: Ver nota 71.
Em torno de 52 militantes integravam categorias profissionais que exigiam
significativo grau de instrução, ou seja, uma proporção de 59,77%.
75
Outros 21 ocupavam-se
de ofícios que requeriam habilidades mecânicas ou manuais. Estes representavam 24,13%.
76
Mais da metade dos revolucionários, dos quais obtivemos dados sobre a vida profissional,
portanto, circulava em meios intelectualizados como universidades, empresas jornalísticas e
editoras ao passo que cerca de um quarto deles entrava em contato com pessoas
economicamente desfavorecidas, em especial os próprios colegas de trabalho.
O levantamento das fontes forneceu um número ainda menor em relação ao ano de
nascimento dos partidários do comunismo. Uma proporção de 6,02% em relação aos 581
nomes relacionados, e de 29,16% se relacionarmos com os 120 dos quais obtivemos maiores
dados. A tabela 2 apresenta quantos militantes comunistas nasceram por década.
Tabela 2
Época de Nascimento
1881-1890 1891-1900 1901-1910 1911-1920 1921-1930 Total
03 02 12 15 03
35
%
8,57 5,71 34,28 42,85 8,57
100
Fonte: Ver nota 71.
Alguns deles eram, em 1945, antigos militantes, havendo participado de momentos
importantes da história do movimento operário e do PCB, como é o caso de Santos Soares,
nascido em 1890 e um dos fundadores do Partido no Rio Grande do Sul. Já Dyonélio
75
Incluo nessa relação advogados, arquiteto, economista, engenheiro, jornalistas, médicos, professores, tradutor
e químico industrial.
76
Refiro-me aos barbeiros, costureira, eletricista, ferroviários, mecânico, metalúrgicos, operários, padeiros e
pedreiro.
46
Machado, nascido em 1895, passou a militar pelo comunismo na década de 1930, beirando os
40 anos. No entanto, seus primeiros passos na política deram-se ainda em Quaraí, cidade na
qual havia grande domínio do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR).
77
Considerável
número deles nasceu na década de 1900 e a maioria entre 1911 e 1920. Quer dizer, 10 deles
tinham entre quatro e trezes anos em 1924, quando foi deflagrada a Coluna Prestes, liderada
pelo Juarez Távora e Luiz Carlos Prestes que, na época, ainda não era comunista. Esses
mesmos indivíduos estavam na casa dos 20 anos na década de 1930, quando da ascensão do
nazifascismo e do regime ditatorial de Vargas. Eloy Martins, por exemplo, nascido em 1911,
entrou para o PCB em 1933 logo, com 22 anos de idade tendo contato direto com Mário
Couto, então secretário-geral do Partido no Estado, assassinado pela Polícia de Flores da
Cunha em janeiro de 1935. Mário Couto fora um militante exemplar, sempre lembrado com
admiração pelos comunistas. Eloy participou de surtos grevistas no ano do assassinato de seu
colega, sofrendo violenta repressão, além de também ter sido preso durante o Estado Novo.
78
Quanto ao local de nascimento dos comunistas que militaram em Porto Alegre entre
1945 e 1947, descobrimos muito pouco. As fontes revelaram dados de 34 comunistas, o que,
em relação aos 120 dos quais obtivemos maiores informações, equivale a 28,33%. Sabemos
que 28 deles nasceram no Rio Grande do Sul e cinco em outros Estados brasileiros. A tabela 3
revela de qual cidade gaúcha provinham alguns dos militantes.
Tabela 3
Militantes comunistas gaúchos
Cidade
Alegrete 01
Dom Pedrito 01
Encantado 01
Herval do Sul 01
Passo Fundo 01
Pelotas 06
Porto Alegre 06
Quarai 02
Rosário do Sul 01
Santa Maria 03
Santana do Livramento 02
São Jerônimo 01
São Pedro do Sul 01
Uruguaiana 01
Total 28
Fonte: Ver nota 71.
77
Cf. TILL, Rodrigues. Op. Cit., p. 54.
78
Cf. MARÇAL, João Batista (1986). Op. cit., p. 89.
47
Dentre os 28 militantes gaúchos, sabemos que apenas seis deles eram naturais de Porto
Alegre. Os demais, embora militassem na capital do Estado logo após o Estado Novo, eram
provenientes do interior do Rio Grande do Sul. Outros cinco comunistas vieram de Minas
Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e da Rússia.
Lamentavelmente, não é possível contar a história de todos os comunistas que se
engajaram, tendo como locus a capital gaúcha, na luta pela democratização da sociedade
brasileira na metade da década de 1940. Com base nas fontes disponíveis, o perfil do militante
que se conseguiu analisar corresponde ao que Cláudio Batalha classifica como “lideranças” e
“quadros intermediários”. Ele diz que
apenas uma minoria de militantes chega a escrever nos jornais operários e tem uma
atuação que transcende os limites de sua categoria profissional; esses podem ser
considerados como as lideranças operárias. Outro grupo um pouco maior participa
ativamente da vida da categoria, integra direções de associações, assina manifestos,
mas raramente escreve sobre sua prática e muito menos produz teoria; esses seriam
os quadros intermediários. O terceiro, e certamente o maior grupo, é composto por
aqueles que apenas exercem uma militância eventual, que são a base de todas as
organizações, que estão presentes nos momentos de ascenso dos movimentos e os
abandonam nos momentos de refluxo. Nosso conhecimento sobre cada um desses
tipos de militantes é inversamente proporcional ao seu peso numérico.
79
O objetivo de Batalha, no artigo citado, é discutir certos aspectos relacionados à
história do movimento operário brasileiro. O autor localiza sua reflexão no Rio de Janeiro da
Primeira República, atentando para diferenças e semelhanças na abordagem entre classes
trabalhadoras e militantes organizados, além de proceder algumas considerações acerca da
exploração de distintas fontes. Apesar de não se referir especificamente à militância
comunista e de se preocupar com um outro período, a divisão sugerida por Batalha apresenta
certa potencialidade explicativa, que contribuiu para a pesquisa aqui relatada.
Dos 581 nomes encontrados nas fontes os quais, certamente, eram comunistas de
alguma forma envolvidos com as atividades partidárias no período foi possível saber as
funções que alguns (não mais que 120) desempenhavam na estrutura da agremiação, as tarefas
para as quais se dedicavam e, conseqüentemente, a relação que mantinham com o próprio
Partido. Poderíamos aproximá-los do que Batalha classificou como “quadros intermediários”.
Contudo, não restaram vestígios do que todos eles pensavam acerca da democracia. Apenas o
ponto de vista dos indivíduos que mais freqüentemente apareciam nos jornais de grande
circulação, que escreviam suas opiniões nos periódicos do PCB e daqueles cuja projeção
política possibilitou concorrerem e serem eleitos deputados estaduais foram amplamente
79
BATALHA, Cláudio H. M. Vida associativa: por uma abordagem da história institucional nos estudos da
movimento operário. Anos 90. Porto Alegre, n. 8, pp. 91-99, dezembro de 1997. PPG em História da UFRGS. p.
93.
48
analisados. Não seria inadequado compararmos estes últimos a uma elite, visto as condições
desiguais dadas aos militantes no desempenho do seu papel no interior do Partido.
A operária da fábrica Renner Julieta Batistioli, por exemplo, era uma senhora casada
com o igualmente comunista Fortunato e militava na célula “Olga Benário” de Porto Alegre.
Em junho de 1990, ela concedeu uma entrevista ao historiador Francisco Carvalho Júnior, na
qual revelou alguns aspectos acerca da relação entre cúpula e base partidária, entre dirigentes
e militantes de base. Depois de recordar que considerava errado o pouco conhecimento que o
“Partido” tinha a respeito do que os membros das unidades básicas faziam pela causa, contou
que, por ocasião da visita de Luiz Carlos Prestes ao Estado, em setembro de 1945, ficou claro
que a cúpula não se embaralhava com a base:
JB Ah! Eu [ia] dizer o seguinte... “o Partido também não tinha muito
conhecimento de pequenas coisas, como hoje eu estou contando aqui essas
pequenas coisas das fábricas, assim. Porque ele não descia nas bases.
FCJr. – Ficava só na cúpula...
JB na cúpula. O Partido era na cúpula, ele não descia nas bases do Partido
como eu sei, por exemplo, a nossa base era uma... eles [a base, a célula] tinham
sentimento porque quando Prestes vinha aqui nunca levaram ele na base da ‘Olga
Benário’, o Prestes. Eles nunca chegaram perto do Prestes. Tem comunista que
nunca chegou perto do Prestes. Faziam churrasco para ele, faziam festa, tudo, mas
era na cúpula.
80
Julieta referia-se às pequenas coisas que os militantes faziam pelo PCB e que o
“Partido” (os dirigentes) não ficava sabendo, além de denunciar o isolacionismo da cúpula
partidária. Desses revolucionários, de seus esforços pelo comunismo no dia-a-dia das células
e nos locais de trabalho, as fontes nos revelaram muito pouco. Em contrapartida, o ponto de
vista daqueles que dirigiam as distintas unidades comunistas é abundante.
1.2 – O PCB em Porto Alegre: estrutura, organização e funcionamento
Apesar de não estar entre os objetivos desse trabalho analisar o Partido Comunista do
Brasil mas sim os indivíduos a ele filiados não é possível descartar informações acerca
dessa agremiação política. Não seria apropriado desvinculá-los completamente do Partido,
uma vez que para ser seu membro o sujeito tinha de se submeter aos estatutos e à
80
CARVALHO NIOR, Francisco & GARCIA, Eliane Rosa. (Org.) Adorável Camarada. Memórias de Julieta
Batistioli. Entrevistas realizadas com Julieta Batistioli, em 29 de junho de 1990 e 22 de julho de 1992, por
Francisco Carvalho Júnior. p. 34. As informações entre colchetes são de responsabilidade do entrevistador. Cabe
mencionar, ainda, que as citações das fontes realizadas ao longo desse trabalho foram submetidas à atualização
ortográfica.
49
disciplina partidária. Importa esclarecer, assim, que o militante que enfocamos é aquele
indivíduo vinculado ao PCB. Logo, ciente e condizente com seus direitos e deveres.
81
Segundo o artigo número seis dos Estatutos do PCB de 1945, era considerado membro
todo aquele que aceitasse seu programa, seus estatutos e sua disciplina, que atuasse em um de
seus organismos, pagasse as contribuições e que realizasse na prática a política e as resoluções
do Partido.
82
O aspecto burocrático desse tipo de fonte e o fato de sua redação ter ocorrido
segundo fórmulas pré-estabelecidas não nos passam desapercebidos. Contudo, os estatutos
costumam conter dados importantes sobre quem poderia se filiar ao Partido, seus direitos e
deveres, o funcionamento da instituição, além de suas finalidades.
Boa parte dos revolucionários que militaram no Partido Comunista durante a
legalidade se havia filiado anos antes. Contudo, a partir do ocaso do Estado Novo, número
considerável de indivíduos afluíram às fileiras comunistas.
83
Para ingressar no PCB em 1945,
o candidato afiliado deveria ser apresentado por um militante que tivesse, pelo menos, um ano
de militância partidária. E, uma vez aceito, aquele que aspirava entrar no Partido era
considerado membro mediante o seguinte juramento:
Prometo a mais firme lealdade e completa dedicação aos sagrados interesses da
classe operária e do povo. Prometo, assim, trabalhar ativamente pela defesa da
democracia e da paz, pela derrota definitiva do fascismo, pelo desaparecimento de
todas as formas de opressão nacional e de exploração do homem, até o
estabelecimento do socialismo. Com este objetivo, juro solenemente permanecer
fiel aos princípios do Partido Comunista do Brasil; lutar, dentro do máximo de
minha capacidade, que procurarei aumentar sempre, pela sua unidade e pelo seu
crescimento: trabalhar, incansavelmente, no cumprimento de seu programa.
84
Em um primeiro momento, destaco elementos contextuais presentes no juramento, a
saber: a incitação à defesa de democracia e da paz e à luta contra o fascismo e todas as formas
de opressão nacional. Surgiam algumas diferenças em relação aos estatutos anteriores. No de
1922, por exemplo, a finalidade havia sido promover o entendimento e a ação internacional
dos trabalhadores, além da organização política do proletariado em partido de classe para a
81
É pertinente esclarecer que os comunistas alvo desse trabalho eram aqueles filiados ao PCB, pois, de acordo
com Antônio Albino Canelas Rubim, o Partido Comunista teve quase o monopólio do marxismo no Brasil entre
1922 e 1956, co-existindo com outros pequenos grupos inspirados em Trotski, embora de pouca expressão. Ver:
RUBIM, Antônio Albino Canelas. “Marxismo, Cultura e Intelectuais no Brasil”. In: MORAES, João Quartim de
(Org.). História do Marxismo no Brasil. Vol. III Teorias e Interpretações. Campinas: Editora da UNICAMP,
1998, p. 306. O historiador Ronald Chilcote também mostra que havia mais grupos de esquerda fundados em
1945, como por exemplo: a União Socialista Popular, no Rio de Janeiro; o agrupamento trotskista Partido
Socialista Revolucionário; e a União Democrática Socialista, anti-stalinista e anti-trotskista, fundada em São
Paulo. CHILCOTE, Ronald. Op. Cit., p. 105.
82
Estatutos do Partido Comunista do Brasil. Projeto de Reforma. Editado pelo Comitê Nacional do Partido
Comunista do Brasil. Rio de Janeiro – 1945. p. 10.
83
Eloy Martins, no final da década de 1980, relembrou que o número de membros cresceu de 4.000 para mais de
60.000 em todo país. Cf. MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 76.
84
Idem, p. 11.
50
conquista do poder e conseqüente transformação política e econômica da sociedade capitalista
em sociedade comunista.
85
Não se falava em democracia, nem em algo relacionado à ditadura.
em 1945, a experiência do Estado Novo e do fascismo haviam-se incorporado à história da
vida do PCB e de seus militantes. Fazia-se importante garantir o aniquilamento das idéias que
haviam colocado a atuação comunista na mais obscura clandestinidade. Os estatutos nos
demonstram a preocupação do Partido em assegurar a lealdade e toda a capacidade de
mobilização do futuro membro em relação a esse aspecto.
A partir do momento em que o indivíduo prestava o juramento, teria para com o
Partido Comunista mais deveres que direitos. Quer dizer, os deveres exigiam muito mais do
revolucionário em comparação aos direitos que ele poderia desfrutar. O primeiro artigo que
estabelecia as normas de relacionamento entre militante e partido deixava muito claro que o
engajamento deveria ser absoluto:
Art. 9 O primeiro dever de todo membro do Partido é enquadrar todos os atos de
sua vida pública e privada dentro dos princípios e do programa do Partido e ajustar
estritamente sua conduta partidária à observância fiel de seus estatutos e
regulamentos.
86
A esfera pública tanto quanto a privada deveriam ser orientadas de acordo com os
princípios e o programa do PCB, isto é, pedia-se ao militante, no mínimo, que agisse em
qualquer momento de sua vida de acordo com o que a organização partidária considerasse
adequado. Nos artigos seguintes, outras obrigações eram relacionadas, tais como: zelar pela
unidade da organização, pertencer ao sindicato de sua categoria profissional, votar nas
legendas indicadas pelo Partido em todas as eleições que se realizassem, bem como não
manter relações pessoais com trotzkistas e outros inimigos reconhecidos do Partido.
87
Os
membros também tinham o dever e o direito de participar da elaboração da linha política e das
resoluções partidárias, poderiam eleger e ser eleitos para os órgãos dirigentes do PCB, criticar
qualquer colega em reunião e participar pessoalmente das discussões, cujo foco fosse sua
conduta.
88
É notável que os deveres dos militantes abarcavam dimensões muito maiores,
exigindo grau considerável de desprendimento.
Para o historiador familiarizado com o tema, não é novidade a questão da entrega
absoluta dos comunistas ao Partido. Algumas das mais importantes abordagens sobre o
85
Cf. POMER, Carlos. Estatuto. A luta pelo partido leninista no Brasil. Diário Vermelho [online]. 13 de outubro
de 2005 [citado em 26 de setembro de 2006]. Disponível na Wordl Wide Web <
http://www.vermelho.org.br/diario/2005/1013/1013_hist_estatutos.asp>.
86
Estatutos do Partido Comunista do Brasil. Projeto de Reforma. Editado pelo Comitê Nacional do Partido
Comunista do Brasil. Rio de Janeiro – 1945. p. 12.
87
Idem, p. 12-13.
88
Idem, p. 13.
51
assunto estão nas obras de dois historiadores: Daniel Aarão Reis Filho e Jorge Ferreira. O
primeiro mostra como as organizações de esquerda – entendidas como “organizações de
estado-maior” – estruturavam sua coesão interna com base em postulados e mecanismos
determinados.
89
Ferreira parte das idéias de Reis Filho para demonstrar como tais estratégias
moldavam uma dada forma de “ser comunista”, preocupando-se mais com os militantes.
90
O PCB trabalhava incessantemente, a fim de envolver, se possível, a própria existência
de seus membros. Sua organização e funcionamento eram administrados de maneira a manter
o militante atarefado o máximo possível, deixando-o permanentemente concentrado. Reis
Filho refere-se a tal estratagema como “estratégia da tensão máxima”, isto é, um conjunto de
responsabilidades altamente absorventes que mantinham os militantes sob constante
pressão.
91
Uma das explicações desse historiador para o fato dos comunistas aceitarem uma
vida tensa e repleta de trabalhos excessivos é o “complexo da dívida”. O indivíduo filiado à
organização sentia que devia tudo a ela – encarada como a encarnação da “vontade coletiva” –
que detinha o saber verdadeiro, porque científico e social.
92
Ferreira acrescenta que, para o
militante do PCB, o revolucionário devia sua consciência política, os conhecimentos teóricos
através dos quais interpretava a realidade, as experiências de luta, saberes e fundamentos na
ciência, instruções para revolucionar o mundo, enfim, todo um arcabouço com base no qual
considerava-se capacitado para acabar com privilégios milenares. Assim, segundo o autor,
“por mais que ele se dedicasse à organização, por mais que ele se esforçasse pela causa
revolucionária, um militante do Partido Comunista estaria sempre em débito”.
93
O indivíduo que ingressava numa organização comunista achava-se envolvido por
uma dinâmica marcada por extensa gama de atividades ou tarefas internas e externas, um
conjunto de obrigações que incluía, entre outras coisas, estudo teórico, debate político-teórico
interno, trabalho de massas e de agitação e propaganda. De acordo com Aarão, tratava-se de
um verdadeiro processo de saturação, que tinha como combustível o marxismo-leninismo, a
certeza da revolução.
94
Jorge Ferreira incorporou algumas expressões cunhadas por Aarão
como “estratégia da tensão máxima” e “massacre de tarefas” mostrando exemplos
89
REIS FILHO, Daniel Aarão. Op. Cit. Capítulo 4 - “As organizações comunistas: Estados-Maiores
Revolucionários”.
90
FERREIRA, Jorge. Op. Cit. Parte II – Identidades e Práticas do Militante.
91
REIS FILHO, Daniel Aarão. Op. Cit., p. 118.
92
Id. Ibidem, p. 119.
93
FERREIRA, Jorge. Op. Cit., p. 41.
94
REIS FILHO, Daniel Aarão. Op. Cit., p. 128.
52
relacionados aos membros do Partido Comunista do Brasil, em especial, explicando as tarefas
e quais militantes as levavam a cabo.
95
Ser membro do Partido Comunista na metade da década de 1940 era entregar-se às
atividades e às responsabilidades partidárias, tanto quanto arcar com as conseqüências, caso a
conduta do militante fosse reprovada pela direção. O vigésimo artigo dos Estatutos do PCB
dava início a uma série de esclarecimentos sobre as medidas disciplinares tomadas pela
agremiação. Os comunistas, teoricamente, deveriam saber que poderiam ser punidos, se
infringissem os estatutos e regulamentos, transgredissem a disciplina. Havia também a
possibilidade de castigo por irregularidades financeiras, conduta ou atos contra a classe
operária ou que prejudicassem de alguma forma a influência do Partido no seio do operariado
e do povo. As punições dependeriam da responsabilidade e da importância do militante – bem
como da natureza e gravidade da falta cometida e poderiam variar de uma censura, da
remoção de postos de responsabilidade, da censura pública até a expulsão da organização.
96
A acompanhamento da conduta dos comunistas era bastante facilitado pelo esquema
de organização do PCB. Os Estatutos de 1945 descreviam uma estrutura claramente
hierarquizada e fortemente centralizada com órgãos dirigentes nacionais, estaduais,
municipais e distritais, assim como em bairros e empresas e estabeleciam um sistema de
subordinação, de responsabilidade e de apelação, que iria da unidade menor para a maior.
97
Ronald Chilcote bem assinalou o caráter piramidal da estrutura do PCB, muito semelhante à
do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).
98
No topo dessa hierarquia, estava o
Comitê Nacional (antigo ComiCentral), localizado no Rio de Janeiro, do qual partiam as
decisões mais importantes, principalmente aquelas relacionadas à linha política que o Partido
seguiria. Imediatamente abaixo dele vinham os comitês estaduais.
O Comido Rio Grande do Sul foi instalado no dia 30 de julho de 1945, no Cine
Imperial completamente lotado. Um “a pedido” foi publicado no Correio do Povo de de
agosto, mostrando numa página inteira a suntuosidade do evento. Centenas de pessoas
ocuparam as cadeiras do cinema, muitas outras ficaram de e uma multidão teve de se
contentar em acompanhar a cerimônia do lado de fora, abaixo de chuva, através de alto-
falantes instalados na Praça da Alfândega.
95
FERREIRA, Jorge. Op. Cit., pp. 88-98.
96
Estatutos do Partido Comunista do Brasil. Projeto de Reforma. Editado pelo Comitê Nacional do Partido
Comunista do Brasil. Rio de Janeiro – 1945. p. 14.
97
Idem, p. 18.
98
CHILCOTE, Ronald. Op. cit., p. 165.
53
O metalúrgico Abílio Fernandes, Secretário Geral do Comitê Estadual, fez longo
discurso no palco repleto de seus camaradas e ornado com bandeiras. A reportagem publicada
no Correio do Povo possibilita localizar, dentre elas, a do Brasil, da União Soviética e dos
Estados Unidos, pelo menos.
99
Além de histórico, o momento foi caracterizado por ele como
uma ocasião de festa pela conquista da liberdade. É bem provável que toda a sociedade
brasileira estivesse embebida em sentimentos semelhantes. No entanto, para os comunistas
devido à escolha que haviam feito de lutar pela transformação do país e do mundo segundo o
marxismo-leninismo e às conseqüências dessa opção a solenidade tinha um significado
muito particular. Um trecho do pronunciamento do metalúrgico pelotense nos revela a
emoção vivida por ele:
É fácil compreender o que significa a conquista da liberdade, para nós que sofremos
as duras condições da ilegalidade e da ação clandestina. Mas, uma coisa que,
neste instante solene, talvez nós saibamos sentir com tão profunda emoção e
respeito. É a saudade e a lembrança imorredoura dos destemidos camaradas que
caíram lutando em meio à dura jornada.
100
Quantos companheiros dedicados, corajosos e honrados não estavam mais vivos
para experienciar o momento em que o Partido Comunista conquistava a legalidade.
Certamente, esse era um sentimento profundamente compartilhado pelos comunistas e apenas
por eles. A partir da instalação realizada naquela noite de 30 e julho de 1945, o Comitê
Estadual passou a funcionar no primeiro andar do conhecido (na época) edifício Malakof, em
frente ao Mercado Público da capital do Estado.
Na seqüência da pirâmide que caracterizava a estrutura do PCB, apareciam os comitês
municipais, seguidos dos distritais. O Comitê Municipal de Porto Alegre funcionava em três
salas de um prédio na rua Voluntários da Pátria, centro da cidade, e foi instalado solenemente
no dia 10 de setembro.
A base da organização era constituída pelas células. No ano de 1945, elas espalharam-
se por toda a capital sul-riograndense, recebendo as mais variadas denominações. Em Porto
Alegre, as células comunistas foram designadas ou pelo nome do bairro onde se localizavam,
ou pela categoria profissional que congregavam, ou ainda pela escolha de um patrono. Alguns
bairros concentravam mero considerável delas, como a Cidade Baixa e o Navegantes. Ao
todo, foram encontradas 13 unidades nomeadas a partir desse critério. A quantidade de células
denominadas por nome de patronos, contudo, parecia ser maior.
101
Ao longo do ano de 1945,
99
As fotografias que ilustram a matéria foram reproduzidas na sessão de Anexos.
100
A pedido. O Lançamento Oficial do Partido Comunista do Brasil, no R. G. do Sul. Correio do Povo,
01.08.1945, p. 6.
101
O levantamento realizado permitiu constatar a existência de 34 delas ao longo da conjuntura 1945-1947. No
entanto, muitas eram denominadas sob mais de uma forma, por exemplo: a célula Júlio de Castilhos também era
54
foram encontradas informações referentes às seguintes células: dos bairros Aberta dos
Morros, Azenha, Centro, Cidade Baixa, Floresta, Menino Deus, Mont’Serrat, Navegantes,
Partenon, Passo da Areia e Passo da Mangueira, Rio Branco, São João e Teresópolis; células
Machla Berger, Mário Couto (Carris), Moaré Martins e Olga Benário; Colégio Júlio de
Castilhos, Doca Fluvial, Energia Elétrica, da Estiva, Faculdade de Direito e Viação Férrea.
As divisões do Partido Comunista do Brasil eram dinamizadas por uma equipe, na
qual cada militante ficava responsável por uma área de atuação. Os membros responsáveis
pelas tarefas eram, geralmente, pessoas cujo grau de engajamento mostrava-se bastante alto.
Eles recebiam o cargo de “secretários”. A historiadora Berenice Cavalcante explica que, por
mais que os colegas de militância se indiferenciassem por estarem sujeitos aos mesmos
princípios de disciplina um órgão superior em relação a um inferior demonstrava que seus
integrantes haviam-se mostrado mais fiéis, mais leais ou mais completamente dedicados ao
cumprimento do juramento que todos realizavam ao ingressar no Partido.
102
Nos comitês tanto
quanto nas células existiam tais grupos, dos quais dependia o bom andamento da organização
e das atividades da unidade. O Comitê Estadual, de cuja instalação falamos anteriormente,
tinha como Secretário Geral Abílio Fernandes. Os demais secretários respondiam pelas
seguintes áreas: professor Jorge Bahlis, Divulgação e Cultura; professor Otto Alcides
Ohlweiller, Eleições; padeiro Edgar José Curvello, Massas; advogado João Alberto Schenkel
Filho, Organização; e metalúrgico Eloy Martins, Sindical. A operária Julieta Batistioli era
suplente.
A maioria dos militantes acumulava responsabilidades dentro do Partido. Edgar
Curvello, por exemplo, também era o Secretário Geral do Comitê Municipal de Porto Alegre.
Julieta também secretariava a célula “Olga Benário”, e Jorge Bahlis presidia o Clube de
Cultura Popular Euclides da Cunha, que funcionava na antiga Sociedade Espanhola rua
Andrade Neves, 85. O referido Clube era uma das entidades ligadas ao PCB em Porto
Alegre, no qual se desenvolviam atividades culturais, como concertos, conferências, debates,
palestras, sabatinas, horas de arte e peças teatrais. Os comunistas levaram a cabo cerca de 40
eventos ligados à cultura no ano de 1945. A Sociedade Espanhola também abrigava a
Associação Brasileira de Amigos do Povo Espanhol (ABAPE), a Liga das Donas de Casa, o
Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), além de comissões eventuais, como a
conhecida como célula do Bom Fim (bairro). Não foi possível verificar todos os casos em que uma lula podia
ser identificada por mais de um modo. A listagem completa por denominação encontra-se na sessão de
Apêndices.
102
CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 150-151.
55
Comissão Central de Recepção a Prestes e suas respectivas sub-Comissões, no mês de
setembro.
Toda estrutura orgânica do PCB baseava-se no princípio do “centralismo
democrático”. De acordo com os Estatutos de 1945, tal postulado visava garantir o caráter
eletivo de todos os órgãos do Partido, além de sua obrigação de prestar, periodicamente,
informações sobre as atividades e a conduta de seus filiados. O centralismo democrático
visava assegurar a subordinação da minoria à maioria e, contraditoriamente, também deveria
contribuir para com o respeito e a subordinação “incondicional”, por parte dos organismos
inferiores (maioria), às resoluções dos organismos superiores (minoria). Por último, cultivava-
se o costume de realizarem, espaçadamente, críticas e autocríticas em todas as unidades.
Chilcote menciona que o centralismo democrático pretendia garantir o debate livre e
aberto em todos os níveis do Partido. Tanto as posições políticas como as diretrizes a serem
seguidas eram escolhidas pela maioria. O sistema, assim, seria centralizado, uma vez que as
decisões viriam do alto, e democrático, já que tais determinações seriam tomadas apoiadas na
opinião consensual da base.
103
Pelo menos teoricamente, existia a intenção de manter os
comitês em contato com as células, assegurando que as deliberações realizadas no centro
fossem baseadas no ponto de vista da maioria e que tais resoluções não deixassem de ser
aplicadas em todos os níveis.
É importante nos determos um pouco mais nessa questão, pois, para os comunistas que
militavam no PCB em Porto Alegre, a democracia existia no interior mesmo do Partido. O
editorial da revista Libertação de 08 de setembro de 1945 foi dedicado ao Pleno Ampliado do
Comitê Municipal, ocorrido nos dias 01 e 02 daquele mês. Tratou-se de uma reunião
ampliada, quer dizer, não restrita apenas ao secretariado do Comitê, mas a todos os
comunistas da capital. Assim como a sessão de instalação do Partido no Rio Grande do Sul,
comentada, o Ampliado também foi caracterizado como um festejo: “uma genuína e histórica
festa para os comunistas porto-alegrenses, tão cheios de tradições e de sacrifícios na luta em
prol do Partido do proletariado e do povo”.
104
Segundo o artigo que introduzia o exemplar,
Das bases, vieram os camaradas representando os trabalhadores de Porto Alegre, a
fim de ouvir a prestação de contas dos camaradas dirigentes e ali, dentro daquela
democracia tão característica das organizações comunistas, com aquele espírito
fraternal, limpo e honesto que reina entre os comunistas no seu trabalho em
comum, as tarefas cumpridas e as tarefas a cumprir foram debatidas
exaustivamente, com a serenidade e o espírito de responsabilidade dos que
constituem a vanguarda organizada da classe operária e do povo nesta hora tão
cheia de duras responsabilidades para os comunistas brasileiros.
105
103
CHILCOTE, Ronald. Op. cit., p. 172.
104
O Ampliado dos Comunistas de Porto Alegre. Libertação, 08.09.1945, p. 1.
105
Idem.
56
Aparentemente, o que as palavras extraídas do editorial nos fazem deduzir é que, por
ocasião do Pleno Ampliado, os comunistas estavam cumprindo com a obrigação de informar
periodicamente suas atividades, e o debate das tarefas realizadas, ou em vistas de o serem,
constituía um sinal do caráter democrático da organização. Nas páginas seguintes do mesmo
exemplar, o militante e dirigente Edgar José Curvello referiu-se ao reavivamento das forças
contra o comunismo que se fazia perceber, colocando o anticomunismo como luta contra o
Partido do proletariado e do povo.
106
Curvello reafirmou a ligação do PCB com a classe dos
proletários, dizendo que a conquista dos objetivos destes últimos, “em quaisquer
circunstâncias históricas, é impossível sem um Partido coeso e disciplinado”.
107
Nesse
sentido, explicou que
A coesão nasce da unidade de vontade, completa e absoluta de todos os seus
membros. A disciplina não exclui a crítica, nem a oportunidade de defender as
opiniões dentro do Partido. A disciplina tem de ser consciente e voluntária. E uma
vez terminada uma discussão e assentada uma resolução, a unidade de ação de
todos os membros do Partido é a condição fora da qual não pode existir um Partido
coeso e disciplinado.
108
A fala de Edgar Curvello nos leva a pensar em como para esses comunistas a coesão e
a disciplina se alinhavam com a democracia no âmbito interno da militância. A unidade, em
primeiro lugar, não seria forçada, mas um resultado da vontade unânime dos militantes.
Havendo um desejo em comum (talvez um pacto), não existiria espaço para discordâncias,
atritos e fracionamentos no seio do Partido. Assim, o esforço no sentido de se atingir o
almejado não encontraria obstáculos de ordem disciplinar, visto que todos estariam na mesma
sintonia, unidos em prol de um mesmo objetivo, porque guiados pelo “espírito de
responsabilidade” para com a causa. A disciplina seria consciente e voluntária. Dessa forma,
fica claro o que o padeiro comunista quis dizer quando fez referência ao “espírito fraterno,
limpo e honesto” que imperava entre os companheiros no trabalho em comum, pois que seria
gerado pela harmonia entre as vontades. Democracia, unidade e disciplina eram elementos
intimamente relacionados para aqueles que militavam pelo comunismo em Porto Alegre na
metade da década de 1940.
Exaltadas por Edgar Curvello quase como um resultado natural da confluência de
vontades, a coesão e a disciplina não descartavam o controle. Naquele momento em que o
padeiro visualizava o anticomunismo como uma ameaça à unidade partidária, a “constante
106
Os embates entre comunistas e anticomunistas serão melhor comentados no decorrer deste capítulo.
107
A Influência do P.C.B. no Cenário Político Nacional. Libertação, 08.09.1945, p. 4.
108
Idem.
57
vigilância de classe” foi por ele salientada como uma das melhores armas contra os
oportunistas (pessoas de origem pequeno-burguesa que se infiltravam no Partido, gerando
fracionalismos), com os quais os “inimigos da classe operária” (entenda-se inimigos dos
comunistas) contavam em momentos críticos.
109
Enquanto para os comunistas, como Edgar Curvello, havia democracia no interior da
vida partidária, na opinião de alguns pesquisadores que se debruçaram sobre o tema, a
agremiação apresentava “matrizes totalitárias”. De acordo com Cavalcante, a imposição de
uma rígida disciplina para os militantes, a impossibilidade de conviver com a diferença, a
vigilância constante, além da conformação do Partido com um indivíduo (Luiz Carlos
Prestes), constituíam-se elos de uma cadeia de identificações inerentes às concepções
totalitárias. Toda a organização dos comunistas seria totalitária, uma vez que fruto de uma
“lógica totalitária” e totalizante. A historiadora baseou-se na perspectiva de Ricardo
Benzaquem de Araújo sobre totalitarismo entre os integralistas. Segundo esse autor, citado
por ela, é possível identificar o totalitarismo pela totalização absoluta homogeneizante,
disposta a eliminar todas as particularidades e diferenças contidas no interior do corpo social
– e pela ação de uma ideologia unificadora, capaz de fazer com que militantes revolucionários
identifiquem sua vida privada, os problemas individuais e as questões morais ou intelectuais à
vida pública e à defesa de suas idéias.
110
Ao ver elementos totalitários na visão de mundo e organização partidária comunistas,
Cavalcante traça uma relação delicada entre atores sociais, períodos e eventos históricos.
Podemos reconhecer esse procedimento como um esforço no sentido de tornar conhecido o
desconhecido para o Brasil da década de 1980. Mas considero problemática a qualificação dos
comunistas brasileiros e seu Partido como totalitários, sobretudo, em época de franca defesa
da democracia e em virtude da visão que se consolidou a respeito de regimes totalitários
geralmente associados à morte e ao horror, devido às brutalidades cometidas pelo nazismo e
pelo stalinismo e das tentativas de associar movimentos sociais ou tudo o que não está de
acordo com uma visão específica de democracia ao totalitarismo.
De maneira inversa, opto não por afirmar que os militantes comunistas e sua
agremiação política apresentavam “matrizes totalitárias”. Não seria adequado, acredito, ver e
fazer ver entre os revolucionários um aspecto que eles mesmos não enxergavam. Prefiro
narrar essa história, mencionando que aquilo que, para nós, assemelha-se a características
típicas do totalitarismo, para os comunistas, era visto como democrático. E mais: o que os
109
A Influência do P.C.B. no Cenário Político Nacional. Libertação, 08.09.1945, p. 4.
110
Apud. CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 135.
58
autorizava a pensar dessa maneira? Seria algo específico dos militantes do PCB, ou um
elemento do contexto político-cultural da época?
Em seminário realizado em abril de 1986 pelo Grupo de Pesquisa sobre Direitos
Políticos do CEDEC (Centro de Estudos e Cultura Contemporânea), Daniel Aarão mencionou
que, nos anos 30 e 40 do século XX, “democracia” e “descentralização” que, no momento
do debate, tinham um sentido eminentemente popular, democrático e participativo (acredito
que hoje também) apareciam como contra-tendências ao centralismo modernizante,
nacionalista e social. Para os comunistas, em especial, descentralização significava fortalecer
o poder dos coronéis, quer dizer, uma forma de pensar a situação política muito calcada no
passado e que ocupava lugar importante na forma como eles refletiam sobre democracia
política.
111
Os comunistas viviam no ocaso do Estado Novo, regime que se intitulava
democrático. Conforme Maria Helena Capelato, o Ministro da Justiça Francisco Campos
definira o Brasil de Vargas, em 1940, como um Estado democrático, “porque o presidente,
chefe responsável da nação, poderia exercer suas enormes prerrogativas se contasse com o
apoio e o prestígio do povo”.
112
Nesse sentido, vários textos foram distribuídos para a
instrução das crianças e do povo em geral, expondo, de forma didática, as qualidades do
regime. A autora cita o exemplo do Catecismo Cívico do Brasil Novo, cartilha que abordava
temas relacionados aos direitos e deveres do cidadão brasileiro, na qual se ensinava que não
havia incompatibilidade entre idéias de democracia e governo autoritário, através de eficazes
(e autoritárias) técnicas de persuasão.
113
Capelato reforçou que o varguismo, tanto quanto o
peronismo, denunciava a hipocrisia do sistema democrático formal e prometia ampliar a
democracia para além dos limites do usufruto de direitos individuais, incluindo direitos
sociais em termos legais. Porém, Vargas não propunha, como os comunistas, uma sociedade
sem propriedade privada e sem classes. Pelo contrário, ele defendia a propriedade privada e a
livre iniciativa empresarial, distinguindo liberalismo político (negado) e econômico (limitado
apenas em seus excessos).
114
Saber que uma das ditaduras mais violentas da história do Brasil,
como o Estado Novo, fora qualificada como democrática e tal aspecto ensinado em tom
categórico nas escolas como verdade nos revela que a aproximação entre elementos que,
para nós, encontram-se em campos opostos, para aqueles que viveram nas décadas de 1930 e
111
GARCIA, Marco Aurélio (1986). (Org.) Op. Cit., p. 50-51.
112
CAPELATO, Maria Helena R. Multidões em Cena. Propaganda política no varguismo e no peronismo.
Campinas: Papirus, 1998, p. 156.
113
Id. Ibidem, p. 159.
114
Id. Ibidem, p. 155-156.
59
1940 era legítima e mostrava-se presente em correntes político-ideológicas distintas.
Ademais, o regime soviético contribuía para a consolidação dessa concepção entre os
comunistas, conforme veremos adiante.
Em Porto Alegre, o padeiro Edgar Curvello mostrava-se incansável na vigilância
contra o que designavam oportunistas e inimigos do povo. Além de presidir o Comitê
Municipal e ser Secretário de Massas do Estadual, auxiliava e controlava atividades em
organismos menores, como quando esteve presente na instalação da célula do bairro Floresta,
num domingo do mês de agosto, e nas assembléias gerais das unidades “Machla Berger” e
São João, nos dias 07 e 08 de novembro, respectivamente. Várias reuniões e assembléias
foram acompanhadas por dirigentes ligados a alguma unidade considerada superior. É
possível elaborarmos uma noção do quanto os militantes estavam comprometidos com o
Partido, se observarmos que muitas dessas atividades se desenrolavam nas noites dos dias de
semana ou nas tardes e noites de sábados e domingos.
As atividades comunistas foram incessantes ao longo do ano de 1945, sobretudo, no
segundo semestre. A representação gráfica abaixo revela que a movimentação dos militantes
do PCB foi se acentuando. Tanto o número de reuniões – quanto o de assembléias, comícios e
atividades culturais – aumentou nos últimos meses.
Gráfico 1 – Atividades desenvolvidas em Porto Alegre no ano de 1945
Fonte: Ver nota 71.
As atividades desenvolvidas no primeiro semestre, como é possível visualizar, não
tiveram a intensidade apresentada no segundo, talvez pelo retorno à legalidade estar num
momento embrionário nos primeiros meses de 1945. Mas, ao longo desse ano, elas foram num
crescendo. O mês de novembro, por exemplo, apresentou pico na realização de reuniões, com
0
5
10
15
20
25
Janeiro Abril Julho Outubro
Reuniões
Assembléias
Comícios
Ativ. Cult.
60
instalações de células, questões sindicais, balanço das últimas atividades e estabelecimento de
planos de ação para os próximos meses, alguns dos temas que motivaram tais encontros. Foi
por essa época também um dos maiores índices de comícios, visto que as eleições
aconteceram no dia 02 de dezembro. Contudo, a máxima das manifestações públicas foi em
setembro, devido à visita de Luiz Carlos Prestes ao Estado. no domingo dia 16, foram
realizados três comícios preparatórios à recepção do Cavaleiro da Esperança: às 10 horas da
manhã no Teatro Orfeu, às 14 na Vila Niterói e às 20:30 horas no bairro Mont’Serrat. Nesse
mesmo dia, também se fez um ativo político (encontro para discussão em torno de uma área
específica) com o secretariado de todas as células, reunião dos estudantes da célula da
Faculdade de Direito e assembléia para a estruturação da unidade de base Aberta dos Morros,
além de atividades culturais, como uma sabatina, às 16 horas, na Sociedade Espanhola a
respeito dos discursos de Abílio Fernandes e Prestes, uma conferência e a Hora de Arte.
115
Os meses de outubro e novembro foram aqueles em que os militantes do PCB
realizaram mais assembléias. As fontes dificilmente revelam os motivos de tais encontros.
Contudo, foi possível perceber que algumas delas tiveram como motivação a discussão de
assuntos relacionados ao dia-a-dia da militância no interior das células, como a apreciação das
últimas atividades e a escolha de patronos. Noutras ocasiões semelhantes, os comunistas
debateram a situação política nacional.
O último mês de 1945 foi repleto de atividades culturais no Clube de Cultura Popular
Euclides da Cunha. Foram realizadas várias conferências algumas seguidas de sabatina
relativas à teoria marxista e a questões relacionadas à posição do PCB no momento
político.
116
Homero de Castro Jobim, por exemplo, falou sobre “Questões do Marxismo” em
uma dessas palestras; Jorge Bahlis, sobre “A Marcha para a Democracia”.
117
No final de
dezembro, os comunistas deram início à “Semana Luiz Carlos Prestes”. Tratou-se de uma
série de atividades em comemoração ao aniversário do líder do Partido, que se daria no dia 03
de janeiro de 1946.
118
A Semana começou com um debate sobre o Programa Mínimo de
115
O levantamento das atividades desenvolvidas pelos comunistas na conjuntura 1945-1947 encontra-se na
sessão de Apêndices.
116
As sabatinas realizadas pelos comunistas no Clube de Cultura tratavam-se de perguntas que o público dirigia
ao palestrante logo após sua exposição. Nessas ocasiões, dificilmente estes eram questionados ou tornados alvo
de críticas mais fortes. O intuito das questões levantadas pelos expectadores era, antes de tudo, esclarecer
dúvidas ou descobrir como o convidado aconselhava pensar e/ou agir em relação a determinado assunto.
117
Correio do Povo, 06.12.1945, p. 3 e 15.12.1945, p. 3, respectivamente.
118
No nono capítulo do livro Prisioneiros do Mito (Op. Cit.), Jorge Ferreira aborda a mudança ocorrida na
imagem de Prestes entre os membros do PCB a partir de 1945, através de uma campanha sistemática e
coordenada de enaltecimento e de culto à sua personalidade pelos comunistas (militantes, dirigentes e meios de
comunicação). A democratização do país exigia a organização de um “novo tipo” de Partido, e foi nesse
momento que a figura de seu líder se envolveu de uma mística de homem excepcional e insuspeitável. Ele
61
União Nacional, tendo, na seqüência, pronunciamentos acerca da personalidade de Prestes
por Jorge Amado – e da relação dele com os problemas de organização – por Orestes
Timbaúva; o professor Jorge Bahlis falaria sobre “Como deve agir um verdadeiro
revolucionário” e Dyonélio Machado acerca da personalidade de Prestes como
revolucionário.
119
Otto Alcides Ohlweiller ainda comentaria algo relativo ao Cavaleiro da
Esperança e os problemas nacionais, e o metalúrgico Eloy Martins sobre “Prestes e os
Sindicatos”.
120
Como podemos perceber, os militantes abordaram aspectos ligados às suas
experiências individuais. Eloy, por exemplo, dedicava-se a movimento sindical. Em 1933,
havia sido eleito secretário do sindicato dos metalúrgicos e dirigente da Federação Operária
do Rio Grande do Sul (FORGS). Em 1945, estava ligado ao MUT.
Um exemplar da revista Libertação do mês de outubro também divulgou aos
comunistas de Porto Alegre duas programações radiofônicas diárias: a “Hora do Partido
Comunista do Brasil”, com cerca de 10 minutos, irradiada pela Difusora, e o Programa
Político do Comitê Municipal, veiculado pela emissora Cruzeiro.
121
A estrutura orgânica e o estabelecimento de normas no interior da militância
comunista tinham um modelo. foi mencionado que Chilcote pontuou o caráter piramidal
presente na composição tanto do PCB quanto do PCUS. Acontecia que os militantes
brasileiros viam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) como a sociedade que
deveria servir de exemplo.
Ferreira afirmou que a escolha da União Soviética como o lugar da utopia realizada
ocorreu na virada da década de 1930. Enquanto o Ocidente vivia a grande crise, gerada pela
quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929, a URSS vivia os sucessos da industrialização
acelerada, embora onerosa. A capacidade industrial soviética assemelhava-se à alemã,
contribuindo para o início da disseminação de sua imagem como um mundo novo, diferente
passou a ser exaltado por suas virtudes e cultuado por seu heroísmo, fenômeno que o autor encontrou manifesto
em memórias de antigos militantes e nos artigos da imprensa comunista. O aniversário de Prestes e datas
importantes da sua trajetória política foram lembrados e comemorados nas páginas dos periódicos do Partido e
em festas populares, tais como as comemorações realizadas no Clube de Cultura Popular Euclides da Cunha, em
Porto Alegre. De acordo com Ferreira, o objetivo desses procedimentos dividia-se em três partes: (1) “fazer
crer”, reunindo pessoas em torno de uma visão política; (2) “fazer amar”, a personalidade deveria ser respeitada
e amada por suas qualidades (desprendimento, generosidade, lealdade, etc.) e realizações, sugerindo um
comportamento exemplar; e (3) “fazer agir”, com base nos dois primeiros passos, o terceiro seria o de conseguir
orientar ações e canalizar as energias coletivas em prol das necessidades do movimento comunista. Vale
salientar que algumas das reflexões de Ferreira nesse sentido haviam sido iniciadas por Berenice Cavalcante na
década de 1980. Ver: CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 180.
119
Correio do Povo, 28.12.1945, p. 10.
120
Fundo DPS – Série Dossiês – Dossiê “Comitê Estadual do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 788.
121
Libertação, 27.10.1945, p. 3 e contra-capa.
62
de tudo o que já havia existido.
122
A partir de 1945, o ritmo e a intensidade da propaganda que
exaltava a vida econômica e social dos soviéticos aumentaram.
123
O país dos sovietes havia
saído com enorme prestígio da Segunda Guerra Mundial, uma importância reconhecida não
apenas pelos comunistas, mas também por muitos daqueles que haviam preconizado o fim do
nazifascismo. Apoiando-se nas idéias de Leonardo Boff, Ferreira afirmou que “o que mobiliza
as pessoas não são apenas as idéias formais e eruditas, mas ‘as utopias, os sonhos, as visões,
os exemplos acima de tudo’.”
124
Nesse sentido, para os comunistas brasileiros, o desejo de
uma sociedade igualitária, justa, democrática e fraternal estava sendo vivido por milhões de
pessoas na URSS, assim como nas chamadas democracias populares. Tal imagem gerava
subsídios para que os revolucionários acreditassem que o sacrifício não estava sendo inútil,
conservando-se fiéis ao Partido.
125
A historiadora Eliana Dutra, em estudo realizado na
década de 1990, constatou que a promessa utópica e a democrática se confundiam no discurso
comunista em meados dos anos 1930. Ambas apareciam associadas ao ideal igualitário e
fraterno, ao desaparecimento do capitalismo, à presença dos trabalhadores no poder e à
inexistência de um sistema partidário competitivo.
126
Os comunistas da capital do Rio Grande do Sul concebiam a URSS como o lugar em
que a democracia era plenamente realizada, pois que sustentada pelo centralismo. No dia 08
de setembro de 1945, os militantes de Porto Alegre publicaram artigo na revista Libertação,
assinado por um jurista soviético chamado I. Levin, explicando certos detalhes do que
chamavam de “democracia soviética”.
Na União Soviética, a democracia era “real e praticamente realizada”.
127
Segundo o
autor da matéria, tal aspecto fazia-se notável naquele país pela autonomia de seu sistema
administrativo. Lá, existia a pirâmide regular dos “Soviéts”, quer dizer, a presença de um
conselho em cada uma das unidades administrativas (aldeia, cidade, distrito, região, república,
URSS). Os “Soviéts” eram eleitos mediante votação direta e secreta, pela totalidade de
cidadãos de ambos os sexos a partir dos 18 anos, e, uma vez eleitos, escolhiam um “Comitê
122
De acordo com o autor, as eloqüentes descrições acerca do regime soviético ganharam força a partir de
1930, pois, em 1918, a Rússia havia conhecido grandes sofrimentos, provocados pela guerra civil. As notícias
que chegaram ao Brasil, nesse período, foram confusas e desencontradas. Na década de 1920, os comunistas
brasileiros exaltaram as conquistas políticas da Revolução Soviética, pois eram sabidas, mesmo vagamente, as
enormes dificuldades sociais e econômicas vividas naquela região. FERREIRA, Jorge. Op. cit., p. 196-197.
123
Id. Ibidem, p. 200.
124
Id. Ibidem, p. 201.
125
Id. Ibidem, p. 202.
126
DUTRA. Eliana. O ardil totalitário. Imaginário político no Brasil dos anos 30. Rio de Janeiro: Editora UFRJ;
Belo Horizonte: Editora UFMG, 1997, p. 115.
127
Na Democracia Soviética, as massas populares participam diretamente do governo. Libertação, 08.09.1945,
p. 5.
63
Consultivo”, um grupo para cuidar da administração (serviços públicos etc.). Cada cidadão
participava da eleição dos “Soviéts” de sua aldeia, bem como da sua cidade, do distrito, da
região, da república e da União. Os deputados escolhidos deveriam prestar contas
publicamente de seus trabalhos, e, caso parecessem indignos de confiança, poderiam ter seus
mandatos retirados a qualquer momento. As massas populares participavam das mais
diferentes maneiras na realização das tarefas do Estado, controlando os Soviéts”, formando
comitês de bairros, responsáveis pelas questões referentes à urbanização. Além do mais,
segundo o artigo, o sistema soviético harmonizava democracia com centralismo, uma vez que
nenhuma direção poderia se sobrepor às regras ditadas pela direção superior. Era da direção
que se encontrava a “plena expressão da democratização do sistema estatal soviético”.
128
A “democracia soviética”, portanto, tratava-se de um regime bem organizado e
controlado, em que todos tinham sua parcela de responsabilidade, e no qual os descontentes
tinham liberdade para substituir aqueles que haviam colocado nos conselhos. Democracia e
centralismo não se contradiziam, mas se completavam, na medida em que o segundo permitia
a primeira. Não seria inadequado pensar o papel da URSS na forma dos comunistas verem a
realidade como topos, o lugar que existe aqui e agora. Contudo, veremos que para esses
revolucionários ela igualmente poderia corresponder a eu-topos, a região da felicidade e da
perfeição. A democracia praticada no país dos “Soviéts” era aquela que estava no horizonte de
expectativas dos militantes do PCB de Porto Alegre.
128
Idem.
64
CAPÍTULO 2
A DEMOCRACIA DESPONTA NO HORIZONTE
2.1 – Anistia e União Nacional: os primeiros passos na marcha para democracia
Imaginemos um cidadão brasileiro, morador da capital gaúcha, comprando um
exemplar do jornal de grande circulação na época, o Correio do Povo, no dia 16 de março de
1945. Ele pagou Cr$ 0,40 (quarenta centavos de cruzeiro) para o jornaleiro e, interessado,
atentou para a manchete estampada na capa: “Estabelecidas, em princípio, relações
diplomáticas entre o Brasil e a Rússia”. Vivia num contexto em que o país dos sovietes
desfrutava grande prestígio internacional, pois o Exército Vermelho vinha contribuindo de
maneira decisiva para a derrocada da máquina de guerra nazista. O mundo curvava-se diante
do poderio soviético. Esse indivíduo também lembrou que havia muito tempo, desde 1917,
quando da Revolução Russa, o Brasil suspendera suas relações com a União Soviética,
parecendo ficar satisfeito com a notícia. Ora, essa e outras boas novas o faziam crer que o
período de ditaduras no mundo e no Brasil estava acabando. Falava-se no retorno da Frente
Expedicionária Brasileira (FEB), em eleições e anistia, na legalização dos partidos e na
libertação de presos políticos. Prestes haveria de estar entre eles. Tomou o bonde, a fim de
que não se atrasasse para o longo dia de trabalho que o esperava na fábrica. Mas isso não seria
nada perto da euforia que começava a envolvê-lo. À noite, reunir-se-ia com os companheiros.
O momento era assaz importante.
Assim como o personagem acima, todos os militantes do PCB, homens e mulheres,
como vimos, dedicados às mais diversas profissões, provenientes de rias regiões do Rio
Grande do Sul e do país, tiveram seus espíritos envolvidos num estado de satisfação e alegria
65
fora no normal e entregaram-se à militância, em 1945, de uma forma ainda não vivida. Os
comunistas não haviam sentido exaltação como àquela. Alguns deles, jamais tornariam a
experienciar liberdade igual. Em 23 anos de existência, o Partido ao qual se dedicavam
desfrutara ínfimos períodos de legalidade. Sempre perseguidos; seguidamente presos. Nos
últimos nove anos, a clandestinidade lhes reservara uma das mais duras repressões da história
brasileira, a comandada por Filinto Muller, Chefe da Polícia Política de Getúlio Vargas. Mas,
em 1945, os ventos pareciam soprar em outra direção.
Na década de 1940, o mundo assistiu o autoritarismo perder forças para a democracia.
O final da Segunda Guerra Mundial foi rematado pela defesa inconteste desta última como
regime de governo. Ela foi desejada e aclamada em diversos idiomas. Logo, aqueles que
ergueram a sua bandeira, no Brasil, estavam inseridos em uma onda de proporções mundiais,
embora houvesse existido, em cada lugar, um conjunto de eventos que davam subsídios para a
construção de imagens carregadas de significados muito particulares em relação a ela. A
experiência ditatorial promovida por Vargas entre 1937 e 1945, por exemplo – assim como os
acontecimentos relacionados à Guerra contribuiu para dar novos matizes ao que os
brasileiros entendiam por democracia. Contudo, mesmo entre estes o sentido atribuído a essa
última não foi unânime. Segundo a historiadora Carla Rodeghero, a caracterização de
democracia e ditadura variou de acordo com os grupos, configurando uma “encruzilhada”,
quer dizer, o cruzamento de experiências e expectativas conflitantes num momento em que se
buscava caracterizar o novo tempo.
129
Existiam disputas simbólicas em meio aos acontecimentos que anunciavam a aurora
de um tempo outro, e um dos eventos que marcou o seu despontar foi a anistia. Clamava-se
por ela. Não havia palavra mais democrática e mais unitária no momento para Jorge Amado –
escritor e militante comunista.
130
Outros temas vieram juntar-se a este no decorrer dos meses
de março e abril de 1945, como as eleições – marcadas pelo presidente Vargas para o segundo
semestre daquele ano por meio de decreto em 22 de fevereiro e o reatamento das relações
entre Brasil e União Soviética.
O que poderia ser motivo de festa para a sociedade brasileira como um todo não
agradava completamente alguns comunistas. Ao psiquiatra e escritor Dyonélio Machado, por
exemplo, incomodava o fato do próprio ditador conduzir o processo de democratização.
Conforme publicou em artigo no Diário Carioca em 02 de março, desejava que os “tempos”
129
RODEGHERO, Carla. O anticomunismo nas encruzilhadas do autoritarismo e da democracia: a conjuntura
1945-1947. Métis: História e Cultura, n. 10, 2006. (No prelo)
130
Luiz Carlos Prestes vai falar ao Brasil. Correio do Povo, 17.03.1945, p. 8.
66
da operação se houvessem invertido: “em lugar dum candidato para operar a democratização,
uma democratização impessoal, conduzindo naturalmente à formação duma candidatura.”
131
Para ele, o decreto havia sido obra refletida de Vargas, pois “Quem não diria que premido
pelas circunstâncias, não deixaria na mão todos os elementos fascistas e fascistóides que
sempre o acompanharam na governação do país, e viraria num sentido democrático?”.
132
Dyonélio acreditava conhecer a “doutrina” que, segundo ele, o Ato Adicional encerrava as
idéias do “Partido Castilhista” afirmando ter Getúlio Vargas como um adversário perigoso,
visto a firmeza das suas convicções.
133
O historiador Benito Schmidt conta que, quando preso
em 1937, o escritor recebera a visita do antigo líder republicano Paim Fillho. Ao comentar-lhe
a situação, o autor de Os Ratos disse que a devia a ele, assim como a Borges de Medeiros e
Protásio Alves, os quais o haviam iniciado indiretamente no socialismo. O militante
comunista comentou ter aprendido com eles o socialismo de estado, positivista. Com o tempo,
havia progredido para o socialismo propriamente dito, o socialismo marxista.
134
A experiência de Dyonélio Machado junto ao Partido Republicano Riograndense
(PRR) de Quaraí, sua cidade natal, havia lhe concedido um arcabouço de idéias com base nas
quais ele interpretava os acontecimentos de 1945. Ao longo dessa dissertação, o leitor
observará o quanto a concepção de democracia dos militantes do PCB estava impregnada de
elementos do passado, assim como de esperanças no futuro. Apesar de seguirem, concordando
ou não, a linha fixada pelo Partido, os comunistas traziam consigo toda uma bagagem de vida
que lhes dava os termos através dos quais traduziam aquela nova realidade.
A opinião do escritor de Quaraí parecia não se coadunar com a linha de apoio
incondicional a Vargas, escolhida pelo PCB entre 1943 e 1944.
135
Ele não se manifestou
categoricamente contra a condução do processo de democratização por Getúlio, mas externou
incômodo com o fato. Outros militantes encaravam a situação de modo semelhante, porém
discordando abertamente da orientação e defendendo a aproximação com as forças de
131
O Candidato-Governo. Diário Carioca, 02.03.1945. Página não informada.
132
Idem.
133
Idem.
134
SCHMIDT, Benito B. O Deus do progresso: a difusão do cientificismo no movimento operário gaúcho da I
República. Revista Brasileira de História [online]. 2001, vol.21, no.41 [citado 28 de setembro de 2006], p.113-
126. Disponível na World Wide Web <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
01882001000200006&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0102-0188>.
135
A historiadora Berenice Cavalcante, em obra já citada, questiona a atribuição da opção pelo apoio
incondicional a Vargas à Conferência da Mantiqueira, realizada em 1943. Segundo ela, na ocasião, a proposta de
união nacional em torno do governo dava-se exclusivamente em relação à questão da entrada do Brasil na
Guerra. Foi a partir de março de 1944 e através de um documento de Prestes, que se tornou perceptível, mas
ainda de modo muito sutil, o apoio amplo à política de Getúlio (p. 130-131).
67
oposição ao regime. É o caso, a guisa de exemplo, de Astrojildo Pereira um dos fundadores
do Partido – e de Caio Prado Jr. – ligado ao Comitê de Ação, em São Paulo.
136
Os comunistas de Porto Alegre mobilizaram-se em torno dos acontecimentos daquele
primeiro semestre de 1945. Em abril, participaram de dois comícios promovidos pelo Comitê
Pró-Anistia, do qual alguns eram membros. Nesse mesmo mês, Décio Freitas e Sibilis da
Rocha Viana fundaram a revista Libertação, um dos órgãos do Partido que exigiria dedicação,
competência e responsabilidade de alguns militantes durante o período em que circulou e por
meio do qual eles propalaram suas opiniões no que dizia respeito à situação política nacional e
internacional.
O semanário Libertação foi um periódico da intelectualidade comunista, ligado ao
Comitê Municipal de Porto Alegre, que se pretendia um órgão de educação democrática do
povo. Ele apareceu pela primeira vez em 14 de abril de 1945, e seu nome fez referência ao
contexto de luta contra o nazifascismo e o Estado Novo. Nesse primeiro número, os
comunistas da capital gaúcha expuseram suas expectativas em relação ao momento histórico,
transparecendo segurança em relação ao futuro, vê-se por uma das primeiras frases nela
publicadas: “Surgimos, portanto, confiantes, pois nossa orientação será democrática e
antifascista”.
137
Do que podemos depreender, os militantes do PCB acreditavam que, por
serem guiados no sentido da democracia e do antifascismo, não tinham o que temer.
O exemplar externava a opinião de um grupo de comunistas em especial: Sibilis da
Rocha Viana e Alfredo Antônio Gerhardt, diretores; Antônio Pinheiro Machado Neto e Raul
Riff, redatores de política internacional; e Ramiro Fernandes, redator de assuntos literários.
No momento da primeira publicação, este corpo editorial se preocupou em trazer à baila
assuntos que estavam fervilhando, como a anistia e as eleições, fazendo um apelo para que
“todos os riograndenses democratas” tomassem parte ativa no que consideravam um “trabalho
de libertação”. Na opinião do editorial, não seria possível conceber uma eleição democrática,
enquanto estavam nos cárceres e no exílio “democratas de indiscutível coerência e de cuja
conduta democrática, de lutadores anti-fascistas, ninguém poderia duvidar.”
138
Os comunistas
alimentavam grandes esperanças em relação à democracia. No entanto, o ambiente ainda não
136
O exemplo de Caio Prado Jr. pode ser acompanhado pelo trabalho de Paulo Teixeira Iumatti, Diários
políticos de Caio Prado Júnior: 1945. São Paulo: Brasiliense, 1998. Iumatti afirma que, no mês de março
daquele ano, Caio Prado esperava que se superasse o populismo de Vargas, que se consolidassem as instituições
democráticas e que se efetivasse a emergência dos grupos excluídos da vida pública (p. 33). Nesse sentido, o
intelectual ajudou a criar e foi um dos líderes da Aliança Democrática Popular (ADP), no intuito de coligar todas
as esquerdas brasileiras contra o ditador (p. 40), além de ligar-se à fundação da União Democrática Nacional
(UDN) (p. 50-55).
137
Libertação, 14.04.1945, p. 3.
138
Idem, p. 6.
68
parecia estar seguro para alguns deles. Ao mesmo tempo em que o exemplar demonstrava
suas expectativas em relação às eleições presidências, considerando-as “o primeiro passo para
a democratização do país”
139
, Otto Alcides Ohlweiller assinava um artigo, no qual mostrava-
se apreensivo.
Ohlweiller era natural de Porto Alegre e oriundo de família de classe média. Formado
em química industrial, exercia profissão de professor na Faculdade de Filosofia do Estado do
Rio Grande do Sul, atuando também como escritor e jornalista.
140
No artigo mencionado,
Ohlweiller opinava que se precisava ter cautela:
No ambiente de apreensões que estamos assistindo não nenhuma segurança de
que possam processar-se eleições verdadeiramente livres. É preciso, pois, organizar
o povo. Interessar os setores sociais na democratização. Unificá-los para que, em
ação conjunta, pugnem por uma solução justa e pacífica à crise política, exigindo a
imediata formação de um governo de coalizão para presidir, mais tarde, num clima
de segurança, a realização de eleições livres, de que possam, então, sair os
legítimos representantes do povo e uma Constituinte capaz de conduzir o país ao
regime pleno da legalidade.
141
Otto não respirava aliviado, acreditava na necessidade de se formar um governo de
coalizão” para presidir as eleições. Para ele, “organizar o povo” no sentido de garantir
“eleições verdadeiramente livres” tinha um conteúdo impregnado de experiências passadas, e,
nesse sentido, é possível perceber o quanto a impressão que tinha do presente estava repleta
de julgamentos sobre o passado e de expectativas de um futuro democrático específico. Em
outras passagens do mesmo artigo, explicou a razão pela qual fazia-se necessária a
organização do povo, lembrando o que haviam sido os pleitos durante a Primeira República:
Organizar o povo, eis o fundamental da luta política neste momento. Não é, por
certo, tarefa fácil num país de população rarefeita, de comunicações difíceis, de
baixo nível cultural e de tradições caudilhescas. Tudo isso tem de ser transposto. E
não de ser através de campanhas do velho estilo eleitoral e personalistas, pois
que o povo está descrente disso.
142
O Brasil da Primeira República vivia sob a égide de um liberalismo essencialmente
conservador, cujo regime democrático calcado na Constituição de 1891 deixava de lado
qualquer ação que visasse a construção de um processo de participação dos cidadãos no
exercício do poder.
143
O país era permeado por tradições autoritárias, governado por chefes
regionais, os coronéis latifundiários que manipulavam a política e a justiça com o uso da
139
Idem, p. 4-5.
140
MARÇAL, João Batista (1986). Op. Cit., p. 67.
141
O Movimento Democrático Progressista em Face do Momento Político. Libertação, 14.04.1945, p. 19.
142
Idem, p. 18.
143
RESENDE, Maria Efigênia Lage de. “O processo político na Primeira República e o liberalismo oligárquico.”
In: DELGADO, Lucilia de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge. (Org.) O Brasil Republicano. O tempo do
liberalismo excludente da Proclamação da República à Revolução de 1930. Livro 1. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003. p. 102.
69
força militar, caso considerassem necessário. Esses chefes regionais, nas três primeiras
décadas do século XX no Brasil, restringiam certas liberdades que, com a abertura pós-Estado
Novo e na opinião dos comunistas, tornavam-se imprescindíveis em uma “sã” democracia,
como a liberdade de associação, de reunião, de manifestação de pensamento, freqüentemente,
consideradas e tratadas como caso de polícia na República dos coronéis.
Quando Ohlweiller mencionou as “tradições caudilhescas”, referiu-se a uma época em
que a democracia no Brasil era feita com base em relações clientelísticas, ligações essas
descaradamente desiguais. Um dos recursos que auxiliava na manutenção de um tal regime
era, justamente, a atuação política pautada pelo interesse imediato de agradar a população,
fazendo propostas que não seriam, ou não poderiam ser, colocadas em prática, com o intuito
de alcançar ou manter-se no poder – demagogia.
