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Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ecologia e Recursos
Naturais do Centro de Ciências Biológicas e da
Saúde da Universidade Federal de São Carlos,
como parte dos requisitos para obtenção do
título de Doutor em Ciências, área de
concentração em Ecologia e Recursos Naturais.
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária/UFSCar
R484ca
Ribeiro, Alan Loures.
Comunidades de aves de uma área do Médio Rio Doce,
Minas Gerais, sudeste do Brasil / Alan Loures Ribeiro. -- São
Carlos : UFSCar, 2008.
111 f.
Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de São Carlos,
2008.
1. Ecologia. 2. Comunidade de aves. 3. Mata atlântica. 4.
Brasil. I. Título.
CDD: 574.5 (20
a
)
Alan Loures Ribeiro
COMUNIDADES DE AVES DE UMA ÁREA DO MÉDIO RIO DOCE, MINAS GERAIS, SVDESTE
DO BRASIL
Tese apresentada à Universidade Federal de São Carlos, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências.
Aprovada em 25 de março de 2008
Presidente
10Exami nadar
20 Examinador
30 Examinador
40 Examinador
BANCA EXAMINADORA
/" .. .,/}
./../'" (' /' ,," .7
t /Lí/ i.",-,~~o .._'.': vv/ ,/< .' ,l/o
I( , ' .f L i..
" ' Pr9J: Dr. Manoel Martin~Dias Filho
" '(Orientador)'
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/I,'.);Ji 1;1/" li
(\ / Gl~// '- kA){ :(L/()<-----
, -
~ Profa. Dra. Odete Rocha
PPGERN/UFSCar
1
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Prof. Dr. Jdsé Roberto Verani
PPGE~N/UFSCar
. '"
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/ //, /, /(../I'J\ ."" ~/ LA... i. "\.../,.,-v .
Prof. Dr. Pedra Ferreira.1)éveley
Bird Life InternationalfSão Paulo-SP
.~g~:2/ {;Jj'/;'
'- . .
Prof. Dr. Nivar G9bbi
UNESP/RIO CLARO-SP
iii
À minha esposa Gláucia
e meu filho Nicholas.
iv
AGRADECIMENTOS
Durante o período de realização deste trabalho, eu contei com o apoio de várias pessoas,
instituições (governamentais e não-governamental), além de amigos e diferentes profissionais.
Peço antecipadamente desculpas se me esqueci de alguém!
1) Ao meu orientador, Prof. Dr. Manoel Martins Dias Filho, cuja pessoa admiro pelas
inúmeras habilidades profissionais. Agradeço pela confiança depositada, desde o meu
ingresso no PPGERN, até nos momentos mais tardios desta empreitada. Sua presença para
mim sempre foi marcada pela serenidade, mesmo quando apresentei momentos de
ansiedade diante das dificuldades encontradas.
2) À minha esposa e bióloga, Gláucia Marques Freitas Ribeiro, cujos elogios seriam tantos
que não caberiam aqui. Este trabalho chegou ao fim graças ao seu apoio incondicional!
Foram intermináveis as madrugadas, dias e momentos de ausência. Obrigado por ter
assumido meus compromissos profissionais, pelas idas ao campo e pelas noites de
preocupação com meu estado de saúde.
3) Ao grande amigo e biólogo, Marco Antônio Manhães, quem me auxiliou inúmeras vezes,
contribuindo de forma efetiva para que este trabalho chegasse ao fim. Além de ter me
apoiado em momentos difíceis, sempre foi um grande companheiro de diversas jornadas.
Espero contar sempre com sua amizade e conhecimento!
4) Durante a realização deste curso de doutorado, estive vinculado profissionalmente a uma
instituição de ensino superior. Neste período, foram muitas as pessoas que colaboraram
comigo para que este curso chegasse ao fim. Como uma forma de reconhecimento,
agradeço formalmente ao UnilesteMG.
5) Gostaria de agradecer ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais, em especial a
Denise e Janaína (CPVS-IEF), Marcus Vinícius (gerente regional), Marquinhos (auxiliar
v
de campo) e todos aqueles que me apoiaram, desde as permissões de trabalho, até nas
questões logísticas. Sinceramente, muito obrigado!
6) Ao CEMAVE, órgão vinculado ao Ibama, pela licença de captura e o fornecimento das
anilhas de alumínio empregadas neste trabalho.
7) À Cecília Kierulff, Francisco A. Barbosa e Maurício M. Petrúcio pela oportunidade de
integrar a equipe do Programa TEAM (Tropical Ecology, Assessment and Monitoring), da
Conservation International (Center For Applied Biodiversity Science).
8) À “Conservation International” e à “Gordon and Betty Moore Foundation” pelo auxílio
financeiro à coleta de parte dos dados desta tese.
9) Aos pesquisadores e amigos Luiz G. Dias e André Hirsch (TEAM/UFMG). O auxílio de
vocês foi muito importante! Luiz G. Dias me auxiliou com vários dados físicos da área,
enquanto André Hirsch cedeu prontamente os mapas temáticos da área. Muito obrigado!
10) Aos meus alunos, faço questão de citar todos, pois eu não teria conseguido sem vocês:
Sidney J. C. Neto, Wesley S. Ribeiro, Rosely G. Fuscaldi, Vânia C. Oliveira, Jerusa M.
Oliveira, Helines M. Ribeiro, Natália F. Lima, Nara C. Figueiredo e Natácia D. Federici.
Obrigado pela pronta disposição em enfrentar as madrugadas da mata, o peso dos
equipamentos, os mosquitos e o calor escaldante! Trabalhamos muito.
11) Ao biólogo e amigo Clayton A. Perônico, a quem admiro pelos ensinamentos, pelo apoio,
pelos momentos de “devaneios científicos e filosóficos” que cercaram a nossa
convivência ao longo deste período. Espero que sejas feliz sempre, e que possa contar
com sua amizade, acima de tudo.
12) A Michellia Pereira Soares e a equipe do Laboratório de Botânica (UFV) pela colaboração
com os dados de vegetação.
vi
APOIO:
vii
SUMÁRIO
Lista de figuras.......................................................................................................... ix
Lista de tabelas.......................................................................................................... xi
Lista de anexos.......................................................................................................... xiii
Introdução Geral....................................................................................................... 1
Área de estudo....................................................................................................
5
Referências Bibliográficas.................................................................................
10
CAPÍTULO 1: TAXAS DE CAPTURA DE AVES DO SUB-BOSQUE DE DOIS
TRECHOS DE FLORESTA ATLÂNTICA DO MÉDIO RIO DOCE, MINAS
GERAIS, BRASIL.
Resumo...................................................................................................................
17
Abstract..................................................................................................................
18
Introdução..............................................................................................................
19
Área de estudo e Métodos.....................................................................................
20
Resultados..............................................................................................................
24
Discussão................................................................................................................
30
Referências Bibliográficas....................................................................................
34
CAPÍTULO 2: COMUNIDADES DE AVES DE UMA ÁREA DE FLORESTA
ATLÂNTICA DE BAIXADA, SUDESTE DO BRASIL.
Resumo...................................................................................................................
39
Abstract..................................................................................................................
40
Introdução..............................................................................................................
41
Métodos..................................................................................................................
42
Resultados..............................................................................................................
47
Discussão................................................................................................................
74
Referências Bibliográficas....................................................................................
80
CAPÍTULO 3: SENSIBILIDADE DA AVIFAUNA TERRÍCOLA E DE SUB-
BOSQUE DE UM TRECHO DE FLORESTA ATLÂNTICA, SUDESTE DO
BRASIL.
Resumo...................................................................................................................
88
Abstract..................................................................................................................
89
Introdução..............................................................................................................
90
Métodos..................................................................................................................
91
viii
Resultados..............................................................................................................
95
Discussão................................................................................................................
98
Literatura citada................................................................................................... 102
Síntese Geral........................................................................................................... 108
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO GERAL
Figura 1. Localização do Parque Estadual do Rio Doce, município de Marliéria,
leste de Minas Gerais. Figura gentilmente cedida por Hirsch (2005)............................
6
Figura 2. Os dois principais tipos de paisagens do PERD: trechos florestais
entremeados por lagos (Foto: M. M. Petrúcio)..............................................................
7
Figura 3. Mapa do Parque Estadual do Rio Doce e adjacências, indicando os
principais tipos de cobertura vegetal e uso do solo. Figura gentilmente cedida por
Hirsch (2006).................................................................................................................
7
Figura 4. Localização das duas parcelas florestais utilizadas neste estudo: sítios
Lagoa Preta e Lagoa Central. Figura gentilmente cedida por Hirsch (2005).................
9
Figura 5. Representação da parcela florestal instalada no sítio Lagoa Central. Figura
gentilmente cedida por Hirsch (2005)............................................................................
10
CAPÍTULO 1: TAXAS DE CAPTURA DE AVES DO SUB-BOSQUE DE DOIS
TRECHOS DE FLORESTA ATLÂNTICA DO MÉDIO RIO DOCE, MINAS
GERAIS, BRASIL.
Figura 1. Localização do Parque Estadual do Rio Doce, com sua sede no município
de Marliéria, Minas Gerais, Brasil.................................................................................
21
Figura 2. Curva cumulativa de espécies de aves capturadas no Parque Estadual do
Rio Doce, Brasil, de acordo com o número de dias de amostragem. Para cada dia, o
esforço considerado foi próximo de 72 horas/rede, totalizando 3400 horas/rede de
esforço total....................................................................................................................
28
Figura 3. Representatividade das categorias tróficas nas duas porções de floresta
amostradas (exceto capturas do EP). Abreviações: I - Insetívoras; O - Onívoras; N -
x
Nectarívoras; C - Carnívoras; G - Granívoras; F - Frugívoras....................................... 29
CAPÍTULO 2: COMUNIDADES DE AVES DE UMA ÁREA DE FLORESTA
ATLÂNTICA DE BAIXADA, SUDESTE DO BRASIL.
Figura 1. Localização do Parque Estadual do Rio Doce, com sua sede no município
de Marliéria, Minas Gerais, Brasil.................................................................................
43
Figura 2. Curva cumulativa de espécies de aves obtida a partir das duas localidades
amostradas do Parque Estadual do Rio Doce, Brasil, nos anos de 2005 e 2006
(floresta madura x floresta perturbada)..........................................................................
70
Figura 3. Proporção de espécies de aves observadas em relação à ocorrência nos
diferentes ambientes das duas parcelas de floresta investigadas do Parque Estadual
do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil................................................................................
70
Figura 4. Proporção de espécies detectadas com sensibilidade alta, média e baixa a
partir de dois trechos amostrados de floresta atlântica de baixada, sudeste do Brasil...
71
Figura 5. Representatividade das guildas tróficas nos dois trechos da Floresta
Atlântica de baixada do sudeste do Brasil. Abreviações: F- frugívoro, O- onívoro, C-
carnívoro, I- insetívoro, N- nectarívoro.........................................................................
73
CAPÍTULO 3: SENSIBILIDADE DA AVIFAUNA TERRÍCOLA E DE SUB-
BOSQUE DE UM TRECHO DE FLORESTA ATLÂNTICA, SUDESTE DO
BRASIL.
Figura 1. Área de estudo situada no Parque Estadual do Rio Doce, localizado no
sudeste do Brasil............................................................................................................
92
xi
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 1: TAXAS DE CAPTURA DE AVES DO SUB-BOSQUE DE DOIS
TRECHOS DE FLORESTA ATLÂNTICA DO MÉDIO RIO DOCE, MINAS
GERAIS, BRASIL.
Tabela 1. Lista das espécies capturadas em duas localidades do Parque Estadual do
Rio Doce. Os valores abaixo representam as suas taxas de captura
a
.............................
24
CAPÍTULO 2: COMUNIDADES DE AVES DE UMA ÁREA DE FLORESTA
ATLÂNTICA DE BAIXADA, SUDESTE DO BRASIL.
Tabela 1. Principais características das duas parcelas amostradas de floresta, entre
agosto e dezembro de 2005 e 2006, no Parque Estadual do Rio Doce..........................
44
Tabela 2. Número de espécies registradas no Parque Estadual do Rio Doce e
adjacências, Brasil, durante os anos de 2005 e 2006, em cada um dos ambientes
investigados. As espécies ameaçadas/quase ameaçadas estão de acordo com Birdlife
International (2007)........................................................................................................
48
Tabela 3. Categorias de abundância relativa, tipo de detecção, habitat e status das
espécies de aves de um trecho do Parque Estadual do Rio Doce e adjacências. Os
registros consideraram as amostragens realizadas em floresta primária (FP), floresta
secundária (FS) e áreas de entorno (E) da unidade de conservação. Nas localidades
indicadas por um (x) as espécies não foram consideradas entre as categorias de
abundância relativa. Categorias de abundância relativa: 1- comum, com o número
médio de contatos maior que dez aves; 2- relativamente comum, com o número
médio de contatos entre seis e dez aves; 3- incomum, com o número médio de
contatos entre duas e cinco aves; 4- raro, onde somente uma ave é detectada. O
xii
espaço em branco significa nenhuma detecção. Método de detecção (D): v-visual, a-
auditivo. Habitat: fl- florestal, bf- borda de floresta, cp- capoeiras, ca- campos, la-
lagos, br- brejos e áreas alagadas, eu- eucaliptos. Status de ameaça, situação global e
local* (IUCN 2007; Fundação Biodiversitas 2007): (CR) Criticamente em Perigo,
(EN) Em Perigo, (Vu) Vulnerável, (NT) Quase ameaçada e (DD) Deficiente em
dados. Seqüência e nomenclatura (científica e popular) seguem CBRO (2007)...........
49
Tabela 4. Número de espécies de aves nos trechos de floresta primária e secundária
do Parque Estadual do Rio Doce, Brasil, considerando dados de sua ocorrência em
relação aos graus de sensibilidade, categorias tróficas e estrato de forrageamento.
72
CAPÍTULO 3: SENSIBILIDADE DA AVIFAUNA TERRÍCOLA E DE SUB-
BOSQUE DE UM TRECHO DE FLORESTA ATLÂNTICA, SUDESTE DO
BRASIL.
Tabela 1. Número de detecções, Índice Pontual de Abundância, grau de
sensibilidade, endemismo e estrato de forrageamento de 25 espécies de aves
terrícolas e de sub-bosque de um trecho de floresta Atlântica de baixada, sudeste do
Brasil...............................................................................................................................
95
xiii
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1: Fotos de algumas das espécies de aves capturadas no Parque Estadual do
Rio Doce. A. Conopophaga melanops; B. Euphonia pectoralis; C. Euphonia
violacea; D. Automolus leucophthalmus; E. Habia rubica; F. Baryphthengus
ruficapillus.......................................................................................................................
110
ANEXO 2: Fotos de algumas espécies de aves capturadas no Parque Estadual do Rio
Doce. A. Neopelma aurifrons e B. Dysithamnus plumbeus (espécies globalmente
ameaçadas, ambas na categoria vulnerável); C. Tangara seledon; D. Attila rufus; E.
Campephilus robustus.....................................................................................................
111
1
INTRODUÇÃO GERAL
A floresta Atlântica destaca-se como um dos biomas mais ricos do Brasil, sendo também o
mais ameaçado (Morellato e Haddad 2000; Tabarelli et al. 2005). Classificada como um
hotspot (Myers et al. 2000), a “Mata Atlântica” é formada por um complexo fitofisionômico
bastante diversificado, entre estes as florestas Ombrófila (Densa, Mista e Aberta), Estacional
(Semidecídua e Decídua), bem como mangues, restingas e campos de altitude (Oliveira-Filho
e Fontes 2000).
Restando pouco mais de 7 % (cerca de 100.000 km
2
) da sua área original, a floresta
Atlântica abriga pelo menos 8.000 espécies endêmicas (Tabarelli et al. 2005). As aves
pertencem a um dos grupos de maior destaque deste bioma, com cerca de 850 espécies, sendo
pelo menos 181 endêmicas (Machado e Fonseca 2000; Myers et al. 2000). Embora existam
numerosas investigações envolvendo as aves, várias espécies da floresta Atlântica são pouco
conhecidas (Sick 1997). Aliás, este panorama não é muito diferente do que ocorre nos
neotrópicos como um todo, sendo algumas regiões e espécies mais bem estudadas do que
outras (Willis 1979; Levey 1988; Karr et al. 1990; Terborgh et al. 1990; Blake et al. 1990;
Aleixo e Vielliard 1995; Stouffer e Bierregaard 1995; Anjos et al. 1997; Bierregaard e
Stouffer 1997; Robinson 1997; Robinson e Terborgh 1997; Zimmer et al. 1997; Thiollay
1999; Willis e Oniki 2002; Ribon et al. 2003; Anjos 2004).
As investigações envolvendo comunidades de aves de florestas tropicais possuem
alguns fatores complicadores. Como as aves normalmente são mais ouvidas do que vistas
neste ambiente, seja pela altura do dossel, da densidade da vegetação ou pelo comportamento
críptico de muitas espécies, o conhecimento dos seus sons torna-se fundamental para a sua
identificação (Terborgh et al. 1990). Outros métodos de amostragem, como as redes de
neblina, podem ser úteis, porém não são tão eficientes na amostragem de toda a comunidade
(Remsen e Good 1996). Desta forma, algumas das restrições mencionadas dificultam a
2
obtenção de informações das espécies ou mesmo da comunidade avifaunística de uma
determinada área. Além disto, outros fatores como particularidades na distribuição (p. ex, em
aglomerados) ou estrato de forrageamento levam à necessidade do uso de métodos específicos
de amostragem (Thiollay 1999; Bibby et al. 2000).
A região do médio rio Doce é uma das regiões mais ricas em diversidade biológica do
estado de Minas Gerais. Por exemplo, ao longo da sua extensão podem ser encontradas mais
de 390 espécies de aves. Além do alto número de espécies de aves, existe um alto número de
espécies de mamíferos, incluindo muitas espécies ameaçadas (Fonseca 1997). O Parque
Estadual do Rio Doce (PERD), apesar de considerada uma área com menor diversidade de
ambientes, possui pelo menos 1129 espécies de plantas catalogadas até o momento (Silva
2001). Esta área constitui-se como a maior reserva de floresta Atlântica da bacia do rio Doce e
a mais importante de Minas Gerais.
