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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Melissa Pasqual Petenon
DA INTENÇÃO À REALIDADE: OS PARADOXOS ENTRE AS PRÁTICAS DE
GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS E A SAÚDE DO TRABALHADOR
Porto Alegre
2008
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DA INTENÇÃO À REALIDADE: OS PARADOXOS ENTRE AS PRÁTICAS DE
GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS E A SAÚDE DO TRABALHADOR
Melissa Pasqual Petenon
Dissertação de Mestrado apresentado ao
Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul como requisito para a obtenção do título
de Mestre em Educação.
Orientador: Prof. Dr. Jorge Alberto Rosa Ribeiro
Porto Alegre
2008
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3
Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...(além da sífilis, é claro)*
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."
Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
4
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa..."
Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
( Ruy Guerra - Fado Tropical)
5
AGRADECIMENTOS
¾ Ao Jorge Ribeiro, meu orientador pela sua acolhida, seu carinho, paciência e
principalmente pela orientação, que ao mesmo tempo proporcionou total liberdade e nas
horas mais críticas sempre apresentou possibilidades muito valiosas que iluminaram meu
percurso de construção desta dissertação;
¾ Ao meu amado esposo Maurício, por seu apoio incondicional apesar das diferenças de
pensamento, por sua infinita paciência, pelo amor, carinho, enfim por me acompanhar não
só nesta jornada como em todas as outras que a vida nos apresenta;
¾ Ao meu filho Ian pela paciência e compreensão com minhas ausências e principalmente
pela inspiração do seu lindo sorriso;
¾ A minha filha Carolina que irá nascer em junho e a meu afiliado Daniel que irá nascer em
maio;
¾ Aos meus pais Clóvis e Olíria, por tudo o que fizeram por mim até hoje, pelo apoio e por
todo carinho com que se dedicam à minha família;
¾ A minha querida irmã Giovana, pelo ombro amigo em todas as horas, pela cumplicidade,
pelo apoio e amor incondicional;
¾ Aos amigos e parentes que demonstraram interesse e compreensão por este estudo;
¾ Aos mestres com quem tive o privilégio de conviver e aprender;
¾ Aos colegas de mestrado por compartilharem esta trajetória comigo.
6
RESUMO
Este estudo se propôs a identificar os paradoxos existentes entre a intenção manifesta
pelas empresas de preocupação com a saúde, bem-estar e qualidade de vida dos trabalhadores e a
realidade praticada pelas mesmas através da gestão de Recursos Humanos. Os dados foram
obtidos com pesquisa documental e tiveram como fonte os seguintes materiais que foram
submetidos ao meu enfoque de pesquisa: publicações das melhores empresas para trabalhar de
2007, VII Congresso de stress da ISMA-BR/IX Fórum Internacional de Qualidade de Vida no
trabalho, realizado em 2007 e resultados de pesquisas de dissertações da UFRGS publicadas no
período de 31/12/01 à 15/05/07 envolvendo o tema saúde e trabalho. A técnica utilizada para
análise dos dados foi o Discurso do Sujeito Coletivo – DSC (LEFÉVRE e LEFÉVRE, 2003) e a
Análise de Conteúdo (BARDIN, 1979). Os pressupostos teóricos que fundamentaram o estudo
foram constituídos por um conjunto bastante extenso e diversificado de autores, caracterizando a
abrangência e interdisciplinaridade do estudo nas seguintes áreas: psicodinâmica do trabalho,
psicologia social, sociologia do trabalho, sociologia da educação e administração de RH. Os
resultados obtidos apontam para quinze paradoxos em relação à saúde do trabalhador nas práticas
de gestão de RH, que em suma evidenciam que a questão da saúde no trabalho está subordinada à
necessidade prioritária de produtividade das empresas. Assim entre a intenção e a prática há uma
série de limitações, aqui identificadas como paradoxos, que fazem com que o discurso das
empresas de preocupação com a saúde do trabalhador, longe de ser uma realidade, possa ser
compreendido como mais uma prática de gestão que visa além de auxiliar na boa imagem da
empresa, a submissão do trabalhador à organização.
Palavra-chave: Trabalho; trabalho e saúde; saúde do trabalhador; gestão de Recursos Humanos.
7
ABSTRACT
The purpose of this study is to identify the paradox between company’s manifest intention in
health concerning, well being and life quality of labors and the reality practiced through human
resource management. The datum were obtained from document research and had wellspring of
information the following materials how were submitted to my search: Best companies to work
2007, VII Stress Congress of ISMA-BR and IX International Forum of Life Quality at work, on
2007 and result of dissertation at UFRGS published between dec/31/2001 and mai/15/2007
involving health and work subject. The technique used to analysis the datum were the Discourse
of Collective Subject – DSC (LEFÉVRE and LEFÉVRE, 2003) and the Content Analysis
(BARDIN, 1979). The theoretical underpinting to base this study are constitute for one combined
very extent and diversify of authors characteristic the range and interdisciplinary of study in the
next field of study: work psychodynamics, social psychology, work sociology, education
sociology and human resource management. The results indicate for fifteen paradox in respecting
to health of labors in the practices of human resource management, so that summary evidence the
question of health in the work it’s depend of need for priority of productive the company’s. Like
this between intention and the practice have many limited, here identify how paradox, what do
the speech of company’s health concerning of labor, far away to be reality, actually to understand
how one more practice of management with objective apart from to aid in the good opinion
company’s, the submissive of the labor to company’s.
Keywords: Work, Work and Health, Health of the labor and human resource management.
8
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10
1.1 – DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA ................................................... 11
1.2 – JUSTIFICATIVA: PROBLEMATIZANDO A TEMÁTICA .................................... 13
1.3 – CATEGORIAS METODOLÓGICAS DE ANÁLISE ............................................ 18
1.3.1 – Os pressupostos que dão apoio à pesquisa .................................................. 21
1.4 – OBJETIVO DA PESQUISA ............................................................................... 25
1.4.1 – Objetivos específicos ..................................................................................... 25
2 – CATEGORIAS TEÓRICAS DE ANÁLISE - A REVISÃO DA LITERATURA...... 27
2.1 – O TRABALHO ONTEM E HOJE ....................................................................... 27
2.1.1 –.Taylorismo e fordismo .................................................................................... 29
2.1.2 – Reestruturação produtiva ou acumulão flexível ......................................... 32
2.1.3 – O trabalho hoje .............................................................................................. 33
2.2 - GESTÃO ESTRATÉGICA NAS ORGANIZAÇÕES E SUA INTERAÇÃO COM AS
NOVAS POLÍTICAS DE GESTÃO DE RH ........................................................ 37
2.2.1 - Do departamento de pessoal ao RH estratégico ............................................ 40
2.2.2 - A psicologia no contexto de RH ...................................................................... 42
2.2.3 - As práticas que caracterizam as modernas políticas de RH .......................... 46
2.2.3.1 - A sistematização das modernas políticas de RH ......................................... 46
2.2.3.2 - A crítica às modernas políticas de RH .......................................................... 49
2.2.3.3 - Adaptação do sujeito às novas políticas de RH – o perfil deste profissional..53
2.3 - SAÚDE E TRABALHO ........................................................................................ 55
2.3.1 - Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho .............................................. 61
2.3.2 – Estresse ......................................................................................................... 66
3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 72
3.1 – OS CAMINHOS DA INVESTIGAÇÃO ............................................................... 73
3.1.1 – A intenção manifesta e as modernas práticas de gestão de RH..................... 74
3.1.1.1 - Melhores para trabalhar ................................................................................74
3.1.1.2 – VII Congresso de Stress da ISMA-BR e IX Fórum Internacional de Qualidade
de Vida no Trabalho.................................................................................................... 76
9
3.1.2 – A realidade praticada – As dissertações.......................................................... 76
3.2 – O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO – DSC COMO ESTRATÉGIA DE
ANÁLISE DE DADOS ................................................................................................. 89
4 – AS MODERNAS PRÁTICAS DE GESTÃO DE RH E SUA INTENÇÃO
MANIFESTA COM RELÇÃO A SAÚDE DO TRABALHADOR ................................ 92
4.1 – A INTENÇÃO MANIFESTA E AS MODENAS PRÁTICAS DE RH.................... 92
4.1.1 – Melhores para trabalhar ................................................................................. 92
4.1.2 – VII Congresso de Stress da ISMA-BR e IX Fórum Internacional de Qualidade
de Vida no Trabalho ................................................................................................. 107
4.1.2.1 – Outros congressos .................................................................................... 127
5 – A PRODUÇÃO ACADÊMICA: O QUE OS ESTUDOS APONTAM .................. 131
5.1 – ALGUMAS CONSTRUÇÕES SOBRE AS DISSERTAÇÕES ......................... 131
5.2 – OS RESULTADOS APONTADOS NAS DISSERTAÇÕES ............................ 135
5.2.1 – Relação saúde e trabalho ............................................................................ 136
5.2.1.1 – Prática relacionadas à doença do e no trabalho....................................... 136
5.2.1.2 – Ausência de medidas efetivas que minimizem o sofrimento no trabalho e
previnam o adoecimento .......................................................................................... 140
5.2.1.3 – Práticas empresariais e de RH e seus reflexos na saúde do trabalhador.. 143
5.2.1.4 – Prazer no trabalho ..................................................................................... 147
5.2.1.5 – Sofrimento no trabalho .............................................................................. 149
5.2.1.6 – Mecanismos de defesa utilizados para proteção das dificuldades
encontradas no trabalho ...........................................................................................154
5.3 – CONSIDERAÇÕES À CERCA DOS RESULTADOS APRESENTADOS NAS
DISSERTAÇÕES .................................................................................................... 157
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 159
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 172
ANEXOS .................................................................................................................. 178
10
1 – INTRODUÇÃO
A produção desta dissertação foi, para mim, uma experiência complexa que envolveu
muitas vivências, leituras, releituras, estabelecimento de relações e principalmente um exercício
permanente de mediação entre o desejo de incluir todas possibilidades de interlocução do tema na
pesquisa e a limitação de tempo e praticidade que se impõem no movimento de construção de uma
dissertação.
Pesquisar às modernas práticas de RH (Recursos Humanos) nas organizações e sua
relação com a saúde do trabalhador, foi fruto de minha vivência de mais de dez anos como
especialista em Psicologia do Trabalho, na função de analista de RH. Considero esta vivência o fio
condutor para minha escolha de pesquisa, além da sedução em relação ao mundo do trabalho,
como espaço no qual as pessoas não são só produtoras de riquezas, executoras de ações
programadas e destinadas a fins muitas vezes conflitivos, mas no qual as pessoas também
produzem subjetividade, onde mesmo sob intensa pressão os indivíduos conseguem resistir no
sentido de manter certo equilíbrio, se relacionam, pensam, sentem e agem na construção e no
entendimento de seu mundo e dos outros mundos nos quais interagem.
De acordo com Marre (1991) “a escolha do tema se faz porque está relacionada com um
sistema de valores e com convicções últimas do indivíduo que o escolhe”. Nesta perspectiva
acredito que seja natural o fato de não haver neutralidade na escolha do meu objeto de pesquisa,
minha escolha está repleta de motivações pessoais.
A minha trajetória como especialista em Psicologia do Trabalho em organizações, iniciou
um pouco antes da minha formatura e basicamente aconteceu em duas organizações, que em
função de suas grandes diferenças não só de segmento, mas principalmente culturais e ideológicas
me proporcionaram uma experiência muito vasta e rica. A primeira organização em questão é uma
empresa municipal de economia mista e o principal acionista é a Prefeitura de Porto Alegre, assim
possui característica de empresa pública, nesta organização trabalhei sete anos e tive a
oportunidade de desenvolver trabalhos alinhados com a identidade profissional que desenvolvi que
busca a mediação entre as demandas e necessidades dos trabalhadores e da organização. Já a
segunda organização, uma multinacional francesa, não oferecia nenhum espaço para que o papel
11
de mediação fosse exercido, o profissional psicólogo, ou neste caso analista de RH, na visão desta
organização deveria servir única e exclusivamente aos interesses do capital.
Foi uma grande decepção me deparar com uma realidade de trabalho tão dura, levando em
consideração o fato de que nesta época eu ainda possuía a ilusão, que se faz presente no imaginário
social, de que trabalhar em uma multinacional seria maravilhoso pois em tais organizações se
encontra de maneira sistematizada as mais modernas e atuais práticas de gestão, inclusive de RH.
Para meu desespero e sofrimento o que encontrei foi totalmente diferente do que eu esperava, a
realidade era de exploração dos trabalhadores e todas as modernas práticas de gestão serviam
unicamente aos interesses organizacionais, escondidos em uma máscara amplamente divulgada de
que estavam aliadas aos interesses dos trabalhadores. Diante da minha perplexidade, sofrimento e
incapacidade para mudar uma lógica enraizada, tentei durante oito meses dar sentido ao meu
trabalho naquela organização. Quando me dei conta de que as minhas opções eram somente duas,
reproduzir o sistema vigente ou sair desta organização, optei por sair. Mas sai diferente, tendo que
conviver com os sentimentos desencadeados por esta vivência.
Os meus sentimentos, interesses e questionamentos foram decisivos na delimitação do
objeto desta pesquisa. Além dos recursos teóricos, das leituras realizadas dentro do campo da
psicopatologia do trabalho, da psicologia social, da sociologia do trabalho, da sociologia da
educação e da administração de RH os responsáveis pelo olhar de um outro jeito o mundo do
trabalho, um olhar mais crítico, menos ingênuo. Afastada temporariamente do mundo
organizacional e em maior contato com o mundo acadêmico, com a teoria, passei a ter outras
percepções, outras emoções, outro entendimento com relação ao mundo do trabalho, a minha
prática e sentimentos dentro das organizações onde vivi. Fui cativada pelos desafios e inquietudes
que provocam meu desejo de entender com mais profundidade essas realidades, de lidar com as
emoções vividas, com as descobertas feitas e com as interrogações presentes.
1.1 - DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA
Não foi uma tarefa simples tornar claro o objeto de pesquisa, pois a temática, como já
referi anteriormente, está implicada com minhas vivências pessoais, profissionais, além de muitos
questionamentos e interrogações que acompanham estas relações. O sentimento que se fez
presente por um bom tempo dessa trajetória de consolidação da dissertação foi o de que ao
12
delimitar o objeto eu estaria deixando de lado temas que teriam igual relevância aos estudos
acerca do tema trabalho.
Mas como em uma dissertação não há possibilidade de dar conta de todas ramificações
que abrangem determinado tema, busquei auxílio para especificação do objeto de pesquisa na
literatura e também em minhas vivências. Aprofundei as leituras relacionadas ao tema trabalho,
evidenciei o reconhecimento da responsabilidade que as práticas de RH têm à medida que afetam
as vivências de trabalho de muitas pessoas e também identifiquei que muitos estudos apontam o
trabalho como possível causa de prejuízos para saúde do trabalhador. E ao mesmo tempo
constatei o fato, intrigante por se chocar com outras evidências, de que as empresas divulgam sua
intenção de atenção e cuidado com a saúde do trabalhador como uma realidade inquestionável.
A partir daí, defini buscar compreender e analisar com um olhar crítico os paradoxos em
relação à saúde do trabalhador levando em consideração a intenção manifesta pelas organizações
e a realidade praticada pelas mesmas. A princípio a meu interesse era de realizar a pesquisa em
uma organização específica, no caso, a empresa onde eu trabalhei por um longo período e onde
eu sabia que em função das mudanças ocorridas nos últimos tempos, muitas ações estavam em
retrocesso, ou seja, indo contra o discurso de atenção a saúde do trabalhador e ao contrário
causando prejuízos à saúde do trabalhador.
Mas neste caso especificamente, me vi muito envolvida pessoalmente, ou seja, poderia
haver prejuízos a pesquisa pois eu estaria partindo de uma resposta e não de uma questão. Então
pensei em buscar uma outra organização, porém no decorrer da minha trajetória percebi que
haviam muitos estudos que traziam resultados referentes a questão da saúde do trabalhador,
estudos estes realizados em organizações públicas, privadas e dos mais diversos setores e
segmentos. A partir daí achei que seria muito interessante e rico utilizar os resultados obtidos
nestas pesquisas (aqui escolhi usar apenas teses e dissertações) como fonte para auxiliar na
compreensão e análise da realidade praticada pelas organizações no que se refere a saúde do
trabalhador. Além disto me chamou atenção a possibilidade de alcançar uma visão mais ampla no
que se refere a saúde e trabalho, amplitude alcançada pelo não atrelamento a uma única
organização, função ou segmento.
Seguindo a mesma linha de raciocínio que utilizei para definir as teses e dissertações
envolvendo a relação saúde e trabalho, como objeto de estudo, defini usar também as publicações
de melhores empresas para trabalhar e congresso específico com tema trabalho, stress e saúde
para complementar a análise e compreensão da realidade praticada e principalmente da intenção
13
manifesta pelas organizações. A escolha de mais estes dois objetos como materiais a serem
analisados me garantiram uma submissão de material diversificada, moderna e atual e alinhada ao
meu enfoque.
A partir desses objetos, configuro o problema de pesquisa. A pergunta que o sintetiza é: a
intenção manifesta pelas organizações de preocupação com a saúde do trabalhador é coerente
com as suas práticas de gestão de RH?
Cabe salientar que não tenho a pretensão de esgotar o assunto, nem de pressupor que neste
estudo se possa encontrar a totalidade no que se refere ao tema proposto, mas pretendo sim
colaborar com a análise de possíveis paradoxos das modernas práticas de RH no que se refere a
saúde do trabalhador.
1.2 – JUSTIFICATIVA: PROBLEMATIZANDO A TEMÁTICA
A problematização do tema constituiu-se, principalmente, com as contribuições
decorrentes da revisão de literatura realizada no decorrer de todo o processo de investigação e
também, como não poderia deixar de ser, com minha vivência profissional. Nesse processo, a
revisão foi um elemento fundamental para ampliar meus conhecimentos a respeito da produção
acadêmica existente relativa ao objeto da pesquisa. Também auxiliou nas decisões referentes à
metodologia, como por exemplo o fato de eu decidir utilizar teses e dissertações como dados
constituintes da pesquisa.
A seguir, descreverei de maneira breve alguns elementos que na revisão se destacaram
por auxiliar na problematização do tema. Os demais conteúdos da revisão estarão incorporados na
dissertação em seus capítulos .
O trabalho assume papel cada vez mais central
1
na vida das pessoas. Esta centralidade está
acompanhada de conseqüências paradoxais para o trabalhador. No paradoxo, encontra-se de um
lado, o trabalho como constituinte de identidade, como possibilidade de exercício da subjetividade
e de significado sócio-cultural. De outro lado, estão os contextos nos quais o trabalho na sociedade
capitalista se insere, onde o império do lucro e da extração, apropriação e mais valia ditam regras
1
Não pretendo aqui me aprofundar na polêmica e importante discussão que se trava na academia e na sociedade
sobre a existência ou não da centralidade do trabalho no capitalismo contemporâneo ou na briga com relação ao
possível fim da sociedade do trabalho. Uso o termo centralidade para definir a atual realidade que nos leva muitas
vezes a ficar em dúvida para responder a questão: precisamos viver para trabalhar ou trabalhar para viver?
14
que normalmente se caracterizam pela falta de atenção aos limites que garantem a integridade
física, psíquica e social dos trabalhadores.
Neste contexto ambíguo também estão inseridos os profissionais de Recursos Humanos
(RH), estes profissionais, no exercício de suas atividades sofrem pressão por parte das
organizações para canalizar sua ação em prol dos interesses do capital, de produtividade,
lucratividade e clima organizacional favorável. Porém, tais profissionais, em alguns casos, em
função de suas concepções de pessoas e de compreensão do mundo do trabalho, podem ir além dos
interesses organizacionais, este ir além, está relacionado a possibilidade de encontrar canais que
viabilizem a conciliação do papel solicitado pela organização com práticas que valorizem o
trabalho e as pessoas, que possibilitem abertura de canais de participação, de reivindicações e de
humanização no trabalho, que busquem a promoção da saúde e bem estar do trabalhador. Como
está sendo esta prática na realidade, é uma questão a ser estudada. Percebo que a intenção
manifesta pelas organizações e por profissionais de RH é a de preocupação com a qualidade de
vida dos trabalhadores, com a sua saúde e bem estar, mas será que as práticas de RH promovem a
saúde, o bem estar e a qualidade de vida ou estas práticas, ao contrário, contribuem para o
sofrimento, o aumento do estresse, a desumanização e o adoecimento?
É com esta motivação que procuro entender a relação das práticas de RH e a saúde dos
trabalhadores a elas submetidos. Atualmente, as novas políticas de RH em uma perspectiva de
gestão estratégica de pessoas, ou seja, de orientação para o negócio, frente às mudanças no mundo
do trabalho, que incluem as pressões de qualidade e de produtividade em um ambiente altamente
competitivo que tem como seu principal aliado a flexibilidade, e a polivalência; geram práticas de
RH que estão presentes nas empresas de ponta, ou o RH estratégico como normalmente é
conhecido, que possuem como padrão a adoção de políticas de valorização dos trabalhadores, que
exploram, além dos incentivos monetários (como por exemplo bônus que podem chegar até a soma
do salário anual), as motivações psicossociais, principalmente as necessidades de segurança, de
afeto, de aprovação social, de prestígio, de auto-realização.
A empresa passa a ser vista como um sistema equilibrado que recebe contribuições e dá
satisfação em troca; o indivíduo coopera para o atingimento dos fins da organização porque tem
em vista o atingimento de seus próprios objetivos pessoais. Neste sentido as estratégias de RH
demonstram um projeto pedagógico explícito, na medida em que visam educar o trabalhador para
realizar o trabalho para a empresa como se estivesse trabalhando para si mesmo, sem
questionamentos quanto carga horária, intensificação do trabalho e pressões por resultados, como
15
demonstra Kuenzer (1995) em se livro “Pedagogia da Fábrica”. Dissemina-se a idéia de que
enquanto a empresa continuar crescendo, o trabalhador vai continuar sendo valorizado e
usufruindo dos “benefícios” oferecidos pela empresa. Nas entrelinhas percebe-se um projeto
pedagógico com uma ideologia conveniente aos interesses do capital.
Percebo que as modernas práticas de RH, somadas a realidade de um mercado de trabalho
marcado por extrema competitividade, pelo fantasma do desemprego e conseqüente medo da
exclusão, fazem da realidade do trabalhador a seguinte: não há espaço para o questionamento às
práticas organizacionais, pois caso você não se adapte as exigências empresariais e no caso,
adaptar-se leia-se como - ser competente, motivado, competitivo, polivalente, com capacidade de
relacionar-se bem, atualizar-se constantemente, entre outras exigências – o trabalhador se verá
automaticamente no mundo dos desempregados.
Com a atual realidade de desemprego, tanto os que têm emprego como aqueles que o
perderam sofrem intensamente. Dejours (1999) ressalta que a ameaça da demissão ronda a cabeça
daqueles que permanecem empregados. Muitos gestores passam a utilizar-se dessa possibilidade
como técnica de administração de pessoas, criando uma pressão freqüentemente intensa. Passam a
fazer exigências cada vez maiores com relação a resultados. O problema é que todos, inclusive os
trabalhadores, acreditam que podem e tentam cumprir as demandas. Os subordinados cinicamente
chamados de colaboradores, ao se verem nessa situação, irão inevitavelmente tentar adaptar-se a
ela, independente do sofrimento.
Desta forma para os que estão empregados e pretendem ou precisam manter-se
empregados a alternativa é adaptar-se às novas práticas de RH. E normalmente é o que as pessoas
fazem, porém sem se dar conta, nesta busca incessante pela competência e competitividade
acabam esquecendo de sua saúde. Dos estudos que realizei e do meu trabalho em empresas,
percebo que as pessoas estão indo além do seu limite no trabalho, esta realidade é evidenciada pelo
crescente número de pessoas que se afastam do trabalho por doença ocupacional, conforme será
apresentado a seguir nos dados da previdência social. E também pelo crescente número de
atestados médicos
2
apresentados em alguns segmentos específicos (falo em alguns segmentos
2
Fonte: Matéria publicada na no jornal Zero Hora do dia 22/05/06, com o título CPI das licenças – A febre dos
atestados. Na matéria são apresentados números alarmante que chegam em média a 11% do efetivo ao mês que se
ausenta por apresentar atestado médico, em determinados órgãos públicos. Na matéria salienta-se que nas empresas
privadas o número de ausências é inexpressivo. Também é salientado que o estresse e desgaste seriam os
responsáveis pelo alto índice de atestados.
16
porque nas empresas privadas raramente o trabalhador irá ousar apresentar um atestado; só em
caso extremo, pois apresentando atestado ficará mal visto, deixando de ser considerado
competente) e também pelo crescente número de trabalhadores que procuram consultórios de
psicólogos e psiquiatras em função do sofrimento psíquico gerado pelo trabalho. Dados da
previdência social
3
mostram que de 2003 para 2004 o número de doenças ocupacionais, ou seja de
trabalhadores afastados por este motivo, cresceu em 15,6%.
Estes dados me fazem pensar que a saúde, principalmente a saúde psíquica do trabalhador
vem sendo negligenciada pelas empresas, pelos sindicatos e pelos próprios trabalhadores. Com as
leituras que realizei e também em minha experiência profissional percebo que o trabalhador nega o
sofrimento por falta de opção, pois como fará para dar conta de manter-se competente e ao mesmo
tempo admitir que está em sofrimento, sendo assim o trabalhador só poderá se dar conta do
sofrimento quando já adoeceu e neste caso a responsabilidade na visão da empresa terá sido do
trabalhador.
Parto do princípio de que os trabalhadores sofrem e virão a manifestar ou não seu
sofrimento, conforme descrição de Foucault (1989), em maior ou menor grau, de acordo com o
uso que fazem do vocabulário disponível em sua época e da sua inserção social. Foucault (2000) e
antes dele Marx (1991)
4
refere que uma sociedade diz o que ela pode dizer naquele dado momento.
Para auxiliar na compreensão da relação entre as práticas de gestão de RH e a saúde do trabalhador
conforme Foucault, deve-se identificar os enunciados
5
. Conforme o autor pode-se pensar que o
sofrimento não está disponível no vocabulário de RH.
Conforme Alevato (2003) é como se o sofrimento no trabalho não existisse, pois
atualmente o que faz parte do vocabulário é justamente o contrário, ou seja, que as empresas
valorizam seus trabalhadores, que os trabalhadores são o segredo do sucesso da organização.
3
Fonte: Consulta realizada no site (www.previdencia.gov.br/anuarios) da previdência social em 09/11/2006.
4
Marx (1991) nas teses de Feuerbach, primeira parte da ideologia alemã, refere que: “a produção de idéias, de
representações, da consciência, está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material e com o
intercâmbio material dos homens, como a linguagem da vida real”. (p. 36) “Não é a consciência que determina a
vida, mas a vida que determina a consciência”. (p. 37 )
5
Conforme Foucault (2000) para realizar uma análise de discurso deve-se apreender o enunciado, que exerce a
função de possibilitar e dar sentido para frases, falas ou proposições usadas para determinado assunto, em
determinada época, em função do vocabulário disponível. O objetivo do enunciado segundo definição do autor:
“trata-se de aprender o enunciado na estreiteza e na singularidade de sua existência, de fixar de maneira mais justa os
seus limites, de estabelecer suas correlações com os outros enunciados aos quais ele pode estar ligado, de mostrar
que outras formas de enunciado ele exclui. Não se procura absolutamente, por baixo do que é manifesto, o falatório
em surdina de um outro discurso. Deve-se mostrar porque ele não poderia ser diferente do que é, em que ele exclui
qualquer outro discurso, como ele ocupa dentre os outros e em relação a eles um lugar que nenhum outro poderia
ocupar.” (FOUCAULT, 2000, p.93)
17
Pouco se escuta sobre sofrimento no trabalho. Os responsáveis por RH nas empresas, a mídia em
geral dispendem esforços e geram pesquisas que na verdade só dão luzes às práticas consideradas e
divulgadas como de valorização do funcionário, que na verdade são usadas para mascarar o
sofrimento. Vemos concursos com premiações como Top Ser Humano (Associação Brasileira de
RH - ABRH) e Melhores Empresas para Trabalhar (Revista Exame e Época), que inclusive
servirão como fonte de pesquisa para o presente estudo, que acenam a promessa de felicidade no
trabalho, de identidade, de realização para os que tiverem a oportunidade de adaptar-se a empresa
e contribuir para seu sucesso. Pouco ou quase nada se vê a respeito de repensar as práticas
empresarias com objetivo de diminuir o desemprego, ou minimizar os prejuízos a saúde do
trabalhador, as luzes estão sempre voltadas para o que o próprio trabalhador pode fazer
individualmente para manter a competitividade ou empregabilidade e cuidar de sua saúde.
Um outro dado que considero relevante diz respeito a questão ética, pois a maioria dos
trabalhadores, independente de ser chefe ou não, expostos às modernas políticas, em muitos casos
é forçada a agir contra seus princípios morais, no sentido de ter que se ajustar a padrões ou práticas
incoerentes. Cria-se então um intenso sofrimento. A saída tem sido a banalização da injustiça
social, o mal, o sofrimento passa a ser visto como algo necessário, mais do que necessário, como
algo que deve fazer parte do cenário organizacional. Por exemplo, se acha natural ou
compreensível que um funcionário, às vezes com mais de vinte anos de trabalho na mesma
organização, seja demitido pois seu salário está muito alto, ou pois na visão da empresa se precisa
de “sangue novo”. Há uma naturalização da prática social injusta, que incentiva a competitividade
e educa para insensibilidade aos que estão em situação de miséria, ou sem emprego, ou com
trabalhos precários, a injustiça é vivenciada pelas pessoas como mal dos tempos modernos,
imutável, como causalidade do destino, causalidade econômica ou sistêmica (Dejours, 1999).
Nesse sentido, o processo de re-produção do capital acaba produzindo essa nova forma de ser
social: corroído em seu caráter (Sennett, 1999), banalizado pelo mal.
Ainda é importante salientar, que o sofrimento no trabalho também pode ser
compreendido através do longo percurso, descrito por Foucault (1989) do “poder disciplinar” que
foi aperfeiçoado como uma nova técnica de gestão dos homens. A partir do século 18, procurou-se
investigar de que maneira os gestos são feitos, qual o mais eficaz, rápido e mais ajustado,
conforme descrição de Foucault (1989). Na gestão do trabalho pós-industrial, a disciplina como
técnica de exercício do poder tem por função não mais controlar os gestos e corpos, mas o
pensamento, a criação e as manifestações de sofrimento.
18
No mundo do trabalho de acordo com Kováes (2003), os objetivos econômicos são
priorizados em relação aos objetivos sociais, o espaço de trabalho atual desrespeita o exercício dos
direitos de personalidade e das liberdades e garantias do cidadão. Hoje, se encara e aceita a
pressão, os estressores e o sofrimento como inerentes ao trabalho. Além da desumanização, pela
banalização da injustiça, que a lógica empresarial capitalista gera. Isto é compreensível na lógica
capitalista, mas é urgente que possamos pesquisar e compreender as conseqüências atuais e futuras
desta lógica, para que haja maior abertura para se pensar ou lutar por novas práticas ou novas
formas de organização que possibilitem mudanças positivas destas relações. O presente estudo
pretende colaborar na compreensão dos paradoxos entre as práticas de RH e a saúde do trabalhador
e por mais que seja difícil vislumbrar mudanças positivas neste cenário, como nos lembra Foucault
Em nenhum caso se devem ouvir aqueles que dizem: “Não critiquem, vocês não
são capazes de fazer uma reforma.” Estes são ditos de gabinetes ministeriais. A
crítica não deve ser a premissa de um raciocínio que se concluiria por: eis aqui,
portanto, o que lhes resta fazer. Ela deve ser um instrumento para aqueles que
lutam, resistem e não querem mais as coisas como estão. Ela deve ser utilizada
nos processos de conflitos, de enfrentamentos, de tentativas de recusa. Ela não
tem de impor a lei à lei. Ela não é uma etapa em uma programação. Ela é um
desafio em relação ao que é. (2003, p. 349)
1.3 – CATEGORIAS METODOLÓGICAS DE ANÁLISE
Categorias metodológicas são aquelas que constituem a teoria que vai informar a maneira
pela qual o pesquisador trabalha o seu objeto. Conforme Kuenzer (1998) as categorias
metodológicas servem de critério de seleção e organização da teoria e dos fatos a serem
investigados, a partir dos objetivos da pesquisa, fornecendo-lhe o princípio de sistematização que
vai lhe conferir sentido, cientificidade, rigor, importância. As categorias metodológicas
“...embora não continuamente explicitadas, deverão dar o necessário suporte à relação
pesquisador-objeto de pesquisa durante todo o desenrolar do trabalho, iluminando todos os
procedimentos.” (KUENZER, 1998, p. 64)
Saliento que as categorias de conteúdo bem como os procedimentos metodológicos e os
resultados em si, que apresentarei nos capítulos seguintes, estão construídas e articuladas às
categorias metodológicas que estarei apresentando a seguir. Ou seja a relação entre categorias de
conteúdo e as demais categorias, por estarem articuladas, não estarão explícitas ou classificadas
19
no decorrer da presente dissertação, serão apresentadas como unidades que se articulam e
interagem entre si.
Para o presente estudo as categorias metodológicas que serviram de guia, auxiliaram ou
iluminaram o trajeto da pesquisa são as categorias de historicidade, contradição e humanização.
Parto do pressuposto da compreensão de sociedade e de todos os seus espaços como
contraditórios, ou seja, destruidores e, ao mesmo tempo, criadores de múltiplas possibilidades de
vida, ou seja, de construção e destruição, de prazer e de sofrimento, de humanização e
desumanização. Nas organizações, como nas sociedades, diferentes interesses convivem em
tensão permanente e são estabelecidas correlações de poder entre eles e para compreensão dos
diferentes momentos é necessário contextualizá-los historicamente. Desta forma procurei ao
longo do trabalho contextualizar o objeto de pesquisa em seus diferentes momentos na história,
buscar captar a relação dos contrários e identificar as práticas e vivências que interferem no
processo humanização/desumanização dos trabalhadores.
A categoria historicidade é caracterizada pela mobilidade constante da história, que se
traduz nas formações sociais. Conforme Demo (1981) o histórico vive da tensão dialética entre a
persistência no tempo e a transcendência para o futuro. É particular do histórico ser provisório,
instável, lábil, imperfeito. O que não deve ser entendido como uma forma de menosprezar a
importância do histórico, mas compreender sua forma de existência provisória. Provisório, pois a
continuidade quebra-se, é atingida por descontinuidades e na proporção em que novas fases se
sucedem, continua o processo. “O persistente nas formações sociais é a capacidade de não
persistir” (Demo, 1981, p. 145). Mas apesar de provisório, o histórico resiste ao tempo.
Braudel (1990) defendendo a importância de se questionar a utilização em demasia da
história de tempo breve, que se detém nos acontecimentos, de forma dramática e com pouco
fôlego, critica esta tendência e salienta a importância de uma consciência metodológica comum
nas ciências sociais da importância e utilidade da história de longa duração. O autor faz os
seguintes questionamentos:
A história, dialética da duração, não será, à sua maneira, a explicação do social
em toda a sua realidade e, portanto, também do actual? A sua lição vale neste
aspecto como precaução contra o acontecimento: não pensar apenas no tempo
breve, não acreditar que só os sectores que fazem ruído são os mais autênticos;
também os há silenciosos. Mas valerá a pena recorda-lo? (1990, p. 22)
20
A categoria contradição se faz fundamental no presente estudo por estar presente de
maneira marcante na realidade e vivências das organizações empresariais e é encarada como
motor de movimento. Com relação a esta categoria acentuo o pensamento de Kuenzer (1998) que
enfatiza que a pesquisa deverá buscar a todo momento o movimento de contradição. Segundo a
autora deve-se procurar:
A ligação e unidade resultante da relação dos contrários, que ao se opor
dialeticamente, um incluindo-se/excluindo-se no/do outro, se destroem ou se
superam; as determinações mais concretas contêm, superando-as, as
determinações mais abstratas; assim, o pensamento deverá mover-se durante o
transcurso da investigação, entre os pólos dialeticamente relacionados, buscando
compreender onde e como se incluem/excluem, desaparecem ou originam uma
nova realidade (...) buscando não explicações lineares que “resolvam” as tensões
entre os contrários mas captando a riqueza do movimento e da complexidade do
real, com suas múltiplas determinações e manifestações. (1998, p. 65)
Em relação à categoria humanização, me apoio em Freire que conforme Brandão (2002)
refere que desde que os seres humanos nascem, inicia um processo de se tornarem humanos, de
se humanizarem; o homem se faz humano na relação com outros homens, mediados pela sua
intervenção no mundo natural e produção cultural.
Para Brandão (2002), como indivíduos, os seres humanos se constituem em seres bio-
psico-sociais. Na relação com outros seres humanos inseridos no mundo e na cultura, onde
transformam a natureza e a si mesmos, passam da condição de indivíduos para a de pessoas. A
cultura, segundo Brandão (2002), expressa o mundo que criamos para aprender a viver; o mundo
que inventamos e que nos constitui como seres humanos. É a condição de sujeitos históricos e
sociais dos seres humanos que vai determinar a condição de pessoa.
Porém Freire (2003) defende ainda que os seres humanos como sujeitos constituem e
constroem processos de humanização. Por outro lado, como objetos constituem e constroem
processos de desumanização.
Marx (1998) vem denunciar que no contexto do capitalismo o trabalho desumaniza.
Segundo o autor, a alienação do trabalho no mundo moderno, desumaniza uma vez que
transforma o homem em meio de produção de valores de troca tendo em vista a acumulação de
capital através da expropriação da mais-valia gerada pela força de trabalho.
Assim, as categorias historicidade, contradição e humanização vão se entrecruzando pois
o universo organizacional não é composto por um único elemento, é um terreno de trabalho e de
21
vivências em que confrontam-se forças, produzem-se energias numa incansável busca de domínio
das pessoas sobre o trabalho, do trabalho sobre as pessoas, do capital sobre o trabalho, da
organização sobre as pessoas e das pessoas sobre a organização. São relações complexas de
tensão, de lutas, de subjetivação, de resistências e de produção de história que estabelecem uma
infindável rede de relacionamentos e de interações.
1.3.1 – Outros pressupostos que dão apoio à pesquisa
São pressupostos que necessitam ser destacados pois são esclarecedores e juntamente com
as categorias metodológicas especificadas anteriormente impulsionaram e auxiliaram no decorrer
da trajetória da pesquisa.
Um pressuposto diz respeito a relação teórica entre educação e trabalho. Atualmente, é
pública e notória a importância, para o mundo empresarial, do papel desempenhado pela escola
na formação e preparação dos futuros trabalhadores para a adaptação à empresa e atendimento de
suas necessidades. Dentro desta perspectiva, a relação educação e trabalho é compreensível e
esperada. Em contrapartida, sabemos que no capitalismo vigente o objetivo empresarial é o lucro,
e que para isto as organizações investem na preparação de seus funcionários, em políticas de
Recursos Humanos que favoreçam a manutenção de sua hegemonia, produtividade e atingimento
de suas metas, na maioria das vezes, de maneira desmedida. Isto tudo, dentro da lógica capitalista
é lógico e esperado. O que não é lógico, nem esperado e deve ser encarado como um problema é
o fato de que a lógica de toda sociedade, inclusive da educação seja esta. Deluiz (2001) entende
que diante da crise econômica e do triunfo de políticas que restringem os gastos sociais, a pressão
eficientista passa a exigir melhor utilização dos recursos limitados e a controlar os sistemas
educacionais para ajustar os seus objetivos, conteúdos e produto final às demandas dominantes
do mundo do emprego.
Neste contexto se insere o modelo das competências nas políticas educacionais. O
enfoque das competências invade o mundo da educação no quadro de questionamentos feitos ao
sistema educacional diante das exigências de competitividade, produtividade e de inovação do
sistema produtivo. A lógica das competências invade o mundo da educação para atender a
necessidades empresariais regidas pela lógica capitalista, que possui a visão de que o saber é uma
ferramenta que deve estar a serviço da eficácia do trabalho.
22
Outra evidência da apropriação empresarial de um espaço escolar, como nos mostra
Frigotto (2003) é o fato de que a partir dos anos 90, período que coincide com a expansão da
lógica das competências, no Brasil nas reformas educativas efetivadas, desaparecem os vocábulos
de “educação integral, omnilateral, laica, unitária, politécnica ou tecnológica e emancipadora” e
realça-se o ideário da polivalência, da qualidade total, das competências, do cidadão produtivo e
da empregabilidade.
O sucesso atual do termo competências está estreitamente ligado ao uso estratégico que
dele é feito tanto na empresa quanto na escola, sendo este inseparável da nova ”gestão de
recursos humanos” na qual a escola tem o papel inicial, como já referi antes, o papel de socializar
o futuro trabalhador para atender a necessidade empresarial. Laval (2004) de uma maneira
bastante crítica e que apesar de retratar a realidade francesa, não deixa de refletir a realidade
brasileira, até porque, ironicamente podemos dizer, que estamos na “era da globalização”, nos
apresenta parte da pedagogia das competências. O autor refere-se à escola com o papel de incutir
um “espírito de empresa” que pode se definir como a aquisição de certas disposições, atitudes e
competências do indivíduo: criatividade, iniciativa, aptidão para resolução de problemas,
flexibilidade, capacidade de adaptação, exercício de responsabilidades, aptidão ao aprendizado e
à reciclagem. A pedagogia se torna uma forma de gestão.
Percebe-se que a sociedade de maneira geral assimilou muito bem a inserção da lógica das
competências no mundo escolar e seu ajuste aos objetivos do mundo do emprego, ou seja, de
maneira geral as modificações são socialmente bem vistas. Esse fato pode ser explicado na
constatação de que a sociedade vê as modificações alinhadas as suas necessidades de atender às
demandas de emprego no sistema capitalista. A sociedade projeta na escola a sua chance de
inserção no mundo do emprego. Frigotto (2003) nos leva a refletir sobre essa questão com as
seguintes interrogações feitas por Bourdieu e Vacquant:
Algo muito profundo está ocorrendo quando a sociedade não se indaga sobre:
Quais os caminhos para vencer o subdesenvolvimento e a desigualdade? Mas
Como atrair capitais; quando a preocupação principal dos trabalhadores deixa
de ser Como ampliar direitos? E se torna Como encontrar emprego? Quando
reluzem em bancas de revista títulos tipo Com quem Madonna está saindo? Ou
Que dieta pode salvar seu casamento?, e não mais Onde vai parar a revolução
sexual? (sic) (caderno Especial do Jornal Lê Monde Diplomatique, setembro de
2000:1)
23
Os altos índices de desemprego “justificam” socialmente a aproximação da escola e a
empresa. Conforme Laval (2004) a maior parte das famílias, em todos os meios, sustenta a
escolarização de suas crianças na esperança do emprego ou até de um bom trabalho que,
presumidamente, deve se encontrar ao fim de uma escolaridade completada. O imperativo da
profissionalização por meio da escola pode se apoiar em uma angústia social massiva, em um
período de desemprego crescente. Com base neste apoio, o utilitarismo encontra força para levar
os jovens e as famílias a não encontrarem nenhum interesse no ensino que não os conduza ou
agregue valor profissional, ou seja, não interessa o que a escola ensina e que não possa ser
vendido no mercado de trabalho.
Analisando o contexto apresentado, fica evidente que atualmente no processo de
escolarização a educação se dá com objetivo de socialização ou até podemos dizer de
“submissão” ao trabalho. O futuro trabalhador não é preparado para a compreensão do mundo do
trabalho, que lhe possibilitaria a busca por transformação de relações que possam ser
consideradas injustas.
O ideário da pedagogia empresarial vai afirmar as noções de polivalência, qualidade total,
habilidades, competências e empregabilidade e do cidadão produtivo. Como nos retrata a
constatação de Frigotto (2003), “...um trabalhador que maximize a produtividade sendo um
cidadão mínimo”. Como no Brasil a constituição da cidadania, para a maioria da população é
ainda uma meta distante, uma vez que sequer seus direitos fundamentais são atendidos, o que se
tem observado é que a manutenção do emprego, ou o medo do desemprego é o fator
preponderante de disciplinamento da força-de-trabalho ao ideário empresarial.
Ainda quanto ao modelo das competências, ressalta-se seu papel de controlador de
resistência e conflitos. A ênfase na identificação dos interesses de patrões e empregados que
passam a ser todos colaboradores, membros de uma mesma equipe; a autogestão pela
internalização da disciplina; o controle exercido sobre os trabalhadores por seus próprios colegas
no trabalho em equipe e a sobrevalorização de aspectos atitudinais dão ao modelo das
competências a possibilidade de controle menos formal sobre a força de trabalho, que é
interpretado subjetivamente pelo trabalhador como interesse em seu bem estar, confiança em seu
empenho e desempenho, amenizando assim possíveis divergências.
É importante referir o caráter de exploração também conferido à lógica das competências.
Com a desmobilização de classe que a individualização produz, agravada pelo clima de
competitividade estabelecido pela méritocracia, os trabalhadores encontram-se vulneráveis à
24
exploração, na medida em que não possuem mobilização suficiente para resistir a lógica das
competências que está alinhada à lógica capitalista.
Os trabalhadores, extremamente interessados em ampliar e manter suas competências,
esquecem de seus interesses de classe e sem perceber, pensando que estão se esforçando para
conseguir benefícios próprios, que poderão vir a ser reconhecidos pela empresa, estão
empregando esforços em favor dos interesses empresariais e em contrapartida, na maioria das
vezes, sacrificando sua saúde. Além disto, a ameaça de desemprego em um mercado de trabalho
desregulamentado e instável confere à empresa o poder de impor em relação às formas e
condições de trabalho, ou seja, se você não quer submeter-se “tem quem queira”.
O trabalhador, que desde a escola foi socializado para adaptar-se a esta lógica e nela obter
sucesso, se insere neste contexto sem conseguir visualizar meios para lutar contra as influências
negativas desta forma de gestão, assim muitas vezes o trabalhador se vê em sofrimento no
trabalho. Sofrimento advindo do estresse e da ansiedade decorrentes do medo de perder o
emprego, das relações de trabalho inseguras, da intensificação e expansão da jornada de trabalho,
do enfrentamento cada vez maior de responsabilidades no trabalho sem a contrapartida do
aumento de salário, do reconhecimento ou da estabilidade no emprego e de ambientes de trabalho
extremamente competitivos, individualistas e por vezes hostis.
Outro pressuposto que é importante ser ressaltado diz respeito às práticas de gestão de
RH
6
. Quero salientar que as práticas em questão não se restringem as enunciadas nos livros que
tratam de gestão de RH, as práticas de gestão de RH em questão ultrapassam o departamento em
si, vão além do que é visível, além dos aspectos relacionados a funcionalidade da gestão de RH
tais como os que normalmente conhecemos: recrutamento e seleção, treinamento e
desenvolvimento, clima organizacional, carreira e benefícios, avaliação de desempenho e
qualidade de vida.
Existem aspectos invisíveis, estes podem ser considerados invisíveis pois apesar de
estarem relacionados a gestão dos trabalhadores estão para além da funcionalidade normalmente
delimitada do RH. Estes aspectos influenciam significativamente os trabalhadores e normalmente
ultrapassam o departamento de RH em si e fazem parte da cultura organizacional, da forma de
gestão empresarial, ou seja, de como a empresa lida com seus trabalhadores. Dentro desta
perspectiva se encontra uma série de possibilidades com relação às práticas de gestão, mas neste
6
Vou utilizar o termo gestão de RH, mas cabe salientar que atualmente este mesmo também é conhecido por gestão
de pessoas, gestão de talentos, entre outros.
25
estudo irei me deter principalmente nas que possuem relação com a saúde do trabalhador. Como
por exemplo o estímulo a competitividade, a sobrecarga de trabalho, o espaço para discussões, a
meritocracia, o nível de estresse.
Desta forma saliento que nesta dissertação, quando estiver me referindo a práticas de RH
estarei me referindo a práticas organizacionais que de alguma forma estão relacionadas ou
influenciam nos trabalhadores e não apenas aquelas restritas ao departamento de RH.
1.4 – OBJETIVO DA PESQUISA
O objetivo geral da pesquisa é identificar possíveis paradoxos em relação a saúde do
trabalhador nas práticas de gestão RH consideradas e reconhecidas como modernas e
identificadas nas publicações das melhores empresas para trabalhar e congresso relacionado ao
tema trabalho, stress e saúde; relacionando possíveis efeitos das referidas práticas aos resultados
obtidos em pesquisas (teses e dissertações) sobre saúde e trabalho realizados em organizações
empresariais ou com trabalhadores de determinada categoria.
1.4.1– Objetivos específicos
1) Verificar e constatar se o discurso manifesto pelas empresas de preocupação com a
qualidade de vida, saúde e bem estar dos trabalhadores condiz com as práticas de gestão
de RH adotadas pelas organizações de maneira geral.
2) Identificar e compreender quais são as pressões e as causas de sofrimento no trabalho
referidas pelos trabalhadores nos resultados das teses e dissertações e o impacto destas
pressões e sofrimento na qualidade de vida e saúde do trabalhador.
3) Analisar e compreender as práticas de gestão de RH consideradas e reconhecidas como
modernas através de publicações realizadas por revistas que selecionam e divulgam as
melhores empresas para trabalhar.
4) Analisar e compreender como se dão os processos de discussão e produção de
conhecimento de práticas de RH relacionadas ao tema trabalho, stress e saúde através de
um congresso que trata sobre o referido tema.
26
5) Constatar possíveis práticas de RH que sejam identificadas nas publicações de saúde e
trabalho, mais especificamente em teses e dissertações, como causadoras de prejuízo na
saúde do trabalhador.
6) Constatar possíveis práticas de RH que sejam identificadas nas publicações de saúde e
trabalho, mais especificamente em teses e dissertações, como causadoras de benefícios
para a saúde do trabalhador.
27
2 – CATEGORIAS TEÓRICAS DE ANÁLISE – A REVISÃO DA
LITERATURA
Os pressupostos teóricos que fundamentam este trabalho são constituídos por um conjunto
bastante extenso e diversificado de autores, pois as categorias teóricas de análise que se
apresentaram necessárias para atender aos objetivos deste estudo são de áreas bastante distintas.
Mas, como nos lembra Foucault (2000) a interdisciplinaridade que se apresenta tão necessária
para o pesquisador dificulta a distinção de campos.
É preciso não mais sustentar como válidos os recortes ou agrupamentos com os
quais adquirimos familiaridade. Não se podem admitir tais quais nem a distinção
dos grandes tipos de discurso, nem a das formas ou gêneros (ciência, literatura,
filosofia, religião, história etc). Os motivos saltam aos olhos. Nós mesmos não
estamos seguros do uso dessas distinções no nosso próprio mundo de discurso.
(2000, p. 88)
Assim, opto por não referir em especial nenhum dos autores que utilizei. Saliento que
apesar de alguns serem mais citados que outros, todos possuíram importante relevância na
construção desta dissertação.
Para atender aos objetivos propostos, identifiquei como necessário, aprofundar as
seguintes categorias de conteúdo: O trabalho ontem e hoje; Gestão Estratégica nas organizações e
sua interação com às atuais políticas de RH e Saúde Mental e Trabalho. Penso que tais recortes se
fazem necessários para a compreensão do contexto além de estarem alinhados a categorias
metodológicas de análise, no sentido de contemplarem a historicidade, a contradição e a
humanização.
2.1 – O TRABALHO ONTEM E HOJE
Pode-se afirmar que o trabalho acompanha o homem desde os tempos mais remotos. Com
o trabalho o homem se distinguiu da pura natureza, de outros animais, passando inicialmente a
produzir para prover sua subsistência. Conforme Antunes (2001), o trabalho possui papel social
28
importante na organização e funcionamento das sociedades em seus diferentes estágios de
desenvolvimento.
Nas sociedades primitivas, as civilizações viviam à base das economias de coleta, de
pesca e de agricultura rudimentar. Já no período pré-capitalista, onde a economia era
privilegiadamente rural, ligada ao feudo, o trabalho artesão, surge pelas necessidades geradas
pelo aparecimento das cidades e pelas guerras. Para Marx (1998), a mudança da produção
artesanal à produção capitalista operou uma revolução no processo produtivo. A produção
individual, autônoma, na qual o artesão, proprietário dos instrumentos de trabalho, realizava
todas as tarefas necessárias até chegar ao produto final, ao ser substituída pela produção coletiva,
fase conhecida como cooperação, provocou uma transformação no processo de organização do
trabalho, o qual tornou-se social, dependente, fragmentado, alienado, assalariado.
Assim, como nos lembra Alaluf (1986) o trabalho assalariado não é a forma natural ou
universal do trabalho: ele é assalariado. Para quem vive numa sociedade capitalista, como a
nossa, a existência de uma grande parte da população desprovida de meios de produção e de
subsistência pode parecer inteiramente “natural”. Esta impressão, no entanto, é falsa. Nem
sempre houve um proletariado “livre”, isto é desprovido de recursos e ao mesmo tempo liberado
de obrigações, podendo portanto vender sua força de trabalho para quem pagar por ela melhor
preço. De acordo com Singer (1985), o proletariado livre, neste duplo sentido, caracteriza um
modo específico de produção – o capitalismo - e se origina com ele.
A revolução operada pelo capital no modo de produção assentou-se na cooperação.
Inicialmente através da cooperação simples, avançou, passando pela divisão do trabalho na fase
manufatureira, onde surge a idéia contemporânea do trabalho e aperfeiçoou-se, chegando à
grande indústria. As conseqüências da implementação desses novos mecanismos ao processo
produtivo acabaram por estabelecer uma relação de dominação do capital sobre o trabalho (Marx,
1998).