O autoritarismo representava o vínculo com um passado a ser extirpado, que não
combinava com o regime democrático que estava apontando no horizonte. A República dos
oligarcas não se tratava de um pretérito resgatado de forma intacta em 1945, mas impregnado
pelas experiências de 1935, do Estado Novo, do fascismo e da Segunda Guerra. Os fatos
relatados por Otto Ohlweiller inseriam-se em uma série de eventos que haviam acontecido ao
longo da sua vida, e a importância que tomavam dependia dos significados que adquiriram em
relação a esses outros eventos vividos pelo militante. As situações e os acontecimentos
experenciados, no momento em que foram recordados pelo comunista e submetidos a
reflexões, geraram um tipo de saber sobre o que não deveria ser a democracia ou o que não
deveria nela ocorrer.
A presença da questão da organização e unificação do povo no artigo de Otto
demonstra que ele estava de acordo com a tática política do PCB no momento. Alguns autores
explicaram a mudança ocorrida no seio do Partido ainda no final dos anos 1930: da defesa da
insurreição armada em 1935, passou-se a exaltar a União Nacional, quer dizer, a junção do
proletariado, dos camponeses e da burguesia nacional em prol da democracia e do progresso,
contra o fascismo, o imperialismo e a guerra.
144
A defesa da democracia, ao longo dessa
virada tática, teve matizes diferenciados entre aqueles que militavam pelo comunismo no
Brasil, percebidos na cisão ocorrida no interior do Partido em 1937. Nem todos concordavam
com a União Nacional, inclusive com o governo, como estratégia de luta. Também não era
144
Ver: BATTIBUGLI, Thaís. A Solidariedade Antifascista: brasileiros na guerra civil espanhola (1936-1939).
Campinas, SP: Autores Associados, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004; KAREPOVS,
Dainis. Luta Subterrânea. O PCB em 1937-1938. São Paulo: Hucitec, Unesp, 2003; PRESTES, Anita L. Da
insurreição Armada (1935) à “União Nacional” (1938-1945). A Virada Tática na Política do PCB. São Paulo:
Paz e Terra, 2001.
70
unânime a concordância em torno dos novos papéis dados à burguesia e ao proletariado na
revolução brasileira. Os representantes do Secretariado Nacional no Rio de Janeiro –
entraram em oposição direta com os comunistas do Comitê Regional de São Paulo,
considerando a burguesia como uma das forças motrizes da revolução no Brasil, o que chocou
muitos militantes.
145
De acordo com os estudos de Thaís Battibugli, por exemplo, é possível
constatar que tais posicionamentos políticos distintos, esboçados em inúmeras disputas
internas no PCB, acabaram resultando na vitória da posição dos dirigentes cariocas. O
Partido, por pregar a disciplina, a abnegação e o respeito às decisões da cúpula partidária, de
modo a criar e manter uma identidade única na militância, acabou certamente de forma
contrariada em alguns casos – conseguindo coesão em torno dessa decisão.
146
As fontes que sobreviveram e que nos auxiliam a chegar na militância comunista de
Porto Alegre no primeiro semestre de 1945, mostram que os membros do PCB se
manifestaram, de modo geral, favoráveis à União Nacional. Otto Ohlweiller mencionou, no
artigo publicado na revista Libertação, a importância de arregimentar o povo para garantir o
processo de democratização. A quem o professor estaria se referindo? Quais seriam os
agentes que, na opinião desse comunista, teriam papel tão importante no trabalho de
constituição de um regime democrático no Brasil?
A historiadora da literatura Geneviève Bollème bem lembrou a frase de La Bruyère:
“Quem diz povo diz mais de uma coisa [...]”.
147
De acordo com Bollème, a definição de
“povo” é relativa e está ligada ao que se poderia chamar de “dinâmica da reunião”. A
interpretação de uma dada junção de pessoas depende do olhar que é lançado sobre ela e do
corte que esse olhar opera.
148
Nesse caso, cada vez que se descreve ou se define o povo, “ele é
instituído como povo particular em detrimento de outras reuniões ou de uma reunião que
ocorre no mesmo tempo”.
149
O olhar que Otto, intelectual comunista, lançava sobre a realidade brasileira estava
pautada pelos princípios do marxismo-leninismo. Ao descrever a situação econômica do país
no mesmo artigo, ele nos deixa sugerido – embora de modo impreciso – o corte que realizava.
Dizia ele:
145
KAREPOVS, Dainis. Op. Cit., p. 162.
146
BATTIBUGLI, Thaís. Op. Cit., p. 4. A União Nacional continuou a ser defendida na conjuntura 1945-1947.
Contudo, as discordâncias ocorridas em 1937-1938 no seio do Partido Comunista do Brasil tiveram ressonâncias
no contexto pós-guerra, como o caso de Caio Prado Jr., mencionado, e de alguns militantes de Porto Alegre,
conforme veremos adiante.
147
BOLLÈME, Geneviève. O povo por escrito. São Paulo: Martins Fontes, 1988, p. 23.
148
Id. Ibidem, p. 20.
149
Id. Ibidem, p. 21.
71
O povo tem fome. Está doente. Não tem onde morar decentemente. Os homens
morrem aos 30 anos. Os industriais não têm segurança da continuidade de suas
atividades. Os fazendeiros temem dias de crise. Os trabalhadores desejam uma
melhoria de suas condições de vida. E assim todos os setores m os seus
problemas.
150
A primeira parte do excerto nos insinua que o professor e químico industrial recortava
a reunião de pessoas famintas, doentes e desabrigadas entre aqueles que configurariam o
povo, pois, em seguida, colocou as dificuldades dos industriais, os fazendeiros e os
trabalhadores separadamente. No entanto, no final, concluiu que “todos os setores” tinham
seus problemas. Trata-se de tarefa complicada chegar a termo de como esse militante operava,
quais reuniões ele considerava como constitutivas do povo. Jacques Le Goff, historiador
francês dedicado ao estudo da Idade Média, comentou sobre a fluidez do termo “popular” (e
daqueles a ele relacionados), afirmando que foi feito pelas camadas dominantes do passado
justamente para ser fluído, para que pudesse servir como um instrumento.
151
Do ponto de vista do professor comunista, a democracia seria a solução para o
momento de crise vivida no Brasil em 1945. Era imprescindível congregar o povo, “mobilizá-
lo na luta pela democracia e pelo progresso”, a fim de encontrar uma saída para os problemas
dos diferentes setores sociais. Apenas uma “democracia verdadeira e popular” geraria
condições para a expansão das forças produtivas e para que o povo pudesse sair do estado de
miséria e atraso em que se encontrava.
152
Se a agremiação do povo fazia-se necessária para o
processo de democratização, esta, por sua vez, também se mostrava indispensável para a
melhoria das suas condições de vida. Ao associar democracia e expansão de forças
produtivas, Ohlweiller atribuiu um papel à primeira na evolução do país rumo ao socialismo.
Cinco dias depois da publicação do primeiro número da revista do Comitê Municipal
de Porto Alegre, o Correio do Povo estampou a notícia da tão esperada decretação da anistia.
Fotos dos comunistas Agildo Barata Ribeiro e Luiz Carlos Prestes, e do integralista Belmiro
Valverde, ilustraram a reportagem que divulgava a libertação dos presos políticos. O delírio
em torno da saída de Prestes da Casa de Correção nos salta aos olhos. Uma verdadeira
multidão, entre jornalistas e população em geral, aguardava o momento em que o “Cavaleiro
da Esperança” retornaria ao convício social. Segundo o jornal, todo o povo queria detalhes da
libertação de Prestes e seus companheiros. O diário relatou minuciosamente seus últimos
momentos na prisão, com base em publicações de periódicos cariocas, como o A Noite. A
hora em que o líder comunista almoçou, o cardápio, a forma como arrumou sua pequena
150
O Movimento Democrático Progressista em Face do Momento Político. Libertação, 14.04.1945, p. 18.
151
LE GOFF, Jacques. “Prefácio”. In: BOLLÈME, Geneviève. Op. Cit., p. XI.
152
O Movimento Democrático Progressista em Face do Momento Político. Libertação, 14.04.1945, p. 18.
72
valise, a convivência com os funcionários da penitenciária e até a aproximação de um gato,
como a se despedir do recém anistiado, foram acontecimentos narrados em pormenor no
intuito de aplacar a curiosidade dos leitores.
153
Esse momento foi comentado por Prestes no dia 23 de maio, data de sua primeira
grande aparição pública, o comício do estádio São Januário, no Rio de Janeiro. Para o líder
dos comunistas, a anistia havia sido “a primeira grande vitória da democracia no Brasil”, uma
“conquista do povo”.
154
João Batista Aveline, jornalista recentemente filiado ao PCB em
Porto Alegre, esteve presente. Em entrevista concedida em 1999, lembrou que o referido
estádio era o maior da época, e que se transformava em palanque de Getúlio a cada Primeiro
de Maio. No entanto, naquele dia, foi o palco do Cavaleiro da Esperança, cujo discurso estava
sendo alvo de grande expectativa:
Quando o Prestes saiu da cadeia, os caras, os ‘novos cristãos’ como eu, que tinham
dúvidas a respeito da questão nacional, estávamos esperando, todos nós
esperávamos uma definição do Prestes, esperávamos quem era aquele cara, que
tinha sido da Coluna Prestes, hoje saía como comunista. Era um patriota, como é
que um patriota vai se subjugar à ingerência de uma potência estrangeira.
155
Passados 54 anos, o jornalista recordou o quanto se esperava por uma orientação de
Prestes nos assuntos ligados à relação entre o Brasil e outros países, em especial os Estados
Unidos da América (EUA), potência capitalista incontestável naqueles momentos derradeiros
da Segunda Guerra. E Prestes fez um longo discurso, versando sobre a anistia e a União
Nacional, lembrando os acontecimentos da década de 1930 e apontando a direção para onde
os comunistas deveriam se encaminhar.
O historiador João Quartim de Moraes afirmou que tanto o discurso de Prestes no
estádio São Januário em 23 de maio de 1945, como sua exposição em Recife no dia 26 de
novembro do mesmo ano, são referências obrigatórias de todo e qualquer exame da política
comunista na conjuntura 1945-1947. De acordo com o autor, tais pronunciamentos são
expressões paradigmáticas do programa de União Nacional, quer dizer, da aliança com o
governo Vargas em nome da unidade de forças contra o fascismo.
156
Moraes salienta que foi em nome da democracia que o pronunciamento de abriu e se
encerrou. Naquele contexto, o valor semântico de tal palavra se opunha a “fascismo”, uma
153
A anistia abrange todos os culpados de crimes políticos. Correio do Povo, 19.04.1945, p. 8.
154
PRESTES, Luiz Carlos. “União Nacional para a democracia e o progresso.” (23.05.1945) In: CARONE,
Edgar. O P.C.B. (1943-1964). Vol. 2. São Paulo: Difel, 1982, p. 26.
155
Entrevista com João Batista Aveline, realizada em 18 de fevereiro de 1999 por Maria Luiza Martini e Eliane
R. Garcia, com a presença de Gustavo, na sede do Diretório do PPS em Porto Alegre. Transcrição Carla
Simone Rodeghero. 2 fitas.
156
MORAES, João Quartim de. “Concepções comunistas do Brasil democrático: esperanças e crispações (1944-
1954)”. In: __________. (Org.) História do Marxismo no Brasil. Vol. III: Teorias, Interpretações. Campinas: Ed.
da Unicamp, 1998, p. 162.
73
acepção que correspondia plenamente ao momento histórico internacional.
157
Sua defesa e
caracterização constituíram-se na orientação pela qual Aveline dizia que todos os seus
companheiros aguardavam. Logo, tanto esse discurso de Prestes, como outras de suas
manifestações ao longo da legalidade do PCB, foram levados em consideração na pesquisa
aqui relatada, pois que era dele que os comunistas em geral esperavam a palavra de ordem.
A posição do antigo líder da Coluna Invicta foi favorável à União Nacional, inclusive
com Getúlio, colocando as questões de ordem política acima dos ódios individuais, como um
bom comunista. Afirmou:
A oposição exige que o sr. Getúlio Vargas abandone o cargo, para que seja mantida
a paz interna. Mas será esse realmente o caminho democrático da ordem, da paz e
da união nacional? Não terá, ao contrário, razão o sr. Getúlio Vargas ao afirmar que
se deve é manter a ordem para levar o país a eleições livres e honestas e entregar o
poder ao eleito da Nação? Sua saída do poder neste instante seria uma deserção e
uma traição que não contribuiria de forma alguma para a União Nacional; pelo
contrário, despertaria novas esperanças entre os fascistas e reacionários e
aumentaria as dificuldades, tornando mais ameaçador ainda o perigo de golpes de
estado e de guerra civil.
158
Prestes sabia que os liberais temiam a permanência de Vargas no poder, uma vez que
recebia o apoio dos sindicatos e das massas. Para eles, era urgente a convocação de eleições
presidenciais, a fim de remover do executivo nacional aquele que não mais lhes inspirava
confiança. O líder comunista apoiava-se em atitudes recentes de Getúlio para defendê-lo,
como o reatamento das relações diplomáticas com a URSS, a anistia e a previsão de eleições
ainda para aquele ano. Enquanto algumas dessas ações possuíam caráter democrático na
opinião de Prestes, para a ala liberal constituíam-se episódios preocupantes.
Definida como a união de todos os homens “honestos”, “democratas” e “progressistas
sinceros”, independente de posição social e ponto de vista ideológico, filosófico e credo
religioso, a “verdadeira união nacional” da qual falava Prestes, constituía-se na saída para a
“grande crise”, quer dizer, para os problemas econômicos e sociais brasileiros. Nesse sentido,
o pronunciamento do Secretário Geral do PCB ia ao encontro de opiniões de comunistas que
militavam na capital do Rio Grande do Sul, como as do professor Otto Alcides Ohlweiller.
Suas palavras fundamentavam a nova visão de revolução brasileira, a que não mais condizia
com o assalto frontal ao poder de estado, mas a das reformas sociais orientadas pelo interesse
convergente do povo e da nação.
159
Os homens “honestos”, “democratas” e “progressistas
sinceros” seriam aqueles que colocassem o que convinha ao povo e à nação em primeiro
157
Id. Ibidem, p. 162-163.
158
PRESTES, Luiz Carlos. “União Nacional para a democracia e o progresso.” (23.05.1945) In: CARONE,
Edgar. Op. Cit., p. 36.
159
MORAES, João Quartim de. Op. Cit., p. 165.
74
lugar. Ademais, a unidade também deveria facilitar a chegada à Assembléia Constituinte,
através de eleições “livres e honestas”.
160
A legitimação de um discurso em defesa da democracia e da ordem veio por meio do
apelo ao passado. Os comunistas não queriam retornar a ele, pelo contrário, queriam enterrá-
lo. O seu presente era orientado para o futuro (para o socialismo como fim último da
humanidade). No entanto, o pretérito desprezado fazia parte do presente. Ao selecionar certos
aspectos, Prestes tentou mostrar que os comunistas defendiam a democracia desde a década
de 1930, revelando-nos que essa palavra possuía um conteúdo de experiência para ele, isto
é, que ele conseguia referir-se a ela com base em acontecimentos passados. Diria até que seria
inevitável não fazer um tal uso do passado, visto que, de acordo com Henri Bergson, a
percepção presente está sempre impregnada de lembranças.
161
Prestes resgatou os eventos ocorridos no ano de 1935 quase dez anos depois, de
maneira a provar que a legalidade do Partido Comunista era legítima e sua ação política tinha
(ou deveria ter) lugar naquele novo contexto da história do Brasil. No comício no estádio São
Januário, o Cavaleiro da Esperança explicou a razão pela qual se achava no direito de elogiar
certas medidas tomadas por Vargas, que, na sua opinião, estava sabendo permanecer ao lado
do povo. Como vimos, Prestes começava a definir sua posição no jogo político brasileiro,
assim como nas disputas que ocorriam no seio do Partido, posicionando-se favorável ao
ditador e seu governo. Ele mencionou o papel que o PCB havia desempenhado em 1935,
tentando provar que os esforços realizados o autorizavam a pronunciar-se a favor de Getúlio.
Relembrou os acontecimentos da metade da década de 1930, dando a entender que,
finalmente, faziam sentido:
O Partido Comunista do Brasil é o meu partido. Foi ele o organizador e dirigente do
glorioso movimento da Aliança Nacional Libertadora frente única dos patriotas e
democratas que em todo o Brasil se uniram para impedir a fascitização de nossa
terra. Na luta cruenta e desigual caímos lutando, mas, como já prevíamos e sempre
acontece quando se procede com sinceridade e honestidade, o que em 1935 parecia
ser uma derrota esmagadora foi de fato a vitória que agora festejamos.
162
No discurso, o Secretário Geral do PCB demonstrou que, em 1935, os comunistas
combatiam o fascismo e lutavam pela democracia. No momento em que o regime
democrático começava a se configurar, ele queria que aqueles que lutavam pelo comunismo
aparecessem como os que, embora mal compreendidos na época, sabiam que a melhor
160
PRESTES, Luiz Carlos. “União Nacional para a democracia e o progresso.” (23.05.1945) In: CARONE,
Edgar. Op. Cit., p. 31.
161
BERGSON, Henri. Matéria e Memória. Ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. São Paulo: Martins
Fontes, 1999, p. 30.
162
PRESTES, Luiz Carlos. “União nacional para a democracia e o progresso” (23.05.45). In: CARONE, Edgar.
Op. Cit., p. 27.
75
solução para o país era a democracia e a distância em relação ao fascismo, apesar de omitir
que o PC não havia estado ligado à Aliança Nacional Libertadora (ANL) desde sua criação.
Segundo Thaís Battibugli, “o PCB manteve uma posição de pouco entusiasmo pela
ANL nos seus primeiros meses de atuação, apesar de ter contribuído para a sua fundação
[...].”
163
Marly Vianna também pode afirmar o pouco interesse do Partido Comunista pela
Aliança. Em entrevista realizada com uma das personalidades de maior destaque na ANL,
Francisco Mangabeira, a historiadora constatou que “o papel do PCB na fundação da
organização não foi sequer de importância.
164
De acordo com ela, foram as lideranças
tenentistas que levaram adiante a organização da ANL
165
, e somente no início de julho de 35,
quatro meses após a sua fundação, e depois que Prestes lançou a palavra de ordem por um
Governo Popular Nacional Revolucionário (GPNR), que o PC passou a concentrar sua
atividade na Aliança. Para aquela etapa da luta dos comunistas, a ANL tornava-se um
“verdadeiro instrumento da tomada do poder”.
166
Battibugli ainda menciona que “o partido
queria, sobretudo, uma frente popular revolucionária, e não apenas a defesa da democracia
liberal, como muitos aliancistas propunham.”
167
Tratava-se de uma forma de lembrar a conduta dos anos 1930 completamente seletiva,
recordando o que convinha e esquecendo o que não estava de acordo com a postura de defesa
da ordem e de tranqüilidade que o PCB preconizava em 1945. Não seria conveniente lembrar
que o Partido havia apostado na influência da Aliança para iniciar a revolução no Brasil, mas,
apenas, o lado de defesa da democracia e luta contra o fascismo. Prestes estava preocupado
com o momento de transição que o país atravessava. O mundo, assim como o Brasil, passava
por uma revisão de conceitos, etapa extremamente frágil e que exigia firmeza. Nesse sentido,
escolhia com cuidado os elementos que fariam parte do passado comunista, reapresentando-o
de acordo com as exigências do presente.
Mas não somente as demandas de 1945 se lhes impunham. As do futuro também. De
acordo com o chefe comunista, fazia-se necessário analisar profundamente a situação mundial
e nacional, “a fim de decidir com segurança e audácia” o caminho pelo qual o Partido seguiria
no objetivo de chegar ao socialismo. Era com esse propósito que Prestes aconselhava a olhar
para o presente. Isso não significava que a defesa da democracia era uma falácia e que os
comunistas almejavam, na verdade, chegar ao socialismo. A democracia defendida por
163
BATTIBUGLI, Thaís. Op. cit., p. 18.
164
VIANNA, Marly. “A Aliança Nacional Libertadora”. In: MAZZEO, Antônio Carlos; LAGOA, Maria Izabel.
(Orgs.) Corações Vermelhos.São Paulo: Cortez, 2003, p. 34.
165
VIANNA, Marly. Loc. cit.
166
Id. Ibidem, p. 46.
167
BATTIBUGLI, Thaís. Op. cit., p. 21.
76
Prestes não estava desvinculada daquilo que era colocado como meta para os comunistas.
Pelo contrário, o “mundo do porvir para todos os povos”, segundo ele, era a União Soviética,
“coluna máxima da democracia”.
168
Tal como vimos no primeiro capítulo quando
abordamos a estrutura orgânica e o estabelecimento de normas dentro do PCB o regime
soviético mostrava-se o modelo de democracia no qual os revolucionários se inspiravam.
2.2 – Na luta pela Assembléia Constituinte: os comunistas rumo ao horizonte
No segundo semestre de 1945, a pauta dos comunistas foi preenchida pelos assuntos
relacionados às eleições e à instalação da Assembléia Constituinte. Ritmados pela velocidade
das atividades partidárias, em meio aos ataques anticomunistas e diante da possibilidade de
deposição do presidente Vargas, os militantes do PCB expuseram suas opiniões, sobretudo, na
revista Libertação, fonte privilegiada através da qual podemos captar algumas de suas
representações acerca da democracia naqueles meses.
O interior da militância entrava num ritmo acelerado. Avisos e notícias sobre a
instalação de células, reuniões e conferências eram divulgadas no jornal Correio do Povo,
visitado por alguns comunistas na noite do dia 27 de junho de 1945. Abílio Fernandes,
Orestes Timbaúva Rodrigues, Isaac Acxelrud (pseudônimo Josino Campos), José Freire e
Otto Ohlweiller, todos membros do Comitê Estadual do PCB, relataram suas intenções em
ampliar a aprofundar o contato com as massas, além de assumirem a adesão à União Nacional
tal como definida por Prestes. Eles colocavam-se a favor da “aliança entre o proletariado, a
burguesia progressista e os camponeses, única força capaz de conduzir a nossa grande pátria à
sua emancipação política e econômica, sem perturbações da ordem, sem choques e sem
atritos.”
169
Três dias depois dessa visita, os revolucionários instalaram solenemente o Comitê
Estadual do PC no Rio Grande do Sul no Cinema Imperial, e, num longo discurso,
reproduzido em matéria paga no Correio do Povo, o Secretário Geral da unidade recém
instalada deu continuidade à política de União Nacional e à defesa de um processo de
democratização dentro da ordem e da tranqüilidade.
168
PRESTES, Luiz Carlos. “União nacional para a democracia e o progresso” (23.05.45). In: CARONE, Edgar.
Op. Cit., p. 41.
169
Organiza-se o Partido Comunista no Rio Grande do Sul. Correio do Povo, 28.06.1945, p. 8.
77
O pronunciamento de Abílio Fernandes foi marcado por viva emoção. Nascido na
cidade de Pelotas no ano de 1901, tornara-se metalúrgico aos 20 anos, iniciando-se em
atividade sindical intensa. Na metade da década de 1930, ocupou o cargo de tesoureiro da
ANL em sua cidade natal, e, no início da década de 1940, foi processado pelo Tribunal de
Segurança Nacional e condenado a dois anos de prisão. De volta à legalidade, em 1945,
Abílio substituiu Otto Ohlweiller na secretaria geral do Comitê Estadual, além de ser suplente
no Comitê Nacional, com sede no Rio de Janeiro.
Com o Cinema Imperial completamente lotado, conforme relatado no primeiro
capítulo, o metalúrgico falou em nome dos comunistas de todo o Rio Grande, manifestando a
adesão ao discurso de Prestes tal como havia deixado claro, juntamente com os
companheiros, em visita à redação ao jornal Correio do Povo. Afirmou que os comunistas,
assim como o “guia genial” do Partido Comunista do Brasil, não guardavam ódios, nem
ressentimentos, deixando para trás a página “sangrenta” e “dolorosa” em que o imperialismo
havia tentado revolver suas contradições às custas dos países fracos e desarmados.
170
Em face
daquele momento, Abílio defendeu a unificação do povo “esteio da ordem e da
tranqüilidade”, bem como “instrumento de democratização e progresso” comprometendo-se
a não medir esforços nesse sentido. Para ele, o povo organizado formando seus próprios
líderes, compreendendo por si seus problemas e conquistando as reivindicações através de sua
capacidade de luta seria a verdadeira base social da democracia, tal como entendiam e
desejavam os comunistas: “uma democracia de baixo para cima, do seio da massa até os
postos de governo”.
171
Na seqüência de seu discurso, ele afirmou que “enquanto a democracia
não for a própria atividade das massas populares, ela não passará de uma palavra na boca dos
caçadores de posições e postos representativos”.
172
Abílio Fernandes defendia um governo
comandado pelo povo, e, mais uma vez, assim como no artigo de Otto Ohlweiller analisado
anteriormente, não nos ficam claros os segmentos sociais que comporiam essa parcela da
sociedade brasileira. Podemos deduzir que, nesta etapa de seu discurso, em que usava
expressões como “de baixo para cima”, estivesse se referindo aos trabalhadores, os quais
comporiam a base da organização social na interpretação marxista.
Seu próximo passo foi esclarecer a relação entre o operariado e a democracia,
momento no qual é possível perceber uma certa motivação de classe em suas palavras. Para o
metalúrgico de Pelotas, não existiria democracia “lá onde a classe operária não tem liberdade
170
A pedido. O Lançamento Oficial do Partido Comunista do Brasil, no R. G. do Sul. Correio do Povo,
01.08.1945, p. 6.
171
Idem.
172
Idem.
78
para organizar-se”. A tarefa dos comunistas, nesse caso, era concentrar esforços no
fortalecimento dos sindicatos, na luta pela conquista do direito de greve e no aperfeiçoamento
e cumprimento das leis sociais.
173
Abílio não descartava a luta dos trabalhadores do processo
de democratização.
As questões relacionadas à classe operária, para alguns militantes, deveriam ter
prioridade na luta do Partido, e as greves são um exemplo que pode nos auxiliar a entender
esse aspecto. No ano de 1945, 10 movimentos grevistas foram realizados na capital gaúcha,
todos no mês de abril.
174
Lamentavelmente, as fontes de que dispusemos não nos
possibilitaram ver a posição dos comunistas a esse respeito naquele momento. Contudo, o
depoimento de Eloy Martins prestado 44 anos depois permite compreendermos que a
aceitação da política de União Nacional, quando estava em questão a luta dos trabalhadores,
ocorria de forma contrariada:
Achava-me empolgado, não ouvia ninguém, os acontecimentos políticos me
entusiasmavam em demasia, apesar de uma luta íntima existente dentro de mim.
Meu espírito de classe entrava em choque com a orientação partidária, a qual
aceitava de forma forçada. Não podia entrar na minha cabeça o apoio irrestrito a
Vargas e posteriormente a política de apertar o cinto para evitar greves.
175
Na seqüência do depoimento, o metalúrgico catarinense lembrou que várias foram as
ocasiões em que as greves estiveram em pauta e suas concepções acabaram chocando-se com
as diretrizes partidárias. Nesse caso, existia uma tensão entre o que o militante considerava
adequado ou justo para a classe que representava e o que o PCB decidia e impunha como a
linha política a ser seguida por seus membros. O conflito de Eloy com a tática da União
Nacional e o apoio a Vargas nos mostra o quanto a confluência de vontades no que se referia
às questões imediatas era frágil dentro da agremiação. Ao que tudo indica, era um desejo
voltado para um futuro mais longínquo o que gerava a coesão e a disciplina. Contrariado e
com certa resistência, Eloy acabou cedendo diante da possibilidade de, na legalidade, o
proletariado, com o Partido Comunista à frente, alcançar o poder, apoiado na democracia e na
Constituição.
Outro assunto em pauta do pronunciamento de Abílio Fernandes durante a instalação
do Comitê Estadual foram as eleições, que ocorreriam no mês de dezembro. Nessa ocasião,
seriam escolhidos deputados federais, senadores e o presidente da república brasileira. O
comunista pelotense defendeu a ordem e a tranqüilidade, a fim de que se processassem
173
Idem.
174
PETERSEN, Aura Terezinha T. et. alli. Movimentos grevistas no Rio Grande do Sul de 1945 a 1979. Porto
Alegre: PUCRS, 1981, vol. 1 (mimeo).
175
MARTIS, Eloy. Op. Cit., p. 76.
79
eleições “livres e honestas”. A expectativa dele para o pleito, a acontecer num futuro muito
próximo, era a de que os “elementos mais reacionários” do governo fossem substituídos por
cidadãos de “real prestígio popular”. Problemas, como a inflação, mereciam cuidados de um
governo de ampla base social do ponto de vista do dirigente comunista gaúcho.
176
O que o
preocupava era a possibilidade dos “angustiantes problemas” econômicos afligirem de forma
crescente as “camadas mais pobres da população”, gerando condições para agitações e
descontentamentos, situação da qual poderiam se aproveitar “os aventureiros golpistas”.
177
Na mesma ocasião, o barbeiro Geminiano Candiota Xavier também expressou o que
esperava das eleições. Nascido em 1888, Geminiano era conterrâneo de Abílio Fernandes.
Havia aprendido a profissão aos treze anos de idade, pouco antes de vir para Porto Alegre em
1907, momento a partir do qual se dedicou aos assuntos da sua categoria profissional
principalmente através dos sindicatos e ao teatro popular. Em 1945, o barbeiro pelotense
passou a presidir a célula “Tenente Cleto Campelo”. Na noite da instalação do PCB no Rio
Grande do Sul, Xavier manifestou-se descontente com o fato de algumas camadas da
população não participarem do pleito.
Partes do discurso alvo da censura do camarada Josino Campos (Isaac Acxelrud),
durante reunião da célula Mont’Serrat feita dias antes da solenidade foram reproduzidas nas
memórias do barbeiro.
178
No que dizia respeito às eleições, Geminiano havia manifestado o
desejo de que elas fossem “livres e honestas”, fruto de “ampla politização do povo no sentido
da união nacional contra os demagogos e golpistas.”
179
Esse pelotense também aproveitou a
ocasião para protestar contra o fato de algumas parcelas da população não terem direito ao
voto, como os analfabetos. Na sua opinião, enquanto não fosse concedido tal direito a esse
grupo, não se teria realizado uma “verdadeira democracia”, pois esta seria a de apenas 30% do
conjunto dos cidadãos.
180
A referência a eleições “livres e honestas”, presentes nos discursos dos dois
pelotenses, marcava a presença do passado de pleitos controlados e fraudulentos na história
do Brasil repudiados pelos comunistas na forma como olhavam para o presente e para o
futuro. Entretanto, tal alusão não era exclusiva dos militantes. Ela se fazia presente em
pronunciamentos de outros indivíduos, não necessariamente membros do PCB e/ou ligados à
176
A pedido. O Lançamento Oficial do Partido Comunista do Brasil, no R. G. do Sul. Correio do Povo,
01.08.1945, p. 6.
177
Idem.
178
O registro da censura encontra-se no relatório da reunião, datado de 04 de agosto de 1945, e de autoria do
Secretário Geral da célula Mont’Serrat, Geminiano Xavier.
179
XAVIER, Geminiano Candiota. Memórias de um velho militante. (Documentos para a História Operária do
Rio G. do Sul). Porto Alegre: 1985.
180
Idem.
80
capital gaúcha.
181
Abílio e Geminiano esperavam uma maior participação popular no dia 02
de dezembro no sentido de que cidadãos oriundos das camadas mais desfavorecidas da
população tivessem como expressar suas vontades e que seus representantes
desempenhassem papel mais decisivo no futuro governo. Ademais, a preocupação com
“golpistas” mostrava-se latente. O que isso significava?
Os comunistas tinham seus motivos para temerem golpes, um perigo que pairava no ar
e que se concretizaria em outubro daquele ano. Enquanto a esquerda liberal e a cúpula do
Exército se afastavam de Getúlio na medida em que este não representava mais a garantia
política da ordem estabelecida e dos interesses adquiridos para os revolucionários, Vargas
vinha demonstrando, desde a declaração de guerra contra a Alemanha, sinais de que estava se
afastando do modelo ditatorial de governar. A possibilidade de deposição do Presidente
indicava aos militantes do PC que as forças beneficiadas com o Estado Novo estavam se
rearticulando para retirar do poder aquele que não mais lhes era útil.
Nesse sentido, os comunistas brasileiros deram crédito ao movimento desencadeado
pelos trabalhadores receosos de perderem os direitos trabalhistas conquistados ao longo do
Estado Novo: o queremismo. Segundo Jorge Ferreira, inicialmente, os trabalhadores
projetaram na figura de Getúlio Vargas a garantia exclusiva de preservar as leis do trabalho.
Num segundo momento, o queremismo evoluiu no sentido de reivindicar uma Assembléia
Constituinte.
182
Eloy Martins lembrou que o PCB acreditava que a saída de Vargas poderia
proporcionar um retrocesso, o que não seria correto, “porque a conjuntura política não era
favorável ao fascismo e sim à democracia”. O Partido, assim, deixou-se envolver pelos
queremistas, apoiando a palavra de ordem “Constituinte com Getúlio”.
183
Os militantes do
comunismo aderiam à campanha por concordarem que a deposição de Vargas não contribuiria
para o processo de democratização brasileiro. Pelo contrário, acreditavam que o primeiro
passo para a implantação do regime democrático deveria ser a instalação da Assembléia
Nacional, que elaboraria a nova Constituição, com base na qual se dariam as eleições para os
executivos – nacional e estaduais – e suas respectivas câmaras legislativas. Como bem avaliou
Dulce Pandolfi, tratava-se de uma proposta que reservaria ainda muito tempo para Vargas na
181
Por exemplo, o general Mário Ramos, da cidade de Natal, recebeu uma homenagem no dia 04 de setembro,
na qual manifestou esperar que no dia 02 de dezembro os brasileiros fossem escolher seu mandatário através de
eleições “livres e honestas”. Contudo, o que um militar e um comunista entendiam por tais termos era certamente
diferente. Diário de Notícias, 05.09.1945, p. 2.
182
FERREIRA, Jorge. “A democratização de 1945 e o movimento queremista”. In: DELGADO, Lucília de
Almeida Neves & FERREIRA, Jorge. O Brasil Republicano. O tempo da experiência democrática: da
democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 43.
183
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 82.
81
presidência, o que os oposicionistas, sobretudo aqueles articulados em torno da UDN, não
admitiam.
184
No dia 07 de agosto de 1945, Luiz Carlos Prestes apresentou um documento ao
Comitê Nacional, por ocasião da solenidade de sua instalação no Rio de Janeiro. O “Informe
Político da Comissão Executiva” analisava a situação política nacional e internacional, os
últimos acontecimentos e o papel desempenhado pelo Partido, e explicava a “crise econômica
estrutural” que o mundo estava vivendo. No momento em que avaliava as “vitórias
democráticas de 1945”, o Secretário Nacional do PCB colocava-se ao lado de Vargas,
afirmando que seu governo continuava cedendo no caminho da democracia, estabelecendo
relações com a Rússia, concedendo anistia aos presos políticos, convocando eleições,
sancionando a lei eleitoral que assegurava o sufrágio direto, secreto e obrigatório, além de
conceder os direitos de greve, manifestação de pensamento, reunião e associação.
185
Para
Prestes, era porque Getúlio cedia ao povo e à democracia que se haviam iniciado os insultos e
as calúnias, vindas daqueles que, antes, marchavam com ele para o fascismo.
186
Prestes acreditava que a posição assumida em 1945 era a mais adequada. Ao comentar
os acontecimentos de novembro de 1935 no “Informe” apresentado na instalação do Comitê
Nacional, não apenas presentificou um passado determinado, mas expôs um julgamento sobre
ele que vinha ao encontro daquele momento de defesa da ordem, da tranqüilidade, da
permanência de Vargas no poder e das eleições. O líder comunista afirmou:
dez anos apelava o nosso Partido para a revolução agrária antiimperialista, e
mostrava ao nosso povo não haver então outro caminho para enfrentar a demagogia
integralista e impedir a fascitização de nossa terra. Na luta pela democracia
chegamos a empunhar armas contra o governo e caímos lutando. Não foram
poucos, sem dúvida, tanto naquela época como nos anos que se seguiram a os
dias de hoje, os nossos erros.
187
A conclusão do “Cavaleiro da Esperança” provavelmente fruto de reflexões sobre o
movimento de 1935 foi a de que o luta armada contra o governo havia sido um erro. Dessa
forma, parecia convencido de que seria por meios pacíficos que se chegaria à democracia.
188
184
PANDOLFI, Dulce. Op. Cit., p. 140-141.
185
PRESTES, Luiz Carlos. Os comunistas na luta pela democracia. Rio de Janeiro: Edições Horizonte, 1945, p.
22. Partes do Informe podem ser encontradas em: CARONE, Edgar. Op. Cit., pp. 40-57.
186
Id. Ibidem, p. 23.
187
Id. Ibidem, p. 5.
188
Apesar de toda a construção elaborada posteriormente pelas diferentes vertentes anticomunistas no sentido de
desacreditar esse lado da militância comunista, o movimento de 1935, independente de seus métodos, lutava pela
democracia e contra o fascismo. Para maiores informações sobre o processo de construção de imagens negativas
em torno dos acontecimentos de 27 de Novembro, ver: MOTTA, R. P. S. Em Guarda Contra o Perigo
Vermelho. O anticomunismo no Brasil (1917-1964). Universidade de São Paulo, 2000. Tese de doutorado. Em
livro: MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o "Perigo Vermelho": o anticomunismo no Brasil (1917-
1964). São Paulo: Perspectiva, 2002.
82
Tal concepção havia sido expressada por Bangu, em 1937, quando do início da virada do
Partido para a tática da União Nacional, à qual Prestes aderira. Na época, segundo Karepovs,
o então membro do Secretariado Nacional do PCB afirmara que “a ANL deveria ter optado
por ampliar sua base, conquistando posições nos parlamentos, nos municípios, utilizando a
fundo ‘todas as possibilidades pacíficas e esgotar todos os meios legais’, antes de enveredar
pelo caminho da insurreição.”
189
De qualquer forma, ao afirmar que o esforço de dez anos
antes havia sido realizado em prol da democracia, Prestes contribuía para a construção de uma
imagem dos comunistas como democratas.
As publicações realizadas no periódico Correio do Povo e, principalmente, na revista
Libertação são as únicas fontes disponíveis (até o momento) para sabermos como essas
questões relacionadas ao apoio da permanência de Getúlio na presidência, às eleições, à
instalação da Assembléia Constituinte e à defesa da democratização por meios pacíficos
foram pensadas e circularam entre os militantes de Porto Alegre.
No final do mês de agosto de 1945, foi publicado um “a pedido” no Correio do Povo,
intitulado “Manifesto do Partido Comunista do Brasil”. Nele, os membros do PCB
continuaram defendendo a realização de eleições “livres e honestas”, além da convocação
imediata de uma Assembléia Constituinte, considerada o “único poder realmente soberano
capaz de assegurar a reconstitucionalização democrática do Brasil e facilitar uma solução
unitária e pacífica para os angustiantes problemas econômicos, políticos e sociais” que os
brasileiros atravessavam.
190
Nas semanas seguintes, vários destacados militantes manifestaram-se pela
Constituinte, sobretudo no semanário do Partido em Porto Alegre. Sabemos que, pelo menos
até 28 de novembro de 1945, os comunistas colocaram em circulação 38 edições da revista
Libertação. Destas, sobreviveram oito: a primeira, de 14 de abril, três números de setembro,
um de outubro e três de novembro. A publicação saía, geralmente, nos sábados, como é o caso
dos exemplares sobreviventes dos meses de setembro e outubro, nos quais a defesa da
Constituinte tomou proporções surpreendentes. O que nos intriga é que, ao defendê-la, os
comunistas que compunham o expediente do semanário não demonstravam um apoio tão
explícito ao governo, tal como se apresentava no discurso do líder do PCB. A Constituinte
mostrava-se extremamente importante para a democratização do país e foi a tônica ao longo
de todo o semestre. Mas o papel atribuído a Vargas nesse processo não foi enfatizado pelos
189
KAREPOVS, Dainis. Op. cit., p. 216.
190
A pedido – Manifesto do Partido Comunista do Brasil. Correio do Povo, 29.08.1945, p. 5.
83
revolucionários da capital gaúcha, aparecendo de forma mais clara apenas a partir da segunda
metade do mês de outubro.
O mês de setembro foi um dos mais movimentados daquele ano, e as circunstâncias
históricas generosas, no sentido de permitirem chegar até nós seus vestígios. As reuniões de
células e comitês e os comícios foram as atividades que tomaram maior tempo de nossos
protagonistas. No dia primeiro, eles colocaram em circulação a edição número 20 da revista
do Comitê Municipal de Porto Alegre, na qual contextualizaram a necessidade de uma
Assembléia Constituinte. Como a história, segundo eles, não propunha problemas que os
povos não fossem capazes de resolver, ela não poderia ser aceita quando apenas despontavam
as primeiras liberdades públicas e mal se divisava a polarização das forças, mas sim naquele
momento em que os campos estavam definidos e que seus respectivos interesses mostravam-
se claros.
A Constituinte não deveria ser imposta por alguma dessas correntes, mas uma
“conquista do povo”.
Os comunistas afirmavam que o povo havia manifestado interesse pelo
problema institucional e pelas casas legislativas; que ele reclamava a Constituinte, unido em
torno de sua vanguarda política (o PCB).
191
Dizer a palavra “povo” (ou “popular”), de acordo com Bellème, implica e institui um
lugar de enunciação.
192
Os revolucionários falavam da posição daqueles que guiariam o povo,
visto que compunham a frente que o orientaria, e, dessa forma, faziam referência a um povo
não-identificável e soberano que, ao mesmo tempo, tinha seu poder extraído. A afirmação de
que a Constituinte deveria ser uma sua conquista estava sendo feita por militantes instruídos,
jornalistas e escritores como Dyonélio Machado, Sibilis Viana, Décio Freitas, Pinheiro
Machado Neto, Raul Riff, P. F. Gastal e Renan de Azevedo, que formavam o expediente
daquela edição de Libertação. Dyonélio e Raul Riff haviam participado, em janeiro daquele
ano, do I Congresso da Associação Brasileira de Escritores (ABDE), no qual, segundo
Cavalcante, teriam traçado juntamente com intelectuais de outras regiões do país e não
necessariamente comunistas o perfil do povo brasileiro: “Privado da possibilidade de
‘construir uma visão mais clara dos problemas da nação’, o povo brasileiro, inculto e
ignorante, constituía-se assim num ‘empecilho ao progresso’, ao mesmo tempo que se tornava
‘vítima fácil dos mistificadores’.”
193
Na interpretação dos congressistas, a pobreza, tanto
material como espiritual, do povo era fruto da dominação, e a conquista da democracia estava
inseparável da educação, quer dizer, da ampliação do acesso ao conhecimento. Nesse caso, a
191
A Constituinte será uma conquista do povo. Libertação, 01.09.1945, p. 1.
192
BOLLÈME, Geneviève. Op. Cit., p. 30.
193
CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 106.
84
cultura era concebida como fruto de reflexões, que não se produziam no meio popular, mas
entre os intelectuais, os quais tinham o papel de conscientizar as massas no período
democrático que se iniciava, visto que detinham um saber que deveria ser difundido,
“popularizado através da educação”.
194
Daniel Aarão tocou em pontos importantes a esse
respeito durante o seminário realizado em 1986. Ele referiu-se a uma profunda desconfiança
da intelectualidade progressista de classe média em relação aos de baixo, uma postura que
era notória nos anos 1920 e mesmo na Coluna Prestes. A política da conjuntura 1945-1947,
nesse sentido, teria sido uma retomada da tradição tenentista, com preferência pelas tratativas
de cúpula e pelo diálogo com o governo, por exemplo. Esse aspecto deve ser levado em conta,
salienta o autor, porque a maioria das lideranças das organizações comunistas provinha dessa
intelectualidade progressista de classe média desconfiada.
195
Elaborada por indivíduos com
alto grau de instrução, a declaração realizada na revista Libertação pressupunha uma
diferença entre eles – pessoas cultas e esclarecidas, além de fazerem parte de uma organização
que possuía as chaves para a compreensão do mundo e sua salvação – e o grupo que
designavam, o povo – inculto, ignorante, vítima fácil dos mistificadores e, por isso, não
confiável.
No final do editorial, os comunistas afirmaram que o povo não queria um “ato
simbólico”, mas um compromisso do presidente eleito com uma constituição nova. A
Constituinte, então, deveria preceder a eleição presidencial “pelas mesmas razões que os
alicerces se lançam antes de erguer as paredes das casas.”
196
Eles lhe reservavam um papel
importante no processo de democratização. Seria ela que sustentaria o novo regime, pois que
elaboraria o corpo de leis sobre o qual o futuro presidente do Brasil deveria jurar. A
Constituição, por sua vez, seria a “lei básica oriunda da soberania popular, democrática e
progressista”, como exigiam os problemas brasileiros e as condições do mundo livre da
“praga fascista”.
197
A Carta de 1937 era um documento antigo e vencido na opinião do advogado
pelotense lio Teixeira, pois refletia uma época que a poeira da guerra mundial cobria,
representava um mal contra o qual os brasileiros haviam combatido. Dar continuidade a ela
não seria apenas uma “condenável e nociva” tentativa de “vivificação” de um organismo
morto, mas um lamentável impedimento do “invencível impulso democrático” que não se
limitava ao Brasil, mas abarcava todo o mundo. Com base nessa argumentação, Teixeira
194
Id. Ibidem, p. 108.
195
GARCIA, Marco Aurélio (1986). Op. Cit., p. 27-28.
196
A Constituinte será uma conquista do povo. Libertação, 01.09.1945, p. 1.
197
Idem.
85
defendeu a convocação de uma Assembléia Constituinte como “solução específica” para
aquele episódio político brasileiro.
198
Para esse comunista, profissional ligado às leis, a
Constituição de 1937 não tinha mais lugar no novo contexto. O Brasil e o mundo marchavam
inexoravelmente para a democracia.
Os militantes do PC apostavam seriamente na convocação da Assembléia Constituinte.
Tal aspecto não era colocado apenas por aqueles que escreviam seus artigos na revista
Libertação, mas fazia-se presente em outros âmbitos da militância. No final do mês de agosto
e início de setembro, eles programaram uma série de comícios sobre a questão eleitoral e
deram início à “campanha pró-constituinte”.
199
Umas das ocasiões em que a convocação da
Assembléia veio à baila ocorreu durante o Pleno de Porto Alegre, realizado nos dias 01 e 02
de setembro. Ao longo da reunião ampliada, na qual foram discutidos os informes dos
secretários do Comitê Municipal, além dos militantes prestarem contas das tarefas cumpridas
e debaterem aquelas a cumprir, a Constituinte foi colocada como o objetivo político no
momento. Ela elaboraria “a carta garantidora dos direitos e das liberdades conquistados pelo
povo, nestes últimos meses radiosos de ascendo da democracia e de vitórias populares contra
os restos do fascismo e do capital estrangeiro colonizador.”
200
Do padeiro Edgar Curvello os
participantes do Pleno Ampliado ouviram dois informes: um que versava sobre a influência
do Partido no cenário nacional e outro que mostrava a posição dos comunistas em relação aos
problemas da Cidade.
O Secretário Geral do Comitê Municipal de Porto Alegre iniciou sinalizando o
crescimento extraordinário e contínuo do Partido, o seu maior contato com as “amplas
massas” do povo, bem como a influência entre elas. Curvello afirmou que tudo isso estava
sendo possível graças ao acerto da linha política do PCB e devido à capacidade de
organização dos seus membros, ao prestígio de Prestes, à clarividência dos dirigentes
comunistas e à capacidade de trabalho e sacrifício de todos os militantes.
201
O aumento da
influência, de acordo com o secretário, havia-se tornado mais evidente quando os
revolucionários apontaram para a convocação da Assembléia Constituinte, considerada por
ele como “o caminho mais justo” para dirigir o Brasil de forma pacífica, por meio de
eleições “livres e honestas” rumo a consolidação da “Democracia” e ao processamento das
medidas necessárias para o progresso do país. Nesse sentido, a carta de 10 de Novembro – um
198
Afirma Júlio Teixeira: “A convocação de uma Constituinte seria a solução específica neste nosso período
político”. Libertação, 01.09.1945, p. 1.
199
Comício do Partido Comunista. Correio do Povo, 29.08.1945, p. 8.
200
O Ampliado dos Comunistas de Porto Alegre. Libertação, 08.09.1945, p. 1.
201
A Influência do P.C.B. no Cenário Político Nacional (Do informe político do camarada padeiro Edgar José
Curvello, secretário geral do Comitê Municipal de Porto Alegre do P.C.B.). Libertação, 08.09.1945, p. 4.
86
aspecto do passado ainda presente mostrava-se um “empecilho” de uma estrutura política
“caduca e reacionária”.
202
Tudo isso colocava novas responsabilidades aos comunistas, ainda mais diante da
rearticulação do que o padeiro chamou de “forças reacionárias ligadas ao capital colonizador”,
as quais estavam organizando uma “verdadeira união sagrada contra o comunismo”. O
reagrupamento das tais “forças” mostrava-se claro para Curvello no reavivamento do combate
ao comunismo, que era o mesmo que luta contra a consolidação da democracia e a
organização do povo e do proletariado.
203
De fato, mesmo com todo o clima de abertura política, alguns setores se
mobilizavam contra o comunismo. A historiadora Carla Rodeghero analisou que o apoio dos
comunistas a Vargas como prioridade para a eleição da Constituinte tornou-se alvo das
preocupações da Igreja Católica a partir da metade de 1945. Ela passou a elaborar
manifestos, mobilizar massa e colocar em funcionamento a Liga Eleitoral Católica (LEC) para
se contrapor os avanços organizativos do PCB, os quais, de acordo com o padeiro comunista,
aconteciam rapidamente na capital do Rio Grande do Sul. A autora salienta que, para a
instituição, a União Nacional tratava-se de “uma falsa política de mãos estendidas, perniciosa
para a conjuntura vivida no Brasil e no mundo”.
204
Assim, no dia 15 de agosto foi lançada a
LEC em Porto Alegre, ocasião em que o “Manifesto do Episcopado Brasileiro” e a “Carta
Coletiva” produzida pelos bispos gaúchos foram lidos. A campanha anticomunista teve
continuidade através de irradiações diárias promovidas pela LEC e de artigos pagos no jornal
Correio do Povo.
205
Tanto nas eleições de 1945 quanto nos dois pleitos realizados em 1947,
os quais veremos no quarto capítulo dessa dissertação, a LEC mostrou-se uma antagonista de
destaque, atuando de forma insistente e sistemática, divulgando não apenas para os católicos
suas desconfianças em relação à linha política adotada pelo PCB e a sua condenação total ao
comunismo.
206
No informe lido durante o Pleno Ampliado de Porto Alegre, Curvello admitiu que
viviam num momento em que a luta contra o Partido era reacesa, e os comunistas deveriam
estar vigilantes, pois aqueles que os atacavam o faziam tanto “de fora” como “de dentro”,
infiltrando “oportunistas” no seio da organização para assaltá-los pelas costas nos momentos
mais difíceis. Por isso o Partido tinha de estar coeso e seus militantes disciplinados, de acordo
202
Idem.
203
Idem.
204
RODEGHERO, Carla. Confrontos no pós-guerra O anticomunismo e as eleições de 1945 e 1947 em Porto
Alegre. Revista História Hoje. Revista Eletrônica de História. Vol. 3, nº 8, dezembro-2005.
205
Id. Ibidem.
206
Id. Ibidem.
87
com a “confluência de vontades”, mencionada no primeiro capítulo.
207
As armas que o
secretário acreditava serem fundamentais contra aqueles que aproveitavam oportunidades para
prejudicar o Partido eram a vigilância constante, a crítica orgânica e construtiva, a ajuda e o
prestígio das direções, o efetivo cumprimento das tarefas e o fortalecimento ideológico,
mediante o estudo dos materiais do PCB e a leitura dos clássicos do marxismo-leninismo.
208
No segundo informe, o Secretário Geral dedicou-se a questões de Porto Alegre. Os
comunistas, segundo ele, ajudariam o povo porto-alegrense a resolver seus problemas mais
sentidos através dos “comitês populares”.
209
Berenice Cavalcante comenta que esses comitês
tipificavam exemplarmente a prática do PCB como uma organização de “fachada”, reunindo
pessoas das mais variadas origens sociais, dirigidas por comunistas ou simpatizantes com o
objetivo de lutar pelas reivindicações mais imediatas de um bairro, uma rua ou um edifício.
210
Cabia aos comunistas, na opinião do padeiro, irem até a população e estudarem
democraticamente com ela a melhor maneira de buscar soluções para suas demandas.
Organizados em suas unidades de bairro, os membros do Partido Comunista haviam realizado
um estudo sobre as reivindicações mais comuns, as quais Curvello comentou no informe.
Seriam elas: melhoria na produção do leite e na distribuição da carne (deveria haver um
racionamento e aumento da quota desse artigo destinada para a capital gaúcha); solução para a
escassez de moradias; e formação de chácaras para driblar o custo das frutas e dos legumes.
Os participantes dos comitês populares também haviam reclamado do pouco número de
bondes e ônibus em circulação na Cidade e dos altos preços cobrados pelas passagens, além
do valor da energia elétrica, que acabava entravando a produção industrial. Essas eram as
reivindicações mais gerais. Existiam também demandas muito particulares, como água para os
bairros Glória e Partenon, mais leitos e água para o Sanatório Belém, refeitórios nas principais
fábricas com comida sadia e barata, clínicas dentárias para operários e familiares nos bairros,
maior número de escolas primárias, gratuidade do ensino secundário e superior, entre
outras.
211
Contudo, Curvello alertava que os comitês populares não deveriam lutar apenas pelas
reivindicações econômicas. Era igualmente importante que esses pequenos organismos
batalhassem pelo fortalecimento do processo democrático através de eleições “livres e
207
A Influência do P.C.B. no Cenário Político Nacional (Do informe político do camarada padeiro Edgar José
Curvello, secretário geral do Comitê Municipal de Porto Alegre do P.C.B.). Libertação, 08.09.1945, p. 4.
208
Idem, p. 5.
209
Os comunistas diante dos problemas de Porto Alegre (Do Informe de Edgar José Curvello). Libertação,
08.09.1945, p. 5.
210
CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 146.
211
Os comunistas diante dos problemas de Porto Alegre (Do Informe de Edgar José Curvello). Libertação,
08.09.1945, p. 5.
88
honestas” e pela instalação da Assembléia Constituinte, para a qual deveriam indicar homens
que melhor soubessem defender os interesses do povo. Nesse sentido, a organização dos
comitês populares mostrava-se relevante, sem vida, mas a “espinha dorsal” da mobilização
das massas estava na classe operária organizada sindicalmente, unida numa “Confederação
dos Trabalhadores do Brasil”, que, por sua vez, estaria ligada ao movimento operário
mundial.
212
O contato com os moradores dos diferentes bairros proporcionado pelos comitês
populares dava oportunidades aos comunistas de divulgarem a linha política do Partido,
arregimentar novos membros e conquistar simpatizantes. Eles empenhavam-se no intuito de
entender o que mais afligia a grande população, a fim de orientá-la no sentido de buscar
soluções imediatas sim, mas pacíficas, dentro da ordem. A defesa de eleições “livres e
honestas” e da convocação da Assembléia Constituinte não estava desvinculada das lutas
diárias. Aliás, as eleições eram apresentadas pelo secretário como o meio de selecionar
indivíduos cientes dos anseios populares para compor a Constituinte, “caminho mais justo”
para encaminhar o Brasil à democracia.
213
Segundo Curvello, as donas de casa eram as mais
atingidas pela carestia de vida, logo, as que melhor poderiam participar da luta pelas
reivindicações. Ele reconhecia que quase nada estava sendo feito no sentido de trazer as
mulheres para o Partido e de fazê-las participar do movimento de massas dos comitês
populares e dos sindicatos. Mas também estava escolhendo aquele momento para mobilizar
essa parcela da sociedade.
214
Em visita realizada no final do mês de agosto ao Realengo,
Prestes havia atribuído função à mulher no processo de democratização. Elas
desempenhariam papel no contato com as massas, no levantamento de suas reivindicações.
215
Na mesma edição em que foram publicados os informes de Edgar Curvello, outros
dois destacados militantes expressaram suas opiniões sobre a Constituinte. Falando mais uma
vez em nome do povo, Otto Ohlweiller afirmou que ela deveria ser eleita em pleito “livre e
honesto”, porque o povo desejava uma carta que desse aos seus representantes e aos órgãos
representativos os poderes para legislar no sentido do fortalecimento da democracia e do
progresso da nação.
216
Na mesma edição em que o professor foi entrevistado, o médico César
212
Idem.
213
A Influência do P.C.B. no Cenário Político Nacional (Do informe político do camarada padeiro Edgar José
Curvello, secretário geral do Comitê Municipal de Porto Alegre do P.C.B.). Libertação, 08.09.1945, p. 4.
214
Os comunistas diante dos problemas de Porto Alegre (Do Informe de Edgar José Curvello). Libertação,
08.09.1945, p. 5.
215
A pedido. Luiz Carlos Prestes, em visita ao Realengo, fala ao povo, em Sabatina, na praça pública. Correio
do Povo, 01.09.1945, p. 5. Matéria publicada no periódico comunista Tribuna Popular de 28 de agosto de 1945.
216
O Problema da Democratização do País não é questão de substituição de homens no poder!. Libertação,
08.09.1945, p. 1.
89
Nani também teve oportunidade de expressar seu ponto de vista sobre a Assembléia Nacional,
assunto que mais estava interessando a opinião pública de todo o país, segundo a Libertação.
A entrevista aconteceu em seu consultório, no qual afirmou ser pela eleição imediata da
Constituinte, composta por elementos credenciados pelo povo, capazes de dotar o país de uma
“lei básica e progressista”, um corpo de normas que enquadrasse o Brasil no mundo livre que
os povos haviam acabado de conquistar pelo “esmagamento do fascismo”.
217
Dr. Nani,
médico de origem humilde, dizia ser a favor da Constituinte por entender que a “Democracia”
deveria começar “de baixo para cima” e que o presidente eleito não poderia governar com
base nas Constituições de 1934 ou 1937, “que estabelecia[m] como único direito ao povo, o
de obedecer”. Finalizando, o entrevistado afirmou ser a Constituinte a garantia da marcha para
a Democracia, para o Progresso e a União Nacional.
218
Naquele momento, os comunistas alimentavam certas expectativas em relação à
instalação da Constituinte e à Constituição que ela elaboraria. Tratava-se de um momento em
que alguns acontecimentos já lhes haviam conferido segurança na democracia que estava
surgindo no horizonte: o Brasil tinha reatado relações diplomáticas com a União Soviética; os
presos políticos estavam em liberdade desde o mês de abril; as eleições aconteceriam dali
poucos meses; as liberdades de associação e de reunião retornavam ao cenário nacional, e o
PCB ampliava como nunca seus quadros. rias células estavam sendo instaladas para
absorver a demanda. Enfim, uma série de eventos lhes faziam crer que a democracia era
possível e que o Estado Novo e o fascismo, eventos sempre acompanhados de predicados
negativos, eram coisas do passado – recente, mas em vias de desaparecer.
Cavalcante salientou que, enquanto os liberais reivindicavam para si o papel de
defensores da democracia, localizando os comunistas no campo dos totalitários, os militantes
do PCB inseriam-se no debate democrático de forma muito particular, organizando-se em
torno da polarização democracia versus fascismo e ignorando a clivagem que se delineava
com o término do conflito mundial, o de democracia versus totalitarismo.
219
Foi com base na
luta contra os fascistas que nossos protagonistas presentificaram o pretérito, tentando
identificar nele suas posturas democráticas. Contudo, tratava-se de um passado em vias de
extinção. Os acontecimentos dos últimos meses os autorizavam a pensar dessa forma.
A posição dos comunistas de Porto Alegre, de um modo geral, harmonizava-se com a
de seu líder, embora eles não dissessem com todas as letras que estavam desejosos da
217
Assembléia Constituinte: Antes de Pensarmos em eleger-se um Presidente da Nação, devemos especificar
seus poderes!”. Libertação, 08.09.1945, p. 2.
218
Idem.
219
CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 124-125.
90
permanência de Vargas na presidência quando falavam nas eleições e na Constituinte. Mesmo
através das fontes jornalísticas – das quais retiramos volumosas informações tanto sobre o dia
a dia da militância como das opiniões comunistas em relação à situação política nacional e
internacional não obtivemos nenhum dado sobre a participação dos membros do PCB na
programação de eventos queremistas. O ComiMunicipal não divulgou nada nesse sentido
nas edições que sobreviveram da revista Libertação. No jornal Correio do Povo, a maior parte
das notícias sobre o movimento a favor de Getúlio referiam-se ao centro do país.
220
Próximo
ao final do mês de agosto, o periódico divulgou informações sobre o queremismo em Gravataí
e um convite para comício do Largo da Prefeitura de Porto Alegre no dia 30.
221
No Diário de
Notícias, por sua vez, as informações são igualmente escassas. Por meio dele podemos saber
que foi realizado um comício na cidade de Campo Bom em 18 de setembro e, no dia 03 de
outubro, o Comitê Pró-Candidatura Getúlio Vargas organizou outro no Largo da Prefeitura da
capital gaúcha.
222
Contudo, não nenhum dado sobre o envolvimento de nossos
protagonistas nessas concentrações.
Durante o período de redemocratização, segundo Pandolfi, o antigo líder da Coluna
Invicta foi o anunciador dos novos tempos, aquele em cuja pessoa comunistas e não-
comunistas depositavam suas esperanças, aspecto que tivemos oportunidade de perceber pelas
palavras de João Aveline sobre o comício de 23 de maio no Estádio do Vasco da Gama.
223
No
final setembro de 1945, foi a vez dos gaúchos reverem seu conterrâneo, que voltava depois de
vinte anos envolvido na aura de heroísmo que o feito da Coluna, a perda da companheira Olga
Benário e o martírio de nove anos nos cárceres estado-novistas lhe haviam conferido.
Os comunistas da capital do Rio Grande do Sul mobilizaram-se desde o início do mês,
compondo uma comissão para cuidar de todos os detalhes da recepção de Prestes no Estado.
Os encarregados foram Dyonélio Machado, Abílio Fernandes, Alfredo Felizardo, Tibúrcio
Rangel, a professora Eivlis Mabilde, o médico César Ávila e o escritor Ciro Martins. Algumas
subcomissões foram montadas para dar atenção a aspectos específicos da visita e do grande
220
Por exemplo: O “queremismo” toma corpo, 07.08, p. 10; “A Noite” e o “Queremismo”, 11.08, p. 8; O
“queremismo” em São Paulo, 18.08, p. 4 e 19.08, p 4; O “queremismo” em Belo Horizonte, 19.08.1945, p. 4.
221
O “queremismo” em Gravataí, 29.08, p. 8; “Queremistas”. Correio do Povo, 29.08.1945, p. 1.
222
Diário de Notícias, 19.09, p. 7 e 03.10.1945, p. 3.
223
PANDOLFI, Dulce. Op. Cit., p. 130. A autora salienta que Prestes recebia cartas de admiradores diariamente,
nas quais lhe pediam conselhos sobre os mais variados assuntos, desde política adramas pessoais, problemas
sentimentais e etc.. Com a decretação de ilegalidade do PCB em 1947, essa farta documentação foi perdida.
Algumas das missivas ainda podem ser vistas e servir de fonte para pesquisas no Arquivo do Estado do Rio de
Janeiro, onde estão arquivados os documentos da Polícia Política. No dossiê “Correspondências do Partido
Comunista do Brasil”, encontram-se cartas dirigidas ao líder comunista das mais diversas regiões do país,
pedindo empregos mais rendosos, cura para lepra, fotos e livros autografados e oferecendo poemas ao Cavaleiro
da Esperança.
91
comício que seria prestado a Prestes no final daquele mês. Demétrio Ribeiro e Vasco Prado,
além de Luiza Ferrari Prado, Ernesto Sander, Carlos Alberto Petrucci, Eglê Malheiros, Osmar
Pinto, a professora Emilce Aveline e o médico Mário Azambuja deram corpo à comissão de
propaganda, enquanto Plínio Moraes, Eduardo Faraco, Anita Ávila, Alfredo Luiz Guedes,
Lélia Paradeda, Osório Lopes, Isaias Lokshin, Adalgisa Machado, Tibúrcio Machado,
Germano Josephson, o médico Maurício Seligman, a escritora Lila Ripoll e o advogado
Deburgo de Deus Vieira dedicaram-se às finanças. A hospedagem do líder foi tarefa de Sueli
Schroeder, Mário Felizardo, Alcina Rangel e o barbeiro Hibernon Machado.
Com a ajuda dos demais companheiros, esses militantes promoveram uma série de
atividades relacionadas com a chegada de Prestes ao Estado, como comícios-relâmpago e
conferências na Sociedade Espanhola, conforme comentado na primeira parte desse capítulo.
Foram distribuídas “listas de contribuições” para os comunistas colaborarem financeiramente
com a organização dos eventos destinados a homenagear o Secretário Geral do PCB;
alojamentos, para acomodar as delegações que afluiriam a Porto Alegre, também foram
solicitadas através do Correio do Povo. Paralelamente a LEC promovia e divulgava no
mesmo jornal concentrações católicas pelo Estado, convidando os gaúchos a repudiarem o
“comunismo ateu”.
224
Enquanto os militantes bolchevistas engrandeciam seu der em suas
atividades, indivíduos como o Amaro Viana Guedes pagava nota no periódico, colocando em
dúvida a fidelidade de Prestes ao Brasil.
225
Especialmente na semana do “Comício Rio
Grande do Sul a Luiz Carlos Prestes”, a campanha contra o comunismo publicou artigos,
associando-o a traições, imoralidades e crueldades.
226
Os preparativos para a recepção do
Cavaleiro da Esperança, assim, aconteceram em meio à intensa combatividade anticomunista
católica.
Todas as atividades comunistas estavam sendo permanentemente monitoradas pelos
agentes da Polícia Política do Estado. A chegada e a estadia do Secretário Geral do PCB em
Porto Alegre, tanto quanto os momentos que lhes antecederam, foram contados em pormenor
em extensos relatórios. Embora a ênfase dos relatos recaísse no período em que Prestes esteve
em solo sul-riograndense, todo o trabalho de doutrinação e propaganda mostrava-se alvo do(s)
autor(es) dos documentos. De acordo com essa fonte, antes de direcionarem as atenções para
a visita de seu líder, os militantes da capital gaúcha estiveram dedicados ao agit-prop,
realizando dezenas de comícios públicos em diferentes bairros da cidade, sessões de
224
Correio do Povo, 12.09, p. 1; 15.09, p. 1; 16.09, p. 22; 18.09.1945, p. 12.
