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JOANNA DE PAULA FILGUEIRAS
Capoeira em Tradução:
Representações Discursivas em um Corpus Paralelo Bilíngüe
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Estudos da Tradução da Universidade Federal de
Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Estudos da Tradução, na área de
concentração Teoria, Crítica e História da Tradução.
Orientadora: Profª Drª Maria Lúcia Vasconcellos
Co-Orientadora: Profª Drª Célia Maria Magalhães
FLORIANÓPOLIS
2007
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JOANNA DE PAULA FILGUEIRAS
Capoeira em Tradução:
Representações Discursivas em um Corpus Paralelo Bilíngüe
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da
Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Estudos da Tradução, na área de concentração Teoria, Crítica e História da
Tradução.
Aprovada em 14 de dezembro de 2007.
BANCA EXAMINADORA
Profª Drª Maria Lúcia Vasconcellos
ORIENTADORA
Profª Drª Célia Maria Magalhães
CO-ORIENTADORA
Prof. Dr. Marco Antônio Esteves Rocha
Prof. Dr. Lincoln Paulo Fernandes
Prof. Dr. Andréia Guerini (suplente)
COORDENADORA
FLORIANÓPOLIS, DEZEMBRO 2007.
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Para a Capoeira,
que inspirou este trabalho
AGRADECIMENTOS
À Profª Drª Maria Lúcia Vasconcellos pela orientação, paciência, apoio e incentivo;
À Profª Drª Célia Maria Magalhães pela leitura criteriosa e pelo incentivo;
À CAPES, pela bolsa de pesquisa;
Ao prof. Dr. Markus Weininger e ao prof. Dr. Walter Costa, pelas críticas ao projeto dessa
dissertação na fase de qualificação;
Ao Prof. Dr. Marco Rocha, pelos ensinamentos sobre corpora nos estudos da tradução e por
aceitar participar da Banca, realizando uma leitura atenciosa que contribuiu para o formato
atual deste trabalho; ao Prof. Dr. Lincoln Fernandes por aceitar participar da Banca,
oferecendo sugestões que enriqueceram este estudo;
À Prof.ª Drª Marie-Hélène C. Torres e à Prof.ª Drª Andréia Guerini; pelo incentivo e
gentileza;
À Marivoni e toda secretaria da PGET pela simpatia e presteza;
Aos colegas da PGET em especial a amiga Lílian Fleuri e família pelo apoio e amizade;
À capoeira, entidade misteriosa e inspiradora, para a qual dedico este texto;
À força maior pela maravilhosa e surpreendente rede de conexões da vida;
À minha mãe, Lillian DePaula, ao Vô, Paulo DePaula e ao tio, Bob DePaula (in
memorian), pela semente do interesse nos Estudos da Tradução e pelo apoio incondicional;
Ao meu pai, Aldísio Filgueiras, pela torcida fiel, apoio, amizade e amor;
À Carmen Filgueiras e ao Márcio Filgueiras, por serem meus irmãos e companheiros para
todas as horas, mesmo na distância;
À Margarida Campos e ao Jerry Schneiderman por serem os companheiros dos meus pais;
À Maria Dorothea Post Darella e família por me receberem com tanto carinho em sua casa,
quando mudei para Florianópolis;
Ao Grupo Beribazu de Capoeira, por compreender a minha escolha por novos caminhos;
Ao Gerry, meu professor, por me re-apresentar a capoeira;
À (família) Capoeira Ilha de Palmares por me fazer sentir em casa;
Às amigas Andréa Schlösser e Adriana Fangmann (e família) pelo apoio e amizade;
Ao Fábio de Oliveira, por estar ao meu lado, com carinho e paciência;
À todos que não citei,- que torceram a favor e contra ... - mas que tornaram possível a
experiência dessa dissertação: MUITO OBRIGADA!!
Vou pedir a proteção
Pra força maior nos ajudar
Pra quem vai rodar o mundo
Atrás de sabedoria
Capoeira meu itinerário
E a vida é a escola
E o mundo é o professor
Ele é mestre dos mestres
Viva o seu criador
Camaradinho
Viva meu Deus
Iê viva meu Deus camará‖
(ladainha de Gerry da Costa)
RESUMO
Este estudo integra o Projeto Interinstitucional UFMG/UFSC intitulado Corpora, Cognição e
Discurso: uma proposta interdisciplinar para os Estudos da Tradução a partir de bancos
eletrônicos de dados. A proposta desta dissertação é identificar representações discursivas
sobre a capoeira a partir da análise do perfil da Prosódia Semântica dos itens lexicais
capoeir*, malícia, mandinga e malandr* no corpus paralelo bilíngüe composto pelos livros:
Capoeira. Pequeno Manual do Jogador (2002), de Nestor Capoeira e sua re-textualização The
little capoeira book (2003), feita por Alex Ladd. Para fins dessa pesquisa, são consideradas
palavras-chave os vocábulos que expressam idéias e valores no corpus de estudo (conforme
Williams, 1976) e que ocorrem com freqüência relativa muito alta ou baixa quando
comparado a um corpus de referência (com auxílio da ferramenta keywords do software WS
Tools). A pesquisa é desenvolvida a partir das Abordagens Discursivas aos Estudos da
Tradução (ADET), com enfoque na noção na linguagem enquanto semiótica social, conforme
a Lingüística Sistêmico Funcional (LSF), e no fenômeno colocacional - com exploração do
conceito de Prosódia Semântica (PS) - identificado no corpus em estudo a partir de
ferramentas computacionais. Os resultados finais apontam para diferenças na observação do
fenômeno colocacional, que influenciam no perfil da PS dos itens lexicais analisados - na
textualização (o texto de partida) e na re-textualização (o texto de chegada) - e mostram a
importância de se relacionar os dados obtidos eletronicamente aos contextos em que as obras
analisadas estão inseridas.
Palavras-chave: Abordagens discursivas aos Estudos da Tradução; Lingüística Sistêmico-
Funcional; Prosódia Semântica; Capoeira em Tradução.
ABSTRACT
This study is part of the Inter-institutional project carried out conjointly by researchers of
UFMG/UFSC entitled Corpora, Cognição e Discurso: uma proposta interdisciplinar para os
Estudos da Tradução a partir de bancos eletrônicos de dados. The proposal of this thesis is to
identify discourse representations on capoeira. To do so, we will rely on the results of the
analysis of the semantic prosody (SP) profile of the lexical items capoeir*, malícia, mandinga
and malandr*, within the parallel corpus composed by the books: Capoeira. Pequeno Manual
do Jogador (2002), by Nestor Capoeira and in its re-textualization into American English,
The little capoeira book (2003), by Alex Ladd. For the purposes of this research, ‗keywords‘
are taken to be certain words that allow the observation of the different ways of looking at
culture and society (Williams, 1976) and have uncommon frequency within the parallel
corpus (identified by the software WS Tools). The research is developed from the perspective
of Discursive Approaches to Translation Studies with specific focus on the collocational
phenomenon as understood in Systemic Functional Linguistics (SFL), exploring mainly the
concept of Semantic Prosody (SP), identified in the corpus under analysis by means of
computational methodologies. The results obtained point to differences in the collocational
phenomenon, which influences the SP profile of the items analyzed - in the textualization (the
Brazilian Portuguese source text) and in its re-textualization (the American English target
text) - and make evident the importance of relating electronically obtained data to the contexts
in which the texts under study are produced and consumed.
Keywords: Discursive Approaches to Translation Studies; Systemic Functional Linguistics;
Semantic Prosody; Capoeira in Translation.
Lista de Siglas e Símbolos
ABRALIC: Associação Brasileira de Literatura Comparada
ABRAPT: Associação Brasileira de Tradutores
ADET: Abordagens Discursivas dos Estudos da Tradução
BNC: British National Corpus
CAPES: Curso de Aperfeiçoamento em Nível Superior
CELSUL: Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul
CC: Contexto da Cultura
CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CS: Contexto da Situação
DHI: Delay Human Intervention
EHI: Early Human Intervention
ETBC: Estudos da Tradução Baseados em Corpora
LSF: Lingüística Sistêmico-Funcional
NUER: Núcleo de Estudos sobre Identidade e Relações Interétnicas
OCR: Optical Character Recognition
PGET: Pós-Graduação em Estudos da Tradução
POSLIN: Pós-Graduação em Lingüística
PS: Prosódia Semântica
RT: Re-Textualização
SFL: Sistemic Functional-Linguistics
SP: Semantic Prosody
T: Textualização
UFES: Universidade Federal do Espírito Santo
UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais
UFSC: Universidade Federal de Santa Catarina
WS: WordSmith
Lista de Figuras
Figura 1: adaptada de Mathiessen (1993: 227); Butt et al 2001:1 (In: P&J, McAndrew ,
2002)...................................................................................................................................29
Figura 2: capas Halliday (1994); Halliday & Mathiessen (2004).......................................33
Figura 3: adaptada de Eggins (1994). ..............................................................................37
Figura 4: ilustrações presentes nas duas edições.................................................................57
Figura 5: plots dos itens lexicais malícia e capoeira no corpus paralelo bilíngüe.............62
Lista de Tabelas
Tabela 1: informações gerais do corpus paralelo bilíngüe..................................................54
Tabela 2: ocorrências das palavras-chave no corpus investigado.......................................60
Tabela 3: palavras com maior grau de centralidade obtidas com a ferramenta keywords..80
Tabela 4: ocorrência das palavras-chave investigadas computada pela ferramenta
keywords..............................................................................................................................81
Tabela 5: ocorrência das palavras-chave e suas flexões.....................................................89
Lista de Quadros
Quadro 1: definições para o termo Capoeira segundo Rego (1968)..................................19
Quadro 2: classificação do tipo de corpus paralelo...........................................................51
Quadro 3: comparação dos conteúdos da textualização e re-textualização........................55
Quadro 4: estendendo o potencial contextualizador das colocações..................................61
Quadro 5: restringindo as linhas de concordância..............................................................61
Quadro 6: músicas de capoeira em Lowell (1992) e Almeida (1986)................................66
Quadro 7: definições do Dicionário de Usos do Português do Brasil (Borba, 2002).........75
Quadro 8: itens lexicais mandinga, malandro e malandragem no glossário de Alex
Ladd....................................................................................................................................77
Quadro 9: colocados iguais/ semelhantes da textualização e re-textualização.................. 84
Quadro 10: colocados diferentes da textualização e re-textualização.................................85
Quadro 11: conotação NEGATIVA do item lexical malta.................................................86
Quadro 12: clusters iguais/ semelhantes na textualização e re-textualização.....................86
Quadro 13: clusters diferentes na textualização e re-textualização....................................87
Quadro 14: conotação POSITIVA do agrupamento lexical has enriched my....................88
Quadro 15: ocorrências re-textualizadas dos itens lexicais malandr*................................89
Quadro 16: ocorrências re-textualizadas dos itens lexicais malandr*................................90
Quadro17: ocorrências re-textualizadas dos itens lexicais mandinga ...............................90
Quadro 18: prosódia semântica POSITIVA........................................................................91
Quadro 19: prosódia semântica NEUTRA .........................................................................92
Quadro 20: prosódia semântica NEGATIVA.....................................................................92
SUMÁRIO
Introdução ...............................................................................................................................11
Capítulo 1: Referencial Teórico ............................................................................................18
1.i. Considerações iniciais ................................................................................................18
1.1. Definições do termo capoeira: etimologia e associações ..........................................18
1.1.1. O mito de origem .....................................................................................................20
1.1.2. De marginal a símbolo nacional ...............................................................................21
1.1.3. Discurso oral e discurso intelectual ..........................................................................24
1.2. Abordagens Discursivas em Estudos da Tradução......................................................27
1.2.1. Lingüística Sistêmico-Funcional...............................................................................30
1.2.2. Revisão das metafunções .........................................................................................34
1.2.3. Metafunção textual ..................................................................................................38
1.2.3.1. Coesão lexical e o conceito de colocação segundo Halliday e Hasan ..................39
1.3. O conceito de Colocação para os teóricos da Lingüística de Corpus..........................41
1.3.1. O conceito de Prosódia Semântica (PS) ...................................................................44
1.ii. Considerações finais .................................................................................................47
Capítulo 2: Metodologia ........................................................................................................49
2.i. Considerações iniciais ................................................................................................49
2.1. O corpus ......................................................................................................................49
2.1.1. Contextualização do corpus .....................................................................................53
2.2. A captura do texto e o software...................................................................................58
2.2.1. Digitalização.............................................................................................................58
2.2.2. O software WordSmith Tools ..................................................................................59
2.3. Decisões metodológicas ..............................................................................................63
2.3.1. Fase exploratória ......................................................................................................64
2.3.2. Palavras-chave e procedimentos de investigação ....................................................69
2.ii. Considerações finais .................................................................................................72
Capítulo 3: Análise dos dados ...............................................................................................73
3.i. Considerações iniciais ................................................................................................73
3.1. Palavras-chave‘: representações discursivas da capoeira ..........................................73
3.2. Relações lexicais, Colocações e Prosódia Semântica .................................................83
3.3. Associações lexicais nas linhas de concordância .......................................................88
3.4. Texto em contexto .......................................................................................................93
3.ii. Considerações finais .................................................................................................96
Conclusão ................................................................................................................................97
Referências Bibliográficas ...................................................................................................103
Anexos ...................................................................................................................................110
11
Introdução
“you shall judge a word by the company it keeps”
“julgue uma palavra pela companhia que ela tem”
(Firth, 1957 minha tradução)
Enquanto campo disciplinar institucionalizado, os Estudos da Tradução constitui uma área de
pesquisa recente, apesar de a tradução ser umas das práticas mais antigas da humanidade. Um
possível marco na institucionalização dessa disciplina pode ser definido a partir da
intervenção aceita como ―fundacional‖ para o campo (ver Gentzler, 1993: 92-93), feita por
James Holmes, em ―The name and nature of translation studies‖
1
. Este trabalho é uma versão
elaborada de uma fala apresentada na ―Sessão de Tradução‖ (Translation Section) do
―Terceiro Congresso Internacional de Lingüística Aplicada‖ (Third International Congress of
Applied Linguistics), ocorrido em Copenhagem, em 1972. Sua principal contribuição foi fazer
um mapeamento disciplinar, sugerir um nome para esse campo emergente e descrever sua
natureza, de tal forma a iniciar um processo de identidade disciplinar, que, ainda hoje,
encontra-se em construção.
Holmes (1988: 71) instala os Estudos da Tradução como uma disciplina empírica e propõe
uma distinção (ibid.: 71-79) entre três áreas ou ramos: (i) o ramo descritivo - preocupado em
descrever os fenômenos de tradução como eles se manifestam a nossos sentidos no ‗mundo
real‘; (ii) o ramo teórico preocupado em estabelecer princípios por meio dos quais tais
fenômenos possam ser explicados; (iii) o ramo aplicado preocupado em ―usar‖ a informação
construída em (i) e (ii) para a prática da tradução e a formação de tradutores.
1
publicada, pela primeira vez, em 1972 nos Anais da ―APPTS series of Translation Studies Section, Department
of General Literary Studies, University of Amsterdam‖ e re-publicada em outras edições como as de 1975,
1987, 1988, 2000.
12
Considerando-se esse mapeamento, a presente pesquisa se instala no âmbito dos estudos
descritivos, uma vez que pretende descrever o fenômeno da tradução em uma relação
tradutória específica, envolvendo o par de nguas português brasileiro e inglês americano, de
um volume escrito no contexto da capoeira - a grande inspiração da trajetória acadêmica da
autora.
Enquanto objeto de estudo, a capoeira foi por mim investigada na monografia
2
apresentada
como requisito para a conclusão do curso de Graduação em Ciências Sociais (UFES),
intitulada tudo dominado: a institucionalização da capoeira, que analisa a
institucionalização das práticas esportivas pelo Centro de Educação Física e Desportos dessa
instituição a partir do caso da capoeira do Curso de Extensão na Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES). A pesquisa permitiu observar os conflitos de interesses e as relações
de poder tecidas pelos discursos sobre as representações da capoeira; bem como os aspectos
simbólicos veiculados ao processo de institucionalização desta prática a capoeira - na
universidade.
A pesquisa atual retoma a investigação sobre a capoeira, agora sob um novo viés, aquele da
tradução: busca descrever as práticas tradutórias conforme observadas na tradução de um
manual na área da capoeira: Capoeira. Pequeno Manual do Jogador (2002) e The little
capoeira book (2003), de Nestor Capoeira, com a tradução de Alex Ladd. Agora, o interesse
de pesquisa parte da descrição da linguagem a partir da coleta de dados, possibilitada por
meio de metodologias e ferramentas de estudos baseados em corpus, focalizando a análise da
prosódia semântica de itens lexicais considerados palavras-chave em um corpus paralelo
2
Resultou no Artigo do Caderno Textos e Debates ; Publicação do Núcleo de Estudos sobre Identidade e
Relações Interétnicas (NUER/ UFSC). Também disponível on-line: www.cfh.ufsc.br/~nuer/artigos/capoeira.htm
13
bilíngüe constituído do texto fonte e de sua tradução, aqui denominados textualização e re-
textualização
3
, respectivamente.
O tema desta dissertação, a Capoeira em Tradução, é amparado pela linha de pesquisa Teoria,
crítica e história da tradução do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução
(PGET/ UFSC), por considerar os aspectos de especificidades culturais, históricas e
ideológicas, através de um repertório de teorias de tradução. Mas também permite uma
interface com a linha de pesquisa Lexicografia, tradução e ensino de línguas por contribuir
com a lingüística de corpus para a descrição de traduções. A pesquisa é desenvolvida a
partir das Abordagens Discursivas aos Estudos da Tradução (ADET), com enfoque na noção
de linguagem enquanto semiótica social, conforme a Lingüística Sistêmico Funcional (LSF),
fazendo uso do fenômeno colocacional e do conceito de Prosódia Semântica (PS),
identificada a partir de ferramentas computacionais.
Além dos interesses pessoais da pesquisadora, o contexto internacional no qual a capoeira está
inserida é outro ponto a sustentar a relevância desta pesquisa, uma vez que ultrapassa os
limites do corpus sob investigação. O fluxo de capoeiristas para fora do país aumenta no
início da cada 80; as razões das migrações variam desde a possibilidade de ascensão
financeira até ao aumento de status e prestígio favorecidos pela experiência internacional
(Ribeiro, 1998; Travassos, 2000; Vassalo, 2004; Ferreira, 2004). Os capoeiristas no novo país
passam a ser detentores de um capital cultural
4
em que o Brasil passa a desempenhar um
papel central enquanto fonte da capoeira. Ou seja, o Brasil passa a ser o ‗centro‘, enquanto
os países de primeiro mundo passam a desempenhar o papel de ‗periferias‘. Nesse sentido,
3
Neste trabalho, preferimos utilizar as noções de ‗textualizaçãoe re-textualização‘ (Coulthard, 1987 e Costa,
1992) em substituição aos termos ‗original‘ e ‗tradução‘, tendo em vista a complexidade e efeitos das relações
que podem se estabelecer entre estes dois últimos termos (ver, por exemplo, Arrojo 1987, 1992).
4
No sentido empregado por Bourdieu (1989) segundo qual o conhecimento é acumulado assim como o capital
mas caracterizado como uma herança puramente social constituída por um conjunto de conhecimentos,
informações, códigos lingüísticos e, também, por atitudes e posturas.
14
observa-se uma inversão na relação de ‗centros‘ e ‗periferias‘, que se sobrepõem em
diferentes níveis. Esta inversão fomenta uma idealização da ‗terra natal‘ - um local sagrado
que revitaliza e fortalece o conhecimento (Ferreira, 2004:25).
Esse fluxo, entendido como uma diáspora
5
dos capoeiristas para diversos lugares do globo,
assume cada vez mais uma dimensão transnacional
6
. A partir de meados da década de 90,
passam a existir ―tribos de capoeira transnacionais‖ (Ferreira, 2004) construídas pela
existência de uma comunidade brasileira (imaginada
7
) no exterior. Comunidade esta que é
definida a partir de um estereótipo do que é ser brasileiro: carioca ou baiano, amante do
samba, carnaval, futebol, feijoada e praticante de capoeira.
O processo diaspórico dos capoeiristas acaba por intensificar a produção de re-interpretações
sobre o que significa a capoeira e de como ela deve ser praticada. Tais interpretações/
representações têm tomado formas bastante variadas, e por isso são investigadas por alguns
estudiosos: Travassos (2000: 222) argumenta que existem ―descontinuidades em relação ao
Brasil, tanto nas formas de praticar a capoeira, quanto nos significados construídos
conjuntamente por brasileiros e norte-americanos‖. Vassallo (2004) verifica que, mesmo com
a preocupação em ―desenvolver a capoeira na França‖ e de ―promover a cultura popular
brasileira neste país‖, não existe brasileiro entre professores ou alunos do grupo pesquisado;
Ferreira (2004), por sua vez, analisa a capoeira no contexto da transnacionalidade, apontando
5
O termo diáspora é utilizado aqui de maneira mais ampla, abarcando diversos tipos de grupos sociais que
produzem novos significados e relações. (ver: Clifford, 1997; Hall, 2003).
6
O termo transnacional parte de um reconhecimento de que as comunidades diaspóricas continuam mantendo
laços com a cultura e a sociedade de suas nações de origem (para trabalhos que tratam deste tema, ver: Ribeiro,
1998/2002; Ferreira, 2004; Clifford, 1997).
7
Comunidades imaginadas (Anderson, 2002) é um conceito que permite desenvolver a idéia de uma nação
representada em outras fronteiras. Este conceito é permeado por um conjunto de significados que é atribuído
como representação de um sentimento nacionalista, pressupondo uma imagem de comunhão entre indivíduos de
uma mesma nação. Para Anderson, as comunidades não devem ser distinguidas por sua falsidade/autenticidade,
mas pelo estilo em que são imaginadas.
15
para a escolha de representação da capoeira calcada em um Brasil-Afro. De acordo com
Ferreira (ibid.), o caráter étnico racial é mais acentuado nos Estados Unidos do que no Brasil -
e a aproximação à África seria um mecanismo utilizado pelos brasileiros para se inserirem na
nova cultura, pois acionam laços de solidariedade na comunidade afro-americana.
Para investigar as representações sobre a capoeira no presente corpus paralelo bilíngüe,
utiliza-se a noção de linguagem como semiótica social, ancorada na Lingüística Sistêmico-
Funcional de Halliday (1978, 1994), segundo a qual linguagem modela ou constrói os
significados. Nessa teoria, a gramática é um potencial lingüístico que oferece uma série de
estruturas sistêmicas capazes de modelar realidade(s). Os dados coletados no presente estudo
de caso serão analisados com base em dois conceitos relacionados, contexto da cultura e
contexto da situação: (i) O contexto da cultura é um conceito inspirado em Malinowski
(1935), mais amplo que o contexto da situação, referindo-se ao ambiente político-social que
o propósito e o significado ao texto; (ii) O contexto da situação permite investigar como o
contexto da cultura chega ao texto, por meio das variáveis situacionais ou de registro, quais
sejam, o campo, relações e modo (tradução de field, tenor, e mode ver por exemplo:
Halliday 1978, 1989, 1994).
O título, Capoeira em tradução: Representações discursivas na investigação de um corpus
paralelo bilíngüe, anuncia o interesse na análise de questões referentes à tradução da
capoeira (prática cultural identificada como um símbolo da identidade brasileira) e oferece
subsídios para uma reflexão sobre o papel da tradução no delineamento e construção da
cultura de diferentes povos. O processo tradutório é entendido como uma atividade de
natureza interpretativa, presente em várias instâncias da produção humana de significados.
Assim considera-se que o indivíduo está constantemente traduzindo os vários signos presentes
no cotidiano, numa verdadeira semiótica social. Neste sentido, as representações da capoeira
16
(discursivas ou não) estão sempre associadas a uma produção de significados, que implica na
constante tradução dos signos envolvidos nesta prática.
Os itens lexicais investigados por esta pesquisa são considerados ‗chaves‘ em dois sentidos:
(i) conforme Williams (1976), cuja noção de palavras-chave permite associar a teoria social
em relação a conceitos chaves que ajudam a criar a realidade pois criam um senso de
contexto histórico - por serem significativas em certas atividades e suas respectivas
interpretações e por indicarem certas formas de pensamento (ibid, 1976:15); e, (ii) de acordo
com a ferramenta keywords do WS Tools (Scott, 1999) que considera ‗chave‘ as palavras
com freqüência relativa incomum (muito alta ou muito baixa) no corpus analisado .
Para investigar os conceitos considerados ‗chaves‘ e mostrar como importantes processos
histórico-sociais ocorrem dentro da linguagem - esta dissertação é norteada pelas Perguntas de
Pesquisa a seguir:
1. Existe um padrão de ocorrências para as palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga
e malandr*)?
2. Com que itens lexicais estas palavras-chave se associam?
3. Qual a Prosódia Semântica destas palavras?
4. Como relacionar essas associações lexicais e suas prosódias semânticas ao contexto da
situação?
5. Como relacionar essas associações lexicais e suas prosódias semânticas ao contexto da
cultura e, portanto, associá-las às questões de identidade cultural?
A partir das questões acima, podemos listar os objetivos gerais desta pesquisa da seguinte
maneira:
1. Investigar as representações discursivas da capoeira, a partir da padronização das
palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga e malandr*), e verificar sua possível
relação com questão da identidade brasileira;
17
2. Contribuir com as pesquisa do Projeto interinstitucional (UFMG/UFSC) Corpora,
Cognição e Discurso: uma proposta interdisciplinar para os Estudos da Tradução a
partir de bancos eletrônicos de dados (CNPq 477873/03-0);
3. Contribuir com as pesquisas da linha de pesquisa Teoria, crítica e história da
tradução do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET/ UFSC).
Os objetivos específicos do estudo são:
1. Analisar as colocações das palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga e malandr*)
em um corpus paralelo bilíngüe;
2. Investigar as representações discursivas sobre a capoeira a partir da prosódia
semântica de itens lexicais considerados palavras-chave no corpus paralelo bilíngüe.
Para investigar estas questões, o trabalho foi dividido nas seguintes seções: A introdução
apresenta o universo do estudo, contextualizando a investigação e apresentando os objetivos e
perguntas de pesquisa que informam o trabalho; (1.) O capítulo 1 delimita o referencial
teórico que norteia a pesquisa, a partir das definições sobre a capoeira realizadas por
intelectuais, associadas às teorias das Abordagens discursivas dos Estudos da Tradução
(ADET) com os recursos dos Estudos da Tradução Baseados em Corpora (ETBC) para
observar os padrões - na textualização e re-textualização - dos itens lexicais analisados; (2.) O
capítulo 2 descreve o desenho do corpus e o contextualiza e, em seguida, descreve os
procedimentos utilizados para capturar, preparar e analisar o corpus. Este capítulo apresenta a
metodologia para lidar com o corpus paralelo bilíngüe, definindo os critérios e as categorias
de análise utilizados na pesquisa; (3) O capítulo 3 analisa os dados obtidos com o software
WordSmith Tools (Scott, 1999) a partir dos conceitos de colocação, prosódia semântica e
texto em contexto; e, finalmente, a conclusão apresenta a discussão dos dados, bem como a
indicação das limitações e sugestões para futuras pesquisas.
18
Capítulo 1
Referencial Teórico
1.i. Considerações iniciais:
Este capítulo apresenta o referencial teórico que orienta a pesquisa, dividido em três seções
que exploram, respectivamente: (1.1.) o contexto de uma questão social e cultural que é a
capoeira - a partir das definições desse termo propostas por estudiosos do tema, com vistas a
associar os discursos construídos com as representações sobre o Brasil; conforme
manifestadas no corpus sob investigação. (1.2.) as Abordagens Discursivas aos Estudos da
Tradução (ADET), com enfoque nos conceitos básicos da Lingüística Sistêmico-Funcional
de MAK Halliday, sobretudo no que tange à metafunção textual (com enfoque na coesão
lexical) e no fenômeno colocacional, conforme Halliday e Hasan (1976); (1.3.) o conceito de
colocação, conforme explorado pelos lingüistas de corpus, bem como o conceito de Prosódia
Semântica - crucial para o desenvolvimento analítico desta pesquisa a ser investigado a
partir de ferramentas computacionais (o software WordSmith Tools). Estas seções serão
subdividas em subseções, quando for necessário.
