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um pouco sobre esse primeiro ponto. O contexto teórico que Einstein tomou como ponto de partida era uma
teoria formulada 30 anos antes, por Maxwell. Essa não era a única teoria eletromagnética da época; havia outras
propostas diferentes, como as de Hermann Von Helmholtz e de Wilhelm Weber. Se estivesse se dedicando ao
assunto na década de 1870, Einstein provavelmente não optaria pela teoria de Maxwell, que era bastante estranha
para os padrões da europa continental e que não parecia melhor do que as outras. No fim da década de 1880, essa
situação mudou. Em 1887, Heinrich Hertz produziu experimentalmente e estudou as propriedades das ondas
eletromagnéticas, que haviam sido previstas pela teoria de Maxwell. Essa foi uma importantíssima confirmação
da teoria e teve um papel decisivo na crescente aceitação da teoria de Maxwell, nos anos seguintes. Logo em
seguida, iniciou-se uma corrida pela utilização prática dessas ondas, para transmissão de mensagens - o telégrafo
sem fio. Na década de 1890, a teoria de Maxwell e as ondas eletromagnéticas (ou ondas hertzianas, como eram
chamadas na época) não podiam mais ser menosprezadas por ninguém. Porém se Einstein se dedicasse aos
fenômenos eletromagnéticos em 1885, poderia ignorar o trabalho de Maxwell e desenvolver pesquisas em uma
direção totalmente diferente da que conduziu à teoria da relatividade. Ele teve sorte de não nascer 20 anos antes”
(Martins, 2005, p.25). Importa que o surgimento da teoria da relatividade estava posta pelas condições materiais;
Einstein tivesse nascido ou não, outros cientistas chegariam às mesmas conclusões. “Quase todos os resultados
obtidos por Einstein em seu primeiro artigo de 1905 sobre relatividade já haviam sido obtidos antes por Lorentz
e Poincaré. No entanto, havia uma importante diferença epistemológica entre Einstein e esses antecessores.
Enquanto Lorentz e Poincaré aceitavam a existência de um éter (seguindo as concepções de Maxwell), Einstein
negou a validade de se falar a respeito do éter, já que ele era inobservável e (segundo a atitude adotada por
Einstein nessa época) a física só deveria tratar de entes e grandezas observáveis e mensuráveis. [...] Sabe-se
como ele adquiriu essas idéias. Antes de escrever seus artigos de 1905, Einstein estudou e discutiu com um
grupo de amigos diversas obras de filosofia da ciência, dando especial atenção a três autores empiristas - David
Hume, Ernst Mach, Karl Pearson. Esses dois últimos foram cientistas/filósofos com grande influência na época,
que defendiam que a ciência deveria dedicar-se principalmente a sistematizar dados empíricos através de
generalizações, sem tentar descobrir alguma realidade oculta por trás das aparências dos fenômenos. A crítica de
Mach às concepções de espaço e tempo absolutos de Isaac Newton teve forte influência sobre o pensamento de
Einstein. Outro importante empirista da época, o químico Wilhelm Ostwald, também teve forte influência sobre
ele. Todas essas obras (exceto a de Hume) são das duas últimas décadas do século XIX. Se não estivesse sob a
influência das mesmas, é possível que Einstein tivesse adotado a mesma posição realista dos cientistas mais
velhos (como Lorentz e Poincaré), que não viam nada de errado em aceitar a existência do éter. A adoção de
uma epistemologia empirista foi uma condição necessária para que Einstein formulasse sua visão da teoria da
relatividade; e dificilmente ele adotaria essa postura se tivesse nascido em um tempo anterior e estivesse
formulando seu trabalho vinte anos antes” (Op.cit., p.26). Do mesmo modo, só foi possível a discussão entre a
relação massa e velocidade dos elétrons após 1895 não só porque nem se aceitava a existência de elétrons, mas
também porque existiam, em 1905, os pré-requisitos teóricos e experimentais para discutir esse efeito. “Uma das
conseqüências mais importantes da teoria da relatividade foi uma nova dinâmica na qual a massa dos corpos já
não é mais constante e sim uma função da velocidade. Sob o ponto de vista teórico, a idéia de uma massa
variável para partículas eletrizadas de alta velocidade surge em 1896, pelos trabalhos de J.J. Thomson, Oliver
Heaviside, George Searle e outros. Esse efeito foi deduzido inicialmente como uma conseqüência da teoria da
eletromagnética de Maxwell. A descoberta do elétron data de 1897. Nesse ano graças aos trabalhos de J.J.
Thomson e de Pieter Zeeman, foi identificado um componente sub-atômico presente em todo tipo de matéria. A
razão e/m entre sua massa e sua carga foi medida por Thomson e Walter Kaufmann em experimentos de
deflexão de elétrons de baixa velocidade e calculada por Hendrik Lorentz a partir de sua interpretação teórica do
efeito Zeeman. O estudo de deflexão de elétrons por campos eletromagnéticos exige o uso de dispositivos de alto
vácuo, que foram obtidos pela primeira vez por William Crookes, em 1879. Assim, 20 anos antes da descoberta
do elétron nem sequer existiam as condições técnicas para realizar os experimentos com raios catódicos. Depois
da descoberta do elétron os estudos experimentais se desenvolveram rapidamente, No entanto, não era possível
produzir elétron de alta velocidade (próxima à velocidade da luz) utilizando os recursos experimentais da época.
Os dispositivos de alta voltagem existentes no final do século XIX eram capazes de produzir tensões de
aproximadamente 25.000 volts, permitindo acelerar elétrons até velocidades de cerca de 30% da velocidade da
luz c. Em 1898, Phillip Lenard mediu e/m para raios catódicos com velocidades de até c/3. As medidas sugeriam
que a massa de elétrons variava com a velocidade, mas não eram conclusivas. Os primeiros experimentos que
mostraram claramente uma variação da massa dos elétrons com a velocidade foram realizados em 1901, por
Walter Kaufmann, utilizando raios beta (elétrons de alta energia emitidos por substâncias radioativas). Nesses
experimentos, os elétrons tinham velocidades entre 0,8 e 0,9 c. Os experimentos de Kaufmann foram possíveis
por causa da descoberta da radioatividade e da compreensão da natureza dos raios beta, que só ocorreu em 1899,
graças aos estudos de Ernst Rutherford (que identificou a existência de raios alfa e beta através de estudos de