Bacia do rio Doce: Conhecimento da avifauna
O conhecimento da avifauna na bacia do rio Doce não é homogêneo (Willis e Oniki 1991;
Machado 1995; Machado e Lamas 1996; Parker III e Goerck 1997; Simon et al. 1999;
Marsden et al. 2001; Willis e Oniki 2002; Branco 2003; Ribon et al. 2003; Lopes et al. 2005;
Marsden et al. 2005; Faria et al. 2006; Simon 2006). Vários trabalhos se basearam em
levantamentos rápidos ou incompletos (Willis e Oniki 1991; Machado e Lamas 1996; Parker
III e Goerck 1997; Machado e Fonseca 2000; Marsden et al. 2001) ou não mesmo não houve
a intenção de um diagnóstico avifaunístico (Lopes et al. 2005). Existem também investigações
realizadas que não foram publicadas, dificultando o acesso de suas informações (Lins 2001).
Em especial, estes últimos foram feitos no trecho médio do rio Doce, principalmente aqueles
referentes a Carnevalli e Lanna (1978) e Carnevalli e Lanna (1981) apud Lins (2001).
3
Nos trechos do alto e baixo rio Doce, o número de investigações pode ser considerado
maior do que no trecho médio deste rio. Em especial, o alto rio Doce já foi objeto de alguns
dos mais importantes estudos realizados na bacia (p. ex., Simon et al. 1999; Ribon et al.
2003). Simon et al. (1999) realizaram um diagnóstico ornitológico para o Parque Estadual da
Serra do Brigadeiro, uma importante unidade de conservação (13.200 ha) localizada na bacia
do rio Doce. Nesta localidade, foram inventariadas 276 espécies de aves, incluindo várias
ameaçadas de extinção e com alguns dos últimos representantes presentes neste trecho do rio.
Já Ribon et al. (2003), em outro estudo, avaliaram o estado de conservação da avifauna
também em áreas do alto rio Doce. Considerando a natureza das informações, dentre outras,
temporal (dados de 14 anos) e espacial (41 fragmentos avaliados), este pode ser considerado o
trabalho mais importante de caracterização avifaunística feito na bacia. Os resultados
produzidos apontam a extinção local de 28 espécies, além da inclusão de 68 espécies em
alguma categoria de ameaça. Ao todo, 221 espécies foram registradas pelos autores (Ribon et
al. 2003). Outra investigação para este trecho do rio é a de Faria et al. (2006). A área de 605
ha apresentou 231 espécies de aves. Uma peculiaridade desta área, a Estação Ecológica de
Peti (pertencente à CEMIG), é o fato da mesma se localizar em uma zona de transição da
floresta Atlântica com o cerrado.
No baixo rio Doce, basicamente existem duas áreas bem marcadas em termos de
conhecimento avifaunístico. As florestas de baixada, representadas por levantamentos
realizados principalmente nas reservas de Sooretama e Linhares (Parker III e Goerck 1997;
Marsden et al. 2001; Marsden et al. 2005), e aqueles em florestas de montanhas,
especificamente na região de Santa Teresa, estado do Espírito Santo (Parker III e Goerck
1997; Willis e Oniki 2002; Simon 2006). O trecho de floresta de baixada caracteriza-se como
um dos mais ricos da região, sendo a riqueza da avifauna superior a 286 espécies (Parker III e
Goerck 1997). A bem estudada região de montanhas de Santa Teresa e adjacências apresenta
4
cerca de 405 espécies de aves (Willis e Oniki 2002). Em outro estudo, Simon (2000) aponta a
ocorrência segura de 268 espécies somente para a Reserva Biológica de Santa Lúcia,
município de Santa Teresa (ES). Também Simon (2006) realizou uma importante avaliação
na mesma região em relação aos efeitos da fragmentação florestal sobre a avifauna. De acordo
com seus resultados, o tamanho da área foi um dos principais descritores da variação na
riqueza de espécies, sendo os remanescentes com área superior a 500 ha aqueles que
apresentaram maior riqueza de aves em escala local.
Ao contrário do que ocorre no alto e baixo rio Doce, o trecho médio pode ser
considerado pouco estudado. Parte dos trabalhos pautou-se em avaliações rápidas ou
incompletas (Willis e Oniki 1991; Machado e Lamas 1996; Machado e Fonseca 2000), ou não
teve a intenção de diagnosticar a comunidade (Lopes et al. 2005). Willis e Oniki (1991), por
exemplo, investigaram a avifauna do PERD durante três dias. Em sua avaliação, foram
capazes de censar 140 espécies em duas áreas do PERD. Entre os trabalhos mais recentemente
realizados, em especial na porção do médio rio Doce, o de Machado e Lamas (1996) foi feito
em uma área perturbada por plantações de eucaliptos. Entre os principais aspectos
apresentados, os autores indicaram a presença em uma das áreas de uma espécie que já esteve
na lista de ameaçadas (Jacamaralcyon tridactyla). Já Machado e Fonseca (2000) realizaram
uma avaliação da avifauna de sub-bosque de quatro regiões da bacia do rio Doce utilizando
redes de neblina. Neste trabalho, os autores capturaram mais espécies em uma localidade com
altitude mais elevada (50 espécies; altitude média de 800 m) quando comparada a uma área de
floresta de baixada (20 espécies; altitude média de 350 m).
Conforme observado, podem ser encontradas algumas contribuições à caracterização
avifaunística da região, porém avaliações com maior esforço amostral não são conhecidas.
Apesar da lista de 325 espécies de aves para o PERD, acredita-se que este número esteja
superestimado, sendo necessária uma revisão criteriosa dos táxons presentes na localidade.
5
Machado e Fonseca (2000) sugerem a ocorrência de 298 espécies de aves na região, incluindo
nos seus critérios de mensuração as extinções locais (p. ex, Harpia harpyja e Accipiter
poliogaster). Além disto, existem espécies que carecem de registros documentados, sendo
algumas de duvidosa ocorrência na área ou que desapareceram por motivos desconhecidos.
Atualmente, a única avaliação promissora que vem sendo iniciada na região pertence ao
Programa de Avaliação e Monitoramento de Florestas Tropicais (TEAM Initiative), que
possui a intenção de obter dados ao longo de dez anos de monitoramento.
Esta tese visou realizar uma caracterização da comunidade avifaunística de um trecho
do Parque Estadual do Rio Doce. Mais especificamente, foi empregado um esforço de
amostragem a partir de duas localidades não investigadas da unidade de conservação. Os
objetivos específicos da tese foram: (1) caracterização da comunidade de aves de sub-bosque
durante a estação seca, através de uma avaliação da sua estrutura e uma análise da suas taxas
de captura (Capítulo 1); (2) com o emprego da técnica de pontos de escuta, investigar a
composição e a abundância relativa da avifauna de dois trechos de floresta do PERD.
Análises envolvendo a abordagem de grupos funcionais foram utilizadas como um dos
critérios descritivos das comunidades dos dois estandes florestais (Capítulo 2); (3) avaliar as
diferenças existentes no índice pontual de abundância de espécies de aves terrícolas e de sub-
bosque em relação aos diferentes estágios sucessionais da vegetação (Capítulo 3).
ÁREA DE ESTUDO
O Parque Estadual do Rio Doce está localizado no leste de Minas Gerais (19º48’18” –
19º24’29”S, 42º38’30” – 42º28’18”W), situado junto à bacia do rio Doce (Figura 1). Sua área
total é de 35.974 ha, divididos entre seu sistema lacustre e trechos de floresta em diferentes
estágios sucessionais (Figura 2). A idéia da criação do PERD surgiu na década de 30,
sugerida por Dom Helvécio Gomes de Oliveira, Arcebispo de Mariana (MG). O PERD foi
6
criado pelo Decreto-lei nº 1.119 de 14 de julho de 1944, encontrando-se administrado pelo
Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais.
Figura 1: Localização do Parque Estadual do Rio Doce, município de Marliéria, leste de
Minas Gerais. Figura gentilmente cedida por Hirsch (2005).
As zonas adjacentes ao PERD caracterizam-se por um alto grau de modificação da
cobertura do solo, onde ocorreu o desaparecimento da floresta Atlântica na maioria dos
trechos. Historicamente, a partir de 1930, grande parte da floresta foi consumida para a
produção do carvão vegetal (Fonseca 1985). Além disto, a paisagem sofreu grandes
modificações (Figura 3). A silvicultura, através do plantio de eucaliptos, é um dos
componentes mais típicos da paisagem local. Além disto, várias propriedades rurais do
entorno substituíram as áreas de florestas por pastagens, dando lugar ao gado e outros tipo de
7
Figura 2: Os dois principais tipos de paisagens do PERD: trechos florestais entremeados por
lagos (Foto: M. M. Petrúcio).
Figura 3: Mapa do Parque Estadual do Rio Doce e adjacências, indicando os principais tipos
de cobertura vegetal e uso do solo. Figura gentilmente cedida por Hirsch (2005).
8
atividades agrícolas. As áreas urbanas, outro componente dos arredores do PERD, também
chamam a nossa atenção, concentradas principalmente junto à área norte. Entre os fatores
mais preocupantes desta proximidade estão a poluição, as invasões e outros tipos de ameaças.
Rotineiramente são relatadas diversas atividades ilegais provenientes desta proximidade, entre
elas a extração de elementos da flora (p. ex. orquídeas), a caça (p. ex. paca, anta), a pesca (em
diferentes locais do PERD), além dos incêndios.
O PERD se encontra geograficamente localizado na “Depressão Interplanáltica do
Vale do rio Doce”, importante designição fisiográfica do leste do Brasil (Nunes et al. 2007).
O clima regional é do tipo Tropical Quente Semi-Úmido (Tipo AW, Sistema de Köppen),
caracterizado por duas estações do ano bem marcadas: uma seca, que ocorre de abril a
setembro; uma chuvosa, estendendo-se de outubro a março. O índice de precipitação média
anual alcança cerca de 1480 mm, com temperatura média de 22,5º C. A altitude média da área
está em torno de 350 m.
A vegetação do PERD pertence ao tipo floresta estacional semidecídua submontana
(Veloso et al. 1991). Vários trechos da unidade de conservação ainda são do tipo primário
(próximo a 38%), porém existindo diferentes estágios sucessionais em função das
perturbações sofridas. As áreas em melhor estado de conservação estão distribuídas
principalmente na porção norte e central da unidade de conservação (Nunes et al. 2007).
Localidades amostradas
A escolha das duas parcelas de floresta foi realizada levando-se em conta dois fatores:
grau de integridade e histórico de interferência antrópica, ocasionando diferenças nos estágios
sucessionais da vegetação. Ambos estão localizados na região do PERD denominada “Salão
Dourado” (Figura 4), cujo acesso principal se faz pela estrada que liga o distrito de Cava
Grande ao município de Pingo D’água.
9
Figura 4: Localização das duas parcelas florestais utilizadas neste estudo: sítios Lagoa Preta e
Lagoa Central. Figura gentilmente cedida por Hirsch (2005).
Todas as duas parcelas florestais possuíam área total de 100 ha de floresta, contudo
podendo encontrar outros ambientes dentro ou adjacentes às mesmas (brejos, bordas e
clareiras). Estes podem ser considerados típicos da área, encontrando-se presentes
praticamente em todas as localidades da unidade de conservação. Em cada uma das parcelas,
foram estabelecidas seis transecções lineares, cada uma contendo 1000 m, com pontos
demarcados por tubos de PVC a cada 100 m. Quando toda a parcela foi amostrada (pontos de
escuta), foram considerados pontos a cada intervalo de 200 m. Ligando as seis transecções,
foram estabelecidas duas linhas perpendiculares nas extremidades das parcelas florestais
(Figura 5). Ambas as parcelas estiveram localizadas a uma distância mínima de 600 m de
áreas antrópicas e perturbadas.
10
Figura 5: Representação da parcela florestal instalada no sítio Lagoa Central. Figura
gentilmente cedida por Hirsch (2005).
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15
CAPÍTULO 1
RIQUEZA DE AVES DO SUB-BOSQUE DE DUAS
ÁREAS DE FLORESTA ATLÂNTICA DO MÉDIO RIO
DOCE, MINAS GERAIS, BRASIL.
Normas do periódico “Brazilian Journal of Biology”
16
Riqueza de aves de sub-bosque de duas áreas de floresta Atlântica do médio rio Doce, Minas
Gerais, Brasil.
Alan Loures-Ribeiro
a*
e Manoel Martins Dias
b
a
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São
Carlos. Rodovia Washington Luís (SP 310), Km 235. Monjolinho. Caixa Postal 676. São
Carlos. SP. Brasil. CEP: 13565-905.
b
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos.
Rodovia Washington Luís (SP 310). Monjolinho. Caixa Postal 676. São Carlos. SP. Brasil.
CEP: 13565-905.
(Com 3 figuras)
Key-words: understory birds, communities, mist nets, Atlantic Rain Forest, Brazil.
Palavras-chave: aves de sub-bosque, comunidades, redes de neblina, Floresta Atlântica,
Brasil.
Título resumido: Riqueza de aves de sub-bosque da floresta Atlântica
17
RESUMO
Nós empregamos 12 redes de neblina para a amostragem da avifauna de sub-bosque, durante
a estação seca de 2006, em dois trechos de floresta Atlântica de baixada do médio rio Doce,
Minas Gerais. As duas áreas de floresta apresentavam características distintas, sendo uma
composta por floresta madura e outra com histórico de incêndio. Após 3400 horas/rede de
esforço de amostragem, foram capturadas 146 aves de 38 espécies. Cerca de 36,84% das
espécies capturadas são endêmicas da Mata Atlântica. O total de recapturas foi de 34,1%. Ao
considerar o trecho de floresta madura, 42,1% das espécies foram exclusivas deste ambiente.
Por outro lado, na área de floresta perturbada, 36,84% das espécies foram capturadas somente
neste local. O número total de indivíduos capturados entre os dois trechos de floresta não
apresentou diferenças entre si (χ
2
= 0,401; g.l = 1; p>0,05). Porém, cinco espécies
(Dendrocincla turdina, Sittasomus griseicapillus, Rhynchocyclus olivaceus, Neopelma
aurifrons e Habia rubica) foram mais freqüentemente capturadas nos trechos de floresta
madura (p<0,05). Os dados indicam a importância de áreas de floresta madura, sendo
importantes locais para a preservação de espécies mais sensíveis. Entre estas, podemos citar
Dendrocincla turdina, Rhynchocyclus olivaceus e Neopelma aurifrons.
18
Richness of understory birds of the two areas of the Atlantic Rain Forest of the middle river
Doce, Minas Gerais State, Brazil.
ABSTRACT
Twelve mist-nets were used to sample understory birds, during the dry season of 2006, in two
sections of the Atlantic rain forest of the middle river Doce, Minas Gerais, Brazil. Whereas
one forest area was composed of primary forest, the other had a history of forest fire in its
wake. One hundred and forty-six birds, comprising 38 species, were captured after 3400
hours/sampling. Approximately 36.84% of species captured were endemic to the Atlantic rain
forest, total recapture reached 34.1%, and 42.1% of species were exclusive of the mature
forest section. On the other hand, 36.84 of the species were captured solely in the disturbed
forest section. Although no difference (χ
2
= 0.401; g.l = 1; p > 0.05) was detected in the
number of specimens captured in both forest sections, five species (Dendrocincla turdina,
Sittasomus griseicapillus, Rhynchocyclus olivaceus, Neopelma aurifrons and Habia rubica)
were more frequently captured in the mature forest sector (p < 0.05). The primary forest
section was an important environment for the preservation of more sensitive birds such as
Dendrocincla turdina, Rhynchocyclus olivaceus and Neopelma aurifrons.
19
INTRODUÇÃO
A região conhecida como “Floresta Atlântica” possui uma grande diversidade de
fisionomias, refletindo em uma elevada riqueza de espécies, além de um alto nível de raridade
e endemismos (Fonseca, 1997; Goerck, 1997). O leste de Minas Gerais, região sob o domínio
da Floresta Atlântica, apresenta uma alta riqueza de espécies de aves, abrigando
aproximadamente 32% de todas as espécies listadas para o Brasil (Machado e Fonseca, 2000),
incluindo várias sob algum grau de ameaça (Birdlife International, 2006; Fundação
Biodiversitas, 2007).
O rio Doce, principal rio da bacia na região, apresenta junto às suas margens o mais
importante trecho de floresta Atlântica de baixada intacta, o Parque Estadual do Rio Doce
(PERD), com seus 35.974 ha de florestas e lagos. Alguns estudos envolvendo a comunidade
de aves da bacia são conhecidos para diferentes trechos (Willis & Oniki, 1991; Simon et al.,
1999; Ribon et al., 2003; Faria et al., 2006). Porém, no médio rio Doce, as investigações são
relativamente escassas, onde poucas foram realizadas recentemente (Machado & Fonseca,
2000). São conhecidas cerca de 300 espécies de aves no PERD (Lins, 2001), apesar de grande
parte necessitar de registro documentado. Além disto, algumas são consideradas extintas na
área, como é o caso do gavião-real (Harpia harpyja).
Considerando a importância biológica da área, associada a sua carência de
informações, este trabalho objetivou: i) caracterizar a composição específica da avifauna de
sub-bosque em dois diferentes trechos de floresta durante a estação seca; ii) analisar a
estrutura da avifauna de sub-bosque considerando o uso de redes de neblina; iii) comparar as
taxas de captura da avifauna entre os dois diferentes trechos de floresta estudados.
20
ÁREA DE ESTUDO E MÉTODOS
Área de estudo
O estudo foi conduzido em dois trechos de floresta localizados no Parque Estadual do
Rio Doce (19º40’50”S - 42º31’20”W, Plot da Lagoa Preta; 19º39’20”S - 42º34’18”W, Plot da
Lagoa Central), região leste de Minas Gerais, unidade de conservação com área aproximada
de 35.974 ha (Figura 1). O Parque é constituído por Floresta Estacional Semidecídua
Submontana (Veloso et al., 1991) em diferentes estágios sucessionais, principalmente
ocasionados por incêndios (IEF & ENGEVIX, 1994). O entorno da unidade de conservação
foi transformado, sobretudo destacando-se áreas urbanizadas e silviculturais (plantações de
eucaliptos), além de pastagens (Fonseca, 1997).
