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(70) [...] o rico chega aqui hoje, ele quer levar qualidade. Já tem uns pobrezinhos
que querem levar quantidade, entendeu? Então, quando eu cheguei no
Mercado aqui, era kilo. Aí, eu sempre freqüentava feira [...] eu via o
pessoal com aquelas bacias grandonas, depois surgiu essa bacia
pequena. Então, eles botavam as bacias de chuchu, bacias de cenoura,
tudo da bacia grande [...] depois, surgiu a bacia pequena pra botar
pimenta, botar colorau. Foi nessa aí que eu com os outros barraqueiros
botamos as verduras nas bacias pequenas, botar três bacias por um real
[...] de tudo ele levava um pouquinho e pagava pouco. [...] Isso aí foi em
92 ou 93 que começou isso aí. [...] Agora, de uns três anos para cá não
deu mais para fazer as três por um real, e passamos a aumentar mais a
quantidade na bacia e fazemos duas por um real. [...] Quem chega no
supermercado ele vê lá um quilo de chuchu lá hoje é 1,80 o quilo
, ele
chega aqui no mercado são duas bacias por um real [...] e dá mais de um
quilo e meio (PROPRIETÁRIO 5).
O fragmento apresenta explicitamente o processo de inovação no qual a prática do uso da
bacia foi introduzida e dois grandes segmentos de clientes: os ricos, querendo qualidade, e
os pobres, querendo quantidade. Nele, fica implícito que esse último grupo é atendido pela
prática do uso das bacias, como demarca os trechos “1,80 o quilo”, “duas bacias por um
real” e “dá mais de um quilo e meio” todos tratando da questão da quantidade, enquanto a
questão da qualidade permanece silenciada após o período inicial do fragmento.
O tema da segmentação explica ainda a existência de apenas dois portes de comércios
trabalhando com produtos hortifrutícolas, as grandes lojas e os pequenos comerciantes com
barracas ou tabuleiros na rua, cada um trabalhando em segmentos distintos, com apenas uma
ou outra exceção entre os comerciantes que atuam nos tabuleiro em frente à peixaria, como
fica evidente no fragmento a seguir.
(71) Porque ali [nos tabuleiros] é considerado classe baixa, que vai ali comprar na
mão deles, pessoas menos favorecidas. Já lá na loja, a maioria que chega,
chega de carro. [...] Então, eles [nos tabuleiros] já compram a mercadoria assim,
mais barato, para poder vender mais barato. [...] Mas eu acho que é opção de
cada um. O Wagner [um dos que ficam nos tabuleiros] ele tem produtos bons
e produtos mais ou menos. A única coisa que falta ali é espaço, ele quer botar
muita coisa [...] o Antonio, o que trabalha logo na pontinha, logo chegando
assim, do lado daquela lanchonete ali, ele também, os produtos dele são bem
bons (FUNCIONÁRIO 10).