1.1. Definições do termo capoeira: etimologia e associações
As definições para o termo capoeira conduzem a uma série de especulações sobre a sua
origem (brasileira ou africana? baiana ou carioca? rural ou urbana? Angola ou Regional?) e
sua natureza (luta, jogo ou dança?). As respostas para essas questões constituem diferentes
representações da capoeira, conforme veremos a seguir.
No que tange à etimologia do termo capoeira, a pesquisa do etnólogo Waldeloir Rego (1968)
é um dos trabalhos mais visitados. Rego (ibid.:17-27) apresenta uma variedade de
19
significados para essa palavra, significados estes que apontam ora para uma origem rural, ora
para uma origem urbana da capoeira. O Quadro 1 mostra, sucintamente, as diferentes
acepções apresentadas por Rego:
Quadro 1: Definições para o termo Capoeira segundo Rego (1968).
Definições para o termo Capoeira
Significado
Contexto
Rural
Mato que nasceu no lugar do mato que
se derrubou;
Ave encontrada em várias regiões do
Brasil.
Contexto
Urbano
Cesto para guardar capões (galos);
Jogo praticado por vadios de baixa
esfera.
Conforme o Quadro 1, podemos classificar as acepções apontadas por Rego em duas
categorias, que indicam o ambiente de origem do termo capoeira, a saber: rural ou urbano.
Assim, o contexto rural está indicado (i) na etimologia tupi-guarani: na qual o sentido do
termo Capoeira é de mato
8
; e nos (ii) catálogos e dicionários da fauna brasileira, nos quais
é listada e descrita uma ave que leva o mesmo nome
9
entre os exemplos, de utilização do
termo com esta significação, está a definição de Nascentes (1955), que compara o jogo da
capoeira com as lutas travadas pelo macho ciumento e seu rival
10
.
No que concerne os significados que sugerem uma origem urbana da capoeira, temos como
fonte (iii) a etimologia portuguesa, segundo a qual o termo é usado para se referir a um
cesto utilizado para guardar capões (galos)
11
; E também os (iv) glossários regionais
8
Esta definição de capoeira deu início a uma polêmica entre os filólogos Macedo Soares, que sugeriu ‗mato
miúdo que nasceu no lugar do mato virgem que se derrubou‘, e Beaurepaire Rohan, que sugeriu ‗roça velha‘
como tradução do termo - para os tupinólogos a tradução de Macedo Soares parece mais apropriada (sobre a
polêmica, ver Rego: 1968);
9
a ave Capoeira é também conhecida como Uru encontrada em várias regiões do Brasil.
10
Nascentes (1995) argumenta que ―naturalmente, os passos de destreza desta luta, as negaças, foram
comparadas com os destes homens que na luta simulada para divertimento lançavam mão apenas da agilidade‖
(in Rego, 1968:23);
11
Esta associação gerou ligações hipotéticas entre o termo e o jogo (da capoeira), entre as quais a explicação de
Brasil Gerson (s/d), que informa que no mercado de aves no Rio de Janeiro ―nasceu o jogo da capoeira, em
20
especializados e dicionários, entre os quais vale citar A gíria Portuguesa (1901), de Alberto
Bessa, que define o termo capoeira como ―jogo de mãos, pés e cabeça, praticado por vadios
de baixa esfera (gatuno)‖
12
(In: Rego: 1968:26).
1.1.1. O mito de origem
O antropólogo americano John Lewis (1992: 42-43) compara as definições apresentadas pelo
estudo de Rego (ibid.) com as definições do discurso oral dos capoeiristas, a partir dos dados
coletados no trabalho de campo de sua pesquisa. Deste modo, Lewis (ibid.) argumenta que as
definições do termo capoeira nos discursos dos capoeiristas estão fundamentadas ou na
etimologia portuguesa ou na tupi-guarani.
A utilização da etimologia portuguesa do termo associa a capoeira a um contexto urbano, ao
reportar-se ao antigo mercado de aves no Rio de Janeiro onde os escravos costumavam jogar
capoeira em seu tempo livre. Esta perspectiva contesta o mito de origem da capoeira, porque
defende a tese de a capoeira ser uma prática essencialmente urbana - opinião compartilhada
por alguns pesquisadores da capoeira, entre eles: Holloway (1989), Pires (1996), Soares
(1994/2001).
Mas, conforme Lewis (ibid), a utilização da etimologia tupi-guarani para o termo capoeira é
a preferida na tradição oral dos capoeiristas porque dá o pano de fundo para o mito de origem
e conecta dois fenômenos, a escravidão e a luta pela liberdade: (i) o mato secundário que
virtude das brincadeiras dos escravos que povoavam toda a rua, transportando nas cabeças as suas capoeiras
cheias de galinhas‖. Nascente (1966) aceitou a definição de Gerson, acrescentando que ―por uma metonímia res
pro persona, o nome da coisa passou para a pessoa com ela relacionada‖ (In: Rego, 1968:25)
12
Cabe acrescentar que, entre as diversas definições do termo encontradas nos dicionários e glossários, existem
também aquelas que fazem alusão aos outros sentidos já citados anteriormente em (i), (ii) e (iii). No entanto,
optei por transcrever esta especificamente porque os outros significados foram contemplados anteriormente,
além desta definição associar o jogo da capoeira a uma prática marginal.
21
nasceu no lugar da mata virgem e para onde os escravos fugiam (ii) para praticar uma
atividade marcial, escondido dos senhores de engenho (Lewis, 1992).
1.1.2. De marginal a símbolo nacional
De qualquer maneira, tendo origem em contexto rural ou urbano, existe uma associação
pejorativa ao termo capoeira devido às suas origens subalternas seja pelo seu mito de
origem, que associa a capoeira à escravidão, ou pelas inúmeras citações da capoeira nos
códigos penais levando a capoeira ser tratada como prática marginal. Essa associação da
capoeira à marginalidade foi (parcialmente) dissolvida com a incorporação da capoeira
pelo Estado Novo como um símbolo nacional, quando Vargas apresenta a capoeira como o
único esporte genuinamente brasileiro. De acordo com Filgueiras (2004:28),
não é de se estranhar que a capoeira (...) busque sua legitimidade por intermédio de instituições
desportivas, e também de ensino. Afinal (...) ‗a verdade é centrada na forma do discurso científico e
nas instituições que o produzem‘. E o esporte é a forma institucionalizada da cultura corporal,
procurando englobar as formas populares de maneira legítima.
Filgueiras (2004) chama a atenção para o caráter ‗multidimensional‘ da capoeira, geralmente
definida pelos seus praticantes de maneira plural (dança, arte, cultura brasileira, luta, esporte,
jogo, brincadeira, etc.), o que dificulta sua institucionalização enquanto esporte afinal,
tratar a capoeira como esporte exclui muitos de seus elementos. Apesar de os entrevistados
na pesquisa associarem a capoeira com valores positivos, Filgueiras (ibid.) identificou que
ainda existe uma resistência na inserção desta prática como disciplina nos currículos de
instituições de ensino devido à forte associação da capoeira ao seu mito de origem e à
marginalidade.
Ao lado das definições apontadas por Rego (ibid), Lewis (ibid) apresenta outras acepções
para o termo capoeira como malandragem, vadiação, malícia e mandinga. Estas palavras são
muito significativas no universo da capoeira - pois indicam certas formas de pensamento e
22
criam um contexto histórico - por isso são consideradas palavras-chave e recebem maior
atenção nesta pesquisa, como veremos adiante. Esta seção expõe brevemente os
sentidos/significados destes termos (malícia, mandinga e malandragem) que associam a
capoeira à construção de uma identidade brasileira.
No Brasil, a figura do malandro surge como uma oposição ao herói proposto pela ditadura
Vargas o trabalhador dedicado. De acordo com o depoimento de Muniz Sodré no livro
Capoeira. Fundamentos da malícia, de Nestor Capoeira (1992):
A malandragem, a figura do malandro, é uma coisa muito séria na compreensão da coisa brasileira
que ao nível do social é justamente aquele navegar nos interstícios e que tem uma tradição: na Europa
temos o pícaro na Itália, o malandrin na França, que tem uma posição própria em relação ao trabalho,
pois têm a consciência da exploração (comentários de Muniz Sodré in: Capoeira, 1992: 134-135).
Enquanto anti-herói, o malandro atua como ícone daqueles que se impõem ao governo,
personificando a ‗fábula das três raças‘
13
de maneira mais atualizada e mais estimulante:
O malandro diz ter muita saudade, muita preguiça e muita malícia. O brasileiro é formado por três
raças exiladas, com saudades de sua nação (...) A preguiça referencia Macunaíma (...), o herói sem
nenhum caráter, índio que logo que nasce diz sentir preguiça, herança do modernismo da década
de 20. A malícia associa-se, não só ao malandro ou danças como o samba, mas também ao
"jeitinho brasileiro" presente em todos os segmentos de nossa sociedade (Rompinelli, 2006).
Por ser adepto do famoso ‗jeitinho brasileiro‘, o malandro também se aproxima do ‗homem
cordial‘ de Sérgio Buarque de Holanda (ver Schwartz, 1995 e Rompinelli, 2006). O
malandro atua nos interstícios do poder, não estando nem na ordem, nem fora dela,
utilizando a ambigüidade como maneira de sobrevivência. De acordo com DaMatta,
o campo do malandro (...) vai numa gradação da malandragem socialmente aprovada e vista entre nós
como esperteza e vivacidade, ao ponto mais pesado do gesto francamente desonesto. (...) o malandro
corre o risco de virar o marginal pleno, deixando assim de fazer [parte] dos interstícios do sistema,
onde vive comprometido no ponto certo do equilíbrio entre a ordem e a desordem. (DaMatta,
1983:209).
O malandro possui um caráter ambíguo, ao mesmo tempo em que refuta trabalho e glorifica
a vadiação, almeja uma ‗vida boa‘ e status que podem ser verificados pela maneira como o
malandro é caricaturado (espelhando-se no burguês, no entanto cheio de exageros). Ao
13
Sobre a noção de ‗fábula das três raças‖ ver DaMatta, 1990.
23
mesmo tempo em que não pode ser confiável, é altamente carismático um exemplo é o
personagem da Disney Carioca, uma representação norte-americana do brasileiro
(Schwartz, 1995).
O termo mandinga, segundo Rego (1968:188), ―deriva de feitiço, bruxaria e nos países
latino-americanos designa o diabo‖. Também existem acepções que associam o termo à
região da África Ocidental, que leva o mesmo nome e onde havia excelentes feiticeiros.
Rego (ibid) argumenta que entre a ―capoeira em si e o candomblé existe uma independência‖
e, portanto, a referência à mandinga na capoeira (seja na música, ou no início do jogo) nada
tem de religioso, o que acontece vem por vias indiretas devido ao fato de muitos
capoeiristas da Bahia terem participação ativa nos ambientes de candomblé (ibid: 38). No
entanto, mesmo sendo desprovido de caráter religioso, o termo mandinga associado à
capoeira faz alusão ao potencial místico da capoeira, por evidenciar um possível
envolvimento do capoeirista com a magia. No sentido de ilustrar esta perspectiva, resgato o
depoimento do Mestre Curió que foi transcrito por Vieira (1998: 112):
Existem muitas partes da mandinga. Existe a mandinga da magia negra e a mandinga da malícia do
capoeirista, quando ele se diz realmente capoeirista. E com especialidade, quando ele é angoleiro.
Não que não existam elementos da regional que não sejam mandigueiros (...) Mandinga (...) é
sagacidade, você poder bater no adversário e não bater. Você mostrar que não bateu porque não
quis (...).
Deste modo, apesar da polifonia proposta pelo termo capoeira, as associações lexicográficas
apontam para uma conotação ambígua: negativa quando associada à marginalidade e a
escravidão; e positiva quando associada à cultura brasileira. Os termos malícia, malandro e
mandinga também possuem uma conotação ambígua, no entanto no caso da capoeira a
conotação positiva é predominante, como poderá ser verificado na análise do corpus paralelo
bilíngüe, com auxílio das ADET, do conceito de PS e do software WS Tools.
24
1.1.3. Discurso oral e discurso intelectual
Apesar da importância da cultura oral na difusão e manutenção da capoeira, as
representações da capoeira na literatura também contribuíram de maneira decisiva para o
formato atual do que entendemos hoje sobre esta prática. Na realidade as duas influências
da cultura oral e da literatura interagem, muitas vezes, legitimando o discurso uma da
outra. Alguns pesquisadores discutem a influência de intelectuais sobre a capoeira, entre os
quais cito o artigo do sociólogo e do historiador, respectivamente, Vieira e Assunção (1999)
e as pesquisas das antropólogas Reis (2000) e Vassallo (2003/2004).
Vieira e Assunção (1999) examinam, a partir da vasta literatura sobre a capoeira, como os
mitos associados a fatos históricos ajudam a construir uma história da capoeira marcada por
rupturas e contradições que fazem com que a história da capoeira seja contada de maneira
não-linear, e que o papel dos mitos seja o de confirmar estereótipos existentes. Deste
modo, justificam a preferência dos capoeiristas pelo mito de origem associado ao capoeira
quilombola (apresentado como um herói sinônimo de uma resistência radical à escravidão),
em detrimento ao do malandro urbano (cuja resistência seria a de um anti-herói), mesmo não
havendo documentos históricos que confirmem esta versão ao contrário do que acontece
em relação à capoeira no contexto urbano, que possui um acervo documentário. Conforme
Vieira e Assunção (ibid.), o mito de origem da capoeira ―alcança tal nível de importância que
a maioria dos pesquisadores, mesmo não dispondo de referências sólidas, não se arrisca em
contes-lo‖, mas que, entretanto, ―nenhum documento permite concluir que os integrantes
do famoso quilombo tenham praticado capoeira ou alguma outra forma de luta/jogo‖ (ibid.,
1999:84).
25
Letícia Vidor Reis (2000) argumenta que a invenção da capoeira baiana no período Vargas
seria o resultado de interesses diferentes, entre brancos e negros. Para os primeiros
interessava anular a capoeira carioca estereotipada por maltas e vadios, e para os segundos
reafirmar a idéia de ―pureza‖ da negritude baiana. O investimento oficial em relação à
capoeira se sob uma ótica esportivizante, pois o período Vargas tinha como projeto
político o resgate das manifestações culturais no sentido de constituir a identidade e a
cultura brasileira.
Reis (ibid) argumenta que, apesar de existir um projeto nacional formulado por militares no
Rio de Janeiro no início do século XX, uma tentativa de transformar a capoeira em esporte
―branco e erudito‖, o projeto eleito por Getúlio Vargas para representar a tradição nacional
foi o de proveniência baiana, que se diferenciava daquele carioca por buscar esportivizar a
capoeira de maneira ―negra e popular‖, mesmo que numa proposta regionalizante
configurada pela escolha da Capoeira Regional em detrimento da Capoeira Angola, ―a
primeira acentua a positividade do mestiço como forma de assegurar a participação social
dos negros. A outra, ao contrário, afirma a diferença étnica como estratégia de inserção na
sociedade mais ampla‖ (ibid: 98). Segundo Reis, ―as duas modalidades de capoeira
constituem, no fundo, duas estratégias possíveis para a inserção social dos negros naquele
momento histórico‖ (ibid: 99).
Vassallo (2003) analisa o período entre 1930 e 1960 para compreender o fenômeno do
‗paradigma da pureza‘ na construção do jogo da Capoeira Angola - vista por seus praticantes
como a mais autêntica. Ao contextualizar o momento de produção de certas narrativas
legitimadoras da Capoeira Angola, Vassalo (ibid) argumenta que esta modalidade não é mais
pura, mas sim fruto da relação entre capoeiristas e intelectuais. Em outro artigo, Vassallo
26
(2004) analisa como a literatura sobre a capoeira constrói uma imagem idealizada sobre a
harmonia e coesão na capoeira. Segundo Vassalo (ibid.), as principais representações que
definem a capoeira como luta de libertação ou malandragem (no sentido de resistência ao
poder) deslocam o conflito para fora da capoeira, neste sentido, o conflito existiria entre o
capoeirista oprimido e a sociedade dominante. No entanto, a autora identifica inúmeras
divergências e disputas dentro da capoeira - nas diferentes escolas de capoeira constatando
a disparidade entre o discurso veiculado pelos praticantes e as suas ações nas práticas
cotidianas. Vassallo (ibid.) argumenta que estas disputas são, na verdade, um combate
semântico no qual cada grupo luta pelo privilégio de definir a capoeira ao seu modo e deste
modo definir a maneira mais correta de praticá-la.
A pesquisa do antropólogo americano Lewis (1992: 9-13) analisa a capoeira enquanto
linguagem, a partir de uma metáfora do discurso, indicando na capoeira três canais
semióticos principais: o movimento do corpo, o musical/ instrumentos e o musical/ texto
cantado - com esta perspectiva argumenta ser possível pensar as interações físicas e os
padrões musicais no jogo, e também relacionar a interação da capoeira com o discurso
brasileiro fora da roda. Deste modo, Lewis (ibid.) apresenta a performance da capoeira, ao
mesmo tempo, como um discurso enganoso (deceptive discourse) e como um tipo de drama
social brasileiro da liberdade (theater of liberation) - nesta perspectiva a roda de capoeira
seria o palco, tanto da luta dos escravos pela sua liberdade, quanto para os oprimidos na
sociedade dominante atual.
Conforme evidenciado nas pesquisas citadas, o discurso oral dos capoeiristas e a literatura
sobre a capoeira interagem entre si e possibilitam várias representações sobre a capoeira.
Assim, as associações lexicográficas do termo capoeira apontam para uma conotação
27
ambígua: negativa quando associada à marginalidade; e positiva quando associada à cultura
brasileira. No entanto, estes valores mudam de tempos em tempos não são estáticos
conforme verificaremos na análise dos dados (Capítulo 3) mas sim coerentes com o
contexto histórico que evocam. O atual trabalho investiga o texto inserido em um contexto
cultural específico, a partir da análise da Prosódia Semântica dos itens lexicais capoeir*,
malícia, mandinga e malandr* no corpus paralelo bilíngüe, focalizando na construção da
capoeira conforme manifestadas pela textualização e re-textualização do manual escrito por
Nestor Capoeira (para contextualização do corpus ver a subseção 2.1., no Capítulo 2).
1.2. Abordagens Discursivas em Estudos da Tradução
De acordo com Munday (2001), as Análises Discursivas aos Estudos da Tradução se ocupam
com as formas como a linguagem constrói o sentido e as relações sociais de poder. Por
acreditar que a linguagem é capaz de ‗construir‘ e não ‗refletir‘ o sentido, estas Abordagens
pressupõem que a linguagem modela a realidade. Nas Abordagens Discursivas dos Estudos
da Tradução o texto não está associado apenas à linguagem escrita e passa a ser
entendido como uma unidade de significado em que se faz uso de recursos semióticos verbais, orais ou
escritos, e não verbais, como imagens, sons, gestos, dentre outros; analisado como um evento num dado
contexto sócio-cultural e histórico de produção, distribuição e consumo (Magalhães, 2005).
Nesta perspectiva, o texto só pode ser analisado dentro de seu contexto social (que se
desdobra em dois níveis diferentes: no contexto da cultura e da situação, explorados pelas
noções de gênero e de registro).
As concepções de contexto da situação e contexto da cultura utilizadas neste trabalho são
adaptadas da Lingüística Sistêmico-Funcional de Halliday (1978, 1985, 1994) e Halliday e
Mathiesse (2004), e foram inspiradas inicialmente pelos conceitos elaborados pelo
antropólogo Bronislaw Malinowski (1923, 1935) para expressar o ambiente total no qual as
28
sociedades estudadas estavam inseridas, o que incluía o ambiente verbal e a situação em que
o texto era proferido (contexto da situação). No entanto, era necessário contextualizar mais
do que ambiente imediato no qual o texto era produzido, mas também o pano de fundo
cultural que daria sentido ao ambiente situacional no qual o texto estava inserido (contexto
cultural). Estes conceitos contexto da situação e da cultura - foram posteriormente
desenvolvidos por Firth (1935, 1950, 1951) para servir aos propósitos dos estudos
lingüísticos (Halliday, 1985/1989).
Na teoria Hallidayana, a noção de contexto da situação (CS) é utilizada para explicar a inter-
relação entre texto-contexto, de tal forma a entender como e porque certas coisas são ditas ou
escritas em determinada situação (Halliday, 1985: 38-46). É configurada pelas variáveis:
campo, relações e modo - vinculadas às três metafunções (ideacional, interpessoal e textual),
respectivamente. O conceito de registro refere-se ao contexto da situação imediato no qual o
texto está inserido (sobre o quê se fala, quem são os interlocutores, de que forma a
linguagem está sendo usada), com todos seus fatores extra-lingüísticos (Halliday, 1976: 20-
21). Os fatores externos que afetam as escolhas lingüísticas na textualização e na re-
textualização são aqueles que se fazem presentes nas variáveis do registro. Na obra de
Halliday o conceito de contexto da situação foi mais explorado que o contexto da cultura
esta noção foi mais desenvolvida por outros autores (por exemplo: Eggins, 1994; Eggins &
Martin, 1997; Martin & Rose, 2007).
O contexto da cultura (CC) refere-se ao contexto geral no qual a linguagem é utilizada, ou
seja, aos aspectos que influenciam a maneira pela qual criamos significados - incluindo uma
série de crenças, práticas sociais, valores e outros tipos de aspectos culturais. Trata-se do
potencial comportamental do sistema de linguagem, pois fornece o background no qual o
29
texto deve ser interpretado (Halliday, 1985: 46), e é explorado por meio do conceito de
gênero.
Nos termos da Lingüística Sistêmico-Funcional, o conceito de gênero é definido como ―uma
configuração recorrente do significado, (...) que representa as práticas sociais de determinada
cultura‖
14
(Martin & Rose, 2007). Neste trabalho, o conceito é utilizado para descrever o
impacto do contexto da cultura sobre a linguagem visto que o uso da linguagem é
influenciado por posições ideológicas e por valores.
A Lingüística Sistêmico-Funcional de Halliday é a teoria preferida por muitos teóricos que
realizaram Análises Discursivas da Tradução, por entender a linguagem como um sistema
semiótico complexo - ou seja, linguagem como um recurso para criar significados. O termo
semiótica social deriva do conceito de signo de Stoics e Saussure (Halliday, 1989), mas
Halliday estende a definição de semiótica para ―o estudo do significado em sentido mais
geral‖
15
. O termo social admite a relação entre língua e estrutura social. A figura abaixo
apresenta como os estratos relacionam o texto ao(s) contexto(s):
Figura 1: adaptada de Mathiessen (1993: 227); Butt et al 2001:1 (In: P.&J., McAndrew, 2002).
14
In functional linguistics terms what this means is that genres are defined as a recurrent configuration of
meanings and that these recurrent configurations of meaning enact the social practices of a given culture
(Martin & Rose, 2007: 8-9).
15
―... study of meaning in its most general sense‖ (Halliday, 1989: 03).
30
De acordo com a Figura 1, a linguagem é realizada simultaneamente pelos conteúdos
semânticos, léxico-gramáticos, fonológicos e fonéticos inseridos num contexto da situação e
da cultura específicos. As partes coloridas na figura são aquelas mais exploradas nesta
pesquisa, ou seja: neste trabalho deixaremos de lado os conteúdos fonológicos e fonéticos,
privilegiando os conteúdos semânticos e léxico-gramáticos que compõe o texto, expressados
pelos contextos da cultura e da situação em questão. Como mencionado acima, esta
perspectiva da linguagem não admite a existência de um texto fora do contexto, pois a noção
de texto está inserida nos contextos da situação e da cultura.
1.2.1. Lingüística Sistêmico-Funcional
A Lingüística Sistêmico-Funcional emergiu a partir de meados da cada de 1960, com a
intervenção de Halliday (vide Pagano e Vasconcellos, 2005) no que tange a interpretação da
noção de sistema - visto como uma rede de opções semânticas, representando relações
paradigmáticas da linguagem e de função (ver, por exemplo: Language structure and
language function, 1970: 140-165). A diferença que existe no sentido atribuído à palavra
função entre a perspectiva da lingüística tradicional e a lingüística Hallidayana é assinalada
pelo próprio Halliday, como pode ser verificado na citação que segue:
no sentido mais simples, a palavra ‗função‘ pode ser pensada como um sinônino da palavra ‗uso‘,
(...) as pessoas fazem coisas diferentes com a linguagem (...) ou seja, elas esperam atingir coisas ao
falar e escrever, e em ouvir e ler, um grande número de diferentes objetivos e propósitos.
16
(Halliday, 1985:15).
Podemos afirmar que a noção de função na perspectiva Hallidayana se diferencia da
lingüística tradicional porque deixa de ser um mero sinônimo de ―uso‖ da língua. Para
Halliday, a função é algo construído dentro do sistema lingüístico o organiza. A hipótese
metafuncional (Halliday 1978: 69), como veremos adiante, propõe que o sistema lingüístico
16
―in the simplest sense, the Word ‗function‘ can be thought of as synonym for the Word use‘, (...), people do
different things with their language (…) that is, they expect to achieve by talking and writting, and by listening
and reading, a large number of different aims and different purposes‖ (Halliday, 1985: 15)
31
adulto contém em si três estratos de níveis: lexicogramática, fonologia e semântica. Este
último estrato - o semântico - composto pelos componentes funcionais, a saber: as funções
ideacional, interpessoal e textual. Deste modo, tal argumento permite sustentar a idéia de que
a linguagem pode ser um sistema modelador capaz de construir realidades, sobretudo pela
dimensão ‗experiencial‘ da função ideacional, a partir das escolhas feitas (ou não).
Pagano e Vasconcellos (2005: 164-166) discutem a diferença entre os estudos no âmbito da
Lingüística Sistêmica realizados antes e depois da proposta multifuncional de Halliday. Entre
os estudos realizados antes da proposta de Halliday, está o clássico modelo de Catford (1965)
que, apesar de oferecer categorias classificatórias úteis para a análise de estruturas
oracionais, desconsiderou a possibilidade de inserir o texto traduzido no contexto sócio-
cultural de sua produção e recepção. O modelo de Catford recebeu inúmeras críticas, entre as
quais está o fato de este modelo ainda ser informado pela noção de equivalência. No entanto,
seu modelo teve importância histórica por se contrapor ao caráter subjetivo, intuitivo e
impressionista dos estudos de então. Seu estudo foi pioneiro em apontar a interface entre os
estudos da tradução e a lingüística, mantendo as categorias propostas como referência
(mesmo negativa) na área.
De acordo com Pagano e Vasconcellos (2005: 164), a interface entre os Estudos da Tradução
e a Lingüística Sistêmico-Funcional foi sinalizada em pelo menos quatro ocasiões pelo
próprio Halliday, a saber: (i) em 1962 quando escreve um ―artigo sobre tradução, oferecendo
um modelo para a tradução assistida pelo computador, na qual a tradução é definida com
relação à ordem (...)‖. Tal proposta não foi adotada pela comunidade científica (ibid: 161);
(ii) em 1964 quando vê o resultado total da tradução como ―dois textos que se encontram em
uma relação mútua: como se cada um fosse ‗a tradução do outro‘‖ (citando o próprio
32
Halliday na página 162). Halliday quer saber até que pontos estes textos estão em relação de
tradução, o que ―desloca o eixo da noção de tradução como cópia mimética para a noção de
tradução como relação textual‖; (iii) Em 1985/1994, aponta duas possibilidades na interface
entre os estudos da tradução e a lingüística sistêmico-funcional: a) Ajudar a treinar tradutores
e interpretes; b) Projetar ‗softwares‘ para traduzir entre línguas. (ibid: 162). E também
apresenta a noção de estratificação, parâmetro crucial para a teoria; (iv) Em 2001: define
teoria da tradução como ―o estudo de como as coisas são, qual é a natureza do processo de
tradução e a relação entre textos em tradução‖. Dois pontos chamam a atenção aqui: a)
Reflexão dos lingüistas sobre tradução, a partir do paradigma sistêmico-funcional; b)
Halliday define os parâmetros de uma boa tradução. Problematiza a noção de equivalência,
deslocando esta noção para três vetores da teoria sistêmico-funcional (estratificação,
metafunção e ordem) (ibid: 162).
