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DISCUSSÃO
O diagnóstico de ASCUS/AGUS representou quase o dobro
do percentual esperado nas populações de rastreamento geral,
que deve ser de 5% ou menos.
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Segundo esses mesmos autores,
a proporção entre o diagnóstico de ASCUS e SIL esperada é de 2 a
3 para 1, inferior ao verificado neste estudo, que foi de 3,5 casos
de ASCUS para 1 de SIL. O resultado de SIL (2,6%), entretanto,
encontra-se dentro do previsto, uma vez que pesquisa
multinacional de grande porte detectou prevalência de SIL de
2,2%. No mesmo estudo verificou-se 2,9% de ASCUS, com pro-
porção de ASCUS para SIL, de 1,3.
15
A prevalência de HPV na população estudada foi significati-
vamente mais elevada entre as que apresentavam citologia alte-
rada (Grupo A), quando comparadas às com citologia dentro da
normalidade (Grupo B), com freqüências de HPV de 44,1% e
8,3%, respectivamente (Tabela 1). O percentual detectado no
Grupo A foi muito próximo do encontrado por Molano et al.,
16
na
Colômbia, onde a freqüência de HPV nas mulheres com citologia
alterada (ASCUS/AGUS, LSIL e HSIL) foi de 41%. Giuliano et
al.
17
em trabalho com mulheres mexicanas-americanas, encontra-
ram prevalência de HPV de 23,2%, subindo para 60% no grupo
com qualquer das alterações citológicas descritas como ASCUS,
LSIL e HSIL.
Estratificando as componentes do grupo A, por diagnóstico
citológico (Tabela 1), observa-se que HPV foi detectado em 34%
das pacientes com ASCUS/AGUS, 71,4% nas com LSIL e 83,3%
nas com HSIL. Comparando com estudos realizados em diversas
partes do mundo verifica-se que prevalências ainda mais eleva-
das já foram encontradas. Em trabalho realizado na Argentina,
em área considerada de alta incidência de câncer cervical uterino,
se identificou HPV em 96,4% das mulheres com citologia de
LSIL e em 100% das com HSIL.
18
Outro estudo, desenvolvido
na Universidade de Indiana, detectou prevalência de 70% e 94,4%
nas pacientes com diagnóstico citológico de ASCUS e SIL, res-
pectivamente.
19
Por outro lado, OH et al.,
20
encontraram
prevalências de HPV de 10,5%, 25% e 78,8% nas pacientes com
ASCUS, LSIL e HSIL, por eles estudadas. Em pesquisa desen-
volvida na Colômbia,
16
o HPV foi detectado em 9,1% das pa-
cientes com ASCUS/AGUS, 55,7% das com LSIL e 80% das
com HSIL. Os resultados de Giuliano et al.
17
são mais próximos
dos aqui verificados, pois encontraram prevalências de 30,4%,
69.6% e 92,9%, conforme se tratasse de ASCUS, LSIL e HSIL,
respectivamente. Noronha et al.
21
, em estudo realizado no Insti-
tuto Ofir Loiola, em Belém, Pará, identificaram HPV em 63%
das amostras obtidas por biopsia de cérvice uterina, de mulheres
com HSIL.
A freqüência de HPV em mulheres com citologia dentro dos
limites da normalidade (8,3%) (Tabela 1), esteve próxima aos
percentuais detectados por Liaw et al.
22
e Van den Brule et al.
23
e
de Giuliano et al.
17
Esses autores também utilizaram técnica de
PCR em amostras colhidas por swab de cérvice uterina. Molano
et al.,
16
encontraram percentuais mais elevados (14.9%). No es-
tudo de Tonom et al.,
18
entretanto, o índice de HPV em mulheres
com citologia considerada normal, de 42,7%, foi visivelmente
superior àqueles aqui mencionados. Dentre os fatores que po-
dem contribuir para achados tão discrepantes deve ser mencio-
nada a idade das pacientes de cada estudo. Sabe-se que a identi-
ficação do vírus em pacientes sem alterações de cérvice não é
ocorrência rara, especialmente em mulheres jovens, com idade
entre 20 e 25 anos. A queda na prevalência de HPV que ocorre a
partir dessa faixa etária parece estar relacionada à diminuição de
exposição a novos parceiros e à imunidade adquirida para certos
tipos de HPV.