225
A pedido. O Amigo e o Inimigo da Pátria. Correio do Povo, 22.09.1945, p. 3.
226
Cf. consta nas seguintes edições do Correio do Povo: A pedido. O homem, a cobra e o comunismo, 23.09, p.
5; A pedido. As belezas do comunismo ateu, 26.09, p. 3; A pedido. Alerta, com o comunismo!, 28.09.1945, p. 3.
92
instalação dos MUT e células, comícios-relâmpago às portas das fábricas e conferências.
Segundo o relator, “para todas essas atividades foram escalados dezenas de oradores, sendo
também profusamente distribuídos panfletos e impressos de todo gênero, edições do órgão
oficial do P.C.B., a ‘Libertação’, distribuídos gratuitamente, ao mesmo tempo que a cidade
amanhecia constantemente pichada de dizeres alusivos a PRESTES e à Constituinte”.
227
Durante a propaganda, além da doutrinação a que os policiais deveriam estar se referindo
aos estudos teóricos e debates políticos internos os comunistas frisavam a linha política
traçada pelo Partido, quer dizer, a necessidade de ser convocada uma assembléia constituinte,
sem eleições presidenciais, e a imprescindível necessidade da manutenção da ordem e da
serenidade popular.
228
Para alguns, a idéia de convocar a Assembléia Constituinte protelando as eleições
presidenciais foi vista como um plano de Vargas e seus aliados de direita e esquerda. É o caso
de Rafael Correa de Oliveira que publicou nota no Diário de Notícias, alertando para o “golpe
continuísta” que os militares tinham o dever de impedir.
229
A chegada de Prestes, um dia antes do comício-monstro, foi envolvida por medidas
extremas de sigilo por parte dos dirigentes. Conta-nos o agente policial que, “nesse mesmo
dia, sábado, a rua da Praia, a artéria principal da cidade, foi verdadeiramente inundada de
papéis, de todos os tamanhos, com impressos pró-comunismo e contra essa doutrina”.
230
Na manhã do dia 30 de setembro de 1945, uma reportagem de página inteira foi
publicada no Correio do Povo e no Diário de Notícias, dando conta da vida do líder do PCB,
colocando sua participação na Coluna Invicta como uma façanha e exaltando sua capacidade
de superar os sofrimentos do cárcere e da perda da companheira. A professora e escritora
Beatriz Bandeira agregou um poema, no qual se referia a Prestes como “heróico Capitão de
Aço”.
231
Contudo, antes de chegar a essa página, os leitores possivelmente se depararam com
outra extensa matéria, incitando a renúncia ao comunismo, na qual puderam ler declarações
anticomunistas de representantes do Partido Libertador (PL), do Partido Social Democrático
(PSD), do Partido Republicano Liberal (PRL), entre outros. No centro das enunciações, o
Arcebispo Metropolitano ordenava que se fizesse uma “Hora Santa” em todas as matrizes da
capital e arredores entre 15:30 e 16:30h logo, no mesmo momento em que estaria
acontecendo o comício para Prestes – a fim de “implorar a proteção de Deus contra as
227
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00331. Documento datado de 01.10.1945.
228
Idem.
229
O Exército e os Golpistas. Diário de Notícias, 13.09.1945, p. 4.
230
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00336. Documento datado de 01.10.1945.
231
A pedido. Luiz Carlos Prestes, hoje, falará ao povo. Correio do Povo, 30.09.1945, p. 12; Diário de Notícias,
30.09.1945, p. 10.
93
investidas dos inimigos da Pátria, da Religião e da família cristã”.
232
Toda essa disputa foi
observada e devidamente relatada pela Polícia Política local.
233
Às 15 horas da tarde, milhares de pessoas já se encontravam no Parque Farroupilha
para ouvir o que Luiz Carlos Prestes tinha a dizer. Os comunistas, especialmente, esperavam
pela “palavra patriótica, corajosa e vibrante” daquele que falaria, sem “subterfúgios” e
“demagogias”, o “caminho mais seguro” que lhes conduziria às “liberdades democráticas, à
grandeza da Pátria e à felicidade do povo brasileiro”.
234
Para os militantes do PCB, Prestes
tinha autoridade para tal por tudo que havia sofrido e superado na vida, por ter colocado os
interesses da Pátria acima das questões pessoais retornando à legalidade sem ódios, nem
ressentimentos e por comandar com “pulso firme” o movimento popular democrático, o
qual tinha na luta pela Constituinte, eleita em pleito livre, a sua expressão mais alta.
235
O tão aguardado líder comunista chegou de automóvel, dirigindo-se rapidamente para
o palanque e agradecendo com abanos de mão as palmas recebidas.
236
Pela Comissão de
Recepção, o escritor Dyonélio Machado pronunciou algumas palavras, seguido por Abílio
Fernandes, pelo estudante Pinheiro Machado Neto e a professora Eivlis Mabilde, em nome do
Comitê Estadual, da juventude “antifascista” e da mulher gaúcha, respectivamente.
237
Na
qualidade de “lutador proletário” e Secretário Geral do PCB no Estado, Abílio saudou Prestes,
afirmando que os comunistas gaúchos tudo fariam para cumprir as tarefas que lhes cabia
naquela “hora decisiva”. Segundo o metalúrgico, uma marcha estava em curso, e, assim como
a Coluna Invicta, ela tinha o mesmo “guia genial”.
238
Às quatro e meia da tarde, fortemente ovacionado, Prestes tomou a palavra,
reafirmando a linha política do Partido e se defendo das acusações anticomunistas. O
convidado especial enfatizou que “somente a unidade organizada do povo” poderia ser “arma
eficiente contra a carestia de vida, contra o renascimento do fascismo no Brasil e para a
conquista de uma Democracia efetiva”. Ele apelou para a união entre operários e patrões,
católicos, protestantes, ateus, espíritas e intelectuais, comunistas e não-comunistas, enfim,
pediu a colaboração de todos porque a todos, segundo seu ponto de vista, mostrava-se
indispensável a conquista de um mais alto padrão de vida, única forma do Brasil entrar no
232
A consciência política no Rio Grande repudia o comunismo. Correio do Povo, 30.09.1945, p. 11; Diário de
Notícias, 30.09.1945, p. 7.
233
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00339. Documento datado de 01.10.1945.
234
Todos à Festa do Povo!. Libertação, 29.09.1945, capa.
235
Idem.
236
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00339. Documento datado de 01.10.1945.
237
Em seu discurso Luiz Carlos Prestes afirmou que “nenhuma nação tem o direito de interferir nos negócios de
outra”. Correio do Povo, 01.10.1945, p. 8.
238
A Saudação dos Comunistas Gaúchos. Libertação, 13.10.1945, p. 1.
94
caminho de uma “verdadeira democracia”.
239
Na seqüência, declarou que a única maneira de
se abrirem possibilidades para o povo brasileiro governar-se a si mesmo seria a Constituinte.
Sobre ela Prestes colocava expectativas de que os representantes do povo, “livremente eleitos
pelo povo”, pudessem elaborar uma constituição que fosse o espelho das garantias
democráticas de que todos precisavam. A Assembléia asseguraria a consolidação da unidade
nacional e a liquidação total dos restos ainda existentes do fascismo, ao mesmo tempo em que
os representantes, sobretudo os comunistas, exerceriam intensa vigilância contra a infiltração
do capital estrangeiro colonizador.
240
Através das primeiras palavras do líder, os militantes presentes no comício do Parque
da Redenção puderam ouvir diretamente dele, sem intermediários, a exaltação da tática da
União Nacional como a maneira mais apropriada de se conquistar um nível de vida mais alto
e, por conseguinte, chegar à “verdadeira democracia”. Já tivemos oportunidade de observar,
ao longo desse capítulo, o quanto os militantes de Porto Alegre mencionaram problemas de
ordem sócio-econômica ao referirem-se à democracia. Tanto Otto Alcides Ohlweiller, como
Edgar Curvello e Abílio Fernandes, por exemplo, enfatizaram as condições de vida e trabalho
de operários e camponeses, dos pequenos agricultores e da burguesia nacional, tentando
mostrar que a melhoria desses aspectos levaria à democracia e, em contrapartida, que esta
última tornava-se importante para o progresso dessas camadas sociais e do país.
Ao que nos parece, alguns aspectos salientados pelos comunistas quando falavam em
democracia aproximavam-se da tipologia construída por Daniel Aarão, o qual a entende em
três dimensões: a social caracterizada por proposições relativas à distribuição de riqueza,
propriedade e direitos sociais em geral (educação, saúde etc.); a nacional que dizia respeito
à dependência política e econômica em relação a outros países; e a política relacionada às
propostas referentes à participação política no poder estatal e na sociedade.
241
Contudo, conforme Maria Victória Benevides assinalou no mesmo debate em que
Aarão se fazia presente, parece-nos complicado fixar uma tal classificação, visto que, na
época, não parecia possível destacar o político das questões nacional e social. A cientista
política explica que, o político, como nós entendemos hoje, da participação política
ampliada, da cidadania, e até dessa questão maior da liberdade política, não existia com
clareza para as organizações comunistas e para nenhum outro partido, talvez com exceção dos
239
Em seu discurso Luiz Carlos Prestes afirmou que “nenhuma nação tem o direito de interferir nos negócios de
outra”. Correio do Povo, 01.10.1945, p. 8.
240
Idem.
241
GARCIA, Marco Aurélio (1986). Op. Cit., p. 17.
95
poucos socialistas.”
242
As dimensões das quais o historiador fala, assim, pareciam
embaralhadas para os comunistas da metade da década de 1940. Ao apelarem para a
organização do povo, a União Nacional, em prol de mudanças econômicas que amenizassem a
carestia de vida e melhorassem as condições de vida e trabalho dos diferentes setores da
sociedade, e ao relacionarem esse aspecto à instalação de uma Assembléia Constituinte,
composta por indivíduos eleitos em pleitos livres, nossos protagonistas o desvinculavam o
que hoje entendemos dentro de dimensões econômicas e políticas. De acordo com Alan Ryan,
foi depois de 1945 que o contraste entre democracia social e democracia política como
diferença entre esforço por igualdade econômica e busca de igualdade política tornou-se
cada vez mais acentuado, sobretudo porque muitos países comunistas destruíram a
democracia política para atingir a igualdade econômica, enquanto as democracias liberais do
Ocidente nem sempre tiveram/têm a consciência tranqüila em relação à partilha da
prosperidade.
243
Por outro lado, um componente nacionalista mostrava-se presente na fala de Prestes
para seus conterrâneos no comício de 30 de setembro em Porto Alegre. O líder comunista
colocou a Constituinte como a única maneira do povo brasileiro governar-se a si mesmo, de
garantir vigilância contra a infiltração do capital estrangeiro colonizador. Os comunistas, de
um modo geral, mostravam-se comprometidos com a nação brasileira, o que é possível
perceber pela execução de diversos ritos nacionais durante as atividades partidárias. No final
do próprio comício realizado em homenagem ao Cavaleiro da Esperança, por exemplo, foi
executado o Hino Nacional, conforme noticiado pelo Correio do Povo e observado pelos
agentes policiais.
244
O que eles entendiam por nação, nacionalidade, traição ou fidelidade à
Pátria etc., porém, estava estreitamente ligado aos princípios do comunismo, pois sua forma
de ver essas questões acontecia através da imposição da “grade” de conceitos marxista-
leninista.
Ao defenderem a conquista da democracia e do progresso por meio da União
Nacional, o nacionalismo comunista aparecia preenchendo, naquele contexto, duas funções: a
de mobilização e a de legitimidade. De acordo com o historiador John Breuilly, a primeira
diria respeito “ao uso das idéias nacionalistas para gerar apoio para o movimento político, por
242
Id. Ibidem, p. 32.
243
RYAN, Alan. “Democracia Liberal ou Social”. In: DARNTON, Robert & DUHAMEL, Olivier. (Org.).
Democracia. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 117.
244
Em seu discurso Luiz Carlos Prestes afirmou que “nenhuma nação tem o direito de interferir nos negócios de
outra”. Correio do Povo, 01.10.1945, p. 8; Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00340.
96
parte de grandes grupos até então excluídos do processo político”.
245
A segunda é definida por
esse mesmo autor como “o uso de idéias nacionalistas para justificar as metas do movimento
político, tanto em relação ao Estado a que ele se opõe quanto em relação a poderosos agentes
externos, como Estados estrangeiros e suas correntes de opinião pública”.
246
Presente em quase todos os discursos – mas, sobretudo, no ano de 1947, como teremos
oportunidade de ver no quarto capítulo dessa dissertação o capital estrangeiro colonizador,
ou o imperialismo, aparecia como o estrangeiro que ameaçava a nação. Nesse caso, o
nacionalismo dos militantes comunistas se apresentava como um sentimento de cólera
causado pela violação do princípio político que defende a correspondência entre a unidade
nacional e a unidade política.
247
Isso nos remete para a interferência do estrangeiro nos
negócios e problemas nacionais como uma violação da sua integridade.
Na noite daquele mesmo dia 30 de setembro enquanto a LEC rebatia ponto a ponto,
pela Rádio Difusora, o discurso proferido por Prestes no grande comício, e comunistas
festejavam o sucesso da manifestação numa roda de chopp na Praça 15 de Novembro – o líder
do PCB visitou a Sociedade Espanhola.
248
Tanto nessa ocasião, como no dia seguinte, quando
esteve na sede do Comitê Estadual, ele teria feito duas declarações aos militantes de Porto
Alegre, segundo o agente da Polícia Política. O Secretário Geral do Partido teria comentado
que, caso o governo se mantivesse “mudo à voz do povo” e não atendesse ao apelo para a
organização da Assembléia Constituinte, o Partido Comunista lançaria um candidato próprio à
presidência da República. Na seqüência, o visitante teria declarado que, caso se fizesse
necessário e a calma dos comunistas estivesse esgotada, o PCB mostraria ao povo que pegaria
em armas mais uma vez para defender os interesses do proletariado, para defendê-lo dos
opressores e conduzi-lo à “verdadeira democracia”. Interpelado pelo estudante Pinheiro
Machado a razão pela qual não havia mencionado positivamente tais possibilidades durante o
comício no Parque Farroupilha, Prestes teria “retrucado” que, como chefe do Partido, “não
poderia fazer tais considerações perante uma multidão que se achava repleta de
reacionários”.
249
Após a deposição de Vargas, em 29 de outubro, e diante das candidaturas dos militares
Eduardo Gomes e Eurico Gaspar Dutra, o PCB lançou, realmente, a candidatura do
engenheiro Yedo Fiúza para a presidência da República. Quer dizer que, em setembro, Prestes
245
BREUILLY, John. “Abordagens do Nacionalismo”. In: BALAKRISHNAN, Gopal (Org.). Um Mapa da
Questão Nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000, p. 176.
246
BREUILLY, John. Loc. Cit.
247
GELLNER, Ernest. Nações e nacionalismo. Lisboa: Gradiva, 1993, p. 11.
248
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00341.
249
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00342. Documento elaborado em 02.10.1945.
97
previa a possibilidade da Assembléia Constituinte não ser organizada antes das eleições
presidenciais e temia que os eleitores fossem obrigados a decidir entre candidatos que, para
ele, faziam parte da mesma face de uma moeda. Já a respeito de sua segunda declaração, os
acontecimentos posteriores não nos possibilitam confirmá-la. De fato, a defesa da ordem e da
tranqüilidade mostrava-se recente na história do Partido Comunista do Brasil. Ademais, a
afirmação de que os comunistas pegariam novamente em armas como em 1935 para
defender os interesses do proletariado, só foi registrada pelo agente policial. Tal opção não foi
sequer sugerida em nenhuma das outras fontes do Partido. Pelo contrário, nos registros
deixados e consultados para a pesquisa aqui relatada, os acontecimentos ocorridos havia 10
anos eram recordados com um certo orgulho sim pois haviam lutado contra o fascismo
mas também acompanhados de uma reflexão de que não teriam sido conduzidos da maneira
mais adequada.
As palavras que, segundo o investigador, teriam sido proferidas por Prestes diante dos
militantes de Porto Alegre nos confundem. Por um lado, esse registro planta a dúvida em
relação à sinceridade da defesa da ordem e da tranqüilidade por parte dos comunistas. Por
outro, nos leva a considerar aspectos importantes relacionados ao uso dos documentos da
Polícia Política, criticar com mais veemência essa fonte.
Os relatórios foram produzidos por agentes policiais responsabilizados por
acompanhar de perto as atividades comunistas e de, se possível, encontrar provas contra eles,
os quais, apesar de militarem legalmente, não deixaram de ser suspeitos. Os nomes, os
acontecimentos, as coisas ditas ganhavam visibilidade, na medida em que poderiam servir
para incriminar nossos protagonistas, sendo relatados em minúcias pelos investigadores. Os
relatórios policiais, assim, encerram uma lógica própria, desconfiada, a lógica da repressão, e
esse aspecto não deve ser desprezado no momento em que sugamos suas informações para
reconstituir o passado dos militantes comunistas. Alexandre Fortes e Antônio Luigi Negro
alertaram para isso, falando da necessidade de nos familiarizarmos com essa fonte para
entendermos que ela nos remete à dinâmica de um mundo vigiado, em que as informações
colhidas pelos agentes eram um recurso decisivo para a preservação do poder do Estado e das
classes dominantes.
250
Se o relato do investigador sobre a possibilidade dos comunistas
pegarem em armas não foi inventado, por outro lado também não encontramos respaldo em
outras fontes. Acredito, portanto, que, enquanto não encontrarmos outros documentos, através
dos quais possamos relativizar as afirmações constantes do relatório policial, e visto que os
250
FORTES, Alexandre & NEGRO, Antônio Luigi. Op. Cit., p. 15.
98
militantes do PCB mantiveram a defesa da ordem e da tranqüilidade mesmo após o
cancelamento do registro do Partido e da cassação dos mandatos de seus parlamentares, em
1947, as linhas datilografadas pelo agente da Polícia Política não merecem crédito a ponto de
duvidarmos da postura assumida pelo PC e seus seguidores em 1945. Elas nos revelam a
dificuldade da polícia acreditar na proposta de União Nacional.
Durante o mês de outubro de 1945, os militantes de Porto Alegre deram continuidade
à luta pela Constituinte, defendendo sua instalação na enquete promovida pelo jornal Correio
do Povo, nas atividades internas e na revista do Partido. Os 518 membros do Clube de Cultura
Popular Euclides da Cunha reuniram-se no dia sete daquele mês para debaterem a resposta
que mandariam para o “plebiscito-relâmpago”. Ao final da assembléia, autorizaram o
presidente Jorge Bahlis e o secretário Álvaro Caetano a declararem que eram não
favoráveis à Constituinte, mas que esta fazia parte do processo mais indicado à
democratização do Brasil e do mundo. As condições do após-guerra impunham uma carta
nova “verdadeiramente democrática” aos países, cujas constituições não mais respondiam
às necessidades do momento histórico.
251
As atividades internas naquele mês foram intensas. Além de cuidarem de questões
relativas ao funcionamento do Partido na Cidade, com reuniões, assembléias e instalações de
novas células, os comunistas fizeram das sedes das suas diversas unidades o espaço onde
discutiram e decidiram as maneiras através das quais dariam seguimento à campanha pela
convocação da Constituinte.
Em balanço de divulgação, realizado no dia 17 de outubro, os revolucionários
decidiram que promoveriam debates sobre o tema e fariam comícios pró-constituinte.
252
Dois
dias antes, haviam realizado uma assembléia geral com mais de 300 pessoas no Teatro
Anchieta, a fim de debater as reivindicações dos Comitês Populares dos bairros São João e
Navegantes. Na ocasião, questões políticas de âmbito nacional ocuparam o mesmo espaço que
assuntos locais. Além de exporem problemas relacionados à falta de açúcar e sal, os
participantes reivindicaram o fechamento de valos na rua Dona Margarida e reparos em um
trecho da avenida Farrapos. No final, após vários membros do comitê usarem da palavra e do
comunista Plínio Cabral falar sobre o fundamento econômico da Assembléia Constituinte, o
público presente decidiu engajar-se por essa reivindicação nacional, deixando marcado um
comício para o sábado seguinte, dia 20, às 20 horas na Praça Pinheiro Machado.
253
251
Correio do Povo, 11.10.1945, p. 4.
252
Idem, 16.10.1945, p. 14.
253
Os Comitês Populares em Marcha. Libertação, 27.10.1945, p. 2.
99
Os comunistas lançaram a célula da Cidade Baixa no dia 17 de outubro, ocasião em
que diversos deles se fizeram presentes, exaltando a Constituinte como palavra de ordem. No
pronunciamento em nome do Comitê Municipal, Edgar Curvello salientou que toda as
reivindicações tanto dos operários, como dos camponeses e da burguesia progressista, por
condições de vida mais dignas e pelo capitalismo nacional – conduziam para a luta em prol da
Assembléia livremente eleita. Curvello depositava grandes expectativas em relação à
Constituinte e à democracia, afirmando que ambas garantiriam melhores salários, abundância
e a “vitória sobre a doença”. Não seria mais possível colocar um “emplastro sobre a ferida” e
fazer de conta que tudo estava resolvido. não se poderia mais “tapar o sol com a peneira”
mesmo que esta última fosse um “belo e respeitável” nome à presidência da República.
254
Para o padeiro, as eleições presidenciais não passariam de uma solução de fachada, pois que
não dariam conta dos problemas reclamados pelos vários setores da sociedade brasileira. O
“remédio” seria a convocação da Constituinte, porque através dela representantes dos
interesses do povo trabalhariam para encontrar soluções para suas reivindicações. Curvello
era militante altamente engajado sempre presente nas células e nos comitês populares e
atento às demandas da população, relatadas nas atividades promovidas nessas unidades.
Outro momento marcante foi a Sessão Solene de Convocação da Assembléia
Constituinte, realizada dia 23 de outubro no Teatro São Pedro.
255
O evento foi promovido
pelo MUT, que tinha como presidente o comunista Sérgio Holmos. Operário em construção
civil, Holmos era militante de destaque, sempre envolvido com as questões de sua classe,
além de assumir responsabilidades importantes na estrutura partidária. Ele dividia com outros
companheiros as tarefas do Comitê Municipal de Porto Alegre, dando atenção aos assuntos
políticos.
256
Figuras importantes, como Abílio Fernandes, Acteon Machado, o eletricista Luiz
Carlos Correa, o barbeiro Ibernon Machado (Policarpo Hibernon Machado), todos ligados ao
PCB, também estiveram presentes e fizeram declarações a favor da Constituinte e de apoio ao
Presidente Vargas.
Segundo relatado na revista Libertação, o povo e o proletariado começavam a assumir
o papel que o momento histórico lhes exigia, isto é, organizados através dos sindicatos, dos
comitês populares e do MUT, passavam a decidir seus próprios destinos e o futuro da
Nação.
257
O pronunciamento do comunista Acteon Machado a favor da convocação da
254
A Instalação da Célula Comunista da Cidade Baixa. Libertação, 13.10.1945, p. 6.
255
O Movimento Unificador dos Trabalhadores Luta pela Constituinte!. Libertação, 27.10.1945, p. 2.
256
Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual do Rio Grande do Sul” Notação 160 f. 779;
Notação 30101 – f. 22.
257
O Movimento Unificador dos Trabalhadores Luta pela Constituinte!. Libertação, 27.10.1945, p. 2.
100
Constituinte durante a solenidade seguiu nesse sentido, argumentando que a organização da
Assembléia asseguraria as liberdades públicas, entre elas a própria liberdade sindical.
Encerrando o evento, Hibernon Machado salientou a importância do MUT se lançar na luta
pela Constituinte, ainda mais diante da “nulidade das duas candidaturas”, ambas afastadas do
povo – referia-se às aspirações de Eduardo Gomes e Eurico Dutra à presidência da República.
Na saída da Sessão Solene, foram angariadas centenas de assinaturas, a fim de compor um
memorial de apoio a Getúlio Vargas, pedindo a imediata convocação da Assembléia e
hipotecando-lhe solidariedade contra os “golpistas” e “desordeiros”.
258
Nesse âmbito da militância, os comunistas enfatizaram a importância da convocação
da Constituinte, conforme já vinham fazendo desde a metade do ano. No entanto, nesse
momento, ela não foi relacionada diretamente à democracia. Os comunistas que proferiram
algumas palavras ao longo da Sessão Solene salientaram o quanto a Assembléia mostrava-se
relevante para a garantia de liberdades recentemente conquistadas, como a de organização
sindical. Além do mais, o esforço para angariar assinaturas de solidariedade ao Presidente foi
o primeiro apoio explícito à permanência de Vargas na presidência dado pelos membros do
PCB de Porto Alegre.
Foi através da revista do Partido que os militantes continuaram expondo suas opiniões
em relação aos acontecimentos políticos, sempre defendendo a instalação imediata da
Assembléia. O decreto-lei 8.063 de 10 de outubro de 1945, que estabelecia a outorga em
massa das constituições estaduais, teve um significado muito particular para eles. Os
comunistas viram nesse ato uma “contra-marcha” do governo justamente no momento em que
a população desbravava o caminho para a “solução popular, pacífica e unitária da
Constituinte”. O acontecimento lhes passava a impressão de que as “forças reacionáriase
“ocultas” fazendo uso de uma expressão utilizada dias antes por Vargas estavam
predominando, embora temporariamente, no âmbito dos governantes.
259
Abílio Fernandes comentou que a outorga de constituições era “antidemocrática” e
“incompatível” com as novas condições do Brasil e do mundo, pois a vitória sobre o
nazifascismo havia marcado o “invencível ascenso” da democracia “em todos os quadrantes
da terra”. O Brasil, assim, vivia um problema político, para o qual o metalúrgico acreditava
existir uma solução: a consolidação da democracia e o esmagamento dos restos fascistas,
dizendo serem estes as “forças ocultas”, às quais Getúlio teria feito referência no dia três de
outubro. Somente o povo organizado daria conta da empreitada, continuando a luta em torno
258
Idem.
259
Tudo pela Constituinte. Libertação, 13.10.1945, p. 1.
101
de suas reivindicações, as quais desembocariam “invariavelmente” na mesma e unânime
reivindicação geral: a Assembléia Constituinte. E, nessa tarefa, poderiam ocorrer “contra-
marchas” e “retrocessos temporários”, mas ninguém poderia “torcer a direção da História”,
por mais que a isso se opusesse o capital financeiro colonizador. Para o líder dos comunistas
no Estado, o desfecho final encaminhava-se necessariamente para a vitória da democracia e
da unidade mundial dos povos.
260
Existia uma confiança inabalável no futuro, mesmo diante de acontecimentos
destoantes, como o decreto-lei 8.063. A democracia parecia ter chegado para ficar e se
consolidaria num processo irreversível. Ela estava ocupando o norte, o lugar último da
trajetória da humanidade. Tanto nas palavras de Abílio Fernandes, como de outros militantes
aqui apresentados, são perceptíveis elementos que compunham uma forma de ver a história
e o lugar da democracia nela direcionada para o futuro. O evolucionismo aplicado para o
estudo das sociedades esteve o tempo todo presente nas fontes. E expressões como
“marcha”, “contra-marcha”, avanço”, “retrocesso”, “atraso”, “ainda”, “caminho”, “passo”,
“destino”, “missão”, entre outras apareceram (e continuarão a aparecer) freqüentemente nas
reportagens e discursos, deixando subentendido que, para nossos protagonistas, a
humanidade, de modo geral, e o Brasil, em particular, moviam-se para algo que era sabido,
processo que poderia sofrer alguns percalços, mas que fatalmente ocorreria.
De fato, Daniel Aarão registrou que a revolução sempre foi figurada como algo
imanente ao processo histórico, que aconteceria independentemente da vontade dos homens,
para os marxistas-leninistas. Disso decorreria a idéia de que, “apesar dos pesares, o processo
revolucionário estaria, sempre, em termos históricos, avançando”. Os revezes seriam
contratempos e a revolução até poderia ser retardada, mas não eliminada.
261
As organizações
comunistas, de um modo geral, sempre cultivariam esse mito da revolução inevitável, uma
certeza que alimentou expectativas sempre otimistas em relação ao futuro.
262
A inevitabilidade da revolução ou da democracia, para aqueles que militavam no
PCB em 1945 – foi pensada dentro de uma concepção de tempo, que apontava para um futuro
previsível e esclarecedor da história, o que o historiador francês François Hartog denominou
“regime moderno de historicidade”.
263
Tratava-se de uma temporalização típica das teorias
cientificistas do século XIX entre elas o marxismo e o positivismo embora, de certa
forma, também já estivesse presente na doutrina cristã. Entretanto, nesse caso, o futuro
260
Idem.
261
REIS FILHO, Daniel Aarão. Op. Cit., p. 107.
262
Id. Ibidem, p. 108.
263
HARTOG, François (1997). Op. Cit., p. 9.
102
desejado se encontrava num outro mundo, e não nesse como nas teorias de Karl Marx e
August Comte. O marxismo-leninismo, assim, fazia parte do conjunto de idéias surgidas nas
décadas oitocentistas, direcionadas para e confiantes em um futuro mundano melhor, diferente
do passado.
A democracia era uma realidade desde o começo daquele ano. Contudo, ao mesmo
tempo, para os comunistas ela também estava em marcha e se consolidaria tal como a
idealizavam num futuro certo, embora impreciso, não localizável cronologicamente. As
expectativas que eles alimentavam em relação a ela comportavam predições a curto, médio e
longo prazos. Nesse sentido, a Constituinte imprescindível para o processo de
democratização apontava num horizonte muito próximo. Por meio dela os revolucionários
esperavam elaborar uma carta constitucional diferente daquela de 1937, que reforçasse as
garantias adquiridas naqueles primeiros meses de legalidade, concedesse subsídios para a
conquista de outras, contribuísse para amenizar os problemas mesmo os mais locais de
operários, camponeses e burguesia nacional, e assegurasse a capacidade da Nação brasileira
governar-se a si própria, sem interferências estrangeiras, sem submissões.
Diante dessa possibilidade, nossos protagonistas deram seguimento à defesa da ordem
e da tranqüilidade, a fim de não despertar entre seus inimigos a idéia de usar qualquer
distúrbio para lhes incriminar e tomar de assalto o poder. Um apelo nesse sentido foi
publicado no editorial da revista Libertação de 27 de outubro, cujos diretor e secretário foram
Dyonélio Machado e Alfredo Antônio Gerhardt, respectivamente. Quanto mais uniforme,
coesa e enérgica a pressão popular em prol da reivindicação da Assembléia Constituinte, mais
intenso mostrava-se o desespero dos “reacionários e disfarçados e inconfessados
antidemocratas”, que se rearticulavam no intento de desacreditar o Partido Comunista do
Brasil. Seu objetivo parecia claro para os militantes: desarmar o povo politicamente,
afastando-o de sua vanguarda organizada através de intrigas, ao mesmo tempo em que se
apresentavam portadores de soluções salvadoras. O editorial fazia referência a alguns rumores
espalhados por jornais ligados a Assis Chateaubriand fundador dos Diários Associados de
que comunistas e queremistas fariam greve, caso conseguissem a Constituinte.
264
Para os revolucionários, seu verdadeiro papel era o de “guardiões da ordem e da
tranqüilidade”, não dando armas para que o inimigo criasse um ambiente propício ao
desencadeamento de golpes contra os interesses da Nação. Os reacionários estavam ligados ao
capital estrangeiro colonizador, não lhes convindo que a população conquistasse espaços
264
Ordem e Tranqüilidade. Libertação, 27.10.1945, p. 1.
103
importantes no cenário político, como a Constituinte. A tarefa dos militantes, assim, era lutar,
dentro da máxima ordem e tranqüilidade, pela Assembléia, “caminho para a solução dos
grandes problemas” que afligiam o povo.
265
Um primeiro acontecimento veio plantar o desassossego entre os comunistas nos dias
que se seguiram, embora sem abalar o otimismo e a confiança que depositavam no futuro
democrático e socialista. A deposição do presidente Getúlio Vargas na madrugada do dia 29
de outubro não foi bem recebida entre os militantes. No Rio de Janeiro, o Secretário Geral do
Partido manifestou-se sobre o acontecido no jornal Tribuna Popular, caracterizando-o como
um “golpe” contra o povo e a democracia, contra o proletariado e suas organizações,
sobretudo o PCB.
266
A explicação que Prestes encontrava para o evento repousava na
sobrevivência do passado no presente. A existência de restos consideráveis do fascismo”
havia deposto Vargas, e tais resquícios sobretudo o capital financeiro tudo faria para
impedir a marcha para a democracia, para o progresso e para a independência do país, visto
que, quanto mais atrasadas permanecessem as colônias e as semi-colônias (categoria na qual
colocava o Brasil), mais facilmente seriam exploradas.
267
Somente o povo e o proletariado
organizados poderiam lutar contra a rearticulação fascista, assim como contra a carestia de
vida e a inflação, por eleições “livres e honestas” que lhes permitissem colocar no governo
seus legítimos representantes.
268
O metalúrgico Eloy Martins recordou que “a campanha por uma Assembléia Nacional
Constituinte estava tomando corpo, ganhando massas, quando, quase que de surpresa” um
golpe militar obrigou Getúlio Vargas a renunciar. De acordo com as lembranças do militante,
o PCB foi tomado completamente desprevenido, fechando suas sedes por três dias.
269
Chilcote
nos conta que houve uma breve perseguição aos comunistas nesse momento, inclusive com a
suspensão do jornal carioca Tribuna Popular.
270
Em Porto Alegre, o Exército fez apreensões
no Comitê Estadual do Partido, localizado na Praça 15 de Novembro, no mesmo dia da
deposição de Vargas.
271
O presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, assumiu a Presidência da
República no dia seguinte, tomando para si o compromisso de conduzir a transição para o
novo regime. Em 12 de outubro, assinou a Lei Complementar 13, modificando em alguns
265
Idem.
266
PRESTES, Luiz Carlos Prestes. “A queda de Getúlio Vargas”. Tribuna Popular, 06.11.1945. In: CARONE,
Edgar. Op. Cit., p. 61.
267
Idem, p. 60.
268
Idem, p. 63.
269
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 82.
270
CHILCOTE, Ronald. Op. Cit., p. 96.
271
Fundo – DPS – Série Dossiês – Dossiê: “Comitê Estadual do Rio Grande do Sul” – Notação: 30101 – f. 426.
104
aspectos o Ato Adicional 09, decretado por Vargas em fevereiro daquele ano. De acordo
com a Lei, os candidatos eleitos para a Câmara dos Deputados e o Senado Federal teriam
poderes ilimitados para elaborar a nova Constituição, e depois de sua promulgação
passariam a funcionar como Poder Legislativo Ordinário.
272
Prestes viu com bons olhos a Lei
Constitucional assinada por Linhares, embora insistisse na não simultaneidade das eleições
para a Assembléia Constituinte e para a presidência da república.
O PCB vinha apoiando a convocação da Constituinte conduzida por Getúlio, porque a
via como uma ruptura institucional em relação ao Estado Novo. O significado desse apoio, tão
distorcido pelos liberais os quais acusavam os comunistas de estarem conspirando com o
ditador era o de instaurar o regime democrático sem golpe de Estado.
273
Para os militantes
de Porto Alegre, os acontecimentos da madrugada do dia 29 de outubro vieram alterar a
marcha do Brasil rumo à democracia, interrompendo por alguns instantes a continuidade de
um processo que se desenvolvia normalmente. Ao contrário dos boatos espalhados, trataram
de demonstrar que, ao invés de cederem aos apelos à greve geral, sempre atenderam às
palavras de ordem do Partido, conclamando o proletariado a manter a calma justamente para
não dar razões para golpes.
274
Após o intervalo de breve perseguição, a campanha eleitoral dos comunistas continuou
no mesmo ritmo em todo o país. No depoimento realizado na década de 1980, Eloy lembrou
que os trabalhos em torno das eleições deram uma boa experiência de atividades concretas
junto às massas para os colegas. A imprensa teve enorme penetração, e os revolucionários
arrecadaram grandes quantias com festas, rifas e doações, êxitos que em sua opinião “subiram
para a cabeça de muitos companheiros, inclusive dirigentes nacionais, que começaram a
idealizar um caminho gradualista para a tomada do poder”, isto é, de eleição em eleição.
275
Segundo o metalúrgico catarinense, os preparativos para as eleições de 02 de dezembro
estavam em andamento desde o primeiro semestre de 1945. Contudo, se relembrarmos o que
foi relatado, até esse momento, a ênfase das manifestações recaía na eleição da Assembléia
Constituinte, quase não sendo mencionada a escolha do presidente, pois os comunistas não
concordavam que o chefe supremo da nação assumisse enquanto continuasse em vigor a Carta
de 1937. No dia 10 de novembro, o PCB foi registrado oficialmente como partido político, e
dali alguns dias indicou o engenheiro Yeddo Fiúza para a presidência da república.
276
272
PANDOLFI, Dulce. Op. Cit., p. 142.
273
MORAES, João Quartim de. Op. Cit., p. 171.
274
O proletariado como garantia da tranqüilidade. Libertação, 17.11.1945, p. 3.
275
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 82.
276
CHILCOTE, Ronald. Op. Cit., 96.
105
2.3 – As eleições de 02 de dezembro: a democracia resplandece
Depois de conquistada a reivindicação da Constituinte, através da Lei Complementar
13, chegava a hora de concentrar as atenções na candidatura à presidência da República.
No dia 17 de novembro, Dyonélio Machado e Alfredo Gerhardt colocaram em circulação
mais um número da revista Libertação, na qual apresentaram Fiúza como o candidato da
“unidade” e da “confiança”.
277
O engenheiro era a solução unificadora porque congregava todas as forças da
sociedade que aspiravam por ordem, tranqüilidade e libertação das condições de atraso
econômico que castigava o Brasil, isto é, trabalhadores do campo e da cidade, burguesia
nacional e alguns setores da classe média. O discurso da União Nacional embasou fortemente
a defesa do ex-Prefeito da cidade de Petrópolis para presidente. O editorial da revista
mostrava que sua candidatura nascia da unidade de vontade da população, como é notável
nessa frase: “foi a gigantesca e invencível corrente da unidade da esmagadora maioria dos
brasileiros que formou a candidatura do engenheiro Yeddo Fiúza, candidato da confiança dos
trabalhadores, candidato da confiança da burguesia”.
278
Ademais, os militantes garantiam que,
uma vez na presidência, Fiúza se empenharia pela união de todos os brasileiros e pela solução
de seus problemas. Através dele, o que afligia os vários setores da sociedade, levando-a ao
atraso econômico, seriam solucionados, pois que daria atenção para todas as camadas sociais,
não se deixando levar por uma em especial, nem pela influência do capital estrangeiro
colonizador.
Fiúza também foi exibido como o candidato civil, isto é, a alternativa em relação às
candidaturas militares de Eduardo Gomes e Eurico Dutra. O engenheiro satisfazia comunistas
e não comunistas; mostrava-se o caminho da democracia, da unidade e do progresso. Sua
candidatura havia sido determinada pelo povo: “não foram os caudilhos que a escolheram sem
que o povo soubesse como e porque”.
279
Assim, ela se contrapunha a um passado
antidemocrático por duas razões. Primeiramente, porque Fiúza não era militar, opondo-se aos
candidatos que representavam, por suas idéias, a permanência de resquícios do passado
ditatorial, tido como vencido e acabado. Por outro lado, sua candidatura tinha sido
277
Candidato da Unidade e da Confiança. Libertação, 17.11.1945, p. 1.
278
Idem.
279
Idem.
106
escolhida pelo povo unido e não por “caudilhos”, expressão usada para fazer referência aos
chefes regionais que manipulavam a política com o uso da força, como Júlio de Castilhos e
Borges de Medeiros, os quais Dyonélio conhecia muito bem devido ao tempo em que militara
nas fileiras do PRR. Nesse sentido, os comunistas demonstravam que existia a contraposição
de uma época de desordem e descentralização sobretudo o período em que predominara a
política dos coronéis e uma nova era, na qual as forças nacionais se congregavam em torno
de um indivíduo capaz de solucionar suas mais diversas reivindicações.
As eleições tomaram tempo considerável da militância, impondo-se como pauta em
diversas reuniões e assembléias e motivando comícios e conferências no Clube de Cultura
Popular Euclides da Cunha. Até o dia 02 de dezembro, bairros como São João, Azenha, Bom
Fim, Teresópolis e Glória foram palcos onde os comunistas defenderam suas candidaturas.
280
Como mencionado no primeiro capítulo, os militantes da capital gaúcha mantinham
programas diários em duas emissoras de rádio. A “Hora do Partido Comunista do Brasil” ia
ao ar sempre às 22 horas na Difusora, e foi também através dela que nossos protagonistas
exaltaram seus candidatos à presidência e ao parlamento nacional.
Abílio Fernandes, candidato à deputação federal, foi um dos militantes autorizados a
falar em nome do Partido no programa, e mais uma vez temos acesso a uma exposição intensa
e emocionada, repleta de anseios não apenas de um homem simples, mas também de um
infatigável militante. O metalúrgico falou, sobretudo, de si e da proposta do PCB, ressaltando
ser a primeira vez que sua agremiação política concorria “livre e francamente” às eleições,
“armas da democracia” pelas quais os comunistas tanto haviam lutado e sofrido.
281
Abílio
falava do lugar de alguém com uma determinada experiência de vida e de militância, para que
o ouvinte soubesse quem era e o que esperar de sua atuação como deputado federal:
Trago comigo apenas a experiência de muitos anos de luta sindical. Trago,
pessoalmente, apenas a experiência de um operária [sic] habituado e treinado na
luta de todos os dias pelas reivindicações de minha classe. Não posso apresentar-
vos credenciais do tirocínio parlamentar, mas somente aquele senso prático do
homem de fábrica que não pode admitir que os fatos sejam encobertos com
palavras bonitas, somente aquela noção do concreto que faz com que o proletariado
repila a demagogia e o engano. Venho das lutas por aumento de salário, pelo
respeito, aplicação e aperfeiçoamento das leis sociais, venho das greves corajosas
contra a exploração desumana, do combate pelas reivindicações, da luta que
tornava a vida insegura, sob a ameaça constante da cadeia, das torturas físicas e
morais e do Tribunal de Segurança Nacional. Venho de dentro dos sindicatos, que
bradam e clamam pela mais completa liberdade e autonomia.
282
280
Cf. Correio do Povo, 21.11, p. 6 e 10; 24.11, p. 4; 27.11, p. 1 e 4; 28.11, p. 5; 29.11.1945, p. 4.
281
As palavras pronunciadas pelo camarada metalúrgico ABÍLIO FERNANDES, candidato à deputação federal
pelo Rio Grande do Sul, do P.C.B., na “Hora do Partido Comunista do Brasil”. Libertação, 17.11.1945, p. 1.
282
Idem.
107
O militante pelotense sabia, como poucos, levar aqueles que o escutavam aos
meandros de uma vida dedicada à causa operária. Ele compôs uma “memória de si” no
momento de se dirigir aos ouvintes da rádio Difusora, voltando-se para sua própria vivência e
dando a ver certos aspectos dela, selecionados a fim de moldar uma certa “imagem”. Nesse
sentido, a imagem que construiu para aqueles que lhe davam atenção foi a de homem de luta –
provado pelas dificuldades do dia-a-dia tanto quanto pelas prisões e torturas comandadas pelo
Tribunal de Segurança Nacional indivíduo ligado às questões práticas da sobrevivência e,
por isso, direto, pouco afeito aos detalhes retóricos da atividade parlamentar. Para esse
comunista, que dizia trazer consigo a voz dos sindicatos, importava conquistar a mais
completa liberdade e autonomia.
Como um representante da classe operária, esperava levantar as reivindicações de sua
classe e reatar o caminho entre a tribuna e o operariado através da ajuda “moral e ideológica,
orgânica e disciplinada” da organização mais fortemente armada nesses aspectos, o PCB.
283
O
“complexo da dívida” mostra-se muito claro nas palavras de Abílio. O saber e o poder do
militante foram encarados como “dádivas do Partido e da vida partidária”.
284
Mas o candidato
também solicitava o auxílio do público, pedindo para que o mantivessem a par de suas
aspirações e vigiando suas atividades depois de eleito. Uma tal unidade fazia-se necessária
para que a ordem e a tranqüilidade permanecessem, pois, de acordo com o metalúrgico,
tratava-se de uma questão de honra para ele e seus companheiros “serem os campeões” nesse
sentido, pois qualquer perturbação poderia favorecer o fascismo.
285
Os comunistas
acreditavam que a violência e a desordem favoreceriam os golpes, tal como havia ocorrido na
década de 1930. Assim sendo, o militante manifestou que ao proletariado e ao povo
entenda-se aos comunistas interessava a consolidação do atual governo, cujos atos
democráticos seriam por eles apoiados.
286
Otto Alcides Ohlweiller, da mesma forma, concorria ao parlamento federal e
pronunciou-se no programa irradiado pela Difusora. Mais arrazoado que o colega pelotense,
as palavras de Ohlweiller buscaram traçar um panorama da situação sócio-econômica
brasileira, indicando quais as soluções que os comunistas vislumbravam e pretendiam
defender na Câmara dos Deputados.
283
Idem.
284
REIS FILHO, Daniel Aarão. Op. Cit., p. 119.
285
As palavras pronunciadas pelo camarada metalúrgico ABÍLIO FERNANDES, candidato à deputação federal
pelo Rio Grande do Sul, do P.C.B., na “Hora do Partido Comunista do Brasil”. Libertação, 17.11.1945, p. 1.
286
Idem.
108
A forma como o Estado Novo havia administrado os graves problemas sociais e
econômicos do país soava como um deboche para Otto que, ao falar no regime ditatorial, não
mencionava a figura de Vargas. Segundo ele, o progresso e o bem estar do povo estavam
justamente condicionados à liquidação disso que ele chamou de “restos do fascismo” e à
consolidação da democracia.
287
Somente um governo apoiado pelo povo organizado poderia
atacar o problema fundamental do país: a questão da terra. Fazia-se necessário romper com o
“atraso feudal”, com o “servilismo” e a “rotina” que reinava no campo. Uma vez no
parlamento, os futuros deputados comunistas defenderiam a democracia e os interesses do
povo, levantando dificuldades como essa, tarefa para a qual sempre contariam com a
“orientação segura” do partido.
O nível de vida das massas trabalhadoras, de acordo com o comunista porto-alegrense,
deveria ser elevado, a fim de aumentar o consumo e dinamizar a produção nacional. Esta, por
sua vez, geraria mais renda nacional para atender as necessidades de ensino, saúde e obras
públicas. O caminho para solucionar essa questão encontrava-se na entrega de terras em
condições de exploração aos camponeses pobres, os quais trabalhariam no sentido de
aumentar a produção de gêneros alimentícios, o que, conseqüentemente, elevaria a capacidade
aquisitiva dessa parcela da sociedade. Essa deveria ser a perspectiva dos setores interessados
no progresso, e os futuros parlamentares do PCB se comprometiam em defender leis capazes
de resolver tais questões, pois tal era o sentido da revolução democrático-burguesa, a qual
implicava numa substancial reestruturação da economia nacional.
288
De posse pela primeira vez das “armas da democracia”, as eleições, os comunistas
esperavam delas fazerem uso para que, ocupando postos político-institucionais legítimos,
pudessem privilegiar as questões econômicas e nacionais. A revolução democrático-burguesa,
ao reconhecer o desenvolvimento do capitalismo nacional com a reforma agrária, revisão
dos contratos com o capital estrangeiro, ampliação da produção e do mercado internos
parecia interessar não apenas ao PCB e seus membros, mas também às forças progressistas da
Nação, os industriais. A União Nacional, assim, mostrava-se imprescindível para a
democracia e o progresso do Brasil.
No exemplar de 17 de novembro, além de serem transcritos os pronunciamentos de
Abílio Fernandes e Otto Alcides Ohlweiller em favor de suas candidaturas ao parlamento
federal, Dyonélio Machado e Alfredo Gerhardt apresentaram pequenas biografias de alguns
287
O discurso pronunciado pelo camarada OTO ALCIDES OHLWEILER, candidato do P.C.B. pelo Rio Grande
do Sul à mara Federal, quando do lançamento dos candidatos comunistas, na “Hora do Partido Comunista do
Brasil”. Libertação, 17.11.1945, p. 2.
288
Idem.
109
dos demais candidatos todos “democratas honestos, lutadores anti-fascistas e provados nos
duros anos da reação e da guerra” e o “Programa Mínimo de União Nacional” defendido
pelos futuros deputados.
289
No “Programa” datado de 13 de novembro, os candidatos registrados sob a legenda do
PCB assumiram um compromisso duplo: lutar contra o fascismo e pela consolidação da
democracia no Brasil.
290
Apesar da anistia, da libertação dos presos políticos, da rearticulação
dos partidos, do retorno das liberdades de associação e manifestação e do processo eleitoral
em curso, os comunistas viam que aquele momento não estava completamente liberto do
fascismo e que a democracia não havia sido consolidada. As atividades dos futuros
parlamentares comunistas estariam, assim, voluntariamente subordinadas ao “Programa
Mínimo de União Nacional”, um plano de ação elaborado pelo Comitê Nacional através do
qual os revolucionários estabeleciam as medidas a serem tomadas pelos futuros deputados no
sentido de alcançar a União Nacional. A unidade, ao contrário da descentralização, era o
caminho para a democracia e para o progresso.
A Assembléia Constituinte teria papel crucial, pois seria em torno dela que aconteceria
a unidade nacional. Conforme estabelecido pela Lei Complementar 13, senadores e
deputados se reuniriam em assembléia e, de acordo com o plano do partido bolchevique,
tomariam algumas providências que se mostravam latentes.
Em um primeiro momento, eles proclamariam a caducidade da carta de 10 de
novembro de 1937. Em seguida, decidiriam sobre o futuro governo. O presidente eleito em 02
de dezembro não estaria seguro de que assumiria o poder, pois estaria nas mãos da
Constituinte a decisão de sua permanência ou substituição. O chefe do executivo transformar-
se-ia em “mero delegado” da Assembléia, perante ela responsável por todos os seus atos.
Num terceiro momento, antes de dar início às discussões sobre a futura Constituição, o
parlamento elaboraria uma “declaração dos direitos e deveres do cidadão”, de modo a garantir
as liberdades adquiridas e encaminhar a conquista de outras igualmente importantes, quais
sejam: liberdade de consciência, de religião (de ter ou não ter), de manifestação de
pensamento (pela imprensa e pelo rádio), de reunião e de associação (inclusive política). Da
mesma forma, a declaração deveria assegurar a inviolabilidade do domicílio e o sigilo da
289
Os candidatos à deputação federal pelo Partido Comunista no Rio Grande do Sul foram Abílio Fernandes,
Albino Portela Fagundes, Álvaro Moreyra, Antônio Teixeira e Silva, Arlindo Ferreira de Souza, Carlos Lima
Aveline, sar Ávila, Deborah Souza Ribeiro, Deburgo de Deus Vieira, Dyonélio Machado, Gashipo Chagas
Pereira, Júlio Teixeira, Lucas Fortes dos Santos, Luiz Carlos Prestes, Manoel Jover Telles, Nicácio Costa, Otto
Alcides Ohlweiller, Percy de Abreu Lima, Ricardo Ellwanger, Santos Soares, Sérgio Homos e Trifino Correa.
Libertação, 17.11.1945, p. 4-5.
290
Programa Mínimo de União Nacional que os candidatos do Partido Comunista do Brasil defenderão no futuro
Parlamento. Libertação, 17.11.1945, p. 5.
110
correspondência, além de estabelecer “direitos sociais essenciais”, tais como: direito ao
trabalho e ao repouso, à assistência paga pelo Estado para acidentes, doenças e invalidez, à
aposentadoria digna e à mais completa igualdade de direitos para as mulheres.
291
O cronograma traçado pelo PCB fixava o próximo passo em uma série de princípios a
serem considerados na elaboração da Constituição, máximas que determinavam prioridades
políticas e econômicas em defesa dos interesses do país. Para começar, toda a soberania
residiria na Nação e, assim, os deputados nada mais seriam que mandatários de seus eleitores,
podendo ter seus mandatos cassados pelos mesmos a qualquer instante. O voto, por sua vez,
foi colocado como direito inalienável e realmente democrático, desde que direto, secreto e
universal. Todos os cargos administrativos importantes – desde os municípios até órgãos
supremos do poder deveriam ser ocupados por representantes escolhidos pelo povo,
inclusive os juízes. Apenas o poder executivo estaria completamente subordinado à
Assembléia Constituinte. Ele seria exercido por um “Conselho de ministros” escolhidos pela
Assembléia de representantes do povo, ficando perante ela responsável, assim como o
presidente da república. Uma vez respeitada a Constituição, municípios, estados e distrito
federal teriam inteira autonomia política e administrativa. Na economia, a futura carta deveria
assegurar a eliminação do “feudalismo econômico e financeiro”, nacionalizando trusts e
providenciando que as grandes propriedades abandonadas fossem distribuídas pelo Estado aos
camponeses sem terra. Por fim, seria mantida rigorosa separação entre religião e estado,
assegurada a liberdade na prática de todos os cultos e a laicidade do ensino público.
292
Os interesses da nação ainda exigiam a luta pela paz imediata e pelo rompimento com
governos fascistas (como o da Espanha e de Portugal), pela solidariedade com as Nações
Unidas e pela prática da democracia interna, através da defesa intransigente dos direitos civis
dos cidadãos. Os comunistas deveriam batalhar contra a carestia de vida e em prol da
aplicação da legislação trabalhista, da extensão dos direitos sociais aos trabalhadores do
campo, em benefício do socorro hospitalar a todas as vítimas de doenças endêmicas como a
tuberculose pela revisão geral do sistema de impostos, em favor da dissolução das polícias
políticas e de processos criminais contra carcereiros e carrascos que tantos crimes haviam
cometido ao longo do Estado Novo. Ademais, os “bandos integralistas” estariam com seus
dias contados.
293
291
Idem.
292
Idem.
293
Idem.
111
O “Programa Mínimo de União Nacional” também foi publicado no jornal Correio do
Povo em 21 de novembro, mesmo dia em que Yeddo Fiúza esteve presente em comício
promovido no Largo da Prefeitura.
294
Naqueles dias que antecederam as eleições, comunistas
e anticomunistas intensificaram suas atividades e publicações. Frases do discurso proferido
pelo engenheiro na concentração da noite do dia 21 apareceram no referido periódico:
“Estamos fartos de palavras; precisamos pensar no Brasil, agindo e trabalhando”; “É fácil
governar um povo quando se pratica a política do povo”; “No governo, só cuidarei das
necessidades do povo”.
295
Os militantes escolheram aquelas sentenças de Fiúza que melhor
sintetizavam a linha do PCB, como a defesa de uma política voltada para o povo e a nação.
No dia 27 de novembro, enquanto nossos protagonistas convidavam a população porto-
alegrense para o comício-monstro de encerramento da campanha eleitoral, que ocorreria no
dia seguinte, a LEC publicava imediatamente abaixo uma advertência: “nenhum católico deve
votar em YEDDO FIÚZA, candidato do Partido Comunista”.
296
A propósito, a data de 27 de novembro também passava a integrar os embates entre
comunistas e anticomunistas. O historiador Rodrigo Patto Motta afirmou que o dia do
levante foi lembrado por aqueles que se contrapunham ao comunismo em 1936, embora
sem grande empenho do governo. No ano seguinte, contudo, o Estado resolveu conferir um
caráter oficial às comemorações, e o dia do movimento transformou-se em data comemorativa
das Forças Armadas, bem como uma oportunidade para ato cívico, no qual compareciam
personalidades civis e militares. Em 1938, o governo estado-novista resolveu investir em
“monumentos aos mortos que lutaram ao lado da ordem contra os revolucionários”,
inaugurando, dois anos depois, o mausoléu que reuniria os restos mortais dos oficiais e dos
soldados tombados na luta contra os comunistas.
297
As celebrações continuaram sendo
realizadas ao longo das décadas seguintes, principalmente nos momentos em que as
campanhas anticomunistas se fizeram mais intensas.
298
Uma vez em liberdade, os membros do PCB também passaram a comemorar os
acontecimentos de 1935. A Sociedade Espanhola abrigou a primeira homenagem realizada
pelos comunistas que militavam em Porto Alegre à memória dos “heróicos filhos do povo
brasileiro tombados na luta contra o nazi-integralismo” às 20 horas do dia 27 de novembro de
294
A pedido. O candidato de União Nacional Yedo Fiúza falará hoje ao povo gaúcho; Programa nimo de
União Nacional a ser defendido no parlamento pelos deputados do Partido Comunista do Brasil. Correio do
Povo, 21.11.1945, p. 6.
295
Correio do Povo, 25.11.1945, p. 4.
296
Correio do Povo, 27.11.1945, p. 1.
297
MOTTA, R. P. S. Em Guarda Contra o Perigo Vermelho. O anticomunismo no Brasil (1917-1964).
Universidade de São Paulo, 2000. Tese de doutorado. p. 112.
298
Id. Ibidem, p. 113.
112
1945.
299
A edição da revista Libertação de 28 de novembro foi a última que nos restou
daquele ano e, nela, nossos protagonistas se manifestaram em relação aos acontecimentos de
“35”.
Segundo a reportagem, “pela primeira vez, após dez anos de odiosas calúnias e
constantes mentiras”, o povo brasileiro poderia celebrar o “verdadeiro significado do levante
de 27 de novembro de 1935”.
300
Eles esperavam mostrar o sentido real do movimento não
somente rememorando-o, mas tentando tirar do próprio acontecimento e de suas
conseqüências um aprendizado para aquele novo contexto, o que nos é perceptível através
dessa frase que segue o título do artigo: “A lição que cabe tirar dos acontecimentos de
novembro de 1935”.
301
Quer dizer, havia um reconhecimento de que a experiência vivida no
passado, recordada naquele momento e submetida à crítica, gerava um conhecimento, um
saber.
O fato, que os integralistas haviam tentado converter em data “antipática”, reaparecia
em 1945 com seu verdadeiro sentido de luta contra o fascismo no Brasil. As medidas
restritivas do governo Vargas que, na época, marchava numa política antibrasileira junto aos
fascistas, tinham motivado os nacional-libertadores a empunhar armas, dando uma
inexcedível prova de espírito patriótico. 27 de novembro, por isso, não lembrava uma derrota,
mas a vitória da luta contra o “fascismo e o integralismo traidor, uma data de toda a
nacionalidade”.
302
Nesse sentido, os comunistas tentavam encontrar um lugar para seus feitos
de 1935 na história nacional. Diziam que o movimento havia representado um “sacrifício de
sangue dos brasileiros” e que seus protagonistas teriam dado uma “insuperável demonstração
de espírito democrático”, sendo “os primeiros a esquecer ódios e ressentimentos, contribuindo
com ação exemplar para a unificação dos brasileiros, indispensável para a consolidação da
democracia em nossa Pátria”.
303
Vê-se, aí, uma referência à unidade, preconizada pelo Partido
e – às vezes, a contragosto pelos militantes de Porto Alegre. Por fim, ponderaram que, tanto
os que tombaram em defesa da legalidade, pensando que defendiam a Constituição de 1934,
como os que se sacrificaram para deter a marcha do fascismo, eram dignos de respeito de
todos os patriotas conscientes.
304
Ao fazer o passado presente através da memória que resignifica, enquadrando o
pretérito às exigências presentes além da crítica, do julgamento e do posicionamento em
299
Correio do Povo, 27.11.1945, p. 14.
300
27 de Novembro de 1935. Libertação, 28.11.45, p. 1.
301
Idem.
302
Idem.
303
Idem.
304
Idem.
113
relação a esse passado configurando um espaço de experiência no sentido de Reinhart
Koselleck – 27 de novembro de 1935 dez anos depois se convertia em “legítima vitória”. Para
os revolucionários, era a data de celebração da luta contra o fascismo e em ocasião propícia
para incitar a união dos brasileiros, indispensável para a consolidação da democracia no país.
A personalidade na qual os comunistas mais concentravam sua atenção naqueles dias
que precediam as eleições e que confiavam a tarefa de concretizar a idéia de União Nacional
também havia lutado contra o fascismo. De acordo com artigo publicado em Libertação, na
época de ascensão do fascismo no cenário mundial, o porto-alegrense Yeddo Fiúza
encontrava-se à testa da prefeitura da cidade de Petrópolis, enfrentando as “hordas de camisas
verdes” ao lado do povo, atitude que lhe havia conferido o cognome de “La Guardia de
Petrópolis”.
305
Naqueles dias que antecediam o pleito, os comunistas não falavam em União
Nacional, nem em democracia, sem mencionar seu candidato à presidência da República. Eles
se empenharam em defendê-lo tanto na revista Libertação quanto nas páginas do jornal
Correio do Povo, por meio de uma série de artigos que ressaltavam suas virtudes e atacavam
aqueles que pretendiam manchar sua reputação às vésperas das eleições.
Através de uma rie de depoimentos de pessoas que haviam conhecido o engenheiro
porto-alegrense mais intimamente, os militantes procuraram assegurar aos leitores do Correio
no Estado a retidão de seu caráter e seu potencial administrativo. Antigos colegas de
faculdade e de trabalho, bem como amigos pessoais muitos dos quais fizeram questão de
afirmar não terem ligação alguma como o comunismo – destacaram que Fiúza havia sido bom
estudante e, ao longo da sua carreira, teria mostrado conduta profícua, honesta, acatada e
retilínea. Tratava-se de um profissional culto e competente, com grande capacidade
administrativa, e que não merecia muitos dos ataques que sofria no momento.
306
Contra os que tentavam atrapalhar a candidatura de Yeddo, dizendo em tom pejorativo
que se tratava de um candidato comunista, os militantes de Porto Alegre explicavam que ele
não assumia nenhum compromisso ideológico com o PCB e que era um representante de
união nacional, sem distinção de classes sociais, de ideologias políticas, credos religiosos e
pontos de vista filosóficos.
307
Algumas reivindicações importantes dos comunistas coincidiam
com as diretrizes sociais do seu futuro presidente. Ele teria declarado governar
305
Candidato de União Nacional. Libertação, 28.11.1945, p. 3.
306
A pedido. A Honestidade e a Capacidade Administrativa do Dr.Yeddo Fiúza. Correio do Povo, 29.11.1945, p.
5.
307
A pedido. O Partido Comunista do Brasil apresenta ao sufrágio das urnas os candidatos do proletariado e do
povo brasileiro. Correio do Povo, 29.11.1945, p. 7.
114
exclusivamente com o “Parlamento Constituinte”, cujos poderes ilimitados reconhecia ao
afirmar que, uma vez eleito, se submeteria à sua soberania.
308
Fiúza comprometia-se com a
liberdade de reunião, de greve e sindical, com o barateamento do custo de vida, educação,
bem como com a ampliação e o aperfeiçoamento da justiça do trabalho, substituindo juízes
que não haviam sido eleitos.
309
A postura do ex-prefeito de Petrópolis, aqui, estava
inteiramente de acordo com o “Programa Mínimo de União Nacional”.
ataques de Carlos Lacerda, por exemplo, encontraram respostas no semanário do
Partido. Os militantes não chegaram a explicitar o conteúdo das agressões, mas atribuíram a
atitude do udenista ao desespero frente à vitória certa de Fiúza das urnas, afirmando ser ele da
mesma “fauna” que Goebbels, ministro da propaganda e figura chave do regime de Adolf
Hitler, Chateaubriand e outros “espécimes” acostumados à intriga e lembrando seu passado de
“traições à causa do proletariado e do povo brasileiro”.
310
O jornalista havia integrado as
fileiras do PCB na metade dos anos 1930, tornando-se ferrenho anticomunista após deixar o
Partido em 1939.
É possível perceber que a linguagem das respostas mudou de um periódico para outro.
Enquanto no Correio do Povo os comunistas expressavam-se de modo mais polido – evitando
grandes xingamentos – no semanário do Comitê Municipal se sentiam à vontade para associar
Carlos Lacerda a expressões ofensivas como “fauna” e “espécime”, além do fato de utilizarem
tais termos para compará-lo a dois indivíduos mal vistos à época, como Joseph Geobbels e
Assis Chateaubriand, conhecido por sua conduta pouco ética no meio jornalístico através do
uso de chantagens, mentiras e insultos. Para nossos protagonistas, de nada adiantavam os
ataques, pois o país havia traçado seu “destino, tendo como meta a democracia, base de
uma pátria livre, sem fascistas, mesmo camuflados” e nada deteria a “marcha encetada”.
311
De fato, os votos conquistados pelos candidatos comunistas na capital gaúcha durante
o pleito de 02 de dezembro foram expressivos. Segundo Moisés Vinhas, os números
alcançados pelo PCB nos mostram sua presença efetiva na vida política brasileira e detendo,
pela primeira vez, uma influência decisiva sobre as grandes massas da sociedade e da própria
classe operária.
312
308
A Candidatura Yedo Fiúza, Libertação, 28.11.1945, p. 4. A submissão de seu mandato à ratificação da
Assembléia Constituinte e a percepção dela como dona dos destinos dos brasileiros foi manifestada por Fiúza em
comício realizado no Largo da Carioca em 30 de novembro. Um reportagem de página inteira foi publicada no
Correio do Povo a pedido do Comitê Pró-Candidatura Yedo Fiúza em 01.12.1945, p. 7.
309
Yedo Fiúza não promete senão aquilo que pode realizar!. Libertação, 28.11.1945, p. 6.
310
Por tudo isso, os reacionários andam desesperados!. Libertação, 28.11.1945, p. 7.
311
Idem.
312
VINHAS, Moisés. O Partidão. A luta por um partido de massas (1922-1974). São Paulo: Editora Hucitec,
1982, p. 87.
115
Em Porto Alegre, Yeddo Fiúza conquistou 30,62% dos votos, ficando na frente de
Eduardo Gomes (com 20,77%) e perdendo apenas para Eurico Gaspar Dutra (PSD), com
48,26%.
313
A representatividade do candidato dos comunistas do Estado, porém, não foi tão
expressiva, conforme podemos vislumbrar na tabela abaixo:
Tabela 04
As eleições de 1945 e a representatividade de Yeddo Fiúza no Rio Grande do Sul
Partido Candidato Nº de votos % de votos
PSD Eurico Gaspar Dutra 447.517 72,46
UDN-PL Eduardo Gomes 110.444 17,89
PCB Yeddo Fiúza 50.200 8,13
PAN Álvaro R. Telles 341 0,05
Brancos ......................................... 3.880 0,63
Nulos ......................................... 5.139 0,84
Total ......................................... 617.512 100
Fonte: NOLL, Maria Isabel & TRINDADE, Hélgio. Op. Cit., p. 22.
