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No capítulo IV, comenta como o homem primitivo se une aos outros homens, por
meio do trabalho, constituindo-se assim todos eles em colaboradores. Depois, ressalta:
Pode-se supor que a formação de famílias deveu-se ao fato de ter ocorrido um
momento em que a necessidade de satisfação genital não apareceu mais como um
hóspede que surge repentinamente e do qual, após a partida, não mais se ouve falar
por longo tempo, mas que, pelo contrário, se alojou como um inquilino permanente.
Quando isso aconteceu, o macho adquiriu um motivo para conservar a fêmea junto
de si, ou, em termos mais gerais, seus objetos sexuais, a seu lado, ao passo que a
fêmea, não querendo separar-se de seus rebentos indefesos, viu-se obrigada, no
interesse deles, a permanecer com o macho mais forte. (FREUD, 1930, p.57).
Assim, Freud descreve a formação da família primitiva baseada na necessidade de
uma permanência maior ao lado dos parceiros que iriam partilhar a satisfação sexual, de
maneira que os filhos permaneceriam juntos apenas pela vontade da mãe de não se separar
deles. A essa família primitiva estaria faltando a lei que a constitui como parte da cultura.
Nesse texto, ele se refere a outro texto seu, Totem e tabu (1912-1913), no qual acompanha o
caminho que conduz essa família primitiva à fase seguinte da vida em sociedade, às alianças
fraternas. Na fase totêmica, os irmãos se colocaram restrições mutuamente, para o novo
sistema se consolidar, sendo esses preceitos do tabu o “primeiro Direito, a primeira lei”.
Conforma-se, por conseguinte, a vida dos homens ao redor do trabalho e do amor,
transformando eros e anaké (amor e necessidade) nos pais da cultura humana.
O autor refere-se depois à diferença entre amor e cultura, estabelecendo um conflito
entre família e comunidade social. O amor como mais vinculado à mulher, fundado na
família, o que resulta difícil, às vezes, aos indivíduos se separarem, para procurar fora esse
amor que foi proibido achar dentro. A cultura permaneceria reservada mais para os homens.
Conclui, atribuindo à família a função de célula germinal da cultura, constituindo-se a cultura
como a via iniludível que leva da família à humanidade.
Em Moisés e o monoteísmo (1937-39), Freud faz um análise da figura mítica de
Moisés, comparando as duas famílias às quais ele pertenceu – a família pobre e a família real.
Ao final, confere um sentido aos fenômenos religiosos como ordenadores da sociedade;
vincula o monoteísmo aos conceitos por ele refletidos em Totem e tabu.
Por último, nas Cartas a Wilheim Fliess (1887-1902), o termo família é usado tanto
para citar as próprias famílias pessoais deles, quanto para discutir conceitos teóricos, que
nesse momento o preocupavam: complexo de Édipo, herança, neuroses, etiologia etc.
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Dediquei-me mais detidamente ao estudo dos artigos em que Freud define a família e a conceitua dentro da
sociedade e da cultura.