O clima regional, segundo a classificação de Köppen, enquadra-se no tipo AW –
Tropical Quente Semi-Úmido - com a existência de um inverno seco, marcado por baixos
índices de precipitação (inferior a 40 mm). A temperatura média anual alcança cerca de 22ºC,
com índices de precipitação média de 1480mm/ano. Portanto, a região é marcada
principalmente pela existência de duas estações bem distintas: uma seca, que se estende de
abril a meados de setembro; e uma chuvosa, que se estende de outubro a março de cada ano.
Durante o período do estudo, a precipitação acumulada foi de 137,25 mm, com média de
22,87 mm/mês. A temperatura média foi de 22,5ºC (Fonte: Estação Agrometeorológica,
PERD).
21
Figura 1: Localização do Parque Estadual do Rio Doce, com sua sede no município de
Marliéria, Minas Gerais, Brasil.
Em uma das porções de floresta (conhecida como Plot da Lagoa Central), as
transecções lineares estiveram dispostas em uma área que sofreu seu último incêndio há
aproximadamente 14 anos (floresta perturbada). Já a outra localidade (Plot da Lagoa Preta),
nenhum incêndio florestal é conhecido para o local, exceto em áreas do seu entorno. Desta
forma, este último trecho é composto por uma das últimas porções de floresta primitiva de
Minas Gerais, caracterizando-se como Mata Alta Primária (floresta madura).
Entre as espécies arbóreas mais freqüentes na área de floresta madura, citamos
Senefeldera multiflora (Euphorbiaceae), Neoraputia alba (Rutaceae) e Rollinia sylvatica
22
(Annonaceae). Também foram observados indivíduos de grande porte arbóreo, tais como
Ficus gomelleira (Moraceae), Lecythis pisonis (Lecythidaceae) e Virola gardneri
(Miristicaceae). Outras espécies freqüentemente observadas na área, principalmente na área
de floresta perturbada, foram Cecropia sp. (Cecropiaceae), Astrocaryum aculeatissimum
(Arecaceae), Typha sp. (Typhaceae), Carex sp. (Cyperaceae) e Euterpe edulis Mart.
(Arecaceae).
Amostragens
As amostragens foram realizadas durante a estação seca, entre os meses de abril e
setembro de 2006. Para tal, foram utilizadas 12 redes de neblina (12 x 3 m; malha 38 mm; 5
prateleiras), dispostas em transecções lineares, onde cada transecção esteve separada entre si
200 m. As redes foram montadas próximas entre si, com distância média de espaçamento de
2,8 m. A largura de cada trilha variou ao redor de 2 m.
As redes foram abertas a partir das primeiras horas da manhã (06h10min) até
aproximadamente as 13h00min com boas condições do tempo. As inspeções das redes
ocorreram a cada uma hora em razão das baixas taxas de captura. Desta forma, este
procedimento contribuiu com a redução de possíveis interferências no local das capturas
(Karr, 1981). Para cada transecção amostrada, as redes foram mantidas por dois dias
consecutivos. As amostragens de cada transecção foram realizadas em intervalos de tempo
relativamente regulares, porém não inferiores a 30 dias de intervalo entre si. Este
procedimento reduz a aprendizagem das aves, principalmente considerando o ato de evitar as
redes (Blake, 1989; Whitman, 2004). Todos os indivíduos foram marcados com anilhas de
alumínio fornecidas pelo CEMAVE/IBAMA, sendo posteriormente libertados no mesmo
local.
As espécies capturadas foram classificadas em seis categorias tróficas, considerando
dados da literatura (Remsen et al., 1993; Sick, 1997; Ribeiro, 2001; Manhães, 2007):
23
insetívoras (I), espécies de aves que consomem artrópodes, podendo ou não complementar a
sua dieta com frutos; onívoras (O), as aves que se alimentam de tipos diversificados de itens
alimentares em proporções relativamente similares; nectarívoras (N), espécies consumidoras
de néctar, complementando a sua dieta através da ingestão de pequenos insetos; frugívoras
(F), aquelas que ingerem essencialmente frutos; carnívoras (C), as aves que realizam o
consumo de animais através de caça ativa; granívoras (G), as espécies que ingerem
basicamente sementes.
Uma curva cumulativa de espécies foi gerada a partir dos dados de captura (Figura 2).
A estimativa de riqueza de espécies para a área foi obtida considerando o estimador Chao
2
a
partir dos dados de incidência (Colwell e Coddington, 1994). Cerca de 1000 aleatorizações
foram realizadas para a construção do intervalo de confiança log-linear (IC=95%) e o desvio-
padrão (d.p). Como o coeficiente de variação (CV > 0,05) foi maior que 0,5, um critério de
correção para a estimativa Chao
2
foi utilizado. Os dados foram consolidados com o auxílio do
software EstimateS 8.0 (Colwell, 2006). Foram calculados os índices de diversidade de
Simpson, bem como o de dominância de Berger-Parker (Magurran, 2004).
O teste t para amostras independentes foi utilizado para comparar possíveis diferenças
quanto ao número de exemplares capturados entre o 1º e o 2º dias de amostragem (p<0,05). O
teste χ
2
verificou se ocorreram diferenças quanto ao número de capturas de cada espécie entre
as localidades, bem como em relação ao número total de aves capturadas nos dois trechos de
floresta (p<0,05). Em função do número de capturas em algumas guildas (n<5), não foi
possível obter comparações entre elas. Considerando as análises anteriores, a hipótese de
nulidade de nenhuma diferença no número de espécimes capturados foi estabelecida (Fowler
et al., 1998).
Os dados foram expressos através das taxas de captura, que representaram o “número
de aves capturadas de cada espécie x 50 horas/rede, dividido pelo número total de horas/rede
24
da localidade”, incluindo as recapturas. Com o intuito de permitir comparações, desigualdades
no esforço de amostragem entre os locais foram corrigidas através do uso de um número
similar de horas/rede.
RESULTADOS
Foram capturadas 146 aves pertencentes a 38 espécies em um esforço total de 3400
horas/rede (Tabela 1). Cerca de 36,84% das espécies capturadas são endêmicas da Floresta
Atlântica. A riqueza estimada de espécies do sub-bosque gerada pela extrapolação dos dados
de captura foi de 64,57 espécies (d.p = ±16,18). O valor do índice de diversidade de Simpson
para a área de floresta madura (0,074) foi maior quando comparado à área de floresta
perturbada (0,046). Ao considerar a dominância, o trecho perturbado de floresta apresentou
valor superior quando comparado à área preservada.
Tabela 1: Número de espécies e indivíduos capturados em duas localidades do Parque
Estadual do Rio Doce.
a
Taxa e nomes populares de acordo com CBRO (2007). Abreviação:
End. Endemismo, espécie endêmica da Mata Atlântica de acordo com Sick (1997), Barlow et
al. (1999), Brooks et al. (1999) e Simon (2006).
b
Status de conservação: EN. Em perigo; Vu.
Vulnerável (Birdlife International, 2006; Fundação Biodiversitas, 2007). Espécies marcadas
com um asterisco (*) também são consideradas como deficientes em dados (Fundação
Biodiversitas, 2007).
c
(ver métodos).
d
Categorias tróficas: I - Insetívoro; O - Onívoro; N -
Nectarívoro; C - Carnívoro; G – Granívoro; F – Frugívoro.
25
Taxa
a,b
(nome popular)
N Taxas de captura
c
Categorias
Tróficas
d
χ
2
Floresta
Madura
Floresta
Perturbada
Tinamidae
Crypturellus tataupa
(inhambu-chintã)
1 0,027 - F -
Columbidae
Leptotila verreauxi
(juriti-pupu)
1 - 0,031 F -
Geotrygon montana
(pariri)
1 0,027 - F -
Strigidae
Glaucidium brasilianum
(caburé)
1 0,027 - C -
Trochilidae
Glaucis hirsutus
(balança-rabo-de-bico-torto)
1 - 0,031 N -
Phaethornis idaliae
End*
(rabo-branco-mirim)
4 0,055 0,062 N -
Trogonidae
Trogon viridis
(surucuá-grande-de-barriga-amarela)
1 0,027 - O -
Momotidae
Baryphthengus ruficapillus
End
(juruva-verde)
3 0,083 - I -
Galbulidae
Galbula ruficauda
(ariramba-de-cauda-ruiva)
5 - 0,156 I -
Picidae
Picumnus cirratus
(pica-pau-anão-barrado)
1 0,027 - I -
26
Campephilus robustus
End
(pica-pau-rei)
1 0,027 - I -
Thamnophilidae
Thamnophilus ambiguus
End
(choca-de-sooretama)
9 0,083 0,187 I ns
Dysithamnus plumbeus
End, Vu
(choquinha-chumbo)
14 0,277 0,125 I ns
Myrmotherula axillaris
(choquinha-de-flanco-branco)
4 0,027 0,093 I -
Conopophagidae
Conopophaga melanops
End
(cuspidor-de-máscara-preta)
3 0,055 0,031 I -
Dendrocolaptidae
Dendrocincla turdina
End
(arapaçu-liso)
18 0,500 0,093 I s
Sittasomus griseicapillus
(arapaçu—verde)
8 0,222
- I s
Xiphorhynchus fuscus
End
(arapaçu-rajado)
12 0,250 0,093 I ns
Furnariidae
Automolus leucophthalmus
End
(barranqueiro-de-olho-branco)
5 0,027 0,125 I -
Xenops minutus
(bico-virado-miúdo)
2 0,055 - I -
Tyrannidae
Mionectes rufiventris
End
(abre-asa-de-cabeça-cinza)
1 - 0,031 O -
Leptopogon amaurocephalus
(cabeçudo)
1 - 0,031 I -
Rhynchocyclus olivaceus
EN
(bico-chato-grande)
9 0,250
- I s
Lathrotriccus euleri
(enferrujado)
3 - 0,093 I -
27
Attila rufus
End
(capitão-de-saíra)
3 - 0,093 I -
Pipridae
Neopelma aurifrons
End, Vu*
(fruxu-baiano)
10 0,277
- O s
Manacus manacus
(maria-rendeira)
4 - 0,125 O -
Tityridae
Schiffornis turdina
Vu
(flautim-marrom)
4 - 0,125 O -
Troglodytidae
Pheugopedius genibarbis
(garrinchão-pai-avô)
1 - 0,031 O -
Turdidae
Turdus flavipes
(sabiá-una)
1 - 0,031 O -
Turdus rufiventris
(sabiá-laranjeira)
2 - 0,062 F -
Thraupidae
Habia rubica
(Tiê-do-mato-grosso)
6 0,166 - O s
Tachyphonus cristatus
(Tiê-galo)
1 0,027 - O -
Pipraeidea melanonota
(saíra-viúva)
1 0,027 - F -
Tangara seledon
End
(saíra-sete-cores)
1 - 0,031 O -
Cardinallidae
Saltator maximus
(tempera-viola)
1 - 0,031 G -
Fringillidae
Euphonia violacea
(gaturamo-verdadeiro)
1 0,055 - F -
28
Euphonia pectoralis
End
(ferro-velho)
1 0,027 - F -
Número total de espécies
-
24 22
- -
Espécies exclusivas (%)
-
42,1 36,84
- -
Índice de diversidade de Simpson
-
0,076 0,044
- -
Índice de dominância de Berger-
Parker
-
6,097 9,174
- -
O esforço amostral, de acordo com a curva do coletor, indicou uma curva com
tendência à estabilização (Figura 2), onde o percentual médio de recapturas foi de 34,1%. Ao
comparar o número de capturas realizadas entre o primeiro e o segundo dia, nenhuma
diferença significativa foi observada (t = 1,44; n = 20; p>0,05). As espécies com a freqüência
de captura inferior a 2% representaram 63,15% do total das nossas capturas.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47
Esforço Amostral (dias)
mero de espécies
Figura 2: Curva cumulativa de espécies de aves capturadas no Parque Estadual do Rio Doce,
Brasil, de acordo com o número de dias de amostragem. Para cada dia, o esforço considerado
foi próximo de 72 horas/rede, totalizando 3400 horas/rede de esforço total.
29
Ao comparar as taxas de captura totais entre os dois trechos de floresta, nenhuma
diferença foi constatada (χ
2
= 0,401; g.l = 1; p>0,05). Porém, quando o número de indivíduos
capturados para cada espécie foi contrastado entre as áreas, cinco (Dendrocincla turdina,
Sittasomus griseicapillus, Rhynchocyclus olivaceus, Neopelma aurifrons e Habia rubica) das
oito espécies analisadas demonstraram diferenças significativas.
As famílias de aves melhor representadas foram Dendrocolaptidae (25,67%),
Thamnophilidae (18,24%), e Tyrannidae (11,48%). Entre as categorias tróficas (Figura 3), a
guilda dos insetívoros predominou, tanto em número de espécies (floresta madura: 54,16%;
floresta perturbada: 50%), quanto em número de indivíduos (floresta madura: 70,65%;
floresta perturbada: 65,45%). Outras guildas representativas foram a dos onívoros, frugívoros
e nectarívoros. Apenas um indivíduo pertencente à guilda dos carnívoros (Glaucidium
brasilianum) foi capturado, mais especificamente no trecho de floresta madura. Saltator
maximus também foi a única espécie granívora capturada, ocorrendo somente na área que
sofreu incêndio.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
I ONCGF IONCGF
(
%
)
Espécies Indivíduos
Figura 3: Representatividade das categorias tróficas das espécies de aves capturadas no
Parque Estadual do Rio Doce, Brasil, considerando as duas porções de floresta investigadas.
Floresta
Madura
Floresta
Perturbada
30
Abreviações: I - Insetívoras; O - Onívoras; N - Nectarívoras; C - Carnívoras; G - Granívoras;
F - Frugívoras.
Aproximadamente 42,1% das espécies foram capturadas exclusivamente no trecho de
floresta madura. Por outro lado, 36,84% estiveram presentes somente na área de floresta
perturbada. Ao considerar as espécies capturadas somente na floresta madura, N. aurifrons, R.
olivaceus e S. griseicapillus foram algumas das espécies que se destacaram. Por outro lado,
Galbula ruficauda, Manacus manacus e Attila rufus estiveram entre as espécies que
ocorreram exclusivamente no trecho de floresta perturbada. As duas espécies com as maiores
taxas de captura foram D. turdina e N. aurifrons para a floresta madura, e Thamnophilus
ambiguus e G. ruficauda para o trecho de floresta perturbada.
DISCUSSÃO
Trabalhos envolvendo a amostragem da avifauna de sub-bosque em florestas
neotropicais são numerosos (Karr, 1977; Blake, 1989; Verea et al., 2000; Machado &
Fonseca, 2000; Verea & Solórzano, 2001). Embora seja enfatizado o caráter de limitação do
uso de redes de neblina para amostragem de aves (Remsen & Good, 1996), este método pode
ser considerado importante para algumas situações. Mais especificamente, com o uso de redes
torna-se possível amostrar espécies que vivem na parte inferior da floresta, principalmente
aquelas com comportamento críptico (Sodhi et al., 2004; Barlow et al., 2006).
As taxas de captura reduzidas não parecem ter sido influenciadas por quaisquer
problemas durante o procedimento de amostragem. Os dados não apontam para uma possível
tentativa das aves em evitar as redes. Conforme observado, o 1º e o 2º dias de coleta não
apresentaram diferenças no número de indivíduos capturados. Além disto, entre duas coletas
31
na mesma transecção, existiu um intervalo mínimo de três semanas (Karr, 1981). Todos os
cuidados inerentes ao uso das redes foram seguidos (Ralph et al., 1993; Wunderle, 1994).
As baixas taxas de captura em relação ao esforço empregado refletem uma situação
biológica das duas áreas investigadas. Observações realizadas nos dois trechos de floresta
durante o período de capturas demonstraram um baixo grau de movimentação das aves no
sub-bosque. Alguns autores têm salientado que a altura do dossel em florestas tropicais pode
propiciar a diminuição das taxas de captura (Terborgh et al. 1990). Em ambas as localidades
investigadas, a altura média do dossel foi de 20 m. Em alguns trechos de floresta madura, a
altura média estimada do dossel alcançou os 25 m, com algumas árvores emergentes
apresentando 45 m.
Machado e Fonseca (2000), ao amostrar um trecho de floresta secundária do PERD,
encontraram resultados similares aos nossos. Em aproximadamente 800 horas/rede de esforço
amostral, foram capturadas somente 37 aves de 21 espécies. Ao todo, 71,43% das espécies em
nosso trabalho foram comuns ao estudo de Machado e Fonseca (2000). Entre as espécies
exclusivamente capturadas por estes autores, podemos citar duas espécies de pombas
(Claravis pretiosa e Leptotila rufaxila), além de Chlorestes notatus, Turdus leucomelas,
Ramphocelus carbo e Trichothraupis melanops. Em relação ao trecho de floresta secundária
amostrado em nosso trabalho, nenhuma das seis espécies foram capturadas, apesar de quatro
delas terem sido observadas durante os períodos de amostragem (com exceção de C. notatus e
T. melanops).
A proporção de espécies que representaram menos de 2% das capturas mostra uma
tendência que coincide com outros estudos da avifauna na região neotropical. Normalmente,
investigações realizadas nestes ambientes indicam índices maiores que 50% do total das
espécies capturadas com baixa representatividade nas amostras (Karr, 1977; Karr et al., 1990;
Blake et al., 1990; Verea e Solórzano, 1998).
32
O número de capturas para algumas espécies de aves de sub-bosque diferiu entre os
trechos de floresta amostrados. D. turdina, N. aurifrons e R. olivaceus são espécies que
normalmente constam na literatura como sensíveis a algum tipo de perturbação, sendo mais
exigentes em relação à qualidade da porção disponível de habitat (Anjos, 2001; Ribon et al.,
2003; Polleto et al., 2004). Das dezesseis espécies que foram capturadas exclusivamente na
floresta madura, somente quatro não foram vistas e/ou ouvidas no trecho de floresta
perturbada. B. ruficapillus, N. aurifrons e H. rubica são espécies que normalmente ocorrem
em floresta densa, sugerindo sua preferência por um sub-bosque com menor luminosidade
(Sick, 1997). R. olivaceus, além de ter ocorrido somente na área de floresta madura, é uma das
espécies que constam na lista regional da fauna ameaçada (Fundação Biodiversitas, 2007).
Para espécies como D. plumbeus e N. aurifrons, por exemplo, a sua distribuição geográfica
restrita e a perda dos habitats sugerem ser um dos aspectos importantes ligados ao declínio
populacional destas espécies (Olmos, 2005).