A edição de Halliday e Mathiessen (2004) explica como a teoria da estratificação funciona,
buscando entender ―a natureza e a dinâmica do sistema semiótico como um todo‖ (2004: 20)
- as capas, tanto do volume de Halliday (1994) quanto do volume de Halliday e Mathiessen
(2004), funcionam como importante paratexto
17
, pois ilustram a maneira como Halliday
desenvolve sua teoria para analisar a linguagem. Como verificamos a seguir, a capa da
edição de 1994 apresenta a linguagem como um sistema semiótico, a partir da hipótese da
metafunção; enquanto a capa da edição de 2004 apresenta um mapa para a compreensão da
estrutura funcional deste sistema semiótico:
17
termo usado por Gerard Genette (1987) para indicar qualquer material que ajuda melhor entender o texto tipo:
introduções, notas, capa, ilustrações, etc.
33
Figura 2: capas Halliday (1994); Halliday & Mathiessen (2004).
A capa da edição de 1994 focaliza a noção da linguagem enquanto sistema semiótico, ou
seja, sistema modelador da (s) realidade(s). As metafunções (em sua dimensão experiencial,
interpessoal e textual) são os componentes funcionais que permitem a representação,
integração e organização do mundo através da linguagem. A metáfora do ―color chart‖
(quadro das cores) referente à função Ideacional, em seu sub-componente experencial - é
utilizada para explicar, a partir das cores desta figura, como as metafuncões funcionam, nas
palavras do próprio Halliday:
a gramática constrói experiências como um círculo colorido com vermelho e amarelo como cores
primárias e o roxo, verde e laranja em suas bordas; não como um espectro físico, com o
vermelho em uma ponta e o violeta em outra
18
(1994:107).
A capa da edição de 2004 focaliza os princípios de ordem na linguagem, enfatizando (i) a
ordem sintagmática, na dimensão estrutural; (ii) a léxico-gramática, sistema que opera em
um espaço comum formado pelo léxico e sintaxe; (iii) a estratificação do contexto da
linguagem, na realização semântica, léxico-gramática, fonológica e fonética; (iv) o conceito
de instancialização, plano mais abstrato que se faz necessário porque o sistema da linguagem
é instanciado na forma de texto (Halliday e Matthiessen, 2004: 26); (v) as metafunções
(ideacional, interpessoal, textual). Para Halliday (1994, xiv), ―cada elemento em uma língua
18
―the grammar construes experiences like a colour chart, with red, blue and yellow as primary colours and
purple green and orange along the borders; not like a physical espectrum, with red at one end and violet at the
other‖ (Halliday, 1994: 107).
34
é explicado pela referência à sua função no sistema lingüístico total (...). Em outras palavras,
cada parte é interpretada como ‗funcional‘ em relação ao todo‖
19
.
existe uma tradição estabelecida nas pesquisas que utilizam aspectos da Interface entre os
Estudos da Tradução e Abordagens Discursivas, sobretudo calcadas na LSF, entre eles
podemos citar no âmbito internacional House (1997), Baker (1992), Hatin e Mason (1997),
Munday (2002). E no contexto nacional temos os estudos realizados, sobretudo por meio de
pesquisas dos Programas PosLin (UFMG) e PGI/PGET (UFSC), entre os quais podemos
citar: Roberto Carlos de Assis (2004), Pagano e Vasconcellos (2005), Letícia Taitson Bueno
(2005), Roberta Rego (2005), Marcos Pereira Feitosa (2005), Viviane Pasquilin (2005), Eliza
Morinaka (2005), Lílian Fleuri (2006).
1.2.2. Revisão das metafunções
A proposta de Halliday, com sua hipótese da multifuncionalidade, entende a linguagem
como uma semiótica social complexa capaz de construir realidades sociais. A partir do
esquema proposto por Halliday, é preciso considerar dois pontos: i) a teoria da estratificação,
segundo o qual o texto é considerado um fenômeno social; ii) e a centralidade dos
componentes funcionais (funções ideacional, interpessoal e textual), que são redes
organizadas de significados disponíveis, a partir do qual o usuário da língua faz a sua escolha
(Pagano e Vasconcellos, 2005). Em Halliday, a noção de conteúdo estável e imutável é
substituída pela noção de significado escolhido e realizado: ―maneiras de falar, maneiras de
significar‖
20
(Hassan: 1976). A linguagem é uma configuração de significados
multifuncionais e não uma simples transportadora de conteúdo.
19
―each element in a language is explained by reference to its function in the total linguistic system (…). In other
words, each part is interpreted as functional with respect to whole‖ (Halliday, 1994: xiv).
20
―ways of saying, ways of meaning‖ (Hassan, 1976)
35
As metafunções são intimamente ligadas às diferentes realizações léxico-gramaticais do
texto. Sendo a ―oração‖ (clause) a unidade de análise básica da LSF, ela se constitui como o
locus em que os usuários da língua representam a(s) realidade(s) que experienciam (função
ideacional da linguagem), interagem com outros membros da comunidade discursiva de que
são membros, fornecendo/solicitando informação ou oferecendo/solicitando serviços
lingüísticos (função interpessoal); e, finalmente, estruturam sua mensagem, em termos de
informação dada ou nova e em termos do que selecionam como ponto de partida para sua
comunicação (função textual) (ver Malmkjaer, 2005:130). As três metafunções propostas por
Halliday, desde a segunda metade da década de 60, compõem três tipos de significações que
constituem a base da organização semântica das línguas, e podem ser sucintamente descritas
como se segue:
A metafunção ideacional corresponde ao significado enquanto representação, ou seja, tem a
ver com as idéias, os conceitos e a representação da experiência presentes no texto. A
principal realização léxico-gramatical desta metafunção é o sistema de transitividade,
realizado por meio do processo (descrito pelo verbo), dos participantes no processo e das
circunstâncias associadas ao processo (Munday, 2002:79). O campo (field) é a variável
situacional associada à metafunção ideacional, pois está associado ao acontecimento em
curso ou à atividade que é realizada por meio dos padrões da transitividade.
A metafunção interpessoal corresponde ao significado enquanto troca, tanto de benefícios,
como de serviços ou informação. Ou seja, refere-se ao uso da linguagem para estabelecer e
manter relações sociais. A principal realização léxico-gramatical desta metafunção é o
sistema de modalidade, que permite ao falante indicar sua opinião, é definido por Halliday
(1994:75) como ―o julgamento do falante das probabilidades, ou obrigações, envolvidas no
36
que está sendo dito‖
21
. O teor (teor) é a variável situacional associada à metafunção
interpessoal, pois está associado aos papéis e interações entre os participantes envolvidos,
sendo realizada por meio do sistema de modalidade.
A metafunção textual corresponde ao significado, enquanto mensagem, tem a ver com a
organização da mensagem propriamente dita. É realizada pela estrutura temática (que ordena
os elementos em uma oração na maneira pela qual a informação é estruturada) e pelos
padrões de coesão (que inclui o uso dos pronomes de referencia, assim como as colocações,
repetição lexical, entre outros). A variável situacional associada à metafunção textual é o
modo (mode), que se refere à maneira pela qual a mensagem é configurada no texto,
realizando-se através de estruturas temáticas - que organizam a informação em orações
(tema/rema) -, da organização da informação - em termos de informação dada ou nova - e de
aspectos de coesão - relativos ao relacionamento semântico estabelecido no texto.
A Figura 3 ilustra o processo pelo qual a abordagem sistêmica relaciona o estrato discursivo-
semântico às escolhas léxico-gramaticais no texto, permitindo visualizar esta concepção da
linguagem associada aos conceitos de gênero e registro (elaborados a partir das noções de
contexto da cultura e da situação):
21
Modality means the speaker‘s judgement of the probabilities, or the obligations, involved in what he is
saying‖ (Halliday, 1994:75).
37
Figura 3: Adaptada de Eggins (1994).
A partir da Figura 3 (adaptada de Eggins: 1994), podemos afirmar que um texto não é um
amontoado de frases, mas sim uma unidade semântica, pois permite observar como os
padrões de coesão são capazes de transformar frases em unidades semânticas em relação ao
contexto da situação, inserido no contexto de cultura (Do Carmo, 2005:85-86). Analisando a
mesma Figura 3, de acordo com Magalhães e Alves (2006) ao contexto da cultura
vinculam-se os gêneros produzidos pelas instituições sociais, a partir de suas ideologias. Ao
contexto (...) de situação vinculam-se as variáveis de campo, relações e modo, associadas por
Halliday ao conceito de registro. A linguagem pode ser representada por dois estratos. Ao estrato
discursivo-semântico (...) vinculam-se as relações lexicais, a estrutura interacional, e a referencia e
conjunção em estreita relação com as funções experiencial, interpessoal e textual da linguagem. Ao
estrato léxico-gramatical, cabe a realização da linguagem em transitividade, modo oracional e
estrutura de tema-rema.
No contexto dos Estudos da Tradução, Munday (2002: 79) explica que, em função da ligação
íntima entre os padrões léxico-gramaticais e as metafunções, ao analisar padrões de
transitividade, modalidade, estrutura temática e coesão em uma textualização e sua
retextualização, o(a) pesquisador(a) consegue ver as metafunções em ação. Para fins desta
pesquisa, a metafunção textual assume importância central, uma vez que serão investigadas
as relações semânticas dentro dos textos, sobretudo no que se refere à coesão lexical, por
meio de padrões lexicais. Assim, a metafunção textual é tratada, mais detalhadamente, na
subseção a seguir.
38
1.2.3. Metafunção textual
A metafunção textual é considerada instrumental porque organiza os elementos experienciais
e interpessoais no texto, tornando possível que os significados das metafunções ideacional e
interpessoal sejam realizados enquanto mensagem textual (Haliday, 1973). Segundo Halliday
(1994), a metafunção textual é formada por três categorias de análise: (i) a estrutura temática
(baseada no sistema de tema/rema), (ii) a estrutura de informação (baseada nos conceitos de
dado e novo) e (iii) e os mecanismos de coesão (referentes aos aspectos semânticos
estabelecidos no texto).
As duas primeiras categorias a estrutura temática e de informação dizem respeito aos
recursos estruturais internos na organização da oração enquanto mensagem. A principal
diferença entre estas duas estruturas é que: a categoria tema/rema é um sistema da oração,
sendo realizado pela seqüência em que os elementos da oração são ordenados; e a categoria
informação não é um sistema da oração, seu domínio é a unidade de informação, não
corresponde necessariamente à oração e tem sua própria realização na forma de
proeminência tônica (tonic prominence). Apesar dos padrões da estrutura temática e
informacional possibilitarem uma série de combinações entre si, elas são independentes uma
da outra (Halliday, 1994: 308).
Os mecanismos de coesão, diferente das outras duas categorias de análise citadas acima, são
estabelecidos a partir das relações não-estruturais entre as palavras no texto. Portanto, para
Haliday e Hassan (1976:4), o conceito de coesão é semântico e
refere-se a relações de sentido que existem no texto e que o definem como texto. (...) Ocorre onde a
interpretação de algum elemento no discurso depende da interpretação de um outro. Um pressupõe
o outro, no sentido de que um não pode ser efetivamente decodificado a não ser recorrendo-se ao
outro.
22
22
Tradução de Magalhães (2005:211) para ―it refers to relations of meaning that exist within the text, and that
define it as a text. (...) occurs where the INTERPRETATION of some element in the discourse is dependent on
39
Halliday (1994: 310) argumenta que os ―elos lexicais são independentes da estrutura
[gramatical] e podem ligar passagens longas de discursos (...)‖
23
, e ressalta a importância de
se entender ―o texto ‗dinamicamente‘, como um processo de sentido em andamento; e a
coesão textual como um aspecto desse processo, através do qual o fluxo do sentido é
canalizado numa corrente de discurso que se pode percorrer ao invés de ser lançado em todas
as direções possíveis‖
24
(ibid: 311).
Halliday e Hassan (1976) definem cinco tipos de recursos coesivos, são eles: (i) a referência;
(ii) a substituição; (iii) a elipse; (iv) a conjunção e, finalmente, (v) a coesão lexical. Segundo
Magalhães (2005:211) os recursos coesivos sugeridos por Halliday e Hassan (1976) podem
ser resumidos da seguinte maneira:
A referência, para itens que precisam ser interpretados em relação a outros e que abrangem os
artigos, os pronomes pessoais, os demonstrativos e os comparativos; a substituição e a elipse,
estabelecidas como a troca de um item ou de um item por zero, uma e outra podendo tomar o
lugar de um substantivo, um verbo ou uma oração; a conjunção ou a expressão de um significado
que pressupõe a existência de outros elementos no discurso, sendo os tipos listados as conjunções
aditivas, adversativas, causais e temporais e, finalmente, a coesão lexical, definida como o efeito
coesivo da escolha de itens lexicais.
Para fins desta pesquisa, o papel da coesão lexical assume maior importância - em especial
ao tipo denominado colocação - o que justifica uma maior atenção para esse tipo de recurso
coesivo, que será explorado mais detalhadamente na subseção que se segue.
1.2.3.1. Coesão lexical e o conceito de colocação segundo Halliday e Hasan
Para Halliday e Hassan (1976) existem dois tipos de recursos coesivos lexicais (a reiteração e
a colocação), que foram definidos por Magalhães (2005:211-212) da seguinte maneira:
that another. The one PRESUPPOSES the other, in the sense that it cannot be effectively decoded except by
recourse to it‖ (Halliday & Hassan, 1976:4).
23
―Lexical ties are independent of structure and may span long passages of intervening discourse (...)‖ (Halliday,
1994:311).
24
―But it is important to be able to think of text dynamically, as an ongoing process of meaning; and of textual
cohesion as an aspect of this process, whereby the flow of meaning is channeled into a tractable current of
discourse instead of spilling out formlessly in every possible direction‖ (Halliday: 1994, 311).
40
a reiteração, estabelecida pela relação semântica entre dois itens lexicais através da repetição
simples, do uso de sinonímia, hiperonímia ou de nomes genérico, e a colocação, resultado do
efeito coesivo da combinação de pares de itens lexicais que, de alguma forma, guardam uma
relação semântica entre si. Esta relação, de acordo com os autores seria menos sistemática e mais
uma tendência desses pares em ‗compartilhar o mesmo ambiente lexical‘.
De acordo com Halliday & Hassan (1976:284-286), a colocação é a parte mais problemática
da coesão lexical, pois é referente à coesão obtida por meio da associação de itens lexicais
que co-ocorrem em um texto. Enquanto a reiteração acontece na repetição de um item lexical
e também na ocorrência de um item lexical diferente que é sistematicamente relacionado ao
primeiro, como seu sinônimo ou hiperônimo; no caso da colocação, o efeito coesivo acontece
não apenas na relação semântica sistemática entre os itens lexicais, mas sim na tendência
destes itens dividirem o mesmo ambiente lexical.
Halliday e Hasan (1976:288-289) argumentam que, o efeito da coesão lexical em um texto,
principalmente da coesão colocacional, é sutil e difícil de estimar. Diferente da coesão
gramatical, cujo efeito no texto é relativamente mais claro, na coesão lexical todo item
lexical pode manter uma relação coesiva, mas não carrega em si nenhuma indicação se estão
funcionando coesivamente ou não o que pode ser estabelecido em relação ao texto.
Deste modo, o sentido na coesão lexical, está no fato de que cada ocorrência de um item
lexical carrega sua própria história textual, calcada no ambiente colocacional em particular
que foi construído na criação do texto e que vai oferecer o contexto no qual este item
encanará em determinada ocasião. Este ambiente colocacional determina o sentido textual do
item lexical, sentido este que é único para cada instância.
Para Halliday e Hasan (1976:289-290), a força relativa da tensão colocacional reside em três
fatores: em relação (i) à proximidade lexical (sistema lingüístico) em que existe uma
probabilidade de uma palavra ter tendência em co-ocorrer com outra; (ii) à proximidade no
texto, no sentido da distancia que separa uma palavra de outra em um texto o número de
41
palavras, orações ou sentenças entre elas; e (iii) a freqüência na ocorrência, geralmente
quanto maior a ocorrência de uma palavra, menor é seu papel na coesão lexical do texto
isso porque geralmente elas co-ocorrem com qualquer palavra.
A próxima seção apresenta a colocação na perspectiva dos lingüistas de corpus, no sentido de
contrastar as semelhanças e diferenças do conceito conforme Halliday e Hassan (1976).
1.3. O conceito de Colocação para os teóricos da Lingüística de Corpus
O termo colocação foi utilizado pela primeira vez por Firth (1957) em seu artigo Modes of
meaning‖, junto com o famoso slogan ―julgue uma palavra pela companhia que ela têm‖
25
chama a atenção para a importância de se estudar o significado de uma palavra por meio das
suas colocações o que levaria a uma abordagem formal e contextual, em vez de conceitual,
do significado da palavra (Partington, 1998).
De acordo com Partington (1998), a partir de Firth aparecem várias definições diferentes,
mas relacionadas, de colocações. (i) Na definição textual um item lexical é colocado de outro
se aparecer em algum lugar perto do nódulo de busca, em determinado texto. Um exemplo da
definição textual é a de Sinclair (1991) que define o termo colocações como sendo ―a
ocorrência de duas ou mais palavras dentro de um espaço pequeno no texto‖
26
; (ii) Na
definição psicológica ou associativa, Leach (1974) fala em significado colocativo
(collocative meaning) para se referir às ―associações que uma palavra adquire em relação aos
significados das palavras que tendem a ocorrer em seu ambiente‖
27
. Nesta perspectiva,
Aitchison (1994) afirma que os homens aprendem o significado das palavras pelo o que
25
―you shall judge a word by the company it keeps‖ (Firth, 1957).
26
―collocation is the occurrence of two or more words within a short space of each other in a text‖ (Sinclair
1991: 170).
27
―collocative meaning consists of the associations a Word acquires on account of the meaning of words which
tend to occur in its environments‖ (Leach, 1974:20).
42
ocorre ao lado delas‖
28
; (iii) a definição estatística é a preferida pelos lingüistas de corpus,
nas palavras de Hoey (1991) colocação ―é o relacionamento que um item lexical tem com os
itens que aparecem com grande probabilidade em seu contexto textual‖
29
; (iv) e finalmente, a
definição combinatória, a mais ampla definição de colocação, que pressupõe da mesma
maneira como Firth utilizou o termo pela primeira vez a co-ocorrencia de itens de todos os
níveis gramaticais, não no nível da palavra. De acordo com Partington (1998), ―se nos
concentrarmos nos altos níveis da linguagem, teoricamente não diferença qualitativa entre
a colocação de palavra com palavra, palavra com frase, frase com frase, até frase com oração
e oração com oração‖
30
(Partington, 1998:16-17).
Para explicar a maneira como o sentido/significado chega ao texto, Sinclair (1991) elaborou
dois princípios diferentes de interpretação, o princípio de escolha e o de idioma (open choice
e idiom principles). De acordo com Partington (1998:21) ―os discursos são criados por uma
combinação dos princípios de escolha e de idioma (...). Os dois princípios trabalham juntos
em qualquer texto. Mas nem é sempre fácil de saber, em qualquer ponto do texto, qual dos
dois princípios está operando mais fortemente‖
31
. O princípio de escolha (open choice
principle), a produção da linguagem como uma série contínua de escolhas abertas que
devem ser preenchidas por um léxico. As colocações fazem parte do princípio do idioma
(idiom principle), por isso também conhecido como princípio colocacional (collocational
principle), e significa que as palavras não ocorrem ao acaso em um texto e, portanto, a
escolha de uma palavra afeta a escolha das outras que seguem.
28
―humans learn word-meaning from what occurs alongside‖ (1994:21).
29
―collocation has long been the name given to the relationship a lexical item has with items that appear with
greater than random probability in its (textual) context‖ (Hoey, 1991:6-7).
30
―If we concentrate on higher levels of language, there is theoretically no qualitative difference between word
with word, word with phrase , phrase with phrase, even phrase with clause and clause with clause collocation‖
(Partington, 1998:16-17).
31
―discourse, then, are created by a combination of the idiom and open choice principles (...) The two principles
work together in any text. Nor is it always easy to know, at any point in a text, which of the two principles is
operating most strongly‖ (Partington, 1998:21).
43
Para melhor compreender como as colocações operam é preciso se familiarizar com alguns
conceitos chaves como nódulo (node), colocado (collocate) e span‘. O nódulo é o item
lexical que está sob observação e os colocados são os itens que ocorrem ao redor do nódulo.
De acordo com Kenny (2001:87) ―cada colocado pode também funcionar como nódulo em
uma investigação subseqüente, mas em cada momento particular, apenas um item (o nódulo)
poderá ocupar o palco principal‖
32
. Os nódulos são apresentados no centro de uma linha de
concordância, mas dependendo da definição de colocação utilizada em cada projeto a linha
de concordância geralmente apresentada com oito palavras pode ou não conter os
colocados do nódulo (Kenny, 2001). Ao admitirmos que os colocados ocorrem ao redor do
nódulo, pressupomos a existência de um ambiente ao redor do nódulo, a esse ambiente
convencionou-se chamar de span‘. Os limites deste ambiente arbitrário podem ser definidos
por algum tipo de unidade estrutural (como frase, sentença, um texto inteiro ou discurso) ou
pela distância do nódulo, geralmente medida por palavras (Kenny, 2001).
Em linhas gerais podemos afirmar que a principal semelhança entre a percepção do
fenômeno colocacional na perspectiva da LSF (Halliday & Hassan, 1976) e dos teóricos da
Lingüística de Corpus listados acima, está na utilização dos trabalhos de Firth como
referência para seus estudos. A diferença entre estas abordagens está no fato de que a
colocação na LSF depende de fatores nem sempre contidos no próprio léxico, daí a
necessidade em se expandir a análise para o texto ao se investigar o fenômeno colocacional.
Enquanto que para os teóricos da Lingüística de Corpus a colocação é um fenômeno lexical e
estatístico razão pela qual é computável e não precisa, necessariamente, da expansão para
a categoria textual (nos moldes da LSF), embora admita certa expansão na investigação de
32
―each collocate can itself function as a node in a subsequent investigation, but at any particular moment, only
one item (the node) can occupy the centre-stage‖ (Kenny, 2001:87).
44
fenômenos como a Prosódia Semântica. Apesar da distinção em seus procedimentos
analíticos necessidade de expansão, ou não, para a categoria textual - estas duas
perspectivas são convergentes (Do Carmo, 2005). Esta pesquisa é desenvolvida a partir desta
convergência, pois admite a necessidade de expansão para o texto para investigar o
fenômeno colocacional e, paralelamente, utiliza o suporte metodológico de corpus para
investigar a Prosódia Semântica.
Para identificar a Prosódia Semântica, a busca das colocações foi realizada pelo software
WordSmith Tools, desenvolvido por Mike Scott para observar como as palavras se
comportam no texto. As ferramentas (WordList, Concord, KeyWords) deste software são
utilizadas pela Oxford University Press no preparo de dicionários, por professores e alunos
de línguas e por pesquisadores que investigam padrões da linguagem entre as diferentes
línguas do mundo (Scott, 1999). Sobre os procedimentos para a utilização das ferramentas do
WordSmith Tools nesta pesquisa ver o capítulo da metodologia (2).
1.3.1. O conceito de Prosódia Semântica (PS)
A criação do termo Prosódia Semântica é atribuída a Sinclair (1987) em diálogo com Louw
(1993) (ver Hanks, P. in: Enthusiasm and Condescension), e significa que um item lexical
aparentemente inócuo pode ser imbuído de uma aura de significado negativa ou positiva em
função de seus colocados
33
. O termo ‗prosódia‘ é emprestado de Firth (1957) que o utilizou
para ―se referir à coloração fonológica capaz de transcender limites segmentais‖, um
exemplo seria o fato de que em algumas palavras (como Amen‘, em inglês) as vogais são
33
―A consistent aura of meaning with which a form is imbued by its collocates is referred to in this paper as
semantic prosodies.‖ (Louw, 1993: 157)
45
imbuídas de qualidade nasal devido sua proximidade das letras m e n
34
. Dessa maneira, a
prosódia semântica se refere à coloração conotacional que transcende aos limites de uma
determinada palavra (ver Partington, 1998:68)
35
.
A conotação de determinado item lexical está geralmente relacionada ao seu contexto de uso,
pois ―geralmente uma conotação favorável ou não favorável não está contida em um único
item, sendo expressa por este item associado a outros seus colocados‖
36
. A utilização de
ferramentas computacionais para pesquisar o fenômeno da Prosódia Semântica é de suma
importância, pois a observação das recorrências de combinações de palavras só foi possível a
partir dos corpora eletrônicos. De acordo com Louw (1993: 159), apesar de Bréal (1987) ter
se aproximado do conceito sem utilizar os corpora eletrônicos ao sugerir o termo
‗contagio‘ como um fenômeno lingüístico geral ―ofereceu muito poucos exemplos para
deduzir que as Prosódias Semânticas, e em particular seu potencial e proporções, podem ser
acessíveis pela intuição humana‖. Louw (ibid) argumenta que a Prosódia Semântica é um
fenômeno essencialmente revelado por computadores, e aqueles que desejam explorar
melhor sua potencialidade devem fazê-lo por meio de métodos computacionais.
37
Segundo Partington (1998: 64), o termo conotação tem sido definido de várias maneiras,
pois se trata de um conceito importante que atenta para a análise da relação entre a
linguagem e o mundo real. Ter consciência do valor conotacional de um léxico é uma parte
34
―(...) Firth (in Palmer 1966:40) used the Word to refer to phonological colouring which was capable of
transcending segmental boundaries. The nasal prosody in the word Amen would be an example: we find that the
vowels are imbued with a nasal quality because of their proximity to the nasals m and n.‖ (Louw,1993: 158)
35
Semantic prosody refers to the spreading of connotational colouring beyond single word boundaries‖
(Partington, 1998:68).
36
―often a favorable or unfavorable connotation is not contained in a single item, but is expressed by that item in
association with others, with its collocates‖ (Partington, 1998:66).
37
―Bréal offered too few examples for us to infer that semantic prosodies, and in particular their potency and
proportions, might be accessible to our intuition. They are essentially a phenomenon that has been only revealed
computationally, and whose extend and development can only be properly traced by computational methods‖
(Louw, 1993: 159).
46
essencial da competência comunicativa do falante o conhecimento de qual a coisa certa
para se falar, na hora certa e na circunstância certa. Partington (1998) nos apresenta três
fenômenos distintos que são utilizados para se referir ao termo ‗conotação‘, são eles: (i)
conotação social ou situacional quando a classe, origem regional, idade, sexo ou
relacionamento entre os falantes são identificados por um léxico em particular ou escolhas
gramaticais; (ii) conotação cultural permite observar mudanças nos valores da sociedade,
está relacionado ao que um item lexical denota dentro de uma cultura; (iii) conotação
expressiva (expressive connotation) está associada ao fato de que a escolha de certos itens
lexicais implica numa avaliação favorável ou não favorável do falante em relação ao que ele
descreve. São altamente pessoais e, relativamente, mais voluntárias do que aquelas
envolvidas na conotação social. A prosódia semântica é um aspecto da conotação expressiva,
revelado pelos dados do corpus (Partington, 1998:66).
Entre os estudos disponíveis que exploram o fenômeno da Prosódia Semântica podemos
citar: em inglês, o trabalho de Sinclair (1991) investiga os termos happen e set in e concluiu
que ambos geralmente são associados a eventos desagradáveis. O fato de estes termos
estarem imbuídos de uma PS negativa é devido à ‗má companhia‘ dos itens lexicais que
estão ao seu redor (no caso de set in: as palavras rot, decadence, decay aparecem como
colocados), que acabam restringindo o seu uso em circunstâncias normais à descrição de
eventos não desejáveis.