De acordo com Souza (2002) a relação de dominação do capital sobre o trabalho inaugura
um modo de produção e organização da sociedade no qual o homem é considerado possuidor de
uma mercadoria – a força de trabalho – e, como tal, livre para garantir a qualidade da sua
sobrevivência de acordo com o seu mérito pessoal. Tal consideração carrega consigo um forte
conteúdo ideológico que omite a natureza desumana desse modo de produção e organização da
sociedade, em que o homem é utilizado como recurso, ou melhor, como mercadoria necessária
29
para a produção de valor. Ainda de acordo com Souza, é a partir dessa relação que se estabelece o
trabalho alienado:
Quando se utiliza o homem como recurso, situação na qual o ser humano não é
tratado como tal, mas como simples parte indiferenciada da natureza, ele retorna
à sua condição de animal, retorna à sua condição de objeto do mundo natural. O
trabalho, nessas condições, perde seu sentido de satisfação das necessidades e
torna-se um meio para satisfazer outras necessidades externas àquele que
trabalha. Desse modo, o trabalho já não lhe pertence mais, e sim a outra pessoa;
o produto do seu trabalho já não é para satisfazer suas necessidades, mas
necessidades de outros. O trabalhador não se pertence mais, deixa de constituir-
se sujeito no processo de trabalho para constituir-se objeto. Aliena-se. E na
medida em que se aliena, retorna à sua condição indissociada da natureza.
Animaliza-se. Seu trabalho assim concebido é trabalho alienado. (Souza, 2002,
p. 20)
Quanto às alterações produzidas no processo de trabalho com as transformações desde o
trabalho artesão até a fábrica, Gorz (2003) refere que os primeiros capitalistas industriais,
enfrentaram problemas relacionados ao custo do trabalho, pois para a vitória da empreitada
capitalista, tal custo devia ser calculável e previsível, o trabalhador e sua força de trabalho
passam a ser vistos como algo possível de ser mensurado.
...era preciso também tornar calculável seu rendimento. Era preciso poder trata-
lo como uma grandeza material quantificável; era preciso, para dizer de outra
maneira, poder medi-lo em si mesmo, como uma coisa independente,
descartando a individualidade e as motivações do trabalhador. Isso implicava
também que o trabalhador devesse adentrar o processo produtivo despojado de
sua personalidade e de sua singularidade, de seus fins e de seus desejos próprios,
como simples força de trabalho, intercambiável e comparável à de qualquer
outro trabalhador, servindo a fins que lhe são estranhos e indiferentes (Gorz,
2003, p. 29).
Este é o início da organização científica do trabalho (OCT) ou taylorismo, a qual
trataremos mais detalhadamente a seguir.
2.1.1 – Taylorismo e Fordismo
O movimento de organização científica do trabalho (OCT) iniciado por Frederick
Winslow Taylor nas últimas décadas do século XIX pode ser considerado um influente tratado
30
que descrevia como a produtividade do trabalho podia ser radicalmente aumentada através da
decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de
tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento.
Atrelada a esta perspectiva de padrão de movimento e tempo estava a separação entre gerência,
concepção, controle e execução e tudo que isto significava em termos de relações sociais
hierárquicas e de desabilitação dentro do processo de trabalho.
Basicamente pode-se dizer que o taylorismo visa à eliminação da autonomia do
trabalhador e do tempo ocioso como forma de aumento da produtividade. De acordo com Alaluf
(1986) o taylorismo aparece como caça aos tempos mortos, a cronometragem, o estudo dos
tempos e dos movimentos e constitui bem a encarnação do “time is money” do tempo industrial.
Os princípios de Taylor alcançaram repercussão mundial em pouco tempo; para a alegria do
capital e infelicidade dos trabalhadores e do mundo do trabalho, que se transfigurou em atividade
fragmentada, repetitiva, monótona e desprovida de sentido. O trabalhador transformou-se em
operário-massa, alienado do conteúdo do seu esforço produtivo.
Alaluf (1986) refere que a concepção taylorista corresponde à definição clássica do
salariado que postula que o operário é proprietário de sua força de trabalho que ele vende para o
mercado e pela qual ele obtém, em contrapartida, um salário. Porém esta relação salarial,
intensificada no taylorismo, teve uma trajetória de perdas significativas para os trabalhadores e
suas conseqüências são intensamente sentidas nos dias atuais. De acordo com Gorz (2003), o
esforço de início, assumiu a forma de uma mecanização, não do trabalho, mas do trabalhador:
isto é, uma forma de coerção ao rendimento, pela imposição de ritmos ou cadências. O salário por
rendimento, afinal a forma economicamente mais racional, revelou-se originalmente
impraticável. Isto ocorreu como nos explica Gorz...
Pois, o “trabalho” era uma habilidade intuitiva, integrada a um ritmo de vida
ancestral, e ninguém teria tido a idéia de intensificar e prolongar seu esforço
com o intuito de ganhar mais. O operário “não perguntava: quanto posso ganhar
por dia se forneço o máximo de trabalho possível? Sua questão era: quanto devo
trabalhar para ganhar os 2,50 marcos que recebo hoje e que garantem minhas
necessidades corriqueira?”
A recusa dos operários em fornecer cotidianamente uma jornada de trabalho
integral foi a principal causa da falência das primeiras fábricas. A burguesia
imputava tal recusa à “preguiça” e à “indolência” do trabalhador. Não via outro
modo de conseguir o que queria senão pagando salários mais e mais rebaixados
de tal modo que o operário precisava penar uma boa dezena de horas diárias, ao
longo de toda a semana, para garantir sua subsistência. (Gorz, 2003, p. 29)
31
O taylorismo encontra sua limitação por negligenciar totalmente o fato de que não há
como negar a subjetividade de cada trabalhador; não há como distribuir igualmente o tempo das
operações pois os trabalhadores não são iguais; não há como fragmentar totalmente execução e
concepção pois é necessidade do trabalhador pensar, usar sua criatividade. Mas ao esbarrar nestes
limites os princípios de Taylor foram sendo adaptados para dar continuidade ao processo
produtivo dentro da lógica capitalista. Muitos foram os efeitos do taylorismo e estes ainda hoje
são sentidos no mundo do trabalho e suas estratégias, apesar das transformações, atualmente
ainda são aplicadas em muitas empresas.
A data inicial simbólica do fordismo deve ser 1914, quando Henry Ford introduziu seu dia
de oito horas e cinco dólares como recompensa para os trabalhadores da linha automática de
montagem de carros. Por considerar o trabalho na esteira repetitivo, monótono e com ritmo
estabelecido sem respeito a individualidade, Ford concebe que o operário deveria receber uma
salário maior – o famoso – “five dollars day”. Na teoria esta era a justificativa para o aumento do
salário, em análise percebe-se no fordismo outras intenções, como cita Alaluf (1986):
Segundo Aglietta, o fordismo constitui uma ultrapassagem do taylorismo na
medida em que ele designa uma série de transformações maiores que, a partir de
uma forma de organização do trabalho, de uma melhoria dos salários permitindo
um certo nível de consumo, da manutenção do poder de compra graças a um
sistema de seguridade social generalizado e de indexação das rendas, engredam
uma norma social de consumo e tendem a institucionalizar a luta econômica de
classe sob a forma de negociação coletiva (...) O fordismo é, pois, escreve
Aglietta, o princípio de uma articulação do processo de produção e do modo de
consumo constituindo a produção de massa que é o conteúdo da universalização
do salariado. A linha de montagem semi-automática caracteriza este modo de
organização do trabalho que permite o desenvolvimento da mecanização,
aumenta a intensidade do trabalho, e aprofunda ainda a separação do trabalho
manual e intelectual. (Alaluf, 2006, p. 43)
O que havia de especial no fordismo era o reconhecimento de que produção em massa
significava consumo em massa, ao visionar que o trabalhador também fosse um possível
consumidor das massas produzidas, conforme Harvey (1992) Ford implantou uma nova política
de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo
tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. Ford acreditava que um
novo tipo de sociedade poderia ser construído simplesmente com a aplicação adequada ao poder
corporativo. O propósito do dia de oito horas e cinco dólares só em parte era obrigar o
32
trabalhador a adquirir a disciplina necessária a operação do sistema de linha de montagem de alta
produtividade. Era também dar aos trabalhadores renda e tempo de lazer suficientes para que
consumissem os produtos. Mas isso presumia que os trabalhadores soubessem gastar
“adequadamente” seu dinheiro, por isso Ford investia, através de assistentes sociais, na
moralização dos trabalhadores.
Com o fordismo percebe-se a vitória final da racionalização econômica do trabalho, Gorz
(2003) nos mostra que os reflexos destes acontecimentos possuem uma dimensão em cadeia que
nos mobiliza atualmente e por enquanto ainda não vemos limites para sua superação.
A racionalização econômica do trabalho venceu, portanto, a resistência das
antigas idéias de liberdade e de autonomia existenciais. Fez nascer o indivíduo
que, alienado em seu trabalho, também o será, obrigatoriamente, em seu
consumo e, finalmente em suas necessidades. Porque não há limite à quantidade
de dinheiro suscetível de ser ganho e gasto, também não haverá limite às
necessidades que o dinheiro cria, nem às necessidades de dinheiro. Sua extensão
cresce com a riqueza social. A monetarização do trabalho e das necessidades
fará finalmente explodir os limites que lhe eram impostos pelas filosofias de
vida. (Gorz, 2003, p.31)
2.1.2 – Reestruturação produtiva ou acumulação flexível
No período de 1965 a 1973 tornou-se cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo
de conter as contradições inerentes ao capitalismo. As tentativas, de superar a chamada crise do
padrão de acumulação taylorista/fordista, encontravam a força aparentemente invencível do poder
profundamente entrincheirado da classe trabalhadora – o que explica as ondas de greve e os
problemas trabalhistas do período 1968 – 1972.
As corporações viram-se com muita capacidade excedente inutilizável em condições de
intensificação da competição. Isso as obrigou a entrar num período de racionalização,
reestruturação e intensificação do controle do trabalho. A mudança tecnológica, a automação, a
busca de novas linhas de produto e nichos de mercado, a dispersão geográfica para zonas de
controle do trabalho mais fácil, as fusões e medidas para acelerar o tempo de giro do capital
passaram ao primeiro plano das estratégias corporativas de sobrevivência em condições gerais de
deflação.
33
A acumulação flexível é a estratégia que responde as necessidades de sobrevivência
diante da crise. Esta fase também é conhecida como toyotismo ou modelo japonês. Apóia-se na
flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de
consumo. Harvey (1992) refere que a acumulação flexível parece implicar níveis relativamente
altos de desemprego “estrutural”, rápida destruição e reconstrução de habilidades, ganhos
modestos de salários reais e o retrocesso do poder sindical.
As novas concepções gerenciais que surgem com o processo de reestruturação visam a
recomposição da hegemonia capitalista e das relações capital-trabalho e tem como objetivo
adequar a força de trabalho às demandas do sistema produtivo. Tais mudanças foram iniciadas
nos anos 70 e ainda estão em curso, gerando mais discussão do que consenso.
2.1.3 – O trabalho hoje
A nova base científico-técnica, assentada sobretudo na microeletrônica e incorporada ao
processo produtivo, permitiu que mesmo com uma significativa redução do número de postos de
trabalho, houvesse aumento da produtividade e crescimento econômico. Estamos diante de um
dos problemas da nossa sociedade: o desemprego, que também pode-se ler como aumento da
miséria, da desigualdade, da fome e porquê não dizer, da violência. Conforme Guimarães (2004)
durante os anos 90, o nível de emprego caiu sistematicamente. Ao longo da década, a confluência
entre crescimento da produção, da produtividade e da competitividade conviveu com a
sistemática perda no volume do emprego industrial, que pareceu imune aos movimentos cíclicos,
sequer respondendo de modo importante aos breves momentos de retomada do crescimento
econômico.
A classe trabalhadora que lutou pela redução da jornada de trabalho e liberação do tempo
livre, hoje, desesperadamente empenha-se para manter-se empregada mesmo às custas da perda
de direitos duramente conquistados. Frente a realidade do desemprego, as alternativas de
sobrevivência tem sido as mais diversificadas: coleta de lixo, cooperativas, comércio ambulante,
drogas, prostituição, criminalidade, pedintes. Além da evidente precarização, outro aspecto a ser
destacado, que evoluiu em função da palavra de ordem atual no mundo do trabalho:
“flexibilização” - são os trabalhadores terceirizados.
34
Neste contexto, também a partir dos anos 90, nas organizações percebem-se as múltiplas
medidas de contenção de custos, conducendentes a concentrar esforços na renovação de práticas
organizacionais, na adoção de novas formas de gestão da mão-de-obra, que lograssem
compatibilizar as medidas de redução de efetivos e de flexibilização do trabalho com as
necessidade de envolvimento dos trabalhadores num contexto mais competitivo e regido por
novas formas (econômicas e políticas) de regulação da ação (sindical e empresarial). Guimarães
(2004) refere que:
Essas mudanças, aceleradas com a difusão dos programas de qualidade e
produtividade, alteraram o discurso empresarial, que passou a dirigir-se, com
insistência, para novos temas, tais como: a qualificação da mão-de-obra, a
simplificação das estruturas de cargos e de salários e a diminuição dos níveis
hierárquicos, a obtenção do compromisso ativo dos trabalhadores. Por isso
mesmo, as políticas abertamente autoritárias de relacionamento com os
operários passaram a ser desafiadas pela necessidade de interpelar o trabalhador
individual, assegurando o seu compromisso ativo, de modo a induzir formas
menos conflituosas de gerenciamento do trabalho, (...) a postura patronal
predominante foi a de marginalizar sindicatos e inviabilizar as organizações de
trabalhadores dentro das fábricas. (Guimarães, 2004, p.62-63)
A partir dos anos oitenta começa a ser discutido na empresa o modelo das competências,
que surge como uma alternativa ao modelo da qualificação que regia as relações de trabalho
desde 1936. Deluiz (2001) refere que na década de 90, o aprofundamento da globalização das
atividades capitalistas e a crescente busca de competitividade levaram ao alinhamento definitivo
das políticas de recursos humanos às estratégias empresarias, incorporando à prática
organizacional o conceito de competência, como base do modelo para se gerenciar pessoas.
Quanto às principais diferenças entre qualificação e competências, pode-se dizer que os
dois modelos encontram-se em extremos opostos. Enquanto a qualificação permite análise do
conteúdo do trabalho, da evolução da organização da produção, das avaliações e classificações
sociais expressas nas convenções coletivas, do funcionamento do mercado de trabalho, havendo
assim uma estável correspondência entre “nível de formação” e “nível de qualificação” que
garantia aos trabalhadores uma carreira profissional sólida e previsível. O modelo de
competências remete a subjetividade do indivíduo, e relaciona-se com a sua capacidade de
mobilizar os saberes e as atitudes necessárias para, de forma autônoma, resolver problemas em
uma situação específica, ou seja, a formação deixa de ser uma garantia como era no modelo de
qualificação.
35
Basicamente cinco elementos combinam-se para formar o modelo da competência, de
acordo com Dubar (1998) estes elementos são:
¾ Novas normas de recrutamento privilegiam o “nível de diploma” em detrimento de
qualquer outro critério, provocando freqüentes desclassificações na contratação e
acentuando as dificuldades de inserção dos “baixos níveis”;
¾ Valorização da mobilidade e do acompanhamento individualizado de carreira
acarreta novas práticas de entrevistas anuais, de fichário e “balanços de
competência”;
¾ Novos critérios de avaliação valorizam essas “competências de terceira dimensão”
que não são habilidades manuais nem conhecimentos técnicos, mas antes
qualidades pessoais e relacionais: responsabilidade, autonomia, trabalho em
equipe... De fato, elas são referidas à “mobilização” em prol da empresa, a qual é,
cada vez mais, considerada como condição para a eficiência;
¾ A instigação à formação contínua constitui uma peça-chave nesse “novo
dispositivo de mobilização” que é a formão, freqüentemente representada como
“inovadora”, criada pela própria empresa, em relação estreita com sua estratégia e
cuja meta primeira é a de transformar as identidades salariais.
¾ O desabono, direto ou indireto, dos antigos sistemas de classificação, fundados nos
“níveis de qualificação” oriundos das negociações coletivas, e a multiplicação de
fórmulas de individualização dos salários (abonos, principalmente), de acordos de
empresas ligando a carreira ao desempenho e à formação, e de experimentações de
novas formas de mobilidade horizontal permitindo a manutenção no emprego.
Dubar (1998) em seu texto mostra como a evolução das práticas pode invalidar a
legitimidade do “modelo da competência”, que o conduz a duvidar que este possa substituir de
modo duradouro os paradigmas anteriores da qualificação para designar o que está em jogo na
troca salarial. Mas como bem nos lembra Tartuce (2004), é preciso atestar que a qualificação não
teve no Brasil, a centralidade adquirida nos países centrais, ou melhor, na França. Sendo assim, a
realidade brasileira não abre muito espaço para discussão sobre qualificação versus competência,
tendo, normalmente, como modelo que as organizações buscam adotar o das competências.
O uso e a apropriação das competências dos trabalhadores pelo capital – de seus saberes
em ação, dos seus talentos, de sua capacidade de inovar, de sua criatividade e de sua autonomia –
não implica, em geral, o comprometimento da empresa com os processos de construção das
36
competências, atribuindo-se aos trabalhadores a responsabilidade individual de atualizar e validar
regularmente suas competências para evitar a obsolescência e o desemprego. De acordo com
Deluiz (2001), no atual modelo o controle se expressa através de estratégias de ressocialização e
aculturação pela conformação da subjetividade do trabalhador. A ênfase na identificação dos
interesses de patrões e empregados – que se convertem em uma comunidade social de
colaboradores -; a autogestão pela internalização da disciplina; o controle exercido sobre os
trabalhadores por seus próprios colegas conferem ao modelo das competências a possibilidade de
um controle menos formalizado e mais difuso, evitando-se as resistências e conflitos.
No modelo atual, ainda de acordo com Deluiz (2001) podemos perceber implicações
contraditórias para o trabalhador. Por um lado pode-se apontar como aspecto positivo a
valorização do trabalho, que assume um caráter mais intelectualizado, menos prescritivo,
exigindo a mobilização de competências que envolvem domínios cognitivos mais complexos e
que vão além da dimensão técnica, demandando novas exigências de qualificação do trabalhador
e a elevação dos níveis de escolaridade. Ressalta-se, também, positivamente, a valorização dos
saberes em ação, da inteligência prática, a polivalência torna o trabalhador multiqualificado; a
possibilidade de construir competências coletivas a partir de trabalho em equipe, maior
comunicação, participação e autonomia para o planejamento, execução e controle dos processos
produtivos.
Como aspectos negativos são apontados a intensificação do trabalho e a
desprofissionalização do trabalho. A intensificação da exploração do trabalho se traduz na
polivalência, ampliando a jornada de trabalho que passa a depender muito menos de contratos
previamente acordados e muito mais das necessidades da produtividade capitalista. Deluiz (2001)
assinala ainda, o sofrimento no trabalho advindo do estresse e da ansiedade decorrentes do medo
de perda do emprego, das relações de trabalho inseguras, da intensificação e expansão da jornada
de trabalho, do enfrentamento cada vez maior de responsabilidades sem a contrapartida do
reconhecimento e de ambientes de trabalho extremamente competitivos e individualistas.
Com relação às transformações no mundo do trabalho Gorz (2003) nos aponta que:
A figura desse trabalhador de novo tipo, orgulhoso de seu ofício, soberano em
seu trabalho, capaz de evoluir no mesmo passo da técnica, tal figura não nasceu
de uma concessão tardia do patronato ao humanismo do trabalho. Corresponde,
antes, a uma necessidade originada das transformações da técnica. Desta
necessidade, o capital serviu-se como de uma alavanca para desintegrar a classe
operária, o movimento sindical e o que restava de solidariedade e de coesão
37
sociais. Bastou, para tanto, que retomasse por sua conta os valores da utopia do
trabalho: domínio (quer dizer, reapropriação técnica), pelos trabalhadores, dos
meios de produção, desenvolvimento pleno das capacidades individuais no
trabalho, valorização do ofício e da ética profissional.
Essa revalorização da imagem do operário repousa, do lado patronal, sobre um
cálculo racional: não se trata somente de vincular e integrar à empresa uma elite
operária da qual não pode prescindir; trata-se, ainda, de separar essa elite de sua
classe de origem e das organizações de classe, conferindo-lhe uma identidade e
uma dignidade sociais distintas. (Gorz, 2003, p. 73)
Em suma, atualmente, podemos sintetizar o mundo do trabalho, numa visão reducionista,
dentro de três perspectivas. Primeira, o mundo do trabalhador empregado, onde esta pequena
minoria tende a travar uma luta individual para manter-se competente e continuar com mérito de
merecer o seu emprego e garantir seus “privilégios”. Segundo, o mundo do trabalho precarizado
– subcontratado, temporário, conta própria, sem carteira – os próprios trabalhadores incorporam a
cultura da flexibilidade como meio de manutenção de sua empregabilidade, aceitando diferenças
salariais e perda de benefícios, como parte das regras do jogo do mundo atual. Por último, o
mundo dos sem emprego onde a lógica das competências leva a uma culpabilização pela situação
de desemprego, o indivíduo é levado a sentir-se culpado por não ser competente o suficiente para
ter um emprego. Neste estudo trataremos apenas das questões relativas ao trabalhador
empregado, mas isto não exclui a importância das outras duas realidades.
2.2- GESTÃO ESTRATÉGICA NAS ORGANIZAÇÕES E SUA INTERAÇÃO
COM ÀS NOVAS POLÍTICAS GESTÃO DE RH
Na administração clássica, as organizações eram vistas como sistemas relativamente
fechados. O sucesso empresarial dependia da eficiência das operações internas. Pouca atenção era
dedicada à adaptação da organização às mudanças no ambiente externo.
De acordo com Enriquez (1997), mais tarde, com o impulso da psicossociologia e de
grupos de sociologia da organização, as organizações passaram a ter sua imagem associada à
Escola de Relações Humanas, à Teoria dos Sistemas e à visão de Ecologia Organizacional, não
mais considerando a organização apenas como uma máquina, mas elucidando a necessidade de
compreensão das relações, entre a organização e seu meio.
38
A teoria organizacional contemporânea toma uma perspectiva muito mais ampla das
organizações e sua administração. As organizações são vistas como sistemas abertos, que
precisam se adaptar a condições externas mutantes, para desempenharem com sucesso suas
atividades e até mesmo sobreviverem ao longo do tempo. O gerenciamento estratégico auxilia
neste contexto.
Tão antiga quanto às guerras, de onde parece ter se originado e onde ainda é parte
integrante, o entendimento do que seja estratégia, e dos adjetivos a ela relacionados, têm tomado
significativo espaço na literatura que envolve o desempenho dos negócios. Aqui nos interessa
especificamente o uso da estratégia nas organizações, onde gerenciar estrategicamente significa,
organizar, estruturar, prever, planejar e decidir com um conjunto de ações que busca otimizar os
resultados e a qualidade.
No processo de gestão estratégica, segundo Tachizawa (2001) devem ser levadas em
consideração as variáveis controláveis e não-controláveis, ou seja, as variáveis econômicas,
políticas, tecnológicas, ambientais, físicas, demográficas, sociais, além dos fornecedores,
insumos, produtos e mercados. Trata-se de uma tentativa de olhar para o futuro, buscar
compreender profundamente o contexto político, social, econômico, tecnológico e competitivo,
além de uma série de grandes movimentos que ocorrem na sociedade. A partir dessa
compreensão é possível analisar as informações sobre as mudanças externas, abstrair o processo
de transformação ao longo do tempo e formular questões estratégicas relevantes.
Neste contexto, como parte integrante da organização, também insere-se o RH, que
acompanhando o cenário atual onde as palavras de ordem são produtividade, qualidade e
competitividade, encontra a exigência de tornar-se igualmente estratégico, assim, a partir da
gestão estratégica da organização define-se a gestão de pessoas e as estratégias de gestão de
pessoas. Chiavenato (2004) refere que neste novo contexto, as pessoas deixam de ser o problema
da organização para ser a solução de seus problemas. As pessoas deixam de ser o desafio para se
tornar à vantagem competitiva das organizações que sabem lidar com elas. As pessoas deixam de
ser o recurso organizacional mais importante para se tornar o parceiro principal do negócio e que
lhe dá dinâmica, vigor e inteligência.
Cabe salientar que autores como Chiavenato, referência em RH, estão totalmente voltados
para a questão prática e se apresentam de maneira parcial, ou seja, só visando o lado da
organização, não mencionando o lado dos trabalhadores. Este autor não refere que toda esta
transformação não é inocente e que ela visa, através da gestão do afetivo dos trabalhadores,
39
suscitar nestes uma paixão pela empresa. O RH serve-se de idéias e teorias das ciências humanas
para utiliza-las como forma de melhor seduzir e cooptar gerentes e todo conjunto de pessoal a
uma identificação com os valores da empresa. Tenta transformar o lugar de trabalho, de
obrigações e de conflitos, em uma comunidade de consenso, onde as reivindicações não são
necessárias pois a empresa “atende” a todas necessidades dos trabalhadores que em contrapartida
dedicam-se e sacrificam-se para o sucesso desta empresa sem questionar os possíveis prejuízos
pessoais.
A idéia de “investir nos recursos humanos” é cada vez mais difundida, as empresas
apresentam os funcionários, ou melhor, os colaboradores ou associados como o segredo de seu
sucesso. Tachizawa (2001), elucida esta tendência ao referir que as pessoas que trabalham nas
organizações são, na verdade, muito mais do que simples recursos, pois delas dependem os
resultados da organização. Se, por um lado, são rotulados como empregados por força da
legislação trabalhista, por outro, são efetivos colaboradores que atuam nos diferentes níveis do
processo decisório. A organização que pretende alcançar a excelência deve estabelecer estratégias
de gestão de pessoas visando à obtenção de um clima de trabalho propício ao alto desempenho
empresarial. Sendo mais explicito o autor diz: “A gestão com pessoas tem como objetivo
fundamental tornar a relação entre o capital e o trabalho, no âmbito das organizações, a mais
produtiva e menos conflituosa possível” (TACHIZAWA, 2001, p. 12).
Em síntese, as pressões econômicas resultantes de um meio cada vez mais competitivo,
incerto e ameaçador, impulsionaram as empresas a procurar novas formas de aumentar sua
produtividade. Para acompanhar as demandas do capitalismo flexível, reinventaram-se formas de
controle que garantam a produtividade, igualmente flexíveis, garantindo assim a perpetuação da
dominação. Uma das estratégias encontradas, que se pode considerar a de maior relevância, por
ser amplamente citada entre os autores de gestão empresarial e também ser referida normalmente
em primeiro lugar pelas organizações é a importância de investir no trabalhador, desta maneira
foram sistematizadas e propagadas as atuais práticas estratégicas de RH, que conforme Lima
(1996) são consideradas por autores mais críticos, como totalitárias, por controlarem o indivíduo
através da interiorização de suas exigências, na ordem política, econômica, ideológica e
psicológica.
40
2.2.1 – Do departamento de pessoal ao RH estratégico
Historicamente conhecida como Administração de Pessoal ou Relações Industriais, a área de
Recursos Humanos surgiu a partir do crescimento e da complexidade das tarefas organizacionais.
Suas origens remontam ao início do século XX, como responsável de modo geral, por administrar
as pessoas dentro da organização de acordo com a legislação trabalhista vigente, controlar o
cumprimento das normas, punir, demitir, além da atividade mediadora entre as organizações e as
pessoas, para abrandar o conflito existente entre os objetivos organizacionais e os objetivos
individuais dos trabalhadores. Conforme Ribeiro (2006) até o início da década de 60 o
Departamento de Pessoal esteve limitado a função de “controle administrativo da vida funcional
dos trabalhadores”. (p. 160) Portanto, exercia uma função fiscalizadora, mediadora e reguladora.
De acordo com Nakayama (2001), um pouco mais adiante, ao redor da década de 1960, com a
evolução da administração, o conceito teve uma ampliação, a partir da Escola das Relações
Humanas que dava ênfase a participação, as relações informais, a democratização das relações de
trabalho, de amizade e de recompensa simbólica, tais idéias foram introduzidas no universo da
empresa. A função de Recursos Humanos foi-se tornando cada vez mais orientada para seleção,
cargos e salários, treinamento, benefícios, serviço social etc. Em seus estudos sobre a formação
profissional no setor de eletricidade na Espanha, Ribeiro (2006) constata a partir da década de 60
a transformação do papel desempenhado pelo Departamento de Pessoal, que passa a exercer um
papel mais valorizado nas organizações, além da importante responsabilidade pela formação dos
trabalhadores, começa a desenvolver atividades relacionadas a política de seleção e promoção.
A Escola das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos como conseqüência imediata das
conclusões obtidas na experiência em Hawthorne
7
, desenvolvida por Elton Mayo e seus
colaboradores. Foi basicamente um movimento de reação e de oposição à Teoria Clássica da
Administração.
São aspectos relevantes para a origem da Teoria das Relações Humanas, o desenvolvimento
das ciências humanas, principalmente a psicologia e a sociologia, que adquiriram um peso cada
vez mais significativo entre as disciplinas aplicadas na indústria. Conforme Lima (1996), muitas
pesquisa realizadas a partir daí reforçaram a importância dessas idéias e outros pesquisadores
7
Entre 1927 e 1932 foram realizadas pesquisas em uma das fábricas da Western Eletric Company, localizada em
Hawthorne, distrito de Chicago, que produzia equipamentos para empresas telefônicas e que sempre se caracterizou
pela preocupação com o bem estar de seus funcionários.
41
foram na mesma direção tentando encontrar a maneira mais eficaz de administrar as empresas e
de motivar seus empregados.
As conclusões dos estudos de Elton Mayo trazem para a teoria administrativa a
consideração do aspecto humano, ou seja, as condições psicológicas sobre as quais o homem
desenvolve o seu trabalho e que passam a conflitar com a noção de homem econômico da
administração científica.
Hoje, a grande tendência em Recursos Humanos é buscar uma nova forma de gestão para
responder aos novos desafios das mudanças globalizadas. Chiavenato (2004) ressalta a idéia de
que as organizações bem-sucedidas não administram recursos humanos ou pessoas, pois isso
significa tratá-las como agentes passivos e dependentes, mas sim administram com as pessoas.
Tratando-as como agentes ativos e proativos dotados de inteligência e criatividade, iniciativa e
decisão e não apenas capacidades manuais, físicas ou artesanais.
Para Nakayama (2001) a nova área de Recursos Humanos tende a modificar-se e ampliar sua
atuação:
Atualizando-se de acordo com a realidade sócio-econômica, tornando-se um
centro de investimento e adotando uma estratégia que instrumentalize e oriente
executivos. Seu planejamento passa a estar vinculado ao planejamento
estratégico dos negócios da empresa. Assim, Recursos Humanos tem que
desenvolver meios para que as pessoas possam caminhar proativamente na
direção da obtenção dos resultados organizacionais, preocupar-se em se
aproximar do principal cliente da empresa, o próprio funcionário, e atuar com o
foco no cliente externo. (2001, p. 212).
Lima (1996), nos chama atenção para o caráter contraditório no que diz respeito ao
aspecto inovador que se intitulam as atuais práticas de Recursos Humanos, ou as modernas
políticas de RH. Na opinião da autora este caráter inovador merece uma reflexão maior, ela
parte do princípio de que muitos dos atuais fundamentos teóricos remontam aos anos 20,
quando do surgimento dos estudos que darão as bases teóricas para a teoria das relações
humanas, referindo-se aos estudos realizados por Elton Mayo. Outro exemplo são os
“práticos” americanos das organizações, como Peter Drucker, que já defendiam há muito
tempo à gestão participativa nas organizações, o respeito à iniciativa individual e o
dinamismo de grupo. Segundo estes “práticos”, o progresso e a coesão do grupo resultam da
contribuição de indivíduos inovadores e de decisões tomadas coletivamente. A autora dá
continuidade a sua idéia sobre o caráter pouco inovador das políticas de RH consideradas
42
novas e salienta o refinamento apropriado as antigas práticas, na intenção de obter a adesão
dos trabalhadores e afirma que
...algumas empresas consideradas como modelos pela sua adoção revelaram que
as utilizam há muitos anos. No entanto, nada disso impede que essas antigas
idéias retornem com um novo visual. Nesta nova versão, os autores tentam dar
uma aparência mais coerente, mais lógica ou até mesmo científica à gestão
participativa. Além disso, as estratégias elaboradas para persuadir os
trabalhadores sobre a coerência e a integridade da empresa são evidentemente
mais sofisticadas, pois elas recorrem à experiência passada das empresas e às
últimas descobertas operadas pela psicologia e pela sociologia neste domínio.
(1996, p. 19).
Além da crítica citada anteriormente, Lima (1996) também alerta para a falta de
preocupação com o conflito teórico que embasa as novas políticas de RH. Há uma valorização
tanto das exigências materiais (salários mais elevados, premiações, bônus...) como das exigências
de ordem psicológica (iniciativa, participação, pertença no grupo...). Tais valorizações são
exemplo da conciliação entre recompensa econômica e recompensa simbólica, que reúnem os
aspectos formais e os informais da organização, mas que são duas escolas rivais: a “clássica” e a
das “relações humanas”. A autora chama atenção para o fato de os teóricos desse novo modelo de
gestão não parecerem preocupados com a possível contradição presente na combinação de
princípios elaborados por estas antigas escolas, mesmo sabendo de suas oposições no passado,
“... pois o que importa realmente são os resultados." (1996, p. 20).
2.2.2 – A psicologia no contexto de RH
A introdução da psicologia ao mundo do trabalho possui extrema influência do
taylorismo. De acordo com Spector (2002), Frederick Winslow Taylor foi o autor que mais
fortemente influenciou o surgimento da psicologia no âmbito industrial, através de seus estudos
sobre a produtividade funcional, que o levou a desenvolver o que denominou de administração
científica.
Jacques (1989) nos mostra a influência do taylorismo destacando que a insistência de
Taylor na idéia de seleção de pessoal baseada nas aptidões reais de cada trabalhador, na
racionalização das tarefas e no estudo de tempos e movimentos tornando possível a atribuição de
lugar definido a cada um na produção, levam a administração recorrer à psicologia buscando:
43
Como desenvolver testes para selecionar o melhor homem para cada função?
Como descobrir se ele está trabalhando com a máxima eficiência? Quais são os
efeitos dos aborrecimentos do trabalho repetitivo?
Este foi o espaço da Psicologia por imposição histórica e decorrente de sua
prática de cunho ‘cientificista-positivista’... (1989, p. 67).
No início do século XIX, a revolução do trabalho industrial determinou o grande aumento
no tamanho das empresas, Figueiredo (1989) aponta que tal crescimento abriu espaço para a
organização monopolística da indústria e a utilização sistemática dos recursos das ciências na
produção, inclusive os recursos oferecidos pela psicologia. É assim que a psicologia insere-se no
contexto industrial, norteada pela filosofia Münsterberg, o qual afirmava que “... a
experimentação psicológica deve ser sistematicamente colocada a serviço do comércio e da
indústria” (MÜNSTERBERG apud FIGUEIREDO 1989, p.21).
Hugo Münsterberg, considerado “psicólogo da eficiência industrial”, foi proveniente da
escola experimentalista de Wundt, que aliás, nos remete também às origens da própria Psicologia
enquanto ciência. De acordo com Figueiredo (1989) Münsterberg objetivava selecionar e adequar
os trabalhadores à rotina da produção capitalista e criar novos recursos ante os problemas
humanos no contexto industrial, apoiando-se na análise experimental do comportamento, na
Psicometria e na Psicologia Diferencial.
Com relação a este início da inserção da psicologia no contexto da indústria, Figueiredo
chama atenção para o fato de que a psicologia degrada seu objeto.
...O homem é relegado à condição de uma estrutura mecânica, destituída de um
“motu” próprio e de cujos fenômenos internos só se pode dizer que são uma
caixa preta inexpurgável à compreensão. A fragmentação do homem pelo
trabalho capitalista determinou uma revisão radical no âmago de uma psicologia
atrelada à filosofia. A objetivação do trabalho objetivou o homem; os fenômenos
menos mentais ou psíquicos cederam lugar ao comportamento: o homem passou
a ser a reação mecânica, mensurável, dosável, controlável e esteriotipada. (1989,
p. 21).
No início do século XX, conforme Spector (2002) a psicologia industrial é marcada por um
grande desenvolvimento. A primeira guerra demandou a criação de técnicas de recrutamento que
foram imediatamente assimiladas pela indústria. Quando os testes Army Alpha e Army Beta são
utilizados para medir a “habilidade mental” dos futuros combatentes, sendo esta a primeira
aplicação em grande escala dos testes psicológicos, logo os mesmo são colocados à disposição da
área educacional e organizacional.
44
Mas, não demora muito para que os movimentos trabalhistas passem a questionar os
procedimentos da administração clássica, não só através da manifestação de desagrado, mas
também de greves. De acordo com Jacque (1989) a conclusão de que o fator psicológico, o ânimo
e os sentimentos dos trabalhadores possui importância na produção, marca a entrada definitiva da
Psicologia dentro das Organizações, deslocando-se dos estudos dos indivíduos isolados e de seus
ambientes físicos para as considerações do grupo sobre motivação e moral.
As experiências realizadas por Elton Mayo a partir da década de 20, na Western Eletric,
também conhecidas como estudos de Howtorne, jogaram por terra as premissas dos psicólogos
industriais. Estes estudos estabeleceram-se como antítese à Teoria da Administração Científica.
Os objetivos destas pesquisas também se voltaram ao processo produtivo, mas, em contraponto à
tese taylorista, os teóricos das relações humanas, conforme já vimos anteriormente, consideraram
como motivadores básicos do comportamento humano as necessidades sociais e os
relacionamentos interpessoais. Os trabalhadores motivados pelo sentimento de pertencerem a um
grupo, a uma empresa, de sentirem-se aceitos, poderiam aumentar a produção. Como refere Max
Pagès (1993) fica claro que os instrumentos de controle ideológico e psicológico, também
denominados ‘propaganda’, ‘trabalho ideológico’ são armas mais modernas e poderosas do que a
pregada pela escola clássica no período industrial.
Figueiredo (1989) vê neste deslocamento do enfoque da psicologia na organização, do
individual para o coletivo, que novamente há uma demonstração do caráter oportunista da
psicologia. A objetividade dos métodos esbarrou nos fenômenos sociais do trabalho, assim para
adaptar-se, a psicologia teve que passar a reconhecer no homem uma capacidade que até então
vinha negando a “... capacidade de organizar e integrar suas experiências conscientemente.”
(FIGUEIREDO, 1989, p. 22)
Cabe salientar que a psicologia organizacional ou das relações humanas, apesar de surgir
como antítese à tese taylorista, não a nega, sendo que ambas não denunciam as contradições
existentes nas relações de produção, ambas identificam-se com a gerência das organizações,
dispõem-se a contribuir com o aumento da produtividade e propõem técnicas capazes de superar
situações de conflito, para se conseguir o equilíbrio e a adaptação do indivíduo e das relações
interpessoais ao sistema capitalista. Assim, a psicologia organizacional ou das relações humanas
não foi uma ruptura com a psicologia industrial e sim um acréscimo de atividades. Foram
incorporados os programas de treinamento, o serviço social, os estudos sobre clima e cultura das
organizações, estudos voltados para a qualidade de vida.
45
As décadas de 50 e 60 foram marcadas por conflitos sociais e também conflitos nos
ambientes organizacionais. O conflito fica em evidência e a psicologia preocupa-se em
administrar de maneira planejada os conflitos, visando principalmente à antecipação destes como
forma de buscar canaliza-los para a eficácia do sistema. Jacques (1989) ressalta que também é a
época do enfoque sistêmico na Administração e este
...introduz várias técnicas de desenvolvimento organizacional e a psicologia
ascende hierarquicamente nas organizações a nível de consultoria através do
emprego dessas técnicas. No Brasil, é a hora da substituição do ‘psicólogo
industrial’ pelo ‘psicólogo organizacional’ munido de vários tipos de
‘ferramentas’, métodos e técnicas, em uma época desenvolvimentista, com a
indústria brasileira em um crescimento acelerado e com o trabalho na área de
recursos humanos intensamente disputado. Ainda, o momento político reforça a
não reflexão aprofundada, cristalizando toda uma atitude de neutralidade e
ausência crítica. Os autores que criticam o modelo sistêmico o fazem a partir da
idéia de que se oculta a manutenção, valorizando-se a mudança desde que esta
mudança mantenha a estabilidade; portanto, mudar para não mudar. (1989, p.
68).
A partir da década de 80, iniciam-se os estudos que dão origem a Psicologia do Trabalho.
Tais estudos aproximam a psicologia no contexto do trabalho a um entendimento mais próximo
do homem que trabalha, ou seja, o enfoque até então voltado à produtividade é desviado para o
trabalhador como sujeito. Porém, cabe ressaltar que a psicologia do trabalho fica mais restrita aos
meios acadêmicos. Os estudos relativos à psicologia do trabalho são direcionados a
psicopatologia e psicodinâmica do trabalho, que em linhas gerais, dizem respeito à organização
do trabalho e seus impactos sobre a saúde mental do trabalhador. Há ainda, estudos sobre o tema
subjetividade e trabalho, que analisam o sujeito através dos modos de subjetivação, ou seja, o
modo como o trabalhador deve se relacionar com a regra a qual se vê obrigado a cumprir e a
forma como se reconhece ligado a esta obrigação.
Atualmente, muitas novas tendências têm se desenvolvido na psicologia no contexto do
trabalho, sendo o profissional psicólogo inserido na organização, cada vez mais convidado e
solicitado a exercer uma função estratégica na gestão de pessoas, atrelando as suas metas
diretamente aos resultados da empresa em que se encontra inserido. O psicólogo, no âmbito das
organizações, para atender as demandas empresariais, se vê tendo que realizar uma série de
interseções com outras áreas como a administração, principalmente ao que diz respeito a
ferramentas da qualidade, com a sociologia do trabalho, com a legislação trabalhista. Assim
46
sendo, Codo (1984) nos lembra que há uma crescente crítica feita pela própria psicologia,
principalmente no âmbito acadêmico, à atuação do psicólogo no contexto da organização.
Embora não sejam só os psicólogos sensíveis a esta influência, estando a ela sujeitos todos
aqueles que, de uma forma ou de outra atuam em Recursos Humanos, conforme Jacques (1989) a
psicologia, por razões históricas, se mostrou sempre muito mais propícia a esta influência.
2.2.3 – As práticas que caracterizam as modernas políticas de RH
Conforme já vimos anteriormente à idéia de que o sucesso das organizações depende das
pessoas está amplamente difundida e pode ser considerada como central para as modernas
políticas de RH, em contrapartida a relação entre as modernas políticas de RH e o processo
saúde-doença dos trabalhadores é pouco difundida no Brasil e normalmente restringe-se ao meio
acadêmico. Neste subitem irei realizar a seguinte divisão, primeiro apresentarei a visão
apresentada por autores que estão voltados à sistematização das referidas políticas e práticas e em
um segundo momento apresentarei a visão de autores que realizam a crítica a essas políticas.
2.2.3.1 – A Sistematização das modernas políticas de RH
Para Chiavenato (2004) o RH moderno procura tratar as pessoas como pessoas e não apenas
como importantes recursos organizacionais, como acontecia há pouco tempo. Percebeu-se que
esta maneira de ver as pessoas apenas como recursos provocou forte ressentimento e conflitos
trabalhistas, além de um gradativo distanciamento e alheamento das pessoas em relação a suas
tarefas na organização, prejudicando a qualidade e produtividade. De acordo com o mesmo autor,
a tendência hoje é fazer com que os trabalhadores de todos os níveis organizacionais, sejam os
administradores de suas tarefas. As práticas de RH devem atuar no sentido de conscientizar os
trabalhadores de que eles devem ser elemento diagnóstico de solução de problemas, com objetivo
da melhoria contínua. “... é assim que crescem e se solidificam as organizações bem-sucedidas.”
(CHIAVENATO, 1994, p. 59)
Nakayama (2001) acrescenta a idéia de que a nova área de Recursos Humanos tende a tornar-
se um centro de investimentos, transformar-se em uma unidade de negócios, buscando adotar
estratégias que instrumentalizem e orientem os executivos da organização. “Assim, Recursos
47
Humanos tem que desenvolver meios para que as pessoas possam caminhar proativamente na
direção da obtenção dos resultados organizacionais...”. (NAKAYAMA, 2001, p. 212).
Para cumprir tal papel o RH busca compreensão na “cognição humana” que constitui o filtro
pessoal através do qual a pessoa se vê e sente e percebe o mundo que existe a seu redor. Através
desta compreensão o RH está melhor instrumentalizado para determinar suas práticas que
conduzirão ao comportamento do trabalhador dentro da organização. O quadro a seguir ilustra
este funcionamento.
Fatores internos e externos que influenciam o comportamento humano
Fonte:
CHIAVENATO, 2004, p. 61
Outro conceito bastante atual em RH é o da valorização dos trabalhadores como “Capital
Intelectual”. Nakayama (2001), ressalta que Capital Intelectual tem sido identificado tanto como
ativo intangível como ativo intelectual, integrando aspectos organizacionais, intelectuais e
humanos.
Com relação ao capital humano, Chiavenato (2004) diz que este capital pode valer mais ou
menos na medida em que tenha talentos e competências capazes de agregar valor à organização,
tornando-a mais ágil e competitiva. Para isso, a organização precisa de práticas que ajudem a
alavancar este capital, são elas: Autoridade: dar autonomia às pessoas para trabalharem de
acordo com o que elas aprendem e dominam – é também conhecido como empowerment;
Informação: propiciar o acesso à informação ao longo de todas as fronteiras; Recompensas:
reconhecer o trabalho bem feito - funciona como reforço positivo, sinal de que aquele é o
Variáveis intervenientes
Fatores internos Fatores externos
- Personalidade
- Aprendizagem
- Motivação
- Percepção
-Valores
- Ambiente
Organizacional
- Regras e regulamentos
- Cultura
- Políticas
- Métodos e processos
- Recompensas e
punições
-Grau de confiança
A pessoa na
organização
Comportamento
da pessoa
dentro
da organização
48
comportamento esperado pela organização; Competências: definir as competências que a
organização precisa e criar condições para que as pessoas desenvolvam tais competências.
Levando em consideração os aspectos referidos até então, cabe ainda salientar que não há
princípios, normas ou leis que regulamente o RH, sua administração, conforme Chiavenato
(2004) é contingencial, ou seja, depende da situação organizacional, de sua cultura, estrutura, de
características do contexto ambiental, do negócio da organização, das características internas, de
seus processos e de muitas outras variáveis importantes.
De maneira geral se pode dizer que há cinco processos básicos na administração de RH, tais
processos estão relacionados com a provisão, aplicação, manutenção, desenvolvimento e
monitoração de pessoas. Cada um destes processos possui subsistemas que juntos formam um
processo global e dinâmico através do qual as pessoas são captadas e atraídas, aplicadas em suas
tarefas, mantidas na organização, desenvolvidas e monitoradas pela organização. No quadro
abaixo, Chiavenato (2004) nos dá uma visão ampla dos processos e subprocessos de RH.
Processos e subprocessos de RH
Fonte:
CHIAVENATO, 2004, p.135
Administração
de Recursos
Humanos
Processo de
Provisão de
Pessoas
Processos de
Aplicação de
Pessoas
Processo de
Manutenção de
Pessoas
Processo de
Desenvolvimento
de Pessoas
Processo de
Monitoração
de Pessoas
Recrutamento
e Seleção
Planejamento
de RH
Desenho de
Cargos
Análise e
descrição
Avaliação do
Desempenho
Remuneração
Benefícios
Higiene/Segurança
Relações Sindicais
Treinamento e
Desenvolvimento
de Pessoas
Desenvolvimento
Organizacional
Banco de
Dados
Controles
Sistemas de
Informação
49
2.2.3.2 – A crítica às modernas políticas de RH
Antes de mais nada, é importante salientar que de maneira alguma eu tenho a pretensão de
negar os aspectos positivos que esse novo modo de gestão agregou aos trabalhadores das
empresas que as utilizam. De maneira geral percebe-se atualmente nas organizações, como
aspectos positivos aos trabalhadores, decorrentes das novas práticas, maior possibilidade de
comunicação, participação e autonomia para o planejamento, execução e controle dos processos;
maior flexibilidade nas relações hierárquicas; além disto o trabalho geralmente assume caráter
mais intelectualizado e menos prescritivo. O que pretendo chamar atenção é para os possíveis
paradoxos que tais políticas de gestão de RH podem apresentar em relação à saúde do
trabalhador.
Trata-se de realizar reflexões e estudos sobre as conseqüências das novas políticas de
recursos humanos, que a princípio desenvolveram-se no Japão e nos EUA e se tornaram modelo
dominante também na Europa. No Brasil, as práticas mais modernas de gerenciamento
permaneceram durante muito tempo como uma exceção, sendo observadas apenas nas empresas
de ponta. Na década de 90, tendo como referência empresas no Brasil que incluíram em seu
processo de modernização as novas práticas de gestão, observa-se um movimento de expansão
das modernas práticas de RH. As empresas que as utilizaram tornam-se verdadeiros modelos de
sucesso, começam a surgir uma série de publicações sobre o assunto, entre elas as “ melhores
empresas para trabalhar” das Revista Exame e Época e o prêmio “Top Ser Humano” da ABRH
Associação Brasileira de Recursos Humanos.
Conforme Lima (1996) tendo como base este novo modelo que passou a ser encarado como
sinônimo de sucesso, muitas empresas entraram na corrida pela modernização, mas apenas
algumas, com economia privilegiada, conseguiram adotar de maneira completa o que a autora
chama de “novas políticas de pessoal”.
De maneira geral o cenário brasileiro no que se refere às modernas práticas de RH é o
seguinte: existem as pequenas e médias empresas, de maneira geral a maioria, onde pouco ou
nada das novas política foram implantadas, há ainda as empresas onde se implantaram algumas
das modernas práticas e existem as empresas, normalmente às grandes multinacionais, onde as
políticas são implantadas de maneira completa, tais empresas tornaram-se o sonho de consumo
dos trabalhadores, as vagas nestas empresas são extremamente disputadas. As pessoas que
50
conseguem emprego nestas organizações tendem a fazer o impossível para manter seu emprego,
pois a empresa faz questão de mostrar quantas pessoas superqualificadas estão interessadas em
ocupar a sua vaga. Esta supervalorização reforçou o poder da empresa estratégica brasileira sobre
seu pessoal.
Este cenário vem acompanhado por questões que atualmente são consideradas intrigantes,
tais como: a integração entre executivos e demais trabalhadores; a aceitação e até mesmo procura
da sobrecarga de trabalho e a aceitação de um ideologia de lucro e de expansão apesar dos
conflitos e sofrimentos que os acompanham. A grande crítica com relação as empresas
estratégicas, ou seja as que utilizam as modernas práticas de gestão é o fato de ela se dizer
interessada nos homens, na valorização do ser humanos, mas a realidade é que tais organizações
utilizam os trabalhadores, de maneira sutil e refinada, para obter deles desempenhos econômicos
cada vez maiores, mesmo que as práticas usadas causem prejuízo a saúde do trabalhador e levem
a uma sociedade hipercompetitiva, que leva a desumanização, onde ninguém se preocupa
realmente com o outro.
Um dos conceitos embutidos de maneira sutil, nas modernas práticas de gestão é o de
mediação. Pagès et alii (1993), descreve a organização como um sistema de mediação, ou seja, o
processo de mediação se coloca como a aliança das restrições da empresa e os privilégios
oferecidos aos trabalhadores. Os privilégios funcionam como uma maneira de ocultar ou desviar
a atenção das contradições entre os objetivos da empresa (o lucro e a dominação) e os objetivos
dos trabalhadores. Assim, as contradições do sistema capitalista nem sempre são observáveis,
pois são ocultadas e transformadas pelos processos de mediação.
Este mesmo autor refere que o que diferencia uma empresa moderna de uma empresa
hipermoderna é a capacidade de desenvolvimento de seus processos de mediação, quanto maior
sua extensão a novas instâncias, sua interconexão e sua constituição em sistemas cada vez mais
coerentes, mais moderna será a organização. A antecipação dos conflitos também é citada como
uma das características das organizações modernas e hipermodernas.
Lima (1996) em sua pesquisa destaca uma série de características comuns às novas
políticas de RH, tais características foram descritas pela autora após consulta a uma série de
autores, basicamente autores franceses, que trabalham tanto com a crítica às novas políticas de
RH quanto com os autores que ela considera os “ideólogos” destas políticas. A seguir descrevo as
características que considero mais relevantes:
51
¾ Utilização de recompensas econômicas conjugadas com recompensas simbólicas. São
exemplos destas recompensas: salários altos, participação nos resultados, participação no capital
como acionista, bônus, medalhas por mérito, reconhecimento por diploma e prêmios. Estas
recompensas tem a função de sustentar e incentivar positivamente o comportamento.
¾ Possibilidade de carreira torna claro aos trabalhadores que ao manterem a competência
esperada pela empresa, terão oportunidades de promoções.
¾ Estímulo a competitividade entre colegas é habilmente combinada com a cooperação dentro
de atividades de pequenos grupos. Baseia-se na tentativa de alcance individual de objetivos, na
valorização do sucesso individual e no incentivo à auto-superação. As empresas colocam as
equipes em competição como se fossem empresários do seu próprio negócio, com objetivo de
aumentar seu comprometimento com a empresa.
¾ Intelectualização das tarefas, incentivo do trabalho coletivo e enriquecimento do trabalho
individual. Em função da necessidade da polivalência e de algumas formas de gestão como o
“estoque zero” é preciso que o trabalhador tenha domínio do processo como um todo, além de
certo controle do processo e produto.
¾ Ênfase na flexibilidade e capacidade de adaptação. Forte pressão para adaptar-se
continuamente e mostrar-se mais capaz de tomar iniciativa.
¾ Controle realizado de maneira mais implícita e sutil. O controle passa a ser feito pela adesão
e interiorização das regras pelos trabalhadores, há ênfase na identificação dos interesses de
patrões e empregados. Também passa a haver controle por parte dos próprios colegas, no trabalho
em equipe. A possibilidade deste tipo de controle, menos formal e mais difuso sobre a força de
trabalho é mais um aliado da empresa como mediador para evitar conflitos e resistências.
¾ Diminuição das hierarquias e mudança no papel do chefe, que passa a ter o papel de
aconselhar, criar coesão, motivar, estimular e ao mesmo tempo cobrar o resultado.
¾ Antecipação do conflito. Busca-se aplicar dispositivos com objetivo de evitar a emergência
do descontentamento, satisfazendo as reivindicações antes que elas se exprimam.