Entre as diferentes categorias tróficas das aves, cabe ressaltar o elevado número de
aves pertencentes às espécies insetívoras. D. plumbeus, D. turdina e X. fuscus foram comuns
principalmente no trecho de floresta madura. Polleto et al. (2004) mencionam o fato de D.
turdina necessitar de requerimentos ecológicos mais restritos, com sua ocorrência ligada a
trechos de floresta homogêneos e em avançado estágio sucessional. Os locais amostrados
onde D. turdina ocorreu possuíram algumas das características físicas de hábitat relatadas por
Polleto et al. (2004). De acordo com o estudo destes autores, esta espécie apresentou uma
preferência por áreas em avançado estágio sucessional mais homogêneas, além de evitar áreas
com clareiras.
Dentre todas as espécies amostradas, ressaltamos o primeiro registro documentado de
Habia rubica para o PERD. Inicialmente, ela foi mencionada como de provável ocorrência,
porém com a necessidade de comprovação de seu registro (Lins, 2001). Seis exemplares
33
foram capturados em duas ocasiões, todos forrageando junto a uma trilha de formigas-de-
correição. Associadas a esta espécie, foram capturadas D. turdina, Conopophaga melanops e
Myrmotherula axillaris, todas seguindo a trilha de formigas-de-correição (Willis e Oniki,
1978; Sick, 1997).
Os dados das capturas de aves de sub-bosque de duas áreas do médio rio Doce
indicaram um baixo grau de movimentação de aves no estrato inferior da floresta. Além disto,
várias espécies estiveram representadas por poucos indivíduos. Em especial, este último
aspecto aumenta as chances de extinção de várias espécies, ficando as mesmas mais
vulneráveis à ocorrência de processos estocásticos. A área mostrou-se importante para a
preservação de espécies de aves da floresta Atlântica, principalmente para aquelas com alto
valor biológico.
AGRADECIMENTOS
Nossos agradecimentos ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais por permitir o
trabalho no PERD, em especial a Denize Fontes Nogueira. Somos gratos ao
CEMAVE/IBAMA pelo fornecimento das anilhas. José Roberto Verani, Odete Rocha e
Alaíde A. F. Gessner providenciaram valiosas sugestões a este manuscrito. Jerusa M.
Oliveira, Helines M. Ribeiro, Natália F. Lima e Nara C. Figueiredo pelo auxílio nas coletas de
campo. A André Hirsch (TEAM-CI/UFMG) quem gentilmente forneceu o mapa da área. A
Luiz Dias (TEAM-CI/UFMG) que nos auxiliou com dados físicos da área. A Michellia
Pereira Soares e a equipe do Laboratório de Botânica (UFV) pela colaboração com os dados
de vegetação.
34
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38
CAPÍTULO 2
COMUNIDADES DE AVES DE UMA ÁREA DE
FLORESTA ATLÂNTICA DE BAIXADA, SUDESTE DO
BRASIL.
Normas do periódico “Biodiversity and Conservation”
39
RESUMO
A floresta Atlântica de baixada no Brasil constitui-se como uma das mais importantes
formações fitofisionômicas em termos de riqueza de espécies. Também é um dos ambientes
mais afetados pelos processos de ocupação humana. Entre agosto e dezembro de 2005 e 2006,
realizamos uma avaliação sistemática de dois trechos de floresta Atlântica de baixada de uma
das porções preservadas mais importantes do Brasil, o Parque Estadual do Rio Doce. Para tal,
foi empregada a técnica de pontos de escuta realizada a partir de 36 pontos de amostragens
em cada um dos estandes florestais (100 ha cada). Também foram realizadas amostragens
qualitativas aleatórias em trechos circunvizinhos à unidade de conservação durante este
período. Foram identificadas 213 espécies de aves, pertencentes a 48 famílias. Destas, 162
espécies foram identificadas nas duas parcelas de floresta amostradas. Entre os ambientes da
região, a floresta e a capoeira foram aqueles que apresentaram o maior número de espécies, ou
seja, 159 e 95 espécies, respectivamente. Considerando os dois trechos florestais amostrados
da unidade de conservação, a área de floresta primária foi aquela que apresentou a maior
proporção de aves especialistas (47,4%), abrigando proporcionalmente também a maior
quantidade de espécies com sensibilidades média e alta quando comparado ao trecho
perturbado (χ
2
= 3,930; df = 1; p = 0,0474). Nenhuma diferença foi detectada em relação ao
numero de espécies de cada uma das guildas nos dois trechos de floresta (χ
2
= 1,309; df = 3; p
= 0,7269). Ao considerar o estrato de forrageamento, o número de espécies entre os estratos
mostrou algumas diferenças, principalmente entre o dossel e o estrato médio das florestas
primária (χ
2
= 14,142; df = 1; p = 0,0001) e secundária (χ
2
= 3,853; df = 1; p = 0,049). Os
dados indicaram uma alta riqueza de aves especialistas nos trechos de floresta amostrados,
com destaque para as áreas em melhor estado de conservação.
Palavras-chave: Avifauna; Floresta Atlântica; Brasil; Comunidades; Conservação.
40
ABSTRACT
The Brazilian lowland Atlantic Rain Forest is one of the most important phyto-physionomic
formations in species richness and the most threatened environments due to human
occupation. Current analysis is a systematic evaluation of two stretches of the lowland
Atlantic Rain Forest of Rio Doce State Park, one of the most important and preserved regions
in Brazil. Point counts technique was employed from August to December in 2005 and in
2006 at 36 sampling points in each of the 100 ha forest stands. During the same period
randomized qualitative samplings were undertaken in stretches close to the conservation area.
Two hundred and thirteen bird species, belonging to 48 families, were identified. The forest
and the shrubland had the highest number of species, respectively 159 and 95. In two sampled
forest stretches of the park 162 species were detected. The primary forest section revealed the
highest proportion of specialist species (47,4%) and thus proportionately the highest quantity
of species with average and high sensitivity when compared to those in the disturbed forest
(χ
2
= 3,930; df = 1; p = 0,0474). There was no difference in the number of species of each
guild within the two forest stretches (χ
2
= 1,309; df = 3; p = 0,7269). When the foraging
substrate is taken into account, certain differences exist in the number of species between
substrates, especially between the tree canopy and the middle substrate of the primary (χ
2
=
14,142; df = 1; p = 0,0001) and secondary (χ
2
= 3,853; df = 1; p = 0,049) forests. Data register
a high specialist species richness in the sampled forest stretches especially in area with
improved conservation.
Key words: Birds; Atlantic Rain Forest; Brazil; Communities; Conservation.
41
INTRODUÇÃO
As áreas tropicais estão entre as mais importantes reservas biológicas do planeta, destacando-
se pela alta riqueza, níveis de endemismo e diversidade de ambientes. Entre os organismos
que respondem a esta generalização, estão as aves (Terborgh et al. 1990). Mais
especificamente, são descritas para o Brasil 1801 espécies de aves (Comitê Brasileiro de
Registros Ornitológicos 2007). Grande parte desta riqueza (850 espécies) vive na floresta
Atlântica, sendo pelo menos 181 espécies consideradas endêmicas (Machado e Fonseca 2000;
Myers et al. 2000).
A bacia do rio Doce, localizada na porção sudeste do Brasil, se encontra no contexto da
floresta Atlântica. Nesta região podem ser encontrados vários tipos fitofisionômicos, embora
grande parte tenha desaparecido em razão do processo desordenado de ocupação,
impulsionado por atividades como a mineração e a industrialização (Fonseca et al. 1997).
Apesar do processo de fragmentação florestal na região não ser diferente do que ocorre em
outras áreas do Brasil, ainda podem ser encontrados alguns trechos significativos de floresta
preservados.
Na porção média da bacia, se encontra um destes remanescentes florestais. No Parque
Estadual do Rio Doce (PERD), uma área de 36.000 ha (composta principalmente por florestas
e lagos), estão abrigadas populações de várias espécies com elevado valor de conservação,
tais como Neomorphus geoffroyi, Leucopternis lacernulata e Crypturellus noctivagus
(Birdlife International, 2004). Embora importante, a avifauna do PERD é conhecida por
poucos estudos publicados (Willis e Oniki, 1991; Machado e Fonseca, 2000; Lopes et al.
2005), apesar de dados não-publicados também existirem (Lins 2001).
Sendo assim, realizamos a primeira avaliação sistemática da avifauna de uma área do
PERD e adjacências. Desta forma, duas áreas de 100 ha foram amostradas empregando um
protocolo de amostragem padronizado. Nossos objetivos foram: (1) fornecer dados sobre a
42
composição específica da avifauna de dois trechos do PERD e algumas áreas vizinhas; (2)
comparar a riqueza e a composição específica da avifauna de duas áreas do PERD,
considerando atributos das espécies, tais como graus de sensibilidade, guildas tróficas e
estrato de forrageamento; (3) fornecer dados de abundância relativa das espécies que
ocorreram no PERD.
MÉTODOS
Área de estudo
O trabalho foi realizado em uma área do trecho médio da bacia do rio Doce, leste de
Minas Gerais (Figura 1). Mais especificamente, as amostragens aconteceram em dois locais
do Parque Estadual do Rio Doce (PERD), além de amostragens qualitativas realizadas em
algumas áreas adjacentes desta unidade de conservação. O PERD é uma unidade de
conservação estadual com área total aproximada de 36.000 ha, onde o principal tipo de
vegetação é formado por floresta estacional semidecídua submontana. Este é um dos maiores
trechos preservados de floresta atlântica de baixada do Brasil, incluindo um dos últimos
trechos de floresta primitiva. A área possui altitude média de 350 m. A precipitação média
anual alcança 1.480 mm, com temperatura média anual de 22ºC (de acordo com Köppen,
clima do tipo AW-Tropical Quente Semi-úmido). A região experimenta dois períodos bem
definidos do ano, um composto pela estação seca, entre os meses de maio e setembro, e outro
por uma estação chuvosa (novembro a março).
As amostragens foram realizadas em duas parcelas de floresta de 100 ha cada. A primeira
parcela foi delineada em um trecho de floresta atlântica primária, denominada sítio Lagoa
Preta (19º40’50”S, 42º31’20”W), enquanto outra parcela foi instalada em uma área que sofreu
incêndio há cerca de 14 anos atrás, conhecida como sítio Lagoa Central (19º39’20”S,
42º34’18”W). O estrato médio da vegetação é de 20 m para área de floresta madura e 16 m
43
para o trecho perturbado. A Tabela 1 indica algumas características das duas parcelas
florestais.
Entre as espécies arbóreas mais freqüentes estão Senefeldera multiflora (Euphorbiaceae),
Neoraputia alba (Rutaceae) e Rollinia sylvatica (Annonaceae), todas presentes no trecho de
floresta primária. Ainda, podem ser vistos nesta porção exemplares de grande porte, tais como
Ficus gomelleira (Moraceae), Lecythis pisonis (Lecythidaceae) e Virola gardneri
(Miristicaceae). Por outro lado, entre as espécies freqüentemente observadas na área de
floresta secundária, destacam-se Cecropia sp. (Cecropiaceae), Astrocaryum aculeatissimum
(Arecaceae), além de Typha sp. (Typhaceae), Carex sp. (Cyperaceae), Euterpe edulis Mart.
(Arecaceae).
44
Figura 1: Localização do Parque Estadual do Rio Doce, com sua sede no município de
Marliéria, Minas Gerais, Brasil.
Ao redor da unidade de conservação podem ser encontradas plantações de eucaliptos,
pastagens e áreas urbanas, com poucos remanescentes florestais, sendo a grande maioria de
tamanho reduzido (< 5 ha). Desta forma, as amostragens em alguns trechos adjacentes do
parque foram realizadas a partir deste mosaico de paisagens existentes. Há também algumas
áreas alagadas e lagos em diferentes estágios sucessionais, um dos ambientes típicos da
região.
Tabela 1: Principais características das duas parcelas amostradas de floresta, entre agosto e
dezembro de 2005 e 2006, no Parque Estadual do Rio Doce, Brasil.
Características Floresta Primária Floresta Secundária
Número de ambientes 5 6
% Pontos Borda/Clareira 19.4% 44.4%
Corpos d’água sim sim
Incêndios históricos não sim
Vegetação dominante Mata Alta Primária Mata Média Secundária/Taboal
Amostragens
As coletas nos dois trechos de floresta do PERD foram realizadas entre os meses de agosto e
dezembro dos anos de 2005 e 2006. Visitas complementares foram realizadas durante os
meses de maio, junho e julho destes anos com o intuito de registrar espécies adicionais. Para
as coletas de dados nestes dois trechos, foram estabelecidas seis transecções lineares
paralelas, separadas entre si por 200 m. Cada ponto estabelecido possuía um espaçamento de
45
200 m um do outro. Ao todo, cada transecção linear teve seis pontos. Desta forma, cada seção
de floresta esteve representada por 36 pontos de amostragem. As transecções foram
amostradas quatro vezes por ano cada uma. A inclusão do maior número possível de pontos
em cada parcela de floresta permitiu amostrar diferentes microhabitats, já que as florestas
tropicais são conhecidas pela heterogeneidade de sua estrutura (Tabanez e Viana 2000).
Em cada ponto, a duração da amostragem foi de 10 min. Todas as aves visualizadas e/ou
ouvidas durante este período, sem a limitação da distância de detecção, foram consideradas.
Informações sobre sua posição, situação (vôo, pousada) e direção no quadrante de cada um
dos pontos foram anotadas quando possível. Em cada ponto, foi considerada somente a
presença da espécie. Ao mesmo tempo em que foi realizada a amostragem, os sons foram
registrados por meio de um gravador analógico Sony TCM 5000, empregando fitas de 60 min.
O microfone Sennheiser ME66, do tipo direcional, foi utilizado no registro das espécies. O
microfone foi acoplado a um tripé, sendo rotacionado em 90º a cada 2,5 min. Este
acoplamento permitiu um menor número de interferências provocadas por ruídos no
microfone e/ou no cabo durante o seu manuseio, além de possibilitar a gravação dos sons ao
redor do ponto.
As áreas amostradas adjacentes ao PERD limitaram-se às vias de acesso e algumas
circunvizinhanças. Dentre elas, foi amostrada a APA da Lagoa Silvana (19º30’0”S;
42º25’12”W), uma área com 5.793 ha, criada pelo Decreto-lei n
o
2447 de 27 de fevereiro de
1998. Outras localidades diversas foram consideradas arredores, com registros e observações
esporádicos das espécies vistas e/ou ouvidas. Estes dados não foram considerados nas
avaliações de abundância relativa das espécies, mas fazem parte de uma lista complementar
produzida durante o período de trabalho.
46
Análises dos dados
Para a elaboração das categorias de abundância relativa, foram considerados somente os
dados dos levantamentos da avifauna realizados nos dois trechos de floresta do PERD. O
número médio de contatos de cada espécie foi obtido a partir do somatório do número de
contatos de cada espécie em cada amostragem da localidade (floresta primária ou secundária,
considerando todos os pontos), dividido pelo número de vezes em que este trecho foi
amostrado. Como um critério arbitrário, os valores médios considerados em cada uma das
categorias de abundância relativa se referiram ao número de exemplares registrados, a saber:
(1) espécies comuns, aquelas que possuíram um número médio maior que dez exemplares; (2)
espécies relativamente comuns, aquelas que apresentaram um número entre seis e dez
exemplares; (3) espécies pouco comuns, aquelas que indicaram um número entre dois e cinco
exemplares; (4) espécies esporádicas, com um exemplar.
Para fins de análises, as espécies de aves foram agrupadas em três categorias de guildas de
forrageamento, de acordo com Parker et al. (1996): estrato inferior (espécies terrícolas e de
sub-bosque); estrato médio; estrato superior ou dossel. Somente foram incluídas nas análises
espécies terrestres e florestais. Espécies observadas somente voando não foram consideradas.
Quando uma ave possuiu mais de um tipo de habitat, foi considerado aquele mais observado
em literatura (Willis 1979; Parker et al. 1996; Anjos et al. 1997; Sick 1997; Anjos e Boçon
1999; Simon et al. 1999; Ribon et al. 2003).
As espécies também foram incluídas em diferentes categorias tróficas (Willis 1979;
Remsen et al. 1993; Sick 1997; Ribeiro 2001; Ribon et al. 2003; Manhães 2007), sendo:
insetívoras (I), espécies de aves que consomem artrópodes, podendo ou não complementar a
sua dieta com frutos; onívoras (O), as aves que se alimentam de tipos diversificados de itens
alimentares em proporções relativamente similares; nectarívoras (N), espécies consumidoras
de néctar, complementando a sua dieta através da ingestão de pequenos insetos; frugívoras
47
(F), aquelas que ingerem frutos e/ou sementes; carnívoras (C), as aves que realizam o
consumo de animais através de caça ativa; granívoras (G), as espécies que ingerem
basicamente sementes. O endemismo das espécies foi considerado a partir de Parker et al.
(1996). Os graus de ameaça de cada espécie em termos global (Birdlife International 2006) e
local (Fundação Biodiversitas 2007) podem ser consultados na Tabela 3.
Considerando o número de ambientes em que cada espécie foi observada, foi criado o
seguinte sistema de classificação: (i) espécies generalistas, foram aquelas que ocorreram em
quatro ou mais tipos de ambientes; (ii) espécies relativamente generalistas, aquelas que foram
observadas em três diferentes tipos de ambientes; (iii) espécies relativamente especialistas,
aquelas espécies observadas em dois tipos de ambientes; (iv) espécies especialistas, aquelas
observadas em apenas um ambiente. A determinação de cada uma das categorias foi realizada
de forma arbitrária.
Com o intuito de comparar o número de espécies registradas em cada um dos trechos de
floresta, foi empregado o teste χ
2
(p < 0,05). Uma tabela de contingência foi utilizada para
verificar possíveis diferenças quanto ao número de espécies de aves de cada uma das
categorias (trófica e estrato de forrageamento) entre as duas seções de floresta amostradas (p
< 0,05). A hipótese de nulidade de nenhuma diferença quanto ao número de espécies
presentes entre os diferentes trechos de floresta e entre as guildas foi testada. O índice de
Sørensen verificou o grau de similaridade entre as duas comunidades de aves (Magurran
2004).
RESULTADOS
Riqueza de espécies no médio rio Doce
Ao todo foram detectadas 213 espécies de aves (Tabela 3), pertencentes a 48 famílias, a partir
de 110 horas de esforço de observação (60 horas no PERD e 50 horas nas suas adjacências).
