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da semana, deverão ser feitos exercícios diferentes,
de modo a passar este dia cristã e alegremente”; de
manhã, exercícios religiosos, em seguida exercícios
de leitura e de escrita e finalmente recreação às
ultimas horas da manhã; à tarde, catecismo, as
vésperas, e passeio depois das quatro horas, se não
fizesse frio. Caso fizesse frio, leitura em comum. Os
exercícios religiosos e a missa não eram assistidos na
igreja próxima porque isto permitia aos pensionistas
deste estabelecimento terem contato com o mundo
exterior; assim, para que nem mesmo a igreja fosse o
lugar ou o pretexto de um contato com o mundo
exterior, os serviços religiosos tinham lugar em uma
capela construída no interior do estabelecimento. “A
igreja paroquial, diz ainda este regulamento, poderia
ser um ponto de contato com o mundo e por isso uma
capela foi consagrada no interior do estabelecimento”.
Os fiéis de fora não eram sequer admitidos. Os
pensionistas só podiam sair do estabelecimento
durante os passeios de domingo, mas sempre sob a
vigilância do pessoal religioso. Este pessoal vigiava os
passeios, os dormitórios e assegurava a vigilância e a
exploração das oficinas. O pessoal religioso garantia,
portanto, não só o controle do trabalho e da
moralidade, mas também o controle econômico. Estes
pensionistas não recebiam salários, mas um prêmio –
uma soma global estipulada entre 40 e 80 francos por
ano – que somente lhes era dado no momento em que
saíam. No caso de uma pessoa de outro sexo precisar
entrar no estabelecimento por razões materiais,
econômicas, etc., deveria ser escolhida com o maior
cuidado e permanecer por muito pouco tempo. O
silêncio lhes era imposto sob pena de expulsão. De
um modo geral, os dois princípios de organização,
segundo o regulamento, eram: os pensionistas nunca
deveriam estar sozinhos no dormitório, no refeitório, na
oficina, ou no pátio, e deveria ser evitada qualquer
mistura com o mundo exterior, devendo reinar no
estabelecimento um único espírito.
53
Após a descrição do regulamento, Foucault diz tratar-se de
uma fábrica que existia na região do Ródano onde trabalhavam 400
mulheres operárias.
53
FOUCAULT, M. A Verdade e as Formas Jurídicas. 2003, p. 108.