Como, na época, um indivíduo poderia se candidatar a mais de um cargo e em vários
estados, Luiz Carlos Prestes conseguiu a façanha de ser eleito senador pelo Distrito Federal e
deputado federal por Pernambuco, Rio Grande do Sul e pela própria capital do país. A
colocação dos representantes comunistas ao parlamento foi semelhante à do engenheiro Fiúza.
Vejamos o desempenho dos candidatos para senador da república:
Tabela 05
Os candidatos à deputação federal nas eleições de 1945 no Rio Grande do Sul
Partido Candidato Nº de votos % de votos
PSD Getúlio Vargas 461.913 38,53
PSD Ernesto Dornelles 460.113 38,38
UDN-PL Joaquim Luiz Osório 95.794 7,99
UDN-PL Francisco Antunes M. Jr.* 95.154 7,94
PCB Luiz Carlos Prestes 37.033 3,09
PCB Álvaro Moreyra* 35.033 2,92
Total de votos ........................................... 1.185.040**
Votos nominais ........................................... 592.520
Brancos ........................................... 8.878 1,00
Nulos ........................................... 4.633 0,15
Total ...........................................
617.512***
100
Fonte: NOLL, Maria Isabel & TRINDADE, Hélgio. Op. Cit., p. 25. (* Suplente; ** Cada eleitor sufragava dois
votos; *** Número de votantes.)
313
Média das seis juntas de Porto Alegre, aproximadamente 75.563 votantes. Informações retiradas de NOLL,
Maria Izabel & TRINDADE, Hélgio (Org.). Estatísticas Eleitorais Comparativas do Rio Grande do Sul (1945-
1994). Porto Alegre: Editora da Universidade UFRGS/Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do
Sul, 1995, p. 23.
116
Na capital do Estado, tanto Prestes como Álvaro Moreyra ficaram atrás somente dos
candidatos do PSD. A média das seis juntas da cidade aproximadamente 143.584 votantes
demonstrou que eles obtiveram 10,65 e 10,53% dos votos respectivamente, enquanto os
candidatos do PSD fizeram a maioria: 30,98 e 30,96% respectivamente. Os candidatos da
UDN-PL conseguiram 8,00 e 7,98% dos sufrágios. As duas vagas designadas para o Rio
Grande do Sul foram ocupadas por Getúlio Vargas e Ernesto Dornelles.
Eleito senador com 157.397 pelo Distrito Federal, Prestes abriu mão do cargo na
Câmara dos Deputados.
314
Sua vaga conquistada pelos sufrágios sul-riograndenses foi
ocupada por Abílio Fernandes, segundo candidato do PCB mais votado no Estado. Enquanto
o Cavaleiro da Esperança obteve 11.849 votos, o metalúrgico pelotense alcançou 5.947.
315
De
um modo geral, o desempenho dos candidatos comunistas à deputação federal em Porto
Alegre foi equivalente ao ocorrido para as vagas no senado e na presidência: o PSD ficou com
a maioria dos votos, 42,16%, seguido do PCB, com 23,18%. PTB, UDN, PL e PRP ficaram
respectivamente com 12,66%, 10,35%, 8,85% e 2,8%.
316
Em âmbito estadual, o Partido
Comunista só ficou na frente do PRP, perdendo para as demais agremiações.
317
Em termos partidários, o PSD elegeu a maioria dos parlamentares, enquanto o PCB
ganhou a maior fatia dos votos em cidades industriais e capitais de estados, como São Paulo,
Santos, Campinas, Sorocaba, Recife, Olinda, Natal e Aracaju.
318
O partido vitorioso logrou
26 cadeiras no Senado e 151 na Câmara. Os udenistas ficaram com dez senadores e 77
deputados. O PTB, expressão da política varguista dispensada aos trabalhadores, colocou dois
representantes no Senado e 22 na Câmara. E o PCB fez de Prestes seu único senador, além de
14 deputados federais.
319
De acordo com Moraes, o resultado do pleito de 02 de dezembro foi
encorajador para os comunistas, que não podiam dispor dos “meios de aliciamento” dos quais
fazendeiros e plutocratas faziam uso cabos eleitorais, voto de cabresto, plumitivos
(escritores publicistas de aluguel) etc.
320
314
CHILCOTE, Ronald. Op. Cit., 314.
315
Os demais concorrentes sufragaram respectivamente: AndTrifino Correa, 3.508; Otto Alcides Ohlweiller,
3.079; Dyonélio Machado, 2.320; Lucas Fortes dos Santos, 1.481; Deburgo de Deus Vieira, 1.432; Manoel Jover
Telles, 1.206; Júlio Teixeira, 814; Gashipo Pereira, 809; Arlindo Ferreira de Souza, 807; Santos Soares, 798;
Percy de Abreu Lima, 742; Antônio Teixeira e Silva, 586 votos. A obra consultada não apresenta meros
referentes aos comunistas Deborah Ribeiro, Albino Portela Fagundes, César Ávila, Sérgio Holmos, Carlos
Aveline, Álvaro Moreyra, Richard Ellwanger e Nicácio da Costa. Id. Ibidem, p. 316.
316
NOLL, Maria Izabel & TRINDADE, Hélgio. Op. Cit., p. 29. Média das seis juntas de Porto Alegre que
totalizaram 72.564 votantes.
317
Id. Ibidem, p. 28.
318
CHILCOTE, Ronald. Op. Cit., p. 97.
319
MORAES, João Quartim de. Op. Cit., p. 171.
320
Id. Ibidem, p. 172.
117
Após as eleições, nossos protagonistas deram seguimento às tarefas partidárias,
realizando reuniões e assembléias de células, balanços de comitês distritais, além de
conferências e horas de arte no Clube de Cultura Popular Euclides da Cunha. No dia 27 de
dezembro, eles iniciaram a “Semana Luiz Carlos Prestes”, uma série de atividades, cujo foco
foi o Cavaleiro da Esperança e sua maneira de lidar com diversos problemas e de agir em
distintas situações, como conferências, debates e sabatinas, atividades comentadas no
primeiro capítulo. Acompanhada de perto pela polícia política
321
, a “Semana” foi encerrada
em 03 de janeiro de 1946, dia do aniversário do homenageado, com a inauguração de seu
retrato na sede do Comitê Municipal de Porto Alegre.
322
A despedida do ano em que haviam conquistado a legalidade foi em grande estilo. Ao
saber dos resultados das eleições, o Largo da Prefeitura foi tomado pelos comunistas às 20
horas do dia 30 de dezembro. O “Comício da Vitória” foi aberto às 21 horas pelo jornalista
Josino Campos (Isaac Acxelrud), que passou a palavra imediatamente para o companheiro
Sérgio Holmos.
Holmos era Secretário Político do Comitê Municipal e presidente do MUT estadual.
Chegado havia pouco do Rio de Janeiro, onde participara do Pleno Ampliado do Comitê
Nacional juntamente com o camarada mineiro Jover Telles, o dirigente de Porto Alegre
declarou ao público presente que o Partido Comunista, depois das eleições, vinha novamente
debater junto ao povo o “Programa Mínimo de União Nacional”, plano que defendia as
reivindicações mais sentidas do proletariado e do povo. Holmos também fez questão de
mencionar a conduta dos comunistas naquele ano, lutando contra os golpistas e procurando
levar o país de forma pacífica para a democracia.
323
Orestes Timbaúva – Secretário de
organização do Comitê Estadual além de se referir ao programa do Partido, ressaltou a
importância da Constituinte para o estabelecimento de um regime de “liberdade e de
progresso” no país, pois que ela não deveria se limitar a defender os interesses dos estados
que lhes compuseram, mas sim de todo o povo brasileiro.
324
O advogado comunista Júlio
Teixeira foi o terceiro a falar, seguido do ferroviário José Viana e Silva e de Jover Telles. O
mineiro natural do estado de São Paulo falou das esperanças que o povo e os trabalhadores
das minas de São Jerônimo, em particular, depositavam na Constituinte. Esperava-se uma
321
Cf. Fundo Delegacia Política e Social Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual do Rio Grande do Sul”
Notação 160 – f. 788. Documento datado de 29.12.1945.
322
Correio do Povo, 03.01.1946, p. 7.
323
Vibrando em Praça Pública. O Povo Comemora a Vitória do P.C.B.. Libertação, 09.01.1946, p. 2.
324
Idem.
118
constituição especial, de acordo com o tipo de trabalho que estes últimos desempenhavam nos
jazigos de minérios.
325
Após cantar o Hino Nacional, o público presente na concentração comunista foi se
dispersando. Com vivas ao PCB e aos candidatos eleitos, conduzindo faixas e cartazes, eles
caminharam até as sedes dos comitês e células. Em menos de um ano, coisas inacreditáveis
estavam acontecendo. Prestes que, no início de 1945, encontrava-se isolado nos cárceres
estado-novistas, em dezembro era eleito senador da República. Com uma confiança inabalável
no futuro democrático, nossos protagonistas despediram-se daquele que vinha sendo o mais
extraordinário ano para a causa que defendiam.
325
Idem.
119
PARTE II
OS COMUNISTAS DE PORTO ALEGRE E O ECLIPSE DA
LEGALIDADE
Aos que falam em versos cor-de-rosa,
o momento presente sentencia:
“Empacotai vossos poemas
e despachai-os
com destino ao Século XVIII”.
Como quereis poemas puros
quando a lama do crime
sobe até vossas mãos?
Estais cegos?
A enorme boca escancarada e faminta
do Povo
canta um poema terrível de dor!
Neste instante,
não podeis deixar vossos poemas
como tristes e inúteis
soldadinhos de chumbo.
Sentido!
Que vossos poemas
se ponham em fila de combate
- e vossos versos sejam rajadas
na face negra da tirania!
Poema Para Hoje – Fernando Melo – 1947
120
Na segunda parte dessa dissertação o objetivo é dar conta do momento em que as
representações que os militantes comunistas de Porto Alegre elaboravam acerca da
democracia chocaram-se com a decepção em relação ao regime democrático iniciado em
1945 e prometedor de grandes mudanças. Composta por dois capítulos, as principais fontes
utilizadas nessa etapa foram os jornais Correio do Povo e Tribuna Gaúcha, os relatórios da
polícia política, os Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul,
entrevistas e memórias. De um modo geral, os testemunhos permitiram analisar a atuação
comunista em âmbitos distintos daqueles captados para o ano do ocaso do Estado Novo, como
o movimento dos trabalhadores e o parlamento gaúcho.
Em 1946, ano para o qual dedico o terceiro capítulo, os membros do PCB depararam-
se com o retorno da repressão, tanto às suas atividades como às manifestações populares em
geral. Sérias medidas foram tomadas para podar a atuação comunista em todo o país. A
atribuição de significados à democracia foi acontecendo diante de questões como as greves e
o acirramento dos embates políticos sobretudo com o pedido de cassação do registro do
Partido oficializado pelo deputado federal Barreto Pinto (PTB). O ano de 1947, por sua vez, é
abordado no quarto capítulo. Nele as representações sobre a democracia ocorreram no calor
de acontecimentos decisivos para a militância, como o cancelamento do registro do PCB e a
cassação dos mandatos de seus parlamentares, eleitos nos pleitos de dezembro de 1945 e
janeiro de 1947. Foram meses em que o passado ditatorial foi insistentemente retomado por
nossos protagonistas, um processo que nos tornou possível compreender a caracterização da
democracia através do seu avesso.
121
CAPÍTULO 3
A DEMOCRACIA SE AFASTA NO HORIZONTE
3.1 – As greves e o retorno da repressão: o horizonte enevoado
O ano de 1946 foi aquele em que a abertura democrática começou a mostrar seus
limites aos militantes comunistas. Eles vinham no embalo de 1945, quando, depois de 23 anos
de existência praticamente ilegal, conquistaram condições jamais vistas e desfrutadas na
história da esquerda brasileira até então. Foi com o espírito de que tudo seria possível que eles
adentraram 1946, festejando o aniversário de seu líder e os resultados das eleições ocorridas
em dezembro. Contudo, apesar do grande entusiasmo que os envolvia, os acontecimentos lhes
impuseram problemas delicados, alguns dos quais iriam lhes custar a própria legalidade.
Diferente de 1945, as atividades desenvolvidas por nossos protagonistas ao longo do
ano seguinte e que estão registradas nas fontes disponíveis não foram tão abundantes,
como bem podemos vislumbrar no gráfico abaixo:
122
Gráfico 2 – Atividades desenvolvidas em Porto Alegre no ano de 1946
Fonte: Ver Capítulo 1 – nota 71.
O mês de janeiro foi aquele no qual os militantes concentraram maior atividade,
sobretudo com assembléias de células e conferências e com horas de arte no Centro de
Cultura Popular Euclides da Cunha. Nos demais meses, o que percebemos é uma significativa
diminuição. Enquanto para 1945 foi possível encontrar uma relação de aproximadamente 167
atividades, para 1946 não localizamos mais de 53, uma baixa de 68%. De um modo geral,
reuniões, assembléias, comícios e atividades culturais diminuíram. Vejamos:
Gráfico 3 – Atividades desenvolvidas em 1945 e 1946 – Quadro comparativo.
Fonte: Ver Capítulo 1 – nota 71.
0
5
10
15
20
25
Janeiro Abril Julho Outubro
Reuniões
Assembléias
Comícios
Ativ. Cult.
0
10
20
30
40
50
60
Reuniões Assembléias Comícios Ativ. Cult.
1945
1946
123
Em questão de meses, houve queda de 71% nas reuniões, de 63% nas assembléias
(mesmo com o pico atingido em janeiro de 1946), de 64% nos comícios e de 70% nas
atividades culturais. É bem possível que a causa da redução nas atividades comunistas em
Porto Alegre seja a repressão desencadeada no segundo ano de legalidade. Por outro lado,
também podemos apontar para as lacunas no jornal Correio do Povo principal fonte dessas
informações. Edições de rios meses não nos estão disponíveis, tornando difícil a
reconstrução da atuação comunista na capital gaúcha de modo mais detalhado. Ademais,
sobreviveram apenas dois exemplares da revista Libertação, que foi substituída naquele ano
pelo diário Tribuna Gaúcha, do qual só nos chegaram números de 1947.
Depois da conquista da Assembléia Constituinte, da eleição de Prestes como senador e
de mais 14 deputados federais, dentre eles o Secretário Geral do Partido no Rio Grande do
Sul, Abílio Fernandes, os comunistas concentraram suas expectativas na Constituição a ser
elaborada. A nova Carta constituía-se no próximo passo na marcha para a democracia, e os
membros do PCB eleitos tinham um papel muito importante na sua composição.
Para os comunistas de Porto Alegre, a Constituinte deveria ser o centro das atenções
de todos os democratas e amantes do progresso e da liberdade, pois se deveria manter
vigilância em relação àqueles dispostos a trair o mandato, desconsiderando as reivindicações
populares no momento da elaboração da Constituição.
326
O momento, apesar de vir na esteira
de acontecimentos tidos como democráticos, exigia cautela. A eleição de Dutra para a
presidência da República não lhes deixava dúvidas das “forças reacionárias” não
democráticas – que se agrupavam em torno dele.
327
A Assembléia Constituinte não adquiria importância apenas por ser um grande passo
para a democracia, mas por esse passo se dar pacificamente. Através dela, problemas
econômicos, políticos e sociais graves seriam solucionados dentro da ordem. Dentre as tarefas
mais urgentes, encontrava-se a votação pela anulação da Carta “caduca” de 1937 e a
elaboração da nova Constituição. Os comunistas reservavam-se a responsabilidade de lutar
por uma declaração dos direitos do homem, proclamando a liberdade de consciência, as
liberdades públicas e os direitos fundamentais (trabalho, instrução, assistência e igualdade de
direitos para a mulher). Nesse processo, eles tanto se comprometiam em repudiar os possíveis
“atos reacionários” de Dutra, como em apoiar seus atos democráticos.
328
326
Os Comunistas e a Constituinte. Libertação, 09.01.1946, p. 1.
327
Informe político da Comissão Executiva ao Comitê Nacional, em 04 de janeiro de 1946 (excerto). In:
VINHAS, Moisés. Op. Cit., p. 120.
328
Os Comunistas e a Constituinte! Uma autêntica bancada de todo o povo brasileiro. Libertação, 09.01.1946, p.
4.
124
Conforme mencionado no capítulo anterior, ocorreram algumas greves durante o ano
de 1945. Embora não tenhamos fontes que nos permitam chegar à posição dos comunistas de
Porto Alegre em relação a elas, sabemos que a palavra de ordem do Partido, nesse sentido, era
a de “apertar os cintos” para evitar as paralisações, diretriz com a qual muitos de seus
membros não concordavam. A atitude do governo Linhares no que dizia respeito às paredes
foi de tolerância. Entretanto, em 1946, o “dique” do movimento dos trabalhadores começou a
transbordar, exigindo uma outra postura dos revolucionários e servindo de justificativa para a
mudança nos procedimentos do governo, agora sob a tutela de Dutra. De acordo com Marco
Aurélio Santana, o ascenso do operariado provocou modificações na lógica de ação dos
comunistas: ao não conseguir mais evitar as greves, passaram a apoiá-las e mesmo a dirigi-
las. Por outro lado, a condescendência de Linhares deu lugar à repressão desencadeada pelo
presidente recentemente eleito.
329
Apesar da linha de “apertar os cintos” estar mais de acordo com a defesa de ordem e
tranqüilidade necessária para a consolidação da democracia ela apresentava um
descompasso com a vida real dos trabalhadores.
330
A Assembléia Constituinte, assim, deixou
de ser pensada como o único e principal meio de busca de soluções para os problemas da
população. O apoio às greves alcançou equivalente importância no plano de ação dos
comunistas.
De acordo com levantamento realizado por um grupo de pesquisadores no início da
década de 1980, ocorreram 14 greves no Rio Grande do Sul ao longo de 1946, seis delas na
capital do Estado.
331
A maior parte concentrou-se nos dois primeiros meses, totalizando 11
paredes. Outras três foram levadas a afeito no mês de dezembro. Segundo os autores, alguns
dos motivos para a convergência de movimentos grevistas em janeiro e fevereiro foi a opção
de Dutra pelo laisse-faire, diminuindo as reservas nacionais e gerando o aumento do custo de
vida e do endividamento, bem como a necessidade de um maior controle da economia por
parte do Estado.
332
Contudo, a insatisfação dos trabalhadores já vinha desde o ano anterior, o
que nos faz questionar o fato da política econômica (recentemente adotada no início de 1946)
e suas conseqüências terem servido de motivo para o surto grevista.
Na maioria dos casos, as reivindicações dos trabalhadores que paralisaram suas
atividades no começo do ano em questão giravam em torno de abonos e aumentos salariais e
da não punição aos grevistas. Foi o caso, em Porto Alegre, dos portuários, dos bancários, dos
329
SANTANA, Marco Aurélio. Op. Cit., p. 46.
330
Id. Ibidem, p. 57.
331
PETERSEN, Aura Terezinha T. et. alli. Op. Cit., p. 14.
332
Id. Ibidem, p. 27.
125
funcionários da indústria de alimentação (Frigoríficos Nacionais) e do entreposto de leite. A
interrupção das atividades dessas duas últimas categorias iniciou e findou em janeiro. As
demais adentraram fevereiro, acompanhadas dos trabalhadores de outros ramos e do interior
do Rio Grande igualmente descontentes.
O envolvimento dos comunistas de Porto Alegre com as greves não se deu apenas
entre aquelas ocorridas na Cidade, mas também nas do interior, sobretudo as realizadas pelos
mineiros de São Jerônimo, Butiá e Arroio dos Ratos. Na maioria das vezes, sabemos da
preocupação dos revolucionários em relação aos grevistas por meio de outras instituições e
órgãos através dos quais eles atuavam, como o MUT e o Clube de Cultura Popular Euclides
da Cunha.
As fontes de que dispomos, porém, não nos permitiram vislumbrar a posição
comunista em todas as onze paredes realizadas no Estado durante os meses de janeiro e
fevereiro de 1946. Conseguimos perceber seu envolvimento em duas greves, a dos bancários e
dos mineiros, e em uma ameaça de paralisação dos funcionários da empresa Carris.
No dia 24 de janeiro, os bancários deflagraram greve em todo o país. Porto Alegre,
Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo, Belo Horizonte e Recife foram as praças encabeçadoras da
parede. A categoria protestava contra o encarecimento do custo de vida, reivindicando a
fixação do salário profissional (desde a metade do ano findo), além da organização dos
quadros funcionais. Aos poucos, outros municípios gaúchos aderiram à paralisação, que
recebeu várias moções de solidariedade em todo o Estado sul-riograndense. Uma delas foi
enviada pela direção municipal do MUT, entidade com papel importante no processo de
unificação nacional na perspectiva do PCB e da qual muitos militantes participavam.
Poucos dias antes dos bancários deflagrarem a greve, os revolucionários ligados ao
MUT haviam se manifestado contra a Lei da Pluralidade Sindical ambicionada pelo então
Ministro do Trabalho, Major Carneiro Mendonça. De acordo com várias opiniões publicadas
em Libertação, os comunistas consideravam o ato do Ministro uma “condenável manobra
política” com o intuito de dividir e desorganizar a massa trabalhadora para mais bem lograr
submetê-la aos interesses do capital estrangeiro colonizador.
333
Tratava-se de uma “arma”
deste último, de um meio desesperado no sentido de barrar a marcha em direção à unidade da
classe operária que, juntamente com a burguesia progressista, conduziria o país ao progresso.
A Lei, assim, era antidemocrática, ainda mais porque não estava sendo decretada pelos meios
legais dentro do novo regime, a aprovação da Assembléia Constituinte.
334
333
A Classe Operária Repele a Pluralidade Sindical. Libertação, 19.01.1946, p. 6.
334
Idem.
126
Ao dividir os trabalhadores, a pluralidade tiraria o que lhes dava força, a coesão. O
MUT era o exemplo de entidade através da qual os comunistas combatiam tentativas como
essa e esperavam reformar a estrutura sindical corporativa, transformando as relações entre
proletariado e patrões num debate sincero em prol de soluções para os problemas econômicos
do Brasil. Dentro do espírito da União Nacional, o MUT adquiria um papel muito importante,
pois conduziria o diálogo entre trabalhadores e empresários dentro da ordem e da
tranqüilidade, fundamental para a consolidação da democracia.
No ofício endereçado à Comissão Coordenadora da Greve dos Bancários, o MUT
manifestou apoio à causa por depois de examiná-la minuciosamente considerá-la justa e
feita no sentido patriótico de defender os bancários do “espectro da fome, que, com seus
parcos salários” rondava os lares brasileiros diariamente.
335
Antes de manifestar apoio, o
órgão tentou deixar claro que o fez depois de verificar a justeza das reivindicações dos
trabalhadores em greve. Quer dizer, mostrou que estava agindo com cautela e que,
provavelmente, não emprestaria solidariedade para movimentos reivindicatórios sem antes
atestar sua legitimidade.
É possível perceber a presença comunista na entidade tanto pelos argumentos usados
para apoiar a greve dos bancários quanto pela linguagem. O MUT da Carris, que também se
manifestou solidário ao movimento, publicou nota no Correio do Povo com os seguintes
dizeres: “O M.U.T. dos empregados da Cia. Carris saúda os seus camaradas bancários e
hipoteca solidariedade pelas suas justas reivindicações levantadas.”
336
Uma das características
da identidade dos militantes do PCB era justamente o uso de símbolos muito particulares,
como a linguagem (“camaradas”).
337
No início de fevereiro, o apoio do MUT aos bancários já
havia se transformado em adesão com a organização de uma manifestação no Teatro São
Pedro, onde angariou recursos materiais em auxílio aos grevistas.
338
Alguns dias depois, o MUT de Porto Alegre publicou nova moção incitando a
comunidade a apoiar moral e materialmente os bancários que lutavam por “justas e
sentidas” reivindicações – e chamando a atenção para as conseqüências do resultado da
paralisação. Tratava-se, de acordo com a nota, de uma batalha não apenas da classe em greve,
mas de todo o proletariado e de todo o povo que sofria com a carestia e a inflação e que lutava
335
Solidário com os grevistas. Correio do Povo, 27.01.1946, p. 4.
336
Moção de solidariedade. Correio do Povo, 29.01.1946, p. 12.
337
Cf. MARTINS, Marisângela. Ser comunista em Porto Alegre entre 1945 e 1947. história e-hitória Revista
eletrônica. 04 de janeiro de 2007. URL: http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=47 .
338
Movimento Unificador dos Trabalhadores de Porto Alegre. Correio do Povo, 02.02.1946, p. 3.
127
por um Brasil “livre, democrático e unido”.
339
A derrota, tanto quanto a vitória, não seria
exclusivamente dos bancários, mas de todo o povo. A greve constituía-se em “glorioso e
patriótico movimento” de amigos da ordem, pois os bancários só haviam apelado para a greve
depois de esgotadas todas as demais possibilidades. Uma sua vitória forçaria os responsáveis
a darem soluções aos problemas dos trabalhadores da Nação.
340
Ao generalizar as
reivindicações dos grevistas, traçando paralelos e identificando anseios, o MUT procurava
unir os demais segmentos sociais em torno da classe bancária e lhe conferir legitimidade.
Da mesma forma que companheiros ligados ao MUT, a intelectualidade comunista da
capital gaúcha expressou-se em favor dos bancários. O jornalista Raul Riff, juntamente com
outros colegas de profissão não comunistas, assinou nota de simpatia em relação aos grevistas
no Correio do Povo órgão por meio do qual também se manifestaram solidários os
trabalhadores da revista Libertação e o presidente do Clube de Cultura Popular Euclides da
Cunha, Jorge Bahlis.
341
As paralisações vinham tomando espaço considerável na agenda dos militantes do
PCB. No dia 30 de janeiro, momento em que várias categorias achavam-se em greve no
Estado, os revolucionários da capital realizaram um comício no Largo da Prefeitura evento
precedido de vários comícios-relâmpago nas portas de fábricas e em pontos de grandes
concentrações populares – com a finalidade de homenagear os deputados comunistas eleitos à
Assembléia Constituinte. Durante a ocasião, Orestes Timbaúva, Josino Campos (Isaac
Acxelrud), Sérgio Holmos, Júlio Teixeira, Dyonélio Machado e Jover Telles fizeram larga
exposição do Programa nimo de União Nacional (a ser defendido pelos parlamentares) e
dispensaram os momentos finais para que representantes ferroviários e bancários encerrassem
o meeting.
342
a posição dos comunistas de Porto Alegre em relação à greve dos mineiros nos é
perceptível somente a partir do mês de fevereiro, embora a paralisação dessa categoria tenha
iniciado quase vinte dias antes daquela dos bancários. Transcorrido um mês da interrupção
dos trabalhos nas minas, o tráfego ferroviário sofria vários revezes em todo o Estado.
343
O
governo federal declarou a ocupação das jazidas de São Jerônimo e Butiá no dia 15 de
339
Solidariedade do MUT municipal. Correio do Povo, 05.02.1946, p. 3.
340
Idem.
341
Solidariedade de Jornalistas, 29.01, p. 12; Moção de Solidariedade, 02.02, p. 3; Novas moções de apoio.
Correio do Povo, 06.02.1946, p. 4.
342
Partido Comunista do Brasil. Correio do Povo, 30.01.1946, p. 5.
343
A greve dos mineiros afeta o tráfego ferroviário do Estado. Correio do Povo, 07.02.1946, p. 10.
128
fevereiro e, no dia 21, ainda não havia previsão do retorno às atividades.
344
Ao chegar no Rio
Grande do Sul no dia 22, o deputado federal comunista Abílio Fernandes entrou em contato
com autoridades policiais, a fim de tratar da liberdade de vários ferroviários (também em
greve desde 16 de fevereiro), detidos na Repartição Central de Polícia.
345
Alguns dias depois,
acompanhado de seu colega de bancada José Agostinho de Oliveira e do escritor Dyonélio
Machado, Abílio realizou um comício em apoio aos mineiros em Arroio dos Ratos,
entregando importância em dinheiro coletado em favor da classe e prometendo o envio de
mantimentos de primeira necessidade nos próximos dias. A seguir, os comunistas dirigiram-se
à cidade de Butiá.
346
Embora os revolucionários se empenhassem em colaborar com os grevistas mineiros,
estes não receberam bem os boatos correntes de que a paralisação da categoria havia sido
inspirada pelo PCB. Segundo eles, os comunistas eram minoria nas minas, apesar do Partido
Comunista estar ativo na região, exortando os operários a continuarem em greve até a vitória
de suas reivindicações.
347
o envolvimento comunista nas reclamações dos empregados da empresa Carris
gerou maiores distúrbios. Ao mesmo tempo em que estiveram em curso as paredes dos
mineiros, dos portuários e dos bancários, os funcionários da empresa de transportes coletivos
Carris ameaçaram interromper suas atividades até conseguirem reajuste em seus ordenados. O
procedimento foi levado adiante por uma Comissão, eleita em assembléia no dia 19 de janeiro
para operar junto ao Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbano de Porto
Alegre, o que causou desentendimentos junto à Diretoria da entidade.
Em carta endereçada à redação do Correio do Povo, o Presidente do Sindicato,
Arnaldo de Souza, caracterizou a articulação como ilegal, porque pensada por uma comissão
eleita em assembléia convocada à revelia da direção da associação e por estar mais
preocupada em desmoralizar os feitos logrados por essa Diretoria no ano anterior.
348
A dita
Comissão formada por Leopoldo Ketzel Filho, por Miguel Pretel Guerrero e pelo comunista
João Oscar de Oliveira reclamava da forma como os diretores vinham tratando dos
interesses da classe e pedia o afastamento de todos eles junto à Delegacia Regional do
Trabalho (DRT).
349
Dali, João Oscar de Oliveira e seus colegas de comissão rumaram para a
344
Decretada pelo governo federal a ocupação das minas de São Jerônimo e Butiá, 15.02, p. 8; Impressões de
nosso enviado especial a São Jerônimo. Correio do Povo, 21.02.1946, p. 10.
345
Em Porto Alegre o deputado Abílio Fernandes. Correio do Povo, 23.02.1946, p. 4.
346
Deputados comunistas visitam as minas. Correio do Povo, 27.02.1946, p. 8.
347
O Partido Comunista e a Greve. Correio do Povo, 28.02.1946, p. 4.
348
A Nota da Diretoria do Sindicato. Correio do Povo, 02.02.1946, p. 4.
349
Os trabalhadores da Carris decidirão amanhã se haverá ou não greve. Correio do Povo, 02.02.1946, p. 8.
129
Prefeitura de Porto Alegre, onde entregaram ofício de reivindicação de 50% de abono de
emergência sobre os salários (até a solução do dissídio coletivo) e estabeleceram um prazo,
quatro de fevereiro, para o atendimento. Caso contrário, ver-se-iam na obrigação de alterar o
tráfego dos bondes.
350
Sentindo-se ultrajada com a atitude dos empregados da Carris, a
Diretoria demitiu-se coletivamente, entregou as chaves das sedes à DRT e solicitou sua
imediata intervenção no sindicato para evitar maiores complicações no seio da categoria, que
– segundo eles – se achava agitada com ameaças de greve.
351
A posição de nossos protagonistas deveria ser periodicamente relatada ao Comitê
Nacional. Cada unidade partidária tinha o dever de emitir “informes” de tempos em tempos,
atualizando as instâncias mais elevadas sobre as diversas áreas de atuação. Freqüentes críticas
e autocríticas também faziam parte da rotina da militância. O intuito desses procedimentos
característicos do centralismo democrático era contornar problemas, evitar dissidências e
estabelecer novas orientações.
Os dirigentes que cuidavam dos assuntos relacionados aos trabalhadores e sindicatos
não ficaram satisfeitos com a atuação do Comitê Estadual do Rio Grande do Sul no que dizia
respeito ao “trabalho sindical”, observada através do Informe de Massa Eleitoral” enviado
pelos militantes gaúchos. Entre as críticas feitas aos comunistas do Comitê Estadual,
constaram pesadas acusações. Eles foram acusados de não compreenderem sua função como
organismo dirigente, estando debilmente ligados às massas e, por essa razão, não sabendo
dirigir a luta do proletariado. Uma prova disso, para o secretariado nacional, foi o fato dos sul-
riograndenses terem sido apanhados de surpresa pelos movimentos dos mineiros e
ferroviários.
352
Afirmaram que se tratava de algo muito grave os comunistas andarem a
reboque dos acontecimentos, ainda mais no momento em que a “reação” investia
furiosamente contra o Partido. Assim, solicitavam que os dirigentes do Comitê Estadual
corrigissem suas atitudes e compreendessem seu papel incorporando um verdadeiro espírito
de crítica e autocrítica, apurando suas debilidades para saber melhor dirigir a luta dos
trabalhadores gaúchos.
353
As greves, tão custosamente evitadas em 1945, explodiram em 1946, fazendo nossos
protagonistas reverem suas posições. Se antes elas não combinavam com a luta pela
democracia por não se enquadrarem no espírito de ordem e tranqüilidade, no segundo ano de
350
Ofício ao Prefeito da Capital. Correio do Povo, 02.02.1946, p. 8.
351
Os trabalhadores da Carris reunir-se-ão hoje em assembléia para resolver sobre as reivindicações. Correio do
Povo, 03.02.1946, p. 18.
352
Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual do Rio Grande do Sul” Notação 160 f. 453.
Documento datado de 11 de maio de 1946.
353
Idem.
130
legalidade as paralisações dos trabalhadores passaram a ser consideradas recursos legítimos
porque pacíficos para a solução de problemas políticos e econômicos graves que assolavam
a população. Por um lado, a possibilidade de levar adiante as paredes apontava para a
liberdade de manifestação, imprescindível para a democracia tanto quanto a liberdade de
associação. Nesse aspecto, os comunistas afrontavam o PSD, defensor do corporativismo. Por
outro, a batalha por melhores salários vinha ao encontro de outra importante faceta do esforço
pela consolidação da democracia bastante comentado no capítulo anterior: o combate à
carestia de vida.
A responsabilidade das greves passou a recair sobre os comunistas, acompanhada de
acusações de “desordem” e “agitação”, no intuito de lhes imputar incessantemente um
sentimento conspiratório.
354
Os sindicatos permaneceram ligados ao Estado. Contudo, os
comunistas continuaram tentando viabilizar suas propostas e defendendo o direito dos
trabalhadores no espaço parlamentar.
355
Foi que, no dia 26 de fevereiro, o deputado
Damaso Rocha (PSD) afirmou que os comunistas preparavam a greve geral, o “golpe
decisivo”.
356
Ao mesmo tempo, a Assembléia Constituinte transformou-se em um novo flanco
de defesa do movimento dos trabalhadores. Entretanto, de acordo com Santana, apesar de se
mostrarem comprometidos com a manutenção da ordem e dos princípios democráticos, aos
olhos da elite os comunistas continuavam sendo representantes do espectro do comunismo,
voltado à desordem e à indisciplina.
357
O ambiente de militância estava ganhando tons muito familiares aos comunistas. No
mês de fevereiro, além das acusações que tentavam conferir uma aura conspiratória em torno
deles, devido ao apoio que prestavam aos movimentos grevistas, várias atividades do PCB
foram proibidas em Porto Alegre. Nossos protagonistas haviam programado um comício no
Largo da Prefeitura para o dia 23 de fevereiro, ocasião em que realizariam protesto contra a
“carta fascista de 37”, a carestia e a inflação.
358
Além de ter sido proibido pelo então
interventor do Estado Cílon Rosa trinta membros do PCB foram presos por terem feito
propaganda da concentração através de letreiros nos leitos das ruas.
359
De acordo com nota publicada no Correio do Povo, o motivo da interdição do comício
foi a situação anormal” pela qual passava o Estado, devido ao surto grevista em diversos
354
SANTANA, Marco Aurélio. Op. Cit., p. 54.
355
Id. Ibidem, p. 53.
356
O deputado Damaso Rocha reafirma sua advertência: os comunistas preparam a greve geral. Correio do Povo,
27.02.1946, p. 8.
357
SANTANA, Marco Aurélio. Op. Cit., p. 51.
358
Todo ao grande comício do Partido Comunista. Correio do Povo, 23.02.1946, p. 8.
359
Presos, ontem à noite, trinta membros do Partido Comunista. Correio do Povo, 23.02.1946, p. 8.
131
setores de atividade.
360
A atitude provocou uma série de manifestações de protesto por parte
dos comunistas. Francisco Medeiros publicou nota assinando pela secretaria geral do
Comitê Municipal na qual qualificou a medida do interventor como reacionária”.
361
De
acordo com Medeiros, por serem obedientes à orientação de defender a ordem e a
tranqüilidade, os militantes decidiram colaborar com as autoridades policiais, visto que elas só
estavam cumprindo ordens superiores. Por último, o dirigente reafirmou a determinação dos
comunistas de lutar “sem descanso pelo restabelecimento das liberdades democráticas”
conquistadas pelo povo da cidade.
362
Nos dias que se seguiram, todos os comícios, inclusive os de tipo “relâmpago”,
estiveram terminantemente proibidos. Na manhã do dia 26 de fevereiro, porém, os comunistas
tentaram realizar concentração na rua dos Andradas, próximo à Uruguai, causando surpresa
entre as autoridades, pois tudo transcorreu normalmente durante vários minutos sem qualquer
intervenção policial. Ao chegarem, os investigadores detiveram imediatamente os comunistas
Marino Rodrigues dos Santos e Sarquis Goitacás, os quais foram conduzidos ao DOPS para
prestarem esclarecimentos.
363
Juntamente com eles foram presos os militantes Vasco Prado
(escultor), Leon Treiger (engenheiro), José dos Santos, Euclides Dornelles, Pedro
Weisserstein, Marat Budachesqui, Laurentino Gaspar Português, Armando Ferreira e
Fernando Ferreira Vilar. Para impedir outra concentração programada para o dia 27, a polícia
local contatou o governo do Estado, a fim de obter reforço do Exército.
364
Os revolucionários de Porto Alegre e seu líder, Luiz Carlos Prestes, protestaram contra
a intervenção nos comícios e as prisões. Os primeiros compareceram à redação do jornal
Correio do Povo na noite do dia 27, repudiando as ações arbitrárias dos policiais que, segundo
consta na notícia, chegaram a agredir fisicamente os militantes ao solicitarem suas
identificações.
365
Prestes, por sua vez, endereçou telegrama ao interventor do Estado,
caracterizando a proibição do comício do dia 23 como “atentado às liberdades democráticas”
e as prisões como “ato antidemocrático”.
366
Para o Secretário Geral do PCB, atitudes como
aquelas dificultavam a democratização do país. Ele esperava que, daquele momento em
360
Não foi permitida a realização do comício do Partido Comunista, anunciado para ontem. Correio do Povo,
24.02.1946, p. 20.
361
A pedido. Comunicado do Comitê Municipal do P.C.B.. Correio do Povo, 24.02.1946, p. 10. Medeiros
respondia pela secretaria geral na ausência de Edgar Curvello.
362
Idem.
363
Dissolvido, ontem, nesta capital, um comício relâmpago comunista. Correio do Povo, 27.02.1946, p. 8.
364
Idem.
365
Protestam os membros do Partido Comunista contra as últimas prisões efetuadas pela política. Correio do
Povo, 28.02.2946, p. 3.
366
O telegrama do senador Luiz Carlos Prestes. Correio do Povo, 28.02.1946, p. 8.
132
diante, o governo gaúcho garantisse ao povo e aos partidos políticos a liberdade de
manifestação da palavra.
367
A partir de 1946, o termo “reacionário” passou a ser usado mais freqüentemente pelos
comunistas para qualificar atos e pessoas que se opunham ao que eles consideravam
importante e adequado para o momento histórico. Ao fazer uso de tal termo, os militantes
davam continuidade a uma representação que, segundo o medievalista francês Jacques Le
Goff, nascera com a Revolução Francesa. O par reação” versus “progresso” ganhou vida nas
hostilidades dos confrontos ocorridos durante o referido evento, dando origem ao que seria
denominado de “reacionário” e a movimentos e grupos ideológicos ou políticos que
receberiam o rótulo pejorativo e desprezível de reação”.
368
Aqueles que reagiam contra as
mudanças promovidas pela Revolução foram designados reacionários, e essa denominação
passou a carregar sentidos depreciativos e juízos de valor negativos, em oposição aos
significados positivos e auspiciosos que o substantivo “progresso” carregava desde o século
XVI.
369
O termo “reação” e o adjetivo que dele decorre ganharam sentido por estarem
relacionados a determinadas expectativas. Conforme mencionado na Introdução desse
trabalho, a ideologia do progresso substituiu a profecia religiosa. Enquanto esta orientava suas
expectativas para um outro mundo, as idéias progressistas depositavam esperanças na
transformação ativa do mundo, num futuro mundano que se aperfeiçoaria na medida do
processo de sua constituição. Foi essa visão de um futuro perfectível que alterou de forma
sensível o modo de ver o estatuto do presente e do passado. O futuro passou a ser visto como
melhor que o pretérito porque diferente dele, e a “reação” deu corpo a tudo o que se opunha às
expectativas de um futuro distinto do presente.
Nossos protagonistas eram orientados por uma concepção de democracia que tinha
lugar num futuro específico o socialista. Era essa a expectativa que estabelecia os critérios a
partir dos quais eles explicavam e julgavam o presente e o passado. A possibilidade de
realizar o comício era resultado de uma liberdade lograda com a abertura democrática e que,
agora, estava sendo restringida pelo interventor do Estado. Para os membros do PCB, a
proibição constituía-se decisão reacionária, na medida em que limitava direitos que faziam
367
Idem.
368
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1996, p. 254.
369
Não quer dizer que não existisse a idéia de progresso antes do século XVI. Ela existia. Contudo, na
Antigüidade, por exemplo, havia uma apreciação negativa dessa idéia, pois, para a maioria dos pensadores e
chefes políticos, o essencial era não mudar. Id. Ibidem, p. 235.
133
parte já de um novo tempo, através de procedimentos típicos de um passado que não tinha
mais lugar.
No horizonte de expectativas dos comunistas, pairavam não determinados
elementos sobre a democracia que deveriam se realizar a curto, médio e longo prazo, mas
também coisas que não deveriam mais acontecer, pois que faziam parte de uma etapa
histórica vivida e ultrapassada. Algumas projeções feitas pelos revolucionários sobre a
democracia se haviam realizado, quer dizer, eles tinham conquistado a legalidade (o direito de
associação, de manifestação pública etc.) e a instalação da Assembléia Constituinte; o Brasil
havia passado por um processo eleitoral, no qual os militantes conquistaram cargos
importantes no parlamento federal. Enfim, certos aspectos (como a proibição de
manifestações públicas, por exemplo) faziam parte de um passado superado, e seu retorno foi
considerado contrário ao rumo natural das coisas, da história. Nossos protagonistas esperavam
jamais tornar a ver e experenciar acontecimentos como aqueles. As proibições e prisões
efetuadas no início de 1946 frustravam algumas de suas expectativas em relação à
democracia, embora não os desanimassem.
Aos poucos, a repressão foi se tornando mais acirrada. Em março de 1946, enquanto a
Assembléia Constituinte debatia as novas leis que norteariam a nação, Dutra fazia uso da
Constituição de 1937, ainda em vigor, para colocar o MUT na ilegalidade, tirando de
circulação o órgão que havia rompido com o corporativismo de Estado. No dia 15, o
presidente da República sancionou o decreto-lei nº 9.070, que restringia drasticamente o
direito à greve. Utilizando-se da atribuição que lhe conferia o artigo 180 da carta
constitucional em vigor, ele estabeleceu como fundamentais uma série de atividades e
declarou que a paralisação do trabalho por parte dos empregados em tais ramos seria
considerada falta grave, acarretando a rescisão do contrato de trabalho.
370
Foi ainda em março que Prestes fez declarações que seriam deturpadas por aqueles
interessados em tirar o Partido Comunista da legalidade. O líder do PCB afirmou para o
Jornal do Comércio e a Tribuna Popular que, caso os EUA desencadeassem um ataque
militar contra a União Soviética, os comunistas pegariam em armas para fazer resistência
contra um tal governo que quisesse o retorno do fascismo, para transformar a guerra
370
Entre as atividades consideradas fundamentais encontravam-se as desempenhadas nos serviços de água,
energia, fontes de energia, iluminação, gás, esgotos, comunicações, transportes, carga e descarga; nos
estabelecimentos de venda de utilidade ou gêneros essenciais à vida das populações; nos matadouros; na lavoura
e na pecuária; nos colégios, escolas, bancos, farmácias, drogarias, hospitais e serviços funerários; nas indústrias
básicas ou essenciais à defesa nacional. Ademais, o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio poderia incluir,
por portaria, outras atividades entre as fundamentais. Cf. Senado Federal Subsecretaria de Informações
Decreto-Lei 9.070 de 15 de março de 1946. Consultado no dia 05 de dezembro de 2006 através do link
http://www6.senado.gov.br/sicon/ListaReferencias.action?codigoBase=2&codigoDocumento=104515
.
134
imperialista em guerra de libertação nacional.
371
No Correio do Povo, as afirmações de
Prestes foram explicadas de modo diferente, afirmando que a posição dos comunistas, caso o
Brasil acompanhasse qualquer potência que se declarasse contra a URSS, seria favorável a
esta última.
372
No dia seguinte, noticiava-se que Prestes tentaria deflagrar uma guerra civil no
Brasil, caso o governo se colocasse ao lado de qualquer país que declarasse guerra à Rússia.
373
Dessa forma é que se foram generalizando versões das referidas declarações que colocavam o
Cavaleiro da Esperança contra sua própria nação e a favor da URSS. Eloy Martins relembrou
alguns anos depois que, na época, os membros do PC foram acusados de traidores da pátria,
pois, numa guerra entre seu país e a Rússia, ficariam com os russos.
374
E não demorou
surgirem manifestações de repúdio às palavras do Secretário Geral do PCB.
375
Esse episódio,
juntamente com a Chacina no Largo da Carioca ocorrida em 23 de maio de 1946 e o
incidente com o diplomata brasileiro na União Soviética no mês de dezembro, contribuiria
para criar o clima que legitimaria a cassação do Partido no ano seguinte.
376
No dia 26 de março, o deputado Barreto Pinto (PTB) anexou as declarações de Prestes
ao pedido de cassação do registro do Partido Comunista elaborado por ele. Segundo o
petebista, o pronunciamento do líder comunista provava que o PCB se tratava de uma
organização internacional que respondia e seguia os “ritos” do comunismo da URSS. Barreto
371
Apud. MORAES, João Quartim de. Op. Cit., p. 173-174. algumas controvérsias em torno da origem das
declarações de Prestes. Segundo o do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro pós-1930 (verbete Luiz Carlos
Prestes), vol. 4, p. 4779, por exemplo, o líder do PCB fez tal pronunciamento durante uma sabatina com os
funcionários da Justiça, no Rio de Janeiro, o qual teria sido publicado no dia 16 de março pelo jornal comunista
Tribuna Popular.
372
Acredito que nenhum governo tentará levar o povo brasileiro contra o povo soviético”. Correio do Povo,
19.03.1946, p. 12.
373
Continuam a repercutir as declarações de Luiz Carlos Prestes. Correio do Povo, 20.03.1946, p. 8.
374
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 84.
375
A Juventude Universitária Católica de Porto Alegre, por exemplo, enviou telegrama aos deputados Otávio
Mangabeira (UDN), Nereu Ramos (PSD) e Segadas Viana (PTB), solicitando que eles defendessem perante a
Assembléia Nacional Constituinte a “consciência vica” do povo brasileiro revoltado com as declarações do
senador comunista. Cf. A Juventude Universitária Católica contra Luiz Carlos Prestes. Correio do Povo,
26.03.1946, p. 12.
376
Os comunistas da capital federal haviam programado comício no Largo da Carioca para o dia 23 de maio, a
fim de comemorar o aniversário da legalidade do PCB. A realização do meeting, porém, não foi permitida pela
Polícia no local indicado. Com 48 horas de antecedência, os organizadores da concentração foram avisados de
que deveriam se reunir na praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Alegando ser um ponto de difícil acesso e
que a medida policial visava restringir as liberdades públicas, os dirigentes comunistas resolveram fazer o
comício no lugar original. O público que para o Largo da Carioca se dirigiu desde o início da tarde do dia 23
foi recebido a tiros pela cavalaria da Polícia Militar, causando correrias e atropelos e deixando um saldo de 34
feridos e um morto. Dois dias depois, o Ministro da Guerra, Góis Monteiro, comentou que o acontecimento
servia para mostrar o propósito do Partido Comunista de provocar desordens. Cf. A capital da República: teatro
de graves incidentes. 24.05, p. 10; Comunicado Oficial, e Fala o ministro da Guerra. Correio do Povo,
25.05.1946, p. 5; A Chacina no Largo da Carioca. In: CARONE, Edgar. A Quarta República (1945-1964). I
Documentos. São Paulo: DIFEL, 1980, p. 10-19.
135
Pinto queria provar que a agremiação da qual nossos protagonistas participavam era
estrangeira e estava a serviço de outro país, da Rússia.
377
3.2 A campanha eleitoral e os preparativos para o IV Congresso: tentando dissipar as
nuvens
Em meados de 1946, intensificaram-se as investidas contra o PCB. Duas emendas
foram apresentadas ao projeto constitucional no intuito de fechar o Partido, uma assinada por
representantes da UDN e outra por toda a bancada do PSD. De acordo com elas, passariam a
existir certos requisitos para o registro e o funcionamento de partidos políticos, não sendo
permitida a existência de organizações que visassem “subversivamente a destruição do regime
democrático” e que tivessem por programa a “reforma violenta das instituições”.
378
O cerco ia
se fechando. Os inimigos dos comunistas estavam criando as condições por meio das quais
retirariam o Partido Comunista e seus seguidores do cenário político. Enquanto isso, o
processo contra o PC ganhava corpo, e muitas de suas atividades seguiam sendo proibidas.
O combate ao comunismo foi se alastrando, não se restringindo à luta pela extinção do
PCB, mas aos comunistas de uma forma geral. No mês de julho, o governo federal – por meio
do Ministério do Trabalho colocou em execução uma série de medidas contra funcionários
comunistas. Os trabalhadores contratados, diaristas e extranumerários seriam transferidos de
sedes, tentando, assim, impedir suas atividades políticas no meio profissional. Os empregados
efetivos, por sua vez, seriam submetidos a processo pelas repartições em que trabalhavam,
podendo ser reabilitados ou demitidos, dependendo do resultado do inquérito.
379
Eloy Martins recordou que ele e seus camaradas permaneciam em estado de exagerada
euforia. Naquele mesmo mês de julho, realizaram a Terceira Conferência Nacional do PCB
na sede da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro elegendo o seguinte Comitê
Central: Luiz Carlos Prestes, Diógenes Arruda Câmara, João Amazonas, Pedro Carvalho
Braga, Celso Cabral, Milton Cayres de Brito, Moisés Vinhas, David Capistrano, JoMaria
Crispim, Giocondo Dias, Agostinho Oliveira, José Francisco de Oliveira, Francisco Gomes,
Maurício Gabrois, Lindolfo Hill, Sérgio Holmos, Carlos Marighela, José Martins, Estocel de
Moraes, Mautílio Muraro, Pedro Pomar, João Sanches Segura, Amarílio Vasconcelos,
377
O deputado Barreto Pinto pediu a cassação do registro do PCB. Correio do Povo, 26.03.1946, p. 12.
378
Duas emendas à constituinte, visando ao fechamento do Partido Comunista. Correio do Povo, 26.06.1946, p.
10.
379
Serão transferidos ou demitidos funcionários comunistas. Correio do Povo, 19.07.1946, p. 4.
136
Agliberto de Azevedo, Abílio Fernandes, Lourival Vilar Costa, Domingos Marques e Jorge
Helein. Além de Sérgio Holmos (também eleito para a Comissão Executiva) e Abílio
Fernandes, outros dois comunistas que militavam em Porto Alegre foram eleitos como
suplentes, Orestes Timbaúva e Manoel Jover Teles.
380
Depois de sete meses de trabalho, a Carta Magna do país foi promulgada em 18
setembro de 1946. A Constituição que resultou dos debates travados pela Assembléia
Constituinte – tão exaltada como triunfo da democracia no final de 1945 teve um caráter um
tanto conservador, pois manteve muito da situação precedente, como a presença marcante do
Executivo (para garantir a “harmonia” dos três poderes), a restrição da participação popular
na vida política (o voto não foi estendido aos analfabetos), a limitação do direito de greve e a
manutenção de estrutura sindical controladora herdada do Estado Novo.
381
Algumas semanas depois, a Comissão Executiva do PCB divulgou uma nota no jornal
Correio do Povo, manifestando sua posição em relação às questões do momento. A nova
Constituição foi exaltada pelos componentes da comissão como “um duro golpe nos restos
fascistas” através do qual criar-se-iam as condições para o aceleramento do processo de União
Nacional a favor da democracia e do progresso.
382
A anulação da carta de 1937 abria caminho
para que os brasileiros lutassem por prerrogativas econômicas, políticas e sociais com o
Partido Comunista à frente, difundindo e defendendo os dispositivos constitucionais.
Problemas econômicos permaneciam, piorando as condições de vida do povo, sobretudo dos
trabalhadores. Enquanto isso, o governo cedia às exigências do imperialismo.
383
Mas os dirigentes viam oportunidades se abrirem às forças democráticas, de um modo
geral, e ao Partido, em particular. Pensavam conquistar, através das eleições de 19 de janeiro
de 1947, um “governo de confiança nacional” de acordo com o que os interesses do povo
exigiam. Seria a possibilidade de consolidar a União Nacional e a democracia e, para tanto, os
comitês estaduais deveriam colocar todo o peso de sua atividade na campanha eleitoral. Seria
assim, agindo com prudência e serenidade, vigilantes contra as provocações, que os
comunistas lutariam pela União Nacional, cada vez mais urgente e necessária para a defesa
da democracia, da independência e da paz”.
384
As eleições tornaram-se alvo não apenas dos comunistas, mas também dos
anticomunistas. Em Porto Alegre, a LEC foi reorganizada em 12 de outubro de 1946,
380
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 83.
381
BERCITO, Sonia de Deus Rodrigues. O Brasil da Década de 1940. Autoritarismo e Democracia. São Paulo:
Editora Ática, 1999, p. 69-70.
382
A pedido. Uma Nota da Comissão Executiva do P.C.B.. Correio do Povo, 10.10.1946, p. 7.
383
Idem.
384
Idem.
137
retomando suas atividades com uma grande concentração realizada no dia 27 do mesmo mês.
Na ocasião, o arcebispo D. Vicente Scherer, falou do voto como arma para derrotar os
inimigos da religião, da ordem, da liberdade e da dignidade, e conclamou os fiéis ao
alistamento eleitoral.
385
Os comunistas, por sua vez, tiveram mais uma oportunidade de ouvir Luiz Carlos
Prestes. Em intensa atividade, várias comissões prepararam o comício de recepção ao líder do
Partido, levado a efeito no Largo da Prefeitura às 20:30h do dia 11 de outubro. Desde maio
daquele ano, nossos protagonistas esperavam pela visita do Cavaleiro da Esperança,
desejavam ouvir sua “viva voze saber sua “orientação segura em relação aos destinos do
Brasil”.
386
Para receber o senador comunista, o local foi cuidadosamente ornamentado,
amplamente iluminado e equipado com auto-falantes. Antes do convidado tomar a palavra,
alguns militantes pronunciaram-se: Mário Azambuja em nome da comissão de recepção
Sérgio Holmos pelo Comitê Estadual Brasil Silva Ilha pelo Comitê Municipal e a
operária Julieta Batistioli.
387
Mesmo aqueles que não compareceram à concentração puderam
ouvir os pronunciamentos, pois o comício foi irradiado pela Farroupilha.
O médico porto-alegrense Mário Azambuja fez um discurso preciso e conciliador,
deixando claro o lugar de onde falava e o que esperava dos próximos acontecimentos.
Azambuja procurou falar para comunistas e não-comunistas, chamando atenção para um “elo”
que, segundo ele, unia todos: “o amor à liberdade, aos nossos direitos, conquistados com
tenacidade e com esforço, a vontade imensa de compreender a situação brasileira e de a
resolver com acerto, dentro da tranqüilidade e da ordem”.
388
Ele caracterizou o momento
como de paz e de ascensão democrática em todo o mundo. A palavra de ordem que resumia
esse aspecto, no Brasil, era União Nacional, pois para todos os democratas sinceros
comunistas, socialistas, conservadores liberais não deveria interessar surtos revolucionários,
nem agitações políticas, mas o entendimento. Nesse sentido, acreditava ser importante não
poupar esforços para se chegar às compreensões recíprocas. Contudo, tal ponto de vista não
deveria ser confundido com passividade. Fazia-se importante defender a nova Carta
Constitucional, por exemplo, embora ela ainda se distanciasse muito da perfeição. Assim,
385
Realizou-se, domingo último, a concentração católica. Correio do Povo, 29.10.1946, p. 6.
386
Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual do Rio Grande do Sul” Notação 160 f. 776.
Documento datado de 28.05.1946.
387
Comício do Partido Comunista. Correio do Povo, 12.10.1946, p. 8.
388
A pedido. “Eu que saúdo o Sr Luiz Carlos Prestes, sou espiritualista e conservador por tradição e situação”. O
discurso do Dr. Mário Azambuja no comício monumental do Largo da Prefeitura. Correio do Povo, 20.10.1946,
p. 12.
138
fazia-se necessário estar alerta, principalmente contra o imperialismo “sangrento e
avassalador”.
389
A hora era de cooperação para tratar de questões cruciais que diziam respeito
à sobrevivência e à dignidade dos brasileiros: alimentação, moradia, roupas e educação para
as crianças.
Azambuja tinha uma característica que o fazia, senão diferente, pelo menos peculiar:
era espírita.
390
Ele fez questão de manifestar sua opção religiosa no pronunciamento,
alertando que não estavam reunidos ali para discutir questões filosóficas ou para resolver se
Deus existia ou não. Para ele, era preferível ser um ateu devotado à causa humana, com
destemor e altruísmo, que um cristão convencional de rótulo.
391
Nesse ponto, o médico fazia
franca defesa de seus camaradas, comumente “acusados” de ateísmo pelos católicos.
Mário Azambuja acreditava que existiam possibilidades de colaboração. Para evitar
“novos apocalipses”, faziam-se necessárias, antes de tudo, “ampla democracia, ampla
discussão das idéias, a análise serena das situações, a extinção da politiquice, a interpretação
sensata dos fenômenos econômico-sociais, dando-lhes resoluções apropriadas e não
paliativos” que nada resolviam.
392
Tratava-se de aumentar a produção e libertar o Brasil dos
“grilhões” do capitalismo estrangeiro; de dar terras aos que trabalhavam; de incrementar a
pequena propriedade; de libertar a indústria e o comércio de alguns entraves prejudiciais; de
desburocratizar o país; de dar maior autonomia aos municípios (porque cada um tinha suas
necessidades próprias); além de aumentar os salários quando o governo não se mostrasse
capaz de baratear o custo de vida. Tais medidas, na opinião do médico comunista,
assegurariam que as classes menos favorecidas alcançassem um nível tal que lhes permitisse,
ao menos, enfrentar as dificuldades da doença e da fome.
393
Em estudo sobre as razões que levaram um grupo de cidadãos do Estado de Minas
Gerais a se filiar ao Partido Comunista, Lucília de Almeida Neves constatou que valores
como justiça social e solidariedade foram cruciais para muitos deles. Com base em
depoimentos, a autora pôde perceber que o motivo mais comum de filiação ao PCB referiu-se
389
Idem.
390
Em 1946, Mário Escobar Azambuja já havia publicado dois livros sobre espiritismo: É Inacreditável, mas é...
Uma Nova Ciência Ensaio sobre Espiritismo, editado pela Livraria do Globo em 1942, e O Espiritismo e a
Energia Atômica, editado pela Livraria Continente em 1946 sob o pseudônimo de Aurélio Modesto. O caso de
Azambuja certamente não era uma exceção. O historiador Benito Schmidt, em artigo citado no segundo capítulo
dessa dissertação, constatou que, durante a Primeira República, era possível encontrar diversos militantes
seguidores ou simpatizantes do kardecismo no interior do movimento operário. As idéias de Allan Kardec, assim
como as de August Comte, constituíram-se teorias cientificistas que circulavam naquele momento, fornecendo os
critérios científicos através dos quais eles interpretavam a realidade social e justificavam suas concepções
políticas. Ver: SCHMIDT, Benito. Op. Cit.
391
Idem.
392
Idem.
393
Idem.
139
à proposição visionária de um futuro igualitário e solidário para a sociedade, um futuro
alternativo à ordem estabelecida.
394
As motivações que aproximaram as pessoas que Almeida
estudou ao PCB eram, geralmente, de natureza religiosa, fruto da leitura de textos cristãos,
como a Bíblia, da influência familiar e etc. (eu acrescentaria que, no Brasil, seria quase que
impossível escapar à influência do Cristianismo). Segundo a autora, mesmo por caminhos
diversos, o valor da solidariedade que motivou a adesão ao Partido – fertilizou-se nas
mentes e nos corações desses comunistas, tornando-se um eixo central de sua militância. A
marca fundante reproduziu-se, contribuindo para a criação de uma “cultura comunista” (no
sentido de visão de mundo) e reforçando, ao longo da suas trajetórias, a convicção visionária
de transformação da realidade social.
395
Nas primeiras páginas de sua autobiografia, Eloy Martins mencionou que, desde 1928,
vinha lutando pela “moral socialista”, para que desaparecesse, de uma vez por todas, a coisa
que, para ele, era mais imoral: a exploração do homem pelo homem.
396
Segundo esse antigo
militante,
a verdadeira moral é aquela que parte da fraternidade, da solidariedade, passando
pelo modo de produção e distribuição dos bens essenciais à vida, isto é, da
produção e distribuição em função das necessidades da população e não para
aumentar os lucros, cada dia maiores, dos multimilionários. A autêntica moral é a
que pugna pelo bem estar do ser humano, condenando a estúpida desigualdade
social, onde algumas pessoas vivem á tripa forra enquanto milhares morrem de
fome.
397
Eloy falou de uma “autêntica moral”, que deveria partir da fraternidade e da
solidariedade, desde a base da produção. Ela contrapunha-se à moral burguesa, que não
encerrava a preocupação com aqueles que passavam fome enquanto outros tornavam-se
multimilionários. O metalúrgico havia tido contato com a doutrina católica, através de aulas
de catecismo ministradas por uma professora a pedido da dona do hotel onde sua família
morava e trabalhava, em Laguna.
398
O militante afirmou, contudo, que ele e seus irmãos não
eram muito crentes. Foram as durezas da vida que lhes inculcaram interrogações sobre o
porquê das desigualdades sociais. Aos doze anos, teve de abandonar os estudos a contragosto
para ajudar os pais (carpinteiro e costureira) nas despesas da casa, pois passavam por enormes
dificuldades. Eloy reconheceu, em suas memórias, o quão prematuramente fixou as razões
394
ALMEIDA, Lucília Neves. A voz dos militantes: o ideal de solidariedade como fundamento da identidade
comunista. Lócus. Revista de História. Juiz de Fora: Núcleo de História Regional/UFJF, vol. 4, n. 1, 1998, p. 56.
395
Id. Ibidem, p. 57.
396
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 19.
397
Id. Ibidem, p. 18.
398
Id. Ibidem, p. 24.
140
para viver: não abandonar o desejo de adquirir conhecimentos e lutar por uma existência
melhor para quem trabalha.
399
Dulce Pandolfi mencionou que existem diferentes maneiras de abraçar a causa
comunista (a estudada por Almeida é uma delas) e também distintos tipos de inserção na
estrutura partidária. Porém, uma vez fazendo parte do PC, o indivíduo adota o “espírito do
partido”, algo que pressupõe um envolvimento não apenas político, mas também existencial e
“a abnegação, o sacrifício pessoal, a renúncia ao comodismo, a devoção integral à causa são
sentimentos que devem nortear a vida de um comunista”.
400
Ferreira explicou que a
insatisfação com a ordem social somada ao conhecimento das idéias marxistas-leninistas de
transformação dessa realidade eram um convite à devoção, à recusa de uma vida carente de
significado e a adoção de uma outra, real e absolutamente verdadeira.
401
O comunismo, tal como o Cristianismo, solicitava que seus adeptos sobrepusessem os
valores coletivos aos individuais, preconizando a solidariedade e a fraternidade e prometendo
um futuro distinto do presente. Não nos foi possível encontrar exemplares das obras do
militante porto-alegrense Mário Azambuja. Contudo, partindo de uma das leituras básicas do
espiritismo, O Evangelho Segundo o Espiritismo, é possível compreendermos seu esforço pela
colaboração e pela democracia.
402
O Evangelho Segundo o Espiritismo (doravante, Evangelho) é uma coletânea de
instruções, realizada por Allan Kardec, a fim de esclarecer os homens e convidá-los à prática
do Evangelho (bíblico).
403
Nesse sentido, trata-se de uma obra que dá maior enfoque a
questões éticas e comportamentais. De modo bastante geral, o espiritismo prega o amor ao
próximo e a caridade. Segundo as instruções do Evangelho, amar o próximo como a si mesmo
é a expressão mais completa da caridade, pois resume todos os deveres em relação ao outro, e
a prática desse ensinamento conduz à destruição do egoísmo.
404
Este é a chaga da
Humanidade, pois retarda o progresso moral. Se o Cristianismo ainda não cumpriu sua missão
por completo, de acordo com a obra, é por causa da luta entre a caridade (moral e material) e
399
Id. Ibidem, p. 26.
400
PANDOLFI, Dulce. Op. Cit., p. 36.
401
FERREIRA, Jorge (2002). Op. Cit., p. 68-69.
402
Não temos como nos certificar se Azambuja realizou a leitura da obra. Contudo, sendo O Evangelho Segundo
o Espiritismo um dos livros básicos da doutrina espírita traduzido para o português em 1876 no Brasil e não
tendo encontrado as publicações de Azambuja sobre o assunto, faremos uso de uma publicação mais recente da
obra de Allan Kardec no intuito de melhor entender como o médico interpretava a realidade social e a
importância que atribuía à democracia, visto que, além de comunista, era espírita.
403
Allan Kardec foi o pseudônimo adotado por Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) para a tarefa de
tentar compreender a realidade a partir da integração entre os elementos filosóficos, científicos e religiosos,
esforço que resultou na formulação de uma doutrina que recebeu o nome de “espiritismo”.
404
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. São Paulo: Petit, 1997, p. 127.
141
o egoísmo.
405
Assim, o que o espiritismo pede de seus adeptos é o sacrifício do egoísmo, do
orgulho e da vaidade, para que a caridade possa triunfar.