48
Das 213 espécies, 65 espécies ocorreram exclusivamente no PERD. Entre os ambientes mais
ricos, as florestas (159 espécies) e as capoeiras (95 espécies) foram aqueles que mais se
destacaram (Tabela 2). De acordo com os dados, as florestas também foram os ambientes que
abrigaram o maior número de espécies exclusivas (86 espécies). Entre as espécies de aves,
67,85% ocorreram preferencialmente no interior da floresta (distantes pelo menos 50 m da
borda), e 32,17% foram observadas no interior e/ou borda. O ambiente com o menor número
de espécies foi o de eucaliptos (7 espécies). Porém, como este trabalho não amostrou cada um
dos ambientes de forma equitativa, o número de espécies provavelmente foi subestimado.
Tabela 2. Número de espécies registradas no Parque Estadual do Rio Doce e adjacências,
Brasil, durante os anos de 2005 e 2006, em cada um dos ambientes investigados. As espécies
ameaçadas/quase ameaçadas estão de acordo com Birdlife International (2007).
Ambientes n
o
de
espécies
Número de
Espécies
Exclusivas
N
o
de Espécies Ameaçadas/ Quase
ameaçadas
a
Florestas 159 86 20
Capoeiras 95 2 0
Campos/pastagens 29 10 0
Brejos 34 4 0
Lagos 16 5 0
Eucaliptos 7 0 0
a
Número total de espécies nos níveis global e local considerando os diferentes graus de
ameaça (Birdlife International 2007; Fundação Biodiversitas 2007).
49
Avifauna no PERD
O total de 162 espécies de aves foram detectadas nos dois trechos amostrados de floresta.
Outras 4 espécies foram vistas em áreas próximas somente em incursões fora do período de
amostragem (Thamnophilus palliatus, Todirostrum poliocephalum, Vireo olivaceus e Cissopis
leverianus). Entre as espécies com ocorrência no PERD, se destacaram Tinamus solitarius,
Crypturellus noctivagus, Odontophorus capueira, Leucopternis polionotus, Leucopternis
lacernulatus, Spizaetus ornatus, Spizaetus tyrannus, Pyrrhura cruentata, Dysithamnus
plumbeus e Neopelma aurifrons (Tabela 3).
TABELA 3. Categorias de abundância relativa, tipo de detecção, habitat e status das
espécies de aves de um trecho do Parque Estadual do Rio Doce e adjacências.
Os registros consideraram as amostragens realizadas em floresta primária (FP), floresta
secundária (FS) e áreas de entorno (E) da unidade de conservação. Nas localidades indicadas
por um (x) as espécies não foram consideradas entre as categorias de abundância relativa.
Categorias de abundância relativa: 1- comum, com o número médio de contatos maior que
dez aves; 2- relativamente comum, com o número médio de contatos entre seis e dez aves; 3-
pouco comum, com o número médio de contatos entre duas e cinco aves; 4- esporádica, onde
somente uma ave é detectada. O espaço em branco significa nenhuma detecção. Método de
detecção (D): v-visual, a-auditivo. Habitat: fl- florestal, bf- borda de floresta, cp- capoeiras,
ca- campos, la- lagos, br- brejos e áreas alagadas, eu- eucaliptos. Status de ameaça, situação
global e local* (IUCN 2007; Fundação Biodiversitas 2007): (CR) Criticamente em Perigo,
(EN) Em Perigo, (Vu) Vulnerável, (NT) Quase ameaçada e (DD) Deficiente em dados.
Seqüência e nomenclatura (científica e popular) seguem CBRO (2007).
50
Abundância relativa
Taxa
(nome popular)
FP FS E
D Habitat Status
TINAMIDAE
Tinamus solitarius
(macuco)
2 3 - v,a fl NT
EN*
Crypturellus soui
(tururim)
2 - - a fl
Crypturellus obsoletus
(inhambuguaçu)
2 3 x a fl
Crypturellus noctivagus
(jaó-do-sul)
1 3 - a fl NT
EN*
Crypturellus tataupa
(inhambu-chintã)
3 2 x a fl,cp
ANHIMIDAE
Anhima cornuta
(anhuma)
- - x a br
ANATIDAE
Dendrocygna viduata
(irerê)
- - x br, la
CRACIDAE
Penelope superciliaris
(jacupemba)
3 2 x v,a fl,cp
Penelope obscura
(jacuaçu)
- - x v fl
ODONTOPHORIDAE
51
Odontophorus capueira
(uru)
2 3 - v,a fl EN*
PHALACROCORACIDAE
Phalacrocorax brasilianus
(biguá)
- - x la
ARDEIDAE
Tigrisoma lineatum
(socó-boi)
- - x v la
Nycticorax nycticorax
(savacu)
- - x v,a la
Butorides striata
(socozinho)
- - x v la,br
Bubulcus ibis
(garça-vaqueira)
- - x v ca,br
Ardea alba
(garça-branca-grande)
- - x v ca,br
Egretta thula
(garça-branca-pequena)
- - x v la,br
THRESKIORNITHIDAE
Mesembrinibis cayennensis
(coro-coró)
4 - x v,a br
CATHARTIDAE
Cathartes aura
(urubu-da-cabeça-vermelha)
2 1 x v fl,bf,br,ca
52
Cathartes burrovianus
(urubu-da-cabeça-amarela)
2 2 x v fl,bf,br
Coragyps atratus
(urubu-de-cabeça-preta)
1 1 x v fl,bf,br,ca,
cp
Sarcoramphus papa
(urubu-rei)
3 3 - v fl,bf DD*
ACCIPITRIDAE
Leptodon cayanensis
(gavião-de-cabeça-cinza)
2 - - v,a fl
Elanoides forficatus
(gavião-tesoura)
- 3 x v bf,cp,eu
Harpagus diodon
(gavião-bombachinha)
- - x v fl,bf
Ictinia plumbea
(sovi)
4 3 x v,a fl,bf,eu
Leucopternis lacernulatus
(gavião-pombo-pequeno)
3 - - v,a fl VU
CR*
Leucopternis polionotus
(gavião-pombo-grande)
3 4 - v,a fl NT
CR*
Rupornis magnirostris
(gavião-carijó)
3 1 x v,a fl,bf,cp
Buteo albicaudatus
(gavião-de-rabo-branco)
- - x v,a bf,cp,ca
Spizaetus tyrannus
(gavião-pega-macaco)
3 - - a fl EN*
53
Spizaetus melanoleucus
(gavião-pato)
2 3 x v,a fl,bf EN*
Spizaetus ornatus
(gavião-de-penacho)
4 - - a fl EN*
FALCONIDAE
Caracara plancus
(caracará)
- 2 x v,a bf,cp,ca
Milvago chimachima
(carrapateiro)
4 2 x v,a bf,cp,ca,br
Herpetotheres cachinnans
(acauã)
3 2 x v,a fl,bf,cp,br
Micrastur semitorquatus
(falcão-relógio)
2 2 x v,a fl
Falco sparverius
(quiriquiri)
- - x v,a ca
Falco rufigularis
(cauré)
2 x v fl,bf
Falco femoralis
(falcão-de-coleira)
- - x v cp,ca
RALLIDAE
Aramides saracura
(saracura-do-mato)
4 3 x v,a fl,bf,la,br
Pardirallus nigricans
(saracura-sanã)
2 2 x v,a bf, br
54
Porzana albicollis
(sana-carijó)
- - x v,a la,br
Gallinula chloropus
(frango-d’água-comum)
- - x v,a la
CARIAMIDAE
Cariama cristata
(seriema)
- - x v,a cp,ca
C
HARADRIIDAE
Vanellus chilensis
(quero-quero)
- - x v,a ca,la
J
ACANIDAE
Jacana jacana
(jaçanã)
1 1 x v,a la
COLUMBIDAE
Columbina talpacoti
(rolinha-roxa)
- 2 x v,a cp,ca
Columbina picui
(rolinha-picui)
- 2 x a cp,br
Claravis pretiosa
(pararu-azul)
2 - - v,a bf,cp
Patagioenas picazuro
(pombão)
2 1 x v,a fl,bf,cp
Patagioenas cayennensis
(pomba-galega)
2 2 x v,a fl,bf
55
Leptotila verreauxi
(juriti-pupu)
- 2 x a bf,cp
Leptotila rufaxilla
(juriti-gemedeira)
- 2 x a bf,cp
Geotrygon montana
(pariri)
2 2 x v,a fl,bf
PSITTACIDAE
Primolius maracana
(maracanã-verdadeira)
1 2 x v,a fl,bf NT
Aratinga leucophthalma
(periquitão-maracanã)
- 2 x v,a fl,bf,cp
Aratinga auricapillus
(jandaia-de-testa-vermelha)
2 3 - v,a fl NT
Aratinga aurea
(periquito-rei)
2 2 - v,a fl,bf
Pyrrhura cruentata
(tiriba-grande)
4 - - a fl VU
CR*
Pyrrhura frontalis
(tiriba-de-testa-vermelha)
3 - - v,a fl
Forpus xanthopterygius
(tuim)
- - x v bf,cp,ca
Pionus maximiliani
(maitaca-verde)
2 2 x v,a fl,bf,cp
Amazona farinosa
(papagaio-moleiro)
1 2 x v,a fl CR*
56
CUCULIDAE
Piaya cayana
(alma-de-gato)
2 2 x v,a fl,bf
Crotophaga major
(anu-coroca)
- 2 x v,a bf,la,br
Crotophaga ani
(anu-preto)
- 2 x v,a bf,cp
Guira guira
(anu-branco)
- 2 x v,a bf,cp
Tapera naevia
(saci)
- 2 x a cp
STRIGIDAE
Megascops choliba
(corujinha-do-mato)
- - x v bf
Megascops atricapilla
(corujinha-sapo)
3 - - a fl DD*
Pulsatrix koeniswaldiana
(murucututu-de-barriga-amarela)
2 - - a fl
Glaucidium minutissimum
(caburé-miudinho)
1 2 - a fl VU*
Glaucidium brasilianum
(caburé)
1 2 x v,a fl
Athene cunicularia
(coruja-buraqueira)
- - x v,a ca
NYCTIBIIDAE
57
Nyctibius griseus
(mãe-da-lua)
- 3 - v,a fl,bf
CAPRIMULGIDAE
Lurocalis semitorquatus
(tuju)
4 - - a fl
Nyctiphrynus ocellatus
(bacurau-ocelado)
- 2 x a fl
Nyctidromus albicollis
(bacurau)
- 2 x v,a bf,cp
APODIDAE
Streptoprocne zonaris
(taperaçu-de-coleira-branca)
- - x v ca
TROCHILIDAE
Glaucis hirsutus
(balança-rabo-de-bico-torto)
- 3 - v,a fl
Phaethornis idaliae
(rabo-branco-mirim)
1 1 - v,a fl DD*
Phaethornis ruber
(rabo-branco-rubro)
- 2 x v,a fl,bf,cp
Eupetomena macroura
(beija-flor-tesoura)
- - x v,a bf, cp, ca
Aphantochroa cirrhochloris
(beija-flor-cinza)
- - x v bf
Chlorostilbon lucidus
(besourinho-de-bico-vermelho)
- 2 x v,a bf,cp,ca,br
58
Hylocharis cyanus
beija-flor-roxo
3 2 - v,a bf,cp
Amazilia fimbriata
(beija-flor-de-garganta-verde)
- 3 x v,a fl,bf,cp
Amazilia lactea
(beija-flor-de-peito-azul)
- 2 x v,a fl,bf,cp
TROGONIDAE
Trogon viridis
(surucuá-grande-de-barriga-amarela)
1 2 x v,a fl,bf
ALCEDINIDAE
Megaceryle torquata
(martim-pescador-grande)
- - x v bf,la
MOMOTIDAE
Baryphthengus ruficapillus
(juruva-verde)
1 3 - v,a fl
G
ALBULIDAE
Galbula ruficauda
(ariramba-de-cauda-ruiva)
- 2 x v,a bf,cp,la,br
R
AMPHASTIDAE
Ramphastos vitellinus
(tucano-de-bico-preto)
2 3 - v,a fl DD*
Pteroglossus aracari
(araçari-de-bico-branco)
2 2 x v,a fl,bf,cp
PICIDAE
59
Picumnus cirratus
(pica-pau-anão-barrado)
3 2 x v,a fl,bf,cp,br
Melanerpes flavifrons
(benedito-de-testa-amarela)
2 3 - v,a fl,bf VU*
Veniliornis maculifrons
(picapauzinho-de-testa-pintada)
3 2 x v,a fl
Veniliornis passerinus
(picapauzinho-anão)
4 4 - v,a fl
Piculus flavigula
(pica-pau-bufador)
3 - - a fl
Colaptes campestris
(pica-pau-do-campo)
- - x v,a cp,ca
Celeus flavescens
(pica-pau-de-cabeça-amarela)
2 2 - v,a fl
Dryocopus lineatus
(pica-pau-de-banda-branca)
2 3 - v,a fl
Campephilus robustus
(pica-pau-rei)
3 3 - v,a fl
THAMNOPHILIDAE
Taraba major
(choro-boi)
- 3 x v,a cp
Thamnophilus palliatus
(choca-listrada)
- x x v cp,br
Thamnophilus ambiguus
(choca-de-sooretama)
3 2 x v,a bf,cp,br
60
Dysithamnus plumbeus
(choquinha-chumbo)
2 3 - v,a fl VU
VU*
Myrmotherula axillaris
(choquinha-de-flanco-branco)
2 2 x v,a fl,bf,cp
Herpsilochmus rufimarginatus
(chorozinho-de-asa-vermelha)
3 3 - a fl
Drymophila squamata
(pintadinho)
3 - - a fl
CONOPOPHAGIDAE
Conopophaga melanops
(cuspidor-de-máscara-preta)
3 4 - a fl
DENDROCOLAPTIDAE
Dendrocincla turdina
(arapacu-liso)
2 3 - v,a fl
Sittasomus griseicapillus
(arapaçu-verde)
2 3 - v,a fl
Xiphocolaptes albicollis
(arapaçu-de-garganta-branca)
2 - - a fl
Dendrocolaptes platyrostris
(arapaçu-grande)
3 - - a fl
Xiphorhynchus fuscus
(arapaçu-rajado)
2 4 - v,a fl
Lepidocolaptes squamatus
(arapaçu-escamado)
- 3 x v,a fl,bf
FURNARIIDAE
61
Furnarius rufus
(joão-de-barro)
- - x v,a ca
Synallaxis spixi
(João-teneném)
4 3 x a bf,cp,br
Certhiaxis cinnamomeus
(curutié)
3 3 x v,a bf,cp,br
Phacellodomus rufifrons
(joão-de-pau)
- 3 x v,a cp,ca
Automolus leucophthalmus
(barranqueiro-de-olho-branco)
3 3 x v,a fl
Xenops minutus
(bico-virado-miúdo)
3 3 - v,a fl
Xenops rutilans
(bico-virado-carijó)
3 2 x v,a fl,bf,cp
TYRANNIDAE
Mionectes rufiventris
(abre-asa-de-cabeça-cinza)
- 3 - a fl
Leptopogon amaurocephalus
(cabeçudo)
- 3 - a fl
Todirostrum poliocephalum
(teque-teque)
- x x v f,bf
Phyllomyias fasciatus
(piolhinho)
- 3 - a bf,cp
Myiopagis caniceps
(guaracava-cinzenta)
3 - - a fl,bf
62
Elaenia flavogaster
(guaracava-de-barriga-amarela)
2 2 x v,a bf,cp,eu
Elaenia albiceps
(guaracava-de-crista-branca)
3 - - v,a bf
Camptostoma obsoletum
(risadinha)
2 1 x v,a fl,bf,cp,eu
Serpophaga subcristata
(alegrinho)
- 3 x a bf,cp
Capsiempis flaveola
(marianinha-amarela)
- - x v bf
Myiornis auricularis
(miudinho)
2 1 x v,a fl,bf,cp
Rhynchocyclus olivaceus
(bico-chato-grande)
3 - - v,a fl EN*
Tolmomyias sulphurescens
(bico-chato-de-orelha-preta)
2 1 x a fl,cp
Hirundinea ferruginea
(gibão-de-couro)
- 2 x v,a cp,eu
Lathrotriccus euleri
(enferrujado)
3 1 x v,a bf,cp
Cnemotricccus fuscatus
(guaracavuçu)
3 2 x v,a bf,cp
Satrapa icterophrys
(suiriri-pequeno)
- 3 x v,a cp,br
63
Fluvicola nengeta
(lavadeira-mascarada)
- 2 x v,a br
Arundinicola leucocephala
(freirinha)
- - x v cp,br
Machetornis rixosa
(suiriri-cavaleiro)
- - x v ca
Legatus leucophaius
(bem-te-vi-pirata)
3 - - a bf,cp
Myiozetetes cayanensis
(bentevizinho-de-asa-ferrugínea)
3 2 x a bf,cp
Myiozetetes similis
(bentevizinho-de-penacho-vermelho)
2 2 x v,a bf,cp,br,eu
Pitangus sulphuratus
(bem-te-vi)
2 1 x v,a fl,bf,cp,br,
eu
Myiodynastes maculatus
(bem-te-vi-rajado)
3 2 x v,a fl,bf,cp
Megarynchus pitangua
(neinei)
2 2 x v,a fl,bf,cp,br,
eu
Tyrannus melancholicus
(suiriri)
3 2 x v,a fl,bf,cp,br,
eu
Rhytipterna simplex
(vissiá)
2 3 - a fl VU*
Sirystes sibilator
(gritador)
2 3 - a fl
64
Myiarchus tuberculifer
(maria-cavaleira-pequena)
2 2 x a bf,cp
Myiarchus ferox
(maria-cavaleira)
- 2 x v,a cp,br
Attila rufus
(capitão-de-saíra)
3 3 - v,a fl
COTINGIDAE
Pyroderus scutatus
(pavó)
2 2 x v,a fl,bf NT*
PIPRIDAE
Neopelma aurifrons
(fruxu-baiano)
1 3 - v,a fl VU
DD*
Manacus manacus
(maria-rendeira)
3 2 x v,a fl,bf,br
TITYRIDAE
Schiffornis turdina
(flautim-marrom)
3 3 - v,a fl VU*
Tityra inquisitor
(anambé-branco-de-bochecha-parda)
2 2 - v,a fl
Pachyramphus polychopterus
(caneleiro-preto)
2 2 x v,a fl,bf
Pachyramphus marginatus
(caneleiro-bordado)
4 - - a fl DD
VIREONIDAE
65
Cyclarhis gujanensis
(pitiguari)
3 2 x v,a bf,cp
Vireo olivaceus
(juruviara)
x x - v,a f,bf
Hylophilus poicilotis
(verdinho-coroado)
- 3 - a fl,cp
HIRUNDINIDAE
Tachycineta albiventer
(andorinha-do-rio)
- - x v br,la
Progne tapera
(andorinha-do-campo)
- 3 x v cp,ca,br
Progne chalybea
(andorinha-doméstica-grande)
- - x v cp,ca
Pygochelidon cyanoleuca
(andorinha-pequena-de-casa)
- - x v cp,ca
Stelgidopteryx ruficollis
(andorinha-serradora)
- - x v cp,ca
TROGLODYTIDAE
Troglodytes musculus
(corruíra)
- - x v,a cp,ca
Pheugopedius genibarbis
(garrinchão-pai-avô)
4 1 x v,a bf,cp,br
TURDIDAE
Turdus flavipes
(sabiá-una)
- 3 - v bf,cp,br
66
Turdus rufiventris
(sabiá-laranjeira)
- 2 x v,a bf,cp
Turdus leucomelas
(sabiá-barranco)
- 2 x v,a bf,cp,eu
Turdus amaurochalinus
(sabiá-poca)
- 2 x v,a bf,cp,eu
MIMIDAE
Mimus saturninus
(sabiá-do-campo)
- - x v,a cp,ca
MOTACILLIDAE
Anthus lutescens
(caminheiro-zumbidor)
- - x v,a br
COEREBIDAE
Coereba flaveola
(cambacica)
- - x v,a bf,cp
T
HRAUPIDAE
Cissopis leverianus
(tietinga)
- x - v f,bf
Thlypopsis sordida
(saí-canário)
- 2 x v bf,cp
Habia rubica
(tiê-do-mato-grosso)
3 - - a fl
Tachyphonus cristatus
(tiê-galo)
2 2 x v,a fl,bf
67
Ramphocelus carbo
(pipira-vermelha)
3 2 x v,a fl,bf
Thraupis sayaca
(sanhaçu-cinzento)
2 2 x v,a fl,bf,cp
Thraupis palmarum
(sanhaçu-do-coqueiro)
- 2 x v,a bf,cp
Pipraeidea melanonota
(saíra-viúva)
2 2 - v,a fl,bf,cp
Tangara seledon
(saíra-sete-cores)
2 2 x v,a fl,bf,cp
Tangara cayana
(saíra-amarela)
2 1 x v fl,bf
Tersina viridis
(saí-andorinha)
2 2 x v,a fl,bf,cp
Dacnis cayana
(saí-azul)
1 1 x v,a fl,bf,cp
Hemithraupis ruficapilla
(saíra-ferrugem)
2 3 - a fl,bf
Hemithraupis flavicollis
(saíra-galega)
2 3 - v,a fl,bf DD*
Conirostrum speciosum
(figuinha-de-rabo-castanho)
2 2 x v,a fl,bf
EMBERIZIDAE
Zonotrichia capensis
(tico-tico)
- - x v,a cp,ca
68
Ammodramus humeralis
(tico-tico-do-campo)
- - x v cp,ca
Sicalis flaveola
(canário-da-terra-verdadeiro)
- - x v ca
Volatinia jacarina
(tiziu)
- - x v,a cp,ca,br
Sporophila caerulescens
(coleirinho)
- - x v cp,br
Paroaria dominicana
(cardeal-do-nordeste)
- - x v ca
CARDINALIDAE
Caryothraustes canadensis
(furriel)
4 - - v,a fl
Saltator maximus
(tempera-viola)
- 1 x v,a bf,cp
I
CTERIDAE
Cacicus haemorrhous
(guaxe)
1 1 x v,a fl,bf,cp,br
Gnorimopsar chopi
(graúna)
- - x v,a cp,br
Molothrus bonariensis
(vira-bosta)
- - x v ca
F
RINGILLIDAE
Carduelis magellanica
(pintassilgo)
- 3 x v,a cp,br DD*
69
Euphonia chlorotica
(fim-fim)
3 2 x a fl,bf
Euphonia violacea
(gaturamo-verdadeiro)
2 - - v,a fl
Euphonia pectoralis
(ferro-velho)
3 - - a fl
Estrilda astrild
(bico-de-lacre)
- - x v ca
Passer domesticus
(pardal)
- - x v,a ca
Total de espécies/área 120 136 147 - - -
Foram observadas 120 espécies no trecho de floresta primária, e 136 espécies na área de
floresta secundária. Considerando o número de horas empregadas nas amostragens dos
pontos, não houve uma tendência de estabilização da curva cumulativa de espécies (Figura 2).