O artigo de Louw (1993) investiga como a quebra da PS pode indicar ironia do autor, quando
feita conscientemente. Ao verificar que David Lodge utilizou o termo bent on de forma
irônica por associá-lo a colocados favoráveis (self-improvement), ao contrário do que foi
47
verificado a partir dos dados do Cobuild corpus que apresentou bent on com PS negativa por
se associar a itens lexicais com conotação desfavorável (destroying, harrying, mayhem).
Stubbs (1995), de maneira similar a Sinclair, mostra como cause também possui PS negativa
devido a influência de seus colocados: accident, concern, death, trouble. Em italiano, o
estudo de Partington (1998) que investigou o item lexical impressionante (em italiano), e
conclui que a prosódia semântica é negativa em italiano, mas positiva em inglês (impressive).
Em português, Berber Sardinha (1998b) analisou a expressão tocar para frente e concluiu
que a prosódia semântica é negativa porque indica que algo é de difícil execução e que é
conduzido em clima de adversidade. De acordo com Berber Sardinha (2004), além dos
estudos listados acima sobre a prosódia semântica, podemos citar ainda em inglês, os estudos
de Channell (2000), Deignan (1999), Fox (1998), Hunston (1995).
A investigação da Prosódia Semântica de um item lexical e o padrão que emerge de tal
investigação constitui-se como central para os Estudos da Tradução, por permitir indicar a
conotação presente em um léxico; no entanto, sua indicação em dicionários não é muito
recorrente (Berber Sardinha, 2004). A análise da Prosódia Semântica é importante para esta
pesquisa que busca investigar a representação da capoeira a partir da investigação de itens
lexicais considerados palavras-chave em um corpus paralelo bilíngüe de pequena dimensão.
1.ii. Considerações Finais:
A proposta desta pesquisa é investigar itens lexicais considerados palavras-chave, seus
colocados e sua prosódia semântica em um corpus paralelo bilíngüe, portanto, em dois textos
produzidos em contexto de cultura diferentes. No sentido de fornecer o arcabouço teórico
para realizar a pesquisa, este capítulo partiu do contexto da cultura: (1.1.) identificando a
48
capoeira enquanto questão social e cultural, a partir das diversas representações construídas
pela definição do termo e pelas diferentes abordagens acadêmicas sobre o tema; Em seguida,
apresentamos o referencial teórico que permite analisar o texto em contexto. (1.2.) Assim, à
luz das Abordagens Discursivas aos Estudos da Tradução, informada por conceitos básicos
da Lingüística Sistêmico-Funcional de MAK Halliday (como os conceitos de contexto da
cultura e da situação, que permitem o entendimento da linguagem enquanto sistema
semiótico complexo), sobretudo no que tange à metafunção textual com enfoque na coesão
lexical, com vistas no fenômeno colocacional conforme Halliday e Hasan (1976); E
finalmente, (1.3.) mostramos as diferenças entre a percepção sobre a Colocação dos
lingüistas de corpus e de Halliday e Hasan (1976), situando esta pesquisa entre as duas
perspectivas. Apresentamos também o conceito de Prosódia Semântica, crucial para o
desenvolvimento analítico desta pesquisa, identificado a partir de ferramentas
computacionais no caso deste trabalho, com auxílio do software WordSmith Tools, versão
3.0 .
49
Capítulo 2
Metodologia
2.i. Considerações iniciais
O Capítulo 2 apresenta a metodologia utilizada nesta pesquisa, em três seções que se
subdividem, da seguinte forma: A seção (2.1.) O corpus apresenta as características do tipo
de corpus utilizado para a realização deste estudo e faz uma (2.1.1.) Contextualização do
corpus analisado, fornecendo informações qualitativas e quantitativas sobre os textos e seus
respectivos contextos; A seção (2.2.) A captura do texto e o software, os detalhes do
processo de digitalização do corpus (ver 2.2.1.) e apresenta o software utilizado na realização
da pesquisa (ver 2.2.2.); A seção (2.3) Decisões metodológicas apresenta a trajetória da
pesquisa até o atingir o formato atual (ver 2.3.1.); em seguida justifica a escolha dos nódulos
de busca e apresenta os procedimentos e critérios de obtenção e de análise dos dados
quantitativos obtidos com o auxílio do software WS Tools (1999), versão 3.0 (ver 2.3.2.).
2.1. O corpus
O desenho do corpus está diretamente relacionado aos propósitos e intenções do pesquisador,
por isso é de grande importância que os objetivos e intenções da pesquisa sejam definidos,
antes de se montar o corpus a ser analisado (Fernandes: 2004). Nesta pesquisa, o propósito de
criação do corpus é identificar o perfil da prosódia semântica de itens lexicais considerados
palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga, malandr*) no corpus analisado, com a intenção
de verificar como as representações sobre a capoeira são construídas nas obras em questão, a
partir deste viés específico. Para realizar a análise, o tipo de corpus que utilizo é aquele
chamado paralelo bilíngüe de pequena dimensão.
50
Em relação ao tamanho do corpus, esta pesquisa investiga um conjunto de texto pequeno com
um total de aproximadamente 63.000 palavras. No entanto, o termo corpus de pequena
dimensão, conforme utilizado por Sinclair (2001), indica que a distinção entre o corpus de
pequena e grande dimensão é metodológica, ao invés de ser uma mera distinção relacionada
ao tamanho do corpus. A preocupação de Sinclair (ibid.) ao marcar esta diferença está no fato
de que, com os avanços computacionais a distinção baseada no tamanho do corpus é relativa,
pois o que se considerava inicialmente um corpus de grande dimensão hoje em dia não o é
mais. Conforme Sinclair (2001:ix): ―(...) os corpora aparentemente massivos de poucos anos
atrás agora são percebidos como pequenos e, em algumas décadas, qualquer coisa com menos
de poucos bilhões de palavras será considerado um corpus pequeno (...)‖
38
.
A diferença metodológica da qual nos fala Sinclair (ibid.) é associada à maneira como o
corpus é tratado pelo pesquisador. Deste modo, os corpora de pequena dimensão pressupõem
uma intervenção humana anterior (Early Human Intervention - EHI), o que significa afirmar
que neste caso o corpus é montado a partir da intervenção do pesquisador. Ou seja, o
pesquisador manipula o corpus para atender às necessidades de sua pesquisa. Ao contrário do
corpus de grande dimensão que implica na intervenção humana posterior (Delayed Human
Intervention - DHI), situação em que o corpus é construído e depois manipulado pelo
pesquisador apesar de haver intervenção do pesquisador indiretamente no controle do
processo, e de o processo provavelmente ter sido construído depois de muitas sessões de EHI,
além de o pesquisador participar também na interpretação dos resultados
39
. Portanto, o papel
do computador nos estudos que utilizam um corpus de pequena dimensão está na
identificação de diferenças proporcionais ou da presença/ ausência de um fenômeno
38
―(...) the apparently massive corpora of a few years ago are now perceived as tiny, and in another decade or
two, anything less than a few billion words will count as a small corpus (...)‖ (Sinclair, 2001:ix).
39
―of course, in DHI the human being is indirectly controlling the process, and the process has probably been
built up over many EHI sessions, and the human being must eventually participate in order to interpret the
results‖ (Sinclair, 2001: xi).
51
específico, onde o pesquisador interfere manualmente (inclusive por meio de anotações) na
construção do corpus em questão para depois interpretar as informações coletadas (Sinclair,
2001).
Conforme Baker (1995), tipos diferentes de corpora utilizados nos Estudos da Tradução,
dentre os quais destaco: (i) o corpus comparável - uma série de textos na mesma língua, sendo
uma séria composta de textos originalmente escritos nesta língua e outra, de textos traduzidos
para esta língua; e (ii) o paralelo um ou mais textos texto de partida (aqui referido como
textualização), acompanhado de sua tradução, ou texto de chegada (aqui referido como re-
textualização). Esse último, o corpus paralelo, pode ser bilíngüe ou multilingüe. O termo
corpus paralelo é definido, neste trabalho, como um conjunto de textos fontes originais na
língua A‘ e sua(s) versão(ões) na língua ‗B‘ (ibid.), o que permite uma comparação entre a
textualização e a re-textualização.
O corpus paralelo é geralmente classificado seguindo pelo menos quatro critérios (Fernandes:
2004), o Quadro 2 abaixo sintetiza essa tipologia:
Quadro 2: classificação do tipo de corpus paralelo
CORPUS PARALELO
CRITÉRIO
CLASSIFICAÇÃO
Número de línguas
Bilíngüe (T: Português do Brasil; RT: Inglês americano)
Restrição temporal
Sincrônico
Domínio
Especializado (representações sobre a capoeira)
Direcionamento
Unidirecional (português brasileiro para inglês americano)
(i) Em relação ao número de línguas, o corpus paralelo pode ser classificado como bilíngüe,
trilíngüe ou multilíngüe (mais de três línguas envolvidas no processo tradutório). Neste
trabalho o corpus utilizado é considerado bilíngüe, porque tem apenas duas línguas
envolvidas, a textualização (T) e sua re-textualização (RT) (português brasileiro/ inglês
52
americano); (ii) A restrição temporal classifica o corpus como sincrônico (enfoca o objeto de
estudo em um determinado período do tempo) ou diacrônico (enfoca vários períodos
temporais, pois se preocupa com o desenvolvimento histórico do seu objeto de estudo). O
corpus paralelo utilizado neste trabalho é sincrônico, porque descreve um manual da
capoeira específico e sua re-textualização, e não, por exemplo, um conjunto de manuais
escritos e traduzidos ao longo, digamos de uma década, o que focalizaria um
desenvolvimento histórico de manuais da capoeira; (iii) o domínio do corpus significa a área
da linguagem em questão enfocada pelo corpus, pode ser de dois tipos: geral (construído para
estudar a linguagem do material traduzido como um todo) e especializado (construído para
estudar a linguagem na tradução de gêneros ou tipos de textos específicos). Neste estudo o
corpus paralelo é especializado, porque enfoca a prosódia semântica dos itens lexicais
capoeir*, malícia, mandinga, malandr* em um texto específico; (iv) o direcionamento,
relacionado à direção da tradução no corpus paralelo, pode ser unidirecional, bidirecional ou
multidirecional. O corpus utilizado é unidirecional, porque focaliza apenas uma direção do
processo tradutório: do português brasileiro para o inglês americano.
Após a explicação do tipo de corpus, passa-se, a seguir, à discussão da contribuição das
metodologias de corpus para este estudo. Os Estudos da Tradução Baseados em Corpora
(ETBC) são aqueles que utilizam a Lingüística de Corpus como metodologia de pesquisa para
investigar padrões da linguagem. Segundo Olohan (2004: 22), ―os objetivos dos ETBC não
devem ser vagas generalizações baseadas em dados quantitativos, mas uma combinação da
análise quantitativa e qualitativa para explorar fatores pragmáticos relacionados ao discurso,
gênero e desenho do texto
40
‖. A pesquisa atual investiga o comportamento de determinados
itens lexicais em sua textualização e re-textualização sem, no entanto, focalizar as questões
40
―the aim of corpus-based translations studies should not be vague generalizations based on quantitative data,
but, in fact, a combination of quantitative analysis to explore pragmatic factors relatated to discourse, genres and
text designs (...)‖ (Olohan, 2004: 22).
53
probabilísticas levantadas pela Lingüística de Corpora. Portanto, embora este trabalho NÃO
se filie aos ETBC, são utilizadas as ferramentas disponibilizadas por esta abordagem, na
busca de padrões de textualização e re-textualização.
2.1.1. Contextualização do corpus
O livro Capoeira. Pequeno manual do jogador faz parte de uma trilogia de livros escritos por
Nestor Capoeira
41
que tem como tema a capoeira. Como nos informa o título, o volume
analisado é um manual para o jogo da capoeira. Segundo o autor, o objetivo do livro é
funcionar como um ―mapa geral para aqueles que se aventuram nas terras da capoeiragem‖
(Capoeira, 2002: 230). Nestor Capoeira foi pioneiro no ensino da capoeira na Europa (1971) e
o livro analisado é resultado de sua experiência ensinando capoeira no exterior: ao voltar para
o Brasil, publica em 1981 O Pequeno manual do jogador de capoeira
42
, que, na sua quarta
edição (1996), foi revisado e atualizado, tendo seu conteúdo bastante modificado, apesar de
manter a mesma estrutura do primeiro livro. Sobre as diferenças no conteúdo da primeira e da
quarta edição, transcrevo as palavras do autor:
O histórico foi bastante modificado; a parte dos fundamentos e da malícia sofreu alguns
acréscimos; os treinamentos e o método de ensino acompanharam as mudanças que o tempo e a
experiência impuseram ao meu método original (que era do grupo Senzala). Além disso, tendo em
vista o aumento de capoeiristas mirins, acrescentamos um apêndice que talvez possa ajudar quem
estiver ensinando à garotada com menos de 8 anos de idade (Capoeira, 2003: 230).
O trecho acima traz à tona a preferência pelos termos textualização e re-textualização em
detrimento de ―original e tradução‖, pois podemos considerar que o ―original‖ desta pesquisa
é uma re-textualização - visto que o volume analisado é a sétima edição (2002) da versão
em português, modificada desde a quarta edição. O questionário respondido pelo autor
41
Nestor Capoeira foi aluno de Mestre Leopoldina, mais tarde, ingressou no grupo Senzala
41
, onde foi aluno de
Mestre Preguiça, e obteve o título de Mestre de capoeira por este grupo em 1969. É graduado em Engenharia
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1969), Mestre em Comunicação e Cultura com a dissertação
Ritual, Roda e Mandinga (UFRJ/ 1995) e em 2001 obteve o título de doutor pela mesma universidade com a tese
Jogo e Comunicultura, ambas sobre a capoeira.
42
Com a revisão e atualização da (4ª edição) foram feitas algumas modificações, que incluem uma pequena
alteração no título.
54
(ANEXO A), foi utilizado para identificar os responsáveis pelas mudanças observadas na
apresentação dos conteúdos de cada edição do manual:
Do editor: No que se refere às decisões ligadas à capa e à nãotextualização de alguns
segmentos (como o ABC).
Do tradutor: No que se refere ao deslocamento dos capítulos, ao glossário e seus
verbetes.
Do autor e do tradutor: No que se refere à decisão de adição dos segmentos
explicativos para levar a capoeira ao leitor do inglês.
Do autor: No que se refere às decisões ligadas ao aspecto visual de representações
gráficas nos dois livros.
Apesar de este trabalho estar lidando apenas com a re-textualização para o inglês (2003), o
volume em português também foi re-textualizado para o francês (1997), dinamarquês (1997),
alemão (1999) e holandês (2002)
43
. A Tabela 1 abaixo apresenta informações extralingüísticas
e estatísticas gerais dos volumes analisados:
Tabela 1: informações gerais do corpus paralelo bilíngüe.
Título
Capoeira. Pequeno manual do jogador
The Little Capoeira Book
Editora
Record / RJ
North Atlantic Books / CA
Autor/ tradutor
Nestor Capoeira
Alex Ladd
Idioma
Português do Brasil
Inglês dos EUA
Data publicação
1981/ 2002
1995/ 2003
Gênero
luta
dance
Total página
224
227
Páginas digitalizadas
184
141
Bytes
207.699
152.59
Tokens
34.780
26.411
Types
5.232
3.734
Types / Tokens
15.04
14.14
43
Respectivamente, por Gilles Cheze (1997), por Marianne Kristensen (1997), por Gehard Schmitt (1999). Não
consegui o nome do tradutor para o holandês, nem na bibliografia citada pelos livros analisados ou em pesquisa
na internet.
55
Conforme podemos verificar a partir da Tabela 1 acima, o gênero textual (luta) da
textualização mudou na re-textualização (dança) sobre como essa diferença aparece no
corpus paralelo bilíngüe ver a análise dos dados no Capítulo 3. Do total geral de 451 páginas
(224 da textualização e 227 da re-textualização) apenas 325 ginas foram digitalizadas (184
da textualização e 141 da re-textualização), ou seja, somente os segmentos que foram re-
textualizados.
As mudanças na apresentação do texto e do paratexto marcam diferenças interessantes no
processo de re-textualização; por isso apresento brevemente algumas destas diferenças na
Quadro 3 abaixo, para ilustrar os pontos comuns e divergentes do conteúdo das edições
analisadas, conforme o Sumário:
Quadro 3: comparação dos conteúdos da textualização e re-textualização.
SUMÁRIO
Apresentação da quarta edição,
revisada e atualizada;
Prólogo;
O Jogo;
Histórico;
Parte Musical;
Aprendendo Capoeira;
O método de ensino;
Palavras finais da primeira
edição (1981);
o Agradecimentos;
o Apêndice: o ABC da capoeira
o Palavras finais da quarta edição,
atualizada e revisada
O autor;
o Bibliografia
TABLE OF CONTENTS
o Preface by the translator;
Preface;
History;
O Jogo (the game);
The Music;
Learning Capoeira;
Final Words;
o Final Words to the English
Edition;
o Glossary of Basic Capoeira
Terms;
o Appendix: Capoeira Trends;
o Bibliography;
About the Author
A partir da Quadro 3 acima, podemos observar que existem diferenças da apresentação do
conteúdo do corpus paralelo bilíngüe, como por exemplo: (I) na ordem de apresentação dos
capítulos: na textualização o capítulo intitulado O Jogo é apresentado antes de O Histórico;
enquanto a versão em inglês preferiu inverter essa ordem, apresentando primeiramente a parte
56
histórica da capoeira e depois o jogo; (II) na fusão de capítulos; (III) na textualização dos
trechos correspondentes textualizados e (IV) na não-textualização e não-correspondência de
segmentos textuais.
A re-textualização The little capoeira book, com a tradução de Alex Ladd
44
, é o primeiro livro
que apresenta didaticamente -os golpes básicos de capoeira, aliados à história, ao ritual e à
filosofia do jogo para os falantes de inglês. A primeira edição (1995) foi revisada e re-editada
(2003) com acréscimos que incluem: (i) um apêndice que informações sobre as tendências
da capoeira
45
; (ii) bibliografia; e (iii) informações sobre o autor. Também foram identificados
casos de omissão de trechos da textualização, como por exemplo: dos (i) agradecimentos; do
(ii) ABC
46
da capoeira; das (iii) palavras finais da quarta edição e de alguns (iv) golpes do
manual.
Os trechos da re-textualização, intitulados Preface by the translator e Final words to the
English edition, apresentam informações interessantes sobre o processo de re-textualização,
como por exemplo: no prefácio, Alex Ladd narra suas impressões ao ver a capoeira pela
primeira vez em Salvador, explica quando começou a praticar capoeira nos Estados Unidos e
apresenta uma breve contextualização histórica da capoeira nesse país; nas palavras finais da
edição em inglês, Nestor Capoeira compartilha com o leitor o receio de perda da essência do
texto no momento da tradução e argumenta sobre as contribuições do tradutor. Outro adendo
interessante na re-textualização é o glossário de termos básicos da capoeira (que inclui alguns
44
o tradutor da versão em inglês é brasileiro e capoeirista - naturalizado nos Estados Unidos, onde começou a
aprender capoeira com o Mestre Jelon Vieira - Junto com Loremil Machado, foi pioneiro no ensino da capoeira
nos Estados Unidos - e mais tarde com a Mestra Edna Lima - Primeira mulher a obter o título de mestre em
capoeira.
45
Este anexo apresenta as conferências de 1968/ 1969 e de 1984, que tinham como pano de fundo a preocupação
de como deveria se dar o processo de institucionalização da capoeira (a primeira com um discurso a favor da
esportivização da capoeira e a segunda uma abordagem defendendo a capoeira enquanto arte.
46
Texto escrito para incentivar a prática da leitura para recém alfabetizados - principalmente por conta das
crianças que aparecem como novos aprendizes de capoeira a partir da década de 90.
57
dos nódulos de busca da pesquisa, mas que não possui o item lexical malícia, a ser discutido
em 2.3.2.).
As ilustrações no corpus paralelo bilíngüe também não são correspondentes. Estas ilustrações
apontam para diferentes interpretações da experiência e das formas de interação social - mas
cabe lembrar que analisar estas imagens é exercício para uma outra pesquisa, vinculada ao
que alguns pesquisadores chamam de multimodalidade (ver, por exemplo: Kress & Leeuwen,
1996, 2001). Reproduzo, na Figura 4, as miniaturas das ilustrações repetidas nas duas edições,
por considerar relevantes os temas que elas evocam:
Figura 4: ilustrações presentes nas duas edições.
Na Figura 4, os temas que se repetem são: i) o mito de origem na escravidão; ii) o período de
institucionalização com a representação da Capoeira Regional, na figura do Mestre Bimba; iii)
a capoeira na atualidade, representada pelo estilo do grupo regionalSenzala. Também é
interessante observar que as ilustrações na parte superior da Figura 7 são, na realidade, a
mesma. No entanto, o desenho de Rugendas (Jogar capoeira or Dance de la Guerre - 1824)
58
na re-textualização direita do leitor) focalizou a ação dos negros, e não o seu ‗fundo‘ que
mostra o batuque dos negros em um ambiente rural.
Como pode ser observado, o paratexto do corpus paralelo bilíngüe oferece informações
interessantes: afinal estruturas visuais produzem significados, assim como fazem as estruturas
lingüísticas. De modo geral, a breve menção às ilustrações e ao paratexto foi feita no sentido
de contextualizar a análise que se segue e não se pretende exaustiva. A próxima etapa da
pesquisa consistiu na preparação do corpus e o uso do software WordSmith Tools para
identificar a Prosódia Semântica nos itens lexicais analisados.
2.2. A captura do texto e o software
No contexto das afiliações do presente estudo, para ser considerado um corpus, o conjunto de
texto precisa ser acessível em formato eletrônico, ou seja, deve apresentar a possibilidade de
ser processado por computador. No caso deste trabalho, o corpus ainda não havia sido
digitalizado, foi preciso construí-lo: escanear os livros, gravar no Word, formatar e corrigir
eventuais erros de leitura do scanner, gravar o texto corrigido em formato txt, para então
submetê-lo ao software WordSmith Tools (1999). Os procedimentos para a (i) digitalização e
(ii) aplicação do corpus ao software são detalhados a seguir:
2.2.1. Digitalização:
(i) Escaneamento do corpus: trabalho lento e mecânico que consiste em tornar os
textos acessíveis no formato digital para serem investigados por meio do software.
Nesta etapa utilizei o scanner da hp (hp scanjet 2400), que possui o software OCR
(Optical Character Recognition) capaz de transformar as ginas escaneadas em
documento do Word;
(ii) Formatação e correção: Depois do texto escaneado, é preciso formatá-lo, pois ele
vem inserido em caixas de texto. Uma vez que digitalizado, o texto é retirado
destas caixas de texto (procedimento necessário para que seja possível manusear e
59
editar o documento), passando-se, a seguir, à etapa de correção. Além de os
parágrafos precisarem de ajuste manual (algumas palavras são dividas por hífen
quando não cabem na mesma linha, por exemplo), muitas vezes o scanner o
texto de maneira equivocada (transformando a letra ‗L‘ no número ‗1‘, por
exemplo), sendo preciso corrigir estes erros. Para isso, utilizei o programa de
ortografia do Word, pois este procedimento facilita a identificação dos equívocos,
o que não descarta a necessidade de releitura do texto e de correção manual e
também a possibilidade encontrar erros depois de inúmeras correções. É
importante lembrar que esta etapa da pesquisa exige minuciosa atenção do
pesquisador, porque alguns erros escapam do processo de correções e a presença
de erros no corpus pode comprometer a leitura feita pelo software WordSmith
Tools, comprometendo, conseqüentemente, os resultados finais da pesquisa. E,
finalmente, gravar o documento corrigido em formato txt para que este possa ser
processado pelo software WordSmith Tools;
2.2.2. O software WordSmith Tools (1999)
O software WordSmith Tools (1999) é conhecido como ―canivete suíço‖ devido à
acessibilidade e versatilidade de seus programas. Este software é composto por três
ferramentas (Concord, Wordlist, Keyword) e quatro utilitários (Utilities composto pelo File
Manager, Text Converter, Splitter, Viewer and Aligner) que possibilitam várias aplicações,
como por exemplo:
(i) O Wordlist: Esta ferramenta possibilita obter três tipos de listas de palavras a
partir de todo o corpus investigado, são elas:
A lista de palavras ordenadas alfabeticamente: muito útil para identificar rapidamente
itens lexicais específicos que possuem freqüência baixa no corpus de estudo;
A lista de palavras em ordem de freqüência: ajuda a identificar rapidamente, por
ordem de freqüência, os itens lexicais do corpus de estudo;
E a lista de dados estatísticos simples, como: o total do número de palavras (tokens), o
total do número de palavras diferentes (types), o número de sentenças e parágrafos do
corpus, a relação entre o total de palavras corridas de um corpus e o número de
palavras diferentes utilizadas (type-token ration), entre outras possibilidades. As
60
estatísticas gerais oferecidas por esta ferramenta são pontos de partida na elaboração
de questões de pesquisa, pois possibilitam observar o comportamento das palavras nos
processos de textualização e re-textualização.
A tabela abaixo apresenta o número de ocorrências das palavras-chave investigadas nesta
pesquisa, em ordem de freqüência:
Tabela 2: ocorrências das palavras-chave no corpus investigado.
Textualização
Re-textualização
Palavra
Freq.
%
Palavra
Freq.
%
CAPOEIRA
319
0,92
CAPOEIRA
275
1,04
capoeiragem
16
0,05
Capoeiras
2
capoeiras
21
0,06
Capoeirista
38
0,14
capoeirista
30
0,09
capoeirista's
1
capoeiristas
42
0,12
Capoeiristas
15
0,06
capoeirística
1
Capoeiristas
1
MALANDRAGEM
9
0,03
MALANDRAGEM
3
0,01
MALANDRO
5
0,01
MALANDRO
4
0,02
MALANDROS
4
0,01
MALANDROS
1
MALÍCIA
23
0,07
MALÍCIA
14
0,05
MALICIOSO
2
MALICIOSO
1
MALICIOSOS
1
MANDINGA
8
0,02
MANDINGA
6
0,02
MANDINGAS
1
A Tabela 2 acima mostra a diferença na freqüência das palavras-chave no corpus paralelo
bilíngüe: os itens lexicais capoeir* têm freqüência relativa muito alta no corpus de estudo,
mas os itens lexicais malícia, mandinga, malandr* têm freqüência relativa muito baixa.
Conforme veremos adiante (2.3.2.), esta diferença na freqüência levou a um tratamento
metodológico diferente.
(ii) O Concord: esta ferramenta produz linhas de concordância, lista de colocados,
lista de agrupamentos lexicais, lista de padrões de colocados, gráfico de
distribuição da palavra de busca (plot) e, por isso, permite observar como as
palavras e frases se comportam em seus contextos de uso, a partir da busca de
palavras (nódulo) determinadas pelo pesquisador. É, portanto, uma ferramenta
61
fundamental para a observação de colocações e do fenômeno de prosódia
semântica. Os instrumentos de análise, disponibilizados por esta ferramenta, são
listados a seguir:
Concordance: esta ferramenta produz linhas de concordância que permitem analisar os
nódulos de busca no seu contexto de uso. Muitas vezes foi necessário estender as
linhas de concordância para ampliar o potencial contextualizador das colocações,
como por exemplo, em:
Quadro 4: estendendo o potencial contextualizador das colocações.
Concordance
PS
QUEDA DE QUATRO Ao contrário da cocorinha (na qual o jogador entra sob o golpe do
atacante), na queda de quatro o jogador se esquiva fugindo para trás. Ele desce, num
movimento para trás, afastando o corpo e o tronco do golpe de ataque, muitas vezes mantendo
os pés no mesmo local. Este golpe não é indicado para iniciante: ao descer para trás, o aprendiz
(que não tem ainda domínio sobre o próprio corpo) machuca as mãos e os pulsos com o
impacto do peso do seu corpo no chão. Além disso, para o jogador que não é MALICIOSO,
esta esquiva deixa-o muito vulnerável. É um movimento mais típico da capoeira angola.