406
Levando em conta os ensinamentos básicos do espiritismo, podemos interpretar as
palavras de Azambuja como um esforço motivado não por uma consciência de classe (como
Eloy Martins) uma vez que provinha de meios abastados nem exclusivamente pelo desejo
da instauração do regime socialista. O empenho pela democracia, de modo particular, e pelo
socialismo, de modo geral, foi a maneira que o médico encontrou, naquele momento, para
lutar pelo que pensava ser o melhor para a humanidade. Em sua perspectiva, a democracia era
necessária porque garantiria através do debate e da política generosa e desprendida o
clima em que se dariam as discussões e se tomariam providências definitivas em relação aos
problemas econômico-sociais que o país atravessava. A preocupação-mor de Azambuja era
com os menos favorecidos.
As atividades dos comunistas de Porto Alegre tornam a aparecer nas fontes no mês de
outubro, embora em quantidade drasticamente inferior a 1945. Apesar da redução, é possível
percebermos uma movimentação significativa de alguns militantes no interior do Estado. O
motivo maior dos comícios e reuniões realizados (não apenas na capital sul-riograndense) nos
últimos três meses de 1946 foi, sem dúvida, as eleições que ocorreriam em janeiro do ano
seguinte.
No dia de novembro, nossos protagonistas reuniram-se na sede da Sociedade
Espanhola, dando início ao Pleno Ampliado do Comitê Estadual, ocasião em que compareceu
o dirigente nacional Pedro Pomar. A motivação maior do evento, que se estendeu por mais
três dias, foi a discussão dos nomes que seriam incluídos na chapa dos candidatos à deputação
estadual pelo Partido Comunista e do programa mínimo que eles defenderiam na Assembléia
Legislativa gaúcha.
407
A sede do Comitê Estadual naquele momento, localizada na rua dos
Andradas colocou à disposição um posto eleitoral, através do qual o público poderia obter
orientações sobre transferência, alistamento e demais serviços referentes ao pleito de 19 de
janeiro.
408
Em nota distribuída à imprensa no dia 26 de novembro, a Comissão Executiva do
PCB da qual fazia parte o operário Sérgio Holmos expressou sua meta por um milhão de
votos nas eleições, que deveria se dar dentro da ordem e da tranqüilidade.
409
No Pleno
Ampliado do Comitê Nacional, realizado entre os dias 6 e 10 de dezembro, as eleições foram
405
Id. Ibidem, p. 132.
406
Id. Ibidem, p. 133.
407
Partido Comunista do Brasil. Correio do Povo, 03.11.1946, p. 22.
408
Partido Comunista do Brasil. Correio do Povo, 06.11.1946, p. 10.
409
Nota Oficial da Comissão Executiva do P.C. sobre a circular do Ministro da Justiça. Correio do Povo,
27.11.1946, p. 4.
142
colocadas como “tarefa máxima e decisiva” para o desenvolvimento da luta em prol da
democracia. Por isso, eles elaboravam uma série de instruções, visando preparar os
comunistas que atuariam como fiscais eleitorais. Qualquer irregularidade deveria ser
imediatamente comunicada ao Partido. Tudo, porém, deveria ser feito muito cordialmente, a
fim de evitar confusões.
410
Enquanto isso, a Polícia Política continuava espreitando a movimentação dos
membros do PCB. A relação de seus candidatos à Assembléia gaúcha foi cuidadosamente
anexada aos relatórios enviados à sede do DOPS, no Rio de Janeiro.
411
Entre aqueles que
disputariam as vagas no parlamento sul-riograndense, estiveram os militantes Antônio
Ferreira Martins (advogado), Antônio José Duarte (metalúrgico), Brasil da Silva Ilha
(ferroviário), Deburgo de Deus Vieira (advogado), Dyonélio Machado (médico psiquiatra,
escritor, membro das células “dos Profissionais Liberais” e “Siqueira Campos” e diretor do
jornal Tribuna Gaúcha), Edgar José Curvello (padeiro e Secretário de Massas do Comitê
Estadual), Eduardo Barreiro (comerciante e desportista), Eloy Martins (metalúrgico, líder
sindical, Secretário Político da célula Leocádia Prestes” e Secretário Sindical do Comitê
Estadual), Emilce Aveline (professora e conselheira do Clube de Cultura Popular Euclides da
Cunha), Ernesto Bernardi (químico industrial), Fernando Silveira (médico), Isaac Acxelrud
(jornalista colaborador da Tribuna Gaúcha), José César de Mesquita (metalúrgico), Julieta
Batistioli (operária, secretária da célula “Olga Benário” e suplente do Comitê Estadual), Júlio
Teixeira (advogado), Lucas Fortes dos Santos (ferroviário), Manoel Jover Teles (mineiro e
suplente do Comi Nacional), Otto Alcides Ohlweiller (professor universitário, Secretário
Eleitoral do Comitê Estadual e diretor da Tribuna Gaúcha), Paulo Guimarães (operário),
Paulo Osório de Assis Brasil (fazendeiro), Percy de Abreu Lima (advogado), Sérgio Holmos
(operário em construção civil, presidente do MUT estadual, Secretário Político do Comitê
Municipal de Porto Alegre e membro do Comitê Nacional), Vasco Prado (escultor), Vivaldino
César (padeiro) e Walter Graeff (advogado).
Até as eleições, os candidatos comunistas participaram de comícios em Porto Alegre e
no interior do Estado. Eles revezaram-se a fim de dar conta de um calendário de atividades
que abrangia municípios importantes, como Alegrete, Bagé, Butiá, Cacequi, Cachoeira,
Canoas, Carazinho, Caxias, Cruz Alta, Erechim, Guaíba, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande,
410
Instruções aos fiscais do Partido Comunista do Brasil. Para as Eleições de 19 de Janeiro de 1947. Edição do
C. N. do Partido Comunista do Brasil. Rio de Janeiro: 1946, p. 3.
411
Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual do Rio Grande do rio Grande do Sul” Notação 160
– f. 779. Documento datado de 09.11.1946.
143
Rosário do Sul, Santa Maria, Santana do Livramento, Santiago, Santa Vitória do Palmar,
Santo Ângelo, São Gabriel, São Jerônimo, São Leopoldo e Uruguaiana.
412
Mas nem todas as atenções estiveram voltadas para as eleições. Alguns comunistas
envolveram-se mais intimamente com questões locais, como as greves que tornaram a
aparecer no final do ano de 1946. Três segmentos paralisaram suas atividades em Porto
Alegre: os trabalhadores da Carris, os eletricitários e os metalúrgicos. Os primeiros
reivindicaram abono de Natal, pagamento de feriados e dias de folga e não punição aos
grevistas. Os trabalhadores em energia elétrica, por sua vez, entraram em greve em
solidariedade aos funcionários da Carris. os metalúrgicos lutaram somente pelo abono de
Natal.
413
O comunista João Oscar de Oliveira envolveu-se na paralisação dos trabalhadores da
Carris, tal como havia feito no começo daquele ano. Os encarregados do transporte público da
capital tiveram suas reivindicações atendidas parcialmente. Eles conseguiram um pagamento
antecipado dos dias de descanso semanal e a garantia de que o movimento grevista não
serviria de pretexto para atos de represália por parte da Empresa contra os empregados nele
comprometidos.
414
Ao passo que o retorno dos movimentos grevistas atraía as atenções dos militantes do
PCB em nível local, alguns incidentes ocorridos na União Soviética, envolvendo o diplomata
João Batista Soares Pina, contribuíram tanto para que a imagem daquele país perdesse parte
do prestígio pós-guerra perante os brasileiros, quanto para que a reputação dos comunistas
fosse desacreditada. A agressão do segundo secretário da embaixada brasileira na Rússia por
empregados de um restaurante acirrou os ânimos entre os dois países. Pina não tinha sido
atendido ao reclamar que haviam lhe tomado a frente na fila do estabelecimento, passando a
fazer uso de sua condição de representante diplomático do Brasil para receber um tratamento
mais digno. Contudo, não obteve sucesso. Pelo contrário, segundo reportagem do Correio do
Povo, acabou sendo insultado e espancado pelos funcionários.
415
O episódio repercutiu desfavoravelmente para os comunistas. O Itamarati repudiou o
tratamento dispensado ao diplomata em nota oficial.
416
No Rio de Janeiro, o desagrado em
relação ao incidente provocou a manifestação de vários grupos populares, que acabaram por
412
Partido Comunista do Brasil. Correio do Povo, 13.11, p. 4; 22.11, p. 10; 27.11, p. 4 e 28.11.1946, p. 4;
Comícios do PCB. Correio do Povo, 06.12, p. 12; 07.12, p. 10 e 22.12.1946, p. 24; Comício comunista em
Erechim. Correio do Povo, 24.12.1946, p. 16; Comício do PCB em Santa Vitória. Correio do Povo, 27.12.1946,
p. 10.
413
PETERSEN, Aura Terezinha T. et. alli. Op. Cit., Anexo I, p. 7.
414
A greve na Carris e na Energia. Correio do Povo, 25.12.1946, p. 20.
415
Grave incidente com um diplomata brasileiro na Rússia. Correio do Povo, 20.12.1946, p. 12.
416
Nota Oficial do Itamarati. Correio do Povo, 20.12.1946, p. 12.
144
direcionar seu descontentamento para o Partido Comunista.
417
No Rio Grande do Sul, o
diretório do PSD apressou-se em reprovar o ocorrido, afirmando que ele servia para patentear
“a brutalidade e a arrogância soviéticas”.
418
A despeito de episódios como esse e das várias medidas desencadeadas para limitar a
atuação do comunismo no Brasil ao longo de 1946, os militantes do PCB permaneceram
confiantes e esperançosos. Um exemplo desse aspecto foi a preparação para o IV Congresso
do Partido, previsto para 1947, mas adiado e realizado somente em 1954.
Ainda em 1946, o Comitê Nacional publicou um livreto no qual afirmou a necessidade
de se realizar um congresso, expondo motivos que se baseavam tanto no que o PCB havia
conquistado como no que ainda pretendia lograr. Através dessa fonte, é possível percebermos
que a confiança na forma de organização do Partido e no futuro do Brasil fazia-se presente
entre os dirigentes nacionais, mesmo diante das restrições encontradas no segundo ano de
legalidade.
Para os dirigentes nacionais, o período de legalidade contava poucos meses, mas
constituía-se um período de vitórias significativas (legalidade, convocação da Assembléia
Constituinte, vitória na campanha eleitoral), de debilidades superadas e de crescimento
espantoso da organização, que estava se tornando um Partido de “novo tipo”.
419
“Novo tipo”
no sentido de que passava a refletir na sua política, na organização e na atividade diária junto
à população a modificação na posição da classe operária, que abandonava sua postura de
oposição e crítica para defender a luta pela emancipação nacional e pela democracia.
420
A convocação do IV Congresso foi tida pelo Comitê Nacional como uma iniciativa
“digna dos empreendimentos revolucionários” do passado uma atitude audaciosa, visto o
enorme crescimento dos quadros do Partido. Tal audácia não estaria sendo possível se o
centralismo democrático não fosse respeitado, se a disciplina estivesse ameaçada e a aplicação
dos princípios básicos de organização houvesse relaxado. Nesse caso, a convocação de um
congresso seria arriscada, pois equivaleria a expor o PCB à desagregação.
421
O evento, assim,
seria a oportunidade de coroar essa fase em que a agremiação transformava-se em um amplo e
417
Protestos populares, no Rio, contra o incidente verificado com o secretário da nossa embaixada em Moscou.
Correio do Povo, 20.12.1946, p. 12.
418
O diretório estadual do PTB expressa profunda revolta do povo gaúcho pelos incidentes de Moscou. Correio
do Povo, 21.12.1946, p. 5.
419
Segundo Cavalcante, desde fins de 1944 e começo de 1945, a palavra-chave utilizada em abundância era o
termo “novo” (“nova era”, “novo homem”, “novo intelectual”, “novo partido”), dando a nica do advento de
uma nova alvorada. Cf. CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 93.
420
Em marcha para o IV Congresso do P.C.B. Edição do Comitê Nacional do Partido Comunista do Brasil.
1946, p. 3-4.
421
Idem, p. 4.
145
sólido partido, cada vez mais forte e disciplinado para cumprir sua “missão histórica de elevar
o proletariado ao poder através das diversas etapas do desenvolvimento” da pátria.
422
Para
tanto, os militantes deveriam trabalhar para esclarecer a população de que o IV Congresso não
se restringia às fronteiras do PCB, constituindo-se num “novo e decisivo passo para a união
de nosso povo, para a liquidação definitiva do fascismo e consolidação da democracia em
nossa terra”.
423
De acordo com os dirigentes comunistas, a ordem do dia a ser considerada ao longo do
evento seria composta de três pontos fundamentais: o caráter da revolução no Brasil
(momento em que seriam analisadas as características da revolução democrático-burguesa,
etapa que implicaria uma discussão detalhada da reforma agrária, importante para o
desenvolvimento do capitalismo, sem o qual não se chegaria ao socialismo), o Partido
Comunista do Brasil (etapa em que seria promovido um balanço da trajetória do PCB desde o
III Congresso realizado em 1929) e a eleição dos novos membros do Comitê Nacional
(ocasião da substituição dos dirigentes superados pelos acontecimentos por militantes que
houvessem se mostrado mais capazes).
424
O Congresso, assim, não deveria ser “dos
comunistas para os comunistas”, mas de toda a classe operária e do povo, na defesa da paz
duradoura e da unidade, através da autocrítica bolchevique”, quer dizer, o reconhecimento
aberto dos erros, de suas causas e das formas de corrigi-los, caracterizando um partido sério e
cumpridor de seu dever de educar a classe e as massas.
425
Dentro do espírito do centralismo democrático, o IV Congresso teria papel importante
no fortalecimento do Partido pela prova de democracia interna que as discussões e as eleições
de baixo para cima em todos os organismos aconteceriam.
426
Se lembrarmos das palavras
do padeiro Edgar Curvello, analisadas na primeira parte dessa dissertação, entenderemos por
que um evento como o congresso mostrava-se tão relevante para os dirigentes do PCB. Ele
constituir-se-ia num verdadeiro processo, com início dois meses antes de sua instalação
formal, através da “Manifestação da Convocação” do Comitê Nacional, da “Ordem do Dia” e
das “Teses de Discussão”, através de uma série de debates e resoluções preparatórias desde as
bases até a direção máxima, isto é, desde as assembléias de células, passando pelas
422
Idem, p. 5.
423
Idem, p. 17.
424
Idem, p. 9-10.
425
Idem, p. 10-12.
426
Idem, p. 14.
146
conferências distritais, municipais e estaduais etc. e chegando à reunião do Congresso
propriamente dito.
427
As questões palpitantes para a militância desde aquelas mais próximas aos anseios
populares seriam discutidas e levadas gradualmente até os maiores escalões do Partido, a
fim de que este traçasse os próximos passos a serem seguidos rumo à revolução democrático-
burguesa. Tratava-se de um acontecimento que mobilizaria militantes de todos os cantos do
país na construção do próprio destino do PCB e do Brasil, algo cuidadosamente planejado e
que requereria disciplina e obediência. Diante de algumas dificuldades que o momento lhes
impunha, a força e a coesão eram necessárias. Ao mesmo tempo em que seria democrático,
devido a toda a discussão que proporcionaria dentro das unidades partidárias, o processo que
levaria ao Congresso também se mostrava centralizador, exigindo a submissão dos
comunistas às regras impostas pelo Comitê Nacional e obrigando-os a reconhecer a
autoridade das decisões tomadas no evento. Para eles, não se tratava de autoritarismo ou algo
semelhante, mas de “sadia democracia interna”.
428
Contudo, de acordo com a publicação distribuída aos militantes, toda a preparação
para o IV Congresso não deveria interromper a vida normal do Partido.
429
As tarefas do dia-a-
dia e a participação dos comunistas na vida política do país continuariam. No final daquele
segundo ano de legalidade, em que os membros do PCB organizavam-se para um evento de
tão grande porte e relevância para o futuro da militância (que se concretizaria oito anos
depois), nossos protagonistas trabalharam intensamente pelas eleições de 19 de janeiro. A
curto prazo, era nesse acontecimento que eles depositavam suas expectativas de retomar o
processo de consolidação da democracia.
427
Idem, p. 15.
428
Idem, p. 19.
429
Idem, p. 16.
147
CAPÍTULO 4
A DEMOCRACIA SE PERDE NO HORIZONTE
4.1 – O centenário de nascimento de Castro Alves: os comunistas como continuadores da
obra dos antepassados
O ano de 1947 começou trazendo boas notícias para os militantes comunistas de Porto
Alegre. As eleições ocorridas no dia 19 de janeiro resultaram na escolha de três candidatos do
PCB à Assembléia Legislativa gaúcha. Foi Dyonélio Machado um dos eleitos – quem
transmitiu o resultado aos companheiros. Décadas depois, ao escrever suas memórias, o
psiquiatra lembrou o episódio, mostrando-nos que, embora estivesse concorrendo a uma vaga
no parlamento, preferia que os eleitores tivessem depositado confiança em um concorrente
proveniente de sua classe:
Coube a mim levar a comunicação da Justiça Eleitoral à direção regional do
Partido. Subi as escadas do velho sobrado onde tínhamos sede, acabrunhado, não
com a perspectiva da responsabilidade futura que me cumpria como deputado, mas
com aquela negação dialética da massa, não ter depositado uma confiança política
natural, obrigatória mesmo, num elemento da sua classe.
430
Juntamente com os colegas Otto Alcides Ohlweiller (professor universitário) e
Antônio Ribas Pinheiro Machado Neto (jornalista), o escritor ocuparia as vagas destinadas aos
representantes do PCB na Assembléia Legislativa. Otto foi o candidato mais votado
logrando 2.327 votos seguido de Pinheiro Machado – 2.231 e Dyonélio, com 1.876 votos.
Os comunistas Júlio Teixeira, Antônio Barros, José César de Mesquita, Manoel Jover Telles e
Antônio Martins foram eleitos suplentes com 1.679, 1.413, 1.134, 1.108 e 1.068 votos,
430
MACHADO, Dyonélio. Memórias de Um Pobre Homem. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1990, p.
116.
148
respectivamente.
431
Em Porto Alegre, nossos protagonistas somaram 13.840 de um universo
de 79.374 votos (válidos), isto é, abarcaram 17,43%, perdendo apenas para os candidatos do
PTB, que obtiveram 41,17% dos sufrágios.
432
no Estado a vantagem dos comunistas diminuiu. Vejamos como foi o desempenho
dos concorrentes do PCB em relação aos candidatos dos demais partidos no Rio Grande do
Sul:
Tabela 06
Eleições para a Assembléia Legislativa em 19 de janeiro de 1947 no Rio Grande do Sul
Partido Votos % Votos Cadeiras
PTB 171.605 30,88 23
PSD 170.786 30,73 16
PL 54.832 9,86 5
UDN 47.280 8,50 4
PRP 46.783 8,42 4
PCB 32.005 5,76 3
PSP 2.727 0,49 -
ED 2.543 0,46 -
Brancos 25.172 4,55 -
Nulos 1.876 0,35 -
Total 555.609 100 55
Fonte: NOLL, Maria Izabel & TRINDADE, Hélgio (Org.). Op. Cit., p. 44.
Enquanto, em Porto Alegre, os comunistas alcançaram quase um quarto dos sufrágios,
no Estado, seu desempenho caiu para pouco mais de 5%. Contudo, eles lograram três cadeiras
no parlamento gaúcho, compondo aquela que seria a menor, embora a mais combativa,
bancada da Assembléia.
Naquelas eleições, o PCB não lançou nenhum candidato a governador, preferindo
apoiar concorrentes que lhes parecessem menos “reacionários”. Para o governo do Rio
Grande do Sul, os comunistas apoiaram a candidatura de Walter Jobim (PSD-PRP-PCB), o
qual foi o vencedor, com 41,23% dos votos. Em segundo e terceiro lugares ficaram Alberto
Pasqualini (PTB) e Décio Martins Costa (PL-UDN), com 37,64% e 18,91% dos sufrágios,
respectivamente.
433
Muitos não receberam positivamente o apoio dado pelo Partido
Comunista ao candidato do PSD. Por exemplo, de acordo com estudos feitos por Rodeghero
sobre os embates entre comunistas e anticomunistas ao longo das eleições realizadas entre
431
CHILCOTE, Ronald. Op. Cit., p. 321.
432
Média das seis juntas de Porto Alegre. Informações retiradas de NOLL, Maria Izabel & TRINDADE, Hélgio
(Org.). Op. Cit., p. 45-46.
433
Id. Ibidem, p. 32. Em comício realizado no dia 16 de janeiro, no Largo da Prefeitura de Porto Alegre, Prestes
esteve presente e mandou seus correligionários apoiarem a candidatura de Walter Jobim ao governo estadual. Cf.
Comício comunista hoje, no Largo da Prefeitura. Correio do Povo, 16.01.1947, p. 8.
149
1945 e 1947, a atitude do PCB em relação a Jobim foi objeto de crítica de “um grupo de
gaúchos independentes” que mandou publicar um texto no jornal Correio do Povo. Eles
mostravam-se preocupados com a possível vitória do candidato do PSD, para a qual, em seu
ponto de vista, o voto dos comunistas teria sido decisivo.
434
Enquanto nossos protagonistas preocupavam-se com as eleições, seus inimigos
empenhavam-se em colocar seu Partido de volta à clandestinidade, dando seguimento ao
processo que visava ao cancelamento do registro do PCB. Não foram poucas as opiniões a
favor da suspensão publicadas no Correio do Povo naqueles primeiros dias de 1947. De um
modo geral, os que apoiavam o retorno do PC à ilegalidade tentavam justificá-lo afirmando
que o desenvolvimento do comunismo no país resultava de influências estrangeiras; que os
comunistas eram contrários aos princípios democráticos (sobretudo à pluralidade de partidos)
e aos direitos fundamentais do homem; e que o bolchevismo e o fascismo eram igualmente
totalitários e, desse modo, a ação do Partido Comunista – orientada pelas idéias bolchevistas –
colocava em perigo as instituições democráticas brasileiras.
435
Segundo Cavalcante, a partir de 1943, com a decisão da entrada do Brasil na guerra
junto aos Aliados, a polarização democracia versus totalitarismo permitiu que, na sociedade
brasileira, fossem inseridas todas as forças antifascistas num mesmo bloco, tanto governo
como oposição. Contudo, com o término do conflito mundial (e acredito que também com o
início das hostilidades entre Estados Unidos e União Soviética), a propaganda antitotalitária
se atualizou, produzindo-se uma nova clivagem na qual a URSS foi colocada no campo dos
regimes totalitários. Nessa perspectiva, concluiu a autora, alterou-se o quadro nacional. Os
liberais reivindicaram para si o papel de defensores da democracia e situaram os comunistas
no lugar diametralmente oposto.
436
Mesmo com um processo contra o PCB em curso e diante do recrudescimento do
combate ao comunismo, nossos protagonistas permaneceram confiantes. O mês de março de
1947 foi um dos mais movimentados, embora o número de atividades desenvolvidas nesse
ano tenha sido bastante inferior àquele dos dois primeiros anos de legalidade. O jornal
Tribuna Gaúcha, do qual sobreviveram sete edições de 1947, contribuiu para a reconstrução
das atividades dos militantes de Porto Alegre. Ao contrário de 1946, os exemplares do
434
RODEGHERO, Carla Simone (2005). Op. Cit.
435
Declara o Ministro da Justiça. No meu modo de entender depois de promulgada a constituição o Partido
Comunista é um partido Ilegal, 09.01, p. 4; A situação do comunismo através de novas declarações do Ministro
da Justiça, 10.01, p. 2; 48 horas tem o PCB para responder os quesitos formulados pelo procurador geral, 10.01,
p. 4; Fascismo e bolchevismo, igualmente totalitários, 10.01, p. 4; O fechamento do Partido Comunista, 16.01, p.
8; A cassação do registro do P.C.B.. Correio do Povo, 17.01.1947, p. 6.
436
CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 124.
150
Correio do Povo fonte privilegiada para esse tipo de informação foram abundantes em
1947. Contudo, as fontes disponíveis para a análise do ano em questão nesse capítulo não
forneceram um volume de dados tal como logrado para 1945 ou mesmo para 1946. O motivo
mais provável para a queda das atividades é, certamente, o cancelamento do registro do PCB e
as conseqüentes medidas tomadas pelo governo no intuito de impedir definitivamente a
atuação comunista, como a invasão de sedes, apreensão de documentos, proibição de
comícios e etc., pontos que veremos adiante.
Ao todo, foi possível encontrar 15 atividades desenvolvidas pelos militantes do PCB na
capital gaúcha em 1947: seis comícios, uma reunião, sete atividades culturais e um Pleno
Ampliado do Comitê Estadual, realizado no mês de março. O gráfico abaixo ajudará na
visualização da gradativa queda das atividades comunistas na Cidade ao longo da conjuntura
1945-1947:
Gráfico 4: Atividades desenvolvidas na conjuntura 1945-1947 – Quadro comparativo.
Fonte: Ver Capítulo 1 – nota 71.
Assim como o número de atividades, a exaltação de nossos protagonistas foi maior em
1945 que em 1947. A euforia característica do ano do final da Guerra foi cedendo lugar a
partir da repressão aos movimentos populares e aos comunistas ao entusiasmo comedido,
embora não menos esperançoso. 1947 ainda começou dando motivos para que eles não
desacreditassem da democracia.
No início do mês de março, os militantes do PCB levaram a efeito mais um Pleno
Ampliado do Comitê Estadual. A instalação do Pleno ocorreu no Teatro São Pedro, no dia 08,
seguindo até o dia 10 com a presença de delegados da maioria dos municípios e de todo o
0
10
20
30
40
50
60
Reuniões Assembléias Comícios Ativ. Cult.
1945
1946
1947
151
secretariado do Comitê Estadual. Reunidos durante três dias e dirigidos pelos camaradas
Abílio Fernandes (deputado federal), Demétrio Ribeiro, Edgar José Curvello, Eloy Martins,
Jover Telles, Julieta Batistioli e Rui Moreira, os dirigentes comunistas do Rio Grande do Sul
examinaram a situação política e os problemas do povo sul-riograndense e traçaram a
orientação a ser seguida pela militância gaúcha.
437
O evento foi encerrado com grande
comício do Largo da Prefeitura, no qual discursaram Maria Crespo, os operários Rui Moreira
e Sérgio Holmos e o mineiro Jover Telles. Rui Moreira conclamou o operariado a lutar pela
democracia e pelo progresso do povo. Já Maria Crespo falou em nome das mulheres,
afirmando que cabia a elas combater a carestia de vida e o câmbio negro, garantindo a paz ao
lutar pela vida de seus entes queridos, para que não servissem de “bala de canhão” nem de
lucro para os capitalistas estrangeiros. Crespo lembrou que a população vivia mal, sem o
essencial à vida, com lares na miséria, enquanto os “reacionários” procuravam criar confusões
para melhor enganar o povo faminto e doente. O operário Sérgio Holmos, Secretário Político
do Comi Municipal de Porto Alegre, encerrou o meeting prestando homenagem ao
companheiro Lucas Fortes dos Santos, ferroviário natural de Santa Maria e militante
extremamente engajado, falecido no dia 04 de janeiro.
438
Nota-se que nossos protagonistas permaneciam firmes na defesa da democracia e na
batalha contra a carestia de vida, tema presente no discurso de diversos militantes desde o
ocaso do Estado Novo. Através das palavras de Maria Crespo, sabemos que a mulher tinha
um papel especial na luta política do momento. Após 1945, elas multiplicaram as
organizações de vanguarda, fundando organismos que reuniam, sobretudo, donas-de-casa.
439
Contudo, Jorge Ferreira menciona que as imagens da mulher revolucionária que os
comunistas tentavam construir não excluíam uma hierarquia entre os sexos, reproduzindo as
mesmas opressões e discriminações que eles denunciavam.
440
Outro assunto, citado algumas vezes nos anos anteriores, mas cada vez mais recorrente
em 1947, foi a ação do capital estrangeiro. No decorrer desse capítulo, veremos o quanto o
imperialismo ganhou importância na interpretação comunista sobre processo de
democratização brasileira e na caracterização da democracia.
Naquela mesma edição de Tribuna Gaúcha jornal de circulação diária os
militantes da capital divulgaram a instalação da Assembléia Legislativa do Estado e o início
437
Constituiu um grande êxito o Pleno Ampliado do C.E. do P.C.B.. Tribuna Gaúcha, 11.03.1947, p. 1.
438
Grande comício no encerramento do Pleno do P. Comunista. Tribuna Gaúcha, 11.03.1947, p. 1-2.
439
CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 146.
440
FERREIRA, Jorge (2002). Op. Cit., p. 131. A historiadora Eliane Garcia também encontrou indícios de
discriminação em relação ao trabalho feminino entre os comunistas do Rio Grande do Sul entre 1947 e 1960.
Ver: GARCIA, Eliane Rosa. Op. Cit.
152
das comemorações do centenário de nascimento do poeta Castro Alves. Ao contrário da
revista Libertação, que era editada semanalmente e difundia artigos de opinião, a Tribuna nos
remete ao dia-a-dia da militância, ao modo como, menos espaçadamente, os comunistas se
posicionavam em relação às questões que o momento se lhes impunha. Os primeiros números
desse periódico foram dirigidos por Otto Alcides Ohlweiller e redigidos pelo jornalista
uruguaiano José Gonçalves Thomaz.
A instalação do parlamento sul-riograndense aconteceu na tarde do dia 10 de março
pelo presidente do Tribunal Regional Eleitoral, que dirigiu as eleições para a presidência da
Casa. O deputado Edgar Luiz Schneider (PL) – apoiado pelo PL, PSD, PRP, PCB e pela UDN
– foi eleito presidente, e o comunista Dyonélio Machado escolhido para o cargo de 3º
secretário.
441
Como líder da bancada comunista, Dyonélio proferiu discurso na primeira sessão do
parlamento estadual, salientando o compromisso que todos os deputados deveriam ter com
seus eleitores:
O povo está com os olhos fitos em nós. Nesta Casa, nós vamos ter a oportunidade
de mostrar a este povo que somos dignos do mandato que ele nos confiou.
Devemos estar vigilantes na defesa da vontade deste eleitorado que, num pleito
rigorosamente livre, presidido com superior critério pela Justiça Eleitoral do
Estado, trouxe realmente, a esta Assembléia, legítimos representantes seus.
442
O comprometimento para com o povo fazia-se essencial para a democracia, pois, na
opinião do escritor e comunista, as medidas democráticas – a serem tomadas pela Assembléia
– deveriam visar os interesses da população.
443
Os militantes do PCB diziam estar junto da luta do povo brasileiro desde muito tempo,
dando continuidade a esforços de antepassados notáveis da história do Brasil, como Castro
Alves. Eles inseriram-se nas comemorações do 100º aniversário do nascimento do poeta
(realizadas em todo o país), referindo-se a ele de muitas maneiras: “poeta do povo”, “cantor
dos escravos”, “grande poeta brasileiro”, “o poeta mais popular”, “homem de luta”.
444
Para nossos protagonistas, a obra do vate baiano significava todos os anseios de
liberdade do povo brasileiro, que, naquele momento, lutava contra a opressão do imperialismo
441
Instalada, Ontem, a Assembléia Constituinte. Tribuna Gaúcha, 11.03.1947, p. 1. A mesa ainda foi composta
por Joaquim Duval (PSD), César José dos Santos (PTB), Hermes Pereira de Souza (PSD), Helmuth Closs (PRP)
e Fernando Ferrari (PTB), como vice-presidente, 2º vice-presidente, 1º, e secretários, respectivamente. Cf.
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 1, 10.03.1947, p. 6-7.
442
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 1, 11.03.1947, p. 27.
443
Idem.
444
Castro Alves deve ser comemorado não pela sua mensagem poética como pelo papel de vinculação aos
problemas sociais que ele evoca, 11.03, p. 8; O significado das homenagens a Castro Alves. Tribuna Gaúcha,
12.03.1947, p. 3, respectivamente.
153
ianque e dos agentes de Walt Street. Castro Alves ainda era o “poeta da libertação”,
exemplificava o artista envolvido com a coletividade, motivado por ideais de solidariedade e
justiça social, com os quais os comunistas se identificavam.
445
Os militantes acreditavam que Castro Alves havia compreendido como nenhum outro,
em sua época, a maneira de lutar contra as forças reacionárias que queriam a permanência da
escravidão. Com o empenho de pessoas como ele, a escravatura havia sido extinta no Brasil.
Contudo, o povo deveria continuar lutando contra outros problemas, tendo à sua frente
indivíduos igualmente inteligentes e corajosos (os comunistas), capazes de dar a vida em prol
de dias melhores para a população brasileira.
446
Para os comunistas, ao homenagear a memória do poeta, o Partido Comunista do
Brasil provava mais uma vez ser “o herdeiro e continuador da obra dos nossos grandes
antepassados”.
447
Mais do que se sentirem herdeiros, eles identificavam sua luta ao lado do
povo à luta do vate dos escravos, homenageando “a memória daquele que representou para
sua época o que representam os comunistas para o Brasil de hoje”.
448
Mas em que eles coincidiam? Sobretudo, no apego ao povo, na luta pela
independência do Brasil, pela democracia e pelo progresso, como bem podemos avaliar nessa
passagem de Jorge Amado também publicada em Tribuna Gaúcha: “Castro Alves significa,
no Brasil, o artista ao lado do povo, e muitas vezes à frente do povo nas suas lutas pela
democracia e pelo progresso”.
449
Amado associou o papel de vanguarda dos comunistas e de
Castro Alves, ambos à frente do povo em suas lutas, ambos envolvidos com questões sociais.
Enquanto isso, na Assembléia Legislativa, o jornalista e deputado comunista Pinheiro
Machado, convidava seus pares a prestarem homenagem ao poeta oitocentista. Em seu
discurso, salientou que os colegas de Partido tinham Castro Alves – assim como Juarez
Távora, Siqueira Campos, Frei Caneca e Tiradentes em alta conta, visto que haviam sido
homens que, em determinado momento político, tinham desempenhado grande papel dentro
da revolução brasileira; homens que, em sua época, representaram a revolução, o progresso e
a liberdade porque queriam o novo e, por isso, foram injuriados, caluniados por aqueles que
não queriam a evolução, que se colocavam contra a marcha da história. Mas, felizmente, os
dias tinham se passado, e a própria história mostrado quem eram os patriotas.
450
445
Castro Alves deve ser comemorado não pela sua mensagem poética como pelo papel de vinculação aos
problemas sociais que ele evoca. Tribuna Gaúcha, 11.03.1947, p. 8.
446
O PCB comemorará o centenário de Castro Alves. Tribuna Gaúcha, 12.03.1947, p. 1.
447
O significado das homenagens a Castro Alves. Tribuna Gaúcha, 12.03.1947, p. 4.
448
Idem.
449
Idem, p. 3.
450
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 1, 14.03.47, p. 89.
154
Pinheiro Machado traçou paralelos no intuito de identificar personagens históricos aos
militantes do comunismo. Ele mencionou que Tiradentes, Juarez Távora e os outros não
haviam sido compreendidos em sua época, assim como eles (os comunistas) não o estavam
sendo naquele momento, pois todos, em seus respectivos tempos, lutavam pela extinção de
aspectos considerados historicamente ultrapassados, embora extremamente valorizados por
algumas parcelas da sociedade sobretudo aqueles que se beneficiavam com o atual estado
das coisas (os reacionários). Apesar de injustiçados e caluniados, o tempo havia mostrado,
com a supressão da escravatura e a proclamação da República, que o alferes e o poeta estavam
“certos”. Os comunistas também passavam por uma etapa difícil, militando sob o processo
que os acusava de serem antidemocráticos e totalitários, quando, na verdade, lutavam pela
“verdadeira democracia”, aquela que viria inexoravelmente com o tempo, com a instauração
do regime socialista.
Dessa maneira, os militantes construíam uma tradição de homens comprometidos com
o povo e com a democracia, bem como com ideais de liberdade e progresso. Mais do que isso,
pareciam ser conscientes dessa construção, como podemos observar nesse outro trecho do
pronunciamento de Pinheiro Machado:
Recolhemos para a história do nosso Partido aqueles feitos grandiosos da nossa
história, tudo aquilo que lembra a história da libertação na nossa Pátria, porque
entendemos que isto é ser patriota, é aproveitar o que de maior existe em cada feito,
na atitude de cada homem, e transformar todos estes feitos e todas estas atitudes
num exemplo e num sentimento para o estabelecimento de normas futuras.
451
Há, nessa passagem, o reconhecimento do uso de determinados aspectos da história
como exemplos a serem seguidos, destacando características significativas no momento,
motivando identificação e encorajando certas atitudes. Apesar dos comunistas verem a
história a partir de uma visão “futurista”, quer dizer, dentro do regime moderno de
historicidade do qual nos fala Hartog, eles também não abriram mão da referência ao passado.
De acordo com o historiador francês, o regime de historicidade é uma ferramenta
heurística, através da qual interpretamos a formulação do tempo que modelava os modos de
dizer e de viver o tempo presente de nossos personagens do pretérito.
452
Apesar de Hartog
explicitar que, ao longo da história, foi possível constatar a passagem de um regime (plano de
pensamento de longa duração) para outro, uma forma de reger a história jamais existe em
estado puro.
453
Isso nos leva a concluir que, numa dada época, podem coexistir mais de um
regime de historicidade.
451
Idem.
452
HARTOG, François (1997). Op. Cit., p. 8.
453
Id. Ibidem, p. 10.
155
No caso de nossos protagonistas, esse dado nos fica muito claro. Ao mesmo tempo em
que voltavam seus olhares para o futuro para o regime eminentemente democrático, porque
socialista não deixavam de buscar, no passado, exemplos que esclarecessem o presente e o
futuro, fazendo um uso da história como mestra da vida (magistra vitae).
Castro Alves transformou-se no predecessor de uma luta que os comunistas travavam
nos primeiros anos após o Estado Novo, que era a tarefa de consolidar, ao lado do povo, a
democracia no país. Nesse sentido, os comunistas tentavam construir a continuidade de uma
“imagem de si, para si e para os outros”.
454
Segundo Michel Pollak, “a memória é um
elemento constituinte do sentimento de identidade” pois que é um fator do sentimento de
“continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si.”
455
Nesse caso, acontecia um gerenciamento da memória e da história como uma
maneira de gerir a própria identidade de comunistas democratas. Essa identidade foi se
constituindo, na medida da própria configuração do espaço de experiência, quer dizer, a
construção dessa imagem de si acontecia no momento em que o passado era feito presente,
recordado e submetido à reflexão e a julgamento. Nesse processo, o democrático e o não-
democrático serviram como parâmetros para a auto-afirmação da imagem de legítimos
defensores da democracia que era elaborada mediante assimilação e oposição. O
conhecimento adquirido proporcionou a construção dessa imagem através da qual os
comunistas se viam e desejavam ser percebidos.
456
Para “Pinheirinho” como costumava ser chamado por alguns camaradas era por
não ter se espelhado em exemplos como Castro Alves que a juventude brasileira havia-se
tornado “instrumento do fascismo”, o qual tentara levá-la para os “caminhos negros”, ao invés
de libertá-la, tentara brutalizá-la, ensinando-lhes caminhos falsos.
457
O passado foi se fazendo cada vez mais presente nas manifestações de nossos
protagonistas em 1947, quer com exemplos, quer com contra-exemplos. Através desses
454
POLLAK, Michel. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos. Rio de Janeiro: CPDOC/FGV, v. 5, n.
10, 1992, p. 204.
455
POLLAK, Michel. Loc. cit.
456
Castro Alves não foi o único personagem a ser homenageado pelos comunistas de Porto Alegre na conjuntura
1945-1947. Em 1946, Mário Couto militante assassinado em janeiro de 1935 pela política de Flores da Cunha
foi lembrado em reportagem na revista Libertação, sendo exaltado como um herói que legara aos seguidores
do comunismo a lição de estar sempre ligado ao povo. A referida reportagem apresentou Couto como aquele que
havia tombado ao lado do proletariado por melhores condições de vida e pela democracia. Cf. Romaria ao
túmulo de Mário Couto. Libertação, 19.01.1946, p. 7. Outro fato relevante, nesse sentido, era o costume do PCB
motivar seus membros a celebrarem datas, eventos ou pessoas que haviam se sacrificado por ideais considerados
importantes, através da escolha de patronos para as células. Na sessão de apêndices o leitor encontrará a relação
dessas unidades na capital gaúcha, na qual constam – dentre as várias formas de denominação – aquelas
nomeadas pelos patronos. Entre eles, nossos protagonistas homenagearam Bento Gonçalves, Júlio de Castilhos,
Lênin, Olga Benário e Siqueira Campos, para citar alguns.
457
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 1, 14.03.1947, p. 90.
156
apelos, é possível percebermos também o que eles representavam como o avesso da
democracia. Sua caracterização tinha como antípoda o Estado Novo e o fascismo, eventos
resgatados de forma muito negativa ao longo daquele ano.
Os comunistas de Porto Alegre preocupavam-se com os rumos que a política
internacional vinha tomando e com as possíveis repercussões disso no Brasil. Mesmo
satisfeitos e esperançosos em relação à instalação da Assembléia gaúcha e em meio às
homenagens a Castro Alves, eles procuraram mostrar que existiam “tentativas de retorno da
ditadura”.
O processo de democratização progredia. O resultado das eleições era uma prova de
que eles haviam vencido o anticomunismo sistemático da LEC e as oligarquias políticas dos
“coronéis”. O Partido Comunista do Brasil permanecia firme e sereno contra as provocações
dos “restos fascistas” e em oposição às investidas do imperialismo americano contra a
democracia no país.
458
Aspectos considerados ultrapassados eram usados pelos comunistas para mensurar o
quão perto (ou distante) estavam de seu objetivo. Quanto mais tais elementos mostravam-se
presentes, mais obstáculos haviam de ser transpostos, distanciando o Brasil (e o mundo) do
novo tempo. Os “restos fascistas” são um ponto a ser analisado. Eles eram culpados por
entravar a marcha para a democracia. Digamos que esses resquícios tinham duas facetas: uma
nacional e outra internacional.
No Brasil, as oligarquias latifundiárias base da política da Primeira República e do
Estado Novo eram as grandes inimigas da democracia, os “restos fascistas” que ameaçavam
a ordem constitucional. Os comunistas viam esse segmento da sociedade brasileira como um
impedimento à reforma agrária, pois que defendiam o monopólio da terra causa
fundamental do atraso e da miséria. Ademais, os latifundiários eram grandes aliados do
capital estrangeiro colonizador (resquício fascista em nível internacional), que vinha
orientando a política de modo contrário ao desenvolvimento da indústria nacional.
459
Nesse
sentido, a Doutrina Truman era uma forte ameaça que se dirigia especialmente ao Brasil. Os
militantes acreditavam que Truman pensava dominar o país para melhor dominar a América
do Sul. Por isso nenhum acordo com o imperialismo ianque seria bom para a Nação, nem
458
União de todos os patriotas e democratas contra as TENTATIVAS de RETORNO à DITADURA. Tribuna
Gaúcha, 12.03.1947, p. 5.
459
Idem.
157
poderia haver defesa nacional se se entregasse a tutela do Brasil a uma nação estrangeira e se
submetesse seu controle a ela.
460
Há, aqui, um componente nacionalista muito forte. O amor e respeito que devotavam
ao país apresentava-se estreitamente ligado às suas concepções da organização ideal da
sociedade brasileira. As condições do Brasil, naquele momento, apontavam para superação
dos resquícios considerados nocivos à economia (latifúndio, indústria precária) causa maior
da miséria e da carestia de vida, do atraso unidos em torno da democracia e da Constituição
(União Nacional), passando para o capitalismo, a fim de, em seguida, avançar em direção ao
fim último: o socialismo.
Os comunistas viam o imperialismo como o responsável pela guerra. Muitos deles
vinham acompanhando o desenrolar dos acontecimentos desde a Primeira Guerra Mundial.
Em sua interpretação, o capital estrangeiro colonizador havia-se beneficiado de países fracos
economicamente impondo uma ajuda interesseira, o que teria gerado a disputa por zonas de
interesse entre potências capitalistas e, por conseguinte, a guerra. Por isso, a ação do capital
internacional era fascista, por querer retomar uma atitude que havia levado o mundo à mais
destrutiva das guerras. Resquícios do capital financeiro também eram restos do fascismo.
Aqueles que não primavam pela Nação e que se alinhavam ao imperialismo constituíam-se
“restos fascistas” por darem continuidade a um comportamento que não levava em
consideração os interesses do povo e do país, mas seus próprios interesses e os das potências
estrangeiras. As pessoas ligadas ao latifúndio, os não progressistas, eram fascistas porque,
agindo dessa forma, davam seguimento a uma política de submissão ao capital estrangeiro,
gananciosamente desenfreado; por se alinharem àqueles que não queriam o bem do povo e da
Nação, mas melhor explorá-los.
O Brasil deveria se sobrepor a esses aspectos do passado que permaneciam no
presente, unindo-se em torno das questões que afetavam diretamente o povo realizando a
reforma agrária, ativando a produção, gerando empregos e melhores salários, aumentando o
poder de compra dos trabalhadores, acabando com a fome e a miséria e etc. e descartando
qualquer ajuda externa. Os restos fascistas eram uma ameaça à democracia no sentido de que
entravavam o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, etapa sem a qual não se daria a
revolução, evento crucial para o estabelecimento de uma nova era, democrática porque
socialista, quando não mais haveria luta de classes, e a fartura material e fraterna aconteceria
para todos.
460
Idem.
158
A democracia teria lugar no futuro, assim como fazia parte do regime soviético. Na
URSS – país em que a revolução tinha sido feita – havia democracia, bem como no interior do
PCB. Dyonélio Machado defendeu fortemente esse ponto de vista durante longa discussão na
Assembléia, na qual uma série de apartes colocou em questão o caráter democrático que
nossos protagonistas afirmavam existir no seio de seu Partido e no país bolchevique.
A polêmica foi aberta pela discussão em torno das conversações entre um
representante do PCB e os candidatos ao governo do Estado. Dyonélio Machado afirmou ter
dialogado com os três concorrentes. Contudo, alguns deles negavam tal conversa, em que se
teria cogitado o apoio (público ou secreto) dos comunistas. O deputado Assunção Viana
(PTB) lançou uma provocação, dizendo que o Partido Comunista dava apoio secreto somente
para a Rússia, sendo desafiado por Dyonélio e Pinheiro Machado a provar sua afirmação. Os
deputados comunistas mencionaram considerar os demais partidos comunistas do mundo
como “irmãos”, mas sem estar filiado (nem blica, nem secretamente) a nenhuma dessas
organizações.
461
Na seqüência, o autor de Os Ratos dedicou-se a esclarecer os contatos
estabelecidos entre seu Partido e os candidatos a governador do Rio Grande do Sul nas
eleições ocorridas em janeiro.
O debate encaminhou-se para a apoio dado pelos comunistas a Getúlio Vargas em
1945, registrando-se uma série de enérgicos e simultâneos apartes não captados
integralmente pelo estenógrafo a ponto de provocar a advertência da Mesa, que fez soar a
campainha e ameaçar suspender a sessão caso o episódio se repetisse. Dyonélio Machado
retomou a palavra sob acusações de que o comunismo era a maior ditadura do mundo e de que
isso se refletia no Partido Comunista do Brasil.
462
Com o auxílio do jornalista e colega de
bancada, o psiquiatra defendeu a posição do PCB em 1945, a democracia interna da
organização em que militava e o regime soviético.
Dois anos antes, disse ele, seu Partido havia apoiado a política de Vargas e não a sua
pessoa – por ele ter-se enveredado para a reconstitucionalização e a redemocratização do país.
Não seria possível retomar o processo democrático sem a instalação da Assembléia
Constituinte.
463
Pinheiro Machado esclareceu que, no momento em que falava, todas as
unidades do PCB estavam realizando assembléias para o IV Congresso programado para o
mês de maio daquele ano evento no qual se dariam as eleições dos dirigentes partidários.
Ele afirmou que existia democracia interna em seu Partido, pois todos manifestavam suas
461
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 2, 01.04.1947, p. 38-39.
462
Idem, p. 43 e 46.
463
Idem, p. 44.
159
opiniões livremente, o que não ocorria em nenhuma outra agremiação no Brasil. E se, naquele
momento, todo o país e o mundo poderiam desfrutar da democracia, era graças à guerra, na
qual a Rússia não havia medido esforços para esmagar o fascismo.
464
Em meio a céticos e irônicos apartes do deputado Brochado da Rocha (PTB),
Dyonélio Machado seguiu defendendo a Rússia, assegurando que não havia ditadura
porque existiam eleições, com voto (secreto, universal e direto) introduzido por Stalin em
1936. Assunção Viana (PTB) protestou, dizendo que não conseguia conceber como os
comunistas davam “um conceito tão elástico à democracia”.
465
Para Viana, não existia
democracia na União Soviética, mas “ditadura do proletariado”.
466
Men de (PL) reforçou
as críticas, afirmando que democracia e partido único eram idéias que não se coadunavam,
que se tratava de fascismo.
467
Dyonélio deu continuidade à defesa do regime soviético,
explicando que todo o povo russo intervinha na constituição do parlamento e do governo,
sendo diferente da Alemanha nazista, a qual era uma “organização policial” que não dava o
direito de ninguém discordar da palavra do “chefe nacional supremo”. Consoante o deputado
comunista, isso era ditadura, e, na Rússia, ocorria de modo distinto, cada organização tinha
sua vida própria, com voz e voto nas deliberações públicas.
468
Em seguida, o médico
concluiu:
Democracia é o governo do povo, e quem faz o governo, na Rússia, é o povo [...].
Todo ele se mobiliza nas eleições, e é muito comum terem assento no Soviet,
inclusive no Soviet Supremo, membros que não são do Partido Comunista.
469
O significado de palavras, frases, gestos e figuras transforma-se através dos tempos. E
não somente de uma época para outra, mas para os distintos grupos sociais que compõem uma
dada sociedade em um determinado momento histórico, para não falar nos diferentes sentidos
que os indivíduos que formam o grupo atribuem a um signo. A cientista social Denise Jodelet,
por exemplo, afirma que o lugar, a posição social que os indivíduos ocupam determinam os
conteúdos representacionais e sua organização.
470
vimos, ao longo dessa dissertação, o
quanto a democracia (bem como o fascismo e outros aspectos conjunturais) ganharam
significados distintos, dependendo da bagagem de vida do militante, de sua profissão e assim
por diante. Agora, temos a oportunidade de perceber que comunistas e não-comunistas
464
Idem, p. 46.
465
Idem, p. 50.
466
Idem, p. 51.
467
Idem.
468
Idem.
469
Idem, p. 52.
470
JODELET, Denise. (Dir.) Les Representations Sociales. Paris: Presses Universitaires de France, 1997, p. 67.
160
atribuíam teores distintos à democracia, à ditadura, ao fascismo etc.. A incompreensão de
Assunção Viana em relação à elasticidade que os comunistas davam ao conceito de
democracia nos mostra que eles lhes conferiam conteúdos diferentes e, talvez, incompatíveis.
Para o deputado petebista, seus pares comunistas afirmavam serem democráticos regimes
inconcebíveis como tal.
As últimas palavras do escritor comunista nos remetem para o uso de frases e idéias
enraizadas na história, mas que ganham conotações diversas, dependendo do momento e do
lugar. Herdamos não a palavra, mas a própria idéia de democracia da Grécia antiga. Lá,
nos séculos V e IV a.C., surgiu um regime de governo no qual as decisões políticas eram
tomadas pelo conjunto dos cidadãos reunidos em assembléia. O “governo do povo” tinha,
então, um sentido bastante específico: cada cidadão participava diretamente das decisões de
governo. Porém, para aqueles gregos, a idéia de povo, assim como a de cidadão, diferia da
nossa e daquela dos comunistas da metade da década de 1940. De para cá, muito se repetiu
a frase “democracia é o governo do povo”. Mas o que se quis dizer com tal expressão ganhou
vários sentidos.
Para Dyonélio Machado, militante comunista desde os ásperos anos 1930, democracia
deveria ser o governo de um povo que ele e seus companheiros orientavam contra o
imperialismo, a carestia de vida, a miséria e o atraso econômico. O povo que, décadas,
queria a libertação do país, sua emancipação política e econômica. Esse povo de que falava
Dyonélio e os demais comunistas parecia ser idealizado, visto de acordo com a interpretação
que faziam da realidade brasileira.
4.2 – O fechamento do PCB: o horizonte tem a face negra da tirania
O mês de abril iniciou com a renúncia de Otto Alcides Ohlweiller à deputação
estadual. Na carta de desistência apresentada à Mesa, Otto mostrou desejo de que a
Assembléia elaborasse uma Constituição “realmente democrática” e legislasse tendo em vista
o progresso do Rio Grande do Sul. Por fim, mencionou que, mesmo afastado do parlamento,
não deixaria de colaborar, prosseguindo junto com o povo e nas fileiras do Partido Comunista
161
na luta pela consolidação da democracia e do progresso do Brasil.
471
Em seu lugar assumiu o
advogado pelotense Júlio Teixeira, quarto candidato comunista mais votado nas eleições.
472
O clima em torno do processo de cancelamento do registro do PCB era de suspense. O
julgamento, marcado para o dia 12 de abril, foi adiado, e a expectativa permanecia grande.
Em alguns círculos se comentava que, extinto o registro do Partido Comunista, qual seria o
destino dos deputados eleitos sob sua legenda.
473
Mas, na manhã do dia 15, os militantes
sofreram um outro e inesperado golpe: a suspensão das atividades da Juventude Comunista
(JUC) pelo governo federal. Por ser considerada “perigosa à ordem política e social”, a
associação filiada ao PC teria seu funcionamento suspenso por, pelo menos, seis meses.
474
Naquele dia, a bancada comunista ficou em silêncio, tanto na Câmara quanto no Senado.
475
Dois dias depois, contudo, o deputado estadual Pinheiro Machado pronunciou veemente
protesto na Assembléia Legislativa gaúcha.
Na opinião do jornalista, a JUC havia sido fechada por um Decreto-lei “muito mais
nocivo, muito mais opressor e muito mais reacionário que a própria Lei de Segurança
Nacional”, a qual, por algum tempo, havia “ofendido a dignidade do nosso povo”.
476
Caracterizando o acontecido como um retrocesso, um “atentado contra a Democracia” e uma
“afronta à Constituição da República”, Pinheiro Machado manifestou-se decepcionado, mas
confiante na reversão daquele estado de coisas.
477
Suas palavras, nesse sentido, são um
exemplo da postura adotada pelo PCB, de defesa da ordem e da tranqüilidade, pois ele não
cogitava uma forte reação dos comunistas contra a medida do governo e, sim, esperava que o
futuro mostrasse quem estava certo:
O futuro, os dias que vão se suceder mostrarão, à saciedade, quais aqueles que
estiveram certos nos seus caminhos, quais aqueles que colocaram o seu
471
Assembléia Legislativa Estadual. Renuncia ao seu mandato o dep. Otto Alcides Ohlweiller. Correio do Povo,
01.04.1947, p. 14.
472
Não encontramos, nas fontes disponíveis, as razões da renúncia de Otto. Uma hipótese que não pode ser
descartada é a de imposição do Partido. Moisés Vinhas nos conta que a Comissão Executiva do Comitê Nacional
costumava impor os secretários das unidades mais importantes ou a renúncia de deputados eleitos a despeito do
resultado das urnas, de acordo com suas necessidades estratégias.Vinhas cita o exemplo do ferroviário Mario
Scott, eleito deputado federal pelo estado de São Paulo em 1945, cujo mandato foi solicitado que renunciasse em
favor do camarada Milton Cayres de Brito, suplente. Diógenes Arruma surpreendeu-se com a resistência de
Scott, o qual chegou a chorar e falar em suicídio. O remanejamento, contudo, foi aprovado por unanimidade, e,
anos mais tarde, Scott acabou se suicidando. Cf. VINHAS, Moisés. Op. Cit., p. 90-91.
473
O jornal Correio do Povo noticiou regularmente o processo contra o PCB, procurando mostrar, sobretudo,
como estavam se dando os trâmites na capital do país. Cf. Expectativa no ambiente político nacional, 11.04, p.
10; Decide-se, hoje, a sorte do Partido Comunista do Brasil, 12.04, p. 10; Provavelmente será adiado o
julgamento do processo contra o Partido Comunista, 15.04.1947, p. 14.
474
Suspensas pelo governo as atividades da Juventude Comunista do Brasil. Correio do Povo, 16.04.1947, p. 10.
475
O silêncio da bancada comunista. Correio do Povo, 16.04.1947, p. 15.
476
Anais da Assembléia do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 2, 17.04.1947, p. 341.
477
Idem, p. 342.
162
pensamento, todo o seu esforço, a sua inteligência, a sua mocidade, toda a sua
dedicação pessoal, ao serviço da Pátria.
478
E concluiu afirmando que, por mais que tentassem levar os comunistas ao desespero,
seria dentro da lei, por meios pacíficos, embora enérgicos, que eles protestariam, para que se
respeitasse a ordem democrática do Brasil.
479
Pouco antes de Pinheiro Machado se pronunciar a respeito do fechamento da JUC,
Dyonélio havia manifestado suas impressões acerca do processo que visava ao cancelamento
do registro do PCB. Para o líder da bancada comunista, vivia-se um momento político de
grande importância no Brasil, pois, passadas as eleições, a constitucionalização das unidades
federativas brasileiras era o passo mais importante a ser dado no processo de democratização
do país. E, justamente naquela hora, os “reacionários e fascistas” procuravam atingir o PCB,
“mostrando seus dentes” contra todos os partidos e contra a “Democracia”.
480
Dyonélio
seguiu caracterizando o inimigo, sempre com epítetos muito negativos. Disse ele: “O monstro
não se saciará apenas com esta vítima; veremos em todo o território brasileiro a sanha de
tropelias contra a Democracia e a Constituição”.
481
Isso porque, na sua opinião, “a reação e o
fascismo” não se dariam por satisfeitos tirando apenas o PCB de circulação. Eles só se
encontrariam perfeitamente à vontade no regime que sonhavam, o da ditadura pessoal,
reduzindo todos os partidos ao silêncio.
482
A sua organização, não obstante, enfrentava o
momento com otimismo, pois a decisão não estava dependendo do grupo de “reacionários e
fascistas”, mas da Justiça Eleitoral.
O escritor quaraiense acrescentou que ele e seus companheiros estavam opondo “um
dique a todas as forças maléficas” existentes no Brasil, forças essas que tinham origem no
estrangeiro, naqueles que queriam o domínio econômico e político do país e que estavam
ligados à expansão imperialista na América do Sul. O processo de cancelamento, no fundo,
tratava-se de uma manobra que visava não somente o PCB, mas subjugar indignamente a
nação à exploração estrangeira, ao imperialismo que havia saído mais fortalecido da última
guerra: o ianque. O julgamento a que o Partido Comunista estava sendo submetido era uma
prova, segundo Dyonélio, de que as “forças reacionárias” não tinham descansado suas armas e
tudo fariam para deter a democracia no Brasil “em sua marcha ascendente para o futuro”.
483
478
Idem, p. 345.
479
Idem.
480
Anais da Assembléia do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 2, 17.04.1947, p. 338. Esse discurso
foi publicado resumidamente no jornal Correio do Povo do dia 18.04.1947, p. 10.
481
Idem, p. 339.
482
Idem.
483
Idem, p. 340-341.
163
No terreno da grande política”, os comunistas estavam com seus olhos voltados para
a elaboração das constituições dos diversos estados brasileiros e para a possibilidade do
retorno do PCB à clandestinidade. Enquanto o primeiro figurava o próximo passo em direção
à consolidação da democracia, o segundo representava uma ameaça a ela. Na frente desse
processo estavam aqueles que Dyonélio Machado chamou rias vezes de “reacionários e
fascistas”, qualificativos que tivemos oportunidade de compreender o significado para os
militantes do PCB na conjuntura 1945-1947. Contudo, a partir desse momento e embora o
escritor procurasse mostrar que os comunistas permaneciam serenos em relação ao projeto
que visava retirar-lhes da legalidade, palavras extremamente negativas passaram a dar corpo a
seus pronunciamentos. Ele não se limitou em usar expressões, como as forças “reacionárias e
fascistas”, para fazer referência àqueles ligados ao capital internacional e que não queriam a
mudança político-econômica por se beneficiarem do estado das coisas. Ele acrescentou-lhe
outros epítetos. Os interessados em retirar o PCB do cenário político mostravam seus dentes,
configuravam um monstro a espreitar suas vítimas (os partidos, a democracia e a
constituição), eram maléficos. O militante evocou uma imagem do inimigo ligada a uma outra
natureza que não a humana, que despertava medo e repulsa, aproximando-se inclusive do
imaginário anticomunista, detalhe a ser comentado adiante.
Enquanto isso, a militância de Porto Alegre continuava a se preparar para o IV
Congresso, programado para começar em 23 de maio. Na noite do quinto dia daquele mês,
eles instalaram a Conferência Estadual do Partido Comunista, evento que duraria vários dias e
no qual nossos protagonistas juntamente com representantes de outras cidades gaúchas
iriam examinar os problemas partidários e a situação política nacional e internacional.
Maurício Gabrois, líder da bancada comunista na Câmara dos Deputados e membro da
Comissão Executiva do PCB, fez-se presente na ocasião, acompanhando os trabalhos que
iniciaram com a execução do Hino Nacional e homenagem a Mário Couto e Karl Marx.
484
O
Congresso, entretanto, não se realizou na data prevista. No dia 07 de maio, o registro do
Partido Comunista foi cassado, e nossos protagonistas retornaram à clandestinidade.
Após vários adiamentos e intensos debates, amplamente divulgados pelo jornal
Correio do Povo em Porto Alegre, o PCB foi acusado de ter dois estatutos. No julgamento do
dia 07 de maio, por três votos a dois, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu pelo seu
fechamento. De acordo com Moisés Vinhas, a medida pegou os comunistas desprevenidos a
ponto de não conseguirem mobilizar nenhuma reação de massa, pois eles haviam subestimado
484
Partido Comunista. Correio do Povo, 04.05.1947, p. 15.
164
tal possibilidade.
485
Anos mais tarde, Eloy Martins recordou que “com a maior facilidade foi
tirado da vida legal um partido com mais de 200 mil membros, sem haver a mínima reação.
Até os elementos mais reacionários se surpreenderam”.
486
Nos dias que se seguiram, a polícia fechou as sedes do PCB em todo o país. Na capital
do Rio Grande do Sul, mais de 123 células tiveram suas portas cerradas, os documentos e
objetos atinentes ao Partido apreendidos e enviados às autoridades policiais sem resistência
alguma.
487
Apenas dias depois, os comunistas gaúchos requereram um mandado de segurança
contra a privação do uso de suas sedes e defendendo o direito de propriedade sobre seus
bens.
488
Para Eloy Martins, com esse fechamento silencioso, o PCB se colocou fielmente
dentro da linha de paz e tranqüilidade que preconizava, numa demonstração clara e evidente
do “seu absurdo direitismo”. Suas lembranças, além de nos remeterem ao julgamento
realizado a posteriori por um dos mais importantes militantes comunistas de Porto Alegre,
também podem nos mostrar algo não encontrado em outras fontes, que é como a adoção dessa
linha que ele tanto criticou e o fechamento do Partido repercutiram na militância. O
metalúrgico relembra que
O resultado prático dessa posição antimarxista, não foi dos melhores, mais da
metade da massa partidária, iludida e inconseqüente, convencida de que não haveria
retrocesso e não sabendo o caminho a seguir, o abandonou. Os dois anos de euforia
e ilusões democráticas foram por água-abaixo. A maioria dos companheiros que
haviam se desligado da produção para atuarem exclusivamente nas tarefas da
organização partidária, tiveram de voltar às suas atividades anteriores, fui um
deles.
489
Além de voltar à ilegalidade, ter suas sedes fechadas, documentos e objetos
apreendidos, atividades proibidas, o PCB ainda assistiu à diminuição vertiginosa de seus
quadros. Para Eloy, tudo isso foi o resultado da adoção da uma linha que não havia sido fiel
ao marxismo, iludida com a democracia e com as vias legais de acesso ao poder. Mesmo
conseguindo chegar à Presidência da República por esses meios, isso não representaria o
proletariado no poder. Seria, no máximo, um governo de tendência socialista, pois, para ser
socialista realmente, precisaria haver a mudança paulatina da máquina estatal.
490
O
metalúrgico parecia não ter se deixado envolver completamente pela euforia da legalidade e
485
VINHAS, Moisés. Op. Cit., p. 94.
486
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 84.
487
Cumpre o governo as instruções do ministério da Justiça, 10.05, p. 10; Fechamento do Partido Comunista.
Correio do Povo, 11.05.1947, p. 24.
488
Mandado de segurança do PCB contra atos do Chefe de Polícia do Estado. Correio do Povo, 14.05.1947, p.
10.
489
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 85.
490
Id. Ibidem, p. 83.
165
pelas promessas do incipiente regime democrático. Militante oriundo da convivência com
Mário Couto na década de 1930, sempre ativo entre os trabalhadores, fazendo greves, atuando
nos sindicatos, driblando as perseguições e resistindo às prisões, via a linha adotada pelo PCB
como um sério desvio político e ideológico, com o qual ele convivia em atrito.
Mas, de um modo geral, a atitude dos membros do PCB no calor dos acontecimentos
esteve conforme ao que vinha sendo pautado até o momento. No dia seguinte ao julgamento,
alguns deles tiveram oportunidade de manifestar-se a respeito da extinção do registro
partidário. O Secretário Político do Comitê Municipal de Porto Alegre foi procurado pelo
jornal Correio do Povo, que queria dar a conhecer a postura que os comunistas assumiriam
diante do cancelamento.
A declaração de rgio Holmos transpareceu confiança. Em um primeiro momento,
ele protestou contra a extinção do registro do PCB, afirmando que tal medida atingia
profundamente a democracia e se constituía no início de ataques ainda mais sérios à
Constituição. Em seguida, revelou que seus companheiros não esmoreceriam. Eles
protestariam, certamente amparados por todos os democratas, dentro da lei e da ordem, não se
deixando arrastar por provocações.
491
Mesmo diante do retorno da clandestinidade, os
militantes do comunismo deram continuidade à linha do Partido, de agir com calma, evitando
atritos que pudessem ser usados contra eles pelos inimigos.
Naquele mesmo dia, a Assembléia Legislativa gaúcha reservou um momento para
comemorar a passagem do segundo aniversário da vitória das Nações Unidas na última guerra
mundial. O líder da bancada comunista fez longo discurso, aparteado várias vezes, no qual
falou não apenas acerca da vitória sobre o nazismo, mas também da suspensão do registro de
seu Partido. O escritor aproximou os dois acontecimentos, afirmando que a consigna” do
nazismo havia sido o “fantasma do comunismo”. Hitler, segundo ele, usara o anticomunismo
como arma para conquistar o mundo e, da mesma forma, o PCB tinha sido fechado por meio
do apelo anticomunista. Por isso, Dyonélio acreditava que a melhor maneira de se comemorar
a passagem dos dois anos da vitória dos aliados na Segunda Guerra era alertando para o
perigo da história se repetir. Ele apelou para que não se deixasse que a “sombra sinistra de
Hitler” fechasse todos os partidos, que ela tirasse o direito da nacionalidade brasileira
governar-se a si mesma. Por último, convidou todos os democratas com assento naquela Casa
491
Declara o secretário do PCB no Estado: “O Partido Comunista protestará, dentro da ordem e da lei, mas não
se deixará arrastar a provocações.” Correio do Povo, 08.05.1947, p. 12.