A porcentagem de espécies especialistas no trecho de floresta primária foi de 47,4%,
contrastando com 27,9% de espécies especialistas presentes na floresta secundária (Figura 3).
Além disto, o coeficiente de similaridade de Sørensen indicou que os trechos investigados de
floresta foram somente 41,7% similares em relação a sua composição de espécies. A floresta
primária também abrigou proporcionalmente o maior número de aves com sensibilidade
média e alta (χ
2
= 3,930; df = 1; p = 0,0474; Tabela 4), quando comparada ao outro trecho
(Figura 4). No entanto, esta diferença não foi corroborada quando as duas seções de floresta
foram comparadas empregando as três categorias de sensibilidade (χ
2
= 5,603; df = 2; p =
0,0607).
70
0
20
40
60
80
100
120
140
160
4 8 12 16 22 26 32 36 42 48 54 56
Hora s de obse rva çã o
Número de espécies
Floresta Madura Floresta Perturbada
Figura 2: Curva cumulativa de espécies de aves obtida a partir das duas localidades
amostradas do Parque Estadual do Rio Doce, Brasil, nos anos de 2005 e 2006 (floresta
madura x floresta perturbada).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Generalistas Relativamente
generalistas
Relativamente
especialistas
Especialistas
(%)
Floresta primária
Floresta secundária
Figura 3: Proporção de espécies de aves observadas em relação à ocorrência nos diferentes
ambientes das duas parcelas de floresta investigadas do Parque Estadual do Rio Doce, Minas
Gerais, Brasil.
71
Em relação às categorias tróficas, os insetívoros se destacaram em ambos os trechos.
Além disto, insetívoros e onívoros apresentaram proporções similares de espécies nos dois
diferentes estágios sucessionais de floresta (Figura 5). Entre aqueles grupos que mostraram
pequenas diferenças, estão os carnívoros e os nectarívoros.
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
Floresta Primária Floresta Secundária
Alta
dia
Baixa
Figura 4: Proporção de espécies detectadas com sensibilidade alta, média e baixa a partir de
dois trechos amostrados de floresta atlântica de baixada, sudeste do Brasil.
Os carnívoros (18 espécies) estiveram mais bem representados no trecho de floresta primária,
enquanto que os nectarívoros na porção de floresta perturbada (7 espécies). Nenhuma
diferença foi observada quanto ao número de espécies presentes em cada uma das guildas em
relação ao tipo de floresta (χ
2
= 4,754; df = 5; p = 0,446; Tabela 4).
Com relação ao estrato de forrageamento, o número de espécies de aves presentes nos
diferentes estratos das duas florestas não diferiu entre si (χ
2
= 2,220; df = 2; p = 0,3295;
Tabela 4). O dossel da floresta foi o compartimento com o maior número de espécies em
ambos os trechos (floresta primária 50,92%; floresta secundária 41,07%). Por outro lado,
quando comparações foram realizadas dentro da mesma floresta, foram observadas algumas
72
diferenças. Tanto na floresta primária (χ
2
= 14,142; df = 1; p = 0,0001), quanto na floresta
secundária (χ
2
= 3,853; df = 1; p = 0,049) um maior número de espécies esteve presente no
dossel em relação ao estrato médio de cada um dos estandes investigados.
Tabela 4: Número de espécies de aves nos trechos de floresta primária e secundária do Parque
Estadual do Rio Doce, Brasil, considerando dados de sua ocorrência em relação aos graus de
sensibilidade, categorias tróficas e estrato de forrageamento.
Floresta Primária Floresta Secundária
Grau de sensibilidade
Alta 15 9
Média 58 56
Baixa 47 71
Categorias tróficas
Insetívoros 44 49
Onívoros 35 39
Frugívoros 21 24
Carnívoros 18 15
Nectarívoros 2 7
Granívoros 0 2
Estrato de forrageamento
Dossel 55 46
Médio 22 29
Sub-bosque 31 37
73
0
5
10
15
20
25
30
35
40
FOC I N
(%)
Floresta primária
Floresta Secundária
Figura 5: Representatividade das guildas tróficas nos dois trechos da Floresta Atlântica de
baixada do sudeste do Brasil. Abreviações: F- frugívoro, O- onívoro, C- carnívoro, I-
insetívoro, N- nectarívoro.
Associado a isto, o número de espécies de aves presentes no dossel da floresta primária em
comparação ao seu sub-bosque também diferiu (χ
2
= 6,697; df = 1; p = 0,009). Não foram
verificadas diferenças na riqueza de aves entre os estratos médio e o sub-bosque da floresta
primária (χ
2
= 1,528; df = 1; p = 0,2163). No trecho de floresta secundária também não foram
observadas diferenças entre o sub-bosque e os outros dois estratos florestais (sub-bosque x
dossel: χ
2
= 0,975; df = 1; p = 0,323; sub-bosque x estrato médio: χ
2
= 0,969; df = 1; p =
0,324).
Cerca de 20 das 213 espécies de aves registradas foram mencionadas em listas de espécies
ameaçadas. No contexto global, nove espécies estão incluídas em algumas das categorias de
ameaça ou quase ameaçadas. Dentre estas, destacam-se L. lacernulatus, P. cruentata, D.
plumbeus e N. aurifrons. Entre aquelas mencionadas em listas regionais de espécies
ameaçadas, podemos citar T. solitarius, C. noctivagus e L. polionotus. Algumas espécies são
74
mencionadas em ambas as listas, contudo podendo variar sua categoria de ameaça (p. ex, T.
solitarius, C. noctivagus, L. lacernulatus e L. polionotus). Além dos táxons supracitados, oito
espécies possuem deficiência de dados no âmbito regional, sendo estas Sarcoramphus papa,
Phaethornis idaliae, Ramphastos vitellinus, Pachyramphus marginatus e Hemithraupis
flavicollis.
Entre as espécies consideradas ameaçadas, Spizaetus melanoleucus, Primolius maracana,
Amazona farinosa e Pyroderus scutatus foram observadas fora dos limites do PERD. S.
melanoleucus pode ser vista comumente forrageando nas bordas da unidade de conservação
(até 1 km de distância do PERD), incluindo junto a áreas urbanas. Além desta última, P.
maracana, A. farinosa e P. scutatus também foram registradas fora do PERD (p. ex, margem
direita do rio Doce, lagoa Silvana).
Discussão
Riqueza de espécies no médio rio Doce
A região do médio rio Doce é uma das áreas mais ricas em diversidade biológica do estado de
Minas Gerais (Fonseca 1997). Em um raio de 60 km, ocorrem diferentes gradientes
ambientais, propiciados por mudanças na topografia, clima e paisagem. Esta heterogeneidade
ambiental proporciona um aumento no número de habitats, permitindo a coexistência de
várias espécies como um resultado dos seus ajustamentos ecológico-evolutivos (Karr et al.
1990; Goerck 1997; Thiolllay 1999; Sodhi et al. 2004).
O esforço amostral empregado permitiu a detecção de 213 espécies de aves. A riqueza de
espécies estimada para a área é de 300 espécies (Machado e Fonseca 2000). Conhecer toda a
comunidade de aves de uma região tropical nunca foi uma tarefa fácil. Normalmente, os
investigadores experimentam efeitos da autoecologia das espécies, como a sua raridade
intrínseca (Goerck 1997), além de aspectos da sua distribuição espacial (Terborgh et al. 1990;
75
Graham e Blake 2001; Blake 2007). Assim, nem todas as espécies serão facilmente
observadas, já que ocorre variação nas probabilidades de detecção de cada uma delas
(Buckland 2006).
Embora não tenha sido realizado um censo regional, o número de espécies detectadas
pode ser considerado expressivo. Alguns grupos e famílias provavelmente foram
subestimados, já que não foram empregadas metodologias específicas de amostragem. Dentre
elas, destacamos as espécies aquáticas (p. ex, marrecos, patos), noturnas (p. ex, curiangos e
corujas) e aéreos (p. ex, andorinhas), além de espécies campestres (emberezídeos). Ambientes
como os de eucaliptos e pastagens, por exemplo, também não foram intensivamente
investigados. Apesar disto, nossos dados coincidiram com Marsden et al. (2001) que também
encontraram um baixo número de espécies (6 espécies) associadas a eucaliptais em uma outra
área do sudeste do Brasil.
Conforme previsto em diferentes regiões dos trópicos (Karr et al. 1990; Terborgh et al.
1990; Thiollay 1999; Anjos 2001; Ribon et al. 2003; Blake 2007; Cintra et al. 2007), os
trechos de floresta investigados foram ricos em espécies. Nossos dados corroboraram este
atributo, considerando que 74,64% de todas as espécies observadas estiveram ligadas às
florestas. Outro ambiente que mereceu destaque foram as capoeiras, cujo incremento do
estágio sucessional disponibilizou novos recursos. Como exemplo, podemos citar as espécies
(p. ex., Pteroglossus aracari) que continuamente foram vistas se alimentando em Cecropia
sp. (40 espécies).
Avifauna no PERD
Os escassos levantamentos ornitológicos conhecidos para o PERD podem ser caracterizados
como superficiais (Willis e Oniki 1991; Machado e Fonseca 2000), apesar da existência de
dados não publicados (Lins 2001). Embora tenham sido realizados em diferentes épocas,
somente o trabalho de Machado e Fonseca (2000) apresentou um esforço de investigação
76
maior, porém empregando redes de neblina. Willis e Oniki (1991), em um levantamento
rápido (três dias), observaram em duas áreas do parque cerca de 140 espécies, onde 100
espécies foram comuns ao nosso trabalho. Algumas prováveis causas de tal diferença podem
ser sugeridas, tais como as dificuldades de detecção de algumas espécies (p. ex,
Falconiformes), associadas a diferenças no esforço de observação. Além disso, diferenças
físicas entre cada um dos ambientes amostrados, efeitos temporais (p. ex, mudanças na
interação entre as espécies), bem como interferências antrópicas podem ter contribuído para
as discrepâncias encontradas (Willis e Oniki 1978; Thiollay 1999; Ribon et al. 2003;
Maldonado-Coelho e Marini 2004; Barlow et al. 2006).
Conforme indicado pelos resultados, o trecho de floresta primária apresentou uma riqueza
de espécies menor em relação à floresta secundária. Um dos aspectos que pode melhor
explicar estes resultados se refere à heterogeneidade ambiental. O estande de amostragem da
floresta secundária possuiu um maior número de ambientes quando comparado ao trecho de
floresta primária. Além do mais, cerca de 44,4% dos pontos amostrados no trecho de floresta
secundária estiveram relacionados a áreas de clareiras e bordas, permitindo a ocorrência de
espécies típicas destes ambientes. Thiollay (1999), em um trecho da Amazônia, notou que
várias espécies de aves de interior da floresta desapareceram como um efeito da criação das
bordas. De acordo com este autor, a criação destes novos ambientes favoreceu espécies não-
florestais, aumentando a diversidade biológica local. Os dados sugerem que a hipótese do
distúrbio intermediário seria responsável por estas diferenças, já que as localidades onde este
efeito se manifesta podem suportar um número maior de espécies (Cushman e MacGarigan
2003).
Por outro lado, o trecho de floresta primária foi extremamente importante para a
manutenção de espécies exigentes em relação ao grau de conservação dos ambientes. As
reservas legalmente protegidas auxiliam na proteção de espécies sensíveis, já que são maiores,
77
melhor preservadas e limitam as atividades antrópicas em relação às propriedades
particulares, especialmente na área de floresta Atlântica (Viana et al. 1997; Ranta et al. 1998).
Estes atributos são valiosos para a conservação de populações viáveis de espécies sensíveis, já
que minimizam os efeitos ligados ao tamanho do fragmento e da intolerância à alteração de
habitat (Parker III e Goerck 1997; Marsden et al. 2001; Ribon et al. 2003; Simon 2006).
As guildas, como grupos funcionais, podem fornecer importantes respostas quanto a
alterações em uma comunidade biológica (Thiollay 1999; Haugaasen et al. 2003; Anjos 2006;
Gray et al. 2007). Entre os grupos funcionais tróficos, as espécies de aves insetívoras
florestais normalmente respondem negativamente à alteração de habitat (Stouffer e
Bierregaard 1995a; Sekercioglu et al. 2002; Haugaasen et al. 2003). Outro grupo sensível a
modificações é o grupo dos grandes frugívoros, já que possuem a tendência de desaparecer de
pequenos fragmentos, incluindo áreas com baixa qualidade de habitat (Thiollay 1999;
Marsden et al. 2001; Sodhi et al. 2004; Gray et al. 2007). Ao considerar o estrato de
forrageamento, Ribon et al. (2003) concluíram que as espécies que forrageavam apenas em
um estrato foram mais sensíveis aos processos de fragmentação florestal. Ainda de acordo
com estes autores, as espécies mais propensas aos eventos de extinção foram as terrícolas e de
sub-bosque. Nossos resultados não demonstraram nenhuma alteração nas categorias tróficas,
embora o trecho de floresta secundária tenha apresentado um número maior de espécies
nectarívoras. Normalmente, os nectarívoros são menos vulneráveis à criação de bordas e
clareiras (Stouffer e Bierregaard 1995b).
Entre as guildas de forrageamento, não foi possível observar nenhuma diferença na
riqueza de espécies entre os dois estandes florestais, apesar de terem sido encontradas
diferenças na riqueza de espécies entre os estratos dentro de cada localidade. O trecho de
floresta primária apresentou uma diferença bem marcada na sua riqueza entre os estratos,
mais especificamente do dossel em relação aos estratos médio e inferior. O dossel foi
78
responsável pela maior parte dos registros, indicando ser o compartimento vertical mais
importante para a avifauna. Nas florestas tropicais, o dossel normalmente é o compartimento
mais produtivo, disponibilizando uma grande variedade de recursos para as espécies (Stork et
al. 2007). No caso da avifauna, animais com alta mobilidade, este atributo das florestas pode
refletir em diferenças na distribuição vertical da comunidade (Terborgh et al. 1990).
