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na luta pela consolidação da democracia e do progresso do Brasil.
471
Em seu lugar assumiu o
advogado pelotense Júlio Teixeira, quarto candidato comunista mais votado nas eleições.
472
O clima em torno do processo de cancelamento do registro do PCB era de suspense. O
julgamento, marcado para o dia 12 de abril, foi adiado, e a expectativa permanecia grande.
Em alguns círculos já se comentava que, extinto o registro do Partido Comunista, qual seria o
destino dos deputados eleitos sob sua legenda.
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Mas, na manhã do dia 15, os militantes
sofreram um outro e inesperado golpe: a suspensão das atividades da Juventude Comunista
(JUC) pelo governo federal. Por ser considerada “perigosa à ordem política e social”, a
associação filiada ao PC teria seu funcionamento suspenso por, pelo menos, seis meses.
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Naquele dia, a bancada comunista ficou em silêncio, tanto na Câmara quanto no Senado.
475
Dois dias depois, contudo, o deputado estadual Pinheiro Machado pronunciou veemente
protesto na Assembléia Legislativa gaúcha.
Na opinião do jornalista, a JUC havia sido fechada por um Decreto-lei “muito mais
nocivo, muito mais opressor e muito mais reacionário que a própria Lei de Segurança
Nacional”, a qual, por algum tempo, havia “ofendido a dignidade do nosso povo”.
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Caracterizando o acontecido como um retrocesso, um “atentado contra a Democracia” e uma
“afronta à Constituição da República”, Pinheiro Machado manifestou-se decepcionado, mas
confiante na reversão daquele estado de coisas.
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Suas palavras, nesse sentido, são um
exemplo da postura adotada pelo PCB, de defesa da ordem e da tranqüilidade, pois ele não
cogitava uma forte reação dos comunistas contra a medida do governo e, sim, esperava que o
futuro mostrasse quem estava certo:
O futuro, os dias que vão se suceder mostrarão, à saciedade, quais aqueles que
estiveram certos nos seus caminhos, quais aqueles que colocaram o seu
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Assembléia Legislativa Estadual. Renuncia ao seu mandato o dep. Otto Alcides Ohlweiller. Correio do Povo,
01.04.1947, p. 14.
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Não encontramos, nas fontes disponíveis, as razões da renúncia de Otto. Uma hipótese que não pode ser
descartada é a de imposição do Partido. Moisés Vinhas nos conta que a Comissão Executiva do Comitê Nacional
costumava impor os secretários das unidades mais importantes ou a renúncia de deputados eleitos a despeito do
resultado das urnas, de acordo com suas necessidades estratégias.Vinhas cita o exemplo do ferroviário Mario
Scott, eleito deputado federal pelo estado de São Paulo em 1945, cujo mandato foi solicitado que renunciasse em
favor do camarada Milton Cayres de Brito, suplente. Diógenes Arruma surpreendeu-se com a resistência de
Scott, o qual chegou a chorar e falar em suicídio. O remanejamento, contudo, foi aprovado por unanimidade, e,
anos mais tarde, Scott acabou se suicidando. Cf. VINHAS, Moisés. Op. Cit., p. 90-91.
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O jornal Correio do Povo noticiou regularmente o processo contra o PCB, procurando mostrar, sobretudo,
como estavam se dando os trâmites na capital do país. Cf. Expectativa no ambiente político nacional, 11.04, p.
10; Decide-se, hoje, a sorte do Partido Comunista do Brasil, 12.04, p. 10; Provavelmente será adiado o
julgamento do processo contra o Partido Comunista, 15.04.1947, p. 14.
474
Suspensas pelo governo as atividades da Juventude Comunista do Brasil. Correio do Povo, 16.04.1947, p. 10.
475
O silêncio da bancada comunista. Correio do Povo, 16.04.1947, p. 15.
476
Anais da Assembléia do Estado do Rio Grande do Sul. Ano 1947. Vol. 2, 17.04.1947, p. 341.
477
Idem, p. 342.