como seu modelo, os empiristas lógicos buscaram analisar as relações de
confirmação a partir das ferramentas fornecidas por esse modelo
70
.
Como uma extensa bibliografia testemunha, esse projeto esbarrou nos
chamados paradoxos da confirmação; e para resolver essas dificuldades, diversas
soluções foram propostas
71
. Segundo Brown, entre as diferentes propostas a mais
interessante era a de Carl Hempel. Para esse autor, as dificuldades referidas
simplesmente não constituíam paradoxos genuínos, sendo a aparência paradoxal
uma “ilusão psicológica” fruto de uma compreensão equivocada da questão. Por
um lado, não era levado em conta o fato de uma proposição do tipo ‘todos os
corvos são pretos’ não se limitar a corvos, mas se estender a todo o espaço-tempo.
Por outro lado, informações adicionais eram erradamente incluídas na análise em
questão. Uma vez que, do ponto de vista da lógica da confirmação, interessa
apenas a relação entre uma hipótese e um corpo de evidências, um objeto preto
que confirma a proposição ‘todos os objetos são pretos’ também confirma a
proposição mais fraca ‘todos os corvos são pretos’. A informação adicional de que
esse objeto é um casaco e não um corvo não tem relevância para uma análise
exclusivamente formal e deve ser metodologicamente abstraída.
O papel que as pressuposições do empirismo lógico tiveram no
desenvolvimento dessa problemática, para Brown, é bastante claro. Para o autor,
os paradoxos da confirmação não surgiriam – pelo menos não de tantas formas –
70
Uma primeira formulação devida a Nicod estabelecia que para toda a lei ou hipótese da forma (x)
(Px → Qx), (Pa . Qa) era uma instância confirmadora e (Pa . ~Qa) era uma instância
desconfirmadora. Hempel, contudo, se opôs a essa formulação. Segundo ele, o problema com essa
formulação, é que ela torna a confirmação dependente da formulação da hipótese e não apenas do
seu conteúdo. Uma proposição do tipo (x) (~Qx → ~Px), que é logicamente equivalente a (x) (Px
→ Qx) tem, segundo essa formulação, instâncias confirmadoras distintas daquelas de (x) (Px →
Qx). Embora elas presumivelmente digam a mesma coisa, elas não se vêem confirmadas pelas
mesmas proposições. Hempel propôs, então, um critério suplementar. Segundo esse critério,
qualquer instância confirmadora de uma sentença confirmaria também as sentenças logicamente
equivalentes a ela. Todavia, como o próprio Hempel percebeu, conquanto o problema original
fosse resolvido, novas dificuldades surgiam em razão desse novo critério. Especificamente ele dava
origem ao que ficou conhecido como sendo “os paradoxos da confirmação”. Pois se, por exemplo,
a proposição (x) (Px → Qx) for interpretada como sendo ‘todos os corvos são pretos’, a descoberta
de qualquer objeto que não for corvo e não for preto (~Q . ~P) confirmará essa proposição. Além
disso, como (x) (Px → Qx) é também logicamente equivalente a (x) [(Px v ~Px) » (~Px v Qx)],
qualquer objeto que for preto ou que não for corvo (~Px v Qx) igualmente confirmará (x) (Px →
Qx).
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Dentre essas propostas, algumas contestavam, por exemplo, a adequação da proposição (x) (Px
→ Qx) como formulação para as leis científicas. Outras rejeitavam a condição de equivalência.
Enquanto um último grupo rejeitava o próprio critério de Nicod.
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