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discute-se a educação de surdos a partir da idéia da surdez como uma invenção,
atrelada a bases epistemológicas que não a reduzem na sua essencialidade, mas como
uma produção cultural discursiva engendrada numa rede de relações de poder.
Situado no campo dos Estudos Surdos, este trabalho inscreve-se na
perspectiva dos Estudos Culturais
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em busca de aportes teórico-metodológicos para
seu embasamento.
Sua realização mais importante provavelmente seja a de celebrar o fim do
elitismo edificado sobre distinções arbitrárias de cultura. Nesse sentido, os
Estudos Culturais, ao operarem uma reversão nesta tendência naturalizada
de admitir um único ponto central de referência para os estudos da cultura,
configuraram um movimento das margens contra o centro. Sua principal
virtude talvez seja a de começar a admitir que a inspiração possa advir de
qualquer lugar, contribuindo para desfazer os binarismos tão fortemente
aderidos a epistemologias tradicionais (COSTA, 2004, p. 13-14).
Este é um trabalho que visa a problematizar, produzir e dividir
conhecimentos, sem pretender servir como caderno ou cartilha de receitas a serem
colocadas em prática por profissionais da educação que estejam ligados à referida
temática.
A educação de surdos, bem como a questão da avaliação, temas que
desenvolvo nesta pesquisa, merece ir além do diagnóstico, da contemplação, da
confirmação do já sabido, do já dito e pensado. Merece ser problematizada,
construída, (re) inventada a partir de outras perguntas, outros sentidos. Como diz
Corazza (2002, p. 111): “toda e qualquer pesquisa nasce precisamente da insatisfação
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“Os Estudos Culturais – que têm sua origem na década de sessenta, mais precisamente em 1964, na
Grã-Bretanha, no Centro de Estudos Culturais Contemporâneos, na Universidade de Birmingham, e
que, na sua forma contemporânea, conforme relata Escosteguy (2000), “transformaram-se num
fenômeno internacional” –, em suas publicações mais atuais, bem diferentes dos trabalhos que os
inauguraram – trabalhos como os de Raymon Williams (1958) e Richard Hoggart (1957) –, têm
adotado claramente abordagens pós-modernas ou pós-estruturais. O seu objeto é qualquer artefato
que possa ser considerado cultural, sem fazer distinção entre ‘alta’ e ‘baixa’ cultura. Se as produções
do Centro, durante muito tempo, utilizaram ‘quadros de referência claramente marxistas’, apoiando-
se em interpretações de Marx feitas por autores tais como Althusser e, mais tarde, Gramsci, ‘nos anos
80 esse predomínio cede lugar ao pós-estruturalismo de autores como Foucault e Derrida” (Silva,
1999a, p. 132). Segundo Costa (2000, p. 33), “é possível perceber nas publicações mais recentes a
fecundidade das abordagens pós-estruturalistas que se utilizam das concepções de poder e discurso
de Michael Foucault, bem como daquelas tendências do pensamento pós-moderno”. A preocupação,
em grande parte dos estudos desse campo na atualidade, é com o local, com o movimento, com o
particular, com a complexidade da identidade e da diferença e com o contexto” (LUNARDI, 2003,
p.24).