¾ Tendência a mascarar a realidade de que a prioridade da empresa capitalista é o lucro.
Propõem-se outros objetivos como prioritários, como a qualidade, a eficiência, a iniciativa, a
inovação, o bem estar do empregado, ou seja, objetivos que parecem não ter relação imediata
com os resultados econômicos da empresa. Tenta-se desviar a atenção dos empregados dos
verdadeiros objetivos financeiros ou econômicos que a empresa tenta alcançar, para isto,
52
apoiados na política de participação nos resultados, os empresários adotam o discurso de que se a
empresa cresce os trabalhadores crescem com ela.
¾ Política de individualização e tentativa de evitar reivindicações coletivas. As práticas de
promoção horizontal e vertical dificultam a constituição de grupos estáveis, com uma dinâmica
própria e suscetíveis de apresentar exigências ou reivindicações coletivas. A competição entre
pares, a avaliação de desempenho ou de mérito individual, o salário individualizado além das
exigências de auto-superação favorecem igualmente a individualização.
¾ Ênfase na estratégia. Devido à complexidade e incerteza no mundo organizacional, o
comportamento estratégico generaliza-se entre os empregados. Os empregados, além de elaborar
as estratégias devem adaptar continuamente seus conhecimentos as necessidades na mesma
velocidade.
¾ A grande importância dada à formação. As empresas tendem a investir de maneira
significativa na formação de seus trabalhadores, não só no que se refere ao ensino fundamental,
médio e superior e de pós-graduação, mas também utilizam métodos de formação que
desenvolvem o gosto pela batalha e pelo risco, que trabalham o aspecto motivacional e de
internalização cultural, usam também, métodos que tem como objetivo levar o indivíduo a
descobrir em si mesmo competências e qualidades que ele ignorava.
¾ Tentativa de criar uma comunidade global e de tornar a empresa algo mais do que um
simples local de trabalho. Criam-se organizações esportivas, clubes de viagem, grupos de teatro,
corais. A intenção é preencher o vazio deixado pelas instituições tradicionais, como mais uma
forma de garantir a dominação.
Enfim, estas são as características das práticas que compõem as novas políticas de RH, mas
vale ressaltar que estas práticas serão encontradas de maneira difusa, ou seja, dificilmente estarão
presentes em sua totalidade em uma mesma organização, principalmente no Brasil, onde é mais
difícil de encontrar empresas puramente estratégicas. Lima (1996) conclui dizendo
Em resumo, essas novas políticas falam de participação, de iniciativa, de
inovação e de maior liberdade conjugada com as novas responsabilidades que o
indivíduo assume na organização. Mas elas falam, ao mesmo tempo, de
conformidade às normas de consenso, de adesão ao projeto proposto pela
empresa. O homem que trabalha é colocado no centro das atenções e fala-se de
respeito, de dignidade, de confiança, de franqueza ou, até mesmo, de intimidade
e transparência. Mas, ao mesmo tempo, é ressaltada a importância de se investir
no “capital humano”. Elas preconizam sempre a necessidade de se estabelecer
uma rede de comunicação intensa na empresa. Trata-se de uma comunicação
53
estratégica, baseada na persuasão e no condicionamento com a finalidade de
obter a adesão máxima do pessoal. (1996, p. 40).
2.2.3.3 – Adaptação do sujeito às novas políticas de RH - o perfil deste
profissional.
“O homem certo no lugar certo”, esta é uma expressão que nos remete ao taylorismo, mas
atualmente, o processo de seleção ainda constitui esta mesma escolha, apesar de todo o
refinamento que foi tendo no decorrer do tempo. Conforme Chiavenato “a tarefa básica da
seleção é a de escolher, entre os candidatos recrutados, aqueles que tenham maiores
possibilidades de ajustar-se ao cargo vago e desempenha-lo bem.” (2004, p.185)
Atualmente, concorrer a uma vaga em uma empresa de ponta, significa passar por um
concurso muito duro, pois além da maratona de testes e entrevistas, em contraste com um
concurso público, as regras não são claramente definidas para os candidatos. Para o profissional
de RH, que realiza o processo de seleção, a dificuldade também aumentou, pois hoje ao invés da
avaliação de características físicas ou sociais, busca-se avaliar características que são subjetivas,
ou seja, características de personalidade. A empresa busca essencialmente contratar o candidato
que possua capacidade de se identificar e adaptar as suas normas e estrutura, ou seja, deve haver
compatibilidade entre a personalidade do candidato e a cultura da empresa.
Uma declaração da presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-
RS), Clarisse Costa, nos ajuda a compreender a dimensão da importância dada a questão da
adaptação dos funcionários à cultura da empresa: “As empresas treinam com eficácia. Fazer a
pessoa aderir aos valores da organização é às vezes o problema.” (Jornal Zero Hora, 21/05/06)
Provavelmente, a dificuldade de adaptação esteja relacionada ao problema apontado por
Lima (1996), a autora refere que para o trabalhador atender às exigências impostas pelas novas
políticas de RH, ele deveria adotar, muitas vezes, comportamentos contraditórios, ou seja, para
corresponder às expectativas de adaptação da organização o indivíduo, em muitos casos, teria
obrigatoriamente que ter atitudes incoerentes com sua personalidade, pois as características que
as políticas demandam são contraditórias. Por exemplo, as novas políticas requerem um
indivíduo que seja ao mesmo tempo altamente competitivo e cooperativo; ou ainda o indivíduo
deve ser individualista e ter um forte espírito de equipe.
54
Os exemplos citados acima, são ilustrativos, pois se fizermos uma análise das práticas de
RH, citadas anteriormente, iremos perceber uma série de outras atitudes necessárias à adaptação
às modernas políticas que são da mesma forma contraditórias. Retomando o pensamento de Lima
(1996) a autora refere que é difícil acreditar que alguém possa responder a exigências tão
contraditórias sem recorrer a mecanismos de defesa tipicamente perversos, ou seja, aquele que
nega ao outro uma individualidade, interesses próprios e todo investimento que não seja centrado
sobre si mesmo. Evidencia-se que uma série de características atribuídas ao perverso caracterial
coincidem com aquelas exigidas pelas modernas políticas de RH: a ausência de culpabilidade,
fraca introjeção da interdição, tensão agressiva, obstinação, insensibilidade ao amor, à dedicação,
ao respeito, dissimulação, traição, cinismo e hipocrisia. Sua afetividade é ambivalente e a
instabilidade emocional traduz sua fragilidade interna. Outro aspecto bem particular à perversão
de caráter e que a autora identificou entre as exigências das empresas modernas diz respeito ao
lado “farsante” e “mistificador” desses sujeitos, “sempre falsificando a verdade com ares de
pouca culpabilidade” (Bergeret, 1995, apud Lima, 1996). A autora refere ainda
Obviamente, não pretendemos afirmar que os indivíduos que trabalham nessas
empresas e que parecem adaptar-se às suas políticas são todos “perversos
caracteriais” (segundo a terminologia de Bergeret). O que queremos dizer é que
essas empresas adotam políticas de recursos humanos cujas exigências,
extremamente contraditórias, podem impor um comportamento bastante
próximo ao do perverso àqueles que tentam se adaptar. (1996, p.47).
Sennett (1999) em seus estudos sobre as conseqüências pessoais do trabalho no novo
capitalismo, ressalta o trabalhador corroído em seu caráter, as conclusões do autor estão alinhadas
com as conclusões de Lima (1996) pois ambos referem que na tentativa de se adaptar às atuais
exigências, o indivíduo sofre prejuízos que além de causarem sofrimento, chegam a interferir no
caráter. O caráter é corroído sobretudo naquelas qualidades de caráter tão importantes e escassas
que ligam os seres humanos uns aos outros. “O distanciamento e a cooperação superficial são
uma blindagem melhor para lidar com as atuais realidades que o comportamento baseado em
valores de lealdade e serviço” (SENNETT, 1999, p.25).
O conflito família e trabalho, segundo Sennett (1999) é intensificado pelo capitalismo
flexível ou de curto prazo, pois como se poderá evitar que:
55
As relações familiares sucumbam ao comportamento a curto prazo, ao espírito
de reunião, e acima de tudo à fraqueza da lealdade e do compromisso mútuo
que assinalam o moderno local de trabalho? (1999, p. 27)
O problema relativo às referidas contradições e as conseqüências negativas que se dão na
adaptação do sujeito às novas políticas de RH, possui extrema relevância e me fazem pensar na
contribuição extremamente negativa que estas empresas estão dando a sociedade ao promoverem
a construção de indivíduos cada vez mais alheios aos problemas da humanidade e mais
preocupados com seu sucesso pessoal, alinhados aos objetivos capitalistas, a qualquer preço.
Além disto, me faz pensar no impacto dessas relações sobre a saúde do trabalhador, sua
subjetividade, suas relações familiares, sociais e de cidadão. Isto me remete para o próximo
capítulo, onde realizarei a revisão teórica sobre a saúde do trabalhador.
2.3 – SAÚDE E TRABALHO
No contexto da Revolução Industrial tem início a preocupação com a relação saúde e
trabalho, as jornadas extenuantes, em ambientes extremamente desfavoráveis à saúde, às quais
também se submetiam mulheres e crianças, eram freqüentemente incompatíveis com a vida. A
aglomeração humana em espaços inadequados propiciava a acelerada proliferação de doenças
infecto-contagiosas, ao mesmo tempo em que a periculosidade das máquinas era responsável por
mutilações e mortes. Neste contexto dá-se início a preocupação com relação a saúde do
trabalhador.
Pode-se verificar segundo Foucault (1989) que apesar de a questão da saúde do
trabalhador ser uma preocupação que se inicia com a revolução industrial, vêm a atender
interesses específicos, eminentemente políticos, o autor argumenta que foram razões políticas que
suscitaram uma preocupação das classes burguesas sobre os operários, interesses voltados a
proteger as classes ricas contra doenças que pudessem surgir na classe proletária e chegar a
atingir a classe rica. Por este motivo, muito demorou para que se pudesse ter a compreensão atual
do processo saúde-doença no contexto das organizações. A construção da atual compreensão da
relação saúde e trabalho conta com contribuições que são provenientes de diferentes abordagens,
basicamente da psicologia social, psicologia do trabalho, psicologia organizacional, sociologia do
trabalho, medicina do trabalho, engenharia de segurança, epidemiologia e ergonomia.
56
Nesta revisão irei focar a questão mais especifica da saúde e trabalho pois esta possui
maior proximidade com as questões voltadas as modernas práticas de RH.
O reconhecimento internacional de que as condições de exercício profissional podem
afetar não apenas a saúde física, mas também a saúde psíquica e mental, é relativamente recente.
Conforme Alevato (2003) datam de cerca de aproximadamente 50 anos os primeiros estudos que
levam a percepção de que as condições de trabalho podem ter conseqüências sobre a saúde
mental dos indivíduos. Trata-se dos estudos realizados por Le Guillant, seu trabalho mais citado
foi feito em 1956 sobre a atividade de telefonistas em Paris, onde diagnosticou um distúrbio que
denominou Síndrome Geral de Fadiga Nervosa.
Apesar dos avanços relacionados aos estudos da relação saúde e trabalho, podemos dizer
que há consenso no que se refere às ameaças à saúde quando os riscos são de natureza física,
química ou biológica, mas quando o assunto é sofrimento psíquico, ainda enfrenta-se preconceito
e desinformação. Alevato (2003) chama atenção para o fato de que o próprio indivíduo que
padece de sobrecarga psíquica tende a banalizar ou esconder seus sintomas, especialmente pela
exposição a críticas. Quando a doença é física, a dor pode ser aceita e até comprovada, mas
quando a doença é psíquica, a representação social dominante é de fraqueza pessoal. A autora
enfatiza ainda que
De uma forma geral, pobres e ricos enfrentam barreiras diversas nesse campo,
impostas por terceiros e até por seus próprios preconceitos. Os mais pobres,
olhados com desconfiança pelos próprios colegas e familiares, vivem a ameaça
da demissão e têm a dificuldade adicional da precariedade do atendimento
médico, qualitativa e quantitativamente. Para os mais privilegiados, assumir um
padecimento de natureza psíquica representa um profundo risco em um
ambiente cada vez mais competitivo e exigente. Tentar resolver sozinho e até
mesmo negar o que sente, em ambos os casos, são as saídas mais comuns...
(2003, p. 4)
Tittoni (1994) alerta que esta tentativa de manter a “normalidade”, a que me referi
anteriormente, pode gerar situações ainda mais difíceis, pois reprimido até o limite o sofrimento
pode gerar crises emocionais ou doenças psicossomáticas, como úlceras, gastrite ou problemas
cardíacos. Tais tentativas de manutenção da normalidade, também podem manifestar-se em
dificuldades no relacionamento com colegas, chefias ou familiar, bem como no desenvolvimento
da atividade profissional, ou seja, na produtividade.
57
Nardi (2006) chama atenção para as transformações do perfil de adoecimentos e
sofrimento relacionados ao trabalho com as novas práticas gerenciais atreladas a acumulação
flexível e ressalta que “a sobrecarga imposta aos trabalhadores pela intensificação do ritmo torna-
se evidente quando constatamos as conseqüências para a saúde dos trabalhadores.” (2006, p. 69)
Codo (2003) refere que os estudos em saúde mental e trabalho, que até então vinham
sendo vistos como maneira de contestar as condições de trabalho, transformaram-se em área de
pesquisa e intervenção estratégica a partir dos anos noventa, em função do fato de que os
problemas resultantes do sofrimento psíquico nas organizações passaram a ser responsáveis pela
segunda causa de afastamento no trabalho na década de noventa. Codo salienta que apesar do
grande número de descobertas já disponíveis na literatura, a área ainda não evoluiu para muito
além dos estudos de caso e isto ocorre em função de sua complexidade. A complexidade da área
saúde mental e trabalho está relacionada ao fato de que as categorias de análise necessárias para
possibilitar uma compreensão teórica precisam passear por todas as áreas que o trabalho abrange
e esta abrangência é muito vasta.
Ainda de acordo com Codo (2003) são variáveis reconhecidas como importantes para
determinar o nível de saúde mental do trabalhador; o significado do trabalho, o controle do
trabalhador sobre o trabalho, a importância social do trabalho, a rotina, o sentido do trabalho, as
relações sociais de produção, ou seja, o relacionamento com colegas e com a hierarquia, as
atitudes do trabalhador frente ao trabalho, sua satisfação e seu comprometimento, a carga mental
no trabalho, as dificuldades no relacionamento social do trabalhador devido ao trabalho, o suporte
social, o suporte afetivo e o conflito trabalho-família.
O quadro abaixo demonstra uma síntese dos três eixos de análise, definidos por Codo
(2003) e das categorias que resultam do seu desdobramento.
Homem-natureza
Significado do Trabalho
Controle Controle
Rotina
Sentido Importância social do trabalho
Sentido do trabalho
Homem-sociedade
Relações Sociais de Produção
No Trabalho Relacionamento com colegas
Relacionamento com chefias
Na vida extratrabalho Suporte social
Suporte afetivo
Conflito trabalho-família
58
Homem-Homem
Sentimento do Trabalhador
Atitudes frente ao trabalho Satisfação
Comprometimento
Carga mental no trabalho Tempo
Dificuldades
Fonte: Codo 2003
Cabe ressaltar que ao trabalho se designa a função de indispensável como fonte de laço
social, coesão social, de integração de identidade pessoal e de sentido. Porém, esta cultura que
prepara para o trabalho como central na vida do indivíduo conduz a um aumento das dificuldades
para o trabalhador, principalmente pela inexistência de políticas de emprego, ou melhor dizendo,
pelo desemprego, além de que o emprego tornou-se precário, flexível, instável, com salário
variável, impossibilitando que cada um possa construir seu projeto de vida, contando com o
emprego para o qual foi preparado. Ao apresentar as contradições citadas anteriormente não
pretendo afirmar que tal situação seja insolúvel ou apenas fonte de prejuízo aos trabalhadores,
mas sim chamar atenção para os paradoxos encontrados atualmente pelo trabalhador.
Sabe-se desde Freud (1974) a importância que é dada ao trabalho na comunidade
humana, a centralidade concedida ao trabalho prende o indivíduo firmemente à realidade, dando-
lhe a sensação de segurança na vida em comunidade. Ainda de acordo com Freud o trabalho
oferece possibilidade de deslocar uma grande quantidade de componentes libidinais, ou seja,
oferece a possibilidade de sublimação
...empresta-lhe um valor que de maneira alguma está em segundo plano quanto
ao de que goza como algo indispensável à preservação e justificação da
existência em sociedade. A atividade profissional constitui fonte de satisfação
especial, se for livremente escolhida, isto é, se, por meio de sublimação, tornar
possível o uso de inclinações existentes, de impulsos instintivos persistentes ou
constitucionalmente reforçados. (1974, p. 99)
Estamos diante de um dos muitos paradoxos relacionados à centralidade assumida pelo
trabalho. Ao mesmo tempo em que é fonte de muitas possibilidades de sublimação é de aversão;
ao mesmo tempo que oprime, liberta; produz saúde e doença; é fonte de prazer e de angústia. A
centralidade assumida pelo trabalho traz conseqüências paradoxais para a integridade física,
psíquica e social dos trabalhadores. Dejours e Abdoucheli (1994) lembram também o paradoxo
psíquico do trabalho, como fonte de equilíbrio para uns e causa de fadiga para outros. Na relação
existente entre saúde e doença no trabalho, Dejours (1992) afirma que o trabalho é fonte de
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doença e infelicidade e de saúde e prazer “(...) o trabalho nunca é neutro em relação à saúde, e
favorece seja a doença, seja a saúde” (Dejours, 1992, p.13).
De um lado, o trabalho visto como atividade produtiva fundamental na construção da
identidade do trabalhador e que assume papel essencial para assegurar a saúde. De outro, os
contextos nos quais ele se insere podem se caracterizar pela precariedade das condições, por
excesso de pressão ou por falta de reconhecimento e de oportunidades, contribuindo para um
possível adoecimento dos trabalhadores. Tais conseqüências podem decorrer, ao mesmo tempo,
da centralidade do trabalho e do não trabalho, ou seja, do desemprego.
Cabe ainda salientar que na atualidade parece existir uma tendência de banir o sofrimento
do mundo do trabalho e de considera-lo uma dimensão contingente à produção. Acredita-se que
por uma vivência ser subjetiva ela pode ser considerada como inexistente, passar desapercebida,
ser negligenciada. Além dos aspectos já citados, anteriormente, penso que este fato esteja
relacionado também ao enunciado de que a felicidade deve prevalecer sempre, deve-se ser feliz
de qualquer maneira, há uma imposição social de se estar feliz, independente de todos os
problemas, de todo o sofrimento, as pessoas competentes e competitivas devem saber “gozar ao
máximo”. Neste mesmo contexto também se insere o problema relacionado a automedicação. Em
geral o acesso a medicamentos que atenuam os sinais de sofrimento do trabalhador é muito fácil e
indicado de colega para colega, assim a insônia, a alteração de humor, os problemas com a
família, a enxaqueca, dores em geral são mascaradas. Desta forma se abre espaço para a
medicalização das manifestações do sofrimento nas empresas através da prescrição
indiscriminada de analgésicos, antidepressivos, ansiolíticos, entre outros.
Nesse e Williams (1997) em seus estudos sobre a nova ciência da medicina darwinista
alertam para o fato de atualmente haver uma tendência por parte de psiquiatras a enfocar as
causas neurofisiológicas dos distúrbios mentais e negligenciar a gradação contínua de emoções
causadas por fatores psicológicos, eventos passados e situações de vida, bem como o fato de
muitos dos distúrbios mentais poderem ser uma defesa a novos aspectos da vida moderna. Assim,
dissemina-se a idéia de que, se por exemplo, a depressão ou a ansiedade por poderem ser
sintomas de doença biológica causada por anormalidade cerebral precisam necessariamente de
tratamento medicamentoso. Os autores chamam atenção para o uso dos medicamentos como pura
fonte de alívio de sintomas, sem os devidos questionamentos, como se pode observar a seguir:
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Cada nova geração de drogas psicotrópicas tem poder e especificidade maiores
com menos efeitos colaterais. Há algumas décadas, houve um clamor público
contra o “soma”, a droga que fazia as pessoas tolerarem sua vida de tédio em O
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Atualmente quando dispomos de
substâncias semelhantes, é estranho que não se fale tanto no assunto. Será que as
pessoas não estão percebendo a velocidade com que esse trem está se
movimentando? Certamente devemos tentar aliviar o sofrimento humano, mas
será inteligente eliminar a melancolia normal? Muitas pessoas acham
intuitivamente que é errado usar drogas para mudar artificialmente o humor, mas
teriam dificuldade em argumentar contra o uso de drogas que não causam
dependência e não têm muitos efeitos colaterais. A única razão médica para não
usar essas drogas seria uma possível interferência com alguma capacidade útil.
Breve – muito breve – as pessoas estarão querendo saber quando a tristeza é útil
e quando não é. Uma abordagem evolutiva fornece fundamento para tratar essas
questões. (1997, p. 218)
Enfim, são muitos os aspectos que permeiam as relações entre saúde/doença e trabalho e,
não poderia ser diferente pois o trabalho invade todos os níveis da atividade humana, os afetos, a
consciência, o que torna difícil a pesquisa, por permitir que os sintomas se escondam nos mais
diferentes lugares ou ações. Além disto o modo como o trabalho se organiza em sociedade,
esconde suas determinações fundamentais, o que se considera mais uma dificuldade.
Mas se por um lado os desafio são grandes, os estudos e publicações também vem
contribuindo para compreensão cada vez mais aprofundada da relação saúde e trabalho e
denunciando entre outros aspectos, que há fatores socioambientais
8
de muito risco à saúde no
trabalho e que tais riscos ainda são bastante desconhecidos e negligenciados pelas empresas,
pelos trabalhadores e seus sindicatos, pelos profissionais responsáveis por perícias médicas e até
mesmo por profissionais responsáveis na empresa pela saúde, bem estar, qualidade de vida do
trabalhador, enfim os profissionais de RH, que tendem a realizar diagnósticos apressados,
normalmente orientados por modismos e superficialidades que apenas agravam os riscos aos
quais todos estão expostos atualmente.
8
Conforme Alevato (1999) os fatores de risco socioambientais levam em conta o cenário político, econômico e
social da atualidade. A dependência do sistema produtivo, o desemprego estrutural, o desequilíbrio econômico, etc.,
tendem a se transformar em riscos. Os fatores de natureza socioambiental se constituem em fatores de risco à saúde
no trabalho quando, deformados por determinadas circunstâncias, são conduzidos de maneira equivocada e agravam
os inevitáveis estressores próprios da natureza da atividade no contexto histórico e social onde a atividade se
desenvolve.
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A seguir irei realizar uma breve apresentação das contribuições aos estudos das relações
saúde e trabalho, feitas pelas abordagens teóricas da psicodinâmica do trabalho e das teorias do
estresse
9
.
2.3.1– Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho
Ao referirmos os estudos da relação entre saúde mental e trabalho, cabe destacar o papel
de uma corrente francesa de pensamento denominada Psicopatologia do Trabalho, que vem se
impondo pela qualidade de sua produção teórica, pela riqueza de suas formulações metodológicas
e, ainda, pela importância de suas descobertas. Trata-se das concepções e pesquisas
desenvolvidas por Christophe Dejours. Inicialmente esta corrente tinha como objetivo o estudo
das relações que, no realizar do trabalho, conduziam ora ao prazer, ora ao sofrimento. No
decorrer do tempo, esta escola amplia seu enfoque para além da dinâmica saúde/doença,
passando a ser chamada Psicodinâmica do Trabalho.
De acordo com Merlo (2003) houve considerável inovação nos estudos da relação saúde
mental e trabalho a partir do trabalho de Dejours A Loucura do Trabalho: estudo de
psicopatologia do trabalho, traduzido no Brasil em 1987. No referido livro Dejours (1988)
afirma que os trabalhadores não se mostram passivos em face das exigências e pressões da
organização e, sim, capazes de se proteger dos efeitos nocivos à saúde mental. Eles sofriam, mas
sua liberdade se exercia, mesmo que de forma muito limitada, na construção de “sistemas
defensivos”, fundamentalmente coletivos. Esse trabalho levou Dejours a deslocar seu foco
investigativo das doenças mentais geradas pelo trabalho para o sofrimento e as defesas contra
esse sofrimento. À medida que a maioria dos trabalhadores conseguia conjurar a loucura, apesar
da violência da organização do trabalho, a “normalidade” (equilíbrio entre sofrimento e defesa) é
que se configurava como enigma. “A utilização do conceito de Psicodinâmica do Trabalho, em
substituição ao de Psicopatologia do Trabalho, deu-se a partir de um privilegiamento do estudo
da normalidade, sobre o da patologia”. (Merlo, 2003, p. 131)
9
Escolho apresentar apenas estas duas abordagens por considera-las relevantes e suficientes para a
compreensão teórica do presente estudo, saliento que as demais abordagens são igualmente importantes para os
estudos em trabalho e saúde, mas para o presente estudo me limitarei as duas abordagens acima relacionadas.
62
Citando Dejours
Essa disciplina – inicialmente denominada psicopatologia do trabalho – tem por
objeto o estudo clínico e teórico da patologia mental decorrente do trabalho.
Fundada ao final da II Guerra por um grupo de médicos – pesquisadores
liderados por Le Guillant, ela ganhou há uns 15 anos um novo impulso que a
levou recentemente a adotar a denominação de “análise psicodinâmica das
situações de trabalho”, ou simplesmente “psicodinâmica do trabalho”. Nesta
evolução da disciplina, a questão do sofrimento passou a ocupar uma posição
central. (1999, p. 21)
O sofrimento mental é entendido em uma perspectiva dinâmica, onde tanto pode propiciar
elementos que favoreçam a saúde quanto ao processo de adoecimento (Dejours & Abdoucheli,
1994). É necessário que este sofrimento seja relacionado com as situações concretas de trabalho,
considerando as interações entre condições físicas, químicas e biológicas e a organização do
trabalho.
As condições de trabalho estão relacionadas às cargas físicas, mecânicas e químicas do
posto de trabalho, que incidem sobre o corpo dos trabalhadores, ocasionando desgaste,
envelhecimento precoce, perda de tempo de vida útil, morte prematura e perfil patológico.
No que se refere às pressões derivadas da organização do trabalho, Dejours & Abdoucheli
(1994) apontam que elas estão relacionadas à própria forma que o trabalho está organizado. Por
um lado, a divisão de trabalho compreendendo a divisão de tarefas entre os operadores, ritmo,
repartição, ou seja, o modo operatório prescrito; e por outro lado, a divisão de homens:
hierarquia, controle, perda de autonomia, relações de poder, outros. Se as condições de trabalho
têm por alvo principal o corpo, a organização do trabalho, por sua vez, atua ao nível do
funcionamento psíquico do trabalhador.
Possibilitando entender como os trabalhadores submetidos a determinadas condições de
organização do trabalho não se tornam doentes mentais do trabalho, os estudos passaram a
considerar a “normalidade” o entendimento de como os trabalhadores resistem às pressões
advindas do trabalho. Levando em consideração que a normalidade dos comportamentos não
implica a ausência de sofrimento e o sofrimento não exclui o prazer. Então, as pesquisas são
orientadas para a inversão da problemática inicial: em vez de detectar as doenças mentais do
trabalho, é preciso compreender a situação de normalidade observada nos trabalhadores, apesar
das pressões do trabalho e para isso compreender as estratégias defensivas. Desta forma, a
Psicopatologia do Trabalho define como seu objeto de estudo, o sofrimento no trabalho.
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Sofrimento compatível com a normalidade e com a salvaguarda do equilíbrio
psíquico, mas que implica toda uma série de procedimentos de regulação. O
sofrimento será concebido como a vivência subjetiva intermediária entre doença
mental descompensada e o conforto (ou bem-estar) psíquico. (Dejours &
Abdoucheli, 1994, p.127).
Enquanto expressão dinâmica, o sofrimento consistirá na luta do sujeito contra as
adversidades da organização do trabalho, que pode acarretar a doença mental; mas o conflito que
surge entre a organização do trabalho e o funcionamento psíquico, pode originar sofrimento,
como também suscitar estratégias defensivas.
Conforme assinalam Dejours & Abdoucheli (1994), as estratégias defensivas são defesas
que os trabalhadores utilizam para minimizar a percepção das pressões da organização do
trabalho, que geram sofrimento. É uma atividade realizada a nível mental, já que não institui
nenhuma mudança real da pressão.
Pode-se dizer que as estratégias coletivas de defesa funcionam como regras que supõe um
acordo entre os indivíduos coletivamente, não se sustentando a não ser por consenso. A partir do
momento que os sujeitos descumprem o acordo ou este pára de existir, as estratégias passam a
não funcionar, pois sua existência está na dependência de condições externas. As estratégias
defensivas coletivas são fundamentais para se contrapor ao sofrimento engendrado pela
organização do trabalho, possibilitando ao sujeito uma estabilidade que ele, unicamente com suas
próprias defesas individuais não conseguiria atingir.
Diante destas questões, as defesas coletivas são entendidas como formas de adaptação às
pressões da organização do trabalho, porém podem também serem utilizadas para aumento da
produtividade, em benefício da própria organização do trabalho. Como é possível exemplificar,
através do processo de auto-aceleração do ritmo da produção, que os trabalhadores se impõem,
como uma estratégia contra o sofrimento desencadeado pelo trabalho. No trabalho repetitivo
também ocorre à auto-aceleração individual, com a repressão do funcionamento psíquico. Tendo
em vista ser este incompatível com o desenvolvimento de tarefas desprovidas de conteúdo e
repetitivas, a repressão permite ao trabalhador, suportar as pressões psíquicas exercidas pela
organização do trabalho.
A articulação das habilidades individuais leva à construção de princípios reguladores para
atuarem diante das dificuldades surgidas no decorrer do trabalho. As “regras de ofício” se
relacionam à forma de trabalho em conjunto, estabelecendo relações de confiança entre os
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trabalhadores. Os sujeitos, ao imaginarem e criarem as “regras de ofício,” mobilizam processos
psíquicos que apresentam ligação com um tipo de inteligência, que está muito relacionada à
intuição, à percepção e que rompe com as normas e regras, que é chamada de “inteligência
astuciosa”. Dejours & Abdoucheli (1994), pontuam que ela é utilizada sempre em relação a algo
que já foi regulamentado ou estabelecido no modo operatório prescrito, mas que precisa ser
modificado para atingir os objetivos do trabalho de forma eficaz. A inteligência astuciosa se
configura como resultado do próprio sofrimento, porém ela contribui não só para diminuir o
sofrimento, mas possibilita burlar a organização rígida do trabalho, apontando que ela é
ineficiente e que o trabalhador tem capacidade de criação, possibilitando a este a diminuição do
seu sofrimento e muitas vezes originando prazer.
Constata-se, então, que o distanciamento entre a organização prescrita e a organização
real do trabalho, que é amplamente discutida pela ergonomia, se conforma num espaço que
mobiliza a inteligência astuciosa e que ganha relevância na Psicopatologia do Trabalho.
Conforme Merlo “É no espaço entre esse prescrito e esse real que pode ocorrer ou não a
sublimação e a construção da identidade no trabalho”. (2003, p. 133) Para que este espaço seja
utilizado, é preciso que a hierarquia das empresas o reconheça, possibilitando que os
trabalhadores possam nele atuar, reconhecendo assim, a importância da inteligência astuciosa e
rompendo com a divisão taylorista do trabalho.
A pesquisa na psicodinâmica do trabalho informa que o espaço da palavra é fundamental
para se discutir o conhecimento sobre o trabalho real que estava ocultado pelo sofrimento e pelas
defesas elaboradas para suportar o mesmo. Merlo (2003) destaca como uma característica
importante relacionada à pesquisa em psicopatologia do trabalho o fato de visar a coletividade de
trabalho e não o aspecto individual.
A partir das considerações sobre as “estratégias ou ideologias defensivas” e as “regras de
ofício”, a Psicopatologia do Trabalho, redefine a noção de sofrimento. O sofrimento mental é
apresentado numa perspectiva dinâmica e pode tanto beneficiar a saúde como conduzir à
morbidade. Existem dois tipos de sofrimento de acordo com Dejours & Abdoucheli
o sofrimento criador e o patogênico. O último aparece quando as margens de
liberdade na transformação, gestão e aperfeiçoamento da organização do
trabalho já foram utilizadas. (1994 p.137)
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O sofrimento patogênico é causado pelas pressões da organização prescrita do trabalho e
desponta quando as possibilidades de liberdade de mudanças na organização do trabalho já foram
utilizadas, ou seja, quando somente o medo, pressões, existem nesta organização. Quando todos
os recursos defensivos forem utilizados, começa a aparecer à destruição do aparelho mental e o
equilíbrio psíquico do sujeito, levando-o a uma descompensação ou doença (Dejours &
Abdoucheli,1994).
Para a Psicopatologia do Trabalho, o desafio na prática consiste na modificação do
destino do sofrimento, para que possa ser transformado. A questão encontra-se em transformar
este sofrimento em criatividade, pois assim possibilita ao trabalhador a realização de sua
identidade. O sofrimento criativo aumenta no trabalho a resistência à desestabilização psíquica e
somatização. O trabalho pode ser considerado como um mediador da saúde. Contudo se a
organização do trabalho estiver impregnada de situações que proporcionam o sofrimento
patogênico, o trabalho vai atuar como um desestabilizador da saúde. De acordo com Dejours &
Abdoucheli a atuação na pesquisa em psicopatologia do trabalha contribui para o processo de
transformação do sofrimento da seguinte forma:
A pesquisa em psicopatologia do trabalho tem por si só efeitos sobre as relações
sociais de trabalho e abre-se para a ação. A análise das defesas coletivas e das
ideologias defensivas é feita pelos próprios trabalhadores, em um processo de
interação com os pesquisadores, que praticam a objeção mais que a interpretação
e propõem hipóteses a serem discutidas mais do que perícias muito
especializadas. (1994, p. 63)
Como conclusão pode-se dizer que a psicodinâmica do trabalho oferece aos estudos sobre
as relações entre saúde mental e trabalho a possibilidade de se construir nas organizações um
espaço privilegiado onde a pesquisa se inscreve, antes de mais nada, no sentido de uma filosofia
de emancipação. (Dejours& Abdoucheli, 1994). Porém infelizmente, percebe-se que a utilização
das contribuições da psicodinâmica do trabalho ainda se encontram bastante limitadas ao meio
acadêmico, não chegando como prática ou referencial até as empresa.
66
2.3.2 - Estresse
Stress (estresse) é uma palavra derivada do latim. De acordo com Lipp (1996), as
primeiras referências à palavra “stress”, datam do século XIV com o significado de aflição e
adversidade. No século XVII passou a ser utilizado para designar opressão, desconforto e
adversidade. Apesar de o conceito de estresse não ser novo, foi apenas no século XX que
estudiosos das ciências biológicas e sociais iniciaram a investigação de seus efeitos na saúde
física e mental das pessoas. Sendo o primeiro estudioso neste prisma o médico Hans Selye.
Conforme Arantes e Vieira (2002) Selye é considerado o pai do estresse, seus estudo
iniciaram em 1925 e mostravam interesse inicial pela compreensão das reações do organismo, ou
seja, Selye buscava entender o mecanismo do adoecer, definindo o termo estresse num sentido
biológico inerente a toda doença, que produz certas modificações na estrutura e na composição
química do corpo, que podem ser observadas e mensuradas. Porém o estresse não é diretamente
observável, caracterizando-se como o estado que se manifesta através da Síndrome Geral de
Adaptação (SGA). Figueiras e Hippert (2003) esclarecem que para Selye a SGA compreende
principalmente na dilatação do córtex da supra-renal, a atrofia dos órgãos linfáticos e úlceras
gastrointestinais. Sendo a SGA “... uma resposta não específica a uma lesão, que envolve o
sistema nervoso autônomo...” (Figueiras e Hippert ,2003, p.113).
Sendo assim, o estresse é uma alteração psicofisiológica do organismo, observável através
de sintomas físicos e psicológicos, para reagir a uma situação de tensão e opressão. Para Lipp
(1996) o estresse é um processo e não uma reação única, pois a partir do momento que uma
pessoa é submetida a uma fonte de estresse, um longo processo bioquímico se instala, e cujo
início se manifesta de maneira bastante semelhante, por sintomas como taquicardia, sudorese
excessiva, tensão muscular, boca seca e sensação de estar em alerta.
O estresse resulta da interação entre a pessoa e o mundo no qual ela vive. Quando uma
pessoa percebe que está em perigo, seu organismo entra em estado de alerta para lutar ou fugir,
assim ocorrem várias modificações fisiológicas, que são sinais de bom funcionamento orgânico.
Figueiras e Hippert (2003) nos ajudam a entender melhor a Síndrome da Adaptação Geral
(SGA) descrevendo os três estágios que a constituem, são eles a reação de alarme; o estágio de
resistência e; o estágio de esgotamento ou exaustão.
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O primeiro estágio do processo ocorre quando o indivíduo se depara com um agente
estressor. Nesta hora há quebra do equilíbrio interno, devido aos momentos de adversidade ou
tensão, há a liberação de adrenalina e corticóides e o organismo apresenta reação de luta ou fuga,
ou reação de emergência. Este processo é muito importante na manutenção da integridade, pois é
através dele, ou seja, desta fase de alerta, que o indivíduo irá estar preparado para lidar com
situações imediatas, na defesa de seu corpo.
No estágio de resistência, o organismo usa suas forças para manter sua resposta, tenta de
forma reparadora restabelecer a homeostase, buscando um equilíbrio para a situação. O problema
irá ocorrer se o organismo não tiver energia suficiente para se adaptar ao agente estressor. Nesta
fase a pessoa utiliza toda sua energia adaptativa para se reequilibrar. Quando consegue, os
sintomas iniciais desaparecem e a pessoa tem a impressão que está melhor. Um sintoma
psicológico freqüente é a sensação de desgaste sem causa, e dificuldades com a memória. O
processo de estresse se finaliza neste estágio, se o agente estressor for eliminado ou se o
indivíduo utilizar técnicas de controle para se reequilibrar.
O último estágio, de esgotamento ou exaustão, irá ocorrer se a energia do indivíduo for
menor que a resistência do agente estressor, ou se vários agentes estressores atuarem juntos. Há
um aumento das estruturas linfáticas e exaustão psicológica, na forma de depressão. Doenças
começam a aparecer e em alguns casos pode levar a morte. Na fase de exaustão ou quando esta
está próxima, as doenças ocorrem com mais freqüência, tanto na área psicológica: depressão,
ansiedade, impossibilidade de tomar decisões, vontade de fugir de tudo, etc.; quanto na área
física: hipertensão arterial, úlceras gástricas, retração de gengivas, psoríase, vitiligo e até diabete.
Lipp (1996) lembra que o estresse não é o agente patogênico, mas enfraquece o organismo de tal
maneira que essas doenças programadas geneticamente, se manifestam devido à exaustão.
Pode-se dizer que o indivíduo quando reage às mudanças, adaptando-se de forma positiva
com relação a seu funcionamento, encontra-se em estresse, só que este é o bom estresse ou o
“eustress”. Porém, se as mudanças forem de ordem muito intensa ou demasiadamente
prolongadas, poderão causar o mau estresse ou “distress”, pois ultrapassaram os limites que o
indivíduo suportaria, falhando a adaptação, levando o organismo desequilibrado a adoecer.
O estresse pode ser originário de fontes externas ou internas. As externas são
representadas pelo que nos acontece na vida: pessoas, trabalho, família, acidentes, etc. As causas
internas são aquelas que se referem a como pensamos, às crenças e valores que temos e como
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interpretamos o mundo ao nosso redor. Por este motivo, as pessoas diferem na sua sensibilidade
ao estresse dependendo da sua personalidade.
No presente estudo faz-se necessário aprofundarmos a relação entre estresse e trabalho,
salientando, conforme nos lembra Figueiras e Hippert (2003), que
A busca de um maior entendimento sobre as relações entre estresse e trabalho é
consonante não apenas com preocupações sociais, mas também com interesses
econômicos e mercadológicos mais amplos, pois um trabalhador saudável e bem
integrado ao seu trabalho terá mais chances de desempenhar eficientemente o
seu papel junto ao sistema produtivo. Queda no nível de absenteísmo, no
número de licenças médicas ou aposentadorias por doenças e acidentes
profissionais, e principalmente manutenção ou aumento da produtividade, são
alguns dos objetivos organizacionais que podem ser alcançados com a
diminuição de estresse dos trabalhadores. (2003, p. 123).
Ou seja, há um grande interesse por parte das empresas no tema estresse, porém, como já
vimos anteriormente à visão empresarial é míope no que se refere a sua preocupação, só
demonstrando interesse no que tange à interferência do estresse na produtividade e no lucro.
Saliento que o problema relacionado ao estresse organizacional, ou no trabalho deve ser encarado
de forma mais abrangente, como um problema de saúde pública, econômica e social, que traz
conseqüências para o indivíduo, empresas e governos.
Conforme Arantes e Vieira (2002) embora o conceito de estresse não tenha nascido
vinculado ao trabalho, a própria expressão deriva de um conceito da metalurgia, significando uma
deformação gerada por uma força, uma pressão, sendo esta por analogia ampliada para nomear
qualquer manifestação de desgaste tanto somática quanto mental. Passou de uma concepção física
a uma concepção médica e psicológica, abrindo campo para escuta dos sofrimentos somáticos e
psíquicos decorrentes também, do trabalho.
Conforme França e Rodrigues (1997) apud Figueiras e Hippert (2003) o conceito de
estresse é uma importante ferramenta para compreensão da influência dos processos sociais e
psicológicos na manutenção da saúde ou na determinação de doenças. Estes autores definem o
estresse relacionado ao trabalho como
Aquelas situações em que a pessoa percebe seu ambiente de trabalho como
ameaçador às suas necessidades de realização pessoal e profissional e/ou sua
saúde física ou mental, prejudicando a interação desta com o trabalho e com o
ambiente de trabalho, na medida em que este ambiente contém demandas
excessivas a ela, ou que ela não contém recursos adequados para enfrentar tais
69
situações. (França & Rodrigues, 1997, p. 24, 25, apud Figueiras & Hippert,
1999, p. 122)
As fontes de estresse no trabalho fazem referência tanto à organização do trabalho quanto
às condições de trabalho. De acordo com Mendes e Cruz (2004) pode-se relacionar os eventos
estressores ligados ao trabalho, de maneira simplificada, como:
- Sobrecarga: urgência de tempo, responsabilidade excessiva, ruído, redução da qualidade
do sono;
- Falta de estímulo, apoio ou suporte socioafetivo: tédio, solidão, subinvestimento da
capacidade de trabalho, falta de perspectivas na carreira, interface trabalho e família.
- Constrangimentos organizacionais: mudanças constantes determinadas pela
organização, adição de novas tecnologias, devido ao mercado ou auto-impostas, relação
entre a estrutura e o clima organizacional, conflitos profissionais e problemas de natureza
ergonômica.
Além destas fontes de estresse, é importante salientar que em nosso país há fatores que
contribuem para a demanda de causas de estresse no trabalho, sendo as principais o
desemprego; a redução da mão de obra sem redução da quantidade de trabalho; os baixos
salários; as incertezas no painel econômico; a concorrência ou relações de competição; a
deteriorização das relações humanas corporativas.
Entre os principais sintomas do estresse ocupacional, conforme o site
10
saúde e
movimento, estão a insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, distúrbios de memória,
emagrecimento (ou ganho de peso excessivo), suor, perda de apetite, sensação de que está
sendo observado ou perseguido no local de trabalho e, por vezes o desenvolvimento de quadro
mais grave do estresse, o chamado “síndrome do pânico”.
Cabe ainda chamar atenção, conforme nos lembra Figueiras e Hippert (2003), que há
ainda as pessoas com alto nível de ansiedade e que tendem a lidar com o estresse utilizando o
trabalho como um meio de descarga de sua tensão, são os “viciados no trabalho” ou workaholics.
Estes possuem tendência a fora do ambiente de trabalho apresentar dificuldade de desfrutar o
tempo livre, tendo problemas no convívio com a família, no lazer ou no convívio social. O que é
muito grave e deve ser denunciado é que este tipo de personalidade é extremamente valorizada,
10
Fonte: Revista Eletrônica Saúde e Movimento. WWW.saudeemovimento.com.br em 16/11/06.
70
estimulada e incentivada pelas empresas e sociedade em geral. Os workaholics costumam
apresentar um ótimo rendimento profissional, por estarem buscando melhorar e superar-se
sempre, porém este tipo de comportamento está muito propenso ao estresse. Estes indivíduos
estão expostos a um risco maior de doenças coronarianas, devido a importantes mudanças
fisiológicas nos sistemas cardíaco e vascular, em função do aumento da produção de substâncias
como adrenalina e noradrenalina, da alteração da concentração de gordura no sangue e do tempo
de coagulação sangüínea.
Diante do exposto fica evidente que na relação entre estresse e trabalho, apesar de toda
ampla divulgação dos riscos, ainda há muito o que ser feito. Atualmente o estresse é encarado
como algo inerente ao trabalho, ou seja, o trabalhador ser exposto a situações que o colocam em
risco elevado de estresse é considerada normal. Os programas de qualidade de vida apresentados
pelas empresas de maneira geral, que se propõem a reduzir o estresse, apresentam soluções
simplistas e muitas vezes incoerentes no que se refere ao discurso versus práticas e teoria. É
urgente que se pense no redimensionamento das formas de organização do trabalho como
maneira de minimizar os riscos do estresse ao invés de propor programas como ginástica laboral,
que em muitos casos tornam-se mais uma fonte de estresse.
A manifestação mais radical do estresse em sua fase mais aguda e de esgotamento é
conhecida como síndrome de burnout. Conforme Mendes e Cruz (2004) o termo burnout
proveniente da cultura anglo-saxônica pode ser traduzido para o português como apagar-se ou
queimar-se. Assim, burnout é definido como uma das conseqüências mais graves do estresse
profissional, e se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão
e insensibilidade com relação à quase tudo e todos.
Desde 1996 a síndrome de burnout é reconhecida no Brasil, pela Regulamentação da
Previdência Social, como um “agente patogênico causador de doença profissional”, o que se pode
considerar um avanço muito importante, porém, a síndrome ainda é desconhecida por muitos
profissionais, mesmo aqueles que devido à sua ocupação, deveriam conhece-la o suficiente para
poder orientar, diagnosticar ou encaminhar para uma intervenção.
Definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto,
excessivo e estressante com o trabalho, essa doença faz com que a pessoa perca a maior parte do
interesse em sua relação com o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter sentido e
importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer inútil. Com o passar do tempo, o
profissional, se desgasta, estressa-se e desiste. As manifestações dessa desistência, de acordo com
71
Mendes e Cruz (2004) são a queda da auto-estima, ansiedade e melancolia, o esgotamento físico
e emocional, surgimento de comportamentos inadequados frente a sua clientela (irritação,
descaso, cinismo e distanciamento), comprometimento de suas relações afetivas e sociais,
diminuição da produtividade e da auto-realização no trabalho e problemas psicossomáticos.
Atualmente os estudos relacionados à síndrome de burnout vem contribuindo muito para
o campo da saúde e trabalho, como referem Mendes e Cruz (2004)
O estudo da incidência ou da prevalência dos sintomas de burnout nas profissões
pode nos ajudar a compreender a natureza da etiologia ou nexo do adoecimento.
Os profissionais de ocupações assistenciais tendem a ser os mais afetados, dado
que experimentam uma grande discrepância entre expectativas de atendimento
(do profissional e do usuário) e a realidade do trabalho (Alvarez e Fernandes,
1991). Outro fator que contribui para a alta incidência da síndrome é o longo
tempo dedicado aos clientes, que, freqüentemente, se encontram em situações
dramáticas, gerando, com isso, uma relação interpessoal provinda de frustração,
medo, tensão emocional. (2004, p. 47)
72
3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Muitas críticas tem sido feitas à pesquisas que se desenvolvem a partir de recortes
empíricos, pois, conforme Kuenzer (1998), muitos destes trabalhos não se articulam
adequadamente com as categorias de conteúdo e de método, e acabam não passando de
descrições, que não permitem a compreensão das articulações entre parte e totalidade,
permanecendo na simples contemplação. A autora refere:
A questão que se coloca, portanto, é a necessária e adequada articulação entre as
categorias de análise macro e microeconômicas, entre teoria e prática, através de
um caminho metodológico que permita que o concreto se torne compreensível
pela mediação do abstrato, e o todo através da mediação da parte, sem o que
nossa produção sempre será parcial e pouco útil para dar suporte às intervenções
no sentido da transformação da realidade. (KUENZER, 1998, p. 61)
No presente estudo as categorias metodológica e as categorias de conteúdo, já descritas
anteriormente, serão fundamentais para a articulação do papel contextualizador e orientador por
elas representados com os resultados a serem obtidos, ou seja o material o empírico. As
categorias buscam permitir a compreensão do todo, no que se refere ao presente estudo. Assim,
procurei entre tantos possíveis caminhos, a flexibilidade na composição e na articulação de
diferentes perspectivas, conceitos e idéias de investigação articulando conhecimentos de
diferentes campos (saúde e trabalho, psicologia social, sociologia do trabalho, sociologia da
educação e administração de Recursos Humanos) para contribuir com a realização deste estudo.
Conforme já apresentado, as categorias de conteúdo (O trabalho ontem e hoje; Gestão estratégica
nas organizações e sua interação com às novas políticas de RH e Saúde e trabalho) aparecem
articuladas com as categorias metodológicas (historicidade, contradição e humanização).
Esta dissertação, por sua natureza, caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa e tem
como principal preocupação à compreensão e interpretação das relações entre as modernas
práticas de gestão de RH e a saúde do trabalhador a partir da análise de documentos que retratam
a realidade de ambas vivências.
Para estudar a temática das relações entre as modernas práticas de RH e a saúde do
trabalhador, escolho empreender uma análise documental. Para Pimentel (2001) a análise de
73
documento, dependendo do objetivo da pesquisa pode ser o principal meio de concretização do
estudo, sendo que o presente estudo se dará nestes moldes.
Novamente, conforme Pimentel (2001) os estudos que tem por base os documentos como
material primordial, “...extraem deles toda a análise, organizando-os e interpretando-os segundo
os objetivos da investigação proposta.” (p.180)
O material que me proporcionou realizar estudos analíticos empíricos que utilizei e que a
seguir explicitarei, foi escolhido com base na minha experiência como especialista em psicologia
do trabalho. Optei por tais fontes por tratar-se do que há de mais utilizado, lido, considerado
como moderno e valorizado em RH, desta forma irá retratar de maneira abrangente e atual as
modernas práticas de gestão de RH. No que se refere a saúde e trabalho, optei buscar o material a
ser utilizado, principalmente no meio acadêmico, ou seja em livros, teses e dissertações sobre o
tema. Ou seja, buscar o que vem sendo encontrado como resultados de pesquisas em saúde e
trabalho.
Para a ordenação dos dados, após repetidas leituras, iniciei em um primeiro momento a
fase que chamei de exploração textual, que delineou os temas presentes nos textos, com objetivo
de ordenação dos dados. A seguir veio a etapa de codificação das informações e posteriormente
foram criadas categorias à luz das referências teóricas e questões de pesquisa. Para enfim poder
chegar a construir os Discursos dos Sujeitos Coletivos – DSC
11
(Lefévre e Lefévre, 2003) no caso
das dissertações, e análise de conteúdo (BADIN, 1979) no caso das publicações de melhores para
trabalhar e congresso da ISMA-BR. E por último tornar possível as interpretações alinhadas aos
objetivos da pesquisa e ao referencial teórico explorado.
3.1 – OS CAMINHOS DA INVESTIGAÇÃO
Aqui irei explicitar os caminhos da investigação descrevendo o planejamento e o desenho
da pesquisa em termos de estratégias escolhidas para coleta e análise de dados, do material
submetido ao meu enfoque. Apresentarei em dois subitens os procedimentos referentes a cada um
especificamente.
11
Técnica utilizada para análise dos dados.
74
3.1.1 – A intenção manifesta e as modernas práticas de gestão de RH
O levantamento destes dados, inicialmente, teve como objetivo realizar uma aproximação
com o campo empírico com vistas a um conhecimento da intenção manifesta pelas organizações
no que se refere a seus trabalhadores, ou seja, o que as empresas divulgam publicamente sobre
sua relação com os seus trabalhadores. Os dados coletados nesta dimensão também abriram
espaço para possíveis aspectos a serem explorados nas dimensões subseqüentes.
Quanto ao período de realização desta fase, saliento que desde o início da trajetória venho
pesquisando a intenção manifesta pelas organizações, porém de maneira mais aleatória, ou seja,
procurando observar nos diversos meios de comunicação o que as organizações, de maneira
geral, manifestam como intenção no que se refere aos seus trabalhadores. Já a busca mais
específica, ou científica, com estratégia, objetivo e critérios definidos foi realizada no decorrer de
2007, conforme descrevo a seguir.
Neste ponto da pesquisa o foco foi para identificação e compreensão da intenção
manifesta pelas organizações em relação à seus trabalhadores e as práticas de gestão de RH, ou
seja, o que as organizações estão adotando como práticas para gerenciar seus trabalhadores e
quais os objetivos manifestam em relação a estas práticas. Neste ponto escolho trabalhar com
duas fontes que irão se complementar na composição desta dimensão. São elas: As publicações
da revista época e exame relativas as melhores empresas para trabalhar e o congresso de stress da
ISMA-BR e fórum internacional de qualidade de vida no trabalho.
Desta forma além de encontrar as práticas, estarão contempladas também o que se publica
e se valoriza como práticas, além do tipo de discussão que profissionais de RH possuem em
relação a saúde, qualidade de vida e estresse dos trabalhadores.
3.1.1.1 Melhores empresas para trabalhar
12
Atualmente no Brasil existem duas revistas com publicações das melhores empresas para
trabalhar. A mais antiga é o Guia Você S/A-Exame- As 150 melhores empresas para você
trabalhar há onze anos no mercado, inicialmente coordenado pelo Great Place to Work
12
As informações referentes as melhores empresas para trabalhar foram retiradas das revistas: Você S/A-Exame- As
150 melhores empresas para você trabalhar 2007 e Época – As 100 melhores empresas para trabalhar 2007-2008.