+
A partir do Quadro 4 acima, foi preciso estender a linha de concordância para ter
conhecimento sobre qual golpe o autor referia-se e, também, para interpretar o perfil do item
lexical analisado como positivo pois as palavras que estão ao seu redor (machuca, vulnerável
por exemplo) têm uma conotação negativa. No entanto, o sentido em que se usa malicioso
aqui não carrega conotação pejorativa, mas ao contrário, sugere uma qualidade almejada. Mas
também foi necessário restringir as linhas de concordância, pois as ocorrências às vezes eram
muitas próximas e poderiam influenciar na conotação uma da outra, por exemplo, no caso das
linhas de concordância do item lexical malícia:
Quadro 5: restringindo as linhas de concordância.
Concordance
PS
(a) em sua tese de doutorado sobre a capoeira, nos dá uma interessante visão do que é malícia:
N
(b) interessante visão do que é malícia: "Fingir é certamente uma parte essencial da malícia, e
isto gira em torno
-
62
No Quadro 5, as associações lexicais da linha de concordância (b) poderiam influenciar o perfil da PS
da linha de concordância anterior (a) que foi interpretada como tendo a PS neutra (análise das linhas
de concordância pode ser verificada no Capítulo 3.).
Lista de colocados (collocates): mostra os colocados de uma palavra de busca
específica distribuídos em ordem de freqüência.
Lista de agrupamentos lexicais (clusters): permite identificar padrões de repetições de
frases nas linhas de concordância, ou seja, são seqüências fixas de palavras recorrentes
nas linhas de concordância. Em geral, são multipalavras que incluem a palavra de
busca, mas podem não incluir, pois o programa busca itens recorrentes na
concordância;
Lista de padrões de colocados (patterns): fornece uma lista de resumo dos colocados.
Eles são agrupados nas posições em que são mais freqüentes. Deve-se ter cuidado para
não se ler a listagem como se os itens formassem multipalavras, pois não garantia
de que houve encadeamentos seqüenciais aparentes na lista. (Berber Sardinha, 1999).
Gráfico de distribuição de palavras (plot): A ferramenta plot do Concord nos permite
observar o comportamento do item lexical investigado ao longo do corpus, pois mostra
como a palavra de busca é distribuída no corpus. A Figura 5 apresenta o plot das palavras
malícia esquerda) e capoeira direita) no corpus de estudo, cada diagrama ilustra a
presença do item lexical investigado no corpus - podemos perceber que a ocorrência da
malícia é muito menor que da capoeira tanto na textualização quanto na re-textualização:
Figura 5: plot dos itens lexicais malícia e capoeira no corpus paralelo bilíngüe.
63
Na Figura 5, a margem esquerda de cada diagrama representa o início do texto e a direita,
o fim. É possível notar que na textualização (linha de cima do diagrama) a palavra malícia
aparece desde o início, enquanto que na re-textualização, somente a partir do meio do
texto. Pode-se explicar essa diferença pela mudança de posição do capítulo sobre o jogo,
que é o primeiro capítulo na textualização e o segundo na re-textualização.
(iii) Keywords: esta ferramenta produz uma lista de palavras com freqüência relativa
incomum no corpus de estudo muito alta ou muito baixa. Para isso, compara as listas
de palavras do corpus de estudo com as do corpus de referência - geradas pela
ferramenta wordlist - e produz uma lista de palavras com alto grau de centralidade no
corpus de estudo. As palavras-chave obtidas por esta ferramenta são úteis para
caracterizar o gênero do corpus de estudo.
(iv) Utilititários: File Manager, Text Converter, Splitter, Viewer and Aligner
Esta pesquisa não utilizou os utilitários do software WordSmith Tools (1999), mas apenas
alguns recursos das ferramentas ou seja, não explorou toda a potencialidade oferecida por
este software, como veremos em detalhamento na subseção 2.3.2., a seguir. Os settings
utilizados neste trabalho, no WordSmith Tools, foi o Default.
2.3. Decisões metodológicas
Esta seção apresenta os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa em duas
subseções, a saber: (2.3.1.) Fase exploratória apresenta o percurso que resultou no formato
atual da pesquisa; (2.3.2.) Palavras-chave e procedimentos de investigação justifica a
escolha das palavras-chave e descreve os procedimentos e critérios metodológicos para a
análise.
64
2.3.1. Fase exploratória
Como já foi dito anteriormente, a escolha pelo tema Capoeira é anterior à existência do corpus
paralelo bilíngüe, por isso foi necessária uma etapa de trabalho - que chamei de ―fase
exploratória‖ - para fazer a delimitação do universo de pesquisa atual. Esta etapa é composta
por quatro momentos distintos, que sinalizam para a amplitude do universo da pesquisa e
ilustram o primeiro contato do tema capoeira com as possibilidades de análise oferecidas
pelos Estudos da Tradução. Aliados ao Exame de Qualificação, estudos piloto
47
ajudaram a
delimitar os objetivos específicos deste trabalho, resultando no recorte e configuração do
projeto final para esta dissertação. Cumpre lembrar que esta etapa da pesquisa é uma
aproximação ―pelas bordas‖ dos textos escolhidos, numa tentativa de visualizar o contexto em
que se inserem as obras e de explicar o recorte, que resultou na pesquisa em seu formato atual.
(i) No primeiro momento, ao focalizar na palavra capoeira, foi investigado o contexto
discursivo em que esta palavra está inscrita. Para isso, selecionei algumas obras
48
que têm
como tema a capoeira e que evidenciam sua condição transnacional. Verifiquei que os autores
das obras analisadas freqüentemente associam a representação da capoeira aos discursos que
evidenciam o seu mito de origem, a saber: à escravidão e à marginalidade. Para verificar as
representações construídas pelos três autores (Almeida, Capoeira e Lewis), além da palavra
capoeira, selecionei duas outras devido à importância atribuída pelos autores nas suas
representações sobre o que é capoeira. São elas: roda e malícia. Em todas as obras estas
palavras ajudam a compor o universo capoeirístico, a malícia é a referência para uma filosofia
47
Resultaram nas comunicações dos congressos Abralic, Abrapt e Celsul. Respectivamente: IX Congresso
Internacional - Travessias (Associação Brasileira de Literatura Comparada ABRALIC); IX Encontro Nacional
de Tradutores (Associação Brasileira de Tradutores - ABRAPT) e Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul
(CELSUL).
48
Os livros de Almeida (Capoeira - A Brazilian Art Form. History, Philosophy, and Practice/ 1986; Água de
beber, camará! Um bate-papo de capoeira /1999); de Capoeira (Capoeira. Os fundamentos da malícia /1992;
Capoeira. Pequeno manual do jogador / 2002; Capoeira Roots of the dance fight game / 2002; The Little
capoeira Book / 2003); e de Lewis (Ring of Liberation. Deceptive Discourse in Brazilian Capoeira / 1992).
65
sobre a prática da capoeira, enquanto a roda representa o palco onde ocorre o processo de
aprendizado de tal filosofia de vida.
Os autores brasileiros, Capoeira e Almeida, traduziram a palavra roda (situação onde o jogo
acontece, palco do ritual da capoeira) como circle ou wheel. Enquanto J. Lowell Lewis optou
por traduzir como ring e, em alguns momentos, como uma segunda tradução, usou wheel.
Optar por traduzir como circle ou wheel ressalta o caráter estético deste ―palco‖, circular,
onde se dá o ritual da capoeira. Enquanto que utilizar a palavra ring nos remete a uma idéia de
união/ ciranda, ou pode, ainda, fazer alusão ao palco de luta (como no boxe). Outra palavra
muito freqüente nos textos, a malícia, é traduzida por Alex Ladd (2003) como algo mais que
malice ou slyness, sendo caracterizada como um conceito que sintetiza a filosofia da capoeira,
transcendendo uma simples alusão à maldade ou astúcia. Mestre Acordeon (1986: 2) traduz o
conceito como treachery e afirma ser essa a palavra que define a capoeira, para Mestre
Bimba. Mas é curioso notar que na versão em português (1999: 16), ele optou pela palavra
maldade para falar sobre a mesma definição dada por Mestre Bimba. Para traduzir malícia,
Lewis usou várias palavras, são elas: deception, trickery, cunning, double-dealing,
indirection. Estas palavras também sugerem uma ―malandragem‖, uma situação ambígua, no
entanto, não trazem uma conotação tão pejorativa quanto ―traição‖ (treachery, em Almeida).
(ii) O segundo momento é ilustrado pela análise de uma cantiga de capoeira que foi
textualizada e traduzida pelos autores Lewis (1992) e Almeida (1986). O Quadro 6 abaixo
apresenta a cantiga, uma música antiga ainda muito cantada nas rodas contemporâneas, que
ilustra a análise:
66
Quadro 6: músicas de capoeira em Lowell (1992) e Almeida (1986).
A partir do Quadro 6, chamo atenção para duas maneiras possíveis de interpretar as escolhas
de tradução. A primeira é a opção para a tradução da palavra nego: nos dois casos o item
lexical utilizado foi guy, sendo que o livro de Lewis traz uma nota explicatória: O termo
traduzido como ‗cara‘ (nego) é um diminutivo de negro ou preto, que na Bahia é um termo
afetuoso, entre os falantes, para qualquer amigo ou relação, sem característica racial
49
(Lewis, 1992: 232) (grifo meu). Observa-se que a tradução para o inglês da palavra nego é
desprovida de sentido racial. Isso porque, para o contexto norte-americano, mencionar
‗características‘ raciais é geralmente associado a um sentido pejorativo. No caso brasileiro, a
palavra nego não tem, necessariamente, uma conotação negativa, pois esse termo muitas
vezes pode ser usado com um sentido carinhoso para se referir a um amigo ou conhecido
(conotação presente em fontes lexicográficas comuns).
Outra observação é em relação à solução encontrada para a tradução da palavra cão. Note que
esse trecho da música foi omitido por Lewis, por isso estarei comparando a solução de Lewis
(a saber, very tough) com a de Ladd (Capoeira: 2003), no exemplo a seguir: (...) Como a
49
―The term glossed as ‗guy‘ (nego) is a shortened form of negro (‗negro‘ or ‗black‘), which in Bahia is an
affectionate term, among many speakers, for any friend or acquaintance, regardless of racial characteristics‖
(Lewis, 1992: 232) (grifo meu).
Solo: Dá, dá, dá no
nêgo
No
nêgo você não dá
Give, give, give it
to him
You´re not giving him a thing
Chorus: Dá, dá, dá no
nêgo
Give, give, give it to him
Solo: esse
nêgo
é
lig
eiro
This
guy
is
quick
Chorus: Dá, dá, dá no
nêgo
Give, give, give it to him
( LEWIS, J. Lowell. 1992
xviii; 163)
Chorus: Da, da, da no
nêgo
Go beat that
guy
Soloist: No
nêgo
você não dá
I bet you
can´t get
him
Chorus: Da
, da, da no
nêgo
Go beat that guy
Soloist: Esse
nêgo é
danado
, esse
nêgo é o
cão
That guy is
something else
,
he is
very tough
Chorus: Da, da, da no nêgo
Go beat that guy
Soloist: Esse
nêgo te agarra te joga no chão
That guy
will grab you and throw you on the ground
Chorus: Da, da, da no
nêgo
Go beat that guy
(ALMEIDA,
Bira, 1986: 86)
67
figura do Cão‖; (...) like the figure of the Dog(2003: 48-49). A solução encontrada por
Ladd é seguida de uma nota: Dog = Nickname for the devil.‘ (Capoeira, 2003: 49). Pode-se
verificar que as soluções encontradas são bem diferentes (mesmo os dois autores em questão
sendo brasileiros). Enquanto Ladd ressalta, no contexto brasileiro, a existência de uma relação
da palavra cão com o diabo; a opção de Almeida acaba omitindo tal associação. Como
podemos perceber, as re-textualizações constroem diferentes representações da capoeira que
refletem a forma como os autores interpretam a realidade. A opção de Almeida (1986) em
traduzir esse nego é o cão por he is very tough, acaba por reduzir o teor metafórico da
mensagem cantada, porque a relação com o universo místico-religioso proposto pela palavra
cão (que também pode significar diabo ou demônio) é omitida.
(iii) No terceiro momento
50
da fase exploratória o foco está nos livros do brasileiro Almeida
(Capoeira: A brazilian art form. History, philosiphy, and practice, 1986; e sua re-
textualização Água de beber, camará! Um bate-papo de capoeira, 1999), onde ele atua como
autor e tradutor. A escolha por este corpus, em detrimento aos demais, se deu devido ao fato
deste ter sido textualizado originalmente em inglês, evidenciando ainda mais o contexto
transnacional em que está inscrito. Esta etapa permitiu explorar as possibilidades oferecidas
pelo software WordSmith Tools, representando apenas um primeiro contato com esta
ferramenta e também com a teoria sistêmico-funcional de Halliday.
(iv) O quarto momento, o Exame de Qualificação, resultou em mudanças radicais no
direcionamento da pesquisa: a adoção de um novo corpus
51
, e o interesse em investigar
questões relacionadas à prosódia semântica de itens lexicais considerados palavras-chave. Se
50
Resultou na comunicação para o Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul - CELSUL.
51
A princípio, o interesse da pesquisa estava na análise da transitividade nos livros de Bira Almeida (1986/
1999).
68
num primeiro momento trabalhar com a obra de um brasileiro, escrita originalmente em inglês
para depois ser re-textualizado para o português, apareceu como uma tarefa extremamente
instigante, depois da qualificação esta tarefa pareceu extrapolar os limites desta pesquisa por
conduzir a uma série de problematizações que não interessam a este trabalho (como questões
sobre a autoria e a relação de tradução entre a textualização e a re-textualização visto que
em muitos momentos não existe correspondência entre as obras). Apesar de o fato de
recomeçar a coleta/ digitalização dos dados ser um desafio contra o tempo, principalmente por
esta ser uma tarefa extremamente mecânica e cansativa, as obras de Nestor Capoeira evitam
as problematizações dos livros anteriores, pois mantêm claramente uma relação tradutória
entre si - além de estarem inseridas no mesmo contexto de internacionalização da capoeira,
sendo inclusive publicadas no exterior pela mesma editora.
Em resumo, a fase exploratória fez um levantamento de vários autores (e suas re-
textualizações) que têm como temática principal a capoeira e marcou a iniciação às teorias das
Abordagens Discursivas em Estudos da Tradução e às ferramentas do software WordSmith
Tools (1999). Cada etapa assinalada anteriormente foi importante para a delimitação do
projeto em sua versão atual: desde a importância atribuída ao (i) item lexical malícia que
aparece como conceito fundamental nas definições da capoeira; (ii) e às diferentes
interpretações e posicionamentos ideológicos que cada escolha lexical acarreta no processo de
re-textualização; até o momento em que os (iii) estudos pilotos sobre a transitividade nos
livros de Bira Almeida (1986/ 1999) dão lugar às sugestões do item (iv) exame de
qualificação, apresentando novos rumos à pesquisa: o corpus mudou e a transitividade deu
lugar à investigação das colocações e do perfil da prosódia semântica de itens lexicais
específicos no novo corpus de estudo.
69
2.3.2. Palavras-chave e procedimentos de investigação
Neste trabalho, as palavras (nódulos) de busca são consideradas palavras-chave em dois
sentidos: (i) Conforme o conceito de palavra-chave em Williams (1976) e (ii) pela sua
freqüência incomum muito alta ou baixa - no corpus de estudo, confirmada pela ferramenta
keywords do software WS Tools, versão 3.0.
(i) Williams (1976) considera ‗chave‘ as palavras que são importantes por associarem certas
atividades à suas interpretações, e por isso representam determinadas maneiras de pensar -
existe linha de pesquisa estabelecida na POSLIN/ UFMG que investiga palavras-chave nestes
moldes (ver, por exemplo: DoCarmo, 2005 e Taitson, 2005). Esse é o caso dos itens lexicais
investigados nesta dissertação (a saber: malandragem, malícia e mandinga), devido sua
significância na interpretação da capoeira pelo autor. Os critérios para a seleção das palavras-
chave representativas da capoeira são fundamentados na relação do termo malícia com os
outros nódulos escolhidos (malandragem, mandinga) que também podem ser sinônimos de
capoeira.
No livro intitulado Fundamentos da malícia (1999: 121), Nestor Capoeira apresenta o termo
malícia como o ―fundamento da capoeira‖, conforme podemos verificar a partir da citação a
seguir:
A filosofia, o fundamento da capoeira a ótica do capoeirista, seu modo de encarar a vida, o mundo e
os homens é cínica e objetiva; crua, irônica e bem-humorada; vital, poética e intuitiva. (...) Este
fundamento, este tipo específico de (...) percepção do universo (...) é chamado, carinhosamente, de
malícia pelos aficionados do jogo.
O trecho acima apresenta a malícia como um conceito importante no universo da capoeira -
por isso pode ser considerada uma palavra-chave nos termos de Williams (1976) e também
indica ambigüidade, visto que a conotação positiva deste item lexical oscila entre negativa e
70
neutra. Mas, apesar da importância atribuída ao termo, a palavra malícia não consta no
glossário de termos básicos compilado pelo tradutor Alex Ladd.
(ii) A ferramenta keywords oferece uma lista de palavras que têm grau de centralidade no
corpus de estudo. O software considera ‗chave‘ as palavras com freqüência incomum - muito
alta ou muito baixa - no corpus de estudo, quando comparado a um corpus de referência. A
comparação é feita a partir das listas de palavras do corpus de estudo e do corpus de
referência, geradas pela ferramenta wordlist. Apenas o corpus em português foi submetido a
esta ferramenta - e o corpus de referência utilizado foi o Lácio-Ref
52
- uma vez que o corpus
de referência em inglês disponível on-line (versão demo do Bank of English do COLLINS
COBUILD
53
) não permite o acesso integral aos bancos de dados, portanto, devido a
inexistência, em disponibilidade, de um corpus de referência para o inglês norte-americano.
Esta ferramenta é útil para a identificação do gênero do corpus de estudo, pois dá pistas sobre
o que trata o corpus. Ver detalhamento da utilização desta ferramenta no Capítulo 3.
Portanto, as duas maneiras para definir palavras-chave se complementam e justificam a
escolha dos itens lexicais (capoeir*, malícia, mandinga, malandr*) investigados no corpus
paralelo bilíngüe de pequena dimensão. Para maior detalhamento sobre as palavras-chave ver
a subseção 3.1. do Capítulo 3. As ferramentas - do software WS Tools, versão 3.0 (Scott,
1999) - utilizadas para obter os dados quantitativos e os procedimentos para a análise são
listados, a seguir:
52
O corpus Lácio-Ref é um corpus aberto, composto de diversos gêneros e subgêneros e é disponibilizado na
página Lácio-Web, no endereço: http://www.nilc.icmc.usp.br/lacioweb/main2.php.
53
Disponibilizado no endereço: http://www.cobuild.collins.co.uk/Pages/boe.aspx
71
(i) wordlist: esta ferramenta foi utilizada para produzir listas de palavras. Estas listas foram
úteis para (1) conhecer a ocorrência dos itens investigados no corpus de estudo e (2) para
permitir a utilização da ferramenta keywords, definida seguir.
(ii) keywords: esta ferramenta forneceu a lista de palavras com freqüência incomum no corpus
de estudo. A lista é obtida a partir da comparação da lista de palavras do corpus de estudo
com lista de palavras de um corpus de referência as listas de palavras são geradas pela
ferramenta wordlist. Os itens lexicais capoeir* tiveram freqüência relativa alta no corpus
investigado, e os demais itens lexicais (malícia, mandinga, malandr*) tiveram freqüência
relativa baixa. Nesta pesquisa, a lista de palavras gerada pela ferramenta keyword foi útil para
contextualizar o ambiente colocacional dos itens lexicais investigados.
(iii) concord: Esta ferramenta foi utilizada para obter: (1) linhas de concordância
(concordance): que permitiu a análise das ocorrências, contextualizando as palavras-chave no
corpus de estudo; (2) agrupamento de palavras (cluster): permite identificar padrões de
repetições de frases nas linhas de concordância. É um recurso útil para identificar conceitos
socialmente importantes no corpus investigado. A utilização desta ferramenta na análise é
apresentada no capítulo 3.; (3) colocados (collocates): Este recurso foi utilizado para obter
listas de colocados do corpus de estudo. A utilização desta ferramenta na análise é
apresentada no capítulo 3.
(iv) Análise das colocações e prosódia semântica (capítulo 3):
- A análise dos dados obtidos pelo software é realizada a partir da análise dos colocados e
agrupamentos do item lexical capoeira - e suas lematizações estendendo-se para as linhas
de concordância. Os itens lexicais (malandr*, malícia, mandinga) que não detectaram
nenhum padrão colocacional (na freqüência mínima default do WS Tools), foram analisados a
partir das linhas de concordância, conforme desenvolvido no capítulo 3.
72
(v) Alinhamento das linhas de concordância: Não foi utilizado este utilitário do software
WS Tools. De modo geral, verifica-se que muitas vezes não existe correspondência entre as
ocorrências dos itens lexicais investigados - na textualização e re-textualização - por conta de
uma série de omissões e acréscimos na T e RT. Deste modo, o alinhamento, quando realizado,
foi feito manualmente ou seja, sem o auxílio da ferramenta Aligner do software WS Tools.
2.ii. Considerações finais
O capítulo 2 apresentou o corpus de estudo e os procedimentos metodológicos para a
realização desta pesquisa, a partir das seguintes seções: A seção (2.1.) O corpus mostrou a
configuração do tipo de corpus utilizado e contextualizou o corpus de estudo; A seção (2.2.)
A captura do texto e o software descreveu o processo de digitalização e apresentou
brevemente as ferramentas do software WS Tools - versão 3.0; A seção (2.3) Decisões
metodológicas, apresentou os primeiros passos da pesquisa e os critérios de seleção dos
nódulos de busca, assim como os procedimentos para a investigação destas palavras. Embora
o software WordSmith Tools não tenha sido explorado na sua totalidade, suas ferramentas e
recursos foram essenciais para a realização deste trabalho e permeiam toda a pesquisa, pois
possibilitaram uma maior abrangência e precisão na análise dos dados obtidos.
73
Capítulo 3
Análise dos dados
3.i. Considerações iniciais
O Capítulo 3 apresenta a análise dos dados coletados com o software WS Tools (Scott, 1999),
dividida em quatro subseções, a saber: a primeira subseção, (3.1.) Palavras-chave‟:
representações discursivas da capoeira, apresenta o conceito ‗palavra-chave‘ de acordo
com a proposta de Williams (1976) e da ferramenta keywords do software WS Tools, justifica
a escolha dos itens lexicais investigados nesta pesquisa e evidencia as relações entre eles; a
segunda subseção, (3.2) Relações lexicais, Colocações e Prosódia Semântica, apresenta a
análise das associações lexicais formadas a partir do fenômeno colocacional com a palavra
capoeira (e suas lematizações) e identifica a sua Prosódia Semântica no corpus de estudo; a
terceira subseção, (3.3.) Associações lexicais nas linhas de concordância, apresenta a
análise das associações lexicais dos itens que não geraram listas de colocados (a saber,
mandinga e malandr*); o item lexical malícia também será investigado nesta seção, uma vez
que, conforme discutido, o fenômeno colocacional (com três palavras) foi insuficiente para
identificar sua conotação; e, finalmente, a subseção (3.4.) Texto em contexto, apresenta a
análise qualitativa dos dados obtidos eletronicamente.
3.1. Palavras-chave‟: representações discursivas da capoeira
Cada palavra-chave selecionada chamou a atenção devido aos problemas de significação
gerados no processo de interpretação da capoeira, no corpus paralelo bilíngüe. Neste estudo o
conceito palavras-chave (keywords) é utilizado com dois sentidos: (i) devido sua
importância conceitual para o entendimento sobre a capoeira, conforme Williams (1976),
indicando diferentes formas de pensamento e associando certas atividades às suas respectivas
interpretações; e (ii) de acordo com a ferramenta keywords do software WS Tools que põe
74
em evidência a importância de determinada palavra, seja pela sua alta ou baixa freqüência, na
comparação do corpus de estudo com um corpus de referência. Cabe lembrar que apenas o
corpus em português foi submetido a esta ferramenta (sendo o corpus de referência utilizado o
Lácio-Ref
54
), devido a inexistência, em disponibilidade, de um corpus de referência, ou dos
arquivos wordlist extraídos de um corpus de referência, para o inglês americano.
As palavras-chave apontadas por Williams (1976) são apresentadas em 110 pequenos ensaios
que tratam de questões críticas do vocabulário, relativas à sociedade e suas interpretações/
entendimentos. O interesse principal em Williams (ibid) é a análise das mudanças históricas
das idéias e dos valores produzidos pelos termos investigados, a partir da análise de 20
volumes do Oxford English Dictionary, que permitiu um estudo diacrônico da mudança do
significado (para uma excelente revisão dos trabalhos de Williams (ibid.) sobre palavras-
chave ver Stubbs, 1996: 166).
Williams (1976) apresenta algumas características das palavras-chave. Primeiramente, o
conceito palavra-chave ajuda a lidar com as limitações de tempo/espaço presentes em fontes
lexicográficas convencionais, pois mostra como alguns processos sociais e históricos ocorrem
dentro da linguagem, e, desta maneira conta das palavras que envolvem idéias e valores
como é o caso dos itens lexicais investigados nesta dissertação. Em segundo lugar, outra
característica das palavras-chave é sua extrema ambigüidade, sempre possibilitando
conotações diferentes como, por exemplo, a palavra CULTURA que pode indicar, ao
mesmo tempo, artes ou plantio (para maiores detalhes sobre a ambigüidade das palavras-
chave ver Williams, ibid.; e Stubbs, 1996: 166-188).
54
O corpus Lácio-Ref é um corpus aberto, composto de diversos gêneros e subgêneros, tais como agrário, sociais,
religioso e de saúde - disponibilizado na página Lácio-Web, no endereço:
http://www.nilc.icmc.usp.br/lacioweb/main2.php.
75
As palavras-chave malícia, mandinga, malandragem, além de serem acepções aceitas para o
termo (capoeira), são conceitos essenciais nas representações discursivas sobre a capoeira e
estão geralmente associadas a valores positivos. No entanto, as definições dos dicionários
geralmente oferecem conotação negativa para estas palavras, como pode ser verificado no
Quadro 7:
Quadro 7: definições do Dicionário de Usos do Português do Brasil (Borba, 2002).
Palavra
Definição
Malícia
Nf * [Abstrato de ação] 1 interpretação maldosa ou mordaz; mau juízo: nada
acrescentando ou omitindo, nem pondo nenhuma malícia (C);
2 dolo; velhacaria: além de sua [do lobo vestido de coelho] força natural se apóia na
malícia, no engodo, na intenção da cilada (ESP)
* [Abstrato de estado] 3 propensão para o mal; maldade: com o tempo, foi ganhando
malicia. O freguês pedia a carne passada, encomendava sangrenta (BH); infalível e
terrificante animal, enviado pela malícia do demônio (FP)
4 esperteza; astúcia: com a malícia de uma raposa (AQ); na ausência do traquejo, da
experiência e da malicia do nosso ambiente futebolístico (ESP)
Mandinga
Nf * [Abstrato de ação] 1 (Coloq) ação maléfica atribuída a bruxos e magos; bruxaria;
magia negra: você me abraça, me beija, me xinga, me bota mandinga ( O); quem te
ensinou esta mandinga? (PP)
* [Abstrato de estado] 2 (Coloq) maldição: o seu olhão estriado [...] só lhe dizia que ali
tinha mandinga (OSD); Luzia Silva também devia ter mandinga naqueles olhos de réptil
(TV)
* [Concreto] 3 nação de negros do grupo sudanês, tidos como mágicos e feiticeiros:
Laussa, peul, mandinga e tapa são nações islamizadas (UM)
Malandro
Adj [Qualificador de nome animado] 1 esperto; patife: Sei que ele é malandro (CM);
acha todo mundo malandro ou burro (Q)
[de nome abstrato] 2 que denota velhacaria ou patifaria: O Brasil da esperteza
malandra (ESP); afirmação meio malandra que serve de álibi pra quem não quer
mergulhar no exame de uma obra (OG) .