24
A prevalência de HPV de risco na população dos Grupos A e
B foi de 39% (23/59) e 4,4% (19/432), respectivamente (Tabela 1).
Nas pacientes com ASCUS/AGUS, HPV com potencial
oncogênico foi detectado em 28% (13/46), enquanto nas com
LSIL em 71% (5/7), e nas com HSIL em 83% (5/6). Comparando
com resultados de Molano et al.,
16
observa-se que esses autores
verificaram que HPV de risco esteve presente em 4,6% das paci-
entes com ASCUS/AGUS, em 47,1% das com LSIL e em 70%
das com HSIL.
Corroborando com os resultados aqui apresentados, o
percentual esperado de positividade para DNA de HPV
oncogênico está situado entre 25-50% para o diagnóstico de
ASCUS e 80-85% para o de LSIL e HSIL. Na população com
citologia normal o percentual cai para 5-10%.
25
Dentre as pacientes infectadas (62/491), pode-se observar que
tipos considerados de risco para evolução maligna estavam pre-
sentes em percentual elevado, especialmente nas mulheres que já
apresentavam alteração citológica em colo uterino. Das 26
infectadas, 23 (88,4%) portavam tipos de alto risco, sendo que
nas pacientes com ASCUS/AGUS em 81,3% das positivas se
detectava HPV de risco; nas pacientes com LSIL e HSIL, 100%
das infectadas albergavam HPV de risco. Das 36 mulheres com
teste positivo para HPV e resultado citológico dentro da norma-
lidade, 19 (52,7%) estavam infectadas com HPV de risco. Houve
significativa prevalência de HPV de alto risco nas mulheres
infectadas do Grupo A em comparação às do Grupo B. Os resul-
tados de Molano et al. (2002)
16
mostraram que nas mulheres
infectadas por HPV, classificadas com diagnóstico citológico al-
terado (ASCUS/AGUS/LSIL/HSIL), os tipos considerados de
risco representavam 80% (50% nas com ASCUS, 82% nas com
LSIL e 88% nas com HSIL); taxa muito próxima aos 75% detec-
tados no grupo de mulheres com citologia considerada normal,
no qual os tipos de risco detectados infectavam 75% das positi-
vas para HPV. Noronha et al.,
22
encontraram tipos de alto risco
como responsáveis por infecção em 79% das pacientes com HPV
e HSIL.
No tocante à prevalência do HPV 16, verifica-se que esse
tipo estava presente em 31% (8/26) das mulheres infectadas por
qualquer dos tipos de HPV e com alterações em cérvice uterina à
citologia (Tabela 2) e somente em 8% (3/36) das com
Papanicolaou dentro da normalidade (Tabela 3), reforçando a
associação do tipo 16 com alterações malignas e precursoras,
muito embora esse tipo venha se mostrando o mais prevalente,
mesmo nas mulheres sem alterações em colo de útero. Liaw et
al.,
22
em estudo realizado em Taiwan, com mulheres de 30 a 64
anos, detectaram HPV 16 em 48% das mulheres positivas para
HPV com LSIL e carcinoma invasor. Molano et al.,
16
comparan-
do prevalência de HPV 16 em mulheres com resultado citológico
de LSIL e dentro da normalidade, não observaram diferença sig-
nificativa. A infecção persistente por determinados tipos de HPV
é considerada pré-requisito para o desenvolvimento de neoplasia
cervical uterina. Estudo caso controle desenvolvido por Ylitalo
et al.
26
associou carcinoma cervical com persistência de HPV 16.
Esses autores estimam que mulheres com alta carga viral de HPV
DST–J bras Doenças Sex Transm 18(2):130-136, 2006
NORONHA V et al