166
a resistir à luta que se travava contra a democracia, cujo fechamento do Partido Comunista era
apenas o começo.
492
O deputado comunista voltou a usar expressões assustadoras, cogitando a
possibilidade do retorno de um passado recente e aterrador. A “sombra sinistra de Hitler”
pairava sobre a política brasileira, e era sob sua inspiração que estavam fechando partidos e
entregando o país nas mãos do imperialismo. Desde as primeiras páginas dessa dissertação,
vimos acompanhando a caracterização da democracia pelos militantes do PCB, muitas vezes,
através do seu avesso. Cavalcante assinalou que as interpretações políticas dos comunistas
reproduziam a polaridade anterior: democracia versus fascismo.
493
Assim, sempre que
queriam mostrar o que ela não era ou não deveria ser, os exemplos do fascismo e do Estado
Novo eram largamente usados por nossos protagonistas. Em 1945, porém, o apelo não se
mostrou tão intenso como em 1947.
Em março, ao falar sobre as comemorações do centenário de nascimento do Castro
Alves, Pinheiro Machado havia dito que a democracia se opunha ao fascismo, o qual tinha
tentado levar nossa juventude para os “caminhos negros”; ao invés de libertá-la, “brutalizá-
la”.
494
Agora, seu companheiro da bancada atribuía o fechamento do PCB e a possibilidade
disso ocorrer com os demais partidos – à “sombra sinistra de Hitler”.
De um modo geral, é possível entendermos o que os parlamentares comunistas
queriam dizer ao afirmar que democracia se opunha ao fascismo. No entanto, para que essa
informação nos conduza a um entendimento próximo de nossos personagens históricos, é
importante atentarmos para os significados dados por eles a este fenômeno. É bem provável
que sua impressão sobre o fascismo tivesse tonalidades diferentes da nossa. Um exemplo é a
ausência de qualquer alusão ao anti-semitismo quando tocavam nesse assunto. Eles pareciam
se concentrar nos perigos dos quais recentemente haviam se libertado, os quais mostravam-se
modelos potenciais das coisas que nunca deveriam ocorrer dentro de um regime de governo
democrático, e expressões de impacto negativo eram usadas para qualificar o fascismo
lembrado como uma ameaça ao longo de todo o ano pelos deputados.
De acordo com Jodelet, a elaboração das representações se inscreve nos “quadros de
pensamentos pré-existentes” (cadres de pensées préexistants), quer dizer, “sont reliées à des
systèmes de pensée plus larges, idéologiques ou culturels, à un état des connnaisssances
492
Anais da Assembléia do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 4, 08.05.1947, p. 68.
493
CAVALCANTE, Berenice. Op. Cit., p. 125.
494
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 1, 14.03.1947, p. 90.
167
scientifiques [...]”.
495
Os significados atribuídos pelos militantes ao fascismo apoiavam-se em
todo um conjunto de signos já existentes, os quais, por sua vez, remetiam a significados
negativos. Segundo o antropólogo Clifford Geertz, os símbolos são “fontes extrínsecas de
informações em termos das quais a vida humana pode ser padronizada mecanismos
extrapessoais para a percepção, compreensão, julgamento e manipulação do mundo”.
496
Os
símbolos, dessa forma, não são inatos, mas aprendidos e assimilados na própria vida social.
Através de símbolos existentes havia séculos, o escritor e o jornalista comunistas
caracterizavam aquele que seria o avesso da democracia.
Signos como “negro” e “sombra” bem como escuridão”, “trevas” e “noite” têm
uma longa história. Conforme estudos realizados pelo historiador Jean Delumeau,
determinados perigos que apareciam e voltavam todas as noites sensibilizaram a humanidade
e a ensinaram a temer as armadilhas noturnas. Com o passar do tempo, esse “medo na
escuridão” foi se transformando em um “medo da escuridão”, quer dizer, os medos objetivos
foram sendo povoados por uma série de medos subjetivos. Para o autor, tal evolução deveu-se
a razões mais internas e que se prendiam à condição humana, pois a visão é mais aguda no
homem que em outros animais. As trevas deixam-no mais desamparado que muitos
mamíferos. Ademais, a privação da luz também atenua os “redutores” da atividade
imaginativa, fazendo-a confundir real e ficção. Assim, o desaparecimento da claridade nos
confina no isolamento, nos cerca de silêncio e, portanto, nos desassegura.
497
Delumeau afirma que “fantasmas, tempestades, lobos e malefícios tinham muitas
vezes a noite por cúmplice”. Ela era um componente considerável nos medos de outrora, um
lugar onde os inimigos tramavam sua perda física e moral.
498
Nos primórdios do judaísmo,
muitos hebreus viam os deuses das religiões alheias como ídolos vãos. Contudo, parte deles,
presa a uma idéia tribal, assimilava tais deuses aos “espíritos das trevas”.
499
Quer dizer, desde
antes da criação da religião judaica se assimilava a escuridão ao que era estranho, não
familiar. Com o advento do Cristianismo, a escuridão tornou-se o reduto do adversário de
Deus, Satã e sua corte de demônios. Segundo o historiador Carlos Roberto Nogueira, o reino
de Satã era onde predominavam as “forças das trevas”.
500
Foi Paulo (o apóstolo) quem
assumiu a tarefa de “abrir os olhosdas pessoas, convertendo-as das trevas à luz, do poder de
495
JODELET, Denise. Op. Cit., p. 52. Uma tradução sugerida: “são religados a sistemas de pensamentos mais
amplos, ideológicos ou culturais, a um estado dos conhecimentos científicos [...].”
496
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989, p. 188.
497
DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente. 1300-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.
99.
498
Id. Ibidem, p. 96.
499
NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no Imaginário Cristão. Bauru/SP: EDUSC, 2002, p. 14.
500
Id. Ibidem, p. 26.
168
Satanás ao poder de Deus.
501
Nesse momento, todo o mal e todo o bem foram caracterizados
pelo par antitético escuridão versus luz.
Nos incipientes séculos do Cristianismo, o poder satânico não parecia tão ameaçador.
Os primeiros cristãos tinham certeza do triunfo de Cristo. Mas, por volta do século X, as
pregações eclesiásticas tenderam a destacar cada vez mais o Mal e suas conseqüências. Os
demônios invadiram os menores espaços da vida, introduzindo-se na alma dos indivíduos,
representando seus desejos inconfessáveis.
502
Por volta do XIII, o Diabo já tinha grande
importância, tornando-se mais respeitado e poderoso do que nunca.
503
Nessa época, o diabo era representado de várias formas, e quase todas elas remetiam à
escuridão ou à morte, como a figura do corvo e do abutre. Nogueira salienta que não raro
acreditavam que ele poderia aparecer disfarçado num mouro.
504
No século XVII, dizia-se que
os demônios eram mais negros que o breu.
505
O elemento demoníaco apresentava-se sob a
forma animal ou mesclando formas humanas e animais, salientando a sua natureza bestial.
Isso se dava tanto pela orientação canônica quanto pelo costume tradicional de representar os
seres sobrenaturais de modo monstruoso.
506
Quando simbolizado em sua forma de anjo caído,
o diabo ganhava asas, como os demais anjos. No entanto, suas asas não eram de um pássaro
que voa à luz do dia, e sim as de morcego, “que ama as trevas”.
507
Portanto, “na forma
humana ou na forma animal Satã é freqüentemente negro ou escuro, como convinha ao
Príncipe das Trevas”.
508
A presença demoníaca, encarnação do mal absoluto no imaginário
cristão, para não dizer Ocidental, enraizou-se firmemente na cor preta.
Como vimos, a escuridão, a noite, a cor preta etc. são signos que receberam conteúdos
diferentes ao longo do tempo, embora sempre negativos.
509
O sentido ganha tons novos à luz
de cada contexto (tempo, lugar, grupo social etc.), desperta sentimentos diversos, assim como
encoraja a atitudes distintas, e, por essa razão, precisam ser historicizados. Marshall Sahlins
inclusive salienta que toda mudança também é uma reprodução cultural.
510
501
Id. Ibidem, p. 27.
502
Id. Ibidem, p. 49.
503
Id. Ibidem, p. 52.
504
Id. Ibidem, p. 53.
505
Id. Ibidem, p. 64.
506
Id. Ibidem, p. 66.
507
Id. Ibidem, p. 67.
508
Id. Ibidem, p. 69.
509
Gislene Aparecida dos Santos chamou atenção para o conteúdo exótico presente na cor escura. Contudo, esse
é um aspecto que não será abordado nesse trabalho por não apresentar potencial explicativo para a questão
levantada pelos deputados comunistas e sua caracterização do fascismo. SANTOS, Gislene Aparecida dos.
Selvagens, Exóticos, Demoníacos. Idéias e Imagens sobre uma Gente de Cor Preta. Revista Estudos Afro-
Asiáticos. Ano 24, n. 2, 2002, pp. 275-289. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/eaa/v24n2/a03v24n2.pdf
.
510
SAHLINS, Marshall. Ilhas da História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990, p. 180.
169
Os significados em torno da escuridão (da sombra, da noite, das trevas, da cor negra e
assim por diante) foram direcionados para temas diversos através das épocas.
511
Nossos
protagonistas retomaram esses signos existentes, atribuindo-lhes conteúdos muito
particulares, suscitados pela experiência de terem vivido as agruras da época de ascensão do
fascismo e da instauração do Estado Novo.
512
O passado foi retomado pelos militantes do PCB para nomear algo estranho, mas ao
mesmo tempo familiar. Estranho porque não esperado naquele momento; familiar porque
possível de ser encontrado na experiência. Ao caracterizar o fascismo – e o Estado Novo – por
meio de expressões como “sombra” e “caminhos negros” ou ainda “anos negros”, como
aparecerá adiante os comunistas tentaram despertar a insegurança e o desassossego. Esse
pretérito que poderia estar retornando assinalava um período em que predominara o mal, a
perversidade, o inesperado, o assustador, a morte, o sofrimento, a intolerância. Tais sentidos,
implícitos na forma como eles se referiam ao avesso da democracia, despertavam angústia
(por não se dar a ver inteiramente), a inquietude, o medo e o pavor. Poderia-se esperar
qualquer coisa. Através dessas representações, Dyonélio e Pinheiro Machado tentaram
chamar a atenção para um grande perigo que rondava a democracia brasileira, uma ameaça
que não se circunscrevia aos limites político-institucionais, mas que afetava profundamente a
convivência social, senão a própria existência. Eles queriam que os outros sentissem o que
estavam sentindo, a insegurança. O inimigo tramava contra o seu Partido e contra a
democracia.
A classificação do fascismo e do Estado Novo completamente contrários à
democracia também acontecia por meio de uma grade de conceitos carregados de juízos de
valor no que se refere ao passado e ao futuro. O historiador Hilário Franco Júnior nos mostra
um exemplo de como essa oposição passou a ser usada com o advento do Iluminismo para
caracterizar a Idade Média como “Idade das Trevas”:
511
A artigo de Gislene dos Santos, recentemente mencionado, estuda justamente o peso e a influência de tais
significados na ideologia racista. uma relação que se faz entre preto/cor e a pessoa negra, de modo que o
visível defina inteiramente a concepção que temos do “ser negro”. Cf. SANTOS, Gislene Aparecida dos. Op.
Cit., p. 275.
512
Não foram raros os momentos em que os comunistas aproximaram fascismo e Estado Novo. Em 1945, uma
reportagem publicada na revista Libertação, referiu-se ao primeiro como “experiência fascitizante no Brasil”
(14.04.1945, p. 6-7). Ao longo desse capítulo, veremos que os dois eventos históricos continuaram a ser
associados ou caracterizados por meio dos mesmos qualificativos, como na matéria editada na Tribuna Gaúcha
sobre a Assembléia Legislativa em março de 1947. Nela, os militantes de Porto Alegre referiram-se ao regime
comandado por Vargas como “[...] negro período em que todas as liberdades estiveram cassadas, desde o simples
direito de externar-se o que se pensa até aqueles que se referem à livre existência dos partidos políticos, escola
de democracia.” Cf. “Manifesta-se o povo sobre a importância da Assembléia Constituinte”. Tribuna Gaúcha,
12.03.47, p. 8.
170
O século XVIII, antiaristocrático e anticlerical, acentuou o menosprezo à Idade
Média, vista como momento áureo da nobreza e do clero. A filosofia da época,
chamada de iluminista por se guiar pela luz da Razão, censurava sobretudo a forte
religiosidade medieval, o pouco apego da Idade Média e um estrito racionalismo e
o peso político de que a Igreja então desfrutava.
513
O historiador suíço Jean Starobinski lembrou que as metáforas luz versus trevas eram
antíteses sem idade, carregadas de valor religioso havia culos, quando impuseram-se
universalmente por volta de 1789. Nessa época, a razão ganhou força de lei radiosa, e toda a
relação de autoridade e obediência que não estivesse fundada nessa base foi condenada a não
ser mais que trevas.
514
Soma-se, ainda, o evolucionismo das teorias do século XIX – dentre as quais encontra-
se o marxismo que colocou as etapas anteriores da evolução da Humanidade como
inferiores, ultrapassadas. As palavras dos militantes do PCB nos revelam a presença dessa
forma de classificação. Eles fizeram uso de expressões muito antigas, mas recuperadas através
dos tempos, sob novos contextos, carregando conteúdos distintos. Podemos deduzir que o
Estado Novo e o fascismo, retomados e reinterpretados na conjuntura 1945-1947, pelos
comunistas, guiados pelas idéias marxistas, conformavam-se como períodos de atraso, de
ignorância e de irracionalidade, diferente do que seria a democracia. Ela pairava no horizonte,
era o destino último da humanidade, o regime ideal que seria instaurado com a revolução.
Diante do perigo, nossos protagonistas povoaram suas manifestações de aspectos
subjetivos, atribuindo ao que era contrário à democracia ações irracionais, desumanizantes e
cruéis, que lembravam uma época de medo, de incerteza e de angústia. Os comunistas haviam
sentido na pele os resultados do abuso de autoridade, recordando esse tempo com expressões
que remetiam às facetas mais baixas e vis do comportamento humano.
Os atos praticados durante o fascismo e o Estado Novo eram contrários a tudo o que se
esperava de um regime “verdadeiramente democrático”. Inspirados pela ânsia do capital, os
fascistas tinham o caráter corrompido moralmente, uma vez que guiados por uma lógica
distinta da dos comunistas. Eles não pugnavam pelo bem estar do ser humano. Pelo contrário,
pensavam em seus próprios interesses. Em 1945, Otto Alcides Ohlweiller havia se referido ao
Estado Novo como “um ultraje à nacionalidade” que deveria ser apagado para que se
instaurasse uma “democracia verdadeira e vigorosa”. A referida ditadura nunca havia
correspondido à realidade política e econômica do país, mantendo-se sempre às custas de
“manobras escusas que se fizeram acima dos interesses nacionais e das caras aspirações
513
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001, p. 12.
514
STAROBINSKI, Jean. 1789: os emblemas da razão. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 38.
171
populares”.
515
Existia em suas palavras uma crítica ao regime varguista apoiada em princípios
caros aos militantes comunistas vistos no terceiro capítulo, como o desprendimento e a
solidariedade. Para eles, os interesses de uma pessoa ou de um grupo não poderiam estar
acima dos interesses da coletividade. O Estado Novo, assim, teria sido um insulto, uma ofensa
à nacionalidade brasileira por não haver levado em conta os interesses do seu povo.
4.3 – O imperialismo norte-americano: a ameaça iminente
Para nós, que vemos essa história muitas décadas depois, quando já ocorreram várias
mudanças na sociedade brasileira e no mundo, o cancelamento do registro do Partido
Comunista foi uma medida claramente antidemocrática. Contudo, em 1947, o comunismo era
encarado como um forte perigo aos valores ocidentais, ao liberalismo, ao catolicismo etc.
Vivia-se os primeiros momentos da Guerra Fria, o confronto entre Estados Unidos e União
Soviética, cuja retórica muito superior aos conflitos reais contribuiu sobremaneira para a
manutenção de um constante estado de alerta.
516
Conforme Rodeghero, o anticomunismo foi
um componente de uma forma de ver o mundo, “de identificar-se e de diferenciar-se em
relação aos outros, ainda que não se possa negar que tenha sido uma arma utilizada pelos
Estados Unidos para manter a obediência dos países que estavam sob seu domínio, entre os
quais se inclui o Brasil”.
517
Diante da ameaça que o comunismo representava, justificava-se o
cancelamento do registro do PCB.
Os comunistas seguiram protestando pelos meios que lhes eram possíveis. O jornal
Tribuna Gaúcha continuou circulando, sob a direção do arquiteto Demétrio Ribeiro e do
jornalista José Gonçalvez Thomaz.
518
O antigo militante Laci Osório descreveu este último
como um homem sério e responsável, possuidor de uma síntese objetiva para a análise dos
problemas. Em sua direção, o órgão do PCB reuniu material de denúncia, ganhando o povo
pelo argumento.
519
No mês em que foram colocados novamente na clandestinidade, Thomaz e
Demétrio reuniram várias matérias em protesto aos acontecimentos. Em uma delas, o escritor
515
O Movimento Democrático Progressista em Face do Momento Político. Libertação, 14.04.45, p. 18.
516
RODEGHERO, Carla. O Diabo é Vermelho. Imaginário anticomunista e Igreja Católica no Rio Grande do
Sul (1945-1964). Passo Fundo: UPF, 2003, p. 80.
517
Id. Ibidem, p. 82-83.
518
José Gonçalves Thomaz participava do expediente da Tribuna Gaúcha desde 1946. Segundo João Batista
Marçal, ele começou como repórter, passando para redator, secretário e redator-chefe. Em 1947, já dividia a
direção com Demétrio Ribeiro. Cf. MARÇAL, João Batista (1986). Op. Cit., p. 133-134.
519
OSÓRIO, Laci. Questão de Vida. Memória em tempo de Porto Alegre. 3ª Parte. Porto Alegre: Editora
Movimento, 1981, p. 17.
172
Monteiro Lobato, entrevistado em São Paulo, acusou Dutra de ceder à pressão do
imperialismo ianque ao permitir o fechamento do Partido Comunista.
520
Em outras duas, os
militantes trataram de mostrar como viam o momento político, de que maneira pretendiam
agir e o que esperavam da sociedade brasileira.
Uma das matérias que figurou na primeira página foi a reprodução de uma publicação
feita do jornal Classe Operária, um dos principais veículos do PCB em circulação desde
1925. Nela, os comunistas declararam que os ataques à democracia (repressão às greves,
fechamento do PC etc.) faziam parte de um “plano sinistro dos monopolistas ianques” para
implantar seu domínio absoluto sobre os povos latino-americanos. Eles estavam usando os
mesmos métodos “terroristas e fascistas” de 1937, os mesmos homens, assim como medidas
policiais semelhantes contra os trabalhadores e o comunismo. O cancelamento do registro
havia sido a forma do imperialismo sufocar as liberdades públicas de associação,
organização, manifestação de pensamento como constava na Constituição de 1946, e, nesse
sentido, era uma mutilação da democracia. Por isso não se tratava de uma coincidência o fato
de todos esses golpes” se sucederem ao “Plano Truman de dominação econômica e
submissão militar do Hemisfério. A matéria explicou que nossas jazidas estavam sendo
visitadas por representantes dos trustes norte-americanos. No Brasil, os ministros da Justiça e
do Trabalho, Costa Neto e Morvan de Figueiredo, apoiados pelo Presidente da República,
eram os culpados, pois se deixavam manobrar pelo “grupo fascista” que estava entregando o
Brasil ao imperialismo. Assim, os comunistas esperavam que todos os partidos e correntes de
opinião, acima de quaisquer diferenças ideológicas, lutassem pelo restabelecimento das
liberdades democráticas. Para eles, ainda havia tempo de deter a “onda de terror e a
dominação de nosso país pelo grupo fascista a serviço do imperialismo norte-americano”.
521
Nossos protagonistas tentavam mostrar que o fechamento do PCB era errado e que
existiam culpados por isso: o “grupo fascista” composto pelos mesmos que haviam ajudado
a instaurar a ditadura em 1937 alinhado ao capital norte-americano. Em outra matéria, eles
revelaram o que consideravam lícito e ilícito, colocando-se entre aqueles que lutavam pelo
justo.
Para os comunistas, a ilegalidade era o fechamento de sindicatos e a violação da
propriedade alheia (no caso, as sedes do PCB). Dutra e seus “asseclas”, considerados agentes
de propaganda “guerreira” do imperialismo – pouco preocupados se aumentavam a miséria do
520
Dutra obedece à pressão do imperialismo ianque ao fechar o Partido Comunista. Tribuna Gaúcha,
15.05.1947, p. 3.
521
Contra a entrega do Brasil ao Imperialismo. Tribuna Gaúcha, 15.05.1947, p. 1.
173
povo brasileiro ou se traíam a Pátria é que estavam fora da lei. Era contra essa “estupidez
fascista” que a população deveria se mobilizar com todo o patriotismo, opor-se aos que se
mantinham no poder e nas “gordas negociatas”. Deveria-se honrar a memória daqueles que
tinham dado a vida em defesa da independência e do progresso. Os militantes desejavam o
que era lícito – a organização livre dos partidos queriam paz, ordem, lei, democracia,
vergonha e lealdade do governo, que ele transmitisse confiança, tomando medidas contra a
exploração, a fome, a miséria e os banqueiros imperialistas.
522
Vimos no segundo capítulo o quanto o componente nacionalista permeou o discurso
dos militantes comunistas em relação à União Nacional. A defesa da nação brasileira e de seu
povo fez-se cada vez mais presente em 1947, visto as contínuas ameaças à sobrevivência do
Partido e da própria democracia devido à interferência dos EUA, que, para nossos
protagonistas, pretendiam dominar o Brasil (e a América do Sul) econômica e militarmente.
Para Chilcote, o nacionalismo no interior do PCB se relacionava intimamente aos temores
dessa organização diante da penetração capitalista estrangeira, e, nesse sentido, a eliminação
do imperialismo representava a salvação nacional.
523
O estrangeiro aparecia como o inimigo que ameaçava a integridade do país e o
progresso dos brasileiros. Nesse caso, e retomando algo mencionado para o ano de 1945, o
nacionalismo dos militantes apresentava-se como um sentimento de cólera causado pela
transgressão do princípio político que defende a harmonia entre a unidade nacional e a
unidade política.
524
Eles fizeram uso de idéias nacionalistas para justificar suas metas, tanto
no que dizia respeito ao Estado, cujo governo eles mantinham ferrenha oposição, quanto em
relação aos agentes externos, o imperialismo norte-americano. Os objetivos da nação foram
associados aos objetivos do PCB. O que seus dirigentes diziam ser o melhor para o Brasil foi
visto como a única saída, e os que discordassem disso eram traidores, fascistas e reacionários.
Tratava-se de uma maneira de colocar a questão muito próxima do que Eric Hobsbawm
afirmou ser a essência do nacionalismo de direita do final do século XIX e início do XX: a
reivindicação do monopólio do patriotismo para a extrema direita e a estigmatização dos
demais como traidores.
525
O componente nacionalista também se fez presente nos discursos dos parlamentares
comunistas na Assembléia gaúcha, ao tentarem explicar que quem atentava contra a
democracia no Brasil era o imperialismo, novamente ligado ao fascismo. Dyonélio Machado
522
Para meditar. A luta pela liberdade democrática. Tribuna Gaúcha, 15.05.1947, p. 3.
523
CHILCOTE, Ronald. Op. Cit., p. 160.
524
GELLNER, Ernest. Op. Cit., p. 11.
525
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Impérios. 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 204.
174
esgotou a “Hora do Expediente” do dia 27 de maio de 1947, pronunciando-se em relação à
visita do Presidente da República a Porto Alegre, motivo inicial de suas colocações, as quais
puderam ser completadas após a “Ordem do Dia” quando o escritor retornou à tribuna para
finalizar seu pronunciamento.
Nesse momento, o líder da bancada comunista deu novo rumo às palavras que havia
proferido na primeira parte de sua explanação, dedicando-se a atacar o imperialismo norte-
americano, que, segundo ele, era quem estava norteando a política brasileira. Para Dyonélio, o
Brasil não estava fazendo senão obedecer aos planos do Departamento de Estado dos EUA, ao
“Plano Truman”, que renovava “o sonho criminoso do nazi-fascismo”: “apropriar-se de todo o
mundo”.
526
O imperialismo influenciava o país na medida em que controlava todas as suas
atividades militar, política e econômica para melhor sujeitá-lo, e quem mais se opunha a
essa “escravização” do povo brasileiro eram os comunistas, os quais lutavam contra os
fascistas “quaisquer que sejam as cores com que se apresentam num dado momento
histórico”.
527
Por isso, a democracia era “clima infenso” ao imperialismo, porque dava
condições legais para que os comunistas lhe combatessem. Logo, os interessados em atingir a
democracia no Brasil era ele, o imperialismo ianque.
528
O deputado comunista colocou os EUA como o maior inimigo da democracia
brasileira. A fim de mostrar o quanto esse adversário era perigoso, Dyonélio aproximou-o do
nazi-fascismo o qual tivemos oportunidade de ver o quão negativo era apresentado pelos
militantes tentando provar que eles não se diferenciavam na sede de dominar o mundo. O
imperialismo retomava esse “sonho criminoso do nazi-fascismo”, aspecto que trataremos com
mais vagar ainda nesse capítulo.
A estrangeiridade, assim como as trevas e os seres monstruosos, também eram
elementos importantes do imaginário anticomunista. Rodrigo Patto Motta nos revela que,
dentre as imagens dedicadas a representar os comunistas e o comunismo ao longo de boa
parte do século XX no Brasil, destacavam-se os demônios, os agentes patológicos, a ameaça
estrangeira, o desafio à moral e o inferno soviético. Apresentada como um corpo estranho
proveniente do exterior, a ameaça estrangeira guardava ligações com temas como “doença”,
por exemplo. Os comunistas seriam inimigos externos infiltrados na organização social
brasileira tal como agentes patológicos, colocando em risco a integridade da nação. No
526
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 4, 27.05.1947, p. 513.
527
Idem, p. 514.
528
Idem.
175
período da Guerra Fria, a denúncia de que o comunismo estava servindo de cobertura para o
imperialismo soviético foi intensa.
529
Alguns anos antes de Motta defender sua tese, Eliana Dutra havia prestado atenção ao
modo como comunistas e anticomunistas caracterizavam seus inimigos na metade da década
de 1930. Ela reparou que, de um modo geral, ambos serviram-se de pares antitéticos como
recursos imagéticos para representar o adversário como a encarnação do mal.
530
Tanto um
como outro se colocavam ao lado do bem, da luz e da nação. O oponente, por sua vez, era
expressão do infernal e da morte. O sangue e o fogo eram seus anunciadores fundamentais.
Ele ocupava lugar nas sombras, era terrível e perigoso porque vinha de fora era estranho. O
fato de não se dar a conhecer inteiramente tornava-o ameaçador, despertando insegurança e o
medo da escravidão material e moral.
531
Segundo a autora, esse maniqueísmo rígido – próprio
das elaborações ideológicas de nosso tempo é responsável pela perspectiva imobilizadora
das oposições, fazendo com que as essências do bem e do mal, do opressor e do oprimido,
estejam encarnadas em alguém, sendo o mal e o opressor sempre “o outro”, o inimigo.
532
Ainda que em campos opostos, comunistas e anticomunistas brasileiros bebiam de um
mesmo caldo cultural, enredavam-se na mesma teia de significados (como diria Max Weber),
servindo-se de signos aprendidos e assimilados ao longo da vida dentro dessa sociedade para
caracterizar o adversário. Foi através de mbolos coletivamente disponíveis que ambos
ironicamente qualificaram o inimigo, fundamentados num imaginário e numa lógica
comuns, embora com visões muito distintas acerca da realidade brasileira e de aspectos como
trabalho, pátria ou moral.
Nossos protagonistas seguiram acusando ora Eurico Dutra, ora o imperialismo norte-
americano, ora ambos de inimigos da democracia. Para o deputado estadual Júlio Teixeira, o
Presidente e seus desmandos constituíam-se nos principais adversários, pois, “a troco de
democracia”, a pretexto de se fazer cumprir a lei, praticavam toda sorte de arbitrariedades,
atacando os seus “fundamentos basilares”, que eram os direitos e garantias individuais.
533
Ao
defender os direitos e as garantias individuais, Teixeira estava, certamente, preocupado com a
situação dos comunistas após o cancelamento do registro partidário e diante da possibilidade
da cassação dos mandatos dos parlamentares. Um regime democrático pautado em todas as
liberdades asseguraria, para eles, o ambiente propício para continuarem militando. Enquanto
529
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Op. Cit., p. 80.
530
DUTRA. Eliana. Op. Cit., p. 36.
531
Id. Ibidem. Passim.
532
Id. Ibidem, p. 89.
533
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 5, 12.06.1947, p. 430-432.
176
profissional ligado às leis, o comunista realçava o aspecto da democracia relacionado a elas
aos direitos. A posição do mineiro Jover Telles, que tinha assumido uma cadeira no
parlamento gaúcho em substituição a Dyonélio Machado (em licença médica) dias antes, ia ao
encontro da de seus colegas. Por trás dessas arbitrariedades de que havia falado Júlio Teixeira,
Jover acreditava existirem “interesses estranhos”, empenhados em ver o Brasil
definitivamente colonizado.
534
Logo, vemos que existia um consenso entre os militantes
comunistas de Porto Alegre em torno da caracterização daqueles que faziam rivalidade, ao
mesmo tempo, a eles, ao seu Partido e à democracia brasileira.
Segundo Moraes, a cassação dos mandatos, de competência do Legislativo, ficou
bastante facilitada com o cancelamento do registro do PCB decidido pelo Judiciário.
535
Enquanto Prestes tentava fundar outro partido, os militantes protestavam contra a decisão que
lhes havia tirado a legalidade e as tentativas de suspender os mandatos dos parlamentares
eleitos sob a legenda pecebista. De acordo com estudo organizado pelo historiador Flávio
Heinz, tais problemas foram insistentemente lembrados pelos deputados comunistas na
Assembléia Legislativa do Estado, mas sem conseguirem sensibilizar consistentemente os
representantes das demais correntes partidárias a respeito. Poucas vezes seus pares se
levantaram contra a arbitrariedade da cassação.
536
Nossos protagonistas também se
manifestaram em outros âmbitos, como fez Júlio Teixeira, por exemplo, que ministrou uma
conferência na Associação Riograndense de Imprensa sobre o cancelamento de registro de
partidos políticos no dia 05 de junho (uma das poucas atividades realizadas em 1947 que
conseguimos encontrar nas fontes).
537
Até janeiro de 1948, a suspensão dos mandatos dos parlamentares eleitos sob a
legenda do PCB foi um tema recorrente na imprensa. Em Porto Alegre, o jornal Correio do
Povo divulgou o processo pormenorizadamente. De um modo geral, muitos entendiam que a
cassação deveria ser uma conseqüência natural da ilegalidade do Partido Comunista,
pensando que seu senador e seus deputados eram antes representantes do Partido, e não do
povo. Mas, para captar as representações que nossos protagonistas elaboraram em torno da
democracia (ou do seu avesso) na medida em que se posicionavam diante das questões
colocadas no período entre o cancelamento do registro do Partido e a cassação dos mandatos,
os Anais da Assembléia gaúcha são os canais através dos quais obtemos mais informações.
534
Idem. Vol. 5, 06.06.1947, p. 115.
535
MORAES, João Quartim de. Op. Cit., p. 177.
536
HEINZ, Flávio (Org.). O Parlamento em tempos interessantes. Breve perfil da Assembléia Legislativa e de
seus deputados – 1947-1982. Porto Alegre: CORAG, 2005, p. 24.
537
Conferência do Deputado Júlio Teixeira. Correio do Povo, 05.06.1947, p. 12.
177
Na sessão do dia 16 de junho, Pinheiro Machado subiu à tribuna para discursar,
sobretudo, acerca da interferência nas organizações de trabalhadores e da Lei de Segurança
Nacional, momento em que a defesa da democracia e o ataque aos inimigos fizeram-se
presenças constantes. Seu protesto foi motivado pela intervenção federal realizada em alguns
sindicatos na cidade de Santana do Livramento. Para ele, os “inimigos da democracia” sabiam
o que significava, naqueles tempos, a liberdade de associação e de organização dos
trabalhadores (certamente, referia-se aos sindicados e à capacidade de mobilização que estes
últimos vinham demonstrando através das greves): “Sabemos que, nos dias de hoje, para se
estrangular a democracia, é preciso, antes de mais nada, que se estrangule a voz da classe
operária”.
538
Em seguida, Pinheiro Machado falou da “afronta” à Constituição e à democracia,
que era o afastamento de militares com idéias extremistas do Exército Brasileiro. Na verdade,
o que se pretendia era retirar do Exército aqueles que estavam defendendo a democracia,
sufocando suas vozes, exatamente como havia ocorrido em 1937, quando vários indivíduos
envolvidos no levante de 1935 ou contrários ao golpe de 10 de Novembro foram afastados
do conjunto de tropas da nação.
539
O deputado comunista, contudo, dizia não ter motivos para
desacreditar da democracia, pois a correlação de forças no país era favorável a ela. Os
“crimes” que se estavam cometendo não ficariam impunes. Os comunistas, segundo ele, não
perderiam a fé, pois sabiam que o povo, organizado em vigorosos protestos, mostraria aos
“inimigos da Nação qual o verdadeiro caminho da democracia, do patriotismo e da
liberdade”.
540
Embora os tempos fossem outros, as autoridades não abriram mão dos dispositivos
legais da época da ditadura, ainda em vigor, para reprimir manifestações populares e/ou
quaisquer expressões que associassem ao comunismo. Pinheiro Machado caracterizou-os
como uma “afronta” à Constituição e à democracia, quer dizer, como atos arbitrários que
desconsideravam completamente a existência de novas diretrizes, insultando e ferindo a lei
fundamental que regulava os direitos e os deveres dos cidadãos brasileiros no começo desse
novo tempo, aberto com a queda do Estado Novo, que se queria democrático.
No dia 20 de junho, foi apresentada uma moção, subscrita por deputados comunistas,
trabalhistas, libertadores e udenistas, manifestando-se contra a cassação dos mandatos.
Apenas a bancada pessedista não aprovou a proposta. Essa informação, somada a algumas
manifestações de repúdio à possível medida por parte de representantes de outros partidos,
538
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 5, 16.06.1947, p. 590.
539
Idem, p. 592.
540
Idem, p. 591.
178
leva-nos a colocar em questão a afirmação de que os parlamentares das demais correntes
partidárias não haviam se sensibilizado com a situação dos membros do PCB, presente no
estudo organizado por Heinz recentemente mencionado.
Um exemplo é o aparte do deputado Fonseca de Araújo (PL) ao discurso proferido
pelo comunista Júlio Teixeira na sessão do dia 24 de junho. O colega libertador afirmou que,
permitindo que se arrancassem dos parlamentos deputados eleitos pelo povo, estar-se-ia
enveredando para o totalitarismo.
541
As palavras de Araújo interromperam o pronunciamento
do representante do PCB, cujo cerne vinha sendo a possibilidade da cassação. Teixeira
acusava os interessados em cassar os mandatos como “malfeitores”, mais preocupados em
barrar conquistas democráticas que com os “supremos interesses do povo”. Diante daquela
situação, não se poderia calar, pois isso encorajaria as “forças reacionárias” que se voltavam
contra o povo, parcela que tinha a frente o “Ditador” (Dutra) e seu partido (PSD). Para o
advogado, eles haviam descoberto o Tribunal Eleitoral como um caminho para alcançarem
seus “desígnios antidemocráticos”. As acusações não ficaram sem resposta da bancada
pessedista. Oscar Fontoura levantou-se contra os ataques de Teixeira, embora sem conseguir
contê-lo.
542
Na seqüência, Jover Telles e Pinheiro Machado colaboraram com o orador. O
primeiro afirmou que o Brasil encaminhava-se para uma “ditadura terrorista”, visto as
reiteradas repressões ao proletariado, que, numa democracia, deveria ter seus direitos
assegurados.
543
O segundo lembrou que os comunistas estavam podendo falar apenas nas
assembléias, pois a liberdade de reunião em praça pública havia sido proibida.
544
Júlio
Teixeira acrescentou que, cassados os mandatos, iria-se até o fechamento daquela casa
legislativa. Ele e seus companheiros, porém, não temiam a ilegalidade.
545
Alguns elementos novos apareceram na fala do advogado. Foi a primeira vez que um
comunista desacreditou um órgão ligado à Justiça naquele ano em que o processo de
cancelamento do PCB havia sido aprovado e que os mandatos dos parlamentares eleitos sob
sua legenda corriam o risco de serem cassados. Ao afirmar que Dutra e seus aliados estavam
usando o Tribunal Eleitoral como um meio para atingir seus objetivos antidemocráticos, Júlio
Teixeira atacou a imparcialidade e a retidão daquela instituição. E as pessoas que faziam tal
uso foram caracterizadas por ele como “malfeitores”, quer dizer, indivíduos que cometiam
erros condenáveis não apenas legalmente, mas moralmente, pois que estavam mais
541
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 6, 24.06.1947, p. 277.
542
Idem, p. 272.
543
Idem, p. 275.
544
Idem, p. 277.
545
Idem, p. 278.
179
preocupadas em barrar os avanços democráticos do que resolver os problemas do povo, cujos
interesses deveriam estar acima de quaisquer outros.
Vimos que Dyonélio Machado havia se referido ao “Plano Truman” como a
retomada de um “sonho criminoso”, e Pinheiro Machado tinha qualificado as intervenções
federais nos sindicatos e o afastamento de alguns militares do Exército como “crimes”. Talvez
o sentido dessas palavras não se limitasse ao campo jurídico, mas fossem além, dizendo
respeito ao que os comunistas acreditavam ser lícito, certo e justo, concepções pautadas,
sobretudo, pela forma como viam a realidade brasileira dentro da evolução do mundo para o
socialismo. Essa visão era sustentada não apenas por preceitos científicos, mas também por
uma moral. Os militantes consideravam o Brasil um país economicamente atrasado. Fazia-se
necessário impulsionar sua economia, resolvendo a questão agrária, ativando a produção
nacional, gerando empregos e aumentando o poder aquisitivo da população. Lícito era colocar
os interesses do Brasil e de seu povo acima de tudo os trabalhadores em primeiro lugar.
Iam de encontro a tudo isso os que levavam em conta suas próprias preocupações e as do
capital estrangeiro, e por essa razão eram criminosos, por cometerem o erro (moralmente)
condenável de não primar pelos anseios da nação e de seu povo.
Os comunistas acreditavam ocupar uma posição singular na marcha para a revolução.
Segundo Daniel Aarão, eles consideravam-se a vanguarda porque dominavam a teoria capaz
de esclarecer a marcha do processo revolucionário, tendo o domínio também do futuro.
546
Jorge Ferreira afirma que foi Lênin o fundador do modelo exemplar do partido, uma forma de
ver a organização que tomou formas do sagrado, devido ao sentimento de superioridade que o
arsenal teórico e prático com os quais os militantes eram agraciados lhe conferia.
547
O
Partido constituía-se na segunda pilastra que sustentava o marxismo-leninismo. A primeira, e
sem a qual a agremiação não existiria, era o proletariado, o sujeito histórico que desencadeava
a revolução.
548
Para nossos protagonistas, atingir o PCB e/ou seus militantes equivalia a tocar
diretamente o povo (que, nesse momento da história do comunismo no Brasil, confundia-se
com proletariado), pois eram eles que se organizavam em torno dos anseios populares, dando
voz à população e lhes orientando na luta por suas reivindicações. Cancelar o registro do
Partido Comunista e tentar cassar os mandatos de seus parlamentares consistia em retirar de
cena aqueles com os quais o povo poderia contar, deixando-o desamparado.
546
REIS FILHO, Daniel Aarão. Op. Cit., p. 113.
547
FERREIRA, Jorge (2002). Op. Cit., p. 38-41.
548
Id. Ibidem, p. 26.
180
No mês de julho de 1947, a cassação dos mandatos era dada como certa e esperada a
todo momento.
549
Na tarde do dia 04, o deputado Pinheiro Machado subiu à tribuna, dizendo
ter o intuito de defender a democracia, porque, segundo ele, tudo levava a crer que, dentro de
alguns dias, mais um novo “golpe” seria desferido contra a democracia no Brasil.
550
O
jornalista mostrava-se escandalizado com a postura do PSD, preocupado em ocupar as vagas a
serem deixadas pelos comunistas no Senado e na Câmara Federal. E declarou que lhe parecia
que a justiça eleitoral havia sido o “caminho fácil” escolhido por aqueles desejosos de
instaurar a ditadura no país.
551
O momento que vivia com seus companheiros motivou
Pinheiro Machado a encerrar o discurso alertando seus pares e o público presente na galeria
sobre o retorno do passado antidemocrático:
É por todas formas, sr. Presidente e srs. Representantes, que se procura atentar
contra a democracia. Tudo aquilo que faz lembrar a Alemanha, a Itália, a Espanha e
os negros dias do Estado Novo, tudo isto es sendo restaurado nesta hora para
ameaçar e calar a voz do povo brasileiro.
552
A cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas seria um “golpe”, no sentido
de que se constituiria um corte, uma brusca interrupção na marcha rumo à democracia. Tal
rompimento tornava-se possível porque a história não estava seguindo seu curso e os aspectos
mais amedrontadores do passado estavam sendo restaurados, ameaçando o povo
(praticamente todos os segmentos da sociedade brasileira que, unidos, levariam a revolução
adiante) e fazendo-o calar. E o judiciário estava tendo um papel importante nesse processo,
pois através dele os interessados em restabelecer o pretérito encontravam subsídios legais para
seus desmandos. Júlio Teixeira via a justiça eleitoral da mesma forma, como “o mais eficiente
instrumento da ditadura no Brasil”.
553
O filósofo Ronald Dworkin sustenta que o constitucionalismo aspecto presente na
democracia moderna freqüentemente divide as opiniões. Alguns o consideram
extremamente antidemocrático, na medida em que subordina os cidadãos comuns a uma elite
de juízes não eleitos. Por outro lado, outros argumentam que ele protege os direitos humanos,
que são a alma da democracia.
554
Diante das medidas tomadas contra o PCB e seus
parlamentares, parecia haver esse primeiro aspecto entre os comunistas, quer dizer, uma
tendência a duvidar do compromisso social do poder judiciário, que deveria estar isento de
549
Cf. Esperada a cassação dos mandatos dos comunistas, 09.06, p. 4; A cassação dos mandatos dos
representantes comunistas. Correio do Povo, 04.07.1947, p. 4.
550
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 6, 04.07.1947, p. 653.
551
Idem.
552
Idem, p. 656.
553
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 6, 07.07.1947, p. 687.
554
DWORKIN, Ronald. “A democracia e os direitos do homem”. In: DARNTON, Robert & DUHAMEL,
Olivier. Democracia. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 157.
181
qualquer ligação com determinadas parcelas da população. O que os militantes colocavam em
questão era o caráter democrático da justiça eleitoral.
Os juristas do PSD elaboravam um projeto de lei com o qual pretendiam conseguir a
“extinção” (passou-se a evitar a palavra “cassação”) dos mandatos comunistas. Apesar de
algumas personalidades de vulto na política brasileira considerarem o intento inconstitucional,
ele seria apresentado no Senado em poucos dias.
555
Era esperada para qualquer momento
também a apresentação de uma emenda que regularizasse a perda dos mandatos, uma medida
que o vespertino Folha Carioca chamou de “solução atômica” para o caso dos comunistas
diante da possibilidade de fracasso do plano elaborado pelos pessedistas – que tinha no
senador Ivo de Aquino um dos seus autores.
556
Enquanto isso, as manifestações comunistas eram reprimidas no país.
557
No Rio
Grande do Sul, a Assembléia Legislativa reclamou junto ao governador a respeito das
limitações ao exercício dos direitos de reunião, assegurados pela Constituição. O chefe de
polícia, Dagoberto Gonçalves, respondeu que apenas as atividades de caráter comunista
estavam proibidas, devido ao aresto judicial que as havia suspendido em todo o território
nacional.
558
O deputado Pinheiro Machado limitou-se a afirmar que tal procedimento
enfraquecia a democracia, pois a troca de idéias era o que mais a fortalecia.
559
Uma vez na clandestinidade, os comunistas de todo o Brasil foram chamados a
voltarem seus olhares para as eleições municipais que ocorreriam em 15 de novembro
como forma de lutarem pelo Partido. O líder do PCB pronunciou longo discurso no Rio de
Janeiro, mandado publicar no jornal Correio do Povo, no qual caracterizou o momento
político nacional e estabeleceu a tarefa que cabia aos militantes do comunismo.
Depois de grandes vitórias democráticas, que haviam sido as eleições de 02 de
dezembro de 1945 e 19 de janeiro de 1947, bem como a promulgação da Constituição Federal
em 18 de outubro de 1946, Prestes acreditava que a força de seu Partido crescia enormemente
e aumentava a organização do povo. No entanto, às vésperas da promulgação das
constituições estaduais, a “contra-ofensiva da reação” sempre ansiosa em servir ao
imperialismo (aos planos de Truman) e em barrar a marcha da democracia no Brasil tinha
555
Cf. O projeto de extinção dos mandatos. Correio do Povo, 12.08.1947, p. 16.
556
Cf. “Solução atômica” para o caso dos representantes comunistas. Correio do Povo, 29.08.1947, p. 12.
557
Na então capital federal, a polícia investiu violentamente contra manifestantes no intuito de “manter a ordem”
durante as comemorações do quinto aniversário da entrada do Brasil na Segunda Guerra. A atitude repercutiu na
imprensa e foi condenada por várias entidades, como a União Nacional dos Estudantes. Cf. Atos de verdadeira
selvageria foram praticados pela polícia especial, no Rio, ontem, durante um comício, 23.08, p. 10; Protestos
contra as violências policiais. Correio do Povo, 28.08.1947, p. 6.
558
O exercício do direito de reunião. Correio do Povo, 20.08.1947, p. 10.
559
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 8, 21.08.1947, p. 554.
182
tomado vulto.
560
As intervenções às organizações dos trabalhadores, o cancelamento do
registro do PCB, as medidas contra o direito de reunião e a tentativa de expulsar
parlamentares das assembléias estavam a provar isso. Ele acreditava que o pleito municipal,
pelo interesse que gerava na população, naturalmente obrigaria os indivíduos e os partidos a
esclarecerem e definirem suas posições políticas, colaborando para com a polarização das
forças e servindo para acelerar o processo de união nacional no país. Diante de tudo o que
vinha acontecendo, as eleições ganhavam uma importância decisiva na luta democrática, e o
dever dos comunistas era participarem delas sem poupar esforços, pois a livre escolha do
governo dos municípios constituía-se na base da democracia. Do sucesso nas urnas dependia a
consolidação desta última e a destruição da base política das velhas oligarquias locais e
regionais, as quais sustentavam a “reação” e sua política a favor do capital estrangeiro e dos
grandes proprietários e banqueiros nacionais. Para Prestes, a vitória popular em cada
município criaria condições novas para o início de “um novo impulso na luta pelo progresso e
a democracia”. Conseguir essa vitória era tarefa e dever de todos os comunistas, e também
uma das maneiras práticas de lutar pela legalidade do PC.
561
Mesmo diante da suspensão do registro partidário, da repressão desencadeada contra
os comunistas e os trabalhadores, das intervenções em várias entidades (civis, políticas,
militares etc.) no rastro de algo “suspeito”, o líder do comunismo no Brasil permanecia
confiante nas instituições democráticas, nas eleições. E suas palavras seguiram sendo como
um trilho através do qual os militantes esperavam reconquistar a legalidade e consolidar a
democracia. Agora, as expectativas voltavam-se para as eleições municipais, embora a
possibilidade de cassação dos mandatos pairasse como uma nuvem escura no horizonte.
Ao passo que os militantes mobilizavam-se para o pleito de 15 de novembro, a direção
nacional do PCB tentava restabelecer a legalidade da militância através do registro do Partido
Popular Progressista (PPP) e do Partido Constitucionalista Brasileiro (PCB). Em julho
daquele ano, o manifesto-programa do primeiro tinha vindo a público, incorporando as
teses centrais do Partido Comunista (definindo-se como uma organização de massas, que
lutava pela democracia e contra o latifúndio e o imperialismo.
562
A tentativa, porém, foi
rapidamente frustrada, pois o TSE negou o registro para o funcionamento do PPP. Em
setembro, Prestes e o deputado federal João Amazonas entraram com o pedido de registro da
sociedade civil sob a sigla PCB, em cujos estatutos propunham a defesa do regime
560
A pedido. Participemos ativamente das eleições municipais. Correio do Povo, 07.09.1947, p. 13.
561
Idem.
562
PANDOLFI, Dulce. Op. Cit., p. 168.
183
democrático baseado na pluralidade de partidos e na garantia dos direitos fundamentais do
homem.
563
Tentativa igualmente malograda.
O dia 18 de setembro de 1947 foi motivo de comemoração no Brasil, pois a
promulgação da Constituição Federal completava um ano de vida. Em Porto Alegre, vultuosa
massa popular dirigiu-se ao Largo da Prefeitura, local onde os representantes da Assembléia
Legislativa realizaram grande comício comemorativo. Do palanque, no qual também
estiveram o governador do Estado e o delegado regional do Trabalho, vários oradores
manifestaram-se em relação ao significado daquele dia, entre eles o mineiro Jover Telles.
O deputado comunista ressaltou o caráter democrático da Carta Magna assinada em
1946, porque elaborada por representantes escolhidos pelo povo. Dentre artigos que lhes
pareciam mais importantes, citou aqueles que diziam respeito à liberdade de reunião, ao
salário mínimo, ao repouso semanal remunerado e ao direito de greve, sendo fortemente
aplaudido. Jover Telles provinha de família de mineiros. Era operário das minas de carvão
desde os doze anos de idade e atuava nos sindicatos de sua classe havia bastante tempo. Nada
prendia mais sua atenção que os trabalhadores e seus direitos. Por isso, nem todo seu discurso
foi voltado à celebração da Constituição. Telles também se preocupou em protestar contra as
intervenções nos sindicatos e os espancamentos policiais verificados nas reuniões e comícios,
afirmando que era assim que se comportava o grupo acostumado às épocas de arbitrariedades,
que, na democracia, sentia-se como “peixe fora d’água”. Ao finalizar seu pronunciamento, o
representante comunista saudou todos os partidos, com exceção do PRP.
564
Se o clima não estava dos mais amistosos para a militância comunista, o
rompimento das relações diplomáticas com a Rússia em 21 de outubro de 1947 tornaria ainda
mais delicado. Segundo reportagem do Correio do Povo, o governo brasileiro vinha
reclamando do tratamento restritivo que os brasileiros recebiam na embaixada do Brasil em
Moscou. Não obstante, o estopim para a ruptura foi o artigo publicado na Gazeta Literária,
editada na capital soviética, cujo teor diziam ser ultrajante ao Presidente Dutra e às Forças
Armadas.
565
Diante da falta de resposta ao pedido de satisfações que o Ministro do Exterior
enviou ao Ministério Soviético dos Negócios Estrangeiros, decidiu-se romper as relações
entre os dois países.
563
Luiz Carlos Prestes pede o registro do Partido Constitucionalista Brasileiro. Correio do Povo, 26.09.1947, p.
12.
564
O aniversário da Constituição. Correio do Povo, 19.09.1947, p. 12.
565
Decidiu o governo brasileiro ontem romper relações diplomáticas com a União Soviética. Correio do Povo,
22.10.1947, p. 10.
184
De um modo geral, não se noticiou nenhum registro de manifestação pública perante o
evento em Porto Alegre.
566
Já na capital federal foram apedrejados os edifícios da embaixada
soviética e do jornal comunista Tribuna Popular.
567
Tanto no Congresso Nacional como na
Assembléia Legislativa gaúcha, externou-se satisfação com a atitude do governo brasileiro,
com exceção dos representantes do PCB.
568
Os comunistas de Porto Alegre que atuavam no parlamento estadual não assinaram a
moção apresentada pelo deputado Luiz Compagnoni (PRP) e outros em regozijo à atitude do
governo brasileiro no tocante à União Soviética. A manifestação foi aprovada contra o voto da
bancada comunista, que, na pessoa de Júlio Teixeira, lamentou o rompimento, considerando-o
um erro político. Para ele, agindo dessa forma, o governo dificultava o entendimento entre os
povos. O advogado também caracterizou o acontecido como uma medida que visava desviar
a atenção do povo dos problemas que o afligiam e para os quais o poder Executivo e seus
ministérios não estavam buscando soluções.
569
Dois dias depois, Teixeira manifestou repúdio
em relação ao empastelamento do jornal Tribuna Popular, caracterizando-o como um
“atentado brutal à ordem democrática consagrada na Constituição Federal”.
570
Em sua
opinião, democracia não compreendia depredações como aquelas ocorridas com o periódico
carioca.
571
Nos dias que se seguiram, o deputado comunista continuou protestando contra as
arbitrariedades policiais em relação aos comícios, aos direitos dos cidadãos manifestarem
livremente suas idéias. O debate envolveu também Godoy Ilha e Oscar Fontoura (ambos do
PSD), cujo ponto central girou em torno do caráter das concentrações, que, segundo os
pessedistas, vinham defendendo o Partido Comunista (que não mais existia) e a Rússia
soviética. Daí toda a razão da polícia em reprimi-los. Ilha e Fontoura referiam-se, sobretudo,
a alguns comícios realizados em Porto Alegre, nos quais os candidatos à vereança da cidade
haviam vivado o PCB e a URSS, esquecendo-se de vivar o Brasil.
572
De fato, no dia 25 de outubro, o Chefe de Polícia, Ten. Cel. Dagoberto Gonçalves,
tinha enviado ofício ao Secretário do Interior, Otacílio Moraes, no qual referiu-se a
concentrações realizadas nos dias 11 e 12 daquele mês, ocasiões em que Eloy Martins (um
566
A repercussão nesta capital. Correio do Povo, 22.10.1947, p. 10.
567
Apedrejados os edifícios da embaixada russa e do jornal “Tribuna Popular”. Correio do Povo, 22.10.1947, p.
10.
568
Como repercutiu a medida no Congresso Nacional. Correio do Povo, 22.10.1947, p. 10.
569
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 11, 22.10.1947, p. 128.
Também publicado no jornal Correio do Povo, 23.10.1947, p. 4.
570
O empastelamento do jornal “A Tribuna Popular”. Correio do Povo, 25.10.1947, p. 5.
571
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 11, 24.10.1947, p. 282.
572
Idem. Vol. 11, 27.10.1947, p. 324.
185
dos candidatos comunistas à vereança de Porto Alegre inscritos sob a legenda do Partido
Social Progressista PSP) vivara Luiz Carlos Prestes (“nosso guia”), o PCB e a Rússia.
573
Para Júlio Teixeira, não se tratavam de comícios promovidos pelo Partido Comunista, mas por
cidadãos, que tinham seus direitos assegurados na Constituição.
574
Por último, o advogado
retomou o argumento usado para o rompimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a
URSS, declarando que as autoridades estavam desviando seus olhares das questões que
realmente preocupavam o povo, como o problema de abastecimento da carne e o leite, o preço
da banha e do arroz.
575
Mesmo com os seguidos protestos dos comunistas, sobretudo daqueles que atuavam
nos parlamentos, o mês de outubro encerrou com a aprovação do projeto Ivo de Aquino no
Senado Federal. Depois de ferrenhas discussões, a iniciativa de cassar os mandatos do senador
e dos deputados do PCB contou com 35 votos a favor e 19 contra. Surgiram várias
especulações, como o que Prestes faria caso tivesse, juntamente com outros comunistas, seu
mandato cassado.
Enquanto isso, em Porto Alegre, os militantes empenhavam-se na campanha eleitoral.
No comício comentado no ofício do Ten. Cel. Dagoberto Gonçalves, Eloy Martins afirmou
que seria conquistando o maior número possível de representantes na Câmara de Vereadores
que o PCB voltaria à legalidade e poderia tomar conta do governo “fascista” e “reacionário”
que infelicitava o Brasil.
576
Mesmo não concordando com a linha política do Partido, o
metalúrgico a seguia à risca, incitando o público presente na concentração a acreditar nas vias
legais como forma de retornar à legalidade.
A polícia acompanhou de perto a movimentação dos candidatos comunistas durante
todo o período de campanha eleitoral. É graças a essa vigilância que temos como saber quem
foram os militantes que se candidataram a uma vaga no legislativo de Porto Alegre. No final
do mês de outubro, o Gal. Lima Câmara, Chefe de Polícia do Distrito Federal, recebeu a
relação dos comunistas que concorriam ao parlamento municipal pela legenda do PSP. Ao
todo, doze de nossos protagonistas pleitearam fazer parte do corpo de vereadores da Cidade:
Álvaro Ósimo Caetano (funcionário público), Arthur Nunes Garcia, Eloy Martins, João Oscar
de Oliveira, José César de Mesquita, José Roberto Garcia, Julieta Batistioli (operária), Luiz
Carlos Pinheiro Machado (estudante irmão do deputado estadual Antônio Pinheiro Machado),
Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Marino Rodrigues dos Santos (médico), Mário Escobar
573
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00502-00503. Documento datado de 25 de outubro de 1947.
574
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 11, 27.10.1947, p. 326.
575
Idem, p. 331-332.
576
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00502-00503. Documento datado de 25 de outubro de 1947.
186
Azambuja (médico) e Sadi da Costa e Silva.
577
Alguns deles eram jovens militantes,
responsáveis por tarefas consideradas iniciais dentro da militância, como o envolvimento no
movimento estudantil e a pichação de ruas. Era o caso de Sadi da Costa e Silva, Luiz Carlos
Pinheiro Machado e Luiz Eduardo de Oliveira Santos. Já Eloy Martins, João Oscar de
Oliveira, José César de Mesquita e Julieta Batistioli atuavam no Partido havia anos,
dedicando-se, sobretudo, à ação junto aos trabalhadores.
O metalúrgico Eloy Martins nos conta que foi convocado para uma reunião, na qual
lhe pediram mais tempo para a atividade partidária. Com a ilegalidade do PCB, ele havia
deixado de se dedicar exclusivamente ao Partido para atuar novamente “na produção”. Tal
procedimento mostrou-se um equívoco, pois Eloy foi comunicado que participaria das
próximas eleições. Ele tentou argumentar que lhe faltavam certas aptidões para o cargo:
“Apresentei minhas limitações intelectuais para enfrentar tal incumbência, se por acaso fosse
eleito”. Contudo, depois de muita discussão, deu-se por vencido, “sempre na esperança e
confiante que o partido, com os erros cometidos, experiências e lições adquiridas, seria levado
a adotar uma posição mais de acordo com a ideologia da classe operária”.
578
Eloy, então,
abandonou mais um vez o emprego e voltou-se para a campanha eleitoral.
É possível perceber que o lançamento dos nomes desses comunistas não decorria de
sua candidatura espontânea e/ou de deliberações. Os dirigentes do PCB decidiam e lhes
comunicavam. Se Eloy, mesmo com restrições, acabou aceitando a vontade do Partido e se
empenhando na campanha eleitoral, Julieta Batistioli ficou extremamente desapontada. Ao
lembrar o episódio 45 anos depois, em entrevista concedida ao historiador Francisco de
Carvalho Júnior, essa antiga militante relatou como recebeu a notícia:
FCJr. – E sobre a vereança?
JB AH! A vereança! ... (JB pronuncia longamente a palavra “vereança”, pondo
a mão no rosto)
FCJr. Quando a senhora assumia, era o Partido quem ditava a linha de atuação a
senhora levava para as reivindicações, como era? ou a senhora tinha mobilidade
para ...
JB Não ... o Partido
dava como tarefa, compreendeu? Era tarefa. Então, quando
eu ... até foi a Maria Crespo que foi me levar a notícia: “Tu sabes que tu vais ser
candidata a vereadora!?”. Digo: “Não! Mas pelo amor de Deus, essa não! Essa
agora é demais, eu não vou aceitar”. E a Maria Crespo: “Não, tu vais ter que
aceitar; não tem tu dizeres o, tu vais, tu não vais poder dizer não”. Digo: “Mas,
Maria!, é a pior coisa pra mim, que me fizeram.” ... foi eu ser vereadora,
compreendeu? Porque olha, eu não tive estudo, saber ler, eu sabia ... meu tio, que
era analfabeto, ... a tarefa que eu tinha todos os domingos era ler o “Correio” [do
Povo] para ele, não é? e ... ser vereadora com a educação, com a cultura que eu
tinha, para mim foi uma coisa assim que ... olha! eu nem sei te dizer, eu andei
nervosa, eu fiquei nervosa, eu andei sem dormir, eu andei ... meu marido é que
ficava bravo: “Mas o que é isso! Mas que mulher medonha essa ...”. Digo: “Não,
577
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00504-00509. Documento datado de 27 de outubro de 1947.
578
MARTINS, Eloy. Op. Cit., p. 89.
187
mas eu não quero, não quero, não quero e proibo que tu ou vocês façam um comitê
para mim. Eu não quero”. Então comitê eu não tinha; meu velho trabalhou com o
Eloy, eu trabalhei com o Eloy, mas para mim eu não fiz um comício, para a minha
candidatura não trabalhei uma vez, não, porque foi uma tarefa que impuseram, não
me consultaram ...
579
A preciosidade do relato de Julieta Batistioli justifica a extensão da citação. Não é a
primeira vez que se nos apresenta, nessa dissertação, uma situação em que o Partido impunha
suas decisões à revelia da vontade dos militantes. As palavras da operária da fábrica Renner e
o modo como Carvalho mostrou que ela acentuou a palavra “vereança”, quando ele tocou no
assunto, no entanto, nos revelam o quanto essas atitudes completamente arbitrárias afetavam a
vida dos comunistas e como tais episódios ficaram gravados em sua memória. Assim como
Eloy, ela também não acreditava ter o nível de instrução adequado para a incumbência que lhe
era imposta. A determinação, porém, afetou-a mais profundamente, abalando seus nervos e
lhe fazendo perder noites de sono. Tratava-se de algo irrecusável, de uma “tarefa”. Ferreira
esclarece-nos que os encargos da militância eram tão absorventes que a expressão “tarefa”
entranhou-se na cultura comunista e na linguagem revolucionária invadindo inclusive o
ambiente familiar e privado exigindo excelência daqueles para os quais era imposta, e,
muitas vezes, assumindo feições de “verdadeira missão”.
580
A própria reputação do militante
perante o Partido e seus companheiros, nesse caso, dependia de sua obediência, da confiança
que demonstrava depositar nas decisões partidárias e do sucesso alcançado na execussão da
tarefa recebida. Julieta Batistioli, como uma boa comunista, não se negou a concorrer à
vereança da capital gaúcha, embora tenha cogitado tal possibilidade no momento em que a
camarada Maria Crespo lhe deu a notícia. Contudo, ela também não se esmerou em sua
campanha, preferindo trabalhar em prol da candidatura do colega Eloy.
581
De acordo com Rodeghero, e como tivemos oportunidade de ver ligeiramente, na
campanha para as eleições de novembro de 1947, a repressão policial fez-se mais insistente
que a tentativa de convencimento dos eleitores a partir de argumentos anticomunistas.
582
Os
579
CARVALHO JÚNIOR, Francisco & GARCIA, Eliane Rosa. (Org.) Adorável Camarada. Memórias de
Julieta Batistioli. Entrevistas realizadas com Julieta Batistioli, em 29 de junho de 1990 e 22 de julho de 1992, por
Francisco Carvalho Júnior. p. 56-57. As informações entre colchetes, em itálico e sublinhadas são de
responsabilidade do entrevistador.
580
FERREIRA, Jorge. Op. Cit., p. 91-92.
581
Podemos, ainda, mencionar um paradoxo: enquanto Julieta Batistioli operária – acreditava não ter instrução
para representar seu Partido no parlamento municipal, Dyonélio Machado – psiquiatra e escritor – não se
considerava digno de ocupar uma das cadeiras no Legislativo estadual, conforme mencionado no início deste
capítulo. A primeira pensava que tal “tarefa” deveria ficar a cargo dos camaradas mais “cultos”, ao passo que o
segundo havia ficado aborrecido pelos eleitores não terem depositado uma confiança dialética (e, por isso,
natural) nos candidatos de sua classe, do proletariado.
582
RODEGHERO, Carla (2005). Op. Cit.
188
esforços da LEC deram lugar à proibição de comícios, medida que contou com o
cancelamento do registro do PCB como principal justificativa. O jornal Correio do Povo
noticiou a dissolução de concentrações nos dias 07, 10 e 22 de novembro, ocasiões em que as
ações policiais incluindo a tropa de choque resultaram em correrias e ferimentos,
principalmente na movimentada Rua dos Andradas.
583
Tais arbitrariedades ocorridas não somente em Porto Alegre foram objeto das
explanações do deputado Júlio Teixeira na Assembléia Legislativa do Estado, em alguns
casos contando com apartes de apoio. Seus ataques foram direcionados ao governador Walter
Jobim, acusado de ser o responsável pelos atos violentos praticados no Rio Grande do Sul
contra os comunistas. Para o advogado, ao permitir que a polícia gaúcha agisse daquela
forma, Jobim estava mostrando que ainda não havia compreendido o que era democracia.
584
O
mais importante naquele momento era consolidá-la, tirar o Brasil da miserável condição
econômica e resolver seus graves problemas internos, tarefa que Teixeira afirmava não ser
compatível com o apoio às autoridades que consentiam com “quebras-quebras”, que cassavam
mandatos e prendiam comunistas.
585
Em sua opinião, a ação policial não fazia senão revelar a
situação de desespero do “grupo fascista nacional que, incapaz de conquistar o povo, quer[ia]
dominá-lo pela força”.
586
Dyonélio Machado, de modo semelhante, responsabilizou Walter Jobim e caracterizou
a atitude da polícia do Estado em relação aos candidatos comunistas à vereança dos diversos
municípios gaúchos como um “ato selvagem” que lembrava os “negros tempos” em que
predominava a arbitrariedade.
587
O escritor não mediu palavras e acusou o governador do Rio
Grande do Sul de ser um agente da ditadura que Eurico Gaspar Dutra pretendia instaurar no
Brasil, arrancando aplausos da galeria.