Conservação da avifauna na região
Desde o alto rio Doce (Simon et al. 1999; Ribon et al. 2003) até o seu trecho mais a jusante
(Parker III e Goerck 1997; Marsden et al. 2001), existem porções de floresta que são
extremamente importantes para a avifauna da bacia deste rio. Os trabalhos realizados ao longo
da sua extensão têm mostrado que várias espécies de aves consideradas ameaçadas vivem
principalmente em reservas protegidas (Parker III e Goerck 1997; Simon et al. 1999; Marsden
et al. 2001). A importância do PERD se destaca por diversos motivos. Por exemplo, da lista
de espécies provavelmente extintas ou sob algum grau de ameaça em fragmentos florestais do
alto do rio Doce (Ribon et al. 2003), pelo menos 39 espécies podem ser encontradas no
PERD, várias seguramente com populações representativas. Muitas espécies sensíveis e com
alto valor de conservação estão abrigadas no PERD. Especial atenção deve ser dada às aves
de rapina diurnas, já que além de possuírem uma baixa densidade de indivíduos, são
perseguidas por caçadores (p. ex, S. melanoleucus). No médio rio Doce, provavelmente existe
a última população de L. polionota e L. lacernulata deste trecho da bacia. Também merecem
destaque as espécies de aves ameaçadas que utilizam diferentes compartimentos da floresta no
PERD, como Neomorphus geoffroyi dulcis (L. Scoss, com. pes.), além de T. solitarius, C.
noctivagus, P. cruentata, D. plumbeus e N. aurifrons.
Outras espécies também necessitam de atenção em razão de peculiaridades de sua história
evolutiva e/ou aspectos de sua biologia. Para aquelas espécies que ocorrem fora do seu centro
altitudinal de abundância existe uma chance maior de vulnerabilidade em relação aos efeitos
79
da fragmentação (Ribon et al. 2003; Anjos 2006). Entre estas, cujo gradiente altitudinal típico
é superior ao de floresta de planície citamos Penelope obscura, Odontophorus capueira,
Pyrrhura frontalis, Pulsatrix koeniswaldiana, Mionectes rufiventris, Atilla rufus, Turdus
flavipes, Pipraeidea melanonota e Hemithraupis ruficapilla. Além disto, torna-se de grande
relevância a preservação de espécies como Habia rubica, uma espécie-nuclear de bandos
mistos de sub-bosque (Ribon et al. 2003; Maldonado-Coelho e Marini 2004). Ainda, espécies
de aves florestais com área de distribuição total menor que 11,000 km
2
também são
consideradas mais sujeitas à extinção (Harris e Pimm 2008), tais como D. plumbeus e N.
aurifrons.
Considerando a importância do PERD para a bacia do rio Doce, são necessárias ações
urgentes que visem minimizar os impactos oriundos das ações antrópicas no entorno da
reserva. Atividades como a caça e a pesca ilegais são ainda extremamente comuns em razão
de fragilidades das instituições governamentais. Além disto, se desconhece os efeitos da
poluição industrial local sobre a biota. Acrescidos a todos os impactos negativos listados, a
reserva por si só provavelmente não seria efetiva para a manutenção do pool gênico de todas
as espécies, já que áreas isoladas menores que 100 km
2
podem ser insuficientes para esta
proposta (Harris e Pimm 2004; Harris e Pimm 2008). Extinções locais já ocorreram (p. ex.,
Harpia harpyja) e outras poderão acontecer em um futuro próximo como um resultado do
intervalo existente entre o desflorestamento e a extinção propriamente dita (Brooks e
Balmford 1996; Machado e Fonseca 2000). Diante disto, a criação de um plano de
recuperação da bacia do rio Doce, privilegiando o uso de corredores ecológicos, propiciaria
melhores condições tanto para a avifauna do PERD, como para a revitalização de outros
trechos deste importante rio.
80
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Conservation International/Center for Applied Biodiversity Science e
a Gordon e Betty Moore Foundation pelo apoio financeiro a este trabalho. Somos gratos ao
Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais pela concessão da licença de trabalho. André
Hirsch nos auxiliou na produção do mapa da área de estudo. A Michellia Pereira Soares e a
equipe do Laboratório de Botânica (UFV) pela colaboração com os dados de vegetação.
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86
CAPÍTULO 3
SENSIBILIDADE DA AVIFAUNA TERRÍCOLA E DE
SUB-BOSQUE DE UMA ÁREA DE FLORESTA
ATLÂNTICA, SUDESTE DO BRASIL.
Normas do periódico “Biotropica”
87
Sensibilidade da Avifauna Terrícola e de Sub-bosque de uma área de Floresta Atlântica,
sudeste do Brasil.
Alan Loures-Ribeiro
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São
Carlos. Rodovia Washington Luís (SP 310), Km 235. Monjolinho. Caixa Postal 676. São
Carlos. SP. Brasil. CEP: 13565-905.
e
Manoel Martins Dias
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos.
Rodovia Washington Luís (SP 310). Monjolinho. Caixa Postal 676. São Carlos. SP. Brasil.
CEP: 13565-905.
88
RESUMO
A alta taxa de destruição da floresta Atlântica contrasta com a baixa quantidade de
informações que temos à respeito de determinados aspectos da biologia da avifauna. A
alteração dos ambientes influencia nos tipos de recursos disponíveis para as aves. O objetivo
deste trabalho foi medir o grau de resposta da avifauna florestal terrícola e de sub-bosque aos
ambientes em diferentes estágios sucessionais, com o intuito de produzir uma análise do grau
de sensibilidade das espécies. Das 25 espécies de aves analisadas, 13 espécies mostraram uma
redução no seu índice pontual de abundância na área perturbada quando comparada ao trecho
de floresta primária. Duas espécies foram beneficiadas pela alteração dos ambientes. Outras
10 espécies não mostraram qualquer tendência. De acordo com os nossos critérios, a
porcentagem de espécies que apresentou sensibilidades baixa, média e alta foi de 44, 44 e 12
porcento, respectivamente. O número de espécies afetadas não se relacionou com o grau de
endemismo, o estrato de forrageamento ou a guilda alimentar. Os resultados indicam a
necessidade do conhecimento do grau de sensibilidade das espécies não apenas em relação
aos efeitos da fragmentação florestal, mas também da alteração dos ambientes sobre a
avifauna. No caso da floresta Atlântica, este tipo de avaliação torna-se cada vez mais urgente
em razão do elevado número de remanescentes perturbados.
Palavras-chave: Floresta Atlântica; Brasil; avifauna terrícola e de sub-bosque; sensibilidade;
alteração de habitat.
89
ABSTRACT
High destruction rates in the Atlantic Rain Forest is a contrast to the low quantity of
information on the biological aspects of bird communities. Habitat disturbance influence on
the types of resources available for the birds. Our objectives were measures the response rate
of terrestrial and understory forest birds with regard to distinct sucessional stages so that an
analysis of the species’ sensitivity degree may be provided. Thirteen species out of 25
analyzed bird species revealed a decrease in their abundance index in the disturbed area when
compared to those inhabiting the primary forest stretch. Environment disturbance benefited
two species, whereas no trend was revealed by the other 10 species. According to current
criteria, percentage of species with low, middle and high sensitivity registered 44%, 44% and
12%, respectively. The number of influencied species was not related to endemic rate,
foraging substrate or trophic category. Results show the need to know better the species’
sensitivity degree not merely with regard to the influence of forest fragment but also to the
environment modification on the forest bird communities. Further evaluation of the Atlantic
Rain Forest is mandatory owing to the high number of disturbed remaining stretches along the
distribution area.
Key words: Atlantic Rain Forest; terrestrial and understory birds; sensitivity; habitat
modification.
90
NOS ÚLTIMOS TEMPOS, O NÚMERO DE ESTUDOS QUE TRATAM DOS EFEITOS DO TAMANHO DA
ÁREA
ou do isolamento dos fragmentos sobre a avifauna neotropical vem crescendo (Willis
1979, Bierregaard & Stouffer 1997, Anjos & Boçon 1999, Sekercioglu et al. 2002,
Maldonado-Coelho e Marini 2004, Anjos 2006). Existe também o aumento no número de
investigações que abordam as modificações de habitat sobre a comunidade de aves florestais
ou grupos funcionais específicos (Thiollay 1999, Galetti et al. 2003, Haugaasen et al. 2003,
Peres et al. 2003, Harris & Pimm 2004, Barlow et al. 2006, Gray et al. 2007), embora pouco
seja conhecido na floresta Atlântica.
A floresta Atlântica é um dos biomas mais ricos e ameaçados do planeta (Myers et al.
2000). Ao longo dos cinco séculos de intensa ocupação humana, restam apenas 7.5 porcento
de sua cobertura original (Morellato & Haddad 2000). Além da criação de inúmeros pequenos
fragmentos isolados, ao longo deste período grande parte destes remanescentes perdeu suas
características originais, causando uma redução na sua qualidade (Viana et al. 1997, Ranta et
al. 1998, Marsden et al. 2005). Entre os eventos mais comuns de degradação estão a extração
de madeira, os incêndios, a criação de animais exóticos (p. ex. gado) e a caça (Marsden et al.
2005, Loures-Ribeiro & Anjos 2006). Com isto, existe uma tendência destes fragmentos
perderem a capacidade de abrigar várias espécies sensíveis, principalmente as especialistas de
floresta (Goerck 1997, Ribon et al. 2003, Anjos 2006, Harris & Pimm, in press).
Considerando tal fato, torna-se importante uma análise das implicações destas perturbações
sobre a avifauna. Além disto, o melhor conhecimento do grau de sensibilidade das espécies
pode providenciar o uso de ações mais eficientes de manejo e conservação das espécies e seus
habitats (Jones 2004).
Aqui, nós examinamos a influência exercida pelos diferentes estágios sucessionais da
vegetação sobre as espécies de aves terrícolas e de sub-bosque no nível local, contribuindo
para a produção de um índice de sensibilidade. Para fins de comparação, foram investigadas
91
duas áreas, uma área controle representada por um dos últimos trechos de floresta atlântica
primária de Minas Gerais, em comparação a um trecho perturbado. Os objetivos deste estudo
foram: (1) avaliar o grau de resposta das espécies de aves terrícolas e de sub-bosque aos
diferentes estágios sucessionais de uma área de floresta atlântica de baixada; (2) testar se o
endemismo, o estrato de forrageamento e as guildas de alimentação influenciaram no grau de
resposta das espécies à alteração dos ambientes.
MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO.—O trabalho foi conduzido no Parque Estadual do Rio Doce, uma das
maiores reservas de floresta atlântica de baixada do Brasil, com sede no município de
Marliéria, sudeste do país (19º48’18” – 19º24’29”S, 42º38’30” – 42º28’18”W). A área está
localizada no médio rio Doce (Figura 1), possuindo aproximadamente 36.000 ha, composta
por floresta estacional semidecídua submontana, além de um significativo sistema lacustre
natural (cerca de 40 lagos). A altitude média da área é de 350 m, com pluviosidade média de
1480 mm. A temperatura média anual é de 22ºC. O clima regional é do tipo AW-tropical
quente semi-úmido (sistema de Köppen). Existem dois períodos bem definidos ao longo do
ano, um seco se prolongando de maio a setembro, e outro chuvoso compreendido de
novembro a março.
As amostragens foram realizadas em dois estandes florestais, cada um contendo 100
ha. O primeiro estande representa um dos últimos trechos de floresta primária de Minas
Gerais. Neste local, podem ser encontradas várias espécies vegetais típicas de estágio clímax,
tais como Ficus gomelleira (Moraceae), Lecythis pisonis (Lecythidaceae) e Virola gardneri
(Miristicaceae), além de Senefeldera multiflora (Euphorbiaceae), Neoraputia alba (Rutaceae),
Rollinia sylvatica (Annonaceae). A altura média do estrato da floresta é cerca de 20 m.
92
Algumas árvores emergentes ultrapassam 40 m de altura. O outro trecho localizou-se há cerca
de 7 km de distância da área controle e sua principal característica é o seu histórico de
incêndios, sendo o último registrado há 14 anos atrás. Entre as plantas encontradas neste
estande estão Cecropia sp. (Cecropiaceae), Astrocaryum aculeatissimum (Arecaceae), além
de Typha sp. (Typhaceae), Carex sp. (Cyperaceae), Euterpe edulis Mart. (Arecaceae),
algumas típicas de estágios iniciais de sucessão. O estrato médio da floresta é de
aproximadamente 16 m.
Figura 1: Área de estudo situada no Parque Estadual do Rio Doce, localizado no sudeste do
Brasil.
Um aspecto importante da área de estudo é a ocorrência de lagos e brejos. A região em
que as amostragens foram realizadas concentra uma grande quantidade destas áreas alagáveis,
distribuindo-se entre os trechos de floresta. Além disto, em vários locais existe uma pequena
variação altitudinal entre os trechos alagados e o interior da floresta, propiciando a formação
93
de pequenos canais de água (escoadouros). Desta forma, no período de chuva muitas porções
da floresta sofrem um encharcamento, ou mesmo são alagadas. Ainda, em muitos locais
ocorrem clareiras naturais criadas exatamente a partir destes pontos de alagamento ou de
confluência das lagoas.
AMOSTRAGENS E ANÁLISES DOS DADOS.—Os dados foram obtidos entre agosto e dezembro de
2006. Foram instalados em cada um dos estandes de floresta cerca de 36 pontos de
amostragem. Cada ponto esteve disposto em um sistema de seis transecções lineares,
separadas entre si por 200 m, sendo também de 200 m a distância entre um ponto e outro.
Cada estande foi amostrado seis vezes. Nós empregamos pontos de escuta, sem limite de
distância, com duração de 10 min cada, para amostrar as aves observadas e/ou ouvidas. Cada
ave foi registrada somente uma vez em cada ponto. Ao mesmo tempo em que as aves eram
detectadas pelo observador principal, um auxiliar realizava a gravação dos sons através de um
gravador Sony TCM 5000 e um microfone direcional do tipo Sennheiser ME66.
Os dados coletados foram transformados em um Índice Pontual de Abundância (IPA),
dado pelo número de espécimes contados de cada espécie, dividido pelo número total de
pontos amostrados (Bibby et al. 2000). A partir dos resultados obtidos, foi atribuído um grau
de sensibilidade para cada espécie em relação ao seu total de espécimes observados. As
espécies que não ocorreram no estande florestal perturbado, ou cuja ocorrência foi inferior a
10%, foram consideradas espécies com sensibilidade alta. As espécies com média
sensibilidade foram indicadas por uma ocorrência entre 10 e 30% dos pontos no trecho
perturbado, enquanto aquelas com ocorrência superior a 30% no mesmo trecho foram
consideradas de baixa sensibilidade. Especificamente, os valores considerados no
estabelecimento do grau de sensibilidade estiveram baseados no número de pontos contíguos
do trecho perturbado em relação às áreas preservadas de floresta.
94
Com fins de produção de uma análise crítica dos nossos dados em relação à literatura,
consideraremos as espécies com sensibilidade alta e média como um grupo similar entre si.
Nós estamos assumindo que estas espécies estarão mais sujeitas à extinção, já que podem
ocorrer diferenças quanto ao histórico regional de fragmentação, bem como de modificação
dos ambientes, tipos de impactos e outros aspectos da sensibilidade das espécies (Henle et al.
2004). Estes são fatores conhecidos que auxiliam na interpretação dos dados relativos ao grau
de resposta das espécies aos processos de fragmentação florestal (Laurance et al. 1997).
Outras informações necessárias em literatura, tais como o grau de endemismo, estrato de
forrageamento, nível de prioridade de conservação e de pesquisa foram obtidos a partir de
Parker et al. (1996). Informações relacionadas aos itens alimentares consumidos pelas
espécies foram obtidas a partir de Willis (1979), Sick (1997) e Anjos (2001).
A hipótese de nulidade de nenhuma diferença nos IPA’s das espécies entre os trechos
de florestas primária e perturbada foi testada a partir do teste G (P < 0.05). O teste G também
foi utilizado para avaliar se as espécies endêmicas, o estrato de forrageamento ou as guildas
alimentares demonstraram maior sensibilidade aos efeitos do fogo (P < 0.05). Para tal, as
espécies foram divididas em dois grupos (sensibilidade alta/média versus sensibilidade baixa).
Além disto, para a avaliação do estrato de forrageamento e das guildas alimentares levamos
em consideração as espécies que foram influenciadas negativamente nos seus IPA’s levando-
se em conta o estande florestal perturbado. Quando necessário, o fator de correção de
Williams foi empregado para a obtenção do valor de G ajustado (Fowler et al. 1998). Nas
duas situações, as análises consideraram somente espécies com n > 5 e com a presença de
pelo menos um exemplar nos dois estandes florestais.
95
RESULTADOS
Nós amostramos 25 espécies de aves terrícolas e de sub-bosque, totalizando 935 contatos
(Tabela 1). Destas, 32% possuíam níveis alto e médio de prioridade de conservação, sendo
que três espécies destacaram-se pelo mais alto valor (Crypturellus noctivagus, Dysithamnus
plumbeus e Neopelma aurifrons).
TABELA 1: Número de detecções, Índice Pontual de Abundância, grau de sensibilidade,
endemismo e estrato de forrageamento de 25 espécies de aves terrícolas e de
sub-bosque de floresta Atlântica de baixada, sudeste do Brasil.