Também foi utilizado como fonte para informações os seguintes sites: www.exame.com.br/melhoresempresas
e
www.greatplacetowork.com.br.
75
Institute
13
e há dois anos coordenado por jornalistas da Você S/A e a equipe da Fundação
Instituto de Administração (FIA), de São Paulo, parceira na metodologia da pesquisa. A outra
publicação é feita pela revista Época – As 100 melhores empresas para trabalhar, este ano foi
publicada a segunda edição da lista. A pesquisa anual é realizada pelo Great Place to Work em
parceria com a Época.
A estratégia que utilizei foi de realizar pesquisa documental nas próprias publicações.
Como o número de empresas selecionadas como melhores para trabalhar é muito grande (100 na
época e 150 na exame) impossibilitando a análise de todas empresas selecionadas, defini como
critério de seleção trabalhar apenas com as dez primeiras classificadas de cada uma das
publicações, ou seja, no total serão analisadas as praticas de gestão de RH de vinte organizações.
Cabe chamar atenção para o fato de que ao trabalhar com as dez primeiras classificadas das duas
publicações, serão obtidos os dados do que há como considerado de melhor em termos de
práticas de gestão dos trabalhadores, sendo que pode haver um distanciamento significativo da
realidade de outras organizações, ou seja a realidade praticada pode ser pior.
Com relação à análise e interpretação dos dados desta dimensão específica, optei por
utilizar a técnica de Análise de Conteúdo segundo uma adaptação da proposta de BARDIN
(1979) aos propósitos desta pesquisa. Para Bardin (1979), a análise de conteúdo não é
propriamente um instrumento, mas um conjunto de técnicas de análise das comunicações que
depende do tipo de fala a que se dedica e do referencial teórico subjacente e deve ser adaptada ao
objetivo pretendido. A categorização, codificação e classificação são procedimentos
indispensáveis e o objetivo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu
conteúdo manifesto ou latente e as significações explícitas ou ocultas.
Num primeiro momento, realizei a leitura flutuante das publicações, objetivando criar
categorias para análise. Após diversas leituras, defini que a melhor maneira para demonstrar as
práticas de RH seria construir uma tabela que demonstrasse as seguintes categorias por
organização: práticas de gestão positivas e pontos negativos e após realizar a análise.
13
O Great Place to Work Institute é uma organização mundial em pesquisa das melhores empresas para trabalhar.
Presta também serviços de consultoria relacionados ao ambiente de trabalho, à gestão de pessoas e aos aspectos
culturais das organizações. Fundado em 1991, o instituto está presente em 30 paises. Sua metodologia de avaliação
do ambiente de trabalho foi esboçada no livro The 100 Best Companies To Work For in América, de 1984.
76
3.1.1.2 - VII Congresso de Stress da ISMA-BR (International Stress Management Association)
IX Fórum Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho
Ainda com o objetivo de identificar e analisar as modernas práticas de gestão de RH achei
fundamental direcionar meu foco para um congresso, lugar onde profissionais se propõem
discutir, debater, analisar determinado assunto, neste congresso e fórum, o foco estava voltado
para Trabalho, Stress e Saúde, ou seja, o tema estava bem alinhado com os meus objetivos de
pesquisa. Desta forma decidi utilizar este congresso como fonte para o meu trabalho.
Entendi que a melhor estratégia a ser utilizada seria a de participar do congresso, pois
desta forma o aproveitamento dos dados seria mais rico. Além de todas notas que realizei durante
minha participação no referido evento, utilizei também a pesquisa documental como recurso para
levantar dados relativos a atividades, que por serem paralelas, não pude participar.
Como critério de seleção, das atividades realizadas durante o congresso, defini analisar
todas as atividades consideradas principais, que serão chamadas de palestras, chamar atenção
para todas apresentações de trabalhos orais e selecionar aleatoriamente 10 pôsters entre os mais
de 100 apresentados. Assim, serão analisadas todas atividades desenvolvidas no congresso com
ênfase nas palestras que tiveram papel de destaque.
Para análise dos dados, da mesma forma que para analisar os dados das publicações
referentes as melhores empresas para trabalhar, descrita no subitem anterior, utilizei a técnica de
Análise de Conteúdo segundo uma adaptação da proposta de BARDIN (1979) aos propósitos
desta pesquisa.
3.1.2 – A realidade praticada – as dissertações
Esta dimensão empírica, - A realidade praticada – tendo como base teses e dissertação
sobre o tema saúde e trabalho, foi a dimensão mais importante da pesquisa pois forneceu
subsídios estruturais, mas também foi a dimensão mais trabalhosa em função do longo percurso
percorrido para definição dos critérios que levariam as pesquisas que serviriam aos objetivos
desta dissertação, além da exaustiva tarefa de leitura que possibilitasse identificar nas produções
a realidade praticada.
77
O primeiro passo foi definir onde iria buscar as teses e dissertações, pois poderia proceder
a busca em várias universidades, em uma única ou no portal de biblioteca digital da CAPES.
Adotei como estratégia limitar a pesquisa a teses e dissertações de uma única universidade, no
caso, a UFRGS. Está decisão se justifica por dois motivos, o primeiro é de ordem operacional, ou
seja, constatei que se incluísse na pesquisa outras universidades, poderia me deparar com uma
demanda que dificultaria muito a viabilização da pesquisa e também poderia me deparar, por
exemplo com produções não disponíveis em meio digital e encontrar dificuldade para ter acesso
ao material. Com relação ao portal de teses e dissertações da CAPES, constatei que há muitas
produções que ainda não estão disponíveis no portal. O segundo motivo está relacionado ao fato
de que a produção teórica da UFRGS é suficientemente representativa de forma que atende aos
objetivos propostos nesta dissertação.
Para selecionar em quais programas de pós-graduação da UFRGS eu iria buscar as teses e
dissertações, procurei
14
dentre os programas oferecidos na universidade, aqueles que possuíam
entre suas linhas de pesquisa, tema relacionado a trabalho
, saúde e trabalho ou recursos humanos.
Encontrei 6 (seis) programas, conforme tabela abaixo, sendo que a partir destes irei refinar minha
busca no sentido de encontrar as produções que irão servir de fontes documentais para o presente
estudo.
PROGRAMA LINHA DE PESQUISA ORIENTADORES
Psicologia social Trabalho, saúde e subjetividade - Álvaro Crespo Merlo
- Cleci Maraschin
- Henrique Caetano Nardi
- Jaqueline Tittoni
-Lea da Cruz Fagundes
- Maria da Graça Jacques
15
- Sérgio Antônio Carlos
Administração Recursos Humanos -Carmem Lígia Iochins Grisci
- Elaine Di Diego Antunes
- Marina Keiko Nakayama
- Neusa Rolita Cavedon
- Roberto Lima Ruas
- Rosinha Silva M. Carrion
14
Para realizar a referida busca usei basicamente a internet. Na página da UFRGS (www.ufrgs.br) localizei todos os
programas de pós-graduação oferecidos na universidade, depois entrei na página de cada programa e pesquisei as
linhas de pesquisa oferecidas, chegando assim ao resultado apresentado.
15
Esta orientadora no momento em que foi efetuada a pesquisa não constava entre os atuais orientadores, mas até
pouco tempo ela foi orientadora neste programa e linha de pesquisa e como os trabalhos por ela orientado podem
apresentar material importante para este estudo, achei por bem incluí-la, abrindo uma exceção no critério
estabelecido.
78
- Valmíria Carolina Piccinini
Educação Trabalho, movimentos sociais e
educação
- Augusto Nibaldo Silva Triviños
- Carmen Lúcia Bezerra Machado
- Jorge Alberto Rosa Ribeiro
- Johannes Doll
- Marlene Ribeiro
Engenharia da
produção
Ergonomia e saúde do trabalhador - Fernando Gonçalves
- Carla Schwengber Ten Caten
Epidemiologia Novas tecnologias e novas
organizações do trabalho e suas
repercussões sobre a saúde
- Álvaro Roberto Crespo Merlo
- Paulo Antônio Barros Oliveira
- Paul Douglas Fischer
Sociologia Trabalho nas sociedades
contemporâneas
- Antônio David Cattani
- Cínara Lerrer Rosenfield
- Lorena Holzmann
- Sônia Karan Guimarães
Em um segundo momento, identifiquei quais professores/orientadores atuam nas linhas de
pesquisa dos cursos identificados, na data pesquisada, ou seja, em 15/05/07. Cabe salientar que
dentro do período que me proponho pesquisar pode haver orientadores que atualmente não fazem
mais parte do programa ou pesquisadores aposentados que permanecem atuando como
colaboradores, mas acredito que a amostra não deixará de ser representativa em função deste
detalhe ao qual chamo atenção.
Após identificados os orientadores busquei no site da biblioteca da UFRGS
16
no catálogo
SABI as teses e dissertações orientadas por professores atuantes nas linhas de pesquisa já citadas,
publicadas no período de 15/05/07 à 31/12/01
17
. Foi necessário ter o cuidado de selecionar os
trabalhos relacionados ao programa em questão, pois há professores que atuam em mais de um
programa na universidade.
Também é importante ressaltar que na pesquisa levei em consideração apenas as teses e
dissertações de doutorado ou mestrado acadêmico, eliminando os trabalhos de conclusão da
graduação, de mestrado profissional, especializações e outros.
Quando identificadas as teses e dissertações, registrei o autor, o título, o assunto geral e os
demais assuntos relacionados. Assim, foi possível construir uma tabela que demonstra o número
16
www.bliblioteca.ufrgs.br
17
Opto pelo referido período pois o início 15/05/07 corresponde a data que concluí esta etapa da pesquisa e o fim
31/12/01, é justificado pelo fato de que as teses e dissertações passaram a ser digitalizadas a partir de 2001, desta
forma, grande parte das produções em questão estarão disponíveis via internet, facilitando bastante o acesso ao
material, além disto durante a pesquisa pude constatar que são poucos os atuais orientadores que possuem orientação
de teses ou dissertações anterior a 2001.
79
teses/dissertações produzidas dentro das referidas linhas de pesquisa, no período anteriormente
delimitado.
Cursos 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 Total
Administração 5 10 9 8 12 18 20 82
Educação 1 8 8 8 6 7 5 43
Engenharia da
produção
- 6 6 1 3 5 2 23
Epidemiologia - 4 2 4 - - 1 11
Psicologia 1 12 12 8 4 3 - 40
Sociologia - 2 3 1 2 2 - 10
Total 209
Com o objetivo de delimitar quais teses/dissertações poderiam colaborar com o meu
estudo, acreditei que o primeiro passo nesta trajetória seria selecionar as produções por assunto.
Desta forma entre o material já identificado, ou seja, as 209 teses/dissertações, busquei as que
possuia assunto relacionado a: saúde ocupacional
, trabalho e/ou trabalhador, estresse, saúde
mental, subjetividade, saúde e trabalho, lesões por esforço repetitivo, prazer e/ou sofrimento,
qualidade de vida
, condições de trabalho, ambiente de trabalho ou relações de trabalho. Para
aumentar a eficácia desta seleção em relação aos objetivos da minha pesquisa, estipulei que
deveria haver a combinação de no mínimo dois dos assuntos relacionados anteriormente, por
exemplo, se aparecer apenas trabalho
, não será incluído, mas aparecendo trabalho e também
subjetividade
ou estresse e qualidade de vida o material fará parte dos selecionados.
Ao proceder a delimitação acima descrita, ficaram 34 teses/dissertações, ou seja 16,27%
do total encontrado no primeiro momento.
Seleção por assuntos:
Ano Autor Título Programa/Orientador
2002 Henrique Caetano
Nardi
Trabalho e ética: os processos de
subjetivação de duas gerações de
trabalhadores metalúrgicos e do setor
informal (1970 – 1999)
Sociologia – Antonio
David Cattani
2005 Jorgia Marisa Seibel Lesão por esforço repetitivo (LER) e a
organização do trabalho nas indústrias
calçadistas
Sociologia – Cínara
Lerrer Rosenfield
2004 Eliane Conceição
Santos Locks
Tecnologias de monitoramento e
vigilância eletrônica no mundo do
Sociologia - Cínara
Lerrer Rosenfield
80
trabalho
2002 Rozoíta Elize Weber
Kops
O modelo de gestão da qualidade total e
as relações de trabalho: estudo de caso
em duas empresas de transporte coletivo
urbano do Rio Grande do Sul
Sociologia – Lorena
Holzmann
2006 Mosiris Roberto
Giovanini Pereira
Epidemiologia das doenças profissionais
e do trabalho registradas pela
Previdência Social no Estado do Rio
Grande do Sul em 2001
Epidemiologia – Paulo
Antônio Barros
Oliveira
2002 Sandra Salete Poletto Avaliação e implantação de programas
de ginástica laboral, implicações
metodológicas
Engenharia da
produção – Fernando
Gonçalves
2006 Tatiana Bittencourt
Gouveia
A demanda empreendedora e o trabalho
immaterial na construção da
subjetividade do “empreendedor”
Administração –
Carmem Lígia Iochins
Grsci
2005 Gerson Langie Barum Novas tecnologias e subjetividade:
profissionais da informática no trabalho
bancário
Administração -
Carmem Lígia Iochins
Grsci
2003 Rafael Alexandre
Mafra
Reestruturação produtiva e modos de
gestão de pessoas em uma empresa do
setor eletro-eletrônico
Administração -
Carmem Lígia Iochins
Grsci
2003 Alfredo Ângelo
Moretti
Vivências de prazer e sofrimento
psíquico em tempos de reestruturação
produtiva
Administração -
Carmem Lígia Iochins
Grsci
2001 Lisiane Vasconcellos
da Silva
Qualidade de vida do trabalhador na
Springer Carrier: uma análise dos
principais programas e políticas da
empresa num contexto de flexibilização
do trabalho
Administração -
Valmíria Carolina
Piccinini
2001 Ana Lúcia Bender
Pereira
Mudança organizacional e seus reflexos
na qualidade de vida dos empregados
em duas empresas do ramo alimentício
Administração –
Marina Keiko
Nakayama
2006 Álvaro Gustavo
Wagner Junqueira
Satisfação com o trabalho dos
profissionais de secretarias municipais
de saúde da região do Vale do Taquari
Administração –
Valmíria Carolina
Piccinini
2004 Sidnei Rocha de
Oliveira
Os sentidos do trabalho para os dentistas
filiados à UNIODONTO
Administração –
Valmíria Carolina
Piccinini
2006 Letícia Laurino
Almeida
Manda quem pode, obedece quem tem
juízo: prazer e sofrimento psíquico em
cargos de gerência
Psicologia Social -
Álvaro Roberto Crespo
Merlo
2006 Aline Gonçalves
Machado
Cuidadores: seus amores e suas dores: o
prazer e o sofrimento psíquico dos
auxiliares e técnicos de enfermagem de
um hospital cardiológico
Psicologia Social -
Álvaro Roberto Crespo
Merlo
2005 Kátia Salete
Barfknecht
Economia solidária, saúde mental e
trabalho em uma cooperativa de
Psicologia Social -
Álvaro Roberto Crespo
81
confecção de Porto Alegre Merlo
2005 Patrícia Costa da Silva Prazer e sofrimento de psicólogos em
empresas privadas
Psicologia Social -
Álvaro Roberto Crespo
Merlo
2004 Charlotte Beatriz
Spode
Ofício de official: trabalho,
subjetividade e saúde mental na polícia
militar
Psicologia Social -
Álvaro Roberto Crespo
Merlo
2003 Ângela Peña Ghisleni Corpos ressentidos: trabalho
contemporâneo, subjetividade e
patologias por hipersolicitação
Psicologia Social -
Álvaro Roberto Crespo
Merlo
2002 Caroline Lorena
Schulte de Freitas
O trabalho com o fumo: subjetivação e
precarização na atividade das
trabalhadoras safristas
Psicologia Social -
Álvaro Roberto Crespo
Merlo
2006 Rafaela de Quadros
Rigonni
Assumindo o controle: organizações,
práticas e a experiência de si em
trabalhadores da redução de danos na
região metropolitana de Porto Alegre
Psicologia social –
Henrique Caetano
Nardi
2006 Silvia Maria Silveira Processos de subjetivação e formação
em psicologia: uma problematização das
trajetórias
Psicologia social –
Henrique Caetano
Nardi
2005 Tatiana Ramminger Trabalhadores de saúde mental: reforma
psiquiátrica, saúde do trabalhador e
modos de subjetivação nos serviços de
saúde mental
Psicologia social –
Henrique Caetano
Nardi
2006 Laize Soares Guazina Sons, silenciamentos, poder e
subjetivação no hospital: a
musicoterapia na saúde do trabalhador
Psicologia social –
Jaqueline Tittoni
2005 Vanessa Soares
Maurente
A experiência de si no trabalho nas ruas
da fotocomposição
Psicologia social –
Jaqueline Tittoni
2005 Márcia Ziebell Ramos Trabalho, subjetividade e reabilitação
profissional: por uma genealogia dos
modos de vida
Psicologia social –
Jaqueline Tittoni
2004 Adriana Spilki Qualidade total e processos de
subjetivação: um estudo junto aos
servidores públicos federais
Psicologia social –
Jaqueline Tittoni
2004 Tatiana Lima Both Jubilamento: o interdito de uma vida
trabalhando e suas repercussões na
velhice
Psicologia social –
Sérgio Antônio Jacoby
2005 Silvana de Oliveira Políticas de gestão e saúde em
teleatendimento: das telefonistas aos
teleoperadores
Psicologia social –
Maria da Graça Correa
Jacques
2005 Miriam Junqueira
Scopel
Retorno ao trabalho: trajetória de
trabalhadores metalúrgicos portadores
de LER/DORT
Psicologia social –
Maria da Graça Correa
Jacques
2004 Daniela Rondon de
Moraes
Saúde e trabalho em turno noturno:
possibilidades e limites na avaliação de
auxiliares de enfermagem
Psicologia social –
Maria da Graça Correa
Jacques
82
2003 Mayte Raya
Amazarray
Trabalho e adoecimento no serviço
público: LER/DORT e articulações com
o modo de gestão tecnoburocrático
Psicologia social –
Maria da Graça Correa
Jacques
2002 Márcia Werner O processo de reestruturação produtiva:
experiências e vivências dos
trabalhadores: um estudo de caso
Psicologia social –
Maria da Graça Correa
Jacques
Porém ainda se fez necessário verificar se todas estas 34 produções atendem ao objetivo
do meu estudo, ou seja, se estas teses e dissertações apresentam resultados que indiquem a
relação saúde e trabalho. Mais especificamente estabeleci como critério para este refinamento,
buscar pesquisas, que tenham sido realizadas de maneira empírica, em organizações empresariais
e/ou com categorias de trabalhadores e/ou órgãos de classe e que estabeleçam a relação saúde e
trabalho.
Para tal, busquei no resumo
18
de cada uma das 34 produções, até então selecionadas,
determinar quais estavam aptas a atender aos objetivos anteriormente especificados. Cabe
salientar que quando não havia possibilidade de localizar as informações estabelecidas apenas no
resumo, as informações foram buscadas no corpo do trabalho.
Além dos dados anteriormente especificados também já identifiquei em qual organização
empresarial e/ou categoria de trabalhador e/ou órgão de classe foi realizado o estudo, bem como a
forma de coleta de dados. A seguir segue tabela com as informações encontradas.
Ano Autor Título
Programa/
Orientador
Setor de atividade,
categoria ou órgão
de classe
Coleta de
dados
2006 Letícia
Laurino
Almeida
Manda quem pode,
obedece quem tem
juízo: prazer e
sofrimento psíquico
em cargos de gerência
Psicologia Social
- Álvaro Roberto
Crespo Merlo
Gerentes de
organizações
privadas de grande
porte.
Entrevista
semi-
estruturada e
caderno de
campo
2006 Aline
Gonçalves
Machado
Cuidadores: seus
amores e suas dores: o
prazer e o sofrimento
psíquico dos auxiliares
e técnicos de
enfermagem de um
hospital cardiológico
Psicologia Social
- Álvaro Roberto
Crespo Merlo
Auxiliares e técnicos
de enfermagem que
trabalham em
unidades críticas do
Instituto de
Cardiologia do RS –
Fundação
Entrevista
Semi-
estruturada e
pesquisa
documental
18
O resumo consta, na maioria das teses e dissertações, no início da produção e também no site da biblioteca da
UFRGS (www.ufrgs.br/blibioteca
) onde efetuei a pesquisa.
83
Universitária de
Cardiologia
2005 Kátia Salete
Barfknecht
Economia solidária,
saúde mental e
trabalho em uma
cooperativa de
confecção de Porto
Alegre
Psicologia Social
- Álvaro Roberto
Crespo Merlo
Cooperativa de
costureiras e
serígrafos da
UNIVENS
Entrevistas
semi-
estruturadas
e grupos de
discussão
2005 Patrícia Costa
da Silva
Prazer e sofrimento de
psicólogos em
empresas privadas
Psicologia Social
- Álvaro Roberto
Crespo Merlo
Psicólogos que
trabalham em
empresas privadas
Entrevistas
semi-
estruturadas
e anotações
de campo
2004 Charlotte
Beatriz Spode
Ofício de official:
trabalho, subjetividade
e saúde mental na
polícia militar
Psicologia Social
- Álvaro Roberto
Crespo Merlo
Capitães da brigada
militar (Oficiais
intermediários)
Entrevistas
semi-
estruturadas,
pesquisa
documental e
acompanham
ento das
atividades
2003 Ângela Peña
Ghisleni
Corpos ressentidos:
trabalho
contemporâneo,
subjetividade e
patologias por
hipersolicitação
Psicologia Social
- Álvaro Roberto
Crespo Merlo
Trabalhadores
portadores de
LER/DORT
previamente
diagnosticados pela
equipe médica do
Ambulatório de
doenças do Trabalho
do Hospital de
Clínicas de Porto
Alegre (ADT-
HCPA)
Entrevistas
semi-
estruturadas
e exame
físico
2002 Caroline
Lorena
Schulte de
Freitas
O trabalho com o
fumo: subjetivação e
precarização na
atividade das
trabalhadoras safristas
Psicologia Social
- Álvaro Roberto
Crespo Merlo
Safristas do
beneficiamento de
fumo em Santa Cruz
do Sul, do sexo
feminino,
sindicalizadas, de
diferentes funções e
empresas
(multinacionais)
Entrevistas
semi-
estruturadas
2006 Rafaela de
Quadros
Rigonni
Assumindo o controle:
organizações, práticas
e a experiência de si
em trabalhadores da
redução de danos na
Psicologia social
– Henrique
Caetano Nardi
Trabalhadores em
Redução de Danos
(RD) da Região
Metropolitana de
Porto Alegre
Entrevistas
semi-
estruturadas
e grupos
focais
84
região metropolitana
de Porto Alegre
2005 Tatiana
Ramminger
Trabalhadores de
saúde mental: reforma
psiquiátrica, saúde do
trabalhador e modos de
subjetivação nos
serviços de saúde
mental
Psicologia social
– Henrique
Caetano Nardi
Trabalhadores da
saúde mental
identificados com os
princípios da
reforma psiquiátrica
Entrevistas;
análise
documental;
2006 Laize Soares
Guazina
Sons, silenciamentos,
poder e subjetivação
no hospital: a
musicoterapia na saúde
do trabalhador
Psicologia social
– Jaqueline
Tittoni
Técnicas de
enfermagem de uma
unidade de terapia
intensiva infantil de
um hospital geral
público de POA
Observação
partitipante,
grupos de
musicoterapi
a, grupo de
discussão e
gravação da
paisagem
sonora
2004 Adriana Spilki Qualidade total e
processos de
subjetivação: um
estudo junto aos
servidores públicos
federais
Psicologia social
– Jaqueline
Tittoni
Instância federal do
poder judiciário que
implantou o
programa qualidade
total
Entrevistas
semi-
estruturadas,
observações
do local de
trabalho e
análise de
documentos
2005 Silvana de
Oliveira
Políticas de gestão e
saúde em
teleatendimento: das
telefonistas aos
teleoperadores
Psicologia social
– Maria da
Graça Correa
Jacques
Teleoperadores (dos
4 maiores “call
centers” no RS)
Entrevistas,
visita às
empresas,
diário de
campo,
textos da
página
eletrônica de
uma
instituição de
referência no
setor
2005 Miriam
Junqueira
Scopel
Retorno ao trabalho:
trajetória de
trabalhadores
metalúrgicos
portadores de
LER/DORT
Psicologia social
– Maria da
Graça Correa
Jacques
Metalúrgicos
afastados por
LER/DORT que
retornaram ao
trabalho
Entrevistas
semi-
estruturadas
e anotações
retiradas dos
prontuários
médicos
2004 Daniela
Rondon de
Saúde e trabalho em
turno noturno:
Psicologia social
– Maria da
Auxiliares de
enfermagem
Entrevistas
individuais,
85
Moraes possibilidades e limites
na avaliação de
auxiliares de
enfermagem
Graça Correa
Jacques
(noturnos) de uma
instituição hospitalar
análise de
documentos
e
questionários
2003 Mayte Raya
Amazarray
Trabalho e
adoecimento no
serviço público:
LER/DORT e
articulações com o
modo de gestão
tecnoburocrático
Psicologia social
– Maria da
Graça Correa
Jacques
Trabalhadores
técnico-
administrativos de
uma instituição
pública, portadores
de LER/DORT
Entrevistas,
análise de
documentos
e observação
de reuniões
sindicais
2002 Márcia
Werner
O processo de
reestruturação
produtiva: experiências
e vivências dos
trabalhadores: um
estudo de caso
Psicologia social
– Maria da
Graça Correa
Jacques
Supervisores
operacionais de
empresa pública de
capital misto do
setor de serviços
Entrevistas
semi-
estruturadas
e grupos
focais
2006 Tatiana
Bittencourt
Gouveia
A demanda
empreendedora e o
trabalho immaterial na
construção da
subjetividade do
“empreendedor”
Administração –
Carmem Lígia
Iochins Grsci
Empreendedores Entrevistas
semi-
estruturadas
e narrativas
2005 Gerson Langie
Barum
Novas tecnologias e
subjetividade:
profissionais da
informática no trabalho
bancário
Administração –
Carmem Lígia
Iochins Grsci
Analistas de
sistemas do núcleo
de informática de
POA de uma grande
instituição bancária
pública
Entrevistas
semi-
estruturadas,
questionários
e fontes
documentais
2003 Alfredo
Ângelo
Moretti
Vivências de prazer e
sofrimento psíquico
em tempos de
reestruturação
produtiva
Administração –
Carmem Lígia
Iochins Grsci
Trabalhadores de
uma indústria do
ramo metalmecânico
de SC
Aplicação de
instrumento
_ Escala do
prazer e
sofrimento
no trabalho
(EPST) e
entrevistas
semi-
estruturadas
2001 Ana Lúcia
Bender
Pereira
Mudança
organizacional e seus
reflexos na qualidade
de vida dos
empregados em duas
empresas do ramo
alimentício
Administração –
Marina Keiko
Nakayama
Duas empresas do
ramo alimentício
situadas no Vale do
Taquari
Entrevistas
semi-
estruturadas
e grupos
focais
2006 Álvaro Satisfação com o Administração Secretarias Entrevistas
86
Gustavo
Wagner
Junqueira
trabalho dos
profissionais de
secretarias municipais
de saúde da região do
Vale do Taquari
Valmíria
Carolina
Piccinini
municiapais da
saúde do Vale do
Taquari
semi-
estruturadas
e
questionários
2001 Lisiane
Vasconcellos
da Silva
Qualidade de vida do
trabalhador na
Springer Carrier: uma
análise dos principais
programas e políticas
da empresa num
contexto de
flexibilização do
trabalho
Administração –
Valmíria
Carolina
Piccinini
Trabalhadores da
Springer Carrier –
setor metal
mecânico
Entrevistas
semi-
estruturadas
e observação
2002 Henrique
Caetano Nardi
Trabalho e ética: os
processos de
subjetivação de duas
gerações de
trabalhadores
metalúrgicos e do setor
informal (1970 – 1999)
Sociologia –
Antonio David
Cattani
Metalúrgicos
(Jovens),
Metalúrgicos
(Aposentados) e
trabalhadores do
mercado informal
Entrevista
aprofundada
para
reconstrução
da trajetória
de vida e de
trabalho
2005 Jorgia Marisa
Seibel
Lesão por esforço
repetitivo (LER) e a
organização do
trabalho nas indústrias
calçadistas
Sociologia –
Cínara Lerrer
Rosenfield
Setor calçadista
junto ao pólo
produtivo do Vale
do Rio dos Sinos
Entrevistas
semi-
estruturadas;
observação
no local de
trabalho
Após realização do refinamento ficaram 24 produções sendo 23 dissertações e apenas 1
tese. Ciente de que este número ainda é muito grande em termos de tempo para realizar a
necessária análise da totalidade dentro dos prazos pré-estabelecidos, opto por realizar a
classificação, que a seguir descreverei, a qual fornecerá dados que permitirão um novo critério
para redução do número de teses/dissertação.
Em um primeiro momento realizei a classificação por setor de atividade, ou seja,
verifiquei se a pesquisa foi realizada com sujeitos oriundos da indústria, serviços, comércio ou
outros. Como em algumas pesquisas não foi possível identificar o setor, pois os sujeitos poderiam
ser dos mais diversos setores, encontrei a alternativa de classifica-los por categoria profissional.
Assim foi necessária a construção de duas tabelas para demonstrar os resultados encontrados. Em
um segundo momento busquei identificar se os sujeitos pesquisados atuavam em empresas
públicas ou privadas. Abaixo seguem tabelas com os resultados obtidos.
87
Setor de atuação dos sujeitos das pesquisas (17 pesquisas):
INDÚSTRIA SERVIÇOS COMÉRCIO OUTROS
6 10 0 1 (Cooperativa)
Categoria profissional e /ou grupo dos sujeitos das pesquisas (7 pesquisas):
Gerentes de organizações privadas de grande porte 1
Psicólogos de empresas privadas 1
Trabalhadores portadores de LER/DORT 2
Teleoperadores 1
Empreendedores 1
Metalúrgicos (jovens), metalúrgicos (aposentados) e trabalhadores do
mercado informal
1
Empresa pública/privada (24 pesquisas):
PÚBLICA PRIVADA AUTONOMO COOPERATIVA PÚBLICO/
PRIVADO
PÚBLICO/PRIVADO/
INFORMAL
11 8 1 1 2 1
Com base nos dados obtidos, penso que a melhor maneira de selecionar as pesquisas que
continuarão fazendo parte do meu estudo após este novo refinamento, seja verificar entre as 24
produções, 12
19
que atendam aos seguintes critérios: uma que não defina se é pública ou privada,
uma que não seja nem pública nem privada, metade das restantes devem ser de pesquisas
realizadas com trabalhadores da iniciativa pública e a outra metade da iniciativa privada. Com
objetivo de garantir a diversidade e heterogeneidade do estudo, ainda é importante que as
pesquisas selecionadas tenham sujeitos de diferentes setores e/ou grupos profissionais. Desta
forma, apresento a seguir a seleção final.
Ano Autor Título Programa/
orientador
Setor e/ou
categoria
Púbico/
Privado/Outros
2006 Letícia Laurino
Almeida
Manda quem pode,
obedece quem tem
juízo: prazer e
Psicologia
social – Álvaro
Merlo
Gerentes de
organizações
privadas de
Privado
19
Defini manter doze pesquisas como material a ser analisado pois este é um número que considero adequado
levando em consideração o fator tempo disponível para realização do estudo e quantidade de dados fornecidos pelo
material como contribuição ao meu estudo.
88
sofrimento psíquico em
cargos de gerência
grande porte
2006 Aline
Gonçalves
Machado
Cuidadores: seus
amores e suas dores: o
prazer e o sofrimento
psíquico dos auxiliares e
técnicos de enfermagem
de um hospital
cardiológico
Psicologia
social – Álvaro
Merlo
Auxiliares e
técnicos de
enfermagem que
trabalham em
unidades críticas
do Instituto de
Cardiologia do
RS
Público
2005 Jorgia Marisa
Seibel
Lesão por esforço
repetitivo (LER) e a
organização do trabalho
nas indústrias
calçadistas
Sociologia –
Cínara Lerrer
Rosenfield
Setor calçadista
junto ao pólo
produtivo do
Vale dos Sinos
Privado
2005 Tatiana
Ramminger
Trabalhadores de saúde
mental: reforma
psiquiátrica, saúde do
trabalhador e modos de
subjetivação nos
serviços de saúde
mental
Psicologia
social –
Herique
Caetano Nardi
Trabalhadores da
saúde mental
identificados
com os
princípios da
reforma
psiquiátrica
Público
2005 Kátia Salete
Barfknecht
Economia solidária,
saúde mental e trabalho
em uma cooperativa de
confecção de Porto
Alegre
Psicologia
social – Álvaro
Merlo
Cooperativa de
costureiras e
serígrafos da
UNIVENS
Cooperativa
2005 Patrícia Costa
da Silva
Prazer e sofrimento de
psicólogos em empresas
privadas
Psicologia
social – Álvaro
Merlo
Psicólogos que
trabalham em
empresas
privadas
Privado
2005 Silvana de
Oliveira
Políticas de gestão e
saúde em
teleatendimento: das
telefonistas aos
teleoperadores
Psicologia
social – Maria
da Graça
Correa Jacques
Teleoperadores
(dos 4 maiores
“call centers” no
RS)
Privado
2004 Charlotte
Beatriz Spode
Ofício de oficial:
trabalho, subjetividade e
saúde mental na polícia
militar
Psicologia
social – Álvaro
Merlo
Capitães da
brigada militar
(oficiais
intermediários)
9º BPM
Público
2004 Daniela
Rondon de
Moraes
Saúde e trabalho em
turno noturno:
possibilidades e limites
na avaliação de
auxiliares de
enfermagem
Psicologia
social – Maria
da Graça
Correa Jacques
Auxiliares de
enfermagem
(noturnos) de
uma instituição
hospitalar
Público
89
2003 Ângela Peña
Ghisleni
Corpos ressentidos:
trabalho contemporâneo
subjetividade e
patologias por
hipersolicitação
Psicologia
social – Álvaro
Merlo
Trabalhadores
portadores de
LER/DORT
previamente
diagnosticados
pela equipe
médica do
Ambulatório de
Doenças do
Trabalho do
Hospital de
Clínicas de Porto
Alegre (ADT-
HCPA)
Público/Privado
2003 Mayte Raya
Amazarray
Trabalho e adoecimento
no serviço público:
LER/DORT e
articulações com o
modo de gestão
tecnoburocrático
Psicologia
social – Maria
da Graça
Correa Jacques
Trabalhadores
técno-
administrativos
de uma
instituição
pública,
portadores de
LER/DORT
Público
2003 Alfredo Ângelo
Moretti
Vivências de prazer e
sofrimento psíquico em
tempos de
reestruturação produtiva
Administração
– Carmem
Lígia Iochins
Grisci
Trabalhadores de
uma indústria do
ramo
metalmecânico
de SC
Privado
As doze dissertações acima descritas serão analisadas da seguinte maneira: em um
primeiro momento irei ler os resultados
20
e considerações finais das pesquisas. Após leitura irei
definir categorias que venham a compor as conclusões e resultados apresentados por cada uma
das dissertações, bem como selecionar as expressões chave que irão compor o Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC).
3.2 – O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO – DSC COMO
ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DE DADOS
20
É importante referir que ciente de que nem todas as dissertações apresentam um capítulo específico de resultados,
irei identificar em cada uma o capítulo onde são apresentados os resultados e caso se faça necessário me proponho a
ler toda dissertação para localizar os resultados.
90
Pretendo utilizar o Discurso do Sujeito Coletivo - DSC como técnica de análise da
maioria dos dados desta pesquisa, conforme já estipulei anteriormente. O DSC tem como
fundamento a Teoria das Representações Sociais e é “uma proposta de organização e tabulação
de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos, artigos de jornal, matérias de
revistas semanais, cartas, papers, revistas especializadas, etc” que permite agregar depoimentos
sem reduzi-los a quantidades. (LEFÉVRE e LEFÉVRE, 2003, p.15-16)
De acordo com os autores, um dos modos de se conceber as representações sociais
“...consiste em entendê-las como a expressão do que pensa ou acha determinada população sobre
determinado tema” (LEFÉVRE e LEFÉVRE, 2003, p. 30).
A teoria das representações sociais tem a preocupação central com a construção e re-
construção do saber social em contextos diferentes e no e pelo cotidiano e oferece instrumentos
para o estudo e o trabalho com discursos e práticas. A teoria das representações sociais constrói-
se no campo da psicologia social articulando a tradição da fenomenologia e da sociologia, em
especial colocando em destaque a vida cotidiana e procurando dar conta do saber social.
Um dos seus autores clássicos é Serge Moscovici que, tendo como objeto de estudo a
psicanálise, desenvolve a Teoria da Representação Social como uma modalidade de
conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação
entre indivíduos e serve como um método de pesquisa que objetiva a compreensão de outros
objetos de estudo. Para Moscovici (1978) “toda representação é composta de figuras e de
expressões socializadas” (p.25). Segundo ele, uma representação social é “a organização de
imagens e linguagem, porque ela realça e simboliza atos e situações que nos são ou nos tornam
comuns” (p.25). Para o autor é um corpus organizado de conhecimentos que reconstroem uma
elaboração e interpretação, uma imagem de uma realidade, é uma das vias de apreensão do
mundo concreto.
As representações sociais não são simplesmente o conjunto das visões compartilhadas de
um grupo, mas, para além disto, constituem-se processos de produção que tornam possível que as
visões sejam intercambiáveis e que nestas relações modificando comportamentos se constituam,
como é de meu interesse, experiências formadas a partir da produção e socialização de saberes.
Moscovici apresenta as representações como individuais e sociais, portanto se situam na
interface dos fenômenos individuais e coletivos. Neste processo que, substancialmente, é
relacional, as representações sociais não são um espelho de uma realidade, mas a realidade
apreendida, reconstruída, aproximada e compartilhada pelo grupo. O processo de análise permite
91
a compreensão e a definição de uma identidade ou especificidade deste grupo. Ao mesmo tempo,
as vivências de reflexão e socialização foram assumindo um caráter formador.
A utilização do Discurso do Sujeito Coletivo como uma técnica de análise de dados para
identificar a intenção manifesta pelas organizaçãoes em relação a seus trabalhadores e a realidade
praticada pelas mesmas através das modernas práticas de gestão de RH, faz sentido na pesquisa,
na medida em que constituem um processo de produção que representa uma construção
contextualizada. Cabe salientar que os dados que emergiram das pesquisas documentais são
compreendidos também como produções e não somente como representações.
Conforme Lefévre e Lefévre (2003) o DSC é uma ferramenta metodológica apropriada
para pesquisas qualitativas, pois consiste numa forma de representar o pensamento de uma
coletividade organizando os dados qualitativos de natureza verbal. Conforme os autores, as
operações realizadas sobre o material coletado são assim descritas:
Consiste, basicamente, em analisar o material verbal coletado extraindo-se de
cada um dos depoimentos, artigos, cartas, papers as idéias centrais e/ou
ancoragens e as suas correspondentes expressões-chaves; com as expressões-
chaves das idéias centrais ou ancoragens semelhantes compõe-se um ou vários
discursos-síntese (LEFÉVRE e LEFÉVRE, 2003, p.16).
Conforme proposto por Lefévre e Lefévre (2003) a técnica utilizada nesta estratégia de
análise para composição dos Discursos Coletivos consiste basicamente em analisar o material
verbal coletado extraindo-se dos depoimentos as Idéias Centrais (IC) ou Ancoragens (AC) e as
correspondentes Expressões-Chaves (ECH) e, com elas, compor os vários discursos-sínteses que
são os Discursos dos Sujeitos Coletivos (DSC).
De acordo com os autores (2003), as Expressões-Chaves (ECH) são trechos do material
que devem ser destacados pois mostram a essência do seu conteúdo. As Idéias-Centrais (IC) são
fórmulas sintéticas que descrevem e nomeiam o sentido presente no discurso. As Ancoragens
(AC) são fórmulas sintéticas que representam as crenças, teorias ou ideologias subjacentes nos
discursos.
A utilização do DSC como técnica para análise de dados é apropriada nesta dissertação,
pois permite que seja expressa a representação social das práticas de gestão de RH e sua relação
com a saúde do trabalhador demonstrando as contradições, paradoxos, conflitos, tensões,
negações e condições da intenção manifesta à realidade praticada em relação ao tema proposto.
92
4 – AS MODERNAS PRÁTICAS DE GESTÃO DE RH E A INTENÇÃO
MANIFESTA PELAS ORGANIZAÇÕES COM RELAÇÃO AOS SEUS
TRABALHADORES
Neste capítulo vou apresentar a questão da intenção manifesta pelas organizações no que
se refere a seus trabalhadores e os dados relativos a modernas práticas de gestão de RH tendo
como referências as melhores para trabalhar e o congresso da ISMA-BR.
4.1 – A INTENÇÃO MANIFESTA E AS MODERNAS PRÁTICAS DE RH
4.1.1 – Melhores empresas para trabalhar
21
Conforme já descrito anteriormente atualmente no Brasil existem duas grandes revistas
com publicações das melhores empresas para trabalhar: Guia Você S/A-Exame- As 150 melhores
empresas para você trabalhar e Época – As 100 melhores empresas para trabalhar.
As pesquisas ganham cada vez mais popularidade, são concorridíssimas e esperadas com
ansiedade pelas organizações, as cerimônias de entrega dos prêmios são cada vez mais pomposas,
em 2007 por exemplo a atriz Fernanda Montenegro esteve presente na premiação da Você S/A-
Exame. Ter o nome publicado em uma das listas deixa de ser um desejo apenas dos profissionais
de RH passando a fazer parte de uma lógica de negócios, onde manter uma boa imagem faz parte
da estratégia.
São amplamente divulgados estudos que afirmam que as empresas das listas de Melhores
para Trabalhar possuem um ótimo desempenho financeiro e proporcionam grandes retornos aos
seus investidores.
Com relação aos critérios adotados para definição das melhores empresas para trabalhar
as pesquisas adotam procedimentos e índices ou dimensões um pouco diferentes, o Guia Você
S/A-Exame- As 150 melhores empresas para você trabalhar usa o índice de felicidade no
trabalho (IFT), já a pesquisa do Great Place to Work e Época – As 100 melhores empresas para
trabalhar, conforme fazem questão de reforçar não mede a felicidade no trabalho e sim a
21
As informações referentes as melhores empresas para trabalhar foram retiradas das revistas: Você S/A-Exame- As
150 melhores empresas para você trabalhar 2007 e Época – As 100 melhores empresas para trabalhar 2007-2008.
Também foi utilizado como fonte para informações os seguintes sites: www.exame.com.br/melhoresempresas
e
www.greatplacetowork.com.br.
93
confiança que as pessoas têm nos chefes, nos colegas e na empresa. A seguir apresentarei melhor
como cada uma das publicações procede para realizar a pesquisa que define as melhores:
1º) Guia Você S/A-Exame- As 150 melhores empresas para você trabalhar – As inscrições são
gratuitas
22
. Os funcionários das empresas inscritas preenchem questionário (peso de 70% na nota
final) sobre suas percepções sobre a organização em que trabalham, a empresa preenche outro
questionário sobre suas práticas de gestão de pessoas (peso de 25% na nota final). São pré-
classificadas empresas com um mínimo (que não está divulgado, ao menos não para o grande
público) de questionários respondidos e mais de 74% de aprovação do time. Após os jornalistas
visitam as pré-classificadas para checar instalações, entrevistar profissionais de RH e conversar
com gerentes e funcionários do grupo operacional (peso de 5% na nota final). Por último
comparam os dados da pesquisa com a percepção das visitas.
Os índices observados na pesquisa são:
¾ Felicidade no trabalho: mede as práticas de gestão de RH e a percepção dos funcionários
sobre o ambiente de trabalho.
¾ Qualidade do ambiente de trabalho: mede a percepção dos funcionários sobre identidade,
satisfação e motivação, aprendizado e desenvolvimento e liderança.
¾ Qualidade na gestão de pessoas: é composto pela média das notas de remuneração e
benefícios, carreira, educação, saúde, integridade do trabalhador e responsabilidade social
e ambiental.
2º) Época – As 100 melhores empresas para trabalhar: Com relação as inscrições não consegui
localizar referência quanto a gratuidade ou não das inscrições, o que me leva a acreditar que as
inscrições sejam cobradas, o que explicaria o número menor
23
de inscritos em comparação a
Você S/A – Exame. Os funcionários das empresas inscritas recebem questionário para avaliar a
organização em que trabalham. Para serem classificadas para fase seguinte as empresas
precisavam enviar um número mínimo de respostas dos funcionários (não especificado) e
apresentar no mínimo 70% dos que responderam como satisfeitos com o trabalho. Para as
empresas que passaram na primeira fase, a próxima fase é a pesquisa com a direção que avalia 9
práticas de gestão de pessoas. As visitas (não consideradas na avaliação) só são feitas em
empresas que se inscreveram pela primeira vez ou as que obtiveram grandes variações de
22
Em 2007 foram 491 empresas inscritas.
23
Conforme divulgado, no total em 2007 foram menos de 400 empresas inscritas. Aproximadamente 20% menos
inscritos que a Você S/A-Exame- As 150 melhores empresas para você trabalhar 2007.
94
desempenho. Como forma de credibilidade salientam a avaliação dos comentários adicionais
feitos pelos funcionários nos questionários e auditoria telefônica com objetivo de verificar a
veracidade das respostas e atestar que a direção das empresas não pressionou os funcionários a
fazer avaliações positivas.
As dimensões avaliadas na pesquisa com os funcionários (que tem peso de 75% na nota final da
empresa) referentes ao ambiente de trabalho são:
¾ Credibilidade, respeito, imparcialidade, orgulho da empresa e do trabalho e camaradagem
dos colegas.
As 9 práticas de gestão de pessoas (peso de 25% na nota final) avaliadas na pesquisa com a
direção são:
¾ Como elas contratam e recebem, inspiram, falam, ouvem, agradecem, desenvolvem,
cuidam, celebram e compartilham o sucesso com seus funcionários.
Apesar de podermos perceber algumas diferenças entre um guia e outro no que se refere
aos critérios para escolha das melhores empresas para trabalhar, ambos de maneira geral
parecem obedecer a mesma lógica de
reprodução da imagem de que as pessoas são muito felizes
no trabalho, e que a empresa apóia e valoriza de maneira incondicional seus recursos humanos. A
mídia, neste caso representada por estas duas publicações, auxilia na concretização da imagem de
perfeição das grandes organizações. Alguns critérios são definidos para se chegar a uma lista de
empresas que brilham e se tornam referência para as mais variadas pessoas. Nas publicações há
inúmeras imagens e depoimentos de funcionários, que evidentemente foram muito bem
escolhidos, para cumprir o papel de ilustrar o quanto os empregados estão felizes em trabalhar em
determinadas empresas.
Neste sentido, o indivíduo começa a valorizar cada vez mais os benefícios que a empresa
está disposta a conceder, mesmo que seja muito mais rentável para ela do que para ele; e que
possa ocultar uma série de mecanismos de dominação do indivíduo na organização. A empresa
desenvolve uma série de políticas voltadas a seus recursos humanos, fazendo com que ele esteja
envolvido no imaginário e na cultura organizacional.
Acredito que a mídia ao publicar guias como as melhores empresas para trabalhar, esteja
dando evidência a determinadas empresas e práticas e ao dar esta ênfase deveria estar mais atenta
ao seu papel social ou a sua responsabilidade com o leitor no sentido de ter mais profundidade em
sua publicação, pois acredito que este tipo de guia não deveria servir exclusivamente aos
interesses empresariais como está servindo ao negar determinadas realidades, como as que
95
exemplificarei no parágrafo seguinte. Para alcançar a imparcialidade acredito que a metodologia
deveria atentar com mais seriedade aos interesses dos trabalhadores.
Para exemplificar o que estou tentando dizer, por exemplo, ao buscar literatura
especializada em saúde no trabalho, encontram-se inúmeros autores que chamam atenção para os
problemas que a sobrecarga de trabalho causa para a saúde física e mental do trabalhador.
Levando isto em consideração; como uma empresa em que seus funcionários trabalham dez ou
onze horas por dia, com pressão por resultado e estímulo a competitividade pode ser considerada
como melhor para se trabalhar, mesmo que ela tenha uma excelente remuneração, benefícios
e/ou uma lista dos mais variados programas - há que se atentar para seus problemas.
Outras questões relevantes que não são mencionadas nas publicações e que autores que
tratam da questão saúde e trabalho chamam atenção, dizem respeito, por exemplo, a falta de
estímulo à existência de uma comissão de funcionários ou se “comissão de funcionários” é algo
que possa ser muito assustador aos olhos ou ouvidos empresarias, podemos dizer um programa
que estimule ou proporcione aos trabalhadores espaço para discussão e possíveis
encaminhamentos de suas dificuldades e vivências no trabalho. Pois conforme “deveríamos”
saber o coletivo e a filiação são importantes vínculos para o equilíbrio do trabalhador, mas ao
contrário o que vemos é a ênfase em políticas que tentem a individualização sendo exaltadas
como positivas, como se o único compromisso coletivo que o trabalhador deva possuir seja com a
organização que lhe emprega.
Cabe ressaltar que de forma alguma quero dizer que as empresas publicadas nos guias,
consideradas como melhores para trabalhar,o as sejam, ou que sejam ruins para trabalhar.
Acredito inclusive que muitas das práticas apresentadas por estas organizações sejam práticas
inovadoras de caráter positivo no que se refere à saúde e bem-estar do trabalhador. O que quero
chamar atenção é para o fato de que nas publicações tudo é apresentado como maravilhoso,
perfeito, dando ênfase aos aspectos positivos das práticas de gestão de pessoas e negando os
aspectos negativos destas mesmas práticas e negando também aspectos relacionados ao mundo
do trabalho que apesar de serem amplamente divulgados como realidades certas e imutáveis –
devem mudar se queremos realmente oferecer saúde e bem-estar ao trabalhador ou um melhor
lugar para trabalhar.
Para realizar a análise das práticas de RH, consideradas pelas empresas e pela mídia como
as melhores, através da análise da publicação dos dois guias em questão, irei apresentar tabelas
que mostram o que as 10 melhores empresas para trabalhar de cada um dos guias teve publicado
96
como práticas de gestão de RH. Além disto também irei mostrar o que é apresentado pelas
revistas como destaque nas matérias dos guias.
Você S/A Exame – 150 melhores empresas para você trabalhar
Empresa Práticas de gestão consideradas positivas Ponto negativo
Masa - Estilo comunicativo e transparente do diretor-presidente faz
toda diferença na gestão do negócio e desperta a confiança dos
funcionários.
- Programa de sugestão de melhorias como forma de envolver
funcionários, principalmente em tempos de crise.
- Mesmo em época de crise todos benefícios e programas
sociais foram mantidos e nenhum posto de trabalho foi cortado.
- Políticas de RH que contemplam desenvolvimento
profissional, qualidade de vida e cidadania, garantem o
envolvimento das pessoas.
- Forte investimento em educação corporativa (1,2 milhão em
2006):
- Pós-graduação in company para os gerentes;
- Escola, dentro da fábrica, onde 70% dos
colaboradores já obtiveram o diploma do ensino
médio.
- Subsídios para graduação, MBA e idiomas.
- Oportunidade de carreira – nos últimos 3 anos a Masa
promoveu um terço do seu pessoal.
- Preocupação com o bem estar:
- Salas de descanso com ar condicionado e poltronas
reclináveis.
- Programas de controle de doenças crônicas e
programa de acompanhamento a gestante (os
participantes são atendidos na empresa por médico,
nutricionista, preparador físico e não pagam os
remédios).
- Quase todos os projetos de saúde e bem estar abrangem as
famílias dos funcionários.
Alguns funcionários
ainda reclamam do
calor excessivo na
linha de produção da
empresa.
2º Albras - Entrosamento de líderes e subordinados.
- Ambiente amigável que se baseia, principalmente, no
treinamento e na transparência.
- Na empresa ninguém bate ponto.
- Programa de monitoramento do clima, inclui uma pesquisa
global realizada anualmente, reuniões periódicas de clima em
todas as áreas. As reclamações vão para o diagnóstico mensal
de clima.
- É distribuído a todos, documento com a descrição das
características e comportamentos que a Albras exige de seus
líderes.
- A empresa oferece cursos MBA e pós-graduação in company.
O programa de educação corporativa inclui ainda escola
gratuita para funcionários e dependentes e bolsas de estudo
Há reclamações
quanto ao nível
salarial e às diferenças
de remuneração entre
funcionários novos e
antigos.
97
para graduação.
- Cobertura completa para aposentadoria: previdência privada,
programa de transição, que começa três anos antes da saída –
com orientação sobre carreira e aspectos financeiros – e, plano
de saúde para aposentados.
- Programa Vida Saudável – acompanhamento médico,
nutricional e psicológico e metas de melhoria nos indicadores
de saúde.
Serasa - Investimento na formação de seus líderes pois eles são um
dos pilares das diversas políticas da companhia, como
comunicação dos valores e princípios e divulgação da
estratégia.
- Implementação do conceito de Liderança Adaptativa que tem
como objetivo aumentar a adaptabilidade, a inovação e a
capacidade coletiva de lidar com os desafios do ambiente.
- Participação nos lucros de cerca de 2,5 salários.
- Programação neurolingüistica e participação em programas de
coaching, como forma de desenvolvimento dos líderes.
- Entre todas as 150 empresas da lista deste ano, a Serasa é a
mais bem avaliada na categoria Liderança. É também a
companhia que oferece melhores oportunidades de carreira
para os executivos e a primeira na lista das melhores para as
mulheres trabalharem.
- Para estudar inglês, os colaboradores em geral desembolsam
somente 30% do valor do curso. E, para graduação, eles pagam
cerca de 140 reais por mês, o restante é bancado pela empresa.
- Os funcionários têm a disposição a biblioteca da Serasa, que
conta com um acervo de mais de 5.000 títulos.
Algumas áreas que
estavam fora da sede
ficam agora no prédio,
o que gera reclamação
de falta de espaço em
alguns setores.
Landis+Gyr - 44% dos funcionários acumulam mais de dez anos de casa.