N 3 indivíduo que não trabalha e vive de expedientes: Sampaio estava em cena vestido
de mulher (BB); Não criou esta menina pra mulher de malandro não (OM)
4 usado, em discurso direto, para dirigir-se a alguém com intimidade: Espera aí, seu
malandro (COR); Ah! malandro, eu sabia que tinha carne em baixo (OM)
Malandragem
Nf [Abstrato de estado] 1 velhacaria, patifaria: reprimir a malandragem dos gigolôs
(IS); A torcida americana percebeu a malandragem (PLA)
* [Concreto] 2 grupo de malandros: vai se reunir com a malandragem e puxar fumo
(DE); samba em homenagem a nata da malandragem (OM)
As definições apresentadas no Quadro 7 - do Dicionário de Usos do Português do Brasil
(Borba, 2002) -o baseadas em corpus e mostram que as palavras malícia, mandinga,
malandro/ malandragem possuem quase sempre uma conotação negativa pois estão
associadas à interpretação maldosa ou mordaz; mau juízo, dolo, velhacaria, propensão para
o mal, maldade (em malícia), à ação maléfica, maldição (em mandinga), velhacaria,
patifaria, etc. (em malandro/ malandragem).
76
As possibilidades de associação que produzem uma conotação positiva, em menor proporção,
estão: (i) o uso do termo para dirigir-se a alguém com intimidade, etc. (em malandro/
malandragem); e (ii) no sentido de esperteza ou astúcia (em malícia) lembrando a
ambigüidade nas palavras esperto e esperteza, uma vez que essas palavras podem significar
astúcia, sagacidade, inteligência, mas também ardil ou armadilha (de acordo com o mesmo
dicionário). No caso da palavra mandinga, além da conotação negativa (ação maléfica), existe
a possibilidade de conotação neutra quando o termo está associado à nação de negros
sudaneses.
Para Nestor Capoeira (2002: xv), ―mais que uma dança, uma técnica de luta, um jogo, ou um
patrimônio da cultura brasileira, a capoeira é uma forma de ver e viver a vida‖
55
. De acordo
com o autor (ibid: 47-55), a malícia e a malandragem são irmãs gêmeas e desempenham
papel essencial na representação desta forma de ver e viver a vida‖, pois constituem os
fundamentos da filosofia da capoeira. No entanto, existe uma preocupação do autor (ibid: 48-
53) em fazer uma distinção entre o ‗verdadeiro‘ e o ‗falso‘ malandro respectivamente, o
bom e o mau:
Mas é preciso distinguir esse Malandro (com M maiúsculo) que habita o reino imaginário da
capoeira do outro malandro (vagabundos de rua) que vivem em nosso mundo ―material‖, reflexos
pálidos e distorcidos do Malandro mítico. Falta a eles a enorme sabedoria do chefe Malandro e
eles precisam gastar seu tempo trapaceando otários para poder sobreviver
56
(ibid: 48-49).
Desta forma, o ―verdadeiro malandro‖ está associado à imagem carismática do sujeito avesso
às regras sociais, que utiliza a inteligência para levar vantagens em situações da vida, em
oposição à imagem do ―falso malandro‖, não mais do que um simples vagabundo ou ladrão
que não compreende os valores da ‗ética da malandragem‘. Portanto, para o autor, a
malandragem e a malícia - na capoeira - estão associadas a valores positivos, pois conferem
55
―more than a dance, a fighting tecnique, a game a patrimony of Brazilian culture, capoeira is a form of ‗seeing‘
and living life.‖ (Capoeira, 2002:xv)
56
―But we must distinguish this Malandro (with a capital ‗M‘) that inhabits the Imaginary realm os capoeira
from the other malandros (street-smart guys) who live in our ―material‖ world, pale and distorted reflections of
that mythical Malandro. They lack the enormous wisdom of the chief Malandro and have to spend their time
swindling suckers in order to survive.‖ (Capoeira, 2002: 48-49).
77
ao capoeirista uma maneira diferenciada de entender o mundo - diferença fundamentada na
astúcia e inteligência e não em um ato trapaceiro.
Na capoeira, os termos malícia e mandinga também estão associados. O depoimento de
Muniz Sodré (in: Capoeira, 1992:132-133) esclarece esta relação:
(...) eu acho que o que se chama de mandinga‘ (em capoeira) é a mesma coisa que ‗malícia‘, que a
palavra ‗mandinga‘ ainda guarda conotação africana: (...) eu acho que a malícia não é apenas um
enganar, fingir que vai dar um golpe e dar outro, ela é também um sistema de sinais, de signos, como
feitiço que se faz feitiço ou despacho para construírem uma realidade própria, que é uma realidade
sedutora, tanto na hora do jogo como fora dele, na luta e na vida. Então, mandinga‘ é (...) uma
estratégia, um ataque de sedução, é o compromisso com o feitiço. É a mesma coisa: malícia‘ e
‗mandinga‘ - é o mesmo conceito. (grifo meu)
O autor compartilha da opinião de Muniz Sodré quanto aos termos malícia e mandinga, mas
no glossário (in: Capoeira, 2003: 145) parece haver diferenças na interpretação destes
conceitos. As definições contidas neste glossário, dos termos mandinga, malandro e
malandragem, podem ser verificadas a partir do Quadro 8 abaixo:
Quadro 8: itens lexicais mandinga, malandro e malandragem no glossário de Alex Ladd.
Palavra
Definição
Mandinga
Mágica ou bruxaria. A palavra implica no entendimento básico das forças da natureza,
e que a pessoa em questão sabe como usá-las por meio de rituais envolvendo mágica.
O mandingueiro é especialista em mandinga.‖
57
Malandro
Um patife ou cafajeste.
58
O malandro é um personagem na tradição da capoeira e na cultura popular brasileira
em geral.
59
Malandragem
É um ato trapaceiro ou enganoso.
60
De acordo com o questionário respondido pelo autor (ver ANEXO A), o glossário presente na
re-textualização é de responsabilidade do tradutor Alex Ladd. No Quadro 8, a definição de
Ladd para o item lexical mandinga sugere a associação do termo a um campo mágico/místico,
mas não faz qualquer alusão à África diferentemente do argumento de Muniz Sodré sobre a
significação da mesma palavra em português - (...)o que se chama de ‗mandinga‘ (em
57
minha tradução para: ―Magic or sorcery. The word implies a basic understanding of the forces of nature, and
that the person in question knows how to use them by means of rituals involving magic. A mandingueiro is one
well versed in mandinga‖ (Capoeira, 2003: 145).
58
minha tradução para: ―A rogue or hustler (Capoeira, 2003: 145).
59
minha tradução para: ―The malandro is a fixture in capoeira lore and in Brazilian popular culture in general‖
(Capoeira, 2003: 145).
60
minha tradução para: ― is a tricky or deceitful act‖ (Capoeira, 2003: 145).
78
capoeira) é a mesma coisa que ‗malícia‘, que a palavra ‗mandinga‘ ainda guarda conotação
africana (...) (grifo meu). No caso dos itens lexicais malandro e malandragem, apesar de
eles estarem relacionados à cultura popular do Brasil, parece prevalecer uma conotação
negativa (rogue, hustler, tricky, deceitful), não existindo uma referência ao ―bom‖ malandro.
Nesse sentido, as associações privilegiadas pelo tradutor (patife, cafajeste, etc.) divergem
novamente da interpretação do autor, que faz questão em marcar a distinção entre o
―verdadeiro‖ (bom) e o ―falso‖ (mau) malandro.
Apesar de o glossário de termos básicos não incluir a palavra malícia, o tradutor argumenta
que a malícia da qual se fala na capoeira não pode ser confundida com a palavra malice em
inglês
61
. Para Ladd (Capoeira, 2003: 33), as palavras que definem malícia - shrewdness,
street-smarts, and wariness parecem estar mais próximas de um ―recurso para dissimular‖
do que da ―estratégia‖ sugerida por Muniz Sodré no trecho citado: a malícia não é apenas
um enganar, fingir que vai dar um golpe e dar outro, ela é (...) uma estratégia, um ataque de
sedução, é o compromisso com o feitiço (...)‖.
A ferramenta keywords do software WS Tools considera ‗chave‘ as palavras que ocorrem com
freqüência relativa significante (muito alta ou muito baixa) no corpus de estudo, quando
comparado a um corpus de referência. O tamanho recomendado para um corpus de referência
é cinco vezes o tamanho do corpus de estudo (Berber Sardinha, 1999).
O software WS Tools identifica as palavras-chave mecanicamente, com base na comparação
das freqüências relativas de todas as palavras do corpus de estudo com a freqüência relativa
de cada uma destas palavras no corpus de referência (inclusive quando freqüência zero, ou
seja, palavras que ocorrem no corpus de estudo, mas não no de referência); se a diferença
61
―In capoeira, malícia mens a mixture of shrewdness, street-smarts, and wariness. It should not be confused
with the English word ―malice.‖ (Capoeira, 2002:33).
79
entre estas freqüências relativas (ou seja, em relação ao total de palavras de cada um dos
corpora) for considerada significativa por um determinado procedimento estatístico chamado
de teste de significância, a palavra é considerada chave. Os testes de significância calculam a
probabilidade do efeito observado (a diferença de freqüências relativas) ser devido ao acaso.
O grau de centralidade (keyness) é medido por meio de um teste de significância estatística
selecionado pelo usuário, que é realizado automaticamente pelo programa. O WordSmith
oferece duas possibilidades: o qui-quadrado (chi-square) ou a razão de probabilidade
logarítima (log likelihood) a pesquisadora utilizou a razão de probabilidade logarítima (log
likelihood).
A freqüência relativa incomum das palavras-chave obtidas com a ferramenta keywords pode
ser de dois tipos: positiva (quando as freqüências são significativamente maiores no corpus de
estudo em relação ao de referência. Isto significa dizer que as diferenças são suficientemente
grandes para que o procedimento considere a probabilidade deste efeito ser devido ao acaso
baixa, segundo um padrão estabelecido, tipicamente nas ciências sociais, p < 0,05. Este
número aparece na coluna na extrema direita do arquivo de saída do Keywords aparecem no
topo da lista). Ou negativa (quando as freqüências são significativamente menores no corpus
de estudo, neste caso aparecendo no fim da lista e com coloração diferente). O grau de
centralidade (keyness), portanto, favorece as palavras-chave positivas em relação às negativas;
por isso a Tabela 3 abaixo privilegiou as 40 primeiras palavras da lista (a lista completa pode
ser verificada no ANEXO C):
80
A Tabela 3 mostra as 40 palavras com maior grau de centralidade na lista de palavras-chave
gerada pela ferramenta keywords. As informações sobre cada palavra são apresentadas em 8
colunas, a saber: coluna N (apresenta a numeração da palavra-chave em questão, ordenada
pelo grau de centralidade); coluna WORD (apresenta a palavra-chave em questão); coluna
FREQ. (mostra a freqüência relativa da palavra-chave no corpus de estudo); coluna
PORT.LST% (mostra a freqüência relativa de cada ocorrência em relação ao total de palavras
do corpus de estudo); coluna FREQ. (mostra a freqüência relativa de cada ocorrência em
relação ao total de palavras no corpus de referência); coluna REF.LST% (mostra a freqüência
Ta
bela 3
: palavras
com
maior
grau de centralidade
-
obtidas com a
ferramenta
keywords
.
N
WORD
FREQ.
PORT.LS
T%
FREQ.
REF.LST %
KEYNESS
P
1
CAP
OEIRA
305
0,89
0
1.110,2
0,000001
2
GOLPE
125
0,36
2
434,6
0,000001
3
JOGO
117
0,34
3
398,3
0,000001
4
112
0,33
6
361,8
0,000001
5
LISO
96
0
,28
0
348,9
0,000001
6
MESTRE
104
0,30
7
328,3
0,
000001
7
RISCADO
87
0,25
0
316,2
0,000001
8
PERNA
87
0,25
1
305,6
0,000001
9
GINGA
84
0,24
0
305
,3
0,000001
10
CHÃO
84
0,24
5
268,6
0,000001
11
BIMBA
66
0,19
0
239,8
0,000001
12
JOGADOR
74
0,22
4
238,8
0,000001
13
VAI
114
0,33
47
0,03
236,6
0,000001
14
BERIMBAU
63
0,18
0
228,9
0,000001
15
FRENTE
99
0,29
31
0,02
228,0
0,000001
16
GOLPES
61
0,18
1
211,8
0,000001
17
ANGOLA
53
0,15
0
192,6
0,000001
18
COCORINHA
51
0,15
0
185,3
0,000001
1
9
51
0,15
0
185,3
0,000001
20
DIREITA
50
0,15
0
181,7
0,000001
21
REGIONAL
71
0,21
16
180,7
0,000001
22
RODA
51
0,15
1
175,8
0,000001
23
UM
457
1,33
1.082
0,61
173,4
0,000001
24
MESTRES
52
0,15
3
166,7
0,000001
25
SENZALA
48
0,14
1
165,0
0,0
00001
26
MOVIMENTAÇÃO
62
0,18
12
164,0
0,000001
27
ESQUERDA
43
0,13
0
156,2
0,000001
28
NEGATIVA
60
0,17
14
151,2
0,000001
29
CAPOEIRISTAS
41
0,12
0
149,0
0,000001
30
JOGADORES
52
0,15
7
148,5
0,000001
31
TREINAMENTOS
43
0,13
1
147,0
0,000001
32
CABEÇA
51
0,15
8
141,3
0,000001
33
ATAQUE
41
0,12
3
128,1
0,000001
34
LUA
35
0,10
0
127,2
0,000001
35
OUTRO
120
0,35
140
0,08
126,9
0,000001
36
IMPROVISAÇÃO
36
0,10
1
122,0
0,000001
37
PASTINHA
33
0,10
0
119,9
0,000001
38
TREINO
33
0,10
0
11
9,9
0,000001
39
VEZES
78
0,23
57
0,03
119,8
0,000001
40
ALUNOS
53
0,15
18
0,01
118,6
0,000001
81
relativa do item lexical no corpus de referência); coluna KEYNESS (mostra o grau de
centralidade do termo em questão, por meio de um processo estatístico - de comparação da
freqüência relativa do corpus de estudo com a freqüência relativa do corpus de referência);
coluna P (mostra o valor da significância estatística atingido pelo resultado da keyness, ou
seja, a probabilidade de erro no resultado da estatística de comparação).
A lista de palavras-chave obtida com esta ferramenta caracteriza o texto de estudo e permite a
identificação do gênero e fornece pistas sobre o tópico de que trata o corpus. A partir da
observação da Tabela 3, por exemplo, é possível perceber a presença do manual de capoeira
no corpus de estudo, que se configura como um gênero discursivo específico.
A ferramenta keywords apresentou uma lista com o total de 265 palavras-chave (a lista
completa pode ser verificada no ANEXO C), entre as quais estão os itens lexicais
investigados nesta pesquisa, mas que tiveram um grau de centralidade menor, conforme pode
ser verificado a partir da Tabela 4:
Tabela 4: ocorrência das palavras-chave investigadas na lista gerada pela ferramenta keywords.
O item lexical capoeira é o primeiro da lista, aparecendo 305 vezes e representando 0,89% do
total de palavras do corpus de estudo, o que veio por gerar um grau de centralidade bem maior
que os demais itens lexicais da tabela, de 1.110,2. O item lexical malícia apareceu na posição
72 da lista, com a freqüência de 21 vezes e representa 0,06% do total de palavras do corpus de
estudo, gerando um grau de centralidade de 76,3. O item lexical malandragem está na posição
177 da lista, aparece 9 vezes e representa 0,03% do total de palavras do corpus de estudo,
N
WORD
FREQ.
PORT.LST%
FREQ.
REF.LST %
KEYNESS
P
1
CAPOEIRA
305
0,89
0
1.110,2
0,000001
29
CAPOEIRISTAS
41
0,12
0
149,0
0,000001
46
CAPOEIRISTA
30
0,09
0
109,0
0,000001
70
CAPOEIRAS
21
0,06
0
76,3
0,000001
72
MALÍCIA
21
0,06
0
76,3
0,000001
99
CAPOEIRAGEM
16
0,05
0
58,1
0,000001
177
MALANDRAGEM
9
0,03
0
32,7
0,000001
212
MANDINGA
8
0,02
0
29,1
0,000001
82
gerando um grau de centralidade de 32,7. O item lexical mandinga apareceu na posição 212 e
representa 0,02% do corpus de estudo, com o grau de centralidade de 29,1.Os itens lexicais
investigados tiveram freqüência 0 (zero) no corpus de referência, por isso a coluna
REF.LST%, que mostra a porcentagem destes itens lexicais no corpus de referência, está
vazia. A probabilidade de erro registrada para essas palavras-chave no resultado da estatística
de comparação (p), expressa na última coluna, é menor do que uma em um milhão
(0,000001).
As palavras-chave entendidas à maneira de Williams (1976) foram selecionadas de acordo
com a sua importância conceitual na textualização; o esforço deste trabalho está em verificar
se a re-textualização constrói o mesmo sentido para estes termos. As 265 palavras-chave
geradas com a ferramenta keywords ajudam a contextualizar o ambiente colocacional em que
estão inseridos os itens lexicais investigados nesta pesquisa, conforme será verificado nas
seções seguintes.
Portanto, a escolha das palavras-chave é justificada de duas formas: pela importância
conceitual destes itens lexicais na definição da capoeira pelo autor e pela freqüência relativa
incomum (muito alta ou muito baixa) destes itens lexicais no corpus de estudo em
comparação com o corpus de referência. Se, por um lado, a importância conceitual destas
palavras ajuda a identificar as representações discursivas sobre a capoeira, a partir das
definições sugeridas pelo autor Nestor Capoeira e pelo tradutor (Alex Ladd), por outro lado as
palavras com freqüência relativa incomum caracterizam o texto porque são indicativas do
contexto em questão.
Devido à importância conceitual das palavras-chave investigadas, muitas vezes, na re-
textualização estes termos foram mantidos em português, constituindo-se, portanto, como
83
empréstimos, conforme a concepção seminal de Vinay & Darbelnet (1995: 31) reproduzida
no Dictionary of Translation Studies (Shuttleworth and Cowie, 1997: 17): ―um tipo de
tradução direta no sentido de que os elementos do texto fonte são substituídos por elementos
‗paralelos‘do texto alvo‖
62
.
No entanto, emergem algumas diferenças em relação à interpretação das idéias e valores
propostos pelo autor na textualização, conforme foi verificado a partir das definições
propostas pelo tradutor no glossário. As seções seguintes continuam a investigar estas
diferenças, com o auxílio dos recursos oferecidos pelo software WS Tools - que permitem o
estudo dos padrões de ocorrências lexicais e das conotações dos termos analisados no corpus
paralelo bilíngüe.
3.2. Relações lexicais, Colocações e Prosódia Semântica
Esta seção analisa as relações lexicais formadas a partir do fenômeno colocacional com a
palavra-chave capoeira, e suas flexões
63
, e identifica o perfil da prosódia semântica nestes
itens lexicais. Para tanto, partiu-se das listas de colocados e clusters geradas pelo software
WS Tools, estendendo-se a análise para as linhas de concordância. O vocábulo malícia gerou
listas de colocados somente no corpus em português, com palavras (fundamentos, capoeira e
que) que, isoladamente, não indicam qualquer conotação
64
. Por isso, o item lexical malícia
será investigado na próxima seção (3.3.) a partir das linhas de concordância, juntamente com
as outras palavras-chave deste estudo mandinga e malandr* - que também não detectaram
nenhum padrão colocacional de freqüência mínima (num span de cinco palavras à esquerda e
cinco palavras à direita).
62
Minha tradução para: ―Borrowing is defined as a type of direct translation in that elements of ST are replaced
by ‗parallel‘ TL elements‖ (Shuttleworth and Cowie, 1997: 17).
63
Foram consideradas as palavras de mesma raiz, pois estas podem conduzir a significados semelhantes e
exercem força coesiva entre si.
64
Com exceção do item lexical capoeira, cuja conotação é objeto de estudo desta dissertação e será analisado a
seguir.
84
As colocações das palavras-chave capoeir* demonstram várias possibilidades de relações
lexicais: a textualização gerou uma lista de 101 colocados e a re-textualização 96 colocados.
O Quadro 9 abaixo compara os colocados lexicais do corpus paralelo bilíngüe, o número de
ocorrência de cada item lexical está entre parênteses (ver lista completa em ANEXO D e E).
Cabe observar que a terminologia utilizada no Quadro 9 iguais/ semelhantes e diferentes
caracteriza os colocados de acordo as idéias representadas no corpus (por exemplo,
professores e school - apesar de serem palavras diferentes - remetem ao mesmo campo
semântico):
Quadro 9: colocados iguais/ semelhantes da textualização e re-textualização.
COLOCADOS
LEXICAIS
TEXTUALIZAÇÃO
RE-TEXTUALIZAÇÃO
IGUAIS/
SEMELHANTES
capoeira (332), capoeiristas (45),
capoeirista (31), capoeiras (23), angola
(22), regional (19), capoeiragem (17),
Salvador (16), jogo (13), Bimba (11),
tradicional (11), época (10), Rio (10),
passado (8), mundo (8), aula (7), Brasil
(7), roda (7), bem (6), década (6),
professores (6), século (6), vida (6),
fundamentos (5), história (5)
capoeira (289), capoeirista (40), angola
(20), game (20), regional (18),
capoeiristas (15), roda (13), style (11),
traditional (10), play (8), time (8),
Bahia (7), learning (7), well (7),
century (6), history (6), life (6), world
(6), Brazil (5), school (5), Bimba (5),
past (5), Rio (5), roots (5)
A partir da comparação acima, é possível perceber que os colocados, na T e RT, remetem à
contextualização histórica da capoeira (Salvador, tradicional, época, passado, Brasil, etc./
tradicional, century, Bahia, Rio, Brazil, etc.). Os colocados também remetem a uma situação
de ensino (aula, professores/ learning, school, etc). Apesar de estes colocados remeterem ao
mesmo campo semântico, às vezes tiveram diferenças no campo semântico evocado o que
pode ser verificado a partir da expansão da análise para as linhas de concordância. Como, por
exemplo, no caso dos itens lexicais Brasil/ Brazil: na textualização os itens lexicais colocados
de Brasil (exterior, africano, capoeira), na re-textualização (capoeira, independent).
85
Entre os colocados semelhantes, mais representativos numericamente, estão aqueles referentes
ao estilo de jogo (Angola ou Regional). Ou que classificam a capoeira enquanto jogo/ game
(em detrimento de outras formas para praticar a capoeira, como: luta, dança ou esporte).
A Quadro 10 permite observar que existem colocados diferentes, ou seja, que apontam para
representações distintas:
Quadro 10: colocados diferentes da textualização e re-textualização.
COLOCADOS
LEXICAIS
TEXTUALIZAÇÃO
RE-TEXTUALIZAÇÃO
DIFERENTES
mestre (18), grande (7), bons (6), galo
(6), livro (6), malícia (6), mestres (6),
Nestor (5), cabeça (5), canto (5), cantou
(5), chão (5), forma (5), golpes (5), lutas
(5), maltas (5), mandinga (5), senzala (5)
basic (7), ginga (7), movement (7),
origins (7), mentioned (7), typical (7),
new (7), players (7), practiced (7),
movements (6), philosophy (6),
understand (6), culture (6), music (5),
practice (5), way (5)
Na textualização, os colocados fazem alusão ao período da marginalidade e escravidão que
constituem a história da capoeira (maltas, senzala, etc.) e ressaltam a característica da
capoeira enquanto luta (lutas, golpes, etc.). Por outro lado, os colocados diferentes da re-
textualização parecem privilegiar o lado cultural (culture, music) e filosófico da capoeira
(philosophy, roots).
Na re-textualização, o software WS Tools não computou colocados que façam alusão direta à
afro-descendência da capoeira esta relação está implícita no item lexical Angola (que é
referente ao estilo de jogo) - mas, tanto na T quanto na RT, a capoeira está associada ao Brasil
mas, conforme verificado a partir de seus colocados, remetem a campos semânticos distintos
(como pode ser verificado na Quadro 10).
De modo geral, as relações lexicais e os próprios colocados indicam conotação POSITIVA
(por exemplo, em bem, bons, vida, well, life, music) ou NEUTRA (por exemplo, em roda,
86
século, century, movement), mas a textualização também apresenta colocados que sugerem
uma conotação NEGATIVA (por exemplo, em maltas) ver Tabela 4 conforme verificado
a seguir:
Quadro 11: conotação NEGATIVA do item lexical malta.
Ex.1: Entre a publicação deste livro (1981) e o momento da presente edição (1998), foram feitas novas
pesquisas sobre as maltas de capoeiras que apavoraram a população do Rio de Janeiro durante todo o
século passado, no período da marginalidade.
Ex.2: O constante movimento das maltas (grupos de capoeiristas) pela cidade, mesmo quando
defendiam áreas fixas - "estratégia sinuosa" -, foi uma dor de cabeça permanente para os donos do
poder.
Os exemplos acima evidenciam que o termo malta está associado ao período em que a
capoeira é marginalizada, e por isso a conotação negativa.
Os agrupamentos de palavras (clusters) possuem uma relação mais próxima que a dos
colocados, e por isso também dão pistas sobre a(s) conotação(ões) das palavras-chave
investigadas no corpus de estudo. De acordo com Scott (1997: 233), os clusters podem
oferecer uma representação de conceitos socialmente importantes. O Quadro 12 abaixo
mostra os clusters na T e RT:
Quadro 12: clusters iguais/ semelhantes na textualização e re-textualização.
CLUSTERS
TEXTUALIZAÇÃO
RE-TEXTUALIZAÇÃO
Freq.
Freq.
IGUAIS/
SEMELHANTES
da capoeira angola
da capoeira regional
jogo de capoeira
história da capoeira
mundo da capoeiragem
roda de capoeira
da capoeira tradicional
11
8
3
3
3
3
3
game of capoeira
of capoeira angola
the traditional capoeira
a capoeira roda
history of capoeira
of capoeira regional
the capoeira world
8
5
5
4
3
3
3
Em termos quantitativos, a textualização apresentou uma lista com 49 tipos diferentes de
agrupamentos lexicais em que a palavra-chave capoeira e suas variações apareceram,
enquanto na re-textualização foram 35 tipos de agrupamentos. Cabe acrescentar que o quadro
87
12 acima não incluiu os clusters formados por preposição e conectivos (por exemplo: que
a; no rio de; one of the; etc.), pois seu conteúdo semântico pouco acrescenta ao léxico e, por
isso, não trazem contribuição relacional (ver Tabela completa no ANEXO F).
De modo geral, a partir dos clusters apresentados no Quadro 12, é possível perceber que
existe a predominância de uma conotação NEUTRA nas relações lexicais com as palavras-
chave capoeir*, pois muitas vezes suas associações lexicais não possuem significado
valorativo a não ser quando lhe é atribuído (sobre a terminologia ver DoCarmo, 2005). Em
ambos os casos (T e RT), os agrupamentos lexicais reforçam a importância de contextualizar
historicamente a capoeira e dão preferência em caracterizar a capoeira enquanto jogo (em
detrimento de outras formas como esporte, luta ou dança da mesma maneira que os
colocados).
Mas os clusters também apresentam diferenças na representação:
Quadro 13: clusters diferentes na textualização e re-textualização.
CLUSTERS
TEXTUALIZAÇÃO
RE-TEXTUALIZAÇÃO
DIFERENTES
aula de capoeira
década de #
galo já cantou
capoeiristas do passado
livro do autor
mandinga de escravo
professores de capoeira
rio de janeiro
fundamentos da malícia
canto de capoeira
descrita por rugendas
do século passado
federações de capoeira
segundo livro do
todo o Brasil
5
5
5
4
4
4
4
4
3
3
3
3
3
3
known as capoeira
typical of capoeira
practice of capoeira
roots of capoeira
traditional capoeira angola
associated with capoeira
has enriched my
ritual of capoeira
origins of capoeira
the new generation
5
5
4
4
4
4
3
3
3
3
Os agrupamentos lexicais da T fazem referência à escravidão (mandinga de escravo; descrita
por rugendas); ao esporte (federações de capoeira); e aos livros do autor Nestor Capoeira
(galo cantou; livro do autor; fundamentos da malícia; segundo livro do). Enquanto os
88
agrupamentos lexicais da RT focalizam a história/ origem, sem fazer alusão ao período da
escravidão e marginalidade, preferindo privilegiar questões da tradição e ritual, e produzem
uma conotação POSITIVA, a partir do agrupamento lexical has enriched my, conforme
empregado nas sentenças a seguir:
Quadro 14: conotação POSITIVA do agrupamento lexical has enriched my.
