Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis [...], a cultura não é um
poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos
sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos; ela é um
contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível –
isto é, descritos com densidade. (GEERTZ, 1989, p.10).
Baseando seu pensamento em Geertz, Pozenato (2003, p.36) também acredita que a
cultura não é apenas a soma de comportamentos e objetos de um povo, mas contém alguma
coisa que é dita através desses elementos. Segundo ele, a cultura de determinado grupo é
construída historicamente, sendo reelaborada constantemente, o que implica dizer que dentro
de uma determinada cultura, um significado pode ser desenvolvido, pode ser modificado.
Dessa forma, a cultura seria “um conjunto de textos que têm que ser lidos e interpretados”.
Nessa mesma perspectiva, Jayme Paviani (2004) acredita que a cultura não é apenas
o conjunto de obras, costumes, organizações, instituições, mas, principalmente, o sentido que
há por trás delas. De acordo com o autor, esse sentido permite que cada indivíduo possa
situar-se no mundo, entendendo-o, transformando-o. Assim, cultura é entendida como ação
humana, efetivada no espaço social e na História, tornando-se também reflexão sobre essa
ação.
Sendo, portanto, uma construção coletiva, “situada no tempo e no espaço de cada
grupo ou comunidade e no conjunto da sociedade”, a cultura pode ser critério de definição do
grupo, da comunidade e da sociedade, identificando o indivíduo com determinado grupo e
diferenciando-o em relação aos outros, pois “o modo de agir, de fazer e de pensar de um
grupo torna-se um modo entre outros possíveis” (PAVIANI, 2004, p.75).
Ao entrar em contato com os habitantes de uma determinada região do Brasil, a
personagem Carl Winter depara-se com um modo de vida próprio daquele lugar. O jeito de
ser, de falar, de se vestir, de se alimentar, de pensar, de sentir, de se relacionar com os outros,
pode diferir conforme as diferentes regiões do país ou mesmo dentro do próprio Estado. Isso
mostra, segundo Bourdieu (1988, p.109), que as regiões delimitadas em função de diferentes
critérios concebíveis (língua, habitat, maneiras culturais) podem não coincidir com a
delimitação geográfica dessa região. Assim, no Rio Grande do Sul, a região da missioneira,
representada na narrativa, difere culturalmente da região da fronteira, por exemplo, ou da
região da serra, embora todas pertençam a um mesmo Estado.
Carl Winter, antes de se instalar em Santa Fé, percorre outras cidades da Província:
Rio Grande, Porto Alegre, São Leopoldo. Em cada um desses espaços, ele se depara com uma
paisagem diferente, uma forma de organização social própria, com tipos humanos peculiares,
o que Pozenato (2003, p.151) chama de regionalidade, isto é, a dimensão espacial de um
determinado fenômeno, tomada como objeto de observação. Segundo esse autor, a existência