Esta longevidade é um bom indicativo da capacidade da
empresa de promover o bem-estar entre os funcionários e reter
talentos.
- Faz questão de ressaltar que nada é oferecido ao seu pessoal
por generosidade, mas porque a fórmula de produção dá
retorno.
- Participação nos resultados distribuiu 2 100 reais para cada
um em 2006.
- Outros benefícios valorizados são as bolsas de estudos
(extensivas aos filhos), o transporte e a alimentação por conta
da empresa, os bons planos de saúde e odontológico, o
desconto em medicamentos, a creche subsidiada e a assistência
a quem enfrenta problemas como morte na família e
alcoolismo.
- Plano de previdência privada implantado no ano passado,
desejo antigo dos funcionários e que teve adesão de mais de
90% dos empregados.
- Entre todos esses benefícios, o bom clima é apontado como
destaque pelos funcionários. É um atributo que não se
manifesta apenas pelas relações cordiais e pelo acesso fácil aos
chefes, mas também pela colaboração constante entre os
setores e a preocupação em aprimorar o desempenho tanto
Os critérios de
promoção e o
processo de avaliação
de desempenho ainda
não estão
suficientemente
sistematizados.
98
individual quanto coletivo. Exemplo disso são as “salas de
guerra”, que servem para mobilizar pessoas dos diversos
setores em torno de questões que afetam a todos.
- Entendimento de que mudanças com grande repercussão
interna exigem diversas adaptações e muito treinamento e para
assegurar o bem-estar dos funcionários devem ser realizadas
sem sobressaltos com esclarecimento dos detalhes aos
colaboradores.
5º Volvo - Ganhou o destaque na categoria saúde no guia.
- Há uma equipe médica com diferentes especialistas dentro da
fábrica em tempo integral, além de excelentes planos de saúde
e odontológico, extensivos aos familiares.
- Benefícios adicionais como o desconto de 70% na compra de
medicamentos, óculos e lentes de contato, associados a
programas de combate ao estresse, tabagismo, obesidade e
dependência química compõem um pacote que se destaca.
- Na área de prevenção, há atividades de esporte e lazer
realizadas na Associação Viking, ao lado da fábrica. A
estrutura, com 134 000 metros quadrados, tem campo de
futebol, ginásio, quadras e academia, além de churrasqueiras e
muita área verde.
- A política de relacionamento com os colaboradores se baseia
no chamado Volvo Way, conjunto de conceitos que estabelece
claramente os valores que devem ser adotados por quem
pretende fazer carreira ali. Esses parâmetros foram base para a
criação do comitê de ética, formado por integrantes dos
principais setores. Trata-se de um canal para esclarecer dúvidas
e receber denúncias de descumprimento do Manual de
Conduta.
- A comunicação interna é um ponto forte da Volvo.
- A companhia também se destaca pela remuneração, já que há
o princípio de se manter em um padrão 20% acima do mercado
paranaense.
- A participação nos resultados, bateu recorde ano passado,
quando foram distribuídos 14,8 milhões de reais, o que
representou, em média 2,5 salários extras para cada empregado.
- Os funcionários da Volvo contam com ferramentas de
desenvolvimento de carreira em que as metas individuais para
cada ano são definidas em consenso com o chefe e sintonizadas
com as metas da empresa, e o Plano de Desenvolvimento
Pessoal, planejamento de carreira em prazo mais longo.
- O programa de bolsas de estudo patrocina 50% dos cursos de
qualquer nível e 70% dos cursos de idioma. Há ainda bolsas
específicas para quem se propõe a estudar filosofia, metafísica
e literatura.
- Funcionários identificados como lideranças em potencial têm
o Programa de Desenvolvimento de Lideranças Volvo, que
inclui gestão de pessoas, gestão empresarial, gestão do negócio
Volvo e da qualidade de vida.
O equilíbrio entre
obtenção de metas e
qualidade de vida
ainda não foi
alcançado por muitos
gestores.
6º ArvinMeritor
(Divisão de
- Avaliação de desempenho 360 graus.
- Comunicação eficiente de cima para baixo.
Os funcionários
reclamam da falta de
99
Veículos
Comerciais)
- Planejamento estratégico bem estruturado.
- Programa de boas idéias.
- Avaliação do clima organizacional.
- Programas sustentáveis de responsabilidade social.
- É destaque na categoria Estratégia e Gestão do guia.
- É considerada benchmark na corporação mundial, o que
contribui para o desenvolvimento dos profissionais desta
unidade pois vão para fora do país levar algum ensinamento.
- O segredo é não ter segredo. Todos os funcionários sabem
qual é a estratégia da empresa, qual o faturamento, quais os
problemas e os desafios a serem enfrentados. (Reuniões bi
mensais com a direção e diárias com o líder).
clube e de mais vagas
no estacionamento. Os
gerentes gostariam de
ter bônus maiores.
Promon - Faz com que os funcionários se sintam realmente donos dela.
Há mais de 30 anos foi comprada por um grupo de funcionários
e deu participação no capital para quem trabalha ali. O pessoal
recebe ações da empresa como parte dos benefícios e ganha os
dividendos duas vezes por ano.
- Avaliação de desempenho 360 graus.
- Autonomia para o funcionário definir seu plano de
capacitação educacional, incluindo cursos curtos e de nível
mais técnico e também pós-graduação (81% dos empregados já
têm curso superior).
- Distribuição de gratificações a cada seis meses com base na
avaliação de desempenho.
- Plano de saúde em que qualquer funcionário que quiser
desembolsar mais pode optar por uma versão mais completa, o
que não acontece em muitas empresas.
- Plano de previdência privada em que a Promon contribui com
100% sobre o valor que cada contribuinte depositar, restrito a
8% do salário.
- Um dos benefícios considerados na publicação como mais
bacana da empresa é a oportunidade de filhos e parentes dos
empregados poderem passar duas semanas, durante as férias
escolares, estagiando nos departamentos da companhia.
- A Promon faz parte do Instituto Razão Social, que mantém
em conjunto com outras três grandes organizações brasileiras.
Por meio desse instituto, funcionários da Promon que passam
meses morando em comunidades carentes do Nordeste do país
por causa de grandes obras, participam de projetos para ajudar
no ensino local.
O lado ruim da
autonomia é que os
funcionários em início
de carreira gostariam
de ter mais
acompanhamento da
gestão.
Chemtech - Todos os líderes e futuros sucessores não são contratados no
mercado. Isso é regra na Chemtech e demonstra a determinação
da companhia de oferecer oportunidades de desenvolvimento
para aqueles que contribuem para o seu crescimento.
- Duas vezes por ano os funcionários participam de um
encontro corporativo com a diretoria e o presidente, para
discutir números, projetos e iniciativas que devem ser adotadas.
- Outro fator que estimula o pessoal é a possibilidade da
carreira em “Y”, ou seja, a empresa reconhece e valoriza a
importância da área gerencial e também da área técnica. Dessa
forma, um consultor técnico está no mesmo nível hierárquico e
A equipe é enxuta e
tem muita gente
acumulando
responsabilidades
acima do que o cargo
prevê.
100
salarial de um gerente de projetos.
- Para manter uma remuneração competitiva com o mercado, a
Chemtech realiza pesquisas salariais e de beneficios e procura
pagar sempre acima da média.
- Paga bônus por mérito, o que tem gerado em média um
salário extra por ano.
- O suporte ao desenvolvimento profissional vem de vários
programas. O de mentoria é um deles. Cada funcionário
escolhe uma pessoa dentro da organização para falar de
assuntos ligados à carreira. O chefe direto não deve ser eleito,
mas o mentor não precisa ocupar uma posição de liderança,
basta ser um profissional experiente e ter conhecimento para
transmitir. A Universidade Corporativa Chemtech tem cursos
técnicos e gerenciais. Além disso, há um programa de bolsas de
estudo para pós-graduação, mestrado e doutorado. O subsídio é
de 50%, em média, mas pode chegar a 100% no caso do MBA
in company, que é feito em parceria com a Universidade
Federal Fluminense.
- A flexibilidade é outra marca registrada da Chemtech, um
exemplo é a diretora de RH , ela mora em Manaus, longe da
sede, que fica no Rio de Janeiro. Como é possível? Ela
precisava deixar a empresa para acompanhar o marido, que
tinha sido transferido, como se tratava de uma profissional
importante para a Chemtech, o presidente propôs que ela
continuasse na organização, só que lá em Manaus, trabalhando
num home Office. Ela vai ao Rio em média uma vez por mês
para reuniões e para conversar com o time.
9 º Caterpillar - Conjunto de ações que faz com que os profissionais se sintam
seguros, preparados e com perspectivas de crescimento.
- Além dos planos de saúde e odontológico, existem dentro da
planta dois ambulatórios – um deles funcionando 24 horas,
com ambulância de plantão – no qual trabalham 30
profissionais, entre médicos e enfermeiros. As famílias também
têm direito a consultas.
- Para quem tem filho com necessidades especiais, a empresa
criou um plano especial, com escola, assistência terapêutica,
remédios e acompanhamento psicológico.
- O desenvolvimento profissional é outro ponto forte apontado
pela equipe. A companhia mantém um programa para
identificação de altos potenciais, que recebem preparação
especial para subir nos quadros da Caterpillar.
- Preparação para aposentadoria que aborda questões
psicológicas e financeiras.
- Treinamento também não falta para quem quer se
desenvolver. No total são mais de 700 cursos, a maior parte
deles disponível pela intranet e na TV corporativa. Para os
gestores há um MBA in company realizado em parceria com a
USP e treinamento no campo da gestão da Amana-Key. Em
ambos os casos a companhia banca 50% do valor.
- Seguro de vida e seguro contra acidentes.
- Reembolso de 40% na compra de remédios.
A equipe gostaria de
reajustes mais
agressivos tanto no
salário-base quanto no
plano de participação
nos lucros.
101
- Linha de crédito para empréstimos sem juros.
10º Hoken
International
Company
- O almoço de todos é servido em uma cozinha que se parece
com a de uma casa. Depois, os funcionários podem esticar as
pernas passeando pela área verde que há nos fundos do
escritório, assistir um pouco de TV, ler na biblioteca ou tirar
uma soneca.
- A empresa se comunica bastante com os funcionários. O
sistema de som avisa tudo o que acontece por lá – do
aniversário de um empregado à venda de mais um franquia. Se
o anúncio é motivo para comemorar todos se reúnem para tocar
o sino.
- Uma vez por mês, o expediente termina mais cedo, às 4 da
tarde. É o Hoken Day, nesse dia os colaboradores vestem
roupas de ginástica e vão fazer um caminhada até a represa que
fica próxima à companhia.
- O relacionamento é pautado na transparência que os
fundadores de origem japonesa, têm com os colaboradores. As
pessoas são constantemente informadas sobre o andamento dos
negócios. As vitórias são reconhecidas como resultado do
esforço coletivo e o empenho individual também é observado e
reconhecido por avaliações de desempenho, que são realizadas
a cada três meses. Apesar da estrutura pequena, o ritmo de
expansão dos negócios permite que as oportunidades de
desenvolvimento profissional sejam reais. Os executivos
podem assumir a gestão de franquias no Brasil e no exterior.
O subsídio de
graduação e pós-
graduação só é
oferecido a partir do
terceiro ano de casa e
é de apenas 10%.
Época – As 100 melhores empresas para trabalhar.
Empresa Melhores Práticas (destaques) Ponto negativo
(considerado abaixo da
média em relação à média
das 100 melhores empresas)
Chemtech Direto da universidade: É na porta das faculdades que a
Chemtech vai buscar seus futuros funcionários. Para a
empresa, mais vale formar um profissional do que
contratar alguém com experiência que nem sempre
comunga dos seus valores. Os alunos com melhor
aproveitamento nos cursos da Chemtech são convidados
a estagiar na empresa.
Benefícios
: Empréstimo para casos de emergência que
podem chegar até o equivalente a um salário bruto, para
pagamento em até cinco vezes, sem incidência de
correção sobre as parcelas mensais.
Responsabilidade social
: A empresa participa de um
programa de inclusão digital, doando computadores para
escolas carentes. Além disso, ela é sócia-mantenedora da
Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira.
Qualidade de vida:
Todos os funcionários têm acesso a
aulas de uma hora por semana de ginástica holística para
auxiliar na percepção do corpo. As aulas tratam e
Remuneração da diretoria.
102
previnem qualquer tipo de alteração postural.
2º Zanzini
Móveis
Tudo sob controle: A Zanzini é uma empresa adepta do
uso de indicadores de metas de qualidade e
produtividade. Ao todo são 170 indicadores que ajudam a
elaborar projetos e traçar estratégias. Seu apoio ao
município de Dois Córregos, SP, com programas de
reciclagem, recuperação de jovens delinqüentes etc., deu-
lhe o destaque no quesito orgulho.
Benefícios
: Desde o ano passado, a empresa implementou
um plano de previdência privada em que cada funcionário
colabora com 50% do valor e a empresa complementa os
outros 50%.
Responsabilidade social
: A empresa participa do Dia
Internacional de Combate às Drogas. Os colaboradores
organizam uma força-tarefa para ajudar a conscientizar a
população, distribuindo folders, ministrando palestras.
Qualidade de vida
: Durante o expediente são servidos
suco de frutas e café para todos os colaboradores. A
distribuição é realizada por uma copeira nos dois turnos
da empresa. Nos dias mais quentes são servidos picolés.
Remuneração da diretoria e
demais cargos.
3º Serasa Todos participam: Vencedora do ano passado, a Serasa se
destaca pela maneira como ouve seus funcionários.
Durante uma semana eles participam das reuniões de
planejamento estratégico. As sugestões são lidas uma a
uma, e as melhores são implementadas ao longo do ano,
como por exemplo a troca do restaurante da sede.
Benefícios
: Todos têm direito à bolsa de estudos na
Escola Serasa, cujas aulas são dadas na sede por meio de
convênios com a Fundação Roberto Marinho (supletivo),
a Unisa (graduação) e a FGV (pós).
Responsabilidade social
: A empresa seleciona alunos do
ensino médio e de escolas públicas para que, por meio de
estágio e cursos, desenvolvam-se como profissionais e
cidadãos. Em 2006, 19 pessoas participaram do programa.
Qualidade de vida
: A sede da empresa conta com tendas
de serviços com descontos ao funcionário, tais como
lavanderia, sapataria, costura, cabeleireiro, manicure,
pedicure, engraxate, corretora de seguros e despachante.
Não apresenta.
4º Microsoft Oportunidade no exterior: A rede brasileira não passa um
dia sem contratar uma pessoa, na maioria jovens entre 25
e 35 anos. Segundo eles, a Microsoft dá várias
oportunidades para quem sonha com a possibilidade de
fazer carreira fora do país, o que para a empresa é uma
forma de reconhecer seus profissionais.
Benefícios
: Todos os funcionários são elegíveis a fazer
compras na loja da empresa nos Estados Unidos. Como
todos vão para lá pelo menos uma vez ao ano, todos, sem
exceção, usufruem deste benefício.
Responsabilidade social
: O Programa Parceiros na
Aprendizagem capacita alunos, professores e gestores da
rede pública de ensino. Até hoje, o programa já
Não apresenta.
103
beneficiou 13 milhões de pessoas no Brasil.
Qualidade de vida
: Ao término do período de licença-
maternidade, todas as funcionárias têm direito a optar por
trabalhar o primeiro ou os dois primeiros meses em
esquema de jornada de meio período na própria
residência.
Caterpillar Treinamento de valores: Essa gigante internacional do
ramo de tratores e motores é a campeã em credibilidade –
quesito que leva em conta comunicação, competência e
integridade dos líderes. Algumas práticas que
contribuem para isso são o treinamento nos valores da
empresa e o debate anual das estratégias de cada área,
feito por todos os funcionários.
Benefícios
: Assitência aos funcionários que trabalham
fora do país, com suporte burocrático e logístico,
recompensa salarial, moradia, assistência médica especial
e subsídio para compra de automóvel.
Responsabilidade social
: Em parceria com uma
universidade, a empresa desenvolve o Projeto Pequeno
Cidadão, criando oportunidades de formação
complementar para crianças de bairros carentes da cidade.
Qualidade de vida
: O Programa Mais Família discute
questões como aposentadoria, compulsões (por drogas,
por sexo, por consumo e outras) e administração da renda
familiar.
Remuneração dos cargos
que não são de direção.
6º Fedex Chance de fazer carreira: O reconhecimento profissional é
um dos pontos fortes da política interna, e a oportunidade
de fazer carreira é algo concreto. Não é à toa que o ex-
courier Carlos Eduardo Ienne tenha assumido o posto de
diretor-geral para o Mercosul em 2005. O sistema de
comunicação interno informa sempre que há novas vagas,
e os funcionários têm prioridade.
Benefícios
: Descontos de passagens aéreas internacionais,
em hotéis e aluguel de carros. Para os funcionários que
necessitam viajar a trabalho, a empresa oferece o cartão
de crédito Amex corporativo.
Responsabilidade social
: Funcionários participam das
campanhas educacionais da Safe Kids, entidade mundial
que através de programas educativos procura diminuir o
número de acidentes e mortes de crianças no trânsito.
Qualidade de vida
: Uma equipe de fisioterapeutas presta
serviços na companhia duas vezes por semana. As sessões
são personalizadas e contam com massagem antiestresse e
avaliações de saúde a custo zero.
Não apresenta.
7º Pormade Gestão participativa: Uma boa idéia? A Pormade paga.
Uma sugestão de melhoria nos negócios? Paga também.
A intenção é aumentar a participação nas decisões
estratégicas da empresa e estimular os funcionários a
aprenderem com os próprios erros. Por isso, até quem
comete um deslize recebe prêmio em dinheiro.
Benefícios
: Para a equipe de assistência técnica, o plano
Remuneração da diretoria e
dos demais cargos.
104
de previdência privada é totalmente subsidiado. Para os
demais profissionais do administrativo, a empresa
coordena e gerencia o mesmo plano.
Responsabilidade social
: Em parceria com o Sesi e o
governo federal, a empresa patrocina o Programa Cozinha
Brasil, que promove ações de educação alimentar para
melhorar o nível de saúde e de vida da população.
Qualidade de vida
: A empresa tem uma sala de ginástica,
onde são dadas aulas de dança para filhas dos
profissionais. À tarde e à noite há aulas de ginástica para
mulheres e de futsal para os filhos dos colaboradores.
8º Magazine
Luiza
Espírito feminino: O Magazine Luiza, uma das maiores
redes de varejo do país, obteve primeiro lugar na lista das
30 Melhores Empresas Para a Mulher Trabalhar. Uma das
práticas mais diferentes da companhia é o Cheque-Mãe,
que em 2006 beneficiou 1.300 mães com R$ 200 mensais
para auxiliar na educação e nos cuidados dos filhos
menores de 10 anos e 11 meses.
Beneficios
: A través de convenio com um banco, os
colaboradores têm facilidade na aquisição e construção da
casa própria, com juros menores do que os praticados no
mercado.
Responsabilidade social
: Primeira empresa varejista do
Brasil a atender os requisitos exigidos pelo governo
federal para vender o Computador Para Todos em
parcelas acessíveis à população de baixa renda.
Qualidade de vida
: Às terça-feiras os colaboradores do
escritório central podem começar o dia dançando. A
empresa oferece um espaço para a aula de dança de salão,
como forma de incluir na rotina um momento de
descontração.
Remuneração da diretoria e
demais cargos.
9º Laboratório
Sabin
Canal aberto com a diretoria: Exames laboratoriais
gratuitos para toda a família, auxílio-babá e empréstimos
para a compra de carro e imóveis com juros abaixo do
mercado dão orgulho a quem trabalha no Laboratório
Sabin, em Brasília. A igualdade de tratamento – há até
um canal aberto com a diretoria – garantiu ao Sabin o
destaque em imparcialidade.
Benefícios
: Coaching para preparar os funcionários em
fase de aposentadoria. Podem participar todos os que se
inscreverm no RH, respeitando quem está mais próximo
de se aposentar.
Responsabilidade social
: Um projeto promove visitas em
abrigos de atenção a idosos. A participação dos
colaboradores, familiares e músicos da empresa oferece
aos idosos um dia de carinho, música e doações
assistenciais.
Qualidade de vida
: Toda gestante tem direito a um
salário-mínimo no mês da gestação. Realizado
mensalmente, o Momento No Stress conta com sorvetes,
pipocas, cachorro quente e um filme para relaxar.
Remuneração dos cargos
que não são de direção.
105
10º Apsen Felicidade em primeiro lugar: Os direitos dos
funcionários estão numa Constituição. Em resumo, ela diz
que quem trabalha na Apsen tem que ser feliz. Uma das
formas de promover isso é dar folga no dia do
aniversário, auxílio-creche, atendimento gratuito de
psicólogos e fonoaudiólogos e contribuição financeira em
datas importantes, como casamento e aniversário.
Benefícios
: Para os funcionários com mais de 60 anos, é
dada uma semana de folga por ano. Todos os
colaboradores e seus familiares podem ter atendimento
gratuito de psicólogos e fonoaudiólogos.
Responsabilidade social
: Anualmente há encontros
semanais com filhos e irmãos dos colaboradores, em que
são feitas dinâmicas de grupo e aplicados testes
psicológicos e entrevistas individuais. Todos recebem
feedback.
Qualidade de vida
: Quando os resultados de vendas são
atingidos, todos os colaboradores são liberados logo após
o almoço na primeira sexta-feira do mês seguinte.
Não apresenta.
Os guias além dos resultados das empresas classificadas apresentam algumas matérias que
ganham evidência na publicação por também estarem vinculadas a questão do trabalho. Algumas
das matérias apresentadas pelo Guia Você S/A-Exame- As 150 melhores empresas para você
trabalhar são: Mais meritocracia – Com práticas mais consistentes para avaliar, dar feedback e
promover seu pessoal, as melhores empresas crescem com o time; O profissional ideal para as
melhores – Para garantir seu sucesso no mercado as empresas do Guia precisam de profissionais
versáteis e com visão sistêmica; O papel do CEO – Parceria entre presidente e área de RH dá
retornos duráveis. A revista Época – As 100 melhores empresas para trabalhar além de
apresentar uma matéria de seis páginas sobre a empresa campeã, apresenta três casos de sucesso e
as seguintes matérias: O currículo é só um detalhe – Numa era de competição acirrada pelo
emprego, cinco de cada seis vagas são preenchidas por indicações. Isso significa que a ferramenta
mais eficaz para conseguir trabalho é a sua rede de relacionamentos profissionais. Saiba como
fazer um bom networking; 9 lições das 100 melhores – Conheça algumas medidas que podem
fazer diferença no ambiente de trabalho e no clima geral das empresas (1- As mesmas regras
devem valer para todos. 2- A diversidade da equipe é essencial. 3- As viagens ajudam a oxigenar
as idéias. 4- A confiança pode fazer milagres. 5- As demissões não dependem só do chefe. 6- O
papel social da empresa conta pontos importantes. 7- Ajuda em qualquer caso. 8- Ambiente
familiar de verdade. 9- Dar espaço para atividades extraprofissionais é indispensável.
106
Em suma o que se percebe nas publicações, conforme já comentei de maneira breve
anteriormente, é a ênfase exagerada em demonstrar que a margem de lucro das empresas que
fazem parte da lista é superior à média do mercado ou que felicidade traz dinheiro – que tratar
bem os funcionários é mais do que uma questão de cidadania empresarial – tem a ver com a
sobrevivência do negócio. Partindo deste pressuposto o guia segue dando ênfase às práticas que,
na sua ótica, servem para tornar determinada empresa melhor para se trabalhar.
Cabe salientar o fato de as publicações não levarem em consideração o que estas empresas
apresentam de negativo em sua relação com o trabalhador, ou melhor quase não considerarem
pois quando apresentam algo negativo é de maneira muito breve, quase insignificante e este é
limitado a questões bem pontuais relacionadas a práticas, como por exemplo salário abaixo do
mercado ou falta de vaga para estacionar na empresa, ou espaço físico inadequado...
Chama atenção a lista enorme de práticas apresentadas, em sua maioria relacionadas a
benefícios como plano de saúde, empréstimos, subsídio para graduação, pós graduação, ou curso
de inglês, previdência privada, participação nos resultados ou bônus, entre muitos outros,
conforme apresentado na tabela acima. Ou ainda práticas de gestão como programa de sugestões
de melhorias, gestão participativa, transparência, possibilidade de carreira, avaliação de
desempenho, universidade corporativa... Cabe salientar que algumas das práticas apresentadas
são muito interessantes por serem realmente positivas na relação do trabalhador com seu
trabalho, como por exemplo, a empresa que disponibiliza “salas de guerra”, que servem para
mobilizar pessoas dos diversos setores em torno de questões que afetam a todos.
Porém, diante desta longa lista, na tentativa de tentar identificar uma empresa que possa
ser considerada como melhor para trabalhar fico me perguntando onde posso encontrar resposta
para as seguintes perguntas, que são fundamentais para determinar tal propósito: a quantidade de
trabalho sob responsabilidade do trabalhador está adequada à carga horária prevista no contrato?
O ritmo de trabalho permite que o trabalhador possa manter de maneira equilibrada sua vida
familiar, pessoal e social (incluindo lazer e atividades físicas)? Nesta organização é comum a
prática de horas extras? A organização vê de maneira positiva ou negativa o profissional que se
enquadra como workaholic? O estímulo à competitividade é levado ao extremo ou existem
práticas que estimulem o coletivo? Quantos trabalhadores por ano estiveram afastados por
acidente de trabalho e como a empresa lida com estes trabalhadores? A que nível chega a pressão
por resultados? A empresa entende que o trabalhador é apenas uma força que gera resultados
organizacionais ou possui consciência de que a subjetividade do trabalhador deve ser observada?
107
Cabe destacar que na intenção manifesta por estas organizações analisadas, nitidamente
há intenção de saúde em relação aos trabalhadores, porém as práticas relacionadas à saúde não
associam os referenciais teóricos relacionados ao sofrimento no trabalho, negam ou negligenciam
a importância de associar práticas terapêuticas e de estímulo a qualidade de vida as de melhoria
das condições e da organização do trabalho, assim práticas que poderiam ser muito importantes
para a manutenção da saúde, acabam cegas ou sem potencializar seu efeito pois se chocam com
outras que agridem a saúde. Desta forma convivem, por exemplo, massagem anti-estresse e
sobrecarga, a massagem funciona como um paliativo para a sobrecarga, sendo que para ser uma
prática realmente eficaz deveria ter enfoque na diminuição da sobrecarga.
Enfim gostaria de chamar atenção para a ênfase que as publicações dão aos aspectos que
no senso comum são considerados positivos e a negligência para questões fundamentais na
relação do trabalhador com seu trabalho e principalmente na relação saúde e trabalho em que
muitas das práticas evidenciadas, se analisadas de maneira profunda e imparcial, podem ser
consideradas como negativas, ou seja, que causam prejuízos e sofrimento ao trabalhador, como é
o caso por exemplo da avaliação de desempenho ou dos prêmios por produtividade.
4.1.2 - VII Congresso de Stress da ISMA-BR (International Stress
Management Association)
IX Fórum Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho
Escolhi participar do congresso realizado pela ISMA-BR pela relevância do tema
proposto que interage diretamente com o assunto a que me proponho estudar. Acredito que
utilizar o conteúdo das palestras, pôsters e trabalhos do congresso, seja uma forma representativa
e eficaz de apresentar este material que no presente estudo servirá para demonstrar qual a visão
de RH e quais as práticas de RH, no que se refere a saúde do trabalhador – levando em
consideração que os temas “Stress e Qualidade de Vida no Trabalho” estão diretamente ligados à
saúde no trabalho e do trabalhador.
Este congresso teve como participantes ou público alvo, em sua maioria, digo maioria
pois não é restrito, profissionais que atuam nos mais diversos subsistemas de RH, encontram-se
administradores, psicólogos, assistentes sociais, médicos do trabalho, engenheiros de segurança,
108
fisioterapeutas, entre outros. Conforme informação obtida junto à secretaria do evento, neste ano
foram aproximadamente 700 inscritos, sendo muitos destes das mais diversas regiões do país.
Em 2007 o tema do congresso e do fórum foi: “Trabalho, Stress e Saúde: gerenciamento
eficaz – da teoria à ação”, que segundo a mensagem contida nos anais
24
:
vai ao encontro de uma realidade cada vez mais freqüente no dia-a-dia das
empresas. A quantidade de horas trabalhadas hoje é, em média, de 52
horas/semana, mas deverá aumentar nos próximos anos. As conseqüências desta
realidade não estão apenas nos danos para a saúde física, mas também para a
saúde mental. Para as empresas, os gastos com os problemas causados pela alta
tensão elevam os custos com tratamentos médicos, afastamento do profissional e
lesões no trabalho. De acordo com pesquisas realizadas pela International Stress
Management Association (ISMA-BR), 70% dos trabalhadores brasileiros sofrem
as conseqüências do stress. Sinalizar soluções possíveis para lidar com este
desafio é um de nossos objetivos. E acreditamos que a melhor maneira de fazer
isso é apresentando experiências desenvolvidas nas corporações, nas
universidades e nos órgãos de saúde. Esse é o propósito deste espaço de troca de
idéias e debates. (Ana Maria Rossi, Ph.D. Presidente ISMA-BR – Mensagem
contida nos anais do VII Congresso de Stress da ISMA-BR e IX Fórum
Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho/2007)
Neste breve trecho da mensagem escrita pela presidente da ISMA-BR já se pode observar
que durante o congresso não se pretende discutir a viabilização de alternativas para que seja
solucionado um dos principais causadores de danos a saúde do trabalhador: a excessiva jornada
de trabalho. Ao contrário, as palavras deixam claro que esta é uma realidade certa e imutável e
que tende a piorar
25
e segundo o que diz a mensagem o congresso se propõe a pensar como lidar
com esta realidade sem que as organizações tenham que gastar ou ter prejuízo com o trabalhador
que adoece por trabalhar demais. Ao final da mensagem (conforme citação abaixo) encontra-se
um trecho que, na minha ótica torna evidente que o objetivo, do congresso da ISMA-BR, é de
pensar em mais e mais alternativas para tornar o trabalhador um super-homem que resista ou
suporte a todas pressões que as organizações consideram necessárias. Não demonstra o propósito
de pensar alternativas para tornar o ambiente menos hostil à saúde física e mental do trabalhador.
Além disto remete a idéia de que a questão da prevenção da saúde é uma missão de cunho
pessoal, ou seja, reforça a ênfase no individualismo.
24
Junto com a pasta entregue aos participantes no credenciamento, estava um CD que continha os anais, com
informações sobre o congresso, o fórum e também o curso de gerenciamento do stress que aconteceu no mesmo local
do evento dois dias antes. No CD também está disponível resumo das palestras, pôsters e trabalhos orais.
25
Negando inclusive a realidade apresentada por diversos paises onde, mesmo dentro de um regime capitalista, há
respeito quanto a carga horária, ou seja, trabalham menos.
109
Espero que ao final desse nosso encontro se tenha uma mostra de que é possível
viver com saúde e equilíbrio mesmo com uma longa jornada de trabalho.
Acreditamos que a prevenção da saúde é uma missão pessoal e intransferível.
Congregando esforços, poderemos tornar o mundo menos estressante.” (Ana
Maria Rossi, Ph.D. Presidente ISMA-BR Mensagem contida nos anais do VII
Congresso de Stress da ISMA-BR e IX Fórum Internacional de Qualidade de
Vida no Trabalho/2007)
Infelizmente este pragmatismo transmitido na mensagem da Presidente se fez presente
durante a maior parte do evento. Não quero dizer com isto que nos trabalhos apresentados não se
tenha discutido temas relevantes, também não pretendo questionar a seriedade e competência dos
profissionais que apresentaram os trabalhos, este não é o meu objetivo. O meu objetivo é realizar
uma análise crítica do evento, que permita uma visão abrangente de como a questão “Trabalho,
stress e saúde” (tema do congresso e do fórum) foi abordada. Desta forma este material
contribuirá no meu estudo para a realização da análise que buscará compreender os paradoxos, as
contradições, conflito, tensões e negações no que se refere a realidade praticada pelas
organizações comparada a intenção manifesta pelas mesmas no que se refere a saúde do
trabalhador.
O congresso e o fórum em questão foram realizados em Porto Alegre no período de 26 a
28 de junho de 2007, com atividade pela manhã, tarde e noite. Basicamente o evento contou com
as seguintes atividades:
TIPO QUANTID
ADE
O QUÊ É APRESENTAÇÂO
Palestr
as
13
atividades com
26 palestrantes
Palestra, painel
(nacionais e internacionais),
cases e mesa redonda.
Tratam-se das principais
atividades do evento, todos foram
realizados na sala principal (única com
espaço suficiente para todos os
participantes). Cada uma contava em
média com uma hora de duração, com
variações para mais. Em algumas destas
atividades haviam mais de um
palestrante, como no caso dos cases e
mesa redonda.
Trabal
hos
30 Apresentação oral de
trabalhos
Foram 6 momentos de
apresentação oral de trabalhos, sendo
que em cada momento 5 trabalhos eram
apresentados no curtíssimo espaço de
tempo de uma hora e dez minutos, ou
seja cada participante teria no máximo
110
14 minutos de apresentação. Na maioria
dos casos o horário desta atividade
coincidia com as palestras da sala
principal, assim deveria-se optar entre
participar de uma ou de outra. Mostrou-
se um problema o fato de as salas em
que se realizaram estas atividades
possuíam pouquíssimos lugares, faltava
lugar para as pessoas sentarem.
Pôsters 107 Apresentação de pôsters:
categoria acadêmica,
profissional e empresarial
Os pôsters eram expostos no
saguão onde também estava localizada a
feira do evento, neste local também era
oferecido coffe break e estava
localizada a secretaria. O horário
reservedo para apresentação dos pôsters
era ao término das atividades, ou seja, a
última atividade do dia (para quem não
participaria das atividades opcionais).
Na realidade não houve uma
apresentação, os posters ficavam
expostos e na uma hora prevista para
apresentação o autor, ou representante,
do trabalho em questão, ficava junto
para esclarecer eventuais dúvidas.
Ativid
ades
opcionais
4 Atividades que não estão
incluídas na programação do
congresso e fórum, para
participar deve-se pagar como
uma atividade extra.
Estas atividades eram realizadas
no estilo workshop, com 3 horas de
duração e com vagas limitadas. Cabe
salientar que a inscrição para
participação em uma destas atividades
poderia custar mais de 60% além da
inscrição normal (só no congresso e
fórum)
Achei importante apresentar, de maneira breve na tabela acima, a forma como estiveram
organizadas as atividades no evento pois ajudará o leitor a entender melhor a dimensão de um
fato que me chamou muita atenção: das 13 atividade principais e 26 palestrantes envolvidos
nestas, apenas em uma
26
destas atividades identifiquei a demanda de chamar atenção para a
necessidade de mudança da lógica atual de sobrecarga, de insegurança, de muita pressão, entre
outras que levam o trabalhador ao adoecimento, ou seja, da necessidade de tornar o ambiente
26
Trata-se da palestra: Como legisladores, governo, sindicatos, trabalhadores e empresários podem reduzir o stress
no trabalho. Ministrada pelo Dr. Arlindo Gomes (RJ), médico do trabalho da Petrobrás e ex-diretor científico da
Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT)
111
menos estressante. Também foi o único momento
27
em que se chamou a atenção para as
perspectivas da possível reforma trabalhista – que apresenta inúmeras possibilidades que podem
contribuir de maneira positiva ou negativa para a questão da saúde do trabalhador e que assim,
deveriam ser no mínimo mais lembradas neste congresso e fórum por sua relevância.
As demais palestras, referindo-me ainda as atividades principais, estiveram, em sua
maioria, voltadas para a questão adaptativa, ou seja, como fazer com que o trabalhador encare
todos estressores (objetivos e subjetivos)
28
sem adoecer, ou ainda conforme as palavras de um
palestrante “desenvolver pessoas para suportar as estratégias da empresa”
29
. A impressão final
deixada por esta maioria de palestras é a de que o trabalhador ao contar com uma série de
programas e benefícios (plano de saúde, plano odontológico, programas de prevenção,
recompensas financeiras, cesta básica, auxílio-creche, acompanhamento à gestante, ginástica
laboral, atualização permanente, sala de descanso, acompanhamento psicológico, nutricionista,
fisioterapeuta, massagista, bônus...) possa vir a ser um trabalhador que resista a todo tipo de
pressão por produtividade, a toda e qualquer ambiente competitivo, à ameaça de desemprego, às
exigências de flexibilidade, de atualização permanente, de jornadas de trabalho que além de
excessivas invadem todas dimensões da vida (com celular e internet trabalha-se a qualquer hora
em qualquer lugar) e que além de tudo carrega em seus ombros a responsabilidade de que o
mérito por conseguir lidar de maneira bem sucedida com isto tudo é seu e só seu.
Ainda dentro das atividades consideradas principais, chama atenção o fato de que no
terceiro dia todas atividades estiveram ligadas a questão da responsabilidade social (ressalto que
as questões abordadas estavam atreladas à solidariedade, voluntariado, risco social, para deixar
claro que a responsabilidade social abordada não se referia a da empresa com seu trabalhador) ou
seja, no meu entendimento fugiram totalmente ao tema proposto pelo congresso e fórum.
Procurei entender o porque deste desvio no foco e encontrei no site da ISMA-BR uma espécie de
balanço realizado pós congresso assinado pela comissão organizadora que dizia o seguinte:
Os tema selecionados para o Congresso de 2007 atenderam a uma demanda
atual. Este debate envolveu, além de experiências empresariais e pesquisas na
área, a discussão do peso da responsabilidade social neste processo. A idéia não
27
Digo único momento levando em consideração as atividades de que participei, que foram a grande maioria, mas
como haviam atividades simultâneas, pode ter acontecido em algum outro momento.
28
São considerados estressores objetivos os ligados à jornada de trabalho, periculosidade, insalubridade, trabalho
noturno, trabalho em final de semana, metas, sobrecarga... Os estressores subjetivos estão ligados à cobrança da
chefia, flexibilização, individualismo, ameaça de desemprego, deficiência de capacitação, abuso moral...
29
Luis Antônio Oselame – Diretor executivo da Fras-le na palestra: Pessoas inspirando a gestão.
112
foi apenas discutir medidas pontuais, mas um conjunto de ações para tornar o
dia-a-dia corporativo mais produtivo e sem prejuízos para a saúde física e
mental. Congregando esforços, podemos tornar o mundo menos estressante.
(Comissão organizadora no site: www.ismabrasil.com.br/congresso
2007 em
08/10/07)
Não me pareceu uma justificativa satisfatória mas sim vazia e sem fundamento. Fiquei me
interrogando sobre as seguintes possibilidades: qual o objetivo de colocar o tema
responsabilidade social em um congresso que trata de trabalho, stress e saúde? O objetivo estaria
ligado ao fato de que a responsabilidade social é um tema que está na moda e o congresso
procura seguir está tendência? Será a forma que a comissão organizadora encontrou para
proporcionar a determinadas organizações um espaço no congresso? Porque este espaço, que
pode ser considerado nobre por não apresentar nenhuma atividades simultânea e ser realizado no
salão principal, não foi destinado a apresentação oral de trabalhos que contava com temas tão
relevantes, essências, fundamentais e que foram prejudicados por uma série de motivos sendo o
principal o tempo de 14 minutos no máximo para apresentação?
Para demonstrar de maneira mais clara o que tentei expressar acima, com relação ao que
representou as palestras principais do congresso e do fórum, acredito que a tabela abaixo possa
auxiliar pois irá indicar o(s) palestrante(s) a(s) palestra(s) e um breve resumo do que foi tratado.
Palestrante Palestra Resumo
Richard Rahe (EUA) psiquiatra, é
co-autor do primeiro teste de stress,
de 1967, e, mais recentemente, do
Breve Inventário de Causas e
Estratégias para Lidar com o Stress.
Consultor de empresas americanas
sobre gerenciamento de stress
corporativo como forma de
contenção de despesas. Desenvolveu
um programa de gerenciamento do
stress pós-traumático para as Nações
Unidas e para a Organização Mundial
da Saúde.
Reduzindo os gastos com
saúde através de treinamento
para gerenciar o nível de
stress.
Apresentou o inventário de causas do
stress, trata-se de fatores que em uma
escala pretendem identificar (por
pontos) o nível de stress (gravidez,
casamento, morte de familiares,
divórcio, doença...). Em sua pesquisa
relacionou mudanças na vida com o
adoecimento. Em seus estudos
identificou que muitas mudanças na
vida significam maior vulnerabilidade
para problemas cardíacos ou morte
súbita.
Arlindo Gomes (RJ) médico do
trabalho da Petrobrás. Ex diretor
científico da Associação Nacional de
Medicina do Trabalho (ANAMT).
Como legisladores, governo,
sindicatos, trabalhadores e
empresários podem reduzir o
stress no trabalho.
As vítimas do ”stress” no trabalho:
Sem a menor dúvidas as vítimas do
“stress” no trabalho são os
trabalhadores, sejam operários,
supervisores, gerentes e até
empresários.
Principais Fatores de Risco:
(Sobre)carga de trabalho;
113
(sobre)carga horária; (Sobre)carga de
responsabilidade.
O que precisa mudar na CLT e
legislação previdenciária: Com
certeza não serão as mudanças da
legislação que solucionarão o
complexo ”stress” no trabalho. Mas
as mudanças ajudarão a implementar
uma nova cultura de preservação da
saúde e da qualidade de vida dos
trabalhadores, engravatados ou não.
Ana Cristina Limongi-França (SP)
professora doutora e livre-docente do
Departamento de Administração da
FEA-USP e diretora do Núcleo de
Pesquisa em Gestão de Qualidade de
Vida no Trablho.
Crismeri Delfino Corrêa (RS)
professora de pós-graduação das
Faculdades Porto-Alegrenses
(FAPA) e do curso Integrated
Coaching Institut (ICI). É diretora da
Possibilita Desenvolvimento do Ser
Humano e vice-presidente de Gestão
e Inovação da ABRH-RS
Painel: Promoção da saúde
através de programas de
qualidade de vida.
1) Ana Cristina – Modelos
de gestão com promoção de
saúde e qualidade de vida.
2) Crismeri – Mundo
corporativo: a qualidade de
vida como tema em coaching
executivo
1) Integrar Promoção de Saúde e
Qualidade de Vida no Trabalho- QVT
representa hoje um dos maiores
desafios empresariais. Não têm sido
uma tarefa simples conciliar
competitividade aos novos padrões de
conhecimento, aliados à qualificação
profissional e aos novos estilos de
vida.
A base destes desafios está na visão
biopsicossocial de pessoa, toda
pessoa tem potencialidades
biológicas, psicológicas e sociais que
respondem simultaneamente às
condições de vida.
2) Na era do conhecimento, a
organização que estiver voltada para
o aprendizado contínuo, estará sendo
cada vez mais competitiva. Os
profissionais devem estar preparados
para os desafios e oportunidades
existentes e despertar para o seu papel
como agente de mudança e avaliar
sua gestão frente ao novo momento
das empresas.
O fator de diferenciação do
profissional deste novo mundo é
procurar seu autodesenvolvimento,
entendendo sua dinâmica de atuação
junto ao mercado, avaliando valores,
hábitos, referenciais, analisando suas
redes de relacionamentos, buscando
comprometimento com o seu próprio
crescimento profissional, investindo
na sua empregabilidade na sua
carreira. O Cocahing auxilia nesta
busca.
Márcia Rocha (SP) Guia exame
você S/A (Melhores empresas para se
trabalhar)
Cases QVT: Modelos
inspiradores em gestão de
pessoas.
1) Apresenta a metodologia utilizada
pela parceira – Programa de estudos
em gestão de pessoas (PROGED –
114
Catarina Jocab (SP) gerente de
benefícios e proteção à saúde Accor.
Luis Antonio Oselame (RS) diretor
executivo da Fras-le.
1) Márcia – As descobertas
do Guia Exame – Você S/A
2006
2) Catarina – Cultura de
qualidade de vida no
trabalho: a longa jornada!
3) Luis – Pessoas inspirando
a gestão
FIA) e as principais descobertas feitas
no guia no ano passado.
2) Apresenta a equipe multidisciplinar
que compõe a área de benefícios e
proteção a saúde da Accor e os
diversos programas oferecidos pela
empresa a seus trabalhadores.
3) A gestão de pessoas baseia-se no
fato de que o desempenho de uma
Organização depende fortemente da
contribuição das pessoas que a
compõem e da forma como elas estão
organizadas, são estimuladas e
capacitadas, e como são mantidas
num ambiente de trabalho e num
clima organizacional adequados.
Alguns dos vários programas
desenvolvidos na organização para
atender as demandas e expectativas:
Aqui Você pode Crescer
recrutamento interno; Sucessão de
Gestores – funcionários que serão
desenvolvidos para suceder gestores;
Crescer –programa de educação e
desenvolvimento profissional;
Florescer –desenvolve atividades
educativas e culturais destinadas a
crianças e adolescentes; Qualificar
preparação/capacitação de jovens
para mercado de trabalho; Novos
Caminhos – preparação para
desvinculo da empresa; Viver de
Bem com a Vida – programa de
qualidade de vida que desenvolve
ações que estimulam hábitos e
atitudes saudáveis; Benefícios – rol
com inúmeros benefícios
assistenciais.
Ana Maria Rossi (RS) precursora
das técnicas de autocontrole e
biofeedback no Brasil. Dirige a
Clínica de Stress e Biofeedback, em
POA. É presidente da ISMA-BR e
representante brasileira na Divisão de
Saúde Ocupacional da Associação
Mundial de Psiquiatria(WPA)
Dalal El Achkar (SC) mestre em
mídia e conhecimento. É consultora
educacional na construção da
Pedagogia do Amor, envolvendo
Mesa-redonda: Técnicas
para driblar o stress.
1) Ana Maria – Avaliação
comparativa de tratamento
terapêutico para tratar stress
ocupacional
2) Dalal - Jeito de ver a vida
3) Werner – Treinamento
autógeno: uma técnica eficaz
de relaxamento
1) Apresenta resultados obtidos em
pesquisa sobre a ansiedade de falar
em público, que avalia
comparativamente a eficácia do
tratamento terapêutico
exclusivamente adaptado às
necessidades particulares de cada
indivíduo e um outro grupo de
controle.
2) O desenvolvimento da auto estima,
a discussão sobre questões éticas, a
necessidade de um desenvolvimento
sustentável precisam estar presentes
115
jogos cooperativos, vivências e
danças circulares.
Werner Zimmermann (SC)
psiquiatra com especialização em
dependência química e
psicoterapeuta de treinamento
autógeno e de visualização pela
Universidade de Berna na Suíça.
nas escolas para ensinar ao homem o
que ele tem de melhor: a condição
humana. Para isso, é necessário
repensar a ação dos professores e
estruturar uma pedagogia pautada no
afeto. Ao invés de práticas rotineiras
e disciplinares o aluno deve
experimentar e ter espaço para
perceber as suas emoções, interagir
com os colegas, não no intuito de
competir, mas sempre buscando a
cooperação e o diálogo.
Os pais, devem estar atentos aos
elementos que elegem como
necessários para a escola dos seus
filhos. A boa escola no mundo
contemporâneo é a que prima pela
formação do homem como um todo,
sem descartar as suas emoções. O
resultado disso poderá ser
experimentado no dia-a-dia, com
crianças mais solidárias, mais
cidadãs, mais amáveis e, por isso,
mais competentes e mais preparadas.
3) Treinamento autógeno (TA) induz
a reflexão. Treina a pessoa para que
adquira a capacidade de induzir
sozinha esse estado peculiar
conseguindo níveis cada vez mais
profundos de relaxamento obtendo
inclusive benefícios terapêuticos. É
esse aprofundamento do TA que com
o treinamento induz a uma reflexão
em que a pessoa capta sinais do seu
inconsciente encontrando soluções
para atividade profissional, para seus
problemas, conflitos e traumas,
aumentando a criatividade e a
produtividade.
Eduardo Ferreira-Santos (SP)
médico-supervisor no Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da USP. É
mestre em psicologia clínica e doutor
em ciências médicas.
Avaliação da magnitude do
transtorno de stress em
vítimas de seqüestro e seu
tratamento
Este trabalho mostra que o grau de
magnitude do Transtorno de Estresse
Pós-Traumático que acomete vítimas
de seqüestro atinge picos
suficientemente elevados e que
devem receber maior atenção tanto
em nível de Saúde Pública quanto
Segurança Pública.
O principal objetivo político deste
trabalho é mostrar, principalmente ao
Poder Público, que tanto se preocupa
com os criminosos e seus “direitos
116
humanos” que há seres humanos
absolutamente sem direito algum
padecendo terrivelmente à mercê da
própria sorte.
Enquanto o Estado e as várias ONG’s
de “Direitos Humanos” preocupam-se
excessivamente com o criminoso, a
vítima é levada ao esquecimento e
tem que procurar sozinha,
peregrinando por clínicas, hospitais,
Serviços Psiquiátricos, quem possa
ajudá-la.
Ronald Schouten (EUA) diretor do
Serviço de Direito e Psiquiatria do
Massachusetts General Hospital e
professor adjunto de psiquiatria na
Faculdade de Medicina da Harvard
University. É consultor internacional
em psiquiatria forense, assédio sexual
e violência no local de trabalho.
Avaliação e administração
de comportamentos
destrutivos em executivos e
profissionais.
Diz que o stress faz parte do dia-a-dia
dos executivos e é bem visto pela
organização pois vem trazendo
resultados positivos. O desafio é
mostrar para as organizações e
trabalhadores que o stress a longo
prazo causa doença.
Redford Williams (EUA) psiquiatra,
é diretor do Centro de Pesquisa e
Medicina Comportamental e
professor de psiquiatria e ciências
comportamentais da Faculdade de
Medicina da Duke University. É
autor do best-seller americano anger
kilss (A Raiva Mata) e presidente da
Sociedade Internacional de Medicina
Comportamental (ISBM)
Fatores de risco
psicossociais para doença
cardiovascular: o que
sabemos, o que podemos
fazer?
O papel da hostilidade, depressão e
isolamento na etiologia e evolução da
doença. Mecanismos
biocomportamentais e a etiologia na
evolução da doença. O papel dos
genes e possíveis intervenções
comportamentais para evitar os
efeitos danosos à saúde.
Redford Williams (EUA) psiquiatra,
é diretor do Centro de Pesquisa e
Medicina Comportamental e
professor de psiquiatria e ciências
comportamentais da Faculdade de
Medicina da Duke University. É
autor do best-seller americano anger
kilss (A Raiva Mata) e presidente da
Sociedade Internacional de Medicina
Comportamental (ISBM)
Discussão: Fundação da
Sociedade de Medicina
Comportamental no Brasil
* Não foi possível apresentar o
resumo pois não assisti a este debate e
os objetivos do mesmo não
constavam nos anais.
Cézar Busatto (RS) secretário de
Coordenação Política e Governança
Local de Porto Alegre. É autor das
leis que criaram o Prêmio de
Responsabilidade Social da
Assembléia Legislativa RS e a
Comissão Especial de
Responsabilidade Social no Setor
Público do governo gaúcho.
Dr. Osmar Terra (RS) secretário
Painel: Políticas públicas
transformadoras.
1) Cezar - Resultados
práticos de governança
solidária.
2) Osmar – O programa
Primeira Infância Melhor
como investimento
estratégico em saúde
1) GOVERNANÇA SOLIDÁRIA
LOCAL é uma expressão que procura
sublinhar três conceitos que a cada
dia ganham mais força no tecido
social mundial. A GOVERNANÇA,
que é o processo promotor de um
ambiente social de diálogo,
democrático e de cooperação. A
SOLIDARIEDADE, que é a atitude
da partilha, do auxílio, do apoio, da
defesa, do respeito ao outro e do
117
estadual da Saúde. É médico e é o
idealizador e responsável pela
implementação do PIM no RS.
Lívio Giosa (SP) diretor regional
São Paulo da revista Brasil
Responsável, diretor do Instituto
ADVB de Responsabilidade Social e
presidente do Conselho da
Organização Social Abaçaí Cultura
& Arte.
pública.
3) Lívio – A
responsabilidade social dos
municípios.
comprometimento com o outro. A
LOCALIDADE, que é o lugar onde a
vida acontece, onde é gerada a
identidade social, onde as pessoas
vivem suas alegrias e seus medos, se
relacionam e se comunicam, se
reúnem e disputam. É neste ambiente
– de GOVERNANÇA SOLIDÁRIA
LOCAL – onde a conectividade entre
as pessoas e redes sociais se
iluminam, que estamos estimulando a
constituição de parcerias entre todos
os setores da sociedade.
2) Apresenta o programa PIM –
Primeira Infância Melhor
3) Analisa a participação da
sociedade por meio da
Responsabilidade Municipal. A
cidade é nossa, o município é nosso e,
por isto, devemos abraçá-lo e cuidar
dele. Cabe, aos executivos municipais
atentarem para esta nova leitura da
sociedade, operacionalizando essa
percepção inovadora do cidadão
consciente da sua responsabilidade
municipal.
O compromisso coletivo e individual
para com a cidade pode ser inspirado
por ações práticas, tais como cuidar
da calçada em frente à residência;
manter cuidadas as praças e jardins
próximas às residências, empresas ou
instituições; depositar adequadamente
o lixo; identificar creches, asilos e
escolas ao entorno, aprimorando
fisicamente instalações, participando
de programas de convivência;
participar das associações de bairro,
conselho de segurança, conselho
tutelar e demais iniciativas coletivas
em prol da comunidade; acionar a
defesa civil quando houver
necessidade...
Ana Paula Gumy (PR) diretora do
Instituto HSBC Solidariedade, que
tem a criança como elemento
principal.
Claudia Franciosi (RS) gerente de
mobilização da Parceiros
Voluntários, ONG criada para
estimular, promover e capacitar o
Painel: Terceiro setor,
corações, mentes e mãos à
obra.
1) Ana Paula – Capital
financeiro a serviço do
capital humano.
1) Apresenta as ações desenvolvidas
pela Instituto HSBC Solidariedade.
2) Busca conscientizar sobre a
importância do voluntariado. Parte do
p
rincípio que nossas atitudes
contribuem para o bem-estar e
desenvolvimento sustentável de toda
a humanidade. Não há prazos
118
voluntariado no RS.