Ex.3: I am happy to say that this new material is present in this first English edition, and I hope it can
transmit this information that has enriched my vision of capoeira.
Ex.4: Capoeira has enriched my life, has opened many doors and given me unexpected opportunities
in these last thirty years.
Os colocados e agrupamentos lexicais apontam para a importância da contextualização
histórica nas representações sobre a capoeira no corpus paralelo bilíngüe inclusive, estão
mais associados à história da capoeira que ao manual de golpes.
Como vimos, as colocações e os clusters indicaram uma prosódia semântica
predominantemente NEUTRA e POSITIVA dos itens lexicais investigados. Quanto às
palavras que podem ser interpretadas negativamente (malandragem, malícia, mandinga),
parece haver - no caso da capoeira - uma re-leitura para esses termos, uma vez que a
conotação para estes itens lexicais é geralmente POSITIVA. Esta inversão de valores será
verificada na seção a seguir (3.3).
3.3. Associações lexicais nas linhas de concordância
Esta seção busca identificar a conotação das palavras-chave que não geraram listas de
colocados ou clusters, a saber: malandr* e mandinga. O software WS Tools computou, para o
item lexical malícia, apenas três colocados (capoeira, que, fundamentos); por isso, esse item
também será analisado a partir das linhas de concordância, pois seus colocados foram
89
insuficientes para a determinação da sua conotação. A Tabela 5 apresenta o número de
ocorrência desses itens lexicais, e de suas respectivas flexões, no corpus paralelo bilíngüe:
A partir da freqüência de cada palavra-chave, é possível observar que existe diferença no
número de ocorrências entre a textualização e re-textualização. Essa diferença se porque a
maioria dessas ocorrências não é correspondente. Ou seja, são acréscimos e/ou omissões dos
segmentos textualizados.
Dessa maneira, os itens lexicais malandr* tiveram 4 ocorrências correspondentes:
Quadro 15: ocorrências re-textualizadas dos itens lexicais malandr*.
Ex.5: Apesar disto, semelhante a Bimba, Pastinha também era versado na filosofia da
MALANDRAGEM. Contava que andava com uma pequena foice no bolso, afiada nos dois bordos (―...se
tivesse um terceiro, eu mandava afiar também, para aqueles que me quisessem mal).
Ex.6: Like Bimba, he was well versed in the philosophy of MALANDRAGEM, and would tell of how he
would carry a small sickle sharpened on both edges in his pocket. "If it had a third edge I would sharpen
that one too, for those who wished to do me harm," he was fond of saying.
Ex.7: Há, também, uma atitude mental a ser seguida pelo aprendiz, a qual, sem dúvida, facilitará seu
desenvolvimento - físico, mental e espiritual. Esta atitude está bem expressa em pequenos provérbios
populares que são a essência da filosofia da MALANDRAGEM.
Ex.8: The beginner, however, in order to aid in his development, would do well to heed some of the pithy
popular proverbs that are the essence of the MALANDRAGEM philosophy-sayings such as Quem não
pode com mandinga não carrega patúa.
Ex.9: A boca-de-calça é muito usada, na roda da MALANDRAGEM, num começo de briga.
Ex.10: It is very often used by MALANDROS at the start of a fight.
Ex.11: BOCA-DE-CALÇA DE COSTAS (OU BAIANADA) Movimento clássico da
MALANDRAGEM para iniciar briga quando um dos adversários está às suas costas.
Tabela 5: ocorrência das palavras chaves e suas flexões.
-
TEXTUALIZAÇÃO
RE
-
TEXTUALIZAÇÃO
Palavra- chave
-
Freq.
Palavra- chave
-
Freq.
MALANDRAGEM
9
MALANDRAGEM
3
MALANDRO
5
MALANDRO
4
MALANDROS
4
MALANDROS
1
MALÍCIA
22
MALÍCIA
14
MALICIOSO
2
MALICIOSO
1
MALICIOSOS
1
MANDINGA
8
MANDINGA
6
MANDINGAS
1
90
Ex.12: BOCA DE CALÇA DE COSTAS (Baianada) A now-classic MALANDRAGEM move used to
initiate fights when one has an opponent directly behind him.
No Quadro 15, a conotação da textualização, nas linhas de concordância dos itens lexicais
malandr*, é mantida na re-textualização: NEGATIVA (quando associada a briga, foice, fight,
opponent etc.) e POSITIVA (quando associada a atitude mental, facilitará, to aid in his
development, etc.), como pode ser verificado a partir dos exemplos acima.
O item lexical malícia, foi re-textualizado apenas em 2 sentenças correspondentes:
Quadro 16: ocorrências re-textualizadas dos itens lexicais malícia.
Ex.13: poderíamos dizer que a MALÍCIA é constituída de dois aspectos: 1. O conhecimento da natureza
humana- em especial o lado escuro -, que vem com o passar do tempo, à medida que vamos jogando com
amigos e desconhecidos em diferentes rodas.
Ex.14: It may be said that MALÍCIA has two basic aspects. The first is knowing the emotions and traits-
aggressiveness, fear, pride, vanity, cockiness, etc.-which exist within all human beings.
Ex.15: O primeiro passo no segundo nível é a MALÍCIA: compreender as pessoas, a vida, os
sofrimentos, motivações e fantasias dos seres humanos.
Ex.16: The first step in understanding this second level is to understand MALÍCIA, the knowledge of
humanity, of life, of the suffering and the motivation and fantasies of human beings.
No que concerne aos segmentos ao item lexical malícia, as associações lexicais produzem
uma prosódia semântica POSITIVA, pois estão associadas às seguintes palavras:
conhecimento, compreender, knowing, knowledge.
E a palavra-chave mandinga teve, também, apenas 2 ocorrências correspondentes:
Quadro 17: ocorrências re-textualizadas dos itens lexicais mandinga.
Ex.17: "Quem não pode com MANDINGA não carrega patuá" (cada um deve conhecer seus
limites e possibilidades);
Ex.18: He who can't deal with the MANDINGA doesn't carry a patúa." In other words, everyone
should know his or her limits.
Ex.19: "Capoeira, MANDINGA de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método,
seu fim é inconcebível ao mais sábio dos mestres‖. (Mestre Pastinha)
Ex.20: Capoeira, MANDINGA of the slave yearning to be free. lts beginning has no method, lts
end is inconceivable even to the wisest of mestres. (Mestre Pastinha)
91
As associações lexicais do item lexical mandinga, nas linhas de concordância que são
correspondentes, produzem uma conotação predominantemente NEGATIVA (pois está
associada a algo perigoso, e às palavras escravo, ânsia, slave yearning).
Portanto, os segmentos de texto que são correspondentes mantiveram a mesma conotação da
textualização. Quanto aos segmentos de texto que não são correspondentes, a prosódia
semântica das palavras-chave malandr*, malícia e mandinga foi considerada POSITIVA
quando os itens lexicais investigados estavam associados às seguintes palavras: brincar,
entendimento, mestres, técnica sofisticada, saber, talento, maestria, criatividade, cultura afro-
brasileira, ludicidade, improvisação, fortalecer, samba, maneira de ser do brasileiro, vadiação,
knowledge, ritual, flexible, improvises, indispensable, essencial, brain over brawn etc. Como
por exemplo, em:
Quadro 18: prosódia semântica POSITIVA
Ex.21: Cantado nos sambas, principalmente entre 1900 e 1930,19 o MALANDRO é um mito que vive na
imaginação - no imaginário - carioca, e influiu na maneira de ser do brasileiro.
Ex.22: Mas não uma capoeira nos moldes tradicionais de MALANDRAGEM/ritual/brincadeira/arte, e
sim como esporte/luta sério, com método de ensino semelhante aos das escolas brancas, uma graduação
semelhante à hierarquia do exército e uma mentalidade de acordo com os objetivos da nova sociedade:
competição, objetividade, técnica e burocracia.
Ex.23: Nonetheless, Bimba espoused the MALANDRO philosophy of ―brain over brawn.
Ex.24: A MALÍCIA, tão comentada pelos capoeiristas, é uma das qualidades do bom jogador.
Ex.25: The Angoleiro is almost always more flexible, has more MALÍCIA, and improvises more.
Ex.26: A lot of MALÍCIA and a deep knowledge of the basics of the game are needed in order to be able
to respond appropriately to whatever situation may arise,
Ex.27: O que tem produzido uma novíssima geração de angoleiros que falam muito em improvisação,
MANDINGA e criatividade, mas, na verdade, jogam todos igualzinho ao seu professor.
A prosódia semântica foi considerada NEUTRA quando os itens lexicais investigados
estavam associados aos livros do autor, ou quando não foi possível identificar um significado
valorativo, a não ser quando lhe é atribuído, conforme pode ser verificado abaixo:
92
Quadro 19: prosódia semântica NEUTRA.
Ex.28: MOURA, J. Capoeiragem, arte e MALANDRAGEM, Cadernos de Cultura, 2. Salvador,
Pref. Mun. De Salvador, 1980.
Ex.29: A MALÍCIA é usada no Jogo, e na vida real.
Ex.30: PASSOS NETO, N. S. Ritual roda: MANDINGA x tele-real. Rio de Janeiro, dissertação de
Mestrado, Escola de Comunicação da UFRJ, 1995.
A prosódia semântica foi considerada NEGATIVA quando os itens lexicais investigados
estavam associados às seguintes palavras: perseguição policial, navalhas, prostitutas,
bandidos, vagabundos, buliçosa fauna, putas, fingir, criminal, slave, bandit, deceiving, faking,
opponent, rogue, etc. Os exemplos abaixo ilustram estes casos:
Quadro 20: prosódia semântica NEGATIVA.
Ex.31: Junto com prostitutas, vagabundos, estivadores, MALANDROS, aristocratas, boêmios e policiais,
faziam parte da buliçosa fauna das ruas.
Ex.32: We now arrive at the year 1900. In Rio, the capoeirista was a MALANDRO (a rogue) and a
criminal-whether he be white, mulatto or black-expert in the use of kicks (golpes), sweeps (rasteiras) and
head-butts (cabeçadas), as well as in the use of blade weapons.
Ex.33: Fingir é certamente uma parte essencial da MALÍCIA, e isto gira em torno de regras sociais. O
capoeira toma vantagem da vítima que segue as regras do como se deve agir‖.
Ex.34: The origins of MALÍCIA: the slave and the bandit.
Ex.35: Another aspect of MALÍCIA consists of deceiving or faking the opponent into thinking that you
are going to execute a certain move when in fact you are going to do something completely different and
unexpected.
De modo geral, a partir do exposto podemos afirmar que a prosódia semântica dos itens
lexicais investigados (malandr*, malícia e mandinga) é predominantemente POSITIVA. Os
exemplos mostraram que nos momentos em que a conotação foi negativa a palavra-chave
investigada estava associada ao período da marginalidade. A subseção seguinte tece
comentários sobre essa situação, mostrando como os contextos da cultura e da situação em
que o texto está inserido afetam a construção da capoeira conforme manifestado na prosódia
93
semântica dos termos investigados. Ou seja, sua conotação positiva ou negativa, a partir do
exame dos colocados - itens lexicais com que os nódulos co-ocorrem.
3.4. O texto em contexto
Esta seção apresenta um sumário dos resultados discutidos acima e relaciona a análise
quantitativa à análise qualitativa, mostrando a correlação entre as categorias da situação e o
(próprio) sistema semântico dentro do qual o texto é produzido. Conforme visto, a conotação
de determinado item lexical pode ser identificada pela observação de seus colocados e
associações lexicais. Deste modo, o corpus paralelo bilíngüe permitiu observar como questões
culturais são convertidas em padrões de vocabulário e gramática identificados a partir de
ferramentas computacionais (colocados/ keywords) e por isso pode ser utilizado para o
estudo da conotação das palavras.
Na textualização e re-textualização predominam a conotação POSITIVA dos itens lexicais
investigados, mas existem diferenças na representação discursiva sobre a capoeira, conforme
verificado a partir da padronização lexical. Estas diferenças podem ser atribuídas aos
diferentes contextos da situação e da cultura em que o corpus de estudo está inserido - como
vimos, o contexto da situação é referente ao contexto imediato em que o texto está inserido e
o contexto da cultura remete o texto ao contexto cultural, que sentido às idéias
apresentadas.
Os gêneros discursivos definidos nas contra-capas das obras analisadas (luta na T e dança na
RT) apontam, antes mesmo da utilização do software WS Tools, para as diferenças que
serão encontradas. A análise das colocações e das linhas de concordância mostra que a
capoeira (e as demais palavras-chave investigadas) tem, de modo geral, uma conotação
94
POSITIVA e que são representativas da identidade brasileira sendo que o item lexical
Brasil/ Brazil está presente como colocado na T e RT. A relação com a identidade brasileira é
determinada pelas associações lexicais a partir das colocações com o item lexical Brasil/
Brazil foi verificado diferenças na representação: na T as associações lexicais (exterior,
africanos, capoeira) e na RT as associações lexicais (capoeira, independent) remetem a
campos semânticos distintos.
A partir de seus colocados, a textualização trouxe à tona o contexto marginal evocado pelo
mito de origem da capoeira (por exemplo, maltas, mandinga, lutas, golpes, senzala)
trazendo luz ao discurso dominante/dominado reproduzido, e reconhecido, pela sociedade
brasileira. Enquanto os colocados da re-textualização privilegiam as associações lexicais com
culture, music, por exemplo, indicando que para o contexto norte-americano a capoeira é
antes uma prática cultural (exótica).
As colocações e clusters permitiram identificar uma conotação POSITIVA dos itens lexicais
capoeir*, pois associam a capoeira a um saber do povo brasileiro. Às vezes que a conotação
NEGATIVA é privilegiada está associada ao período em que a capoeira era considerada uma
prática marginal e é possível perceber que existe uma crítica do autor em relação aos
poderes públicos dominantes destes períodos.
De modo geral, a partir do exposto, é possível afirmar que as associações lexicais presentes na
textualização (T) fazem relação entre o mito de origem da capoeira e o seu processo de
institucionalização, reproduzindo o discurso de dominantes vs dominados. Isso é percebido, a
partir da observação do fenômeno colocacional dos itens lexicais capoeir* : de um lado, na
importância atribuída à contextualização histórica; e de outro lado na associação com uma
95
situação de ensino. Os agrupamentos lexicais da T também apontam para esta direção, uma
vez que suas associações lexicais também deixam em evidencia o conflito de estar na lei, ou
não, estando a capoeira associada à identidade brasileira ou a uma prática marginal. As várias
alusões aos livros (do autor e de outros pesquisadores) reforçam a interação entre discurso
oral e intelectual, que juntos constroem o que é dito sobre a capoeira (conforme visto no
Capítulo 1).
Na re-textualização (RT), a padronização lexical também pistas de conceitos socialmente
importantes: apesar de seus colocados também fazerem alusão à contextualização histórica da
capoeira e ao ambiente escolar, as suas associações lexicais (culture, music, tradition, ritual,
philosophy) apresentam a capoeira mais como uma prática cultural exótica do que como um
discurso do oprimido. Conforme visto no Capítulo 3, as traduções no glossário
(responsabilidade do tradutor Alex Ladd), dos itens lexicais investigados nesta pesquisa, não
acompanham as conotações sugeridas pelo autor (Nestor Capoeira). Por exemplo, no caso da
mandinga o glossário preferência à conotação mágica que esta palavra implica, omitindo a
relação com a cultura negra; e no caso de malandr* no glossário prevaleceu a conotação
negativa do termo, não fazendo menção às qualidades positivas do mesmo.
O foco desta dissertação foi identificar as representações discursivas sobre a capoeira a partir
da verificação do perfil da prosódia semântica das palavras-chave (capoeir*, malícia,
malandr* e mandinga) em um corpus paralelo bilíngüe de pequena dimensão. A pesquisa foi
desenvolvida com enfoque na noção de linguagem como semiótica social da lingüística
sistêmico-funcional (LSF) - e das ferramentas computacionais oferecidas pelo software WS
Tools. O referencial teórico escolhido permitiu associar a padronização lexical e suas
96
conotações às questões de identidade cultural brasileira, a partir da noção de conceitos que
analisam o texto inserido em um contexto.
As ferramentas computacionais foram essenciais para a investigação da padronização das
palavras-chave estudadas, e, portanto, para a identificação do perfil da Prosódia Semântica. A
ferramenta keywords foi utilizada nesta pesquisa mais como um suporte analítico, e não foi
explorada em toda sua potencialidade. Esta ferramenta, além de confirmar a freqüência
relativa incomum dos itens lexicais analisados, mostrou quais as palavras que caracterizam o
texto evidenciando a presença do manual, que o foi percebida pela lista de colocados
oferecida pelo software.
3.ii. Considerações finais
O Capítulo 3 apresentou a análise dos dados, em quatro subseções: a primeira subseção,
3.1.Palavras-chave‟: representações discursivas da capoeira, apresentou os dois sentidos
em que se utiliza o conceito palavras-chave nesta pesquisa; assim como a importância dos
itens lexicais investigados nas representações sobre a capoeira; a segunda subseção, 3.2.
Relações lexicais, colocações e prosódia semântica, analisou as colocações e clusters dos
itens lexicais capoeir*; a terceira subseção, 3.3. Associações lexicais nas linhas de
concordância, analisou as ocorrências das palavras-chave investigadas (malandr*, malícia e
mandinga) identificando a prosódia semântica destes itens lexicais como sendo
predominantemente POSITIVA; a quarta subseção, 3.4. Texto em contexto, relacionou a
análise quantitativa à análise qualitativa, mostrando a correlação entre as categorias da
situação e o (próprio) sistema semântico dentro do qual o texto é produzido.
97
Conclusão
Esta pesquisa foi desenvolvida no âmbito dos estudos descritivos da tradução, uma vez que
buscou descrever o fenômeno da tradução em relação a uma prática tradutória específica de
um manual escrito para o ensino da capoeira: Capoeira. Pequeno Manual do Jogador (2002)
de Nestor Capoeira, e The little capoeira book (2003) com a tradução de Alex Ladd
envolvendo o par de línguas português brasileiro e inglês americano.
A descrição da linguagem da tradução foi possibilitada pela coleta de dados por meio de
metodologias e ferramentas de Estudos Baseados em Corpus. Para tanto, o trabalho focalizou
a identificação da prosódia semântica de itens lexicais considerados palavras-chave
(capoeir*, malícia, mandinga, malandr*) no corpus paralelo bilíngüe, a partir da observação
do fenômeno colocacional dos itens lexicais capoeir* e das associações lexicais nas linhas de
concordância dos demais nódulos de busca.
Conforme exposto, a pesquisa da dissertação retomou o projeto da monografia em Ciências
Sociais - a investigação sobre a institucionalização da capoeira - mas agora sob um novo viés,
aquele da tradução. A trajetória percorrida na pesquisa anterior foi estendida por um viés
lingüístico/discursivo, que permitiu observar como a padronização da linguagem cristaliza
representações sobre a capoeira e, deste modo, pistas dos contextos nos quais os corpora
estão inseridos.
Os itens lexicais investigados por esta pesquisa são considerados ‗chaves‘ em dois sentidos:
(i) conforme Williams (1976), cuja noção de palavras-chave permite associar a teoria social
em relação a conceitos chaves que ajudam a criar a realidade pois criam um senso de
98
contexto histórico uma vez que são significativas em certas atividades e suas respectivas
interpretações e por indicarem certas formas de pensamento (ibid, 1976:15); e, (ii) de acordo
com a ferramenta keywords do WS Tools versão 3.0 (1999) que considera ‗chave‘ as
palavras com freqüência incomum no corpus analisado.
A Introdução desta dissertação apresentou o universo do estudo da pesquisa a partir do
contexto internacional no qual a capoeira está inserida. Conforme discutido, as interpretações
produzidas sobre o que significa a capoeira e de como ela deve ser praticada têm tomado
formas bastante variadas, e por isso são investigadas por estudiosos da capoeira. Esta pesquisa
investiga dois livros que foram textualizados a partir da experiência da capoeira (e do autor,
Capoeira) no exterior e a análise aponta para diferentes as representações discursivas
resultadas dos contextos culturais distintos. Contextualizada a investigação, a Introdução
apresentou os objetivos e perguntas de pesquisa que informam o trabalho. Os objetivos gerais
apontados na Introdução são transcritos abaixo:
4. Investigar as representações discursivas da capoeira, a partir da padronização das
palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga e malandr*), e verificar sua possível
relação com questão da identidade brasileira;
5. Contribuir com as pesquisa do Projeto interinstitucional (UFMG/UFSC) Corpora,
Cognição e Discurso: uma proposta interdisciplinar para os Estudos da Tradução a
partir de bancos eletrônicos de dados (CNPq 477873/03-0);
6. Contribuir com as pesquisas da linha de pesquisa Teoria, crítica e história da
tradução do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET/ UFSC).
Com relação aos objetivos gerais, pode-se afirmar que a pesquisa foi bem sucedida, uma vez
que: (1.) Investigou as representações discursivas da capoeira, a partir da padronização das
palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga e malandr*) e verificou sua possível relação
com questão da identidade brasileira uma vez que os itens lexicais que são colocados das
99
palavras-chave remetem, muitas vezes, ao contexto histórico brasileiro sendo, inclusive, as
palavras Brasil/ Brazil são colocados de capoeir*; (2) a interface teórica utilizada na pesquisa
converge com a proposta do projeto Corpora, Cognição e Discurso: uma proposta
interdisciplinar para os Estudos da Tradução a partir de bancos eletrônicos de dados; (3.)
Contribuiu com as pesquisas da Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução
(PGET/ UFSC), pois abordou o fenômeno tradutório considerando-se os aspectos de
especificidades culturais, históricas e ideológicas, através de um repertório de teorias de
tradão (regimento do curso).
Os objetivos específicos do estudo também foram contemplados por este estudo:
3. Analisar as colocações das palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga e malandr*)
em um corpus paralelo bilíngüe;
4. Investigar as representações discursivas sobre a capoeira a partir da prosódia
semântica de itens lexicais considerados palavras-chave no corpus paralelo bilíngüe.
Com relação aos objetivos específicos, pode-se afirmar que: (1.) a análise das colocações das
palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga e malandr*) foi imprescindível para a
determinação da conotação das palavras investigadas; (2.) a investigação da conotação das
palavras-chave evidenciou as diferentes representações discursivas sobre a capoeira a no
corpus paralelo bilíngüe.
Para investigar as representações sobre a capoeira no presente corpus paralelo bilíngüe de
pequena dimensão, o trabalho foi dividido em três Capítulos: O Capítulo 1 delimitou o
referencial teórico da pesquisa, a partir das definições sobre a capoeira realizadas por
intelectuais, associadas às teorias das Abordagens discursivas dos Estudos da Tradução
100
(ADET) e com os recursos dos Estudos da Tradução Baseados em Corpora (ETBC) para a
observação dos padrões na textualização e re-textualização dos itens lexicais analisados a
partir do fenômeno colocacional e do conceito de Prosódia Semântica (PS).
O Capítulo 2 descreveu, contextualizou o corpus de estudo e, em seguida, apresentou os
procedimentos utilizados para capturar, preparar e analisar o corpus. Este capítulo apresentou
o software WordSmith Tools (1999), definiu os critérios e as categorias de análise e a
metodologia para lidar com o corpus paralelo bilíngüe . O Capítulo 3 analisou os dados
quantitativos obtidos com o software WordSmith Tools (1999) a partir dos conceitos de
colocação e prosódia semântica associados à análise quantitativa a partir da noção de texto em
contexto.
Nesta seção final a Conclusão resgatam-se as Perguntas de Pesquisa apontadas na
Introdução para investigar os conceitos considerados ‗chaves‘ e mostrar como importantes
processos histórico-sociais ocorrem dentro da linguagem. Esta dissertação foi norteada pelas
Perguntas de Pesquisa a seguir:
6. Existe um padrão de ocorrências para as palavras-chave (capoeir*, malícia, mandinga
e malandr*)?
7. Com que itens lexicais estas palavras-chave se associam?
8. Qual a Prosódia Semântica destas palavras?
9. Como ligar essas associações lexicais e suas prosódias semânticas ao contexto da
situação?
10. Como ligar essas associações lexicais e suas prosódias semânticas ao contexto da
cultura e, portanto, associá-las às questões de identidade cultural?
101
Com relação às perguntas de pesquisa, pode-se afirmar que: (1.) para as palavras-chave
capoeir* existe padrão de ocorrência que pode ser verificado a partir da análise de seus
colocados e clusters mais palavras-chave investigadas (malícia, mandinga e malandr*) o
padrão de ocorrência foi verificado com a ferramenta keywords; (2.) conforme visto no
Capítulo 3, os colocados da textualização (T) e re-textualização (RT) apontam para
representações semelhantes, mas muitas vezes houve casos em que os colocados acionaram
campos semânticos distintos. Conforme discutido, a T privilegiou resgatar o discurso dos
‗oprimidos‘ no qual a capoeira tem uma conotação positiva, desempenhando o papel de
heroína -, enquanto a RT apresentou a capoeira como prática cultural brasileira exótica; (3.)
A prosódia semântica dos itens lexicais investigados é, de modo geral, positiva; As
associações entre as relações lexicais das palavras-chave investigadas e os contextos (4.) da
situação e (5.) da cultura foram construídas numa interface da função experiencial com a
função textual (segundo a concepção de Eggins, 1994) que permitiu evidenciar questões
ideológicas relativas à identidade brasileira e à representação desta identidade nos Estados
Unidos.
A pesquisa mostrou a possibilidade de se analisar representações discursivas com o auxílio de
ferramentas computacionais e de um referencial teórico adequado. No entanto, apesar de
testar a eficácia do método, ficou claro no decorrer da pesquisa que um corpus mais amplo
que contemplassem outras perspectivas sobre a capoeira poderia fornecer informações mais
universais das representações discursivas sobre a capoeira. As letras de música, assim como
as ilustrações, também podem oferecer informações interessantes nesse aspecto além de
evitarem o trabalho mecânico de digitalização, pois existe algum material digitalizado na
internet.
102
Todas essas possibilidades apresentadas acima passam, a seguir, a ser sugeridas como tópicos
para futuras pesquisas, que podem ser assim formulados:
(i) Em um corpus mais amplo, com quais itens lexicais as palavras-chave se associam?
Que discursos sobressaem nestas associações?
(ii) em um corpus composto por músicas de capoeira, que discursos sobressaem a partir da
análise das associações lexicais?
(iii) Quais os discursos evocados pelas ilustrações nos livros de capoeira? O que dizem
estas imagens?
Na dimensão pessoal, a pesquisa e seus resultados contribuíram para o amadurecimento
intelectual da pesquisadora sobre as representações discursivas da capoeira. No sentido de
resgatar questões do projeto da monografia e de (re) conhecer as potencialidades da
investigação da capoeira pelo viés lingüístico, a pesquisa também foi gratificante. Com base
nos dados, a classificação das conotações como positiva, negativa ou neutra pode ser
insuficiente para dar conta de uma semântica lexical mais complexa ou culturalmente menos
polarizada entre o bem e o mal. O aspecto desta ambigüidade também faz parte da
fundamentação relacionada à escolha de palavras-chave para a análise, ou seja, uma vez que,
intuitivamente e com base em outros autores, percebia-se que palavras como malícia e
malandragem, a despeito de seu grau de centralidade mais baixo no procedimento estatístico,
permitiriam investigar esta prosódia semântica complexa que atraía a autora como objeto de
pesquisa. Desta forma, o material coletado, incluindo o fato de o tradutor evitar a tradução de
malícia, foi tratado, no texto da pesquisa, como um teste para demonstrar, em caráter inicial,
sem dúvida, que a lingüística de corpus precisaria desenvolver métodos melhores de
caracterização da prosódia semântica que detectassem um espectro menos polarizado de
conotações, além das diferenças culturais e outros aspectos. Tendo em vista o exposto acima,
posso considerar o projeto bem sucedido.