588
Era intimidando o público que os “fascistas
brasileiros” estavam preparando o “reino do terror”, pois a ditadura ansiava “por aqueles
tempos de unanimidade cômoda, [...] pelo pântano, pelo charco em que consciências estão
amordaçadas, em que o cidadão não pode defender seus direitos, porque esse direito quase
que importa em jogar a própria vida e a liberdade”.
589
O escritor quaraiense retomou expressões extremamente negativas para mostrar que o
passado ditatorial não somente sobrevivia por meio dos “fascistas” mas que se preparava
583
Tumulto na Praça Parobé, 08.11, p. 12; Em plena rua dos Andradas, 11.11, p. 16; Desistiram os comunistas
do comício de ontem. Correio do Povo, 22.11.1947, p. 28.
584
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 12, 04.11.1947, p. 126.
585
Idem, 07.11.1947, p. 343-344.
586
Idem, 04.11.1947, p. 122.
587
Idem, 10.11.1947, p. 357.
588
Idem, p. 358.
589
Idem, p. 362-363.
189
para se sobrepor ao futuro. De acordo com Reinhard Koselleck, desejos e medos, bem como
anseios, receios, planos racionais, cálculos e predições, são classes de expectativas que se
correspondem com a experiência.
590
Comparando os acontecimentos do seu presente com o
pretérito (encontrado na experiência, quer dizer, possível de ser reconstruído pela memória e
submetido à reflexão e julgamento), Dyonélio projetou um futuro não-democrático para o
Brasil, um tempo em que vingaria a ditadura ao invés da democracia. As expectativas do
deputado comunista carregavam termos alusivos a ambientes fétidos, sujos, escorregadios,
geralmente mal iluminados e inertes. Suas palavras procuravam chamar a atenção de seus
pares e da galeria para o risco que todos os brasileiros (sob o comando de Dutra) corriam, o
perigo de estarem se encaminhando para um futuro dominado pela insegurança e pelo medo
na política e pela estagnação na economia.
Em meio a tantos acontecimentos que lhes desagradavam, uma novidade veio serenar
o clima sombrio que envolvia nossos protagonistas: a eleição de Marino Rodrigues dos Santos
e Eloy Martins para a Câmara dos Vereadores de Porto Alegre. Julieta Batistioli foi eleita
segunda suplente. Pouco antes das posses, realizadas no dia 04 de dezembro, Marino e Eloy –
assim como os representantes dos demais partidos foram procurados pelo jornal Correio do
Povo, para que antecipassem sua futura conduta no legislativo municipal. O médico
comunista afirmou que levaria à prática os pontos do programa com o qual seu partido sempre
havia se apresentado ao eleitorado, quer dizer, a união de esforços para resolver os problemas
do povo.
591
Notemos que, apesar de disputar as eleições pelo PSP e de ser um seu
representante no parlamento da Cidade, Marino reproduziu o discurso da União Nacional,
característico do PCB nos últimos anos. O metalúrgico, por sua vez, comprometeu-se em
continuar lutando pelo respeito às leis que protegiam os trabalhadores, por melhores salários,
moradia e transporte, por mais leitos e carne, bem como pela diminuição das filas.
592
Eloy
manteve-se fiel em seu comprometimento com a classe operária e suas reivindicações. Ambos
vereadores, contudo, não mencionaram a democracia. Nenhum dos vereadores comunistas
colocou a defesa ou a consolidação dela em nível local como uma de suas metas.
4.4 – A cassação dos mandatos: o limite do horizonte
590
KOSELLECK, Reinhard. Aceleración, prognosis y secularización. Valencia: Pre-Textos, 2003, p. 76.
591
Uma enquete do Correio do Povo. Correio do Povo, 04.12.1947, p. 10.
592
Idem.
190
Do final do mês de novembro até o dia 10 de janeiro de 1948, quando os mandatos
foram cassados, assistiu-se a uma verdadeira batalha em torno do projeto Ivo de Aquino, que
após ser aprovado no Senado encontrava-se em discussão na Câmara Federal. Os
comunistas em todos os âmbitos possíveis da militância, mas principalmente nos
parlamentos protestaram contra a cassação. Alguns deputados federais, representantes de
várias correntes partidárias, organizaram um movimento contra a extinção dos mandatos.
593
Por outro lado, espalhavam-se rumores de que, face à aprovação do projeto, os militantes do
comunismo preparavam-se para perturbar a ordem do país.
594
Em Porto Alegre, Dyonélio Machado, Júlio Teixeira e Jover Telles (que, agora,
substituía Pinheiro Machado) colocaram o projeto que visava tirar-lhes o mandato no centro
de seus pronunciamentos, os quais estiveram carregados, ao mesmo tempo, de pessimismo e
de esperança no futuro. No dia 21 de novembro, o escritor comunista ocupou a tribuna por
não mais de dez minutos, proferindo, porém, veemente protesto contra cassação. Disse ele
estar ali mais uma vez para alertar seus pares em relação à “ameaça” que pairava sobre a
democracia, a Constituição e o direito de representação popular no Brasil, pois estavam à
beira da consumação de um “crime”. Nos últimos meses, o país vinha assistindo a uma série
de “atentados” contra a democracia, e a extinção dos mandatos dos parlamentares ligados ao
comunismo seria um último “assalto”. A invalidação do sufrágio do povo por meio da
aprovação do projeto Ivo de Aquino visava colocar a nação brasileira à margem da ditadura
“pura e simples”, constituía-se em mais um degrau através do qual os “reacionários”
buscavam atingir o clima próprio aos “vendilhões da Pátria”. Contudo, Dyonélio afirmou não
ter dúvidas de que a tentativa representava “apenas um retrocesso na marcha ascencional da
democracia”. Vencido este “tropeço”, ela iria retomar “seus agigantescos passos”, mesmo
porque era vitoriosa, e acabaria com as “tropelias” (atos prejudiciais) contra as leis e os
direitos legítimos do povo. A cassação em nada influiria sobre a “vitória final da democracia
no Brasil, como conseqüência da marcha ascencional da democracia em todo o mundo”.
595
O
líder da bancada do PCB na Assembléia esperava que seus colegas concentrassem todos os
seus esforços para que o “ato criminoso” não se consumasse.
596
593
Organiza-se um movimento parlamentar, à margem dos partidos, contra a cassação dos mandatos, 25.11, p.
12; A batalha dos mandatos. Correio do Povo, 26.11.1947, p. 10. Alguns deputados envolvidos: Café Filho, Lino
Machado, José Cândido Ferraz, Osmar Aquino, Rui Almeida, Antônio Maria Correa, Antenor Bogea e Nelson
Carneiro.
594
Em conseqüência da cassação. Correio do Povo, 27.11.1947, p. 8.
595
Anais da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 13, 21.11.1947, p. 175.
596
Idem, p. 176.
191
O mineiro Jover Telles, quatro dias depois, chamou atenção para o paradoxo que se
apresentava no país: em nome da democracia e da defesa das instituições democráticas,
aniquilavam-nas e implantavam a “tirania e a ditadura”.
597
A cassação dos mandatos, para
Telles, tratava-se de mais um passo no sentido de fechar os parlamentos e restaurar os “negros
dias de Hitler e Mussolini”.
598
Ao longo desse capítulo, acompanhamos diversas expressões de teor negativo usadas
pelos comunistas de Porto Alegre, seja para caracterizar o avesso da noção que nos preocupa
nesse trabalho (representado pelo fascismo e pelo Estado Novo), seja para qualificar os
acontecimentos que visavam restringir sua participação legal no cenário político brasileiro e,
por conseguinte, abalar a democracia. Todavia, quando Dyonélio Machado pronunciou
palavras ligadas a crime para defender a democracia, torna-se necessário levarmos em conta
um aspecto muito particular: a abordagem que esse militante realizava acerca do delito em sua
vida profissional, como médico psiquiatra.
No discurso recentemente descrito, o autor de Os Ratos usou pelo menos quatro
palavras relacionadas às pesquisas que desenvolvia na área de psiquiatria: “crime”,
“atentado”, “assalto” e “ato criminoso”. Por essa razão, tais expressões, pronunciadas por
Dyonélio, carregavam significados que certamente diferiam em maior ou menor grau
daqueles dados por seus companheiros de militância às mesmas palavras.
Em sua tese de doutorado, defendida no início da década de 1930, Dyonélio Machado
abordou a questão do crime sobretudo do homicídio por um viés biológico, quer dizer, ele
procurou provar a sua natureza biológica. Consoante o autor, o que faz o homem matar
cometer um ato criminoso é a “concorrência vital”: a conquista da fêmea (para perpetuar a
espécie), a ambição política (o desejo veemente pelo comando do grupo), as paixões, os
instintos sociais (amor, afeto materno etc.).
599
Para ele, existiam raças mais inclinadas que
outras ao crime, assim como indivíduos mais perversos que outros. Não obstante, era a
concorrência vital que conduzia o homem à prática da violência.
600
O delito constituía-se num
modo excessivo com que o ser procurava realizar a luta pela vida, um excesso condicionado
por um “exagero de personalidade”. Na base do ato criminal, existia sempre uma necessidade
que o justificava, o qual se caracterizava enquanto crime, muitas vezes, diante dos olhos de
597
Idem, 25.11.1947, p. 318.
598
Idem, p. 323.
599
MACHADO, Dyonélio. Uma Definição Biológica do Crime. Porto Alegre: Of. Graf. da Livraria do Globo,
1933, p. 12.
600
Id. Ibidem, p. 13-15.
192
quem contemplava, mas não para o criminoso.
601
Devido a um exagero psíquico o egoísmo
o delinqüente jamais via a figura daquele contra quem atentava, mas tão somente a sua
própria imagem, o seu benefício.
602
A punição e a noção de criminalidade, segundo o
psiquiatra gaúcho, resultaram de uma lenta e penosa evolução, na qual a solidariedade
desempenhou um papel crucial.
603
No homem primitivo, a idéia fundamental, como em todo o
animal, era a do egoísmo enérgico e fechado resultante do dever de prover a sua própria
conservação. O altruísmo, nessa etapa, constituía-se imoralidade e antinaturalidade, pois
atentava contra a defesa de si, uma forma de encarar a abnegação que, para ele, ainda persistia
em seu tempo, em algumas nações civilizadas, que aplicavam no interesse da coletividade as
mesmas conclusões a que chegara o homem primitivo em seu próprio interesse, “não
recuando diante de crimes mesmo os mais monstruosos, praticados no decurso de guerras que
se caracterizaram precisamente pela sua grande potência destrutiva”, e punindo com todo o
rigor aqueles, mesmo os compatriotas, que insistissem em ser solidários com o inimigo.
604
A
qualidade específica do delinqüente, assim, era o exagero de personalidade, a exacerbação do
amor-próprio e da vaidade, um egoísmo todo particular, do qual o indivíduo tirava sua linha
de conduta.
605
O crime nunca deveria ser visto como resultado de uma situação social. O
papel da sociedade na gênese do pensamento criminoso não seria outro senão o de dar
consciência.
606
Quando Dyonélio caracterizou a tentativa de cassação dos mandatos como um “crime”
contra a democracia, não se orientou apenas por preceitos legais e/ou morais, mas por um
conjunto de saberes que fazia parte de sua vida profissional e que em muito se relacionavam
com os princípios comunistas de solidariedade e justiça social vistos no terceiro capítulo.
Em sua concepção, o delito não se apresentava apenas como aquilo que contrariava as leis,
mas como o que ia de encontro à própria natureza. O que fazia um determinado ato criminoso
era sua “antinaturalidade”, o fato de prejudicar outro que é da mesma espécie, agindo
destituído de solidariedade. A cassação dos mandatos constituía-se num crime, porque
motivado por um “exagero psicológico”: o egoísmo daqueles que queriam restaurar o estado
de coisas que beneficiava a eles mesmos e aos que faziam parte de seu grupo de interesses.
Entre estes, estava o capital estrangeiro, totalmente despreocupado com as questões nacionais,
com os problemas que afligiam os brasileiros. O natural seria o governo – sobretudo o
601
Id. Ibidem, p. 18-19.
602
Id. Ibidem, p. 21.
603
Id. Ibidem, p. 78.
604
Id. Ibidem, p. 79.
605
Id. Ibidem, p. 190-191.
606
Id. Ibidem, p. 225-226.
193
presidente Dutra ficar ao lado do seu povo, inclusive respeitando suas escolhas nas últimas
eleições, nas quais os representantes do PCB haviam recebido o voto de confiança dos
eleitores. Aqueles interessados na extinção dos mandatos, porém, não viam o quão criminoso
era o seu ato, apenas o benefício que teriam com os comunistas fora do caminho. Era dessa
forma que pretendiam instaurar a ditadura, os “negros dias de Hitler e Mussolini” cujo retorno
Jover Telles também temia.
Aos poucos o capital estrangeiro estava tomando conta do Brasil, protegido que estava
justamente pelos “cassadores de mandatos”.
607
Na reportagem que nossos protagonistas
publicaram no jornal Tribuna Gaúcha sob a direção de Demétrio Ribeiro Neto, George
Pires Chaves e José Gonçalves Thomaz o imperialismo foi responsabilizado por aniquilar a
economia brasileira auxiliado por nossos governantes. O capital norte-americano despejava
sua produção no Brasil, atravancando a capacidade produtiva do país, como no caso das
olarias, a nova ofensiva que visava acabar com a fabricação de telhas no Brasil. Peças de
alumínio chegariam em breve em Santa Maria, desbancando o produto nacional.
608
Os
comunistas estavam denunciando isso na Câmara Federal. Contudo, encontravam-se
ameaçados pelo projeto Ivo de Aquino, através do qual – uma vez aprovado – Dutra pretendia
agir mais à vontade, sem a oposição dos deputados do PCB no parlamento federal.
609
Enquanto isso, os comunistas eram acusados de articular uma greve geral no Brasil, seus
comícios seguiam interditados e os funcionários públicos suspeitos de envolvimento com o
comunismo estavam sendo afastados de seus cargos. Continuavam os protestos contra o
projeto Ivo de Aquino, que, a despeito das reclamações, foi aprovado pela Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara Federal, responsável por debater mais profundamente a
proposta, no dia 06 de dezembro.
Os militantes de Porto Alegre fizeram da Tribuna Gaúcha o veículo de seus protestos
contra a extinção dos mandatos. Eles divulgaram que, ao passo que alguns integrantes do
governo davam seguimento ao projeto de cassação, os comunistas continuavam defendendo
as reivindicações do povo, como na atuação de Dyonélio Machado, Pinheiro Machado, Júlio
Teixeira e Jover Telles no parlamento gaúcho. Estes deputados haviam apresentado as
emendas mais democráticas, as que trariam “incontáveis benefícios” para o Estado. E por
defender o povo e condenar a ação do capital internacional, eles se haviam tornado um
“entrave natural” aos planos do “grupo fascista” com o qual o governador Walter Jobim
607
Mais um setor da economia nacional será aniquilado pelo imperialismo. Tribuna Gaúcha, 19.12.1947, p. 4.
608
Idem, p. 2.
609
Idem.
194
estava aliado. Não obstante, eles mantinham a esperança de que os sul-riograndenses não
permitiriam que o ato se consumasse, os “herdeiros das tradições dos bravos farroupilhas”
saberiam defender a dignidade do Poder Legislativo e se opor à “fúria dos cassadores de
mandatos”.
610
A cassação, no entanto, concretizou-se no dia 10 de janeiro de 1948. O projeto Ivo de
Aquino foi aprovado na Câmara Federal por uma tranqüila maioria de 179 votos contra 74.
De acordo com Bercito, o posicionamento favorável à extinção dos deputados do PSD, que
eram a maioria, foi decisivo, sendo que os udenistas votaram divididos e os petebistas
inclinaram-se contra a medida.
611
De nada adiantou o manifesto exigindo a derrubada
imediata do governo Dutra, lançado ainda naquele mês. Os comunistas passaram, então, a
reorganizar suas fileiras. A imprensa permaneceu em circulação, embora sofresse a pressão
policial. Os jornais mudaram de nome e continuaram funcionando.
612
Difundiu-se entre os
militantes “o amargo sentimento de que haviam superestimado a liberal democracia”.
613
Aos
poucos, eles foram abandonando o sonho da construção de um partido de massas e voltaram a
se organizar em quadros. A linha da União Nacional foi cedendo lugar para uma postura
esquerdista iniciada em 1948, mas com expressão modelar no Manifesto de Agosto de
1950.
614
Mesmo que nossos protagonistas não acreditassem que de fato os mandatos seriam
cassados ou que dissessem não temer a ilegalidade, o retorno a ela depois de uma fase que
tanto lhes prometia abalou sensivelmente a militância. Alguns deles carregaram essa
frustração para o resto de suas vidas, como o escritor Dyonélio Machado, que, em suas
memórias, escritas aproximadamente 30 anos após a última sessão na Assembléia Legislativa,
incluiu o episódio entre aqueles pelos quais tinha motivos para se lamentar:
Nessa altura da minha narrativa fico com a impressão de me haver lamentado mais
do que devia. Logo, me lamentado sem motivo. Porque tive sonhos frustrados?
liberdade de locomoção tolhida? mandato de representação cassado? livros
recusados pelas editoras? Porque vi aumentar em torno de mim a área de solidão?
Necessita primeiro saber o efeito que semelhantes ocorrências produziram na minha
pessoa.
615
O ato que colocou fim à fase áurea da militância comunista a cassação dos
mandatos ficou gravado na memória desse antigo militante, como um desengano. Ninguém
610
Estes são os homens que os cassadores querem arrancar da Assembléia. Tribuna Gaúcha, 23.12.1947, p. 1-2.
611
BERCITO, Sônia de Deus Rodrigues. Op. Cit., p. 72-73.
612
VINHAS, Moisés. Op. Cit., p. 94.
613
KONDER, Leandro. Op. Cit., p. 72.
614
VINHAS, Moisés. Op. Cit., p. 95.
615
MACHADO, Dyonélio. Memórias de Um Pobre Homem. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1990, p.
128.
195
mais que ele e seus camaradas haviam apostado tanto no regime democrático que iniciara em
1945. Mais uma vez
a clandestinidade voltou a fazer parte da rotina de nossos protagonistas.
Mais uma vez suas expectativas perderam-se no horizonte.
196
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, nunca se explica
plenamente um fenômeno
histórico fora do estudo de seu
momento. Isso é verdade para
todas as etapas da evolução.
Tanto daquela em que vivemos
como das outras. O provérbio
árabe disse antes de nós: “Os
homens se parecem mais com sua
época do que com seus pais.”
Marc Bloch – 1944
197
I
O objetivo da pesquisa que deu corpo à história narrada nessa dissertação foi resgatar
as representações que os militantes comunistas de Porto Alegre elaboraram em torno da
democracia logo após o Estado Novo. Nesse momento, o mundo clamava pelo fim dos
regimes ditatoriais e pelo retorno das instituições democráticas. No Brasil, a abertura política
trouxe novo alento aos membros do PCB que, depois de 23 anos de atuação clandestina,
conquistaram a legalidade.
A busca dos significados atribuídos por eles à democracia levou em conta, sobretudo,
o tempo, procedimento teórico-metodológico que me inspirou a nomear esse trabalho De
volta para o presente. Não um tempo contínuo, uniforme e linear; sem presente, passado ou
futuro. Mas um tempo relativizado, cujos sucessivos presentes constituem-se mediante a
tensão entre experiências e esperanças, entre as interpretações feitas sobre o passado e as
predições orientadas para o futuro. A reconstrução da história dos membros do PCB da capital
gaúcha considerou que as suas representações em torno da democracia estiveram, a cada
momento, baseadas em experiências e orientadas por expectativas, num esforço de dar o tom
dos posicionamentos que os consecutivos presentes lhes impuseram.
A intenção de conduzir a investigação através de conceitos como “espaço de
experiência”, “horizonte de expectativas” e “representação” foi tentar mostrar que a
interpretação dos comunistas de Porto Alegre acerca da realidade na conjuntura 1945-1947
mais especificamente, no que dizia respeito à democracia ia além daquilo que poderíamos
explicar por meio dos conceitos típicos da história das idéias, por exemplo. As representações
por eles elaboradas nos permitiram entender o sentido que davam às liberdades de
consciência, de religião (de ter ou não ter), de associação e organização (dos trabalhadores,
principalmente), de manifestação e de reunião – e aos direitos, preceitos através dos quais nos
esforçaríamos para classificar suas opiniões dentro do que se costuma conceber como
democracia direta ou indireta, liberal ou social e assim por diante. A análise dos significados
produzidos nos contínuos cruzamentos de experiências e expectativas possibilitou-nos
perceber que a democracia defendida pelos militantes ganhava sentidos que ultrapassavam os
aspectos social, político e econômico, demonstrando uma faceta subjetiva dotada de
impressões sensíveis a respeito do que seria/deveria ser, ou não, democracia para nossos
protagonistas naqueles anos de legalidade.
198
Vimos que os principais personagens da história narrada nessa dissertação eram
militantes comunistas, em sua maioria homens, portadores de uma série de valores éticos,
bem como de convicções políticas e influências religiosas, e dedicados às mais variadas
profissões. Boa parte deles havia nascido entre 1900 e 1920 e, embora houvessem escolhido a
capital gaúcha como lócus de sua atividade política naquele momento, muitos deles
provinham de cidades do interior do Rio Grande do Sul, quando não de outras unidades
federais. Tais aspectos determinaram os conteúdos representacionais que eles atribuíram à
democracia.
Conseguimos captar as representações principalmente daqueles militantes que
apareciam com mais freqüência nos jornais de grande circulação, como o Correio do Povo,
dos que escreviam suas opiniões nos periódicos do Partido no caso, a revista Libertação e o
jornal Tribuna Gaúcha ou daqueles com projeção política tal que lhes possibilitou lograr
uma cadeira no parlamento gaúcho. Alguns nomes destacaram-se ao longo da narrativa, como
os de Abílio Fernandes, César Nani, Dyonélio Machado, Edgar José Curvello, Eloy Martins,
Geminiano Candiota Xavier, João Aveline, Jover Telles, Julieta Batistioli, Júlio Teixeira,
Maria Crespo, Mário Escobar Azambuja, Otto Alcides Ohlweiller, Pinheiro Machado, Rui
Moreira e Sérgio Holmos. Comunistas comprometidos não apenas com os estatutos do
Partido, mas com a causa do comunismo, cuja certeza de realização convencia-os da
legitimidade de se submeter à forte estrutura partidária, com suas constantes e absorventes
exigências, características do centralismo democrático.
Esse foi um dos vieses através do qual os significados que a democracia adquiria para
os comunistas de Porto Alegre foram resgatados, pois eles acreditavam que ela existia no
interior mesmo da organização. Coesão nascida da “unidade de vontade” dos membros e
disciplina – não necessariamente desprovida de crítica – pautavam uma forma de ver o
Partido e a democracia existente em seu interior que se opunha à descentralização, tão
característica do domínio dos coronéis. Toda a estrutura orgânica e o estabelecimento de
normas nesse âmbito da militância tinham um modelo: a URSS, sociedade igualitária, justa e
fraternal e por isso democrática do porvir. A Rússia era o lugar da utopia realizada, no
qual nossos protagonistas se inspiravam. Lá, a democracia era plenamente executada porque
sustentada no centralismo.
Foi tendo a União Soviética como o exemplo de regime democrático a ser alcançado
(uma expectativa a longo prazo) que nossos protagonistas adentraram 1945, conduzidos pela
euforia da conquista da legalidade. Ao longo dos anos de 1946 e 1947, o entusiasmo
desmedido foi cedendo lugar à desilusão, muito embora não tenha podado completamente a
199
esperança na democracia, que deveria vir com a vitória da revolução democrático-burguesa.
Alguns eventos, porém, foram apontando em horizontes mais próximos, como a anistia, a
instalação da Assembléia Constituinte, as eleições de 02 de dezembro de 1945, as greves, o
IV Congresso, o pleito de 19 de janeiro de 1947, o fechamento do PCB e a cassação dos
mandatos. No decurso desses acontecimentos tendo no anticomunismo da LEC um dos
principais inimigos e nos agentes da Polícia Política companhias inseparáveis, ainda que
indesejadas os militantes fizeram do Centro de Cultura Popular Euclides da Cunha, bem
como das células e comitês espalhados pelas ruas porto-alegrenses, cenários de sua luta,
alimentando esperanças e tecendo representações ligadas à democracia pautadas por uma
moral muito particular e por uma visão da história orientada para o futuro.
Ao longo da conjuntura, o PCB defendeu intransigentemente a ordem e a
tranqüilidade, propondo a União Nacional como a forma pacífica e segura através da qual a
democracia seria consolidada e o progresso finalmente alcançado. Tática política preconizada
desde os anos 1930 e aceita de forma contrariada por muitos militantes em 1945, a União
Nacional defendia a junção entre o proletariado, os camponeses e a burguesia nacional
(independente de pontos de vista ideológicos e filosóficos ou de credos religiosos) em prol da
emancipação político-econômica do Brasil, realizando a reforma agrária, revendo os contratos
com o capital estrangeiro e ampliando a produção e o mercado internos. As sedes do MUT e
os Comitês Populares foram instrumentos usados por nossos protagonistas no intuito de lograr
a unidade preconizada, embora alguns deles não concordassem com o papel atribuído a
Getúlio Vargas nesse processo por Luiz Carlos Prestes. Diferente do líder do Partido, os
comunistas de Porto Alegre enfatizavam o povo como principal agente da União Nacional,
jogando com a fluidez desse termo a fim de fixar as necessidades da sociedade brasileira, bem
como sua importância e responsabilidade naquele momento histórico. A democracia deveria
visar os interesses da população e, nesse sentido, o mais importante era lutar pela União
Nacional, reunião de todos os segmentos da sociedade brasileira que geraria o clima de
colaboração e entendimento, sem os quais o combate aos “restos fascistas” se tornaria ainda
mais difícil.
Não se tratava, porém, de oportunismo, de apelo ao povo com vistas a atingir um
objetivo independente dos anseios populares. Na conjuntura 1945-1947, o povo (ora os
trabalhadores, ora todos aqueles que sofriam com determinadas necessidades industriais,
camponeses e proletariado) e a Nação brasileira permearam os discursos e reportagens dos
comunistas de Porto Alegre, ocupando o cerne de suas preocupações. Guiados pela “autêntica
moral” (a moral socialista), eles faziam da solidariedade o eixo de sua luta, colocando o
200
coletivo acima do individual, condenando a desigualdade social e se opondo a qualquer tipo
de egoísmo. O futuro igualitário que começava naquele presente teria a fraternidade em sua
base. Tanto a produção quanto a distribuição aconteceriam em função das necessidades da
população. Era defendendo o bem-estar do ser humano que os militantes interpretavam o
passado e o presente e projetavam o futuro democrático.
Para os comunistas, a humanidade evoluía num determinado sentido. O decurso que
levaria à revolução avançava, e com ele também a democracia, cuja marcha ninguém mais
poderia deter. A anistia, a Assembléia Constituinte e as eleições ocorridas na conjuntura, por
exemplo, foram consideradas etapas/passos importantes desse implacável processo. Outros
eventos, contudo, apareceram como obstáculos à marcha, como o retorno da repressão (com a
proibição de comícios comunistas, as restrições aos grevistas, a prisão de membros do PCB,
as medidas contra funcionários ligados ao comunismo, o fechamento da JUC e assim por
diante), o cancelamento do registro do Partido e a cassação do mandato de seus
parlamentares. Tais casos foram qualificados pelos militantes como “reacionários”, termo
pejorativo e impregnado de juízo de valor que servia para fazerem referência a todas as
pessoas e procedimentos que se opunham às expectativas de um futuro distinto do presente.
Contudo, mesmo tendo os olhos voltados para o porvir, os militantes não desprezaram
o pretérito, resgatando de forma seletiva eventos passados e submetendo-os à crítica e
julgamento no intuito de atender as exigências que o presente lhes impunha: a necessidade de
legitimar seu lugar no novo cenário político. A violência, as fraudes e os desmandos típicos
dos coronéis, tanto quanto a atuação da Aliança Nacional Libertadora e o levante de
novembro de 1935, foram retomados a fim de demonstrar que eles defendiam a democracia
desde a década anterior, combatendo o domínio dos chefes regionais, lutando contra o
nazifascismo e pela verdadeira democracia.
Nesse sentido, existiram momentos de euforia e confiança no futuro, sobretudo no
primeiro ano de nosso recorte, nos quais o uso da memória (e da história) pelos comunistas
visou enfatizar que a história do Brasil, de um modo geral, e a dos comunistas, em particular,
estavam entrando em uma nova e diferente etapa de sua evolução. Todavia, a partir de 1946 e,
sobretudo, em 1947, as razões pelas quais os seguidores do comunismo, em Porto Alegre,
retomaram experiências passadas sofreram o decepcionante impacto do retorno da repressão e
dos processos de cancelamento do registro do PCB e da cassação dos mandatos. Para os
militantes, tais aspectos significavam um retrocesso, e suas recordações retomaram o passado
em tom de alerta e de protesto, como forma de frisar que a marcha em direção à democracia
estava diante de um tropeço.
201
O Estado Novo e o fascismo foram os principais eventos resgatados pelos militantes
do PCB no intuito de mostrar que aspectos do passado permaneciam no presente,
configurando tudo aquilo que seria o avesso da democracia. “Restos fascistas” constituiu-se
na expressão mais usada por eles para caracterizar determinados grupos e acontecimentos que,
em sua opinião, davam continuidade a uma política ultrapassada. As oligarquias
latifundiárias ligadas ao capital estrangeiro colonizador (especialmente o ianque) retomavam
atitudes que haviam levado o mundo à guerra; procedimentos que entravavam o
desenvolvimento do capitalismo no Brasil, etapa sem a qual não se daria a revolução,
configurando-se em verdadeiros obstáculos para a consolidação da democracia. Uma vez
guiados pelos seus próprios interesses (e os de seus aliados), e não pelo desejo de solucionar
os problemas do povo brasileiro, os “restos fascistas” eram moralmente corrompidos, indo às
últimas conseqüências para retirar de seu caminho aqueles que primavam pelo povo e a
Nação: os comunistas.
Assim, diante dos processos de cancelamento do registro do PCB e da cassação dos
mandatos, tais inimigos adquiriram qualidades extremamente negativas aos olhos de nossos
protagonistas. Muitos epítetos escolhidos por eles para qualificá-los pouco se diferenciavam
daqueles usados pelos anticomunistas. Os militantes caracterizaram os adversários com
expressões assustadoras, as quais evocavam imagens que despertavam medo e pavor. Ao
utilizar símbolos existentes havia séculos (monstro, negro, sombra, escuridão, trevas, noite
etc.) provocadores de sensações como angústia e inquietude aprendidos e assimilados na
própria vida social, os comunistas de Porto Alegre procuraram mostrar o quão perigoso era o
oponente e o quanto a democracia estava ameaçada. Diante desses momentos cruciais para o
futuro da militância, eles retomaram o passado ditatorial no intuito de demonstrar que
resquícios daquele tempo em que predominara o mal, a perversidade, a ignorância, a
irracionalidade, o sofrimento, a intolerância e a morte estavam presentes, colocando em risco
todas as vitórias democráticas alcançadas desde os primeiros meses de 1945.
Dessa forma, o ato de lembrar o passado sofreu modificações ao longo da conjuntura,
de acordo com as demandas do presente e com as impressões que os comunistas tinham em
relação ao futuro. Já as predições, desde as mais imediatas até aquelas que saltavam em
direção a um futuro longínquo todas alimentadas pelo intenso desejo de um regime
verdadeiramente democrático, o socialista dialogavam com a memória no sentido de
calcular as possibilidades do desejado se realizar. Os prognósticos constituíam-se em
maneiras de antecipar o que viria, de se adiantar aos acontecimentos, projetar ações, tudo com
o escopo de chegar ao futuro almejado.
202
Os comunistas usavam a memória de um passado não-democrático para mensurar o
quão distante estavam de alcançar a democracia. Quanto mais aspectos do pretérito viam no
presente repressão às manifestações populares, cancelamento do registro do Partido,
cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas e assim por diante mais longe a
democracia parecia estar, pois tais resquícios eram considerados obstáculos a serem
ultrapassados. Tal aspecto apareceu, sobretudo, em 1947. Em 1945, esses resíduos do
pretérito pareciam dar seus últimos suspiros, e o futuro democrático pairava num horizonte
não muito distante.
II
Essa dissertação apresentou parte do caminho trilhado para responder à pergunta: que
representações os militantes comunistas de Porto Alegre elaboraram sobre a democracia na
conjuntura 1945-1947? Outras reflexões a subjazem sem terem sido mencionadas em
momento algum da narrativa, meditações realizadas ao longo da análise dos documentos, da
leitura dos textos e das discussões travadas ora nas reuniões de orientação, ora em sala de
aula, ora ainda em conversas informais – ou delas decorrentes.
Os conceitos de “representação” e “imaginário” (este também cogitado, inicialmente,
como instrumento de interpretação das fontes), além da relação entre as noções de “memória”
e “espaço de experiência”, transformaram-se em objeto de intensa reflexão, tendo como
suporte empírico o caso dos militantes comunistas da capital gaúcha da metade da década de
1940. Nesses momentos, preocupou-me descobrir o potencial explicativo dessas categorias
para responder ao problema de pesquisa. Para além das necessidades específicas dessa
investigação, contudo, tais ponderações renderam-me um rico aprendizado, que certamente
me acompanhará por toda a vida.
Obras literárias de autoria de alguns dos comunistas estudados faziam parte da relação
de fontes presente no projeto de pesquisa. Um exemplo é o livro Deixemos as rosas para
amanhã, de Fernando Melo, do qual retirei os poemas que servem de epígrafe às partes I e II
dessa dissertação. Além dele, outras tantas poesias, bem como novelas, romances e peças
teatrais foram selecionadas. No entanto, os demais testemunhos contribuíram com um volume
de informações tal que acabei descartando a necessidade de cruzá-los com a literatura, embora
tivesse começado a estudar acerca do uso desses textos como fonte histórica, sobre o
realismo socialista etc. Até o momento, não conheço nenhuma pesquisa – no âmbito da
203
Historia – cujo cerne seja a produção literária dos comunistas gaúchos. Aqueles que se
dedicarem a essa tarefa, entrarão em terreno praticamente inexplorado e extremamente fértil.
Apesar de atrair poucas atenções, o período da legalidade apresenta vários aspectos a
serem desvendados. No Rio Grande do Sul, especialmente, há toda uma reconstrução de fatos
locais e levantamento de pessoas envolvidas a ser realizado. Acredito também que a tensão
entre a vontade dos militantes e sua submissão às imposições da agremiação requer um olhar
mais apurado. detalhes referentes à organização partidária igualmente inexplorados, como
a escolha dos patronos das células. Eles seriam eleitos pelo conjunto de militantes, ou
impostos pela direção do Partido? Quais os objetivos e o significado desse procedimento?
Quem eram os personagens considerados dignos de servirem de exemplo? Com base em quais
critérios acontecia a escolha? Que passado eles reconstruíam nesse processo? Quais as
repercussões disso na militância? A referida conjuntura apresenta uma vantagem para aqueles
que se aventurarem na busca de respostas para essas indagações (muito embora elas não se
restrinjam a esse recorte temporal): o fato da documentação sobrevivente não apresentar
tantas lacunas como nos períodos de ilegalidade.
Os pontos mencionados são exemplos de como um problema de pesquisa pode
desdobrar-se em outros tantos. Espero que o estudo aqui relatado tenha contribuído para
preencher a contento algumas lacunas e colaborado com dados e discussões no sentido de
amparar trabalhos futuros. Faço de minhas últimas palavras, portanto, um convite. Há muito a
ser feito pela história (e pela memória) da esquerda brasileira.
204
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210
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* Esse sinal indica que os documentos contribuíram de diversas maneiras para a pesquisa,
tanto com informações sobre a opinião dos militantes comunistas de Porto Alegre a respeito
das questões que se lhes impunham na conjuntura 1945-1947, como com dados para a
elaboração das tabelas e gráficos que tomam parte no conjunto da dissertação ou ainda para a
confecção das listagens que compõem a sessão de apêndices.
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Núcleo de Pesquisa Histórica do Departamento de História da UFRGS).*
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Jornal Tribuna Gaúcha (Originais do Arquivo João Batista Marçal e cópias micro-filmadas do
Núcleo de Pesquisa Histórica do Departamento de História da UFRGS).*
Ano I – n° 265 e 266 de março de 1947
Ano I – n° 282 de maio de 1947.
Ano I – n° 436 de novembro de 1947.
Ano I – n° 455, 558 e 461 de dezembro de 1947.
Ano I – n° 466, 467, 468, 469, 470, 473, 475, 478, 479, 480, ? de janeiro de 1948.
II – Relatórios DOPS-RS (Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – APERJ).*
III – Carteira de comunista (Arquivo João Batista Marçal).*
211
IV - Relatório de reunião, ocorrida em 27 de julho de 1945, datado de 04 de agosto de 1945.
(Arquivo João Batista Marçal).*
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Original pertencente ao Arquivo João Batista Marçal).
VI Anais da Assembléia do Estado do Rio Grande do Sul. (Biblioteca Borges de Medeiros
– Solar dos Câmara).
VII – Entrevistas:
Entrevista com Carlos Callage, realizada em 17 de junho de 1999, em Porto Alegre, por Carla
Simone Rodeghero.*
Entrevista com Eloy Martins e sua esposa Angelina, realizada por Carla Rodeghero no dia 15
de junho de 1999, em Porto Alegre.*
Entrevista com João Batista Aveline, realizada em 18 de fevereiro de 1999 por Maria Luiza
Martini e Eliane R. Garcia, com a presença de Gustavo, na sede do Diretório do PPS em Porto
Alegre. Transcrição – Carla Simone Rodeghero.*
Entrevista com Serafina, filha de Julieta Batistioli, realizada por Maria Luiza Martini em
Porto Alegre.*
CARVALHO JÚNIOR, Francisco & GARCIA, Eliane Rosa. (Org.) Adorável Camarada.
Memórias de Julieta Batistioli. Entrevistas realizadas com Julieta Batistioli, em 29 de junho
de 1990 e 22 de julho de 1992, por Francisco Carvalho Júnior. (Núcleo de Pesquisa Histórica
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul).*
212
VIII – Memórias:
MACHADO, Dyonélio. Memórias de Um Pobre Homem. Porto Alegre: Instituto Estadual do
Livro, 1990.*
MARTINS, Eloy. Um Depoimento Político. Porto Alegre: Gráfica Pallotti, 1989.*
OSÓRIO, Laci. Questão de Vida. Memória em tempo de Porto Alegre. 3ª Parte. Porto Alegre:
Editora Movimento, 1981.*
XAVIER, Geminiano Candiota. Memórias de um velho militante. (Documentos para a
História Operária do Rio G. do Sul). Porto Alegre: 1985. (Fotocópia de original pertencente
ao Arquivo João Batista Marçal).*
213
APÊNDICES
214
Apêndice A
Lista de Militantes
A
Militante Fonte
Abdias Silva CP24.11.1945p4
Abílio Fernandes CP06.09.1945p8
Abraão Akxelrud CP14.11.1945p4
Acélio Daudt CP29.09.1945p3
Acteon Valle Machado CP19.09.1945p8
Adail Borges Fortes CP24.11.1945p4
Adalberto Silva Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Adalgisa Machado CP06.09.1945p8
Adão Correa da Silva CP25.11.1945p4
Adão José Barbosa CP29.09.1945p3
Adão Rosa Vilanova CP29.09.1945p3
Ademar Delurki Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Ademar Pinto CP18.09.1945p12
Adolfo Gruenes CP27.11.1945p4
Adroaldo Germano Scholtz CP30.11.1945p4
Afonso Gresler LIB08.09.1945p4e5
Afonso Teixeira Novo CP27.11.1945p4
Agenor Alves CP01.12.1945p4
Agenor Moreira Ereias CP01.12.1945p4
Agostinho Antônio Espíndola CP01.12.1945p4
Agripino Vasconcelos CP29.09.1945p3
Alberto Prado TG26.11.1947p2
Alberto V. Rosa LIB27.10.1945contra
Albino Mendes da Silva CP25.11.1945p4
Albino Portela Fagundes CP29.11.1945p7
Alcebíades da Silva Ramiro CP27.11.1945p4
Alcides Gomes dos Santos CP29.09.1945p3
Alcina Rangel CP06.09.1945p8
Alcindo Martins da Silva CP01.12.1945p4
Alda Maria Marchioni CP25.12.1945p24
Aldenor Tedesco CP14.11.1945p4
Aldo O. Carvalho CP27.09.1945p2
Alexandre Morena Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Alfredo Bonacci Fialho Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
215
Alfredo Felizardo CP06.09.1945p8
Alfredo Gerhardt
ou Alfredo Antônio Gerhardt
CP19.09.1945p8 / CP27.11.1945p4
Alfredo Jaques CP30.09.1945p12
Alfredo Leboute CP25.11.1945p4
Alfredo Luiz Guedes CP06.09.1945p8
Alice Meireles de Medeiros CP27.11.1945p4
Almir Bitencourt Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
Álvaro Caetano
ou Álvaro Ósimo Caetano
CP11.10.1945p4 / CP23.04.1946p3
Álvaro Moreyra CP29.09.1945p3
Amantina Schmidt Tolotti CP27.11.1945p4
Américo Ayla
ou Américo Ayala
CP08.11.1945p8 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00335
André Viafore CP30.11.1945p4
Ângelo Francisco Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Anita Ávila CP06.09.1945p8
Anselmo Amaral CP14.11.1945p4
Antônio Acelino Lucas CP27.11.1945p4
Antônio Bernardes Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
Antônio Campos CP29.09.1945p3
Antônio Carlos Oliveira TG26.11.1947p2
Antônio Carlos Ribeiro CP29.09.1945p3
Antônio Cerqueira CP29.09.1945p3
Antônio Crispim Canabarro Cerqueira CP01.12.1945p4
Antônio de Oliveira CP01.12.1945p4
Antonio Del Arroio TG26.11.1947p1
Antonio Dias Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f.00498
Antônio Ferreira Martins CP22.11.1946p10
Antônio Guerra Acanan TG26.11.1947p2
Antônio José Duarte CP27.11.1946p4
Antônio Narciso Goulart CP27.11.1945p4
Antônio Nascimento CP27.11.1945p4
Antonio Pinheiro Machado Neto CP15.09.1945p4
Antônio Salatino Netto TG26.11.1947p2
Antônio Teixeira e Silva CP29.11.1945p7
Antônio Tergolina Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Araci Gomes Gonçalves CP01.12.1945p4
216
Ari Albino Rocha CP16.01.1946p.4
Ari Borges da Costa CP29.09.1945p3
Aristóteles Ortiz CP07.11.1945p10
Arlindo Nunes CP27.11.1945p4
Arlindo Souza
ou Arlindo Ferreira de Souza
CP07.11.1945p10 / CP29.11.1945p7
Armando da Silva Gonçalves CP27.11.1945p4
Armando Ferreira CP28.02.1946p3
Armando Leão CP30.09.1945p12
Armando Pacheco de Souza CP30.09.1945p12
Armindo B. Schmidt CP01.12.1945p4
Armindo Krucrinski Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00334
Arthur Nunes Garcia Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00502
Artur César Sperry CP29.09.1945p3
Artur Travassos CP29.09.1945p3
Ary Steimer Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Astor Rocca Barcelos CP30.11.1945p4
Augusto L. dos Santos CP29.09.1945p3
Augusto Paiva Neto CP29.09.1945p3
Áurea de Almeida Barros CP27.11.1945p4
Aurélio Limeira Tejo CP25.11.1945p4
Aurélio Quinquilhano dos Santos CP29.09.1945p3
B
Militante Fonte
Baimman Thonsem CP27.11.1945p4
Beatriz Acosta CP01.12.1945p4
Beatriz Bandeira
Beatriz Piccardo Galinacci CP27.11.1945p4
Beatriz Regina CP29.09.1945p3
Benedito Soares Pires Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00334
Bento Siqueira Dias CP30.11.1945p4
Benzion Kuperschmidt CP01.12.1945p4
Brasil da Silva Ilha CP30.09.1945p12
Bruno Serafini Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00334
C
Militante Fonte
217
Candido Simas LIB08.09.1945p4e5
Carlos Alberto Fernandes Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Carlos Alberto Petrucci CP06.09.1945p8
Carlos Bonhome
ou Carlos Bonhamme
CP18.04.1946p3 / CP23.04.1946p3
Carlos Brandão Birnfeld CP29.09.1945p3
Carlos Calage CP18.09.1945p12
Carlos Correa Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Carlos Gonzaga CP27.11.1945p4
Carlos Lima Aveline CP29.11.1945p7
Carlos Nicolawoski CP27.11.1945p4
Carlos Saraiva CP25.12.1945p24
Carlos Scliar CP24.11.1945p4
Carlos Sena Navarro CP27.11.1945p4
Carmem Xavier Alves CP27.11.1945p4
Célio Bahlis CP27.11.1945p4
César Cardoso Nani
ou Cesare Cardoso Nanni
CP15.09.1945p4 / TG23.12.1947p3
César Ávila CP06.09.1945p8
Cesário Coimbra LIB27.10.1945contra
Cid Pinheiro Cabral CP29.09.1945p3
Cineras de Carvalho
ou Cisneiro de Carvalho
CP08.11.1945p8 / CP06.09.1945p8
Ciro Martins CP06.09.1945p8
Claudino Nemmen CP27.11.1945p4
Conceição dos Santos Izaguire CP01.12.1945p4
Constantino Miranda CP01.12.1945p4
Consuelo Rolde Xavier Carteira de militante digitalizada
D
Militante Fonte
Dali Garcia CP27.11.1945p4
Dalila Nunes de Almeida CP01.12.1945p4
Dalila Oliveira Thonsem CP27.11.1945p4
Danilo Luz Krause CP01.12.1945p4
Darci Paiva CP24.11.1945p4
Darci Teixeira CP25.11.1945p4
Dario Silveira de Azevedo Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
David Cunha CP18.09.1945p12
Deborah Souza Ribeiro CP29.11.1945p7
218
Deburgo de Deus Vieira CP06.09.1945p8
Décio de Souza
ou Décio Soares de Souza
CP27.11.1945p4 / CP01.12.1945p4
Décio Floriano
ou Décio Nunes Floriano
CP15.09.1945p4 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00334
Décio Freitas CP15.09.1945p4
Demétrio Ribeiro
ou Demétrio Ribeiro Neto
CP06.09.1945p8 / CP25.11.1945p4
Democrata Soares CP18.09.1945p12
Diana Nunes Godoi CP27.11.1945p4
Dilermando Martins CP30.09.1945p12
Dilon Schirman CP27.11.1945p4
Dirceu Alves Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f.00498
Domingos Correa Coutinho Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Donato Torres Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Doralino Gonçalves CP27.11.1945p4
Dorival Domingos de Lima CP27.11.1945p4
Dulfe P. Machado
ou Dulphe Pinheiro Machado
CP18.09.1945p12 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00334
Dyonélio Machado
E
Militante Fonte
Edgar Alabarce CP25.11.1945p4
Edgar Curvello CP06.09.1945p8
Edgar Hippen CP01.12.1945p4
Edite Jardim CP27.11.1945p4
Édolo Piatelli CP27.09.1945p2
Edu Flores da Veiga CP01.12.1945p4
Eduardo Barreiro CP22.11.1946p10
Eduardo Faraco CP06.09.1945p8
Eduardo Vitório Bukasku CP16.01.1946p.4
Edvaldo Pereira Paiva
ou Edwardo Paiva
CP25.11.1945p4 / CP29.09.1946p24
Eglê Malheiros CP06.09.1945p8
Eivlis Mabilde CP06.09.1945p8
Elbi Martins CP22.11.1946p10
Eleodoro dos Santos CP25.11.1945p4
Eloá Guimarães Torres CP27.11.1945p4
Eloá Krause CP27.11.1945p4
219
Eloar Guazelli TG26.11.1947p2
Eloy Martins CP15.09.1945p4
Elsa Lüks Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00334
Elvira Keller CP27.11.1945p4
Emilce Aveline
ou Emilce de Lima Aveline
CP06.09.1945p8 / CP30.09.1945p12
Emílio Gulskov CP18.09.1945p12
Emma Nectoux Araujo CP01.12.1945p4
Enea Alabarce CP25.11.1945p4
Enedir Coelho Ferreira CP01.12.1945p4
Enio Castilhos CP27.09.1945p8
Enio Mailander CP30.11.1945p4
Enulce Lima de Oliveira CP27.09.1945p2
Erasmo Torres de Carvalho TG23.12.1947p3
Ernani Correa CP29.09.1945p3
Ernani Gonçalves Pereira CP07.11.1945p10
Ernesto Guilloux CP27.11.1945p4
Ernesto Sander CP06.09.1945p8
Esa Laks CP18.09.1945p12
Estácio Luz CP30.11.1945p4
Estela Bethiol Pianta CP30.11.1945p4
Euclides Dorneles CP28.02.1946p3
Euclides Silva Garcia CP30.11.1945p4
Eufrásio Bezerra Medeiros Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f.00498
Eugênia Salgado Gomes CP27.11.1945p4
Eugênio Botto Aguiar CP28.11.1945p5
Eugênio de Aguiar CP08.11.1945p8
Eugênio Gualdi CP27.11.1945p4
F
Militante Fonte
Favorino Soares CP19.09.1945p8
Felix Gamboa CP18.09.1945p12
Fernando Ferreira Vilar CP28.02.1946p3
Fernando Guedes CP29.09.1945p3
Fernando Melo
Fernando Pereira de Arruda CP01.12.1945p4
Fernando Pereira Gomes CP27.11.1945p4
Fernando Silveira CP22.11.1946p10
Fidêncio R. da Silva Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
220
Fioralba de Camilis CP01.12.1945p4
Flávio Argolo CP06.09.1945p8 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00332
Flávio Franco CP30.09.1945p12
Flávio Soares CP14.11.1945p4
Fleuri Esteves CP19.09.1945p8
Francelina Teixeira CP27.11.1945p4
Francelino Ricardo CP12.01.1946p4
Francisca Rosa da Silva CP25.11.1945p4
Francisco Albuquerque LIB08.09.1945p4e5
Francisco Assis Leal CP01.12.1945p4
Francisco Dias CP14.12.1945p3
Francisco Lacerda CP28.11.1945p5
Francisco Mazzei CP12.01.1946p4
Francisco Medeiros CP24.02.1946p10
Francisco P. das Neves CP29.09.1945p3
Frederico B. Barreto Viana CP01.12.1945p4
G
Militante Fonte
Gabriel Doly Oliveira CP29.09.1945p3
Gabriel Pedro Martins CP25.11.1945p4
Gasigo Chagas Pereira
ou Gashipo Chagas Pereira
CP27.11.1945p4 / CP29.11.1945p7
Gaspar Escobar CP08.11.1945p8
Geni Kerschner CP01.12.1945p4
George Muller Mendes Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00336
George Pires Chaves TG26.11.1947p2
Geraldo Cozbec CP25.12.1945p24
Germano Bonow Filho TG26.11.1947p2
Germano Jesephson CP06.09.1945p8
Geminiano Candiota Xavier CP15.09.1945p4
Gibram Bahlis CP14.11.1945p4
Gilda Marinho CP29.09.1945p3
Gino Ario Alves da Silva Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Gomercindo Alves Coelho LIB08.09.1945p4e5
Gonçalo Guimarães e Viterbo CP27.09.1945p8
Gonçalves Dias CP18.09.1945p12
Graciano Lemos Oliveira Fundo DPS – Série Dossiês – Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
221
Gregório Malheiros CP01.12.1945p4
Guaíba Correia da Silva CP28.11.1945p5
Guilherme A. Wentzel CP01.12.1945p4
H
Militante Fonte
Heidée Dalila Schmidt Hippen CP01.12.1945p4
Heitor Martins de Souza CP01.12.1945p4
Heitor Paulo Lahm CP29.09.1945p3
Heitor Viterbo de Oliveira CP18.09.1945p12
Hélio Vizzi CP01.12.1945p4
Hemógenes Bacelar CP12.01.1946p4
Herberto Siegrefed Kaldeich CP01.12.1945p4
Herculano Bertê CP30.09.1945p12
Herculano Rodrigues LIB08.09.1945p4e5
Hermelino Martins da Rosa CP27.11.1945p4
Hermínio Pereira Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f.00498
Hermógenes Machado Salles CP01.12.1945p4
Herta Alves Neuman
ou Herta Alma Neumann
CP27.11.1945p4 / CP01.12.1945p4
Hespéria Gomes CP01.12.1945p4
Higino Correa CP29.09.1945p3
Hilda de Castro Jobim CP29.09.1945p3
Hilda Fetter Alamo CP30.11.1945p4
Homero de Castro Jobim CP06.12.1945p3
Homero Oliveira Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
Honorina de Oliveira CP25.11.1945p4
Honório da Silva CP01.12.1945p4
Horizontina Gonçalves CP27.11.1945p4
Hugo Grivichiche CP09.11.1945p7
Hugo Portinho TG26.11.1947p2
Humberto Foli CP14.11.1945p4
I
Militante Fonte
Ib Barros Kern CP19.09.1945p8
Ilse Kieper Weber CP01.12.1945p4
Inácio Broca Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00333
222
Irineu Jardim CP27.11.1945p4
Íris J. Caetano Fundo Polícia Política – Estados – 19b – f. 00509
Isabel Cruz Jesus CP27.11.1945p4
Isaac Acxelrud (Pseudônimo: Josino Campos) CP27.09.1945p8
Isaias Lokshin CP06.09.1945p8
Ítalo da Prata
ou Ítalo Del Prati
LIB08.09.1945p4e5 / Fundo Polícia Política Estados
– Pasta 19b – f. 00335
Ivar Feijó TG26.11.1947p2
Ivo José Diniz CP29.09.1945p3
Ivone Veigas Erich CP01.12.1945p4
Izula Villanova Gerhardt CP29.09.1945p3
J
Militante Fonte
J. P. Bitencourt CP11.11.1945p4
Jacinta Passos CP20.10.1945p8
Jacob Koutzii (Pseudônimo: Plínio Moraes) CP06.09.1945p8 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00332
Jaime Garcia CP27.11.1945p4
Janete Macline TG26.11.1947p2
Japir do Carmo CP29.09.1945p3
Jarbas S. Pereira CP27.09.1945p2
João Alberto Schenkel Filho Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00333
João Antônio da Silva CP01.12.1945p4
João Antônio de Assis Brasil CP29.09.1945p3
João Aveline
João Baptista Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
João Cacildo Pinto CP01.12.1945p4
João da Rosa Goulart CP27.11.1945p4
João de Oliveira CP29.09.1945p3
João Dilorenzi Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
João dos Santos CP25.11.1945p4
João Felisberto da Silva CP25.11.1945p4
João Fidelis Stamb CP01.12.1945p4
João Francisco de Azevedo CP01.12.1945p4
João Francisco Goulart CP27.11.1945p4
João G. Torres Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
João Gomes da Silveira CP25.11.1945p4
João Lyra CP30.11.1945p4
223
João Nunes Clos CP01.12.1945p4
João Oscar de Oliveira CP19.09.1945p8
João Pereira Nunes CP27.11.1945p4
João Santana TG26.11.1947p1
João Schenkel Filho CP19.09.1945p8
João Tabajara TG26.11.1947p2
Joaquim Furtado Silveira CP01.12.1945p4
Joaquim Torres CP27.11.1945p4
Joaquina Belmont Goulart CP27.11.1945p4
Jofre Magalhães Rodrigues CP01.12.1945p4
Jorge Bahlis CP11.10.1945p4
Jorge Muller Mendes Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f.00498
Jorge Neves Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Jorge Vitorino Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00336
José Amádio CP29.09.1945p3
José Amaro Krafuni TG26.11.1947p2
José C. de Carvalho CP01.12.1945p4
José Carlos da Costa CP29.09.1945p3
José César Mesquita CP27.11.1946p4
José Correa da Silva CP25.11.1945p4
José dos Santos CP28.02.1946p3
José Evaristo Nunes CP27.11.1945p4
José Francisco Marques Conceição CP01.12.1945p4
José Freire CP29.09.1945p3
José Gonçalves Thomaz CP14.11.1945p4 / TG26.11.1947p2
José Homenhuck CP30.09.1945p12
José Iuchno CP01.12.1945p4
José Lopes Gonçalves CP27.11.1945p4
José Luiz Barradas CP14.11.1945p4
José Luiz Gaston CP27.11.1945p4
José Maciel Braga CP27.11.1945p4
José Montserat CP29.09.1945p3
José Nelson Gonzalez TG26.11.1947p2
José P. Sampaio TG26.11.1947p2
José Pereira da Silva Netto CP01.12.1945p4
José Pessoa Mendes CP29.09.1945p3
José Roberto Garcia Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00502
José Rodrigues da Silva CP30.09.1945p12
José Viana e Silva CP18.09.1945p12
Josué Guimarães CP29.09.1945p3
224
Jovino Francisco Gomes CP27.11.1945p4
Julião Vilodre CP29.09.1945p3
Julieta Batistioli CP07.11.1945p10
Julieta Leite CP27.11.1945p4
Júlio Bizello CP29.09.1945p3
Júlio Gonçalves Nunes CP27.11.1945p4
Júlio M. Gomes CP01.12.1945p4
Júlio Teixeira
Juvenal Jacinto (de Souza) CP27.09.1945p2
Juvenil Cruz Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f.00498
L
Militante Fonte
Larangeiras Martins CP24.11.1945p4
Laura Niluk CP24.11.1945p4
Laurentino Gaspar Português CP28.02.1946p3
Laurindo Lopes LIB08.09.1945p4e5
Lauro A. Reis Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Lauro P. dos Santos
ou Lauro Pedroso dos Santos
Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 30101 – f. 26 /
Dossiê “Correspondências do Partido Comunista do
Brasil” – f. 210
Lélia Paradeda CP06.09.1945p8
Lenine Nequete CP30.11.1945p4
Leon Treiger CP28.02.1946p3
Leonel Valdemar Sasse CP29.09.1945p3
Leonor Sokoloski CP29.09.1945p3
Lídia Vieira Nunes CP27.11.1945p4
Liege Costa CP27.09.1945p2
Lígia Fioravanti Goulart CP27.11.1945p4
Lila Ripoll Guedes CP06.09.1945p8
Lindolfo G. de Oliveira CP14.11. 1945p4
Lourival M. Rosa Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Lourival Ribeiro de Souza CP25.11. 1945p4
Lucas Fortes dos Santos CP29.11. 1945p7
Lucas G. Mateus CP30.09. 1945p12
Lúcia Dias Queiroga CP27.11. 1945p4
Lúcio Rochadel CP19.09. 1945p8
Lúcio Soares Netto CP06.12. 1946p12
Luis Dariano CP30.11. 1945p4
225
Luisa Ferrati CP27.09. 1945p8
Luiz Barradas Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Luiz Carlos Correa CP29.09. 1945p3
Luiz Carlos Pinheiro Machado Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00502
Luiz Carlos Reis Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Luiz Dionísio Ghis CP27.11. 1945p4
Luiz Eduardo de Oliveira Santos Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00502
Luiz Fragoso Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Luiz Goulart Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00577
Luiz José Granella CP27.11. 1945p4
Luiz Luz da Silva CP01.12. 1945p4
Luiza Ferrari Prado CP06.09. 1945p8
M
Militante Fonte
Manoel Barcelos Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Manoel Caetano Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Manoel Castilhos Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f.00498
Manoel Jover Telles CP29.11.1945p7
Manoel Luiz TG26.11. 1947p2
Manuel Nunes CP27.11. 1945p4
Manuel Palmeiro da Costa CP29.09. 1945p3
Marat Rudacheski
ou Marat Budachevski
CP18.09. 1945p12 / LIB08.09. 1945p4e5
Marciano Borges CP18.09. 1945p12
Marcos Iolovitch TG23.12. 1947p3
Marcos Kruter CP29.09. 1945p3
Margarida Pereira Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
Maria Cidade Allfrey CP01.12. 1945p4
Maria da Glória Haetinger CP27.11. 1945p4
Maria de Loudes Godinho CP30.11. 1945p4
Maria Otélia Erich CP01.12. 1945p4
Marília Rute Nicolaiewski CP27.11. 1945p4
Marina Rocha das Neves CP27.11. 1945p4
Marino R. dos Santos
ou Marino Rodrigues dos Santos
CP15.09. 1945p4 / TG26.11. 1947p2
Mário Bastos Lagos CP29.09. 1945p3
Mario C. da Silva CP01.12. 1945p4
Mário Gonzáles CP08.11. 1945p8
226
Mário José Correa CP29.09. 1945p3
Mário Escobar Azambuja CP06.09. 1945p8 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00502
Mário Felizardo CP06.09. 1945p8
Mário Pacheco de Souza CP30.09. 1945p12
Mário Vieira CP16.01. 1946p4
Matilde Castiel Bas CP25.11. 1945p4
Maurício Seligman CP06.09. 1945p8
Maximo Correa da Costa CP01.12. 1945p4
Medeiros Dantas CP29.09. 1945p3
Mercedes Cardoso da Silva Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
Miguel Griva CP25.11. 1945p4
Milton Tavares CP27.11. 1945p4
Miron Moraes CP01.12. 1945p4
Moacir Barcelos CP25.11. 1945p4
Morel Muniz de Oliveira Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Mozart Moreira de Oliveira CP30.09. 1945p12
Muller Mendes CP08.11. 1945p8
N
Militante Fonte
Nadir França CP07.11.1945p10
Nair Alves dos Santos CP01.12. 1945p4
Naldi Gamboa CP27.11. 1945p4
Natalino Pires Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Nei Cruz Neto CP15.09. 1945p4
Neli Faria Correa
ou Nely Faria Correa
CP06.09. 1945p8 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00334
Nelson de Assis CP29.09. 1945p3
Nelson Vargas da Silveira TG26.11. 1947p2
Néri Zamora CP27.09. 1945p8
Nestor Rodrigues de Melo Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f.00498
Nestor Vargas CP18.10. 1945p4
Newton Aguiar CP01.12. 1945p4
Ney dos Santos CP29.09. 1945p3 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00331
Nicácio Costa CP29.11. 1945p7
Nilo Azambuja CP29.09. 1945p3
Nilo Botho CP30.11. 1945p4
227
Nilo Spier Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Nilton P. Lemos CP29.09. 1945p3
Noá Moura CP29.09. 1945p3
Noé Nunes CP27.11. 1945p4
Noemia de Campos Jacinto CP27.11. 1945p4
Norberto Dick CP29.09. 1945p3
Norberto Guimarães CP01.12. 1945p4
O
Militante Fonte
O. Correa CP22.01.1946p3
O. P. de Azevedo CP30.11. 1945p4
Odete Pena Fantin CP30.11. 1945p4
Odira Gallinati CP27.11. 1945p4
Ofélia Pereira Borges CP27.11. 1945p4
Olavo Lima
ou Olavo Lima da Silva
CP27.09. 1945p8 / LIB08.09. 1945p4e5
Olavo Lina dos Santos Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Olga Cúrcio
ou Olga M. Cúrcio
CP27.09. 1945p2 / LIB29.09. 1945p7
Olinto Antônio da Silva CP25.11. 1945p4
Omar V. dos Santos CP01.12. 1945p4
Orestes Laranjeiras Martins CP25.11. 1945p4
Orestes Timbaúva CP12.09. 1945p8
Ortilão Pires Scmidt Fundo Polícia Política – Estados – 19b – f. 00344
Oscar Hugo Lorenz CP27.11. 1945p4
Oscar Silva
ou Oscar Viana e Silva
CP29.09. 1945p3 / CP30.09. 1945p12
Osmar Darci dos Santos CP01.12. 1945p4
Osmar Pinto CP06.09. 1945p8
Osmar Vitória CP12.01. 1946p4
Osório Lopes CP06.09. 1945p8
Osval Alves da Rocha CP29.09. 1945p3
Osvaldo Fernandes Guerra CP27.11. 1945p4
Osvaldo José da Silva CP25.11. 1945p4
Otacílio Enrique dos Santos CP01.12. 1945p4
Otacílio Francisco Nunes CP27.11. 1945p4
Otávio Figueira CP18.09. 1945p12
Otávio Fortes da Silva CP27.09. 1945p2
Otávio Silveira Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
228
Oto Veríssimo Gomes CP27.11. 1945p4
Otto Alcides Ohlweiller CP09.09. 1945p3
Otto Alfredo Hentschke CP27.11. 1945p4
P
Militante Fonte
P. F. Gastal
ou Paulo Fontoura Gastal
TG26.11.1947p2
Panvel Bazik Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Paulo Gerchman CP27.11. 1945p4
Paulo Guimarães CP22.11. 1946p10
Paulo João Luz Amodeo CP30.11. 1945p4
Paulo Kritchmann
ou Paulo Kreitchmann
CP18.09. 1945p12 / CP14.11. 1945p4
Paulo Manchão Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Paulo Medeiros CP19.09. 1945p8
Paulo Osório de Assis Brasil CP22.11. 1946p10
Pedro Carvalho Braga CP02.06. 1946p22
Pedro Dias Silveira Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Pedro Eugênio Elias CP16.01. 1946p4
Pedro Galdino Jacobsen CP27.11. 1945p4
Pedro Luiz Costa CP15.09. 1945p4
Pedro Paulo Scheunemann CP25.11. 1945p4
Pedro Ramos Marques Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Pedro Weisserstein CP28.02. 1946p3
Pedro Zanenga Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Perci de Abreu Lima
ou Percy de Abreu Lima
CP29.11. 1945p7 / Fundo DPS Série Dossiês
Dossiê “Comitê Estadual do Rio Grande do Sul”
Notação 160 – f. 779
Plínio Cabral CP27.09. 1945p8
Policarpo Hibernon Machado
ou Hibernon Machado
Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00333
/ CP06.09. 1945p8
Policarpo Pereira da Costa CP01.12. 1945p4
R
Militante Fonte
Radir Zaniratti CP01.12.1945p4
Rafael Zouvi CP29.09. 1945p3
Raimundo A. dos Santos Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
229
Raul da Silva Braga CP25.11. 1945p4
Raul Duarte Gonzalez CP27.11. 1945p4
Raul Nekueraurt
ou Raul Nequesaut
CP27.11. 1945p4 / CP01.12. 1945p4
Raul Riff CP27.09. 1945p8
Renan Falcão de Azevedo CP14.11. 1945p4
Ricardo Elwanger CP30.09. 1945p12
Rita Macedo Naconecy CP27.11. 1945p4
Rita Rodrigues LIB13.10. 1945p6
Rodolfo Carvalho CP29.09. 1945p3
Rodolfo Gloguer CP27.11. 1945p4
Rosa Cleci B. Goulart
ou Rosa C. Belmonte Goulart
CP27.11. 1945p4 / CP01.12. 1945p4
Rubem Nascimento Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
Rubens Araújo
ou Rubens V. Araújo
CP15.09. 1945p4 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00334
Rubens Teixeira CP29.09. 1945p3
Rui Bacelar CP25.11. 1945p4
Rui Correa CP29.09. 1945p3
Rui Dias de Castro CP29.09. 1945p3
Ruy Moreira TG11.03. 1947p1
S
Militante Fonte
Sady da Costa e Silva Fundo Polícia Política – Estados – 19b – f. 00502
Salus Laks CP18.09.1945p12
Salustiano Oliveira CP29.09.1945p3
Samuel Siqueira
ou Samuel Castro Siqueira
CP27.11.1945p4 / CP28.11. 1945p8
Santos Soares CP07.11.1945p10
Sarquis Goitacás CP27.02.1946p8
Saturnino Francisco Teixeira Nunes CP27.11.1945p4
Sebastião Fialho Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00334
Sebastião Leite Torres CP25.11.1945p4
Serafim Rodrigues Bareira CP25.11.1945p4
Sergio Holmos
ou Sérgio Alves Holmos
CP03.02. 1946p18 / Fundo Polícia Política Estados
Pasta 19b – f. 00331
Several Souza LIB13.10.1945p6
Sibilis da Rocha Viana CP29.09.1945p3
230
Sílvia Carvalho CP18.09.1945p12
Silvio Castilhos Carrion CP25.11.1945p4
Silvio F. Pereira CP27.09. 1945p2
Sírio Tolloti CP27.11.1945p4
Sofia Aguinski LIB08.09. 1945p4e5
Solon Slavuski CP29.09.1945p3
Sólon Machado
ou Solon Soares Machado
CP19.09.1945p8 / CP30.09. 1945p12
Sueli Gomes CP27.11.1945p4
Sueli Schroeder CP06.09.1945p8
T
Militante Fonte
Telmo Marco Antônio da Cunha CP25.11.1945p4
Teodoro Santos CP04.04. 1947p15
Teodósio Silva CP30.11. 1945p4
Teófilo Barbosa de Mattos CP29.09. 1945p3
Teófilo Matos CP25.11. 1945p4
Tibúrcio Machado CP06.09. 1945p8
Tibúrcio Rangel CP06.09. 1945p8
Tito Paraguassu CP29.09. 1945p3
Trajano Beheregaray TG26.11. 1947p2
Trifino Correa CP07.11. 1945p10
Túlia C. Pires de Jesus CP27.11. 1945p4
U
Militante Fonte
Ugolino Uflaker TG26.11.1947p1
Universina Torres Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 30101 – f. 22
Utaliz F. Lopes CP29.09.1945p3
V
Militante Fonte
Vasco Prado CP06.09.1945p8
Valter Gonzalez CP12.01. 1946p4
Valter Graeff CP22.11. 1946p10
Valter Hugo CP27.11. 1945p4
Valter Simms CP27.09. 1945p8
231
Vergílio A. Gireli Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Vespasiano Correa CP22.11. 1946p10
Vicente de Assis Garcia Fundo DPS Série Dossiês Dossiê “Comitê Estadual
do Rio Grande do Sul” – Notação 160 – f. 776
Vital M. Marcolino Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Vivaldino Pereira César CP06.12. 1946p12
Vinício Tabajara TG26.11. 1947p2
Vinicius Carvalho CP29.11. 1945p4
Volfang Kolbe CP01.12. 1945p4
W
Militante Fonte
Waldir Morozzoli Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Walter J. Siqueira CP27.09.1945p2
Willy Fucks Fundo Polícia Política – Estados – Pasta 19b – f. 00335
Wilson Pereira CP29.09.1945p3
Y/Z
Militante Fonte
Yolanda Mendonça CP30.08.1945p3
Zeno Martins CP14.11.1945p4
Zeferino Ney de Meyer CP29.09.1945p3
Zil Cosmo da Silva CP29.09.1945p3
Zilda Pereira Nogueira CP27.11.1945p4
Zulmira B. S. Gamboa CP27.11.1945p4
232
Apêndice B
Relação de Células do Partido Comunista do Brasil em Porto Alegre (1945 e 1947)
Por Patrono
Nome Localização
Obs.