Rose Marie Linck (RS) presidente e
membro do Conselho Curador da
Fundação do Projeto Pescar, ONG
que atua como uma franquia social
para empresas engajadas na formação
e qualificação profissional de jovens
em situação de risco social.
2) A força transformadora do
voluntariado.
3) O desafio da inclusão para
jovens em situação de risco
social.
determinados para que isso aconteça,
há um ir e vir representado pela
contextualização e significação de
informações, que se transformam, a
cada novo processo, em aprendizado.
A vivência dentro das creches,
abrigos, asilos, associações
comunitárias e seus significados
transformam a teoria do voluntariado
em Compromisso Humano!
3) No atual quadro de desamparo
geral, as crianças e os adolescentes
das camadas mais pobres são os mais
duramente atingidos. E o nosso
grande desafio como sociedade é
propiciar-lhes urgentemente uma
oportunidade de inclusão social
através de ações eficientes.
A metodologia do Projeto Pescar foi
construída partindo deste conceito,
por meio de cursos de iniciação
profissional ministrados em Unidades
montadas dentro de empresas. Estes
cursos fornecem ao jovem
ferramentas para qualifica-lo no
mundo do trabalho e, paralelamente,
apresentam um universo novo através
de palestras, visitas, informações e
atividades, propiciando-lhes uma
nova visão, mais real e objetiva, de
suas possibilidades e de seus direitos
como cidadãos.
Leonardo Meneghetti (RS) diretor
geral do Grupo Bandeirantes de
Comunicação no RS.
Luiz Coronel (RS) escritor,
publicitário e presidente institucional
da Associação Latino-Americana de
Agências de Publicidade (ALAP)
Marcelo Rech (RS) diretor de
redação da Zero Hora e diretor
editorial dos jornais do Grupo RBS
Painel: A responsabilidade
social da mídia.
1) Leonardo – A mídia como
parceira de projetos sociais.
2) Luiz Coronel - Mídia
consciência e alienação.
3) Marcelo – A
responsabilidade do
jornalista diante do teclado e
da sociedade.
1) Apresenta ações de
responsabilidade social desenvolvidas
no Grupo Bandeirantes.
2) Chama atenção para o fato de que a
regência de nossa época não é
conscientizadora. O texto babaca
triunfa. Todos percebemos uma
grande queda no nível de consciência
que veio de roldão com a civilização
que priorizou a imagem pela idéia, o
entretenimento apenas, sobre o valor
cultural das manifestações artísticas.
Hoje, pensar não é necessário. Big
Brother são pensadores, ideólogos da
vida e do amor. Aí entra então o NA,
ou seja, o Nível de Alienação que se
revela cada vez mais alto.
3) Apresenta alguns conceitos básicos
que dizem respeito a responsabilidade
119
do jornalista e em segundo momento
apresenta como exemplo de como
desenvolver uma transformação
social positiva a campanha da RBS –
O amor é a melhor herança – cuide
das crianças.
Sepé Tiaraju (RS) executivo da
Copesul.
Carlos Faccina (SP) diretor de
assuntos corporativos da Nestlé
Brasil e presidente da Fundação
Nestlé Cultura.
Hildo Francisco Henz (RS) diretor-
presidente da Refap S/A.
Jair Luiz Kievel (RS) gerente de
responsabilidade social do Grupo
Azaléia S/A e diretor do Instituto
Nestor de Paula, que tem como foco
estratégico ações voltadas a criança e
adolescentes. É consultor de projetos
sociais e especialista em captação de
recursos para programas sociais.
Painel: Empresas e sua
verdadeira razão social.
1) Sepé - Sustentabilidade
empresarial, mais que um
conceito, uma necessidade.
2) Carlos - O profissional
competitivo: razão, emoção
e sentimentos na gestão.
3) Hildo – Refinando bens
sociais.
4) Jair – Crianças, futuro ou
presente do Brasil?
1) Apresenta a Copesul e os
programas voltados para
responsabilidade social, segurança e
meio ambiente.
2) o que as ciências emergentes do
comportamento e da mente humanas -
a genética, a sociobiologia, a
psicologia cognitiva e a neurociência
- têm a dizer para os estudiosos e
praticantes da arte da gestão
empresarial? Quais serão os atributos
do profissional de sucesso na
economia do século XXI? Que tipo de
empresa será capaz de atrair e manter
esses profissionais em seus quadros?
E por que a responsabilidade social
vem se tornando não mera opção, mas
uma condição de sobrevivência para
as empresas no ambiente cada vez
mais competitivo e exigente do
mundo globalizado? As respostas
para estas e outras perguntas estão no
livro O profissional competitivo:
razões, emoções e sentimentos na
gestão, escrito por Carlos Faccina.
3) A Alberto Pasqualini – Refap S/A
tem a responsabilidade social como
parte de sua estratégia de negócio,
pois reconhece que a sustentabilidade
é fator decisivo para que sejam
alcançados os resultados empresariais
que permitirão que a organização
cumpra seu papel e sua missão de
desenvolvimento perante a sociedade.
Apresenta as ações desenvolvidas
pela empresa em responsabilidade
social.
4) Apresenta que a Calçados Azaléia,
ciente do seu compromisso com as
comunidades onde está presente
criou, em novembro de 2004, o
Instituto Nestor de Paula e definiu
que toda e qualquer ação da empresa
no campo comunitário se daria
através das ações do próprio instituto.
120
Nestor de Paula acreditava que
investir na criança e no adolescente é
a melhor forma de se chegar a uma
sociedade mais justa. Por isso, o
Instituto Nestor de Paula tem como
missão promover e qualificar projetos
sociais e culturais para a consolidação
da cidadania de crianças e
adolescentes, tendo como abrangência
de sua atuação os municípios onde a
empresa está presente no RS, BA e
SE. Em pouco mais de dois anos de
atuação o Instituto Nestor de Paula já
investiu mais de R$ 2 milhões e
apoiou cerca de 30 projetos nos três
estados.
Com relação à atividade de apresentação oral de trabalhos, ao contrário da percepção
negativa que tive das palestras principais que além de desviarem-se do foco do congresso e do
fórum voltaram sua atenção para a questão da adaptação do trabalhador às exigências
organizacionais, os trabalhos orais apresentavam assuntos bastante pertinentes e relevantes ao
tema proposto, não detendo-se apenas na questão da adaptação do trabalhador ao estresse, mas
apresentando dados que auxiliam na compreensão e discussão da questão da saúde do trabalhador
versus organização do trabalho.
O grande problema na apresentação dos trabalhos orais, conforme já comentei
anteriormente, foi o tempo curto oferecidos para os profissionais apresentarem seus trabalhos.
Foi destinada uma hora e dez minutos para cinco profissionais, neste tempo além da apresentação
do trabalho em si, era feita uma apresentação pelo mediador(a) e também destinado ao final um
tempo para possíveis perguntas, ou seja, cada um tinha dez minutos no máximo para
apresentação, o que prejudicou muito temas que com certeza mereciam ser desenvolvidos com
mais tempo e também com maior abrangência
30
. Para o leitor ter uma idéia sobre os temas
desenvolvidos segue abaixo um quadro que apresenta o autor e título do trabalho.
Autor Título
Ana Maria Maeda A compreensão do residente, em reumatologia, no atendimento aos
fibromiálgicos.
30
Digo maior abrangência pois os trabalhos orais eram apresentados em salas pequenas e em sua maioria com
atividades em paralelo.
121
Daniel Gonçalves Diagnóstico de qualidade de vida e saúde mental na comunidade.
Eduardo Sá Oliveira Diagnóstico nos níveis de stress no trabalho, no âmbito do STJ.
Eniva Miladi Fernandes Análise estatística de indicadores de estresse e depressão em idosos.
Erasmo Felipe Vergara Quantificação dos efeitos da exposição sonora ocupacional dos
operadores de teleatendimento.
Eveli Freire Mobbing (assédio psicológico), transtornos mentais e coping em
trabalhadores de gasoduto.
Fábio Cássio Qualidade de vida no trabalho e valores organizacionais: integração
necessária.
Graciele Matos S.O.S. – um pedido de socorro ecoa: um estudo sobre a síndrome de
burnout em trabalhadores de saúde.
Helena Karla Barbosa de Lima QVT e GP
Hugo Edgar Burnout: o stress laboral dos professores.
José Vitor da Silva O homem maduro: Como está sua qualidade de vida?
José Vitor da Silva Ser morador de rua, qualidade de vida e auto-estima.
Josiane Targa Gestão do orçamento familiar – Uma questão de qualidade de vida.
Karina Stryjer Principais marcadores de stress nas empresas brasileiras. Importante
fator de risco na piora da qualidade de vida de produtividade
empresarial.
Karina Stryjer Implementação do Programa de Qualidade de Vida (PVQ nas empresas
(1 etapa)
Leandro Custódio Saúde e qualidade de vida no trabalho: um tema atual.
Luciane Ruiz Stress no cotidiano da equipe de enfermagem.
Luciano Zille Novas perspectivas para a abordagem do estresse.
Marcelo Negri A não conscientização da monitorização dos fatores de risco
cardiovascular nas grandes empresas.
Márcia Oliveira Staffa Tironi Qualidade de vida e burnout em médicos intensivistas.
Marcos Vinícius Santa Cruz Competências ergonômicas viabilizando a QVT.
Marcus Vinícius Santa Cruz Os impactos da QVT no clima organizacional.
Margareth Ribeiro Estresse psíquico e (in)satisfação dos valores laborais.
Miako Kimura Qualidade de vida no trabalho: construção e validação de um
instrumento de medida para enfermeiras.
Patrícia Silveira A intervenção do yoga em bancários.
Roberta Schwingel Burnout em docentes e funcionamento institucional.
Rosangela Marion Stress dos enfermeiros na clínica médica de um hospital universitário.
Sérgio Eduardo Rocha Aconselhamento médico psicológico para mulheres climatérias e grupo
de apoio.
Sheila Murta Intervenções psicoeducativas para manejo de estresse ocupacional: um
estudo comparativo.
Shirley Aparecida Silva Rocha Inclusão social com responsabilidade: os correios fazem sua parte.
Quanto a apresentação de pôsters, da mesma forma que os trabalhos orais, foram
apresentados temas relevantes, pertinentes e interessantes, porém, saliento que o aproveitamento
desta modalidade (pôster) por parte dos participantes é pouquíssimo pois não há uma exposição
dialogada, limita-se a exposição física do pôster em si e possibilidade de esclarecer dúvidas com
o autor. Novamente fico com a sensação de dúvida: porque nas palestras principais foram
122
tratados assuntos que fogem ao foco enquanto assuntos fundamentais, como estudos sobre a
saúde de determinadas categorias de trabalhadores, ficaram com espaço limitadíssimo para
apresentação?
A seguir apresentarei tabela com alguns dos pôsters apresentados, como são 107 pôsters
no total, um número grande que tomaria um espaço não justificado, apresentarei apenas 10 e
como forma de ilustrar, além do autor e título, apresentarei um breve resumo de alguns achados
apresentados.
Autor Título O que apontou
Ana Paula de Oliveira
Teixeira
Uma análise crítica de
motivos que levam os
gestores de pessoas a
adotarem as atividades de
ginástica laboral.
Entende que a atividade de GL (Ginástica Laboral)
não apresenta efeitos observáveis nos
trabalhadores, de modo a interferir no aumento ou
diminuição de doenças ocupacionais, e que, de
forma isolada, não atende adequadamente às
demandas ergonômicas no trabalho.
Diversas outras intervenções como pausas para
lanche, espaço para práticas de atividades lúdicas
ou a melhor organização no trabalho podem se
mostrar tão eficazes quanto o atribuído à GL na
medida em que atendem ao seu princípio básico,
qual seja, parar o ritmo do trabalho.
Ressalta a importância de conhecer a fundo, as
práticas existentes no mundo corporativo que
visam ao bem estar do trabalhador. Ao gestor de
recursos humanos, cabe uma reflexão sobre os
determinantes de suas escolhas por ser o principal
elemento neste contexto. Muito mais do que
atividades como a ginástica laboral, urge refletir
sobre a forma como os trabalhadores hoje se
expõem nas corporações e de que forma esta
relação se dá. A causa de disfunções que
justificariam intervenções de saúde pode estar no
bom senso e no entendimento que os trabalhadores
são pessoas e não máquinas.
Astrid Bandeira O trabalho e sua relação com
o alcoolismo.
No trabalho, o uso de álcool pode ser considerado
como um dos diversos meios utilizados pelas
pessoas para fazer frente ao estresse. No entanto,
essa é uma estratégia útil apenas a curto prazo, pois
este comportamento pode converter-se, com o
tempo, em um hábito cada vez menos deliberado e
cada vez mais compulsivo, acarretando
conseqüências negativas para a saúde, para as
relações sociais, e para o desempenho nas
atividades laborativas (Kalimo e Mejman in
Kalimo, El-Batawi e Cooper, 1988).
Para Dejours, em sua contribuição da
123
psicopatologia do trabalho, o consumo de álcool
pode ser promovido ao status de defesa coletiva
contra o sofrimento, e isso está indissociável da
profissão. O consumo de álcool pode ser uma
confrontação com a organização do trabalho por
parte dos trabalhadores. Essas atitudes coletivas e
profissionais podem ser resposta às organizações
do trabalho, uma vez que implicam em riscos
importantes à integridade corporal do trabalhador,
e, por conseguinte, geram tensões psíquicas
particulares (Vaissman, 2004).
Claudia Dias Ollay A identificação do nível de
estresse em operadores de
telemarketing é fundamental
para o planejamento de
programas de saúde.
Constatou-se que 50% dos operadores apresentam
sintomas de estresse, sendo que 93% encontram-se
na fase de resistência e 7% encontram-se na fase
de quase exaustão.
Esses 50% apresentam desconfortos corporais,
sendo os seguimentos corporais mais referidos
ombro direito e pescoço.
Érika Boller Manifestações de estresse
proveniente do ambiente de
trabalho.
Os trabalhadores da equipe de enfermagem se
encontravam em uma das três fases do estresse:
fase de alarme, de resistência e de exaustão
(VIEIRA, 1995). Na fase de alarme, citaram
insônia, fadiga e anorexia; na fase de resistência,
os sintomas evidenciados, foram irritabilidade,
isolamento social e falta de prazer na vida;
enquanto que na fase de exaustão, citaram
depressão, hipertensão arterial e patologias
cardíacas. É nesta fase que o corpo perde a energia
e entra em exaustão, o indivíduo fica deprimido e
perde a razão, correndo o risco do aparecimento de
doenças graves. Quanto aos fatores do ambiente de
trabalho, citaram sobrecarga de funções; pressão
de familiares de pacientes atendidos, sobrecarga de
trabalho e outros decorrentes do ambiente de
trabalho.
Flávio Renato Barros Fatores organizacionais que
influenciam nos níveis de
estresse de trabalhadores de
saúde.
Evidências encontradas neste estudo apontam para
a necessidade de adoção de medidas voltadas ao
controle dos níveis de estresse, através de ações
que visem, entre outras coisas, a humanização dos
processos e ajustamentos na estrutura
organizacional, o que viria a melhorar a capacidade
produtiva de cada indivíduo e, conseqüentemente,
a qualidade do atendimento.
Hamilton Delgado O estresse no trabalho
promovido por palavras que
comunicam, mas não
dialogam.
Frases como “A partir de hoje (o chefe)
determina...” denotam a verticalidade de uma
comunicação excludente e, uma ação que, no
sentido arendtiano da inicio a um processo de
conseqüências totalmente imprevisíveis. Em
contextos de fragilização dos direitos trabalhistas e
/ou de “crises”, a falta de diálogo, a comunicação
vertical e o autoritarismo hierárquico são lidos
124
pelos subalternos como ameaças à estabilidade
e/ou ao sossego, isto é, são vistas como um risco à
própria continuidade e/ou à qualidade de vida no
trabalho. Medo e estresse incrementam-se em
proporção direta ao que é percebido como
arbitrário, injusto, abusivo, mas que deve ser
suportado em nome do sustento, do status
adquirido, das possíveis represarias, etc.
Letícia de Lima
Trindade
Compreendendo o estresse
laboral vivenciado pelos
trabalhadores da Estratégia
da Saúde da Família.
Conclui-se com esta primeira etapa da pesquisa a
presença da Síndrome de Burnout entre estes
profissionais, bem como a necessidade de
despertá-los para as questões referentes aos
problemas encontrados no universo laboral.
Maria Elisa Grosner Grupo de gerenciamento de
estresse no Superior Tribunal
de Justiça.
Conclui-se então, que a partir de um trabalho
baseado em conscientização, auto-conhecimento e
preparação para a mudança é possível favorecer a
criação de novos hábitos de vida, em direção à
saúde, como proposto por Lipp (2001). Oficinas de
gerenciamento de estresse podem oferecer uma
solução viável para que trabalhadores aprendam a
lidar com o estresse evitando seus estágios mais
avançados de desgaste e otimizando o euestresse.
Mayte Raya Saúde da categoría bancária
no Rio Grande do Sul
A maioria dos entrevistados (88%) avaliou
positivamente as condições materiais de trabalho,
considerando o ambiente agradável, boas
condições de higiene e mobiliário confortável. Em
contrapartida, avaliam diversas fontes de tensão na
organização do trabalho, como: sobrecarga (56%
consideram volume de trabalho excessivo),
redução de pessoal (apenas 35% consideram o
número de funcionários adequado), ritmo
acelerado (na opinião de 67%) e pressão excessiva
para cumprimento de metas (para 49% dos
participantes). Quase 30% dos entrevistados já
sofreram acidente de trabalho. A maioria dos
participantes (61%) considera que o trabalho afeta
a sua saúde. Os problemas referidos com mais
freqüência são: estresse (76%), irritação (62%),
ansiedade (62%) e distúrbios músculo-esqueléticos
(52%). Os resultados indicam que grande parte dos
entrevistados relaciona seus problemas de saúde às
atividades laborais, com ênfase na sobrecarga e
pressão para cumprimento de metas, tendo
repercussões importantes na saúde mental.
Tiago Rafael
Rodrigues
Análise da incidência de
stress em funcionários da
saúde como contribuição
para a implantação da
política nacional de
humanização.
Principais fatores estressores identificados: stress
interpessoal, demandas do trabalho, tarefas
rotineiras, sobrecarga de trabalho, recursos
inadequados e incertezas.
125
De maneira geral o congresso e fórum em questão ao divulgar sua temática e foco, se
apresentam como um tema atual, com muita necessidade de discussão e aprofundamento. Porém,
conforme já mencionei, a realização do evento no que se refere principalmente as palestras
principais, mostrou-se deficiente no atingimento satisfatório da demanda a que se propõe:
“trabalho, stress e saúde: gerenciamento eficaz – da teoria à ação”, não há um aprofundamento
teórico e sim uma atenção excessiva na ação (prática) com enfoque na adaptação do trabalhador a
realidade de stress nas organizações deixando a necessária discussão de mudanças na organização
do trabalho e no ambiente organizacional, praticamente fora de discussão.
O fato de haver uma orientação distinta entre as palestras ou conferências principais dos
trabalhos orais e pôsteres, ocasião em que foram abordados assuntos com maior relevância ao
tema do que nas palestras principais, momento em que vale lembrar apresentaram-se um número
relevante de atividades que fugiram ao foco, me parece estar relacionado à lógica do congresso e
fórum, de seguir a tendência (ou moda) do momento, buscando nomes que são referência
independente de um crivo mais criterioso no que se refere ao foco do evento. Uma das formas de
interpretar este fato segue a idéia de que os profissionais e/ou pesquisadores que apresentaram
trabalhos orais ou pôsteres com maior relevância ao congresso (porém com tempo e exposição
curtíssimos) do que os das palestras principais, ainda não são dignos de tamanha “voz”, que para
poderem chegar lá devem se espelhar em quem já tomou o espaço principal levando em conta
inclusive que o importante é apresentar programas ou ações que levem a adaptação do
trabalhador ao stress e seus causadores e não o questionamento e tentativa de minimizar os
causadores e conseqüentemente o stress e o risco de doença ou apresentar os resultados de
pesquisas que demonstram o efeito da atual lógica das organizações na saúde do trabalhador.
Fica evidente que se prioriza, principalmente nas palestras principais, a apresentação do
que está sendo feito nas grandes organizações, há uma apresentação tendenciosa de que a lógica
vigente de stress nas organizações é única e imutável, sugerindo inclusive que quem deve mudar
é o trabalhador, conforme as palavras da presidente da ISMA-BR ao responder a uma pergunta
feita após sua palestra – pergunta: “Existe uma sobrecarga de trabalho cada vez maior com o
passar dos anos. Em termos de expectativas o que podemos ter para nosso futuro?
Em termos de número de horas trabalhadas realmente as expectativas não são
muito otimistas imagino que não como as pessoas gostariam, a idéia é que se vai
126
trabalhar cada vez mais horas porque as empresas vão se tornar cada vez mais
enxutas, então as 4 pessoas que farão o trabalho de 10 vão trabalhar mais horas.
Eu acho que fica cada vez mais claro aqui para nós a importância de nós termos
nossos objetivos de vida muito coerentes e definidos (...) De qualquer maneira
então se nós não temos controle para mudar a cultura de horas trabalhadas,
vamos exercitar o nosso controle e apoio dos nossos objetivos e podermos nos
equipar para lidar com isto de uma forma mais pertinente, mais adequada. (Ana
Maria Rossi)
Não que eu acredite que a expectativa no que se refere a sobrecarga de trabalho seja
totalmente diferente do que proferiu a presidente da ISMA-BR, nem tampouco que eu pense que
seja fácil modificar esta realidade, mas penso que em um congresso que se proponha a discutir a
questão trabalho, stress e saúde, onde a maioria dos profissionais presentes são gerentes ou
profissionais de Recursos Humanos responsáveis pela promoção da saúde nas suas organizações,
se deva sempre discutir e pensar em alternativas para a redução da sobrecarga e de forma alguma
toma-la como única e imutável e com tendência de piorar.
O que me parece é que há intenções comerciais, financeiras ou monetárias por trás desta
insistência em afirmar que a sobrecarga irá aumentar e conseqüentemente o stress e adoecimento
também. Esta impressão surge ao ver estampadas em muitas revistas, jornais e outros materiais
de comunicação gráfica, reportagens vinculadas a ISMA-BR que de maneira insistente afirmam a
tendência do stress como certa e imutável. Inclusive o primeiro stand da feira que estava anexa ao
congresso e fórum, era o da ISMA-BR e na mesa encontravam-se algumas pastas onde estavam
expostas centenas de matérias a que me refiro. Muitas destas publicações fazem referência a um
estudo realizado pela ISMA que comprovou que 70% dos brasileiros sofrem de stress no trabalho
e que 30% dos pesquisados mostram sintomas da síndrome de burnout
31
. Estes dados com certeza
são extremamente alarmantes e somados a esta impressão a que me referi no início do parágrafo,
me fazem pensar se realmente esta foi uma pesquisa que possa ser considerada representativa,
pois é diferente constatar que um percentual elevado de determinada categoria de trabalhadores
sofra com stress e burnout e bem diferente do que afirmar que “70% dos trabalhadores brasileiros
sofram de stress no trabalho”.
Ressalto que de maneira alguma eu queira passar a idéia de que matérias e pesquisas
sobre saúde, stress e trabalho, não devam ser publicadas, ao contrário penso que seja importante
que este assunto encontre espaço na mídia para chamar atenção para o grave problema que os
31
Conforme publicado no site www.saudeemovimento.com.br acesso em 16/11/2006 em matéria de Cassiano
Sampaio com título 70% dos brasileiros sofrem com estresse no trabalho. In: Revista eletrônica saúde e movimento.
127
trabalhadores enfrentam atualmente nas organizações. O que eu quero alertar é que se estas
matérias e resultados de pesquisas não forem tratadas com a devida seriedade e foco, poderão
surtir um efeito que pode-se considerar equivocado, pois ao invés de chamar a atenção para um
problema que merece ser encarado como algo que obrigatoriamente deve mudar, o que acontece é
que este tipo de matéria “alarmista” serve para transmitir a idéia de que o stress e os estressores,
são um realidade imutável e que as pessoas devem acostumar-se a ela, encarar com normalidade.
E quando o trabalhador não conseguir suportar o sofrimento ou quando adoecerem, estes, como
foi sugerido em alguns momentos durante o congresso e fórum, devem ainda, buscar sozinhos
alternativas para contornar as adversidades no trabalho, ou quem sabe buscar a clínica de stress e
biofeedback da presidente da ISMA-BR Dra. Ana Maria Rossi, Ph.D ou ainda comprar a
almofada ortopédica RELAX by Dra. Ana Maria Rossi, Ph.D.
4.1.2.1 – Outros congressos
Cabe salientar que são muitos os congressos, fóruns, encontros, entre outros que tratam do
tema saúde e trabalho e gestão de RH, mas infelizmente não é praticamente possível incluir a
análise de todos neste estudo, mas a título de informação, abaixo apresentarei alguns dos
importantes eventos que acontecem periodicamente no país e que possuem grande relevância no
meio empresarial e/ou no meio acadêmico.
Congresso Descrição Predominância dos
participantes
ENANPAD –GPR –
Gestão de pessoas e
relações de trabalho
O ENANPAD acontece anualmente e em 2008 estará na 32º
edição. É promovido pela Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Administração - ANPAD
Gestão de Pessoas
Esta área propõe-se a discutir a gestão de pessoas em suas
diferentes dimensões e perspectivas, observando sua
interface à gestão das organizações. O debate deve
proporcionar ainda uma reflexão de suas inter-relações no
âmbito da organização do trabalho e da produção em
organizações de diversos matizes, sejam elas locais,
nacionais ou internacionais.
Relações de Trabalho
A Área Temática de Relações do Trabalho tem seu foco,
sobretudo, nos impactos decorrentes da tecnologia e dos
arranjos produtivos sobre os indivíduos e sobre as práticas
organizacionais, analisando as suas repercussões na saúde
Principalmente
profissionais
acadêmicos e
estudantes.
128
física e mental dos trabalhadores. As discussões sobre as
transformações no mundo do trabalho e suas implicações
sobre os que trabalham, além dos estudos sobre os modelos
de sistemas de relações de trabalho também têm espaço
nesta Área.
EnGPR - Encontro
de Gestão de
Pessoas e Relações
de Trabalho
O I Encontro foi realizado em 2007 sob promoção da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração - ANPAD e de responsabilidade da Divisão
Acadêmica de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho -
GPR.
A realização deste primeiro Encontro surgiu da constatação
de que esta é uma área com forte identidade, que se
manifesta pelo rigor conceitual e metodológico, pela busca
incessante e pelo compromisso com o conhecimento. Tem
como objetivo geral fomentar o desenvolvimento da área de
estudos em Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho no
Brasil, por meio de estudos teórico e/ou teórico-empíricos
considerando os diferentes subsistemas e dimensões de
análise.
Como objetivos específicos, o evento pretendeu:
a) Disseminar e assegurar a diversidade disciplinar e
temática da área;
b) Intensificar os debates e reflexões sobre diferentes
perspectivas teóricas da gestão de pessoas e relações de
trabalho;
c) Integrar acadêmicos e gestores dos setores públicos e
privados, além de interessados nas questões dessas áreas, a
fim de que possam trocar informações, bem como
estabelecer agendas de trabalho e pesquisa sobre os temas de
seus interesses;
d) Contribuir para o desenvolvimento de pessoas e
organizações, em termos de qualidade de vida no trabalho,
relações interpessoais, estilos de gestão, entre outros temas
que incluem discussões sobre o mundo do trabalho.
Principalmente
profissionais
acadêmicos e
estudantes.
Congresso
Brasileiro de
Qualidade de Vida
O Congresso em 2007 esteve em sua 7º edição.
Busca apresentar as tendências e diversidades existentes
nessa área por meio de cursos, mesas redondas, debates,
palestras, conferências, workshops, exposições de cases e
outras atividades, todas relacionadas à Qualidade de Vida.
Convidados especiais, grandes palestrantes, especialistas e
pesquisadores da área e profissionais do ambiente
corporativo estarão presentes como Ana Cristina Limongi,
Edina Bom Sucesso, Marilda Lipp, Mario Cortella, Ralph
Quelotti (presidente da ABRH) e Ghislaine Dubrule (vice-
presidente da Tok & Stok).
O “Cantinho de Qualidade de Vida” se destina a quem
quiser relaxar um pouco entre uma atividade e outra, com
yoga, quick massage, e, reflexologia entre outros. Esse
espaço disponível durante todo o congresso possibilita
conhecer ainda mais os benefícios trazidos por melhorias na
Principalmente
profissionais que
atuam em RH.
129
qualidade de vida no ambiente de trabalho.
O evento pretende ser uma ótima oportunidade para a troca
de experiências e conhecimentos sobre o que há de mais
atual e inovador em gestão de programas de qualidade de
vida.
CONARH -
Congresso Nacional
sobre Gestão de
Pessoas
O Congresso é apresentado como o maior e mais importante
congresso brasileiro deste setor. Em 2008 estará na 33º
edição
32
. Realizado anualmente, o evento reúne
organizações e profissionais interessados em se aprofundar
no tema Gestão de Pessoas.
Além de palestras ministradas por especialistas nacionais e
internacionais, o Congresso também possui espaços de
discussão, como a Sala de Casos de Sucesso, as Oficinas
de Gestão e a Sala de Inovação.
Simultaneamente ao CONARH acontece a EXPO ABRH,
divulgada como “a maior vitrine de oportunidades,
inovações e tecnologias para Gestão de Pessoas”.
O CONARH é realizado pelo Sistema Nacional ABRH, a
entidade é uma instituição não-governamental e sem fins
lucrativos, que se propõe a disseminar conhecimento do
mundo do trabalho para desenvolver pessoas e organizações,
influenciando na melhoria da condição social, política e
econômica do País.
Na grande maioria os
participantes são
profissionais que
atuam em RH.
ESARH - Encontro
Sul-Americano de
Recursos Humanos
O ESARH em 2008 estará na 32º edição. É organizado pela
Racional consultoria. Os organizadores referem como
destaque a parceria com III Congresso Mundial dos
Administradores e programação com grandes ícones do
mercado de Recursos Humanos e administração de
empresas.
Em 2006 as inscrições do ESARH encerraram uma semana
antes e ainda assim o público presente foi superior a 1.300
participantes nas Conferências Magnas, atividades artísticas
e visitação à feira, superando também todos os registros para
um evento do gênero na Região Sul do País.
Estiveram presentes no evento representantes de todos os
Estados Brasileiros e participantes oriundos de 13 Países.
Foi lançado o Prêmio ESARH com 09 Entidades e Pessoas
Físicas, alcançando os exigentes requisitos na modalidade de
Gestão de Pessoas e Responsabilidade Social.
Na grande maioria os
participantes são
profissionais que
atuam em RH.
Fonte: elaborado, em novembro de 2007, pela autora adaptado de informações retiradas dos seguintes
sites: www.anpad.org.br
, www.abqv.com.br, www.conarh.com.br, www.racional.com.br
Cabe ressaltar de maneira positiva o EnGPR – Encontro de Gestão de Pessoas e Relações
de Trabalho, que em seus objetivos específicos demonstrou interesse em “Integrar acadêmicos e
gestores dos setores públicos e privados, além de interessados nas questões dessas áreas, a fim de
que possam trocar informações, bem como estabelecer agendas de trabalho e pesquisa sobre os
32
Este é o congresso que acontece a mais tempo no país, ao menos entre os que são apresentados.
130
temas de seus interesses” está iniciativa se mostra uma forte aliada para a solução de um grave
problema que o tema apresenta que é o distanciamento entre os profissionais acadêmicos e os que
atuam em organizações ou consultorias.
131
5 – A PRODUÇÃO ACADÊMICA: O QUE OS ESTUDOS APONTAM
Neste capítulo apresentarei os resultados obtidos da análise das dissertações,
anteriormente mencionadas no capítulo 3 mais especificamente 3.1.3. Em um primeiro momento
irei mostrar algumas construções que foram possíveis e que se apresentam como pontos
relevantes e que aprofundam o conhecimento a cerca das pesquisas realizadas sobre o tema saúde
e trabalho e práticas de gestão de RH. Em um segundo momento apresentarei o DSC – Discurso
do Sujeito Coletivo obtido na análise dos dados obtidos nas doze dissertações selecionadas.
5.1 – ALGUMAS CONSTRUÇÕES SOBRE AS DISSERTAÇÕES
No decorrer do percurso de realização desta pesquisa foram muitas as construções
possíveis, principalmente as relacionadas as teses e dissertações. Das muitas possibilidades de
análise que se apresentaram, algumas delas eu realizei, mesmo não estando diretamente
relacionadas ao meu tema, pois acredito que foi uma forma de eu me apropriar e aprofundar no
tema e até de optar por caminhos, estas estarão apresentadas nos anexos da pesquisa.
Uma destas construções será apresentada no corpo do trabalho por sua relevância para o
tema em si e também na definição dos caminhos metodológicos, mais especificamente, na
construção do discurso do sujeito coletivo (LEFÉVRE E LEFÉVRE,2003), conforme descrevo
nos parágrafos a seguir.
Apresentarei os autores (referencias teóricos) que foram utilizados em cada estudo no que
se refere à categoria trabalho (aspectos históricos, processos de trabalho e aspectos conceituais) e
também trabalho e saúde (saúde do trabalhador, subjetividade do trabalhador, saúde e trabalho).
Desta forma haverá a possibilidade de identificar a homogeneidade ou heterogeneidade dos
trabalhos quanto a teoria utilizada.
Autor da
dissertação
Autores usados na categoria
trabalho
Autores usados na categoria
trabalho e saúde
Amazarray (2003)
ALBORNOZ(1994);
ANTUNES(1998)(1999); CASTEL(1998);
CODO(1997); COHN &
MANIGLIA(1993); DEJOURS(1992);
ENGELS(1986); JACQUES(1993);
BONCIANI(1993);
CANGUILHEM(1995);
DEJOURS(2000); GUIMARAÊS et
all(1999); LAURELL &
NOGUEIRA(1989); LIMA(2002)
132
MARX(1975); MENDES(1995); NARDI,
TITTONI & BERNARDES(2002)
ROCHA & NUNES(1993b);
NARDI(2002); SELIGMANN-
SILVA(1994)
Ghisleni (2003)
ANTUNES(1999); COUTO(1998
a
);
DEJOURS(1992); DELEUZE(1992);
JACQUES(2002); MALVEZZI(1994);
MARTIN(1997); MARX(1984);
MERLO(1999)(2002); NEVES(2000);
SATO(2002); SHINGO(1996);
TAYLOR(1985)
DELEUZE(1992)(1976);
GUATTARI(1986); JACQUES(1999);
PELBART(1989); ROLNIK(1995
a
)
Moraes (2004)
ANTUNES(1998); CASTEL(1998);
DEJOURS & ABDOUCHELI(1994);
GORZ(1982); MARX(1982);
MÉDA(1995); MINAYO(1992);
RIGOTTO(1994)
CANGUILHEM(2000);
DEJOURS(1986)(1988)(2000);
JACQUES(2003); MENDES(2003);
MERLO(1999); NAZARENO(1999)
Spode (2004)
DELEUZE(2000); EIZIRIK(2002);
FONSECA(1995); FOUCAULT(2002);
NARDI(2002
a
); SILVA(2001)
CODO(1995);
DEJOURS(1992)(1994)(1997)(1999
a
);
MERLO(2002); NARDI(2002c);
OLIVEIRA & MENDES(1996);
SELLIGMANN-SILVA(1994)(2003);
TITTONI(2002)
Oliveira (2005)
ALVES(2000); ANTUNES(1999);
CATTANI(2002); DURAND(2003);
GRISCI(2001); HARVEY(2004);
NARDI(2002); RUDUIT(2001);
SCHERER(1997)
CANGUILHEM(2000); EIZIRIK(1995);
FOUCAULT(1989)(2000); LAURELL &
NOGUEIRA(1989);
LE GUILLANT(1984);
SANT’ANNA(1996); SOUTO(2004);
VICTORA, KNAUTH &
HASSEN(2000)
Silva (2005)
ALBORNOZ(1998); FRIDMAN(2000);
FRIGOTTO(2002); JACQUES(1999);
JOHNSON(1997); MARX(2003);
NARDI(2002); SILVA(1998);
RIFKIN(1995); ZANELLI &
BASTOS(2004)
CODO & JACQUES(2002);
DEJOURS(1988)(1994); GRISCI &
LAZZAROTTO(1998);
JACQUES(1999)(2003); MERLO(2002);
NARDI(1997); NARDI, TITTONI &
BERNARDES(1997); TITTONI(1997)
Barfknecht (2005)
ANTUNES(2001); ARRUDA(2003);
BRAVERMAN(1987);
CASTEL(1998)(2000); DEJOURS,
ABDOUCHELI & JAYET(1994);
MERLO(1999); NARDI, TITTONI &
BERNARDES(2002); SINGER(2000)
CANGUILHEM(1990); CODO(1995);
DEJOURS(1986)(1992)(1999);
DEJOURS, ABDOUCHELI &
JAYET(1994); MERLO(2000); NARDI,
TITTONI & BERNARDES(2002);
SELLIGMANN-SILVA(1994);
TITTONI(2002)
Ramminger (2005)
*autores voltados
para questão do
trabalho
especificamente
em saúde mental
BERNARDES(2002); CASTEL(1978);
FERRO & MALVAREZ(1993);
FOUCAULT(1999
a
)(1999g);
MACHADO(1978); PAULON(2002);
PESSOTTI(1996); ROCHA(2002);
WADI(2002);
CAMPOS(2000); DIAS(1993)(1994);
FOUCAULT(2001); NARDI(1999);
WEBER(1996)
Seibel (2005)
ANTUNES(1999); ASSUNÇÃO(2003)
KOVÁCS(2003) SANTANA(2000);
ASSUNÇÃO(2003); BAPTISTA(2004);
COHN & MARSIGLIA(1993);
133
DEJOURS(1992)(2001); DIAS(1994);
KELLY(2003); LAURELL &
NOGUEIRA(1993); LIMA(1998);
MENDES & DIAS(1991);
MERLO(2002); MINAYO &
VERTHEIN(2000); MINAYO &
THEDIM(1997); NARDI(1999)(2000);
Machado (2006)
BECK(2001); CATTANI(2002); CODO,
SAMPAIO & HITOMI( 1994);
DEJOURS(1992)(1994)(2001);
HELLER(1991); JARDIM(2001);
LARANJEIRA(2002); LIEDKE(1985);
MARX(1972); MENDES(2002);
SAMPAIO(1995); SELLIGMANN-
SILVA(1994); TAYLOR(1985);
TITTONI(2002); VAZ(1995);
BECK(2001); DEJOURS &
ABDOUCHELI(1994);
DEJOURS(1997)(1999)
Almeida (2006)
ANTUNES(1999); CASTEL(1998);
CASTELLS(2002); CATTANI(2002);
CHANLAT & BÉDARD(1996); CODO,
SAMPAIO & HITOMI(1993);
CODO(1998); D’AMORIM(1998);
DEJOURS(1994); DEJOURS, DESSORS
& DESRIAUX(1993); DIEGUEZ(2004);
DREYFUS & HABINOW(1995);
FOUCAULT(1999);
JACQUES(1998)(2002); LEIDKE(2002);
MAZZILLI & LUNARDI FILHO(1995);
MEDÁ(1999); NARDI, TITTONI &
BERNARDES(2002); SATO(2002);
SCHNAPPER(1998); SELIGMANN-
SILVA(1994); SENNET(2002)
ANTUNES(1999); CODO(1993);
CODO, SAMPAIO & HITOMI(1993);
D’AMORIM(1998);
DEJOURS(1994)(1987)(1999);
DEJOURS, DESSORS &
DESRIAUX(1993); DEJOURS &
ABDOUCHELI(1994); MAZZILLI &
LUNARDI FILHO(1995);
MERLO(1998);
Moretti (2003)
ANTUNES(2000); BAUMAN(2001);
CHESNAIS(1990); CIMBALISTA(2001);
COCCO(2000); DEJOURS(1999);
HARVEY(1989); HIRATA(1991)
DEJOURS(1987); FONSECA(2000);
HIRATA(2002); MENDES(1994)(1999)
Conforme os dados acima, observo que há certa homogeneidade na utilização dos autores
como fonte de referencial teórico nas dissertações estudadas, um exemplo que se evidência é o
fato de Christophe Dejours aparecer em onze das doze pesquisas em questão, ou seja, 92% dos
pesquisadores embasam-se neste mesmo autor no que se refere aos tópicos – trabalho e saúde no
trabalho, mais especificamente prazer e sofrimento no trabalho. Além deste autor, outros como
Ricardo Antunes, Robert Castel e Karl Marx também encontram-se presentes na maioria das
dissertações.
Cabe salientar que também é recorrente nas dissertações em questão a utilização de livros
com textos de diversos autores e organizados por um ou mais autor(es). Da mesma forma
134
observa-se homogeneidade na utilização deste tipo de referencial teórico, sendo os dois livros que
chamam atenção por serem citados quinze e dez vezes respectivamente nas bibliografias das
dissertações são: CATTANI, A. D. (org) Dicionário crítico sobre trabalho e tecnologia e
JACQUES, M. G. e CODO, W. (orgs) Saúde mental e trabalho: leituras.
Outro aspecto que chamou minha atenção com relação às referências teóricas, diz respeito
ao fato de que apesar de a grande maioria das pesquisas estarem inscritas em uma linha de
estudos críticos sobre a realidade do trabalho, com freqüência é utilizado como uma referência
importante Michel Foucault, por exemplo, um autor que pertence mais à linha pós-estruturalista
ou pós-moderna. Evidencia-se assim, que é comum a mescla entre autores críticos e pós-
modernos na realização de estudos críticos com elementos pós-críticos, no caso, a relação entre
trabalho e saúde.
Saliento ainda que a grande maioria dos autores apresentados na tabela acima, também
foram, os autores que auxiliaram na construção da presente pesquisa, obviamente com os devidos
acréscimos ou decréscimos necessários, mas de maneira geral a homogeneidade continua se
fazendo presente ao comparar os autores utilizados nas 12 dissertações em questão com os
autores que utilizei na construção da minha pesquisa. Tais constatações me remeteram a técnica e
teoria do DSC – Discurso do Sujeito Coletivo de Lefèvre (2003), que conforme já mencionado no
capítulo 3 referente aos procedimentos metodológicos será a técnica utilizada para dar voz as
dissertações que estão em questão no presente estudo. Mais especificamente, a homogeneidade
no referencial teórico das doze dissertações e também a por mim utilizada, me remetem a relação
com as ancoragens que constituem figuras metodológicas que auxiliam na composição do DSC.
As ancoragens podem ser entendidas como teorias que circulam no senso comum.
Conforme Lefèvre (2003) a ancoragem é
A manifestação lingüística explícita de uma dada teoria, ou ideologia, ou crença
que o autor do discurso professa e que, na qualidade de afirmação genérica,
está sendo usada pelo enunciador para “enquadrar” uma situação específica.
Considerando as coisas genericamente, dir-se-ia que quase todo discurso tem
uma ancoragem na medida em que está quase sempre alicerçado em
pressupostos, teorias, conceitos e hipóteses.
No entanto, para efeito de análise mais fina de discurso, convém,
metodologicamente, destacar e distinguir os discursos nos quais se encontram
marcas lingüísticas claras de ancoragem, daqueles nos quais essa ancoragem é,
digamos, genérica. Nesses últimos, não se consegue fazer emergir a ancoragem,
correndo o intérprete o risco de subjetiva e arbitrariamente construir aquilo que
acredita ser a dita ancoragem. (2003, p. 17-18)
135
Desta forma, no caso das dissertações se encontram marcas claras de ancoragem, pois
tratam-se de análises embasadas em referenciais teóricos específicos, ou seja, o discurso que pode
ter vindo a ser uma ancoragem genérica, quando estava na voz do entrevistado, se torna uma
ancoragem clara quando passa para a voz do pesquisador, no caso o autor da dissertação, por
estar embasado em teorias específicas.
Assim, resolvo, conforme explicitarei no capítulo seguinte, utilizar as ancoragens
relacionadas a teorias de trabalho e saúde para dar voz aos resultados encontrados nas
dissertações que serviram de base para está análise, mais especificamente para a construção do
discurso do sujeito coletivo.
5.2 – OS RESULTADOS APONTADOS NAS DISSERTAÇÕES
Neste capítulo apresentarei os resultados encontrados nas doze dissertações no que se
refere a aspectos relacionados a saúde e trabalho. Os resultados serão apresentados no formato de
um discurso do sujeito coletivo, conforme técnica apresentada anteriormente. Como já explicitei,
terei como base as ancoragens encontradas, ou seja, o referencial teórico que embasa os
resultados apresentados nas dissertações. As ancoragens também me auxiliaram na delimitação
dos aspectos mais relevantes relacionados ao tema, levando em consideração o fato de que o
material que produzi em um primeiro momento e que retratava o discurso do sujeito coletivo
relacionado a saúde e trabalho dos resultados das doze dissertações, ficou muito extenso, em
torno de oitenta páginas, sendo que para viabilizar o presente estudo foi necessária a delimitação
mencionada a fim de evidenciar os aspectos mais relevantes e possibilitar um discurso do sujeito
coletivo representativo para o leitor e passível de análise e interpretações para o estudo.
Cabe lembrar que o objetivo de uma dissertação, no que se refere a seus resultados, está
atrelado a possibilidade de demonstração, exemplificação, comprovação ou constatação de
determinada perspectiva teórica. Desta forma o discurso do sujeito coletivo que será a seguir
apresentado, é uma forma de representação dos resultados e perspectivas teóricas que foram
apresentados nas dissertações que serviram de base para o presente estudo.
Também é importante lembrar que o que há de comum nas dissertações é a temática
relacionada a questão saúde e trabalho, o que quero chamar a atenção é que não há
homogeneidade nas dissertações no que se refere ao setor e/ou categoria das empresas
136
pesquisadas nem nos contextos de trabalho, ou seja (conforme pode ser evidenciado no capítulo 3
na tabela da página 83), há dissertações que tratam da realidade de empresas públicas, outras de
empresas privadas, contextos hospitalares, industriais, de comércio, enfim são várias as
realidades retratadas. Desta forma, é importante salientar que o discurso do sujeito coletivo não
tem como objetivo retratar a realidade de determinada categoria profissional e sim demonstrar o
que as dissertações em questão apresentaram em seu discurso no que se refere aos resultados da
relação saúde e trabalho.
5.2.1 – Relação saúde e trabalho
A seguir apresentarei o discurso do sujeito coletivo relacionado à ancoragem saúde e
trabalho, sendo que este ficou dividido em seis idéias centrais que são: práticas relacionadas à
doença do e no trabalho; ausência de medidas efetivas que minimizem o sofrimento no trabalho e
previnam o adoecimento do trabalhador; práticas empresariais e de RH e seus reflexos na saúde
do trabalhador; prazer no trabalho; sofrimento no trabalho e mecanismos de defesa utilizados
para proteção contra as dificuldades encontradas na trabalho. Antes de cada uma das idéias
centrais, irei apresentar a idéia, ou seja, descreverei brevemente ao que a idéia que deu origem ao
discurso está associada.
5.2.1.1 - Práticas relacionadas à doença do e no trabalho
Está idéia central busca apresentar o que é identificado nos discursos como práticas
organizacionais ou de RH que efetivamente estão associadas à doença do e no trabalho. Ou seja,
trata de demonstrar o que as dissertações estudadas apresentaram no que se refere à questão da
doença do e no trabalho.
Para exemplificar ao que especificamente está associada está idéia central, a seguir
apresento uma citação que demonstra com precisão o conteúdo do discurso como um todo:
...têm significado para muitos trabalhadores uma sobrecarga de trabalho que através do ritmo
e da exigência por produtividade, tem elevado à prevalência de doenças profissionais.”
Ancoragem – Relação saúde e trabalho
Idéia Central 1 Discurso do Sujeito Coletivo
Práticas relacionadas Os questionamentos realizados em torno do adoecimento das trabalhadoras
137
à doença do e no
trabalho
demonstraram que as primeiras manifestações de sintomas das LER se deram
quando trabalhavam em empresas de grande porte que haviam introduzido novo
maquinário, mas especialmente implantado novos processos de organização,
através de grupos de trabalho, o que passou a exigir uma maior produtividade. As
mudanças no maquinário que, embora seja mais moderno e mais leve, impõem,
em contrapartida um ritmo mais intenso de trabalho, além de uma maior cobrança
por produtividade. Com o uso da microeletrônica, o trabalho passou a ser mais
controlável. Há uma maior individualização do controle e do tempo, portanto, a
tecnologia passa a ser uma aliada da gerência na vigilância do ritmo da operação,
e também no controle da produtividade. A partir das falas desses trabalhadores,
podemos observar que o mundo profissional deles está caracterizado pela mescla
da flexibilidade da reestruturação produtiva com o método taylorista/fordista.
Assim como Foucault (1999) afirma que, na técnica de regulação, a disciplina não
é excluída e sim integrada, observamos nesses trabalhadores corpos dóceis,
moldados, transformados em força útil e, ao mesmo tempo, corpos flexíveis,
maleáveis, capazes de adaptar-se a qualquer situação imposta, mesmo que a
adaptação exija um adoecimento. Observa-se que as mudanças passam: pela
ampliação das responsabilidades dos trabalhadores; pelo maior controle, por meio
de avaliação do desempenho e de prêmios de produção e assiduidade e pelo
aumento da produtividade e das responsabilidades individuais. Ainda, pela
introdução de grupos de trabalho ou de células de produção, que têm como
principal objetivo o aumento da eficiência e da produtividade. Processos estes que
têm significado para muitos trabalhadores uma sobrecarga de trabalho que, através
do ritmo e da exigência por produtividade, tem elevado à prevalência de doenças
profissionais. A prática das horas extras é praxe nas empresas para dar conta de
um montante de produção exigido. Dessa forma, os trabalhadores acabam por
executar jornadas de trabalho extensas, gerando fadigas e propiciando o
desenvolvimento das LER/DORT. Era habitual trabalhar ao todo 10h/dia.
Queixam-se de não ter recebido orientações quando surgiram os sintomas da
doença, o que, possivelmente tenha contribuído para agravar o quadro, visto que
as medidas preventivas somente foram tomadas por iniciativa própria, em uma
etapa posterior, quando os sintomas se agravaram. Conforme Nardi (1999, p. 99),
“... as empresas têm como prática característica ocultar ou minimizar os riscos do
ambiente de trabalho, limitando-se, muitas vezes, a fornecer equipamentos de
proteção individual (EPI) sem explicar as razões e as conseqüências da exposição
a determinados agentes nocivos”. Isso reforça a concepção vigente de que a saúde
é um problema e uma responsabilidade do trabalhador. As ações promovidas pela
gestão ligadas à saúde, são centradas em prevenção de sintomas de doenças
ocupacionais de forma isolada. Ao serem citadas pelos profissionais de RH, as
doenças prevalecentes na ocupação freqüentemente são sugeridas como de
responsabilidade pessoal. Esta perspectiva individualizante implica na
culpabilização do trabalhador à respeito das doenças ocupacionais sendo uma
convicção nas gestões empresariais. Na empresa que utiliza programas de controle
de qualidade e que estimula o funcionário a trabalhar em equipe na busca do
aumento de produtividade, com a promessa de premiações caso alcancem as
metas, o envolvimento era tanto que eram omitidos inclusive os adoecimentos
para não perder os “pontos” necessários para a premiação. Todas as mudanças
empreendidas no sentido de administrar a doença no cotidiano de trabalho são
conquistas das próprias servidoras. Em oposição à pratica freqüente de deixar para
o servidor a incumbência de buscar alternativas individuais, a alternativa
institucional é a readaptação funcional. O isolamento de cada servidor em sua
138
função está relacionado com uma forte pressão para “dar conta” das exigências de
produtividade e não permite que se estabeleçam relações de confiança e de
cooperação. A política da instituição identificada pelas servidoras é a
redistribuição interna – processo que evidencia políticas de pessoal desumanas ao
tratar servidores com problemas de saúde físicos e psíquicos como “abacaxis”
indesejados pelas chefias e unidades laborais nessa redistribuição interna. Ao
contexto de precarização e intensificação do trabalho, se entrelaçam características
próprias do modelo tecnoburocrático, que implicam um cotidiano de trabalho
permeado por contradições do tipo impessoalidade versus personalização,
autonomia versus ausência de controle, rigidez versus flexibilização, valorização
versus desvalorização, entre outras. Quando questiona-se, se já experimentaram
sintomas físicos e/ou psíquicos que atribuam ao trabalho, ou a algum momento
profissional, relatam que o trabalho lhes traz, ou em algum momento já lhes
trouxe: - cansaço, sensação de esgotamento; - problemas relacionados ao sono:
insônia ou noites mal dormidas; - mau-humor e irritabilidade; - dores: de cabeça e
nas costas (coluna); - apreensão, ansiedade, estresse e tensão. Foi constatado o
número significativo de profissionais que encontram-se afastados em licença
saúde, sinalizando que o trabalho pode estar causando problemas de saúde e
necessitam ser prevenidos, a fim de evitar mais sofrimento a estes trabalhadores.