103
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110
Anexo - A
INFORMAÇÃO SOBRE O AUTOR E O PROCESSO DE TRADUÇÃO
Título: Capoeira Pequeno Manual do Jogador
Autor(a): Nestor Capoeira Editora: Record. Rio de Janeiro, RJ
Título da Tradução: The Little capoeira Book
Tradutor(a): Alex Ladd Editora: North Atlantic Books. Berkeley, California
1. Qual é o sexo do(a) autor(a)? F M X
2. Qual é a nacionalidade do(a) tradutor(a)?
De nascimento brasil Atual usa
3. Qual é a nacionalidade do(a) autor(a)? brasil
4. Quem tem os direitos autorais da tradução? a editora
5. A versão final da tradução foi revista por outra pessoa?
Não Sim X
Especificar quem foi o revisor sim, pelo autor
6. Qual é a orientação sexual do(a) tradutor(a) e autor(a)? (Esta informação é de interesse de alguns
pesquisadores da área de tradução e gênero. Sinta-se à vontade para responder ou ignorar a
pergunta) nao sei
7. Qual é a raça/etnia do(a) tradutor(a) e autor(a)? (Esta informação é de interesse de alguns
pesquisadores da área de tradução e raça/etnia. Sinta-se à vontade para responder ou ignorar a
pergunta). brancos
8. Qual edição do Capoeira: Pequeno Manual do Jogador serviu de texto fonte para a tradução de
Alex Ladd (The Little Capoeira Book Berkeley, Califórnia: 2003)? Record, 1992
9. Houve participação e/ou intervenção do autor na tradução? Caso positivo, que tipo de
participação? Não Sim x revisao final
( ) decisões ligadas ao deslocamento das subseções (ex: mudança na ordem dos dois primeiros
capítulos história e jogo) - tradutor
( ) decisões ligadas à omissão/ não-textualização de alguns segmentos da textualização (ex: o
ABC da capoeira presente apenas na edição em português) - editor
( ) decisões ligadas á adição de segmentos explicativos para levar a capoeira ao leitor da língua
inglesa - autor e tradutor
( ) decisões ligadas ao aspecto visual de representação gráfica nos dois livros (gravuras, fotos e
desenhos) autor
( ) decisões ligadas à inclusão do glossário na versão em inglês - tradutor
( ) decisões ligadas à seleção de verbetes do glossário - tradutor
( ) decisões ligadas à escolha da capa- editor
( ) outras. Citar
10. Comentários adicionais:
10.1- o tradutor era capoeirista.
10.2- existe um segundo livro meu (Nestor), em ingles, pela mesma editora (NAB). Foi traduzido para
o ingles por mim e , depois, editado e corrigido por duas americanas que nao sao capoeiristas. Talvez
o confronto entre as traducoes dos dois livros possa te dar dados interessantes. Boa sorte. Qualquer
coisa, mande um email. Nestor
USE O VERSO DO QUESTIONÁRIO PARA COMENTÁRIOS ADICIONAIS
Obrigada por sua colaboração
Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução PGET / Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Depto. de Letras Anglo-Germânicas/ Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Adaptado do questionário original elaborado pelo
The Translational English Corpus (TEC) Research Project Centre for Translation Studies, UMIST - 2000
111
Anexo - B
TEXTUALIZAÇÃO
RE-TEXTUALIZAÇÃO
Bytes 205.014
Bytes 152.505
Tokens 34.362
Tokens 26.400
Types 5.210
Types 3.740
Type/Token Ratio 15,16
Type/Token Ratio 14,17
CORPUS REFERENCIA (+/- cinco vezes maior que o corpus de estudo - T)
Bytes 1.154.028
Tokens 176.977
Types 17.650
Type/Token Ratio 9,97
Standardised Type/Token 42,36
171.875 corpus referencia (5XMAIOR)
112
Anexo C
WordSmith Tools -- keywords
N WORD FREQ. PORT. LST % FREQ. REF.LST % KEYNESS P
1 CAPOEIRA 305 0,89 0 1.110,20 0,000001
2 GOLPE 125 0,36 2 434,6 0,000001
3 JOGO 117 0,34 3 398,3 0,000001
4 112 0,33 6 361,8 0,000001
5 LISO 96 0,28 0 348,9 0,000001
6 MESTRE 104 0,3 7 328,3 0,000001
7 RISCADO 87 0,25 0 316,2 0,000001
8 PERNA 87 0,25 1 305,6 0,000001
9 GINGA 84 0,24 0 305,3 0,000001
10 CHÃO 84 0,24 5 268,6 0,000001
11 BIMBA 66 0,19 0 239,8 0,000001
12 JOGADOR 74 0,22 4 238,8 0,000001
13 VAI 114 0,33 47 0,03 236,6 0,000001
14 BERIMBAU 63 0,18 0 228,9 0,000001
15 FRENTE 99 0,29 31 0,02 228 0,000001
16 GOLPES 61 0,18 1 211,8 0,000001
17 ANGOLA 53 0,15 0 192,6 0,000001
18 COCORINHA 51 0,15 0 185,3 0,000001
19 51 0,15 0 185,3 0,000001
20 DIREITA 50 0,15 0 181,7 0,000001
21 REGIONAL 71 0,21 16 180,7 0,000001
22 RODA 51 0,15 1 175,8 0,000001
23 UM 457 1,33 1.082 0,61 173,4 0,000001
24 MESTRES 52 0,15 3 166,7 0,000001
25 SENZALA 48 0,14 1 165 0,000001
26 MOVIMENTAÇÃO 62 0,18 12 164 0,000001
27 ESQUERDA 43 0,13 0 156,2 0,000001
28 NEGATIVA 60 0,17 14 151,2 0,000001
29 CAPOEIRISTAS 41 0,12 0 149 0,000001
30 JOGADORES 52 0,15 7 148,5 0,000001
31 TREINAMENTOS 43 0,13 1 147 0,000001
32 CABEÇA 51 0,15 8 141,3 0,000001
33 ATAQUE 41 0,12 3 128,1 0,000001
34 LUA 35 0,1 0 127,2 0,000001
35 OUTRO 120 0,35 140 0,08 126,9 0,000001
36 IMPROVISAÇÃO 36 0,1 1 122 0,000001
37 PASTINHA 33 0,1 0 119,9 0,000001
38 TREINO 33 0,1 0 119,9 0,000001
39 VEZES 78 0,23 57 0,03 119,8 0,000001
40 ALUNOS 53 0,15 18 0,01 118,6 0,000001
41 INICIANTE 32 0,09 0 116,3 0,000001
42 ROLÊ 32 0,09 0 116,3 0,000001
43 VOCÊ 58 0,17 26 0,01 116 0,000001
44 BÊNÇÃO 31 0,09 0 112,6 0,000001
45 PASSO 48 0,14 15 110,6 0,000001
46 CAPOEIRISTA 30 0,09 0 109 0,000001
47 SALVADOR 36 0,1 4 106,2 0,000001
48 ARMADA 33 0,1 2 105,3 0,000001
49 RITUAL 28 0,08 0 101,7 0,000001
50 ESQUIVA 28 0,08 0 101,7 0,000001
51 LADO 66 0,19 51 0,03 97,7 0,000001
52 MEIA 33 0,1 4 96 0,000001
53 MOVIMENTOS 38 0,11 9 95,4 0,000001
54 VAMOS 35 0,1 6 95,2 0,000001
55 CORO 25 0,07 0 90,8 0,000001
56 EXERCÍCIO 51 0,15 30 0,02 89,2 0,000001
113
57 VOLTA 43 0,13 18 0,01 88,6 0,000001
58 DESENHOS 28 0,08 2 87,7 0,000001
59 ATACANTE 24 0,07 0 87,2 0,000001
60 GINGAR 24 0,07 0 87,2 0,000001
61 UNS 27 0,08 2 84,2 0,000001
62 MITO 23 0,07 0 83,6 0,000001
63 MARTELO 23 0,07 0 83,6 0,000001
64 MAS 159 0,46 321 0,18 82,1 0,000001
65 RASTEIRA 24 0,07 1 79,2 0,000001
66 COSTAS 28 0,08 4 79 0,000001
67 VER 36 0,1 14 76,5 0,000001
68 PASSAR 32 0,09 9 76,3 0,000001
69 TRÁS 21 0,06 0 76,3 0,000001
70 CAPOEIRAS 21 0,06 0 76,3 0,000001
71 CAMARÁ 21 0,06 0 76,3 0,000001
72 MALÍCIA 21 0,06 0 76,3 0,000001
73 CABEÇADA 21 0,06 0 76,3 0,000001
74 AULA 26 0,08 3 76,2 0,000001
75 EXECUTAR 29 0,08 6 75,4 0,000001
76 E 1.287 3,74 5.039 2,85 75,1 0,000001
77 BANDA 20 0,06 0 72,7 0,000001
78 VELHOS 22 0,06 1 72,1 0,000001
79 ADVERSÁRIO 22 0,06 1 72,1 0,000001
80 SEQÜÊNCIA 33 0,1 12 72 0,000001
81 COMPASSO 19 0,06 0 69 0,000001
82 ACOMPANHANDO 19 0,06 0 69 0,000001
83 EXERCÍCIOS 31 0,09 12 66 0,000001
84 SE 450 1,31 1.474 0,83 65,5 0,000001
85 FAÇA 18 0,05 0 65,4 0,000001
86 AI 18 0,05 0 65,4 0,000001
87 DESCE 18 0,05 0 65,4 0,000001
88 DESCER 18 0,05 0 65,4 0,000001
89 ESQUERDO 20 0,06 1 65 0,000001
90 NUM 51 0,15 50 0,03 63 0,000001
91 GINGAM 17 0,05 0 61,8 0,000001
92 Ê 17 0,05 0 61,8 0,000001
93 JOGAR 19 0,06 1 61,4 0,000001
94 ISTO 50 0,15 50 0,03 60,8 0,000001
95 COMPANHEIRO 20 0,06 2 60 0,000001
96 UMA 295 0,86 886 0,5 58,8 0,000001
97 SEU 108 0,31 212 0,12 58,5 0,000001
98 DOIS 79 0,23 126 0,07 58,4 0,000001
99 CAPOEIRAGEM 16 0,05 0 58,1 0,000001
100 PULO 16 0,05 0 58,1 0,000001
101 PERNAS 16 0,05 0 58,1 0,000001
102 MOVIMENTO 36 0,1 25 0,01 57,1 0,000001
103 39 0,11 31 0,02 56,6 0,000001
104 QUEM 46 0,13 46 0,03 55,9 0,000001
105 AULAS 21 0,06 4 55,7 0,000001
106 MÃOS 25 0,07 9 54,7 0,000001
107 OPONENTE 15 0,04 0 54,5 0,000001
108 ATACAR 17 0,05 1 54,4 0,000001
109 POSIÇÃO 28 0,08 15 51,4 0,000001
110 ACADEMIAS 16 0,05 1 50,9 0,000001
111 DESENHO 16 0,05 1 50,9 0,000001
112 CANTOS 14 0,04 0 50,9 0,000001
113 CANTO 14 0,04 0 50,9 0,000001
114 PEQUENO 27 0,08 14 50,4 0,000001
115 PÉS 22 0,06 7 50,4 0,000001
116 LUTA 30 0,09 19 0,01 50,3 0,000001
117 O 1.115 3,24 4.529 2,56 49,3 0,000001
114
118 DANÇA 15 0,04 1 47,4 0,000001
119 ATRÁS 21 0,06 7 47,3 0,000001
120 DERRUBAR 13 0,04 0 47,2 0,000001
121 CINTURA 13 0,04 0 47,2 0,000001
122 BRINCADEIRA 13 0,04 0 47,2 0,000001
123 LUTAS 13 0,04 0 47,2 0,000001
124 RIO 54 0,16 76 0,04 46,7 0,000001
125 DANDO 19 0,06 5 46,2 0,000001
126 MANEIRA 34 0,1 30 0,02 45,7 0,000001
127 PARCEIRO 30 0,09 23 0,01 44,6 0,000001
128 RITMO 19 0,06 6 43,6 0,000001
129 ESTILO 19 0,06 6 43,6 0,000001
130 DESCENDO 12 0,03 0 43,6 0,000001
131 DAR 34 0,1 32 0,02 43,4 0,000001
132 ETC 23 0,07 12 42,8 0,000001
133 ALUNO 17 0,05 4 42,7 0,000001
134 EXECUTA 16 0,05 3 42,6 0,000001
135 CADA 76 0,22 148 0,08 41,7 0,000001
136 MÃO 28 0,08 22 0,01 40,9 0,000001
137 ESTILOS 13 0,04 1 40,4 0,000001
138 TREINOS 13 0,04 1 40,4 0,000001
139 COLOCANDO 13 0,04 1 40,4 0,000001
140 AQUECIMENTO 11 0,03 0 40 0,000001
141 QUEIXADA 11 0,03 0 40 0,000001
142 MALTAS 11 0,03 0 40 0,000001
143 CANTOR 11 0,03 0 40 0,000001
144 ENSINAR 11 0,03 0 40 0,000001
145 APRENDIZADO 16 0,05 4 39,5 0,000001
146 89 0,26 195 0,11 39,4 0,000001
147 QUANDO 92 0,27 205 0,12 39,4 0,000001
148 ENTÃO 42 0,12 55 0,03 39,4 0,000001
149 ACADEMIA 15 0,04 3 39,3 0,000001
150 MOVIMENTAR 12 0,03 1 36,9 0,000001
151 CORPO 31 0,09 32 0,02 36,7 0,000001
152 ELE 68 0,2 134 0,08 36,6 0,000001
153 TOQUES 10 0,03 0 36,3 0,000001
154 SOLISTA 10 0,03 0 36,3 0,000001
155 SOLTA 10 0,03 0 36,3 0,000001
156 BENTO 10 0,03 0 36,3 0,000001
157 ERA 62 0,18 116 0,07 36,3 0,000001
158 ENTRA 20 0,06 11 36,2 0,000001
159 ADIANTE 13 0,04 2 36,2 0,000001
160 VEMOS 13 0,04 2 36,2 0,000001
161 ENTRANDO 13 0,04 2 36,2 0,000001
162 GERAÇÃO 16 0,05 6 34,5 0,000001
163 SOZINHO 15 0,04 5 33,8 0,000001
164 TRONCO 15 0,04 5 33,8 0,000001
165 MITOS 11 0,03 1 33,4 0,000001
166 FUNDAMENTOS 11 0,03 1 33,4 0,000001
167 ALGUNS 40 0,12 58 0,03 33,4 0,000001
168 NUMA 29 0,08 31 0,02 33,2 0,000001
169 SOM 13 0,04 3 32,8 0,000001
170 APRENDER 13 0,04 3 32,8 0,000001
171 JOGANDO 12 0,03 2 32,8 0,000001
172 ESCRAVIDÃO 9 0,03 0 32,7 0,000001
173 TESOURA 9 0,03 0 32,7 0,000001
174 ESQUIVAS 9 0,03 0 32,7 0,000001
175 FEDERAÇÕES 9 0,03 0 32,7 0,000001
176 VULNERÁVEL 9 0,03 0 32,7 0,000001
177 MALANDRAGEM 9 0,03 0 32,7 0,000001
178 LADAINHA 9 0,03 0 32,7 0,000001
115
179 DERRUBANDO 9 0,03 0 32,7 0,000001
180 MOVA 9 0,03 0 32,7 0,000001
181 LENTO 9 0,03 0 32,7 0,000001
182 PEGAR 9 0,03 0 32,7 0,000001
183 17 0,05 9 31,4 0,000001
184 PROFESSORES 21 0,06 16 31,4 0,000001
185 LO 26 0,08 27 0,02 30,6 0,000001
186 OUTRA 46 0,13 80 0,05 30,1 0,000001
187 SEM 74 0,22 169 0,1 30,1 0,000001
188 ALGUÉM 13 0,04 4 30,1 0,000001
189 SEQÜÊNCIAS 10 0,03 1 30 0,000001
190 PUXA 10 0,03 1 30 0,000001
191 COISA 17 0,05 10 29,7 0,000001
192 AFRICANOS 12 0,03 3 29,6 0,000001
193 QUEDAS 11 0,03 2 29,5 0,000001
194 RODAS 11 0,03 2 29,5 0,000001
195 APROXIMAR 11 0,03 2 29,5 0,000001
196 COMEÇO 15 0,04 7 29,5 0,000001
197 TOCA 8 0,02 0 29,1 0,000001
198 DANÇAS 8 0,02 0 29,1 0,000001
199 DESEQUILIBRANT+8 0,02 0 29,1 0,000001
200 APRENDE 8 0,02 0 29,1 0,000001
201 SAINDO 8 0,02 0 29,1 0,000001
202 CANTOU 8 0,02 0 29,1 0,000001
203 AREIA 8 0,02 0 29,1 0,000001
204 BESOURO 8 0,02 0 29,1 0,000001
205 AFRO 8 0,02 0 29,1 0,000001
206 MEGAGRUPOS 8 0,02 0 29,1 0,000001
207 GALO 8 0,02 0 29,1 0,000001
208 FINALIZAR 8 0,02 0 29,1 0,000001
209 LUTADOR 8 0,02 0 29,1 0,000001
210 8 0,02 0 29,1 0,000001
211 MARGINALIDADE 8 0,02 0 29,1 0,000001
212 MANDINGA 8 0,02 0 29,1 0,000001
213 ENSINANDO 8 0,02 0 29,1 0,000001
214 TENTE 8 0,02 0 29,1 0,000001
215 FALSIDADE 8 0,02 0 29,1 0,000001
216 ALGO 20 0,06 16 28,9 0,000001
217 JOÃO 21 0,06 18 0,01 28,8 0,000001
218 ENTANTO 23 0,07 23 0,01 27,9 0,000001
219 COM 390 1,13 1.476 0,83 27,7 0,000001
220 MUITOS 29 0,08 38 0,02 27,2 0,000001
221 ENCONTRAMOS 9 0,03 1 26,5 0,000001
222 ESCRAVOS 9 0,03 1 26,5 0,000001
223 GIRA 9 0,03 1 26,5 0,000001
224 VELHA 11 0,03 3 26,5 0,000001
225 COMPLETAMENTE 10 0,03 2 26,2 0,000001
226 SACO 10 0,03 2 26,2 0,000001
227 VERDADE 25 0,07 30 0,02 25,7 0,000001
228 BÁSICA 16 0,05 11 25,5 0,000001
229 TOCANDO 7 0,02 0 25,4 0,000001
230 TOQUE 7 0,02 0 25,4 0,000001
231 IMPROVISA 7 0,02 0 25,4 0,000001
232 ACROBÁTICOS 7 0,02 0 25,4 0,000001
233 ENCAIXANDO 7 0,02 0 25,4 0,000001
234 PAR 7 0,02 0 25,4 0,000001
235 ENCAIXAR 7 0,02 0 25,4 0,000001
236 APROXIMANDO 7 0,02 0 25,4 0,000001
237 ANGOLEIROS 7 0,02 0 25,4 0,000001
238 GALOPANTE 7 0,02 0 25,4 0,000001
239 APRENDENDO 7 0,02 0 25,4 0,000001
116
240 PULADA 7 0,02 0 25,4 0,000001
241 MÉTODO 30 0,09 43 0,02 25,4 0,000001
242 BONS 14 0,04 8 24,9 0,000001
243 TRADICIONAL 14 0,04 8 24,9 0,000001
244 DEU 15 0,04 10 24,4 0,000001
245 NA 308 0,9 1.145 0,65 24,3 0,000001
246 NEGROS 11 0,03 4 24 0,000001
247 SEGUNDO 16 0,05 243 0,14 24,3 0,000001
248 NACIONAL 3 117 0,07 24,4 0,000001
249 MAIOR 16 0,05 248 0,14 25,5 0,000001
250 N 8 0,02 189 0,11 29,2 0,000001
251 TRABALHO 10 0,03 210 0,12 29,5 0,000001
252 PROCESSO 4 0,01 149 0,08 30,4 0,000001
253 ENTRE 37 0,11 455 0,26 33,4 0,000001
254 MIL 3 146 0,08 33,4 0,000001
255 PERÍODO 12 0,03 245 0,14 33,6 0,000001
256 CONSUMO 4 0,01 161 0,09 34 0,000001
257 ANO 8 0,02 218 0,12 37,3 0,000001
258 FORAM 14 0,04 280 0,16 37,7 0,000001
259 PÚBLICO 3 161 0,09 38,1 0,000001
260 DAS 75 0,22 765 0,43 38,7 0,000001
261 PELA 22 0,06 369 0,21 41,6 0,000001
262 SÃO 83 0,24 841 0,48 41,9 0,000001
263 AS 147 0,43 1.279 0,72 41,9 0,000001
264 DO 429 1,25 3.057 1,73 43,8 0,000001
265 PAULO 11 0,03 332 0,19 60,6 0,000001
266 DE 1.475 4,29 9.972 5,63 107,4 0,000001
117
Anexo D
(Collocates_ capoeir*_ português)
N
WORD
TOTAL
LEFT
RIGHT
L5
L4
L3
L2
L1
*
R1
R2
R3
R4
R5
1
CAPOEIRA
332
9
20
0
5
2
1
1
303
6
2
4
3
5
2
QUE
114
59
55
10
13
12
24
0
0
9
11
10
13
12
3
CAPOEIRISTAS
45
2
2
0
0
2
0
0
41
0
0
1
1
0
4
COM
34
16
18
3
7
4
2
0
0
4
4
5
3
2
5
CAPOEIRISTA
31
1
0
0
1
0
0
0
30
0
0
0
0
0
6
COMO
30
17
13
5
2
2
5
3
0
2
2
4
3
2
7
UMA
29
20
9
6
3
8
0
3
0
1
2
2
3
1
8
PARA
27
18
9
7
4
1
6
0
0
1
2
2
2
2
9
NÃO
25
11
14
1
4
2
4
0
0
3
4
3
1
3
10
CAPOEIRAS
23
0
2
0
0
0
0
0
21
2
0
0
0
0
11
ANGOLA
22
1
21
0
0
0
0
1
0
19
0
1
1
0
12
DOS
22
14
8
3
2
7
1
1
0
0
1
1
2
4
13
POR
22
6
16
1
3
0
0
2
0
2
4
6
2
2
14
SÃO
20
9
11
1
6
0
0
2
0
0
2
3
4
2
15
REGIONAL
19
1
18
0
1
0
0
0
0
14
1
1
2
0
16
MESTRE
18
12
6
3
5
2
2
0
0
0
0
2
3
1
17
CAPOEIRAGEM
17
1
0
0
0
1
0
0
16
0
0
0
0
0
18
MAIS
17
10
7
1
4
5
0
0
0
0
2
1
4
0
19
NOS
17
7
10
0
1
5
0
1
0
2
4
0
2
2
20
SALVADOR
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N
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RIGHT
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0
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4
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0
1
1
1
1
44
THERE
8
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6
1
0
1
0
0
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0
1
1
0
4
45
TIME
8
3
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1
0
0
1
1
0
0
0
2
1
2
46
BAHIA
7
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1
1
0
2
0
0
0
0
2
1
0
47
BASIC
7
6
1
1
1
1
1
2
0
0
0
1
0
0
48
BEGAN
7
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6
0
0
1
0
0
0
6
0
0
0
0
49
FIRST
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1
0
1
1
1
0
0
0
0
2
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GINGA
7
3
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1
0
0
2
0
0
2
0
1
1
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LEARNING
7
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0
1
0
0
4
0
0
0
0
2
0
52
MOST
7
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0
0
1
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1
1
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MOVEMENT
7
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1
1
1
2
0
0
1
1
0
0
0
120
54
NEW
7
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1
0
1
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1
0
0
0
0
0
1
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ONLY
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0
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1
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56
ORIGINS
7
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0
1
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0
0
1
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1
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1
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0
0
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0
0
0
1
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2
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1
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59
TWO
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0
0
0
0
1
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TYPICAL
7
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0
1
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0
0
0
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0
0
61
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0
0
3
0
0
0
2
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1
62
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0
0
0
2
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0
1
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CENTURY
6
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0
0
0
0
1
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64
CULTURE
6
3
3
1
0
2
0
0
0
0
1
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1
65
DURING
6
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2
2
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0
1
0
0
0
2
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0
0
66
HISTORY
6
4
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1
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3
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0
0
0
2
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0
67
LIFE
6
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0
1
1
0
0
0
0
1
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68
MOVEMENTS
6
4
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1
1
0
2
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0
1
1
0
0
0
69
PHILOSOPHY
6
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1
1
0
2
0
0
0
0
1
1
0
70
UNDERSTAND
6
4
2
2
0
0
1
1
0
0
0
0
1
1
71
WORLD
6
2
4
0
1
0
1
0
0
2
1
0
1
0
72
ALWAYS
5
0
5
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0
0
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0
1
1
2
1
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73
AMONG
5
2
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2
0
0
0
0
0
0
0
1
1
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74
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0
1
0
0
1
1
0
1
75
BIMBA
5
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1
2
0
0
0
0
1
0
0
1
76
BRAZIL
5
2
3
0
0
1
1
0
0
0
0
1
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1
77
DEVELOPED
5
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4
1
0
0
0
0
0
1
1
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1
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EARLY
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1
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1
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0
0
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79
HOW
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1
80
MUSIC
5
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0
2
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0
1
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1
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1
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0
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0
0
0
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83
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0
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0
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84
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2
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1
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0
0
0
0
2
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ROOTS
5
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1
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3
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0
0
0
0
0
1
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0
0
0
0
1
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1
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SEE
5
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1
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1
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WAY
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1
1
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1
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92
WERE
5
1
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0
1
0
0
0
0
2
0
0
1
1
93
WILL
5
3
2
1
2
0
0
0
0
0
0
1
1
0
121
Anexo F (Clusters_ capoeir*)
TEXTUALIZAÇÃO
RE-TEXTUALIZAÇÃO
N
Cluster
Freq.
N
cluster
Freq.
1
que a capoeira
20
1
game of capoeira
9
2
da capoeira angola
11
2
the game of
8
3
da capoeira regional
8
3
known as capoeira
5
4
a capoeira era
5
4
of capoeira angola
5
5
a capoeira tem
5
5
the traditional capoeira
5
6
aula de capoeira
5
6
typical of capoeira
5
7
década de #
5
7
a capoeira roda
4
8
e a capoeira
5
8
began to be
4
9
galo já cantou
5
9
capoeira as a
4
10
já que a
5
10
capoeira began to
4
11
uma aula de
5
11
for the first
4
12
a capoeira é
4
12
of the capoeira
4
13
capoeiristas do passado
4
13
practice of capoeira
4
14
da capoeira e
4
14
roots of capoeira
4
15
de capoeira e
4
15
the capoeira roda
4
16
livro do autor
4
16
the origins of
4
17
mandinga de escravo
4
17
traditional capoeira angola
4
18
no mundo da
4
18
associated with capoeira
3
19
o jogo de
4
19
became known as
3
20
os fundamentos da
4
20
has enriched my
3
21
professores de capoeira
4
21
history of capoeira
3
22
rio de janeiro
4
22
of capoeira regional
3
23
a capoeira e
3
23
one of the
3
24
a capoeira foi
3
24
origins of capoeira
3
25
a capoeira na
3
25
ritual of capoeira
3
26
a capoeira no
3
26
the capoeira game
3
27
a capoeira vai
3
27
the capoeira world
3
28
as origens da
3
28
the capoeirista is
3
29
canto de capoeira
3
29
the creation of
3
30
como a capoeira
3
30
the first time
3
31
da capoeira tradicional
3
31
the history of
3
32
de capoeira angola
3
32
the new generation
3
33
descrita por rugendas
3
33
the practice of
3
34
do século passado
3
34
to the capoeira
3
35
federações de capoeira
3
35
used in capoeira
3
36
fundamentos da malícia
3
37
grande da capoeira
3
38
história da capoeira
3
39
jogador de capoeira
3
40
jogo de capoeira
3
41
mundo da capoeiragem
3
42
na roda de
3
43
no ano #
3
44
no rio de
3
45
para a capoeira
3
46
por todo o
3
47
roda de capoeira
3
48
segundo livro do
3
49
todo o brasil
3
Livros Grátis
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