incompatível com o objeto amoroso, que tem como desejo, se herdar os bens da tia,
tornar Adélia sua concubina; também utiliza termos como “noivado” e sentir-se “viúvo, sem
ocupação e sem lar” (QUEIRÓS, 1997: 878), posteriormente, quando perceber que a perdeu.
Logo a verdade aparece. A figura da criada tão comentada por Eça de Queirós aparece
para revelar o segredo. Sabendo que Adelino também é amante da prostituta e que seu
dinheiro foi usado para comprar roupa para o outro, Raposão ainda pensa se “Não seria mais
sensato e mais proveitoso acreditar nela, tolerar-lhe um fugitivo transporte pelo sr. Adelino, e
continuar a receber egoistamente o meu beijinho na orelha?” (QUEIRÓS, 1997:878).
Entretanto, configura-se clara para Teodorico a diferença entre a prostituição e o desejo.
Eleutério, o amante oficial sempre foi aceito por Teodorico como o pagador da prostituição,
enquanto ele próprio representava o amor real, a escolha de Adélia; neste caso, Eleutério era o
traído, a terceira pessoa prejudicada — precondição para a realização do amor. Diante de
Adelino, ele, o Raposão de poucos, mas presentes tostões, passa a ser o enganado, traído,
verdadeiramente humilhado por aquele que é o objeto eleito da amante. Ainda que
apaixonado, é preciso agora diminuí-la, torná-la inferior, de forma que ele não pareça o
burguês enganado e mesmo assim enamorado, por isso chama-lhe “bêbeda” (QUEIRÓS,
1997: 878). Levando a prostituta à lama, consegue fazer com que ela, seu objeto de desejo,
não seja mais digna do seu amor.
Tenta ainda assim fazer novenas para resgatar o amor de Adélia, visto que pedir à Nossa
Senhora é o mesmo que pedir à figura da mãe, que por sua vez confunde-se com a figura da
prostituta. É tarde. Ao procurá-la pela última vez, ouve como resposta a seus chamados o
que gostaria de dizer-lhe a sociedade a quem engana em sua fuga burguesa e seu caminho de
vícios: “— Atira-lhe para cima dos lombos o balde de água suja!” (QUEIRÓS, 1997: 880).
Do desejo de ir a Paris esquecer Adélia surge a oportunidade de representar a Titi em
Jerusalém, mostrar-se santo e assim assegurar a herança sem, contudo, deixar de “fartar o
bandulho”. É lá no ambiente de religião e sonho dessa viagem que irá conhecer seu outro
grande amor, mais uma vez uma prostituta, Miss Mary:
Eu, acendendo um charuto, reclamei Alpedrinha; e confiei-lhe que desejava, sem
tardança, ir rezar e ir amar. Rezar era por intenção da tia Patrocínio, que me recomendara
uma jaculatória a S. José, apenas pisasse esse solo do Egito, tomado, desde a fuga da
Santa Família em cima do seu burrinho, chão devoto como o duma Sé. Amar era por
necessidade do meu coração, ansioso e ardido. (...) Depois o triste Alpedrinha indicou-
me, a uma esquina, onde uma velha vendia canas-de-açúcar, a tranqüila rua das Duas
Irmãs. Aí (murmurou ele) eu veria, pendurada sobre a porta duma lojinha discreta, uma