Doenças como enxaquecas, dores e somatizações em geral são associadas ao
trabalho. Para Dejours (1988), quando as defesas do indivíduo não conseguem dar
conta dos conflitos ou da realidade, a desorganização sucumbe não por doenças
mentais, mas pelo aparecimento de doenças somáticas. A organização do trabalho
causa fragilização somática na medida em que pode bloquear os esforços do
trabalhador para adequar o modo operatório às necessidades de sua estrutura
mental. O autor destaca que é o bloqueio contínuo da organização, em especial
daquelas com sistemas tayloristas, que causam a doença somática. Alguns
entrevistados revelaram que freqüentemente sentem dores de cabeça e problemas
de pressão, que são medicados paliativamente. Atribuem esses sintomas à
preocupação constante com o trabalho, bem como às situações de tensão que
enfrentam. Pode-se levantar a hipótese de que as somatizações podem estar
funcionando como uma máscara para o sofrimento psíquico. Os distúrbios de sono
são os principais problemas decorrentes do trabalho noturno, que se expressa
também na temática dos estudos e pesquisas que priorizam essa relação. O estado
de tensão muscular excessivo predispõe o trabalhador ao desenvolvimento de
lesões (Couto, 1998b). Como foi apresentado no perfil dos entrevistados, 90% dos
trabalhadores tinham esse tensionamento muscular excessivo, que podemos
observar através das falas dos entrevistados. Podemos observar que esses
trabalhadores inicialmente se tensionavam apenas em seus locais de trabalho, na
tentativa de dar conta de um volume produtivo. Eles não podiam parar, tinham que
alcançar a meta do dia com alto padrão de qualidade, tinham que administrar a
pressão da chefia e conviver com o medo da demissão. Eles ficavam em estado de
prontidão, prontos para resolver algum problema, eram ágeis, rápidos para
tomadas de decisão que não interrompessem a produção. Esse estado de prontidão
da pessoa exige da musculatura um grau de tensionamento constante que garante a
prontidão também do músculo para qualquer eventualidade. A tensão acumulava-
se no decorrer do dia de trabalho. Nos primeiros tempos, os entrevistados
relataram conseguir relaxar ao dormir, mas que depois começavam a sentir-se
ainda tensos ao acordar, como se tivessem trabalhado durante o sono inteiro. Com
um efeito cumulativo de tensionamentos, chegaram ao estágio em que não se
tratava apenas de estar tensa, mas sim de ser tensa. A tensão passou a fazer parte
139
da vida dessas pessoas. Agora eles relatam que, ao menor estímulo, tanto físico
por algum esforço como psíquico por alguma preocupação, os tensionamentos
pioram, gerando cada vez mais dores. Constatamos que os trabalhadores apontam
os fatores organizacionais como os responsáveis pelo desenvolvimento das
LER/DORT. Pois como os trabalhadores não têm a liberdade de gerenciar suas
atividades, são levados (a) a submeter-se a horas extras, provocando jornadas de
trabalho extensas; (b) a realizar atividades repetitivas com ritmos produtivos
elevados; (c) a trabalhar em postos de trabalho sem dispositivos facilitadores na
linha produtiva; (d) a permanecer em ambientes de trabalho inadequados com
excesso de calor ou frio ou baixa iluminação; (e) a realizar esforços excessivos,
bem como a manter as mesmas posições corporais por períodos demasiado longos;
(f) a sofrer o acúmulo de funções com a exploração de suas habilidades, gerando
excesso de trabalho; e (g) a dedicar-se ao trabalho de forma abusiva na busca pelo
reconhecimento. A desvalorização profissional, conjugada às pressões
orçamentárias, constitui, segundo CHANLAT (1995), alguns dos principais
problemas que os servidores públicos enfrentam, estando relacionados com
conseqüências à saúde como o esgotamento profissional e a fadiga crônica. Além
disso, nas situações em que há escassez de recursos, como apontado por LIMA e
colaboradores (1998), os conflitos intersubjetivos se acentuam, na medida em que
alguns indivíduos se recusam a ir além de suas capacidades psicofisiológicas,
enquanto outros assumem o excesso de trabalho. Assumir o excesso e estar
disponível a atender as solicitações da chefia, entretanto, não deixam de ser
atitudes na busca de um reconhecimento do trabalho, na medida em que tal
disponibilidade é extremamente valorizada pelos superiores. Apesar de sentirem
dor, em geral nos membros superiores, as servidoras continuam trabalhando. A
fim de não interromper a rotina de trabalho, é comum recorrerem a diferentes
alternativas para o alívio dos sintomas, como o uso de analgésicos, tala, gesso,
colar cervical e infiltrações. Em certos casos, licenciam-se por alguns dias através
de acertos informais com a chefia. Tais medidas empregadas no sentido de atenuar
os sintomas revelam estratégias individualizadas para administrar a doença.
Segundo o imaginário social, a doença é concebida como propriedade do
indivíduo, cabendo a ele provar o estado de adoecimento, buscar o tratamento
adequado e administrar a convivência com os sintomas no cotidiano laboral.
Embora algumas categorias profissionais, como a dos bancários, por exemplo,
tenham iniciado um processo de mudança no sentido de reconhecimento de
reivindicações na área da saúde-adoecimento-trabalho, no geral, os trabalhadores
enfrentam uma série de dificuldades na busca de atendimento e reconhecimento de
seus direitos. Entre as muitas dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, em
relação ao reconhecimento institucional legal de sua doença, destacam-se as
resistências técnico-burocráticas dos médicos da empresa e do perito do INSS; a
dificuldade do reconhecimento do nexo causal entre o adoecimento e o trabalho, o
que se constitui em um fator de sofrimento; o excesso de burocracia para acessar a
via institucional legal, ainda mais, frente à afirmação da suspeita de que a doença
é “simulada”; os programas de prevenção em saúde e segurança ocupacional com
pouca resolutividade, desinformação dos riscos presentes no trabalho; e o espaço
restrito de discussão sobre a temática e de reivindicação por melhores condições
de trabalho. Também, segundo o relato das entrevistadas, exames solicitados pelos
médicos, muitas vezes têm que ser pagos pelas próprias trabalhadoras adoecidas
por não os conseguirem ou devido à excessiva demora, junto à rede pública. As
trabalhadoras passam a conviver com uma nova rotina, muito diferente daquela do
trabalho, em que existia uma identificação com as colegas e com o próprio
140
trabalho. Vivem uma rotina de exames, consultas, sessões de fisioterapia, enfim, o
tempo de afastamento é vivido quase que exclusivamente em função da doença.
Além do que, as entrevistadas enfrentam problemas pela desinformação de seus
direitos, não conhecem a legislação, não são informadas corretamente dos passos
que deveriam seguir em relação à burocracia previdenciária, nem sobre o primeiro
passo, a do preenchimento da CAT, na empresa em que trabalham. ‘Fragilidade’
psíquica ‘pré-existente’ é a explicação para a manifestação dos sintomas de
sofrimento. Mesmo havendo programas de prevenção de riscos de acidentes e
atividades que se propõem a estimular a qualidade de vida, o discurso do viver
com qualidade não condiz com o esforço de adaptação que emerge nas práticas
discursivas analisadas. Como aponta Sant’Anna (1996), na era do culto do bem-
estar, espera-se “a descontração dos gestos, flexibilidade do corpo e do
pensamento”. Tais ações parecem corroborar, de certa forma, a responsabilização
individual pelo sofrimento psíquico que, em muitos casos, tem suas origens no
trabalho e em sua forma de organização. Além do desconhecimento dos riscos, é
comum os trabalhadores se referirem ao trabalho e às adversidades como dor ou
sofrimento decorrentes dele, como fazendo parte rotineira da ação de trabalho. A
doença é concebida como propriedade do indivíduo, cabendo a ele a sua
comprovação, a busca de tratamento e de estratégias para “ajustar” os sintomas às
exigências do trabalho.
Como pode ser constatado são muitas as práticas relacionadas à doença do e no trabalho,
entre elas destacam-se a sobrecarga de trabalho; alguns processos relacionados a organização do
trabalho; a pressão e tensão constantes; a maior cobrança por produtividade e conseqüente
intensificação dos ritmos; a concepção vigente de que a saúde é um problema e responsabilidade
de exclusividade do trabalhador; os trabalhadores adoecidos tratados como problemas
indesejados; a desinformação; o fato de o discurso da qualidade de vida não condizer com a
realidade; a doença do trabalho vista como responsabilidade pessoal; entre outras.
Tais constatações estão alinhadas, conforme pode ser visto na revisão da literatura, com o
que é afirmado pelos autores citados na revisão realizada para esta dissertação. Cabe salientar que
há práticas que são unanimidade, entre os autores, ao serem consideradas como causadoras de
adoecimento dos trabalhadores, entre elas estão conforme salienta Nardi (2006) a sobrecarga
imposta aos trabalhadores.
5.2.1.2 – Ausência de medidas efetivas que minimizem o sofrimento no trabalho e previnam o
adoecimento do trabalhador
Está idéia central apresentará os discursos encontrados relacionados à ausência de
medidas efetivas relacionada à saúde do trabalhador bem como a minimizar o sofrimento no
trabalho. Assim além de caracterizar o que é negligenciado, retratará também medidas que são
141
praticadas pelas organizações estudadas e em seu enunciado deveriam estar voltadas a atender á
saúde e bem estar do trabalhador, porém na prática não são efetivas.
Também serão tratados os casos que não se enquadram em situações de negligência nem
de ineficácia, são as práticas que podem ser chamadas de abusivas ou de coação como é o caso
por exemplo da dificuldade encontrada para atender as necessidades fisiológicas conforme retrata
o seguinte discurso: “...não têm direito a atender necessidades físicas como tomar água ou ir ao
banheiro. Para tanto, são obrigados a passar por situações de constrangimento.”
Ancoragem – Relação saúde e trabalho
Idéia Central 2 Discurso do Sujeito Coletivo
Ausência de medidas
efetivas que
minimizem o
sofrimento no
trabalho e previnam o
adoecimento do
trabalhador
As questões da saúde, segundo o relato, eram tratadas apenas nas tradicionais
campanhas de proteção, mas não se tinha nestas ocasiões informação ou mesmo
orientações com relação às doenças e seus fatores de risco. Assim, como afirma
Nardi (1999, p. 100), a conexão do processo e organização do trabalho e a
possibilidade de desenvolvimento de alguma patologia são ocultadas. Embora
estejam constituídas as CIPA’s, como previsto na legislação, essas têm uma
atuação frágil. Não conseguem constituir efetivamente uma organização local dos
trabalhadores. Os SESMT’s terceirizados e os programas de ginástica laboral, não
apresentam nenhuma articulação com as CIPA’s. Suas intervenções se dão de
forma pontual, e eventualmente, como em uma das comissões citadas, envolvem-
se em ações de responsabilidade social, em uma perspectiva diversa da proposição
original das comissões de prevenção de acidentes do trabalho.Percebe-se a
existência de subnotificação das LER, sendo que as licenças eram concedidas para
tratamento de saúde, e não como doença profissional, o que para o trabalhador
significa perdas. Isso leva, por um lado, a um menor número de trabalhadores
adoecidos por LER em termos numéricos, e por outro lado, o INSS, e a própria
empresa não tomam conhecimento da causalidade da LER ligada ao trabalho. O
afastamento e o subseqüente auxílio são concedidos por doença comum e não por
doença do trabalho, tirando assim benefícios de ordem trabalhista, pecuniária e
previdenciária. De ordem trabalhista, porque as doenças do trabalho conferem
uma estabilidade de doze meses; de ordem pecuniária porque os cálculos para a
concessão do auxílio acidente/doença são maiores para a concessão do que o
auxilio de uma doença comum e de ordem previdenciária porque o tempo de
afastamento por acidente/doença do trabalho conta para efeito de aposentadoria e
o afastamento por doença comum, não. (RIBEIRO, 2002) Há manifesto de
desconhecimento dos riscos a que estavam/estão submetidas. A queixa da não
existência de períodos de repouso durante a jornada se mostra como fator que
caracteriza negativamente a organização do trabalho noturno. Na prática, não
existe um horário formal para repouso, de forma que os momentos de pausa e
dedicados à alimentação necessitam ser forjados de acordo com as demandas. Os
ritmos são determinados por forças externas, de forma que, na maior parte das
vezes, não há como prever a demanda de serviço. A não previsibilidade é
mencionada também no que diz respeito aos períodos de descanso mais
prolongados como férias ou licenças legais por tempo de serviço, denominada
licença especial. Diante da sobrecarga de trabalho, associada aos períodos de gozo
de férias ou uso de benefícios como licença especial ou, ainda, licenças-
142
maternidade e saúde, é relativamente freqüente a prática de horas extras. Nos
últimos anos, atendendo a políticas de contenção de despesas, tais horas
correspondem a “horas excedentes”, ou seja, horas que gerarão folgas a serem
usadas em momentos posteriores. Tais horas necessitam de alguns critérios para
poderem ser utilizadas, nesse sentido, não há como programar o uso de folgas
além das já previstas. Além da competição entre colegas, do ganho por
produtividade, da pressão da chefia, das horas-extras que geram jornadas extensas,
encontramos presente a deficiência ou ausência de pausas nas rotinas profissionais
dos entrevistados. Se a meta é o aumento da produtividade, as pausas deveriam ser
hábitos obrigatórios para qualquer atividade profissional, mas não foi o que
pudemos observar. Esses trabalhadores não apenas não têm direito a pausas, como
também não têm direito de atender a necessidades físicas como tomar água ou ir
ao banheiro. Para tanto, são obrigados a passar por situações de constrangimento,
pedindo para alguém liberá-los ou para ficar no seu posto de trabalho. Há ainda
em alguns casos a existência de uma supervisora do banheiro que cuidava o tempo
de permanência das funcionárias no local. Observamos que esses trabalhadores em
sua maioria não realizavam qualquer tipo de rotatividade de funções nas empresas
onde trabalhavam. Segundo os entrevistados, as empresas entendem que o
funcionário produz mais quando permanece em uma mesma máquina, uma vez
que acaba organizando seus modos operatórios de maneira a aumentar o ritmo de
produção. Independentemente da área em que atuam (administrativa, técnica ou de
apoio), constata-se, em geral, uma sobrecarga de trabalho. Diante da sobrecarga de
trabalho, é comum a prática de horas extras e a ausência de pausas e intervalos ao
longo da jornada. A implicação pessoal, solicitada aos atendentes, longe de ser
uma escolha participativa como apregoa a premissa da participação na gestão da
excelência, é atrelada aos demais mecanismos de avaliação, sendo um dos fatores
produtores da supertensão típica desse método de gestão, como afirmado por
Chanlat (1996). A atuação das CIPA’s é voltada, às condições de trabalho
referidas como ligadas à problemas de saúde e aos programas de prevenção, como
os de ginástica laboral. Há programas que revelam uma preocupação da
preservação com a saúde, mas focados na perspectiva de saúde como
exclusivamente do autocuidado, da responsabilização de cada indivíduo sobre o
conjunto de recursos necessários à esse cuidado. Não são os trabalhadores que
avaliam os riscos e desgastes oriundos de sua atividade. Condizente com o modelo
hegemônico de saúde, não restrito à área de Saúde do Trabalhador, são os técnicos
que definem qual saúde ocupacional será implementada. Não existe uma
compreensão e investimento na construção de soluções coletivas de prevenção,
como princípio da Saúde do Trabalhador, onde a ênfase nas ações de minimização
de riscos deve priorizar o conjunto dos trabalhadores. Embora sejam executados
programas de ginástica laboral, muitas vezes não são aplicados de forma adequada
e efetiva. Além disso, embora seja apresentada como a possível solução para a
necessidade reconhecida de prevenção de lesões e doenças osteomusculares, as
organizações não disponibilizam a estrutura necessária, nem física nem
organizacional.
Fica evidente a tendência à negação por parte das organizações das questões relacionadas
à saúde e bem-estar. Nas organizações não se fala dos riscos à saúde a que os trabalhadores estão
expostos, nem tampouco a empresa auxilia o trabalhador adoecido com o mínimo possível, que
143
seria a informação sobre procedimentos, ao contrário se percebe casos onde a organização se
aproveita da desinformação do trabalhador para tirar proveito, como é o caso da
“...subnotificação das LER, sendo que as licenças eram concedidas para tratamento de saúde, e
não como doença profissional.”
Nota-se que em alguns casos as organizações apresentam políticas e ações voltadas para a
saúde e bem-estar dos trabalhadores, contudo fica evidente que tais ações são questionáveis pois
colocam em dúvida sua coerência, efetividade e resolutividade. A impressão que fico é de que
para atender uma demanda externa (de modismo ou necessidade de certificação) certas
organizações implantam tais políticas e ações na tentativa de criar um clima de saúde e bem estar,
porém um clima superficial e não efetivo.
As organizações na ânsia de obter a produtividade do trabalhador de qualquer maneira
recorrem aos programas de qualidade de vida, saúde e bem-estar sem a devida seriedade.
Normalmente, como se pode constatar no discurso, são ações isoladas que não possuem
planejamento anterior fundamentado em um diagnóstico que retrate o que o trabalhador entende
por qualidade de vida, saúde e bem-estar e quais necessidades e expectativas ele quer ver
atendidas.
Um exemplo clássico do problema a que estou me referindo é a ginástica laboral.
Conforme o discurso do sujeito coletivo “...embora sejam executados programas de ginástica
laboral, muitas vezes não são aplicados de forma adequada e efetiva.” De acordo com Deluiz
(2001) muitas vezes diante da sobrecarga a ginástica laboral pode gerar mais estresse ao
trabalhador na medida em que é mais uma atribuição que requer tempo. Ou ainda implantar um
programa de ginástica laboral sem corrigir possíveis problemas ergonômicos do ambiente de
trabalho é uma incoerência que continuará trazendo problemas físicos ao trabalhador. Em um
estudo
33
que se propôs realizar uma análise crítica sobre os motivos da utilização da ginástica
laboral a pesquisadora encontrou como um dos resultados a falta de entendimento fisiológico das
ações da ginástica laboral e das necessidades para que ela seja eficaz.
5.2.1.3 – Práticas empresariais e de RH e seus reflexos na saúde do trabalhador
33
Pôster apresentado no VII congresso da ISMA com o título “Uma análise crítica de motivos que levam os gestores
de pessoas a adotarem as atividades de ginástica laboral. De Ana Paula de Oliveira Teixeira.
144
Neste tópico será apresentado o discurso produzido no que se refere às práticas
empresariais e de RH que ao serem citadas trouxeram consigo um reflexo negativo para a saúde,
qualidade de vida ou bem-estar do trabalhador.
De maneira geral irão retratar a mescla da flexibilidade com o taylorismo que é evidente
conforme o leitor poderá constatar na leitura do discurso, que ao mesmo tempo que fala de
polivalência, células de trabalho, cumprimento de metas, produtividade, tecnologias sofisticadas
e trabalhador participativo, fala de intensificação das condições de exploração, terrorismo
psicológico, medo do desemprego, contradições que estão presentes na organização do trabalho,
punição e discriminação, controle, vigilância e rígido controle sobre o corpo.
Ancoragem: Relação saúde e trabalho
Idéia Central 3 Discurso do Sujeito Coletivo
Práticas empresariais
e de RH e seus
reflexos na saúde do
trabalhador
Pode-se observar através dos relatos que essa “polivalência” das trabalhadoras, é
extremamente limitada, pois o que geralmente ocorre é a simples economia de
mão-de-obra, na medida em que há um acúmulo de funções. Algumas empresas
utilizam, nas suas políticas de gestão, a premiação como estímulo para o
cumprimento de metas através do uso da competição entre os grupos/células de
trabalho. A premiação é buscada pelos trabalhadores tanto para efeitos
demonstrativos como para obter o reconhecimento da chefia. Araújo (1998, p.
229), fala da busca do reconhecimento dizendo, “o sentimento de satisfação
começa em nossa relação com o trabalho, mas ele só se completa quando esse
trabalho é reconhecido”. As políticas salariais diferenciadas por ilhas e
dependentes de rendimento buscam estimular a adesão às prescrições da empresa,
e focalizam nos indivíduos o comprometimento pessoal com a organização. Um
dos estímulos que as empresas utilizam para o funcionário produzir mais é o
ganho por produtividade, levando o trabalhador a pensar inicialmente tratar-se de
uma vantagem, já que lhe dá a oportunidade de ganhar um pouco mais. Mas, com
o decorrer do tempo, os próprios funcionários percebem que não é a melhor
maneira de ganhar bem e que, na verdade, os salários deveriam ser maiores, assim
como percebem que a dedicação pelo aumento produtivo gera adoecimento. O
cumprimento das metas é utilizado como forma de avaliação e controle. O grupo
de trabalho ou células de produção adotadas por algumas empresas, geram uma
pressão “coletiva” pela produtividade, ou seja, o próprio grupo impõe um ritmo de
trabalho – sobre o trabalhador individualmente – para que a meta fosse atingida.
Quando um grupo não atingia as metas, eram realizadas reuniões pela chefia ou
gerência para saber os motivos ou falhas do não cumprimento das metas
estabelecidas. Como é característica dos processos atuais de organização do
trabalho, que têm como objetivo a intensificação das condições de exploração da
força de trabalho, segundo os quais as empresas que trabalham com um número
reduzido de funcionários com altos índices de produtividade merecem mérito,
podemos perceber em várias falas a pressão por produtividade que esses
trabalhadores sofrem diariamente. Como método para motivar o crescimento da
produtividade, as empresas utilizam a competição entre os funcionários,
oferecendo o reconhecimento de ser o melhor funcionário do setor ou ainda
prêmios individuais ou para o setor. Lamentavelmente, um dos recursos utilizados
145
pelas empresas para aumentar a produtividade dos trabalhadores entrevistados era
o terrorismo psicológico: chefes exigiam no grito a produtividade e ofendiam o
funcionário que não alcançava o objetivo. Traço marcante nas falas dos
trabalhadores entrevistados é o medo do desemprego. A “pedagogia do medo do
desemprego”, conforme Segnini (2000), é a maneira pela qual as empresas
estimulam o trabalhador contemporâneo a trabalhar. Os trabalhadores são
obrigados a transformar o fantasma da demissão em produtividade. Nesse cenário,
a solidariedade sofre limitações, pois cada colaborador quer individualmente
vencer os próprios desafios quando impostos. A divisão de trabalho em ilhas
possibilita o jogo competitivo e se associa coerentemente com as metodologias
baseadas na provocação individual e psicológica pela busca do sucesso, do tipo
‘seja vencedor ou perdedor’. A política dos departamentos de recursos humanos,
também chamados de ‘talentos humanos’, se ocupa da criação permanente de
ajustes para garantir a maleabilidade necessária em cada serviço. Os treinamentos
buscam formar e manter a produtividade. Práticas motivacionais são recorrentes,
reproduzindo os ensinamentos da Escola das Relações Humanas das primeiras
décadas do século XX. Essas diferenças parecem reproduzir as próprias
contradições que estão presentes na organização do trabalho, pois encontramos
prescrições para a denúncia e a vigilância e, ao mesmo tempo, para a
camaradagem, para a justiça, para a imparcialidade e para a impessoalidade. Uma
das formas de premiação destacada é da premiação do ‘rancho’, ou seja, uma cesta
básica, para esta premiação as regras são rigorosamente observadas: não faltar,
não ter atestado, não chegar atrasada ao trabalho. Cumpridos esses critérios, as
trabalhadoras recebem o ‘rancho’. Algumas adoecidas por LER, colocavam sua
contrariedade em não mais poder participar dessa premiação, devido aos atestados
que apresentavam. Assim, constata-se que essa prática na verdade significava uma
forma de punição e discriminação para com as trabalhadoras adoecidas.
Observamos que os entrevistados não tiveram qualquer treinamento das empresas
para suas funções. Eram colocados nos postos de trabalho sem orientação, tendo
que aprender a função com os colegas. As novatas não recebiam treinamento: elas
aprendiam a função já no local de trabalho; enquanto isso, a funcionária que tinha
experiência era sobrecarregada. Uma das características do modo de gestão
burocrático é a separação entre os que executam e entre os que planejam, dirigem
e controlam as atividades (MOTTA, 1989) – cisão que repercute na autonomia do
trabalhador. Independente do setor e da função exercida, os servidores têm o
controle sobre o processo de trabalho obstaculizado por decisões, procedimentos e
ritmos estipulados pelos escalões superiores da hierarquia institucional, porquanto
sua autonomia se restringe ao planejamento de suas tarefas específicas. Quando se
referem a sentimentos suscitados na atividade, lembram as prescrições para a
impessoalidade e para a imparcialidade, as quais devem cumprir e “cuidar” para
que os subordinados cumpram. Apontam, no entanto, que não é possível ser
impessoal e imparcial, pois na há como “não se envolver”, o que é possível é
tentar agir de forma que não demonstrem o que estão sentindo. Embora tanto o
script quanto a escuta sejam apontadas como instrumentos de auxílio ao operador,
o fato de contarem pontos de avaliação e as escutas serem aleatórias, sem que o
operador saiba quando está sendo monitorado, são passíveis de serem utilizados e
percebidos como meios de controle, justificados como ‘naturais’ no setor. A
supervisão é diretamente encarregada do acompanhamento e desempenho da
operação. Assim como se gerenciavam as telefonistas, a monitoria continua sendo
a ferramenta de controle corpo-a-corpo, herança viva do tayloristo/fordisto, mas
incorporando tecnologias sofisticadas em substituição ao cronômetro clássico. Nas
146
relações de trabalho são observadas formas de controle e vigilância, como as
referidas por algumas trabalhadoras, sobre o número de vezes que a pessoa pode ir
ao banheiro e ao tempo de permanência no mesmo. É uma prática que revela a
contradição dos métodos de gestão, que, por um lado, exigem um trabalhador
participativo, mas por outro, impõem um rígido controle sobre o corpo do mesmo.
As relações de mando e subordinação também são percebidas como uma barreira
ao exercício da autonomia.
Como se viu, o emprego de novas tecnologias e práticas consideradas modernas, de
maneira geral, não são utilizadas no sentido de aliviar a carga de trabalho ou permitir uma maior
autonomia dos trabalhadores na realização de suas atividades, ou proporcionar segurança e bem
estar, mas sim no sentido de impor uma maior exigência de ritmos e produtividade, sendo que
esta exigência está estritamente relacionada com o adoecimento do trabalhador, como pode se
evidenciar no seguinte trecho: “Um dos estímulos que as empresas utilizam para o funcionário
produzir mais é o ganho por produtividade, levando o trabalhador a pensar inicialmente tratar-
se de uma vantagem, já que lhe dá a oportunidade de ganhar um pouco mais. Mas, com o
decorrer do tempo, os próprios funcionários percebem que não é a melhor maneira de ganhar
bem e que, na verdade, os salários deveriam ser maiores, assim como percebem que a dedicação
pelo aumento produtivo gera adoecimento.”
Se percebe a nítida convivência de práticas tipicamente tayloristas/fordistas que se
caracterizam por forte desatenção e agressões á saúde e segurança do trabalhador com as
oriundas do modelo japonês ou da reestruturação flexível, o que conforme Merlo (2000)
produzem o modelo frankenstein. Assim o que a flexibilização poderia trazer de benefícios para a
saúde e bem-estar do trabalhador acaba, na maioria da vezes, se perdendo em função dessa
mescla.
É indispensável chamar atenção para o fantasma da demissão, que atualmente é
incorporado como uma prática de gestão conforme evidencia a frase “os trabalhadores são
obrigados a transformar o fantasma da demissão em produtividade”. O medo do desemprego faz
com que o trabalhador se veja obrigado a um sacrifico maior, intensificando o trabalho para
melhorar o desempenho. Este contexto descrito além de uma série de problemas causados pela
intensificação, causa grande aumento na angústia e ansiedade agravando o desgaste físico e
mental, proporcionando um campo fértil para a doença.
147
5.2.1.4 – Prazer no trabalho
Trata de demonstrar o que o discurso do sujeito coletivo apresenta no que se refere ao
prazer no trabalho. Ressaltando, conforme já apresentado na revisão teórica, de acordo com
Dejours & Abdoucheli (1994) a importância de levar em consideração o fato de que a
normalidade dos comportamentos não implica a ausência de sofrimento e o sofrimento não exclui
o prazer.
Ancoragem: Relação saúde e trabalho
Idéia Central 4 Discurso do Sujeito Coletivo
Prazer no trabalho Apontam como um fator de prazer no trabalho, ver a satisfação alheia - seja de
colegas, subordinados, clientes - bem como ver tais pessoas se desenvolverem, vê-
las felizes – principalmente quando têm a oportunidade de ajudá-las a obter tal
satisfação. Outro fator de satisfação identificado, é o próprio lidar com as pessoas,
relacionar-se, conviver, interagir. Ligado à convivência, está uma outra fonte de
prazer no trabalho: o bom ambiente de trabalho, as boas relações, a cooperação
entre as pessoas também é um fator de satisfação. Um fator de satisfação,
identificado, também refere-se ao relacionamento interpessoal, e consiste em
obter, por parte dos outros, sua confiança, seu afeto, seu reconhecimento, sua
aprovação. Ou seja, para eles é importante serem reconhecidos como pessoas
dignas de atenção, de afeto, de ter sua opinião ouvida, seu trabalho respeitado, e
até de serem tomados como exemplo para os demais. Afirmam encontrar grande
satisfação na profissão, por sua utilidade social e também porque, a partir do cargo
que ocupam, têm a possibilidade exercer atividades de criação, ou seja, encontram
um espaço de autonomia que lhes permite imprimir a sua marca singular no
trabalho, fator que, do ponto de vista da saúde mental é de suma importância.
Aponta que o reconhecimento social acerca do trabalho realizado leva a obtenção
de prazer na atividade profissional. Uma fonte de prazer no trabalho consiste no
realizar. Para os entrevistados, ver as coisas acontecendo, funcionando, ver seus
planos sendo atingidos é algo que proporciona satisfação no âmbito do trabalho.
Este “prazer” pelo trabalho, mesmo que em condições de pressão, de monotonia
de tarefas repetitivas, pode ser compreendido pelo “adestramento dos corpos”,
pela disciplina imposta no desempenho profissional referido por Foucault (1997),
ou ainda segundo a tradição judaica-cristã, relacionando o trabalho à dignidade do
homem, conferindo ao trabalho uma “positividade moral”, ligada à punição e ao
sofrimento (JACQUES, 2002). O trabalho é percebido pelos entrevistados como
recebendo reconhecimento em diversos níveis. Há diferentes formas de retorno,
mas um dos principais se dá através do elogio. Ele pode vir das lideranças da
empresa, dos funcionários em geral ou mesmo de clientes da empresa e se
relaciona diretamente ao trabalho (“fazer”) ou à forma de atendimento prestado
(particularmente ao “ser”). Outra forma é sentir-se incluído no contexto maior da
organização quando é chamado a participar. Isso é tido como fonte de
reconhecimento e prazer. As solicitações para que tomem parte cada vez mais das
decisões e processos da empresa são uma demonstração que as suas contribuições
agregam positivamente tanto para a empresa, como para as pessoas. Os relatos
mostram trabalhadores que, acima de tudo, gostavam de ver no final do dia o
148
produto finalizado. Este trabalho demanda deste profissional investimento afetivo
e isto não está prescrito. Entendendo o prescrito do trabalho, o que é determinado,
ou seja o que é pré-escrito a fim de ser executado pelos trabalhadores, segundo
Oliveira (2002). O que não está descrito na Lei, nem tampouco no Regulamento
Interno. Esta dedicação e investimento estão por conta do profissional, da sua
criatividade, da sua invenção, percebendo-se aí um espaço de criação previsto por
Dejours e Abdoucheli (1994) como necessário para o profissional se sentir
realizado com a tarefa, potencializando este sujeito. A combinação de horários
acontece nos setores, desde a formação da cooperativa, o(a) trabalhador(a) tem
sua necessidade reconhecida pelos colegas e estes realizam o seu trabalho de
forma solidária. Todos comentam a respeito da conquista que a gestão solidária
proporciona. O horário de início da atividade diariamente é diferente para cada
cooperativado(a), alguns(mas) chegam cedo, outros(as) saem mais tarde. Realizam
diversas combinações sobre os horários e as atividades que devem ser feitas.
Quando há muitas encomendas os(as) trabalhadores(as) ficam além do horário
combinado, mas neste caso discutem e organizam quem pode assumir a demanda
do trabalho. Os(as) cooperativados(as) sentem a diferença de tempo e ritmo em
relação aos seus trabalhos anteriores. Os(as) integrantes da pesquisa reconhecem
que a cooperativa é muito importante para a vida de todos. Nos setores, a gestão
coletiva do trabalho evidencia-se através de várias ações de solidariedade. Esta
solidariedade na aprendizagem e gestão coletiva é evidente no relato dos(as)
cooperativados(as) sobre como aprenderam a especificidade técnica e como
adquiriram novos modos de trabalhar ouvindo as colegas e/ou organizando um
jeito próprio de exercer a atividade com a experiência. Conforme Dejours,
Abdoucheli e Jayet (1994), a forma de lidar com as diferenças entre a organização
do trabalho prescrita e a organização real do trabalho que favorece a saúde mental
dos(as) trabalhadores(as) depende do reconhecimento da inteligência astuciosa
que torna a organização do trabalho um espaço de criação, qualidade, segurança e
produtividade coletiva. Essas diferentes necessidades que os locais apresentam
estimulam a criatividade e a flexibilidade, fazendo com que busquem soluções
para problemas não pensados antes. Estar constantemente sendo desafiado parece
incentivar esses profissionais. Pode-se dizer, de acordo com Dejours (1988), que
eles percebem a satisfação simbólica do trabalho na medida em que ele oferece
atividades intelectuais que estão em concordância com sua economia individual. O
prazer aparece também quando se referem à execução do policiamento
propriamente dito, por meio do atendimento de ocorrências. Nos Serviços
Externos, a responsabilidade e os riscos aumentam consideravelmente, mas, em
contrapartida, a autonomia é maior. Assim, mesmo cercada de tantos riscos e
tensão, como é o caso na atividade operacional, ela aparece vinculada ao prazer no
trabalho. Não foi observado nesta pesquisa que a ausência de satisfação ou a falta
de prazer no trabalho favoreça o desencadear das LER/DORT. Encontramos entre
os entrevistados tanto trabalhadores satisfeitos, sentindo-se realizados com suas
atividades, como o contrário. Cabe ressaltar que o fato de estarem satisfeitos com
suas atividades não pressupõe que se sentiam reconhecidos ou valorizados pela
organização do trabalho.
149
Conforme se observa são vários os fatores apontados como fonte de prazer no trabalho e
entre eles estão: a possibilidade de ver a satisfação alheia; a possibilidade de se relacionar e
conviver com pessoas; possibilidade de obter confiança, reconhecimento e aprovação; a utilidade
social da profissão; a possibilidade de reconhecimento social; de fazer parte do processo de
realização; de fazer parte da tomada de decisão; entre outras, mas o que mais se destaca está a
possibilidade de criação.
De acordo com Dejours e Abdoucheli (1994), o espaço para a criação possibilita também
obtenção de realização do trabalhador com sua tarefa que também está vinculado ao sentimento
de prazer no trabalho. Ou seja a possibilidade de exercer a criação está atrelada a manutenção da
saúde do trabalhador.
Ainda em Dejours (1992) se encontra a afirmação de que o trabalho prazeroso é aquele
em que cabe ao trabalhador parte importante de sua construção. O sofrimento, a dor, segundo ele,
está ligado aos sentimentos de indignidade, de inutilidade e desqualificação vividas pelos
trabalhadores ao executarem uma tarefa aquém de sua capacidade inventiva. O que ajuda a
entender melhor a importância da possibilidade de criação e também de participação.
É interessante chamar atenção para o seguinte trecho: “Não foi observado nesta pesquisa
que a ausência de satisfação ou a falta de prazer no trabalho favoreça o desencadear das
LER/DORT. Encontramos entre os entrevistados tanto trabalhadores satisfeitos, sentindo-se
realizados com suas atividades, como o contrário”. Tal constatação reforça a importância de se
ter sempre em mente que nem o prazer nem o sofrimento são pré-requisitos para a saúde ou para
a doença.
5.2.1.5 – Sofrimento no trabalho
Está idéia central tratará de apresentar o discurso no que se refere a questão do sofrimento
no trabalho, lembrando que da mesma forma que o prazer, o comportamento normal no trabalho
não implica a ausência de sofrimento e o sofrimento não exclui o prazer.
O sofrimento faz parte do trabalho e conforme Dejours & Abdoucheli (1994) deve ser
entendido em uma perspectiva dinâmica, onde tanto pode propiciar elementos que favoreçam a
saúde quanto ao processo de adoecimento. Conforme fica evidenciado na seguinte frase retirada
do discurso do sujeito coletivo: “É no confronto com o sofrimento, seja valendo-se dele para
criar, seja lutando para não adoecer, que se dá o cotidiano do trabalho”.
150
Ancoragem: Relação saúde e trabalho
Idéia Central 5 Discurso do Sujeito Coletivo
Sofrimento no
trabalho
Um primeiro fator de sofrimento apontado é o engessamento da organização do
trabalho, aquilo que inspira rigidez e formalidade: a cobrança do cumprimento de
horários, a burocracia, as atividades monótonas e rotineiras, a centralização das
decisões, o autoritarismo, o controle e o foco na questão técnica em detrimento
dos fatores humanos. Algumas cooperativadas antigas saíram porque estavam
estressadas da pressão do trabalho, com pouco tempo e uma quantidade grande de
produção. Os resultados indicam que os colaboradores sentem o desgaste no
exercício de suas atividades, considerando-as cansativas, desagradáveis,
repetitivas, com sobrecarga, não reconhecida pelo sistema de promoção e
submetidas às decisões políticas, o que gera frustração, desânimo e insatisfação.
Colocam como motivos de conflitos as discordâncias na forma de trabalhar,
causadoras de “atritos funcionais” e também o que classificam de “abusos” por
parte de alguns comandantes. Relatam casos em que os superiores impõem uma
“intimidade vertical”, fazendo brincadeiras ou comentários de cunho pessoal sobre
os subordinados que eles consideram de mau-gosto ou ofensivos. As injustiças
cometidas pelos superiores ao utilizarem os regulamentos de forma inescrupulosa
para justificar punições que são motivadas por questões pessoais e as represálias,
são referidas até mesmo com comoção pelos entrevistados, evidenciando o
sofrimento que geram. Há relatos de experiências de punição com a obrigação de
cobrir o valor correspondente a cada peça que produzissem de maneira errada. É
interessante que eles não gostavam dessa situação, mas não se revoltavam;
referiam que as empresas eram assim e não podiam ser diferentes. Percebe-se que
o uso do termo estresse vem sempre atrelado: à cobrança e à pressão pelo
atingimento de resultados, tanto aquela cobrança exercida pelos outros (a empresa,
os superiores), quanto a que eles mesmos se impõem. Porque, como afirma Lima
(1996), as normas passam a ser interiorizadas e exercidas pela própria iniciativa
do indivíduo, sem necessidade de uma intervenção por parte de um superior; e aos
momentos difíceis, como quando é necessário tomar decisões, resolver problemas
ou quando os desafios se acumulam e as sensações, conforme descrevem, são de
desgaste, vulnerabilidade, instabilidade. Com o aumento do número de horas
diárias de trabalho o tempo dedicado às atividades pessoais ou à convivência
familiar fica prejudicado, o que, em alguns casos, pode trazer sentimentos de
culpa e de angústia. Os entrevistados afirmam, ainda, que as responsabilidades de
seu cargo fazem com que se engendre um estado de preocupação e tensão
constante, fatores aos quais atribuem sintomas e problemas de saúde, como
pressão alta, dores de cabeça e estados de ansiedade. Constata-se que a sobrecarga
de trabalho é muito mencionada. Ainda relacionada à sobrecarga e às pressões no
trabalho, a possibilidade de erros advindas do desgaste é freqüentemente
mencionada. A análise das entrevistas aponta que a possibilidade de erro está
associada ao desgaste relacionado ao turno de trabalho e a não existência de
períodos para repouso. Costumava trabalhar até 12h/dia. São narrados também
obstáculos para ser liberado para tirar férias, o que agrava a situação e cria
dificuldades de lidar com as cobranças do dia-a-dia devido ao esgotamento.
Dejours (1988, p.137) discute que tal fadiga e esgotamento são, de certo modo,
necessários para alienação pela organização do trabalho. Segundo suas palavras:
“a alienação é mais fácil de ser obtida com operários cansados, mais fácil no fim
do ano do que após as férias”. 6 (P. 55) O fato de que as pessoas são singulares
em suas características, suas histórias, seus temperamentos e expectativas,
151
demandam tratamentos diferentes. Então, lidar com tantas pessoas, únicas em sua
maneira de compreender seu entorno, torna-se algo difícil à medida que exige o
que chamam de “jogo de cintura” e um certo esforço político. Particularmente ao
que se refere às expressões de sofrimento psíquico, o conteúdo dos enunciados
encadeava-se com uma minimização de sua existência, atribuídos à antecedentes
histórico-familiares, mas à medida em que eram relatados o aparecimento dos
sintomas, o componente laboral se visibilisava pela obviedade das reações às
situações típicas de tensão dos atendimentos – geralmente na agressão direta de
clientes, onde são manifestadas crises de choro e descontrole emocional. É
praticamente unânime a afirmação, entre os entrevistados, de que o trabalho
demanda tempo em demasia, o que acaba por fazer com que dediquem tempo e
atenção maior do que gostariam à sua vida profissional. Observa-se nos
depoimentos uma “naturalização” do sofrimento, onde tudo é aceito como fazendo
parte da profissão que escolheram, portanto deve ser aceito sem espanto, sem
queixas, remetendo a uma banalização do sofrimento. A categoria profissional, é
percebida como desunida, na visão dos sujeitos, se houvesse uma influência mais
forte do Conselho do Sindicato no sentido de apoiar mais os assalariados, isso lhes
daria maior força para uma atuação consistente e protegida nas organizações, e
assim reduziria algumas de suas dificuldades. Trabalhadores que iniciaram suas
experiências profissionais ainda crianças e que cumprem jornadas de trabalho
extensas às custas de horas-extras, sem intervalos. Que vivem diariamente
pressões por produtividade através da competição entre colegas, das pressões da
chefia, do ganho salarial por produtividade, das reuniões com ameaça de demissão
e das premiações dos programas de qualidade. São trabalhadores que procuram
dar conta de um trabalho cada vez maior com um número de colegas cada vez
menor e que ainda em sua maioria não têm o direito de organizar suas atividades,
não têm liberdade criativa e inovadora em suas funções. Estamos diante de
trabalhadores que utilizam seus corpos como reguladores para vencer as
dificuldades impostas pela organização do trabalho e pelos processos produtivos.
O medo da demissão, do desemprego ficou evidenciado na fala das trabalhadoras.
O medo do desemprego vem associado ao aumento de competição, à diminuição
dos laços de solidariedade e demonstra um certo “consentimento” e “tolerância”
com as condições de trabalho. Também o medo pelo desemprego pode contribuir
com a falta de resistência coletiva e individual das trabalhadoras. As entrevistadas
diziam que “todo mundo aceita tudo quieto”, com medo da demissão. Negar
sentimentos não parece ser o melhor caminho para significar e compreender estes
sentimentos a ponto de não se tornarem perigosos para a saúde psíquica destes
profissionais. E pelos depoimentos, parece que este é o caminho que muitos
profissionais seguem, o de negar, esconder, ou fingir que eles não existem. O que
pode tornar perigoso, podendo ocasionar acúmulo de tensão não permitindo a
descarga de energia psíquica, o que para Dejours e Abdoucheli (1994) pode ser
perigoso podendo ocasionar o desequilíbrio psíquico do trabalhador, pois o lugar
que é marcado para gerar prazer, acaba gerando apenas sofrimento. Os(as)
trabalhadores(as) banalizam o adoecimento, negam as dores, dizem que não há
possibilidade de comunicação, trocas, mudança de posturas, das relações com a
atividade, o tempo e o ritmo, enfim não refletem criticamente a respeito da
organização do trabalho. Uma das decorrências da exigência demasiada de
trabalho é o profissional sentir que tem de acatar e admitir algumas diretrizes da
empresa sem ter tempo sequer de questionar qual seu parecer sobre o assunto.
Além da carga horária, existe a carga emocional que é recebida no cotidiano do
trabalho, já que os entrevistados são procurados para dar conta do sofrimento de
152
outros trabalhadores do local. No entanto, como fazer isso quando, por vezes, não
há tempo sequer para refletir sobre seu próprio trabalho? Isso leva a experimentar
pesar pela inabilidade de lidar com os pedidos de ajuda dos demais. A falta de
material para trabalhar, número inadequado de trabalhadores para atender a
demanda e o excesso de pacientes em relação à capacidade de atendimento são um
problema social. Contudo, os cuidadores acabam assumindo para si a
responsabilidade destes problemas, sobrecarregando-se. Esses problemas afetam o
trabalhador, gerando-lhe angústia e sobrecarga de tensão. A falta de condições de
trabalho adequadas é um dos aspectos que dificulta a realização do trabalho,
muitas vezes sendo possível realizá-lo somente se empregarem recursos materiais
ou financeiros próprios. A articulação entre o trabalho e o adoecimento tem sido
caracterizada por sua invisibilidade institucional-legal. A trajetória das
trabalhadoras adoecidas por LER evidencia formas particulares de enfrentamento
técnico-burocrático. Estas se expressam nas formas que as trabalhadoras têm que
enfrentar para “legitimar” sua lesão, perante as instituições - médico da empresa,
perito, INSS - que acabam por adotar as práticas e os discursos da Medicina do
Trabalho, centrados no saber médico (nas “provas” dos exames complementares,
no não reconhecimento do saber do trabalhador) e na ligação da doença a fatores
individuais e biológicos. Assim, o trabalhador, vítima de um processo de
adoecimento, se vê perdido numa rede de resistência técnica e burocrática, de
difícil compreensão. Para o lesionado por LER é difícil adoecer, pois, ao consultar
um médico, na busca de auxílio, ou mesmo compreensão para sua dor, defronta-se
com alguém que coloca em dúvida sua lesão, acentuando em decorrência disso, o
seu sofrimento. O caminho percorrido pelo lesionado, desde os primeiros
sintomas, é permeado de grande sofrimento. Sofrimento relacionado aos sintomas
de dor que acabam fazendo parte da sua vida, tanto durante a jornada de trabalho
quanto no período em que está com a família, nos afazeres cotidianos, nos período
de lazer e descanso. As práticas de invalidação, ou de não reconhecimento dado
pela gerência/chefia revelam os problemas e as dificuldades enfrentadas pelas
lesionadas e mostram como as relações de trabalho tornaram-se desumanizadas e
impessoais, convertendo-se em outra fonte de sofrimento. Os trabalhadores, no
decorrer do processo de adoecimento, percebem que as empresas discriminam o
funcionário que não pode mais cumprir suas metas produtivas. Eles relatam perder
o valor para as empresas e não gozarem mais do pouco reconhecimento de que
dispunham. O afastamento do trabalho torna público o adoecimento, mas, até
então, foi percorrida uma trajetória individual e introspectiva, carregada de
sofrimento. DEJOURS (1992) comenta a prática corrente de que não se trata de
evitar a doença, mas sim de domesticá-la e contê-la, aprendendo a conviver com a
dor e suas implicações. Neste processo de controlar a doença, as estratégias são no
sentido de impedir que o corpo pare de trabalhar, tanto que o reconhecimento da
doença ocorre somente quando esta atinge uma gravidade tal que impede a
continuidade da atividade profissional ou das atividades domésticas e familiares.
Para este autor, a hospitalização ou qualquer outro recurso ligado à assistência
médica representa, de alguma maneira, o fracasso do sistema de contenção da
doença. Nas palavras de RIBEIRO (1997), o que os portadores de LER/DORT
temem é a morte social, isto é, não poder trabalhar, cuidar de si e dos seus. A
invisibilidade da LER/DORT traz problemas adicionais para a realização do
diagnóstico, o que acarreta uma vivência de sofrimento entre os portadores. Diante
de orientações médicas conflitantes ou que depositam no indivíduo a
responsabilidade de administrar a dor, são comuns opções pelo abandono de
qualquer tentativa de tratamento. O julgamento dos colegas de trabalho é um dos
153
mais temidos pelos trabalhadores adoecidos. Segundo DEJOURS e
ABDOUCHELI (1994), são os pares que melhor reconhecem a qualidade técnica
dos trabalhos, daí a importância de seus julgamentos nos contextos laborais. Além
disso, segundo NARDI (1999), a discriminação dos pares acontece, em parte, pela
sobrecarga de tarefas daqueles que permanecem trabalhando; ainda, é comum
como mecanismo de defesa coletivo tratar a doença do colega como um problema
individual, negando os riscos do trabalho aos quais todos estão expostos. LIMA
(1998) também salienta que as explicações psicologizantes, culpabilizando o
indivíduo pela doença, contribuem para o processo de discriminação dos
portadores de LER/DORT, que passam a ser vistos como simuladores ou então
como alvos de uma fragilidade psíquica e/ou orgânica. Há incongruências entre os
valores e atuar de um modo com o qual não se acredita é fator de desconforto
grande, é fonte de sofrimento. A desumanização das empresas, o desrespeito às
pessoas e o não-cumprimento de acordos que ocorrem nesses ambientes não são
tomados como banais por estes trabalhadores, o que os leva à insatisfação. Eles
compreendem as perdas que existem para a saúde das pessoas e para a
organização como um todo e quando se sentem impotentes para modificar a
situação, têm sentimentos fortes de frustração. A dificuldade de colocar em prática
suas crenças pessoais ou técnicas profissionais é causadora de tal sofrimento que
foi a única categoria provocadora do desejo de trocar de local de trabalho. Parece,
de fato, que atuar diferentemente de seus valores é perder totalmente o sentido do
trabalho. A falta de condições de trabalho adequadas é apontada como um fator de
pressão em função dos perigos impostos pela precariedade dos equipamentos.
Embora os entrevistados afirmem que tenha havido, nos últimos anos, uma
melhoria neste aspecto, pela aquisição de alguns materiais, as condições ainda
estão longe de serem ideais. A possibilidade de punição sempre presente é um
aspecto que parece causar sofrimento, pois implica o custo subjetivo de transitar
sempre por uma linha tênue entre “ser considerado um herói ou ser um vilão”,
entre ser considerado um bom ou um mau profissional, competente ou
incompetente. Observamos pessoas ressentidas por terem empregado todas as suas
forças em determinadas tarefas e que, em troca de suas saúdes, recebiam salários
defasados, ambientes sem condições de trabalho e, na maioria das vezes, ainda
eram destratados, sem receber o devido respeito como indivíduos e como
profissionais. É no confronto com o sofrimento, seja valendo-se dele para criar,
seja lutando para não adoecer, que se dá o cotidiano do trabalho.
Como se pode perceber a lista de possibilidades geradoras de sofrimento no trabalho é
extensa, sendo que além das citas acima há ainda uma série grande de possíveis situações. Isto
porque as situações relacionadas ao sofrimento no trabalho incluem as condições de trabalho e a
organização do trabalho, duas dimensões que compreendem uma série grande de possibilidades e
interações.
No que se refere ao sofrimento no trabalho é importante lembrar, conforme Dejours &
Abdoucheli (1994) que existem dois tipos de sofrimento: o criador e o patogênico. O sofrimento
criador é possível quando o trabalhador encontra espaço na organização para estabelecer
estratégias defensivas e estratégias coletivas de defesa, que possibilitam transformar seu
154
sofrimento em criatividade, aumentando a resistência à desestabilização psíquica. Já o sofrimento
patogênico é causado pelas pressões da organização e aparece quando não há espaço para criação,
somente o medo e pressões encontram lugar na organização, os recursos defensivos não
encontram possibilidades e o caminho para doença começa a ser percorrido.
No discurso produzido anteriormente, não há como avaliar o tipo de sofrimento a que os
profissionais sujeitos das dissertações estiveram expostos. Mas, cabe lembrar que se a
organização estiver impregnada de situações que proporcionem o sofrimento e não possibilitem a
criação, o trabalho vai atuar como um desestabilizador da saúde.
5.2.1.6 – Mecanismos de defesa utilizados para proteção contra as dificuldades encontradas no
trabalho
Trata de demonstrar o que as dissertações apresentaram com relação às defesas utilizadas
por seus sujeitos contra as pressões da organização do trabalho e ainda seus possíveis efeitos.
Lembrando que conforme Dejours & Abdoucheli (1994) tais defesas são consideradas estratégias
defensivas que surgem na luta do sujeito contra as adversidades encontradas no trabalho, ou seja
a luta contra o possível adoecimento que o sofrimento pode causar.
Cabe ressaltar ainda, que muitas vezes as estratégias defensivas, ainda conforme Dejours
& Abdoucheli (1994), são defesas que os trabalhadores utilizam que são realizadas a nível
mental, já que não institui nenhuma mudança real da pressão sofrida.
Ancoragem: Relação saúde e trabalho
Idéia Central 6 Discurso do Sujeito Coletivo
Mecanismos de
defesa utilizados para
proteção contra as
dificuldades
encontradas no
trabalho
Afirmam lançar mão dos seguintes mecanismos para protegerem-se das
dificuldades encontradas no trabalho: atividades de lazer, ou que julgam
prazerosas, como praticar esportes, dormir, caminhar, exercer seus hobbies, sair
para se divertir (festas, jantares, cinema); conversar com colegas, amigos e
familiares também é outra defesa utilizada pelos gerentes entrevistados para
compensar os fatores de sofrimento presentes em seu trabalho; atividades
terapêuticas, como massagens, psicoterapia, yoga, rituais religiosos. As ações são
individuais, de dividir com alguns colegas as dificuldades e estresse do dia-a-dia,
contando com algumas colegas da equipe para desabafar, ou saindo para jantar, ir
a algum lugar após as reuniões para descontrair. Se percebeu são as trabalhadoras
buscando ou construindo formas de resistência às normas impostas, através da
cooperação entre os pares: “um ajudava o outro na sua meta e produção de pares”,
ou, a trabalhadora criando formas de resistir à racionalidade imposta pela
organização do trabalho tal qual planejada pelo corpo gerencial. As estratégias de
defesa para o enfrentamento das condições de trabalho por vezes aparecem
155
sinalizadas em dizeres como “me acostumei” ou “me adaptei”. A sobrecarga de
trabalho e a conseqüente auto-aceleração é comum em atividades monótonas e
repetitivas como mecanismo psicológico para se livrar de um trabalho
empobrecido e destituído de sentido (DEJOURS, 1992; LIMA, 1998). As normas
podem proteger os indivíduos, no sentido de que o saber a elas atrelado pode
funcionar como proteção à arbitrariedade dos superiores e às pressões por
produtividade. O saber-fazer possibilita o não cumprimento estrito da regra e, ao
não fazer, como aponta CODO (2002), o servidor abre espaço para a resistência –
que lhe possibilita estabelecer negociações – e é elevado à condição de alguém
importante. Observa-se um sentimento de ser útil, e esta utilidade é que pode dar
sentido ao trabalho que se faz, permitindo suportar a dor e o sofrimento. Alguns se
admitem passivos quanto às situações adversas que o trabalho lhes apresenta e,
sendo assim, preferem: bloquear (simplesmente não pensar ou não se importar), se
isolar (ficar quieto, ficar sozinho), e guardar para si, para que a equipe não tome
conhecimento do que lhes aborrece. Contudo, negar a própria dor não remete a
esse caminho equilibrante apontado por Dejours e Abdoucheli (1994). E sim,
demonstra o uso de defesas individuais e as defesas servem para amenizar a
percepção da realidade, evitando muitas vezes o sofrimento. Mas não apaga o
sofrimento, esse continua existindo. Porém encontra-se escondido, disfarçado.
