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Para Sônia, cantora lírica (soprano), essa região corresponde à fronteira entre os
médio-graves e os graves da voz. Enquanto que para Izabel, cantora de música
popular (meso-soprano), essa região parece ser percebida como a passagem para o
agudo. A falta de liberdade na região do pescoço, o empurrar a voz, a falta de folga,
e a voz cair no peitão são os termos como elas se referem à maneira anterior de
atuar nessas situações. Por outro lado, como indicadores de uma nova atitude
diante desses problemas, Izabel e Sônia indicaram a relevância do pescoço livre, o
ganhar espaço, a folga e a sensação de amplidão. Como resultados sonoros foram
referidos o aumento da ressonância, do volume e a unificação ou eliminação do
buraco entre os dois registros.
Izabel: Eu acho que tudo melhorou [com a prática da Técnica Alexander] Eu
tinha muito mais problemas de passagem, eu sou uma mezzo-soprano. E,
em geral, quem faz música popular canta muito no grave, voz de peito,
região da fala, voz de cabeça é sempre um fantasma. Eu tinha muitos
problemas de passagem e acho que esses problemas estavam ligados a
princípio, com a região do pescoço, laringe, língua. Eu nunca tinha pensado
por ex. em soltar a musculatura do pescoço, atrás, ali na nuca, mas isso é
bastante importante para que a voz soe livre. Hoje eu resolvo meus
problemas vocais não pensando em fazer o certo, achar o lugar certo para
aquela emissão, mas sim pensando em soltar músculos que possam estar
atrapalhando na emissão das notas.
Sônia: De modo que eu nunca me preocupei muito com passagem. Eu é
que não sabia fazer. Por quê? Porque eu perdia espaço, eu me usava mal.
Agora, o que eu sinto de uma maneira geral é que tudo ficou mais amplo,
desde o volume, a folga, se tem folga o agudo não sai mais apertado e o
grave também. Por que grave é muito difícil de fazer. Grave para soprano
então, para tenor, grave é muito difícil. Então a gente tem uma tendência, no
grave, a empurrar muito. Eu tenho a voz falada grave, então digamos, eu
desço fácil, mas não necessariamente timbrado. Então eu tinha muita
tendência a querer ganhar volume no grave, o quê que eu fazia, eu caia no
“peitão”. O que para mim era muito fácil, mas que é muito feio, por que na
passagem você tem um buraco enorme. Então, por exemplo, no grave foi
isso que mudou. Com o ganho do espaço esse buraco acabou. E eu não
preciso colocar “peitão”. Por que a voz, ressoa mais. [...] Quando a voz sai
com folga, ela pode até sair menos, você sente menos resultado aqui
dentro, aqui, com você, mas ela corre. Então o que eu sentia é que a minha
voz corre, eu não preciso ter um vozeirão para que a voz corra, tanto no
grave quanto no agudo.