01 9 de Março
02 25 de Março Sertório, nº 681 Bairro Navegantes
03 ANL R. Xavier da Silveira, nº 99 Residência de Álvaro Moreyra
04 André Rebouças Portugal, nº 382
05 Aníbal Benévolo São Joaquim, s/nº
06 Aníbal Guedes
07 Antônio João Joaquim Nabuco, nº 131
08 Antônio Oliveira Visconde do Inhaúma, nº 125
09 Aparício Cora de Almeida Sertório, nº 861
10 Arma
11 Bento Gonçalves Edifício Malakoff
12 Castro Alves
13 Farrapos Andradas, 1737
General Câmara, 381
Bairro Centro
14 Giácomo Mateotti General Portinho, nº 359
15 Hermenegildo de Assis Brasil Gal. Nascimento Vargas, 392
16 João Cândido Lucas de Oliveira, nº 255 Bairro Mont’Serrat
17 José Anastácio Bairro Mont’Serrat
18 Júlio de Castilhos Sarmento Leite, nº 1073 Bairro Bom Fim
19 La Passionaria Costa, 129
José de Alencar, 201
20 Lênin Sertório, nº 681
21 Leocádia Prestes Gal. Salustiano, nº 194 Célula dos Trabalhadores em
Energia Elétrica
22 Lygia Quintana
23 Machla Berger João Pessoa, nº 1.003
Alberto Torres, nº 68
Joaquim Nabuco, nº 261
Bairro Cidade Baixa
24 Manoel Rabelo
25 Marcílio Dias
26 Mário Couto Alberto Torres, nº 68 Célula da empresa Carris. Maior
célula do Partido em Porto Alegre.
233
27 Moaré Martins Benjamin Constant, nº 444
General Nascimento Vargas, nº 392
Bairro São João
28 Olga Benário Prestes Agostinho, nº 73 Residência do militante “Modesto”
29 Siqueira Campos Alberto Torres, nº 68 Bairro Cidade Baixa
30 Tenente Cleto Campelo Silva Jardim, nº 719
31 Vanguarda do Trabalhador
32 Venâncio Zamora Portugal, nº 382
33 Zenon de Almeida
Por Empresa/Instituição
Nome Localização
01 Cipriano Micheletto & Cia (metalúrgica)
02 DAER Andradas, nº 1737
03 Doca Fluvial
04 Faculdade de Direito Voluntários da Pátria, nº 311 – 2º andar
05 Faculdade de Direito (estudantes da) Andradas, nº 1737
06 Faculdade de Filosofia Andradas, nº 1737
07 Gasômetro, do Duque de Caxias, nº 307
08 Globo, da (trabalhadores)
09 Hospital São Pedro
10 Júlio de Castilhos (colégio) Andradas, nº 1737 – 1º andar
11 Porto, do (servidores)
12 Prefeitura, da Andradas, nº 1737
13 Prefeitura, da (servidores) Andrade Neves, nº 85
14 Taurus Andradas, nº 1737
15 Viação Férrea Andradas, nº 1737
Por Bairro
Nome Localização
01 Aberta dos Morros
02 Azenha
03 Floresta Felix da Cunha, nº 337
04 Glória São Joaquim, nº 201
05 Guaíba Diogo Feijó, nº 102
06 João Pessoa
234
07 Menino Deus Praia de Belas (na antiga Fábrica de Vidros)
08 Mont’Serrat Eudoro Berlink, 988
Mariland, nº 1071
09 Partenon
10 Passo da Mangueira Itapeva, nº 100
11 Rio Branco – Bom Fim Ramiro Barcelos, nº 1539
12 São João – Navegantes São Pedro, nº 3611
13 São Jo
14 Teresópolis Quarai (rua)
Cangussu
Por Ocupação Profissional
Nome
Localização
01 Estivadores (da Estiva) Andradas, nº 1737
02 Funcionários Públicos Estaduais Andrade Neves, nº 85
03 Professoras públicas
04 Profissionais Liberais
05 Tecelões
235
Apêndice C
Relação das Atividades Desenvolvidas pelos Militantes Comunistas (1945-1947)
Data Local Horário
Tipo Fonte Observações
04/04/1945
(quarta-
feira)
Largo da
Prefeitura
20h Comício
(pró-anistia)
CP03.04.1945p12 Alfredo Antônio
Gerhard falaria em
nome da União
Estadual dos
Estudantes.
21/04/1945
(sábado)
20h Comício
(em regozijo à anistia)
CP19.04.1945p8 Promovido pelo
Comitê Pró-Anistia do
qual alguns comunistas
participavam.
20/05/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Fundação do Clube de
Cultura Popular
Euclides da Cunha.
CP22.05.1945p5 A proposta era difundir
a cultura popular em
várias modalidades,
como política,
economia, arte e
ciência.
17/06/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Conferência CP17.06.1945p7 O presidente do Clube
de Cultura Popular
Euclides da Cunha,
professor Jorge Bahlis,
versaria sobre “Como
seria o mundo se
triunfasse o nazi-nipo-
fascismo”.
Entrada franca.
01/07/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Eleição da diretoria do
Clube de Cultura
Popular Euclides da
Cunha
CP01.07.1945p6
16/07/1945
(sábado)
Clube
Esportivo
Marques do
Alegrete rua
Severo, nº 36
noite Instalação das células
dos bairros São João,
Passo da Areia e Passo
da Mangueira
CP17.07.1945p4
22/07/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Atuação do conjunto
da Sociedade Eslava
de Porto Alegre
CP21.07.1945p3
CP25.07.1945p3
22/07/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Conferência CP21.07.1945p3 Com o capitão Gay
Cunha, comandante da
Brigada Internacional
“Lincoln”.
Título da palestra: “Os
espanhóis nos campos
de concentração da
França.”
27/07/1945
(sexta-feira)
“Arrebaldes
proletários”
tarde Comícios-relâmpagos CP27.07.1945p8 Discursos de cinco
minutos.
28/07/1945
(sábado)
Sociedade
Espanhola
20:30 Encenação da peça
“Deus lhe Pague”
CP25.07.1945p3
CP27.07.1945p3
Peça de Joraçy
Carmargo.
29/07/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência CP25.07.1945p3
CP27.07.1945p3
CP31.07.1945p3
Medeiros Dantas falara
sobre “A lepra
problema social
econômico”.
Casa cheia.
29/07/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência CP25.07.1945p3
CP27.07.1945p3
CP31.07.1945p3
Ciro Martins falara
sobre Euclides da
Cunha sua vida e sua
236
obra.
Casa cheia.
30/07/1945
(segunda-
feira)
Cinema
Imperial
20h Instalação do Comitê
Estadual
CP22.07.1945p4
CP31.07.1945p12
Presença de uma
delegação do Comitê
Central (Comitê
Nacional).
Foram colocados alto-
falantes na Praça da
Alfândega.
30/07/1945
(segunda-
feira)
Andradas,
1737
andar
Instalação do primeiro
centro de alistamento
eleitoral do PCB em
POA
CP24.07.1945p4
CP27.07.1945p8
Também se noticia
como o lançamento do
Partido Comunista do
Brasil em POA.
Entrada franca.
31/07/1945
(terça-feira)
Reunião Plena do
Comitê Estadual
CP27.07.1945p8 Com assistência de
Maurício Gabrois.
1º/08/1945
(quarta-
feira)
Reunião Plena do
Comitê Estadual
CP27.07.1945p8 Com assistência de
Maurício Gabrois.
03/08/1945
(sexta-feira)
Clube
Esportivo
Marques do
Alegrete rua
Severo, nº 36
20h Assembléia Geral dos
partidários do PC
filiados à célula São
João
CP02.08.1945p8
04/08/1945
(sábado)
noite Instalação da célula de
Mont’Serrat
CP05.08.1945p3
05/08/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência CP31.07.1945p3
CP01.08.1945p3
Otto Alcides
Ohlweiller falaria sobre
o desenvolvimento
econômico do Brasil.
Entrada franca.
05/08/1945
(domingo)
Cinema
Castelo
10h Instalação da célula do
bairro Azenha
CP05.08.1945p3
12/08/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência CP10.08.1945p3 Jorge Bahlis falaria
sobre “A evolução da
sociedade humana”.
Entrada franca.
19/08/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
08h Reunião do Comitê
Municipal com os
membros da célula
Mário Couto (Carris)
CP18.08.1945p8
19/08/1945
(domingo)
Sede do
Erechim F. B.
C.
09h Instalação da célula do
Bairro Teresópolis
LIB01.09.1945p6
CP18.08.1945p8
19/08/1945
(domingo)
Cinema Orfeu 10h Instalação da célula do
Bairro Floresta
LIB01.09.1945p6
CP14.08.1945p4
CP18.08.1945p8
Presença de Edgar
Curvello (CM).
19/08/1945
(domingo)
Andradas,
1737
andar
14h Assembléia da célula
Viação Férrea
CP18.08.1945p8
20/08/1945
(segunda-
feira)
Salão Modesto
rua
Esperança
esquina
Casemiro de
Abreu
20:30h Reunião preparatória
para o lançamento da
célula Rio Branco
CP18.08.1945p8
237
22/08/1945
(quarta-
feira)
Reunião da célula do
Menino Deus
LIB01.09.1945p6
23/08/1945
(quinta-
feira)
Andradas,
1545
andar
Reunião entre todos os
encarregados dos
postos eleitorais do PC
CP21.08.1945p10
26/08/1945
(domingo)
Praia de Belas,
1576
09:30h Reunião preparatória
para a instalação
oficial da célula do
Menino Deus
CP25.08.1945p8
26/08/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência CP25.08.1945p3 João Alberto Schenkel
Filho falaria sobre a
necessidade de uma
assembléia
constituinte.
27/08/1945
(segunda-
feira)
Instalação da célula da
Doca Fluvial
LIB01.09.1945p6
30/08/1945
(quinta-
feira)
Bairro
Teresópolis
20h Comício Pró-
Constituinte
LIB01.09.1945p6
CP29.08.1945p8
CP30.08.1945p8
Promovido pelo CM
30/08/1945
(quinta-
feira)
Sociedade
Espanhola
20h Instalação do primeiro
MUT de POA
CP30.08.1945p8 Congregaria a classe
bancária.
1º/09/1945
(sexta-feira)
Voluntários da
Pátria, 311
Pleno do Comitê
Municipal
CP29.08.1945p8
02/09/1945
(domingo)
Voluntários da
Pátria, 311
Pleno do Comitê
Municipal
CP29.08.1945p8
02/09/1945
(domingo)
Praia de Belas,
1576
09h Reunião preparatória
para o lançamento
solene da célula
Menino Deus
CP30.08.1945p8
02/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Conferência CP28.08.1945p3
CP30.08.1945p3
Yolanda Mendonça
falaria sobre
“Assistência às
famílias dos detentos”.
05/09/1945
(quarta-
feira)
Sociedade
Gaúcho
Carnavalesco
(Praça
Garibaldi)
20h Lançamento da célula
comunista do Menino
Deus
CP05.09.1945p8
CP06.09.1945p8
CP30.08.1945p8
07/09/1945
(sexta-feira)
Sessão Cívica em
comemoração à
Independência da
Pátria
LIB01.09.1945p6
09/09/1945 Sociedade Conferência DN11.09.1945p4 O professor
238
(domingo) Espanhola Antonópoles falaria
sobre “A Grécia
através dos tempos”.
09/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Hora de Arte DN11.09.1945p4 Com Lupicínio
Rodrigues, Jeca Tatu e
o Regional.
10/09/1945
(segunda-
feira)
Instalação Solene do
Comitê Municipal de
POA
LIB01.09.1945p6
CP29.08.1945p8
13/09/1945
(quinta-
feira)
Andradas,
1737
18h Reunião Célula
Faculdade de Filosofia
CP12.09.1945p12
14/09/1945
(sexta-feira)
Largo próximo
ao Cine Teatro
Castelo
(Azenha)
20h Comício Pró-
Constituinte
CP11.09.1945p12
15/09/1945
(sábado)
Andradas,
1737
20h Ativo Sindical CP11.09.1945p12
15/09/1945
(sábado)
Sociedade
Espanhola
11h Reunião com os
estudantes de Direito
interessados em ajudar
a Comissão Central de
recepção a Prestes.
CP15.09.1945p4
15/09/1945
(sábado)
Praça Pinheiro
Machado
(Navegantes e
São João)
Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP15.09.1945p4
15/09/1945
(sábado)
Sociedade
Espanhola
16h Reunião dos
responsáveis pela
divulgação do
Comício a Prestes
CP15.09.1945p4
16/09/1945
(domingo)
Teatro Orfeu 10h Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP15.09.1945p4
CP16.09.1945p22
16/09/1945
(domingo)
Vila Niterói 14h Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP16.09.1945p22
16/09/1945
(domingo)
Mont’Serrat 20:30h Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP15.09.1945p4
16/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
10h Ativo Político do
secretariado geral das
células
CP15.09.1945p8
16/09/1945
(domingo)
Andradas,
1737
20h Reunião dos
Estudantes comunistas
da Célula Faculdade
de Direito
CP11.09.1945p12
16/09/1945
(domingo)
9h Assembléia para
estruturação da célula
Aberta dos Morros
CP16.09.1945p22
16/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
10h Reunião dos
secretários políticos
das células dos bairros
e empresas
CP16.09.1945p22
16/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
16h Sabatina sobre os
discursos de Prestes e
Abílio Fernandes
CP16.09.1945p22 As perguntas seriam
respondidas pelos
integrantes do Comitê
Municipal e Estadual,
além dos srs. Amarílio
Vasconcelos e Pedro
239
Pomar, do Comitê
Nacional.
16/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Conferência DN11.09.1945p4 Jorge Bahlis falaria
sobre “Alguns aspectos
interessantes da
revolução mexicana”.
Entrada franca.
16/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Hora de Arte DN11.09.1945p4 Dirceu Alves e seu
conjunto apresentariam
a comédia de Artur
Azevedo “Amores por
Provérbios”.
Entrada franca.
17/09/1945
(segunda-
feira)
Andradas,
1737
20h Ativo de Organização
do secretariado de
organização de todas
as células
CP12.09.1945p12
CP15.09.1945p8
17/09/1945
(segunda-
feira)
Cais do Porto 18h Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP16.09.1945p22
17/09/1945
(segunda-
feira)
Fábrica Fiateci
16:30h Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP16.09.1945p22
17/09/1945
(segunda-
feira)
17h Reunião da comissão
estudantil ao Comício
a Prestes
CP16.09.1945p22
CP19.09.1945p8
17/09/1945
(segunda-
feira)
Cidade Baixa 20:30h Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP16.09.1945p22
17/09/1945
(segunda-
feira)
Sociedade
Espanhola
20:30h Conferência CP16.09.1945p22
CP18.09.1945p12
Dyonélio Machado
abordaria aspectos do
“chefe comunista”.
18/09/1945
(terça-feira)
Glória Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP18.09.1945p12
18/09/1945
(terça-feira)
Estação
Diretor
Pestana
(Navegantes)
Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP18.09.1945p12
18/09/1945
(terça-feira)
Bar Turubi
(Cristóvaão
Colombo)
19:30h Reunião da sub-
comissão do bairro
Floresta (para a
recepção a Prestes)
CP18.09.1945p12
19/09/1945
(quarta-
feira)
Sociedade
Espanhola
20:30h Audição musical
Festival
CP16.09.1945p22
CP18.09.1945p12
A renda do festival
seria destinada à
organização da
recepção a Prestes.
19/09/1945
(quarta-
feira)
Praça Menino
Deus
Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP19.09.1945p8
19/09/1945
(quarta-
feira)
Ipanema
Hidráulica
Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP19.09.1945p8
19/09/1945
(quarta-
feira)
Fábrica de
Vidros
(Navegantes)
Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP19.09.1945p8
19/09/1945
(quarta-
feira)
Sociedade
Espanhola
20h Reunião da Comissão
Central com os
moradores do
distrito
CP19.09.1945p8
240
19/09/1945
(quarta-
feira)
Sociedade
Espanhola
20:30h Conferência CP19.09.1945p8 Amarílio Vasconcelos
falaria sobre “Prestes e
os Comitês Populares”.
20/09/1945
(quinta-
feira)
Sociedade
Espanhola
15h Conferência CP19.09.1945p8 Pedro Pomar falaria
sobre “Prestes e a
situação política”.
22/09/1945
(sábado)
Sacada
Livraria Celso
Freire
(Andradas)
Dia
inteiro
Comício Continuado
(preparatório)
CP18.09.1945p12 Os oradores se
revezavam sem parar
até a noite.
22/09/1945
(sábado)
Praça
Montevideo
20h ‘grande comício de
encerramento da
quinzena pró-
Constituinte e
preparatório à
recepção de Prestes’
Fundo Polícia
Política – Estados –
Pasta 19b – f. 00334
Oradores discursavam
e exemplares de
“Libertação”
circulavam.
26/09/1945
(quarta-
feira)
Praça Jaime
Teles
Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP27.09.1945p8 Os comícios
preparatórios eram
assistidos por Amarílio
Vasconcelos e Pedro
Pomar. Cf. Fundo
Polícia Política
Estados Pasta 19b
f. 00334
26/09/1945
(quarta-
feira)
Praça Dalto
Filho
Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP27.09.1945p8
26/09/1945
(quarta-
feira)
Tristeza
(bairro)
Comício preparatório
para a recepção de
Prestes
CP27.09.1945p8
26/09/1945
(quarta-
feira)
Renner
(empresa)
Comício relâmpago
em preparação a
recepção de Prestes
CP27.09.1945p8
26/09/1945
(quarta-
feira)
Senai Comício relâmpago
em preparação a
recepção de Prestes
CP27.09.1945p8
26/09/1945
(quarta-
feira)
Wallig Comício relâmpago
em preparação a
recepção de Prestes
CP27.09.1945p8
26/09/1945
(quarta-
feira)
Fábrica de
Meias
Comício relâmpago
em preparação a
recepção de Prestes
CP27.09.1945p8
26/09/1945
(quarta-
feira)
Neugebauer Comício relâmpago
em preparação a
recepção de Prestes
CP27.09.1945p8
27/09/1945
(quinta-
feira)
Teatro São
Pedro
À noite Conferência CP26.09.1945p4
CP29.09.1945p8
Álvaro Moreira falaria
sobre o “Partido
Comunista e os
Intelectuais”.
27/09/1945
(quinta-
feira)
Andradas,
1737
21h Reunião com as
“senhoras e
senhoritas” inscritas
no Partido
CP27.09.1945p8
28/09/1945
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
20h Reunião de jovens CP27.09.1945p8
30/09/1945
(domingo)
Parque
Farroupilha
15h Comício Rio Grande
do Sul a Luiz Carlos
Prestes
30/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Depois
do
Visita de Prestes
Reunião de estudantes
Fundo Policia
Política – Estados –
241
comício e membros do PCB Pasta 19b – f. 00341-
00342 – 02.10.1945
30/09/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Apresentação da peça
“O Homem Bom”, de
Silvino Lopes
XAVIER,
Geminiano Candiota.
Memórias de um
velho militante.
(Documentos para a
História Operária do
Rio G. do Sul). Porto
Alegre: 1985.
01/10/1945
(segunda-
feira)
Comitê
Estadual
Edifício
Malakoff
À tarde Visita de Prestes.
Reunião com os
dirigentes estaduais.
Fundo Policia
Política – Estados –
Pasta 19b f. 00342
– 02.10.1945
Prestes haveria dito a
Pinheiro Machado que,
caso a estratégia não
desse certo, mudaria os
métodos e partiria para
a revolução.
01/10/1945
(segunda-
feira)
Comitê
Municipal
Andradas,
1737
À tarde Visita de Prestes Fundo Policia
Política – Estados –
Pasta 19b f. 00342
– 02.10.1945
01/10/1945
(segunda-
feira)
Cine-teatro
Orfeu (bairro
Floresta)
20h Sabatina com Prestes Fundo Policia
Política – Estados –
Pasta 19b f. 00342
– 02.10.1945
Várias interpelações do
ministro da Igreja
Metodista do Brasil,
Derly Chaves.
07/10/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Assembléia dos
membros do Clube de
Cultura Popular
“Euclides da Cunha”
CP11.10.1945p4 Eram 518 membros.
07/10/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência DN03.10.1945p4 Dr. Rui Vieira da
Rocha falaria sobre a
Penicilina.
Entrada franca.
07/10;1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Hora de Arte DN03.10.1945p4 Com o grupo teatral
Euclides da Cunha.
Entrada franca.
12/10/1945
(sexta-feira)
Andradas,
1737
20h Reunião dos
secretários eleitorais
de todas as células
CP12.10.1945p5
16/10/1945
(terça-feira)
São Manoel,
2096
Assembléia para
preparar a organização
da célula do bairro
16/10/1945
(terça-feira)
Andradas,
1737
20h Balanço de divulgação CP16.10.1945p14
CP18.10.1945p4
Decisões: as células
promoveriam debates
em torno da
Constituinte e fariam
comícios pró-
constituinte.
17/10/1945
(quarta-
feira)
Andradas,
1737
20h Balanço do Comitê
Distrital 1
CP16.10.1945p14 Deveriam participar do
balanço os secretários
de todas as células que
faziam parte do C.
Distrital 1 (4º distrito).
17/10/1945
(quarta-
feira)
Avenida
Agostinho, 73
20h Assembléia da célula
dos Navegantes
CP16.10.1945p14 Secretário Político:
Nestor Vargas.
17/10/1945
(quarta-
feira)
Sociedade
Gaúchos
Carnavalescos
20h Instalação da célula da
Cidade Baixa
LIB13.10.1945p6
18/10/1945
(quinta-
Quaraí 20:30h Assembléia da célula
Teresópolis
CP18.10.1945p4
242
feira)
18/10/1945
(quinta-
feira)
Andradas,
1737
20h Assembléia Coletiva
das células Estudantis
CP18.10.1945p4
18/10/1945
(quinta-
feira)
Andradas,
1737
Reunião do
secretariado do Comitê
Municipal de POA
CP18.10.1945p4
19/10/1945
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
20h Sessão Solene em
Homenagem à Olga
Benário Prestes
CP16.10.1945p14
CP18.10.1945p4
CP20.10.1945p8
Promovida pelo
Comitê Municipal de
POA.
Salão ornamentado
com fotos da Olga, da
Leocádia e da Anita.
20/10/1945
(sábado)
Gal.
Salustiano,
194
20h Instalação da Célula
dos trabalhadores da
Energia Elétrica
CP20.10.1945p8
CP21.10.1945p10
20/10/1945
(sábado)
Praça Pinheiro
Machado
20h Comício pela
Assembléia
Constituinte
LIB27.10.1945p2 Promovido pelo
Comitê Popular dos
bairros o João e
Navegantes.
21/10/1945
(domingo)
Ramiro
Barcelos, 1539
20h Assembléia da célula
Rio Branco-Bom Fim
CP20.10.1945p8
23/10/1945
(terça-feira)
Teatro São
Pedro
Sessão Solene de
Convocação da
Assembléia
Constituinte
LIB27.10.1945p2 Promovido pelo MUT
(Movimento
Unificador dos
Trabalhadores).
Presença de Abílio
Fernandes e Sérgio
Holmos (presidente do
MUT estadual).
24/10/1945
(quarta-
feira)
Sede dos
Gaúchos
Carnavalesco
20:30h Debates públicos sobre
a Constituinte
CP21.10.1945p10 Presença dos dirigentes
do Comitê Estadual.
24/10/1945
(quarta-
feira)
Felix da
Cunha, 337
20h Reunião do Comitê
Distrital 1
CP24.10.1945p4
24/10/1945
(quarta-
feira)
São Joaquim,
201
20:30h Assembléia da célula
Glória
CP24.10.1945p4
25/10/1945
(quinta-
feira)
José de
Alencar -
Menino Deus
(Sede da
célula La
Passionaria)
Organização do C. D.
nº 4
Reunião Distrital nº 4
Fundo DPS
Série Dossiês
Dossiê “Comitê
Estadual do Rio
Grande do Sul”
Notação 30101
f. 26
CP24.10.1945p4
Assistência de
Francisco Medeiros, do
CM, que indicou
Flávio Argolo para o
cargo de Secretário
Político do CD4.
26/10/1945
(sexta-feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
20:30h Assembléia
Extraordinária da
célula Rio Branco-
Bom Fim
CP24.10.1945p4
CP25.10.1945p4
26/10/1945
(sexta-feira)
Andradas,
1737
20h Reunião da célula da
Estiva
CP25.10.1945p4
26/10/1945
(sexta-feira)
Sede do
Comitê
Estadual
(Edifício
Malakoff)
20h Reunião sindical CP25.10.1945p4
243
27/10/1945
(sábado)
Andradas,
1737
20h Fundação do Comitê
Distrital nº 2
CP27.10.1945p8
27/10/1945
(sábado)
São Pedro,
3611
20h Reunião da célula São
João-Navegantes
CP27.10.1945p8
28/10/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
09h Balanço Eleitoral CP25.10.1945p4
CP27.10.1945p8
28/10/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Palestra CP27.10.1945p3 Promovida pelo Centro
de Cultura Popular
Euclides da Cunha.
Palestra com Jorge
Bahlis sobre “Aspectos
Impressionantes da
Revolução Agrária
Mexicana”.
Entrada franca.
30/10/1945
(terça-feira)
20h Assembléia Geral da
célula Partenon
CP28.10.1945p5
30/10/1945
(terça-feira)
Benjamin
Constant, 444
20h Assembléia da célula
São João
CP28.10.1945p5
CP30.10.1945p4
30/10/1945
(terça-feira)
Andradas,
1737
Reunião entre o
Comitê municipal e os
representantes das
células de empresas e
de bairros
CP28.10.1945p5
30/10/1945
(terça-feira)
Andradas,
1737
20h Assembléia geral da
célula do Centro
CP30.10.1945p4
31/10/1945
(quarta-
feira)
20:30h Assembléia da célula
da Glória
CP30.10.1945p4
31/10/1945
(quarta-
feira)
Felix da
Cunha, 337
20h Reunião do Comitê
Distrital nº 1
CP30.10.1945p4
04/11/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Hora de Arte CP02.11.1945p5
04/11/1945
(domingo)
Reunião do
secretariado da célula
São João
CP06.11.1945p12
06/11/1945
(terça-feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
Assembléia geral da
célula Bom fim-Rio
Branco
CP07.11.1945p10
CP08.11.1945p8
06/11/1945
(terça-feira)
Reunião da célula da
Faculdade de Direito
CP07.11.1945p10
06/11/1945
(terça-feira)
João Pessoa,
1.003
Assembléia Geral da
célula Machla Berger
(Cidade Baixa)
CP08.11.1945p8 Assunto: questão
sindical.
Presença de Edgar
Curvello (CM).
06/11/1945
(terça-feira)
Reunião da célula
Mário Couto
CP08.11.1945p8
06/11/1945
(terça-feira)
Reunião da célula
Menino Deus
CP08.11.1945p8 Balanço das últimas
atividades.
07/11/1945
(quarta-
feira)
20h Assembléia geral da
célula São João
CP06.11.1945p12 Assuntos tratados:
possível criação de
uma biblioteca, escolha
do nome da célula
(patrono).
07/11/1945
(quarta-
feira)
Andradas,
1737
14h Reunião do
secretariado do Comitê
Distrital nº 2
CP07.11.1945p10
07/11/1945
(quarta-
20h Assembléia Geral da
célula do bairro São
CP07.11.1945p10 Presença de Edgar
Curvello (CM) e J. P.
244
feira) João de Bitencourt
(secretário político do
Comitê Distrital nº 1).
Escolha do nome da
célula: Moaré Martins.
08/11/1945
(quinta-
feira)
Farrapos,
2.813
20h Reunião do Comitê
Distrital nº 1
CP08.11.1945p8
09/11/1945
(sexta-feira)
Andradas,
1737
Assembléia Geral da
célula da Viação
Férrea
CP08.11.1945p8
CP10.11.1945p8
Presença de Francisco
Medeiros e Décio
Freitas (CM).
09/11/1945
(sexta-feira)
João Pessoa,
1.003
08h Reunião do
Secretariado Sindical
da célula Cidade baixa
e seus membros
operários
CP08.11.1945p8
11/11/1945
(domingo)
09h Assembléia Geral da
célula Olga Benário
Prestes
CP08.11.1945p8 Presença dos
representantes do CM.
11/11/1945
(domingo)
Ramiro
Barcelos, 1539
14h Reunião do
secretariado do Comitê
Municipal
CP09.11.1945p7
CP10.11.1945p8
CP11.11.1945p4
Assunto: análise das
últimas atividades do
Partido em POA.
Estabelecimento do
plano de ação para os
próximos dois meses.
11/11/1945
(domingo)
14h Assembléia da célula
Moaré Martins (São
João)
CP11.11.1945p4
CP14.11.1945p4
Assunto: apreciação
das últimas atividades
do Partido, situação
política nacional.
Presença de J. P.
Bitencourt (C. D. 1)
Durou 03 horas.
11/11/1945
(domingo)
09:30h Reunião do
Secretariado do
Comitê Distrital 2
CP09.11.1945p7
11/11/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Conferência CP06.11.1945p6 César Ávila falaria
sobre “Tuberculose e
Tuberculosos”.
Entrada Franca.
12/11/1945
(segunda-
feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
20h Instalação do Comitê
Distrital nº 3
CP11.11.1945p4 Presença dos
representantes do CM.
13/11/1945
(terça-feira)
Sociedade
Espanhola
Assembléia do Comitê
Distrital 2
CP09.11.1945p7
CP14.11.1945p4
Deveriam comparecer
todas as células sob sua
jurisdição.
Presença de
representantes do CM e
CE.
14/11/1945
(quarta-
feira)
Felix da
Cunha, 337
20h Reunião da célula
Floresta
CP11.11.1945p4
CP14.11.1945p4
15/11/1945
(quinta-
feira)
Largo da
Prefeitura
Comício de
apresentação dos
candidatos à deputação
federal
CP14.11.1945p4
CP15.11.1945p12
Marcaria o início da
campanha eleitoral do
PCB em POA e no
Estado.
Seria irradiado um
programa especial pela
rádio Difusora.
15/11/1945
(quinta-
Andradas,
1737
14:30h Assembléia Plenária
da célula Colégio Júlio
CP14.11.1945p4
245
feira) andar de Castilhos
15/11/1945
(quinta-
feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
16h Reunião do Comitê
Distrital nº 3
CP15.11.1945p12
16/11/1945
(sexta-feira)
Felix da
Cunha, 337
20h Reunião da célula
Floresta
CP15.11.1945p12
18/11/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Conferência CP13.11.1945p6 Com Raul Riff.
Entrada franca.
21/11/1945
(quarta-
feira)
Largo da
Prefeitura
20h Comício de
apresentação de Yedo
Fiúza
CP21.11.1945p6
CP21.11.1945p10
Comício em torno das
eleições presidenciais.
Realizaram-se vários
comícios-relâmpago
em preparação.
24/11/1945
(sábado)
Praça Pinheiro
Machado
(bairro São
João)
20h Comício* CP24.11.1945p4
CP27.11.1945p4
Pela candidatura de
Fiúza.
24/11/1945
(sábado)
Largo do
Castelo
20h Comício CP24.11.1945p4 Pela candidatura de
Fiúza.
24/11/1945
(sábado)
Campo de
Pólo (bairro
Bom Fim-Rio
Branco)
20h Comício CP24.11.1945p4
CP25.11.1945p4
Pela candidatura de
Fiúza.
25/11/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência CP24.11.1945p3 Medeiros Dantas
falaria sobre
“Alimentação
Popular”.
25/11/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Hora de Arte e Hora
Literária
CP24.11.1945p3
CP27.11.1945p6
Iria acontecer após a
conferência de Dantas.
Entrada franca.
Célio Bahlis cantara
vários sambas e
marchas.
25/11/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
17h Constituição da
comissão de
Engenheiros e
Arquitetos
CP25.11.1945p4 Pró-candidatura Yedo
Fiúza.
25/11/1945
(domingo)
Farrapos
esquina 7 de
Abril
Comício CP27.11.1945p4 Promovido pela
Comissão Central Pró-
Candidatura Yedo
Fiúza.
26/11/1945
(segunda-
feira)
Bairro
Teresópolis
20h Comício CP27.11.1945p4 Promovido pela
Comissão Central Pró-
Candidatura Yedo
Fiúza.
26/11/1945
(segunda-
feira)
João Pessoa,
1.003
20h Reunião da célula
Machla Berger
27/11/1945
(terça-feira)
Sociedade
Espanhola
20h Homenagem à
memória dos que
morreram no
movimento de 35.
CP27.11.1945p14 Homenagem à
memória dos “Heróicos
filhos do povo
brasileiro tombados na
luta contra o nazi-
integralismo”.
27/11/1945
(terça-feira)
Bairro Glória Comício CP28.11.1945p5 Pela candidatura de
Fiúza.
28/11/1945
(quarta-
feira)
Sociedade
Espanhola
18h Reunião CP28.11.1945p8 A Comissão
Organizadora estava
convocando todos os
que simpatizavam com
246
a candidatura de Fiúza.
28/11/1945
(quarta-
feira)
Largo da
Prefeitura
20h Comício-monstro de
encerramento da
campanha eleitoral
CP27.11.1945p1
28/11/1945
(quarta-
feira)
General
Câmara, 381
sala 4
Reunião do
secretariado do Comitê
Distrital nº 2
CP29.11.1945p8
29/11/1945
(quinta-
feira)
Sertório, 861 20:30h Assembléia Geral da
célula Navegantes
CP29.11.1945p8 Presença do Comitê
Distrital nº 1.
Escolha do nome da
célula.
Informe das últimas
atividades da unidade.
Leitura e discussão de
um trecho do
“Manifesto
Comunista”.
29/11/1945
(quinta-
feira)
Itapeva, 100 20:30h Assembléia Geral da
célula Passo da
Mangueira
CP29.11.1945p8 Essa célula era uma
sessão da célula São
João.
Escolha do
secretariado.
Presença do Comitê
Distrital nº 1.
29/11/1945
(quinta-
feira)
Praça Pinheiro
Machado
(bairro São
João)
20h Comício CP29.11.1945p4 Pró-candidatura Yedo
Fiúza.
29/11/1945
(quinta-
feira)
Sociedade
Espanhola
20h Conferência e
lançamento oficial da
célula Mário Couto
CP29.11.1945p8 Otto Alcides
Ohlweiller falaria sobre
“Luiz Carlos Prestes e
os problemas
nacionais”.
30/11/1945
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
09h Reunião com todos os
militantes que
atuariam como fiscais
nas eleições
CP29.11.1945p8 Também estavam
convocados todos os
secretários eleitorais,
de massas e de células.
30/11/1945
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência CP29.11.1945p3 Jorge Bahlis falaria
sobre “Como deve agir
um verdadeiro
revolucionário”.
Entrada franca.
30/11/1945
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
14h Semana em revista CP29.11.1945p3 Entrada franca.
30/11/1945
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
14h “Semana Luiz Carlos
Prestes”
CP29.11.1945p3 Orestes Timbaúva
falaria sobre a
personalidade do
“Cavaleiro da
Esperança”.
Entrada franca.
30/11/1945
(sexta-feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
17h Reunião dos
secretariados das
células Bom Fim e Rio
Branco
CP29.11.1945p8
1º/12/1945
(sábado)
Sociedade
Espanhola
20h Reunião com todos os
militantes que
atuariam como fiscais
nas eleições
CP30.11.1945p4
05/12/1945
(quarta-
Andradas,
1737
20h Reunião de todas as
“senhoras e
CP05.12.1945p8
247
feira) senhoritas” inscritas
no Partido
07/12/1945
(sexta-feira)
Duque de
Caxias, 307
20:30h Reunião do
secretariado de
organização da célula
do Gasômetro
CP05.12.1945p8
09/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência e sabatina
Semana em revista
CP04.12.1945p5
CP06.12.1945p3
Homero de Castro
Jobim falaria sobre
“Questões do
Marxismo”.
Entrada franca.
09/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Apresentação da peça
“Graças a Deus”, de
Armando Gonzaga
XAVIER,
Geminiano Candiota.
Memórias de um
velho militante.
(Documentos para a
História Operária do
Rio G. do Sul). Porto
Alegre: 1985.
09/12/1945
(domingo)
Reunião do Comitê
municipal com todos
os comitês distritais
CP11.12.1945p14
11/12/1945
(terça-feira)
Gal.
Salustinao,
192
20h Reunião com os
secretários políticos do
Comitê Distrital nº 3
CP11.12.1945p14
11/12/1945
(terça-feira)
Sociedade
Espanhola
20h Assembléia Geral com
todos os estudantes
CP11.12.1945p14
12/12/1945
(quarta-
feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
20:30h Assembléia Geral da
célula Rio Branco-
Bom Fim.
CP11.12.1945p14
16/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Conferência e sabatina CP14.12.1945p3
CP15.12.1945p3
Jorge Bahlis falaria
sobre “Marcha para a
Democracia” (primeira
aula sobre luta de
classes).
Entrada franca.
16/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
14h Hora de Arte CP14.12.1945p3
CP15.12.1945p3
Com Francisco Dias.
Ocorreria após a
conferência e a
sabatina.
Entrada franca.
16/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
noite Reprise da peça teatral
“Graças a Deus”
CP14.12.1945p3
CP15.12.1945p3
Reprise em benefício
da “Tribuna Popular”.
16/12/1945
(domingo)
Sertório, 681 Reunião da célula
Navegantes
CP18.12.1945p4 Assunto: organização e
finanças.
17/12/1945
(segunda-
feira)
General
Câmara, 381
Assembléia Geral da
célula do Centro
CP18.12.1945p4 Assunto: organização e
divulgação.
Presença de Francisco
Medeiros, secretário do
CM.
19/12/1945
(quarta-
feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
Assembléia da célula
Rio Branco – Bom
Fim
CP18.12.1945p4 O secretariado
informaria sobre as
últimas atividades da
unidade.
19/12/1945
(quarta-
feira)
Sociedade
Espanhola
20h Reunião da célula dos
Funcionários Públicos
Estaduais
CP18.12.1945p4
19/12/1945
(quarta-
feira)
Voluntários da
Pátria, 311
20:30h Reunião da Comissão
de Finanças do Comitê
Municipal
CP18.12.1945p4
248
20/12/1945
(quinta-
feira)
Sede Gaúchos
Carnavalescos
(Praça
Garibaldi)
20:30h Assembléia Geral da
célula da Cidade Baixa
CP20.12.1945p4
21/12/1945
(sexta-feira)
Marques do
Herval, 1203
20h Balanço de
organização do Comitê
Distrital 4
CP18.12.1945p4
CP20.12.1945p4
21/12/1945
(sexta-feira)
Sertório, 861 20h Reunião dos
secretários do Comitê
Distrital 1
CP20.12.1945p4
CP25.12.1945p24
22/12/1945
(sábado)
Sertório, 681 20:30h Assembléia da célula
Navegantes
CP18.12.1945p4
CP20.12.1945p4
CP25.12.1945p24
Eleição do
secretariado.
Construiria-se uma
biblioteca com a ajuda
dos membros.
22/12/1945
(sábado)
Alberto
Torres, 68
20h Reunião da célula
Mário Couto
CP22.12.1945p8
22/12/1945
(sábado)
Marques do
Herval, 1203
14h Reunião do Comitê
Municipal com os
militantes que
trabalhavam no
Hospital São Pedro.
CP22.12.1945p8
23/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
08:30h Assembléia Geral da
célula dos servidores
da Prefeitura
Municipal.
CP23.12.1945p24
CP23.12.1945p24
Assunto: organização e
divulgação das últimas
atividades da unidade.
Presença de Raul Riff
(CM).
23/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
16h Conferência
Semana em Revista
Hora de Arte
CP22.12.1945p3 Entrada franca.
23/12/1945
(domingo)
Felix da
Cunha, 337
Reunião do
secretariado da célula
Manoel Rabelo
CP23.12.1945p24
24/12/1945
(segunda-
feira)
Sertório, 681 Reunião com todos os
secretariados das
células pertencentes ao
Comitê Distrital 1
CP20.12.1945p4
24/12/1945
(segunda-
feira)
Sociedade
Espanhola
20h Reunião com todos os
secretários de células.
CP23.12.1945p24
27/12/1945
(quinta-
feira)
Início da Semana Luiz
Carlos Prestes
Debate
CP28.12.1945p10 Debate sobre o
Programa Mínimo de
União Nacional.
28/12/1945
(sexta-feira)
Semana Luiz Carlos
Prestes
Conferência
CP28.12.1945p10 Jorge Amado falaria
sobre a personalidade
de Prestes.
Entrada não seria
franca.
28/12/1945
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
Conferência
Sabatina sobre
literatura e política
CP23.12.1945p24
CP25.12.1945p24
CP29.12.1945p8
Conferencista: Jorge
Amado.
A entrada não era
franca, e a renda seria
revertida em benefício
do Partido Comunista.
Promoção e patrocínio
do Comitê Municipal.
29/12/1945
(sábado)
Sociedade
Espanhola
20h Lançamento solene da
célula Mário Couto
(Carris) com
conferência.
CP28.12.1945p10
CP29.12.1945p8
Otto Alcides
Ohlweiller falaria sobre
a União Nacional.
Dyonélio falaria do
249
papel de Prestes como
comandante da Coluna
Invicta.
Entrada franca.
30/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Semana Luiz Carlos
Prestes
Sessão Solene de
Homenagens
CP28.12.1945p10 Orestes Timbaúva
falaria sobre “Prestes e
os problemas de
organização”.
Jorge Bahlis também
falaria.
Entrada franca.
30/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Semana em Revista CP30.12.1945p7 Com Homero de Castro
Jobim.
Entrada franca.
30/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
16h Conferência e sabatina CP25.12.1945p6
CP29.12.1945p8
Jorge Bahlis falaria
sobre “Como deve agir
um verdadeiro
revolucionário”.
Entrada franca.
30/12/1945
(domingo)
Sociedade
Espanhola
16h Hora de Arte CP25.12.1945p6 Com Homero de Castro
Jobim.
Entrada franca.
30/12/1945
(domingo)
Largo da
Prefeitura
20h Comício da Vitória LIB09.01.1946p2
02/01/1946
(quarta-
feira)
Reunião da célula do
Hospital São Pedro
CP03.01.1946p7
02/01/1946
(quarta-
feira)
Sertório, 861 20h Reunião do Comitê
Distrital 1
CP03.01.1946p7
02/01/1946
(quarta-
feira)
Semana Luiz Carlos
Prestes
Conferência
CP28.12.1945p10
CP03.01.1946p7
Dyonélio Machado
falaria sobre “A
personalidade de
Prestes como
revolucionário”.
02/01/1946
(quarta-
feira)
Conferência Fundo DPS – Série
Dossiês – Doss
“Comitê Estadual do
Rio Grande do Sul”
– Notação 160 – f.
788
Otto Alcides
Ohlweiller falaria sobre
“Prestes e os problemas
nacionais”.
02/01/1946
(quarta-
feira)
Conferência Fundo DPS – Série
Dossiês – Doss
“Comitê Estadual do
Rio Grande do Sul”
– Notação 160 – f.
788
Eloy Martins falaria
sobre “Prestes e os
Sindicatos”.
03/01/1946
(quinta-
feira)
Semana Luiz Carlos
Prestes
Inauguração de um
retrato de Prestes na
sede do CM
CP28.12.1945p10
CP03.01.1946p7
Encerramento da
Semana.
03/01/1946
(quinta-
feira)
Sociedade
Espanhola
noite Semana Luiz Carlos
Prestes
Conferência
CP28.12.1945p10 Encerramento da
Semana.
Eloy Martins falaria
sobre “Prestes e os
Sindicatos”.
04/01/1946
(sexta-feira)
Reunião do Comitê
Distrital 2 com os
secretários das células
CP03.01.1946p7
250
que pertencem a ele
04/01/1946
(sexta-feira)
Felix da
Cunha, 337
Reestruturação da
célula Manoel Rabelo
CP06.01.1946p5 Presença de Lauro dos
Santos (CD1) e Plínio
Cabral.
05/01/1946
(sábado)
Sertório, 861 Assembléia da célula
Navegantes
CP06.01.1946p5 Sorteio de livro
adquirido pelos
membros da célula.
Leitura e debate de um
trecho do “Manifesto
Comunista”.
05/01/1946
(sábado)
Assembléia da célula
Moaré Martins
CP08.01.1946p4
05/01/1946
(sábado)
Reunião do
secretariado do Comitê
Municipal
CP08.01.1946p4 Revisão da situação e
das atividades do
Partido em POA.
06/01/1946
(domingo)
Reunião do
secretariado do Comitê
Municipal
CP08.01.1946p4 Revisão da situação e
das atividades do
Partido em POA.
06/01/1946
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Assembléia da célula
do Centro
CP08.01.1946p4
06/01/1946
(domingo)
Edifício
Malakoff
Assembléia da célula
da Cidade Baixa
CP08.01.1946p4
06/01/1946
(domingo)
Edifício
Malakoff
Assembléia da célula
dos Trabalhadores da
Globo
CP08.01.1946p4
07/01/1946
(segunda-
feira)
Sertório, 861 20:30h Ativo de finanças do
Comitê Distrital 1
CP06.01.1946p5
08/01/1946
(terça-feira)
Assembléia da célula
da Estiva
CP08.01.1946p4 Assuntos sindicais.
08/01/1946
(terça-feira)
Felix da
Cunha, 337
20:30h Assembléia da célula
Manoel Rabelo
(Floresta)
CP08.01.1946p4
08/01/1946
(terça-feira)
Sertório, 861 20h Ativo eleitoral e de
massa do Comitê
Distrital 1
CP08.01.1946p4
08/01/1946
(terça-feira)
Sociedade
Espanhola
Assembléia Geral da
célula dos servidores
do Porto
CP08.01.1946p4
09/01/1946
(quarta-
feira)
Ativo de divulgação
do Comitê Distrital 2
CP09.01.1946p4 Deveriam comparecer
os secretários de
divulgação das células
pertencentes a esse CD.
10/01/1946
(quinta-
feira)
Ativo Eleitoral e de
Massa do Comitê
Distrital 2
CP09.01.1946p4
10/01/1946
(quinta-
feira)
Reunião do
secretariado da célula
Lênin (Navegantes)
CP12.01.1946p4 Informe das últimas
atividades da célula.
11/01/1946
(sexta-feira)
Sertório, 861 20:30h Reunião de todas as
células de tecelões
CP12.01.1946p4
11/01/1946
(sexta-feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
20:30h Assembléia da célula
do bairro Rio Branco
CP12.01.1946p4
11/01/1946
(sexta-feira)
José de
Alencar, 201
20:30h Assembléia da célula
La Passionaria
CP12.01.1946p4
CP15.01.1946p4
Presença de Décio
Freitas, secretário de
divulgação do CM.
12/01/1946
(sábado)
Felix da
Cunha, 337
17h Assembléia da célula
Arma
CP12.01.1946p4
12/01/1946
(sábado)
Assembléia Geral da
célula Lênin
CP16.01.1946p4 Leitura de trecho do
“Manifesto
251
Comunista”.
Sorteio de livros
marxistas-leninistas.
14/01/1946
(segunda-
feira)
Felix da
Cunha, 337
Assembléia da célula
Arma
CP15.01.1946p4 Presença de membros
do CD1.
15/01/1946
(terça-feira)
Assembléia
preparatória da célula
da Cidade Baixa
CP16.01.1946p4 Assunto: divisão do
organismo.
15/01/1946
(terça-feira)
20:30h Reunião do Comitê
Distrital 1
CP16.01.1946p4 Presença de Edgar
Curvello.
16/01/1946
(quarta-
feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
20:30h Assembléia da célula
do bairro Rio Branco
CP16.01.1946p4
16/01/1946
(quarta-
feira)
José de
Alencar, 1631
20:30h Assembléia da célula
Antônio João (Menino
Deus)
CP16.01.1946p4
16/01/1946
(quarta-
feira)
Joaquim
Nabuco, 131
20:30h Assembléia
Extraordinária da
célula Machla Berger
CP16.01.1946p4
17/01/1946
(quinta-
feira)
Assembléia Geral da
célula do bairro Rio
Branco
CP15.01.1946p4
20/01/1946
(domingo)
Lançamento oficial do
Comitê Distrital 4
CP23.01.1946p5 Esse CD
supervisionaria 27
células.
22/01/1946
(terça-feira)
Sertório, 861 Assembléia Geral da
célula Aparício Cora
de Almeida
CP23.01.1946p5
22/01/1946
(terça-feira)
Pernambuco,
2481
20:30h Assembléia Geral da
célula Hermenegildo
de Assis Brasil
CP23.01.1946p5
22/01/1946
(terça-feira)
Portugal, 93 Assembléia Geral da
célula André Rebouças
CP23.01.1946p5
23/01/1946
(quarta-
feira)
Ativo do secretariado
do Comitê Distrital 2
CP23.01.1946p5
23/01/1946
(quarta-
feira)
Ativo sindical do
Comitê Distrital 3
CP23.01.1946p5
23/01/1946
(quarta-
feira)
20:30h Reunião do
secretariado da célula
Farrapos
CP23.01.1946p5
23/01/1946
(quarta-
feira)
Ramiro
Barcelos, 1539
20:30h Assembléia da célula
Rio Branco
CP23.01.1946p5
23/01/1946
(quarta-
feira)
Ativo dos secretários
políticos do Comitê
Distrital 1
CP23.01.1946p5 Assuntos: Tribuna
Gaúcha; festa de
confraternização aos
correligionários que
foram ao RJ.
26/01/1946
(sábado)
Eudoro
Berlinck, 988
Show-conferência ao
ar livre
CP16.01.1946p4 Apoio de artistas
populares.
Debate do programa
mínimo de União
Nacional.
27/01/1946
(domingo)
Sociedade
Espanhola
16h Conferência CP22.01.1946p3 Carlos Bronhomme
falaria sobre “Os
Sindicatos e o Partido
Comunista”.
252
Entrada franca.
27/01/1946
(domingo)
Sociedade
Espanhola
16h Hora de Arte CP22.01.1946p3 Com O. Correa.
Ocorreria depois da
conferência.
Entrada franca.
29/01/1946
(terça-feira)
Reunião da célula
Lígia Quintana
CP30.01.1946p5
29/01/1946
(terça-feira)
Reunião do
secretariado da célula
Rio Branco com o
secretariado do CD3
CP30.01.1946p5
29/01/1946
(terça-feira)
Largo do
Cinema
Castelo
Comício –relâmpago
em preparação ao
comício do dia 30
CP30.01.1946p5
29/01/1946
(terça-feira)
Campo de
Polo
Comício –relâmpago
em preparação ao
comício do dia 30
CP30.01.1946p5
29/01/1946
(terça-feira)
Praça do
Capitólio
Comício –relâmpago
em preparação ao
comício do dia 30
CP30.01.1946p5
29/01/1946
(terça-feira)
Praça Pinheiro
Machado
Comício –relâmpago
em preparação ao
comício do dia 30
CP30.01.1946p5
30/01/1946
(quarta-
feira)
Largo da
Prefeitura
20h Comício em
homenagem aos
candidatos comunistas
eleitos à Assembléia
Constituinte
CP30.01.1946p5 Falariam sobre o
Programa Mínimo de
União Nacional a ser
defendido pelos
deputados comunistas.
31/01/1946
(quinta-
feira)
Reunião do
secretariado da célula
Lênin
CP30.01.1946p5
02/02/1946
(sábado)
General
Câmara, 381
Reunião do
secretariado da célula
Farrapos
CP30.01.1946p5
23/02/1946
(sábado)
Largo da
Prefeitura
16:30h Comício CP23.02.1946p8
CP24.02.1946p20
Comício “Contra a
Carta fascista de 37!
Contra a carestia e a
inflação!”.
Comício não
autorizado!
25/02/1946
(segunda-
feira)
Pleno Ampliado do
Comitê Distrital nº 4
Fundo DPS Série
Dossiês Dossiê
“Comitê Estadual do
Rio Grande do Sul”
Notação 30101 f.
26
Presença de Abílio
Fernandes, Josino
Campos e Lauro P. dos
Santos, na qualidade de
Séc. de Org. do CM.
09/03/1946
(sábado)
Pleno Ampliado do
CM
Fundo DPS Série
Dossiês Dossiê
“Comitê Estadual do
Rio Grande do Sul”
Notação 30101 f.
26
Objetivo: fazer balanço
auto-crítico do trabalho
do Partido em Porto
Alegre.
Presença de Décio
Freitas.
15/03/1946
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
20h Ato público CP15.03.1946p3 Ato público de repúdio
ao regime de Franco.
29/03/1946
(sexta-feira)
Praça
Garibaldi
Comício Fundo Polícia
Política – Estados –
19b f. 00507-
00508
Orador: José Roberto
Garcia
07/04/1946
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Conferência CP10.04.1946p3 De Arapey (poeta)
falara sobre a
253
personalidade do poeta
uruguaio Milans
Martinez.
14/04/1946
(domingo)
Sociedade
Espanhola
15h Conferência
Hora de Arte
CP10.04.1946p3
CP13.04.1946p3
CP18.04.1946p3
Beatriz Bandeira falaria
sobre “Problemas
Educacionais”.
Entrada franca.
21/04/1946
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Conferência CP18.04.1946p3
CP23.04.1946p3
César Ávila falaria
sobre os fundamentos
da Dialética, sob o
título “As Bases da
Dialética”.
28/04/1946
(domingo)
Sociedade
Espanhola
15h Conferência CP18.04.1946p3
CP27.04.1946p3
Homero de Castro
Jobim falaria sobre a
dialética.
Entrada franca.
28/04/1946
(domingo)
Sociedade
Espanhola
Hora de Arte CP27.04.1946p3 Organizada por Beatriz
Bandeira.
Ocorreria após a
conferência.
Entrada franca.
05/05/1946
(domingo)
Cine-Teatro
Castelo
(Azenha)
Comício Fundo Polícia
Política – Estados –
19b f. 00507-
00508
Orador: José Roberto
Garcia.
14/08/1946
(quarta-
feira)
Argentina XI Congresso do
Partido Comunista
Fundo Polícia
Política – Estados –
19b f. 00507-
00508
Presença de José
Roberto Garcia
15/08/1946
(quinta-
feira)
Argentina XI Congresso do
Partido Comunista
Fundo Polícia
Política – Estados –
19b f. 00507-
00508
Presença de José
Roberto Garcia
16/08/1946
(sexta-feira)
Argentina XI Congresso do
Partido Comunista
Fundo Polícia
Política – Estados –
19b f. 00507-
00508
Presença de José
Roberto Garcia
17/08/1946
(sábado)
Argentina XI Congresso do
Partido Comunista
Fundo Polícia
Política – Estados –
19b f. 00507-
00508
Presença de José
Roberto Garcia
18/08/1946
(domingo)
Argentina XI Congresso do
Partido Comunista
Fundo Polícia
Política – Estados –
19b f. 00507-
00508
Presença de José
Roberto Garcia
11/10/1946
(sexta-feira)
Largo da
Prefeitura
20:30h Comício em recepção
a Luiz Carlos Prestes
CP10.10.1946p10
CP29.09.1946p24
CP12.10.1946p8
Seria irradiado pela
Rádio Farroupilha.
Os militantes estavam
em intensa atividade,
preparando cartazes,
faixas, etc., para
homenagear Prestes.
O discurso de Mário
Azambuja encontra-se
em CP20.10.46p12(a
mão).
1º/11/1946
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
14h Início do Pleno
Ampliado do Comitê
Estadual
CP03.11.1946p22 Presença de Pedro
Pomar (CE).
Discutidos os nomes
que disputariam a
254
deputação estadual
pelo PCB.
04/11/1946
(segunda-
feira)
15h Encerramento do
Pleno Ampliado do
Comitê Estadual
CP05.11.1946p14
23/11/1946
(sábado)
Reunião dos
candidatos do PCB à
Assembléia
Legislativa do RS
CP22.11.1946p10
24/11/1946
(domingo)
Reunião dos
candidatos do PCB à
Assembléia
Legislativa do RS
CP22.11.1946p10
24/11/1946
(domingo)
Dona Eugênia,
1230
Churrasco popular em
homenagem aos
candidatos do PCB
CP22.11.1946p10
30/11/1946
(sábado)
Largo da
Prefeitura
20h Comício de
propaganda eleitoral
CP27.11.1946p4
12/12/1946
(quinta-
feira)
Largo da
Prefeitura
20h Comício de
propaganda eleitoral
CP07.12.1946p10
CP11.12.1946p10
CP12.12.1946p12
CP13.12.1946p10
Promovido pelo
Comitê Municipal.
Presença de Diógenes
Arruda (CE).
Ornamentação de
Vasco Prado.
15/12/1946
(domingo)
15:30 Reunião entre os
dirigentes estaduais,
municipais, distritais e
de células
CP17.12.1946p18 Presença de Diógenes
Arruda mara ,
secretário nacional de
organização.
20/12/1946
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
20h Encerramento do
Pleno Ampliado do
Comitê Estadual
CP19.12.1946p4
28/12/1946
(sábado)
Largo da
Prefeitura
20h Comício CP22.12.1946p24
CP28.12.1946p12
02/01/1947
(quinta-
feira)
Sociedade
Espanhola
Conferência CP01.01.1947p16 Conferencista:
Maurício Gabrois.
03/01/1947
(sexta-feira)
Sociedade
Espanhola
Comemoração do
aniversário de Prestes
Conferência
CP01.01.1947p16 Falariam sobre a
personalidade de
Prestes.
03/01/1947
(sexta-feira)
Largo da
Prefeitura
Comemoração do
aniversário de Prestes
Comício
CP01.01.1947p16 Falariam os deputados
federais Maurício
Gabrois e Abílio
Fernandes.
12/01/1947
(domingo)
Largo da
Prefeitura
Comício com Prestes CP04.01.1947p8
12/01/1947
(domingo)
Capão Bonito
fim da linha
do Menino
Deus.
12h Churrasco CP04.01.1947p8 Ingresso custaria dez
cruzeiros.
16/01/1947
(quinta-
feira)
Largo da
Prefeitura
Comício
Encerramento da
Campanha Eleitoral
CP16.01.1947p8
17/01/1947
(sexta-feira)
Comício CP22.12.1946p24
08/03/1947
(sábado)
Teatro São
Pedro
Sessão de abertura do
Pleno Ampliado do
Comitê Estadual
TG11.03.1947p1
09/03/1947
(domingo)
Pleno Ampliado do
Comitê Estadual
TG11.03.1947p1
10/03/1947 Largo da Comício TG11.03.1947p1
255
(segunda-
feira)
Prefeitura Encerramento do
Pleno Ampliado do
Comitê Estadual
13/03/1947
(quinta-
feira)
Costa, 129
(Sede da
célula La
Passionaria)
20:30h Reunião para
reestruturação do
Comitê Distrital
Menino Deus
TG12.03.1947p6 Participariam os
membros das células:
La Passionaria,
Antonio João,
Vanguarda do
Trabalhador, Padre
Cacique e Marcilio
Dias.
14/03/1947
(sexta-feira)
Festa Comemorativa
ao Centenário do
Nascimento de Castro
Alves
TG12.03.1947p1
06/04/1947
(domingo)
Assembléia da célula
“25 de Março”
Fundo DPS Série
Dossiês Dossiê
“Correspondências
do Partido
Comunista do
Brasil” – f. 210
Correspondência
enviada pelo Secretário
Político da célula,
Lauro Pedroso dos
Santos, para o Comitê
Nacional. Ele mandava
cópia da Assembléia.
05/05/1947
(segunda-
feira)
Teatro São
Pedro
20h Instalação Conferência
Estadual do PCB
CP04.05.1947p15 Participariam os
delegados das cidades
do RS.
Duraria vários dias.
23/05/1947
(sexta-feira)
Fim da Conferência
Estadual do PCB
CP04.05.1947p15
05/06/1947
(quinta-
feira)
Associação
Riograndense
de Imprensa
20:30h Conferência CP05.06.1947p12 Júlio Teixeira falaria
sobre “Cancelamento
de Registros de
Partidos Políticos”.
11/07/1947
(sexta-feira)
Auditorium
Tasso Correa
(Instituto de
Belas Artes)
Rua Senhor
dos Passos
20:30h Palestra CP10.07.1947p3
CP11.07.1947p3
Manoelito de Ornellas
falaria sobre “Uma
Viagem pela Literatura
Riograndense do Sul”.
Promovido pelo Clube
de Cultura Popular
Euclides da Cunha.
11/07/1947
(sexta-feira)
Auditorium
Tasso Correa
(Instituto de
Belas Artes)
Rua Senhor
dos Passos
Concerto CP10.07.1947p3
CP11.07.1947p3
Com a pianista Zaira
Meneghelio.
Promovido pelo Clube
de Cultura Popular
Euclides da Cunha.
18/09/1947
(quinta-
feira)
Comemorações do
Primeiro Aniversário
da Promulgação da
Constituição Federal
Fundo Polícia
Política – Estados –
19b f. 00574-
00578
Presença de Júlio
Teixeira, Jover Teles e
Antônio Pinheiro
Machado
28/09/1947
(domingo)
Sociedade
Espanhola
15h Conferência
Concerto de Piano
CP25.09.1947p3
CP27.09. 1947p3
César Ávila falaria
sobre os “Problemas
Sociais da Medicina”.
11/10/1947
(sábado)
Largo da
Prefeitura
Comício Fundo Polícia
Política – Estados –
19b – f. 00502
12/10/1947
(domingo)
Largo da
Prefeitura
Comício Fundo Polícia
Política – Estados –
19b – f. 00502
07/11/1947
(sexta-feira)
Praça Parobé Comício CP08.11.1947p12 Comício dissolvido
pela polícia.
256
23/12/1947
(terça-feira)
Praça do Alto
da Bronze
20h Festa Popular de Natal
da Criança Pobre
TG23.12.1947p4
Diariamente
Rádio
Difusora
22:03h Hora do Partido
Comunista do Brasil
LIB27.10.1945contra
LIB27.10.1945p3
Duração: 10 minutos.
Diariamente
Cruzeiro 20h Programa político do
Comitê Municipal
LIB27.10.1945p3
Atividades
ordinárias
Sociedade
Espanhola
Sabatinas
Semana em Revista
Hora de Arte
CP02.11.1945p5
* Também houve comícios em Novo Hamburgo e Pelotas (CP25.11.1945p4).
** Quando cancelaram o registro do Partido, em maio de 1947, mais de 123 células foram fechadas na Capital
(CP11.10.05.1947p10).
*** No mês de fevereiro de 1946, os comunistas tiveram vários de suas manifestações, sobretudo os comícios,
proibidas e reprimidas pela polícia.
257
ANEXOS
258
Figura 1
Fonte: “A pedido. O Lançamento Oficial do Partido Comunista do Brasil, no R. G. do Sul”, Correio do
Povo, 01.08.1945, p. 6.
259
Figura 2
Fonte: “A pedido. O Lançamento Oficial do Partido Comunista do Brasil, no R. G. do Sul”, Correio do
Povo, 01.08.1945, p. 6.
260
Figura 3
Fonte: “A pedido. O Lançamento Oficial do Partido Comunista do Brasil, no R. G. do Sul”, Correio do
Povo, 01.08.1945, p. 6.
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