Hoefel (2001, p. 475) citando Dejours (1999), diz que estes “comportamentos
contrários à própria percepção do risco até a submissão à sobrecarga, à não-
expressão de sentimentos”, correspondem a estratégias coletivas e/ ou individuais
marcadas pela negação da realidade laboral. Isto é, a trabalhadora não evita a
doença, mas aprende a “conviver” com a dor e suas implicações. Conforme
Dejours Abdoucheli e Jayet (1994), a construção de regras suscita as estratégias
defensivas; essas atuam sobre a percepção da realidade e funcionam como regras
que supõem um consenso coletivo. O não fazer, o embaraçar, o emperrar, é a
transgressão às regras burocráticas, podendo funcionar como a possibilidade de
autoregulação dos indivíduos frente à demanda de serviço, mas não é uma
estratégia utilizada por todos os servidores. A literatura em Saúde Mental e
Trabalho (LIMA, 1998; DEJOURS, 1992) aponta a transgressão como uma
estratégia importante de proteção contra as pressões da organização do trabalho.
No entanto, à autonomia de como fazer ou de não fazer, se contrapõe a falta de
opções sobre o que fazer (conteúdo) e em que ritmo. Apesar destas tensões,
percebe-se que o conflito de idéias é malvisto e, portanto, pouco explicitado.
Os(as) trabalhadores(as) têm receio do confronto. Sentem o conflito como um
rompimento e não como uma possibilidade de transformar ou criar novos
conceitos. A doença, para esses trabalhadores, não os libera das práticas
profissionais. Eles permanecem impulsionados a permanecer trabalhando, presos à
dominação capitalista produtiva, visto que essa é a única maneira que percebem de
permanecerem integrados à sociedade e serem cidadãos. Também chamou a
atenção, durante algumas entrevistas, a dificuldade de formularem respostas que
refletissem sua opinião pessoal, pois muitas vezes - apesar da insistência da
pesquisadora ao solicitar que respondessem enquanto indivíduos, e não
funcionários de determinada empresa – suas opiniões misturavam-se ao que
propaga a organização que os emprega. Assim como percebemos que os
entrevistados demonstraram um movimento inconsciente de resistência às relações
de poder através das LER/DORT, percebemos também que essa resistência não
pode ser considerada ativa, mas pode ser compreendida por meio da teoria do
ressentimento de Nietzsche (1998). O trabalhador não consegue ser ativo
tampouco reativo ao ser colocado em situação de sofrimento no ambiente
156
profissional. Ele acaba apenas ressentindo-se. O ressentimento ocorre em situação
de exploração, quando o trabalhador, em troca da saúde de seu corpo e do
empenho de todas as suas forças, recebe salários defasados, ambientes
profissionais sem condições de trabalho e desrespeito à sua pessoa; enfim, recebe
o não reconhecimento de suas atividades e dedicação ao trabalho. Entretanto, tal
sentimento não é capaz de ser externado. O sentimento ressentido é canalizado
para o próprio trabalhador, acabando por “envenená-lo” a ele próprio. Essa
descarga acaba anestesiando o sofrimento, mas não o afasta da consciência.
Quando a doença não permite mais a dedicação ao trabalho, o trabalhador acaba
por sentir-se culpado, responsável pela situação gerada. Nas falas percebemos que
eles sabem que a organização do trabalho os levou ao adoecimento, mas, ao
abordarem seus sentimentos, sentem-se culpados por terem exagerado no trabalho,
por não se terem cuidado, por vezes acreditando ser a doença de origem genética
ou uma fatalidade.
Chama bastante atenção o fato de que as estratégias individualizantes predominam nos
discurso apresentado. Ou seja, são poucas as estratégias coletivas de defesa se comparadas as
defesas individuais. São exemplos claros de estratégias individuais as seguintes: “Afirmam lançar
mão dos seguintes mecanismos para protegerem-se das dificuldades encontradas no trabalho:
atividades de lazer, ou que julgam prazerosas, como praticar esportes, dormir,
caminhar...atividades terapêuticas, como massagens, psicoterapia, yoga, rituais religiosos”.
Chega a ser absurdo que os trabalhadores considerem atividades inerentes a vida como o
dormir, caminhar” como uma forma de defesa contra as dificuldades do trabalho. Penso que
esta constatação está relacionada a atual prática de gestão, amplamente difundida, conforme
podemos observar na revisão da literatura, de ênfase na capacidade de adaptação e de aderência
as políticas organizacionais. Assim, o trabalhador frente a declaração explicita de que a pessoa
considerada competente e valorizada pelas organizações é aquela que se adapta com facilidade as
demandas e valores organizacionais e destas fazem parte as pressões, a sobrecarga, entre outras;
passa a aceitar sem contestar o fato de que sua prioridade é a organização, é adaptar-se as suas
demandas e exigências. Desta forma as demais atividades da vida, até as fisiológicas como é o
caso do dormir, passam a ser consideradas como secundárias, ou como apresentada no discurso
como uma maneira de se proteger das adversidades do trabalho.
Ainda reforçando a idéia apresentada anteriormente, encontra-se no discurso a seguinte
constatação: “As estratégias de defesa para o enfrentamento das condições de trabalho por vezes
aparecem sinalizadas em dizeres como “me acostumei” ou “me adaptei””. Indicando a
fragilidade das estratégias, frente as práticas de gestão utilizadas pelas organizações, pois este
tipo de defesa caminha muito próximo a doença, pois apesar de minimizar o sofrimento, como é
157
o caso também dos trabalhadores que negam a própria dor, não exclui o sofrimento, que continua
existindo.
Outra questão que aparece no discurso e acredito que seja importante destacar por sua
possibilidade esclarecedora, está relacionada ao seguinte trecho: “ Os(as) trabalhadores(as) têm
receio do confronto. Sentem o conflito como um rompimento e não como uma possibilidade de
transformar ou criar novos conceitos”. Esta aversão ao conflito por parte dos trabalhadores, é
mais um reflexo das modernas práticas de gestão nas organizações, onde a antecipação dos
conflitos é uma prática recorrente, além da série de benefícios que as organizações fazem
questão de divulgar amplamente e contam com a mídia
34
para tal, que fazem os trabalhadores
sentirem-se intimidados de gerar conflitos já que a organização lhe oferece tanta proteção, tantos
benefícios e é tão preocupada com seu bem-estar.
Enfim, de maneira geral o que se percebe no discurso relacionado às estratégias
defensivas é que há muita fragilidade no que se refere aos mecanismos utilizados o que sugere
que haja assim maior vulnerabilidade para o adoecimento.
5.3 – CONSIDERAÇÕES À CERCA DOS RESULTADOS APRESENTADOS NAS
DISSERTAÇÕES
De maneira geral o que se pode observar diante do discurso dos pesquisadores é que a
questão da saúde no trabalho está subordinada à necessidade prioritária de produtividade imposta
pelo capital. Conforme a fala de um pesquisador “são trabalhadores que procuram dar conta de
um trabalho cada vez maior com um número de colegas cada vez menor e que ainda em sua
maioria não têm o direito de organizar suas atividades, não têm liberdade criativa e inovadora
em suas funções. Estamos diante de trabalhadores que utilizam seus corpos como reguladores
para vencer as dificuldades impostas pela organização do trabalho e pelos processos
produtivos”.
É nítido que práticas de gestão que possuem forte relação com o sofrimento e
adoecimento do trabalhador, ou mais explicitamente que são causa de sofrimento e adoecimento,
são muito comuns nas organizações. Alguns exemplos destas práticas são a sobrecarga de
trabalho, as pressões e tensões constantes, a cobrança por produtividade, a intensificação dos
34
Como é o caso das publicações das melhores para trabalhar ou dos prêmios como Top ser humano.
158
ritmos. Somada a esta evidência, se observa nos resultados apontados nas dissertações à ausência
de medidas efetivas que minimizem o sofrimento no trabalho e previnam o adoecimento do
trabalhador.
Tal ausência retrata a maneira como as organizações encaram a saúde do trabalhador, ou
seja, como um problema e responsabilidade do próprio trabalhador, é ele quem deve dar conta da
demanda organizacional sem adoecer. Além disto há a concepção empresarial de que as doenças
do trabalho são uma responsabilidade pessoal do trabalhador por se tratarem, na visão
empresarial, de uma pré-disposição do mesmo.
A preocupação das organizações com a saúde e bem-estar dos trabalhadores, amplamente
divulgada no meio empresarial e até na mídia, está alinhada com a concepção da visão
organizacional de que a saúde é responsabilidade do indivíduo, como podemos observar no
seguinte trecho do discurso: “Há programas que revelam uma preocupação da preservação com
a saúde, mas focados na perspectiva de saúde como exclusivamente do autocuidado, da
responsabilização de cada indivíduo sobre o conjunto de recursos necessários à esse cuidado”.
Percebe-se nos resultados das dissertações que há uma relação direta entre as práticas
empresariais e de RH e a saúde do trabalhador, no sentido de que os reflexos destas práticas
podem ser danosos à saúde, como por exemplo o estímulo à competitividade, o medo do
desemprego, o ganho por produtividade, as diversas formas de avaliação de desempenho ou de
controle.
Há ainda a evidência de que muitas das práticas amplamente divulgadas e propagadas
como benéficas ao trabalhador, são na verdade uma espécie de máscara para o real objetivo
organizacional de produtividade e lucratividade, como se pode evidenciar no seguinte trecho:
“pode-se observar através dos relatos que essa “polivalência” das trabalhadoras, é
extremamente limitada, pois o que geralmente ocorre é a simples economia de mão-de-obra, na
medida em que há um acúmulo de funções”.
A dicotomia sofrimento-prazer é tema central na obra de Dejours (1993) e também se faz
presente nas dissertações estudadas. Reforçando a idéia de que o sofrimento não exclui o prazer e
vice-versa. O problema conforme Dejours & Abdoucheli é quando o trabalhador não consegue
estabelecer estratégias defensivas que poderiam lhe possibilitar uma estabilidade entre o prazer e
o sofrimento. E conforme se pode constatar nas dissertações, as organizações tendem a limitar as
possibilidades defensivas do trabalhador que acaba tendendo ao sofrimento em desequilíbrio com
o prazer e levando a um possível adoecimento.
159
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aqui apresentarei uma discussão orientada para minhas conclusões à luz do referencial
teórico, dos resultados obtidos nos meus estudos analíticos e do propósito especificado no
problema de pesquisa “a intenção manifesta pelas organizações de preocupação com a saúde do
trabalhador é coerente com as suas práticas de gestão de RH?” Inicio por destacar os aspectos que
considerei mais relevantes desse estudo e finalizo indicando alguns possíveis desdobramentos da
pesquisa.
Como pesquisadora eu tenho a consciência de estar fazendo algumas escolhas sobre o que
dar visibilidade neste momento, pois os estudos analíticos realizados permitem muitas
possibilidades. Assim, busquei auxílio na retomada dos objetivos delineados no capítulo um, ou
seja, os aspectos destacados caminham na direção de atender as especificidades delimitadas no
objetivo geral e nos específicos previamente determinados.
A compreensão e a análise da intenção manifesta pelas organizações quanto a saúde do
trabalhador e a realidade praticada pelas mesmas inserem-se num cenário complexo e diverso.
São múltiplas as facetas que envolvem e estão envolvidas neste cenário, como pode ser
observado no corpo do trabalho, porém, levar em consideração todas estas facetas nesta
dissertação seria, do ponto de vista prático, inviável. Tentei da maneira possível, no decorrer do
percurso de pesquisa , ao menos citar, lembrar, ou permitir visualizar grande parte destas facetas.
Mas, neste momento de discussão final, me deterei apenas nas facetas necessárias ao atendimento
dos objetivos, respeitando a delimitação do objeto de pesquisa.
Em relação ao objetivo geral que é “identificar possíveis paradoxos em relação a saúde do
trabalhador nas práticas de gestão de RH consideradas e reconhecidas como modernas e
identificadas nas publicações das melhores empresas para trabalhar e congresso relacionado ao
tema trabalho, stress e saúde; relacionando possíveis efeitos das referidas práticas aos resultados
obtidos em pesquisas (teses e dissertações) sobre saúde e trabalho realizadas em organizações
empresariais ou com trabalhadores de determinada categoria” é visível, e os resultados da
pesquisa são a evidência, de que existem muitos paradoxos entre a intenção manifesta e a
realidade praticada pelas organizações quanto a saúde do trabalhador, tais paradoxos aparecem
160
em vários momentos nos resultados da pesquisa e serão apresentados a seguir em um quadro
demonstrativo e discutidos no decorrer deste capítulo.
Paradoxos Melhores para trabalhar e congresso –
Campo profissional
Dissertações – Campo acadêmico
1 A saúde do trabalhador é divulgada pelas
empresas como uma responsabilidade
sua.
Os resultados das pesquisas apontam
que as organizações não assumem sua
responsabilidade como um dos
principais fatores de risco para a saúde
do trabalhador.
2 Apontam para a possibilidade de
conciliar aspectos conflituosos como:
saúde do trabalhador X saúde do negócio
Levam em consideração os conflitos da
relação capital X trabalho.
3 Práticas de RH não interferem no sistema
de produção.
Demonstram os prejuízos causados pelo
sistema produtivo na saúde do
trabalhador.
4 Negam ou tomam como realidades
imutáveis aspectos relevantes na questão
saúde e trabalho, como a intensificação e
a sobrecarga de trabalho.
Apontam de maneira enfática os
prejuízos causados pela intensificação e
sobrecarga na saúde do trabalhador.
5 Acreditam que programas paliativos
podem solucionar problemas relativos a
saúde do trabalhador.
Chamam atenção para necessidades de
mudanças na organização do trabalho
para solucionar problemas de saúde do
trabalhador.
6 Referenciais teóricos não associam
trabalho e sofrimento.
Referenciais teóricos associam trabalho
e sofrimento.
7 A questão do bem estar e saúde do
trabalhador é encarada da ótica de
sobrevivência do negócio.
Apontam problemas relacionados a
ênfase das organizações na
produtividade e competitividade.
8 Divulgam o empenho das empresas em
criar programas que favoreçam a saúde e
bem-estar dos trabalhadores.
Resultados apontam para falta de
práticas efetivas no que se refere a
prevenção dos efeitos nocivos à saúde
do trabalhador. Demonstram ainda que
há ocultação da possibilidade de os
trabalhadores desenvolverem patologias
9 Apontam práticas de RH que estimulam a
méritocracia e a competitividade como
positivas ao trabalhador.
A competitividade e meritocracia são
apontadas como prejudiciais a saúde do
trabalhador.
10 Transmitem a idéia de perfeição das
grandes organizações, que oferecem ao
trabalhador uma série de benefícios que
devem ser valorizados pelos mesmos.
Apontam que a gama de benefícios
oferecidos pelas organizações, muitas
vezes, são utilizados como maneira de
ocultar mecanismos de dominação do
indivíduo na organização.
11 Não mencionam trabalhadores adoecidos
em função de sua ocupação profissional.
Apontam o descaso com os
trabalhadores com doenças
161
ocupacionais.
12 Ênfase na adaptação dos trabalhadores
aos diversos estressores das empresas sem
a contrapartida do adoecimento.
Demonstram a necessidade de mudanças
na redução dos estressores para garantia
da saúde do trabalhador.
13 Apresentam práticas de RH que dão
ênfase a flexibilidade, a gestão
participativa, a maior autonomia como
sendo totalmente benéficas ao
trabalhador.
As praticas de RH relacionadas a
flexibilidade, participação e autonomia
aparecem relacionadas ao ritmo mais
intenso de trabalho, maior cobrança por
produtividade, maior controle sobre a
produtividade e excessiva jornada de
trabalho, que podem levar ao
adoecimento.
14 Mostram os trabalhadores como felizes e
satisfeitos com seu trabalho.
Observam nos trabalhadores tolerância e
consentimento em relação ao seu
trabalho, há uma naturalização do
sofrimento onde tudo é aceito como
fazendo parte da profissão que
escolheram.
15 Não apresentam práticas de RH que
garantam a estabilidade do trabalhador
em seu emprego, ao contrário as práticas
estimulam a competitividade.
Demonstram o sofrimento causado pelo
medo do desemprego, que segundo os
resultados é apontado como uma forma
de gestão dos trabalhadores usada pelas
empresas: a gestão pelo medo do
desemprego.
Para compreensão da existência destes paradoxos é importante lembrar, conforme já
observamos na revisão da literatura, que na dinâmica do jogo capitalista as políticas e práticas de
gestão de RH são, essencialmente, instrumentos de poder e cooptação do trabalho das pessoas, de
domínio do capital sobre o trabalho, da esfera econômica sobre as outras esferas da vida. A
gestão de RH é determinante para o “sucesso” dos negócios, assim, as organizações buscam
desenvolver estratégias para equacionar os seus interesses de competitividade, de produtividade e
de lucratividade com o atendimento de algumas necessidades e expectativas dos trabalhadores.
As organizações investem nas pessoas como uma estratégia de vantagem competitiva. Os
paradoxos encontrados neste estudo, apresentados no quadro acima, demonstram claramente esta
realidade do jogo capitalista em relação às práticas de RH.
Mais especificamente na relação das práticas de RH com a saúde do trabalhador, também
fica evidenciada a mesma lógica, ou seja, esta relação também faz parte deste jogo. Conforme
Kováes (2003), no mundo do trabalho os objetivos econômicos são priorizados em relação aos
objetivos sociais. Compreendendo esta lógica é possível começar a entender o porquê do
162
distanciamento entre a intenção manifesta pelas organizações de preocupação com a saúde do
trabalhador e a realidade praticada pelas mesmas de muitos fatores que podem levar ao
adoecimento, conforme apresentado no discurso do sujeito coletivo referente aos resultados
apontados nas dissertações: “..têm significado para muitos trabalhadores uma sobrecarga de
trabalho que, através do ritmo e da exigência por produtividade, tem elevado à prevalência de
doenças profissionais”.
Ao analisar os resultados encontrados se percebe que a gestão de RH através de políticas e
práticas busca na convergência dos objetivos empresariais com objetivos dos trabalhadores
cooptar também as subjetividades desta força de trabalho. As estratégias de RH buscam controlar
as contradições através da habituação do trabalhador ao processo produtivo, da busca de sua
colaboração e de sua identificação com os objetivos da empresa. Gramigna (2001) aponta que a
gestão de RH por ser determinante do sucesso organizacional é um indicador de gestão atual do
ambiente empresarial. Por essa importância vital dos trabalhadores para a organização estas
desenvolvem práticas de RH que visam a sedução e internalização dos valores e crenças da
empresa nos trabalhadores. Para tal, se percebe o desenvolvimento de práticas que façam com
que a organização tenha a imagem de que está efetivamente preocupada com seus trabalhadores,
transformando a empresa, ao menos no discurso, em um local atrativo, ou o melhor para
trabalhar.
Desta forma se pode entender também como se produz o consentimento, a negação, a
submissão ou a banalização do sofrimento no trabalhador em relação ao sofrimento ou
adversidades a que é submetido nas organizações, que aparecem nos resultados das dissertações e
também mencionados na revisão da literatura, onde Alevato (2003) lembra que o próprio
indivíduo que padece de sobrecarga psíquica tende a banalizar ou esconder seus sintomas. A lista
enorme de práticas de RH apresentadas e amplamente divulgadas, conforme se pode observar no
capítulo que analisa as melhores para trabalhar, ajudam a criar a imagem de preocupação com os
trabalhadores, a gestão pelo medo do desemprego, um ambiente cada vez mais competitivo onde
o sucesso é muito valorizado, além das práticas de internalização dos valores da organização, que
fazem com que o trabalhador sinta-se responsável pelo sucesso da empresa; encobrem a realidade
mostrada nas dissertações, de sofrimento, adoecimento e exploração, e tornam possíveis as
posturas teóricas que embasam o congresso da ISMA e as publicações das melhores para
trabalhar.
163
Conforme os resultados evidenciados na análise do congresso da ISMA e das melhores
para trabalhar, as empresas se empenham em criar uma imagem de que são socialmente
responsáveis, que se preocupam com o meio ambiente, com o consumidor e com a saúde dos seus
trabalhadores; elas lutam para ter uma imagem que possa atrair e reter talentos, que possam
reforçar o comprometimento organizacional daqueles que ficam e principalmente, elas trabalham
também na base do reforço, fazendo com que o indivíduo se sinta intimidado em sair da empresa,
visto que não encontrará, teoricamente, uma outra empresa tão boa para trabalhar, levando em
consideração ainda a realidade do desemprego estrutural e a competitividade, ou seja, quantas
outras pessoas gostariam de estar no seu lugar. Diante desta realidade fica fácil entender que um
dos principais mecanismos de defesa utilizados pelos trabalhadores, conforme resultados das
dissertações seja a negação. Cabe lembrar, conforme Dejours & Abdoucheli (1994) que este tipo
de defesa não é a que normalmente contribui para a saúde, pois não há a possibilidade de
transformação do sofrimento.
Neste contexto é que se dão os paradoxos entre a intenção manifesta e a realidade
praticada em relação à saúde do trabalhador. Onde, ao mesmo tempo aparece em tons muito
claros nos dados da pesquisa referentes às dissertações, as influências negativas da organização
do trabalho, da exigência de produtividade, da redução do número de trabalhadores que leva a
intensificação do ritmo de trabalho, da pressão por resultados, da extensa jornada de trabalho, das
práticas de estímulo a competitividade, do controle através de avaliações de desempenho e
prêmios por produtividade, entre uma série de outras práticas que dizem respeito a gestão dos
trabalhadores, e que conforme foi apresentado anteriormente nos resultados se apresentam como
prejudiciais à saúde e bem estar dos trabalhadores. Aparece também nos dados referentes ao
congresso e as melhores para trabalhar as organizações empreendendo muitas práticas de RH que
a princípio deveriam proporcionar a saúde e bem estar dos trabalhadores, porém sem levar em
consideração os aspectos relevantes no contexto saúde trabalho, acabam sendo paliativas e sem
eficácia. Conforme se evidencia na seguinte afirmativa relativa ao discurso do sujeito coletivo
das dissertações: “As ações promovidas pela gestão ligadas à saúde, são centradas em
prevenção de sintomas de doenças ocupacionais de forma isolada. Ao serem citadas pelos
profissionais de RH, as doenças prevalecentes na ocupação freqüentemente são sugeridas como
de responsabilidade pessoal”.
Fica evidente que as práticas de RH priorizam os interesses organizacionais de
lucratividade e produtividade e a intenção manifesta de preocupação com os trabalhadores
164
encobre estes reais interesses. Ou seja, as organizações por meio de suas práticas de RH buscam a
intensa dedicação dos trabalhadores com seu trabalho, com os valores e normas organizacionais.
Busca oferecer aos trabalhadores a possibilidade de carreira, de altos salários, de humanismo e de
satisfação de seus objetivos. Porém é evidente que muitas das práticas organizacionais causam
prejuízos á saúde e bem-estar dos trabalhadores e tais possibilidades de prejuízos são
normalmente ocultados pelas organizações, que não os discutem, não abrem espaço para
repensar, nem tampouco assumem sua responsabilidade em casos de adoecimento. Nesta lógica
se evidência o conceito de “mediação” descrito por Pagès et all (1993) que e é definido como
aliança das restrições da empresa e os privilégios oferecidos aos trabalhadores, nestes caso os
privilégios, que são retratados pelos diversos benefícios que as empresas oferecem aos
trabalhadores, funcionam como uma maneira de ocultar ou desviar a atenção das contradições
entre os objetivos da empresa e os objetivos dos trabalhadores.
Nos resultados das dissertações transparece a falta de políticas e práticas efetivas de
gestão de RH no que se refere a prevenção dos efeitos nocivos à saúde do trabalhador exposto aos
atuais estressores que a própria gestão do trabalho causa ao trabalhador, me refiro a exigência de
produtividade, a intensificação do ritmo de trabalho, a pressão por resultados e a extensa jornada
de trabalho, que são os problemas mais decorrentes entre uma série de outros que os resultados
apontaram, conforme vê-se nos quadros que apresentam os resultados apontados nas dissertações.
Quando há políticas de prevenção, estas estão ligadas as tradicionais campanhas de
proteção e prevenção das CIPA’s e SESMT, tais como conscientização quanto a necessidade do
uso dos EPI’s, primeiros socorros, ou ainda campanhas contra o tabagismo, alcoolismo ou
orientação quanto a importância da alimentação saudável entre outras com enfoque no indivíduo,
ou seja, o que o trabalhador pode fazer individualmente para tentar se manter saudável e
produtivo. As organizações não assumem a sua responsabilidade como um dos principais fatores
de risco para a saúde do trabalhador. A conexão do processo e organização do trabalho e a
possibilidade de desenvolvimento de alguma patologia são ocultadas. Isto pode ser constatado
nos resultados das dissertações e também na análise do congresso e das melhores para trabalhar
que dão ênfase à campanhas como as citadas neste parágrafo e negam os riscos que a organização
do trabalho oferece ao trabalhador tendo como base o enfoque no indivíduo.
Há evidências também do desconhecimento, por parte dos trabalhadores, dos riscos a que
estão expostos no trabalho. Como se pode evidenciar a partir dos seguintes discursos retirados
das dissertações: “As trabalhadoras manifestam também desconhecimento dos riscos a que
165
estavam/estão submetidas” e “Conforme Nardi (1999, p. 99), “... as empresas têm como prática
característica ocultar ou minimizar os riscos do ambiente de trabalho, limitando-se, muitas
vezes, a fornecer equipamentos de proteção individual (EPI) sem explicar as razões e as
conseqüências da exposição a determinados agentes nocivos”. Isso reforça a concepção vigente
de que a saúde é um problema e uma responsabilidade do trabalhador”.
Este desconhecimento dos riscos por parte dos trabalhadores pode ser explicado por
alguns motivos, além do evidente interesse das empresas de manter esse assunto adormecido,
ocultado, inclusive discriminando trabalhadores que ousem abordar esse assunto como agitadores
ou subversivos. Dois destes motivos podem estar relacionados a banalização da injustiça e a
insegurança em relação a permanência no mercado de trabalho. Ou seja, a possibilidade de o
trabalho ser causador de patologias é encarada como natural, normal, algo que faz parte e não
pode ser mudado. Aliado a isto o medo do desemprego e a grande quantidade de desempregados
auxiliam a lógica do “não quer tem quem queira”. Isso gera uma busca frenética pela condição de
empregabilidade que contribui, em parte, para que o trabalhador se mantenha condicionado por
essa lógica que coloca limites. Toda energia do trabalhador deve estar voltada para mobilização
de sua capacidade de ser competente para dar conta de todas as exigências empresariais e
sobreviver nas organizações. As declarações a seguir, retiradas do discurso do sujeito coletivo das
dissertações, exemplifica o que foi descrito anteriormente: “O medo do desemprego vem
associado ao aumento da competição, à diminuição dos laços de solidariedade e demonstra um
certa “consentimento” e “tolerância” com as condições de trabalho. Também o medo do
desemprego pode contribuir com a falta de resistência coletiva e individual”.
Os dados de pesquisa relativos aos resultados das dissertações evidenciam ainda que as
empresas não assumem sua responsabilidade em relação aos trabalhadores adoecidos. Os
trabalhadores adoecidos normalmente além de sofrer com sua doença, sofrem pelo descrédito
com que são tratadas pelas organizações, colegas, familiares e até peritos médicos. Cabe ao
indivíduo provar o estado de adoecimento, buscar tratamento adequado e administrar a
convivência com os sintomas no cotidiano laboral.
Ainda com relação aos adoecidos, há predomínio da lógica de culpabilização do
indivíduo, quem adoece é visto como alguém que não consegue dar conta do trabalho, que possui
personalidade frágil. Conforme Lima (1996) há predomínio de explicações psicologizantes que
atribuem ao trabalhador adoecido alguma fragilidade psíquica e/ou orgânica.
166
Com relação aos efeitos das práticas apontadas como prejudiciais a saúde e bem estar dos
trabalhadores, nas dissertações foram apontados os seguintes impactos: sentimentos relacionados
a cansaço e esgotamento, muitos problemas relacionados ao sono, mau-humor e irritabilidade,
dores de cabeça freqüentes, dores nas costas, LER, ansiedade, estresse, conflitos familiares,
angústia, sentimento de culpa, sentimento de que não há mais nada para fazer além de trabalhar,
tensão, problemas relacionados a pressão, permanência do estado de tensão que não possibilita
que o indivíduo se sinta relaxado mesmo tendo dormido, entre outros. Como exemplo apresento a
seguinte frase: “Trata-se de uma responsabilidade que não cessa mesmo quando eles não estão
em horário de trabalho, a qual os faz não poderem “desligar nunca”, engendrando um estado de
preocupação constante”.
Cabe salientar, que os efeitos das práticas apontadas como prejudiciais não levam
diretamente à doença, na maioria dos casos, o trabalhador sucumbe pelo aparecimento de doenças
somáticas, ou seja, é a soma dos fatores penosos que promovem a patologia. Conforme Mendes
(2004), fatores restritivos ou negativos potencializam o adoecimento. Desta forma se entende que
a gravidade de uma pessoa ter o sentimento diário de mau-humor, não está localizada apenas na
sensação penosa, mas no que isto irá acarretar com o passar do tempo.
No que se refere ao que os profissionais de RH discutem ou produzem como
conhecimento, tendo como base o congresso da ISMA-BR, que propôs como tema: Trabalho,
Stress e Saúde: Gerenciamento eficaz – da teoria à ação, como se observou nos resultados o que
se evidencia é exatamente contraditório, pois um congresso que exalta a questão da qualidade de
vida e o problema do estresse no trabalho, não discute a viabilização de alternativas para que
sejam solucionados os problemas que a organização do trabalho causa, mas sim se propõe pensar
como lidar com realidades organizacionais causadoras de estresse sem que as empresas tenham
que gastar ou ter prejuízo com o trabalhador que ironicamente, adoece em função do trabalho.
Fica evidente que o objetivo do congresso é de exaltar práticas que façam com que o
trabalhador resista ou suporte todas pressões e abusos impostos pela organização sem adoecer.
Como reforça a presidente da ISMA-BR “Espero que ao final desse nosso encontro se tenha uma
mostra de que é possível viver com saúde e equilíbrio mesmo com uma longa jornada de
trabalho”. Em vários momentos se percebe que da mesma maneira que nas organizações o
congresso reforça a idéia de que a prevenção a saúde é uma questão que diz respeito ao próprio
indivíduo, é de sua responsabilidade não adoecer independente do que a empresa o exponha.
Uma evidência desta constatação é a grande quantidade de práticas ou técnicas
167
terapêutico/profissional apresentadas, como por exemplo, o desenvolvimento da auto estima,
treinamento autógeno, coaching entre outros.
A constatação que se faz é triste, mas o que se vê é que o congresso está totalmente
alinhado com a prática organizacional, não apenas no sentido de negar a responsabilidade das
empresas no adoecimento de muitos trabalhadores, mas principalmente no sentido de reforçar que
é possível ao trabalhador suportar a realidade organizacional como algo natural e que tende a
piorar. Um exemplo claro desta constatação é o fato de as atividades principais do congresso
estarem em sua maioria voltadas para a questão adaptativa, ou seja, como fazer com que os
trabalhadores suportem as exigências das empresas sem adoecer. Pois conforme declaração da
presidente da ISMA-BR: “Para as empresas, os gastos com os problemas causados pela alta
tensão elevam os custos com tratamentos médicos, afastamento do profissional e lesões no
trabalho”.
Saliento que este congresso não é dos maiores, no que se refere a RH, escolhi utilizar este
como referência por tratar especificamente do tema que está mais próximo ao meu objeto de
estudo. O maior congresso de RH, conforme mostrado no capítulo 4, é o CONARH
35
, que por
oferecer um espaço pequeno para academia e um espaço grande para profissionais de
organizações, me leva a pensar que siga a mesma lógica do congresso da ISMA. O custo de
inscrição por pessoa no CONARH
36
, em 2007 foi de R$ 4.435,00, fico me perguntando porque as
organizações que prezam tanto por redução de custo não optam por inscrever seus profissionais
em congressos como o ENANPAD ou EnGPR
37
, que não cobram este valor absurdo e a lógica
deixa de ser a organizacional e passa a ser a acadêmica (que infelizmente são lógicas distintas)
onde os interesses do trabalhador não são negados.
Quanto aos resultados apontados como práticas reconhecidas como positivas nas
publicações das melhores empresas para trabalhar, se evidencia que a mídia, da mesma forma que
o congresso também se encontra alinhada com as organizações. A mídia aqui representada pelas
duas publicações de melhores empresas para trabalhar, auxilia na concretização da imagem de
perfeição das grandes organizações. Nas publicações são selecionadas falas e fotos que procuram
35
Congresso nacional sobre gestão de pessoas.
36
Conforme divulgado no site www.rhcentral.com.br
37
ENANPAD - Encontro da ANPAD e EnGPR – Encontro de gestão de pessoas e relações de trabalho.
168
passar a imagem de que os trabalhadores estão muito felizes em trabalhar em determinadas
empresas
38
.
No caso das publicações das melhores para trabalhar, conforme resultado das análises há
ênfase nos aspectos positivos das práticas de gestão empresariais e de RH, os aspectos apontados
como negativos são questões pontuais sem expressiva relevância, o que não deixa de ser uma
forma de negação dos aspectos negativos, há uma falta de atenção aos interesses do trabalhador
explícita. Há ainda, evidente falta de relação entre as práticas das empresas classificadas como
melhores para trabalhar e as tendências apontadas na literatura sobre saúde e trabalho. Além de
negar o referencial teórico sobre saúde e trabalho, nega a crítica feita à ênfase nas competências e
a ênfase ao individualismo, exaltando estes temas como práticas puramente positivas.
Este tipo de publicação, somado a outros fatores já mencionados anteriormente como o
medo do desemprego e a competitividade levam o indivíduo a valorizar cada vez mais os
benefícios que a empresa oferece, mesmo que seja muito mais rentável para ela do que para ele e
que oculte uma série de mecanismos de dominação do trabalhador na organização, conforme já
descrito no início destas considerações finais.
No que se refere aos aspectos identificados como positivos ao trabalhador, ou seja,
resultados que nas pesquisas evidenciaram contribuir de maneira positiva com os interesses de
prazer, satisfação e/ou bem-estar no trabalho apontam para as seguintes questões: melhoria no
tratamento dado aos trabalhadores; melhoria nas condições de trabalho; importância que atribuem
a possuir um envolvimento profissional, uma ocupação; trabalho como importante alicerce na
construção da subjetividade, na medida em que fornece o território para a definição de uma
identidade e também para o reconhecimento social; a liberdade para dizer e/ou discutir sobre o
que pensa e sente; sentimento de orgulho e significação em suas trajetórias de vida, uma vez que
o trabalho é visto como possibilidade de ascensão social e econômica e de proporcionar para suas
famílias um padrão de vida melhor; o reconhecimento; a possibilidade de participação nas
tomadas de decisões; a possibilidade de obter afeto, reconhecimento e aprovação dos colegas; as
recompensas; a margem de liberdade para definição do seu modo de trabalhar, autonomia,
mesmo que pequena; possibilidade de ver as coisa acontecendo conforme planejado;
38
Cabe citar que os resultados encontrados por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(Raquel Alves Furtado, Antônio Carvalho Neto e Daniel Paulino Teixeira Lopes) que pesquisaram “O que as Listas
de “Melhores Empresas para Trabalhar” dizem sobre as Organizações, seus Empregados e os Consultores e
Pesquisadores de RH?” demonstram que os resultados encontrados evidenciam pouca relação entre as práticas das
empresas classificadas como “melhores para trabalhar” e as tendências de RH apontadas na literatura e grande
distância entre avaliação técnica e percepção dos empregados.
169
possibilidades de trocas coletivas e afetivas, de interação; possibilidade de criação; poder ver a
satisfação alheia, ajudar os outros e ver a cooperação entre as pessoas.
Cabe salientar que estes aspectos citados no parágrafo anterior, considerados como
positivos não são unanimidades como alguns dos aspectos negativos que aparecem em
praticamente todas pesquisas, ou seja, são fatos isolados, mas acredito que cabem ser citados
neste momento pois demonstram o que pode ser considerado como positivo.
Uma constatação possível neste estudo, que apesar de estar a parte do objetivo, é muito
relevante para a sua compreensão é que ao obter os resultados das análises feitas no decorrer da
pesquisa das duas perspectivas uma acadêmica (dissertações) e outra do campo profissional
(congresso e melhores para trabalhar) outro tipo de resultados, além do encontrado, não seria
possível. Ou seja, diante da evidência de que estas perspectivas possuem referenciais teóricos,
objetivos e pressupostos distintos, os inúmeros paradoxos são inevitáveis.
Ainda há outra constatação possível, que da mesma forma, apesar de se distanciar do
objetivo, se faz importante no contexto como um todo. Trata-se do papel do profissional de RH
que em meio aos conflitos existentes acaba se deparando com um grande paradoxo. Encontra por
um lado, na perspectiva do campo profissional, um caráter voltado para a subordinação da sua
atuação enquanto profissional de RH aos objetivos do capital ou a ação do capital, ou seja, o
profissional está na empresa para atender aos interesses do capital. Em outra perspectiva, a do
campo acadêmico o que se sobressai é o caráter de que este profissional apesar de tencionado
pelo capital deve, em suas prioridades, primar por atender aos interesses do trabalhador. Este
paradoxo mostra a tensão existente no dia a dia dos profissionais de RH
39
o que também pode
acarretar problemas para a saúde destes profissionais.
Nas organizações também é dúbia a posição do RH quanto a sua representação por parte
dos trabalhadores que é permeado por interrogações como: Será que esses caras estão do nosso
lado? Podemos confiar no RH? Convidamos o pessoal do RH para ouvir nossas queixas? É uma
situação muito dúbia, ambígua, ambivalente, de tensionamento, que reforça a constatação um
tanto óbvia dos conflitos inerentes a relação capital e trabalho.
Não se trata aqui de dizer o que está certo ou errado na atuação dos profissionais de RH, o
que proponho nestas considerações finais é que os paradoxos encontrados levam também a
respostas que conduzem ao entendimento do porquê os profissionais de RH em sua atuação
39
Conforme pode ser evidenciado também nos estudos de Silva (2005) e Fritsch (2006).
170
parecem não ver, ou melhor parecem estar obliterados da possibilidade de ver questões que são
tão óbvias; que trabalhar demais faz mal para o trabalhador, independente de quantos benefícios
ou paliativos se possa criar para amenizar essa realidade ou ainda que o trabalhador ao se
submeter totalmente a empresa, acaba por sufocar suas posições individuais e subjetivas,
eliminando a possibilidade de saúde que há na oportunidade de expressão.
Pelos problemas aqui abordados, se percebe que o mundo do trabalho apresenta em seu
modo de operar conflitos que vão além dos apresentados na oposição capital e trabalho, conflitos
que neste estudo estão representados pelos paradoxos encontrados entre as práticas de RH e a
saúde do trabalhador e explicitados no início deste capítulo.
A empresa, pelos seus fins, é terreno de trabalho e, portanto, de vida, onde os
trabalhadores se constroem e se destroem como seres humanos de seu tempo histórico. Quero
dizer que, neste espaço e tempo, coexistem, se confrontam e se redefinem diferentes
possibilidades e limites de humanização. Porém hoje, encontra-se uma política mundial de ajuste
de custos que leva governos e empresas a práticas que conduzem à desumanização. Sendo que
muitas destas práticas puderam ser evidenciadas neste estudo, um exemplo são os prejuízos
causados a saúde do trabalhador em função da intensificação e sobrecarga de trabalho.
Hoje a insistente intenção manifesta por organizações de preocupação com a saúde,
qualidade de vida e bem-estar dos trabalhadores, conforme foi constatado infelizmente não passa
de intenção, pois em suas práticas as organizações muitas vezes contribuem de maneira negativa
para a saúde, bem-estar e qualidade de vida dos trabalhadores e na verdade o que se verifica é que
esta intenção manifesta é mais uma prática de gestão que possui como finalidade real a submissão
e o controle do trabalhador.
Por último, pensando em novas possibilidades, que são muitas. Proponho como sugestões
para futuras pesquisas:
¾ Realização de estudos sobre a relação entre as práticas que conduzem ao individualismo e
a saúde e bem-estar do trabalhador.
¾ Realização de pesquisa em empresa publicada como melhor para trabalhar com intuito de
verificar se a avaliação feita pelos profissionais que a classificaram é condizente com a
percepção dos trabalhadores ou com o referencial teórico sobre saúde e trabalho.
¾ Identificar os aspectos negativos das práticas formais e informais (sutis) de avaliação do
desempenho dos trabalhadores.
171
¾ Estudar as estratégias defensivas utilizadas pelos trabalhadores diante dos problemas que
causam prejuízo a saúde do trabalhador.
¾ Estudar as perspectivas de ambigüidade que envolvem a formação e deformação dos
profissionais de RH.
172
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medicina darwinista. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
OLIVEIRA, Silvana. Políticas de gestão e saúde em teleatendimento: das telefonistas aos
teleoperadores. Dissertação de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação em
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PAGÈS, Max et all. O Poder das Organizações. São Paulo: Atlas, 1993.
PIMENTEL, Alessandra. O Método da Análise Documental: Seu uso numa Pesquisa
Historiográfica. In: Cadernos de Pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, Novembro,
2001, n. 114.
RAMMINGER, Tatiana. Trabalhadores de saúde mental: reforma psiquiátrica, saúde do
trabalhador e modos de subjetivação nos serviços de saúde mental. Dissertação de mestrado
apresentada ao programa de psicologia social e institucional da UFRGS. Porto Alegre, 2005.
RIBEIRO, Jorge Alberto Rosa. As estapas da formação profissional em mercados internos de
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Eletrônica Saúde em Movimento. www.saudeemovimento.com.br
. Acesso em 16/11/2006.
SEIBEL, Jorgia Marisa. Lesão por esforço repetitivo (LER) e a organização do trabalho nas
indústrias calçadistas. Dissertação de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação em
sociologia da UFRGS. Porto Alegre, 2005.
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177
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de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação em psicologia social e institucional.
Porto Alegre da UFRGS, 2005.
SINGER, Paul. A formação da classe operária. Campinas: Ed. UNICAP, 1985.
SOUZA, José dos Santos. Trabalho, Educação e Sindicalismo no Brasil. Campinas: Ed.
Autores associados, 2002.
SPECTOR, Paul E./VISCOTE, Solange A. Psicologia nas organizações. São Paulo: Ed. Saraiva,
2002.
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psicologia social e institucional da UFRGS. Porto Alegre, 2004.
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TACHIZAWA, Takeshy et all. Gestão com Pessoas. Uma abordagem aplicada às estratégias
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TITTONI, Jaqueline. Subjetividade e Trabalho. Porto Alegre: Ortiz, 1994.
178
ANEXOS
179
ANEXO 1
No início do meu contato com as teses e dissertações, quando ainda estava trabalhando
com o número de 209 produções, pude construir tabelas que demonstram os assuntos
desenvolvidos nas pesquisas por curso
40
. Estes dados possibilitam ao leitor uma visão ampla da
quantidade de assuntos e possibilidades de interações que o tema saúde e trabalho e práticas de
gestão de RH possuem em seu âmbito.
ADMINISTRAÇÃO – Área de concentração: Recursos Humanos (Serão considerados apenas 2
assuntos para cada trabalho, escolhidos por sua maior proximidade com o título. Assim a
quantidade de trabalhos real é a metade do total)
ASSUNTO QUANTIDADE
Competências 17
Aprendizagem organizacional 15
Liderança 10
Gestão Social 10
Cultura organizacional 7
Mudança organizacional 7
Inovação: Gestão estratégica 7
Reestruturação Produtiva 6
Relações de trabalho 5
Equipe de trabalho 5
Gestão do conhecimento 4
Avaliação de desempenho 4
Ensino à distância 4
Gestão da qualidade 4
Economia solidária 4
Comprometimento organizacional 3
Treinamento 3
Empresa familiar 3
Qualidade de vida 2
Sofrimento e prazer: trabalho 2
Emoções: Relações humanas 2
Trabalho imaterial 2
Subjetividade 2
Participação nos lucros 2
Organizações não governamentais 2
Cooperativas 2
Resistência à mudança 1
Gerenciamento de impressão 1
40
Os cursos a que me refiro são os programas de pós-graduação da UFRGS previamente selecionados, de acordo
com critérios descritos no capítulo 3.
180
Trabalho intelectual 1
Seleção de pessoal 1
Inclusão Social 1
Mercado de trabalho 1
Programa de apoio à demissão voluntária 1
Internacionalização dos Recursos Humanos 1
Carreira 1
Globalização 1
Terceirização 1
Teletrabalho 1
Cliente: satisfação 1
Avaliação de treinamento 1
Voluntariado 1
Universidade corporativa 1
Competitividade 1
Criatividade 1
Resolução de problemas 1
Ritos 1
Confiança 1
Empreendedorismo 1
Meio ambiente 1
Filantropia 1
Condições de trabalho 1
Sentido do trabalho 1
Empregabilidade 1
Prevenção de acidentes 1
Organização do trabalho 1
Flexibilização 1
EDUCAÇÃO - LINHA DE PESQUISA: Trabalho movimentos sociais e educação.
Educação e trabalho 9
Ensino Profissionalizante 8
Professor 8
Educação de jovens e adultos 3
Informática na educação 3
Movimento dos trabalhadores sem terra 3
Prática pedagógica 3
Médico: formação 3
Marginalização social 3
Envelhecimento 3
Educação rural 3
Mercado de trabalho 2
Projeto pedagógico 2
Força de trabalho 2
Relação médico paciente 2
181
Currículo 2
Educação transformadora 1
Democratização de ensino 1
Desenvolvimento sustentável 1
Trabalho infantil 1
Aluno trabalhador 1
Sociologia da educação 1
Curso pré-vestibular 1
Ensino à distância 1
Educaçãodica 1
Sistema de aprendizagem 1
Educação: Pessoa idosa 1
Pessoa idosa: representações 1
Viuvez 1
Arte: ensino 1
Educação ambiental 1
Universidade pública 1
Discurso pedagógico 1
Organizações não governamentais 1
Direitos da mulher 1
Educação popular 1
Homossexualidade: preconceito: escola 1
Exclusão social 1
Gênero: Educação 1
Políticas educacionais 1
Trabalhador rural 1
Trabalho cooperativo 1
Trabalho metalúrgico 1
ENGENHARIA DA PRODUÇÃO - Linha de Pesquisa: Sistemas de Produção/ Ergonomia e
saúde do trabalhador.
Gestão da qualidade 8
Controle de produção 6
Controle estatístico do processo 3
Ergonomia 3
Otimização 3
Gestão ambiental 2
Impacto ambiental 2
Desenvolvimento de produto 2
Saúde do trabalhador 1
Custos associados à ações ergonômicas 1
Segurança no trabalho 1
Melhoria de layout 1
Pesquisa de mercado 1
Comércio eletrônico 1
182
Ciclo de vida do produto 1
Metrologia 1
Software educacional 1
Ginástica laboral 1
Planejamento e experimentos 1
Avaliação de desempenho 1
Balanced Scorecard 1
Seis sigmas 1
Aprendizagem organizacional 1
Indicadores de desempenho 1
Comportamento do consumidor 1
EPIDEMIOLOGIA – Linha de pesquisa: Novas tecnologias e novas organizações do trabalho e
suas repercussões sobre a saúde.
Riscos ocupacionais 2
Distúrbio da voz 2
Atenção primária à saúde 2
Sistema de saúde 2
Doenças ocupacionais 1
Saúde do trabalhador 1
Ruído ocupacional 1
Zumbidos 1
Lesão por esforço repetitivo 1
Lordose lombar 1
Economia da saúde 1
Otimização 1
Diagnóstico 1
Diabetes mellitus 1
Sistema de informação em saúde 1
Neoplasias de colo uterino 1
Síndrome do túnel carpal 1
Compressão nervosa: Traumatismo da mão 1
SOCIOLOGIA – Linha de pesquisa: Trabalho nas sociedades contemporâneas
Sindicalismo 3
Trabalho 2
Controle no trabalho 2
Ação social 1
Trabalho e ética 1
Subjetividade 1
Poder 1
Economia solidária 1
183
Mercado de trabalho 1
Desigualdade social 1
Lesão por esforço repetitivo 1
Saúde do trabalhador 1
Ambiente de trabalho 1
Capitalismo 1
Qualidade total 1
Agência social sindical 1
PSICOLOGIA SOCIAL – Linha de pesquisa: Trabalho, saúde e subjetividade.
Subjetividade 12
Saúde ocupacional 7
Trabalho 7
Saúde e trabalho 4
Envelhecimento 3
Prazer 3
Lesões por esforço repetitivo 3
Jovens 3
Estresse 2
Saúde mental 2
Psicologia 2
Educação e informática 2
Processo grupal 2
Psicologia organizacional 2
Sociologia urbana 1
Arte 1
Mulher trabalhadora 1
Ensino à distância 1
Promoção da saúde 1
Leitura 1
Ensino superior 1
AIDS 1
Ética 1
Trabalho informal 1
Fotografia 1
Serviço de saúde comunitária 1
Qualidade total 1
Ensino e aprendizagem 1
Telecentros comunitários 1
Internet 1
Causalidade 1
Desenvolvimento cognitivo 1
Psicanálise e cinema 1
Associação livre 1
184
Alteridade 1
Interação social 1
Trabalho voluntário 1
Seleção de pessoal 1
Trabalho noturno 1
Identidade de gênero 1
ANEXO 2
Este quadro é um demonstrativo do número de entrevistas que cada pesquisador realizou
para construção de sua dissertação. Cabe lembrar que apesar de todos os estudos contarem com a
entrevista nos seus procedimentos metodológicos, na grande maioria esta não foi a única técnica
utilizada para composição da coleta de dados.
AUTOR Nº DE ENTREVISTAS
Moretti (2003) 9 entrevistas
Amazarray (2003) 9 entrevistas
Ghisleni (2003) 50 entrevistas
Moraes (2004) 10 entrevistas
Spode (2004) 7 entrevistas
Oliveira (2005) 9 entrevistas
Silva (2005) 10 entrevistas
Barfknecht (2005) 9 entrevistas
Ramminger (2005) 18 entrevistas
Seibel (2005) 15 entrevistas
Machado (2006) 17 entrevistas
Almeida (2006) 20 entrevistas
ANEXO 3
Estas são as sugestões apresentadas para futuras pesquisas nas dissertações estudadas. Em
50% das pesquisas houveram tais sugestões que a seguir irei apresentar.
185
AUTOR SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS
Moretti (2003) - Estudar as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos
trabalhadores diante da reestruturação produtiva a qual estão
submetidos;
- Verificar as vantagens e desvantagens para as organizações em
proporcionar aos seus trabalhadores vivências de prazer-
sofrimento
- Aplicar a EPST em outros ramos de atividade, a fim de
diagnosticar práticas gerenciais que favorecem ou não as
vivências de prazer-sofrimento no trabalho;
- Analisar os impactos das vivências de prazer-sofrimento no trabalho e
fora dele.
Machado (2006) Esses profissionais aceitam com naturalidade o fato de poderem ficar
doente. O que faz eles se conformarem com isso? Seria uma herança, do
tempo em que aqueles que cuidavam dos moribundos estavam em busca da
sua própria purificação? Será que eles também a buscam?
Ou seria a aceitação de que o trabalho tem sua origem na palavra tripalium,
um instrumento de tortura. Será que os cuidadores entendem que o trabalho
precisa ser este instrumento de tortura?
Por que agem de forma tão passiva a própria possibilidade de adoecerem?
Seria outra defesa, uma estratégia de aceitar esta possibilidade para não
sofrer agora o que acontecerá com o seu corpo depois? Mas por que esta
conformidade com a dor? Por que eles aceitam esta dor do corpo e não
aceitam a dor da tristeza, da perda do paciente, da angústia de conviver
com pessoas que estão sofrendo? Fingem que essas dores não existem e
aceitam a possibilidade do corpo adoecer. Por quê? (...) Difícil responder,
talvez novos questionamentos para outros estudos, tendo em vista que eles
não se incluem nos objetivos desta dissertação.
Seibel (2005) Expressas as conclusões em torno do tema pesquisado, vale ressaltar que
outros aspectos poderiam ser estudados em relação à temática aqui
concluída. Entre eles, por exemplo, está a possibilidade de uma
investigação junto aos trabalhadores que não adoecem, observando as
estratégias defensivas elaboradas pelos coletivos de trabalhadores frente a
uma organização do trabalho que preexiste a eles e que, teoricamente,
deveria ser patogênica para todos, bem como realizar a pesquisa por grupos
homogêneos, para verificar quais são os setores da produção de calçados
com maior prevalência de LER.
Almeida (2006) Porém, como uma forma de superar as limitações do presente trabalho,
sugere-se para estudos futuros acerca do trabalho e, mais especificamente,
do grupo aqui estudado: o aprofundamento das relações de gênero
imbricadas no âmbito do trabalho, a exploração da relação tempo de
trabalho x tempo livre, a investigação dos aspectos envolvidos no processo
de recrutamento e seleção de gerentes, o estudo dos treinamentos a que são
submetidos e a verificação da constituição de sua identidade pessoal e
profissional face às condições e relações de trabalho que vivenciam.
Amazarray (2003) Alguns aspectos merecem estudos aprofundados, como a investigação junto
186
aqueles servidores que não adoecem, observando suas estratégias de
resistência; a análise de outras patologias associadas ao trabalho na
instituição, como é o caso dos distúrbios psiquiátricos, alcoolismo e
dependência química – cujos índices são elevados; a investigação das
mudanças já iniciadas na instituição referentes à saúde do trabalhador,
incluindo as comissões de saúde constituídas enquanto movimentos
coletivos dos servidores.
Silva (2005) Do mesmo modo, os apontamentos referentes à fragilidade da formação (do
psicólogo) para atuação na área de trabalho parecem pertinentes e
merecedores de maiores discussões.
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