ESPÉCIES
a
n IPA
b
S
c
End
FOR
d
FP FS
Tinamus solitarius (s) [o] 28 0.111 0.018 média sim TR
Crypturellus obsoletus (s) [o] 51 0.171 0.064 média não TR
Crypturellus noctivagus (s) [f] 150 0.638 0.055 alta sim TR
Penelope superciliaris (s) [f] 26 0.037 0.083 baixa não TR
Odontophorus capueira (s) [f] 17 0.064 0.013 média sim TR
Aramides saracura [o] 12 0.013 0.041 baixa sim TR
Geotrygon montana [f] 48 0.111 0.111 baixa não TR
Glaucis hirsutus [n] 4 - 0.018 baixa não SB
Phaethornis idaliae [n] 73 0.148 0.190 baixa sim SB
Phaethornis ruber [n] 6 - 0.027 baixa não SB
Baryphthengus ruficapillus (s) [i] 60 0.236 0.041 média sim SM
Dysithamnus plumbeus (s) [i] 50 0.175 0.055 média sim SB
Myrmotherula axillaris [i] 73 0.148 0.190 baixa não SM
96
Drymophila squamata (s) [i] 13 0.055 0.004 alta sim SB
Conopophaga melanops (s) [i] 22 0.083 0.018 média sim SB
Dendrocincla turdina (s) [i] 34 0.120 0.037 média sim SM
Xiphorhynchus fuscus (s) [i] 23 0.092 0.013 média sim SM
Automolus leucophthalmus [i] 36 0.083 0.083 baixa sim SB
Xenops minutus [i] 11 0.037 0.013 média não SM
Mionectes rufiventris [o] 8 0.013 0.023 baixa sim SM
Leptopogon amaurocephalus [i] 8 - 0.037 baixa não SM
Lathrotriccus euleri (s) [i] 73 0.078 0.260 baixa não SB
Neopelma aurifrons (s) [o] 55 0.185 0.070 média sim SB
Schiffornis turdina (s) [o] 39 0.130 0.051 média não SB
Habia rubica (s) [o] 15 0.064 0.004 alta não SM
a
Posição sistemática e filogenética de acordo com Comitê Brasileiro de Registros
Ornitológicos (2007); (s) indica diferença significativa (Teste G, P < 0.05); [ ] categoria
alimentar: f. frugívoro, i. insetívoro, o. onívoro, n. nectarívoro (Willis 1979, Anjos 2001,
Sick 1997).
b
Índice Pontual de Abundância: FP. Floresta Primária; FS. Floresta Secundária.
c
Sensibilidade (ver métodos).
d
Estrato de forrageamento: SB. Sub-bosque; SM. Sub-bosque/Médio; TR. Terrícola.
Entre as espécies detectadas, seis delas são mencionadas em algum grau de ameaça global ou
regional. Tinamus solitarius, Crypturellus noctivagus, Odontophorus capueira e Schiffornis
turdina são espécies ameaçadas de extinção no estado de Minas Gerais. Dysithamnus
plumbeus e Neopelma aurifrons são consideradas vulneráveis em nível global.
97
Das 25 espécies amostradas, 15 delas ocorreram em proporções diferentes nas duas
parcelas de floresta, das quais 13 responderam negativamente aos efeitos do fogo. Entre as
espécies que apresentaram as maiores diferenças em seus respectivos IPA’s estão
Crypturellus noctivagus (G = 123.90, df = 1, P < 0.01), Baryphthengus ruficapillus (G =
32.18, df = 1, P < 0.01), Dysithamnus plumbeus (G = 14.06, df = 1, P < 0.01), Neopelma
aurifrons (G = 11.68, df = 1, P < 0.01), Drymophila squamata (G = 10.56, df = 1, P < 0.01) e
Dendrocincla turdina (G = 9.88, df = 1, P < 0.01). Duas espécies foram beneficiadas pela
modificação dos ambientes, podendo citar Penelope superciliaris (G = 3.87, df = 1, P < 0.05)
e Lathrotriccus euleri (G = 21.81, df = 1, P < 0.01). Outras 10 espécies não mostraram
nenhuma diferença significativa nos IPA’s entre os dois estandes florestais ou não puderam
ser comparadas por razões estatísticas. Geotrygon montana, Phaethornis idaliae,
Myrmotherula axillaris e Automolus leucophthalmus foram algumas das espécies que não
apresentaram preferência por nenhum dos trechos de floresta amostrados.
Quanto ao grau de sensibilidade das espécies, 12% apresentaram sensibilidade alta,
enquanto aquelas com sensibilidade média e baixa totalizaram cada uma 44%. De acordo com
os nossos dados, as espécies endêmicas não foram mais sensíveis aos efeitos da alteração do
habitat do que as não-endêmicas (G = 0.951; df = 1; P > 0.05). Cerca de 71.4% delas
apresentaram sensibilidade alta e média à perturbação do habitat, enquanto 50% das espécies
não-endêmicas também responderam negativamente às alterações. Também não foi
encontrada qualquer relação entre o estrato de forrageamento das espécies e as suas respostas
aos efeitos da modificação dos habitats (G = 0.319; df = 2; P > 0.05). Em função do número
de espécies de cada uma das categorias alimentares, apenas os onívoros e insetívoros foram
testados. O número de espécies onívoras (G = 1.239; df = 1; P > 0.05) e insetívoras (G =
0.383; df = 1; P > 0.05) afetadas não diferiu em relação aos seus equivalentes não-afetados no
estande florestal perturbado.
98
DISCUSSÃO
A floresta Atlântica, como um dos biomas mais ameaçados do planeta, se mantém com um
grau elevado de fragmentação e deterioração dos seus remanescentes (Viana et al. 1997,
Ranta et al. 1998). Hoje, a criação de corredores florestais pode ser vista como uma das
principais estratégias para diminuir o isolamento de inúmeros organismos, bem como reduzir
futuras extinções (Rocha et al. 2006). Entretanto, se os remanescentes conectados não tiverem
valor biológico suficiente (Tabanez & Viana 2000), esta estratégia pode não ser bem
sucedida.
Alguns estudos que analisam o grau de resposta da avifauna a interferências antrópicas
comuns, tais como a fragmentação, o isolamento, a forma, o tamanho e a distribuição espacial
dos fragmentos de floresta Atlântica podem ser citados (Anjos e Boçon 1999, Marsden et al.
2001, Ribon et al. 2003, Maldonado-Coelho & Marini 2004, Uezu et al. 2005, Anjos 2006,
Simon 2006, Uezu 2006). Estudos que tratam especificamente dos efeitos dos diferentes
estágios sucessionais sobre a avifauna não são conhecidos na literatura. Na Amazônia, Barlow
et al. (2006) verificaram que a avifauna de sub-bosque foi altamente afetada pela ocorrência
de incêndios, além de outros tipos de interferência antrópica. Neste estudo, os autores
analisaram dados referentes 100.000 horas/rede de capturas, indicando que o fogo foi um dos
impactos mais severos sofridos pela avifauna de sub-bosque. Em outra investigação (Peres et
al. 2003), espécies de aves terrícolas (Aburria pipile e Mitu tuberosa) com semelhanças
ecológicas aos Tinamiformes (C. obsoletus e C. noctivagus) também foram afetadas pelos
incêndios na região amazônica.
No caso da nossa parcela perturbada, alguns incêndios históricos podem ser relatados.
Estima-se que um incêndio ocorrido na década de 60 tenha queimado cerca de 50-60% da
área total da unidade de conservação. Nossos resultados indicaram que algumas espécies de
99
aves terrícolas e de sub-bosque apresentaram redução significativa dos seus IPA’s em função
da existência dos diferentes estágios sucessionais. Na parcela de floresta perturbada
investigada, o principal fator histórico que contribui para a manifestação dos estágios
sucessionais iniciais foi a ocorrência de incêndios. O fogo pode ser considerado um dos
principais impactos gerados sobre uma comunidade biológica, podendo afetar severamente
uma determinada área (Janzen 1986, Creed 2006). Desta forma, várias espécies especialistas
de florestas e/ou pertencentes a grupos funcionais específicos podem ser mais vulneráveis,
podendo ser levados à extinção. Além disto, seus efeitos provavelmente perduram em uma
escala de tempo maior, já que conduzem os ambientes a estágios sucessionais iniciais de
recuperação da área.
Apesar da drástica diminuição da cobertura vegetal original da floresta atlântica,
extinções em massa ainda não ocorreram (Brooks et al. 1999). Alguns modelos foram
aplicados no sentido de predizer futuras extinções, embora não tenham funcionado bem,
principalmente para o caso da floresta Atlântica (Sodhi et al. 2004). As prováveis causas
destas falhas ainda são incertas, mas podem estar relacionadas a extinções não conhecidas
(Brooks & Balmford 1996), à resiliência das espécies (Sodhi et al. 2004) ou mesmo em
função de um tempo de latência após o desflorestamento (Brooks et al. 1999).
Ao comparar nossos dados com outras duas áreas da bacia do rio Doce, algumas
informações importantes foram reveladas. Embora nosso estudo não tenha avaliado os efeitos
da fragmentação, conforme observado para outras duas regiões da mesma bacia (Marsden et
al. 2001, Ribon et al. 2003), algumas espécies demonstraram níveis semelhantes de
sensibilidade. Para os trechos investigados no alto rio Doce (Ribon et al. 2003), das treze
espécies comuns ao nosso estudo, dez foram relativamente similares em relação ao grau de
sensibilidade. Destas, três espécies foram consideradas extintas em trechos do alto rio Doce
(Tinamus solitarius, Odontophorus capueira e Dendrocincla turdina), e classificadas como de
100
sensibilidade média para o efeito testado em nossa área. Outras três espécies (Geotrygon
montana, Mionectes rufiventris e Xiphorhynchus fuscus) não concordaram em relação à
sensibilidade. Para o baixo rio Doce (Marsden et al. 2001), nove das treze espécies comuns ao
nosso trabalho também demonstraram semelhanças quanto ao grau de sensibilidade. Embora
Marsden et al. (2001) não tenham produzido um índice de sensibilidade, entendemos que
após o levantamento de 31 fragmentos, a presença da espécie somente na reserva (> 40.000
ha) seja um indicativo de sua sensibilidade elevada.
O processo de alteração dos ambientes pode ser considerado na maioria dos casos
menos severo do que aqueles que tratam de sua perda integral (Turner 1996). Além disto,
quanto maior a área do remanescente, maiores serão as suas chances de conservar populações
viáveis (MacArthur & Wilson 1967, Marsden et al. 2005). Neste caso, espera-se que os graus
de sensibilidade das espécies produzidos aqui sejam mais brandos quando comparados aos
designados por outros autores em áreas fragmentadas e com diferentes graus de isolamento.
Os níveis de sensibilidade produzidos para algumas espécies de aves terrícolas e de sub-
bosque mostraram, em média, grau de concordância acima de 69% àqueles estimados e/ou
convertidos a partir dos trabalhos analisados (Marsden et al. 2001, Ribon et al. 2003, Anjos
2006, Uezu 2006).
Anjos (2006), ao comparar 75 espécies quanto ao grau de sensibilidade entre o norte
do Paraná e o sudeste de Minas Gerais, chamou a atenção para o grau de divergência dos
resultados encontrados. De acordo com este autor, a posição das espécies em sua área de
distribuição geográfica pode ter refletido em diferenças quanto ao seu grau de
vulnerabilidade. Porém, processos regionais podem ter grande influência sobre as
comunidades biológicas (Laurance et al. 1997, Ribon et al. 2003). Por exemplo, nossos dados
indicaram uma baixa sensibilidade de Penelope superciliaris, similar ao encontrado por Anjos
(2006) no norte do Paraná, e Uezu (2006) no oeste de São Paulo. No entanto, no alto rio
101
Doce, há cerca de 100 km de distância da nossa área, esta espécie foi considerada criticamente
em perigo (Ribon et al. 2003). Estas diferenças sugerem que a espécie no alto rio Doce esteja
declinando em função de um fator diferencial em relação a outras regiões. Sick (1997) retrata
em sua obra o potencial cinegético do grupo a qual pertence Penelope sp.. Conforme relatado
por Ribon et al. (2003), a caça foi provavelmente uma das principais atividades causadoras de
impactos sobre espécies cinegéticas, e o declínio de algumas delas pode ter levado a uma
pressão sobre espécies com potencial similar. No médio rio Doce, por exemplo, existem
relatos de caça de Penelope superciliaris em áreas não protegidas.
Os indicadores de sensibilidade das espécies também podem se relacionar de
diferentes formas no contexto da paisagem. De acordo com Henle et al. (2004), as espécies
podem flutuar fortemente em uma escala local, enquanto os efeitos destas flutuações são
menos perceptíveis se analisados em umvel regional. Além disto, alguns trabalhos
demonstram que a sensibilidade pode estar ligada a fatores ecológicos e evolutivos (Goerck
1997), tais como o endemismo (Ribon et al. 2003) ou as semelhanças ecológicas existentes
entre as espécies (Gray et al. 2007).
As investigações que utilizam grupos específicos de organismos com o intuito de
avaliar um determinado fenômeno são muito úteis, principalmente em regiões com alta
riqueza de espécies. Esta simplificação pode auxiliar-nos em uma melhor compreensão dos
fenômenos e/ou problemas nos sistemas naturais. Nossos resultados não encontraram uma
relação entre o endemismo, o estrato de forrageamento ou as duas guildas tróficas testadas e
as alterações nos IPA’s das espécies. Embora contrário às expectativas, estes resultados
provavelmente se devem ao fato de que já estamos empregando uma análise de um grupo
funcional, ou seja, aves terrícolas e de sub-bosque. O grupo de aves analisado é considerado
um dos mais sensíveis à modificação dos ambientes em diferentes regiões dos trópicos
102
(Stouffer & Bierregaard 1995, Thiollay 1999, Sekercioglu et al. 2002, Peres et al. 2003,
Barlow et al. 2006).
Os resultados encontrados demonstram o tipo de atenção que deveríamos ter sobre os
efeitos da qualidade do ambientes sobre a sobrevivência das espécies. Mais investigações são
necessárias, já que ainda não entendemos muitos aspectos da sensibilidade das espécies às
modificações dos ambientes. Embora ocorrido há algum tempo atrás, é provável que os
estágios sucessionais originados a partir de incêndios históricos em um dos trechos estudados
ainda refletem na estrutura da comunidade de aves, indicando o quão nocivo é este tipo de
impacto para a biota. Apesar do Parque Estadual do Rio Doce possuir um eficiente sistema de
prevenção e combate de incêndios, reforçamos a necessidade de atenção a este tipo de
perturbação, já que os efeitos podem ser altamente negativos. Além do mais, este local
caracteriza-se como um dos últimos abrigos de raros elementos da rica biota da floresta
Atlântica de baixada do Brasil.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Instituto Estadual de Florestas pela concessão da licença de
trabalho. Este trabalho foi possível graças ao apoio financeiro da Conservation
International/Center for Applied Biodiversity Science, e Gordon e Betty Moore Foundation.
LITERATURA CITADA
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108
SÍNTESE GERAL
Durante a realização deste trabalho, os dados obtidos a partir das comunidades de aves do
Parque Estadual do Rio Doce apresentaram alguns aspectos importantes. Primeiramente, os
estudos envolvendo o uso de redes de neblina demonstraram um baixo número de capturas de
aves no estrato inferior florestal. As informações originadas das capturas de aves e
observações de campo indicam uma baixa movimentação de aves neste compartimento da
floresta. Várias questões estão sem resposta, já que muitos aspectos provavelmente podem
contribuir com este processo, tais como a composição florística, histórico da área e a maior
disponibilidade de recursos nos compartimentos superiores. Além disso, a área apresenta
características coincidentes com dados da literatura, principalmente aqueles que apontam as
florestas tropicais de baixada como mantenedoras de um baixo número de aves por espécie,
tornando-as mais susceptíveis aos processos de extinção. Este aspecto enfatiza a necessidade
de coletas de dados de longa duração, já que durante levantamentos em um curto período,
várias espécies podem ser negligenciadas.
As informações das comunidades de aves de duas localidades indicaram uma alta
riqueza de espécies, incluindo em áreas do entorno ainda pouco investigadas. Espécies de
elevado interesse biológico, incluindo várias ameaçadas globalmente e no estado de Minas
Gerais, foram encontradas nas localidades amostradas. É muito provável que este número seja
maior, já que não foi realizado um censo efetivo nas localidades investigadas. Entre as
informações relevantes obtidas, mereceu destaque o papel da floresta madura na manutenção
de espécies com sensibilidade elevada. A heterogeneidade ambiental provavelmente teve
papel importante nos dados de riqueza de espécies das duas áreas, já que a área com maior
número de espécies foi aquela com maior variação na sua estrutura física e de ambientes (p.
ex., clareiras, estrato arbóreo heterogêneo).
109
As amostragens realizadas nas parcelas florestais com diferentes históricos de
perturbação indicaram que as populações de algumas espécies provavelmente foram
influenciadas por esses eventos. Cerca de metade delas foram afetadas negativamente pelas
modificações dos ambientes. Embora contrário às expectativas, alguns atributos das espécies
(endemismo, categoria trófica) não estiveram envolvidos na suscetibilidade das mesmas.
Contudo, embora devam ser avaliados com cautela, os dados indicaram um grau de
sensibilidade relativamente coincidente para algumas espécies também investigadas em outras
regiões. A implementação de estudos em remanescentes florestais do médio rio Doce poderia
auxiliar no entendimento do grau de sensibilidade regional das espécies não apenas à
modificação dos ambientes, mas também em relação aos efeitos do isolamento sobre as
mesmas. Além disto, outras parcelas florestais do rio Doce devem ser monitoradas,
permitindo a inserção de dados em escalas espacial e temporal suficientes para conclusões
robustas.
Finalmente, o Parque Estadual do Rio Doce necessita urgentemente de outros estudos
e levantamentos, enfatizando a necessidade de medir os efeitos, por exemplo, do fogo e da
poluição em uma escala de curta e média duração. Além disso, como a área possui
peculiaridades que a torna vulnerável a diferentes interferências, um estudo detalhado seria
efetivo para o entendimento destes processos. Este, sem dúvida alguma, é um dos
reservatórios biológicos mais importantes do estado de Minas Gerais, mantendo ainda
populações de espécies raras que desapareceram de inúmeras outras localidades.
110
ANEXO 1: Fotos de algumas das espécies de aves capturadas no Parque Estadual do Rio
Doce. A. Conopophaga melanops; B. Euphonia pectoralis; C. Euphonia violacea; D.
Automolus leucophthalmus; E. Habia rubica; F. Baryphthengus ruficapillus.
A B
D C
E
F
111
ANEXO 2: Fotos de algumas espécies de aves capturadas no Parque Estadual do Rio Doce.
A. Neopelma aurifrons e B. Dysithamnus plumbeus (espécies globalmente ameaçadas, ambas
na categoria vulnerável); C. Tangara seledon; D. Attila rufus; E. Campephilus robustus.
A
B
D
E
C
F
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